Artigos - Escola Paulista de Medicina
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volume 12 — nº 3— 2004 ISSN - 0104-3579 Artigos • Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de fisioterapia da UMESP • Uma análise do comprometimento da fala em portadores de doença de Parkinson • Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico • Trombólise endovenosa com Alteplase em AVC Isquêmico Experiência em 27 casos - Joinville – SC • Tratamento inicial da doença de Parkinson • Utilização do SF-36 em ensaios clínicos envolvendo pacientes fibromiálgicos: determinação de critérios mínimos de melhora clínica • Intervenções fisioterapêuticas para pacientes com fibromialgia • Midazolan nasal no tratamento de crises convulsivas Neurociências Editorial revista Neurociências 115 Variação terapêutica e ensino médico O que é possível ensinar aos nossos alunos e residentes? O que poderia ser duradouro o suficiente para justificar o mestre? Do que necessita o aluno para querer ao seu lado alguém experiente? A prática da neurologia, principalmente no que concerne às doenças cérebro-vasculares, vem ganhando um corpo de evidências cada vez mais consistente, conduzindo obrigatoriamente a uma reflexão do que ensinar. A linguagem da epidemiologia clínica necessita ser difundida, e independentemente de interesses, custos e preconceitos, nossos futuros médicos não escaparão às exigências de uma prática científica do diagnóstico e tratamento. Aquele mestre que fazia de uma maneira muito própria, peculiar e sua parece não ter mais lugar no mundo médico. O mestre que agia e determinava os destinos de pacientes porque tinha convicções fundamentadas na sua vida e racionalidade particular passou a fazer parte dos experimentos da clínica. O avanço tecnológico e a difusão da clínica como ciência permitiu uma constante avaliação das posturas e decisões médicas. Argumentos baseados em autoridade foram progressivamente sendo desconsiderados e muito pouco tolerados, principalmente nos países desenvolvidos. Na medicina americana, pelo menos nos centros de excelência no atendimento (que nem sempre coincidem com os de pesquisa ou renomados pesquisadores), ocorre uma prática menos deificada da medicina. Os argumentos clínicos e o que ensejam à pesquisa são a moeda de troca no mercado do pensamento e atenção ao paciente. Já não se requer mentes excepcionais para praticar e fazer evoluir o conhecimento médico: um modo de pensar e fazer, prático e eficiente, vem dando conta da demanda clínica e científica. O trabalho a ser realizado é enorme! As ciências básicas e associadas apontam indicadores relevantes, mas o paradigma da reatividade idiossincrásica do corpo exige o experimento clínico. E o experimento clínico pode reacender chamas de outrora, ou condenar ao esquecimento vultosos investimentos em uma terapêutica. O aluno de medicina é aluno para toda a vida, e seus verdadeiros mestres deveriam ensiná-lo a aprender eternamente. O aluno levará do mestre a postura diante da medicina e paciente, o cuidado propedêutico e o bom senso terapêutico. O mestre se justifica pela dimensão do possível, pelo espectro do comparável e pela força de modelação tão necessárias ao psiquismo humano. Quando o aluno se depara com a variação terapêutica não se lembrará de argumentos autoritários, mas da mão que o guiou para a melhor opção científica de tratamento. Felizmente estamos assistindo a uma grande transformação na maneira de pensar clinicamente no Brasil, e apesar de algo atrasados em relação aos países desenvolvidos, muito tem sido implementado na assistência terapêutica ao paciente, motivo porque gostaria de parabenizar todos aqueles que estão se dedicando ao enorme trabalho de prover treinamento profissional, pesquisa e atendimento aos pacientes com “acidente vascular cerebral” em nosso país. Os excelentes trabalhos sobre trombólise no AVC publicados aqui na Revista Neurociências tem sido de grande utilidade para reflexões e ações de saúde neste importante campo epidemiológico e clínico que muito onera nosso país e faz sofrer nossos cidadãos. Gilmar Fernandes do Prado Editor Índice ARTIGOS ORIGINAIS Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de fisioterapia da UMESP Rodrigues, José Erickson; Sá,Márcia da Silva; Alouche, Sandra Regina. .......................................................................................... 117 Uma análise do comprometimento da fala em portadores de doença de Parkinson Alcidézio Luís Sales de Barros, Erideise Gurgel da Costa Silveira, Roberta Cristiny Medeiros de Souza, Lorena Canto de Freitas .......................................................................................................................................................................123 Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães, Débora C. A. Galdino, Fábio Luiz Mendonça Martins, Simone R. Abreu, Mary Lima, Débora Fernandes de Melo Vitorino. ....................................................................................................................................................130 Trombólise endovenosa com Alteplase em AVC Isquêmico - Experiência em 27 casos - Joinville – SC LONGO,A.L.; MORO,C.H.C.; CABRAL,N.L. ........................................................................................................................................134 Tratamento inicial da doença de Parkinson. Antônio L. Teixeira Jr, Francisco Cardoso. ...........................................................................................................................................141 Utilização do SF-36 em ensaios clínicos envolvendo pacientes fibromiálgicos: determinação de critérios mínimos de melhora clínica Débora Fernandes de Melo Vitorino; Fábio Luiz Mendonça Martins; Alessandra de Castro Souza; Débora Galdino; Gilmar Fernandes do Prado. ................................................................................................................................................................147 ARTIGOS DE REVISÃO Intervenções fisioterapêuticas para pacientes com fibromialgia: Atualização Débora Fernandes de Melo Vitorino, Gilmar Fernandes do Prado ......................................................................................................152 Midazolan nasal no tratamento de crises convulsivas Sueli Rizzutti, Lucila Bizari Fernandes do Prado, Gilmar Fernandes do Prado. ....................................................................................157 REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 116 REVISTA NEUROCIÊNCIAS Editor Chefe / Editor in chief Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP Co-editor / Co-editor José Osmar Cardeal, MD, PhD, São Paulo, SP. Editores Associados / Associate Editors Alberto Alain Gabbai, MD, PhD, São Paulo, SP Esper Abrão Cavalheiro,MD, PhD, São Paulo, SP Fernando Menezes Braga, MD, PhD, São Paulo, SP Corpo Editorial / Editorial Board Desordens do Movimento / Movement Disorders Chefe / Head Henrique Ballalai Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Francisco Cardoso, MD, PhD, Belo Horizonte, MG Sônia Maria Cézar de Azevedo Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Egberto Reis Barbosa, MD, PhD, São Paulo, SP Maria Sheila Guimarães Rocha, MD, PhD, São Paulo, SP Vanderci Borges, MD, PhD, São Paulo, SP Roberto César Pereira do Prado, MD, PhD, Aracajú, SE Epilepsia / Epilepsy Chefe / Head Elza Márcia Targas Yacubian, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Américo Seike Sakamoto, MD, PhD, São Paulo, SP Carlos José Reis de Campos, MD, PhD, São Paulo, SP Luiz Otávio Caboclo, MD, PhD, São Paulo, SP Alexandre Valotta da Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Margareth Rose Priel, MD, PhD, São Paulo, SP Henrique Carrete Jr, MD, PhD, São Paulo, SP Neurophysiology Chefe / Head João Antonio Maciel Nóbrega, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Nádia Iandoli Oliveira Braga, MD, PhD, São Paulo, SP José Fábio Leopoldino, MD, Aracajú, SE José Maurício Golfetto Yacozzill, MD, Ribeirão Preto, SP Francisco José Carcchedi Luccas, MD, São Paulo, SP Gilberto Mastrocola Manzano, MD, PhD, São Paulo, SP Carmelinda Correia de Campos, MD, PhD, São Paulo, SP Reabilitação / Rehabilitation Chefe / Head Sissy Veloso Fontes, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Jefferson Rosa Cardoso, PhD, Londrina, PR. Márcia Cristina Bauer Cunha, PhD, São Paulo, SP Ana Lúcia Chiappetta, PhD, São Paulo, São Paulo, SP Carla Gentile Matas, PhD, São Paulo, SP Fátima Abrantes Shelton, MD, PhD, Edmond, OK, USA Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São Paulo, SP Luci Fuscaldi, PhD, Belo Horizonte, MG Fátima Goulart, PhD, Belo Horizonte, MG Odete Fátima Salles Durigon, PhD, São Paulo, SP Distúrbios do Sono / Sleep Disorders Chefe / Head Lucila Bizari Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Flávio Aloe, MD, São Paulo, SP Stela Tavares, MD, São Paulo, SP Dalva Poyares MD, PhD, São Paulo, SP Ademir Baptista Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Alice Hatsue Masuko, MD, São Paulo, SP Luciane B. Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP Maria Carmen Viana, MD, PhD, Vitória, ES Virna Teixeira, MD, PhD, São Paulo, SP Geraldo Rizzo, MD, Porto Alegre, RS Rosana Cardoso Alves, MD, PhD, São Paulo, SP Robert Skomro, MD, FRPC, Saskatoon, SK, Canadá Sílvio Francisco, MD, São Paulo, SP Doenças Cerebrovasculares / Cerebrovascular Disease Chefe / Head Ayrton Massaro, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Aroldo Bacelar, MD, PhD, Salvador, BA Alexandre Longo, MD, PhD, Joinvile, SC Carla Moro, MD, PhD, Joinvile, SC Cesar Raffin, MD, PhD, São Paulo, SP Charles Andre, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Gabriel de Freitas, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Jamary de Oliveira Filho, MD, PhD, Salvador, BA Jefferson G. Fernandes, MD, PhD, Porto Alegre, RS Jorge Al Kadum Noujain, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Márcia Maiumi Fukujima, MD, PhD, São Paulo, SP Mauricio Friedirish, MD, PhD, Porto Alegre, RS Rubens J. Gagliardi, MD, PhD, São Paulo, SP Soraia Ramos Cabette Fabio, MD, PhD, São Paulo, SP Viviane de Hiroki Flumignan Zétola, MD, PhD, Curitiba, PR Oncologia / Oncology Chefe / Head Suzana Maria Fleury Mallheiros, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, São Paulo, SP Fernando A. P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Guilherme C. Ribas, MD, PhD, São Paulo, SP João N. 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Membros / Members Leopoldo Antonio Pires, MD, PhD, Juiz de Fora, MG Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São Paulo, SP José Edson Paz da Silva, PhD, Santa Maria, RS Ana Maria de Souza, PhD, Ribeirão Preto, SP Neurologia do Comportamento / Behavioral Neurology Chefe / Head Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, MD, PhD, São Paulo, SP. Membros / Members Ivan Okamoto, MD, PhD, São Paulo, SP Thais Minetti, MD, PhD, São Paulo, SP Rodrigo Schultz, MD, PhD, São Paulo, SP Sônia Dozzi Brucki, MD, PhD, São Paulo, SP Neurocirurgia / Neurosurgery Chefe / Head Fernando Antonio P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Membros / Members Mirto Nelso Prandini, MD, PhD, São Paulo, SP Antonio de Pádua F. Bonatelli, MD, PhD, São Paulo, SP Sérgio Cavalheiro, MD, PhD, São Paulo, SP Oswaldo Inácio de Tella Júnior, MD, PhD, São Paulo, SP Orestes Paulo Lanzoni, MD, São Paulo, SP Ítalo Capraro Suriano, MD, São Paulo, SP Samuel Tau Zymberg, MD, São Paulo, SP Neuroimunologia / Neuroimmunology Chefe / Head Enedina Maria Lobato, MD, PhD, São Paulo, SP. 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Tiragem: 3.000 exemplares REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 117 Artigo Original Perfil dos pacientes acometidos por AVE tratados na clínica escola de fisioterapia da UMESP Profile of the stroke patients treated in the clinical school of physical therapy of the UMESP Rodrigues, José Erickson1; Sá,Márcia da Silva 1; Alouche, Sandra Regina2. RESUMO O objetivo deste estudo foi traçar o perfil clínico e funcional dos pacientes com diagnóstico de Acidente Vascular Encefálico (AVE) atendidos na Clínica Escola de Fisioterapia da UMESP. Foi feito um estudo retrospectivo em pacientes acometidos por AVE, realizado através de uma coleta de dados em prontuários de 109 pacientes no período de fevereiro de 2001 a junho de 2003. A coleta de dados foi realizada por meio de um protocolo previamente desenvolvido, abrangendo questões sócio-demográficas, clínicas, físicas e funcionais. O AVE é uma doença comum em todo mundo, por ser a principal causa de incapacidade neurológica em adultos, podendo acometer a função dos membros, controle motor, equilíbrio, força e mobilidade. Apesar de ocorrer uma maior recuperação motora e funcional nos primeiros três meses após o AVE, há evidência de que o exercício terapêutico é efetivo mesmo em casos crônicos. O estudo demonstrou que a população atendida na Clínica Escola de Fisioterapia da UMESP é em sua maioria composta de pacientes crônicos. Este fato acarreta uma permanência maior em terapia e dificulta ganhos funcionais. Contudo pôde-se constatar melhora do quadro motor durante o tratamento, o que reforça a idéia de que mesmo pacientes em fase crônica de AVE podem ter uma boa evolução em termos funcionais. Unitermos: Hemiplegia, Acidente Vascular Cerebral, Fisioterapia, Resultados. SUMMARY The purpose of this study was to plot a clinical and functional profile of stroke patients fulfilled at Clinical School of Physical Therapy of the UMESP. This retrospective study was done by a collection of data in fiches of 109 patients, from February 2001 to July 2003. The collection of data was done with a questionnaire beforehand developed with social-demographic, clinical, physic and functional questions. The stroke is an ordinary sickness all over the world and it is the main cause of neurological incapacity in adults, it can causes problems in the function of the limbs, motor control, balance, strength and mobility. In spite of to occur a great recovery an functional in the first three months after the stoke there is evidence that the therapeutic exercise is effective even in chronic cases. This study showed that the population treated at Clinical School of Physical Therapy of the UMESP is the great part formed by chronic patients. This fact cause a greater permanence in therapy and worse functional gains. However, it could see improvement during the treatment. This fact reinforces the idea that even patients in chronic stroke can have functional improvement. Keywords: Hemiplegia, Stroke, Physical Therapy, Outcome. Trabalho realizado: UMESP/UNIBAN 1 - Pós-Graduando do Curso de Fisioterapia em Neurologia da UMESP. 2 - Professora Doutora em Neurociências e Comportamento, Coordenadora da Pós-Graduação de Fisioterapia em Neurologia da UMESP, Docente do Mestrado em Reabilitação Neuromotora da UNIBAN. Endereço para correspondência: Márcia da Silva e Sá Rua Otávio Mangabeira 48 Jardim Ana Maria - cep 09260-570 - Santo André - SP e-mail: [email protected] Trabalho recebido em 06/07/2004. Aprovado em 01/09/2004. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 118 INTRODUÇÃO são conhecidos por meio de estudos norteO Acidente Vascular Encefálico (AVE) é uma americanos e europeus. Pouco tem sido 2 doença comum e de grande impacto na saúde publicado nos países em desenvolvimento . pública em todo o mundo1,2,3 por ser a principal O objetivo desse estudo é traçar o perfil causa de incapacidades neurológicas em clínico e funcional dos pacientes com adultos 4,5, acometendo a função das diagnóstico de AVE atendidos na clínica escola extremidades de membros, controle motor, de fisioterapia da UMESP, bem como a equilíbrio, força e mobilidade 6, e devido aos evolução apresentada nestes aspectos altos custos despendidos com o seu durante o período de atendimento tratamento agudo e a longo prazo 1. fisioterapêutico nesta clínica. A incidência do AVE vem crescendo devido ao aumento da expectativa de vida e pelas mudanças no estilo de vida 2,4 . Estima-se que na América do Sul isto seja mais evidente nas próximas décadas pelos mesmos motivos.2 Saposnik, em estudo epidemiológico realizado na América do Sul, constatou em sua comunidade-base uma prevalência de AVE que variava de 1.74 a 6.51 por 1000 habitantes e taxas anuais da incidência de 0.35 a 1.83 por 1000 habitantes 2. MATERIAL E MÉTODO Apesar de ocorrer uma maior recuperação motora e funcional nos primeiros três meses após o AVE1,6,7 há evidências de que o exercício terapêutico é efetivo mesmo em casos crônicos6. Petrilli evidenciou em pacientes subagudos que 87,1% dos pacientes tinham recuperado a habilidade de marcha após 64 dias de reabilitação 1. Dean constatou em pacientes com AVE crônico (1,3 anos em média) que o grupo experimental obteve um desempenho significativamente melhor, que o grupo controle nos testes de caminhada de 6minutos, a velocidade na marcha, o step e no teste de “levantar e andar”. Neste estudo os exercícios foram realizados por 4 semanas, supervisionado por fisioterapeutas, e essa melhora foi mantida por dois meses após cessado o treinamento5. Este é um estudo retrospectivo que envolve coleta de dados em prontuários de 109 pacientes acometidos por AVE, atendidos na Clínica Escola da UMESP no período de fevereiro de 2001 a junho de 2003. Todos os pacientes envolvidos já haviam sido desligados do serviço. A coleta de dados foi feita com base em um protocolo previamente desenvolvido, o qual abrangia questões sóciodemográficas, clínicas, físicas e funcionais. Dentre as questões sócio-demográficas foram coletados os dados referentes a gênero, idade e motivo do desligamento do serviço. Nas questões clínicas, verificou-se o tipo de AVE, fatores de risco, tempo e freqüência de tratamento, período icto-triagem, cognição (mini-exame do estado mental)8 e alterações de fala. Quanto aos aspectos físicos, verificouse o trofismo, tônus e sensibilidade do hemicorpo acometido, paralisia facial, hemicorpo acometido, predomínio e deformidades. Os aspectos funcionais englobaram a locomoção e transferências no início da terapia, funções adquiridas e realização de AVD´s no início e fim da terapia por meio do índice de Barthel9. Muitos estudos têm sido realizados sobre o AVE com base no tratamento, avaliação, prevenção, conseqüências a curto, médio e longo prazo, fatores predisponentes e que tem influência sobre estas conseqüências e no tratamento global do paciente1-7. Porém, a maioria dos dados clínicos atuais, sobre o AVE, A análise estatística dos dados foi realizada de forma descritiva simples, onde as variáveis qualitativas foram apresentadas por meio de freqüências relativas (percentuais) e de freqüências absolutas (N) e as variáveis quantitativas/numéricas por meio de médias, desvios-padrão, mínimo e máximo. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 119 Os dados quantitativos obtidos no início e relatados. Quanto aos fatores de risco 45 no final do tratamento foram analisados (63,38%) tinham hipertensão arterial sistêmica (HAS), 38 (54%) pacientes eram tabagistas, 22 utilizando o Test-T de Student. Os cálculos e gráficos foram executados (30,99%) tinham diabetes, 12 (17%) eram com o auxílio do software Statistica ® 5.0 for etilistas, 9 (12,68%) doenças cardíacas, 6 Windows ® e foi adotado um nível de (8,45%) Hipercolesterolemia , 3 (4,22%) à Doença Ateromatosa, 1 (1,41%) à Aneurisma, significância de 5%. 1 (1,41%) à Hipotiroidismo, 9 (12,68%) negam e 8 (11,27%) não relatados. A média de tempo de tratamento foi de 4 meses, e 56 (79%) RESULTADOS pacientes faziam tratamento 2 vezes por Dos 109 prontuários analisados, 38 deles semana e 15 (21%) pacientes 3 vezes por não foram incluídos na pesquisa por abandono semana. O período icto-triagem médio foi de da terapia logo após a avaliação inicial, ou 21,25 meses, porém não haviam relatos sobre antes de completar um mês de tratamento. Os este período nos prontuários de 6 pacientes. 71 pacientes incluídos na pesquisa foram Quanto a Cognição (mini exame do estado descritos em quatro aspectos que envolvem: mental) o escore possível no exame é de 30 Questões sócio-demográficas; Questões pontos. Considera-se que de 28 a 30 pontos clínicas; Aspectos físicos e Aspectos não há alteração da cognição, e abaixo de 24 funcionais. pontos há comprometimento cognitivo (8). Na Em relação aos aspectos sócio- população estudada, 25 (35,5%) pacientes demográficos, a população estudada tiveram o índice <24 pontos, 8 (11%) pacientes englobou 43 (60,56%) homens e 28 (39,44%) 25-27 pontos, e 13 (18%) pacientes >28 mulheres (Tabela1); cuja faixa etária foi de 64 pontos. Os 25 (35,5%) pacientes restantes não ±13,1 anos. O motivo de desligamento foram submetidos a essa avaliação. Quanto apresentado ao final do atendimento envolveu: às alterações de fala, 5 (7%) pacientes tinham 28 (40%) indivíduos abandonaram o afasia de expressão, 1 (1%) afasia mista, 3 (4%) tratamento, 9 (14%) atingiram os objetivos apresentavam afasia não discriminada, 9 estipulados, 5 (7%) pacientes que foram (13%) disartria, 15 (21%) sem alteração e 38 considerados de manutenção, 4 (6%) (54%) não relatados. mudaram de cidade, 4 (6%) foram à Óbito, 3 Nos aspectos físicos verificou-se que 39 (4%) apresentavam Hipertensão Arterial (56%) pacientes apresentavam hipotrofismo Sistêmica (HAS) sem controle, 2 (3%) hemicorpo acometido, 20 (28%) pacientes apresentavam alteração de comportamento, apresentavam-se o normotróficos, e 1 (1%) 2 (3%) por problemas familiares, 2 (3%) por hipertrófico e 11 (15%) não relatados. O tônus internação hospitalar, 2 (3%) por problemas do hemicorpo acometido apresentava-se com transporte,1 (1%) foi admitido em um reduzido em 22 (31%) pacientes, 9 (13%) eram emprego, 1 (1%) por dificuldade financeira, 1 normotônicos, 35 (49%) hipertônicos e 5 (7%) (1%) por fratura de úmero, e 1 (1%) para não relatados. A sensibilidade do hemicorpo realização de exames, 6 (8%) casos não foram estava ausente em 4 (6%) pacientes, em 20 relatados. (28%) encontrava-se alterado, em 39 (53%) Em relação às questões clínicas foram avaliados os tipos de AVE, os fatores de risco e aspectos relacionados ao tratamento. Quanto ao tipo de AVE, 49 (70%) AVE Isquêmico, 10 (14%) tiveram diagnóstico de AVE Hemorrágico (Tabela.1), 1 (1%) AVE Isquêmico para Hemorrágico e 11 (15%) não REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 sem alteração e em 9 (13%) não relatados. 8 (11%) pacientes apresentaram paralisia facial, 43 (61%) não e 20 (28%) não relatados. 38 (54%)pacientes apresentaram o hemicorpo direito acometido (Tabela1), 30 (42%) o hemicorpo esquerdo (Tabela1), 1 (1%) paciente apresentava dupla hemiparesia e 2 (3%) não Neurociências 120 relatados; quanto ao predomínio 26 (37%) braquial, 10 (14%) crural e 35 (49%) não relatados. As deformidades foram detectadas em 12 (17%) pacientes, 40 (56%) não apresentavam e 19 (27%) pacientes não relatados. Quanto aos aspectos funcionais foram incluídos: a locomoção, sendo que no início da terapia 20 (28%) apresentavam deambulação independente, 12 (17%) deambulavam com auxílio de bengala ou muleta, 14 (20%) com ajuda de acompanhante, 22 (31%) eram cadeirantes dependentes e 3 (4%) cadeirantes independentes. Quanto às transferências posturais no início da terapia 43 (31%) pacientes rolavam, 39 (29%) passavam de decúbito dorsal para sentado, 28 (21%) passavam de sentado para em pé, 15 (11%) não realizavam transferências e 11 (8%) não relatados. As funções adquiridas durante o tratamento, e a realização de atividades de vida diária (AVD´s) foram avaliados através do Índice de Barthel, no início e fim de terapia. Foi constatado que no início do tratamento 56 (78,87%) pacientes foram submetidos á avaliação pelo Índice de Barthel, destes, apenas 17 (23,94%) pacientes foram submetidos a uma segunda avaliação do Índice de Barthel no final do tratamento. Contudo estes indivíduos que foram submetidos a uma avaliação inicial e outra final, foi observada uma melhora significativa (p<0,001) da avaliação inicial (12,4±4,8) para a avaliação final (16,9±2,9) como demonstra a (Figura 1). Tabela 1 – Características da população estudada (n=71) Em relação aos ganhos funcionais, 1 (1%) paciente relatou melhora da dor que sentia em membro inferior direito, 1 (1%) melhorou a mobilidade de ombro, 1 (1%) paciente atingiu os objetivos do tratamento, 2 (2%) melhoraram a força, 2 (2%) conseguiram o movimento de hemiface, 3 (3%) adquiriram habilidades manuais, 3 (3%) conseguiram independência nas AVDs, 1 (1%) passou a vestir-se independentemente, 16 (18%) obtiveram melhora no Índice de Barthel, 2 (2%) conseguiram rolar, 3 (3%) conseguiram passar de decúbito dorsal para sentado, 2 (2%) pacientes conseguiram passar de sentado para em pé, 1 (1%) passou a fazer transferência da cadeira de rodas para o tablado, 3 (3%) adquiriram o controle de tronco, 2 (2%) conseguiram realizar a transferência de peso, 1 (1%) adquiriu equilíbrio estático, 2 (2%) adquiriram o equilíbrio na marcha, 4 (5%) conseguiram a melhora da marcha, 3 (3%) andar com auxílio, 8 (9%) atingiram a marcha independente, 1 (1%) passou a subir escadas. Em 26 (30%) não foi detectado algum ganho funcional. DISCUSSÃO Figura 1 – Comparação dos escores do Índice de Barthel obtidos no início e no final do tratamento dos pacientes (n:17). REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 A população com AVE tem sido caracterizada na literatura como sendo mais freqüente no gênero masculino6, 10-14 e na faixa etária de 60 a 74 anos em média 1- 4, 6, 7, 11-15. A população utilizada neste estudo apresenta características semelhantes à apresentada na literatura, sendo maior a proporção de homens que de mulheres e com uma média de idade de 64 anos. Neurociências Em relação ao tipo de AVE encontrado nesta população a predominância foi de AVE isquêmico atingindo 70% dos indivíduos concordando com a literatura que aponta uma maior freqüência de AVE isquêmico em relação ao hemorrágico1, 2, 6, 11, 16 . Dentre os fatores de risco encontramos uma grande incidência, em ordem decrescente, de HAS, tabagismo, diabetes, etilismo, doenças cardíacas, hipercolesterolemia, doença ateromatosa, aneurisma e hipotireoidismo. Estes fatores de risco têm sido apontados na literatura como facilitadores da ocorrência de AVE1, 3, 4, 6, 7, 11, 13, 16 . A média de tempo de tratamento na população estudada, de 4 meses, encontrada foi baixa em relação a outro estudo realizado em São Paulo, que encontrou um período médio de 10,8 meses de tratamento10. Outros realizados fora do Brasil relatam que o período de tratamento estava em torno de 2 a 3 meses1, 7, 15. Analisando o período icto-triagem foi verificado que a nossa população é composta de pacientes bastante crônicos comparados com aqueles encontrados em alguns estudos1, 7, 15, porém, esse longo período entre a lesão e admissão em um serviço de reabilitação parece ser comum em nossa realidade como mostra o estudo realizado por Bruno em São Paulo10. Isto pode ser explicado pela dificuldade em encontrar vagas nos serviços de fisioterapia que atendem a população carente devido as grandes filas de espera. Dentre os indivíduos avaliados através do MiniExame do Estado Mental 8 (64,5%), a grande maioria teve índice abaixo de 24 pontos, mas isto pode ter sido agravado pelos baixos níveis de educação em nossos pacientes. No estudo realizado por Özdemir, comparando o estado cognitivo com os ganhos funcionais em pacientes pós AVE, foi visto que as desordens cognitivas representavam um fator de grande influência nos resultados funcionais na reabilitação15. Em nosso estudo não foi possível fazer a relação entre essas questões. Quanto às alterações da fala foi visto que um quarto dos pacientes estudados apresentavam algum distúrbio, não sendo raro neste tipo de paciente1, 4, 7, 17. A disartria foi o mais freqüente e dentre as afasias, a de expressão foi a mais relatada, porém percebemos que essas questões não estavam claras nos prontuários, pois havia relatos de afasia sem especificação do tipo e pacientes com paralisia facial sem relatos de disartria, o que é bastante incomum devido ao acometimento de músculos fonatórios, diante REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 121 disso podemos afirmar que esses dados podem ser errôneos. O hemicorpo mais freqüentemente acometido em nossa população foi o direito, contudo isso não parece ser relevante como fator prognóstico, pois a literatura mostra variações nesta frequência1, 4, 6, 7, 15 . Com relação ao tônus e o trofismo vimos que a maioria seguiu um padrão de AVE crônico apresentado na literatura, que relata uma evolução com hipertonia e hipotrofia do hemicorpo acometido18,19. A maioria dos pacientes não apresentava nenhuma alteração de sensibilidade do hemicorpo acometido, porém 30% deles apresentavam, mas os relatos em prontuários deixavam muitas dúvidas sobre quais os tipos de alteração e se realmente estava relacionada à sensibilidade ou a presença de heminegligência. Os relatos sobre o predomínio do acometimento segmentar corporal mostraram que a maioria foi braquial, entretanto esta era uma questão subjetiva na ficha de avaliação do paciente, e por isso a maioria dos prontuários não apresentava este dado. Grande parte dos pacientes (76% dentre os relatados) não apresentava deformidades de membros e isto é um dado positivo diante da cronicidade da nossa população e do grande espaço de tempo entre a lesão e o início da terapia. Através do Índice de Barthel 9 foram avaliados os ganhos funcionais nas AVDs e foi observada uma melhora significativa entre a avaliação inicial e a final. No entanto apenas 23,94% dos prontuários dos pacientes continham essa informação. Outros ganhos funcionais foram detectados através da observação das evoluções em prontuários, tais como: aquisição/melhora da marcha, aquisição de transferências posturais, independência nas AVDs e habilidades manuais. Entretanto esses ganhos não puderam ser quantificados estatisticamente por não ter sido utilizado um índice de avaliação, sendo realizada apenas a porcentagem na população. Analisando os motivos do desligamento, foi encontrada uma grande incidência de abandono sem justificativa, isso pode ser justificado por se tratar de uma clínica escola que tem uma rotatividade grande de alunos e o paciente só fica um mês com cada um, tornando difícil o vínculo com a terapia. Outros indivíduos foram desligados por serem considerados pacientes de manutenção, ou seja, pacientes que não apresentavam melhora funcional. Por se tratar de uma clínica escola onde há necessidade de rotatividade devido à grande fila de espera, este Neurociências desligamento torna-se justificável. A HAS sem controle foi um problema bastante freqüente no nosso serviço, já que a maioria dos pacientes apresenta HAS e muitos dependem do serviço público para fazerem um acompanhamento eficaz e conseguirem o medicamento. Os outros motivos para o desligamento do serviço foram mudança de cidade, óbito, alterações de comportamento, problemas familiares, internação hospitalar, problemas com transporte, dificuldades financeiras, fratura de úmero, realização de exames, e um último que arrumou um emprego, o que merece destaque, visto representar a reinserção do indivíduo no mercado de trabalho. Um dado importante a ser considerado é a alta incidência de ausência de informação constatada neste levantamento de prontuário. Neste caso podemos salientar dois pontos. Este estudo foi desenvolvido com base no preenchimento de prontuários de uma clínica-escola. A pouca experiência dos terapeutas que realizam as avaliações pode ser um fator determinante para a escassez de dados. Outro ponto, é a utilização de questões dissertativas e subjetivas integrantes do protocolo de avaliação, adotadas por questões 122 didáticas, mas que dificultam uma coleta objetiva de dados para pesquisas similares à presente. CONCLUSÃO Este estudo demonstra que a população atendida na Clínica Escola de Fisioterapia da UMESP é em sua maioria composta de pacientes crônicos. Este fato acarreta uma permanência maior em terapia e dificulta os ganhos funcionais. Questões sociais influenciam o prognóstico e o resultado da terapia e levam ao abandono freqüente do tratamento, fato não discutido na literatura internacional. Contudo pôde-se constatar melhoras durante o tratamento, o que reforça a idéia de que mesmo os pacientes em fase crônica de AVE podem vir a ter melhorias na função.5, 20, 21 Protocolos de avaliação com questões objetivas que avaliem e quantifiquem melhor as características clínicas e os ganhos funcionais dos pacientes são necessários a fim de que a continuidade do tratamento seja garantida e para que pesquisas específicas para determinados procedimentos terapêuticos possam ser elaborados e a otimização do atendimento ao paciente conquistada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 . PETRILLI, Sabine; DURUFLE, Aurélie; NICOLAS, Benoit; et al. Prognostic Factors in the Ability to Walk After Stroke. Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases, 2002; 11(6): 330-5. 1 2 . INOUYE, M.; HASHIMOTO, H.; MIO, T.; et al. Influence of Admisión Functional Status on Functional Change After Stroke Rehabilitation. American Journal of Physical Medicine and Rehabilitation, 80(2): 121-5; 2001. 2 . 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A rigidez é caracterizada por aumento no tônus muscular em todo corpo, e a bradicinesia por pobreza na movimentação, o que leva a uma hipomimia facial. Estes são os dois principais sinais que ocasionam alterações nos órgãos responsáveis pela articulação da fala, causando alterações na emissão dos fonemas /s/ e /l/ e incoordenação nos movimentos da cavidade oral. 2. Objetivos. A presente pesquisa objetiva analisar a fala, enquanto processo articulatório em sujeitos com Doença de Parkinson (D.P). 3. Material e Método. Foram realizadas entrevistas, avaliações e terapia fonoaudiológica em seis pacientes que se encontravam em estágio inicial da doença. 4. Resultados/Conclusões. Com os dados obtidos, foi possível analisar e concluir que o tratamento precoce em sujeitos em estágio inicial possibilita a atenuação das alterações da articulação da fala, que compromete a inteligibilidade da mesma, proporcionando uma melhor qualidade de vida. UNITERMOS Doença de Parkinson, Articulação da fala, Tratamento precoce, Qualidade de vida. SUMMARY 1. Background. The primary clinical disturbances found in P.D. are: tremor, rigidity, bradykinesia and postural instability. The rigidity is characterized by increase in the muscular tonus in entire body, and bradykinesia for motion deficiency. These are two main signs that cause alterations in the emission of the phonemes /s / and /l / and incoordination in the movements of the oral cavity. 2. Objectives. This research purpose to analyze the speech, concern to articulation process in people with Parkinson’s Disease (P.D.). 3. Material and Methods. Interviews, evaluations and phonological therapy were accomplished in six people that were in initial stage of the disease. 4. Results and Conclusions. According to obtained data, it was possible to analyze and to conclude that the precocious treatment in people in initial stage makes possible to reduce alterations of the articulation of the speech, providing speech’s intelligibility, resulting a better life quality. KEYWORDS Parkinson’s disease, Articulation of speech, Early intervention, Quality of life. Trabalho desenvolvido no Departamento de Psicologia e Fonoaudiologia da UNICAP - Fonte de auxílio: PIBIC / UNICAP - Área de trabalho: Fonoaudiologia 1 - Médico Neurologista. Mestre em Fonoaudiologia pela PUC de São Paulo. Profº Adjunto da Graduação em Fonoaudiologia da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). 2-Médica Doutora em Otorrinolaringologia pela USP. Profª. Adjunta da Graduação em Fonoaudiologia e do Mestrado em Ciências da Linguagem da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). 3 - Estudante de Fonoaudiologia da UNICAP e Coord. De Ações Políticas de Saúde da DENEFONO (Diretoria Executiva Nacional de Estudantes de Fonoaudiologia). 4 - Estudante de Fonoaudiologia da UNICAP. E n d e r e ç o p a r a c o r r e s p o n d ê n c i a : Roberta Cristiny Medeiros de Souza - Rua Estrada do Arraial, 2405 / 1401 - Tamarineira, Recife-PE Cep: 52051380 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Trabalho recebido em 06/07/2004. Aprovado em 01/09/2004. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 124 INTRODUÇÃO As características mais citadas na literatura fonoaudiológica a respeito da fala, enquanto Esta pesquisa tem por objetivo analisar a articulação da fala, enquanto processo processo articulatório (movimentos dos órgãos como: língua, lábios, dentes, bochechas, articulatório, em pacientes portadores de Doença mandíbula, palato duro, palato mole e úvula), diz de Parkinson. Para este fim, faz-se necessário proceder a uma revisão histórica sobre a patologia respeito à limitação no âmbito dos movimentos da musculatura dos mecanismos da articulação em questão. A Doença de Parkinson (D.P), foi descrita originalmente por James Parkinson, em da fala, diminuição ou aumento da velocidade da mesma, redução da inteligibilidade de 1817, em seu trabalho clássico “An say on the conversação, da habilidade de elevar e realizar shaking palsy”.¹ Em homenagem à descrição coordenados com a língua durante a inicial, esta recebeu a denominação de Doença movimentos 5 fala . O tremor ao atingir a face altera a mobilidade de Parkinson. Geralmente o diagnóstico é 10,11 realizado a partir dos 60 anos, em ambos os sexos e a motricidade dos lábios, mento e língua . Há autores que relatam que há repetição, omissão, e de diferentes classes sociais². A etiologia da D.P substituição ou distorção das sílabas, fricativas, permanece obscura, é considerada uma doença degenerativa do Sistema Nervoso. Autores relatam sendo substituídas por explosivas, distorções de vogais e de consoantes manifestadas pela que existe uma lesão na substância negra do 9 mesencéfalo o que leva a uma diminuição da substituição de classes diferentes de fonemas . dopamina, a qual exerce função inibidora É relatado que os portadores de Doença de 3,4 importante no controle central dos movimentos . Parkinson apresentam prejuízos na articulação, Dentre os distúrbios clínicos encontrados nos como: consoantes imprecisas, divergência de portadores de Doença de Parkinson, encontram- qualidade vocal e que, através da análise se: tremor, rigidez, bradicinesia e instabilidade eletromiografica, estes sujeitos apresentam postural5. A rigidez é caracterizada por aumento movimentos articulatórios reduzidos e no tônus muscular desencadeado durante o coordenação imprópria dos músculo agonistas e movimento passivo6. E a bradicinesia se exterioriza antagonistas¹². O portador de Doença de por uma pobreza na movimentação, acarretando Parkinson apresenta uma língua rígida e uma expressão facial em “máscara”. A disartria preguiçosa, apresentando grandes dificuldades pode ser definida como uma alteração da de deslocamento ativo, e que, quando realiza, o expressão oral causado por um acometimento no faz com lentidão. O que reflete numa fala lenta, controle muscular dos mecanismos da fala7. fraca, parcimoniosa e sobretudo monótona14. Na presente pesquisa, observo as alterações da fala, do ponto de vista articulatório, englobando os aspectos oromiofuncionais responsáveis pela adequada articulação dos sons da mesma. Desordem de fala é freqüente na doença de Parkinson e tem um impacto significativo na qualidade de vida destes sujeitos8. Várias pesquisas vêm sendo realizadas em portadores de Doença de Parkinson com objetivo de conhecer melhor as dificuldades articulatórias, entretanto, não se leva em consideração o estágio de comprometimento que o portador se encontra, e que estas dificuldades são devido às perturbações articulatórias. “Anormalidades na articulação foram atribuídas ao decréscimo nos limites da variação, na velocidade, na força do movimento, o que é atribuído à rigidez e á bradicinesia associadas com o distúrbio”9. Vale salientar que, na literatura, estas características não possuem demarcações quanto às alterações existentes em cada estágio de comprometimento, por esta razão, foram observados e analisados qualitativamente os comprometimentos da fala, no estágio inicial da patologia. Devido ao acometimento na articulação da fala nos portadores de D.P, busca-se analisar as queixas mais freqüentes relacionadas à fala, identificar quais os distúrbios fonéticos mais freqüentes, avaliar os distúrbios da articulação de fonemas, apresentar uma proposta de avaliação A característica predominante na hipocinesia refere-se a marca limitação do âmbito de movimentos da musculatura dos mecanismos da fala5. Isso se explica à danificação das células da substância negra que produzem a dopamina acarretando insuficiência dos movimentos, que por sua vez ficam incoordenados e lentos5. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências e tratamento das disartrofonias, baseadas em propostas anteriores e esclarecer a importância do diagnóstico precoce dos distúrbios da fala, a fim de que o médico encaminhe estes pacientes ao fonoaudiólogo, com objetivo de tratá–los e, com isso, obter um melhor prognóstico das funções perturbadas que serão traduzidas de forma positiva na sociabilidade e na qualidade de vida. METODOLOGIA Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética do Real Hospital Português localizado na cidade do Recife, na reunião ordinária do dia 02 de outubro de 2002, quando todos os membros presentes foram unânimes em dizer que este trabalho não oferece nenhuma ofensa a quaisquer dos artigos do Código de Ética, particularmente, os de nº 122 a 130, Capítulo XII, que trata especificamente da pesquisa em Medicina, devendo apenas obter o termo de consentimento dos pacientes que participam da pesquisa. PACIENTES Participaram desta pesquisa seis pacientes portadores de Doença de Parkinson, que se encontravam em estágio inicial da patologia, de ambos os sexos, sendo 4 homens e 2 mulheres, com idades entre 51 e 60, na Clínica do orientador da pesquisa em Recife, no estado de Pernambuco. MATERIAIS Foram utilizados na presente pesquisa: carta de informação; termo de compromisso; roteiro de entrevista inicial semi-estruturado; roteiro de avaliação semi-estruturado; roteiro de terapia miofuncional oral; espátula; luva cirúrgica latex; fonte luminosa; gravador; fita cassete; filmadora; fita VHS; álbum articulatório; livros; revistas e jornais. 125 relação entre elas, e, por último, chega-se a uma classificação, produto da generalização da relação observada. Em relação aos métodos de procedimentos, estes englobam etapas mais concretas da investigação, com finalidade mais restrita em termo de explicação geral dos fenômenos e menos abstratos. Para a análise da presente pesquisa, os fatos foram observados, através de um procedimento experimental e monográfico, de forma longitudinal por seis meses, na qual consistiu em investigar, avaliar e analisar seis pacientes em estágio inicial de Doença de Parkinson, com objetivo de obter generalizações sobra sua natureza, partindo do princípio de que qualquer caso que se estude em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou até de todos os casos semelhantes. PROCEDIMENTOS Participaram desta pesquisa seis pacientes portadores de Doença de Parkinson, que se encontravam em estágio inicial da patologia, de ambos os sexos. Inicialmente, na presente pesquisa, foram entrevistados 30 sujeitos com Doença de Parkinson, de ambos os sexos, na clínica do orientador da pesquisa, neurologista Alcidezio Luiz Sales de Barros. Foi usado como critério de inclusão, pacientes que não relatassem queixas subjetivas relacionadas à fala, uma vez que queríamos investigar as alterações existentes no início da patologia. Esta foi verificada após aplicação de um roteiro de entrevista semiestruturada. A articulação da fala foi avaliada e analisada através de diálogos espontâneos, observações da musculatura, palpações e exercícios isométricos (avalia a tonicidade da musculatura), isocinéticos (avalia a forca da musculatura) e isotônicos(avalia mobilidade muscular) sistemáticos, no intuito de verificar o estado da musculatura dos órgãos MÉTODOS envolvidos na produção da fala. Para este A presente pesquisa foi realizada e embasada procedimento, foram utilizados materiais sob os princípios do método indutivo, pois parte descartáveis como luva cirúrgica e espátula. A do particular para a generalização como produto avaliação tinha duração de 1 hora ocorrendo 3 dos dados coletados. A indução realiza – se em vezes por semana, gravada em fita k-7 e filmados três etapas: Primeiro observa-se o fenômeno e os em fita VHS, após assinatura da carta de analisa, com a finalidade de descobrir as causas informação e termo de consentimento. Com o de sua manifestação, depois, descobre-se à objetivo de observar as alterações fonéticas REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências existentes, foram realizadas conversas espontâneas, leituras de livros, revistas e jornais e álbum articulatório, com todos os fonemas da língua portuguesa brasileira, além de nomeação de palavras. Com este procedimento, foi possível realizar, de forma efetiva, a transcrição fonética dos dados obtidos, no intuito de realizar a análise fonética da fala e identificar as alterações fonéticas existentes no início da patologia. As terapias miofuncionais orais eram realizadas 3 vezes por semana com duração, aproximadamente de 2:00 horas, na residência dos participantes da pesquisa, na qual eram utilizados os mesmos exercícios isométricos, isotônicos e isocinéticos, aplicados para verificar a tonicidade da musculatura facial e intra – oral. Também foram aplicados estímulos térmicos e massagens manuais relaxantes em pontos motores da face no intuito de observar e analisar se os comprometimentos existentes poderiam ser atenuados, de acordo com o resultado das terapias miofuncionais orais. RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com as observações empíricas realizadas, foi possível submeter os sujeitos participantes da pesquisa à avaliação e terapia fonoterápica, foi possível verificar as queixas mais freqüentes se referem à velocidade, que é mais lenta, mais pausada; rigidez muscular da língua e bochechas, articulação travada e fala trêmula. Estas queixas foram relatadas empiricamente por todos os entrevistados. A lentidão ao falar reflete a própria dificuldade em movimentar os órgãos periféricos da fala, devido à presença da rigidez e de bradicinesia associado com o distúrbio9, com hipocinesia dos órgãos periféricos da fala traduzida pela marcada limitação do âmbito de movimentos da musculatura dos movimentos da fala 10. Esta rigidez associada a bradicinesia acarreta um padrão postural muscular alterado, mais retraído onde há deterioração do ajustamento dos músculos antagonistas10. Este fato é uma conseqüência do dano das células da substancia negra que produzem o neurotransmissor denominado de dopamina4, 5, 7,1 ³, 14, 15. Como existe uma pobre atuação no corpo estriado, responsável pelos movimentos involuntários, há uma alteração na tonicidade dos REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 126 músculos fazendo com que fiquem mais rígidos e de difícil controle, com lentidão dos movimentos, sobressaindo a atuação dos movimentos involuntários4, por isso a queixa da rigidez, fala partida, articulação travada e velocidade lenta. De acordo com estas alterações, podemos observar que, no início da instalação da doença, os músculos extra e intra - orais responsáveis pela articulação dos fonemas se encontram acometidos nos âmbitos da postura, tonicidade e mobilidade. Para manifestar este achado, foi possível verificar que todos os músculos da face responsável pela articulação da fala, em estado estático, se encontrava rígidos com exceção do músculo mentual, responsável pela elevação do lábio inferior e auxilio na protrusão e eversão dos mesmos¹ 5 em três dos seis casos não se apresentava tão rígido quanto os demais, assim como o masseter, responsável pela elevação da mandíbula, em quatro dos dois casos em estado estático. Estes dados mais detalhados quanto às alterações de cada músculo que compõe a mímica facial responsável pela articulação da fala, não foram encontrados na literatura revisada, sabe-se que apenas que há uma rigidez global desencadeado durante o movimento passivo, através da amplitude dos movimentos6. Esta rigidez observada nos sujeitos da pesquisa é uma conseqüência de uma resistência do estiramento que se apresenta em todas as direções dos movimentos do corpo e dos articuladores, realizados pelos músculos agonistas e antagonistas 8 . Os músculos extra - orais, em estado dinâmico ou em movimento, apresentaram – se, em todos os casos, rígidos, principalmente o músculo orbicular da boca, sendo mais evidente a região superior. Os outros músculos da face como: temporal, palpebral, prócero, nasal e triangular apresentavam um estado considerado normal para a idade cronológica e para a instalação da patologia. Como as bochechas são estruturas móveis e contribuem para a expressão facial, abertura e oclusão de boca alterando a ressonância da voz. Alterações nesta influencia diretamente nos lábios, pois os músculos da bochecha são intrinsecamente relacionadas com os lábios. Neurociências 127 Como mencionado anteriormente, as bochechas apresentavam – se rígidas, porém com expressões ainda visíveis ao demonstrar emoções no momento das interações dialógicas, assimétricas, onde a tonicidade era maior no lado direito em 4 dos 6 casos. as alterações fonéticas encontradas no estágio inicial da patologia estudada. Neste aspecto, ao considerar que a mastigação lateral direita exerce grande influência na tonicidade da musculatura, foi necessário observar o tipo mastigatório, que em todos os casos era considerado normal, apesar de haver ausência de alguns elementos dentários que não influenciaram na movimentação adequada do bolo alimentar, por isso, foi descartada a hipótese de que esta simetria teria ligação com a função da mastigação. Com relação aos lábios, estes se encontravam rígidos e ocluídos encurtados superiormente. Também foram observados redução na amplitude dos movimentos5, 16. O superior é o mais rígido, porém o inferior é o mais hipocinético, mais móvel, rápido e depende dos movimentos mandibulares, os quais se encontram acometidos17. A redução na amplitude dos movimentos pode ser atribuída a falha no mecanismo de contração e relaxamento recíproco entre os músculos antagonistas e agonistas7, extensão15,16. Como mencionado anteriormente, os músculos faciais que revestem as bochechas e inseremEntretanto, como a própria rigidez muscular, se nos lábios são formados por músculos transque afeta os músculos dos sujeitos, influência na versos, angulares e verticais, cada grupo de ,múspostura corporal e nos órgãos fono-articulatórios, culos desempenham uma função diferente e ao o que significa um déficit na colocação, pressão e observar, avaliar e analisar a movimentação dos integração dos movimentos da articulação da fala. lábios, constatamos que estes se encontravam suNo que diz respeito à cavidade intra-oral, os tilmente comprometidos, no sentido de se apreórgãos responsáveis pela articulação dos fonemas sentarem mais rígidos dificultando na movimenencontraram-se com a tonicidade, postura e tação, acarretando pouca força na emissão dos mobilidade alteradas, devido á rigidez dos fonemas bilabiais havendo a presença de mesmos, tanto em estado estático como dinâmico, bradicinesia. refletindo as próprias condições musculares Os músculos sutilmente comprometidos são: globais, porém de forma mais sutil, menos mentual em três dos seis casos, que origina-se incapacitante e evidente. na base do lábio inferior. Este levanta o lábio infeA língua, em todos os sujeitos da pesquisa, rior e auxilia na protrusão e eversão; o depressor encontrava-se bastante comprometida, no sentido do ângulo da boca em todos os casos se origina de apresentar-se mais rígida em todos os casos, na linha oblíqua da mandíbula e insere-se no músmais retraída, com hipocinesia e incoordenação culo orbicular da boca, no ângulo da boca e lábio nos movimentos apresentando resistência ao inferior 15. O músculo orbicular da boca dirige o lámovimento passivo em toda extensão 1,5. O bio superior para baixo contra o inferior; o músculo longitudinal inferior (encurta a língua ou zigomático maior que realiza o movimento de eleempurra o ápice para baixo), transversos (acarreta var o ângulo da boca, como ocorre ao sorrir; o esteritamento e alongamento da mesma), depressor do lábio inferior que leva o lábio inferior estiloglosso (sua contração direciona a língua para para baixo e para a lateral, importantes nos exercima e para trás e é considerado antagonista do cícios de vibração e lateralização de lábios; o músculo genioglosso) e genioglosso (é o mais músculo levantador do ângulo da boca, no qual forte dos músculos e possui a faculdade de retrair, sua contração leva o ângulo da boca para cima e abaixa e elevar a língua para a porção anterior) se auxilia no fechamento da boca direcionado o láencontravam mais comprometidos, pois os bio superior para cima e, por fim, o músculo risório movimentos mais alterados eram o de encurtar a que retrai o canto da boca. língua, elevar o ápice ou ponta da mesma ao Todos os exercícios solicitados e trabalhados palato, além de estreitar e alongar a língua, o que na terapia fonoaudiológica exigem um bom funciocasionava sutis substituições de fonemas /l/ e / onamento e um adequado equilíbrio muscular, s/, as quais posteriormente, serão abordadas. com força e intensidade suficiente para a realizaEsta análise não foi confrontada com a literatura ção dos mesmos. Como esta musculatura se enfonoaudiológica, mas faz-se necessário referir, pois contra hipofuncionante, devido á rigidez e a REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências bradicinesia, os exercícios que exigem mais movimentação não são realizados com facilidade. A lateralização, apesar de não exigir tanta mobilidade, exige que exista um tônus equilibrado, onde nos casos observados, verificou-se uma rigidez intensa na musculatura peri-oral com presença de sincinesias (realização de um movimento involuntário associado ao voluntário), devido ao esforço exagerado para a realização do exercício solicitado. É de suma importância evidenciar que em todos os momentos, os portadores de (D.P), apresentaram tensão exacerbada da região cervical e cintura escapular, principalmente ao realizar os exercícios isotônicos (verifica a mobilidade), isométricos (verifica a tonicidade) e isocinéticos (verifica a força). Com a inclusão da terapia fonoaudiológia de forma sistemática, foi evidente após 1 mês que a musculatura já apresentava uma tonicidade menos rígida, com melhora da mobilidade e da força da musculatura. As terapias fonoaudiológicas possibilitaram, além de um estado menos comprometido da musculatura, uma melhora na auto-estima com ausência de excitação e estresse emocional pela presença do quadro sintomatológico. Um outro órgão participante da articulação da fala a qual se encontrava alterado, é o palato duro, mais conhecido como “céu da boca”. Este se encontrou profundo, atrésico e ogival em todos os casos. Profundo pela dificuldade em elevar a língua, apesar do fato de que em repouso a mesma se encontra em papila, ou seja, seu ápice, corpo e dorso paralelo ao palato. Atrésico e ogival pela pressão exercida pela musculatura da bochecha devido à rigidez encontrada. Não se pode afirmar que este achado é uma característica das alterações miofuncionais orais em fase inicial da doença de Parkinson, mas estas características são evidentes e refletem a rigidez muscular. Pois as partes ósseas e duras da cavidade oral crescem e se desenvolvem por tração e contração. Já o palato mole e a úvula apresentavam-se adequados quanto à mobilidade, pois os exercícios foram realizados com sucesso, afirmação esta verificada através de observação, REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 128 inspeção e realização dos exercícios de sopro e sonorização do /a/ e /ã/, da emissão de sons vocálicos, os quais ocorrem elevação do palato mole e úvula, ao contrário da emissão de sons nasais, em que ocorre o abaixamento dos mesmos. Após analisar as queixas mais freqüentes relacionados à fala, dos pacientes com Doença de Parkinson, em estágio inicial da patologia e avaliar e analisar os órgãos fono-articulatórios, há a necessidade de relatar as alterações ou distúrbios da articulação de fonemas. De acordo com alguns autores os fonemas mais prejudicados no momento da articulação dos pacientes portadores de Doença de Parkinson, são a substituição dos fricativos (/f/, /v/, /s/, /z/, /š/, /ž/), pelos plosivos (/p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/, /m/, /n/, /ñ/) e entretanto, não se sabe em que estágio de doença os pacientes se encontram para existir estes acometimentos9. Na presente pesquisa realizada com pacientes no estágio inicial da Doença de Parkinson, foi observado que os fonemas ///, /?/, /s/ e /š/ apresentaram distorções assistemáticas. A distorção ocorre quando a produção do som é alterado, de modo que a sua resultante seja apenas aproximado do som desejado. Os fonemas que mais soaram de forma alterada foram as palavras que continham o fonema /?/ (linguodental ou líquida lateral), onde era distorcido pelo /?/ (linguopalatal ou líquida lateral) em 5 dos 6 pacientes analisados. Estas emissões ocorreram de forma assistemática nos inícios de sílabas início de palavra (ISIP) e finais de sílabas final de palavra (FSDP), numa interação dialógica, no entanto, quando era solicitado que emitissem palavras isoladas que continham estes fonemas, os mesmos eram produzidos corretamente em sua grande maioria, onde das 86 palavras isoladas emitidas 5 eram distorcidas; diferentemente da consistência das palavras contextualizadas. Da mesma forma ocorreram com os fonemas /s/ e / š/, em apenas 3 dos 6 pacientes avaliados. É relatado na literatura fonoaudiológica que os últimos fonemas a serem adquiridos são os líquidos laterais e vibrantes. Pensamos que, quando há uma alteração no Sistema Nervoso central, os primeiros fonemas a serem acometidos são os últimos adquiridos, ou seja o /?/, /l/ e /r/. Neurociências Pudemos constatar que ocorre uma posteriorização dos fonemas /l/ e /?/, pensamos que este fato se deve ao posicionamento do ápice da língua ao ter que tocar a região alveolar, é retraído e toca na região alveolar mais próxima ao palato duro. Pensamos que este fato ocorra devido à rigidez muscular da língua, que ao atuar nos músculos antagonistas, faz com que esta se posteriorize tocando no tipo de articulação sutilmente5. Durante as avaliações, a qual puderam ser observadas as alterações mencionas a cima, não foi observado pausas durante as leituras ou nas falas espontâneas dos sujeitos, com duração de fala mais curta, causando inteligibilidade da mesma17. 129 CONCLUSÃO De acordo com os dados obtidos na literatura, observações analisadas, e instituição precoce da terapia fonoaudiológica nos portadores de Doença de Parkinson, foi verificado que, de fato, o encaminhamento precoce à terapia fonoaudiológica e fundamental, uma vez fornecerá mais qualidade de vida com condições mais satisfatórias de comunicação. Estes pacientes possuem uma rigidez muscular global, acarretando alterações da articulação dos fonemas e inteligibilidade de fala. Estas não podem ser evitadas, mas atenuadas com o encaminhamento precoce ao Fonoaudiólogo pelo Neurologista, uma vez que a alteração é uma conseqüência de uma patologia que se encontra no Sistema Nervoso Central. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Souza, LBR. Fonoaudiologia Fundamental. Rio de Janeiro: Revinter, 2000, p.5 -11, 25-33. 10- Sanvito WL. Doença de Parkinson e Síndromes Parkinsonianas. In: Síndromes Neurológicas. São Paulo: Atheneu, 1997, p. 382. 2- Teive HAG. et al. Doença de Parkinson – Estratégias Atuais de Tratamen to, São Paulo : Lemos, 1999, p. 11-19. 11- Adams DR, Victor M, Ropper AH. O Cerebelo. In: Neurologia. Rio de Janeiro: Mc Graw Hiell, 1997, p. 46 - 52. 3- Cambier J, Masson M; Dehenh. Manual de Neurologia. Rio de Janeiro 1999, p. 311 – 312. 12- Gentil M, Pollak P, Perret J. Parkinsonian Dysarthria. Rev Neurol (Paris)1995; 151 (2): 105 -12. 4- Machado A. Neuroanatomia Funcional. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo 13- Barbosa ER, Teive HAG. Doença de Parkinson: aspectos Históricos. In: Doença de Parkinson-Um Guia Prático para Pacientes e Familiares. Rio de Janeiro: Lemos, 2000, p. 31. Horizonte: Atheneu, 2000, p. 253. 5- Murdoch BE. Desenvolvimento da Fala e Distúrbios da Linguagem, Rio de Janeiro: Revinter, 1997, p. 207, 209, 210. 14- Hauser R, Zesiewicz TA. Doença de Parkinson – perguntas e respostas. Novartis. 3ª Edição, 2001, p. 43. 6- Jain SS., Francisco GE. Tratado de Medicina de Reabilitação. Tamboré Manole, Vol. 2, 2002, p. 1089 - 1097, 1106 – 1108. 16- Zemlin WR, Princípios de Anatomia e Fisiologia em Fonoaudiologia. 4ª Edição Porto Alegre: Artmed. 2000, p. 251. 7- Sangorrín J, Bagunyá J. Disartrias. In: Casanova JP e cols. Manual d e Fonoaudiologia. Rio de Janeiro: Artes Médicas. 2ª Edição, 1997 p. 221. 17- Rodrigues N. Neurolinguística dos Distúrbios da Fala, 2ª Edição, Rio de Janeiro: Cortez: EDUC, 1992, p. 90 – 91. 8- Kerschan K, Pankl W. Auff E Speech disorders in Parkinson patients. Wien Klin Wochenschr 1998; 110 (8):280. 9- Jefrey E, Metter MD. Distúrbios da Fala: Avaliação Clínica e Diagnóstico. Rio de Janeiro: Enelivros, 1991, p. 152. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 18- Hammen VL, Yorkston KM. Speech and pause characteristics following speech rate reduction in hypokinetic dysarthria. J Commun Disord 1996; 29(6): 444-5. Neurociências 130 Artigo Original Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico Functional capacity assessment in elderly on physiotherapy Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães1, Débora C. A. Galdino2, Fábio Luiz Mendonça Martins2, Simone R. Abreu2, Mary Lima2, Débora Fernandes de Melo Vitorino3. RESUMO Com o avançar da idade as perdas funcionais tornam-se evidentes e o idoso deixa de realizar atividades básicas da vida diária, diminuindo assim sua capacidade funcional. A capacidade funcional é dimensionada em termos de habilidade e independência para realizar determinadas atividades, sendo esta um dos grandes componentes da saúde do idoso. Objetivo: identificar a capacidade funcional dos idosos em tratamento fisioterápico. Métodos: Foram avaliados 40 idosos que encontravam-se em tratamento fisioterápico na clínica escola do UNILAVRAS, nos setores de neurologia e ortopedia. Foi utilizado o Índice de Katz para avaliar a Capacidade Funcional. Resultados: Os resultados obtidos demonstram que houve diferença estatisticamente significativa entre os pacientes ortopédicos e neurológicos, sendo que os primeiros apresentaram um maior nível de independência (p=0,003) e nenhum deles apresentou-se totalmente dependente (p=0,007) na realização de suas atividades diárias. Conclusão: os idosos em tratamento fisioterápico por patologias neurológicas apresentam menor capacidade funcional e, conseqüentemente, uma maior dependência daqueles que apresentam patologias ortopédicas. Unitermos: Idosos; Capacidade funcional; Fisioterapia. SUMMARY Moving forward with the age the functional losses become evident and the elderly stops accomplishing basic activities of daily life, reducing the functional capacity. The functional capacity is measured in ability terms and independence to accomplish certain activities, being this one of the great components of the elderly’s health. Objective: to identify the elderly’s functional capacity in physiotherapic treatment. Methods: There were analysed 40 elderly that were in physioterapic treatment in the clinic school of UNILAVRAS, in the neurology sections and orthopedics. The Index of Katz was used to evaluate the Functional Capacity. Results: The obtained results demonstrate that there was an significant statistic differentiation among the orthopedical and neurological patients, and the first ones presented a larger independence level (p=0,003) and none of them came totally dependent (p=0,007) in the accomplishment of the daily activities. Conclusion: the elderly in physioterapic treatment for neurological pathologies present smaller functional capacity and, consequently, a larger dependence of those than they present orthopedical pathologies. Keywords: Elderly; Functional capacity; Physiotherapy. Trabalho realizado no Centro Universitário de Lavras - UNILAVRAS - Lavras - MG 1 - Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS. 2 - Aluno do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS. 3 - Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia – UNILAVRAS. Endereço para correspondência: Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS R. Hebert Vilela 1700/301 – Bairro Presidente Kennedy – Lavras – MG - CEP 37.200-000 [email protected] Trabalho recebido em 22/03/2004. Aprovado em 07/08/2004. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 131 INTRODUÇÃO problemas médicos, sendo estes fortemente associados com s perda da capacidade funcional. O envelhecimento é um processo dinâmico e Entretanto, observa-se que a capacidade funcional progressivo no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas que vão alterando é influenciada também por fatores demográficos, sócio-econômicos, culturais e psicossociais6,8 . progressivamente o organismo, tornando-o mais susceptível a agressões1. A manutenção e a preservação da capacidade para desempenhar as atividades básicas de vida Percebe-se que nas alterações relacionadas com a idade estão a presença de fatores de risco diária são pontos básicos para prolongar o maior e a ocorrência de doenças crônico-degenerativas, tempo possível a independência, com1 isso o idoso mantém a sua capacidade funcional . que determinam para o idoso um certo grau de dependência, relacionado diretamente com a A Reabilitação Gerontológica visa a perda de autonomia e dificuldade de realizar as preservação da função, adiamento da instalação atividades básicas de vida diária, interferindo na de incapacidades, através de medidas preventivas sua qualidade de vida2. tendo ainda como objetivo diminuir o comprometimento imposto por incapacidades, A capacidade funcional surge, como um novo paradigma de saúde, particularmente um valor promovendo um modo de vida mais saudável e adaptando o indivíduo de forma a propiciar uma ideal para que o idoso possa viver independente, melhor qualidade de vida9. sendo esta a capacidade do indivíduo realizar suas atividades físicas e mentais necessárias para O objetivo deste estudo foi avaliar qual o nível manutenção de suas atividades básicas e da capacidade funcional dos idosos em instrumentais, ou seja: tomar banho, vestir-se, tratamento fisioterapêutico. realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições, controle financeiro, tomar remédios, arrumar a casa, fazer MÉTODOS compras, usar transporte coletivo, usar telefone e Foram selecionados 40 idosos (acima de 60 caminhar uma certa distância3,4 . anos) de ambos os sexos que se encontravam A capacidade funcional, especialmente a em tratamento fisioterapêutico na clínica escola dimensão motora, é um dos importantes do UNILAVRAS, nas áreas de neurologia (21 marcadores de um envelhecimento bem sucedido idosos) e de ortopedia (19 idosos). Todos os e da qualidade de vida dos idosos. A perda dessa sujeitos incluídos foram informados quanto aos capacidade, está associada a predição de objetivos e procedimentos do estudo e assinaram fragilidade, dependência, institucionalização, risco o termo de consentimento de forma livre e aumentado de quedas, morte e problemas de esclarecida. mobilidade, trazendo complicações ao longo do Utilizou-se o Índice de Katz para avaliar a tempo, e gerando cuidados de longa permanência capacidade funcional em relação à realização das e alto custo5. atividades básicas de vida diária, composta por 6 Tem-se constatado que é muito mais fácil atividades: banhar-se, vestir-se, usar o banheiro, evitar mortes do que evitar o desenvolvimento de transferir-se, ter continência e alimentar-se. incapacidades associadas ao envelhecimento. A cada ano, cerca de 10% da população adulta, a partir dos 75 anos perde a independência em uma ou mais atividades básicas da vida diária, tais como: banhar-se, vestir-se, alimentar-se e higiene pessoal6,7 . Cada item do Índice de Katz seguiu um escore de 0 a 3, representando o nível de dependência e independência do indivíduo da seguinte forma: 0) independência completa, 1) necessidade de ajuda não humana, 2) assistência humana, 3) completa dependência. A grande maioria dos idosos é portadora de doenças crônicas, deficiências ou apresentam Os dados foram analisados através do Teste t de student, utilizando nível de significância de 5%. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências RESULTADOS A Tabela 1 apresenta os valores obtidos no Índice de Katz pelos 19 pacientes avaliados na área de ortopedia em suas atividades diárias. 132 A Figura 1 apresenta a correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia quanto à independência completa em suas atividades diárias. Figura 1 – Correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia quanto à independência completa em suas atividades diárias. Tabela 1 - Indice de Katz de pacientes ortopédicos A Tabela 2 apresenta os valores obtidos no Índice de Katz pelos 21 pacientes avaliados na área de neurologia em suas atividades diárias. Tabela 2 - Indice de Katz de pacientes neurológicos Na comparação estatística entre os grupos utilizando o Teste t de student, observa-se que há diferença significativa entre os dois grupos quando analiza-se os itens independência completa (p=0,003) e dependência completa (p=0,007). Nos itens ajuda não humana e assistência humana, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (respectivamente p=0,839 e p=0,070) REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 A Figura 2 apresenta a correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia quanto à dependência completa em suas atividades diárias. Figura 2 – Correlação entre os pacientes de ortopedia e neurologia quanto à dependência completa em suas atividades diárias. DISCUSSÃO A promoção do envelhecimento saudável e a manutenção da máxima capacidade funcional do indivíduo que envelhece, significa uma maior valorização da autonomia e da autodeterminação Neurociências 133 e a preservação da independência física do idoso. De acordo com FEDRIGO (1999), para obter um alterações neurológicas que, na grande maioria, são extremamente incapacitantes, podendo levar envelhecimento saudável é melhor acrescentar a alteração na mobilidade, na coordenação, na vida aos anos a serem vividos do que anos a uma consciência corporal, na localização do corpo no vida precariamente vivida. espaço, entre outras. LIMA-COSTA; BARRETO e GIATTI (2002) LUCENA et al. (2002), afirmaram que o banho esclareceram que a capacidade funcional é um dos grandes componentes da saúde do idoso e e o vestuário apresentam um maior nível de dependência. Resultados semelhantes foram vem emergindo como um componente-chave para observados neste trabalho, onde o banho, o a avaliação da saúde dessa população. Ela geralmente é dimensionada em termos de vestuário e a transferência foram as atividades que apresentaram o maior índice de dependência habilidade e independência para realizar parcial ou total, em ambos os grupos. determinadas atividades. A maioria dos idosos do estudo apresentou-se independente na realização das suas atividades CONCLUSÃO diárias. Entretanto, somente idosos do setor da Os idosos em tratamento fisioterápico por patologias neurológicas apresentam menor neurologia apresentaram nível de dependência completa. Isto se explica pelo fato do maior déficit para a realização de atividades nos pacientes neurológicos, devido às seqüelas deixadas pelas capacidade funcional e, conseqüentemente, uma maior dependência daqueles que apresentam patologias ortopédicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 . Fedrigo CRAM. Fisioterapia na Terceira Idade- O Futuro de Ontem é Realidade de Hoje. R e v R e a b i l i t a r 1999; 5: 18:26 2 . Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século X X I : problemas, projeções e alternativas.1996. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo. Acesso em: 16 de setembro de 2002. 3 . Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. 2 0 0 3 . Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo. Acesso em: 21de junho de 2003. 4 . Souza JAG. Iglesias ACRG.Trauma no Idoso. R e v A s s o c i a ç ã o M é d i c a B r a s i l e i r a 2002; 79-86. 5 . Cordeiro RC, Dias RC, Dias RC et al. Concordância entre observadores de um protocolo de avaliação fisioterapêutica em idosas institucionalizadas. Rev de Fisioter 2002; 9: 69-77. 6 . Santos LD, Salmela LFT, Lelis FO et al. Eficácia da Atividade Física na manutenção do desempenho funcional do idoso : revisão de literatura. 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Análise da capacidade funcional em uma população geriátrica institucionalizada em João Pessoa. Fisioterapia Brasil, 2002; 3 (3). Neurociências 134 Artigo Original Trombólise endovenosa com Alteplase em AVC Isquêmico - Experiência em 27 casos Joinville – SC LONGO,A.L.; MORO,C.H.C.; CABRAL,N.L. RESUMO:Objetivos: Demonstrar a experiência com o uso de Alteplase endovenosa na prática clínica diária, verificando a eficácia e segurança de tal procedimento.Material e Métodos: Foram estudados retrospectivamente todos os casos de utilização de Alteplase EV no tratamento do AVC isquêmico no período de agosto de 1997 à Julho de 2004. Resultados: Em 27 pacientes foi utilizado o Alteplase. O tempo entre o início dos sintomas e a administração da droga foi: em 17 pacientes entre 90-180 minutos, em 2 pacientes em menos de 90 minutos. O escore do NIH médio da admissão foi de 18, sendo que 11 pacientes apresentaram uma redução de 5 ou mais pontos no escore do NIH nas primeiras 24 horas. Verificou-se 12 óbitos; 9 casos apresentaram Rankin modificado 0/1. Um paciente apresentou hemorragia intracraniana não sintomática. Conclusão: Observamos maior gravidade dos nossos pacientes explicando as altas taxas de mortalidade. De forma paradoxal não observamos nenhum caso de sangramento sintomático do SNC. Estes dados ratificam a segurança da Alteplase na fase aguda do AVC isquêmico. Descritores: Trombólise Endovenoso, AVC isquêmico, Alteplase, rt-PA SUMMARY:Objetives: To demonstrate an experience with the use of intravenous Alteplase in the daily clinical practice, verifying the efficiency and safety of the mentioned procedure. Methodology: All the cases where intravenous Alteplase was used inthe treatment of Ischaemic Stroke were studied retrospectively from August 1997 to July 2004. Results: Alteplase was used in 27 patients. The time between the onset of the symptoms and the drug administration was: in 17 patients between 90-180 minutes, in 6 patients between 180-360 minutes and in 2 patients less than 90 minutes. The mean NIHSS Score at admission was 18, having 11 patients presented a reduction af 5 or more points in the NIHSS score within the first 24 hours. One patient had non-symptomatic intracranial haemoerhage Conlusion: The high mortality rates observed can be explained by the severity of the patients in this series (mean NIH -18). When conpared ti the NINDS (mean NIH – 15) and ECASS II (mean NIH -11) series parodoxally we have observed no cases of symptomatic intracranial bleeding, despite the great number of protocol violations. This data ratifies the safety of IV Alteplase use in the treatment of Ischaemic Stroke. Keywords:Cerebrovascular Accident, Tissue Plasminogen Activator, Thrombolytic Trabalho realizado na CLÍNICA NEUROLÓGICA DE JOINVILLE - U-AVC -HMSJ - JOINVILLE - SC - Hospital Dona Helena 1. Neurologista, Professor Neurologia as UNIVILLE 2. Coordenadora Unidade Acidente Vascular Cerebral do Hospital Municipal São José (SC) 3. Professor Medicina UNIVILLE - Mestre Clinica Médica Univresidade Federal Parana (PR) Endereço para correspondência: Rua Plácido Olimpio de Oliveira, 1244 - Centro - Joinville - SC - e-mail - [email protected] Trabalho recebido em 08/09/2004. Aprovado em 09/09/2004. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 135 INTRODUÇÃO aonde são atendidos os pacientes com AVC, 4 dos quais com serviço de tomografia e sobreaviso neurológico/neurocirúrgico 24hs, além de laboratório e banco de sangue. O Hospital O uso do trombolítico - Alteplase (recombinant Municipal São José (público) possui Unidade de tissue-plasminogen activator , rt-PA) por via EV em AVC e o Hospital Dona Helena (privado) “Stroke até 3 horas do início dos sintomas foi aprovado Team”. para uso pelo FDA (Food and Drug Adminstration) em Julho de 1996, em decorrência do resultado A incidência de AVC em Joinville é de 156.000 / positivo do estudo NINDS [1] (National Institute of 100.000h / ano (1996) 6. Cerca de 25% dos pacientes Neurological Disorders and Stroke), que tinha como são admitidos dentro das primeiras 3 horas do desfecho primário o grau de independência após início dos sintomas. Rotineiramente, em todos os 3 meses de administração (Escala de Rankin casos suspeitos de AVC o neurologista é acionado modificada). Estes achados foram corroborados pelo plantonista do serviço de emergência, e o mais recentemente por diversas metanálises, nas paciente encaminhado para a realização de quais são analisados dados dos pacientes tomografia, sendo esta analisada pelo incluidos em 4 estudos (NINDS, ECASS I, ECASS neurologista, sendo o tempo médio para a II e ATLANTIS)2,3,4 sobre a utilização de Alteplase chegada desde aos hospitais de 15 à 20 minutos. na fase aguda do Acidente Vascular Cerebral Desde Junho de 2004 a Alteplase está disponível (AVC) Isquêmico. É consenso atual que o uso de no Hospital Municipal São José. Alteplase é útil no tratamento do AVC isquêmico agudo, sendo que a sua eficácia está diretamente Todos os neurolgistas envolvidos no relacionada com o intervalo de tempo entre o início atendimento foram instruidos desde 1997 sobre o dos sintomas e a administração da droga, isto é, uso de Alteplase de acordo com os critérios do quanto menor for este intervalo maior a chance protocolo do NINDS (Quadro 1), e possuem de um bom prognóstico. experiência na interpretação de Tomografia Computadorizada de Crânio. Apesar deste nível de evidência de bom resultado, ainda os índices de utilização do procedimento são muito baixos (1 à 2 % nos EUA)5. OBJETIVO As razões para esse baixo índice estão provavelmente relacionadas à chegada tardia da maioria dos pacientes, aliadas a não disponibilidade de atendimento capacitado nos serviços de emergência e o não engajamento dos neurologistas no atendimento da fase aguda do AVC; sendo que tais assertivas nunca foram sistematicamente estudadas em nosso meio. Nosso objetivo é demonstrar a experiência do uso de Alteplase na prática clínica diária, verificando a eficácia e segurança de tal procedimento. MATERIAL E MÉTODOS Características do Atendimento em Joinville Joinville está localizada na região norte de Santa Catarina, com uma população estimada pelo IBGE (2004) de 480.000 habitantes. Possui 5 hospitais, REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Foram estudados retrospectivamente todos os casos em que foi utilizada Alteplase EV no tratamento do AVC Isquêmico agudo no período Neurociências 136 de Agosto de 1997 à Julho de 2004. Múltiplas fontes de informação foram utilizadas, dentre elas relação a classificação etiológica (Toast) (quadro 5): 13 cardioembólicos, 5 aterotrombóticos de registros hospitalares, informações dos grandes vasos, 2 aterotrombóticos de pequenos neurologistas envolvidos, e protocolos da Unidade de AVC. Foram analisados os seguintes dados: vasos, 6 indeterminados, sendo 5 com investigação incompleta e 1 com investigação Idade e sexo dos pacientes, tempo entre o início negativa, e 1 caso de outra etiologia (Tabela 4). dos sintomas, admissão e administração de Alteplase, achados tomográficos da admissão e Com respeito a evolução verificou-se: 10 óbitos durante a primeira semana pôr efeito direto do controle após a administração de Alteplase, infarto cerebral e 2 por complicações clínicas classificação clínica e etiológica dos tipos de AVC tardias, um dos quais apresentou recuperação isquêmico, escala de NIHSS (National Institute of parcial do déficit neurológico falecendo por Health Stroke Scale) (Quadro 2) da admissão e complicações cardíacas pré-existentes. Entre os após 24hs, verificação da taxa de letalidade e sobreviventes 9 apresentaram Escala de Rankin morbidade através da Escala de Rankin modificado entre 0 e 1; 5 Escala de Rankin modificada (Quadro 3) aos 3 e 6 meses, modificado 2 e 3 e um paciente Escala de Rankin complicações hemorrágicas maiores e menores e violações do protocolo do NINDS. modificado de 4 – 5 (Tabela 5). Em todos os pacientes a tomografia de crânio da admissão não demonstrou sinais diretos ou indiretos de infarto cerebral. Apenas 1 paciente apresentou hemorragia intracraniana não sintomática e 2 RESULTADOS pacientes sangramentos menores. Em 27 pacientes foi utilizado o Alteplase. A idade média dos pacientes foi de 61,8 anos (33 - Dentre as violações do protocolo do NINDS 85), sendo 15 indivíduos do sexo masculino. O tempo entre o início dos sintomas e a observou-se: em 5 pacientes o intervalo de tempo administração da droga foi: em 2 pacientes entre 0 - 90 minutos, em 17 pacientes entre 90 - 180 minutos, em 6 pacientes entre 180 - 360 minutos, e em 2 paciente não foi possível determinar o início dos sintomas (Tabela 1). O escore do NIHSS médio da admissão foi de 18, sendo que 11 pacientes entre início dos sintomas e a administração da droga foi maior que 3 horas e em 2 casos o horário do início dos sintomas não pode ser determinado com exatidão; um paciente havia sido submetido à cirurgia de grande porte há 15 dias do íctus e um paciente havia sido vitimado por infarto agudo do miocárdio há 15 dias do íctus. apresentaram uma redução de 5 ou mais pontos no escore do NIH nas primeiras 24hs (Tabela 2). Com relação a classificação clínico-topográfica (Bamford) (Quadro 4), 13 apresentavam síndrome total da circulação anterior, 7 síndrome parcial da DISCUSSÃO circulação anterior, 5 síndrome da circulação Nesta série observamos um alto índice de mortalidade quando comparados aos posterior e 2 síndrome lacunar (Tabela 3). Com encontrados no estudo do NINDS. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 137 a mudança de atitude dos profissionais de saúde envolvidos no atendimento dos pacientes com AVC isquêmico submetidos a trombólise, quando da verificação de recuperação significativa do déficit neurológico após o uso da droga. Escala de Rankin Modificado Tal fato pode ser justificado pela maior gravidade dos pacientes nesta série (NIHSS médio de 18) comparado aos pacientes do estudo NINDS (NIHSS médio de 15) e do ECASS II (NIHSS médio de 11), indicando uma tendência de tratamento De maneira geral estes resultados reforçam a noção já existente da segurança do uso da Alteplase na prática clínica diária quando utilizada dentro das diretrizes preconizadas e por pessoal capacitado no atendimento de pacientes com AVC isquêmico. de casos mais graves, talvez por estes serem identificados de forma mais rápida pelos familiares e receberem atendimento preferencial nos serviços de emergência, associado à decisão do neurologista de utilizar o trombolítico nos casos mais graves, onde o risco de complicações seria amenizado em virtude da condição do paciente (especialmente nas síndromes completas da circulação anterior esquerda). O número de casos é pequeno não nos permitindo analisar os subgrupos que apresentem uma melhor tendência a respostas positivas (intervalo de tempo entre o início dos sintomas e início da administração da droga; tipo clínico; categoria etiológia e dados demográficos). O aspecto mais relevante desta série se refere aos achados de baixo índice de complicações hemorrágicas, observando-se apenas um caso de hemorragia intracraniana (3,7%), sendo esta assintomática, especialmente se levarmos em consideração a gravidade dos pacientes e o número de violações do protocolo. Outro aspecto relevante, porém de caráter subjetivo, é a impressão dos autores com relação REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Quadro 1 - (Protocolo de NINDS para uso da Alteplase Condutas para a terapia trombolítica em AVC Isquêmico (Recomendação grau A) Droga: fator ativador do plasmogêneo tecidual (rt-PA)- Alteplase Neurociências 138 Quadro 3 - Escala de Rankin de Incapacidade Modificada Quadro 4 - Classificação Clínica de Bamford Quadro 5 - Classificação do Toast Quadro 2 - Escala de NIHSS REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Tabela 1 - Intervalo de tempo entre início dos sintomas e administração do rt-PA / Número de Casos Neurociências 139 Tabela 2- NIHSS Tabela 3 - Classificação Clínico Topográfica (Bamford) Número de Casos REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 140 Tabela 4 - Classificação de Toast Número de Casos Tabela 5 - Escala de Rankin Modificado – Número de Casos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 . 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REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 141 Artigo Original Tratamento inicial da doença de Parkinson. Initial therapy of Parkinson’s disease. Antônio L. Teixeira Jr1, Francisco Cardoso2. RESUMO: Na abordagem inicial da doença de Parkinson, é importante determinar se o paciente realmente necessita de tratamento sintomático. Quando os sintomas são ainda muito leves e não incapacitantes, selegilina, anticolinérgicos e amantadina podem ser utilizados. Quando os sintomas tornam-se problemáticos ou incapacitantes, deve-se optar entre tratar precocemente com levodopa ou empregar agonista dopaminérgico. Para pacientes jovens com maior risco de desenvolverem complicações com a terapia com levodopa, como flutuações motoras e discinesias, os agonistas dopaminérgicos são a melhor escolha. Por outro lado, em pacientes idosos (acima de 70 anos), a terapia com levodopa deve ser recomendada como tratamento inicial no sentido de evitar a maior incidência de efeitos colaterais cognitivos, como confusão mental e alucinações, freqüentemente associados aos agonistas dopaminérgicos. Ainda, as complicações motoras da levodopa são menos freqüentes em pacientes idosos. Unitermos: Doença de Parkinson, Tratamento inicial, Levodopa, Agonistas dopaminérgicos. SUMMARY: When approaching the initial treatment of PD, it is important to determine whether a patient really needs symptomatic therapy. When symptoms are still very mild and not disabling, selegiline, anticholinergics and amantadine can be considered. When symptoms become troublesome or disabling, one needs to choose between to treat early with levodopa or to use a dopamine agonist therapy. For younger patients who are at greater risk of developing complications from levodopa therapy, such as motor fluctuations and dyskinesias, dopamine agonists are a better choice. On the other hand, in older patients (over 70 years) levodopa therapy should be recommend as initial treatment to avoid the higher incidence of neuropsychiatric side effects, such as confusion and hallucinations, often associated with use of dopamine agonists. Moreover, the motor complications of levodopa are less likely to occur in older patients. Keywords: Parkinson’s disease, Inital treatment, Levodopa, Dopamine agonists. Trabalho relizado: Clínica de Distúrbios do Movimento, Hospital das Clínicas e Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil. 1 - Médico Neurologista, Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 2 - Chefe do Serviço de Neurologia do Hospital das Clínicas da UFMG e Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG. Correspondência: Francisco Cardoso - Clínica de Distúrbios do Movimento, Faculdade de Medicina, UFMG Av. Pasteur 89/1107, 30150-290 - Belo Horizonte MG, Brasil - E-mail:[email protected] Trabalho recebido em 06/04/2004. Aprovado em 09/09/2004. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 142 INTRODUÇÃO: emissão de fóton único) e a progressão da DP avaliada através de escalas como a UPDRS (do A doença de Parkinson (DP) é uma doença inglês: “Unified Parkinson’s Disease Rating neurológica progressiva caracterizada por bradicinesia, tremor de repouso, rigidez e Scale”), que quantificam sinais e sintomas. Ainda, a deterioração clínica observada na DP parece instabilidade postural1 . A prevalência da DP é correlacionar-se a dois outros fatores: surgimento estimada em 100 a 200 casos por 100.000 indivíduos, acometendo preferencialmente o sexo de lesões em sistemas não-dopaminérgicos e alterações moleculares nos neurônios de projeção masculino a partir da sexta década de vida. do estriado3. Apesar de não existirem marcadores biológicos para a DP, o diagnóstico baseado em critérios essencialmente clínicos apresenta boa Estratégias terapêuticas na doença de confiabilidade. O diagnóstico definitivo só é Parkinson: possível com o estudo anátomo-patológico que A terapêutica na DP pode ser dividida em mostra degeneração preferencial dos neurônios sintomática, neuroprotetora e restauradora. A dopaminérgicos da parte compacta da substância terapia restauradora é a que pretende substituir negra mesencefálica associada a inclusões os neurônios dopaminérgicos perdidos na DP. Até citoplasmáticas eosinofílicas de agregados o momento, os estudos com o transplante de protéicos, denominados corpos de Lewy. células mesencefálicas fetais não demonstraram É importante ressaltar as conseqüências melhora clínica dos pacientes com DP biológicas da deficiência de dopamina para a transplantados 4,5. O emprego de fatores compreensão das estratégias terapêuticas na DP2. neurotróficos, como o GDNF, também não foi A primeira delas é hiperatividade das fibras capaz de alterar clinicamente os pacientes com glutamatérgicas que se projetam do córtex DP6. cerebral para o estriado. Isso acontece porque há receptores dopaminérgicos inibitórios nas porções A terapia neuroprotetora visa retardar a terminais das fibras córtico-estriatais, ocorrendo degeneração neuronal, impedindo a progressão desinibição destas com a deficiência de da DP. Apesar de inúmeros estudos terem avaliado dopamina. Uma segunda conseqüência é o o potencial neuroprotetor de diferentes aumento da expressão de receptores do tipo D3 medicamentos, os resultados não permitem a nos neurônios de projeção do estriado. Outro indicação de qualquer terapêutica com finalidade resultado da escassez de dopamina é o neuroprotetora. A investigação mais significativa surgimento de hiperatividade do globo pálido de terapia neuroprotetora foi o estudo multicêntrico medial e, sobretudo, do núcleo subtalâmico. Este DATATOP, que avaliou a capacidade de a efeito decorre da redução da atividade da via direta selegilina, inibidor da monoamino oxidase-B (facilitadora do movimento) e aumento dos (MAO-B), e o tocoferol (vitamina E) isoladamente disparos da via indireta (inibidora do movimento) ou em combinação retardarem a progressão da de conexão entre o estriado e o pólo efetuador DP. 7 Os resultados demonstraram que os dos núcleos da base, constituído pelo globo pálido pacientes tratados com selegilina apresentaram interno e pela parte reticular da substância negra2. retardo significativo na necessidade de levodopa, Apesar de a disfunção dopaminérgica ser fundamental, não se pode subestimar a participação de outros mecanismos na fisiopatologia da DP3. Não existe, por exemplo, correlação inequívoca entre a queda da transmissão dopaminérgica medida através de neuroimagem funcional (PET, tomografia por emissão de pósitrons e SPECT, tomografia por REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 o que poderia sugerir um possível efeito neuroprotetor. Entretanto, a reanálise dos dados evidenciou que o efeito sintomático da selegilina sobre a DP, apesar de pequena intensidade, explicaria o atraso na necessidade de levodopa.7 Especula-se atualmente sobre o possível efeito neuroprotetor dos agonistas dopaminérgicos (ver discussão no item: Os agonistas dopaminérgicos). Neurociências 143 A terapia sintomática objetiva melhorar os sinais e sintomas da DP. A introdução da levodopa no final dos anos 60 revolucionou o tratamento sintomático da DP, que até então, baseava-se exclusivamente no emprego de anticolinérgicos. Entretanto, ainda hoje, no tratamento sintomático da fase inicial da DP podem ser empregados medicamentos não-dopaminérgicos, como os anticolinér-gicos e a amantadina8. juntamente com a levodopa, uma vez que aminoácidos e a droga competem por sítios de ligação no transportador, diminuindo a absorção desta. A levodopa apresenta meia-vida curta entre 1 e 2 h, sendo metabolizada a dopamina pela dopa-descarboxilase, e a 3-o-metil-dopa pela catecol-o-metil-transferase (COMT). A administração conjunta de um inibidor da dopadescarboxilase, carbidopa ou benserazida, com Os anticolinérgicos, como o biperideno e o a levodopa previnem sua transformação periférica em dopamina, atenuando efeitos colaterais e trihexifenidil, têm efeito sobre o tremor aumentando a disponibilidade da droga para ação parkinsoniano e leve ação sobre a rigidez e a bradicinesia. Estas drogas têm, porém, dois central. No sistema nervoso central, a levodopa seria captada pelos neurônios dopaminérgicos inconvenientes: a eficácia terapêutica é baixa e remanescentes e convertida a dopamina. os efeitos colaterais podem ser significativos. A propósito dos últimos, particularmente acentuados No entanto, apesar dessas vantagens, os em idosos, os mais comuns são alterações pacientes com DP e em uso de levodopa tendem cognitivas, constipação e retenção urinária. Por a desenvolver com o tempo uma série de estas razões, o emprego dos anticolinérgicos complicações motoras, como as flutuações e as restringe-se a pacientes não-idosos, discinesias, e complicações não-motoras, como oligossintomáticos, em que o tremor é o sintoma distúrbios gastrointestinais e do sono. Cerca de principal. Já a amantadina apresenta efeito sobre 20 a 50% dos pacientes com DP em uso de a rigidez e a bradicinesa, com mínima ação sobre levodopa apresentarão essas complicações o tremor. Os efeitos colaterais incluem confusão motoras ao final de cinco anos2,8 . As flutuações mental, edema de tornozelo e livedo reticularis. A consistem no fato de que, ao longo do dia, há amantadina também é empregada em pacientes momentos em que a levodopa funciona (período oligossintomáticos em que o tremor não é o on) e outros em que seu efeito desaparece sintoma predominante. Vale frisar que, além de (período off), determinando oscilações na pouco eficiente, o efeito da amantadina capacidade funcional do paciente. Já as comumente desaparece ao fim de alguns meses. discinesias induzidas por levodopa são movimentos anormais involuntários, muitas vezes Na fase inicial da DP, conforme a intensidade dos sintomas, os medicamentos não- incapacitantes, geralmente observáveis durante o dopaminérgicos podem ser insuficientes para período on. garantir o bem-estar e o funcionamento dos pacientes. Surge, então, a questão bastante discutida na literatura atual: qual o medicamento dopaminérgico deve ser utilizado primeiramente no tratamento da DP? 9,10,11. A levodopa: A levodopa é um aminoácido aromático capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica alcançando o sistema nervoso central. Inicialmente é absorvida no intestino por mecanismo ativo responsável pelo transporte de aminoácidos neutros da dieta. Isso explica parte dos efeitos clínicos negativos do consumo de proteínas REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 A patogênese das complicações do uso da levodopa relaciona-se, pelo menos em parte, ao surgimento de modificações bioquímicas nos neurônios de projeção do estriado.2 Em condições fisiológicas, a sinapse nigro-estriatal produz liberação tônica, ou seja, contínua de dopamina. Evidências experimentais mostram de maneira inequívoca que a estimulação pulsátil ou intermitente dos receptores dopaminérgicos, decorrente da meia-vida curta da levodopa, desempenha papel crucial no desenvolvimento das flutuações motoras e discinesias induzidas por levodopa. Esta estimulação não-fisiológica dos receptores dopaminérgicos ativa cascatas citoplasmáticas neuronais que determinam a Neurociências fosforilação de proteínas com duas conseqüências principais. Primeiramente, como parte das proteínas fosforiladas estão relacionadas a receptores de glutamato do tipo NMDA e AMPA, e como esses receptores fosforilados tornam-se hiperativos, estabelece-se um ciclo vicioso em que há intensificação da hiperatividade glutamatérgica basal na DP. Como comentado previamente, a desnervação dopaminérgica dos neurônios espinhosos médios do estriado per se determinaria hiperatividade basal da sinapse glutamatérgica proveniente do córtex cerebral. A segunda conseqüência seria a ativação de proteínas, como a CREB, que estimula a expressão de determinados genes que, por sua vez, interferem sobremaneira no metabolismo neuronal, processo denominado priming. É muito importante ressaltar, entretanto, que a levodopa não induz ou acelera a morte neuronal como antes se pensava2,9 . Os agonistas dopaminérgicos: Face as complicações decorrentes do uso da levodopa, a tendência atual é utilizar estratégias denominadas “poupadoras de levodopa” nas fases iniciais da DP9,10,11. Apesar de desenvolvidos originalmente como adjuvantes à levodopa no tratamento da DP avançada, os agonistas dopaminérgicos constituem a base desta terapêutica “poupadora de levodopa”. Como conseqüência prática da teoria da estimulação dopaminérgica intermitente ou pulsátil, postulou-se que, realizando a terapia da DP com agente com meia-vida mais longa que a levodopa, ocorreria uma redução da incidência de complicações motoras, como flutuações e discinesias. Foram realizados, então, vários estudos de monoterapia com agonistas dopaminérgicos diretos para testar esta hipótese. O desenho destes ensaios consiste, de um modo geral, em estudos prospectivos, comparando-se de modo duplo-cego um braço com levodopa e um outro com agonistas dopaminérgicos. A lógica da escolha desta classe de compostos é justificada por se tratarem de moléculas com estrutura semelhante à dopamina, que agem diretamente nos receptores dopaminérgicos sem REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 144 necessitar de metabolização e que têm meia-vida mais longa que a levodopa (Tabela1). Para o pramipexole, por exemplo, o valor desta variável farmacocinética é de aproximadamente 8h. Tabela1 – Vantagens e desvantagens associadas ao emprego dos agonistas dopaminérgicos no tratamento da doença de Parkison. (Modificado de Jankovic, 2002.8 ) Confirmando a previsão teórica inicial, o estudo CALM-PD12, realizado com 301 pacientes com DP inicial, mostrou que a monoterapia com pramipexole reduziu o índice de complicações motoras de 51% (braço com a levodopa) para 28% (braço com o agonista) em dois anos. A diferença de freqüência de encurtamento de dose (wearingoff) foi 23,8% versus 38% (p=0,01), discinesias 9,9% versus 30,7% (p<0,001), flutuações on-off 1,3% versus 5,3% (p=0.11), respectivamente, nos grupos pramipexole e levodopa12. Ressalta-se, porém, que a levodopa foi mais potente que o pramipexole no controle dos sintomas parkinsonianos e que apenas 32% dos pacientes iniciados em monoterapia permaneceram usando exclusivamente o pramipexole ao final do estudo12. Estudos com outros agonistas dopaminérgicos ergolínicos e não-ergolínicos, como o ropinirole, obtiveram resultados similares ao do CALM-PD13. Os estudos com agonistas dopaminérgicos no tratamento inicial da DP permitem, portanto, as seguintes conclusões9,11. Primeiro, o tratamento com os agonistas dopaminérgicos melhora os sintomas parkinsonianos para níveis considerados satisfatórios. Segundo, os agonistas dopaminérgicos são drogas geralmente bem toleradas, podendo ocorrer efeitos colaterais como náuseas, vômitos, sonolência e alucinações. Terceiro, essas drogas reduzem o desenvolvimento de complicações motoras, como discinesias e flutuações. Quarto, a levodopa é, Neurociências porém, mais eficaz na redução dos sintomas parkinsonianos. 145 diretamente dois agonistas dopaminérgicos especificamente na DP inicial, sendo que o ropinirole mostou-se superior à bromocriptina15. O mesmo grupo responsável pelo CALM-PD Estudos anteriores já haviam demontrado a maior realizou um estudo quantitativo com SPECT e o eficácia da pergolida sobre a bromocriptina na marcador [I123]-2b-carbometóxi-3b-(4-iodofenil)- DP. 16 Acredita-se que os três principais agonistas tropano, capaz de ligar-se ao transportador de dopaminérgicos, pergolida, pramipexole e dopamina, permitindo inferência sobre a ropinirole, sejam equivalentes do ponto-de-vista preservação das vias nigro-estriatais 14. Os de eficácia. Apesar disso, se um desses resultados mostraram que, no período de medicamentos não se mostra eficaz ou é mal seguimento de 2 anos, houve menor decaimento tolerado, recomenda-se a substituição por um da ligação do [I123]-2b-CIT nos pacientes tratados outro agonista. Mais recentemente, porém, com monoterapia com pramipexole (16% contra demonstrou-se que os agonistas ergolínicos, 25,5% no grupo tratado com levodopa, p=0,01), sobretudo a pergolida, são associados com o que poderia indicar efeito neuroprotetor do proliferação do endocárdio, resultando em agonista dopaminérgico, desacelerando a morte valvulopatia restritiva em cerca de 50% dos neuronal e a degeneração das vias nigro- pacientes expostos a esta medicação. O estriatais14. Entretanto, há outras interpretações mecanismo subjacente seria hiper-estimulação do possíveis para esse dado. Primeiramente, o grupo receptor 5HT-2A. Por este motivo, já se propõe o de pacientes que permaneceu em monoterapia abandono do uso dos agentes ergolínicos em com pramipexole até o final do estudo seria DP17,18,19,20 . justamente portador de uma forma menos grave da DP e, portanto, ocorreria menor perda das vias nigro-estriatais. O fato de que, no início dos estudos, os pacientes distribuídos aleatoriamente CONCLUSÕES para os distintos grupos exibirem escores Apesar de ser a droga mais eficaz na semelhantes em escalas quantitativas como o terapêutica sintomática da DP, recomenda-se adiar UPDRS contradiz esta hipótese. Uma segunda alternativa seria que o pramipexole não interferiria o uso da levodopa nas fases iniciais da doença. na progressão da DP, mas a levodopa aceleraria Isso porque seu uso a longo prazo correlacionaa degeneração dos neurônios. Contra esta se com o desenvolvimento de complicações alternativa, vários estudos demonstram não existir motoras significativas, como flutuações e uma ação neurotóxica da levodopa.2 Uma terceira discinesias. Esse fenômeno parece estar explicação seria que o dado resultou de um associado à estimulação intermitente ou pulsátil artefato técnico, ou seja, houve mudança da do receptor dopaminérgico pós-sináptico pela atividade de uma molécula, o transportador de administração da levodopa, induzindo dopamina, mas não da estrutura propriamente da modificações no neurônio estriatal. A tendência fibra nigro-estriatal. Esta possibilidade é mais atual é utilizar inicialmente estratégias plausível para estudos com PET do que com “poupadoras de levodopa”. Os agonistas SPECT, mas não está completamente descartada dopaminérgicos constituem a base dessa estratégia, além de potencialmente exercerem no caso. efeito neuroprotetor. Em pacientes jovens, que Na decisão sobre qual agonista dopaminérgico estão sujeitos a maior risco de desenvolverem empregar, dois fatores devem ser considerados, complicações motoras com a levodopa, a primeira tolerabilidade e eficácia. Os agonistas escolha é inequivocamente os agonistas dopaminérgicos não-ergolínicos, pramipexole e dopaminérgicos. A levodopa seria a primeira ropinirole, são geralmente melhor tolerados que escolha em pacientes idosos acima de 70 anos os ergolínicos, bromocriptina e pergolida. Em ou em pacientes com grande incapacidade motora termos de eficácia, apenas um estudo comparou e prejuízo dos reflexos posturais. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 146 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 . Lang AE, Lozano AM. Parkinson’s disease. N Engl J Med 1998; 339: 1044-1053. 11. Schults CW. Treatments of Parkinson’s disease. Arch Neurol 2003; 60: 1680-1684. 2 . Poewe W, Wenning G. Levodopa in Parkinson’s disease: mechanisms of action and pathophysiology of late failure. In Jankovic JJ, Tolosa E, editors. Parkinson’s disease and movement disorders. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2002. p.105-115. 12. Parkinson Study Group. 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Cada profissional baseando-se em sua experiência com pacientes fibromiálgicos estipulou um índice de variação mínimo para cada domínio, considerando sempre o que exprimia cada questão. Em todos os domínios os profissionais citados foram requeridos a supor que variação de pontuação esperariam após um tratamento fisioterápico. Foram calculados a média, o desvio padrão e a concordância entre os fisioterapeutas e, em seguida, foi estipulado qual o acréscimo de pontuação seria necessário para que o paciente fosse considerado melhor clinicamente naquele domínio. Resultados: Foram determinadas as seguintes pontuações mínimas de acréscimo em cada domínio para que o paciente fosse considerado clinicamente melhor: Capacidade Funcional 15 pontos, Aspecto Físico 25 pontos, Dor 10 pontos, Estado Geral de Saúde 15 pontos, Vitalidade 15 pontos, Aspecto Social 12,5 pontos, Aspecto Emocional 33,3 pontos e Saúde Mental 12 pontos. Conclusão: A menor variação positiva esperada pelos fisioterapeutas para que considerassem melhora foi 10 pontos (dor) e a maior 33,3 pontos (aspecto emocional), compatível com as médias de variações observadas em estudos semelhantes. Unitermos: Fibromialgia, SF-36, Fisioterapia Trabalho realizado UNILAVRAS/UNIFESP 1 Fisioterapeuta, Professora do Unilavras, Lavras, MG 2 Neurologista, Professor da Unifesp, São Paulo, SP Correspondência: Débora Fernandes de Melo Vitorino - Rua Padre José Poggel, 506 - Lavras MG- Tel (35)3694-8141 Email: [email protected] Trabalho recebido em 08/09/2004. Aprovado em 09/09/2004. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 148 SUMMARY Objective. To define a minimal increment for each domain of the SF-36 related to fibromyalgia patients that can express a significant clinical improvement desired for this patients. Method . The SF36 was analyzed for each domain by 4 physical therapists, and each professional, based upon his/her experience with fibromyalgia patients, suggested a minimal variation index for each SF-36 domain, always taking in account the meaning of each question. In all domain the physical therapists were required to suppose what positive variation they would aim after the treatment. We calculated mean, standard deviation and agreement among physical therapists, and we presented a minimal incrementscore necessary to allow a clinical improvement in that domain. Results. The minimal increment-score were as follow: Physical function 15; Role physical 25; Pain 10; General health 15; Vitality 15; Social function 12,5; Role emotional 33,3; Mental health 12. Conclusion. The minimal positive variation expected by the physical therapists associated to clinical improvement was 10 (pain) and the major incrementscore was 33.3 (role emotional), all in agreement with mean variation published in similar studies. Keywords: Fibromyalgia, SF-36, Physical therapy INTRODUÇÃO. Tradicionalmente, o conceito de qualidade de vida era delegado a filósofos e poetas; no entanto, atualmente existe crescente interesse de médicos e pesquisadores em transformá-lo numa medida quantitativa que possa ser usada em ensaios clínicos e que os resultados obtidos possam ser comparados entre diversas populações e até mesmo entre diferentes doenças 1. um questionário multidimensional formado por 36 itens, subdivididos em 8 escalas ou componentes: Capacidade Funcional (10 itens) - avalia a presença e extensão de limitações relacionadas à capacidade física; Aspecto Físico (04 itens) avalia as limitações quanto ao tipo e quantidade de trabalho, bem como quanto essas limitações dificultam a realização do trabalho e das atividades Sabe-se que a sensação de bem estar é o da vida diária; Dor (02 itens) - avalia a presença resultado final de uma série de avaliações de dor, sua intensidade e sua interferência nas subjetivas feitas pelo paciente, muitas vezes de atividades da vida diária; Estado Geral de Saúde forma inconsciente. Diversos instrumentos têm (05 itens) - avalia como o paciente se sente em sido lançados e usados, com a finalidade de relação a sua saúde global; Vitalidade (04 itens) quantificar e padronizar as mudanças que ocorrem considera o nível de energia e de fadiga; Aspecto após algumas intervenções, 2. Instrumentos de Social (02 itens) - analisa a integração do indivíduo medida têm a intenção de mensurar estado geral em atividades sociais; Aspecto Emocional (03 de saúde que seja sensível o suficiente para itens) - avalia o impacto de aspectos psicológicos detectar mudanças que ocorram com o tempo ou no bem-estar do paciente; e Saúde Mental (05 entre os grupos, ou para comparar a relativa itens) - inclui questões sobre ansiedade, responsabilidade de diferentes doenças e o depressão, alterações no comportamento ou descontrole emocional e bem-estar psicológico. relativo benefício de diferentes tratamentos 3,4 . Este questionário apresenta um escore final de 0 O SF-36 (Short Form Health Survey) criando a 100, no qual zero corresponde ao pior estado para ser um questionário genérico de avaliação geral de saúde e 100 ao melhor estado de consiste de duas partes, sendo a primeira para saúde 1, 2, 5 . avaliar o Estado de Saúde (com questões Muitas doenças tem sido avaliadas através do relacionadas à mobilidade física, dor, sono, energia, isolamento social e reações emocionais) SF-36, sendo um importante instrumento no e a segunda parte para avaliar o impacto da acompanhamento de pacientes com fibromialgia, doença na vida diária do paciente. Trata-se de onde está presente um alto grau de subjetividade, REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências principalmente em aspectos de natureza clínica. Portanto, o estudo da qualidade de vida e dos impactos socioeconômicos nesta doença é de grande importância. Porém, ensaios clínicos com intervenções terapêuticas exigem do instrumento de mensuração do desfecho a propriedade de decidir sobre a presença ou não de melhora. O SF-36 na sua forma original só nos permite comparação de um grupo com ele mesmo ao longo do tempo e não dispõe de parâmetros já definidos de melhora para cada doença. Além disso, o clínico está interessado em variações de escore que sejam significativas clinicamente, e a versão corrente do SF-36 não apresenta parâmetros mínimos definidos para manifestar com exatidão se as melhoras apresentadas pelos pacientes podem ser consideradas clinicamente significativas ou não. 149 (Coeficiente de Concordância KENDALL) e, em seguida, foi estabelecido o delta-escore final baseado na média de cada domínio, estipulando qual o acréscimo de pontuação seria necessário para que o paciente fosse considerado melhor clinicamente naquele domínio. Os quatro fisioterapêutas reuniram-se após as análises acima citadas, com a finalidade de discutir eventuais divergências. Se os valores individuais afastassem demasiadamente da média, seria considerado um valor de consenso entre os quatro fisioterapêutas, sempre que possível utilizando-se a moda e/ou mediana. RESULTADOS. O coeficiente de concordância de KENDALL foi de 92,8%, demonstrando que os dados entre Desta forma, o objetivo deste trabalho é definir os profissionais eram concordantes. A média do um acréscimo mínimo de pontuação para cada domínio Aspectos Emocionais foi de 32,5 pontos, domínio do questionário SF-36 aplicado a tendo se considerado, por consenso entre os pacientes com fibromialgia, que possa expressar profissionais, o valor de 33,3 pontos, que uma melhora clinicamente significativa, desejada corresponde a um ponto de melhora após o para esses pacientes, sem termos que anuir tratamento. As variações dos demais domínios do involuntariamente a diferenças de médias SF-36 ficaram dentro dos valores da média e estatisticamente significantes, porém resultantes mediana calculados, e foram aceitos de pequenas variações nos conjuntos de dados. consensualmente entre os profissionais (Tabela 1). MATERIAL E MÉTODO. O questionário SF-36 foi analisado, em cada um dos seus domínios, por quatro profissionais da área de saúde (Fisioterapeutas), com a finalidade de determinar uma variação de escore associado a alguma melhora clínica relevante para os pacientes com fibromialgia. Foram incluídos 4 Fisioterapeutas com experiência mínima de 5 anos atendendo pacientes fibromiálgicos e que tratassem pelo menos 20 pacientes por ano. Cada profissional preencheu independentemente o questionário, baseado em seus conhecimentos teóricos, prática e vivência clinica com pacientes portadores de fibromialgia, supondo em cada domínio e para cada questão o que seria desejado clinicamente para se configurar melhora. Assim, cada profissional determinou um valor mínimo, para cada domínio do SF-36, que representasse uma melhora clínica do paciente. Foram calculados a média, o desvio padrão e a concordância entre os quatro profissionais REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Tabela 1 - Média e desvio padrão dos valores obtidos em cada domínio do SF-36, por cada fisioterapeuta, para definição do critério mínimo de melhora clínica. DISCUSSÃO. Não foi encontrado na literatura consultada, nenhum trabalho que definisse critérios mínimos de melhora clínica utilizando o SF-36. Ou seja, até o momento, qualquer aumento na pontuação do questionário é considerada como melhora clínica, não havendo parâmetros mínimos definidos para manifestar com exatidão se este acréscimo de Neurociências 150 pontuação pode ser clinicamente significativo ou não. Analisando os trabalhos de VALIM (2001), MANNERKORPI et al. (2002), ALVES (2OO3), que utilizaram o questionário SF-36 para avaliar a resposta de diferentes tratamentos fisioterápicos em pacientes com fibromialgia, observou-se que os autores relataram melhora em todos os domínios do SF-36. Nestes estudos, entretanto, o simples aumento na pontuação em cada domínio do questionário, por menor que tenha sido, foi considerado como melhora clínica. Ao comparar o acréscimo de pontos obtidos por estes estudos com o critério mínimo de melhora clínica estipulado em nosso trabalho, não observaríamos aumento de pontuação em alguns domínios do SF-36 naqueles estudos que caracterizasse melhora clinicamente significativa (Tabelas 2, 3, 4). Comparando nosso critério de melhora com as variações observadas no estudo de VALIM (2001), apenas o domínino vitalidade não demonstrou melhora, permitindo afirmarmos que nossos critérios não são demasiadamente rigorosos, sendo possível esperarmos melhora clínica apenas a partir de determinada variação. Os resultados de MANNERKORPI et al. (2002) ficaram abaixo do que consideramos mínimo para decidirmos pela presença de melhora clínica, fato que provavelmente não tenha ocorrido com os pacientes daquele autor, pois as variações de escores antes-depois foram muito pequenas. Os dados de MANNERKORPI et al. (2002) são exemplo típico de melhora estatística, que pouco interessa ao clínico, pois a qualidade de vida congrega aspectos subjetivos bem além dos parâmetros da matemática. Tabela 2 – Resultados apresentados por VALIM (2001) ao utilizar o questionário SF-36 antes e após o tratamento fisioterápico em pacientes fibromiálgicos, comparados ao critério mínimo de melhora clínica. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Tabela 3 – Resultados apresentados por MANNERKORPI et al. (2002) ao utilizar o questionário SF-36 antes e após o tratamento Tabela 4 – Resultados apresentados por ALVES (2003) ao utilizar o questionário SF-36 antes e após o tratamento fisioterápico em pacientes fibromiálgicos, comparados ao critério mínimo de melhora clínica. Nosso estudo também sofre a crítica de estabelecermos o quanto é clinicamente significativo, pois este conceito é subjetivo e grandes variações de escores para um paciente podem não ser percebidas como melhora e pequenas variações para outro paciente já o seriam. Entretanto, esta foi a melhor maneira que encontramos para aplicarmos o questionário SF36 em ensaios clínicos com análise dicotômica (tabela 2x2; melhora sim/não; grupo estudo/grupo controle), envolvendo pacientes com fibromialgia, e que tenham como desfecho a presença ou ausência de melhora. Este estudo não pode ser estendido para outras doenças, pois a percepção de melhora é dependente da vivência específica do binômio paciente-doença, e os valores das variações são muito diferentes. Um exemplo disso pode ser observado no estudo de Costa et Duarte (2002) que analisou a evolução de pacientes com AVC tratados com fisioterapia, onde as variações foram da ordem de 30 a 50 pontos, bem diferente da variação que propomos para pacientes com fibromialgia (10 a 30 pontos). Neurociências 151 CONCLUSÃO. A partir do delta escore final de cada domínio do questionário de qualidade de vida SF-36 foi possível se definir um critério mínimo de melhora para os pacientes fibromiálgicos, sendo o menor valor 10 (dor) e o maior valor 33,3 (aspecto emocional). Em vista da utilidade e necessidade de parâmetros dicotômicos na avaliação de desfechos em ensaios clínicos randomizados e controlados, sugerimos outros estudos com maior número de profissionais para se confirmar ou melhor definir os delta-escores acima propostos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. 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REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 152 Artigo de Revisão Intervenções fisioterapêuticas para pacientes com fibromialgia: Atualização Physical Therapy for fibromyalgia patients: atualization Débora Fernandes de Melo Vitorino1, Gilmar Fernandes do Prado2 RESUMO A fibromialgia é uma síndrome dolorosa, de etiopatogenia ainda desconhecida. A terapêutica orientase fundamentalmente para o alívio dos sintomas. À medida que se amplia o conhecimento a respeito da fisiopatologia e dos mecanismos de controle da dor, novas propostas terapêuticas surgem. O objetivo deste estudo é fazer uma revisão dos diferentes métodos usados no tratamento desta síndrome já testados cientificamente. Unitermos: Fibromialgia, Fisioterapia, Dor. SUMMARY Fibromyalgia is a painful syndrome of unknown etiology. Treatment is directed to symptoms reduction. As the knowledge regarding physiopathology and pain control increases, new therapies are proposed. This paper reviews some different and tested ways of treatment of fibromyalgia. Keywords: Fibromyalgia, Physical therapy, Pain. INTRODUÇÃO A Fibromialgia é caracterizada pela ocorrência de dor músculo esquelético generalizada, crônico, não inflamatório e sensibilidade exacerbada à palpação de pontos dolorosos chamados tender points. A etiologia é ainda desconhecida, apresentando-se de diferentes formas nos diferentes pacientes, o que leva a caracterização de uma síndrome bem mais que uma doença – Síndrome da Fibromialgia SFM) 1,2,3,5 . O diagnóstico da SFM é fundamentalmente clínico, e não há evidências de anormalidades laboratoriais ou nos exames de imagens nesta síndrome, cujo diagnóstico repousa apenas nos critérios sugeridos pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR) 1,21,22. A característica clínica da SFM é a presença de dor difusa, referida nos ossos, articulações, músculos e tendões. Em mais de 80% dos paci- Trabalho realizado no Centro Universitário de Lavras - UNILAVRAS, Lavras - MG 1. Fisioterapeuta, Professora Adjunta do Centro Universitário de Lavras. 2. Neurologista, Professor Adjunto da UNIFESP. Endereço para correspondência: Débora Fernandes de Melo Vitorino Rua Padre José Poggel, 506 - Lavras- MG Fone(35) 3694-8141- Email: [email protected] Trabalho recebido em 05/01/2004. Aprovado em 07/08/2004. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências entes, a dor é acompanhada de distúrbio do sono e fadiga importante, em 50% a 80% dos pacientes, ocorrem outros sintomas como: rigidez matinal, sensação subjetiva de inchaço das extremidades, parestesias que não correspondem a nenhuma topografia, olhos e bocas secas, fenômeno de Raynaud, tonturas e palpitações. As características da dor do fibromiálgico são a base da incapacitação funcional que acompanha a doença, e são consideradas como um dos grandes stressores que afetam o ritmo de vida destes doentes 2,8,16,23. Outras síndromes disfuncionais como: enxaqueca, cólon irritável, síndrome uretral feminina e tensão pré-menstrual, ocorrem em 30% a 60% dos casos 2,8 . 153 desses tratamentos é a “eliminação dos tender points”, restauração da amplitude de movimento e força muscular normais e sem dor. Além disso, é necessário uma educação para o paciente prevenir e lidar com as recorrências e também bloquear os fatores precipitantes e/ ou perpetuantes. Mas ainda há muitas divergências nos resultados de diferentes estudos, sugerindo uma análise crítica dos mesmos e uma maior preocupação com as metodologias empregadas 10. Técnicas de relaxamento Os métodos de tratamento nãomedicamentosos para esta e outras síndromes dolorosas concentram-se na acupuntura, na hipnoterapia e nas intervenções comportamentais, Embora alguns autores não considerem a SFM tais como o relaxamento, cujos efeitos têm sido um distúrbio psiquiátrico, ela está solidamente insatisfatórios. cluída no capítulo das doenças psicossomáticas. O processo de relaxamento contribui para que Em relação à fisiopatologia, parece haver um vínculo com a regulação de determinadas substân- o paciente corrija o que está errado em suas relacias do Sistema Nervoso Central, como por exem- ções com seu corpo, com outras pessoas e com plo a serotonina e a noradrenalina ( suas próprias emoções. É uma oportunidade de neurotransmissores envolvidos com a depressão) reorganizar e reintegrar o que é percebido como 6 . Entretanto, de acordo com KAZIYAMA (1998), a desestruturado. A calma, conseqüente do relaxaprevalência da depressão não é significativamen- mento, e do bem-estar obtido podem mediar esse te aumentada na SFM quando comparada com momento de reflexão para que o paciente pacientes com dor crônica. Estudos feitos na clí- redimensione o significado da dor em sua vida e nica reumatológica não mostraram diferenças sig- reintegre a seu corpo as partes que estão doen11 nificativas entre pacientes com fibromialgia e pa- tes . cientes de outras clínicas usadas como controle. As várias modalidades de técnicas de relaxaO estado psicológico anormal não é requisito para mento se constituem em um importante meio para que o paciente desenvolva a SFM 7. que o paciente obtenha: A SFM ocorre predominantemente no sexo fe? Regulação de seu tônus muscular; minino, somente de 5 a 20% dos pacientes são ? Liberação de uma energia, até então do sexo masculino. A idade varia de 40 a 50 anos consumida por uma dinâmica corporal caracterie a média de duração do sintoma é de seis a sete zada por pontos dolorosos ou bloqueios muscuanos, quando os pacientes se apresentam à clíni7 lares; ca reumatológica . ? Reintegração das partes doentes a sua imaApesar desta síndrome ser muito antiga, sua gem corporal, isto é, aquela representação que etiologia ainda é desconhecida, provavelmente, como em outras síndromes, deve ser multifatorial, formou de seu corpo ao longo da vida; podendo estar associada com outras doenças ? Identificação e assimilação de conteúdos reumatológicas 9. que lhe possibilitem um comportamento novo e mais adaptado 11. TRATAMENTO Inúmeros tratamentos têm sido propostos visando a remissão do quadro clínico. O objetivo REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 SOUZA (2001) analisou 3 grupos de pacientes do sexo feminino, com idade entre 30 a 60 anos, comparando duas técnicas de relaxamento e um Neurociências 154 grupo controle utilizando-se somente de medicamento. Verificou-se como resultado que, não ocorreram diferenças estatisticamente significantes na intensidade da dor quando as duas técnicas foram comparadas entre si, o que permite dizer que ambas as técnicas atuam de forma semelhante, já o grupo não tratado, melhorou de maneira significante a intensidade da dor, como forma de controle das expectativas criadas pela participação na pesquisa. do terapeuta, imerso na água que suavemente o levanta a cada inspiração, com um calor penetrante dissolvendo a tensão do corpo do paciente, capaz de atingir níveis cada vez mais profundos de relaxamento à medida que seu corpo se alonga de forma cada vez mais livre. Fluindo assim, para um estado de consciência aos quais tensão acumulada negam o acesso12. A utilização do método Watsu como recurso hidroterapêutico em pacientes portadores de fibromialgia parece oferecer estratégias para ajudar no tratamento dos mesmos, onde a água aquecida é um meio ideal para se relaxar o corpo. Com o paciente deixando-se flutuar nos braços Grande porcentagem das fibromiálgicas interrompeu o TE no tempo zero por dor muscular limitante (32%). Quinze por cento apresentaram pouca dor, 23%, moderada, 15%, severa e 15% terminaram o exame sem dor. Os escores mantiveram-se os mesmos em 69,2% das pacientes no O paciente permanece completamente passivo, e muitas vezes experimenta um relaxamento Ainda que adquirir novos hábitos seja algo di- profundo a partir da sustentação pela água e o fícil de ocorrer imediatamente, é papel do contínuo movimento rítmico . Usualmente o terapeuta orientar e acompanhar o paciente na terapeuta estabiliza ou move um segmento do busca por novas atitudes e, antes de tudo, criar corpo através da água, resultando no alongamento condições para que a psicoterapia seja um mo- de outro segmento em razão do efeito de arrasmento em que o indivíduo reflita sobre a possível to13. O método promove um trabalho corporal em origem de seu problema e como lidar com ele daí que o terapeuta conduz o paciente a uma para frente 11. alternância de toques e posturas, com movimentos que proporcionam alongamentos ou uma simples flutuação 14. Watsu. O alongamento ajuda a manter ou melhorar a O Watsu é um trabalho corporal realizado em flexibilidade, relaxar os músculos que estão conpiscina aquecida, com temperatura média de 35º. traídos e rígidos, diminuindo a dor. O método É uma junção de duas palavras: Water e Shiatsu; Watsu quando bem aplicado, obtém-se melhora literalmente massagem na água. A técnica nas- do sono e diminuição da dor, que parece ser a ceu nos Estados Unidos, em 1980, a partir de queixa principal na SFM. Os pacientes que perHarold Dull, terapeuta americano, com o Zen sistem no tratamento mostram uma melhor qualiShiatsu. O Watsu, realiza movimentos diversos no dade de vida 14. paciente, aliando o toque da massagem ao poder Treinamento Cardiovascular e Fortalecimento relaxante da água morna 16,17,18. Muscular. O músculo esquelético representa um imporSabbag (2000) 15 submeteu a teste ergométrico tante órgão na SFM, pois muitos pacientes acreditam que o músculo é responsável pela dor e ri- (TE),13 pacientes do sexo feminino com uma média gidez que sentem. Anormalidades funcionais no de idade de 48,9 anos, portadores de SFM há mais músculo incluem uma diminuição na concentra- de 5 anos e sedentárias há mais de 2 anos. Os critéção de fosfato de alta energia, reduzida rios de interrupção do TE foram cansaço físico e dor. oxigenação muscular e fluxo sangüíneo prejudi- Utilizou também uma escala visual para avaliação subjetiva da dor muscular no final de cada exame. cado 12. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências terceiro mês e em 46,2% no sexto mês de treinamento cardiovascular supervisionado , em maiores cargas de esforço; 15,4% obtiveram diminuição da algia no 3º e 6º meses; 15,4% pioraram na segunda avaliação e 28,4%, na terceira 15. A partir do 3º mês de treinamento cardiovascular supervisionado, as portadoras de Fibromialgia apresentaram maior tolerância à dor muscular e ao esforço, melhora da capacidade funcional cardiovascular e muscular periférica 15. A quantidade de dor experimentada está relacionada ao nível de condição física, e pacientes com fibromialgia são geralmente física e aerobicamente mal condicionados 12. Além disso, estudos do fluxo sangüíneo no músculo demonstraram que os músculos e outros tecidos em pacientes com SFM sofriam de hipóxia. A falta de habilidade para contrair eficientemente o músculo sugere uma falta de habilidade para executar de forma adequada uma determinada tarefa 12. Pacientes com SFM geralmente tornam-se mal-condicionados como resultado da limitação dos seus exercícios em função da dor ou da fadiga. A redução do estágio 4 do sono, temporariamente aumentaria a fadiga, o que por sua vez reduz a vontade de se exercitar; por outro lado, a falta de exercício reduz a quantidade de sono reparador. Ambos, a diminuição da onda lenta do sono e a inatividade reduzem a liberação do hormônio de crescimento com provável repercussão sobre a síntese de proteínas 12,16. Atra (1993), preconiza exercícios para melhorar a performance cardiovascular em pacientes com fibromialgia. McCain, em 1990, avaliou 42 pacientes com fibromialgia num programa de 20 semanas divididos em dois grupos: 1) treinamento para melhora do desempenho cardiovascular e 2) exercícios simples de alongamento muscular. Embora não tenham sido encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos, houve nítida tendência para melhora dos índices de dor no grupo em tratamento cardiovascular. A carga física deve ser progressiva, para não provocar lesões mecânicas 16. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 155 Biofeedback. MINHOTO (1999) selecionou 28 pacientes que preenchiam os critérios diagnósticos para fibromialgia. As pacientes foram avaliadas no início e final do estudo. A avaliação constituía-se de questionário de sono, exame físico do pontos dolorosos. Foram investigados os níveis de ansiedade e depressão por meio de escalas de auto-avaliação e realizadas polissonografia e eletroencefalografia digital com análise quantitativa do sono noturno. De acordo com o treinamento recebido as pacientes foram separadas em três grupos: biofeedback por eletromiografia (EMG-BFB), biofeedback por eletroencefalografia (EEG-BFB) e placebo- biofeedback (p-BFB). Observou-se nos grupos EMG-BFB e EEG-BFB, uma diminuição da sintomatologia dolorosa, tanto em relação ao número de pontos quanto ao limiar médio de dor. Por meio da polissonografia, constatou-se uma melhora dos padrões do sono no grupo EMG-BFB, no que se refere à eficiência do sono, à latência do sono, à latência REM, à porcentagem do estágio 1 e ao número de microdespertares. O grupo EEG-BFB permaneceu sem alterações dos parâmetros do sono na polissonagrafia. O grupo p-BFB não apresentou alteração em nenhum dos parâmetros avaliados 22. O biofeedback mostra-se eficaz na sintomatologia dolorosa da fibromialgia, e na melhora do padrão do sono 22. Considerações Finais. De acordo com estudos relatados, o tratamento da fibromialgia dever ser multidisciplinar e inclui o controle da dor e da fadiga, a melhora do padrão do sono, o controle das anormalidades do humor, a melhora de funções orgânicas e a reintegração psicossocial. Baseado em evidências clínicas, ALARCÓN & BRADLEY (1998) relatam estudos envolvendo pacientes com fibromialgia e indicam que o tratamento para esses pacientes é uma combinação de técnicas e medicamentos. Neurociências 156 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- Kaziyama HHS,Yeng LT, Teixeira MJ, Piagge FD. Síndrome fibromiálgica. Rev Med 2001; 80:111-27. 2- Haun MVA, Ferraz MB,Pollak D.F. Validação dos critérios do Colégio Americano de Reumatologia (1990) para classificação da fibromialgia, em uma população brasileira. Rev Bras Reumatol 1999; 39 (2): 221-230. 3- Mello M, & Marques AP. A imagem corporal representada pelos fibromiálgicos: um estudo preliminar. 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Unitermos: Administração intranasal; Administração bucal; Crises agudas; Midazolam. SUMMARY Patients with acute seizure, including status epilepticus, can prove difficult to treat and first line treatment generally involves a benzodiazepine drug. The most widely used drugs in the treatment of patients with acute seizures are diazepam, lorazepam and midazolam. We review the efficacy and safety of the ways of midazolam administration. Intranasal and buccal midazolam could be an alternative to rectal and intravenous diazepam. Keywords: Intranasal Administration; Buccal administration; Acute seizures; Midazolam INTRODUÇÃO. No tratamento agudo de crises epilépticas o diazepam (DZP) é o benzodiazepínico (BZD) mais amplamente usado em crianças e adultos, Henry Gastaut (1965) foi o primeiro a utilizar o diazepam por via endovenosa para o controle do estado de mal epiléptico. Porém o diazepam (DZP) tem algumas desvantagens, incluindo a tendência ao efeito cumulativo com doses repetidas, duração de ação muito curta, deve ser dado por via endovenosa ou retal e apresenta lenta absorção se dada por via intramuscular. Em situações agudas, os benzodiazepínicos podem ser dados por via retal, intramuscular e endovenosa. A administração endovenosa nem sempre é bem sucedida em crianças pequenas, principalmente em situações de emergência, a administração retal pode ser difícil em algumas situações como também a absorção retal pode ser muito variável. Os benzodiazepínicos são usados rotineiramente por via retal no tratamento de crises epilépticas Trabalho realizado: Disciplina de Neurologia - UNIFESP. São Paulo. Brasil. 1 - Neuropediatra. 2 - Pediatra. 3 - Neurologista. Endereço para Correspondência: Dra. Sueli Rizzutti - Rua Dorali, 72 - Guarulhos - SP - Telefone: 6461.3982 - e-mail: [email protected] Trabalho recebido em 14/07/2004. Aprovado em 09/09/2004. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências agudas, porém os cuidadores, monitores e professores são relutantes em utilizar esse meio de administração nas escolas, e também, as crianças mais velhas acham esse procedimento muito embaraçoso. Alguns autores tem explorado a administração intranasal e oral do midazolam 1-3 . Assim, nós revisamos a eficácia e a segurança da administração oral e nasal do midazolam utilizado em alguns países como uma forma alternativa ao uso retal do diazepam. 158 a medicação pode ser expulsa e também pode produzir uma sonolência prolongada pós ictal. O efeito colateral principal do DZP consiste na depressão sensorial e principalmente respiratória. Nos últimos anos, outro BZD, o lorazepam (LZP) vem sendo preferido em vários centros, como a droga ideal para a abordagem inicial do EME. A via utilizada é a endovenosa, na dose de 0,05 a 0,1 mg/kg/dose (máximo 4 mg), em infusão de um a dois minutos8,9 . A eficácia é de 80 a 100% e os efeitos colaterais são semelhantes ao DZP. A maior vantagem consiste na duração (12 a 24 Diazepam e Lorazepam. horas), podendo ser utilizado como droga O estado de mal epiléptico (EME) é a antiepiléptica única. Até o momento o LZP emergência neurológica mais freqüente, sendo endovenoso não é comercializado no Brasil. necessário tratamento eficaz, imediato para o Via de administração. controle da atividade epiléptica, no sentido de que sejam prevenidas lesões neuronais e/ou outros A administração retal de medicações pode ter distúrbios sistêmicos associados4. Quanto mais conotações pessoais e sociais tão importantes a se atrasa o começo do tratamento, mais resistente ele se torna e o tratamento precoce pode reduzir ponto de não ser utilizada pelo próprio10 paciente principalmente adultos e adolescentes . Os pais, a morbidade e a mortalidade. O trajeto de casa cuidadores, monitores de acampamentos ao hospital pode atrasar o início do tratamento e reduzir a sua eficácia e o tratamento precoce pode geralmente recusam essa via de administração sem uma supervisão sanitária, além de que o uso reduzir o tempo de tratamento. Por isso é dessa via pode ser difícil durante uma crise importante que haja medicamentos capazes de acabar com a crise rapidamente e que sejam epiléptica generalizada em um paciente adulto ou adolescente. Em outros casos se teme a acusação fáceis de administrar. de abuso sexual em lugares públicos como Em nosso meio, a droga de escolha para o escolas e acampamentos11,12. A administração oral tratamento inicial do estado de mal epiléptico é o e nasal pode ser um avanço muito importante para diazepam. Este apresenta meia-vida curta por o tratamento de crises epilépticas agudas, visto redistribuição (menor que 1 hora) e grande volume ser muito mais fácil a aceitação pessoal e social, de distribuição 1 a 2 l/Kg e por isso, embora seja levando a um tratamento mais precoce de crises uma droga com penetração imediata no SNC, a epilépticas agudas. rápida disseminação para outros tecidos leva à Com isso, faremos uma revisão da literatura na queda acentuada no nível parenquimatoso utilização dos BZD por via intranasal e oral. O DZP cerebral, acarretando duração do efeito anticonvulsivante de apenas 15 a 30 minutos5,6 . é pouco solúvel em água e necessita da utilização Portanto, é fundamental a associação de uma de propilenoglicol para solubilizar a solução segunda droga, com vida média mais longa, após endovenosa ou de cremofor para a administração o controle inicial das crises. A eficácia do DZP no retal, nenhum destes solventes é adequado para controle das crises é de aproximadamente 85 a o uso oral ou intranasal. Por outro lado o 90% 6,7. A via de utilização preferencial é a midazolam é solúvel em água facilitando seu uso endovenosa, a diluição não é necessária, não se oral e intra nasal. Faremos uma abordagem da deve utilizar a via intramuscular , pois a absorção farmacodinâmica do midazolam como também da é muito lenta inclusive quando comparada com a sua eficácia e segurança para o uso intranasal e oral via oral. O uso retal leva a uma absorção irregular, (Tabela 1). REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 159 MIDAZOLAN. Absorção. O midazolam (MDZ) pertence a uma nova classe de benzodiazepínicos chamado imidazobenzodiazepínico (Figura 1) hidrossolúvel introduzido na prática clínica em 1982, com características farmacocinéticas e farmacodinâmicas bem conhecidas. Esta classe também inclui um receptor antagonista flumazenil. É indicado na prática clínica em adultos e crianças para sedação consciente antes e durante procedimentos diagnósticos ou terapêuticos com ou sem anestesia local, como pré medicação antes da indução anestésica, sedação em unidades de cuidados intensivos como também no tratamento de estados de mal epiléptico. O MDZ difere de outros agentes por apresentar efeitos clínicos rápidos e com curta duração de ação. O MDZ após a administração oral é rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal. A sonolência tem sido observada após 15 minutos da dose oral, com pico de efeito após 30 a 90 minutos 13 . A duração de ação após a administração intranasal é semelhante a oral, entretanto o início da sedação é mais rápido14,15. A administração retal é segura e efetiva com pico de ação em 8 a 29 minutos após a administração15 . Ao contrário do diazepam e clordiazepóxido, os quais tem uma absorção intramuscular errática e incompleta, o MDZ é rapidamente absorvido após a injeção intramuscular, com uma biodisponibilidade de mais de 90%, o início da sedação ocorre após 5 minutos da injeção com pico em 15 a 30 minutos16. O início da sedação pode ser visto em 3 minutos após a infusão endovenosa13. Distribuição. MDZ tem um volume de distribuição de 1,02,5 l/kg em indivíduos saudáveis. É rapidamente distribuído após a administração endovenosa. MDZ é altamente ligado a proteínas plasmáticas, primariamente a albumina, com uma fração livre de 4%. A meia-vida de distribuição de apenas 15 minutos do MDZ mostra sua solubilidade relativamente alta em pH fisiológico. Metabolização. Figura 1 - Midazolan O MDZ é um imidazobenzodiadiazepínico que é básico e solúvel em água no pH fisiológico. A base livre é pouco solúvel em água, porém no meio ácido da ampola que contém cloreto sódico, ácido clorídrico, hidróxido de sódio e água em um pH de 3,3, seu anel BZP se abre e permite que o MDZ seja solúvel em água de forma estável. Uma vez administrado, o anel BZP se fecha no pH fisiológico e o MDZ se torna lipossolúvel permitindo uma rápida penetração no cérebro. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 O MDZ, como outros BZP, é biotransformado no sistema microssomal hepático através da ahidroxilação e glicuronização. Inicialmente o MDZ é hidroxilado pelo sistema citocromo P450-3A4 para a-hidroxi-midazolam e uma pequena quantidade em metabólitos inativos. Estes metabólitos são então eliminados na urina como conjugados glicuronizados. O a-hidroximidazolam é farmacologicamente ativo e tem propriedades sedativas equivalente ao MDZ. Inibidores do sistema citocromo P450 como a cimetidina, fluconazol, eritromicina, ranitidina, claritromicina podem reduzir o seu metabolismo Neurociências diminuindo sua eliminação. A depressão do SNC pode ser potencializada por outros depressores como os opióides, antipsicóticos, fenobarbital, antihistamínicos e álcool. 160 BZDIII). Os BZD potencializam a ação inibitória do GABA pelo aumento do fluxo dos íon cloreto através dos canais iônicos. O aumento do fluxo dos íons cloretos para dentro da célula diminui a habilidade da célula iniciar o potencial de ação. Os BZD aumentam a freqüência de abertura do canal e bloqueiam descargas mantidas de alta Eliminação. freqüência, o mecanismo deste último tipo de O MDZ tem uma meia-vida de eliminação de ação é incerto e é visto em elevadas 1,5 a 3 horas comparado com a do diazepam de concentrações terapêuticas. O MDZ é somente mais de 20 horas. Entretanto, a duração da ação aprovado pelo FDA para a administração farmacológica é de 60 a 120 minutos 17 . O endovenosa e intramuscular, entretanto a via retal metabólito a-hidroxi-midazolam tem uma meia- e intranasal são empregadas freqüentemente18,19. vida de eliminação de 1 hora em humanos. Cerca de 90% da administração oral do MDZ é excretada em 24 horas. A maior eliminação é Efeitos sedativos . realizada pelo rim e uma menor proporção (menos de 10%) pelas fezes em 5 dias. A meiaO MDZ tem propriedades ansiolíticas, vida se prolonga a 6-12 horas em recém- antiepilépticas, sedativas, hipnóticas, amnésticas nascidos, mais curta de 1 a 1,5 horas em e também pode atuar como relaxante muscular. crianças de 3 a 10 anos, 0,5 a 2 horas na É utilizado em urgência para aliviar a ansiedade gravidez, em 10 horas em pacientes com mais e conseguir analgesia e amnésia quando se de 60 anos e 5,9 horas em obesos. utiliza procedimentos cirúrgicos e ortopédicos em pacientes conscientes. A sedação é conseguida com concentração de 30-100ng/ml, por via intramuscular ou endovenosa. Ramoska et al. Farmacologia. (1991)20 demonstraram adequada sedação com O MDZ tem uma alta afinidade por receptores a dose de 1 a 3mg de MDZ. A dose recomendada benzodiazepínicos no sistema nervoso central. inicialmente endovenosa é de 1 mg ( não mais Os receptores benzodiazepínicos tem sido do que 0,03mg/kg) lentamente. Uma dose de identificados em vários tecidos incluindo coração 0,02 a 0,03mg/kg pode ser repetida com e musculatura esquelética, porém o maior monitorização adequada do nível de sedação. A predomínio ocorre no sistema nervoso central. A dose intramuscular é de 0,07 a 0,08mg/kg. Em ação dos BZDs é no sítio receptor para o maior pacientes crônicos e em pacientes mais velhos neurotransmissor inibitório do sistema nervoso a dose deve ser dividida pela metade. Em central, o ácido gama-aminobutírico (GABA). estudos comparativos, o efeito sedativo do MDZ Liberado dos neurônios GABAérgicos, o GABA endovenoso para cirurgia maxilofacial foi se liga aos receptores GABAA e GABA B. Os semelhante ao diazepam endovenoso, porém benzodiazepínicos aumentam a inibição mediada com menos dor no local da injeção e com mais pelo GABA A , mas não tem ação na inibição amnésia21.O MDZ por via intramuscular foi mais mediada pelo receptor GABAB. O receptor GABAA eficaz que o haloperidol em pacientes com é uma proteína macromolecular que forma um agitação aguda22. Pode ser usado por via retal e canal complexo, íon seletivo cloreto e contém oral para evitar a ansiedade causada pelas vias sítios ligantes para GABA, barbitúricos, parenterais, principalmente em crianças. Estudos anestésicos, BZD, esteróides. Este sítio é parte comparativos indicam que o MDZ retal tem um do sítio receptor GABAA e existe em uma efeito mais rápido e produz mais amnésia e variedade de número e formas (BZDI, BZDII, menos depressão respiratória do que o diazepam REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 161 retal em pacientes que se submeteram a O MDZ pode também ser usado por via endoscopia23 . sublingual e bucal. Tem-se sugerido que o acesso ao cérebro através da mucosa olfatória pode ser mais rápido quando MDZ é administrado por via intranasal, porém não se tem encontrado Uso do midazolam intranasal e oral. diferenças importantes da rapidez em produzir o As vias intranasal e oral (Tabela 2) são vias de efeito sedativo entre as vias de administração fácil acesso que podem ser utilizadas na bucal e nasal27. Connors e Terndrup (1994)2 8 urgência. A administração de 0,1 e 0,2mg/kg de compararam a eficácia da administração MDZ intranasal alcança concentrações de 40 a intranasal e a oral em crianças para a reparação 70ng/ml em 1 a 3 minutos da administração, que de lacerações e não observaram diferenças na são suficientes para produzir a sedação em eficácia, entretanto a administração intranasal foi adultos. O MDZ tem um gosto amargo, mas pode associada com maior desconforto. A ser diluído no suco. O pico de 104ng/ml se administração retal de 0,3 mg/kg diluída em 5 ml alcança após 12 minutos da administração de de solução salina é uma alternativa de 0,2mg/kg, com uma biodisponibilidade de 55%. administração. A mucosa nasal é altamente vascularizada levando a uma maior absorção, sendo que pode chegar a uma biodisponibilidade de até 83% muito maior que a biodisponibilidade de 44-66% Toxicidade. da via oral. Temos que levar em consideração O MDZ foi aprovado para o seu uso em 1986, que se deglute líquido quando se administra pela nos Estados Unidos e após 6 meses de sua via intranasal caindo a biodisponibilidade para liberação, esta droga foi associada com 13 50-57%. Para a administração intranasal se utiliza fatalidades relacionadas a depressão da solução parenteral de 5mg/ml. O respiratória, parada cardíaca principalmente em procedimento mais habitual é conectar um pacientes mais velhos29. Há também relatos de cateter de plástico em uma seringa e gotejar o parada respiratória em pacientes pediátricos30. volume calculado por peso, instilando metade da Diante dos fatos ocorridos a dose recomendada dose em cada narina. Recentemente tem se foi reduzida de 0,1-0,2 mg/kg para 0.03 mg/kg. sugerido o uso de aerossóis e o uso de A maioria dos casos fatais ocorreram durante o solubilizantes específicos como a ciclodextrina uso de MDZ combinado com opióides tais como para a administração intranasal. A farmacologia o fentanil. A associação de fentanil e MDZ foi dos aerossóis se tem estudado em voluntários associada com hipoventilação em mais do que sãos 24 e em adultos que necessitam de 90% dos pacientes e apnéia em 50%31. Outros sedação25 . Os aerossóis podem aumentar a efeitos adversos com MDZ são menos comuns. absorção na parte anterior e superior das fossas Arcos relatou 3 episódios de bigeminismo e nasais, reduzir a quantidade que se deglute e trigeminismo e de taquicardia ventricular, as quais passar direto ao sistema nervoso central25. foram auto-limitadas e se resolveram em 2 a 4 O uso de solubilizantes como a ciclodextrina horas da administração de MDZ 32. Yakel et al. permite aumentar a concentração da solução de (1992)33 relataram um caso de angioedema e 5 a 17 mg/ml e elevar o pH de 3,3 a 4,3. A maior bronco-constrição após MDZ endovenoso. Esses concentração reduz o volume que se administra, dados sugerem a prática de monitorizar a diminuindo a deglutição e a mudança do pH, sedação consciente com oxímetro e monitor reduz a irritação local e acelera a absorção. A cardíaco e o equipamento de ressuscitação absorção do MDZ intranasal não ocorre em um cardiopulmonar deve estar sempre disponível. Na pH de 3,5 e sim de 5,5 a 7,526. O pH da solução maioria dos casos de hipoventilação e apnéia, de ciclodextrina leva a uma absorção imediata. os pacientes respondem ao oxigênio 100% e REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências estimulação verbal. Outros efeitos adversos observados incluem vômitos, tosse, náuseas e soluços. Em geral, os soluços desaparecem após alguns minutos e são a manifestação mais comum em adultos e crianças21,34. Quando se administra o MDZ intranasal como sedativo, não se descreve efeitos cardiorespiratórios graves ao utilizar a dose de 0,2mg/kg. Tem-se descrito uma sensação de queimação, dor, irritação, irritação nasal, sensação desagradável na nasofaringe e sabor amargo, esses efeitos irritantes são atribuídas ao pH ácido da solução27,28,35. 162 depois do MDZ foi estatisticamente significante, a melhora da atividade elétrica cerebral de base foi também estatisticamente significante. As crianças e os pais consideraram o método aceitável. Kendall et al. (1997)36 descrevem a eficácia do MDZ intranasal em dois pacientes com estado de mal epiléptico. Uma criança de 2 anos que mostrou controle das crises após a administração de 1,6 mg de MDZ intranasal por duas vezes, e a outra paciente de 53 anos que cessou o estado de mal após a administração de 10 mg de MDZ intranasal. Scott et al. (1997)37 descrevem 22 casos de crises prolongadas em 13 crianças com epilepsia Eficácia do Midazolam intranasal e oral . refratária institucionalizadas em que utilizaram A via intra nasal pode ter algumas dificuldades MDZ sublingual (0,5mg/kg no máximo 10 mg) quando há movimentos intensos da cabeça e com uma seringa sem agulha, demonstraram pode ser ineficaz quando há secreções nasais uma eficácia de 91%, e não observaram abundantes, considerando esses aspectos, a alterações cardiorespiratórias. administração por via oral é uma outra Scheepers et al. (1998)38 descrevem o uso de possibilidade. A absorção através da mucosa MDZ intranasal em dois adultos com déficit bucal mediante a administração bucal (entre os mental no controle de crises, o primeiro paciente dentes e a bochecha) ou sublingual é rápida; a (25 anos) pertencia a uma instituição e o MDZ mucosa bucal é ricamente vascularizada, a substituiu o DZP por via retal com sucesso; a biodisponibilidade do MDZ pode chegar a ser segunda paciente (20 anos) foi substituído o 75% semelhante ao intranasal. Essa via pode tratamento com BZD oral e retal pelo MDZ facilitar a administração, pode ser dado um intranasal com boa eficácia. O MDZ intranasal volume maior, tem menor risco de expulsar a foi administrado em uma seringa de 2,5ml com medicação pela respiração, porém tem o risco cateter nasogástrico neonatal. Os autores de ser deglutido. Descreveremos a seguir alguns preconizam a dose de 5mg para adultos com estudos após revisão sobre o uso de MDZ menos de 50kg e a dose de 10mg para adultos intranasal e oral. com mais de 50kg. Os pais e cuidadores não O primeiro estudo que mostra a utilização de tiveram problemas com a administração. medicações por via intranasal foi o de O’Regan Lahat et al. (1998)39 mostram a eficácia do et al. (1996)1. O estudo compreendeu 19 crianças MDZ intranasal em um estudo aberto de 20 com a idade de 19 meses a 14 anos com crianças com a idade de 6 meses a 16 anos, com epilepsia de difícil controle. O MDZ foi controle das crises em 19 de 20 pacientes (95%) administrado lentamente gota a gota nas fossas em 2,5 a 5 minutos sem recidivas em 60 minutos. nasais; em 15 crianças houve melhora eletrencefalográfica e cessação das crises, em Jeannet et al. (1999)40 mostram a eficácia do 14 crianças houve o aparecimento de uma MDZ em crianças de 1 dia a 16 anos (11 em casa atividade beta induzida pela medicação. O tempo e 17 em hospital de urgência). A dose médio de aparecimento da atividade beta foi de preconizada foi de 0,2mg/kg, administrou-se a 111,5 segundos. A redução dos spikes antes e metade da dose em cada narina. Em dois casos REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências a administração foi sublingual, nenhuma criança teve efeitos colaterais importantes, a tolerabilidade foi boa, os pais consideraram a administração cômoda e uma menor sonolência pós ictal quando comparado ao uso de DZP retal. Chattopadhyay et al. (1999)12 descrevem uma análise retrospectiva da administração do MDZ bucal em 78 convulsões prolongadas tratadas ambulatorialmente (5 a 10mg). O MDZ foi administrado em 2 a 60 minutos do começo da convulsão pelos pais e cuidadores e foi eficaz em 87%, observou-se depressão respiratória em 7 de 78 episódios, e nenhuma reação adversa relevante. 163 com epilepsia e institucionalizados. No início foi administrado com uma seringa conectada a um tubo nasogástrico neonatal e posteriormente se utilizou uma pipeta Pasteur. Em pacientes com muito movimento de cabeça se administrou via oral; a dose preconizada foi de 5 mg para pacientes com menos de 50kg e 10mg para pacientes com mais de 50kg. Não se observaram efeitos colaterais relevantes, nos pacientes em que se obteve boa resposta continuou a ser administrado pelos pais e cuidadores. Lahat et al. (2000)2 realizaram o primeiro ensaio comparativo do uso de MDZ intranasal (1,2mg/kg) com o DZP endovenoso (0,3mg/kg) no tratamento de crises febris prolongadas (mais Scott et al. (1999)41 realizaram o primeiro de 10 minutos) em 47 crianças de 6 meses a 5 ensaio clínico comparando a eficácia e a anos. O MDZ foi eficaz em 23 de 26 convulsões segurança entre o MDZ bucal e DZP retal em 42 (88%; 21 crianças); o DZP em 24 de 26 crianças com crises prolongadas convulsões (92%; 23 crianças): não houve institucionalizadas (5 a 19 anos). O MDZ foi diferença significativa. Nenhuma das crianças utilizado na dose de 10mg em uma seringa com apresentou efeitos cardiorespiratórios nem outros 2 ml de solução (5mg/ml). Instilou-se o MDZ por efeitos secundários. toda a mucosa bucal. Se os dentes estavam fechados foi instilado entre os dentes e a Fisgin et al. (2002)43 realizaram um ensaio bochecha. O DZP retal foi administrado na dose clínico comparando a eficácia e a segurança do de 10 mg mediante um preparado comercial retal. MDZ intranasal com o DZP retal no tratamento A eficácia do MDZ foi de 75%, e do DZP (59%), de convulsões agudas em 45 crianças de 1 mês essa diferença não foi significante como também a 13 anos na urgência. Em todas as crianças foi o tempo para cessar as crises. Não se administrado O2, foi realizada a monitorização observaram efeitos cardiorespiratórios relevantes cardíaca, a saturação de O2, a freqüência em nenhum dos grupos. respiratória e foi mantida uma via endovenosa de acesso. O MDZ foi eficaz em 20 dos 23 Finsgin et al. (2000)42 administraram MDZ episódios (87%) e o DZP retal em 13 de 22 intranasal em 16 crianças na dose de 0,2mg/kg pacientes (59%), tendo sido significantemente e controlaram a freqüência cardíaca, respiratória, maior a resposta ao MDZ intranasal. Não se a pressão arterial e a saturação de O2. Em 13 observou nenhuma reação adversa relevante. Os crianças o MDZ foi efetivo, em 3 crianças outras dois últimos estudos não podem ser extrapolados medicações foram utilizadas, em uma criança para o meio extra hospitalar e nem em adultos houve diminuição da freqüência respiratória de (validade externa). 40 para 26/minuto, em outra a freqüência cardíaca aumentou de 126 para 166/minuto, sem alteração da saturação do O 2 e com recuperação CONCLUSÃO. em 5 minutos. O MDZ administrado intranasal e bucal Scheepers et al. (2000)10 administraram MDZ parece tão eficaz e seguro quanto o DZP intranasal em 84 episódios de crises administrado intravenoso e retal 2,41,42. A prolongadas, em 22 pacientes de 12 a 72 anos recuperação pós crítica parece ser mais rápida REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 164 e também, pode tratar episódios de agressividade e agitação pós-ictal, melhorando muito a qualidade de vida dos pacientes. As vantagens mostradas pelos estudos sugerem a aplicação da medicação em lugares públicos pelos pais e cuidadores sem a conotação pessoal e social. Com a facilidade de administração pode-se reduzir o tempo do início do tratamento em episódios agudos e prolongados de crises epilépticas, melhorando a resposta e reduzindo a morbidade e mortalidade. Esta via de administração pode também facilitar a utilização da medicação por cuidadores em ambulatório, principalmente em pacientes adultos e adolescentes, e muitas vezes pode ser utilizado pelo próprio paciente como profilático quando tem uma aura. (ensaios clínicos bem desenhados) do uso de MDZ bucal em crianças pequenas e MDZ intranasal em adultos44-46, e também nenhum estudo controlado em ambulatório com a administração do MDZ por cuidadores, como também o seu uso em estado de mal epiléptico. Lembramos que a solução parenteral de 5mg/ ml para a administração intranasal produz irritação devido ao pH ácido, e o volume pode ser grande em adolescentes e adultos, podendo facilitar a deglutição e diminuir a eficácia. A melhora do meio de veiculação como o uso de aerossóis com soluções mais concentradas, pode minimizar os efeitos adversos locais. Considerando a classificação dos níveis de evidência segundo Suzane Fletcher47 e David Sackett48, os resultados mostrados não devem Os estudos 2,41,42 sugerem que o MDZ ser extrapolados para o uso ambulatorial e por intranasal e bucal pode ser tão eficaz e seguro cuidadores sem a supervisão médica. São quanto o DZP retal e endovenoso para o necessários ensaios clínicos mais amplos e com tratamento precoce de crises agudas. Entretanto, maior número de participantes para a sua não temos encontrado estudos controlados utilização de uma forma mais científica e segura. Tabela 1 - Farmacocinética Tabela 2 - Administração REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Neurociências 165 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1-O’Regan ME, Brown JK, Clarke M. Nasal rather than rectal benzodiazepines in the management of acute childhood seizures? Dev Med Child Neurol 1996; 38: 1037-1045. 25-Bjorkman S, Rigerman G, Idvall J. Pharmacokinetics of midazolam given as an intranasal spray to adult surgical patients. Br J Anaesth 1997; 79: 575-580. 2-Lahat E, Goldman M, Barr J, Bistritzer, Berkovitch M. Comparison of intranasal midazolam with intravenous diazepam for treating febrile seizures in children: prospective randomized study. BMJ 2000; 321: 83-86. 26-Olivier JC, Djilani M, Fahmy S, Couet W. In situ nasal absorption of midazolam in rats. Int J Pharm 2001; 213: 187-192. 3-Nordt SP, Clark RF. Midazolam: a review of therapeutic uses and toxicity. J Emerg Med 1997; 15(3): 357-365. 4-Hunter R. Status epilepticus. History, incidence and problems. 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Para publicação, será observada a ordem cronológica de aceitação dos artigos. Os artigos são de responsabilidade de seus autores. Para avaliação, devem ser encaminhados ao Editor Chefe em disquete e poderão ser utilizados editores de texto “Word”, alternativamente no formato “doc”. Deverão também ser enviadas três cópias do texto original digitado. Adotar as recomendações abaixo. Título: em português e em inglês ou espanhol e em inglês, sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação. A Revista prefere títulos informativos. Autor(es): referir nome(es) e sobrenome( s) do modo como preferir para indexação, seu grau e posição. Referir a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo. Referir o título maior de cada autor ou grupo de autores, ex.: 1- Professoradjunto, 2 - Pós-graduando, 3 - Residente. Identificar o endereço para correspondência. Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica do trabalho, contendo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não exceder 200 palavras. Orientamos os autores a produzirem resumos estruturados. Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br) T e x t o : apresentar a matéria do artigo seqüencialmente: introdução, material (casuística) e método, resultados, comentários (discussão e conclusões), referências bibliográficas, eventualmente agradecimentos, suporte financeiro. Não repetir no texto dados que constem em tabelas e ilustrações. Quadros, Gráficos e Tabelas: até cinco, apresentadas em páginas separadas e no final do texto. Em cada uma, devem constar seu número de ordem, título e legenda. Ilustrações: até duas figuras com tamanho não superior a 6 cm x 9 cm cada uma. F o t o s em preto e branco bem contrastadas; eventuais detalhes com setas, números ou letras. Identificar cada ilustração com seu número de ordem, nome do autor e do artigo, com etiqueta colada no verso e nela marcada na parte superior. Não grampear e nem colar as ilustrações, embalar cada uma em separado. Encaminhar separadamente as respectivas legendas. Ilustrações reproduzidas de textos já publicados devem ser acompanhadas de autorização de reprodução, tanto do autor como da publicadora. Ilustrações em cores podem ser publicadas; dado seu custo elevado, a despesa será de responsabilidade dos autores, assim como o custo por número de tabelas e ilustrações acima dos mencionados e desde que sua publicação seja autorizada pela editora. O material recebido não será devolvido aos autores. Manter os negativos destas. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004 Referências: Até o máximo de 30 (para artigos originais ou de atualização), restritas á bibliografia essencial ao conteúdo do artigo. Para artigos de revisão, até 100 referências. Todos os autores e trabalhos citados no texto devem constar na listagem de referências bibliográficas. As referências bibliográficas devem ser ordenadas consecutivamente na ordem na qual os autores são mencionados no texto e citar todos os autores no máximo de 6, quando ultrapassar citar os 3 primeiros seguidos de et al. As referências serão indicadas no fim do trabalho. No texto as citações devem seguir o sistema numérico, isto é, são numerados por ordem de sua citação no texto, utilizando-se números arábicos sobrescritos e entre parênteses normalizada de acordo com o estilo Vancouver (www.icmje.org). Exemplo Sistema-Numérico Cerri et al.(1) detectaram... Velasco et al.(2) verificaram.... Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo com o Index Medicus. a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do Periódico ano; volume: página inicial – final Ex.: Lagos JC, Gómez MR. Tuberous sclerosis: reappraisal of a clinical entity. Proc Mayo Clin 1967; 42: 26-49. b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora; ano. Ex.: Diener HC, Wilkinson M, eds. Drug-induced headache. 2nd ed. New York: Spriger-Verlag; 1996. c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo. Editor(es) do livro e demais dados sobre este, conforme o item anterior. Ex.: Zee Ch, Go JL, Lefkowitz M. Advanced imaging of intraventricular and paraventricular lesions involving the third ventricule. In: Apuzzo, MLJ, ed. Surgery of the third ventricule. 2nd ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1998. p.465-78. d) Resumos: Autor(es). Título, seguido de [abstr]. Periódico ano; volume (suplemento e seu número, se for o caso): página(s) E x . : Enzensberger W, Fisher PA. Metronome in Parkinson’s disease [abstract]. Lancet 1996; 34:1337. e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto entre parênteses f ) T e s e : Autor, título da obra, seguido por [Tese] ou [dissertação], cidade: instituição; ano. Ex.: Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the elderley’s access and utilization [dissertation]. St. Louis: Washington Univ.; 1995. D o c u m e n t o e l e t r ô n i c o : Agentes dopaminérgicos no tratamento da Síndrome das Pernas Inquietas. Disponível no site: http//www.sindromedaspernasinquietas.com.br, com data e hora do acesso. Categoria: O próprio autor deve indicar a qual categoria pertence seu texto. a ) artigo original b) artigo de revisão c ) artigo de atualização d) relato de caso Endereço para enviar artigos para revista Neurociências: Prof.Dr. Gilmar Fernandes do Prado Endereço: R: Cláudio Rossi, 394 – Jardim da Glória São Paulo – S.P - CEP: 01547-000 Telefone: 5081-6629 – FAX: 5572-8205 E-mail: [email protected]