Professora Ruth F. Borga

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Professora Ruth F. Borga
Professora Ruth F. Borga
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FICHA INFORMATIVA
ESCOLA:
ESCOLA ESTADUAL DE 1º E 2º GRAUS “NOVO MUNDO”
LOCAL DA EXPERIÊNCIA: O MESMO
PRÊMIO INCENTIVO À EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL
ESCOLA: Escola Estadual de 1º e 2 graus “Novo Mundo”
ENDEREÇO: Rua Juscelino Kubitschek S/N
CEP: 78.528.000 FONE: (0XX65) 539-6076
MUNICÍPIO: Novo Mundo - MT
1-CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO/ GEOGRÁFICO
1.1-CONDIÇÕES GERAIS DO PRÉDIO
*Precárias
1.2- NÚMEROS DE SALAS DE AULA
*11 salas no prédio e duas 2 improvisadas
1.3- LOCALIZAÇÃO EM RELAÇÃO AO PERÍMETRO URBANO E
RURAL
*Urbano
1.4- LOCALIZAÇÃO EM RELAÇÃO AO CENTRO DO MUNICÍPIO
*Central
2- CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE ONDE ESTÁ INSERIDA
2.1-RECURSOS SOCIOECONÔMICOS E CULTURAIS
*Sociedade fundada através do garimpo, atualmente sobrevive da pecuária
agricultura e extração de madeira.
2.2 OUTRAS CARACTERÍSTICAS
*Grande diversidade étnica
3-CARACTERIZAÇÃO DO ATENDIMENTO
3.1-SITUAÇÃO ATUAL DA RELAÇÃO ENTRE A OFERTA E
PROCURA DE VAGAS
A- EM GERAL *Grande Procura/Altos índices de evasão
B- POR PERÍODO *Maior procura no período vespertino
C- NO ENSINO FUNDAMENTAL *Séries com maior números de
alunos/mas há vagas.
D- NAS SÉRIES INICIAIS DE I a IV* Falta Professores / grande procura
3.2-PERÍODOS DE FUNCIONAMENTO: Matutino, Vespertino e Noturno
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3.3-NUMEROS DE ALUNOS
A-EM GERAL * 850 ALUNOS
B-POR PERÍODO * Matutino: 360
Vespertino:400
Noturno:150
C-NO ENSINO FUNDAMENTAL: 650 alunos
D-NAS SÉRIES INICIAIS(1º A 4º ) 300 alunos
3.4-NÚMEROS DE PROFESSORES
A- Geral:
35
B- 1º série: 04
C- 2º série: 02
D- 3º série: 03
E- 4º série: 03
3.5 –NÚMEROS DE CLASSES
A- Em Geral
B- Por Período: Matutino: 13
Vespertino: 13
Noturno: 08
C- No Ensino Fundamental: 13
D- Nas Séries iniciais: 1º a 4º /Discriminar período Matutino : 09
Vespertino: 07
Noturno: 00
E- De Aceleração ( Discriminar pôr período)
Matutino ( aceleração 1º ciclo)
Vespertino (aceleração 1º ciclo)
Noturno: não tem
4-MECANISMO DEE PARTIÇPAÇÃO DA COMUNIDADE
A- CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO DA APM* Não tem
B- CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO CONSELHO DE ESCOLAS*
Funciona Regularmente
C- OUTROS
5- OUTRAS CARACTERISTICAS DA ESCOLA :
• Gestão Compartilhada
• Implantando Escola Ciclada Gradativamente
• Não temos: Biblioteca, videoteca, sala de professores, Sala de direção,
computador. Tudo funciona precariamente em 2 salas apertadíssimas.
• O pátio é de chão batido
• O ensino médio não está regulamentado, os professores não são formados,
em nível superior, os que prestam concurso para este município não
permanecem, pois sentem dificuldades pela distancia e falta de conforto.
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FICHA INFORMATIVA
PROFESSOR / CANDIDATO
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DADOS PESSOAIS
Nome: Ruth Ferreira Borga
CPF:176-903741-15
RG:0138005-2
Endereço Residencial :Rua Airlton Senna, S/N
CEP: 78.528.000
CIDADE: Novo Mundo - MT
DADOS PROFISSIONAIS
Escola: Escola Estadual de I e II Graus Novo Mundo
Endereço: Rua Jucelino Kubitschek s/n
Fone: ( 0xx65) 539-6076
CEP: 78.528.000
Município: Novo Mundo
Carga Horária: 30hs/ semanais
I.
Remuneração Mensal: R$. 465,00 Reais
1)Formação Magistério
1.1 NÍVEL MÉDIO
Curso: Magistério
Instituição: Escola Líder cidade/ estado
Data de Inicio...../....../.......
Data de conclusão...../....../......ou em andamento........................
Aperfeiçoamento: Curso de avaliação
2-ATIVIDADES PROFISSIONAIS
2.1 Atividade referente ao trabalho escrito
Série: CBAI- Ano 1999
Período: Vespertino
Numero de aluno: 25
Alunos com defasagem idade/ série
2.2- Atividade Atual
Série: CBAC- 2000
Período: Vespertino
Numero de Alunos: 27
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Alunos com defasagem idade/série: Nenhum
2.3-Histórico da Experiência docente em Classes de 1º a 4º Série
( discriminar séries períodos e duração da experiência)
*CBAI- Vespertino- 1 ano
*CBAC- Vespertino- em andamento
2.4- Outras Experiência Docentes.
*Aulas de Alfabetização com idosos, em casa.
* Atividades recreativas com doentes Mentais, em 2 hospitais pôr 15 anos
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A EXPERIÊNCIA DE NÃO TER EXPERIÊNCIA
AOS SENHORES:
PAIS POLÍTICOS
PADRES
PROFESSORES
AOS NOVATOS: Que acreditando na capacidade do ser humano, se lança no
processo, com a alma , medo e transparência.
AOS DE MEIA EXPERIÊNCIA: Que ao deparar com a realidade de que o ser
humano não aceita tudo, mesmo você acreditando ser o melhor. Melhor para
quem??
AOS QUE ACREDITAM QUE JÁ SABEM TUDO: Que nada mais os assusta.
Que tudo é igual. Nada mais pode ser mudado mas se houver alguma mudança é
para seu próprio bem e acomodação.
PAIS,POLÍTICOS, PADRES, PROFESSORES; Todos, não é pôr coincidência
que se escreve com “P”, pois todos tem o PODER de PACIFICAR,
PERSUADIR,PERDOAR,PODAR,POSICIONAR,PREPARAR,
PROJETAR,PROTEGER, o personagem principal chamado pessoa,
PROTAGONISTA PERFEITA e com PSIQUE tão PARADOXAL.
PARABÉNS...
Em especial ao aluno Samuel, pois se não fosse ele, eu não
estaria nesse momento, lutando para divulgar essa experiência, de trazer
os pais ou responsáveis de volta para a escola e a vida de seus filhos.
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PORQUE PROFESSORA?
Quando fiz o curso de magistério, eu trabalhava em um hospital
psiquiátrico como atendente de enfermagem.
Pôr que escolhi o magistério?
Não sei. Talvez porque quando eu estudava na 4ª série, alfabetizei uma
vizinha que logo após o processo que durou mais ou menos 1(um) ano, sempre
que ela me encontrava, me tratava como se eu fosse responsável pela luz da sua
vida.
Naquela época, eu, que me achava sem valor, me senti a criança mais
importante do mundo. Ou talvez porque eu fiz um curso de terapia ocupacional e
fui trabalhar com doentes mentais, não a terapia medicamentosa, mas aquela que
faz o ser humano, HUMANO; a Terapia Ocupacional “O tratamento através da
ocupação”.
Ou talvez porque ser professor ou professora esteja entranhado nas células
primeiras de cada um dos que exercem esta profissão.
Relato aqui, apenas a idéia principal, a essência, pois estaria errando se
dissesse que relato toda a experiência, pois ela é feita dia a dia. Se colocasse
toda ela o relato ficaria com 442 páginas, que são os dias letivos destes 2 anos
de experiência, e mesmo assim faltarão páginas para as ações intermediárias e
não podemos esquecer que lidamos com seres humanos, imprevisíveis e
maravilhosos.
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DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO ANTERIOR Á EXPERIÊNCIA
Quando vi o cartaz a respeito do concurso deste ano feito pela Secretaria
de Educação, me chamou atenção o tema.
Relatar uma experiência em sala de aula. Este título veio de encontro a um
desejo meu, divulgar, mesmo que só entre os meus colegas de escola, o trabalho
que venho desenvolvendo em sala de aula com os alunos, do CBA e ao mesmo
tempo registrar e ao final comparar e mudar o que pôr ventura não tenha dado
certo.
No ano de 1999 quando comecei a lecionar para uma turma de C. B. A. I
minha experiência na área de educação era sómente no estágio do magistério, e
posteriormente com pacientes psiquiátricos, já que eu sou técnica em
enfermagem e técnica em terapia ocupacional.
A experiência no estágio não foi boa, o que me fez optar em continuar na
área de enfermagem, até no ano de 1999 quando pôr razões várias, me deparei
com uma sala de alfabetização.
Os alunos, rebeldes, agressivos, vivendo numa área de antigo garimpo,
hoje uma pequena cidade sem conforto.
Durante o 1º bimestre quase desisti, assim como fizera a professora que
passara por aquela turma, antes de mim, O desafio de não me deixar derrotar,
juntamente com um elo de ligação muito forte que me faz acreditar no ser
humano como um todo e não só aquele moldado pelo sistema em questão, me
fez prosseguir.
Após o 1º bimestre, onde eu já havia passado pelo impacto da 1º
impressão, quer de mim para os alunos ou vice e versa, fiquei pôr uma semana
trancada em meu quarto, sem vida social , apenas indo para escola, fazendo o
meu planejamento, minha estratégia, para conseguir um período de
aprendizagem saudável. Tinha uma meta. Não poderia dar aulas a uma sala, ou
turma, teria que alfabetizar pessoas, crianças em fase de construção do próprio
Eu. Nós professores erramos quando tentamos dar aula a uma turma, cada um é
um, cada aluno é impar e tem que ser tratado desta forma se não quisermos cair
no erro de querer alfabetizar robôs.
Nesse 1º bimestre dei varias atividades de sondagem e socialização. Fiz
anotações individuais, li, e reli, busquei vários métodos, teorias, retirando o que
acreditava auxiliar os alunos na sua busca pela alfabetização. Não me detive
somente aos livros, adotados na escola para aquela série, mas lancei mão de tudo
que os interessava, trabalhando interdisciplinamente e respeitando as
individualidades. Cheguei ao ponto de onde relato, e como o final do ano é o
término desta experiência, no ano que vem o que esta dando certo já penso em
adotar .
Uma delas é a complementação da reunião bimestral com os pais pela
presença dos mesmos em sala de aula, em qualquer dia, Hoje depois do 1º ano e
quatro meses, consegui que alguns pais começassem vir para a sala de aula e
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sentar com seu filho(a), e as vezes até colocando seu filho no colo, coisa que
muitos pais já haviam deixado de fazer. Participar da recreação e dos conteúdos
da matéria do quadro, hoje faz parte da rotina da sala de aula em que trabalho.
Espero que até o final do ano de 2000 eu tenho conseguido levar para dentro da
sala de aula, a maioria dos pais, tios, avós, irmãos, padrastos, ou seja, aquele que
é responsável e se preocupa com a educação do aluno que se encontra dentro da
sala de aula.
Porque a educação é direito de todos e o dever do estado, e da família.
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OBJETIVO DA EXPERIÊNCIA
Primeiro: Diminuir a agressividade dos educandos, agressividade essa
causada pelo abandono familiar, religioso e até a falta de uma recreação salutar e
trazer de volta para a escola, a família, mesmo que fragmentada, relembrando a
esta família, sua importância na construção do carater de um membro da
sociedade em que está inserida. Mostrar a está família que nem ela nem tão
pouco a escola, sózinhos, nada podem fazer pelos filhos de uma sociedade,
liberal, impunitiva, desigual e sem compromisso quer dela para os seus
membros ou vice- e -versa.
Mostrar que a escola precisa da família e esta precisa da escola para
transformar este país.
A Educação se aprende em casa. A escola instrui. Juntos Instrução e
Educação é a forma adequada para transformar e encaminhar o ser humano de
acordo com os moldes de cada sociedade.
Regras, limites, direitos e deveres todos devemos Ter, dosados. Nada em
falta, nada em excesso.
Dias atráz ouvi um comentário na televisão que dizia:
Pode existir ex marido, ex mulher, mas não existe ex Filho.
Eu complemento este comentário, também não existe ex família.
A família é aquela formada pôr laços de sangue ou de amizade. Os laços
de amizade se desfazem, mas os de sangue, jamais.
Segundo: Trazer à reflexão, os educadores, os instrutores. Mudou a visão
da sociedade. O educador também tem que mudar, repensar estratégias, estar
sempre atualizado, não confundindo visão ampla com confusão ampla.
Novas metodologias estão surgindo, mas a escola continua sendo
norteador da sociedade e o professor o direcionador. Não podemos nos esquecer
disto.
PARA REFLETIR
Antes os alunos nos chamavam de “tio” ou “tia”
Hoje quando vão chamar pela professora se confundem e nos chamam:
- Mãe!
- Pai!
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PROJETO PAPAI! MAMÃE! TE ENCONTRO NA ESCOLA
INTRODUÇÃO
Numa escola pública, de uma cidade nascida do garimpo, vivendo da
extração de madeira e com vestígios de uma população onde a criança vê, passa
e convive com a prostituição, inclusive infantil, filhos nascidos da ganância,
pobreza e falta de perspectiva de vida.
Crianças que não sabem o que é cinema, parque de diversões, circo,
algodão doce...
No pátio da escola, crianças correndo, correndo... para todo lado com a
cumbuquinha de lanche na mão, correndo, gritando, correndo, empurrando
(como se o mundo fosse acabar a qualquer momento).
Ninguém pulando corda, ninguém brincando de pique, passa anel, nós
somos 4, amarelinha, roda. Ninguém...
Toca o sino, final do recreio, mais correria, Todo mundo quer ir ao
banheiro, beber água. Na fila da sala de aula, mais empurra empurra, crianças
maiores batendo nas menores.
É nesse ambiente que iniciei uma experiência com alunos do C.B.A.I que
duraria dois anos. Se nós educadores quando nos deparamos com uma turma
dura na queda, desistir, dizer que não tem jeito e ficarmos o tempo todo
enchendo lingüiça, esperando só o dia do pagamento, reclamando que ganhamos
mal justificando assim nossa incompetência como educadores. Nada mais
estamos fazendo do que faziam os fariseus que rezando em praça pública para
que o povo visse que estavam orando e quando jejuavam diziam aos quatro
cantos que o faziam da mesma forma não merecemos ser chamados professores,
educadores, mestres mas sim hipócritas. É o que seremos .
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ESTA É A ESCOLA
Cheguei em frente ao portão, estava encostado, abri, entrei e observei.
Perguntei a alguém:
- Onde fica a secretária?
- É ali oh!
- Obrigada.
Fui ao local indicado e perguntei:
- Quem é a diretora dona Jaira ?
- É aquela ali. – me indicou a senhora que estava na secretária. Sente-se aqui
que ela já vem lhe atender.
- Obrigada.
( fiquei ali parado vendo o vai e vem das pessoas. A pasta com o currículum
no colo e a indicação do secretário municipal para as aulas de Sociologia e
Arte:
Era pouco o ganho, mas era um trabalho, Talvez quem sabe apareceriam
outras aulas; o importante é que eu iria trabalhar. Voltei dos meus
pensamentos e lá estava eu, na mesma posição.
SALA JUNTA??
A diretora chegou, me cumprimentou, e eu, me sentindo como um aluno
no seu primeiro dia de aula, disse o motivo da minha vinda. Ela me olhou,
olhou, pediu me curriculum Entreguei. Fiquei possivelmente uns 10 minutos que
para mim pareceram 10 anos. Ela olhou, analisou e disse:
- Está bem pode começar amanhã. Pegue o horário e dia das aulas com a
secretária. Só que serão poucas aulas. . .
- Tudo bem – disse eu. O importante é começar e. . .
De repente fomos interrompidas pela coordenadora que jogando um diário
em cima da mesa da diretora disse:
- Tai, a professora Luciana desistiu.
Conversaram as duas e olhando para mim, disseram:
- Você gosta de trabalhar com crianças? Temos aqui uma sala de CBAI.
- Se você quiser pode começar amanhã á tarde. O único problema é que a
sala está em construção. Você terá que dividir sua turma com a dá professora
Dalva, numa mesma sala. Tudo bem pra você?
E eu que precisava trabalhar vi ali a oportunidade.
- Tudo bem.
- Então começa amanhã
- Até amanhã. . .
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QUERIDA PROFESSORA DALVA
No dia seguinte, lá estava eu, na escola às 12:30 horas de março de 1999.
A professora Dalva muito simpática me mostrou a sala onde ela se encontrava
com a turma. Disse que eu seria a 2º professora daquela turma, que era uma
turma impossível, etc..., etc..., etc...
- Perguntei quantos alunos eram ao todo? E ela me respomndeu:
- Uns 42 mais ou menos.
- E as aulas? Perguntei. - Bom, a sua turma fica da metade da sala prá lá, a minha turma da
metade da sala pra cá. Eu explico aos meus alunos e você aos seus e...
Tocou o sino, lá fomos nós para a sala de aula. Na entrada os alunos
dispostos em duas quase filas. As meninas de um lado e os meninos do outro.
Gritos, chutes, palavrões, xingamentos... A professora Dalva teve que segurar
um pitoquinho que estava atracado num maiorzão. Grito e quase nenhum
resultado.
Entrem as meninas: Disse a professora: E lá entrou um batalhão correndo
à procura ou caça de um lugar que melhor lhes convinha.
Disse a professora:
- Entrem os meninos em ordem.
E lá vem, meu Deus do céu...
E sai da frente e corre e arrasta carteira...
E este lugar é meu!
E sai dai .
E chute daqui e dali.
A professora meio envergonhada pedia calma. “Não briguem, silêncio” e
nada, era como se não existisse ninguém falando. A professora bateu a régua
grande na mesa ( carteira que servia de mesa ). Sabem o que aconteceu ?.Ah
você pensou que eles ficaram quietinhos não !! Não ficaram, e gritava a
professora.
- A oração, a oração. Vamos fazer a oração.
Pai nosso que estais no céu ... LARGA ELE FULANO... santificado seja o
vosso nome. . .PARA MENINO. Venha nós o vosso reino PROFESSORA O
FULANO ESTÁ CHUTANDO EU ; ... e assim foi até o fim da oração.
- Professora o Samuel pegou o meu lápis. Gritou o Daniel.
- Não peguei não.
- Pegou sim...
- Eu te pego na saída.
- Eu te bato.
- Então vem...
E lá se vão os dois alunos para o chão.
- Larga.
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- Pega
- Parem com isso, Gritou a professora. Separando os dois com minha ajuda
pois ambos já eram bem grandinhos em relação aos demais alunos.
- Vão sentar, anda. Calem a boca todo mundo! A aula de hoje é ... desce da
janela Felipe você vai cair dai...
E la vem outro aluno.
- Professora eu não vou fazer porque eu não tenho lápis.
- Professora cadê minha borracha o fulano roubou.
- Não fui eu.
E gritos, mais gritos
- Todo mundo no alfabeto. Dizia a professora Dalva.
- Pare menino.
- Será possível ?
- Professora eu quero ir ao banheiro.
- Vai.
- Professora eu também quero ir.
- Vai
- Professora eu também quero.
- Não.
- Mas eu vou.
- Daniel pare de rabiscar o caderno do seu colega, Você é o maior da sala, não
tem vergonha?
O aluno olha para a professora com olhar desafiador. E mais brigas, gritos,
reclamações.
E assim foi...
Bateu o sino para o recreio. E a maioria correu pôr aquela passagem estreita e
luminosa chamada porta.
A professora respira
Pergunto:
- É sempre assim?
E vem a resposta.
- Não, as vezes é bem pior.
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OLHA O DESENHO
Observo os alunos no pátio. Meu Deus! Todos correndo pra todo lado
“cumbuquinha” na mão e correndo, empurrando, chorando, a vigia do pátio
gritava e os alunos corriam.
Era uma colherada de merenda na boca, e corriam. A impressão que tive,
era de um daqueles filmes de incêndio ou de terremoto onde todos corriam pra
todo lado.
Retorno as aulas e tudo se repetia; correria, fila, briga, entrada, arrastão de
carteira...
- Vamos pintar.- Dizia a professora, entregando com carinho o desenho
mimiografado.
- Sentem-se pintem com capricho.
Um aluno pintou em 5 minutos, veio me mostrar sua obra de arte.
Em cor vermelho ele rabiscou todo o desenho de um menino com uma bola na
mão. Chamou-me a atenção que ele rabiscou com maior ênfase as mãos e o
rosto do desenho. Este aluno chama-se Tiago. Era um dos meus alunos.
Um outro não quis pintar rasgou o desenho e jogou no chão da sala.
Perguntei seu nome e notei aliviada que não estava na lista dos meus alunos. Seu
nome: Samuel.
MENINAS COMPORTADINHAS
Havia um grupinho de meninas caprichosas e ao olhar a lista vi que eram
minhas alunas. Respirei aliviada e pensei: Graças a Deus estas são boazinhas,
eram elas: Leciane, Welkssilândia e Fátima.
Resumindo o meu primeiro dia de aula. Ao final muitos tinham perdido
lápis, borrachas, apontadores, seus desenhos estavam espalhados pelo chão, a
professora tentando grampea-los em seus cadernos já grossos de desenho
dobrados e grampeados. Foi uma luta.
Tocou o sino, e lá se foi aquela enxurrada de alunos porta a fora. A
professora Dava olha para mim e pergunta:
- E aí, gostou ?
Eu respondi:
- É, quando separar as turmas, vai ficar melhor, né?
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OS ANTAGÔNICOS
Naquela noite, deitada em minha cama, o som que eu ouvia era a voz da
professora , os gritos dos alunos. Quando adormeci, tive pesadelos.
Ao acordar pensei. Não vou voltar lá não. Mas eu precisava trabalhar, e aí
voltei.
Foram trinta dias até a sala ficar pronta, mas ficou. Faltando apenas
algumas coisinhas, mas eu havia decidido que iria, solicitar implorar a separação
das turmas.
Para ver quem ficaria na sala nova, eu e minha colega de trabalho tiramos
par ou impar. Eu ganhei.
Começamos ( com a lista do diário nas mãos) a orientar os alunos na
mudança, cada um levaria sua carteira.
FOI UM ALÍVIO E UMA DOR.
UMA ALEGRIA E UMA TRISTEZA.
Aprendi, naquele dia, na pele e no coração o que nos fazem OS
ANTAGÔNICOS.
Alivio: eu iria me separar daqueles “pestinhas” da outra professora,
podendo exercer o meu “poder” sobre os meu “pestinhas”.
Dor: porque quando eles viram os “meus” alunos saindo, pela primeira
vez em 30 dias a sala se calou, pôr alguns minutos.
-
Era só o início da reação da ação.
Pôr que eles vão pra sala nova e nós não ?
Eles deveriam ficar, nós é que deveríamos ir?
Eu quero ir pra lá !
Eu também.
Alguns olhos cheios d’ água.
Aí veio a dor. Eu tinha acabado de descobrir que naqueles 30 dias de guerra,
meu coração tinha se alargado e o que eu queria era levar todos comigo. Só
que não poderia ser.
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ALUNO DO C.B.A.I.
ANO 1999
12345678910111213141516171819202122-
ADEMIR SANTOS
ANTONIO GARCIA
DANTE CORREIA
DÉBORA CORREIA
DECHARLLES RECH
ELIVELTON AIRES
FÁTIMA BALBINO
GIOVANE ROMÃO
IVAM MARCONDELI
JOSE SOUZA
KARUZI CRISTINA
LECIANE CAETANO
MARCELO BATTISTI
RAYAN DA SILVA
REILI MARIA
SABIM SILVEIRA
SÉRGIO RODRIGUO
TIAGO DE JESUS
WELKSSILANDIA FERREIRA
FELIPE
SAMUEL BASTOS
LEOMAR
SALA NOVA, VIDA NOVA
Primeira aula na sala nova, agora as coisas seriam do meu jeito.
Primeiro “REZEI UMA AVE MARIA E UM PAI NOSSO” no dito popular.
Eu quero as coisas assim, assim e pronto. Entenderam.
- Sim professora. – Tá professora...
E eu toquei minhas aulinhas. A escola estava adotando o construtivismo e o
método de C.B.A. , no qual , a coordenadora nos dizia que as atividades teriam
que ser : Interpretação com desenho , uso de letras bastão, não a exercícios de
coordenação, e uso de tema gerador.
E lá fui eu. Fiz direitinho. Só que não era o que eu queria, não era o que
esperava. Não era o que meus alunos precisavam. Eu li livros, instruções,
cartilhas e eles me davam temas de alunos já alfabetizados, e eu estava com uma
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clientela que na sua maioria, não fizera o pré, vinham de migrações contínuas,
estavam numa cidade de poucos recursos e que se originara do garimpo.
A CLASSIFICAÇÃO
A sala onde eu dava aulas era bem em frente a da professora Dalva, e
daqui eu via os alunos de lá, com aqueles olhos grandes, me sentindo como uma
mãe que abandona metade de seus filhos. Mas eu tinha que prosseguir a partir
daquele ponto, teria que fazer o melhor trabalho da minha vida, estava eu, agora
com 23 alunos assim classificados na minha concepção inconsciente:
1) O quietinho
2) O filinho de papai
3) O revoltado
4) A desertora
5) O abandonado
6) O queridinho
7) A estudiosa
8) O chorão
9)
O briguento
10) O maluquinho
11) A da outra turma
12) A entendida
13) O navegador
14) O gritão
15) A confusa
16) A vou levando
17) O sei tudo
18) O dengoso
19) A quietinha
20) O não sou daqui
21) O problema
22) O bocudo
23) A alienada
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ALUNOS OU VIDAS?
Não eram 23 alunos, eram 23 vidas e eu teria que conhecer cada uma
delas.
Dentro da sala de aula, aqueles alunos deixavam de ser crianças para mim
e se transformavam. Eram como crianças adultas, pois tinham o poder de me
desorientar, coisa que nenhum adulto tinha feito., porém quando eu os via na
rua, eram apenas crianças, só crianças.
Mas não em sala de aula.
Pensei. Tenho que deixar de vê-los desta forma. Preciso mudar,
aperfeiçoar.
Mas como??
Fui seguindo orientações, algumas boas, li muito Paulo Freire, li os PCNs,
livros e livros, métodos de alfabetização.
Não era muito o que eu queria, mas eu acreditava neles, e seguia
fielmente, como um discípulo segue seu mestre.
Só que: “ DISCÍPULO TEM QUE TER SUA PRÓPRIA
PERSONALIDADE, SEU PRÓPRIO MEIO, SUA MARCA REGISTRADA.”
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UMA EXPERIÊNCIA CHAMADA SAMUEL
(fase 1 )
O TERROR DA SALA
Numa Sexta-feira após o recreio a coordenadora me chamou dizendo que a
partir de Segunda-feira, o aluno Samuel, iria estudar na minha sala pois a
professora não aguentava mais o menino que não parava em sala de aula,
agredia diariamente de 4 a 5 crianças não parava com os materiais que os pais
compravam para ele. Respondia rasgava caderno e jogava na professora. Já
havia levado, advertência, suspensão e nada...Esse comportamento, fiquei
sabendo, já vinha desde o prézinho.
Naquele final de semana, não dormi direito, lembrando de como era o
comportamento dele quando ainda não havia separado as turmas. Me corria um
calafrio pela espinha, eu procurava no fundo do meu sub consciente. A forma, o
meio, de fazer com que aquele aluno entrasse na mágica da alfabetização. As
vezes tinha medo, às vezes pavor. Meu sub consciente começou a dizer. O que é
isso. Ele é apenas uma criança. Repeti essas palavras “sem exagero”, umas
trezentas vezes.
É APENAS UMA CRIANÇA
À tarde, na escola eu procurava com o olhar, no fundo eu torcia
para que ele não viesse, mas ao tocar o sino, lá estava ele. Até que ele é bem
bonitinho “pensei” me lembrando do monstrinho que eu havia criado na minha
mente.
Começamos a aula, e eu o apresentei aos demais ( como se precisasse)
todos ali já o conheciam, pois a maioria já tinha apanhado dele.
O SERMÃO
Expliquei ao Samuel , que ali todos queriam estudar, que para ele ser uma
pessoa formada ele teria que estudar, perguntando se ele não gostaria de ser
como seu pai, que era secretário de Educação do Município...
Observei o seu material. Tudo novo, caderno, lápis, borracha...
A aula transcorreu normal á medida do possível. No recreio sem
incidentes. “Isto é bom” pensei. Após o recreio o aluno não tinha lápis de côr
para fazer o desenho que eu havia entregue, e como eu conhecia o pai dele,
passei uma caixa de giz de cera, para que o menino pintasse o desenho, pois
ninguém queria sentar perto ou se quer emprestar lápis de cor para o mesmo.
Disse a ele para que falasse ao pai para mandar um real afim de entregar na
papelaria.
O desenho dele, eu jamais me esqueci. Demorou três minutos para ser
pintado, ele usou giz de cera preto e vermelho passando nas mãos pés e cabeça
do desenho, que era a figura de um carteiro. Insisti que pintasse mais alguma
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coisa. Não quis, e até o final da aula recusou a fazer qualquer coisa. Bateu o
sino.
Que alivio. Pensei comigo mesma, não foi tão difícil assim.
NAQUELE DIA ELE RASGOU O CADERNO
No dia seguinte, até faltarem 5 minutos para o final da aula, tudo tinha
acontecido mais ou menos bem, mas pelo menos Samuel não tinha batido em
ninguém, até aquele momento, porque depois...
Uma briga na sala, era ele, Samuel com um coleguinha em seguida o soco
na cara, e pronto, tinha começado o que eu mais temia. Apartei a briga, ouvi
ambos e falei ao Samuel que ele ira ficar comigo na sala de aula depois que
batesse o sinal, além de dizer que ele não poderia ter feito aquilo, etc etc etc.
Sabem o que ele fez?
Olhou pra min com aquele olhar de ódio e rasgou todinho o caderno
jogando no chão. Aí calmamente disse que só pôr ele ter feito aquilo, iríamos
ficar até as 5.20. Sabem o que ele fez?
Pegou o lápis de cor quer eu tinha dado para ele pintar, quebrou jogou no
chão, pisou em cima e me xingou. Aí calmamente eu disse a ele, por ter tomado
aquela atitude iríamos ficar até 5.30.Nisso bateu o sino, dispensei os outros
alunos e fiquei sozinha com ele na sala. Tentei chegar perto dele, só que ele não
queria me ouvir, começou a chorar e gritar bem alto e revirou todas as carteiras
da sala, inclusive as cadeiras, puxou as cortinas da janelas, chutou o lixo...
Enquanto ele fazia isso eu tentava não perder a calma, a coordenadora
apareceu na porta da sala, eu expliquei o que tinha acontecido, ela me dando
razão. Pedi aos coleguinhas que moravam perto da casa dele, que avisassem a
mãe que ele havia ficado de castigo e que, por ter feito aquele alvoroço na sala,
ficaria ali, até o pai ou a mãe vir busca-lo.
Eu sabia que a mãe dele estudava no colégio à noite, sabia também que
alguma coisa eu teria de fazer, senão as coisas com ele iria ser do mesmo jeito
que eram na outra sala. Tinha observado que muitas vezes ia reclamação dele
para casa, no dia seguinte ele aparecia todo marcado de cinta, deduzindo eu, que
o mesmo tinha apanhado em casa, mesmo assim, na escola, sempre agredindo os
colegas, um dia ele havia usado um lápis como arma na sala, nas costas de outro
aluno, ferindo-o.
E ali ficamos nós, num momento ele gritava, no outro, resmungava, no
outro ficava quieto Num dado momento em que ele estava bem agressivo
segurei-o e apertei-o contra o meu peito. Ficamos ali, pôr uns 20 minutos, ele
tentando se livrar de mim, e eu abraçada a ele , tentando acalmá-lo, fazer com
que aquela ira toda se dissipasse , pedia a Deus que me ajudasse. Estava uma
tarde muito quente, nós dois suávamos muito.
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Naquele momento eu não tinha nenhum plano, nenhuma estratégia, eu só
sabia que teria que quebrar aquele círculo vicioso, daquela criança, apanhar em
casa e bater na escola. E nós ficamos ali. A noite já estava chegando.
MÃE VAMOS DIVIDIR RESPONSABILIDADE
O vigia da noite havia chegado, vendo aquela confusão na sala de aula, me
perguntou o que tinha acontecido. Eu expliquei. Ele me dizia que eu estava
certa, e falando duro com Samuel, mandou ele arrumar todas as carteiras, já que
as mesmas estavam com as pernas todas para o alto.
Começaram a chegar alguns alunos do turno da noite, que ficaram
olhando o Samuel , como se ele fosse um animalzinho enjaulado. Eu não gostei
disso. Chegou a diretora, e eu expliquei tudo o que tinha acontecido ela também
me deu razão, ai solicitei que me deixasse ficar na secretária ou na diretoria,
esperando a mãe ou pai do aluno, ela então cedeu a diretoria. Nisso já eram 10
minutos para as 19 horas e nada. Pensei em esperar até as 19 horas se a mãe não
viesse buscar, eu o levaria até a sua casa.
CHEGOU A MÃE
Dezenove horas, chega a mãe. Brava, revoltada, dizendo que eu não
deveria ter feito aquilo , que era contra a lei, que ela iria me processar nem
sequer quis saber o motivo. Deixei que falasse bastante. Aí chega a diretora.
Pensei comigo “Chegou a ajuda para conversar com a mãe”. Me enganei.
Quando a mãe começou a dizer as mesmas coisas que tinha me dito, à diretora
então disse uma frase:
Eu também achei errado o que a professora fez.
MEU MUNDO CAIU
Eu olhei para a diretora, para a mãe do aluno. Naquele momento minha
vontade era sair dali sumir, largar tudo. Aí olhei para o aluno que estava sentado
no sofá, algo dentro de min se transformou. Entrou em mim uma força que eu
não sei da onde veio, fechei a porta da diretoria, e disse; ora olhando para a
diretora, ora olhando para o aluno, oro olhando para a mãe:
- Mãe, olha bem para essa criança, o que vocês acham que eu deveria fazer?
A mãe respondeu:
- Mandasse me avisar que ele tinha feito isso na escola.
- Pra que? Respondi.- Pra ele ser espancado em casa, chegar na escola todo
marcado de cinta, e descontar toda sua raiva nos colegas da escola?
- Diretora, mãe, essa criança está com um grande problema, que também e
nosso problema. Há dois anos, Samuel vem tendo problemas na escola, já foi
feito advertência, suspensão, já foi chamado a senhora mãe e o que a senhora
tem falado. Que já não sabe mais o que fazer . Está na hora de unirmos,
escola, professora, mãe, diretora, e em encontrar-mos uma solução, juntos. Se
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eu estou errada, então me diz o que fazer para ajudar esse menino, que não
seja para ele apanhar em casa e voltar com mais raiva da escola, dos colegas,
e da professora.
- Mesmo assim, você agiu errado e eu vou te processar- Disse a mãe.
QUEM VAI LEVA-LO
E agora quem vai leva-lo para casa?- Perguntou a mãe do Samuel porque
eu tenho aula agora .
Nesse momento eu respondi:
Bem mãe, já que a senhora não pode faltar aula pra levar seu filho para
casa, e ele ainda está sob a responsabilidade minha e da escola, eu o levarei para
casa. Não se preocupe, pois enquanto ele estiver aqui na escola, nos temos o
dever de protege-lo.
E assim fiz, peguei Samuel pela mão fui andando portão afora.
Já era noite escura. Eu estava com sede, parei num hot-dog, perguntei se
ele não queria tomar um refrigerante, ele me olhou e balançou a cabeça, num
sim. Pedi dois refrigerantes com canudinho, entreguei o dele e lá fomos nós.
Perguntei aonde ele morava, pois eu sabia pra que lado mas não exatamente,
aonde. No meio do caminho, Samuel me perguntou se poderia levar o restante
do refrigerante para irmã dele.
Respondi que sim.
Ele mostrou a casa onde morava, deixei- o no portão. Antes porém disse a
ele. O que eu havia feito, não era porque não gostava dele, pelo contrário, era
porque eu o queria muito bem. Perguntei se eu poderia lhe dar um beijo. Ele
ficou quieto, achando que fosse o consentimento beijei-lhe a testa. Ele entrou
correndo.
ELE NÃO VEM MAIS
Na escola, opiniões divididas, uns achavam que eu agi certo, outros não.
Naquela noite, mal dormi. No dia seguinte, Samuel não foi a escola, pensei: “Ele
não vem mais”, era uma sexta-feira .
Meu final de semana foi longo, acreditei que ia perder o emprêgo.
Nem segunda-feira e nem terça-feira Samuel apareceu na escola. Me achei
a maior bruxa da história, porém acreditei ter feito o correto.
Quarta-feira lá vem Samuel, com caderninho, lápis, e borracha nova todos
olhavam, mas ninguém ousava dizer uma só palavra do que tinha acontecido na
semana passada.
Também eu, não comentei nada, mas ao olhar em seus olhos, percebi.
Alguma coisa tinha mudado. Nós dois sabíamos. Não sabíamos o que, mas algo
tinha mudado, entre mim e ele havia formado um elo. Já estávamos, nos últimos
dias do bimestre. Samuel passou a querer aprender alguma coisa. Apesar de não
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termos mais tempo para começar tudo do início. As vezes ele ficava nervoso
quando não entendia. Aí eu pedia calma, que com o tempo ele ia aprender, o
importante era que ele estava com vontade, já era um bom começo. Ele não
sabia, as vogais , o alfabeto, nem numerais até 10. Mas Samuel aprendeu uma
coisa bem mais importante. APRENDEU A SORRIR, a ABRAÇAR.
As vezes eu abraçava os alunos na entrada da sala, naquele dia eu disse a
eles que eu estava triste e queria ser abraçada. Não me lembro muito dos abraços
dos demais, mas me lembro do abraço do Samuel. foi apertado, e pôr aquele
abraço, me valeria perder até o emprego.
SAMUEL VIROU ANJO?
Samuel nunca mais teve problemas? –vocês podem perguntar.
E eu respondo:
- Sim. Samuel não virou anjinho não. Ele passou a ter os probleminhas
normais da idade dele.
Se antes ele não poderia jogar futebol. pois batia no time todo. Hoje ele joga,
reclama, xinga, mas numa boa, às vezes fica nervoso, ameaça não jogar,
mais no final tudo bem.
Dentro da sala de aula, já faz equipe para estudar, já empresta lápis ou
recebe dos colegas de classe, quando ele não tem. Ainda não conseguiu ler
nem o básico do CBAI para passar para o CBAC, mas quando eu fizer a
avaliação descritiva, vou me referir ao que ele não aprendeu, que é quase
tudo, que um aluno precisa para passar a 2º série , mas graças a Deus, esta
escola já adota o sistema ciclado e não seriado, pois o que ele aprendeu e
superou, infelizmente não faz parte do conteúdo que o aluno precisa aprender
para passar para a 2º série, mas já faz parte do conteúdo que o aluno precisa
para O CICLO BÁSICO DE APRENDIZAGEM CONTINUADA. E isso
vou relatar.
Espero que estejamos juntos nessa etapa.
O relatório do aluno Samuel ficou assim:
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ERA HORA DE MUDAR
Desde o estágio do magistério, que acredito ser possível trabalhar
alfabetização de forma interdisciplinar, respeitando a individualidade de cada
aluno, pôr isso após o incidente com o aluno Samuel, eu resolvi colocar em
prática minhas teorias pedagógicas, Quando conversava com a coordenação e
não obtinha respostas aos problemas da turma em questão e as ajudas que
obtinha era só de forma evasivas que não somariam em nada. A partir
daquele dia, eu iria assumir as responsabilidades sim, só que não sozinha, e
nem iria continuar com reuniões com alguns pais que só ouviam os
problemas dos filhos. Para eles as “reuniões com os pais” deveriam ser
terríveis, na verdade reunião não, monólogos. Só o professor fala, e ao
término entrega as notas, e pronto. Minha meta:
Trazer os pais para dentro da sala de aula.
Eu tinha uma estratégia comigo, pôr várias vezes eu rascunhei para
colocar em prática, e não consegui apoio. A experiência com Samuel me
fortaleceu, ele foi meu esteio, meu alicerce para me transformar em um
educador melhor e menos frustrada.
Conversei com meus alunos de ser humano para ser humano, pois acredito
que o valor não se mede pelo tamanho pela idade ou pela experiência, e
quem estava fortalecendo meus ideais era uma criança chamada Samuel.
A vida é uma troca e o ser humano é único, e assim eu iria assumir este
tratamento com os alunos daquele dia em diante.
Conversamos a respeito de entrarem e saírem da sala de aula a todo
momento, ficarem na porta, gritar dentro da sala de aula, jogar papeis nos
colegas, querer ir ao banheiro a toda hora, beber água a todo momento, tomar
as coisas dos colegas, deixar a sala suja e rabiscar as paredes...
Ia conversando com eles sobre isso, mas eu mesma era que teria de mudar, se
quisesse mudanças. Teria que continuar a fazer meus planejamentos de aula,
é claro, porém em função dos alunos.
Teria que parar de tentar adaptar os alunos aos planos de aula e sim
adaptar os planos de aula aos alunos.
Não seria uma tarefa fácil mas quem disse que ser professor é?
*Senhores pais, a escola e a sala de aula de seus filhos estão te esperando
afim de juntos trabalharmos o aprendizado deles.
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ALGUMAS ESTRATÉGIAS ADOTADAS.
O SECRETÁRIO DO DIA:
Os alunos sempre querem ser prestativos, e é difícil agradar a todos, e
sempre cometemos o erro de receber a ajuda só dos “bonzinhos” comecei a
colocar o secretário do dia, seguindo a lista de chamada. Cada dia um era
responsável pela colaboração com a professora na sala de aula, isto valeria
para todos, sem exceção.
CADA DIA UM DIA DIFERENTE
Na sala de aula nada é igual. Todo dia é um dia diferente, e se pensarmos
na verdade o dia de ontem não pode ser igual ao de hoje e nem poderá ser
igual ao de amanhã.
Numa aula, eram próximas as festas juninas, o texto era. FESTA
JUNINA. Falamos, escrevemos e desenhamos sobre o que tem numa festa
junina ,bom aí você vai dizer. Iguais as aulas normais. Engano seu.
Durante a aula a carteira de todos estavam repletas de pipocas. Esta era a
palavra geradora. PIPOCA.
`Naquele dia comemos pipoca, falamos sobre famílias silábicas do P e C e
levamos as bolsas cheias de pipocas para casa.
IMPREVISTO
Foi tudo maravilhoso você deve estar pensando. Engano seu. Tivemos um
imprevisto. Uns 5 alunos, durante a aula tiveram dor de dente, foi um corre
corre ; partindo dali já marcamos dentista e a aula seguinte que falaria sobre
dor de dente e higiene. Pedi aos alunos que levassem suas escovas de dente
para a sala de aula, este seria o compromisso deles para a aula do dia
seguinte.
QUANDO
Quando estou triste, na entrada da sala de aula, faço beicinho e peço beijinho. Aí
é aquela beijação.
Quando estou muito, muito feliz, passo batom vermelho, e beijo um pôr
um. Ficam todos marcados.
Eu os beijo bem forte e o meu abraço é bem apertado para tentar passar a
eles, o quanto eu os amo, e isso não se faz só com pensamentos mas com atos.
*******************
Quando estou triste já chego falando:
- Hoje estou triste, ou zangada.
*Convido os pais que venham participar das aulas junto com seus filhos
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FOTO DE ALUNOS COM O SPAIK
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Quando tem um danado vou logo dizendo:
-Oh fulano! Você amanheceu ou está de zorba virada hoje é?
*******************
Eu os trato pôr, SENHOR OU SENHORA quando estou brava. E pôr
“CUMADRE” ou “CUMPADRE” quando não estou zangada.
********************
quando eu explico, explico explico alguma coisa e fazem errado ou
quando perguntam algo sem sentido, vou logo dizendo:
- Você parece que tomou leite quente e chupou manga verde, tá com febre
hoje é?
Estas são algumas de nossas marcas registradas, eles falam as mesmas
coisas também para comigo.
ESTRATÉGIAS
EU TENHO UM CACHORRO:
Eu tenho um cachorro, que na verde não é meu, é do meu filho, só que
cachorrinho aplicado nas aulas. Não falta. Todos os dias ele está na escola. No
começo eu não queria deixa-lo dentro da sala de aula, mas o bichinho insistiu
tanto, quando fechava a porta, ele ficava latindo do lado de fora, e as crianças
logo diziam:
- Coitadinho professora, deixa ele entrar.
E com isso, o Spaik, este é seu nome, foi ficando, ficando hoje é um grande
conhecido dos alunos da escola.
Já estudamos quadrúpedes, vacina, pêlo, raiva, e outras coisas no Spaik.
UM COELHO NA SALA DE AULA:
É páscoa só falar e desenhar coelho não me satisfez. Tive que revirar a
cidade toda até encontrar um.
Nas verdade encontrei daqueles pequenininhos de olhos vermelho e
orelinhas, e já quase na hora da aula, descobri quem tinha um daqueles grandões
de orelhonas enormes, e fui correndo buscar.
Naquele dia os coelhos ficaram por toda a aula dentro da sala.
Aproveitamos e além de estudar sobre a Páscoa, falamos sobre superstição do pé
de coelho. Questionaram sobre o assunto, o couro, a carne, os costumes, o
habitat, a procriação que é de 30 em 30 dias, e muitas outras coisas. Pena que eu
não pude filmar, pois foi muito bom, e proveitoso.
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* Papai ! Mamãe! A professora espera sua visita.
FOTO: SALA COM O TRENZINHO
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PLANO? PLANEJAMENTO?
Nos planos de aula eu teria que Ter o conteúdo, o objetivo, mas a
estratégia deveria partir do meu conhecimento de cada aluno.
AÍ MEU PLANEJAMENTO FICOU ASSIM:
Entrávamos na sala de aula, fazíamos a oração, mas não poderia ser
aquela oração repetitiva, mas com palavras do coração . quando alguém estava
doente, fazendo aniversário, falecido, quando o sol brilhava, quando chovia. A
oração era por outros ou por nós mesmos.
Aí eu perguntava aos alunos como eles tinham passado o dia anterior, ou a noite
ou final de semana. Todos queriam responder ao mesmo tempo, na verdade até
hoje eu não consegui que respondessem um por vez, educadamente, mas não
importa. O que importa é que os olhinhos de cada um brilham como o sol e cada
um quer contar o que fez e o que não fez.
Eu também conto o que eu fiz ou deixei de fazer aí escrevo no quadro o
cabeçalho, todos querem dizer que dia é hoje, que mês e ano, com a ajuda de um
trenzinho desenhado na parede com os dias das semana, feito com a ajuda das
professoras Jaqueline e Karine.
Muitas vezes, o sol quente, os alunos com sono, desanimados. Eu
perguntava:
- Quem está com preguiça? –ou- alguém está com preguiça?
No início, não falavam nada, ou 1 ou 2 diziam que sim, um sim amuado. Mas
quando eu falava que eu, a professora estava com preguiça, com sono, o
corpo mole, e desafiava-os:
- Será que só eu estou me sentindo assim?
Com coragem mêdo um a um ousavam dizer que estavam com aquelas
sensações horríveis que não se pode admitir que as temos dentro da sala de aula.
- Então todo mundo de pé, com as mãos em direção a janela da direita, ou da
esquerda cada vez escolhia um lado, uma direção(ESTAVA DANDO AULA
DE LATERALIDADE E ORIENTAÇÃO DE TEMPO E ESPAÇO) e lá
íamos nós a gritar.
- CHÔ preguiça CHÔ preguiça, umas dez vezes (ENSINANDO
MATEMÁTICA)Levantando o braço, para cima, para baixo, respirando pelo
nariz soltando pela boca, (LÁ VINHA CIÊNCIAS) chaqualhando os ombros
e sai preguiça.
AÍ COMEÇAVAMOS A AULA
MUITAS VEZES DAVA CERTO
*Apesar de insistentes bilhetes, nenhum pai ou mãe.
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ESTRATÉGIAS
ENTRAR NA SALA/ ENTRAR NA PRISÃO
Outras vezes, quando na fila de entrada eu via os alunos agressivos,
rebeldes, com super energia eu dizia:
- Atenção, uma volta ao redor da escola, correndo.
E lá iam eles a gastar energia.( não era para deixa-los quietinhos, era para
faze-los sentir a vida).
*Mais um dia e não consegui nenhum pai ou mãe para a sala de aula
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EDUCAR? ENSINAR? INSTRUIR?
Tem sido difícil para mim e creio eu, para a maioria do docentes educar,
que no sentido do dicionário significa: Estimular desenvolver e orientar as
aptidões do indivíduo de acordo com idéias de uma sociedade determinada.
Ensinar, instruir.
EDUCAÇÃO: Ato ou efeito de educar-se, instrução, polidez, civilidade, bons
modos.
EDUCADOR: Que, ou o que se ocupa da educação, professor, mestre, pedagogo
EDUCAR: Estimular, desenvolver e orientar as aptidões do indivíduo de acordo
com as idéias de uma sociedade determinada,, ensinar, instruir
ENSINAR: Dar instrução sobre, ministrar conhecimento a alguém, adestrar,
mostrar, indicar, educar, castigar, punir.
ENSINO: Ato ou efeito de ensinar, Transmissão de conhecimento, educação
instrução, doutrina, preceito, disciplina.
INSTRUÇÃO: ato ou efeito de instruir. Ensino, saber, conhecimentos,
adquiridos, educação intelectual ou literária.
INSTRUIR; Dar instrução ensinar, lecionar. transmitir conhecimentos, informar,
adestrar, habilitar, informar.
INSTRUTOR: Que ou aquele que instrui.
SENHORES PAIS
Educar, Ensinar, Instruir, estão intrínsicamente colocados para que toda
uma Sociedade se comprometa com o próprio futuro, de forma igualitária, na
qualidade na responsabilidade e na persuasão.
É um direito do cidadão, um dever do Estado mas acima de tudo também
é dever da família.
E os pais que juntos ou separados, tem se esquecido deste dever para com
os filhos.
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AGARREI UMA MÃE ?
Já haviam se passado sete meses, e pôr mais que eu pedisse, mandasse
bilhetinhos, nenhum pai ou mãe havia se atrevido a entrar na sala de aula.
Quando encontrava alguma mãe na rua, convidava para assistir uma aula e a
resposta era sempre a mesma:
-CHI professora, eu ando muito ocupada.
- AH professora! Não estou podendo agora.
- Eu moro longe e é difícil vir na escola, professora.
E assim foi passando o tempo, as vezes conseguia que alguma mãe, algum
pai viesse até na porta da sala, dizia algumas palavras, perguntava do aluno e
ia embora rapidinho.
Nesse dia, a mãe da aluna Fátima, tinha vindo para a cidade, faltavam
uma hora para acabar as aulas, ela estava no pátio da escola esperando, a
filha. A aluna é quem me chamou a atenção para o pátio da escola, já que na
sala não dava para ver.
- Professora minha mãe tá aí fora.
- Aonde ela está?
- Lá fora.
- Saí na porta da sala e não a vi, então pedi que a Fátima fosse convidar sua
mãe para entrar e assistir o restante da aula.
A aluna saiu e veio com a mãe segura pela mão, e com a irmanzinha a tira
colo
- Entre dona Odilia , fique a vontade, não quer sentar-se ao lado de sua filha
para ajudá-la nas atividades?
- Eu não vou atrapalhar, professora?
- De forma alguma.
Ela entrou, sentou-se ao lado da filha e acabou participando da aula.
Daquele dia em diante eu tive uma aliada.
Sempre que podia, lá estava dona Odília na sala de aula acompanhando as
filhas nas atividades.
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UMA EXPERIÊNCIA CHAMADA LEOMAR
De repente durante a aula, somos interrompidos pela coordenadora que
entrando com o aluno Leomar pela mão, pedindo licença foi logo falando.
- Olha só, aqui não tem nada de diferente da outra sala, é tudo igual, não tem
porque você querer vir para cá!
Mas o aluno insistiu, com isso a coordenadora simplesmente comunicou que
o aluno iria estudar ali a partir daquele dia.
Meu coração sobressaltou. E agora- Perguntei a min mesma. Conhecia bem o
Leomar. Ele é daquele alunos que nenhuma professora quer.
Ele não copiava nada, sempre dizia que não sabia nada, também não tinha
vontade de aprender. Respondia a professora e não parava dentro da sala de
aula.
Leomar tinha uma coisa que gostava de fazer: Andar pelo pátio da escola,
passando pelas janelas das salas. A desculpa:
- Professora eu quero ir ao banheiro.
Durante o período de aula de 3 a 5 vezes, Leomar ia ao banheiro e demorava
entre ida e vinda do banheiro que era ao lado da sala de aula dele, de dez a
quinze minutos, calculem isso mais as vezes que ao ser chamada sua atenção às
aulas, ele se enfiava embaixo da carteira e de lá só saía quando bem entendesse.
Isso quando não começavas a chorar na sala de aula, dando a impressão que a
professora estava surrando, enforcando ou até matando-o. De vez em quando
soltava lá seus palavrões com os colegas e até com a professora dele, a pobre da
Dalva.
Problemas de bexiga ou intestino, Leomar não tinha, pois sua mãe já
perdera a conta de conversas com a professora. Em sua casa quando dizia que
não ia para escola ,não ia mesmo. Uma coisa ele gostava, vender geladinho na
rua, catar latinhas para vender.
E agora o que vocês fariam com um aluno assim?
E Leomar era o inimigo nº 1 de Samuel. De uma coisa eu tinha certeza, a mesma
estratégia usada para Samuel não poderia ser usada para Leomar. Não
funcionaria.
Leomar tinha uma carência, daquelas de querer chamar atenção sobre si
de forma explícita e estar por perto da professora para receber um abraço e uma
passada de mão na cabeça.
Por isso eu comecei a chama-lo de “LÉO”, era mais carinhoso e se parecia
mais com ele do que Leomar.
Bem, como na sala todos tinham normas a seguir, estas teriam que ser
passada ao Leomar. Foi o que fiz.
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-Léo aqui nesta sala todos nós temos algumas regrinhas para podermos
aprender e aproveitar melhor o tempo em que estamos em sala.
Aqui, ninguém sai para beber água ou ir ao banheiro se realmente não for
necessário, todos tentamos, seus colegas, a professora, porque aqui nós
queremos é estudar bastante para aprendermos a ler e escrever bem depressa. Se
não prestarmos atenção às aulas, se ficarmos com preguiça de copiar, participar,
se cada aluno ficar saindo a todo momento da sala, gritar, não prestar atenção,
não participar das aulas, não conseguiremos estudar, e para que nós estudamos?
Nisso cada um dizia o seu pôr que...
- Você acha que estamos certos ou errados?
Lembrando que Léo vendia geladinho perguntei se ele já sabia dar troco, ou ao
menos ler a palavra geladinho.Ele disse que não, não sabia.
- E não tem vontade de aprender? Perguntei
Ele balançou a cabeça afirmativamente.
E o bate papo estendeu até o final da aula. Não precisava de apresentações
pois todos conheciam o aluno e nossa conversa foi mais indagativa de ambas as
partes.
Quando bateu o sinal, Leo veio me dar um beijo...
**********************
NO DIA SEGUINTE...
Cinco minutos após termos entrado na sala de aula após o recreio, Léo
pediu para ir ao banheiro, como todo mundo já conhecia a fama dele, eu disse
que naquele momento não, pois tínhamos acabado de entrar. Mas Léo insistiu
-Eu quero ir ao banheiro, professora.Com minha negativa, ele se
posicionou embaixo da carteira e fez xixi ali mesmo.
Os alunos, todos começaram a falar:
Professora o Léo, fez xixi embaixo da carteira.
Naquele momento quando alguns estavam rindo dele, eu olhei para o Léo
embaixo da carteira olhei para os alunos, e disse:
Bem senhores, vocês sabem que bebezinho e assim mesmo faz xixi, e
cocô em qualquer lugar, até na roupa, fazer o que né. Ainda bem que vocês não
são mais bebezinhos e estão aqui para estudar.
Bem, eu havia lançado minha estratégia, se daria certo? Eu iria ver
daquele momento em diante.
...Perguntei se ele não queria ir embora, para casa já que estava todo
molhado. Ele nada respondeu, Léo permaneceu embaixo da carteira até o final
da aula.
No dia seguinte, quando iniciou a aula, Léo não estava na sala.
Pedi aos alunos que quando ele chegasse, que ninguém falaria sobre o que tinha
acontecido anteriormente Nós iríamos esquecer. Apagar da nossa memória, até
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fiz um gesto simbólico. Passei o apagador na testa de cada aluno como que
apagando o que acontecera com Léo.
Após uns 10 minutos Léo chegou, entrou sentou-se no lugar estávamos
indo muito bem até que ele gritou lá da carteira dele.
- Professora, deixa eu ir ao banheiro?
Eu respondi:
- Mas Léo você acabou de chegar.
- Mas eu quero ir ao banheiro.
- Não Léo, não vai, agora não.
Aí Léo abaixou-se na carteira.
Os alunos começaram a gritar.
- Professora o Léo vai fazer cocô na sala.
E eu respondi:
- Mas a professora não falou que bebezinho é assim mesmo!
Faz xixi e cocô a cada momento em todo lugar, pois eles ainda não aprenderam
a controlar os esfíncteres.
- Credo professora o que é isso?? Falaram os alunos.
Aí fui explicar o que era esfíncteres, e o Léo embaixo da carteira.
Do esfíncteres continuamos a matéria até o recreio.
Léo não fez cocô na sala “Graças a Deus”, a partir daquele dia ele
raramente pedia para ir ao banheiro, e das poucas vezes que o fazia ia e voltava
logo, sem ficar pelas janelas das outras sala de aula. Começou a se interessar
pela aula, até já escrevia no caderno a matéria dada...
Perto do 7 de setembro, Léo pediu que eu fosse até sua casa pedir para a
mãe deixa-lo desfilar, e eu fui.
Chegando perto, da casa dele, me segurou pela mão até o portão, entrou e
gritou para a mãe, que estava conversando com a vizinha.
- Mãe, a professora tá aqui e quer falar com a senhora.
Ouvi a mãe reclamando. O que você aprontou dessa vez Léo?
- Nada mãe. Ela só veio pedir pra senhora deixar eu desfilar.
Na conversa que tivemos, ela me contou das vezes que a professora vinha
reclamar do Léo, ou mandava bilhetinho, ela não sabia mais o que fazer com o
moleque.
Eu disse:
- Não vim reclamar do Léo( acho que ela não ficou sabendo do xixi), pensei.
Vim pedir para que a senhora o deixe desfilar.
- Ah professora, não vai dar não, eu tenho que pagar a prestação da geladeira,
tô meio adoentada.
- Mas mãe, retrucou Léo, eu cato latinhas, vendo e compro a roupa do desfile.
- Tá bom se for assim...
E lá foi ela, a mãe , de volta para a cerca conversar com a vizinha.
Eu me despedi do Léo e fui embora, pensando;
“a conversa da cerca está mais importante que a minha”.
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No dia do desfile, Léo não foi, a roupa dele estava comigo, e eu já tinha
decidido se ele não conseguisse vender latinhas suficiente para pagar todo o
valor eu iria comprar, para que Léo não deixasse de desfilar.
Mas ele não apareceu...
Na segunda feira, quando Léo chegou na escola, eu perguntei o que tinha
acontecido. E ele me disse que a mãe tinha pegado o dinheiro dele por isso não
tinha ido...
No final do ano este foi meu relatório do Leomar
FICHA DE ACOMPANHAMENTO SEMESTRAL DO ALUNO
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OLHA O DEDINHO NO BOLO
No final d0 ano de 1999. Fizemos mais uma de tantas “vaquinhas” e
fizemos um bolo para a turma.
O bolo, Ah! tava uma beleza. Colocamos as carteiras em círculo e o bolo no
meio.
Os alunos tremiam de alegria.
Observem como as crianças, quando estão felizes, bem felizes, felizes que
não se agüentam, elas tremem, esfregam os pezinhos um no outro. As pupilas
chegam a saltar.
Antes de partir o bolo eu fiz um pedido. Que cada um viesse até o bolo e
enfiasse o dedinho nele.
E lá vieram um a um, os primeiros com vergonha, só tocavam a pontinha
do dedo, que saia só com um pouquinho de glacê, os últimos já enfiavam o dedo
todo. Comemos bolo pediram para levar para casa terminado, a despedida
começamos a limpar a sala. Todos ajudaram, sem querer um aluno pegou um
dos embrulhos que estava em cima da carteira e jogou no lixo, pensando que era
guardanapo sujo, só que não era. Era um pedaço de bolo de um coleguinha. Aí
foi aquela choradeira, queriam brigar.
Conversamos, um pediu desculpas para o outro, mas saíram bem sentidos
um com o outro.
******************
Terminou parte da experiência, neste ano de 1999 consegui somente uma
mãe de aluno para a sala de aula, a mãe da aluna Fátima. Isto só me dá forças
para continuar, pois vejo a mãe da aluna Fátima não como “somente uma” mas a
1ª.
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FIM DO ANO LETIVO
Eis a situação atual dos alunos:
1) Ademir santos ..................Transferido para o matutino
2) Antônio Garcia..................Transferido para o matutino
3) Daniel Correia...................Está na sala de aceleração do matutino
4) Débora Correia..................Não esta estudando, a mãe tirou da escola.
5) Decharlles Rech.................No meio do ano foi transferido para aonde a mãe
mora, no início do ano 2000 retornou para Novo Mundo.
6) Elivelton.............................No início de 2000 começou no período da manhã,
lá pôr abril retornou a esta turma.
7) Fátima Balbino...................Continua
8) Giovani Romão ..................Continua
9) Ivam Marcondeli.................Transferido para outra cidade.
10)José de Souza.....................Transferido para o matutino.
11)Karuzi.................................Continua
12) Leciane..............................Continua
13) Marcelo Batisti...................Continua
14) Rayan.................................Transferido para o matutino
15) Reili....................................Continua
16) Sabina.................................Continua
17) Ségio Rodrigo.....................Continua
18) Tiago de Jesus.....................Continua
19) Welksssilândia.....................Continua
20)Felipe...................................Voltou para o prézinho, pois não tinha condições
e nem idade para o CBAI.
21) Samuel Bastos......................Continua
22) Leomar.................................Transferido para o matutino.
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C.B.A.C.
C
CICLO BASICO DE APRENDIZAGEM CONTINUADA= TURMA C
Ano de 2000. Comecei as aulas com metade da minha turma do ano
passado, alguns alunos da professora Dalva, que foi embora para Cuiabá, e
alguns alunos do matutino da professora Cida.
O aluno Samuel queria que a irmã, que é gêmea com ele, viesse estudar na
mesma sala, então tivemos que fazer uma troca, algum aluno teria que ir para
outra sala para que a Samara viesse. Perguntei quem gostaria de ir, o aluno José
quis ir, eu fiquei muito triste, pois mesmo com problemas, não queria que fosse.
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ALUNOS DO C.B.A .C
ANO 2000
1-Angélica Aparecida.
2-Antonio Garcia.
3-Daniela Costa
4-Fátima Balbino.
5-Giovani Romão
6-Juliana Antônio
7-Karuzi Cristina.
8-leciane Caetano
9-Lorraine Costa
10-Marcelo Augusto
11-Marcelo Battisti.
12- Mariana Brito.
13-Raiane da Silva.
14-Renato Martins
15-Rhaniery da Silva.
16- Roberto de Oliveira.
17-Sabina Silveira.
18-Samuel Bastos.
19-Samara Bastos.
20-Sérgio Rodrigo.
21-Thaisa Rodrigues.
22-Thiara Silva.
23-Tiago de Jesus.
24-Vanessa Brito.
25-Welkssilândia Ferreira.
26-Decharlles Rech.
27-Elivelton Aires.
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