curso de odontologia da unifor: 10 anos ensinando e aprendendo

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curso de odontologia da unifor: 10 anos ensinando e aprendendo
CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR:
10 ANOS ENSINANDO E APRENDENDO
ORGANIZADOR
PROF. LUIZ ROBERTO AUGUSTO NORO
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1. Projeto pedagógico: a construção coletiva
Luiz Roberto Augusto Noro
Sharmênia de Araújo Soares Nuto
Thiago Pelúcio Moreira
Karol Silva de Moura
Polyanna Maria Rocha Novais
2. Metodologia da problematização: uma escolha político-pedagógica
Thiago Pelúcio Moreira
Luiz Roberto Augusto Noro
Rita de Cássia Moura Diniz
Denise Klein Antunes
Christina César Praça Brasil
Fátima Maria Fernandes Veras
Aldo Angelim Dias
Maria Cristina Germano Maia
Samuel Ilo Fernandes Amorim
3. Espaços de Saúde: é possível humanizar?
Patrícia Pinheiro Santos Moura
Heleni Barreira de Brito
Sharmênia de Araújo Soares Nuto
Rosanne Maria Medina Ávila Gomes
Morgana Pontes Brasil Gradvohl
Sandra Régia A. Ximenes
4. Como você se sente? A experiência do Estágio Extra Mural do Curso de
Odontologia da UNIFOR
Sandra Helena de Carvalho Albuquerque
Maria Vieira de Lima Saintrain
Luiz Roberto Augusto Noro
Sharmênia de Araújo Soares Nuto
Thiago Pelúcio Moreira
Maria Cristina Germano Maia
Maria do Carmo Rebouças Filha
Maria Elisa Machado Ferreira
2
5. A Clínica integrada
Juliano Sartori Mendonça
Sandra Helena de Carvalho Albuquerque
6. Controle de Infecção no Curso de Odontologia da Universidade de
Fortaleza (UNIFOR)
Danilo Lopes Ferreira Lima
Dilene Maria de Araújo Façanha
Aminthas Alves Brasil Neto
Elilton Cavalcante Pinheiro Júnior
Solange Kátia Saito Fernandes
Luiz Roberto Augusto Noro
7. Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de Odontologia –
SIA/ODONTO
Karol Silva de Moura
Eveline Turatti
Lívia Belchior Gomes de Matos
José Leitão de Castro Feitosa
José Raimundo Matos Miranda
8. Pesquisa: a essência do aprendizado
Haroldo Rodrigues de Albuquerque Júnior
Luiz Roberto Augusto Noro
9. Tratando desigualmente os desiguais: a busca da eqüidade no Curso de
Odontologia da UNIFOR
Grace Sampaio Teles
Domingos Leitão Neto
Fátima Maria Teixeira de Azevedo
Luiz Roberto Augusto Noro
10. Jornada Acadêmica de Odontologia
Juliano Sartori Mendonça
Marlio Ximenes Carlos
Sérgio Luís da Silva Pereira
3
OS AUTORES
Aldo Angelim Dias
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Saúde Pública – Universidade Estadual do Ceará
Doutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Aminthas Alves Brasil Neto
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Especialista em Prótese UMESP/SP
Mestrando em Odontologia – Universidade Federal do Ceará
Christina César Praça Brasil
Professora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFOR
Coordenadora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFOR
Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana - Universidade Federal de São Paulo
Danilo Lopes Ferreira Lima
Professor do Curso de Odontologia e do Curso de Educação Física da UNIFOR
Mestre em Periodontia UNICASTELO-Campinas/SP
Doutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Denise Klein Antunes
Professora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFOR
Mestre em Educação em Saúde - UNIFOR
Dilene Maria de Araújo Façanha
Enfermeira especialista em Centro Cirúrgico, Central Esterilização e Recuperação
Anestésica pela SOBECC-SP
Especialista em Educação em Saúde - UNIFOR
Domingos Leitão Neto
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Especialista em Prótese Dental Total – Universidade Federal do Ceará
Elilton Cavalcante Pinheiro Júnior
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Endodontia – Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Eveline Turatti
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Doutora em Odontologia – Universidade de São Paulo
Fátima Maria Fernandes Veras
Diretora do Centro de Ciências da Saúde da UNIFOR
Mestre emFarmacologia - Universidade Federal do Ceará
Fátima Maria Teixeira de Azevedo
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestranda em Educação em Saúde - UNIFOR
Grace Sampaio Teles
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Doutora em Odontologia – Universidade de São Paulo
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Haroldo Rodrigues de Albuquerque Júnior
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Doutor em Odontologia – Universidade Estadual Paulista - Araraquara
Heleni Barreira de Brito
Professora dos Cursos de Psicologia, Educação Física, Fisioterapia, Enfermagem,
Fonoaudiologia da UNIFOR
Mestre em Saúde Púbica – Universidade Estadual do Ceará
José Galba de Meneses Gomes
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Psicologia – UNIFOR
José Leitão de Castro Feitosa
Analista de Sistemas da Gerência de Tecnologia em Informática – UNIFOR
José Raimundo Matos Miranda
Coordenador de Desenvolvimento da Gerência de Tecnologia em Informática – UNIFOR
Mestre em Administração - UNIFOR
Juliano Sartori Mendonça
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Doutor em Dentística – Universidade de São Paulo - Bauru
Karol Silva de Moura
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Saúde Pública – Universidade Federal do Ceará
Lívia Belchior Gomes de Matos
Analista de Organização e Método do Curso de Odontologia da UNIFOR
Especialista em Consultoria Organizacional – Universidade Federal do Ceará
Luiz Roberto Augusto Noro
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Saúde Pública - Universidade Federal do Ceará
Doutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Maria Cristina Germano Maia
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Saúde Pública - Universidade Estadual do Ceará
Doutoranda em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Maria do Carmo Rebouças Filha
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Especialista em Educação em Saúde – UNIFOR
Maria Elisa Machado Ferreira
Ex-aluna do Curso de Odontologia da UNIFOR
Maria Vieira de Lima Saintrain
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Doutora em Odontologia em Saúde Coletiva – Universidade de Pernambuco
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Marlio Ximenes Carlos
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Especialista em Periodontia – Universidade Camilo Castelo Branco
Morgana Pontes Brasil Gradvohl
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Psicologia – UNIFOR
Patrícia Pinheiro Santos Moura
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Educação em Saúde – UNIFOR
Polyanna Maria Rocha Novais
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Odontologia - Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto
Doutoranda em Prótese – Universidade Estadual Paulista - Araraquara
Rita de Cássia Moura Diniz
Professora do Curso de Enfermagem da UNIFOR
Coordenadora do Curso de Enfermagem da UNIFOR
Mestre em Saúde Comunitária – Universidade Federal do Ceará
Rosanne Maria Medina Ávila Gomes
Assistente Social do Curso de Odontologia da UNIFOR
Especialista em Consultoria Organizacional – Universidade Federal do Ceará
Mestranda em Administração – Universidade Estadual do Ceará
Samuel Ilo Fernandes Amorim
Aluno do Curso de Odontologia da UNIFOR
Sandra Helena de Carvalho Albuquerque
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Saúde Pública - Universidade Federal do Ceará
Sandra Régia A. Ximenes
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Especialista em Radiologia e Dentística – Universidade de São Paulo - Bauru
Sérgio Luís da Silva Pereira
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Doutor em Periodontia – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Sharmênia de Araújo Soares Nuto
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Saúde Pública - Universidade Federal do Ceará
Doutoranda em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Solange Kátia Saito Fernandes
Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR
Doutora em Dentística – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Thiago Pelúcio Moreira
Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR
Mestre em Saúde Pública - Universidade Estadual do Ceará
Doutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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APRESENTAÇÃO
O curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza completa 10 anos de
existência. Assim, é com grande satisfação que apresento a experiência relatada
nesta obra como uma contribuição à história da Odontologia no Ceará. A criação
desse curso caracteriza-se como um processo extremamente dinâmico e, por que
não dizer, ambicioso, considerando o cenário da formação de recursos humanos em
nossa região, mais especificamente de cirurgiões-dentistas conscientes do seu
papel social diante dos desafios em promover o cuidado com a saúde bucal.
Desde o início do Curso, em 1995, a Reitoria teve a felicidade de poder contar
com um corpo docente de alto nível, muito bem qualificado com professores mestres
e doutores, bastante criativos e dedicados, o que logo se traduziu numa atitude
notável: o compromisso com a gestão colegiada e participativa. Essa orientação
permitiu o diferencial do Curso, destacando-o entre os melhores de formação
odontológica do País.
Nesta publicação, o que o leitor vai encontrar é uma reflexão, de autoria do
corpo docente sobre experiências no cotidiano do processo de ensinar e aprender
como obra coletiva, fundamentada cientificamente, numa postura compartilhada,
definidora das teorias e práticas odontológicas, construídas no ensino, na docência e
na pesquisa desenvolvidas no Curso. O resultado é dos mais consideráveis: a
excelência docente é assumida pela qualidade na formação discente, testemunhada
nos relatos aqui reunidos, diante das atitudes profissionais do atendimento e no
sucesso dos egressos.
A consistência do Projeto Pedagógico do curso de Odontologia da UNIFOR
levou-o ao reconhecimento da comunidade em geral, de tal modo que a excelência
na graduação gerou a possibilidade da alta qualidade da especialização e, por
último, viabilizou a proposta do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em
Odontologia.
Por tudo isso, parabenizo a Coordenação, os Professores e Alunos do curso
de Odontologia, e desejo aos leitores um passeio prazeroso pelos caminhos aqui
redesenhados.
Carlos Alberto Batista Mendes de Souza
Reitor
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PREFÁCIO
CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA:
UM MARCO NO ENSINO ODONTOLÓGICO CEARENSE
José Galba de Meneses Gomes
Faltavam poucos dias para findar o mês de julho. O ano era 1995. Em março a
UNIFOR havia iniciado o seu Curso de Odontologia. Estava eu no desempenho das
funções do cargo de Chefe de Gabinete da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará
quando fui convidado para o desafio de assumir a coordenação do curso com a
perspectiva da estruturação de um curso referência para a região.
Para ninguém manifestei a importância e a vontade pessoal de ingressar
naquilo que foi meu sonho de jovem: seguir a carreira acadêmica, a qual fui
impedido pelos rigores discriminatórios da ditadura vigente nos anos 60 e 70. Ironia
do destino, aquilo que foi foco de discurso quando militante estudantil nos anos 60
contra a privatização do ensino tornou-se porta de entrada para o resgate de um
sonho que, embora aparentemente tardio, não o foi, pois a vida é um incessante
recomeço.
A bem da verdade, após assumir o cargo, nos primeiros momentos assusteime, pois o curso havia sido iniciado e o projeto arquitetônico ainda passava por
discussão e detalhamentos. Fiquei mais atarantado quando em visita ao terreno a
ser edificado nada vi a não ser arbustos. Não tinha a devida avaliação do
pragmatismo e obstinação da direção da UNIFOR em consolidar, como o fez, e
continua a fazer.
Com isso senti segurança mesmo com o atraso do cronograma e em razão da
enorme responsabilidade que assumia porque aquela oportunidade implicava num
resgate de um sonho que me induziu envidar todos os esforços possíveis para fazer
o que melhor pudesse.
Solicitei à Universidade de Fortaleza uma viagem para visita a algumas
faculdades em diferentes pontos do país, a qual foi concretizada com o objetivo de
colher
sugestões
para
o
projeto
arquitetônico
e
pedagógico,
além
de
silenciosamente fazer os primeiros contatos com quadros docentes e assegurar-me
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de uma visão crítica bem sedimentada. A partir das visitas firmou-se posição quanto
a necessidade de diferenciação no tocante a inovações na área da biossegurança
assim como a ousadia em montar uma equipe docente jovem titulada com mestrado
ou doutorado.
Aproximava-se o fim do ano de 1995 e não havia nem sinal de início da
edificação do prédio o que levou à improvisação de um espaço para o
funcionamento, no primeiro semestre de 1996, da disciplina de Materiais Dentários
e, em paralelo, buscar professores para essa disciplina específica, diga-se sob
pressão e preocupação dos alunos.
Dá para imaginar a ansiedade dos alunos e a minha própria. Fato é que o
laboratório foi montado em caráter provisório e atendeu até o fim de 1996 também
as disciplinas de Escultura Dental e Odontologia Social I.
A seleção dos professores ocorreu sempre com a recomendação de que fosse
realizada considerando a capacitação acadêmica de Doutor e Mestre ou, em última
análise, Especialista e que os contratados tivessem disponibilidade e vontade de
buscar o novo. É bom frisar que em nenhum momento ocorreram interferências das
instâncias superiores para imposição de nomes dos futuros docentes.
Sabendo que a existência de professores com qualificação de Mestre e Doutor
no Ceará era bastante rarefeita, foram iniciados contatos com outros centros para
tentar contratação de professores com estes títulos conclusos ou em fase de
conclusão. Lembro que percebi da parte de alguns dirigentes da UNIFOR um sorriso
de incredulidade ao verem a jovialidade dos futuros professores, e eu próprio,
apesar das referências, apavorado uma vez que qualquer fracasso seria fatal para
um curso que estava iniciando. A estes foram incorporados professores com
experiência que muito contribuíram para controlar os arroubos próprios dos mais
jovens, além de permitirem uma perfeita composição na condução das disciplinas.
O projeto era pensar algo inovador dentro do conceito de formar profissionais
tecnicamente capazes, éticos e humanos. Para tanto, seria indispensável contar
com funcionários e docentes comprometidos e envolvidos, motivados e apoiados no
sentido da construção de uma instituição exemplar e diferenciada.
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É importante destacar que a UNIFOR deu largos passos a partir do modelo
implantado pela odontologia, e que o ano de 1998 constituiu-se num marco, pois
patrocinou juntamente com a Associação Brasileira de Ensino Odontológico
(ABENO) um grande encontro em suas dependências, contando com a presença de
professores de Odontologia de todo o Brasil que foi motivo de júbilo para todos nós
pela participação e produção acadêmica.
A semente foi regada com muita pertinácia e responsabilidade o que permitiu
gerar frutos com uma continuidade – sem continuísmo – de coordenações se
superando e mantendo a chama da vontade de acertar e com uma equipe jovem e
envolvida, e ao olhar para trás afirmo com convicção que o envolvimento e a
determinação da Universidade de Fortaleza foram determinantes para oferecermos
à sociedade cirurgiões-dentistas efetivamente comprometidos com a perspectiva da
promoção da saúde.
1
CAPÍTULO 1
Projeto pedagógico: a construção coletiva
Luiz Roberto Augusto Noro
Sharmênia de Araújo Soares Nuto
Thiago Pelúcio Moreira
Karol Silva de Moura
Polyanna Maria Rocha Novais
1. INTRODUÇÃO
O presente capítulo tem como objetivo apresentar o processo vivenciado pelo
Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) durante os últimos
cinco anos na discussão do Projeto Político Pedagógico Permanente, um dos
instrumentos mais importantes na construção do referencial ao qual estará
sedimentada a formação do aluno, tendo como desafio a formulação de uma nova
referência para o ensino odontológico. Seu foco principal foi vislumbrar mecanismos
visando proporcionar ao aluno formação geral por meio de conhecimentos
relevantes para seu crescimento científico, formação profissional pertinente à sua
atuação na área da saúde e formação cidadã contemplada por uma visão ampla da
sociedade.
Estas discussões envolveram todo o corpo docente em um trabalho construído
de forma coletiva e pautado na perspectiva de se vislumbrar a capacitação de
futuros profissionais em saúde bucal que tenham capacidade de refletir sobre seu
papel na sociedade e analisar que contribuições podem trazer para a melhoria da
qualidade de vida da população brasileira, em especial, a cearense.
A proposta foi marcada por um constante aprofundamento na definição de
elementos vinculados à metodologia pedagógica problematizadora, à integração de
conhecimentos, à experiência didático-pedagógica dos professores e na busca de
alternativas instrucionais que permitissem um crescimento intelectual progressivo e
constante do aluno, tudo em coerência com as Diretrizes Curriculares propostas
para os Cursos de Odontologia, aprovadas desde novembro de 2001 pelo Ministério
da Educação (MEC).
1
Estas Diretrizes Curriculares Nacionais apresentam linhas gerais bastante
semelhantes à de outros cursos na área da saúde como Medicina, Enfermagem,
Farmácia etc. Se comparada à proposta inicial em análise no MEC desde 1998,
observam-se,
claramente,
alguns
avanços
como
as
competências
gerais
relacionadas à atenção integral à saúde, liderança social e setorial, gerenciamento e
administração de recursos; observação de que os conhecimentos, competências e
habilidades devem estar direcionados a todos os níveis de atenção em saúde;
diversificação de cenários, desmonopolizando o ensino da clínica odontológica;
interação com serviços de saúde e comunidade; aluno como sujeito da
aprendizagem por meio da utilização de metodologias ativas de aprendizagem e,
talvez a principal, a partir de agora, a formação em Odontologia deverá contemplar o
sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde e o trabalho em
equipe. Definiu-se, assim, o papel dos cursos de Odontologia na formação de
profissionais de saúde efetivamente vinculados aos interesses da maioria da
população.
2. APRESENTAÇÃO DO CURSO
O Curso de Odontologia deu início a suas atividades no primeiro semestre de
1995, tendo como base legal a Resolução CFE 04/82, de 03 de setembro de 1982,
parecer favorável do Conselho Nacional de Saúde em 11 de novembro de 1993 e
deliberação assumida em reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da
Universidade de Fortaleza em 14 de outubro de 1994.
O curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza não foi criado na simples
lógica de ser mais uma opção nesta área, mas sim no sentido de buscar uma
formação baseada em princípios humanistas, que contribuísse devolvendo à
sociedade profissionais altamente capacitados, quer do ponto de vista individual,
quer do ponto de vista coletivo, que fossem habilitados a enxergarem o paciente
como um todo em sua dimensão física, psíquica e social. É pretensão do curso se
inscrever como referência no cenário odontológico nacional de forma a contribuir
para o desenvolvimento de pesquisas, trabalhos e compreensão de que os
problemas de saúde bucal devem ser resolvidos para também contribuir na
conquista da cidadania.
1
A criação de qualquer curso na área de saúde, e primordialmente o de
odontologia, só se justifica se houver real demanda social que torne os profissionais
a serem formados como importantes agentes na melhoria da qualidade de vida da
população.
Segundo dados de dezembro de 1996 do Conselho Federal de Odontologia, o
Brasil possuía nesta época um total de 90 faculdades ou cursos de Odontologia,
formando anualmente um total de 8236 cirurgiões-dentistas, o que significa uma
relação de 1 cirurgião-dentista para 1142 habitantes, representando até então, o
melhor índice de toda a América.
Neste mesmo levantamento observamos que o caso do estado do Ceará
apresenta uma defasagem se comparado com o do Brasil. Segundo este
levantamento, em 1996 o Ceará apresentava uma relação de 1 cirurgião-dentista
para 2754 habitantes, deixando clara a necessidade de um contingente maior de
cirurgiões-dentistas em nosso estado, tendo em vista a orientação da Organização
Mundial de Saúde no sentido de uma relação adequada ser aquela de 1 cirurgiãodentista para 1500 a 2000 habitantes.
Epidemiologicamente, o Ceará, assim como a maioria dos estados do
Nordeste, apresenta uma situação de saúde bucal caótica, agravada pela péssima
distribuição de renda, situação inadequada de habitação, educação, além de um
sistema de saúde pública que pouco contribui na melhoria do quadro geral da
população.
Para
reversão
deste
quadro
torna-se
imperioso
vislumbrar-se
possibilidades de maior acolhimento de futuros profissionais cônscios de seu papel
político, ético e social nesta transformação.
Neste sentido, é pretensão do curso de odontologia da UNIFOR contribuir
para uma melhor participação de profissionais na reversão do negativo perfil
epidemiológico, considerando que parte dos municípios do interior cearense não
possui cirurgiões-dentistas ali residentes, apesar dos grandes avanços com a
estratégia Saúde da Família.
A concepção arquitetônica que abriga o curso de odontologia da UNIFOR foi
resultado de uma ampla pesquisa das estruturas existentes de outros cursos no
país, que resultou numa adaptação a nossa realidade climática dispondo para tanto
de uma área construída de laboratórios, clínicas e demais setores relacionados à
Odontologia de 3500 m2. As diferentes instalações estão estruturadas com
equipamentos de tecnologia atual e com capacidade instalada para atender a
1
demanda dos cinqüenta e cinco ingressos semestralmente por meio do processo
seletivo. Com estas instalações, o curso de Odontologia da UNIFOR está em
condições de formar profissionais competentes e capacitados ao desenvolvimento
das várias técnicas odontológicas.
No plano das responsabilidades profissionais foram implantadas comissões
de biossegurança e humanização que rotineiramente acompanham as metodologias
de atendimento ao público, a relação professor-aluno e a inter-relação professores–
alunos–funcionários–usuários, afora a permanente discussão quanto a metodologia
do ensino.
Quanto à titulação do corpo docente, a grande maioria dos professores do
curso de Odontologia da UNIFOR (aproximadamente 76%) é composta de doutores
ou mestres, não existindo qualquer professor sem pelo menos a especialização. Em
relação à capacitação pedagógica, nossos docentes têm continuamente a sua
disposição cursos das áreas de didática, dinâmica de grupo, relações interpessoais,
avaliação, entre outros, que visam o contínuo aprofundamento da formação
pedagógica.
O Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza foi reconhecido pelo
Conselho Nacional de Educação (CNE) em 08/12/1999 por meio do Parecer nº
1226/99. Desde então o curso já participou de cinco versões do Exame Nacional de
Cursos tendo obtido o conceito “B”, no ano de 1999, o conceito “A” em 2000 e 2001
e o conceito “B” nos anos 2002 e 2003 e da primeira versão do ENADE obtendo o
conceito 5. Na última Avaliação das Condições de Ensino, realizada em 2005, o
Curso teve o conceito “Muito bom” em todas as dimensões avaliadas.
Necessário se fez, portanto, a contínua discussão entre a comunidade
acadêmica sobre quais rumos deveria tomar a formação de um profissional que
pudesse efetivamente cumprir o estabelecido para sua missão. E, o caminho
desenhado para conquista de tal objetivo foi o seu Projeto Pedagógico.
3. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO PEDAGÓGICO
A estratégia escolhida para seu desenvolvimento consistiu na realização de
oficinas semanais às quais eram convidados professores e alunos do curso para
identificação dos principais problemas observados no desenvolvimento do projeto
1
em prática e os possíveis avanços a serem obtidos. As Oficinas de Construção
Coletiva do Projeto Pedagógico foram articuladas com a Diretoria de Graduação e a
coordenação do Curso de Odontologia da UNIFOR tendo como meta a discussão de
elementos fundamentais para a efetiva implantação das propostas discutidas.
Visando estabelecer com clareza o papel dos diversos atores na construção de uma
proposta sólida e tendo como referencial as propostas apresentadas durante a
XXXIII Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico – ABENO, em
1998, foram definidos os seguintes princípios norteadores:
1º) A construção do Projeto Pedagógico depende da capacidade dos
participantes em perceber, analisar, aceitar (rejeitar) e promover mudanças,
elaborando para isto mecanismos (métodos, estratégias) adequados.
2º) Para superar a fragmentação é necessário integrar as “disciplinas” para a
articulação de propósitos. Esta integração deve romper com o isolamento e ocorrer
de forma lógica na construção da totalidade do curso.
3º) A definição da política de graduação deve se dar no seguinte sentido:
a) Formação universitária que permita um egresso com característica de
generalista voltado para a promoção de saúde.
b) Os estudantes deverão ser formados visando assumirem postura crítica,
voltados para a sociedade, cientes do mercado de trabalho (mas
capazes de transformá-lo) a partir das necessidades da população.
c) Otimização curricular, promovendo estímulo e interação entre ensino,
pesquisa e extensão por meio, inclusive, de estímulo financeiro e
institucional (bolsas, monitorias, eventos etc.). Deve-se prever horário
específico para pesquisa e extensão e divulgação dos dados e
informações provenientes destas atividades.
d) A relação teoria-prática deve ocorrer a partir da interação das várias
áreas de conhecimentos, compondo uma totalidade.
4º) Projeto pedagógico enquanto prática social coletiva, a partir da interação
com a sociedade em benefício da “classe” como um todo e da própria sociedade.
Principal referência: formar um aluno crítico.
1
5º) Individualizar as características e demandas do curso na construção e
legitimação do Projeto Pedagógico. Para isto, deve-se conhecer o “Modelo Macro”
preconizado pela administração acadêmica identificando-se, a partir daí, limites e
possibilidades concretas (número de alunos, estrutura física, currículo, apoio à
pesquisa etc.).
6º) A coerência do Projeto Pedagógico tem a ver com a meta a ser alcançada.
Esta meta deve ser em relação ao profissional desejado e sua relação com a
sociedade. A natureza da ação a ser desenvolvida (generalista X especialista) está
diretamente relacionada à definição desta meta.
7º) A gestão, para que o Projeto Pedagógico formulado seja efetivado, deve ser
compartilhada. Deve permitir um espaço constante de discussão para que possa se
trabalhar com a idéia de “Projeto Pedagógico Permanente”.
A construção deste percurso foi viabilizada pela execução de 50 oficinas
pedagógicas semanais, divididas em duas fases: a primeira, que contou com a
participação de professores da área da pedagogia, configurou-se como espaço
privilegiado na capacitação pedagógica do corpo docente e a segunda, que buscou
harmonizar o referencial teórico construído com a necessidade de um processo de
ensino-aprendizagem que permitisse efetiva interação entre formação e prática
profissional, respeitando o conhecimento prévio do aluno e alterando o papel do
professor de transmissor do conhecimento para mediador da aprendizagem.
O que se pretendia era que, com a participação efetiva de todo o corpo
docente, o Projeto Pedagógico pudesse definir o perfil do egresso do curso de
Odontologia e, a partir daí, definir as metodologias pedagógicas e componentes
curriculares necessários para viabilização deste objetivo.
No semestre de 1999.1 ocorreram onze Oficinas Pedagógicas em que foram
discutidos temas como objetivos do curso, perfil do aluno a ser formado, habilidades
desejáveis dos futuros profissionais em saúde bucal, metodologias pedagógicas,
diretrizes curriculares e avaliação do processo ensino-aprendizagem.
Foi possível observar que o docente do Curso de Odontologia configurava-se,
em geral, como um profissional bem sucedido em sua área de atuação clínica, mas
1
que se ressentia de uma formação pedagógica para pleno desenvolvimento de sua
carreira acadêmica. As Oficinas permitiram uma efetiva participação da maioria do
corpo docente com formação em Odontologia, apontando para a necessidade de
uma contínua discussão principalmente com relação à adoção de metodologia
pedagógica com base na problematização, substanciada por um currículo integrado,
que viesse a ser formulado por meio do Projeto Pedagógico Permanente do Curso
de Odontologia da UNIFOR.
No segundo semestre de 1999 procurou-se avançar no sentido da discussão
do currículo integrado. Analisando-se o currículo existente observava-se a
inadequação de alguns elementos, tendo em vista a dissociação entre as disciplinas
do ciclo básico das do ciclo profissionalizante, o baixo impacto das ações de saúde
coletiva e a necessidade de se pensar em métodos de ensino que proporcionassem
maior participação do aluno, transformando-o em agente de seu estudo. A posição
passiva do aluno deveria ser substituída por uma postura que o levasse a aprender
a aprender. Ao fim do semestre foi apresentada a proposta preliminar do Projeto
Pedagógico, convidando-se os alunos para tomarem conhecimento das discussões,
de forma a poderem contribuir significativamente com esta construção.
No primeiro semestre de 2000 iniciou-se a participação do corpo discente. As
dificuldades para viabilizar o seu comparecimento sempre estiveram presentes.
Afinal, o Curso de Odontologia exige compromisso e, principalmente, muita
dedicação por parte do estudante. Mesmo assim, em todas as Oficinas deste
semestre, contou-se com a participação dos estudantes. A discussão central neste
semestre foi a elaboração de uma grade curricular que viabilizasse a integração de
conhecimentos. Tomou-se como referência para esta atividade, o perfil clínico do
paciente do Curso de Odontologia, em que os conhecimentos, habilidades e atitudes
necessários para o atendimento deste, guiaria as atividades clínicas e laboratoriais.
A partir da referência proporcionada pela construção de um currículo com base
no perfil do paciente, que tivesse como direção o aumento da complexidade do caso
clínico coerente com o processo de ensino-aprendizagem a ser vivenciado pelo
estudante ao longo do curso, procurou-se no segundo semestre de 2000
desenvolver áreas de conhecimento que perderiam a característica da abordagem
específica proposta pelas tradicionais disciplinas, permitindo uma abordagem com
visão mais ampla do paciente, entendido em seu contexto social, psicológico,
cultural e biológico.
1
Neste sentido, as Oficinas realizaram-se na perspectiva da construção de
uma grade curricular que procurou integrar conhecimentos tanto ao longo do próprio
semestre (integração horizontal) como de um semestre para o outro (integração
vertical) permitindo ao aluno a real percepção de seu objeto de trabalho. Assim, os
conhecimentos, habilidades e atitudes contidos nas tradicionais disciplinas clínicas e
laboratoriais
(materiais
dentários,
“dentísticas”,
“endodontias”,
“periodontias”,
“próteses” e “cirurgias”) foram agrupados de acordo com o perfil do paciente nas
disciplinas Pré-clínicas, Clínicas Odontológicas e nos estágios de Clínica Integrada.
Esta estruturação curricular contribui, segundo TOMAZ (2001), no resgate de
conhecimentos prévios dos alunos para construção de sólidas estruturas de
aprendizagem.
Outro fator que merece destaque é a possibilidade de conclusão dos casos
clínicos dos pacientes, muitas vezes incompletos pela falta de articulação dos
conhecimentos distribuídos nas disciplinas, fazendo com que o paciente seja muito
mais um objeto de intervenção para o aluno do que um ser humano que procura
resolver seus problemas de saúde bucal em um curso de Odontologia.
Tendo como referência o perfil de atendimento do paciente e os
conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para o desenvolvimento da
prática pelo aluno, no semestre de 2001.1 foram alocados os conteúdos para o
desenvolvimento de cada disciplina, por meio de representantes dos docentes de
cada área de trabalho (materiais dentários, dentística, endodontia, periodontia,
prótese, cirurgia, diagnóstico oral e saúde coletiva).
Durante o ano de 2002, a proposta foi apresentada para o Centro de Ciências
da Saúde (CCS) e para a Diretoria de Graduação (DIGRAD). Houve alguns
questionamentos em relação à nova proposta curricular, principalmente pela
presença de disciplinas com o número de créditos elevados.
Finalmente, após o amadurecimento dos questionamentos levantados pela
Universidade, optou-se, no semestre de 2003.1, pela realização de alguns ajustes à
proposta inicial. Foram realizadas 10 Oficinas com a participação dos representantes
das áreas de trabalho e aberto aos demais professores, em que foi revista a grade
curricular, onde a principal modificação foi a separação das disciplinas da área de
prótese das de clínicas odontológicas, criando os seus perfis próprios, com o intuito
apenas de diminuir os créditos por disciplina; foram redefinidos os perfis (alguns
perfis
estavam
muito
complexos,
com
o
acúmulo
muito
grande
de
1
conhecimentos/habilidades); os conteúdos alocados em cada disciplina, iniciandose, a partir daí, a construção dos projetos de ensino.
Ao longo dos semestres 2003.1 e 2003.2, algumas das iniciativas propostas
durante as discussões passaram a ser operacionalizadas nos estágios de Clínica
Integrada I e II. Os professores passaram a se responsabilizar pela orientação de
uma série de procedimentos (diagnóstico das doenças bucais, elaboração do plano
de tratamento, extrações, restaurações, tratamento endodôntico, moldagens,
urgência, entre outros) a um grupo de alunos, independente de sua especialização
ou área específica de conhecimento. Aos alunos foi colocado como meta dar alta a
todos os pacientes sob sua responsabilidade atendendo integralmente suas
necessidades, estando desobrigado de cumprir uma produção mínima em cada área
específica. Acredita-se que desta forma será possível despertar no processo de
ensino-aprendizagem a importante dimensão da motivação intrínseca, que é
caminho genuíno para aprofundamento dos temas em estudo (SCHIMIDT, 2000).
Com isto, buscou-se uma maior integração dos conhecimentos técnicos, articulados
a uma visão mais humanista no atendimento à necessidade do paciente.
No segundo semestre de 2003 a proposta foi encaminhada para a professora
Luiza Nakama, da Universidade Estadual de Londrina e membro da REDE UNIDA,
com a finalidade de análise e parecer sobre o projeto. Em maio de 2004, a
professora Luiza Nakama, após ajustes no projeto analisado, desenvolveu em
reuniões com os professores, Colegiado do Curso, Direção do Centro de Ciências
da Saúde e Vice-Reitoria de Ensino de Graduação, uma consultoria visando
aperfeiçoamento da proposta, principalmente no sentido da adequação às Diretrizes
Curriculares para os Cursos de Odontologia.
A proposta definida procurou absorver todas estas discussões, dificuldades,
sugestões e análises no sentido de se configurar enquanto elemento de avanço na
formação de um aluno realmente comprometido com a saúde bucal de seu futuro
paciente e teve como grande virtude a construção de um trabalho de forma coletiva,
em um processo que requisitou intensa dedicação ao longo dos últimos anos. As
oficinas desenvolveram-se às terças-feiras, das 19:00 às 22:00 horas e a
participação era voluntária. Para melhor compreensão do processo, disponibiliza-se
na tabela 1 o total de Oficinas realizadas e a respectiva carga horária envolvida
neste trabalho.
1
Tabela 1: Número de oficinas do Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia da
UNIFOR e total de horas, por semestre.
Semestre
1999.1
1999.2
2000.1
2000.2
2003.1
TOTAL
Número de oficinas
11
8
16
10
10
55
Total de horas
33
24
48
30
30
165
Para chegarmos onde nos situamos hoje, foi necessário um processo que teve
na participação do corpo docente do Curso de Odontologia seu maior referencial. O
professor do curso, de forma geral, mantém atividades fora do âmbito da
Universidade, principalmente vinculadas ao consultório particular, o que, em tese,
deveriam ser elementos dificultadores para sua efetiva participação. Entretanto,
pôde-se contar com a maioria dos professores nas discussões que tiveram sempre
como pressupostos à busca dos melhores elementos na definição de um curso de
Odontologia de excelência.
A apresentação do Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia foi feita em 18
de novembro de 2004, junto ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da
Universidade de Fortaleza, sendo aprovado para início no primeiro semestre de
2005.
4. REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR
Formar cirurgião-dentista generalista apto a diagnosticar e tratar as principais
doenças bucais, por meio da compreensão, aplicação e integração dos princípios
gerais das ciências médicas e correlatas, inter-relacionando os efeitos entre
tratamentos médicos e odontológicos na busca de soluções adequadas para os
problemas clínicos, individuais e comunitários, promovendo a saúde e prevenindo as
doenças e distúrbios bucais, mantendo espírito crítico, ético e com amplo interesse
social em compreender a importância do impacto de políticas sociais, ambientais e
de saúde sobre a saúde bucal, sendo capaz de planejar e administrar programas de
saúde coletiva é o grande objetivo da reestruturação curricular do Curso de
2
Odontologia da UNIFOR. Para chegar a este objetivo, alguns elementos estão
propostos dentro desta reestruturação.
4.1. CURRÍCULO INTEGRADO
Vários são os conceitos e definições de currículo. O próprio significado da sua
origem semântica no Latim (currere, que significa correr) pressupõe uma dimensão
dinâmica, que segundo POSNER (1995) “devem permitir que os estudantes
construam seu próprio conhecimento baseados no que eles já sabem e usem tal
conhecimento em atividades que requeiram tomada de decisão, resolução de
problemas e discernimento.” Em geral, o que se pode observar é que o currículo é
um plano pedagógico sistemático utilizado para orientação da aprendizagem do
aluno. Pode ser entendido como o meio pelo qual o ensino se cumpre, servindo de
instrumento para viabilização do processo ensino-aprendizagem ao aluno e como
referência estratégica para o professor no desenvolvimento de seu plano de
trabalho.
Mais importante do que a definição é a percepção sobre qual concepção de
aprendizagem se orienta determinado currículo. O currículo formal ou currículo por
disciplinas, presentes ainda hoje na organização da maioria dos Cursos de
Odontologia do Brasil, têm como elemento básico uma metodologia pedagógica
caracterizada pela transmissão de conhecimentos, representada pelas disciplinas
estanques, preocupadas basicamente com a memorização de informação e/ou
repetição de técnicas.
A opção por um currículo integrado ocorreu previamente à efetiva integração
entre ensino e prática profissional, que tivesse como referência um processo de
ensino-aprendizagem respeitando o conhecimento prévio do aluno e, a partir daí,
possibilitasse um avanço na construção de teorias, de forma compartilhada com o
professor, tendo como base a busca de soluções adequadas aos problemas
levantados, enfatizando na reflexão, na crítica e na criatividade, os elementos
fundamentais na formação do aluno.
O ensino deveria permitir que a estrutura interna do currículo fosse indutivoteórica, ou seja, o aluno selecionaria e ordenaria os assuntos da própria realidade e,
a partir daí, buscaria elementos científicos e técnicos que viessem subsidiar a
solução de tais problemas. Com isto, o ensino adquire um aspecto transdisciplinar,
2
já que os vários conceitos presentes em diferentes campos de conhecimentos
deverão ser utilizados para explicação e solução do problema.
Na construção da proposta, procurou-se definir o perfil do paciente atendido
nas clínicas do Curso de Odontologia da UNIFOR para que fosse utilizado como
referencial na organização dos conteúdos e objetivos a serem alcançados pelo
currículo. Nesta estruturação por perfis partiu-se das situações menos complexas no
atendimento clínico do paciente, assim como do entendimento da situação deste
paciente na sua comunidade. Progressivamente, ao longo do curso, o aluno vai se
deparando com pacientes com perfil clínico mais complexo, até chegar aos dois
últimos semestres em uma situação onde o aluno deve estar apto a resolver a quase
totalidade dos problemas bucais do paciente, assim como propor atividades dentro
de um referencial que utilize a epidemiologia e o planejamento como elementos na
solução destes problemas.
Com isto, procura-se atingir uma integração horizontal, trabalhando conteúdos
complementares dentro do mesmo semestre e integração vertical, fazendo uma
abordagem sobre os assuntos de forma a observar a complexidade gradativa ao
longo do curso.
Outro elemento previsto no currículo integrado é a relação entre ensino,
trabalho e comunidade, permitindo ao aluno entendimento do contexto imposto pelo
mercado de trabalho e da realidade social a ser futuramente vivenciada.
No desenho do novo currículo prevê-se a Integralização do curso em cinco
anos, correspondente ao desenvolvimento de 286 créditos, sendo 178 práticos e 108
teóricos, distribuídos ao longo dos dez semestres de forma que o semestre com o
maior número de créditos possibilite, pelo menos, dois turnos sem atividade
curricular, possibilitando ao aluno envolvimento em atividades de qualquer outra
natureza (cultural, científica, lazer, estudo individual, estágios etc.).
4. ESTRUTURA CURRICULAR
A nova estrutura procurou basear-se nas competências e habilidades gerais
previstas na formação do cirurgião-dentista, em especial a atenção à saúde, a
tomada de decisões, a comunicação, a liderança, a administração e gerenciamento
e a educação permanente que deverão ser exercitadas em todas as disciplinas
previstas na nova estrutura curricular. Além disto, a aquisição de determinadas
competências e habilidades específicas serão desenvolvidas de acordo com a
2
natureza dos campos de conhecimentos definidos nas disciplinas previstas nas
áreas de Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Humanas e Sociais e Ciências
Odontológicas.
4.2.1 – Ciências Biológicas e da Saúde
Na área das Ciências Biológicas e da Saúde procurou-se organizar as
disciplinas com conteúdos de bases moleculares e celulares dos processos normais
e alterados no 1º semestre; as disciplinas relacionadas à estrutura e função dos
tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos no 2º semestre, e as disciplinas das ciências
biológicas e da saúde aplicadas às situações decorrentes do processo saúdedoença no desenvolvimento da prática assistencial de Odontologia no 3º semestre.
Para isso, a disciplina de Microbiologia e a disciplina de Imunologia foram
integradas em duas disciplinas: Microbiologia e Imunologia e Microbiologia e
Imunologia Oral, possibilitando ao professor, nesta segunda, abordar temas
específicos da Odontologia no seu conteúdo programático.
O currículo anterior possuía as disciplinas de Farmacologia I e II. Na nova
proposta somente existirá a Farmacologia e os conteúdos da Farmacologia II, que
corresponde à aplicação clínica dos fármacos em Odontologia, serão contemplados
nas disciplinas de Clínicas Odontológicas, de acordo com a necessidade dos perfis
dos pacientes.
A disciplina de Patologia Geral foi desmembrada em Patologia I e II com o
mesmo número de créditos anteriores.
Biologia passou a ter a denominação de Biologia Molecular, visando uma
abordagem mais atual em relação aos grandes avanços observados nesta área, em
articulação com as outras disciplinas do primeiro semestre.
As disciplinas de Anatomia Humana, Histologia e Embriologia, Anatomia Bucofacial e Histologia e Embriologia Buco-faciais, Fisiologia e Bioquímica tiveram
alterações quanto à disposição no semestre e integração de seus conteúdos, sendo
mantidos os mesmos números de créditos. A disciplina de Parasitologia foi excluída
do currículo atual, considerando que seu conteúdo tem pouca aplicação na formação
de um cirurgião-dentista.
O quadro 1, a seguir, detalha estas alterações.
2
Quadro 1: Número de créditos das disciplinas de Ciências Biológicas e da Saúde no
currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3).
Anterior
Microbiologia
Imunologia
Farmacologia I
Patologia geral
Biologia
Anatomia Humana
Histologia e Embriologia
Anatomia Buco-facial
Histologia Embrio. Buco-faciais
Bioquímica
Fisiologia
Parasitologia
TOTAL
Créd
Atual
4 Microbiologia e Imunologia
4 Microbiologia e Imunologia Oral
4 Farmacologia
8 Patologia I
Patologia II
4 Biologia Molecular
4 Anatomia Humana
4 Histologia e Embriologia
6 Anatomia Buco-facial
4 Histologia Embrio. Buco-faciais
4 Bioquímica
8 Fisiologia
4
56
Parasitologia
Créd
4
4
4
4
4
4
4
4
6
4
4
8
--TOTAL 54
4.2.2 – Ciências Humanas e Sociais
Com relação à área das ciências humanas e sociais, foram incluídos conteúdos
referentes às diversas dimensões da relação indivíduo-sociedade, contribuindo para
a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos,
ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúdedoença. As disciplinas de Elementos de Antropologia Filosófica e Elementos de
Sociologia tiveram seus conteúdos integrados compondo as disciplinas de Ciências
Sociais I e II.
Elementos de Psicologia foi alterada para Psicologia do Relacionamento I e II
(quatro créditos práticos) para o quinto e sétimo semestres, com o intuito de manter
a integração com o atendimento clínico realizado pelo aluno. Os créditos práticos
nas disciplinas de Psicologia foram garantidos para manter uma melhor relação
professor/aluno permitindo atividades grupais e efetivo acompanhamento do
desenvolvimento das habilidades interpessoais pelo aluno. Métodos e Técnicas da
Investigação Científica teve seu nome alterado para Metodologia da Pesquisa
Científica, mantendo-se com quatro créditos teóricos.
Na área da saúde coletiva propõe-se uma tentativa de abordagem de
elementos fundamentais apontados nas Diretrizes Curriculares que ocorressem ao
2
longo do curso. As disciplinas de Odontologia Social I, Epidemiologia Geral,
Odontologia Social II e Odontologia Legal e Deontologia possuem, no currículo atual,
conteúdos estanques trabalhados isoladamente, sendo sua maior carga horária
concentrada no quarto e quinto semestre. Na nova proposta essas disciplinas foram
substituídas por Saúde Bucal Coletiva I, II, III, IV e V, aplicadas desde o quarto até o
oitavo semestre, viabilizando um crescimento contínuo de complexidade e de
aplicação na realidade social. O Estágio Extra-Mural continua com a mesma
característica do currículo atual, visto já possuir desde sua elaboração uma prática
comprometida com o escopo da nova proposta pedagógica e curricular.
Uma das principais características destas disciplinas é contemplar a formação
do cirurgião-dentista contemplando o sistema de saúde vigente no país, a atenção
integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contrareferência, além do trabalho em equipe, conforme preconizam as atuais Diretrizes
Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia.
A distribuição dos créditos com as respectivas disciplinas encontram-se
detalhadas no quadro a seguir:
Quadro 2: Número de créditos das disciplinas de Ciências Sociais e Humanas no
currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3).
Anterior
Créd
Atual
Créd
Elem. de Antropologia Filosófica
4 Ciências Sociais e Saúde I
4
Elementos de Sociologia
4 Ciências Sociais e Saúde II
4
Elementos de Psicologia
4 Psicologia do Relacionamento I e II
4
Métodos Téc. Invest. Científica
4 Metodologia da Pesquisa Científica
4
Introdução à Odontologia
2 Introdução à Odontologia
2
Odontologia Social I
8
Epidemiologia Geral
6 Saúde Bucal Coletiva I, II, III, IV e V 20
Odontologia Social II
6
Odonto. Legal e Deontologia
4
Estágio Extra-Mural I
4 Estágio Extra-Mural I
4
Estágio Extra-Mural II
4 Estágio Extra-Mural II
4
TOTAL 44
TOTAL 46
2
4.2.3 – Ciências Odontológicas
As disciplinas de Patologia Bucal e Radiologia tiveram seus conteúdos
integrados e aplicados de acordo com os perfis dos pacientes compondo as
disciplinas de Propedêutica Clínica I, II e III.
Procurando aproximar o conhecimento básico de sua utilização clínica foi
incluída a disciplina de Iniciação Clínica no 3º semestre que tem como objetivo
aproximar o aluno de sua futura profissão, por meio do conhecimento real das
situações de trabalho que irá vivenciar, abordando entre outros assuntos a
ergonomia, biossegurança, bioética etc.
Os conteúdos das disciplinas de Materiais dentários I e Materiais Dentários II,
Semiologia Bucal, Cirurgia Odontológica I e II, Dentística Operatória, Dentística
Restauradora I e II, Endodontia I e II, Farmacologia II, Periodontia I e II, Cirurgia e
Traumatologia Buco-maxilo-facial, Clínica Integrada I e II, tiveram seus conteúdos
integrados de acordo com os perfis dos pacientes a serem atendidos, compondo as
disciplinas de Pré-Clínica I, II, III e IV, Clínica Odontológica I, II e III e Clínica
Integrada I, II, III, IV.
Os perfis propostos para os pacientes a serem atendidos nestas disciplinas
estão elencadas no quadro 3, a seguir.
Quadro 3: Perfis de atendimento dos pacientes das disciplinas de Pré-clínica I, II, III,
e IV, Clínica Odontológica I, II, e III e Clínica Integrada I, II, III e IV.
ATIVIDADES/PROBLEMAS
Adequação do meio bucal
Remoção de fatores retentivos de placa
DISCIPLINAS
Pré-clínica I
Clínica odontológica I
Gengivite
Restaurações provisórias
Perfil I
Restaurações diretas
Pré-clínica II
Clínica odontológica II
Periodontite moderada
Exodontia simples.
2
ATIVIDADES/PROBLEMAS
DISCIPLINAS
Perfil I + II
Clareamento de dentes vitalizados / desvitalizados
Restaurações complexas de dentes anteriores
Pré-clínica III
Clínica odontológica III
Facetas
Periodontite avançada
Endodontia uni e bi-radicular
Perfil I + II + III
Restaurações complexas em dentes posteriores
Restaurações indiretas
Pré-clínica IV
Clínica Integrada I
Endodontia tri-radicular
Biópsia / citologia
Aumento de coroa clínica
Cirurgia dentes inclusos.
Perfil I + II + III + IV
Restaurações indiretas
Clínica Integrada II
Endodontia tri-radicular e retratamento uni e bi-radicular
DCM leve
Cirurgia oral
As disciplinas de Oclusão, Prótese Dental Total, Prótese Parcial Removível,
Prótese Buco-maxilo-facial e Prótese Parcial Fixa passaram a compor as disciplinas
de Prótese Dentária I, II, III e IV. A Implantodontia continua com a mesma
composição.
Para estas disciplinas também foram propostos perfis específicos de pacientes,
que se encontram descritos no quadro 4.
2
Quadro 4: Perfis de atendimento dos pacientes das disciplinas de Prótese Dentária
I, II, III e IV.
PERFIL
Prótese Total superior
DISCIPLINAS
Prótese dentária I
Prótese Removível inferior
Prótese Removível + Prótese Fixa
Prótese dentária II
Pré-clínica IV
Prótese dentária III
Prótese Removível + Prótese Fixa
Prótese dentária IV
Prótese Total bimaxilar
As disciplinas de Odontopediatria I e II e Ortodontia Preventiva foram
alteradas para Clínica Infantil I, II e III tendo como objetivo proporcionar uma maior
integração dos conteúdos, a partir dos perfis dos pacientes infantis, descritos no
quadro 5.
Quadro 5: Perfis de atendimento dos pacientes da Clínica Infantil I, II e III.
PERFIL
Adequação do meio bucal
Restaurações de cicatrículas
Exodontia simples
Restaurações diretas
Programa de controle e tratamento em ortodontia
preventiva e/ou interceptativa
Perfil 1
Terapia pulpar (pulpotomia e pulpectomia)
Cirurgias (ulotomias, ulectomias e frenectomias)
Restaurações indiretas
Reabilitação 1 elemento
Programa de controlde de espaço (supervisão de espaço)
Perfil 1 e 2
Reabilitação de mais de 1 elemento
Traumatismos
Reimplantes
Emergências
DISCIPLINA
Clínica Infantil I
Clínica Infantil II
Clínica Infantil III
2
Visando a elaboração de trabalho científico pelo aluno, com orientação docente
foi criada a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) a ser ofertada no
10º semestre.
A sistematização destas alterações encontra-se no quadro 6.
Quadro 6: Número de créditos das disciplinas de Ciências Odontológicas no
currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3)
Anterior
Créd
Atual
Materiais dentários I e II
12 Iniciação Clínica
Escultura Dental
4 Propedêutica Clínica I
Patologia Bucal
6 Propedêutica Clínica II
Radiologia
6 Propedêutica Clínica III
Semiologia Bucal
6 Pré-Clínica I
Cirurgia Odontológica I e II
12 Pré-Clínica II
Dentística Operatória
6 Pré-Clínica III
Oclusão
6 Pré-Clínica IV
Dentística Restauradora I e II
12 Clínica Odontológica I
Endodontia I e II
10 Clínica Odontológica II
Farmacologia II
3 Clínica Odontológica III
Prótese Dental Total
6 Prótese Dentária I
Periodontia I e II
12 Prótese Dentária II
Prótese Parcial Removível
6 Prótese Dentária III
Cirurgia e Traumatologia B.M.F.
4 Prótese Dentária IV
Prótese parcial fixa
8 Clínica Integrada I
Prótese buco-maxilo-facial
2 Clínica Integrada II
Clínica Integrada I
20 Clínica Integrada III
Clínica Integrada II
20 Clínica Integrada IV
Implantodontia
2 Clínica Infantil I, II e III
Odontopediatria I e II
12 Implantodontia
Ortodontia Preventiva
6 TCC
TOTAL 181
Créd
4
6
4
4
6
10
4
6
10
10
10
6
6
6
8
10
10
20
20
18
2
2
TOTAL 182
As áreas de Estágio Extra-mural I e II e Clínicas Integradas I, II, III e IV
configuram-se como estágios curriculares desenvolvidos sob supervisão docente, de
forma articulada e com complexidade crescente ao longo do processo de formação.
Estas atividades correspondem a 23,7% do total da carga horária prevista no
2
currículo, contemplando a exigência de pelo menos 20% do curso destinado a
estágio curricular supervisionado.
A proposta prevê, ainda, como uma de suas disciplinas optativas Atividades
Complementares, com a finalidade de aproveitamento de conhecimentos por meio
de estudos e práticas vinculados às monitorias, programas de iniciação científica,
estágios, programas de extensão e atividades realizadas em outras áreas do
conhecimento que contribuam para a compreensão, interpretação, preservação,
reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, em um contexto de
pluralismo e diversidade cultural.
Para coerência com o currículo proposto, as avaliações dos alunos deverão
ocorrer de forma processual, baseadas nas competências, habilidades e conteúdos
curriculares permitindo constante acompanhamento do aluno.
5. CONCLUSÃO
Há necessidade de capacitação constante do corpo docente visando a plena
utilização de metodologia pedagógica com base na construção do conhecimento
para se obter todos os benefícios de um currículo integrado. A partir daí pode-se
efetivamente alterar o papel do professor de transmissor do conhecimento para
planejador e organizador do curso, orientando e estimulando a leitura e interpretação
de trabalhos científicos, desenvolvendo e estimulando a capacidade crítica dos
alunos, apoiando-os e orientando-os a superar dificuldades, colaborando no
desenvolvimento de seminários e discussões de casos clínicos, estratégias com
enfoque em situações-problema.
A presente proposta, implantada no primeiro semestre de 2005, configura-se
como um enorme desafio tendo em vista ser o Curso de Odontologia da UNIFOR,
atualmente, uma referência no ensino odontológico brasileiro, o que pode ocasionar
certa apreensão pela insegurança do “novo”. Entretanto, o envolvimento do corpo
docente, a estrutura proporcionada pela UNIFOR e a constante busca da excelência
técnico-científica de todos aqueles que fazem o Curso de Odontologia permitem
acreditar que qualquer avanço só é possível quando no processo de evolução
estaremos todos sempre “ensinando e aprendendo”.
3
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais do curso de graduação em
Odontologia. Resolução CNE/CES 3 de 19 de fevereiro de 2002. DOU de 4 de março
de 2002, seção 1, p. 10. Brasília, 2002.
POSNER, G.J. Analyzing the curriculum. 2 ed. New York: McGraw-Hill, 1995.
SCHIMIDT, H.G.; MOUST, J.H.C. Processes that shape small-group tutorial
learning: a review of research. Maastricht: Lawrence Erlbaum, 2000.
TOMAZ J.B.C. O desenho de currículo. In: Mamede, S, Penaforte, J. Aprendizagem
Baseada em Problemas: anatomia de uma nova abordagem educacional. Fortaleza:
Hucitec/Escola de Saúde Pública do Ceará, 2001.
3
CAPÍTULO 2
Metodologia da problematização: uma escolha político-pedagógica
Thiago Pelúcio Moreira
Luiz Roberto Augusto Noro
Rita de Cássia Moura Diniz
Denise Klein Antunes
Christina César Praça Brasil
Fátima Maria Fernandes Veras
Aldo Angelim Dias
Maria Cristina Germano Maia
Samuel Ilo Amorim
1. INTRODUÇÃO
Uma das maiores especificidades do ser humano é a racionalidade, qual seja,
a utilização da razão para conhecer ou julgar a relação entre pensamentos lógicos,
levando a alguma conclusão por meio da capacidade de refletir e relacionar os fatos
que explicam ou podem explicar determinado fenômeno. Tal especificidade levou o
homem a dominar o mundo, passando a controlar os animais (grandes predadores
dos homens nas eras mais remotas), alterar o curso da natureza (com o uso da
tecnologia e da informação) e permitir que problemas como miséria, fome, injustiças,
guerras levassem homens a procurarem dominar uns aos outros pela presença de
um destes fatores, utilizados por meio da racionalidade no planejamento e
formulação de estratégias.
Assim, o homem tem utilizado todo seu potencial para construir grandes
avanços em seu mundo que só podem ser conquistados pela sua capacidade ímpar
de aprender. Este aprendizado pode ser desenvolvido de maneiras inúmeras,
passando desde metodologias pedagógicas altamente elaboradas em múltiplas
teses de doutorado, até o mais tradicional condicionamento que permite à criança
não morrer de fome quando apela para o seio de sua mãe em busca de comida.
Para aqueles que têm na educação seu grande objeto de trabalho, e por que
não dizer, seu projeto de vida, o desafio permanente é a busca por formas que
permitam aos seus alunos o melhor aprendizado possível. Este é o papel do
educador que tem que ser coerente com a missão de dar ao mundo a possibilidade
3
que os avanços sonhados sejam efetivamente alcançados na conquista plena da
cidadania.
Sabe-se que todos os processos educativos são concebidos para conseguir
que as pessoas aprendam alguma coisa e assim, venham a modificar seu
comportamento, mas a opção pedagógica adotada para tal fim reflete o contexto em
que se insere.
De fato, ASSMAN (1998) já dizia que educar é fazer emergir vivências do
processo de conhecimento, tendo como produto as diversas experiências de
aprendizagem e não apenas a aquisição de conhecimento concebido como simples
transmissão. Para o autor, a educação só conseguiria bons resultados quando se
preocupasse em gerar experiências de aprendizagem, criatividade para construir
conhecimentos e habilidades para acessar fontes de informação sobre os mais
variados assuntos.
Esta procura por um paradigma tem apontado a grande necessidade das
Universidades brasileiras em reverem suas estruturas metodológicas, já que
segundo VASCONCELOS (1993), a deficiência da prática educativa encontra na
metodologia, no modo de fazer a educação, uma de suas causas.
BORDENAVE e PEREIRA (1998) elencam alguns pontos-chave para a
melhoria do ensino superior como: possuir uma visão integral dos problemas,
compreender o processo de aprendizagem, conhecer melhor o aluno, planejar os
cursos em forma sistêmica e integrada, ensinar os alunos a estudar e a aprender,
saber como introduzir inovações, incentivar a participação ativa dos alunos, melhorar
a comunicação professor-aluno, desenvolver nos alunos a atitude e a habilidade da
pesquisa e racionalizar a avaliação.
Nesta perspectiva, uma das estratégias que têm sido utilizadas para tentar
alcançar estes objetivos são as metodologias ativas de aprendizagem, em especial
na área da saúde, a Metodologia da Problematização.
Para GOULART et al. (2001) a educação problematizadora tem como
fundamentação o estímulo à autonomia do aluno por meio da participação ativa e
crítica no processo de aprendizagem (aprender a aprender). Esta educação trabalha
a construção de conhecimentos a partir da vivência de experiências significativas.
Apoiada nos processos de aprendizagem por descoberta, os conteúdos de ensino
não são oferecidos aos alunos em sua forma acabada, mas na forma de problemas,
cujas relações devem ser descobertas e construídas pelo aluno, que precisa
3
reorganizar o material, adaptando-o a sua estrutura cognitiva prévia, para descobrir
relações, leis ou conceitos que precisará assimilar.
Como se trata de uma educação centrada na aprendizagem e não no ensino, o
professor passa a assumir um papel de facilitador do processo ensinoaprendizagem, estimulando e
ajudando o
aluno
a construir
seu
próprio
conhecimento.
Considerando estes pressupostos, o Centro de Ciências da Saúde (CCS) da
Universidade de Fortaleza definiu como opção política-pedagógica, a adoção da
Metodologia da Problematização enquanto estratégia para capacitação de seu corpo
docente, vislumbrando os grandes avanços que tal proposta poderiam representar.
2. A METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO
Filosoficamente, a educação problematizadora existe, na verdade, desde a
antigüidade grega. Como lembra BERBEL (1999), a “maiêutica de Sócrates (469399 a.C.) já possuía características problematizadoras e pode-se dizer que suas
contribuições estão presentes nos pressupostos filosóficos da Metodologia da
Problematização”.
Internacionalmente, na área da saúde, metodologias problematizadoras
surgiram na década de 1980, em virtude da necessidade de buscar currículos
orientados para problemas que melhor definissem como os estudantes aprendem e
que habilidades cognitivas e afetivas estão sendo adquiridas. De acordo com
FELETTI (1993) uma proposta foi implementada na Universidade do Havaí, no curso
de Enfermagem, nomeada como “ensino baseado na investigação” (inquiry based
learning), que inclui uma abordagem interdisciplinar de aprendizagem e solução de
problemas, pensamento crítico e responsabilidade do aluno pela sua própria
aprendizagem.
No cenário brasileiro a Metodologia da Problematização, de acordo com
PEREIRA (2003) tem suas origens nos movimentos de educação popular que
ocorreram no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando estes movimentos
foram interrompidos pelo golpe militar de 1964. Teve seu desenvolvimento retomado
no final dos anos 70 e início dos anos 80, com a abertura política no final do regime
militar, coincidindo com uma intensa mobilização de educadores. O objetivo era
buscar uma educação mais crítica, a serviço das transformações sociais,
econômicas e políticas, tendo em vista superar as desigualdades sociais.
3
Segundo CYRINO e TORALLES (2004), a Metodologia da Problematização
representa uma das manifestações do construtivismo educacional, estando
fortemente marcada pela dimensão política da educação e comprometida com uma
visão crítica da relação educação e sociedade. Volta-se à transformação social, à
conscientização de direitos e deveres do cidadão, mediante uma educação
libertadora, emancipatória, dirigindo-se para a transformação das relações pela
prática conscientizadora e crítica.
BERBEL (1998) acrescenta que na problematização há a necessidade não só
de uma clara postura metodológica em relação ao processo de pesquisa e que o
aluno deverá desenvolver ativamente, mas também de uma coerente postura
política em relação ao processo educativo e aos problemas relativos ao tema em
estudo. Pelas características do trabalho com o conhecimento, após o estudo de um
problema poderão surgir outros desdobramentos sobre o tema, exigindo do
professor e dos alunos o contato com situações ou conteúdos que não foram
previstos pelo professor, num primeiro momento, mas que precisarão ser
investigados por serem relevantes à compreensão do problema.
Para LIMA JÚNIOR (2002), este novo paradigma pedagógico prepara os
alunos para assumir uma postura mais crítica, trabalhar em grupo, cooperar e
desenvolver um raciocínio lógico, com base nas mais diferentes situações que
deverão enfrentar na vida profissional. Também leva o aluno a se envolver com a
própria preparação profissional, assumindo responsabilidades em sua formação,
estando, assim, mais comprometido e mais motivado para o estudo, redirecionando
seu olhar para o futuro.
Uma referência para utilização desta metodologia, no ensino médio e
universitário, está presente em BORDENAVE e PEREIRA (1998). Estes autores
propuseram um esquema de problematização da realidade, desenvolvido por
Maguerez conhecido como “Método do Arco”, apoiado em cinco etapas: observação
da realidade, levantamento dos pontos-chave, teorização, formulação de hipóteses
de solução e aplicação à realidade.
O processo de ensino-aprendizagem parte da observação de um aspecto
selecionado da realidade que pode ser pela observação direta de uma situação real
ou, quando isto não é possível, através de meios audiovisuais, modelos etc. Ao
observar a realidade, os alunos expressam suas percepções pessoais, efetuando
uma primeira leitura desta realidade. Na segunda fase, os alunos identificam nesta
3
observação inicial o que é realmente importante, identificando os pontos-chave do
problema.
Os alunos passam, então, à teorização do problema ao questionar o motivo dos
eventos observados, propondo uma primeira explicação para os mesmos que será
comparada com os conhecimentos científicos existentes sobre tal problema. Com
isto o aluno tem a possibilidade de aprender a partir dos fatos contidos no cotidiano
da prática pedagógica, mas também tendo como subsídio a pesquisa. Se a
teorização é bem sucedida, o aluno chega a entender o problema não somente em
suas manifestações empíricas ou situacionais, mas também os princípios teóricos
que o explicam. Essa etapa de teorização é altamente enriquecedora e permite o
crescimento intelectual dos alunos.
Confrontada a realidade com sua teorização, o aluno se vê naturalmente
movido à formulação de hipóteses de solução para o problema, utilizando a
realidade para aprender com ela, ao mesmo tempo em que se prepara para
transformá-la.
Na última fase, o aluno pratica e fixa as soluções encontradas como sendo
mais viáveis e aplicáveis. Aprende a generalizar o aprendido para utilizá-lo em
situações diferentes e a discriminar em que circunstâncias não é possível ou
conveniente a aplicação.
Assim, pode-se dizer que a metodologia da problematização, além de uma
nova proposta pedagógica, é uma filosofia de trabalho, pois contempla e busca, de
maneira eficiente e prática, o equilíbrio dos três pilares da educação em saúde: o
ensino teórico, a pesquisa e o ensino prático.
3. A EXPERIÊNCIA DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
A adoção da Metodologia da Problematização na área da Saúde da
Universidade de Fortaleza ocorreu da necessidade de formação de alunos mais
críticos, criativos e autônomos, que fossem responsáveis pelo desenvolvimento do
seu aprendizado, capazes de observar a realidade e dela extrair os principais pontos
de observação e a solução de problemas visualizados.
KANITZ (2005) relata que o ensino brasileiro é voltado para perguntas prontas
e definidas e que nossos alunos estão sendo levados a uma falsa consciência de
que todas as questões do mundo já foram formuladas e solucionadas. Isso dificulta
3
que eles aprendam a fazer boas perguntas na vida, o que, segundo o autor, é mais
importante do que as respostas.
Esta visão ganha dimensão altamente significativa quando observamos em
todas as redações das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
graduação na área da Saúde a defesa da utilização de metodologias ativas de
aprendizagem, transformando a lógica da formação em algo ligado ao sistema de
saúde vigente no país, a ser executado por profissionais de saúde efetivamente
comprometidos com a qualidade de vida da população.
3.1. UM POUCO DA HISTÓRIA...
A vivência com a Metodologia da Problematização teve início quando, a partir
das atividades de estágio na comunidade desenvolvidas por docentes e alunos de
quatro cursos do Centro de Ciências da Saúde (Odontologia, Enfermagem,
Fonoaudiologia e Fisioterapia) na Comunidade do Dendê, foram observadas
determinadas inadequações pela falta de articulação entre os saberes e práticas
desenvolvidos nestes estágios, tendo como conseqüência a não existência de uma
visão interdisciplinar e multiprofissional.
Partindo da idéia de refletir tais práticas, vislumbrou-se a possibilidade de
transformar o conhecimento acadêmico em mecanismo de estímulo à inversão da
lógica da atenção à saúde prestada à clientela, que tinha seu foco centrado no
paciente e na doença, posto que alguns cursos tinham seus currículos muito
voltados a um modelo biomédico e tecnicista. A nova lógica proposta sugere que o
foco da atenção seja reelaborado no sentido de se compreender que o processo
saúde-doença, assim como na visão de BREILH (1994), possa ser entendido como
histórico e dinâmico, não se constituindo em um campo separado de outras
instâncias, portanto extrapolando os limites de uma prática técnico-científica.
Buscando consolidar essa proposta, em dezembro de 2001 foi realizada a
Oficina de Capacitação Pedagógica, que contou com a participação de 30 docentes
dos diversos cursos do Centro de Ciências da Saúde e 15 profissionais do serviço
(Núcleo de Atenção Médica Integrada - NAMI), a fim de esboçar, dentre outras, uma
proposta com os mesmos conteúdos programáticos em todas as disciplinas com
práticas na Comunidade do Dendê, utilizando-se, inclusive, das mesmas estratégias
pedagógicas. Tal ação visava favorecer aos docentes e profissionais do NAMI a
efetivação de uma proposta pedagógica capaz de articular o saber e o fazer dentro
3
de uma visão crítica e reflexiva, aliando a competência técnica (o domínio do saber e
do saber fazer) com a competência política (saber ser).
Um dos momentos que merece destaque foi o reconhecimento, por parte da
direção do Centro de Ciências da Saúde de uma proposta que, de certa forma, vinha
na contra-mão da história, pois partia do serviço e não da docência. E o seu caráter
de vanguarda ecoou de tal forma que todos os professores da área da Saúde
Coletiva que participaram do processo de capacitação passaram a reformular suas
propostas pedagógicas e vislumbrar novas possibilidades no processo ensino/
aprendizagem. Naquele momento estava lançada a idéia para a proposta de
capacitação de todos os professores na Metodologia da Problematização.
3.2. UM POUCO DA EXPERIÊNCIA...
Em julho de 2003, o Centro de Ciências da Saúde inicia efetivamente o
processo de capacitação dos seus professores, tendo sua origem se dado a partir da
experiência desenvolvida nas disciplinas de Saúde Coletiva. É importante esclarecer
que tal iniciativa só foi possível pela decisão política da Direção do Centro e de um
grupo de professores que, coerentes com sua experiência pedagógica com a
referida metodologia, puseram-se à disposição de tal projeto.
A proposta consistia em capacitar os professores e, ao mesmo tempo,
identificar aqueles com perfil adequado a atuarem como multiplicadores do
processo, de tal forma que, ao final, fossem capacitados todos os professores do
Centro de Ciências da Saúde.
Para a sua implantação, todos os cursos partiram de uma capacitação, com
duração de 40 horas/aula, onde houve um direcionamento teórico-prático sobre os
objetivos e as possibilidades do método. Após essa fase, veio a proposta de que o
corpo docente dos cursos passasse a realizar acompanhamentos periódicos com os
professores experientes no processo, ampliando as perspectivas de discussão e
pontuando os pontos fortes e fracos dentro de cada realidade, a fim de favorecer a
troca de experiências.
Até então, já foram capacitados 240 professores, o que corresponde a 78% do
total de professores do CCS e 14 professores que atuam como instrutores ou
monitores no processo de capacitação.
Todo esse desafio levou os cursos a uma discussão e atualização sobre seus
projetos pedagógicos, uma vez que a nova proposta pedagógica impacta nas várias
3
dimensões ligadas ao ensino, partindo da capacitação docente e evoluindo a novas
propostas curriculares. Desse contexto, participam ativamente docentes e discentes,
facilitando a compreensão desta mudança.
Foram encontradas dificuldades diante da reestruturação metodológica.
Inicialmente, além da capacitação do professor, foi necessária uma conscientização
do aluno, uma vez que este sai de um padrão de receptor de informações/
conteúdos para uma dimensão de construtor responsável por seu perfil profissional.
Sabendo que a quebra de paradigmas gera resistências, percebemos que nossos
alunos, inicialmente, manifestaram insegurança, negação, dúvidas, entre outros
comportamentos que revelaram a dificuldade em assimilar e desenvolver a proposta.
Segundo SANTOS (2002), na sua experiência com metodologias inovadoras, a
reação dos alunos diante da mesma foi de irritação e falta de compreensão do papel
do professor como facilitador do ensino-aprendizagem, uma vez que eles,
inicialmente, não percebem a sua própria importância como atores dentro dessa
perspectiva. A autora relata ainda que “as pessoas sempre foram escravas e
demitidas da função de pensar, então qual é o raciocínio do aluno? Que ele vai fazer
o curso, que o professor vai ensinar e que ele vai aprender, não é assim?”
Outro aspecto a ser considerado diz respeito à proporção professor/aluno,
sendo as disciplinas práticas e estágios supervisionados as que mais favorecem a
aplicação da metodologia diante do número reduzido de alunos. Nas disciplinas
teóricas, entretanto, que possuem maior número de alunos, procura-se utilizar
estratégias que também levem o aluno a ser mais ativo e questionador.
Nesta etapa de enfrentamento das dificuldades, foi muito relevante a
cooperação entre os cursos, diante das contribuições que os professores que
participaram da capacitação há mais tempo deram aos mais recentes ingressos na
metodologia. A cada novo curso de capacitação eram identificados novos
facilitadores e monitores que muito acrescentaram para a implantação e
implementação da nova metodologia no Centro de Ciências da Saúde.
Esses professores são referências no CCS e têm como compromisso alavancar
as mudanças e trocar experiências que obtiveram êxito com outros professores que
os procuram, além de ajudá-los a compreender algumas limitações. Esse processo
coletivo é valioso, pois, segundo BORDENAVE (1992), “a pedagogia da
problematização não separa a transformação individual da transformação social,
motivo pelo qual ela deve desenvolver-se em situação grupal”, nas dimensões que
3
envolvem os professores, os alunos, a sociedade e outros elementos pertinentes à
educação.
Partindo de relatos de professores e coordenadores de cursos, observaram-se
os primeiros resultados, visto que referem encontrar alunos mais envolvidos com as
disciplinas, mais dinâmicos e curiosos, demonstrando mais autonomia. O que
concorda com PIAGET (1986), quando refere que os alunos passam por esforço
próprio do domínio das operações concretas para as abstratas, conferindo-lhes um
maior poder de generalização e extrapolação.
FREIRE (1996) refere que o professor precisa mover sua prática com clareza,
conhecendo as diferentes dimensões que caracterizam a essência da sua prática, o
que pode torná-lo mais seguro do seu próprio desempenho. Assim, o melhor ponto
de partida para essas reflexões é a compreensão de que o ser humano se tornou
consciente e que a capacidade de aprender é, sobretudo, importante para
transformar a realidade e para nela intervir. Nos dias atuais, o aluno depara-se
constantemente com novos desafios, casos e problemas para resolver precisando
ter vasto conhecimento, ser hábil e objetivo, favorecendo a resolutividade em cada
situação.
Outro fator importante, é que as aulas ministradas dentro da perspectiva da
problematização passaram a exigir do professor um maior planejamento e
acompanhamento do processo, além de possibilitar a diversificação dos recursos e
espaços que favorecem a interlocução entre o facilitador e o aluno.
Nos planejamentos semestrais dos cursos sente-se a necessidade de uma
programação intra e interdisciplinas, favorecendo um maior encadeamento
metodológico. Nessa perspectiva, os projetos e planos de ensino das disciplinas
precisaram ser ajustados ao novo fazer. Houve, ainda, a necessidade de um
redimensionamento de conteúdos e práticas dentro de cada disciplina, tornando-as
mais integradas e flexíveis. Assim, ao longo dos semestres, as experiências
pedagógicas envolvendo a problematização ampliam-se e o amadurecimento do
grupo avança. Novas atividades são compartilhadas e o nível de satisfação do aluno
e do professor eleva-se simultaneamente.
O processo de avaliação, dentro da nova metodologia, é um ponto de
discussão constante tendo em vista a necessidade de melhor adequação desta
prática, que seja coerente com o sistema proposto pela Universidade de Fortaleza.
Tenta-se ampliar a abrangência da avaliação para que seja mais sensível a todas as
4
dimensões do processo ensino-aprendizagem e não se desenvolva apenas por meio
da aplicação de provas ou atividades pontuais.
Há muito trabalha-se nessa evolução por compreendemos essa necessidade.
Não se pode avançar na pedagogia, mantendo-se a avaliação tradicional. Para
HOFFMANN (1991), é necessário sair do modelo “transmitir-verificar-registrar” e
evoluir no sentido de uma ação avaliativa reflexiva e desafiadora do educador em
termos de contribuir, elucidar e favorecer a troca de idéias entre o professor e seus
alunos, numa postura de superação do saber transmitido a uma produção de saber
enriquecido.
O aluno não constrói seu conhecimento com base somente em conteúdos, mas
também desenvolve a cada dia habilidades, atitudes e competências necessárias a
sua atuação profissional. Vários autores concordam que não se pode perder de vista
o objetivo principal da ação educativa, que é desenvolver a personalidade integral do
aluno, sua capacidade de pensar e raciocinar, assim como seus valores, hábitos,
comportamentos etc.
3.3. UM POUCO DA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ODONTOLOGIA
A aproximação dos professores do Curso de Odontologia da Universidade de
Fortaleza data de 1999 quando, a partir das discussões realizadas por meio da
XXXIII Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico e por meio das
Oficinas Pedagógicas para construção do Projeto Político Pedagógico do Curso,
foram discutidas as várias formas de aprender e ensinar mais tradicionalmente
utilizadas no ensino universitário.
Na ocasião, foi consenso que as Metodologias de Condicionamento e de
Transmissão de Conhecimentos não contemplam as necessidades de formação de
alunos ativos e conscientes de seu papel de futuros profissionais de Saúde
vinculados aos interesses da comunidade que atuam, além do desenvolvimento de
ações com base na promoção de saúde.
Assim, já naquela ocasião, houve consenso que haveria a necessidade de se
buscar novas formas de desenvolver o processo ensino-aprendizagem que não
tivessem no condicionamento ou na transmissão de conhecimento seu maior
referencial.
Dentro das Oficinas Pedagógicas foi lançado o desafio de se desenvolver
atividades por disciplina que procurassem seguir a Metodologia da Problematização.
4
Nesta primeira abordagem, apesar das dificuldades, todas as áreas de
conhecimento apresentaram propostas bastante criativas, o que deixou clara a
perspectiva de se buscar este caminho.
Ao longo dos cinco últimos anos várias experiências, quer em disciplinas
isoladas no curso, quer em capacitações pedagógicas da qual participaram docentes
a partir de seu interesse particular, muito tem se discutido a possibilidade real de
melhorar o processo ensino-aprendizagem a partir deste referencial.
Com a previsão da aprovação da nova proposta curricular do Curso de
Odontologia, que tem em sua concepção o desenvolvimento de um currículo
integrado, viabilizado por meio da utilização de uma metodologia ativa de
aprendizagem, todos os professores do Curso de Odontologia participaram de
Capacitação Pedagógica em Problematização nos meses de julho de 2004 e janeiro
de 2005. A finalidade destas capacitações era permitir aos professores o
planejamento adequado de projetos de ensino dos novos campos de conhecimentos
definidos do currículo integrado, a partir de metodologia pedagógica compatível.
Espera-se que, com o aprofundamento da percepção do corpo docente sobre
as possibilidades efetivas dos avanços, assim como a compreensão do corpo
discente quanto ao real ganho em sua formação, que a metodologia não represente
apenas uma nova forma de ensinar e aprender, mas signifique uma ruptura radical
com o conformismo e a mesmice de processos que não estimulam nem professores,
nem alunos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia abordada favorece a integração entre o ensino e o serviço,
levando à reflexão sobre o sujeito que aprende, o objeto a ser aprendido, a interação
sujeito-objeto, restando ao professor o papel de facilitador desse processo. Esse
processo aumenta ainda mais a capacidade que o professor terá de estabelecer
relações concretas entre teoria e realidade.
O desenvolvimento de competências na formação profissional em Saúde,
segundo BONFIM (2000), tem na reflexão da realidade e na resolução de situaçõesproblemas reais vividas pelos alunos e proposta metodológica central - visto que
uma competência não se constrói em situações abstratas e sim concretas.
4
As práticas já vivenciadas com essa metodologia dão conta de que, por meio
da aplicação da mesma, vislumbra-se a possibilidade de se construir uma prática
crítica e transformadora.
É importante lembrar que, quando ensinamos, não basta apenas o domínio do
conhecimento ou dos conteúdos específicos, devendo-se considerar a maneira de
se repassar este conhecimento para o aluno, o que implica também saber
desenvolver as habilidades inerentes à prática, como também um mínimo de
formação pedagógica para se formarem profissionais de Saúde capazes de
transformarem a realidade sócio-sanitária do país. É preciso também que, nessa
transformação da realidade, procurem-se sempre novos conhecimentos e novas
formas de “ensinar e apreender”.
Importante ressaltar que a proposta feita pelo Centro de Ciências da Saúde da
Universidade de Fortaleza não pode ser considerada conclusiva, posto sabermos
que essa tarefa é tão somente o início de uma experiência que trará novas bases
para a reflexão, o que vai exigir do professor uma incessante busca junto aos seus
pares para o aperfeiçoamento da metodologia.
4
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Vozes, 1998.
BERBEL, N.A.N. (org.). Metodologia da problematização: fundamentos e aplicações.
Londrina: Editora UEL/INEP, 1999.
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Saúde; Rio de Janeiro:Fundação Osvaldo Cruz,Escola Nacional de Saúde
Pública,2000.98p.
BORDENAVE, J.D.; PEREIRA, A.M. Estratégias do ensino-aprendizagem. 19 ed.
Petrópolis: Vozes, 1998
BORDENAVE, J.D.; PEREIRA, A.M. Estratégias do ensino-aprendizagem. 14 ed.
Petrópolis: Vozes, 1992
BREILH,J. Epidemiologia teoria e objeto. In: Costa, D.C (Org) . A reprodução social
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220p.
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ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
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no Curso de Medicina da UFMG. Revista Brasiliense de Educação Médica. Rio de
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4
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VASCONCELOS, I. A metodologia enquanto ato político da prática educativa. In:
CANDAU, V.M. Rumo a uma nova didática. 5ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
4
CAPÍTULO 3
Espaços de Saúde: é possível humanizar?
Patrícia Pinheiro Santos Moura
Heleni Barreira de Brito
Sharmênia de Araujo Soares Nuto
Rosanne Maria Medina Ávila Gomes
Morgana Pontes Brasil Gradvohl
Sandra Régia A. Ximenes
Odontologia e humanização
Escrever sobre o Projeto de Humanização do Curso de Odontologia desta
universidade nos leva inicialmente a pensar sobre o conceito de humanização a
partir de diversas áreas do conhecimento e a rever os princípios da Odontologia,
ainda sob o paradigma cirúrgico-restaurador, para, em seguida, interligá-los ao atual
paradigma de promoção de saúde, abordando os diversos espaços construídos no
curso: a ouvidoria, o acompanhamento psicológico e a sala de espera saudável.
Todos esses espaços buscam viabilizar mudanças de atitudes na construção de
uma cultura do tratar bem, na medida em que visam estabelecer a filosofia da
humanização nos atendimentos de saúde e assim contribuir com a formação
pedagógica do aluno. Nesse sentido, acredita-se estar refletindo sobre as práticas
tradicionais e atuais de saúde dentro de uma visão da totalidade do ser humano.
De acordo com definições contidas em dicionários da língua portuguesa, a
palavra humanizar significa “tornar humano, dar condição humana a alguma coisa,
“humanar”, tornar benévolo, afável, tratável, fazer adquirir hábitos sociais polidos,
civilizar”.
Os dicionários filosóficos apresentam para a palavra humanismo a seguinte
conceituação: deriva do latim e significa humanus. Quanto ao termo humanista diz
que é aquele cuja visão de mundo atribui grande valor aos seres humanos e à vida.
A psicanálise é regida pelo humanismo, fundamenta-se na formação cultural de
Freud, seu eminente criador, e se constituiu como sendo essencialmente
humanística. Embora aponte distinção entre os conceitos de humanização e
hominização, ressalta que o trabalho analítico está sobretudo a serviço deste último.
4
Para a antropologia, a humanização estaria relacionada fundamentalmente com
a primazia da capacidade simbólica própria do ser humano.
Na psicologia, merece destaque o posicionamento humanista de Erich Fromm,
o qual propõe a tese de que o homem, paralelamente à liberdade que tem
conquistado através da história, tem se distanciado cada vez mais de seus
semelhantes, na busca por espaços e sucesso material. O autor acrescenta que
somos animais e humanos, com necessidades fisiológicas e psicológicas
importantes que precisam ser resolvidas. Uma sociedade madura perceberia que a
solução de seus conflitos está no reconhecimento de que nossas necessidades
exigem a participação das outras pessoas.
Outro posicionamento que merece menção na psicologia é o da teoria
humanista apresentada por Carl Rogers, a qual propõe um entendimento holístico e
sistêmico do homem, opondo-se drasticamente às concepções fragmentadoras de
visão do homem, preferindo a compreensão de homem como com potencial criativo
e criador. Essa corrente aborda a psicologia sob a óptica da saúde, do crescimento
e do desenvolvimento.
A humanização, no contexto do Curso de Odontologia da UNIFOR, refere-se à
idéia de melhorar não só a qualidade do atendimento, o que pressupõe uma atitude
de respeito, empatia, aceitação incondicional, dignidade e com-paixão ao cliente e a
sua família, mas também de investir no estabelecimento de relações harmoniosas e
construtivas que envolvem professor / aluno / funcionário. Portanto, significa
considerar a essência do ser, levando-se em conta a subjetividade e a totalidade.
Nesse sentido, o atendimento humanizado requer uma reflexão sobre o
significado da vida e da capacidade de compreender a si mesmo e ao outro. Desse
modo, humanizar os atendimentos na área da saúde consiste em dar qualidade à
relação cliente-profissional de saúde.
As iniciativas realizadas nessa direção são, antes de tudo, tentativas de atender
e de se adequar às solicitações do Ministério da Saúde que, por meio do Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), pretende melhorar a
qualidade da assistência, prestada nos hospitais e em outros locais de atendimento,
à saúde da população baseada na humanização.
Para alcançar os objetivos desejados na busca do atendimento humanizado em
saúde, faz-se necessário romper com o paradigma reducionista, o qual enfatiza os
padrões biológicos em detrimento dos aspectos sociais, culturais, espirituais e
4
emocionais; substituindo-o por uma concepção que considere a complexidade e
plenitude do ser humano. É notório que, para os serviços de saúde atingirem essa
meta de qualidade e humanização dos atendimentos, deverá contar com a adesão
dos profissionais quanto a uma postura democrática e ética que perceba os seres
humanos como possuidores de direitos, deveres e com a responsabilidade de dar
forma e sentido as suas próprias vidas. No entanto, é contraditório referir-se aos
princípios humanísticos num contexto marcado pelas desigualdades sociais. Desse
modo, espera-se que o profissional identificado com o Projeto de Humanização do
Curso de Odontologia norteie sua práxis na perspectiva da construção de uma
sociedade mais humana, por meio de uma postura ética baseada numa visão de
mundo que confere grande importância aos seres humanos, à vida, à dignidade e as
suas capacidades de criar e transformar o mundo em algo melhor.
Retrospectiva da Odontologia
.
No Brasil, a odontologia praticada a partir do século XVI restringia-se quase
que unicamente às extrações dentárias. As técnicas eram rudimentares, o
instrumental inadequado e não havia nenhuma forma de higiene. O barbeiro,
responsável pelas cirurgias, devia ser forte, impiedoso, impassível e rápido
(GARCIA, 2000).
Três séculos depois, em 1884, foi instituído o Curso de Odontologia, baseado
ainda em uma prática arcaica responsável por causar bastante dor, sendo, desse
modo, um dos vetores decisivos na imagem negativa do dentista ainda nos dias de
hoje (CFO, 1998).
Havia nesta época dois ditados populares: “ou casa ou dente” ou “ou dente ou
queixo, ou língua ou beiço”, indicando que, devido ao pouco conhecimento e
inabilidade dos “tira-dentes”, ocorria freqüentemente traumatismos nessas regiões
(GARCIA, 2000).
Com o advento da anestesia local, alguns estudiosos acreditaram que o medo
de dentista pudesse ser deixado para trás, mas isso não aconteceu, pois muitos
pacientes ainda apresentam fobia ao tratamento dentário.
O exercício da profissão era guiado por uma filosofia meramente restauradora,
cujo interesse único consistia em buscar lesões e tratá-las, como se o corpo fosse
separado da mente, ou seja, dividido em partes semelhante a uma máquina. Nessa
4
perspectiva, o corpo não representava um todo, prevalecendo a idéia, advinda da
filosofia de Descartes, de que há uma divisão rigorosa entre corpo e mente (CAPRA,
1982). A conduta odontológica baseada nesses princípios era cheia de insucessos,
pois já apareciam novas lesões em muitos pacientes ainda durante o próprio
tratamento, ou seja, a prática dessa filosofia sequer diminuía a necessidade de
tratamento. Baseado no ciclo vicioso de tratar, retratar e re-retratar, o tratamento era
finalizado, em muitos casos, com a mutilação, isto é, com a extração de dentes.
Ressalte-se que, atualmente, na área do serviço público, as extrações incluemse entre os procedimentos mais bem remunerados pelo Sistema Único de Saúde –
SUS fato que eleva a opção pela exodontia como melhor procedimento e favorece a
conseqüente marca anual de cerca de 35 milhões de dentes extraídos na rede
pública, conforme estimativas internas do Ministério da Saúde (1988). Essa forma de
atenção odontológica, baseada no paradigma1 cirúrgico-restaurador, não foi capaz
de evitar que muitas pessoas tivessem problemas bucais e que perdessem seus
dentes na meia idade, além de ter trazido mais frustração aos profissionais do que
saúde bucal para os pacientes. (WEYNE, 1997).
A revolução científica nessa área iniciou-se na década de 60, quando, por meio
de pesquisas, identificou-se que as duas doenças bucais mais prevalentes 2, cárie e
doença periodontal, eram de caráter infeccioso. Assim, com o avanço desses
estudos, percebeu-se a inutilidade de resolver os problemas da cárie (que destroem
os dentes) e da doença periodontal (que atinge as gengivas) apenas com
procedimentos restauradores, já que as lesões encontradas representavam somente
as conseqüências e não a causa dessas doenças. A partir dessas descobertas, viuse que a cárie e a doença periodontal eram de natureza infecciosa e causadas por
bactérias, estando assim marcado o começo da mudança de paradigma na
Odontologia (LÖE, 1995). Paralelamente, a alteração drástica na tabela de valores
dos serviços odontológicos do SUS ocorre quando se valorizam os procedimentos
relacionados com a prevenção de doenças e a promoção de saúde e as exodontias
deixam de ser atos clínicos mais bem remunerados, iniciando-se, assim, uma
mudança da filosofia norteadora de tratamentos na rede pública. A Associação
Brasileira de Odontologia de Promoção de Saúde (ABOPREV) se organiza e
1
Paradigma, de acordo com KUHN (1975), se entende por um “conjunto de elementos culturais, de
conhecimentos e códigos teóricos, técnicos e metodológicos compartilhados pelos membros de uma determinada
comunidade científica”.
2
A cárie e a doença periodontal são as doenças mais prevalentes em Odontologia.
4
promove discussões e debates sobre a necessidade de mudança no exercício
profissional e como fazê-la com foco na prevenção, programa que começou a ser
chamado, na década de 90, de Odontologia de Promoção de Saúde (WEYNE,
1997). Apesar do nome, suas ações práticas foram, predominantemente, de
prevenção às doenças dentárias. Ainda assim, esse avanço já se constituiu um
ganho para a Odontologia.
A atenção profissional, antes centrada no tratamento da cárie e da doença
periodontal, evoluiu para os cuidados relativos à prevenção dessas doenças. De
acordo com os importantes relatos de WEYNE (1997), houve melhor compreensão
das propriedades preventivas e terapêuticas dos fluoretos no controle da cárie
dentária, da importância do diagnóstico precoce e do tratamento específico dos
pacientes que apresentavam maior risco para desenvolver lesões de cárie, da
necessidade de essas patologias serem tratadas como patologias e não como
lesões, da importância da biossegurança no controle das infecções cruzadas
(paciente/paciente,
paciente/profissional,
profissional/paciente)
ocorridas
nos
consultórios de atendimento e de que o atendimento precisa ser feito em uma
perspectiva multidisciplinar, considerando que os microorganismos presentes nas
doenças bucais podem produzir doenças sistêmicas. Em resumo, toda essa
mudança já resultou em melhoria dos níveis de saúde bucal, embora mantido o
enfoque de saúde como sendo a ausência de doença, não se atentando para o fato
de que a essência da promoção de saúde tem um enfoque amplo, que envolve
fatores psicológicos, sociais, econômicos e biológicos dos indivíduos.
Atualmente, com a ampliação dos conceitos da dinâmica do processo de cárie
e doença periodontal, consideram-se essas doenças decorrentes também de fatores
socioeconômicos e culturais a que as pessoas estão submetidas. A partir dessas
considerações, tem-se a possibilidade de desenvolver reais práticas de saúde; com
vistas a sua promoção, cujos princípios são fundamentados para além do binômio
saúde-doença, fazendo da humanização nos atendimentos uma prática necessária.
Assim, quanto mais o profissional de saúde compreender o modo de vida do
paciente e de seus familiares, tanto mais possibilitará um atendimento humanizado,
em que o paciente possa se expressar e ser escutado, estabelecendo um processo
de empatia que ajuda não apenas na recuperação da saúde desse paciente como
suscita uma maior confiança por parte dos familiares. Essa relação personalizada se
contrapõe à preocupação excessiva e quase exclusiva com os aspectos biológicos.
5
No caso específico da Odontologia, a preocupação deve ser primordialmente o
estabelecimento de uma relação além das extrações e/ou reposições dentais, bem
como a observância da saúde como um todo por meio dos aspectos sociais e
psicológicos.
Diante disso, atender a pessoa valorizando somente o que diz respeito a sua
patologia, sem levar em consideração as causas biopsicossociais do processo de
adoecer, significa atendê-la insatisfatoriamente, por negar toda a sua subjetividade,
desconsiderando-a como um ser social, de inter-relação, fruto de uma cultura, de um
espaço e de um momento histórico-social.
O atendimento no Curso de Odontologia constitui um espaço educativo muito
rico. Para ser bem aproveitado, é fundamental a integração dos diversos segmentos
que o constituem, de modo que todos busquem uma melhor compreensão da
realidade da clientela, de suas histórias de vida e dos significados da doença na vida
de cada um. Para KLEINMANN (1988), a interação entre paciente e profissional de
saúde se faz por meio do diálogo, pela escuta das palavras, tradução e
interpretação, ações as quais o autor suspeita ser a arte da clínica que trata além da
doença propriamente dita.
Ouvir é, portanto, uma postura básica do profissional de saúde. É ouvindo o
paciente que surge a condição de entendê-lo melhor e assim compreendê-lo sob os
diversos aspectos biopsicosociais presentes nas diversas enfermidades. Nesse
sentido, o atendimento humanizado enfoca o paciente além do aspecto biológico,
proporcionando-lhe a possibilidade de pensar e sentir, o que pode despertar nele o
desejo de trabalhar, em conjunto com o profissional, as causas que o levaram a
adoecer e assim contribuir para a recuperação de sua própria saúde.
Dentro dessa perspectiva, serão discutidos os espaços que foram delineados
para contemplar as propostas do Projeto de Humanização do Curso de Odontologia.
Ouvidoria
Dentro de toda organização social, independente da sua natureza, os conflitos
relacionais estão presentes, em maior ou menor grau. As situações de estresse são
benéficas quando são motivos de readaptações positivas, gerando “saltos
qualitativos”. Para isso, há necessidade de ouvir as divergências, tentando entender
cada opinião.
5
Uma das primeiras iniciativas após a formação da Comissão de Humanização
do Curso de Odontologia da UNIFOR foi a instalação da Ouvidoria.
Em se tratando de uma entidade de ensino, a maneira mais adequada que se
encontrou para instaurar o serviço de ouvidoria foi a utilização de urnas, pois, dessa
forma, não havia necessidade de identificação do relator, além de ser o relato escrito
mais fidedigno.
A ouvidoria externa funciona na recepção do curso e destina-se aos pacientes
e seus familiares que podem escrever ou verbalizar suas dúvidas, anseios,
questionamentos, críticas e sugestões, sob a orientação e acompanhamento da
assistente social do curso.
A ouvidoria interna funciona por meio do suporte dos membros da Comissão de
Humanização, quando são procurados diretamente por docentes, discentes e
funcionários, ou por meio das urnas colocadas estrategicamente em locais de
circulação das dependências do curso.
Os participantes do curso de Odontologia, em todas as instâncias, foram
estimulados pela Comissão de Humanização a externarem seus anseios,
questionamentos, críticas a pessoas, disciplinas, estruturas, dentre outras, sugerindo
que somente dessa forma poder-se-ia fazer um curso melhor.
No segundo semestre de 2001, quando instaladas as urnas da ouvidoria
interna, houve intensa procura dos alunos para registrar os conflitos interpessoais
vivenciados entre colegas, professores, alunos e funcionários. Foi um momento
importante de valorização da escuta e do exercício de soluções dos problemas. Era
sugerido sempre não só o relato de problemas, mas as soluções para o conflito
apresentado.
Semanalmente, a Comissão de Humanização fazia a leitura quanti-qualitativa
dos relatos para, em seguida, serem repassadas às devidas pessoas.
Após a sistematização dos relatos e conversas com professores e funcionários,
era-lhes solicitada uma reflexão e conseqüente elaboração, em equipe, de um plano
de desenvolvimento para os principais problemas, visando à minimização de
conflitos existentes.
A elevada freqüência inicial de relatos foi diminuindo gradativamente a cada
semestre, pois os principais pontos de conflitos e os planos de desenvolvimento em
equipe trouxeram algumas sugestões que foram sendo incorporadas em todas as
disciplinas da área profissionalizante, tais como:
5
•
momentos de discussão após as avaliações escritas, em que são
debatidos os erros e acertos e outros mecanismos de solução, utilizando
as provas como um meio de aprendizagem e não como fim;
•
avaliações práticas, sendo discutidos previamente os critérios a serem
utilizados, e a discussão a cada aula prática (na medida do possível) das
falhas e acertos dos alunos, além do reforço e do acompanhamento mais
intenso aos alunos com maior dificuldade de aprendizagem, seja motora,
cognitiva ou afetiva;
•
fixação da orientação das aulas práticas com o mesmo professor durante
todo o semestre, tornando possível acompanhar a evolução e o
aprendizado dos alunos;
•
conversas periódicas com alunos (representantes de turma), professores
(colegiado e reuniões por área) e funcionários, buscando sempre prevenir
a ocorrência de conflitos e, quando estes ocorrerem, buscar soluções
imediatas, não deixando causar repercussões maiores, que afetem o
entrosamento dentro do curso;
Esse processo dialético tem continuidade, objetivando atingir novas melhorias.
Acompanhamento Psicológico
A criação e regulamentação de gabinetes de acompanhamento psicológico de
alunos são estratégias fundamentais de enfrentamento dos problemas crescentes
que se têm identificado em termos de saúde mental dessa faixa etária (19 a 23
anos). Esses serviços podem atingir os alunos antes de os problemas mais sérios se
desenvolverem, tendo um papel importantíssimo na prevenção. O serviço de
acompanhamento psicológico pode potencializar, de certa forma, os processos de
aprendizagem e de construção da carreira, contribuindo para o progresso
acadêmico, a integração sociocultural e o bem-estar do aluno(O’ CONNOR,2001).
Nos grandes centros urbanos, prevalece a idéia de que a Instituição de Ensino
Superior que apóia e mantém um serviço de acompanhamento psicológico para
seus alunos assume, assim, a função de promotora do bem-estar do estudante
(GONÇALVES, 2000).
5
Entretanto, esse esforço não deve se restringir apenas à esfera de um único
curso, mas deve ser estendido aos diversos centros da Instituição (TAVARES,
2000).
Existe atualmente um interesse crescente, quer da parte de professores e
pesquisadores, quer da parte de políticos e gestores da área educacional, a respeito
do papel e função da educação superior, existindo um vasto material sobre o
assunto (SOARES, 2000), o que remete à seguinte indagação: Qual seria a missão
da Instituição de Ensino Superior numa época de drásticas mudanças de ordem
política, econômica e social? Que tipo de serviço deve a Instituição de Ensino
Superior prestar e com que finalidade?
Essas inquietações e questionamentos não se processam de forma
desconectada da constatação das pessoas que a freqüentam, exigindo uma reflexão
sobre as conseqüências no processo de democratização do acesso ao ensino
superior.
Nesse contexto de contemporaneidade, as instituições de ensino superior dos
países industrializados se defrontam com expectativas sociais elevadas quanto a
sua missão e finalidade. A missão pública de educação e formação, a construção e
difusão do conhecimento científico e tecnológico, a participação no desenvolvimento
econômico, social e cultural dos cidadãos e da sociedade e a construção de práticas
e políticas de qualidade seriam alguns dos principais desafios (Santiago et al, 2001).
A instituição de ensino superior enfrenta ainda a crise ideológica, resultante da
transposição para o mundo da educação da lógica empresarial e da linguagem de
marketing e dos seus processos e resultados educativos.
Nesta perspectiva, os serviços de acompanhamento psicológico de estudantes
universitários se configuram como espaços legítimos e de fundamental importância
dentro das instituições de ensino superior, na medida em que se constrói e se
desenvolve como unidade de serviço entre duas culturas: a cultura acadêmica e a
cultura da sociedade em que a instituição de ensino superior está inserida, de modo
a não privilegiar somente a aquisição de competências técnicas formais, mas
podendo
também
interferir
positivamente
no
pleno
desenvolvimento
de
competências humanas, de forma a corroborar decisivamente com a construção,
desenvolvimento e bem-estar de seu aluno (Martins, 2001).
Os Estados Unidos foram os pioneiros na criação de serviços de
acompanhamento psicológico no âmbito do ensino superior, enquanto na Europa foi
5
a Inglaterra quem assumiu primeiramente essa preocupação. Desde então, tornouse uma preocupação crescente em muitas universidades do mundo todo.
Estudos sobre essa temática demonstram uma correlação positiva existente
entre o grau de adaptação à instituição e o desempenho acadêmico. Existe uma
associação significativa entre a dimensão pessoal de adaptação à instituição de
ensino superior e o rendimento dos alunos, destacando-se ainda o impacto dos
métodos de estudo na performance acadêmica dos alunos (SOARES,2000).
Outros estudos apontam para o impacto que tem o sucesso no ensino superior
e a inexistência de competências adequadas para fazer frente aos desafios que são
impostos aos alunos. É imperativa a necessidade de realização de programas de
intervenção destinados tanto para a aquisição de competências acadêmicas que
possibilitem uma abordagem ao estudo mais eficiente, como ao desenvolvimento
pessoal e vocacional do estudante (DIAS, 2001).
O Serviço de Acompanhamento Psicológico aos Alunos do Curso de
Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) foi criado a partir do Projeto de
Humanização empreendido pelo referido curso, constituindo-se assim, uma das
ações dentro de uma proposta mais ampla que vem sendo efetivada. A atividade
visa promover o bem-estar e o desenvolvimento integral do aluno, condição
essencial aos processos de crescimento pessoal e profissional. Nesse sentido,
busca desenvolver ações de natureza preventiva e /ou remediativa, de modo a
atender às necessidades pessoais, sociais, vocacionais e profissionais.
O atendimento psicológico disponibiliza ao aluno a oportunidade de entrar em
contato com um profissional da área, com formação específica para esse tipo de
atendimento, em um contexto confidencial em que é possível expressar com
segurança ansiedades e angústias.
Cada atendimento dura em torno de uma hora e o acompanhamento persiste
enquanto for necessário. As sessões são caracterizadas por uma atmosfera de
empatia, de respeito e de aceitação incondicional, onde o aluno possa sentir-se
seguro para verbalizar seus anseios, temores e dificuldades, podendo discuti-los
sem receio de ser julgado ou rotulado.
Nessa perspectiva, o atendimento psicológico privilegia a valorização da escuta
das demandas do aluno, considerando que sentimentos desagradáveis, quando
armazenados por muito tempo, tendem a tornar-se intensos, aumentando o mal
5
estar, os níveis de tensão e angústia e podendo comprometer seriamente o
ajustamento e a funcionalidade do sujeito.
Falar sobre as próprias dificuldades em um ambiente adequado a essa
finalidade, onde haja neutralidade e o aluno possa sentir-se apoiado, poderá
contribuir para a minimização dos sentimentos negativos, reduzindo a sensação de
frustração e mal estar, favorecendo a compreensão e elaboração e tornando mais
fácil a condução e administração dos próprios conflitos, à medida que torna-se mais
consciente de suas limitações, possibilidades e motivos. O insight poderá ser
facilitado se o sujeito vivenciar mais conscientemente o sentimento de SER e
ESTAR no mundo.
Por outro lado, parece conveniente ressaltar que o acompanhamento
psicológico não oferece soluções mágicas para os problemas apresentados pelos
alunos, tampouco faz parte de sua metodologia proceder lições moralistas,
julgamentos de valor, controlar, gerir ou apontar resoluções.
O serviço psicológico do Curso de Odontologia baseia-se na idéia de que,
sentindo-se seguro e à vontade para expressar pensamentos, sentimentos e
experiências, o aluno terá a possibilidade de compreender com mais clareza o que
se passa consigo, colocando-se face a face com a situação constrangedora. Desse
modo, o serviço de acompanhamento psicológico de alunos, procura contribuir para
que o próprio estudante restabeleça o controle sobre sua vida e realize suas
escolhas conscientemente.
Faz parte da responsabilidade do serviço apoiar o estudante nas suas decisões
deliberadas e nas mudanças que este pretende empreender.
Por mais complexa e caótica que possa parecer a situação vivenciada pelo
aluno, o serviço procura manejá-la com o máximo de respeito.
Em alguns casos, um único atendimento torna-se suficiente; em outros, o
acompanhamento poderá se alongar por mais algumas semanas. Os primeiros
atendimentos são realizados em sessões semanais, mas com o tempo poderão ser
espaçadas.
Algumas vezes, os casos são encaminhados para outros profissionais e
serviços externos, no entanto, a maior parte dos alunos que procuram o serviço ou
que são encaminhados pelos professores não estão doentes; ao contrário, foram
capazes de solicitar ajuda.
5
O Serviço de Acompanhamento Psicológico aos alunos do Curso de
Odontologia da UNIFOR procura focalizar suas atividades em três direções: para os
problemas relacionados às questões acadêmicas, para os desafios referentes às
questões de desenvolvimento e para as dificuldades emocionais que se constituem
problemas clínicos.
As questões acadêmicas referem-se essencialmente ao sucesso ou ao
insucesso em determinada disciplina, o que é decorrente de dificuldades
relacionadas aos estudos e às aprendizagens, de problemas de atenção e
concentração e da má gestão do tempo de estudo. Os problemas de ansiedade e
dificuldades na relação professor-aluno também são comuns.
É importante observar que a maioria dos estudantes de graduação são jovens
adultos que vivenciam ainda uma difícil fase de transição do fim da adolescência
para a idade adulta, crise agravada pelo impacto de mudança de ambiente escolar,
acompanhado de novas expectativas e pressões sociais. Como toda fase de
transição, essa também exige do indivíduo algumas aquisições e acentua antigos
conflitos e vulnerabilidades, uma vez que a personalidade ainda não está totalmente
consolidada.
Durante a época da vida universitária, o jovem se depara com exigências
psicossociais próprias dessa fase, que correspondem às demandas intrapsíquicas e
interpessoais, de modo a atender solicitações do contexto social, econômico e
cultural. Dentre elas, as mais importantes consistem na emancipação da tutela
parental, no desenvolvimento da capacidade de estabelecer relações de intimidade
amorosa, no comportamento referente a um conjunto de objetivos da vida,
correspondentes não só à escolha vocacional / profissional, mas também à
aquisição de um sentido de autonomia que se legitima a partir da capacidade de
fazer
escolhas,
na
autodeterminação,
no
desenvolvimento
do
senso
de
responsabilidade e na capacidade de viver a vida de acordo com seus valores
pessoais
e
preferências.
Essas
tarefas
são
interligadas
e
devem
estar
razoavelmente resolvidas antes de o indivíduo atingir a idade adulta, o que significa
afirmar que, durante todo o trajeto acadêmico, os jovens se defrontam com várias
exigências distribuídas em quatro domínios fundamentais (ARNSTEIN, 1984): o
domínio acadêmico, que envolve adaptações constantes às estratégias de ensino /
aprendizagem e aos sistemas de avaliação e de estudo; o domínio social que
compreende o desenvolvimento de padrões de relacionamentos mais maduros com
5
os professores, colegas e familiares; o domínio pessoal, que abrange o
desenvolvimento de um sentido de identidade, uma maior consciência de si próprio e
uma visão pessoal do mundo e o domínio vocacional, que se refere ao
desenvolvimento de uma identidade vocacional.
Essa fase mostra-se bastante complexa, podendo favorecer o surgimento de
dificuldades, crises e vulnerabilidades que poderão afetar seriamente a vida
acadêmica do aluno.
Ao desenvolvimento cognitivo desse período da vida é acrescida a capacidade
de reflexão e abstração, possibilitando aos jovens a reorganização de conflitos não
solucionados e a reelaboração de aspectos de sua personalidade que foram
bloqueados.
Diante de tudo, o que foi exposto, percebe-se que a instituição de ensino
superior deve, portanto, proporcionar ao aluno amplas oportunidades de
experimentação interpessoal, social, intelectual e de reflexão. Os serviços de
acompanhamento psicológico de alunos se apresentam como recursos que cada
vez mais devem fazer parte integrante do conjunto de serviços ofertados pela
instituição aos seus estudantes, pois estes serviços desempenham um papel
significativo no desenvolvimento acadêmico, social e emocional dos alunos, por
meio de estratégias multifacetadas que podem estabelecer diversas parcerias.
As problemáticas abordadas são muito diversificadas, indo desde as políticas e
procedimentos acadêmicos, até as competências e atitudes frente ao estudo, as
estratégias de administração do tempo, o desenvolvimento de habilidades de
comunicação e de relacionamento, o pluralismo cultural, a redução do estresse, a
saúde, o bem-estar, a exploração vocacional, a preparação para a inserção no
mercado de trabalho, o estabelecimento de objetivos de vida, a motivação e os
problemas de ordem psicopatológica.
Essa reflexão, baseada na experiência como psicóloga-clínica e numa revisão
da literatura especializada, possibilita afirmar que há necessidade urgente de apoiar
a ampliação e regulamentação desses serviços nas instituições de ensino superior
do Ceará.
5
Sala de Espera Saudável
O cuidado humanizado deve ser adaptado à estrutura hospitalar,
modificando não apenas os custos, mas também a tradicional relação do
profissional da saúde com seu cliente.
A partir dessa nova visão, o autoritarismo ainda existente nessa relação
deverá ser modificado, pois a modernização, a democracia, o desequilíbrio entre
o uso da tecnologia
e o contato humano vêm transformando a história das
organizações em resposta às novas exigências sociais.
Assim, não será suficiente à saúde apresentar os itens tradicionais de
qualidade e organização, como ocorre com as demais instituições que estão
inseridas em outros ramos, mas terá que, essencialmente, responder com
ambientes, ações e gestos humanizados, humanizadores e de qualidade de vida
em respeito aos direitos humanos e as exigências sociais.
Nesse contexto, vale ressaltar que, diferente do que ocorre, quando se fala
em profissionais de saúde, é necessário que se entenda como todas as
categorias envolvidas no processo: médicos, enfermeiros, assistentes sociais,
atendentes, vigilantes, todos, enfim, que prestam serviço na instituição.
A presença desse quadro de funcionários preparados, engajados,
qualificados e sensibilizados para tratar com usuários apresenta uma nova
cultura no atendimento.
A nova concepção torna-se importante porque o avanço da tecnologia
trouxe consigo um aspecto maquinal, frio, não humano, atingindo bastante a área
da saúde, onde seus funcionários são levados a agir quase como autômatos.
Dessa forma, antes de pensar em paredes, móveis e equipamentos, os
usuários e funcionários deverão ser levados em consideração para que, das suas
necessidades, surjam estruturas mais humanizadas.
Com essa nova visão da área da saúde, a humanização no âmbito do
trabalho apresenta um novo perfil de usuários que deverão deixar de ser
considerados como máquinas para conserto, para serem entendidos como seres
humanos em processo de atendimento, que clamam por dignidade e respeito.
Assim, o Curso de Odontologia da UNIFOR vem desenvolvendo e implantando
o Projeto de Humanização. O referido Curso presta serviço à comunidade, buscando
5
no seu âmbito de trabalho implementar projetos, tais como a Sala de Espera
Saudável, que favorece a clientela.
O projeto foi idealizado em 2003/2 por membros da comissão de
humanização do Curso de Odontologia da UNIFOR. As atividades na sala de espera
iniciaram no primeiro semestre de 2004, com a participação de cinco alunos
monitores da disciplina de Introdução à Odontologia, professores, psicóloga e
assistente social, os quais procuram desenvolver e acompanhar o projeto, buscando
preencher o tempo de espera do paciente, que muitas vezes encontra-se ansioso e
irritado, a fim de transmitir informações educativas a respeito dos mais diversos
temas voltados para a saúde e a vida dos indivíduos.
As apresentações são realizadas no decorrer do mês, conforme a
disponibilidade do corpo discente. A cada semana, um tema é pesquisado e
abordado para os pacientes, os quais possuem a liberdade para sugerir outros
assuntos do seu interesse. Nesse processo, são apresentados cartazes, folders,
peças, teatro de bonecos, enfim, são usadas várias linguagens na perspectiva de
resgatar e prender a atenção do público-alvo. Os temas abordados são escolhidos
conforme o calendário da Secretaria da Saúde do Estado.
Os alunos são acompanhados pela assistente social em todas as
apresentações, buscando propiciar uma maior interação destes com os pacientes e
funcionários do curso. Eles procuram trabalhar com o público de forma humanizada,
visualizando-os em sua totalidade, diante de uma maior aproximação, para atender
os seus anseios e reduzir suas angústias em decorrência, muitas vezes, do medo
em relação ao tratamento dentário.
Com o objetivo de acompanhar essas atividades, algumas reuniões são
realizadas entre os profissionais envolvidos e os alunos, gerando um espaço para
debates e novas idéias com relação ao programa.
Segundo o relato desses alunos, foi verificada uma nova maneira de
perceber o cliente, ou seja, este passa a ser visto como “gente”, “sujeito” e não mais
como um “objeto de aprendizagem”. Surge, então, um amadurecimento e respeito
com relação a sua clientela, que, por sua vez, supera os mitos e percepções
distorcidas a respeito do atendimento odontológico. Quanto às apresentações
realizadas, o programa favorece uma maior aprendizagem, pois vários temas
passam a ser estudados e abordados. A redução da inibição, a aproximação e a
6
postura diante do público-alvo também não deixam de ser mencionados como
pontos positivos vivenciados.
Observa-se também, no que se refere aos pacientes assistidos, uma boa
receptividade quanto ao programa, revelada por meio das perguntas, sugestões,
comentários sobre os temas, experiências pessoais que são manifestadas. Alguns
assumem a posição de facilitadores juntamente com os alunos para abordar o
assunto proposto. Tal fato representa o grande envolvimento desses pacientes no
decorrer da espera do atendimento, o que proporciona uma otimização do tempo,
reduzindo os anseios e angústias muitas vezes apresentados.
Os alunos envolvidos recebem, acolhem e encaminham o paciente para o
atendimento. Eles desenvolvem grupos de valorização da escuta das demandas,
visando uma diminuição do nível de ansiedade dos pacientes.
Após um ano da implantação do projeto, torna-se possível visualizar o seu
impacto na dimensão do crescimento e transformação no modo de acolhimento da
pessoa a ser atendida.
Portanto, o objetivo do Programa de Sala de Espera Saudável consiste em
possibilitar ao paciente do Curso de Odontologia uma otimização do seu tempo de
espera, reduzindo as tensões e angústias por meio de palestras e informações
educativas
relacionadas
à
saúde
ou
temas
afins
e
possibilitando
uma
conscientização do tratamento e sua incondicional adesão.
Mudanças de Atitude
Em
todo
ambiente
que
congrega
pessoas
ocorrem
relacionamentos,
aumentando, portanto, o risco de surgimento de conflitos nas inter-relações, o que
eleva os níveis de estresse. Porém, as situações estressantes podem ser benéficas
quando se tornam motivo para a readaptação positiva, gerando saltos qualitativos no
comportamento social. Opiniões divergentes produzidas nos embates e confrontos
entre as pessoas podem, muitas vezes, favorecer o seu crescimento e
desenvolvimento. Entretanto, cada indivíduo apresenta uma resposta específica a
episódios de divergência, principalmente quando estes se dão no plano interpessoal.
Neste momento, é oportuno falar de como foram criadas algumas estratégias
de ação, bem como expor quais são os objetivos e alvos relevantes do Projeto de
Humanização do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Da
6
mesma
forma,
vamos
delinear
também
alguns
conflitos
observados
no
relacionamento, que evidenciam a necessidade de um fluxo incessante de
acompanhamento psicológico dos três pilares do curso – o aluno, o professor e o
paciente – além de relatar nossa experiência com os meios utilizados para obter e
elaborar esses conhecimentos.
Uma das estratégias do Projeto de Humanização do Curso de Odontologia da
UNIFOR refere-se à sensibilização dos professores. A idéia é de estruturar
condições para a discussão e aprimoramento do senso crítico dos docentes, em
associação ao seu perfil comportamental e técnico-pedagógico. Almeja-se ainda
aperfeiçoar a relação entre professores, alunos e pacientes, desenvolvendo nos dois
primeiros características, competências e habilidades voltadas ao fomento e
utilização de procedimentos mais humanizados na prática odontológica.
Dessa forma, foram promovidas atividades cuja finalidade foi permitir a
elaboração de um diagnóstico das necessidades dos distintos grupos, um esboço do
perfil dos alunos e um perfil dos professores, para ampliar o entendimento das
relações professor-aluno e atender às expectativas geradas.
Outra iniciativa desenvolvida relacionou-se ao estudo da motivação, tomandoa como o sentimento que nos leva a empreender energia em uma direção
específica, com um propósito determinado, ou seja, motivar-se significa utilizar o
sistema emocional para catalisar todo este processo e mantê-lo em movimento
positivo.
A partir daí, iniciou-se uma nova etapa, denominada “humanização
continuada”,
na
qual
buscou-se
identificar
a
necessidade
de
reforço
e
questionamento dos objetivos do Projeto de Humanização em si.
A metodologia aplicada consistiu da apresentação de pensamentos e frases
de impacto, expostos nas Clínicas Integrada e Multidisciplinar por meio de cartazes
criativos, periodicamente modificados, dispostos em locais e espaços estratégicos
que congregam maior concentração de professores, alunos e funcionários, tais
como salas de raios-x, câmaras escuras portáteis, negatoscópio, central de
esterilização, setor de entrega e devolução, carrinhos de materiais e áreas de uso
de computadores.
Esses pensamentos e frases, associados a um trabalho realizado nas salas
de aula por intermédio dos próprios professores que os mostravam em slide inicial
e/ou final, serviram para que os alunos, professores e demais profissionais do curso
6
pudessem ler e refletir conscientemente a respeito das relações de poder vigentes
nos pares professor-aluno, aluno-paciente e funcionário-paciente.
Enquanto isso, a reação dos alunos, professores e funcionários foi sendo
observada, em relação à receptividade e à transformação mensurável de seus
comportamentos.
Assim sendo, no ano de 2003, a Comissão de Humanização do Curso de
Odontologia, dando prosseguimento ao trabalho que já vinha sendo realizado,
resolveu torná-lo mais criativo e lúdico. Surgiu então a “Turma do Armário”, com
personagens fictícios que interagem pela via seqüencial da nona arte: os
quadrinhos.
Partindo da realidade de que cada um dos professores e professoras possui
seu armário pessoal, encontramos o que poderia ser um ótimo espaço para nos
comunicarmos com todos eles. Buscamos a forma de atrair sua atenção para o
objetivo da Comissão de promover mudanças desejáveis de atitudes nos pares
professor-aluno, professor-professor, professor-paciente e, indiretamente, até
mesmo no par aluno-paciente.
Dessa maneira, passou a fazer parte do cotidiano do Curso, sempre naquele
local cheio de provas, projetos de ensino, pesquisas, disquetes, CDs e slides, entre
outras coisas mais, uma “arrumadinha básica” executada pela Turma do Armário,
integrada por um casal de garotos chamados Guga e Manu, que possuíam um
mascote – seu gatinho chamado Trutti.
Na realidade, a “arrumação” era imaginária, pois o que nos interessava era
encontrar uma fórmula de prender a atenção dos professores e estimular-lhes a
reflexão com aquelas mensagens – e, quem sabe, colher mais tarde frutos
representados por mudanças observáveis de atitude.
Quinzenalmente, uma nova mensagem era afixada na porta do armário de
cada professor(a). Eram veiculadas, sob a forma de questionamentos, as vantagens
da delicadeza muitas vezes perdida, da compaixão e do diálogo aberto nos
relacionamentos interpessoais.
Se nossos objetivos foram alcançados, não podemos ainda confirmar com
absoluta certeza. Porém, o reconhecimento da presença de sentimentos humanos
importantes no ser e estar cotidianos, assim como o avanço na capacidade reflexiva
e nas discussões acerca dos relacionamentos hoje fazem parte indissolúvel da
6
nossa realidade. Uma conquista que a todos nós orgulha e preenche de fé o nosso
trabalho diário.
Para todos nós, tornou-se evidente e proveitoso conceber que, como afirmava
o educador Paulo Freire, “ensinar exige querer bem”.
Cultura do tratar bem
A universidade deve possibilitar o encontro e a integração de todos os
conhecimentos e seu encaminhamento à plenitude humana, resultante da integração
e complementação do saber.
Humanizar é preciso.
Mas como a universidade deve conciliar essa
necessidade científica com sua destinação humanística?
O Curso de Odontologia da UNIFOR proporciona ao estudante um ensino
teórico e prático que deve formá-lo, desenvolvendo suas potencialidades, de
maneira a prepará-lo para estar a serviço da prática da Odontologia. Essa formação
é deficiente se o estudante não desenvolve a sua própria qualidade de homem,
aperfeiçoando-se para estar a serviço de uma cultura do humanismo.
A valorização do outro e da escuta e o exercício de cidadania têm que ser
vivenciados, sentidos, por cada um de nós. Não adianta “ensinar” aos nossos alunos
“como tratar bem” seus pacientes, se esses são oprimidos e sufocados no processo
ensino-aprendizagem.
Por isso, a mudança na relação aluno-paciente que reflita na futura prática
profissional passa pela mudança de prática pedagógica, em que as pessoas se
sintam sujeitos ativos e construtores do processo de aprender e também de ensinar,
ou seja, de troca não só de saberes e experiências, mas de troca afetiva. (NUTO,
2002)
Ninguém aprende o que não gosta. Precisamos resgatar o amor ao nosso
objeto de estudo, ato pouco valorizado na pedagogia tradicional, o amor ao nosso
paciente, sem preconceitos e “culpabilização”, desenvolvendo a motivação para
aprendizagem, sendo necessário, para isso, sentir e vivenciar sentimentos e
energias positivas e incentivar a cultura da paz.
A cultura da humanização reflete a idéia de valorização do outro, de respeito às
diferenças, de atenção e cuidado aos nossos semelhantes. A cultura de “tratar bem”
6
nossos pacientes não pode estar descontextualizada, vazia e inerte; deve estar
inserida em um panorama de difusão da cultura do amor e cuidado ao nosso entorno
social.
Toda essa abordagem não teve a pretensão de esgotar um assunto de
tamanha complexidade, mas de refletir a importância da humanização nos espaços
de saúde, especialmente em um ambiente de ensino e aprendizagem.
6
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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Artes Médicas, 1997.
6
CAPÍTULO 4
Como você se sente? A experiência do Estágio Extra Mural do Curso de
Odontologia da UNIFOR
Sandra Helena de Carvalho Albuquerque
Maria Vieira de Lima Saintrain
Luiz Roberto Augusto Noro
Sharmênia de Araújo Soares Nuto
Thiago Pelúcio Moreira
Maria Cristina Germano Maia
Maria do Carmo Rebouças Filha
Maria Elisa Machado Ferreira
“- Como você se sentiu conversando com a D. Maria ?
- Como assim, professora ?
- Como você se sentiu ao entrar na casa de taipa, sentar num sofá sujo e
rasgado, andar no sol quente, pisar na lama, sentir o cheiro do lixo?
- Ah, professora, foi normal...
- O que é normal? Que sentimento é esse? É normal sentir raiva por estar
lá? Ou será normal sentir medo por estar numa comunidade pobre onde tudo é
exclusão? Ou ainda será normal sentir pena daquela família que não possui o
mínimo para sua dignidade de ser humano? Ou será ainda normal sentir-se
culpado por nunca ter feito nada que pudesse reverter aquela situação de
penúria? O que é normal no campo dos sentimentos?
- Ah, professora, sentimento a gente sente não precisa falar...
- Eis o seu equívoco e o erro de muitos. Sentimento a gente define, pois
todos eles nos marcam de forma indelével e definem padrões de
comportamento que influenciam nossa reação frente às diversas situações em
nossas vidas. E isso se torna fundamentalmente importante quando se trata
de ocupações na área da saúde pois cuidar do outro pressupõe minimamente
gostar de gente, estabelecer vínculos e tudo isso é carregado de sentimentos.
Por isso é extremamente necessário que se identifique que sentimento nos
move, nos motiva...
- Pra quê falar disso agora? É só ir lá e pronto.
6
- Desde muito cedo nos ensinam a sufocar nossos sentimentos: é feio
sentir raiva, você não pode sentir medo do escuro porque é coisa de criança,
não interessa se no momento da prova você está ansioso e te dá um branco,
não importa a tristeza do fim de um relacionamento que dificulta o
aprendizado e dessa forma sufocamos e prendemos nossos sentimentos num
quartinho escuro e só revelamos quando as conveniências julgam oportuno.
Por isso não se falam deles e não sabemos ao certo o que sentimos, para quê
sentimos, como agimos diante daquele sentimento. Daí surgem os conflitos
nas relações, dúvidas ao reagir e somatização do que sufocamos. Vocês ainda
acham que não precisamos falar sobre isso?
- É que nunca ninguém falou isso pra gente...
- Os bancos das escolas sempre nos ensinaram o aspecto científico de
cada conhecimento sem trabalhar o impacto afetivo que eles imprimem em
nós, e vamos seguindo assim até que um dia aquilo que aprisionamos naquele
quartinho escuro explode muitas vezes de maneira descontrolada.
- Professora, o que isso tem haver com a família que eu visito ou com o
paciente que eu atendo?
- Isso determina o tipo de vínculo que você estabelece com o outro
enquanto você cuida dele. O que é o paciente para você? Alguém desleixado
que se descuidou de sua saúde? Ou um coitadinho que não tem dinheiro para
comprar uma escova de dente? Ou ainda alguém fútil que veste as melhores
roupas mas não consegue fazer uma escovação satisfatória? Ou ainda um
parceiro seu para administrar o processo saúde-doença ao longo de nossa
existência? Todos esses aspectos definem nossa prática profissional e como
encaramos aqueles a quem nos propomos tratar.
- Ah, entendi, mas não é fácil definir o que sinto, acho que é um pouco de
pena daquela família e também um pouco de culpa por viver num mundo tão
confortável e às vezes reclamar por bobeiras que têm uma dimensão
infinitamente pequena frente ao drama daquelas famílias.
- Muito bem, começamos a mergulhar no campo dos sentimentos, não é
fácil, mas aos poucos vamos nos familiarizando. É esse o desafio e o convite
que faço a vocês: aprender a conhecer nossos sentimentos para conhecer
melhor a nós mesmos e aos outros e poder refletir melhor sobre nossa prática.
Vamos lá?”
6
A cada aula do estágio, lançávamos estas reflexões aos nossos alunos. Era um
desafio mútuo: eles por serem questionados em aspectos sobre os quais não se
costumam falar, e nós por tentarmos construir um caminho ainda muito novo e difícil
de trabalhar.
As emoções são pedagógicas, ousamos então discutir isso com o objetivo do
aluno identificar o que o motivava ao cuidar do outro para poder refletir melhor sobre
sua prática e identificar se estão sendo reprodutores de uma técnica ou se
percebem o outro além da boca e conseguem aplicar o conhecimento para a
transformação da realidade.
Tudo isso são aspetos extremamente sutis mas que determinam fortemente o
resultado que se pretende alcançar, principalmente ao se trabalhar com uma
população de baixa renda, fatores sócio econômicos desfavoráveis para o pleno
gozo da saúde. É essa a proposta do EEM ao trabalhar com as pessoas com a
lógica do Programa de Saúde da Família, afinal não há família e grupos sem
vínculos e sem sentimentos.
1. HISTÓRICO
O Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) foi iniciado
em 1995, com duração de dez semestres letivos e tem como pressuposto básico a
formação de um cirurgião-dentista com filosofia preventiva e habilidade na aplicação
de princípios técnicos, éticos e sociais para sua plena inserção como profissional de
saúde.
Seguindo esta filosofia, há a previsão da realização durante o 9º e 10º
semestre do desenvolvimento, paralelamente à Clínica Integrada, do Estágio Extramural.
O Estágio Extra-mural é composto por um total de oito créditos, distribuídos
quatro créditos no 9º semestre (Estágio Extra-mural I) e quatro créditos no 10º
semestre (Estágio Extra-mural II). Tem como grande meta a integração ensinoserviço-pesquisa, que tem se caracterizado, em diversas universidades, como forma
de garantir a racionalização dos recursos e otimização dos objetivos a que se
destinam as instituições de ensino superior e as instituições de prestação de
serviços.
6
O aluno do estágio extra-mural inicia uma nova fase em sua formação
profissional que tem como objetivo sua integração com os serviços públicos de
saúde, o conhecimento sobre seu funcionamento, a aproximação com a realidade
do processo saúde-doença vivenciado pela população e formulação de propostas
que viabilizem e aperfeiçoem o Sistema Único de Saúde.
O desenvolvimento do Estágio Extra-mural é fundamental para permitir ao
aluno um contato privilegiado com a saúde coletiva, já que o aproxima da realidade
existente e possibilita sua intervenção pensando em soluções para comunidades,
tendo como referência a promoção de saúde.
Os principais objetivos do Estágio Extra-mural são: formar profissionais com
interesse social, observando, analisando e propondo soluções para os principais
problemas bucais da comunidade; aplicar conhecimentos básicos das disciplinas de
Odontologia Social I e II, Epidemiologia, Elementos de Antropologia Filosófica,
Elementos de Sociologia e Odontologia Legal, além das disciplinas clínicas, em
situação real de trabalho; propiciar integração com administradores públicos do
sistema de saúde, usuários, professores e alunos do Curso de Odontologia da
UNIFOR, buscando soluções mais adequadas aos problemas encontrados;
desenvolver auto-confiança e segurança tanto no aspecto social como no
conhecimento técnico-científico quanto na responsabilidade ético-profissional e
contribuir para a formação de um profissional de saúde crítico, questionador e
formulador de soluções criativas e viáveis para melhoria das condições de vida da
população.
Quando de sua implantação, o Estágio Extra-mural representou um grande
desafio uma vez que previa como campo de estágio Unidades de Saúde da
Secretaria de Saúde do Município de Fortaleza, serviço bastante descaracterizado
daquilo que se pretendia propor enquanto sistema de saúde universal, integral,
eqüânime e racional. Para desenvolvimento das atividades os alunos eram divididos
em grupos possibilitando-se o acompanhamento durante um ano de uma mesma
Unidade de Saúde.
O Estágio era desenvolvido durante toda a semana (2ª a 6ª feira) sendo pela
manhã no Estágio Extra-mural I e pela tarde no Estágio Extra-mural II. Assim, os
quatro créditos destinados a esta atividade eram desenvolvidos em uma semana
contínua por mês para cada grupo de alunos. Com isto, pretendia-se proporcionar
7
um maior acompanhamento dos alunos pelo professor responsável assim como
permitir uma lógica seqüenciada de atividades.
Neste
momento
foram
definidas
as
seguintes
atividades
para
acompanhamento dos alunos:
 Identificação do perfil da população, observando a multiplicidade de
padrões de conduta e características culturais;
 Participação e organização dos serviços odontológicos, conhecendo as
relações entre a Secretaria de Saúde e outros órgãos da administração
pública (Secretaria de Educação, Secretaria de Recursos Hídricos,
Secretaria de Ação Social etc.) tanto no âmbito estadual quanto no
âmbito municipal;
 Realização de levantamentos epidemiológicos para diagnóstico da
situação de saúde bucal da comunidade;
 Desenvolvimento de ações educativas em saúde;
 Realização de ações coletivas de saúde bucal;
 Capacitação de pessoal auxiliar (atendente de consultório dentário e
técnico em higiene dental);
 Integração com Programa de Saúde da Família, capacitando agentes de
saúde na orientação preventiva das principais doenças bucais;
 Participação em atividades do Conselho de Saúde das Unidades de
Saúde, do Município de Fortaleza e/ou do Estado do Ceará;
 Acompanhamento no desenvolvimento de ações de vigilância sanitária e
epidemiológica;
 Planejamento do trabalho clínico a ser realizado nas Unidades de
Saúde, a partir do referencial de risco de doença por grupos
populacionais.
2. O DESENVOLVIMENTO DOS ESTÁGIOS EXTRA-MURAIS
Depois de seis anos de um processo de reflexão contínua sobre o Estágio
Extra-mural e de várias modificações na forma de desenvolvimento das atividades,
pode-se observar que os objetivos inicialmente propostos têm permitido aos alunos
planejarem e executarem suas habilidades na atuação nos diferentes ciclos de vida,
visando fundamentalmente à criação de vínculos entre o aluno e o sujeito de seu
7
cuidado, inserido na realidade em que vive, buscando nesse contexto, a formação
de um profissional crítico e reflexivo dentro de sua prática.
A maior parte das atividades do estágio são realizadas na área de abrangência
do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) – a Comunidade do Dendê –
incluindo-se nesta, seus espaços sociais (escolas e creches). No entanto, as
atividades de estágio não se limitam a esse território, sendo também direcionadas a
atenção à saúde dos idosos institucionalizados no Lar Torres de Melo e ao
planejamento e desenvolvimento das ações e serviços de saúde, analisados do
ponto de vista do gestor. Estas atividades serão desenvolvidas durante o Estágio
Extra-mural I (9º semestre) ou no Estágio Extra-mural II (9º semestre).
2.1. ESTÁGIO EXTRA-MURAL I (EEM I)
Alunos do 9° semestre do Curso de Odontologia da UNIFOR têm a
oportunidade de atuar na mesma lógica que norteia atualmente a estratégia de
Saúde da Família.
Dessa forma, os alunos são estimulados a conhecer a realidade de vida das
famílias as quais irão acompanhar, como parte de um projeto multidisciplinar
envolvendo os diversos cursos do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UNIFOR
e tendo o NAMI como Núcleo de Integração Docente-Assitencial. Nesse, o ensino e
a pesquisa são inseridos às ações de saúde voltadas para população da
Comunidade do Dendê em nível de atenção primária, promovendo, diagnosticando,
tratando e reabilitando de maneira integrada e interdisciplinar, visando à melhoria da
qualidade de vida de seus usuários.
A Comunidade do Dendê situa-se próximo à UNIFOR, no bairro Edson Queiroz,
tendo aproximadamente 14.000 habitantes, sendo dividida em micro-áreas, segundo
uma lógica de homogeneidade sócio-econômica-sanitária, ou seja, é formada por
pessoas que compartilham condições de vida e risco de adoecer semelhantes. A
princípio, 6 (seis) micro-áreas foram delineadas, recebendo as denominações de
cores para facilitar o processo de territorialização: Azul, Verde, Vermelha, Laranja,
Amarela e Marrom, esta última também conhecida como Baixada, estruturada em
local de preservação ambiental no mangue às margens do Rio Cocó. A partir de
dados colhidos na comunidade ao longo dos anos de acompanhamento, mais três
áreas de risco foram demarcadas, a Rocinha, anteriormente descrita como parte da
área Amarela, mas vista atualmente como uma micro-área específica; a área de
7
invasão Chico Mendes, também conhecida como Pink e a área Lilás ou Final da
Linha, em referência à última parada do percurso de transporte urbano local
(ônibus).
A partir do conhecimento da realidade demográfica e da condição sócio-cultural
da população adstrita, obtidos por meio de visitas domiciliares, realiza-se um
planejamento estratégico situacional para execução de ações, referenciando-se nos
conceitos de promoção de saúde e princípios do SUS. As atividades domiciliares
são realizadas por alunos dos cursos de Enfermagem, Terapia Ocupacional,
Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psicologia e Odontologia.
Durante as atividades dos estágios e disciplinas da área de Saúde Coletiva, os
alunos realizam o cadastramento das famílias utilizando-se de três fichas: ficha A
(Cadastro da família), ficha B (Atenção Integrada à Saúde da Família) – ambas
baseadas no modelo de cadastramento familiar do Ministério da Saúde – e uma
ficha específica de cada área de conhecimento.
A ficha A objetiva cadastrar as famílias, abordando aspectos sócio-econômicos.
Por meio dela, são obtidos os dados de identificação de todos os membros da
família, incluindo os seus principais agravos à saúde, assim como sua ocupação, e
alfabetização. A renda familiar, a situação de moradia e de saneamento também são
questionadas nessa ficha; além de outras informações como participação em grupos
comunitários, presença de animais domésticos e meio de transporte que utilizam.
Buscando
a
interdisciplinaridade
e
atendimento
à
integralidade
das
necessidades da população adstrita, é preenchida a ficha B, que nos oferece uma
visão geral da saúde da família, por meio de questões sobre a atualização do cartão
de vacina, pré-natal das gestantes, revisão de parto das puérperas, prevenção de
câncer ginecológico, crianças
com
atraso
de
desenvolvimento, problemas
relacionados à fala, visão ou audição, permitindo assim os encaminhamentos de
suas necessidades para o NAMI e/ou para os diversos cursos, na lógica da
abordagem multidisciplinar em saúde.
A ficha específica de cada especialidade possibilita um planejamento para
ações preventivas e educativas a serem desenvolvidas nos domicílios. Para o
preenchimento da ficha específica da Odontologia, é realizado um exame de
necessidades em cada membro da família que o autorize, por uma dupla de alunos
da disciplina de EEM I.
7
As atividades preventivas em Odontologia incluem: distribuição de escovas
dentais, revelação de placa bacteriana, escovação supervisionada e aplicação de
flúor gel. Além de, cumprindo o princípio da eqüidade, encaminhar o membro mais
necessitado de cada domicílio visitado para a Clínica Integrada do Curso de
Odontologia, na qual ele será atendido pela mesma dupla que o visitou, reforçando
os vínculos entre o profissional e o paciente. Na clínica, são realizados
procedimentos de adequação como: raspagens de tártaro, profilaxias, exodontias,
curetagens para proteção do complexo dentina-polpa, abertura coronária e algumas
restaurações. Esse tipo de abordagem facilita o acesso e o fluxo do paciente nas
Clínicas da UNIFOR, respeitando o princípio da eqüidade, pois ao finalizar a
adequação o paciente é encaminhado para o Setor de Triagem para que
posteriormente sejam realizados os demais procedimentos de que necessita. Outros
encaminhamentos para o curso abrangem a prevenção do câncer bucal por meio da
disciplina de Semiologia, a confecção de próteses dentais e oculares e o
atendimento a pacientes com necessidades especiais em projetos específicos.
As atividades educativas não se restringem a temas de interesse
odontológico. De fato, os alunos são estimulados a abordarem temas de saúde
geral, dentro das necessidades encontradas em cada micro-área. Podendo-se citar
ações sobre tabagismo, alcoolismo, drogas, gravidez na adolescência, higiene
pessoal, prevenção da Dengue, da Diabete, da Hanseníase, aferição de pressão
arterial, distribuição de camisinhas, dentre outros, tanto em uma abordagem
individual quanto coletiva.
Durante o desenvolvimento destas atividades, o que mais tem chamado a
atenção é a perspectiva real de atendimento não somente às necessidades
odontológicas desta população mas conhecer sua situação geral e poder permitir ao
aluno uma aproximação com sua possibilidade de efetiva atuação enquanto
profissional de saúde. Neste sentido, procura-se estimular o aluno a perceber o
sentimento envolvido nestas relações.
Diante do exposto, o aluno de Odontologia, ao findar o Estágio Extra-Mural
I, será capaz de realizar a territorialização em ambiente comunitário, incluindo a
utilização de mapas falantes, planejando e executando ações preventivas e
educativas em saúde, conhecendo a realidade sócio-econômica e cultural das
famílias adstritas e compreendendo a importância do estabelecimento de vínculos
para promoção de saúde.
7
2.2. ESTÁGIO EXTRA-MURAL II (EEM II)
Os alunos do 10º Semestre do Curso de Odontologia da UNIFOR, dentro da
programação do Estágio Extra-Mural II, têm a oportunidade de atuar em diferentes
espaços sociais, como também preconizado pelo Ministério da Saúde, em ações
educativas e preventivas em saúde bucal direcionadas a públicos-alvos diversos
(crianças pré-escolares, escolares e idosos). O EEM II também prevê atividades
relacionadas ao conhecimento da gestão de serviços de saúde, tão necessária à
prática do futuro profissional de saúde, visando integrar os conhecimentos
adquiridos em todas as disciplinas de saúde bucal coletiva à lógica da organização
dos serviços de saúde.
2.2.1. Atenção à Saúde Bucal de Crianças e Adolescentes
Ao longo dos 10 anos de implantação do Curso de Odontologia da UNIFOR,
diversos estabelecimentos de ensino referenciados na área de abrangência do NAMI
têm sido contemplados pelo acompanhamento sistemático da saúde bucal de seus
estudantes.
Os alunos do EEM II são levados a fazer um reconhecimento dos espaços
sociais e após o levantamento de necessidades dos estudantes matriculados, traçar
um plano de ação específico para cada público-alvo, incluindo tanto ações
preventivas quanto educativas em saúde bucal. Estas últimas, dentro do enfoque
metodológico da problematização, no intuito de preparar o aluno para essa prática
em sua vida profissional.
Dessa forma, para os pré-escolares as ações podem incluir desde teatros,
fantoches e jogos sobre temas educativos de higiene pessoal e bucal, como as
ações preventivas de escovação supervisionada. A aplicação de flúor gel está
restrita às crianças com maiores necessidades, tendo em vista o risco de deglutição
do produto em menores de seis anos de idade.
Para escolares e adolescentes, amplia-se o leque de temas educativos a serem
abordados de acordo com a demanda dos próprios estudantes das escolas, como
por exemplo: drogas, DST/AIDS, métodos anticoncepcionais, entre outros. Sempre
7
trabalhados de uma forma problematizadora, visando a real mudança de atitudes e
hábitos no sujeito da ação educativa. As ações preventivas incluem: distribuição de
escovas, revelação de placa, escovação supervisionada e a aplicação de flúor gel,
de acordo com o perfil determinado para aquele estudante no levantamento de
necessidades. Assim, poderão ser previstas até 4 (quatro) sessões de aplicações de
flúor, caso o estudante apresente a necessidade de remineralização de manchas
brancas.
As crianças e adolescentes considerados de alto risco e com maior número
de lesões ativas de cárie ou necessidades de tratamento dentário são, de uma forma
eqüitativa, encaminhados para a clínica de adequação, para serem atendidas pelos
mesmos alunos os quais lhes examinaram na escola, desta forma, fortalecendo os
vínculos entre profissional-paciente.
2.2.2. Atenção à Saúde do Idoso Institucionalizado
A pirâmide populacional brasileira tem sofrido modificações na sua base tendo
em vista a redução da mortalidade infantil e das taxas de fertilidade. Os números
indicam que entre os anos de 1980 e 2000 o aumento da população geral foi na
ordem de 43%, no entanto, para o contingente de pessoas de 60 anos e mais este
aumento foi de 101% (IBGE, 2003), verificando assim uma discrepância entre o
crescimento da população idosa em relação às outras faixas etárias. No Brasil os
idosos passarão a constituir grupo cada vez mais numeroso, em termos absolutos e
relativos, exigindo recursos progressivamente mais significativos para o adequado
atendimento de suas necessidades (PEREIRA, 1995), que segundo Veras (2001),
constitui um grupo bastante diferenciado, entre si e em relação aos demais grupos
etários, tanto do ponto de vista das condições sociais, quanto dos seus aspectos
demográficos e epidemiológicos.
Nesse contexto, dentre os espaços sociais destinados a realização do Estágio
Extra Mural II, cita-se o Lar Torres de Melo, instituição dedicada a abrigar idosos de
ambos os sexos e de todas as classes sociais, uma entidade filantrópica que abriga
idosos sem distinção de classes, permitindo ao aluno do Curso de Odontologia, a
oportunidade de compreensão maior da prática de atendimento a pessoas dessa
faixa etária.
7
As atividades desenvolvidas pelos alunos do Curso de odontologia junto aos
idosos incluem:
a) ações de educação em saúde, reforçando a importância do banho de sol e
dos cuidados com uma alimentação saudável, controle de doenças como a diabete e
a hipertensão e o exercício de atividades ocupacionais e de lazer para uma melhor
qualidade de vida;
b) ações preventivas em saúde bucal, compreendendo instrução de higiene
oral, orientação reforçada para os portadores de prótese dentária. Como os idosos
recebem escova dental, oferecida pelo Estágio, é realizado o exercício de
escovação e orientação para a conservação de próteses totais e removíveis, assim
como, o cuidado de higiene oral para os desdentados totais. São ofertadas
orientações para o exame de prevenção do câncer bucal e de outros agravos a
saúde.
Para os idosos dependentes, a orientação é ofertada em conjunto com os
cuidadores dos idosos, utilizando técnica de higiene oral de acordo com a
especificidade de cada paciente no intuito de remover detritos e produtos
seborréicos, assim como, prevenir contra a candidíase.
c) no que tange as atividades curativas, inicialmente, são realizados exames ou
levantamentos epidemiológicos de necessidades, com base nas normas da
Organização Mundial de Saúde (OMS, 1999). Os pacientes identificados com lesões
cariosas, exodontias e remoção de tártaro são atendidos, pelos próprios alunos do
estágio na Clínica Integrada do curso de Odontologia para a realização de
procedimentos de adequação do meio bucal. Outrossim, aqueles pacientes
portadores de lesões bucais são encaminhados e reavaliados pelos professores da
Clínica de Semiologia da Universidade.
2.2.3. O EEM II e a gestão de serviços de saúde
Estimulados pelas transformações globais no mercado de trabalho em
decorrência, entre outros fatores, da queda de poder aquisitivo da população
brasileira, os dentistas estão buscando de modo crescente a ocupação junto ao
serviço público. De início, o cargo preferencialmente ocupado era o de clínico
tradicional, porém, com as necessidades crescentes no campo geral da saúde
7
pública a presença dos cirurgiões-dentistas atuando como gerentes de serviços de
saúde está cada vez mais requisitada.
Assim que as primeiras turmas da Odontologia da UNIFOR começaram a
colocar os egressos no mercado de trabalho estes muitas vezes retornavam aos
professores para solucionar dúvidas sobre como melhor atuar no Programa Saúde
da Família dos municípios em que trabalhavam. Com o passar do tempo, as dúvidas
e o envolvimento desses recém-formados passou a ultrapassar também o campo da
clínica e da prevenção em saúde bucal para encampar o campo multidisciplinar das
ações de saúde. Desta forma, desde o período 2003.2 o estágio passou a contar
com atividades que forneçam indicativos de gestão e organização dos serviços de
saúde, possibilitando que atualmente vários dos ex-alunos ocupem cargos de chefia
junto às Secretarias de Saúde.
Esse
crescimento
de
oportunidades
vem
associado
ao
modelo
de
financiamento e hierarquização dos serviços de saúde implantados pelo Ministério
da Saúde desde a Norma Operacional Básica de 1993 (NOB 93). Com a NOB 96 e
especialmente a Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS 2001) foi criado
um caminho para uma organização dos serviços mais aproximada dos ideais do
Sistema Único de Saúde promulgado na constituição de 1988. No Ceará, por
exemplo, a estratégia para dar mais agilidade à gestão em saúde foi agrupar os 184
municípios em 21 sistemas microrregionais e 3 macrorregiões de saúde, que seriam
responsáveis pela atenção de nível secundário e terciário respectivamente.
Para que os alunos possam se aprofundar nessas diretrizes são realizados
debates em sala de aula sobre a situação do sistema atual, observação da gestão
na prática, seja por meio do contato com gestores do nível central da Secretaria de
Estado da Saúde ou por visitas a municípios onde a gerência do serviço é
examinada juntamente com os responsáveis locais. Nas atividades foi possível
visitar os municípios de Aquiraz, Eusébio, Caucaia, Itaitinga, Maracanaú,
Maranguape e São Gonçalo do Amarante.
Depois de vivenciar essas experiências práticas e discutir a teoria, os grupos de
alunos elaboram projetos de gestão para os municípios visitados, já se preparando
para atuarem como planejadores em saúde quando se formarem.
7
É possível concluir que neste estágio, as maiores contribuições, com relação ao
aluno, tenham sido para elucidar o sentido de ser profissional, vivenciar o outro
(paciente) de maneira incomum do dia a dia da clínica e poder discutir o conceito de
cuidado à luz de referenciais construídos por meio da vivência humana.
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saúde e as suas necessárias transformações. Rio de Janeiro: UERJ, UnATI, 2001.
144p.
7
CAPÍTULO 5
A Clínica Integrada
Juliano Sartori Mendonça
Sandra Helena de Carvalho Albuquerque
Os Estágios de Clínica Integrada I e Clínica Integrada II, juntamente com os
Estágios Extramural I e II, são oferecidos para os alunos dos 9º e 10º períodos,
respectivamente, constituindo a parte final do Curso de Odontologia e são
considerados como estágios curriculares pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
e, como tais, seguem as determinações da Resolução R-028/89.
Os Estágios de Clínica Integrada I e Clínica Integrada II estão estruturados
visando à formação de cirurgião-dentista generalista, humanista, crítico e reflexivo,
para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e
científico, capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da
população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade
social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a
transformação da realidade em benefício da sociedade, conforme proposto pelas
Diretrizes Curriculares para os Cursos de Odontologia.
As atividades dos Estágios de Clínica Integrada I e II correspondem a 300
horas semestrais (20 horas semanais), incluindo o atendimento integrado de
pacientes, discussão de casos clínicos, verificação teórica, Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) e atividades nos Plantões de Urgência e Triagem.
Para tanto, as atividades clínicas propostas permitem desenvolver no aluno a
prática da clínica geral, com uma abordagem integral do paciente odontológico,
possibilitando aos alunos o exercício das diferentes áreas de conhecimento
odontológico, incluindo a preparação do ambiente de trabalho, diagnóstico,
planejamento e execução de procedimentos preventivos e terapêuticos.
Desta forma, constituem-se objetivos específicos dos Estágios de Clínica
Integrada I e Clínica Integrada II:
•
Capacitar o aluno para o diagnóstico, planejamento, elaboração e
execução de planos de tratamento e acompanhamento dos tratamentos
odontológicos que contemplem as necessidades do paciente;
8
•
Capacitar o aluno para o atendimento a quatro mãos, visando a adoção
de princípios de trabalhos ergonômicos;
•
Adquirir hábitos de trabalho em que a biossegurança seja cumprida
criteriosamente;
•
Sensibilizar o aluno para perceber a necessidade de um atendimento
que trate o indivíduo como um ser integral, considerando aspectos
afetivos, sociais e culturais;
•
Avaliar e propor alternativas de tratamento a um determinado caso
clínico;
•
Tratar o paciente como efetivo participante de seu processo de
educação, prevenção e reabilitação em saúde bucal;
A integração
O Curso de Odontologia da UNIFOR possuía uma estrutura curricular em que
as disciplinas trabalhavam os conteúdos por especialidades resultando em
fragmentação do conhecimento e sem atender às necessidades do paciente de
forma integral. Cabia aos alunos nos semestres finais tentar organizar todos esses
conhecimentos para aplicá-los de forma integrada. Era visível a insegurança com
que todos os alunos iniciavam o Estágio de Clínica Integrada, organizar toda essa
bagagem de conteúdos não era tarefa fácil e por vezes esses conhecimentos
recortados e colados formavam um ‘Frankenstein’ e o aluno tinha dificuldade de
visualizar a integralidade de todo o processo.
Verificou-se que os professores e alunos ainda persistiam em trabalhar com o
mesmo modelo fragmentado das disciplinas estanques: se o paciente tinha
necessidade de Endodontia era solicitado o professor da respectiva especialidade,
se a necessidade era restauradora o aluno requisitava o professor de Dentística
resultando que o aluno não tinha um acompanhamento integral de seu
desenvolvimento, daí iniciou-se a busca por um novo modelo que atendesse os
objetivos para formação do cirurgião-dentista generalista conforme o que está
colocado nas Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Odontologia.
Em 2003.1 começou-se a tentar um avanço na busca dessa integração: cada
professor, independente de sua especialidade, passou a ser responsável pela
orientação de um grupo de alunos em procedimentos de pequena complexidade que
8
fossem do domínio do clínico geral, a ele convencionamos chamar de professororientador. Diante de um procedimento mais complexo fora do domínio do professororientador, o especialista é consultado. Dessa forma o professor-orientador pode
acompanhar o desenvolvimento integral do aluno, estreitar o vínculo com ele
podendo perceber também outras necessidades mais sutis a serem trabalhadas
como relação ética e humanizada com o paciente ou mesmo o aspecto afetivoemocional de seus alunos.
Esse foi (e ainda é) o grande desafio da equipe docente da Clínica Integrada.
Romper com um sistema fragmentado, biologicista, tecnicista no qual todos fomos
formados era uma grande dificuldade. Foi necessário muito amadurecimento de toda
a equipe, flexibilidade para reconhecer que muitas vezes não se sabe tudo, abertura
para aprender o novo, desprendimento para deixar de lado a postura e visão de
especialista para construir um novo modelo que buscasse superar todas as
limitações do modelo em que fomos formados e continuávamos formando.
A busca por um modelo que atenda integralmente as necessidades do aluno e
do paciente ainda não se esgotou. Tal como uma onda, a equipe docente tem
aproximações e distanciamentos do modelo que supere essas distorções. A busca
leva-nos constantemente a reflexões de nossa prática, pois ensinar exige a
convicção de que a mudança é possível.
Corpo Docente e Recursos Humanos Auxiliares
O corpo docente é composto por professores das áreas de Periodontia,
Endodontia, Dentística, Cirurgia e Prótese, que formam a base da grande maioria
dos planos de tratamento em Odontologia. A definição dos professores que
compõem o corpo docente é de responsabilidade da Coordenação do Curso de
Odontologia da Universidade de Fortaleza, levando-se em consideração não
somente a formação específica dos professores em cada uma das diferentes
especialidades da Odontologia, mas sobretudo a possibilidade de formação de um
cirurgião-dentista generalista, humanista, crítico e reflexivo, conforme proposto pelas
Diretrizes Curriculares.
Dentre os professores é designado pela Coordenação do Curso de Odontologia
um coordenador para a Clínica Integrada I e outro para a Clínica Integrada II, a fim
de proporcionar uma melhor articulação e comunicação entre os vários atores e
setores envolvidos neste espaço de aprendizagem e serviço.
8
Além disso, visando proporcionar condições ideais para o desenvolvimento das
atividades clínicas, os Estágios de Clínica Integrada I e II contam com a participação
de duas atendentes, responsáveis por controlar a distribuição de materiais de
consumo e equipamentos periféricos, e de dois auxiliares de serviços gerais, que
são definidos por meio de articulação entre os coordenadores da Clínica Integrada e
a Direção Clínica do Curso de Odontologia.
Estrutura Física e Funcionamento
As atividades dos Estágios de Clínica Integrada I e II do Curso de Odontologia
da Universidade de Fortaleza são desenvolvidas em ambiente clínico próprio
(Clínica Integrada), que conta com 36 boxes com equipo odontológico, cadeira,
refletor dois mochos, dois cestos de lixo com pedal, uma pia com bancada e um
armário de apoio. O setor de distribuição de material de consumo e instrumental
comunica-se com esta clínica por meio de uma janela. Além disso, a Clínica
Integrada possui uma sala equipada com cadeira e aparelho para a tomada de
radiografias periapicais e interproximais e dispõe ainda de armário móvel equipado
para emergências.
No início de cada semestre, os coordenadores das Clínicas Integradas I e II
selecionam aleatoriamente os alunos pelos quais os professores orientadores serão
responsáveis durante o semestre. Este professor responsável tem como tarefa
direcionar e discutir a elaboração dos planejamentos e planos de tratamento, bem
como acompanhar a execução dos procedimentos durante todo o semestre. Desta
forma, Os professores orientadores são responsáveis por um grupo de oito a dez
alunos, responsabilizando-se pelas seguintes atividades:
•
Orientação de diagnóstico;
•
Orientação no planejamento e elaboração do plano de tratamento;
•
Orientação de procedimentos básicos e de adequação do meio bucal;
•
Orientação nos procedimentos de urgência;
•
Orientação de biossegurança;
•
Orientação de ergonomia;
•
Orientação na relação ética e humanizada entre o aluno e o paciente;
•
Acompanhamento da execução do plano de tratamento das áreas
específicas;
8
•
Avaliação global do aluno.
Para
procedimentos
de
maior
complexidade
em
uma
determinada
especialidade odontológica, o professor orientador solicita o auxílio do professor da
área específica quando necessário. Desta maneira, o professor da área específica
orienta o
procedimento
em comum
acordo
com
o
professor
orientador,
acompanhando a execução e discutindo o desempenho do aluno durante o
procedimento executado, o que contribui para o processo de avaliação.
O atendimento clínico aos pacientes e as demais atividades ocorrem de
segunda à sexta-feira, das 7h30min às 11h10min para a Clínica Integrada I e das
13h30min às 17h10min para a Clínica Integrada II. Os alunos realizam as atividades
em duplas, sendo o período clínico dividido preferencialmente em dois horários (AB
e CD), de forma a permitir que cada aluno da dupla possa atender o seu paciente
em um desses horários, combinado previamente entre eles. O atendimento em
dupla permite que eles trabalhem em sintonia aprendendo a delegar tarefas e
reconhecer a importância do auxiliar dentro da equipe de saúde, acompanhem
simultaneamente o atendimento de um caso, planejem juntos o tratamento para o
paciente e desempenhando a função de auxiliar, acumulem experiência para eles
próprios treinarem seu pessoal auxiliar.
Como ocorre na maioria dos Cursos de Odontologia, os pacientes atendidos
nos Estágios de Clínica Integrada I e II apresentam-se com as mais diversas
combinações de necessidade de tratamento. A utilização do Sistema de Informações
Acadêmicas (SIA), que possui os perfis de necessidade de tratamento de cada
paciente, permite escolher a combinação que mais interessa ao aprendizado de
determinado aluno em um dado momento. Desta forma, além de proporcionar uma
atuação integrada das diferentes especialidades da Odontologia e oferecer aos
alunos a oportunidade de atuação com os perfis mais complexos, exercitando assim
a capacidade de planejar e executar os mais diversos tratamentos, pode-se também
reforçar alguma área específica em que o aluno venha demonstrando dificuldade,
otimizando o aproveitamento do corpo docente.
Planejamento e Plano de tratamento
Após requisição e agendamento dos pacientes por meio do Sistema de
Informações Acadêmicas (SIA), o aluno realiza a anamnese, exame clínico e
exames complementares. Constatadas as necessidades de tratamento, executa-se
8
então um planejamento, baseado nestas necessidades. Em seguida é elaborado um
plano de tratamento sessão a sessão, que vai orientar o aluno a cada atendimento.
Para o planejamento e elaboração dos planos de tratamento, são realizadas as
Oficinas de Planos de Tratamento, nas quais os alunos se reúnem e discutem o
caso com seu professor orientador e demais professores que compõem o corpo
docente, a fim de se avaliar e propor as diferentes alternativas para resolução das
necessidades de tratamento odontológico de cada paciente.
Posteriormente, os alunos esclarecem aos pacientes e/ou acompanhantes as
possibilidades de tratamento, explicando cada procedimento proposto em linguagem
acessível. Desta maneira, aluno e paciente discutem e, finalmente, estabelecem o
plano de tratamento a ser executado, levando-se em consideração a autonomia e a
condição sócio-econômica e cultural do paciente, a fim de promover uma maior
participação durante o tratamento. Da mesma forma, qualquer alteração que ocorra
no plano de tratamento previamente estabelecido é comunicada ao paciente,
explicando-lhe o que a causou e quais as novas possibilidades e perspectivas.
Determinado o plano de tratamento, todos procedimentos clínicos executados
são registrados nos prontuários dos pacientes e no Sistema de Informações
Acadêmicas
(SIA).
Quando
os
tratamentos
executados
são
lançados,
automaticamente os perfis que foram tratados são eliminados daquele paciente,
auxiliando o acompanhamento da história de tratamento dos pacientes.
A quantidade de pacientes a serem atendidos por cada um dos alunos é
estabelecida pelos professores orientadores, cabendo aos alunos buscar a dar alta a
todos os pacientes sob sua responsabilidade, procurando dar resolução às
necessidades dos pacientes, conforme seu perfil clínico, não havendo a
obrigatoriedade de cumprimento de uma produção mínima em cada uma das áreas
do conhecimento odontológico.
Discussão de Casos Clínicos
Durante o semestre são planejados momentos em sala de aula, visando a
promoção de discussões de situações e problemas recorrentes nas atividades
clínicas, em que para sua resolução, exija a necessidade da participação das
diferentes áreas do conhecimento odontológico. Inicialmente, o corpo docente se
responsabiliza pela eleição das situações clínicas, normalmente documentadas em
semestres anteriores, e pela condução da discussão dos casos clínicos. Ao final do
8
semestre, os alunos apresentam em forma de seminários os casos realizados que
foram selecionados e documentados pelos professores durante o período letivo.
Juntamente com a Oficina de Planos de Tratamento, a Discussão de Casos
Clínicos se constitui como importante ferramenta durante o processo ensinoaprendizagem dos Estágios de Clínica Integrada I e II, uma vez que a discussão
coletiva, entre professores e alunos, de situações vivenciadas na clínica, possibilita a
implementação de uma filosofia de tratamento com base no rigor técnico-científico,
assegurando padrões de qualidade, e respeito aos princípios éticos, sensibilizando o
aluno quanto à necessidade de um atendimento integral ao paciente considerando
aspectos afetivos, sociais e culturais.
Plantão de Triagem
Todos os pacientes que pleiteiam tratamento odontológico nas clínicas do
Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza passam obrigatoriamente pelo
Setor de Triagem, sendo que o número e horário de atendimento dos pacientes são
previamente agendados.
Durante o período letivo, os alunos das Clínicas Integradas I e II participam
obrigatoriamente do atendimento no Setor de Triagem, cumprindo o horário de
funcionamento conforme escala estabelecida no início do semestre.
Os alunos escalados ficam à disposição do Setor de Triagem durante toda a
semana em que forem escalados e durante estes atendimentos, os alunos têm seus
desempenhos avaliados pelos professores responsáveis pelo Setor de Triagem.
Na impossibilidade de comparecimento no dia que estiver escalado, o aluno
deve, antecipadamente, providenciar um substituto, trocando com este o seu dia de
atendimento no Setor de Triagem, devendo tal substituição ser comunicada,
previamente, à Coordenação das Clínicas Integradas I e II.
Plantão de Urgência Odontológica
A Urgência Odontológica é um serviço oferecido de segunda a sexta-feira nos
períodos da manhã e tarde das 07h00min às 11h00min e das 13h00 às 17h00.
Compete aos alunos do último período que tratam pacientes prioritariamente com
diagnóstico de pulpites, fraturas, pericementites, abscessos, DTM, pericoronarite. No
plantão de urgência o aluno pode experienciar com mais facilidade o diagnóstico e
tratamento imediato para o alívio das dores da cavidade bucal. Este é um relevante
8
serviço prestado à comunidade, visto que poucos serviços prestam gratuitamente o
atendimento de urgência odontológica.
Ao chegar, o paciente é abordado por uma assistente social que organiza os
casos por prioridade de atendimento, considerando necessidades especiais e
aspectos subjetivos da dor. Após o cadastro na recepção o paciente flui para o
plantão de Triagem a fim de constatar se o caso é realmente de urgência, pois
muitas pessoas têm necessidade de pronto atendimento e buscam a satisfação
dessa necessidade na urgência. Não se tratando de um procedimento de urgência, o
paciente é devidamente orientado a procurar outros serviços ou agendado Triagem,
havendo vaga disponível, para aguardar tratamento.
Os atendimentos de urgência e triagem ocorrem normalmente no período de
férias garantindo a continuidade do atendimento. Nesses períodos, os alunos da
Clínica Integrada I realizam o atendimento no Plantão de Urgência e no Setor de
Triagem e Radiologia, conforme escala estabelecida pela Coordenação das Clínicas
Integradas, permitindo o fluxo contínuo desses serviços à população.
A Clínica de Adequação
A Clínica de Adequação surgiu de uma necessidade observada pelos alunos e
professores que realizavam a visita domiciliar na comunidade do Dendê, como parte
das atividades curriculares do Estágio Extra-Mural I, que também são alunos da
Clínica Integrada. Durante as visitas era grande o número pessoas de que
necessitavam de atendimento odontológico e esse paciente não fluía naturalmente
para o Curso de Odontologia, isso criava uma frustração no aluno que havia
diagnosticado uma situação de doença e tinha meios para limitar o dado, no entanto,
esbarrava em alguns entraves operacionais e o paciente visitado seguia com sua
lamentação e com o quadro tendo sua severidade agravada.
Desde 2003.1 esse fluxo mudou: o aluno que realizava a visita domiciliar e
diagnosticava necessidade de tratamento, passou a agendar esse paciente para ele
mesmo atender na Clínica Integrada, permitindo uma integração das atividades da
Clínica com o Estágio Extra-Mural. O paciente é atendido numa proposta de
adequação da cavidade bucal e é trabalhada uma proposta para que o paciente se
compreenda como sujeito de seu processo de cura. Dessa forma o aluno é
responsável integralmente pelas ações de saúde daquela família acompanhando
8
inclusive todo o impacto que as ações de saúde têm no lar dessas pessoas e
estreitando o vínculo do profissional com a família.
Na Clínica de Adequação são realizados procedimentos que visem o preparo
da cavidade bucal para o atendimento posterior, dessa forma são realizados
procedimentos de:
•selamento provisório de cavidade,
•abertura endodôntica,
•remoção de tártaro supragengival,
•remoção de raízes residuais
•restaurações de pequena complexidade
Finalizada a adequação, o paciente é encaminhado ao setor responsável para
a realização da Triagem ou agendamento para uma data posterior a fim de que seja
dada continuidade ao restante do tratamento.
É importante ressaltar que todas as pessoas atendidas pela clínica de
adequação são oriundas da Comunidade do Dendê, que têm um perfil sócioecomômico muito baixo, o que acaba expondo essa comunidade a uma série de
fatores de adoecimento. A Clínica de adequação foi pensada para atender
fundamentalmente o princípio da eqüidade e justiça preconizado pelo Sistema Único
de Saúde.
Avaliação
Os alunos têm sua prática avaliada diariamente segundo Aspectos Gerais do
atendimento em que é avaliado o desempenho da dupla contemplando aspectos de
Organização e planejamento, Biossegurança, trabalho a 4 mãos e cuidado e
atenção durante o atendimento, e são avaliados individualmente pelo resultado do
procedimento realizado, nas categorias satisfatório, regular ou não satisfatório
registrados numa planilha própria para este fim. Tais avaliações culminam com
notas que são divulgadas mensalmente. Mas, o mais relevante da avaliação é a
capacidade de poder considerar o aspecto progressivo da aquisição de aprendizado
e autonomia, dessa forma, se o aluno que tinha deficiência em determinado
procedimento buscou superá-lo, na avaliação é considerado este aspecto e não a
simples média de notas diárias. Os professores são orientados a periodicamente
reunirem –se com seus orientandos para deixar claro quais aspectos necessitam de
8
aperfeiçoamento, e de como foi construída sua nota mensal. Essa clareza na
construção da nota tem sido um aspecto de impacto muito positivo relatados pelos
alunos pois lhes dá a clareza de suas limitações e a nota deixa de ser usada como
um instrumento de poder e punição.
Os sentimentos
Os semestres finais são recheados de sentimentos e emoções extremamente
opostas: felicidade por chegar ao último ano, insegurança por ter que adquirir mais
autonomia no tratamento do paciente, vitória por concluir o curso, angústia por ter
que iniciar uma caminhada para se inserir no mercado de trabalho... Esse carrossel
de emoções deixa o aluno confuso e tem reflexo no seu aprendizado e no
desempenho clínico. Começam a se questionar ‘E se aparecer algum problema no
atendimento, como vou resolver ?’ ‘Eu não sei fazer isso sozinho.’, ‘E agora que
acabei o curso, pra onde eu vou?’
Resolvemos então procurar administrar essas emoções para que elas tivessem
uma proposta pedagógica: aprender a conviver com conflitos. Foram identificados os
alunos que percebemos com maior dificuldade e junto com o professor orientador
procurou-se discutir com eles os aspectos que mais o incomodavam, possibilidades
de solução, objetivos a curto e longo prazo e vínculos estabelecidos. Com o apoio
da Comissão de Humanização, é realizado um momento de culminância em que são
planejadas vivências sobre as questões expostas, com o objetivo de fazer com que
o aluno perceba que aquele momento de dificuldade é transitório e é necessário
descobrir um equilíbrio para buscar o caminho que mais satisfaça as necessidades
individuais.
O modelo integrado é uma construção diária de professores, alunos e
funcionários, numa proposta de aprendizado mútuo, em que as relações e o diálogo
são instrumentos indispensáveis para alcançar o plano proposto, exercitando a
flexibilidade para reconhecimento de limitações, abertura para apropriação de novos
conhecimentos e atitudes e uma profunda reflexão crítica sobre a prática de ser
educador.
8
CAPÍTULO 6
Controle de Infecção no Curso de Odontologia da
Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
Danilo Lopes Ferreira Lima
Dilene Maria de Araújo Façanha
Aminthas Alves Brasil Neto
Elilton Cavalcante Pinheiro Júnior
Solange Kátia Saito Fernandes
Luiz Roberto Augusto Noro
1. INTRODUÇÃO
A década de 80 notabilizou-se pelo aparecimento da Síndrome da Deficiência
Imunológica Adquirida (AIDS), o que levou os profissionais da área de saúde a
reverem todos os seus conceitos que se referiam à proteção individual e à proteção
de seus pacientes (BRASIL, 2000). Reflexo deste problema e considerando os
danos que a infecção hospitalar podem causar, o Ministério da Saúde (BRASIL,
1983), por meio da Portaria 196, de 24 de junho de 1983, condiciona o
funcionamento de qualquer hospital à implementação em suas dependências, de
uma comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH).
Entre os elementos propostos nas atividades das CCIHs estão as sugestões de
medidas que resultem na prevenção ou redução das infecções hospitalares, a
normatização para implantação destas medidas e o treinamento do pessoal
envolvido. Assim, o objetivo maior de um programa de controle de infecção
hospitalar (BRASIL, 1987) deve ser o de reduzir a agressão diagnóstica e
terapêutica ao paciente, expondo-o a um ambiente tão pobre de microrganismos
quanto aquele a que seria exposto fora do hospital.
Estas Comissões permitiram uma série de avanços nas discussões relativas
aos cuidados necessários visando a proteção do paciente e dos profissionais nos
serviços de saúde, em decorrência dos riscos representados por procedimentos
operatórios que envolvessem áreas de potencial infeccioso. Na realidade, esta
discussão extrapolou os hospitais e permitiu que outros serviços de saúde, em
9
especial os odontológicos, desenvolvessem farto material didático visando a
formação de profissionais de saúde mais preparados para enfrentamento destes
problemas, assim como apresentassem serviços que representassem o menor risco
possível ao paciente.
Em decorrência destas necessidades, é publicado pelo Ministério da Saúde
(BRASIL, 1987, 1994, 1996, 2000) vasto material que vai servir de referencial teórico
visando instrumentalizar os serviços de saúde e seus profissionais na busca nos
níveis mais baixos de infecção possível. Sabe-se que os componentes da equipe
odontológica (BRASIL, 1994) estão sob risco constante de adquirir doenças no
exercício de suas funções, sendo responsabilidade do cirurgião-dentista a
orientação da equipe e a manutenção do controle de infecção na prática
odontológica.
Na área da odontologia, o Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de
Saúde do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1995) emite o primeiro instrumento
legal que detalha as condições ideais de trabalho relacionadas ao controle de
doenças
transmissíveis
em
estabelecimentos
de
assistência
odontológica,
permitindo a atuação de forma efetiva das equipes de vigilância sanitária na garantia
de mecanismos adequados para funcionamento deste tipo de estabelecimento.
Este conjunto de procedimentos que visa dar segurança e proteção ao paciente
e aos profissionais que atuam dentro de ambientes passíveis de contaminação
microbiana conhecido como biossegurança (OPPERMAN, 2003) é um processo
operacional de fundamental importância em serviços de saúde, não só por abordar
medidas de controle de infecções, mas por ter um papel fundamental na promoção
da consciência sanitária, na comunidade onde atua, da importância da preservação
do meio ambiente na manipulação e no descarte de resíduos químicos, tóxicos e
infectantes e da redução geral de riscos à saúde e acidentes ocupacionais.
2. O CONTROLE DE INFECÇÃO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA
UNIFOR
9
Criado em 1995, o Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza
(UNIFOR) teve como preocupação primeira a conduta exemplar no que se refere à
proteção daqueles que utilizam as dependências do curso, sejam eles professores,
alunos, funcionários ou pacientes. Além de preparar o aluno por meio da melhor
formação possível nos aspectos técnicos relacionados à prática odontológica, o
Curso de Odontologia da UNIFOR sempre primou em evidenciar os cuidados com
seus pacientes e com eles próprios, por meio da prevenção das infecções que
cercam o ambiente da clínica odontológica.
Com o objetivo de servir de articulador entre todos aqueles que atuam dentro
das dependências do Curso de Odontologia, bem como de gerir programas que
venham sempre buscar o aprimoramento e a atualização sobre prevenção de
infecções buscando o respeito pelo próximo na realização desta prática, foi criada no
dia 12 de fevereiro de 1998 a Comissão de Controle de Infecção do Curso de
Odontologia (CCICO) da UNIFOR, ficando normatizado que esta comissão se
reuniria ordinariamente uma vez ao mês e teria como membros efetivos, uma
enfermeira, um representante dos funcionários, um representante dos alunos e um
representante dos professores. Esta comissão é regida pela resolução n. 003/98 de
12 de Fevereiro de 1998. Muitas atividades têm sido desenvolvidas pela Comissão
de Controle de Infecção desde a sua implantação, como: aulas teórico-práticas para
os alunos que iniciam o atendimento clínico, atualização para professores recém
admitidos e aos demais alunos que já estão em atendimento clínico; campanhas de
conscientização sobre uso de equipamento de proteção individual (luva, máscara,
gorro, avental, óculos protetor), uso correto de filme protetor de superfícies, a não
utilização de anéis, relógios etc. durante o atendimento clínico, a prevenção de
acidentes com materiais pérfuro-cortantes, a limpeza, desinfecção e esterilização
correta dos kits de canetas de alta e baixa rotação e o incentivo a vacinação como
método de prevenção de doenças infecto-contagiosas. Também foi instituída a
notificação de acidentes ocupacionais dentro do Curso de Odontologia com o
objetivo de se ter dados concretos e de se obter as reais causas com relação a este
importante problema, buscando o correto encaminhamento para um hospital de
referência e acima de tudo, a prevenção. A Comissão também divulga o seu
trabalho em jornadas acadêmicas por meio da montagem de mesa clínica,
apresentação de trabalho e premiações. Outro avanço obtido pela CCICO-UNIFOR
9
foi a classificação do lixo visando a reciclagem, já que a demanda de papel utilizado
no Curso é muito grande.
Uma importante característica desta comissão é a mudança constante de
membros a cada mandato de um ano, sendo permitida a reeleição, para que todos
pudessem ter a oportunidade de participar deste importante trabalho dentro do
Curso. Desde então vários professores, funcionários e alunos se revezaram nesta
função e isto fez com que o programa de Controle de Infecção existente no Curso de
Odontologia da UNIFOR fosse reconhecido até mesmo fora do Estado do Ceará,
sendo visitado por representantes de diversos cursos de Odontologia espalhados
pelo país, para servir de espelho na implantação e implementação de seus
programas de controle de infecção em Odontologia.
Outra grande conquista dos avanços obtidos a partir do trabalho desenvolvido
pela CCIO foi a confecção do “Manual de Normas e Rotinas de Atendimento Clínico
no Curso de odontologia da UNIFOR” que tem como objetivo (Stefani et al, 2004)
nortear o atendimento clínico no Curso de Odontologia da UNIFOR, quanto ao
funcionamento das clínicas, o controle de infecção, a segurança e o conforto no
trabalho. Este manual é entregue a cada aluno para que observe a conduta a ser
tomada por eles dentro dos laboratórios e clínicas e está em constante revisão e
atualização para que estejamos sempre em dia com as descobertas e novas ações
nesta área.
3. NORMAS E ROTINAS PARA O ATENDIMENTO CLÍNICO NO CURSO DE
ODONTOLOGIA
O Curso de Odontologia da UNIFOR conta com duas clínicas que possuem ao
todo 100 boxes equipados com equipo odontológico, cadeira, refletor, dois mochos,
dois cestos de lixo, uma pia com bancada e um armário para apoio. A clínica
multidisciplinar possui 64 boxes e dois pontos de apoio radiográfico e a clínica
integrada possui 36 boxes e um ponto de apoio radiográfico, estando esta última
9
anexa ao laboratório de radiologia. Existem ainda mais três laboratórios e um centro
cirúrgico para cirurgias eletivas.
Na realização do atendimento, cada aluno deve seguir um rigoroso protocolo de
biossegurança, começando por sua vestimenta que consta de uniforme branco e
sapatos apropriados. No momento do atendimento o aluno deverá estar
paramentado com jaleco padronizado, gorro ou touca, máscara, óculos de proteção
e luvas. O paciente também recebe barreiras de proteção que constam de óculos de
proteção, touca, babador impermeável e guardanapo, sendo estes três últimos
descartáveis.
Porém, para chegar ao atendimento um caminho deve ser trilhado. Tudo se
inicia com o preparo e empacotamento do material para esterilizar. O aluno recebe o
papel grau cirúrgico com filme na Central de Materiais e Esterilização (CME), nos
quais os instrumentais limpos e secos devem ser colocados, seguido da selagem
deste papel em máquina seladora automática. Uma técnica para empacotamento
que também pode ser utilizada é a do envelope, em que duas folhas de grau
cirúrgico sem filme as quais são cuidadosamente dobradas, na forma de um
envelope. Após o empacotamento, os instrumentais são identificados com etiquetas
específicas e em seguida são entregues para a esterilização em autoclave a vapor
na Central de Material e Esterilização (CME). Na identificação do instrumental do
aluno consta uma numeração própria, já que dentro da CME cada aluno possui um
nicho para guarda e controle da esterilização de seus instrumentais, para que assim
possa ser supervisionado esse processo e mantida a qualidade da esterilização
desses materiais.
A esterilização é realizada em autoclaves a vapor saturado sob pressão,
máquinas de grande capacidade que trabalham a 121 0C em 1 atmosfera durante 20
minutos para materiais termo-sensíveis (vidros, plástico e borracha) ou a 132 0C,
com 2 atmosfera durante 6 minutos para materiais termo-resistentes (instrumentais
de aço inox, campos cirúrgicos, gaze, algodão, kits de alta e baixa rotação). Este
processo é recomendável uma vez que destrói todas as formas de vida microbiana,
vegetativa ou esporulada. As autoclaves do curso passam diariamente por testes
biológicos com incubadora de leitura rápida e testes químicos (integrador, Bowie
Dick e fita teste em todos os pacotes e/ou teste químico de pacote), bem como a
9
manutenção preventiva periódica de todas as máquinas, treinamento e reciclagem
dos funcionários que trabalham no setor, para uma maior qualidade desse processo.
Assim, nunca deve-se desinfetar aquilo que pode-se esterilizar.
Dentro da Central de Materiais e Esterilização existe um local chamado de sala
de recepção e expurgo, que recebe o material contaminado utilizado nas clínicas
pelos professores. Dentro desta sala ocorre a limpeza com solução enzimática,
enxágüe com água corrente, lubrificação apropriada e secagem do instrumental. Da
sala de expurgo o material segue para o setor de seleção e preparo de materiais, no
qual ocorre a classificação dos materiais em sensíveis e resistentes. Após a
classificação, faz-se a proteção das pontas dos instrumentos pérfuro-cortantes,
segue com o empacotamento e identificação para serem distribuídos em cestas
aramadas. Todo material vai em seguida em carro transporte para a sala de
esterilização, onde é realizada a autoclavagem.
O material do aluno é recebido, na sala de recepção e expurgo, devidamente
limpo, embalado e identificado onde serão inspecionados e conferidos, sendo
encaminhados também para o setor de seleção e preparo de materiais, onde
passam pela segunda inspeção e são selecionados em cestos aramados para então
serem encaminhados para a esterilização. Após a esterilização, o instrumental vai
para a sala de guarda e distribuição, sendo armazenados nos nichos numerados
pertencentes a cada aluno. Nesta mesma sala, que possui janela de distribuição que
é de acesso pelo interior da clínica, é realizada a entrega do material esterilizado
aos professores, alunos e funcionários. O aluno antes de receber o instrumental
estéril, já deve ter preparado o seu consultório para o atendimento clínico colocando
as barreiras de proteção (filme de PVC) nas cadeiras, equipos, refletores e
cuspideiras, utilizando também a paramentação individual anteriormente descrita,
além de receber os materiais de consumo em carro suporte de distribuição dentro da
clínica, antes de iniciar o atendimento ao paciente. Após o atendimento, haverá a
desmontagem do consultório, que ocorre com a remoção das barreiras de proteção,
e o aluno deverá estar devidamente paramentado com a proteção de luvas. Os
materiais pérfuro-cortantes utilizados são descartados em caixas apropriadas e/ou
incinerados e o instrumental utilizado deve ser colocado em depósito com solução
de detergente enzimático, sendo alguns instrumentos levados ao ultra-som. Após 15
minutos imersos na solução enzimática é efetuada a escovação e em seguida o
9
enxágüe com água corrente. Para esse procedimento de limpeza dos instrumentais
é necessário o uso de óculos de proteção, gorro, máscara, avental impermeável e
luvas grossas de cano longo específicas para tal.
Outro grande desafio de qualquer Comissão de Controle de Infecção está na
prevenção de acidentes, principalmente por instrumentos pérfuro-cortantes. Na
busca da redução sempre maior deste tipo de acidente a CCICO-UNIFOR vem,
constantemente, realizando campanhas entre os alunos conscientizando sobre o
problema que, na grande maioria das vezes, ocorre com agulhas. Para tanto, as
clínicas possuem incineradores de agulhas e extratores de canhão, evitando assim,
o reencapamento de agulhas ou a retirada destas com os dedos. Outra opção de
descarte são as caixas para instrumentos pérfuro-cortantes distribuídas em vários
pontos das clínicas, com o objetivo de haver o mínimo deslocamento dos alunos
para estes depósitos. Uma vez ocorrendo algum tipo de acidente com instrumentos
pérfuro-cortantes, o acidentado deve seguir um protocolo de atendimento que é
elogiado por aqueles que trabalham no hospital de referência de doenças infectocontagiosas do Estado do Ceará, o Hospital São José. Este protocolo consta de:
- Estimulação espontânea do sangramento da ferida sem espremer;
- Lavar com água corrente e sabão anti-séptico líquido;
- Realizar anti-sepsia com iodo-povidona a 1% ou clohexidina (em caso de
alergia ao iodo);
- Se necessário, fazer curativo com gaze estéril, fita micropore, esparadrapo, ou
proceder com sutura;
- Preencher ficha de Comunicação Interna de Acidente de Trabalho em 3 vias;
- Encaminhar o acidentado ao Hospital São José, juntamente com a 2a via da
ficha de acidentes (na maioria dos casos).
- Exames a serem realizados: Paciente/fonte; Aluno acidentado.
- Acompanhamento sorológico após 6 semanas, 3 meses, 6 meses e 12
meses.
9
Todos os acidentes ocupacionais ocorridos estão notificados e arquivados para
controle da CCICO-UNIFOR.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Implantar normas é, em geral, algo desafiador considerando a dificuldade de,
muitas vezes, as pessoas não reconhecerem a importância e pertinência das
mesmas. Quando exigem rigor e precisão, como é o caso do controle de infecção
em serviços de saúde, esta dificuldade é ainda maior. E, quando devem ser
seguidas por pessoas com diferentes inserções (alunos, professores e funcionários)
em instituição de ensino superior, onde o serviço é complementar às ações de
ensino, este desafio ganha uma característica ainda mais sutil: colocar todos os
participantes como co-responsáveis num processo onde cada um dos atores
desempenhará papéis diferentes mas que terão que ter uma mesma prática e
postura numa determinada atividade.
Sabe-se que o controle de infecção é um processo progressivo e contínuo,
devendo constantemente ser atualizado e supervisionado para se garantir padrões
adequados de qualidade. Ao longo destes 10 anos do Curso de Odontologia da
UNIFOR, apesar de todas as dificuldades para desenvolvimento em harmonia das
normas e rotinas, o marco das ações de controle de infecção tem sido o
reconhecimento por parte de todos da necessidade e urgência no pleno
desenvolvimento destas atividades.
O que se prega é que estas atividades não devem por em risco qualquer um
dos participantes do processo terapêutico, permitindo que a satisfação obtida pelo
paciente, com seu novo sorriso, pelo funcionário, no oferecimento de material em
perfeitas condições, pelo aluno, com seu novo aprendizado e pelo professor, na
sensação do dever cumprido na formação do aluno, não sejam minimizados por
processos infecciosos preveníveis na prática odontológica.
9
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BRASIL. Ministério da Saúde. Hepatites, AIDS e herpes na prática odontológica. 1a.
ed. Brasília, Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de Doenças
Sexualmente Transmissíveis/AIDS. 1994. 56p.
BRASIL. Ministério da Saúde.
Processamento de Artigos e Superfícies em
Estabelecimento de Saúde. 2a. ed. Brasília, Secretaria de Assistência à Saúde.
Dep. Ass. e Prom. de Saúde. Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar.
1994. 50p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 196, de 24 de junho de 1983. Brasília, 1983.
BRASIL.
Ministério
da
Saúde,
Secretaria
Nacional
de
Organização
e
Desenvolvimento de serviços de saúde. Manual de Controle de Infecção Hospitalar.
Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1987. 122 p.
BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Coordenação
Nacional de DST e Aids. Controle de infecções e a prática odontológica em tempos
de Aids: manual de condutas. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.
OPPERMAN, C. M. Manual de biossegurança para serviços de saúde. Porto Alegre:
PMPA/SMS/CGVS, 2003. p. 80
SÃO PAULO. CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. PORTARIA CVS Nº 11, DE
04/07/1995 - Dispõe sobre condições ideais de trabalho relacionadas ao controle de
doenças transmissíveis em estabelecimentos de assistência odontológica.São
Paulo, 1995.
STEFANI, C.M.; ARAÚJO, D.M.; ALBUQUERQUE, S.H.C. Normas e rotinas para o
atendimento clínico no Curso de odontologia da UNIFOR. Fortaleza: Universidade
de Fortaleza, 2004. 82p.: il.
TAGLIAVINI, R. L. Prevenção de doenças ocupacionais em odontologia, São Paulo,
1998.
9
CAPÍTULO 7
Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de Odontologia –
SIA/ODONTO
Karol Silva de Moura
Eveline Turatti
Lívia Belchior Gomes de Matos
José Leitão de Castro Feitosa
José Raimundo Matos Miranda
INTRODUÇÃO
As discussões inerentes a este capítulo são pertinentes ao processo de
implantação e gerenciamento do Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de
Odontologia da Universidade de Fortaleza – SIA/ODONTO/UNIFOR.
A década de 70 coloca-se como marco importante, a partir do qual as
empresas, serviços e, mais recentemente as universidades, passaram a investir em
uma forma organizada e integrada de agilizar seus processos de trabalho, tendo
como referência as contribuições da tecnologia da informação e das políticas de
otimização de recursos na construção de um referencial de excelência no processo
de gestão acadêmica.
Nosso objetivo é oportunizar a diferentes segmentos da área acadêmica o
conhecimento da experiência vivenciada com as rotinas de gerenciamento do
SIA/ODONTO, enfocando desde o levantamento de necessidades realizado para
sua instalação; a estrutura operacional de elaboração; as estratégias de implantação
adotadas; as rotinas de monitoramento, às contribuições do SIA na gestão
acadêmica do Curso de Odontologia, considerando as diferentes categorias de
usuários representados pelos alunos, professores e funcionários.
SISTEMAS DE
CONCEITUAIS.
INFORMAÇÕES:
ALGUMAS
CONTRIBUIÇÕES
TEÓRICAS
Define-se como um sistema de informações gerenciais – SIG uma estrutura
de pessoas, máquinas e procedimentos destinados à geração de um fluxo de
informações, podendo estas serem internas ou externas à organização, para uso no
9
processo de decisão, nos mais diversos níveis hierárquicos da organização
(OLIVEIRA, 1999). Seus principais objetivos são: i) dar suporte ao corpo gerencial
para a tomada de decisões, gerando informações no tempo em que elas são úteis;
ii) melhorar o desempenho de todas os envolvidos no SIG de modo que todas as
atividades da organização possam estar interligadas.
O conceito de sistema de informações gerenciais, em outras áreas
(computação, informática, etc.) consiste de uma ferramenta de software que, a partir
de informações ou dados preliminares, realiza uma análise e sugere a tomada de
uma decisão, a qual deverá ser analisada pelas pessoas responsáveis por este
processo.
No contexto atual, considera-se o SIA um sistema de apoio à decisão em
processos gerenciais, classificado como OLTP(Processos de transação on-line).
Quando uma organização decide trabalhar com um sistema de informações,
deve analisar a relevância quanto aos objetivos e metas desejadas e que grau de
importância ele exercerá no processo de tomada decisorial. É necessário distinguir
quais as informações o sistema deve disponibilizar, identificando também os
objetivos de cada setor e necessidades dos usuários que farão uso da ferramenta e
dos dados disponibilizados pelo sistema, nos seus diferentes níveis de
funcionalidade dentro da organização (CRUZ, 2002).
O Curso de Odontologia da UNIFOR possui uma estrutura organizacional
vinculada ao Centro de Ciências da Saúde – CCS e à Vice Reitoria de Graduação –
VRG, sendo composto pelos seguintes setores:
• Administrativos: coordenação, secretaria do curso, sala técnica e
administrativa;
• Clínicos: clínica de triagem, clínica de radiologia, clínica multidisciplinar e
clínica integrada;
• Acolhimento: recepção e serviço social;
• Central de Material de Esterilização - CME.
Nestes setores estão distribuídos os usuários do sistema de informações
acadêmicas, ou seja, alunos, professores e funcionários.
Ressalta-se, no entanto, que na atual fase de aplicabilidade do SIA/ODONTO,
os setores aos quais o sistema encontra-se interligado operacionalmente resumemse aos setores administrativos, mas especificamente a coordenação, clínicos e de
1
acolhimento, que estabelecem uma interface direta com o fluxo de pacientes
atendidos no Curso. Deste modo faz parte do Plano de Metas do Curso de
Odontologia a extensão do SIA à CME após a expansão de sua atual estrutura
física.
O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO SIA – HISTÓRICO
Criado em 1995, o Curso de Odontologia, a partir do início de suas atividades
veio apresentando uma demanda crescente de busca da população pelos serviços
originalmente planejados a serem prestados à comunidade.
Nesta perspectiva, vislumbrou-se a necessidade de se criar um Sistema de
Informações Acadêmicas, que fosse capaz de facilitar e otimizar o gerenciamento do
fluxo de pacientes de modo integrado ao processo de formação do aluno de
odontologia, ou seja, integrando a demanda social da coletividade às habilidades e
competências adquiridas pelo aluno de acordo com seu estágio de formação. Ao
mesmo tempo, como previsto no Currículo Mínimo para os Cursos de Odontologia,
pudesse trazer algumas contribuições práticas à compreensão do processo de
gerenciamento e administração de recursos, ressaltando elementos importantes no
percurso de aprendizagem dos alunos, como: o trabalho em equipe, o impacto, no
planejamento, da consolidação das redes de informação e a importância da
construção de indicadores epidemiológicos, sociais e operacionais que sirvam de
subsídios ao planejamento, monitoramento e avaliação dos serviços prestados,
consolidando uma prática fundamentada nos princípios éticos que norteiam a busca
por um acolhimento de qualidade à clientela.
O Sistema de Informações Acadêmicas foi inicialmente desenvolvido por uma
equipe formada por professores do Curso de Odontologia em parceria com a
Gerência de Tecnologia da Informação – GTI da UNIFOR. Esta parceria se fez
essencial para que as reais necessidades do curso pudessem ser traduzidas e
codificadas na linguagem de sistema.
Vale salientar o incentivo da equipe de coordenação do curso, neste período,
como mentor da proposta inicial e motivadora da busca de outras experiências no
âmbito acadêmico, em processo de informatização de fluxos gerenciais, que
pudessem servir de referência à elaboração da estrutura operacional do SIA. Nesta
perspectiva foi visitada a Faculdade de Piracicaba de Odontologia da Universidade
1
de Campinas, cujo modelo de informatização proporcionou o conhecimento de
alguns importantes elementos operacionais e gerenciais.
No segundo semestre de 1999, foi implantada sua primeira versão, na
perspectiva de um funcionamento piloto para identificação e implementação dos
ajustes necessários. A fase piloto teve uma duração de um ano consolidando-se a
partir daí a versão operacional implantada em 2000, a qual foi desenvolvida
utilizando-se da ferramenta Develop2000, da Oracle, baseada na arquitetura ClienteServidor. Atualmente o sistema encontra-se em sua segunda versão.
Desde então, o sistema vem tendo um constante estímulo, da atual equipe de
coordenação, e incorporando um conjunto de novas funcionalidades, requeridas ao
bom funcionamento do Curso de Odontologia da UNIFOR. Dentre as mais
significativas, podem ser citadas melhorias em sua usabilidade, facilitando o acesso
a rotinas mais freqüentemente utilizadas e tornando as interfaces (telas) do sistema
mais amigáveis. Esta é uma característica importante dado que quase sempre os
usuários não possuem formação na área de tecnologia da informação.
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
O desenvolvimento do SIA se deu de acordo com as etapas a seguir,
consideradas padrão em todo processo de criação, implantação e acompanhamento
de Sistemas de Informação (FERNANDES & ALVES, 1992):
Requisitos:
Nesta etapa foram feitas entrevistas com os responsáveis dos principais
setores envolvidos com o projeto de informatização. O principal objetivo dessa fase
foi conhecer o fluxo de gerenciamento vigente, fluxo de funcionamento dos
processos envolvidos, para a montagem de uma proposta de informatização.
Primeiramente foram elaboradas planilhas de procedimentos padrões que os
professores preenchiam a mão, registrando a produção diária da clínica. Após um
tempo de utilização destas planilhas, passamos para a fase seguinte de elaboração
do sistema, contemplando a rotina do nosso curso. Foi uma fase de muito trabalho,
onde a participação dos professores, com sugestões, foi extremamente importante.
A cada disciplina foi solicitada a relação dos procedimentos que ela
consideraria importante que entrasse na lista dos procedimentos realizados. Depois
1
disso, os procedimentos comuns a várias disciplinas foi agrupado em um único
grupo, e os específicos receberam a nomenclatura da disciplina que os originaram.
Paralelamente a isso acontecia o cadastro de todos estes procedimentos, incluindo
suas particularidades, como, por exemplo, a classificação das classes de
restaurações e seus dentes respectivos.
Finalmente, foi definido que o sistema seria totalmente integrado com o sistema
acadêmico da UNIFOR e que os dados seriam hospedados em um servidor de
banco de dados Oracle.
No levantamento dos requisitos fundamentais à elaboração da versão inicial do
SIA foram destacados os seguintes aspectos, ou necessidades:
GERENCIAIS:
•
Desenhar as funções e responsabilidades de cada setor, que
compõem o curso e a sua importância na qualidade do produto final
dispensado aos clientes internos: alunos e professores e clientes
externos: pacientes;
•
Identificar dentro do fluxograma curricular todas as disciplinas
clínicas, com atendimento de pacientes, para cadastro por área,
definição
de
seus
perfis
de
atendimento:
características
e
complexidade e procedimentos padrão para cada protocolo de
atendimento;
•
Informatizar as diferentes etapas que compõem o atendimento dos
pacientes no curso, considerando o seu acolhimento; cadastro; perfil
de necessidades em saúde bucal; complexidade de atendimento;
caracterização sócio-econômica; encaminhamento às clínicas de
atendimento; plano de tratamento elaborado; agendamentos de
retorno;
procedimentos
realizados;
necessidades
de
encaminhamento a outros centros de atendimento específicos de
odontologia ou, de acordo com a necessidade diagnosticada,
encaminhamentos
para
outras
áreas,
como:
fonoaudiologia,
fisioterapia, otorrinolaringologia, terapia ocupacional, nutrição, dentre
outras; encerramento do plano e alta do paciente;
•
Formatar uma base de dados, que viabilize a construção de
indicadores de suporte ao planejamento, monitoramento e avaliação
1
dos serviços prestados, ressaltando-se a caracterização do perfil
epidemiológico e social dos pacientes atendidos no curso, bem como,
a criação de informações pertinentes ao gerenciamento do fluxo de
atendimento, como: capacidade de atendimento das disciplinas por
semestre; duração média do tratamento dos pacientes, considerando
as especificidades de cada área; tempo de espera dos pacientes
para o atendimento após o cadastro e vazão de atendimento das
clínicas segundo o sistema de trabalho adotado pelas disciplinas;
•
Controlar o fluxo de pacientes no curso, para tanto, acompanhar o
funcionamento e rotina dos setores para elaboração de fluxos e
encaminhamentos necessários;
•
Identificar o perfil de recursos humanos necessários no processo de
gerenciamento do SIA;
•
Enumerar, após a elaboração da proposta de implantação, as
estratégias de sensibilização e qualificação dos usuários;
•
Normatizar e documentar o fluxo de atendimento dos pacientes e os
processos de trabalho de suporte em cada setor.
PEDAGÓGICAS:
• Elaborar uma ferramenta de suporte ao acompanhamento pedagógico dos
alunos, pelos professores, no desenvolvimento de suas atividades práticas, mas
especificamente, na elaboração, execução e controle dos procedimentos
técnicos realizados;
• Fomentar a criação de uma base de dados de suporte à realização de
pesquisas no âmbito da odontologia;
• Trabalhar as bases referenciais do planejamento em saúde ressaltando
questões de natureza teórica, metodológica, técnica e instrumental, que possam
contribuir com uma formação acadêmica voltada ao enfrentamento dos
problemas e atendimento as necessidades da população delimitadas em função
de seus critérios geográficos, demográficos, epidemiológicos e sociais.
Além de se fazer um estudo de custos de instalação, equipamentos e
modificações estruturais necessárias.
Análise e Projeto:
1
Foi utilizada a metodologia da análise estruturada utilizando-se ferramenta
CASE (Engenharia de Software Auxiliada por Computador) para definição de
diagramas de fluxo de processos. Também foram elaborados o projeto de
definição da estrutura do banco de dados e seus relacionamentos, a hierarquia, o
fluxo de dados e diagramas hierárquicos de funções.
Desenvolvimento:
Nesta fase ocorreu a etapa de codificação ou programação e testes dos
fluxos definidos na etapa de projeto.
Atualmente o sistema encontra-se em manutenção contínua, para
adequação das novas necessidades identificadas, ou mesmo implementações
que viabilizem a incorporação ideal de todas as necessidades levantadas na fase
de
requisitos
as
quais
não
foram,
ainda,
na
íntegra
viabilizadas,
conseqüentemente busca constantemente a melhoria dos serviços associados
ao mesmo.
A equipe de suporte e gerenciamento in loco do SIA/ODONTO é composta
por uma Professora com formação em Odontologia, um recurso humano de nível
médio que auxilia os professores e alunos na utilização do SIA e uma Analista de
Organização e Métodos – O&M, que mantém a interface com a Gerência de
Tecnologia da Informação, responsável pela análise e operacionalização das
implementações solicitadas, pelos usuários, em prol da maior aplicabilidade do
SIA às necessidades organizacionais do Curso do Odontologia.
O sistema acadêmico encontra-se disponível em todos os computadores do
curso de odontologia, assim distribuídos:
Quadro 1. Informativo consolidado da distribuição de equipamentos por espaços no curso
de odontologia. Universidade de Fortaleza. Período: 2005.1
Local
Sala dos Professores
Secretaria do Curso
Coordenação
Recepção
Serviço Social
Clínica de Triagem
Clínica de Radiologia
Clínica Integrada
Clínica Multidisciplinar
Núcleo de Pesquisa da Odontologia
TOTAL
Quantitativo de Computadores
02
01
02
06
01
01
02
05
08
02
30
1
CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE DE TI
As características do ambiente de TI foram divididas em dois tópicos: a)
Requisitos de Hardware; b) Requisitos de Software.
a) REQUISITOS DE HARDWARE:
Requisitos de hardware mínimos recomendados, das estações clientes:
A configuração mínima para execução do sistema encontra-se abaixo:
Microcomputador Pentium 266 MHz
Memória: RAM (Randon Access Memory) de 64 Mb
HD (Hard Disk – Disco Rígido) de 8Gb
Vídeo: monitor de vídeo SVGA com resolução 800 X 600 ou superior e placa de
rede para conexão à rede local.
Conectividade: acesso à rede local.
Requisitos de hardware mínimos recomendados, do servidor: devem ser
dimensionados em função das necessidades e porte da Instituição em que será
instalado.
b) REQUISITOS DE SOFTWARE DAS ESTAÇÕES CLIENTES
O SIA pode ser executado em computadores que dispõem do sistema
operacional Windows 98 ou versões mais recentes (Windows 98 SE, Windows
Millennium, Windows 2000 e Windows XP).
Oracle Developer 2000 Run-time. Esse software permite a conexão e interface
do SIA com o banco de dados localizado nos servidores da Universidade via
protocolo IP (Internet Protocol).
Os computadores nos quais o SIA está instalado devem estar conectados em
uma rede local com velocidade de 10Mbps, para obter acesso à base de dados
Oracle (SGBD - Sistema Gerenciador de Banco de Dados).
POLÍTICA DE ACESSO E SEGURANÇA
Cada usuário tem acesso ao SIA através da digitação do número de matrícula
na UNIFOR e de uma senha criada e cadastrada pelo próprio usuário na biblioteca
1
da UNIFOR, sendo a mesma utilizada para solicitação e empréstimo de livros e
periódicos.
A utilização desta senha é uma das formas de segurança para garantir que o
usuário somente acesse as telas cujas funcionalidades são pertinentes ao seu perfil,
o qual é definido, a partir da análise das atividades de cada tipo de usuário (alunos,
professores e funcionários). Para maiores esclarecimentos, serão apresentados
adiante os perfis de usuários elaborados na fase de requisitos e análise do projeto
com a relação de suas respectivas telas e modalidades de acesso, que serão
posteriormente apresentadas em detalhes.
É importante ressaltar que para cada tela há duas modalidades de acesso:
consulta ou operação, que são definidas também de acordo com as atividades e,
conseqüentemente, perfil de cada usuário.
Na modalidade de acesso para consulta o usuário não tem permissão de
alterar as informações que estão sendo consultadas.
Na modalidade de acesso, operação, o ambiente disponibilizado ao usuário
permite que ele insira, exclua, altere as informações contidas na tela. Operações
estas que serão pertinentes às funcionalidades de cada usuário no Curso de
Odontologia.
Quadro 2. Apresentação das principais telas e modalidades de acesso segundo o perfil dos
usuários. SIA/ODONTO. Universidade de Fortaleza. Período: 2005.1.
Usuários
Gerência in loco do SIA
Analista de O & M
Coordenação
Telas de acesso
Prontuário
Modalidades de acesso
Consulta
Prontuário – Ficha Social
Consulta
Perfil odontológico
Operação
Plano de tratamento
Operação
Demanda
Operação
Requisição
Operação
Vinculação
Prontuário
Prontuário – Ficha Social
Perfil odontológico
Plano de tratamento
Demanda
Requisição
Vinculação
Tem acesso as mesmas
Operação
Consulta
Consulta
Consulta
Consulta
Operação
Operação
Operação
Preservam-se
telas da gerência in loco do SIA
as
mesmas modalidades
1
Recurso Humano de Nível
Médio
de
apoio
aos
Professores e Alunos
Professores da Área Clínica
Professor - triagem
Alunos
Funcionários - recepção
Funcionário – serviço social
Funcionário - radiologia
Perfil odontológico
Prontuário
Requisição
Demanda
Vinculação
Prontuário
Agenda-disciplina
Pendências
Plano de tratamento
-
Consulta
Operação
Operação
Operação
Operação
Consulta
Consulta
Consulta
Operação
professor
Perfil odontológico
Solicitação de trabalhos
Consulta
Operação
protéticos e ortodônticos
Encaminhamento
de
Operação
pacientes
Prontuário
Agenda-disciplina
Pendências
Plano
de
tratamento-
Consulta
Consulta
Consulta
Operação
professor
Perfil odontológico
Encaminhamento
Operação
Operação
de
pacientes
Prontuário
Pendências
Agenda-disciplina
Plano de tratamento - aluno
Solicitação de trabalhos
Consulta/Operação
Consulta
Consulta
Operação
Operação
protéticos e ortodônticos
Prontuário
Confirma requisições
Perfil odontológico
Prontuário
Prontuário – ficha social
Perfil odontológico
Prontuário
Imagem - paciente
Operação
Operação
Consulta
Consulta
Operação
Consulta
Consulta
Operação
Outra política de segurança adotada para o acesso das telas e informações é a
liberação de acesso somente para os professores e funcionários lotados no Centro
de Ciências da Saúde, no Curso de Odontologia e para os alunos regularmente
matriculados no curso.
No caso dos professores e alunos, o acesso somente é
permitido se estiverem, respectivamente, alocados e matriculados em disciplinas
clínicas, que diretamente estão relacionadas ao fluxo de pacientes no Curso. Em
relação aos funcionários, é feita uma análise se o setor em que o funcionário está
alocado trabalha diretamente com alguma tela do sistema acadêmico. Após esta
análise é enviada uma solicitação de liberação de acesso para a Gerência de
Tecnologia da Informação da UNIFOR com a indicação de quais telas são
1
pertinentes ao perfil do usuário, em questão, e que tipo de acesso deverá ser
permitido: consulta ou operação.
A definição dos perfis de usuário, bem como, telas e modalidades de acesso
é analisada e estabelecida pela Gerência in loco do SIA no Curso de Odontologia.
AS ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÃO ADOTADAS
Após a elaboração do SIA, foram realizadas Oficinas de Treinamento e
Qualificação do corpo docente, discente e funcionários, de acordo com as
funcionalidades de cada usuário.
Em relação aos professores as Oficinas de implantação foram planejadas por
área com o objetivo de analisar as necessidades de adaptação inerentes às
especificidades de cada área, considerando sistema de trabalho adotado;
informações de interesse específico da área; cronogramas de planejamento das
atividades práticas; avaliação da capacidade média de atendimento no semestre;
tempo médio de atendimento, tendo em vista a variabilidade de acordo com a
natureza do procedimento, dentre outros.
Quanto aos alunos, as Oficinas foram desenvolvidas no momento em que
ingressavam em suas atividades práticas de caráter clínico com atendimento de
pacientes.
Os funcionários de cada setor passaram por uma qualificação simultânea para
início da utilização das telas referentes a sua função.
Como consideramos o gerenciamento do SIA um processo permanente,
semestralmente as Oficinas de treinamento e monitoramento do SIA continuam
ocorrendo até os dias atuais.
As oficinas de treinamento ocorrem no início de cada semestre com os usuários
(alunos), que estão tendo contato pela primeira vez com o SIA. Para o novo
fluxograma curricular, 36.3, este momento se dá no 3o semestre, que demarca o
início dos alunos em atividades clínicas. Sendo o treinamento do SIA,
curricularmente previsto pelo conteúdo programático da Disciplina de Iniciação
Clínica. O treinamento é realizado em laboratórios de informática com a utilização de
um banco de dados de homologação, que simula todas as condições de
atendimento dos pacientes, sendo ministrado pela professora responsável pelo
gerenciamento do SIA e pela Analista de O & M.
1
A Oficina é dividida em dois momentos: no primeiro momento são expostas
todas as normas de funcionamento dos setores que compõem o Curso de
Odontologia e suas interfaces com o SIA, em seguida, se discute o fluxo de
pacientes e sua operacionalização. No segundo momento, são simuladas as
utilizações das telas e suas respectivas modalidades de acesso: consulta ou
operação. Como material de apoio é disponibilizado aos alunos o Manual de
utilização do SIA para alunos, o qual também é disponibilizado on-line na homepage
do Curso de Odontologia.
As oficinas de monitoramento ocorrem ao final do período letivo, para
levantamento de sugestões por parte dos usuários, identificação de fatores
dificultadores da sua usabilidade, encerramento ou interrupção temporária do fluxo
dos pacientes em tratamento, dado o encerramento do semestre vigente. As
sugestões e solicitações são analisadas quanto a sua viabilidade e pertinência para
que as devidas implementações sejam realizadas.
Segundo
Walton
(1994),
é
importante
ressaltar
a
necessidade
do
comprometimento mútuo entre usuários e gestores do processo de informatização
para a garantia de qualidade do produto final. Os sistemas só se tornam úteis e
inteligentes se forem qualitativamente abastecidos por seus usuários.
A respeito desta consideração coloca-se como um enorme desafio, na fase de
implantação dos Sistemas de Informatização, a sensibilização dos usuários para sua
correta utilização. Este desafio e porque não dizer dificuldade foi vivenciada no
processo de implantação do SIA/Odonto, podendo-se ressaltar, que ainda hoje, no
seu acompanhamento, temos dificuldades com a qualidade de adesão dos usuários.
Para maior entendimento do suporte do SIA ao gerenciamento do atendimento
de pacientes, será apresentado a seguir o fluxo de pacientes e as principais telas de
gerenciamento.
FLUXO DE PACIENTES DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR
PACIENTE NOVO
RECEPÇÃO (A)
ESCOVÓDROMO (B)
1
RADIOLOGIA
(D)
CLÍNICA DE
TRIAGEM (C)
CLÍNICA
MULTIDISCIPLINAR
(F)
SERVIÇO SOCIAL
(E)
CLÍNICA
INTEGRADA
(G)
PÓSGRADUAÇÃ
O (H)
TRATAMENTO ENCERRADO OU
TRATAMNETO INTERROMPIDO
De acordo com o fluxo apresentado, um paciente novo, aqui considerado, é
aquele que ainda não possui cadastro no Curso. Deste modo, não tem nenhum
plano de tratamento previsto em qualquer das áreas.
Geralmente, inicialmente os pacientes ligam para conhecimento dos serviços
oferecidos pelo Curso e, de acordo com seu interesse, e disponibilidade de vagas
agenda sua triagem.
São serviços oferecidos pela graduação de odontologia: tratamento nas áreas
de dentística, endodontia, periodontia, cirurgia, prótese dental (fixa, removível e
total), odontopediatria e semiologia. Sendo disponibilizado ainda o serviço de
diagnóstico por imagem da radiologia.
A pós-graduação oferece, em níveis de complexidade maiores, tratamento nas
áreas de dentística, periodontia, endodontia e prótese.
Considerando o Curso de Odontologia da UNIFOR uma referência no
atendimento odontológico para o Estado do Ceará, a clientela que busca por estes
serviços distribuem-se nos mais diferentes bairros da capital e municípios do Estado.
Contudo, a UNIFOR tem estabelecido uma atenção diferenciada à Comunidade do
Dendê, que situa-se no bairro Edson Queiroz, vizinho ao Campus Universitário,
constituindo uma das áreas de risco do bairro, onde vivem aproximadamente 2055
famílias com 9503 habitantes.
1
Após o conhecimento dos serviços disponibilizados, tendo o paciente interesse
em agendar seu tratamento, lhe é solicitado que em dia e turno marcado ele
compareça ao Curso portando um documento de identificação (ex: carteira de
identidade, ou carteira de estudante, ou certidão de nascimento) e um comprovante
de endereço (ex:água, luz, telefone), documentos estes utilizados para realização do
cadastro do paciente. Ressalta-se, que o cadastro só deve ser realizado mediante
apresentação dos documentos solicitados, para obtenção de um maior grau de
fidedignidade e qualidade das informações prestadas.
Com a realização do cadastro, na recepção (A), o paciente recebe o cartão
UNIFOR, que possui uma tarja magnética, viabilizando assim, seu acesso por meio
de catracas eletrônicas, aos serviços prestados pela Universidade. Desta forma,
está aberto o prontuário do paciente, em uma tela específica do SIA, a tela de
prontuário, a partir da qual poderemos identificar o paciente fazendo uma busca no
SIA por meio de um número gerado automaticamente: o número do prontuário, ou
pelo próprio nome do paciente.
Com o cadastro pronto, os pacientes agendados para triagem são
encaminhados para o escovódromo (B), local em que recebem orientações das
normas e rotinas do curso e são esclarecidos sobre as tecnologias preventivas
disponíveis para o controle das principais doenças de impacto na saúde pública:
cárie e doença periodontal, a partir da realização de uma breve Oficina de Educação
em Saúde. Participam deste momento, os alunos do último ano de formação sob
orientação de um professor e a Assistente Social do Curso. No mesmo turno o
paciente será encaminhado à clínica de triagem, serviço social e radiologia.
Na clínica de triagem (C) o paciente é atendido, por alunos do 9o e 10o
semestres e sob orientação de uma professora, para realização do exame bucal e
determinação do seu perfil de necessidades, assim como, avaliação do grau de
complexidade das intervenções requeridas, conforme definição prévia por cada uma
das áreas, construindo-se assim o perfil odontológico do paciente que será inserido
no SIA na tela de perfil odontológico e o qual só é totalmente fechado quando
finalizada a avaliação do paciente na Clínica de Radiologia (D).
Na clínica de radiologia (D), como rotina de atendimento é realizada a tomada
radiográfica panorâmica para diagnóstico precoce de problemas odontológicos não
discerníveis clinicamente, como: presença de dentes inclusos, localização dos
mesmos, avaliação da necessidade cirúrgica, presença de tumores, dentes
1
supranumerários, dentre outros. Após a tomada radiográfica, a radiografia é
processada, escaneada e anexada ao prontuário virtual do paciente para consulta
através da tela de imagem – paciente, que possui uma interface direta com a tela de
prontuário.
O último espaço a ser percorrido pelo paciente é o serviço social (E), no qual
ele é atendido por uma Assistente Social, que é responsável pela análise e
elaboração do perfil sócio-econômico do paciente. O perfil sócio econômico é
disponibilizado para consulta por determinados usuários (professores) através da
tela prontuário-ficha social.
Estando inseridos no SIA os dados referentes ao cadastro, perfil odontológico e
sócio econômico, o paciente deverá aguardar um contato do Curso que será feito
pela recepção (A), para o início do seu tratamento, cujo tempo de espera é variável
de acordo com capacidade de vazão de cada disciplina. Ele é a partir de então
considerado um paciente regular do Curso.
O perfil odontológico e grau de complexidade do tratamento requerido,
analisados na clínica de triagem, determinarão a qual clínica o paciente deverá ser
encaminhado: multidisciplinar (F) ou integrada (G), recaindo sobre a clínica
integrada a indicação dos casos mais complexos e demorados. Caso o perfil de
complexidade não seja considerado de graduação os pacientes são encaminhados
às clínicas de pós-graduação (H). O apontamento da clínica de encaminhamento é
feito na tela de perfil odontológico.
A ROTINA DE SOLICITAÇÃO DE PACIENTES PELAS CLÍNICAS DE
ATENDIMENTO
Ressalta-se inicialmente, que a solicitação de pacientes é feita tendo por base
o cadastro das disciplinas clínicas com atendimento de pacientes no SIA e seus
respectivos perfis de atendimento: característica e complexidade definidos ainda na
fase de requisitos para o desenvolvimento do sistema.
A rotina de solicitação de pacientes por disciplina segue o fluxo a seguir: No
início de cada semestre, em função do número de alunos matriculados em cada
disciplina, considerando as habilidades e competências do estágio de formação em
que se encontra o aluno e as necessidades dos pacientes cadastrados para
atendimento é feita a indicação da demanda por disciplina e conseqüente requisição
1
dos pacientes, de modo a selecionar um paciente para cada aluno. Esta fase de
requisição de pacientes é executada pelo recurso humano de nível médio de apoio
aos Professores e Alunos, no início das atividades clínicas, utilizando para tanto as
telas de demanda e requisição de pacientes, respectivamente. Posteriormente, os
pacientes são então vinculados aos alunos, que serão responsáveis pelo
atendimento do paciente até sua alta sob supervisão do professor orientador. A
tarefa de vinculação também é executada pelo mesmo recurso humano acima
citado.
Uma vez vinculado ao aluno, o paciente inicia seu tratamento, em uma
determinada área, o qual de acordo com a sua complexidade poderá ou não ser
finalizado ao longo do semestre. Caso seja finalizado, no final do semestre ele terá
seu plano de tratamento encerrado. Caso não finalize, seu plano de tratamento será
interrompido para continuidade no semestre seguinte.
Ao longo do semestre, cabe ao aluno, utilizando a tela de plano de tratamentoaluno, elaborar o plano de tratamento do paciente e submetê-lo ao professor
orientador, que o aprovará ou o rejeitará utilizando a tela: plano de tratamentoprofessor. O plano quando aprovado libera o aluno para execução dos
procedimentos previstos, os quais na medida em que vão sendo executados
também vão sendo registrados no SIA e submetidos ao Professor Orientador até o
momento da alta do paciente, ou interrupção do plano.
Desta maneira, ao final do semestre, temos um certo volume de pacientes que
encerram seu tratamento e recebem alta e outros que interrompem temporariamente
para continuidade no semestre seguinte. A revinculação dos pacientes, com
tratamento interrompido de um semestre para outro, é realizada automaticamente
pelo SIA, sendo a demanda de pacientes complementada com os pacientes novos
em espera.
PRINCIPAIS TELAS DO SIA DE SUPORTE AO FLUXO DE PACIENTES
TELAS DE ACESSO AO SISTEMA COMUNS A TODOS OS USUÁRIOS
1. Tela de login: disponível ao usuário em rede, permite sua conexão na rede localda
Universidade e posterior utilização do SIA/Odonto. No campo usuário é sempre
usado, na situação dos alunos, a expressão: aluno-odonto, não sendo necessária a
1
digitação de senha. Para professores e funcionários, cada um deverá se logar
utilizando a sua denominação própria de usuário e sua senha de rede, cadastrada
previamente na Gerência de Tecnologia da Informação.
Fig. 1.Tela de Login do usuário na Rede Local da UNIFOR. 2005.1.
2. Tela de login do SIA (Sistema de Informações Acadêmicas): é acionada a partir
de um ícone
presente na área de trabalho dos computadores. Esta tela
solicita a identificação do usuário, que é fornecida com a digitação da matrícula na
UNIFOR e da senha individual.
Fig. 2.Tela de Login do SIA. 2005.1.
A partir desta tela cada usuário, de acordo com suas atribuições, no Curso de
Odontologia, terá acesso a um conjunto de telas específicas que lhe são pertinentes.
O caminho a ser percorrido, por cada usuário, até o acesso das telas operacionais
está especificado a seguir: transações – curso de odontologia – telas operacionais,
cujo acesso é definido de acordo com o perfil de cada usuário.
1
Fig. 3.Tela Principal do SIA/ODONTO. 2005.1.
Para conhecimento, abaixo, estão expostos os principais comandos do Sistema.
TELAS OPERACIONAIS DE ACESSO
1. Tela Agenda-Disciplina
Finalidades:
- Informar o quantitativo
determinada
disciplina
dos
pacientes
segundo
dia
e
agendados
turno
de
para
uma
atendimento,
especificando-os nominalmente e pelo número do prontuário;
1
-
Indicar o aluno responsável pelo atendimento do paciente na disciplina;
-
Atualizar dinamicamente o status do paciente o qual poderá indicar
marcado, confirmou chegada, compareceu em atendimento ou
atendido. Cada uma dessas indicações se dará de acordo com o fluxo
de atendimento do paciente.
Benefícios:
-
Viabiliza o levantamento do número médio de pacientes atendidos por
dia e turno nas diferentes disciplinas;
-
Possibilita a identificação dos pacientes que estão sendo atendidos
pela 1a vez no Curso e em determinada disciplina e, que
conseqüentemente, demandarão por um tempo maior de atendimento
naquele turno para elaboração de seu plano de tratamento;
-
Permite uma maior ordenação do planejamento de recepção dos
pacientes, com a separação prévia de seu prontuário e entrega ao
aluno responsável pelo tratamento do paciente anteriormente a sua
chegada;
-
Permite o acompanhamento do fluxo interno de pacientes no curso de
odontologia, facilitando rapidamente sua localização.
A seleção da consulta pode ser por disciplina ou por professor orientador, com a
indicação da data e turno que se deseja consultar.
Fig. 4. Tela agenda-disciplina. SIA/Odonto.2005.1.
1
2. Tela de Prontuário
Finalidades:
- Permitir a inclusão dos dados cadastrais dos pacientes, endereço e
telefone para contato, turno para o qual tem disponibilidade para o
tratamento, data de inclusão no curso, formatando assim, uma base de
dados referente aos pacientes do curso;
- Identificar pendências relativas aos deveres dos pacientes mediante as
normas de funcionamento do curso;
- Identificar a qual requisição o paciente encontra-se vinculado e,
conseqüentemente, área, disciplina, aluno e professor responsável
pelo seu tratamento;
- Localizar se o pacientes apresenta agendamento para outros serviços
no curso: radiologia, urgência etc.
- Associar o cartão UNIFOR com o qual o paciente passa a ter acesso
aos serviços prestados pela Universidade.
- Agendar os próximos retornos do paciente.
-
Benefícios:
Acesso informatizado aos dados cadastrais do paciente, podendo
estes serem consultados rapidamente;
Possibilita a orientação aos pacientes quanto as suas
responsabilidades e cumprimento das normas de funcionamento do
curso;
Permite a identificação dos alunos e professores responsáveis pelo
atendimento;
Permite o acesso regular dos pacientes às Clínicas de Atendimento;
Viabiliza uma maior ordenação do planejamento de recepção dos
pacientes, uma vez que há a previsão do atendimento para uma
determinada disciplina, dia e turno.
A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo
nome ou data de nascimento do paciente.
1
Fig. 5. Tela de Prontuário. SIA/Odonto 2005.1.
3. Tela de Plano de Tratamento – Aluno
Finalidades:
-
Permitir o planejamento dos procedimentos que serão realizados no
paciente para melhor atendimento de sua necessidade de tratamento,
considerando o menor tempo e as tecnologias disponíveis no
momento;
-
Indicar o status do plano: aprovado, encerrado ou interrompido.
Benefícios:
-
Otimização do tempo de atendimento do paciente;
-
Registro do planejamento de atendimento do paciente, para posterior
análise de sua eficácia e pertinência frente ao diagnóstico inicial
estabelecido;
-
Acompanhamento do aluno pelo professor orientador, na medida em
que os procedimentos executados vão sendo inseridos e analisados
quanto a sua previsão inicial ou não;
-
Conhecimento
do
status
do
plano
para
que
se
façam
os
encaminhamentos necessários.
-
Permite identificar a data de início de tratamento do paciente da
disciplina, pela data de elaboração do plano, que demarca a sua
primeira consulta na disciplina e assim o seu tempo médio de
permanência na disciplina.
1
A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo
número do plano do paciente.
Fig. 6. Tela de Plano de Tratamento- Aluno. SIA/Odonto 2005.1.
4. Tela de Trabalhos Protéticos e Ortodônticos
Finalidades:
-
Viabilizar o encaminhamento da solicitação, pelos alunos, de trabalhos
protéticos e ortodônticos aos laboratórios, via serviço social, onde é
realizado o planejamento de pagamento dos serviços;
-
Permitir o controle, por parte do Serviço Social, da solicitação dos
trabalhos laboratoriais e planejamento das parcelas de pagamento, ou
ainda, análise de isenção das mesmas.
-
Subsidiar o planejamento financeiro de pagamento dos trabalhos a
partir da indicação do tempo de tratamento dos pacientes.
Benefícios:
-
Permite o acompanhamento do fluxo de solicitação dos trabalhos
protéticos e ortodônticos, desde a sua indicação até o retorno definitivo
do laboratório para instalação.
-
Viabiliza
o
acompanhamento
do
planejamento
financeiro
para
pagamento dos serviços solicitados, pelos pacientes, de acordo com a
sua caracterização sócio econômica e tempo de tratamento previsto.
1
Fig. 7. Tela de Trabalhos Protéticos e Ortodônticos. SIA/ Odonto 2005.1
Essa tela é utilizada pelas Clínicas: multidisciplinares e integrada, nas quais são
atendidos pacientes com necessidades protéticas e ortodônticas, cujas atividades
laboratoriais são terceirizadas.
Os trabalhos solicitados pelos alunos só são encaminhados mediante
conhecimento e aprovação dos mesmos pelo professor orientador.
A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo nome do
paciente.
5.Tela de Plano de Tratamento - Professor:
Finalidades:
-
Permitir o acompanhamento do aluno, pelo professor, em relação ao
planejamento e execução dos procedimentos;
-
Indicar o status do plano: aprovado e encerrado ou interrompido, a
partir do andamento do plano do paciente.
Benefícios:
-
Referem-se aos mesmos já relacionados para a tela de plano de
tratamento-aluno, visto que suas atividades estão interligadas.
A seleção da consulta poderá ser pelo número do plano, ou número do
prontuário do paciente.
1
Fig. 8 Tela de Plano de Tratamento – Professor. SIA/Odonto. 2005.1
6. Tela de Perfil Odontológico
Finalidades:
- Registrar o perfil de necessidades odontológicas dos pacientes de
acordo com a triagem realizada;
-
Identificar, para qual clínica o paciente deve ser encaminhado (clínica
multidisciplinar,clínica integrada ou clínicas de pós-graduação), de
acordo com o grau de complexidade do seu perfil;
-
Permitir a inativação dos perfis já apontados, quando necessário,
indicando o motivo pelo qual um determinado perfil odontológico, ou
todos, está sendo inativado;
-
Indicar os professores e alunos responsáveis pela triagem.
Obs: A inativação de perfis ocorre em algumas situações específicas para as quais o
SIA possui registrado um banco de motivos de inativação. Os principais motivos de
inativação são: pacientes com dados cadastrais incorretos, que inviabilizam sua
localização e agendamento das consultas; pacientes que faltam com freqüência e
sem justificativa ao tratamento; pacientes que iniciaram o tratamento em outras
Instituições; pacientes, que por alguma intervenção prévia ao tratamento, em outros
locais, alteraram seu perfil inicialmente diagnosticado na triagem, pacientes que não
tem mais interesse em iniciar ou continuar seu tratamento na Universidade;
pacientes que faleceram; pacientes que já realizaram tratamento na Universidade
sem plano, ou seja, usuários (alunos e professores) não inseriram as informações no
SIA, dentre outros.
-
Benefícios:
Agilizar o encaminhamento do atendimento dos pacientes.
1
-
Dar suporte ao processo de aprendizagem dos alunos, relacionando a
necessidade do paciente com as competências e habilidades
requeridos no âmbito da disciplina que o aluno está cursando, deste
modo, viabilizando uma maior coerência da articulação entre teoria e
prática.
Fig. Tela de Perfil Odontológico. SIA/Odonto. 2005.1
Fig 9. Tela de Perfil Odontológico. SIA/Odonto. 2005.1
7. Prontuário – Ficha Social
Finalidades:
-
Registrar o perfil sócio econômico como parte do processo de triagem,
identificando as condições psicológicas, sociais e financeiras dos
pacientes.
Benefícios:
-
Possibilitar a avaliação da necessidade de isenção de taxas dos
pacientes;
-
Viabilizar o orçamento dos tratamentos protéticos e ortodônticos, de
acordo com a condição sócio-econômica dos pacientes;
1
-
Dar suporte às pesquisas realizadas no curso, no que diz respeito ao
conhecimento do perfil sócio-econômico e comportamental dos
pacientes;
-
Permitir a análise do acesso dos pacientes às tecnologias preventivas
de controle das principais doenças bucais;
A seleção da consulta poderá ser pelo número do prontuário, nome do
paciente ou data do nascimento.
Fig. 10 - Tela de Prontuário-Ficha Social. SIA/Odonto. 2005.1
8. Tela Imagem-Paciente
Finalidades:
-
Registrar, no sistema, a radiografia panorâmica, disponibilizada para
cada paciente cadastrado no momento da triagem do paciente.
Benefícios:
-
Permitir um estudo detalhado dos pacientes, pelos alunos e
professores,
por
meio
da
consulta
da
radiografia
panorâmica,disponibilizada na tela de prontuário de pacientes,
servindo como subsídio complementar à elaboração do plano de
tratamento.
1
A seleção da consulta poderá ser feita pelo número do prontuário.
Fig. 11 - Tela Imagem-Paciente. SIA/Odonto. 2005.1
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A apresentação do sistema, aqui realizada, nos leva a perceber que a sua
presença constitui-se em uma ferramenta facilitadora do processo de gerenciamento
do fluxo de atendimento dos pacientes e acompanhamento dos alunos em seu
processo de formação.
Criticamente analisando-o, ainda observamos certas imperfeições que deverão
ser continuamente ajustadas de modo a viabilizarmos sua ideal adequação às
necessidades do curso. Se considerarmos todas as finalidades gerenciais
levantadas na fase de requisitos para desenvolvimento do projeto de informatização,
1
veremos que alguns avanços relativos ao aperfeiçoamento e agilidade no fluxo de
atendimento dos pacientes, assim como alguns requisitos de subsídio ao
gerenciamento do curso, podem ser melhorados. Também se faz fundamental a
melhoria do sistema no que diz respeito ao aprimoramento de suas finalidades
pedagógicas.
Em sua estrutura macro podemos afirmar a sua contribuição e suporte à
qualidade das atividades desempenhadas por alunos e professores, não só
inerentes ao fluxograma curricular, mas também, relacionadas a atividades extracurriculares como a elaboração e desenvolvimento dos projetos de pesquisas.
O sistema pode ser visto como mais um canal de comunicação entre
professores, alunos e gestores, visto que armazena um histórico de todas as
atividades clínicas dispensadas à comunidade em suas dimensões técnicas,
biológicas, psicológicas e sociais, deste modo reunindo os elementos fundamentais
à melhoria qualitativa e quantitativa do acolhimento de nossos pacientes.
Com o sistema de informações acadêmicas interligando os setores de suporte
acadêmicos, aqui considerados, recepção e serviço social, tem-se um ganho de
qualidade proporcionado pela maior agilidade das informações, pelo maior controle
das rotinas de trabalho executadas pelos funcionários, e maior fidedignidade das
informações geradas.
Para a coordenação do curso o sistema se coloca como um possível instrumento
norteador da tomada de decisão, na medida em que é abastecido pelos diferentes
usuários fornecendo informações gerenciais, epidemiológicas e sociais pertinentes à
clientela atendida. É uma ferramenta que poderá subsidiar importantes definições no
planejamento estratégico do curso.
Cabe, ainda, para finalizarmos estas considerações, ressaltar as dificuldades que
ainda permeiam o processo de adesão dos usuários à utilização do SIA, mesmo
ressaltando-se o cuidado tido na fase de implantação com o treinamento,
qualificação e sensibilização dos usuários, este dificultador perpassa pela
necessidade de nossos docentes incorporarem a totalidade de seu papel
pedagógico na formação dos alunos, assim como, se enxergarem como elementos
participantes fomentadores da inteligência operacional.
Por outro lado, trabalhar a aceitação do SIA, pelos seus usuários, é um fator
dependente da melhoria qualitativa do seu processo de interatividade, agilidade e
capacidade de feedback aos interesses de cada usuário, considerando sua
1
funcionalidade na estrutura organizacional em que está inserido. Portanto um
constante e instigante desafio.
1
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CRUZ, T. Sistemas, Organização & Métodos: estudo integrado das novas
tecnologias de informação. 3a ed. São Paulo: Atlas, 2000.
FERNANDES, A.A.; ALVES, M.M. Gerência Estratégica da Tecnologia da
Informação: obtendo vantagens competitivas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos
Científicos, 1992.
GANE, C.; SARSON, T. Análise Estruturada de Sistemas. Rio de Janeiro: Livros
Técnicos Científicos, 1993.
OLIVEIRA, D.P.R. Sistemas de Informações Gerenciais: estratégicas, táticas,
operacionais. 6a ed. São Paulo:Atlas, 1999.
RODGERS, U. A Database Developers Guide. ORACLE. Editora: PTRPH, 2005.
WALTON, R.E. Tecnologia de Informação: o uso de TI pelas empresas que obtêm
vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1993.
YOURDON, E. Análise Estruturada Moderna. Campus, 1990.
1
CAPÍTULO 8
PESQUISA: A ESSÊNCIA DO APRENDIZADO
Haroldo Rodrigues de Albuquerque Júnior
Luiz Roberto Augusto Noro
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa pode ser entendida como uma área privilegiada por permitir o
avanço do conhecimento humano, por meio de aproximações teóricas previamente
existentes e de experimentações, estimulando o aparecimento de novas
descobertas que contribuem com a perspectiva de melhores condições de vida à
sociedade.
A sociedade contemporânea vive um grande desafio e uma enorme
revolução: entender que o conhecimento, a ciência e o saber são a
maior esperança e o grande valor do homem, para então, se criar uma
cultura da inovação e da produção. Nada mais atual, do que dissera
Eisntein: “O conhecimento traz, de qualquer forma, o poder...”
Associado a um modelo onde a qualidade e a experiência são as
principais armas, as Instituições de Ensino Superior (IES) têm a
responsabilidade
de
formar
profissionais
capazes
de
enfrentar
a
competitividade, ao mesmo tempo em que precisam ser palco para
desenvolver ciência, isto é, produzir. Desta forma, quem produz tem o
mérito de ver reconhecida sua dedicação e sua co-responsabilidade, e
quem aprende fica mais a vontade para colocar em prática modernas
técnicas e avanços profissionais.
Ao se produzir, os setores público e privado criam a oportunidade
de formação e treinamento de pesquisadores para a resolução de
problemas. O incentivo à pesquisa é uma das condições necessárias ao
progresso tecnológico, ao desenvolvimento econômico e social.
Para FERREIRA et al (2002) um dos projetos humanos, com importância
fundamental para o homem contemporâneo e voltado para a recuperação da perda
de segurança e o decorrente sentimento de angústia, provocadas por um mundo em
constante mudança, foi o projeto da ciência moderna. Por conseguinte, “os povos
que não participam do desenvolvimento científico estão, em grande medida, alijados
1
dos avanços nos padrões de qualidade de vida e são economicamente subalternos
em relação aos povos que lideram os avanços do conhecimento. Isso é alcançado
mediante libertação do homem quanto as necessidades básicas de sobrevivência e
da conseqüente sofisticação da atividade humana em seus aspectos sociais,
econômicos, culturais e artísticos” (UNICAMP, 2002).
Coerente com este raciocínio observa-se na Conferência Mundial sobre a
Ciência (UNESCO, 2000) a previsão de que "sem instituições adequadas de
educação superior em ciência e tecnologia e em pesquisa, com uma massa crítica
de cientistas experientes, nenhum país pode ter assegurado um desenvolvimento
real".
Entretanto, para conseguir um país com ciência, a educação universal,
obrigatória e de qualidade é peça fundamental para que a população acredite que o
bem-estar da sociedade depende da procura constante pela apropriação do saber,
dependendo mais da visão do mundo que sua sociedade possui, do que da fração
do PIB aplicada na compra de equipamentos necessários à pesquisa (UNICAMP,
2002).
Fator que chama a atenção, e confirma esta visão, é a absurda exclusão da
grande maioria da juventude brasileira do sistema de educação universitário que
contempla não mais que 9% do total de jovens pelo sistema. Tal fato dificulta a
incorporação da mentalidade científica de maneira plena pela sociedade.
Nesta perspectiva é primordial o aumento da oferta de vagas no sistema
superior, além de alterar o cotidiano do ensino universitário, flexibilizando-se os
currículos,
permitindo
incluir
a
pesquisa
como
estratégia
para
melhor
desenvolvimento cognitivo do aluno a partir de maior estímulo ao estudo individual
(busca pela informação), a ser partilhada em grupo na sala de aula, tendo como
objetivo melhores soluções a problemas vivenciados no dia-a-dia, tendo como base
a reflexão crítica sobre estes problemas e sua solução baseada na ciência e na
realidade. Desta forma, a educação deve capacitar o aluno a resolver problemas,
confiando em suas potencialidades, além de desenvolver as habilidades de
iniciativa, criatividade, num padrão de comportamento íntegro e ético.
Com isto, segundo DEMO (1998) entra em cena a promoção da inclusão do
processo de pesquisa no aluno, que deixa de ser objeto de ensino, para tornar-se
parceiro de trabalho, passando a desenvolver com o professor uma relação de
1
sujeitos participativos, tomando-se o questionamento reconstrutivo como desafio
comum a ambos.
No entender de ZANCAN (2000) os membros da comunidade científica
brasileira tem hoje mais uma tarefa: lutar para mudar o ensino de informativo para
transformador e criativo. Este desafio é uma tarefa gigantesca, pois abarca todos os
níveis de ensino sem privilegiar um em detrimento de outro. Para que se atinjam os
objetivos de alterar o sistema educacional, é preciso concentrar esforços na
formação do professor que deverá ser um orientador de seus alunos no processo da
descoberta e da reflexão crítica.
Para DEMO (1998) este movimento deve ser entendido enquanto processo de
educar pela pesquisa, que tem como condição essencial primeira que o profissional
da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico
e educativo e a tenha como atitude cotidiana.
Ainda segundo este autor há um trajeto coincidente entre educação e pesquisa
uma vez que ambas se postam contra a ignorância, fator determinante da massa de
manobra; ambas valorizam o questionamento, marca inicial do sujeito histórico;
ambas se dedicam ao processo reconstrutivo, base da competência sempre
renovada; ambas incluem a confluência entre teoria e prática, por uma questão de
realidade concreta; ambas se opõem terminantemente à condição de objeto, por ser
a negação da qualidade formal e política; ambas se opõem a procedimentos
manipulativos, porque estes negam o sujeito; ambas condenam a cópia, porque esta
consagra a subalternidade.
2. APRESENTAÇÃO
A Universidade de Fortaleza foi criada com a missão de promover a produção e
difusão do saber, por meio da articulação do ensino superior, pesquisa e extensão,
visando a formação integral do cidadão e a sua capacitação para o exercício
profissional. O Curso de Odontologia investiu ao longo destes últimos dez anos na
busca de um constante aperfeiçoamento do ensino, tendo como base a extensão, a
partir do atendimento clínico prestado em suas dependências e das ações coletivas
de saúde bucal desenvolvidas na comunidade do Dendê e em instituições (escolas
de ensino fundamental e médio, creches, escola de aplicação, associações de
moradores etc.), visando aproximar o aluno de sua futura prática profissional.
1
Diante disto, são importantes algumas reflexões em relação à
pesquisa: Quem somos? Conhecemos a nossa verdadeira vocação e
competência? Tem-se clareza do perfil que caracteriza a pesquisa
regional? Os organismos de fomento têm interesse em estabelecer
parcerias com as Instituições de Ensino Superior privadas?
É relevante notar que na avaliação para reconhecimento do Curso,
realizada
por
uma
comissão
de
especialistas
da
Secretaria
de
Educação Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC) havia uma
sinalização direta para a necessidade de se implementar um programa
de iniciação científica regular no curso, proporcionando ao graduando
uma formação mais abrangente, que incorporasse o seu treinamento na
aplicação
do
método
científico,
complementando
sua
formação
acadêmica.
Os programas de Iniciação Científica ou Tecnológica propiciam às IES
um instrumento de formulação de política de pesquisa, estimulando
uma maior articulação entre a graduação e a pós-graduação; o
pesquisador/orientador a formar equipes; e, principalmente, introduzir o
aluno de graduação no mundo da pesquisa científica.
1
Ainda que de forma discreta e tímida, a maior cobertura deste
programa, atualmente na UNIFOR, é contemplada pelo Programa de
Bolsas de Iniciação Científica da UNIFOR (PROBIC / FEQ). Necessário
se faz que haja um incentivo mais presente e regular por parte de
órgãos
externos:
Programa
Institucional
de
Bolsas
de
Iniciação
Científica (PIBIC / CNPq) – Programa de Bolsas de Iniciação Científica
e Tecnológica (PBICT / FUNCAP).
No ano de término da 1 a turma de graduação, 1999, teve início o
planejamento e discussão dos projetos pedagógicos dos cursos de
especialização para a área da odontologia, assim como o primeiro
levantamento
do
perfil da produção
interna
do
curso.
A diretriz
estabelecida foi a de buscar coerência com o projeto pedagógico da
graduação, com o aprofundamento dos
conteúdos e buscando a
resolutividade dos problemas clínicos que não eram solucionados pelos
alunos
na
graduação.
Procurava-se
com
isto
um
trabalho
mais
integrado entre graduação e pós-graduação. Tal proposta, entretanto,
apresentava
divergência
com
as
normas
e
regulamentações
do
Conselho Federal de Odontologia o que motivou a não implantação do
modelo discutido.
Em 2001, cinco cursos de especialização foram planejados e ofertados
à comunidade: Periodontia, Endodontia, Prótese Dentária, Dentística e
Odontologia em Saúde Coletiva. Destes, apenas foram desenvolvidos
os cursos Periodontia e Endodontia. Cabe ressaltar que o Curso de
Especialização em Saúde da Família, oferecido a partir do Curso de
Odontologia, teve seu projeto aprovado e realizado com a participação
de outros profissionais de saúde além do cirurgião-dentista, permitindo
aprofundar-se a discussão sobre a necessidade de uma formação multidisciplinar.
No ano seguinte, 2002, foi nomeada pela coordenação do Curso de
Odontologia uma comissão para estudar as normas e procedimentos de
propostas de cursos acadêmicos (mestrado e doutorado) considerando
a carência local e regional, a demanda reprimida e a possibilidade de
descentralização da produção científica e formação docente, hoje
localizada na região sudeste do Brasil.
1
De acordo com a análise da comissão foi possível observar: o perfil
docente de
jovens
doutores
e
mestres potenciais
doutores, com
perspectiva que sustentasse a competência técnico-científica para a
promoção do curso e o diferencial de infra-estrutura de ensino e de
grande
potencial
em
pesquisa.
E,
como
síntese
diagnóstica,
a
necessidade de formação e maturação de grupos de pesquisa com
produção intelectual relevante, em termos quantitativos e qualitativos
(sistema Qualis), capazes de assegurar regularidade e qualidade às
atividades acadêmicas na área da proposta do curso.
Ressalte-se, em tempo, que ainda no ano de 2002, quando da
Avaliação
das
Condições
de
Ensino
por
equipe
designada
pelo
Ministério da Educação, apontou-se a conveniência de uma produção
científica regular no curso e uma maior participação dos alunos nos
programas de Iniciação Científica, reforçando o que já se havia
observado em anos anteriores.
A resolução CNE/CES 3/2002 estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para os Cursos de Odontologia, as quais prevêem em seu
artigo 12: para conclusão do Curso de Odontologia, o aluno deverá
elaborar
um
trabalho
sob
orientação
docente.
Desta
forma,
o
entendimento interno é que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é
uma atividade curricular, tendo um projeto de pesquisa como modelo de
delineamento à execução do TCC, sendo, portanto uma atividade de
pesquisa que tem como objetivo a produção do conhecimento. O Curso
de Odontologia da UNIFOR compreende o TCC como um instrumento
propulsor e de alavancagem para a formulação de uma política interna
de pesquisa.
3. CÂMARA INTERNA DE PESQUISA
A Câmara Interna de Pesquisa (CIP) é um órgão consultivo, educativo e de
controle à pesquisa no âmbito do Curso de Odontologia da UNIFOR que tem como
papel principal estimular a produção científica, tendo como referencial os Grupos e
as Linhas de pesquisa estabelecidas pelo Centro de Ciências da Saúde/UNIFOR,
assim como padronizar e sistematizar os diversos procedimentos e rotinas de
pesquisa desenvolvidos no Curso de Odontologia.
1
Os objetivos da CIP do Curso de Odontologia são:

Estabelecer uma filosofia de produção de conhecimento no
curso de odontologia da UNIFOR;

Elaborar políticas de controle aos projetos de pesquisa,
desenvolvidos no curso, tendo como referencial o TCC;

Elaborar políticas de controle aos projetos de pesquisa,
desenvolvidos no curso, submetidos aos diversos órgãos de
fomento à pesquisa;

Elaborar políticas de controle aos projetos de cursos de pósgraduação
(aperfeiçoamento/especialização),
na
área
de
odontologia da UNIFOR;

Elaborar o projeto do programa de pós-graduação, stricto sensu, em
odontologia da UNIFOR.
A criação da CIP do Curso de Odontologia pode ser muito bem caracterizado
como um modelo inovador ao estímulo a pesquisa na UNIFOR, uma vez que, a
partir do pressuposto e da regulamentação da CIP do Curso de Odontologia todos
os demais cursos do Centro de Ciências da Saúde aderiram ao formato gerencial
referido.
Para
funcionamento
da
CIP
foram
propostas
três
células
organizacionais que têm como papel desenvolver estratégias propondo
mecanismos que têm como ponto central o aumento da produção
científica no Curso de Odontologia. As três células são:
a)CÉLULA INICIAÇÃO À PESQUISA (IP)
Tem como papel central propor estratégias de propulsão de
projetos de pesquisa no Curso de Odontologia/UNIFOR definindo rotina
e protocolo de controle dos projetos de iniciação à pesquisa, definindo
critérios para emissão de parecer aos projetos de pesquisa de iniciação
científica assim como viabilizar mecanismos de controle da produção
dos projetos de iniciação à pesquisa desenvolvidos no CO/UNIFOR.
Das células criadas, foi a que menos conseguiu avançar tendo em vista as
limitações impostas pelas agências de fomento, assim como pela pouca tradição em
pesquisa desenvolvida no Curso de Odontologia.
1
b) CÉLULA APERFEIÇOAMENTO/ESPECIALIZAÇÃO (AP/ESP)
Seu principal objetivo é propor estratégias de incentivo aos cursos de pósgraduação (aperfeiçoamento e especialização) no Curso de Odontologia/UNIFOR
identificando rotina e protocolo de controle dos projetos de cursos apresentados à
Coordenação do Curso de Odontologia a partir dos professores, além da adoção de
critérios para emissão de parecer aos projetos de cursos de pós-graduação.
c) CÉLULA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)
Com certeza, a célula que conseguiu mais evoluir, tendo em vista a
definição política da coordenação do Curso de Odontologia quando, em
2003, apesar da inexistência de previsão no currículo do curso da
necessidade de um Trabalho de Conclusão de Curso, optou por incluir
tal atividade, buscando coerência com o preconizado nas Diretrizes
Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia.
As atribuições da Célula de Trabalho de Conclusão de Curso
tiveram como referencial ajustar os projetos de pesquisa dentro das linhas e
grupos do CCS, gerenciar o fluxo interno dos projetos de pesquisa,
gerenciar o fluxo dos projetos de pesquisa junto ao NUPEQ/CCS e
COÉTICA e estabelecer mecanismos de controle ao desenvolvimento
da pesquisa, por meio de consultorias, exames de qualificação, fomento
de cursos.
Para incluir o TCC enquanto atividade curricular, definiu-se sua execução
como atividade complementar ao estágio de Clínica Integrada II, sendo esta
previsão estabelecida no regimento interno deste estágio.
O TCC tem como
elemento norteador um projeto de pesquisa referenciado no modelo
estabelecido pelo Núcleo de Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde
(NUPEQ/CCS) devendo se enquadrar nos grupos e nas linhas de
pesquisa desenvolvidas no Centro de Ciências da Saúde, conforme
pode ser observado no quadro abaixo.
Quadro 1:Grupos e Linhas de Pesquisa do Centro de Ciências Saúde
da Universidade de Fortaleza, 2005.
Grupo de Pesquisa
Linha de Pesquisa
1
CIÊNCIAS BÁSICAS DA
1. Ciências Biológicas
SAÚDE
2. Produtos e tecnologias em saúde
SAÚDE COLETIVA
1. Epidemiologia
POLÍTICAS E PRÁTICAS NA
1. Educação em saúde
PROMOÇÃO DA SAÚDE
2. Políticas públicas em saúde
3. Mercado de trabalho
1. Avaliação, diagnóstico e processo
terapêutico em indivíduos adultos e idosos
2. Avaliação, diagnóstico e processo
terapêutico em indivíduos bebês,
ESTUDOS CLÍNICOS
crianças e adolescentes
3. Avaliação, diagnóstico e processo
terapêutico em cobaias
Sempre que inclui seres humanos, os projetos de pesquisa devem
ser encaminhados ao Comitê de Ética na Pesquisa por meio da folha de
rosto (modelo do Conselho Nacional de Saúde/CONEP) que deve ser
anexada ao projeto de pesquisa, para fins de cadastro e controle dos
aspectos éticos da pesquisa.
A
orientação
do
TCC
é
sempre
conduzida
por
professor,
preferencialmente com título de Doutor ou Mestre, não se excluindo,
entretanto, professores sem este tipo de titulação. A relação professor
orientador/projeto de pesquisa será de, no máximo 1:3, para o semestre
de referência do TCC, visando a maior participação possível do corpo
docente.
O professor orientador deve estabelecer mecanismos de controle
para
a
execução
procedimentos
dos
projetos
estabelecidos
no
de
pesquisa,
cronograma
viabilizando
dos
os
projetos,
proporcionando assim as condições necessárias à produção do TCC.
Será seu papel, ainda, conduzir a execução do projeto de modo a
trabalhar a divulgação dos resultados na forma de um artigo científico.
O TCC deve ser desenvolvido por um grupo máximo de três alunos
que terá como atribuição, conjuntamente ao professor orientador,
definir o projeto de pesquisa e, a partir do desenvolvimento da
pesquisa, apresentar os resultados na forma de um artigo científico a
1
ser encaminhado para periódico da área. Além disto, o grupo de alunos
fará a sustentação dos achados da pesquisa diante de uma banca de
avaliadores. O TCC será produzido em três exemplares, os quais
deverão ser entregues a cada membro da banca de avaliação com uma
semana de antecedência a data de defesa.
Esta banca de avaliadores é composta por 2 (dois) docentes da
UNIFOR, além do professor orientador, levando-se em consideração a
pertinência da sub-linha do projeto com a formação do docente
examinador sendo a indicação dos componentes de responsabilidade
do professor orientador, em comum acordo com a CIP/CO.
Para avaliação dos TCC são considerados os seguintes critérios:
i.
A relevância da proposição investigativa;
ii.
Coerência metodológica;
iii.
Obtenção de respostas aos objetivos previstos;
iv.
Contribuição
profissional
dos
do
resultados
aluno,
assim
obtidos
como
na
a
formação
sua
geral
inserção
e
social
enquanto cidadão.
Visando estabelecer relação de afinidade entre os alunos e a
elaboração do TCC, estimulando que o aluno entenda a importância
real deste trabalho e não apenas entendendo-o como mais uma
obrigação em sua formação, a estratégia definida pela CIP prevê um
Curso de Capacitação Discente em Projetos de Pesquisa para os alunos do 7º
semestre letivo; a definição dos grupos, do tema e do orientador para os alunos do
8º semestre; a confecção do projeto de pesquisa no 9º semestre e o
desenvolvimento da pesquisa e sua posterior defesa no 10º semestre.
O grau de envolvimento entre alunos e professores orientadores na
execução e elaboração do TCC nos semestres 2003.2, 2004.1 e 2004.2
pode ser observado na tabela a seguir.
Tabela 1. Total de alunos, TCCs, professores orientadores e membros
avaliadores, segundo semestre de realização do TCC.
SEMESTRE
ALUNOS
TCC
ORIENTADORES
AVALIADORES
2003.2
44
16
12
30
2004.1
75
29
22
46
1
2004.2
47
20
14
37
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação preliminar do papel da CIP é bastante positiva, pois foi possível
implantar, regulamentar e executar o TCC, sendo hoje referência à iniciação
científica mínima requerida ao graduando, além de semear e permear a cultura da
produção do conhecimento no Curso de Odontologia/UNIFOR.
No que se refere a gestão da CIP com os cursos de especialização,
é importante registrar a definição de se elaborar o trabalho final no
formato de um artigo científico apropriado para publicação em periódico
com qualidade, assim como o estímulo a continuidade na oferta de
novos cursos.
Apesar das dificuldades iniciais, principalmente a partir dos alunos
que participariam pela primeira vez dos Trabalhos de Conclusão de
Curso, esta atividade foi identificada como um dos elementos com
maior potencialidade na produção de conhecimento científico a partir
da pesquisa, tendo desenvolvido de forma exemplar uma proposta de
regulamentação que está ainda hoje sendo utilizada na condução
destes trabalhos.
No ano em que o Curso de Odontologia completa 10 anos, a
administração
superior
da
UNIFOR,
Desenvolvimento
Institucional
compromisso
apoio
de
á
(PDI),
elaboração
cumprindo
assume
do
o
Plano
de
integralmente
projeto
de
o
Mestrado
Profissional em Odontologia, por meio da portaria R. 14/05, que nomeia
comissão específica para formular e propor o projeto pedagógico para
tal curso, visando sua aprovação junto à CAPES.
O momento é mais que oportuno para impulsionar novos desafios,
fazendo com que a Universidade desenvolva e democratize o acesso
aos seus trabalhos à sociedade.
1
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Avaliação da educação superior. Condições de ensino do curso de
Odontologia da UNIFOR – INEP/MEC. 2002.
Avaliação das condições de oferta do curso de odontologia da UNIFOR
– SESu/MEC. 1999.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CES 03/2002,
de 19 de fevereiro de 2002. Diretrizes curriculares nacionais do curso
de graduação em odontologia.
DEMO, P. Educar pela pesquisa. 3. ed. Campinas: Editora Autores Associados,
1998.
FERREIRA, R.F.; CALVOSO, G.G.; GONZALES, C.B.L. Caminhos da pesquisa e a
contemporaneidade. Psicol. Reflex. Crit. 15(2) Porto Alegre 2002.
UNESCO . Science for the twenty-first century. Paris, 2000.
UNICAMP. FORUM DE REFLEXAO UNIVERSITARIA. Desafios da pesquisa no
Brasil: uma contribuição ao debate. São Paulo Perspec., out./dez 2002, vol.16, no.4,
p.15-23.
UNIFOR. Curso de Odontologia. Portaria 01/2003, de 08 de abril de
2003. Cria a Câmara interna de pesquisa do curso de Odontologia da
UNIFOR.
UNIFOR. Reitoria. Portaria R 14/2005, de 14 de março de 2005. Cria a
Comissão de elaboração da proposta do curso de mestrado profissional
em odontologia da UNIFOR.
ZANCAN, G.T. Educação Científica: uma prioridade nacional. São Paulo
Perspec. v.14 n.3 São Paulo jul./set. 2000.
1
CAPÍTULO 9
Tratando desigualmente os desiguais: a busca da eqüidade no
Curso de Odontologia da UNIFOR
Grace Sampaio Teles
Domingos Leitão Neto
Fátima Maria Teixeira de Azevedo
Luiz Roberto Augusto Noro
INTRODUÇÃO
A Constituição Federal Brasileira prevê em seus artigos relativos aos
direitos do cidadão em relação à saúde a universalidade do atendimento, em todos
os níveis de atenção, independente de qualquer fator que diferencie um cidadão de
outro, qual seja, sexo, raça, cor, classe social etc. Entretanto, num país que ainda
não consegue proporcionar esta universalidade, um princípio que não pode ser
esquecido é o da eqüidade, qual seja, tratar de forma diferente aqueles que têm
necessidades diferentes, dando-lhes prioridade por sua menor condição de efetiva
inserção na sociedade.
É este o caso dos grupos de pacientes atendidos nos Projetos Especiais
do Curso de Odontologia da UNIFOR: pessoas com necessidade de prótese facial
ou pacientes com necessidades especiais, na maioria das vezes excluídos da
convivência social ou, minimamente, com menores condições de desenvolver
plenamente seus direitos de cidadania.
O currículo do curso não prevê em suas disciplinas o atendimento deste
tipo de pacientes, entretanto, a grande demanda observada nas clínicas de
atendimento do curso como a própria existência desta lacuna nos serviços de saúde
levou ao estudo da criação deste tipo de projeto visando o desenvolvimento destas
atividades envolvendo alunos da graduação, orientados por professores, em um
momento a parte.
A previsão existente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de
Odontologia de que é importante e conveniente que a estrutura curricular do curso,
preservada a sua articulação, contemple mecanismos capazes de lhe conferir um
grau de flexibilidade que permita ao estudante desenvolver/trabalhar vocações,
1
interesses e potenciais específicos também foi elemento importante na definição
desta estratégia.
Além disto, as diretrizes curriculares também apontam como competências do
futuro profissional reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e
atuar de forma a garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto
articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e
coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade; exercer sua
profissão de forma articulada ao contexto social, entendendo-a como uma forma de
participação e contribuição social; buscar melhorar a percepção e providenciar
soluções para os problemas de saúde bucal e áreas relacionadas e necessidades
globais da comunidade; manter reconhecido padrão de ética profissional e conduta,
e aplicá-lo em todos os aspectos da vida profissional além de atuar
multiprofissionalmente, interdisciplinarmente e transdisciplinarmente com extrema
produtividade na promoção da saúde baseado na convicção científica, de cidadania
e de ética. Sem dúvida, todos os que participam destes projetos têm se capacitado
amplamente para o desenvolvimento destas habilidades.
Dessa maneira, o aluno de graduação tem a oportunidade de vivenciar e
oferecer um atendimento de caráter holístico que favorece a socialização do
indivíduo, preserva a auto-estima e promove a qualidade de vida da família.Com
esta iniciativa, além de colocar o aluno em contato com a realidade da profissão, a
universidade reitera seu compromisso com a comunidade.
1. PROJETO DE PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS
1.1. INTRODUÇÃO
O reconhecimento da especialidade Odontologia para Pacientes com
Necessidades Especiais na 2a ANEO em 2001 trouxe maior valorização e qualidade
de atendimento a esta parcela da população. A criação dessa nova especialidade
se justifica pelo fato de que este grupo de pacientes, além das dificuldades
enfrentadas em virtude de uma condição incapacitante, sofrem discriminação da
sociedade pelos profissionais de saúde e até mesmo por seus familiares
(EISEMBERG, 1976; KOCH, 1995). As respostas sociais às pessoas especiais são
as mais variadas possíveis tais como medo, pena, perplexidade, repulsa,
1
constrangimento. A sociedade, de uma forma geral, tende a segregar estes
indivíduos. Em decorrência destes fatores a ONU, em 1991, lançou uma proposta de
criação da Sociedade Inclusiva. O documento defende a idéia de formar uma
sociedade mais justa no futuro, sem preconceitos ou exclusões. Independente de
qualquer parâmetro, incluindo as deficiências físicas ou mentais, A ONU quer ver a
Sociedade Inclusiva implantada em todo o mundo até o ano de 2010. Essa
população, representada por 10% da população mundial, naturalmente, encontra
dificuldades adicionais para o exercício de seus direitos mais básicos, tais como ir e
vir, estudar e trabalhar. Portanto, defende-se a necessidade de políticas públicas
capazes de propiciar igualdade de condições para a vida em sociedade, garantindo
a estas pessoas tratamento especial.
A Constituição Brasileira, promulgada em 1988, garante como dever do Estado,
não só a saúde como também o atendimento preventivo a todos os brasileiros, não
havendo nenhuma discriminação aos portadores de deficiência, seja física,
psicológica e social. No Brasil, a saúde bucal é apontada como a maior necessidade
não resolvida das pessoas portadoras de necessidades especiais. Estes indivíduos
apresentam necessidades odontológicas mais intensificadas em decorrência da
patologia orgânica como também pela falta dos familiares acreditarem ser
impossível a realização do tratamento dentário (FOURNIOL, 1998; CORREA, 1998).
Os cuidados com a saúde do paciente portador de necessidades especiais
extrapolam o trabalho específico de cada especialidade sendo preciso integrar,
interdisciplinar, interagir, para que o resultado final seja satisfatório para o todo do
paciente.
1.2. O ATENDIMENTO DE PACIENTES ESPECIAIS NA GRADUAÇÃO
Atualmente, os cursos de graduação têm incluído no seu fluxo curricular ou
mesmo na forma de estágios o atendimento ao paciente portador de necessidades
especiais. Esta iniciativa incentiva assim como desmistifica o atendimento a estes
pacientes que contam com uma parcela muito reduzida de profissionais.
A literatura aponta discussão no que se refere ao atendimento de pacientes
com necessidades especiais na graduação. Há uma corrente que concorde em
enquadrar estes pacientes no atendimento normal da clínica multidisciplinar e outra
corrente que alegue ser necessário um atendimento especializado. A Faculdade de
Odontologia da Universidade de Fortaleza oferece aos alunos do nono e décimo
1
semestres a participação no Projeto de Atendimento aos pacientes com
necessidades especiais como atividade extra-curricular onde os alunos inscrevemse voluntariamente e participam do atendimento por um período de um ano. A
procura pelo estágio tem se intensificado ao longo dos semestres e isto reflete a
repercussão da sociedade em termos de importância a estes pacientes.
As maiores dificuldades encontradas pelos alunos durante a execução do
tratamento são:
•
Capacidade de colaboração do paciente, indo desde o cooperativo
até o absolutamente não cooperativo;
•
Interrupções freqüentes, durante o tempo operatório, devido a
reações emocionais e fisio-patológicas do paciente;
•
Sialorréia, macroglossia, respiração bucal, entre outros fatores
relacionados com a cavidade bucal;
•
Posição ergonômica nem sempre possível de ser executada, pois o
profissional necessita se adaptar à posição do paciente na cadeira
odontológica;
•
Movimentos involuntários durante a execução do tratamento.
1.3. FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA
UNIFOR
O atendimento clínico engloba procedimentos de prevenção, dentisteria,
endodontia, cirurgia e ortodontia preventiva. A atuação clínica ocorre de forma
interdisciplinar como também multidisciplinar. A rotina de atendimento segue os
seguintes critérios: atendimento com a assistente social, clínica de triagem,
consultas de adaptação do paciente ao ambiente odontológico, concomitantemente
a realização de procedimentos preventivos, até a realização do tratamento curativo.
Aos cuidadores são dadas atenções especiais: partindo-se do princípio que para
cuidar é preciso conhecer, incentiva-se inicialmente o auto cuidado do cuidador para
em seguida orientar os cuidados a serem realizados na pessoa portadora de
necessidade especial. O número de consultas e o retorno são individualizados
variando de semanal, mensal ou trimestral. Os cuidadores acompanham todos os
passos do atendimento e auxiliam os alunos na comunicação com o paciente assim
1
como, auxiliam na contenção e adaptações necessárias na cadeira odontológica e
em exames radiográficos.
Os alunos trabalham em trio dispondo de uma hora para cada paciente.
Previamente a entrada do paciente, o material necessário ao seu atendimento deve
estar disposto e organizado na mesa clínica com o intuito de reduzir a tempo de
atendimento. Os alunos também participam do plantão da prevenção onde
semanalmente cada trio marca os pacientes que estão da fila de espera do
atendimento. Esta atividade evita o agravamento dos casos, educa e previne.
A
atividade em sala de aula é dividida em apresentação de casos clínicos e discussão
de temas inerentes aos casos.
Cada paciente dispõe de um prontuário onde são registrados anamnese,
exame clínico, exames radiográficos, encaminhamentos e declaração de condição
sistêmica do paciente assinada pelo médico. O atendimento multidisciplinar é
desenvolvido junto com o NAMI (Núcleo de Atenção Médica Integrada) que funciona
integrado a Universidade. No NAMI encontram-se profissionais da área médica,
fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas e educadores físicos. Dessa maneira, o
planejamento dos casos ocorre de forma integral por meio de discussão em aulas
clínicas e englobando as necessidades gerais do paciente. Ainda há muito que se
crescer e atingir. Estamos buscando um aperfeiçoamento do nosso trabalho para
que possamos oferecer cada vez mais um tratamento holístico visando a melhoria
da qualidade de vida do paciente.
2. PROJETO DE PRÓTESE DE FACE
2.1. INTRODUÇÃO
A Prótese Buco-maxilo-facial é uma especialidade odontológica reconhecida
pelo Conselho Federal de Odontologia e disciplina ofertada no currículo dos
principais cursos de Odontologia que tem sua indicação terapêutica em pacientes
com lesões onco-cirúrgicas onde for contra-indicada a cirurgia plástica e como
tratamento complementar.
O número de pacientes com lesões localizadas na face, causadas por variadas
etiologias, inclusive o câncer, é muito grande. A recuperação somática por meio de
processos autoplásticos (cirúrgicos) em inúmeros casos é insuficiente e em outros é
conrta-indicada, necessitando-se lançar mão da terapêutica protética complementar.
1
Este é um fator importante a ser considerado, pois as pessoas portadoras desses
tipos de lesões, em geral são muito carentes financeiramente.
Não é importante apenas executar a técnica precisa a determinado quadro
clínico que o paciente apresenta, isolando-a do indivíduo e do meio em que vive,
mas sim considerar a pessoa como um todo. Neste sentido, HELMAN (1994:104)
afirma em uma de suas publicações que:
... enfermidade é a resposta subjetiva do
paciente, e de todos que o cercam, ao seu malestar. Particularmente, é a maneira como ele –
e eles – interpretam a origem e a importância
do
evento,
o
efeito
deste
sobre
o
comportamento e o relacionamento com outras
pessoas, e as diversas providências tomadas
por ele para remediar a situação.
O tratamento estético e funcional dos pacientes com lesões buco-faciais é,
mais que em outras regiões do corpo, da maior importância. A recuperação
somática, aliada à normalidade psíquica, faz com que os portadores destas lesões
se reintegrem ao ambiente social e até mesmo, familiar.
A
partir
dessa
compreensão
realiza-se
um
atendimento
com
mais
humanização, buscando não apenas a cura da lesão em si, mas procurando
fornecer estratégias educativas para promover a saúde desses pacientes e provocar
uma mudança na sua qualidade de vida.
2.2. O ATENDIMENTO DE PACIENTES COM NECESSIDADE DE PRÓTESE
DE FACE NA GRADUAÇÃO
Levando-se em consideração que a prótese facial é de simples execução e de
baixo custo, se comparada com a cirurgia plástica, observa-se que pode ser ofertada
gratuitamente pelas instituições como ocorre com os pacientes que procuram o
Serviço de Prótese da Face do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza.
Com este objetivo, foi elaborado o projeto do serviço, para atendimento dos
pacientes com necessidade de prótese buco-maxilo-facial.
Levando em conta o grande número deste tipo paciente e a quase inexistência
de serviços para atendê-los, considera-se extremamente oportuno a criação, nos
1
Projetos Especiais de Odontologia da UNIFOR, do primeiro serviço de atendimento
a pacientes com defeitos na face, boca e maxila do Estado do Ceará.
O serviço de Prótese Buco-maxilo-facial tem, como objetivo geral, o
atendimento e recuperação, por meios protéticos, adotando estratégias de promoção
de saúde, de pacientes portadores de lesões sediadas na boca, maxila e face
visando sua recuperação estético-funcional, sua integração social, melhoria de sua
qualidade de vida e conseqüente reabilitação para a atividade profissional.
Pretende-se com o serviço dotar Fortaleza de um serviço especializado no
atendimento aloplástico dos defeitos da face, qualificar, por meio de estágio
curricular, acadêmicos de odontologia, fonoaudiologia, psicologia e fisioterapia no
atendimento destes pacientes especiais, recuperar por meio de prótese ocular,
pacientes portadores de lesões do bulbo ocular e óculo-palpebral, recuperar
pacientes portadores de lesões onco-cirúrgica ou agenesias na face, por meio de
prótese nasal, auricular e facial extensa, Confeccionar goteiras dentais, para, em
integração com a cirurgia buco-maxilo-facial, atender os pacientes portadores de
fraturas mandibulares, assim como desenvolver pesquisa na área de prótese facial
implanto-suportada.
É
filosofia
do
projeto
manter-se
uma
interdisciplinaridade
e
uma
transdisciplinaridade com especialidades afins, para que se possa proporcionar um
tratamento integral ao paciente e trabalhar estratégias de promoção de saúde.
É grande o número de pacientes que necessita de atendimento nesta área, o
que não existe é serviço para atendê-los. Portanto, é necessária uma articulação
com outros serviços que atuam com pacientes com este perfil como o Instituto dos
Cegos do Ceará, o Hospital do Câncer, as disciplinas de Oftalmologia, Oncologia e
Cirurgia Plástica do Curso de Medicina, além do curso de Fonoaudiologia, para
atendimento a pacientes portadores de fissuras palatinas.
2.3. FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA
UNIFOR
O serviço funciona com professores da disciplina de Prótese Buco-maxilofacial, disciplina obrigatório no fluxo curricular 36.2 da graduação, e com estagiários
formados por alunos do 9o e 10o semestres, que trabalham em dupla/trio e realizam
tanto procedimentos clínicos como laboratoriais na execução das próteses. Para o
1
atendimento aos clientes e orientação aos alunos estagiários e/ou pesquisadores
estão lotados dois professores e, como auxiliar, um funcionário.
A seleção dos alunos é feita junto aos acadêmicos do nono e décimo
semestres e obedecendo a disponibilidade de horário dos mesmos. O critério de
avaliação, leva em consideração o desempenho do aluno na disciplina de Prótese
Buco-Maxilo-Facial, o interesse, o relacionamento interpessoal, o compromisso com
o paciente, além de conhecimentos técnicos sobre o assunto.
O serviço funciona durante três dias na semana, no Curso de Odontologia da
UNIFOR, atendendo por turno, em média seis pacientes.
Por serem pacientes especiais que fogem ao cliente tradicional de Odontologia,
a triagem e seleção dos mesmos, é feita pelos próprios professores lotados no
serviço.
Durante o atendimento é preenchida uma ficha clínica para a qual são
transcritos todos os relatos informados pelo paciente na anamnese. Tem-se
observado que além das dificuldades financeiras relatadas, essas pessoas chegam
tristes e muitas vezes deprimidas e até arredias, em conseqüência da situação
vivenciada. Isto nos levou a repensar nossa abordagem eminentemente biomédica e
visão segmentada do paciente.
O atendimento do paciente com lesão facial, principalmente extensa, deve ser
feito em local especial, tanto para conforto do paciente, geralmente sujeito de
curiosidades, como o profissional de atendimento, que necessita de instrumentais e
materiais, geralmente indisponibilizados nas clínicas odontológicas tradicionais.
Hoje são atendidos pacientes de várias cidades do interior do Estado do Ceará,
inclusive de outros estados, bem como de Fortaleza. Em geral são pessoas
carentes, que na maioria das vezes, precisam da ambulância da prefeitura de sua
cidade para comparecer ao serviço, o que provoca maiores dificuldades, além das
inerentes à situação. Em dois anos de serviço já foram atendidas em média 120
pessoas, com as mais variadas necessidades.
O projeto tem desempenhado seu papel de forma exemplar uma vez que
observa-se no aluno uma maior motivação na solução do problema do paciente,
considerando a importância que isto representa na reintegração social assim como
vislumbra um campo de atuação ainda pouco identificado com a prática do cirurgiãodentista.
1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, N.C.B. Proposta para reconhecimento da especialidade Pacientes
Especiais aprovada na assembléia preparatória estadual. Presidente da Associação
Mato-grossense de Odontologia para Pacientes Especiais Relatora da APE – MT
BRASIL. Lei N. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. A Nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Brasileira.
CORREA, M.S.N.P. Odontopediatria na primeira infância. Ed Santos: São Paulo,
1998, 679 p.
EISEMBERG, L.S. The care and treatment of Handicapped Children. JDC, Jul/Aug,
1976.
FOURNIOL, A . Pacientes especiais e a Odontologia. Ed Santos: São Paulo, 1998,
472p.
KOCH, G.; TOMAS, M.; POUSEN, S.; RASMUSSEN, P. O paciente criança no
tratamento odontológico. In: KOCH, G.; TOMAS, M.; POUSEN, S.; RASMUSSEN, P.
Odontopediatria: Uma abordagem clínica. 2a Ed. Ed Santos: São Paulo, 1995, p.6577.
1
CAPÍTULO 10
Jornada Acadêmica de Odontologia da UNIFOR
Juliano Sartori Mendonça
Márlio Ximenes Carlos
Sérgio Luís da Silva Pereira
A jornada de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) é uma
atividade extracurricular, inserida no calendário de atividades letivas do curso de
graduação em Odontologia, realizada anualmente desde 1998, no segundo
semestre de cada ano. Em 2005, será realizada sua oitava edição.
O evento surgiu quando da realização da XXXIII Reunião da Associação
Brasileira de Ensino Odontológico na cidade de Fortaleza no ano de 1998, tendo
como primeira designação “I Jornada Acadêmica da UNIFOR”, nome este que foi
aprimorado, consolidando-se como a marca: Jornada Acadêmica de Odontologia da
UNIFOR – JAO da UNIFOR.
A jornada tem como objetivos primordiais:
Permitir aos discentes expor sua produção científica bem como exercitar
seus dotes pedagógicos, estimulando as atividades de monitoria bem como
os trabalhos de iniciação científica;
Permitir a exposição de conteúdos técnicos não trabalhados na grade
curricular do curso de graduação em Odontologia da UNIFOR ou o
aprofundamento dos trabalhados, e o contato com professores e filosofias de
trabalho distintas das adotadas no curso, alargando os horizontes
profissionais dos nossos discentes;
Permitir a discussão de temas relevantes ao curso de Odontologia da
UNIFOR ou a Odontologia cearense e brasileira, viabilizando aos nossos
discentes o conhecimento, a participação e a influência nos grandes debates
profissionais, aguçando ainda mais seu senso crítico;
Ser um momento de encontro, de congraçamento entre os discentes da
Universidade de Fortaleza (UNIFOR) com os da Universidade Federal do
Ceará (UFC), bem como com profissionais do Estado do Ceará, promovendo
a interação e a troca de experiências.
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O conclave é organizado por uma comissão composta de docentes e discentes
do curso de Odontologia da UNIFOR, trabalhando sob os auspícios do Centro
Acadêmico e da Coordenação do curso. O trabalho na organização da jornada é
voluntário. Os discentes dispostos a trabalhar manifestam seu desejo após
convocação do Centro Acadêmico e se distribuem pelas várias subcomissões,
sendo o coordenador discente escolhido por meio de votação entre os voluntários.
Já o coordenador docente e os demais professores são escolhidos e convidados
pela comissão discente a integrar as comissões já estabelecidas, visto que o papel
maior dos docentes é o de facilitador, pois a jornada é uma atividade feita pelos
discentes para os discentes.
A comissão organizadora é dividida em várias comissões temáticas: tesouraria,
instalação, divulgação, secretaria, científica e social, com a finalidade de
descentralizar os esforços e maximizar os resultados.
Financeiramente, o evento é de responsabilidade do Centro Acadêmico do
curso de Odontologia da UNIFOR, cabendo o bônus ou o ônus sobre o resultado
financeiro do mesmo. No entanto, o conclave recebe forte apoio institucional da
UNIFOR. Além disso, são comercializados espaços para feira promocional e
“merchandising”, sem falar no montante arrecadado com adesões a jornada e
inscrições às atividades científicas propostas.
A jornada é realizada nas dependências da UNIFOR, aproveitando-se da
estrutura do bloco do curso de Odontologia, uma vez que não há atividade letiva
neste período, assim como da estrutura disponibilizada pela Vice-reitoria de Pósgraduação e da Vice-reitoria de Extensão. Eventualmente, são utilizados espaços
externos a UNIFOR para realização de solenidades e festas.
Dentre as estratégias de divulgação do evento, estão: visitas aos locais de
concentração de acadêmicos e cirurgiões-dentistas para a distribuição de cartazes e
“folders”; envio de mala direta e manutenção de página na internet, a fim de
viabilizar informações e serviços, como a inscrição para apresentação de trabalhos
científicos na jornada.
Dentre as atividades oferecidas durante a jornada, podemos dividi-las em três
grupos: as científicas, as comunitárias e as sociais.
As atividades científicas, por sua vez, podem ser divididas: naquelas onde o
participante da jornada é o protagonista da mesma, como os fóruns acadêmico e
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profissional, clínico e científico, os temas livres e os painéis; e naquelas onde o
participante da jornada caracteriza-se mais como um ouvinte, como os cursos,
seminários, simpósios, fóruns de debate, mesas redondas, “workshops” e “handson”.
As atividades comunitárias são caracterizadas pela prestação de serviços à
sociedade, como campanha contra o câncer de boca, campanha de vacinação dos
estudantes de Odontologia contra a hepatite, ou campanha educativa a respeito da
cárie dentária, doença periodontal e traumatismo dentário com crianças de escolas
próximas a UNIFOR e com os filhos de funcionários da própria instituição, entre
outras. Estas ações são particularmente preciosas àqueles alunos que não
chegaram as disciplinas profissionalizantes, pois normalmente as atividades
científicas propostas não são de entendimento fácil em função do não domínio do
conteúdo teórico por parte destes discentes.
As atividades sociais são caracterizadas pelo congraçamento dos participantes
da jornada, como as solenidades de abertura e encerramento, os “coffee-breaks”, os
“happy-hours” e as festas noturnas. É importante destacar o espaço aberto nestas
atividades para que os discentes exponham seus dotes artísticos por meio de
apresentações de dança, teatro, música e literatura.
Enfim, a jornada tem se mostrado um excelente instrumento para aproximar
alunos e professores por meio de atividades nas quais a relação de poder esteja
alterada e os papéis nessa hierarquia imprecisos. Também constitui um excelente
laboratório para forjar líderes e testar seus desempenhos. Possibilita o convívio com
acadêmicos e profissionais de outras áreas, como a Fonoaudiologia, Fisioterapia,
Enfermagem, entre outros.
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