REVISTA MOTRICIDADE N.º01

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REVISTA MOTRICIDADE N.º01
REVISTA
MOTRICIDADE N.º01
Revista Técnica e Científica
da Fundação Técnica e Científica do Desporto
Vol. 03 Janeiro’07
CORPO EDITORIAL DA MOTRICIDADE
Editor-chefe
Prof. Doutor Victor Machado Reis (UTAD)
Editores Juniores:
Dr Felipe José Aidar (UTAD, Portugal)
Dr André Carneiro (Funorte-MG, Brasil)
Editores Associados:
Prof. Doutor António José Silva (UTAD, Portugal)
Prof. Doutor José Alberto Duarte (FADE-UP, Portugal)
Prof. Doutor Ricardo Jacó Oliveira (UCB-DF, Brasil)
Prof. Doutor Jefferson Novaes (UFRJ-RJ, Brasil)
Prof. Doutor José Vasconcelos Raposo (UTAD, Portugal)
Conselho Editorial:
Prof. Doutor António Serôdio (UTAD, Portugal)
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Prof. Doutor Francisco Bessone Alves (FMH-UTL, Portugal)
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Prof. Doutor João Paulo Vilas-Boas (FADE-UP, Portugal)
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Mestre António Moreira ((ESDRM_IPS, Portugal))
Dr.ª Ana Maria Almeida Torres (Hospital de São Teotónio
de Viseu, Portugal)
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Portugal)
I
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ÍNDICE:
Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07
{ INVESTIGAÇÃO
{ 270
Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura
Pedaling Cadence in the Ciclism: A Review
Dias, M.; Lima, J. R.; Novaes, J. S.;
{ 279
Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a
autonomia funcional de idosos asilados
Effect of inspiratory muscles training in maximal inspiratory pressure and funcional
autonomy of sheltered elderly people
Cader, s.; Silva, E. B.; vale, R.; Bacelar, S.; Monteiro, M. D.; Dantas, E.;
{ 289
O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo
comparativo.
The motor proficiency development in gypsy and non-gypsy children: a comparative
study
Francisco, J.; Marmeleira, F.;
{ 298
Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo.
Characterization of anxiety levels among track and field athletes
Vasconcelos-Raposo, J.; Lázaro, J.; Mota, M.; Fernades, H.
{ 315
Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em
escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo.
Chronological, morphological and functional markers and maturational stages of students from
the northeast of Brazil: a comparative study.
Bruch, V.; André Boscatto, A.; Silva, J. B.; Nóbrega, A.; Neto, M.; Medeiros, H. J.; Dantas, P. M.;
Knackfuss, M. I.;
{TÉCNICO
{323
A ginástica artística masculina (GAM): observando a cultura de treinamento desde dentro.
Top level men artistic gymnastics (MAG): an observation of the training culture from the
inside perspective.
Bortoleto, M. A.;
{REVISÃO
{337
Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde
dos seres humanos.
Myths and trues about flexibility: reflections about the stretch training in the health of
human being
Almeida, T. T.; Jabur, N. M.;
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EDITORIAL:
Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07
Os jardins digitais
e o sedentarismo
Com a revolução industrial verificou-se uma
restrição do movimento físico conduzindo, por
vezes, a uma anulação quase completa da actividade física. Esta redução na actividade física acarreta, tanto entre jovens como entre indivíduos
menos jovens, uma diminuição da qualidade de
vida e da aptidão física. A actividade física constitui uma importante medida profilática contra
patologias da civilização moderna, como por
exemplo o stress. Esta necessidade de exercício
do homem actual não é uma moda, mas antes
uma iminência exigida pela indesejável adaptação
do organismo humano ao modus vivendi actual.
A evolução do Homo Sedentaris tem sido feita
a um ritmo alucinante, bem mais rápido do que
as espécies que lhe deram origem. Vejamos um
exemplo tão caricato quanto triste. Um dos
municípios mais importantes de Portugal anunciou recentemente a brilhante ideia de apetrechar os seus parques da cidade com Internet
sem fios. Para melhor esclarecer, estamos a falar
mesmo de parques verdes, de jardins, com árvores
e passarinhos chilreando... Reparem nos novos
horizontes que uma medida tão simples pode
trazer… Imaginemos os papás e mamãs daquela
cidade saindo de casa com as suas crianças num
lindo dia de sol e, cada membro da família com
o seu portátil na maleta, se instalarem confortavelmente à sombra de uma árvore e navegarem
pelo mundo. Nada de bolas de futebol, cordas de
saltar e outros brinquedos…não. Há que educar
as criancinhas de acordo com os tempos modernos e substituir esses objectos pelo computador!
E será que à sombra das árvores não poderão os
portáteis padecer de mazelas quando pingar um
dejecto de passarinho sobre o teclado ou o ecrã?
Bem, o melhor seria talvez eliminar toda a espécie
de aves desses espaços. E mesmo sem pássaros será
que a seiva das árvores não poderá igualmente
danificar o instrumento de fruição dos munícipes? E que tal, já agora, retirar também as árvores?
Como ambas as medidas seriam pouco ecológicas e alvos fáceis dos ecologistas, talvez solucionar
de uma forma mais simples. Porque não construir
uns cubículos nos jardins para os cibernautas? Esta
solução até poderia protegê-los da radiação ultravioleta e poupar assim alguns cancros de pele!
Este mero exercício de futurismo, mas não
necessariamente de ficção, ilustra a ideia de
que o sedentarismo nas sociedades modernas galga por vezes as margens do razoável.
O Editor
Vitor Reis
IV
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ISSN N.º
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Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura
Marcelo Ricardo Dias 1,2, Jorge R. Perrout de Lima 3 e Jefferson da Silva Novaes 1,4
Universidade Castelo Branco, RJ.
2
Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Fora, MG.
3
Laboratório de Avaliação Motora da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG
4
Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ.
1
Dias, M.; Lima, J. R.; Novaes, J. S.; Cadência de
pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura.
Motricidade 3(1): 270-278
Resumo
Abstract
Após décadas de estudos e inúmeras discussões,
ainda não há um consenso sobre a cadência ideal
de pedalada no ciclismo. O presente estudo teve
o objetivo de revisar, de forma sistematizada,
estudos científicos que investigaram a eficiência
mecânica através das cadências de pedalada no
cilcismo. Tais experimentos demonstraram diversos fatores que poderiam ser capazes de alterar a
cadência de pedalada ideal e preferida, com isso
alterar a eficiência de pedalada. O ponto conclusivo da literatura define as baixas cadências de
pedalada como mais econômicas e eficientes que
as altas. A cadência ideal para a maioria dos praticantes é, geralmente, mais baixa do que a cadência preferida pelos ciclistas treinados.
Palavras-Chave: cadência de pedalada, economia de movimento, eficiência mecânica e
ciclismo.
Pedaling Cadence in the Ciclism: A
Review
After decades of studies and innumerable quarrels, there is not still a consensus on the optimal pedaling rate in the cycling. The present
study aimed to review systematically the scientific studies that investigated the mechanical
efficiency through the pedaling rates in cycling.
Such experiments have demonstrated that diverse
factors could be capable to modify the optimal
pedaling preferred rate and pedaling efficiency
as well. The conclusive point of literature defines
the low pedaling cadences as more economic and
efficient that the high ones. The ideal cadence
for the majority of the practitioners is generally
lower than the cadence preferred by the trained
cyclists.
Keywords: pedaling cadence, movement economy, mechanics efficiency and cycling.
Data de submissão: Setembro 2006
Data de aceitação: Dezembro 2006
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Introdução
Ao longo dos tempos, a cadência de pedalada
no ciclismo vem sendo alvo de diversos estudos
1,2,3,4,5,6,7,8,9
os quais apresentam diferentes vertentes em seus objetivos e metodologias aplicadas 10. Hoje, a grande discussão na literatura de
ciclismo é em relação à cadência de pedalada
mais econômica 5 e a preferida entre ciclistas 11,12.
Há tempos estudos tentam bases científicas para
encontrar a cadência de pedalada ideal, na qual
haja um menor gasto energético e uma pedalada
mais eficiente. Com base na literatura disponível,
sabe-se que as cadências mais econômicas confrontam com as preferidas para a maioria dos
ciclistas.
Diversos fatores como a duração do exercício, o
nível de condicionamento, a particularidade de
cada indivíduo e a potência mecânica (watts ou
kpm) e relativa (variáveis fisiológicas) alteram a
cadência de pedalada ideal e a preferida 11. Outro
fator é a distribuição dos tipos de fibras musculares, rápidas e lentas, como importantes determinantes para o ritmo de pedalada individual 7,13,14.
A relação da potência mecânica com a cadência
de pedalada também é outro ponto importante
encontrado na literatura. A potência final alcançada pode ser diferente em relação à cadência
de pedalada e à posição do corpo na bicicleta,
entretanto, a cadência pode afetar a potência
final alcançada em um teste ou treino específico
3
. A maioria dos estudos utilizou uma potência
mecânica constante para encontrar uma resposta de outras variáveis, em relação à posição do
corpo na bicicleta, há uma diferença na cadência
de pedalada quando se pedala sentado ou em pé.
Para todas estas variáveis, o conhecimento do
instrumento de avaliação se torna indispensável para a aplicação dos resultados. A bicicleta
ergométrica e a própria bicicleta individual de
ciclismo, usada em laboratórios ou em velódromos e competições outdoor, estão sendo alvo de
diversos estudos que relatam as diferenças das
respostas mecânicas e relativas da cadência de
pedalada no ciclismo 15,16,17,18,19,20.
Sendo assim, o presente estudo teve o objetivo
de revisar a literatura científica que investigou
a eficiência mecânica através da cadência de
pedalada econômica e preferida pelos ciclistas.
Desenvolvmento
A bicicleta como um instrumento de
avaliação
O cicloergômetro foi criado para identificar a
capacidade do trabalho muscular dos indivíduos
através de testes em laboratórios 15. A bicicleta ergométrica tem sido o instrumento mais
comum para determinar os parâmetros fisiológicos e biomecânicos em ciclistas 6,21,22,23,24, e por
isso, o ciclismo é um dos exercícios mais utilizados para a avaliação clínica de pacientes e para o
desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória.
Tal popularização deve-se ao fato do ciclismo
envolver a utilização de grandes grupos musculares com um reduzido grau de impacto sobre as
articulações 25.
O sistema de pedal circular foi desenvolvido
por Pierre Michaux em 1861, e depois de 144
anos, não podemos estar realmente certos qual é
o sistema de pedalada ideal. Conseqüentemente,
devemos ser cautelosos ao falarmos da otimização da cadência de pedalada.
Durante uma atividade de pedalar, a eficiência
de um atleta pode ser alterada por fatores materiais como altura do banco, o tamanho do pedivela, a posição na bicicleta e o uso de sapatilhas
de ciclismo. Carvalho et al. 17, a fim de minimizar
os fatores que alteram a pedalada, constataram,
em seu estudo com triatletas, uma alta correlação nos resultados da potência obtidos entre a
bicicleta ergométrica e um ciclossimulador. os
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Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura
Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes
estudos de Santalla et al. 20 em indivíduos não
ciclistas, e de Lucia et. al. 28 em ciclistas profissionais, que não encontraram diferenças entre
os diferentes sistemas de pedais (rotor e convencional) quando medidas as variáveis fisiológicas
e mecânicas. Estes estudos somente observaram
nente, a velocidade seria fator determinante.
Gaesser e Brooks 4 definem a eficiência mecânica como a relação do trabalho realizado com a
energia gasta. Considerando-se que no ciclismo
o tipo de energia dissipada no pedal é eminentemente mecânica, o cálculo da energia mecâ-
Tabela 1: Cadência média de ciclistas profissionais
Estágios no plano (largada em massa)
Contra-relógio individual
Subidas em montanhas
(rpm)
89 (80 a 99)
92 (86 a 96)
71 (62 a 80)
Velocidade
44 (38 a 51)
47 (44 a 50)
17 (12 a 25)
Cadência
(kph)
Fonte: Dados coletados em 1999 (giro, tour e volta). Todos os dados expressam a média, mínimo e máximo.
Os estágios planos têm ~ 188 km, contra-relógio ~ 50 km e subidas em montanhas ~ 180 km 11.
uma melhora da eficiência com o uso do sistema
de rotor.
Eficiência mecânica
A compreensão dos padrões e critérios que o
sistema nervoso utiliza para a realização de determinadas funções é fundamental para o entendimento da melhoria e eficiência de movimento
30
. Segundo Prilutsky et al. 31, os animais realizam
seus movimentos locomotores de uma maneira
nica gerada no corpo humano durante a realização da pedalada fornece a eficiência mecânica
no ciclismo. Tais valores de eficiência mecânica
podem caracterizar e diferenciar um bom ciclista
ou um indivíduo em potencial, na medida em
que uma maior eficiência está associada a um
melhor aproveitamento da energia mecânica
gerada para a realização do movimento32.
Podemos afirmar que a habilidade de sustentar
o trabalho é dependente de uma fonte adequada
Figura 1: Sistema de pedal não circular – Rotor (1) e sistema de pedal circular – Convencional (2) (Santalla et. al. 20).
otimizada. Assim, em uma corrida de longa distância, o critério seria, então, a economia energética, mas se o objetivo fosse escapar de um opo-
de O2 aos músculos 22. Um exemplo é a extração de O2 em músculos dos membros inferiores,
como o vasto lateral, que se mostrou similar em
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60 e 100 rpm 33. Já Vecruyssen et al (2005) 34,
em um estudo com triatletas mostraram que para
diminuir os índices de fadiga muscular deve-se
aumentar a cadência de pedalada.
Belli e Hintzy 1, pesquisando o VO2 (ml.kg-1min1
) e a energia gasta (J. kg-1m-1), reportaram que
o consumo de O2 foi menor nas baixas cadências (57 rpm), com um alto gasto energético em
cadências mais elevadas (101 rpm). Já Sidossis et al.
35
mostraram que a eficiência total, a uma intensidade de 80-90% do VO2 máx em ciclistas treinados,
foi similar entre as cadências de 60, 80 e 100 rpm,
ao contrário do consumo de O2 que aumentou
com o acréscimo da cadência de pedalada.
A concentração de lactato sanguíneo também é
um fator bastante testado para encontrar a cadência de pedalada ideal. Autores tentam correlacionar à cadência de maior eficiência mecânica com
a concentração de lactato 8,36. Segundo Denadai
et al. 36, que utilizaram indivíduos masculinos de
atividade recreacional, a concentração do máximo
de lactato em stady-state não é influenciada pelas
diferentes cadências de pedalada. Isso nos deixa
uma lacuna, quando se propõe um treinamento
relacionando a cadência e a concentração de lactato para ciclistas profissionais ou experientes.
ciclistas que não são altamente treinados 27 e
quando a variação da cadência é usada com um
número reduzido de variáveis. A cadência ideal
não deve ser a única variável a ser associada com
os objetivos e as características individuais dos
sujeitos 8.
Entretanto, estudos mostraram que trabalhar
em diferentes cadências pode alterar a eficiência da pedalada 2,37,38. Assim sendo, algumas pesquisas 21,39,28,40,41,42,43 relataram, em estudos sobre a
eficiência de pedalada, que as baixas cadências de
pedaladas (50 a 60 rpm) são mais econômicas e
eficientes que as altas cadências de pedaladas (>
90 rpm).
Dessa forma, testes submáximos com indivíduos
ativamente físicos mostram que pedalar em uma
mesma potência mecânica, obtida com combinações de cadência e carga resistiva diferentes,
resulta em respostas da Freqüência Cardíaca,
Pressão Arterial, Duplo Produto e Percepção de
Esforço diferente, principalmente se a cadência
escolhida se encontrar acima da faixa econômica
(50 a 60 rpm).
Lucia et al. 27 apresentaram os principais achados
sobre as baixas cadências de pedalada testadas em
laboratório (tabela 2).
Tabela 2: Vantagens e desvantagens hemodinâmicas e fisiológicas encontradas quando se pedala em baixas
cadências (< 60-70 rpm)
Vantagens
FC e VE
VO2
Economia / eficiência
Desvantagens
Estresse muscular
Fluxo sanguíneo no músculo do quadríceps
Volume de ejeção
Bomba muscular
As conclusões mostradas são baseadas em pesquisa conduzidas em indivíduos não treinados. FC = freqüência
cardíaca; VE = ventilação pulmonar 27.
As discussões sobre a cadência de pedalada ideal
ainda provocam mais controvérsias quando as
novas pesquisas têm sido conduzidas utilizando
Em contrapartida, outros estudos mostram que
o aumento da cadência de pedalada não altera
a eficiência mecânica 42,44. Nickleberry e Brooks
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Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura
Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes
44
mostraram tais resultados em exercício submáximo, tanto em ciclistas profissionais quanto
em recreacionais. Marsh et al. 42 concluíram que
a eficiência não sofre grandes alterações pela
cadência de pedalada comparando ciclistas treinados, corredores e indivíduos destreinados.
Em suma, este é o ponto divergente da literatura
quando se fala em cadência de pedalada, sendo
que, os estudos que mostram que não há alterações na eficiência de pedalada com o aumento
da cadência tinham em sua amostra ciclistas altamente treinados que realizavam os testes a potências acima de 400 watts 11.
Potência Mecânica
A performance das condições fisiológicas no
ciclismo é representada pela potência relativa, que
é mensurada através das variáveis fisiológicas de
treinamento 27. Para alcançar estas variáveis de treinamento é utilizada a potência mecânica oferecida
pelos cicloergômetros, mensurada em watts (w)
19,27
.
Testes em laboratórios, usando a potência fixa,
têm sido o modelo de exercício escolhido por
muitos estudos 16,17. Em geral, os testes executados
por indivíduos não ciclistas com potência constante (geralmente ≤ 200w), pedalando em baixo
ritmo (50 a 70 rpm), resultaram em um menor
consumo de oxigênio do que pedalando em ritmo
mais elevado (> 90 rpm).Tal escore pode ser considerado bom para estes indivíduos, que buscam
uma melhora da aptidão física e recreação, e que
raramente ultrapassam de 200w. Os ciclistas de
elite estão interessados em otimizar a cadência de
pedalada e fazer-las mais econômicas e eficientes,
podendo gerar maior potência mecânica por um
período mais longo 27.
Os indivíduos, quando testados em laboratórios,
são requeridos a pedalarem sentados. O que não
retrata algumas situações naturais, como a subida
em montanhas na qual se utiliza a posição em pé.
O pico de potência alcançado (POpeak) no
ciclismo é significantemente alterado pela posição
do corpo, ou seja, são diferentes quando comparados aos testes de laboratório e em condições
de treino ou competição em velódromos 22. Faria
et al. 22 ainda reportaram, em seu estudo, que o
POpeak em Sprints em velódromos na posição sentada é maior que na posição em pé, quando comparados aos resultados do laboratório.
Bertucci et al. 16 indicaram, em seu trabalho,
que a potência varia substancialmente de acordo
com a cadência de pedalada e com um menor
efeito com o terreno utilizado. Este achado vai
de encontro aos de Millet et al.45 que ao observarem ciclistas treinados não constataram diferenças
entre as subidas na posição sentada e em pé.
Levando em consideração os efeitos das cadências de pedalada na potência alcançada, Pierre et.
al. 38 relataram que os efeitos da cadencia na eficiência total diminui linearmente com a potência,
enquanto o efeito da potência aumenta com a
cadência em indivíduos ativos. Assim, para girar
em uma potência muito alta utilizam-se cadências de pedalada mais baixas.
Cadência de pedalada preferida
Paradoxalmente aos relatos da literatura, estudos
com ciclistas mostram a preferência dos indivíduos em pedalar em altas cadências (90 rpm),
consideradas teoricamente menos econômicas e
eficientes 21,39,40,41,45. As altas cadências de pedalada
aumentam o gasto energético durante o ciclismo.
Entretanto, mesmo que a eficiência diminua,
os ciclistas sentem-se mais confortáveis com as
cadências mais altas. Diversas hipóteses são propostas para explicar estes dados obtidos, referentes
à cadência de pedalada preferida, como o recrutamento de fibras ou as modificações hemodinâmicas durante o exercício prolongado 9.
Sanderson et al. 46 mostraram que o ritmo de
pedalada mais alto diminui o impulso de distri-
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Conclusão
buição da pressão entre os pés, sapatos e pedal.
Entretanto, com os aumentos da carga resistiva
tal afirmativa se torna inversa, ou seja, ao contrário do ritmo de pedalada, não exerce alterações significativas sobre a cinemática de membro
inferior 47, nem quando comparado à atividade
neuromuscular 48.
Quando comparadas às amostras, as respostas
para os aumentos da cadência são similares tanto
para ciclistas experientes quanto para os ciclistas recreacionais 49. A estabilidade da cadência de
pedalada preferida não tem ligação com a fadiga
central e periférica 50. Takaishi et al. 51 sugeriram que a razão para a preferência dos ciclistas
às altas cadências está relacionada com o desenvolvimento da fadiga neuromuscular. Com isso,
para minimizar os efeitos do gasto energético em
encontrar a cadência preferida, Marsh e Martin 52
não indicam o uso da percepção de esforço para
indivíduos treinados.
Lucia et al. 27 apresentaram os principais achados
sobre diferentes as cadências de pedalada preferidas pelos ciclistas profissionais testadas em laboratório (tabela 3).
Faria et. al. 53 em seu estudo com ciclistas experientes, mostraram que as altas cadências de
pedalada não são prejudicadas com uma redução
da eficiência. Dados estes que corroboram com
os achados de Lucia et al. 28 que mostraram uma
grande eficiência com altas cadências em ciclistas
de ponta.
Há uma conseqüente cautela ao aplicar as conclusões das pesquisas sobre a eficiência mecânica
em ciclistas altamente treinados. Devido à grande
amplitude de variações nas cadências de pedalada,
parte dos treinos é realizada com cadências consideravelmente fora da faixa econômica.
Concluímos que, o sistema de pedal encontrado
em diferentes bicicletas de ciclismo não altera
tanto os níveis de atividade muscular de membros inferiores29 quanto as variáveis fisiológicas e
mecânicas20,28. Entretanto, a eficiência mecânica
é alterada com o aumento da cadência. As baixas
cadências de pedaladas (50 a 60 rpm) são mais
econômicas e eficientes que as altas cadências de
pedaladas (> 90 rpm) 21,39,28,40,41,42,43.
A potência mecânica é outro fator importante para a otimização da cadência de pedalada
27
. Estudos mostraram claramente a relação da
cadência de pedalada com a potência mecânica. A
cadência mais econômica (50 a 60 rpm) aumenta
a potência mecânica 6,21,37,54, já com os aumentos da cadência de pedalada (>90 rpm) a força
mecânica aplicada diminui 13,55.
Tão logo, a cadência ideal, em termos de consumo de oxigênio, para a maioria de seres humanos, é geralmente mais baixa do que a cadência
preferida pelos ciclistas treinados (90 rpm).
Neste sentido a cadência de pedaladas se mostrou
com um importante fator na performance de
ciclistas existindo uma tendência de diferenciação entre ciclistas treinados e não treinados.
Tabela 3: Vantagens e desvantagens hemodinâmicas e fisiológicas encontradas quando se pedala em altas
cadências (> 90 rpm)
Desvantagens
FC e VE
VO2
Economia / eficiência
Vantagens
Estresse muscular
Fluxo sanguíneo no músculo do quadríceps
Volume de ejeção
Bomba muscular
As conclusões mostradas são baseadas em pesquisa conduzidas em indivíduos não treinados. FC = freqüência
cardíaca; VE = ventilação pulmonar 27.
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Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura
Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes
Correspondência
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Cadência de pedalada no ciclismo: Uma revisão
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Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória
máxima e a autonomia funcional de idosos asilados
Samária Cader 1,2, Elirez Bezerra da Silva 3, Rodrigo Vale 4, Silvia Bacelar 1,2,5, Maria Dolores Monteiro 6, Estélio Dantas 1,7
Universidade do Grande Rio /RJ – Brasil
2
Hospital Quinta D’or/RJ – Brasil
3
Universidade Gama Filho/Rio de Janeiro- RJ- Brasil
4
Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Rio Grande do Norte- RN – Brasil
5
Instituto do Câncer/RJ- Brasil
6
Departamento de Desporto da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro/ Vila Real - Portugal
7
Universidade Castelo Branco/Rio de Janeiro- RJ – Brasil
Universidade do Grande Rio / Rio de Janeiro- RJ – Brasil
1
Cader, S.; Silva, E. B.; Vale, R.; Bacelar, S.;
Monteiro, M. D.; Dantas, E.; Efeito do treino
dos músculos inspiratórios sobre a pressão
inspiratória máxima e a autonomia funcional
de idosos asilados. Motricidade 3(1): 279-288
Resumo
Abstract
O presente estudo tem como objetivo avaliar o
efeito do fortalecimento muscular inspiratório sobre
a pressão inspiratória máxima (Pimáx) e a autonomia
funcional de idosos asilados. A amostra foi constituída
de 34 gerontes, divididos em grupo experimental GE (n=21, 76,48±2,12 anos) e grupo controle - GC
(n=13, 75,69±2,26 anos). Para avaliação da autonomia
funcional, foi utilizado o protocolo de avaliação funcional do GDLAM. A Pimáx foi aferida em aparelho
próprio denominado Manovacuômetro (Analógico
com intervalo operacional de -150 a +150 cmH2O;
Critical Med/USA-2002). O protocolo de intervenção
consistiu em carga de trabalho instalada gradualmente
(50%-100%); sessões com duração de 20 minutos, com
7 séries de fortalecimento (2 minutos cada) e intervalo
de 1 minuto entre as séries, durante 10 semanas, 3 vezes
na semana. A análise de variância de medidas repetidas
multivariada encontrou diferenças significativas entre as
variáveis Pimáx, autonomia funcional (IG), caminhar
10m (C10m), levantar da posição sentada (LPS), vestir
e tirar a camisa (VTC), levantar da posição decúbito
ventral (LPDV) e levantar e caminhar por locais da casa
(LCLC) apresentadas pelos GC e GE, sendo este último
superior ao primeiro (p=0,00000). Desta forma, pôdese concluir que o fortalecimento isolado da musculatura
inspiratória causou aumento da Pimáx e da autonomia
funcional dos idosos asilados analisados.
Effect of inspiratory muscles training in maximal inspiratory pressure and functional autonomy of sheltered elderly people
The main purpose of this study was to access the effect
of inspiratory muscles training in maximal inspiratory
pressure (Pimáx) and functional autonomy of sheltered elderly people. The sample consisted of 34 elderly
people, divided in: experimental group - EG (n=21,
76,48±2,12 years) and group control - GC (n=13,
75,69±2,26 years ). The method created by The LatinAmerican Development Group for Elderly (GDLAM)
was used to evaluate functional autonomy through successive tests. The Pimáx was calibrated in a Manovacuometer device (analogical with interval operational of
150 the +150 cmH2O; Critical Med / USA -2002).
The registry of intervention consisting in : working load
installed bit-by-bit (50%-100%); sessions with duration
of 20 minutes , with 7 sets of training (2 minutes each)
and interval of 1 minute among the sets, for 10 weeks
, 3 times a week. The multivariate analysis of variance
showed significant improvements (p=0,00000) in Pimáx
and the tests that were used to assess functional autonomy. In this way, it was concluded that the strengthening inspiratory muscles improves Pimáx and functional
autonomy of the sheltered elderly people analyzed.
Key-words: sheltered elderly people; Pimáx; functional autonomy.
Palavras-chave: idosos asilados; Pimáx; autonomia
funcional.
Data de submissão: Outubro 2006
Data de aceitação: Dezembro 2006
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a
Introdução
Os idosos que residem em instituições de caridade, devido ao declínio do organismo, dão preferência às atividades menos exigentes e que requeiram menor esforço diminuindo, desta forma, suas
capacidades físicas o que leva ao aparecimento do
sentimento de velhice que, por sua vez, pode causar estresse e depressão1.
Vários efeitos deletérios podem prejudicar os
níveis ótimos de autonomia funcional dos gerontes frente às alterações decorrentes do envelhecimento2. Para o grupo WHO3, autonomia funcional é a habilidade pessoal para desempenhar as
atividades necessárias que assegure o bem-estar,
integrando os três domínios funcionais: biológico,
psicológico (cognitivo e afetivo) e social.Ter autonomia é poder executar independente e satisfatoriamente suas atividades da vida diária (AVD),
continuando suas relações e atividades sociais, e
exercitando seus direitos e deveres de cidadão4.
Um dos principais fatores que diminuem a autonomia funcional é a dispnéia a qual está relacionada à diminuição da força da musculatura inspiratória5 . Tal alteração muscular refletirá em uma
menor pressão inspiratória máxima (Pimáx), o que
traduz uma diminuição na força da musculatura
inspiratória6 e na sua endurance7 . Esse fator associado à alteração da função pulmonar leva a piora
progressiva do condicionamento físico8. Conseqüentemente, isto pode causar isolamento social
e dependência9.
A Pimáx e sua correlação com a dispnéia e,
conseqüentemente, com a autonomia funcional
têm despertado interesses dos pesquisadores em
indivíduos não-saudáveis com: fibrose cística10,
doença pulmonar obstrutiva crônica-DPOC11,
insuficiência cardíaca congestiva-ICC12, asma13,
sarcoidose14, câncer15, traumatismo raqui-medular-TRM16, tetraplegia17, espondilite anquilosante18, osteoporose19, miastenia grave20 e esclerose
múltipla21. Entretanto, raros são os estudos que se
destinam a estudar a influência da diminuição da
Pimáx em idosos assintomáticos, principalmente
frente ao sedentarismo22.
Desta forma, o presente estudo tem como objetivo avaliar o efeito do fortalecimento muscular
inspiratório sobre a Pimáx e a autonomia funcional de idosos asilados.
Metodologia
Amostra
Para este estudo, a amostra foi selecionada por
conveniência, de forma não-probabilística, constituída de 50 gerontes voluntários, residentes em
asilos no bairro de Jacapepaguá, município do Rio
de Janeiro, Brasil. Foram divididos em dois grupos:
grupo experimental (GE, n=25) e grupo controle
(GC, n=25). Entretanto, ao longo da intervenção,
houve uma perda amostral de 14 idosos. Desta
forma, o trabalho findou em: GE (n=21, 7 homens
e 14 mulheres; 76,48±2,12 anos) e GC (n=13, 3
homens e 10 mulheres; 75,69±2,26 anos).
Como critério de inclusão, os indivíduos da
amostra deveriam estar aptos fisicamente para
participarem do tratamento experimental e ser
autônomos funcionalmente no desempenho das
AVD. Os sujeitos não deveriam estar fazendo atividades físicas há pelo menos três meses23, 24.
Foi considerado critério de exclusão qualquer
tipo de condição aguda ou crônica que pudesse
comprometer ou que se tornasse um fator de
impedimento para os testes de autonomia funcional, tais como: cardiopatias, diabetes, hipertensão arterial e bronquite-asmática não controlada;
quaisquer condições musculoesqueléticas que
pudessem servir de fator interveniente à prática
da atividade (osteoartrite, fratura recente, tendinite
e uso de prótese); problemas neurológicos; obesidade mórbida; indivíduos renais crônicos e aqueles
que fizessem uso de medicamentos que pudesse
causar distúrbios da atenção.
Os participantes desta pesquisa assinaram o
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termo de consentimento e os procedimentos
experimentais foram executados dentro das normas éticas previstas na Declaração de Helsinque
de 1975. O estudo teve seu projeto de pesquisa
submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Castelo Branco, RJ.
Procedimentos
As variáveis autonomia funcional e Pimáx foram
avaliadas pré e pós-teste.
Avaliação da Autonomia Funcional
Para avaliação da Autonomia Funcional, os idosos foram submetidos a uma bateria composta por
cinco testes adotados no protocolo de avaliação
funcional do Grupo de Desenvolvimento LatinoAmericano para a Maturidade (GDLAM): caminhar 10m - C10m25, levantar-se da posição sentada
– LPS26, levantar-se da posição decúbito ventral
– LPDV27, levantar-se da cadeira e locomover-se
pela casa - LCLC28 e o teste de vestir e tirar uma
camiseta – VTC29, os quais são utilizados para se
calcular o Índice de autonomia GDLAM (IG). O
menor tempo, em segundos, para a execução das
tarefas em duas tentativas foi utilizado como critério de avaliação. Os instrumentos utilizados foram:
cadeira de 48 cm de altura; colchonete Hoorn
(Brasil); cronômetro da marca Cásio; dois cones e
fita métrica metálica da marca Sanny (Brasil).
Avaliação da Pimax
A Pimáx foi aferida em aparelho próprio denominado Manovacuômetro (Analógico com intervalo operacional de -150 a +150 cmH2O; Critical
Med/USA-2002). O equipamento pode ser utilizado através de um bocal30 e o nariz do individuo
deve ser ocluído (com um clamp nasal). A medida
é feita a partir do volume residual e o orifício deve
ser ocluído imediatamente no início da inspiração
a fim de gerar uma pressão negativa intratorácica,
verificada no manômetro6.A inspiração deve durar
pelo menos 3 segundos, sendo com o máximo de
força e tempo possíveis. Este procedimento deve
ser repetido por três vezes, tomando-se o melhor resultado19. A pressão medida corresponde ao
somatório da força dos músculos que participam
da inspiração, não havendo como selecionar a
medida somente do diafragma31.
Protocolo de intervenção
O fortalecimento muscular inspiratório foi realizado com o aparelho Threshold-IMT (Respironics/USA- 2004), de carga linear pressórica, o
qual produz uma resistência à inspiração por meio
de um sistema de mola com uma válvula unidirecional, sendo necessária a utilização do clamp
nasal. Durante o ato expiratório não há resistência,
pois a válvula unidirecional abre-se; entretanto, na
inspiração ela se fecha, tornando-se “endurecida”
pela resistência da mola. Quanto mais comprimida
estiver a mola, maior será a resistência. É necessário
realizar um intervalo de 4 segundos entre uma
incursão respiratória e outra, além de manter um
período de 2 segundos no ato inspiratório32.
Embora exista uma diversidade de protocolos
descritos na literatura33, 34, o protocolo sugerido
constituiu de uma carga de trabalho que era instalada gradualmente, começando do valor de 50%
da Pimáx, sendo acrescido 10% por semana, até a
4ª semana10, 14. A partir da 5ª semana, foi acrescido
5% até completar 100% na 8ª semana. A partir de
então, este valor foi mantido nas 2 últimas semanas.
As sessões tinham duração de 20 minutos, sendo
7 séries de fortalecimento (2 minutos cada) e um
intervalo de 1 minuto entre as séries35, durante 10
semanas, 3 vezes na semana21.
O grupo controle se comprometeu em não
realizar nenhuma atividade física sistematizada que
envolvesse trabalho de força durante as dez semanas de experimento até a realização do pós-teste,
mantendo, todavia, seus afazeres diários normais.
Estatística
A fim de verificar a normalidade da amostra, foi
realizado o teste de Shapiro-Wilk. Para testar as
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Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados
Samária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas
diferenças entre as Pimax, IG, C10m, LPS, VTC,
LPDV e LCLC causadas pelo fortalecimento dos
músculos inspiratórios foi utilizada a análise de
variância de medidas repetidas multivariada. O
nível de p < 0,05 foi adotado para significância
estatística36.
Resultados
A estatística descritiva do GE está exposta na
tabela 1.
Com o fortalecimento dos músculos inspiratórios, realizado somente pelo grupo experimental, a Pimax do grupo controle diminuiu para
23,08±10,71 cmH2O, enquanto que a Pimax do
grupo experimental aumentou para 55,24± 23,26
cmH2O (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26) = 14,01;
p = 0,00000).
O fortalecimento dos músculos inspiratórios
causou também uma melhoria da autonomia funcional. No início do estudo, os grupos controle
e experimental apresentaram valores de IG muito
Tabela 1: Estatística descritiva do GE
M
EP
Md
DP
CV%
p-valor (SW)
pré
pós
pré
pós
pré
pós
pré
pós
pré
pós
idade
76,48
76,48
2,12
2,12
74,00
74,00
9,71
9,71
12,70
12,70
0,202
IMC
25,99
26,02
1,13
1,14
25,95
25,95
5,17
5,22
19,89
20,05
0,578
Pimáx
31,67
55,24
2,42
5,08
35,00
55,00
11,11
23,26
35,07
42,11
0,180
C10m
11,36
9,30
1,02
0,79
9,16
7,61
4,66
3,62
41,04
38,97
0,007
LPS
12,03
9,36
0,58
0,43
12,00
8,90
2,64
1,99
21,96
21,28
0,237
VTC
15,71
14,05
0,66
0,79
16,10
14,02
3,04
3,62
19,35
25,79
0,602
LPDV
8,07
6,65
1,05
0,96
6,58
4,78
4,80
4,40
59,54
66,11
0,045
LCLC
71,58
63,13
6,25
5,02
61,23
54,80
28,65
23,02
40,03
36,46
0,011
IG
40,47
35,46
2,44
2,27
39,16
35,81
11,18
10,42
27,64
29,39
0,287
M: média; EP: erro padrão; Md: mediana; DP: desvio padrão; CV%: percentual do coeficiente de correlação; SW:
Shapiro-Wilk; IMC: índice de massa corporal; Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m: caminhar 10m; LPS:
levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e
locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM.
Na tabela 2 encontra-se a estatística descritiva do
GC.
A análise de variância de medidas repetidas multivariada mostrou diferenças significativas entre
os resultados apresentados pelos grupos controle
e experimental (Figura 1). No início do estudo,
os grupos controle e experimental apresentaram
valores de Pimax muito semelhantes (31,67±11,11
cmH2O e 32,69±17,03 cmH2O, respectivamente).
semelhantes (40,47±11,17seg e 41,00±15,56seg,
respectivamente). Com o fortalecimento dos
músculos inspiratórios realizado somente pelo
grupo experimental, a autonomia do grupo
controle diminuiu com o aumento do IG para
43,51±19,32seg, enquanto que a autonomia do
grupo experimental aumentou com a diminuição
do IG para 35,46±10,42seg (Wilks lambda = 0,21;
F (7, 26) = 14,01; p = 0,00000).
A maior autonomia do grupo experimental
em relação ao controle, em decorrência do for-
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Tabela 2: Estatística descritiva do GC
M
EP
pré
pós
Md
pré
pós
DP
pré
pós
CV%
pré
pós
pré
p-valor (SW)
pós
idade
75,69
75,69
2,26
2,26
77,00
77,00
8,14
8,14
10,75
10,75
0,860
IMC
25,80
26,01
0,79
0,69
26,27
26,14
2,85
2,50
11,05
9,62
0,757
Pimáx
32,69
23,08
4,72
2,97
30,00
20,00
17,03
10,71
52,10
46,42
0,336
C10m
11,08
11,44
1,48
1,83
9,15
9,15
5,33
6,60
48,15
57,69
0,002
LPS
12,40
12,99
1,29
1,28
10,18
11,21
4,66
4,60
37,53
35,40
0,002
VTC
14,43
16,97
0,95
1,46
13,54
16,86
3,42
5,26
23,71
30,99
0,814
LPDV
6,51
7,55
0,64
1,15
5,29
6,58
2,30
4,16
35,34
55,11
0,109
LCLC
75,17
76,14
12,16
13,26
56,84
56,58
43,85
47,80
58,34
62,78
0,000
IG
41,00
43,51
4,31
5,36
35,23
37,21
15,56
19,32
37,94
44,40
0,002
M: média; EP: erro padrão; Md: mediana; DP: desvio padrão; CV%: percentual do coeficiente de correlação;
SW: Shapiro-Wilk; IMC: índice de massa corporal; Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m: caminhar 10m;
LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da
cadeira e locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM.
talecimento dos músculos inspiratórios, pôde ser
observada em cada uma das provas que compõe o
protocolo de avaliação funcional do GDLAM: o
C10 m; o LPS; o VTC; o LPDV e o LCLC (Wilks
lambda = 0,21; F (7, 26) = 14,01; p = 0,00000).
Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m:
caminhar 10m; LPS: levantar-se da posição sentada;
LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral;
LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela
casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice
de auomover-se pela casa;VTC: vestir e tirar uma
camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM.
Discussão
Um dos aspectos fundamentais que limitam o
exercício físico, principalmente frente ao sedentarismo, é a performance da musculatura inspiratória. A perda de força dos músculos respiratórios é uma alteração reconhecida com o avanço
da idade e essa perda pode afetar a performance
ventilatória, principalmente durante o exercício.
Vasconcellos et al.22 observaram uma correlação
moderada e positiva (r= 0,58, p= 0,006, p<0,05
e r=0,53, p<0,01, respectivamente) entre a força
da musculatura inspiratória e a capacidade funcional através do teste de caminhar 6 minutos (TC6).
Tais achados vêm dar sustentação aos resultados
desta investigação onde na figura 1 encontram-se
resultados significativos nos testes de autonomia
funcional do GDLAM no GE, o qual foi submetido ao treinamento, tendo sua força muscular
inspiratória otimizada, expressa pelo aumento da
Pimáx.
Cader et al37, utilizando o protocolo GDLAM,
analisaram o perfil da autonomia funcional de
idosos asilados e encontraram em seus resultados: C10m (13,39 seg), LPS (13,07 seg), VTC
(15,70 seg), LPDV (6,15 seg), LCLC (76,60 seg)
e IG (47,32 seg).Tais resultados denotam, segundo
Vale38, um valor fraco de autonomia funcional.
Estes dados vêm corroborar com os dados da atual
pesquisa, onde nas tabelas 1 e 2 pode-se observar
que tanto no GE como no GC, respectivamente,
os testes do GDLAM, com exceção do C10m
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Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados
Samária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
grupo:
experimental
grupo:
controle
experimental
controle
Pimax
IG
C10m
LPS
VTC
LPDV
LCLC
pós
Figura 1: Análise de pré
variância de medidas repetidas multivariada. Interação
das medidas de
Pimax, IG, C10m, LPS, VTC, LPDV e LCLC antes e após o fortalecimento dos músculos
inspiratórios (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26)= 14,00; p = 0,00000). As barras verticais
representam o intervalo de confiança de 95%.
pós-teste do GE (9,30±0,79 seg), apresentaram
um valor considerado fraco.
Pereira et al.39 realizaram um estudo em duas
entidades filantrópicas. Em ambos asilos, os testes
de autonomia funcional apresentaram valores fracos: C10m (13,71 seg e 29,57 seg); LPDV (6,36
seg e 10,00 seg) e LPS (18,86 seg e 20,21 seg),
respectivamente. Estes dados apontam a mesma
tendência para a pesquisa em questão, uma vez que
a instituição na qual foi desenvolvida a pesquisa,
por ser uma entidade filantrópica, não recebendo
desta forma qualquer tipo de ajuda ou incentivo
do governo estadual, federal e/ou municipal apresentou em seus gerontes valores fracos de autonomia funcional.
Um estudo randômico realizado com indivíduos
asmáticos,13 submetidos ao treinamento da musculatura inspiratória, revelou: um aumento significa-
tivo da Pimáx (p<0,01); uma diminuição no consumo de β2 agonísta (p<0,001) e uma diminuição
na escala de percepção da dispnéia (p<0,001). Tais
resultados se mostram relevantes para a atual investigação demonstrando não só o aumento da Pimáx
com o treinamento, mas também a influência
positiva deste aumento na dispnéia, o que reflete
em uma maior agilidade na execução dos testes de
autonomia funcional.
Após um trabalho de fortalecimento muscular
respiratório, Beckerman et al.40 observaram melhoras significativas na Pimáx e no TC6 (Intra:
p<0,05; Inter-grupo: p<0,01). Tais resultados se
mostram relevantes para o presente trabalho o qual
demonstrou, após o treinamento muscular inspiratório, melhoras significativas na Pimáx, no IG e
em todos os testes do GDLAM do GE.
Uma pesquisa feita por Mador, Kufel & Pineda41
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observou que uma queixa comum entre idosos
sedentários era de cansaço nos membros inferiores
(MmIi), quando submetidos ao esforço. Harms et
al.42 demonstraram que a resistência à exaustão de
uma musculatura está relacionada ao fluxo sanguíneo que ela recebe e que a sobrecarga imposta à
musculatura respiratória, no exercício máximo, faz
com que haja um maior desvio do fluxo de sangue
em sua direção, ocorrendo diminuição do fluxo para
os MmIi, o que acarreta diminuição na performance
do exercício.Tais dados vêm corroborar com a melhora encontrada nos testes de C10m e de LCLC do
GE, observada nesta pesquisa, pois com a redução
do fluxo sanguíneo para a musculatura inspiratória,
os MmIi foram mais vascularizados proporcionando
uma melhor performance na caminhada.
O aumento da força e da resistência da musculatura
inspiratória, através do treinamento da musculatura
respiratória (TMR) foi encontrado em um estudo
que comparou o efeito de tal aumento na performance do exercício físico em ciclistas43. Os autores
utilizaram em sua amostra um grupo experimental e
um grupo placebo. A coleta de dados comparativos,
pré e pós-teste, demonstrou uma melhora significativa na Pimáx (p<0,05) concomitante com a performance do grupo experimental (p<0,05); entretanto,
não houve alterações significativas no grupo placebo.
Sheel44 ainda sugere que tal melhora seja atribuída
ao aumento da percepção da respiração, do limiar
de fadiga da musculatura respiratória e da eficiência
ventilatória. Esses achados assemelham-se com os
dados coletados neste trabalho, os quais revelaram, na
figura 1, uma melhora significativa da Pimáx concomitante com a performance na execução da bateria de testes de autonomia funcional do GDLAM.
Os achados da presente investigação a respeito do
aumento da Pimáx e da melhora da autonomia funcional após o fortalecimento muscular inspiratório
do GE também foram encontrados em pesquisas
realizadas com pacientes com ICC. Nestes indivíduos, a Pimáx obteve uma correlação significativa
com o VO2 (r=0,60, p < 0,001) e com a distância
percorrida (r=0,50 , p < 0,001)12. Já Martinez et al.45
tiveram como objetivo avaliar a eficácia do treinamento muscular inspiratório na performance da
musculatura inspiratória, na dispnéia e na capacidade
de exercício. No pós-teste, observaram um aumento
da Pimáx (de 78±22 para 99±22cmH2O), uma
diminuição da dispnéia (p<0,05) e um aumento
da distância percorrida no TC6 (de 451±78 para
486±68 metros).
As investigações de Jong et al.46, que analisaram a
eficácia do treinamento muscular inspiratório em
indivíduos com Fibrose Cística, e a de Inbar et al.47,
em atletas de endurance bem-treinados, vêm contrapor os achados deste estudo. Apesar dos autores
terem encontrado um aumento no valor da Pimáx
pós-treinamento (p=0,003 e p < 0,005, respectivamente) este resultado não correspondeu à melhora
da dispnéia e nem da capacidade de exercício.
A fim de investigar a influência do treinamento
muscular inspiratório na capacidade física de indivíduos com Fibrose cística, Enright et al.10 dividiram,
randomicamente, sua amostra em 3 grupos: Grupo
de treinamento com 80% da pimáx (G1, n=9),
grupo placebo com 20% da pimáx (G2, n=10) e
grupo controle (G3, n=10). Em seus resultados,
observaram um aumento da Pimáx (p<0,05) no G1
e G2; porém, apenas no G1 houve uma concomitante melhora na capacidade do exercício (p<0,05).
Estes dados dão sustentação para a presente pesquisa
a qual, no GE que utilizou uma carga crescente de
50-100%, foi encontrado um aumento significativo
da Pimáx concomitante com a melhor performance
na execução dos testes de autonomia funcional,
revelados na figura 1.
Em um estudo realizado em indivíduos com
câncer15, foi observado que, dentre os 135 analisados,
74 (55%) tinham como queixa a dispnéia nas AVD.
No subgrupo de indivíduos com moderada a severa
dispnéia, observou-se uma correlação da intensidade
da dispnéia com a ansiedade (p=0,0318) e a Pimax
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Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados
Samária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas
(p=0,018). Uma vez que o aumento da Pimáx se
reflete em uma diminuição da dispnéia, que por sua
vez influenciará na execução dos testes de autonomia funcional, estes achados se mostram relevantes
para o presente trabalho.
Após a análise dos resultados, pôde-se concluir
que o fortalecimento isolado da musculatura inspiratória causou aumento da Pimáx e a melhora da
autonomia funcional dos idosos asilados analisados,
repercutindo em uma maior agilidade no desempenho dos testes do GDLAM. Especula-se que estes
resultados satisfatórios tenham associação com o
aumento do limiar de fadiga da musculatura respiratória, repercutindo na diminuição da dispnéia e na
melhora da eficiência ventilatória. Tais fatores contribuem para uma melhor performance nas AVD.
Agradecimentos
Agradecemos de forma especial aos asilos os quais
nos abriram as portas para a execução desta investigação, à saber: Casa da Mãe Pobre; Abrigo Santa
Luzia; Retiro dos Artistas e Lar da Velhice Israelita.
Neste último obtivemos, de forma significativa, o
apoio do fisioterapeuta e terapeuta ocupacional João
Galdino da Silva Neto e da fisioterapeuta Merlucia
Coelho da Costa Silva.
Correspondência
Samária Ali Cader. Rua Jorge Emílio Fontenelle, n.
550/ bl. 2a, apto. 202- Rio de Janeiro- RJ - Brasil.
CEP: 22790-140
Tel: (0xx21)2437-4916
email: [email protected]
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288{ Investigação
motricidade3vol1111.indd 25
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O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas
e não ciganas: um estudo comparativo.
José Francisco Filipe Marmeleira 1 e João Paulo Abreu 1
1
Universidade de Évora, Portugal
Francisco, J.; Marmeleira, F.; O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.
Motricidade 3(1): 289-297
Resumo
Abstract
O objectivo deste trabalho foi o de estudar possíveis influências da etnia sobre o desenvolvimento motor. Para tal foi constituída uma amostra
de 60 crianças de ambos os géneros com 7, 8 e 9
anos de idade: 30 crianças ciganas que frequentavam uma escola do 1º ciclo em Moura; 30 crianças não ciganas que frequentavam uma escola
do 1º ciclo em Lisboa. Para estudo e comparação
dos níveis de desenvolvimento motor dos dois
grupos da amostra, foi utilizada a forma reduzida
do Teste de Proficiência Motora de BruininksOseretsky. Concluiu-se que as crianças não ciganas em comparação com crianças de etnia cigana,
apresentavam valores significativamente superiores da motricidade global (p=0,015), da motricidade fina (p=0,000) e da própria proficiência
motora (p=0,005).
Palavras-chave: proficiência motora, meio
sócio-cultural, etnia cigana
The motor proficiency development in
gypsy and non-gypsy children: a comparative study
The objective of this study was to investigate
possible influences of ethnicity on motor development. The sample comprised 60 children of
both genders with 7, 8 and 9 years of age: 30 gypsy
children who attended an elementary school in
Moura; 30 non-gypsy children who attended an
elementary school in Lisboa. The short form of
the Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency was used to study and compare the motor
development level of the sample groups. We
concluded that the non-gypsy children in comparison to the gypsy children, revealed significative superior results in gross motor performance
(p=0,015), fine motor performance (p=0,000)
and in motor proficiency (p=0,005).
Key words: motor development, sociocultural
background, gypsies
Data de submissão: Março 2006
Data de aceitação: Dezembro 2006
289 {Investigação
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Introdução
Em Portugal vários estudos têm investigado a
influência de meios sócio-culturais diferenciados
no desenvolvimento motor das crianças, designadamente os efeitos da residência em meio urbano
ou meio rural 2,17,19,20. Há, no entanto, uma lacuna
de estudos sobre a influência de outras variáveis
sócio-culturais no desenvolvimento motor, entre
elas as relacionadas com a etnicidade.
Alguns trabalhos realizados noutros países têm
estudado a importância da origem étnica em factores como os padrões de actividade física e/ou
a aptidão física 8,9,14,16. No entanto, e no que se
refere à etnia cigana, não foi encontrado qualquer
estudo no âmbito do desenvolvimento motor.
Provavelmente, tal situação terá a ver com o facto
dos ciganos continuarem a ser considerados pelos
não ciganos pouco acessíveis, o que se têm traduzido num conhecimento limitado sobre as suas
características sócio-culturais 24.
Em Portugal, a comunidade cigana é constituída
por cerca de 50 000 indivíduos3. Na sua maioria,
a mesma é sedentária ou semi-nómada pelo que
o número da população itinerante tem vindo a
diminuir13.
A integração escolar da comunidade cigana é
muitas vezes difícil e as crianças apresentam uma
taxa elevada de insucesso e abandono escolar em
Portugal 3. A maior presença de alunos de etnia
cigana verifica-se ao nível do 1º ciclo (10,9% de
todos os alunos provenientes de minorias étnicas)
13
.
Entre a comunidade cigana a brincadeira e o
jogo parecem ter algumas características particulares. Segundo Levinson7 a brincadeira cumpre
uma importante função cultural entre a comunidade cigana, preparando as crianças para o futuro
e transmitindo-lhes instrumentos indispensáveis
ao seu contexto sócio-económico. Segundo o
autor, as crianças raramente estão sozinhas, passando muito tempo integradas em grupos de
idades diferenciadas, o que tem um impacto marcante no tempo para brincar bem como no tipo
de brincadeiras. Refere, ainda, que a realização de
actividades intergeracionais é comum durante os
momentos recreativos e de trabalho.
Entre os ciganos há muitas vezes uma expectativa de que as crianças devem contribuir desde
muito cedo para a família.Tal facto, pode ser considerado uma desvantagem na medida em que
determinadas formas de brincar se tornam um
luxo inacessível, mas, por outro lado, uma vantagem porque as crianças ciganas podem usufruir
de uma posição mais relevante na vida familiar
e comunitária que advém das responsabilidades
assumidas 7.
Levinson7 refere que encontrou poucos brinquedos entre as crianças ciganas. Relata que observou
muitas vezes as crianças a brincar com objectos
que na sociedade mais abrangente seriam pouco
conotados com a recreação mas mais com o
mundo do trabalho. Considera, ainda, que entre
a comunidade cigana não existe uma clara distinção entre trabalho e lazer como nas economias
modernas.
Thomson e Soós 24 realizaram um estudo sobre
as atitudes dos jovens ciganos em relação ao desporto, em duas instituições de ensino secundário
na Hungria especialmente vocacionadas para
o ensino da cultura cigana. Concluíram que os
estudantes de etnia cigana (i) não apresentavam
uma atitude tão positiva em relação ao desporto
e à actividade física quanto os outros jovens húngaros, (ii) tinham um nível de prática desportiva
fora da escola relativamente baixo, (iii) consideravam a melhoria da saúde e aptidão física como o
principal objectivo do desporto, (iv) aceitavam na
sua maioria a noção de que muitos desportos são
específicos para determinado género.
No presente trabalho, os grupos da amostra
viviam em meios com características urbanísti-
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cas muito diferenciadas. Segundo Neto 11 as alterações ao nível do desenvolvimento motor são
mais vincadas nos grandes meios urbanos, onde a
procura de um melhor nível de vida leva a uma
alteração ou adaptação dos comportamentos e
hábitos do quotidiano. Estas alterações são mais
visíveis na motricidade infantil, em que as capacidades de mobilidade e exploração corporal na
vida das crianças estão comprometidas devido à
escassez de espaços 11,18. De facto, no meio urbano,
a densidade habitacional e de tráfego, os estilos de
vida da família e a gestão do tempo das crianças,
dificultam o seu acesso aos espaços da rua e aos
grandes espaços verdes 12,22.
Alguns estudos têm comparado a performance
motora em função do meio (urbano versus rural),
tendo sido encontrados resultados significativamente superiores entre crianças do meio rural na
coordenação geral19,20 e no lançamento em distância 20,21. Apenas um estudo 19 refere um item
onde registou performances significativamente
superiores das crianças que habitavam no meio
urbano, no caso a coordenação fina.
Moreno & Vasconcelos 10 encontraram valores
significativamente superiores nas provas de dinamometria manual e de corrida com mudança de
direcção entre adolescentes do sexo feminino
que habitavam no meio rural
Costa4 encontrou várias diferenças estatisticamente significativas num estudo comparativo do
desenvolvimento motor de crianças oriundas de
países africanos de expressão portuguesa com o
de crianças caucasianas de nacionalidade portuguesa: as primeiras tinham performances superiores nas provas de equilíbrio, de força inferior,
média e superior; as segundas apresentavam valores superiores na agilidade e coordenação.
Alguns estudos realizados noutros países compararam a aptidão física de grupos de crianças
ou jovens provenientes do meio rural e urbano.
Ozdirenc et al.15 encontraram níveis significativa-
mente inferiores de flexibilidade e de resistência
muscular entre as crianças que residiam em áreas
urbanas; Taks et al.23 não encontraram diferenças
entre raparigas adolescentes; Tsimeas et al.23 concluíram que o local de residência não tem um
impacto marcante na aptidão física das crianças.
Quanto à prática desportiva, alguns estudos indicam que a mesma é significativamente superior
entre as crianças e jovens que habitam em zonas
urbanas 14,23. Também foram encontrados maiores níveis de performance motora entre crianças
com maior estatuto sócio-económico 6,14 e que
participavam em desportos fora da escola 14.
Neste contexto, o presente estudo pretendeu
estudar a influência da etnia sobre o desenvolvimento motor. Deste modo, procedeu-se à comparação da proficiência motora de um grupo de
crianças ciganas com a de um grupo de crianças
não ciganas.
Metodologia
Amostra
A amostra foi constituída por 60 crianças com
idades compreendidas entre o 7 e os 9 anos, constituída por dois grupos com idades similares: 30
crianças ciganas (16 rapazes e 14 raparigas) que
frequentavam a Escola Básica do 1º ciclo, Nº 3
de Moura; 30 crianças não ciganas (15 rapazes e
15 raparigas) que frequentavam a Escola Básica
do 1º ciclo, N.º 111 de S. João de Brito, no centro da cidade de Lisboa. O quadro n.º1 faz uma
pequena caracterização da amostra.
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O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.
José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu
Quadro n.º 1: Caracterização dos grupos
Idade em anos
N.º de crianças por
(Média ± DP)
género
Crianças ciganas
8,33 ± 0,89
16 M., 14 F.
Moura
Crianças não ciganas
8,00 ± 0,59
15 M., 15 F.
Lisboa
Grupo
As crianças de etnia cigana habitavam em barracas nos arredores da cidade de Moura (Alentejo
interior), num meio geográfico em que dispunham de um grande espaço físico livre onde referiram realizar diversas actividades lúdicas (jogo
da apanhada, jogo das escondidas, jogar à bola,
etc.). Uma parte substancial do seu tempo livre
era ocupada com diversas actividades relacionadas com a ajuda aos mais velhos na realização de
tarefas da vida diária. Esta caracterização vai de
encontro ao referido por Levinson7, já citado na
revisão bibliográfica.
Por sua vez, as crianças não ciganas (caucasianas
com excepção de uma criança), habitavam num
meio urbano, caracterizado pela grande limitação
de espaços livres, fazendo com que as suas brincadeiras se confinassem mais a pequenos largos, ao
passeio, ou ao próprio interior da casa (jogos de
computador, consolas, ver televisão, etc.).
Quanto à prática de actividades físico-desportivas
no âmbito escolar, o grupo de crianças não ciganas que vivia em Lisboa, tinha Educação Física
(EF) duas vezes por semana sob a orientação de
um professor da especialidade. O grupo de crianças ciganas que vivia em Moura não chegava a
ter, em média, uma aula de EF por semana, a qual
era leccionada pelo próprio professor titular. Fora
do âmbito escolar, 23 crianças não ciganas referiram praticar actividades desportivas regularmente
(2 a 3 vezes por semana), na sua maioria natação,
ginástica e futebol.
Nenhuma criança de etnia cigana referiu a
prática regular de actividades físicas desportivas.
Meio
Procedimentos
Neste trabalho, para efeito comparativos do
nível de desenvolvimento motor dos grupos
da amostra, foi utilizado o Teste de Proficiência
Motora de Bruininks-Oseretsky (TPMBO) na
sua forma reduzida.
A aplicação do TPMBO decorreu durante uma
semana em cada uma das escolas seleccionadas,
tendo sido utilizados para o efeito espaços cobertos e fechados. A amostra foi distribuída em subgrupos de 3 ou 4 crianças, as quais foram avaliadas individualmente em cada uma das provas. Em
ambas as escolas metade das crianças realizaram
as provas durante o horário escolar da manhã e a
outra metade durante o horário escolar da tarde.
A forma reduzida do TPMBO estuda três componentes da proficiência motora: motricidade
global, composta e fina. No total são realizadas 14
provas (itens) que integram 8 sub-testes: corrida
de velocidade/agilidade, equilíbrio, coordenação
bilateral, força, coordenação dos membros superiores, velocidade de reacção, visuomotricidade
e dextralidade. De referir que Bruininks1 define
proficiência motora como um termo genérico
que se refere à performance obtida numa vasta
gama de testes motores.
Os valores obtidos em cada um dos itens foram
convertidos em pontos segundo o manual do
TPMBO1. Os valores da motricidade fina, global
e composta, resultaram da soma da pontuação
obtida nos itens que as constituem. Os valores de
proficiência motora resultaram da soma da pontuação de todos os itens.
O TPMBO foi desenvolvido para estudar as
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aquisições motoras de crianças e jovens, não só
avaliando funções e disfunções motoras, como
inclusivamente atrasos de desenvolvimento. A sua
aplicação pode ser feita em crianças entre os 4,5
e o 14,5 anos1. É um teste credível e de ampla
aplicação, quer na psicologia, quer na educação5.
Estatística
Para efeitos de comparação entre os grupos da
amostra, e uma vez que não se verificou a normalidade da distribuição dos resultados na grande
maioria das variáveis estudadas, procedeu-se à
utilização do teste não paramétrico de MannWhitney. Foi utilizado um nível de significância
de p<0,05.
O tratamento estatístico foi efectuado através do
programa SPSS para Windows, Copyright SPSS©
Inc., versão 13.0
Resultados
Foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas entre os resultados obtidos pelos
grupos da amostra em muitas das variáveis da
proficiência motora. Os resultados encontramse no Quadro nº2, destacando-se, desde logo, o
facto da amostra de crianças ciganas apresentar
valores significativamente inferiores para dois dos
três grupos de habilidades analisadas: motricidade
global (p=0,015) e motricidade fina (p=0,000).
Ao efectuar-se uma análise por item, verificaram-se na Motricidade Global melhores desempenhos das crianças não ciganas no equilíbrio
(p=0,00 para o equilíbrio unipedal) e na corrida
de agilidade (p=0,021). Na Motricidade Fina
as crianças não ciganas revelaram um controlo
visuo-motor superior, mais concretamente no
desenho da linha (p=0,035) e na cópia de figuras
(p=0,000 para cópia de lápis sobrepostos). Apresentaram, ainda, maior destreza manual na marcação de pontos (p=0,000).
NS: Não Significativo
Em todos os outros itens não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, no
entanto, e à excepção de um teste da motricidade composta (lançamento da bola a um alvo) e
de um teste de motricidade fina (velocidade de
resposta), as crianças não ciganas obtiveram sempre resultados médios iguais ou superiores aos das
crianças ciganas.
Na sequência dos dados já apresentados, o nível
global de Proficiência Motora foi significativamente superior (p=0,005) entre o grupo de crianças não ciganas.
Discussão
Em alguns estudos têm sido referidas diferenças
em determinadas variáveis do desenvolvimento
motor das crianças, em função da proveniência geográfica - meio rural versus meio urbano
15,19,20,21
. No entanto, os resultados apontam uma
tendência oposta ao verificado neste estudo, i.e.,
quando detectadas diferenças as crianças que
vivem em meio rural estão, frequentemente,
numa posição vantajosa. Para explicar tal facto
têm sido apontados factores como a acessibilidade aos espaços para brincar, as características
dos mesmos, e os estilos de vida relacionados com
a gestão do tempo de trabalho e de lazer 12,22.
Porque razão as crianças ciganas, que têm maiores vantagens na acessibilidade aos espaços físicos
abertos e livres, apresentam resultados inferiores
na performance motora? De um modo geral
poucos trabalhos publicados estudaram aprofundadamente a cultura da população cigana,
designadamente nos seus hábitos de lazer. No
entanto, os que existem e que foram referidos na
introdução, apontam para diferenças substanciais na forma como a população de etnia cigana
entende o lazer e a própria brincadeira. Esta
parece ter, desde cedo, um papel característico
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O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.
José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu
Quadro n.º 2: Pontuação (Média ± DP) obtida pelo grupo de crianças ciganas e pelo grupo de crianças não
ciganas nos itens avaliados pela forma reduzida do TPMBO. Valores significativos de p para a comparação
entre grupos obtido através do teste Mann-Whitney.
Crianças
ciganas
24,73 ± 4,72
Motricidade Global
Crianças
não ciganas
27,60 ± 3,05
0,015
p
Corrida de Agilidade
8,47 ± 1,31
9,30 ± 1,15
0,021
Equilíbrio Unipedal: equil. sobre uma trave Equilíbrio
4,30 ± 1,75
5,67 ± 1,06
0,000
Dinâmico: andar sobre uma trave
2,83 ± 1,49
3,17 ± 1,09
NS
Coordenação Bilateral: batim MI c/ círculos MS
0,13 ± 0,35
0,13 ± 0,35
NS
Coordenação Bilateral: salto c/ palmas
1,97 ± 0,62
2,27 ± 0,52
NS
Força: salto em comprimento sem balanço
7,03 ± 2,13
7,07 ± 1,36
NS
Motricidade Composta
4,73 ± 1,36
4,47 ± 1,04
NS
Coordenação Manual: agarrar uma bola
2,43 ± 0,94
2,43 ± 0,68
NS
Coordenação Manual: lanç.bola ao alvo
2,30 ± 0,79
2,03 ± 0,77
NS
17,87 ± 3,92
21,47 ± 2,80
0,000
Velocidade de resposta
4,90 ± 2,43
4,77 ± 1,22
NS
Controlo Visuo-Motor: desenhar uma linha
3,17 ± 1,15
3,63 ± 0,72
0,035
Controlo Visuo-Motor: copiar círculos
1,17 ± 0,59
1,60 ± 0,56
NS
Controlo Visuo-Motor: copiar lápis sobrepostos
0,43 ± 0,68
1,27 ± 0,87
0,000
Dextralidade: distribuir cartas
3,80 ± 1,13
4,33 ± 1,16
NS
Dextralidade: marcar pontos
4,40 ± 1,00
5,87 ± 1,20
0,000
47,33 ± 8,93
53,53 ± 5,70
0,005
Motricidade Fina
Proficiência Motora
na preparação das crianças para o futuro, transmitindo-lhes instrumentos indispensáveis ao seu
contexto sócio-económico.
Segundo Levinson7 as crianças ciganas estão
muitas vezes em grupos de idades diferenciadas,
passam pouco tempo sozinhas e utilizam poucos
dos brinquedos típicos da sociedade moderna. Na
opinião do autor, entre a etnia cigana não existe
uma distinção muito vincada entre trabalho e
lazer como sucede nas economias modernas.
Levinson & Sparkes (2003) citados por Levinson 7 referem que as crianças agem como adultos
desde muito jovens para ganhar estatuto social.
Todas estas especificidades estabelecem distinções óbvias com a maioria das crianças não
ciganas, pelo que, mesmo na escola, é comum
encontrarem-se nos recreios as crianças ciganas
separadas das outras crianças, muitas vezes por sua
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própria opção7. Comum entre muitas das crianças
ciganas é a ideia de que o conhecimento aprendido em casa é mais importante do que aquele
aprendido na escola 7.
Outra diferença substancial que pode estar na
origem das diferenças encontradas, prende-se
com o facto das crianças não ciganas terem um
acesso mais facilitado à educação físico-motora
e a vivências desportivas multidisciplinares, o
que pode potenciar um maior desenvolvimento
motor.
Na amostra deste estudo, essas diferenças situavam-se não apenas em termos de EF escolar mas
também em termos de actividades para além do
espaço escolar. É importante relembrar que os
alunos ciganos tinham, em média, menos de uma
aula de EF por semana (dada pelo próprio professor titular), enquanto as outras crianças tinham
EF duas vezes por semana sob a orientação de
um professor licenciado na Área. Fora do âmbito
escolar, a maioria das crianças não ciganas (76,7%)
praticavam actividades desportivas regularmente
(2 a 3 vezes por semana), enquanto nenhuma
criança de etnia cigana o fazia. O facto da maioria das crianças do meio urbano praticarem desporto nos seus tempos livres, vai de encontro ao
referido por Neto12, de que a crescente institucionalização dos tempos livres das crianças das
cidades se tem tornado uma alternativa ao jogo
livre e espontâneo
É importante salientar que, como consequência
do abandono escolar precoce de muitas crianças
ciganas, o acesso a actividades físico-desportivas
praticadas na escola e mesmo fora desta, está bastante comprometido. Por exemplo, no 3º ciclo do
ensino básico e, sobretudo, no ensino secundário,
a presença de jovens de etnia cigana é quase inexistente 13.
Vários estudos referem que o nível de prática
desportiva é inferior entre as crianças que habitam num meio rural 12,14,23 e entre crianças com
um estatuto sócio-económico inferior 6,14. Ambos
os factores são, de algum modo, característicos das
crianças do grupo de etnia cigana, o que também
ajuda a explicar os valores nulos de prática desportiva regular.
A relação da etnia cigana com o desporto
carece também de investigação. No único estudo
encontrado sobre o assunto, Thomson e Soós 24
referem que, entre os jovens húngaros de etnia
cigana que frequentavam duas escolas secundárias (com uma maioria de alunos de etnia cigana),
existia uma atitude menos positiva em relação ao
desporto e à actividade física que entre os outros
jovens húngaros. Referem, ainda, que os mesmos
tinham um nível de prática desportiva fora da
escola relativamente baixo.
A temática abordada neste trabalho permitiu
levantar algumas questões que seria importante
aprofundar em futuras investigações no âmbito
do desenvolvimento motor da comunidade de
etnia cigana. Por exemplo, seria pertinente estudar o nível de desenvolvimento motor em função
da idade biológica das crianças; do mesmo modo,
seria importante caracterizar de forma mais sistematizada as actividades desenvolvidas pelas crianças ciganas no seu tempo de lazer.
Neste estudo, procedeu-se à comparação do
desenvolvimento motor de crianças ciganas com
o de crianças não ciganas. Destacam-se as seguintes conclusões:
• Quando comparadas com crianças ciganas, as
crianças não ciganas apresentam valores significativamente superiores na motricidade global, na
motricidade fina e na proficiência motora.
• As mesmas diferenças significativas são verificadas para diversos sub-testes da bateria utilizada:
corrida de agilidade, equilíbrio unipedal, dextralidade - marcação de pontos, controlo visuomotor - cópia de lápis sobrepostos e desenho de
uma linha.
• O acesso privilegiado das crianças nas cidades a
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O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.
José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu
Referências
práticas físico-motoras devidamente estruturadas
e regulares (educação física e desporto extra-curricular) poderá ser um dos factores mais importantes na origem das diferenças encontradas.
• Outro factor poderá ser a especificidade sóciocultural da população de etnia cigana, que se traduz num estilo de vida com características diferenciadas designadamente no que diz respeito aos
hábitos de lazer.
Correspondência
José Marmeleira.
Rua Marechal Francisco da Costa Gomes, lote
1,
7080-019 Vendas Novas
[email protected]
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297{ Investigação
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Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes
de atletismo
José Vasconcelos-Raposo1, João P. Lázaro1, Carla Teixeira1, Maria P. Mota1 e Hélder M. Fernandes1
1
Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Actividade Física e Saúde, da Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro,
Vila Real, Portugal.
Vasconcelos-Raposo, J.; Lázaro, J.; Mota, M.;
Fernades, H.; Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo. Motricidade 3(1): 298-314
Resumo
Abstract
Com este estudo pretendemos caracterizar os
níveis de ansiedade dos lançadores e saltadores
iniciados e juvenis portugueses. A amostra foi
constituída por 147 atletas (89 masculinos e 58
femininos). Foram subdivididos em grupos de
acordo com as variáveis independentes a serem
testadas, nomeadamente: escalão (61 iniciados e
86 juvenis), especialidade (78 saltos e 69 lançamentos), top ten (17 masculinos e 26 femininos).
Para os propósitos do estudo utilizámos o Questionário de Auto-avaliação (CSAI-2) e o ICPC.
Os procedimentos estatísticos foram: cálculos de
frequências e o coeficiente de correlação Produto
– momento de Pearson. No geral, os resultados
tendem confirmar os encontrados nos estudos de
referência e sugerem que o ICPC, se utilizado
de forma sistemática, é bom instrumento para os
treinadores aprofundarem os seus conhecimentos
sobre os atletas.
Characterization of anxiety levels among
track and field athletes
The purpose of this study was to characterize
the levels of anxiety among young track and field
athletes. The sample consisted of 147 athletes
(89 males and 58 females). These were divided
according to the independent variables defined
for the present study, namely: competitive agegroup, sport and ranking. The4 instruments used
were the CSAI-2 and ICPC. The statistical procedures used were the descriptive and correlation
techniques. In general the results confirmed those
obtained in prior studies. The results further suggested that the systematic use of the ICPC by
coaches may be an adequate way to better know
the athletes they work with.
Key-words: anxiety, pre-competitive behaviour, CSAI-2 and Inventory of Pre-competitive
Behaviours (ICPC).
Palavras-chave: ansiedade, comportamentos
pré-competitivos, CSAI-2 e Inventário de Comportamentos Pré-competitivos (ICPC).
Data de submissão: Novembro 2006
Data de aceitação: Janeiro 2007
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Introdução
O desporto, a qualquer nível que seja praticado,
é gerador de intensos níveis de stresse, quer do
ponto de vista psicológico como do fisiológico.
Perante tais experiências, os atletas e treinadores
procuram encontrar formas que, de alguma
maneira, lhes permitam exercer um maior controlo sobre os processos que imediatamente antecedem a competição. Ambas as partes concordam
que o período de pré-competição requer alguns
cuidados adicionais para que o estado de prontidão competitiva não seja negativamente influenciado. A forma como os atletas se envolvem
com os seus pensamentos, emoções e comportamentos em geral pode determinar a diferença
entre o sucesso e o fracasso competitivo 14.
O período pré-competitivo requer uma preparação específica, quer a nível físico quer mental.
Presentemente, o grau de conhecimentos sobre
teoria e metodologia do treino desportivo é de
tal forma sofisticado que os atletas chegam aos
momentos da competição bem preparados fisicamente. Por esta razão, mais do que nunca, a
preparação mental é assumida pelos treinadores
e atletas como da maior importância. Porém, a
psicologia do desporto nem sempre tem tomado
em consideração as necessidades práticas destes
agentes desportivos, para quem a validade dos
conceitos e dos contributos científicos só fazem
sentido se encontram eco nas suas práticas diárias.
Assim, a psicologia do desporto deverá assumir
este requisito como um dos critérios para avaliar
a sua importância para o rendimento desportivo.
A preparação mental para os momentos que antecedem a competição é da maior
importância para os resultados finais. O treino
mental requer, entre outras coisas, que os atletas aprendam e desenvolvam um conjunto de
habilidades que visam aumentar o autocontrolo
em processos como: concentração, foco da atenção, controlo emocional, relaxação, definição de
objectivos, pensamentos positivos, visualização,
e rotinas pré-competitivas, com o objectivo de
manter um sistema de reforço capaz de promover
o estado psicológico ideal para a competição.
Da revisão da literatura que realizámos para a
elaboração deste trabalho, foi-nos possível constatar que o período pré-competitivo tem merecido pouca atenção por parte dos psicólogos. O
pouco material encontrado sugere que os estudos
tendem a centrar-se nos aspectos ritualísticos ou
comportamentos supersticiosos2,3,9,10,17. Quando
a preocupação se centra ao nível das emoções,
nomeadamente da ansiedade, o número das publicações aumenta de uma forma acentuada 11,20,21.
São praticamente inexistentes os estudos que
abordam os comportamentos pré-competitivos.
Entre outras razões, talvez possamos destacar
aquelas que se nos apresentam como mais evidentes: 1) os comportamentos a serem observados são de um foro mais íntimo do que aqueles
que normalmente são estudados pelos psicólogos que recorrem aos testes de lápis e papel; 2)
pela razão atrás referida, torna-se necessário que
quem queira estudar estes comportamentos tenha
que investir numa relação em que as dinâmicas a
observar são as típicas das que são estabelecidas
entre psicólogo e atleta; 3) é reduzido o número
de psicólogos que para além das suas actividades
académicas também estão envolvidos directamente na preparação mental dos atletas em que
se fundamentam para a elaboração dos trabalhos
a serem publicados.
Atletas e treinadores empenham-se na procura
de informação e apoio de psicólogos com o
intuito de promover as condições necessárias à
construção do estado ideal de prestação. Para se
conseguir tal estado, é da maior importância que
os atletas identifiquem as condições e os comportamentos associados às suas melhores prestações
5,29,33,34
. Os comportamentos que nos são dados
299 {Investigação
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Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo
José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes
a observar nos períodos pré-competitivos servem
múltiplos propósitos para a preparação mental dos
atletas para a competição: 1) manter a concentração; 2) organizar os estímulos internos e externos; 3) promover um espaço onde o atleta se sinta
em controlo do que lhe rodeia; 4) implementar
um sistema de feedback que concomitantemente
reforce o sentimento de auto-eficácia, assim como
de controlo sobre os processos em curso.
Enquanto Keating e Hogg 14 realçam a importância dos comportamentos ritualisticos, Sherman 26
argumenta que há riscos na utilização dos rituais
quando estes são implementados de uma forma
rígida, uma vez que qualquer erro que ocorra na
sequência dos comportamentos e gestos, aumenta
as probabilidades para o indivíduo entrar num
estado psicológico em nada condizente com os
requisitos e rigores impostos pelo rendimento
desportivo.
Julgamos pertinente esclarecer que quando nos
referimos aos comportamentos pré-competitivos temos como referência que há diferença
entre rotinas pré-competitivas e comportamentos supersticiosos. As primeiras são o resultado de
um processo de aprendizagem e alicerçam-se nas
estratégias cognitivas que são intencionalmente
utilizadas pelos atletas, com o objectivo de facilitar a prestação competitiva que se lhes segue 4,18.
Os comportamentos supersticiosos, por sua vez,
reflectem o sistema de crenças do atleta que o
leva a acreditar que forças externas a si podem
influenciar o resultado das competições em que
vão participar. Exemplos do que consideramos
rotinas incluem a prática da visualização, técnicas
de relaxação, técnicas de controlo atencional, etc.,
e que tendem a estar relacionadas com bons níveis
competitivos, assim como com bons resultados
nas competições 7,12,19;28.
No nosso estudo procuramos identificar os comportamentos que estão intimamente associados
aos processos de autocontrolo 1,24, uma vez que
sabemos que esses são os que mais directamente
se relacionam com o sucesso desportivo.
Com o nosso estudo pretendemos verificar quais
são os níveis de ansiedade evidenciados pelos
atletas, iniciados e juvenis, nas especialidades de
lançamentos e saltos. Constatar se existem diferenças estatisticamente significativas entre rapazes
e raparigas, assim como se há diferenças entre os
escalões referidos e entre estes e os praticantes que
se qualificam no top ten da modalidade. Por fim,
ver se há diferenças por especialidade.
Metodologia
Amostra
A nossa amostra foi constituída por 147 atletas, dos quais 78 eram saltadores e 69 lançadores,
tendo todos eles participado em provas organizadas pela Federação Portuguesa de Atletismo ou
pelas Associações Regionais da referida modalidade.
Dos 147 atletas inquiridos, 58 eram do género
feminino e 89 do género masculino, pertencendo
61 ao escalão de iniciados e 86 ao escalão juvenil.
Do total de atletas estudados 43 estavam cotados
no “Top Ten” do ranking nacional (quadro 1).
Procedimentos
Para a elaboração do nosso estudo aplicámos o
Questionário de Auto-avaliação (CSAI-2), elaborado por Martens,Vealey e Burton 16. O CSAI-2
é um instrumento de medida multidimensional,
composto por 27 afirmações/questões, que
tem como objectivo diagnosticar e quantificar
3 variáveis psicológicas: ansiedade cognitiva (9
itens), ansiedade somática (9 itens) e autoconfiança (9 itens). Respeitamos a estrutura da escala
original que apresenta três possibilidades de resposta.
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Utilizámos ainda o Inventário Comportamental Pré-competitivo (ICPC), que nos possibilitou
caracterizar os comportamentos pré-competitivos da amostra. Este inventário foi elaborado por
Rushall 22,23. É constituído por 42 questões que
visam determinar os comportamentos pré-competitivos dos atletas. Na versão portuguesa, cada
questão apresenta cinco hipóteses de resposta,
estando cada uma delas quantificada numa escala
do tipo Likert de 1 a 5 da seguinte forma: (1)
nunca; (2) raramente; (3) às vezes; (4) frequentemente; (5) sempre.
Ambos os instrumentos foram traduzidos e validados para português em estudos anteriores.
Estatística
Para sabermos qual a percentagem de respostas por cada variável comportamental pré-competitiva dada pelos elementos da nossa amostra
recorremos à estatística descritiva. Para sabermos
qual a associação entre as variáveis do ICPC e do
CSAI-2 calculámos o coeficiente de correlação
Produto – momento de Pearson.
Resultados
Com o propósito de possibilitar a comparação
dos valores obtidos no presente estudo com os
de outros trabalhos já publicados, apresentamos
os valores médios obtidos através da aplicação do
CSAI-2.
Médias observadas em ambos os grupos no
CSAI-2
Passaremos, de seguida, a apresentar as médias
observadas no CSAI-2 (quadro 1).
Pudemos verificar, da observação do quadro
1, que o valor médio mais elevado, apresentado
pelos atletas por nós estudados, diz respeito à
autoconfiança com 25,7; de seguida, aparece-nos
a ansiedade cognitiva com 24,1, apresentando
a ansiedade somática o valor mais baixo, com
22,1.
No quadro 2 apresentamos os coeficientes de
correlação existentes entre a autoconfiança e as
variáveis do ICPC. Verificámos que as variáveis
comportamentais pré-competitivas apresentadas
no quadro 2 e a autoconfiança apresentaram correlações estatisticamente significativas, contudo
deveremos salientar os itens: “o atleta fica tenso e
nervoso antes da competição” e “quando perde a
confiança antes da prova, o atleta sabe o que fazer
para a recuperar”, por serem as mais significativas
(p≤0,001).
Encontramos correlações negativas entre a
autoconfiança e as questões “atleta fica tenso e
nervoso antes da competição”, “quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado
mais”, “o atleta sente que o facto de os espectadores o chatearem continuamente antes da prova
afecta a sua performance e “antes das provas o atleta
sente que os seus nervos ficam de tal forma que à
mínima coisa se irrita”, os valores obtidos foram
os seguintes: – 0,267; -0,165; -0,177 e -0,185,
respectivamente. Com as restantes questões verificamos uma correlação positiva, ou seja a autoconfiança é tanto maior quanto maiores forem
os valores apresentados pelas questões: “O atleta
gosta mais de competir do que de treinar”;
“quando excitado antes da prova o atleta sabe o
que fazer para se acalmar”; “quando perde a confiança antes da prova, o atleta sabe o que fazer
para a recuperar”; “o atleta deita-se de forma a
poder ter pelo menos oito horas de sono”.
No que concerne à correlação existente entre a
autoconfiança e a ansiedade somática e cognitiva
verificámos que estas apresentaram coeficiente
de correlação negativo, com r = – 0, 163 para
a correlação autoconfiança – ansiedade cognitiva
e r = – 0,174 para a correlação autoconfiança
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Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo
José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes
Quadro 1: Valores médios e desvios padrão ao CSAI-2
Variáveis CSAI-2
Média
±S.D.
Ansiedade Cognitiva
24,1
±4,4
Ansiedade Somática
22,1
±4,2
Autoconfiança
25,7
±4,3
Quadro 2: Coeficiente de correlação e significância estatística entre a autoconfiança e os itens comportamentais pré-competitivos
Variável
Descrição do comportamento
r
p ≤0,05
ICPC1
O atleta gosta mais de competir do que de treinar
0,198*
0,016
ICPC5
O atleta fica tenso e nervoso antes da competição
-0,267**
0,001
ICPC19
Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado mais
-0,165*
0,046
0,185*
0,025
0,273**
0,001
0,206*
0,012
-0,177*
0,032
-0,185*
0,025
ICPC27
ICPC28
ICPC30
ICPC34
ICPC40
Quando excitado antes da prova o atleta sabe o que fazer para se
acalmar
Quando perde a confiança antes da prova, o atleta sabe o que fazer
para a recuperar
O atleta deita-se de forma a poder ter pelo menos oito horas de sono
O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear
continuamente antes da prova afecta a sua performance
Antes das provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma
que à mínima coisa se irrita
– ansiedade somática (quadro 3).
O facto de as correlações serem negativas levanos a pressupor que, quanto mais elevados forem
os níveis de ansiedade somática e cognitiva,
menor será o nível de autoconfiança dos atletas,
tal como preconizado pela teoria.
Pela análise do quadro 4 verificámos que o coeficiente de correlação entre a ansiedade somática
e as variáveis do ICPC é significativo para as
questões: “o atleta fica tenso e nervoso antes de
uma competição importante”, “o atleta sente
necessidade de ter um plano de prova para situações inesperadas”, ”o atleta antes de uma prova
importante distrai-se ao ponto de afectar a sua
performance, “o atleta ensaia mentalmente os seus
planos de prova”, “o atleta pensa durante a prova
no quanto o esforço lhe irá custar”, “o atleta
quando se sente cansado tenta com mais força”,
“o atleta preocupa-se com o quanto vai doer o
esforço durante a prova”, “o atleta gosta que o
treinador lhe relembre a estratégia competitiva
antes da prova”, “o atleta suporta as pressões na
parte final de uma competição”, “quando os
espectadores antes da prova o perturbam continuamente a sua performance é afectada”, “a tensão
antes da competição é tal que a mínima coisa o
irrita” e “no intervalo das provas o atleta revê o
plano relativo à que se segue”.
As correlações mais significativas são entre a
ansiedade somática e as questões: “o atleta fica
tenso e nervoso antes da competição”, “durante
a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe
irá custar”, “o atleta quando começa a sentir-se
cansado tenta ainda com mais força”, “o atleta
preocupa-se com o quanto vai doer o esforço
durante a prova”,“atleta gosta que o treinador lhe
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Quadro 3: Coeficiente de correlação e significância entre a autoconfiança e a ansiedade somática e a ansiedade cognitiva.
Autoconfiança
Variáveis do CSAI-2
r
p
Ansiedade cognitiva
- 0,163
0,949
Ansiedade somática
- 0,174
0,035
Quadro 4: Coeficiente de correlação e significância estatística entre a ansiedade somática e os itens comportamentais pré-competitivos
Variável
ICPC5
ICPC10
ICPC11
Descrição do comportamento
Os atletas ficam tenso e nervoso antes da competição
O atleta sente necessidade de ter um plano de prova para
situações inesperadas
O atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de
afectar a sua performance
r
p.
0,395**
0,000
0,164*
0,048
0,181*
0,028
ICPC12
O atleta ensaia mentalmente os seus planos de prova
0,176*
0,033
ICPC14
Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar
0,280**
0,000
-0,225**
0,006
0,274**
0,001
-0,164*
0,040
0,335**
0,000
-0,219**
0,008
0,171*
0,039
0,209*
0,011
0,213**
0,009
ICPC17
ICPC25
ICPC27
ICPC29
ICPC33
ICPC34
ICPC40
ICPC41
* P ≤0,05
O atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com
mais força
O atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a
prova
O atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que
fazer para se acalmar
O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia de
competição para a prova
O atleta durante a fase final de uma competição importante
suporta bem as pressões (stresse)
Quando os espectadores antes da prova o perturbam
continuamente a sua performance é afectada
A tensão antes da competição é tal que a mínima coisa o irrita
No intervalo das provas o atleta revê o plano relativo à que se segue
** P≤ 0,01
recorde a estratégia de competição para a prova”,
“o atleta durante a fase final de uma competição
importante suporta bem as pressões (stresse)” e
“no intervalo entre as provas o atleta revê o plano
relativo à que se segue”.
De salientar que as correlações entre a ansiedade
somática e as questões “o atleta quando começa
a sentir-se cansado tenta ainda com mais força”
e “o atleta durante a fase final de uma competi-
ção importante suporta bem as pressões (stresse)
” foram negativas.
Para além das correlações referidas, verificámos
que, entre a ansiedade somática e a questão “o
atleta se se sente muito excitado antes da prova
sabe o que fazer para se acalmar” há uma correlação negativa, ou seja, existe uma relação inversa
entre o referido comportamento e a ansiedade
somática.
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Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo
José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes
No que diz respeito às correlações entre a ansiedade somática, a ansiedade cognitiva e a autoconfiança o coeficiente de correlação é negativo,
sugerindo que quanto mais baixo for o nível da
ansiedade cognitiva e da autoconfiança, maior
será o nível da ansiedade somática (quadro 5).
Estes resultados evidenciam a necessidade de se
da prova” e “o atleta durante a fase final de uma
competição importante suporta bem as pressões
(stressee)”
Foram encontradas correlações negativas entre a
autoconfiança e as questões “o atleta sabe como
se preparar psicologicamente de modo a que a sua
prestação seja a melhor se está preocupado antes
Quadro 5: Coeficiente de correlação e significância entre ansiedade somática a autoconfiança e a ansiedade
cognitiva.
Ansiedade somática
Variáveis do CSAI-2
R
Sig. de p.
Ansiedade cognitiva
- 0,420
0,000
Autoconfiança
- 0,174
0,035
realizarem outros estudos de forma a melhor
compreendermos esta relação.
As correlações estatisticamente significativas
entre a ansiedade cognitiva e as questões comportamentais pré-competitivas podem ser analisadas no quadro 6.
Assim, verificamos uma correlação estatisticamente significativa entre a ansiedade cognitiva
e as questões:” atleta fica tenso e nervoso antes
da competição”, “o atleta sabe como se preparar
psicologicamente de modo a que a sua prestação seja a melhor se está preocupado antes da
prova”, “o atleta sente necessário ser possuidor de
um plano para a prova quando a competição não
está a correr como o esperado”, “o atleta antes
de uma prova importante distrai-se ao ponto de
afectar a sua performance”, “o atleta ensaia mentalmente os planos antes da prova”,“durante a prova
o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar”,
“o atleta gosta que o treinador lhe recorde a
estratégia da competição da prova”, “quando
perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o
que fazer para a recuperar”, “o atleta gosta que o
treinador lhe recorde a estratégia da competição
da prova”, “quando perde a confiança antes da
prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar”,
“o atleta durante a fase final de uma competição
importante suporta bem as pressões (stressee) ”,
“o atleta aceita um erro cometido pelo árbitro,
mesmo que este o afecte sem fazer comentários”
e ”quando uma prova se está a aproximar o atleta
consegue concentrar-se, sem que nada o distraia”.
No que concerne às correlações existentes entre
a ansiedade cognitiva, a autoconfiança e a ansiedade somática (quadro 7), verificámos que: 1- Há
uma correlação muito significativa entre a ansiedade cognitiva e a ansiedade somática (p&0,0001);
2- que em relação à autoconfiança, verificámos
que existe uma correlação negativa (r = -0,163).
Assim sendo, quanto mais baixa for a autoconfiança, maior será a ansiedade cognitiva
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Quadro 6: Coeficiente de correlação e significância estatística entre a ansiedade cognitiva e os itens comportamentais pré-competitivos
Itens do ICPC
ICPC5
Descrição do comportamento
O atleta fica tenso e nervoso antes da competição
R
P
0,296**
0,000
O atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua
prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova)
O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova
quando a competição não está a correr como o esperado.
O atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de afectar a
sua performance
-0,164*
0,047
0,225**
0,006
0,190*
0,021
ICPC12
O atleta ensaia mentalmente os planos antes da prova
0,182*
0,027
ICPC14
Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar
0,223**
0,007
0,172*
0,037
-0,173*
0,036
0,251**
0,002
-0,192*
0,020
0,163*
0,049
-0,176*
0,033
-0,183*
0,027
0,207*
0,012
ICPC8
ICPC10
ICPC11
ICPC19
ICPC28
ICPC29
ICPC33
ICPC34
ICPC35
ICPC38
ICPC40
O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da
prova
Quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para
a recuperar
O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia de competição
para a prova.
O atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem
as pressões (stresse)
O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente
antes da prova afecta a sua performance
O atleta aceita um erro cometido pelo árbitro, mesmo que este o afecte
sem fazer comentários
Quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue concentrar-se,
sem que nada o distraia.
Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma
que à mínima coisa se irrita
Quadro 7: Coeficiente de correlação e significância entre ansiedade cognitiva a autoconfiança e a ansiedade
somática.
Ansiedade cognitiva
Variáveis do CSAI-2
R
P
Ansiedade somática
0,420
0,000
Autoconfiança
- 0,163
0,049
305 {Investigação
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Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo
José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes
Discussão
Ao longo deste capítulo iremos comparar os
nossos resultados com os dados relativos a estudos
similares ao nosso, nomeadamente o realizado
por Jones, Hanton e Swain 13. Este trabalho teve
como objectivo verificar quais as diferenças existentes entre a direcção e a intensidade dos sintomas da ansiedade pré-competitiva em função do
nível de performance dos jogadores de Cricket.
Faremos também referência ao estudo desenvolvido por Teixeira e Vasconcelos-Raposo27,
realizado com nadadores pré-juniores portugueses, que teve como objectivo normalizar os
valores das variáveis do CSAI-2 para o referido
escalão etário.
Para além destes dois estudos, analisaremos também os dados obtidos por Ferraz e VasconcelosRaposo 8 no seu estudo com nadadores juniores
portugueses, que teve como objectivo avaliar os
níveis de ansiedade assim como caracterizar os
comportamentos pré-competitivos dos jovens
nadadores.
EST-1 = Jones & Swain (1994); EST-2 = Teixeira & Vasconcelos-Raposo (1997): EST-3 = Ferraz & Vasconcelos-Raposo (1997); EST-4 = Presente estudo
No quadro 8 poderemos observar os resultados
relativos aos estudos sobre a ansiedade
Verificámos que em relação ao estudo realizado
por Jones Hanton e Swain13, os valores apresentados pela nossa amostra foram superiores para as
três variáveis em questão. No que diz respeito à
autoconfiança, a média dos nossos atletas foi mais
elevada em 3,7 pontos. Em relação à ansiedade
somática os nossos atletas apresentaram 2,1 pontos acima e, finalmente, no que concerne à ansiedade cognitiva a diferença foi de 3,1 pontos.
Deveremos salientar que da amostra de Jones,
Hamton e Swain 13 faziam parte jogadores de
cricket (desporto colectivo), enquanto que da
nossa amostra faziam parte saltadores e lançadores
(desporto individual) e, segundo Martens15 e Cruz
6
existem diferenças entre os níveis de autoconfiança, ansiedade somática e ansiedade cognitiva
em função dos atletas e do tipo de modalidade
que praticam, sendo de esperar que os atletas de
desportos individuais, tal como acontece no nosso
estudo, apresentem níveis significativamente mais
elevados de ansiedade do que os praticantes de
desportos colectivos.
No que diz respeito aos dados obtidos por Teixeira e Vasconcelos-Raposo27, verificámos que os
nossos resultados são mais uma vez superiores nas
três variáveis.
Comparando os resultados do nosso estudo com
os de Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, constatámos que o valor da autoconfiança foi um pouco
Quadro 8: Comparação dos valores médios e desvios padrão relativos às variáveis dos CSAI-2 dos estudos
desenvolvidos por Jones e Swain (1994), Ferraz e Vasconcelos-Raposo (1997) e o presente estudo.
EST-1
EST-2
EST-3
EST-4
Não Elite
Elite
Nadadores
Nadadores
Sal. Lanc.
Variáveis do CSAI-2
M ±SD
M ±SD
M ±SD
M ±SD
M ±SD
Autoconfiança
21,3 ± 4,5
22,5 ± 4,9
24,8 ± 4,5
26,2 ± 4,3
25,7 ± 4,3
Ansiedade cognitiva
22,9 ± 4,5
22,4 ± 5,0
21,0 ± 4,4
21,5 ± 5,3
24,1 ± 4,4
Ansiedade somática
18,9 ± 4,6
19,2 ± 4,9
21,4 ± 4,5
18,9 ± 4,8
22,1 ± 4,2
306 {Investigação
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mais elevado nos nadadores e que a ansiedade
somática e a ansiedade cognitiva foi mais elevada
nos lançadores/saltadores da nossa amostra.
O facto de os valores médios encontrados para
a autoconfiança serem superiores aos encontrados por Jones, Hanton e Swain 13 e por Teixeira
e Vasconcelos-Raposo 27 é um bom indicador na
medida em que os atletas de elite quando comparados com os restantes parecem apresentar
níveis de autoconfiança mais elevados. Viana e
Cruz 32 acrescentam que os atletas autoconfiantes
apresentam-se bem preparados para responder às
exigências da modalidade, confiantes, têm objectivos específicos para cada competição e sabem
integrar positivamente as experiências da competição. Contudo, segundo Vasconcelos-Raposo
30
, esta interpretação não é linear pois os atletas
que apresentam elevados índices de autoconfiança poderão, erradamente, pensar que não
necessitam de se mentalizar ou de “treinar duro”
para obter uma boa performance. (quadro 9)
O facto dos valores de ambas as dimensões da
ansiedade serem baixos poderão sugerir que os
atletas da nossa amostra percepcionam a competição de forma pouco ameaçadora. Contudo,
também pode ser o resultado do método utilizado no preenchimento dos inquéritos.
Os resultados obtidos relativamente às correlações entre os itens do ICPC e as escalas do
CSAI-2 permitem a treinadores, psicólogos e
atletas identificar os comportamentos que ser
tomados em consideração nos momentos que
imediatamente antecedem a competição e assim
contribuírem para o processo de controlo comportamental desejável no contexto competitivo
e que tende a estar associado às melhores performances.
Quando comparamos os nossos resultados com
os de Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, verificámos que somente duas questões são comuns: “O
atleta fica tenso e nervoso antes da competição”
e “quando perde a confiança antes da prova, o
atleta, sabe o que fazer para a recuperar”.
De acordo com os valores apresentados será
conveniente que os treinadores dos atletas das
modalidades estudadas através da nossa amostra
trabalhem conjuntamente com os seus atletas
no desenvolvimento de rotinas pré-competitivas com o objectivo de: (1) diminuir os níveis de
excitação e nervosismo do atleta antes das provas,
que poderá passar pela implementação de técnicas de auto-conhecimento; relaxamento e ensaio
mental; (2) redireccionar a atenção dos atletas dos
espectadores na medida em que as acções desenvolvidas por estes distraem e irritam os atletas.
No quadro 10 podem ser observados os dados
obtidos por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8 e no
presente estudo no que concerne à correlação
existente entre a ansiedade somática e as variáveis
do ICPC.
Tendo por base as correlações positivas encontradas, no presente esstudo, entre a ansiedade
somática e as questões ICPC 17 (O atleta quando
começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais
força), IPCC 25 (O atleta preocupa-se com
o quanto vai doer o esforço durante a prova),
IPCC 27 (O atleta se se sente muito excitado
antes da prova sabe o que fazer para se acalmar)
e IPCC 33 (O atleta durante a fase final de uma
competição importante suporta bem as pressões
(stresse)), podemos afirmar que o facto de o atleta
se sentir cansado durante a competição, de se
preocupar com o quanto lhe vai custar o esforço,
de se sentir muito excitado antes da prova, de
conseguir suportar o stresse da parte final das
competições contribuem para o aumento da
ansiedade somática.
Verificamos, ainda, pelas correlações negativas
entre a ansiedade somática e as questões ICPC 3
(O atleta gosta de ter o treinador consigo durante
a competição), ICPC 5 (O atleta fica tenso e nervoso antes da competição), ICPC 29 (O atleta
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Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo
José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes
Quadro 9: Coeficiente de correlação existente entre a autoconfiança e as variáveis do ICPC/PC
Variável
Descrição do comportamento
ICPC1
O atleta gosta mais de competir do que de treinar
ICPC2
O atleta prefere fazer o aquecimento sem falar com os outros atletas
ICPC5
FVR
Presente
ns
-0,191
0,250
ns
O atleta fica tenso e nervoso antes da competição
-0,370
0,267
ICPC7
O atleta preocupa-se com os outros atletas antes da prova
-0,251
ns
ICPC8
O atleta sabe como diminuir a preocupação antes da prova
0,396
ns
ICPC12
O atleta ensaia mentalmente os planos antes da prova
0,225
ns
ICPC13
O atleta consegue concentrar-se nos períodos que antecedem a prova
0,377
ns
ICPC16
O atleta durante a prova guarda energia de forma a saber que vai ter
um bom final
0,238
ns
ICPC17
O atleta quando se sente cansado tenta ainda com mais força
0,249
ns
ICPC19
Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado mais
ns
0,165
ICPC23
O atleta sente-se mais confiante com os planos de prova detalhados
0,280
ns
ICPC24
O atleta usa situações desfavoráveis para testar o melhor esforço
0,270
ns
ns
-0,185
0,310
-0,273
ns
-0,209
0,295
ns
ns
0,172
0,263
ns
0,232
ns
ICPC27
ICPC28
Quando excitado antes da prova o atleta sabe o que fazer para se
acalmar
Quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer
para a recuperar
ICPC30
O atleta deita-se de forma a poder ter pelo menos oito horas de sono
ICPC31
O atleta treina coisas no aquecimento que irá fazer ao longo da prova
ICPC34
ICPC36
ICPC37
O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente
antes da prova afecta a sua performance
O atleta produz sempre o seu melhor esforço independentemente das
probabilidades
O atleta após uma má prestação tenta ainda com mais força na prova
seguinte
ICPC38
O atleta consegue concentrar-se sem que nada o distraia
0,370
ns
ICPC40
Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma
que à mínima coisa se irrita
ns
0,185
ICPC41
O atleta no intervalo das provas revê o plano relativo à que se segue
0,405
ns
8
FVR = Ferraz e Vasconcelos-Raposo .
308 {Investigação
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Quadro 10: Coeficiente de correlação existente entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC/PC.
Variável
Descrição do comportamento
Est 1
Presente
ICPC3
O atleta gosta de ter o treinador consigo durante a competição
ns
-0,177
ICPC5
O atleta fica tenso e nervoso antes da competição
0,675
-0,395
ICPC6
O atleta gosta de estar sozinho antes da competição
0,275
ns
ICPC7
O atleta preocupa-se com os outros atletas antes da prova
0,246
ns
ICPC8
O atleta sabe como diminuir a preocupação antes de uma prova
-0,239
ns
ns
-0,177
0,227
-0,181
ns
-0,192
-0,230
ns
ns
-0,311
ns
0,225
ICPC10
ICPC11
ICPC12
ICPC13
ICPC14
ICPC17
ICPC25
ICPC27
ICPC28
ICPC29
ICPC33
ICPC34
ICPC38
ICPC40
ICPC41
O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a
prova quando a competição não está a correr como o esperado
O atleta sente que antes duma prova importante pode ser
distraído ao ponto de afectar a sua performance
O atleta ensaia mentalmente os planos de competição antes da
prova
O atleta consegue concentrar-se durante os períodos que
antecedem aprova
Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar
O atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com
mais força
O atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a
prova
O atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que
fazer para se acalmar
ns-
0,299
-0,339
0,164
O atleta sabe como recuperar a confiança antes de uma prova
-0,310
ns
ns
-0,333
-0,244
0,214
ns
-0,174
-0,257
ns
0,383
-0,209
ns
-0,238
O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da
competição da prova
O atleta durante a fase final de uma competição importante
suporta bem as pressões (stresse)
O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear
continuamente antes da prova afecta a sua performance
O atleta consegue concentrar-se sem que nada o distraia
Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal
forma que à mínima coisa se irrita
No intervalo entre as provas o atleta revê o plano relativo à que
se segue
gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da
competição da prova), ICPC 40 (Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de
tal forma que à mínima coisa se irrita) e ICPC
41 (No intervalo entre as provas o atleta revê o
plano relativo à que se segue), que à medida que
a ansiedade somática aumenta os atletas da nossa
amostra sentem necessidade de ter o treinador
presente e que este lhes recorde as estratégias
definidas para a prova, de serem possuidores de
um plano de prova, de os reverem no intervalo
entre as competições e de ensaiarem mentalmente os planos de competição antes da prova.
Para além disso, quando a ansiedade aumenta,
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Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo
José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes
os atletas da nossa amostra, antes da prova, ficam
mais tensos e nervosos. Durante a prova pensam
mais intensamente no quanto o esforço lhes irá
custar.
Como sabemos, o facto de sermos conhecedores
das varáveis que têm correlação com a ansiedade
somática permite-nos contemplá-las como prioritárias para a preparação dos atletas para a competição de forma a potenciar as probabilidades
de obterem, de forma consistente, uma melhor
performance.
Os resultados obtidos no nosso estudo assim
como os obtidos por Ferraz e VasconcelosRaposo 8, no que diz respeito à correlação entre
a ansiedade somática e as variáveis do ICPC,
poderão ser observados no quadro 11.
De entre as questões que apresentam relação
estatisticamente significativa devemos salientar
as questões “o atleta fica tenso e nervoso antes
da competição”, “o atleta sente necessário ser
possuidor de um plano para a prova quando a
competição não está a correr como o esperado”,
“durante a prova o atleta pensa no quanto o
esforço lhe irá custar” e “o atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da
prova”, por serem as que apresentam associações
mais significativas (p≤0,0001). As associações
apresentadas são todas positivas, o que significa
que há uma relação directa entre as variáveis.
Comparando os resultados obtidos por Ferraz e
Vasconcelos-Raposo 8 com os nossos temos que
as questões ICPC5 (O atleta fica tenso e nervoso antes da competição), ICPC8 (O atleta sabe
como se preparar psicologicamente de modo a
que a sua prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova), ICPC11 (O atleta sente
que antes duma prova importante pode ser distraído ao ponto de afectar a sua performance),
ICPC33 (O atleta durante a fase final de uma
competição importante suporta bem as pressões
(stresse)) , ICPC38 (Quando uma prova se está a
aproximar o atleta consegue concentrar-se, sem
que nada o distraia) e ICPC40 (Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal
forma que à mínima coisa se irrita) são comuns
aos dois estudos.
Verificamos que a correlação existente entre a
autoconfiança, a ansiedade cognitiva e a ansiedade somática é muito significativa.
Quando comparados os resultados por nós obtidos com os obtidos por Ferraz e VasconcelosRaposo 8, constatamos que os resultados por nós
obtidos são, para as três variáveis em questão, mais
baixos (Quadro 12).
Tal facto leva-nos a supor que os atletas da
nossa amostra não vêm a competição de uma
forma tão assustadora como os atletas que serviram de amostra para os estudos supracitados,
pois, segundo Sewell & Edmondson 25, o facto
de haver uma correlação elevada entre as três
variáveis poderá estar relacionados com a forma
como o atleta encara a competição.
Como base na associação das variáveis do IPCC
e do CSAIS – 2, para a nossa amostra, podemos
concluir que há uma diminuição da autoconfiança se o atleta perde a confiança sem saber
como a recuperar e se fica tenso e nervoso antes
da competição.
Quando os atletas da nossa amostra ficam nervosos antes da competição, pensam durante a
prova no quanto o esforço lhes irá custar, não
suportam o stresse na fase final da competição,
não revêem o plano de prova no intervalo antes
da competição e os níveis de ansiedade somática
aumentam.
Quando os atletas são possuidores de um plano
de prova, quando sabem quanto lhes vai custar o
esforço e o treinador lhes recorda, antes da competição, a estratégia definida, há uma diminuição
dos índices de ansiedade cognitiva dos atletas da
nossa amostra.
Quanto mais reduzidos forem os valores da
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Quadro 11: Coeficiente de correlação existente entre a ansiedade cognitiva e as variáveis do ICPC/PC
Variável
Descrição do comportamento
Est 1
Presente
ICPC5
O atleta fica tenso e nervoso antes da competição
0,607
-0,296
ICPC6
O atleta gosta de ficar sozinho antes da competição
0,275
ns
ICPC7
O atleta preocupa-se com os outros competidores antes da prova
0,246
ns
-0,239
0,164
ns
-0,228
0,227
-0,190
ICPC8
ICPC10
ICPC11
ICPC12
ICPC13
ICPC14
ICPC19
ICPC27
ICPC28
ICPC29
ICPC33
ICPC34
ICPC35
ICPC38
ICPC40
O atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a
sua prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova
O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova
Quando a competição não está a correr como o esperado
O atleta sente que antes duma prova importante pode ser distraído
ao ponto de afectar a sua performance
O atleta ensaia mentalmente os planos de competição antes da
prova
O atleta consegue concentrar-se nos períodos que antecedem a
prova
ns
-0,198
-0,230
ns
Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar
ns
-0,246
ns
-0,185
-0,339
ns
ns
0,173
ns
-0,256
-0,244
0,190
ns
-0,167
ns
0,169
-0,257
0,194
0,383
-0,207
Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado mais
O atleta se está muito excitado antes da prova sabe o que fazer para
recuperar
Quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer
para a recuperar
O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da
competição da prova
O atleta durante a fase final de uma competição importante suporta
bem as pressões (stresse)
O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear
continuamente antes da prova afecta a sua performance
O atleta aceita um erro cometido pelo árbitro, mesmo que este o
afecte sem fazer comentários
Quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue
concentrar-se, sem que nada o distraia
Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma
que à mínima coisa se irrita
Quadro 12: Comparação dos coeficientes de correlação das três variáveis do CSAI-2 obtidas nos estudos
realizados por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, Sewell & Edmondson 25 e no presente estudo
Estudo de Ferraz & Raposo 8
Associações
Coef.de corr
Vealey in Sewell e
Edmondson 25
Coef.de corr
Estudo presente
Coef.de corr
Aconf – AnsCog
-0.51
-0,64
-0,163
Aconf - AnSom
-0,49
-0,60
-0,174
AnsCog – AnSom
-0,56
0,63
0,420
311 {Investigação
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Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo
José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes
ansiedade cognitiva e da ansiedade somática mais
elevado será o valor da autoconfiança.
Finalmente podemos afirmar que os comportamentos pré-competitivos que melhor se relacionaram com a autoconfiança, na nossa amostra,
foram: ICPC28 (o atleta sabe como recuperar a
confiança antes de uma prova); ICPC26 (o atleta
usa a informação e a experiência adquirida para
melhorar); ICPC5 (o atleta fica tenso e nervoso
antes de uma competição importante); ICPC30
(o atleta dorme oito horas, no mínimo, antes de
uma competição).
Os que mais se associaram com a ansiedade
somática, na nossa amostra foram: ICPC5 (o atleta
fica tenso e nervoso antes de uma competição
importante); ICPC25 (o atleta preocupa-se com
o quanto vai doer o esforço da prova); ICPC29
(o atleta gosta que o treinador lhe relembre a
estratégia competitiva antes da prova); ICPC32
(o atleta está sempre a horas para as competições),
ICPC17 (o atleta quando se sente cansado tenta
com mais força) e ICPC41 (O atleta no intervalo
das provas revê o plano relativo à prova que se
segue); ICPC 30 (O atleta dorme oito horas (no
mínimo) antes de cada competição importante).
Os que mais se associaram com a ansiedade cognitiva, no presente estudo, foram: ICPC5 (o atleta
fica tenso e nervoso antes de uma competição
importante); ICPC10 (o atleta sente necessidade
de ter um plano de prova para situações inesperadas); ICPC38 (o atleta concentra-se numa prova
sem que nada o distraia); ICPC29 (o atleta gosta
que o treinador lhe recorde a estratégia competitiva antes da prova); ICPC14 (durante a prova o
atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar)
e ICPC35 (o atleta aceita sem comentários um
erro do juiz ou do árbitro).
O facto de algumas destas associações encontradas contradizerem as teorias propostas para
a compreensão da influência da ansiedade no
contexto desportivo leva-nos a concordar com
Vasconcelos-Raposo 28,29,31 quando este alerta
para as limitações do conceito de ansiedade no
desporto. De acordo com este autor, o conceito
de ansiedade actualmente utilizado no desporto
é inadequado, e para melhor compreendermos
as repostas fisiológicas presentes no desporto e
as emoções que lhes acompanham é fundamental abandonar o conceito e a forma como este
tradicionalmente tem sido concebido e aplicado
à competição.
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Correspôndência:
Referências
José Jacinto Vasconcelos Raposo
Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro
– UTAD
Dep. Educação e Psicologia, Apartado 1013,
5000
Vila Real, Portugal
[email protected]
1 Bleak JL, Frederick CM. (1998). Superstition behavior in sport: levels of effectiveness and
determinants of use in three collegiate sports. J
Sport Behavior. 21(1):1-5.
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Sport Psychol. 6(3):148-152.
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Superstitious beliefs and behavior. A comparison of male and female basketball players. J Sport
Behavior. 4:175-185.
4 Cohn PJ. (1990). Preperformance routines in
sport: Theoretical support and practical applications. Sport Psychol. 4:301-312.
5 Cox RH. (1990). Sport psychology: Concepts of
applications. (2 ed.). Dubuque: Wm C. Brown.
6 Cruz J. (1996). Stresse, ansiedade e competências
psicológicas nos atletas de elite e de alta competição:
um estudo da sua relação e impacto no rendimento e
no sucesso desportivo. Braga: Centro de estudos em
Educação e Psicologia. Universidade do Minho.
7 Eklund RC, Gould D, Jackson SA. (1993).
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excellence: Reconciling individual differences
and nomothetic characterization. J Appl Sport
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8 Ferraz PC, Vasconcelos-Raposo J. (in press).
Identificação dos comportamentos pré-competitivos em
jovens nadadores.Vila Real: SDE- UTAD.
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10 Gregory J, Petrie B. (1975) Superstition of
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12 Hogg J. (1995) Mental Skills for swim coaches. A
313 { Investigação
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10-06-2007 20:45:20
Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo
José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes
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Madrid: Biblioteca Nueva.
314 { Investigação
motricidade3vol1111.indd 51
10-06-2007 20:45:20
Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios
da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo
comparativo
Vera Lúcia Bruch1, André Boscatto1, João Batista da Silva1, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto1, Humberto Jefferson de
Medeiros1,2, Paulo Moreira da Silva Dantas1,3 e Maria Irany Knackfuss1,4
1 - Laboratório de Biociências da Motricidade Humana-UFRN-RN
2 - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-RN
3 - UNIGRANRIO-RJ
4 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte-RN
Bruch, V.; André Boscatto, A.; Silva, J. B.;
Nóbrega, A.; Neto, M.; Medeiros, H. J.; Dantas,
P. M.; Knackfuss, M. I.; Indicadores cronológico,
morfológico e funcional e os estágios da
maturidade em escolares do nordeste do
Brasil: um estudo comparativo. Motricidade
3(1): 315-322
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo centra-se na analise dos
indicadores cronológico, morfológico e funcional
de escolares da cidade de Mossoró-RN, a partir dos
estágios maturacionais. O estudo caracterizou-se
como uma pesquisa descritiva, com tipologia comparativa, a amostra limitou-se a N= 305 divididos
em n = meninos 153 e n = meninas 152, de nove a
17 anos. Os protocolos utilizados foram IMC, somatória de dobras, salto horizontal e o teste de 30 m.
A estatística utilizada foi à descritiva. Os resultados
apontam para o desenvolvimento que estará sempre atrelado ao crescimento. A existência do comportamento de modificação das variáveis estudadas,
dentro de um caminho cronológico, mas com o
corte maturacional, constitui-se em uma estratégia
interessante de observação, permitindo, levar-se em
conta a intervenção natural oriunda do crescimento
e desenvolvimento dos indivíduos. Recomenda-se
portanto que sejam levados em conta não somente o
comportamento cronológico das variáveis intervenientes no crescimento e desenvolvimento humano,
mas o comportamento maturacional, como também
a utilização de instrumentos de indicação hereditária
e genética.
Palavras-chave: maturação, qualidades físicas
básicas, crescimento e desenvolvimento.
Data de submissão: Outubro 2006
Data de aceitação: Dezembro 2006
Chronological, morphological and functional
markers and maturational stages of students
from the northeast of Brazil: a comparative
study.
The aim of this study was to analyse chronological, morphologic and functional markers of students in the city of Mossoró-RN, in Brazil, taking
into account the maturational stages. The study was
classified as a descriptive comparative research. The
sample was composed of 305 children divided in two
groups: n = masculine 153 and n = feminine 152,
from nine to 17 years.The protocols used were Body
Mass Index, Skinfolds addiction, horizontal jump and
the 30 m test.We used a descriptive statistical analysis.
The results pointed to a development that will always
be linked to the growth.The existence of behavior of
modification of the studied variables, into a chronological way, but with the maturational cut, consists in
an interesting strategy of observation, and it permit to
take in account the natural intervention of the growth
and development of the individuals. So, it is recommended that not only the chronological behavior of
the intervening variables in the growth and human
development be taken in account, but the maturacional behavior, as well as, the use of instruments of
hereditary and genetic indication.
Key-words: maturation, basic physical qualities,
growth and development.
315{ Investigação
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Introdução
A escola em nosso país possui divisões bastante
caracterizadas. O ensino público, seja municipal,
estadual ou federal, é distinto do privado e estas
diferenças ficam claras em diversos setores: econômico, social, estrutural e organizacional. Tais diferenças influenciam sob maneira não só na qualidade do ensino, como no resultado oriundo desta
escola 1.
Em consonância com tais afirmações, está a realidade das populações que se servem destas instituições, caracterizadas por diferentes camadas sociais,
e que não permitem aos estudos a generalização
das observações.
Medeiros1 aponta que os indicadores ligados a
saúde, vem despertando interesse de pesquisadores
nas diferentes áreas de atuação, e os escolares tornam-se a população mais visada para desenvolver
estes estudos.
Este tipo de estudo se faz necessário, principalmente na comunidade escolar, onde os instrumentos utilizados, os testes de qualidade física e a
composição corporal, são alguns dos indicadores
para avaliar o estado de saúde e o desenvolvimento
físico destes escolares, clientela onde frequentemente tem-se observado indivíduos com sobrepeso ou obesidade.
Estes dois fatores são preocupantes porque estão
associados a doenças como hipertensão, diabetes,
doenças coronarianas, acidente vascular cerebral,
osteoporose e altos níveis de colesterol sangüíneo
2,3
.
Pena, Bacallao4 salientam que a redução na prática de exercícios físicos, decorrente da falta de
oportunidade de praticá-los de modo regular e da
ausência de informações no tocante aos benefícios
associados e a modificação qualitativa na dieta das
populações urbanas, com aumento no consumo
de gorduras e redução no consumo de fibras, o
que contribui para o aumento da prevalência de
obesidade na população de baixa renda.
Observando as tendências epidemiológicas, fica
evidente a necessidade de intervenção nesse relevante agravo à saúde, nos planos, coletivo e individual, abordando-se os principais fatores que
modulam seu aparecimento, especialmente a atividade física e os hábitos alimentares 5.
O contexto aqui exposto constitui-se como
indicativo a realização do estudo proposto, indo ao
encontro da necessidade da investigação quanto as
variáveis relacionadas tanto a composição corporal
como as capacidades funcionais do jovem escolar,
constituindo-se portando o objetivo deste estudo,
a analise dos indicadores cronológico, morfológico
e funcional de escolares da cidade de MossoróRN, a partir dos estágios maturacionais estabelecidos por Medeiros1 para escolares da região do
estado do Rio Grande do Norte, que utilizou
estágios maturacionais de Tanner.
Metodologia
Amostra
O estudo se caracterizou como uma pesquisa
descritiva, com tipologia comparativa, sendo os
sujeitos distribuídos em grupos de acordo com
as tabelas normativas do estágio da maturidade
proposto por Medeiros1, para escolares do Rio
grande do norte, estabelecendo como critério de
analise, os pelos pubianos.
A amostra, de caráter não probabilístico intencional, limitou-se a 305 sujeitos (Meninos =153 e
meninas =152), matriculados nas escolas, da rede
estadual, localizadas na zona urbana do município
de Mossoró, do estado do Rio Grande do Norte,
Brasil. Foram incluídos neste estudo, escolares de
5a a 8a serie, numa faixa etária de 9 a 17 anos,
participantes das aulas de Educação Física, que de
forma voluntária, se disponibilizaram em participar dos procedimentos avaliativos; autorizados
por seus responsáveis e que não apresentavam
316 { Investigação
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Resultados
algum tipo de enfermidade não foram inseridos
neste estudo.
Os procedimentos usados neste estudo respeitam as normas internacionais de experimentação
com humanos (Declaração de Helsínque, 1975)
e do Comitê de Ética do Conselho nacional de
Saúde do Brasil 196/96 . (colocar estes parágrafo
na amostra).
Procedimentos
Os protocolos utilizados foram de Quetelet para
determinação do IMC e Lohman para a somatória de dobras tricipital e subscapular referida em
Fernandes Filho6.
Na avaliação do desempenho motor foi utilizado o salto horizontal para medir a força dos
membros inferiores7, e o teste de 30 m para mensurar a velocidade8.
Para os cortes maturacionais por estágios utilizou-se o estudo de Medeiros1, que utilizou o
Auto Tanner, validado por Matsudo9, dividindo
os grupos em (1) pré-púbere, (2) púberes e (3)
pós-púberes, esta divisão em três classes visou
diminuir o erro interno.
A estatística utilizada foi à descritiva observando
os valores de tendência central e seus derivados,
associada a um teste de normalidade de Komogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Para as comparações utilizou-se a Anova one-way e como posthoc o teste de scheffe para grupos de quantitativos
diferentes. Objetivando-se a medição dos testes,
o presente trabalho se pauta em consonância às
considerações básicas do tratamento estatístico,
a fim de manter-se a cientificidade da pesquisa,
em que se considere o nível de significância de
p < 0,05, isto é, 95% de probabilidade para as
afirmativas e/ou negativas, denotadas durante as
investigações.
As Tabelas 1 e 2 demonstram-se os resultados de
idade, estatura e massa, do masculino e feminino
respectivamente.
Nas Tabelas 3 e 4, ao observar-se conjuntamente
o IMC e a Soma das dobras de tríceps e subscapular, testes de Salto horizontal e corrida de 30
metros no masculino e feminino.
Discussão
As Tabelas 1 e 2 demonstram o comportamento
esperado de aumento da idade tanto no masculino quanto para o feminino, independente do
descritor de tendência central. Chama-se a atenção que houve sempre tendência a idades superiores no masculino, indicando maior aceleração
das meninas quanto ao processo maturacional, o
que corrobora com a literatura9,1,10 confirmando
que a divisão nos três estágios obedeceu, Medeiros1, e que os resultados médios de entrada, saída
e permanência nos estágios púberes, coadunamse com o referido autor.
A estatura e massa no masculino, obedece ao
esperado quanto aceleração mais acentuado
da saída da puberdade para pós-pubere, o que
pode ser um indicado de maior manifestação das
características secundárias masculinas oriundas
de um grande aporte hormonal masculino11, e o
feminino indica um comportamento proporcionalmente menor mais acentuado pelo aumento
do peso.
Nas Tabelas 3 e 4, ao observar-se conjuntamente
o IMC e a Soma das dobras de tríceps e subscapular no masculino e feminino, fica evidente
nos grupos observados que a maior intervenção
das características secundárias masculinas e femininas manifestam-se especialmente no aumenta
da gordura dos compartimentos demonstrada nas
espessura das dobras no feminino, já que, o IMC
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Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um
estudo comparativo
Vera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de
Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss
Tabela 1: Masculino
estagio
1.00
2.00
3.00
Total
idade
estatura
massa
Mean
9.9545
1.4086
38.8636
N
22
22
22
Std. Devitation
0.21320
0.05401
9.77507
Median
* 10.0000
1.4000
34.5000
Mean
11.9655
1.4902
41.7931
N
87
87
87
Std. Devitation
0.70626
0.103967
11.18987
Median
*12.0000
1.4700
*39.0000
Mean
14.9545
1.6251
54.0682
N
44
44
44
Sta. Devitation
1.01052
0.09587
12.18157
Median
*15.0000
1.6350
52.5000
Mean
12.5359
1.5173
44.9020
N
153
153
153
Std. Devitation
1.84970
0.12089
12.69468
Median
12.0000
1.5000
44.0000
*As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas.
Existência de diferenças para p<0,01: Idade entre todos os estágios; estatura entre todos os estágios e
massa (1/3 e 2/3).
Tabela 2: Feminino
estagio
1.00
2.00
3.00
Total
idade
estatura
massa
Mean
10.0000
1.3972
39.1111
N
18
18
18
Std. Devitation
0.0000
0.06182
9.42393
Median
* 10 0000
1.3950
38.5000
Mean
12.4286
1.4972
42.8295
N
105
105
105
Std. Devitation
1.47320
0.07878
9.56755
Median
*12.0000
*1.4800
*41.000
Mean
13.3793
1.5483
49.4138
N
29
29
29
Sta. Devitation
0.49380
0.05305
9.46994
Median
*13.000
1.5500
*46.000
Mean
12.3224
1.4951
443.6454
N
152
152
152
Std. Devitation
1.55091
0.08316
9.94878
Median
12.0000
1.4900
42.0000
*As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas.
Existência de diferenças para p<0,01: Idade entre todos os estágios; estatura entre todos os estágios e
massa (1/3 e 2/3).
318 { Investigação
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Tabela 3: Masculino
estagio
1.00
IMC
somaTRSE
saltoH
Velocidade
Mean
19.4273
20.4545
1.4536
6.1614
N
Std.
22
22
22
22
4.17763
8.30219
0.23579
0.61803
* 17.600
20.0000
1.4000
6.1200
Devitation
Median
2.00
Mean
18.5276
16.7011
1.5544
5.9495
N
Std.
87
87
87
87
3.37269
6.96188
0.22401
0.66105
*17.900
*16.000
1.5600
*6.140
14.9545
1.6251
54.0682
44
44
44
44
3.22283
6.01302
0.25180
1.35424
Devitation
Median
3.00
Mean
N
Sta.
Devitation
Median
Total
*19.850
*16.0000
1.7050
*5.4600
Mean
19.850
12.5359
1.5173
44.9020
N
Std.
153
153
153
153
3.52042
6.98685
0.25220
0.90776
18.3000
16.0000
1.5900
6.0600
Devitation
Median
*As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas.
Existência de diferenças para p<0,01: IMC (2/3); Salto Horizontal(1/3 e 2/3).
guarda muito mais a relação de volume em quilogramas por metro quadrado, do que indicativo
evidenciando um aumento ponderal significativo. Tais afirmativas corroboram com a literatura
quanto ao aumento ponderal e discordam com a
mesma quanto à utilização do IMC de maneira
isolada como indicativo de maior obesidade12.
Fica assim marcada para o grupo em foco que
existe no feminino uma tendência acentuada do
aumento ponderal e estabilização do mesmo para
o masculino.
Ainda nas Tabelas 3 e 4, quanto a força e velocidade, avaliadas respectivamente pelos testes de
Salto horizontal e corridade30 metros.Observase maior evolução da qualidade força no mascu-
lino, o que pode ser a confirmação da manifestação hormonal masculina já assinalada em outras
características secundárias do grupo, reforçada por
um aumento menos marcado do feminino13, já a
velocidade não acentua esta diferença o que pode
ser um indicativo de maior intervenção coordenativa, já que, o deslocamento em velocidade
requer maiores níveis de atributos Motores14.
Quanto à existência ou não de diferenças significativas, nas meninas somente nas características cronológicas e morfológicas observa-se tais
diferenças estatísticas, o que poderia ser mais um
indicativo de aceleração maturacional antes assinalada15, em tempo é bom que se diga que a não
existência de uma diferença significativa não é
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Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo
comparativo
Vera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de
Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss
Tabela 4: Feminino
estagio
1.00
IMC
somaTRSE
saltoH
Velocidade
Mean
19.8889
28.6667
1.2983
7.0856
N
Std.
18
18
18
18
3.75184
15.63923
0.15120
0.75641
19.6500
*24.000
1.2750
7.1050
Devitation
Median
2.00
Mean
18.5276
16.7011
1.5544
5.9495
N
Std.
105
105
105
104
3.10161
11.17406
0.22706
0.85899
Devitation
Median
3.00
*18.800
*22.000
*1.3100
*6.5700
Mean
20.5931
22.5172
1.4490
6.5190
N
Sta.
29
29
29
29
3.93173
11.47239
0.25981
0.70988
*19.300
*19.000
1.4700
6.5200
Devitation
Median
Total
Mean
19.3605
24.8750
1.3628
6.7723
N
Std.
152
152
152
151
3.39575
11.86252
0.22942
0.83063
19.0000
21.0000
1.3350
7.0000
Devitation
Median
*As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas.
indicativa de estagnação de comportamento de
uma variável. No masculino tanto nas variáveis
cronológicas quanto morfológicas e funcionais
foi observada a existência de diferenças, o que
em linhas gerais e corroborando com a afirmativa anterior, demonstra maior cinesia quanto ao
efeito hormonal do crescimento masculino.
Os resultados parecem apontar que o desenvolvimento estará sempre atrelado ao crescimento,
pois não existem compartimentos estanques, ao
se referenciar o ser humano. Por essa razão, a
individualidade biológica é o marco destas observações e quanto mais instrumentos poderem ser
utilizados neste caminho menos serão as chances
de equívocos.
O estudo ora apresentado responde aos questionamentos inseridos em seus objetivos, ou seja,
observa-se um comportamento de aceleração no
masculino e frenagem no feminino, quanto as
variáveis indicativas de performance na execução
de tarefas motoras, ditadas por maior força, estatura, e conseqüente maior aceleração feminina e
frenagem masculina, quanto a características de
aumento da massa gorda, diferenças estas em
grande parte induzidas pelos hormônios sexuais.
A existência do comportamento de modificação das variáveis estudadas, dentro de um caminho cronológico, mas com o corte maturacional, constitui-se em uma estratégia interessante
de observação, permitindo, levar-se em conta a
intervenção natural oriunda do crescimento e
desenvolvimento dos indivíduos.
Recomenda-se portanto que sejam levados em
conta não somente o comportamento cronoló-
320 { Investigação
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Referências
gico das variáveis intervenientes no crescimento
e desenvolvimento humano, mas o comportamento maturacional, como também a utilização de instrumentos de indicação hereditária e
genética.
Correspondência
Vera Lúcia Bruch
Rua Marechal Serejo 601 b.07/202
Jacarepaguá/RJ – Brasil.
CEP: 22743-380.
[email protected]
1. Medeiros HJ, Santos DB, Rego SAJS, Mila
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Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo
comparativo
Vera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de
Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss
Rev Bras Ciênc Mov. 11(4):121-123.
11. Tourinho Filho H; Tourinho LSPR. (1998)
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322 { Investigação
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A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento:
observando a cultura de treinamento desde dentro.
Marco Antonio Coelho Bortoleto
Faculdade de Educação Física (Universidade Estadual de Campinas – Brasil)
Grupo de Pesquisa em Ginástica Geral (FEF – UNICAMP, CNPQ)
Grupo de Estudos Praxiológicos – GEP (Instituto Nacional de Educação Física da Catalunha – INEFC - Universidade de Lleida
- Espanha)
Bortoleto, M. A.; A ginástica artística masculina (GAM): observando a cultura de treinamento
desde dentro. Motricidade 3(1): 323-336
Resumo
Abstract
Este artigo apresenta um estudo etnográfico
realizado no Ginásio de treinamento de Ginástica
Artística Masculina do Centro de Alto Rendimento de Sant Cugat del Vallès (Barcelona Espanha). O objetivo principal desta pesquisa
consistiu em desvelar as características principais
da cultura de treinamento de uma sala de alto
rendimento a partir de uma incursão de campo
(de um ano e meio de duração) orientada pelos
fundamentos teóricos da antropologia simbólica
e dentro do marco metodológico da etnografia.
Neste artigo destacamos o contexto institucional,
alguns condicionantes temporais da preparação
dos ginastas, aspectos da estrutura social do grupo,
além de indicadores do universo simbólico que
caracteriza a atividade no interior da sala. Entre
as observações mais relevantes podemos destacar
o Ginásio como uma microcultura caracterizada
por várias cerimônias rituais, onde os técnicos
tem o poder da palavra e os ginastas se limitam
a escutar e intervir quando são solicitados (obedecer). Desta forma o funcionamento da sala se
fundamenta no respeito à hierarquia de mandos e
no cumprimento da programação das atividades
e das regras.
Palavras-chave: Ginástica Artística Masculina
(GAM), alto rendimento, cultura de treinamento,
etnografia.
Top level men artistic gymnastics (MAG):
an observation of the training culture from
the inside perspective.
This paper presents an ethnographic study that
took place at a high level training gym of Men´s
Artistic Gymnastics, at the Olympic Training
Center of Sant Cugat del Vallés (Barcelona –
Spain). The main goal of this study was to reveal
the training culture characteristics of a high level
training gym through a field observation (lasting
one and a half year) by using the theoretical fundaments of the symbolic anthropology and the
ethnographic methodology. We also highlight in
this paper the institution context, some of the
timing conditioning preparation of the gymnastics, some aspects of the social structure of the
group and the universe symbolic indicators that
characterize the activities inside the gym. Among
the most relevant observation we detach the gym
as a micro culture characterized by many ritual
ceremonies, where the coaches have the power
of the speech and the gymnasts are limited only
to hear and execute whenever necessary. In this
way the functioning of the gym follows a hierarchal respect of the orders and the responses of the
activities and rules.
Keywords: Men’s Artistic Gymnastics (MAG),
high level, training culture, ethnography.
Data de submissão: Janeiro 2006
Data de aceitação: Dezembro 2006
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Introdução
Como diriam alguns antropólogos, todo texto
(lógica interna) possui um contexto (lógica
externa) que lhe atribui sentido e significação1.
Neste sentido a Ginástica Artística Masculina
(GAM), enquanto prática esportiva de alto rendimento, se desenvolve em dois contextos distintos:
a competição formal e a preparação para a competição (treinamento). Em função de suas características e necessidades particulares esta modalidade encontrou nos Ginásios o espaço idôneo
para desenvolver o processo de treinamento que
prepara os ginastas para a competição. De este
modo, o Ginásio constitui o “contexto de treinamento” representando assim um lugar essencial para a evolução da GAM na sua vertente de
alto nível2 que alberga grande parte dos saberes
necessários para poder compreender este esporte
desde uma perspectiva contextualizada, segundo
descrevem Escalera in Medina e Sánchez3. Diferentemente do contexto competitivo, o de treinamento consiste uma realidade quase desconhecida, já que, além dos ginastas e técnicos, poucas
são as pessoas que têm a oportunidade de conhecer seu funcionamento desde dentro.
Considerando o Ginásio como o contexto
onde o ginasta se prepara para a competição, é
imprescindível conhecer seu funcionamento
em profundidade. Para conhecer esta realidade
empreendemos uma descrição etnográfica das
características mais representativas do funcionamento e da cultura de treinamento (ou de preparação) dos ginastas, no caso particular do Ginásio
de GAM do Centro de Alto Rendimento
(CAR) de Sant Cugat del Vallès, na província de
Barcelona (Catalunha, Espanha). Uma sala onde
treinam diariamente vários ginastas da seleção
espanhola de alto rendimento, e que por tanto,
possui alta representatividade tanto no âmbito
nacional como no internacional.
Os resultados desta pesquisa elucidam parte
da complexa cultura de treinamento da GAM,
destacando alguns dos aspectos que influenciam
na sua dinâmica. Além de representar um importante “feedback” para os próprios protagonistas
também significam um primeiro passo para a
realização de futuros estudos comparativos sobre
distintos Ginásios, em diferentes localidades ou
países, e seus modos particulares de preparar os
ginastas.
Esta pesquisa justifica-se ademais pela escassez
de antecedentes antropológicos no campo do
esporte, especialmente sobre a GAM. A maior
parte dos estudos realizados até o momento
foram enfocados em modalidades massivas, como
o futebol por exemplo, descrevendo principalmente problemas de grande impacto social como
a violência e as questões de gênero.
Um marco importante para o desenvolvimento da Antropologia do Esporte foi a criação,
em 1974, da “Associação Antropológica para o
estudo do esporte e o jogo”4, precedida por um
significativo incremento dos estudos sobre a violência no esporte, sobre a participação da mulher
no esporte e os problemas de gênero, sobre os
esportes de aventura, sobre os aspectos ecológicos
do esporte, além da masculinidade, a política e o
espetáculo esportivo, a etnicidade e a identidade
gerada pelo esporte.
O futebol, maior expressão do fenômeno
esportivo moderno, é a modalidade que mais
atrai a atenção dos antropólogos. Por outro lado, o
Boxe e o Rugby também vem sendo pesquisados
a partir do enfoque sociológico-antropológico.
Nesta área devemos fazer uma menção especial às
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obras de Joseph L. Arbena (org.) de 1988, titulada
“Sport and Society in Latin America”, de Jeremy
MacClancy (ed.) de 1996, titulada “Sport, identity and ethnicity” e a recente publicação espanhola de 2003, titulada “Culturas en juego: ensayo
de antropología del deporte en España”3. Além
destas, queremos citar o “dossier” publicado em
1994 pelo Instituto Catalão de Antropologia sob
a coordenação de Manuel Delgado, no qual aparecem textos muito interessantes de Vincenzo
Padiglione, Norbet Elias e Daniel Denis; assim
como a edição monográfica da revista francesa
“Ethnologie Française” publicada em 1985 (n.º
4), dedicada exclusivamente ao desporto.
Depois de realizar uma rigorosa revisão bibliográfica não encontramos antecedentes em
antropologia do esporte sobre a GAM nem sobre
os Ginásios de treinamento nesta modalidade.
Apenas logramos acessar alguns estudos relevantes sobre esta temática: o primeiro sobre um
Ginásio de boxe nos EUA22, outros dois sobre a
cultura da Ginástica Rítmica na França30,32, um
sobre a Ginástica Artística Feminina no Brasil34, e
por último um sobre a cultura do Vôlei de praia
na Espanha33.
Metodologia
Do ponto de vista da Antropologia Simbólica o
Ginásio pode ser considerado uma microcultura
com características peculiares, as quais podem ser
descritas a partir do significado que seus próprios
protagonistas lhes atribuem5. Para a descrição da
cultura de treinamento optamos por um estudo
etnográfico, método que segundo Rodríguez et
al.6, permite conhecer “el modo de vida de una
unidad social concreta”, neste caso do Ginásio
e de seus usuários. Conseqüentemente, realizamos uma viajem até o ambiente prático, através
de uma pesquisa de campo7. Devido a escassez
de antecedentes metodológicos tivemos que
embasar-nos nos fundamentos metodológicos da
etnografia aplicada ao contexto escolar, como por
exemplo os oferecidos por Ogbu8, Wolcott9, Wilcox10, Woods11 e Woods12, e também em alguns
modelos utilizados para o estudo de realidades
socioculturais mais complexas13.
A presença no Ginásio se prolongou durante
um ano e meio (2003-2004) aproximadamente, e
permitiu utilizar vários procedimentos de coleta
de dados, de acordo com as indicações de Rodríguez et al.6. Atendendo as orientações de André14,
Mata15 e Triviños16 os dados necessários para a
descrição foram obtidos consultando diferentes
fontes:
- Documentos escritos: Projeto de tecnificação da Federação Catalana de Ginástica (FCG);
Programa anual de treinamento; Normativas de
condutas para os residentes e usuários do CAR
de Sant Cugat; Texto introdutório sobre o CAR;
etc.;
- Testemunhos orais dos ginastas, técnicos e
outros protagonistas: oito entrevistas gravadas em
cassete;
- Observação participante das atividades cotidianas do Ginásio: 70 sessões, com um total aproximado de 300 horas de observação registradas
num diário de campo;
Imagens: aproximadamente 100 fotografias realizadas periodicamente durante as distintas fases da
pesquisa, acompanhando a evolução dos períodos
de treinamento.
Tendo em conta a complexidade implícita em
todo estudo etnográfico, os limites temporais e
os objetivos da tese de doutoramento que originou este artigo e fundamentalmente os limites
espaciais desta publicação, decidimos delimitar
a descrição da cultura de treinamento concentrando nossa atenção nas seguintes dimensões e
indicadores:
a) o Ginásio como instituição;
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A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.
Marco Antonio Coelho Bortoleto
Resultados
b) os imperativos temporais da preparação
ginástica;
c) o mundo social do Ginásio (os ginastas);
d) o mundo simbólico do Ginásio (o Ginásio
como um templo amorosiano).
A análise dos dados foi realizada, segundo o
critério que define Geertz17, ou seja, como um
“ato de estranhar o comum e aceitar o estranho”.
Considerando que “el análisis de datos es visto
por algunos como una de las tareas de mayor dificultad en el proceso de investigación cualitativo”
buscamos ser altamente rigorosos nesta fase da
pesquisa6 respaldando-nos em diferentes procedimentos de validação e certificação (triangulação
de especialistas, revisão dos próprios sujeitos
implicados, etc.). O processo analítico-interpretativo utilizado foi dividido nas seguintes etapas: a)
leitura inicial; b) transcrição das notas de campo
e entrevistas; c) redução do texto e categorização
dos dados; e d) redação do relatório final.
Como acontece normalmente nos estudos desta
natureza, a análise não foi um procedimento posterior à coleta de dados, muito menos estático.
Durante todo o desenvolvimento da pesquisa de
campo fomos confeccionando o texto descritivo, somando ao seu conteúdo às informações
que conseguimos e aperfeiçoando diariamente
este texto a partir de uma compreensão mais
aprofundada dos sucessos. Depois de um ano de
observações, e motivados pelas férias dos esportistas, redigimos uma versão preliminar do texto
descritivo, a qual foi submetida a uma revisão
e avaliação dos orientadores da tese e também
de um consultor externo especialista em GAM.
Posteriormente, retomamos as observações de
campo para clarificar os aspectos ainda confusos
da pesquisa e completar alguns temas que ainda
estavam escassos de dados. Esta última visita ao
cenário nos permitiu elaborar a versão final do
texto descritivo com maior riqueza de detalhes.
O Ginásio como instituição
A atividade no interior do Ginásio atende às diretrizes que seu contexto institucional, ou seja, seu
funcionamento está rigidamente regulado pelas
estruturas sociais e suas respectivas leis, políticas,
valores morais e éticos (imagem 1).
Imagem 1. Ginastas descansando.
Do ponto de vista legal, em 1968 o governo
espanhol editou o “Plan ideal de apoyo al desarrollo de la actividad deportiva”, segundo resenham García Ferrando et al4. Em 1978, o Conselho Superior do Esporte (CSD) criou o plano
de tecnificação para o esporte de alto nível,
medida que deu origem à construção dos Centros de Alto Rendimento (CAR), além de outros
centros menores destinados ao esporte de competição. No entanto, foi com o artigo de lei “ok10/1900” que o governo deste país definiu as
competências e responsabilidades dos Centros de
Alto Rendimento e a possibilidade do apoio dos
governos estaduais (autonômicos) a estas instituições, impulsionando as atividades neste setor.
Na atualidade apenas dois Centros de Alto Rendimento, o de Madrid e o de Sant Cugat, oferecem treinamento em GAM. Particularmente
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o CAR de Sant Cugat, onde desenvolvemos
nosso estudo (imagem 2), iniciou suas atividades
em 1987, no entanto sua inauguração oficial
somente foi realizada em novembro de 1990.
Definido como uma empresa que presta serviços
na área do esporte de alto nível o CAR de Sant
Cugat possui uma organização e administração
própria, além de autonomia jurídica. Este centro
está vinculado aos organismos públicos por meio
do Conselho Executivo da Catalunha e da Secretaria de Educação deste estado. Esta instituição
se mantém com o dinheiro de patrocínios, ajudas
econômicas de fundações, da propaganda de algumas empresas além da ajuda da Secretaria Geral
do Esporte da Catalunha (SGE) e do Conselho
Superior do Esporte (CSD). A pesar de possuir
um estatuto legal próprio segue as normativas
políticas do Conselho Catalão do Esporte, órgão
de maior autoridade esportiva no estado, estabelecendo como objetivo principal a formação de
esportistas de alto nível, pondo ao ser serviço os
melhores meios materiais, técnicos, pedagógicos,
científicos e humanos necessários e disponíveis,
além de velar sempre por sua formação integral
e por transmitir à sociedade os conhecimentos
gerados por estas atividades35.
Imagem 2. Ginasta colocando magnésio nas mãos.
O CAR de Sant Cugat está dividido em quatro
unidades básicas: unidade técnica: instalações
e coordenação de técnicos; unidade de direção
e administração; unidade acadêmica: escola e
tutoria; unidade de pesquisa: controle médico,
acompanhamento e processos de treinamento,
psicologia, biomecânica, nutrição-fisiologia,
fisioterapia e desenvolvimento de projetos de
pesquisa. Suas instalações o convertem no maior
centro de treinamento esportivo da Catalunha,
especializado em esportes individuais, que acolhe
aproximadamente 500 esportistas, sendo 300 em
regime de internato na sua própria residência.
Seu funcionamento está a cargo de uma equipe
de 150 profissionais. Este centro está estrategicamente situado fora de Barcelona e ao mesmo
tempo perto deste grande centro urbano (capital
do estado) facilitando assim o acesso ao transporte (aeroporto, estações de trem, rodovias) e
aos grandes centros sanitários (hospitais).
O CAR concentra um grande número de
pessoas com um objeto comum, pessoas que
compartilham diferentes faces da vida, como a
acadêmica (estudos), residência e atividades de
lazer-recreação. Esta mesma instituição trata de
regular seu funcionamento e o comportamento
de seus usuários a partir de uma normativa de
conduta (regras) própria. Por conseguinte, com o
decorrer do tempo este centro passou a gerar um
grande sentimento de pertinência e de amizade
entre seus usuários, uma identidade comum, um
sentimento de associacionismo ou de “coletividade social”, circunstâncias que nos permitem,
do ponto de vista antropológico, tratar esta instituição como uma “comunidade”.
Sobre a temporalidade do treinamento
A preparação dos ginastas obedece uma temporalidade específica. Nos referimos, em primeiro
lugar, a umas condições de tempo que podem
ser expressas da seguinte maneira: uma jornada
diária de duas sessões, totalizando 5-6 horas
de treinamento, seis dias por semana e aproximadamente 300 dias ao ano. Trata-se de uma
dedicação altamente absorvente interrompida
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A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.
Marco Antonio Coelho Bortoleto
por dois períodos de férias (descanso) de 15
dias aproximadamente durante todo o ano, que
apenas permitem realizar outras atividades, como
por exemplo, estudar, estar com a família, ver os
amigos ou passear. Com uma perspectiva mais
ampla, podemos esboçar o “ciclo vital” (termo
inspirado nos escritos de Husserl) do ginasta, um
marco temporal que ajuda a entender a carreira
esportiva típica de este esporte. Este processo de
preparação dos ginastas normalmente começa
no CAR ao redor dos 11-12 anos, no entanto
a prática da GAM se inicia anteriormente nos
clubes catalães por volta dos 7-8 anos. Um itinerário esportivo que pode estender-se ao longo
de aproximadamente 13 anos, finalizando aos 25
anos na media. Além disso, vimos que para lograr
resultados expressivos no âmbito de alto rendimento esportivo os ginastas podem esperar até
10 anos. Em sumo, o treinamento é um longo
período no qual se intercalam muitos momentos difíceis, como lesões e/ou derrotas, e no qual
somente uns poucos chegaram ao final com o
êxito esperado. Uma rigorosa disciplina marcada
pelo cansaço, mas que todos insistem em dizer
que são conscientes das dificuldades e são felizes
a pesar de tudo isso.
Ao mesmo tempo, ao presenciar os treinos
entendemos que a atividade realizada na sala
acontece de forma lenta e pausada, formando
uma rotina cotidiana de repetições, milhares de
repetições, sem a menor pressa (ao menos aparentemente), porém que devem cumprir os objetivos (programa) de cada uma das sessões. Este
ritmo “lento” do treino tem um significado claro:
todos sabem que estão imersos em um processo
longo, de vários anos e qualquer falho pode atrapalhar os planos a longo prazo, por isso é importante treinar com calma, com muita paciência e
dar o tempo necessário para que o corpo assimile
as informações. Também dizem que este clima
de tranqüilidade e aparente lentidão propicia
um treino seguro e controlado e permite que o
corpo técnico controle detalhadamente tudo que
acontece na sala, evitando acidentes ou falhos
durante o processo de aprendizagem.
Diariamente os ginastas se intercalam nos aparelhos realizando cada um os exercícios que seu
técnico solicitou. Entre cada repetição aproveitam para descansar e sutilmente para conversar ou
para fazer algum comentário sobre os exercícios.
Evidentemente, mostrar-se cansado (deitando no
chão por exemplo), falar alto, brincar, reclamar ou
descansar muito tempo não são comportamentos
bem vistos na sala. Por isso, todo mundo trata de
respeitar de forma estrita o pacto oral que regula
a dinâmica de funcionamento da sala.
A utilização dos aparelhos é planejada com
antecedência pelos técnicos para que os diferentes
grupos de ginastas não usem os mesmos setores
(ou aparelhos) da sala de forma simultânea. No
entanto, nem sempre é possível evitar este contato. Quando acontece, os ginastas mais velhos
têm prioridade para usar. Todos dizem que esta
aproximação é positiva pois permite por um lado
aos ginastas mais novos aprender dos mais velhos.
Ao mesmo tempo destacam que estas situações
podem provocar uma diminuição do ritmo de
treino (mais conversa, mais tempo de descanso,
etc.). Eventualmente os ginastas mais velhos reclamam que os mais novos atrapalham seu treinamento, e reciprocamente os mais novos dizem
que de vez em quando os mais velhos zombam
deles. Estes conflitos raramente são notados, pois
a tranqüilidade deve imperar na sala, e quando
algo não funciona bem os técnicos tratam de
intervir e chamar a atenção dos ginastas.
A estrutura social do Ginásio
Observando o fluxo cotidiano de pessoas na sala
constatamos, em primeiro lugar, a existência de
um grupo de 24 protagonistas “oficiais”, ou seja,
pessoas que freqüentam diariamente o Ginásio
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com um compromisso declarado com o centro
e com a Federação Catalana de Ginástica (FCG).
Por outra parte, a sala recebe a visita quase diária
de outras pessoas, como por exemplo funcionários,
ex-ginastas, visitantes do centro, amigos e também
das ginastas e os técnicos (as) de GAF que treinam
na sala ao lado. Quantificar com precisão este
fluxo de pessoas era uma tarefa complicada e nos
conformamos em saber que freqüentam a sala diariamente entre 25 e 30 pessoas, e que centramos a
atenção no grupo regular.
O grupo dos ginastas está formado por 19 atletas com idades compreendidas entre 12 e 26 anos.
Um coletivo de jovens, com um ideal (objetivo)
comum e que optaram de forma precoce e “voluntariamente” por uma vida dedicada ao treinamento de alto nível. Em termos de Caillois in
Lüschen e Weis18, a opção voluntária pela prática
significa, ao menos em teoria, que estas pessoas
podem decidir livremente o momento em que
desejam interromper sua atividade esportiva. Esta
liberdade é cada vez menor no esporte profissional, dado que se controla as decisões dos esportistas mediante contratos e penalizações federativas
ou econômicas.
Por outra parte, o corpo técnico está formado por
três técnicos, um auxiliar técnico e um psicólogo,
profissionais que, exceto no caso do psicólogo,
estão contratados diretamente pela FCG. Os técnicos são os que possuem o maior grau de proximidade com os ginastas e, além de cumprir com seu
labor técnico, atuam como maestros-orientadores
a nível pessoal, adquirindo um laço profundo de
intimidade e amizade com os ginastas. Coincidimos com Anzieu e Martín19 quando afirmam que
os técnicos representam os líderes do grupo e carregam com toda a responsabilidade de tomar as
decisões mais importantes para a preparação dos
ginastas.
Os 19 ginastas representam o coletivo mais numeroso. Deles, 17 estão oficialmente incorporados às
atividades da sala e os outros dois se encontram em
processo de incorporação. Os ginastas incorporados estão subdivididos em quatro categorias de
idade: infantis (5), juvenis (4), juniores (3) e seniors
(5). Segundo contaram os técnicos, esta classificação por franjas etárias obedece as normativas de
competição da FCG, assim como da RFEG e da
FIG. Conforme a “Normativa técnica de GAM”
da Real Federação Espanhola de Ginástica, as categorias competitivas são: “benjamín” (10 anos ou
menos), “alevín” (11 e 12), infantil (13 e 14), juvenil (15 e 16), junior (17 e 18) e senior (19 ou mais).
A divisão dos membros do grupo por faixa etárias
pode ser considerada um aspecto comum a todas
as sociedades, facilitando a atribuição dos papéis,
sua função no grupo e seu grado hierárquico. No
caso do esporte, particularmente da GAM, esta
divisão busca igualar as condições das competições
em virtude das diferenças de rendimento respeito
al desenvolvimento corporal. Além disso, pretende
estabelecer normativas específicas para cada grupo
evitando excessos por parte dos técnicos e das federações, segundo destaca a Federação Internacional de Ginástica20.
Os ginastas infantis são os mais jovens do grupo
e, por conseguinte, os que se incorporaram mais
recentemente.Têm entre 12 e 13 anos e apesar de
serem novatos na sala, todos possuem uma anterior experiência de treino de GAM em clubes
catalães, com uma média de 5 anos (3-7 anos) de
prática. Segundo a obra de Leglise21, os ginastas
acostumam iniciar a prática da GAM ao redor dos
5-7 anos de idade, coincidindo com o que observamos no CAR. Começaram a treinar no CAR
há dois de média (1-4 anos), o que indica que se
incorporaram em anos distintos. Os quatro ginastas juvenis têm entre 14 e 15 anos, e uma média de
10 anos praticando ginástica, sendo os últimos 3
no CAR. Os três ginastas juniores têm entre 16 e
17 anos, estão treinando há 9 anos de média, sendo
os últimos 4 no CAR. Os ginastas destes três gru-
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A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.
Marco Antonio Coelho Bortoleto
pos conformam o que se denomina na sala “os
menores” (mais novos em espanhol) ou, em ocasiões, os “pequenos”. O emprego destas expressões
não agrada aos ginastas juniores, porque neste faixa
etária os jovens se identificam (ou assim querem
que pareça) mais com os seniores que com os mais
jovens (infantis e juvenis). Fato que revela uma fase
de transição de categoria competitiva e também
de atitudes e idéias.
Os cinco ginastas seniores, denominados pelo
grupo de “mayores” (mais velhos) ou “adultos”,
têm entre 18 e 26 anos e treinam ginástica de oito
a 20 anos, com 10 anos de média (8-12) no CAR.
Por último, os dois ginastas em processo de incorporação pertencem à categoria infantil, e têm entre
12 e 13 anos de idade respectivamente.
Este reduzido número de ginastas indica, por
um lado, a necessidade de manter o Ginásio com
uma densidade populacional relativamente baixa,
que facilita o controle exaustivo das atividades e
que reflete um modelo de treinamento freqüentemente utilizado pelos países onde não existe tanta
tradição ginástica (volumem de praticantes), nos
quais os organismos reguladores e os responsáveis
buscam extrair o melhor resultado possível dos
poucos ginastas que conseguem ser admitidos nos
programas de alto rendimento. Ademais, este fator
demonstra indiretamente a dificuldade que existe
na atualidade catalana e espanhola de captar ginastas com o potencial para treinar neste Ginásio, a
pesar de sua excelente infra-estrutura.
Todos os ginastas foram selecionados pela FCG e,
ao menos de momento, não existe nenhum treinando de forma independente, ou seja, pagando ao
CAR para poder usar as instalações, a pesar de que
o regulamento da instituição permita este tipo de
atividade. Estes ginastas que treinam no CAR continuam representando seus clubes de origem nas
competições estaduais ou inter-clubes. A política
atual da FCC inclui ajudas econômicas (bolsas
simbólicas) aos clubes por cada ginasta aportado
ao CAR, reconhecendo de alguma forma sua
importância no processo de formação de base (iniciação) da GAM e na captação de novos ginastas
no âmbito escolar.
Dado os limites deste artigo os detalhes da formação e experiência dos profissionais que formam
o corpo técnico não foram incluídos29. Todos os
técnicos trabalham diariamente na sala, tanto na
sessão da manhã como pela tarde. A pesar de que
desde o primeiro dia de sua incorporação na sala
os técnicos tentem preparar os ginastas para que
sejam capazes de treinar de forma autônoma e
seguindo estritamente o programa, sua presença é
imprescindível. No caso de que um dos técnicos
não possa estar presente um dos seus companheiros assume a responsabilidade do seu grupo de
ginastas, mantendo as atividades planejadas pelo
técnico original. Em poucas oportunidades presenciamos a ausência de um dos treinadores, no
entanto, nos momentos que isso ocorreu a aparente autonomia dos ginastas se demonstrou frágil
e relativa. Esta dificuldade em treinar de forma
autônoma contraria o discurso dos técnicos e dos
demais membros do corpo técnico.Talvez este seja
um dos aspectos que deveriam ser melhorados na
dinâmica de treinamento.Tomando emprestadas as
palavras de um ginasta junior:
“Entrenar con nuestro entrenador es mucho
mejor, sin él es diferente. Con él nos sentimos
más orientados, aunque conocemos muy bien la
planificación, aquella que está colgada en el tablón.
Además, él está para cobrar empeño, marcar los
fallos, así que particularmente prefiero que esté
presente.”
Em suma, a estrutura social do Ginásio está
organizada hierarquicamente e nela todos sabem
exatamente o papel de devem desempenhar, assim
como seus poderes, deveres, responsabilidades,
etc.
O mundo simbólico: o Ginásio como um templo amorosiano
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Da mesma maneira que muitos estádios de
futebol são considerados espaços sagrados pelos
jogadores e/ou torcedores, segundo afirma Morris23, o Ginásio é considerado pela maior parte de
seus usuários um “santuário” ou um “território
sagrado”. O conceito de “santuário” não pode
ser confundido com o utilizado por Wacquant22,
apesar de que, de certa forma o Ginásio de GAM
também funciona como um lugar de “pacificação e proteção” tratado com respeito por seus
usuários.
Para entender esta concepção, devemos refletir sobre a origem dos Ginásios, momento em
que estes lugares eram “proibidos” para a maior
parte da população, um espaço que reunia os
militares e a aristocracia civil e que agora alberga
a elite esportiva. Neste sentido, a sociedade vê
com “admiração” aqueles que logram entrar
no interior dos Ginásios de treinamento, seja
como guerreiros nos séculos anteriores ou como
esportistas na atualidade, pois se convertem em
representantes da nação e alguns deles chegam
a atingir status de ídolos sociais, como comenta
Padiglione24. Além disso, a sala é sagrada porque
representa um espaço fundamental para o desenvolvimento da GAM e também para a vida de
seus protagonistas (espaço onde passam a maior
parte de seu tempo), um lugar respeitado por seus
usuários como se fosse sua própria casa.
A sala é freqüentada quase exclusivamente pelos
ginastas e pelo corpo técnico, um lugar de difícil
acesso a qualquer outra pessoa que não pertença
a este coletivo. Trata-se de um lugar que representa um ícone para a GAM catalana e espanhola, um refúgio para a elite deste esporte, um
espaço destinado a uns poucos privilegiados e ao
que muitos desejam poder incorporar-se. Uma
sala localizada dentro de uma instituição de referência internacional, como é o caso do CAR de
Sant Cugat, e que conseqüentemente possui um
status privilegiado no contexto ginástico espan-
hol. Um espaço “fechado”, “semi-público” por
limitar o acesso de pessoas alheias, protegido do
mundo exterior tanto arquitetonicamente como
política e simbolicamente, impregnado por um
peculiar cheiro de magnésio, repleto de aparelhos
ginásticos oficiais e alternativos destinados única
e exclusivamente à preparação dos esportistas.
Uma “bolha” (“burbuja” em espanhol), conforme
relatam seus próprios protagonistas, que durante
longos anos “isola” estas pessoas buscando dar a
tranqüilidade e a intimidada necessária para alcançar seu grande objetivo: a forja de campeões.
“El Gimnasio es como una burbuja para mi,
esto es una burbuja. Porque esto me ha sacado
de muchos problemas, me ha desconectado
mucho de ellos. Le llamo burbuja al centro porqué cuando sales hay otro ambiente, esto es, otra
vida.” (Jonny, pseudônimo de um dos ginastas
seniores. Nota extraída do Diário de Campo).
O isolamento produzido pelo Ginásio não é um
fenômeno contemporâneo. Francisco Amorós e
seus colaboradores defendiam, desde o principio
do reinado dos Ginásios, como espaço ideal para
o adestramento corporal e moral do homem
(soldado, obreiro ou esportista, a importância de
que a sala tivesse esta característica, protegendo
e defendendo seus membros das “tentações” do
mundo exterior e ao mesmo tempo fazendolhes submergir nos valores da cultura militar26.
Uma posição semelhante à defendida pelo exército na atualidade27,28. A tranqüilidade desejada
pelos fundadores do império dos Ginásios fechados segue cobrando vida na sala que tivemos a
oportunidade de estudar. Este “isolamento”, na
opinião das pessoas que dão vida a este espaço
representa um aspecto positivo que torna possível o desenvolvimento normal das atividades
de treinamento, mesmo ao tornar-se uma situação difícil de assimilar e que provoca um grande
impacto na personalidade dos internos considerando as necessidades humanas de relação com
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A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.
Marco Antonio Coelho Bortoleto
o mundo exterior. Por tudo isso, podemos dizer
que a domesticação do homem esportista, neste
caso do ginasta, se faz também pela delimitação
do espaço, pela instauração de um “ghetto” ou de
um “círculo seleto” de pessoas, protegido contra
as interferências do mundo exterior e que evolui
a partir de “unas experiencias producidas dentro del propio grupo”, segundo nos contaram os
protagonistas.
Um século e meio depois da aparição dos
primeiros ginásios para o “adestramento militar”29, nos deparamos com uma realidade na qual
o Ginásio continua sendo um espaço regido
pelos valores da centenária cultura ginástica. As
raízes militares desde tipo ambiente ainda sustentam a dinâmica de funcionamento do Ginásio
do CAR, e conseqüentemente as atividades no
seu interior continuam marcadas pela repetição
incansável, pela luta contra a preguiça, e pela
necessidade de vencer os limites.
O treinamento brinda diariamente uma homenagem à disciplina que envolve a ginástica
desde seu nascimento, controlando o espaço, o
tempo, os corpos e as condutas de forma estrita,
da mesma forma que observou Bailleau30 na
Ginástica Rítmica.
Tudo isso nos leva a relembrar que a origem
deste esporte se embasou nos princípios da educação marcial, nutrindo-se da pedagogia militar
e da racionalização. Um modelo que, conforme
pudemos comprovar “in situ”, continua imperando apesar da “desmilitarização” que viveu o
esporte ao longo do século XX31. Estes argumentos se ilustram mais claramente quando testemunhamos como alguns aparelhos usados na preparação dos ginastas, como a corda fixada no teto da
sala, os espaldares ou o próprio cavalo com alças
(inspirado no animal símbolo do adestramento
marcial), resistiram ao passo do tempo, tratando
de mostrar à modernidade que parte fundamental da essência da ginástica é o conservadorismo,
ou seja, a importância da tradição e de um trabalho fundamentado por um método consolidado
e respaldado pela experiência acumulada.
Contrapondo o notório avanço tecnológico vivido nos últimos 50 anos pela GAM (tanto a nível
material como técnico), que teve como expoente
máximo a invenção das “plataformas” modernas
de salto, a cultura de preparação ginástica vivida
dentro do Ginásio estudado manteve diversas
características típicas da cultura militar. A titulo
ilustrativo podemos mencionar alguns resquícios
da formalidade marcial especialmente referente
ao trato (relação) interpessoal, como por exemplo, o comprimento (saudação) “espontâneo”
(um aperto de mãos) que os ginastas realizam
ao cruzar com um companheiro mais velho ou
com um técnico, ou na necessidade de solicitar a
autorização do técnico para poder exercitar-se,
beber água ou ir ao banheiro (casa de banho).
Apesar de que utilizamos o termo “espontâneo”,
o comprimento que realizam os ginastas respeito
aos técnicos e/ou a seus companheiros mais velhos parece ter muito pouco de espontaneidade,
sendo um comportamento que obedece a uma
regra (pacto oral) “imposta abertamente” na sala,
conforme afirma um dos técnicos ao ser entrevistado. Lembramos que os militares são obrigados a cumprimentar (ou reverenciar) os mandos
e as autoridades de maior graduação, um comportamento semelhante ao observado na sala28.
Mencionar também que, “contrato social” é um
termo inspirado em Rousseau, uma normativa
oral que organiza a atividade na sala e que deve
ser obedecida de maneira estrita.
Esta pesquisa também revela que o treinamento
consiste num processo altamente individualizado,
embasado na reprodução obediente e pouco
reflexiva, sob um modelo “impositivo” de ensino
(inspirado na terminologia de Muska Mosston),
uma estratégia empregada nos contextos militares descritos por Zulaika28 e Anta27.
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Finalmente, comentar que a labor dos treinadores, representa uma verdadeira pedagogia da
conduta motora (termo cunhado por Pierre
Parlebas), concentrando todos seus esforços em
aproximar a conduta motora dos ginastas aos
estereótipos motores que estabelece o regulamento da GAM. Uma formação que modificará
para sempre a personalidade de todos os implicados neste processo e que pode inclusive, desde
a perspectiva competitiva, hiper-especializar os
ginastas em um ou dois aparelhos seguindo a
tendência deste esporte na atualidade.
Discussão
“Los gimnastas se preparan para ser máquinas.
Para ser buenos gimnastas cuando más máquinas mejor. No hay que tomar decisiones, no hay
que pensar, hay que reproducir un mismo patrón
técnico de movimiento. Cuanto más exacto lo
vas haciendo en el entrenamiento mejor, más
parecido al patrón; siempre igual” (Joaquim,
psicólogo).
Depois de séculos de evolução, o Ginásio continua sendo um contexto fundamental e legítimo
para a prática da GAM, um espaço encarregado
de preservar a hegemonia e a tradição do sistema
de valores que formam a cultura ginástica. Obviamente devemos considerar que vivemos novos
tempos, com distintas ofertas esportivas, expectativas sociais também diferentes, rápidos avanços
tecnológicos e uma importante evolução da cultura esportiva em geral, e, por estes motivos, os
espaços fechados, como é o caso do Ginásio do
CAR de Sant Cugat, resultam pouco atrativos, e
talvez uma barreira para o processo de incorporação de novos adeptos, como já mencionamos.
Isto não significa que negamos a conveniência e
a idoneidade do Ginásio como espaço destinado
à prática da GAM. Obviamente somos conscientes que a lógica deste esporte exige que os ginas-
tas treinem diariamente em condições excelentes,
com certa reserva de intimidade e tranqüilidade,
algo que o Ginásio oferece sem sombra de dúvida.
No entanto, para aqueles ginastas que freqüentam
a sala diariamente se poderia, por exemplo, programar alguns treinamentos fora da sala, em espaços abertos, com outro ambiente e com estímulos motivacionais novos, atividades que em Sant
Cugat os técnicos começam a realizar com êxito,
ainda que em menor quantidade da que acreditamos necessária.
A pesar que a direção impositiva vêm sendo
hegemônica até este momento na forma de conduzir os treinamentos ginásticos, entendemos
que se poderia lograr uma melhor comunicação
entre os protagonistas, estimulando as situações
reflexivas e a conscientização da lógica de todo
o processo ao que estão submetidos e suas conseqüências. Em sumo, defendemos que podem
existir sistemas de treinamento mais flexíveis, ao
menos nos aspectos comunicativos, que permitam certas atitudes reflexivas (mais humanas, sensíveis e menos mecânicas-racionais), que logrem
os mesmos resultados que o modelo impositivo
vem conseguindo atualmente.
Vimos que a carga simbólica que ressalta a cultura ginástica é uma autêntica homenagem a
tradição, ao conservadorismo e a formalidade.
O treinamento é uma prática engendrada pela
razão, influenciada pelo conhecimento científico,
que modela a motricidade dos ginastas de forma
positiva, que pretende construir um corpo musculoso, um homem máquina e ao mesmo tempo
elegante.
Para concluir queremos dizer que num futuro
próximo pretendemos seguir aperfeiçoando este
“modelo de leitura e compreensão” da cultura
de treinamento da GAM e posteriormente poder
aplicá-lo em Ginásios de diferentes localidades e/
ou países e assim estabelecer comparações com a
realidade que acabamos de apresentar. Também
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A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.
Marco Antonio Coelho Bortoleto
vislumbramos a possibilidade de estudar este
fenômeno em distintos níveis de prática, como
por exemplo no esporte de base, e também na
modalidade feminina, para poder estabelecer
diferentes tipos de comparações e paralelismos.
Correspondência:
Marco Antonio Coelho Bortoleto
Rua Domingos Bonato, 57b
Jardim Santa Genebra II
Campinas – SP - CEP: 13084-785 - Brasil
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Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o
treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos.
Tathiane Tavares de Almeida1 e Marcelo Nogueira Jabur1
Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) – Ribeirao Preto- São Paulo- Brasil.
1
Almeida, T. T.; Jabur, N. M.; Mitos e verdades
sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento
de flexibilidade na saúde dos seres humanos.
Motricidade 3(1): 337-344
Resumo
Abstract
Este artigo procura observar o posicionamento
da comunidade científica sobre o tema flexibilidade e alongamento, no que diz respeito às
questões de eficiência na preparação para executar exercícios físicos, no processo de recuperação
após treinos intensos e, a discussão sobre a interferência do treinamento desta capacidade na reabilitação ósteo-músculo-articular. Inúmeros são
os estudos realizados que afirmam diversos benefícios e prejuízos dos exercícios de alongamento
e ganhos de flexibilidade. Quanto à prevenção
de lesões, muitos são os autores que defendem a
idéia de que o alongamento tem uma importante
ação preventiva. Porém, podemos observar que a
maioria dos que são a favor desta idéia, destacam
o alongamento como parte importante do treinamento e não como sendo apenas alguns exercícios preparatórios antes do treino. Em se tratando
de exercícios de alongamento após esforços físicos, parece que o ideal são exercícios moderados
de alongamento para evitar um encurtamento
muscular, não devendo, portanto, serem utilizados
exercícios visando ganhos de flexibilidade, pois
o músculo fatigado não pode responder prontamente ao reflexo de proteção. No tratamento das
lesões do tecido conjuntivo, o alongamento está
indicado para recuperação do comprimento normal do tecido, não sendo mencionada nenhuma
vantagem em grandes ganhos de flexibilidade.
Myths and trues about flexibility: reflections about the stretch training in the
health of human being
This article aims to address the views of the
scientific community in regard to flexibility and
stretching concerning the efficiency of preparation to perform physical exercises, the recovery
process after intense training activities, and the
analysis of the influence of training such skills
on osteomuscular and articulatory rehabilitation.
Innumerable studies have been conducted which
demonstrate the benefits and harms of stretching
and flexibility-gain exercises. In regard to the prevention of lesions, a number of authors maintain
that stretching plays an important preventive role.
However, it can be noticed that most of those
who support this idea highlight stretching as an
important part of training, instead of just a few
preparation exercises prior to training. As far as
stretching following physical strain is concerned,
it seems that moderate stretching is ideal in order
to prevent adaptive muscle shrinking. Therefore,
stretching strained muscles with a view to gaining flexibility should not occur because fatigued
muscles cannot promptly respond to the protective reflex. In treating lesions of the connective
tissue, stretching is recommended for recovery of
its normal length, whereas no advantages to flexibility gains are reported.
Palavras-chave: alongamento, flexibilidade,
hipomobilidade, hipermobilidade.
Key words: stretching, flexibility, hipomobility,
hipermobility.
Data de submissão: Setembro 2005
Data de Aceitação: Dezembro 2006
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Introdução
Alongamento é o termo usado para descrever os
exercícios físicos que aumentam o comprimento
das estructuras dos tecidos moles e, conseqüentemente, a flexibilidade. O autor também considera
flexibilidade como a capacidade física responsável
pela máxima amplitude de movimento músculoarticular de uma ou mais articulações sem o risco
de lesão 1.
A flexibilidade é tão importante para atletas como
para pessoas sedentárias. Uma vez que a amplitude
articular de determinada articulação esteja comprometida, alguma limitação se manifestará e poderá
comprometer o desempenho esportivo, laboral ou
de atividades diárias. Os exercícios de alongamento
tendem a restabelecer níveis satisfatórios de mobilidade articular e reduzir tensões musculares, resultando numa melhor mecânica articular 2.
No indivíduo sadio, a amplitude articular é
influenciada pelos ligamentos, comprimento dos
músculos e tendões, e tecidos moles. Já em pessoas
com limitações patológicas, os problemas podem
ser agravados por processos inflamatórios, redução
da quantidade de líquido sinovial, presença de corpos estranhos na articulação e lesões cartilaginosas
2
.
Os hábitos posturais estão intimamente ligados
à limitação da amplitude articular, da extensibilidade dos músculos e da plasticidade dos ligamentos e tendões. A correção postural e o aumento da
amplitude articular, além de ter efeito relaxante,
colaboram na tomada de atitudes corporais mais
confortáveis tanto na prática de exercícios quanto
nos movimentos diários naturais além de promover
o alívio de tensões musculares. Segundo a Associação Americana de Medicina Desportiva, exercícios
de alongamento provocam o relaxamento muscular, o que faz aliviar dores causadas pelo estresse
muscular do treinamento, além de aumentar a
sensação de bem-estar melhorando o humor dos
indivíduos 3.
Baseado nos dados contraditórios apresentados
com relação à eficiência e ao papel da flexibilidade
sobre o tratamento de algumas lesões, os efeitos
recuperadores dos alongamentos pós-exercícios,
bem com, da possível interferência do treinamento
de flexibilidade sobre a prevenção de lesões, ressalta-se o objectivo deste trabalho como sendo o
de analisar, através de um trabalho de revisão de
literatura, os efeitos dos exercícios de alongamento
sobre a saúde dos seres humanos, procurando
esclarecer a verdadeira importância e quais os reais
ganhos que tais exercícios podem proporcionar.
Alongamento e prevenção de lesões
O uso de exercícios de alongamento para aumentar a flexibilidade é, geralmente, baseado na idéia de
que ele pode diminuir a incidência, a intensidade
ou a duração da lesão músculo tendinosa e articular. Uma extensibilidade articular mínima parece
ser vantajosa em alguns esportes e atividades para
prevenir a distensão muscular. Em outras palavras,
parece ser uma amplitude de flexibilidade ideal ou
favorável que irá prevenir a lesão quando os músculos e articulações forem superalongados acidentalmente 4.
Estudos realizados com jogadores de futebol 5,
não encontraram relações estatisticamente significativas entre flexibilidade estática e lesões de todos
os tipos. Diversos estudos e revisões, não puderam
estabelecer uma correlação entre a flexibilidade e a
prevenção de lesões nos esportes 5. Os estudos são
conflitantes, mas isso não quer dizer que não exista
uma contribuição nesse sentido. É importante saber
que as lesões esportivas decorrem de uma série de
factores. Para alguns autores 6 o trabalho da flexibilidade auxilia na prevenção das lesões. Uma grande
amplitude de movimento, além de prevenir lesões,
economiza energia 7.
O alongamento protege as juntas e músculos contra danos, pois melhora o suprimento sanguíneo
nessas estructuras mantendo-as saudáveis, além de
ajudar a aquecer os músculos preparando-os para
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exercícios mais intensos 18. Entretanto, aconselhase não realizar alongamentos, passivos, próximo de
um esforço, pois, eles são fontes de pernas “moles”,
“pesadas” e de lesões 8. Porém, é importante lembrar que tal resposta (esse enfraquecimento muscular) é de curta duração, pois, a longo prazo, além
de não haver diminuição de força muscular com os
exercícios de alongamento, estes podem favorecer
os exercícios de força 9.
O alongamento dos músculos retraídos após seu
aquecimento geral é uma das precauções a serem
tomadas para reduzir o risco de lesão (distensão
muscular), pois um programa destinado a prevenir
distensões musculares deve incluir exercícios com
pesos, flexibilidade balanceada, aquecimento e
atenção aos níveis de fadiga 10. Um grupo muscular
forte e alongado é mais funcional, podendo trabalhar mais intensamente com menos possibilidade
de lesões 9. Porém, os exercícios de alongamento
que envolvem forte tensão muscular podem tornar-se prejudiciais, caso as estructuras de suporte
de uma articulação e a força dos músculos ao seu
redor sejam insuficientes para mantê-la estável. E
ainda ressalta que tais exercícios provocam deformação plástica não devendo ser realizados diariamente, pois requerem tempo para recuperação do
tecido 9.
O alongamento é utilizado como um dos factores para prevenção de lesões 11. Dados combinados
de cinco estudos que comparavam o alongamento
e outros caminhos para prevenir danos no treinamento concluiu que pessoas que alongavam, não
estavam nem mais nem menos suscetíveis a sofrer
danos que a flexibilidade aumentada supostamente prevenia; porém, outra pesquisa, citada pelo
mesmo autor, demonstrou que o aquecimento, que
aumenta o fluxo de sangue através do músculo e
o torna mais pronto para responder ao exercício,
pode reduzir o risco de lesões, assim como o fortalecimento e o treino balanceado 12.
Não foram encontradas evidências suficientes
para comprovar que o alongamento previne lesões,
mas, destaca-se a importância do alongamento no
dia-a-dia de pessoas que passam muito tempo em
frente ao computador ou dentro do carro paradas
13
.
Um estudo feito com 901 recrutas da Força militar do Japão, concluiu que o alongamento estático
diminui a incidência de lesões musculares e tendinosas bem como lesões por overuse, porém, neste
mesmo texto, o autor cita um artigo de revisão
sobre este tema cuja conclusão foi que o alongamento antes do exercício não reduz a incidência
de lesão muscular 14.
Pode ser um efeito meramente psicológico que
faz com que a maior parte das pessoas envolvidas
com esporte acredite que o aumento da flexibilidade diminui as lesões. Talvez seja um sincero
desejo de acreditar em alguma coisa que faça sentido. Porém deve ser reiterado que estudos controlados que comprovem que o aumento da flexibilidade previne lesões não existe 15.
Todavia, no treinamento de sedentários e atletas,
com o aumento da flexibilidade e da resistência
muscular localizada, os riscos de lesões em algumas
articulações diminuem consideravelmente, apesar
do aumento da carga de trabalho a que aquelas
pessoas são submetidas em função do progresso do
treinamento 15.
Portanto, observa-se que, basicamente, os autores
que partiram de experiências de laboratório discordam da idéia de que o alongamento previne
lesões, ao passo que os autores que puderam contar
com a vivência prática são árduos defensores do
contrário 15.
Alongamento pós-exercício
Na década de 60 foram realizados inúmeros experimentos por meio de alongamento estático, após
exercícios físicos e verificou-se redução da atividade eletromiográfica e da dor muscular 9. Porém,
um estudo realizado em 1989, não confirma os
resultados benéficos do alongamento estático ou
do aquecimento na dor muscular tardia. O esforço
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Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos.
Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur
físico provoca isquemia e esta, ao menos em parte,
ocasiona a dor muscular. Entretanto, somente a
isquemia não causa dor e o acúmulo de ácido lático
não parece ocasionar a dor, pois pessoas com síndrome de MacCardle, incapazes de produzir ácido
lático pela deficiência de miofosfolirase, apresentam dor isquêmica numa extensão maior que pessoas normais 9.
Os exercícios de alongamento no final do esforço
físico tem por objectivo evitar o encurtamento
muscular, devido às fortes e sucessivas contrações
musculares ocasionadas pelo treinamento, enquanto
que antes do esforço físico, o alongamento tem a
finalidade de preparar o conjunto músculo-articular para efetivar o alcance habitual de movimento.
Porém, há um consenso entre os pesquisadores
de que ocorre aumento da sensibilidade dos fusos
musculares após os esforços máximos desportivos.
Isso sugere que não se utilize o método de flexibilidade ativo após o esforço físico pois, além de
o cansaço influir na redução da força dos músculos agonistas, ocorrem mudanças no tráfego do
impulso neuromotor com prejuízo na coordenação
de direcção, o que enfraquece a técnica do exercício de alongamento. E ainda, o músculo fatigado
não pode responder prontamente ao reflexo de
proteção neuro-muscular. Mesmo assim, há autores
que preconizam 5 a 10 minutos de resfriamento
após esforços intensos, com exercícios físicos leves
de corrida e ciclismo, terminando o treino com
exercícios de alongamento 16.
Hipermobilidade e hipomobilidade
Com o passar dos anos, o nível de flexibilidade
tende a diminuir e com isso aumentam os riscos
de lesões (como distensões musculares), dores, problemas posturais, e a realização de atividades diárias
2
. Porém, a flexibilidade excessiva pode provocar
instabilidade articular gerando: entorses articulares,
osteoartrite e dores articulares 2.
A hipermobilidade pode ser tão incapacitante
quanto a hipomobilidade. Ela pode manifestar-se
em resposta a um segmento ou região relativamente menos móvel (rigidez relativa) levando a
uma movimentação excessiva que não pode mais
ser controlada pelos músculos. Neste caso exercícios de estabilização que tentam limitar e controlar
o movimento excessivo devem ser aplicados 17.
Hipermobilidade deve ser diferenciada da instabilidade. A primeira se refere à frouxidão ou comprimento excessivo de um tecido, enquanto a segunda
é uma amplitude de movimento excessivo para a
qual não existe controle muscular de proteção. Uma
precaução importante que deve ser adotada ao tratar áreas de hipermobilidade consiste em garantir a
identificação das áreas de flexibilidade relativa. As
técnicas de estiramento (alongamento) destinadas
a aprimorar a mobilidade em uma área hipomóvel podem aumentar a hipermobilidade em uma
área adjacente. As atividades devem progredir de
conformidade com a capacidade do indivíduo em
controlar os limites da estabilidade 10.
A hiperflexibilidade pode ser benigna ou maligna.
Será considerada benigna se não houver o sintoma
de dor. Se for maligna ou desenvolvida às custas de
microlesões e/ou instabilidade músculo articular,
pode afastar o esportista do desempenho e conduzir a problemas ortopédicos e degenerativos, por
suas conseqüências músculo-esqueléticas. Entretanto, esse tipo de problema não é muito comum
na prática de esportes de alto nível, pois, esses
esportistas acabam sendo eliminados antes de seu
desenvolvimento completo, por lesão ou por deficiência no desempenho esportivo. Outra desvantagem consiste no facto de pessoas com articulações
lassas apresentarem dificuldade no controle corporal, além de menor percepção corporal. Para essas
pessoas recomenda-se exercícios de alongamento
somente como um meio de aquecimento 9.
Tratamento através do alongamento
Quando uma pessoa inicia um programa de
treinamento de flexibilidade, os possíveis benefícios são potencialmente ilimitados. A qualidade e
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a quantidade desses benefícios são determinados
pelos objectivos do indivíduo e pelos métodos e
técnicas usados para atingir esses objectivos 4.
O movimento limitado produz restrições funcionais ou incapacidades observáveis, porém a dor
produz limitações funcionais e incapacidade que
nem sempre podem ser observadas por quem não
está familiarizado. Ela é um componente da maioria das condições músculoesqueléticas. A dor aguda
está associada com distensões musculares, tendinite,
contusões ou lesões ligamentares, e costuma ser de
curta duração. A dor crônica não é de curta duração e produz profundas alterações nos aspectos físicos, psicológicos e sociais na vida do paciente. Em
geral a dor crônica é um grande componente de
problemas como fibromialgia, síndrome de fadiga
crônica, síndrome de dor miofascial e lombalgia 10.
É necessário exercitar-se quando se sofre de dor
crônica pois o exercício pode diminuir problemas
como: inflexibilidade, perda de mobilidade ou
fraqueza, que contribuem para a dor; prevenir as
complicações musculoesqueléticas secundárias da
dor, como fraqueza adicional, imobilidade e flexibilidade em outras articulações, entre outros. O
tratamento da dor crônica é dirigido a fonte de dor
e a quaisquer deficiências ou limitações funcionais
músculo-esqueléticas, bem como a quaisquer problemas que podem ser prevenidos, identifìcados
durante o processo de avaliação 10. O alongamento
tem sido usado para diminuir dor e dureza muscular 18.
O exercício também pode ser executado como
uma estratégia de abstenção para reduzir ou prevenir o estresse indesejado. E, assim como o exercício foi verificado como sendo, imensuravelmente,
terapêutico para muitas pessoas, provas empíricas
indicam que programas de treinamento de flexibilidade individualizados podem ser benéficos da
mesma forma 4.
Os traumatismos podem causar um ciclo dorespasmo que ativam os nociceptores. Estes detectam
a dor que produz uma atividade muscular reflexa
que, se for prolongada, resulta em isquemia muscular. A isquemia excita os nociceptores musculares
que perpetuam o espasmo muscular. A liberação
de substâncias químicas no momento da lesão ou
com o resultado da inflamação também pode estimular os nociceptores. A vasoconstricção associada
com a resposta simpática ou aquela que resulta do
espasmo muscular pode produzir dor 10.
No tratamento de problemas relacionados
à coluna vertebral
A impossibilidade de movimentar uma articulação por causa da dor pode resultar em perda da
mobilidade. Se um segmento da coluna vertebral
se apresenta hipomóvel em virtude de uma lesão,
o segmento é mais rígido e impõe mais resistência ao movimento que as articulações adjacentes.
Quando se torna necessária a flexão, extensão
ou rotação, as articulações adjacentes produzem
a maior parte do movimento por causa da resistência a movimentação da articulação hipomóvel.
Também, a rigidez dos músculos isquiotibiais é
compensada com freqüência pela movimentação
da coluna lombar, que irá exercer mais carga sobre
a coluna. O alongamento dos músculos isquiotibiais minimiza o estresse exercido sobre a coluna e
constitui a base para o estiramento dos isquiotibiais,
uma abordagem usada por pessoas para combater a
lombalgia. A menor mobilidade no quadril contribui para a lombalgia. A dor resulta da compressão
dos elementos posteriores da coluna vertebral e
subseqüente inflamação ao redor das raízes nervosas. Neste exemplo, os elementos de base são o
encurtamento dos flexores e da cápsula articular
do quadril exercendo tração sobre a pelve em uma
inclinação anterior e o alongamento e enfraquecimento dos músculos abdominais, que se tornam
incapazes de proporcionar uma contra-força suficiente. Nessa situação deve ser instituída uma intervenção capaz de aumentar o comprimento dos
flexores do quadril e reduzir a rigidez na cápsula
articular do quadril e de aprimorar o acionamento
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Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos.
Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur
neuromuscular e a resistência muscular dos músculos abdominais 10.
O alongamento e o fortalecimento são uma
medida preventiva e um tratamento para a dor
lombar baixa 19. Ocorre também a diminuição da
dor lombar baixa e ainda alívio do desconforto
associado a osteoartrite e ciatalgia com exercícios
de alongamento 18.
Nas escolioses doloridas do adulto o alongamento muscular se revela extremamente útil para
o benéfìco efeito antálgico (contra a dor muscular);
o exercício de alongamento ainda revelou, além
disso, bons resultados nos casos de hipercifose dorsal rígida 20.
No tratamento da fibromialgia
São sugeridos exercícios de alongamento como
parte no tratamento de indivíduos com fibromialgia 10 (síndrome reumática, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor músculo-esquelética
difusa e crônica e por sítios anatômicos específicos
dolorosos à palpação 21). A eficácia dos exercícios
de alongamento muscular na melhora do sintoma
de dor e maior facilidade para a realização de atividade de vida diária em pacientes com fibromialgia são comprovados 22, porém, ainda permanece a
sensibilidade dolorosa nos “tender points” (irritação
nervosa local, que leva a uma contratura muscular
acompanhada de dor de caráter duradouro) e conclui que a associação das terapias de TENS (estimulação elétrica nervosa transcutânea) e alongamento
muscular, mais a melhora da consciência corporal, permitem melhorar, além da dor, a rigidez e a
inflexibilidade encontrada nesses pacientes 21.Todavia, um estudo realizado na Reumatologia da Unifesp mostra que a simples caminhada pode ajudar
essas pessoas mais do que o alongamento, que é o
exercício físico mais indicado no tratamento convencional. De acordo com o autor, todas as pacientes, com o alongamento, tiveram uma melhora em
algum aspecto. Já as que caminharam, melhoraram
em todos os aspectos. Concluiu ainda que, o con-
dicionamento físico aeróbio é superior ao alongamento na melhora da depressão, ansiedade, dor,
função e qualidade de vida 23 .
No tratamento das lesões dos tecidos
conjuntivos
O alongamento deve ser incorporado se o comprimento muscular é insuficiente para as demandas
impostas à unidade músculotendinosa 10. Nos casos
de recuperação após uma lesão tendinosa aguda,
o alongamento é crítico para restaurar o comprimento normal do tecido 10. Ainda mais, o alongamento é um estímulo nos estágios iniciais de cicatrização para o alinhamento correto do colágeno.
No tecido em fase de cicatrização, o alongamento
delicado destinado a proporcionar um estímulo
para a orientação das fibras sem ruptura do colágeno imaturo facilita o processo de remodelagem.
Porém deve-se usar de muita cautela pois, o mesmo
autor afirma que a amplitude de movimento e o
alongamento passivo não são processos benignos e
estão contra indicados caso o movimento afete o
processo de cicatrização 10. Em se tratando de um
programa de introdução à reabilitação, após reduzir
as respostas agudas à lesão, o programa deve prosseguir com a amplitude precoce de movimento e
exercícios ativos de fortalecimento e treinamento
proprioceptivo, enfatizando necessidade de respeitar o ritmo de cicatrização de cada indivíduo 24.
Parece que o alongamento nesses casos está mais
para recuperação de amplitude de movimento funcional do que para verdadeiros ganhos (aumentos)
de amplitude articular 24.
Discussão
Podemos perceber que os termos alongamento e
flexibilidade são bem controversos a começar pelas
suas definições. Há autores que consideram alongamento apenas como exercícios para manutenção
da amplitude articular ou como parte de um aquecimento antes de se iniciar uma atividade física,
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outros já acreditam que o alongamento é uma
forma de aumentar ou ganhar amplitude articular.
Muitas das idéias a respeito dos diferentes assuntos
que envolvem os efeitos dos exercícios de alongamento e ganho de flexibilidade, como prevenção
de lesões, alívio de dor, alongamento pós-exercício, ainda não estão concluídas. Em se tratando de
exercícios de alongamento após esforços físicos,
parece que o ideal são exercícios moderados de
alongamento para evitar um encurtamento muscular, não devendo, portanto, serem utilizados exercícios visando ganhos de flexibilidade, pois o músculo fatigado não pode responder prontamente ao
reflexo de proteção. Quanto à prevenção de lesões,
muitos são os autores que defendem a idéia de que o
alongamento é eficiente neste sentido, assim como
outros defendem que não existe comprovação
científica neste assunto. Porém, podemos observar,
que a maioria dos que são a favor da primeira idéia,
destacam o alongamento como parte importante
do treinamento e não como sendo apenas alguns
exercícios preparatórios antes do treino.
Para pessoas com hipermobilidade ou hiperflexibilidade, os exercícios de alongamento devem se
resumir a apenas um meio de aquecimento.
Nos casos de problemas relacionados à coluna
(lombalgias, ciatalgias, escolioses), o alongamento
mostra-se um importante factor de contribuição
no equilíbrio músculo-esquelético desta, reduzindo as dores provenientes de um desequilíbrio
entre força e alongamento muscular.
No tratamento das lesões do tecido conjuntivo,
o alongamento está indicado para recuperação do
comprimento normal do tecido, não sendo mencionada nenhuma vantagem em grandes ganhos
de flexibilidade principalmente em se tratando da
fase de cicatrização do tecido, onde se preconiza
apenas um alongamento delicado para direccionar
o alinhamento correto das fibras de colágeno; em
caso contrário, o alongamento não é considerado
benigno.
No tratamento da fibromialgia parece haver um
consentimento geral de que o alongamento é benéfico no alívio da dor, porém há autores que acreditam que exercícios aeróbios são mais efetivos.
Apesar dos inúmeros estudos e pesquisas nesta
área ainda são necessários muitos outros a fim de
proporcionar ferramentas precisas para educadores
físicos trabalharem com segurança e alcançarem os
resultados desejados na obtenção de saúde, reabilitação de determinadas patologias, performance
esportiva e uma melhor qualidade de vida, pois,
quando se trata de alongamento e flexibilidade,
ainda existem muitas questões não esclarecidas
devido a falta de estudos ou a resultados contraditórios dos estudos já existentes. O desenvolvimento de novos trabalhos científicos torna-se
fundamental, no sentido de propiciar aos profissionais envolvidos com o treinamento da flexibilidade, um maior repertório de informações que
os possa tornar mais críticos com relação à prescrição dos treinamentos de flexibilidade nas mais
diversas áreas de atuação da Educação Física.
Correspondência
Tathiane Tavares de Almeida
Rua Arnaldo Victaliano n.1800 apto.11
Iguatemi – Ribeirão Preto
14.091-220
[email protected]
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Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos.
Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur
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24. Andrews JR; Harrelson G L;Wilk KE. (2000)
Reabilitação Física nas Lesões Desportivas. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan .
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{ NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS
1. TIPOS DE PUBLICAÇÃO
2. PREPARAÇÃO E ENVIO DOS MANUSCRITOS
3. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS DE CASO
4. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE REVISÃO E ARTIGOS TÉCNICOS
5. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE OPINIÃO
6. ENDEREÇOS
1. TIPOS DE PUBLICAÇÃO.
A Motricidade publica trabalhos relativos a todas
as áreas das Ciências do Desporto e Ciências da
Saúde ligadas com a actividade física, o desporto
e o bem-estar físico e psíquico. São aceites os
seguintes formatos para publicação: Artigo de
Investigação, Artigo de Revisão, Estudo de Caso,
Artigo Técnico e Artigo de Opinião. Para publicação de estudos de caso, a metodologia seguida
deverá ser rigorosa e expressa no manuscrito.
2. PREPARAÇÃO E ENVIO DOS MANUSCRITOS.
Os artigos submetidos à Motricidade deverão
conter dados originais, teóricos ou experimentais, e a parte substancial do trabalho não deverá
ter sido publicada anteriormente. Se parte do
trabalho foi já publicado ou apresentada publicamente deverá ser feita referência a esse
facto na secção de Agradecimento. Os artigos
serão, numa primeira fase, avaliados pelo Editor
– chefe e terão como critérios iniciais de aceitação o cumprimento das normas de publicação,
a relação do tópico tratado com as Ciências do
Desporto e Ciências da Saúde e o seu mérito
científico. Depois desta análise, o artigo, se for
considerado pertinente, será avaliado por 2 revisores independentes e sob a forma de análise
“duplamente cega”. A aceitação do mesmo por
parte de um revisor e a rejeição por parte de
outro obrigará a uma 3ª consulta. Concluído o
processo de revisão, o autor principal será informado do resultado do processo. Três resultados
são possíveis: aceitação, aceitação com alterações e rejeição.
Os artigos deverão ser tão objectivos quanto
possível e evitar o uso da especulação. Os artigos
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serão rejeitados quando escritos em português
de fraca qualidade linguística. O formato digital
será obrigatoriamente em Microsoft Word do
Windows XP. Os manuscritos deverão ser escritos em página A4 com 3 cm de margem, em letra
Arial 12, com espaço de 1,5 linhas e com formatação justificada sem avanços ou espaçamentos de
parágrafos. Não deverá ser usada letra maiúscula e as secções devem ser realçadas a negrito
(bold). Tanto o texto quanto os quadros e figuras
deverão ser a preto e branco. As páginas deverão
ser numeradas sequencialmente, sendo a página
de título a nº1. Os manuscritos não deverão conter notas de rodapé. Os Manuscritos deverão ser
submetidos em suporte digital no formato acima
descrito via correio electrónico. Para todos os
tipos de publicação aplicar-se-ão estas regras
de preparação e envio dos manuscritos. A submissão deve ser acompanhada por uma declaração que indique que caso o trabalho seja aceite
para publicação, os autores do mesmo cedem os
direitos de autor à Motricidade. Esta declaração
deve igualmente atestar que o artigo nunca foi
previamente publicado.
3. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS DE
CASO.
Os manuscritos deverão obrigatoriamente conter as seguintes secções.
Página de título, contendo:
• Indicação do tipo de publicação.
• Título (conciso mas suficientemente informativo).
• Título abreviado (limite de 45 caracteres).
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Página de resumo, contendo:
• Dois resumos: um em Português e um em
Inglês (Abstract), ambos com um limite de 200
palavras.
• Três a seis palavras-chave (Key words no caso
do Abstract).
• No resumo e abstract, indicar os objectivos
do estudo, a metodologia usada, os resultados
mais importantes e as conclusões do trabalho
(referências da literatura e abreviaturas devem
ser evitadas).
• Antes do abstract deverá ser indicado o título
do trabalho em Inglês.
Introdução
• Deverá ser suficientemente compreensível,
explicitando claramente o objectivo do trabalho e
relevando a importância do estudo face ao estado
actual do conhecimento.
• A revisão da literatura não deverá ser exaustiva (aconselha-se um limite de 30 referências
para artigos de investigação e estudos de caso).
Metodologia
• Esta secção deverá ser dividida em três subsecções: Amostra, Procedimentos e Estatística.
• Nesta secção deverá ser incluída toda a informação que permite aos leitores realizarem um
trabalho com a mesma metodologia sem contactarem os autores.
• Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo
do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado
grau de fiabilidade.
• Quando utilizados humanos deverá ser
indicado que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia de
1975) ou que os mesmos foram aprovados por
um Comité de Ética
• Quando utilizados animais deverão ser utiliza-
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dos todos os princípios éticos de experimentação
animal e, se possível, deverão ser submetidos a
um Comité de Ética.
• Todas as drogas e químicos utilizados deverão
ser designados pelos nomes genéricos, princípios
activos e dosagem.
• A confidencialidade dos sujeitos deverá ser
estritamente mantida.
• Os métodos estatísticos utilizados deverão ser
referidos.
• Fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser
evitadas.
{ NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS
• Nomes dos autores por extenso (nome próprio
e até dois sobrenomes) sem referência a graus
académicos.
• Afiliação académica ou profissional dos
autores (instituição de trabalho).
• Nome e morada do autor para onde toda a correspondência deverá ser enviada.
Resultados
• Os resultados deverão apenas conter os dados
que sejam relevantes para a discussão e serem
apresentados preferencialmente sob a forma de
quadros (tabelas) ou figuras.
• O texto só deverá servir para realçar os dados
mais relevantes e nunca replicar informação
contida nos quadros (tabelas) ou figuras.
• Os quadros (tabelas) e figuras deverão ser
numerados em numeração árabe na sequência em que aparecem no texto. Os quadros não
podem conter linhas verticais e devem ocupar a
largura total do espaço de impressão da página.
• O título dos quadros (tabelas) deverá aparecer
no cabeçalho dos mesmos e o título das figuras
aparecer no rodapé das mesmas. As abreviaturas
usadas deverão ser explicadas em rodapé (em
letra Arial tamanho 10) para ambos os casos.
• Os quadros (tabelas) e figuras deverão ser
submetidas com qualidade gráfica que possibilite a redução das suas dimensões e preferencialmente a preto e branco.
• Os quadros (tabelas) e figuras deverão ser
colocados no manuscrito.
• As figuras deverão igualmente ser submetidas
em ficheiros separados (um ficheiro por figura)
em formato TIF ou JPEG com tamanho máximo
de 200kb por ficheiro.
• Unidades, quantidades e fórmulas deverão
observar o Sistema Internacional (SI).
• Todas as medidas deverão ser referidas em
unidades métricas.
Discussão
• Os dados novos e os aspectos mais impor-
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tantes do estudo deverão ser indicados de forma
clara e concisa e não deverão ser repetidos os
resultados já apresentados.
• Deverá ser efectuada uma comparação com a
literatura.
• As especulações não suportadas pelos métodos estatísticos deverão ser evitadas.
• Sempre que possível, deverão ser incluídas
recomendações.
• A discussão deverá ser completada com um
parágrafo final onde são realçadas as principais
conclusões do estudo.
Agradecimentos
Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado
publicamente deverá aqui ser referido o facto.
Qualquer apoio financeiro ao trabalho deverá
igualmente ser referido.
Referências
• As referências deverão ser citadas no texto
por número (índice superior à linha), compiladas
alfabeticamente e ordenadas numericamente na
listagem final. Para Artigos de Revisão com mais
do que 30 referências e para Artigos de Opinião, as referências poderão ser ordenadas pela
sua citação no texto e não por ordem alfabética.
Apenas quando for indispensável será aceite
a indicação dos autores no texto. Neste caso,
nas referências com mais do que dois autores
será indicado apenas o nome do primeiro autor
seguido da abreviatura “et al.”.
• Na lista final de referências usadas todos os
autores deverão ser indicados.
• Os nomes das revistas deverão ser abreviados
conforme as normas internacionais de indexação
das mesmas.
• Apenas artigos publicados ou em impressão
(in press) poderão ser citados. Dados não publicados deverão ser utilizados só em casos excepcionais sendo assinalados como “dados não publicados”.
• A utilização de um número elevado de resumos ou de artigos de publicações que não sejam
sujeitas a um sistema de revisão científica (peerreviewed) será uma condição de não-aceitação.
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Exemplos de referências
Artigo de revista
Heugas AM, Brisswalter J, Vallier JM (1997).
Effet d´une période d´entraînement de trois
mois sur le Déficit Maximal en Oxygen chez des
sprinters de haut niveau de performance. Can J
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Livro completo
Altman DG (1995). Practical statistics for medical research. London: Chapman and Hall.
Capítulo de um livro
Hermansen L, Medbø JI (1984). The relative
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during maximal exercise of short duration. In:
Marconett P, Poortmans J, Hermanssen L (Eds).
Physiological Chemistry of Training and Detraining. Basel: Karger, 56-67.
4. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE REVISÃO E ARTIGOS TÉCNICOS.
Aplica-se o disposto anteriormente para os outros formatos de artigo, com excepção da organização por secções que deverá ser a seguinte.
• Página de Título
• Resumo e Abstract
• Introdução
• Desenvolvimento
• Conclusões
• Agradecimentos
• Referências
Para a página de título, resumo, abstract,
introdução, agradecimentos e referências, bem
como para a inclusão de quadros e figuras,
aplica-se o disposto anteriormente.
Desenvolvimento
• O título desta secção ou de várias subsecções
que a componham, deve ser específico para a
temática que é apresentada e de livre escolha
por parte dos autores.
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Conclusões
• Nesta parte os autores devem apresentar uma
súmula da informação transmitida, realçando a
utilidade prática do trabalho e eventuais recomendações técnicas que derivem da informação
que é apresentada.
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5. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE OPINIÃO.
Os artigos de opinião serão da autoria exclusiva de convidados pelos Editores da revista e
versarão temáticas associadas com o Desporto.
A sua organização em secções não é imposta
aos autores e a sua avaliação será feita pelos
directores da revista. Poderão socorrer-se ou
basear-se em dados resultantes de investigação
formal ou informal e de referências da literatura
(aplicando-se neste caso as normas anteriormente definidas). Neste formato, não é exigido
o Resumo e o Abstract, embora se estimule os
autores à sua apresentação.
Endereço electrónico para envio de artigos.
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{NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS
• Nesta secção é apresentada a informação essencial que o artigo permite transmitir.
Pode socorrer-se de informação já publicada
(obrigatório no caso de artigo de revisão) e apresentar informação própria dos autores não publicada (apenas admissível no caso de artigo técnico). Aconselha-se um limite de 30 referências
para artigos de técnicos e de 60 referências para
artigos de revisão. Aconselha-se igualmente
um mínimo de 30 referências para artigos de
revisão. O uso de citações integrais deverá ser
evitado. Quando usado este tipo de citação, o
parágrafo deverá estar tabulado a 3 cm para a
direita e em letra Arial estilo itálico e tamanho
10. Nos artigos técnicos, embora não seja exigida
a confirmação pelo método científico da informação apresentada, é aconselhável que os autores
evitem uma linguagem especulativa e procurem
objectividade na informação transmitida. A informação em texto pode ser completada com quadros ou figuras (sendo obrigatória a identificação
da fonte quando não se tratem de originais). O
título deste capítulo ou dos vários sub-capítulos que o compõem, deve ser específico para a
temática que é apresentada e de livre escolha
por parte dos autores.
Endereço para correspondência
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Revista da FTCD
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4520-225 Sta. M.ª Feira
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