O Liberalzinho 2010

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O Liberalzinho 2010
DIVIRTA-SE
COM AS
CRIATIVIDADES.
PÁGINAS 13 A 15.
liberalzinho
BELÉM
DOMINGO
10 DE OUTUBRO
DE 2010
OLIBERAL
ESPECIAL
ARTE
PARÁ
O Arte Pará convida
a novas experiências
O pensamento desloca, move
pessoas, línguas e cultura. O Arte
Pará propõe diálogo e convida a novas
experiências. Reflete o universo
de transformações que ocorrem
no mundo contemporâneo.
REVISTA INTEGRANTE DE O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
2 liberalzinho ARTE PARÁ ESPECIAL
PAPO DEZ
Capa: Isadora Figueiredo
Forman Prata e Frederico
Nader Mattar Filho
Fotos: Shirley Penaforte
OLIBERAL
Presidente
Lucidéa Batista Maiorana
Presidente Executivo
Romulo Maiorana Jr.
Diretor-Editor Corporativo
Ronaldo Maiorana
Diretora Administrativa
Rosângela Maiorana Kzan
Diretora Comercial
Rosemary Maiorana
Diretor Industrial
João Pojucam de Moraes Filho
Diretor Redator-Chefe
Walmir Botelho D’Oliveira
Diretor de Novos Negócios
Ribamar Gomes
Diretor de Marketing
Guarany Júnior
Diretores
José Edson Salame
José Luiz Sá Pereira
Em sua 29 ªedição o Arte Pará nos convida
a experimentar as diferentes definições
do que é a arte. Isso porque, a arte pode
ser coisas diferentes ou ao menos pode
ser percebida de uma maneira diferente
por cada pessoa. Assim, mais do que ter
uma definição do que é uma obra de arte,
é pensar que a obra de arte é o que ela
Diretora Executiva
Roberta Maiorana
Assessora de Projetos
Daniela Sequeira
Assistente Executiva
Ana Cristina Prata
Curador
Orlando Maneschy
liberalzinho
ESPECIAL ARTE PARÁ
espaço ao diálogo, às novas experiências
e à possibilidade de transformar vidas
e objetos silenciosos e esquecidos. A
arte ecoa essa troca entre as pessoas,
reflete transformações que ocorrem nas
organizações sociais no planeta. A arte
desloca, move pessoas, línguas e culturas.
Assim, a TERRA TREME, TREME TERRA!
ARTISTAS CONVIDADOS E SELECIONADOS
Alberto Bitar
Adriane Alvares Magalhães
Maciel
Angella Conte
Anita de Abreu e Lima
Andréa Facchini
André Venzon
Armando Queiroz
Arthur Omar
Barrão
Bruno Macêdo de Cantuária
Carolina Ponte
Claudia Andujar
Cleantho Viana
Detanico Lain
Deborah Engel
Diego de Campos
Elza Lima
Elisa Castro
Ena Lia Matthees
Fernando Limberger
Flávia Bertinato
Flávia Junqueira Angulo
Flávio Cerqueira
Flávio Amenha
Flora Assumpção
Gelka Arruda
Gina Dinucci
Hildebrando Castro
Igor Magalhães Vidor
Jorane Castro
Jimson Vilela
José Hailton da Silva Santos
Keyla Sobral
Leticia Rita
Loise d. D.
Manoel Novello
Maria Mattos
Marinaldo Silva dos Santos
Murilo Rodrigues
Nailana Thiely Salomão Pereira
Nazareno Rodrigues
Odires Mlászho
Oscar Muñoz
Osvaldo Carvalho
Paulo Bruscky
Pedro David
Raymundo Firmino de Oliveira
Neto
Ricardo Macêdo
Regina Parra
Renato Chalu
Roberto Evangelista
Rodrigo Cass
Rodrigo Freitas
Sinval Garcia
Stephen Dean
Tiago Rivaldo
Valéria Coelho
Victor de la Rocque
Viviane Gueller
OS HORÁRIOS
MUSEU PARAENSE
EMÍLIO GOELDI
MPEG
Fundação Romulo Maiorana
fala. Porque neste caso ela é o que cada
pessoa ouve dela. Porém, às vezes a obra
é a própria coisa falante, que de dentro
dela nos fala, ecoa pelo planeta. Orlando
Maneschy, curador do Arte Pará nos fala
desse momento que vivemos no mundo
como sendo necessário navegar pelas
bordas. Navegar pelas bordas significa abrir
Av. Magalhães Barata, 376.
São Braz.
Tel.: (91) 3219-3358.
Fax(91)3249-0234.
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Funcionamento de terça
a sexta, das 9h às 17h.
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às 14h.
PATROCÍNIO
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FEDERAL DO PARÁ
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sexta,das 9h às 17h. Sábado
e domingo, das 10h às 14h.
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REALIZAÇÃO
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APOIO
O LIBERAL
NA ESCOLA
SETRANS-BEL
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
ESPECIAL ARTE PARÁ liberalzinho BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
4 liberalzinho ARTE PARÁ ESPECIAL
29º SALÃO ARTE PARÁ
A obra
de arte fala
O
lá! Adoro quando chega o mês
de outubro porque é quando
chego para mostrar para você
um mundo de coisas diferentes que se
chama ARTE. Junto comigo você vai
poder escolher como vai navegar por este
caminho nos museus para poder perceber como a arte transforma os espaços e
como podemos através dela manter contato de troca de experiências, como num
jogo que reinventa formas de se relacionar
uns com os outros.
A arte fala desse lugar e eu como
Arte Pará, com a experiência de 29
anos, confesso que a cada ano as
coisas são diferentes e através da
arte vou construindo espaços de
liberdade de pensamento, atitude e
conhecimento.
Mas adianto uma coisa importante: entre
nestes espaços e olhem para as obras de
arte como se fosse uma história sem começo nem fim.
Imaginem que estão perdidos no meio
da floresta amazônica cheio de coisas
interessantes para descobrir, mas este
caminho não indica nenhuma referência
para indicar como uma flecha, o seu olhar.
Acredito que deve dá um friozinho na barriga porque você está sem direção e com
certeza vai começar a se perguntar?Por
onde devo começar?Que tal começar a
caminhar sem ficar muito preocupado
com este caminho?
Para visitar uma exposição de
arte é importante ir preparado para
brincar com a imaginação, sabe
aquela brincadeira de olhar para as
nuvens e começar a ver formas de
bichinhos?Então, entre nas exposições fazendo de conta que vai se
aventurar, que está perdido e que
“Sem linha do
horizonte, sem
ponto de fuga”,
Andrea Fachine
não sabe que lugar é aquele. A
imaginação como já dizia Einstein,
é mais importante que o conhecimento, porque nos permite ver
mais possibilidade de formular perguntas e de fazer coisas estranhas
acontecerem, como por exemplo:
“apanhar chocolate de uma árvore”
já pensou se fosse possível?
Pergunte então: Usando sua imaginação pare na frente do primeiro
objeto de arte que mais lhe chamou
atenção e pergunte: objeto de arte, De
que você está falando? Que materiais
são estes que está usando? Fale comigo e me dê uma sugestão para onde
devo seguir. Não se assuste quando
o objeto começar a falar com você
porque todo objeto de arte, tem uma
língua própria, ele fala a língua da obra
de arte. Os desenhos da artista Andréa
Fachine, por exemplo, estão ligados pela
memória afetiva ligadas a sua infância, ao
mundo mágico povoado por seres que
não são reais, mas, se ligam ao mundo
natural. Quando a artista se relaciona
com a linguagem do desenho constrói
uma história, o desenho narra uma história de fábula, de ficção. Através da arte
podemos dar asas a nossa imaginação,
criar histórias que sonhamos.
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ESPECIAL ARTE PARÁ liberalzinho 5
A LÍNGUA QUE FALA EM SILÊNCIO
A arte nos faz pensar!
A
prender a língua de uma obra
de arte é muito fácil, basta olhar
com cuidado e se permitir pensar
naquele objeto em silêncio e deixar um
som que vem de dentro sua cabeça tomar
conta de sua imaginação para melhor
ouvir o que a obra de arte quer lhe dizer.
Mas, primeiro olhe, depois sinta que o
mais bacana neste jogo é que este objeto
tem uma resposta diferente para cada
pessoa que fala com ele, isto que dizer que
não existe uma resposta pronta e acabada
sobre uma obra de arte ou o que alguém
disser acerca dela ser isto.
Atenção! A obra de arte é Isto,
mas pode ser Aquilo também e a
certeza empobrece a experiência,
tira a cor da vida, prende os sentidos
e vai lhe distanciar da arte e até fazer
com que se perca a possibilidade
de criar, inventar, construir outros
sentidos para a obra de arte.
Percebe como o jogo está ficando
interessante? A obra está lhe dizendo
que o mais importante é a experiência
de cada um.
Porque você não vai me visitar nos
museus de Belém em busca de sua resposta, eu prometo que vou revelar através
da arte coisas criadas que ainda não
existem porque
a arte não copia as coisas que já
existem.
“Onde você
sempre quis
estar ”, Andrea
Fachine
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6 liberalzinho ARTE PARÁ ESPECIAL
OBRA DE ARTE
“Vênus
de Milo”,
escultura
grega
Ato criador che io
Série em pintura eletrostática sobre bronze, em
A
o entrar no mundo de suas lembranças,
você vai ter a certeza de que é amado por
seus pais.
Ouça essas vozes que lhe fazem sentir o amor
em sua casa, por meio das vozes apaixonadas de
seus pais contando histórias, lhe orientando.
Tem um autor chamado Roland Barthes que diz: a
linguagem provém da voz. Na voz é que mora todos
os seres invisíveis que todo ser humano possui e é
como um sopro que faz vibrar o universo inteiro.
Percebe como a voz de seus pais é
importante?Para provar esta voz mágica, é
necessário experimentar a escuta, e essa
escuta vai se tornar a experiência de infância
de vocês e ai mora a capacidade de (re)
inventar, de falar e ser falado.
Se você aprender a escutar a voz de seus pais,
vai aprender a escutar a voz da obra de arte que vai
ultrapassar o próprio eco, que escuta sua infância
viva a partir da experiência da voz e da palavra.
Muitos artistas dizem que alguns de seus
traços vêm da infância e que dura a vida
inteira.
Os objetos de arte são aquilo que eles dizem
ser e para escutá-lo vai depender da pergunta que
você fizer ou do tamanho do silêncio que existe
dentro de cada um de vocês.
É importante exercitar o ser criança como
se tivesse que reencontrá-la todos os dias,
se você provocar este encontro diariamente,
a infância será sempre dinâmica e renovada.
Tem uma poesia de Cecília Meireles chamada “O Eco” em que o menino pergunta ao
eco: “Onde é que ele se esconde? Mas o eco
só responde: onde, onde, onde [...]”.
A escritora está nos falando da infância como
condição de experiência: em primeiro lugar uma
experiência de escuta.
“O invisível”, Flávio Cerqueira
Infância e linguagem não se separam e no
Arte Pará você poderá experimentar sua infância
criativa de escuta através das obras de arte.
Encontre a infância e deixe que ela habite dentro
de cada um de vocês.
Experimente ver e escutar a obra do artista Flavio
Cerqueira de São Paulo que criou suas esculturas
partindo da fundição em bronze e do tema que
envolve o corpo humano. Ao pensar na escultura o
artista traz para a arte contemporânea uma técnica
e também um tema tradicional da história da arte
que é a escultura.
Você sabe que é uma escultura? É a
forma de arte que se estende pelo espaço,
que ganha corpo e relevo, que ocupa ruas,
campos, praças, museus. E para se fazer
uma escultura, pode-se usar uma variedade
de materiais. Dá para moldar o barro, derreter
o bronze, cavar a madeira, utilizar plástico,
pano, ferro, borracha. Até o corpo humano!
O Flávio é um artista do nosso tempo então ele vai
inverter trocar completamente o significado tradicional
que envolve o tema: corpo humano e escultura, e
modela figuras que tem o objetivo de nos fazer escutar e pensar sobre a linguagem e o esvaziamento.
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
ESPECIAL ARTE PARÁ liberalzinho 7
o de infância
exposição no Museu do Estado do Pará
“Ex Corde”, Flávio Cerqueira
Antes as esculturas eram apresentadas com
base e pedestal, herança do ideal de beleza,
graça e proporção instituído na Grécia Antiga.
Michelangelo Buonarroti (1475-1564) esculpiu o
Davi em 1501 e só foi terminar em 1504. O artista
levou quatro anos para fazer essa obra prima de
mármore. Ela mostra a perfeição do corpo guerreiro
mitológico que enfrenta o gigante Golias.
Como o artista
Flávio cria?
A partir da modelagem de figuras de aproximadamente 60 cm de altura, os trabalhos são apresentados como instalações, sem base e sem pedestal
contendo em si a relação que se estabelece com a
escala pequena da figura esculpida e o ambiente
específico ao seu redor.
Você sabe o que é uma instalação?
É uma forma de produção artística que
lança a obra no espaço, com o auxílio de
materiais muito variados, na tentativa de
construir certo ambiente ou cena, cujo
movimento está dado pela relação entre
objetos, construções, o ponto de vista e
o corpo do observador. Para a apreensão
da obra é preciso percorrê-la, passar entre
“Tudo entre nós”, Flávio Cerqueira
suas dobras e aberturas, ou simplesmente
caminhar pelas veredas e trilhas que ela
constrói por meio da disposição das peças,
cores e objetos.
Que materiais
ele usa?
As esculturas são revestidas com tinta industrial,
geralmente nas cores branca ou preta, camuflando
o bronze e provocando para que este seja confundido a qualquer outro material.
Como a obra
se apresenta?
O corpo humano é retratado vestido, com
roupas atuais e usuais, mas sem a intenção de
parecer um modelo de beleza ou idealização
como o Davi de Michelangelo, lembre-se! O Flávio
é um artista do nosso tempo, mas com certeza as
esculturas dos grandes artistas foram referências
para ele. O artista contemporâneo é um pesquisador, estuda a história da arte e outros assuntos
ligados a cultura, política, assuntos sociais, enfim,
o artista vive em constante exercício de escutar,
ver e estudar.
“Amazona
Mettei”,
escultura
grega
liberalzinho ARTE PARÁ ESPECIAL
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
EXCESSOS
ESPECIAL ARTE PARÁ liberalzinho 9
“Encontros
Belém, Pará”,
Sinval Garcia,
série exposta
no MHEP
“Encontros” com
objetos da rua
O
Sinval Garcia é um artista visual que mora
e trabalha em São Paulo. Artista visual é
aquele que habita todas as formas de arte.
O problema não é produzir novas formas, mas inventar
outras maneiras de habitat. Habitar formas de arte já
historiadas, reativando-as, mas também habitar outros
campos culturais.
Ao percorrer na cidade de Belém, entre o centro e a periferia o artista encontrou vários objetos
que muitas vezes ficam à margem do nosso
olhar, ou seja, ficam ali esquecidos, jogados num
canto, como algo que aparentemente não servem mais para a maioria das pessoas. Mas para
ele, tem um sentido muito interessante.
O artista vê nesses objetos usados, descartados,
reaproveitados e desconectados de suas origens para
determinados usos, como lixo produzido por uma
sociedade de consumo em que tudo é muito. O excesso é rodeado pelo ritmo acelerado de nossas vidas e
também pela superpopulação na existência atual.
O olhar atento do artista faz reaparecer nesses objetos silenciosos e apagados, outros significados e conteúdos pelo olhar atento da fotografia quando ele traz para o campo da arte.
Este campo da arte é necessário para que nós possamos ver os objetos que estavam na rua como anulados e esquecidos, como objetos que vão falar sobre
a forma como vivemos na cidade, na nossa trajetória e
vida nas ruas.
Na exposição o artista organizou esses objetos em
forma de coleção com o objetivo de renovar, ou melhor,
trazer de volta nosso pensamento sobre o perfil da
sociedade de nosso tempo. Esses registros fotográficos
de Sinval Garcia podem ser visto no Museu Histórico do
Estado do Pará-MHEP. Em Belém, as pessoas jogam
bastantes coisas nas ruas, e o Sinval está chamando
nossa atenção através da arte para cuidarmos mais da
cidade, afinal, a rua é a extensão de nossa casa!
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10 liberalzinho ARTE PARÁ ESPECIAL
RITUAIS XAMÃS
Yanomami
na fot ografia
de Andujar
C
láudia Andujar considera seu
trabalho fotográfico junto aos
Yanomamis como um contínuo,
sempre em andamento. Entre os anos
de 1971 e 2002, foi um período em que
a artista ficou bastante próxima da cultura Yanomami, seu trabalho tomou várias
formas: em alguns casos ele se materializou em fotografias e em outro como
envolvimento e luta pelos direitos e cultura
Yanomami.
A artista Considera a série
“Sonhos” um retorno em sua experiência com o Yanomami. As imagens
que compõem a série revelam os
rituais xamanisticos do Yanomami
“sua reunião com os espíritos”.
A partir de sua criação, a artista começa a conceber uma interpretação de imagens acerca dos rituais, fato que me deu
acesso ao estudo da origem, evolução e
disseminação das famílias e respectivos
sobrenomes ou apelidos do povo, juntando aspectos da cultura e dissolvendo as
fronteiras entre os seres humanos, seus
deuses e a natureza integrando todos em
um fluxo contínuo.
A fotografia é a forma de comunicação
da artista com o mundo como um processo de mão dupla em que você recebe
tanto quanto dá.
A artista diz que “se o registro
fotográfico de culturas pode ser
considerado uma forma de compreensão do outro, acredito que com
Fotografias expostas no Museu Paraense Emílio Goeldi – Rocinha
Série “Sonhos”
a série Sonhos consigo entender a
essência do povo Yanomami.”
A série pode ser vista no Museu paraense Emílio Goeldi na Rocinha.
Onde vivem os Yanomami? Nas paisagens do Maciço das Guianas, englobando
o sul da Venezuela e o norte de Roraima e
nordeste do Amazonas no Brasil.
Quantos são? Os Yanomami têm
como território tradicional extensa
área da floresta tropical no Brasil e na
Venezuela. Possuem uma população
em torno de 25.000 índios. No Brasil
existem cerca de 10.000 Yanomami
situados nos Estados do Amazonas e
de Roraima. Falam a língua Yanomami
e mantêm ainda vivos os seus usos,
costumes e tradições.
Como vivem? Vivem em grandes casas
comunais. A maloca consiste numa moradia redonda, com topo cônico, com uma
praça aberta ao centro. Várias famílias
vivem sob o teto circular comum, sem
paredes dividindo os espaços ocupados.
O número de moradores varia entre trinta
e cem pessoas.
Desde os anos de 1970, com a construção da estrada Perimetral Norte cortando
seu território, a operação de mineradores
e, hoje, a presença de milhares de garimpeiros têm resultado na destruição da
floresta e trazido muitas doenças para os
Yanomami, cuja população está sob séria
ameaça de desaparecer.
Que língua falam? Os Yanomami tem
quatro línguas faladas nas regiões de
fronteira entre Brasil e Venezuela que são:
Ninám, Sanumá, Yanomán e Yanomami
Yanomami significa “seres humanos”
Série “Sonhos”
Série “Sonhos”
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
ESPECIAL ARTE PARÁ liberalzinho 11
Série
“Abraçadinhos”,
Fernando
Limberger
OBJETO ARTÍSTICO
Abraços e afetos
F
ernando Limberger nasceu em
Santa Cruz, no Rio Grande do Sul,
mas mora em São Paulo desde
1989. Os trabalhos de Fernando são
objetos que nasceram abraçadinhos. O
Fernando coletou essas cabaças na natureza e combina cores de acordo com que
a forma lhe sugere. Esses objetos têm formas com movimentos que ele chama de
cabeças pintadas. O Fernando quer que
os visitantes da exposição mexam nos
trabalhos que ele faz, apertem, sintam a
forma rígida da cabaça, façam outras formas de abraços, coloquem em posições
diferentes, juntem com cores diferentes e
brinquem. Você acha que é possível transformar objetos prontos da natureza, alterar
a cor natural que não é para ver mais para
brincar?Com o Fernando é, ele passa o
tempo brincando de fazer abraços com
os objetos que ele cata na natureza. Tem
coisa mais poética do que brincar de fazer
abraço? Acredito que esta resposta você
só saberá quando for ao Museu do Estado
do Pará com a intenção de inventar e
brincar com outras formas de abraços
e afetos dos objetos do Fernando. Não
se esqueça da hora de voltar para casa,
pode ser que você corra o risco de não
querer mais sair de lá.
A série está
exposta no
Museu do
Estado do Pará
Cabaça baça ou porongo é a designação comum dos frutos de plantas da
família das cucurbitáceas (entre as quais
a Lagenaria siceraria, tema deste verbete)
e a uma da família das bignoniáceas.
As plantas são chamadas de cabaceira,
porongueiro e cabaceiro. O fruto seco é
amplamente utilizado em diversos países
do mundo, de várias formas: vasilha, para
uso em refeições, como cuias ou copos;
moringa para transporte de líquidos, normalmente, água para se beber durante uma viagem; cisterna para armazenar
líquidos em regiões secas; amplificador
acústicos em instrumentos musicais,
como afochê, maraca, xerequê, abê e
malimba;artesanato, porta-objetos, brinquedos, bonecas. O Fernando transformou em objeto de arte. A arte é feita das
coisas mais simples, mais belas, mais
esquisitas e nem sempre o artista põe a
mão na massa, algumas coisas já estão
prontinhas na natureza, mas, precisa ver
como trazer para o campo da arte. O
Fernando com certeza pensou bastante,
afinal arte é pensamento, é conhecimento!
Fernando Limberger caminhando pela
cidade viu uma cabaça, teve ideias de
artistas que faz a forma virar objeto, que
virou pensamento pensando, que
virou escultura, que virou pintura.
Humm!Pensando mais um
pouco, ele pensou aquele objeto
no espaço da exposição.
Refletiu assim:
“Eu imagino o espaço”as
pessoas mexendo, transformando os abraços,
misturando cores.
Quantas formas
de abraço as pessoas vão criar?
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12 liberalzinho ARTE PARÁ ESPECIAL
TEMPO DO RELÓGIO DAS NOSSAS AVÓS
Escultura de linha e agulha
A
s esculturas não precisam necessariamente representar uma figura, uma pessoa. Elas podem ser
apenas construções abstratas, que têm o
valor de apresentar uma forma, uma cor,
um plano, um volume, um tamanho. A
obra da Carolina Ponte que é uma artista
que nasceu na Salvador-Ba em 1981, é
um excelente exemplo disso.
Sem título,
Carolina Ponte,
exposta no Museu
do Estado do Pará
Aqui a artista criou desenhos e
esculturas moles que vai nos fazer
lembrar um tempo que estava quase
perdido: a duração que se vivencia
na atividade de fazer crochê.
Para nós que vivemos no tempo das
mensagens instantâneas em banda larga
no celular, em rede social, é um alívio
lembrar que o tempo pode assumir outras
formas menos corridos e passar devagar,
nos possibilitando construir nós entrelaçados, com agulhas e linhas coloridas.
Como a artista
constrói as esculturas?
As esculturas moles de Carolina nascem
de nós de agulhas de crochê, misturando
formas planas e tubos tridimensionais, isso
é passar a forma para três dimensões: altura, largura e profundidade. O espaço onde
a gente desenha em uma folha de papel só
tem duas dimensões, chamamos de bidimensional porque só tem o comprimento
e a largura. O espaço em que você e as
coisas vivem tem três dimensões: comprimento, altura e largura, observem sua casa.
A Carolina descobriu que podia fazer isso
com os tubos que pendem do teto.
Como é o desenho na
obra da Carolina?
Os desenhos exibem figuras concêntricas que têm o objetivo de atrair a nossa
atenção para o objeto, ao mesmo tempo em
que nos coloca em contato com o círculo,
e o crochê geralmente é feito em círculos
feitos de minúsculas unidades, como os
pontos que se desprendem da agulha.
Quando são coloridos, esses desenhos
começam como manchas de tinta acrílica
sobre papel. No fundo da figura Carolina
sobrepõe linhas feitas com caneta preta,
que vão desenhanhando as correntinhas
os pontos cruzados, o zig-zag, criando uma
teia ornada com vários padrões.
O que a artista quer
falar através da arte?
Quer integrar valores básicos, como
apreço a modos de vida simples e mais
integrados com a natureza, a um refinado
senso estético quando usa cor, forma, linha
e valorização da boa produção artística.
Quer também integrar porque o ornamento
lembra as culturas indígenas (por várias
épocas) que fazem seus ornamentos com
cores, linhas, tessituras, formas. Lembra
também as mulheres bordadeiras, lembra
também o tempo do relógio de nossas
avós que passam horas fazendo crochês.
Integra a high-art e low-art, porque isso é
coisa do passado, artistas como Beatriz
Milhazes e Cris Ofili trouxeram o acervo do
ornamento para as mais importantes instituições de arte e galerias do mundo. A obra
de Carolina atua como num crochê que se
faz alternando o ponto, alternado o tempo e
está exposta no Museu Histórico do Estado
do Pará-MHEP.
Beatriz Ferreira Milhazes: nasceu no Rio de Janeiro RJ 1960.
Pintora, gravadora, ilustradora, professora. Formada em comunicação social
pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro em 1981, inicia-se em
artes plásticas ao ingressar na Escola de Artes Visuais do Parque Lage EAV/Parque Lage em 1980, onde mais tarde leciona e coordena atividades
culturais. Sua obra faz referências ao barroco, à obra de Tarsila do Amaral
(1886-1973) e Burle Marx (1909-1994), a padrões ornamentais e à art deco,
entre outras. Entre 1997 e 1998, é artista visitante em várias universidades
dos Estados Unidos. A partir dos anos 1990, destaca-se em mostras internacionais nos Estados Unidos e Europa e integra acervos de museus como o
MoMa, Guggenheim e Metropolitan em Nova York.
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
ESPECIAL ARTE PARÁ liberalzinho 1
BREVES INSTANTES DE SENTIMENTOS
Faces gloriosas
São aquelas que vivem atitudes ligeiras, porque
não duram mais que breve instante de sentimentos
alterados entre a alegria e tristeza, o entusiasmo e a
retração, são opostos, mas não são uma coisa nem
outra, mas tudo ao mesmo tempo.
São faces que vivem momentos gloriosos de alegria exagerada, mas também de tristeza profunda, é
como viver uma conseqüência.
O artista Arthur Omar estuda esses sentimentos
e junto com eles, a realidade brasileira.
A fotografia é o meio que ele fala desse assunto
interessante.
Nessa galeria de retratos do artista, podemos
contemplar nossos ancestrais, nossa cultura.
Através da fotografia, Arthur registra faces expressivas, pulsantes. O olho, a boca, o gesto, tudo tem
movimento tem vida.
A imagem parece mover-se diante de nossos
olhos e com certeza nos faz também ter outras
faces, agora de encantamento diante de tamanha
percepção, conhecimento e sensibilidade do artista.
A série Antropologia da Face Gloriosa de Arthur
Omar está exposta no Museu de Arte Sacra – Galeria
Fidanza.
14 liberalzinho ARTE PARÁ ESPECIAL
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
c
CRIATIVIDADES
labirinto
Mulher colhendo flores
Rodrigo Freitas pintou paisagens
de inverno utilizando uma técnica
chamada têmpera s/papel. Esta
mulher elegante, linda! Está
colhendo flores tão delicadas. Ao
voltar para casa, começou a ventar
fortemente e ela teve de correr.
Sua cesta de flores, porém, ela
perdeu.
Ajude a mulher elegante a
encontrar o cesto de flores para
poder enfeitar a mesa do jantar.
“Paisagens de
inverno”, Rodrigo
Freitas, exposta
no MUFPA
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010
ESPECIAL ARTE PARÁ liberalzinho 15
c
CRIATIVIDADES
silhueta
A contorcionista
A prática do contorcionismo é
tipicamente desempenhada em
circos, e constitui um número
de espetáculo amplamente
reconhecido e admirado em todo o
mundo. A artista Letícia Rita gosta
de desenhar corpos executando
esta prática. Esta contorcionista
de Letícia flutua no ar, como se
estivessem voando.
Descubra qual dessas silhuetas é
a da contorcionista do quadro.
“A Liberdade está em nem
sempre poder voar”, Letícia
Rita, exposta no MHEP
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16 liberalzinho ARTE PARÁ ESPECIAL
BELÉM, DOMINGO, 10 DE OUTUBRO DE 2010