Resumos - FCSH/NOVA - Universidade Nova de Lisboa

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Resumos - FCSH/NOVA - Universidade Nova de Lisboa
Estas conferências são organizadas pelo Grupo de Investigação de Interacções Discursivas do
Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa (GIID-CLUNL) e pelo Instituto de
Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), e têm como objectivo a reflexão crítica acerca das
questões éticas e metodológicas na recolha e no tratamento de dados obtidos em contextos
informais ou institucionalmente enquadrados, tanto do ponto de vista linguístico como sociológico e
antropológico, podendo assim interessar não só a investigadores na área da análise do discurso e da
conversação, como ainda a outros cientistas sociais e a profissionais do serviço social, do direito e
da informática.
As comunicações incidirão predominantemente sobre as seguintes temáticas: (1) A ética e a
metodologia da abertura de terrenos; (2) Salvaguarda do anonimato dos informantes e das fontes;
(3) A responsabilidade social dos cientistas; (4) Devolução dos resultados de investigação às
comunidades estudadas; (5) Constituição e gestão de bases de dados.
Línguas de trabalho: Português e Inglês.
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These conferences are organized by the GIID (Discourse Interaction Research Group) of CLUNL
(Linguistics Centre of Universidade Nova de Lisboa) and by ILTEC (Institute of Theoretical and
Computational Linguistics). Its objective is a critical discussion of ethical and methodological
issues in the collection and treatment of data gathered in informal or institutional settings, from a
linguistic, sociological and anthropological standpoint. Thus, the workshop will be of interest not
only for researchers in the areas of discourse and conversation analysis, but also for other social
scientists and professionals in the fields of social services, law, and computer sciences.
The presentations will focus on the following themes: (1) Ethics and methodology of field opening;
(2) Safeguards for informants’ and sources’ anonymity; (3) Social responsibility of scientists; (4)
Giving research results back to the communities studied; (5) Database development and
management.
Working languages: Portuguese and English.
PAINEL 1 | PANEL 1
RESPONSABILIDADE SOCIAL NA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA
SOCIAL RESPONSABILITY IN CONDUCTING EMPIRICAL RESEARCH
1.1. Ética em pesquisa etnográfica: o caso de uma pesquisa discursiva crítica em
colaboração com movimento social
Viviane de Melo Resende (Universidade de Brasília)
Discussões acerca de ética em pesquisa qualitativa têm favorecido métodos colaborativos de
pesquisa, em que o objetivo do/a pesquisador/a não é apenas pesquisar sobre ou para sujeitos, mas
pesquisar sobre, para e com sujeitos participantes do processo de pesquisa (Cameron et al., 1992).
Isso implica um reconhecimento dos/as participantes da pesquisa como participantes de fato, não
como ‘sujeitos pesquisados’ ou, muito menos, como ‘informantes’. Tomar os atores sociais
implicados no processo de pesquisa como participantes implica inserir sua agenda de interesses na
prática investigativa, o que exige um planejamento de pesquisa suficientemente flexível, apto a ser
modificado para tornar-se relevante para a comunidade que compartilha seus conhecimentos com o/
a pesquisador/a (Demo, 2004). A pesquisa participativa inclui, então, riscos específicos, visto que
sua condução torna-se válida não pela generalização dos resultados, mas por sua adequação também
à agenda de interesses dos/as participantes – é preciso estar sensível a isso para se abrir mão de
etapas previstas no planejamento inicial e que, embora nos pareçam academicamente pertinentes,
mostrem-se inadequadas ao grupo (Resende, 2010). Isso aconteceu na pesquisa “Análise de
Discurso Crítica e Etnografia: o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, sua crise o
protagonismo juvenil”, realizada em colaboração com o referido movimento social, em Brasília,
Brasil. Neste trabalho, argumento a respeito da necessidade de flexibilidade no planejamento de
pesquisas colaborativas e narro a condução metodológica da pesquisa, discutindo os passos
realizados para a condução de observação participante, entrevistas focalizadas, oficinas e grupos
focais. O foco nessa discussão são as questões éticas implicadas em pesquisa dessa natureza e a
necessidade de compartilhamento e negociação dos resultados alcançados (Blommaert, 2005).
Ethics in ethnographic research: the case of a critical discursive research in collaboration with
social movement
Discussions about ethics in qualitative research methods have favored collaborative research, in
which the researcher's goal is not only to research on or for social groups, but searching on, for and
with people that take active part in the research process (Cameron et al., 1992). This implies
recognition of the research participants as participants in fact, not as 'research subjects' or much less
as 'informers'. Taking the social actors involved in the research process as participants involves
observing their agenda of interests in research practice, which requires a research planning
sufficiently flexible, able to be modified to become relevant to the community that shares its
knowledge with the researcher (Demo, 2004). Participatory research includes, then, specific risks,
whereas its realization becomes valid not in terms of generalization of the results, but in terms of its
appropriateness to the agenda of interests of the participants. We need to be sensitive to that, so as
to give up steps envisaged in the initial planning, which, although seem to us academically relevant,
are inadequate to the group (Resende, 2010). This was the case in the research "Critical Discourse
Analysis and Ethnography: the National Street Children’s Movement, its crisis and the youth
protagonism", held in collaboration with this social movement, in Brasilia, Brazil. In this paper, I
argue about the need for flexibility in planning for collaborative research, and narrate the
methodological design of the research, discussing the steps taken to conduct participant observation,
focused interviews, workshops and focus groups. The scopes of this discussion are ethical issues
involved in this kind of research and the need for negotiating and sharing results (Blommaert,
2005).
REFERÊNCIAS
Blommaert, Jan. (2005). Discourse. A critical introduction. Cambridge: Cambridge University Press.
Cameron, Deborah. et al. (1992). Researching language. London: Routledge.
Demo, Pedro. (2004). Pesquisa participante. Saber pensar e intervir juntos. Brasília: Liber Livro.
Resende, Viviane de Melo. (2010). Between the European legacy and critical daring: epistemological reflections for
Critical Discourse Analysis. Journal of Multicultural Discourses, 5 (3), 193-212.
1.2. Interactional data, ethics and reflexivity
Isabella Paolettti, Universidade Nova de Lisboa, Portugal
Ethical issues are involved in everyday practice of conducting research, in particular
research involving the collection of interactional data, in social sciences. Ethical issues in social
investigation are very often conceptualized as avoiding the risk of damaging the participant in the
research. Ethical guarantees often concern confidentiality, anonymity, informed consent etc.
Seeking approval from ethics committees is an ordinary part of doing research. Ethics in research
can also be conceptualized as social responsibility in doing research. A concern with social justice is
central in the work of many authors in linguistics, sociology, anthropology, using interactional data.
Social research is seen as an instrument of improving human conditions. The literature on action
research in particular has developed research practices that are in fact forms of social intervention: a
willful intervention. The paper proposes a framework for conceptualizing ethics in research as a
form of reflexive awareness of the impact of research practices on the setting under scrutiny. Any
form of data collection of interactional data implies an impact on the setting and on the participant
in the study. For example, asking questions to informers is likely to affect their understanding and
perception of the issues at hand. It creates a focus of attention. The same would happen setting a
video-camera, an interest is created for some events, facts, etc, that were generally going unnoticed.
Social research, involving interactional data collection, has inescapably an effect of the field
studied. The paper presents a systematic framework for reflecting on actual occasions in which
ethical decisions are at stake in conducting empirical research. Examples and the decisions that
were taken in actual research situation are discussed. The paper emphasizes the importance of
researchers being reflexively aware and responsible for the inevitable impact they have on the
investigated setting.
1.3. Sei que foi guerrilheira, combatente ou é mulher-soldado, quer participar
nesta pesquisa?
Margarida Paredes (ISCTE-IUL, Lisboa e UFSC, Florianópolis)
Esta comunicação irá reflectir sobre os desafios éticos e metodológicos relacionados com o trabalho
de campo realizado em Angola (2010/2011) com mulheres-soldado das Forças Armadas Angolanas
e com ex-combatentes de estruturas militares e militarizadas dos diferentes nacionalismos.
Apesar da desconfiança de muitos actores sociais em Angola em relação aos investigadores
estrangeiros, a condição de antiga guerrilheira do movimento independentista agora no poder foi um
elemento facilitador na abertura do terreno e permitiu reduzir a distância simbólica entre a
antropóloga e as hierarquias das diferentes “famílias militares” e políticas que autorizaram a
pesquisa assim como com as combatentes que participaram neste estudo.
Registar memórias de guerra até agora silenciadas e narrativas de vida no feminino, ligadas a
exércitos e conflitos, levanta grandes responsabilidades no que diz respeito ao “dever de memória”
partilhada entre entrevistadas e entrevistadora e à gestão dessas memórias. Diante da densidade e
intensidade das narrativas recolhidas, o investigador depara-se com inúmeros problemas éticos,
sobretudo quando a quase totalidade das interlocutoras, na intenção de lutarem contra o
esquecimento e silenciamento colectivo de que são vítimas declinam o anonimato. Nestas
circunstâncias a devolução dos resultados da pesquisa às mulheres que participaram neste estudo
encontra-se eivada de problemas que requerem reflexão.
Abstract:
This paper is a reflection on the ethical and methodological challenges faced in the fieldwork
carried out in Angola (2010/2011) with women-soldiers of the Angolan Armed Forces and formercombatants of military and militarized structures of the different nationalist movements.
Despite the reluctance of many social actors in Angola regarding foreign researchers, the condition
of old guerrilla girls of the independence movement currently in power facilitated in opening of
field and reduced the symbolic distance between the anthropologist and the different hierarchies of "
military families" that authorized the research, as well as with the combatants who participated in
this study.
To register memories of war silenced until now and life narratives of women in the armies and
conflicts, great responsibilities arise in respect to shared memories (between interviewed and
interviewer) and the management of these memories. Aside from the density and intensity of the
narratives collected, the investigator is coming across innumerable ethical problems, because almost
all of the interlocutors, in an attempt to fight against forgetting and collective silence, decline
anonymity. In these circumstances the devolution of the result of the research to those women who
participated in this study and the "management" of the sources are rife with problems that require
careful reflection
1.4. A responsabilidade social na pesquisa e na intervenção do Serviço Social
com pessoas idosas
Maria Irene Lopes B. Carvalho, PhD in Social Work
Esta comunicação pretende abordar a responsabilidade social dos profissionais e investigadores do
Serviço Social para com as pessoas idosas. Coloca o conceito de sujeito no seio do debate na
investigação na actualidade. Parte da premissa de Michel Wieviorka (2010:40) de que o sujeito é o
instrumento de análise, uma teoria aberta, que pode trazer a priori as respostas às perguntas que
fazemos. Mas como torná-lo sujeito e “objecto de estudo” ao mesmo tempo. Esta abordagem é
reflectida tendo como base o princípio da responsabilidade social do pesquisador e do profissional
para com os sujeitos.
Em termos éticos a relação entre o sujeito e o objecto como um todo é geradora de um processo
transformador onde a responsabilidade e a autodeterminação ganham sentido. Estes dois termos, a
responsabilidade e a autodeterminação, implicam a noção de consciência e só se pode viver
plenamente quando esta se formar bem (cf. Guerra, 2004). A autora coloca a complexidade da
resposta a esta questão pois ela decorre das interpretações múltiplas decorrente dos autores que a
analisam.
Por exemplo a ética kantiana privilegia a autonomia que se subordina aos imperativos éticos, onde a
justiça social é o valor fundamental. Neste âmbito a ética deve conciliar a autonomia (justiça) e a
relação (cuidado). A ética da justiça, ser autónomo é o principal objectivo, assim como a
imparcialidade, distanciamento e direitos do indivíduo. O juízo ético exprime-se universalmente, a
justiça é igualitária, a acção moral e a responsabilidade orienta-se para o dever.
Além desta ética do dever e da responsabilidade como autonomia do indivíduo, Jonas (1994)
contrapõe uma outra ética que valoriza a responsabilidade social do cuidado e da atenção ao outro,
do particularismo, do interesse próprio pelos outros, do desejo de não provocar sofrimento e da
relação de confiança que se traduz num imperativo não categórico mas hipotético (cf. Jonas, 1994).
Para Jonas (op. cit) a responsabilidade social é diferente da responsabilidade jurídica própria da
ética Kantiana. Na responsabilidade social o agente assume um compromisso com o outro no
sentido da prospectiva. Neste âmbito a responsabilidade está antes da liberdade do outro e da
própria humanidade. Neste tipo de responsabilidade social há uma perspectiva de futuro, que ao
contrário da autonomia em Kant onde não há diferença entre presente e futuro, há uma
consequência do acto.
Jonas formula um novo imperativo “ age de tal maneira que os efeitos da tua acção sejam
compatíveis com a permanência da vida humana genuína” ou “ não comprometas as condições de
uma continuação indefinida da humanidade na terra” (Jonas, 1994: 13). Na verdade Jonas contrapõe
“ manipulação simbólica do indivíduo” observável em todas as instituições de todo o género de
sociedades “à manipulação tecnológica”, característica da técnica moderna e que condiciona a
liberdade do eu individual (op. cit, 14).
Concebida desta forma a responsabilidade social implica a adopção de medidas a favor dos que
sofrem e das vítimas: defendê-los, patrocinar as suas causas e prestar-lhe auxílio. Subjacente à
noção de responsabilidade está a de ser “depositário”, segundo a qual tudo de que dispomos é posto
ao nosso cuidado para ser partilhado e utilizado em benefício dos outros (Cf. ONU, 1999). Neste
âmbito a noção de responsabilidade social tem uma importância crucial no Serviço Social, pois são
a sua razão de ser.
Ao assumir um compromisso com os mais pobres e os mais necessitados como desenvolver a
responsabilidade social e promover a liberdade individual? Esta responsabilidade aplicada aos
profissionais questiona a “técnica” como factor que pode condicionar as liberdades e a
autodeterminação dos indivíduos com os quais o Serviço Social desenvolve pesquisas e intervém.
Este é um dilema ético que importa discutir no âmbito desta comunicação.
Bibliografia
GUERRA, Maria José C. Almeida de Sousa (2004), A responsabilidade como categoria ética fundamento de uma
estética renovada da pessoa, Intervenção Social, nº 29, pp. 53-70.
JONAS, Hans (1994), Ética, Medicina e Técnica, Lisboa, Veja, 1994.
ONU (1999), Direitos Humanos e Serviço Social. Lisboa: ISSS Dep, Editorial.
WIEVIORKA, Michel (2010), Nove Lições de Sociologia, Lisboa, Teorema.
PAINEL 2 | PANEL 2
QUESTÕES ÉTICAS E METODOLÓGICAS NA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA - A
ETHICAL AND METHODOLOGICAL ISSUES IN CONDUCTING EMPIRICAL RESEARCH - A
2.1. “Professor: como devo agir?”: Constrangimentos institucionais em contexto
universitário
Isabel R. Seara (CLUNL/Universidade Aberta)
Rosalice Pinto (CLUNL/Universidade Lusíada de Lisboa)
Esta contribuição, centrada em aspectos teórico-metodológicos do Interaccionismo sociodiscursivo
(Bronckart, 1999), da Análise da Conversação (Jefferson, 2004; Rodrigues, Binet, 2010) e de
contributos de abordagens discursivas multimodais (Kress et al, 2001; Filliettaz, De Saint Georges e
Duc, 2008), visa reflectir sobre alguns constrangimentos observados em sala de aula quando da
gravação de aulas (audio e vídeo) por parte de investigadores.
Partindo do pressuposto de que os processos de ensino e aprendizagem em contextos institucionais
não se restringem apenas a interacções verbais entre professor/investigador//aluno, mas também às
realizadas
a
partir
de
múltiplos
recursos
multimodais,
procurar-se-á,
através
de
transcrições/gravações efectuadas, identificar de que forma estas ´coerções´ são identificadas no
universo textual. O corpus utilizado para análise é formado por transcrições de uma intervenção de
um investigador realizada no primeiro ano de licenciatura em gestão de uma instituição privada
portuguesa, acerca do tema empreendedorismo.
De forma a atingir o objectivo deste trabalho, a apresentação será dividida em três partes: num
primeiro momento, realizar-se-á um breve panorama sobre os estudos actuais da multimodalidade
tanto no lado anglo-saxónico quanto no francófono, de forma a definir o que entende-se por texto
multimodal. Em seguida, dada a diversidade de formas semióticas que podem vir a ser analisadas,
delimitar-se-ão as opções metodológicas adoptadas. Por fim, far-se-á a análise dos dados empíricos.
2.2. Utilização do vídeo para a compreensão da prática lectiva: que
potencialidades? que desafios?
C. Miguel Ribeiro (Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações, Universidade do Algarve)
Quando equacionamos efectuar uma investigação relacionada com o processo de ensino, e
enunciamos as questões de pesquisa, essas questões concretas encontram-se acopladas (pelo menos
implicitamente, num momento inicial) a uma forma específica de encarar esse processo (em
particular a prática e a formação dos professores), e a um conjunto de opções metodológicas. Estas
opções metodológicas ditarão a qualidade da informação a obter, podendo ser um processo
demasiado complexo quando pretendemos que essas informações se foquem na prática lectiva, em
concreto no que o professor faz e porquê, e ainda mais quando um desses focos de atenção se
prende com o conhecimento (do conteúdo e didáctico do conteúdo) que o professor revela durante
essa prática e a(s) forma(s) como o exterioriza (comunicação promovida – interacções discursivas –,
acções levadas a cabo e tarefas implementadas).
Nesta comunicação irei apresentar, discutir e reflectir sobre algumas problemáticas
relacionadas com a recolha de dados através de gravações áudio e vídeo de aulas de matemática e
de entrevistas. Alguns desses momentos críticos prendem-se com o facto de o foco de análise ser o
professor: o que faz, como o faz e porque o faz (em termos do papel das crenças que revela, dos
objectivos que persegue, do conhecimento para o ensino que possui, tipos de comunicação que
promove e acções que leva a cabo). Com recurso a um exemplo (da prática) discutirei também
algumas questões metodológicas do processo de análise (e sua possível expansão a outros domínios
do saber) evidenciando as suas potencialidades para um mais amplo, rico e profundo conhecimento
da prática e dos factores que a influem, terminando com alguns desafios e obrigações que, enquanto
investigadores e formadores de professores se nos levantam ao analisar, contrastar os resultados
com os participantes e publicar.
2.3. "Observation flottante" e Corpus: exploração e consolidação da
investigação empírica em Micro-Etnografia
Michel G. J. Binet (GIID-CLUNL)
Durante anos, acumulei muitas notas de observação de trocas conversacionais ocorridas numa
multiplicidade de contextos e quadros de interacção quotidiana: rua, transportes, comércios, quadro
familiar, vida académica, centro de saúde, repartição das finanças, etc. Trabalho de observação
“naturalista” (observação de interacções verbais não provocadas ou intencionalmente modificadas
pelo investigador), casual, não planeada, focalizada no comportamento comunicativo em geral e nas
funções semântico-pragmáticas da entoação em particular, de que resultaram cadernos de notas:
transcrição apoiada num registo memorial “capturando” um, dois ou três turnos de uma interacção
conversacional, breve contextualização (situação e protagonistas) e pistas de análise.
A presente comunicação pretende apresentar e discutir algumas destas notas de forma a reflectir
sobre o método da “Observation flottante” (Pétonnet, 1982), o seu alcance e os seus limites, e isso
numa perspectiva micro-etnográfica (Moerman, 1996). A heuristicidade do método e o seu alcance
exploratório serão assim exemplificados com base numa releitura dos meus cadernos de notas e à
luz da literatura científica incidindo sobre as interacções discursivas. As questões éticas levantadas
por uma observação encoberta e furtiva que tira proveito da participação do investigador na vida
social sem aberturas formais dos terrenos de observação serão igualmente abordadas.
Esta discussão crítica do valor documental de notas de “Observation flottante” levará num segundo
momento a uma reflexão sobre os contributos dos Estudos de Corpora (Freitas, 2010), que terá por
base uma investigação em curso, em ordem a consolidação das investigações empíricas no domínio
da Análise da Conversação e a superação dos problemas éticos acima levantados.
Bibliografia
Freitas, T., 2010. Estudos de Corpora. Da teoria à prática, Lisboa: Colibri.
Moerman, M., 1996. Talking Culture. Ethnography and Conversation Analysis 4.º ed., Philadelphia, USA: University of
Pennsylvania Press.
Pétonnet, C., 1982. L'Observation flottante. L'exemple d'un cimetière parisien. L'Homme, 22(4), pp.37-47.
2.4. Pré-construções teóricas e método indutivo em Análise da Conversação
David Monteiro (GIID-CLUNL)
O trabalho feito em Análise da Conversação assenta num cuidadoso processo de observação,
transcrição e descrição de ocorrências de interacção. Através da realização de análises detalhadas da
organização da participação dos indivíduos em interacções, da organização sequencial destas
interacções e da relação entre as instituições e as dinâmicas da interacção, esta disciplina científica
tem permitido dar conta dos modos como os falantes participam nas várias interacções
conversacionais que permeiam os seus quotidianos.
Neste sentido, o analista da conversação procura ter como orientação metodológica uma abordagem
indutiva e naturalista, partindo da observação dos fenómenos sem recorrer a préconstruções
teóricas, uma vez que a organização da conversação deve ser analisada enquanto construída
localmente e resultante de uma constante negociação dos participantes.
No entanto, todo o trabalho de análise da conversação está em constante articulação com o trabalho
realizado pela comunidade científica, do qual resultam instrumentos e procedimentos de análise,
modelos de descrição e de sistematização e convenções de transcrição que constituem todo um
campo de referência teórica e prática para o analista.
As reflexões em torno das questões éticas levantadas pela investigação ganham ao serem
perspectivadas à luz desta "tensão criativa" (Ten Have, 1999:39) entre, por um lado, referenciais e
códigos preexistentes no seio da comunidade científica e, por outro lado, questionamentos e “microdilemas” éticos que emergem moment-by-moment no tratamento dos dados.
Tendo ainda em consideração o facto de o trabalho de análise e descrição realizado no âmbito da
Linguística ser feita de acordo com metodologias diferentes do método indutivo utilizado em
Análise da Conversação (McIvenny & Raudakoski, 1996; Woofitt, 2005), esta comunicação
propõe-se a ser uma reflexão pessoal sobre estes problemas e questões metodológicas, os quais
surgem no decorrer de um trabalho de transcrição e análise de gravações de interacções discursivas.
Procurar-se-á igualmente que esta comunicação permita reflectir acerca das implicações de uma
possível integração destas perspectivas metodológicas no trabalho de Análise da Conversação.
Referências
McIvenny, P. & Raudaskoski, P. 1996. The Mutual Relevance of Conversation Analysis and Linguistics: A Discussion
in Reference to Interactive Discourse. in Heltoft, L. (Ed.), Proceedings of the Thirteenth Scandinavian Conference of
Linguistics, 1992, Roskilde, Denmark: 263-277.
Ten Have, P. 1999. Doing Conversation Analysis. A Practical Guide. Sage: Thousand Oaks.
Wooffitt, R. 2005. Conversation Analysis and Discourse Analysis: a Comparative and Critical Introduction. Sage
Publications, London
PAINEL 3 | PANEL 3
PESQUISA ETNOGRÁFICA E ÉTICA
ETHNOGRAPHIC RESEARCH AND ETHICS
3.1. The researcher as a “gendered” insider: ethical issues posed by sharing
knowledge and identity with a subset of participants
Francesca Alby (University "Sapienza" of Roma – Department of Psychology of Development and
Socialization)
Marilena Fatigante (University "Sapienza" of Roma – Department of Psychology of Development and
Socialization)
In this work we discuss ethical issues arising when the researcher is an insider in the community
under study. Within a reflexive perspective (Finlay 2002), we take our representations and
descriptions as only partials truths (Clifford & Marcus 1996): how we represent and account for
others’ experiences is intimately related to who we are, including our prejudices, ideology and tacit
knowledge that may or may not be shared with the participants (cf. Wilkinson 1988, Lynch 2000).
Avelsson (2009) emphasizes advantages of being an “insider” ethnographer, while, at the same
time, alerting about the biases that may result from sharing the same lifeworld with the researched
community.
The paper draws upon 10 focus-group interviews involving, respectively, working mothers and
fathers, who discuss about how time and family labour are managed in their daily domestic life. The
data were collected and analyzed by three researchers, who were working women, have about the
same age of the interviewees, and, in two cases, were also mothers.
The interactions were videorecorded and transcribed according to the jeffersonian conventions
(Sacks,Schegloff, Jefferson 1974).
In this work we analyze episodes of the group interviews in which participants (interviewees and
researchers) discursively orient to shared background knowledge and identity (i.e., being a woman
and a working mother), that, while sustaining empathy and communication with some of the
participants (i.e., the working mothers), may impair the relationship with the other participants (i.e.
the working fathers).
Through making the research process available to a reflexive and public scrutiny, we aim to
enhance the research’s ‘moral integrity’ (Kvale 1996), here discussed as the researcher’s
commitment to fully account for her actions and the production of results, in order to make them
intelligible and fair to both the participants and the scientific community.
3.2. Olhe que eu estou a gravar tudo!” Ética, anonimato e divulgação de
informações no trabalho etnográfico
Inês Fonseca (Departamento de Antropologia da FCSH-UNL / CRIA-pólo FCSH-UNL)
Nos últimos 3 anos tenho vindo a realizar uma investigação sobre as maneiras que as pessoas
encontram para sobreviver a crises económicas a situações de desemprego. Nesse sentido, interessome sobretudo pelas formas de organização familiar (como os recursos económicos são partilhados
entre os membros do agregado doméstico) e pelas redes de apoio que também existem fora do
contexto familiar. Também presto atenção às práticas e estratégias da economia informal.
O trabalho de campo decorre na Baixa da Banheira (uma freguesia do concelho da Moita) na
cintura industrial de Lisboa, cujo centro é o Barreiro.
A metodologia seguida centra-se em entrevistas semi-estruturadas (histórias de vida) juntamente
com algumas estadias de terreno. Alguns dos entrevistados trabalharam comigo noutro trabalho de
investigação (em 1995) e estabeleci uma relação de amizade com eles. Este facto tem-me permitido,
em alguns casos, observar a evolução de diferentes membros e gerações do mesmo agregado
doméstico ao longo destes 15 anos. Simultaneamente, tornou possível o estabelecimento de uma
relação de confiança entre nós.
Com esta comunicação o meu objectivo é referir e discutir alguns aspectos éticos do trabalho de
campo etnográfico, tais como: o estabelecimento de uma relação de confiança entre o investigador e
os entrevistados, a protecção do anonimato e a sua pertinência, a transmissão das informações do
trabalho de campo e a responsabilidade dos cientistas sociais.
“Remember that I’m recording all this!” Ethics, anonymity and transmission of data from the
fieldwork
For the last 3 years I’ve been doing an anthropological research about the ways people resort in
order to survive economic crises and unemployment. To this sense my attention has turned to family
organization (how the resources are shared among the members of the household members) and to
the supporting networks existing outside the family context. Attention is also being focused on the
practices and strategies of informal economy.
Fieldwork is conducted at Baixa da Banheira (a parish within the municipality of Moita) in the
industrial belt of Lisbon, whose centre is Barreiro.
I’m following a methodology centred on semi-structured interviews (life histories) along with some
short stays in the field. Some of the interviewees worked with me on another research project (in
1995) and we’ve become close friends. This fact has allowed me, in some cases, to observe the
evolution of different members and generations of the same household over these 15 years.
Simultaneously, it made possible a relationship of confidence between us.
With this paper my purpose is to consider and discuss some ethical issues concerning some aspects
of anthropological fieldwork, like: building reliability between the researcher and the interviewees,
protection of the anonymity and its pertinence, transmission of data from the fieldwork and the
responsibility of social scientists.
3.3. E o que fazer com o desejo? Práticas etnográficas em “espaços de engate
gay”
Paulo Jorge Vieira (Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa)
Baseado num exercício reflexivo integrado numa etnografia sobre espacialidades lésbicas e gays em
Lisboa este trabalho propõe-se a questionar a importância que o desejo sexual tem na prática
etnográfica ena investigação social, repensando o papel do mesmo nos procedimentos
metodológico, na negociação de campo, e em especial, na acessibilidade aos participantes na
etnografia.
A partir de uma perspectiva feminista, este ensaio via problematizar a importância que a
sexualidade do pesquisador, incluindo a sua orientação sexual percebida pelos participantes, tem na
construção da prática etnográfica em áreas de encontro e “engate gay”.
Estruturado como uma viagem através destes espaços de significado para a população gay,
nomeadamente alguns dos lugares de encontro na cidade de Lisboa, este ensaio pretende potenciar o
debate epistémico e metodológico sobre a importância do desejo sexual na interacção etnográfica
reafirmando a importância das interacções discursivas na investigação quer.
Entre as discussões que esse trabalho visa também a repensar a maneira como a “colocação de
perguntas” por parte do investigador nos processo etnográficos e de entrevista, bem como
questionar o modo como ele negoceia o diálogo com os participantes num processo contínuo em
que os jogos de sedução estão subliminarmente presentes.
3.4. Some Ethical and Methodological issues: A particular experience in the
streets of São Paulo (Brazil)
Maria José Coracini (Unicamp – IEL/DLA)
Esta comunicação tem por objetivo discutir criticamente algumas possibilidades éticas e
metodológicas usadas em pesquisas brasileiras na coleta e tratamento de dados realizados na ruas de
cidades do Estado de São Paulo. Focalizaremos, a seguir, nossas pesquisas empíricas,
principalmente na coleta oral de dados nas ruas. Em nossa atual investigação sobre a identidade de
pessoas em situação de rua, também chamados “sem teto”, e em duas pesquisas precedentes - a
respeito de posições discursivas ocupadas por quem fala mais de uma língua e a respeito de
migrantes no Brasil - têm sido coletadas narrativas orais sobre a própria vida. É importante pontuar
que falar de si significa criar uma história: ao mesmo tempo história e ficção, que, através da
discursividade, se torna a verdade e a realidade de si. Desse modo, precisamos inventar algo que
convença o outro, para que sejamos acreditados. Antes de o participante começar sua narrativa, o(a)
pesquisador(a) introduz a temática da pesquisa, seguida por algumas questões simples. Pedimos que
seja(m) espontâneo(s), na medida do possível: não somos ingênuos a ponto de pensar que a
presença do pesquisador, sentado diante do participante, não tem nenhuma influência no que ele
dirá, mas é possível tornar o ambiente quase natural. Quanto aos instrumentos de coleta, as
narrativas são gravadas: em geral, as pessoas não gostam de ser filmadas. Do ponto de vista ético, é
relevante afirmar que: 1) quem aceita colaborar é considerado “participante de pesquisa”; 2) antes
de começar, informa-se a eles que seu nome, lugar e outros detalhes serão apagados e mudados em
nossa pesquisa, com o objetivo de não implicá-los enquanto pessoa (em geral, eles temem as
consequências de serem reconhecidos pela polícia e/ou seus colegas); 3) informamos os objetivos
da pesquisa; 4) eles concordam em falar na presença de um gravador.
Some Ethical and Methodological issues: A particular experience in the streets of São Paulo
(Brazil)
This presentation aims at discussing critically some ethical and methodological issues, used in
Brazilian researches in the collection and treatment of data gathered in informal setting. We will
focus after on our empirical researches, mainly in oral collecting data in the streets of São Paulo
cities. In our recent investigation about homeless people and in the two precedent researches concerning the discursive positions occupied by people speaking more than one language and about
migrators in Brazil, oral narratives about one’s own life have been used. It’s important to point out
that speaking about oneself means to create a story, that is, at the same time, history and fiction,
which through discursivity becomes the truth or the reality about oneself. So we must invent
something able to convince the Other, in order to be trusted. Before the participant begins his/her
narrative, the researcher introduces the thematic subject of the research followed by some simple
questions. Also, we ask him(her) to be as spontaneous as possible: we are not naïve to think that the
presence of the researcher sitting in front of the participant has no influence in what will be said,
but we can make the ambiance seem almost natural. As regards the tools, we always tape record the
narratives, as people don’t like to be filmed. In ethical concerns, it’s relevant to say that: 1) people
that accepted to collaborate are considered “research participants”; 2) before beginning, they know
that their name, location and other details will be deleted and changed in our research, in order not
to implicate themselves as a person (in general they are afraid of the consequences of being
recognized by the Police and/or their colleagues); 3) they know our objectives; 4) they agree to
speak in the presence of a tape recorder.
PAINEL 4
QUESTÕES ÉTICAS E METODOLÓGICAS NA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA - B
ETHICAL AND METHODOLOGICAL ISSUES IN CONDUCTING EMPIRICAL RESEARCH - B
4.1. Professional ethics in legal research: the interface of client confidentiality,
practioner protection and integrity of research data
John F. Bourke (Macquary University, Austrália)
Rosemary Lucadou-Wells (Murdoch University, Austrália)
The relationship between legal practitioner and client is essentially based upon utmost
confidentiality. The legal profession itself oversees the ethical behaviour of legal practitioners in all
aspects of practice. The client can only be entirely frank with his or her lawyer because of the
culturally embedded principle that the legal practitioner maintains utmost client confidentiality and
utmost good faith. There are, however, instances when client confidentiality is over-ridden by
requirements of competent authorities vested with power to seize client files held by a legal
practitioner. In Australia the National Tax Agency is such an authority. The seized file may well
contain contemporaneous notes made by a solicitor of a client’s instructions and comments made
during a confidential interview. In such a scenario the legal practitioner is legally compelled to
assent to the demands of the Agency without obtaining the consent of the client.
The paper addresses the constraints of legal ethics for legal researchers. In particular it considers the
requirement to specifically cite only materials which have been appropriately published in the
public domain. A particular case is examined where confidential information was inappropriately
published in the public domain by a competent authority. The ramifications for the client of such
inappropriate publication are revealed. Safeguards for the protection of client anonymity in such
instances are suggested.
4.2. Pairs on the Internet. The social architecture of online intimacy and beingin-common
Krzysztof Stachura (University of Gdańsk)
Magda Żadkowska (University of Gdańsk)
With the dynamic development of ICTs, all types of social relations gain their online dimension.
The impact of new technologies, especially the Internet, has brought a significant change in the way
people interact and therefore opened new possibilities to research the uprising, fascinating but
hardly expected phenomena of late modernity. One of them is the specifics of online relations
between partners in a pair.
We agree with the standpoint of Barry Wellman, Howard Rheingold and many others that internet
does not give way to a totally new kind of communication but rather fosters it. At the same time, we
stand in accordance with the perspective of Jean-Claude Kaufmann (Sex@mour, 2010) that there
are certain threats resulting from a greater freedom to have contact with others online, the ability to
create web-related identities and searching for mediated fulfillment. The question that needs to be
raised here is to what extent contemporary pairs are capable to accept the online liberty in intimate
relationships and what might be here the causes for a relationship to come to an end.
The main aims of the paper are (1) to present a typology of relations concerning contacting via
Internet, with special consideration of the factor of living together / apart and (2) to name the social
advantages and drawbacks of internet communication both for partners considered as individuals
and the pair. For these purposes, the results of ethnographic research – including in-depth
interviews and observations – conducted on pairs in Polish Tricity will be presented along with
reccomendations for further studies
4.3. Methodological Issues in Recording Corporate Meetings
Anita Wolfartsberger (Department of English, University of Vienna, Austria)
The recording of authentic spoken discourse in institutional settings is notoriously difficult, but
more or less so depending on the situation and context in which the interactions take place. One of
the fields where researchers frequently report problems in getting access to the research site is the
domain of international business, where organizations might agree to participate in questionnaire or
interview studies, but hardly grant permission to record authentic interactions (Kasper 2000,
Charles 2007). According to Pan, Scollon and Scollon (2002: 135) "[m]eetings are amongst the
most difficult aspects of professional communication in international settings to research, because
they are very sensitive events which are normally treated with high levels of confidentiality."
The present paper draws on experience gained through an empirical study of intra-company group
business meetings audio-recorded in various professional organizations in Vienna, Austria. It
outlines the methodological challenges and considerations such a study poses for the researcher and
discusses the implications the choice of recording technique has on the ensuing linguistic
transcription and analysis. In fact, settling for an ethical approach of collecting naturally occurring
discourse demands a certain extent of methodological flexibility from the researcher, as the research
design is frequently not just a result of theoretical considerations, but a compromise between what
would be methodologically desirable and what is practically feasible. Against this background, the
paper suggests the use of audio-recorded (not videoed) data as a way into sensitive research fields
due to its lessened intrusiveness, but also acknowledges and discusses the limitations this recording
method might pose for the choice of research topics and the subsequent analysis of the data.
References
Charles, Mirjaliisa (2007): "Language Matters in Global Communication." In: Journal of Business
Communication, Vol. 44, Nr. 3, 260-282.
Kasper, Gabriele (2000): "Data Collection in Pragmatics Research" In: Helen Spencer-Oatey (ed): Culturally
Speaking, London: Continuum, 316-340.
Pan, Yuling, Suzanne Wong Scollon and Ron Scollon (2002): Professional Communication in International
Settings. Malden, Mass.: Blackwell.
4.4. Brazilian Emergency Center
Marcia Del Corona (UNISINOS, São Leopoldo, Brasil )
This unfinished ethnographic study (O’REILLY, 2009) is based on the analysis of 200 phone calls
to a Brazilian Emergency Center through the perspectives of Conversation Analysis and
Ethnomethodology (GARFINKEL, 1967; SACKS, 1992). The calls at this center are answered by
staff members of the state military police, an institution which operates with limited material and
human resources. The permission to collect data and participate in the daily activities in this setting
showed the willingness of the institution to hear the impressions on their operations from an
outsider with supposed academic credentials (still to be settled at that time) and a deep desire to
understand how calling an emergency center is co-constructed by its participants through the use of
natural language. Permission was given in writing and the promise to keep participants’ identities
secret was made and honored. The hours spent on conversations with the commanders allowed the
researcher to understand some of the issues which were of concern to the institution. Time spent
side-by-side with call takers and dispatchers proved crucial for the understanding of participants’
practices through an emic perspective and avoided the drawing of conclusions a priori based on the
etic view of the researcher. Some of the findings resulting from the triangulation of the analysis of
the calls, the written documents and the field notes were discussed with members as opportunities
arose and changes considered appropriate have already been implemented while others are still
awaiting authorization/resources. Care taken in the observation of the activities and in the
discussion of possible interventions helped build rapport and trust between the researcher and the
community. A result of this long-term relationship was a still informal invitation to conduct the
training of all call-takers not only at the municipal, but at the state level.
PAINEL 5 | PANEL 5
QUESTÕES ÉTICAS NAS VÁRIAS ETAPAS DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO
ETHICAL ISSUES AT VARIOUS STAGES OF THE RESEARCH PROCESS
5.1. Putting the question “may I record it” into context: an example from family
mediation
Paulo Cortes Gago (Federal University at Juiz de Fora, Minas Gerais, Brazil)
Researchers who depend crucially on recorded (video or audio) data as their raw material for
work face always the famous question - “do you mind if I record it?”, as the title of this conference
suggests. As a real question, it occurs always in talk-in-interaction and in some sequential context.
The notion of context can be associated with the cognitive sciences, relating to informationprocessing structures that (pre)exist in our head (Rumelhart, 1975;Schank & Abelson, 1975;
Minsky, 1974), or with sociological perspectives (e.g. Bateson, 1972; Goffman, 1974; Hymes,
1969), where contextual elements are broken down (e.g. into setting, scene, participants, ends,
topics, etc.). The crucial point is that these perspectives consider context an inherent neutral
element. Discourse (or conversation) doesn’t experience any sort of external constraint (Lindstrom,
1982). In Conversation Analytical (C.A.) terms, what is relevant for interpreting context must be
there in the transcript, and participants must show, in the talk, an orientation to that contextual
feature whose existence one wishes to claim. It is the procedural consequentiality principle
described by Schegloff (1991). It is the participants’ orientation to that feature, and not the analyst’s,
that counts.
Bearing Lindstrom’s critique in mind, we explore here the internal and external contextual
aspects around the adjacency pair request/grant of consent to record in one example of about 2
minutes of talk, from a case study of family legal mediation at a court in a small town in Rio de
Janeiro, Brazil. As a main result, elements of distance, hierarchy and imprecise accounts about
purposes of the research emerge in participant’s talk as a contextual element. These facts lead us to
reflect on the validity of the consent given. Based on these data, reflections are also made on
research paradigm (weather pure qualitative or collaborative).
5.2. Constrangimento ou confiança? Deambulações éticas sobre gravação de
“entrevistas de ajuda”
Emília Ferreira - Universidade Lusófona de Lisboa
No contexto de interacção, a frase “Não se importa que eu grave?”, aparentemente simples e inócua,
quando, como no corpora em análise, coloca falantes com posições desiguais e institucionalmente
definidas, levanta questões do foro técnico (competências e práticas profissionais) e ético
(fundamentos e valores deontológicos). A ideia é a de procurar através do material gravado nesse
contexto, expressões reveladoras de constrangimento/confiança no processo de autorização e no
decurso da entrevista.
Qual a capacidade de resposta e entendimento da população atendida nos serviços da acção social
da pergunta colocada? Terão os utentes, beneficiários de programas sociais, condições de responder
negativamente? Terão a percepção que colocam na mão de outros “pedaços da sua vida” sobre os
quais perdem, no momento da gravação, qualquer poder de decisão? Que garantias reconhecem
quando o fazem? Qual a base e como se constrói a confiança que tal procedimento pressupõe?
É assim, na qualidade de assistente social, que procuro resposta a interrogações. Nesse caminho a
filosofia e a análise discursiva colocam-se como desafios e “ferramentas”a utilizar.
Poder e confiança – qual destes conceitos justifica, e como se situam na aceitação de uma prática
invasiva do espaço profissional e da interacção implícita à relação profissional?
Definida como uma prática social complexa, a prática do serviço social na sua expressão de relação
directa com a população, assenta na triangulação utente-profissional-instituição. Assim, embora
configurada triangularmente a conjuntura descrita baliza a intervenção, atribuindo lugares e
condições de poder segundo uma distribuição desigual, situando-o preferencialmente nos vértices
opostos ao do utente.
A confiança é determinante na qualidade da relação, e na percepção que o destinatário constrói da
acção, na sua intencionalidade e procedimentos, sendo um elemento chave no trabalho de
capacitação e mudança. A confiança pode assim ser, como contraponto ao poder institucional, o
factor fundamental na abertura do terreno empírico.
5.3. Ethics on the move. Methodological dilemmas on scientific writing process
Rosalina Costa (Department of Sociology, School of Social Sciences, University of Évora, Portugal)
Data collection represents a crucial moment in research process. Commonly, this is the moment
where “ethics questions” are placed and, therefore, solved, like if it could be possible, in that
specific moment, to do it once and for all. That’s why ethics usually comes along with data
collection and it’s often seen as taking place in a very specific phase in research design. Evidences
of this are spread all over research projects and can be easily withdrawn from visual schedules’
representation. In that kind of planning, ethics is seen as a sub phase or topic to which researchers
assign a specific time, somewhere nearby the construction of data collection instruments and
immediately before data treatment and analysis.
But scientific writing constantly challenges ethics questions as solved ones. In fact, most of ethics
dilemmas raised on scientific writing process are only partially solved by informed consent. In this
presentation we aim to discuss some ethic and methodological challenges arising from data
collection process in the context of a sociological research. Departing from the presentation of a set
of situations firstly imported from the conduction of episodic interviews (Flick, 2005), and
subsequent analysis, we aim to discuss the difficulties associated with the safeguard for informants’
anonymity in view of the devolution of research results back to the communities studied that
scientific writing somehow represents. In the framework of the social responsibility of scientists, we
hope to contribute to the critical discussion of ethical and methodological issues in the collection
and treatment of data gathered in academic research settings, stressing how ethics concerns are
transversal to data analysis and writing and, in that sense, a never ending process.
5.4. Anonimizar transcrições – problemas éticos e metodológicos
Ricardo de Almeida (GIID-CLUNL)
O trabalho de investigação em ciências sociais com base em transcrições de interacções
registadas em situações reais, e em particular quando estes registos são efectuados em quadros
institucionais, conduz muitas vezes a uma necessidade de preservação do anonimato dos
participantes e ao subsequente tratamento de todos os dados que possam possibilitar a sua
identificação.
A minha comunicação irá incidir sobre diversos problemas éticos e metodológicos que se
colocam ao investigador/transcritor no decurso do processo de anonimização das transcrições, e à
posterior utilização destas para fins académicos.
O corpus em estudo, designado como Corpus ACASS (GIID-CLUNL), é composto por registos
áudio e respectivas transcrições de atendimentos e visitas domiciliárias efectuados por técnicos de
intervenção social. O corpus encontra-se ainda em fase de transcrição, e para esse efeito temos
utilizado o programa ELAN, que consiste numa aplicação informática em Java que permite criar
anotações complexas em ficheiros de áudio ou vídeo. As convenções de transcrição utilizadas
resultam de uma simplificação e adaptação de convenções habitualmente usadas no domínio da
Análise da Conversação (e.g. Atkinson & Heritage (1984: ix-xvi); Schegloff (2007: 265-269).
Uma das tarefas que o GIID se propõe a realizar, a partir destes materiais, é disponibilizar as
transcrições em linha para que outros investigadores deles possam fazer uso.
No entanto, o método que adoptámos para anonimizar as transcrições tem-se revelado
problemático, dando origens a diversas interrogações que colocam em causa não só a metodologia
aplicada, como também a própria possibilidade de colocar as transcrições disponíveis
integralmente. Para além deste aspecto decorrente de opções metodológicas, verifica-se que a
necessidade de fazer uso para fins académicos de transcrições de interacções reais, e a imposição
ética de respeitar a garantia de anonimato dada aos participantes, entram muitas vezes em conflito.
Anonymizing transcripts – ethical and methodological problems
The research in social sciences based on transcripts of naturally occurring interactions, and
particularly when the data is collected in institutional settings, often leads to a need of preserving
the anonymity of the participants and to the subsequent treatment of all the data that can make
possible their identification.
My communication will focus on several ethical and methodological problems that are posed to
the researcher/transcriber in the course of the anonymization of transcripts, and to the following use
of those transcripts for academic purposes
The corpus in study, designated as ACASS Corpus (GIID-CLUNL), consists in a collection of
audio recordings, and its respective transcriptions, of interviews and house calls made by social
intervention professionals. The corpus is still in its transcription stage, and for this purpose we have
been using ELAN, which is a Java software application that allows the creation of complex
annotations in audio or video files. The transcription conventions used consist in a simplification
and adaptation of the conventions normally used in Conversation Analysis (e.g. Atkinson &
Heritage (1984: ix-xvi); Schegloff (2007: 265-269).
One of the tasks that GIID is set to accomplish from these materials, is to make the transcripts
available online so that other researchers can use them.
However, the method we adopted for anonymizing the transcripts as revealed itself as
problematic, leading to several questions that place at stake not only the methodology used, but also
the possibility of making the transcripts fully available online. Besides this methodological aspect,
it appears that the need of using transcriptions of naturally occurring interactions for academic
purposes, and the ethical obligation of respecting the anonymity guarantee given to participants, are
many times in conflict.
Referências/References
- ATKINSON, J. Maxwell & John Heritage (Eds.) (1984). Structures of Social Action: Studies in Conversation
Analysis. Cambridge, Cambridge University Press.
- ten HAVE, Paul (2007). Doing Conversation Analysis – Second Edition. London, Sage.
- SCHEGLOFF, Emanuel A. (2007). Sequence Organization in Interaction: A Primer in Conversation Analysis
Volume 1. Cambridge, Cambridge University Press.
PAINEL 6 | PANEL 6
ÉTICA E CONSTRUÇÃO DE DADOS
ETHICS AND DATA CONSTRUCTION
6.1. Ética da conversação e relações de inquérito
Adriano Duarte Rodrigues (GIID-CLUNL)
A resposta às questões éticas que a investigação em ciências humanas e sociais coloca, e que têm a
ver com as exigências do respeito dos informantes à sua privacidade e ao seu anonimato, são
habitualmente relegadas para o enquadramento legal e deontológico da investigação e dos
profissionais envolvidos na recolha dos dados. Esta comunicação pretende
1) mostrar que, independentemente da necessidade de elaboração deste enquadramento, a
solução para estas questões depende sempre e inevitavelmente de processos negociais que se
realizam localmente e que obedecem às próprias normas e aos condicionamentos que
regulam a interacção entre os investigadores e os informantes;
2) chamar a atenção para a importância da descoberta da maneira como, em cada caso
concreto, os investigadores e os informantes negoceiam entre si as respostas à questões
éticas suscitadas pela pesquisa.
Analistas da conversação e estudiosos da cortesia verbal evidenciaram a centralidade da ética numa
grande diversidade de quadros interlocutivos. Do mesmo modo, uma micro-análise das relações de
inquérito próprias às várias metodologias de investigação seguidas em ciências sociais e humanas
permite revelar a extensão e a riqueza das questões éticas tratadas e negociadas localmente como
tais pelos interactantes. Neste sentido, as noções de face work e de footing, propostas por Erving
Goffman, assim como a noção de negociação proposta pelos autores da Escola de Genebra serão
consideradas particularmente fecundas para sustentar os pontos de vista que esta comunicação
pretende defender.
Bibliografia
Goffman, E. - Interaction Ritual: Essays on face to face behaviour, Doubleday, 1967.
Gofman, E. – Strategic Interaction, Univ. of Pensylvania Press, 1969.
Goffman, E. - Forms of Talk, univ. of Pensylvania Press, 1981
Halkier, B., 2010. Focus groups as social enactments: integrating interaction and content in the analysis of focus
group data. Qualitative Research, 10(1), pp.71-89.
Heritage, J., 2002. The limits of questioning: negative interrogatives and hostile question content. Journal of
Pragmatics, 34, pp.1427-1446.
Heritage, J., 2002. Ad Hoc inquiries: Two preferences in the design of routine questions in an open context. Em D.
Maynard et al., eds. Standardization and Tacit Knowledge: Interaction and Practice in the Survey Interview.
Hoboken: John Wiley & Sons, pp. 313-334.
Kidwell, M. & Martínez, E.G., 2010. 'Let me tell you about myself': A method for suppressing subject talk in a
'soft accusation' interrogation. Discourse Studies, 12(1), pp.65-89.
Robinson, J.D. & Bolden, G.B., 2010. Preference organization of sequence-initiating actions: The case of explicit
account solicitations. Discourse Studies, 12(4), pp.501-533.
Roulston, K., 2006. Close encounters of the 'CA' kind: a review of literature analysing talk in research interviews.
Qualitative Research, 6(4), pp.515-534.
Sacks, H. – Lectures on Conversation, Oxford & Cambridge, Blackwell, 1992, vol. I-II
Schegloff, E., 2002. Survey Interviews as Talk-in-Interaction. Em D. Maynard et al., eds. Standardization and
Tacit Knowledge: Interaction and Practice in the Survey Interview. Hoboken: John Wiley & Sons, pp. 151-157.
Schegloff, E., 1980. Preliminaries to Preliminaries : "Can I Ask You a Question ?". Sociological Inquiry, 50(3-4),
pp.104-152.
Lambrou, M., 2003. Collaborative oral narratives of general experience: when an interview becomes a
conversation. Language and Literature, 12(2), pp.153-174.
Roulet, E. - La description de l’organisation du discours, Paris, Didier, 1999.
6.2. “Observing the observer”. Data production as collaborative accomplishment
Marilena Fatigante (University "Sapienza" of Rome – Department of Psychology of Development and
Socialization)
Franca Orletti (Third University of Rome – Department of Linguistics)
Within ethnomethodological and interactional perspectives, scholars have become increasingly
aware that knowledge construction is not neutral but always co-constructed by both the researcher’s
and the participants’ interpretations toward the research scenario (including the hypotheses,
instructions, agreements, tools, artifacts and bodies) (Reason and Torbert 2001; Seaks, Treleaven
2009). As Labov (1972) alerted about the collection of sociolinguistic data, participants’ beliefs
upon the “observer” and her procedures may change the expected target of inquiry, as it is when
informants interviewed to study vernacular speech shift instead into formal registers. Recent
developments in reflexive perspectives (Finlay 2002), though, solicit to consider the interplay
between the researcher – and her methodological apparel- and the “researched” not as a bias, but,
rather, as a resource to fully account for the participants’ orientation toward the context (Mondada
2006).
The paper we present aims to discuss how participants in an ethnography display their
interpretations on the research scene and how the researcher herself deals with them. Data include a
corpus of gynecologist - patient interactions collected in a public hospital in Italy. For the aim of
this paper, 20 interactions between a gynecologist and a patient are analyzed, each 10 of them
involving, respectively, a native and a non-native patient. Medical visits were audio and
videorecorded and fully transcribed according to the jeffersonian conventions (Sacks, Schegloff &
Jefferson 1974).
From the overall corpus selected, authors examine excerpts in which the participants address the
researcher or comment on her in her absence targeting aspects of the research context. Analyses
focus on how these interpretations are managed in the conversations and how the researcher
responds (or not) to them. The paper finally discusses ethical implications, namely, the way these
reflexive analyses can be used in interpreting and giving back the research results to the community.
6.3. From possibilities to constraints and back: video recorded data and ethic
issues in research with children
Cristiane Schnack (Unisinos, Brazil)
Recent research in the analysis of talk-in-interaction has highlighted the importance of working
with video as well as audio recordings (e.g. Mondada, 2006; 2009; C.Goodwin, 2000). The
importance of such an endeavor resides in the understanding of embodiment as a departing point
when one aims to get closer to the cultural organization of social action. While such an
understanding becomes widely accepted and more research is carried out using video as a research
method for collecting data, one may be inquired about the ways to preserve participants´ identity.
Working with video recorded interaction, this study aims at discussing the challenges that such a
methodology presents us with while carrying out research with children. The data collection method
included video recordings of home interactions among family members throughout a school year.
Data are presented so as to bring to discussion the possibilities and constraints one may face if
he/she decides to analyze action in its tapestry made of different semiotic fields (C.Goodwin, 2000),
especially considering the moments in which researchers have to make public the research findings.
6.4. Vozes assimétricas: a relação entrevistador-entrevistado em relatos de
professores de inglês de escolas públicas da cidade de São Paulo (Brasil)
Deusa Maria de Souza Pinheiro Passos (Universidade de São Paulo – USP)
Dentre as modalidades de coleta de dados, no contexto de pesquisas relativas ao ensino e
aprendizagem de línguas na escola pública, sob a perspectiva teórica da Análise de Discurso,
destacam-se as entrevistas, sobretudo as do tipo semi-estruturadas, caracterizadas pela pouca
interferência do pesquisador-entrevistador, com o professor-entrevistado apresentando um relato
quase espontâneo de sua prática pedagógica. Embora essa forma de coleta permita uma maior
liberdade de expressão para o entrevistado, e a consequente riqueza de dados, extrapolando, por
vezes, até mesmo o objetivo inicialmente estabelecido pelo pesquisador, ela não está livre da
influência dos lugares discursivos, hierarquicamente constituídos, de pesquisador e pesquisado.
Parte de um jogo de poder, a voz do pesquisador ao mesmo tempo provoca e autoriza o processo em
que o outro se narra, fala de si, garantindo ao entrevistado sigilo autoral, uma vez que sua
identidade jurídica é preservada. Apoiando-se em pressupostos das Teorias do Discurso e da
Desconstrução, este trabalho busca investigar, a partir da análise de um corpus composto por
entrevistas realizadas com professores de língua inglesa de escolas públicas da cidade de São Paulo,
registradas em áudio e posteriormente transcritas, a dinâmica da relação entre o entrevistador e o
entrevistado, assim como os efeitos de sentido do gesto de perguntar, responder e outros elementos
dessa interação. Interessa-nos especialmente refletir acerca do funcionamento discursivo desse
cenário, em que pesquisador (entrevistador) e professor (entrevistado) ocupam posições de sujeito,
inseridas numa memória marcada pela assimetria de dizeres sobre o ensino de inglês na escola
pública. A visibilidade do discurso sobre o saber/fazer pedagógico depende predominantemente da
voz do pesquisador. Entretanto, a voz do professor da escola pública, embora quase inaudível e
camuflada pelo anonimato, pode representar elemento de resistência à aparente estabilidade da
ordem do discurso político-educacional.
Asymmetric voices: the interviewer-interviewee relationship in narratives by state school English
teachers in São Paulo (Brazil)
Taking into consideration research about language learning and teaching in Brazilian state schools,
under a discursive perspective, among data collection methods, it is usual practice to rely on
interviews – especially life-history interviews – characterized by the investigator´s little
interference, allowing the teacher-interviewer to present an almost spontaneous account of his/her
teaching experience. Although this data collection method allows for a greater freedom of
expression on the part of the respondent, with the consequent richness of data, even expanding on
what was initially aimed by the researcher, this method may suffer the discursive influence of the
roles of the interviewer and interviewee, hierarchically constituted. Inserted in a power game, the
investigator´s voice provokes and authorizes the process through which the respondent offers a
narrative about himself/herself, part of his/her life-history, guaranteeing confidentiality. Drawing on
theories of discourse and deconstruction, this paper aims at investigating, based on a corpus
composed by tape-recorded and transcribed interviews with teachers of English in São Paulo, the
relationship between interviewer-interviewee, focusing on the effects of meaning produced as a
result of the gesture of asking, answering, as well as other elements of this interaction. We are
especially interested in reflecting critically upon the discursive functioning of this setting, in which
both the investigator (interviewer) and the teacher (respondent) occupy subject positions, which in
turn are part of a discursive memory marked by an asymmetry of statements regarding English
teaching at state schools in Brazil. However, the state school teacher´s voice, almost inaudible and
under anonymity, may represent an element of resistance to the apparent stability of the political
and educational discourse order.
PAINEL 7 | PANEL 7
QUESTÕES ÉTICAS NA INVESTIGAÇÃO EM LINGUÍSTICA
ETHICAL ISSUES IN LINGUISTICS RESEARCH
7.1. 'I don't know if I should say this.' When interviewees talk about the
interview1
Marta Filipe Alexandre (Instituto de Linguística Teórica e Computacional & Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa)
This paper is a critical reflection on the use of interviewing as a research method in applied
linguistics. More specifically the paper focuses on a series of ethical questions that were explicitly
pointed out by 20 interviewees in the context of individual interviews regarding both the nature of
science and the practice of being a scientist in Portugal. The data analysed is part of 42 interviews
collected between 2008 and 2010, during a PhD research framed by systemic-functional linguistics
(SFL) and critical discourse analysis (CDA), and aiming at an understanding of the practices and
beliefs characterizing the Portuguese scientific community. An overall review of the interviews
shows that, apart from the expression of opinions and values - the topic of the questions and the
main theme for the analysis -, there are particular statements about the interviews, not only
regarding the context of the interview, but also regarding the researcher's expectations and the
interviews' content treatment. It will be argued that, from the interviewees' point of view,
confidentiality is definitely not the most proeminent concern. The purpose of the interviews and the
researech they are part of turned out to be very important ethical concerns. Given the critical
framework of the research project, it will be showed how the researcher managed (or not) to cope
with the interviewees concerns. Particular excerpts of the interviews, as well as methological
options and procedures, will be presented and commented.
1('Não sei se devia dizer isto.' - quando os entrevistados falam sobre a própria entrevista)
7.2. A noção de ética na pesquisa em Linguística: como manter sigilo do objeto
de estudo na coleta de dados?
Regina Lúcia Péret Dell´Isola (Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais/BRASIL)
As características e atribuições dos Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil estão contidas na
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O bem-estar dos indivíduos participantes em
pesquisas realizadas no âmbito da Universidade Federal de Minas Gerais é protegido pelo Comitê
de Ética em Pesquisa (COEP), órgão administrativamente vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa,
autônomo em decisões de sua alçada e de caráter multidisciplinar e multiprofissional.
Necessitam da aprovação do COEP, os projetos de pesquisa cuja fonte primária de informação seja
o ser humano, individual ou coletivamente, direta ou indiretamente. A análise ética pelo COEP não
se restringe aos possíveis riscos que alguém possa correr por participar da pesquisa.
De acordo com a Resolução 08/2007, que institucionaliza o COEP da UFMG, “é vedada a
realização de pesquisa envolvendo seres humanos no âmbito da UFMG sem a prévia apreciação e
aprovação pelo COEP/UFMG e, quando couber, pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP)” (Art. 3)
Entre os documentos a serem submetidos à apreciação do COEP, há o protocolo da investigação que
é um resumo do projeto de pesquisa acrescido da documentação necessária. Nele deve conter a
identificação completa de todos os envolvidos. Todos devem assinar as declarações que constam do
protocolo. Entre as declarações, está o formulário de consentimento livre e esclarecido, com
informações sobre as circunstâncias nas quais o consentimento será obtido, quem irá tratar de obtêlo e a natureza das informações a serem fornecidas aos sujeitos da pesquisa. Em que pese a
importância desse formulário, levanta-se a seguinte questão: como se deve proceder quando é
necessário manter, ao informante, o sigilo do objeto da pesquisa?
Tem-se constatado que, na área da Linguística, não são poucas as investigações em que é
imprescindível que seja mantido em secreto o foco da análise dos dados, sob a pena de invalidação
da qualidade da coleta. Por isso, nesta comunicação, serão apresentadas reflexões a respeito do
sigilo do objeto da pesquisa e acerca da exigência de se prestar essa informação aos sujeitos da
coleta de dados.
The notion of ethics in Linguistics research: how to keep the study object in secrecy during the data
collecting
The characteristics and attributions of Committee of Ethics in Research in Brazil are enclosed in the
Resolution 196/6 of Health National Council. The welfare of participants in researches
accomplished in the scope of the Federal University of Minas Gerais (UFMG) is protected by the
Comitê de Ética em Pesquisa (COEP), the body administratively linked to the Pro-Rectory of
Research, autonomous in decisions in its purview and of multidisciplinary and multiprofessional
character.
The projects of research whose primary source of information is the human being, individually or
collectively, directly or indirectly, need the approval of COEP. The ethical analysis done by COEP
is not restricted to possible risks that someone can be submitted to for taking part in the research.
According to the Resolution 20/2007, which institutionalizes the COEP of UFMG, “the
accomplishment of research involving human beings in the scope of UFMG is forbidden without
previous evaluation and approval by COEP/UFMG and, when necessary, by Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa (CONEP) (National Committee of Ethics in Research)” (article 3).
Among the documents that must be submitted to the evaluation of COEP, there is a protocol of
investigation, which is a summary of the research project added to the necessary documentation.
The complete identification of all the participants must be in it. All must sign the declarations that
are reported in the protocol. It is enclosed, among the declarations, the free and informed consent
form, with the information about the circumstances in which the consent will be obtained, who will
be responsible for obtaining it and the nature of the information that the research subjects will be
provided with. Concerning the importance of this form, the following question is arisen: how to
proceed when it is necessary to keep, to the informant, the secrecy of the research object?
It has been verified that, in Linguistics field, the investigations in which the secrecy of the data
analysis focus is indispensable are not few, otherwise the quality of the data collecting can be
invalidated. That is why, in this communication, reflections on the secrecy of the research object
and on the exigency of rendering this information of the subjects of the data collecting will be
presented.
7.3. “South Eastern Huastec (Maya, Mexico): Ethical issues in collecting the
audio data"
Ana Kondic (University of Sydney, Australia; University Lyon 2, France)
South Eastern Huastec (Ethnologue code HSF) is an endangered Maya language spoken in the
region La Huasteca, northern Veracruz, Mexico, by about 1700 people. It has not been passed to the
new generations for about twenty five years. The author spent 12 months on a field work in the
village of San Francisco Chontla collaborating with the members of this indigenous community to
document and describe this least known Maya language and its culture. This project was supported
by a SOAS HRELP grant.
Apart from disussing the data collection and management of the data basis, the author will focus in
this presentation on Ethics and methodology of collecting the data and working with consultants,
native speakers of this language. The safeguards for consultants’ and sources' anonymity will also
be discussed, as well as the linguist responsibility, and the way of making the whole database and
the project results (collected data) available to the community.
7.4. “Anque steia bien, dezi más ua beçi”2: a guided quest for a spoken standard.
José Pedro Ferreira (MLDC; ILTEC); Daniela Braga (MLDC); Pedro Silva (MLDC); Hyongsil Cho
(MLDC); Miguel Dias (MLDC; ADETTI-ISCTE)
For the past few months, we have been building a speech synthesis system for Mirandese. Typically,
the data such systems are fed with are phonetically-rich prompts read by a voice talent and a
phonetically-transcribed representative lexicon. The talent is expected to be a native standard
variety speaker, and the quality of the provided data is judged in part for how reliable the talent is as
a standard variety informant. In the case of Mirandese, though, there is no such thing as a widely
accepted standard variety. Although strong steps towards the creation of a language policy were
taken since the late nineties, when Mirandese was recognized as an official language in Portugal,
those consisted mostly in the establishment of common spelling rules and teaching methodologies.
Factors such as an eminently oral, direct contact transmission, the lack of an established body of
literature, and the relative youth of the teaching system all contributed to that. Although localects
can be grouped in loosely related dialect sets and some are perceived as more neutral than others,
there is no clear cut standard that could be chosen for the lexicon transcriptions mentioned above.
Given the system needs, a lect had to be chosen for the lexicon transcriptions, though. One of
several viable ones was chosen, was based in existing descriptions and available recordings. This
meant, though, that almost inevitably the voice talent’s speech diverges from the dialect used in the
transcription, causing the recordings to be a trial-and-error process aimed at aligning the lexicon
transcriptions and the speech. This provides for an unusual recording process where the person
responsible for the quality assessment and assurance is the actual informant - although not one that
is recorded - and the speaker being recorded is more of a ‘voice-lender’. This presentation will
focus on the description and analysis of that peculiar interaction, namely on the following aspects:
- the status of the voice-lender;
2“Although it was fine, do read once more”.
- how this configuration exacerbates the asymmetry between recorder and ‘informant’;
- how this is a case of a recording where the observers’ paradox isn’t central.
PAINEL 8 | PANEL 8
MEMÓRIA, RELATOS, TEXTOS E ÉTICA
MEMORY, ACCOUNTS, TEXTS AND ETHICS
8.1. Collecting oral transmitted literature: yesterday and today
Mariana Gomes (Centro de Linguística da Universidade de Lisboa)
When covering methodological tendencies for the collection of Oral Traditional Literature during
the 19th, 20th centuries and now, some ethical questions can be put concerning the collectorinformant relation. From then until today, different approaches followed by researchers can be
traced regarding these main aspects: the context of collection, the informant, and the linguistic and
literary nature of the collected compositions. The context is variable and its importance is being
reconsidered since the beginning of the 20th century; the informant, since their role changed from a
mere transmitter of material the investigator wants to study to a producer-transmitter; and the
compositions, firstly adapted to the literacy of the collector, then made as bare as possible so that its
original structure can be achieved.
With this paper, having in mind these changes, I will try to focus on the questions of how the
natural context of oral compositions is compromised in the act of collecting them and if the identity
and integrity of the oral text can be assured when it is transformed to an editorial model suiting the
needs of the researcher.
This presentation will be composed by three parts:
i) diachronic analysis of the different methodologies used to collect portuguese oral
tradition;
ii) collector, informant and context – approaches and perspectives;
iii) the editorial method for oral literary corpus: the example of the “cancioneiro” in its
natural context.
8.2. “Memóriamedia e-Museu de Património Imaterial”
Filomena Sousa (Instituto de Estudos de Literatura Tradicional – FCSH/UNL)
O projecto Memóriamedia dedica-se, desde 2006, à recolha e difusão da literatura tradicional/
oral/popular e de diversas formas desta manifestação cultural.
Fundamenta-se na identificação, no registo e divulgação de contos, lendas, provérbios, lenga-lengas
e demais expressões da cultura oral; o “saber-fazer” de antigos artesãos; os costumes e ritos que se
manifestam nos quotidianos da esfera profissional, familiar e social das populações.
Os materiais produzidos são depositados digitalmente no site www.memoriamedia.net onde estão
disponíveis on-line para consulta e partilha.
O projecto utiliza os novos media de transmissão de cultura que permitem registar e distribuir
globalmente e online momentos da cultura oral para assegurar a sua perpetuação através do
visionamento, apropriação e transformação por um público alargado.
O I.E.L.T. - Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa, é entidade parceira deste projecto, com o apoio da FCT
- Fundação para a Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
A gestão executiva de todo o projecto é da responsabilidade de Memoria Imaterial CRL.
Nesta comunicação apresentam-se os procedimentos metodológicos que suportam o trabalho do
Memóriamedia, a base de dados do arquivo e alguns dos resultados do projecto.
“MEMORIAMEDIA Immaterial Heritage e-Museum”
Since 2006 Memóriamedia project collect and publicise traditional/oral/popular literature and any
other manifestation of this culture.
It is grounded on the need to identify, register, preserve and publicise tales, legends, proverbs, and
any other form of oral culture: the skills of ancient artisans; the uses and rites prevailing in day-today professional, social and family circles.
Produced material is uploaded on the website www.memoriamedia.net.
This operation uses the new media for the transmission of culture which enables registration and
distribution of significant moments of oral culture online at a global scale in order to assure that it
will be perpetuated through appropriation and transformation by a large public.
I.E.L.T. – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, hosted by Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas, Universidade Nova de Lisboa, and funded by FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia
of the Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior." is a partner institution in this Project.
Memória Imaterial CRL is responsible for the executive management of the Project.
This paper presents the methodological procedures that support Memóriamedia research and some
results of this project.
8.3. From informers to consumers – reading ourselves
Ana Piedade (LabAt – Laboratório de Animação Territorial; Instituto Politécnico de Beja)
With this paper it is our aim to show how life stories and memory can be devolved to communities
and how they can control the process of information transmission and register.
Life stories allow one to understand how memories are built along a time line as well as daily life is
lived. Cultural and social approaches are fundamental to understand this process and role a very
important play in what identity processes construction is concerned. That means that a very tight
connection has to be established between the researcher and the informer. In this context it´s quite
important to choose the informers well and they deserve to know how the researcher apprehends
their life and their story – how (s)he turns their life narrative into a life story – as well as understand
their relationship with the territory they live in; with their family and groups (friends, neighbors,
scholars,…) institutions and organizations and different levels of power.
Considering that every field research is a work in process, build up with the researcher and his/her
informers, collecting data through narratives of life is a good example of team work. Trust is
absolutely fundamental in what this kind of work is concerned. The complicities that come up
between this two people allow them to trust each other and trust generates complicity. This trust
gives the informers the chance to say that they don’t want to see that words or episodes reveled as
they read the constructed text. So, the advantage of this research method is the ability to build up
texts and knowledge starting with information validated by the informers during the process. So,
giving back information and results is not an act that occurs in the end of the research, but indeed, a
work in process. At this point, the informers are the first consumers of the research they allow.
8.4. Projecto FLY - Cartas pessoais, vidas privadas: a integridade discursiva e a
responsabilidade ética da investigação.
Ana Rita Guilherme; Mariana Gomes; Leonor Tavares (Centro de Linguística da Universidade de Lisboa)
O Projecto FLY, desenvolvido no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, pretende
estudar e disponibilizar online um corpus muito particular: 2000 cartas privadas do século XX,
enraizadas em contextos potencialmente traumáticos para os indivíduos que as escreveram ou
receberam, os contextos da guerra, da prisão, do exílio e da emigração. O âmbito de estudo deste
projecto é transversal e cobre as áreas da Linguística, da História e da Sociologia, sendo que uma
das perspectivas a adoptar é a da análise do discurso.
Esta é uma investigação que lida com a referência directa a pessoas nossas contemporâneas e a
eventos recentes da esfera privada; assim, foi necessário reflectir sobre a garantia da protecção de
dados na correspondência a editar. Põe-se o problema de manter a integridade dos enunciados das
cartas, tentando, ao mesmo tempo, respeitar princípios éticos, alguns deles mais abstractos, outros
inclusivamente consagrados sob forma de lei. O interesse na manutenção da integridade das cartas
advém da própria definição de ‘enunciado’, ‘texto’ e ‘discurso’. Os enunciados são irrepetíveis
(Harris 1951), os textos são composicionais (Adam 1995/2005), os discursos são ideologicamente
situados (Van Dijk 1997); logo, a preservação da unidade e a rigorosa contextualização de cada
carta a estudar são condições absolutas para a sua abordagem discursiva.
Esta comunicação pretende, perante o que se expôs acima, sistematizar os seguintes problemas e
indicar formas de os solucionar:
i) dados privados;
ii) imposições éticas e legais na protecção de dados;
iii) recolha e tratamento de enunciados linguísticos contendo dados privados;
iv) arquivo digital completo, mas seguro, desses enunciados;
iii) disponibilização online de um corpus discursivo contemporâneo que não ponha
problemas éticos.
Project FLY – Private letters, private lives: the discoursive truthfulness and the ethical
responsibility for the investigation.
The Project FLY, developed by the Linguistics Centre of the University of Lisbon, aspires to study
and make available a very specific corpus: 2000 private letters from the 20th century rooten in
potentially traumatic contexts for the individuals who wrote them or received them, the contexts of
war, imprisionment, exile and migration. The study scope of this project is transverse and covers the
fields of Linguistics, History and Sociology, and one of the perspectives to adopt is the speech
analysis.
This is an investigation that deals with the direct reference to persons that are our contemporary and
to recent events of the private life; thus, it was necessary to reflect upon the guarantee of data
protection in the correspondence to edit. It poses the problem of maintaining the integrity of the
letters’ statements and trying, simultaneously, to respect ethical requirements, some of each more
abstract, others legally consecrated.
The interest in maintainig the truthfulness of the letters results from the own definition of
“statement”, “text” and “discourse”. The statements are unrepeatable (Harris 1951), the texts are
compounds (Adam 1995/2005), the speeches are ideologically situated (Van Dijk 1997); hence,
the preservation of the unit and the rigid contextualization of each letter to be studied are absolute
conditions to its discoursive approach.
This presentation aims, in face of what was above described, at the systematization of the following
problems and ways of solving them:
i) Private data;
ii) Legal and ethical impositions in data protection;
iii) Collection and treatment of linguistic statements with private data;
iv) Complete digital archive, but secure, of those statements;
v) Online availabilty of a contemporary discoursive corpus that does not place ethical
problems.
Referências/References
Adam, Jean-Michel (1992/2005): Les textes: types et prototypes. Récit, description, argumentation,
explication et dialogue. Paris: Nathan.
Harris, Zellig (1951): Methods in Structural Linguistics. Chicago: University of Chicago Press.
Van Dijk, Teun A. (1997): “The study of discourse”, in Teun A. van Dijk (ed.), Discourse as
Structure and Process. Londres: Sage, 1-34.