luz, câmera e Bahia

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luz, câmera e Bahia
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da Misericórdia é Fernanda Lopes Silva.
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Cinema
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Luxo
88 Presente de Deus
Quem canta, ora duas vezes
Inspiração
92 A diva do horário nobre
Músicas de novelas na voz de Gal
Comportamento
98 Escarlate
Lábios de diva
Inteligência
106 Gal e Oiticica – voz e arte
da Tropicália
Depois deles tudo mudou
Atitude
114 Roupa, pra quê?
Depende de quem e como se vê
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153
Iguatemi Gourmet
Parabéns
Celebration
Ora iê iê ô
Pra toda obra
Atabaques
Velocidade e perícia
Elegância a toda prova
Mas lentes da experiência
Avental
Vem chegando o verão
Bebida nobre
Sob nova direção
Voa Voa com Ana Import
Preta 3.6
Conteúdo e simpatia
Terra do nunca
Réveillon particular
Velocidade máxima
Début
Martelo solidário
De salto alto
Brigadeiro
Tendências
Expansão
Borbulhante
Escala baiana
Os mais sexies
Moda e negócios
40 anos em cena
Mainha
Wine Bahia Rural
Consagração
Dia de festa
Shimbalaiê
Feira de fotografia
Quiabo
Dupla comemoração
Bebida nobre
Barra Fashion Mall
Movimento de Moda Iguatemi
Ficha Técnica
LOGO
Fotógrafo: Rodrigo Pirim
Foto
Fotógrafo: Mauricio Nahas
Produtora: Marta Prado
Mock up: Zsazsa
Maurício Nahas é fotógrafo.
Faz ensaios de moda e trabalhos
publicitários para marcas como Gol,
Samsung e Reebok. Seus projetos pessoais incluem fotos na Rússia, Índia,
Cuba e no Nepal.
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 7
editorial
Ainda estamos todos aqui encantados com o bate-papo gostoso que
tivemos com nossa eterna diva Gal Costa. Ouvir sua voz iluminada é
sempre um presente. Zé Simão traduziu em palavras o que ela representa
pra ele e para o Brasil e Jean Wyllys relembrou músicas interpretadas
pela cantora que marcaram a história das telenovelas brasileiras.
E tem mais música nesta edição. Clara Angelica, colunista da revista,
conversou com Bebel Gilberto, em Nova York. Aqui em Salvador, no
Pelourinho, descobrimos alguns segredinhos do sambista Riachão.
E continuamos nosso passeio pelo Nordeste. Paramos em vários lugares
para cobrir festas deliciosas. Conversamos, fotografamos e festejamos
juntos. Essa região é assim, não para. E a alegria aumentou quando
chegou a hora de celebrar a vitória nas urnas do nosso parceiro Laurinho
Menezes, para suplente do senador eleito Eduardo Amorim pelo Estado
de Sergipe. E como é bom ver essas pessoas plantadas no Planalto Central.
O que desejamos é que lutem por um país ainda mais lindo e com menos
diferenças sociais.
Agora é hora de se preparar para a estação mais festiva do ano, o verão.
Soltar a voz, encher o peito de alegria, balançar as cadeiras e chamar
o Brasil para curtir o melhor que essa parte do país tem para oferecer.
Gastronomia ímpar, arte, cultura, sol, calor e um litoral deslumbrante
a se desbravar. Além, claro, da maior folia brasileira, o carnaval, que,
em 2011, na Bahia, chegará mais saudoso pela falta que faz o dedilhar
virtuoso do nosso eterno mestre Saul Barbosa.
licia fabio
colaboradores
Felipe Morozini se formou em direito
e uma viagem à Índia mudou tudo.
Voltou apaixonado por fotografia e
começou a observar a vida por outros
ângulos. Hoje, tem mais de 10 mil
fotos do centro de São Paulo.
D’licia é... ter amigos.
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Jean Wyllys é jornalista, escritor e
mestre em literatura pela UFBA; autor
de Aflitos (2001), Ainda Lembro (2005)
e Tudo ao Mesmo Tempo Agora (2009).
felip
D’licia é viver! D’Licia é
estar feliz!
Adriano M
Adriano Mascarenhas lidera o
escritório Sotero Arquitetos, sediado
sobre as águas da Baía de Todos os
Santos, que tem trabalhos executados
em todo o Brasil. É amante da boa
música e tem a companhia da sua
guitarra nas horas vagas para relaxar.
ascarenha
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Luana Po
D’licia é ver o sol se pôr no
mar.
D’licia é viajar pelo mundo
sem hora de voltar.
Pedro Fernandes é perito em imitação
de personalidades, estudou jornalismo
na Universidade Federal da Bahia
(Ufba). Escreve para o Caderno 2+,
do jornal A Tarde, e para o blog da
MTV Salvador. Publica seus desenhos
no blog www.desenhameumcarneiro.
wordpress.com
Luana Pontes é designer e sócia da
Cherry Plus, uma butique criativa
com foco em inteligência digital,
com escritórios em São Paulo e
Recife. Curte gadgets, ouvir música
e patinar no Parque do Ibirapuera.
Ama o mar e seus gatos Garota
Diadorim e Lafayette.
Flávio Novaes é baiano da gema,
baiano do bom. Formado em
direito pela Ucsal e em jornalismo
pela Facom, da UFBA, é fissurado
na história do nosso país e, em
especial, na da Bahia.
D’licia é pegar um baba
na praia, depois dar um
mergulho e bater uma
cerveja gelada.
D’licia é coco espumante
num fim de tarde na Barra.
P
Márcio Lima começou a fotografar em
meados dos anos 80, depois de algumas
experiências com pintura e escultura em
madeira. Fez residência na Universidade de
Syracuse, na Ligth Work, em Nova York, e,
na França, no departamento de Charente
Naritime, em Larochelle, apresentando
duas mostras individuais. Recebeu os
prêmios Nacional de Fotografia Pierre
Verger, Aquisição do 15º Salão do MAM-BA
e o Funarte Mac Ferrez.
márcio lima
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Flávio N
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edro Ferna
D’licia é a deliciação.
Publisher
Licia Fabio
Projeto Gráfico
Sérgio Gordilho
CoordenaçÃo executiva | mica araújo
[email protected]
Conselho Editorial
Adriano Mascarenhas, Cristina Franco, Edinho Engel, Hulda Menezes, Iuri Sarmento, Itamar Musse, Jane Palma, Laurinho Menezes, Lila Lopes, Wanda Engel
EDITORA REVISTA | ALINE QUEIROZ
[email protected]
Editora de Arte REVISTA | Lica de Souza
[email protected]
EDITOR SITE | JORGE THADEU
[email protected]
Jornalistas revista
Tássia Novaes | [email protected]
Jorge Thadeu | [email protected]
Produtor de conteúdo | Pedrinho Figueredo
[email protected]
Fotógrafos
Uran Rodrigues | [email protected]
Marcel Takeshita | [email protected]
Produção
Ana Paula Lima | [email protected]
Mariane Silva Reis | [email protected]
Revisor | Inácio Silva
Colaboradores
Texto: Adriano Mascarenhas, Clara Angélica, Driu Oliveira, Edinho Engel, Fábio Gomes, Flávio Novaes, Itamar Musse, Jane Palma, Jackson
Araújo, Jean Wyllys, Jorge Thadeu, Luana Pontes, Luciano Cenci, Melina Guterres, Pedro Tourinho, Pedro Fernandes. Folder: Tunga. Fotos:
adriano mascarenhas, alex giarolla, felipe morozini, ivan moretti, Lúcio Telles, MÁRCIO LIMA, pedro aciolly, rodrigo brandassi, tony galvez,
túlio tsuji. arte d’lirio: carlos rezende. direção de ARTE: bruno valença, IRON BRITO. ILUSTRAÇÕES 3D: Paulo Dias. ILUSTRAÇÕES: FLÁVIO LUIZ.
Comercial revista
Letra e Mídia: Adriana Assumpção | 11 8262.1234 | [email protected]
Vinicius Araújo | 11 9197.8374 | [email protected]
Comercial SITE
Luana Pontes | 11 8499.5070 | [email protected]
Tina Magalhães | 11 9477.5070 | [email protected]
BAHIA | REVISTA E SITE
Inês Barros | 71 8832-0602 | [email protected]
Administrativo Financeiro | Eliza Reis
[email protected]
Licia Fabio Produções São Paulo
Mila Andrade | [email protected]
Licia Fabio Produções Bahia
[email protected]
EDITORA VERMELHO E BRANCO LTDA.
Rua Augusta, 2.690 | 3º andar | Cerqueira César | 11 3063.0446 | CEP 01412-100 | São Paulo | SP
Impressão e Acabamento | Gráfica Burti
Tiragem desta edição | 30.000 exemplares
Distribuição | DINAP | Distribuidora Nacional de Publicações
Rodrigo Pirim | Assistente Kevin | Produção Edinalva Farias
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 15
Márcio Lima
o criador do nosso folder: Tunga
“a arte contemporânea está aberta
para diversas leituras”
A instalação À Luz de Dois Mundos ilustra
o folder desta edição. Exposta no Louvre,
em Paris, no MoMA, em Nova York, e agora
no Museu Rodin, em Salvador, a obra causa
perturbação e questionamentos
Exposições individuais
A
rquiteto por formação, Tunga deu início
à carreira de artista plástico na década
de 1970, com desenhos e esculturas originárias do universo figurativo. Temas ousados e, muitas vezes, polêmicos, como a série
Museu da Masturbação Infantil (1974), fazem
parte da obra do artista. Nos últimos 20 anos,
é recorrente a presença de elementos como
fios de aço, bengalas e garrafas partidas,
ímãs, crânios e esqueletos. Em À Luz de Dois
Mundos, Tunga sugere a existência de uma
balança capaz de balizar, de um lado, a existência de um esqueleto negro, sem cabeça, e,
do outro, crânios – sendo um deles de ouro.
Tranças e um pente gigante também fazem
parte da instalação. Tunga é ainda autor do
livro Barroco de Lírios.
Como nasceu a exposição À Luz de Dois
Mundos?
Foi a partir de um convite de um curador do núcleo de arte contemporânea do museu do Louvre,
em Paris. A ideia era fazer uma instalação que
ocupasse a frente da pirâmide de vidro. Originalmente, foi montada para ter 11 metros de altura.
Qual a expressão dessa mostra na sua
carreira?
Uma grande oportunidade. Talvez o Louvre
seja a maior referência de museu na atualidade. É um lugar muito frequentado, a instalação
ficou exposta por pouco mais de dois meses.
Considerando o fato de o senhor ter sido
o primeiro artista contemporâneo a
expor uma obra no Louvre, na França,
como foi apresentá-la no Museu Rodin,
em Salvador (Bahia)?
Foi também um convite, podia trazer a obra
que desejasse. A instalação principal foi reduzida um pouco – o comprimento inicial de 11
metros passou para cerca de cinco.
Se pudesse indicar um caminho para
auxiliar na compreensão desse trabalho,
qual seria?
Visualmente é uma experiência individual. Não
é uma equação fechada, a arte contemporânea
está aberta para diversas leituras. Muitas vezes,
o excesso de opinião de especialistas acaba por
reduzir a potencialidade de uma obra.
2007
•Museu de Arte Moderna (MoMA) de
Nova York
2005
•Museu do Louvre - Paris, França
2004
•Individual, na Galeria Millan Antonio São Paulo
2001
•Resgate, no CCBB - São Paulo
•Galerie Nationale du Jeu de Paume Paris, França
1999
•Galeria Luisa Strina - São Paulo
1998
•Museo Alejandro Otero - Caracas,
Venezuela
1997
•Galeria Thomas Cohn - Rio de Janeiro
•Center for Curatorial Studies - Nova
York
•Museum of Contemporary Art Joan
Lehman Building - Miami
1996
•Galeria André Millan - São Paulo
Individual, na Galeria Luisa Strina - São
Paulo
Márcio Lima
1995
•The New Museum of Contemporary Art
- Nova York
ficha técnica
À Luz de Dois Mundos, 2005
Aço, bronze, resina, ouro - 11 metros
16
1994
•Galeria Luisa Strina - São Paulo
•Galeria Millan - São Paulo
Galeria Paulo Fernandes - Rio de Janeiro
•The Museum of Contemporary Art Nova York
playlicia
D’licia
Licia
LUXO
I’ve got you under my skin, Frank Sinatra
All The Things You Are, Ella Fitzgerald
You Go To My Head, Billie Holiday
INSPIRAÇÃO
Fugiu com a novela, Vanessa da Mata
Luz de Tieta, Caetano Veloso e Gal Costa
Meu bem, meu mal, Gal Costa
Brasil, Gal Costa
COMPORTAMENTO
Oh, pretty woman, Roy Orbison
Lady Marmalade, Christina Aguilera, Lil’ Kim,
Mya, Pink
Put The Blame On Mame, Rita Hayworth
Todo beijo, Gal Costa
INTELIGÊNCIA
Tropicália, Caetano Veloso
Presente cotidiano, Luiz Melodia
ATITUDE
Vou ficar nu pra chamar sua atenção,
Erasmo Carlos e Roberto Carlos
Nua Ideia, Gal Costa
Voyeur, Gal Costa
PAZ E ARROZ, Club do Balanço
A dois passos do paraíso, Blitz
Canto de Xangô, Vinicius de Moraes e Baden Powell
Fogo e Gasolina, Roberta Sá e Lenine
Construção, Chico Buarque
Casa no campo, Elis Regina
Cada macaco no seu galho, Riachão
Samba da benção, Bebel Gilberto
As curvas da estrada de Santos, Roberto Carlos
À francesa, Marina Lima
Você não entendeu nada, Caetano Veloso
Canto do Pajé, Maria Bethânia
Comida, Titãs
GAL COSTA
Perfil
Vaca Profana, Gal Costa
Entrevista
Força Estranha, Roberto Carlos
D’lirio
Sinais de Fogo, Preta Gil
Alejandro, Lady Gaga
Skinny Genes, Elisa Doolitlle
Strawberry Swing, Coldplay
Island of the Sun, Weezer
Flutuar, Chiclete com Banana
#8
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 17
Playlicia PAZ E ARROZ, Club do Balanço | A dois passos do paraíso, Blitz | Canto de Xangô, Vinicius de Moraes e Baden Powell | Fogo e Gasolina, Bebel Gilberto | As curvas da estrada de Santos, Roberto Carlos | À francesa, Marina Lima | Você não entendeu nada, Caetano Veloso Roberta Sá e Lenine | Construção, Chico Buarque | Casa no campo, Elis Regina | Cada macaco no seu galho, Riachão | Samba da benção,
| Canto do Pajé, Maria Bethânia | Comida, Titãs
aqui e lá • rio grande do norte/rio de janeiro
Rio Grande do Norte, e a de mesmo
nome, sensação do verão no Estado
do Rio de Janeiro. A nordestina, localizada
flickr.com/photos/kirsten_m_lentoft
no município de Nísia Floresta, a 20 quilômetros da capital, Natal, é uma das mais procuradas durante os meses de janeiro e fevereiro.
“Fui convidado a prestar uma consultoria em
Búzios e comprei um bilhete de avião para o Rio
de Janeiro. Ao chegar, constatei que, na verdade, tinha sido contratado para trabalhar no Rio
Grande do Norte”, conta o consultor empresarial paulistano Henrique Lunnardeli, que, desde
2005, presta serviço a empresas no estado.
A praia potiguar também é muito procurada pelos surfistas por conta das ondas fortes.
Outra opção de lazer são os passeios de buggy
22
por entre as dunas da região. “A estrutura hoteleira e de entretenimento de Búzios ainda é
pequena. A maior parte do agito acontece nas
casas dos veranistas, que têm se multiplicado
nos últimos anos”, completa Lunnardeli.
A versão fluminense é mais cosmopolita.
O balneário, formado por 23 praias, localizado
a 165 quilômetros do Rio de Janeiro, chamou
a atenção do mundo na década de 60, quando
a atriz Brigitte Bardot se refugiou do assédio
da imprensa internacional na cidade. Bares,
hotéis-butique, restaurantes e lojas de grifes
internacionais movimentam a rua das Pedras.
Pelas praias de águas mornas, como João Fernandes e Ferradura, circulam celebridades
nacionais e internacionais, além de turistas
de diversas partes do mundo.
“Um dos melhores investimentos de toda
a minha vida foi a compra de um terreno em
Búzios. Lá, descanso da minha rotina atribulada além de ser um paraíso para as minhas
filhas, Laura e Maria”, revela a jornalista Glória Maria. A casa da apresentadora fica no alto
do morro Geribá. “Tive a oportunidade de
conhecer as duas versões brasileiras de Búzios. A nordestina é mais rústica. A nossa se
internacionalizou e ganhou o mundo. São dois
destinos turísticos diferentes com uma coisa
em comum: ambos devem ser desfrutados em
sua plenitude, respeitando-se sempre a natureza”, pontua o prefeito da Búzios fluminense,
Delmires Braga.
Como chegar:
Búzios | Rio de Janeiro
Saindo do Rio de Janeiro pela ponte Rio/Niterói, seguir pela RJ-106
Búzios | Rio Grande do Norte
Saindo de Natal, pegar a BR-101 norte e entrar
no acesso ao município de Nísia Floresta
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 23
flickr.com/photos/chelseasolan
M
ar de águas cristalinas, praias de areia
branca e um sol de rachar durante
praticamente todo o ano. Essas são algumas características em comum de dois paraísos brasileiros, a praia de Búzios, no
história pra comprar • bahia
15 centímetros
de memória
E
les cruzam o mundo levando de declarações de amor a pedidos de desculpa.
Em um espaço de apenas 15 centímetros de comprimento, além do
nome e do endereço do destinatário,
o sentimento de quem quer encurtar
a distância e partilhar sentimentos.
Assim, até pouco tempo, quando ainda não se
falava em redes sociais, a compra de um cartão-postal era indispensável em qualquer viagem de férias. A função primordial sempre foi
retratar o destino do remetente. A Torre Eiffel,
em Paris, o Farol da Barra, em Salvador, o Corcovado e o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro,
por exemplo, estão entre os clássicos vendidos
sempre com mensagens clichês: “Direto da Cidade Luz”, “Um axé da Bahia”, “A Cidade Maravilhosa”. Manifestações de afeto impressas
pelo próprio punho e que dispensam envelopes.
A era digital trouxe o acesso fácil e rápido
a registros fotográficos, feitos até mesmo pelos
aparelhos celulares. Com isso, o uso dos postais
foi se tornando menos usual. Mas há quem não
abre mão da prática e tenha transformado isso
em hobby. É o caso do cartófilo potiguar José
Valério Cavalcanti que tem catalogados mais
de 171 mil unidades. “Comecei a colecionar
em 1982. Naquela época, existia um remédio
chamado Capivarol que fazia sempre algumas
promoções. Nesse ano, lançaram uma carta
enigma. Eu consegui decifrar e o prêmio foi 25
cartões-postais; tão feios que pensei em jogálos fora. Esses foram os primeiros”, relembra o
médico aposentado de 77 anos.
Outras duas grandes coleções são de cartófilos autores de livros sobre o assunto. O jornalista e historiador José Carlos Daltozo escreveu Cartão-Postal - Arte e Magia e mantém seu
acervo na cidade de Marinópolis, no interior
paulista. Já o professor Antonio Miranda, da
Universidade de Brasília (UnB), é dono de uma
24
coleção com mais de 200 mil exemplares e escreveu o livro O que É Cartofilia, publicado em
1985 pela editora Thesaurus. Em Salvador, o
Museu Tempostal expõe um acervo, aberto ao
público, com mais de 45 mil cartões. O mais antigo data de 1898 e retrata o Elevador Lacerda,
símbolo da arquitetura da cidade.
Estão sediadas em São Paulo e em Porto Seguro, na Bahia, as maiores editoras de cartõespostais da América Latina, a Brascard e a Portocard. Para o proprietário das empresas, Sérgio
Rether, a extinção não vai acontecer, principalmente em países da Europa. Mas informa que,
no Brasil, as vendas caíram em torno de 70%
pela falta de incentivo e iniciativas que prejudicam a exposição do produto. “A prefeitura do
Estado de São Paulo, nosso maior consumidor,
proíbe a exposição dos cartões-postais nas
áreas externas das bancas de jornais, dificultando a visibilidade do produto. Eu acho que as
escolas também deviam estimular o manuseio
desse material, que, além de obra de arte, são
verdadeiros registros da geografia, história, usos
e costumes de povos e países.” Rether já editou
dois números da revista Conheça o Brasil através dos Cartões-Postais e é um apaixonado pelo
tema. “Novidades eletrônicas aparecem, mas
eles nunca vão acabar”, garante.
O primeiro cartão-postal foi criado oficialmente em 1º de outubro de 1869 pelo
austríaco Emannuel Hermann. Onze anos
depois, foi impresso o primeiro exemplar
brasileiro. Sua popularização começou em
1890, quando passaram a exibir desenhos,
pinturas e, posteriormente, fotografias. Nos
anos 70, fruto de uma parceria entre o empresário Alfredo Colombo, dono do Cine Foto
Colombo, com John Brunner, considerado o
papa do fotolito no Brasil, começaram a ser
produzidos, em São Paulo, os primeiros cartões-postais coloridos do país.
Museu Tempostal
Rua Gregório de Matos, 33
Pelourinho | Salvador | Bahia
Visitação:
Terça a sexta, das 10h às 18h
Fim de semana e feriados,
das 13h às 17h
71 3117.6382
religião • bahia
100 anos de tradição
D
o alto dos seus 100 anos de existência, comemorados nos meses de
julho e agosto deste ano, o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá vive a dicotomia
por Pedro Fernandes
Mila Cordeiro/ AGECOM
de representar a um só tempo a tradição e a vanguarda do candomblé no Brasil. Muito pelo caráter das ialorixás que o comandaram e comandam. Desde a sua fundação, sob as bênçãos de
Afonjá (Xangô), o senhor da Justiça, o terreiro
de São Gonçalo do Retiro é conhecido pela sua
aproximação com intelectuais, abertura para o
diálogo e respeito profundo aos fundamentos do
candomblé e seus segredos.
É assim que age Mãe Stella de Oxóssi, enfermeira aposentada, duas vezes doutora honoris causa, pelas universidades Federal da Bahia
(Ufba) e do Estado da Bahia (Uneb), sucessora
de Mãe Ondina de Oxalá, Mãe Senhora de Oxum
e Mãe Bada de Oxalá. E era assim que também
agia Mãe Aninha de Afonjá, fundadora do terreiro, mulher de crenças e de admirável intelecto.
Ela fixou a casa em São Gonçalo do Retiro em 1910, mas, como conta Vivaldo da Costa
Lima, antes passou por lugares como Camarão,
no Rio Vermelho, e Alto da Santa Cruz. Isso
aconteceu depois de deixar o terreiro do Engenho Novo, também conhecido como Casa Branca. Um ano depois de sua saída, aos 40 anos de
idade, já era uma das ialorixás mais admiradas
de Salvador e se orgulhava dos preceitos tradicionais de seu terreiro. Ao pesquisador Donald
Pierson, da Universidade de Chicago, disse:
“Tenho ressuscitado grande parte da tradição
africana que mesmo o Engenho Velho tinha esquecido. Eles têm uma cerimônia para os 12 ministros de Xangô? Não! Mas eu tenho!”.
Era tão respeitada que do seu encontro com
o presidente Getúlio Vargas, em 1936, o resultado foi a legalização do culto aos orixás por meio
do Decreto Lei nº 1.202, que proibia qualquer
embargo aos exercícios do candomblé no país.
Quando se realizou o 2º Congresso AfroBrasileiro, na Bahia, em 1937, lá estava Mãe Aninha entre os homens de saber, letrada, falando
francês e admirada por todos. No fim ainda lhes
ofereceu em homenagem uma festa no Ilê Axé
Opô Afonjá e uma lista de comidas com nomes
iorubás que foi publicada no livro O Negro no
Brasil, em 1940. Claro que ela não revelou seus
modos de preparo ou usos rituais.
Intimidade com as letras também tem Mãe
Stella, que já lançou quatro livros e luta para
conciliar educação e culto. Ela viajou várias
vezes para a África para aprofundar os conhecimentos sobre a cultura iorubá, que é basicamente oral, e conseguiu transformá-la em herança escrita. Sua última publicação, Epé Laiyé,
voltada para crianças, fala de proteção ao meio
ambiente e acaba de ser adotada pela Secretaria
de Educação da Bahia.
A ialorixá é conhecida por pregar a aproximação das nações de candomblé e por seu discurso antissincretismo, mas é completamente a
favor do respeito mútuo entre as religiões afrodescendentes e as religiões cristãs. “Quando você
tem essa consciência e valoriza a sua religião, não
precisa ficar atacando as outras. O importante é
que não existam agressões”, disse certa vez. Sempre a favor da justiça, como Afonjá, o guia de sua
casa, rumo a mais 100 anos de existência.
Ilê Axé Opô Afonjá
São Gonçalo do Retiro , 557
Cabula
Salvador | Bahia
71 3384.5229 / 6800
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 25
Otto Terra / SecultBA
Mãe Stella de Oxóssi
SUSTENTABILIDADE • bahia
moda A
sustentável
preocupação com o meio ambiente chegou
às passarelas. Utilizar materiais ecológicos e
adotar meios sustentáveis na produção, além
de ajudar o meio ambiente, agrega valor ao produto.
Não à toa, as duas últimas edições da São Paulo
Fashion Week (SPFW) tiveram como tema a sustentabilidade. Em outubro, Paris sedia a quarta edição
de uma semana de moda dedicada, exclusivamente,
às marcas que incentivam o trabalho de artesãos e
desenvolvem alternativas para diminuir o impacto
ambiental no processo industrial das confecções.
Por aqui, a designer de moda baiana Ju Rabinovitz
traduz isso com peças conceituais e exclusivas: “A
sustentabilidade é princípio básico nas
minhas criações. Não utilizo materiais recicla-
uran rodrigues
dos só pelo efeito que dá nos modelos”, ressalta.
A estilista é filha do artista plástico Sérgio Rabinovitz, desde a infância esteve rodeada por obras de
arte e aprendeu cedo sobre o cuidado com a natureza.
Naturalmente, essa vivência pode ser percebida nas
suas obras. Formada em arquitetura, só depois de
um curso de modelagem feito no Serviço Nacional
de Aprendizagem (Senac) a moda passou a ser uma
prioridade. “Mas todo o meu trabalho é baseado no
meu aprendizado com arquitetura. Desenvolvendo
as peças, figurinos, cenários, na pesquisa e produção.
Arquitetura fala muito de gente e para fazer minhas
roupas penso muito sob esse aspecto.”
Unindo as duas aptidões e com uma visão
diferente sobre o que é moda sustentável, Ju
está às volta com mais uma coleção, agora de
bijuterias fabricadas a partir de garrafas PeTs.
“Começou com uma ideia simples, mas virou
uma linha de acessórios”, explica. Denominada
PEThala, as peças são feitas com discos recortados da garrafas, que, unidos artesanalmente,
um a um, lembram pétalas de flores.
Tanto na produção dos acessórios como na
modelagem das roupas, a estilista se diz livre
para criar. Não importa o que dizem as colunas
de moda, para ela o que conta é o valor que “está
no intangível”. Ju acrescenta: “É um processo
que funciona em cadeia: desde o tratamento dos
funcionários, passando pela alimentação, todo o
aspecto psicológico influi no negócio”.
Essa liberdade também pode ser observada no
corte de tecidos leves das roupas criadas em seu
ateliê instalado no bairro do Rio Vermelho, em
Salvador. Algodão orgânico e juta são alguns dos
materiais utilizados na nova coleção de vestuário
da marca, há cinco anos no mercado. Quase não se
vê costura. “É uma roupa que tem essa coisa divertida no vestir, de descobrir maneiras e transformações. Para mulheres práticas, com estilo e que não
estão a fim de se formatar.” Uma moda que não fica
ultrapassada quando acaba a estação. “Faço uma
roupa que pretende ser um bem de consumo. Um
bem durável, que se compra hoje e dez anos depois
ainda pode ser usada”, arremata.
26
tecnologia • recife
porto de ideias
J
á faz tempo que o pernambucano tem escutado daqui e dali o quanto nosso povo é
comunicativo, acolhedor e criativo, como
se diz por aqui “povo sabido”. Temos tradição na
culinária, na arquitetura, na política, na poesia,
na música, um verdadeiro caldeirão em ebulição, cheio de referências e inspirações. Recife é
linda, apaixonante, cortada por rios e pontes que
embelezam a cidade e enchem nosso coração.
E, atravessando algumas delas, chegamos ao
Marco Zero, onde a cidade começou e onde tudo
pode se renovar. Por que não?
O pernambucano é empreendedor, inovador
e, falando de design e tecnologia da informação,
não é diferente, percebi isso muito cedo. Com
um olhar novo de quem tinha apenas 17 anos,
entrei na Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) no curso de design gráfico. Esse olhar
foi a chave de quase tudo: estava atenta e aberta
às novidades. Estava no lugar certo.
A incubadora de empresas de base tecnológica e o Centro de Estudos e Sistemas Avançados
do Recife (C.E.S.A.R) se estabeleciam no campus. Todo aquele “novo” era muito estimulante.
Sedenta por aprender e entender aquele movimento, mergulhei rapidamente naquele universo.
Lembro que Silvio Meira, um dos idealizadores
do C.E.S.A.R, plantava sementinhas de sonhos e
inovação naquela moçada ali presente. Algumas
vezes vi Silvio pelo campus paramentado com
cabeça de maracatu ou cocar de índio, acho que é
um pouco da metáfora do estilingue, do pensador
pernambucano Aloísio Magalhães: tem de ir pra
trás, resgatar a cultura, entender a história para
poder caminhar pra frente. Recife tem disso.
Foi assim que vi começar esse movimento
que hoje é referência. Tudo isso convergiu para
a criação do Porto Digital, um centro
www.portodigital.org
de competências em tecnologia que
surgiu em 2000 por meio de iniciativas pública, privada e de universidades. Instalado no sítio histórico no Bairro
do Recife, tornou-se uma região extremamente
moderna, que conta atualmente com mais de
100 empresas de TI.
O Porto Digital reúne inúmeros talentos
que se agregam e se estabelecem em empresas, diminuindo bastante a janela de evasão.
Antes disso, anualmente 75% dos graduados
em informática deixavam a capital em busca
de novos horizontes. A permanência de excelentes profissionais na nossa cidade permite
ainda exportação de serviços, não só para outras capitais como para o mundo.
Como boa pernambucana e empreendedora que sou, em 2003, aos 24 anos, criei minha
primeira produtora digital em Recife e, logo em
seguida, nos tornamos uma das primeiras empresas com foco em design de interface embarcadas no Porto Digital. Há cinco anos me mudei
para São Paulo onde, junto com minha sócia Andrea Bidlovski, fundei a Cherry Plus – uma butique criativa focada em inteligência digital. Hoje,
tenho grande convicção de que parte do resultado do nosso trabalho e das nossas conquistas
é fruto dessa vivência e desse aprendizado, de
ter tido o privilégio de participar do início desse
movimento pernambucano.
por Luana Pontes
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 27
falar bem
jackson araujo, cearense,
multimídia, jornalista de formação,
consultor de moda e analista de
tendências. Estuda as ondas jovens
no que diz respeito a comunicação,
comportamento, artes, moda e música.
o Twitter é a nova filosofia das estradas
F
oi-se o tempo em que as frases de para-choque
de caminhão serviam como fontes de trocadilhos impagáveis, os tais trocadalhos do carilho.
Mix de profetas, poetas e filósofos do mundanismo,
os caminhoneiros decoravam suas carrocerias para
exibir bem-humoradas expressões e pensamentos
recheados de sabedoria popular. Não faltava ironia
com a própria desventura, piadas sobre casos de
amor e traição, um pouco de sentimento religioso ou
declarações de amor para a mulher distante.
Tudo bem, é verdade que a cada dia existem mais
caminhões nas estradas de um Brasil sem ferrovias,
mas o lirismo e o colorido dessa poesia sobre rodas
tem sumido sob chassis metálicos, faróis de LED e
detalhes fluorescentes. Os caminhões viraram transformers, destemidos super-heróis sem coração, robôs
de extrema força e virilidade.
Para matar essa saudade, até mesmo porque tenho passado mais tempo na internet do que no asfalto, acompanho o Twitter como quem lê para-choques:
pequenas frases disparadas incessantemente por talentosos fazedores de humor.
Veja o caso do cantor cearense Falcão, que se
reinventa na internet com o Horóscopo Falconélico,
colocando os mais de 26 mil seguidores em contato
com a mesma vocação para piadas que o projetou no
cenário musical dos anos 90.
A veia brega-esotérica do cantor pode ser lida
diariamente em tuites de previsões astrológicas dignas dos velhos para-choques. O nonsense impera:
“Gêmeos – Em vez de explicar, é preferível dizer logo
o que é. Dia bom para fazer churrasco em um spa”;
“Áries – O dia se apresenta ótimo, por isso nem saia
de casa que é pra não estragá-lo”.
Falcão pega ainda a onda dos programas de culinária e cria tuites de receitas na Cozinha do Falcão: “Coisa
diet de manga: Primeiro chupe a manga. Depois bata os
ovos num liquidificador manual. Retire os fiapos. Sirva
junto”; “Maria-mole dura: Ponha os ingredientes com o
restante, mexendo de lá pra cá. Leve ao freezer para endurecer. Sirva crua”. “Medalhão de mocó com chutney
de macauba: Tempere a siriguela. Misture bem e assobie. Regue e salpique o negócio a bambão”.
A criatividade do @brega_falcao ganha ares de
seita quando se começa a seguir a micronovela O
Desgosto que Sua Mãe Me Deu. Cada tuite resenha os
capítulos com a maestria de um cordel. “MNcap39:
Onildo diz a Carminda que já serviu aluá na casa de
Ronnie Von. Arinelson se assusta com as varizes no
períneo de Cleuza. Algo cai.” “MNcap40: Tancredo
tira uma barata do entreperna de Cleuza. Atanásio
vê o Pe. Dedé bebendo no cabaré de Fideralina. Rui Jr
afoga o ganso. É.”
Falando em novela, a talentosa escritora cearense Natércia Pontes também está alimentando seus
seguidores com ácidos tuites comentando diferentes
momentos da TV aberta. “De novela a programa da
Luciana Gimenez”, frisa.
O melhor, os comentários são em tempo real,
o que só acentua a inconsistência dos diálogos dos
roteiristas ou apimenta o senso crítico de quem a lê.
“Eu juro que tento. Mas sotaque italiano do Projac
é algo que meus genes não foram programados para
suportar.” Ou: “Um lado meu muito horrível morre
de rir das piadas do Jô Soares”.
Para finalizar, uma pérola colhida no tuíte que resume bem a nova mania: “Essas novas linguagens (email, blog, Twitter) despertam duas formas adormecidas de comunicação: as cartas e os diários”. Completo:
o Twitter é o novo para-choque de caminhão.
Siga:
@brega_falcao
@naterciapontes
@shhh_fm.
jackson araujo
28
comer e beber
santo remédio
A
catuaba é uma árvore de tamanho pequeno, que produz flores amareladas e um fruto não comestível.
Natural do norte do Brasil, a infusão da raiz da planta era utilizada pelos índios da tribo tupi, como um tônico
medicinal no combate à insônia e à fraqueza. Os primeiros habitantes brasileiros também tinham a planta como
um estimulante sexual natural. O tempo passou e a fama
afrodisíaca da catuaba atravessou gerações. A infusão
da planta é hoje componente de bebidas alcoólicas que garantem potencializar a libido daqueles que a consomem.
amanda rossi
A catuaba em sua versão contemporânea é composta de vinho tinto doce, xarope de catuaba, guaraná, marapuama e possui uma graduação alcoólica em
torno de 1,6%. Atualmente, a iguaria é consumida em
maior escala pelas camadas da população que não
têm acesso aos medicamentos sintéticos, de combate
à impotência sexual. “A fama afrodisíaca da catuaba
no Brasil foi tamanha que a espécie quase foi extinta
nas décadas de 30 e 40. O consumo da bebida entrou
em decadência, mas a produção e distribuição ainda continuam em alta, nas regiões de menor renda
per capita do país”, explica o pesquisador baiano
Anderson Menezes, que estuda há quatro anos e
meio o fenômeno da catuaba no Brasil. Muitas
são as histórias daqueles que cresceram tendo a
bebida como um referencial para a saúde sexual. “Lembro que meu pai sempre bebia um cálice
pequeno de catuaba antes das refeições. Ele dizia que era para ficar forte e fazer a mamãe feliz. Ainda hoje, aqui em Minas Gerais, dizemos
que até um pai chegar aos 60 anos, os filhos são
dele. Após essa idade, a prole é da catuaba”,
conta o empresário mineiro Joacir Santos,
30
que, aos 52 anos, dispensa potencializadores sexuais na
relação com a sua esposa, que já dura uma década e meia.
Segundo a medicina, a catuaba na versão alcoólica
deve ser consumida com cuidado por aqueles que sofrem
de problemas cardíacos, por causa de seu poder de vasodilatação. Outro aspecto importante, de acordo com os médicos, é o alto risco de dependência que os consumidores
da bebida podem desenvolver, por sua associação com a
potência sexual. “Eu diria que os benefícios da catuaba
são maiores do que os malefícios. Porém, como tudo na
vida, deve ser administrada com cautela. A essência
da planta se potencializa se associada ao álcool e isso
pode representar uma situação de risco para alguns
indivíduos”, explica o clínico-geral baiano Pedro Almeida Lôbo. Apesar de ser uma planta de origem brasileira, o consumo da catuaba extrapola fronteiras.
“Na Europa e nos Estados Unidos a planta, em sua
versão alcoólica, é amplamente utilizada para o tratamento de patologias nervosas crônicas, como insônia e falta de memória. No exterior, porém, ainda
se conhece muito pouco sobre os efeitos da catuaba
como estimulante sexual”, completa o médico.
Malefícios e benefícios à parte, a bebida ainda faz
sucesso no Brasil. “Ano passado registramos um crescimento de quase 10% em nossas vendas. Para 2010,
esperamos um incremento ainda maior. Muito se diz
sobre a catuaba, mas o fato é que ela ainda é o remédio mais democrático para aqueles que estão com
sua libido vencida”, diz Adamastor Nemez, representante do fabricante da Catuaba Selvagem, uma
das marcas mais vendidas no Brasil.
Catuaba Selvagem
www.catuabaselvagem.com.br
arquitetura • bahia
Lelé, arquiteto-construtor
E
le mora na Bahia, nasceu no Rio de Janeiro, consolidou-se profissionalmente
em Brasília, plantou benfeitorias pelo
Brasil e ganhou o mundo. Ou melhor, prêmios
pelo mundo. Bienal de Arquitetura de Buenos
Aires (2001), Bienal Ibero-Americana de Arquitetura e Engenharia (Chile, 2002), dentre
muitos outros. Reconhecimento e reverência
que nada mudaram o jeito simples e a forma
coerente como sempre encarou a vida por
meio do seu labor, a arquitetura.
Moradores das grandes cidades
brasileiras não terão dificuldade em
identificar o traço de João Filgueiras
Lima, o Lelé, em mobiliários urbanos,
passarelas, escolas, edifícios governamentais, estruturas de transporte
e hospitais. Seu trabalho, essencialmente de-
Darcy Ribeiro. “Sempre fui muito preocupado
em aprender a profissão nos mínimos detalhes, inclusive a arte de construir. Gostava de
me exercitar na obra, sempre pegava na ferramenta”, explica ele.
Mas veio aquela história de 1964 que o levou de lá. De lá para a Bahia, e ali começar a
desenvolver o seu trabalho autoral mais consistente. Projetou diversos edifícios para o
novo Centro Administrativo do Estado a partir de 1973. Constituiu fábricas de edifícios e
equipamentos como a Companhia de Renovação Urbana de Salvador (Renurb), 1978, Fábrica de Equipamentos Comunitários (Faec),
1986, culminando com a criação do Centro
de Tecnologia da Rede Sarah, 1992, este uma
matriz referencial da excelência que alcançou
o seu trabalho. Hoje, após ter deixado a Rede
Sarah, Lelé não reduz o ritmo de afazeres. No
Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat (IBTH), com sede em Salvador, transmite
com o mesmo entusiasmo e sabedoria o princípio da boa arquitetura, aquela que ajuda a
construir um novo homem.
por Adriano Mascarenhas
adriano mascarenhas
senvolvido no âmbito público, é de uma abrangência e originalidade que impressiona. Difícil
concluir onde este inquieto artista da construção nos deixará seu maior legado. Será na Rede
Sarah de Hospitais de Reabilitação, para a qual
desenvolveu desde macas e equipamentos hospitalares até sistemas inovadores de ventilação
natural antes da moda sustentável, dentro de
uma arquitetura arrojada e elogiada por tantos
colegas mundo afora? Ou será sua contribuição
ao uso e desenvolvimento da argamassa armada
e estruturas pré-fabricadas na confecção de edifícios e equipamentos comunitários? Ou ainda
o seu exemplo como servidor de uma causa tão
abandonada atualmente que é a da construção
do habitat em níveis de dignidade que ainda não
conhecemos por aqui?
É fato que a sua caminhada enriquece ainda mais os predicados da sua obra. A começar
por ser ele uma referência viva e importante
da construção de Brasília. Chegado ao cerrado em 1957, Lelé supervisionou e desenvolveu
projetos de Oscar Niemeyer por 14 anos, tendo com ele estabelecido uma amizade que se
estende até hoje. Naqueles dias de isolamento,
falava com o Rio uma vez por semana em ligações precárias de rádio. Sobrava a companhia
da sua sanfona e o céu do planalto sem-fim.
Aprendeu ali, com auxílio dos operários, o ofício da construção para pouco depois dividir
seu conhecimento como professor na recém
formada UnB, criação do seu futuro amigo
32
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 33
artes plásticas • sergipe
um artista de Atalaia
“O
par da restauração da Igreja da Ascensão, na
qual fez quatro painéis. Wilson Rocha escreveu sobre a figuração metafísica e essencialidade da pintura de Joubert: “Uma obra pictórica realizada com paixão desmedida com uma
desenvoltura, uma total ausência de complexos
e uma margem de precisão… revestiu de prestígio a exposição de Joubert. Uma pintura figurativa e de uma conceituação atual da arte, que
exprime uma visão interior, a paisagem psicológica, numa figuração metafísica que exalta a
essencialidade de pintura, a matéria pictórica
em que se concentra todo o seu elemento formal. A linguagem elaborada e consciente deste
artista desenvolve uma mensagem purista de
pintura numa teoria de exploração das profundezas subjetivas, das zonas ocultas do ser, as
energias da mente, resultando em uma pintura
de funções mágicas e saturadas de mistério”.
Joubert pinta com os dedos, com panos
e pincéis. Na escultura, trabalha com as duas
mãos. Na pintura, é totalmente canhestro. Já
no violão, em que se embala compondo e cantando todos os dias, é destro, “como Roberto
Menescal”, lembra, “a gente tocou muito um
dia e rimos sobre isto”.
Joubert Moraes está preparando uma nova
exposição para o segundo semestre, no Palácio
Museu Olímpio Campos, em Aracaju, com esculturas em terracota, material com o qual vem
trabalhando nos últimos 20 anos, pinturas abstratas e muito mar.
por Clara Angelica
Lúcio Telles
joubert moraes
mar me dá muita arte de presente.”
E Joubert segue falando, pausadamente, de como o mar é a maior força da natureza e quando se mora muito perto
do mar, do fluxo e do refluxo da maré, os presentes começam a chegar. Morava bem na beira da praia e começou a receber fragmentos do
mar, que vinham bater no jardim da casa, entrando pela varanda sem pedir licença, tomando conta. O pintor a princípio olhava, admirava
e deixava lá. Aprendia. Foi então que começou
a pegar, interferir e a criar junto com a natureza: “Foi assim que nasceu minha escultura, foi
o mar que me deu, até então era só a pintura”.
Joubert pegava raízes e outros fragmentos que
vinham do rio São Francisco até o mar e iam
bater na porta de sua casa, na praia de Atalaia,
em Aracaju. Os trabalhos se transformaram
em um movimento, Aracajoubê, o que acabou
chamando a atenção de Pierre Restany, crítico
de arte francês de alcance internacional, que
fez o Movimento Ouro Negro em São Paulo,
nos anos 80. Restany viu as fotos da casa com
as esculturas de fragmentos e se encantou.
A arte de Joubert Moraes, pintor de Aracaju, é linda e refinada. Estudou na Escola de
Belas Artes da Bahia com Rescala e Juarez
Paraíso. Sua pintura passou por várias fases e
uma das mais belas foi fruto dos estudos do artista do barroco e do período renascentista. “Eu
gostava do sépia, dos claros e escuros, daquela
visão renascentista; estudei muito e assim cheguei ao craquelê.” Foi nessa fase que Joubert
levou uma exposição para o museu do Solar do
Unhão, em Salvador, e foi convidado a partici-
34
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 35
divulgação
moda por Pedrinho Figueredo
divulgação
Arte em renda
Joias eco-friendly
Bijuterias sustentáveis. Essa é a proposta da coleção In Natura lançada pelas designers paraibanas
Érica Medeiros e Mariana Borba. Fabricadas com algodão orgânico colorido produzido na Paraíba, as biojoias foram confeccionadas artesanalmente. Sementes da
Mata Atlântica, miçangas e madeira de reflorestamento compõem as peças, que já
estão sendo exportadas para países como Portugal e França. Por causa do sucesso da coleção, a dupla está preparando um novo lançamento para dezembro deste
ano. Dessa vez, as peças serão confeccionadas com coco, bambu, tacumã e babaçu
associados a metais preciosos como ouro e prata. “Estamos impressionadas com
o sucesso das biojoias. Além da grande procura no mercado nacional, temos recebido muitos pedidos de países estrangeiros. Em associação com uma cooperativa
da Amazônia vamos utilizar material exótico na composição das peças da próxima
coleção”, adianta Érica Medeiros.
Biojoias by Érica Medeiros e Mariana Borba
Babel das Artes
www.babeldasartes.com.br
Av. Senador Ruy Carneiro, 24
João Pessoa | Paraíba
A estilista e rendeira cearense Perpétua Martins é considerada uma
das precursoras da técnica do filé colorido. Com 20 anos
de experiência, ela conquistou uma legião de admiradores
pelo colorido e bom acabamento de suas criações. Saias,
blusas, xales e vestidos são algumas das peças produzidas
artesanalmente, que, atualmente, podem ser encontradas
até em maisons francesas e italianas. Com uma equipe
formada por 15 rendeiras, Perpétua está preparando a sua
nova coleção, com lançamento previsto para dezembro
deste ano. As peças terão texturas produzidas por designers com ajuda da computação gráfica e executadas à mão
pela equipe cearense. As criações também vão fazer parte de uma mostra sobre artesanato e cultura popular que
acontece em janeiro de 2011, em Milão. Pela primeira vez,
Perpétua Martins vai emprestar o seu trabalho com renda
em filé para uma linha de bolsas da Forum. “O trabalho de
Perpétua impressiona por ser autoral, tradicional sem ficar
perdido no tempo. Confesso que, mesmo sendo sua cliente,
ainda me impressiono com o que ela produz”, conta a consultora de moda Cristina Franco, que consome o trabalho
da cearense há cinco anos.
Atelier Perpétua Martins
Av. Dolor Barreira, 820, Vicente Pinzon
Fortaleza | Ceará
85 3262.3962 / 85 3234.6080
Inspiração praiana
divulgação
O joalheiro Carlos Rodeiro foi buscar inspiração na atmosfera praiana de paraísos brasileiros como Búzios, Praia
do Forte, Trancoso e Maresias para compor a sua nova coleção. Topázio, ágata, água-marinha e rubi foram algumas das pedras preciosas utilizadas. O toque sofisticado ficou por
conta de detalhes em diamantes, pérolas, ouro branco e amarelo. “A nova coleção segue
a linha do luxo, porém cheia da brasilidade característica da nossa grife. A ideia é homenagear o Brasil mais uma vez”, pontuou Rodeiro. O baiano também está lançando uma
linha de joias masculinas, cujas coleções serão assinadas por personalidades brasileiras.
A primeira ficou sob a batuta do badalado fotógrafo e maquiador Fernando Toquatto. O
garoto-propaganda é o modelo Jesus Luz. As peças desembarcam no mercado em novembro deste ano. Considerado uma referência no mercado de joias brasileiro, Carlos Rodeiro
tem representações nas cidades de Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris e Mônaco.
Entre os clientes, estão personalidades como a top model Naomi Campbell e a apresentadora Hebe Camargo.
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Carlos Rodeiro
www.carlosrodeiro.com.br
ECONOMIA
a vez do Nordeste
responder por um em cada três empregos gerados nessa área, sendo o
crescimento mais acentuado que as
demais regiões.
Ali as perspectivas são mais animadoras,
dado os investimentos e a oferta de crédito,
como a contratação de mais de 343 mil residências somente para o programa Minha Casa
Minha Vida. Há uma maior demanda por habitação e mão de obra que pode ser aproveitada
com menor custo. Ainda, das 12 cidades sede
da Copa de 2014, quatro são cidades nordestinas: Salvador, Recife, Fortaleza e Natal. Isso
deverá representar um incremento de investimentos em mobilidade urbana, infraestrutura,
hotelaria e mercado imobiliário poucas vezes
vistos em tão curto espaço de tempo.
Exemplo de uma cidade que reflete bem
esse cenário, na capital da Paraíba, João Pes-
soa, em cinco anos a oferta de apartamentos
dobrou na cidade, com edificações alcançando
mais de 40 andares, alterando a paisagem habitual. Já em Pernambuco a previsão é que haja
uma movimentação ainda mais forte no interior, trazendo importante contribuição para reduzir o histórico problema do êxodo de pessoas
para outras regiões do país.
Apesar das construtoras e incorporadoras
de todos os estados se movimentarem nessa
direção, muitas em parcerias com empresas locais, os desafios se colocam à frente dos empresários. A corrida para formação de mão de obra
agora tornou-se imperativa. Em estados como
a Bahia, já existe a falta de profissionais qualificados, o que tem gerado o aproveitamento de
pessoas com baixa experiência e consequentemente pouca produtividade. Os salários sobem
no mesmo ritmo que somem os especialistas,
numa região que gerou até julho deste ano 154
mil empregos, sendo Bahia, Ceará e Pernambuco seus grandes protagonistas.
Há, de certo, uma grande expectativa de
que toda essa conjuntura de números superlativos seja realmente convertida num avanço
da qualidade de vida nas cidades. A presença
de novos e grandes empreendimentos imobiliários, bem como os investimentos públicos
previstos, cria uma chance histórica de passar
as cidades a limpo no plano urbanístico, inaugurando uma nova etapa de conquistas pela
frente. Resta observar se estaremos realmente
preparados para isso ou se deixaremos a oportunidade escapar por entre os dedos.
por Adriano Mascarenhas
ivan moretti
O
s adjetivos são muitos para exaltar o
atual momento da construção civil no
país, em especial na Região Nordeste.
Em expressões como “milagre econômico” ou
mesmo “boom”, fica evidente o clima otimista
do setor e a realidade demonstra com números que isso não é à toa. Passada a tempestade
dos anos 2008 e 2009, agora o sol parece brilhar ainda mais intenso.
Depois de ter atingido níveis catastróficos
nos anos 80 e 90, a cadeia da construção civil
representa hoje aproximadamente 9% do PIB
do país. Os índices de crescimento aproximam
este bom momento dos números da era do chamado “milagre” nos anos 70. São deste setor
os recordes seguidos de geração de emprego
e de produção. E o Nordeste já passa a
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 37
CINEMA • PERNAMBUCO
viajo porque preciso,
volto porque te amo
P
rincipal referência de vanguarda e produção audiovisual realizada fora do eixo
Rio/SP, o cinema pernambucano
tem sua pujança ligada a um incrível hiato produtivo de 20 anos. Em
1978 foi lançado o filme O Palavrão, de Cleto
Mergulhão, que, apesar de relevante, teve pouca repercussão local e nacional. Quase duas décadas depois, em 1997, O Baile Perfumado, dirigido por Paulo Caldas e Lírio Ferreira, passou
a ser considerado como “marco zero” de uma
nova fase pernambucana e nacional quando as
produções começaram a se reerguer depois do
“apagão” causado pela era Collor.
A partir de 1997 a onda foi outra mesmo.
Desde então a nação mameluca vem produzindo uma excelente safra de cineastas e longas-metragens. Lírio Ferreira (Árido Movie;
O Homem que Engarrafava Nuvens), Paulo
Caldas (O Rap do Pequeno Príncipe Contra
as Almas Sebosas), Cláudio Assis (Amarelo
Manga; Baixio das Bestas), Marcelo Gomes
(Cinema, Aspirinas e Urubus; Viajo porque
Preciso, Volto porque Te Amo), Camilo Cavalcante (A História da Eternidade).
Trilha internacional
Em 2003, Amarelo Manga foi apresentado
em Berlim, Cinema, Aspirinas e Urubus es-
38
treou em Cannes em 2005 e foi escolhido para
representar o Brasil numa hipotética indicação ao Oscar (que não se materializou). Baixio
das Bestas foi um dos mais recentes brasileiros premiados em festivais internacionais.
Trouxe de Roterdã, na Holanda, o prêmio Tiger de melhor filme.
Mas, mesmo com todo avanço tecnológico,
o cinema no Nordeste ainda é de resistência.
Como também no Norte do país, podado pela
falta de estrutura, recursos financeiros, técnicos e humanos, travados pelo gargalo da distribuição; o ótimo momento se deve mesmo à
paixão em fazer. Contudo, justiça seja feita: de
uns anos para cá, cineastas, roteiristas e produtores têm tido mais apoio por meio das leis de
incentivo e editais de seleção pública, lançados
pelo então ministro da Cultura Gilberto Gil.
Na terra do sol
Não é possível falar de cinema brasileiro
hoje sem conferir o protagonismo do Nordeste. Desde o Cinema Novo, com Vidas Secas
(1963), de Nelson Pereira dos Santos, e Deus
e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber
Rocha, o sertão nordestino é tema e cenário
de muitas produções, todas com forte denúncia social. A obra do cearense Karim Ainouz,
roterista de Abril Despedaçado e de Cinema,
Aspirinas e Urubus (2005) – diretor de outros
dois filmes primorosos: O Céu de Sueli e Madame Satã – são bons exemplos atuais.
Na Bahia, após um jejum semelhante ao
que houve em Pernambuco, a cena também
vem se fortalecendo. Os longas Eu Me Lembro, de Edgar Navarro recebeu, em 2005, seis
troféus Candango no Festival de Brasília.
Em 2008, foi a vez de Cães, curta-metragem
de Adler Kibe Paz e Moacyr Gramacho, levar os prêmios de melhor fotografia, melhor
ator (Hilton Cobra) e melhor filme pelo júri
da crítica na categoria curtas do mesmo festival. Os Filhos de João (2009), de Henrique
Dantas, foi agraciado em quatro premiações
também em Brasília. Filmes que estão em
produção ou sendo finalizados, como O Jardim das Folhas Sagradas, de Póla Ribeiro, O
Homem que Não Dormia, do próprio Navarro,
e A Morte do Dr. Jota em Paris, de Igor Penna,
prometem movimentar ainda mais a produção cinematográfica no estado.
Por tudo isso, vale muito a pena conferir
o novo cinema nordestino, espontaneamente
liderado por Pernambuco, inclusive, o lançamento do momento de Gomes e Ainouz: Viajo
porque Preciso, Volto porque Te Amo.
por Luciano Cenci e Driu Oliveira
pop art • bahia
Minas com Bahia
S
ó o leve sotaque e o jeito esquivo entregam a mineirice do cartunista e artista
plástico Cau Gomez. De resto, pas-
sa fácil por baiano depois que trocou,
há 17 anos, as montanhas das Minas
Gerais pelo horizonte amplo do mar
de Salvador. E a cidade retribuiu. Os mes-
mos políticos que ele satiriza com suas charges
foram os responsáveis por lhe entregar, no ano
passado, na Câmara Municipal, o título de Cidadão Soteropolitano. “Sou quase um nativo.
Me tornei muito universal morando aqui. Me
tornei cosmopolita com a possibilidade do mar
me levar para outros lugares.”
Cau começou a trabalhar com ilustrações para
o meio impresso aos 15 anos, depois de ler muita revista em quadrinhos, fazer caricatura de professores e tirar uma graninha pintando muros de escola.
Começou no Diário de Minas, o mesmo onde o Henfil havia trabalhado, em Belo Horizonte.
Hoje publica suas ilustrações, cartuns e charges (de traços, cores e técnicas tão característicos
que tornam sua assinatura redundante) no jornal
A Tarde, de Salvador, e colabora para o francês
Courrier International. Mas já fez trabalhos para
a Playboy, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil.
Lá se vão 22 anos de redações e prazos
apertados, de interpretar notícias e traduzi-las
em imagens que vão fazer rir e sobretudo refletir. O trabalho de Cau Gomez é pegar um fato
de última hora e lançar sobre ele um olhar diferente, enxergar um ângulo não captado pelo
texto. “O Ziraldo diz que a musa inspiradora
para o cartunista é o prazo. Tem dias que saio
de casa e nem imagino que vou desenhar tal
coisa e no fechamento a ideia vem.”
E como faz para saber se uma charge
está mesmo engraçada? Desenvolveu nesse
tempo todo de profissão uma escala própria
para saber se aquele desenho está indo na
direção certa e se vai agradar ou instigar alguém no outro dia.
Perfeccionismo no fechamento de jornal
é sonho e, para quem se preocupa tanto com a
qualidade de seu próprio trabalho, é também
fonte de muita frustração. Mas a experiência
na profissão vai apaziguando a autocrítica. Sem poder atingir sempre os 100%, diz que
está aprendendo a se contentar com 63%. “É
uma meta tranquila, você vai dormir e a cabeça
não fica girando tanto, como no caso de querer
atingir a perfeição.”
Ainda assim acumula mais de 40 prêmios
ao longo da sua carreira em premiações de
todo o mundo. Não que ele esteja contando. As
menções honrosas ele nem lista em seu site.
Em outubro vai receber mais um para a sua
coleção, dessa vez em Istambul, na Turquia, no
27º Aydin Dogan International Cartoon Competition. No mesmo mês integra o juri do Salão
Internacional do Humor contra o Racismo, que
acontece em Montes Claros, Minas Gerais, nos
dias 20, 29 e 30.
Se por um lado é reconhecido por seu trabalho como cartunista, o lado artista plástico
fica ainda restrito aos seus amigos, embora
essa seja uma parte de sua história que não
quer deixar secreta. “Tenho muita coisa em
casa que só os amigos têm acesso. Quero uma
hora poder divulgar isso. Tenho planos, quero
fazer algo grande, mas não tenho a previsão de
quando vai acontecer”, diz, cauteloso feito mineiro e tranquilo feito baiano.
por Pedro Fernandes
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 39
FOTOGRAFIA
de casa
U
m retrato do Brasil por meio da moradia
de sua gente. Portas, janelas, cores,
texturas e os mais diferentes tipos de materiais usados nas construções das casas dos brasileiros em uma
viagem reveladora pelas lentes do fotógrafo
goiano Rui Faquini.
O registro resultou no livro Moradas do Brasil, lançado em parceria com o arquiteto Carlos
Lemos, considerado uma autoridade em arquitetura vernacular no país. “Viajo há mais de 40
anos pelo Brasil todo, mas foi a partir de uma
viagem pelo Norte, em um trabalho para a Usina de Tucuruí, que olhei com mais atenção para
a forma de morar do brasileiro. O jeito artesanal
de construir, sem engenheiros e arquitetos, como
um João de Barro”, diz o fotógrafo.
O livro nasceu depois de uma exposição
realizada há seis anos. Ao expor as imagens
em seu site pessoal, Faquini foi convidado para
publicar a obra.“Publiquei as fotos em um livro
com os textos do arquiteto Carlos Lemos, o que
foi um privilégio. Tivemos o patrocínio da Caixa Econômica Federal.”
Durante a produção, por sugestão de Lemos, Faquini visitou outras regiões do país,
principalmente no Sul e no Sudeste, das quais
tinha poucas imagens. A pesquisa foi aprofundada e o trabalho tomou uma proporção maior.
40
“Eu já estava impressionado com as moradas,
no interior do Brasil, construídas com características indígenas, outras que conservam a
forma de construir dos africanos. De repente,
me chamou a atenção a mistura que estava representada nas casas dos imigrantes. Gente de
diferentes culturas. Os japoneses, por exemplo,
buscavam construir como os brasileiros, mas
conservavam algumas características orientais. Dá para a gente ter uma total dimensão
deste país. Uma sensação de que o mundo mora
no Brasil”, conclui.
Rui Faquini possui um acervo com mais de
30 mil imagens catalogadas por temas. Trabalhou em documentários, com publicidade e tem
dezenas de livros publicados individualmente
ou em parceria com outros fotógrafos. Entre os
trabalhos destaca-se também outro projeto em
que selecionou 45 fotógrafos para documentar
Brasília, onde mora, por ocasião do 45º aniversário da capital federal. Outra publicação que
expõe bem as diferenças étnicas, culturais e sociais do Brasil é O Grande Oeste, com imagens do
Estado de Goiás.
www.faquini.com.br
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 41
falar bem
Pedro TourinhO é
publicitário, especialista em
entretenimento e mídia pela
Universidade da Califórnia
e diretor de conteúdo e
interatividade na Rede Record.
estamos no tempo
do excesso de acesso
A
s relações de tempo e espaço foram completamente relativizadas. Hoje as maiores lojas do
mundo não têm prateleiras, mas têm um estoque
do tamanho do mundo. E já não importa mais quanto
tempo levo até chegar a essa loja, e sim quanto tempo
o produto leva para chegar até a minha casa. A programação da televisão, ou a lista dos lançamentos no cinema, também já não são assim tão importantes. Os sites
de torrent, o iTunes e, pasmem, as próprias emissoras
de televisão, já estão disponibilizando seu conteúdo na
internet, às vezes até mesmo de graça. E na semana em
que a gigante Blockbuster anunciava sua falência, o
YouTube lança seu canal de filmes gratuitos e na integra, com qualidade HD. Quão sintomático é isso? As relações pessoais também mudaram. Hoje, temos
acesso à vida de qualquer pessoa apenas digitando seu
nome no Google. Qual empresa trabalha, quando passou
no vestibular, a data de aniversário, fotos da formatura,
últimas mensagens trocadas no Twitter, quem são seus
amigos no Facebook ou em que festa estava presente
no último fim de semana. Pois é, as redes sociais são
as novas colunas sociais, e muito mais poderosas, pois
todo mundo pode entrar. Quando falamos em entretenimento, a mudança é ainda mais emblemática, pois essa
industria sempre se baseou na lógica da exclusividade
para agregar valor a seus produtos e serviços.
O show que ninguém jamais havia visto. A festa com
celebridades que só se viam na TV. Os encontros musicais que só aconteciam na varanda da casa de Caetano.
A vista da festa que só existia para quem tinha a pulseira
do camarote. E vamos além, os melhores e mais exclusivos comentários sobre o que acontece, que antes estava
restrito às rodas de amigos, ou às colunistas sociais mais
engajadas, agora estão expostos e disponíveis para milhões de pessoas por meio de trocas de mensagens no
Twitter. Pois é, democratizaram até a fofoca.
Sem dúvida, a internet, e todas essas novas tecnologias baseadas nessa plataforma, surgiu para demo-
cratizar o acesso à informação, produtos, serviços e,
por incrível que pareça, à pessoas. Surgiu também para
dar a cada indivíduo o poder da escolha, o tal do livrearbítrio que todos acreditávamos ter. Saímos de uma
sociedade baseada em hábitos de consumo e partimos
para um outro momento, em que todos nós temos “escolhas de consumo.”
Mas como escolher a decisão mais certa diante de
tantas opções, tendo acesso a tantas possibilidades?
Um estudo feito pela UCLA, comprovou que o aumento da quantidade de decisões que somos obrigados a
fazer diariamente está entre as maiores causas de estresse do cidadão atual. Comprar uma barra de cereal não é mais tão simples, a partir do momento em que existem dezenas
de opções diferentes no mercado. Cada uma com
sua composição, seus ingredientes, suas embalagens
e seu posicionamento de marca. Quem nunca se deparou perdido na frente de uma prateleira de um supermercado tentando entender a diferença entre os
diferentes tipos e marcas de detergentes? São decisões que há 20 ou 30 anos, de tão simples, nem eram
consideradas decisões.
E nessa loucura de informações e de possibilidades surge talvez o papel mais importante da
nossa sociedade atual: o curador. Sejam pessoas
ou entidades, seja por meio de paramêtros, editorias, critérios, afinidade ou até mesmo algoritmos, como é o caso do Google, não conseguiremos
mais sobreviver a essa avalanche de conteúdo sem
alguém que nos pegue pela mão e nos guie exatamente até onde queremos chegar, até o que realmente queremos consumir.
Administrar o excesso de acesso a tudo e todos é
sem dúvida um dos grandes desafios que teremos de
passar tanto como sociedade, quanto como indivíduos.
Num tempo em que todos têm esse poder, o diferencial
é saber o que fazer com ele. pedro tourinho
42
esporte • bahia
a mil
O
piloto baiano Daniel Oliveira, 25 anos,
é hoje o único brasileiro competindo
na atual temporada regular do Intercontinental Rally Challenge. Com apenas
8 anos, Oliveira já competia no kart
e participou de diversos campeonatos juvenis pelo país. Em 2008 tro-
cou as pistas pelos ralis off-road, chegando
ao vice-campeonato no Mitsubishi Cup Nordeste, na categoria Cross Country. No ano
seguinte participou do rali de velocidade do
Campeonato Argentino de Rali. “É impressionante a receptividade que tenho fora do
país. Nas competições sou sempre referenciado na mídia por ser brasileiro.”
Os circuitos do IRC acontecem em diferentes lugares do mundo. Argentina, Espanha, Portugal e República Tcheca foram
alguns dos países onde Oliveira já competiu.
“Atualmente passo mais tempo entre treinos
e competições fora do país. Quando estou no
Brasil prefiro ficar em casa para descansar da
adrenalina própria desse tipo de esporte.” Os
acidentes, comuns em qualquer campeonato automobilístico, segundo Oliveira, afetam
principalmente o aspecto pisicológico. “Este
ano no rali de Ypres, na Bélgica, batemos a 140
quilômetros por hora sem freios. O impacto foi
bem forte e o meu navegador teve alguns ferimentos, mas isso faz parte do jogo. O problema do acidente é que além de tirar a equipe da
disputa, ele desestrutura emocionalmente o
piloto, que sempre acaba se culpando.” As corridas são bastante desgastantes fisicamente e
chegam a durar seis horas. “Antes das competições faço uma dieta à base de carboidratos e
procuro treinar em terrenos semelhantes aos
que vou me deparar nos circuitos”, completa.
Atualmente o baiano pilota um Peugeot 206
da austríaca Stohl Racing. A equipe é formada
por 15 integrantes e foi fundada pelo ex-piloto
Manfred August Stohl.
O próximo passo, segundo o piloto, é
mudar para uma categoria maior. “Devo permanecer com a Stohl Racing e juntos temos
estudado mudar de campeonato no próximo
ano. Queremos passar a disputar o Word Rally
Championship, que é um campeonato mais
difícil e profissional. Mas, antes de decidir,
definitivamente, pelo automobilismo, o piloto trocou o acelerador por uma outra paixão:
a guitarra. Durante nove anos, integrou uma
banda de heavy metal chamada Ungodly, que
chegou a gravar um clipe com ares de superprodução com participação do ator Jackson
Costa e locações na cidade de Cachoeira, Recôncavo Baiano, e na galeria subterrânea do
Mercado Modelo, em Salvador. “Sou apaixonado pela velocidade e é isso que quero continuar fazendo daqui para frente. Vou acelerar o
quanto for preciso para conseguir conquistar
meus objetivos”, completa.
daniel oliveira
Daniel Oliveira
danieloliveiraracing.blogspot.com
Stohl Racing:
www.stohl-racing.com Intercontinental Rally Challenge
www.ircseries.com
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 43
TERRA à vista • maranhão
santuário
P
raticantes do turismo ecológico e de
aventura sabem muito bem que a descoberta de um novo lugar torna o passeio
ainda mais inesquecível. Mas, quando o destino são os Lençóis Maranhenses, alie à sensação de surpresa e encantamento o sentimento
de perplexidade. Paisagem símbolo das
belezas naturais do país, a visita ao
lugar é obrigatória para quem deseja conhecer o Maranhão e prefere ter a
natureza como a atração principal na hora de
programar o roteiro de viagem.
Os 155 mil hectares que formam o Parque
Nacional dos Lençóis Maranhenses reservam
paisagens deslumbrantes. Dunas imensas, com
altura de até 40 metros, emolduradas pelo azul
infinito do céu e pelas águas mornas das lagoas
proporcionam uma visão arrebatadora. Rios e
manguezais entrecortam o cenário até o ponto
onde a areia, em constante movimento, desenha uma vastidão branca de tirar o fôlego.
O passeio requer espírito aventureiro e
disposição, recompensados por um lindo pôr
do sol e o banho renovador em uma das lagoas.
Na época das chuvas, que vai de dezembro a
julho, elas estão mais cheias e com temperaturas amenas. A Lagoa Azul, a Lagoa Grande e
a Lagoa Bonita convidam a um mergulho mais
demorado. Descer o rio Preguiças numa lancha “voadeira” é outro momento único. A velocidade da embarcação não é empecilho para
se admirar a densa vegetação e a calmaria daquelas águas que correm para o mar.
O jornalista Fernando Oliveira tem, nos
povoados da região, endereços certos para passar as férias no verão. “Todo ano vou a Mandacaru e Caburé. O rio, o mar e as palmeiras proporcionam um espetáculo de beleza fantástica.
Também adoro a culinária, o tempero do camarão, a caipiroska de caju ou sorvete de buriti –
um fruto de palmeira nativa que tem em abundância por lá.” Quem preferir pernoitar terá
boas opções de pousadas rústicas e a chance
para explorar melhor as praias mais afastadas.
É quase inevitável não desejar prolongar o passeio. Além da beleza e da magia, a tranquilidade
com que a vida passa nos Lençóis fica guardada
na memória por muito tempo.
www.turismo.ma.gov.br
Onde se hospedar:
Gran Solares Lençóis Resort
www.gruposolare.com.br
Estrada de São Domingos, s/n,
Boa Vista
Barreirinhas | Maranhão
98 3349.6000
tony galvez
Pousada Encantos do Nordeste
www.encantosdonordeste.com.br
Rua Boa Vista, s/n, Boa Vista
Barreirinhas | Maranhão
98 3349.0288
44
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 45
música • bahia
memórias de um bamba
E
m 14 de novembro de 1921, nasceu no
bairro do Garcia, em Salvador, um dos
sambistas mais representativos da música baiana: Clementino
Rodrigues, o Riachão. “Quando menino
eu gostava muito de brigar. Por isso os mais
velhos me apelidaram de ‘riachão que não se
podia atravessar’”, explica a origem do apelido.
Conhecido pelas letras irreverentes e pelo jeito malandro, compôs o primeiro samba aos 12
anos. Depois de cantar em bandas de serestas
e até grupos sertanejos, decidiu, inspirado por
Dorival Caymmi, se dedicar, exclusivamente,
ao samba. Ainda na década de 50, Riachão foi o
primeiro compositor baiano a gravar um disco
no Rio de Janeiro.
Com três álbuns lançados, estourou nas
rádios de todo país com o sucesso “Cada Macaco no Seu Galho”, gravado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, em 1972. A música marcou o retorno da dupla de cantores ao Brasil,
após o exílio imposto pela ditadura militar.
Em 2008, um acidente vitimou sua esposa,
os dois filhos, uma nora e um genro. Desde
então, as aparições do compositor estão cada
vez mais raras. Os mais sortudos, no entanto,
podem encontrá-lo em uma roda de samba
no Pelourinho no seu melhor estilo: calça social impecável, correntes no pescoço, boina
branca e a toalha no ombro para enxugar o
suor depois de horas de cantoria. Foi o que
aconteceu em uma segunda-feira qualquer
no restaurante Cantina da Lua, localizado
no Largo do Cruzeiro de São Francisco. O
cenário não poderia ser mais propício para
um bate-papo despretensioso. Uma volta ao
passado para um tempo em que a Bahia era
ainda mais bamba.
Riachão: “Se estou com ela, minha vida é um
paraíso/ Somente ela/ Se estou sem ela desassossega o meu coração ...”
Pedrinho: E como você cria seus sambas?
Riachão: Ah, vem na minha cabeça, meu filho. Depois eu coloco num papel pra não esquecer e faço um baticum numa mesa pra ver
se dá certo. Aí já foi. É coisa de Jesus mesmo.
Tá na cabeça. Eu sou muito iluminado.
Pedrinho: O que você escutava na infância? Quais as suas principais influências
musicais?
Riachão: Olha meu amigo, na minha época
de garoto não existia rádio. As músicas eram
tocadas nas vitrolas a partir daqueles grande
bolachões. Mas eu nasci com o dom de aprender músicas e logo cedo decorei aqueles versos
da moçada da velha guarda. Ainda tem alguns
que me lembro daquela época. Quer ouvir?
Pedrinho: Claro.
Riachão: “Ô Trepa no coqueiro, tira coco,
gipe, gipe macambira olirá/ Ô trepa no coqueiro, tira coco...” Era algo mais ou menos
assim. Cresci ouvindo essas coisas na vitrola.
Mais pra frente apareceu Dorival Caymmi, Zé
Trindade e Chico Fulô. Eram os artistas de
quando eu era jovem, além de tantos outros
que eu já esqueci.
Pedrinho: Você fez alguma parceria com
Batatinha (Oscar da Penha, importante
compositor e sambista baiano)?
Riachão: Nunca meu filho. A nossa parceria se
restringia à roda de samba. Era um grande amigo do coração e que hoje olha por mim lá de cima.
Nunca compus com ele. Ele tinha aquela coisa
melosa, calma e triste em suas canções. Eu nunca
gostei muito disso. Meu negócio é pagode e samba de ginga, de dança. É de “xô chuá” em diante.
Pedrinho: Eu estou vendo aqui que as
pessoas ainda mexem muito contigo.
Riachão: Isso é gostoso não é mesmo? Um
grita uma coisa, o outro diz outra e eu fico
muito feliz com isso tudo. Adoro. A minha
vida é cantar. Canto sozinho, na rua e às vezes
acordo no meio da noite e me ponho a cantar.
Outro dia entrei num ônibus pela porta da
frente e o motorista puxou “xô chuá” . Fomos o
trajeto inteiro com o ônibus inteiro cantando.
Ninguém entendia nada.
Pedrinho: Eu sei que você já deve ter vividos vários momentos marcantes em sua
carreira. Tem algum mais do que especial?
Riachão: Meu filho, tem muitos momentos
especiais. Aliás todos são. Posso começar a te
contar vários e só irei terminar quando o galo
cantar. Mas é isso que a gente leva da vida: as
lembranças. Nunca fiquei rico e nem quero.
Sempre peço ao Deus absoluto que me conserve com saúde, para que eu possa fazer música
pelo resto da vida.
Pedrinho: Quais sambistas da atualidade você admira?
Riachão: Olhe meu garoto eu gosto é de tudo
que é boa música. Cada macaco no seu galho,
não é mesmo? Gosto de mocidade, gosto de velha guarda e ponto final. Mas o menino Diogo
Nogueira é maneiro e a Mart’nália também. Eles
têm o meu estilo e o Diogo é um rapagão bonito.
Pedrinho: Muito obrigado Riachão. Sua
carona já está lhe chamando.
Riachão: Eu que agradeço meu filho. Pena
que sempre que termino uma entrevista quero
cantar um samba que fiz para a imprensa. Mas
como tantos, já o perdi em meus pensamentos
por Pedrinho Figueredo
rodrigo brandassi
Pedrinho: Que samba é esse Riachão?
Riachão: “Somente Ela”. Mesmo sendo uma
música triste eu canto com o coração alegre.
Ela foi inspirada em minha esposa Dalvinha,
que agora é mais uma estrela no céu. Sabe
meu filho, às vezes eu componho um samba e
me esqueço. Já perdi não sei quantas músicas.
Acho que escrevi mais de 500 músicas no meu
tempo de rádio. Elas devem estar por aí voando, não me lembro nem de fumaça delas.
46
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 47
fotografia • bahia
www.picogarcez.com
luz, câmera e Bahia
O
fotógrafo e cineasta Pico Garcez é privilegiado. A vista da janela de sua casa no
Corredor da Vitória, em Salvador, dá pistas do que lhe fez trocar São Paulo por Salvador
há 15 anos. A Baía de Todos os Santos é pura inspiração. “Cheguei aqui para fazer um comercial
de um shopping center, acabei me apaixonando
pela Bahia e por uma baiana. Na época eu trabalhava em Los Angeles, no estúdio da Paramount
Pictures, e finalizávamos o game Star Trek:
Starfleet Academy com os atores da série original William Shatner, Walter Koenig e George
Takei. Meses depois estava eu de volta pra casar
e morar em Salvador, em 1997.”
O fascínio pela imagem começou cedo.
Os pais, colecionadores de antiguidades, tinham em casa inúmeras pinturas, desenhos e
fotografias. Aos 9 anos, ganhou sua pri-
meira câmera, que passou a ser o seu
brinquedo predileto. Chegou a se formar em administração de empresas
e trabalhar com commodities, mas
logo se rendeu à sua verdadeira vocação. “Desenho e fotografia sempre estiveram
muito presentes em minha infância. Depois,
já atuando em estúdios de publicidade, decidi
trabalhar com fotografia e cinema. Comecei a
fazer os filmes e não parei mais. De uns cinco anos pra cá resolvi voltar a fotografar mais
profissionalmente, trabalhando para livros de
amigos e revistas.”
Além de prêmios, Pico Garcez coleciona
boas histórias. É dele, por exemplo, a assinatura do último comercial gravado pelo ator
Raul Cortês para uma campanha de alfabetização realizada pelo governo federal. Entre os
filmes produzidos ou dirigidos por ele, além
da experiência com Hollywood, destaca-se o
premiado curta-metragem Origem dos Bebês
Segundo Kiki Cavalcanti, de Anna Muylaert,
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que tem no elenco André Abujamra, Etty Frazer e Marisa Orth.
Há também uma lista de DVDs e clipes
que inclui nomes como Titãs, Jorge Ben Jor,
Jacques Morelembaum, Zizi Possi, Olivia
Byington, Brian McKnight, Marcelo Nova,
Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Banda
Eva e a americana India. Arie, gravado na
Bahia para a Motown/Universal. “Foi um trabalho incrível esse DVD com a India. Arie, que
veio pra Salvador com todos os seus músicos
especialmente para fazer esse trabalho. As locações deixaram os artistas impressionados
com a exuberante beleza natural da Bahia.”
O cineasta fotografou, recentemente,
uma intervenção artística feita na Feira de
São Joaquim por artistas plásticos e visuais
de Salvador. “Foi bárbaro aquilo. A quantidade
de artistas misturados com a profusão da arte
natural do lugar com a exposição dos próprios
objetos comercializados na feira. A gente não
sabia onde começavam e onde terminavam
as interferências. A feira é rica, a luz é maravilhosa, é uma coisa pulsante da Bahia.” Atualmente está trabalhando na finalização dos
DVDs da banda Asa de Águia e da cantora Mariene de Castro, em um documentário sobre a
rua Chile, em Salvador, e um piloto para uma
TV americana em Nova York.
Depois de tantas produções, só agora começou a pensar em fazer uma exposição individual. “Certamente terá a Bahia como tema, esta
terra que me inspira tanto. Sou muito exigente
comigo mesmo. Vivo essa constante busca do
aprimoramento que só se consegue com a experiência. A prática, a busca por novas ideias,
novas possibilidades. É algo meio autodidata
mesmo. É a novidade e os desafios que me fascinam nessa profissão”, conclui, com olhar iluminado pela luz refletida no mar da Bahia.
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 49
divulgação
turismo por Pedrinho Figueredo
divulgação
Pré-carnaval
“É”
Uma gastronomia de sabores exóticos influenciada pelas culinárias brasileira, francesa e oriental.
Essa é a proposta do restaurante pernambucano “É”. Comandado pelo chef
Douglas Van Der Ley, o espaço é um
dos mais badalados de Recife. Entre as
novidades está a seleção de kebabs preparados em panelas de barro. Os pratos
são acompanhados de carneiro desfiado
com legumes ensopados, além da tradicional massa fina de pães turcos. Outra novidade no cardápio é o camarão
grelhado com pétalas de rosa comestíveis acompanhado de queijo do reino e
azeite. “O nosso menu conta ainda com
clássicos como o filé-mignon grelhado
ao molho de vinho do porto coberto de
foie gras”, explica o chef. São também
da Turquia, vasos, esculturas e outras
peças que compõem a nova decoração
do restaurante. Para sobremesa, o chef
Douglas prepara um cardápio semanal
que durante os meses de outubro e novembro terá como base o mel.
Restaurante É
www.egastronomia.com.br
Rua do Atlântico, 147, Boa Viagem
Recife | Pernambuco
81 3325.9323
Uma prévia carnavalesca à beira-mar. Essa é a proposta do Sauípe Fest, evento que promete movimentar o complexo hoteleiro de Costa do Sauípe, litoral norte da Bahia. O agito praiano, que vai acontecer de
12 a 14 de novembro, contará com shows de grandes nomes da axé music, como as bandas Chiclete com Banana,
Timbalada, Jammil e Uma Noites, Via Circular e Negra
Cor. Cantores como Alexandre Peixe, Cláudia Leitte e
Jau também fazem parte da programação. Uma estrutura completa com arena de shows e tenda eletrônica será
montada para a festa. São esperadas seis mil pessoas por
dia. “O Sauípe Fest é uma das maiores prévias carnavalescas do Brasil. Um evento que possui a energia típica
do carnaval de Salvador”, diz a cantora Cláudia Leitte.
Durante o dia, as piscinas dos hotéis do complexo serão
animadas pelos DJs Renata Dias, Martinez e Ely Yabu. Já
a noite, antes dos shows no palco principal, o agito fica por
conta de bandas locais, que prometem animar a vila do resort. Ingressos individuais e pacotes com acomodação já
estão sendo vendidos.
Costa do Sauípe
www.costadosauipe.com.br
Sauípe Fest
www.sauipefest.com.br
Arte al mare
Considerado um dos maiores navios de cruzeiro do mundo, o Allure of the Seas vai ganhar uma loja do artista plástico Romero Britto. A butique vai contar com uma linha completa de produtos estampados com as famosas gravuras do pernambucano: louças, artigos de papelaria, roupas, brinquedos e livros infantis e ainda uma borboleta de
25 metros na fachada. A embarcação será lançada ao mar em dezembro deste ano do porto filandês de
Turku. Os passageiros poderão assistir também a um documentário exclusivo do artista, além de participar de leilões de pinturas originais. “Estamos muito felizes com a parceria com este brasileiro que
encanta a todos com a sua arte. Já fizemos uma parceria em um navio menor, mas queríamos algo mais
e o nosso sonho se concretizou”, disse Adam Goldstein, CEO da Royal Caribbean, armadora responsável
pelo navio. O Allure of the Seas vai realizar cruzeiros de cinco e sete noites no Caribe. Nascido em Recife,
Romero Britto começou a se interessar por arte aos 8 anos de idade. Ainda na juventude, partiu para
Miami, nos Estados Unidos, onde começou a expor suas gravuras e ilustrações nas calçadas da cidade.
As peças foram logo descobertas por donos de galerias de arte, que levaram as criações para as altas
rodas sociais americanas. Atualmente, os trabalhos de Britto estão em casas de grandes personalidades
mundiais como Madonna e Bill Clinton.
Royal Caribbean
www.allureoftheseas.com
Romero Britto
www.romerobritto.com.br
divulgação
50
vestir branco
símbolo
cultural
O
ator Luiz Miranda é um autêntico filho
do orixá Oxaguiã. O branco na sextafeira, portanto, é sagrado. Além de homenagear seu santo protetor, ele acredita que
o dia concentra muita energia por ser fim da
semana. “É o fechamento de um ciclo. Por isso,
tomo um banho de mar, uso alfazema e visto o
branco, pois me acalma e me renova.”
No repertório, na performance no palco
ou no figurino, as raízes culturais da Bahia estão sempre presentes no trabalho da cantora
Margareth Menezes. Para ela, o branco, além
de ser uma cor que transmite paz e tranquilidade, tornou-se símbolo de tradição para os
baianos. “O branco faz parte da cultura baiana. Na festa do Bonfim, por exemplo, faço
questão de vestir essa cor.”
Adepto do candomblé, o arquiteto Paulo
Henrique Souza não dispensa o uso do branco
nas sextas-feiras. Aos poucos, em reverência à
religião, a cor passou a predominar no guardaroupa do baiano. “O branco me auxilia a transpor determinadas situações da vida cotidiana
de forma mais fácil, por conta do seu caráter
neutralizador.”
“O caráter
neutralizador do
branco já me ajudou
a transpor situações
difíceis da vida.”
Paulo Henrique
Souza
Arquiteto
“O branco transmite
paz, tranquilidade e
faz parte da cultura
baiana.”
Margareth Menezes
Cantora
“O branco me acalma
e me renova.”
Luiz Miranda
PEDRO ACCIOLY
Ator
Calça Ópera Rock, camisa Zara, tênis All-Star
52
Vestido Kitty Cohim, joias de acervo pessoal
Camisa e calça Sergio K para CR Su Misura
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 53
antiguidade • bahia
as aldrabas
A
abertura de fronteiras agrícolas, transformações urbanas, implantação de ferrovias, chegada em massa de imigrantes
europeus, a riqueza e o poder político crescentes foram algumas entre as várias mudanças
associadas à presença do café em terras brasileiras desde o início do século 19. E, entre os
legados culturais deixados pelo desenvolvimento da economia cafeeira, destacaram-se
grandes transformações no modo de morar.
A modernização das moradias urbanas das
elites e de setores médios representou o sinal
mais evidente da inserção das cidades do interior baiano num circuito de enriquecimento e de adoção de costumes europeizados. Os
benefícios da rede de água e esgoto encanados
foram lentamente incorporados. Sem falar na
novidade absoluta, a luz elétrica, que aos poucos desbancou os candeeiros e os lampiões.
Pormenores discretos, os batentes e
aldrabas (palavra de origem árabe
que significa trinco ou ferrolho),
contam histórias, memórias e são pouco
referenciados dentro do contexto do patrimônio. Existem de diversas formas. As encomendas eram feitas de acordo com a posição social,
a função e importância do espaço, o que encarecia a mão de obra do Mestre Ferreiro – profissional muito bem remunerado nos idos de
1800. Alguns eram bem famosos, como Amador Leandro de Araújo. Seu contrato chegava a
custar 20$400 réis.
Os batentes ornavam as fachadas das portas e, além da função de avisar a presença do visitante, exibiam figuras alegóricas alusivas ao
poder, religiosidade ou posição social do dono
do imóvel. Um bom exemplo, no mundo, são as
ruas com casarios pintados em azul e branco,
em Sidi Bound, no Mediterrâneo. A arquitetura preserva a tradição de manter três batentes,
um mais pesado (para ser usado por homens),
um mais leve (para mulheres) e um menor e
mais baixo (para crianças).
Já as aldrabas eram confeccionadas de
acordo com a função do espaço. Igrejas e conventos precisavam de trancas e fechaduras resistentes e de difícil manuseio, a fim de não facilitar a saída de monges e senhoritas reclusas
nos colégios e reformatórios. No século 18, em
Salvador, na rua da Misericórdia, Centro Histórico, foi construído o Recolhimento do Santo
Nome de Jesus. O espaço abrigava as esposas
e filhas dos donos de engenho, no período em
que os senhores se ausentavam. Algumas das
aldrabas, que por anos salvaguardaram a honra
dessas mulheres, podem ser vistas em portas
do Museu da Misericórdia.
por Jane Palma
54
Museu da Misericórdia
Rua da Misericórdia, 6, Centro
Salvador | Bahia
71 3322.7355
STREET ART • BAHIA
Keith Haring na Bahia
Q
ue o artista americano Keith Haring é
referência na pop art mundial é uma
unanimidade. Agora, o que poucos
sabem é que, além de amar, o que ele
chamava de “país da alegria”, o artista adorava a Bahia. A primeira vez em que
esteve no Brasil foi em 1983, quando veio participar da Bienal de São Paulo. Na ocasião, doou
uma de suas obras e deixou sua marca em algumas ruas paulistanas. Na segunda passagem
por aqui, em 1984, Haring conheceu uma outra
paisagem. Inevitavelmente, se encantou.
O amigo Kenny Scharf, dos tempos da School of Visual Arts, havia se casado com uma brasileira. A residência do casal ficava entre a cidade
de Ilhéus e Barra do Sargi, numa aldeia de pescadores no sul da Bahia. Haring desembarcou
em Salvador em plena sexta-feira de carnaval.
Junto com os amigos e o namorado, o portoriquenho Juan, hospedaram-se no antigo Hotel da Bahia. Deixaram as malas e foram para a
rua. “Lembro que ele ficou impressionado com a
multidão nos blocos, dançando na maior alegria,
bebendo, se soltando. Ele ficou em êxtase. Apaixonou-se pelo Pelourinho e dançou no Campo
Grande até o dia amanhecer”, relembra Tereza
Scharf, que hoje vive na ponte aérea entre Ilhéus
e Nova York. Logo sua presença foi notada na
cidade. Alguns artistas locais o levaram para visitar a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Àquela altura Haring já era um artista famoso, seus rabiscos de giz feitos nas estações de
trem e metrô de Nova York já haviam ganhado
espaço em galerias badaladas e a admiração de
artistas como Madonna, David Byrne, líder do
grupo Talking Heads, Grace Jones e o reconhecimento de Andy Warhol, de quem se tornou
amigo. No entanto, circulou anonimamente no
dia seguinte, agora, já no carnaval de Ilhéus. Em
uma área central da cidade, onde havia maior
concentração de atrações musicais, os comerciantes e donos das casas próximas ao local protegeram seus imóveis com tábuas de compensado. Durante a madrugada, quando a cidade já
dormia, Haring sacou pincéis e sprays e espalhou diversos desenhos nos tapumes. Ilhéus ganhou uma decoração exclusiva assinada por um
dos maiores ícones da pop art dos anos 80. Pena
que por pouco tempo. A exposição, assim como o
carnaval, acabou em cinzas na quarta-feira.
Já na casa de Kenny e Tereza, Keith e Juan
se misturavam aos nativos como se fossem antigos moradores da praia. Desenhou em paredes
nas casas dos pescadores e presenteou o casal de
amigos com dois trabalhos. Um mural de golfinhos entre as janelas da casa e um piso em for-
ma circular também ilustrado por peixes. “Ele
sempre foi muito generoso com a sua arte. Sempre fez questão que todos tivessem acesso aos
seus trabalhos. Tinha uma atenção e um carinho
especial pelas crianças. Em 1984, minha filha
Zena tinha acabado de nascer. Kenny o chamou
para ser padrinho. Ele ficou tão feliz que na mesma hora, vendo-a engatinhar, fez o protótipo do
que viria ser um de seus trabalhos mais famosos
o Radioactive Baby (Bebê Radioativo). Guardamos o desenho com muito carinho e saudade”,
diz a amiga e comadre do artista morto em 1990.
Keith Haring está de volta ao Brasil representado por uma exposição no ano em que completaria 52 anos. O nova-iorquino era portador
do vírus HIV. Um ano após o diagnóstico, fundou a Keith Haring Foundation, que trabalha em
prol da prevenção e auxilia crianças portadoras
da doença. Selected Works apresenta ao público brasileiro 94 obras inéditas no país. São 55
serigrafias, nove gravuras, 29 litografias e uma
xilogravura, além de objetos pessoais do artista
como um skate, pares de tênis pintados e o passaporte em que estão registradas as entradas no
Brasil. A mostra já passou por São Paulo e fica
até o dia 14 de novembro no Rio de Janeiro. A
boa notícia é que Salvador poderá receber a exposição. Fica a torcida para o reencontro.
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 55
falar bem
JANE PALMA, museóloga. Especialista em documentação, gestão de
pessoas e restauro de obra de arte.
Dirige o Museu da Misericórdia em
Salvador e é consultora do Museu do
Coração no Rio de Janeiro.
um toque de saúde
N
em o apóstolo Lucas, o dito por São Paulo “médico
amado” e nenhum dos seus seguidores profissionais, conseguiram desvendar todos os mistérios
do corpo humano. Máquina do passado, não tem limite no
cartão de memória, faz automaticamente o seu backup e
com apenas cinco programas desenvolve, executa e atualiza as versões das nossas etapas na vida; infância, adolescência, vida adulta e velhice.
Estamos programados para ouvir sem enxergar, para
ver sem ouvir, sentir o aroma sem saborear, porém, não
existe programação para os sentimentos sem o toque. O
afago em uma face, o calor de um abraço, o dar as mãos,
enchem os olhos de brilho, os lábios de sabor e soam como
canções aos nossos ouvidos. Por meio do toque levamos ao
cérebro as sensações, estimulamos nossas emoções e podemos descobrir a tempo a preservação da saúde.
Nos tempos primitivos, o ato médico consistia em
magias, ritos e encantamentos de toda ordem, associados a práticas empíricas tradicionais. As doenças eram
atribuídas a causas sobrenaturais. Somente no século
5 a.C., com o surgimento da medicina hipocrática na
Grécia, foi a mesma separada da religião, das crenças
irracionais e do apelo ao sobrenatural, porém, a institucionalização do ato médico foi a partir da Idade Média,
após a fundação da escola de Salerno e das primeiras
universidades europeias.
Em 1997, nas cidades Lodi e Yuba, Califórnia (EUA),
teve início um movimento, quando importantes monumentos foram iluminados com a cor rosa, chamando a atenção
sobre a detecção do câncer de mama. Doença que atinge 1,3
milhão de mulheres no mundo, 49 mil no Brasil.
Hoje em dia, várias ONGs e institutos, além de iniciativas privadas, contribuem anualmente para esse projeto,
levando informação, acesso à mamografia e incentivando
o autoexame. Há dois anos, o Instituto Nacional do Câncer
lançou o Rosamóvel, uma van personalizada que circula pelas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília,
Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte e Florianópolis para
alertar mulheres sobre a importância do exame de mamografia, o tratamento adequado e a reabilitação de pacientes.
O mês escolhido para o movimento foi outubro, quando se
comemora o dia do médico no dia 18. Conseguir o diagnóstico precoce de qualquer enfermidade é sempre o caminho
mais curto para a cura.
JANE PALMA
56
relaxar • ceará
H
á 20 anos, a vila de pescadores de Jericoacoara, no Ceará, era visitada apenas
por viajantes aventureiros. Facilidades
do mundo moderno, como eletricidade, telefone e televisão, não existiam naquele pedaço
nordestino de praias paradisíacas. Mas Jeri,
como é chamada carinhosamente pelos seus
habitantes, foi descoberta por turistas e investidores que ambicionavam tornar a localidade
em um destino turístico internacional. A energia elétrica chegou em 1998 e com ela o projeto
de construção de uma pousada de charme, capitaneada por dois empresários italianos e um
brasileiro. Assim nascia a Vila Kalango.
Inaugurada em 1999, a pousada
foi erguida à beira-mar em frente a
um dos pontos mais bonitos de Jericoacoara, a Duna do Pôr do Sol. O pro-
jeto arquitetônico, idealizado para aproveitar
materiais da região como madeira moracatiara, palha de carnaúba e tijolos de barro, alia
conforto e rusticidade. “Os apartamentos não
possuem TV, telefone e, em algumas categorias, nem ar condicionado. A nossa intenção
é que os hóspedes se desliguem da rotina e
valorizem a natureza do lugar”, diz a diretora
de marketing e vendas da Vila Kalango, Renata Honorato. A maioria dos artigos que compõem a decoração das 24 acomodações são
fabricados por nativos. Alguns apartamentos foram erguidos em colunas de eucaliptos
como palafitas e ficam a três metros do chão.
A mão de obra da região também foi aproveitada para compor a equipe. “Dentro da
nossa ideia de sustentabilidade, captamos o
máximo possível de profissionais que passam
por treinamentos constantes. Com isso, contribuímos para o incremento da renda per capita
local. Eles são experts em Jericoacoara”, complementa a executiva. O cardápio do restaurante leva a assinatura do restauranter Paulinho
Martins. A composição dos pratos é feita com
utilização de ingredientes regionais. “Recomendo o peixe fresco grelhado com camarões.
O sabor do pescado fresco atrelado às especiarias dão um toque sofisticado ao prato”, sugere
o empresário baiano Rodrigo Pithon, que já se
hospedou duas vezes na pousada.
A brisa equatorial e o mar de ondas uniformes que banha Jericoacoara são um convite
para aulas de wind e kitesurf. A Vila Kalango
possui ainda um espaço relaxante, onde massoterapeutas realizam massagens e tratamentos em camas balinesas de frente para o mar. “O
desenvolvimento chegou a Jericoacoara, mas a
Vila Kalango ainda conserva ares de paraíso
nesse pedaço de Brasil”, conclui Pithon.
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 57
DIVULGAção
paraíso preservado
Vila Kalango
www.vilakalango.com.br
Praia de Jericoacoara, Ceará
88 3669.2289 / 2290
turismo • RIO GRANDE DO NORTE
São Miguel do Gostoso
H
á tempos, um senhor bem-humorado
comandava uma hospedaria que servia
de abrigo para mascates no litoral do
Rio Grande do Norte. O senhor, bastante
conhecido naquela região de praias
paradisíacas, ganhou dos forasteiros o apelido de Manoel Gostoso. O
povoado cresceu e foi fundada uma
igreja em homenagem a São Miguel,
proclamado o padroeiro do vilarejo.
Pousada do Gostoso
[email protected]
Rua dos Corais, 2
Praia de Santo Cristo
São Miguel do Gostoso | Rio Grande
do Norte
84 3263.4087
alex giarola
Assim nascia o município de São Miguel do
Gostoso, distante 110 km da cidade de Natal.
O balneário turístico é hoje um dos principais destinos do estado. As praias de águas
mornas e tranquilas são ideais para a prática
de esportes náuticos como o velejo e o kitesurf. “Cheguei a São Miguel do Gostoso pela
primeira vez em 1976 e me encantei pela enseada que avistei do mar. Amo a tranquilidade
deste lugar. O pôr do sol daqui é único”, conta
Leonardo Godoy, um dos pioneiros no desenvolvimento turístico da região. Além de ser
proprietário de uma das primeiras pousadas
do local, a Pousada do Gostoso, Godoy ajudou
a nomear todas as ruas do vilarejo.
Entre as mais famosas estão a praia do Tourinho, formada por dunas fossilizadas de quase
dois mil anos, e a praia do Marco. “Ela recebeu
essa denominação porque foi lá que a expedição
de Gaspar de Lemos fincou o primeiro marco da
colonização brasileira, em 1501”, explica o historiador da Universidade Federal do Rio Grande
Norte José dos Santos Marinho.
São Miguel do Gostoso possui atualmente
cerca de cinco mil habitantes. O local dispõe
de boa infraestrutura turística, além de uma
grande variedade de opções de entretenimento. Bares, restaurantes, pousadas e empreendimentos imobiliários surgem a cada verão.
“Os investimentos são provenientes em sua
maioria de grupos portugueses e espanhóis.
Até 2015, será inaugurado um resort com cerca de 12 mil chalés, o que impulsionará ainda mais o turismo na região”, diz o consultor
imobiliário carioca João José da Costa, que há
oito anos atua no Nordeste.
Segundo uma pesquisa realizada pela Nasa,
a agência espacial americana, em 2007, o lugar
possui o ar mais puro das Américas0 por causa
da posição geográfica privilegiada. Distante 15
quilômetros do vilarejo está o Farol do Calcanhar, que mede 100 metros de altura e é considerado o maior da América Latina. “Além de um
paraíso natural, São Miguel do Gostoso faz parte do patrimônio cultural brasileiro. Desde que
estive aqui pela primeira vez, há dez anos, não
consigo tirar esse pedaço de Nordeste da minha
cabeça”, explica o cineasta paulistano, Eugênio
Puppo, que atualmente está produzindo o documentário São Miguel do Gostoso.
Como chegar:
Saindo de Natal, pegar a BR-101 até
o acesso ao Litoral Norte
58
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 59
música
eu vou conquistando o Brasil
À
s duas horas da tarde, disse Didiê Cunha, marido de Bebel. Ficamos de nos encontrar terça-feira, 31 de agosto, na Cha-an, uma casa de chá na rua
9, entre a 2ª e a 3ª avenidas. Mas Bebel, ao sair da aula de ioga, torceu o pé e quebrou o dedo. Resultado: a entrevista teve de ser feita por telefone.
Começamos jogando uma conversinha fora. Lembramos a última entrevista que fiz com ela aqui em Nova York. Ela disse que costuma responder
às perguntas em entrevistas, de acordo com o momento em que está vivendo. Foi aí que tive certeza de como gosto de entrevistá-la. Bebel Gilberto é
daquelas pessoas que falam o que sentem. É franca, suave, doce e firme, como o seu cantar. Sua música é descomplicada, afinada, limpa e linda.
O que você tem feito, Bebel?
Fiz uma música com Pedro Baby, filho da Baby,
que se chama “Dahling”, (assim mesmo, com
h) em inglês e português, que tem um pedacinho de “Fotografia”, de Tom Jobim. Foi produzida por Guy Sigsworth, produtor inglês com
quem já venho trabalhando há vários anos.
O Pedro Baby toca violão. Fiz o lançamento
dessa música no meu website, oferecendo de
presente a todos os visitantes durante o mês
de agosto. Dar música de presente aos fãs é
demais. Acredito que o futuro do comércio de
músicas será pelos websites. É exatamente
onde quero chegar.
E seu último CD, All in One?
Ah, é um disco querido, saiu pela Verve (Universal). Foi meu primeiro CD lançado por uma
multinacional, em outubro de 2009.
Fale um pouquinho sobre seu processo
de composição, como é que a música lhe
acontece, simplesmente vem ou você sai
buscando?
Vou fazendo a melodia na cabeça ou componho
em cima de uma letra que já existe. Gosto muito
de fazer música assim. Toco um pouquinho de
violão e de piano, também. Mas quando uma melodia acontece na minha cabeça e eu estou sabe
Deus onde, deixo mensagem gravada no meu celular e fica lá, guardadinha, até eu retomar.
Quando a música aconteceu para você,
foi compondo ou só cantando?
Já compunha desde criança. Lembro bem
quando fiz uma música para meu cachorro,
aos 11 anos.
Henrique Gendre
All in One
Universal Music
Selo Verve
R$ 29,90
60
Ser filha de João Gilberto e Miúcha foi
um incentivo?
E um saco também! Mas é ótimo o lado do incentivo. É uma coisa natural, do dia a dia. Por
ser filha de artista, fica tudo mais fácil, como
perder uma tarde inteira trabalhando uma
canção, em vez de terminar o dever de casa.
Eu podia fazer isso na minha casa, era natural.
Papai vivia agarrado ao violão 24 horas por
dia. Mamãe também sempre ligada na música,
então era parte da nossa vida. Por outro lado,
é difícil ser filho de superstar. Mas é isso mesmo. Eu não sei como reagiria se tivesse uma
filha que, de repente, aparecesse cantando,
compondo e dançando na minha frente. Meu
pai é extremamente sensível e minha mãe não
fica muito longe.
Na nossa última conversa você confessou
que estava apaixonada. Em fevereiro deste
ano, você se casou com o engenheiro de som
Didiê Cunha. Vocês pensam em ter filhos?
Estou com 44 anos. Penso em ter um filho, estamos rezando para ver se ainda pode acontecer naturalmente, mas a verdade é que, nesse
momento, filho não é uma prioridade. Eu e Didiê abrimos uma empresa que se chama Coruja
Music. É o nosso estúdio, dentro da nossa casa.
E isso é uma delícia, ter como marido um engenheiro de som incrível e poder gravar em casa,
a qualquer hora, sempre que a alegria vem. Ter
música de qualidade, masterizada e poder dar
de presente aos fãs. É demais, não é?
E esse DVD, primeiro e único, fale dele…
É parte de um processo. Depois de dez anos de
carreira, do lançamento de Tanto Tempo, quero
fechar um ciclo que começou no ano 2000. Tudo
está mudando tanto que você já nem sabe mais
como se encaixar. Então, vou gravar um DVD,
que talvez seja o primeiro e o último – Sem Contenção, que é o nome de uma música de Tanto
Tempo. Na verdade, o DVD está sendo concebido, mas vai ser gravado em 2011 no Brasil e a
Dora Jobim, que é neta do Tom Jobim, vai dirigir. Vai ter uma participação especial da Rita
Lee. Estou superentusiasmada.
Você me disse uma vez que cinema era
um velho sonho. Continua pensando em
encarnar Carmen Miranda?
Continuo sonhando em fazer cinema, continuo
sonhando em fazer Carmen Miranda. O cinema globaliza tudo e, por isso, sinto que qualquer artista uma hora passa pelo cinema, se é
que já não nasceu no cinema.
Vou ficar torcendo. Vi o novo filme da Julia
Roberts, Comer, Rezar e Amar, inspirado
no best-seller que teve mais de quatro milhões de exemplares vendidos. Você e João
Gilberto cantam nas partes mais lindas da
trilha sonora, nos melhores momentos do
filme. Um sabia do outro?
A produção do filme da Julia pegou “Samba da
Benção”, do CD Tanto Tempo. Aliás, este é o se-
gundo filme da Julia que toca música minha.
O outro foi Closer, que tinha as canções “Mais
Feliz”, “Tanto Tempo” e o mesmo “Samba da
Benção”. Só soube que meu pai também cantava no filme pouco antes do lançamento. Foi
um acerto entre a produção do filme e a gravadora. Estava em Londres na estreia, mas vi
o filme depois que cheguei e adorei. Acabei
também de fazer a voz de uma tucana chamada Eva, em Rio, novo filme do animador
brasileiro Carlos Saldanha (que fez A Era
do Gelo) e adorei. Foi muito divertido. Estou
para gravar “Samba de Orly”, com Carlinhos
Brown, para o mesmo filme. Brown é o autor
da trilha sonora.
Bebel Gilberto já é no Brasil o que é para
os Estados Unidos e a Europa?
Acho que pouco a pouco, sim. Este foi um ano
bom no Brasil. Tive apresentações importantes.
Quando eu for para o Brasil para gravar o DVD –
provavelmente em um teatro em São Paulo – vou
ficar bastante tempo, a partir de maio de 2011.
Vou fazer também um CD. Eu vou conquistando
o Brasil. Em outubro, vou até Jericoacoara, no
Ceará. Será o primeiro show no Nordeste. Mas
estou me preparando para ir de férias no fim do
ano também. Ah, no segundo semestre de 2011,
tenho uma turnê de verão em festivais na Europa,
Estados Unidos, Canadá e Ásia.
E em Nova York, Bebel, o que você anda
aprontando?
Ah, agora é hora do mistério em Nova York.
Tem de ser assim, ano passado fiz quatro apresentações aqui. Aí tem de ter um pouco de mistério. Mas vou fazer a trilha sonora do Carlos
Miele na Fashion Week, ao vivo.
Maravilha, você vai vestir Miele para o
evento?
O mistério continua, lembra? É Nova York…
mas já estou vestindo a camisa, né?
Só mais uma coisinha … qual a melhor
parte de ser filha de João Gilberto?
Papai maravilhoso... Ele é sempre uma surpresa. É nisso que eu mais me amarro, é o que mais
me intriga.
Por Clara Angelica
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 61
ser lenda • ceará
talento e coragem na
ponta dos pés
E
m 1948 ele desembarcou no Rio de Janeiro, já como Hugo Bianchi e com um
único propósito: aprender com os grandes mestres da dança no país. “Em Fortaleza,
recebi muito incentivo da mestra Eros Volúsia. Ela me viu ensaiando no Theatro José de
Alencar e quis saber quem era aquele garoto
que dançava com tanta força e expressão. No
mesmo ano eu já estava fazendo aulas com
ela no Rio de Janeiro.” Assim começou
a trajetória do bailarino, professor
e coreógrafo Hugo Alves Mesquita,
que, aos 83 anos, continua a fazer da
dança seu estilo de vida.
Formado em artes cênicas pelo Serviço
Nacional de Teatro do Rio de Janeiro, Bianchi
aperfeiçoou a técnica com coreógrafos renomados, como David Dupré, Tatiana Leskova e
Maria Olenewa. A participação no elenco de
grandes produções lhe permitiu viajar e fazer
cursos em grandes templos das artes, a exemplo do Teatro Colón, na Argentina, e do New
York Ballet e American Ballet, nos Estados
Unidos. Bianchi participou de famosas companhias brasileiras: Paschoal Carlos Magno,
Walter Pinto, Zico Ribeiro e Carlos Machado. Atuou em musicais e filmes. “Trabalhei
em musicais de Denis Gray e na Companhia
de Dercy Gonçalves. Cheguei a fazer filmes
da Atlântida e Cinédia. Lembro que vi nascer
para a arte a Marília Pêra, gordinha e talento62
sa, uma graça de menina. Essa foi a época do
surgimento das TVs Tupi e Excelsior.”
O ano de 1965 marcou o retorno pra casa.
“Queria criar minhas próprias coreografias,
movimentar a cena cultural da cidade.” Iniciou dando aulas no Salão Nobre do Clube
Náutico e logo em seguida criou o Ballet Hugo
Bianchi, que administra até hoje. Criou coreografias para espetáculos consagrados como
Otelo, Lago dos Cisnes, O Quebra Nozes, Iracema e O Guarani, que lhe garantiram muitos
prêmios e situações pitorescas. “Meu figurino
em O Guarani era um tapa-sexo e o corpo coberto por tinta. No Teatro de Belém, uma família inteira deixou ruidosamente o camarote
alegando que o homem estava dançando nu”,
relembra com uma sonora gargalhada.
“As famílias eram muito tradicionais.
Passei uma temporada aqui dando aulas particulares. Uma grande dama da sociedade disse para a mãe de uma aluna minha que gostaria de ver a filha no balé, mas que eu era muito
afeminado. A mãe de minha aluna disse então:
“Eu contratei os serviços do professor Bianchi
como dançarino, não como reprodutor”.
Com 60 anos de carreira, Hugo Biachi
já recebeu muitos prêmios e homenagens. É
referência para gerações de artistas. Bailarino que desafia o tempo dando aula de dança,
força e vitalidade. Homem que vê a arte como
“território sagrado”.
MODA • BAHIA
estilista baiano Vitorino Campos, 22 anos, tem sido citado
como uma das grandes promessas da moda nacional desde o dia em que
a empresária Donata Meirelles foi a um jantar
organizado para Kofi Annan, ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU)
e Nobel da Paz, há pouco mais de um ano, em
Nova York, com um vestido feito por ele. Para
compor a sua mais nova coleção A Partida, lançada em setembro, Campos foi buscar inspiração no universo de mulheres abandonadas por
seus amores, histórias que remontam desde
o início do século passado. Transparências e
ombros aparentes ajudam a retratar cenários
de despedidas e saudade. “Quero provar que as
mulheres foram feitas para ser vestidas como
rainhas.” Atualmente, Vitorino Campos está
à frente de duas marcas – Vitorino e Vitorino
Campos. Esta última produz apenas quatro peças numeradas de cada modelo.
Revelado em 2008 durante o concurso
Novos Criadores de Moda, promovido pelo
VITORINO CAMPOS
Shopping Barra, em Salvador, seu primeiro
contato com a costura aconteceu ainda na
infância, quando ajudava a mãe em uma fábrica de fardamentos. “As cores, as texturas
e as formas me fizeram acreditar que a moda
seria a minha janela de comunicação”, conta.
Convidado a participar do Rio Moda Hype,
em 2009, Campos conquistou olhares da crítica especializada. “A primeira vez que assisti
a um desfile dele notei que havia algo de novo
sendo produzido na moda nordestina. Havia
algo refinado e luxuoso, com traços marcantes
típicos do Nordeste”, analisa a consultora de
moda Lilian Pacce.
Campos é bastante exigente e acredita que
a roupa precisa, antes de conquistar as passarelas e a crítica, seduzi-lo em primeiro lugar.
“Só considero uma coleção pronta quando
ela consegue aguçar os meus cinco sentidos”,
explica. Para a consultora de moda Cristina
Franco, ele se destaca porque prioriza o aspecto plástico da criação: “Ele simplesmente não
produz calça e camisa. Ele constrói um concei-
to que pode ser exportado para qualquer peça
de roupa e isso é digno de grandes estilistas”,
define. Quando chega o momento de apresentar suas criações, ele participa de todos os detalhes da produção dos desfiles. “Sou apaixonado pelos desfiles de Vitorino. A trilha sonora e a
luz pareciam ter sido feitas especialmente para
as peças desfiladas”, pontua Cláudio Silveira,
produtor do Dragão Fashion Brasil, evento de
moda realizado em Fortaleza, no Ceará.
Tecidos sofisticados, traços da alfaiataria
masculina, golas trabalhadas e cinturas altas
são algumas características das suas últimas
coleções. “Vitorino apropria à sua moda aspectos de outros estilos, sem que eles fiquem
perdidos nas composições. Outro diferencial é
que mesmo sendo nordestino, ele não se sente
na obrigação de aplicar caracteres típicos nas
peças. Quando os utiliza, faz de forma elegante
e diferente da maioria”, completa Cristina.
www.vitorinocampos.com.br
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 63
divulgação
novo baiano
O
COMER E BEBER • BAHIA
Restaurante Porto Moreira
Largo do Mocambinho, 488
Carlos Gomes, Salvador | Bahia
71 3322.4112 / 2814
sabor e
tradição
O
lugar é simples, lembra uma tasca portuguesa – como são chamados os botecos em Portugal.
Nas paredes, recortes de jornais com
matérias sobre o estabelecimento e
fotografias de clientes ilustres, preenchem todos os espaços. Assim é
um dos endereços gastronômicos mais tradicionais de
Salvador, o restaurante Porto
Moreira. Fundado em 1938 pelo
uran rodrigues
imigrante português José Moreira da
Silva, a casa é hoje administrada por
Antônio e Francisco Moreira, filhos
do fundador, que, assim como fazia
o patriarca, garantem receber a todos como “velhos amigos”.
“O restaurante de meu pai
caiu no gosto de muita gente
bacana logo após a abertura.
O Porto Moreira serviu
de ponto de encontro
para grandes figuras
da boemia baiana,
64
como os sambistas Batatinha, Walmir
Lima, Riachão, entre outros”, conta Antônio Moreira. O restaurante de gastronomia simples e porções fartas era um
dos preferidos do escritor Jorge Amado. O autor fez referências ao Moreira,
como é mais conhecido, nos livros Dona
Flor e Seus Dois Maridos e Os Velhos
Marinheiros. A língua de boi acebolada
com molho de tomate e a moqueca de
carne, para citar alguns pratos, afamaram o lugar, tratado quase como ponto
turístico por alguns clientes fiéis.
Além da carne, a receita da moqueca leva azeite de dendê, camarão seco,
leite de coco, tomate, cebola, coentro e
ovo. “Já tinha experimentado moqueca
de peixe e camarão, mas fiquei impressionado ao saber que existia uma de
carne. Por isso fiz questão de conhecer
o Moreira em minha última visita a Salvador. O sabor é tão marcante que até
hoje me recordo da experiência”, conta o
jornalista Ernesto Paglia. Localizado no
Largo do Mocambinho, centro da capital baiana, o Moreira já faz parte da vida
dos soteropolitanos. “O Porto Moreira
foi o local em que eu trouxe a minha
primeira namorada para almoçar. Aqui
também pedi a minha esposa em casamento”, relata o aposentado José Ribeiro de Araújo Neto, que frequenta
o local há aproximadamente 30 anos.
O cardápio conta ainda com
alguns pratos portugueses. “Jorge
Amado era fã do bacalhau preparado por meu pai. Ainda hoje recebemos encomendas dos herdeiros de sua família”, lembra
Antônio Moreira. A tradição
também é mantida quando
chega a hora da sobremesa.
Doces, como abacaxi em
calda, doce de banana
e cocada, adoçam, há
mais de 72 anos, o
paladar, sambas e
histórias.
morar lá, viver aqui
embaixada da amizade
dor. Na Espanha cuidamos da Vinícola Riscal
e do hotel em Elciego, que tem projeto assinado pelo arquiteto Frank Gehry. Em Assunção
dirijo uma organização não governamental
que presta assistência às mulheres vítimas de
violência e produzimos um prêmio literário
para jovens escritores paraguaios. Quando
chega o mês de dezembro ninguém
me segura. Eu e meu marido fazemos
as malas e fugimos do frio europeu
rumo ao sol de Salvador.”
Segundo a jornalista, a cultura brasileira
exerce grande influência em sua vida desde a
infância. Na adolescência, a música de Roberto
Carlos, Gal Costa e Caetano Veloso era a trilha
sonora das reuniões na casa de seus pais, onde
o português se juntava ao guarani e castelha-
no, entre os idiomas falados pela família. “Não
posso deixar de mencionar, por exemplo, que a
primeira vez que pus os pés no mar foi na praia
de Copacabana, no Rio de Janeiro. Hoje, quando estou em Salvador, me sinto em casa. Vou à
feira de Itapoã comprar frutas, caminho livremente pela areia da praia de pés descalços e,
principalmente, reencontro meus amigos queridos que moram na Bahia. Josinha Pacheco,
Claudia Cunha, são muitos.”
A casa é também abrigo dos inúmeros amigos de outras nacionalidades que visitam Salvador. A hóspede mais recente, em maio deste ano,
foi uma amiga jornalista de Santiago, Chile. “Eu
costumo dizer que não tenho a casa branca, não
tenho a casa rosada, mas tenho a casa aberta.
Minha casa é a embaixada da amizade.”
uran rodrigues
A
paixão da jornalista paraguaia Glória Gimenez pela Bahia já completou 30 anos.
Tudo começou com uma pesquisa sobre
suas raízes genealógicas. “Parte da minha família ficou no Brasil após a guerra da Tríplice
Aliança e tínhamos notícia que poderíamos ter
parentes na Bahia. Por isso aportei nesse paraíso em 1976. Fiquei enamorada e passei a frequentar Salvador sempre que podia, mas com
a sensação de que um dia poderia morar na
cidade. Na quarta temporada, eu e meu marido
decidimos comprar nossa casa.”
A casa de Glória fica há poucos metros do
mar, na praia do Corsário, Boca do Rio. Objetos trazidos das inúmeras viagens feitas pelo
mundo ajudaram a compor a decoração. “Divido meu tempo entre Madri, Assunção e Salva-
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 65
Imagens da Diáspora, assim foi batizado o mais novo
livro do historiador Gustavo Fálcon. A obra, de
conteúdo historiográfico, conta com
ilustrações da designer baiana Goya
Lopes, que há 23 anos fundou a grife Didara. Em edição bilíngue, o autor analisa os reflexos antropológicos na formação da sociedade brasileira resultantes
do desembarque de cinco milhões de
negros no país durante o período colonial e ressalta a importância do respeito
a essa identidade cultural. “A obra é, ao
mesmo tempo, um livro de arte e também de referência para os interessados
na assimilação da cultura africana pelo
Brasil”, pontua Fálcon. Imagens da
Diáspora marca também a incursão de
Goya Lopes na literatura. “Estou muito
feliz com o resultado. Acho que consegui
transmitir, por meio de minhas gravuras, a força do povo africano”.
Imagens da Diáspora
Gustavo Fálcon e Goya Lopes
Solisluna Editora
R$ 29.90
www.solislunaeditora.com.br
divulgação
entretenimento por Pedrinho Figueredo
Cultura
africana
Para
gargalhar
Arte plural
na Bahia
O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), em Salvador, sedia até 14 de novembro a Exposição Prêmio CNI/Sesi
Marcantonio Villaça para as Artes Plásticas. A mostra, que já passou por três capitais
brasileiras, reúne 33 obras concebidas a partir de técnicas variadas. Acrílico sobre
tela, desenho, pintura, além de foto performance e vídeo instalação são algumas
das modalidades artísticas da mostra. As obras expostas são de autoria dos artistas
plásticos Armando Queiroz, Eduardo Berlinder, Henrique Oliveira, Rosana Ricalda e Yuri Firmeza. Eles foram escolhidos por meio de um concurso promovido pela
comissão organizadora entre mais de 800 inscritos. Além de participar da mostra
itinerante, os selecionados foram agraciados com uma bolsa profissional no valor
de R$ 30 mil, além do acompanhamento, durante um ano, de um crítico de arte para
aperfeiçoar os seus trabalhos. Depois de Salvador, a mostra segue para Florianópolis e Goiânia. Segundo a coordenação da exposição, capitais nordestinas, como Recife e Fortaleza, devem receber a mostra no início do próximo ano.
divulgação
Exposição Prêmio CNI/SESI MarcAntonio Villaça
edição 2009/2010 para as Artes Plásticas
De 10.9.2010 a 14.11.2010
Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM
Av. Contorno, s/n – Solar do Unhão
Salvador | Bahia
66
O povo brasileiro representado por sete personagens hilários. O espetáculo teatral 7 Conto – A Comédia volta a Salvador depois
de dois anos fora dos palcos baianos. A peça é protagonizada pelo ator baiano Luiz Miranda com direção de Ingrid Guimarães. “A ideia desse espetáculo surgiu quando
eu tinha 14 anos e escrevi a minha primeira comédia”,
conta Miranda. Desde o lançamento, em 2006, cerca de
20 mil pessoas já assistiram à montagem. No monólogo
cômico, que dura cerca de duas horas, o ator encarna personagens que representam camadas distintas da sociedade. Temas polêmicos como exclusão social, racismo,
insensibilidade das classes altas e maltrato dos idosos
são retratados por meio de situações inusitadas. Novos
personagens foram incorporados ao espetáculo, mas sucessos como o flanelinha Queixada e a líder comunitária Dona Edite continuam. Os figurinos dessa nova fase
levam a assinatura da designer baiana Kitty Cohim. No
fim do espetáculo o público pode adquirir camisas criadas especialmente pelo estilista Alexandre Herchcovitch para a peça. Nascido no município baiano de Santo
Antônio de Jesus, Luiz Miranda decidiu voltar a morar
Bahia após 16 anos fora, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. O ator participou de trabalhos expressivos no teatro
como O Livro de Jô, do Teatro da Vertigem. No cinema
nacional, esteve no elenco dos longas Meu Nome Não É
Johnny (2008), O Signo da Cidade (2007) e Bicho de Sete
Cabeças (2001). Além de Quincas Berro d’Água (2010), de
Sérgio Machado, ao lado de Wagner Moura, João Miguel
e Lázaro Ramos e o recém-lançado Trampolim do Forte,
de João Rodrigo Matos.
7 Conto – A Comédia
De 10.9.2010 a 21.11.2010
Teatro Jorge Amado
Av. Manoel Dias da Silva, 2177, Pituba
Salvador | Bahia
Sextas e sábados às 22 horas
Domingos às 20 horas
Informações: 71 3525.9720
literatura • maranhão
babar na gravata, tô fora
livro de Ferreira Gullar, parece traduzir o seu atual momento
de vida. Com 80 anos completados
no dia 10 de setembro deste ano, o
poeta está a todo vapor. Exala vigor e in-
quietude, características não muito próprias à
idade, mas peculiares às mentes dos grandes
pensadores. “Eu não me sinto com essa idade
cronológica. Tenho uma cabeça jovem. Se essa
história de 80 anos é babar na gravata, tô fora.
Acho que essa vitalidade vem em primeiro lugar por eu ser uma pessoa saudável, não tenho
doenças. Depois, por eu ser uma pessoa otimista. Tenho uma visão crítica das coisas, mas
não sou um pessimista. Você me vê falando das
coisas, fazendo críticas políticas. Essa forma
de interagir com os acontecimentos me ajuda
a me manter jovem”, explica.
Além da poesia, Gullar tem outra grande
paixão: sua terra natal. “Eu não aguento mais
dar entrevistas. Desde o anúncio do Prêmio
Camões, do lançamento do novo livro e porque cheguei aos 80 anos, não faço outra coisa.
Não quero mais dar entrevistas, quero que as
pessoas leiam minhas poesias. Mas, você usou
uma senha importante: o Maranhão.” O poeta,
escritor e dramaturgo nasceu na rua dos Prazeres, na capital São Luís. Vencedor do Prêmio
Camões de Literatura 2010, o mais importante
da comunidade de países de língua portuguesa,
não esconde sua paixão pela conhecida Ilha
dos Amores. “Sou louco por São Luís de uma
forma muito intensa. Amo a minha terra, minhas origens. Um dos meus livros mais importantes O Poema Sujo é todo inspirado em São
Luís. Sinto falta, mas não ando mais de avião e
lá fica muito longe.”
Ao longo de sua carreira houve sempre
grandes hiatos entre uma publicação e outra.
Passaram- se mais de 30 anos desde o lançamento do primeiro grande sucesso – O Poema
Sujo – até o livro mais recente. Mas, tempo é
um advérbio que tem um significado particular
para o poeta. “Não sei quando farei um novo livro de poesias. Só para você ter uma ideia, levei
11 anos para escrever o que lancei agora. Eu não
escolho o momento de criar, a poesia é que me
escolhe. Esse tempo não é meu. Esse livro pode
ser o meu último. Poesia para mim sempre foi
uma grande aventura. Mas tenho muita coisa
pra fazer ainda. Tudo no seu tempo.” Contudo, o
poeta não deixa seus leitores totalmente órfãos.
Escreve para jornais e revistas e, semanalmente, publica crônicas no caderno Folha Ilustrada,
do jornal Folha de S.Paulo. Em 2006, as crônicas
foram reunidas no livro Resmungos. Este ano,
está previsto o lançamento de uma nova seleção. “Vou lançar também este ano, pela editora
José Olympio, uma peça de teatro. É o monólogo
O Homem como Invenção de Si Mesmo, no qual
divulgo a teoria de que a vida é uma invenção. As
coisas boas e as coisas más são inventadas pelas
próprias pessoas. Acredito, sim, que a vida é inventada, ela depende de mim.”
Ferreira Gullar segue inventando a vida,
criando cenas, fazendo poesia. “Quando já não
for possível encontrar-me em nenhum ponto
da cidade ou do planeta, pensa, ao veres no horizonte uma nesga azul de céu, que resta alguma
coisa de mim por aqui. Não te custará nada crer
que sorrio ainda naquela nesga azul celeste pouco antes de dissipar-me para sempre”, avisa em
“Um Pouco Antes”, na abertura do novo livro.
Em alguma parte alguma
Editora José Olympio
R$ 30
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 67
túlio tsuji
“P
erplexidades”, um dos poemas de
Em Alguma Parte Alguma, o novo
artes plásticas • paraíba
a arte de
ser livre
A
obra de Antonio Dias figura hoje entre as
mais importantes na arte internacional.
No Brasil, seu trabalho se destaca desde
os anos 60. Se isso já era devidamente sabido, agora, em mim, essa opinião se efetivou e
se consolidou após visitar recentemente a sua
casa-ateliê no Rio de Janeiro. E digo mais: continua um artista de vanguarda, numa carreira
iniciada com a primeira mostra em 1962, o que
já beira 40 anos de exposições.
Nascido em Campina Grande, Paraíba, em
1944, se transferiu para o Rio de Janeiro em
1958, onde estudou com Oswaldo Goeldi na Escola Nacional de Belas Artes. Dois anos depois
de sua estreia, ganhou o prêmio Isenção de Júri
no Salão Nacional de Arte Moderna e, no ano
seguinte, o prêmio de pintura da Bienal de Paris.
A partir de 1989 se fixou em Colônia, Alemanha,
alternando daí por diante seu tempo entre o Brasil e a Europa, com uma intensa participação em
bienais e com trabalhos presentes em várias coleções e museus, como o de Nova York.
Antonio Dias é desses artistas
que, nas suas criações – nas quais
utiliza as mais variadas formas e materiais – não realiza simplesmente
pinturas, mas ideias estéticas. Cria,
KasaKosovoKasa, 1996
Foto digital sobre colunas de PVC
400 x 600 cm
Foto José Manuel Costa Alves
68
com um estilo muito pessoal, uma poética plástico-visual. Neste momento, tem utilizado folhas metálicas e a transformação do material em
decorrência da oxidação para realizar trabalhos
capazes de expressar uma manifestação plena
da arte como liberdade, o intenso prazer de ser
livre. Com isso, explora uma de suas principais
características: a atitude no seu processo criativo. Nos anos 60 trabalhou tendo como suporte
o filme super-8, hoje trocado pelo vídeo. Inovou
também quando apresentou uma sequência de
telas com superfícies moduladas num conjunto
de formas diferentes que revelava um modelo
novo na organização pictórica final.
Acompanhar essa nova fase de Antonio
Dias explicita ainda mais o quanto seu trabalho
marca profundamente a produção artística no
Brasil e no mundo há tanto tempo – com reconhecimento de crítica, mercado e público – e
por que se constitui uma referência para outros
artistas, principalmente os das novas gerações.
Uma mente singular que continua a abrir novas
possibilidades para a arte. Um acervo elaborado
por meio de uma inteligência rara e de um profundo senso de liberdade na criação e execução
que o torna, reconhecidamente, um dos mais
importantes artistas plástico da atualidade.
www.antoniodias.com
por Itamar Musse
produto • bahia
diamante
negro
A
s minas de diamantes da Chapada Diamantina, na Bahia, hoje fazem parte apenas da história do lugar. Suas atuais riquezas não se acham mais embaixo da terra, mas
em sua superfície. São as fazendas da cidade de
Piatã, com a produção do melhor café
gourmet do país, as responsáveis por
mais uma vez levar o nome da região
para o resto do mundo.
No ano passado o Prêmio Cup of Excellence, do 10º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, promovido pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e pela Alliance for Coffee
Excellence (ACE), foi para o produtor Cândido
Vladimir Ladeia Rosa, da Fazenda Ouro Verde,
nos arredores de Piatã. Apesar de Minas Gerais
ainda dominar o mercado, outros seis produtores da cidade baiana conseguiram colocações
entre os 26 finalistas do concurso.
As sacas (60 quilos) foram vendidas no último leilão internacional Cup of Excellence a preço de diamante. Michael Freitas, presidente da
Cooperativa e da Associação dos Produtores de
Café de Piatã, conta que o campeão do concurso
de 2005 chegou a comercializar a saca por R$ 14
mil, quando a cotação normal não passa dos R$
260. Este ano os preços não chegaram a tanto,
mas atingiu a casa dos R$ 5,6 mil.
Dos 250 cafeicultores da região, 50 praticam
as técnicas de produção do café gourmet, famoso
por ter aroma suave, notas de caramelo, trufas e
cana-de-açúcar. O resultado é obtido por conta
das características locais, como o tamanho reduzido das propriedades, de no máximo 10 hectares
(em torno de dez campos de futebol). As técnicas
de colheita também influenciam. São colhidos
apenas os frutos maduros. Isso só vem sendo feito de dez anos para cá, depois que o governo do estado começou a enviar engenheiros agrônomos e
técnicos para corrigir erros que vinham sendo
cometidos desde os anos 70.
A altitude também influencia. Piatã é a cidade mais elevada do Nordeste. As lavouras localizam-se entre mil e 1,4 mil metros acima do nível
do mar. Por conta disso recebem muito sol e pouca chuva. No inverno a temperatura chega a 10
graus, o que atrasa a maturação do fruto em dois
meses e intensifica o sabor adocicado da bebida.
“É um café com gosto de melaço, muito transparente, frutado e elegante”, diz o barista norueguês Tim Wendelboe, que participou do júri composto pelos maiores especialistas do mundo na
área e que deu o primeiro lugar à Fazenda Ouro
Verde. Para ele, o processo quase artesanal é o que
agrega mais qualidade ao produto baiano. Em Salvador é possível provar o café das fazendas Cafundó, São Judas Tadeu e Passagem Funda no Lucca
Café, no Salvador Shopping. Se quiser levar para
casa, pode optar pelo pacote de 250 gramas que
custa módicos R$ 24, em grãos ou moído.
por Pedro Fernandes
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 69
Primavera
70
mudar de assunto
72
73
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 74
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 75
76
principais cenas da noite do dia 21 de outubro daquele ano decisivo na música brasileira. Era Chico
Buarque acompanhado pelo grupo MPB 4 cantando “Roda Viva”, Caetano Veloso evocando “Alegria,
Alegria”, Gilberto Gil e os Mutantes, com “Domingo no Parque”, Edu Lobo, com “Ponteio”, Roberto
Carlos, cada vez menos jovem guarda, com o samba
“Maria, Carnaval e Cinzas”, e Sérgio Ricardo, com
“Beto Bom de Bola”. Gal também subiu ao palco do
Teatro Paramount, em São Paulo, naquela mesma
noite, com a canção “Dadá Maria”, de Renato Texeira, mas não emplacou. Ficou fora da final, embora
estivesse presente de corpo, alma e atitude.
UMA MULHER: MUITAS FACES
Com a mãe, Mariah Costa Penna, marota
em 1940, TV Record em 1967, gravação
do disco Índia, em 1973, e disco Água
Viva, de 1978.
E não poderia ser diferente, era o momento em
que fervilhavam músicas para abalar os sentidos.
Lá estavam eles, jovens e destemidos artistas, cara
a cara com uma exigente e tumultuada plateia que
acompanhava os festivais. Vibrante, sortida e, por
que não, cruel. Munida de aplausos calorosos, sim.
Outras vezes, não. Bastava desagradar – o público
vaiava em coro.
Fato é que, com discórdia ou euforia, a partir
daí nada ficaria no mesmo lugar. Como quem se
entrega a um rito de passagem, eles, os músicos,
jamais seriam os mesmos. Tampouco o público.
Submerso no ambiente da repressão militar, fruto do golpe de estado de 1964, no governo de João
Goulart, o Brasil começava a se render a um vírus
cultural capaz de desafiar o poder bélico. Música,
teatro e artes plásticas caminhavam lado a lado
rumo a um horizonte libertário. Ainda que não
fosse declarado, ainda que fosse silenciado pelos
mecanismos de censura, ainda que fosse terminantemente proibido, todos sabiam que havia algo
diferente e definitivo pairando no ar.
Ao lado de Caetano, Gil e Bethânia, Gal propôs a revolução tropicalista. Um ano antes, em
1966, ela havia assinado o primeiro contrato com
uma gravadora – a Phillips. O feito foi consequência de sua apresentação no 1º Festival Internacional da Canção, interpretando “Minha Senhora”, composição de Gilberto Gil e Torquato Neto,
também parceiro do principal movimento artístico cultural que mudou de vez o cenário da música brasileira. Embora não tenha sido finalista,
novamente, sua participação foi suficiente para
galcosta.com.br/acervopessoal
NADA MAIS COMO ANTES
amigos para sempre
Com Gilberto Gil, Maria Bethânia e
Caetano Veloso.
BARRA 69
galcosta.com.br/acervopessoal
Q
uando digitamos o nome Gal Costa
no Google – ferramenta de busca que
mais parece um oráculo charlatão com
respostas prontas para absolutamente
tudo que se possa imaginar –, de imediato aparece: “cantora baiana de MPB”.
Um grão de mostarda que sintetiza de forma rasteira os mais de 40 anos de sucesso, no Brasil e
no exterior, da carreira de Maria da Graça Costa
Penna Burgos, uma das maiores cantoras brasileiras. Talvez o show O Sorriso do Gato de Alice, apresentado em 1993, traga a melhor metáfora para
compreendê-la enquanto artista: um felino solto
pelas madrugadas. Para surpresa da plateia que a
assistia na ocasião, Gal apareceu vestida com um
uniforme de operária, escalando um telhado íngreme, em passos suaves, porém ariscos, tal como um
bichano. O espetáculo teve direção de Gerald Thomas e, desde a estreia, no Rio de Janeiro, foi considerado uma montagem incomum. Sem dúvida, Gal
Costa é uma artista que foge à normalidade.
Ela nasceu em Salvador, em 26 de setembro
de 1945. A voz inconfundível que ouvimos hoje é
praticamente a mesma que estreou lá pelos idos
dos anos 1960 cantando bossa nova. Nunca estudou canto. Aos poucos, cantarolando debaixo do
chuveiro, foi se entendendo cada vez mais como
cantora. Do violão, praticamente ausente em suas
apresentações nos últimos anos, se fez parceira.
Com naturalidade, aprendeu a desdobrar a potência acústica de seu privilegiado conjunto de cordas
vocais, com respaldo do domínio da respiração
profunda, controlada pelo diafragma. Só ela é capaz de segurar uma mesma nota por tanto tempo.
Só ela é capaz de ser magnífica ao entoar um agudo
tão estridente. Quem afirma e aplaude são os críticos e parceiros musicais (leia texto “Presente de
Deus”, à página 88).
Basta fazer uma viagem no tempo para perceber a diversidade de ritmos e estilos presentes na
música de Gal Costa desde o lançamento do primeiro LP, Domingo, em 1967. Naquele momento
ela vivia a ebulição do tropicalismo. A MPB, segundo Nelson Motta, começava a rachar. O 3º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record,
apresentava os grandes finalistas.
Lançado recentemente, o filme Uma Noite
em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil, mostra as
Gil e Caetano ficaram três meses presos. Ainda sob passos vigiados, em Salvador, realizam o
show Barra 69, produzido por Roberto Santana,
ex-produtor musical da Phillips e empresário,
na época, de Vinicius de Moraes, antes de serem
mandados para o exílio em Londres. “A ideia era
arrecadar uma grana. O espetáculo foi emocionante, eles já eram considerados grandes ídolos. Gil
cantou ‘Aquele abraço’. No final, a Polícia Federal
os aguardava na porta do Teatro Castro Alves. Não
era fácil, foi uma fase muito dura”, conta Santana.
A boa forma física de Gal impressionava. A cantora
chegou a posar nua em um ensaio na extinta revista
Status. No LP Índia era pura sensualidade.
O LP Profana abriu o verão de
1985, com Gal Costa cortando
os cabelos em momento registrado pelo programa Gal Costa
Especial, produção da extinta
TV Manchete.
CABELO,
CABELEIRA,
CABELUDA,
DESCABELADA
PÉROLA NEGRA
Quem assume a produção do próximo show de
Gal Costa, em 1972, é o poeta Waly Salomão, grande parceiro e amigo da cantora, morto em 2003.
Nascido em Jequié, cidade do sudoeste da Bahia,
Waly dirige Gal a Todo Vapor, evidenciando a sensualidade e a vocação artística da bela baiana, no
auge de sua forma física. Por tabela, Waly – que
andava pelo Morro do Estácio, onde Luiz Melodia
morava com a família, no Rio de Janeiro, e já conhecia a sua esposa, Jane, que era sua conterrânea
– apresenta o compositor a Gal. Imediatamente
tem início mais uma grande amizade e parceria
musical. Melodia apresenta algumas composições,
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 77
mas ao ouvir “Pérola Negra”, a Gal não restam dúvidas: é a música. Estava traçado mais um grande
sucesso na voz da diva. “Gal é a minha madrinha,
foi ela quem lançou a minha carreira. Tenho muito
carinho por ela, a gente se gosta muito. Se ela quisesse, eu casava com ela”, declara Melodia, num
tom faceiro acompanhado por um sorriso descontraído. A música foi inserida ao repertório do show
e também ao LP Fa-Tal. “A primeira vez que a ouvi
cantar minha música no teatro Tereza Rachel, no
Rio, me derramei em lágrimas. Não aguentei, comecei a chorar”, relembra.
Consolidado o sucesso e a amizade, Gal pede
a Melodia uma música para o próximo LP, Índia,
lançado em 1973. Nasce “Presente Cotidiano”, que,
segundo o compositor, chegou a esbarrar nos corredores da censura. “Guilherme Araújo (produtor
musical que acompanhou boa parte da carreira de
Gal) teve de fazer umas ligações até dar um jeito de
a música ser liberada”, conta.
Para Melodia, é difícil escolher um único momento que seja emblemático na carreira de Gal
Costa. “São vários. Ela sempre mudou muito, apostou em diversos estilos, e foi muito bem, porque é
uma cantora excepcional, tem liberdade para fazer
o que quiser. Particularmente, tenho muita admiração pela fase de lançamento de “Pérola Negra”.
Para mim, ela é a maior cantora brasileira, adoro
ouvi-la, trabalhar junto é melhor ainda”, ressalta.
O sanfoneiro Targino Gondin é outro grande
admirador. E mais: Targino acredita que Gal influenciou uma geração inteira de músicos que se
formaram após o tropicalismo. “É uma grande fonte. Considero Gal e Bethânia as maiores referências femininas da música brasileira. Tenho muitos
discos em casa, adoro ouvi-la, é divina.”
Antes de entrar na década de 1980, Gal, Gil, Caetano e Bethânia juntam-se como Doces Bárbaros. A
ideia do quarteto é comemorar os dez anos de carreira de cada um dos integrantes. Baianos, amigos e,
sobretudo, irmãos de fé. Fé na vida, na música e nos
orixás. Logo após, ainda em 1976, lançam o disco. O
espetáculo arrasou, gerando comentários controvertidos que ressaltavam desde a linha musical ao
figurino usado pelos artistas, estilo hippie – cintura baixa, tops com barriga à mostra e os homens de
batas folgadas –, que mexia muito com as emoções
de uma sociedade ainda provinciana tentando se
firmar no admirável mundo novo dos baianos ousados. As músicas descambavam ora para o filosófico, ora para o protesto, com pitadas destiladas de
contravenção, ainda que inseridas no movimento
esotérico a ser descoberto pelas massas quase uma
década depois, também foram alvo de críticas. Em
1994, fazem uma apresentação única dos Doces
Bárbaros na quadra da Mangueira.
MUNDO AFORA
Em 1981, a maior parte dos shows de Gal Costa
foi realizada no Japão. Ela se apresentou em mais
PARCEIROS, AMIGOS E FÃS
Dominguinhos é o sanfoneiro que acompanha a banda de Gal Costa na turnê do LP
Índia, em 1973. De Djavan, gravou “Álibi”, “Açaí” e outros sucessos. Em 1981, cantou,
junto com Elis Regina, pela primeira vez em um musical da Globo. A amizade e parceria com Chico Buarque começou em 1966. Momentos marcantes também ao lado de João Gilberto, Roberto
Carlos, Erasmo Carlos, Paulinho da Viola, Mercedes Sosa, Pavarotti, Dorival Caymmi, César Carmargo Mariano e
até o craque Diego Maradona.
de dez cidades. No mesmo ano foi montado o show
Fantasia, dirigido por Guilherme Araújo, no Canecão, no Rio de Janeiro, que resultou num disco
de mesmo nome, trazendo no repertório sucessos
como o frevo “Festa do Interior”, de Moraes Moreira e Abel Silva, outro grande sucesso na carreira
de Gal. No mesmo disco, destaque também para os
hits “Açaí”, de Djavan, e “Meu Bem, Meu Mal”, de
Caetano Veloso.
No ano seguinte, 1982, Gal levou Festa do Interior para Tel Aviv e Jerusalém num show inédito no
Oriente Médio. Na década de 1990, destaque para o
show Plural, direção de Waly Salomão, com influências que faziam jus ao nome – iam do erudito VillaLobos ao rei do reggae Bob Marley, além de reunir
grandes músicos como o violonista Rafael Rabello
e percussionistas do Olodum. O show foi exibido
na Europa e na América Latina – em Buenos Aires,
chegou a ficar dois meses em cartaz.
GAL ATUAL
Dona Mariah, sua mãe, foi a primeira a incentivá-la como cantora. Costumava cantarolar
“Chululu”, uma melodia de ninar criada de forma
improvisada para embalar o sono da filha. Em
1974, Gal gravou a música da mãe no disco Cantar, produzido por Caetano, com arranjos de João
Donato. Hoje, ela é mãe e, quando não está fazendo
shows, leva uma vida tranquila, dedicada ao filho
Gabriel, de 5 anos, também ninado antes de dormir por seus chululus. O próximo CD, ainda sem
previsão de lançamento, está sendo produzido por
Caetano e Moreno Veloso. “Amores, hoje à noite
vou trabalhar. Eu adoro trabalhar. Já estamos em
processo de pré-produção. Até amanhã e muitos
beijos. Doces sonhos para todos”, postou no Twitter recentemente.
Sim, Gal é uma tuiteira de primeira. Da varanda de sua casa, no Campo Grande, com vista para
a Baía de Todos os Santos, costuma compartilhar
com seus mais de 19 mil seguidores deslumbrantes
pores do sol. Registra tudo em fotografias postadas
diariamente em sua página oficial no microblog
(@gal_costa). É fã declarada de tecnologia, possui
iPhone atualizado por ela própria sempre que surge uma nova versão. No Twitter, também costuma
pedir dicas de filmes, programa de sua preferência
à noite, quando está em casa. “Os meus seguidores
são tão doces comigo que chego a ficar emocionada”, declarou, em outra postagem. Os últimos
filmes assistidos foram Os Gritos do Silêncio, Um
Olhar para o Paraíso e Os Infiltrados. Despede-se
sempre com um suave “boa-noite”, acompanhado
de “durmam bem”, “tenham bons sonhos” e “beijos”. No dia seguinte, retorna com o mesmo ânimo
e amabilidade. “Bom-dia flores do dia, ótima semana para todos.”
Mas, como as divindades que habitam a Terra
e ainda conservam em seu corpo uma porção humana, Gal também impõe limites à sua privacidade como qualquer mortal. Às vezes responde com
firmeza aos que considera intrometidos. Como o
seguidor que se achou no direito de criticar o seu
humorado bom-dia às 11 da manhã. Ela rebateu
firme: “Era só o que me faltava, acordo na hora que
quiser”. Duvida? Pois tente. O nome dela é Gal.
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 78
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por Tássia Novaes
Em meio a tanta tensão, Gal desafiava mais
uma vez. “Em vez de trilhar os caminhos do canto
fácil e dos hits vendáveis, opta por experiências rascantes”, explica Logullo. Em poucos meses, estava
pronto um novo repertório. O parceiro da vez é Jards
Macalé. Nas composições aparecem “gritos, mixagens sujas, ruídos, sustos (...). Ela não queria mais
as tardes mornais”. Roberto Carlos e Erasmo traduzem bem o momento compondo “Meu Nome É Gal”,
mais um grande sucesso na voz da baiana. O clipe
foi exibido no programa Fantástico, da Rede Globo,
em 1979. Na abertura, Cid Moreira anuncia: “Um
duelo contra a guitarra, um dos melhores momentos do show que já passou das 100 apresentações
no Rio de Janeiro”. A música marcou época e continua sendo bastante executada até hoje nos shows
– quando não está no repertório, é aclamada no bis.
A verdade é que, com os companheiros fora
do país, restava-lhe assumir a voz do tropicalismo. “Acho que foi uma missão que Deus me deu”,
resume, em entrevista para LICIA (leia na página
80). Pouco antes da virada do ano em 1969, Gal vai
a Londres, onde passa o réveillon com os amigos.
Lá também estão Jorge Mautner e as irmãs Dedé
e Sandra Gadelha (esposas de Caetano e Gil, respectivamente). Gal assiste à apresentação de Jimi
Hendrix no festival da Ilha de Wight e, juntamente
com Caetano e Gil, participa de uma jam session. A
temporada na capital da Inglaterra a fez repensar a
carreira, diz Logullo. “Já não partiria mais para o radicalismo do último disco e optaria por um trabalho
que permitisse revelar as muitas possibilidades de
sua voz.” No retorno ao Brasil, lança um compacto
com “London, London”, de Caetano, e “Minimistério”, de Gil. Em seguida é a vez do LP Legal, cuja
capa foi feita pelo artista plástico Hélio Oiticica
(leia “Gal e Oiticica – Voz e Arte da Tropicália”, na
página 106). O disco é uma consequência do show
Deixa Sangrar, apresentado no teatro Opinião, no
Rio, também no ano de 1970. O percussionista Naná
Vasconcellos fazia parte da banda. “O espetáculo
encerrava com o frevo ‘Deixa Sangrar’, de Caetano,
composto em Londres como paródia ao título do álbum Let it Bleed, dos Rolling Stones.”
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Da contracultura inspirada no movimento hippie ao dinamismo das redes sociais na
internet, Gal Costa se mostra cada vez mais atual sem perder a veia tropicalista.
Sim, ela continua aplaudindo diariamente o pôr do sol. A diferença é que nunca
para. Está sempre conectada às novidades que surgem à sua frente
chamar a atenção do então diretor artístico da
Phillips, João Araújo, pai de Cazuza.
Em 1968, na quarta edição do Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, Gal causou
rebuliço ao apresentar um novo visual, inteiramente hippie, rompendo com o estilo comportado
e tímido que a modelava até então. A mudança tinha como porta-voz a barulhenta “Divino, Maravilhoso”, composição de Caetano e Gil, na contramão da suavidade melódica da MPB. Gal estava
também em cartaz numa temporada de shows com
Tom Zé, em São Paulo. Era o prenúncio, ainda que
não premeditado, do fantástico Doces Bárbaros,
que estava por vir nos anos 1970.
Um ano antes, em 1969, a ditadura mostrava
sua face mais opressora com intervenções truculentas, porém de duvidoso efeito coibidor, dado o
embalo que o movimento já causava na época. Caetano e Gil foram detidos em um quartel no Rio de
Janeiro. Enquanto isso, suas ideias circulavam,
propagadas pelas ondas de rádio de todo o país, por
meio do LP Gal Costa, primeiro a ser gravado pelo
selo Phillips. A faixa “Baby” (mais uma composição de Caetano) foi sucesso imediato – ultrapassou
as 100 mil cópias vendidas, quantidade expressiva
para um mercado fonográfico ainda incipiente se
comparado ao que viria depois. A música foi incorporada à trilha sonora do filme Copacabana, Me
Engana, de Antonio Carlos Fontoura.
O momento era de total ascensão artística
para Gal Costa. Com base na biografia escrita pelo
jornalista Eduardo Logullo, a cantora era citada
como “ícone feminino de uma reviravolta estética para os padrões brasileiros. Mulher que não
combinava bolsa com sapato e ouvia rock.” Além
da música de sucesso, o LP “mantinha o frescor da
tropicália: canções de temáticas urbanas, doces
reflexões anarquistas, constatações, citações, provocações, objetos não identificados, uma diversificação de ritmos”. Período tenso, de instabilidade
política, os dias pareciam se arrastar. Importante
contextualizar que no mesmo ano foi publicado o
primeiro exemplar do jornal O Pasquim, a Globo
transmitiu o Jornal Nacional pela primeira vez e
os Estados Unidos chegaram à Lua. E a quem interessar possa, Vera Fischer foi eleita miss Brasil.
SENSUALIDADE À FLOR DA PELE
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O nome dela é Gal
Arroz integral com Coca-Cola
Eu sou do tempo em que a Gal gritava Meu Nome é GAAAAAAAAAL! A Gal é dona dos
mais belos trinados do planeta! Sabe o que eu fiz ontem no meio da cobertura das eleições 2010, atolado em notícias insuportáveis? Botei um vídeo da Gal cantando “Eu Sei
Que Eu Vou Te Amar” e depois “Antonico” e depois “Bota Mão nas Cadeiras”! E saí pulando e dançando pela casa! A Gal é o sol. Eu conheço a Gal há mais de 100 anos. Hahaha!
E ela sempre foi transgressora: ela comia arroz integral com Coca-Cola. O pop. A introdução da guitarra na comida integral! Eu detesto nostalgia, mas, na década de
70, eu morava em Arembepe e aconteceram duas coisas psicodélicas: apareceu,
pela primeira vez, um trio elétrico e a gente achava que era um disco voador. E
noutro dia apareceu a Gal, gostosa como uma sereia com um vestido totalmente transparente. E a gente achava que era outro disco voador. Hahaha! Hoje eu
tenho uma casa de praia em Arembepe (a volta de Tieta) e vi um hippie entrar
no supermercado e comprar um maço de vela e sair, só isso, em pleno século 21,
apenas um maço de vela! Achei engraçado, mas meio triste isso. Porque a Gal
esteve em Arembepe, mas agora não sai do Twitter! E eu já fui até capa de disco
da Gal! Ueba! No meio de mais dez, mas fui! O disco é Gal a Todo Vapor! Esse era
o show que a gente ia toda noite no Rio. Peregrinação. Hahaha! Tocava o primeiro acorde a gente cantava o show inteiro, sabia de cor! De manhã, Gal na
praia, deitada como sereia e quieta como uma esfinge numa duna de Ipanema,
as famosas dunas da Gal. E, em volta da Gal, nós, abelhas, era uma efervescência
tropical. Todo mundo aplaudia o pôr do sol, ninguém usava relógio e o Cazuza
queria se enturmar mas a gente não deixava porque ele era muito criança! E um
dia peguei os restos de cetim do cenário do show e fiz uma polo dourada. E fotografamos para a capa do CD junto com os Novos Baianos e mais uma renca! Eu queria ser a Gal! A Gal era maaagra e eu era maaaagro e todo mundo achava a gente
gostoso. Hoje a gente tem o corpo da Cleo Pires e ninguém fala nada. Hahaha! E
depois acho que apareci na capa de Legal. Mas não lembro, Vanusa me ajuda!
Hahaha! E quando você entra no carro, liga o rádio e aparece a voz da Gal, um
presente! Eu adoro a Gal cantando, eu adoro a Gal no palco, eu adoro a Gal, mas
sabe o que adoro mesmo? O sorriso da Gal! E quando ela fica de perfil, séria, puxando
levemente os cabelos pra cima? Bem, eu sou fã, né. O que você é da Gal? FÃ!
José Simão
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 79
licia entrevista
Voz de cristal
fotos Uran Rodrigues
O
encontro de Gal Costa com Licia aconteceu no restaurante Amado, em Salvador. Em um dia lindo, iluminado, como tinha de ser. A cantora chegou acompanhada
da assessora Vilma Dias. Inundou os olhares e ouvidos.
Ouvir a voz de Gal impressiona, mesmo fora do palco.
Encanta. Gal é sensorial. É preciso sentir. Usar o coração para en-
tender o seu canto, a força da sua presença. E todo mundo queria
saber mais sobre a Tropicália, as dunas de Ipanema, a amizade com
Waly Salomão, Jards Macalé, Guilherme Araújo, religiosidade e,
claro, a relação com Caetano, Gil e Bethânia. Para ela, mais do que
uma boa coincidência ou sorte, uma questão espiritual. As quase
duas horas de bate-papo passaram voando, quase desapercebidas
para equipe da revista: a editora Aline Queiroz, a jornalista Tássia
Novaes, a produtora Ana Paula Lima, o fotógrafo Uran Rodrigues, o
cinegrafista Mateus Damasceno e para o chef Edinho Engel. Também, pudera, o “sorriso do gato de Alice” continua hipnotizante. 80
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 81
licia entrevista
Cena 1:
Parte com Iansã
Licia: Tudo o.k., gente?
Gal: Por mim, tudo bem. Só quero estar bonita. Tô bonita?
Licia: Você é linda, minha irmã.
Gal: Nossa, que bonito esse iPhone. Isso aqui é
uma capa?
Licia: É sim, foi meu filho que me deu.
Gal: Ah, entendi.
Licia: Mas aqui já está vendendo desse tipo.
Gal: Ah, é plástico! Lá nos Estados Unidos é que
tem umas bonitas. Você já fez o upgrade do seu?
Licia: Ainda não!
Gal: No meu eu já fiz. Faz pelo computador, aí
você já baixa a versão mais nova.
Licia: Ah, meu filho, me dê um suco de tangerina.
Gal: Pegue ali o restinho do meu, é de melancia.
Não quero outro inteiro, não, porque depois eu
preciso provar esse bacalhau daqui, ora. (Risos)
Licia: Eita, estamos aqui com dona Gal, essa
irmã linda, querida...
Gal: Essa aqui é minha irmã linda do Gantois, de
Iansã. Eu também sou...
Licia: Você também tem parte com Iansã...
Gal: Tenho parte com Iansã...
Licia: Essa era uma das coisas que eu queria falar, né, Gal. Como é essa coisa da sua fé?
Gal: A minha fé é uma coisa muito forte. A melhor coisa que eu fiz foi conhecer mãe Menininha, entrar para o Gantois, ser iniciada por ela...
Gal: Eu tenho uma voz privilegiada e o incrível
é que eu nunca estudei canto. Quando eu comecei a cantar em casa na adolescência, depois
que eu conheci João Gilberto pelo rádio, eu
comecei a mudar meu jeito de cantar, em casa
no banheiro. Eu tinha consciência de técnica
vocal, o uso do diafragma pra cantar, a importância rítmica no canto, a expressão da palavra
cantada, como dizer a palavra cantada, como
dividir, isso tudo, toda essa coisa importante
que é para o canto que o cantor deve saber, eu
já nasci sabendo. Ninguém nunca me ensinou,
isso é que é muito incrível.
Licia: Uma coisa que eu sempre quis lhe perguntar é o seguinte: você tem total consciência
da beleza da sua voz e de que ela é considerada
uma das mais bonitas do mundo?
Gal: É difícil ter essa consciência. Eu não sei,
exatamente, como as pessoas reagem quando
ouvem ou sentem a minha voz. Eu sei que
minha voz é bonita, limpa, eu adoro cantar e
é uma voz que eu trabalhei muito. Sei que é
uma voz que parece um instrumento, eu sei.
A minha voz é bonita, eu gosto da minha voz.
Agora, é diferente saber que impacto ela causa nas pessoas.
Licia: Ave Maria, é uma coisa! Por exemplo, eu
tenho um amigo, o médico Diógenes Vinhaz,
marido de dona Doralice, ele diz que quando
ouve você cantando “Meu Nome É Gal” escuta uma orquestra completa. Eu quando escuto
você cantando aquela versão de Stevie Wonder,
eu digo, “meu Deus, o que é isso?”. (Risos)
Licia: O que é uma honra, né?
Gal: Não é só uma honra, me fez muito bem em
todos os aspectos. Eu me lembro que, naquela
época, era muito ansiosa e, pelo menos, 90% da
minha ansiedade melhorou. E, quando eu cantei
com Maria Bethânia a música do Caymmi, em
homenagem a mãe Menininha, eu não a conhecia ainda. Por conta dessa música eu fui até o
Gantois conhecê-la.
Licia: Olha só!
Gal: Então ela foi e jogou pra mim e tal. Ela dizia que eu era de Iansã, mas que Obaluaiê tinha
muito apego por mim, ele ainda não tinha tomado a frente. Aos poucos eu fui frequentando o
Gantois durante nove anos até ser iniciada. Eu
sou realmente de Obaluaiê, mas tenho Iansã. Ela
é muito forte na minha vida também.
Licia: Que maravilha! Ele é um orixá muito especial, né, Gal?
Gal: Eu tenho muita fé. É um santo especial, que
se mostra pros filhos. Eu costumo dizer que sou
teleguiada pelos anjos, pelos orixás, pelas energias boas do universo como quiserem chamar.
A minha intuição, o meu trabalho, tudo que faço
vem da minha fé. Até o meu próprio trabalho eu
acho que é uma missão.
Cena 2:
A voz
Licia: Então, pelo que você está dizendo, Obaluaiê foi quem lhe deu essa voz. Porque você tem
uma das vozes mais bonitas do mundo, né Gal?
82
Cena 3:
João, Caymmi, Waly...
Licia: Agora, Gal, quem foi desses nomes todos que trabalharam com você – João Gilberto,
Caymmi, Waly –, que você considera que conseguiu tirar mais da essência da sua voz?
Gal: Eu comecei a trabalhar com Guilherme
Araújo, na época da jovem guarda e da bossa
nova, né. Eu era totalmente “bossa-novista”,
até nem gostava muito da jovem guarda. Eu
gostava de meia dúzia de pessoas e eu me
lembro que o Guilherme Araújo me dizia:
“Minha querida, você tem de ir cantar na
jovem guarda. Olha a Wanderléia, você tem
que ser como ela”. Eu ficava achando aquilo
uma maluquice. (Risos) Até que Caetano e Gil
vieram com o tropicalismo, aí passei a conviver diretamente com aquilo e dei uma virada
na minha maneira de cantar e tudo mais. Eu
passei a gostar de milhares de outras coisas
que não gostava até então. Mas minha essência permanece “joãogilbertiniana” e “bossanovista”. Assim como Caetano também. Eu
aprendi muito com o João, ele até hoje é moderno. Naveguei também pelo universo pop,
na década de 80, 90...
Cena 4:
Porta-voz
Gal: Era o Guilherme. Depois ele viajou com o
Caetano e Gil quando eles foram exilados. Eu fiquei no Brasil, sozinha, cantando as coisas deles.
Era um período muito difícil.
Licia: Você teve medo de acontecer alguma coisa com você?
Gal: É, tive, mas o pior de tudo não era isso. O pior
foi ficar no Brasil sozinha. Eu fiquei, na verdade,
representando o Caetano. Minha figura era muito
ligada à figura dele. Fui algumas vezes à Londres
visitá-los. E cantava as coisas que ele compunha.
Quer dizer, eu acho que Deus me colocou ali pra
manter viva toda aquela coisa do tropicalismo...
Licia: Manter viva aquela voz...
Gal: É, exatamente. Mas tudo que eu fiz na fase
tropicalista, todo o experimentalismo que eu
usei, que eu utilizei são apenas facetas da minha
personalidade, porque minha essência mesmo é
o canto, é a voz, é cantar. Aquele canto...
Licia: Bonito, forte...
Trio elétrico, cabelo
e bustiê...
Cena 5:
Gal: Eu sou cantora. Acima de tudo, eu sou cantora, não sou outra coisa.
Licia: Eu acho graça que algumas pessoas ainda
cobram coisas de você, tipo, cantar em cima de
um trio elétrico...
Gal: Tem gente que me cobra irreverência, tem
gente que me cobra tanta coisa que eu fiz no passado que não tem mais sentido...
Licia: Pois é. A Gal hippie, linda maravilhosa,
cabelos soltos, bustiê. (Risos)
Gal: (Risos) Aquilo foi uma época, era outra coisa.
Licia: Servia naquele momento, né?
Gal: Hoje não tem nada mais a ver. Mas, assim,
eu adoro o que faço. Tenho cantado muito pelo
mundo inteiro.
Cena 6:
Caetano e Moreno
Licia: Eu fico sabendo, Gal tá nos Estados Unidos, no Japão...
Gal: Eu canto muito fora do Brasil. Eu gosto de
viajar, de cantar fora. Agora tô me preparando
para um trabalho novo...
Licia: Com Caetano, Moreno...
Gal: Caetano está produzindo com Moreno...
Licia: Músicas novas, Gal?
Gal: Músicas novas. Eles estão na fase da préprodução e eu estou esperando um sinal. Nós vamos começar muito brevemente e eu não sei nada
ainda, não posso falar. Seria irresponsável da minha parte porque é um trabalho em conjunto.
Licia: Inteligente, na dele, uma gracinha. Eu
fico olhando, assim, tem muito dos Veloso, mas
muito dos Gadelha, né?
Gal: Parece muito com Caetano. Ele é muito talentoso. Tem mesmo o espírito musical nosso.
Ele é cool, doce como eu, como Caetano. Ele segue a mesma linha. Então, será uma trilogia linda.
Licia: Oba! Vamos ficar aqui torcendo, esperando.
Cena 7:
Bahia e Brasil
Licia: Ô Gal, veja bem, você acompanha a música baiana?
Gal: Acompanho. Assim, não vou lhe dizer que
tenho discos de todas as pessoas da Bahia, de axé,
não tenho, não ouço. Realmente, não é uma música
que eu teria na minha casa para ouvir. É uma música pra dançar, ir em um lugar, por acaso, no carnaval e tudo mais. Mas eu admiro muito o pessoal de
axé da Bahia, acho que eles se organizaram.
Licia: E de quem você mais gosta?
Gal: Eu acho a Daniela bacana, a própria Ivete.
Eu acho o Chiclete bacana, todo esse pessoal aí é
danado. São uma maquininha de fazer dinheiro.
(Risos). Eu admiro essa competência para fazer
as coisas. Acho muito legal.
Licia: E no cenário nacional, Gal, quem seria a
cantora ou o cantor, compositor com quem você
se identifica?
Gal: Eu gosto muito do Lenine, por exemplo. Eu
acho ele um excelente compositor, gosto muito
dele. Das cantoras, assim, de MPB...
Licia: Tem um monte de mulher agora...
Cena 8:
Não posso falar
Gal: Antigamente não tinha né? Eu não acompanho muito não, mas outro dia em hotel no Rio
vi umas cantoras na TV que eu gostei. Lá acontece muita coisa, mas eu saí do Rio. Eu admiro
muita gente, mas não sei quem eu elegeria como
a grande cantora nova, moderna. Não gosto nem
de falar muito porque (Risos) uma vez eu fui dizer uma coisa no jornal aí... sobre não existirem
compositores modernos, claro que existem,
novos, bons. Chico César eu já gravei. Já gravei
tantos. O disco Hoje, dirigido pelo César Camargo Mariano, eu só gravei gente nova, incluindo
o Moreno Veloso. Gente que faz produção independente, que não tem acesso à grande mídia.
Mas eu fui dizer que a minha geração era imbatível, nossa, fizeram uma polêmica. Eu não posso
falar muito não, sabe Licia. (Risos)
Licia: (Risos) Mas, afinal de contas, quem tá falando é Gal Costa, né?
Licia: E vai ser um trabalho lindo. Porque desse
encontro só pode sair coisa de muita qualidade.
Gal: É, mas a minha geração é muito importante, como a geração anterior a nossa, enfim. Mas
eu acho que tem muitos bons compositores novos. O Brasil é muito rico, né? A música que se
houve no sul, no norte...
Gal: É, e trabalhei muito com o Guilherme Araújo.
Foi uma pessoa que se deu muito bem comigo. Fez
o Gal Tropical. Convivi com o Waly também.
Gal: É um casamento musical perfeito, meu e de
Caetano e Moreno também, né?
Licia: Os regionalismos todos...
Gal: É muito rico.
Licia: Mas antes era o Guilherme?
Licia: Tá é danado esse menino, viu?
Gal: Tá sim, demais.
Mateus (cinegrafista): Gal, para mim, o tropicalismo foi o movimento que mais marcou a
Licia: O próprio Cazuza...
cultura brasileira musicalmente, que mais criou
empatia com as gerações futuras...
Gal: O que mudou mesmo a cara da música brasileira foi a bossa nova. Essa mudou radicalmente. O tropicalismo acrescentou outros elementos; trouxe a instrumentação eletrônica, outra
linguagem. A maneira de fazer poesia comportamental, tudo muito ligado ao momento, ao movimento hippie e tudo mais. Agora, o movimento
mais revolucionário de música no Brasil ainda é
a bossa nova.
Mateus: Hoje, você acredita que pode surgir um
outro movimento revolucionário parecido, com
o mesmo impacto?
Gal: Ah, não sei. Essas coisas só acontecem
quando tem de acontecer. No momento certo.
Licia: Outra bossa nova é difícil.
Gal: Isso é! (Risos)
Cena 9:
Gal mãe
Licia: Agora Gal, me conta uma coisa, você mãe...
Gal: Ah, é a melhor coisa...
Licia: Do mundo, né? (Risos)
Gal: Nossa Senhora, como eu amo meu filho!
Gabriel está com 5 anos e essa coisa de ser biológico, não ser biológico tem nada ver. Eu amo
meu filho como se tivesse parido. Não sei se eu
tivesse parido eu o amaria tanto. Ele mudou minha vida, ele me trouxe mais alegria, ele me rejuvenesceu. Criança em casa...
Licia: É a melhor coisa do mundo. Eu, agora que
sou vó, ave Maria, se eu pudesse eu ficava só sendo vó na vida. (Risos)
Gal: Ser vó é melhor que ser mãe?
Licia: Ave Maria, eu tô, assim, de quatro. Eu sei
o quanto Gabriel fez bem a sua vida, porque meu
neto tá me fazendo um bem, sabe? Eu tô me sentindo com 27 anos de idade. (Risos)
Gal: (Risos) Gabriel me faz muito bem.
Licia: Você leva ele para os shows?
Gal: Levo, levo. Ele era muito ciumento. Até
hoje ele não gosta que as pessoas me peçam
autógrafo, que tirem foto comigo. Ele fica
puto. (Risos) Uma vez, no aeroporto do Rio,
duas mulheres pediram pra tirar foto e eu fui
tirar. Depois ele foi lá e deu o maior esporro
nas duas: “Não pode tirar foto com a minha
mãe”!. (Risos) Mas ele tá crescendo e tá começando a entender.
Licia: Sua mãe fez uma música pra você, né?
Gal: Ela me ninava cantando uma música que
eu acabei gravando.
Licia: Você nina Gabriel com ela também?
Gal: Eu nino. Às vezes canto essa canção. Adoro
cantar pra ele dormir, é um momento muito especial, porque é uma coisa, não dá para explicar.
É um momento que meu canto é tão puro. Eu invento música também, cantando com ele. (Risos)
Invento melodias, eu até quero comprar um gravadorzinho para gravar isso.
Licia: Ele gosta de cantar?
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 83
licia entrevista
Gal: Ele gosta. Ele tem uma noção rítmica muito boa e já canta algumas músicas que eu canto.
Outro dia ele tava cantando um pedacinho do
“Desafinado”.
Licia: Olha! Virou “joãogilbertiniano” também.
(Risos)
Gal: Não sei o que ele vai ser. Se ele for músico vai
ser uma coincidência maravilhosa. Eu digo sempre que ele foi preparado lá em cima e veio em
uma barriga de aluguel. Porque espiritualmente
tem meu gene. O gene espiritual é meu. É um menino bom, tem um bom coração, é obediente...
Licia: Mas você não deixa ele solto, não, né? Dá
regras também.
Gal: Ah, tem as regras. Eu acho que eu sou uma
boa mãe. Eu imponho limites, não faço tudo. Eu
acho que eu educo direito, sim.
mento que eu não esqueço também. Espetacular. Vila Velha... Tanta gente bacana, né? Tanta
gente com talento...
Licia: Agora estão aí os meninos do Bando de
Teatro Olodum que deu uma leva de atores...
Gal: Grandes atores baianos. E Licia disse que
não sabia entrevistar. (Risos)
Licia: Mas isso não é uma entrevista, é um batepapo. (Risos)
Cena 12:
Frank Sinatra
Aline: Gal, a gente falou de tanta coisa, de momentos importantes da sua carreira. Mas hoje o
que te inspira, te motiva a realizar coisas novas,
a experimentar?
Licia: Ô Gal, se você fosse escolher uma música
dentre as tantas que você já gravou, qual seria a
sua preferida?
Gal: A música continuar a me tirar do chão. Tenho feito muitos shows fechados, para empresas. O último que fiz foi em Volta Redonda. Nossa, foi uma loucura! As pessoas cantavam tudo,
uma resposta da plateia comovente. Cantar pra
mim ainda é uma emoção que não tem tamanho.
E a minha voz continua cristalina como lá atrás.
Gal: Ah, é difícil.
Licia: Graças a Deus!
Licia: Seriam todas de João Gilberto ou todas
de Caetano? (Risos)
Gal: É incrível, minha voz é de menina. (Risos)
Minha voz é de coisa de 35 anos de idade. Porque
nessa idade eu já era uma mulher mais madura
e o meu canto já é carregado de uma densidade
que não tinha quando eu era muitíssimo jovem,
pelo fato de ser jovem. Mas a minha voz continua cristalina como no começo.
Cena 10:
Aquela música
Gal: Não, seriam muitas. É difícil dizer. Tem
muitas músicas de Caetano que eu acho belíssimas, do Tom Jobim também, do Gil, do Chico
Buarque de Hollanda. Eu as vezes canto “Smile”
do Charles Chaplin para Gabriel e acho a música
mais linda do mundo. Aí, uma hora, eu canto uma
de Caymmi e acho que não tem nada mais bonito.
Acho que sou a cantora que mais gravou Caetano.
Acho não, eu sou. Tem uma pesquisa sobre isso.
Cena 11:
Irmandade espiritual
Licia: Essa união com Caetano vem desde a
Tropicália, depois com os Doces Bárbaros. Qual
período você gostou mais, quando você se lembra desses dois momentos?
Gal: Os Bárbaros eu gosto muito do primeiro
disco. Eu achei aquele show maravilhoso. Depois nós nos reencontramos e fizemos de novo.
É importante juntar os quatro, cada um com sua
carreira individual, com sua história própria. A
ideia foi bonita porque nós temos uma irmandade espiritual, eu, Caetano, Gil e Bethânia. Tem
uma coisa, uma áurea. Na época, da primeira
versão, as pessoas me chamavam de Maria Bethânia, chamavam Maria Bethânia de Gal Costa.
(Risos) As vezes a gente dava autógrafo trocado,
eu como Bethânia e ela como Gal, só de sacanagem. (Risos) E você acredita que confundiam Gil
com Caetano?! É essa coisa da áurea espiritual.
Doces Bárbaros foi importante para reafirmar
essa união espiritual que veio de outras vidas,
outros mundos.
Licia: Você mora ali bem perto do teatro Vila
Velha e vocês todos começaram ali, você tem
voltado lá?
Gal: Voltei lá com Gabriel pra ver uma peça
infantil. Tá muito diferente! Aquilo foi um mo84
Tássia: Recentemente você publicou no Twitter
que sua voz já foi comparada à de Frank Sinatra .
Gal: Uma vez um crítico de música escreveu para
o New York Times quando eu fiz show no Carnegie Hall, em Nova York, e ele comparou o meu
canto com o Frank Sinatra pela clareza na forma
de cantar. Você entende cada palavra, quando ele
canta, mesmo se você não fale inglês; comigo da
mesma forma, as pessoas entendem cada palavra
quando canto embora não saibam a língua.
Aline: Comunica o sentimento...
Gal: Expressa de forma clara a palavra também,
né? Tem muita gente que canta e a gente não entende. Eu tenho essa coisa de cantar claro. Eu
gosto disso, é uma coisa trabalhada. Eu acho que
o cantor tem de expressar a palavra cantada. É
importante o jeito de dizer aquela palavra. Só
cantor entende o que eu tô falando. (Risos)
Aline: É como dizia Fernando Pessoa: “Não
gosto dizer, prefiro palavrar”. É mais que emitir o som...
Gal: Exatamente!
Cena 13:
Voz revolucionária
Licia: E você usou a sua voz para revolucionar.
Passeou por estilos diferentes e está sempre
contemporânea...
Gal: É verdade.
Licia: Uma das coisas mais lindas que vi você
fazer foi o show O Sorriso do Gato de Alice...
Gal: Ah, eu adoro!
Licia: Ali você se transformou...
Gal: Pena que não tenha sido registrado.
Licia: É mesmo? Que pena.
Gal: Não, não foi registrado. Plasticamente aquele show era lindo e musicalmente também. Tinha
arranjos maravilhosos, uma banda maravilhosa...
Gal: Eu ia, mas na terça-feira já enchia o saco e ia
embora. Isso desde muito nova. Eu sou mais quieta, gosto de ficar em casa vendo um bom filme.
Licia: Você gosta de cozinhar?
Gal: Já cozinhei, mas não tenho o menor talento, se tiver a receita eu faço. (Risos)
Licia: Eu sempre ouço esse disco.
Gal: O disco é bem diferente do show, né?
Licia: Ah, no show você fez uma coisa teatral linda.
Gal: Aquele show foi polêmico. Nossa, eu me
cansei.
Licia: Mas você sempre foi ousada.
Gal: Eu sou e gosto de ser. Mas esse show, especialmente, foi polêmico porque tinha a figura
do Gerald Thomas que é um cara polêmico também, enfim, tantas outras coisas. As pessoas insistiam em dizer que eu estava desconfortável,
porque eu fazia um pouco de atriz. Colocava uma
mão, depois a outra, depois eu subia no telhado,
como um gato mesmo, até cantar a primeira música. Aquilo era um grande barato, eu adorava
fazer aquilo e as pessoas insistindo em dizer que
eu estava desconfortável e eu não estava.
Licia: Aí você curtia também com a cara das
pessoas. Pronto! (Risos)
Gal: Era muito legal, eu gostava muito.
Cena 14:
As dunas da Gal
Aline: Eu li recentemente um texto do Zé Simão no
qual ele relembra aquela época em que todos vocês
ficavam lá em Ipanema. Ele diz ser da “era Gal”.
Gal: (Risos) As dunas de Ipanema. Aquela parte da praia de Ipanema era um lugar que ninguém ia, porque tinha uma obra. Então, eu e o
Macalé íamos ali porque era vazio. De repente
aquilo ali virou o reduto dos loucos, dos hippies, né? Virou um ponto turístico, um lugar
aonde os intelectuais iam, era meio protegido por uma redoma. Jorge Mautner que dizia
isso. Eu ia lá todos os dias, ficava uma turma
que era fã mesmo.
Aline: Ele conta que você determinava o tempo de
permanência na praia. Quando, de repente, você se
levantava chegava a hora de ir embora. (Risos)
Gal: (Risos) Eu vivi no Rio a melhor época
da cidade.
Cena 15:
Morar em Salvador
Licia: Você gosta daqui, né, Gal?
Gal: Adoro o Rio também. Aqui eu me sinto
muito isolada, sinceramente. Eu gosto de morar
aqui, essa vista não tem preço. É uma cidade pacata, embora seja violenta, mas eu me sinto isolada, porque eu fico longe das pessoas, a minha
turma está toda lá entre Rio e São Paulo.
Aline: O que você gosta de fazer aqui Gal?
Gal: Eu vou a um restaurante, vou comer em algum lugar. Eu sou muito caseira, não sou muito
festeira, não gosto de carnaval. Gostava, relativamente, quando era jovem.
Licia: Ainda na Praça Castro Alves...
Cena 16:
Por onde anda?
Aline: E essas pessoas, Gal, que te acompanhavam? Na capa do Gal a Todo Vapor aparecem a
Baby Consuelo, hoje do Brasil, Pepeu Gomes,
Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, você
ainda tem contato com essas pessoas?
Gal: Esse pessoal todo não vi mais, não sei por
onde eles andam. Baby hoje é pastora, eu soube.
Casou-se com um homem, eu sei muito pouco, só o que me falam. Pepeu eu vejo de vez em
quando aí na mídia.
Licia: E esses compositores novos, Gal, eles têm
mandado músicas pra você?
Gal: Não, não têm mandado nada.
Licia: São tantos agora.
Gal: Um dos que eu me orgulho muito é o Luís Melodia. Esse é maravilhoso. Mas eu não tenho recebido muito. Assim, toda vez que eu vou fazer um show
eu recebo um CD. Continuo recebendo, mas...
é gente. (Risos) Eu tenho lá meu seguidores. Mas
eu tenho a conta verificada. Meus seguidores são
fiéis. Quem tem muitos seguidores às vezes ouve
umas coisas desagradáveis, eu acho.
Licia: Mas é uma coisa boa. Tem algumas interferências chatinhas, mas a gente deixa pra
lá, é uma curtição.
Gal: É bacana, sim, eu gosto. Você dizer às pessoas aonde você vai, onde você está, falar com
as pessoas. Por exemplo, eu tenho alugado uns
filmes e toda noite eu falo com meus seguidores:
“Olha, vou ver o filme tal”. Eles dão opinião, uns já
viram, outros não...
Aline: É uma oportunidade para os fãs, né? Dizer “eu sigo a Gal, ela é minha amiga no Twitter”.
Gal: Eu posto músicas que fizeram parte da minha formação musical. Uma vez eu fiz uma sabatina com eles. Uma enxurrada de perguntas pra
eles responderem. (Risos) É engraçado, eu gosto.
Tássia: Gal, eu tava me lembrando de um show
que você fez no Festival de Inverno de Lençóis,
emocionante. Me chamou a atenção, na época,
a interação do público mais jovem. A galera do
camping, mochileiros, no máximo com 18 anos.
Foi todo mundo pra frente do palco, cantando
todas as músicas...
Licia: E Roberto Carlos? (Risos)
Gal: Nos meus shows tem ido muita gente jovem.
Eles têm comprado em sebos os meus vinis. Sabem tudo da minha vida, da minha carreira. O
pessoal que me segue no Twitter é tudo garotada,
entendeu? Eles ouvem aqueles discos tropicalistas e depois os das décadas de 80, 90. É engraçado,
um seguidor disse assim: “As cantoras são dividas
antes e depois da Gal”. Isso é engraçado. (Risos)
Gal: Adoro, adoro. (Risos) Como compositor,
como cantor, como pessoa. Nossa!
Cena 19:
Licia: Teve algum desses novos que te chamou
atenção?
Gal: Não, não.
Cena 17:
Meu nome é Gal
Licia: Você gravou muita coisa dele e ganhou uma homenagem maravilhosa com “Meu Nome É Gal”, né?
Gal: Com certeza. Ai, eu gosto tanto de Roberto.
Ele é uma figura boa, uma pessoa boa. Você conhece ele?
Licia: Pessoalmente, não. Mas sou apaixonada
por ele, de quatro.
Gal: Ah! Eu adoro, acho um grande cantor.
Aline: Quem falou muito de você, na entrevista
da revista de junho, foi Dominguinhos.
Licia: Eu não sabia que ele tinha trabalhado
tanto com você.
Gal: Fomos para o Midem e depois ele fez o Índia comigo. Gil dirigiu musicalmente e ele era
um dos músicos, viajou comigo. Hoje em dia ele
não viaja mais de avião. (Risos)
Licia: É uma figuraça, viu Gal? Tá ótimo.
Cena 18:
Tuiteira
Licia: Você anda bem antenada com essa coisa
das redes sociais, né?
Gal: Eu comecei com o Facebook, jogando Farmville
e Café World. Adoro. Já estou em um nível altíssimo e depois eu resolvi experimentar o Twitter.
Tem gente que nem acredita. “É mentira, uma diva
ter Twitter, uma diva”! (Risos) Gente, diva também
Tietagem
Licia: Você gosta de dar entrevista?
Gal: Eu gosto sim. Hoje eu sou mais solta, mais falante, inclusive no palco. No início da minha carreira eu não falava. Há uma interação muito maior.
A gente vai mudando, né, Licia? É bom. (Risos)
Licia: Oxente, bom demais. E eu estou superfeliz de estar conversando com você. A gente tá
planejando fazer uma coisa muito bacana como
complemento deste momento.
Gal: Ô minha irmã, obrigada, viu?
Licia: Dê um beijo nesse seu Gabriel e vamos
ver agora se a comida desse chef aqui presta.
(Risos) Ele chegou (FALANDO DE EDINHO ENGEL),
quer perguntar alguma coisa?
Edinho: Essa é a diva da minha vida.
Licia: Ah, é? (Risos)
Edinho: É, uai, como não? Desde o primeiro disco.
Gal: Você falou, “essa é a diva da minha vida” e eu
me lembrei de uma coisa. Uma vez eu conheci um
cara, não vou falar o nome. (Risos)Ele é importante. (Risos) Ele disse: “Ô Gal, muito prazer. Já toquei muita punheta pensando em você”.
(GARGALHADAS)
Licia: Com toda doçura e delicadeza. (Risos)
Gal: Eu tomei um susto quando ele falou isso.
(Risos)
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 85
luxo
Presente de Deus
por Tássia Novaes
A clareza da voz de Gal Costa foi
comparada à de Frank Sinatra por um
colunista americano no The New York
Times. Não foi exagero. Ouvir a eterna
musa do tropicalismo mexe com todos
os sentidos, eleva a alma. Para ela,
cantar é uma “missão divina”.
Inspiração
A diva do horário nobre
por Jean Wyllys
A voz de Gal ajudou a eternizar
personagens icônicos da
teledramaturgia brasileira. Novelas
que marcaram época, como O Dono
do Mundo, Meu Bem, Meu Mal e a
inesquecível Vale Tudo com a cantora
interpretando “Brasil”, composição de
Cazuza, Nilo Romero e George Israel.
comportamento
Escarlate
por Tássia Novaes
Coco Chanel, Marilyn Monroe, Rita
Hayworth, Carmen Miranda, Gal
Costa. Em comum? O vermelho. Nos
lábios dessas mulheres, o batom em
tom escarlate tornou-se característica
própria de uma diva.
Inteligência
Legal – Gal e Oiticica,
a voz e a arte da
Tropicália
por Flávio Novaes
Na voz de Gal o movimento tomava
fôlego. A Tropicália, instalação de
Oiticica, inspirou o nome da revolução
e confundiu a crítica. Unidos em Legal,
ele fez a capa do disco para ela mostrar
que a história estava só começando.
Atitude
Roupa, pra quê?
por Tássia Novaes
Andar vestido virou regra. É preciso
voltar no tempo para compreender por
que tirar a roupa em público se tornou
ato de protesto e contravenção. Na Grécia
Antiga o corpo nu era símbolo de beleza e
do divino, sem incitação à sensualidade.
Nas artes plásticas há quem diga que
tudo depende do olhar do observador.
Mas quando termina a arte e começa a
pornografia?
luxo
Cantores famosos encaram com naturalidade o
divino dom de cantar e classificam a música como
uma forma de expressar sentimentos e também
se conectar com Deus, exatamente como preconizou Santo Agostinho séculos atrás: quem canta,
ora duas vezes
por Tássia Novaes
Playlicia I’ve got you under my skin, Frank Sinatra | All The Things You Are, Ella Fitzgerald | You Go To My Head, Billie Holiday
88
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 89
luxo
Conexão com o divino
O canto como instrumento de ascensão espiritual é uma das filosofias pregadas pelo bispo e teólogo cristão Santo Agostinho. “Quem
canta, ora duas vezes.” Com base nesse princípio, o canto gregoriano
tem sido utilizado há muitos séculos, em celebrações eucarísticas da
Igreja Católica. “É uma forma de nos transportar para a dimensão espiritual, nos ajuda a rezar e, principalmente, a estabelecer uma ligação mais pura com Deus”, explica dom Marcos Félix da Silva, mestre
de coro, do Mosteiro de São Bento, em Salvador.
C
erta vez, um colunista americano comparou a voz de Gal
Costa à de Frank Sinatra. “Ele quis falar da sonoridade,
considera meu canto claro. Mesmo que a pessoa não domine o idioma, é possível compreender o que quero dizer
pela da música. É a mesma coisa quando ouvimos Sinatra”, explica a cantora. Sem dúvida, a voz de Sinatra pode
ser considerada uma das mais marcantes do século 20. A ele foi atribuído o apelido The Voice (em português, A Voz), uma tentativa de
traduzi-lo como único, inigualável. E assim permanece. Mais de dez
anos após a sua morte, suas canções aparecem entre as mais gravadas nos Estados Unidos na voz de outros artistas, segundo a pesquisa
“His Way, Our Way” (Sua Maneira, Nossa Maneira), realizada por
meio do iTunes, publicada no site oficial do cantor.
Não é preciso nem ser especialista no assunto para constatar
quão divina é a voz de Gal Costa. Basta apurar o ouvido e se render
à potência de sua expressão. “Prefiro nem cantarolar junto para não
estragar. Para mim, é um momento de contemplação. Sou muito fã
dela, desde o primeiro LP que comprei, o Índia, em 1973. Foi amor
à primeira vista. Considero a voz de Gal a mais bonita do Brasil”,
declara Ana Cláudia Matos, 47 anos, professora. Certeza semelhante arremeteu Caetano Veloso, quando ouviu Gal pela primeira vez,
na década de 1960, de acordo com registro publicado na coletânea
Songbook Caetano Veloso, volume 1, escrita por Almir Chediak. “(...)
a Gal cantou e, quando acabou, foi um choque. Aquela voz já era essa
voz, cantando lindo. Eu disse: ‘Você é a maior cantora do Brasil, já
não tem dúvida, você é o máximo’”. Ela própria concorda com naturalidade e simpatia inabalável. “Gosto da minha voz. É bonita.”
A história da cantora é daquelas especiais. Ela nunca estudou
canto. “Sei que tenho uma voz privilegiada. Já nasci sabendo, ninguém me ensinou”, conta. Para Roberto Santana, produtor musical
que acompanha a carreira de Gal Costa desde a época do espetáculo
musical Nós, por Exemplo, dirigido por ele, apresentado na inauguração do teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964, a voz de Gal é insuperável. “Até hoje não apareceu ninguém como ela. Sem dúvida, é a
maior cantora do Brasil”, afirma. Ex-produtor da gravadora Phillips,
Santana destaca que a grande “arma” de Gal é a capacidade que ela
tem de respirar enquanto canta. “Ela não faz esforço. Sua extensão
90
As composições do canto gregoriano são baseadas em trechos da Sagrada Escritura. O nome foi conferido pelo papa São Gregório Magno, no século 6 depois de Cristo. Foi ele quem organizou o canto gregoriano com base
nos cantos litúrgicos que já existiam na igreja, juntamente com mantras em
hebraico entoados pelos judeus. “São Gregório é responsável pela unificação, por isso o nome canto gregoriano”, explica dom Marcos. Também conhecido como canto chão, tem como característica ser composto por uma
única melodia, além de ser cantado sempre em latim. “Muita gente que vem
à missa, diz que se sente como se fosse transportado para outra dimensão. É
esse o objetivo: intensificar o encontro com Deus”, finaliza.
vocal é muito rica, ou seja, ela tem facilidade em emitir o ar, por isso
consegue segurar uma mesma nota por tanto tempo. Isso é uma coisa
que não se ensina, é presente de Deus”, comenta.
Quando menina, Gal cantarolava em casa, debaixo do chuveiro.
“Aos poucos, aprendi como dizer a palavra cantada”, conta, destacando, ainda, que é fundamental empregar sentimento a cada palavra dita em uma canção. No time das recentes revelações da música
brasileira, foi também debaixo do chuveiro que Diogo Nogueira, filho do sambista João Nogueira, descobriu sua capacidade de cantar.
“Mas era sempre de brincadeira, eu ainda era pequeno, sem nenhuma pretensão”, explica. A vontade inicial do rapaz era ser jogador de
futebol. Diogo chegou a treinar na categoria de base de clubes no Rio
de Janeiro e em Porto Alegre, até que um dia a vida lhe pregou uma
peça – sofreu uma contusão no joelho que o obrigou a se afastar em
definitivo dos gramados profissionais.
Antes de gravar o primeiro CD pela EMI, em 2007, Diogo já tinha intimidade com o ambiente musical. “Quando fiz as minhas primeiras participações, em shows do meu pai, comecei a perceber que
o palco era um lugar onde eu me sentia bem”, revela. Do pai, Diogo
herdou, além do estilo musical (o samba), uma bela voz, que, em muitos momentos, nos faz recordar de João Nogueira nos palcos. “Nós
temos sim muitas semelhanças no timbre da voz, mas temos muitas
diferenças também”, comenta.
Questionado se o fato de ser filho de um sambista consagrado um
dia o intimidou, Diogo responde com segurança. “Lido com muita naturalidade, considero um orgulho, um privilégio. Faço meu trabalho
com muita sinceridade e honestidade. Isso me dá uma grande base
para ir em frente e confiar no meu próprio taco.” Diogo também acredita que ser cantor é benefício divino. “A gente já nasce com esse dom
e aos poucos vai aperfeiçoando”, diz. Para cuidar da voz, ele faz uso de
um recurso bastante simples. “Dormir bem é a melhor maneira, basta uma noite de sono bem dormida para a voz ficar numa boa”, revela.
No CD Tô Fazendo a Minha Parte, lançado em 2009, segundo de sua
carreira, ele parece sintetizar bem o momento atual na faixa “Presente de Deus”: “Eu canto sim porque / Assim vou vivendo e aprendendo / Se a vida quiser me ensinar / O que posso fazer / Se a missão
que Deus me deu é cantar”. A letra é de sua autoria.
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 91
inspiração
GABRIELA CRAVO E CANELA - 1975 - Sonia Braga
“Quem matou Odete Roitman?” Mesmo quem ainda não havia nascido quando Vale Tudo, de
Gilberto Braga, foi exibida (1988/1989), conhece a história ou pode já ter ouvido essa pergunta, quase um jargão hoje em dia. Para lembrar das cenas protagonizadas pela vilã Beatriz Segall, “Brasil” – música interpretada por Gal Costa – ativa a memória. Funciona assim também
com Meu Bem, Meu Mal, O Dono do Mundo, Tieta e tantas outras
por Jean Wyllys | fotos Agência O Globo
Playlicia Fugiu com a novela, Vanessa da Mata | Luz de Tieta, Caetano Veloso e Gal Costa |
Meu bem, meu mal, Gal Costa | Brasil, Gal Costa
92
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 93
inspiração
A
importância de Gal Costa para a cultura
brasileira é incontestável, assim como o
é o fato de que ela é a mais afinada e personalíssima cantora brasileira ainda em
atividade, mesmo entre quem não entende de teoria musical. Gal é aquele tipo de
artista que não precisa mais – nem nunca precisou –
corresponder às exigências de mercado para figurar
no imaginário popular. E ela está em nossa memória
não porque seja um rosto vulgarizado em comerciais
de tevê e/ou em revistas de celebridades, mas, sobretudo, por causa de sua bela voz e de seu repertório
bem selecionado. Certamente foram muito mais estes
– a voz, a interpretação e o repertório – que as estratégias de marketing das gravadoras que a levaram a
ser quase uma recordistas de participação em trilhas
de telenovelas. E estas, por sua vez, ajudaram a levar
a arte de Gal Costa a quem está excluído dos espaços
de consumo das artes – a massa – e possibilitaram à
cantora baiana,inscrever-se na memória coletiva dos
brasileiros e, daí, jamais desaparecer, pois, como diz a
letra de uma canção que ela gravou e foi parar na trilha da novela Escrito nas Estrelas, só mesmo o tempo
prova a eternidade das canções e de seus intérpretes.
Muitos artistas da música entraram em trilhas de novelas, mas só os verdadeiramente talentosos e com
algo a contribuir para a MPB ficaram no imaginário
popular e conseguiram fazer de suas canções a trilha
de episódios cotidianos e de lembranças de milhões
de pessoas. No meu caso em particular, as músicas do
repertório de Gal que foram parar em novelas embalam algumas de minhas melhores e saudosas recordações. Mas, antes de falar dessas canções, eu afirmo
que não posso me lembrar de Salvador sem que a voz
de Gal cantando “Na Baixa do Sapateiro” invada minhas lembranças. Isso porque, quando eu era menino
lá em Alagoinhas e sequer televisão havia em minha
casa, eu via, nas televisões dos vizinhos, a abertura da
programação da tevê Itapoan em que essa canção de
Ary Barroso, interpretada por Gal, embalava um videoclipe de imagens da Salvador turística: Centro Histórico, Elevador Lacerda, Mercado Modelo, Farol da
Barra e Igreja do Bonfim. Oh, Bahia e Gal que não me
saem do pensamento! Bom, mas vamos à novelas em
cujas trilhas a cantora baiana se fez presente; ou, ao
contrário, vamos às canções interpretadas por Gal que
foram parar em trilhas de novelas e que, por sua atemporalidade, nos fazem lembrar delas (das telenovelas).
Tenho certeza que, para a geração anterior à minha,
“Modinha para a Gabriela” é o exemplo maior dessa
relação. Talvez porque tudo ali – o fato de a canção ser
de Dorival Caymmi e inspirada num romance popular
de Jorge Amado bem como o fato de a novela ser uma
adaptação desse romance e trazer, como protagonista,
a atriz Sonia Braga, tão brejeira quanto a própria Gal
Costa – tudo ali materializava e propagava aquilo que
chamamos de baianidade. Mas, para a minha geração,
é impossível ouvir a voz cristalina de Gal entoar “Se
tem luar no céu, retira o véu e faz chover sobre o nosso
amor” e não se lembrar de Um Sonho a Mais, novela
de Lauro Cesar Muniz e Daniel Más, livre adaptação
do clássico Volpone, de Ben Jonson, e que trazia os
hilários Ney Latorraca e Marco Nanini nos papéis de
Volpone e Mosca, respectivamente. Se não me falha
a memória, a música “Chuva de Prata” era o tema da
personagem Valéria, vivida pela bela Maitê Proença.
E como não se lembrar de Vale Tudo quando se ouve
a interpretação rocker de Gal para “Brasil”, música de
Cazuza, Nilo Romero e George Israel? Impossível! Na
inesquecível novela de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva, a música tocava na abertura, que trazia, entre imagens de um Brasil em crise ética e política, retratos
dos quatro protagonistas: Regina Duarte, Antonio Fagundes, Glória Pires e Carlos Alberto Riccelli. Aliás, o
autor Gilberto Braga parece gostar bastante da arte de
Gal, pois, que eu me lembre, a cantora está nas trilhas
de outras cinco novelas suas – Corpo a Corpo, Brilhante, Louco Amor, O Dono do Mundo e, mais recentemente, Celebridade – com as respectivas canções “Nada
Mais”, “Meu Bem, Meu Mal”, “Dom de Iludir”, “Solidão” e “Nossos Momentos”. Esta última uma canção
sobre o amor e o tempo, temas recorrente no repertório da hoje diva baiana e elementos que constituem a
sua relação com seus ouvintes e admiradores, sejam
aqueles que acompanham sua carreira desde Domingo, seu disco de estreia ao lado de Caetano Veloso, sejam os que a conheceram como a voz do horário nobre
da tevê: quem ouve Gal ama e a leva consigo pelo tempo que lhe cabe nesta vida. O tempo e o amor dão prova
todo dia da eternidade de Gal e de suas canções.
VALE TUDO - 1988 - BEATRIZ SEGAL - foto IRINEU BARRETO
94
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 95
inspiração
1- DEUS NOS ACUDA - 1992 - EDSON CELULARI E CLAUDIA RAIA - foto Fernando Quevedo
2- BRILHANTE - 1982 - TARCíSIO MEIRA E RENÉE DE VIELMOND - foto Adir Mera
3- Final Feliz - 1983 - JOSÉ WILKER E NaTáLIA DO VALLE - foto Adir Mera
4- CORPO A CORPO - 1985 - SELTON MELO, ANTONIO FAGUNDES E DEBORA DUARTE - foto Adir Mera
5- TRANSAS E CARETAS - 1984 - Renata Fronzi, Ítalo Rossi e Natália do Valle - foto Cezar Loureiro
1
96
2
3
4
5
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 97
comportamento
COMPORTAMENTO
talracs
scarlat
De validade atemporal, o batom
vermelho é muito mais que um
componente de sedução da
identidade feminina. É prova
de autenticidade e coragem.
Conheça as mulheres que não
temem em usá-lo
98
por Tássia Novaes | fotos Felipe Morozini
Playlicia Oh, pretty woman, Roy Orbison | Lady Marmalade, Christina
Aguilera, Lil’ Kim, Mya, Pink | Put The Blame On Mame, Rita Hayworth | Todo
beijo, Gal Costa
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 99
COMPORTAMENTO
100
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 101
COMPORTAMENTO
V
ermelha é a cor do batom usado por Emmanuelle, personagem interpretada por Mélanie Laurent, em Bastardos
Inglórios, filme de Quentin Tarantino, minutos antes de
pôr em prática o plano que mudaria os livros de história
em todo o mundo, caso não tivéssemos falando de uma
ficção: atear fogo em um cinema repleto de nazistas (mais
de 300), incluindo o maior deles, o führer Adolf Hitler e seus principais generais. A noite é de gala. Emmanuelle veste um longo vermelho, de corte impecável, como solicita a etiqueta para a ocasião.
Ela é a proprietária do cinema. Ironicamente, naquela noite, a vida
lhe ofertou a missão de recepcionar com cordialidade o alto escalão
que comandava o Holocausto – o delírio com requintes de carnificina
que mudou sua vida e de tantos outros milhares de judeus e outras
minorias durante a Segunda Guerra Mundial. Em outras palavras:
Emmanuelle se arruma para receber em casa seu maior inimigo. Ela
pinta os lábios com a discrição que a condição de refugiada lhe impôs. No último retoque, estamos diante de sua melhor versão fatal.
Nada seria como antes.
Mais do que vingança, o plano é uma tentativa de compensação,
ainda que pequena diante da dimensão da perda. O incêndio criminoso (sem dúvida, aprovado por muitos que assistiram ao filme) pode
ser traduzido como uma espécie de acerto de contas. Emmanuelle,
na verdade, é Shoshanna, única sobrevivente de um fuzilamento
desleal, que exterminou sua família durante a famigerada caça aos
judeus, no ano de 1942. Desde então, Shoshanna é Emmanuelle, a jovem proprietária de um cinema na França, capaz de sintetizar luxo,
sedução, força e, por que não, perigo em um único elemento: o batom
vermelho. No filme, prenúncio de uma noite fatídica.
Ainda em viagem pelos clássicos da sétima arte, são muitas as
celebridades que marcaram época, desde a década de 1920 com os
lábios graciosamente pintados de vermelho. Considerada a atriz de
Hollywood mais querida em todo o mundo, Marilyn Monroe estrelou
102
diversos filmes – Os Homens Preferem as Loiras (1953), Torrentes de
Paixão (1953), O Pecado Mora ao Lado (1955), Quanto Mais Quente Melhor (1959) entre outros –, sempre com os lábios pintados de
vermelho, tornando-a ainda mais sedutora, desejável, irresistível.
Em uma de suas últimas aparições em público, Marilyn sobe ao palco do auditório do Partido Democrático, em Nova York, para cantar
“Happy Birthday, Mr. President” (Feliz Aniversário, Senhor Presidente) no dia da festa de 45 anos de John F. Kennedy. O figurino:
um vestido colado ao corpo, em tom bege rosado, parecido com sua
pele, confeccionado com cerca de seis mil pedras de cristal Swarovski pelo estilista francês Jean Louis. Nos lábios, vermelho em tom
flamejante deixando ainda mais provocante o sinal próximo à boca.
É indiscutível. Ela era muito sexy e assim permanecerá. Mais de três
décadas depois de sua morte, a maior diva do cinema americano continua eleita a mulher mais sensual do mundo, dessa vez pela revista
People, em pesquisa publicada em 1999.
Um pouco antes de Marilyn, outra bela loira arrancava suspiro
no cinema americano: Rita Hayworth, de elegância atemporal, musa
do clássico Gilda, drama noir de Charles Vidor. Gravado em 1946,
em preto e branco. Ainda assim é possível captar a força dos lábios
de Gilda, amplamente desejados pelo público masculino e também
o feminino, que começava a encontrar na maquiagem vibrante uma
forma de expressão. A partir de 1947, com o fim da Segunda Guerra
Mundial, começa a sair de cena o vestuário retilíneo inspirado nos
modelos bélicos. Aos poucos, as roupas “uniformizadas” sedem ao
luxo, à feminilidade. “Toda mulher parece mais bonita, a maquiagem
é marcada pelo tom sangue nos batons e nos esmaltes”, conta o psicanalista Airton Embacher, no livro Moda e Identidade – A Busca pelo
Estilo Próprio. Sobre a origem, Marcos Costa, maquiador da Natura, explica que
“o primeiro batom vermelho era conhecido como ferrão de abelha.
Foi utilizado ainda na década de 1920”. Na época, as moças faziam
o contorno da boca em formato de coração. Para Costa, é uma maquiagem atemporal. “É a minha cor predileta. Não há restrições para
usá-la, vai muito da personalidade da mulher. Basta ter bom senso, às
vezes só precisa preparar a pele e o vermelho já define tudo”, sugere.
E, como falar dos lábios vermelhos das divas do cinema sem reverenciar Carmen Miranda? Seria um pecado. Com personalidade
pra lá de inovadora, Carmen Miranda (única mulher luso-brasileira
a ter os pés na calçada da fama em Hollywood), exibiu influências
tropicais, sem se intimidar com os padrões da alta-costura da época
– Dior e Chanel. Estilo único: ela própria confeccionava os chapéus.
Sandálias altíssimas conferiam elegância ao figurino divertido e sensual, sempre evidenciado, claro, pelo batom vermelho.
Marcante também os lábios vermelhos da apaixonante Satine,
personagem interpretada por Nicole Kidman, no musical Moulin
Rouge – Amor em Vermelho. Ou ainda o vermelho sangue posto nos
lábios da despreparada Andrea (Anne Hathaway), secretária que
passa a ser a preferida de Miranda Priestly (Meryl Streep), após
muito penar na mão da poderosa editora de moda, em O Diabo Veste
Prada. E o bocão vermelho de Vivian Ward, personagem de Julia Roberts, em Uma Linda Mulher (1990), a comédia romântica de maior
sucesso nos anos 90. São muitas as referências no cinema em épocas
variadas. Mudam as roupas, as cores, os cortes de cabelo, mas o batom vermelho permanece como símbolo de sedução. No livro História da Beleza, o historiador francês Georges Vigarello explica que o
cinema é uma ferramenta que “renovou o mundo imaginário e também os modelos de aparência, inspirando-se nas tendências de seu
tempo”. E mais: “A beleza existe como primeiro fator de atração”.
Resistem ao tempo também as gueixas, representação maior de
sedução no Japão de cultura milenar. Delicados lábios de boneca são
traçados com perfeição em tom vermelho intenso sobre a maquiagem branca. Já no cenário artístico brasileiro, ninguém como Gal
Costa, a personagem desta edição, espalhou tanto encanto ao estam-
par o bocão pintado de vermelho desde o início de sua carreira, na
década de 1960. Em 1979, Gal gravou o clipe “Estrada do Sol”, composição de Dolores Duran e Tom Jobim, para o Fantástico, programa
da Rede Globo, toda de vermelho: vestido, batom e duas rosas presas
próximo à orelha direita, enfeitando o cabelo. Quem também costuma aparecer com os lábios pintados assim, em apresentações e capas
de CD, é a cantora Marisa Monte.
FATURAMENTO
Por trás do vermelho e demais cores, cifras elevadas revelam nitidamente a paixão que as mulheres têm por batom em todo o mundo. No Brasil, é considerado item número 1. “Representam mais de
60% da venda de maquiagem no país”, conta Costa. Em 2009, foram
fabricadas 88,5 milhões de unidades de batom, segundo dados da
Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e
Cosméticos (Abihpec). Acréscimo de 8% em relação ao ano anterior,
gerando faturamento de mais R$ 366 milhões. “É prático, basta colocar na bolsa e o valor é acessível. Até quem não usa maquiagem passa
um batonzinho de vez em quando”, ressalta.
É nesse momento que o batom deixa de ser exclusivamente um
assunto de mulher. Da praticidade às cifras gordas no setor econômico, Leonard Lauder, presidente da fábrica de cosméticos Estée Lauder, se inspirou no consumo entre as mulheres para criar o
Lipstick Index, em português, o Índice Batom. Consiste em: mesmo
quando a situação fica complicada economicamente, as mulheres
compram batom. Lauder percebeu que, logo após os atentados de
11 de setembro (em 2001), em plena recessão, a venda de batons de
sua empresa apresentou crescimento em relação aos anos anteriores. A justificativa se dá pelo fato de ser um produto relativamente
barato, capaz de proporcionar felicidade e satisfação sem abalar o
orçamento da casa.
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 103
COMPORTAMENTO
Gal Costa e suas capas com bocas vermelhas
104
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 105
INTELIGÊNCIA
Tropicália na uerj
Tropicália PN2 e PN3, 1967
Uerj, 1990
Foto Andreas Valentin
Gal
e Oiticica
voz e arte
da Tropicália
por Flávio Novaes | fotos cortesia Projeto Hélio Oiticica
Playlicia Tropicália, Caetano Veloso | Presente cotidiano, Luiz Melodia
106
Gal Costa e Hélio Oiticica trabalharam
juntos em Legal. O artista assinou a
capa do disco e o show que apresentava “London, London”, de Caetano e
Gil, na ocasião, exilados na Inglaterra
pelo regime militar. Com os dois amigos longe, ela se tornou porta-voz da
tropicália. Não poderia ter feito parceria melhor. Ainda havia muito por dizer
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 107
INTELIGÊNCIA
Miro com Parangolé P4 Capa1, 1964
Foto Désdemone Bardin
Nildo da Mangueira com
Parangolé P15 Capa 11, 1967
Foto Claudio Oiticica
108
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 109
INTELIGÊNCIA
Capa do LP LEGAL, 1970
criação de Hélio Oiticica
A
Tropicália está salva, é sempre bom lembrar. Não sucumbiu ao fogo inclemente que tomou conta do acervo de Hélio
Oiticica, em outubro do ano passado. O incêndio consumiu
cerca de duas mil obras que repousavam na casa da família
do multiartista, no Jardim Botânico, bairro nobre do Rio
de Janeiro. Um acervo, reunido após a morte do artista, em
1980, estimado em aproximadamente US$ 200 milhões.
A instalação sobrevivente segue bem protegida no museu Tate
Modern, em Londres, onde integra a coleção permanente da galeria.
A aquisição em definitivo, há três anos, deu nova casa à obra responsável por batizar o grande movimento do fim dos anos 60, início dos
70. Revolução na música, cinema, design, moda e artes em geral. A
mistura tinha de ser completa, exaltar e anunciar um novo Brasil.
Viaje na descrição da peça, por Nelson Motta, em Noites Tropicais: “(...) um barraco-labirinto a ser percorrido pelo espectador
descalço pisando em terra, areia, água, pedras e plástico, enquanto
passava por diversos ambientes estéticos, miseráveis e exuberantes,
primitivos e modernos, carnavalescos e rigorosos, até a visão final de
uma televisão acesa”. Sucesso.
O projeto artístico nascia enquanto Pelé era perseguido pela zaga
portuguesa e o Brasil eliminado da Copa da Inglaterra, em 1966. Em
abril do ano seguinte, a obra estava exposta no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio. Uma experimentação, uma invenção que deixaria
marcas na história contemporânea da arte. “Tropicália é a primeiríssima tentativa consciente objetiva de impor uma imagem obviamente
‘brasileira’ ao contexto atual da vanguarda e das manifestações em geral da arte nacional”, escreveu Hélio, em março de 1968.
Dava-se, portanto, continuidade à linha genial dos Oiticica. O
pai, José Oiticica Filho, se destacou na fotografia. O avô, José Oiticica, foi filólogo, professor, escritor e jornalista.
Discípulo do artista plástico Ivan Serpa, o representante da terceira geração sempre foi arisco, inquieto. Aos 17 anos, estaria à frente das manifestações, a exemplo do grupo Frente, criado em parceria
com o mestre e com os colegas Lygia Clark e Franz Weissmann. Es110
tamos em 1954 e o movimento atua até 1956. Reinventar era preciso.
Em seguida, integra o Grupo Neoconcreto, radicado no Rio de
Janeiro, e inicia trabalhos com pinturas a óleo sobre tela e compensado. As obras monocromáticas, com pinturas triangulares em vermelho e branco, rodam pelo Brasil e chegam a Salvador.
Chegam também os anos 60 e o desejo de criar o novo continua. Oiticica abandona a superfície plana dos quadros e cria os
bólides, espécie de caixas-construções feitas de materiais diversos. Mas é em 1964 que a tendência se consolida com o surgimento dos Parangolés: capas, tendas e estandartes que ganham sentido artístico quando vestidos. O que o próprio autor definia como
“antiarte por excelência”.
É o resultado de uma maior aproximação da cultura popular,
quando passa a frequentar os ensaios da Escola de Samba Estação
Primeira de Mangueira. Vira passista e tudo mais. Transforma-se de
vez em um apaixonado do morro, agora um autêntico verde-e-rosa.
Lança a novidade na exposição Opinião 65, no MAM do Rio, onde
acontece a primeira manifestação com as capas e tenda e muita música: o que era para ser contemplação vira carnaval com a participação de
samba e passistas e ritmistas da escola do coração. É expulso do museu.
O caminho estava trilhado e logo logo os destinos de Gal Costa e
Hélio Oiticica iriam se cruzar.
Ainda em 1964, Gal estreia para o mundo no Teatro Vila Velha ao
lado de Caetano, Gil, Bethânia e Tom Zé. No ano seguinte, Oiticica,
por sua vez, já sob o impacto causado pelos Parangolés, dá início à
carreira internacional e realiza, em Londres, uma exposição ao lado
de grandes artistas da época.
O amadurecimento traz à tona a instalação que vai batizar outra
grande invenção, dessa vez na música. Oiticica dá sua contribuição
eterna para que o país se volte para ele mesmo, e que, pelo menos,
tente dar as costas ao eurocentrismo. “(...) na verdade quis eu com
a Tropicália criar o mito da miscigenação – somos negros, índios,
brancos, tudo ao mesmo tempo – nossa cultura nada tem a ver com a
europeia, apesar de estar até hoje a ela submetida: só o negro e o ín-
Show de Gal Costa na Boite Sucata, 1970
Foto Claudio Oiticica
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 111
INTELIGÊNCIA
Bandeira Seja Marginal Seja Herói, 1968
Foto César Oiticica Filho
112
dio não capitularam a ela. Quem não tiver consciência disso que caia
fora”, deixou registrado no texto de 1968.
Vem a música. “Sobre a cabeça os aviões / Sob os meus pés os caminhões / Aponta contra os chapadões / Meu nariz / Eu organizo o movimento / Eu oriento o carnaval / Eu inauguro o monumento / No planalto
central do país / Viva a bossa sa, sa / Viva a palhoça ça, ça, ça, ça”.
Nelson Motta, também no livro Noites Tropicais, registra a criação. “Na emblemática ‘Tropicália’, Caetano sintetiza intuitivamente
o movimento, orienta o carnaval, encontra ‘A Banda’ com Carmen
Miranda no Planalto Central, enquanto os urubus passeiam entre
os girassóis. A música foi batizada como ‘Tropicália’ por sugestão de
Luiz Carlos Barreto e pela amizade e admiração que uniam Caetano
e Hélio Oiticica, criador da instalação Tropicália, que provocou furor
no Museu de Arte Moderna”.
Motta, aliás, é uma referência. Jornalista, compositor e produtor musical, viveu intensamente aqueles dias. E foi amigo de Oiticica. Lembra
bem do que o artista dizia sobre os trabalhos: “O que eu faço é música”.
Até que, finalmente, a música se encontra com a voz. E o que
aconteceu foi bem Legal, nome do disco de Gal Costa cuja capa teve a
assinatura do artista maldito.
A embalagem complementava a riqueza do conteúdo. O trabalho
é fruto da viagem que Gal Costa faz a Londres para visitar os irmãozinhos Caetano e Gil, exilados pelo regime militar. De lá traz presentes,
a exemplo de “London, London”.
A fase é considerada por especialistas de música como póstropicalista. Desfalcado de dois dos seus maiores representantes, o
movimento organizado perde força. Mas é resistente. José Carlos
Capinam e Jards Macalé estão próximos. Oiticia também. Além da
concepção da capa, assina os cenários dos shows de Gal Costa.
Mais de uma década depois, um filme passa na cabeça de Nelson
Motta durante o show Bahia de Todos os Sambas, no Circo Massimo,
em Roma. É agosto de 1983 e Gal se prepara para deixar o palco. Hora
de relembrar as perdas de Oiticica, Glauber Rocha e Elis Regina. Assim ficou registrado em Noites Tropicais: “Choro de novo, pensando
em Glauber e Hélio Oiticica, amigos queridos e mortos (os dois aos
42 anos), mestre e inventores de arte e linguagem, reverenciados por
estrangeiros e massacrados em sua própria terra, banidos e perseguidos pela insensibilidade e violência da ignorância nacional. Como
Gal e Elis na música, Glauber e Hélio desfrutam o respeito e admiração de qualquer crítico informado de cinema e artes plásticas. Na
consagração de Gal, choro a perda, em pouco mais de um ano, de Elis,
Glauber e Hélio”.
Mas, assim como a Tropicália, Oiticica vive. Influencia artistas de todo o mundo, que ainda vêm beber da fonte da sabedoria do
brasileiro. Um deles é o cantor e compositor americano Devendra
Banhart, apaixonado pela diversidade do país. Em visita ao Rio de
Janeiro, há quatro anos, resumiu o movimento tropicalista: “É um
mundo completo, pleno como história. Hélio Oiticica sempre dizia
que o tropicalismo é algo que começou nos anos 60 no Brasil, mas as
ondas estão se ampliando para o resto do mundo. Está apenas começando. Está sempre começando”.
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 113
atitude
O dia em que a Vênus Adormecida abriu os olhos e encarou
o espectador é um marco na
coibição da nudez na história
da humanidade. Nascia ali,
na atmosfera renascentista, a
conotação de sensualidade por
meio do corpo despido
por Tássia Novaes | fotos Felipe Morozini
Playlicia Vou ficar nu pra chamar sua atenção, Erasmo Carlos e Roberto Carlos |
Nua Ideia, Gal Costa | Voyeur, Gal Costa
114
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 115
atitude
Q
uem nunca se impressionou ou, ao menos, achou engraçadas as fotos do inglês Spencer Tunick, nos quais aparecem centenas – e, às vezes, até milhares – de pessoas nuas
em fotografias tiradas em locais públicos. Das Américas à
Austrália, Tunick já percorreu diversos países, inclusive,
o Brasil, onde reuniu 1.100 pessoas peladas no Parque do
Ibirapuera (São Paulo), em 2002. No último trabalho, foram cinco
mil pessoas em pé nos degraus da Opera House, um dos cartõespostais mais famosos de Sydney, na Austrália, em posição de costas para a rua. Isto é, com a bunda completamente de fora. No site
oficial (www.spencertunick.com), o fotógrafo define seu trabalho
como “um desafio, uma tentativa de reconfigurar pontos de vista sobre nudez e privacidade”.
Como forma de expressão artística e até mesmo registro de uma
época, Tunick segue uma tendência que remonta tempos distantes. Foi na Grécia Antiga que surgiram as primeiras representações
humanas despidas. O sexo era construído de forma análoga ao real.
Arte e religião caminhavam lado a lado. A mitologia foi um referencial capaz de impulsionar obras que continuam imponentes em pleno século 21, como a Afrodite de Cnido, um dos primeiros registros
de uma deusa sem roupa. A cena – imortalizada em mármore no século 4 a.C. pelo escultor Praxíteles – seria um flagrante minutos antes de Afrodite entrar no banho. Já despida, ela segura a roupa com a
mão esquerda. Ali, o sexo aparece de forma natural.
Para Geraldo Dias, professor de arte contemporânea da Escola
de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA-USP), a
partir do século 5 a.C., os gregos marcaram o início do entendimento
de uma cultura de prazer, tendo o corpo como um elemento central
nas representações artísticas e nas práticas esportivas. “Talvez seja
aí o início do culto ao corpo jovem, atlético, que passa a ser visto
como ideal. Algumas cerâmicas vão exibir esses corpos em atividades sexuais, às vezes até homossexuais”, conta. Dias lembra ainda
que, entre os egípcios (cerca de três mil anos antes de Cristo), o faraó e os escravos aparecem representados sempre de peito nu.
116
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 117
atitude
“Mas as vestimentas abaixo da cintura têm a função de distinguir um do outro, enquanto classe social e não propriamente cobrir o
sexo.” A nudez também era algo natural.
No Brasil, pinturas rupestres encontradas na Serra da Capivara,
no Piauí, revelam cenas de coito juntamente com cenas de caçadas.
Para Dias, é possível avaliar esse registro histórico – cuja origem
aponta cerca de 12 mil anos – como algo feito por um cronista da
vida cotidiana alheio a qualquer tipo de censura moral sobre questões ligadas à sobrevivência (caça) e à perpetuação da espécie (sexo).
“A partir do momento que o homem se veste para se proteger do frio,
a noção de nudez como incitação à sensualidade começa a surgir lentamente. Consequentemente, a coibição vem à tona”, avalia.
Foi assim no Renascimento. O período simboliza “nascer de
novo” com base na cultura clássica (greco-romana). A mentalidade
do homem culto europeu – ainda que representasse uma minoria –
começava a se afastar dos padrões gregos envolvidos na mitologia.
Surge, então, uma nova era com base na moral cristã e nos princípios
da Igreja Católica. Nesse cenário, é possível encontrar na pintura significados antagônicos para um mesmo elemento. É o caso da Vênus
Adormecida (1510), de Giorgine, e a Vênus de Urbino (1538), de Tiziano Vecellio. Ao contrário da primeira, a Vênus de Urbino está com
os olhos abertos encarando ostensivamente o espectador. “É interessante compará-las. As poses são semelhantes, mas o fato de a Vênus
de Urbino estar acordada indica uma conotação erótica, de sedução”,
explica Dias. Ambas ocultam o sexo com a mão esquerda, diferente
da exposição crua que ocorria na Grécia Antiga.
Daí para frente, os corpos começam a aparecer cobertos com
mais frequência até chegarmos à nudez como sinônimo de tabu, exatamente como compreendemos na atualidade. Rodrigo Nejm, psicólogo da ONG Safernet, que atua na área de combate a crimes na internet, ressalta que, ao longo dos séculos, foi incorporada a necessidade
de se ter controle sobre o próprio corpo. “É uma herança cristã. O
corpo é algo não puro que precisa ser escondido”, analisa. Para quem
um dia se perguntou o por que das coisas, aí a base da nossa moral e
conduta. É no mínimo constrangedor se, de repente, alguém tirar a
roupa em plena praça de alimentação de um shopping center. E mais:
pode ser enquadrado como crime de atentado violento ao pudor, de
acordo com o Código Penal Brasileiro. “E faz sentido. Ninguém é
obrigado a ver o que não gostaria de ver”, considera.
Mesmo quando explícita nas artes plásticas, no cinema ou no teatro, a nudez tende a ser encarada como um momento de desconforto.
Pelo menos para quem assiste. Desnecessário generalizar, é verdade,
mas o coletivo há de convir que são muitos os olhos envergonhados
diante de um corpo despido. Em muitos casos, a reação é de repulsa
e censura. No filme nacional Baixio das Bestas, de Cláudio Assis, a
atriz pernambucana Wanderlucy Bezerra interpreta uma prostituta
que depila a vagina em posição frontal diante das câmeras. Para ela,
encarar o desafio foi uma forma de selar uma fase de amadurecimento na carreira. “Quando comecei com teatro, nunca pensei que faria
uma cena assim, mas, com o passar do tempo, a gente se envolve de
forma definitiva com a profissão”, comenta. Para ela, a postura profissional do diretor e demais colegas de equipe é fundamental nesse
momento. “Tenho orgulho de ter sido dirigida por Cláudio, ele direcionou uma luz maravilhosa. Não senti dificuldade, porque não foi
uma cena apelativa. Havia um contexto maior, o problema é quando
a nudez é gratuita, feita apenas por exibicionismo”, considera.
De fato, é tênue a linha que separa nudez artística da pornografia.
Segundo Nejm, a pornografia é mais explícita quando o erotismo é
utilizado com o intuito de incitar uma relação sexual. “O nu artístico
nem sempre tem esse objetivo”, argumenta. O professor Dias vai um
pouco mais além. Para ele, o limite está no olhar do observador e não
necessariamente no gesto de quem cria. “Não há barreiras que cerceiem o trabalho do artista. A arte sempre explora zonas limítrofes.
Mas, se o artista não for bom, será apenas pornografia”, explica. Para
ele, é justamente o impasse associado à obra do fotógrafo Robert
Mapplethorpe com modelos nus sempre em posição frontal, com
118
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 119
atitude
apelo sexual explícito. “Está situada exatamente nessa zona de intersecção. O apreciador artístico e o voyeur obsessivo vão ver o trabalho
com o maior interesse. O resto quem faz é o contexto. Pode ser pornografia ou arte”, acredita.
Sobre a onda de impactos negativos, é importante ressaltar que
pornografia envolvendo crianças é crime, segundo o artigo 241 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não apenas para quem
produz e assiste as cenas, como também para quem armazena e distribui na internet. Nejm alerta ainda que é preciso afinar a noção de
privacidade versus espaço público. “Ao mesmo tempo que existe uma
censura muito forte, vivemos uma fase de banalização do corpo com
muita exposição, principalmente juvenil na internet.”
120
Nas aulas de pintura contemporânea que leciona na USP, professor Dias se preocupa em passar aos alunos uma discussão a partir
dos trabalhos elaborados no ateliê. “O nu é uma linguagem que atravessa os séculos e sobrevive em meio às novas formas de geração de
imagens.” Nas atividades de observação de um corpo tridimensional,
as nuances desenhadas pela incidência diferenciada da luz sobre estes corpos são próximas, se pensarmos em objetos como frutas sobre
a mesa. E revela: “É óbvio que haverá troca de olhares entre o pintor
e a modelo e, nesse processo, uma boa parte de sua natureza anímica pode-se evidenciar”. Para Dias, à nudez convém primordialmente
uma aura subjetiva. “Não existe um modelo físico a ser perseguido,
mas sim uma situação de luz.”
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 121
atitude
122
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 123
É primavera nos trópicos. O agradável clima da
estação mais bonita do ano cria uma atmosfera
de festa na natureza e faz aumentar o estímulo
de se celebrar a vida. Época propícia para se
encher o coração de alegria e festejar os bons
momentos. Aliás, bons momentos não faltaram
para se comemorar em diferentes lugares do
país e até mesmo fora dele. Nossos repórteres
e fotógrafos foram testemunhas, por exemplo,
da ascensão, rumo à internacionalização de sua
carreira, de Ivete Sangalo. A cantora brilhou em
Nova York e a gente registrou tudo.
Marcamos presença também no elegante jantar
em que Nizan Guanaes e Donata Meirelles deram
as boas-vindas ao publicitário Bazinho Ferraz ao
grupo ABC. Em Salvador, pompa e circunstância
também deram a tônica no aniversário de 15
anos de Isabella Brandalize.
Os motores roncaram e os pilotos pisaram fundo
nas etapas baianas do Rally Mitsubishi e no GP
Stock Car. Em Salvador os atabaques bateram
para festejar os 100 anos do Ilê Axé Opô Afonjá
e para celebrar, no Gantois, o lançamento do livro
Seleta de Acervo - Memorial Mãe Menininha.
Baladas na Bahia, baladas em Sampa, a ferveção
rolou solta. Em Salvador a Ministery of Sound
e Café Del Mar bombaram. Em São Paulo marcamos presença nas melhores baladas de casas
como Kiss and Fly, Pink Elephant, Disco e Kitsh
Club. Mas, se o assunto for gastronomia, nossas
lentes registraram a badalada feijoada de João
Doria Jr. em Campos do Jordão, com o tempero
do chef Ozi. Acompanhamos também as edições
do Iguatemi Gourmet, que entrou para o calendário dos eventos do gênero em Salvador.
No campo das artes a movimentação foi intensa.
Exposições de artes visuais, shows, estreias no
teatro, no cinema, a gente não perdeu nada. Vimos o sucesso do Bahia Moda Design e o lançamento do Movimento de Moda Iguatemi, evento
que ainda vai render bons frutos.
Enquanto o verão não apresenta suas armas vamos aproveitar a estação das flores para plantar
sementes de alegria e deixar brotar o que temos
de melhor em nossos corações. Viver intensamente, aproveitar cada minuto dessa vida que é
uma festa!
Bem-vindos ao D’lirio
Jorge Thadeu
Playlicia Sinais de Fogo, Preta Gil | Alejandro, Lady Gaga | Skinny Genes, Elisa Doolitlle | Strawberry Swing, Coldplay | Island of the Sun, Weezer | Flutuar, Chiclete com Banana
13.07, 27.07 e 24 .08
16.07
Fotos: Uran Rodrigues
Fotos: Uran Rodrigues
Parabéns
Iguatemi Gourmet
O jornalista Giácomo Mancini, o advogado Valton Pessoa e a colunista Lena Lebram
comandaram as primeiras noites do Iguatemi Gourmet, evento que já se firma como um
dos mais descolados de gastronomia em Salvador. Promovido pelo Shopping Iguatemi,
com montagem da Licia Fabio Produções, o acontecimento proporcionou noites de conversas animadas e degustações deliciosas.
Alexandre Luercio
Andre Silveira
Ewerton Visco
Bia Lebram
Claudia Galvão
A produtora Ana Paula Pinto levou muita gente descolada para a comemoração do seu aniversário no Clube Ego,
em Salvador. Gente bonita e animada
na mesma vibe da homenageada.
Nino Pinto
Ana Paula e Camila Simon
Renata Berbet
Sheila Auster
Lena Lebram
Fernanda Freire
Giácomo Mancini
tô azuado
Guto Correia
Ive Lima
Thais Olivieri
Vanessa Sarti
17.07
Celebration
Fotos: Uran Rodrigues
126
O aniversário da colunista e embaixadora da Vivara Mônica Gallas foi um verdadeiro acontecimento em casa de amigos, na Praia do Forte. Com direito a música ao vivo, a festa se
estendeu por todo o dia em um domingo iluminado.
Helio Tourinho
Izabel Portela
Roberta Pessoa
Robson Costa
Manno Goés
Marcelo Rangel
Roseli Souza Rabello
Valton Pessoa
Margareth Menezes
Melina Silveira
Mônica Gallas
Patricia Chaves
Angelica Munford
Mirela Gaban
André Guanaes
Arthur Gallas
Paola Marques
Fabiola Mansur
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 127
22.07
Ora iê iê ô
30.07
Atabaques
Fotos: Uran Rodrigues
As portas do terreiro do Gantois, em Salvador, se abriram para o lançamento do livro
Seleta de Acervo - Memorial Mãe Menininha do Gantois. Um projeto da ialorixá Carmem
de Oxalá com o apoio do antropólogo Raul Lody, que, além de amigo da casa, é profundo
conhecedor das relações África-Brasil. Gal Costa, uma das mais ilustres filhas de santo
do terreiro, emocionou a todos ao cantar uma saudação em iorubá.
Miriam fraga
Gal Costa
Gerônimo
Bruno Ferreira
Mãe Carmem
Mãe Stella de Oxóssi
Jackson Costa
Ebomi Nice de Oyá
Olívia Santana
Edvaldo Brito
Francisco Senna
Gilberto Sá
Angela Ferreira
Marcio Meirelles
Kat Steih
Lídice da Mata
Fátima Mendonça
Fotos: Uran Rodrigues
Fabio Lima
Um dos mais antigos terreiros de candomblé da Bahia completou 100 anos e ganhou
festa em Salvador. O Ilê Axé Opô Afonjá, comandado pela ialorixá Mãe Stella de Oxóssi,
recebeu as homenagens em seu barracão principal no bairro de São Gonçalo. A festa foi
animada pela cantora Margareth Menezes e pelos Filhos de Gandhy.
31.07
Velocidade e perícia
Fotos: Uran Rodrigues
23.07
Leila Ferreira
Leandro Ferreira
Tercia Borges
Nino Nogueira
Burt Sun
Eliane Zanchet
Daniela Steele
Glauber Duarte
Marcelo Sá
Sidney Quintela
Ana Valeria
Paulo Borges e o filho Henrique Borges
Pilotos e navegadores nordestinos participaram da 5ª temporada do Mitsubishi Cup
Nordeste, em Salvador. A prova baiana foi uma espécie de aquecimento dos motores
para o famoso Rally dos Sertões, a mais importante competição brasileira off-road.
Pra
toda obra
Fotos: Uran Rodrigues
Os empresários Nino Nogueira e Eliane
Zanchet expandiram seus negócios e reuniram amigos e clientes na inauguração
da Anauá Madeira do Brasil, no Rio Vermelho, em Salvador.
Raquel Zanchet
128
Lavoisier Monteiro e Solon Mendes
Camila Nogueira
Carla Barral
Andre Mauro
Daniel Junior
Gustavo Xavier
Luiz Sobreira
Regis Braga
Renata Oliveira
Vinicius Castro
Welligton Resende
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 129
02.08
Elegância a toda prova
02.08
Fotos: Marcel Takeshita
Donata Meirelles e Nizan Guanaes abriram as portas de sua mansão no Jardim Europa para um jantar que selou a união do publicitário Bazinho Ferraz ao grupo ABC.
Uma noite impecável que reuniu gente inteligente e sofisticada.
Thomaz Farkas
As lentes
da experiência
Fotos: Uran Rodrigues
Daniela Zurita e Edu Guedes
Donata Meirelles
Ana Joma e Rogério Fasano
Amir Slama
Eduardo Cesafa
Solange e Pedro Farkas
Diógenes Moura
Franco Cirri
Cristiane Matusita
Thomaz Farkas veio a Salvador para a
abertura da exposição O Tempo Dissolvido,
um dos mais badalados eventos culturais
da temporada. Jornalistas, artistas e intelectuais foram conferir de perto a mostra,
que, além das fotografias, exibiu objetos
pessoais do artista de 86 anos.
Sérgio Burgi
D’licia é... cantar e fazer as pessoas felizes. Margareth Menezes
Alvaro Garnero e Cristiana Arcangeli
Bazinho Ferraz e Helena Ferraz
João Doria
03.08
Avental
Fotos: Marcel Takeshita
130
A inauguração da nova loja L’Occitane movimentou o Shopping Iguatemi, em São Paulo.
Rodrigo Hilbert e Thiago Rodrigues foram os convidados especiais e esbanjaram simpatia com as fãs e clientes da loja.
Tato Malzone
Nizan Guanaes
Ivan Zurita
Esther Giobbi
Mariana Du Bois
Fabiola Kassin e Erh Ray
Pedro Brando
Renata Castro e Sergio Gordilho
Alicinha Cavalcanti e Rodrigo Biondi
Rodrigo Hilbert
Anna Chaia
Decio de Paula Machado e Carmen Friozzi
Arieta Correa
Bruno Barreto
Juliana Imai e Rico Mansur
Renata Kowarick e Ricardo Kowarick
Joca Guanaes e Sérgio Valente
Tadeu Fracari
Helinho Calfat
Thiago Rodrigues
Paulo Ricardo e Luciana Figaro
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 131
03.08
Vem chegando o verão
Fotos: Uran Rodrigues
Lise Weckerle
As empresárias Aline e Regina Weckerle abriram as portas da Paradoxus para
apresentar as tendências do verão 2011. São propostas assinadas por renomadas grifes como Lenny Niemeyer, Cyann, Reinaldo Lourenço e Armani Jeans.
Grifes representadas pela multimarcas baiana.
05.08
Antônio Carlos Magalhães
Ana Amoedo
Sob nova
direção
Fotos: Uran Rodrigues
Regina Weckerle
Sandra Gordilho
Buba Werckerle
Eliane Carvalho
Silvio Pedra
Andre Curvello
Karla Borges
Eliane Medonça
Izahias Raw
Juca Lisboa
July Insensee
Cintia Liberato
Fernando Nadalini
Renato Tourinho
04.08
Márcia Lírio
07.08
Bebida nobre
Voa Voa com
Ana Import
Fotos: Uran Rodrigues
Lançado com pompa e circunstância no restaurante Oui, em Salvador, o maior
evento enogastronômico do Nordeste. O Wine Bahia apresenta as últimas novidades e tendências no mundo dos vinhos, com a participação de expositores de
diversas nacionalidades. O evento tem a assinatura de André Freire de Carvalho e
da Licia Fabio Produções.
132
A rede de delicatessens baiana Perini
apresentou sua nova diretoria. Em concorrido coquetel na loja localizada no
bairro da Graça, a sociedade baiana deu
as boas-vindas a Silvio Pedra, CEO do grupo Ceconsud no Brasil, que passa a administrar as oito lojas de Salvador.
Alvaro Camargo
João Sabido Costa
Vagner Freitas
Fabio Salmeron
Fred Barreto
Lilian Bacelar
Fotos: Uran Rodrigues
Alex Daltro e Inez Giudice
Família que comemora unida permanece unida. No Wet’n Wild, Bell Marques festejou a
chegada do Voa Voa indoor a Salvador e Ana Marques celebrou dez anos de sucesso da
Ana Import. No camarote do evento o clima era de descontração e alto-astral.
Licia Fábio e André Freire de Carvalho
Ana Marques
Veronica Rodero
Rafael Marques
Nadja Valente
Vivian Pinheiro
Luzia Santhana
Mari Cruz
Marcela Luz
Jacaré
Huxley Castro
Katia Guzzo
Jony Torres
Felipe Marques
Fausto Franco
Eduardo Valente
André Pereira
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 133
12.08
Terra do nunca
07.08
PRETA 3.6
Fotos: Marcel Takeshita
Fotos: Uran Rodrigues
Pedro Tourinho
O lançamento do DVD Noite Preta, em Salvador, coincidiu com o aniversário de 36 anos
da cantora. Uma festa que agitou o Cais Dourado com uma multidão de fãs da artista.
Preta Gil
Lyu Arisson
Marcel Souza
Mariana Paes de Castro
Carlos Henrique Lima
Natasha Thomas
Nega
Marcelo Fedak e Fernanda Rolim
Fernanda Rolim esbanja talento com a LEFT e se revela uma das mais criativas
estilistas de sua geração. Desta vez, para compor sua coleção verão 2011, ela mergulhou fundo no mundo mágico de Peter Pan. Deu um show na passarela armada
no Nacional Club.
Tania Rolim
Carol Castelo Branco
Cesar Oliveira
Gioconda Saad
Johana Stein Birman
Vanessa Hadi Garib
Ricardo Goldfarb
Camilla Camargo
13.08
Réveillon particular
D’licia é... apreciar um belo pôr do sol. Fábio Arruda
Fotos: Marcel Takeshita
A publicitária Mariana Kertesz inaugurou nova idade e reuniu familiares e amigos para
celebrar a data em seu apartamento, em São Paulo.
10.08
Conteúdo e simpatia
Fotos: Uran Rodrigues
Nem só de elegância entende a jornalista, empresária e consultora de moda Glória Kalil.
Foi o que ela mostrou durante a palestra “Rumos do Varejo”, realizada em Salvador a convite das empresas JHSF e EULUZ. O encontro foi durante um café da manhã comandado
pelos empresários Zeco Auriemo e Ana Auriemo Magalhães.
Ana Auriemo Magalhães
Ivo Barbosa
Bruno Valença, Mariana Kertesz e Marcela Valença
Sérgio Kertesz e Bia Kertesz
Euvaldo Guimarães
Robert Halley
Luciana Melo
Daniel Matsumoto
Carolina Kok
Eliana Kertesz
Naildo Macêdo
Natália Soares
Zeca Auriemo
Pedro Sayao
Tamara Spinelli e Alan Petersen
Miyoko Elza e Cecília Pinheiro
Glória Kalil
134
Paulo Junger
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 135
14 e 15.08
Velocidade máxima
14.08
Début
Fotos: Uran Rodrigues
Alexandre Peixe
Carla Schnitzberger
Ingo Hoffaman
José Mário Castilho
Margareth Menezes
O camarote Mini Challenge no GP Bahia Stock Car se transformou no território das celebridades no Circuito Ayrton Senna, em Salvador. Entre os convidados, o governador, Jaques
Wagner, e a primeira-dama, Fátima Mendonça, os cantores Ricardo Chaves, Alexandre
Peixe e Margareth Menezes. Também marcaram presença o diretor da categoria Mini
Challenge, Martin Fritsches e a diretora de negócios das Havaianas, Carla Schnitzberger.
Jackson Costa
Jaques Wagner, Licia Fabio e Fátima Mendonça
Patrick Gonçalves
Fotos: Uran Rodrigues
Célia e Bel Silva
Isabella Brandalize reuniu amigos e familiares para celebrar seus 15 anos numa festa
com muito luxo e requinte. A sempre bela Larissa Bicalho foi uma perfeita anfitriã na
festa da filha caçula.
Isabella Brandalize
João Bicalho
Luciana e Paulo Barbosa
Rafael Brotto
Gabriela Goldstein
Marcella Bicalho
Larissa Bicalho
16.08
Martelo solidário
Fotos: Marcel Takeshita
O hairstylist Wanderley Nunes se juntou à primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva,
e realizou um leilão beneficente que levou empresários, artistas e personalidades da
sociedade paulistana para o Buddha Bar. Toda a verba arrecadada tem como destino
o programa de alfabetização Escola do Povo na periferia de São Paulo.
Lá ele!
Pódio de Cacá Bueno
136
Nathalia Lago
Tatiana Ambrósio
Joana Castro
Wanderley Nunes e Christiane Fernandes
Ana Paula Junqueira
Chico Pinheiro
Eike Batista
Glória Coelho e Pedro Lourenço
José Carlos Semenzato
Gilberto Zaborowsky e Luiza Mell
Marisa Letícia Lula da Silva
Melissa Wilman e Otávio Mesquita
Patrícia Cavalcante e Tom Cavalcante
Rosana Fittipaldi e Emerson Fittipaldi
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 137
17.08
Salto alto
18.08
O empresário e designer Alexandre Birman desembarcou em Salvador para participar do
coquetel de lançamento da nova coleção de calçados da sua grife Schutz, na loja Deusa
Crioula. As clientes descoladas tiveram direito a consultoria.
Fotos: Uran Rodrigues
Fotos: Uran Rodrigues
Carolina Galo
Fernanda Brandão
Alexandre Birman
Manuella Martinez
Daniela Oliva
Mariane Regueira
Brigadeiro
A empresária Ethel Baratz abriu as portas de sua loja em Salvador para comemorar mais
um aniversário e mostrar as novas tendências da multimarcas para as próximas estações.
Cristina Carvalho
Heli Costa
Janete Freitas
Ethel Baratz
Raquel Regueira
Lelia Guimarães
Rita Magalhães
Suca Baratz
Juliana Penedo
Roberto Camara Junior
Tania Mascarenhas
Virginia Dourado
Dinho Santana e Tereza Franco
Solange Carneiro
19.08
Tendências
Fotos: Uran Rodrigues
Rogério Regueira
Mariana Morgeroth
Perla Bastos
Stephanie Mattos
Pietra Ferrari
Luana Rodrigues
Rafaela Costa
Rafaela Meccia
Maria Franco
O desfile Heaven Summer 2010/11 levou para a passarela, em Aracaju, as novidades
da temporada das TalieNK, Juliana Jabour, Diva, Madri e Isabela Giobbi. Um coquetel
reuniu a nata da sociedade sergipana antenada com a modernidade.
José Rios
Chris Vasconcelos
Cristiane D’Ávila
Madalena Sá
Renata Abreu
Silvio Aboim
D’licia é... viajar, estar com a família, amigos e com meu cachorro bóris. Beth Zsafir
138
Adriana Peixoto
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 139
22.08
Borbulhante
20.08
Expansão
Fotos: Marcel Takeshita
O quadrilátero mais famoso do Brasil regado a champanhe mais poderosa do mundo.
No Promenade Chandon, em São Paulo, as ruas Oscar Freire, Haddock Lobo, Bela Cintra e Sarandi ganharam cenografia francesa em um festival de gastronomia e moda
com os lançamentos para o verão 2011.
Fotos: Uran Rodrigues
Com um badalado coquetel foi inaugurada em Lauro de Freitas, na Bahia, mais uma
loja da rede Óticas Opção. Entre os convidados, os gêmeos Marcelo e Alessandro
Timbó, garotos-propaganda da nova linha de óculos da grife.
Carlos Sousa
Edu Casanova
Tatau
Elisabete Valverde
Alan Magarao
Alexandre Leitão
Danini Amaral
Thiago Sousa
Cesinha do Acordeon
D’licia é... ser feliz e poder participar da revista LICIA. Paulo Henrique Souza
140
Laís Galvão
Alessandro Timbó
Mariana Ximenes e Guilhermina Guinle
Alexandre Borges
Marcia Karallas e Rosangela Lyra
Caca Ribeiro
Carol Franceschini
David Marcowitch
Ellen Jabour
Francisco Calio
Gontijo Pinto
Mayana Moura
É festa
Sérgio Degese
Renata Kuerten
Mariana Weickert
Alexandre Herchcovitch
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 141
27.08
Escala baiana
30 e 31.08
Fotos: Uran Rodrigues
O clima de ferveção das baladas de Ibiza desembarcou em Salvador em mais uma edição
do embalo Café Del Mar. Os DJs Thiago Mansur e Rodrigo Ardilha comandaram o agito
eletrônico no eixo Trapiche Eventos - Just 1.
Marcelo Maltez
Juliana Barbosa
Moda e
negócios
Tissiane Freitas
Fotos: Uran Rodrigues
Ale Rauen
Caio Gazel
Bruna Motta
sou tiete
Thiago Mansur
Tuca Fernandes
Rodrigo Gomes
Cláudio Silveira comandou o Bahia Moda
Design no Centro de Convenções do
Othon Palace Hotel, em Salvador. Durante
dois dias o evento mobilizou os fashionistas de plantão em rodadas de negócios e desfiles com o que há de melhor
sendo produzido por marcas baianas.
Chris Rabello e Rosemma Maluf
Dany Brugni
Marcos Gordilho
Vitorino Campos
Richard Alves
Goya Lopes
Cláudio Silveira
30.08
Os mais
sexies
Fotos: Uran Rodrigues
142
Maria João Abujanra
Waldemar Kogos e Lika Kogos
Reynaldo Gianecchini
Jesus Luz
Kiko - KLB
Sabrina Sato
Sandra de Sá e Simoninha
Maurren Maggi
No terraço Daslu, em São Paulo, a revista Istoé Gente reuniu imprensa e convidados para
apresentar os 50 famosos mais sexies do
ano, eleitos pela publicação. A lista começa
por Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera.
Grazi Massafera
Selvya Mascarenhas
Desfile Vivire
Ju Rabinovitz
Malu Mendes
Marcelo Timbó
Natalia Troccoli
Paula Magalhães
Daniela Antonini
Virginia Moraes
Ricardo Araujo
Cacau Mendes
Raphaela Rabelo
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 143
04.09
Wine Bahia Rural
31.08
40 anos em cena
Fotos: Uran Rodrigues
Fotos: Uran Rodrigues
A atriz Glória Pires protagonizou um dos eventos literários mais concorridos da temporada em Salvador. A sessão de autógrafos da biografia 40 Anos de Glória de Eduardo
Nassife e Fábio Fabrício Ferreti, levou uma legião de fãs e admiradores da atriz à livraria
Saraiva do Shopping Salvador.
Melissa Pacheco
Vanessa Pinheiro
Aghata Carvalho
César Rego
Chris Mendonça
Eduardo Nassife
Carlinhos Serra
Thiago Couto
Glória Pires
Geraldo Machado
Luis Claudio Lacerda
Tatiana Mendes
Ricardo Gallas
Nilton Simões Filho
Ximena Iglesias
Vinicius Araujo
Priscila Fraser
Foi na Fazenda dos irmãos Carlos e Vardinho Serra, organizadores da Vaquejada de
Serrinha, que um grupo comandado pela promoter Licia Fabio e o enólogo André
Freire de Carvalho aproveitou todas as atrações country de mais uma ação do Wine
Bahia 2010. Um lounge instalado na fazenda se transformou em território dos vips
na maior vaquejada no Nordeste.
André Lima
Giovana Bandeira
Susana Nobrega
Malú Mendes
Jorge Célio Cavalcanti
11.09
Mainha
Fotos: Marcel Takeshita
Denise Fraga e Glória Menezes
Agemiro Villaça
Cassia Godóy e Ari França
Denise Fraga movimentou a Livraria da Vila – Fradique, com o lançamento do livro
Travessuras de Mãe. A publicação reúne crônicas assinadas pela atriz sobre a tarefa
de criar e educar os filhos. Os textos misturam delicadeza, amor e dúvidas em relatos
recheados de humor, marca característica da atriz.
Daisy Villaça e Argeu Villaça
Izaurinha Heck
Isa Martins
Henrique Tourinho
Nadja Pimentel
Catarina Lima
Inês Serra
Arlete lima
D’licia é... é ser ator. Luiz Miranda
Renato Villaça
144
Silvia Villaça
Alberto Villas
Luis Villaça
Gilberto Vieira
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 145
03.09
Dia de festa
04 .09
Consagração
Fotos: Uran Rodrigues
Ana Carrera
Figura querida na sociedade soteropolitana, Tércia Borges ganhou festa
surpresa durante um almoço organizado pela filha Bárbara, no restaurante
Amado, em Salvador.
Bárbara, César e Tércia Borges
Ana Luiza Moscoso
Arlete Magalhães
Fotos: Samuel Cerqueira
A gravação do DVD de Ivete Sangalo no Madison Square Garden se transformou num
acontecimento brasileiro em Nova York. Muitos amigos e fãs foram ver de perto a consagração da cantora baiana rumo à carreira internacional.
Ivete Sangalo
David Brazil
Jesus Sangalo e Kyioko Igaki
Ivete Sangalo e Netinho
Carlinhos Brown
Ana Luiza Carneiro
Bruna Yacob
Gracinha Rodrigues
Adriana Barreto
Ticiane Pinheiro e Roberto Justus
Ivete Sangalo
Preta Gil e Carlos Henrique
Isabela Dantas
Kitty Soledade
Tânia Muniz Barreto
Daniela Nesser
Maria Gadú e Jau
Bruna Carranzone
Catiane Magalhães
06.09
Shimbalaiê
Fotos: Mila Cordeiro
Carla Perez
Juanes e Ivete Sangalo
Diego Torres
146
Um banquinho, um violão e Maria Gadú em
cena. Uma noite de música brasileira da
mais alta qualidade tendo como cenário a
Praia do Forte. Para completar a festa, a música alto-astral do baiano Jau.
Seu Jorge
e Ivete
Robson
Costa
Marrom
Nely Furtado
Élida Cardoso
Ive Lima
Lila Moraes
Mayra Cardi
Samantha Schmutz
Leonardo Miggiorin
Andrea, Gabriela Lacerda e Marcelo Bandeira,
Roberto Cordeiro
Ricardo e Tânia Paiva
Luiz Miranda
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 147
08.09
09.09
Fotos: Marcel Takeshita
Quiabo
Fotos: Uran Rodrigues
A SP-Arte/Foto, maior feira de fotografia do país, chegou à 4ª edição e reuniu, no Shopping Iguatemi, em São Paulo, o melhor da fotografia contemporânea do Brasil e do mundo.
Quando chega setembro é tradição na Bahia confraternizações entre amigos em torno do famoso caruru. A temporada foi aberta pelo arquiteto Sidney Quintela, que
reuniu muita gente bacana em seu escritório sob as bênçãos de Cosme e Damião.
Feira de fotografia
Bob Wolfenson
Anna Fernandes
Ana Khouri
Cesar Giobbi
Claudio Edinger
Eduardo Leme
Sidney Quintela
Antônio Medrado
Carla Carmel
Carol Sahade
Emílio Kalil
Erika Jereissati
Fernanda Feitosa
Francisca Botelho
Tatiana Amorim
Tarsila Filgueiras
Sérgio Queiroz
Susana Nobrega
Cacá Garcia,Lele Saddi e Fernanda Paes Leme
Marcos Maria
André Vasco
Chris Corchs
Junior Lima
Lilly Sart
Ricardo Lounds e Jessica Staub
Matheus Mazzafera e Ana Paula Junqueira
Piny Montouro
Thiago Gagliasso
Victor Saad
12.09
Dupla comemoração
Fotos: Marcel Takeshita
Mônica Filgueiras
Ricardo Van Steen
Os empresários Marcos Maria e André Vasco trocaram de idade e receberam o carinho
dos amigos na boate Disco, em São Paulo. Animação que entrou pela madrugada com
a pista lotada o tempo todo.
Ricardo Ohtake
qualé
meu bom?
Silvana Tinelle
148
Maria Baro
Julia Porchat e Luiz Porchat
Mariana Weickert
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 149
10 e 11.09
Bebida nobre
Fotos: Uran Rodrigues
A 6ª edição da Wine Bahia consolidou a feira como o maior evento da enogastronomia
do Norte e Nordeste. Durante dois dias, produtores, especialistas e apreciadores puderam degustar e conhecer os lançamentos do que há de melhor em vinhos nacionais e
estrangeiros. A Wine Bahia 2010, uma iniciativa da Licia Fabio Produções e do enólogo
André Freire de Carvalho, teve apoio da Bahiatursa, Banco Bonsucesso e Tenys Pé Baruel.
Aldrick Muggler
Alexandre Mendes
Ângela Freitas
Antônio Franco
Adriana Ceron
Romenilson Rehem
Regina Weckerle
Tô na paz
Claudio Vella
150
Fábio Vilas Boas
Eliane Carvalho
Emília Silva
Marcos Lessa
Marcus Nicodemos
Paulo Argolo
Paulo Bruno Cordeiro
Paulo Roberto e Nice Sampaio
Pedro Costa
Pedro Galvão
Vivian Pinheiro
Everaldo Caires
Sérgio Moreira
Edinho Engel
Flávio Castro
Gustavo Basto
Licia Fabio e Beto Pimentel
Sílvio Pessoa e Juliana Góes
Jussara Silveira
André Freire de Carvalho
Lila Lopes
Lorenzo Ramolini
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 151
28.09 a 01.10
Movimento de Moda
Iguatemi
21 a 26.09
Barra
Fashion
Mall
Fotos: Uran Rodrigues
Fotos: Uran Rodrigues
Ângela Freitas
Caio Castro
Thiago Rodrigues
Cavalera
Cristiana Neves
Desfile Blue Man
Sob o comando de Paulo Borges, diretor criativo da Luminosidade, o Movimento de Moda
Iguatemi apresentou uma proposta que contemplou a interatividade e a conectividade.
Exposições de coleções estilistas pelos corredores do shopping Iguatemi, lançamento
de publicações especializadas e a inusitada
passarela dentro da Saraiva Mega Store, o
MMI inovou também com o Pense Moda, um
fórum de discussão que reuniu famosos criadores e produtores de moda brasileiros.
Henri Castelli
Márcio Garcia
Desfile Triton
Ewerton Visco
Sharon Azulay
Mirela Cubilhas
Fernanda Freitas
Gisele Frank
Samantha Jorge e Cristina Manucci
Graziele Maslowsky
Mariana Weickert
Tatiana Amorim
Hélio Tourinho
Jessica Pauletti
Jonathas Faro
Lidiane e Paulo Frank
Thaila Ayala
Dito Espinheira
Marcella Barradas
Paulo Borges
Marcelo Seba
Mariana Freitas
Luciana Galeão
Ricardo Cubilhas
Mauro Manucci
Desfile New Order
Oscar Magrini
Paula Freitas
Carlos Guimarães
Danny Brugni
Um dos pioneiros eventos de moda da Bahia
movimentou Salvador num festival fashion
que revelou talentos, promoveu desfiles das
principais marcas comercializadas no shopping Barra e festejou os 50 anos de carreira
do artista visual Luiz Jasmin. Instalado em
lugar estratégico do shopping, o Lounge
do Site e Revista LICIA se transformou em
território das celebridades e convidados que
circularam pelo evento.
Fátima Mendonça e Karina Brito
Fernando Torquato
Ildi Silva
José Carlos Poroca
Júlio Rego
Luiz Jasmin
Maria Elisa Figueiredo Nunes
Regina Werckerle e Renata Kuerten
Renata Vasconcelos e Edison Rezende
Alexandre Manzalli
Doda Guedes
152
Tininha Viana e Marcelo Gomes
Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 153
acreditar
a
ç
n
a
d
u
m
na
154