Convite à Viagem

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Convite à Viagem
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Centro de Documentação e Referência Itaú Cultural
Catalogação na publicação (CIP)
Convite à viagem. – São Paulo : Itaú Cultural, 2012.
380 p.
ISBN 978-85-7979-037-9
São Paulo, 2013
1. Artes visuais. 2. Arte contemporânea. 3. Exposição de arte - Programa Rumos.
4. Artistas brasileiros. I. Título.
CDD 709.05
Realização
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presentation
Artistas Selecionados
selected artists
invitation to a journey
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Curadores Viajantes
traveling curators
Recortes Curatoriais
curatorial scopes
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Este catálogo apresenta os resultados das etapas de mapeamento, difusão e formação da quinta edição do
programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2011-2013, para a qual se inscreveram 1.770 artistas. A
edição tem a coordenação geral de curadoria de Agnaldo Farias e conta com uma equipe de 12 profissionais
– Ana Maria Maia, Felipe Scovino, Gabriela Motta e Paulo Miyada, curadores; Alejandra Muñoz, Carlos
Franzoi, Júlio Martins, Luiza Proença, Marcelo Campos, Matias Monteiro, Sanzia Pinheiro e Vânia Leal, curadores viajantes –, responsáveis pelo mapeamento nacional da produção visual contemporânea emergente.
Na fase inicial – mapeamento – membros da equipe curatorial deram palestras sobre temas da arte contemporânea, em seis capitais, e oficinas de montagem de portfólio, ministradas pela pesquisadora Janaína
Melo, foram oferecidas em 14 capitais. Em seguida, os curadores do programa percorreram mais de cem
cidades de todo o país para conhecer a realidade da produção artística desses locais. Os relatos da pesquisa
fazem parte desta publicação.
Como parte da etapa de difusão do programa, o Itaú Cultural realizou, em sua sede, em São Paulo, de fevereiro a abril de 2012, a exposição Convite à Viagem, com 126 obras dos 45 artistas selecionados pela equipe
curatorial. Quatro recortes dessa mostra foram apresentados em 2012: Volta ao Dia em 80 Mundos, com curadoria de Ana Maria Maia e cocuradoria de Carlos Franzoi e Marcelo Campos, de maio a julho, em Goiânia;
O Fio do Abismo, com curadoria de Gabriela Motta e cocuradoria de Alejandra Muñoz e Luiza Proença, de
julho a setembro, em Belém; À Deriva, com curadoria de Felipe Scovino, Júlio Martins e Sanzia Pinheiro, de
setembro a novembro, em Joinville; e Intuição et Cetera, com curadoria de Matias Monteiro, Paulo Miyada e
Vânia Leal, de setembro a novembro, no Recife. As obras escolhidas em cada montagem têm em comum a
abordagem de temas e questões que estão no centro da discussão sobre a arte na atualidade.
Na etapa de formação, os artistas selecionados concorreram a bolsas residência no Brasil, no Chile e
na Inglaterra. Os escolhidos foram: Luiza Baldan (RJ), na Crac Valparaíso – Residencias y Plataforma
de Pensamiento Contemporáneo, em Valparaíso, pelo período de um mês e meio; Luiz Roque (SP),
na instituição JA.CA, em Belo Horizonte, em uma bolsa de três meses; Cristiano Lenhardt (PE), na
Gasworks, em Londres, por três meses; e GIA (BA), no Capacete, no Rio de Janeiro, por dois meses.
Integraram as ações de formação oito workshops em 2012, em Aracaju, Cachoeira, Araraquara, Boa
Vista, Brasília, Uberlândia, Chapecó e Macapá.
A apresentação da exposição Convite à Viagem no Paço Imperial, Rio de Janeiro, entre março e maio de
2013, a realização de cursos de história da arte e a produção e o lançamento deste catálogo completam
as ações da edição 2011-2013 do programa.
Eduardo Saron
Diretor superintendente
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invitation to a journey
presentation
presentation
This catalog presents the outcomes of the mapping, dissemination and education stages of the fifth
edition of the 2011-2013 Rumos Itaú Cultural Artes Visuais program, which received 1,770 submissions. This edition curatorship has been led by the general coordinator Agnaldo Farias followed
by a team of 12 professionals (Ana Maria Maia, Felipe Scovino, Gabriela Motta and Paulo Miyada,
curators; Alejandra Muñoz, Carlos Franzoi, Júlio Martins, Luiza Proença, Marcelo Campos, Matias
Monteiro, Sanzia Pinheiro and Vânia Leal, traveling curators), charged with the task of mapping the
emerging contemporary visual output nationwide.
In the first stage (mapping) members of the curatorial team have delivered talks on topics related to contemporary art in six state capitals and workshops on how to put up a portfolio, given by researcher Janaína Melo,
were held in 14 capital cities. Then the program curators have visited over a hundred cities across the country
to know the reality of art making in those locations. The research reports are an integral part of this publication.
As part of the program dissemination stage, Itaú Cultural hosted the exhibition Convite à Viagem in
the premises of its head office in São Paulo. The exhibition ran from February thru April 2012 featuring
126 works of 45 artists selected by the curatorial team. They were laid out in four curatorial scopes for
the 2012 show: Around the Day in 80 Worlds, curated by Ana Maria Maia and co-curated by Carlos
Franzoi and Marcelo Campos from May to July in Goiânia; The Edge of the Abyss, curated by Gabriela
Motta and co-curated by Alejandra Muñoz and Luiza Proença from July to September in Belém; Adrift,
curated by Felipe Scovino, Júlio Martins and Sanzia Pinheiro from September to November in Joinville;
and Intuition et Cetera, curated by Matias Monteiro, Paulo Miyada and Vânia Leal from September to
November in Recife. The points in common to the works gathered under each scope are the approach
of subjects and issues that are at the heart of the discussion about art today.
In the education stage, the participating artists competed for residency scholarships in Brazil, Chile
and England. The winners were: Luiza Baldan (RJ), at Crac Valparaiso - Residencias y Plataforma de
Pensamiento Contemporáneo, in Valparaiso, for a one-and-a half-month period; Luiz Roque (SP),
at JA.CA institution, in Belo Horizonte, on a three-month scholarship; Cristiano Lenhardt (PE), in
Gasworks, London, for three months; and GIA (BA), at Capacete, in Rio de Janeiro, for two months.
The educational actions comprised eight workshops held in 2012 in Aracaju, Cachoeira, Araraquara,
Boa Vista, Brasília, Uberlândia, Chapecó and Macapá.
The exhibition Convite à Viagem to be held at the Paço Imperial [Imperial Palace], Rio de Janeiro, from
March thru May 2013, plus the courses on art history and the production and release of this catalog
close the actions of the 2011-2013 edition of the program.
Eduardo Saron
Executive Director
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artistas selecionados
Adriano Costa [São Paulo, SP, 1975]
Na década de 1990 fez cursos livres com artistas como Carlito Contini e Roberta Fortunato no Sesc Pompeia, São
Paulo, e se graduou na ECA/USP. Paralelamente, manteve sua pesquisa em música, atuando como produtor de
trilhas sonoras e tocando como DJ em diversos locais em São Paulo, Londres e Berlim.
Allan de Lana [Brasília, DF, 1980]
Graduado em arte pela UnB em 2006. Expôs em 2004 a instalação Como Furar Papel-de-Seda-Azul-com-Bolinha-Branca
na Casa da Cultura da América Latina, DF. Entre 2006 e 2009, realizou as instalações Ding, Regiões Audíveis (o Piscar de
Olhos) e Vagão da Serra no Espaço Piloto/UnB.
Berna Reale [Belém, PA, 1965]
É artista e perita criminal. Nos últimos anos vem desenvolvendo trabalhos na área da performance. Pesquisa a
violência e suas várias formas de manifestação.
Carla Evanovitch [Belém, PA, 1980]
Graduada no curso de licenciatura em artes plásticas pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Expôs no Centro Cultural Banco do Nordeste (Fortaleza, CE); no XI Enearte (Rio de Janeiro, 2007) e no XII Enearte (Belém,
2008); na I Bienal de Fotocópias (Argentina, 2009). Suas obras fazem parte dos acervos CCBNB (Fortaleza,
CE); Fundação Rômulo Maiorana (Belém, PA); Sistema Integrado de Museus e Memoriais (Belém, PA) e FGV
(Belém, PA). Foi contemplada com os prêmios SIM de Artes Visuais 2008 e aquisição no XXVII Arte Pará e Bolsa
de Pesquisa, Experimentação e Criação Artística do Instituto de Artes do Pará 2009.
Carlos Contente [Rio de Janeiro, RJ, 1977]
Graduou-se em pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, 2006. Realizou sua primeira exposição individual em
2005 no Paço Imperial do Rio de Janeiro. E nos anos seguintes nas galerias Luisa Strina, em São Paulo, e A Gentil
Carioca, no Rio de Janeiro. Em 2011, em Zurique, Suíça, expôs Infinite Jungle of Individual Repetition, em colaboração
com a galeria Christinger De Mayo. Em 2008, após uma residência para artistas na Fundição Darling, em Montreal,
Canadá, iniciou um trabalho colaborativo com o grupo de dança contemporânea The Choreographers. No mesmo
ano participou de Nova Arte Nova, no CCBB, Rio de Janeiro e São Paulo, e criou, com quatro amigos, a mostra Zoation
Painting, la Pintura de Broma, no Museo Nacional de Arte de La Paz, Bolívia. Em 2011 participou das coletivas Brazilian
Papers, na galeria Bendana-Pinel, Paris, e de mostras na A Gentil Carioca e na galeria Tanya Bonadkar, de Nova York.
Claudia Hersz [Rio de Janeiro, RJ, 1960]
É artista multimídia graduada em arquitetura pela UFRJ. Participou de inúmeras exposições coletivas e salões
institucionais no Brasil e no exterior, como Eternal Feminine Plural, Genebra; Salão de Arte Digital, Cuba; Salão
da Bahia; Sesc Arte 24 Horas, Performance Presente Futuro Volume III; VII Bienal do Mercosul, além de exposições
como Anarchist Bookfair, Nova York; Nanoexposições do Grupo DOC, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bogotá e
Colômbia; Associados no Espaço Orlândia, Rio de Janeiro. Atuou na criação e realização dos desfiles da escola de
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artistas selecionados
samba infantil Pimpolhos da Grande Rio de 2006 a 2009. Em 2010, expôs ToYS É NóIS no Centro Cultural Jus-
Fernando Ancil [São João del Rei, MG, 1980]
tiça Federal, no Rio de Janeiro. Teve seu projeto Ninhumanos contemplado com o Prêmio Interferências Urbanas
Formou-se técnico em conservação e restauração de bens culturais móveis pela Fundação de Arte de Ouro Preto e
2008, Rio de Janeiro, construindo a obra nos jardins do Aterro do Flamengo, e recebeu o Prêmio Aquisição em
graduou-se em artes visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG. Trabalhou como professor de desenho, escultura
2011 no 17º Salão Unama de Pequenos Formatos, Belém, Pará.
e fotografia na Faop. Atualmente divide seus trabalhos em produção individual e realiza parcerias com outros artistas,
atuando em desenho, fotografia, instalação, intervenção urbana e vídeo.
Cristiano Lenhardt [Itaara, RS, 1975]
Graduou-se em artes plásticas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), em 2000. Realizou expo-
Gabriela Mureb [Niterói, RJ, 1985]
sições na Galeria Marcantonio Vilaça e no Instituto Cultural Banco Real de Recife. Recebeu os seguintes prêmios:
É mestranda em linguagens visuais pela UFRJ, onde graduou-se em pintura, em 2008. Entre suas principais
Abre Alas, Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro (2008); Prêmio Projéteis da Arte Contemporânea, Funarte,
exposições estão a individual Corpos Dóceis, na galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, 2009), e as coleti-
Rio de Janeiro (2008); Prêmio Concurso Videoarte, Fundação Joaquim Nabuco, Recife (2007); SPA das Artes,
vas Jogos de Guerra, na Caixa Cultural (Rio de Janeiro, 2011) e no Memorial da América Latina (São Paulo,
Recife (2007 e 2004); Bolsa Prêmio XXVI Salão de Artes Plásticas de Pernambuco (2006), entre outros.
2010); Converging Trajectories: Crossing Borders, Building Bridges no Modified Arts (Phoenix, EUA, 2010);
Riodesaguamar – Projeto Amplificadores 2009, no Museu Murillo La Greca (Recife, 2009); Abre Alas, na
Dalton Paula [Brasília, DF, 1982]
galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, 2008); Intervenção artística no Morro da Conceição – Edital Arte
Concilia sua carreira artística com a profissão de bombeiro. Graduou-se em artes visuais na Universidade Federal
& Patrimônio 2007 – Iphan/MinC (Rio de Janeiro, 2008).
de Goiás (UFGO). Realizou mostras individuais e coletivas: em 2011, I Salão de Arte do Centro-Oeste, Goiânia,
e XVII Salão Anapolino de Arte, Anápolis, GO; em 2010, O Álbum, Edital do Museu de Arte Contemporânea de
GIA [Salvador, BA, 2002]
Goiânia; II Salão Universitário Prêmio Espaço Piloto de Arte Contemporânea da Galeria Espaço Piloto, Brasília,
O Grupo de Interferência Ambiental (GIA) é formado por artistas visuais, designers, arte-educadores e músicos que
DF; em 2009, Arte/Sapato, Salão de Arte de Novo Hamburgo, RS. Recebeu o Prêmio Aquisição do XXXVIII
têm em comum, além da amizade, uma admiração pelas linguagens contemporâneas e sua pluralidade, mais especi-
Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto, Santo André, em 2010.
ficamente aquelas relacionadas à arte e ao espaço público. Entre as mostras de que participaram destacam-se XXXII
Panorama de Arte Brasileira Itinerários, Itinerâncias, no MAM-SP, 2011; Brazilian Summer, no Museu Het Domein/
Daniel Murgel [Niterói, RJ, 1981]
Sittard, Holanda, 2009; Ocupação QG do GIA, MAM-BA, Salvador, e Nam June Paik Award, Colônia, Alemanha,
Iniciou sua produção em 2004 atuando em coletivos de artistas – Grupo Pi e Opavivará. A partir de 2007 estabe-
em 2008, entre outras. O grupo recebeu prêmios como Registros Vídeos sobre Arte/Canal Contemporâneo 2010 e
leceu sua produção individual, participando de exposições individuais, coletivas, salões e residências artísticas em
Fiat Mostra Brasil 2006. Mais informações no giabahia.blogspot.com.
diferentes estados com uma produção voltada para o desenho e as instalações.
Grupo P.S. [Joinville, SC, 2002]
Fábio Baroli [Uberaba, MG, 1981]
Formado pelos artistas Priscila dos Anjos e Sérgio Adriano H. quando ambos cursavam artes visuais na Uni-
Bacharel pelo Instituto de Artes da UnB, 2009. Participou de várias exposições individuais e coletivas, recebeu
versidade de Joinville (Univille). A escolha do nome Grupo P.S. (pós-escrito) vem acentuar esse pensar, com
prêmios em salões e concursos de arte, e teve a obra publicada em catálogos e revistas como Poets and Artists
apontamentos feitos sobre algo já produzido.
(Self Portrait Issue, Estados Unidos, v. 2, n. 6, p. 70, set. 2009).
Guilherme Dable [Porto Alegre, RS, 1976]
Fábio Magalhães [Tanque Novo, BA, 1982]
Bacharel em artes visuais pelo IA/UFRGS e mestrando em poéticas visuais pela mesma instituição. Integra
Graduou-se em artes visuais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Realizou sua primeira exposição indivi-
o Atelier Subterrânea desde 2006. Participou das coletivas Silêncios e Sussurros (Fundação Vera Chaves
dual em 2008, na Galeria de Arte da Aliança Francesa de Salvador. Entre suas principais participações estão: LX
Barcellos, Viamão, RS, 2010) e Passagens Secretas (CCSP, 2008), entre outras. Em 2009, realizou a individual
Salão de Abril, em Fortaleza, CE, e LXIII Salão Paranaense, em Curitiba, PR, ambos em 2009; XV Salão da Bahia,
Alguns Desenhos, na Galeria Gestual, em Porto Alegre. Possui trabalhos nas coleções da Fundação Vera
em Salvador, BA, em 2008; I Bienal do Triângulo, em Uberlândia, MG, em 2007; além da presença constante nos
Chaves Barcellos, da Pinacoteca Aldo Locatelli e da Câmara Municipal de Porto Alegre. Em 2010, recebeu
Salões Regionais da Bahia. Em 2010 foi premiado nos salões: I Salão Semear de Arte Contemporânea, com Prê-
o Prêmio Aquisição do XIX Salão da Câmara Municipal de Porto Alegre e foi indicado como Destaque na
mio Aquisição e Júri Popular em Aracaju, SE; Salão de Artes Visuais da Bahia, com o Prêmio Fundação Cultural
Bolsa Iberê Camargo em 2008.
do Estado, em Vitória da Conquista, BA, e Menção Especial em Jequié, BA.
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artistas selecionados
Guilherme Teixeira [São Paulo, SP, 1977]
Luciana Paiva [Brasília, DF, 1982]
Em 1999 formou-se em artes plásticas pela Faap e em 2010 concluiu o mestrado em artes visuais pela ECA/USP.
Artista visual e pesquisadora. Mestre em arte e bacharel em artes plásticas pela UnB. Cursa o Programa Apro-
Participou do Programa Anual de Exposições do CCSP em 2002 e foi premiado no Salão de Piracicaba em 2010.
fundamento da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participa de diversas exposições de arte desde 2004,
Em 2011 participou do projeto de intercâmbio Integração/Action em Quebec, Canadá. Paralelamente ao trabalho
atuando principalmente com projetos e temas que envolvem as relações entre palavra e imagem e livro de artista.
como artista, atua também como educador desde 1998 em diversas instituições de arte da cidade. Entre 2007 e
2010 dirigiu a Divisão de Ação Cultural e Educativa do CCSP.
Luiza Baldan [Rio de Janeiro, RJ, 1980]
Mestre e bacharel em artes visuais pela UFRJ (Rio de Janeiro, 2010) e Florida International University (Miami,
Íris Helena [João Pessoa, PB, 1987]
2002). Recebeu o XI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte (Rio de Janeiro 2010); Prêmio Aquisição
É licenciada em artes visuais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em 2009 apresentou Notas de
no XXXVII Salão de Arte Contemporânea de Santo André (São Paulo 2009); Prêmio Aquisição na I Mostra de
Esquecimento, sua primeira individual, em João Pessoa, PB. Participou de diversas mostras coletivas e obteve,
Fotografia CCSP (São Paulo 2008); destaque na revista eletrônica da Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre,
em 2010, um dos prêmios principais do XIII Salão Municipal de Artes Plásticas, em João Pessoa, além de receber
2007); Color Express Award (Miami, EUA, 2002); e Brown L. & Marion Whately Scholarship (Miami, EUA, 2002).
menção honrosa na exposição Qual o Lugar da Arte? no LXI Salão de Abril, Fortaleza, CE, e no prêmio Energias
nas Artes do Instituto Tomie Ohtake, São Paulo.
Desde 2009 realiza projetos-residência na cidade do Rio de Janeiro, como no Pedregulho (Conjunto Prefeito
Mendes de Moraes, Benfica), na Península (Barra da Tijuca) e no Edifício Rapozo Lopes (Santa Teresa). Das ex-
Isabel Ramil [Rio de Janeiro, RJ, 1989]
posições de que participou destacam-se as individuais no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2010);
É bacharel em artes visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS. Em 2007 fez cenografia do show Satolep Sambatown
na Plataforma Revólver (Lisboa, 2010); na Galeria Olido/CCSP (São Paulo 2008); e no Anexo da Galeria Laura
e, em 2010, cenografia do projeto Unimúsica. Foi contemplada em 2011 com o Prêmio Artista Destaque da Bolsa
Marsiaj (Rio de Janeiro, 2007). Entre as coletivas estão O Lugar da Linha, com curadoria de Felipe Scovino, Paço
Iberê Camargo. Ainda em 2011 participou das coletivas Labirintos da Iconografia, no Museu de Arte do Rio Gran-
das Artes (SP) e MAC (Niterói), 2010; Nova Arte Nova, com curadoria de Paulo Venâncio Filho, CCBB (Rio de
de do Sul, e Platform – Micro Topologies, na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Participou do Atelier
Janeiro, 2008, e São Paulo, 2009); BAC!, Centre de Cultura Contemporània de Barcelona (Espanha, 2008).
Aberto promovido por Jailton Moreira, em 2010, na Bolívia.
Luiz Roque [Cachoeira do Sul, RS, 1979]
Jimson Vilela [Rio de Janeiro, RJ, 1987]
Bacharel em artes visuais pela UFRGS. Talent Campus Buenos Aires, 2005, e Talent Campus Berlim, 2007. Parti-
Ex-integrante do Programa Aprofundamento 2010 da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, dirigida por Glória
cipou de diversas exposições individuais e coletivas, nacionais e internacionais.
Ferreira. É bacharel em artes visuais pela Uerj 2010. Entre suas principais exposições destacam-se as individuais
Laboratório (Fundação Cultural de Criciúma, 2011), Notas de Rodapé (Centro Cultural Badesc, 2011) e Ruído (Centro
Marcos Brias [São Paulo, SP, 1981]
Cultural da Justiça Federal, 2010), as coletivas VI e VII Bienal Internacional da Bolívia (Siart, 2009 e 2011) e a V Bienal
Estudou desenho industrial e artes visuais na Faap, em São Paulo. Teve sua primeira exposição individual na ga-
Internacional do Vento Sul (Cinemateca de Curitiba, 2009). Entre as coleções das quais faz parte destaca-se a do
leria Mendes Wood em 2010. Participou de exposições coletivas na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Think
MoMA. Atualmente é integrante do Programa Piesp da Escola São Paulo, dirigido por Adriano Pedrosa.
21 – Bruxelas, Sesc–SP, Instituto Tomie Ohtake–SP, MAM–RJ, Museu Inimá de Paula, de Belo Horizonte, e em
galerias e feiras no Brasil e no exterior.
João Castilho [Belo Horizonte, MG, 1978]
Mestre em artes visuais pela UFMG. Especialista em artes plásticas e contemporaneidade pela Escola Guignard.
Maria Laet [Rio de Janeiro, RJ, 1982]
Graduado em jornalismo pela PUC-MG. Exposições individuais nos seguintes espaços: em 2010, Fundação
Participa do programa Piesp, São Paulo. É formada pela Camberwell College of Arts, Londres, onde concluiu
Joaquim Nabuco, Recife, e Celma Albuquerque Galeria de Arte, Belo Horizonte; em 2009, Centro Cultural
o mestrado em 2008. Realizou residência na Schloß Balmoral (Bad Ems, Alemanha, 2009) e no Carpe Diem
Simon I. Patiño, Santa Cruz, Bolívia; 2008, Galeria Olido, CCSP, São Paulo, e Oi Futuro, Rio de Janeiro; 2007,
Arte e Pesquisa (Lisboa, 2010). Entre suas exposições individuais destacam-se Gesto Mínimo (Galeria Riccardo
Celma Albuquerque Galeria de Arte, Belo Horizonte, e, em 2006, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte.
Crespi, Milão, 2010); Desenhos de Ar (Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, 2010); Eu Fiz o Nada
Participou de diversas coletivas nacionais e internacionais, ganhou prêmios e bolsas, tem seu trabalho analisado
em publicações de arte e adquirido para acervos públicos e privados.
Aparecer (A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2010); e as coletivas Chez Toi – Exposition Éphémère N.1 (See
Art, Paris, 2010); O Lugar da Linha (MAC–NI e Paço das Artes, São Paulo, 2010); Natura e Destino (Galeria
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artistas selecionados
Riccardo Crespi, Milão, 2010); TrAIN to Bad Ems (Galerie Nord, Berlin, 2009); O Contrato do Desenhista (Pla-
PIRARUCUDUO [São Paulo, SP, 2009]
taforma Revolver, Lisboa, 2008); Realidades Imposibles (Fototeca Juan Malpica Mimendi, Vera Cruz, México,
Formado por Fernando Visockis e Thiago Parizi, atua no campo de arte e de música produzindo pesquisas e
2008), MA Theory and Practice of Transnational Art (House Galery, Londres, 2008) e Paper Trail: 15 Brazilian
trabalhos que relacionam esses campos. Suas produções possuem um caráter híbrido, em que se misturam arte,
Artists (Allsopp Contemporary, Londres, 2008).
música, tecnologia, arte sonora, performance e outras mídias, sempre priorizando o discurso conceitual e poético.
Marilia Furman [São Paulo, SP, 1982]
Pontogor [Rio de Janeiro, RJ, 1981]
É formada em artes plásticas pela ECA/USP e em arte e cultura fotográfica pelo Centro Universitário Senac. Em
Estudou pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ e em cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque
2011 realizou a exposição individual Trabalho Abstrato, no Museu Histórico de Santa Catarina, e participou do XX
Lage e na Uerj. Participou dos programas de residência Air Antwerpen na Bélgica; Batiscafo em La Habana,
Salão de Atibaia. Em 2010 foi contemplada com a bolsa Exposições Descentralizadas, do SPA da Artes (Recife).
Cuba; 4Territórios em Brasília; Encontro V::E::R. Terra UNA, Minas Gerais. Recebeu o Prêmio Prodem na
Foi uma das organizadoras da Casa da Lagartixa, onde participou de diversas exposições.
Bienal Internacional Siart em La Paz, Bolívia, 2007.
Michel Zózimo [Santa Maria, RS, 1977]
Rafael Pagatini (Caxias do Sul, RS, 1985)
Artista-pesquisador e professor pela CAP-UFRGS. Doutorando em poéticas visuais pela UFRGS. Integra os
Concluiu em 2009 o bacharelado em gravura na UFRS, onde cursa mestrado em poéticas visuais. Em 2011
Grupos de Pesquisa Veículos da Arte (UFRGS-CNPq) e Fotografia Ficcional: Experimentações na Arte Con-
recebeu V Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, primeiro lugar no Prêmio Ibema Gravura e Prêmio Energisa
temporânea (Urca–CNPq).
em João Pessoa. Expôs na mostra Labirintos da Iconografia, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, e participou da V Bienal de Gravura de Santo André e de Atibaia.
Naia [Manaus, AM, 1980]
Licenciatura em artes plásticas pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Participou das coletivas
Raquel Versieux [Belo Horizonte, MG, 1984]
Temperamentos (2004); Vibro (2005); Por um Fio (2006) no Centro de Artes da Ufam, Amazônia; A Arte (2010), no
Bacharel em artes visuais com habilitação em desenho pela Escola de Belas Artes da UFMG. Estudou fotografia
Museu Vale em Vila Velha, Espírito Santo; e no Palácio das Artes em Belo Horizonte; e Festival Performance Arte Brasil
na École Nationale Supérieure des Arts Visuels – La Cambre, em Bruxelas, Bélgica, e Ciências Sociais na UFMG.
(2011), no MAM–RJ. Em 2007 fez a individual Dois Meninos Taulipang na Usina Chaminé, em Manaus. Recebeu o
Prêmio Governo do Estado do Amazonas de Apoio à Produção Artística em 2005 por seu projeto Linhas em Foco.
Regina Parra [São Paulo, SP, 1981]
Mestre em artes visuais pela Faculdade Santa Marcelina e bacharel pela Faap. Participou de alguns dos principais
Nara AmÉlia [Três Passos, RS, 1982]
programas para jovens artistas, como a Temporada de Projetos do Paço das Artes, o Programa de Exposições do
Doutoranda em artes visuais pelo PPGAVI/UFRGS e mestre em artes visuais pelo PPGART/UFSM (2009).
CCSP e o Projeto Trajetórias da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife. Realizou exposição individual na Galeria
Entre as exposições individuais destacam-se O Melhor dos Mundos Possíveis!, no Goethe Institut, Porto Alegre
Leme. Entre as coletivas de que participou destacam-se XVII Festival de Arte Contemporânea Videobrasil, Sesc,
(2011); Sob a Natureza, no CCSP (2010); e Um Céu Feito de Abismo, na Galeria Arlinda Corrêa Lima, Palácio
São Paulo; A Carta da Jamaica, Oi Futuro, Rio de Janeiro; Rice and Beans, Studio Trendy, Miami; À Sombra do
das Artes, Belo Horizonte (2009). Recebeu o Prêmio Aquisitivo do Programa de Exposições 2010 do CCSP (São
Futuro, Instituto Cervantes, São Paulo; Paralela 2010, São Paulo; e 2000e8, Sesc Pinheiros, São Paulo. Recebeu
Paulo 2010); e Prêmio Aquisitivo I Prêmio Ibema Gravura (2010).
o I Prêmio Ateliê Aberto Videobrasil (2011); premio no V Concurso de Videoarte da Fundaj (2011); I Prêmio na
Anual de Artes da Faap (2006) e prêmio destaque da Bolsa Iberê Camargo (2009).
Pablo Lobato [Bom Despacho, MG, 1976]
Trabalhou dez anos com cinema e passou, a partir de 2008, a se dedicar também a outras linguagens. Um dos
Rodrigo Torres [Rio de Janeiro, RJ, 1981]
criadores da Teia – Centro de Pesquisa Audiovisual, de Belo Horizonte. Diretor do longa-metragem Acidente,
Estudou pintura na Escola de Belas Artes da UFRJ, cursou fotografia no Ateliê da Imagem, no Rio de Janeiro, e
premiado como Melhor Doc Ibero-Americano em Guadalajara, México, 2007. Foi selecionado pelo projeto
trabalhou como assistente do artista plástico Luiz Zerbini entre 2006 e 2010. Participou do Programa de Aprofun-
Bolsa Pampulha, 2008, e como bolsista da John Simon Guggenheim Foundation, Nova York, 2009. Contem-
damento, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2010. Em 2009 realizou a individual Defeito, na galeria A Gentil Carioca.
plado pelo Prêmio Marcantonio Vilaça, Funarte, 2010. Exibiu seus trabalhos em instituições de arte no Brasil
Participou de várias exposições, dentre elas: U-turn Solo Projects (arte BA e no CCSP, 2011); Geração 00 – a Nova Fo-
e no exterior, como MAM–SP, Bienal de Cerveira (Portugal), Museu Tamayo (Cidade do México), Akademie
tografia Brasileira (Sesc Belenzinho, 2011); Arquivo Geral (Centro Cultural Hélio Oiticica/RJ, 2010); Crossing Borders,
der Kunst (Berlim) e New Museum (Nova York).
Building Bridges (Modified Arts, Phoenix-AZ, EUA 2010); XII Salão de Artes de Itajaí (Santa Catarina, 2010); XVI
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artistas selecionados
Salão Unama de Pequenos Formatos (Graça Landeira,Belém, 2010); Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia
promovido pela On Line editora. Tem várias obras publicadas na revista Galeria em Tela, de circulação na-
(Museu da UFPA-Belém, 2010). Ganhou Prêmio Aquisitivo no XVI Salão Unama de Pequenos Formatos.
cional e internacional. Suas pinturas fazem parte de acervos nacionais, como o da Assembleia Legislativa do
Estado do Acre, e de coleções particulares na Europa.
Rogério Severo [Uruguaiana, RS, 1966]
Graduado em artes visuais pela Feevale, Novo Hamburgo, RS, e pós-graduado em poéticas visuais – pintura, de-
Vijai Patchineelamm [Niterói, RJ, 1983]
senho, instalação: processos híbridos, pela mesma instituição. Recebeu o Prêmio Açorianos 2011 por Destaque em
Mestre em artes visuais, estudos interdisciplinares, na Konstfack University College of Arts, Crafts and Design, em
Desenho pela exposição Linhas de Espera, Porão do Paço Municipal, Porto Alegre. Entre as principais exposições
Estocolmo, Suécia. Selecionado para a Bolsa Iberê Camargo 2008. Participou das coletivas Unfinished Analogies,
estão: Vitrine da Casa M – VIII Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2011). Linhas, Lugares e Espera. Pinacoteca
Konsthall C, Estocolmo, 2011; Back, Forth and Round, Thomas Erben Gallery, Nova York, 2009; Zoation Painting,
Feevale. Campos I, Novo Hamburgo, RS (2010), Verbetes, Fundação Ecarta. Porto Alegre, RS (2008); Circuito
MNA, La Paz, 2008, entre outras.
Guaibacar de Arte Emergente, Porto Alegre (2008); Prêmio Incentivo à Criatividade – XVI Salão de Artes Plásticas, Câmara Municipal de Porto Alegre (2004); Homem Máquina, Arte & Fato Galeria, Porto Alegre, RS (2004).
Vinicius Guimarães [Vitória, ES, 1984]
Graduou-se em desenho industrial pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Com os artistas Alex
Romy Pocztaruk [Porto Alegre, RS, 1983]
Vieira, Júlio Tigre e Raphael Genuíno, constituiu o coletivo Embira, iniciativa contemplada pelo prêmio Bolsa
Mestre em poéticas visuais pela UFRS. Trabalha com fotografia, vídeo e performance e vem fazendo exposições
Ateliê de Pintura Galeria Homero Massena (2009-2010) da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo.
no Brasil e no exterior. Em 2010 realizou uma residência no espaço Takt Kunstprojektraum, em Berlim, e em 2011
Participou do curso de formação em arte contemporânea, atividade realizada pelo Instituto Tomie Ohtake em
foi contemplada com a Bolsa Iberê Camargo para uma residência no Bronx Museum, em Nova York. Desenvolve o
parceria com a Ufes em 2010 e 2011, e também de exposições coletivas, dentre as quais destacam-se Vendo (Vi-
projeto coletivo Percursos com a artista Marina Camargo desde 2007.
tória, 2009); Visões Contemporâneas (Vitória, 2010); Embira (Vitória, 2010); e Base 2 (Vitória, 2011).
Thiago Honório [Carmo do Paranaíba, MG, 1979]
Virgilio Neto [Brasília, DF, 1986]
Concluiu o bacharelado em artes plásticas no Instituto de Artes da Unesp, o mestrado em artes visuais na ECA/
Formado em desenho industrial pela UnB. Teve seus trabalhos expostos pela primeira vez em 2008. Já par-
USP (2006) e é doutorando em artes visuais também na ECA/USP. Leciona, desde 2006, na Faculdade de Artes
ticipou de cerca de 20 exposições em várias cidades do Brasil e também nos Estados Unidos e na Inglaterra.
Plásticas da Faap. Realizou exposições coletivas e individuais no CCSP (2001), no Centro Universitário Maria An-
Em 2011 foi selecionado para quatro salões de arte, sendo premiado no XVII Salão Anapolino de Arte. Também
tonia (2003), no Instituto Tomie Ohtake (2004), no MAM–SP (2005/2006), nas galerias Casa Triângulo (2006),
em 2011 realizou sua primeira individual, a exposição Diálogos no Museu de Arte Contemporânea de Mato
Virgilio (2007 e 2010), entre outros. Exposição individual na Galeria Laura Marsiaj (Rio de Janeiro, 2011).
Grosso do Sul.
Thiago Martins de Melo [São Luís, MA, 1981]
Doutorando (2010) e mestre (2008) em teoria e pesquisa do comportamento – UFPA, graduado em psicologia pela Uniceuma (2005). Realizou exposições individuais no CCSP (2010); Fundação Joaquim Nabuco,
Recife (2009); Funarte, Rio de Janeiro, 2005, e Funarte, Brasília, 2004. E integrou mostras coletivas, como a
itinerante Amazônia, a Arte, Museu Vale (Vila Velha, ES) e no Palácio das Artes de Belo Horizonte. Recebeu
o Prêmio Aquisição do XXVIII Salão Arte Pará, Belém, 2009; o Grande Prêmio do XXVII Salão Arte Pará,
em Belém, 2008.
Ueliton Santana [Sena Madureira, AC, 1981]
Cursou desenho artístico no centro Interescolar e iniciação às artes no Sesc. Pós-graduou-se em metodologia do ensino da arte pela Faculdade Internacional de Curitiba. Participou de diversas exposições, como
a XXVII Bienal Internacional de São Paulo e NYHAVN 18, na Dinamarca. Em 2002, tornou-se presidente da
Associação dos Artistas Plásticos do Acre. Recebeu o prêmio do VI Concurso Cultural de Pintura em Tela
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selected artists
selected artists
Cultural Banco do Brasil [Banco do Brasil Cultural Center] in Rio de Janeiro and São Paulo, and with four friends
he created the exhibition Zoation Painting, la Pintura de Broma, at Museo Nacional de Arte de La Paz [La Paz
Adriano Costa [São Paulo, SP, 1975]
National Museum of Art], Bolivia. In 2011, he was one of the artists in the Brazilian Papers group exhibitions, held
In the 1990s, Adriano took non-degree courses with artists like Carlito Contini and Roberta Fortunato at Sesc
at Bendana-Pinel gallery, Paris, and others at A Gentil Carioca and Tanya Bonadkar galleries, in New York.
Pompeia, São Paulo, and graduated from Escola de Comunicações e Artes [School of Communications and Arts],
Universidade de São Paulo [University of São Paulo] (ECA/USP). At the same time, he went on investigating more
Claudia Hersz [Rio de Janeiro, RJ, 1960]
about music, working as a soundtrack producer and DJ’ing in various locations in São Paulo, London and Berlin.
A multimedia artist with a BA in architecture from Universidade Federal do Rio de Janeiro [Federal University of
Rio de Janeiro] (UFRJ). She has taken part in a number of group exhibitions and institutional salons both in Brazil
Allan de Lana [Brasília, DF, 1980]
and overseas, such as Eternal Feminine Plural, Geneva; Salão de Arte Digital [Digital Art Salon], Cuba; Salão da
Holder of a BA in arts from Universidade de Brasília [University of Brasília] (UnB), 2006. In 2004, his installation
Bahia [Bahia Salon]; Sesc Arte 24H, Performance Presente Futuro Volume III [24h Sesc Art, Performance Present
Como Furar Papel-de-Seda-Azul-com-Bolinha-Branca was displayed at Casa da Cultura da América Latina [Latin
Future Volume III]; VII Bienal do Mercosul [7th Mercosul Biennial]; plus exhibitions like Anarchist Bookfair, New
America House of Culture], DF. From 2006 to 2009, it was the turn of Ding, Regiões Audíveis (o Piscar de Olhos)
York; Nanoexposições do Grupo DOC [DOC Group’s Nanoexhibitions], Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bogota and
and Vagão da Serra to be showcased at Espaço Piloto/UnB [University of Brasília].
Colombia; Associados [Associates] at Espaço Orlândia [Orlândia Exhibition Hall], Rio de Janeiro. From 2006 to
2009, she participated in the creation and performance of the Pimpolhos children’s samba school, a division of the
Berna Reale [Belém, PA, 1965]
Grande Rio samba school, in the carnival street parade. In 2010, her ToYS É NóIS was displayed at Centro Cultural
Berna is an artist and a forensic specialist. In recent years, she has been involved in performance. She conducts
Justiça Federal [Federal Court Cultural Center], in Rio de Janeiro. Her Ninhumanos project was awarded the Prêmio
research on violence and its various manifestations.
Interferências Urbanas 2008 [2008 Urban Interferences Award], Rio de Janeiro, and the artwork was installed in the
gardens of the Aterro do Flamengo. Claudia also received the Prêmio Aquisição 2011 [2011 Acquisition Prize] at the
Carla Evanovitch [Belém, PA, 1980]
XVII Salão de Pequenos Formatos [17th Salon of Small Formats – Unama [University of the Amazon], Belém, Pará.
Holder of a BA in fine arts with a teaching license from Universidade Federal do Pará [Federal University of Pará]
(UFPA). Her works have been exhibited at Centro Cultural Banco do Nordeste [Banco do Nordeste Cultural
Cristiano Lenhardt [Itaara, RS, 1975]
Center] (Fortaleza, CE); in XI Enearte [11th National Meeting of Art Students] (Rio de Janeiro, 2007) and XII Enearte
He earned his BA in fine arts from Universidade Federal de Santa Maria [Federal University of Santa Maria]
(Belém, 2008); in I Bienal de Fotocópias [1st Biennial of Photocopies] (Argentina, 2009). Her works are included in
(UFSM/RS) in 2000. His works have already been displayed at Galeria Marcantonio Vilaça [Marcantonio Vilaça
the collections of the CCBNB [Banco do Nordeste Cultural Center] (Fortaleza, CE); Fundação Rômulo Maiorana
Gallery] and Instituto Cultural Banco Real [Banco Real Cultural Institute], in Recife. Recipient, inter alia, of the
[Rômulo Maiorana Foundation] (Belém, PA); Sistema Integrado de Museus e Memoriais [Integrated System of
following awards: Abre Alas, Galeria A Gentil Carioca [A Gentil Carioca Gallery], Rio de Janeiro (2008); Prêmio
Museums and Memorials] (Belém, PA); and Fundação Getulio Vargas [Getulio Vargas Foundation] (FGV) (Belém,
Projéteis da Arte Contemporânea [Projectiles of Contemporary Art Prize], Funarte [National Arts Foundation],
PA). Winner of Prêmio SIM de Artes Visuais 2008 [2008 SIM Prize of Visual Arts] and Prêmio Aquisição [Acquisition
Rio de Janeiro (2008); Prêmio Concurso Videoarte [Videoart Contest Prize], Fundação Joaquim Nabuco
Prize] at the XXVII Arte Pará e Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação Artística [27th Pará Art and Scholarship for
[Joaquim Nabuco Foundation], Recife (2007); SPA das Artes, Recife (2004 and 2007); Bolsa Prêmio XXVI Salão
Research, Experimentation and Artistic Creation] from Instituto de Artes do Pará 2009 [2009 Pará Institute of Arts].
de Artes Plásticas de Pernambuco [Scholarship Prize – 26th Pernambuco Salon of Fine Arts] (2006).
Carlos Contente [Rio de Janeiro, RJ, 1977]
Dalton Paula [Brasília, DF, 1982]
Holder of a BA in painting from Escola de Belas Artes [School of Fine Arts], Universidade Federal do Rio de
He builds his career as an artist while keeping his job as a firefighter. Holder of a BA in visual arts from Universidade
Janeiro [Federal University of Rio de Janeiro] (UFRJ), 2006. His first solo exhibition was held in 2005 at Paço
Federal de Goiás [Federal University of Goiás] (UFGO). His works have been showcased in solo and group
Imperial [Imperial Palace] in Rio de Janeiro. This was then followed by the exhibitions at Luisa Strina and A
exhibitions: in 2011, I Salão de Arte do Centro-Oeste [1st Midwest Art Salon], Goiânia, and XVII Salão Anapolino
Gentil Carioca galleries in São Paulo and Rio de Janeiro, respectively. In 2011, in Zurich, Switzerland, he showed
de Arte [17th Anapolino Salon of Art], Anápolis, GO; in 2010, O Álbum [The Album], Call for Submissions of
Infinite Jungle of Individual Repetition, a collaboration with Christinger De Mayo gallery. In 2008, after a residency
the Goiânia Museum of Contemporary Art; II Salão Universitário Prêmio Espaço Piloto de Arte Contemporânea
for artists at Darling Foundry in Montréal, Canada, Carlos started a collaboration with The Choreographers,
[2nd University Salon – Espaço Piloto Prize of Contemporary Art of Espaço Piloto Gallery Brasília, DF; in 2009,
a contemporary dance group. In that same year, he took part in Nova Arte Nova [New Art New], at Centro
Arte/Sapato [Art/Shoe], Salão de Arte de Novo Hamburgo [Novo Hamburgo Art Salon], RS. Recipient of Prêmio
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selected artists
Aquisição [Acquisition Prize] at the XXXVIII Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto [38th Luiz Sacilotto
at Modified Arts (Phoenix, USA, 2010); Riodesaguamar – Projeto Amplificadores 2009 [Riverflowingintosea – 2009
Salon of Contemporary Art], Santo André, in 2010.
Amplifiers Project] at Museu Murillo La Greca [Murillo La Greca Museum] (Recife, 2009); Abre Alas at Galeria A
Gentil Carioca [A Gentil Carioca Gallery] (Rio de Janeiro, 2008); Intervenção artística no Morro da Conceição – Edital
Daniel Murgel [Niterói, RJ, 1981]
Arte & Patrimônio 2007 [Artistic Intervention at Conceição Hill – 2007 Art & Heritage Call for Submissions] – Iphan
He began his career in 2004 by taking part in artists’ collectives – Grupo Pi and Opavivará. From 2007 onwards,
[Institute of Brazilian Historic and Artistic Heritage]/MinC [Ministry of Culture] (Rio de Janeiro, 2008).
he has been engaged in making his own works, which have been displayed in solo and group exhibitions, salons
and artistic residencies in several states with a focus on drawings and installations.
GIA [Salvador, BA, 2002]
The Group of Environmental Interference (GIA) is formed by visual artists, designers, art-educators and musicians
Fábio Baroli [Uberaba, MG, 1981]
who share, besides friendship, an admiration for contemporary languages and their plurality, more particularly those
Holder of a BA from Instituto de Artes [Institute of Arts] at Universidade de Brasília [University of Brasília] (UnB),
related to art and public space. Among the exhibitions they have participated in, emphasis is given to XXXII Panorama
2009. He has participated in several solo and group exhibitions, received awards and prizes in salons and art
de Arte Brasileira Itinerários [32nd Overview of Brazilian Art Itineraries], Itinerâncias [Itinerating] at the Museu de Arte
contests, and his works have appeared in catalogs and magazines such as Poets and Artists (Self Portrait Issue,
Moderna de São Paulo [São Paulo Museum of Modern Art], 2011; Brazilian Summer at Het Domein/Sittard Museum,
United States, v. 2, n. 6, p. 70, Sep. 2009).
The Netherlands, 2009; Ocupação QG do GIA [HQ Occupation by GIA], Museu de Arte Moderna da Bahia [Bahia
Museum of Modern Art], Salvador; and Nam June Paik Award, Cologne, Germany, in 2008. The group is the recipient
Fábio Magalhães [Tanque Novo, BA, 1982]
of awards such as Registros Vídeos sobre Arte/Canal Contemporâneo 2010 [Records 2010 Contemporary Channel
Holder of a BA in visual arts from Universidade Federal da Bahia [Federal University of Bahia] (UFBA). His first
Art Videos] and Fiat Mostra Brasil 2006 [2006 Fiat Brazil Exhibition]. Further information at giabahia.blogspot.com.
solo exhibition was held at the Alliance Française Art Gallery of Salvador in 2008. Highlights of his career include:
LX Salão de Abril [60th April Salon], Fortaleza, CE, and LXIII Salão Paranaense [63rd Paraná Salon], Curitiba, PR,
P.S. Group [Joinville, SC, 2002]
both in 2009; XV Salão da Bahia [15th Bahia Salon], Salvador, BA, in 2008; I Bienal do Triângulo [1st Biennial of the
Formed by artists Priscilla dos Anjos and Sérgio Adriano H, the group appeared in mid-2002 when both were taking
Triangle Region], Uberlândia, MG, in 2007; plus his regular participation in the Salões Regionais da Bahia [Regional
the visual arts course at Universidade de Joinville [University of Joinville] (Univille). By naming themselves the P.S.
Salons of Bahia]. In 2010, he won an award in the following salons: I Salão Semear de Arte Contemporânea [1st
Group (postscript) , the artists stress this way of thinking with notes taken about something already produced.
Semear Salon of Contemporary Art], with the Prêmio Aquisição [Acquisition Prize] and the Popular Choice Award,
Aracaju, SE; Salão de Artes Visuais da Bahia [Bahia Visual Arts Salon], with the Prêmio Fundação Cultural do Estado
Guilherme Dable [Porto Alegre, RS, 1976]
[State Cultural Foundation Award], Vitória da Conquista, BA; and a Special Mention, Jequié, BA.
Guilherme holds a BA in visual arts from IA [Institute of Arts]/UFRGS [Federal University of Rio Grande do
Sul] and is a master’s student in visual poetics at the same institution. A member of the Atelier Subterrânea
Fernando Ancil [São João del Rei, MG, 1980]
[Underground Studio] since 2006. Guilherme participated in the group exhibitions Silêncios e Sussurros [Silence
Fernando is a technician in conservation and restoration of cultural property graduated from Fundação de Arte de
and Whispers] (Fundação Vera Chaves Barcellos [Vera Chaves Barcellos Foundation], Viamão, RS, 2010) and
Ouro Preto [Ouro Preto Art Foundation] (Faop) and also holds a BA in visual arts from Escola de Belas Artes [School
Passagens Secretas [Secret Passages] (Centro Cultural São Paulo [São Paulo Cultural Center], 2008) and others.
of Fine Arts] at Universidade Federal de Minas Gerais [Federal University of Minas Gerais] (UFMG). He has worked
In 2009, his solo exhibition Alguns Desenhos [Some Drawings] was held at Galeria Gestual [Gestural Gallery], in
as a teacher of drawing, sculpture and photography at Faop. Currently his output comprises his own works and those
Porto Alegre. His works are included in the collections of Fundação Vera Chaves Barcellos [Vera Chaves Barcellos
in which he contributes with other artists with drawing, photography, installation, urban intervention and video.
Foundation], Pinacoteca Aldo Locatelli [Aldo Locatelli Pinacotheca] and Câmara Municipal de Porto Alegre
[Porto Alegre City Council]. In 2010, he won the Prêmio Aquisição [Acquisition Prize] at the XIX Salão da Câmara
Gabriela Mureb [Niterói, RJ, 1985]
Municipal de Porto Alegre [19th Salon of the Porto Alegre City Council] and was nominated for the Bolsa Iberê
She is taking her master’s degree course in visual languages at Universidade Federal do Rio de Janeiro [Federal University
Camargo [Iberê Camargo Scholarship] for an Outstanding Artist in 2008.
of Rio de Janeiro] (UFRJ), where she earned her BA in painting back in 2008. Her major solo exhibitions include Corpos
Dóceis [Docile Bodies], at Galeria A Gentil Carioca [A Gentil Carioca Gallery] (Rio de Janeiro, 2009), while the major
Guilherme Teixeira [São Paulo, SP, 1977]
group exhibitions include Jogos de Guerra [War Games], at Caixa Cultural (Rio de Janeiro, 2011) and Memorial da
In 1999, Guilherme majored in fine arts from Fundação Armando Álvares Penteado [Armando Álvares Penteado
América Latina [Latin America Memorial] (São Paulo, 2010); Converging Trajectories: Crossing Borders, Building Bridges
Foundation] (Faap) and in 2010 earned his master’s degree in visual arts from Escola de Comunicações e Artes
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selected artists
[School of Communications and Arts] at Universidade de São Paulo [University of São Paulo] (ECA/USP). He
João Castilho [Belo Horizonte, MG, 1978]
took part in the Annual Program of Exhibitions of Centro Cultural São Paulo [São Paulo Cultural Center] in 2002
MA in visual arts from UFMG [Federal University of Minas Gerais]. Holder of a certificate program diploma in
and received an award at Salão de Piracicaba [Piracicaba Salon] in 2010. In 2011, he participated in the Integração/
fine arts and contemporaneity from Escola Guignard [Guignard School]. He majored in journalism from PUC-
Action exchange program in Quebec, Canada. Apart from being an artist, Guilherme has also worked as an
MG [Pontifical Catholic University – Minas Gerais]. His solo exhibitions have been held in the following venues:
educator since 1998 in several art institutions in the city. From 2007 to 2010, he headed the Division of Educational
2010, Fundação Joaquim Nabuco [Joaquim Nabuco Foundation] in Recife and Celma Albuquerque Galeria de
and Cultural Action of the Centro Cultural São Paulo [São Paulo Cultural Center].
Arte [Celma Albuquerque Art Gallery] in Belo Horizonte; 2009, Centro Cultural Simon I. Patiño [Simon I. Patiño
Cultural Center] in Santa Cruz, Bolivia; 2008, Galeria Olido [Olido Gallery], Centro Cultural São Paulo [São Paulo
Íris Helena [João Pessoa, PB, 1987]
Cultural Center] in São Paulo and Oi Futuro in Rio de Janeiro; 2007, Celma Albuquerque Galeria de Arte in Belo
Íris holds a teacher license in visual arts from Universidade Federal da Paraíba [Federal University of Paraíba]
Horizonte; and 2006, Museu de Arte da Pampulha [Pampulha Art Museum] in Belo Horizonte. He has participated
(UFPB). In 2009, she presented Notas de Esquecimento [Notes of Oblivion], her first solo exhibition, in
in several group exhibitions in and out of the country, won awards and scholarships and his works are reviewed in art
João Pessoa, PB. She has taken part in a number of group exhibitions and in 2010 she won one of the main
publications and acquired for public and private collections.
prizes at the XIII Salão Municipal de Artes Plásticas [13th Municipal Salon of Fine Arts] in João Pessoa, in
addition to commendations at the exhibition Qual o Lugar da Arte? [What’s the Place of Art?] at the LXI
Luciana Paiva [Brasília, DF, 1982]
Salão de Abril [61st April Salon], Fortaleza, CE, and at Energias nas Artes [Energies in the Arts] award from
Visual artist and researcher. Holder of an MA in art and a BA in fine arts from Universidade de Brasília [University of
Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute], São Paulo.
Brasília] (UnB). She is currently a student at the Programa Aprofundamento [Advanced Development Program] at Escola
de Artes Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts]. She has taken part in a number of art exhibitions since
Isabel Ramil [Rio de Janeiro, RJ, 1989]
2004 mainly with projects and themes incorporating the relations between word and image and the artist’s book.
Holder of a BA in visual arts from Instituto de Artes [Institute of Arts] at Universidade Federal do Rio Grande do
Sul [Federal University of Rio Grande do Sul] (UFRGS). In 2007, she was the set designer of Satolep Sambatown
Luiza Baldan [Rio de Janeiro, RJ, 1980]
and in 2010 set designer of the Unimúsica project. She received the Outstanding Artist Prize of the Iberê
Holder of an MA and a BA in visual arts from UFRJ [Federal University of Rio de Janeiro] (Rio de Janeiro,
Camargo Scholarship in 2011. In that same year, she participated in the group exhibitions Labirintos da Iconografia
2010) and Florida International University (Miami, 2002). Recipient of the XI Prêmio Marc Ferrez de Fotografia
[Labyrinths of Iconography] at Museu de Arte do Rio Grande do Sul [Rio Grande do Sul Art Museum] and
[11th Marc Ferrez Prize of Photography] of Funarte [National Arts Foundation] (Rio de Janeiro, 2010); Prêmio
Platform – Micro Topologies at the University of California, Santa Barbara. She took part in the Atelier Aberto
Aquisição [Acquisition Prize] at the XXXVII Salão de Arte Contemporânea de Santo André [37th Santo
[Open Studio] promoted by Jailton Moreira in Bolivia in 2010.
André Salon of Contemporary Art] (São Paulo, 2009); Prêmio Aquisição at the I Mostra de Fotografia CCSP
[1st Photography Exhibition of the São Paulo Cultural Center] (São Paulo 2008); featured in a special article in
Jimson Vilela [Rio de Janeiro, RJ, 1987]
the electronic magazine of Fundação Iberê Camargo [Iberê Camargo Foundation] (Porto Alegre, 2007); Color
A former member of the Programa Aprofundamento 2010 [2010 Advanced Development Program] at Escola
Express Award (Miami, USA, 2002); and Brown L. & Marion Whately Scholarship (Miami, USA, 2002).
de Artes Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts], directed by Glória Ferreira. He holds a BA
in visual arts from UERJ [University of the State of Rio de Janeiro], 2010. The major exhibitions in his career
Since 2009, she has carried out residency-projects in the city of Rio de Janeiro, as in Pedregulho (Conjunto Prefeito
include the solo exhibitions Laboratório [Laboratory] (Fundação Cultural de Criciúma [Cultural Foundation of
Mendes de Moraes, Benfica), in Península (Barra da Tijuca) and in Edifício Rapozo Lopes (Santa Teresa). Highlights of
Criciúma], 2011), Notas de Rodapé [Footnotes] (Centro Cultural Badesc [Badesc Cultural Center], 2011) and
her career are the solo exhibitions at Centro Universitário Maria Antonia [Maria Antonia University Center] (São Paulo,
Ruído [Noise] (Centro Cultural da Justiça Federal [Federal Court Cultural Center], 2010), the group exhibitions
2010); at Plataforma Revólver (Lisbon, 2010); at Galeria Olido/CCSP [Olido Gallery, São Paulo Cultural Center] (São
VI and VII Bienal Internacional da Bolívia [6th and 7th International Biennial of Bolivia] (Siart, 2009 and 2011) and
Paulo, 2008); and at the annex of Galeria Laura Marsiaj [Laura Marsiaj Gallery] (Rio de Janeiro, 2007). The group
the V Bienal Internacional do Vento Sul [5th International Biennial of VentoSul] (Cinemateca de Curitiba [Curitiba
exhibitions to highlight are O Lugar da Linha [The Place of the Line], curated by Felipe Scovino, Paço das Artes [Palace
Cinematheque], 2009). Among the collections where his works are displayed, attention is drawn to MoMA (The
of the Arts] (SP) and MAC [Museum of Contemporary Art] (Niterói), 2010; Nova Arte Nova [New Art New], curated
Museum of Modern Art). He is currently a member of the Programa Piesp [Piesp Program] of Escola São Paulo
by Paulo Venâncio Filho, CCBB [Banco do Brasil Cultural Center] (Rio de Janeiro, 2008, and São Paulo, 2009); BAC!,
[São Paulo School], directed by Adriano Pedrosa.
Centro de Cultura Contemporània de Barcelona [Barcelona Center of Contemporary Culture] (Spain, 2008).
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Luiz Roque [Cachoeira do Sul, RS, 1979]
Michel Zózimo [Santa Maria, RS, 1977]
Holder of a BA in visual arts from UFRGS [Federal University of Rio Grande do Sul]. Talent Campus Buenos
Artist-researcher and teacher at CAP-UFRGS [Application School of Elementary and Secondary Learning –
Aires, 2005, and Talent Campus Berlin, 2007. He has taken part in several solo and group exhibitions held in and
Federal University of Rio Grande do Sul]. He is a doctor’s candidate in visual poetics at UFRGS [Federal University
out of the country.
of Rio Grande do Sul]. He is a member of the research groups Veículos da Arte [Art Vehicles] (UFRGS). CNPq
[National Council of Technological and Scientific Development] and Fotografia Ficcional: Experimentações na
Marcos Brias [São Paulo, SP, 1981]
Arte Contemporânea [Fictional Photography: Experiments in Contemporary Art] (Urca-CNPq).
He studied industrial design and visual arts at Fundação Armando Álvares Penteado [Armando Álvares
Penteado Foundation] (Faap), São Paulo. His first solo exhibition was put up at Galeria Mendes Wood
Naia [Manaus, AM, 1980]
[Mendes Wood Gallery] in 2010. His works have been displayed in group exhibitions at Pinacoteca do
Holder of a teaching license in fine arts from Universidade Federal do Amazonas [Federal University of Amazonas]
Estado de São Paulo [Pinacotheca of the State of São Paulo], Think 21 – Brussels, Sesc-SP [Social Service
(Ufam). She took part in the group exhibitions Temperamentos [Temperaments] (2004); Vibro (2005); Por um
for Commerce-São Paulo], Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute]-SP, MAM-RJ [Museum of
Fio [By a Hair’s Breadth] (2006) at Centro de Artes da Ufam [Ufam Art Center], Amazon; A Arte [The Art]
Modern Art-Rio de Janeiro], Museu Inimá de Paula [Inimá de Paula Museum], in Belo Horizonte, as well as
(2010), at Museu Vale [Vale Museum], in Vila Velha, Espírito Santo; and at Palácio das Artes [Palace of the Arts],
galleries and fairs in Brazil and other countries.
in Belo Horizonte; and Festival Performance Arte Brasil [Brazil Art Performance Festival] (2011) at Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro [Museum of Modern Art of Rio de Janeiro]. In 2007, her solo exhibition Dois Meninos
Maria Laet [Rio de Janeiro, RJ, 1982]
Taulipang [Two Taulipang Boys] was held at Usina Chaminé, in Manaus. She received the Prêmio Governo do
She is integrated with Piesp [Escola São Paulo Independent Program], São Paulo. A graduate of the Camberwell
Estado do Amazonas de Apoio à Produção Artística [Government of the State of Amazonas Award for Support
College of Arts, London, where she earned her master’s degree in 2008. She undertook residency at Schloß
to Artistic Works] in 2005 for her project Linhas em Foco [Lines in Focus].
Balmoral (Bad Ems, Germany, 2009) and Carpe Diem Arte e Pesquisa [Carpe Diem Art and Research]
(Lisbon, 2010). The main solo exhibitions in her career include: Gesto Mínimo [Minimum Gesture] (Galeria
Nara AmÉlia [Três Passos, RS, 1982]
Riccardo Crespi [Riccardo Crespi Gallery], Milan, 2010); Desenhos de Ar [Air Drawings] (Centro Universitário
A doctor’s candidate in visual arts at PPGAVI/UFRGS (Graduate Program in Visual Arts/Federal University
Maria Antonia [Maria Antonia University Center], São Paulo, 2010); Eu Fiz o Nada Aparecer [I Made Nothing
of Rio Grande do Sul] and holder of a master’s degree in visual arts from PPGART/UFSM [Graduate Program
Appear] (A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2010); and the group exhibions Chez Toi – Exposition Éphémère N.1
in Visual Arts-Master’s/Federal University of Santa Maria] (2009). Her main solo exhibitions are O Melhor dos
(See Art, Paris, 2010); O Lugar da Linha [The Place of the Line] (Museu de Arte Contemporânea [Museum
Mundos Possíveis! [The Best of All Possible Worlds!] at Goethe Institut, Porto Alegre (2011); Sob a Natureza
of Contemporary Art], Niterói, and Paço das Artes [Palace of the Arts], São Paulo, 2010); Natura e Destino
[Under Nature], at Centro Cultural São Paulo [São Paulo Cultural Center] (2010); and Um Céu Feito de Abismo
[Nature and Destiny] (Galeria Riccardo Crespi [Riccardo Crespi Gallery], Milan, 2010); TrAIN to Bad Ems
[A Sky Made of Abyss] at Galeria Luis Corrêa Lima [Luis Corrêa Lima Gallery], Palácio das Artes [Palace of
(Galerie Nord, Berlin, 2009); O Contrato do Desenhista [The Drawer’s Contract] (Plataforma Revólver, Lisbon,
the Arts], Belo Horizonte (2009). Recipient of the Prêmio Aquisitivo do Programa de Exposições 2010 [2010
2008); Realidades Imposibles [Impossible Realities] (Fototeca Juan Malpica Mimendi [Juan Malpica Mimendi
Acquisitive Award of the Exhibitions Program] of the CCSP [São Paulo Cultural Center] (São Paulo 2010); and
Photo Library], Vera Cruz, Mexico, 2008), MA Theory and Practice of Transnational Art (House Galery, London,
Prêmio Aquisitivo I Prêmio Ibema Gravura [Acquisitive Award 1st Ibema Printmaking Award] (2010).
2008) and Paper Trail: 15 Brazilian Artists (Allsopp Contemporary, London, 2008).
Pablo Lobato [Bom Despacho, MG, 1976]
Marilia Furman [São Paulo, SP, 1982]
For ten years, Pablo worked with filmmaking and, from 2008 onwards, started using other languages as well. One of
Holder of a BA in fine arts from ECA/ USP [School of Communications and Arts/ University of São Paulo]
the creators of Teia – Centro de Pesquisa Audiovisual [Web – Audiovisual Research Center], Belo Horizonte. Director
and in photographic art and culture from Centro Universitário Senac [Senac University Center]. Her solo
of the feature film Acidente [Accident], winner of the Best Doc Ibero-Americano in Guadalajara, Mexico, 2007. He
exhibition Trabalho Abstrato [Abstract Work] was held in 2011 at Museu Histórico de Santa Catarina [Santa
was selected for the Bolsa Pampulha [Pampulha Scholarship] project in 2008 and became a fellow of the John Simon
Catarina History Museum] and in that same year she was integrated into the XX Salão de Atibaia [20th
Guggenheim Foundation, New York, in 2009. Recipient of the Prêmio Marcantonio Vilaça [Marcantonio Vilaça Award],
Atibaia Salon]. In 2010 she won the Exposições Descentralizadas [Decentralized Exhibitions] scholarship,
Funarte [National Arts Foundation], 2010. His works have been showcased in art institutions both in Brazil and abroad,
bestowed by SPA das Artes (Recife). She was one of the organizers of Casa da Lagartixa, where she took
such as Museu de Arte Moderna de São Paulo [São Paulo Museum of Modern Art], Bienal de Cerveira [Cerveira
part in several exhibitions.
Biennial] (Portugal), Tamayo Museum (Mexico City), Akademie der Kunst (Berlin) and New Museum (New York).
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invitation to a journey
selected artists
PIRARUCUDUO [São Paulo, SP, 2009]
Shadow of the Future], Instituto Cervantes [Cervantes Institute], São Paulo; Paralela 2010 [Parallel 2010], São
Constituted by Fernando Visockis and Thiago Parizi, it operates in the art and music fields producing researches
Paulo; and 2000e8, Sesc Pinheiros, São Paulo. Recipient of the I Prêmio Ateliê Aberto Videobrasil [1st Videobrasil
and works which intertwine both fields. Its productions bear a hybrid character in which art, music, technology,
Open Studio Prize] (2011); an award at the V Concurso de Videoarte da Fundaj [5th Fundaj Contest of Videoart]
audio art, performance, and other media mix up, holding as a priority the conceptual and poetic speech at all times.
(2011); first prize at the Anual de Artes da Faap [Faap Annual Arts Prize] (2006) and the prize for Outstanding
Artist of the Bolsa Iberê Camargo [Iberê Camargo Scholarship] (2009).
Pontogor [Rio de Janeiro, RJ, 1981]
He studied painting at Escola de Belas Artes [School of Fine Arts] at Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rodrigo Torres [Rio de Janeiro, RJ, 1981]
[Federal University of Rio de Janeiro] (EBA/UFRJ) and took non-degree courses at Escola de Artes Visuais do
He studied painting at Escola de Belas Artes [School of Fine Arts] at Universidade Federal do Rio de Janeiro
Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts] and Universidade do Estado do Rio de Janeiro [University of the
[Federal University of Rio de Janeiro] (EBA/UFRJ), photography at Ateliê da Imagem [Studio of Image], in Rio de
State of Rio de Janeiro] (Uerj). He participated in the following residency programs: Air Antwerpen in Belgium;
Janeiro, and worked as an assistant to visual artist Luiz Zerbini from 2006 to 2010. He participated in the Programa
Batiscafo in La Habana, Cuba; 4Territórios [4Territories] in Brasília; Encontro V::E::R. Terra UNA, Minas Gerais.
Aprofundamento [Advanced Development Program], Lage Park, Rio de Janeiro, 2010. In 2009, his solo exhibition
Recipient of the Prêmio Prodem [Prodem Prize] at the Siart International Biennial in La Paz, Bolivia, 2007.
Defeito [Defect] was put up at galeria A Gentil Carioca [A Gentil Carioca Gallery]. He has taken part in several
exhibitions, including: U-turn Solo Projects (arte BA and CCSP [São Paulo Cultural Center], 2011); Geração 00
Rafael Pagatini [Caxias do Sul, RS, 1985]
– a Nova Fotografia Brasileira [Generation 00 – the New Brazilian Photography] (Sesc Belenzinho, 2011); Arquivo
In 2009, he was awarded his BA in printmaking from Universidade Federal do Rio Grande do Sul [Federal
Geral [General Archive] (Centro Cultural Hélio Oiticica/RJ [Hélio Oiticica Cultural Center/Rio de Janeiro], 2010);
University of Rio Grande do Sul] (UFRGS), where he is taking the master’s degree course in visual poetics. In
Crossing Borders, Building Bridges (Modified Arts, Phoenix-AZ, USA 2010); XII Salão de Artes de Itajaí [12th Itajaí
2011, he received the V Prêmio Açorianos de Artes Plásticas [5th Azorian Award of Fine Arts], the first place
Salon of Arts (Santa Catarina, 2010); XVI Salão Unama de Pequenos Formatos [16th Unama Salon of Small Formats]
in the Prêmio Ibema Gravura [Ibema Printmaking Award] and the Prêmio Energisa [Energisa Award] in João
(Graça Landeira, Belém, 2010); Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia [Contemporary Diary of Photography
Pessoa. Rafael’s works were showcased in Labirintos da Iconografia [Labyrinths of Iconography] at Museu de
Award] (Museu da UFPA-Belém [Museum of the Federal University of Pará-Belém], 2010). Winner of the Prêmio
Arte do Rio Grande do Sul, [Rio Grande do Sul Art Museum] and he participated in the V Bienal de Gravura
Aquisitivo [Acquisitive Award] at the XVI Salão Unama de Pequenos Formatos.
[5th Printmaking Biennial] of Santo André and Atibaia.
Rogério Severo [Uruguaiana, RS, 1966]
Raquel Versieux [Belo Horizonte, MG, 1984]
Holder of a BA in visual arts from Feevale, Novo Hamburgo, RS, and specialization diploma (graduate certificate
Holder of a BA in visual arts with specialization in drawing from Escola de Belas Artes [School of Fine Arts] at
program) in visual poetics – painting, drawing, installation: hybrid processes, from the same institution. Recipient
Universidade Federal de Minas Gerais [Federal University of Minas Gerais]. She studied photography at École
of the Prêmio Açorianos 2011 [2011 Azorian Prize] for Outstanding Drawing Achievement in the exhibition
Nationale Supérieure des Arts Visuels – La Cambre, Brussels, Belgium, and social sciences at UFMG [Federal
Linhas de Espera [Waiting Lines], Porão do Paço Municipal [Basement of the City Hall], Porto Alegre. The main
University of Minas Gerais].
exhibitions in his career include: Vitrine da Casa M – VIII Bienal do Mercosul [Display Window of House M 8th Mercosul Biennial], Porto Alegre, RS (2011); Linhas, Lugares e Espera [Lines, Venues, and Wait], Pinacoteca
Regina Parra [São Paulo, SP, 1981]
Feevale [Feevale Pinacotheca], Campus I, Novo Hamburgo, RS (2010); Verbetes [Entries], Fundação Ecarta
Holder of an MA in visual arts from Faculdade Santa Marcelina [Santa Marcelina College] and a BA from
[Ecarta Foundation], Porto Alegre, RS, (2008); Circuito Guaibacar de Arte Emergente [Guaibacar Circuit of
Fundação Armando Álvares Penteado [Armando Álvares Penteado Foundation] (Faap). She took part in some
Emerging Art], Porto Alegre (2008); Prêmio Incentivo à Criatividade [Incentive Prize for Creativity] – XVI
of the major programs for young artists, such as Temporada de Projetos do Paço das Artes [Season of Projects
Salão de Artes Plásticas [16th Visual Arts Salon], Câmara Municipal de Porto Alegre [Porto Alegre City Council]
of the Palace of the Arts], the Programa de Exposições [Exhibition Program] of Centro Cultural São Paulo [São
(2004); Homem Máquina [Machine Man], Arte & Fato Galeria [Arte & Fato Gallery, Porto Alegre, RS, (2004).
Paulo Cultural Center] and the Projeto Trajetórias [Trajectories Project] of Fundação Joaquim Nabuco [Joaquim
Nabuco Foundation], in Recife. Her solo exhibition was held at Galeria Leme [Leme Gallery]. Among the group
Romy Pocztaruk [Porto Alegre, RS, 1983]
exhibitions in her career, she highlights the XVII Festival de Arte Contemporânea Videobrasil [17th Videobrasil
MA in visual poetics from Universidade Federal do Rio Grande do Sul [Federal University of Rio Grande do Sul]
Festival of Contemporary Art], Sesc [Social Service for Commerce], São Paulo; A Carta da Jamaica [The Letter
(UFRGS). Romy works with photography, video and performance and her works have been displayed in exhibitions
from Jamaica], Oi Futuro, Rio de Janeiro; Rice and Beans, Studio Trendy, Miami; À Sombra do Futuro [In the
both in Brazil and abroad. In 2010, she undertook a residency at Takt Kunstprojektraum, in Berlin, and in 2011 was
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invitation to a journey
selected artists
awarded the Bolsa Iberê Camargo [Iberê Camargo Scholarship] for a residency at the Bronx Museum, in New York.
Scholarship]. He participated in the group exhibitions, inter alia, Unfinished Analogies, Konsthall C, Stockholm,
She has been involved in the group project Percursos [Trajectories] with artist Marina Camargo since 2007.
2011; Back, Forth and Round, Thomas Erben Gallery, New York, 2009; Zoation Painting, MNA, La Paz, 2008.
Thiago Honório [Carmo do Paranaíba, MG, 1979]
Vinicius Guimarães [Vitória, ES, 1984]
He earned his BA in fine arts from Instituto de Artes [Arts Institute] at Unesp [Julio de Mesquita Filho São
He majored in industrial design from Universidade Federal do Espírito Santo [Federal University of Espirito Santo]
Paulo State University], his MA in visual arts from ECA/USP [School of Communications and Arts/University
(Ufes). With artists Alex Vieira, Júlio Tigre and Raphael Genuíno, he formed the Embira collective, an initiative
of São Paulo] (2006) and is a PhD candidate in visual arts at ECA/USP. He has been lecturing at Faculdade
that won the prize of the Bolsa Ateliê de Pintura Galeria Homero Massena [Homero Massena Gallery Painting
de Artes Plásticas [College of Fine Arts] at Fundação Armando Álvares Penteado [Armando Álvares Penteado
Studio Scholarship] (2009-2010) of the Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo [Secretariat of Culture
Foundation] (Faap) since 2006. His works were showcased in group and solo exhibitions held at Centro Cultural
of the State of Espírito Santo]. He attended the course in contemporary art organized by Instituto Tomie Ohtake
São Paulo [São Paulo Cultural Center] (CCSP) (2001), Centro Universitário Maria Antonia [Maria Antonia
[Tomie Ohtake Institute] and run in partnership with Ufes [Federal University of Espírito Santo] in 2010 and
University Center] (2003), Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute] (2004), MAM-SP [Museum of
2011 and has participated in group exhibitions, of which Vendo [Seeing] (Vitória, 2009); Visões Contemporâneas
Modern Art–São Paulo] (2005/2006) and at the galleries Casa Triângulo (2006) and Virgilio (2007 and 2010)
[Contemporary Visions] (Vitória, 2010); Embira (Vitória, 2010); and Base 2 (Vitória, 2011) are the highlights.
among others. Solo exhibition at Galeria Laura Marsiaj [Laura Marsiaj Gallery] (Rio de Janeiro, 2011).
Virgilio Neto [Brasília, DF, 1986]
Thiago Martins de Melo [São Luís, MA, 1981]
Majored in industrial design from Universidade de Brasília [University of Brasília] (UnB). His works were first
A doctor’s degree candidate (2010) and holder of an MA (2008) in theory and research on behavior – UFPA [Federal
exhibited in 2008. He has participated in about 20 exhibitions in several cities around Brazil and also in the United
University of Pará], with a bachelor’s degree in psychology from Uniceuma [Maranhão University Center] (2005).
States and England. In 2011, he was selected to four art salons and won an award at the XVII Salão Anapolino de
His solo exhibitions were held at Centro Cultural São Paulo [São Paulo Cultural Center] (2010); Fundação Joaquim
Arte [17th Anapolino Art Salon]. Also in 2011 his first solo exhibition Diálogos [Dialogs] was put up at Museu de
Nabuco [Joaquim Nabuco Foundation], Recife (2009); Funarte [National Arts Foundation], Rio de Janeiro, 2005,
Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul [Mato Grosso do Sul Museum of Contemporary Art].
and Funarte, Brasília, 2004. He also joined group exhibitions like the itinerating Amazônia, a Arte [Amazon, the Art],
at Museu Vale [Vale Museum] (Vila Velha, ES) and Palácio das Artes [Palace of the Arts] (Belo Horizonte, MG).
Recipient of the Prêmio Aquisição [Acquisition Prize] at the XXVIII Salão Arte Pará [28th Pará Art Salon], Belém
2009; the Grande Prêmio [Grand Prize] of the XXVII Salão Arte Pará [27th Pará Art Salon], in Belém, 2008.
Ueliton Santana [Sena Madureira, AC, 1981]
He studied artistic drawing at Centro Interescolar [Interschool Center] and introduction to arts at Sesc [Social
Service for Commerce]. He completed a graduate course of study in art teaching methodology at Faculdade
Internacional de Curitiba [International College of Curitiba]. He has joined several exhibitions, such as XXVII
Bienal Internacional de São Paulo [27th São Paulo Art Biennial] and NYHAVN 18, in Denmark. In 2002, he became
president of the Associação dos Artistas Plásticos do Acre [Association of Fine Artists of Acre]. Recipient of a
prize at the VI Concurso Cultural de Pintura em Tela [6th Cultural Contest of Painting on Canvas] promoted by
On Line Publisher. Several of his works have been published on the Galeria em Tela magazine with national and
international circulation. His paintings are incorporated into national collections, like at the Assembleia Legislativa
do Estado do Acre [State of Acre Chamber of Representatives] and private collections in Europe.
Vijai Patchineelamm [Niterói, RJ, 1983]
Holder of an MA in visual arts, interdisciplinary studies, from Konstfack University College of Arts, Crafts
and Design, Stockholm, Sweden. Vijai was selected for the Bolsa Iberê Camargo 2008 [2008 Iberê Camargo
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Nossa natureza reside no movimento, a calma completa é a morte.
Pascal
Aquele que não viaja não conhece o valor dos homens.
provérbio mourisco
Ah seja como for, seja por onde for, partir!
Álvaro de Campos
Em sua quinta edição, Rumos Artes Visuais, como informa seu título, repensa e destaca aquela que é
sua principal característica: a viagem pelo país ao encontro da produção artística. Organizada ao longo
das edições anteriores numa estrutura hierárquica que, como se verá adiante, dessa vez foi desfeita,
todos os 13 curadores que compõem o grupo, uns mais outros menos, lançaram-se pelo país afora num
esforço de encontrar novas manifestações, escapando das visões frequentemente repetitivas proporcionadas pelas instituições paulistas e cariocas – sim, Rio e São Paulo seguem sendo os principais centros
de formação e difusão artística –, interessadas em novidades mas, graças à falta crônica de recursos, em
geral quando elas acontecem por perto. Dividido o país em quatro macrorregiões – Norte, Nordeste, Sudeste e Sul –, oito curadores, quatro duplas, cada qual devidamente coordenada por um terceiro curador,
saíram em direção às principais cidades e centros regionais. Em lugar de “mapeadores”, como foram designados até a edição anterior, o que certamente não impede que voltem a ser, passaram a ser chamados
de viajantes, termo mais afinado com aquele que se coloca à escuta, que se põe em movimento animado
pelo interesse no desconhecido, no outro, naquilo que, pela excepcionalidade, leva ao desejo de fixar,
registrar em cadernos, câmaras e gravadores, as próteses portáteis da memória.
Nada disso supõe o termo “mapeador” ou seu correlato “cartógrafo”, que sempre possuíram, como
demonstra Michel Foucault1, grande utilidade para os aparelhos de poder. Mapas e sucedâneos são
narrativas codificadas, fontes de informações tão precisas quanto possível acerca de regiões a serem
conquistadas. E não se limitam à descrição do território, dimensão física, rios, lagos, planícies, planaltos, vales e cordilheiras, o que por si só contem importância fundamental, mas faz-se mapas de tudo
quanto possa interessar ao poder: da situação militar, das riquezas em geral – mineral, vegetal etc. –,
da diversidade da população e lugares de assentamento etc. Mapear artistas, portanto, ainda mais a
serviço de uma instituição cultural como o Itaú Cultural, sediada em São Paulo, pertencente a um banco, pode sugerir a um olhar malicioso um comprometimento excessivo do Rumos Artes Visuais com
1 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 1979 (1ª edição).
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a produção de valor monetário. Não que não o tenha, é claro. O feerismo das feiras de arte atuais, os
investigar o que lhes acontece por perto, o que também é um modo de indicar sua passividade. Por
valores estonteantes que circulam por leilões, o vedetismo de certos artistas contemporâneos, vários
outro lado é fato que parte dos artistas que vivem em outros estados, e que hoje são muitos e res-
deles jovens, confirmam cabalmente a interdependência entre o mercado e o campo cultural em que
ponsáveis por pesquisas da mais alta qualidade, seguem fixando-se em uma dessas duas cidades atrás
os valores estéticos são estabelecidos, classificados e hierarquizados por críticos e curadores. Como e
de condições institucionais mais sólidas. Artistas mineiros, gaúchos, goianos, paraenses, paranaenses,
por que negar? Mas a vida não é tão simples, esquemática e maniqueísta, como pretendem os espíritos
pernambucanos, brasilienses e baianos, sobretudo os radicados nesses estados, são os maiores respon-
espessamente ignorantes e aqueles oportunisticamente hipócritas. Embora todos estejam enredados,
sáveis pela efetiva oxigenação do meio nacional. E a significativa persistência no deslocamento em
a questão aqui resume-se a distinguir quais são as direções dos olhares de críticos e curadores e, por
direção ao Rio e a São Paulo deve-se a perspectivas variadas e convergentes: complementar a formação
extensão, dos projetos que eles propõem ou aos quais se vinculam? Quais são os valores que julgam
engajando-se em programas de pós-graduação; enfrentar um meio mais denso e estimulante por meio
mais relevantes, quais as posições estéticas que ressoam com as suas ou quais eles terminam por fazer
de associações, projetos conjuntos ou simplesmente pelo compartilhar de ateliês; ganhar visibilidade
deles? Quais, por fim, as investigações, as obras que eles querem alardear, trazer à luz, expor e, ainda
por meio de mostras coletivas ou individuais organizadas pelas várias instituições existentes, seja ela
que não pensem nisso, contribuir com a respeitabilidade de sua chancela, para que entrem em circu-
estabelecida como um museu, rentável como uma galeria ou alternativa como a casa da Xiclete (para
lação, vale dizer, no mercado?
quem não sabe, uma pequena casa situada na frenética Vila Madalena, convertida em galeria por sua
desassombrada proprietária, a Xiclete, ex-estudante de artes da Faap). Todas as formas são válidas e
A questão é complexa, trata do modo singular como o valor estético conflui para o monetário. Para
frequentemente vêm combinadas.
entender como acontece esse fluxo feito por gente, dinamizado por gente, há que se considerar que as
gentes das artes, no caso críticos e curadores, movem-se por sentimentos muito distintos. Há quem se
Mas há, ainda, o modo tradicional, de raiz acadêmica, por meio do qual os artistas se fazem notar, não
mova pensando no que pode auferir numa das pontas do processo, no que isso quer dizer reputação,
obstante virtualmente, por portfólios enviados aos salões de arte. Em que pese o anacronismo, as críticas
um cartão de crédito de platina e assento assegurado na classe executiva. Para esse, o termo mapeador
por atacado, os salões são relativamente eficazes na apresentação de novos artistas, particularmente
cai como uma luva. E há aquele imbuído de uma vontade de evasão, para quem o verdadeiro lucro é o
nos formatos mais elaborados, como acontece em Olinda e Belo Horizonte (Pampulha). Rarefeitos nas
que recolhe circulando pelo mundo, sedento do que não conhece; segue no embalo da famosa divisa
cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, ativos no interior desses estados e em tudo quanto é capital
oswaldiana “Só me interessa o que não é meu.”2 Esse merece que se lhe chamem viajante.
e cidade média das diversas regiões do Brasil, a maioria dos salões é considerada pela massa de artistas
espalhadas pelos país, senão o único, o melhor caminho para a visibilidade, o que significa dizer a possi-
Convite à Viagem, título desta quinta edição do Rumos Artes Visuais, pretende realçar sua verdadeira
bilidade de viver do trabalho de arte.
vocação, de modo que não seja confundido com apenas mais um recenseamento da produção artística
brasileira emergente. Ainda que o circuito esteja se movimentando cada vez melhor, sua curiosidade não
A entrada em um salão, naturalmente, tem um significado proporcional à sua reputação. Há muito mérito
acompanha o ritmo da produção realizada nos quatro cantos do país e, convenhamos, mesmo que estivesse
em obter um espaço no Salão da Pampulha enquanto outros não possuem o mesmo prestígio. E há um
interessado, os recursos para tanto são escassos, o número de gente envolvida bastante limitado, compon-
outro fator correlato a esse prestígio expresso na qualidade do júri montado para a seleção e avaliação
do um quadro que contribui para a inércia, para que se tenda a insistir no que já se tem. E para que não se
dos trabalhos concorrentes. A rigor, os júris de salões vêm cumprindo, ao longo das décadas, um papel
conclua apressada e injustamente que se tem obtido pouco, é fato indiscutível que as faculdades de artes,
inestimável junto a críticos e curadores, independentes ou vinculados a instituições que, a convite dos
os centros livres de ensino, caso da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, continuam
organizadores, viajam pelo país tomando contato com produções que de outro modo não conheceriam.
sendo férteis e cada mostra anual de trabalhos de alunos que organizam é aguardada na qualidade de
vitrine de novos valores.
É principalmente este ponto que o Rumos Artes Visuais inova, permitindo o estreitamento de relações
entre a produção e os curadores/viajantes, o travamento de contato direto com o maior número pos-
As instituições, ainda hoje, como foi dito, majoritariamente concentradas no Rio de Janeiro e em São
sível de artistas, discutindo suas produções, convidando-os a participar do projeto, o que na prática
Paulo, não têm raio de alcance muito amplo. O procedimento padrão resume-se, como já foi dito, em
significa estimulá-los a se inscrever e enviar portfólio de seus trabalhos, em suma contribuindo para a
expansão do circuito. Os viajantes saem em busca daqueles que de algum modo, por exemplo pela via
da fabulação, escapam da aridez de seus meios. É bem verdade que o contexto geográfico, a vida em
2 ANDRADE, Oswald. “Manifesto Antropófago”, in Revista de Antropofagia, São Paulo, 1928.
lugares pobres ou simplesmente provincianos, distantes, carentes de informação e debate, não chega a
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impedir o vicejamento de ideias. Derek Walcot, o poeta da pequena Santa Lucia, é um bom exemplo
projeto e, consequentemente exposições, a delicadeza e a abertura de espírito como antídotos à certeza e à
disso. Por outro lado, Luís da Silva, o atormentado personagem de Angústia, obra-prima de Graciliano
arrogância. O que é o mesmo que defendê-los como valores a serem cultivados num mundo pautado pela
Ramos, dá-nos uma ideia do que é ser intelectual na Maceió dos anos 1930, do mesmo modo que Milton
imobilidade, por ruídos excessivos, luzes cegantes e infinidade de rotinas. Um mundo onde todos falam alto
Hatoum, em seu Dois Poetas da Província, constrói um personagem, o velho poeta Zéfiro, apaixonado
e ninguém se escuta; onde a maioria pauta seu comportamento por uma extroversão agressiva.
por Paris, estofado pelo ressentimento que o leva a ignorar a outra margem do Rio Negro, a cachaça, o
sol da tarde e a floresta da cidade em que vivia – Manaus – e abominava. Viver em locais ermos pode
ser um obstáculo dos mais fortes. E se é fato que a história, a cultura supera a geografia, que a língua
e a arte são territórios constituídos em dimensões transespaciais, que não existe solidão dentro de uma
Viagem e delicadeza
biblioteca ou diante da possibilidade de se ligar a uma rede, também é verdade que o contato direto, a
troca, tem uma outra qualidade. Tanto para um quanto para outro. Pois o que dizer do jovem informado,
Como se sabe, a palavra delicadeza, tanto em português como em espanhol, irradia-se em duas direções:
alinhado com as teorias mais avançadas, que desembarca numa realidade tão diversa das generalidades
de um lado, amabilidade, suavidade, cortesia, gentileza etc.; de outro, fragilidade, tibieza, suscetibilidade.
trazidas pelos livros, divulgadas nos currículos escolares? É em viagem que o mundo se reinventa, que
Interessa o entrelaçamento semântico, dado que ele dispõe, acima de tudo, sobre o acercamento de
tudo se revela uma outra coisa, inefável, inexprimível e que, por isso mesmo, o viajante tenta exprimir.
algo, seja ele brusco e violento ou sutil e imperceptível, não importa. A questão é a atitude desarmada
de quem se propõe avizinhar-se do outro, do mundo. Quanto a isso, vale lembrar o precioso momento
Treze curadores viajaram, uns mais outros menos, com a finalidade de divulgar o projeto e conhecer pes-
construído pelo escritor brasileiro João Guimarães Rosa em que o menino Miguilim que, como os leitores
soas. O resultado foi mais de mil inscritos. Muito mais, é claro, que o imenso contingente de artistas com
até aquela altura da narrativa, não se sabia míope, recebe um par de óculos da parte de um adulto que,
que se travou contato, vários deles, como se esperava, nem mesmo se inscreveram. Desinteresse pelo
percebendo-o forçar a vista, tira os seus próprios óculos do rosto para colocá-lo na criança:
processo, pela possibilidade de ser mais conhecido? Incompetência, desatenção, falta de profissionalismo? Ou será uma pretensão de gente urbana supor que os valores ali cultuados o sejam em toda parte?
Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente,
as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas
menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância...3
Do processo
O alumbramento experimentado por Miguilim, esse movimento contraditório que se destrava sempre
que o maravilhoso irrompe, uma realidade completamente outra que, no entanto, tem o efeito de nos
Até esta edição, o processo seguia a seguinte rotina: cada dupla de viajantes se reunia com seu coorde-
despertar, devolvendo-nos a nós mesmos, tem muito a ver com o efeito produzido pela obra de arte.
nador para, de posse da massa de inscritos pertencentes à região visitada, efetuar uma pré-seleção de
candidatos. Passada essa etapa, os quatro coordenadores, reuniam-se com o coordenador geral com
A viagem e o avizinhamento do outro pede delicadeza, como um caçador, esse profissional da vigilân-
o objetivo de chegar à seleção final. Desta vez, confiando na importância de democratizar o processo,
cia e da astúcia. Não escreveu Luís de Camões “Transforma-se o amador na cousa amada / Por virtude
garantindo que ele fosse mais transparente e mais objetivo, que as diversas vozes, pontos de vistas, po-
do muito imaginar”? Versos que indicam o trânsito entre o um e o outro, o escrutínio atento seguido
sições estéticas aflorassem, os 13 participaram em pé de igualdade da etapa final. Todos, sem distinção,
de mimese, da confusão entre os seres. Mas para que isso ocorra é preciso disponibilidade, abertura à
não importando se eram viajantes, coordenadores ou coordenador geral, defenderam e criticaram os
surpresa, ao entreabrir-se da máquina múltipla e majestosa do mundo.
200 pré-selecionados, até se chegar a 45 artistas, o número fixado logo a partida.
A delicadeza e a abertura de espírito, então, concernem ao desejo de entrar em relação com as
Em coerência com o que pareceu ser a essência do Rumos Artes Visuais, propôs-se que se tratasse a viagem
coisas, com o outro. O que supõe identificá-lo e escutá-lo; apreender e aprender sua fala, mais
numa chave distinta da que vinha sendo adotada, que aqueles que a empreendessem não saíssem de casa
do que isso, seu modo de ser.
com opiniões preconcebidas, certos do que iam encontrar. E que, na sequência das viagens, quando do
processo de seleção, com a obrigação de defender publicamente seus pontos de vistas, não tivessem a falsa
segurança de uma hierarquia que os eximiria de argumentar. Propôs-se, através de viagens e debates, um
3 ROSA, João Guimarães. “Manuelzão e Miguilim”, in Ficção Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 541.
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Ser delicado, convém advertir, não significa necessariamente renunciar ao comentário ou a ação.
AGNALDO FARIAS é professor, crítico de arte e curador.
Uma postura entre o tímido e o excessivamente respeitoso, a reação humilde frente à grandiosidade
da vida, dos fatos, mas que em alguns casos pode se caracterizar como simples covardia. Há, por
Autor dos livros Modernos, Pós-Modernos Etc (São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2009); As Naturezas do Artifício
certo, uma justa e imediata associação entre a delicadeza e o laconismo, o despojamento material, a
(São Paulo: Editora W11, 2004); Daniel Senise – The Piano Factory (Rio de Janeiro: Andréa Jacobsen, 2003); Arte Bra-
fala enxuta, rondando o silêncio ou que prefere submergir nele. Essa identidade encobre a comple-
sileira Hoje (São Paulo: Publifolha, 2002); La Arquitectura de Ruy Ohtake (Madri: Celeste, 1997) e editor e organizador
xidade do problema, como dá a pensar o poeta João Cabral de Melo Neto em seu longo poema “A
do livro Bienal 50 Anos (São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2002). Publica regularmente artigos e críticas em
Palo Seco”4, em que descreve sob ângulos sempre imprevistos essa modalidade particular de canto
alguns dos principais jornais e revistas nacionais e internacionais como a publicação espanhola Artecontexto.
flamenco, feito à capela, “só a lâmina da voz / sem a arma do braço”. Após o enunciado de um conjunto de situações e objetos “a palo seco” o poeta conclui sua defesa da concisão:
Entre suas curadorias, destacam-se a 29ª. Bienal de São Paulo (2010), tendo sido curador da Representação
Brasileira da 25ª Bienal de São Paulo (1992) e curador adjunto nas 23ª Bienal de São Paulo (1996) e Primeira
4.4
Bienal de Johannesburgo (1995). Foi curador geral no MAM–RJ, entre 1998 e 2000, e de exposições temporárias para instituições como Itaú Cultural, Instituto Tomie Ohtake, Centro Cultural Banco do Brasil, Centro
Eis uns poucos exemplos
Cultural Dragão do Mar, Museu Oscar Niemeyer, Museu de Arte do Rio Grande do Sul e, entre os anos 1990
de ser a palo seco
e 1992, no MAC/USP. Atualmente é consultor de curadoria do Instituto Tomie Ohtake.
dos quais se retirar
higiene ou conselho:
não o de aceitar o seco
por resignadamente,
mas de empregar o seco
porque é mais contundente.
O resultado final da quinta edição do Rumos Artes Visuais, intitulado Convite à Viagem, parte desses
pressupostos, alguns deles, como se viu, contraditórios entre si. Parte da delicadeza e da abertura de
espírito dos que viajaram e dos que se inscreveram com a perspectiva de que suas obras – e eles mesmos, na semana de abertura –, viajassem ao encontro de outras pessoas, como garrafas com mensagens
atiradas ao mar que, como defendeu Julio Cortázar a propósito do trabalho artístico, são atiradas com
a esperança de que sejam lidas, como notícias surpreendentes que nos chegam de territórios que não
contávamos existir.
4 MELO NETO, João Cabral de. Quaderna. Lisboa: Guimarães Editores, 1960.
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invitation to a journey
invitation to a journey
INVITATION TO A JOURNEY
suggest to a malicious eye an overcommitment of Rumos Artes Visuais to a money-based output, and
more so because it is sponsored by a cultural institution such as Itaú Cultural, a São Paulo-based institution owned by a bank. Not that this is untrue, of course. The pageantry of today’s art fairs, the dazzling
Our nature lies in movement, complete calm is death.
Pascal
He who does not travel does not know the value of men.
Moorish proverb
Ah no matter how, no matter where to, set off!
Álvaro de Campos
amounts fetched at art auctions and the pop-star behavior of certain contemporary artists, many of
them young, clearly confirms the interdependence between the market and the field of culture where
aesthetic values are established, classified and ranked by critics and curators. How to deny this and
why? Life, however, is not as simple, schematic and Manichaean as claimed by thickly ignorant minds
and the opportunistically hypocritical. Although all this is intertwined, the issue here boils down to distinguishing between where critics’ and curators’ eyes are turned to and, as a consequence, whereto the
projects they propose or are associated with are heading. What values do they consider more relevant?
Which aesthetic stances echo with theirs or which ones do they eventually adopt as their own? What,
after all, are the investigations, the works they wish to talk about, bring to light, exhibit and, although
they are not contemplating this, endorse with their respectable approval, so that these will enter circu-
As its title suggests, this fifth edition of Rumos Artes Visuais rethinks and stresses its main charac-
lation, i.e., the market?
teristic: traveling around the country to an encounter with art making. In previous editions, trips were
The issue is complex. It deals with the unique way in which aesthetic value converges with monetary
organized within a hierarchical structure that, as we will see below, was not observed this time. All 13
value. In order to understand how this flow – made by people, energized by people - occurs, we have
curators in the group, some more than others, set off for their journey across the country in an effort
to consider that people in the arts, in this case critics and curators, are moved by very different feel-
to find new manifestations, bypassing the often repetitive visions proposed by São Paulo and Rio de
ings. Some are moved by what they might profit in one of the ends of the process, and this would
Janeiro institutions – yes, Rio and São Paulo are still the main art training and dissemination centers.
mean reputation, a platinum credit card and a guaranteed seat in business class. The term mapper
These institutions are interested in the new but, due to a chronic lack of funds, this is usually so only
fits them like a glove. And there are those who wish for evasion, for whom the real profit is what they
when the new can be found nearby. After splitting the country into four regions – North, Northeast,
harvest from their journey around the world, those who have a thirst for what they do not know; they
Southeast and South –, four pairs of two curators, each one coordinated by a third curator, set off for
follow the famous Oswaldian motto “I am only interested in what is not mine.”2 These ones deserve
the main regional cities and centers. Instead of “mappers” – as they were called up to the previous edi-
to be called travelers.
tion and they may certainly be called like that again in future –, they are now called travelers, a term
that is more appropriate to those who are willing to listen, who set out excited by an interest in the unknown, in the other, in what, because it is exceptional, inspires the desire to fix, to record in notebooks,
The title of this fifth edition of Rumos Artes Visuais, Invitation to a Journey, aims to highlight its
true calling so as not to be mistaken for just another census on emerging Brazilian output of artworks.
on camera and recorders, which are the handheld prostheses of memory.
Although the art world is more and more active, its curiosity does not keep up with the pace of art-
Nothing of this is implied in the term “mapper” or its correlate “cartographer”, which have always been,
to do so are scarce, the number of people involved is quite limited. This picture leads to inertia and
as Michel Foucault demonstrates, very useful to the apparatus of power. Maps and their like are coded
to a tendency of insisting on what one already has. And in order to avoid hasty and unfair conclu-
narratives, sources of information which are as precise as possible about regions to be conquered.
sions on how little has been achieved so far, it is undeniable that art schools and non-degree learning
They are not limited to the description of the territory with its physical dimensions, rivers, lakes, plains,
centers – such as Escola de Artes Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts], in Rio
plateaus, valleys and mountain ranges, which is in itself of paramount importance, but everything that
de Janeiro – continue to be fertile grounds and people look forward to their annual student shows as
would possibly be of interest for power is put on maps: military situation, resources in general – mineral,
a showcase of new talents.
1
works produced in the four corners of the country and, let’s face it, even if it were interested, funds
vegetable, etc. –, population diversity and settlements and so forth. Mapping artists, therefore, may
1 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 1979 (1st edition).
2 ANDRADE, Oswald. “Manifesto Antropófago”, in Revista de Antropofagia, São Paulo, 1928.
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As said before, even today institutions, most of which are concentrated in Rio de Janeiro and São
Lucia, is a good example of this. On the other hand, Luís da Silva, the tormented character in Angústia,
Paulo, are not far-reaching. Their standard procedure boils down to, as was already mentioned, survey-
Graciliano Ramos’ masterpiece, gives us an idea of what it meant to be an intellectual in the city of Ma-
ing what happens not far from their headquarters, which is also an indication of their passivity. On the
ceió in the 1930s, the same way Milton Hatoum, in his Dois Poetas da Província, builds a character, the
other hand, it is a fact that some of the artists living in other states, who are now numerous and carry out
old poet Zéfiro, in love with Paris, filled with the resentment that causes him to ignore the other bank
high-quality research, still move to these two cities in search of more solid institutional conditions. Artists
of the Negro river, the cachaça, the afternoon sun and the forest around the Amazonian city where he
from Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, Pará, Paraná, Pernambuco, Brasília and Bahia, particularly
used to live – Manaus – and which he hated. Living in solitary places can be a very powerful obstacle.
the ones settled in those states, are greatly responsible for the effective oxygenation of our national
And if it is a fact that history and culture overcome geography, that language and art are territories
scene. And the significant persistence of the movement toward Rio and São Paulo is due to a number
built in transspatial dimensions, that there is no loneliness within a library or when it is possible to be
of different and converging prospects: acquisition of complementary skills through graduate courses;
connected to a network, it is also true that direct contact and exchange are of a different quality. For
facing a denser and more stimulating environment through associations, joint projects or simply to share
both of them. So, what should we say about an informed young person, aware of the most advanced
studios; achieving visibility through collective or solo exhibitions organized by different existing institu-
theories, who lands in a reality that is so different from the general views disseminated in books, taught
tions, whether they are established as a museum, profitable such as mainstream galleries or alternative
in school curricula? The world is reinvented in travel, everything is different from what is expected,
ones such as Xiclete’s house (a small house located in the frenetic neighborhood of Vila Madalena that
ineffable, inexpressible; it is for this very reason that travelers try to express it.
was transformed into a gallery by its daring owner, Xiclete, a former art student at Fundação Álvares
Penteado [Armando Álvares Penteado Foundation] (Faap). All forms are valid and often combined.
Thirteen curators traveled, some more than others, with the purpose of disseminating the project and
However, there is still the traditional academic-rooted way for artists to make themselves known, albeit
than the vast number of artists that were contacted, many of whom, as anticipated, did not even apply.
virtually, by means of portfolios sent to art salons. Despite their anachronism, the wholesale criticism,
A lack of interest in the process, in the possibility of being more widely known? Incompetence, unmind-
salons are relatively effective in introducing new artists, particularly salons adopting more elaborate
fulness or a lack of professionalism? Or would it be pretentious for urban people to suppose that values
formats like those in Olinda and Belo Horizonte (Pampulha). Thin on the ground in the cities of Rio
upheld in urban areas are equally accepted everywhere?
meeting people. The outcome was that it attracted over one thousand applicants. Far fewer, of course,
de Janeiro and São Paulo, active elsewhere in these states and in all capital and mid-sized cities all over
the country, most salons are considered by the mass of artists based everywhere in Brazil as the best, if
not the only, way to achieve visibility, which means managing to make a living from art.
Participating in a salon has, naturally, a meaning that is proportional to its reputation. There is great
merit in obtaining a space in the Salão Pampulha [Pampulha Salon], which is not the case in other less
prestigious ones. Another factor correlates with this prestige that is the quality of the jury that selects
and evaluates the competing works. In fact, salon jury panels have played, over the decades, an inestimable role together with critics and curators, independent or associated with institutions, who, upon
invitation of the organizers, travel around the country and get in touch with works which they would
not know otherwise.
It is mainly here where Rumos Artes Visuais innovates, by shrinking the gap between art output and
curators/travelers, fostering direct contact with as many artists as possible, discussing their works, inviting them to take part in the project; in practice, this means encouraging them to apply and send their
portfolio, i.e., contributing to expand the art community. The travelers set out to look for those who,
in one way or another – via fabulation, for example – escape from the barrenness of their environments. It is true that the geographical context, life in poor or simply provincial, remote places lacking
information and debate, does not prevent ideas from thriving. Derek Walcot, the poet from tiny Santa
The process
Prior to the current edition, the process followed this routine: each pair of travelers would meet their
coordinator in order to pre-select artists out of the mass of applicants from the region they had visited.
Subsequently, the four coordinators would meet the general coordinator with the purpose of narrowing
it down to a final selection. This time, recognizing the importance of having a democratic process, thus
enhancing its transparency and objectivity, making sure several voices, points of view, aesthetic stances
would emerge, the 13 curators participated on an equal footing in the final stage. All of them, without
distinction – no matter if they were travelers, coordinators or the general coordinator –, defended and
criticized all the 200 pre-selected artists until this number was reduced to 45, the number of artists
which had been set at the start.
Consistent with what seemed to be the essence of Rumos Artes Visuais, it was proposed to treat the
journey in a key that would be different from the one hitherto adopted, that travelers should not set out
with preconceived opinions, certain about what they would find. And that, after the trips, during the
selection process, with the obligation of defending their points of view in public, they would not have
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the false sense of security of a hierarchy that would exempt them from discussion. Through travels and
It is worth pointing out that being delicate does not necessarily mean relinquishing comments or ac-
debates, a project and resulting exhibitions, delicacy and open-mindedness were proposed as antidotes
tion. It is not a stance between shyness and excessive respect, a humble reaction before the grandeur
to certainties and arrogance. This amounts to proposing them as values to be upheld in a world ruled by
of life, of facts, that in some cases may be described as mere cowardice. There is certainly a correct
immobility, excessive noise, blinding lights and an infinite number of routines. A world where all speak
and immediate association between delicacy and laconism, material detachment, lean discourse that
loudly and no one listens to himself; where most people base their behavior on aggressive extroversion.
revolves around silence or that would rather submerge in it. This identity conceals the complexity of
the problem, as suggested by the poet João Cabral de Melo Neto in his long poem “A Palo Seco”4, in
which he describes, always from unforeseen angles, this particular modality of flamenco cante, a ca-
Travel and delicacy
pella singing, “only the blade of the voice / without the weapon of the arm.” After enunciating a series
of situations and objects “a palo seco” (dryly), the poet concludes his plea for concision:
As it is well known, the word delicacy, in both Portuguese and Spanish, has two different acceptations:
on the one hand, loveliness, softness, politeness, kindness, etc.; on the other hand, frailty, lukewarmness, susceptibility. This semantic intertwining is interesting as it concerns, above all, the way one approaches something, be it suddenly and violently or subtly and elusively does not matter. The issue
here is the unguarded attitude of those who are willing to come closer to the other, the world. In this
regard we should remember the precious moment created by the Brazilian writer João Guimarães
Rosa in which the boy Miguilim – who, like the readers until that point of the narrative, did not know he
was nearsighted – receives a pair of spectacles from an adult who, realizing the boy is squinting, takes
his own glasses off and puts them on the child:
Miguilim looked. He could not believe it! It was all clear, all new and beautiful and different,
things, trees, peoples’ faces. He could see the little grains of sand, the earth skin, the smaller
pebbles, the wandering little ants from a distance...3
4.4
These are a few examples
of how to be a capella
from which we might harvest
hygiene or advice:
not accepting dryness
in weary resignation,
but rather using dryness
because it is more potent.
The enlightenment Miguilim experiences, this contradictory movement that is triggered every time
the wondrous erupts, a completely other reality that can, nevertheless, wake us up, giving us back to
ourselves, has a lot to do with the effect of an artwork.
Travel and coming closer to others require delicacy, as in the case of hunters, who are professionals of
vigilance and astuteness. Didn’t the Portuguese poet Luís de Camões write: “The lover becomes the
loved one / By virtue of much imagination”? These verses indicate the transit from one to another,
the careful scrutiny followed by mimesis, by confusion of beings. But for this to occur there has to be
availability, an openness to surprise, when you glimpse the multiple and majestic machine of the world.
These assumptions were the foundations for the final outcome of the fifth edition of Rumos Artes
Visuais, entitled Invitation to a Journey, though some of them are, as we have seen, contradictory. It is
based on the delicacy and the open-mindedness of those who traveled and of those who applied, assuming that their works – and themselves, in the preview week – would travel and meet other people,
just as messages in bottles thrown into the sea that, as proposed by Julio Cortázar concerning artistic
work, are thrown in the hope that they will be read like amazing news coming from territories we did
not expect to exist.
Thus, delicacy and open-mindedness concern the desire for developing a relationship with things, with
others. This requires identifying and listening, apprehending and learning their languages and more
than this, their way of being.
3 ROSA, João Guimarães. “Manuelzão e Miguilim”, in Ficção Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 541.
4 MELO NETO, João Cabral de. Quaderna. Lisboa: Guimarães Editores, 1960.
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invitation to a journey
Agnaldo Farias is professor, art critic and curator.
He authored the books Modernos, Pós-Modernos Etc (São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2009); As Naturezas
do Artifício (São Paulo: Editora W11, 2004); Daniel Senise – The Piano Factory (Rio de Janeiro: Andréa Jacobsen,
2003); Arte Brasileira Hoje (São Paulo: Publifolha, 2002); La Arquitectura de Ruy Ohtake (Madri: Celeste, 1997).
Editor and organizer of the book Bienal 50 Anos (São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2002). Farias regularly
contributes articles and reviews to some of the mainstream national and international newspapers and magazines,
like the Spanish Artecontexto.
The most important exhibitions in his career include the 29ª. Bienal de São Paulo [29th São Paulo Art Biennial]
(2010), having curated the Brazilian representation in the 25ª. Bienal de São Paulo (1992) and served as assistantcurator in the 23ª Bienal de São Paulo (1996) and 1st Johannesburg Biennial (1995). Farias was the general curator
to Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro [Museum of Modern Art of Rio de Janeiro] from 1998 to 2000, and
to temporary exhibitions for institutions such as Itaú Cultural, Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute],
Centro Cultural Banco do Brasil [Banco do Brasil Cultural Center], Centro Cultural Dragão do Mar [Dragão do
Mar Cultural Center], Museu Oscar Niemeyer [Oscar Niemeyer Museum], Museu de Arte do Rio Grande do
Sul [Rio Grande do Sul Art Museum] and, from 1990 to 1992, Museu de Arte Contemporânea [Museum of Contemporary Art] of Universidade de São Paulo [University of São Paulo]. Farias is currently curatorial consultant to
Instituto Tomie Ohtake.
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MATIAS MONTEIRO
Sonhando em distâncias: mapeamento da Região Centro-Oeste
Na experiência de mapeamento do cenário artístico da Região Centro-Oeste, constatamos que o ethos
cuiabano propicia a experiência da cuiabania1; que a irreverência crítica goiana faz do estado um goiastexas2; e que Brasília cede lugar à experiência de Braxília, cidade a qual “o poder não merece”3. Não se trata,
aqui, de enumerar metáforas, como uma exótica memorabilia afetiva, mas de aludir a uma topografia
poética que se faz tangível mediante tudo aquilo que o espaço confidencia de si.
Não existe, especificamente, uma “arte do centro-oeste”, como uma identidade cultural ou matriz estética
coesa. De fato, se algo perpassa essa espantosa diversidade de contextos artísticos, será a intuição de
habitar esse “centro |ex|cêntrico”4; a constatação de que a centralidade (como dado geodésico e, a partir
de 1960, político), no contexto de um país ainda eminentemente litorâneo, relega esses circuitos ao status
de periferia no que concerne aos mecanismos de divulgação e reflexão da produção artística nacional.
REGIÃO
centro-oeste
A consciência desafiadora do isolamento convoca artistas e agentes culturais a refletir sobre as condições de produção e circulação das cenas nas quais atuam. É mediante esse processo que surgem os
regionalismos (como comprometimento de parte da produção poética da região com determinados
repertórios populares locais). Esses regionalismos comparecem não como uma aptidão, mas como um
itinerário ideológico contundente diante das distâncias (geográficas e culturais) impostas pelas dinâmicas de ocupação do território brasileiro5. São eles os elementos que fundam um discurso de descentralização da produção artística, a valorização de uma cultura local e um esforço para fomentar estratégias
de visibilidade dessas propostas em um panorama nacional. Entretanto, é esse mesmo isolamento o
principal obstáculo a ser superado em uma articulação eficiente entre os polos de produção da região.
1 Como proposto por Silva Freire. “Mas o que é cuiabania, afinal, poeta?/não é topônimo, é a sensação indizível, esse charivari de
maçaroca poética, daqui e daqui-prá-frente, de quase três séculos de uma cidade mágica [...]” FREIRE, Silva: 1991, p. 407
2 Sugerido por Fabíola Morais. Disponível em: goiastexas.com.br.
3 Cidade-enigma de Nicolas Behr: “A utopia dentro da utopia, como se isso fosse possível. [...] A cada dia que passa me convenço mais e mais de que Brasília foi construída com a finalidade errada: não deveria nunca abrigar o poder. O poder não a merece,
o poder não a valoriza [...] Criar uma Brasília não capital, uma Brasília não poder, sempre foi o objetivo (alcançado?) de toda uma
geração [...]”. BEHR, Nicolas.
4 Título da exposição com curadoria de Geraldo Orthof e Marília Panitz realizada em 2003 no Centro Cultural Banco do
Brasil, Brasília.
5 Aline Figueiredo o compreende como uma produção imagética engajada e consciente “[...] da espacialidade plástica da
região” [FIGUEIREDO: 2007]. Por sua vez, Maria Adélia Menegazzo o propõe como “[...] o local da cultura e a cultura local ao
mesmo tempo.” [REGAZZO apud: MALDONADO: 2007]. Mas, será, sem dúvida, o advento do termo “bovinocultura”, no
contexto da produção pictórica de Humberto Espíndola, expressão mais emblemática dessas reflexões.
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A transferência da capital federal representa esse marco histórico compartilhado, que reverbera uma
nova dinâmica de produção e reflexão das práticas artísticas locais. No entanto, ela não foi, por si só,
suficiente para estabelecer mecanismos de intercâmbio entre essas distintas cenas artísticas. Essas redes
começam a se formalizar marcadamente a partir da década de 1980, e culminam, nos anos 2000, em
um amadurecimento institucional da região, com a fundação6, profundas reformas7 ou inauguração de
novas sedes8 de relevantes equipamentos culturais (fenômeno que tende a não se restringir às capitais9).
Soma-se a isso a formulação perceptível nos últimos anos de uma série de iniciativas autônomas de
artistas na constituição de espaços alternativos de produção e reflexão10 e um tímido (porém promissor)
estabelecimento de dinâmicas de comércio e divulgação em plataformas digitais11.
Essa combinação de fatores possibilita a formação de vínculos regionais mais estreitos; uma tendência
que parece se confirmar no contexto do mapeamento com a realização do 1º Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste (Goiânia), das residências artísticas exclusivas para artistas da região no evento
Fora do Eixo12 (Brasília), bem como na renovação do Salão Anapolino de Artes13 (Anápolis). Com isso,
delineia-se uma perspectiva que sugere dispositivos inéditos para a concretização do recorrente sonho
de “[...] aplacar o distanciamento de tantos anos”14.
***
As paisagens de Fabio Motta descortinam essa emergência áspera de uma (de)vastidão. Aqui, o espaço é convertido em cenografia por força dessa inserção meticulosa: leveza translúcida e complacente
contraposta a uma rispidez ocre e severa. Somos aludidos na banalidade dessa imagem; fantasmagoria
posta a trepidar. O écran se enerva, a tessitura se rompe. O rasgo, a ferida inscrita, confabula a condição
do olhar (inelutável cumplicidade).
6 Pavilhão das Artes (2006) e Sesc Arsenal (2001), em Cuiabá; Centro Cultural UFG (2010) e Centro Cultural Oscar Niemeyer (2006), em Goiânia; Centro Cultural Banco do Brasil (2000), em Brasília; Espaço Cultural Contemporâneo (2000), Espaço Cultural Marcantonio Vilaça (2003) e Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, em Brasília.
7 CAIXA Cultural, Brasília, 2001.
8 Museu de Arte Contemporânea (Marco) de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2002.
9 Como o Salão de Exposição da UFGD, inaugurado em 2008, em Dourados, e o projeto do Centro de Arte Ita e Alaor
Siqueira, em Pirenópolis, ainda a ser inaugurado.
10 Podemos destacar o Ateliê Ana Ruas, em Campo Grande; o Espaço Laje, em Brasília; o Espaço Cinza, em Goiânia, além
do Ateliê da Bel, em Jataí.
11 Plus Galeria, sediada em Goiânia; Conjunto A4, em Brasília, e a inventiva Rabiscaria, em Goiânia.
Fabio Motta
Paisagem Ferida, 2011
Back light, 1,20 x 0,80 cm
Backlight, 1.20 x 0.80 cm
12 Contando, inclusive, com uma mesa-redonda dedicada à produção artística da região.
13 Um dos mais tradicionais da região.
14 Como já manifestava Aline Figueiredo em seu pioneiro levantamento e reflexão sobre a produção local “Artes Plásticas no
Centro-Oeste”. FIGUEIREDO, Aline: 1979. p. 11.
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O cerrado comparece como uma paisagem negociada. Sabemos, hoje, da constituição de uma expressividade mato-grossense: as atividades do Ateliê Livre do Museu de Arte e Cultura Popular; esse
engajamento crítico e a predileção por uma reflexão acerca do circundante. Os jovens artistas matogrossenses estão ávidos por me contar essa história e expressar sua admiração pelos artistas que se
engajaram nela, mas jamais fazem dessa referência reverência.
***
Seria o déjà-vu uma vocação do olhar fotográfico? Aqui, o que está em questão é a configuração de
uma verossimilhança por meio de uma fotografia atmosférica. O Staged Photography de Daniel Reino
produz esse mise-en-scène que sugere a imagem como fragmento plausível por força de um já-visto:
esses clichês do film noir que reconheço com facilidade: a perseguição, o interrogatório, o beco escuro, a
femme fatale etc. Mas a estratégia é revelada por elementos mínimos (por vezes quase imperceptíveis)
que dão notícia da artificialidade da cena (a atualidade da imagem, a camuflagem de uma mídia em
outra, a simulação de um contexto cultural etc.).
Esse espaço fictício converte-se no campo de agenciamento de diferentes tempos e contextos. Não
será essa a tendência de uma nova geração de artistas sul-mato-grossenses? Abdicar da conciliação de
uma iconografia indígena e uma realidade pantaneira15 (tão cara à construção de uma identidade estética pós-divisionista) em prol de um interesse mais genérico pelos processos de sincretismo e hibridação?
***
O corpo como condição e as condições do corpo. A memória produz uma fisiologia própria, uma corporeidade que se engendra nos riscos de sua própria imponderabilidade. Corpo fragmentado: boca, dentes, pelos.
Corpo vulnerável, apreensivo. Anna Behatriz nos conduz por uma ergonomia intuitiva. Incomensurável corpo
navegado pelo sujeito; corpo-topografia, geografia nebulosa. Esse não é o meu corpo; corpo é onde habito.
Não seria Goiás uma anatomia imaginada? Tantos são os goiases; impertinentes, arrojados, provincianos.
Sonhadores, parece-nos, sempre. Palco privilegiado da região16, o estado é memorioso em Goiás, audaz
em Jataí, polarizado em Anápolis, tradicional/cosmopolita em Pirenópolis, vibrante e crítico em Goiânia.
Poucos lugares instigam mais a curiosidade.
15 MALDONADO: 2007.
Daniel Reino
Sem Título - Série Noir, 2009
Fotografia, 30 x 45 cm
Photograph, 30 x 45 cm
16 Salão Anapolino de Arte, Salão de Arte de Jataí, o extinto Salão Nacional de Arte de Goiás – Prêmio Flamboyant, e o recente Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste. Na área da produção audiovisual podemos destacar o Festival Internacional
de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), na cidade de Goiás, bem como o recente Anápolis Festival de Cinema e o Encontro de
Cineclubistas do Centro-Oeste, ambos na cidade de Anápolis. Na área de literatura, a Festa Literária de Pirenópolis (Flipiri) etc.
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Referências BIBLIOGRÁFICAS
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<marcovirtual.com.br/03_expo/permanente.html>.
Gregório Soares
Autorretratos: Estruturas Equívocas,
2011/2012
FIGUEIREDO, Aline. Arte aqui é mato. Cuiabá: UFMT, 1990.
Assemblage e fotografia, 47 x 36 cm
Assemblage and photograph, 47 x 36 cm
___________. Artes plásticas no Centro-Oeste. Cuiabá: UFMT, 1979.
Gregório Soares rudimenta seu autorretrato a partir de fragmentos do itinerário estético de Athos
Bulcão, apropriando-se, de forma lúdica, de sua dinâmica construtiva; um jogo identitário que, como
qualquer outro, se dá pela ação de um resto.
Os artistas, em suas primeiras produções, de modo geral, são confrontados com tradições da cultura
local, que os convocam e os mobilizam. O jovem artista brasiliense, no entanto, ao ser interpelado por
seu passado, não se depara com tradições, mas com projetos. Talvez essa seja a audácia de Brasília: que
___________. Quando as atitudes se tornam forma. A propósito da arte e a animação contemporânea em MT, in Circuito panorâmico. Cuiabá: Secretaria de Estado de Cultura e Galeria Mato-Grossense de Artes Visuais, 2007.
FREIRE, Silva. (na moldura da lembrança). In: PINO, Vlademir Dias (Org). Trilogia Cuiabana, v. 2, Todolos Prazeres & Alguns
Lazeres. Cuiabá MT: Edições UFMT, 1991.
FREUD, Sigmund. Totem e tabu. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
Goiastexas: disponível em: <goiastexas.com.br/>.
seu passado revele sempre uma ambição quanto a seu futuro.
MALDONADO, Rafael. Apontamentos sobre três décadas de artes plásticas em Mato Grosso do Sul, in Panorama – 30 anos da
divisão do estado. Campo Grande: Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, março, 2007.
Essa constatação não se restringe às circunstâncias de sua fundação, mas aplica-se àqueles que a habi-
MORAES, Angélica de [et al]. Mapeamento nacional da produção emergente: Rumos Itaú Cultural artes visuais 1999-2000. São
Paulo: Itaú Cultural e Impensa Oficial do Estado e Unesp, 2000.
tam e que a ambicionam como outro lugar [...] “utopia dentro da utopia”. Em Brasília, surge uma poética
do imprevisto, do inexequível, do não programado. Não seria essa a real dimensão da utopia? “Desburocratizar o amanhã? Viver o fracasso como condição que alimenta nossos sonhos?”
17
PASSOS, Carlos Sena. Arte contemporânea de Goiás: Experiências com a vida cotidiana, in: Revista da UFG. Goiânia: UFG, Ano
X, n. 4, junho, 2008.
___________ [et al]. I Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste. Goiânia: UFG, 2011.
MATIAS MONTEIRO é mestre em arte, na linha de pesquisa de Poéticas Contemporâneas (2008) e
bacharel em artes plásticas (2004) pelo Instituto de Artes da UnB. Atua como artista, professor e junto
a programas educativos em museus e espaços culturais.
17 SOUSA: 2008.
RIGOTTI, Paulo Roberto (Org). Uniarte: textos escolhidos. Dourados: Unigran, 2009.
Setembro Freire 2010. Casa da Cultura Silva Freire. Cuiabá, MT: Entrelinhas. 2010.
SOUSA, Edson Luiz André de. A burocratização do amanhã: utopia e ato criativo in revista Porto Arte. Porto Alegre: UFRGS/IA/
PPGAV, v. 14, n. 24, p. 41-51, maio 2008.
XAVIER, Cleber Cardoso [et al]. Brasiliax5: 50 anos de artes visuais em Brasília. Programa de Pós-graduação em Arte da
Universidade de Brasília
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They are the elements founding a discourse of decentralization of art making, appreciation of a local
culture and an effort to foster visibility strategies for these proposals nationwide. However, that very
MATIAS MONTEIRO
same isolation is the main hurdle to be overcome by means of an efficient joint effort engaging the
major art making sites in the region.
The move of the country’s capital represents this shared historical landmark, which echoes a new way
Dreaming in distances: mapping of the Midwest Region
of making art and of thinking the local artistic practices. Nevertheless, this was not, by itself, enough to
In the experience of mapping the art landscape of the Midwest Region, we find that the ethos from the
shape markedly from the 1980s and culminate with the institutional maturity of the region in the 2000s
city of Cuiabá opens the way to the cuiabania1 experience; that the critical irreverence of Goiás turns it
into goiastexas2 state; and that Brasília yields to the experience of Braxília, a city that “the power does not
deserve”3. The purpose here is not to enumerate metaphors, like an exotic affective memorabilia, but rather
to allude to a poetic topography that becomes tangible through everything that the space reveals of itself.
The “art of the midwest” does not really exist as such, like a cultural identity or a consistent aesthetic
matrix. In fact, if there is something in all this astounding diversity of artistic contexts, that will be the
intuition of inhabiting this “|ex|centric center”4; the confirmation that the centrality (as a geodetic and, as
from 1960, political datum), within the context of a still-predominantly-coastal country, relegates these
places to a peripheral status as far as mechanisms for dissemination of and reflection on the national
artistic output are concerned.
create mechanisms of exchange between these distinct artistic settings. These networks begin to gain
owing to the foundation6, deep reforms7 or opening of new headquarters8 of relevant cultural facilities
(a phenomenon that tended not to be limited to the capitals9). Add to this the noticeable framing in
recent years of a series of independent initiatives taken by artists to create alternative spaces for art
making and reflection10 and the shy (promising, though) adoption of digital-platform-based practices
of marketing and publicity.11
This combination of factors has enabled the establishment of closer regional ties; a trend that seems to
be confirmed in the mapping context with the 1o Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste [1st
Contemporary Art Salon of the Midwest] (Goiânia), the exclusive artistic residencies for artists of the
region in the event Fora do Eixo12 [Out of the Mainstream] (Brasília), as well as in the renewed Salão
Anapolino de Artes13 [Anapolino Salon of Arts] (Anápolis). This outlines a prospect that suggests new
devices for the realization of the recurrent dream of “[...] softening the distance of so many years.”14
The challenging consciousness of isolation drives cultural artists and agents to ponder on the conditions of art making and circulation in the settings where they work. The regionalisms arise out of this
process (like compromising part of the poetic output of the region with certain local popular repertoires). These regionalisms appear not as a skill, but as a decisive ideological itinerary in view of the
(geographic and cultural) distances imposed by the dynamics of the Brazilian territory occupation5.
1 As proposed by Silva Freire. “But what is cuiabania, after all, poet? /it is not a toponym, it is the unspoken sensation, this
disorder of poetic sheaf, from now and from-now-on, of almost three centuries of a magical city [...]” FREIRE, Silva: 1991, p. 407.
2 Suggested by Fabíola Morais. Available at: goiastexas.com.br
3 Enigma-City of Nicolas Behr: “Utopia inside utopia, as if it were possible. [...] Each day that goes by, I am more and more
convinced that Brasília was built with the wrong purpose: it should never shelter the power. The power does not deserve it, the
power does not appreciate it [...] Creating Brasília not as a capital, a non-power Brasília, has always been the goal (achieved?) of
a whole generation [...].” BEHR, Nicolas.
4 Title of the exhibition curated by Geraldo Orthof and Marília Panitz held in 2003 at the Centro Cultural Banco do Brasil [Bank
of Brazil Cultural Center], Brasília.
5 Aline Figueiredo understands it as an engaged and conscientious image-based work “[...] of the visual spatiality of the region”
[FIGUEIREDO: 2007]. In turn, Maria Adélia Menegazzo proposes it as “[...] the place of culture and the local culture at the same
time.” [REGAZZO apud: MALDONADO: 2007]. But it will be undoubtedly the appearance of the word “cattle raising” in the
context of Humberto Espíndola’s pictorial works the most emblematic expression of these thoughts.
6 Pavilhão das Artes [Arts Pavilion] (2006) and Sesc Arsenal (2001), in Cuiabá; Centro Cultural UFG [Goiás Federal University Cultural Center] (2010) and Centro Cultural Oscar Niemeyer [Oscar Niemeyer Cultural Center] (2006), in Goiânia; Centro
Cultural Banco do Brasil [Bank of Brazil Cultural Center] (2000), in Brasília; Espaço Cultural Contemporâneo [Contemporary
Cultural Space] (2000), Espaço Cultural Marcantonio Vilaça [Marcantonio Villaça Cultural Space] (2003) and the Museu Nacional do Conjunto Cultural da República [National Museum of the Cultural Complex of the Republic], in Brasília.
7 CAIXA Cultural, Brasília, 2001.
8 Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul [Mato Grosso do Sul Museum of Contemporary Art], Campo
Grande, 2002.
9 Like the Salão de Exposição da UFGD [Exhibition Salon at the Grande Dourados Federal University], opened in 2008, in
Dourados, and the project of the Centro de Arte Ita e Alaor Siqueira [Ita and Alaor Siqueira Art Center], in Pirenópolis, yet to
be opened.
10 The highlights are the Ateliê Ana Ruas [Ana Ruas Studio], in Campo Grande; the Espaço Laje, in Brasília; the Espaço Cinza,
in Goiânia, in addition to the Ateliê da Bel [Bel’s Studio], in Jataí.
11 Plus Galeria [Plus Gallery], based in Goiânia; Conjunto A4 set, based in Brasília, and the inventive Rabiscaria, in Goiânia.
12 Also including a round table about the region artistic output.
13 One of the most traditional in the region.
14 As Aline Figueiredo had already mentioned in her “Artes Plásticas no Centro-Oeste”. FIGUEIREDO, Aline: 1979. p. 11, a
pioneering survey and reflection on the local output.
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***
Fabio Motta’s landscapes reveal this rough emergence of vastness/devastation. Here, the space is converted into a set design because of that meticulous combination: translucent and complacent lightness
in contrast with an ochre and severe harshness. We are alluded in the banality of this image; phantasmagoria set to tremble. The écran gets annoyed, the contexture rips itself apart. The tear, the inscribed
wound, converses the condition of the eye (indisputable complicity).
Would not Goiás be an imagined anatomy? So many are the “goiases”; impertinent, daring, provincial.
Dreamers, as they always look like. A privileged stage of the region16, the state is memorable in Goiás, daring in Jataí, polarized in Anápolis, traditional/cosmopolitan in Pirenópolis, vibrant and critical in Goiânia.
Few places provoke curiosity the most.
***
Gregório Soares makes a rudimentary self-portrait using fragments of Athos Bulcão’s aesthetic itinerary,
The cerrado, the Brazilian savannah, appears as a negotiated landscape. Today we have knowledge of the
playfully appropriating his constructive dynamics; a game of identity that, like any other, takes place through
existence of an expressiveness of art in the state of Mato Grosso: the activities promoted at the Ateliê
the action of the remainder.
Livre [Free Studio] at the Museu de Arte e Cultura Popular [Museum of Art and Popular Culture]; this
critical engagement and the preference for a reflection on the surroundings. The young artists in Mato
Grosso are eager to tell me this history and say how they admire the artists who are engaged in it, although such respect never comes down to reverence.
Would the déjà-vu be an endowment of the photographic eye? The issue here is the setting of a verisimilitude by means of an atmospheric photography. The Staged Photography, by Daniel Reino, produces
this mise-en-scène that suggests the image as a reasonable fragment by virtue of an already-seen: these
film noir clichés that I easily recognize: the chase, the interrogation, the dark alley, the femme fatale and
so forth. The strategy, however, is disclosed by minimum elements (sometimes nearly imperceptible)
The artists, in their first works, are generally faced with the local culture traditions, which appeal and
mobilize them. The young artist from Brasília, however, when questioned about his past, does not come
across traditions but projects, instead. Maybe this is the audacity of Brasília: that its past always reveals
an ambition regarding its future.
This finding is not limited to the circumstances of the foundation of this capital city. Rather, it applies to
those who live in it and to those who aspire to it as another place [...] “utopia inside utopia.” In Brasília, the
poetics of the unforeseen, the unfeasible, the unscheduled arise. Would not this be the real dimension of
utopia? “Debureaucratize the time to come? Living the failure as a condition that nourishes our dreams?”17
announcing the artificiality of the scene (the freshness of the image, the camouflage of a medium in
another, the simulation of a cultural context etc.).
This fictitious space turns into the field where different times and contexts are arranged. Would not this
be the trend of a new generation of artists from Mato Grosso do Sul? Renouncing the conciliation of
an indigenous iconography and the reality of the pantanal, the Brazilian tropical wetland15 (the so-hardearned building of a post-division aesthetic identity) in favor of a more generic interest in the processes
MATIAS MONTEIRO holds a master’s degree in arts, in the line of Contemporary Poetics (2008)
research, and a bachelor’s in fine arts (2004) of the Instituto de Artes [Arts Institute] at Universidade de
Brasília [University of Brasília]. He is an artist, professor and works in educational programs in museums
and cultural spaces.
of syncretism and hybridization?
***
The body as a condition and the conditions of the body. Memory produces a peculiar physiology, a
corporealness that engenders itself in the lines of its own imponderability. A fragmented body: mouth,
teeth, hair. A vulnerable apprehensive body. Anna Behatriz leads us through intuitive ergonomics. An
body is where I live.
16 Salão Anapolino de Arte [Anápolis Arts Salon], Salão de Arte de Jataí [Jataí Arts Salon], the old Salão Nacional de Arte de
Goiás – Prêmio Flamboyant [Goiás National Arts Salon – Flamboyant Award] and the recently created Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste [Contemporary Art Salon of the Midwest]. In the realm of audiovisual works, attention is drawn to the
Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) [International Festival of Environmental Film and Video], in the city
of Goiás, as well as the new Anápolis Festival de Cinema [Anápolis Film Festival] and the Encontro de Cineclubistas do CentroOeste [Midwest Cineclub Members Meeting], both in the city of Anápolis. As to literature, the Festa Literária de Pirenópolis
(Flipiri) [Pirenópolis Literary Festival] and so forth.
15 MALDONADO: 2007.
17 SOUSA: 2008.
immeasurable body navigated by the subject; body-topography, misty geography. This is not my body;
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UFG [Goiás Federal University], 2011.
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SANZIA PINHEIRO BARBOSA
Escrever um relatório do mapeamento da Região Nordeste, dentro de um programa que se encontra
na quinta edição, solicita uma leitura dos relatórios anteriores. Depois de ler os textos nos catálogos da
segunda à quarta edição, é possível afirmar que o circuito nessa região (RN, PI, CE, PB, MA) oscila
bastante em função das políticas adotadas pelos gestores e dos movimentos artísticos.
Fortaleza é emblemática nesse aspecto. Até a terceira edição, a cidade apresentava um circuito bastante fértil. No entanto, ao longo do tempo, as políticas adotadas não favoreceram um desenvolvimento significativo. Desse modo, na região se observa algumas perdas e pouquíssimos avanços. O
estado da produção dos artistas ainda denuncia a necessidade de informações, trocas e, principalmente, formação; além de uma gritante ausência de políticas públicas para as artes visuais já apontada
na quarta edição do Rumos. Capitais, como São Luís, não possuem sequer um setor específico das
artes visuais. No entanto, encontrei articuladores que conseguem organizar ações que são verdadeiras oxigenações no circuito local.
Depois de mapear Juazeiro do Norte, Crato e Sobral fui a Fortaleza. Chegando lá, o artista Júlio Pimenta, editor da revista Reticências Crítica de Arte, formula a seguinte pergunta: “Como esse mapeamento
pode ajudar na construção de políticas públicas para as artes visuais?” Essa questão me acompanhou
REGIÃO NORdeste
por todo o resto do percurso (Paraíba, Maranhão e Rio Grande do Norte). Estava, quase sempre, com
raríssimas exceções, lidando com uma precariedade em termos de espaços expositivos, de formação,
nichos de diálogos e, principalmente, políticas públicas. Talvez a pergunta do artista não seja pertinente
no âmbito do programa Rumos. No entanto, questiono-me: qual é a instituição neste país que tem um
diagnóstico tão amplo das artes visuais? São dez anos, mais de 50 cidades, incluindo todas as capitais do
país. Esse banco de dados, se não serve para formulação de políticas públicas, alimenta o quê?
Nos locais em que o circuito é mais intenso, existe uma forte presença das instituições como é o caso
de Fortaleza que, diante da política adotada pelo Centro Cultural Banco do Nordeste, contribui de
maneira significativa com as ações desenvolvidas pelos artistas. Ou a atuação do Sesc na região do
Cariri (Crato e Juazeiro do Norte).
Na Paraíba, o curso de artes visuais da UFPB e a Usina Cultural Energisa dinamizam o circuito. Nas
entrevistas realizadas, o nome da professora Marta Penner foi exaustivamente citado pelos estudantes.
Teresina vive um momento de abertura de possibilidades, pois, além do Núcleo do Dirceu, que, apesar
de ser focado na dança, desenvolve residência, curso e possui uma produção de videoarte e performance, os gestores da cultura demonstram vontade política, talvez por serem artistas que participam ativamente do circuito da cidade. Por sua vez, Natal vive uma oxigenação provocada pelos novos professores
do curso de artes visuais da UFRN.
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Qual a importância da arte contemporânea para cidades com pouco mais de 60 mil habitantes, como
é o caso de Sousa na Paraíba? Acredito que a arte, assim como a ciência, cria espaços e tempos
simbólicos, que nos permitem estruturar visões de mundo. A pintura renascentista possibilitou à men-
Junior Pimenta
Maquilagem de fronte, 2010
Intervenção urbana
Urban intervention
talidade medieval construir estruturas capazes de acolher a nova ciência. A racionalidade, encontrada
para a construção de obras de arte, invade a vida chegando à percepção sensorial. “O espaço emergente da arte renascentista abriu um novo mundo simbólico que podia ser manipulado e investigado,
no qual novos fiéis e ricos modelos da realidade podiam ser construídos e estudados” (SZAMOSI,
Geza. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, p. 128). Creio que a arte contemporânea pode contribuir de forma
significativa nesse momento crucial vivido pela humanidade, que solicita com urgência a construção
de outra percepção da realidade.
Fortaleza é o segundo mais intenso circuito de arte contemporânea do Nordeste na sede do Centro
Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) que, através de Jaqueline Medeiros, consegue espraiar-se, seja
apoiando ações dos artistas, seja nos espaços independentes. O CCBNB, além de lançar edital nacional
para constituir sua programação, realiza o evento Agosto das Artes, que acontece nas três cidades que têm
unidades do CCBNB (Fortaleza, Sousa e Juazeiro do Norte) e atualmente se encontra na sexta edição.
A mostra Entregue às Moscas, em 2008, do Coletivo Acidum, no Centro Dragão do Mar de Arte e
Cultura, expõe a situação em que se encontra o museu que fora, em anos anteriores, relevante equipamento no fomento à arte contemporânea local. Outro importante meio de fomentar as artes é o circuito
Alpendre, que outrora esteve focado nas artes visuais, constituindo-se, também, em essencial espaço na
formação e nicho de encontro e diálogo para os artistas. Atualmente, agrega elementos de outras áreas
no processo de criação, com ênfase no videodança.
No dia em que cheguei a Fortaleza, o espaço independente Dança no Andar de Cima, lugar focado nas
artes visuais, design, música, vídeo e que aglutina a jovem produção contemporânea, exibia uma mostra
de vídeo produzida na Colômbia. Outro equipamento que vale apena citar é o Sobrado José Lourenço,
um centro cultural voltado às artes visuais, que dispõe de sala de exposição, biblioteca, auditório e um
café. A comercialização da arte contemporânea em Fortaleza é bastante incipiente.
Chama a atenção a quantidade de coletivos existentes em Fortaleza. Os artistas parecem usar tal meio
como estratégia de fortalecimento para acessar, realizar, trocar ou simplesmente dialogar. Conversei
com coletivos formados por casal de namorados e grupos de seis pessoas.
No dia da minha comunicação, no CCBNB, foi também a abertura da mostra O Cinema dos Pequenos
Gestos (Des)Narrativas, com curadoria de Beatriz Furtado. A exposição demonstrou que existe uma
significativa produção de vídeo. Esse dado foi apontado pelo relato da edição anterior do Rumos.
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Na região do Cariri foram mapeadas as cidades de Juazeiro do Norte e Crato. A primeira é um polo
audiovisual no curso de arte e mídia e identifica a ênfase no cinema existente no curso e a precariedade
comercial, universitário e cultural. O Sesc, que mantém espaço expositivo nas duas cidades, e o Centro
tanto na formação como na produção dos docentes. Esse curso completa dez anos e o corpo docente
Cultural Banco do Nordeste incentivam artistas com apoio na produção de suas obras. As duas institui-
se organiza para uma reformulação de seu projeto curricular pela primeira vez.
ções dinamizam o circuito com eventos como o Cariri das Artes, promovido pelo Sesc, e o Agosto das
Artes, realizado pelo CCBNB. Essas instituições dispõem de espaços expositivos. Apesar da existência
Apresento aqui um posicionamento de Júlio Leite, artista atuante na cidade e que, até a edição ante-
de cursos de designer de produto (UFC) e o curso de artes visuais (Urca), são o Sesc e o CCBNB, além
rior do Rumos, manteve, desde 2004, na Galeria Cilindro, um site-specific. Essa galeria funcionava nas
dos próprios artistas, que contribuem de forma significativa no circuito da arte contemporânea. Lendo
paredes externas de um caixa eletrônico do Banco do Brasil na Praça Clementino Procópio. O artista
o relatório anterior, percebo que houve avanços na produção. Se antes “as investigações estavam foca-
não soube informar quem autorizou a retirada do caixa eletrônico, de formato cilíndrico, do local. Para
das na fotografia e na gravura com forte influência regional”, como apontou Bitu Cassundé, encontrei
o artista, “foi bom enquanto durou, mesmo que de forma completamente à margem da legitimidade
artistas realizando intervenções, uma expressiva produção de grafite, objetos e fotografia. No entanto, a
da instituição bancária. Às vezes é bom ser marginal – estar à margem do status dominante – e em-
carência de formação ainda é visível, exigindo um investimento para além dos cursos rápidos e projetos
preender um belo sistema de ações que possibilitem ao circuito da arte uma página bem escrita. Criar
curtos de formação. O Coletivo Malungo, no Crato, mapeado na edição anterior, deixou de existir.
um circuito nesse sertão com a Galeria Cilindro é algo legal, visto que muitos artistas acreditaram na
proposta e enviaram obras para o referido equipamento (Paulo Bruscky, Vania Mignone, Regina Silveira,
Por sua vez, Sobral mantém basicamente o mesmo perfil do mapeamento anterior. Com alguns pontos
Guto Lacaz, Carmela Gross...). Quanto ao Rumos, é uma fórmula cansada e repetitiva. Não oferece
bem comprometidos. Na quarta edição, o Museu Madi se encontrava fechado sem condições técnicas.
rupturas e indicação de possibilidades que possam romper com o mainstream da arte comercial. É tanto
Agora está completamente abandonado. As obras instaladas no exterior estão desgastadas e corroídas
que a Galeria Cilindro não entrou na sua concepção formal, na última edição”.
pela ferrugem. Algumas paredes de vidro desapareceram. A Escola de Comunicação, Cultura, Ofícios
e Artes de Sobral também está abandonada. Os artistas se ressentem da ausência de formação, de po-
Em Sousa, também está, há quatro anos, uma das unidades do CCBNB. Salta aos olhos o quanto faz diferença
líticas públicas para as artes visuais. O Salão Sobral de Artes Visuais existiu até a quinta edição e o Salão
a presença de um equipamento focado na arte contemporânea, articulando e fomentando a produção. Uma
Safra de Artes Visuais não acontece há anos. A novidade da cidade vem dos artistas que organizam
cidade com pouco mais de 60 mil habitantes coloca essa unidade do CCBNB no topo de maior número de
exposições e conseguem aprovar projetos nos editais nacionais (MinC).
público nas suas atividades. A produção dos artistas locais ainda tem muita necessidade de troca.
Em João Pessoa, a maioria dos jovens artistas que mapeei está na universidade, no curso de artes visuais.
A capital maranhense, São Luís, tanto na formação, quanto na produção em arte contemporânea, é bastante
Marta Penner, professora e selecionada pelo Rumos na segunda edição, realiza um trabalho que vai além
tímida. O Sesc, local em que ocorreu a oficina de portfólio, ainda é o melhor espaço expositivo da cidade. Na
dos muros da universidade, dialogando com os artistas sobre seus processos criativos. Na ocasião de mi-
ocasião de minha visita, estava em processo de montagem o II Salão de Artes Visuais do Maranhão, realizado
nha chegada, estava em cartaz, com curadoria de Marta, a exposição Voto Secreto, de Café Dias, dentro
pela Fundação Municipal de Cultura, organizado por pessoas contratadas para esse fim, pois nem a instância
do projeto Ciclo Jovens Artistas de João Pessoa na Aliança Francesa. Outro nome que se destaca é
estadual nem a municipal possuem um setor específico para as artes visuais. No tocante à formação, o IFMA
Dyogenes Chaves, articulador e organizador do Dicionário das Artes Visuais na Paraíba, disponível em
mantém um curso técnico em artes visuais e uma licenciatura. A produção artística apresenta uma pesquisa
<artesvisuaisparaiba.com.br>. O Energisa atua na formação e difusão da produção local. O Núcleo de
com referências modernas e regionais. Alguns artistas, assim como em Fortaleza e Natal, fazem curso de
Arte Contemporânea funciona em situação muito precária. O Espaço Cultural José Lins do Rego não
especialização a distância, promovido pelo Sesc denominado Artes Visuais: Cultura e Criação.
possui condições favoráveis de funcionamento. A galeria de arte da prefeitura de João Pessoa funciona
no Casarão 34, que tem exibido arte contemporânea na cidade.
Em Teresina, fiz a apresentação do programa Rumos na Casa de Cultura. Compareceram mais de
20 pessoas, a maioria dos presentes era estudante do curso de educação artística (licenciatura). Luiz
Em Campina Grande, o primeiro encontro aconteceu no auditório do Museu Assis Chateaubriand e
Gustavo Sousa de Carvalho (Gustavo São Jorge) solicitou alguns minutos para informar que o estado
estavam presentes cerca de 30 pessoas. O museu conta com um espaço expositivo focado na arte con-
do Piauí estava com o propósito de realizar uma bienal. Contudo, os equipamentos e os espaços exposi-
temporânea. No dia seguinte, fui à UFCG e conversei com os estudantes. A produção de arte contem-
tivos, de maneira geral, são precários, pouco cuidados. A Casa de Cultura, com espaços expositivos em
porânea, na cidade de Campina Grande, está voltada para o vídeo e os quadrinhos. O jornal A Margem,
vários ambientes, enfrenta problemas de infraestrutura para exibir as obras. O Salão de Teresina, na sua
ano 2, número 11, traz uma matéria assinada por Jhésus Tribuzi, que faz uma reflexão sobre a produção
17ª edição, tem formato bastante tradicional e uma premiação exígua. Por sua vez, o Museu do Estado
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Odilon Nunes possui em seu acervo peças antigas do período colonial ao atual. A nova gestão está
promovendo exposições de arte contemporânea e reformulando sua museografia.
O Núcleo do Dirceu (nucleododirceu.com.br), citado no mapeamento anterior, é um espaço de diálogo
e formação dos artistas contemporâneos de Teresina. Focado na dança e na performance, desenvolve
oficinas de vídeo, mantém programa de residência e realiza espetáculos. Gostaria de destacar a Oficina
de Pensamento que, desde 2010, acontece tomando as obras que estão em criação como pano de
fundo. No ano de 2011, no blog do núcleo, encontramos um texto explicativo que diz ser (a oficina) o
exercício de produzir conhecimento a partir do que cada um “sabe”, do que cruza, a partir de onde estão
e do que estão fazendo. A maioria dos jovens artistas com quem conversei e que desenvolve uma poética contemporânea tem, de alguma forma, uma passagem pelo Núcleo do Dirceu.
Dos espaços expositivos existentes na cidade de Natal, apenas o Núcleo de Arte e Cultura da UFRN mantém
um fluxo constante de exposições e também um edital de ocupação anual. A galeria da Fundação Cultural
Capitania das Artes e a Pinacoteca do Estado vivem grande crise, apresentando dificuldades em suas estruturas físicas e administrativas. O Centro Cultural Casa da Ribeira, que, dentre os espaços existentes, é o que
realmente se mantém focado na arte contemporânea, diminuiu seu espaço físico de exibição e não consegue
manter um fluxo nas exibições de exposição; já o Departamento de Artes da UFRN inaugura em 2012 um
espaço expositivo. Existe também na zona norte da cidade o Complexo Cultural de Natal integrado à Universidade Estadual do RN, que possui uma galeria e, lamentavelmente, não mantém uma programação. O Salão
de Artes Visuais da Cidade de Natal, que teve sua última edição em 2009, depois de 13 edições ininterruptas,
abriu edital no fim de 2011, sendo que a prefeitura enfrenta sérios problemas administrativos/éticos/financeiros.
A boa-nova de Natal é a oxigenação pela qual passa o departamento de artes da UFRN, com a chegada de novos professores e a implantação do curso de desenho industrial. O professor Fábio Oliveira,
que pediu demissão, criou o projeto interinstitucional Dez Dimensões: Diálogo em Rede, Corpo, Arte e
Tecnologia, que tem a UFRN como instituição-líder em parceria com a UFPB, o IFRN e a Fapern. Dez
meses e dez encontros alternados entre Natal e João Pessoa. Além dessa ação, há outras como a de
Laurita Salles que desenvolveu um projeto com sua turma junto à CBTU e resultou em uma intervenção
gráfica e midiática entre Natal e São Paulo (dentro do evento SP Estampa).
O Coletivo de Diretores ES3 (André Bezerra, Chrystine Silva, Felipe Fagundes, Yuri Kotke) é um grupo de
performers que organizam o BodeArte Circuito Regional de Perfomance, que em sua segunda edição, em
2011, contou com artistas de vários estados do Brasil. Para o ES3 o “evento surge com a intenção de mapear
os corpos em performance no Nordeste brasileiro, com a intenção de estabelecer uma rede consciente de
Diego de Santos
si.” Após a realização do evento, o coletivo tem viajado pelo Brasil apresentando o resultado do mapeamento
Caneta esferográfica sobre papel, 38 x 40 cm
Ballpoint pen on paper, 38 x 40 cm
(Tubo de Ensaio da UNB, PERFOR2) e participa no México do Encuentro do Instituto Hemisphérico de Per-
Sem Título, 2011
formance. É possível, em Natal, identificar uma jovem produção contemporânea com expressiva qualidade.
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Em Mossoró, o encontro com os artistas da cidade aconteceu na Biblioteca Pública Ney Lopes, e compareceram 15 pessoas. Depois da minha comunicação, o encontro foi pautado por questionamentos sobre
o edital e o critério da trajetória a partir de 2000. Na cidade, há um corredor cultural, que é um complexo
composto por uma biblioteca pública, teatro e galeria com estrutura de iluminação adequada para exibição
de trabalhos bidimensionais. Estava em cartaz uma exposição de fotografia, bastante descuidada – parte das
obras estava caindo. O pouco movimento existente no campo das artes visuais é provocado pelos próprios
artistas. São eles que articulam exposições, eventos, mobilizam instituições em torno de seus projetos.
Retornamos à pergunta: “Qual instituição tem, no Brasil, esse mapa da produção contemporânea dos
últimos dez anos?” Para um programa que objetiva “mapear, fomentar, formar e difundir” a jovem produção artística emergente do país, talvez ações nas cidades, com foco na formação, no mapeamento e
no fomento, fossem algo que colocasse o Rumos além da lógica das instituições financeiras.
São inúmeros os artistas que, em cidades com populações com pouco mais de 60 mil habitantes, estão
antenados com a produção contemporânea. Emergência no âmbito da ciência é um processo da natureza nada linear. Surgem de pequenas interações, às vezes insignificantes, aleatórias. Algo emerge quando
um sistema produz mais do que foi inserido nele. Isso para lembrar aqueles artistas que conseguem fazer
uma arte diferente de tudo que está sendo exibido na cidade. A voz dissonante, uma arte contemporânea que provavelmente não seria selecionada no Rumos, mas que, para aquela localidade, se torna uma
verdadeira oxigenação, uma aeróbica do sensível.
O que aconteceria se o Rumos, único no país, distanciando-se do formato de salão tradicional, focasse
suas ações nos outros objetivos previstos? E não apenas na difusão. O mapeamento poderia ser potencializado a partir de ações capazes de mobilizar vários agentes do sistema de arte (curadores, artistas,
críticos, montadores, produtores), em cidades com potencial na produção. Nesse sentido o Rumos não
estaria mais sintonizado com o espírito do agora?
SANZIA PINHEIRO BARBOSA é graduada em pedagogia; com especialização em filosofia, e tem mestrado
em ciências sociais pela UFRN. Foi professora substituta da UFRN 2002/2004. Integrou a Rede Nacional Funarte–2007, em Boa Vista, Roraima. Coordenou o Salão de Artes Visuais da Cidade de Natal (9ª e 13ª edições). É
membro do Colegiado de Artes Visuais (representação/nordeste). Entre os projetos de residências artísticas e
intervenção que coordenou, destacam-se: PANORAMA 8.0, 2004; VISUAIS-2005; DENcidade-2007 (Conexões
Artes Visuais MinC/Funarte); duas edições do PROSPECTA 2008–2009 (as quais integraram a Rede Nacional de
Artes Visuais MinC/Funarte). Manteve ao lado do artista Jean Sartief a coluna semanal “Fermentações Visuais”, do
jornal Tribuna do Norte, entre 2007 e 2009. Publicou textos nos catálogos do Projeto Tripé/2008 Sesc, da 10ª Bienal
Vinicius Dantas
BafoGanesh, 2011
Computador Vestível
Projeto eletrônico: Felipe Pedro da Costa Gomes
Wearable computer
Electronic design: Felipe Pedro da Costa Gomes
de Havana, 2009, e da Bienal de Porto Santo, Portugal, 2007. Coordenou o setor de artes visuais da Fundação
Cultural Capitania das Artes, entre 2009 e 2010.
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ALEJANDRA HERNÁNDEZ MUÑOZ
Em nível privado, as iniciativas são ainda mais escassas, já que as poucas galerias existentes na região
apenas dialogam (quando participam) no âmbito dos grandes circuitos do mercado nacional ou interna-
Nos últimos quatro anos, o cenário artístico da Região Nordeste 2, que compreende os estados
cional, sem possibilidade de encontros regionais que possam oferecer uma alternativa intermédia entre
de Alagoas, da Bahia, de Pernambuco e de Sergipe, tem ampliado seus alcances com ações
o nacional/internacional e o local.
concretas dirigidas à consolidação da oferta de formação artística, de circuitos de exposição e
de foros de discussão. Cada estado apresenta realidades muito heterogêneas e situações territo-
Na escala microrregional, as possibilidades são mais elípticas, com grande disparidade de oportunidades
riais, nas quais é necessário considerar contextos territoriais culturais mais largos e, também, cir-
entre os quatro estados. Salvador e Recife são os focos principais de referência, agenciamento e proposi-
cunscrições jurídico-administrativas tradicionais. Realizei visitas em dez itinerários, em função de
ção na região, com reverberações contínuas tanto nos cenários de seus próprios estados quanto de Ala-
realidades territoriais e culturais representativas de uma produção com elementos e dinâmicas
goas e Sergipe. Os principais centros de referência e promoção de arte contemporânea são os Museus de
particulares. Além de Aracaju, Maceió, Recife e Salvador e as cidades mais populosas, selecionei
Arte Moderna (MAM–BA em Salvador e Mamam em Recife). É necessário, porém, repensar as possibili-
mais 18 novos lugares. Ao todo, foram 28 cidades visitadas, quase o triplo de locais visitados pelo
dades de ampliações físicas que possam garantir tanto o crescimento institucional como de seus alcances
programa Rumos passado.
e interlocução intraestadual. Constata-se que ambas as instituições apresentam excelentes parcerias e
projetos em nível nacional e internacional, mas têm limitada influência nos circuitos estaduais.
A crescente afirmação da arte contemporânea brasileira tem reverberações diversas, tanto no mercado da arte internacional como na estrutura dos circuitos locais nacionais. A visibilidade de artistas
Em Maceió, as poucas iniciativas de mostras, formação e discussão provêm da Pinacoteca da Ufal. Já
oriundos do Nordeste é um corolário desse processo. Nas regiões metropolitanas de Salvador e Re-
em Aracaju, a principal mola propulsora da produção contemporânea é a Sociedade Semear, organi-
cife é possível identificar percursos mais ou menos consolidados que funcionam como canais de me-
zadora do I Salão Semear de Arte Contemporânea e do projeto Artes Visuais Sergipe: Conexões em
diação entre a produção local e as instâncias nacionais e internacionais. Aracaju e Maceió dependem
2010. Mas, a produção artística fora das capitais, tanto em Alagoas como em Sergipe, é muito incipiente
estreitamente desses cenários maiores, com iniciativas pontuais de promoção local dirigidas a mini-
e fortemente marcada pelo artesanato.
mizar as carências de estrutura de formação e de visibilidade dos artistas. Fora das capitais, porém, a
interlocução regional é mínima – no melhor dos casos restrita à promoção de alguns eventos –, com
Na Bahia, considerando-se a escassez de iniciativas privadas responsáveis pela promoção artística, de-
escassa ocorrência de linhas de ação duradoura e pouco foco crítico-reflexivo.
ve-se assinalar o papel desempenhado nos últimos anos pela Secretaria Estadual da Cultura (Secult) no
que diz respeito à articulação, administração e promoção de diferentes programas, espaços e recursos.
Em nível global, há várias instâncias dirigidas ao fortalecimento dos intercâmbios internacionais, algumas
Apesar do protagonismo dominante de Salvador, as diferentes articulações da produção baiana desen-
com mais de dez anos de atuação, como os programas da Fundação Sacatar, em Itaparica, e outras mais
volvidas pelos Salões Regionais de Artes Visuais e Bienal do Recôncavo, realizados desde 1992, têm sido
recentes, a exemplo do projeto Made in Mirrors, que envolve parcerias entre instituições pernambuca-
acompanhadas por um importante trabalho de inserção da Bahia no circuito internacional, por meio de
nas, holandesas, chinesas e egípcias. Outras iniciativas em expansão são os prêmios de residência e a
colaborações com eventos como a Trienal de Luanda e a Bienal de Havana. Urge, porém, a definição da
ampliação dos intercâmbios acadêmicos – de cursos e programas de artes visuais – entre as universida-
retomada da Bienal de Artes da Bahia e a criação de novas plataformas de diálogo nacional e interna-
des federais e as instituições estrangeiras.
cional, sobretudo no intercâmbio com os contextos latino-americano e africano.
No âmbito regional e nacional as iniciativas ainda são fragmentárias, porém parcerias, itinerâncias
Dentre as iniciativas privadas e, principalmente, fora dos grandes centros, a Galeria Arte & Memória, criada
e intercâmbios são promovidos mediante recortes de grandes eventos como Prêmio Marcantonio
em 2002 pelo artista plástico Marcos Zacaríades, é um exemplo precioso e uma boa demonstração do po-
Vilaça, Rumos do Itaú Cultural ou 29ª Bienal de São Paulo. Entretanto, a formação de coleções
der transformador da arte numa comunidade. No pequeno povoado de Igatu, perdido entre as montanhas
públicas de arte contemporânea é quase inexistente e mesmo os MAMs de Recife e Salvador, a
da Chapada Diamantina, com cerca de 380 habitantes, sem banco, sem farmácia, sem supermercado nem
Fundação Danemann de Cachoeira ou os MACs de Feira de Santana e Olinda, que contam com
transporte, não é exagero dizer que Zacaríades tira leite das pedras. Guardadas as devidas proporções, este,
estratégias de aquisição periódica ou dispõem de espaços próprios para exibição, pouco dialogam
que pode ser chamado de “primeiro curador do garimpo”, criou uma referência comunitária comparável à
entre si no sentido de intercâmbios e mostras que discutam a produção contemporânea regional
iniciativa do empresário Bernardo Paz com o Instituto Inhotim em Minas Gerais. Em Igatu, Zacaríades cons-
a partir de suas coleções.
truiu um museu e uma galeria de arte contemporânea entre ruínas de antigas casas de pedras, consolidando,
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Alan Adi
Revanche, 2011
Stills do vídeo, 5’25”
Still images from the video, 5’25”
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com os moradores do povoado, um acervo de utensílios usados por garimpeiros entre as décadas de 1930 e
1950. Entre as ruínas das velhas “locas” e habitações dos garimpeiros, se estruturam um jardim com esculturas
de arte contemporânea e agradáveis espaços de descanso com loja e café. Em termos físicos, o complexo é
um exemplo de articulação entre patrimônio ambiental, cultural e arquitetônico e projeto de sustentabilidade
socioeconômico-turístico-cultural. Em termos socioculturais, o centro é o principal aglutinador e dinamizador
da região. A galeria temporária exibe mostras com duração de dois a três meses, com afluência permanente
de pessoas (média de 2 mil visitantes por exposição), captando a maior parte do turismo que circula na região.
Em Pernambuco, o cenário artístico é mais independente do poder público estadual que o caso baiano, e pode-se dizer que a produção e a discussão artísticas são mais coesas em termos de articulação do sistema da arte
que na estrutura baiana. Instituições como a Fundação Joaquim Nabuco ou galerias privadas como a Amparo
60, a Dumaresq e a Mariana Moura têm um papel importante na focalização e promoção da produção emergente, não apenas por meio da realização de mostras como no incentivo ou acompanhamento de publicações,
como a revista Tatuí ou a editora Massangana. A instância competitiva mais tradicional é o Salão de Artes Plásticas, organizado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e realizado
desde 1942. Desde 2005, porém, a UFPE também organiza um salão de artes plásticas dirigido ao estímulo da
produção emergente, que tem sido uma instância frutífera para estudantes de artes e artistas iniciantes.
Alejandra Muñoz
A Casa Como Convém
Recife, 2011
Recife, 2011
Um dos eixos de atenção do mapeamento se concentrou no impacto das estratégias educacionais governamentais no cenário do Norte–Nordeste. Algumas estratégias do Ministério da Educação articuladas com
investimentos em recuperação patrimonial arquitetônica, a exemplo de Cachoeira, Laranjeiras e Penedo, estão
sendo propulsoras de novos polos de discussão de arte contemporânea e estão contribuindo para a descentralização do circuito das capitais. Na maioria desses casos, apesar de a discussão e a produção artística contemporânea serem ainda incipientes, deve-se alertar para a emergência de novas relações, a partir da afluência de
estudantes de várias partes do país, que promovem a renovação de repertórios e a consolidação de redes de intercâmbios, que contribuem para novos protagonismos além da macrocefalia dominante das capitais Salvador
e Recife. Em outros casos, como Lençóis, Rio de Contas, Porto Seguro, São Cristóvão e Marechal Deodoro, o
turismo cultural e de natureza tem atraído um público sazonal que estimula uma produção artística vinculada ao
artesanato, mas que pode oferecer novos horizontes para a arte contemporânea, desde que sejam realizados
investimentos dirigidos à formação e à discussão artística continuada para superar lógicas folclorizadas de duvidosa qualidade e simbolismos pasteurizados dirigidos ao imediatismo da “lembrancinha” ou souvenir.
Nesse sentido, os cursos de graduação e pós-graduação em artes, públicos ou privados, são importantes
focos de atração regional. Em que pese a existência de cursos de artes mais antigos (por exemplo, Ucsal,
Unifacs, Unijorge) ou o surgimento de novos cursos, como os da Aeso, em Olinda, da UFRB, em Cachoeira, e da UNIVSF, em Juazeiro, apenas a Escola de Belas Artes (EBA) da UFBA e a UFPE possuem
cursos de bacharelado em artes. O da UFPE foi implantado recentemente e oferece uma alternativa ao da
Aeso, privado, em Olinda. A EBA, segunda mais antiga do país, com quase 135 anos de história, tem um
Alejandra Muñoz
Galeria Arte & Memória
Igatu, 2011
Igatu, 2011
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curators
curadores
invitation to a journey
SANZIA PINHEIRO BARBOSA
papel importante na formação continuada de novos artistas, mas, nos últimos anos, registra escassa participação institucional e crítica no acompanhamento e produção efetiva da arte contemporânea. Deve-se,
também, destacar que nos quatro últimos anos houve uma ampliação significativa dos departamentos
Writing a report about the mapping of Brazil’s Northeast Region as part of a program which is now in its
educativos em algumas instituições. É necessário, porém, fortalecer a atuação e repensar as lógicas dos
fifth edition requires reading the previous reports. And after reading the catalogs from the second to the
editais e as convocatórias para cessão de pauta nas instituições culturais como Caixa Cultural, Santander,
fourth edition, it is possible to state that the characteristics of the contemporary art scene in this region (Rio
Sesc, Correios, Cervantes, Aliança Francesa, ICBA, ACBEU etc., para que os investimentos em trabalhos
Grande do Norte, Piauí, Ceará, Paraíba, Maranhão) vary widely due to the policies adopted by managers
educativos não se anulem diante da inexpressividade e qualidade de algumas mostras e atividades.
and to the artistic movements.
Relacionados com a questão formativa dos artistas, há pelo menos outros dois aspectos relevantes: o papel
Fortaleza is emblematic in this regard. Until the 3rd edition, the city had quite a fertile artistic community.
da crítica de arte regional e o acesso a material bibliográfico, além das referências eletrônicas. A imprensa
Nevertheless, over time, the policies adopted have not fostered a significant development. Therefore,
da região revela-se ainda acanhada. Não é raro encontrar os comentários sobre arte misturados às pautas
some losses and very few advances were observed in the region. The state of the artists’ output still
das colunas sociais ou limitados à divulgação de releases. Em geral, a crítica de arte não tem um espaço
reveals the need for information, interchange and mainly education; additionally, a glaring absence of
fixo que possa promover discussões e reflexões mais duradouras que a efemeridade das aberturas ou co-
public policies to support the visual arts was found, as mentioned in the 4th edition of Rumos. Some
quetéis de vernissages. Deve-se, porém, destacar o papel de publicações pernambucanas como a revista
state capitals, like São Luís, do not even have a specific visual arts segment. Nevertheless, I found people
Tatuí ou a linha editorial da Fundaj, bem como os cadernos e periódicos dos programas de pós-graduação
who have been able to organize actions that truly breathe life into the local landscape.
das universidades federais, impressos ou eletrônicos – ainda que estes últimos estejam mais comprometidos com a publicação de pesquisas acadêmicas em atendimento a critérios de produtividade da Capes
After mapping Juazeiro do Norte, Crato and Sobral, I headed to Fortaleza. Upon my arrival there, the artist
do que com a crítica da produção contemporânea. Já a carência de bibliotecas especializadas em arte e
Júlio Pimenta, editor of the Reticências Crítica de Arte magazine posed the following question: “How can this
atualizadas sobre a produção contemporânea encontra certo contraponto na consolidação de livrarias de
mapping help to build public policies for the visual arts?” I kept this question in my mind through the rest of the
rede (Saraiva e/ou Cultura nas capitais) e especializadas em artes (como a Galeria do Livro em Salvador).
journey to Paraíba, Maranhão and Rio Grande do Norte. With rare exceptions, I nearly always found precarious
O fenômeno das grandes redes que, por um lado, oferece um paliativo à carência da oferta institucional
conditions in terms of exhibition spaces, education, space for dialog and especially public policies. Perhaps the
pública e privada, por outro, uniformiza a oferta de referências mais ou menos atualizadas e desestimula a
question raised by Pimenta is not pertinent in the realm of the Rumos program. Nevertheless, I asked myself:
emergência de concorrentes que possam oferecer publicações alternativas.
what institution in this country has as broad a survey of the visual arts? The program has spanned ten years and
more than 50 cities and towns, including all of the state capitals across the country. If the database that has been
Diante do exposto, resta enfatizar que, mais que elencar quantitativa e sistematicamente os elementos que
built through it does not serve for designing public polices, what can it be used for?
constituem o circuito atual de arte na Região Nordeste 2 ou identificar uma relação de nomes e instituições
que contribuem para o debate artístico, meu trabalho de mapeamento esteve dirigido à leitura dos contex-
In the locations where the art community is more dynamic, there is a strong presence of institutions as is the
tos e dos processos que pautam a produção contemporânea e seus diversos níveis de circulação, fruição e
case of Fortaleza which, given the policies adopted by the Centro Cultural Banco do Nordeste [Banco do
reflexão. Após esta experiência, em que pesem as carências e as dificuldades apontadas, posso antecipar
Nordeste Cultural Center] (CCBNB), contributes significantly to the actions conducted by artists, as does
que o panorama é otimista, pois a região tem muitas sementes para futuras viagens.
Sesc [Social Service for Commerce] in the region of Cariri (Crato and Juazeiros do Norte).
In Paraíba, the course of study in visual arts at UFPB [Federal University of Paraíba] and the Usina
Cultural Energisa stimulate the artists and art professionals. In the interviews conducted, the name
ALEJANDRA HERNÁNDEZ MUÑOZ é arquiteta, mestre em desenho urbano e doutoranda em urbanismo pela
of professor Marta Penner was mentioned countless times by students. Teresina, the capital city, is
FAU/UFBA. Nasceu no Uruguai, mas reside em Salvador desde 1992. Foi professora substituta de história e teoria da
experiencing a time of possibilities opening. In addition to the Núcleo do Dirceu art center, which
arquitetura na FAU/UFBA, entre 1998 e 2001. Desde 2002, é professora efetiva de história da arte na EBA/UFBA, res-
focuses on dance but also has residency programs, classes and video art and performance produc-
ponsável pela disciplina de história da arte contemporânea. Vem desenvolvendo atividades de curadoria e crítica de arte e
tion, cultural managers demonstrate political will, perhaps because they are artists themselves who
participando de júris e comitês vinculados às áreas de artes e arquitetura.
participate actively in the city’s artistic community. Natal, in turn, is experiencing a breath of fresh
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air brought by the new professors of the course on visual arts at UFRN [Federal University of Rio
I delivered my talk at the CCBNB on the same day when the doors of the O Cinema dos Pequenos Gestos
Grande do Norte].
(Des)Narrativas [The Cinema of Small Gestures (Dis)Narratives] show were opened. Curated by Beatriz
Furtado, the show demonstrated that there is a significant video output. This fact was indicated in the
What is the importance of contemporary art for towns with little more than 60 thousand people as is
report of Rumos previous edition.
the case of Sousa in Paraíba? I believe that art, like science, creates symbolic spaces and times, which
allow us to support world views. Renaissance painting enabled the medieval mindset to build capacities
In the Cariri region, the towns of Juazeiro do Norte and Crato were mapped. The former is a com-
to welcome the new science. The rationality, found in the making of artworks, overruns life to the point
mercial, university and cultural hub. Sesc, which has an exhibition space in the two towns, and Centro
of affecting the sensory perceptions. “The emerging space of renaissance art opened a new symbolic
Cultural Banco do Nordeste encourage artists by supporting them in the making of their artworks. The
world that could be manipulated and investigated, in which new faithful and rich models of reality could
two institutions stimulate the local art community with events such as Cariri das Artes, promoted by Sesc
be constructed and studied” (SZAMOSI, Geza. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, p. 128). I believe that con-
and Agosto das Artes, organized by CCBNB. The two have exhibition facilities. Despite the existence of
temporary art can contribute significantly at this crucial moment that humanity is experiencing, which
courses in product design (UFC) and of visual arts (Urca), Sesc and CCBNB, in addition to the artists
urgently requires the building of another perception of reality.
themselves, are the ones who contribute significantly to fortifying the local contemporary art scene. After reading the previous report, I realized that the local output has made progress. While in the past “the
Fortaleza has the second busiest contemporary art community in the Northeast based at Centro Cul-
investigations were focused on photography and printmaking with a strong regional influence,” accord-
tural Banco do Nordeste (CCBNB) which, under Jaqueline Medeiros, is able to expand its coverage,
ing to Bitu Cassundé, I now found artists making interventions, meaningful output of graffiti, objects and
either by supporting the actions taken by the artists themselves, or by supporting independent spaces.
photography. Nevertheless, the lack of training opportunities was clear. This requires investment beyond
Apart from putting up its programming by means of calls for submissions from all over the country,
quick courses and short training projects. The Coletivo Malungo [Malungo Collective], in Crato, which
the CCBNB also holds Agosto das Artes [August of the Arts], which takes place in three cities where
was included in the previous edition, no longer exists.
CCBNB has branches (Fortaleza, Sousa and Juazeiro do Norte) and is currently in its 6th edition.
In turn, the profile of the municipality of Sobral has basically remained unchanged, with a few elements
The 2008 show Entregue às Moscas, by Coletivo Acidum, held at Centro Dragão do Mar de Arte
that are badly hurt. In the fourth edition, the Museu Madi [Madi Museum] was closed because it was not
e Cultura [Dragão do Mar Art and Cultural Center], exposes the current situation of the museum,
able to operate and it is now completely abandoned. The works made to the outside area are worn down
which in previous years used to be an important facility for supporting local contemporary art. An-
and rusting. Some glass walls are missing. The Escola de Comunicação, Cultura, Ofícios e Artes de
other key instrument for supporting the arts is the Alpendre circuit, which is also a major space for
Sobral [Sobral School of Communication, Culture, Crafts and Arts] is also abandoned. The artists feel
education and a niche for meetings and dialog among artists despite its past focused on the visual
the absence of training and public policies for the visual arts. The Salão Sobral de Artes Visuais [Sobral
arts. It currently brings together elements from other areas of the creative process with an emphasis
Visual Arts Salon] produced five editions and the Salão Safra de Artes Visuais [Safra Visual Arts Salon]
on video dance.
has not been held in years. What is new in town comes from artists who put up exhibitions and have their
projects winning the national calls for submissions of the Ministry of Culture.
On the day that I arrived in Fortaleza, the independent space Dança no Andar de Cima [Dance on the
Top Floor], which is focused on the visual arts, design, music, video and which attracts contemporary
In João Pessoa, most of the young artists that I mapped are taking visual arts at the university. Marta Penner,
young artists, was hosting a video show produced in Colombia. Another facility that is worth mention-
a professor who was selected in the second edition of Rumos, conducts work that goes beyond the university
ing is Sobrado José Lourenço [The José Lourenço House], a cultural center focused on the visual arts,
walls, establishing a dialog with artists about their creative processes. When I arrived, an exhibition curated
which has an exhibition space, library, auditorium and a café. The sale of contemporary art in Fortaleza
by Marta and called Voto Secreto [Secret Vote], by Café Dias, was on show at Alliance Française as part of
is quite incipient.
the Ciclo Jovens Artistas de João Pessoa [Young Artists Cycle of João Pessoa] project. Another artist that
stands out is Dyogenes Chaves, who is the articulator and organizer of the Dicionário das Artes Visuais na
The number of collectives in Fortaleza is noticeable. The artists appear to use them as part of a strategy
Paraíba [Dictionary of Visual Arts in Paraíba], available at the website <artesvisuaisparaiba.com.br>. Ener-
for strengthening access, the making of and interchange or simply for dialogs. I spoke with collectives
gisa arts center provides training and disseminates the local output. The Contemporary Art Department is
composed of couples (who happened to be lovers) and six-people groups.
operating very precariously. Espaço Cultural José Lins do Rego [José Lins do Rego Cultural Space] is also
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experiencing great difficulty. The art gallery owned by the municipality of João Pessoa is operating at the
a school which offers vocational courses in visual arts and a teacher’s license program. A survey with the
space called Casarão 34, which has exhibited contemporary art in the city.
current regional references of the artistic output is available. Just like Fortaleza and Natal, some artists
have been taking the distance learning course of a certificate program called Artes Visuais: Cultura e
In Campina Grande, my first encounter took place at the auditorium of Museu Assis Chateaubriand
Criação [Visual Arts: Culture and Creation], offered by Sesc.
[Assis Chateaubriand Museum] and some 30 people attended. The exhibition facilities of this museum are focused on contemporary art. The next day, I went to UFCG [Federal University of Campina
In Teresina, I presented the Rumos program at Casa de Cultura [Cultural House]. More than 20 people at-
Grande] and spoke with the students. The contemporary art output in the town of Campina Grande is
tended, most of them were students of the art education program who were preparing to be art teachers. Luiz
focused on video-making and comics. The A Margem journal, volume 2, number 11, has an article au-
Gustavo Sousa de Carvalho (a.k.a. Gustavo São Jorge) requested a few minutes to report that the state of
thored by Jhésus Tribuzi which examines the audiovisual works produced throughout the art and media
Piauí was planning to hold a Biennial. Nevertheless, the exhibition spaces and equipment in general are precari-
course, and singles out the emphasis put on the teaching cinema in the course and the substandard level
ous and poorly cared for. The Casa de Cultura, with exhibition spaces in various rooms, confronts infrastructure
of the faculty’s education and output. The course has been delivered for ten years and the faculty is now
problems to showcase artworks. The Salão de Teresina [Teresina Salon], in its 17th edition, follows a quite tra-
redesigning the curriculum for the first time.
ditional format and gives out puny awards. Meanwhile, the collection of the Museu do Estado Odilon Nunes
[Odilon Nunes State Museum] includes pieces ranging from the colonial period until the present time. The new
I present here the position of Júlio Leite, an artist who is active in town and whose site specific had been
administration is promoting exhibitions of contemporary art and redesigning its museographic project.
displayed at the Galeria Cilindro [Cylinder Gallery] since 2004 until the previous edition of Rumos. The
gallery consisted of the outside walls of a cylinder-shaped automatic teller machine of Banco do Brasil
Núcleo do Dirceu (nucleododirceu.com.br) [Dirceu´s Nucleus], mentioned in the previous mapping,
at Clementino Procópio Plaza. The artist cannot say who eventually authorized the removal of the teller
is a space for dialog and education of contemporary artists in Teresina. Focused on dance and perfor-
machine from the location, which terminated the project. He stated, “it was good while it lasted, even
mance, Núcleo offers video workshops, carries out a residency program and promotes shows. I would
by having a marginal existence with no legitimate approval of the banking institution. Sometimes it’s
like to draw the attention to Oficina de Pensamento [Thinking Workshop], which has been held since
good to be marginal – to be on the margin of the dominant status – and carry out a good set of actions
2010 using works in progress as its foundation. In 2011, we found a text in the Núcleo’s blog explaining
that provide the art world with a well-written page. To create a circuit in this hinterland with the Galeria
that the workshop is an exercise in producing knowledge based on what each one “knows,” with what
Cilindro was really cool, given that many artists believed in the proposition and sent works to the facil-
one comes across, on where one is and what one is doing. Most of the young artists who I spoke with
ity mentioned (Paulo Bruscky, Vania Mignone, Regina Silveira, Guto Lacaz, Carmela Gross...). As to
in the city and who express a contemporary poetic have, in some way, attended the Núcleo do Dirceu.
Rumos, it is a tired and repetitive formula. It does not offer any ruptures or indicate possibilities that
could break away from the mainstream of commercial art – so much so that the Galeria Cilindro was not
Out of the exhibition spaces found in the city of Natal, only the Núcleo de Arte e Cultura [Art and Culture
included in its formal conception in the last edition.”
Center] at UFRN [Federal University of Rio Grande do Norte] maintains a regular program of exhibitions and also promotes a call for submissions that ensures year-round use of its facilities. The gallery of
For four years, Sousa has also had a branch of the CCBNB. It is really striking to see the difference it makes
Fundação Cultural Capitania das Artes [Capitania das Artes Cultural Foundation] and Pinacoteca do
to have equipment focused on contemporary art, which also organizes and supports the output. A town
Estado [State Pinacotheca] are experiencing a deep crisis, with difficulties in their physical and administra-
with just over 60 thousand people shows this unit of CCBNB on the top of the list of those with the highest
tive structures. Centro Cultural Casa da Ribeira [Casa da Ribeira Cultural Center], which is that which has
attendance at its activities. The great need of interchange is mirrored in the works made by the local artists.
truly remained focused on contemporary art among the existing spaces, has shrunk its physical space for
exhibitions and has been unable to maintain a steady flow of exhibitions. Meanwhile, the art department at
In São Luis, the capital of Maranhão state, both contemporary art education and output is quite limited.
UFRN opened an exhibition space in 2012. In the northern region of the city we can also find the Complexo
Sesc, which hosted the portfolio workshop, is still the best exhibition venue in the city. At the time of my
Cultural de Natal [Natal Cultural Complex], as part of Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
visit, the II Salão de Artes Visuais do Maranhão [2nd Visual Arts Salon of Maranhão] was being installed.
[State University of Rio Grande do Norte]. It holds a gallery, yet unfortunately, does not have a regular pro-
It is run by the Fundação Municipal de Cultura [City Cultural Foundation] and organized by people
gram. The Salão de Artes Visuais da Cidade de Natal [Visual Arts Salon of the City of Natal], which held
hired for this purpose only, because neither the state nor the municipal governments have a specific
its last edition in 2009 after 13 straight years of shows, announced a new call for submissions in late 2011,
body dedicated to the visual arts. Concerning education, the IFMA [Federal Institute of Maranhão] runs
although the municipal government has been facing serious administrative, ethical and financial problems.
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The good news about Natal is that fresh air is blowing into the arts department at UFRN with the coming of
temporary art piece that probably would not be selected for Rumos, but one that effectively breathes
new professors and the implementation of an industrial design course. Professor Fábio Oliveira, who left the
new life in, offers an aerobics of sensitiviness for that location.
school, created the Dez Dimensões: Diálogo em Rede, Corpo, Arte e Tecnologia [Ten Dimensions: Dialog
in Network, Body, Art and Technology] project. This is an inter-institutional project under the leadership of
What would happen if Rumos, as unique in Brazil as it is, moved away from the traditional salon format
UFRN conducted together with UFPB, IFRN and Fapern [State of Rio Grande do Norte Foundation of
and targeted actions on other objectives set? And not only on dissemination. The mapping outcome
Support to Research] comprising ten meetings spanned ten months and alternating between Natal and
could be maximized by means of actions capable of mobilizing various agents of the art system (cu-
João Pessoa. Additionally, other actions should also be taken into account, such as that of Laurita Salles,
rators, artists, critics, installers and producers) in cities and towns with output potential. In this sense,
who implemented a project with her class at CBTU [Brazilian Company of Urban Trains] that resulted in a
wouldn’t Rumos be more in tune with the present-time spirit?
graphic and media intervention linking Natal and São Paulo (as part of the event SP Estampa).
Coletivo de Diretores ES3 [The ES3 Directors Collective] (composed of André Bezerra, Chrystine
Silva, Felipe Fagundes and Yuri Kotke) is a group of performers who organize the BodeArte Circuito
SANZIA PINHEIRO BARBOSA holds a BA in educational theory and practice, has taken a certificate program
Regional de Perfomance [BodeArte Regional Performance Circuit], which included artists from several
in philosophy and holds an MA in social sciences from UFRN. She was a substitute professor at UFRN in the period
Brazilian states in its second edition in 2011. For ES3, the “event emerged with a focus on mapping the
of 2002-2004 and a member of the National Funarte Network-2007, in Boa Vista, Roraima. She coordinated the
bodies performing in Northeastern Brazil in order to establish a self-awareness network.” After the event,
Salão de Artes Visuais da Cidade de Natal [The Visual Arts Salon of the City of Natal] (9th and 13th editions).
the collective has traveled across Brazil presenting the result of the mapping (Tubo de Ensaio da UNB,
She is a member of the Colegiado de Artes Visuais [Visual Arts College] (representing the Northeast). She has
PERFOR2) and participated in the Encuentro do Instituto Hemisphérico de Performance [Meeting of
coordinated a number of arts residency programs and intervention projects, including PANORAMA 8.0, 2004; VI-
the Hemispheric Performance Institute], in Mexico. In Natal, a new contemporary output of meaningful
SUAIS-2005; DENcidade-2007 (Conexões Artes Visuais [Visual Art Connections] MinC/Funarte); two editions
quality can be identified.
of PROSPECTA 2008-2009 (which are part of the Rede Nacional de Artes Visuais [National Visual Arts Network]
MinC/Funarte). Alongside artist Jean Sartief she contributed to the “Fermentações Visuais” weekly column, pub-
In Mossoró, the meeting with the local artists took place at Biblioteca Pública Ney Lopes [Ney Lopes Public
lished in the Tribuna do Norte newspaper, from 2007 to 2009. She also wrote texts published in the catalogs of Projeto
Library] and 15 people showed up. After my talk, questions were raised about the criteria for the call for
Tripé [Tripod Project]/2008 Sesc, the 10th Havana Biennial, 2009, and the Porto Santo Biennial, Portugal, 2007. She
submissions and how it has evolved since 2000. The city has what is known as its cultural corridor, which is
was the coordinator to the visual arts department at Fundação Cultural Capitania das Artes from 2009 to 2010.
a complex comprising a public library, a theater and a gallery with lighting facilities suitable for presenting
two-dimensional works. A photography exhibition was on show but poorly cared for, some of the works
were falling. What little movement there is in the field of the visual arts is provoked by the artists themselves.
They are the ones who organize exhibitions, events and mobilize institutions around their projects.
ALEJANDRA HERNÁNDEZ MUÑOZ
We go back to the question: “Which institution in Brazil has this mapping of contemporary output from
In the past four years, the artistic landscape of the Northeastern Region 2, comprising the states of
the past ten years?” For a program that seeks to “map, foster, educate and disseminate” the emerging
Alagoas, Bahia, Pernambuco and Sergipe, has expanded its boundaries by means of concrete actions
young artists of this country, perhaps actions in the cities focused on training, mapping and fostering
aimed at consolidating the supply of art education, exhibition circuits and discussion forums. Each state
would allow Rumos to go beyond the logic of financial institutions.
has quite heterogeneous realities and territorial situations in which it is necessary to consider broader
cultural territorial contexts, as well as traditional legal-administrative circumscriptions. My visits followed
There are a number of artists living in towns with populations of little more than 60 thousand people who
ten itineraries designed according to the territorial and cultural realities from which an artistic output in-
are in tune with the contemporary output. Emergence in the realm of science is a nature process that is
corporating elements and dynamics of their own could be sampled. Apart from Aracaju, Maceió, Recife,
not at all linear. New developments arise from small – at times insignificant and random – interactions.
Salvador and the most populous towns, I selected an additional 18 locations. Altogether, a total of 28
Something emerges when a system produces more than the input. This is to recall those artists who are
cities were visited, nearly three times the number of visits of the previous Rumos program.
able to make art that is different from everything being exhibited in the city. The dissonant voice, a con-
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The growing consolidation of the Brazilian contemporary art has diverse impacts, both on the international art
On the one hand, the few initiatives of shows, education and discussion in Maceió arise from the Pinaco-
market and on the local Brazilian market structure. The visibility of artists from the Northeast derives from this
theca at UFAL [Federal University of Alagoas]. In Aracaju, on the other hand, the main driving force back-
process. In the metropolitan areas of Salvador and Recife, it is possible to recognize more or less consolidated
ing the contemporary art output is the Sociedade Semear [Semear Society], which organized the I Salão
routes that serve as channels interfacing with the local output and the national and international spheres. Ara-
Semear de Arte Contemporânea [1st Semear Salon of Contemporary Art] and the Artes Visuais Sergipe:
caju and Maceió are strongly dependent on these broader landscapes for they only have isolated initiatives for
Conexões [Sergipe Visual Arts: Connections] project in 2010. Nonetheless, the artistic output outside of
local promotion aimed at improving the educational framework and enhancing the visibility of artists. Outside
the capital cities, both in Alagoas and in Sergipe, is very incipient and strongly marked by handicrafts.
the capital cities, however, the regional dialog is minimal – in the best of cases it is limited to the promotion of
a few events – with scarce long-lasting lines of action and little focus on the critical-reflectional thinking.
In Bahia, in view of the scarcity of private initiatives for artistic promotion, it is important to highlight the
role played in recent years by the State Secretariat of Culture (Secult) in the planning, administration
On a global level, there are several efforts geared to strengthen international exchanges, some of which
and promotion of different programs, spaces and resources. Despite the dominant role of Salvador, the
spanning more than ten years, like the programs of Fundação Sacatar [Sacatar Foundation], in Itaparica,
various achievements of the art output in Bahia resulting from the Salões Regionais de Artes Visuais
and other more recent ones, such as the Made in Mirrors project, which is based on partnerships be-
[Regional Salons for the Visual Arts] and the Bienal of Recôncavo [Recôncavo Biennial], held since
tween Pernambucan, Dutch, Chinese and Egyptian institutions. Other expansion initiatives include
1992, have been taking place at the same time when important efforts have been made to introduce
awarding artists residency programs and the broadening of academic exchanges – by visual arts courses
the Bahian artists in the international market by means of collaborations with events such as the Trienal
and programs – between federal universities and foreign institutions.
de Luanda [Luanda Triennial] and the Bienal de Havana [Havana Biennial]. There is an urgent need to
revive the Bienal de Artes da Bahia [Bahia Art Biennial] and to create new platforms for national and
On the regional and national level, the initiatives are still fragmented, although partnerships, traveling
international dialogs, particularly for an exchange with the Latin American and African contexts.
and exchanges have been promoted as an appendix of large events such as Prêmio Marcantonio Vilaça
[Marcantonio Vilaça Award], Rumos program of Itaú Cultural or the 29th São Paulo Art Biennial. Nev-
Among the private initiatives and particularly outside the large urban centers, Galeria Arte & Memória
ertheless, the formation of public collections of contemporary art is nearly non-existent. Similarly, the
[Art & Memory Gallery], created in 2002 by fine artist Marcos Zacaríades, is an important example and
Museums of Modern Art of Recife and Salvador, Fundação Danemann de Cachoeira [Danemann de
a good demonstration of the transformating power of art over a community. In the small village of Igatu,
Cachoeira Foundation] or the Museums of Contemporary Art of Feira de Santana and Olinda, which
hidden in the mountains of the Chapada Diamantina and with some 380 inhabitants, no bank, pharmacy,
have strategies for periodic acquisition or have their own exhibition spaces, hardly ever communicate
supermarket or public transportation, it is no exaggeration to say that Zacaríades does get blood out of a
with each other to implement exchange programs and host exhibitions encouraging a discussion on the
stone. Considering the situation, he can be called the “first prospector-curator” because he created a com-
regional contemporary output based on pieces of their own collections.
munity benchmark comparable to the businessman Bernardo Paz’s initiative with Instituto Inhotim [Inhotim
Institute], in Minas Gerais. In Igatu, Zacaríades built a museum and a contemporary art gallery in the middle
Private initiatives are even scarcer, given that the few galleries in the region only establish a dialog (when
of the ruins of old stone houses. With this initiative, the residents of the village and Zacaríades have been
they participate at all) with the large Brazilian or international markets, thus giving no chance for regional
able to build up a collection of utensils used by prospectors from the 1930s to the 1950s. Among the ruins
gatherings, that would offer an intermediary alternative between the national-international and the local.
of the old hideaways and housing of the prospectors, there is a garden with contemporary sculptures and
pleasant areas for relaxing with a store and café. In physical terms, the complex is an example of a joint ef-
On a micro-regional scale, the possibilities are more elliptical, with a great difference of opportunities
fort between environmental, cultural and architectural heritage and a project for social, economic, touristic
among the four states. Salvador and Recife are the main points of reference, intermediation and proposi-
and cultural sustainability. From the social and cultural perspective, the center is the main hub and driving
tions in the region bringing about continuous impacts on their own states and in Alagoas and Sergipe.
force in the region. The temporary gallery holds two-to-three-month shows with a permanent attendance
The main centers of reference and promotion of contemporary art are the Museums of Modern Art
averaging 2 thousand visitors per exhibition, thus attracting most of the tourists visiting the region.
(MAM-BA in Salvador and Mamam in Recife). It is necessary, however, to reconsider the possibilities
for physical expansions that can ensure both institutional growth as well as their intrastate reach and
Compared to Bahia, Pernambuco can be said to have an artistic community that is more independent
interlocution. Both institutions have excellent partnerships and projects on a national and international
of the state government and also that the artistic output and discussions are more consistent towards
level, but have limited influence within the community of artists in each state.
building art-oriented actions. Institutions like Fundação Joaquim Nabuco [Joaquim Nabuco Founda-
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tion] and private galleries, like Amparo 60, Dumaresq and Mariana Moura, play a major role in turning
the cultural institutions, such as Caixa Cultural, Santander, Sesc, Correios, Cervantes, Alliance Française,
the spotlight on emerging artists and promoting them not only by putting up shows but also by giving
ICBA, ACBEU and so forth. By doing this, investments in education will not be written off in view of the
encouragement or following up on publications, like the Tatuí magazine or the Massangana publishing
insignificance and poor quality of some of the shows and activities.
house. The most traditional competitive space is Salão de Artes Plásticas [Fine Arts Salon], organized
by Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco [Foundation for the Historic and Ar-
Regarding to the issue of artists education, there are at least two other relevant factors: the role of regional
tistic Heritage in Pernambuco] (Fundarpe) and held since 1942. Since 2005, however, UFPE has also
art critics and access to bibliographic material, in addition to the electronic references. The press in the
organized a similar salon aimed at stimulating the emerging output, the outcome of which has been very
region still shows little interest in the art world. News about art is often mingled with social columns or
beneficial to art students and beginning artists.
just limited to press releases. By and large, art critics do not have a fixed space to promote a debate and
inputs that could last more than the ephemeral openings or cocktail parties at the vernissages. However, it
One of the focuses of the mapping is on the impact of government educational strategies in Brazil’s
is important to highlight the role of Pernambucan publications, such as the Tatuí magazine or the editorial
North and Northeast. Some strategies from the Ministry of Education combined with investments for
line adopted by Fundaj [Joaquim Nabuco Foundation], as well as journals and periodicals from graduate
the restoration of architectural heritage, such as those in Cachoeira, Laranjeiras and Penedo, have trig-
programs at the federal universities, whether printed or online – although the latter is strongly related to
gered new debates on contemporary art and are contributing to disperse the artistic activity from the
the publication of academic researches to meet the productivity criteria required by Capes [Coordina-
capitals. In most of these cases, although the discussion and the contemporary art output are still in the
tion for the Improvement of People of Higher Education] than to reviews of contemporary artworks. The
early stages, attention should be drawn to the new relations built with the incoming students from dif-
deficiency of art-specialized libraries that are up to date with contemporary works is somehow offset by
ferent parts of the country. This favors the renovation of repertoires and the consolidation of exchange
the consolidation of chain bookstores (Saraiva and/or Cultura in the capitals) and those specialized in the
networks, thus bringing about the appearance of new protagonists in addition to the dominant mac-
arts (like Galeria do Livro, in Salvador). On the one hand, the phenomenon of the large bookstore chains
rocephaly found in the capital cities of Salvador and Recife. In other locations, such as Lençóis, Rio de
serves as a stopgap considering the shortage of public and private institutional supply, whereas, on the
Contas, Porto Seguro, São Cristóvão and Marechal Deodoro, nature-focused and cultural tourism have
other hand, it homogenizes the supply of reading material that are more or less updated and discourage
attracted a seasonal audience that stimulates a handicraft-oriented art output. This, however, can also
the emergence of competitors that could offer alternative publications.
offer new horizons to contemporary art, provided that investments are made in training and promoting a
continued art discussion to overcome folkloric concepts of dubious quality and pasteurized symbolisms
Based on the foregoing reasons, it should be emphasized that, more than quantitatively and systematically
with merely the immediate purpose of producing souvenirs.
listing the elements that make up the current art landscape in the Northeastern Region 2, and beyond
identifying a list of names and institutions that contribute to the art-related debate, this mapping focused
In this sense, the undergraduate and graduate art courses, whether public or private, are major points of
on reading through the contexts and processes forming the backdrop of the contemporary output and its
regional attraction. Despite the existence of older art courses (for example those at Ucsal [State Univer-
different levels of circulation, fruition and reflection. After this experience, despite the needs and difficulties
sity of Health Sciences in Alagoas], Unifacs [Salvador University], Unijorge [Jorge Amado University
mentioned, I can state that the overall picture is optimistic as the region has many seeds for future travels.
Center]) or the rise of new ones – like those at Aeso [Barros Melo Integrated Colleges], in Olinda; UFRB
[Recôncavo da Bahia Federal University], in Cachoeira; and Univasf [Federal University of the São Francisco Valley], in Juazeiro – the Escola de Belas Artes [School of Fine Arts] (EBA) at UFBA [Bahia Federal
University] and UFPE [Pernambuco Federal University] are the only institutions to have bachelor’s de-
ALEJANDRA HERNÁNDEZ MUÑOZ is an architect with a master’s degree in urban design and a doctor’s de-
gree programs in arts. That of UFPE was recently implemented and turns out an alternative to the private
gree candidate in urbanism at FAU [College of Architecture and Urbanism]/UFBA [Federal University of Bahia].
course at Aeso, in Olinda. EBA, the second oldest in the country with nearly 135 years of history, plays an
She was born in Uruguay, but has lived in Salvador since 1992. She was a substitute professor of architecture history
important role in the continued education of new artists. In recent years, though, the institution has been
and theory at FAU/UFBA from 1998 to 2001. Since 2002 she has been a professor of art history at EBA/UFBA
quite inactive and attracted criticism regarding follow-up of and contribution to an effective output of
and responsible for contemporary art history`s discipline. She has been working as a curator, art critic and also as a
contemporary art. It should also be pointed out that, in the past four years, the educational departments in
member of jury panels and committees in the fields of art and architecture.
some institutions have significantly expanded. Nevertheless, the mindset behind the calls for submission
needs to be rethought and the resulting outcomes should be reinforced for an improved programming at
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VÂNIA LEAL MACHADO
A ARTE NA AMAZÔNIA: uma região em si, o sentido desse lugar.
Um fato de grande relevância, e que permeia e norteia muitas hibridações e mestiçagens no mundo
contemporâneo, é aquele que indaga sobre o papel da diferença das culturas, identidades e subjetividades. Um suporte fértil para o artista contemporâneo, que parte para a experimentação de objetos,
espaços, materiais e diálogos, em que antes não cabia a arte, colocando-a num campo de possibilidades,
múltiplo, aparentemente desprovido de metodologias ou injunções, no ambiente (lugar) como poética
de um fazer indutivo. Acredito que esse ambiente, por ser plural, demanda uma interpretação, um esforço aplicativo, uma vontade de estabelecer uma relação. O artista opera sobre o ambiente por meio
das coisas e das pessoas nele dispostas. Dentro desse contexto, no campo artístico da atualidade, eu
entendo que o contato do artista com diferentes grupos, com a condição do humano nas práticas e nas
experiências cotidianas, promove novas narrativas identitárias.
Nesse sentido reporto-me à paisagem amazônica com seus elementos poéticos, políticos e sociais. Esse
ambiente tão longínquo no imaginário de muitos, até mesmo de seus habitantes, é a proponente de
REGIÃO norte
muitos diálogos.
A Amazônia é um todo heterogêneo que abriga complexidades. Sua biodiversidade e seu cotidiano tão
cheio de saber proporcionam um ambiente subjetivo. E os muitos lugares desse lugar exigem leituras
espontâneas possíveis apenas com a vivência e o contato com esse ambiente. Acredito na importância
de conhecer, e apreender o “interior” do lugar cotidiano, esse lugar que é comum para os seus habitantes
e onde se estabelece um vínculo afetivo.
Paulo Herkenhoff diz que “uma tarefa da arte na Amazônia é a violentação da violência que ocorre na região”
(Herkenhoff, Paulo. Amazônia, A Arte, Rio de Janeiro: Imago, 2010. p. 96) e eu complemento: para entender
essa complexidade, temos de nos preocupar cada vez mais em entender os dados brutos, os movimentos
socioeconômicos que regem com novas regras os mercados científicos e artísticos. O artista da Amazônia é
depositário de uma herança cultural e de valores; também testemunha cotidianamente uma experiência dramática e perversa. Como conciliar desenvolvimento, respeito às populações tradicionais (índios, ribeirinhos,
quilombolas e outros grupos), ecologia, sustentabilidade, progresso, conhecimento, justiça social e geopolítica?
Com esse desafio lancei-me na Região Norte. Observei do alto do avião a dimensão da floresta e, ao adentrar esses espaços, compreendi o conceito de “inferno verde”, empregado por Euclides da Cunha em sua
obra O Paraíso Perdido, Ensaios Amazônicos em que faz uma alusão às difíceis condições de vida na floresta.
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Os artistas têm uma intimidade com o valor simbólico do lugar. Verifiquei a diversidade cultural de
caipira e desbotado, o vestido de plástico, o louro de louça, o piso de tacos e uma imensa faixa de balas;
tempos para lá de assincrônicos e a floresta ditando suas regras. No entanto, o Acre não é Belém, e no
talvez tentem apontar as incongruências do nosso Brasil, de nossa América Latina. Em outro momento
sudeste do Pará, em Marabá, e a oeste Santarém configuram-se identidades independentes. O Amapá
no trabalho Quando Todos Calam (2009), Grande Prêmio do Arte Pará, a artista inscreve seu corpo nu
faz fronteira com a Guiana Francesa e a migração de ritmos é incrível. Cada vez mais o borramento
na paisagem do Mercado Ver-o-Peso. Deitada sobre uma toalha branca de renda, com vísceras sobre o
acontece. Misturam-se línguas, culturas e identidades, possibilitando trocas especiais e peculiares.
ventre, atraindo urubus, que sobrevoam ansiosos pela carne.
A Amazônia hoje não é mais uma simples fronteira de expansão de forças exógenas nacionais ou internacio-
Eder Oliveira se apropria de imagens publicadas em jornais, de pessoas vitimadas pela violência, margi-
nais, mas sim uma região no sistema espacial nacional, com estrutura produtiva própria e variados projetos de
nais, para assim pintá-las em grandes dimensões numa proposição de intervenção pictórica aplicada em
diferentes atores. A sociedade civil passou a ser um ator importante, tanto na zona rural como na zona urba-
lugares estratégicos da cidade.
na, especialmente por suas reivindicações de cidadania, que influem até mesmo no desenvolvimento urbano.
As estratégias de inserção e circulação de muitos desses artistas paraenses vêm sendo concebidas por
Belém é a cidade que alimenta contornos gigantescos quando falamos em Amazônia, sendo esse lugar
curadores e críticos, que legitimam a consistência de seus trabalhos que, a meu ver, têm de seus territó-
fragmento urbano na floresta. É a capital mais antiga da Amazônia, e tem seu posto de mãe por ter sido
rios a consistência em seus discursos.
a primeira porção de terra em meio à floresta em que os colonizadores aportaram e na qual se fixaram.
O lugar sempre despertou interesse de pesquisadores, naturalistas e botânicos.
Dessa forma, pensar a arte contemporânea enquanto fator social do fenômeno humano é considerar
a existência de práticas humanas como um fazer artístico, atravessando campos reflexivos da filosofia,
No Pará, como em toda a Amazônia, história e imaginário se entrelaçam, se aliam, se integram com as
das artes e das ciências. Reafirmo que, aplicar essa reflexão à realidade paraense-amazônica, vai muito
margens de um mesmo rio cotidiano. Acredito que a arte do Pará inventa estratégias que atravessam o
além das teorias propostas, pois é o pensar de quem habita, de quem mora, de quem é “permanente e
fazer artístico com um forte acento conceitual. A alma visível amazônica está no convívio nacional e inter-
contínuo” que vai ensinar e mostrar o produto imaginário a quem visita, a quem chega, a quem é “cir-
nacional da produção artística de alguns profissionais que foram influenciados pelo convívio com os artistas
cunstancial”. Nesse campo de relações, a arte na Amazônia valoriza e transforma, cria um duplo movi-
João de Jesus Paes Loureiro, Emannuel Nassar, Luiz Braga e Osmar Pinheiro, que nos anos 1980 pensaram
mento pelo qual o novo surge sem destruir o antigo. Está inserida na paisagem pós-moderna e provoca
e utilizaram em seus trabalhos elementos classificados por alguns de “visualidade amazônica”. Porém, no
a dialética entre regionalidade e universalidade, passado e futuro, identidade e multiculturalismo, enfim,
catálogo Arte Pará 2005, Herkenhoff alerta os artistas emergentes contra a burocratização do olhar e sobre
uma região multifacetada em si. Como muito bem disse Milton Santos em entrevista no livro Encontros:
a possibilidade de transformação da visualidade amazônica em parâmetros acadêmicos fáceis. O que ele
“Daqui ou do Congo, posso pensar o mundo como um todo. Produzir um conceito, uma ideia e um
classifica de suicídio. Um fator relevante do desprendimento dessa atitude cultural foi a criação da Fotoativa
sistema de mundo. Não é mais o nacionalismo anterior. É produção da ideia de mundo que tem base no
na década de 1980. Os artistas passaram a ampliar seus repertórios, sem se restringir apenas à região.
território e da minha cultura.” (SANTOS, Milton. Encontros (Org. Maria Ângela Faggin Pereira Leite).
São Paulo: Azougue, 1999. p. 133)
Ressalto aqui, dentre muitos outros artistas, Flavya Mutran, Armando Queiroz, Alexandre Sequeira,
Paula Sampaio, Walda Marques, Orlando Maneschy, Alberto Bitar, Miguel Chikaoka, Mariano Klautau,
Luiz Braga, Emanuel Nassar, Guy Veloso, que têm obras em acervos importantes e participam de mostras nacionais e internacionais, além de bienais. E na geração emergente: Melissa Barbery, Roberta
De Belém para Marabá – Dias e noites do Norte
Carvalho, Luciana Magno, Victor de La Roque, Berna Reale, Daniele Fonseca, Keila Sobral, Murilo
Rodrigues, Carla Evanovitch, Lucia Gomes, João Cirilo, Elaine Arruda, Eder Oliveira, Michel Pinho,
A região de Marabá tem algo de excepcional. Será que é pela vista de cima que mostra o ponto de en-
entre outros, operam com seus campos que abarcam questões políticas, sociais, históricas e, em algumas
contro entre dois grandes rios, Tocantins e Itacaiunas, formando uma espécie de “y” no seio da cidade?
situações, de gênero.
Será que é pela oportunidade de entrar em contato com culturas diversas, pois é uma cidade de grande
miscigenação de pessoas e culturas, que faz jus ao significado popular do seu nome: “filho da mistura”?
As performances de Berna Reale, orientadas para a fotografia em alguns recortes, constroem uma ima-
Ou, então, porque a cidade também é conhecida como Cidade Poema, pois seu nome foi inspirado no
gem austera da mulher, condecorada com balas em um ambiente ambíguo. O tecido de um exotismo
poema Marabá de Gonçalves Dias?
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É um município brasileiro situado no interior do estado do Pará, pertencente à mesorregião do sudeste
Visitei o Centro de Cultura Negra, o Teatro das Bacabeiras, o Centro Cultural Franco Amapaense,
paraense e à microrregião homônima, e situa-se ao sul da capital do estado, distando desta cerca de
o Curiaú e o Marco Zero, que nos coloca ao mesmo tempo nos hemisférios Norte e Sul do planeta.
500 quilômetros. Hoje, Marabá é interligada por três rodovias ao território nacional (BR-222, BR-230 e
Conheci o grupo Urucum e foi interessante ouvir dos artistas a importância do curso de artes visuais
PA-150), por via aérea, ferroviária e fluvial.
na cidade como contato e experimentação da linguagem contemporânea. Entre os artistas presentes
estavam Cristiana Menezes, Aog Rocha, Miguel Ferreira, Grimualdo Barbosa, Ronne Dias, Natasha
Atualmente, o município é o quarto mais populoso do Pará, contando com aproximadamente 250 mil
Parlagreco, Wagner Ribeiro, Agostinho Josaphat, Jenifer Nunes e Josiane Ferreira.
habitantes, segundo o IBGE/2010. É o principal centro socioeconômico do sudeste paraense e uma das
cidades mais dinâmicas do Brasil.
Decolo de Belém para o Acre – Rio Branco – e não imaginava que fosse um percurso tão longo. E logo
vi a exuberância da floresta.
O Galpão de Artes de Marabá é um ponto de cultura importante que promove ações voltadas para a
cultura do povo marabaense. Lá, fui recebida pela Associação dos Artistas de Marabá, uma das entida-
O Acre é o centro da pan-amazônica, está integrado aos demais estados do Brasil, à Bolívia e ao Peru.
des culturais mais atuantes do município. Entre os artistas que conheci, destacam-se: Antônio Botelho
Assim, num raio de 750 quilômetros, vivem 30 milhões de pessoas de diferentes culturas. Estava cons-
que apresenta uma pesquisa interessante com tábuas de cortar carne e suas marcas; Teresa Bandeira,
ciente de que pisava num solo de 16 milhões de hectares de floresta tropical, com a maior biodiversidade
que resgata utensílios de sucatas, lixões e refugos da vizinhança para usar como suporte para suas pin-
do planeta, e que, curiosamente, metade de seus 700 mil habitantes vive na floresta, dos quais 15 mil são
turas, sempre ilustradas rudemente por textos extraídos de passagens bíblicas e de casos peculiares do
indígenas distribuídos em 32 reservas indígenas e 14 diferentes etnias mantêm as tradições preservadas.
cotidiano vivenciados pela artista. No dia seguinte, visito a Galeria Vitória Barros e me deparo com um
grupo significativo de artistas.
As comunidades se organizam a partir de uma produção familiar que utiliza o rio como principal meio de
transporte e a própria floresta como fonte de alimentação. Esse fato gera conflitos por posse de terras e
Decolo de Belém para Santarém. O Amazonas se revela diante de mim. O primeiro dia é sempre reser-
uma defesa coletiva do meio ambiente. A Amazônia é um lugar de conflito constante.
vado para visitar a cidade para de alguma forma associá-la com a produção dos artistas.
Um fato interessante é que os artistas em sua maioria foram estudar na Faculdade de Belas Artes em Cuzco,
Na Amazônia costuma-se falar que o rio é a rua. Olhando o Rio Tapajós confirmo o que disse o poeta,
no Peru. Esse processo provoca interferências culturais na produção contemporânea dos artistas. Ueliton
pois ali se transportam vidas, mercadorias e sonhos. Barcos pequenos se misturam com outros maiores
Santana é um deles, e isso é visível em seus trabalhos. Ele afirma estar contaminado pela mistura de culturas.
e fazem a ligação entre as cidades vizinhas.
Faz telas grandes que depois de prontas são levadas para a floresta. Orienta a ação para a fotografia e diz
que esse ato é uma extensão em que pintura e floresta se aliam e se complementam. Enquanto Jean Carlos
Santarém é uma cidade encantadora com sua orla elegante de barcos novinhos. Segundo o último senso, a
faz pintura e objetos voltados para o “escorrismo”, termo usado pelo artista para afirmar o comprometimento
cidade tem mais de 300 mil habitantes e está em pleno crescimento. Tem várias faculdades, hotéis e pousadas.
com o ecossistema. Lucie Schreiner faz uma gravura bem expressiva que narra suas memórias.
Conheci Egon Pacheco – um artista que busca matrizes em toras de madeira apreendidas pelo Ibama,
Depois conheci a usina, uma antiga fábrica de castanhas. O lugar foi todo adaptado para os cursos de
criando novas maneiras de imprimir sua gravura, que ganha uma dimensão política sobre o desmata-
artes visuais, teatro, cinema e música. A estrutura é incrível e os projetos desenvolvidos são dinâmicos,
mento ilegal –, além de um grupo de artistas: Cicley Araújo, Marcio Desencourt, Adrion Denner, Elvis,
acompanham a cena contemporânea da arte. Trazem sistematicamente pesquisadores, artistas do eixo
Edu Costa e Moisés de Vasconcelos. Fiquei animada com a qualidade dos trabalhos que dialogam com
centro-sul para desenvolver processos de formação.
o lugar e alcançam outros tantos.
Ter estado no Acre, conhecido as pessoas, ter convivido com a simplicidade delas, com a produção arChego a Macapá com um sol forte, um calor diferente, e me pergunto: será porque a cidade é
tística, com a história e com a memória mexeu comigo, fui afetada por campos de força que me fizeram
cortada pela linha do Equador? Verifico que é a única capital estadual que não possui interligação
reencontrar a identidade amazônica; aprendi lições importantes como a delicadeza do detalhe, o ouvir
por rodovia a outras capitais. Vem se destacando entre as capitais brasileiras pelo rápido cresci-
o silêncio, aliás, escutar o movimento natural do dia, além de preservar e promover a vida dos seres que
mento econômico-populacional que já registra segundo o último senso – mais de 5 mil habitantes
fazem a diferença no planeta. A experiência do Rumos é ímpar porque nos faz ver as singularidades dos
na região metropolitana.
locais, nos faz exercitar a acuidade do olhar em que o outro é sempre parte integrante.
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Decolo de Belém para Brasília, para Manaus e finalmente para Porto Velho, capital de Rondônia, conhe-
outras. Ao cruzar as paisagens de Manaus com as da Áustria, a artista evidencia as diferenças entre seu
cida como a “cidade de todos”, e que atualmente mais recebe investimentos em infraestrutura.
cotidiano em sua terra natal e na Áustria, onde hoje é radicada.
No Sesc–RO, o encontro foi produtivo, porém poucos artistas estavam com o propósito voltado
Partida para Boa Vista, capital do estado de Roraima. Situada no Hemisfério Norte, a cidade limita-se
para a arte contemporânea. O público presente em sua maioria era artesão e estava ali mais por
ao norte com os municípios de Normandia, Pacaraima e Amajari; ao sul, com os municípios de Mucajaí
curiosidade. No decorrer da conversa, eles foram compreendendo que seus trabalhos não comun-
e Alto Alegre; a leste, com os municípios de Bonfim, Cantá e Normandia; e a oeste, com o município de
gavam com o edital.
Alto Alegre. Segundo o IBGE, a população chega a 234 mil habitantes.
Já o trabalho de Flavio Dutka, pinturas e desenhos, tem uma ressonância com as questões do lugar,
Fui ao Palácio da Cultura, onde um grupo bem diversificado de estudantes de artes visuais, artesãos,
cria um lócus para a reflexão. Observo uma ausência do homem nas paisagens fortemente marcadas,
músicos e artistas visuais já me aguardava. Entre os presentes, registramos Andrea Siqueira, Renato
porém, com um signo forte de que esteve ali. Outra artista é a fotógrafa Clotilde Peruffo. Seu olhar se
José, Edinei Sousa, Cláudio Lauôl, Sandra Costa, Márcio Sergines, Sérgio Barros, Carmezia Emiliano,
dá num devir constante em busca de um registro de uma cidade desconstruída que resolve nos contar
Rosângela Costa, Neusa Borges, Cláudio Silva, Júlio Barbosa e Raimundo Chacon e Renato Costa.
o que viu em suas andanças. Essas imagens revelam um cotidiano mais fragmentado de cidade urbana,
construída entre o espaço público como paisagem e o espaço privado da intimidade de cenas corriquei-
Compareceram também vários representantes do grupo Comunidade em Cena. Um dos artistas,
ras oferecidas por meio do signo fotográfico.
Edinel Pereira, apresentava uma exposição individual intitulada Da Natureza ao Homem, no Espaço
Centro Multicultural, na Orla Taumanan. Visitei a mostra e constatei um trabalho que utiliza uma diver-
Conhecer Porto Velho me fez concluir que realmente é uma “cidade de todos” que, seguindo a premissa
sidade de matéria-prima local em instalações, pinturas e objetos.
da Região Norte, sabe receber as pessoas. No encontro coletivo no Sesc estiveram presentes Wilson Lima, Ricardo Peres, Osmaildo Silva, Mikéliton, Clotilde Peruffo, Wandes Leão, Gilson Guimarães,
Embarco para Palmas e sigo para a Fundação Cultural de Palmas, onde os artistas já me aguardavam.
Francinei Vasconcelos, Mirtes Rufino, Maria Antônia e Flavio Dutka.
Deparo-me com uma exposição sobre os 22 anos da cidade e ali constato através dos documentos
que a população é protagonista na construção da cidade e na ocupação e apropriação de seus espa-
Parti de Belém para Manaus, capital do Amazonas. É uma moderna cidade e também o ponto ideal
ços. Os artistas presentes foram Marcos Dutra, Solange Silva, Claudio Montanari, Fernando Amazônia,
para partidas para o resto da Amazônia. Barcos deixam Manaus para ir ao “Encontro das Águas”, onde
Marivaldo Alves, Cleo Araújo, Fernando Serrado, Jorge Maciel, Marcio Angelin, Murilo Freitas, Vera
as águas negras do Rio Negro encontram as claras águas do Rio Solimões, lado a lado sem misturar
Lúcia Domingues, Marina Boaventura, Sandra Sorte, Tharson Lopes e Francisco Andrade.
suas águas. A cidade me lembra Belém pelo seu patrimônio arquitetônico e cultural, com numerosos
templos, palácios, museus, teatros, bibliotecas e universidades.
O encontro com as culturas e o fazer artístico das pessoas de cada lugar, os rios, a natureza exuberante
foi algo revelador, mas não sobra espaço para uma visão romântica diante da dura realidade na Amazô-
Sigo para a Associação dos Artistas de Manaus, que fica próximo ao Teatro Amazonas. De lá fui à casa
nia. Os significados sobrepujam aos lugares, aos símbolos das cidades que por horas se perdem ou se
do artista Neleto, que mais parece um museu. Fiquei impressionada com sua produção que toma todo
deixam adormecer na identidade, transformando-se em outros territórios não identificáveis.
o espaço de uma maneira organizada. À tarde fui à Universidade Federal do Amazonas encontrar com
outro grupo de artistas.
VÂNIA LEAL MACHADO é graduada em artes plásticas pela Universidade Federal do Pará, especialista em
Confesso que a cena em relação à arte contemporânea em Manaus não foi muito animadora, princi-
história e memória da arte e mestre em comunicação, linguagem e cultura pela Universidade da Amazônia. É
palmente com os artistas da associação. A produção do grupo dos universitários estava mais aquecida,
docente da Faculdade de Estudos Avançados do Pará. No Projeto Arte Pará coordena a ação educativa, editoração
com um diálogo mais aproximado. Interessante é a produção dos grafiteiros e a obra em vídeo de Naia
do catálogo de artes e é editora do encarte especial “Arte Pará, O Liberalzinho”. Foi curadora do salão Universia –
Arruda, numa performance em que aparece vestida como “Miss Zebra” em várias situações: andando
ARTE, em 2004 e 2005; do Projeto Banco da Amazônia do artista Odair Mindelo, 2010; e jurada de premiação do
numa trilha em meio à neve da Áustria, passeando por uma rua de seu bairro em Manaus, percorrendo
Salão Unama de Pequenos Formatos. Foi curadora de Flavya Mutran no Projeto Banco da Amazônia, em 2011, e
uma floresta às cegas, observando a jaula de uma onça no zoológico, fazendo tapioca na cozinha, entre
curadora-educacional da Exposição Fermata de Os Gêmeos em Vitória, Espírito Santo, em 2011.
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VÂNIA LEAL MACHADO
by Euclides da Cunha in his work O Paraíso Perdido, Ensaios Amazônicos, in which he alludes to the harsh
living conditions in the forest.
The artists have a close relationship with the symbolic value of that place. I looked into the cultural
ART IN THE AMAZON: a region in itself, the meaning of this place.
diversity of over-asynchronous times and the forest dictating its rules. However, Acre is not Belém, and
identities are independent in Marabá, located in Southeastern Pará, and in Santarém, in the West of the
A fact of great relevance, and which permeates and guides many hybridizations and miscegenation in
state. Amapá borders French Guyana and the rhythms migration is amazing. The blurring increasingly
the contemporary world, is that one that inquires about the role of the difference of cultures, identities
grows. Languages, cultures and identities mingle, thus enabling peculiar and special exchanges.
and subjectivities. This is a fertile ground for the contemporary artist, who dives in the experimentation
with objects, spaces, materials and dialogs that used to leave art aside. This artist lays it in a multiple field
The Amazon today is no longer a simple border for the expansion of international or national exogenous
of possibilities apparently destitute of methodologies or injunctions and lays it in the setting (place) like
forces, but rather a region within the national space system with its own output structure and various
poetics underlying the inductive making of an artwork. I believe that this setting, for being plural, requires
projects of different players. The civil society has become a major player, both in rural and urban areas,
an interpretation, an application-based effort, a desire to establish a relationship. The artist works the
particularly owing to their claims on citizenship, which impact urban development as well.
setting by means of the things and the people laid out in it. Within this context, in today’s art realm, I
understand that the artist’s contact with different groups, with the human condition in everyday practices
Belém is the city that nurtures a gigantic skyline when we speak about the Amazon and this place is an
and experiences fosters new identity narratives.
urban fragment in the forest. It is the oldest capital of the Amazon and is considered the mother place
for having been the first portion of land in the middle of the forest where the settlers landed and settled
In this regard, I bring light to the Amazonian landscape with its poetic, political and social elements. This
down. The place has always drawn the interest of researchers, naturalists and botanists.
setting so far away from the imagery of many people, even from its own inhabitants, is the element that
triggers many dialogs.
In Pará, like the whole Amazon, imagery and history intertwine, form an alliance, are integrated into the
banks of the same everyday river. I believe that the art of Pará designs strategies that interweave the mak-
The Amazon is a heterogeneous whole encompassing complexities. Its biodiversity and its day by day
ing of artworks with a strong conceptual accent. The visible Amazonian soul appears in the national and
extensively filled with knowledge offer a subjective setting. And the many places have to be read spon-
international experience of the artworks of some professionals who have been influenced by artists João
taneously and this can only be achieved by living in and making contact with that setting. I believe in the
de Jesus Paes Loureiro, Emannuel Nassar, Luiz Braga and Osmar Pinheiro, who thought of and used in
importance of capturing the “inside” of the everyday place and of knowing this place that is common to
their works elements classified in the 1980s by some people as the “Amazonian visuality.” However, in
its inhabitants and where an emotional tie is created.
the Arte Pará 2005 catalog, Herkenhoff warns the emerging artists against the bureaucratization of the
eye and about the possibility of narrowing the Amazonian visuality down to easy academic parameters.
Pablo Herkenhoff says that “one task of art in the Amazon is to violate the violence that takes over the
This is what he categorizes as a suicide. A relevant factor of the detachment from this cultural attitude
region” (Herkenhoff, Paulo. Amazônia, A Arte, Rio de Janeiro: Imago, 2010. p. 96) and I add: in order
was the creation of Fotoativa in the 1980s. Artists began to broaden their repertoire without being lim-
to understand this complexity, our concern must be increasingly driven to the understanding of rough
ited to the region only. I call the attention here, among many other artists, to Francis Mutran, Armando
data, the socioeconomic movements that govern the artistic and scientific markets with new rules. The
Queiroz, Alexandre Sequeira, Paula Sampaio, Walda Marques, Orlando Maneschy, Alberto Bitar, Miguel
artist from the Amazon is a depositary of cultural heritage and values; he also witnesses every single day
Chikaoka, Mariano Klautau, Luiz Braga, Emanuel Nassar, Guy Veloso, whose works are included in main-
a dramatic and perverse experience. How to reconcile development, respect for traditional peoples
stream collections and who take part in national and international shows apart from the biennials.
(indigenous, riverside dwellers, quilombolas, and other groups), ecology, sustainability, progress, knowledge, social justice and geopolitics?
And in the emerging generation: Melissa Barbery, Roberta Carvalho, Luciana Magno, Victor de La
Roque, Berna Reale, Daniele Fonseca, Keila Sobral, Murilo Rodrigues, Carla Evanovitch, Lucia Gomes,
With this challenge I dived in the Northern Region. High up from the airplane, I gazed at the vastness
João Cirilo, Elaine Arruda, Eder Oliveira, Michel Pinho, among others, work within their fields that com-
of the forest and, when I stepped into those spaces, I understood the concept of “green hell”, employed
prise political, social, historical and, in some cases, gender issues.
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Berna Reale’s performances, more oriented to photography in some approaches, build an austere image
the mixture». Or, then, because the city is also known as Poem City, because its name was inspired in the
of the woman, distinguished with bullets in an ambiguous setting. The fabric of a faded and rustic exoti-
poem Marabá, by Gonçalves Dias?
cism, the plastic dress, the ware parrot, the parquet block floor and an immense band of bullets; perhaps
they try to point out the inconsistencies of our Brazil, of our Latin America. In another point in the work
It is a Brazilian city located in the Southeast mesoregion of Pará state and a microregion of the same
Quando Todos Calam (2009), Grande Prêmio de Arte do Pará [Grand Prize of Pará Art], Reale merges
name, and it is located about 500 kilometers to the South of the state capital. Today, Marabá is inter-
her naked body with the landscape of the Mercado Ver-o-Peso, a marketplace. She lies on a white lace
connected with the rest of the country by three highways (BR-222, BR-230 and PA-150), by air, rail and
towel with viscera placed on her belly, attracting vultures flying over eager for the meat.
inland waterway.
Eder Oliveira borrows images published on newspapers showing victims of violence, delinquents. He
Currently, the city is the fourth most populous of Pará, with approximately 250 thousand inhabitants,
then paints them in large scale in a proposition of pictorial intervention displayed in strategic sites
according to IBGE/2010 [Brazilian Institute of Geography and Statistics]. It is the main social and eco-
around the city.
nomic center of Southeastern Pará and one of the most dynamic cities in Brazil.
The inclusion and circulation strategies for many of these Pará artists have been designed by curators
The Galpão de Artes de Marabá [Marabá Shed of Arts] is a major culture site which promotes actions
and critics, who legitimize the consistency of their work which, in my point of view, present consistent
focused on the culture of Marabá’s people. There I was received by the Associação dos Artistas de
discourses about their territories.
Marabá [Marabá Association of Artists], one of the most active cultural entities in the city. Among the
artists I met, the following single out: Antonio Botelho, who has an interesting research with meat cutting
This way, thinking contemporary art as a social factor of the human phenomenon is like considering the
boards and its brands; Teresa Bandeira, who recovers scrap utensils from landfills and waste from the
existence of human practices to be the making of art interwoven with inputs from philosophy, the arts
neighborhood to use in her paintings, always rudely illustrated with texts extracted from biblical passages
and sciences. I re-state that applying this thought to the Pará-Amazonian reality is something that goes
and unique cases of everyday life experienced by the artist. The next day, I visited the Galeria Vitória
far beyond the proposed theories, for the way of thinking of the one who inhabits, who lives in, who is
Barros [Vitória Barros Gallery] and came across a significant group of artists.
“permanent and continuous” is what will teach and show the imaginary outcome to the one who visits,
who arrives, who is “circumstantial.” In this field of relations, art on the Amazon appreciates and trans-
I left Belém and headed to Santarém. The Amazonas [state] uncurtained before my very eyes. The first
forms, creates a double movement by which the new emerges without destroying the old. It is incorpo-
day is always set aside to visit the city so as to be able to somehow associate it with the artists’ works.
rated in the post-modern landscape and causes the dialectic between regionalism and universality, past
and future, identity and multiculturalism, anyway, a multifaceted region itself. As very well put by Milton
In the Amazon, it is usually said that the river is the street. Looking at the Tapajós river, I confirm what the poet
Santos in an interview in the book Encontros: “From here or from Congo, I can think the world as a whole;
said for it is the way to transport lives, goods and dreams. Small boats mingle with bigger ones and intercon-
produce a concept, an idea and a world system. It is no longer the old nationalism. It is producing both
nect the neighboring cities.
the idea of a territory-based world and my culture. “ (SANTOS, Milton. Encontros (Org. Maria Ângela
Faggin Pereira Leite). São Paulo: Azougue, 1999. p. 133)
Santarém is a charming city with its stylish waterfront with brand new boats. According to the last census,
the city has more than 300 thousand inhabitants and has been growing steadily. It has several colleges,
hotels and inns.
From Belém to Marabá – Northern days and nights
I met Egon Pacheco – an artist who makes woodblocks of logs seized by Ibama [Brazilian Institute of Environment and Renewable Natural Resources] and then creates new ways to make his prints. This is now
The region of Marabá has something exceptional, should it be because of the top view showing the
acquiring a political nature owing to the illegal deforestation – in addition to a group of artists: Cicley
meeting point of two large rivers, Tocantins and Itacaiunas, forming a kind of «y» in the midst of the
Araújo, Marcio Desencourt, Adrion Denner, Elvis, Edu Costa and Moisés de Vasconcelos. I was excited
city? Should it be because of the opportunity to come in touch with different cultures, since it is a city
about the quality of the works that dialog with the place and reach many others.
of great miscegenation of people and cultures, which explains the popular meaning of its name: «son of
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I arrived in Macapá under hot sun, a different heat, and I wondered: would it be because the city is
with the contemporary art scene. They systematically bring researchers, artists from the South-Central
crossed by the Equator? I realized that it is the only state capital that is not interconnected with the
corridor to develop educational courses of study.
other capitals by road. It has been in a prominent position among the Brazilian state capitals for its fast
economic and population growth. The last census points to a population of over 5 thousand inhabitants
The fact of visiting Acre, meeting people, living with their unaffected manner, with their artistic output, with
in the metropolitan area.
history and memory really touched me. I was affected by force fields that made me rediscover the Amazonian identity; I learned important lessons as the subtlety of details, listening to silence, by the way, listening
I visited the Centro de Cultura Negra [Black Culture Center], Teatro das Bacabeiras [Bacabeiras The-
to the natural movement of the day, besides preserving and promoting the life of beings who make the
ater], Centro Cultural Franco Amapaense [Franco Amapaense Cultural Center], Curiaú river and the
difference on the planet. The experience of the Rumos is unique because it makes us see the particularities
Marco Zero [Equator Monument], where we can be in the North and South hemispheres at the same
of each place, compels us to develop acute eyesight where the other is always an integral part.
time. I met Grupo Urucum and it was interesting to hear from the artists the importance of the visual arts
course in the city as a means of contact and experimentation with the contemporary language. The art-
I left Belém and flew to Brasília, to Manaus and finally to Porto Velho, capital of Rondônia, which is known
ists who attended included Cristiana Menezes, Aog Rocha, Miguel Ferreira, Grimualdo Barbosa, Ronne
as the “city of all people” and the place with the highest investments in infrastructure.
Dias, Natasha Parlagreco, Wagner Ribeiro, Agostinho Josaphat, Jenifer Nunes and Josiane Ferreira.
At Sesc-RO, the meeting was productive, but few artists were focused on contemporary art. The auI left Belém and headed to Acre state – Rio Branco city – and could not have thought that it would be
dience was mostly of artisans and they were there more to satisfy their curiosity. In the course of the
such a long flight. Soon I saw the exuberance of the forest.
conversation, they realized that their work did not meet the requirements of the call for submissions.
Acre is the Pan-Amazonian center and is connected with the other states in Brazil and Bolivia and Peru as
Flavio Dutka’s paintings and drawings, in turn, echoes the local issues, creates a locus of reflection. I no-
well. Therefore, within a radius of 750 kilometers, there are 30 million people of different cultures. I was aware
ticed the absence of the man in the landscapes, although they are heavily marked with evidences that the
that I had my feet on a ground covered by 16 million hectares of rainforest housing the greatest biodiversity
man had been there. Another artist is photographer Clotilde Peruffo. Her eye is constantly transforming
on the planet and that, oddly enough, half of its 700 thousand inhabitants live in the forest. Out of that total,
itself looking for a deconstructed city that she can capture and tell us what she saw in her journeys. These
15 thousand are indigenous people living in 32 reserves and 14 different ethnic groups preserve their traditions.
images reveal a more fragmented everyday life in an urban city, built between the public space as a landscape and the intimate private space portraying everyday scenes provided by the photographic sign.
The community organization is based on the family production that uses the river as their main means of
transportation and the forest itself as their food supplier. This fact generates conflicts of land ownership
Visiting Porto Velho made me conclude that it is really a “city of all people”. According to the premise
and collective defense of the environment. The Amazon is a place of endless conflicts.
prevailing in the Northern region, the place knows how to make non-locals feel at home. In the group
meeting at Sesc, we had Wilson Lima, Ricardo Peres, Osmaildo Silva, Mikéliton, Clotilde Peruffo, Wan-
An interesting fact is that most artists studied at Faculdade de Belas Artes [School of Fine Arts] in
des Leão, Gilson Guimarães, Francinei Vasconcelos, Mirtes Rufino, Maria Antônia and Flavio Dutka.
Cuzco, Peru. This process brings about cultural interference in the artists’ contemporary output. Ueliton
Santana is one of them and this is evident in his works. He claims to be contaminated by the mixture
I flew from Belém to Manaus, capital of Amazonas state. It is a modern city and also the ideal hub for
of cultures. He makes large canvasses that are taken to the forest once they are completed. He is a
visits to other places in the Amazon. Boats leave Manaus towards the “Meeting of the Waters”, the
photography-oriented artist. He says that the photographic act is an extension through which painting
confluence of the dark waters of the Negro river with the muddy brown waters of the Solimões river and
and forest work together and complement each other. While Jean Carlos makes paintings and ob-
they carry on side by side with distinct interface between their waters along miles away. The city reminds
jects geared to “escorrismo”, a term used by the artist to state his commitment to the ecosystem, Lucie
me of Belém out of its architectural and cultural heritage, with a number of temples, palaces, museums,
Schreiner produces a very expressive print depicting her memories.
theaters, libraries and universities.
Later I knew the mill, an old chestnut mill. The place was all adapted for courses on visual arts, theater,
I headed to the Associação dos Artistas de Manaus [Manaus Association of Artists], near the Teatro
cinema and music. The infrastructure is amazing and the projects developed are dynamic and keep pace
Amazonas [Amazonas Theater]. From there I proceeded to artist Neleto’s place, which is more like a
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museum. I was impressed with his output that takes all the house space and is neatly arranged. In the
The meeting with the cultures and the art making of the people of each place, the rivers, the exuberant
afternoon, I went to the Universidade Federal do Amazonas [Amazonas Federal University] in order to
nature was something revealing, but there is no room for romanticism in view of the harsh reality in the
meet another group of artists.
Amazon. The meanings surpass the places, the symbols of the cities that are lost for hours or that let
their identity fall asleep to become other non-identifiable territories.
I must confess that the picture of contemporary art in Manaus was not very encouraging, especially with the
artists of the association. The output of the group of university students was more dynamic and showed a
VÂNIA LEAL MACHADO is a graduate in fine arts of the Universidade Federal do Pará [Pará Federal Univer-
more interconnected dialog. What is really interesting is the graffiti artists’ output and Naia Arruda’s video:
sity], expert in art history and memory, holder of an MA in communication, language and culture from Universidade
a performance in which she appears dressed like “Miss Zebra” in various situations: walking down a trail
da Amazônia [University of the Amazon]. She has been a professor at the Faculdade de Estudos Avançados do
through the snow in Austria, walking around a street in her neighborhood in Manaus, blindly going through
Pará [College of Advanced Studies of Pará]. She coordinates the educational actions for the Arte Pará Project, as
the forest, looking at the cage of a Brazilian jaguar at the zoo, making “tapioca” in the kitchen and other
well as publication of the arts catalog. She is also the editor of the special pull-out Arte Pará, o Liberalzinho. She cu-
situations. By putting the landscapes of Manaus and Austria side by side, Arruda highlights the differences
rated the Salão Universia – ARTE [Universia Salon - ART] in 2004 and 2005; artist Odair Mindelo’s Projeto Banco
between her everyday life in her hometown and in Austria, where she lives today.
da Amazônia [Banco da Amazônia Project, 2010; and was a jury member at Salão Pequenos Formatos [Small Sizes
Salon] - UNAMA. She curated Flavya Mutran at the Projeto Banco da Amazônia in 2011 and was the educational
Now off to Boa Vista, capital of the state of Roraima. Located in the Northern hemisphere, the city
curator of Os Gêmeos at the Exposição Fermata [Fermata Exhibition] in Vitória, Espírito Santo, in 2011.
borders on the municipalities of Normandia, Pacaraima and Amajari to the North; the municipalities
of Mucajaí and Alto Alegre to the South; the municipalities of Bonfim, Cantá and Normandia to the
East; and the municipality of Alto Alegre to the West. According to IBGE, the population reaches 234
thousand inhabitants.
I went to the Palácio da Cultura [Palace of Culture], where a very diversified group of visual arts students, artisans, musicians and visual artists were already waiting for me. The attendees included Andrea
Siqueira, Renato José, Edinei Sousa, Cláudio Lauôl, Sandra Costa, Márcio Sergines, Sérgio Barros,
Carmezia Emiliano, Rosângela Costa, Neusa Borges, Cláudio Silva, Júlio Barbosa, Raimundo Chacon
and Renato Costa.
Several representatives of the Comunidade em Cena group also joined us. One of the artists, Edinel
Pereira, was presenting his solo exhibition entitled Da Natureza ao Homem [From Nature to Man], at Espaço Centro Multicultural [Multicultural Center Space] at Orla Taumanan. I visited the show and found
works using a variety of local raw materials in installations, paintings and objects.
I took the flight to Palmas and then I headed to Fundação Cultural de Palmas [Palmas Cultural Foundation], where the artists were waiting for me. I came across an exhibition about the 22 years of the city
and there I could see by reading the documents that the population plays the main role in building their
city as well as occupying and taking ownership of the city spaces. The artists attending the meeting
were Marcos Dutra, Solange Silva, Claudio Montanari, Fernando Amazônia, Marivaldo Alves, Cleo
Araújo, Fernando Serrado, Jorge Maciel, Marcio Angelin, Murilo Freitas, Vera Lúcia Domingues, Marina
Boaventura, Sandra Sorte, Tharson Lopes and Francisco Andrade.
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curadores viajantes
LUIZA PROENÇA
São Paulo
Quando se fala no contexto artístico de São Paulo a partir de um ponto de vista nacional pensa-se na
capital, na sua posição de centro, nas suas instituições culturais e no crescimento vertiginoso do mercado. Com o aumento de recursos para a produção e a apresentação de projetos, na capital paulista
cada vez mais se exige que o jovem artista se torne um profissional e desenvolva um discurso para seu
trabalho. O contexto nas outras cidades de São Paulo, porém, contrasta muito com essa percepção. A
partir da experiência de mapeamento na Região Sudeste, a entrevista a seguir com dois jovens artistas/
curadores de diferentes cidades – Gustavo Torrezan (Campinas/Piracicaba) e Renan Araujo (Ribeirão
Preto) – procurou estabelecer um debate mais aprofundado sobre o atual circuito artístico de São Paulo.
LUIZA PROENÇA Em muitas cidades do estado de São Paulo a formação do artista segue ainda
o modelo das belas-artes. A maioria delas também forma artistas a partir dos cursos acadêmicos de
educação artística ou licenciatura em artes plásticas/visuais, como os da Unesp/Bauru; Universidade
do Vale da Paraíba (Univap), em São José dos Campos; Universidade Santa Cecília (Unisanta), em
Santos; e Universidade de Guarulhos (UnG). As graduações e pós-graduações em artes plásticas/visuais existentes, porém, não garantem o preparo do artista para assumir uma posição crítica diante da
REGIÃO SUdeste
sociedade nem para elaborar um programa artístico, ético ou político, o que torna mais que urgente a
necessidade de discutir e revisar a trajetória acadêmica do artista. Vocês poderiam falar um pouco de
sua formação e de como é vista a instrução do artista em suas respectivas cidades?
RENAN ARAUJO A minha formação em arte foi prática: diálogo com outros artistas e pessoas externas a isso, exposições, livros e internet. Fiz alguns cursos livres (desenho, pintura e gravura), trabalhei por
uns dois anos como voluntário no educativo do Museu de Arte de Ribeirão Preto e, atualmente, para
uma galeria de arte, ou seja, toda a formação foi tentando achar brechas de atuação dentro dos limites
impostos pela cidade. Continuo produzindo “enquanto artista”, pensando em curadorias e em tipos de
gestão. O bom de pensar em arte, estando no interior, é que, teoricamente, há uma liberdade maior de
produção e se cria com isso uma curva no circuito – começa-se a perceber agentes regionais (apesar de
que hoje tudo já está em uma escala global). A única diferença é que se está um pouco mais distante.
GUSTAVO TORREZAN Vejo que segui com proximidade o percurso feito por muitos que hoje
se interessam por artes visuais, especialmente, em Piracicaba, mas também em Campinas, onde os
cursos de arte surgiram mais ou menos num mesmo contexto ao que foi criado o Grupo Vanguarda
(1958–1966), que se organizou imbuído do espírito modernista de renovação das artes plásticas
como contraponto ao “academicismo”.
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curadores viajantes
Ao contrário de Campinas, que se dinamiza facilmente e com maior ou menor grau consegue uma
“atualização” fácil, está Piracicaba. A cidade possui um histórico e até caricato “duelo” entre acadêmicos
e contemporâneos que construiu o cenário artístico da cidade com grande rigidez, mantida até pouco
tempo atrás e que vem sendo alterado substancialmente nos últimos anos.
Historicamente, Piracicaba possui uma formação artística em ateliês, que favorece uma construção de certo
encadeamento de mestres e seus discípulos. Nesse movimento, várias gerações construíram esse cenário
na cidade. Hoje em dia, a dinâmica mostra que muitos interessados em artes optam pela graduação sem
passar pelos ateliês, trazendo outro caráter à formação dos artistas da cidade. Essa nova geração, na qual
me incluo, tem voltado ou transitado pela cidade e alterado vários aspectos das políticas ou procedimentos
até então estabelecidos. Além disso, iniciativas de espaços independentes têm surgido, tais como a Casa
do Salgot, a Aragem Contemporânea, a Pró-Cultura de Piracicaba e o Centro Cultural Martha Watts.
LP Nos últimos três anos, um grande número de galerias, que trabalham com jovens artistas e arte contemporânea, surgiu na cidade de São Paulo. O crescimento do mercado de arte faz com que o jovem
artista, muitas vezes ainda nem egresso de uma faculdade, já inicie sua carreira no contexto de galerias,
sem precisar passar por exposições coletivas ou individuais em espaços culturais. E até mesmo não fazer
parte de uma galeria se torna uma especificidade que atrai iniciativas com focos mercadológicos.
Percebi também que em cidades como São José do Rio Preto, Araçatuba ou Araraquara, alguns
artistas têm duas produções: uma para a venda (geralmente pinturas e esculturas) e outra na qual
realmente acreditam e sentem entusiasmo para experimentar e desenvolver; mas que muitos deixam
de produzir, porque “não vende”.
Como vocês percebem a presença, o desenvolvimento e o interesse pelo mercado de arte em suas
respectivas cidades, tanto dos artistas quanto dos investidores?
RA Ribeirão Preto tem pelo menos umas cinco coleções privadas bem significativas – como a Figueiredo Ferraz, que recentemente inaugurou um instituto para abrigar suas obras –, mas o mercado não
depende exclusivamente da cidade e da região, consegue escoar para a capital e para outros estados
brasileiros. Claro que esse caso é bem pontual e não reflete o contexto geral, o resto do mercado é bem
regional. Apesar de não ser usual, alguns colecionadores da cidade compram trabalhos mais complicados, ou que a lógica objetual é inexistente em um primeiro momento – projetos, instalações e vídeos
–, mas isso acontece com uma pequena parcela. Existe a necessidade de ter algo certeiro, “mais fácil” e
comportado (e estamos falando de trabalhos recentes).
GT O mercado de arte e seu avanço têm sido uma das maiores conversas de que tenho participado
com artistas. Nisso há um lado bom e outro ruim. Nosso sistema de arte está se expandindo, ficando
Ivan Grilo
Sujeito oculto, 2011
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curadores viajantes
mais consolidado e profissional – como, por exemplo, o aumento de galerias e as participações em feiras,
Marp. É um pouco estranho, mas hoje mantenho um diálogo maior com artistas e curadores de fora da
frutos da maior circulação de dinheiro e do interesse pela arte produzida no país. Nesse contexto, fica
cidade/país do que da própria região.
uma dúvida se essas conversas que vivencio estão tomando o lugar de outras mais reflexivas. Vejo, inclusive, um aumento da participação em aberturas de exposições e eventos sociais e uma diminuição em
LP Uma das principais ferramentas que utilizei para o mapeamento da produção emergente do estado
palestras ou conferências, o que pode ou não estar associado às facilidades tecnológicas. Um caminho
de São Paulo foi a internet. Como acham que ela contribui para a formação dos artistas e de redes de
que vem ganhando força é o do artista que arrisca pouco, experimenta pouco e deixa diluir cada vez
contato com profissionais e projetos de diferentes cidades?
mais a perspectiva de arte como pesquisa.
GT Não me vejo como artista sem usar a internet, na verdade não me vejo sem a internet, faço quase
Além dos artistas, pouco se fala de mercado de arte no interior e o número de investidores cresce muito
tudo com ela. Mas, se posso, não substituo um livro, uma visita a um museu ou exposição, a participação
timidamente. Existe uma lacuna muito grande, a maioria dos compradores prefere os grandes centros
ao vivo em um congresso, palestra, bate-papo.
para seu “consumo romântico”, como a decoração, mas não como um investimento.
RA A internet não irá substituir a experiência ou o embate com a obra em sua escala real, mas serve
Uma iniciativa que considero relevante como alternativa à ausência de galeria, e mesmo do mercado de
como uma importante ferramenta para a pesquisa e acesso a trabalhos, nos quais as falhas do desloca-
arte, é um projeto que vem acontecendo em Piracicaba há três anos chamado Rio das Arte, que mapeia,
mento ocorrem (falta de tempo e custos elevados). Uma parte da minha pesquisa tem como preocu-
divulga e cria um circuito por meio de um transporte entre os ateliês e espaços de exposições com o
pação trabalhos realizados especificamente para a internet, nesse caso, ela não é apenas utilizada como
intuito de comercializar trabalhos e estimular a compra de artes durante um fim de semana específico no
meio de contato, mas como suporte para se pensar em proposições específicas.
ano. Esse projeto, criado pelo Sesc e que conta com o apoio da sociedade e a adesão dos artistas, tenta
viabilizar e criar um circuito mínimo entre os ateliês e a comercialização dos trabalhos.
LP É importante a permanência de dois programas para jovens artistas realizados por instituições públicas na capital paulista, ambos baseados em edital público e seleção de projetos: o Programa de Ex-
LP O mercado é também pauta principal para reportagens dos dois principais jornais do estado. Em
posições, do Centro Cultural São Paulo, que comemorou seus 20 anos de existência em 2010; e a
vez de contribuírem para uma reflexão mais crítica sobre o circuito de arte, esses jornais têm se dedica-
Temporada de Projetos, do Paço das Artes, criado em 1997. É mais que necessário que esses programas
do majoritariamente a gerar polêmicas e a discorrer sobre a aposta de nomes de artistas, curadores e
se mantenham como espaços experimentais, reflexivos e educativos.
galerias. Nesse contexto, existe uma vontade grande por parte de artistas e críticos de se criar um novo
campo de crítica por meio de propostas independentes, mas ainda não se pode dizer que temos um
Um pouco semelhante a esses programas, o salão municipal ainda é o principal modelo de incentivo à
veículo que fomente as discussões para além da “mesa do bar”. Vocês poderiam falar como percebem
produção artística local na maioria das cidades de São Paulo. Alguns salões buscam se atualizar, subs-
as discussões sobre arte e o desenvolvimento da crítica?
tituindo o envio de obras por envio de projetos ou portfólios, mudando seu nome, criando diferentes
modalidades ou incorporando atividades educacionais. Mas a estrutura ainda é a mesma. A partir de
GT É fundamental que a crítica se desenvolva como proposta independente e que se some a pers-
um edital, os artistas inscrevem suas obras, as quais serão julgadas por um comitê de seleção, e, quando
pectiva da promoção do diálogo aberto, livre. Como exemplo muito simples nesse sentido, me reúno
a exposição inaugura, um ou mais artistas serão premiados, geralmente com prêmio-aquisição. A partir
frequentemente com amigos quando estou em Piracicaba para conversar sobre arte. Brincamos ao
do contexto das suas cidades, como vocês veem o fomento da produção por meio dos órgãos públicos?
chamar essas reuniões de “o encontro das rãs cinza”, uma paródia para ranzinzas, pois neles a liberdade
Como ou onde vocês acham que eles poderiam melhorar?
é grande, e a “diplomacia do conformismo”, pouca. Desses encontros surgiu a necessidade de produzir
ações no cenário local. Espaços que precisam ser ampliados tanto quanto a cultura de opinar, de cons-
GT É preciso criar políticas públicas que possibilitem a formação qualificada e a distribuição de
truir e de repensar critérios de avaliação sobre um trabalho, um artista ou uma exposição sem que eles
renda para além da capital para que as cidades também possam ter projetos e ações de alto nível,
sejam tomados como um ataque pessoal.
como esses que citou. O estado deve criar e o município deve cobrar ou ainda construir suas
próprias políticas públicas para que o cenário artístico se profissionalize. Vejo o desenvolvimento
RA Em Ribeirão, como possibilidade de embate, existe o grupo de estudos do Museu de Arte de Ri-
de uma política a longo prazo e efetiva necessário para os espaços expositivos fora da capital, que
beirão Preto (Marp); o bate-papo e as palestras após as aberturas das exposições no Sesc e também no
vivem situações muito complicadas.
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curadores viajantes
Projeto para canto dos espíritos esquecidos pela História da Arte
Este trabalho consiste na construção de um canto que abrigará espíritos
de artistas sem nenhuma relevância para história da arte.
Será necessário o auxílio de médiuns e outros ligados ao espiritismo para
evocar e selecionar os espíritos que irão residir no local.
Os espíritos estarão em uma sala inteiramente branca, com apenas um
canto que formará um angulo de 90˚ e terá uma única porta. A sala
possuirá 36m2 e um pé direito de 7m.
O canto será destinado a todos aqueles que tenham interesse em se comunicar
espiritualmente com o passado desconhecido da História da Arte.
Guilherme Peters
Projeto para Canto dos Espíritos Esquecidos pela História da Arte, 2008
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curadores viajantes
Na maioria das vezes, quando se trata da escala municipal, o salão de arte é a alternativa, mas seus recursos financeiros, sua infraestrutura e seu formato ultrapassado não ajudam no desenvolvimento, tanto
do circuito artístico local quanto dos próprios artistas.
Em Piracicaba, participo há dois anos de uma tentativa de “renovação” do salão de arte contemporânea,
que busca, a partir daquilo que já existe, criar um calendário de eventos e atividades sobre arte contemporânea na cidade. Os projetos que desenvolvemos para as duas últimas edições visavam a uma articulação de pessoas e ideias e buscavam estabelecer um certo complemento às atividades no evento – que
a princípio é apenas uma seleção para uma exposição e premiação –, acrescentando à programação
cursos de formação, leituras de portfólios, palestras, setor educativo etc. Após dois anos articulando o
evento, sentimos que a cidade poderia receber algo mais ousado e iniciamos discussões para alterar a
lei que regimenta o salão. Existe uma ideia que o salão vire uma residência artística (que passa também
a incluir a possibilidade de inscrição de artistas estrangeiros) e em torno dela outras atividades possam
acontecer, como cursos, palestras, seminários etc.
RA No poder público pensa-se no quantitativo e não num diálogo mais extenso e a longo prazo. O
Marp, por exemplo, não possui uma política de aquisição de obras para o acervo. A única possibilidade é
por meio de doações ou do prêmio-aquisitivo realizado nos salões, ou seja, anualmente, algumas poucas
obras passam a pertencer ao acervo público da cidade.
LP Percebo que a ideia de “residência artística” começa a aparecer paulatinamente, tanto na capital
Este texto retira e esvazia, irrevogavelmente, todo caráter estético,
simbólico, político, econômico, crítico e educacional de todo e qualquer
conteúdo que se encontra a um metro dele.
(This text irrevocably removes and empties all the aesthetic, symbolic, political,
economic, critical and educational content of anything around it in a radius one meter.)
quanto em outras cidades. Trata-se de um formato de produção e formação que procura ser mais estendido e investigativo, a partir da estadia do artista em um espaço ou uma cidade.
Outro dado importante sobre o atual panorama da cena artística é a proliferação de iniciativas “independentes”. Cada uma dessas iniciativas nasce a partir de necessidades e desejos diferentes, porém,
de maneira geral, me parece que se apresentam de modo paradoxal: pretendem criar novos circuitos de produção e apresentação de arte, mas não necessariamente seguem uma lógica ou modelo
alternativos. Pelo contrário, muitas vezes reproduzem estruturas institucionais existentes, como se
desejassem se inserir no circuito cultural “oficial”. Vocês poderiam me falar um pouco como veem
essas iniciativas de artistas?
RN É claramente percebido que o termo “independente” é complicado. Para manter um espaço, demanda tempo e dinheiro, que são muitas vezes viabilizados por bolsas esporádicas de apoio ou captação
de recursos a partir de projetos, pela venda de obras/serviços ou, ainda, bancados pelos próprios gestores. Esses espaços são importantes para outra fruição do trabalho de arte, mas é preciso não querer ser
algo “ideal” ou tentar se formatar para um dia ser o próprio sistema.
Deyson Gilbert
Um metro, 2012
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curadores viajantes
Outro tipo de agrupamento que tem ocorrido com certa frequência é o “acompanhamento críti-
(Univap), Ana Maria Bonfim Pitiu, Giancarlo Ragonese e Lindsay Ribeiro (Coletivo Núcleo), de
co” realizado por um crítico/curador convidado: um número de artistas paga uma quantia mensal
São José dos Campos e Jacareí; Cássia Guerra (Acirp – Associação Comercial e Empresarial de
para alguém falar sobre arte, realizar leitura de portfólio, dar dicas e indicar estratégias de inserção
São José do Rio Preto), Cristiana de Freitas, Luiz Diniz e Thais de Freitas (Sesc–Rio Preto): São
do trabalho no circuito. O grande problema não é o agrupamento ou ter um espaço de convívio,
José do Rio Preto; Anne Cartault d’Olive, Beatriz Chachamovits (Ateliê Simpatia), Carla Chaim,
mas como isso é realizado de fato. A meu ver, fica algo didático, de como se tornar um artista,
Nino Cais e Renata De Bonis (Hermes), Claudinei Roberto (Ateliê Coletivo OÇO), Fernanda
conseguir entrar em editais ou ter uma visão voltada ao mercado. É necessário algo a longo prazo
Barreto e Fernanda Zerbini (Atelieta), Fernanda Lopes, Fernanda Izar e Luciana Felippe (Atelier
e maior critério nas escolhas.
a Pipa), Fernando Oliva, Gilbertto Prado (ECA/ USP), Isabella Rjeille (Ateliê 397), Karina Polycarpo (Edifício Lutetia), Luciano Zanette e Dercy Aparecido Pereira (Centro Universitário Belas
GT Vejo o atual panorama das artes visuais no Brasil com bons olhos e o surgimento dessas
Artes), Luisa Duarte (Red Bull House of Art), Marcia Gadioli e Marcelo Salles (Casa Contem-
iniciativas como um cenário que evidencia uma etapa importante, a qual espero que culmine no
porânea), Marcos Moraes (Faap), Mario Gioia, Milton Sogabe, Omar Khouri, Rosangella Leote
desenvolvimento de outras estruturas, procedimentos, campos e mercados, que vão além dos
e Lucas Oliveira (Instituto de Artes Unesp), Mirtes Marins e Luciane Guará (Faculdade Santa
vigentes. Digo de uma perspectiva que não coloca em questão a qualidade do que é criado.
Marcelina), Renata Cruz, Sandra Cinto (Ateliê Fidalga), Thereza Farkas (Casa Tomada), Vanessa
Quanto mais diverso o sistema das artes for, quanto mais iniciativas houver, mais complexo o pró-
Bohn (Casa ao Cubo), Xiclet (Casa da Xiclet) e Yara Dewachter (Grupo Aluga-se), de São Pau-
prio sistema será e, consequentemente, mais rico. Certamente essa ampliação que vivenciamos
lo. Finalmente, agradeço a todos os artistas que me apresentaram suas produções.
refletirá na maior importância das artes visuais na sociedade. Existe uma força política que pode
ser usada. No aparente entusiasmo se encontra a preocupação de que o poder público também
se desenvolva e não se ausente em realizar suas funções.
LUIZA PROENÇA vive e trabalha em São Paulo. Concluiu bacharelado e licenciatura em artes visuais pelo
Gostaria de agradecer especialmente a Marcio Harum, mapeador da região no Rumos 2008–
Instituto de Artes da Unesp (São Paulo, 2008), com intercâmbio realizado na Universidade Nacional de
2009, e a todos aqueles que contribuíram para o mapeamento da Região Sudeste – São Pau-
Cuyo, Argentina (2006). Foi curadora assistente na mostra Caos e Efeito (Itaú Cultural, 2011); e cocuradora
lo no Rumos Artes Visuais 2011-2013: Deolinda Aguiar, José Fernando Bacelar e Simone Leite
das mostras À Sombra do Futuro (Instituto Cervantes, São Paulo, 2010) e Temporada de Projetos na Tempo-
Gava (Museu Araçatubense de Artes Plásticas [Maap/Secretaria Municipal de Cultura]), Juçara
rada de Projetos (Paço das Artes, São Paulo, 2009). Integrou o Grupo de Reflexão Interdisciplinar do Centro
França e Márcia Porto, de Araçatuba; Euzânia Andrade e Rita Michelutti (Secretaria Municipal
Cultural São Paulo e o Grupo de Crítica e Curadoria da USP.
de Cultura), de Araraquara; Diana Proença, Luciana Capossi, Renato Moreira (Instituto Acesso
Popular de Educação, Cultura e Política) e Solange Gonçalves (Faac/ Unesp), de Bauru; Danilo
Perillo e Gustavo Torrezan (Unicamp/Ateliê 8), Gustavo Sampaio (Galeria Vertente), Paula Almozara (PUC), Samantha Moreira e Maíra Endo (Ateliê Aberto) e Sylvia Furegatti (Unicamp/
Pparalelo), de Campinas; Andréia Alcantara (Museu de Arte Popular [MAP]), de Diadema;
Adriana Lins (Centro Municipal de Educação Adamastor/Secretaria Municipal de Cultura), de
Guarulhos; Gustavo Torrezan Lauro Pinotti (Pinacoteca Municipal Miguel Dutra) e Rosângela
Camolesi (Secretaria Municipal de Cultura), de Piracicaba; Maria de Lourdes Marszolek Bueno
(Palácio das Artes), de Praia Grande; Adriana Amaral, Daré (Aproa e Paralelo 22) e Renan Araujo, de Ribeirão Preto; Cristina Suzuki, Damara Bianconi (Gambalaia – Espaço de Artes e Convivência), Douglas Negrisolli e Saulo Di Tarso, de Santo André; Ana Akaui e Cid Maia (Ateliê Oficina 44), Fabíola Notari (Estúdio Valongo), Juliana Okuda (Sesc–Santos), Marília Bonas (Museu
do Café) e Marcio Barreto, de Santos; Chico Galvão (Sesc–São Carlos), David Moreno Sperling,
Lívia Martucci (Divisão de Artes Visuais da Prefeitura de São Carlos), Luiz Diniz (Labi – Laboratório Aberto de Interatividade/ Ufscar) e Ruy Sardinha Lopes, de São Carlos; Amilton Damas
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curadores viajantes
MARCELO CAMPOS
Eram duas e meia da tarde quando comecei a me arrumar para encontrar a primeira artista a ser mapeada: Adriana Ricardo. Ela faz parte de uma das contradições que me interessam e tem uma curiosa
“Cada ribanceira é uma nação”
Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2011
trajetória no mundo das artes. Marquei o encontro às 16 horas, em frente ao Banco Itaú do Shopping dos
Antiquários, na Rua Siqueira Campos, em Copacabana.
Ontem, ao voltar da viagem de São Paulo, onde acontecera a primeira reunião com todo o grupo do
Resolvi não levar mochila. Como aprendi com os antropólogos, escolhi um caderno de campo pequeno,
Rumos, vim lendo no avião O Turista Aprendiz, de Mário de Andrade. Em busca de modos metafóricos de
de bolso, e uma máquina fotográfica discreta para enfrentar situações culturais grandes, constrangedo-
escrever a experiência de um trabalho de campo, algo ainda a ser iniciado por mim, invejei seu estilo colo-
ras até, já que iria começar a invadir e ser invadido pelo território alheio.
quial e com profunda poesia, ao mesmo tempo. Em alguns momentos, há certo transe na escritura, na qual
o autor relata e constrói paisagens oníricas com fatos reais, parecendo um Rimbaud. Como fazer, depois
15h11
disso, uma narrativa à maneira de “impressões de viagem”? Indo se embrenhar pelos confins do Brasil, logo
no primeiro parágrafo, Mário de Andrade relata sua partida de São Paulo, em 7 de maio de 1927:
– E esse tempo? – pergunto ao motorista de táxi, a clássica conversa para quebrar o clima e exercitar
minha porção diária de homem cordial. Como não gosto e não entendo de futebol, o tempo é sempre
Comprei pra viagem uma bengala enorme, de cana-da-índia, ora que tolice! Deve ter sido algum
a saída filosófica para os papos com os taxistas.
receio vago de índio [...]. Sei bem que esta viagem que vamos fazer não tem nada de aventura nem
perigo, mas cada um de nós, além da consciência lógica possui uma consciência poética. Às remi-
– Do lado de lá do túnel – responde ele – está tudo nublado, na zona norte.
niscências de leitura me impulsionaram mais que a verdade, tribos selvagens, jacarés e formigões. E
a minha alminha santa imaginou: canhão, revólver, bengala, canivete. E opinou pela bengala.
O Rio, como bem disse Zuenir Ventura, é uma “cidade partida”. Há várias fendas imanentes, invisíveis,
sem aviso de perigo que tentam ser resolvidas por várias instâncias normativas, mas o dado é mais meta-
Sempre tive inveja desses relatos de viagem, principalmente os resultantes das empreitadas dos antro-
físico: um lado ou outro da linha férrea, com gritantes diferenças entre os bairros suburbanos; as paixões
pólogos. Então, há alguns anos venho me arriscando em projetos de arte híbridos que tentam juntar,
das torcidas de escolas de samba e futebol; o morro e o asfalto; a zona sul e a zona norte, divididas pelo
pela “consciência poética”, parafraseando Andrade, essas duas áreas do conhecimento. Devo confessar
Túnel Rebouças, como na fala do taxista.
que quando leio Mil Platôs, inclino-me mais ainda às contradições e diferenças de um Brasil que em
pequenos pedaços, às vezes entre estados, ou, sob um olhar mais diminuto, num mesmo bairro, pode
Assim, desço a Rua Marques de São Vicente, vejo um casal de gringos vestidos de turistas andando de
nos fazer afirmar: “cada ribanceira é uma nação”, como o Rio da canção de Chico Buarque.
bicicleta, chapéus, filtro solar mal espalhado pelo corpo, pele rosa, cor do jornal dos esportes de antigamente, denunciando o abuso do banho de sol. E o taxista comenta:
Hoje, comecei o mapeamento pela minha janela. Moro no alto da Gávea, um bairro carioca com muitas galerias de arte: Mercedes Viegas, Silvia Cintra, Anita Schwartz, Anna Niemeyer, Toulouse. Assim,
– Que figuras! Olha a calcinha dela, toda para o lado de fora do short!
vizinha ao meu prédio abriu uma nova galeria, a Galeria da Gávea, destinada mais especificamente à
fotografia. Nunca havia estado lá, pois tem de ligar antes, não é aberta. Tentei agendar uma visita para
Mas, além dessas fendas culturais, temos as fendas da natureza. Sabendo que iria produzir este relato,
hoje, pela manhã, mas só consegui marcar para o fim da tarde, às 18 horas. A poucos metros dessa
fiquei atento, logo na primeira manobra do táxi, às pedras do morro Dois Irmãos. Descendo um pouco
galeria, há a Casa da Gávea, antiga residência dos Moreira Salles, hoje instituto cultural. Subindo mais
a rua, chegamos às alamedas de palmeiras imperiais do Jardim Botânico. Olho o Cristo, por entre as
a ribanceira, já avistamos a favela do Parque da Cidade e uma das entradas da favela da Rocinha, uma
alamedas, e o fotografo, coberto de nuvens. Ser carioca é se acostumar com hiatos, penso eu. Atravesso
das maiores da América Latina.
toda a Rua Jardim Botânico, passo em frente ao Parque Lage.
Com isso, meu interesse por essas contradições urbanísticas e socioculturais recairá, inevitavelmente, no meu
[...] Durante todo processo de mapeamento, até o final, usei a Escola de Artes Visuais do Parque
processo de mapeamento, na busca por “expressões emergentes”, como citado no edital Rumos 2011-2013,
Lage, autorizado pela diretora Cláudia Saldanha, auxiliado por toda sua equipe, para encontros
olhando um dos estados brasileiros, onde à contradição social se chega a pé, a poucos metros da minha janela.
com muitos artistas “mapeáveis”. Muitas vezes aproveitava o final das minhas aulas nessa mesma
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curadores viajantes
escola e as apresentações se davam com plateias espontâneas, atentas, ajudando-me na elaboração das perguntas.
Essa escola voltou a ser um lócus de criação e difusão das artes. Sob a nova direção, alguns programas
gratuitos, apoiados pela Prefeitura do Rio, reoxigenam a emblemática escola de arte. Há cursos de
Fundamentação, para o público leigo, estudantes do ensino médio e graduandos, que funcionam como
introdutórios às atividades artísticas e à história da arte. Além disso, os alunos podem ser escolhidos
como bolsistas em mais três cursos pagos. Outro programa destina-se exclusivamente a alunos artistas,
chamado Aprofundamento. Também gratuito, tal programa reúne excelentes artistas, pré-selecionados
por profissionais da arte, que desenvolvem projetos e discutem a produção em aulas e exposições. Ali,
pude conhecer com mais acuidade os trabalhos de Rodrigo Torres, Gabriela Mureb, Flávia Metzler,
Pontogor, Luiza Baldan, Gabriela Noujaim, Anna Kahn, Carolina Veiga, Daniela Seixas, Elvis Almeida,
Louise DD, Anita Sobral, Rafael Adorjan, AoLeo, Jimson Vilela, Bruno Miguel, Mariana Katona, Juliana
Borzino, Sofia Gerheim, Micheline Torres, Daniel Lannes, Manoel Novello, entre outros.
Muitos artistas entrevistados por mim haviam passado por esses programas, até mesmo os que foram contemplados na seleção final. Com isso, a arte carioca vai agregando possibilidades impactantes de discussão,
difusão e circulação de conhecimento, promovendo o encontro de estudantes com artistas e críticos mais
jovens ou já estabelecidos, que assumem o papel de professores. Essa sempre foi a função da Escola de
Artes Visuais do Parque Lage. O que, depois dos anos 1980, para a cena carioca, fora enriquecido pelos programas dos cursos de mestrado e doutorado, nas universidades, ou por artistas que exerciam suas atividades
fora das salas de aula, dentro dos ateliês, formando grupos de estudo ou contratando assistentes que enveredavam para a carreira artística. Tudo isso até hoje acontece, como pude perceber no mapeamento [...].
Depois de passar pelo Parque Lage, logo em seguida o táxi se posiciona para fazer um pequeno desvio,
pegando a curva do Espaço Cultural Sérgio Porto em direção ao Cemitério São João Batista para cortar
caminho pelo Túnel Velho, que liga Botafogo a Copacabana. Ladeamos o muro do cemitério, atravessamos o túnel e chego rápido, em 20 minutos, ao meu destino, meu desembarque. Mário de Andrade, em
suas viagens, falara mal da urbanização carioca, preferindo, como bom folclorista, as casas suburbanas.
Desembarco numa rua de arquiteturas um tanto caóticas, e vejo o feio shopping de pedra e cal.
Como ainda faltava meia hora para meu encontro com Adriana, resolvo ir à Galeria Cosmocopa, administrada pelo artista Felipe Barbosa. Sabia que lá haveria trabalhos de jovens, produção “emergente”. Procuro
pelos corredores e um segurança me indica o caminho. A galeria é pequena, recém-aberta, e apresenta
sua segunda exposição: Lin Lima. O artista faz desenhos diretamente nas paredes, como Sandra Cinto,
Leo Ayres
Interseções, 2011
Camas recortadas e encaixadas, dimensões variáveis
Cut bed frames overlapping each other, various sizes
Pedro Varela, entre outros, mas deixa um ar um tanto cibernético nas formas. São redes, malhas, tramas
que criam situações semelhantes às “renderizações” de computador. Ao mesmo tempo, a proximidade
oriental é obvia, Hokusai e Cia. Sei, de antemão, que Lin participara do Grupo Nuvem, um coletivo que fi-
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curadores viajantes
zera trabalhos interessantes de intervenções em viagens pelo Brasil e que me fora apresentado por Marisa
Brígida Baltar e Pedro Varela. Eu me surpreendi positivamente com uma fotografia. Leo faz uma série
Flórido. Um díptico de fotografias deixa entrever outra faceta de Lin Lima, em que ele aparece pulando as
de trabalhos brincando com a masculinidade das camuflagens militares. Ele substitui o desenho destas
pedras de um riacho dentro de uma mata. Obviamente, um trabalho fruto dessas viagens.
por vários padrões de viadinhos (alces) nas cores dos uniformes. Além disso, se inscreve num salão de
arte da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) com essas camuflagens aviadadas e é premiado.
Fui recebido por Bruno, muito solícito e gentil ao me mostrar trabalhos de artistas que tivessem pro-
Há um vídeo hilário sobre isso: <leoayres.com>. Leo Ayres inscreve o trabalho no salão da Academia
duções a partir do ano 2000. Ele se lembra de Louise DD, artista que trabalha com objetos curiosos
Militar e recebe comentários sobre a “fotografia”, sem que ninguém perceba a espécie de animal que
numa poética mórbida, brincando com embalagens e drágeas de remédios, comprimidos em pelúcia
está ali apresentada. A foto que vi na Cosmocopa mostra um dormitório com duas camas e numa delas
[...]. Gostei de uma série em que pinta quadros em pequenos formatos com os vários brancos possíveis
um boné militar. Há um homoerotismo bacana, insinuado, desejoso, importante para o Brasil de hoje.
do esmaltado de dentes. Há também pinturas com imagens das telas do Atari, um video game em de-
Lembro-me do conto Sargento Garcia, de Caio Fernando Abreu. Bruno também mostra o trabalho de
suso. Os trabalhos seguem, um pouco, a esteira mórbida inglesa, Jenny Saville e Damien Hirst, mas com
Rafael Alonso, mas ressalvo que este já havia participado do Rumos anterior.
bastante sinceridade. Também se inserem na onda das pelúcias, de Leda Catunda a Raul Mourão ou
do paulistano Camille Kachanni. Louise é artista, hoje, participante do programa de mestrado da UFRJ.
[...] Na sala de reunião do hotel, em São Paulo, a equipe do Rumos se encontrava eufórica, depois de viajar aos confins do país continental, para mostrar o mapeamento de cada um. Nos dias que se seguiram,
[...] Na pós-graduação da UFRJ, o encontro se deu diretamente no ateliê destinado à produção e às au-
os grupos de curadores abriam os portfólios enviados. Ali víamos o Brasil sob a alcunha da arte, entre
las. Ali, discuti o portfólio de artistas com produção de pintura, vídeo, intervenções urbanas, coletivos de
aspas. Pude rever o trabalho de Leo Ayres e perceber a importância da voz que poetiza o amor entre
arte. Tive acesso às produções de Jacqueline Siano, Isabel Caerneiro, Daniel Toledo, que apresentou seu
iguais. Fiquei muito bem impressionado por um conjunto de camas de solteiro imbricadas, juntadas
trabalho individual e do coletivo OPAVIVARÁ, Júlia Pombo, Felipe Braga e do colombiano José Lopez.
em nós enviesados, sem estrados, pertencendo novamente ao âmbito do desejo de união afetiva, não
só homoafetiva, mas sobre o amor em geral. Percebi, com satisfação, que o trabalho pudera abrir-se a
Na Uerj, local em que atuo como professor efetivo, também conversei com alunos da graduação e do
sentidos amplos [...].
mestrado, conhecendo uma produção variada em distintos meios. Maira das Neves apresentou seu
trabalho, mas se deu conta de que já havia participado do Rumos anterior. Mesmo assim, vi atentamente
Saio da galeria já dez minutos atrasado para o encontro com Adriana Ricardo. Desço as escadas ro-
seu portfólio. Na Uerj, o primeiro encontro foi marcado em torno de artistas da performance: João
lantes, pego um dos corredores no térreo do edifício e a vejo defronte à vitrine do Itaú. Lembrei-me
Penoni, Domingos Guimarães, Luana Aguiar, Franciane Junqueira.
um pouco do rosto dela que só havia visto por uma reportagem de jornal. Me apresento e saímos do
shopping. Ela me pergunta se trabalho com exposições e eu explico todo “reme-reme” da carreira de
Uma grata surpresa no mapeamento foi a produção que partia de escolas de dança, como as de Carlota
professor-pesquisador-curador rapidamente. Deixo-a conduzir nossos passos o que a faz se direcionar
Portela e Angel Vianna. Assim, Sofia Gerheim, Celina Portela e Micheline Torres, por exemplo, apresen-
a uma motocicleta. Penso com muita apreensão e querer, concomitantemente, que ela me convidará a
tam uma excelente discussão que se situa no limiar entre a dança e a performance. Tais artistas utilizam,
subir a favela da Ladeira dos Tabajaras a poucos metros de onde estávamos a bordo da possante má-
muitas vezes, a chamada videodança como meio, mas conseguem resultados que muito têm a contri-
quina. Mas, minhas impressões se liquefazem.
buir com a discussão das artes visuais.
Adriana Ricardo tornou-se uma “querida” dos artistas residentes no Rio que passaram a comprar seus
É curioso perceber que parte dessa produção já está sistematizada em galerias de arte, mas a maioria
trabalhos. Já havia visto uma pintura no apartamento de Luiz Zerbini, no ateliê de Laura Lima. Além disso,
ainda se restringe a estudos, pesquisa e recorrentes exposições, porém a circulação é cada vez mais
quem impulsionou essa visibilidade foi Tiago Carneiro da Cunha, a quem recorri para conseguir os conta-
intensa. Há um cruzamento desses dados: a mesma artista que conheci nas salas da Uerj, como Daniela
tos dela e para pedir uma opinião sobre a validade de um programa como o Rumos para esta artista.
Seixas, vi expondo no curso de Aprofundamento do Parque Lage e numa mostra em Barra Mansa.
Portanto, esses pesquisados, às vezes, se repetiam no mapeamento [...].
[...] procurando os inscritos no programa, vi que Adriana não se inscrevera [...].
Continuando a visita na Cosmocopa, também observo os trabalhos bem-humorados de Leo Ayres, que
Digo isso, pois a cidade partida faz dela uma artista com trajetória intrigante, curiosa. Percebo logo que há
já conhecia e pude conversar e ver o portfólio depois, num encontro do Grupo Alice, coordenado por
uma resistência, por parte de Adriana, a me levar até a Ladeira dos Tabajaras. Ao que respeito, com frus-
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curadores viajantes
tração. Estava eu exercendo a consciência poética, colonial, exótica do explorador. Rapidamente, resgatei
minha consciência lógica e procurei deixá-la à vontade para mostrar seu trabalho da maneira que melhor
lhe aprouvesse. Adriana, ainda ao lado da motoca, abre um albunzinho de fotos, desses de casa de revelação, e vai passando as imagens em 10 x 15 centímetros. Ali, vejo as pinturas e ouço sua trajetória.
– Você vendia na Feira da Help? (Esta é uma feira que fica na orla de Copacabana para vender artesanatos para turistas em frente a uma boate de prostituição, demolida para dar lugar à nova sede do Museu
da Imagem e do Som).
– Sim – ela me diz, e desfia o mesmo discurso que eu já havia lido nos jornais. – Construí minha casa
vendendo pinturas lá. Todo fim de semana. Agora saí. Não adianta vender só e não saber mais do trabalho. Tenho trabalhos no mundo todo, mas não sei onde, nem com quem.
Vejo as pinturas e percebo que ela começara com desenho de rostos, como esses que vemos
nas ruas das cidades, paisagens mais duotones, também comuns nos artesanatos. E, logo depois,
vêm as impressionantes pinturas de favelas. São os “Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes
da favela”, como nos versos de Oswald de Andrade, que fazem a beleza dessa pintura. Uma
pintura-poesia que existe nos fatos, como nos ensinou o poeta. Adriana não tem a cor caiada de
Volpi, nem a geometria racional dos concretistas. O que nos impressiona é o grau de realidade
e banalidade que a moveu a pintar. Ela não se deixa cair na esparrela das pinceladas soltas, expressivas, gestuais e isso a coloca com graus de distância do artesanal. Os ângulos escolhidos são
bastante aproximados, o que a faz não abstrair as formas. Há uma luz que, obviamente, impactou
os citados artistas contemporâneos. Essa luz evidencia-se menos pop do que em Richard Estes,
melancólica como em Eric Fischl. Mas ela é a nativa-autora, como gosta a antropologia. Pinta o
lugar onde mora, mora no lugar onde pinta. Um ponto de vista êmico, portanto. Naïf, poderíamos
nos perguntar? Tanto quanto Marepe. Não existe mais arte naïf, talvez nem haja cultura popular.
Essa é uma invenção erudita do século XX, uma das mais brilhantes, mas está morta. Pode haver
arte para turista, arte para galeristas, arte para intelectuais, mas não há mais arte naïf. Fico pen-
Adriana Ricardo
Morro do Bordel, 2003
Tinta acrílica, 80 x 70 cm
Acrylic paint, 80 x 70 cm
sando nisso, enquanto converso com Adriana. Por isso, gosto de me intrigar com a inserção da
pintura “primitiva” de Elisa Martins da Silveira na exposição concretista do Grupo Frente, nos idos
de 1955, e sua ausência na crítica de Ronaldo Brito. Penso em Adir Sodré e Gervane de Paula na
pintura da geração 80.
Adriana Ricardo expôs, recentemente, na Lehmann Maupin, em Nova York, com a curadoria de Tiago
Carneiro da Cunha. Vendeu uma tela e espera os 2.400 reais, além das outras duas telas não vendidas. A lógica monetária que moveu a entrada de Adriana na antiga Feira da Help é curiosa. Ela fazia
curso de pintura, trabalhando como doméstica. Vinda do interior da Paraíba, já desenhava desde
criança. Então, como a pintura demora a ser feita, na barraca e na lona de chão onde ela expunha, não
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curadores viajantes
tinha nunca muita oferta, “umas três ou quatro” por fim de semana. Ela precisava produzir mais para
Como afirmara Canclini, a lógica da pós-modernidade chega, na América Latina, quando a mo-
vender mais e não conseguia, pois sua fatura demorava, o que a tirava da feira algumas vezes. Agora,
dernidade nem sequer fora implantada por completo. A crueldade da modernidade se direcionara
diz ela, de que adianta fazer só para vender? Adriana pensa, então, em acumular a série de favelas
ao progresso, às construções sedentárias da arquitetura, mas o mundo caminhara para a mobilida-
cariocas: Turano, Rocinha, Juramento [...] para fazer uma exposição.
de, o nomadismo, as realidades virtuais, os territórios invisíveis, as viagens diante do computador.
O programa Rumos se propõe a mapear arte contemporânea, o que muitas vezes sequer existe.
[...] Aqui falamos de uma autodidata, uma pintora residente em comunidade carente, mas, no-
Mapeamos e fazemos existir arte por estímulos mútuos, concomitantes, nos olhos de quem vê, na
vamente, aponta-se a contradição da proximidade à praia cartão-postal de Copacabana, onde a
vontade de quem recebe.
possibilidade de “turistificação” revelou-se em arte. Há um grande esforço de algumas instituições
em descentralizar o acesso a exposições, estimulando ações em áreas periféricas do Estado com
[...] neste mundo nômade, o mapeamento apresentou-me poucos ateliês, já que os artistas preferiam
cursos de arte e, não podemos negar, atividades recreativas. Na escolha de lugares para o roteiro
me mostrar a produção em portfólios no computador e, com produção emergente, muitos utilizavam
do mapeamento, procurei focar cidades do Rio que tivessem proximidade com cursos e institui-
os espaços residenciais sem destinar área específica para criação. Ao mesmo tempo, isso agilizava os
ções destinadas ao ensino e difusão das artes visuais. Para isso, consultei a listagem de lugares do
encontros que puderam agregar vários trabalhos numa única reunião. Dos ateliês, destaco a produção
programa anterior e o próprio curador-mapeador, Guilherme Bueno, que evidenciou a importân-
de Andrea Brown, Cláudia Hersz e Renato Bezerra de Mello, artistas que começaram a produzir mais
cia do Sesc como possível parceria nas palestras de difusão e encontro com artistas. Conversei
tarde, a partir de cursos no Parque Lage, de experiências fora do Brasil, ou de atividades anteriores em
com a coordenadora das artes visuais do Sesc–RJ, Stela Costa, que me auxiliou na organização
figurino, arquitetura. Andréa, Cláudia e Renato produzem desenhos, bordados, esculturas e objetos
de algumas palestras nas serras do Rio – Petrópolis, Teresópolis, Friburgo – e no sul fluminense.
em madeira, pedra, resina, espelhos, tapeçaria e têm uma cuidadosa finalização das peças. A escultura,
Um fato que se repetiu, ao chegar a determinadas cidades, foi a informação de que alguns cursos
neste mapeamento, foi o meio a que menos tive acesso. Encontrei alguns artistas de fora da capital, em
de arte, públicos ou privados, haviam sido encerrados por falta de alunos interessados ou por des-
Petrópolis, Teresópolis, Paraty, por exemplo, mas não percebi o estímulo pela produção escultórica nas
caso das próprias instituições. Assim aconteceu na região do sul fluminense, mais especificamente
universidades ou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Seria este um sintoma da invasão positiva
em Barra Mansa. Contudo, pude conhecer estudantes egressos desses cursos direcionando-se a
dos meios tecnológicos e da arte feita com sons, aparelhagens, música? [...].
buscar programas de pós-graduações, mestrados e doutorados na capital. Fui destacando, com
grande recorrência, a reflexão de que o “sistema de arte” no Rio de Janeiro busca na própria
“Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína”, a metáfora da favela das pinturas de Adriana Ri-
capital suas estratégias de marginalidade. Ou seja, parece que a própria cidade engloba e aceita
cardo ganha sentido nas contradições da presença inalcançável da arte na vida dos sujeitos. Da vida, na
programações paralelas à oficial, exposições em ateliês, ocupações urbanas, “vitrines efêmeras”,
vontade construtiva de pintar e construir o barraco no curso de um cotidiano iluminado por estampidos
galerias em postes públicos, ações de lambe-lambe nos muros da cidade. O Rio aglutina suas
das armas de fogo e pelos fogos de artifício nas comemorações do Ano-Novo. Clarões que perten-
periferias. Isso não deve se colocar como dado ilusório. Há, sim, um circuito para poucos: nas ga-
ceram à minha própria vida como alguém que procura na arte a iridescência da cidade cartão-postal.
lerias, museus e centros culturais, porém a predisposição da imprensa e da própria classe artística
Sinto o fundo da mata virgem de Macunaíma, enquanto o cheiro da maresia desorienta minha bússola.
para participar dos eventos paralelos, de ações mais espontâneas, ainda é bem forte. Desenha-se
A quem recorrer? “São Sebastião crivado nublai minha visão.”
um Rio com mostras descompromissadas, querendo a alegria do encontro para beber cerveja no
isopor, seguindo a tradição deflagrada nos anos 1960.
Resolvo registrar, ali mesmo, no shopping de Copacabana com a minha câmera, algumas imagens das
pinturas. Adriana Ricardo promete que quando estiver com duas pinturas recentes mais adiantadas e
Dividi a escolha das cidades por posições geograficamente estratégicas para tentar uma maior abran-
devolverem as outras de Nova York, me chamará para o ateliê.
gência de lugares. Na região serrana, visitei Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. No sul fluminense,
mais especificamente na Costa Verde, a cidade de Paraty, cada vez mais valorizada nas atividades cul-
Volto para outra ribanceira do Rio, para fazer minha última visita do dia, na minha vizinha Galeria
turais com festivais de cinema, literatura e fotografia. Ainda nessa região, mais ao interior, Barra Mansa,
da Gávea. A galeria fica no térreo de um prédio residencial. Sou encaminhado para conhecer
com uma atuação intensa no Sesc e em outros espaços culturais, como a Fazenda da Posse; além de
Ana Stewart, uma das sócias da galeria, e me sento ao redor de uma mesa onde outras senhoritas
Barra do Piraí e Resende. Ao norte do Rio, mapeei o maior município do interior do estado, Campos dos
conversam. Sou apresentado à outra sócia da galeria e a relembro que já fomos apresentados no
Goytacazes. Mais próximos à capital, mapeei artistas da Baixada Fluminense e de Niterói. [...].
Paraty em Foco. Ana Stewart, bonita, perfumada, se interessa pelo programa Rumos e resolve
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curadores viajantes
JÚLIO MARTINS
me mostrar a sua própria produção. “São fotos sobre mulheres do Rio”, me diz ela. Assim, vemos,
juntos, uma série com mulheres negras, com corpo avolumado, nas praias, nos mangues, se exibindo para lente. Ela explora esse lado da cidade partida, vista de fora. Uma criança no morro da
Relatos de certa “margem”: Espírito Santo e Minas Gerais
Serrinha, em Madureira, abraça um aquário. “Tudo no Rio?”, pergunto. “Sim, no estado do Rio.”
Ela me promete o portfólio por e-mail e, educadamente, me leva até a porta lateral da galeria que
O viajante compreende melhor os sentidos de “estar” do que se apega à ideia de “ser”. Seu olhar dedi-
fica em frente ao meu prédio.
cado reconhece possibilidades nos mais tênues signos da alteridade, dada a porosidade que é provocada em sua percepção. A paisagem do encontro revela estímulos, caminhos para o viajante.
Volto para casa como se tivesse atravessado itinerários longínquos – “ultimamente tem se passado muitos anos” – tão diferentes, tempos tão díspares. Percebo que de fato devemos repensar as noções de
Réquiem, de Sara Lambranho, surge de um mapeamento de sutis símbolos do poder que demarcam
“viagem, fronteira, corresidência, interação”, como nos explica James Clifford. Hoje, os cenários culturais
posse e segregação, limites e adornos na paisagem da cidade. As formas gráficas de portões, grades
são sincréticos, densos e podem ser as montanhas da Nova Guiné, como afirma Clifford, ou um bairro,
e cercas de segurança são inseridas pela artista nas pautas de uma partitura musical. Resguardando
uma casa. E a arte faz o que com isso? Quem pode interpretá-los?
sua origem e a conotação violenta e normativa que tais formas adquirem, as notações compostas
serão interpretadas por músicos, numa performance. Esse trânsito de linguagens faz surgir, com base
“Até que ponto o núcleo de um grupo é a periferia do outro?”
na paisagem urbana, uma sonoridade.
MARCELO CAMPOS é professor adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte da Uerj. Doutor em
“Existem certos momentos em que a vida produz um som.” Essa é a conclusão que encerra Bratislava,
artes visuais pelo PPGAV da Escola de Belas Artes/UFRJ. Publica textos sobre arte brasileira em periódicos e ca-
vídeo do capixaba Gui Castor, que registra o desabafo incompreensível de uma mulher solitária no
tálogos nacionais e internacionais. Curador de Casa Forte (individual de Renato Bezerra de Mello, Centro Cultural
parque da cidade. Engajando a linguagem audiovisual no escoar intenso do momento, entre a mulher e
do BNB: Sousa, 2010); Estrela Brilhante (individual de Bárbara Wagner, Instituto Cultural Banco Real: Recife, 2010);
o artista “não havia mediação, nem camuflagem, apenas distâncias”: o vídeo testemunha um encontro,
Faustus (individual de José Rufino, Palácio da Aclamação: Salvador, 2010); E Agora Toda Terra É Barro (individual
uma sensação. Como não há tradução da fala em eslovaco, o espectador participa do mistério, esbarra
de Brígida Baltar CCBNB: Cariri e Fortaleza, 2008/2009); Ocupação – CasaCor (coletiva Jockey Clube do Rio
na incomunicabilidade que se instaura, intuindo, no entanto, um relevo expressivo que o aproxima e
de Janeiro, 2009); Alcova (coletiva Galeria Laura Marsiaj: Rio de Janeiro, 2009); Desenho em Todos os Sentidos
garante uma imprecisa cumplicidade com o que se apresenta ali. Por muitas e insuspeitas vias podem se
(coletiva Sesc–Petrópolis, Teresópolis, Friburgo, 2008); Sertão Contemporâneo (coletiva Caixas Culturais do Rio de
estabelecer relações e comunicação com o outro.
Janeiro e Salvador, 2008 e 2009); NAUSEA (individual José Rufino, Centro Cultural BNB: Sousa e Fortaleza, 2008
e 2009); Cariri: Impressões de Viagem (individual Efrain Almeida, Centro Cultural BNB: Juazeiro do Norte, 2007).
O viajante está sempre atento aos ruídos e às falhas que se dispõem no diagrama de um encontro.
Sabe ainda que sua presença interfere nos fenômenos que observa e, por essa razão, sente-se convidado a, declaradamente, provocar e se oferecer a uma contaminação mútua. Num esforço em
desapegar-se das expectativas que ainda mantém, o viajante abre-se à compreensão da ideia de
arte que se constrói em cada lugar que visita, e, portanto, terá suas próprias certezas e familiaridades
alteradas. O olhar do viajante é constantemente reinaugurado.
Desde o último mapeamento realizado pelo Rumos, o cenário capixaba transformou-se, e a arte
contemporânea produzida em Vitória, Vila Velha e Viana inspira muito otimismo. Toda a rede
institucional ligada à formação dos artistas, fomento à produção e editais de exposição foi recentemente reformulada e encontra-se em pleno desenvolvimento. A boa qualidade da produção artística jovem local é um sintoma positivo desse momento. Os artistas têm articulado colaborações e
firmado estratégias comuns de produção e divulgação de seus trabalhos. A Universidade Federal
do Espírito Santo (Ufes) oferece graduação em artes visuais e mestrado teórico, mas há interesse
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curadores viajantes
urgente em instituir uma linha em poéticas visuais, destinada aos artistas. O departamento recebeu novos professores de várias regiões do país, o que contribui para o processo de renovação e
atualização do ensino nas questões da arte contemporânea. A universidade mantém dois espaços
expositivos: a Galeria Espaço Universitário e a Galeria de Arte e Pesquisa, esta inteiramente dedicada à experimentação e à ocupação pelos estudantes, com editais, projetos de residência e de
intervenção urbana e grupos de pesquisa. A consolidação do Museu da Vale, em Vila Velha, com
a realização de um seminário anual em arte contemporânea, e o fortalecimento do Museu de Arte
do Espírito Santo (Maes), que passou por uma ampla reestruturação conceitual nos últimos anos,
redefinindo práticas em torno do acervo e da programação, foram importantes para estimular o
fortalecimento da cena artística. Há ainda o Cais das Artes, projeto do governo estadual que iniciou a construção de uma instituição de grande porte na capital. Outro projeto importante acontece em Viana, a 20 quilômetros de Vitória, cidade que possui riquezas geográficas e culturais únicas,
exploradas no programa de residência da Galeria de Arte Casarão. Com estrutura de apoio para
hospedar os artistas, o Casarão apresenta dois espaços expositivos. É sem dúvida a iniciativa que
melhor representa o salto qualitativo da cena capixaba dos últimos anos, na medida em que estabelece padrões e objetivos alinhados à produção de arte contemporânea. Inaugurado em 2009, o
Casarão promoveu a residência de José Rufino e Josely Carvalho, que produziram trabalhos com
base na pesquisa de campo, na investigação na cidade e no engajamento da comunidade local nos
processos artísticos. Os editais públicos destinados à pesquisa e à ocupação da galeria Homero
Massena são importantes instrumentos de fomento à produção jovem de arte contemporânea no
Espírito Santo, com destaque para o Ateliê Estímulo às Artes Visuais. A galeria fica no primeiro
andar de um prédio abandonado e vem buscando ocupar os andares superiores com ateliês para
os artistas. É muito importante que esses espaços, cujo perfil institucional dedica-se à arte contemporânea, consolidem e ampliem suas ações e seus projetos, mantendo o aquecimento e garantindo
o amadurecimento da cena artística no Espírito Santo.
Belo Horizonte dista 590 quilômetros de São Paulo e 450 do Rio de Janeiro. Entretanto, esses dados
são imprecisos. Mantendo uma distância oscilante do eixo Rio–São Paulo, por momentos próxima e
integrada, por outros, marginal e longínqua, a capital mineira preserva certos impasses e ambivalências em seu contexto cultural. Como projeto final para a exposição que concluiu um ano de sua residência em Belo Horizonte pelo Bolsa Pampulha, em 2011, o artista Shima realizou Jantar no Museu.
A performance consistiu em oferecer um jantar no Museu de Arte da Pampulha para amigos que
conheceu na cena artística da cidade nesse período. Shima é um viajante, morou em vários lugares do
mundo. O que chamou sua atenção em Belo Horizonte foram o isolamento dos grupos e a formalidade velada com que se mantêm atritos e desafetos. Foi justamente por sua condição estrangeira
que pôde transitar entre esses grupos e percebê-los. Interessado em diluir a fronteira entre performer
e público, e atentando para essa característica cultural do meio belo-horizontino, Shima provocou
uma situação de encontro para 80 convidados, entre artistas, curadores, gestores e agentes culturais,
Thislandyourland (Ines Linke e Louise Ganz)
Percurso 1, 2007
Passeio ao longo da infraestrutura de água, Nova Lima (MG)
Walk along a water pipeline, Nova Lima (MG)
Instalação fotográfica, 22 x 2 m, impressão sobre bâner
Photografic installation, 22 x 2 m, printing on banner
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curadores viajantes
estudantes e professores de arte. Sob a ordem de um evento social no museu, a experiência concre-
O interior mineiro surpreende por sua rica diversidade em especificidades culturais. Uberlândia tem
tizada pelo trabalho provocou e tornou evidentes os sintomas de um meio profissional desarticulado
sua cena artística muito bem estruturada institucionalmente. A UFU oferece graduação em artes
e pouco propício à partilha. Os grupos estavam ali reunidos e estabelecendo um pacto invisível à
visuais e recentemente deu início ao mestrado. A grade curricular foi atualizada com laboratórios e
mesa, o que, no entanto, intensificava as tensões e os limites de suas relações, gerando consciência e
grupos de pesquisa que tematizam linguagens da arte contemporânea. A universidade é também
visibilidade do estado das coisas nesse contexto específico.
responsável pela gestão do MUnA (Museu Universitário de Arte) de Uberlândia, que funciona como
um laboratório para os alunos nas áreas de montagem, produção, museologia, conservação e artee-
Belo Horizonte se orgulha de sua vocação moderna. Contudo, não há arte moderna para ver na cidade.
ducação. O museu recebe itinerâncias, promove exposições com base em seu acervo e compõe sua
O Museu Mineiro está fechado para reformas há mais de três anos e o Museu da Pampulha ainda ba-
programação com seis exposições anuais por meio de edital aberto em âmbito nacional. O trabalho
talha junto à prefeitura a implementação de seu anexo para exibição de acervo. O legado da história da
no museu é tecnicamente exemplar e engaja-se com o ensino, oferecendo oportunidades de for-
arte mineira continua inacessível a artistas, estudantes de arte e público geral.
mação profissional aos alunos. O governo municipal mantém uma rede de espaços expositivos cuja
programação é realizada por edital. Galeria de Arte Ido Finotti, Oficina Cultural, Casa da Cultura e o
Por outro lado, nota-se, por parte das instituições, um interesse renovado em compreender as dinâmi-
Espaço Cultural do Mercado são instituições dedicadas às exposições de arte que dinamizam a cena
cas de produção e exibição da arte contemporânea. Tendo tido uma renovação visível na última ges-
local, dando visibilidade aos jovens artistas e permitindo intercâmbios com artistas de outras regiões.
tão, o Palácio das Artes definiu melhor seu perfil de exposições e fortaleceu a programação por edital,
Certamente a boa qualidade da produção deve-se à notável organização da paisagem institucional
que contempla principalmente a produção dos jovens artistas. Já o Bolsa Pampulha, embora tenha
em parceria com a universidade. A Igreja do Espírito Santo do Cerrado, projeto de Lina Bo Bardi,
apresentado inconsistências em suas últimas edições e sofrido com as repetidas mudanças no quadro
dá a dimensão da identidade cultural da cidade, principalmente se pensarmos em contraste com o
burocrático do Museu de Arte da Pampulha, continua sendo o mais importante programa da cidade.
patrimônio arquitetônico da tradição barroca em Minas.
O Bolsa Pampulha recebe artistas residentes de todas as regiões do Brasil, o que oxigena o contexto e
proporciona plataformas de diálogo no meio artístico local. Os artistas residem na cidade durante um
Ipatinga, mapeada pela primeira vez pelo Rumos, é uma cidade com apenas 47 anos, criada em função
ano e produzem projetos que serão exibidos numa exposição no final desse período.
das atividades da Usiminas. A empresa implementou em 2002 o Centro Cultural Usiminas, responsável
(junto com o curso de arquitetura da Unileste, já extinto) pela formação da cena artística local. Além de
Cabe ainda mencionar iniciativas em torno de pesquisa, formação, produção e exibição da arte contem-
receber e produzir exposições em seu espaço, a instituição mantém o Prêmio Usiminas de Artes Visuais,
porânea de Belo Horizonte por parte do Centro de Experimentação e Informação de Arte (Ceia) , com
o edital para ocupação da Galeria Zélia Olguin e o Fórum de Arte Contemporânea, além de seminários
eventos temáticos, seminários, publicações e programas de residência, além dos editais de Cemig, Co-
e workshops de importância fundamental para intercâmbios e formação dos artistas. Merecem menção
pasa, BDMG, Funarte e do Centro Cultural da UFMG que recebem exposições de jovens artistas locais.
o coletivo Hibridus e a Banca de Design, iniciativas de artistas da cidade.
É curioso que as duas escolas de arte da cidade – Escola de Belas Artes, UFMG, e Escola Guignard,
A proximidade de Juiz de Fora com o Rio de Janeiro não é só geográfica. As referências em termos
UEMG – não produzam ações em parceria. Por sinal, uma marca negativa do contexto belo-horizon-
culturais e artísticos da cidade são mais cariocas do que mineiras. A cena local está em plena forma-
tino é a falta de oportunidades de encontros, intercâmbios, diálogos e colaborações, tanto institucio-
ção, principalmente devido à consolidação institucional do Museu de Arte Moderna Murilo Mendes
nalmente como entre os artistas. Nesse sentido, Belo Horizonte apresenta uma cena fragmentada,
(Mamm), cujas estruturas técnica e museológica são excelentes, e ao estabelecimento da ênfase
desarticulada, ainda que se ressalte a excelente qualidade da produção jovem. A despeito da ausên-
em artes no Instituto de Arte e Design da UFJF, que vem fortalecendo o quadro docente e formará
cia de uma rede institucional consistente na cidade, os jovens artistas se articulam e, principalmente
sua primeira turma em 2012. Quando da minha visita, o Mamm recebia itinerância de um recorte da
em iniciativas independentes, têm contribuído para uma ativação da cena. É importante apontar uma
29ª Bienal de São Paulo. Há uma geração incipiente de jovens artistas interessados em arte contem-
falha decisiva nas instituições de ensino: a ausência de espaços expositivos ativos dentro das escolas.
porânea se articulando em grupos de estudo e organizando eventos e exposições que certamente
A galeria da EBA foi transformada em repartição burocrática da escola enquanto a Galeria da Escola
alcançará maturidade nos próximos anos.
Guignard fica a maior parte do ano fechada, salvo o recente projeto Atelier Aberto, que recebe
jovens artistas para ocupar o espaço e ali desenvolver projetos. O período de produção é aberto a
A herança histórica e a paisagem patrimonial de Ouro Preto definem a visualidade preponderante
visitas e resulta em uma exposição ao fim de seis meses.
na produção artística da cidade. Com uma evidente defesa do fazer artesanal e das temáticas
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curadores viajantes
Sara Lambranho
Réquiem, 2011
Desenho, instalação, performance e vídeo
Uma série de desenhos feitos a partir de dispositivos de segurança em muros e cercas é musicado numa performance. Após a apresentação, as
“partituras”permanecem instaladas no espaço expositivo enquanto uma TV exibe o registro do show, gravado pela câmera de segurança do local.
Drawing, installation, performance and video
A series of drawings based on security devices fixed to walls and fences are set to music in a performance. Then, the “scores” remain installed in the
exhibition space while the performance appears on a TV screen as recorded through an on-site surveillance camera.
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curadores viajantes
locais há, no entanto, uma forte relação da produção de arte com as demandas turísticas. Nesse
sentido, as manifestações de arte contemporânea na cidade são eventuais, em torno do Festival
de Inverno ou em algumas exposições nas instituições locais. A Fundação de Arte de Ouro Preto
(Faop) é responsável pela formação técnica de artistas e restauradores e recebe jovens artistas
de todo o Brasil em seu espaço expositivo, a Galeria Nelo Nuno, por meio de edital. No encontro
realizado chamou atenção um grupo interessado em intervenção urbana e grafitti, evidentemente
com restrito espaço de atuação na cidade. A questão levantada e discutida foi: como mobilizar,
pela produção de arte contemporânea e na urgência do presente, o pesado legado histórico, patrimonial e artístico da cidade?
Em Congonhas, a tradição artesanal e a forte referência da obra de Aleijadinho padronizam a produção
visual da cidade, quase exclusivamente dedicada à escultura em pedra-sabão e à pintura de paisagem.
Cataguases foi um núcleo modernista de grande importância para Minas Gerais, entretanto o legado
da arte moderna, com exceção da arquitetura, não está acessível à população dali, sintoma de um
contexto moroso e eventual. A carência de referências da própria história faz-se notar na inconsistente produção artística local. Sem instituições de ensino e oportunidades de formação não existe nessas
cidades uma cena estabelecida.
Embora Diamantina seja a sede do Festival de Inverno da UFMG, os artistas locais não encontram
oportunidades nesse evento. Atentando para essa carência, o Museu do Diamante, apesar do perfil
histórico de seu acervo – objetos, fotografias e mobiliários que são a memória material da história do
trabalho na região –, vem, desde 2005, desenvolvendo oficinas e cursos de história da arte objetivando
a formação dos artistas. O projeto Ateliê Aberto oferece um espaço de discussão e produção coletiva
que, esperamos, contribuirá na formação e dinamização do cenário local.
Pela primeira vez foram mapeadas as cidades de Nova Lima, Tiradentes e São João del Rey. Nos últimos
cinco anos Nova Lima passou a sediar espaços culturais e, principalmente, galerias de arte. A cidade tem
atraído muitos artistas para ali instalarem seus ateliês. Contudo, não é possível perceber desdobramentos
na produção de arte local, ainda tímida e inconsistente. A Casa Aristides de Artes e Ofícios oferece oficinas
Gui Castor
Bratislava, 2011
Vídeo, 8’30”
Video, 8’30”
técnicas de artes, e o edital do salão municipal também se alinha a uma produção marcadamente ligada ao
artesanato. Cabe destaque ao Jardim Canadá Centro de Arte e Tecnologia (JA.CA), que desde 2010 recebe artistas para desenvolver projetos durante o ano e mantém um programa de residências que reúne artistas
internacionais, por seis meses, e locais, por um ano. Ao fim de cada semestre são realizados uma exposição
e ciclos de palestras. Um dos interesses da instituição é explorar poeticamente o contexto peculiar da região.
Em São João del Rey o curso de artes aplicadas com ênfase em cerâmica surgiu dentro da universidade respondendo a uma suposta demanda de organizar o artesanato da região. Assim, na-
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curators
curadores
LUIZA PROENÇA
turalmente, o curso foi estruturado sob bases extremamente conservadoras e ultrapassadas. No
entanto, uma nova safra de professores chegou recentemente ao departamento e tem por missão
consolidar efetivamente um curso de artes na cidade e gerir a programação do Centro Cultural
São Paulo
da universidade. Tiradentes tem sido um foco turístico nacional nos últimos anos, e por essa razão
a produção de artesanato local perdeu um pouco de sua originalidade e responde a demandas e
Speaking about the São Paulo artistic context from a national perspective immediately brings to mind the
expectativas do turista que visita a região.
capital city, its central position, its cultural institutions and the rapid growth of its market. In view of the increased resources for the production and presentation of projects in the São Paulo capital, the young artist
A viagem é motivação das intervenções propostas por This Land Your Land, coletivo formado pe-
has been increasingly more required to become a professional and develop a discourse for his/her work.
las artistas Ines Linke e Louise Ganz. A viagem entendida como movimento de abertura e entrega
The context in other cities in São Paulo state, however, stands in strong contrast with this perception. Based
ao que se desconhece, promessa de aventura e descoberta, fundamentalmente diferente das de-
on the experience of mapping the Southeast Region, the following interview with two young artist-curators
terminações de consumo turístico. As artistas realizam caminhadas por percursos improváveis que
from different cities – Gustavo Torrezan (Campinas/Piracicaba) and Renan Araujo (Ribeirão Preto) –
configuram uma reinvenção da paisagem na escala de sua ocupação e uso poéticos. Em Percurso
sought to go into a deeper discussion about the current art landscape in São Paulo.
1, o itinerário a ser percorrido corresponde à tubulação de distribuição de água que abastece Belo
Horizonte. As microintervenções realizadas ao longo do percurso – isolar plantas nativas com tecidos
LUIZA PROENÇA In many cities in the state of São Paulo, the artist’s educational background still follows
biodegradáveis, plantar outras espécies, enterrar textos na terra, lavrar trilhas na terra – reagem aos
the fine arts school model. Most of these schools also prepare artists by means of their courses in art educa-
estímulos imediatos do local, promovendo e exercitando novas formas de se relacionar e habitar o
tion or those leading to a teacher certification in fine/visual arts, as do the schools at Unesp/Bauru [Júlio de
mundo pelas vias de experiências estéticas. Há uma afirmação política nas ações: ao ultrapassar os
Mesquita Filho São Paulo State University/Bauru Campus]; the Universidade do Vale do Paraíba [University
limites da propriedade privada, reitera-se o direito de ir e vir e experimentar condições transitórias e
of the Paraíba Valley] (Univap), in São José dos Campos; the Universidade Santa Cecília [Santa Cecília Uni-
efêmeras de percepção. Viajar é uma maneira de habitar o mundo.
versity] (Unisanta), in Santos; and the Universidade de Guarulhos [University of Guarulhos] (UnG). Nevertheless, a diploma from the existing undergraduate and graduate courses in visual/fine arts is no guarantee that
the artist is prepared to take a critical stand before the society or to frame an artistic, ethical or political program.
This creates an even more urgent need to discuss and review the artists’ educational career. Could each of
JÚLIO MARTINS é formado em história pela UFMG e em artes plásticas pela Escola Guignard. Atualmente, é
you speak a bit about your background and how an artist’s educational career is seen in your respective cities?
mestrando da Escola de Belas Artes da UFMG. É curador, historiador da arte e editor. Colabora desde 2003 com
o Centro de Experimentação e Informação de Arte, de Belo Horizonte, ligado à RijksAkademie Artist’s Initiative
RENAN ARAUJO I developed my art skills by practising: talking to other artists and non-art-related
(Rain), Amsterdã. Em 2009 foi residente do Programme Courants du Monde, Paris. Desde 2004, pesquisa sobre
people, going to exhibitions, reading books and the internet. I took some non-degree courses (design,
arte moderna e contemporânea e escreve para catálogos e livros. Autor de Stéphane Vigny: Savoir-forme (Museu
painting and printmaking), I worked for about two years as a volunteer in the education department at
Inimá de Paula: Belo Horizonte, 2010). Curador-geral do Museu Inimá de Paula desde 2008, no qual coordena
the Museu de Arte de Ribeirão Preto [Art Museum of Ribeirão Preto] and, currently, I am working at an
projetos artísticos, educacionais e editoriais. Realizou exposições de Inimá de Paula, André Hauck, Marco Antonio
art gallery. That is, my entire education was based on trying to find chances of work within the boundar-
Mota, JB Lazzarini, Pablo Lobato, Marcos Brias e Stéphane Vigny.
ies of the city. I continue to produce “while an artist,” to think of curatorships and of management forms.
What’s good about thinking of art, being in the interior, is that, theoretically, there is greater liberty for
art making and this generates a curve in the art community – you begin to perceive the regional agents
(albeit everything today is on a global scale), the only difference is that the artist is a bit further away.
GUSTAVO TORREZAN I see that I closely followed the route taken by many who today are interested in visual arts, especially in Piracicaba, but also in Campinas, where the art courses arose more or
less in the same context as that created by the Grupo Vanguarda (1958–1966), which was organized
within the modernist spirit of renovation of the fine arts as a counter to “academicism.”
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Piracicaba is a contrast to Campinas, which easily becomes dynamic and to a greater or lesser degree
more consolidated and professional – as for example, the increase of galleries and participation in art fairs, the
easily undergoes “revising.” The city has a history and even a caricature of a “duel” between [the tradi-
fruit of greater circulation of money and interest in the art produced in the country. In this context, a doubt
tional] academics and the contemporaries around which the city art landscape was built with great rigid-
remains if these conversations are taking the place of other more reflectional ones. I also see increased partici-
ity, which was maintained until just recently and has been changing substantially in recent years.
pation in openings of exhibitions and social functions and a decrease in talks or conferences, which may or not
be associated with technological facilities. A route that has been gaining momentum is that of an artist taking
Historically, art education in Piracicaba has taken place in studios, which has favored the construction of a
little risk, experimenting a bit and weakening the perspective of art as research.
certain chain of masters and their pupils. Several generations constructed this scene in the city by following
that movement. Today, the dynamics indicates that many of those interested in the arts choose to go to
Beyond the artists, little is said about the art market in the interior and the number of investors is grow-
the university without passing through the studios, hence the artist from this city now builds his/her skills in
ing quite timidly. There is a very large gap, most of the buyers prefer the large urban centers for their
a different fashion. This new generation, of which I am part, has returned to or passed through the city and
“romantic consumption,” like decoration, but not as an investment.
changed several factors of the established policies or procedures. In addition, initiatives have appeared at
independent spaces, such as the Casa do Salgot, Aragem Contemporânea, Pró-Cultura de Piracicaba and
An initiative that I consider important as an alternative, given the absence of a gallery and even of the art
the Centro Cultural Martha Watts [Martha Watts Cultural Center].
market, is a project that has been implemented in Piracicaba for three years called Rio das Artes [River
of the Arts], which maps, disseminates and creates a circuit by transiting among the studios and exhibi-
LP In the past three years, a large number of galleries that work with young artists and contemporary art
tion spaces with the goal of selling works and stimulating the purchase of art during a specific weekend
sprung up in the city of São Paulo. The growth in the art market has caused the young artist, who often
of the year. This project, created by Sesc and which counts on the support of the society and the active
has still not finished college, to begin his/her career in the context of the galleries, without needing to go
participation of the artists, tries to make it feasible for a minimum circuit to exist bringing together the
through collective or solo exhibitions in cultural spaces. And not being part of a gallery has even become
studios and the means to market the works.
a specificity attracting market-driven initiatives.
LP The market is also the main topic of stories in the two mainstream newspapers of the state. Instead
I have also realized that in cities like São José do Rio Preto, Araçatuba or Araraquara, some artists have
of contributing to a more critical consideration on the art market, those newspapers have mostly focused
two types of output: one for sale (generally paintings and sculptures) and another in which they really
on generating debates and speculating about the artists, curators and galleries that are likely to become
believe and feel an enthusiasm for experimenting and developing; but many of them stop producing
the market stars. In this context, there is a strong desire on the part of artists and critics to create a new
because “they don’t sell.”
field of criticism through independent propositions, but we still cannot say that we have a vehicle that
supports discussions beyond the “pubs.” Could each of you talk about how you perceive the discussions
How do you feel the artists’ and investors’ presence, development and interest with regard to the art
about art and the development of criticism?
market in your respective cities?
GT It is key that criticism is undertaken as an independent proposition and that it adds to the perspective of proRA Ribeirão Preto has at least five quite significant private collections – such as that of Figueiredo Ferraz, who
motion of open and free dialog. As a very simple example of this, I frequently get together with friends when I am
recently inaugurated an institute to house his works – but the market does not depend exclusively on the city
in Piracicaba to speak about art. We jokingly call these meetings “the meeting of the rãs cinza” [literally translated
and region, it is able to flow to the capital and to other Brazilian states. Of course this is an isolated case and
as “gray toads”, a play on the Portuguese word for a grumpy or cantankerous person, ranzinza, which sounds like
does not reflect the general context, the rest of the market is quite regional. Although it is not common, some
rã cinza or gray toad in Portuguese] a parody for ranzinzas. These meetings have tremendous freedom and little
collectors from the city buy more complicated work, or those with a non-existent objectual logic in its early
“diplomacy of conformity.” From these meetings arose the need to take local actions, spaces that need to be
stage – projects, installations and videos – but they are very few cases. There is a need to have something well
expanded as much as the culture of giving opinions, of building and reconsidering criteria of evaluation about a
managed, “easier” and well behaved (and we are speaking of recent works).
work, an artist or an exhibition without them being taken as a personal attack.
GT The issue of the art market and its advances has been one of the biggest conversations in which I have
RA In Ribeirão, as a possibility for opposition, there is a study group at the Museu de Arte de Ribeirão Preto
participated with artists. There is not one good side and another bad. Our art system is expanding, becoming
[Museum of Art of Riberão Preto] (Marp); discussions and talks after the openings of exhibitions at Sesc and
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also at Marp. It is a bit strange, but today I have greater dialog with artists and curators from outside the city and
Most often, on a municipal scale, the art salon is the choice, but its financial resources, its infrastructure
country than with those from the region.
and its outdated format do not help the development of both local art market and the artists themselves.
LP One of the main tools that I used for mapping the emerging output in São Paulo state is the Internet.
In Piracicaba, for two years I’ve participated in an attempt at “renovating” the contemporary art salon,
How do you find that it contributes to the education of artists and their contact networks with profes-
which sought to create a calendar of events and activities about contemporary art in the city using the
sionals and projects from different cities?
existing infrastructure as a springboard. The projects we designed for the past two editions sought to
promote a discussion among people and the exchange of ideas and also to complement the activities of
GT I cannot see myself as an artist without using the Internet, in fact I cannot see myself without the
the event in a way – which in principle is only a selection for an exhibition and award – by adding to the
Internet, I do nearly everything with it. But, if I can, I do not use it as a replacement for a book, a visit to a
program training courses, portfolio readings, talks, an educational sector etc. After two years organizing
museum or exhibition, live participation in a congress, talk, discussion.
the event, we felt that the city could receive something more daring and we began discussions to amend
the municipal law that regulated the salon. There is an idea for the salon to become an artistic residency
RA The Internet will not substitute the experience or the clash with a work on its actual scale, but serves
program (which may also be open to foreign artists), around which other activities could take place, such
as an important tool for research and access to works, when moving around is not feasible (because
as courses, talks, seminars etc.
of a lack of time and high costs). Part of my research is focused on work conducted specifically for the
Internet, in this case it is not only used as a means of contact, but as support for thinking of specific
RA Governments think of quantity and not in a more extensive long-term dialog. The Marp, for example,
propositions.
does not have a policy for acquiring works for its collection, the only way it has to do so is through donations
or acquisition prize granted in the salons, or that is, annually, a few works come to belong to this public col-
LP It is important to count on two programs for young artists provided by public institutions in the city
lection of the city.
of São Paulo and both of them operate on a call-for-submission basis and selection of projects: the
Programa de Exposições [Exhibition Program] of the Centro Cultural São Paulo [São Paulo Cultural
LP I see that the idea of an “artistic residency” is gradually beginning to arise, both in the capital and in
Center], which celebrated 20 years of existence in 2010; and the Temporada de Projetos [Season of
other cities. It is a production and education scheme that seeks to be more extended and investigative
Projects] of the Paço das Artes [Palace of the Arts], created in 1997. It is more than vital that these pro-
based on the stay of the artist in a space or a city.
grams remain as experimental, reflectional and educational spaces.
Another important fact about the current picture of art making is the proliferation of “independent”
A bit similar to these programs, the salão municipal [the municipal salon] is still the chief model of
initiatives. Each one of these initiatives is born from different needs and desires, although by and large
encouragement to local artistic output in most of the cities and towns in São Paulo state. Some salons
they appear to be paradoxical: they are meant to create new circuits for art making and showcase, but
try to make changes by requesting artists to send projects or portfolios rather than works, changing
do not necessarily follow an alternative logic or model. On the contrary, they often reproduce existing
their names, or incorporating educational activities. The structure is still the same, though. On a call for
institutional structures as if they wanted to incorporate themselves in the “official” cultural circuit. Could
submissions, the artists submit their works, which are judged by a selection committee and when the
you tell me a bit about how you see these initiatives of artists?
exhibition opens, one or more artists are awarded, usually with an acquisition prize. Based on the context
in your cities, what is your opinion about governmental agencies fostering art making? How or where do
RN It is very evident that the term “independent” is complicated. Maintaining a space requires time and
you think they can be improved?
money, which are often obtained from occasional grants or by raising funds through projects, by selling
works or services or even endowed by their own administrators. These spaces are important for another
GT It is necessary to create public policies that open the way to qualified education and distribution
fruition of art making, but it is necessary to not want to be something “ideal” or to try to shape oneself to
of income beyond the capital city so that other cities and towns can also have high level projects and
one day become the system itself.
actions, like those mentioned. The state should create and the municipality must oversee or even build
its own public policies for a more professional art community. I see a need to develop a long term and
Another type of grouping that has been seen kind of often is the “critical accompaniment” by an invited
effective policy for exhibition spaces outside the capital, which have been experiencing very hard times.
critic or curator: a number of artists pay a monthly amount for someone to speak about art, read their port-
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folios, give tips and indicate strategies to introduce their work in the gallery and exhibition scene. The big
André; Ana Akaui and Cid Maia (Ateliê Oficina 44), Fabíola Notari (Estúdio Valongo), Juliana
issue is not in grouping or finding a common space to share things, but in how this is effectively conducted.
Okuda (Sesc [Social Service for Commerce]/Santos), Marília Bonas (Museu do Café [Museum
In my view, it is more instructional to a certain extent, something like how to become an artist, how to sign
of Coffee]) and Marcio Barreto, in Santos; Chico Galvão (Sesc [Social Service for Commerce]/
in call for submissions or have a market-oriented vision. More long term work is needed as well as stricter
São Carlos), David Moreno Sperling, Lívia Martucci (Divisão de Artes Visuais da Prefeitura de São
criteria in the choices.
Carlos [Division of Visual Arts, Municipality of São Carlos], Luiz Diniz (Labi – Laboratório Aberto
de Interatividade [Open Laboratory of Interactivity]/Ufscar [São Carlos Federal University) and
GT I see the current panorama of the visual arts in Brazil positively and the rise of these initiatives
Ruy Sardinha Lopes, in São Carlos; Amilton Damas (Univap [University of the Paraíba Valley]),
as a landscape that reveals an important phase, which I hope would culminate in the development
Ana Maria Bonfim Pitiu, Giancarlo Ragonese and Lindsay Ribeiro (Coletivo Núcleo), in São José
of other structures, procedures, fields and markets that go beyond the current ones. I am speaking
dos Campos and Jacareí; Cássia Guerra (Acirp – Associação Comercial e Empresarial de São José
from a perspective that does not question the quality of what is created. The greater the diversity in
do Rio Preto [São José do Rio Preto Commercial and Business Association]), Cristiana de Freitas,
the art system, the more initiatives there are, the more complex, and thus richer, the system will be.
Luiz Diniz and Thais de Freitas (Sesc [Social Service for Commerce]/Rio Preto), in São José do
Certainly, this expansion that we have been experiencing will be reflected in a greater importance of
Rio Preto; Anne Cartault d’Olive, Beatriz Chachamovits (Ateliê Simpatia), Carla Chaim, Nino Cais
the visual arts in society. There is a political force that can be used. Behind the apparent excitement is
and Renata De Bonis (Hermes), Claudinei Roberto (Ateliê Coletivo OÇO), Fernanda Barreto and
the concern that the government also has to seek to its own development and does not abstain from
Fernanda Zerbini (Atelieta), Fernanda Lopes, Fernanda Izar and Luciana Felippe (Atelier a Pipa),
fulfilling its functions.
Fernando Oliva, Gilbertto Prado (ECA [School of Comunication and Arts]/USP [University of
São Paulo]), Isabella Rjeille (Ateliê 397), Karina Polycarpo (Edifício Lutetia), Luciano Zanette and
I especially thank Marcio Harum, who mapped the region for Rumos 2008-2009, and all of those
Dercy Aparecido Pereira (Centro Universitário Belas Artes [Fine Arts University Center]), Luisa
who contributed to the mapping of the Southeast Region – São Paulo for Rumos Artes Visuais
Duarte (Red Bull House of Art), Marcia Gadioli and Marcelo Salles (Casa Contemporânea), Marcos
2011-2013: Deolinda Aguiar, José Fernando Bacelar and Simone Leite Gava (Museu Araçatubense
Moraes (Faap [Armando Álvares Penteado College]), Mario Gioia, Milton Sogabe, Omar Khouri,
de Artes Plásticas Maap [Araçatuba Museum of Fine Arts]/Secretaria Municipal de Cultura [Mu-
Rosangella Leote and Lucas Oliveira (Instituto de Artes Unesp [Unesp Institute of Arts]), Mirtes
nicipal Dept. of Culture]), Juçara França and Márcia Porto, in Araçatuba; Euzânia Andrade and
Marins and Luciane Guará (Faculdade Santa Marcelina [Santa Marcelina College]), Renata Cruz,
Rita Michelutti (Secretaria Municipal de Cultura [Municipal Dept. of Culture], in Araraquara; Diana
Sandra Cinto (Ateliê Fidalga), Thereza Farkas (Casa Tomada), Vanessa Bohn (Casa ao Cubo), Xi-
Proença, Luciana Capossi, Renato Moreira (Instituto Acesso Popular de Educação, Cultura e Políti-
clet (Casa da Xiclet) and Yara Dewachter (Grupo Aluga-se), in São Paulo. Finally, my appreciation
ca [Institute for the People’s Access to Education, Culture and Politics]) and Solange Gonçalves
to all the artists who showed me their work.
(Faac [School of Architecture, Arts and Communication]/Unesp [Júlio de Mesquita Filho São Paulo
State University]), in Bauru; Danilo Perillo and Gustavo Torrezan (Unicamp [University of Campinas]/Ateliê 8), Gustavo Sampaio (Galeria Vertente [Vertente Gallery]), Paula Almozara (Pontifícia
Universidade Católica PUC [Pontifical Catholic University]), Samantha Moreira and Maíra Endo
LUIZA PROENÇA lives and works in São Paulo. She holds a BA in visual arts and a teacher certification in visual
(Ateliê Aberto) and Sylvia Furegatti (Unicamp [University of Campinas]/Pparalelo), in Campinas;
arts from the Instituto de Artes/Unesp [Art Institute, Júlio de Mesquita Filho São Paulo State University] (São
Andréia Alcantara (Museu de Arte Popular MAP [Museum of Pop Art]), in Diadema; Adriana Lins
Paulo, 2008) and took part in an exchange program at the National University at Cuyo, Argentina (2006). She
(Centro Municipal de Educação Adamastor [Adamastor Municipal Center of Education]/Secretaria
was assistant curator for the show Caos e Efeito [Chaos and Effect] (Itaú Cultural, 2011); and co-curator of the
Municipal de Cultura [Municipal Dept. of Culture]), in Guarulhos; Gustavo Torrezan Lauro Pinotti
shows À Sombra do Futuro [In the Shadow of the Future] (Instituto Cervantes [Cervantes Institute], São Paulo,
(Pinacoteca Municipal Miguel Dutra [Miguel Dutra Municipal Pinacotheca] and Rosângela Camo-
2010) and Temporada de Projetos na Temporada de Projetos [Season of Projects in the Season of Projects] (Paço
lesi (Secretaria Municipal de Cultura [Municipal Dept. of Culture]), in Piracicaba; Maria de Lourdes
das Artes [Palace of the Arts], São Paulo, 2009). She is a member of the Group for Interdisciplinary Reflection
Marszolek Bueno (Palácio das Artes [Palace of the Arts]), in Praia Grande; Adriana Amaral, Daré
at the Centro Cultural São Paulo [São Paulo Cultural Center] and of the Curating and Criticism Group at USP
(Aproa and Paralelo 22) and Renan Araujo, in Ribeirão Preto; Cristina Suzuki, Damara Bianconi
[University of São Paulo].
(Gambalaia – Espaço de Artes e Convivência), Douglas Negrisolli and Saulo Di Tarso, in Santo
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MARCELO CAMPOS
2013 competition, looking at one of the Brazilian states where one walks right up towards the social contradiction just a few feet from my window.
“Each hillside is a nation”
Rio de Janeiro, February 24, 2011
It was 2:30 in the afternoon when I began to get ready to meet the first artist to be mapped: Adriana Ricardo. She is part of one of the contradictions that interest me and has a curious career in the art world. I set
Yesterday, on the flight back from São Paulo, where the first meeting with the entire Rumos group took
the meeting for 4 pm, in front of the Itaú Bank at the Shopping dos Antiquários, on Rua Siqueira Campos
place, I was reading O Turista Aprendiz, by Mário de Andrade. Searching for metaphoric modes of
[street], in Copacabana.
writing about a field work experience, which I had yet to begin, I envied his simultaneously colloquial
and deeply poetic style. At some moments, there was a certain trance in the writing, in which the writer
I decided not to take the knapsack. I learned this from the anthropologists. I chose a small pocket note-
presented and built oneiric landscapes with real facts, like Rimbaud. How could I, after this, build a nar-
book and a discrete camera to confront the large cultural situations – even embarrassing ones – given
rative in a “travel impressions” style? Penetrating deeply into the confines of Brazil, from the very first
that I would begin to invade and be invaded by foreign territory.
paragraph, Mário de Andrade describes his departure from São Paulo on May 7, 1927:
3:11 pm
I purchased an enormous walking stick for the trip, made of cane, what foolishness! It
must have been some vague indian’s distrust [...]. I know very well that this trip that we
– And this weather? I ask the taxi driver, the typical conversation to break the ice and exercise my daily
are taking is not at all an adventure and is not dangerous, but each one of us, in addition
dose of a kind man. Since I do not like and know nothing about soccer, the weather is always the philo-
to a logical consciousness, has a poetic consciousness. The reminiscences of reading
sophical option I have for conversation with taxi drivers.
drove me more than the truth, wild tribes, alligators and ants. And my holy little soul
imagined: cannons, guns, canes, knives. And the choice was the cane.
– On the other side of the tunnel – he replies – it’s all cloudy in the Northern zone of the city.
I have always been envious of these travel journals, mainly those deriving from the undertakings of an-
Rio, as Zuenir Ventura put it well, is a “broken city.” There are a number of immanent, invisible splits
thropologists. So, for a few years, I have been risking involvement in hybrid art projects that try to join
and no warn of danger that several regulatory spheres try to resolve. The condition, however, is
these two areas of knowledge through “poetic consciousness,” to paraphrase Andrade. I must confess
more metaphysical: one side or the other of the tracks, with glaring differences among the [poor]
that when I read Mil Platôs, I became even more inclined to the contradictions and differences of a Brazil
suburban neighborhoods; the passion of the fans of the samba schools and soccer teams; the hill
that in little pieces, at times between states, or from a more reduced perspective in a single neighbor-
[a common reference to the favelas or slums of Rio which occupy most of the hillsides] and the
hood, can have us state: “each hillside is a nation,” like the Rio in Chico Buarque’s song.
asphalt [a common reference to the wealthier neighborhoods with urban infrastructure]; the Southern zone and the Northern zone divided by the Rebouças Tunnel, like the words of the taxi driver.
Today, I began the mapping from my window. I live in upper Gávea, a neighborhood of Rio de Janeiro
populated with many art galleries: Mercedes Viegas, Silvia Cintra, Anita Schwartz, Anna Niemeyer,
Going down the Rua Marques de São Vicente [street], I see a couple of foreigners dressed like tourists
Toulouse. A new gallery opened near my building, the Galeria da Gávea, destined more specifically for
bicycling, wearing hats, they had sunblock poorly spread on their body, pink skin – the color of the old
photography. I had never been there, because you have to call ahead, it is not always open. I tried to
sports pages announcing that they took too much sun. The driver says:
schedule a visit for today this morning, but I was only able to set one for 6 in the afternoon. A few meters
from this gallery, there is the Casa da Gávea, the former residence of Moreira Salles, which is now a
– What characters! Look at her panties, sticking out of her shorts!
cultural institute. A little higher up the hillside, we can see the Parque da Cidade favela and one of the
entrances to the Rocinha favela, one of the largest in Latin America.
But, beyond these cultural splits, we have the splits of nature. Knowing that I would write this picture, I
paid attention, at the cab first turn, to the stones on the Morro Dois Irmãos [Two Brothers Hill]. Going
In this way, my interest in these urban and sociocultural contradictions would inevitably influence my map-
down the street a bit we reach the rows of imperial palm trees of the Jardim Botânico [Botanical Gar-
ping process, the search for “emerging expressions,” as mentioned in the announcement of the Rumos 2011-
dens]. I look up at Christ statue from between the palms and take its picture covered by clouds. I realize
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that being a Carioca [a native of Rio de Janeiro] is to be accustomed to hiatuses. We go down the entire
Since I had half an hour before my meeting with Adriana, I decide to go to the Galeria Cosmocopa
Rua Jardim Botânico [street], and pass in front of the Parque Lage [Lage Park].
[Cosmocopa Gallery], run by artist Felipe Barbosa. I knew it had works by young artists - “emergent”
output. I walk through the halls and a guard shows me the way. The gallery is small, just recently opened,
[...] During the entire mapping process, until completion, I used the Escola de Artes Visuais do Parque
and this is its second exhibition: Lin Lima. The artist designs directly on the walls, like Sandra Cinto, Pedro
Lage [Lage Park School of Visual Arts] for meetings with many “mappable” artists. I had permission
Varela and others, but leaves a bit of a cybernetic air in the shapes. There are nets, meshes and weaves
from its director Cláudia Saldanha and was assisted by the entire staff. I often set the encounters to
that create situations similar to computer “renderings.” At the same time, an Asian touch is obvious,
coincide with the end of the classes I gave at this school and the presentations were held with spon-
Hokusai et al. I know that Lin participated in the Grupo Nuvem, a collective that conducts interesting
taneous, attentive audiences, who helped me prepare the questions.
work with interventions in trips throughout Brazil and that were presented to me by Marisa Flórido. One
diptych of photographs allowed a glimpse of another facet of Lin Lima, in which he appears jumping
This school is once again the venue of creation and diffusion of the arts. Under the new direction,
over the stones of a stream in the forest – obviously a work from one of these trips.
some free-of-charge programs, supported by the Rio de Janeiro municipal government, are breathing
new life into the emblematic art school. There are basic courses for a lay public, high school and col-
I was received by Bruno, who was very helpful and kind in showing me works of artists dating from the year
lege students, which serve as introductions to artistic activities and to the history of art. Additionally,
2000. He recalled those of Louise DD, an artist with curious work that had a morbid poetic. It played with
students can earn scholarships to more than three courses that otherwise must be paid for. Another
medicine packages and pills, furry pills [...]. I liked a series of small format paintings in the several whites
“in-depth” program is aimed exclusively at art students. This program is also free and attracts excellent
possible of tooth enamel. There were also paintings with the images from the old Atari videogame screens.
artists who are pre-selected by art professionals, who conduct projects and discuss the output in clas-
The works kind of followed the morbid route of Jenny Saville and Damien Hirst from England, but quite
ses and exhibitions. There, I was able to get to know with greater intensity the works of Rodrigo Tor-
sincerely. They also rode the wave of the furry works, of Leda Catunda and Raul Mourão and of the São
res, Gabriela Mureb, Flávia Metzler, Pontogor, Luiza Baldan, Gabriela Noujaim, Anna Kahn, Carolina
Paulo artist Camille Kachanni. Louise is an artist who is now participating in the master’s program at UFRJ.
Veiga, Daniela Seixas, Elvis Almeida, Louise DD, Anita Sobral, Rafael Adorjan, AoLeo, Jimson Vilela,
Bruno Miguel, Mariana Katona, Juliana Borzino, Sofia Gerheim, Micheline Torres, Daniel Lannes,
[...] in the graduate program at UFRJ, the encounter took place in the studio used for production and classes.
Manoel Novello and others.
There I discussed the portfolio of artists who worked with painting, video, urban interventions, art collectives.
I had access to the work of Jacqueline Siano, Isabel Caerneiro and Daniel Toledo, who presented his own
Many artists whom I interviewed had taken these programs, including those who were chosen in the final
work and that of the OPAVIVARÁ collective, Júlia Pombo, Felipe Braga and the Colombian José Lopez.
selection. Thus, the carioca art has been adding striking opportunities for discussion, dissemination and
circulation of knowledge, promoting the encounter of students with artists and critics that are younger
At Uerj, where I am a full professor, I also spoke with undergraduate and master’s students, and
or already established, who take on the role of teachers. This has always been the purpose of the Escola
got to know a varied production in different media. Maira das Neves presented her work, but
de Artes Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts], which after the 1980s was enriched
realized that she had participated in a previous edition of Rumos. Even so, I looked attentively at
by masters and doctoral programs at the universities, or by artists who conducted their activities outside
her portfolio. At Uerj, the first meeting was scheduled with a focus on performance artists: João
the classrooms, in studios, formed study groups or contracted assistants who were starting their artistic
Penoni, Domingos Guimarães, Luana Aguiar and Franciane Junqueira.
career. All of this has been happening until today, as I could notice in the mapping [...].
A pleasant surprise found in the mapping was the output from dance schools, like that of Carlota Portela
After driving past the Parque Lage [Lage Park], the taxi prepares to make a small turn along the curve
and Angel Vianna. Sofia Gerheim, Celina Portela and Micheline Torres, for example, presented an excel-
in front of the Espaço Cultural Sérgio Porto [Sérgio Porto Cultural Space] and head towards the Cemi-
lent discussion at the threshold between dance and performance. These artists often use the so-called
tério São João Batista [São João Batista Cemetery] to cut through the Túnel Velho [Old Tunnel], which
video-dance but achieve results that have much to contribute to the discussion of the visual arts.
connects the neighborhoods of Botafogo and Copacabana. We drive along the cemetery wall, cross the
tunnel and quickly arrive at my destination in 20 minutes. Mário de Andrade, in his travels, spoke poorly
It is curious to see that part of this output is already systematized in art galleries, but most is still limited
of the urbanization of Rio de Janeiro, preferring, as a good folkloricist would, the suburban homes. I get
to studies, research and recurrent exhibitions, although the circulation is increasingly intense. These data
off on a street with somewhat chaotic architecture and see the ugly shopping center of stone and lime.
are seen to repeat: the same artist that I met in the rooms of Uerj, like Daniela Seixas, I saw exhibiting at
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the in-depth course at the Parque Lage [Lage Park] and at a show in Barra Mansa. Therefore, at times
ibility has been stimulated by Tiago Carneiro da Cunha, who I sought out to make contact with Adriana
there is a double entry of the people surveyed for the mapping [...].
and to ask for an opinion about how worthwhile a program like Rumos is for an artist like her.
Continuing the visit to Cosmocopa, I also observe the good humored works by Leo Ayres, who
[...] looking at the registrations in the program, I saw that Adriana had not enrolled [...].
I had already met and could speak with. I got to see his portfolio later at a meeting of the Grupo
Alice, coordinated by Brígida Baltar and Pedro Varela. I was positively surprised with one group of
I say this because the broken city makes her an artist with an intriguing and curious background. I soon
photos. Leo made a series of works playing with the masculinity of military camouflage. He substi-
notice that Adriana is resistant to take me to the Ladeira dos Tabajaras - which I respect with frustration.
tutes their design for several patterns of small deer (small elks) [the word for deer in Portuguese,
I was exercising the poetic, colonial, exotic consciousness of the explorer. Quickly, I revived my logical
viado, is a derogatory for gay] in the colors of the uniforms. He even presented this camouflage at
consciousness and sought to leave her at ease to show her work as best she saw fit. Adriana, still next to
the art salon of the Academia Militar de Agulhas Negras (Aman) [Military Academy of Agulhas
the bike, opens a photo album, one of those from a photo-developing shop, and begins to show me the
Negras] and received an award at the show. There is a hilarious video about this: <leoayres.com> in
10 x 15 cm images. There, I see the paintings and hear about her career.
which Leo Ayres registers the work at the Military Academy salon and receives comments about
the “photograph” without anyone realizing the species of animal that is depicted. The photo I saw
– Did you use to sell at the Feira da Help? (This is an art fair on the beach at Copacabana where
at Cosmocopa showed a dormitory room with two beds. On one of them was a military cap, in-
crafts are sold to tourists in front of a brothel that was torn down to make space for the Museu da
sinuating a wonderful lustful homoerotism, which is important for Brazil today. I recalled the story
Imagem e do Som [Museum of Image and Sound].
Sargento Garcia, by Caio Fernando Abreu. Bruno also showed me the work of Rafael Alonso, but I
pointed out that he had participated in a previous edition of Rumos.
– Yes – she says, and goes on to narrate the same story I had read in the newspapers. – I built my house
selling paintings there. Every weekend. Now I’ve left. It’s no use just selling and not knowing more about
[...] In the meeting room of the hotel, in São Paulo, the Rumos team was all excited after traveling to
the work. I have works throughout the world, but I don’t know where, or with whom.
the confines of the continental country for each one of us to present our mappings. On the following
days, the groups of curators opened the portfolios submitted. There we saw Brazil through the per-
I see the paintings and realize that she had begun drawing faces, like these that we see in the streets
spective of “art,” in quotes. I was able to see the work of Leo Ayres again and realize the importance
around the cities, more duotone landscapes, which are also common in crafts. Soon after, I see the im-
of the voice that spoke poetically of love among equals. I was very impressed by a set of intertwined
pressive paintings of the favelas. “The little houses of saffron and ochre in the greens of the favela,” as
single beds without frames, joined on a bias, belonging once again to the realm of a desire for roman-
Oswald de Andrade wrote in his poem, make the beauty of her painting. It is a poetic painting that exists
tic ties, not only homoaffective ones, but of love in general. I realized, with satisfaction, that the work
in the facts, as the poet taught us. Adriana does not have the downcast color of Volpi, or the rational
could have been opened to broader meanings [...].
geometry of the concrete movement. What is impressive is the level of reality and banality that moves
her to paint. She does not let herself fall into the trap of slack expressive, gestured strokes, and this
I leave the gallery, now 10 minutes late for my meeting with Adriana Ricardo. I go down the escalators,
separates her by many degrees from craft. The angles chosen are quite close, which drives her not to
take one of the ground floor corridors and see her in front of the window of the Itaú Bank. I recognized
abstract shapes. The paintings have a light that obviously struck the contemporary artists mentioned.
her face a bit from what I had seen in a news article. I introduce myself and we leave the shopping
This light is less pop than that of Richard Estes, melancholic as in Eric Fischl. But she is a native-author,
center. She asks me if I work with exhibitions and I quickly explain all the daily activity in the career of
as appreciated by anthropology. She paints the place where she lives, lives in the place where she paints.
a professor-researcher-curator. I let her guide our steps and she leads us towards a motorcycle. I have
Therefore, an emic point of view. Naïf, may we ask? As much so as Marepe. Naïf art no longer exists,
strong simultaneous feelings of apprehension and desire that she would invite me to go up the hill to the
perhaps not even popular culture. It is a scholarly invention of the 20th century, one of the most brilliant,
favela of Ladeira dos Tabajaras, just a few meters from where we were, on top of the powerful machine.
but it is dead. There can be art for tourists, art for galleries, art for intellectuals, but there is no more naïf
But my impressions do not materialize.
art. That thought keeps hammering my mind while I speak with Adriana. For this reason, I like being intrigued by the incorporation of the “primitive” painting of Elisa Martins da Silveira in the Grupo Frente’s
Adriana Ricardo has become the “dear one” of the artists living in Rio who have started to buy her works.
concrete exhibition back in 1955 and its absence in the criticism of Ronaldo Brito. I think of Adir Sodré
I had already seen a painting of hers in Luiz Zerbini’s apartment, another in Laura Lima’s studio. This vis-
and Gervane de Paula in the “80s generation” painting.
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Adriana Ricardo recently exhibited at Lehmann Maupin, in New York, curated by Tiago Carneiro da
has been increasingly known for its cultural activities including cinema, literature and photography fes-
Cunha. She sold a painting and is waiting for the R$2,400 in addition to the two other paintings that
tivals. Still in this region, deeper in the interior I found Barra Mansa, which has an extensive program at
did not sell. The monetary rationale that stimulated Adriana to join the old Feira da Help is curious. She
Sesc and other cultural spaces, like the Fazenda da Posse; plus Barra do Piraí and Resende. To the North,
was taking a painting course while working as a maid. Born in the interior of Paraíba state, she has been
I mapped the largest municipality in the interior of the state, Campos dos Goytacazes. Closer to the
drawing since she was a little child. So, since the paintings take a while to be made, she never had a lot to
capital, I mapped artists from the Baixada Fluminense region and the city of Niterói. [...].
offer in the stand or on the tarp on the dirt ground. “About three or four” each weekend. She needed to
produce more to sell more and could not, so the income was delayed, for which reason some times she
As Canclini stated, the logic of post-modernity reached Latin America before modernity had been
failed to come to the fair. Now, she says, what good is it to produce just to sell? Adriana is thus thinking
completely implanted. The cruelty of modernity was targeted at progress, at the sedentary-geared
about saving the series of favelas from Rio: Turano, Rocinha, Juramento [...] for an exhibition.
architectural constructions, but the world was heading towards mobility, nomadism, virtual realities,
invisible territories, travel in front of the computer. The Rumos program proposes to map contem-
[...] We are speaking here of someone who is self-taught, a painter living in a needy community, but, once
porary art, which often does not exist. We map and we make art exist through mutual, concomitant
again, the contradiction is raised based on the short distance from the world-famous beach of Copaca-
stimuli through the eyes of the viewer, through the will of those who receive.
bana, where the possibility of “touristification” was translated into art. Some institutions have striven to
decentralize access to exhibitions by encouraging actions in the outskirts of the state with art courses
[...] in this nomadic world, the mapping took me to few studios given that the artists preferred to show
and, we cannot deny, recreational activities. When I was picking the locations to form the mapping itiner-
their works in portfolios on the computer and, with their output still emerging, many were using residen-
ary, I sought to focus on cities and towns in the state of Rio that were close to courses and institutions
tial spaces without having a specific place for creation. At the same time, this shortened the time needed
dedicated to teaching and promoting the visual arts. For this reason, I referred to the list of locations of
for the meetings because many works would be gathered in a single encounter. From the studios, I
the previous edition of this program and the curator-mapper Guilherme Bueno, who pointed out the
highlight the output of Andrea Brown, Cláudia Hersz and Renato Bezerra de Mello, artists who began
importance of Sesc as a potential partnership for promoting the talks and meetings with artists. I spoke
to produce later in life following the courses taken at the Parque Lage [Lage Park], their experiences
with the visual arts coordinator of Sesc-RJ, Stela Costa, who helped me organize some talks in the
outside of Brazil, or their previous jobs in model for high fashion or architecture. Andréa, Cláudia and
mountain region of Rio de Janeiro state – Petrópolis, Teresópolis, Friburgo – and in the Southern Region
Renato make drawings, embroidery, sculptures and objects of wood, stone, resin, mirrors and tapestry.
of the state. A recurrent fact upon arriving at certain cities was learning that some public or private art
The works are carefully finished. Sculpture was the medium to which I had least access in this mapping.
courses had been discontinued for lack of interested students or lack of care by the institutions. This
I found some artists sculpting outside the capital, in Petrópolis, Teresópolis, Paraty, for example, but did
happened in the Southern Region, more particularly in Barra Mansa. Nevertheless, I met students who
not come across any encouragement to a sculpture output in the universities or at the Escola de Artes
had taken those courses and then proceeded to graduate, and masters and doctoral programs in the
Visuais do Parque Lage [Lage Park School of Visual Arts]. Is this a symptom of the positive invasion of
capital. The thought that the “art system” in Rio de Janeiro seeks its strategies of marginality in its own
the technological media and of art made with sounds, equipment and music? [...].
capital is something that I could clearly see repeatedly. That is, it appears that the city itself encompasses
and accepts programs running in parallel with the official one, exhibitions in studios, urban occupations,
“Everything here seems to be still under construction and already in ruins,” the metaphor of the favela in
“ephemeral showcases,” galleries on public poles, actions of wheatpaste posters on the walls of the city.
Adriana Ricardo’s paintings becomes meaningful in the contradictions of the unreachable presence of
Rio encompasses its outskirts. This should not be put as a deceptive fact. There is, indeed, the realm for
art in the life of the subjects. From life, in the constructive will to paint and build a shack in the course of
the few: in the galleries, museums and cultural centers, although the predisposition of the press and the
a routine day illuminated by the bursts of fire arms and the fireworks celebrating the new year. Outbursts
artists themselves to participate in parallel events, of more spontaneous actions, is still quite strong. Rio
that belong to my own life as someone who seeks in art the iridescence of this spectacularly beautiful city.
de Janeiro takes shape in uncompromised exhibitions that seek the joy of the gathering to drink beer
I feel the depth of the virgin forest of Macunaíma, while the scent of the sea rattles my compass. To whom
from a foam cooler in the tradition of the 1960s.
can I turn? “Arrow-riddled Saint Sebastian [the patron saint of Rio de Janeiro], do cloud my vision.”
I selected the cities and towns on the basis of geographically strategic positions for a very comprehen-
Right there, in the shopping center of Copacabana, I decide to capture a few shots of the paintings with
sive coverage. In the mountains, I visited Petrópolis, Teresópolis and Nova Friburgo. In the Southern
my camera. Adriana Ricardo promises that when she has two of her latest paintings in a more advanced
Region of the state, more specifically on the Costa Verde [Green Coast region], the city of Paraty, which
stage and the two others returned from New York, she will invite me to her studio.
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JÚLIO MARTINS
I return to the other hillside of Rio for my last visit of the day, at Galeria da Gávea, my next door. The
gallery is on the ground floor of a residential building. I am sent to meet Ana Stewart, the gallery coowner, and I sit down at a table where other women are talking. I am introduced to the other partner
Accounts of a certain “margin”: Espírito Santo and Minas Gerais
of the gallery and remind her that we had met at Paraty em Foco. Pretty and perfumed Ana Stewart
shows interest in the Rumos program and decides to show me her own work. “They are photos of
The traveler understands better the meanings of “estar” [«to be» in the sense of «to find oneself in a
Rio’s women,” she tells me. Together we look at a series of black women with bulky bodies lying on the
condition»] than he attaches himself to the idea of “ser” [«to be» in the sense of «to exist/become»].
beaches, in the swamps, showing off to the lenses. She explores this side of the broken city as seen
His dedicated eye recognizes possibilities in the most fragile signs of the otherness given the porosity
from the outside. A child on the hillside of Serrinha, in Madureira, hugs an aquarium. “All in Rio?” I ask.
caused to his perception. The landscape of the encounter unveils stimuli, paths for the traveler.
“Yes, in the state of Rio.” She promises to send me the portfolio by e-mail, and politely takes me to the
side door of the gallery that is in front of my building.
Réquiem, by Sara Lambranho, arises from the mapping of subtle symbols of power that define ownership
and segregation, limits and embellishes in the city landscape. Lambranho adds graphic shapes of gates,
I return home as if I had covered long itineraries – “many years have passed recently” – so different,
railings and security fences to the staffs of a musical score. Safeguarding its origin and the violent and
such unlike times. I realize that in fact we should rethink the notions of “travel, boundary, co-residence,
regulatory connotation that such shapes acquire, the composition of musical notations will be played by
interaction,” as James Clifford explains. Today, cultural scenes are syncretic, dense and can be the
musicians in a performance. This transit of languages is translated into an urban-landscape-based sonority.
mountains of New Guinea, as Clifford states, or a neighborhood, a house. And what does art do with
that? Who can interpret them?
“There are certain moments when life produces a sound.” This is the closing statement in Bratislava,
a video made by Gui Castor, from Espírito Santo state, which records the incomprehensible way of a
“To what extent, the core of a group is the outskirts of the other?”
lone woman to open her heart in the city park. Engaging the audiovisual language in the intense flowing
of the moment, between the woman and the artist “there were no mediation, or camouflage, only distances”: the video witnesses an encounter, a sensation. As the Slovak words are not translated, the viewer
becomes an integral part of the mystery, stumbling across the incommunicability established, having an
MARCELO CAMPOS is an assistant professor with the Department of Art Theory and History at Uerj [Univer-
intuition, however, about a significant distinction that brings him closer and ensures an inaccurate com-
sity of the State of Rio de Janeiro]. Holder of a PhD in visual arts from PPGAV [Visual Arts Graduate Program]
plicity with what is presented there. Through many and unsuspected routes, they are able to engage in
from the Escola de Belas Artes [School of Fine Arts]/UFRJ. He has published articles about Brazilian art in Brazilian
relationships and communicate with one another.
and foreign periodicals and catalogs. He is the curator of Casa Forte [Strong House] (solo show of Renato Bezerra
de Mello, Centro Cultural do BNB [BNB Cultural Center]: Sousa, 2010); Estrela Brilhante [Bright Star] (solo show
The traveler is always attentive to the noises and to the failures that are arranged on the diagram of an
of Bárbara Wagner, Instituto Cultural Banco Real [Banco Real Cultural Institute]: Recife, 2010); Faustus (solo show
encounter. He also knows that his presence interferes in the phenomena he watches and, hence, feels in-
of José Rufino, Palácio da Aclamação [Palace of Acclamation]: Salvador, 2010); E Agora Toda Terra É Barro [And
vited to clearly provoke and to offer himself to a mutual contamination. In an effort to become detached
Now All the Ground is Mud] (solo show of Brígida Baltar, CCBNB: Cariri and Fortaleza, 2008/2009); Ocupação –
from the expectations he still has, the traveler opens up to understanding the idea of art that grows in
CasaCor [Occupation – HouseColor] (collective show at the Jockey Clube [Horse Racing Track], Rio de Janeiro,
each place he visits and, therefore, his own certainties and familiarities will be altered. The traveler’s eye
2009); Alcova [Hiding-place] (collective show at the Galeria Laura Marsiaj [Laura Marsiaj Gallery]): Rio de Janeiro,
is constantly re-inaugurated.
2009); Desenho em Todos os Sentidos [Drawing in Every Sense] (collective show at Sesc-Petrópolis, Teresópolis,
Friburgo, 2008); Sertão Contemporâneo [Contemporary Hinterland] (collective show at the Caixas Culturais: Rio
Since the last mapping resulting from the Rumos project, the situation of contemporary art in
de Janeiro and Salvador, 2008 and 2009); NAUSEA (solo show of José Rufino, Centro Cultural BNB: Sousa and
Espírito Santos has changed. The output from Vitória, Vila Velha and Viana brings much opti-
Fortaleza, 2008 and 2009); Cariri: Impressões de Viagem [Cariri: Travel Impressions] (solo show of Efrain Almeida,
mism. The entire institutional network for artists’ education, promotion of art making and calls for
Centro Cultural BNB: Juazeiro do Norte, 2007).
exhibitions has been recently reframed and is in full development now. The good quality of the
local young artistic output is a positive sign of the present time. The artists have organized collaborations and implemented common strategies for production and dissemination of their work.
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The Universidade Federal do Espírito Santo [Espírito Santo Federal University] (Ufes) offers bach-
he has lived in a number of places around the world. The isolation of groups and the veiled formality
elor’s degree courses in visual arts and a master’s degree course (theory). Nonetheless, there is an
surrounding discord and disaffection in Belo Horizonte drew his attention. It was precisely due to his
urgent interest in creating a line in visual poetics geared to artists. The department has now new
being an alien in the place that he could move back and forth these groups and feel them. Interested
professors from various regions of the country, thus contributing to the process of renewal and
in diluting the divide between performer and audience while taking into account this cultural trait
upgrading of education as far as contemporary art is concerned. The university houses two exhibi-
of the Belo Horizonte setting, Shima caused the gathering of 80 guests, including artists, curators,
tion spaces: the Galeria Espaço Universitário [University Space Gallery] and the Galeria de Arte
cultural managers and agents, art students and professors. Under the rule of a social function at the
e Pesquisa [Art and Research Gallery], the latter being entirely devoted to experimentation and
Museum, the experience materialized in the work provoked and made evident symptoms of a disor-
to students’ engagement in calls for submissions, residency projects, projects of urban intervention
ganized professional category that is also little inclined to sharing. The groups were brought together
and research groups. The consolidation of the Museu da Vale [Vale Museum], in Vila Velha, with
and established an invisible agreement at the table. Such attitude, however, deepened tensions and
its annual seminar on contemporary art, and the strengthening of the Museu de Arte do Espírito
the boundaries of their relationships, thus generating awareness and visibility of the state of things
Santo [Espírito Santo Museum of Art] (Maes), which has undergone an extensive conceptual re-
within this specific context.
organization in recent years and applied a new approach to the collection and the programming,
have been fundamental to leverage the local art. Cais das Artes [Quay of the Arts], a project of the
Belo Horizonte takes pride in its natural modernity. However, there is no modern art to see in the city.
state government that initiated the construction of a large institution in the capital city, also plays a
The Museu Mineiro [Minas Gerais Museum] has been closed for renovation for over three years and
major role. Another important project is run in Viana, 20 kilometers far from Vitória. That town has
the Museu da Pampulha [Pampulha Museum] is still engaged in a battle with the local authorities for
unique cultural and geographic resources explored in the residency program promoted by Galeria
the implementation of its outbuilding for collection display. The legacy of art history in Minas Gerais
de Arte Casarão [Casarão Art Gallery]. With good infrastructure to accommodate the artists, the
continues inaccessible to artists, art students and the general public.
Casarão houses two exhibition spaces. No doubt that this is the initiative that best accounts for the
superior quality achieved in the state of Espírito Santo in recent years for it establishes standards
On the other hand, institutions are seen to show a renewed interest in understanding the dynamics of
and objectives aligned with the contemporary art output. Opened in 2009, the Casarão promoted
producing and showcasing contemporary art. Following a clear renewal under the last administration,
the residency of José Rufino and Josely Carvalho, who produced works based on field research,
the Palácio das Artes [Palace of the Arts] now has a better description of its exhibition profile and also
investigation in the city and the local community engagement in artistic processes. Calls for sub-
strengthened its programming based on calls for submissions, chiefly covering young artists’ work. The
missions intended for research and keeping the Galeria Homero Massena [Homero Massena Gal-
Bolsa Pampulha [Pampulha Fellowship], in turn, still holds the most important program of the city, albeit
lery] occupied are important instruments to foster contemporary art making of young artists in
the inconsistencies in the latest editions and the recurrent bureaucratic changes made to the Museu de
Espírito Santo, in which case the highlight is the Ateliê Estímulo às Artes Visuais [Encouragement
Arte da Pampulha [Art Museum of Pampulha]. The Bolsa Pampulha [Pampulha Fellowship] receives
to Visual Arts Studio]. The gallery is on the first floor of an abandoned building and has been try-
resident artists from all the Brazilian regions. This brings fresh air to the context and builds the founda-
ing to occupy the upper floors with studios for artists. It is very important that these spaces, which
tions for a dialog among local artists. The fellowship holders live in the city for a year and materialize
are institutionally oriented to contemporary art, consolidate and expand their actions and projects,
projects that will be showcased in an exhibition at the end of that period.
keeping the market heated and ensuring the art landscape in Espírito Santo to attain its maturity.
It is also important to point out the initiatives of the Centro de Experimentação e Informação de Arte
Belo Horizonte is 590 kilometers far from São Paulo and 450 from Rio de Janeiro. However, these
[Art Experimentation & Information Center] (Ceia) related to research, training, production and exhi-
data are inaccurate. By keeping an oscillating distance from the Rio–São Paulo corridor, alternating
bition of contemporary art from Belo Horizonte, including themed events, seminars, publications and
between close and integrated at times and marginal and distant at others, the capital of Minas Gerais
residency programs plus the calls for submissions from Cemig, Copasa, BDMG, Funarte [National Arts
state preserves some dilemmas and ambivalences in its cultural context. As a final project for the
Foundation] and Centro Cultural da UFMG [Cultural Center of the Minas Gerais Federal University],
exhibition upon completion of one year of residency in Belo Horizonte by means of the Bolsa Pam-
all of which hold exhibitions of local young artists.
pulha [Pampulha Fellowship] in 2011, artist Shima made Jantar no Museu [Dinner at the Museum].
The performance consisted of hosting a dinner party at the Museu de Arte da Pampulha [Pampulha
It is curious that the two art schools in the city – Escola de Belas Artes, [School of Fine Arts], UFMG
Art Museum] to friends who he had met amid the city art community at that time. Shima is a traveler,
[Minas Gerais Federal University], and Escola Guignard [Guignard School], UEMG [University of
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curators
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invitation to a journey
the Minas Gerais State] – do not partner for joint actions. By the way, a negative sign of the Belo
in its facilities, the institution maintains the Prêmio Usiminas de Artes Visuais [Usiminas Visual Arts Award],
Horizonte context is the lack of opportunities for meetings, exchanges, dialogs and collaborations
the call for submissions of works to be displayed at the Galeria Zélia Olguin [Zélia Olguin Gallery] and the
both at the level of institutions and the artists. From this perspective, the contemporary art land-
Fórum de Arte Contemporânea [Forum of Contemporary Art] as well as seminars and workshops of key
scape in Belo Horizonte is fragmented and disorganized, with the caveat of the excellent quality
importance for contact with other artists and artist training. Special attention must be given to the initiatives
of the young artists’ work. Despite the absence of a consistent institutional network in the city, the
of local artists like the Hibridus collective and Banca de Design.
young artists do coordinate actions, particularly by means of independent initiatives. This has contributed to a more hectic art community. It is important to point out a major failure in educational
The short distance between Juiz de Fora and Rio de Janeiro is not only geographic. The cultural and
institutions: the absence of active exhibition spaces within the schools. The gallery at EBA [School of
artistic references of the former are more rooted in Rio de Janeiro than in Minas Gerais. The local
Fine Arts] was converted into a room for clerical services of the school, while the Galeria da Escola
landscape is still being shaped, mainly due to the institutional consolidation of the Museu de Arte
Guignard [Gallery of Escola Guignard] is closed most part of the year, except for the recent Atelier
Moderna Murilo Mendes [Murilo Mendes Museum of Modern Art] (Mamm), whose museological
Aberto [Open Studio] project, which receives young artists to occupy the space and to develop
and technical facilities are excellent, and the creation of the course with concentration in the arts at the
projects there. The period of production is opened for visits and results in an exhibition at the end
Instituto de Arte e Design [Institute of Art and Design] at the UFJF [Juiz de Fora Federal University],
of six months. CemeteryThe interior of Minas Gerais state is amazing because of its rich diversity
which has been reinforcing its teaching staff. The first group of students in that course will graduate in
of cultural particularities. The art landscape in Uberlândia is very well structured in the institutional
2012. On the occasion of my visit, the Mamm was hosting a traveling exhibition of part of the works
sphere. The Universidade Federal de Uberlândia [Uberlândia Federal University] (UFU) offers a
from the 29th São Paulo Art Biennial. There is an incipient generation of young artists interested in
bachelor’s degree course in visual arts and recently rolled out its master’s course. The curriculum
contemporary art getting organized in study groups and putting up events and exhibitions that will
was updated to include laboratories and research groups for a themed approach to contemporary
certainly reach maturity in the coming years.
art languages. The university is also responsible for the management of the MUnA - Museu Universitário de Arte [University Art Museum], in Uberlândia, that serves as a laboratory for students
The historic legacy and landscape of buildings of Ouro Preto city determine the visuality prevailing
in the fields of editing, production, museology, conservation and art education. The museum re-
in the artistic output of this town. Despite a clear protection of handicraft and local themes, there
ceives traveling projects, promotes exhibitions based on its collection and sets its programming with
is a strong relation between art making and tourist demands. Hence, any expression of contempo-
six annual exhibitions through a nationwide open call for submissions. The work in the museum is
rary art in town is occasional, either because of the Festival de Inverno [Winter Festival] or some
technically exemplary and engaged in education, providing vocational training opportunities to stu-
exhibitions in local institutions. The Fundação de Arte de Ouro Preto [Ouro Preto Art Founda-
dents. The local government maintains a network of exhibition spaces the programming of which is
tion] (Faop) is responsible for the technical training of artists and restorers and receives young
based on calls for submissions. Galeria de Arte Ido Finotti [Ido Finotti Art Gallery], Oficina Cultural
artists from across the country in its exhibition space, the Galeria Nelo Nuno [Nelo Nuno Gallery]
[Cultural Workshop], Casa da Cultura [Culture House] and Espaço Cultural do Mercado [Market
through call for submissions. In the meeting held, a group of young artists interested in urban in-
Cultural Space] are institutions dedicated to art exhibition that keep the local art community very
tervention and graffiti drew the attention. Of course, they faced space limitations in the town. The
active. Their actions result in more visibility of young artists and exchange of ideas and experiences
issue raised and discussed was: how to deploy the heavy historic, artistic and architectural legacy of
with artists from other regions. The good quality of the output certainly stems from a remarkable
the town through contemporary art and considering the urgency of the present time?
organization of the institutional landscape in association with the university. The Igreja do Espírito
Santo do Cerrado [Church of the Holy Spirit of the Cerrado], designed by Lina Bo Bardi, portrays
In Congonhas, the handicraft tradition and the strong benchmark of Aleijadinho’s work standardize the
the magnitude of the city cultural identity, especially if we contrast it with the architectural heritage
visual output in town, almost exclusively dedicated to the soapstone sculpture and landscape painting.
of Minas Gerais Baroque tradition.
Cataguases once was a modernist center of great importance to Minas Gerais. Nevertheless, the
Ipatinga, mapped for the first time in the Rumos project, is a town of only 47 years of existence created to
legacy of modern art, except for architecture, is not available to the local people, a sign of a slow
support Usiminas operations. In 2002, this steel company opened the Centro Cultural Usiminas [Usiminas
and occasional context. The lack of references of their own history is noticed in the inconsistent lo-
Cultural Center], where local artists find training (apart from the course in architecture at Unileste [Univer-
cal artistic output. Without education institutions and training opportunities, there is no landscape
sity Center of Eastern Minas Gerais], now discontinued). In addition to receiving and producing exhibitions
established in those towns.
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invitation to a journey
Although Diamantina is the venue of the Festival de Inverno [Winter Festival] of UFMG [Minas
experiences. The action is a manner of political affirmation: by trespassing the boundaries of pri-
Gerais Federal University], the local artists do not have any chance in this event. With the purpose
vate property, the right to come and go and to experience transient and ephemeral conditions of
of making up for such issue, the Museu do Diamante [Diamond Museum], despite its history-
perception is reiterated. Traveling is a way of populating the world.
oriented collection – objects, photographs and furniture that represent the material memory of
history of labor in the region – since 2005 has been delivering art history workshops and courses
aimed at developing the artists’ skills. The Ateliê Aberto [Open Studio] project provides a space
for discussion and collective production and we hope that it contributes to shape and foster the
JÚLIO MARTINS is a graduate in history of UFMG [Minas Gerais Federal University] and in Fine Arts of the
local landscape.
Escola Guignard [Guignard School]. He is currently pursuing a master’s degree at the Escola de Belas Artes [School
of Fine Arts], at UFMG. He is a curator, art historian and editor. Since 2003, he has cooperated with the Centro de
For the first time, the mapping included the towns of Nova Lima, Tiradentes and São João del Rey. In
Experimentação e Informação de Arte [Experimentation and Information Art Center], in Belo Horizonte, linked to
the past five years, Nova Lima has been the choice for cultural spaces, particularly art galleries. The town
the RijksAkademie Artist’s Initiative (Rain), Amsterdam. In 2009, he was a resident of the Programme Courants du
has attracted many artists, who open their studios there. However, it is not possible to see any unfolding
Monde, Paris. Since 2004, he has conducted researches on modern and contemporary art and written for catalogs
in the local art output, still shy and inconsistent. The Casa Aristides de Artes e Ofícios [Aristides House
and books. Author of Stéphane Vigny: Savoir-forme (Museu Inimá de Paula: Belo Horizonte, 2010). General curator
of Arts and Crafts] provides technical workshops in the arts and the call for submissions for the munici-
to the Museu Inimá de Paula [Inimá de Paula Museum] since 2008, where he coordinates artistic, educational and
pal salon is also aligned with an output markedly related to craft works. It is important to highlight the
editorial projects. He was responsible for the exhibitions of Inimá de Paula, André Hauck, Marco Antonio Mota, JB
Jardim Canadá Centro de Arte e Tecnologia [Jardim Canadá Arts and Technology Center] (JA.CA),
Lazzarini, Pablo Lobato, Marcos Brias and Stéphane Vigny.
where artists have come since 2010 to develop projects over a one-year period. The Center also has a
residency program of six months for international artists and of one year for local artists. At the end of
each semester, an exhibition and series of talks are held. One of the institution interests is to explore the
region peculiar context from the poetic perspective.
In São João del Rey, the course in applied arts with concentration in ceramics was created in the university
as a response to a supposed need to organize the handicraft activity in the region. Therefore, naturally,
the course was framed on the basis of an extremely conservative and outdated approach. However, new
professors have recently joined the department faculty. Their mission is to effectively consolidate the arts
course in town and to manage the university Cultural Center programming. Tiradentes has been a national
tourist destination in recent years. For this reason, the local handicraft lost some originality and responds to
the demands and expectations of tourists visiting the region.
The journey motivates interventions proposed by This Land Your Land, a collective formed by
artists Ines Linke and Louise Ganz. The journey understood as the movement of opening and
surrender to the unknown, the promise of adventure and discovery, fundamentally different from
tourist consumption determinations. The artists walk through unlike routes that make up the reinvention of a landscape in the scale of its occupation and poetic usage. In Route 1, the itinerary to be
covered corresponds to the water pipeline which supplies Belo Horizonte. The micro-interventions
made along the itinerary – isolating native plants with biodegradable tissues, planting other species,
burying texts in the ground, opening tracks on the ground – respond to immediate stimuli from
the location, promoting and exercising new ways to relate and inhabit the world through aesthetic
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FRANZOI
Começo... O viajor
(início de tudo)
Receber o convite para ser o curador de mapeamento da Região Sul do Brasil, em dezembro de
2010, foi uma grande emoção que − segundo Eduardo Galeano na obra O Livro dos Abraços, mais
especificamente no poema “A Função da Arte” − me deixou mudo de beleza. Essa mudez se deu por
termos consciência de ser um dos mais importantes projetos de arte contemporânea do país; pela
tamanha responsabilidade que cai sobre qualquer pessoa envolvida nesse processo e pela oportunidade de crescimento, tanto intelectual quanto profissional, já que se trata de um projeto de formação
de artistas e curadores.
Ao pensar em como poderia desenvolver o trabalho da melhor forma possível, partimos da experiência
anteriormente adquirida na primeira edição do Rumos Artes Visuais de 2000. É lógico que não podemos esquecer que, ao longo desses anos, cada edição sofreu transformações e adaptou-se ao contexto
da época. Como artista selecionado, naquela ocasião, foi de grande importância a presença do curador
de mapeamento da Região Sul, Jailton Moreira, pois a partir de sua visita e conversa pudemos perceber
REGIÃO SUl
que o edital buscava aproximar artistas e curadores de diversas regiões do país.
A primeira coisa que questionamos foi o termo “mapeamento”. Deveríamos então ser simples mapeadores, visto que mapear abrange somente um contexto mais cartográfico? Optamos por explorar e
conhecer novos lugares, novas realidades culturais e novos artistas. O termo que mais se adaptou foi
“viajor”. Minha alegria foi constatar, na primeira reunião com os 13 curadores, essa mesma preocupação.
Nessa reunião ficou definido que seríamos mais viajantes do que mapeadores.
Tendo resolvido as questões terminológicas partimos para o planejamento das visitas. Primeiro,
precisaríamos definir a metodologia a ser seguida. Quais seriam as cidades visitadas? Quantas?
Como? E o porquê da escolha. Definimos que, em razão da importância para a formação de artistas
contemporâneos, um dos critérios seria a existência de um curso de artes visuais na cidade visitada.
Outro, a experiência anterior de curadores que já participaram do Rumos Artes Visuais − como, por
exemplo, Gabriela Motta, Paulo Reis e Jailton Moreira −, e também de outros artistas − como Fernando Lindote, Geraldo Leão e Linda Poll − que vivenciaram o panorama artístico do Sul. E, por fim,
objetivamos atingir regiões ainda não exploradas pelo programa, visto que queríamos expandir ao
máximo o número de artistas. Percebemos então a necessidade de aumentar o número de cidades
a serem visitadas.
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curadores viajantes
Após listar as cidades, surgiu um novo problema: como conseguir atingir todas elas durante o período
A arte contemporânea de Curitiba, representada na pintura, no desenho, nas esculturas, nas instalações,
de inscrição, de 24 de fevereiro a 29 de maio? Para isso foi necessário um cronograma preciso e minucio-
nos objetos, nos vídeos e nas intervenções, é alimentada pelas academias já citadas, pelos espaços exposi-
so e contatos antecipados com gestores culturais, curadores, artistas, instituições públicas e particulares.
tivos. Além dos espaços já mencionados, se destacam o Museu de Arte da UFPR, a Casa Andrade Muricy,
o Centro Cultural Solar do Barão e o Museu Alfredo Andersen. A Bolsa Produção, projeto da Fundação
Meio... O percurso
Cultural de Curitiba em parceria com a prefeitura, proporciona aos artistas a oportunidade de aprofundar
sua produção em pesquisas próprias por meio de uma bolsa anual que prevê o acompanhamento de
(particularidades das cidades)
curadores e a realização de uma exposição. Também se ressalta aqui o amadurecimento e o crescimento
da Vento Sul – Bienal de Curitiba, na sexta edição em 2011, que se tem firmado como evento relevante no
calendário artístico do país dando acesso a obras de importantes nomes da arte contemporânea nacional
e internacional.
PARANÁ
Cascavel
Do Rumos Artes Visuais 2008-2009 até esta edição percebeu-se que, se antes a arte contemporânea
estava praticamente concentrada na capital, hoje, embora o maior número de artistas e instituições ain-
Pela primeira vez o Rumos Artes Visuais visitou a cidade. O contato foi Ana Lúcia Simão, coordenadora
da estejam em Curitiba, há uma mudança, tanto no pensamento como na posição dos envolvidos com
do Museu de Arte de Cascavel, que reuniu artistas para uma palestra e leitura de 13 portfólios. A cidade
a arte contemporânea, pois ela se faz muito presente em outras cidades.
possui licenciatura em artes na União Educacional de Cascavel (Univel). E curso de artes visuais na
União Pan-Americana de Ensino (Unipan), onde proferimos palestra para alunos, professores e interes-
Curitiba
sados, organizada pela artista e professora Nani Nogara. Também a Associação dos Artistas Plásticos
de Cascavel (Aaplac) se fez presente no contato com alguns artistas e no catálogo da Exposição Cole-
Tivemos o acompanhamento e a monitoria de Geraldo Leão ao visitar, no Museu Oscar Niemeyer,
tiva Gestão 2005/2007. A Mostra Cascavelense de Artes Plásticas vai para sua 19ª edição.
a exposição Estado da Arte: 40 Anos de Arte Contemporânea no Paraná. Maria José Justino assina a
curadoria e o texto Poéticas Transitivas: O Estado da Arte no Paraná. Já Artur Freitas foi responsável
Percebe-se que a contemporaneidade está na cidade. Existem poucos artistas com uma produção con-
pela curadoria e o texto A Estética da Presença: Arte Contemporânea em Curitiba nos Anos 2000.
temporânea e outros estão em busca de novas possibilidades. Fazem-se necessários investimentos em
Também pudemos ver no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) a exposição Possí-
produção, curadoria e divulgação.
veis Conexões II que contou com a participação dos alunos da Escola de Música e Belas Artes (Embap), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Tuiuti (UTP) e Faculdade de Artes do
Londrina
Paraná (FAP). A seleção e curadoria ficaram a cargo dos professores de cada instituição. Visitamos
vários ateliês e estivemos com quatro grupos de artistas para falar sobre o Rumos Artes Visuais e
As pessoas contatadas foram Elke Coelho, Juliana Miranda de Freitas e Sandra Mara Montressol
leitura de portfólios.
Sanches Jóia. Danilo Villa organizou, na Divisão de Artes Plásticas da Casa da Cultura da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a palestra e a leitura de 31 portfólios dos artistas participan-
O retorno à cidade se deu em mais dois momentos que foram concentrados nas universidades com
tes. A produção contemporânea está representada nas instalações, nos objetos, nas pinturas, nos
bacharelado em artes visuais: na UTP, por meio de Cristina Mendes; na UFPR, no Departamento de
desenhos e nas esculturas incentivados pela universidade, pelo Museu de Arte de Londrina, pela
Artes (DeArtes) por meio de Consuela Schlichta e Geraldo Leão; na FAP, por intermédio de André
Secretaria de Cultura e por grupos de artistas. Por ocasião da visita, estava prestes a ser lançado
Rigatti e Sonia T. Vasconcellos; na Embap, pela organização de Deborah Bruel. Nas instituições foram
o 1º Salão de Arte Contemporânea de Londrina com o tema A Arte em Defesa da Terra: Urgente.
realizadas palestras, orientação de como participar do Rumos Artes Visuais e leitura de portfólios. No-
Segundo o regulamento, haveria quatro premiações e um seminário para professores, estudantes,
vamente visitamos ateliês e tivemos contato com grupos de artistas. No total foram 5 palestras e leitura
profissionais de arte e pessoas da comunidade londrinense organizado pelo Museu de Arte de
de 68 portfólios.
Londrina e pela UEL.
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curadores viajantes
Maringá
Paranaguá e Antonina
Outra cidade em que o Rumos Artes Visuais se fez presente. O contato se deu com Flor Duarte, secre-
Diogo Rodrigues Alves, administrador da Casa da Cultura Monsenhor Celso, organizou, em parceria
tária Municipal de Cultura de Maringá; Kiyomi Hirose, coordenadora de Artes Visuais da Universidade
com a Associação de Artistas Visuais de Paranaguá, palestra e leitura de portfólio de nove artistas.
Estadual de Maringá (UEM); Deborah Kemmer, coordenadora de artes visuais do curso de licenciatura
Embora já tenha tido um passado vertiginoso nas artes, a cidade vive muito do artesanato e do turismo,
e bacharelado em artes visuais do Centro Universitário de Maringá (Cesumar). Foram organizadas três
não proporcionando espaço para o desenvolvimento da arte contemporânea, o que leva os artistas
palestras: no Teatro Municipal Calil Haddad para artistas da cidade e região; na UEM, por Sheilla Sou-
contemporâneos a se deslocar para grandes centros, no caso a capital Curitiba. A presença de um artista
za, destinada aos alunos e professores da instituição; e no Cesumar, organizada por Deborah Kremmer,
vindo de Antonina reforça a comunicação e troca entre as cidades.
igualmente para alunos e professores. Após cada palestra, foram abertas trocas de ideias entre os artistas
interessados e leitura de 27 portfólios. Também foram realizadas visitas ao ateliê de alguns artistas.
Maringá está num período de transição, enquanto alguns artistas ainda estão no academicismo e/ou no
RIO GRANDE DO SUL
modernismo, outros se firmam na contemporaneidade e encontram dificuldades para desenvolver e expor seus trabalhos. Há necessidade de investimentos em espaços apropriados e curadorias especializadas.
A produção contemporânea do estado não se concentra apenas na capital, Porto Alegre. Existem
vários núcleos independentes tanto de instituições públicas quanto de iniciativa particular. Essa é uma
Pato Branco
característica marcante da arte do estado. Não podemos deixar de registrar a estrutura de ensino formal em artes visuais, sedimentada e com universidades estrategicamente posicionadas, que atingem
Uma tentativa de levar o Rumos Artes Visuais para o oeste do Paraná tornou-se ineficaz visto que não
praticamente todo o estado, sendo procuradas até mesmo por acadêmicos de outras regiões do país
foi encontrada presença de arte contemporânea na cidade. O Departamento de Cultura é vinculado à
por incentivo federal. Em função do mestrado e principalmente do doutorado há deslocamento de
Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Smecel) e responsável pela Galeria Mu-
artistas e professores para a capital, o que proporciona um intercâmbio entre instituições, já que muitos
nicipal Maria Genoveva Argenton e o Museu Municipal José Zanella. Ambos não são apropriados e
retornam às suas origens trazendo na bagagem contribuições significativas para o desenvolvimento
nem utilizados para exposições de arte contemporânea. No Centro Cultural Raul Juglair consegui uma
da produção local. Também se percebe que artistas, professores, pesquisadores e gestores não estão
lista com nome, endereço e telefone de 18 artistas. Após contato, constatou-se ser praticamente nula a
apenas preocupados com questões regionalistas, mas conectados com a produção contemporânea
produção voltada para a contemporaneidade.
nacional e internacional.
Ponta Grossa
Bagé
Cristina Mendes passou contato de Wilton Correia Paz, coordenador da Galeria de Arte da Pró-Reitoria
Na semana anterior à visita do Rumos Artes Visuais, Sapiran Brito assumiu a Secretaria Municipal
de Extensão (Proex) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e este organizou a palestra para
de Cultura. A cidade enfrenta problemas graves com a conservação do patrimônio cultural e edi-
alunos, professores do curso de licenciatura em arte visuais e demais artistas da cidade e região. Na ocasião
ficações históricas que carecem de lei específica para tombamento e conservação. Uma exceção
foi realizada a leitura de 19 portfólios. Na Galeria de Arte da Proex, localizada no Prédio Histórico da Proex,
é a restauração do Centro Histórico Vila de Santa Thereza. A arte contemporânea fica a cargo do
acontece anualmente um salão de arte temático de característica modernista. Existe um edital de ocupação
Da Maya Espaço Cultural. O espaço pertence a uma empresária carioca que incentiva a produção
das galerias administradas pela Secretaria Municipal de Cultura: Espaço Cultural Capitolium Vest Art, Galeria
cultural. Uma das principais linhas de atuação do espaço está voltada a exposições de artistas con-
Lúcio Mauro Ribeiro e Galeria João Pilarskz, onde ocorre o Salão de Artes Plásticas de Ponta Grossa que
temporâneos e ações educativas destinadas, principalmente, a estudantes e professores do ensino
vai para sua sexta edição. Uma iniciativa privada é o Salão de Artes da Unimed que vai para sua nona edição.
fundamental e médio das escolas municipais da cidade, que contam com visitas guiadas e reali-
Organizado e com curadoria de Celso Parubocz, não possui espaço expositivo adequado já que uma sala
zação de workshops voltados a práticas artísticas sintonizadas com as mostras realizadas. Foram
do Palladium Shopping Center é adaptada para a mostra. A maioria da produção local está voltada para a
mapeados seis artistas.
modernidade com pouquíssimas manifestações contemporâneas, incluindo os salões realizados.
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curadores viajantes
Caxias do Sul
a presença da contemporaneidade é quase nula. O Museu de Artes Visuais Ruth Schneider (Mavrs) e
o curso de licenciatura em artes visuais da Faculdade de Artes, ambos da Universidade de Passo Fundo,
Mara Aparecida Magero Galvani organizou − junto ao Centro de Artes e Arquitetura e ao curso de bacha-
não possuem uma política voltada para a produção artística contemporânea e formação de artistas. Foi
relado e licenciatura em artes visuais da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e à unidade de artes visuais da
realizada uma palestra aos alunos de licenciatura e mapeados três artistas.
Secretaria da Cultura da Prefeitura Municipal − a palestra para alunos, professores, artistas e interessados no
Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho. Merece destaque o Núcleo de Artes Visuais (Navi)
Pelotas
pelas ações desenvolvidas por meio de exposições, cursos, palestras e publicações sobre arte contemporânea
onde também proferimos palestra e leitura de portfólios. Além desses contatos, visitamos ateliês de artistas
É um dos polos de produção e divulgação da arte contemporânea do estado. O contato foi realizado
que se mostraram ativos, atentos e em busca de uma produção contemporânea. Leitura de 24 portfólios.
com Eduarda (Duda) Gonçalves, Raquel Ferreira e Ricardo Mello. A maior parte da formação de
artistas contemporâneos fica sob a responsabilidade da Universidade Federal de Pelotas no Instituto
Novo Hamburgo
de Artes e Design (IAD/UFPEL). Ligados ao IAD estão uma Galeria de Arte e o Museu de Arte
Leopoldo Gotuzzo, segundo os artistas, com o acervo muito centrado em artistas regionais e uma
O contato foi Lurdi Blauth que organizou um encontro com artistas e alunos na Federação de Esta-
programação irregular. O projeto Arte no Porto, que consiste em uma exposição coletiva de alunos
belecimento de Ensino Superior (Feevale). A instituição possui bacharelado em artes visuais e uma
e professores do IAD em um dos galpões do porto de Pelotas, é um diferencial e abre espaço para
galeria de artes, a Pinacoteca, que organiza, promove e divulga exposições, encontros e debates com os
novos artistas. O Ágape Espaço de Arte, criado recentemente e com intensa programação cultural,
artistas, projetos de arte-educação e bancas de graduação. Após palestra sobre o Rumos Artes Visuais
possibilitou o encontro com artistas e a leitura de portfólios. A produção no campo da contempora-
começamos a leitura e orientação do portfólio de dez artistas. Em função de estarem muito próximos
neidade, embora a cidade apresente vida cultural própria, está conectada com às questões atuais e
a Porto Alegre, os artistas vivenciam a cena cultural da capital − o que contribui para sua formação. A
discutida nos grandes centros.
produção é pequena, mas conectada com as questões contemporâneas. Para finalizar, Maristela Winck
convidou-nos para a abertura da exposição de Regina Silveira no Museu da Fundação Iberê Camargo,
Porto Alegre
ocasião em que fomos apresentados a vários representantes da gestão cultural de Porto Alegre e região.
Gabriela Motta passou uma lista de contatos. A estratégia foi contato por e-mail com artistas, professoMontenegro
res, curadores e gestores culturais. Infelizmente poucos deram retorno, mas os que responderam foram
de grande ajuda e eficiência. Estivemos por três ocasiões na cidade. Alguns artistas formaram grupos
Maria Isabel Petry Kehrwald, diretora executiva da Fundação Municipal de Artes de Montenegro (Fun-
e nos receberam em suas residências/ateliês para palestras e leitura de portfólios. O ateliê coletivo e a
darte), organizou duas palestras. À tarde, a palestra e leitura de portfólio de 17 artistas; e, à noite, palestra
Galeria Subterrânea, onde se promovem exposições, cursos e eventos em arte contemporânea, reuniu
aberta a todos os alunos dos cursos da Fundarte, nas áreas de artes visuais, música, dança e teatro, que
um grupo de artistas para palestra e leitura de portfólios.
objetiva a formação de professores-artistas, ou seja, professores aptos a orientar os saberes da arte porque
fazem arte. Esse é o grande diferencial da cidade. Lá encontramos o Seminário Nacional de Arte e Edu-
Junto com Gabriela Motta fizemos uma visita técnica à Fundação Iberê Camargo (FIC) onde estava
cação Fundarte/UERGS que está na 22ª edição; a Revista da Fundarte, especializada em arte; a Galeria
sendo montada a exposição Mil e um Dias e Outros Enigmas, de Regina Silveira com curadoria de José
de Arte Loíde Schwambach, ocupada por meio de edital e convites e que abriga o Salão Fundarte/Sesc
Roca. Pudemos conhecer o ateliê de gravura que desenvolve o Programa Artista Convidado – ação
de Arte 10x10. A contemporaneidade se faz presente na pesquisa em artes visuais e arte-educação por
que convida nomes de projeção nacional e internacional para trabalhar no ateliê durante uma semana,
meio de palestras periódicas, seminários e produção em arte de alunos, de professores e da comunidade.
com o objetivo de criar obras inéditas −, o Programa Educativo e a Bolsa Iberê Camargo – programa de
residências internacionais realizado anualmente pela fundação.
Passo Fundo
Maria Ivone dos Santos, artista e professora no Instituto de Artes no curso de graduação, mestrado e
Quase não há presença de representantes da arte contemporânea na cidade. Embora haja uma Asso-
doutorado em artes visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), organizou pales-
ciação dos Artistas Plásticos de Passo Fundo não conseguimos contato e, pelo que fomos informados,
tra e leitura de portfólios para alunos e professores.
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curadores viajantes
Também visitamos vários espaços culturais que apresentam programação destinada às artes contem-
formulação de possíveis formatos expositivos. Tivemos oportunidade de conhecer a professora e
porâneas. Destes, são municipais: Paço Municipal, Usina do Gasômetro, Galeria Iberê Camargo. Esta-
artista Suzana Gruber e o maravilhoso trabalho que exerce junto a jovens alunos/artistas da cida-
duais: Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs), Casa da Cultura Mário Quintana
de, possibilitando o aprendizado e o desenvolvimento na arte contemporânea. Também visitamos
(CCMQ), Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC–RS) e o Instituto Estadual
o Ateliê de Arte Pública onde funciona o Ateliê de Escultura e o Ateliê de HQ. Há muita efer-
de Artes Visuais (Ieav). E instituições privadas: Fundação Cultural e Assistencial Ecarta, que tem uma
vescência para a arte contemporânea na cidade. No entanto, faltam investimentos em espaços
galeria de arte, e o Santander Cultural, que possui espaço expositivo.
específicos e apoio de editais e leis de cultura.
Foram cinco palestras, 38 leituras de portfólio artístico e diversos contatos e orientações por e-mail que
nos levaram a perceber que a arte contemporânea em Porto Alegre é impulsionada pela universidade e
demais cursos destinados à formação em artes visuais, pela programação cultural dos espaços já men-
SANTA CATARINA
cionados e pela produção local que estabelece conexões com outras cidades do país e do exterior com
exposições, intercâmbios acadêmicos, residências artísticas, entre outros.
Um diferencial do estado, além do fato de a capital não ser a maior cidade, no que se refere ao número de habitantes, também não é lá que se concentram os maiores investimentos públicos na área de
Não podemos deixar de mencionar a importância da Bienal do Mercosul na disseminação e divulgação
artes visuais. Fica esse mérito a Joinville que apresenta uma política cultural em consonância com o
da arte contemporânea do país e do exterior. Na medida em que extrapola os limites geográficos, ela se
Plano Nacional de Cultura (PNC) com diversas ações e a implantação do Sistema Municipal de De-
firma como evento proeminente no calendário artístico do país.
senvolvimento pela Cultural (Simdec). Outro diferencial é a atuação do Serviço Social do Comércio
(Sesc) que, desde 2004, viabiliza uma série de ações por meio de dois projetos que têm como objetivo
Rio Grande
levar conhecimento qualificado sobre o processo criativo, artístico e mercadológico das artes para todas
as cidades onde o Sesc atua, proporcionando amadurecimento e desenvolvimento tanto para artistas
Através de Raquel Ferreira entramos em contato com o professor e artista Claudio Maciel da Fundação
quanto para curadores.
Universidade Federal do Rio Grande que organizou a palestra e a leitura de portfólio com os artistas
interessados no miniauditório do curso de artes visuais. A convite do artista e idealizador, Law Tissot, vi-
O Projeto Pretexto − idealizado e realizado inicialmente pelo artista e curador Fernando Lindote
sitamos o Ponto de Cultura ArtEstação onde funciona a Fanzinoteca Mutação um espaço de preserva-
− consiste em três encontros coletivos de discussão teórica sobre a produção pessoal entre um
ção, ensino e pesquisa sobre mídia livre, arte xerox e arte postal, e um ateliê de oficinas livres e gratuitas
assessor e um grupo de artistas pré-selecionados da cidade para produção, curadoria e realização
de fanzines, arte xerox e grafite. Também visitamos vários ateliês. No total, foram 21 artistas contatados.
de uma exposição.
A produção contemporânea gira em torno desses dois espaços de discussão da arte.
Há também o Panorama Sesc de Artes Visuais de Santa Catarina, onde um curador convidado reúne
Santa Maria
artistas do estado que já participaram do Pretexto para troca de experiências, discussão de questões
relativas ao circuito de arte do país, montagem e abertura da exposição e um bate-papo com os artistas
Alessandra Giovanella e Aloisio Licht foram os grandes articuladores na cidade e prepararam
e o curador aberto à comunidade.
uma agenda que incluiu quatro palestras, 32 leituras de portfólios, entrevista na Rádio Onda Anômala para divulgação do Rumos Visuais e visita a ateliês. A Universidade Federal de Santa Maria
Um ponto negativo do estado é a quase inexistência de formação pública na área de artes. Não há
(UFSM) possui Centro de Artes e Letras e um programa de pós-graduação em artes visuais
universidade federal que ofereça graduação e muito menos mestrado e doutorado. A única institui-
onde ocorreu uma das falas e a leitura de portfólios para estudantes/artistas/pesquisadores da
ção pública com curso de bacharelado e licenciatura na graduação, mestrado e doutorado é a Uni-
instituição. Outro espaço que merece destaque é Grupo Sala Dobradiça [www.saladobradica.
versidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) no Centro de Artes (Ceart). Outro ponto negativo
blogspot.com], que integra as atividades em artes visuais da Associação de Produtores Indepen-
é o governo do estado não possuir secretaria própria de cultura ficando esta rubrica para a Secretaria
dentes Macondo Coletivo, Ponto Referencial Sul do Circuito Fora do Eixo. O grupo trabalha com
de Turismo, Cultura e Esporte, o que dificulta a consolidação de uma política cultural de maior abran-
a realização de propostas artísticas e curatoriais direcionadas a reflexões poéticas do espaço e à
gência para todo o estado.
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curadores viajantes
Blumenau, Indaial, Pomerode e Timbó
Chapecó
Mia Ávila, gerente do Museu de Arte de Blumenau (MAB), e Jamil Antônio Dias, técnico de cultura
Camila Pauline Miotto e Antonio Dante Acosta organizaram e viabilizaram a palestra no Sesc onde
do Sesc, foram os articuladores para a realização das três palestras e leitura de 23 portfólios de artistas
existe uma galeria de arte, sendo este o melhor espaço expositivo da cidade. Os projetos dessa institui-
de Blumenau, Indaial, Pomerode e Timbó (os artistas das três últimas cidades da região se deslocaram
ção fazem a diferença no cenário artístico da cidade.
para Blumenau). Duas das palestras ocorreram no MAB que possui edital de exposição anual e promove, desde 1994, e de forma bienal, o Salão Elke Hering: Mostra Nacional Contemporânea de Artes
Janaína Schvambach reuniu artistas para palestra e leitura de portfólios no Centro de Cultura e
Visuais, que vai para sua décima edição. Houve a participação da Associação Blumenauense de Artistas
Eventos Plínio Arlindo de Nês. A Fundação Cultural de Chapecó realiza o Salão Chapecoense
Plásticos e da Associação Pomerodense de Artistas Plásticos e demais artistas, gestores e produtores
de Artes Plásticas, que vai para sua nona edição, destinado apenas a artistas residentes em Santa
da região. A terceira palestra ocorreu na Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB) para
Catarina. Já a Galeria Municipal de Arte Dalme Marie Grando Rauen prioriza a produção de
alunos e professores do curso de licenciatura em artes visuais.
artistas da cidade.
As ações voltadas às artes ficam a cargo do MAB com seu calendário de exposições; do Sesc, com o
A Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) possui curso de licenciatura em
Pretexto e o Panorama; e da universidade pelas ações pedagógicas. Na arte contemporânea são poucos
artes visuais e a Galeria de Artes Agostinho Duarte, local com pouca estrutura e destinado à exposição
os artistas que rompem a barreira da cidade e do estado, mas os que o fazem são atuantes.
de alunos, professores e artistas locais.
Criciúma e Tubarão
Sonia Loren, presidente da Associação dos Artistas Visuais da Região Oeste de Santa Catarina
(Adentro), viabilizou encontro com os artistas no ateliê Cristina Luviza Battiston. Aqui se percebe um
Daniele Zaccaron, diretora da Galeria de Arte de Criciúma da Fundação Cultural de Criciúma (FCC),
movimento voltado para o desenvolvimento da arte contemporânea e aprimoramento da produção
Cristine Gomes, setor de cultura do Sesc, e a artista Rosangela Becker foram as articuladoras para a re-
individual e coletiva quando é convidado um curador para encontros/oficinas, leitura de portfólios e
alização da palestra, da leitura de 23 portfólios e das visitas aos ateliês. A arte contemporânea é fomen-
desenvolvimento de curadorias específicas. Foram realizadas 3 palestras e 24 leituras de portfólios.
tada pela parceria entre Sesc e FCC por meio do Pretexto, do calendário de exposições temporárias e
do desenvolvimento de projetos e ações educativas.
Percebe-se que houve um avanço significativo com relação à discussão e à produção da arte contemporânea da cidade e parabenizam-se artistas e gestores pelo comprometimento na produção e na difusão
A contemporaneidade reaparece no trabalho de alguns artistas que começam a quebrar a barreira
dessa contemporaneidade.
geográfica expondo em outros espaços, inserindo Criciúma novamente no mapa das artes visuais após
anos de reclusão.
Florianópolis
A Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) possui cursos de graduação em bacharelado e licenciatu-
Sandra Makowiecky, pró-reitora de Ensino da Universidade de Santa Catarina (Udesc), e Raquel
ra em artes visuais e o Espaço Cultural Unesc, no hall do bloco administrativo, se mostra inadequado para expo-
Stolf, artista selecionada no primeiro Rumos Artes Visuais e docente do Centro de Artes (Ceart),
sições. A Galeria de Arte Helen Rampinelli é um espaço novo destinado a exposições de arte contemporânea.
organizaram palestra e leitura de portfólios dos alunos da entidade. Sendo a única instituição pública do estado a oferecer curso de graduação e mestrado em artes visuais, ela é a responsável
Por intermédio de Marco Aurélio Castro Rodrigues, do Sesc de Tubarão, encontramos oito artistas da
pela formação de diversos artistas vindos de várias regiões do estado. Fernando Boppré organizou
cidade e região para palestra e leitura de portfólios. As exposições temporárias e o próprio Pretexto,
palestra e leitura de portfólios no Museu Victor Meirelles, instituição federal com edital de exposi-
principal referência em arte contemporânea no local, são realizados no único espaço para exposições
ções para artistas e agenda de cursos voltados ao fomento das artes. No total foram duas palestras,
da cidade, localizado no Centro Municipal de Cultura onde também fica o Museu Willy Zumblick. A
visitas a ateliês e leitura de 39 portfólios artísticos que comprovam a qualidade e a preocupação
produção contemporânea ainda é muito tímida e requer grande investimento físico e conceitual.
conceitual das propostas apresentadas.
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A Fundação Cultural Badesc dispõe de edital para exposições temporárias. A Fundação Catarinense
Plásticos possui um espaço para oficinas e também adaptado para mostras. Poucos associados têm uma
de Cultura responde pelo Museu de Arte de Santa Catarina (Masc) e pelo Museu Histórico de San-
produção contemporânea. A Fundação Cultural investe todos os anos em um Fundo Municipal de Cul-
ta Catarina, antigo Palácio Cruz e Souza, este com edital para exposições temporárias. A Fundação
tura para o desenvolvimento de projetos destinados à formação e divulgação da arte. Na área de artes
Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) possui Lei Municipal de Incentivo à Cultura que
visuais deve-se destacar a artista e arte-educadora Cristina Pretti como uma das principais articuladoras
não atende a demanda. O espaço destinado às artes fica a cargo da Galeria Municipal de Arte Pedro
das artes da cidade à frente de vários projetos. Pela proximidade e pela inexistência de ações nas artes,
Paulo Vecchietti, que carece de estrutura física e programação voltada à arte contemporânea e a ações
os artistas de Guaramirim participam da cena cultural de Jaraguá do Sul. A produção contemporânea
educativas. Melhor aproveitado é o espaço destinado ao Memorial Meyer Filho, que, embora com es-
é pequena e com raras exceções. A comunidade quase não toma parte das ações contemporâneas
paço pequeno, possui programação voltada à arte contemporânea, por meio de convite aos artistas, e
propostas para a cidade; há necessidade de maior divulgação e esclarecimento das ações.
preocupa-se com a documentação e a publicação. O Sesc não se faz tão presente por não ter espaço
próprio para exposições, o que dificulta a realização de seus projetos.
Joinville, São Francisco do Sul e Schroeder
Itajaí e Balneário Camboriú
Importante polo cultural do estado, Joinville figura entre as principais cidades de Santa Catarina
tornando-se modelo de gestão pública cultural. Foi a primeira no estado a aprovar lei municipal de
Ane Fernandes, diretora de Artes e da Casa da Cultura Dide Brandão, unidade da Fundação Cultural
cultura que instituiu o Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec), vinculado à
de Itajaí (FCI), organizou a palestra aberta a artistas, alunos, professores, gestores e produtores culturais.
Fundação Cultural de Joinville (FCJ), que tem como objetivo estimular a produção e a execução
Participaram representantes da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Sesc–Itajaí, Associação dos Ar-
de projetos considerados relevantes para o desenvolvimento da cidade e compreende os seguin-
tistas Plásticos de Itajaí (AAPI), Fundação Cultural de Balneário Camboriú (FCBC), Grupo de Artistas
tes mecanismos: Fundo Municipal de Incentivo à Cultura (FMIC) e o Mecenato Municipal de
Plásticos de Balneário Camboriú (GAP) e Associação de Artistas Plásticos de Balneário Camboriú
Incentivo à Cultura (MMIC). O Museu de Arte de Joinville (MAJ) e a Galeria Municipal de Arte
(Balneart). Depois, realizamos a leitura de 25 portfólios.
Victor Kursancew (GMAVK), unidades da FCJ, possuem edital de ocupação e espaço expositivo
próprio para mostras temporárias. O MAJ desenvolve ações em educação não formal, voltadas à
A FCBC possui edital de ocupação da Galeria Municipal de Arte, espaço não adequado para abrigar
mediação e ao aprimoramento da produção local, sendo uma dessas ações o projeto Memórias de
exposições contemporâneas já que é adaptado na própria casa onde funciona a fundação.
um Acervo, que expõe continuamente recortes curatoriais da sua reserva técnica em diálogo com
as exposições temporárias.
A FCI possui Lei de Incentivo à Cultura que disponibiliza Edital de Apoio a Intercâmbio Cultural, Edital
de Apoio a Eventos Culturais Comunitários e Edital para Seleção das Exposições na Galeria Municipal
São importantes mecanismos para a produção emergente da região: o Salão dos Novos, realizado
de Arte, nas Galerias da Casa da Cultura Dide Brandão ou no Pátio do Átrio do Paço Municipal. Nos
pela GMAVK, em sua 15ª edição; e a Coletiva de Artistas de Joinville, realizada pelo MAJ, em sua
editais, os artistas podem se inscrever para promover difusão, intercâmbio, exposições, seminários, cur-
41ª edição, que repassa 4 mil reais para cada um dos 12 artistas selecionados pelo edital de apoio à
sos, entre outras ações que visem o desenvolvimento e o aprofundamento de sua produção.
cultura para criação, produção e execução de sua obra. A Associação dos Artistas Plásticos (Aaplaj)
possui espaço com duas salas expositivas, sala de reunião e ateliê/oficina na Cidadela Cultural onde
Em função da existência da Univali e em grande parte pela ação da FCI na realização do Salão Nacional
também se encontram os Anexos 1 e 2 do MAJ (dois galpões que abrigam seis salas expositivas)
de Artes de Itajaí, que em 2010 entrou na sua 12ª edição, Itajaí está um pouco à frente de Balneário
e futuramente será construída a nova técnica do MAJ (com projeto finalizado e recurso financeiro
Camboriú no que se refere à arte contemporânea. Esperamos que o salão tenha continuidade pois
captado) e o Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke (MAC Schwanke). O insti-
coloca a cidade no circuito da arte contemporânea do país.
tuto Schwanke desenvolve palestras sobre arte contemporânea em parceria com a Universidade da
Região de Joinville (Univille) e o MAJ.
Jaraguá do Sul e Guaramirim
O Sesc se faz presente com suas ações, projetos e parcerias com a FCJ, reforçadas pela inauguraThiago Martins organizou a palestra e leitura de portfólios no Sesc, que possui uma Galeria de Arte com
ção da Galeria de Arte com estrutura adequada para exposições contemporâneas. Outra institui-
programação constante. No total, foram nove artistas mapeados. A Associação Jaraguaense de Artistas
ção para o movimento das artes é a Univille com o curso de artes visuais. Infelizmente, o curso de
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licenciatura está em fase de extinção − as últimas turmas se formam em 2013 −, o que demonstra um
No ensino, Paraná e Rio Grande do Sul têm cursos de graduação, mestrado e doutorado (licenciatura
retrocesso, visto que o bacharelado também foi extinto anos atrás. A cidade e a região carecem de
e bacharelado) em várias cidades visitadas e grande parte deles são oferecidos por instituições públicas
uma universidade pública que ofereça graduação, mestrado e doutorado nas áreas de artes visuais,
(estaduais e federais), possibilitando maior acesso aos interessados e uma rede de trocas e parcerias. O
dança, música e teatro.
que não acontece em Santa Catarina. O ensino da arte é oferecido, com exceção da Udesc, mencionada anteriormente, por entidades privadas e com poucas possibilidades de bolsas de estudos. Esse fato
Foram realizadas três palestras no MAJ e na Univille abertas para artistas, alunos, professores e gestores
indica a quase extinção dos cursos de bacharelado e, consequentemente, licenciatura. Nos três estados
de Joinville, São Francisco do Sul e Schroeder, cidades vizinhas que participam da cena cultural de Join-
há necessidade de a academia investir em estrutura física, salas expositivas e publicações específicas
ville. Foi feita a leitura de 48 portfólios. Há qualidade e amadurecimento na produção contemporânea
para maior difusão do ensino e da produção.
com o surgimento de novos artistas que buscam quebrar a barreira geográfica com propostas conceituais e participação em editais e salões. Espera-se que os investimentos públicos na área continuem e que
A Bienal Vento Sul e a Bienal do Mercosul são pontos positivos e que vêm se consolidando na mediação
outros apareçam para dar seguimento à contemporaneidade na cidade e afirmá-la.
e difusão da arte contemporânea nacional e internacional, colocando o Sul no circuito contemporâneo.
Lages
O artista contemporâneo do Sul ainda sofre para divulgar seu trabalho, com a falta de crítica atuante na
grande imprensa e a ausência de mercado especializado em arte contemporânea. A imprensa limita-se
Rudimar Cifuentes organizou e viabilizou no Sesc palestra aos artistas e professores e a leitura de
ao noticiário cultural e poucas são as oportunidades de espaço para crítica especializada e criteriosa em
sete portfólios. Mesmo sem galeria de arte própria, o Sesc é o grande articulador das artes e busca
artes visuais. A produção teórica refugia-se nas universidades e em publicações nem sempre de grande
vários espaços alternativos, tanto na cidade quanto na região (Curitibanos e São José do Cerrito)
abrangência. Nenhum artista manifestou a existência de galerias que comercializem arte contemporânea.
para desenvolver ações educativas e mostras de arte contemporânea. Forma então parcerias com
a Fundação Cultural, Museu Histórico Thiago de Castro, Museu Malinverne Filho, Biblioteca Pú-
Quanto ao artista emergente do Sul, percebe-se que a maioria está conectada a questões relacionadas
blica, Biblioteca do Centro Agroveterinário (CAV/Udesc) e Universidade do Planalto Catarinense
ao mundo contemporâneo nacional e internacional. A produção está, majoritariamente, em consonân-
(Uniplac) que possui curso de licenciatura em artes visuais. Fora o Pretexto, não existe espaço para a
cia com a contemporaneidade, tem qualidade e coerência no conceito, caráter experimental e diversi-
produção contemporânea.
dade. Encontramos produção em desenho em campo expandido, escultura, espaço ampliado, fotografia
revisitada, gravura, hibridismo, instalação, intervenção, performance, pintura expandida, suportes tradi-
Fim... A chegada
cionais reconstruídos, vídeo, cinema e documentário. Isso é comprovado pelo grande número inscrições
da Região Sul (315). Também foi significativo o número de pré-selecionados. Chegaram à seleção final
(não é o fim)
oito artistas, que se tornaram os representantes da Região Sul no programa Rumos Artes Visuais 20112013. São eles: Grupo P.S., Guilherme Dable, Isabel Ramil, Michel Zózimo, Nara Amélia, Rafael Pagatini,
Após contato direto com 1.645 pessoas − entre artistas, alunos, professores e gestores − e instituições
Rogério Severo e Romy Pocztaruk.
de 32 cidades dos três estados do Sul, por meio de 47 palestras com média de 35 pessoas presentes e a
leitura de 556 portfólios, é possível chegar a um breve diagnóstico do ensino, da difusão e da produção
A viagem não termina aqui. Temos muito o que apreender, redescobrir, reinventar. Não é o fim. Pois a
das artes visuais das cidades visitadas com conclusões parciais e relativas.
arte contemporânea não propõe um ponto final, mas, sim, pontos de interrogação, reticências. E, após a
mudez inicial do viajor, recuperamos as palavras de Eduardo Galeano: “me ajuda a olhar”.
O poder público, salvo algumas exceções já mencionadas, precisa desenvolver mecanismos que propiciem o fomento e a difusão da produção contemporânea, na criação e implantação de leis de incentivo
à cultura que estejam em consonância com o PNC e tenham continuidade e constante aprimoramento.
Mas são louváveis as iniciativas privadas e independentes, de grupos de artistas, instituições, associa-
FRANZOI é professor da Univille desde 1991. Foi curador em espaços culturais de Santa Catarina, Paraná e Rio
ções, coletivos, entre outras, que acreditam e desenvolvem ações em prol do aperfeiçoamento e da
Grande do Sul. Entre suas exposições individuais como artista destacam-se as do Museu de Arte de Joinville, 1993
mediação da produção contemporânea de seus estados.
e 2002; Galeria Jorge Zanata, 1998; Société International Culturel Île de Saint-Louis, 2002; Museu de Arte de Santa
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curators
curadores
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Catarina, 2003; Centro Cultural Arquipélago, 2008; e Memorial Meyer Filho, 2010. Entre as coletivas: VI Salão dos
Having solved the terminological issues, we moved on to planning the visits. First, we would need to define
Novos de Joinville, 1993 (prêmio aquisição); Wocher Artes Plásticas, 1994; Rumos Itaú Cultural, 1999/2000; VII
the methodology to be followed. What cities would be visited? How many? How? And why the choice. We
Bienal de Santos, 2000; Primeiro e Segundo Mapeamento de Artistas Contemporâneos de Santa Catarina, 2000
established that, by taking into account the importance for the educational development of contemporary
a 2001 e 2003; 14º Salão Nacional da Bahia, Salvador, 2007; e 12º Salão Nacional de Itajaí (convidado), 2010. Foi
artists, one of the criteria would be the existence of a visual arts course in the city visited. Another point, the
coordenador e integrante do Grupo Performance Papirus, 1988 a 2005; membro do Conselho Consultivo do Mu-
previous experience of curators who had already taken part in the Rumos Artes Visuais like, for example,
seu de Arte de Joinville, 2001 a 2003; diretor cultural do Instituto Schwanke, 2004 a 2009; e membro do Conselho
Gabriela Motta, Paulo Reis and Jailton Moreira, and other artists as well − like Fernando Lindote, Geraldo
Consultivo do Instituto Schwanke e da Galeria Municipal Victor Kursancew, desde 2009. Atualmente, é coordena-
Leão and Linda Poll − who had experienced the Southern art panorama. And, finally, our purpose was to
dor do Museu de Arte de Joinville – Fundação Cultural de Joinville.
reach regions not yet explored under the program, since we wanted to increase the number of artists as
much as possible. We then realized the need to grow the number of cities and towns to be visited.
After listing them, a new problem arose: how could we cover all of them during the application period
FRANZOI
from February 24 to May 29? This required a precise and thorough time schedule and early contacts with
cultural managers, curators, artists, public institutions and individuals.
Start..... The wayfarer
Middle... The itinerary
(the beginning of it all)
(particularities of the cities)
Being invited to curate the mapping of the Southern Region of Brazil in December 2010 was a
great thrill that − according to Eduardo Galeano in his The Book of Embaces, more specifically in
the poem “The Function of Art” − I was struck dumb by the beauty of it. This dumbness is caused by
the awareness of this being one of the most important contemporary art projects nationwide, by the
PARANÁ
great responsibility that falls on any person involved in this process and by the opportunity of both
intellectual and professional growth for this is a project focusing on the educational development of
From the 2008-2009 Rumos Artes Visuais up to this edition, contemporary art is seen to have changed
artists and curators.
both in the way of thinking and in the position of those engaged in it, for its presence today is stronger in
other cities as opposed to being virtually concentrated in the capital city like before, although the major-
The experience acquired previously in the first edition of the Rumos Artes Visuais in 2000 helped expand
ity of artists and institutions are still in Curitiba.
the ideas of the best way to carry out this assignment. Obviously we cannot forget that, throughout
these years, each edition has gone through transformations and was adapted to the context of the time.
Curitiba
As a former selected artist, the presence of the curator who had mapped the Southern Region, Jailton
Moreira, was critical because, after seeing and talking to him, we could realize that the call for submis-
Geraldo Leão accompanied and guided us during the visit to the exhibition Estado da Arte: 40 Anos
sions aimed at shrinking the gap between artists and curators from various regions of the country.
de Arte Contemporânea no Paraná [State of the Art: 40 Years of Contemporary Art in Paraná] at the
Museu Oscar Niemeyer [Oscar Niemeyer Museum]. Maria José Justino curated the exhibition and
The first thing that we questioned was the term “mapping”. Should we then be mere mappers, given the
authored the text Poéticas Transitivas: O Estado da Arte no Paraná [Transitive Poetics: The State of the
fact that mapping only covers a more cartographic context? We chose to explore and get to know new
Art in Paraná]. Arthur Freitas, in turn, was responsible for curating and writing the text A Estética da
places, new cultural realities and new artists. The term that fitted best was “wayfarer.” I was happy to see,
Presença: Arte Contemporânea em Curitiba nos Anos 2000 [The Aesthetics of Presence: Contempo-
in the first meeting with the 13 curators, the same concern. In that meeting it was set that we would be
rary Art in Curitiba in the 2000s]. At the Museu de Arte Contemporânea do Paraná [Paraná Museum
more wayfarers than mappers.
of Contemporary Art] (MAC-PR), we could also see the exhibition Possíveis Conexões II [Possible
Connections II], showcasing works by the students from the Escola de Música e BelasArtes [School of
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Music and Fine Arts] (Embap), Universidade Federal do Paraná [Paraná Federal University] (UFPR),
Contemporaneity in town is the feeling. There are few artists dedicated to contemporary art and others
Universidade Tuiuti [Tuiuti University] (UTP) and Faculdade de Artes do Paraná [Paraná College of
are searching for new possibilities. There is a need for investments in production, curatorship and publicity.
Arts] (FAP). The professors of each institution were charged with selection and curatorship. We visited several studios and met four groups of artists to talk about Rumos Artes Visuais and read portfolios.
Londrina
The new visit to the city was split into two steps that were focused on the universities offering a bachelor’s
The people contacted were Elke Coelho, Juliana Miranda de Freitas and Sandra Mara Montressol San-
degree course in visual arts: UTP, via Cristina Mendes; UFPR, with the Department of Arts (DeArtes)
ches Jóia. Danilo Villa organized, at the Divisão de Artes Plásticas [Division of Fine Arts] at Casa da Cul-
via Consuela Schlichta and Geraldo Leão; FAP, via André Rigatti and Sonia T. Vasconcellos; Embap,
tura da Universidade Estadual de Londrina [House of Culture of the State University of Londrina] (UEL)
organized by Deborah Bruel. Presentations were given at the institutions as well as instructions to join
a presentation and the reading of 31 portfolios of artists attending the meeting. The contemporary art
the Rumos Artes Visuais and portfolios were read. Again, we visited studios and had contact with artists’
output is represented in installations, objects, paintings, drawings and sculptures backed by the university,
groups. Altogether five presentations were delivered and we read 68 portfolios.
the Museu de Arte de Londrina [Londrina Art Museum], the Secretaria de Cultura [Secretariat of Culture] and artists’ groups. On the occasion of the visit, the 1º Salão de Arte Contemporânea de Londrina
Contemporary art in Curitiba, represented in painting, drawing, sculpture, installations, objects, videos
[1st Londrina Salon of Contemporary Art] themed A Arte em Defesa da Terra: Urgente [Art to the Defense
and interventions, feeds itself from the academies mentioned above, from the exhibition spaces. In ad-
of Earth: Urgent] was about to open. According to the regulation, four awards would be granted and a
dition to the aforementioned facilities, we must call the attention to the Museu de Arte [Art Museum]
seminar for professors/teachers, students, art professionals and people from the local community would
of the UFPR, the Casa Andrade Muricy [Andrade Muricy House], the Centro Cultural Solar do Barão
take place under the organization of the Museu de Arte de Londrina [Londrina Art Museum] and UEL.
[Solar do Barão Cultural Center] and the Museu Alfredo Andersen [Alfredo Andersen Museum]. The
Bolsa Produção [Production Scholarship], a project of the Fundação Cultural de Curitiba [Curitiba Cul-
Maringá
tural Foundation] in association with the local government, gives artists the opportunity to deepen their
own research output through an annual scholarship which provides for the monitoring of curators and
Another city visited by the Rumos Artes Visuais project. The contact was made with Flor Duarte, munici-
holding an exhibition. It should also be pointed out the maturity and growth achieved by Vento Sul
pal secretary of Culture in Maringá; Kiyomi Hirose, coordinator of visual arts at the Universidade Esta-
– Bienal de Curitiba [Southern Wind – Curitiba Biennial], in the sixth edition in 2011, which has been
dual de Maringá [State University of Maringá] (UEM); Deborah Kremmer, coordinator of visual arts of
consolidated as a relevant event in the national arts calendar, giving access to works of mainstream con-
the teaching certification program and bachelor’s degree course in visual arts at the Centro Universitário
temporary artists in and out of the country.
de Maringá [Maringá University Center] (Cesumar). Three presentations were held: at the Teatro Municipal Calil Haddad [Calil Haddad Municipal Theater] to artists from the city and the region; at UEM,
Cascavel
organized by Sheilla Souza and intended for students and professors of the institution; and at Cesumar,
organized by Deborah Kremmer and also oriented to students and professors. After each presentation,
For the first time, Rumos Artes Visuais visited the city. The contact was Ana Lúcia Simão, coordina-
the session was opened for an exchange of ideas among the artists interested and the reading of 27
tor of the Museu de Arte de Cascavel [Cascavel Art Museum], who brought together artists for a
portfolios. We also visited the studio of some artists.
presentation and the reading of 13 portfolios. The city offers a teaching certification program in the
arts at the União Educacional de Cascavel [Cascavel Educational Union of Higher Education] (Uni-
Maringá is going through a transition now. While some artists are still geared to academism and/or mod-
vel). And the course on visual arts is given at the União Pan-Americana de Ensino [Pan American
ernism, others are consolidating their contemporary style and find it hard to develop and exhibit their
Union of Higher Education], where we delivered a presentation to students, professors and interested
works. Investments in appropriate facilities and specialized curatorships is a need.
people, organized by artist and professor Nani Nogara. The Associação dos Artistas Plásticos de
Cascavel [Association of Fine Artists of Cascavel] (Aaplac) also arranged contact with some artists
Pato Branco
and collaborated with the catalog of the Exposição Coletiva Gestão 2005/2007 [Group Exhibition –
2005/2007 Administration]. The Mostra Cascavelense de Artes Plásticas [Cascavel Show of Fine
An attempt to take the Rumos Artes Visuais Westbound the Paraná state was ineffective for no evidence
Arts] is now in its 19th edition.
of contemporary art in the region was found. The Departamento de Cultura [Department of Culture]
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is a branch of the Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer [Municipal Secretariat
RIO GRANDE DO SUL
of Education, Culture, Sports and Leisure] (Smecel) and responsible for the Galeria Municipal Maria
Genoveva Argenton [Maria Genoveva Argenton Municipal Gallery] and the Museu Municipal José
The contemporary output in the state does not converge on the capital, Porto Alegre, only. There are mul-
Zanella [José Zanella Municipal Museum]. Both are neither adequate for contemporary art nor can
tiple independent clusters of both public and private institutions. This is a striking feature of the arts in this
they be used for contemporary art exhibitions. At the Centro Cultural Raul Juglair [Raul Juglair Cultural
state. We cannot fail to mention the formal education structure in visual arts, sedimented and with strategi-
Center] I obtained a list with name, address and telephone number of 18 artists. After contacting them,
cally-located universities covering virtually the entire state. Scholars from other regions of the country also
the output oriented to contemporaneity was found to be practically zero.
come to these universities enjoying federal incentive. A master’s degree course and chiefly a doctor’s take
artists and professors to the capital. This promotes an exchange among institutions, since many return to
Ponta Grossa
their hometowns bringing back in their bags meaningful contributions to the development of local output.
Furthermore, one can realize that artists, professors, researchers and managers are not only concerned with
Cristina Mendes gave the contact of Wilton Correia Paz, coordinator of the Galeria de Arte da Pró-
regionalist matters, but also they are connected with contemporary art across the country and the world.
Reitoria de Extensão [Art Gallery at the Vice President Office of Refresher Courses] (Proex) at the
Universidade Estadual de Ponta Grossa [State University of Ponta Grossa] (UEPG), and the latter or-
Bagé
ganized a presentation to students, professors of the teaching certification course in visual arts and other
artists from the city and the region. On that occasion, 19 portfolios were read. A themed art salon with
On the week prior to the Rumos Artes Visuais visit, Sapiran Brito had took over the Secretaria Municipal de
modernist features is held every year at the Proex Galeria de Arte [Proex Art Gallery] in the facilities of
Cultura [Municipal Secretariat of Culture]. The city has been facing serious problems with the conservation
the Proex Historic Building. Submission of proposals are called to build up the calendar of events of the
of the cultural heritage and historical buildings that suffer from the lack of a specific law for the designation
galeries run by the Secretaria Municipal de Cultura [Municipal Secretariat of Culture]. They are: Espaço
of national heritage sites and conservation. An exception is the restoration of the Centro Histórico Vila de
Cultural Capitolium Vest Art [Capitolium Vest Art Cultural Space], Galeria Lúcio Mauro Ribeiro [Lúcio
Santa Thereza [Santa Thereza Village Historic Center]. Contemporary art is the focus of Da Maya Es-
Mauro Ribeiro Gallery] and Galeria João Pilarskz [João Pilarskz Gallery], venue of the Salão de Artes
paço Cultural [Da Maya Cultural Hall]. The facilities belong to a businesswoman from Rio de Janeiro city
Plásticas de Ponta Grossa [Ponta Grossa Salon of Fine Arts] now in its 6th edition. A private initiative
who encourages cultural activities. One of the main lines of activities promoted by the Da Maya Espaço
is the Salão de Artes [Arts Salon], of Unimed, now running its 9th edition. Organized and curated by
Cultural are exhibitions of contemporary artists and educational actions mainly geared to the students and
Celso Parubocz, the salon does not have an adequate exhibition venue as a room of the Palladium
teachers from the local elementary, middle and high schools in the city. The actions include guided visits
Shopping Center is adapted for that purpose. Most of the local output is geared towards modernity with
and delivery of workshops on artistic practices themed after the exhibitions held. Six artists were mapped.
very few contemporary instances, including the salons held.
Caxias do Sul
Paranaguá and Antonina
Mara Aparecida Magero Galvani deployed the Centro de Artes e Arquitetura [Center of Arts and ArDiogo Rodrigues Alves, administrator of the Casa da Cultura Monsenhor Celso [Monsignor Celso
chitecture], the bachelor’s and teaching certificate programs in visual arts at the Universidade de Caxias
House of Culture], organized the presentation and the reading of nine portfolios in association with
do Sul [University of Caxias do Sul] (UCS) and the visual arts office of the Secretaria da Cultura da Pre-
the Associação de Artistas Visuais de Paranaguá [Paranaguá Association of Visual Artists]. Although
feitura Municipal [Municipal Secretariat of Culture] and organized a presentation to be given to students,
the city has already experienced a very exciting past in the arts, it has been living much on crafts and
professors/teachers, artists and interested people at the Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Or-
tourism, hence no room is left for the development of contemporary art. Contemporary artists are
dovás Filho [Dr. Henrique Ordovás Filho Municipal Center of Culture]. Worthy of mention is the Núcleo
then forced to move away to the large cities like the capital Curitiba in this case. The presence of an
de Artes Visuais (Navi) [Department of Visual Arts] for the actions carried out by means of exhibitions,
artist coming from Antonina intensifies communication and exchange between the cities.
courses, talks and publications on contemporary art. The Department also received us for a presentation
and the reading of portfolios. In addition to these contacts, we visited the studios of artists who showed to
be active, attentive and in search of contemporary output. Reading of 24 portfolios.
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Novo Hamburgo
artists’ educational development. A presentation was given to the teaching certificate course students
and three artists were mapped.
The contact was Lurdi Blauth, who arranged a meeting with artists and students at the Federação de
Estabelecimentos de Ensino Superior [Federation of Establishments of Higher Education] (Feevale).
Pelotas
The institution offers a bachelor’s degree course in visual arts and an art gallery, the Pinacoteca [Pinacotheca], which organizes, promotes and disseminates exhibitions, meetings and debates with art-
It is one of the centers of production and dissemination of contemporary art within the state. Con-
ists, art-education projects and examining committees for undergraduate courses of study. After the
tact was made with Eduarda (Duda) Gonçalves, Raquel Ferreira and Ricardo Mello. Most part of the
presentation on the Rumos Artes Visuais, we began reading the portfolios of ten artists and gave them
educational background of the contemporary artists is under the responsibility of the Instituto de Artes
some guidance. For being very close to Porto Alegre, the artists experience the cultural landscape of
e Design [Institute of Arts and Design] at the Universidade Federal de Pelotas [Pelotas Federal Uni-
the capital − which contributes to their education background. The output is small, but in tune with the
versity] (IAD/UFPEL). The Galeria de Arte [Art Gallery] and the Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo
contemporary issues. Finally, Maristela Winck invited us to the opening of Regina Silveira’s exhibition
[Leopoldo Gotuzzo Art Museum] are under the umbrella of the IAD and, according to the artists, with
at the Museu da Fundação Iberê Camargo [Museum of Iberê Camargo Foundation], when we were
a collection very centered on regional artists and an irregular programming. The Arte no Porto [Art at
introduced to several professionals engaged in cultural management of Porto Alegre and the region.
the Port] project, which consists of a group exhibition of IAD’s students and professors in one of the
warehouses at the Pelotas port. It is a distinguishing feature and makes room for new artists. The Ágape
Montenegro
Espaço de Arte [Ágape Art Hall], recently created and holding an intensive cultural programming, made
the meeting with the artists and the reading of portfolios possible. Although the city has its own cultural
Maria Isabel Petry Kehrwald, executive director of the Fundação Municipal de Artes de Montenegro
life, the contemporary output is in tune with the current issues discussed in major centers.
[Montenegro Municipal Foundation of the Arts] (Fundarte) organized two presentations. In the afternoon, the presentation and reading of 17 artists’ portfolios; and in the evening, a presentation open to
Porto Alegre
all students of Fundarte from the courses in visual arts, music, dance and theater, whose objective is to
provide adequate instruction to teaching artists, i.e. teachers able to steer the art knowledge because
Gabriela Motta gave a list of contacts. The strategy was a contact by e-mail with artists, professors and
they make art. This is the great distinguishing feature of the city. There we found the Seminário Nacio-
teachers, curators and cultural managers. Unfortunately few replied, but those who did it were of great
nal de Arte e Educação Fundarte/UERGS [National Seminar of Art and Education of the Foundation
help and efficient. We visited the city three times. Some artists formed groups and welcomed us in
of the Arts/State University of Rio Grande do Sul], which has reached its 22nd edition; the Revista da
their homes/studios for the presentations and reading of portfolios. The group studio and the Galeria
Fundarte [Fundarte Magazine], specialized in the arts; the Galeria de Arte Loíde Schwambach [Loíde
Subterrânea [Underground Gallery], where contemporary art exhibitions, courses and events are held,
Schwambach Art Gallery], with exhibitions held based on calls for submission and invitations and which
gathered a group of artists for the presentation and reading of portfolios.
hosts the Salão Fundarte/Sesc de Arte 10x10 [10x10 Fundarte/Sesc Art Salon]. Contemporaneity is
present in research in visual arts and art education through periodic lectures, seminars and art production
Along with Gabriela Motta, we went for a technical visit to the Fundação Iberê Camargo [Iberê Ca-
engaging students, professors/teachers and the community.
margo Foundation] (FIC), where the exhibition Mil e um Dias e Outros Enigmas [One Thousand and
One Days and Other Enigmas] was being installed with works by Regina Silveira and curated by José
Passo Fundo
Roca. We could also visit the printmaking studio where the Programa Artista Convidado [Guest Artist
Program] is carried out – through this action, national and international renowned artists are invited to
There is nearly no representative of contemporary art in the city. Despite the existence of an Associação
conduct a one-week program in the studio with the goal of creating new works –, the Programa Educati-
dos Artistas Plásticos de Passo Fundo [Passo Fundo Association of Fine Artists], we failed to make
vo [Educational Program] and the Bolsa Iberê Camargo [Iberê Camargo Scholarship] – an international
any contact. From what we were told, contemporaneity is almost zero in the city. The Museu de Artes
residency program run by the foundation every year.
Visuais Ruth Schneider [Ruth Schneider Museum of Visual Arts] (Mavrs) and the teaching certificate
course in visual arts from the Faculdade de Artes [College of Arts], both at the Universidade de Passo
Maria Ivone dos Santos, artist and professor of the undergraduate, master’s and doctor’s degree courses
Fundo [University of Passo Fundo], do not have a policy geared to the contemporary art output and
in visual arts with the Instituto de Artes [Institute of the Arts] at the Universidade Federal do Rio Grande
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do Sul [Rio Grande do Sul Federal University] (UFRGS), arranged for the presentation and reading of
radio station to spread the word about the Rumos Artes Visuais and visit to studios. The Universidade
portfolios intended for students and professors.
Federal de Santa Maria [Santa Maria Federal University] (UFSM) has a Centro de Artes e Letras [Center of Arts and Languages] and a graduate program in visual arts to which one of the presentations and
We also visited a number of cultural facilities that have a contemporary-art-oriented programming.
portfolio reading were addressed to students/artists/researchers of the institution. Another venue worth
Among them, these are at the local level: Paço Municipal [Municipal Palace], Usina do Gasômetro
mentioning is the Grupo Sala Dobradiça [Sala Dobradiça Group] [www.saladobradica.blogspot.com],
[Gas Plant], Galeria Iberê Camargo [Iberê Camargo Gallery]. These are at the state level: Museu de
which is an integral part of the visual arts activities promoted by the Associação de Produtores Indepen-
Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli [Ado Malagoli Art Museum of Rio Grande do Sul] (Margs),
dentes Macondo Coletivo [Macondo Coletivo Association of Independent Producers], elected Ponto
Casa da Cultura Mário Quintana [Mário Quintana House of Culture] (CCMQ), Museu de Arte Con-
Referencial Sul [Reference Point in the South] for the Circuito Fora do Eixo [Ouf of The Mainstream].
temporânea do Rio Grande do Sul [Rio Grande do Sul Contemporary Art Museum] (MAC-RS) and
The group works with the realization of curatorial and artistic propositions targeted to poetic reflections
the Instituto Estadual de Artes Visuais [State Institute of Visual Arts] (Ieav). And private institutions:
on space and designing prospect exhibition formats. We had the chance of meeting professor and artist
Fundação Cultural e Assistencial Ecarta [Ecarta Culture and Assistance Foundation], which owns an art
Suzana Gruber and the wonderful work that she has been doing with young students/artists in town,
gallery, and the Santander Cultural, which has an exhibition hall.
enabling learning and development in contemporary art. We also visited the Ateliê de Arte Pública
[Studio of Public Art], which houses the Ateliê de Escultura [Sculpture Studio] and the Ateliê de HQ
We delivered five presentations, read 38 artistic portfolios, made several contacts and provided guid-
[Comics Studio]. There is a lot of excitement towards contemporary art in town. However, investments
ance by e-mail and all this made us realize that contemporary art in Porto Alegre is boosted by the
in more adequate facilities is a need as well as support to calls for submission and culture-oriented laws.
university and other courses for the development of visual arts skills, by the cultural programming of the
foregoing art facilities and by the local output that links Porto Alegre with other cities in and out of the
country through exhibitions, academic exchange programs, artistic residencies and so forth.
SANTA CATARINA
We must point out the importance of the Bienal do Mercosul [Mercosul Biennial] in disseminating and
publicizing the Brazilian and foreign contemporary art. As the Biennial reach grows beyond the geo-
What distinguishes Santa Catarina is the fact that the capital is neither the largest city in the state by
graphic boundaries, it consolidates its outstanding position in the country’s arts calendar.
population nor is it a hub of the highest public investments in the field of visual arts. Such privilege is
credited to Joinville, which shows a cultural policy in line with the Plano Nacional de Cultura [National
Rio Grande
Plan for Culture] (PNC) with various actions and the deployment of the Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura [Municipal System of Development Through Culture] (Simdec). Another
Raquel Ferreira put us in contact with professor and artist Claudio Maciel, from the Fundação Universidade
point of differentiation is the engagement of the Serviço Social do Comércio [Social Service for Com-
Federal do Rio Grande [Foundation of the Rio Grande Federal University] and who arranged for the presen-
merce] (Sesc), which has been implementing a series of actions since 2004 by means of two projects
tation and reading of portfolios with the artists interested in the program. The venue was the miniauditorium
whose purpose is to bring qualified knowledge to the creative, artistic and marketing process of the arts
of the visual arts course. At the invitation of artist and creator Law Tissot, we visited the Ponto de Cultura
to all the cities covered by the Sesc network. This paves the path of both artists and curators towards
ArtEstação [ArtEstação Point of Culture], which houses the Fanzinoteca Mutação [Mutation Fanzine Library],
achieving maturity and further development.
a place for preservation, learning and research on free media, copy art and mail art, and a studio for free and
non-chargeable workshops on fanzines, copy art and graffiti. A number of studios were also visited. Altogether,
The Projeto Pretexto [Pretext Project] – first conceived and implemented by artist and curator Fernan-
21 artists were contacted. The contemporary output is based on these two places where art is discussed.
do Lindote – consists of three group meetings for a theoretical discussion about personal output carried
out between an adviser and a group of pre-selected artists from the city with the purpose of producing,
Santa Maria
curating and putting up an exhibition.
Alessandra Giovanella and Aloisio Licht were the ones who really made it happen in town and prepared
Add to this the Panorama Sesc de Artes Visuais de Santa Catarina [Sesc Panorama of Visual Arts in
the schedule, which included four presentations, 32 readings of portfolios, interview at Onda Anômala
Santa Catarina], where a guest curator brings together artists from the state that have taken part in the
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Pretexto to exchange experiences, discuss issues related to the country’s art market, installation and
Contemporaneity reappears in the output of some artists who begin to break down the geographic
opening of an exhibition and a chat with the artists and the curator open to the community.
barrier by exhibiting their works in other places, hence putting Criciúma back on the map of visual arts
after years of seclusion.
A negative point in the state is the almost non-existence of public education in the field of the arts. No
federal university offers undergraduate courses and even less master’s and doctor’s degree programs.
The Universidade do Extremo Sul Catarinense [University of the Far South of Santa Catarina] (Unesc)
The only public institution offering a bachelor’s degree and a teaching certificate program as well master’s
offers undergraduate courses leading to a bachelor’s degree and teaching certificate in visual arts. The
and doctor’s courses of study is the Universidade do Estado de Santa Catarina [State University of Santa
Espaço Cultural Unesc [Unesc Cultural Hall], at the hall of the administration building, is not fit for ex-
Catarina] (Udesc) in the Centro de Artes [Center of Arts] (Ceart). Another downside is the absence of
hibitions. The Galeria de Arte Helen Rampinelli [Helen Rampineli Art Gallery] is a new venue intended
a branch of the state government exclusively dedicated to cultural affairs, which today are under the um-
for contemporary art exhibitions.
brella of the Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte [Secretariat of Tourism, Culture and Sports]. This
situation hampers the consolidation of a more comprehensive cultural policy across the state.
Through Marco Aurélio Castro Rodrigues, from the Sesc in Tubarão, we met eight artists from that
city and region to introduce them to the Rumos project and read their portfolios. The temporary ex-
Blumenau, Indaial, Pomerode and Timbó
hibitions and the Pretexto project itself, the main contemporary art reference in the place, are held in
the only exhibition facilities in town, located in the Centro Municipal de Cultura [Municipal Center of
Mia Ávila, manager of the Museu de Arte de Blumenau [Blumenau Art Museum] (MAB), and Jamil
Culture] and sharing space with the Museu Willy Zumblick [Willy Zumblick Museum]. The contem-
Antônio Dias, culture technician at Sesc, were the planners of the three presentations and the reading
porary output is still very timid and requires great physical and conceptual investment.
of 23 portfolios of artists coming from Blumenau, Indaial, Pomerode and Timbó (the artists from the
last three towns in the region came to Blumenau). Two presentations took place at MAB, which posts a
Chapecó
call for submissions for an annual exhibition and since 1994 has been promoting – every two years – the
Salão Elke Hering: Mostra Nacional Contemporânea de Artes Visuais [Elke Hering Salon: National
Camila Pauline Miotto and Antonio Dante Acosta organized and arranged for the presentation to be
Contemporary Show of Visual Arts], now running its 10th edition. Attendees also included the Associa-
held at the Sesc, where there is an art gallery, this being the best exhibition facilities in the city. The proj-
ção Blumenauense de Artistas Plásticos [Association of Fine Artists of Blumenau] and the Associação
ects of this institution make the difference in the city’s art landscape.
Pomerodense de Artistas Plásticos [Association of Fine Artists of Pomerode] and other artists, managers and producers from the region. The third presentation was held at the Fundação Universidade
Janaína Schvambach gathered artists for the presentation and reading of portfolios at the Centro de
Regional de Blumenau [Foundation of the Blumenau Regional University] (FURB) to students and
Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nês [Plínio Arlindo de Nês Center of Culture and Events]. The
professors of the teaching certificate course in visual arts.
Fundação Cultural de Chapecó [Chapecó Cultural Foundation] holds the Salão Chapecoense de Artes
Plásticas [Chapecó Salon of Fine Arts], now in its 9th edition, intended for artists residing in Santa Ca-
The arts-oriented actions are planned by the MAB, as seen in its program of exhibitions; by the Sesc with
tarina only. The Galeria Municipal de Arte Dalme Marie Grando Rauen [Dalme Marie Grando Rauen
the Pretexto and the Panorama projects; and by the university with its educational actions. In contempo-
Municipal Art Gallery] gives priority to the works of Chapecó artists.
rary art, few artists are able to break the barrier of the city and the state, but those who make it are active.
The Universidade Comunitária da Região de Chapecó [Community University of the Chapecó ReCriciúma and Tubarão
gion] offers a teaching certificate course in visual arts and owns the Galeria de Artes Agostinho Duarte
[Agostinho Duarte Art Gallery], a poorly-structured venue and aimed at exhibiting works of students,
Daniele Zaccaron, director of the Galeria de Arte de Criciúma [Criciúma Art Gallery] at the Fundação Cul-
professors and local artists.
tural de Criciúma [Criciúma Cultural Foundation] (FCC); Christine Gomes, from culture office at the Sesc;
and artist Rosangela Becker were the organizers of the presentation, the reading of 23 portfolios and visits
Sonia Loren, president of the Associação dos Artistas Visuais da Região Oeste de Santa Catarina
to studios. Contemporary art is fostered by means of a partnership between Sesc and FCC through the
[Association of Visual Artists of the Western Region of Santa Catarina] (Adentro), arranged for the
Pretexto Project, the program of temporary exhibitions and deployment of projects and educational actions.
meeting with artists at Cristina Luviza Battiston’s studio. Here we see a movement meant to develop
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contemporary art and improve individual and group output when a curator is invited for meetings/
Itajaí and Camboriu
workshops, reading of portfolios and development of specific curatorship. Three presentations made
and 24 portfolios read.
Ane Fernandes, director of Arts and of the Casa da Cultura Dide Brandão [Dide Brandão House of
Culture], an arm of Fundação Cultural de Itajaí [Itajaí Cultural Foundation] (FCI), planned an open
It is clear that a significant step forward has been achieved with regard to discussing and producing con-
presentation to artists, students, professors and teachers, managers and cultural producers. Attendees
temporary art in the city. We congratulate artists and managers for the commitment to the work done
included representatives of the Universidade do Vale do Itajaí [University of the Itajaí Valley] (Uni-
for the production and dissemination of such contemporaneity.
vali), Sesc Itajaí, Associação dos Artistas Plásticos de Itajaí [Itajaí Association of Visual Artists] (AAPI),
Fundação Cultural de Balneário Camboriú [Camboriú Cultural Foundation] (FCBC), Grupo de Ar-
Florianópolis
tistas Plásticos de Balneário Camboriú [Camboriú Group of Fine Artists] (GAP) and Associação de
Artistas Plásticos de Balneário Camboriú [Camboriú Association of Fine Artists] (Balneart). After that,
Sandra Makowiecky, learning vice-president of the Universidade de Santa Catarina [Santa Ca-
we read 25 portfolios.
tarina University] (Udesc), and Raquel Stolf, artist selected in the first Rumos Artes Visuais and
professor with the Centro de Artes [Arts Center] (Ceart), arranged the presentation and reading
The FCBC holds calls for submissions to build up the calendar of events of the Galeria Municipal de
of portfolios of the institution students. Being the only public establishment in the state to offer a
Arte [Municipal Art Gallery], whose facilities are not suitable to contemporary art exhibitions since it is
bachelor’s and master’s degree in visual arts, it accounts for the educational background of several
an adaptation of the house where the foundation is headquartered.
artists from various regions across the state. Fernando Boppré planned the presentation and reading of portfolios at the Museu Victor Meirelles [Victor Meirelles Museum], a federal institution
The FCI is entitled to benefit from the Law of Incentive to Culture, under which the foundation can hold
that holds calls for submission for exhibitions of artists and prepares a schedule of courses geared
a Call for Submissions for Support to Cultural Exchange, a Call for Submissions to Community Cultural
to the promotion of the arts. In total, this endeavor resulted in two presentations, visits to studios
Events and a Call for Submissions to Select Exhibitions for the Galeria Municipal de Arte [Municipal
and the reading of 39 artistic portfolios evidencing the quality and conceptual concern of the
Art Gallery], the galleries of the Casa da Cultura Dide Brandão or the Pátio do Átrio do Paço Municipal
propositions submitted.
[Courtyard of the Municipal Palace]. In the calls for submissions, artists can sign up to promote dissemination, exchange, exhibitions, seminars, courses and other actions aimed at the development and
The Fundação Cultural Badesc [Badesc Cultural Foundation] posts calls for submissions for tem-
deepening of their work.
porary exhibitions. The Museu de Arte de Santa Catarina [Santa Catarina Museum of Art] (Masc)
and the Museu Histórico de Santa Catarina [Santa Catarina Historic Museum], f.k.a. Palácio Cruz e
In view of the activities carried out by Univali and mostly owing to the efforts of the FCI to hold the Salão
Souza [Cruz e Souza Palace] and which holds calls for submissions for temporary exhibitions, work
Nacional de Artes de Itajaí [Itajaí National Salon of Arts], which celebrated its 12th edition in 2010, Itajaí
under the umbrella of the Fundação Catarinense de Cultura [Santa Catarina Culture Foundation].
is a little ahead of Camboriú as far as contemporary art is concerned. We hope the salon goes on existing
The Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes [Franklin Cascaes Cultural Foundation
as it places the city within the country’s contemporary art circuit.
of Florianópolis] (FCFFC) could benefit from the Municipal Law of Incentive to Culture. However,
such law does not meet the needs. Better use is made of the Memorial Meyer Filho [Meyer Filho Me-
Jaraguá do Sul and Guaramirim
morial]. Although small, its premises are kept busy with its contemporary-art-oriented programming
including guest artists and the institution concern with documentation and publications. A venue
Thiago Martins organized the presentation and the reading of portfolios at Sesc, which owns an art
intended for the arts is the Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti [Pedro Paulo Vecchietti
gallery with a regular programming. In total, nine artists were mapped. The Associação Jaraguaense
Municipal Art Gallery], which lacks physical structure, programming geared to contemporary art and
de Artistas Plásticos [Jaraguá Association of Fine Artists] has facilities for workshops and can also be
educational actions, though. The Sesc is very low profile here as it does not have its own facilities for
adapted for shows. Few members are focused on contemporary art. The Fundação Cultural [Cultural
exhibitions, a fact that hinders materialization of its projects.
Foundation] invests every year in a Municipal Fund for Culture to carry out projects meant to skill development in and dissemination of the arts. In the realm of visual arts, a highlight is the artist and art educator Cristina Pretti as one of the main promoters of the arts of the city by leading several projects. Owing
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to the proximity and the non-existence of arts-oriented actions, the artists from Guaramirim participate
the teaching certificate course is about to be discontinued − the last groups will graduate in 2013. This
in the Jaraguá do Sul cultural landscape. The contemporary output is small and with rare exceptions.
represents a step backwards because the bachelor’s degree course was also discontinued years ago. The
The community is little engaged in the contemporary actions proposed to the town; more publicity and
city and the region lack a public university that offers bachelor’s, master’s and doctor’s programs in visual
clarification of the actions are required.
arts, dance, music and theater.
Joinville, São Francisco do Sul and Schroeder
Three presentations were held at the MAJ and the Univille. They were open to artists, students, professors/teachers and managers from Joinville, São Francisco do Sul and Schroeder, neighboring cities
An important cultural center in the state, Joinville is one of the main cities in Santa Catarina that has become
that are an integral part of Joinville’s cultural landscape. The reading covered 48 portfolios. The con-
a model of public culture management. It was the first city across the state to pass the municipal law of
temporary output shows quality and maturity with the emergence of new artists who seek to break the
culture under which the Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura [Municipal System of Devel-
geographic barrier with conceptual propositions and participation in the calls for submissions and salons.
opment Through Culture] (Simdec), linked with the Fundação Cultural de Joinville [Joinville Cultural Foun-
The expectation is that public investments in the field continue and that others appear to foster the
dation] (FCJ), was created. Its purpose is to encourage the design and execution of projects considered to
development and consolidation of contemporaneity in the city.
be relevant to the development of the city. It comprises the following mechanisms: the Fundo Municipal
de Incentivo à Cultura [Municipal Fund of Incentive to Culture] (FMIC) and the Mecenato Municipal de
Lages
Incentivo à Cultura [Municipal Patronage of Incentive to Culture] (MMIC). The Museu de Arte de Joinville
[Joinville Art Museum] (MAJ) and the Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew [Victor Kursancew
Rudimar Cifuentes planned and arranged for the presentation to artists, professors and teachers and the
Municipal Art Gallery] (GMAVK), operating under the FCJ, hold calls for submissions to build up their cal-
reading of seven artistic portfolios to be held at Sesc [Social Service for Commerce]. Even without its
endar of events and have their own exhibition facilities for temporary exhibitions. The MAJ develops actions
own art gallery, the Sesc is the major promoter of the arts and searches several alternative venues both
in non-formal education geared to build the bridge with and improve the local output. One of those actions
in the city and the region (Curitibanos and São José do Cerrito) to carry out educational activities and
is the Memórias de um Acervo [Memories of a Collection] project, which is a continuous display of curatorial
contemporary art shows. It operates in association with the Fundação Cultural [Cultural Foundation],
approaches of technical reserve of the museum establishing a dialog with the temporary exhibitions.
Museu Histórico Thiago de Castro [Thiago de Castro History Museum], Museu Malinverne Filho [Malinverne Filho Museum], Public Library, Biblioteca do Centro Agroveterinário [Library of the Agriculture
These are important mechanisms for the output arising from the region: the Salão dos Novos [Salon of
and Veterinary Medicine Center] (CAV/Udesc) and Universidade do Planalto Catarinense [University
the Young Artists], held by GMAVK and now running its 15th edition; and the Coletiva de Artistas de
of the Santa Catarina Plateau] (Uniplac), which has a teaching certificate course in visual arts. Apart
Joinville [Group Exhibition of Joinville Artists], held by the MAJ and now in its 41st edition, which gives
from the Pretexto, there is no room for contemporary art.
out 4 thousand Reals to each of the 12 artists selected in the call for submissions for culture support for
them to create, produce and execute their work. The Associação dos Artistas Plásticos [Association of
The end... The arrival
Fine Artists] (Aaplaj) boasts facilities with two exhibition halls, a meeting room and a studio/workshop in
the Cidadela Cultural [Cultural Citadel], where annexes 1 and 2 of the MAJ are (two warehouses hous-
(it is not the end)
ing six exhibition rooms) and in the future the new technique of the MAJ will be built (the project is finished and the financial resource is ensured) as well as the Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique
After a direct contact with 1,645 people – including artists, students, professors and teachers and
Schwanke [Luiz Henrique Schwanke Museum of Contemporary Art] (MAC Schwanke). The Instituto
managers –, and institutions in 32 cities of the three Southern states, by means of 47 presentations
Schwanke [Schwanke Institute] holds talks on contemporary art in association with the Universidade da
to an average of 35 attendees and the reading of 556 portfolios, it is possible to narrow this down
Região de Joinville [University of the Joinville Region] (Univille) and the MAJ.
to a brief analysis of education, dissemination and output of the visual arts in the cities visited with
partial and relative findings.
The Sesc is high-profile with its actions, projects and partnerships with the FCJ, reinforced by the opening of the Galeria de Arte [Art Gallery] with adequate structure for contemporary art exhibitions. An-
The government, apart from a few exceptions previously mentioned, needs to develop mechanisms
other institution operating in favor of the arts is the Univille with its course in visual arts. Unfortunately,
that promote the development and dissemination of the contemporary output, the drafting and
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enforcement of culture incentive laws that are in line with the PNC [National Plan for Culture] and
The journey does not end here. We have much to learn, rediscover, reinvent. It is not the end. For con-
continue to exist and foster growing improvement. Nevertheless, private and independent initiatives
temporary art does not propose an endpoint, but rather question marks, ellipsis. And, after the initial
are praiseworthy, whether of groups of artists or institutions, associations, collectives and so forth,
dumbness of the wayfarer, we retrieve Eduardo Galeano’s words: “help me look”.
who believe in and develop actions for the improvement and the gap bridging of the contemporary
output in their states.
In education, Paraná and Rio Grande do Sul have bachelor’s, master’s and doctor’s degree courses
FRANZOI has been a professor at Univille since 1991. He curated cultural venues in Santa Catarina, Paraná and
(teaching certificate and bachelor’s) in several cities visited. Most of them are found in public insti-
Rio Grande do Sul. Highlights of his solo exhibitions as an artist include those at the Museu de Arte de Joinville
tutions (state and federal levels), thus opening the way to more access for those interested in them
[Joinville Art Museum], 1993 and 2002; Galeria Jorge Zanata [Jorge Zanata Gallery], 1998; Société International
and a network of exchanges and partnerships. In contrast, arts courses in Santa Catarina, except
Culturel Île de Saint-Louis, 2002; Museu de Arte de Santa Catarina [Santa Catarina Art Museum], 2003; Centro
for Udesc as mentioned previously, are available in private institutions and with little prospect for
Cultural Arquipélago [Archipelago Cultural Center], 2008, and Memorial Meyer Filho [Meyer Filho Memorial],
scholarship grants. This fact indicates the nearly disappearance of the bachelor’s degree courses
2010. Among the group exhibitions: VI Salão dos Novos de Joinville [6th Joinville Salon of Young Artists], 1993
and, as a consequence, the teaching certificate programs. In the three states, the academia needs
(Acquisition Prize); Wocher Artes Plásticas [Wocher Fine Arts], 1994; Rumos Itaú Cultural, 1999–2000; VII Bienal
to invest in physical structure, exhibition halls and specific publications for greater dissemination of
de Santos [7th Santos Biennial], 2000; First and second Mapping of Contemporary Artists of Santa Catarina,
education and the output.
2000 to 2001 and 2003; 14º Salão Nacional da Bahia [14th National Salon of Bahia], Salvador, 2007; and 12º Salão
Nacional de Itajaí [12th Itajaí National Salon] (guest), 2010. He was the coordinator and member of the Grupo Per-
The Bienal Vento Sul [Southern Wind Biennial] and the Bienal Mercosul [Mercosul Biennial] are positive
formance Papirus, 1988 to 2005. Member of the Advisory Board of the Museu de Arte de Joinville [Joinville Art
aspects and that have been consolidating their position in mediating and disseminating the national and
Museum], 2001 to 2003. Cultural Director of the Instituto Schwanke [Schwanke Institute], 2004 to 2009. Member
international contemporary art, thus placing the South within the contemporary art circuit.
of the Advisory Board of the Instituto Schwanke [Schwanke Institute] and the Galeria Municipal Victor Kursancew
[Victor Kursancew Municipal Gallery] since 2009. He is currently coordinator of the Museu de Arte de Joinville
The Southern contemporary artist still struggles to publicize his work and suffers with the lack of active
[Joinville Art Museum] – Fundação Cultural de Joinville [Joinville Cultural Foundation].
criticism in the mainstream press and the absence of a market specializing in contemporary art. The
press is limited to cultural news and few times there is a window for specialized and discerning criticism
about visual arts. The theoretical discussions take refuge in the universities and in publications not always
of major coverage. No artist mentioned the existence of galleries marketing contemporary art.
As to the Southern emerging artist, most of them are seen to be tuned in with national and international contemporary world issues. The output is, mostly, in line with the contemporaneity, has quality
and conceptual consistency, an experimental character and diversity. We found works like drawing in the
expanded field, sculpture, expanded space, revisited photography, printmaking, hybridism, installation,
intervention, performance, expanded painting, traditional supports reconstructed, video, cinema and
documentary. This is evidenced by the large number of registrations from the Southern Region (315).
The number of pre-selected artists was also meaningful. Eight artists reached the final selection phase.
They became the Southern Region representatives in the 2011–2013 Rumos Artes Visuais program.
They are: Grupo P.S., Guilherme Dable, Isabel Ramil, Michel Zózimo, Nara Amélia, Rafael Pagatini,
Rogério Severo and Romy Pocztaruk.
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recortes curatoriais
recortes curatoriais
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recortes curatoriais
ANA MARIA MAIA
“E com isso tantas coisas – oitenta mundos e em cada um outros oitenta e em cada um… “
Julio Cortázar
Espaços relativos definem as viagens; a vida em trânsito e on-line; o acesso à arte nos lugares de exposição e, quase sempre, não mais de criação. Relativos porque são parciais e incompletos para denotar uma
existência, porque se definem pelas estadas presentes dos que os ocupam, mas também, inevitavelmente, por suas origens e destinos, saudades e esperanças. Relativos porque, dessa maneira, mais que
prescreverem as experiências, são prescritos por elas. Tornam-se resultado das inúmeras perspectivas e
subjetividades de seus residentes, visitantes e emigrados.
Nesse sentido, o estatuto de espaço, ou de lugar, amplia-se conforme a metáfora dos “oitenta mundos”, proposta por Julio Cortázar (Volta ao Dia em 80 Mundos1, 1967) a partir da distorção do título do
livro referencial de Julio Verne (Volta ao Mundo em 80 Dias2, 1874). No período de mais de um século
que separa as duas obras literárias, nesse intervalo que abrange a passagem da alta modernidade3 para
os desdobramentos de uma pósmodernidade4, a simples inversão de singulares e plurais atesta uma
mudança de ordem, ou, ao menos, de postura dos escritores e/ou personagens que a relatam. De um
território-total às comunidades, da contagem regressiva de dias à afirmação de uma vida inteira, das
estratégias de domínio à especulação e à errância.
Relativizar a geografia, a cartografia, e, sobretudo, a assertividade das ciências de conquista é uma tarefa
profícua para o campo da arte. Fazê-lo no contexto do Rumos Artes Visuais é uma forma de manter
reflexiva essa estrutura de encontro/confronto entre artistas, curadores e público das regiões do país.
Nos quase 15 anos do programa, em suas cinco edições, alguns métodos e debates foram estabelecidos,
algumas gerações, alguns “Brasis” são afirmados. Nesse formato de iniciativa que mescla premissas da
pesquisa de campo à seleção por edital, das ações processuais ao resultado em exposições, postulados
limítrofes, ou híbridos, são gerados. Neles, coexistem o desejo de valorizar e, de certa forma, blindar as
diferenças (estéticas, educacionais, institucionais) e, num extremo oposto, o desafio de selecioná-las
num conjunto restrito e representativo, conforme critérios de qualidade supostamente universais.
1 CORTÁZAR, Julio. A volta ao dia em 80 mundos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira | Record, 2008.
2 VERNE, Julio. A volta ao mundo em 80 dias. São Paulo: Melhoramentos, 2008.
3 Segundo Marshall Berman, a alta modernidade é a segunda etapa do processo de modernização. Essa etapa corresponde ao
crescimento da atividade fabril e está compreendida entre a década de 1790, com a eclosão da Revolução Francesa, e todo o século
XIX. (BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Cia das Letras, 2008. p. 24-25)
4 A ideia de pós-modernismo, conforme Fredric Jameson, corresponde ao crescimento do capitalismo financeiro. Seu início
pode ser datado, segundo aponta o autor, entre o fim dos anos 1950 e o início dos anos 1960. (JAMESON, Frederic. Pósmodernismo – a lógica do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 2007. p. 27).
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Thiago Honório
recortes curatoriais
Imagem, 2010
As ambiguidades do Rumos Artes Visuais, tudo o que sua estrutura carrega a priori de potências e problemas no que concerne a referendar uma geografia de produção em arte contemporânea, suscitam
elas mesmas as questões geradoras deste texto e do recorte curatorial apresentado em Goiânia, entre
15 de maio e 1 de julho de 2012, nas galerias Frei Confaloni e Sebastião dos Reis. Passada a etapa da
exposição geral de São Paulo, que reuniu o conjunto completo de 45 participantes do programa e seus
Cabeça de imagem de roca do séc. XVIII (anônima), pele inteiriça de
animal, módulo de espelho prata lapidado e redoma de acrílico cristal
18th century wooden head of a religious figure (anonymous), animal skin in
one piece, base of polished silver mirror topped with an acrylic crystal bell jar
180 x 120 x 120 cm
180 x 120 x 120 cm
Coleção José Marton
Collection José Marton
variados interesses e abordagens, pareceu pertinente decantar a problemática do lugar como motriz de
uma reflexão pontual, a ser observada nas obras de 16 artistas e nas suas inserções institucionais.
Como filiar os enunciados públicos (sociais e artísticos) a um lugar? O que constitui sua especificidade num
mundo globalizado, caracterizado pelos nomadismos, pela imaterialidade dos mercados e pelas disseminações
das redes de comunicação? Como os deslocamentos físicos e semânticos podem reconfigurar o próprio enunciado e as circunstâncias do lugar onde ele aporta? Por que razão investigar as localidades e suas dinâmicas
de sociabilidade e poder? Porque talvez por meio da compreensão delas e do esgotamento de tentativas de
resposta às perguntas acima propostas, consiga-se vislumbrar plataformas para o exercício da política (da arte).
A localidade de Volta ao Dia… está entre os visitantes da mostra de Goiânia e os leitores deste catálogo;
entre a situação de uma galeria no centro da cidade, no centro do país, e os círculos de pesquisadores
e especialistas; entre a concorrência com outras agendas públicas e a circunscrição num campo específico. Cada uma a seu modo, essas duas instâncias criam oportunidades para os atos de fala e interpretação, para o dissenso. Para os protagonismos dos sujeitos na escala de suas comunidades, para suas
interlocuções com pares tanto geográficos quanto de interesse.
Pode-se assumir, portanto, que este texto e a exposição, a escrita e a curadoria de arte permitem a concepção de lugares, seja pela simples ativação dos espaços discursivos e dialógicos, seja pela ocupação
dos mesmos com elementos exógenos, distantes e temporariamente articulados segundo uma hipótese
e aspectos de uma discussão. Nesse caso, sobre a hipótese de observação do caráter relativo do lugar,
recaem três aspectos a serem analisados: 1) as relações de mutualismo entre o sujeito e o seu hábitat; 2) a
circunstancialidade dos enunciados em deslocamento; 3) a constituição do saber artístico como um centro.
Mundo 1: sobre as relações de mutualismo entre o sujeito e o seu hábitat
Esperar, escondido no gramado, que uma grande nuvem da espécie cúmulo se situe sobre a
cidade detestada. Disparar então a flecha petrificadora, a nuvem se transforma em mármore e o
resto não merece comentário5.
5 CORTÁZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira | Record, 2008. p. 17.
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recortes curatoriais
Homem e meio definem-se mutuamente. É o que a escultura Imagem (2008-2010), de Thiago Honório,
talvez sugira para quem a avista. Avista e simultaneamente é avistado por ela, aliás. A obra, feita de uma
base museológica espelhada, sobre a qual repousa uma cúpula de vidro e, dentro dela, uma pele animal
e uma cabeça humana feita em madeira, devolve um olhar para o espectador. A cabeça o fita, os materiais reflexivos da base capturam seu corpo junto a partes do entorno.
Não há neutralidade no encontro. Se em princípio distiguiam-se obra e público, arquitetônico e orgânico, translucidez e opacidade, cabeça e membros, uma vez alcançado o campo de visão já não se pode
mais. Qualquer dualidade vira prolongamento: do sujeito que percebe para a galeria, as obras, os visitantes. Potencialmente, em outras situações, para a natureza, a cidade, a multidão. E vice-versa.
Semelhante prolongamento motiva a intervenção de Carlos Contente, Mapeamento das Coisas que se Passam pelo meu Coração (2012). Esse desenho site-specific, realizado diretamente sobre uma parede expográfica, parte de anotações e anedotas, oriundas dos cadernos do artista, sobre o seu contexto de trabalho. A
arquitetura branca contamina-se com a sujeira e o sarcasmo dos desenhos. A imagem de Contente, tornada
marca registrada num estêncil multiplicado às dezenas, conforme de costume em sua obra, cresce em escala
e sobressai na composição. A condição pública e, nesse caso, institucional do artista (e da arte), justifica a
indissociação de seus gestos individuais de qualquer implicação contextual e coletiva para os mesmos.
De dentro da galeria de arte, baixo as normas e o vocabulário que a estruturam como um espaço protegido e autorreferente6, essa indissociação encerra-se na situação de mostra, muitas vezes sem demandar a exterioridade dos lugares de origem. Não é isso o que acontece na obra de Ueliton Santana,
composta de inserções temporárias de pinturas na paisagem de Rio Branco.
O artista retira as telas dos chassis e percorre ruas e matas para registrar em foto ou vídeo os convívios
de suas tramas figurativo-abstratas com cenários urbanos e rurais. Camufladas na riqueza das situações em que são inseridas, as pinturas tornam-se análogas ao que tematizam. Deixam de representar e
passam a apresentar a cidade onde Ueliton vive e trabalha. Fundem-se às casas, às pontes e às árvores
centenárias, convertendo-se assim em parte intrínseca daquilo que as originou.
Experiências dessa ordem reafirmam identidades geograficamente constituídas ao sustentar uma relação de mutualismo peculiar ao nativo. Em Corpo em Segredo, Dalton de Paula pareia muros de Goiânia
com seu rosto envolto por fitas adesivas. Para um muro branco, um rosto branco. Para um muro preto,
um rosto preto. Nesses dois momentos de uma performance registrada em foto, a não especificidade
Carlos Contente
Mapeamento das Coisas que se Passam
pelo Meu Coração, 2012
Grafite e tinta de carimbo sobre madeira e parede
Lead and stamp ink on wood and wall
Dimensões variadas
Various sizes
6 Em No interior do cubo branco: a ideologia do espaço na arte, Brian O´Doherty afirma: “A galeria ideal subtrai da obra de arte
todos os indícios que interfiram no fato de que ela é ‘arte’. A obra isolada de tudo o que possa prejudicar sua apreciação de si
mesma. Isso dá ao recinto uma presença característica de outros espaços onde as convenções são preservadas pela repetição de
um sistema fechado de valores” (O’DOHERTY. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 3).
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recortes curatoriais
Dalton Paula
Corpo em Segredo B, 2011
Fotografia
Photograph
30 x 270 cm
Fotografia: Fançois Calil
Photograph: Fançois Calil
Dalton Paula
Corpo em Segredo P, 2011
Fotografia
Photograph
30 x 270 cm
Fotografia: Fançois Calil
Photograph: Fançois Calil
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recortes curatoriais
do lugar e uma mobilidade subentendida para o sujeito desestabilizam a fórmula simples. A cegueira do
performer torna problemático o determinismo7 da semelhança.
Às heranças geográficas, ao vernacular, ao folclórico, somam-se matrizes outras advindas da experiência
da alteridade. Polvorosa, de Cristiano Lenhardt, nasce da filmagem em super-8 do semblante de duas
jovens chinesas em enquadramentos de retrato. Com recursos de uma direção de cena mínima, aplicações de pedras preciosas nos rostos e mãos das atrizes e efeitos de pós-produção audiovisual, o filme
deixa de ser um documentário de cunho etnográfico e vira ficção.
Dele, nada existe de maneira concreta no mundo. Não existem suas paisagens de flores com raios coloridos por
trás, nem mesmo os corpos seminus encobertos por textura de “TV fora do ar”. Tudo o que pode definir o contexto de Polvorosa como um lugar real, nesse caso, é o ponto de encontro entre um “retratante” e um “retratado”8,
o artista e as jovens chinesas, a ilha de edição e o set de filmagem. O lugar dos diferentes é o “terceiro espaço”9.
Mundo 2: sobre a circunstancialidade dos enunciados em deslocamento
[…] se ao viver consigo disfarçar uma participação parcial nas minhas circunstâncias, não posso porém
negá-la no que escrevo porque escrevo precisamente por não estar ou por só estar pela metade10.
As coordenadas exatas são insuficientes para apontar a posição de um artista. Nômade geográfico11 e
metodológico, visto que a cada projeto é capaz de redefinir seu rumo, seus instrumentos e procedimentos de trabalho, ele dedica-se crescentemente a entender contextos12. E, depois disso, identificar campos
de ação, perceber-se e perceber seus enunciados de obra aderindo/reagindo a cada nova circunstância.
Em Objeto da Série 2 Tempos, Rodrigo Torres aborda essa motriz de ressignificações ao confrontar o
mundo fictício de representação com o mundo real de apresentação e experiência. Seu trabalho é feito
de três objetos (uma cadeira, um extintor de incêndio e uma escada) instalados em áreas de serviço da
7 Miwon Kwon, em One place after another: site-specificity and locational identity, identifica uma “relação continuada entre um
lugar e uma pessoa” e afirma que na contemporaneidade esse vínculo está perdido. O lugar do “pertencimento” é substituído pelo
“lugar errado”, “onde o sujeito sente que não pertence” (KWON, 2004, p. 163)
8 Os termos fazem alusão ao vídeo Retratante e Retratado, que o artista realizou em 2007.
9 O termo “terceiro espaço” é formulado por Homi Bhabha em O local da cultura. (BHABHA, Belo Horizonte: UFMG, 1998).
10 CORTÁZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos, 2008, p. 34.
11 As viagens para montagem e abertura de exposições e as temporadas em residências artísticas ocupam crescentemente a rotina
de artistas e curadores. Em decorrência desses trânsitos temporários, torna-se cada vez mais comum a inscrição de diversas referências
geográficas em suas biografias. Não raro, nasce-se em um lugar, estuda-se em outro, vive-se e trabalha-se em outro, ou outros.
12 A noção de site-specific, definida a partir de práticas dos anos 1960 e 1970, amplia-se na atualidade para noções como “contextspecific, debate-specific, audience-specific, community-specific, project-based”, segundo Miwon Kwon. (KWON, 2004, p. 2)
Rodrigo Torres
Objeto da série 2 Tempos, 2012
Acrílica sobre objetos e parede
Acrylic on objects and wall
Dimensões variadas
Various sizes
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recortes curatoriais
galeria, sem muita sinalização expográfica, e tratados com camadas de tinta spray que geram a impressão de que podem ter acabado de sair de uma tela de pintura. Num espaço historicamente edificado
como intermediário entre a vida e seus arquivos, a invisibilidade dos gestos cotidianos e a valoração de
alguns deles como exemplares, 2 Tempos mantém-se instável. Seu jogo de ilusão ainda esclarece, sua
estática ainda indica movimento.
Mesmo sendo objetual, o projeto abre-se para o diálogo com iniciativas de caráter efêmero, como as
do coletivo GIA13. Criado em Salvador, em 2002, o grupo recorre ao uso de dispositivos itinerantes e à
promoção de eventos públicos como suas principais estratégias.
Na semana anterior à abertura da mostra geral do Rumos Artes Visuais, o GIA levou às ruas de São
Paulo uma unidade móvel, desenhada conforme os carrinhos de comércio popular do Nordeste,
e um repertório de intervenções urbanas já bastante praticadas em outros lugares, principalmente
na capital baiana. Esse repertório envolveu a mobilização dos transeuntes em rodas de samba, a
distribuição da “cerveja GIA”, a panfletagem, o despojamento, o humor. Em São Paulo, as ações
ganharam conotação de alternativa a uma dinâmica de metrópole que impõe ritmo, pragmatismo
e individualismo à vida dos habitantes.
Se o grupo recontextualiza sua prática a partir da errância nas diferentes cidades e do enfrentamento de
suas lógicas de urbanidade, a travessia que motiva Jimson Vilela, no projeto de residência que resulta
em Enquanto Você Tomava Minhas Pálpebras, completa-se entre as ruas de São Paulo e o ambiente de
uma galeria de arte. Dos itinerários que o artista percorreu ou das situações que presenciou, restam
poucos documentos em exposição. Quase não há imagens, aliás, a não ser a que alinha o movimento de
sua respiração ao horizonte observado pela janela do metrô.
Em lugar das imagens, Jimson utiliza a escrita em cadernos, a poesia feita por subtração de páginas de
livros e aplicada sobre as paredes em branco. O desenho de montagem insinua um novo lugar, a ergonomia que o define indica o caráter sensível e subjetivo de sua construção.
Em A Última Aventura, Romy Pocztaruk também esvazia de referentes explícitos o resultado de
sua viagem de pesquisa por um trecho da Rodovia Transamazônica, do Pará à Paraíba. Mesmo que
apoiada no registro documental em fotografia, essa busca da artista por evidências da situação
GIA
Carrinho do Gia, 2012
atual da estrada (um projeto de ligação do Oceano Atlântico ao Pacífico, iniciado nos anos 1950 e
por décadas interrompido) resulta em suspeitas e aberturas da história desenvolvimentista oficial.
Intervenção urbana
Urban intervention
13 Os integrantes do GIA são Ludimila Britto, Cristina Llanos, Luis Parras, Mark Dayves, Tiago Ribeiro, Everton Marco e
Cristiano Piton.
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recortes curatoriais
Romy Pocztaruk
A Última Aventura, 2011
Fotografias, vídeo e livro
Photographs, video and book
70 x 50 cm (cada fotografia) e 10’ (cada vídeo)
70 x 50 cm (each photograph) and 10’ (each video)
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recortes curatoriais
Da Transamazônica, de seus heróis e da eloquência de uma conquista, as imagens desviam para
vilas e casas populares, para o anonimato de seus moradores, para a história que ali aconteceu à
revelia de um projeto real de integração.
Com base no material coletado em campo, Romy interfere no imaginário daquele lugar, assim como o faz
Claudia Herzs, em Scènes de la Vie aux Tropiques. Ao aplicar sobre tapeçarias gobelim e porcelanas decorativas
francesas ícones da paisagem e da cultura cariocas, a artista apropria-se de uma matriz europeia e promove, a
partir dela, uma inversão da lógica colonial. Claudia cria uma coleção de falaciosas “cenas da vida nos trópicos”,
valendo-se de sua destreza técnica em pintura e bordado e da verossimilhança dos objetos de antiguidade. Em
meio às cores de um clima temperado, aos bosques e às damas da corte originais, surgem como parasitas, ou
novos protagonistas, o morro do Pão de Açúcar, a Praça da Apoteose e o edifício do MAM do Rio de Janeiro.
A obra resolve objetivamente o problema geopolítico que ela aborda, a persistência de uma subordinação cultural das ex-colônias em relação às antigas metrópoles. Não é o que acontece em Eldorado,
de Regina Parra: uma jornada sem começo nem fim, um ensaio sobre a utopia. A artista versa em
pintura e vídeo sobre o movimento migratório ilegal em diversas regiões do mundo. Utiliza imagens de
travessias de fronteiras encontradas na internet, mas oculta qualquer referência às suas circunscrições.
Interessa-lhe o estado de procura, suspensão e irredutível incompletude comum aos imigrantes. Aquilo
que os torna estrangeiros em seu destino e também em sua origem, que os situa entre o que desejam
alcançar e tudo o que deixaram para trás. “Encontrar é buscar em relação ao centro, que é o próprio
inencontrável”14, diz Maurice Blanchot na legenda do vídeo Sobre la Marcha, que compõe o projeto. A
certeza sobre um lugar ideal para se estar desaparece na neblina de Eldorado.
Mundo 3: a constituição do saber artístico como um centro
E gosto disso, e sou terrivelmente feliz no meu inferno, e escrevo. Vivo e escrevo ameaçado por
essa lateralidade, essa paralaxe verdadeira, esse estar sempre um pouco mais à esquerda ou mais
ao fundo do lugar onde deveria estar para que tudo encaixasse satisfatoriamente em mais um dia
de vida sem conflitos15.
Regina Parra
Travessia (ou sobre La Marcha), 2009
Vídeo digital
Digital video
Duração 6`
Running time 6`
Cabe à arte versar sobre o mundo, ampliando seus sintomas. Cabe também problematizar o mundo, pondo em causa suas convenções. Tais atributos diferenciam o campo artístico de qualquer outro.
14 Excerto do texto “Falar, Não É Ver”, do livro A conversa infinita. (BLANCHOT, Maurice. Ed. Escuta, 2010).
15 CORTÁZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos, 2008. p. 37.
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recortes curatoriais
Claudia Hersz
Scènes de la Vie aux Tropiques:
Face de Paysage, 2011
Pintura em porcelana
Painting on porcelain
28 cm de diâmetro
28 cm diameter
Claudia Hersz
Scènes de la Vie aux Tropiques:
Le Samba, 2011
Claudia Hersz
Scènes de la Vie aux Tropiques: Promenade Carioque, 2011
Tinta acrílica, gobelim, passamanaria, veludo e latão
Acrylic paint, gobelin, passementerie, velvet and brass
60 x 85 x 3 cm
60 x 85 x 3 cm
Tinta acrílica e betume sobre gobelim,
passamanaria, veludo e latão
Acrylic paint and bitumen on gobelin,
passementerie, velvet and brass
58 x 53 x 3 cm
58 x 53 x 3 cm
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recortes curatoriais
Definem-no como linguagem, estrutura e lógica de produção. Uma lógica que se aproxima da política,
igualmente discursiva e munida da capacidade de gerar “desentendimentos”16, mas que prescinde do
fazer, de um “modelo do fazer segundo livres escolhas”17.
Em vez de fotografar campos de futebol de várzea em perspectivas longitudinais, que demonstrassem sua porção de território, Fernando Ancil registra-os a partir da vista frontal de trás do gol. Em
vez de visitá-los em dia de jogo, em que poderia documentar seu uso, opta por não fazê-lo e capturar apenas vazios e promessas. Em Contracampo, seis fotografias impressas em tamanho grande
recriam a sensação do espaço real, mas subvertem sua função e as narrativas costumeiras sobre
ele. No vídeo Área de Efeito Sonoro18, um dos campos é ocupado à noite para uma brincadeira com
fogos de artifício. A hipótese de contra-uso revela-se a cada estouro, seguido de um lampejo de
luz, que mostra parcialmente a ação.
Se nessa vivência, mas principalmente no Contracampo, a assertividade do gênero da paisagem é tensionada, em De Corpo Presente, do Grupo P.S., o alvo de experimentação é o retrato. Na performance
documentada em um slide show de fotos, os dois integrantes da dupla, Priscila dos Anjos e Sérgio
Adriano, contrariam os estereótipos de representação clássica dos gêneros. Nas imagens, ela sempre
o carrega, ele padece frágil, ambos nus, a interpelar não apenas a anacronia dos modelos cunhados na
história da arte, mas também os juízos morais e estéticos do público.
Adriano Costa promove desconforto similar na sua série de “tapetes”19. Com essas assemblages
de tecidos, recortes de papel e sucatas diversas, arrumadas sobre o chão do espaço expositivo
sem nenhum mecanismo de fixação, o artista compactua formas de cores e texturas que poderiam nunca vir a ser, ou mesmo deixar de ser num simples toque. No ambiente institucional, essas
obras enfrentam inúmeras possibilidades de desmanche, o que as torna simultaneamente tensas
e delicadas. Independente de sua sentença, elas suscitam um raciocínio sobre alternativas sempre
presentes nas coisas e nas ideias. A premissa de apropriação que as funda permite vislumbrar na
arte o início de novas economias.
Sem com isso incorrer num imperativo mercantil de renovação nem tampouco assimilar o discurso politicamente correto da reciclagem, artistas como Adriano e também Pontogor investigam o
emprego de artefatos obsoletos e sua reinserção na sociedade. Na performance Pedra, Pontogor
GRUPO P.S.
De Corpo Presente, 2009
Vídeo em loop
Video in loop
16 Cf. RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento. São Paulo: Editora 34, 1996.
17 ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 44.
18 Esse trabalho foi feito em parceria com os artistas Domingos Guimarães e Jairo dos Santos Pereira.
19 Na montagem de São Paulo, Adriano chamou seu tapete site-specific de Berço Esplêndido. Em novas montagens, o trabalho
tende a mudar de configuração e até de nome conforme dados do contexto.
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recortes curatoriais
Fernando Ancil
Fernando Ancil
19°56’15”S/43°59’28”O, 2010
16°45’23”S/43°53’20”O, 2010
Fotografia sobre PS2
Printing on PS2
200 x 126 cm
200 x 126 cm
Fotografia sobre PS2
Printing on PS2
200 x 126 cm
200 x 126 cm
Fernando Ancil
Fernando Ancil
14°54’30”S/42°48’50”O, 2010
16°42’05”S/41°51’52”O, 2009
Fotografia sobre PS2
Printing on PS2
200 x 126 cm
200 x 126 cm
Fotografia sobre PS2
Printing on PS2
200 x 126 cm
200 x 126 cm
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recortes curatoriais
apresenta-se tocando instrumentos musicais quebrados ou adaptados para os fins específicos que
deseja alcançar, contando também com um sistema de mesa e fiação de som rudimentares. O
ruído gera interferências no vídeo que, projetado ao fundo do set de performance, mostra o movimento repetitivo de bater uma pedra sobre a mesa. O labor do artista sobre algo que em si já é
metáfora do trabalho humano denota o interesse pelo que move uma produção, seu laboratório
antes mesmo de sua indústria.
O laboratório, nesse caso, pode ser pensado como lugar de investigar hipóteses, mas também de validá-las como protótipos a serem aplicados em alguma escala, seja ela restrita ou massiva, metafórica
ou concreta. O entendimento de que a ciência ou as teorias científicas contêm em si atribuições e
subtextos ideológicos leva Michel Zózimo a realizar o Projeto Fluxorama, um conjunto de proposições
baseadas na didática dos almanaques e enciclopédias do passado. Valendo-se desses manuais e da sua
credibilidade já envelhecida pelas décadas, o artista dedica-se a reverter evidências em dúvidas. A partir
de uma foto publicada nos anos 1940 para documentar a queda de um meteorito na Terra, Zózimo concebe uma escultura em tamanho real (Meteorito, 1,8 x 3 x 2 m), uma reencenação do suposto ocorrido,
um corpo estranho dentro da galeria.
A lógica de Fluxorama assume a ciência como ficção literária e a arte como meio para se investigar
os limites de qualquer afirmação que ambiciona a verdade objetiva e absoluta. Promovendo tais inversões, esse trabalho e os demais aqui apresentados permitem a constituição de lugares relativos,
tanto do ponto de vista geográfico quanto, e talvez principalmente, epistemológico, que concerne
à compreensão das formas de conhecimento. O saber artístico estrutura-se como um centro a
partir de onde é possível não apenas o reconhecimento e a problematização dos fatos do mundo,
mas a invenção de outros mundos.
Ana Maria Maia é jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, 2007) e mestra
em história da arte pela Faculdade Santa Marcelina (2012). Integra o Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto
Tomie Ohtake. Foi assistente de curadoria da XXIX Bienal de São Paulo (2009-2010) e criou o Portal Dois Pontos
– Arte Contemporânea em Pernambuco (2006).
Ueliton Santana
Sem Título, 2011
Instalação
Installation
Dimensões variadas
Various sizes
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curatorial
scopes
recortes
curatoriais
curatorial scopes
ANA MARIA MAIA
Around the Day in 80 Worlds
And with this, so many things – eighty worlds, and in each one another eighty and in each one...
Julio Cortázar
Relative spaces define trips; life in transit and online; the access to art in exhibition venues and, nearly
always, no longer in those of creation. They are relative because they are partial and incomplete in
denoting an existence, because they are defined by the present states of those who occupy them, but
also, inevitably, by their origins and destinies, longings and hopes. They are relative because, in this way,
more than prescribing experiences, they are prescribed by them. They become the result of countless
perspectives and subjectivities of their residents, visitors and emigrants.
In this sense, the status of space, or of place, expands according to the metaphor of the “eighty
worlds,” proposed by Julio Cortázar (Around the Day in 80 Worlds1, 1967) based on a distortion of
the title of the book by Julius Verne (Around the World in 80 Days2, 1874). In the period of more
than a century that separates the two literary works, in this interval that encompasses the passage
from high modernity3 to the developments of a post-modernity,4 the simple inversion of singulars
and plurals attests to a change of order, or, at least, to a change in the posture of the writers and/
or personalities who report on them. From an all-encompassing-territory to the communities,
from the countdown of days to the affirmation of an entire life, from the strategies for control to
speculation and wandering.
To relativize geography, cartography, and above all, the assertiveness of the sciences of conquest is a
useful task for the field of art. To do so in the context of Rumos Artes Visuais is a way to maintain the
Pontogor
reflexivity of this structure of encounter-confrontation between artists, curators and public from the
Pedra, 2011
Performance audiovisual – vitrola, DVDs, gravador de som, mesas e projeção
Audiovisual performance – record player, DVDs, sound recorder, tables and projection
Duração 20’
Running time 20’
1 CORTÁZAR, Julio. A volta ao dia em 80 mundos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira | Record, 2008.
2 VERNE, Jules. A volta ao mundo em 80 dias. São Paulo: Melhoramentos, 2008.
3 According to Marshall Berman, high modernity is the second step of the modernization process. This step corresponds to the
growth of manufacturing activity which took place from the 1790s, with the eruption of the French Revolution, through the entire
19th century. (BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Cia das Letras, 2008. p. 24-25)
4 The idea of post-modernism, according to Fredric Jameson, corresponds to the growth of financial capital. Its beginning can
be dated, according to Jameson, between the late 1950s and the early 1960s. (JAMESON, Frederic. Pós-modernismo – a lógica
do capitalismo tardio. São Paulo: Ática, 2007. p. 27).
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curatorial
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recortes
curatoriais
invitation to a journey
regions of this country. In its five editions over the nearly 15 years of the program, various methods and
debates have been established, various generations, and various “Brazils” are affirmed. In this format of
an initiative that combines premises of field research with a selection by call for submissions, from the
procedural actions to the result in exhibitions, borderline or hybrid postulates are generated. Within
them coexist a desire to emphasize and in a certain way, to shield the differences (aesthetic, educational,
institutional) and, at an opposite extreme, the challenge of selecting them in a restricted and representative group, according to supposedly-universal quality criteria.
The very ambiguities of Rumos Artes Visuais, everything that its structure carries a priori from the
potentials and problems related to confirming a geography of contemporary art output, raise the
questions that resulted in the writing of this text and the curatorial scope presented in Goiânia from
May 15 to July 1 2012, at the Frei Confaloni and Sebastião dos Reis galleries. Now that the phase of
the general exhibition in São Paulo has passed, an occasion when the whole group of 45 participants in
the program and their various interests and approaches were put together, it seems pertinent to settle
the issue of the place as a motive for a specific reflection, to be observed in the works of 16 artists and
their institutional insertions.
How can the public statements (social and artistic) be affiliated to a place? What constitutes their
specificity in a globalized world that is characterized by nomadisms, by the immateriality of markets
and by the dissemination of the communication networks? How can the physical and semantic shifts
reconfigure the statement itself and the place where it moors? Why investigate the locations and
their dynamics of sociability and power? Because perhaps by understanding them and exhausting efforts to respond to the questions proposed above, it is possible to glimpse platforms for the exercise
of the politics (of art).
The venue of Around the Day is between the visitors of the exhibition in Goiânia and the readers of this
catalog; between the situation in a gallery in the center of the city, in the center of the country and the
circles of researchers and experts; between the competition with other public agendas and the circumscription in a specific field. These two instances, each one in its own way, create opportunities for the acts
of speaking and interpretation, for dissent, and also for the protagonisms of the subjects at the level of
their communities, for their interlocutions with both geographical and interest-based peers.
It can be assumed, therefore, that this text and the exhibition, the writing and the curating of art,
enable the conception of places, whether by the simple activation of the discursive and dialogical
Michel Zózimo
Formações (Projeto Fluxorama), 2012
Impressão sobre papel algodão
Printing on cotton paper
Dimensões variadas
Various sizes
spaces, or by their occupation with distant exogenous elements temporarily articulated according to
a hypothesis and elements of a discussion. In this case, in relation to the hypothesis of observation
of the relative character of place, there are three factors to be considered: 1) the mutualism relations
between the subject and its habitat; 2) the circumstantiality of the statements in movement and; 3)
the building of the artistic knowledge as a center.
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invitation to a journey
World 1: about the mutualist relations between the subject and its habitat
flaged in the wealth of these situations in which they are found, the paintings become analogous to their
themes. They no longer represent, and come to present the city where Ueliton lives and works. They
To wait, hidden in the grass, while a large cumulous cloud places itself over the detested city. Thus
become one with the houses, the bridges and the century old trees, thus becoming an intrinsic part of
triggering the petrifying arrow, the cloud becomes marble and the rest is unworthy of comment.5
that which gave them origin.
Man and environment are mutually defined. This is what the sculpture Imagem (2008–2010), by Thiago
Experiences of this nature reaffirm geographically constituted identities by sustaining a relationship of
Honório, perhaps suggests for those who see it. See it and simultaneously be seen by it, that is. The work,
mutualism peculiar to the native. In Corpo em Segredo, Dalton de Paula adorns walls of Goiânia with his
made of a mirrored museological base upon which lies a glass dome and, inside it, an animal skin and a
face wrapped by adhesive tape. For a white wall, a white face. For a black wall, a black face. In those two
wooden human head, gazes back at the viewer. The head stares at the viewer, the reflexive materials of
moments of a performance recorded in photos, the non-specificity of the place and the mobility under-
the base capture the viewer’s body together with the surrounding parts.
stood by the subject destabilize the simple formula. The performer’s blindness turns the determinism7
of similarity into an issue.
There is no neutrality in the encounter. If at first work and public can be distinguished, architectonic and
organic, lucidity and opaqueness, head and members, once the field of vision is reached they no longer
To the geographic heritage, to the vernacular and the folkloric, other matrixes coming from the ex-
can be. Any duality becomes extension: of the subject that perceives to the gallery, the artwork, the visi-
perience of alterity are added. Polvorosa, by Cristiano Lenhardt, originates from a super-8 footage
tors. Potentially, in other situations, to nature, the city, the multitude – and vice-versa.
of the face of two Chinese young ladies in a portrait shot. With minimal scene direction, applications of precious stones to the faces and hands of the actresses and post-production audiovisual
A similar extension motivated the intervention of Carlos Contente, Mapeamento das Coisas que se
effects, the film is no longer an ethnographic documentary and becomes fiction.
Passam pelo meu Coração (2012). This site-specific drawing, materialized directly on an exhibit wall,
is based on notations and anecdotes from the artist’s notebook about his work context. The white
Nothing of it exists in concrete form in the world. Its flowered landscapes with colored rays of light
architecture is contaminated by the filth and sarcasm of the drawings. The image by Contente, that
in the background do not exist, neither does the seminude bodies covered by the texture of a “TV
had turned into a trademark in a stencil multiplied dozens of times, as is common in his work, grows
that is off-air.” Everything that could define the context of Polvorosa as a real place, in this case, is
in scale and stands out in the composition. The public, and in this case, institutional condition of the
the meeting point between a “portrayer” and a “portrayed,”8 the artist and the Chinese youth, the
artist (and of art) justifies the in-dissociation of its individual gestures from any contextual and collec-
editing table and the film set. The place of the different is the “third space.”9
tive implication for them.
Within the art gallery, under the norms and the vocabulary that organize it as a protected and selfreferential space,6 this in-dissociation is enclosed in the situation of the exhibit, often without recalling
World 2: about the circumstantiality of the statements in movement
the exteriority of the places of origin. This is not what happens in the work of Ueliton Santana, which
is composed of temporary insertions of paintings in the landscape of Rio Branco.
[…] if by living I can disguise a partial participation in my circumstance, I cannot, however, deny it
in what I write because I write exactly because I am not or because I am by half .10
The artist removes the screens from the chassis and travels through the streets and forests to record
in photo or video the coexistence of his figurative-abstract plots with urban and rural scenery. Camou-
5 CORTÁZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira | Record, 2008. p. 17.
6 In No interior do cubo branco: a ideologia do espaço na arte, Brian O´Doherty states: “The ideal gallery subtracts from the work
of art all the indications that interfere in the fact that it is ‘art’. The work isolated from everything that can harm its appreciation of
itself. This gives the space a presence typical of other spaces where conventions are preserved by the repetition of a closed system
of values” (O’DOHERTY. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 3).
7 Miwon Kwon, in One place after another: site-specificity and locational identity, identifies a “continuous relationship between a
place and a person” and states that this tie is lost in the contemporary world. The place of “belonging” is substituted for the “wrong
place,” “where the subject feels that he does not belong” (KWON, 2004, p. 163)
8 The terms make an allusion to the video Retratante e Retratado, which the artist made in 2007.
9 The term “third space” was created by Homi Bhabha in O local da cultura. (BHABHA, Belo Horizonte: UFMG, 1998).
10 CORTÁZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos, 2008, p. 34.
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curatoriais
invitation to a journey
Precise coordinates are not enough to point to an artist’s position. A geographic11 and methodological
resulted in Enquanto Você Tomava Minhas Pálpebras, takes place between the streets of São Paulo
nomad, given that each project is capable of redefining his or her course, instruments and work proce-
and the environment of an art gallery. From the itineraries that the artist followed in his journey, or
dures, the artist is increasingly dedicated to understanding contexts.12 Afterwards, the artist identifies
from the situations he witnessed, few documents remain in the exhibition. Actually, there are nearly
fields of action, perceives him or herself and perceives his or her statements of the work adhering and
no images, except for that which aligns the movement of his breathing with the horizon seen from the
reacting to each new circumstance.
window of a subway car.
In Objeto da Série 2 Tempos, Rodrigo Torres addresses this driving force of resignifications by confronting
Instead of images, Jimson uses writing in notebooks, poetry made by tearing pages off books and affix-
the fictitious world of representation with the real world of presentation and experience. His work is made of
ing them to white walls. The design as an installation insinuates a new place, the ergonomics defining it
three objects (a chair, a fire-extinguisher and a ladder) installed in service areas of the gallery, with very little
indicates the sensitivity and subjectiveness implied in building it.
exhibition signage, and treated with layers of spray paint that give the impression that they may have just
left a painted canvas. In a space historically built as an intermediary space between life and its archives, the
In A Última Aventura, Romy Pocztaruk also uses no explicit references in the work resulting from her re-
invisibility of the common gestures and the emphasis given to some of these for being exemplary, 2 Tempos
search trip along a stretch of the Rodovia Transamazônica [Trans-Amazon Highway] from the states of
remains unstable. It plays with illusion but still clarifies, it is still, but indicates movement.
Pará to Paraíba. Even though resorting to photography to record her findings, the artist’s search for evidences of the current situation of the highway (which was planned to link the Atlantic and Pacific oceans;
Although based on objects, the project establishes a dialog with initiatives of an ephemeral nature, like
the construction works began back in the 1950s and remained discontinued for decades) eventually ends
that of the GIA collective.13 Created in Salvador, in 2002, the group uses itinerant elements and public
up in suspicions and gaps in the official developmentalist history. From the Transamazônica [Trans-Ama-
events as its major strategies.
zon], its heroes and the eloquence of a conquest, the images shift to villages and humble homes and the
anonymity of their residents, to the history that evolved there regardless of a real project for integration.
In the week before the opening of Rumos Artes Visuais general exhibition, GIA took to the streets of São
Paulo a mobile unit, designed like the popular peddler carts found in Brazil’s Northeast, and a repertoire
Based on the material collected in the field, Romy interferes in the imagery of that place, as does
of urban interventions which are now commonly practiced in other places, mainly in the capital of Bahia
Claudia Herzs, in Scènes de la Vie aux Tropiques. By applying to gobelin tapestry and decorative
state. This repertoire encompassed the mobilization of passersby in samba circles, the distribution of
French porcelain icons from the Rio de Janeiro landscape and culture, the artist takes possession of
“GIA beer,” pamphleteering, simplicity, humor. In São Paulo, the action took on the connotation of an
a European matrix and, based on this, effects an inversion of the colonial logic. Claudia creates a col-
alternative to the dynamic pace of a metropolis that imposes rhythm, pragmatism and individualism on
lection of fallacious “scenes of life in the tropics,” benefitting from her technical dexterity in painting
the life of its inhabitants.
and embroidery and the verisimilitude with antique objects. Amid the colors of a temperate climate,
forests and the original ladies of the imperial nobility, the hill of the Pão de Açúcar [Sugar Loaf], the
While the group places its practice in a new context by wandering through different cities and con-
Praça da Apoteose [Plaza of Apotheosis] and the building of MAM [Museum of Modern Art] in Rio
fronting their logic of urbanity, the crossing that motivated Jimson Vilela, in the residency project that
de Janeiro rise like parasites or new protagonists.
The work objectively resolves the geopolitical issue that she addresses, the persistence of a cultural
11 Traveling to install and open exhibitions and the seasons in art residences is increasingly taking more time of the artists’ and curators’ routine. Due to these temporary trips, the inclusion of several geographic references in their biographies is increasingly common.
It is not rare to be born in one place, study in another, live and work in another or a few places.
12 The idea of site-specific, defined based on the practices of the 1960s and 1970s, is expanded today into ideas such
as “context-specific, debate-specific, audience-specific, community-specific, project-based”, according to Miwon Kwon.
(KWON, 2004, p. 2)
13 The members of GIA are Ludimila Britto, Cristina Llanos, Luis Parras, Mark Dayves, Tiago Ribeiro, Everton Marco and
Cristiano Piton.
subordination of the ex-colonies toward the former metropolises. This is not what happens in Eldorado, by Regina Parra: a journey without a beginning or end, an essay about utopia. The artist examines through painting and video the illegal migratory movement in various regions of the world. She
uses images of border crossings found on the internet, but hides any reference to their circumscriptions. She is interested in the state of the search, the suspension and the unbending feeling of nonfulfillment shared by the immigrants. She is interested in that which makes them as much a stranger
in their destination as in their place of origin, which places them between what they want to achieve
and everything they left behind. “Finding is to search in relation to the center, which is the unfindable
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curatoriais
invitation to a journey
per se,”14 said Maurice Blanchot in the captions of the video Sobre la Marcha, an integral part of the
project. Certainty about an ideal place to be vanishes in the fog of Eldorado.
World 3: the building of artistic knowledge as a center
And I like this and I am terribly happy in my hell, and I write. I live and write threatened by this
laterality, this true parallax, this being always a bit more to the left or more to the back of the place
where I should be so that everything satisfactorily fits into one more day of life without conflicts.15
Regina Parra
Série Eldorado, 2010
Óleo e cera sobre papel
Oil and wax on paper
32 x 47 cm
32 x 47 cm
It is up to art to scrutinize the world and amplify its symptoms. It should also analyze the world and
question its conventions. These attributes differentiate the realm of arts from any other. It is defined as
a language, a structure and logic of production. It is a sort of logic that moves closer to politics and is
likewise discursive and armed with the ability to generate “misunderstandings,”16 but which needs not
doing, it needs not a “model of doing according to free choices.”17
Instead of photographing rough soccer fields in longitudinal perspectives, which would show the area
covered, Fernando Ancil captures them from the front view behind the goal. Instead of visiting them
on game days, when he would have a chance to document their use, he chooses not to and capture
only voids and promises. In Contracampo, six large-sized photographs recreate the sensation of the real
space, but subvert its function and the customary narratives that unfold on top of it. In the video Área de
Efeito Sonoro,18 one of the fields is used at night by a fireworks display. The hypothesis of the counterusage is revealed in each burst, followed by a flash of light, which partially exposes the action.
While in this experience, but mainly in Contracampo, the assertiveness of the genre of the landscape
is challenged, in De Corpo Presente, by Grupo P.S., the target of the experimentation is the portrait.
In the performance documented in a slide-show of photos, the two members of the duo, Priscila dos
Anjos and Sérgio Adriano, counter the stereotypes of the traditional representation of genders. In the
images, she is always carrying him, he admits fragility, both of them are nude, questioning not only the
anachronism of the models engraved in the history of art, but also the moral and aesthetic judgments
of the viewers.
Regina Parra
Série Eldorado, 2010
Óleo e cera sobre papel
Oil and wax on paper
30 x 47 cm
30 x 47 cm
14 Excerpt from the text “Falar, Não É Ver”, from the book A conversa infinita. (BLANCHOT, Maurice. Ed. Escuta, 2010).
15 CORTÁZAR, Julio. Volta ao dia em 80 mundos, 2008. p. 37.
16 Cf. RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento. São Paulo: Editora 34, 1996.
17 ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 44.
18 This work was produced together with the artists Domingos Guimarães and Jairomdos Santos Pereira.
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recortes
curatoriais
invitation to a journey
Adriano Costa brings about similar uneasiness with his series of “carpets.”19 With these assemblages of
Ana Maria Maia graduated from Universidade Federal de Pernambuco [Federal University of Pernambuco]
fabrics, bits of cut-out paper and various scraps, organized on the floor of the exhibit space without any
(UFPE) in journalism in 2007 and holds a master’s degree in art history from Faculdade Santa Marcelina [Santa
mechanism or form of attaching them, the artist matches colored shapes and textures that very likely
Marcelina College] (2012). She is a member of the Núcleo de Pesquisa e Curadoria [Center for Research and
would never turn out as such, or that would cease to exist with a simple touch. In the institutional envi-
Curatorship] of Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute]. She was assistant curator to the XXIX Bienal de
ronment, these works confront countless possibilities of being dismantled, which makes them simultane-
São Paulo [29th São Paulo Art Biennial] (2009-2010) and created the Portal Dois Pontos – Arte Contemporânea
ously tense and delicate. Regardless of their fate, they stimulate the viewer to think of alternatives that
em Pernambuco [Two Points Portal, Contemporary Art in Pernambuco] (2006).
are always present in things and ideas. The premise of appropriation embedded in them enables us to
regard art as the beginning of new economies.
Without in this way incurring a commercial imperative of renovation or assimilating the politically correct
discourse of recycling, artists such as Adriano and also Pontogor investigate the use of obsolete artifacts
and their reinsertion in the society. In the performance Pedra, Pontogor presents himself playing broken
musical instruments or those adapted for specific purposes that he wants to achieve, also using a rudimentary sound system and wiring. The noise generates interferences in the video, which, once projected
on the background of the performance set, shows the repetitive movement of beating a stone on the
table. The artist’s performance on something that in and of itself is a metaphor of human work denotes
an interest in that element that drives the making of an artwork, its laboratory testing even before forwarding it to manufacturing.
The laboratory, in this case, can be thought of as a place for investigating hypotheses, but also for validating them as prototypes to be applied in some scale, whether restricted or massive, metaphorical or
concrete. The understanding that science or scientific theories contain ideological attributes and subtexts leads Michel Zózimo to materialize the Fluxorama project, a set of propositions based on the didactic of old almanacs and encyclopedias. By using these manuals and their credibility aged by decades,
the artist engages himself in raising doubts about what seems evident. Based on a photo published in
the 1940s to record the fall of a meteorite to Earth, Zózimo conceives a sculpture in real size (Meteorito,
1.8 x 3 x 2 m), a re-staging of the supposed event, a foreign body within the gallery.
The logic of Fluxorama assumes science as literary fiction and art as a means for investigating the limits
of any statement seeking an objective and absolute truth. By doing these inversions, this work and the
others presented here ultimately give rise to relative venues, both from a geographical as well as – and
perhaps particularly – epistemological perspectives, which refers to the understanding of the forms of
knowledge. The artistic knowledge is like a central framework, from where it is possible not only to recognize and question the facts of the world, but also to invent other worlds.
Regina Parra
E Quem Não Quiser Crer que o Venha Experimentar, 2011
Luminosos de neon
Neon light
Coleção Fernanda Marques
Collection Fernanda Marques
19 In the installation in São Paulo, Adriano called his site-specific carpet Berço Esplêndido. When installed again, the configuration of the work tends to change and the same applies to its name depending on the context.
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recortes curatoriais
FELIPE SCOVINO
O que significa um mapeamento? Essa dúvida me acompanhou ao longo do Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2011-13. Mapear significaria uma cartografia que identificaria e reconheceria os detalhes das mais longínquas regiões do país, juntar partes que nunca completariam um todo e reunir diferenças que deveriam
ser mantidas como tal. E um mapeamento na área da produção de artes visuais acarretaria um segundo
problema: o que seriam as práticas artísticas contemporâneas? Como eleger essas obras? Foram perguntas que me acompanharam ao longo do Rumos. A insanidade que esse termo – mapeamento – trazia me
lembrava o projeto quixotesco de Douglas Hueber, de fotografar toda forma de vida humana (Variable
Piece: 70). Era um processo curatorial às avessas: se em um projeto expositivo, o curador geralmente parte
de um tema e elege um conjunto de obras, no Rumos os artistas e o tema – ou temas para ser mais correto
com a pluralidade de linguagens e pesquisas que se apresentam – surgem a posteriori.
Seria o papel do curador ser uma espécie de demiurgo ou simplesmente um viajante, aqui referenciado por mim como um curioso e atento personagem que fica estupefato quando se depara com a
diferença e a invenção? Se o convite à viagem foi feito nos seminários e encontros com artistas que
realizei no primeiro ano do Rumos, decidi que a minha viagem seria às escuras. A minha condição
era estar à deriva. Não esperava por nada porque utopicamente não queria ter prerrogativas ou imagens de cidades ou obras que nunca tinha visto. Simbolicamente, o que me guiava era o desespero
na obra de Bas Jan Ader, que se acentua indefinidamente quando ele se lança ao oceano em um
barco (na performance intitulada In Search of the Miraculous), em 1975, para nunca mais ser visto.
Não queria encontrar o “Hélio Oiticica do Sergipe” ou um artista que se utilizasse de uma proposta
conceitual-política à la Hans Haacke em alguma cidade de Minas Gerais, muito menos uma obra
que evidenciasse a nossa latente brasilidade. Enfim, não tinha interesse na cor local. O que norteou a
minha caminhada por essa imagem de deserto ou escuridão, que quis aplicar ao processo de viagem,
troca com os artistas e a posterior seleção, foi compreender que a pesquisa do artista pudesse ser
percebida como um objeto mediador de experiências (sobre o corpo, o lugar, a política, os meios institucionais) e acima de tudo como território semântico atemporal e transnacional. Esse objeto deveria
se desvencilhar de seu tempo e lugar histórico e permanecer como um legado contínuo de invenção
e oferta de propagação de sensibilidades.
Cada vez mais percebemos na produção contemporânea das artes visuais um esvaziamento de sintomas de identidades nacionais e a afirmação de experiências que anulam um lugar específico, colocando-se como possibilidades de se refletir sobre o tempo presente e evidenciando uma relação de
forças complexas e contemporâneas: o contexto da arte fora de um centro hegemônico. À deriva, não
me interessavam o folclore ou o exotismo justamente porque o que o espectador espera, pensa ou
imagina do Brasil deveria estar muito longe das experiências evocadas por aquelas obras. Penso que o
tema local não deva estar em nenhuma representação, forma ou imagem, justamente porque ele já se
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recortes curatoriais
dissolveu no mundo. Ele está nas estratégias de linguagem, nas articulações com o sistema da arte, no
embate contra o provincianismo e os preconceitos. Foi por esse território que fiz questão de navegar.
Por outro lado, podemos entender o mapeamento e mais seguramente as reverberações desse processo (a visita dos curadores-mapeadores aos ateliês e centros culturais antes do processo de seleção, o
acompanhamento crítico antes da exposição, a exposição propriamente dita, os seminários e os recortes) como um conjunto de relatos informais, ou não, sobre a condição do artista (brasileiro) na contemporaneidade. Mapeamento pode significar um pensamento crítico sobre essa aparição do fazer artístico.
Nos últimos 30 anos, houve um avanço enorme no meio acadêmico com a profissionalização do artista,
o acesso a publicações e o fomento aos debates e à pesquisa. Apesar das conhecidas dificuldades,
digamos, técnicas das universidades, há um caminho razoavelmente seguro para a inserção no mercado
como artista (para não entrar na discussão mais central, que é a produção de uma experiência estética
por meio de um objeto ou de uma ideia). Contudo, a consolidação da academia como lugar de formação do artista não a torna a única possibilidade. A formação do artista autodidata permanece, porém é
cada vez mais frequente a associação deste com a universidade, centros culturais e demais instituições
de formação. Há uma necessidade dupla de o artista deixar de ser um solitário na sua produção e de a
instituição e, principalmente, de o crítico serem cúmplices desse artista.
O Rumos expõe um panorama bem significativo sobre o processo de formação múltiplo e ao mesmo
tempo incipiente em nosso país. A curadoria estava diante dos chamados “artistas emergentes” (na falta
de um nome para definir esse vazio, utilizarei essa expressão) e, portanto, trajetórias razoavelmente distintas se colocavam, desde artistas que ainda cursavam a graduação até outros que tinham acabado de se
formar, outros tantos que estavam na pós-graduação, alguns com certa inserção no mercado (até mesmo
tendo galerias que os representavam) e uma parcela imensa de autodidatas. Isso sem contar a discrepância entre artistas que moravam em grandes cidades e tinham acesso à informação (museus, galerias,
universidades, bibliotecas etc.) e outros que moravam em cidades que não tinham nem acesso à internet.
Duas situações sérias se colocam de forma mais aguçada: a primeira, em que momento há a separação entre estudante de artes e artista? E qual é o momento em que se dá o salto entre “exercício”
e “obra”? São perguntas que giram em torno do chamado amadurecimento do trabalho artístico e
que não necessariamente constituem uma ligação direta com a idade do artista. São questões que
se constituem como pontos nodais do Rumos. Diante de um território que se notabiliza pela experiência estética, as respostas para essas questões se agrupam num tensionamento reflexivo pelo qual
a arte vem passando. Há muito tempo exposições como a Documenta de Kassel ou a Bienal de
Veneza deixaram de ser eventos experimentais, de emergência de linguagens. Há pelo menos duas
décadas o museu vem se tornando o lugar do entretenimento e do consumo, e não da experiência
estética. A especificidade do contexto brasileiro poderia ser uma oportunidade para se pensar que
tipo de instituição (acadêmica e museológica) deve ser formada, em vez de simplesmente copiar
Adriano Costa
Nova República, 2009/2011
Cobertor TNT e mastro de
bandeira de alumínio
Blanket made of nonwoven
fabric and an aluminum flagpole
330 x 200 cm
330 x 200 cm
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recortes curatoriais
um modelo1. A única solução para a precariedade institucional (os acervos “fraturados” de nossos
museus, que condicionam uma história da arte brasileira de igual intensidade) não pode ser desejar
o mesmo nível de “desenvolvimento” e “sucesso” das instituições internacionais que crescentemente se apoiam no espetáculo, especialmente agora que o rótulo “arte brasileira” serve a esse propósito, ainda mais quando se atrela a “descoberta” de Hélio Oiticica pelas instituições internacionais
nos anos 1990 à emergência da estética relacional. Diante desses fatos, as passagens relatadas nas
duas perguntas se dão de forma cada vez mais acelerada (principalmente por pressão do mercado)
e nem sempre acontecem no mesmo instante em que o observador crítico tem a consciência da
maturidade do trabalho do artista.
Vivemos em uma economia da atenção. A lógica do capital introduz incessantemente novos produtos
e rápidos descartes, manipulando atenção e distração. As novas tecnologias nos assediam com informações e imagens. A urbe é cada vez mais saturada de estímulos2. Estamos diante de novos regimes
de disciplina, controle e classificação da atenção. Acrescenta-se a esse pensamento a pergunta que se
coloca como nodal para o recorte3 que eu e os curadores Júlio Martins e Sanzia Pinheiro realizamos:
Como viver em um mundo em que aquilo que compreendíamos como cidadania e civilidade se vê
confrontado com seus limites, com seu esgotamento? A escolha dos artistas passa pela discussão do
conceito de ruína ou “provocar a deriva”. As obras selecionadas para o recorte não possuem suportes
ou poéticas semelhantes, mas, quando colocadas em vizinhança, passam a ter uma contaminação inevitável. Contextos e circunstâncias tornam-se visíveis e constroem uma rede de sentidos que desemboca
em uma discussão sobre a ideia de colapso na contemporaneidade. É um tema, de certa forma, vago,
porque na história não faltaram casos de colapso, transformação e reconfiguração. A discussão sobre
colapso na obra desses artistas de forma alguma pressupõe uma ideia de fim da arte, mas afirma especialmente uma visão política e ideológica do mundo, sem ser panfletária. Não há uma clara definição de
lugar nessas obras, mas a transparência de uma falência de mundo, de uma vontade de expor o mundo
com uma perspectiva mais próxima ao confronto, a uma violência (que passa pela conquista de territórios até certa impaciência e arrogância que tendem a dominar as relações afetivas e interpessoais),
o que não necessariamente impõe uma ideia niilista às obras. O mastro em queda sustentando uma
bandeira feita de cobertor em Nova República (2009-2011), de Adriano Costa, expõe a ideia de falência,
de demarcação de um não lugar. Com antecedentes em Invented Country (1976), de Antonio Dias, a
Gabriela Mureb
1 Ainda pensando as formas críticas de uma estrutura de mapeamento ou de inserção educacional e cultural do Rumos, é
importante relatar o quanto esse programa se constitui como uma plataforma de formação e discussão sobre curadoria no Brasil
e quanto especificamente essa edição foi democrática, possibilitando que todos os 13 curadores votassem no processo de seleção
e participassem ativamente do modo como o catálogo foi concebido e dos recortes curatoriais.
2 Comentário retirado do texto “Sobre Cortes e Delicadezas”, de Marisa Flórido, publicado em O Globo, Rio de Janeiro, 20
de junho de 2011.
Sem Título (ânsia), 2010
Videoinstalação – três vídeos simultâneos de 7’
27’’, 8’15’’ e 9’56’’, em loop
Video installation – three simultaneous
videos of 7’ 27’’, 8’ 15’’ and 9’ 56’’, in loop
3 O recorte foi realizado no Museu de Arte de Joinville entre setembro e novembro de 2012 e teve o mesmo título deste ensaio.
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recortes curatoriais
obra de Costa sugere ausência e falta (assim como o canto superior direito na obra/bandeira de Dias);
um incômodo irreparável e difuso, a demarcação de uma geografia ou de uma fronteira esquecida ou
um lugar qualquer que nem sabemos se existe ou existiu.
As obras desse recorte atuam como se fossem um sussurro que não cessa de acontecer. Outro ponto é
que há um dado jocoso nas obras selecionadas porque elas acabam criando uma imagem que alia o colapso (enquanto ideia de falha) a uma visão clichê sobre os “fundamentos da (chamada) invenção brasileira
nas artes visuais”, que, a reboque, cria e sustenta conceitos como “geometria sensível” e a “fragilidade” por
causa do uso de materiais frágeis e baratos em nosso modo de produção artístico. Esses artistas parecem
rebater essa ideia fortemente disseminada por uma parcela da crítica internacional. Eles nos lembram que
esses materiais realmente são usados nas artes visuais brasileiras, assim como em todo o mundo, e, portanto, a lógica da economia local não está diretamente ligada à produção formal das obras daquele país.
Esse estado da violência aparece em situações bem próprias e distintas, como é o caso das obras de Carla
Evanovitch, Gabriela Mureb, João Castilho, Nara Amélia, Pontogor, Thiago Martins de Melo e Vijai Patchineelam. Em Ânsia (2010), de Mureb, concomitantemente ao fato de a artista lançar mão de técnicas de
tortura, ela conhece muito bem o seu limite, e de forma alguma quer extrapolá-lo. São ações que beiram
tanto a violência quanto (mais fortemente) a inutilidade e o desnecessário. Seu discurso não é colocar o
corpo à prova, na tentativa de ultrapassar limites, mas discutir poéticas que envolvem o corpo na contemporaneidade, tais como a impotência e o despropósito. No caso de Amélia, sua obra se situa entre o
onírico e o delírio. São imagens que nos proporcionam a visibilidade de um território que associa símbolos
ou dados concretos da natureza a uma ficção fantasmagórica e, por vezes, sombria. Entre metamorfoses
e apropriações que flertam com imagens perturbadoras, surgem cervos, pássaros e outros animais que
apaziguam ou relativizam essa transgressão. É nesse ambiente de contradições, que remete às histórias e
às ilustrações da emergência das literaturas de terror e fantástica na era moderna, que sua obra atravessa.
Há certa circularidade do traço, como se as micronarrativas que acontecem, por vezes num só desenho, se
encaixassem sucessivamente, mas nesse percurso vão construindo significados diversos, opostos.
Já a instalação malevichtiana de Patchineelam (Justaposição, 2012) promove um diálogo e não uma dependência entre três suportes distintos (pintura, fotografia e livro). Fala-se sobre pintura “lendo” as fotografias.
De certa forma, temas afeitos aos suportes estão presentes de maneira coesa: as quatro pinturas se aliam
à repetição de gestos e a certa monotonia que também habita as ações documentadas no livro. Ademais,
a instalação constrói uma possibilidade de radicalização para a emergência da pintura tendo o corpo como
imagem simbólica: desde o livro, no qual o corpo se coloca como manobra para a ruptura do cavalete – em
si uma referência à pintura –, passando por uma metáfora (mórbida) de um corpo monocromático, até a
pintura/tatuagem/corpo sendo desmembrada como vigilância na foto. A representação da vida contemporânea ancora-se mais no sentido de visão do que na capacidade de escuta [e Moacir dos Anjos ao referir-se à
produção do Chelpa Ferro esclarece que] “a audição parece fragmentar, no espaço e no tempo, os estímulos
Vijai Patchineelam
Justaposição, 2012
Instalação – pinturas, fotografia e livro
Instalation – paintings, photographies
and book
Dimensões variadas
Various sizes
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recortes curatoriais
sensoriais que chegam ao ouvido, elegendo apenas alguns como relevantes e descartando a maior parte
dos sons como não significantes”4. A performance de Pontogor e sua ininterrupta reprodução durante a
exposição, contaminando todo o espaço, nos mostram que o resto, o ruído, o dissonante, o que é dado como
ignorado, assumem um índice de imprecisão e transitoriedade, revelando a experiência urbana do mundo
atual, e encontra ressonâncias, guardadas suas especificidades, em uma pesquisa que tem o manifesto The
Art of Noises (1913) e a produção de Luigi Russolo como pontos de partida. Abrindo um desvio nessa articulação entre som e artes visuais, a performance realizada por Guilherme Dable (Tacet, 2011-2012) expõe o
desenho como prática do acaso. Entre as cordas do baixo, os pratos da bateria e a percussão são colocados
os papéis que documentam a imaterialidade: uma espécie de progressão do som no espaço. Esse processo
é resultado, por sua vez, da música acidental ou de improviso que é criada pelos músicos. O conceito de
deriva ganha nova dimensão nessa obra, sendo perspicaz a ambiguidade entre uma violência na execução
dos desenhos e o seu resultado final, pontuado por vazios e emergindo certa estética da delicadeza.
A violência assume outra conotação nas pinturas de Martins de Melo, que, por outro lado, revitalizam o
autorretrato, aplicando conceitos que interligam religião, mito, violência e sonho às suas histórias. Nelas, o
artista é um personagem de seu próprio delírio, e, na construção dessas paisagens, as histórias reveladas
guardam uma essência de gênese seja em Seção Adâmica (2010) seja em A Herança de Iroco ou a Cama
de Ulisses (2010), em que o mito desse orixá é resgatado (Iroko foi a primeira árvore plantada e pela qual
todos os orixás restantes desceram à Terra e simboliza o tempo) e transposto ao lado de Ulisses e Penélope,
respectivamente, o artista e sua própria esposa. São tempos, territórios e mitos distintos que se confundem e
se complementam em pinturas que revelam um exibicionismo quase perverso, cru, e em parte um descomprometimento do artista com a própria intimidade, pois estão ali revelados seus dramas, conflitos e dilemas.
Em tempos em que discute a relação (?) entre arte e vida, sua obra é perversamente da ordem da catarse.
A violência pode variar entre o pedido teatralizado – mas sem deixar de ser real – do artista “humilde que
vem pedir ajuda aos senhores de bom coração para ajudar sua irmã artista que precisa de ajuda para fazer
uma exposição” em Performações Urbanas (2011), de Evanovitch, e o quanto essa ação reporta, de modo
sarcástico, uma condição contemporânea do artista marginalizado (por causa de sua situação geográfica,
institucional e econômica) ao vigiar e punir de Morte Súbita (2011), de João Castilho. O painel de telas
de LCD nos revela um constrangimento do voyeurismo que cada vez mais é praticado na contempoGuilherme Dable
raneidade, isto é, uma posição de sermos extremamente vigiados e obcecados por tudo ver e deixar ser
Tacet, 2011
visto. A quantidade de ações (nove) sendo reproduzidas a princípio não nos revela uma coerência, mas
Performance e registros
Performance and footage
um amontoado de imagens que aos poucos demonstram a iminência do perigo e, consequentemente, da
morte. São cenas de sequestro e emboscadas que não estão sendo ficcionalizadas, são reais. O fato é que,
ao término da ação, o óbvio nos choca e desconcerta.
4 DOS ANJOS, Moacir. “O Barulho do Mundo”. In: FERRO, Chelpa. Chelpa Ferro. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de
São Paulo, 2008, p. 165.
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recortes curatoriais
Thiago Martins de Melo
Seção Adâmica, 2010
Óleo sobre tela
Oil on canvas
180 x 200 cm
180 x 200 cm
Coleção Mara Fainziliber
Collection Mara Fainziliber
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recortes curatoriais
Carla Evanovitch
Performações Urbanas, 2011
Instalação
Installation
Dimensões variadas
Various sizes
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recortes curatoriais
Estar à deriva também significa um diálogo com o incômodo. Em Sujeito da Transgressão #4 (2011),
de Fábio Baroli, o cruzamento entre imagens retiradas de sites pornográficos, arquivos pessoais e história da arte investiga um tema, digamos, delicado para a sociedade brasileira que é o estar desnudo.
Sendo deslocada para uma instituição museológica, a questão do nu nem sempre incorpora os efeitos
do chamado exercício experimental de liberdade que supostamente a arte teria. Entre o voyeurismo e
o exibicionismo das cenas construídas por Baroli, o desconforto se faz presente, inclusive para avaliar
o estado da pintura na contemporaneidade e quanto a imagem e o contexto de sua aparição podem
ser reveladores de uma moralidade oculta. Em Quando Todos Calam, de Berna Reale, a aparição do
corpo nu e o oferecimento de sua carne aos urubus transformam esse ritual em estratégia de aversão.
É importante relatar que a performance foi realizada na zona portuária de Belém, um lugar tipicamente
masculino, e o quanto, portanto, a aparição de uma mulher desnuda pode se converter em confronto.
Reale anuncia a pressuposição de que o lugar será sempre outro lugar. Incômodo que se manifesta também no acidente provocado pelo vidro a se partir a qualquer momento na obra de Marilia Furman (em
Resistência) ou na obra de Raquel Versieux, que envolve uma investigação sobre as ações da natureza,
e quanto a relação de tempo, desgaste e passagem pode ser absorvida como matéria e conceito para
uma apropriação escultórica. O incômodo também aparece sob diversas camadas em Elegy To My Son
(Or What You Will), de Marcos Brias, numa quase impossibilidade de ler o texto, pelo fato de o artista
utilizar a construção das frases em língua inglesa de forma pouco usual (com um “sotaque interiorano”),
de a serigrafia estar um pouco acima do que se costuma exibir usualmente e de ela ser impressa sobre
lixa (fatores de dificuldade e incômodo à leitura da obra, na qual a palavra é legenda e matéria de sua
composição, além de esse material criar uma ideia de tatilidade por causa da sua aspereza e, por conseguinte, identificar sintomas como repulsa ou tentativa de afastamento). Solidão, isolamento e uma
atmosfera de western norte-americano formam os vértices de sua obra, que parece nos empurrar para
uma zona de intervalo entre a espera e o esquecimento. De certa forma, essa atmosfera de silêncio e
espera se apresenta no homem que atira a flecha a esmo em Mira, de Guilherme Teixeira. A flecha se
perde em um horizonte e origina um curso cuja trajetória é ter o espaço da dúvida como destino. São
esses estranhamentos e fraturas que tais intervenções artísticas colocam em evidência. Deixam-nos a
par de que é preciso repensar as figuras do comum, as relações e as projeções de alteridade. Operando
em rede, eles interrogam os limites entre estética, política, ética e pensamento, “testando modos de
endereçamento da arte, experimentando mundos que se abrem nessas fissuras e deslocamentos”5.
O diálogo entre as obras de Jimson Vilela e Pablo Lobato cria a ideia de uma paisagem inventada, que
de alguma forma suscita a dúvida sobre o que é o mais “verdadeiro”, o mais “real”. Há uma espécie de
reafirmação, algo como uma revalidação da realidade, enfim garantida pelo discurso estético. O lugar
5 Este comentário é retirado do texto “Nas Fraturas do Mundo”, de Marisa Flórido, publicado em 24 de outubro de 2011 no
jornal O Globo.
Marilia Furman
Resistência, 2011
Instalação – chapas de vidro e holofote
Installation – glass sheets and spotlight
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recortes curatoriais
Berna Reale
Quando Todos Calam, 2009
Performance para fotografia
Performance to photograph
110 x 165 cm
110 x 165 cm
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recortes curatoriais
da paisagem não tem mais ligação com um objeto do mundo natural, mas com a investigação a respeito das próprias circunstâncias que são mobilizadoras dessa transformação da paisagem. Em Enquanto
o Mar Esquecia, Palavras Paralelas se Encontravam no Infinito, de Vilela, nos deparamos com imagens
que são reveladas por meio da escrita (em seus apontamentos, diários e anotações) de um “viajante”.
A paisagem não é visível por imagens, mas por texturas, sons, odores e cores pré-fabricados por outra
qualidade de linha. Em Lobato, temos a desaparição como mote: em Bronze Revirado6 (2011) ficamos
em estado de atenção por causa da dança hipnotizante do sineiro (profissão em extinção), que mescla
força, beleza e temor graças à iminência de um acidente, e em Expiração (2010) há o apagamento de
trechos selecionados do arquivo audiovisual do artista, até então nunca reproduzido, e suas matrizes.
Com base nas determinações do acaso, cada um dos seis vídeos escolhidos tem seu período de exibição
estabelecido por um software7. São imagens que se despedem indefinidamente; possuem um compromisso com a revelação e a inconclusão ao mesmo tempo; são imagens urgentes porque são conscientes
de seu desespero e relevância.
Esse conjunto de artistas são exemplos de uma produção capaz de dialogar com o mundo de forma
profícua e intensa, mas que não o faz de forma ilustrativa, e sim atravessada pela capacidade poética
intrínseca à arte de tornar o nosso olhar mais sensível ao mundo, ou seja, fazer com que habitemos um
mundo regido por diferenças de outra forma.
Felipe Scovino é professor da Escola de Belas Artes da UFRJ. Foi curador das exposições Lygia Clark: Pensamento Mudo (Dan Galeria, São Paulo, 2004), Décio Vieira: Investigações Geométricas (Centro Universitário Maria
Antonia, São Paulo, 2010), O Lugar da Linha (Paço das Artes, São Paulo; MAC–NI, 2010) e Entre Desejos e Utopias
(A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2010), entre outras. Publicou os livros Arquivo Contemporâneo (Editora 7Letras:
Rio de Janeiro, 2009), Cildo Meireles (Azougue Editorial: Rio de Janeiro, 2009) e Carlos Zilio (MAC–NI, 2010).
Guilherme Teixeira
Mira, 2011
Vídeo
Video
Duração 1’, em loop
Running time 1’, in loop
6 A obra registra, desde os bastidores, e com um acento antropológico e poético, a execução de um toque de sino festivo
em uma igreja de São João del-Rey. Gestos anônimos, organizados como em uma tensa coreografia, concorrem para criar uma
identidade coletiva.
7 Os vídeos variam de 24 horas à data do término da mostra. Ao final desse prazo, todos terão sido apagados, restando apenas
seu primeiro frame, que permanece sob uma tela branca. A obra também consiste na publicação disponível ao público.
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curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
felipe scovino
Adrift
What does a mapping mean? This doubt has never left me throughout Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2011-13. Mapping would mean establishing a cartography that would identify and recognize details
of the remotest areas in the country, gathering parts that would never make up a whole and putting
together differences that should be kept as such. In the realm of visual arts output, cartography would
raise a second issue: what would contemporary artistic practices be? How to single out these works?
These were questions that have never left me throughout Rumos. The insanity this term – mapping –
would evoke reminded me of Douglas Hueber’s quixotic project of photographing all forms of human
life (Variable Piece: 70). This was an inside-out curatorial process: while in exhibition projects curators
usually start from a theme and then choose a set of works, in Rumos artists and theme – or themes, to be
fairer to its plurality of languages and research – come a posteriori.
Would curator’s role be that of a kind of demiurge or simply a traveler I here present as a curious and
attentive character who is appalled when faced with difference and invention? The invitation to this trip
was made in the seminars and meetings with artists I had during Rumos’ first year, so I decided that mine
would be a blind trip. The condition I imposed was being adrift. I had no expectations because, with a
utopic stance, I refused any prerogatives or images of cities or works I had never seen before. Symbolically, what guided me was despair in Bas Jan Ader’s work, which deepens indefinitely when he in 1975
sets out to sea in a boat (in the performance called In Search of the Miraculous), never to be seen again.
I did not wish to meet an “Hélio Oiticica from Sergipe” or an artist working with a political conceptual
proposal à la Hans Haacke in some Minas Gerais town, and much less a work that would make our latent
Brazilianness evident. In short, I had no interest in local color. What guided my path through this image
of a desert or darkness, which I wished to apply to the traveling process, the exchange with artists and
subsequent selection, was understanding that artists’ research could be perceived as an experiencemediating object (of the body, the place, politics, institutional means) and, above all, as a timeless and
transnational semantic territory. This object should be freed from its historical time and place and stay as
a continuous invention legacy and an offer for disseminating sensitivities.
The emptying of national identities symptoms and the assertion of experiences that obliterate specific
places are increasingly perceptible in contemporary visual artworks, opening up possibilities for reflecting
on present time and revealing a correlation between complex and contemporary forces: the context of art
outside a hegemonic center. Adrift, I was not interested in folklore or exoticism, precisely because what the
viewer expects from, thinks or imagines about Brazil should be very far from experiences those works evoke.
I think that local theme should not be present in any representation, form or image, precisely because it
has already been dissolved in the world. It is to be found in language strategies, in articulations with the art
system, in the tussle against provincialism and prejudice. This was the territory I made a point of navigating.
Pablo Lobato
Bronze Revirado, 2011
Videoinstalação
Video installation
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invitation to a journey
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
On the other hand, we can understand the mapping and, most certainly, the reverberations of this pro-
precariousness (the “fractured” collections of our museums, which condition an equally intense history of
cess (the visit of curators-mappers to studios and cultural centers prior to the selection process, critical
the Brazilian art) cannot aim at attaining the same level of “development” and “success” of international in-
monitoring prior to the exhibition, the exhibition itself, the seminars and delimitations) as a set of nar-
stitutions that are increasingly based on the spectacle. This is especially the case now that the “Brazilian art”
ratives that are informal or otherwise, on (Brazilian) artists’ condition in contemporaneity. Mapping can
label is used to this purpose, even more so when the “discovery” of Hélio Oiticica by international institu-
mean critical thinking about this appearance of the artistic making. Over the last 30 years, there has
tions in the 1990s is connected with the emergence of relational aesthetics. In view of these facts, the transi-
been vast progress within academia with artists’ professionalization, access to publications, as well as
tions imparted in the two questions above are increasingly swift (mainly due to market pressure) and do not
encouragement to debate and research. Despite the well-known, let’s say, technical difficulties facing
always coincide with the moment when critical observers become aware of the maturity of an artist’s work.
universities, there is a reasonably safe route for the insertion of artists in the market (leaving aside the
more crucial discussion, which is the production of an aesthetic experience by means of an object or
We live in an economy of attention. The logic of capital continuously rolls out new products and fast
idea). However, the consolidation of academia as the place where artists are trained does not make it
disposition, thus manipulating attention and distraction. New technologies bombard us with information
the only possibility to this end. There still are self-taught artists, but they are increasingly associated with
and images. Urban areas are increasingly saturated with stimuli2. We are facing new regimens of attention
universities, cultural centers, and other training institutions. Two different reasons require artists to stop
discipline, control and classification. Add to this thought the nodal question underlying the scope3 that cu-
making their works all on their own and institutions – above all critics – to be accomplices of these artists.
rators Júlio Martins and Sanzia Pinheiro and I chose: How should we live in a world in which what we used to
understand as citizenship and civility is confronted with its limits, its exhaustion? When choosing the artists,
Rumos exhibits a rather significant panorama of the training process, which in our country is manifold and,
we took into account the discussion of the concept of ruin or “provoking drift”. The works selected based on
at the same time, incipient. The curatorship dealt with the so-called “emerging artists” (in the absence
such scope do not resort to similar supports or poetics but, when placed next to each other, they convey an
of a name that would define this emptiness, I will use this expression). Therefore, reasonably different
inevitable contamination. Contexts and circumstances become visible and build a network of senses that
trajectories were on the table from artists who were still undergraduate students to others who had just
leads to a discussion about the idea of collapse in contemporaneity. This theme is, in a way, vague, because
graduated, others were graduate students, some of which established in the market to a certain extent
collapse, transformation and reconfiguration have really abounded in history. The discussion about collapse
(even represented by galleries); there were also a huge proportion of self-taught artists. And this without
in these artists’ work does not suppose an idea of the end of art; it rather states especially a world view
taking into account the discrepancy between artists living in large cities and having access to information
which, although political and ideological, is by no means pamphleteer. These works offer no clear definition
(museums, galleries, universities, libraries etc.) and others living in places without even internet access.
of place, but rather the transparency of a world failure, of a will to expose the world through a perspective
closer to confrontation, to violence (that goes from the conquest of territories to a certain impatience and
Two serious issues were most sharply raised. The first one: when does someone cease to be an art student
arrogance tending to dominate affective and interpersonal relationships). Yet this does not necessarily give
to become an artist? And when does the leap between an “exercise” and a “work” take place? These are
the works a nihilistic tone. The falling pole on which there us a flag made of a blanket in Nova República
questions related to the so-called maturing of the artistic work, not necessarily and directly linked to the
(2009-11), by Adriano Costa, states the idea of failure, of signaling a non-place. Against the background of
artists’ age. These are nodal issues in Rumos. In the face of a territory that stands out for the aesthetic ex-
Invented Country (1976), by Antonio Dias, Costa’s work suggests absence and lack (as does the upper right
perimentation, the answers to these questions are clustered around the reflectional tension that art is going
corner in Dias’ work/flag); an irreparable and diffuse malaise, the demarcation of geography or of a forgot-
through. It has been a long time since exhibitions such as the Kassel Documenta and Venice Biennale were
ten boundary or of a nondescript place we do not even know whether exists or existed.
experimental events where languages would emerge. For at least two decades now, museums have become places of entertainment and consumption, rather than of aesthetic experience. The specificity of the
Within such scope, the works act as if they were an incessant whisper. Another point is that there is an
Brazilian context might offer an opportunity to consider what kind of institution (academic and museologi-
amusing side to the selected works, because they end up creating an image that combines collapse (as
cal) should be designed, rather than just copying an existing model1. The only solution for the institutional
an idea of failure) with a cliché view of the “foundations of the (so-called) Brazilian invention in visual
arts,” that, in reverse, creates and sustains concepts such as “sensitive geometry” and “frailty” due to the
1 Still critically thinking of how to structure a mapping process or to incorporate the educational and cultural perspectives of
Rumos, it is important to point out that this program does leverage training in and discussion about curatorship in Brazil and more
particularly that this edition was developed in a quite democratic environment, which enabled all the 13 curators to cast their votes
in the selection process and actively take part in conceiving this catalog and establishing the curatorial scopes.
2 Comment taken from Sobre cortes e delicadezas, by Marisa Flórido, published in O Globo, Rio de Janeiro, June 20 2011.
3 This scope was defined at Museu de Arte de Joinville [Joinville Art Museum] from September to November, 2012 and was
named after this paper.
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curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
Nara Amélia
Um Presságio de Tristeza (série A Natureza como Ambiente da
Clausura), 2011
Água-forte, aquarela, lápis de cor e douração
Etching, watercolor, color pencil and gilding
35 x 30 cm
35 x 30 cm
Nara Amélia
Portador de Marcas (série A Natureza como Ambiente da
Clausura), 2011
Água-forte, aquarela, lápis de cor e douração
Etching, watercolor, color pencil and gilding
35 x 30 cm
35 x 30 cm
Nara Amélia
A Noite Salva (série A Natureza como Ambiente da
Clausura), 2011
Água-forte, aquarela, lápis de cor e douração
Etching, watercolor, color pencil and gilding
35 x 30 cm
35 x 30 cm
Nara Amélia
A Natureza como Ambiente da Clausura, 2011
Água-forte, aquarela, lápis de cor e douração
Etching, watercolor, color pencil and gilding
35 x 30 cm
35 x 30 cm
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curatorial
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recortes
curatoriais
invitation to a journey
use of fragile and inexpensive materials in our artistic mode of production. These artists seem to refute
urban experience of today’s world, and find echoes, despite specificities, in a research project whose starting
this idea that has been widely disseminated by a part of the international community of critics. They
points are The Art of Noises (1913) manifesto and Luigi Russolo’s works. Departing from this articulation be-
remind us that these materials are really used in Brazilian visual arts, as well as all over the world, and,
tween sound and visual arts, Guilherme Dable’s (Tacet, 2011-12) performance exposes drawing as a chance
therefore, the logic of the local economy is not directly linked to the formal production of works in Brazil.
practice. Among bass strings, drum cymbals and percussion, papers documenting immateriality are placed:
a kind of progression of sound in space. This process, in turn, results from the accidental or improvised
This state of violence appears in quite specific and distinct situations, as in the case of the work by Carla
music created by musicians. The drift concept attains a new dimension in this work, with a smart ambiguity
Evanovitch, Gabriela Mureb, João Castilho, Nara Amélia, Pontogor, Thiago Martins de Melo and Vijai
between violence in the execution of drawings and final outcome, punctuated by blanks and allowing for
Patchineelam. In Ânsia (2010), Mureb resorts to torture techniques and, at the same time, is keenly aware
the emergence of a certain aesthetic of delicacy.
of its limit and by no means wants to overstep it. These are actions that border on both violence and
(more strongly) uselessness and needlessness. Her discourse does not consist in putting the body to the
Violence acquires a different connotation in Martins de Melo’s paintings, which, on the other hand, revi-
test in an attempt to go beyond limits, but rather to discuss contemporary poetics involving the body,
talize self-portrait through concepts that intertwine religion, myth, violence and dream with his stories. In
such as impotence and lack of purpose. Amélia’s work lies between an oneiric territory and delirium. These
the latter, the artist is a character in his own delirium. As these landscapes are raised, the stories revealed
are images that let us see a territory where symbols or concrete data from nature are associated with
present an essence of genesis in both Seção Adâmica (2010) and A Herança de Iroco ou a Cama de Ulisses
phantasmagorical, and sometimes grim, fiction. Among metamorphoses and appropriations that flirt with
(2010), wherein this Orisha’s myth is recovered (Iroko is the first tree to be planted and by which all the
disturbing images, one can see deer, birds and other animals that sooth or relativize such transgression. It
other Orishas came down to Earth; it symbolizes time) and placed next to Ulysses and Penelope, respec-
is in this environment full of contradictions, referring to stories and illustrations of the emergence of horror
tively the artist and his own wife. These are different times, territories and myths that mingle and comple-
and fantastic literature in modern times, that her work is developed. There is certain circularity in her lines
ment each other in paintings that show an almost perverted, crude exhibitionism and partly an indiffer-
of drawing, as if the micronarratives arising out of her works, sometimes in one single drawing, would suc-
ence of the artist toward his own privacy, as his dramas, conflicts and dilemmas are disclosed therein. In
cessively fit together, albeit building opposite, diverse meanings along this process.
times when the relationship (?) between art and life is discussed, his work perversely pertains to catharsis.
Patchineelam’s malevichtian installation (Justaposição, 2012), in turn, promotes dialog, not dependence,
Violence can range from the theatrical – though not less real – request of the “humble artist who asks
between three different supports (painting, photography and book). One speaks about painting by “read-
good-hearted gentlemen to help his artist sister in need of support to organize an exhibition” in Perfor-
ing” photographs. In a way, support-related themes are consistently present: the four paintings are com-
mações Urbanas (2011), by Evanovitch, and the extent to which this action sarcastically reports the con-
bined with the repetition of gestures and with a certain monotony also seen in actions documented in the
temporary condition of marginalized artists (owing to their geographical, institutional and economic sta-
book. Moreover, the installation builds a possibility of radicalization leading to the emergence of a painting
tus) to the watching and punishing depicted in Morte Súbita (2011), by João Castilho. The LCD screen
by using the body as a symbolic image: starting from the book, in which the body serves as a tool to a ma-
panel reveals the embarrassment of voyeurism, increasingly practiced in contemporary days, i.e., the
neuver to break away the easel – in itself a reference to painting –, moving on to the creation of a (morbid)
position of being extremely observed and obsessed with seeing and letting see everything. In principle,
metaphor of a monochromatic body to finally reach the dismemberment of the painting/tattoo/body as
the (nine) actions reproduced reveal, instead of consistency, a jumble of images that gradually demon-
vigilance in the photo. The representation of contemporary life is more anchored in the sense of sight,
strate the imminence of danger and, therefore, of death. These are actual, non-fictionalized kidnapping
rather than in the ability to listen [and Moacir dos Anjos, when referring to Chelpa Ferro’s works, clarifies
and ambush scenes. The fact is that, at the end of the action, the obvious shocks and disconcerts us.
that], “hearing seems to fragment, in space and in time, sensory stimuli that reach the ear, choosing only a
few of these as relevant and dismissing most sounds as non-significant.”4 Pontogor’s performance and its
Being adrift also means being in a dialog with discomfort. In Fábio Baroli’s Sujeito da Transgressão #4 (2011),
uninterrupted reproduction throughout the exhibition, contaminating the whole space, show us that the
the intersection of images from porn websites, personal archives and art history investigates a topic that is
rest, the noise, the dissonant, what is considered as ignored, become imprecise and transient, revealing the
sensitive, so as to say, to the Brazilian society: being naked. When moved to a museological institution, the
nude issue does not always incorporate the effects of the so-called experimental exercise of freedom that
art is supposed to perform. The voyeurism and exhibitionism of the scenes created by Baroli bring about
4 DOS ANJOS, Moacir. “O barulho do mundo”. In: FERRO, Chelpa. Chelpa Ferro. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de
São Paulo, 2008, p. 165.
discomfort, also when it is a matter of assessing the state of painting in contemporaneity and to what extent
the image and the context where it appears can expose a concealed morality. In Berna Reale’s Quando
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invitation to a journey
curatorial
scopes
recortes
curatoriais
Fábio Baroli
Sujeito da Transgressão #4, 2011
Óleo sobre tela
Oil on canvas
110 x 150 cm
110 x 150 cm
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curatorial
scopes
recortes
curatoriais
invitation to a journey
Todos Calam, the appearance of the naked body and the offer of its flesh to vultures transform this ritual in
matrices. The screening time of each one of the six videos is randomly determined by software.7 These
an aversion strategy. It is important to point out that this performance was carried out in Belém’s port area,
are images that are indefinitely saying goodbye; they are concurrently revealing and open-ended; these
a typically male place, and hence the appearance of a naked woman can turn out to be a confrontation.
are urgent images, because they are aware of their despair and relevance.
Reale announces the assumption that the place will always be another place. This malaise was also aroused
in the accident caused by glass that might break at any moment in Marília Furman’s work (in Resistência) or
This group of artists provides examples of works that are able to establish a fruitful and intense dialog with
in Raquel Versieux’s work. The latter involves investigation into nature actions, as well as into how much the
the world. Yet they do not do this illustratively. Instead, they do it in a way that is permeated by the poetic
relation among time, wear and passage can be absorbed as matter and concept for a sculptural appropria-
ability, inherent to art, of making us cast a more sensitive look at the world, i.e., changing the way we inhabit
tion. Malaise also appears under several layers in Marcos Brias’ Elegy To My Son (Or What You Will), as a
a world governed by differences.
near-impossibility to read the text due to a number of factors: the artist resorts to unusual English syntax
(with a “peasant accent”), the serigraphy is shown slightly higher than usually on the wall and printed on
sandpaper (all these make it hard and awkward to read the work, in which the words are subtitles and matter
in the composition; moreover, this material elicits a tactile idea due to its roughness and, as a consequence,
Felipe Scovino is a professor with Escola de Belas Artes (School of Fine Arts) at Universidade Federal do Janeiro
identifies symptoms such as rebuff or an attempt to move away from it). Loneliness, isolation and an at-
[Federal University of Rio de Janeiro] (UFRJ). He has curated, inter alia, the following exhibitions: Lygia Clark: Pensamento
mosphere of American western are the vertices of his work, which seems to push us into a zone between
Mudo (Dan Galeria, São Paulo, 2004), Décio Vieira: Investigações Geométricas (Centro Universitário Maria Antonia [Ma-
waiting and oblivion. In a way, this atmosphere made of silence and wait is presented in the man who shoots
ria Antonia University Center], São Paulo, 2010), O Lugar da Linha (Paço das Artes [Palace of the Arts], São Paulo; Museu
an arrow randomly in Mira, by Guilherme Teixeira. The arrow is lost in a horizon and generates a course
de Arte Contemporânea [Museum of Contemporary Art], Niterói, 2010) and Entre Desejos e Utopias (A Gentil Carioca,
whose trajectory has as its destination the space of doubt. What these artistic interventions evidence is
Rio de Janeiro, 2010). He authored the books Arquivo Contemporâneo (Editora 7Letras: Rio de Janeiro, 2009), Cildo
this strangeness and these fractures. These works let us know that commonness figures, relationships and
Meireles (Azougue Editorial: Rio de Janeiro, 2009) and Carlos Zilio (Museu de Arte Contemporânea: Niterói, 2010).
otherness projections must be rethought. By operating in networks, they question the boundaries between
aesthetics, politics, ethics and thought, “testing art modes of addressing, experimenting with worlds that
open themselves in these fissures and displacements”5.
The dialog between Jimson Vilela’s and Pablo Lobato’s works creates the idea of an invented landscape,
which, in a way, raises doubt about what is more “truthful,” more “real.” There is a kind of reaffirmation,
something like a revalidation of reality, finally ensured by aesthetic discourse. The place of the landscape
is no longer connected with an object from the natural world, but rather with an investigation into the very
circumstances that mobilize these transformations of the landscape. In Vilela’s Enquanto o Mar Esquecia,
Palavras Paralelas Se Encontravam no Infinito, we are confronted with images that are revealed by a “traveler’s” writings (in his notes and journals). The landscape is not visible in images, but rather through textures,
sounds, smells and colors prefabricated by a different quality of line. In Lobato, disappearance is a motto:
in Bronze Revirado6 (2011), we stay alert because of the hypnotic dance of the bell maker (endangered
trade), which combines strength, beauty and fear for being on the brink of an accident, and in Expiração
(2010) selected excerpts of the artist’s audiovisual archive, never shown before, are deleted as well as their
Raquel Versieux
Erosões de luz acontecem aqui entre 1817 e 2817 ao
meio - dia e dez de 21 de novembro a 22 de janeiro , em
Belo Horizonte, 2011
Instalação – Técnica mista
Installation – Mixed techniques
180 x 410 x 160 cm
180 x 410 x 160 cm
5 This comment is from Nas fraturas do mundo, by Marisa Flórido, published on October 24, 2011 in O Globo newspaper.
6 This work records, from the backstage and with an anthropological and poetic accent, the festive sound of bells on a church tower
in São João del Rey. Anonymous gestures, organized as in a tense choreography, concur to create a collective identity.
7 The videos are screened for 24-hour periods up to the last day of the exhibition, after which they will all have been deleted. The
only thing to remain will be their first frame to be kept under a white screen. The work also includes a book available for ditribution.
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recortes curatoriais
GABRIELA MOTTA
A expressão que nomeia este texto (e este recorte curatorial) tenta dar conta do ponto limítrofe existente entre situações antagônicas porém contíguas. Chão e vão, vida e morte, passado e presente, amor
e ódio, belo e feio, arte e não arte são pares antitéticos mas cujo perímetro tangente é simultaneamente
ínfimo e dotado de ampla potência significante. Horizonte de ação de boa parte das experiências modernas, esses limiares configuram o lugar de excelência da arte pois indicam a desarmonia, o risco, “a
rachadura que marca a intrusão do infortúnio na beleza perfeita”1.
A partir das conversas com a equipe curatorial desta exposição, Alejandra Muñoz e Luiza Proença, escolhemos apresentar um recorte que contemplasse os trabalhos que, grosso modo, lidam com as noções de
limite, tensão, radicalismo e temporalidade irreversível. Essas ideias pairam sobre as zonas limítrofes, sejam
elas geográficas ou simbólicas. Assim, as obras de Adriano Costa, Cristiano Lenhardt, Daniel Murgel, Fábio
Magalhães, Gabriela Mureb, Íris Helena, Isabel Ramil, João Castilho, Luiz Roque, Marcos Brias, Maria Laet,
Naia Arruda, Pablo Lobato, Regina Parra, Rodrigo Torres e Rogério Severo encontram-se reunidas sob um
olhar que as enxerga operando nessa seara, com todos os desvios que as obras lhe infligem.
O lugar simbólico evocado em O Fio do Abismo abarca pelo menos três leituras complementares: a ideia
de permeabilidade entre opostos; a noção de vertigem, mudança radical de um estado a outro; e o conceito de mise en abyme. Essas abordagens não são inéditas nem excludentes, mas aparentemente existe
hoje um esgarçamento, uma radicalização das indeterminações formais, conceituais, temporais, iniciadas
na arte moderna, que justificam o reexame dessas perspectivas. Assim, entendo-as como possíveis chaves
para uma reflexão acerca da produção contemporânea das artes visuais, portanto, das obras aqui referidas.
No campo da arte, o desprestígio das categorias binárias de raiz positivista, a desconfiança dos preceitos
filosóficos deterministas, está na origem das proposições plásticas que são até hoje as referências e as
bases da produção contemporânea. As experimentações estéticas perpetradas pelos artistas do início
da primeira metade do século XX problematizaram consideravelmente as diferenças entre arte e não
arte, belo e feio, alta cultura e baixa cultura, evidenciando a permeabilidade e a contaminação mútua
entre tais polos. Experiências como a proposição de uma obra por princípio incompleta (Merzbau, de
Kurt Schwitters, cuja primeira versão é de 1923), objetos ordinários como obra (Fontaine, de Marcel
Duchamp, de 1917), quadro-objeto (colagens cubistas de Picasso de 1913–1914), cultura de massa (Andy
Warhol na década de 1960), animais, vegetais, minerais, sangue, tiros, happenings, landart, tudo já foi
alçado à categoria de arte. Essas proposições sempre estiveram intimamente relacionadas aos contextos
de produção e circulação da arte, evidenciando em mais esta perspectiva a “impureza” como condição
1 LEIRIS, Michel. Espelho da tauromaquia. São Paulo: Cosac Naify, 2002. p. 52.
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recortes curatoriais
Rodrigo Torres
Objeto da série 2 Tempos, 2012
Acrílica sobre objetos e parede
Acrylic on objects and wall
Dimensões variadas
Various sizes
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recortes curatoriais
permanente e universal. A instabilidade fértil que caracteriza o terreno contemporâneo pode ser entendida, em parte, como decorrência dessas experiências autóctones.
Hoje, o reconhecimento de que qualquer coisa, ser vivo, objeto, ação, discurso, pode potencialmente
alcançar o status de arte não precisa mais ser defendido em todas as frentes. As instituições de ensino,
de exibição e circulação de arte, em sua maioria, já assimilaram os novos paradigmas estéticos impostos
definitivamente a partir dos anos 1960. A questão atual parece localizar-se com mais ênfase no “como”
e “por que” determinadas escolhas, certas operações, podem causar infiltrações, desconcertos, desafios
para esse sistema tão hábil em pasteurizar tudo o que se lhe apresenta. E, fundamentalmente, “como”
essa arte pode suspender certezas e produzir faíscas incendiárias internas e externas.
Trabalhos como os de Adriano Costa e Pablo Lobato operam diretamente nessas questões. Adriano, ao
pinçar do submundo artefatos improvisados, objetos de meios sociais excluídos (panos de chão, facas
adaptadas) e lançá-los aos olhos e ambientes especializados renomeando-os (Tapetes e Faqueiro), provoca
um ruído marcante na esfera da arte. A quem pertencem aqueles objetos? Quais usos lhes são dados?
Como são ressignificados por nomes e contextos e arranjos? E também perguntas mais institucionais:
como expô-los sem estetizá-los? Como armazená-los? Pablo, da mesma forma, nos inflige problemas não
só estéticos, como institucionais. A obra Expiração contém em si uma falência, um fim. Como um ser vivo,
a partir do momento que passa a existir, também passa a morrer. No entanto, esse processo físico de esvair-se a sobrecarrega de significados sobre memória, preservação, responsabilidade diante da arte, da vida,
do mundo. A publicação que o artista indica como parte da obra insiste em descolar-se do conjunto. Surge
como relíquia, parte de um todo definitivamente perdido e permanentemente reconquistado.
Ainda lidando com essa problemática da imprecisão, contaminação de opostos e desafios institucionais,
porém de forma aparentemente mais sutil e delicada, temos os trabalhos de Rodrigo Torres e Íris Helena. Rodrigo situa a sua obra num “entre” muito preciso: suas proposições não podem ser classificadas
nem como pintura nem como escultura, nem como instalação nem como objeto. São eminentemente
híbridas. O artista, contraditoriamente, lança mão de um domínio técnico atilado para criar ilusão, para
atuar no terreno da invisibilidade e do desaparecimento. Íris Helena parte de um jogo semântico para
nomear e indicar os paradoxos do seu trabalho. A obra Notas Públicas é composta por um grande
painel de post-its. Sobre estas unidades de papel amarelo está impressa uma única imagem fotográfica de um lugar público qualquer, que não pode ser identificado como Porto Alegre, Belém ou João
Pessoa. Fixados como o objeto de origem, com uma cola ordinária, esse painel tende a desmantelar-se,
a desmanchar-se, a apagar-se como unidade, perdendo partes. O desaparecimento e a dissolução da
imagem e do objeto são consequências de um rigor e um controle absolutos.
A especulação sobre a falha, sobre a fenda, sobre o torto, como condição de toda atividade artística
Adriano Costa
Faqueiro, 2009/2011
Madeira, metal, vidro, fitas adesivas e resina epóxi
Wood, metal, glass, adhesive tapes and epoxy resin
44 x 79 x 95 cm
44 x 79 x 95 cm
é o segundo ponto sobre o qual se acumula esta reflexão. É a partir da noção de “coincidência de
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recortes curatoriais
Íris Helena
Notas Públicas (da série Lembretes), 2010
Foto e instalação – impressão jato de tinta sobre
notas amarelas
Photo and installation – inkjet printing on yellow
sticky notes
200 x 295 cm
200 x 295 cm
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recortes curatoriais
contrários” que Michel Leiris, em 1938, articula todo um pensamento sobre esses pontos carregados
de ambiguidade, de ápices envolvidos em uma latência eminente de derrocada. O autor relaciona à
tourada espanhola, seus rituais e riscos, a sexualidade e a arte. Ele afirma que a ação de todos esses
sujeitos (o amante, o toureiro, o artista) “funda-se sobre a ínfima, mas trágica rachadura por onde se
mostra o que há de inacabado (literalmente: de infinito) em nossa condição”2. O caminho em direção ao
limite, ao ápice; a busca pelo tensionamento máximo de uma situação, de uma experiência – a busca por
essa rachadura – é sempre arriscada porque envolve desejo e frustração, idealização e decepção, meta
precisa e descontrole. É do absurdo (aquilo que é contrário à sensatez e ao bom senso), sua capacidade
de inebriar, de chocar, de revoltar, que se quer falar.
Algumas obras desta exposição parecem situar-se nessa labilidade, nessa alternância de estados de “espírito”, em busca do ponto tangente entre as emoções. Gabriela Mureb, Isabel Ramil, Cristiano Lenhardt
e Naia Arruda partem do uso do vídeo e do seu próprio corpo (ou de um corpo que lhe significa, no
caso do Cristiano) para conformar seus trabalhos. Cada uma a seu modo, essas obras abordam, por um
lado, a performance na atualidade, inutilidades e pertinências do sujeito-imagem presente na obra; por
outro, a violência física e psicológica, o deslocamento social e a solidão, a ironia e a franqueza.
Gabriela Mureb, em seus vídeos, empreende ações que tangenciam seus limites físicos. Se por um lado,
essas ações podem ser vistas como um enfrentamento histórico da artista com tudo o que já foi feito no
campo da performance, as noções de violência e inutilidade também estão atualizadas nas imagens, que
não cessam de se repetir. O corpo que coordena a cena é o mesmo que a vivencia, num jogo despropositado de submissão e controle absolutos, em que a cumplicidade é condição fundamental. O ápice
esperado não chega a realizar-se. Isso significaria o fim de algo que se quer imediatamente anterior a
esse momento. Isabel Ramil também lança mão do seu corpo, tensiona limites e símbolos em Días Felices e Coca-Cola Êra Êra. No primeiro vídeo, a artista ensaca a sua cabeça, procedimento contrário ao
da personagem da peça de Beckett (referida no título da obra) que passa o tempo todo enterrada até
Isabel Ramil
Días Felices, 2011
Vídeo digital
Digital video
Duração 7’ 36’’
Running time 7’ 36’’
o pescoço. O que se vê é um jogo de imagens acompanhadas pelo texto da peça em espanhol, instaurando em vídeo o absurdo beckettiano. Já em Coca-Cola Isabel manipula som e imagem na construção
de uma cena hilária e cruel. Entre clichês gauchescos e femininos, o trabalho, de forma irônica, fala da
violência e da misoginia que criam os estereótipos dos quais a artista se serve.
Miss Zebra, de Naia, se apresenta em um registro menos decodificável, no entanto prenhe de sensações
antagônicas. O vídeo é composto por 15 esquetes em que a artista protagoniza cenas vestida com um
pijama zebrado. O absurdo dessas imagens é regado de humor, sarcasmo e perspicácia visual. Não há
encadeamento lógico nem narrativa presumida, sempre uma sucessão de inesperadas situações que
2 Id. Ibidem. p. 57.
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recortes curatoriais
se acumulam como gritos afônicos diante do descompasso de um sujeito com o seu contexto. Ainda
operando nessa imprecisa zona de “curtos-circuitos”, Cristiano Lenhardt cria uma neblina de histórias.
Polvorosa faz parte de um projeto chamado Entredécada. Duas frágeis estruturas de madeira e papel
vegetal servem de suporte para projeções de imagens. Nesses vídeos, personagens estranhos protagonizam fusões entre sujeito e contexto. De repente, a partir do contato entre as figuras, seus corpos contaminam-se por chuviscos, aquela quase esquecida imagem de dissintonia de um televisor. A palavra
polvorosa significa agitação, tumulto, mas também contém em sua prosódia ares de poeira, tempestade
de areia, algo que eclipsa em sua espessura uma possível nitidez, sensações que aderem ao trabalho.
O limite, a tangência entre emoções e/ou situações antagônicas como horizonte de ação da produção
atual de artes visuais também aparece em um sentido mais objetivo, o que não significa menos potente
ou desestabilizador. A ênfase na materialidade de determinadas fronteiras físicas ou simbólicas por vezes
acentua a arbitrariedade de sua existência e o conformismo com o qual são aceitas. Daniel Murgel, em
sua instalação (In)cômodo, apresentada na exposição geral do Rumos, joga com a gramática e com a
lógica dos espaços arquitetônicos. Ao partir do que poderia ser a área de uma quitinete, o artista propõe
questões sobre a relação entre sujeito e espaço, sobre habitar um lugar e ser contaminado por ele. Casa e
cárcere confundem-se em uma operação que deixa exposta a pele da arquitetura e resguarda o processo
de esvaecimento de uma vida. Já a fronteira da qual surgem e sobre a qual versam as obras de Regina
Parra é exatamente aquela que significa limite geográfico entre territórios políticos. As imagens do vídeo
Sobre La Marcha e da série de pinturas Eldorado revelam imigrantes clandestinos atravessando fronteiras.
A baixa nitidez das imagens do vídeo, em função da “clandestinidade” também desses equipamentos,
aliada ao texto de Blanchot3 e a técnica de pintura utilizada pela artista reforçam a fragilidade e a tensão
que pairam sobre esses limiares de exclusão e poder. Ao mesmo tempo, o jogo entre imagens, texto e
textura apresenta aquelas pessoas como sujeitos prenhes de vontade, força e pulsão vital.
Já Rogério Severo aborda as questões de tensão e limite em uma perspectiva prioritariamente formal.
Equilíbrio e risco sustentam no ar as instalações do artista. Não há projeto que guie essas formas, elas
surgem do improviso e da atenção devotada aos objetos e aos espaços que as abrigam. Utilizando
uma série de objetos ordinários – fios, lâminas, serras, pesos –, Severo desenha no espaço um volume
complexo e orgânico que reordena o uso desses elementos fazendo com que todos tenham a mesma
importância, pois estão articulados para o mesmo fim. Há uma circularidade no trabalho que movimenta
o olho e o corpo de quem o vê e que coloca este sujeito diante de uma obra que é pura apresentação,
não requisitando decodificações e sim disponibilidade para uma experiência sensorial. Esse partido autorreferente sugerido nesta obra indica o próximo ponto sobre o qual se organiza este recorte curatorial.
3 O texto que aparece no vídeo é extraído do livro A conversa infinita (São Paulo: Escuta, 2001), do escritor e crítico literário
Maurice Blanchot. Esse trecho fala, grosso modo, sobre o que busca do ser humano, da capacidade fundamental de mover-se em
direção a essa busca, mesmo que não saiba precisamente o que quer encontrar.
Cristiano Lenhardt
Polvorosa (Projeto Entredécada), 2012
(Entredécada Project), 2012
Videoinstalação
Video installation
Dimensões variadas, 3’, loop
Various sizes, 3’, loop
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recortes curatoriais
Daniel Murgel
Ilustração para Instalação (In)cômodo, 2011
Aquarela e caneta sobre papel
Watercolor and pen on paper
40 x 30 cm
40 x 30 cm
Daniel Murgel
(In)cômodo, 2011
Instalação
Installation
Dimensões variadas
Various sizes
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recortes curatoriais
Rogério Severo
Fundear, 2012
Instalação
Installation
Dimensões variadas
Various sizes
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recortes curatoriais
O terceiro vértice deste texto é oriundo da literatura, mas caro a toda criação artística. A expressão mise
en abyme refere-se a obras autorreferentes, que contêm em si o tema mesmo da obra. Na literatura, essa
característica pode expressar-se de três formas: ora de modo vertiginoso, um fragmento, dentro de outro
fragmento, dentro de outro, infinitamente; ora paradoxalmente, quando é indecifrável o que é fragmento e
o que é obra; ora pela presença de apenas um fragmento que estabelece uma relação de similitude com a
obra que o inclui. Tal conceito é correlato à metalinguagem, partido autorreflexivo assumido como discurso
e prática irrevogáveis nas artes visuais. A capacidade reflexiva da arte confunde-se com um dever a partir
da sua autonomia, na medida em que não há possibilidade para a arte não ser também sobre arte.
Maria Laet, Luiz Roque, João Castilho, Marcos Brias e Fábio Magalhães, de modos absolutamente
diversos, enfatizam essa autorreflexividade em suas obras. Fábio lança mão de um dos mais tradicionais
suportes e técnicas, óleo sobre tela, para engendrar uma experiência sensorial em que técnica e poética
são complementares. É impossível não se surpreender com a qualidade da pintura, é impossível não
reagir com o coração. O olho pulsa diante desse avesso do eu: vísceras, carnes expostas, conduzem a
paradoxos sensoriais em que razão e emoção alternam-se enquanto focos da percepção. O artista apresenta a pintura como possibilidade contemporânea enfrentando os tabus da representação e do rigor
sem desvios. Já nos trabalhos de Marcos Brias é a própria experiência do artista, suas percepções sobre
arte, cultura e sua trajetória que vêm à tona. Melancolia, solidão, isolamento e o imaginário do western
norte-americano formam os vértices de objetos rigorosos e plenos de potência interpretativa. Enquanto
All the Pretty Horses alude ironicamente a clichês e gêneros cinematográficos, Elegy to My Son indica a
linguagem, entre verbal e visual, como problema central. Os enigmas visuais são reforçados pela opção
de um inglês nada básico como legenda e matéria das obras.
Maria Laet parece buscar um avesso de imagem a partir de um aparato de produção de imagem. Após
realizar uma fotografia com uma câmera polaroide, a artista separa as películas que formam o positivo.
Desse procedimento surgem desenhos, manchas, que variam de acordo com a delicadeza ou aspereza
do seu gesto. Essas marcas nascem da destruição da imagem original, porém sugerem espaços que só
se revelam por essa separação. A escala ampliada das imagens e a verticalidade das mesmas reforça a
relação que elas estabelecem com o corpo: são como espelhos cegos em que já não se veem reflexos,
mas os seus interiores. Ainda assumindo a imagem como problema central (e meio), Luiz Roque coloca
o espectador entre duas imagens análogas, como se, em vez de olhar a paisagem, fosse ela que nos
observasse e sufocasse. Rodado com uma câmera que alcança 2500 frames por segundo (o usual são 24
frames por segundo), Projeção 0 e 1 versa sobre o estatuto da imagem e sobre o poder de acreditarmos
Marcos Brias
nela mesmo quando ela se revela um constructo. “A verdade é o seu dom de iludir”4 e, diante do deleite
Elegy to My Son (Or What You Will), 2011
que ela nos proporciona, só nos resta fingir que acreditamos para retardar o real.
Serigrafia sobre lixa
Screen-printing on sandpaper
100 x 70 cm
100 x 70 cm
4 Caetano Veloso. “Dom de Iludir” (1988), no álbum Live in Bahia, 2002.
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recortes curatoriais
Fábio Magalhães
sem título
(Série Retratos Íntimos), 2010
Óleo sobre tela
Oil on canvas
135 x 135 cm
135 x 135 cm
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recortes curatoriais
Luiz Roque
Projeção 0 e 1, 2012
Videoinstalação
Video installation
Dimensões variadas
Various sizes
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recortes curatoriais
Se o deleite e o prazer em Luiz Roque e o vazio e a ausência em Maria Laet são os partidos assumidos
em suas obras a partir do tensionamento de técnicas e conceitos, em João Castilho é o esgar diante da
falência do homem que sobrevém. Poucas vezes, como diante de Morte Súbita, somos surpreendidos
pelo uso tão contundente de imagens obtidas na internet, recurso frequente na arte contemporânea.
Castilho orquestra essas imagens num jogo entre o pictórico e o discursivo e diante do qual não saímos
ilesos. São 3 minutos e alguns segundos que duram uma eternidade. O que se vê são imagens turvas
e distorcidas que antecipam a indesejada sincronia da violência, a inevitável sincronia da morte. O que
choca é o espelhamento que a obra é capaz de refletir, da avidez pelo trágico em nossa sociedade.
Arte como espelho do mundo, do artista, de si mesma, todas essas possibilidades juntas, ou separadas, se fazem parte de toda obra interessante, também aparecem como acento específico em uma
parcela da produção contemporânea. A contaminação entre opostos, o limiar que os diferencia para
em seguida confundirem-se novamente, o abismo da descrença que faz o sujeito ver-se como parte
equivalente às demais, e não superior, são os vértices que surgem do conjunto de obras aqui referidas. De forma irônica e não direta, de forma sarcástica e não debochada, de modo agressivo e não
violento, parece-me que em todas as obras referidas neste recorte é a vertigem que se busca atingir,
sem ingenuidades totalizantes. Não o novo, não o inédito, não o único, não o primeiro, não o “mais”;
nenhuma dessas “conquistas” que inebriaram a primeira metade do século passado faz sentido hoje.
Mas a latência do presente, a sua redundância sempre radicalizada em armas mais potentes, em
novos muros, em outras potências econômicas; e principalmente na permanente possibilidade de
reorganizar esse presente a partir da criação artística.
Gabriela Motta (Pelotas, RS, 1975) é curadora, crítica e pesquisadora em artes visuais. Possui mestrado em
artes visuais pela UFRGS. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em artes visuais na USP.
João Castilho
Morte Súbita, 2012
Videoinstalação com nove canais, em loop
Video installation with nine channels, in loop
3’42’’
3’42’’
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recortes
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gabriela motta
objects (Picassos’s 1913-1914 cubist collages), mass culture (Andy Warhol in the 1960s), animals, vegetables, minerals, blood, shots, happenings, landart – all have been elevated to the category of art. These
The Edge of the Abyss
propositions have always been closely linked to the contexts of art output and circulation, once more
highlighting “impurity” as a permanent and universal condition. The fertile instability that characterizes
The title of this text (and this curatorial scope) is an attempt to account for the borderline between
the contemporary setting may be understood, in part, as a result of these autochthonous experiences.
antagonistic, but contiguous, situations. Ground and gap, life and death, past and present, love and hate,
beautiful and ugly, art and non-art are antithetic pairs whose tangent boundaries are at the same time
Today, it is no longer necessary to champion on all fronts the idea that anything – living beings, objects,
minute and endowed with ample significant power. The action horizon of a good part of modern experi-
actions, discourse – can potentially be recognized as having attained the status of art. Most art teaching,
ences, the thresholds which configure the locus par excellence of art because they indicate disharmony,
exhibiting and circulating institutions have already assimilated the new aesthetic paradigms definitively
risk, “the fracture that signals the intrusion of misfortune into perfect beauty.”1
imposed as from the 1960s. The current issue seems rather centered on “how” and “why” certain choices
and operations can give rise to infiltrations, disconcert and challenges to this system that is so good at
Following conversations with the curatorial team of this exhibition – Alejandra Muñoz and Luiza Pro-
pasteurizing all it is presented with. Basically, “how” this art can suspend certainties and produce internal
ença –, we chose a scope that would include works which deal, broadly speaking, with the notions of
and external incendiary sparks.
limit, tension, radicalism and irreversible temporality. These ideas hover in bordering zones, whether
geographical or symbolic. Hence, works presented by Adriano Costa, Cristiano Lenhardt, Daniel
Works such as Adriano Costa’s and Pablo Lobato’s operate directly on these issues. By picking im-
Murgel, Fábio Magalhães, Gabriela Mureb, Íris Helena, Isabel Ramil, João Castilho, Luiz Roque,
provised artifacts from the underworld, objects from excluded social strata (mops, adapted knives),
Marcos Brias, Maria Laet, Naia Arruda, Pablo Lobato, Regina Parra, Rodrigo Torres and Rogério
renaming and offering these to our eyes in specialized settings (Tapetes and Faqueiro dos Caras),
Severo are put together with the eye that sees them operating in this area, with all the deviations
Costa generates a striking noise in the art sphere. Whom do those objects belong to? What uses
their works impose upon it.
are they given? How are they resignified by names and contexts and arrangements? As well as more
institutional questions such as: How to showcase them without æstheticizing them? How to store
The symbolic place evoked in The Edge of the Abyss encompasses at least three complementary
them? Likewise, Lobato raises not only aesthetic, but also institutional issues. The work Expiração
readings: the idea of permeability between opposites; the notion of vertigo, radical leap from one
contains a failure, an end. Like a living being, from the very moment it starts to live, it also starts to
state to another; and the concept of mise en abyme. These approaches are neither new nor mutually
die. Nevertheless, this physical process of fading away overloads it with meanings relative to mem-
exclusive, but today’s formal, conceptual and temporal indeterminations started in modern art seem
ory, preservation, responsibility toward art, life and the world. The publication the artist refers to as
to be fraying, radicalizing, which justifies reviewing these perspectives. Thus, these are understood
part of his work insists on detaching itself from the rest. It appears as a relic, as part of a definitively
to be possible keys to reflect on the contemporary output of visual arts; and therefore, on the works
lost and continuously reconquered whole.
referred to here.
Also addressing these issues of imprecision, contamination of opposites and institutional challenges, but
In the field of art, the discredit of binary categories rooted in positivism and the mistrust in deterministic
in an apparently more subtle and delicate way, we have Rodrigo Torres’ and Íris Helena’s works. Torres
philosophical precepts are the origin of plastic propositions that are still the references and the founda-
situates his work in a very precise “in between”: his propositions cannot be classified either as paintings
tions of contemporary works. The aesthetic experiments artists carried out in the early 20th century
or sculptures, nor as installations or objects. They are eminently hybrid. In a contradictory way, the artist
considerably questioned the differences between art and non-art, beautiful and ugly, high and low cul-
resorts to witty technical mastery to create illusion, to work in the realm of invisibility and disappearance.
ture, thus highlighting mutual permeability and mutual contamination of such poles. Experiences such as
Using a semantic game as her starting point, Íris Helena names and indicates paradoxes in her work.
proposing works that are incomplete as a matter of principle (Merzbau, by Kurt Schwitters, whose first
Notas Públicas is made of a big panel of post-it notes. Those yellow paper units bear only a single pho-
version dates back to 1923), ordinary objects as works (Fontaine, by Marcel Duchamp, 1917), painting-
tographic image of a nondescript public place, which cannot be identified as any of the cities of Porto
Alegre, Belém or João Pessoa. Affixed as the object of origin with ordinary glue, this panel tends to
dismantle, to come apart, to fade out as a unit, losing its parts. The disappearance and dissolution of the
1 LEIRIS, Michel. Espelho da tauromaquia. São Paulo: Cosac Naify, 2002. p. 52.
image and the object result from absolute rigor and control.
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The speculation about the failure, about the gap, about the crooked as a condition for all artistic
Naia’s Miss Zebra is presented in a less decodable format but pregnant with contradictory sensations.
activity is the second point for consideration. It is from the notion of “coincidence of contraries” that
The video is made up of 15 sketches in which the artist acts out scenes dressed in zebra pajamas. The
Michel Leiris, in 1938, expresses his thoughts on these points that are loaded with ambiguity, with api-
absurdity of these images is full of humor, sarcasm and visual wit. There is neither a logical sequence
ces involved in a looming collapse. The artist associates sexuality and art with the Spanish bullfight, its
nor a supposed narrative, but rather a succession of unexpected situations that accumulate like voice-
rituals and risks. He states that all these subjects’ (the lover, the matador, the artist) actions “are based
less screams in face of the discrepancy between a subject and his/her environment. Also operating in
on the tragic, albeit minute, fissure through which the incompleteness (literally: infinitude) of our con-
this fuzzy, “short-circuit” zone, Cristiano Lenhardt creates a haze of stories. Polvorosa is part of a project
dition is shown.”2 The path toward the limit, the apex, the search for maximum tension in a situation,
called Entredécada. Two fragile wood-and-vellum-paper frameworks are used as props for image pro-
an experience – the search for this fissure – is always risky because it involves desire and frustration,
jections. In these videos, weird characters play out the fusions between subject and context. Suddenly,
idealization and disappointment, a precise target and lack of control. It is about the absurd (that which
as the figures touch each other, their bodies are contaminated by static, that almost forgotten image of
is contrary to reason and common sense), about its ability to inebriate, shock, and elicit rebellion that
an out-of-tune TV set. The word polvorosa means agitation, commotion, but its sound in Portuguese
these artists wish to talk about.
evokes the idea of dust (poeira), sand storms, something whose thickness obscures a possible clarity,
sensations that adhere to this work.
A couple of works in this exhibition seem to fit in this labile position, in these alternating states of
“spirit” in search of the tangency point between emotions. Gabriela Mureb, Isabel Ramil, Cristiano
The limit, the tangency between antagonistic emotions and/or situations as the horizon for today’s
Lenhardt and Naia Arruda resort to the use of video and of their own bodies (or a body which signifies
visual art production also appears in a more objective, but no less powerful or destabilizing, sense.
their own, as in Cristiano’s case) to give shape to their works. In their own way, each one of these works
Emphasis on the materiality of certain physical or symbolic boundaries sometimes stresses its arbi-
deals with, on the one hand, performance today, useless and relevant aspects of the image-subject in
trary character and the conformism with which these boundaries are accepted. In his (In)cômodo
the work and, on the other hand, physical and psychological violence, social displacement and loneli-
installation, displayed in the general Rumos exhibition, Daniel Murgel plays with grammar and the
ness, irony and candidness.
logic of architectural spaces. Based on what could be the area of a studio apartment, the artist raises
questions about the relations between subject and space, about living in a place and being contami-
In her videos, Gabriela Mureb performs actions touching her physical limits. While these actions can
nated by it. House and prison are confounded in an operation that exposes the skin of the architec-
be regarded as a historic confrontation between the artist and all that has been previously done in
ture and protects the fading out of a life. The boundary from where Regina Parra’s works emerge and
the field of performance, the notions of violence and uselessness are refreshed in the unceasingly
which they address, on their turn, is exactly the one meaning a geographical limit between political
repeated images. The body coordinating the scene is the same one that experiences it in a senseless
territories. In the Sobre La Marcha video and the Eldorado series of paintings, the images show clan-
game of absolute submission and control in which complicity is a key condition. The expected apex
destine immigrants crossing borders. The low definition of the video images, a consequence of the
does not happen. This would mean the end of something that is supposed to exist immediately prior
equipment’s “clandestinity” as well, together with Blanchot’s3 text and the painting technique chosen
to this moment. Isabel Ramil also makes use of her body, stretches limits and symbols in Días Felices
by the artist stress the fragility and the tension hovering over these fringes of exclusion and power.
and Coca-Cola Êra Êra. In the first video, the artist puts her own head in a bag, which is the opposite
Concurrently, the interplay of images, text and texture depict those people as subjects pregnant with
of what Beckett’s character does in the play (referenced in the title of the work), who remains buried
willpower, strength and a life force.
up to her neck the whole time. What is seen is a combination of images with the text of the play in
Spanish, thus introducing the Beckettian absurd to the video format. In Coca-Cola, Isabel manipulates
Rogério Severo, in turn, tackles issues of tension and boundary from a preeminently formal perspective.
sound and image to build a hilarious and cruel scene. Among “gaúcho” (from the state of Rio Grande
Balance and risk hold the artist’s installations in the air. There is no design guiding these shapes, they are
do Sul) and feminine clichés, this work ironically refers to violence and misogyny that create the ste-
born from improvisation and from the attention devoted to objects and spaces that shelter them. Using
reotypes employed by the artist.
a series of ordinary objects – wire, blades, saws, weights – Severo draws a complex and organic volume
2 Id. Ibidem. p. 57.
3 The text included in the video was taken from A conversa infinita (São Paulo: Escuta, 2001), the Portuguese version of The
Infinite Conversation by writer and literary critic Maurice Blanchot. By and large, this passage is about what is sought of the human
being, of the primary ability to move toward that search even though one does not know exactly what he wants to find.
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in the space that rearranges the use of these elements, thus ascribing all of them the same importance,
as they are directed to the same end. There is a circularity to this work that makes the viewers’ eyes and
bodies move and places the subject before a work that is pure presentation, not requiring decodification,
but availability to a sensory experience, instead. The self-referential choice suggested in this work points
to the next topic about which this curatorial scope is organized.
The third vertex in this text comes from literature, but is dear to all artistic creation. The expression mise
en abyme refers to self-referential works, which embed the very theme of the work. In literature, this feature can be expressed in three different ways: either vertiginously, a fragment inside another fragment,
inside another one indefinitely; or paradoxically, when fragment and work are indiscernible; or through
the presence of only one fragment that establishes a similitude relation with the work that encloses it.
Such a concept correlates with metalanguage, self-reflexive choice assumed as irrevocable discourse
and practice in visual arts. Art reflexive capacity mixes up with a duty based on its autonomy for it is
impossible for art not to be about art as well.
In absolutely diverse ways, Maria Laet, Luiz Roque, João Castilho, Marcos Brias and Fábio Magalhães
emphasize this self-reflexiveness in their works. Magalhães utilizes the most traditional support and technique, oil on canvas, to generate a sensory experience in which technique and the poetic complement
each other. It is impossible not to be amazed at the quality of his painting, it is impossible not to respond
whole-heartedly. The eyes pulse as they face this reverse of the self: entrails, exposed flesh, lead to
sensory paradoxes in which reason and emotion alternate as perception focuses. The artist presents
the painting as a contemporary possibility confronting the taboos of representation and the unrelenting
rigor. In Marcos Brias’ works, in turn, what surfaces is the artist’s experience itself, his perceptions about
art and culture, as well as his career. Melancholy, loneliness, isolation and the North American western
imagery are the vertices of objects that are rigorous and rich in interpretative power. While All the Pretty
Horses ironically alludes to cinematographic clichés and genres, Elegy to My Son brings language, between verbal and visual, as its core issue. The visual enigmas are strengthened by the use of a far-fromsimple English in the subtitles and as material for the works.
Maria Laet seems to be looking for the reverse of an image by using an image generating equipment.
After taking a photograph with a Polaroid camera, the artist separates the films that make up the positive. This procedure eventually produces drawings and stain-formed shapes, that vary depending on
how gently or roughly she does it. These marks arise from the destruction of the original image; noneIsabel Ramil
theless they suggest spaces that are only revealed by such separation. The larger scale and verticality
Coca-Cola, êra êra, 2011
of the images enhance the relation they establish with the body: these images are like blind mirrors
Vídeo digital
Digital video
Duração 2’ 33’’
Running time 2’ 33’’
in which one no longer sees reflections, but rather the inside of them. Likewise, Luiz Roque treats the
image as his core issue (and medium) by placing viewers between two analogous images, as if the
viewers were being observed and suffocated by the landscape itself instead of looking at it. Shot with
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a camera that films up to 2500 frames per second (the normal speed being 24 frames per second),
Projeção 0 e 1 is about the status of image and about believing in it even when it is a construct. “Truth
is the gift of deception”4 and, considering all the bliss it brings, all that is left is for us to pretend we
believe in order to postpone reality.
If the bliss and pleasure in Luiz Roque’s works and the emptiness and absence in Maria Laet’s are
their chosen approaches based on tensioning techniques and concepts, what surfaces in João Castilho’s work is the grimace in view of man’s failure. Seldom have we been taken aback by such a
powerful use of internet images – a resource frequently used in contemporary art – as shown in
Morte Súbita. Castilho orchestrates these images based on the interplay between the pictorial and
discursive, from which we do not escape untouched. These are 3 minutes and a few seconds that
last forever. The viewer sees blurred and distorted images that anticipate the unwanted synchronism
of violence, the inevitable synchronism of death. What is shocking is how this work can reflect our
society’s thirst for the tragic.
Art as a mirror of the world, of the artist, of itself: while all these possibilities, together or individually,
are an integral element of every interesting work, they also appear as a specific feature in part of the
contemporary artworks. Contamination between opposites, the threshold that differentiates them
and lets them mingle once again, the abyss of disbelief that makes subjects see themselves as parts
equal to all others, and not superior to them, are the vertices that arise out of the group of works mentioned here. In an ironic and indirect way, in a sarcastic and not-scornful way, in an aggressive and nonviolent way, it seems to me that all the works included here tend towards vertigo, without absolute
naiveté. Not the new, not the unprecedented, not the unique, not the first, not the “most” – none of
these “achievements” that inebriated the first half of the last century makes any sense today. Instead,
the latency of the present, its redundancy always radicalized in more powerful weapons, in new walls,
in other economic powers; and particularly in the everlasting possibility of reorganizing the present
with artistic creations are what counts.
Pablo Lobato
Expiração 05, 2012
Instalação – vídeos, TVs LCD, máquinas Expiração e publicação
Installation – LCD TVs, videos, Expiration and publication machines
Dimensões variadas
Various sizes
Gabriela Motta (Pelotas, Rio Grande do Sul, 1975) Curator, critic and researcher in visual arts. She holds
an MA in visual arts from Universidade Federal do Rio Grande do Sul [Federal University of Rio Grande do Sul]
(UFRGS). She is currently working on her PhD research in visual arts at Universidade de São Paulo [University of
São Paulo] (USP).
4 Caetano Veloso. “Dom de Iludir” (1988), in Live in Bahia album, 2002.
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PAULO MIYADA
Até que ponto a intuição é preponderante na definição de caminhos a serem trilhados no campo vasto e
de limites incertos da arte contemporânea? Enunciar essa pergunta é algo penoso, em razão do descrédito
geral acerca do intuitivo e de outros procedimentos que ocupam lugares análogos no discurso artístico e
com os quais é usualmente confundido. Intuição, inconsciente, subjetividade, pressentimento, misticismo, irracionalidade e instinto, entendidos de forma indiscriminada, parecem hoje fadados a ser lidos como imprecisões ou, pior, como subterfúgios para a parcialidade e o gosto. Creio haver pouco interesse em reencenar
a polarização em que razão e intuição apresentam-se como opostos separados e rivais, até mesmo porque
hoje entendemos que ambos não se podem excluir e trabalham sempre articulados. O que antes interessa
é distinguir a intuição de sua acepção mais prosaica e assim identificar consequências da parcela intuitiva do
pensamento artístico na produção recente destacada pelo programa Rumos Artes Visuais 2011-2013.
Por absurdo, é possível aceitar que se escamoteie em definitivo o pensamento intuitivo; teríamos a
sobrevalorização do método, do cálculo, da lógica e do pensamento analítico. Seria possível então hierarquizar produções contemporâneas de acordo com sua coerência interna e com a linearidade de seu
argumento. Ou então reorganizar a história da arte recente enfatizando seus momentos de transparência e clareza. Por sorte, apareceria, nos casos mesmos de maior clareza metodológica, uma forte
contradição. Pois justamente aqueles que seriam tomados como protagonistas da objetividade como
eixo do pensamento artístico deixaram explícita sua defesa de algo que se contrapõe à racionalidade.
Para tanto, podemos lembrar de Marcel Duchamp, cujos ready-mades impactaram o circuito da arte norteamericana na década de 1950 (40 anos após sua realização), como epítome do enfrentamento do bom gosto
e das leituras simbólicas como balizas para a validação de obras de arte. Com uma “fonte” que é pouco mais
que um simples urinol de porcelana branca rotacionado, assinado e transladado a um salão de arte, Duchamp
havia deixado claro que não pretendia contar com o apoio do deleite visual, mas antes situar sua obra em um
lugar mental, estruturado em torno de deslocamentos semânticos e do acúmulo intelectual de pontos de
vista. Ainda assim, quando tentou generalizar as premissas do fazer artístico, em O Ato Criador (1957)1, Duchamp saiu em defesa do inconsciente e do intuitivo como gestores inalienáveis de suas cadeias de escolhas
e decisões. Para ele, toda intenção do artista enfrenta uma distância imensurável que a afasta do que pode
alcançar efetivamente pelo seu trabalho. Com esse argumento, Duchamp assumiu uma posição: era necessário reconhecer a ação do público como instância constituinte do ato criador, instância esta que atua no vazio
deixado pela incongruência entre o que o artista de fato fez e o que ele pretendia fazer. De passagem, relegava
também as decisões artísticas a um lugar aparentemente desconfortável, o “domínio da pura intuição”.
1 DUCHAMP, Marcel. “O Ato Criador”, 1957. In: BATTCOCK, Gregory. A Nova Arte. Coleção Debates, São Paulo: Perspectiva, 2008.
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recortes curatoriais
Seguimos então Sol Lewitt, artista sintético do minimalismo norte-americano – conjunto de iniciativas que
recuperam e extrapolam o legado dos ready-mades de Duchamp e suas discussões em torno do que chamava de perspectiva intelectual. Lewitt consolidou uma extensa série de trabalhos baseados na formulação
rigorosa de projetos claros e coesos que consistem, por sua vez, em séries de aspecto matemático, afim a
procedimentos de análise combinatória. Sua metodologia garantia que elaboração mental e desenvolvimento material poderiam ocupar momentos diferenciados do processo criativo, distantes e passíveis de
ser, até mesmo, separados em uma relação de trabalho. Assim, tanto por analogia quanto como práxis, a
pesquisa de Lewitt aproxima-se do raciocínio tecnocientífico da modernidade que permite a construção
de grandes pontes, sistemas de transporte intermodais e fluxo de informações quase instantâneos.
Ainda assim, quando instado a pensar nas constantes de sua arte, Lewitt elabora uma série de sentenças
que, de forma surpreendente, começam por afastar a hipótese de um pensamento artístico essencialmente racional: “1. Os artistas conceituais são místicos ao invés de racionalistas. Eles chegam a conclusões que a lógica não pode alcançar. / 2. Julgamentos racionais repetem julgamentos racionais. / 3.
Julgamentos ilógicos levam a novas experiências. / [...] 5. Pensamentos irracionais devem ser seguidos
de maneira absoluta e lógica”2.
Nesse pequeno conjunto de sentenças, sugerem-se equivalências e contrastes: de um lado, misticismo e
julgamentos ilógicos; do outro, sequência lógica e racionalismo. Apesar de soar dicotômico, seu argumento
encontra forças na inversão da polaridade entre pensamento lógico e desenvolvimento material. Explico:
as realizações da engenharia pressupõem um princípio claro, racional e comprovável no campo do cálculo,
ao que se segue uma realização material que procura ater-se ao planejamento abstrato, mas invariavelmente acumula certo erro ou desvio anteriormente previsto em um coeficiente de “margem de erro”; por
outro lado, no método de Lewitt, o fundamento é assumido como algo ilógico e obscuro, mas que não
obstante deve ser desenvolvido de forma sistemática e econômica, acumulando o mínimo desvio possível.
Para entender como a intuição pode emergir no seio mesmo da razão, seria pertinente pensarmos no
exemplo do homem cujo nome se confunde com a própria história do idealismo: René Descartes. Responsável pela elaboração de um método que liberaria o homem de todo compromisso com argumentos
dogmáticos e ideias recebidas, Descartes procurou lidar com todos os aspectos da realidade como problemas passíveis de interpretação racional e conversão em uma relação de proporções e medidas, o que
implicaria a máxima abrangência dos princípios da geometria e, por consequência, da álgebra, na qual
os dilemas são passíveis de cálculo e resolução. O que é curioso, e é Paul Valéry quem chama atenção
Maria Laet
para o episódio, é que justo no momento em que Descartes vislumbrou os princípios de seu método e
sem título
a revolução que poderiam provocar em todo o pensamento humano, o pensador imergiu num longo
2 VALÉRY, Paul. O pensamento vivo de Descartes. São Paulo: Martins, 1955.
(série Polaroids), 2009
Impressão em pigmento sobre
papel algodão
Pigment printing on cotton paper
111 x 147 cm
111 x 147 cm
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delírio. Após um período de profunda excitação em torno da reflexão do que chamava “ciência admirável”, deitou-se e sucumbiu a três sonhos repletos de visões que atribui a um Gênio (um Daimon) criado
dentro dele e que em nada correspondia ao seu próprio espírito. Ao acordar, rezou à Virgem Maria, fazendo um voto de que iniciaria uma peregrinação para dar conta da descoberta que então se iluminava
sobre ele mas que ainda não tinha forma.
Ora, tais informações advêm dos escritos do próprio Descartes, que não sublinha nenhuma contradição
entre os movimentos de amadurecimento racional e de iluminação metafísica. Não é à toa que o precursor da psicologia da arte, Rudolf Arnheim, encontra em Descartes uma das mais instigantes definições
do que seja a intuição: “Por intuição não entendo o testemunho instável dos sentidos, nem o julgamento
enganoso oriundo das elaborações inexatas da imaginação, mas a concepção que uma mente lúcida e
atenta nos dá, tão pronta e distintamente que não nos fica qualquer dúvida a respeito daquilo que compreendemos”, escreveu o pensador no século XVII e polarizou tal faculdade à noção de dedução, por
sua vez definida como a capacidade de identificar as relações de inferência entre os fatos conhecidos e
tomados como certos3.
Daí Arnheim elabora um entendimento da intuição como entendimento instantâneo de um todo, que
por sua simultaneidade é mais simples, menos detalhada que a dedução, mas também mais precisa
que esta. Gostaria de emprestar essa noção de intuição para a discussão da produção recente de arte
contemporânea reunida na presente edição do projeto Rumos Artes Visuais. É certo que, como acabou
de ser demonstrado, o pensamento intuitivo pode ser um dado de todo processo criativo, tanto na arte
como em outros campos de conhecimento; ainda assim, parece pertinente refletir sobre sua presença
em trajetórias que ainda percorrem seus primeiros anos de elaboração, testando hipóteses, desenvolvendo técnicas e partindo de lugares mais ou menos arbitrários. Pois é certo que não existe hoje no
campo da arte contemporânea uma doutrina comum que preestabeleça uma hierarquia entre tal e qual
ponto de partida. Política, memória, saber técnico, improviso, rigor, violência e delicadeza são motes tão
bons quanto quaisquer outros, ou pelo menos esta foi a impressão que guardei durante os processos de
viagem, seleção e acompanhamento que constituíram o primeiro ano de trabalho da equipe curatorial.
Conversando com os artistas, sempre uma curiosidade permaneceu como uma agulha no fundo da
atenção: o que fez com que essa pessoa escolhesse essas, entre tantas referências possíveis, como contexto de seus primeiros trabalhos? Quais as expectativas e quais as filiações desejadas nessas escolhas
ainda não justificadas por todo um corpo de trabalhos resultante de uma vida?
Virgilio Neto
sem título, 2011
Grafite, aquarela, guache e lápis
de cor sobre papel
Lead, watercolor, gouache and
color pencil on paper
74 x 100 cm
74 x 100 cm
Em alguns casos, é possível apontar um lugar preponderante da intuição; em outros, um papel mais discreto lhe é reservado, mas nem por isso menos decisivo. O recorte de que parte este texto e também uma
3 ARNHEIM, Rudolf. Intuição e intelecto na arte. Tradução: Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 15.
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recortes curatoriais
das exposições itinerantes do programa Rumos Artes Visuais 2011-2013 alimenta-se dessas nuances para
agrupar 19 dos artistas selecionados. Entre eles, há um eixo que atravessa trabalhos que a todo tempo
remetem seu processo criativo a uma visão de conjunto que em muito corresponde ao que entendemos
como pensamento intuitivo. É o caso de Virgilio Neto, que sistematicamente coleciona fragmentos de
cenas encontrados na internet e outras referências visuais, organizando um banco de imagens recortadas,
arquivadas ou esboçadas em seu peculiar traço a lápis, reconhecível pelo equilíbrio entre a garatuja e o
desenho ilustrativo. Pois, desse arquivo, advêm os cacos que são reunidos em grandes desenhos como os
presentes na exposição, os quais constituem-se como mapas mentais, campos brancos dos quais emergem figuras de escala e posicionamento variados, articuladas e sobrepostas de modo a delinear campos
de tensão visual. Sem hierarquia ou estrutura predeterminada, a composição não possui reta de chegada
predefinida, respondendo à percepção intuitiva do todo a cada nova linha que lhe é acrescentada. Tal
recurso reverbera na leitura desses desenhos, fazendo com que o público se aproxime dos detalhes para
percebê-los um a um, mas possa encontrar maiores reverberações apenas se se mantiver disponível a uma
leitura do conjunto, como diante de um caderno de notas cuja narrativa pudesse ser lida numa só visada.
De perto e de longe, também assim se inscreve a dramaticidade da obra Passagem Secreta (2011) de
Luciana Paiva. De posse de um livro acerca de instalações elétricas, a artista seleciona páginas e, dentro
delas, trechos de frases que podem conectar-se aos de outras páginas, constituindo um texto que, transposto ao espaço expositivo, conforma uma sequência de folhas perpendiculares à parede e atravessadas
por uma frágil tira de papel horizontal. Nela, os fragmentos selecionados articulam-se, ao mesmo tempo
desvinculados e próximos de seu contexto original, aos demais fragmentos numa oração longuíssima que
sugere ora humor, ora absurdo, suspense e drama. Novamente, as escolhas da artista e os caminhos do
público submetem-se à consciência de um panorama geral que não é da ordem do projeto, mas, sim, da
percepção sincrônica intuitiva. O caso-limite desse procedimento talvez seja o de Vinícius Guimarães,
que em seus desenhos e pinturas procura sincronizar o tempo de feitura com o pensamento que dura
pouco mais de um instante. Em sua fala, o artista menciona o desejo de alcançar um estado mental zen,
no qual o raciocínio seria substituído pela intuição com vistas a obter composições sem nenhuma justificativa argumentativa. Resulta daí uma coleção abundante de arranjos que se assemelham a esboços.
Singelos, os desenhos só se oferecem a leituras de conjunto, pois aproximar-se deles revela linhas quase
sem espessura, de gestualidade apagada e que continuam iguais não importa a qual distância, tais como
traços vetoriais feitos em programas de computador.
As escolhas de Jimson Vilela, por outro lado, alternam mergulhos em territórios de impressões intuitivas
com movimentos contidos em processos de edição e acabamento de partes isoladas. Numa visada geral, o conjunto de seus trabalhos apresenta uma imagem quase precária de acúmulo de notas sem hierarquia nítida, arranjadas segundo critérios subjetivos. No caso desta edição do Rumos, seu procedimento
de anotação de ambiências e estados de espírito foi canalizado para apreensão da experiência do corpo
na cidade a partir de três locais da cidade em relação a três noções centrais em sua pesquisa: imagem,
Luciana Paiva
Passagem Secreta, 2011
Instalação – páginas de livros e fita invisível
Installation – book pages and invisible tape
Dimensões variadas
Various sizes
330 | 331
recortes curatoriais
Jimson Vilela
Enquanto você tomava minhas
pálpebras, 2011/2012
Instalação
Installation
Dimensões variadas
Various sizes
332 | 333
recortes curatoriais
texto e espaço/não espaço. Nesses locais, Jimson preencheu cadernos com croquis e breves textos
poéticos, sem emular a atitude das disciplinas sociais ou das ciências humanas aplicadas. Ele apenas
caminhou, observou e tomou notas, em relação afetiva com os espaços. Em seguida, diante de cadernos
mais ou menos amarrotados, afastou-se de seu estado imersivo e passou a escolher nos conjuntos o que
lhe parecia mais apto a cativar o leitor para envolver-se com um lugar de compartilhamento de verdades e incertezas, lugar este que o artista apelida de “sala de espera”. Jimson passou então a limpo esses
cadernos e levou-os ao espaço expositivo, onde reiniciou o processo de relação afetiva na combinação
de textos com elementos gráficos e de limpeza com concisão discursiva. Bem poderia se dizer, também,
que o que está em jogo é justamente a gangorra entre pensamento intuitivo e dedutivo, como se dá
também no trabalho de Dalton de Paula. Marcado pela necessidade de expressar as idiossincrasias de
sua subjetividade frente a sistemas linguísticos preestabelecidos, Dalton oscila entre a compreensão e
domínio desses sistemas e o desabafo de medos e fragilidades que lhe são próprios. Assim, o artista, desde muito jovem, já havia abordado a simbologia das pinturas de tema religioso, os inócuos instrumentos
de trabalho do corpo de bombeiros, que recombinou em objetos delicados como um tapete de coturnos de couro descosturados. Em Corpo em Segredo (2011), Dalton superpõe seu busto nu com o rosto
blindado por fitas adesivas aos muros e empenas cegas da cidade, que torna uma espécie de tela sobre
a qual ensaia os gêneros do autorretrato e da paisagem. Tais composições advêm da escolha objetiva de
trechos urbanos que se prestem a comportar-se como campos pictóricos, mas também resulta de uma
ação performática de roteiro aberto ao acaso dos deslocamentos do artista na cidade.
Em chave diversa encontram-se processos criativos que se estruturam por procedimentos e técnicas articulados segundo uma cadeia coerente de produção de sentido, mas que passam por momentos-chave
em que o artista conta com percepções de conjunto baseadas na intuição. Nas gravuras de Rafael Pagatini predomina um sistema rigoroso no qual o artista seleciona fotografias tiradas das montanhas, casas
e estradas da região de Caxias do Sul e as transcreve para uma matriz através de uma malha regular de
linhas ortogonais. Quanto mais largos os sulcos na madeira em uma área da matriz, mais clara a mancha
percebida pelo olhar à gravura impressa, esquema que pode ser laboriosamente controlado de forma a
alcançar uma representação notadamente nebulosa da paisagem preenchida pela neblina. O detalhe é
que tal efeito de conjunto só pode ser obtido se o gesto atento à ponta da goiva remeter a uma circunvisão do conjunto e, em última instância, a uma compreensão precisa da atmosfera daquela paisagem
que não se define pelos detalhes, mas pelo todo. Também o trabalho de Maria Laet é pontuado por momentos de circunvisão. Sua série Polaroides estrutura-se por uma sequência de operações meticulosas
que, vistas fora de contexto, são afins a exames médicos, testes de corpo de delito, atividades de perícia
Luiza Baldan
e observação técnica: uma polaroide usada é rompida, revelando a imagem que se forma quando são
Petricor, 2011
separadas suas películas preparadas com químicos diversos; então, essa superfície é fotografada em alta
Videoinstalação
Video installation
Dimensões variadas
Various sizes
resolução e ampliada, em preto e branco, sobre papel de algodão. O processo desencadeia a formação
de desenhos duplamente invisíveis, primeiro porque se escondem num interior que transforma-se ao ser
dissecado, depois porque surgem de manchas informes e coloridas originalmente de escala diminuta.
334 | 335
recortes curatoriais
Rafael Pagatini
Neblina (Série Brumas), 2011
Xilogravura sobre papel Ginryu Shoji, P. A. II
Woodcut on Ginryu Shoji paper
90 x 220 cm
90 x 220 cm
Acervo Banco Itaú
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recortes curatoriais
Berna Reale
A Morte (série Retratos), 2011
Performance para fotografia
Performance to photograph
150 x 100 cm
150 x 100 cm
Berna Reale
O Mito (série Retratos), 2011
Performance para fotografia
Performance to photograph
150 x 100 cm
150 x 100 cm
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recortes curatoriais
A intuição que aponta a presença dos desenhos diminutos evidenciados por Maria Laet pode também
consolidar-se em experiências fabuladas e em exercícios de observação aparentemente desinteressada.
Luiza Baldan muito já se dedicou a fotografar espaços em transição, como ruínas carregadas por sinais
de sua ocupação pregressa e futura, e, quando se lança em experiências de residência artística, assume o
seu próprio trânsito como parcela desses fluxos de ocupação de desocupação. A videoinstalação Petricor
(2011) é resultado de uma dessas experiências, realizada no Edifício Raposo Lopes, o Raposão, no Rio
de Janeiro, e apresenta uma alternativa à concisão inerente aos instantes fotográficos. Um conjunto de
imagens em movimento compõe uma constelação de luzes e fragmentos sonoros, tomados com olhar
e escuta dilatados em direção à empena de um prédio vizinho. Tal constelação não parece enfatizar nenhum evento especial além da tessitura da vida cotidiana. É como uma tela escura de projeção, sobre a
qual podemos projetar tanto desejos e paranoias, como faria o personagem vivido por James Stewart em
Janela Indiscreta, célebre filme de Hitchcock, quanto a surpresa com os lampejos cromáticos e sonoros que
capturaram a atenção da artista − e, nesse caso, rimaríamos com Manoel de Barros, poeta que avisa que “é
preciso transver o mundo”. Já Naia Melo Arruda sobrepõe uma máscara à sua vida cotidiana, que acontece
entre a Áustria e Manaus, inserindo a Miss Zebra em uma jornada de constante jet lag, entre frio e calor,
convivência e solidão, grito e sussurro. Sua vida faz-se fábula, experiência e metáfora sobre um despertencimento imposto pela artista para si mesma a partir de um pijama de pelúcia rajado de preto e branco.
Outras são as fábulas que interessam Berna Reale. Em sua série Retratos também é a figura da artista
que recebe ornamentos e máscaras, inserida no enquadramento de uma mise-en-scène detalhada. Embora resguardadas em um campo narrativo, tais vestimentas remetem ao espaço cotidiano de onde se
destacam, transformando em cena o que usualmente se insinua por detrás de manchetes nos jornais,
sobretudo aquelas relacionadas à violência, à corrupção e à proteção de interesses corporativos. Como
comentário social, cada elemento presente nas fotografias possui conteúdo metafórico, ao mesmo tempo em que apela a uma unidade narrativa em que gestos, feição, piso, cenário e praticáveis são percebidos como metonímias, partes de uma totalidade que não pode ser seccionada.
Pode-se também encarar a fabulação como geratriz de alternativas aparentemente ilógicas a impasses
construídos pela história da arte. Há, por exemplo, um longo arco que oscila entre a crença e a desilusão acerca da possível conciliação entre o binômio “arte e vida”. Em um panorama internacional, as
vanguardas soviéticas anunciaram no início do século XX a possibilidade de um futuro de superação e
elevação do espírito humano por meio da revolução paralela e articulada da arte e da vida em sociedade.
À vista de tal ambição e diante da descrença geral na possibilidade de revolução ampla, toda iniciativa
posterior que procurou aproximar a arte da vida cotidiana aparece já como esmaecida e resignada. O
trabalho de Guilherme Teixeira arrisca-se a cruzar esse estigma, tomando os princípios das vanguardas
soviéticas ao pé da letra e criando um suporte de jogo e brincadeira de forma análoga a composições
de Kazimir Malevich que se presta a, literalmente, propiciar uma experiência de elevação, superação e
transcendência. Já no panorama nacional, aproximações de tal natureza estão diretamente associadas
Naia
Miss Zebra, 2011
15 vídeos
15 videos
Duração 14’
Running time 14’
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recortes curatoriais
Guilherme Teixeira
Parede Suprematista, 2011
Projeção de vídeo e banco de madeira
Video screening and wooden bench
Duração 11’ em loop
Running time 11’ in loop
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recortes curatoriais
Ueliton Santana
sem título,
2011
Fotografias
Fotographies
30 x 40 cm
30 x 40 cm
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recortes curatoriais
Michel Zózimo
Meteorito (Projeto Fluxorama), 2012
Instalação
Installation
Dimensões variadas
Various sizes
às experiências durante as décadas de 1960 e 1970 dos artistas neoconcretos, como Lygia Clark, Lygia
Pape e Hélio Oiticica, as quais podem ser vulgarmente resumidas como uma extrapolação do plano da
pintura e subsequente ocupação do espaço pela cor, movimento, corpo e, enfim, pelas relações sensíveis e comunicativas. Aqui também existe um repertório cuja relativa frustração lança uma sombra sobre
o presente. Toda tentativa de revisitar suas realizações acaba por explicitar as rupturas que desconstruíram o ambiente social em que elas foram inicialmente possíveis. Pois bem, justamente da arte brasileira,
embora num local deslocado do eixo de produção carioca, aparece uma iniciativa em tudo dissonante
da experiência neoconcreta, a qual re-imagina o binômio arte-vida como se quisesse simplesmente passar ao largo da potência e limite desse antecessor histórico. Ueliton Santana imagina que suas pinturas
respondem à configuração do ambiente em que vive e, por isso, as instala como partes constituintes
da própria paisagem, como segunda pele de árvores, casas e pontes. Sua aposta na correspondência
de suas pinturas com o ambiente donde emergem chega a sugerir-lhe que, ao recobrir as paredes do
espaço expositivo com suas telas, pode instaurar no museu uma outra ordem de espaço, mais próxima
daquela que habita em Rio Branco, no Acre.
Michel Zózimo, por sua vez, elabora uma ficção em que o conhecimento científico e o campo da arte
podem compartilhar meios e materiais. Ao se tornar obsoletos, catalogações, manuais, fórmulas e, por
que não, teorias, tanto da ciência como da arte, passam a parecer-se cada vez mais e começam a ser intercambiáveis. A série Fluxorama aproveita essa identidade comum do obsoleto para transitar com imagens
e narrativas sugeridas por artigos científicos através do campo de significados múltiplos da arte. Para dar
forma ao Meteorito que construiu para o programa Rumos, o artista procurou reconstituir a imagem que
lembrava haver encontrado no Livro da Natureza, de Fritz Kahn. Escrito na década de 1950, o livro, repleto
de ilustrações evocativas, trazia uma instigante foto do que seria o maior meteorito já encontrado na superfície terrestre ao lado de uma cadeira, sobre uma plataforma. Ignorando o papel de referência de escala
que a cadeira cumpria no jargão científico, Zózimo “transviu” (para voltar ao termo de Manoel de Barros)
tal composição como um dispositivo expográfico provocador tanto como citação dos museus de história
natural quanto como da história da arte conceitual. Tal deslocamento por entre campos semânticos vem
se tornando estratégia comum na arte contemporânea, mas o que a torna limítrofe aqui é a disposição do
artista em dar concretude à imagem que o intrigou, construindo uma réplica cenográfica do meteorito
e instalando-o junto a uma cadeira, sobre um tablado de madeira. Em vez de simplesmente expor os
resíduos documentais em um novo contexto, Zózimo resolveu infiltrá-los no emaranhado de objetos que
constituem a realidade, o que se complexifica na medida em que ele começa também a tecer uma ficção
sobre a origem do meteorito e um estudo sobre suas virtuais qualidades astrológicas.
Por fim, interessa olhar para um caso-limite do pensamento intuitivo, cuja atribuição reconheço ser de
responsabilidade da crítica posterior à conclusão das obras. Há processos orientados a objetivos coesos que enfatizam decisões coerentes e coordenadas segundo uma série de parâmetros e referências
claramente associadas entre si. É o que aproxima trabalhos muito diversos entre si, como os de Thiago
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recortes curatoriais
Honório, PirarucuDuo, Luiz Roque e Marília Furman. A fruição de todos esses trabalhos perpassa a
ininterrupto, conflituoso, baseado na possibilidade de ruptura do vidro colocado “em exposição”. Um foco
atenção a significados que se reiteram a cada uma de suas partes, dos materiais aos meios técnicos
de luz projeta-se sobre um vidro apoiado, transmitindo-lhe luz e, também, calor; ao lado, uma pilha de vidros
empregados, passando pela solução expográfica e pelo que se mostra e o que se esconde da primeira
oferece a possibilidade de substituir aquele em foco quando for necessário; e, abaixo, acumulam-se os cacos
visada do público. No seio dessas concatenações coesas, no entanto, é possível encontrar um ponto
já vencidos pelo holofote. Pois bem, cada um dos elementos mencionados pode ser lido como secção de
cego, uma decisão que, identificada retrospectivamente, não possui fundamento articulado como as
uma elaborada metáfora, assim como as forças que operam entre eles. Qual seria essa metáfora? Há desafio,
demais. Não se trata simplesmente de uma ponta solta na sintaxe dos trabalhos. Trata-se de algo central
resistência, destruição, reposição e repetição, características atribuíveis às condições de trabalho, gratifica-
para sua realização, uma de suas decisões primeiras, de onde partem inúmeras outras. É um fundamento
ção e exploração no atual estágio do capitalismo, segundo tal ou qual leitura crítica − vale dizer que, caso
sem fundamento, algo que possui consequências mas omite suas causas.
questionada, a artista saberá precisar seu ponto de vista. No entanto, a obra aparece despida de elementos
ostensivamente simbólicos, de vínculos que fidelizariam sua leitura a algum imaginário predefinido, pois
Em Imagem (2010), de Thiago Honório, diversas instâncias de desestabilização do olhar subjetivo são con-
apresenta nada mais que uma coleção de materiais brutos, cujas reações se definem por suas propriedades
catenadas, começando pelo cubo espelhado que duplica o entorno da peça e o corpo de seu observador
físicas. A multiplicidade de leituras que acaba por ensejar se dá porque seu funcionamento não se justifica
até a linha do torso, suprimindo-lhe a cabeça. As dimensões desse cubo advêm do máximo aproveitamen-
inteiramente pelo pensamento crítico que move a artista ou pelo estudo da resistência dos materiais, mas
to da pele animal que o recobre, a cúpula de acrílico completa seu volume até a altura de uma pessoa, ao
apoia-se, antes, na imagem primeira de um vidro que se quebra pela luz que o ilumina.
mesmo tempo que enfatiza uma situação de display expositivo − mas o ponto focal da peça, a cabeça de
uma imagem de roca de tamanho próximo ao natural e com olhar fixo que encara quem a olha, transborda
Por extensão, é possível projetar o pensamento intuitivo para o momento de percepção do trabalho de arte, o
essa lógica. A escolha desse item estrutura e justifica os demais, mas não possui nenhuma garantia de
que na verdade é inevitável, dado que toda observação também está comprometida com a impossibilidade
realização, já que a maioria das imagens de roca tem olhar de suplício, voltado aos céus, e é ligeiramente
de apagar tanto a intuição quanto a lógica. A videoinstalação de Cristiano Lenhardt explicita esse compro-
miniaturizada. Foram meses de pesquisa até encontrar esse item, imaginado pelo artista, mas que poderia
metimento, uma vez que há nela certo espelhamento do intuitivo no olhar do público e aquele no processo
muito bem não existir. Já o jogo eletrônico Mario Bros. existe e é de conhecimento geral, o que o torna uma
criativo do artista. Montada com duas projeções em telas pequenas posicionadas lado a lado, a obra desdobra
citação arriscada para o PirarucuDuo. A presença de um símbolo tão impregnado na cultura popular tende
uma narrativa de tons fantásticos em que dois indivíduos de rostos e membros coloridos se encontram em um
a sobrepujar camadas menos eloquentes em uma obra e, ainda assim, tal foi o referente escolhido pelos
ambiente natural, interagindo com uma mancha informe composta do ruído eletrônico típico de uma TV fora
artistas justamente em uma obra que transita pelas sintaxes da música eletroacústica e do cinema experi-
de sintonia. Nessa interação, são percebidas gradações entre diferentes estágios, com o ruído ora tomando
mental próximo à literatura existencialista. Assim, toda uma pesquisa baseada em movimentos repetitivos,
a superfície de uma tela dobrável manuseada pelos personagens, ora confundindo-se com seus próprios
a propósito pouco carregados de tensão narrativa, acaba se reestruturando por um princípio pop que, sem
corpos, como um líquido em que estivessem mergulhados – para isso, existe um esforço de concatenação e
justificativa, a contamina, associando-a à repetição desmotivada dos jogos de video game.
sincronia na edição do vídeo, o que resulta numa narrativa na qual é possível até mesmo inferir uma cadeia
de causalidades, porém a percepção dessa linha de acontecimentos de maneira alguma resolve o sentido da
Tensão e dilatação, portanto, não são necessariamente excludentes no âmbito da narrativa. Certa ambiva-
obra. Tal sentido ocupa um lugar de indeterminação, em que as duplicidades que caracterizam a videoinstala-
lência é possível e pode fazer-se eixo de um trabalho, como é o caso no vídeo Projeção 0 e 1 (2012), de Luiz
ção – personagem A e B, corpo e tela, ruído eletrônico e natureza, projeção da esquerda e da direita, imagem
Roque. Uma esfera metálica aproxima-se da câmera até penetrar num vidro que cobria sutilmente uma
e som – convergem como alegoria de uma duplicidade de outra ordem, aquela entre público e artista, ou
paisagem ensolarada no lusco-fusco. O vidro se estilhaça ao mesmo tempo que, na projeção que ocupa a
melhor, entre percepção intuitiva do artista e do público, na forma de dois fluxos de consciência.
parede oposta, ele se reconstrói; e tudo numa arrastadíssima câmera lenta que resulta da captação a 984
quadros por segundo e exibição a 24 quadros por segundo. Aqui, toda a perícia e acabamento da realização
Um último caso conclui este texto. Uma parede cega, plano branco segundo o padrão museográfico que,
audiovisual contrasta com a quase total ausência de motivo, como se num filme hollywoodiano que fosse
sutilmente, vibra com o som emitido por caixas acústicas escondidas em seu interior. Uma coleção de
simplesmente uma longa e intrincada cena de perseguição e explosão. Há no seio da pesquisa do artista
fontes sonoras instaladas em meio ao espaço de passagem entre a estação do metrô e o Centro Cultural
um interesse pela sedução e pela agressão que a natureza pode carregar, mas o salto realizado na escolha
São Paulo (CCSP). Trata-se de resultados de uma reflexão de Allan de Lana acerca dos espaços residu-
de seu argumento permite que a obra aconteça em paralelo com o discurso que constitui. Tal paralelismo
ais típicos da urbanização moderna brasileira − estacionamentos, fundos de edifícios, lugares de transição
tem lugar também na instalação Resistência (2012), de Marilia Furman. A obra consiste de um sistema em
despojados de grande significado que inserem no urbano a ampla extensão típica de suas bordas. Sobre a
funcionamento contínuo, cujas partes se contrapõem umas às outras de tal modo que se institua um ciclo
vastidão, o artista propõe um limite, uma segunda natureza de borda, agora instalada no espaço expositivo.
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recortes curatoriais
Sua voz é quase surda, mas revela-se ao encostar-se nela: é som de mata, natureza processada como
composição que se redefine conforme a posição de quem a escuta. No que tem de lírica, a obra ratifica as
máximas de Duchamp e Sol Lewitt a respeito do misticismo e da intuição. No que tem de discursiva, a obra
demonstra precisão tal que nos mostra que não há lugar para uma teoria da intuição, pois sua presença
não se pode desvincular em absoluto da razão analítica. A intuição como meio, como o som do natural no
miolo da parede de compensado. A intuição como borda, como a parede desnuda que escora o corpo que
ouve seu sussurro4. Mais ainda, a intuição como parcela que não pode ser contida, posto que transborda
também na dupla presença da obra, fraturada entre espaço expositivo e trecho da cidade, entre a composição mimética da natureza no ambiente museográfico e infiltração de sons artificiais na paisagem sonora
circunstancial que se renova a cada dia nas bordas na Avenida 23 de Maio.
Paulo Miyada é arquiteto e urbanista pela FAU/USP, onde cursa mestrado. Assistente de curadoria da
29ª Bienal de São Paulo, atualmente trabalha no núcleo de pesquisa e curadoria do Instituto Tomie Ohtake. Sua
pesquisa em curadoria, em alguma medida, decorre de trabalhos práticos e teóricos sobre as representações e os
projetos das cidades, os quais desenvolve desde sua graduação e dos quais se destacam o documentário tododiafeira, a animação Platz na Cidade e a monografia Archigram: da Produção Gráfica, Crítica e Conceitual.
Allan de Lana
Setor Faroeste I, 2012
Intervenção sonora
Sound intervention
Dimensões variadas
Various sizes
4 Os lugares de meio e de borda foram enfatizados com referência às considerações de Noemi Jaffe sobre o erro: “Não valorizar o erro tão excessivamente a ponto de isso se tornar uma tirania, um outro tipo de acerto. Valorizá-lo só até onde ele ainda é
apenas um erro, sem a mesquinhez de tornar-se uma teoria do errado. Errar pelas bordas, errar um pouco no meio, errar para não
saber nunca o final”. (JAFFE, Noemi. Quando nada está acontecendo. São Paulo: Martins Fontes, 2011.)
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Curatorial
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recortes
curatoriais
invitation to a journey
paulo miyada
void left by the incongruity between what the artist actually did and what he intended to do. En passant,
he also relegated artistic decisions to an apparently uncomfortable place: the “domain of pure intuition.”
Intuition et cetera
So we follow Sol Lewitt, an artist who synthesized American minimalism – a set of initiatives that reTo what extent does intuition prevail in defining the paths to be followed in the wide field with uncertain
covered and extrapolated the legacy from Duchamp’s ready-mades and the discussions about what he
boundaries that contemporary art is? The general discredit surrounding the intuitive procedure, as well as
called intellectual perspective. Lewitt consolidated a long series of works that were based on the rigorous
other procedures that hold similar places in the artistic discourse and which the former is usually mistaken
formulation of clear and cohesive projects which, in turn, consist of mathematical-looking series, akin
for, makes it distressful to pose this question. Indiscriminately understood, intuition, the unconscious, sub-
to combination analysis procedures. His methodology asserted that mental elaboration and material
jectivity, premonition, mysticism, irrationality and instinct today seem fated to be read as imprecisions, or
development would correspond to different moments of the creative process, far removed from each
worse, as subterfuges for bias and taste. I believe it is of little interest to once again bring to the stage the
other and even susceptible of being separated in a working relationship. Thus, in both analogy and praxis,
polarization presenting reason and intuition as separate and rival opposites, not least because today we
Lewitt’s research is akin to modern techno-scientific reasoning that allows building large bridges and
understand that they cannot exclude each other and always work articulately. What is of actual interest is to
establishing intermodal transportation systems and nearly instantaneous information flow.
distinguish intuition from its more trivial acceptation and thus identify consequences of the intuitive portion
of the artistic thinking in the recent output emphasized by the Rumos Artes Visuais 2011-13 program.
Notwithstanding this, when urged to think about constants in his art, Lewitt devises a series of sentences
that, surprisingly, start by doing away with the hypothesis of an essentially rational artistic thinking: “1.
It is possible to accept as absurd that intuitive thinking be definitely dismissed; this would amount to an
Conceptual artists are mystics rather than rationalists. They leap to conclusions that logic cannot reach.
overvaluation of method, of calculus, of logic and of analytic thinking. Then the contemporary output
/ 2. Rational judgments repeat rational judgments. / 3. Irrational judgments lead to new experience. / [...]
could be hierarchized according to its internal coherence and the linearity of its argument. Or recent
5. Irrational thoughts should be followed absolutely and logically2.”
art history could be reorganized by stressing its moments of transparency and clarity. Luckily, a strong
contradiction would surface, even in the most methodologically clear cases. This is precisely because
In this small set of sentences, equivalences and contrasts are suggested: on the one hand, mysticism and
those who would be seen as protagonists of objectivity taken as the axis of artistic thinking would have
irrational judgments; on the other hand, logic sequence and rationalism. Although it sounds dichotomic,
explicitly stated their advocacy of something that opposes rationality.
his argument is strengthened by inverting the polarity between logical thinking and material development.
Let me explain: engineering achievements presuppose a clear, rational and provable principle in the field of
To this effect, we could think of Marcel Duchamp, whose ready-mades had an impact on the American
calculus, followed by a material realization that attempts to stick to an abstract planning but consistently ac-
art in the 1950s (40 years after they were made), as an epitome of the confrontation with good taste
cumulates a certain error or deviation previously forecast as a “margin of error” coefficient; Lewitt’s method,
and symbolic readings as references for validating artworks. With a “fountain” that is little more than a
on the other hand, assumes the foundation as something illogical and obscure, but that should nevertheless
mere rotated white porcelain urinal, signed and taken to an art salon, Duchamp had made it clear that
be systematically and economically developed to accumulate as little deviation as possible.
he did not intend to count on the aid of visual delight, but rather to situate his work in a mental space,
structured around semantic displacements and the accumulation of intellectual points of view. Even so,
In order to understand how intuition can emerge from the very heart of reason, it would be relevant
when he tried to generalize the premises of art making, in “The Creative Act” (1957)1, Duchamp took the
to think about the example of the man whose name is intertwined with history of idealism itself: René
defense of the unconscious and the intuitive as inalienable managers of his choice and decision chains.
Descartes. In order to set up a method that would free mankind from all engagement with dogmatic
For him, every artist’s intention faces an immeasurable distance that separates it from what he can ef-
arguments and generally accepted ideas, Descartes strived to deal with all aspects of reality as problems
fectively achieve through his work. Based on this argument, Duchamp took a stand: It was necessary to
susceptible to rational interpretation and conversion into relationships between proportions and mea-
recognize that the viewers play a constitutive role contributing to the creative act, a role that acts on the
sures. This would imply a maximum reach of geometry principles and, therefore, of algebra principles,
in which dilemmas are susceptible to calculus and solution. Curiously, and it was Paul Valéry who drew
1 DUCHAMP, Marcel. “O ato criador”, 1957. In: BATTCOCK, Gregory. A nova arte. Debates Collection, São Paulo: Perspectiva, 2008.
2 VALÉRY, Paul. O pensamento vivo de Descartes. São Paulo: Martins, 1955.
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recortes
curatoriais
invitation to a journey
attention to this episode, is that right when Descartes started to envisage the principles of his method
to build the traveling exhibitions of the 2011-2013 Rumos Artes Visuais project feeds itself from those
and the revolution it could mean within human thought as a whole, he plunged into a long delirium. After
nuances to gather 19 of the artists selected. There is an axis crossing the works that, at all times, refer their
a period of deep excitement about his reflection on what he called “admirable science”, he lied down and
creative process to a common view corresponding, to a great extent, to what we understand as intuitive
dreamed three dreams full of visions he attributed to a Genius (a Daimon) created inside himself and
thinking. This is the case of Virgilio Neto, who systematically collects fragments of scenes found on the
that was not at all his own spirit. Upon waking up, he prayed to the Virgin Mary, vowed that he would go
web and other visual references and then organizes them in a bank of images clipped, filed or sketched
on a pilgrimage to fully understand the discovery that he saw in a burning flash but had not yet a form.
in his unique pencil traits, recognizable because of the balance between scribbling and illustration drawing. Well, from this file come the fragments that are put together in big drawings such as the ones in
Well, this information comes from texts written by Descartes himself, who does not stress any contradic-
this exhibition, which are like mental maps, white fields from where figures emerge in a variety of scales
tion between movements of rational maturing and metaphysical enlightenment. It is not for nothing that
and positions, articulated and overlapping so as to outline fields of visual tension. With no hierarchy or
the forerunner of art psychology, Rudolf Arnheim, finds in Descartes one of the most exciting definitions
predetermined structure, the composition has no predetermined ending line, responding to the intuitive
of intuition: “By intuition I understand not the fluctuating testimony of the senses nor the misleading
perception of the whole when each new line is added to it. This practice reverberates in the reading of
judgment that proceeds from the blundering constructions of imagination, but the conception which
these drawings, enticing the audience to come closer to the details and perceive them one by one, but
an unclouded and attentive mind gives us so readily and distinctly that we are wholly freed from doubt
still being able to find greater reverberations when just staying available to reading the whole, like being
about that which we understand”. Descartes wrote this definition in the 17th century, thus introducing a
before a notebook whose narrative would be read in one glimpse.
polarization between intuition and the notion of deduction, in turn defined as the ability to identify inference relations between facts that are known and taken as certain3.
From afar and from close: this is also the way the dramatic quality of Luciana Paiva’s Passagem Secreta
(2011) is inscribed. From a book about electrical installations, Paiva selects a number of pages and, from
Arnheim builds on that to devise an understanding of intuition as an instantaneous understanding of
them, sentence excerpts that can be connected with those from other pages. She builds up a text that,
a whole which, by its simultaneity, is simpler, less detailed than deduction, but also more precise than
once transposed to the exhibition space, shapes a sequence of sheets that are perpendicular to the wall
the latter. I would like to borrow this notion of intuition to discuss the recent contemporary art output
and traversed by a frail horizontal stripe of paper. Around this stripe, the selected fragments are articu-
featured in the current edition of the Rumos Artes Visuais project. It is true, as it has just been demon-
lated, at the same time detached from and close to their original context, with the other fragments in an
strated, that intuitive thinking can be one feature of every creative process, in both art and other fields
extremely long sentence that suggests alternatively humor, absurd, suspense and drama. Once again,
of knowledge; it seems nevertheless relevant to ponder on its presence in artists’ careers still in their
underpinning Paiva’s choices and the audience’s pathways, there is the awareness of a common view not
early years practising, testing hypothesis, developing techniques and starting from more or less arbitrary
pertaining to the project, but rather to the intuitive synchronic perception. The limit case in this proce-
points. It is true that today, in the field of contemporary art, there is no common doctrine pre-establishing
dure may well be Vinícius Guimarães, who intends to synchronize in his drawings and paintings the time
a hierarchy between this or that starting point. Politics, memory, technical knowledge, improvisation,
necessary to make a work with thought, which lasts little longer than one instant. In his talk, Guimarães
rigor, violence and delicacy are as good leads as any other, or at least this was my impression during the
mentioned his wish to enter a Zen mental state, in which reasoning is replaced by intuition in order to
trips and selection and follow-up processes that made up the first year of work of the curatorial team. In
obtain compositions with no argumentative justification. From there stems an abundant collection of
conversations with the artists, a point of curiosity kept arousing in the background of my attention: what
arrangements that are akin to sketches. His drawings are simple and allow only a reading of the whole, as
was it that made this person choose this one, among so many other possible references, as the context
getting close to them reveals lines almost lacking thickness, of subdued gestures, and that stay the same
for his early works? What are the expectations and the desired affiliations behind these choices not yet
from whatever distance you look from, like vectorial traits developed by software.
justified by a whole body of work from a lifelong activity?
Jimson Vilela’s choices, on the other hand, alternate plunges into the territory of intuitive impressions with
In some cases, it is possible to point to a preponderant role of the intuition; in others, it plays a more dis-
constrained movements in editing processes and the finishing of separated portions. In a general view,
crete, albeit not less decisive, role. The approach behind this paper and also adopted as the foundation
his works present an almost precarious image of accumulation of notes without any apparent hierarchy,
arranged according to subjective criteria. In the case of the current edition of Rumos, his procedure of
notes on ambiances and moods was channeled into capturing the body experience in the city from three
3 ARNHEIM, Rudolf. Intuição e intelecto na arte. Translation: Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p. 15.
different places in the city in relation to three notions that are at the core of his research: image, text and
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invitation to a journey
Vinicius Guimarães
Sem título, 2009
Caneta hidrográfica de traço fino
e pintura sobre madeira
Felt tip pen and painting on wood
136 x 190 cm
136 x 190 cm
Vinicius Guimarães
Sem título, 2009
Caneta hidrográfica de traço fino,
esferográfica e pintura sobre madeira
Painting, felt tip and ball pointed pens
on wood
136 x 190 cm
136 x 190 cm
Vinicius Guimarães
Sem título, 2009/2010
Fita adesiva, esferográfica e pintura
sobre madeira
Adhesive tape, ball pointed pen and
painting on wood
136 x 190 cm
136 x 190 cm
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curatoriais
invitation to a journey
space/non space. In those locations, Vilela filled notebooks with sketches and brief poetical texts, without
The intuition that points to the presence of the minute drawings evinced by Maria Laet might also
emulating the posture of social or applied human sciences. He just walked, observed and took notes, in
be consolidated in fabled experiences and in apparently disinterested observation exercises. Luiza
an affective relationship with those spaces. Then, before his more or less wrinkled notebooks, he came
Baldan has extensively dedicated herself to photographing spaces in transition, such as ruins with
out of his immersion and started to choose, from these groups, those he felt were fit to captivate readers
heavy signs of their past and future occupations, and, when experiencing artistic residency, she as-
and involve them in a place of shared truths and uncertainties –, a place the artist calls “waiting room.”
sumes her own transit as part of these occupation and evacuation flows. Her video installation Pet-
Vilela then copied out these notebooks and took them to the exhibition space, where he restarted the
ricor (2011) results from one of these experiences she went through in Raposo Lopes Building, or
affective relationship process in combining texts with graphic elements and the cleaning process with
Raposão, in Rio de Janeiro, and offers an alternative to the inherent concision of photographic mo-
discourse concision. One might as well say that what is at stake here is precisely a kind of seesaw having
ments. A set of images in movement composes a constellation of lights and sound fragments, taken
on one end intuitive thinking and on the other end deductive thinking, which also occurs in Dalton de
with wide open eyes and ears turned to the blind wall of a neighboring building. Such constellation
Paula’s work. Marked by the need to express the idiosyncrasies of his subjectivity before preestablished
does not seem to emphasize any particular event other than everyday life. It is like a dark screen on
linguistic systems, de Paula swings between, on the one hand, understanding and mastering these sys-
which we can project both desire and paranoia, as would James Stewart’s character in Hitchcock’s
tems and, on the other hand, revealing fears and fragilities that are his own. Thus, since his early youth, de
famous Rear Window, as well as surprise before the color and sound flashes that captured Baldan’s
Paula had approached the symbolism of religious-themed painting, the innocuous firefighters’ working
attention – and, in this case, we would say with poet Manoel de Barros that “we have to trans-see the
tools, which he recombined in delicate objects like a carpet made of unstitched leather boots. In Corpo
world.” Naia Melo Arruda, in turn, superimposes a mask onto her everyday life that unfolds between
em Segredo (2011), Dalton superimposes his bare chest and his face, the latter armored with adhesive
Austria and the Amazon (Manaus city), making Miss Zebra set off on a journey of constant jet lag,
tapes, onto the blind walls of the city, which he turns into a kind of canvas where he practices the genres
between cold and heat, togetherness and loneliness, cries and whispers. Her life becomes fable, ex-
of self-portrait and landscape. Such compositions derive from the objective choice of urban stretches
perience and metaphor about an unbelonging imposed by Arruda upon herself based on black and
that are fit to behave like pictorial fields, but are also the result of a performing action with a script that is
white striped fleece pajamas.
open to de Paula’s wanderings around the city.
Very different are the fables in which Berna Reale is interested. In her Retratos series, it is also the
In a different key we find creative processes structured by procedures and technique combined accord-
figure of the artist that receives ornaments and masks, framed into a detailed mise-en-scène. Albeit
ing to a coherent chain of meaning production, but that go through key moments in which the artist
enshrined in a narrative field, these gowns refer to the everyday life space from which they stand out,
relies on intuition-based perceptions of the whole. In Rafael Pagatini’s prints, a rigorous system predomi-
changing into a scene what is usually suggested behind newspapers headlines, mainly those relating
nates according to which he selects photographs taken from mountains, houses and roads in the Caxias
to violence, corruption and the protection of the interests of certain groups. As a social comment,
do Sul area and transcribes them onto the wood block through a regular mesh of orthogonal lines. The
each element in the photographs has a metaphoric content and, at the same time, points to a narra-
wider the grooves on the wood in a given area of the block, the lighter the patch perceived on the print
tive unity in which gestures, traits, floor, background and props are perceived as metonyms, parts of a
– a procedure that can be laboriously controlled so as to achieve a notably foggy representation of the
whole that cannot be sectioned.
landscape filled with mist. But this overall effect can only be achieved if the gesture, attentive to the tip of
the gouge, refers to a circumvision of the whole and, ultimately, to a precise understanding of the atmo-
Fabulation might also be envisaged as a generator of apparently illogical alternatives to deadlocks
sphere of that landscape, which is not defined by details, but rather by the whole. Maria Laet’s work is also
built by art history. There is, for example, a long arch that goes between belief in and disappointment
punctuated by moments of circumvision. Her Polaroides series is structured by a sequence of meticulous
over a possible reconciliation between the elements of the “art and life” binomial. In the international
operations which, seen out of context, are akin to physical exams, forensic medical examinations and
context, the soviet avant-gardes announced, in the early 20th century, the possibility of a future in
technical observations: a used polaroid is broken, thus revealing the image that is formed when its films,
which human spirit would be elevated through parallel and organized revolutions in art and societal
prepared with different chemicals, are separated; then, this surface is photographed in high resolution
life. In view of such an ambition and in the face of a general disbelief in the possibility of a wide revolu-
and enlarged, in black and white, on cotton paper. This process triggers the formation of doubly invisible
tion, all subsequent initiatives that tried to bring art closer to everyday life already arose faded and
drawings: firstly because they hide in an interior which changes when it is dissected; secondly because
resigned. Guilherme Teixeira’s work takes the risk of challenging this stigma. He takes the soviet avant-
they result from shapeless, originally colored patches in minute scale.
garde principles literally and creates a support of game and play, similar to Kazimir Malevich’s compositions, that lends itself to literally allowing experiences of elevation, overcoming and transcendence.
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In the domestic sphere, approaches of this nature are directly associated with the experiences of the
associated with each other. This is what approximates very diverse works, such as those by artists Thiago
neoconcrete artists – such as Lygia Clark, Lygia Pape and Hélio Oiticica – in the 1960s and 1970s,
Honório, PirarucuDuo, Luiz Roque and Marília Furman. The fruition of all these works is entwined with
which can be plainly summarized as an extrapolation from painting and a subsequent occupation of
the attention given to meanings reiterating each one of their parts – from materials to technical media
space by color, movement, body and, eventually, by sensitive and communicative relationships. Here
employed, including the expographic solution and what is shown as well as concealed from the viewers
too there is a repertoire whose relative frustration casts a shadow on the present. Every attempt at
first sight. In the heart of this cohesive concatenation, it is, nevertheless, possible to find a blind spot, a
revisiting their achievements end up manifesting the ruptures that eventually deconstructed the social
decision that, retrospectively identified, has bedrock that does not match that of the others. It is not just
setting in which they were originally possible. Very well, precisely from Brazilian art, although coming
a loose end in the works’ syntax. It is something crucial to their creation, one of the artists’ early decisions
from a location outside the Rio de Janeiro art making setting, an initiative is born that is in all aspects
from which a number of other decisions ensue. It is a foundation without foundation, something that has
dissonant with the neoconcrete experience and one that re-imagines the binomial art-life as if it would
consequences but fails to mention its causes.
wish to just ignore the power and the limits of its historical predecessor. Ueliton Santana imagines that
his paintings respond to the configuration of the environment where he lives and, for this reason, he
In Imagem (2010), by Thiago Honório, several instances of destabilization of the subjective eye are
installs them as constitutive parts of the landscape itself, as a second skin of trees, houses and bridges.
concatenated, starting from the mirrored cube that duplicates the room environment and reflects the
Stating that there is a correspondence between his paintings and the environment from where they
viewer’s body up to his torso, leaving his head out. The cube is as big as the hide covering it; the acrylic
emerge, he goes as far as to suggest that, by covering the walls of the exhibition space with his can-
dome completes its volume up to a person’s height emphasizing, at the same time, an exhibition display
vasses, he can establish a new order of space in the museum, closer to the one where he lives in the
situation – but the focus of this piece, the head of a baroque religious sculpture (roca image) close to life-
city of Rio Branco, Acre state.
size and staring fixedly at those who look at it, goes beyond this logic. The choice of this item structures
and justifies the others, but offers no guarantee of realization, as most roca images have tortured eyes,
Michel Zózimo, in turn, creates a fiction in which scientific knowledge and the arts can share media and
looking upward to heaven, and are slightly smaller than life-size. It took months of research until this item
materials. Upon becoming obsolete, catalogs, manuals, formulas and, why not, theories, in both science
was found, imagined by the artist but that could as well not exist. The Mario Bros electronic game, in
and art, start to look more and more alike and become interchangeable. The Fluxorama series takes
turn, exists and is widely known, what thus puts the PirarucuDuo in a risky situation. The presence of a
advantage of this common identity of the obsolete to travel through art’s multiple meaning field with
symbol that is so ingrained in pop culture tends to overpower less eloquent layers in a work. Yet, this was
images and narratives suggested by scientific papers. To shape the Meteorito he built for the Rumos pro-
the referent chosen by the artists precisely in a work that travels through the syntaxes of electroacoustic
gram, Zózimo aimed at reconstituting the image he remembered having found in The Book of Nature,
music and experimental cinema close to existentialist literature. Thus, a whole research based on repeti-
by Fritz Kahn. Written in the 1950s and full of evocative illustrations, this book includes a compelling
tive movements, by the way with little narrative tension, is ultimately restructured by a pop principle that,
photo of what should be the biggest meteorite ever found on Earth, placed beside a chair on a platform.
without any justification, contaminates it, associating it with the unmotivated video game repetition.
Ignoring the role of scale reference that the chair played in scientific jargon, Zózimo “trans-saw” (to go
back to Manoel de Barros’ term) such composition as a provocative expographic device as a quotation
Tension and dilation are not, therefore, necessarily mutually exclusive in the realm of the narrative. Some
of both natural history museums and conceptual art history. This shift across semantic fields is becoming
ambivalence is possible and might become the axis of a work, as is the case of the video Projeção 0 e 1
a common strategy in contemporary art, but what pushes it to a limit here is the willingness of the artist
(2012), by Luiz Roque. A metal sphere approaches the camera until it penetrates a glass that was subtly
to materialize the image that had intrigued him by building a scenographic replica of the meteorite and
covering a sunny landscape in the twilight. The glass shatters and, at the same time, it reassembles back
installing it next to a chair on a wooden platform. Instead of simply showing the documental residues
on the projection taking up the opposite wall; it all happens in a dragging slow motion obtained from
in a new context, Zózimo decided to dispose them amid the tangled objects that make up reality. This
shooting at 984 frames per second and projecting at 24 frames per second. Here, all the expertise and
becomes more complex because he also starts to weave fiction around the origin of the meteorite and
finishing of this footage contrasts with a virtually complete absence of a motive, as if in a Hollywood film
a study about its virtual astrological qualities.
that would consist only of a lengthy and intricate chase and explosion scene. In the heart of this artist’s
research lies an interest in seduction and aggression that nature can hold, but the leap taken in choosing
Finally, it is interesting to consider a limit case of the intuitive thinking, a task that I acknowledge to
its argument allows the work to happen in parallel with the discourse that it builds. Such correspondence
be a responsibility of critics after the works are completed. There are processes which target cohesive
is also found in the installation Resistência (2012), by Marília Furman. The work consists of a continuous-
objectives that emphasize coherent decisions based on a series of parameters and references clearly
operation system whose parts oppose each other so as to create an uninterrupted, conflictive cycle based
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PirarucuDuo
Golem e os Encanadores, 2011
Vídeo em loop em um canal e áudio em loop em quatro canais
Video in loop in one channel and audio in loop in four channels
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on the possibility of rupture of the glass “in exhibition.” A spotlight focuses on a square of glass leaning
almost a rumble, but it is revealed when you lean against it: it is a forest sound, nature processed as a
against the wall, transmitting light and also warmth to it; beside it, a pile of glass shards offers the possibility
composition that redefines itself according to the position of the listener. In its lyric content, this work
of substituting the square under the spotlight whenever needed; below this, shards already beaten by the
ratifies Duchamp’s and Sol Lewitt’s phrases about mysticism and intuition. In its discursive content, this
spotlight. Well, each of the elements mentioned above, as well as the forces acting among them, may be
work is precise to the point of showing that there can be no room for a theory of intuition, since its pres-
read as a section of an elaborate metaphor. What would this metaphor be? There is challenge, resistance,
ence can never be detached from analytical reason. Intuition as a medium, as the sound of nature in the
destruction, replenishment and repetition, features that are attributable to work, reward and exploitation
heart of the plywood wall. Intuition as an edge, as the naked wall propping up the body that listens to
conditions in the present stage of capitalism, according to this or that critical reading – which means that,
its whispers4. And even more, intuition as the portion that cannot be contained, as it also overflows in
if questioned, the artist should be able to explain her point of view. However, this work is destituted of
the double presence of the work, fractured between exhibition space and city stretch, between a com-
ostensively symbolic elements, of ties that would attach its reading to a predefined imagery, for it shows
position that mimics nature in the museum environment and the infiltration of artificial sounds into the
nothing beyond a collection of raw materials whose reactions are defined by their physical properties.
circumstantial soundscape that is every day renewed at the edges of 23 de Maio Avenue.
The multiple readings that eventually arise out of it are possible because its operation cannot be entirely
explained neither by the critical thinking underpinning the artist’s decision nor by the study of material
resistance. Instead, they are based on the image of a piece of glass that is shattered by the light that hits it.
Paulo Miyada is an architect and city planner from FAU/USP [College of Architecture and City Planning/
By extension, the intuitive thinking can be projected to the moment when the artwork is perceived, what
University of São Paulo], where he is taking his master’s degree course. Assistant curator of the 29ª Bienal de São
is in fact inevitable given that every observation is also committed with the impossibility of erasing both
Paulo [29th São Paulo Art Biennial], he is currently working at the Instituto Tomie Ohtake [Tomie Ohtake Institute]
intuition and logic. The video installation by Cristiano Lenhardt makes this commitment explicit. To
curatorship and research center. His curatorship research, to a certain extent, derives from both practical and theo-
some extent, his work mirrors intuition in the viewers’ eye and that in the artist’s creative process. Com-
retical works on representations and city designs, on which he has been working since his undergraduate studies.
posed of two projections onto small screens placed side by side, the work unfolds a narrative of fantastic
Among them, attention is drawn to the documentary tododia-feira, the animation Platz na Cidade and the thesis
notes in which two individuals with colored faces and arms meet in a natural setting and interact with a
Archigram: da Produção Gráfica, Crítica e Conceitual.
shapeless patch composed of an electronic sound typical of an untuned TV. In such interaction, transitions are seen between different stages, with the sound sometimes taking up the surface of the folding
screen handled by the characters, sometimes mingling with their own bodies like a liquid in which they
would be imersed – for this, there is a linking and synchronization effort made in the video editing, which
results in a narrative where it is even possible to infer a chain of fortuitous events. Nevertheless, perceiving this line of events in no way leads to the meaning of the work. That meaning is undetermined, it is
in a place where duplicities characterizing the video installation – character A and B, body and screen,
electronic sound and nature, projection from left and from right, image and sound – converge like an allegory of a duplicity of a different type, that one between the audience and the artist, or rather, between
the intuitive perception of both the artist and the audience as two flows of conscience.
One last case concludes this text. A blind wall, a white plane according to the museographic pattern that
subtly vibrates to the sound from speakers concealed inside it. A collection of sound sources installed in
the midst of the passageway from the subway station to Centro Cultural São Paulo [São Paulo Cultural
Center]. It is the result of Allan de Lana’s reflection about residual spaces that are typical of modern
Brazilian urban development – parking lots, the back of buildings, passageways lacking significant meaning that incorporate into the urban space the wide extension typically present at its edges. To vastness,
the artist proposes boundaries, a second kind of edge, now installed in the exhibition space. Its voice is
4 The middle and edge places were emphasized as a reference to Noemi Jaffe’s inputs about error: “Do not value error excessively to the point it becomes a tyranny, another kind of correctedness. Value it as long as it still is just an error, not allowing pettiness to transform it into a theory of wrong. Error around the edges, a little error around the middle, error so as to never know the
endpoint.” (JAFFE, Noemi. Quando nada está acontecendo. São Paulo: Martins Fontes, 2011.)
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Allan de Lana
Setor Faroeste II, 2012
Intervenção sonora
Sound intervention
Dimensões variadas
Various sizes
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FICHA TÉCNICA
ITAÚ CULTURAL
Gerência do Núcleo de Artes Visuais/Manager, Visual
Produção editorial/Editorial producers
Produção (exposição)/Producers (exhibition)
Arts Nucleus
Melissa Contessoto
Carmen Fajardo
Sofia Fan
Lívia G. Hazarabedian (exposição/exhibition)
Cristiane Zago
Nina Franco | ACC Franco Serviços Editoriais – Me
Edvaldo Inácio da Silva
(catálogo/catalog)
Érica Pedrosa
Presidente/President
Cooordenação/Coordinator
Milú Villela
Luciana Soares
Fabiana Kaibara
Atendimento ao público/Public service
Vinícius Soares Ramos
Wanderley Bispo
Diretor superintendente/Superintendent director
Produção executiva/Executive producers
Hugo Oliveira
Eduardo Saron
Beatriz Lindenberg
Juliana Bezerra
Lilian Sales
Nathalie Bonome
Gerência da Consultoria Jurídica/Manager, Legal
Superintendente administrativo/
Mariana Chaves (terceirizada/outsourced)
Silvio de Santis
Consultancy
Administrative superintendent
Milena Edelstein (terceirizada/outsourced)
Anna Paula Montini
Produção de conteúdo on-line da exposição/Producers,
Sergio Miyazaki
Gerência do Núcleo de Comunicação e Relacionamento/
exhibition on-line content
Assessoria jurídica/Legal service
PROGRAMA RUMOS ITAÚ CULTURAL ARTES
Manager, Communications and Relations Nucleus
Fernanda Castello Branco
Ana Carla Bracco
VISUAIS 2011-2013/ ITAÚ CULTURAL VISUAL ARTS
Ana de Fátima Sousa
Duanne Ribeiro
Camila Camargo Corazza
Maria Clara Matos
Carlos Eduardo Souza Moraes
Renato Corch
Daniel Lourenço
Tradução e revisão da tradução/Translation and
Gerência do Núcleo Financeiro-Contábil e Apoio/
Edição de conteúdo (catálogo)/Contents editor (catalog)
proofreading of translation (exposição/exhibition)
Manager, Financial/Accounting and Support Nucleus
Fabiana Werneck (terceirizada/outsourced)
Marisa Shirasuna | Arsetofficium Serviços de Tradução e
Adriana Gomes Moreira
RUMOS PROGRAM 2011-2013
Coordenação editorial/Editorial coordinator
Coordenação da Comissão Curatorial/Coordinator,
Marco Aurélio Fiochi
Curatorial Committee
Agnaldo Farias
Curadores/Curators
Interpretação Ltda. (exposição/exhibition)
Ana Maria Maia
Direção de arte/Art director
Felipe Scovino
Jader Rosa
Gabriela Motta
Paulo Miyada
Projeto gráfico (catálogo)/Graphic design (catalog)
Assessoria financeira-contábil e apoio/Financial/
Gerência do Núcleo de Audiovisual e Literatura/Manager,
Accounting consultancy and support
Audiovisual and Literature Nucleus
Emmanuelly Pereira Jesus
Claudiney Ferreira
Cristiane Vieira Silva
Natalia Salu Silva
Luciana Orvat (terceirizada/outsourced)
Curadores viajantes/Traveling curators
Marina Chevrand
Alejandra Muñoz
Coordenação/Coordinator
Fabio Oliveira de Almeida
Kety Fernandes
José Antonio Sabia
Franzoi
Comunicação visual (exposição)/Visual communication
Luiza Proença
(exhibition)
Produção de imagens/Producer, images
Júlio Martins
Yoshiharu Arakaki
Jahitza Balaniuk
Coordenação de revisão/ Proofreading coordinator
Gerência do Núcleo de Produção de Eventos/Manager,
discriminadas abaixo, de autoria dos autores de cada obra.
Polyana Lima
Event Production Nucleus
75, 76, 78, 89, 93, 95, 98/99, 101, 133, 136/137, 144, 149, 155,
Henrique Idoeta Soares
158/159, 161, 234/235, 242/243, 248,257, 269, 275, 278, 289,
Sérgio Lima
Marcelo Campos
Matias Monteiro
Sanzia Pinheiro
Leonardo Tamur Terra
Todas as imagens são de Edouard Fraipont, exceto as das páginas
Vânia Leal
Revisão de textos/Proofreading of texts
312/313, 326, 360/361, 370.
Ciça Corrêa (terceirizada/outsourced)
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Agradecimentos/Acknowledgments
Janaína Melo
Adolfo Borges
José Marton
Affinite
Josiel Kantão
Alves Tegam Transportes – São Paulo (SP)
MAM Bahia – Salvador (BA)
Antonio Mello Neto
Mamam – Recife (PE)
Arte Y Verde – Ernesto Gerrard
Mara Fainziliber
Caio Tarantino
Maxi Áudio
Capacete – Rio de Janeiro
Milton Abirached
Carolina Zoli
Museu de Arte de Joinville – Joinville (SC)
Casa Andrade Muricy – Curitiba (PR)
Museu de Arte do Espírito Santo – Vitória (ES)
Casa das Onze Janelas – Belém (PA)
Museu Inimá de Paula – Belo Horizonte (MG)
Centro Cultural Octo Marques – Goiânia (GO)
Museu Piauí – Teresina (PI)
Centro Cultural UFG – Goiânia (GO)
Museu Universitário de Arte – Uberlândia/ MG
Centro de Cultura Dragão do Mar – Fortaleza (CE)
Museu Victor Meirelles – Florianópolis (SC)
Claudia Malaco
Paço Imperial – Rio de Janeiro (RJ)
CRAC – Valparaíso (Venezuela)
Palacete das Rosas – Araraquara (SP)
Daniela A. Azevedo Roman
Palacete Provincial – Manaus (AM)
EAV Parque Lage – Rio de Janeiro (RJ)
Palácio da Cultura – Boa Vista (RR)
Equipe de educadores /Team of educators
Pedro Teixeira
Euller Alves
Pinacoteca Universitária da Ufal – Maceió (AL)
Fernanda Marques
Renata Bittencourt
Fernando Marques
Rita Carneiro
Fundação Cultural de Chapecó – Chapecó (SC)
Sacolão das Artes
Fundação Iberê Camargo – Porto Alegre (RS)
Sesc Amapá – Macapá (AP)
Fundação Joaquim Nabuco – Recife (PE)
Sesc Arsenal – Cuiabá (MT)
Gabriella Marques
Sesc São Luís – São Luís (MA)
Gasworks – Londres (Inglaterra)/ London (UK)
Sociedade Semear – Aracaju (SE)
Geraldo Siqueira
Thiago Borazanian
Instituto de Artes da UnB – Brasília (DF)
UFRN – Natal (RN)
Instituto de Artes do Pará – Belém (PA)
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – Cachoeira (BA)
JA.CA – Belo Horizonte (MG)
Usina Cultural Energisa – João Pessoa (PB)
tipografia Verlag e Adec
papel paperfect offset 104g/m2
impressão Pancrom
tiragem 2000
376 | 377
378 | 379
Realização