ousar viver - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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ousar viver - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
IHiSL
OUSAR VIVER
Encarte
especial
sobre
saúde
ANO
11
N02ó
R$ 5,00
Ligadas pelo Desejo -
EXPEDIENTE
UM OUTRO OLHAR
N^ó-Anoll
Agosto/Dez 97
PERIODICIDADE
Quadrimestral
TIRAGEM
2000 exemplares
EDIÇÃO
Míriam Marfinho
JORNALISTA
RESPONSÁVEL
Crlsriane Neder
MTB9851
DIVULGAÇÃO
E PUBUCIDADE
Luiza Granado
COLABORAÇÃO
Angela Gonçalves
Graciela H. Barbero
Lise Phone
Neli Aparecida Faria
Rosaria
DIAGRAMAÇÃO
Fátima R. S. Lima
A Revista
UM OUTRO OLHAR
é uma publicação da Rede de
Informação Um Outro Olhar,
elaborada
e produzida por
mulheres de diferentes
orientações sexuais
{lésbicas, bissexuais e
heterossexuais). Os artigos
assinados são de
responsabilidade
de suas autoras.
Caixa Postal 65092
São Paulo-SP
CEP 01390-970
Fone/Fax:
(011)2845610
E-Mail: [email protected]
Permitida a
reprodução, do todo ou de
parte, desde que citada a fonle
e enviada cópia para a Rede de
informação
Um Outro Olhar
APOIO
Frauensolidarilat
Bm dos aspectos
interessantes dos
tempos de hoje,
no geral bem
conservadores, é
observar a abertura dos setores
progressistas da sociedai de no que se refere à
questão da livre orienta^ ção sexual. Atualmente
não só lésbicas, travestis
ou gays mas também pesQ^ soas
heterossexuais
_ apoiam a luta, contra o
^ preconceito e a discrimiI
nação, em vários âmbitos.
No Brasil, a deputada Marta Suplicy trava
— acirrada batalha, contra conservadores de toQ do o tipo, para legalizar o projeto de parceria
civil entre pessoas do mesmo sexo. A Câmara
LU Municipal de São Paulo instituiu, este ano, o
Fórum de Direitos da Pessoa Humana, onde a
questão da homossexualidade vem sendo discutida não apenas por ativistas homossexuais
mas também por vários setores da sociedade
organizada. Passeatas, nas principais cidades
brasileiras, reúnem até mais simpatizantes da
livre orientação sexual do que os próprios interessados. No cotidiano da Rede Um Outro
Olhar, algumas atividades importantes já são
encaminhadas também por mulheres hetero e
bissexuais, e nossa revista foi indicada, para
vários psicólogos e sexólogos, pelo sexólogo
Oswaldo M. Rodrigues (ver Cartas na Mesa).
o 03
Cartas na mesa
O espaço para você manifestar sua opinião
^ 04
Histórias de heterror
'<! Casei para separar minha amiga do namorado
05
Em movimento
Z) As nossas conquistas no País e no mundo
CO
09
Religião
0 Budismo encontra gays e lésbicas
1 1
Poesia
Paris Film
Nos Estados Unidos,
inclusive a Disneylândia
já instituiu um dia gay e
lésbico para o pessoal se
divertir mais à vontade,
apesar dos protestos dos
evangélicos locais. Nos
filmes, mesmo cineastas
homens abordam a questão lésbica de maneira razoável e até permitem um
final feliz às enamoradas.
Sobretudo, pela primeira
vez, até onde se sabe, um
líder religioso do porte do
XIV Dalai Lama, prêmio
Nobel da Paz de 1989,
reúne-se com ativistas gays e lésbicas, nos Estados Unidos, para dizer que o Budismo apoia
a luta pela livre orientação sexual.
E, para falar sobre tudo isso e ainda mais
algumas coisas, cá estamos nós com mais
um número da revista Um Outro Olhar que,
a partir desta edição, passa a vir acompanhada, do boletim Ousar Viver, como suplemento sobre saúde. São mais oito páginas
de informações para você curtir e discutir
com a namorada, as amigas e os amigos.
Não se esqueça também que nossa revista é
interativa, e sua participação, para o aprimoramento de cada número, simplesmente fundamental. Envie-nos suas sugestões, pedidos, críticas, artigos, ilustrações, que teremos o maior prazer de atendê-las e publicálas. Boa leitura e até a próxima!
16
Ecolésbica
17
Vídeo
A água que nos dai hoje...
Ligadas pelo desejo
18
Música
19
Opinião
Marina Lima e Zélia Duncan
Preconceito
21
Leituras
22
Troca-Cartas
Além da maternidade
Transgressão
12
Foto:
Matéria de Capa
Lésbicas no cinema: um apanhado
Encontros, novas amizades
PREZADAS AMIGAS,
A revista é ótima porque retrata o
universo lésbico sob uma perspectiva engajada e profunda. Admiro
muito a idéia de lutarem pela questão lésbica dentro de um contexto
mais amplo de luta pelos direitos da
mulher. Eu, particularmente, gostaria de ter uma participação mais ativa neste sentido.
Desejo toda a força para continuarem nesta caminhada para construir uma realidade mais justa. Muito obrigada pela atenção e, acima de
tudo, pelo exemplo de coragem e inconformismo.
Um grande abraço,
Regina (Sampa-SP)
Á,W jjk,
na
mesa
AMIGAS,
Parabéns pela revista n0 25. Valeu todo o esforço, trabalho e dedicação de vocês. Já li a revista de cabo a rabo e ela está demais.
Obrigada pelo trabalho e pela coragem de colocar em circulação a
melhor revista lésbica do Brasil.
São trabalhos, como o de vocês, que
dignificam a luta pela igualdade das
lésbicas no Brasil.
yaleu!
Ângela (Sampa-SP)
QUERIDA LUIZA
E TODA A EQUIPE,
Cartas com
opiniões,
sugestões
e críticas
devem ser
enviadas
à Revista
UM OUTRO
OLHAR
CP 65092
São Paulo,
cn
01390-970
Fax: (011j
284 5610
Parabéns pela revista Um Outro
Olhar. Recebi as minhas no início
do ano, e elas estão excelentes, muito boas mesmo. Li sobre vocês no
jornal A Tribuna, de Campinas, que,
na edição de 06.04.97 dedicou quase
uma página inteira ao tema do amor
entre mulheres. Achei legal pela
abertura e também por vê-las citadas
na reportagem. Aos poucos vamos
conquistando espaços.
Apenas uma sugestão, se não for
inconveniente: na seção Troca-Cartas, vocês não poderiam colocar a
cidade da pessoa que anunciou?
Acho que facilitaria o intercâmbio.
Valeu! A Revista está ótima, maravilhosa, vocês estão cada vez mais
de parabéns. Beijos,
Denise Janoski, São Paulo, SP.
ATA
Lúcia (Campinas, SP)
REVISTA MENSAL
VANGE
Adoro a Revista. Gosto de tudo.
O que não gosto? Ela não ser mensal. Beijos, Eliane A., Gurupi, TO.
Gostaria de agradecer a você e a
toda equipe pela UM OUTRO
OLHAR, edição n0 25, que está
simplesmente MARAVILHOSA!!!
O novo visual, as novas matérias, tudo FANTÁSTICO!!!
Porque não a Revista ser mensal?
Parabéns a vocês pela coragem e pelo trabalho que realizam! Maria
Bueno, São Paulo, SP.
Não tenho palavras para descrever o quanto me emocionei com a
entrevista de VANGE LEONEL!!!
O carisma que ela nos passa e a maneira pela qual fala de sua carreira,
sua sensualidade!!! Tudo isso é mais
uma lição para guardar e praticar no
dia-a-dia. Parabéns de coração!!!
Luiza, gostaria de sugerir a publicação de uma entrevista com a atriz Lúcia Veríssimo, se possível, pois, além
dela ser linda, seria ótimo saber um
pouco de sua vida, carreira e sua opinião sobre a realidade homossexual no
Brasil assim como a atuação dos diversos grupos de emancipação.
Fico imensamente feliz por não
estarmos sós! Obrigada, Luiza, por
todo o aprendizado obtido pelo excelente trabalho desenvolvido por
você e equipe!!! Que possamos continuar sempre unidas!!!!
Um beijo carinhoso às gatas da
equipe e um abraço apertado para ti.
Ana Beatriz (RJ)
ATA
Queridas amigas,
Nossa! Fiquei tão surpresa
quando me deparei com a Vange na
capa! Fiquei super feliz por vocês
terem aproveitado tão legal minha
sugestão!!!!
Simplesmente AMEEEEEEI!!!!!!
A Revista poderia ser mensal com
desenhos eróticos, seção de humor e
de ecologia. Denise B., São Paulo, SP.
ATA
Nossos agradecimentos especiais
ao sexólogo Oswaldo M. Rodrigues
Jr. das organizações Instituto Havelock Ellis, Sociedade Brasileira de
Sexualidade Humana e da revista
Viver Psicologia pela mensagem
que enviou, via correio eletrônico,
sobre a revista Um Outro Olhar para
cerca de 40 profissionais das áreas
de psicologia e correlatas. Abaixo
seguem cópia da mensagem citada e
o endereço eletrônico do Oswaldo.
"revista Um Outro Olhar
Editada por Míriam Martinho,
uma publicação da Rede de Informaçãao Um Outro Olhar. Trata-se
de revista leiga e principalmente dirigida ao público homossexual feminino. Muito bem organizada, a revista traz muitas noticias sobre o
que ocorre no mundo em relação à
homossexualidade: depoimentos,
questionamentos, artigos de ótima
qualidade e conteúdo (em especial o
embasamento teórico que tanto falta
a outros meios de comunicação),
entrevistas, indicações de leitura..."
<[email protected]>
Organização: Instituto H. Ellis /
SBRASH /Viver Psicologia.
Por razões de espaço, sempre que necessário as cartas serão editadas.
Estas devem vir assinadas e com endereço de suas (seus) autoras(es)
UM OUTRO OLHAR
3
HISTóRIAS DE HETERROR
Casei para separar
minha amiga do namorado
Mulher
Chorando
(1937)
Picasse
Nasci numa família de gente simples, mas, ao mesmo tempo, extremamente conservadora e religiosa... Fui educada dentro dos padrões da igreja protestante. É, meus pais sempre foram crentes. Só para se
ter uma idéia, aos sete anos de idade, após uma aula na
escola dominical, onde a professora dizia que Jesus
não gostava das crianças que desobedeciam os pais, tive uma crise de choro e me senti a pior das criaturas
porque logicamente desobedecia meus pais e conseqüentemente era rejeitada por Jesus. Lembro-me nitidamente desse episódio, pois, para mim, foi terrível
acreditar que Jesus não gostava de mim. Imagina!! E
assim fui vivendo não tendo outra opção senão aprender tudo o que a igreja ensinava.
Numa outra ocasião, já aos doze ou treze anos, vivenciei, pela primeira vez, o meu lesbianismo ao me
apaixonar por uma colega de classe. Quando tomei
consciência de que estava apaixonada, que desejava
acariciá-la, beijá-la, que sonhava com ela, que só pensava nela, uma tarde cheguei em casa, ajoelhei-me aos
pés da cama e debruçada sobre ela, aos prantos, orei
para que fosse arrancado, do meu coração, aquele sentimento impuro, horroroso, do qual estava invadida.
A partir daí, neguei completamente a minha homossexualidade, decidi que precisava arrumar algum
menino para paquerar. Não precisei ir tão longe: namorei o irmão dessa minha colega.
E foi com os meninos que comecei a descobrir as sensações,
sempre com uma certa
resistência. Confesso
que tinha um certo nojo sempre que pensava
em sexo. Fora umas
poucas experiências na
infância remota, nunca
me masturbava, tinha
vergonha, pensava em
pecado e essas coisas...
Não dava certo com
nenhum namorado, até
que, quando fui para a
faculdade, comecei a
me libertar do jugo da
igreja. Conhecei pessoas mais esclarecidas,
me apaixonei pelo mo-
4UM OUTRO OLHAR
vimento estudantil, percebi que o nosso país estava
numa ditadura, tomei conhecimento dos presos políticos e tomei partido contra os militares. Meu horizonte ampliou-se tremendamente e conheci então outra
colega maravilhosa, engajada no movimento, superpolitizada, inteligentísssima. Resumindo, acabei casando com o namorado dela.
Meu casamento não durou muito. Foi só o tempo
de vivenciar a experiência da maternidade e, a partir
dai, não conseguir mais me relacionar sexualmente
com o meu marido. Alguns anos depois, sem nunca
sequer saber como era um orgasmo, resolvi me masturbar. No início, tive muita resistência (vejam que
absurdo, tinha vergonha de tocar meu próprio corpo),
mas insisti e, enfim, consegui ter o meu primeiro orgasmo, já com trinta anos! Nesse momento, baseada
em experiências que tive de sexo com homens, percebi que nenhum homem conseguiria me dar um orgasmo e que, a partir desse dia, caso me apaixonasse novamente por alguma mulher, não fugiria e assumiria
minha condição.
Hoje, após muita análise, volto aos tempos de faculdade e penso que, na realidade, casei-me para separar minha amiga de seu namorado. Bom, acho que
até hoje não entendo direito como tudo aconteceu.
Confesso que a partir do momento que descobri
quem eu era, o que sentia e o que desejava, passei a
ser mais segura, a me compreender melhor. Essa
transformação foi muito dolorida para mim. Cheguei
a ficar doente fisicamente, tive mil doenças até encontrar meu ponto de equilíbrio.
Talvez em alguns momentos, minha família tenha
percebido essa minha mudança, mas não tive coragem de me assumir diante deles. Minha filha também
já deve ter notado alguma coisa diferente, e só estou
aguardando o momento certo para contar-lhe. Só sei
que hoje estou super-bem. Não saio espalhando pelo
mundo a fora minhas preferências, mas só o fato de
ter resolvido isso comigo mesma foi como se eu tivesse nascido de novo.
Tenho certeza que muitas leitoras estão se identificando comigo e sei que há muitas mulheres que,
por conta das pressões da sociedade em geral e de
dogmas religosos, aprisionam sua condição sexual no
mais recôndito do inconsciente, ficam amargas, não
sentem prazer na vida, procuram respostas que, por
certo, só encontrarão dentro de si mesmas.
Lise Phoni (SP)
Machismo gay afasta
lésbicas da parada do orgulho
Os grupos The Women 's Action Coalition
e Chicago Lesbian Avengers decidiram
boicotar a parada do orgulho gay, lésbico
e travesti (28 de junho), em Chicago, nos
EUA, em protesto contra os insultos que
os gays lançam contra as lésbicas durante
o decorrer da caminhada. As integrantes
MULHERES
Despenalização
do aborto
Dia 28 de
setembro, é o dia
da Campanha
Latino-Americana
pela
Despenalização do
Aborto. O eixo da
campanha, deste
ano, coordenada
pelo grupo
boliviano Centro de
Información y
Desanvllo de Ia
Mujer-CIDEM, é
Quem Decide?, que
reforça os conceitos
de cidadania e o
exercício dos
direitos sexuais e
reprodutivos.
Maiores
informações:
CIDEM, fones:
(591-2)315.249
fax: (591-2)392-11
E-mail:
cidem@utama.
bolnet.bo
dos grupos compareceram ao evento, mas
não desfilaram, limitando-se a entregar
panfletos ao público onde denunciam o
machismo gay e solicitam que sejam tomadas providências no sentido de tornar
a parada agradável e segura para todo
mundo.
Beijo lésbico
cancela anúncio
Conversa eletrônica
lésbica-feminista
Na Colômbia, um beijo entre as protagonistas da novela "O Perfume da Luta" levou
um dos patrocinadores do drama, a companhia Inextra, a retirar seu anúncio do ar. O
jornal El Tiempo informou que os produtores
da novela perderam cerca de US$47,259 com
a saida do anunciante.
Na Argentina, o grupo Musas de Papel deu início
a uma conferência eletrônica sobre ativismo lésbico
latino-americano, entre outros temas, em Espanhol e
Português. Para assinar a lista e participar das discussões, deve-se escrever para o endereço de correio
eletrônico [email protected]. Para
maiores informações, pode-se escrever também a
Eleita deputada
lésbica no México
MUSAS DE PAPEL
Espacio Latinoamericano
para Ia Publicacion Lésbica
C.C.Nro. 12, Sue. 27 (B)
(1427) Capital Federal -Argentina
<musas@artemis .wamani. ape .org>
A ativista do grupo lésbico Closet de Sor
Juana, Pátria Jimenez Flores, foi eleita deputada, nas últimas eleições mexicanas de 6 de
julho, pelo Partido da Revolução Democrática
(PRD). Pelo que se tem notícia. Pátria é a primeira mulher abertamente lésbica a ocupar
um cargo público na América Latina. Seu slogan de campanha foi "Sexo Seguro, Voto Seguro. Assegure seu futuro". Pátria promete
cumprir as promessas de campanha que foram, entre outras coisas, "a institucionalização dos espaços glt comunitários e a melhoria
do tratamento das pessoas vivendo com HIV".
Maiores informações:
El Closet de Sor Juana
Apartado Postal 25-392
03421, México, DF.
Fax:(525)519.7063
E-mail: [email protected]
II Seminário de
lésbicas na Bahia
Já estão abertas as inscrições para o II Seminário Nacional de Lésbicas a ser realizado em Salvador, na Bahia, dos dias 25 a 28 de setembro deste
ano. O primeiro prazo para entrega das fichas de
inscrição foi 30 de julho, mas provavelmente haverá outra convocação. Maiores informações:
Grupo Lésbico da Bahia (GLB)
Caixa Postal 6439, Salvador, Bahia,
cep 40060-970.
Fones: (071) 384.6080/243.4902/322.2552,
com Jane ou Zora.
E-mail: [email protected].
UM OUTRO OLHAR
5
Lesbíanas a La Vista,
jovens militantes
Lesbianas a La Vista (Lésbicas à Vista) é um
grupo horizontal, de ativistas lésbicas, onde as
decisões são tomadas por consenso. Não aceitamos nem toleramos a violência em nenhuma de
suas formas, por isso rejeitamos qualquer ideologia ou adesão a movimentos fascistas, racistas,
militaristas, xenofóbicos ou outros que promovam
ou incitem qualquer tipo de discriminação e
opressão. Somos pluralistas, quer dizer, o grupo,
como tal, não se define nem como feminista nem
como filiado a qualquer corrente política ou religiosa embora suas integrantes individualmente tenham liberdade de fazê-lo,
Queremos contar-lhes que há dois meses e
meio passamos a ter uma sede (uma casa para o
grupo), onde estamos podendo realizar nossas
atividades e receber a todas as lésbicas que ne-
cessitam de um espaço para compartilhar suas
vivências, reflexões, e buscar sua própria identidade em um ambiente de liberdade e respeito.
Temos três grupos de reflexão para lésbicas e
um para lésbicas que são mães. Além disso,
continuamos trabalhando na campanha de prevenção, informação e conscientização sobre
saúde para lésbicas.
Contra a maré, apesar das grandes dificuldades que ainda temos para encontrar-nos, entre nós
mesmas, continuamos resistindo e tentando concretizar nossos sonhos.
LESBIANAS A LA VISTA
Peru 1330 - 4th Floor - Buenos Aires, Argentina
Fones: (54 1)581 01 79/361 36 43
e-mail: [email protected]
Novo secretariado de mulheres
da ILGA agora na Argentina
Na última Conferência Mundial da ILGA (Colônia, de 30 de junho a 15 de julho) o grupo argentino
Escrita en ei Cuerpo (Escrita no Corpo) foi eleito,
por consenso, como novo Secretariado de Mulheres
da ILGA até a próxima Conferência que será realizada, em 1999, na África do Sul. Escrita en ei Cuerpo
propôs como seu "alternativo" (o grupo que pode
substituí-lo caso não consiga manter-se no cargo) a
organização filipina Womyn Supporting Womyn
Committee com a qual planeja trabalhar desde agora.
Em linhas gerais, os planos do novo Secretariado de Mulheres da ILGA para os próximos dois
anos são:
1) Estabelecer contato com o maior número
possível de grupos e mulheres lésbicas, bissexuais e transgênero (LBT) em todo o mundo.
2) Apoiar as iniciativas locais, regionais ou
globais das mulheres.
3) Compilar uma mala-direta de grupos e mulheres LBT em todo o mundo, editá-la e distribuíla para que todas possam comunicar-se com todas.
6UM OUTRO OLHAR
4) Ocupar um espaço no boletim da ILGA, para notícias de mulheres, como primeiro passo para
a realização de um boletim internacional próprio.
5) Organizar um grupo de Trabalho em AIDS
para Mulheres LBT dentro da ILGA.
6) Convocar uma Pré-Conferência somente
para mulheres um dia antes da Conferência Mundial da ILGA na África do Sul.
Por ora, o grupo convida a todas as lésbicas,
bissexuais e transgênero para a Conferência Regional da ILGA que realizar-se-á em Lima, no
Peru (7-10 de dezembro). Para maiores informações, comuniquem-se com:
Escrita en ei CuerpoLesbian and Different Women's
Archives and Library
Avenida San Martin 2704 4to. C (1416)
Buenos Aires, Argentina
Telefones: (54 1) 581 01 79; 361 36 43
E.mail: [email protected]
Dia gay e lésbico na Disneylândia
PACERIA CIVIL
Parcerias
já em vigor
e ainda
por vir
A Holanda e o
Havaí competem
para ver quem
dará primeiro, a
casais de gays e
lésbicas, em 1998,
os mesmos
direitos dos casais
heterossexuais,
exceto no que se
refere à adoção.
Outros países onde
há leis similares
são: Dinamarca,
Islândia, Noruega,
Suécia e Hungria.
Em vários outros
países, como na
Espanha, Portugal
e Brasil, também
há campanhas
neste sentido.
Há cerca de 7 anos, gays e lésbicas dos Estados
Unidos passaram a visitar a Disneylândia em bando.
Para identificar uns aos outros, usavam camisetas
vermelhas. A moda pegou e, hoje, no começo de junho, sempre um dia é gay e lésbico, na Disneylândia,
com tanta gente de vermelho circulando que mais
parece passeata do PT. A onda se tomou tão popular
que protestantes batistas vem ameaçando boicotar a
Disneylândia por incentivar a homossexualidade.
Tem até site na Internet sobre o assunto com detalhes
sobre os eventos do famoso dia, fotos e etc. O endereço é www.gayday.com. Dai que se você quer se divertir na Disney, anote ai os dias onde poderá ver
mais que o Mickey e o Pato Donald. O próximo
evento gay e lésbico na Disney é a Gay Night at Disneyland, no dia 24 de outubro deste ano. O dia gay e
lésbico do ano que vem será 6 de junho, mas há
eventos comemorativos da data do dia 3 ao dia 8 de
junho. Prepare seu pacote turístico, e boa diversão.
Maiores informações: http:/www.gayday.com
Discriminação
nos serviços
de saúde mental
Projeto de parceria
civil da deputada
Marta Suplicy
Na Grã-Bretanha, lésbicas e gays estão vivendo um clima de medo, devido a casos de
discriminação e agressões verbais e físicas durante o uso de serviços de terapia, de acordo
com a pesquisa patrocinada pela organização
de saúde mental "MIND" {www.mind.org.uk).
A organização ficou tão preocupada com os
dados da pesquisa, publicados no relatório
"Sem Preconceito", que organizou uma conferência e um programa de treinamento, em Londres (11 de junho de 1997), para aumentar a
consciência, sobre estas questões, entre os profissionais da área de Psicologia.
Os dados da pesquisa revelaram que quase
fl das pessoas entrevistadas sofreram preconceito e discriminação e mais de uma, em cinco,
tinha sofrido violência sexual e física. Mais da
metade disse que os profissionais consultados
haviam atribuído os problemas de saúde mental
à homossexualidade e haviam afirmado que
eles (os pacientes) teriam menos problemas se
se tornassem heterossexuais.
Segundo Judi Clements, executiva da
MIND: " - Apesar do fato de a homossexualidade não constar da lista de problemas de saúde mental há mais de 20 anos, está claro que
muitos profissionais da área ainda a consideram como uma doença."
Religiosos conservadores armaram um tremendo
barraco na tentativa de votação do projeto de lei de
parceria civil, da deputada Marta Suplicy, em junho,
levando a um adiamento do mesmo para o final de
agosto (o que acabou não se configurando). Ativistas
nacionais e internacionais de direitos humanos estão
solicitando que todos enviem fax ou carta de apoio
ao projeto para os parlamentares que o estarão julgando. Considerando que há deputados em cima do
muro, é importante tentar convencê-los a votar pelo
projeto. Anote, o endereço e fax de alguns deles e
mande sua mensagem sem falta. Para obter a lista
completa tanto de indecisos quanto de contrários, escreva para nós.
Deputados Federais de São Paulo indecisos
(Para quem for enviar carta, remetê-la, após o nome do parlamentar e seu gabinete, para Câmara
dos Deputados, Brasília, DF, cep 70160-900. O
prefixo de Brasília é 061.
Antônio Carlos Pannunzio (PSDB), anexo 4,
gabinete 160, (fone): 318.5225; (fax) 318.2225
Hélio Rosas (PMDB), anexo 3, gabinete 478,
fone: 318.5478; (fax) 318.2478
Jorge Tadeu Mudalen (PMDB), anexo 4, gabinete 552, (fone): 318.5552; (fax) 318.2552
Marquinhos Chedid (PSD), anexo 4, gabinete
736, (fone): 318.5736; (fax) 318.2736
Robson Tuma (PL), anexo 4, gabinete 160, (fone): 318.5834; (fax) 318.2834
Welson Gasparini (PSDB), anexo 4, gabinete
160, (fone): 318.5526; (fax) 318.2526
Alan Reekie (for ILGA, Brussels)
Alan Reekie <alan.reekie@píng.be>
UM OUTRO OLHAR
7
Leis de igualdade social na Irlanda
0 Parlamento Irlandês aprovou duas leis que
proíbem a discriminação no trabalho e no acesso a
mercadorias e serviços, incluindo acomodação, serviços financeiros e educacionais, transporte, entretenimento e atividades culturais. No trabalho e em
todos os serviços citados será proibido discriminar
com base em gênero, raça, religião, idade, orientação sexual, status marital ou familiar ou deficiência
(inclui pessoas vivendo com HIV/A1DS). Fruto de
um trabalho conjunto de grupos de mulheres, gays
e lésbicas, pessoas deficientes e ONG/A1DS, as novas leis foram introduzidas pelo Ministro da Igualdade e Reforma Social, Mervyn Taylor, que declarou: "- O principio é simples: todos somos membros desta sociedade, com os mesmos direitos a ter
acesso a bens e serviços, a transporte, educação e
moradia. Rejeitamos qualquer conceito de cidadania de segunda classe ou qualquer exclusão de pessoas com base em questões como orientação sexual, deficiência física ou cor da pele."
Ameaças pela Internet assustam gays brasileiros
Um pirado da Universidade Federal de Juiz
de Fora tem enviado mensagens altamente homofóbicas para todas as listas de endereços da
Universidade de Campinas. Em conseqüência,
ativistas gays vêm solicitado que todos protestem junto à Universidade em questão não só
exigindo a expulsão do "nazi" de suas fileiras
como também solicitando que seja processado
judicialmente. O endereço eletrônico do dito é
[email protected]. Leia abaixo uma das
mensagens em questão:
"Não é difícil espancar um gay. No entanto,
não aconselho ninguém a fazer isso sozinho. Esses viados sabem se defender e muito bem. Alguns aprendem algum tipo de luta e outros andam
até armados. O ideal para espancar um gay é sair
com pelo menos três amigos que não vão te sacanear depois e que você sabe que serão leais a você. Use algum capuz para não ser reconhecido e
leve um porrete. Siga os passos dele e quando ele
estiver passando por uma rua deserta você o segura e o põe dentro de um carro tipo furgão (eu me
esqueci de dizer que é necessário ter um carro).
Então você vai dirigir até a estrada e já tenha um
local anteriormante preparado para fuder com o
infeliz. Nunca deixe que ele perceba quem é você,
pois do contrário terá que matá-lo pra não ser denunciado. Dê chutes nele, na cabeça, barriga, saco escrotal e na espinha. Não tenha medo de aleijá-lo. Você estará fazendo um bem social. Deixe
então o corpo do cara no mato sem que ninguém
te veja e cubra também a placa do seu carro para
a policia não ficar atrás de novas evidências. Se
matá-lo, afunde o corpo num rio. E não esqueça
de tirar as vísceras para o infeliz poder afundar e
ninguém encontrá-lo. Porém, o mais importante é
não deixar testemunhas. Ninguém deve te ver e
saber quem você é.
Fontes: correio-eletrônico: [email protected] ou [email protected]
Passeata do orgulho GLT em Sampa
Apesar de um atraso de horas para o inicio da passeata, apesar do trajeto maratônico
(do meio da Paulista, descendo a Consolação
até a Praça Roosevelt), a marcha em comemoração ao dia do orgulho GLT (28 de junho) acabou acontecendo. As opiniões variam quanto ao número de participantes, indo
de 400 a 1000, mas o certo é que a maioria
gostou do evento, mostrando que os tempos
são outros e há muito mais gente agora favorável à livre orientação sexual.
8 UM OUTRO OLHAR
EM DEBATE: RELIGIãO
MÍRIAM MARTINHO
Budismo encontra
gays e lésbicas
No dia 11 de junho deste ano, em San
Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos, ocorreu uma reunião histórica entre
ativistas, acadêmicos, escritores e praticantes budistas, ligados à luta gay e lésbica, e Sua Santidade, o XIV Dalai Lama,
chefe-de-estado do Tibete, e um dos mais
proeminentes mestres espirituais do Budismo contemporâneo.
Convidado para discutir a questão da
sexualidade, das prescrições contrárias a
práticas homossexuais, em textos budistas
tradicionais, e dos direitos de gays e lésbicas, Sua Santidade, que também é Prêmio
Nobel da Paz de 1989, não se fez de rogado e, num clima caloroso e tranqüilo, respondeu às perguntas dos participantes.
Para alegria geral. Sua Santidade se
posicionou firmemente contra quaisquer
discriminações a gays e lésbicas e afirmou que os ativistas de direitos humanos
podem contar com os princípios fundamentais do Budismo como apoio à sua luta. Comovido com os relatos, sobre violências e perseguições a pessoas homossexuais, que lhe contaram os participantes da reunião, reivindicou, budisticamente, respeito, tolerância e compaixão para
todos.
Sobre as prescrições contrárias a práticas homossexuais, presentes em alguns
textos budistas tradicionais, o Dalai Lama
fez questão de afirmar que vê estes textos, embora não possa reinterpretá-los
unilateralmente, como produto de um
contexto histórico e cultural particular.
Neste sentido, conclamou inclusive os
presentes a ampliar o debate sobre o assunto, entre outras comunidades e tradições budistas, de modo a, coletivamente,
procurar adaptar o entendimento dos textos citados à realidade da sociedade contemporânea.
Como se não bastasse. Sua Santidade
ainda aceitou o convite, dos participantes da
reunião, para dar continuidade a essas discussões em próximos encontros, o que pro-
mo gay budista, estou grato por esta oportunidade." (José Ignacio Cabezón, exmonge budista e professor de Filosofia da
Escola Iliff de Teologia de Denver, EUA)
XIV Dalai Lama, chefe-de-estado do Tibete
vavelmente trará maior amplitude e aprofundamento às discussões sobre a relação
entre o Budismo e os direitos dos que se relacionam com pessoas do mesmo sexo.
Praticantes budistas homossexuais e
ativistas pelos direitos de gays e lésbicas
saíram emocionados e entusiasmados da
reunião, declarando:
" - E sempre impressionante ver como
Sua Santidade transcende o contexto cultural de sua própria tradição e trata, no
aqui e agora, de proscrições aparentemente absurdas sobre as necessidades e
desejos dos seres humanos. Deixei a reunião com o sentimento de que este é um
primeiro estágio em um diálogo excitante
e estimulante entre Sua Santidade e outros professores budistas, de um lado, e
gays e lésbicas budistas e ativistas de direitos humanos de outro. (Lourdes Arguello, professora de educação da Escola
CTaremont e integrante da diretoria da organização Buddhist Peace Fellowship)
"- Esta discussão aberta e honesta da
doutrina budista tradicional, com a participação de um de seus mestres mais proeminentes, é uma mostra do melhor Budismo do século XX" (Steve Peskind da organização Buddhist AIDS Projecf).
" - O apoio de Sua Santidade, o Dalai
Lama, a nossos direitos é muito significativo. O Prêmio Nobel suscita grande respeito, entre pessoas de todo o mundo, e é
altamente considerado por suas palavras
de sabedoria. Espero que sua mensagem
de não-discriminação e respeito por nossos direitos venha a ter considerável impacto também sobre outras religiões."
(Tinku Ali Ishtiaq, co-presidente da Comissão Internacional de Direitos Humanos de Gays e Lésbicas)
"- Como um monge plenamente ordenado e abertamente gay, estou encantado
com as palavras de Sua Santidade. Posso
agora voltar para meu templo e dizer
a(os) praticantes gays, lésbicas e bissexuais ainda budistas, que eles continuam
bem-vindos e que estão tão bem preparados para seguir o caminho budista como
qualquer outra pessoa." (Ven. K.T. Shedrup Gyatso, Diretor Espiritual do Templo Tibetano de San José).
"- Senti-me animado e encorajado por
este diálogo. É maravilhoso ver um pensador religioso do calibre de Sua Santidade,
o Dalai Lama, tratando com questões de
ética sexual e especialmente de direitos e
responsabilidades de gays e lésbicas de
forma tão precisa, aberta e empática. Co-
Maiores informações
sobre o encontro:
IGLHRC, 1360 Mission Street, Suite 200,
San Francisco, CA 94103 EE.UU.,
+ 1415-255-8680 (telefone),
+ 1-415-255.8662 (fax); e-mail: iglhrc®
iglhrc.org; home-page; http:/www.iglhrc.org
UM OUTRO OLHAR
9
EM DEBATE: RELIGIãO
BUDISMO
Transcendendo
um Deus pessoal
As declarações de Sua Santidade,
o XIV Dalai Lama, em apoio aos direitos humanos de gays e lésbicas, na
histórica reunião do dia 11 de junho,
em San Francisco, na Califórnia, encantou naturalmente a seus participantes, mas não deixa de ser apenas conseqüência da própria doutrina budista
encaminhada, nesse evento, por um de
seus filhos mais eminentes.
Surgido há mais de 2500 anos, na
índia, tendo como fundador o príncipe
Sidarta Gautama, o Budismo faz, da tolerância, da compaixão e do respeito a
todos os seres vivos, sua maior bandeira. Mais uma psicoterapia super-especializada (a meditação budista é um
instrumento de autoconhecimento) do
que propriamente uma religião, embora
não se possa descartar seu aspecto místico, a doutrina budista se basea no intelecto (é empirista, científica) e não na
fé, caracterizando-se por grande flexibilidade e anti-autoritarismo.
O próprio Sidarta, o primeiro Buda, dizia que, colocando em termos
bem populares, devia-se ver para crer
no que ele dizia (experimentar por si
própria(o) o que ele dizia) para só depois seguir-se seus ensinamentos. Dizia também que os textos budistas precisavam adaptar-se ao tempo e ao espaço, razão pela qual o Dalai Lama se
sentiu à vontade para apoiar uma reinterpretação dos escritos contrários a
práticas homossexuais nas escrituras
budistas. Da mesma forma, muitas
mulheres, interessadas no Budismo,
têm-se valido dessa possibilidade de
adaptação dos textos budistas à realidade de nossos tempos como forma de
descartar o sexismo presente, em alguns aspectos dessa religião, e aproveitar-se do que ela tem de bom.
E o Budismo possui muita coisa de
bom, apesar de - como toda religião - ter
seus foras, suas bobagens, principalmente no terreno da sexualidade. De qualquer forma, no geral, trata-se de uma
1 OUM
OUTRO OLHAR
No diva,
com a analista
doutrina bastante aproveitável por qualquer pessoa. Como exemplos positivos,
podemos citar que, ao contrário de outras
grandes religiões, como o Cristianismo,
o Islamismo e o Judaísmo e todos seus
derivados, o Budismo não tem - como se
orgulham de dizer os budistas - sangue
nas mãos. Na história do Budismo, segundo historiadores do assunto, não
constam casos de perseguições a outras
crenças ou pessoas de fé ou idéias diferentes das budistas mesmo em países onde o Budismo é hegemônico. Com sua
visão de que tudo é interligado e de que a
vida de todos os seres vivos (seres humanos, animais, plantas) é sagrada, o Budismo se caracteriza como uma das religiões mais ecológicas atualmente vigentes. Com sua idéia de que os seres humanos é que são inteiramente responsáveis
por suas vidas e pelas vidas de todo o
planeta e não um Deus punitivo ou recompensados o Budismo, a partir da
transformação de cada indivíduo, ajuda a
formar pessoas mais íntegras e engajadas
na luta por um mundo melhor.
Não à toa o criador da teoria da relatividade, o físico Albert Einsten,
disse do Budismo: "A religião do futuro será cósmica e transcenderá um
Deus pessoal, evitando dogmas e a
Teologia. Abrangendo os terrenos material e espiritual, essa religião será
baseada num certo sentido religioso
procedente da experiência de todas as
coisas, naturais e espirituais, como
uma unidade expressiva ou como a expressão da Unidade. O Budismo corresponde a essa descrição."
Esta é uma nova seção
da Revista Um Outro Olhar.
Você pergunta e a
psicanalista Grade/a H. Barbero
responde questões ligadas
ao cotidiano lésbico.
Se sentir-se mais confortável,
use um pseudônimo.
"Moro em uma cidade pequena. Tenho poucos amigos e, apesar de viver
com minha família, me sinto muito só.
Tenho dificuldades para conviver socialmente, por isso não trabalho, abandonei os estudos e não saio mais para
me divertir...
Se possível gostaria de sua ajuda.
Tenho medo do mundo lá fora e não
sou compreendida por esse modo de vida. Enfim, acham ser frescura."
Adelaine, Tamarana, PR.
Amiga solitária:
Nada me permitiria adivinhar alguma
coisa sobre a origem de seus problemas
se não fosse porque sua carta foi dirigida
a uma publicação lésbica que, por outra
parte, se orgulha muito de sê-lo.
Posso entender seu medo e até sua
vontade de fazer de conta que não é com
você, mas, além de ser solitário, esse
"modo de vida" (que não é frescura, não!)
é triste e inútil. Saiba que tem muita gente
que já passou por coisa parecida e que,
para se encontrar com eles (e também
com suas próprias partes escondidas) precisa sair da toca e começar a andar.
Se tem poucos amigos, se se sente
sufocada pela família e mora numa cidade muito pequena para seus desejos...
mude-se. Precisa ampliar seus horizontes. Escreva-nos mais.
Duas Amigas (1913)
Egon Schiele
Transgressão
lho o rubro filete
a verter das tuas entranhas,
or entre as ramas
ao sul do teu ventre.
Calma de vertente
a esvair-se
na brancura dos panos.
No vertical das tuas coxas
entreabertas viajo.
Na minha boca,
a outra boca,
faz-se doce
o sabor do ferro
e o prazer da transgressão.
RÔ
m
Quando a Noite Cai (1995) e ganha o prêmio Escolha do Público do Festival de
Berlim, contando a história de uma professora protestante que se apaixona por uma
artista de circo. Realismo-mágico é o ponto forte do filme. Rozema disse, em uma
entrevista, que, por enquanto, fazer filmes
sobre lésbicas e minorias é como ter que
pedir desculpas e ficar o tempo todo explicando o porquê das coisas.
Por último, Duas Garotas in Love
(1995), de Maria Maggenti, leve, gostoso de
assistir, conta as aventuras e desventuras de
uma garota lésbica, Randy, que vive com
uma família de lésbicas e que se apaixona e
é correspondida pela bela e rica Eve que estuda no mesmo colégio. Além de colocar o
lesbianismo em cheque, o filme mexe com a
questão do relacionamento entre raças.
ANOS 90, MODISMO
LÉSBICAS CHIQUES, NEURÓTICAS,
BELAS, ESPERTAS E ROMÂNTICAS
Vendo que o cinema independente virou concorrência, os grandes estúdios vão
se abrindo também ao tema, provocando
um boom de filmes sobre vivências lésbicas. Como, porém, quantidade não é garantia de qualidade, muitas produções não
conseguiram dizer a que vieram nem passar uma mensagem de credibilidade junto
às comunidades lésbicas, gerando um certo descontentamento.
Como exemplos deste tipo de produção, podemos citar/te Amantes (1993), filme que quis se aproveitar e faturar em cima da onda Leshian Chie e se perdeu e Até
as Vaqueiras Ficam Tristes (1994), uma
grande confusão de Gus Van Saint que,
com mão pesada, deixou as lésbicas tristes
mesmo, inventando que não gostamos de
tomar banho. Nem a bela Uma Thurman
salva o filme, cujo único ponto positivo é
a bonita trilha sonora de k.d.lang. Contracultura também tem seus limites, e o filme
1 4UM
OUTRO OLHAR
Quem vai ao cinema quer ver seus sonhes, como a si mesma, refletidos na tela. E o público já está
cansado da exploração do tema léibico e da forma banal com a qual às vezes é tratado
foi um grande fracasso de público e crítica. Falando em k.d.lang, a cantante também se aventurou no cinema em Salmonberries - um Amor Diferente (1991), protagonizando uma personagem feita sobre
medida para ela. O tom do filme, contudo,
é pesado, estranho.
Em 1990, o cineasta Philip Kaufman
também criou polêmica com Henry e June. Lesbianismo, leveza e literatura conseguiram burlar a censura americana que se
viu obrigada a criar uma categoria de classificação específica para o filme, a NC-17
(proibido para menores de 17 anos).
Outros dois filmes, embora não explicitamente lésbicos, igualmente mexem
com os padrões de Hollywood. O primeiro
é Thelma e Louise (1991), um libelo contra o machismo reinante dentro e fora do
cinema. Nele, os homens são e estão em
segundo plano. Susan Sarandon e Geena
Davis mostram que as mulheres também
são donas de seus destinos e que, quando
querem algo. não falta coragem para ir
atrás de seus sonhos, mesmo quando isto
pode custar-lhes a vida.
Tomates Verdes Fritos (1991) é o segundo. Grande sucesso, sem ter uma campanha publicitária hollywoodiana, foi di-
vulgado na base do boca-a-boca. Idgie e
Ruth deram o que falar, embora a versão
cinematográfica, apesar de bela, não ter se
mantido fiel ao livro, onde a relação das
duas personagens é bastante clara e não
implícita como no filme.
Dentro da linha dramas-psicológicos,
ainda sob influência dos costumeiros fins
.trágicos para lésbicas, temos Almas Gêmeas (1994), da Nova Zelândia, baseado
em historia verídica a respeito de duas adolescentes que chegam ao extremo do assassinato quando ameaçadas de separação;
Diário Roubado (1993), de Christine Lipinska, onde outras duas adolescentes, na
França, logo após o término da II Guerra
Mundial, apaixonam-se, mas também, em
função da repressão, acabam de forma trágica; Entre Elas... (1994), da diretora
Nancy Mackler, igualmente baseado em
história real, acontecida na França de 1930,
que narra o trágico e doentio relacionamento entre duas irmãs e o O Beijo da Borboleta (1995), de Michael Winter Botton, no
qual Amanda Plumer faz uma serial killer.
A história deste último é tão sangrenta e absurda que chega a causar riso em certas seqüências. Salva-se a cena final com a música do Cranberries "No need to argue ".
Marlene Dietrich em Marrocos
No gênero mais para cima, explicita ou
implicitamente lésbico, com uma certa dose de otimismo e bom humor, temos Entre
Amigas (1994), Duro Aprendizado (1995),
Servindo em Silêncio (1994), Tank-girl
(1995), Sedução (1992), o Clube das Desquitadas (1996) e a ^ Excêntrica Família
de Antonia (1995) que levou a diretora
Marleen Govis ao Oscar de melhor filme
estrangeiro. Misturando feminismo com
lesbianismo, a diretora conseguiu fazer um
belo filme. A história de Antonia e sua filha ganharam a simpatia do público.
Houve ainda Somente Elas mais um
road-movie, com um trio de estrelas de dar
inveja: Whoopi Goldberg, Mary-Louise Parker e Drew Barrymore. O filme trata da questão lésbica indiretamente, pois o eixo da história é a AIDS, com mais uma morte trágica.
Chegamos, enfim, a Ligadas pelo
Desejo que veio embalado também pela
repercussão do seriado americano Ellen
da Rede ABC, onde a protagonista Ellen
De Generes assumiu sua lesbianidade.
Foi um tremendo terremoto abalando o
conservadorismo americano. O episódio
foi comemorado pelos 4 cantos do planeta, contando com a participação de
grandes estrelas como Laura Dern, Demi
Moore, k.d.lang e Gina Gershon, de Ligadas pelo Desejo.
E falando em Ligadas pelo Desejo, ao
contrário de Catherine Deneuve que teve
receio de ir a fundo na relação com Laurence Cote, no filme Os Ladrões (1996),
por medo de ficar com o estigma de atrizlésbica (já havia transado com Susan Sa-
randon em Fome de Viver), as atrizes Jennifer Tilly e Gina Gershon nem esquentaram a cabeça, dando credibilidade e autenticidade a suas personagens.
Não se pode esquecer que quem vai ao
cinema quer ver seus sonhos, como a si
mesma, refletidos na tela. E o público já
está cansado da exploração do tema lésbico e da forma banal com a qual às vezes é
tratado. Ligadas pelo Desejo quebrou estas barreiras. As cenas de amor são bonitas
esteticamente, sem excessos ou constrangimentos. No Brasil, o filme vem tendo
grande divulgação, com páginas inteiras
de propaganda em jornais e revistas. Nenhum outro filme sobre lésbicas teve tamanha campanha publicitária.
Por essas, fica aqui a esperança de que
mais filmes sejam produzidos e que esse
caminho aberto, do qual fiz um breve apanhado, torne-se um grande aliado contra os
preconceituosos e hipócritas de carteirinha.
Que seja mantida a qualidade das produções, com muita possibilidade de diversão e entretenimento também, pois, apesar
do preconceito, nós, lésbicas, também temos direito a bons filmes, no cinema de
nossa preferência, nos fins de semana, como todo o mundo.
Josiane
Balasko
disputa
Vitória Abril
com Alain
Chabat em
Uma Cama
para Três
m
Quando a Noite Cai (1995) e ganha o prêmio Escolha do Público do Festival de
Berlim, contando a história de uma professora protestante que se apaixona por uma
artista de circo. Realismo-mágico é o ponto forte do filme. Rozema disse, em uma
entrevista, que, por enquanto, fazer filmes
sobre lésbicas e minorias é como ter que
pedir desculpas e ficar o tempo todo explicando o porquê das coisas.
Por último, Duas Garotas in Love
(1995), de Maria Maggenti, leve, gostoso de
assistir, conta as aventuras e desventuras de
uma garota lésbica, Randy, que vive com
uma família de lésbicas e que se apaixona e
é correspondida pela bela e rica Eve que estuda no mesmo colégio. Além de colocar o
lesbianismo em cheque, o filme mexe com a
questão do relacionamento entre raças.
ANOS 90, MODISMO
LÉSBICAS CHIQUES, NEURÓTICAS,
BELAS, ESPERTAS E ROMÂNTICAS
Vendo que o cinema independente virou concorrência, os grandes estúdios vão
se abrindo também ao tema, provocando
um boom de filmes sobre vivências lésbicas. Como, porém, quantidade não é garantia de qualidade, muitas produções não
conseguiram dizer a que vieram nem passar uma mensagem de credibilidade junto
às comunidades lésbicas, gerando um certo descontentamento.
Como exemplos deste tipo de produção, podemos citar/te Amantes (1993), filme que quis se aproveitar e faturar em cima da onda Lesbian Chie e se perdeu e Até
as Vaqueiras Ficam Tristes (1994), uma
grande confusão de Gus Van Saint que,
com mão pesada, deixou as lésbicas tristes
mesmo, inventando que não gostamos de
tomar banho. Nem a bela Uma Thurman
salva o filme, cujo único ponto positivo é
a bonita trilha sonora de k.d.lang. Contracultura também tem seus limites, e o filme
1 4UM
OUTRO OLHAR
Quem vai ao cinema quer ver seus sonhes, como a si mesma, refletidos na tela. E o público já está
cansado da exploração do tema léíbico e da forma banal com a qual às vezes é tratado
foi um grande fracasso de público e critica. Falando em k.d.lang, a cantante também se aventurou no cinema em Salmonberries - um Amor Diferente (1991), protagonizando uma personagem feita sobre
medida para ela. O tom do filme, contudo,
é pesado, estranho.
Em 1990, o cineasta Philip Kaufman
também criou polêmica com Henry e June. Lesbianismo, leveza e literatura conseguiram burlar a censura americana que se
viu obrigada a criar uma categoria de classificação específica para o filme, a NC-17
(proibido para menores de 17 anos).
Outros dois filmes, embora não explicitamente lésbicos, igualmente mexem
com os padrões de Hollywood. O primeiro
é Thelma e Louise (1991), um libelo contra o machismo reinante dentro e fora do
cinema. Nele, os homens são e estão em
segundo plano. Susan Sarandon e Geena
Davis mostram que as mulheres também
são donas de seus destinos e que, quando
querem algo. não falta coragem para ir
atrás de seus sonhos, mesmo quando isto
pode custar-lhes a vida.
Tomates Verdes Fritos (1991) é o segundo. Grande sucesso, sem ter uma campanha publicitária hollywoodiana, foi di-
vulgado na base do boca-a-boca. Idgie e
Ruth deram o que falar, embora a versão
cinematográfica, apesar de bela, não ter se
mantido fiel ao livro, onde a relação das
duas personagens é bastante clara e não
implícita como no filme.
Dentro da linha dramas-psicológicos,
ainda sob influência dos costumeiros fins
.trágicos para lésbicas, temos Almas Gêmeas (1994), da Nova Zelândia, baseado
em historia verídica a respeito de duas adolescentes que chegam ao extremo do assassinato quando ameaçadas de separação;
Diário Roubado (1993), de Christine Lipinska, onde outras duas adolescentes, na
França, logo após o término da II Guerra
Mundial, apaixonam-se, mas também, em
função da repressão, acabam de forma trágica; Entre Elas... (1994), da diretora
Nancy Mackler, igualmente baseado em
história real, acontecida na França de 1930,
que narra o trágico e doentio relacionamento entre duas irmãs toO Beijo da Borboleta (1995), de Michael Winter Botton, no
qual Amanda Plumer faz uma serial killer.
A história deste último é tão sangrenta e absurda que chega a causar riso em certas seqüências. Salva-se a cena final com a música do Cranberries "No need to argue ".
Marlene Dietrich em Marrocos
No gênero mais para cima, explicita ou
implicitamente lésbico, com uma certa dose de otimismo e bom humor, temos Entre
Amigas (1994), Duro Aprendizado (1995),
Servindo em Silêncio (1994), Tank-girl
(1995), Sedução (1992), o Clube das Desquitadas (1996) e a ^ Excêntrica Família
de Antonia (1995) que levou a diretora
Marleen Govis ao Oscar de melhor filme
estrangeiro. Misturando feminismo com
lesbianismo, a diretora conseguiu fazer um
belo filme. A história de Antonia e sua filha ganharam a simpatia do público.
Houve ainda Somente Elas mais um
road-movie, com um trio de estrelas de dar
inveja: Whoopi Goldberg, Mary-Louise Parker e Drew Barrymore. O filme trata da questão lésbica indiretamente, pois o eixo da história é a AIDS, com mais uma morte trágica.
Chegamos, enfim, a Ligadas pelo
Desejo que veio embalado também pela
repercussão do seriado americano Ellen
da Rede ABC, onde a protagonista Ellen
De Generes assumiu sua lesbianidade.
Foi um tremendo terremoto abalando o
conservadorismo americano. O episódio
foi comemorado pelos 4 cantos do planeta, contando com a participação de
grandes estrelas como Laura Dern, Demi
Moore, k.d.lang e Gina Gershon, de Ligadas pelo Desejo.
E falando em Ligadas pelo Desejo, ao
contrário de Catherine Deneuve que teve
receio de ir a fundo na relação com Laurence Cote, no filme Os Ladrões (1996),
por medo de ficar com o estigma de atrizlésbica (já havia transado com Susan Sa-
randon em Fome de Viver), as atrizes Jennifer Tilly e Gina Gershon nem esquentaram a cabeça, dando credibilidade e autenticidade a suas personagens.
Não se pode esquecer que quem vai ao
cinema quer ver seus sonhos, como a si
mesma, refletidos na tela. E o público já
está cansado da exploração do tema lésbico e da forma banal com a qual às vezes é
tratado. Ligadas pelo Desejo quebrou estas barreiras. As cenas de amor são bonitas
esteticamente, sem excessos ou constrangimentos. No Brasil, o filme vem tendo
grande divulgação, com páginas inteiras
de propaganda em jornais e revistas. Nenhum outro filme sobre lésbicas teve tamanha campanha publicitária.
Por essas, fica aqui a esperança de que
mais filmes sejam produzidos e que esse
caminho aberto, do qual fiz um breve apanhado, torne-se um grande aliado contra os
preconceituosos e hipócritas de carteirinha.
Que seja mantida a qualidade das produções, com muita possibilidade de diversão e entretenimento também, pois, apesar
do preconceito, nós, lésbicas, também temos direito a bons filmes, no cinema de
nossa preferência, nos fins de semana, como todo o mundo.
Josiane
Balasko
disputa
Vitória Abril
com Alain
Chabat em
Uma Cama
para Três
ECOLÉSBICA
MíRIAM MARTINHO
Vamos exercitar a memória e listar todas as atividades que fazemos,
de manhã até a hora de dormir, onde
utilizamos água. Listou? Bom, agora
imagine como você faria todas essas
mesmas atividades sem água. Seria
possível? Não, não é?
Pois bem. O pesadelo de não ter
água não está tão distante assim. Pesquisadores alertam para o fato de que
os recursos hídricos se renovam a
uma taxa de 15% ao ano enquanto a
população mundial cresce a uma taxa
de 45%. E não é apenas a questão da
explosão demográfica que pode nos
privar do mais precioso dos líquidos.
É sobretudo a questão do mau uso da
água doce o que nos reserva um futuro sombrio. Estima-se que 60% da
água, consumida pelos seres humanos, retorna aos rios poluída. Além
disso, a cultura do desperdício, sobretudo neste nosso Brasil "céu de
anil", joga fora milhões de metros
cúbicos de água por mês.
Segundo os cientistas, se alguma
coisa não for feita, desde o controle populacional (via planejamento familiar,
claro), até a detecção e conserto de vazamentos nas redes públicas, bem como
sua manutenção e atualização, até a mudança de mentalidade da população, em
30 anos, só nos restará estar tomando
nosso próprio xixi reciclado. Isso sem
falar no que a falta d^gua representa
para todas as outras espécies animais.
Quer viver num deserto? Acha
que estou exagerando? Estou não, e
vou até dar-lhe umas dicas de como
evitar que esse grande pesadelo se
torne realidade. São pequenas medidas antidesperdício de água que
qualquer um pode tomar em benefício de todos. O planeta agradece.
Fonte: Revista Saúde é Vital, n" 166
«-os,. ,orneira JZZ STa^iTS s ^
2. Fique pouco tem-n™ i.
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"^*«"«iesperdiçada.
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baldes de água.
vassoura e, para o carro, no máximo, 2
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Po1senxagüePeÇaporpeiit ^
5
- Se você tem iardím
^ ^ Cada um^
evitara evaporaçidtu?"!38 ^T Peh ma"hã «u à no.te para
^ta da mangueira.
^ ^ ^^-evólver também JZmTa
16
UM OUTRO OLHAR
VÍDEO
ANGELA GONçALVES
Suspense, diversão e amor
LIGADAS PELO DESEJO
Bound-EUA-1996
Diretor: Larry Wachowski/Andy
Wachwski
Com:JenniferTilly, GinaGershon,
Joe Pantoliano
América Vídeo
Imagine a cena: o homem traído, com
uma arma em punho, apontada para a
mulher, que está amarrada, pergunta o
motivo pelo qual ela preferia uma outra
mulher do que ele, o que ela poderia lhe
dar que ele não, e ela, sem titubear, sem
tremer os lábios, sem medo ou arrependimento, responde-lhe na lata: " -TUDO!"
Numa época em que os filmes lésbicos
estão tão apáticos, tão recatados, se Ligadas pelo Desejo não é uma obra-de-arte
nem está entre os 10 melhores filmes do
ano, pelo menos injeta sangue nas veias e
mostra o quanto pode ser acalorado e explosivo o encontro entre duas mulheres
que estão afim uma da outra.
Esqueça portanto os filmes engajados, os politicamente corretos, os dramáticos em que uma sempre morre no
final, ou aqueles que, de tão chatos,
parecem mais documentários tentando
justificar o injustificável.
Ligadas pelo Desejo tem como principal função a diversão. Então, não fique
esperando pessoas se justificando. Em Ligadas..., a questão moral não existe. Só
há o bandido, a lésbica, os policiais tontos e os mafiosos maus e pronto.
Violet (Jennifer Tilly) e Corky (Gina
Gershon) se encontram pela primeira vez
no elevador de um grande condomínio.
De um lado, Violet, amante de mafioso, a
perua nossa de cada dia, e do outro, a sapatão da Corky, encanadora, ex-presidiária que dirige pick-up... Assim, na base
das diferentes que se atraem, nasce um
grande tesão entre as duas.
Violet lança mão de tudo que é armadilha para agarrar Corky: sedução, brincos no cano, tatuagem, grana... Corky que
não é boba nem nada lhe dá corda e torna
o jogo uma brincadeira excitante até se
render à sedução de Violet. A coisa esquenta quando elas resolvem enganar a
Máfia e passar as mãos em alguns milhões de dólares. A história, tendo como
ponto de referência a Máfia, não poderia
deixar de ter cenas de violência, mas nada que estrague o jantar.
Apesar de algumas falhas no roteiro,
ao retratar o mundo lésbico, como o
aperto de mão entre Corky e o amante
de Violet, após o pega prá capar no sofá entre as duas {leia-se transa com penetração), os estereótipos do sapatão de
cuecas e da lady, Violet, de voz infantilizada e unhas compridas. Ligadas pelo
Desejo é gostoso de assistir pelo clima
de intimidade e cumplicidade entre as
atrizes que não ficaram com "freio de
mão puxado". Quando a cena pedia
beijo, era beijo mesmo, quando era
amasso, era amasso mesmo, mas sem
cair para o lado pornográfico. A cena
do primeiro beijo ficou tão sensual e
bonita que foi indicada, pelos telespectadores da MTV americana, para concorrer ao MTV-Movies Awards. Outro
ponto positivo a salientar é que jamais
um filme com tema lésbico teve tanta
repercussão e propaganda na mídia.
Mudanças dos tempos talvez.
Então, não se deixe influenciar pelas
críticas preconceituosas de certos jornais,
e, se você não viu o filme nos cinemas,
dê uma conferida no vídeo. Só o final feliz, entre Violet e Corky, vale o aluguel
da fita. Bom divertimento!
Acena
do primeiro
beijo ficou
tão sensual
e bonita
que foi
indicada,
pelos
telespectadores da MTV
americana,
para concorrer
ao MTV-Movies
Awards.
UM OUTRO OLHAR
17
MÚSICA
ANGELA GONçALVES
Vozes que encantam
REGISTROS
Marina, após o
À MEIA VOZ CD "Abrigo", cm
Marina Lima
que foi apenas intérprete de com-
EMY
posições de outros
autores, voltou a
atuar, como compositora, em "Registros à Meia-Voz'. A música de abertura, "A Meia-Voz", por si só, já vale
a compra do CD. Tem balanço e sensualidade, com uma certa dose de cinismo, como só ela sabe fazer. Só ela
sabe como colocar em ação seu dom
de, no meio da melodia, falar frases
sem perder o ritmo, sussurando,
questionando.
Outra canção que vale o esforço de
sua ida até a loja é "Para Um Amor no
Recife", de Paulinho da Viola, onde
Marina dá vazão à criatividade, pondo uma nova roupagem na estrutura
melódica da música. Aliás, essa é uma
das vantagens de Marina sobre outras
cantoras que pensam que recriar é ficar esticando frases ao máximo: ela sabe realmente como reciclar, vide a
canção Fullgás, onde simplesmente
reescreve a letra da música, levando-a
mais para o soul, com balanço, bateria
programada e guitarra fuzz hnss.
O CD foi gerado em meio a certas
perturbações, como um problema em
suas cordas vocais e o conseqüente
cancelamento de um show, e em meio
também a um processo de amadurecimento vindo com a idade, o que dá
um tom melancólico ao conjunto da
obra, com uma escolha de repertório
que expõe uma certa angústia, mais
evidente na música "O Solo da Canção", dela e do irmão Antônio Cícero. Com produção impecável, desde a
escolha cias músicas ao acabamento
estético, foi sem dúvida um dos melhores lançamentos de 96. O único
porém fica por conta da última faixa
"Mesmo Que Seja Eu", cm que taz a
apresentação dos músicos. Isto pode
funcionar em um show, mas aqui
soou meio esquisito.
1
8UM OUTRO OLHAR
De qualquer forma. Registros à
Meia-Voz é item imprescindível para
sua coleção.
Em recente entrevista a um granZélia Duncan de jornal de São
Paulo, em matéria
em que se discutia
WEA-WARNER
a música popular
nos anos 90, Zélia talou o seguinte:
"Se for pensar em Caetano cada vez
que fizer uma música, eu não taco nada, entendeu?" Bingo! Se Zélia já merecia admiração pelo seu trabalho diferente, novo, agora merece muito mais
por mostrar coragem e inteligência
com muita personalidade.
Depois do sucesso do CD anterior, ela poderia continuar regravando antigos sucessos, seguir estilos já
saturados, entrar em qualquer dessas
tendencias-relâmpago da MPB de sucesso tão fácil e tão descartável ao
mesmo tempo! Mas disse não a tudo
isso e o CD "Intimidade" veio com
um equilíbrio perfeito entre música
popular, rock, folk, misturando ao
mesmo tempo percussão eletrônica
com violão de 12 cordas (instrumento que segundo ela é seu preferido),
bandolim com guitarras slide.
INTIMIDADE
Numa escolha inteligentíssima, para nenhum ta de carteirinha da MPB reclamar, gravou "Vou Tirar Você do Dicionário", de Itamar Assumpção,
onde dá um show de interpretação, brincando, inserindo músicas, dando nó em pingo d1água. Aliás, esta é uma das melhores faixas do CD.
Manteve a parceria com
Christian Oyens, o que garante
qualidade em canções como "Intimidade" (que dá nome ao CD),
"Bom Prá Você" e no sucesso
"Enquanto Durmo". Abre mais
espaço, também, para a parceria
com Lucina, e o resultado são canções como "Minha Fé", e a bonita
"Coração na Boca", onde mostra leveza nos versos "... Adoro cortinas
que se abrem, adoro o silêncio antes
do grito..." Provoca e instiga na balada "Experimenta" e, para nenhum
coração partido reclamar, coloca a
voz grave, com muito sentimento,
na baladona "Não Tem Volta".
Aos trinta anos, Zélia Duncan
mostra maturidade e experiência, resultado de mais de sete anos de estrada, de trabalho duro. E essa consciência do que quer teve até o respeito do popular Liminha que não
interferiu em seu trabalho, dando total liberdade para a artista.
Muito do sucesso de Zélia vem
do fato de que ela tala com clareza o
que sentimos, o que queremos ouvir
e dizer, com sutileza, sinceridade,
dor, paixão, expondo os conflitos femininos, e tornando-se assim, íntima
do público. Isso sem deixar de ser
aberta às novas tendências quando,
por exemplo, grava Itamar e diz gostar de Beck.
Enfim, é Zélia cantando e dando
o seu recado; "... Eu quero as mulheres que dizem sim, e que não têm
vergonha de ser assim..." É isso aí,
recado dado!!!
OPINIãO
NELI APARECIDA DE FARIA
Preconceito
Homens
e mulheres
são iguais
em direitos e
obrigações,
nos termos
desta
Constituição)}
(Art. 5o -1
Constituição
Nacional-1988)
Partindo do princípio fundamental insculpido pelo legislador constituinte de
1988, passo a escrever sobre o tema epigrafado. Comecei a trabalhar com quinze
anos. Era balconista em uma famosíssima
bombonière, talvez por isso seja hoje alérgica
a chocolates. Havia a gerente, branca, e três
balconistas, todas brancas, exceto uma com
traços indígenas, boliviana, e o Sr. José que
fazia de tudo. Até café. Era negro.
Eu morava, no Belém, e tomava todos os
dias o elétrico. Comparando com agora, sabiam que naquele tempo o ônibus elétrico era
mais barato??? Às quartas era minha folga,
pois eu trabalhava aos domingos. Num desses
domingos, por volta das vinte e uma horas,
voltando para casa após o trabalho, ouvi uma
conversa entre dois rapazes: "- Não vou lá...
Amanhã vou trabalhar, pois é dia de branco."
Interessante, pensei. Amanhã é dia de branco.
Que interessante!
Ainda naqueles idos de 68, um ano que para mim começou e para outros nem terminou,
vi-me envolvida, numa quarta-feira, minha
folga, em uma passeata estudantil. Recordome, como se fosse hoje, os carros policiais incendiados, destruídos, pela ira dos jovens da
época contra a ditadura. E vi, com a claridade
da luz solar, aliada aos fogos dos veículos,
dois meninos, estudantes, por algum motivo
de somenos, brigando entre si. E, ouvi, de um
terceiro, "vocês são brancos que se entendam". Eram morenos, como eu, e passando
das seis horas já é noite. E o terceiro também
era moreninho. Os brancos que se entendam...e passando das seis horas já é noite.
Que interessante!
Em dezembro, daquele ano, estava trabalhando, e uma mulher negra entrou e pediu
para falar com a gerente. Não ouvi a conversa.
Após sua saída, a gerente comentou, com uma
das balconistas: "- É bonita, limpinha, mas é
preta. Falei que não há vagas." Ao chegar em
casa, à noite, comentei com minha mãe o episódio (ela que era neta de índia). A dona fulana disse isso. A minha mãe, uma senhora muito inteligente, culta (lia uns três livros por
mês), profunda conhecedora de música, respondeu: "-Não é preta, filha. E negra. Preta é
cor. A tua calça é preta. Negra é a raça. E a
partir de amanhã, você não vai mais trabalhar
lá." E assim o tempo foi passando.
Nas últimas eleições presidenciais, o atual
Fernando, sociólogo, intelectual, detentor do
Jucá Pato, como o intelectual do ano de 1985,
referindo-se ao resquício de sangue negro,
que todos temos, disse: "-Estou com um pé na
cozinha..." Tratou os negros como cozinheiros. Se minha mãe fosse viva, com toda certeza, só por isso, haveria um voto nulo a mais,
naquela eleição. Com toda certeza.
E um absurdo também, e seria cômico se
não fosse trágico, atribuir a uma minoria,
aquela que segue ao pé da letra as palavras de
Jesus, o mal do milênio: a AIDS. Se essa minoria sexual fosse efetivamente portadora do
vírus HIV, seria simples eliminá-la. Bastaria
fuzilar os homossexuais ou colocá-los em câmara de gás. Todos nós, desgraçadamente
contudo, estamos sujeitos ao vírus.
Joga-se pedra nessa minoria, qualificando-a pejorativamente de "bichinhas". Essa
minoria, entretanto, é digna de todos os encômios, pois parecem dizer ao mundo: "- Sou
homossexual e daí?"
• Vesus Cristo
se quisesse
discriminar
os homossexuais
teria dito,
com toda
luminosidade e
resplandecência:
- Homem ame a
tua mulher
e mulher ame
o teu homem.
Mas não. Ele
disse: Amai-vos
uns aos outros, yy
Eas lésbicas são alcunhadas de "sapatões", uma alusão aos pés, supostamente grandes, isto é, masculinos. Só que a
quantidade de hormônios masculinos nelas é a
mesma que em qualquer garota heterossexual,
e seus pés são proporcionais à altura. E mais,
são tão vaidosas quanto as heterossexuais.
Jesus Cristo se quisesse discriminar os homossexuais teria dito, com toda luminosidade
e resplandecência: "- Homem ame a tua mulher e mulher ame o teu homem." Mas não.
Ele disse: "Amai-vos uns aos outros." Ou, em
outras palavras, ame a quem você quiser, mas
ame. Porque Ele disse isso? Quiçá por ser um
solteirão? Ou porque, segundo determinada
religião, não teria sido gerado em uma relação
"normal", isto é, não pelo sexo, mas sim pela
inseminação artificial da época: o Divino Espírito Santo? Com todo respeito.
Jesus não atirou a primeira pedra nos
homossexuais, embora pudesse fazê-lo,
por ser Bom, Puro, Honesto e sem pecados, pois conhecia, com a profundidade
dos doutos, o Velho Testamento, onde Samuel, o Profeta, narra, com toda a candura,
os amores entre Jônatas e Davi. (Sam. 1 18). E o poeta Gonzaguinha escreveu, em
uma de suas músicas, uma frase que parece
dirigida à minoria homossexual: "Viver e
não ter a vergonha de ser feliz..."
DRA LIDIA IRIS DA CRUZ
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Mas o Brasil foi feito para os perfeitos.
Cegos? Que caiam nos buracos das calçadas. Deficientes físicos? São vedados seu
acesso a lugares públicos, como estações
rodoviárias, dos metrôs, prédios públicos,
etc. Li, em um jornal, uma notícia que me
causou espécie. A Igreja Católica, tratando
com menoscabo as palavras de Jesus, proibiu o casamento entre uma mulher "normal" e um deficiente físico. Engraçado. Até
na cama dos fiéis, os padres querem "ingressar", mesmo sendo celibatários.
E no trânsito? Eu que dirijo defensivamente outro dia ouvi: "- Dona Maria vá
para o tanque". E respondi: "- Ora seu Zé
vá apertar parafusos, pegar no cabo da enxada." E os acidentes de trânsito são causados, na maioria esmagadora das vezes,
pelos seus Zés.
Em suma, qualquer forma de preconceito é abominável, seja chamar pejorativamente os negros de "alemães" (como uma
propaganda da D Paschoal), seja chamar a
terceiros de "negrinhos, "turco", "dona maria", "seu zé" (como respondi acima, por
raiva), "perneta", "maneta", "bichinha",
"sapatão", "baiano" (em SP), e "paraíba"
(no RJ). Tudo isso traduz um desprezo ao
ser humano que, friso, na vida só quer viver
e não ter a vergonha de ser feliz.
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20UM OUTRO OLHAR
AL JAú
35
SAúDE
CULTURA
SEXUALIDADES
LEITURAS
MÍRIAM MARTINHO
Adécada de 90 - ao contrário das
expectativas - acabou se configurando como a década da caretice,
do conservadorismo, do retorno a
valores amplamente questionados
nas décadas anteriores. Entre os valores que retornaram, muito por influência do fundamentalismo religioso (proliferação de fanáticos
cristãos, evangélicos, muçulmanos),
vemos a revalorização da família
nuclear patriarcal, da monogamia e
da maternidade como essenciais para as mulheres. A velha idéia de que
a própria noção de ser mulher passa
inevitavelmente pelo parir voltou
com tudo, embora o momento, com
a explosão demográfica nos apontando um futuro sombrio, não possa
ser mais inoportuno.
Heterossexuais, bisexuais, lésbicas, não importa, mulheres de todo o tipo - via casamento tradicional, inseminação artificial ou produção
independente - resolveram parir. Cientistas anunciam orgulhosos sua mais nova
invenção para permitir que os 20 milhões de casais estéreis do planeta possam ter suas crianças. Nos países onde o
aborto é permitido, fundamentalistas religiosos invadem clínicas, onde os abortos são realizados, e matam a tiros médicas e médicos em nome da vida. E nem
adianta falar da profunda miséria em que
vive a maioria dos seres humanos neste
planeta. Nem adianta falar que, por excesso populacional, miséria, ignorância
e mesquinharia, nós, humanos, estaremos extinguindo uma espécie animal, a
cada 15 minutos, até o ano 2000.
Ou talvez, muito pelo contrário, mais
do que nunca seja preciso estar falando
sobre tudo isso ou de quem está falando
sobre tudo isso direta ou indiretamente.
Neste caso, insere-se o livro Além da Maternidade: Optando por uma vida sem Filhos, da psicanalista Jeanne Safer, uma
série de depoimentos (incluindo o dela
mesma) de mulheres bem-sucedidas, na
vida afetiva e profissional, que decidiram
não ter filhos, contestando o velho este-
reótipo de que mulheres sem filhos "são
murchas e esquisitas, incapazes de dar carinho, egoístas e insatisfeitas". Sem idealizar a si mesma ou a essas mulheres nem
esconder as dificuldades emocionais porque passaram (a grande maioria) até decidir realmente não ter filhos, a psicanalista americana apresenta uma boa amostra
de como a maternidade, mais do que a
heterossexualidade, permanece uma
obrigação para o sexo feminino, a condição sine qua non para que uma mulher
possa realmente se dizer realizada.
E é essa afirmação sobretudo que o
livro vai questionar com veemência, demonstrando que, como qualquer escolha
na vida, decidir ser ou não ser mãe, traz
ganhos e perdas. Se, ao optar por não
ser mães, as entrevistadas de Além da
Maternidade perderam algumas das alegrias de ver uma criança crescer, ganharam em tempo disponível para investir
na relação afetiva com os maridos e na
consolidação de carreiras através das
quais se realizaram e contribuíram para
o bem-estar da sociedade. Jeanne Safer
contesta, inclusive com ironia, muitos
dos mitos que envolvem a maternidade
(como os de que os filhos são continuidade dos pais, possibilidades
das realizações que não tiveram, seguro contra velhice), apontando para a necessidade de se ver a criação
de crianças como um investimento
muito sério, de pelo menos 15
anos, que não pode ser assumido
apenas por pressão da sociedade ou
por carências pessoais (os problemas na vida de cada pessoa só podem ser resolvidos por ela mesma,
no máximo com a ajuda de algum
profissional). A psicanalista alerta
também para o fato de que, nesta
década, as mulheres estão tentando
ter tudo, mas que a vida é feita de
escolhas onde não se pode ter tudo.
O capítulo final, um teste às leiú toras, composto de 10 pontos, para
1
ajudá-las a fazer suas escolhas, de
certa forma, resume as ponderações
I apresentadas, no decorrer do livro,
i-S com os prós e contras de criar crianças. Por último, Jeanne Safer solicita que
as leitoras sem filhos também lhe escrevam relatando suas experiências.
Além da Maternidade é, por questões óbvias, um livro dirigido a mulheres heterossexuais, mas que pode ser
perfeitamente lido e apreciado por lésbicas e bissexuais, principalmente com a
atual moda de sapatas virando mães.
Apesar do tom psicanalítico predominar
em toda a obra, o que às vezes cansa um
pouco, vale por afirmar e confirmar que
a realização das mulheres transcende
em muito suas capacidades biológicas e
que elas devem seguir a voz de seus
próprios corações e razões e não as regras da sociedade e seus papéis asfixiantes na hora de fazer suas escolhas.
ALéM DA MATERNIDADE: OPTANDO POR
UMA VIDA SEM FILHOS. Jeanne Safer. Tradu-
ção Eduardo Pereira e Ferreira, São Paulo,
SP, 1997. Editora Mandarim.
Leituras correlatas: Um Amor Conquistado: O Mito do Amor Materno. Elisabeth Badinter. Editora Nova Fronteira, 1985 (a publicação brasileira é de 85, mas já foi reeditada
várias vezes)
UM OUTRO OLHAR
21
Para uma boa amizade,
aquela transa, um grande amor.
62 MÔNICA (SP)
Virginiana, 51 kg, 1,67
m, branca, casada.
Gostaria de me corresponder com mulheres
bissexuais, sem vícios,
que gostem de cinema
e cachoeira.
63 DÊ (MG)
Desejo ter amizade sincera e duradoura. Gosto de música, ler e dialogar. Se você também
gosta, escreva-me.
64 ANA (SP)
Lésbicas, escrevamme. Quero boas amizades e troca de experiências. Tenho 22 anos e
sou universitária. Peço
discrição.
65 CLÁUDIA (SP)
39 anos, olhos castanhos,
cabelos pretos, lisos
e compridos, branca,
1,60 m, 52 kg, curso
superior, bonita e
feminina. Desejo
conhecer mulheres de 35 a
40 anos, que morem no
Vale do Paraíba e que
tenham igualmente boa
aparência e curso superior.
Cartas com foto.
67 BEIJA-FLOR (Taubaté - SP)
36 anos, nível superior, independência econômica,
sincera, compreensiva, sem preconceito, discreta,
feminina, não fumante. Se você valoriza a amizade,
gosta de música, cinema, cães e vê a vida com otimismo...
é hora de nos encontrarmos. Venha "virar a mesa"
comigo. Há muito espero por isso. Escreva-me.
Agora depende de você...
68 LUIZA (MG)
Solteira, 50 anos,
parda, 1,50. Culta,
discreta, alegre, carinhosa.
Procuro por você,
senhora, que tenha
características
aproximadas e que
seja feminina.
69 JANA (MG)
Sou mulata, cabelos e
olhos pretos, solteira.
Procuro mulher magra,
solteira, de 19 a 32
anos, sem filhos, para
algo sério. Mulheres
sem esses requisitos, escrevam para amizade.
70 DENISE (SP)
Gostaria de fazer amigas. Adoro música, sobretudo brasileira, e
cinema, preferencialmente não-comercial.
66 MARIA (AL)
Feminina, afetuosa, idealista, amante de todas
as formas de arte. Tenho 29 anos, 1,70 m, 56 kg.
Desejo conhecer lésbicas que curtam
a vida e valorizem o companheirismo,
para amizade ou compromisso futuro.
22UM OUTRO OLHAR
71 MONICA (SP)
Desejo me corresponder
para amizade. Morena
clara, universitária, pisciana, adoro viagens e
cinema. Escrevam-me
para um bom papo.
72 MIRA (SP)
Se você tem de 30 a 40
anos, não é muito masculina e está só, escreva-me. Vamos compartilhar juntas a nossa
solidão. Tenho 35 anos.
73 MARY (CE)
Gostaria de me corresponder com mulheres de
todo o Brasil. Tenho 31
anos, sou lésbica, muito
bem-humorada e gosto
de conhecer pessoas.
74 KIKA (SP)
Seja de Campinas ou outro lugar do Brasil, escreva-me. Quero conhecer
lésbicas discretas e que
tenham prazer em viver.
75 SOLANGE (RJ)
Gostaria de contatar
lésbicas do Rio, que
não se importem só
com beleza e dinheiro e
que desejem ser amadas de verdade.
76 TELMA (SE)
Solteira, 1,59 m, 46 kg,
morena clara, 33 anos,
porém aparência de 25,
curso superior. Desejo
receber cartas de pessoas de Aracaju e de
outras cidades.
77IVANA (PE)
Sou calma, discreta, e
é com meninas assim
que desejo manter
contato, com alguém
do meu jeito. É tudo
muito prematuro, mas
o tempo nos ajudará.
Gosto de escrever e de
música.
'" CARTAS ,TC)-COMO PART.CPA.T
Para anunciar no TC, basta
maiores pagos.
"Para solicitar os enderep
o-,N8.ss,ueç8deen,artópadoP:™rií,r
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.
Relatório do
IX Encontro Brasileiro
de Gays, Lésbicas
e Travestis
e II Encontro Brasileiro
de Gays, Lésbicas
e Travestis que
trabalham com Aids
A Rede de Informação Um Outro Olhar acaba de lançar o relatório dos encontros, acima citados,
que organizou, em fevereiro deste
ano, em São Paulo. São 128 páginas com resumos das mesas, painéis, grupos de discussão e oficinas apresentados bem como avaliações e fotos dos eventos. Uma
publicação histórica que você não
pode perder por apenas RS8,00.
Envie-nos cheque ou vale-postal,
em nome de Rede de Informação
Um Outro Olhar, para a Caixa
Postal 65092, São Paulo, SP, cep
01390-970 ou deposite na conta
corrente de número 51232-3, ag.
0251, Banco Itaú, lembrando-se
de, no último caso, remeter-nos
cópia de seu depósito.
L0BIA
LITERÁRIA
UM
OUTRO
OLHAR
A Rede de Informação Um Outro Olhar está promovendo, com o apoio da editora Realitas,
a Antologia Literária Um Outro Olhar. Convidamos você, para acompanhar-nos em mais
esta atividade da Rede, enviando-nos seus
CONTOS, CRôNICAS, POESIAS, LETRAS DE MúSICA,
TEXTOS, EM PROSA E VERSO, SOBRE O AMOR ENTRE MULHERES,
até o dia 31 de março de 1 998. O material recebido será analisado e selecionado, em abril de 1 998,
e o livro, com as obras escolhidas, lançado em junho do mesmo ano. Não perca esta oportunidade de
ver seus trabalhos publicados! Maiores informações: Rede de Informação Um Outro Olhar,
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Tamara de L
■
õC/iÇAR WlV/CK
Publicação da Rede de Informação
Um Outro Olhar - Ano 3-NO 5- Setembro 1997
0 que é doença? O que é saúde? Quais as
formas de prevenir as doenças? Quais as
maneiras de preservar a saúde? É possível
tratar todas as pessoas enfermas do mesmo
modo, com os mesmos medicamentos?
E a AIDS? Será causada apenas pelo virus
HIV? Dizem que há doentes de AIDS que
não têm o virus. Existe gente com o vírus que
não tem AIDS. E as formas de prevenção e de
tratamento da AIDS, atualmente vigentes, estão
sendo efetivas? Por exemplo, as campanhas de
prevenção, para mulheres que se
relacionam com mulheres, estão
no caminho certo? Por que tanta
gente ainda acha que não há nenhum
risco de contaminação pelo HIV nas
relações entre mulheres? Quais são as
possibilidades de transmissão do HIV
relação mulher-mulher?
Essas e outras perguntas estamos procurando responder nesse nosso
quinto número do boletim Ousar Viver que traz, como novidade, o fato de
agora também vir encartado nas edições da revista Um Outro Olhar.
Sobre doença e saúde, a médica homeopata Cristina Dumas fala da
Homeopatia na Arte de Curar, fomecendo-nos um pequeno histórico dessa
prática, de seus conceitos principais e de suas aplicações. Cristina nos explica
que, na Homeopatia, cada pessoa é tratada a partir de sua individualidade, com
a medicação mais apropriada a suas características físicas e psicológicas.
Por meio de perguntas e respostas, as americanas Pamela DeCarlo e
Cynthia Gómez, da Universidade da Califórnia, trazem-nos muitas
informações valiosas sobre a sempre controversa questão das lésbicas e da
AIDS, mostrando a importância de diferenciar identidade sexual e
comportamento sexual no que se refere a campanhas de prevenção para
mulheres que se relacionam com mulheres.
Na seção de publicações, comentamos dois textos da organização
Temas Atuais na Promoção da Saúde (TAPS), de São Paulo, que
questionam várias das noções básicas que temos sobre a AIDS, tais como
se o vírus HIV sozinho, é responsável pela enfermidade, se os exames
para detecção do HIV são efetivos e se estão corretos o método de aferição
da evolução da doença (contagem de CD4), em soropositivos, e sua
conseqüente medicação.
Esperamos que goste de mais esse número de nosso boletim, sobre
saúde, e nos envie suas críticas, sugestões e, sobretudo, contribuições
através de ilustrações e textos. Até o próximo.
Saúde além
dos remédios
EXPEDIENTE
Boletim Ousar Viver
Ano 3 - N0 5 - Setembro de 1997
Tiragem: 3000 exemplares
São Paulo - SP - Brasil
JORNALISTA RESPONSáVEL
Cristiane Neder - Mtb 9851
EDIçãO
Míriam Martinho
COLABORAçãO:
Luiza Granado
Cristina Dumas
DlAGRAMAÇÂO:
Fátima R S Lima
IMPRESSãO:
Prol Editora Gráfica Ltda
PRODUçãO:
Rede de Informação
Um Outro Olhar
FINANCIAMENTO:
Coord. Nacional/ DST/ AIDS
da SPES/ Ministério da Saúde
O Boletim OUSAR VIVER
é uma publicação da Rede
de Informação Um Outro Olhar,
elaborada e produzida por
mulheres de diferentes orientações
sexuais (lésbicas, bissexuals e
heterossexuais). Os artigos
assinados são de
responsabilidade de suas autoras.
A Rede de Informação Um Outro
Olhar é uma organização não-governamental, fundada em abril de
1990, que objetiva lutar pelos direitos humanos das mulheres, em
particular das lésbicas, através da
velculação de Informações positivas sobre os diferentes aspectos
de nossas vivências. Considerando a saúde como um dos direitos
básicos de qualquer ser humano,
vimos desenvolvendo, desde novembro de 1994, na área de prevenção à AIDS e a doenças sexualmente transmissíveis, dois
projetos para mulheres lésbicas e
heterossexuais, a saber: Mulheres
& Mulheres: Prazer sem Medo, e
outro, para mulheres em geral, denominado Mulheres & Mulheres:
Conversando sobre Saúde.
Uma vida
saudável em
qualquer idade
Viver Melhor após os 35 anos, da ginecologista Gelde Stocchero, é um livrinho (livrinho porque de poucas páginas,
bem dito) que discute as mudanças no
corpo feminino, após os 35 anos, com
ênfase no climatério (pré-menopausa e
menopausa propriamente dita). Numa
linguagem acessivel, a ginecologista
fala do corpo da mulher, das fases hormonais femininas, do climatério, da
depressão (que acomete algumas mulheres nesta época) e dos tratamentos
para os problemas do período como o
uso de hormônios e medicamentos.
Fala também de problemas como tensão
pré-menstrual, displasia mamaria (inchaço dos seios próximo à menstruação),
miomas (nódulos benignos que aparecem
no útero), cistos de ovário e doenças sexualmente transmissíveis. Aborda ainda
o uso de métodos anticoncepcionais, a
gravidez, depois dos 35 anos, e questões
referentes à estética facial e corporal.
Ilustrado com desenhos sobre o aparelho genital feminino e os seios, bem
como com ilustrações de como fazer auto-exame de mamas. Viver Melhor Após
os 35 Anos é interessante por tratar da
questão da saúde ginecológica dentro do
contexto da saúde integral. Assim dicas
sobre uma alimentação mais adequada
para, pelo menos minorar, alguns dos
problemas do climatério aparecem em
vários capítulos. Embora não sejam nenhuma novidade (outras autoras já o
abordaram em suas publicações), sempre
é bom lembrá-las. Beber muito liquido,
evitar ou diminuir o uso de cafeína (pre-
sente no café, chá preto, chá mate, refrigerantes, chocolate), fazer exercícios e
não comer muita carne de frango (por
causa dos hormônios com que eles são
tratados) são algumas das dicas da autora
para evitar, por exemplo, os incômodos
da tensão pré-menstrual como eólicas,
inchaço e dor nos seios. O uso de vitaminas e a reposição hormonal também são
indicados, pela ginecologista, desde que,
naturalmente, com supervisão médica.
Enfim, Viver Melhor Após os 35 Anos
ajuda as mulheres a ter mais conhecimento
sobre seus corpos e as mudanças pelas
quais eles passam no decorrer dos anos, capacitando-as (e em alguns casos desencucando-as) a levar uma vida mais saudável
em qualquer idade. Vale a pena conferir.
VIVER MELHOR APóS OS
35 ANOS
GELDE STOCCHERO
COLEçãO VIVER MELHOR
EDITORA SCIPIONE
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Um Outro Olhar
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Quais as
necessidades de
prevenção à aids
para mulheres
que transam com
mulheres?
O risco de contrair o HIV para
mulheres que transam mulheres
(MTM),1 como para todas as pessoas, varia de acordo com o que fazem. Algumas MTM tomam drogas,
relacionam-se sexualmente também
com homens, prostituem-se por dinheiro ou drogas, foram vítimas de
estupro ou abuso sexual, fazem sexo
com múltiplos parceiros ou fizeram
inseminação artificial.
É importante lembrar que a identidade sexual e o comportamento sexual
nem sempre são similares. Por exemplo, mulheres que se identificam como
lésbicas também podem se relacionar
com homens, e nem todas as MTM se
identificam como lésbicas e bissexuais. Neste texto, o termo mulheres
que transam mulheres (MTM) visa cobrir todas as possíveis categorias.
Entre usuários de drogas injetáveis, há maior incidência de HIV entre MTM do que entre mulheres que
se relacionam somente com homens.
Um estudo com usuárias de drogas
injetáveis, em 14 cidades americanas,
revelou que, comparadas às mulheres
heterossexuais, mulheres com uma
parceira têm maiores possibilidades
de partilhar seringas, trocar sexo por
drogas ou dinheiro, ser sem-teto e soroconverter-se.2
Mulheres que se identificam como lésbicas ou bissexuais e fazem sexo com homens podem correr maiores riscos de contrair o HIV em função do tipo de parceiro com quem se
relacionam e do pouco uso da camisinha. Um estudo com mulheres lésbi-
cas e bissexuais, em San Francisco,
Califórnia, revelou que 81% delas
haviam tido relações sexuais com homens nos últimos 3 anos. Destas,
39% relataram haver feito penetração
vaginal sem camisinha e 11%, sexo
anal sem camisinha.3 Numa pesquisa
com mulheres lésbicas e bissexuais,
em 16 pequenas cidades americanas,
entre as mulheres que também tinham um parceiro masculino, 39%
relataram tratar-se de um parceiro
gay ou bissexual e 20%, um parceiro
usuário de drogas injetáveis.4
* Texto gentilmente cedido pela Dra ( Maria Eugênia
Lemos Fernandes da organização Associação Saúde da Família
1 . N. T. Nesta tradução optei por utilizar a expressão
mulheres que transam mulheres, em vez de mulheres que fazem sexo com mulheres, por esta ser mais
usual em Português.
2 . Young RM, Weissman G, Cohen JB. Assesslng
rlsk in the absence of Information: HIV risk among women Injection drug users who have sex wlth women.
AIDS and Public Policy Journal. 1992;7:175-183.
3 . Lemp GF, Jones M, Kellogg TA, et ai. HIV sero-
prevalence and risk behaviors among lesbians and
blsexual women in San Francisco. American Journal
of Public Health. 1995;85: 1549-1552.
4 . Norman AD, Perry MJ, Stevenson LY, et ai. Lesblan and bisexual women in small cltles - at risk for
HIV? Public Health Reports. 1996:111:347-352.
PAMELA DECARLO E CYNTHIA GóMEZ
TRADUçãO: MíRIAM MARTINHO
AS MULHERES
QUE TRANSAM COM
1 MULHERES CORREM RISCO
DE CONTRAIR O HIV
(VÍRUS DA AIDS)?
É POSSÍVEL HAVER
TRANSMISSÃO DO HIV
ENTRE MULHERES?
Por tudo que sabemos, há um pequeno mas ainda não especificado risco de transmissão do HIV nas práticas
33
sexuais entre mulheres.5 O HIV é encontrado nos fluidos vaginais e no sangue menstrual, mas a quantidade do vírus não foi até agora adequadamente
medida. O sexo entre mulheres pode
incluir uma variedade de atividades, e
o risco relativo de todas essas atividades ainda não é conhecido. Acredita-se
que o sexo oral sozinho apresente baixo risco,5 e atos que podem resultar em
trauma vaginal, tais como partilhar
brinquedos sexuais sem camisinha ou
fazer penetração quando os dedos têm
cortes ou estão com unhas longas, podem trazer maior risco.
Até agora, não houve estudos que
tenham examinado rigorosamente os
atos sexuais entre mulheres ou o cunnilingus (sexo oral entre mulheres) como
um risco na transmissão do Hiy mas
há um número de casos relatados.6 Somente um estudo analisou casais lésbicos discordantes (onde uma mulher está infectada e a outra não). Embora este
estudo tenha abrangido somente 10 casais, por um curto período de tempo,
não apontou soroconversões.7
QUAIS SÃO
AS BARREIRAS
ÀPREVENÇÃO?
Fatores sociais, ambientais e
econômicos podem tornar-se uma
barreira à prevenção. Mulheres que
transam mulheres (MTM) e são pobres, viciadas, sem-teto, com pouca
habilitação profissional ou que temem violência podem voltar-se para
a prostituição ou envolver-se em sexo com homens por questões de sobrevivência. Para estas mulheres, a
preocupação mais imediata com ali-
5. Mays VM, Cochran SD, Pies C, et ai. The risk of HIV infection for lesbians and other women who have sex with
women; implications for HIV research, prevention, policy,
and servíces. Womerís Health: Research on Gender. Behaviour and Policy. 1996;2:119-139.
6 . Kennedy MB, Scarlett Ml, Duerr Ac et ai. Assessing
HIV risk among women who have sex with women:
scientific and communication issues. Journal ofthe American Medicai Women's Association. 1995;50:103-107.
7 . Raiteri R. HIV transmission in HlV-discordant lesbian
«
Ainda há um número limitado de
programas de prevenção ao HIV que
enfocam especificamente mulheres que
transam com mulheres, mas os seguintes projetos vem marcando presença.
O Lesbian AIDS Project (LAP),
em Nova York, fornece múltiplos serviços tanto para lésbicas soropositivas quanto soronegativas. O LAP administra grupos de apoio e oficinas,
sobre sexo mais seguro, assim como
sobre violência doméstica, mudanças
comportamentais e outros tópicos.
Lésbicas HIV+ e lésbicas em situação de risco integram a equipe que
fornece educação à população, incluindo a população carcerária e a de
centros de recuperação.9
Em San Francisco, Califórnia, os
Serviços de Saúde da Mulher LyonMartin treinaram lésbicas e bissexuais,
como educadoras, para apresentar informações sobre sexo mais seguro em
bares, discotecas e clubes de sexo para
mulheres. Conhecidas afetivamente como "Putas do Sexo Mais Seguro", estas
educadoras se "dedicam a demolir negativas", apresentando sátiras, dando
oficinas e consultas individuais e distribuindo camisinhas e lubrificantes.'"
Um projeto comunitário em Hollywood, na Califórnia, visou especificamente usuários de drogas de alto
risco (gays, lésbicas, bissexuais e
transgênero). Baseado num modelo
de redução de danos, o programa forneceu grupos de apoio, aconselhamento, referências, pacotes de prevenção e kits higiênicos."
Na Guatemala, um espaço público
para lésbicas, travestis e homens gays
e bissexuais foi aberto para proporcionar um ambiente seguro e livre do
uso de sexo e drogas. A Casa da Cultura patrocina oficinas criativas e aulas, entre outras, de cerâmica, fotografia, literatura, Inglês e Fran-
couples. Presented at the 11th International Conference
on AIDS, Vancouver, BC, 1996. Abstract#Tu.C.2455.
8 . Gómez CA, Garcia DR, Kegebein VJ, et ai. Sexual
identity versus sexual behavior: implications for HIV prevention strategies for women who have sex with women.
Womerís Health: Research on Gender, Behavior and Pofcy. 1996;2:91-109.
9 . Hollibaugh A. LAP Notes. Lesbian AIDS project at
GMHC 1994;2;12. Contact: Io Cyrus, Lesbian AIDS
Project (212) 337.3531.
10 . Stevens PE. HIV prevention education for lesbians
and bissexual women: a cultural analysis of a community
intervention. Social Science In Medicine. 1994;39:15651578. Contact: Lani Ka'ahumanu (415) 821.3534.
11 . Reback CJ, Walt K. Street drugs, street sex:
community-based outreach to gay, bisexual, lesbian
and transgendered drug users. Apresentado na 11a
Conferência Internacional sobre AIDS. Vancouver,
BC, 1996. Abstract#ThC4670. Contact: Cathy Reback (213)463.1601.
mentação, moradia e a sustentação
do vicio se torna prioritária em relação a preocupações futuras com a
infecção pelo HIV
A crença na heterossexualidade
hegemônica e as atitudes sociais e
culturais negativas, em relação à homossexualidade, podem servir para
aumentar os comportamentos de risco
entre mulheres que transam mulheres.
Um estudo em San Francisco, CA, revelou que lésbicas jovens abusam de
álcool e drogas, envolvem-se em relações sexuais desprotegidas com homens e em experimentações sexuais
com jovens gays como uma forma de
lidar com as pressões sociais.8
Mulheres que transam mulheres
em situação de risco se encontram
freqüentemente invisíveis ou não
identificáveis em outros grupos, tais
como grupos de usuários de crack e
outras drogas injetáveis, sem-teto, trabalhadores do sexo e prisioneiros. As
MTM que fazem sexo com homens se
identificam com diferentes comunidades, dependendo do gênero de sua/seu parceira/o sexual. Os esforços de
prevenção deveriam levar este fato em
conta e reconhecer que as mulheres
bissexuais podem ser mais efetivamente alcançadas através de programas que visam mulheres heterossexuais em situação de alto risco.
cês.Também patrocina conferências e
mesas-redondas sobre questões como
violações de direitos humanos, atitudes da igreja católica em relação a
gays e lésbicas, formas de permanecer HIV- e aspectos legais da AIDS.12
Mulheres se
Banhando
Tamara de
Lempicka
1929
Precisam ser feitas pesquisas definitivas sobre práticas sexuais, riscos, escolhas de parceiros e características demográficas das MTM. A
prevenção efetiva do HIV para as
MTM deve levar em conta suas identidades sexuais tanto quanto seu comportamento sexual e o uso de drogas.
Distinguir as MTM por suas identidades pode ser crucial na elaboração
de mensagens de prevenção.
Os provedores de serviços e agentes de saúde devem ser sensibilizados
para as necessidades das MTM e ser
treinados para conduzir campanhas
preventivas não heterosexistas. Muitos
provedores de serviços assumem que
as mulheres HIV+ são exclusivamente
heterossexuais.13 Se uma mulher diz
que manteve relações sexuais com um
homem, a maioria dos agentes de saúde não lhe pergunta se também se relacionou com uma mulher. Da mesma
forma, se uma mulher relata que é
usuária de drogas, poucos agentes de
saúde também lhe fazem perguntas sobre comportamento sexual, assumindo
que o uso de drogas é seu fator de risco
principal. Tais atitudes não afetam somente o cuidado e as instruções que
uma MTM pode receber, mas também
levam a uma documentação pobre, sobre formas de comportamento de ris-
co, e a registros inadequados da incidência de HIV entre as MTM.
Como grupo, as MTM têm estado
invisíveis no sistema de classificação
de HIV dos Centros de Controle e
Prevenção de Doenças (CCD). Enquanto as categorias de grupos de
risco, para homens, incluem homens
que fazem sexo com homens, uso de
drogas injetáveis e contato heterossexual, entre outros, não há nenhuma
categoria para as MTM. Esforços para tornar mais claramente identificáveis as MTM, dentro do sistema
atual de vigilância do CCD, estão
agora em andamento.14 Informações
sobre o número real de MTM, entre
os casos de AIDS, trarão à luz a necessidade de programas de prevenção específicos para esta população.
A mensagem de prevenção mais
efetiva para as MTM ainda não está
clara. Alguns grupos afirmam que precisamos enfocar os maiores riscos de
contaminação para a maioria das MTM
- uso de drogas, sexo com homens - em
vez de questões sobre a transmissão
mulher-mulher. Treinamentos e pesquisas, na área, deveriam salientar a
limpeza de agulhas, utilizadas para o
uso de drogas, ou o uso de seringas descartáveis, a utilização de camisinhas no
sexo anal e vaginal, com homens, bem
como o estabelecimento de mensagens
mais claras no que se refere ás relações
mulher-mulher.15
É irracional que, depois de 15
anos de epidemia, as mulheres HIV+
ainda não tenham informações precisas, sobre os riscos de transmissão na
relação mulher-mulher, de modo a
saber o que fazer ou não fazer sexualmente com suas parceiras. Uma estratégia de prevenção abrangente usa
uma variedade de elementos para
proteger o máximo de pessoas possível. Informações precisas, sobre a
transmissão sexual mulher-mulher, a
incidência do HIV nesta população e
os fatores que levam as MTM a ter
práticas de risco, são a chave para
proteger as mulheres que fazem sexo
com mulheres da epidemia da AIDS.
12 . Martinez LF, Mayorga R. Lorenzana A, et ai.
The Guatemalan Gay/bisexual and Lesbian Culture House: alternative activities fostering self-esteem, behavioral changes, and AIDS prevention.
Apresentado na 11a Conferência Internacional sobre AIDS. Vancouver, BC, 1996. Abstract#ThD363.
13 . Warren N. Out of the question: obstacles to research on HIV and women who engage in sexual
behaviours with women. SIECUS Report. 1993;
October/Novemberl 3-15.
14 . Centers for Disease Control and Prevention. Report on lesbian HIV issues meeting. Decatur, GA; April 1995.
15 . Gorna R. Lesbian safar sex: alarmist or inadequate? Presented at the 11 th International
Conferenceon AIDS. Vancouver, BC. 1996. Abstract#ThD244. Contact: (in England) Robin
Gorna, Terrence Higgins Trust (011) 44-171831-0330.
FONTE: University of Califórnia, San
Francisco, january 1997
MAIORES INFORMAÇÕES:
e-mail: [email protected]
Internet site: http://www.caps.ucsf.edu
ra
A homeopatia
na arte de curar
CRISTINA DUMAS
alar da Homeopatia
nos convida a entrar na
■ própria história da Medicina. Desde que o primeiro ser
buscou uma forma de atenuar seu
próprio sofrimento ou de seu semelhante, nasceu a arte de curar. Na
Antigüidade, coube a Hipócrates a
tarefa de reunir tudo o que se sabia
e se passava de geração a geração.
Este fato, associado a seus feitos
como médico, deram-lhe por merecer o título de pai da Medicina.
O alemão Samuel Hahnemann, filho de artesão, pelo prazer da leitura, aprendeu com facilidade vários idiomas, tornandose tradutor, o que lhe possibilitou
manter os estudos de Medicina,
além de adquirir vasto conhecimento. Como médico, chocava-se
com os métodos usados em sua
época (séc. XVIII), como o uso
da sangria, vomitórios, laxantes,
etc. Acreditava que deveria haver
uma maneira mais suave e duradoura de aliviar as doenças. Num
de seus ciclos de leitura e tradu-
ções, tomou conhecimento das
anotações de Hipócrates a respeito das terapêuticas até então praticadas. Notou que citavam sempre duas formas de buscar a cura,
duas leis terapêuticas das quais
surgiram as duas linhas médicas
conhecidas atualmente: a Alopatia e a Homeopatia.
A Alopatia, ou medicina tradicional, baseia-se na Lei dos Contrários - contraria contmriis curentur - que consiste em antagonizar
as causas e os efeitos das doenças,
por exemplo, antiácido para a acidez da gastrite, antiinflamatório
para inflamação de joelho, antibiótico para infecção de ouvido. Em
busca da cura, ela usa meios que
agem no organismo.
A Homeopatia se baseia na Lei
dos Semelhantes - similia similibus
curentur - que consiste em colaborar com o organismo para que ele
resolva as causas e efeitos da própria doença. É um método científico e filosófico descrito, pesquisado e aprimorado, por Hanhemann,
a partir de 1796.
Na visão homeopática.
Saúde é a harmonia de todo o
conjunto que forma o ser. E a sensação de bem-estar geral associada
ao equilíbrio nas funções e ao estado físico do corpo;
Doença é o desequilíbrio interno que se manifesta, através
de sinais e sintomas, de acordo
com cada pessoa e sua maneira
particular de ser;
Energia vital é a força que gera e mantém o ser vivo em pleno
"funcionamento" com sensação
de bem-estar físico, mental e emocional quando saudável. O desequilíbrio desta energia é a verdadeira causa da doença.
O processo de adoecimento é
produto do que o ser é, de como
vive (pensa, sente, sonha e realiza) e de como reage e interage
com o meio diariamente, sem desprezar aqui toda sua bagagem hereditária. O desequilíbrio energético ocorre quando algo nos agride e gera conflitos internos que
acabam por nos tirar "a paz". Se
houver reorganização interna, há
volta ao estado de bem-estar.
Quando isto não ocorre, "coisas
não resolvidas" perpetuam estímulos desagradáveis que geram
uma desordem energética de dentro para fora do ser. A Homeopatia crê que o ser adoece primeiro
no seu mais profundo que é a vontade e o entendimento (o que pensa, deseja-, sonha e sente), e que, a
partir deste mau funcionamento
na energia vital, originam-se os
distúrbios, detectados nos exames, na função e na anatomia dos
diversos órgãos e aparelhos do
corpo humano.
O processo da cura é um caminho para o autoconhecimento no
qual cada ser se mostra e tenta descobrir o que lhe soa como agressão
e sua forma de conviver com ela, visando uma qualidade de vida que
lhe permita ser feliz de forma real.
É a volta ao equilíbrio energético,
com sensação de bem-estar geral e
resolução suave, real e duradoura
dos sinais e dos sintomas, perseguindo a cura pelo tratamento da
causa real da doença. Inclui-se, neste caminho, o uso de medicamentos
energeticamente ativos, uma alimentação adequada, mudanças de
hábitos não saudáveis, enfim uma
busca integral do bem-estar.
A particularidade de cada ser é
sua maneira única de vivenciar
cada fato. Nisto as duas terapêuticas, Alopatia e Homoeopatia, se-
A cura é sentida
não só com a melhora ou
ausência do distúrbio
físico, mas com todo um
processo de mudança
na maneira de ver, sentir,
sonhar, agir e interagir
sem sofrimento;
sem sofrimento, e não sem
problema. E uma sensação
geral de bem-estar.
param-se ainda mais. A Alopatia
tem um tratamento para cada
doença por crer numa causa física
para ela. Por exemplo, Joana é tímida, ansiosa e insegura, porém
tem bom coração, sofre por não
poder ajudar a todos e tem uma
gastrite. Débora é elétrica, sentese cobrada por todos e morre de
raiva por ninguém ajudá-la. Aparentemente doce, porém ambiciosa, tem uma gastrite. Na Alopatia,
o que haveria de se curar é a gastrite, com os mesmos medicamentos para ambas as enfermas. A
Homeopatia, contudo, crê ser impossível duas pessoas, tão particularmente diferentes, serem resumidas a uma manifestação física única, no caso, a gastrite.
A escolha medicamentosa, na
Homeopatia, basea-se no conjunto
de sinais e sintomas do ser, tudo o
que ele vive e é, sempre buscando o
que é mais raro, peculiar e característico de cada ser, a sua individualidade, sem desprezar nada. O/A
homeopata é um/a médico/a fazendo um diagnóstico e buscando ajudar o seu doente a encontrar o caminho da cura.
O medicamento homeopático
é retirado dos diversos reinos (mineral, vegetal e animal) e farmacologicamente preparado com um
princípio ativo que "mexe" na
energia vital, estimulando o organismo a se reequilibrar por si só,
de acordo com a Lei dos Semelhantes, na qual eu escolho o medicamento mais semelhante com
o todo do/a meu/minha paciente e
que provocará um estímulo e uma
reação rumo ao processo de cura.
A cura é sentida não só com a
melhora ou ausência do distúrbio
físico, mas com todo um processo
de mudança na maneira de ver, sentir, sonhar, agir e interagir sem sofrimento; sem sofrimento, e não
sem problema. É uma sensação geral de bem-estar.
Cada um/a de nós deve buscar a
melhor forma de viver, e coube a
mim tentar apresentar um dos caminhos, por nós conhecidos, que
nos ensina a amar a vida e deixar
que ela nos ame.
Maiores informações,
na Internet:
Associação Paulista
de Homeopatia
http://www.aphomeo.com.br
OUTROS SITES SOBRE HOMEOPATIA
E TAMBÉM ACUPUNTURA NA INTERNET
http://www.dungeon.com/~cam/index.htlm
http://www.homeopathy.com/~educate/newsltr.html
http://www.healthy.net/pan/pa/homeopathic/natcenhim/index.html
http://www2.antenna.nl/homeoweb/noborder.html
spirit.satelnet.org/Spirit/homeopathy.html
http://www.cfh.ufsc.br/~smba
http://www.medicmail.com/forum.html
http://www.wstudio.com/bsb_online/bsb_acup.htm
http://www.artnet.com.br/amedacp.html
http://www.opus.com.br/doctor/doctor2.htm
http://plutao.mvirtual.com.br/holos/medchin1.html
http://www.geocities.eom/HotSprings/1613
W
ffl
SGGJ
Polêmica à vista
Aids... Uma nova doença? Uma
cuidadosa análise científica mostra
uma visão totalmente diferente.
William e Claudia Holub. Life
Systems, Melville, New York. 1988.
O diagnóstico da AIDS. Uma
visão crítica para soropositivos. Alfredo Embid. Associação de Medicinas Complementarias. Madnd.
Traduzidos e distribuídos pela organização TAPS, Temas Atuais na
Promoção da Saúde, os textos
Aids... Uma nova doença? Uma cuidadosa análise científica mostra uma visão totalmente diferente e O diagnóstico da
AIDS. Uma visão crítica para soropositivos acendem uma grande polêmica sobre
um dos temas mais delicados da atualidade: a SIDA ou AIDS, como nós, brasileiros americanizados, chamamos a Sindrome da Imunodeficiência Adquirida.
Os textos da TAPS contestam algumas das noções mais difundidas sobre
a enfermidade, tais como que o HIV
(vírus da imunodeficiência humana)
seja, sozinho, o causador da AIDS, e
que possamos determinar se uma pessoa está soropositiva ou doente de
AIDS nos baseando nos exames, supostamente específicos, do mercado
(como o Elisa e o Western Blot) e na
contagem baixa de linfócitos T-CD4
(algumas das células de defesa que
compõem o sistema imunológico).
Segundo esses textos, "Existe consenso entre diversos cientistas de que o
HIV, com os anticorpos que ele provoca, não é a causa principal da AIDS,
mas que as causas mais importantes são
uma série de outros fatores (isto é, desnutrição, vacinação, abuso de drogas,
quimioterapia, etc). O consenso se deve à porcentagem muito baixa (cerca de
10%) de pessoas, teoricamente expostas ao vírus, que desenvolvem a AIDS.
Isso confirma o papel de muitos co-fa-
tores que contribuem para a imunossupressão"1 "...Portanto, o vírus da AIDS
poderia ser apenas a infeccção oportunista mais comum das pessoas sujeitas
ao risco de ter AIDS, porque os retrovírus não são citocidas e - diferente da
maioria dos vírus - persistem como infeccções latentes, não patogênicas."2
Também de acordo com esses textos, escritos por médicos e bioquímicos, com vasta bibliografia, os atuais
testes para a AIDS, medem, no melhor dos casos, apenas anticorpos no
sangue que podem existir devido a
outras enfermidades como "malária,
artrite, esclerose múltipla, miastenia
grave, lupo e outras 200 doenças".3
"...0 teste somente mede uma proteína elevada em numerosas situações
normais e patológicas, independente
do HIV."4 Conseqüentemente, segundo os autores, os testes apresentam
um número elevado de falsos-positivos (indica que uma pessoa tem AIDS
quando ela de fato não tem) e de resultados diferentes dependendo dos
laboratórios onde são realizados.
Quanto à contagem dos famosos
CD4, como determinantes da evolução da AIDS, em soropositivos, os
textos afirmam que, primeiro, os linfócitos T4 representam apenas uma
pequena parcela das células que compõem o sistema imunológico e não toda sua defesa e, segundo, que contagens baixas desses linfócitos são encontradas em indivíduos portadores
de outras enfermidades ou mesmo em
indivíduos sadios. Nesta perspectiva,
portanto, é a medicação, principalmente com AZT (droga de alta toxicidade), de pacientes soropositivos, com
contagem de células T-CD4 abaixo de
200 (a média deve ser mil), sem a consideração de outros fatores, como sintomas, por exemplo, que pode levar ao
surgimento da AIDS e não o número
de linfócitos em questão.
Enfim, os textos traduzidos pela
TAPS põem lenha na fogueira da discussão sobre a chamada epidemia da AIDS,
trazendo muitos questionamentos que
merecem, no mínimo, uma atenção mais
detalhada. Sabe-se, sem dúvida, que há
muitos interesses financeiros envolvidos
na história da AIDS (interesses da indústria da biotecnologia dos testes, da indústria farmacêutica que produz os medicamentos anti-AIDS) bem como muitas
questões controversas e dúvidas não-esclarecidas. Sabe-se também que o tratamento de qualquer enfermidade, para ser
efetivo, precisa levar em consideração os
fatores sócio-econômicos, políticos e
culturais onde estão inseridos os doentes
bem como sua individualidade e seu histórico pessoal (hábitos alimentares, modo de vida, características psicológicas,
outras doenças). Não haveria de ser diferente em relação à AIDS. Neste sentido,
todas as informações que nos levem a
uma análise mais abrangente desse problema, mesmo quando bastante polêmicas ou até mesmo discutíveis, podem trazer luzes no fim de um túnel onde antes
só se via escuridão. Nesse caso, inseremse os textos da TAPS.
MAIORES INFORMAÇÕES:
TAPS, Temas atuais na
promoção da saúde
Caixa Postal 20396, São Paulo, SP
Fone: (011)572.0466
FAX: (011) 572.0465.
Sobre Medicina Alternativa
na Internet:
http://www.altmed.od.nih.gov
1. Holub, William e Claudia. Aids... Uma nova
doença? Uma cuidadosa análise científica mostra
uma visão totalmente diferente. New York: Life
Systems, 1988, p. 6.
2. Idem, p. 8.
3. Ibidem, p. 8.
4. Embid, Alfredo. O diagnóstico da AIDS.
Uma visão crítica para soropositivos. Madrid: Associação de Medicinas Complementarias, p. 2.