Resumos - FCSH/NOVA - Universidade Nova de Lisboa
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Resumos - FCSH/NOVA - Universidade Nova de Lisboa
Estas conferências são organizadas pelo Grupo de Investigação de Interacções Discursivas do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa (GIID-CLUNL) e pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), e têm como objectivo a reflexão crítica acerca das questões éticas e metodológicas na recolha e no tratamento de dados obtidos em contextos informais ou institucionalmente enquadrados, tanto do ponto de vista linguístico como sociológico e antropológico, podendo assim interessar não só a investigadores na área da análise do discurso e da conversação, como ainda a outros cientistas sociais e a profissionais do serviço social, do direito e da informática. As comunicações incidirão predominantemente sobre as seguintes temáticas: (1) A ética e a metodologia da abertura de terrenos; (2) Salvaguarda do anonimato dos informantes e das fontes; (3) A responsabilidade social dos cientistas; (4) Devolução dos resultados de investigação às comunidades estudadas; (5) Constituição e gestão de bases de dados. Línguas de trabalho: Português e Inglês. ________________________________________________________________________________ These conferences are organized by the GIID (Discourse Interaction Research Group) of CLUNL (Linguistics Centre of Universidade Nova de Lisboa) and by ILTEC (Institute of Theoretical and Computational Linguistics). Its objective is a critical discussion of ethical and methodological issues in the collection and treatment of data gathered in informal or institutional settings, from a linguistic, sociological and anthropological standpoint. Thus, the workshop will be of interest not only for researchers in the areas of discourse and conversation analysis, but also for other social scientists and professionals in the fields of social services, law, and computer sciences. The presentations will focus on the following themes: (1) Ethics and methodology of field opening; (2) Safeguards for informants’ and sources’ anonymity; (3) Social responsibility of scientists; (4) Giving research results back to the communities studied; (5) Database development and management. Working languages: Portuguese and English. PAINEL 1 | PANEL 1 RESPONSABILIDADE SOCIAL NA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA SOCIAL RESPONSABILITY IN CONDUCTING EMPIRICAL RESEARCH 1.1. Ética em pesquisa etnográfica: o caso de uma pesquisa discursiva crítica em colaboração com movimento social Viviane de Melo Resende (Universidade de Brasília) Discussões acerca de ética em pesquisa qualitativa têm favorecido métodos colaborativos de pesquisa, em que o objetivo do/a pesquisador/a não é apenas pesquisar sobre ou para sujeitos, mas pesquisar sobre, para e com sujeitos participantes do processo de pesquisa (Cameron et al., 1992). Isso implica um reconhecimento dos/as participantes da pesquisa como participantes de fato, não como ‘sujeitos pesquisados’ ou, muito menos, como ‘informantes’. Tomar os atores sociais implicados no processo de pesquisa como participantes implica inserir sua agenda de interesses na prática investigativa, o que exige um planejamento de pesquisa suficientemente flexível, apto a ser modificado para tornar-se relevante para a comunidade que compartilha seus conhecimentos com o/ a pesquisador/a (Demo, 2004). A pesquisa participativa inclui, então, riscos específicos, visto que sua condução torna-se válida não pela generalização dos resultados, mas por sua adequação também à agenda de interesses dos/as participantes – é preciso estar sensível a isso para se abrir mão de etapas previstas no planejamento inicial e que, embora nos pareçam academicamente pertinentes, mostrem-se inadequadas ao grupo (Resende, 2010). Isso aconteceu na pesquisa “Análise de Discurso Crítica e Etnografia: o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, sua crise o protagonismo juvenil”, realizada em colaboração com o referido movimento social, em Brasília, Brasil. Neste trabalho, argumento a respeito da necessidade de flexibilidade no planejamento de pesquisas colaborativas e narro a condução metodológica da pesquisa, discutindo os passos realizados para a condução de observação participante, entrevistas focalizadas, oficinas e grupos focais. O foco nessa discussão são as questões éticas implicadas em pesquisa dessa natureza e a necessidade de compartilhamento e negociação dos resultados alcançados (Blommaert, 2005). Ethics in ethnographic research: the case of a critical discursive research in collaboration with social movement Discussions about ethics in qualitative research methods have favored collaborative research, in which the researcher's goal is not only to research on or for social groups, but searching on, for and with people that take active part in the research process (Cameron et al., 1992). This implies recognition of the research participants as participants in fact, not as 'research subjects' or much less as 'informers'. Taking the social actors involved in the research process as participants involves observing their agenda of interests in research practice, which requires a research planning sufficiently flexible, able to be modified to become relevant to the community that shares its knowledge with the researcher (Demo, 2004). Participatory research includes, then, specific risks, whereas its realization becomes valid not in terms of generalization of the results, but in terms of its appropriateness to the agenda of interests of the participants. We need to be sensitive to that, so as to give up steps envisaged in the initial planning, which, although seem to us academically relevant, are inadequate to the group (Resende, 2010). This was the case in the research "Critical Discourse Analysis and Ethnography: the National Street Children’s Movement, its crisis and the youth protagonism", held in collaboration with this social movement, in Brasilia, Brazil. In this paper, I argue about the need for flexibility in planning for collaborative research, and narrate the methodological design of the research, discussing the steps taken to conduct participant observation, focused interviews, workshops and focus groups. The scopes of this discussion are ethical issues involved in this kind of research and the need for negotiating and sharing results (Blommaert, 2005). REFERÊNCIAS Blommaert, Jan. (2005). Discourse. A critical introduction. Cambridge: Cambridge University Press. Cameron, Deborah. et al. (1992). Researching language. London: Routledge. Demo, Pedro. (2004). Pesquisa participante. Saber pensar e intervir juntos. Brasília: Liber Livro. Resende, Viviane de Melo. (2010). Between the European legacy and critical daring: epistemological reflections for Critical Discourse Analysis. Journal of Multicultural Discourses, 5 (3), 193-212. 1.2. Interactional data, ethics and reflexivity Isabella Paolettti, Universidade Nova de Lisboa, Portugal Ethical issues are involved in everyday practice of conducting research, in particular research involving the collection of interactional data, in social sciences. Ethical issues in social investigation are very often conceptualized as avoiding the risk of damaging the participant in the research. Ethical guarantees often concern confidentiality, anonymity, informed consent etc. Seeking approval from ethics committees is an ordinary part of doing research. Ethics in research can also be conceptualized as social responsibility in doing research. A concern with social justice is central in the work of many authors in linguistics, sociology, anthropology, using interactional data. Social research is seen as an instrument of improving human conditions. The literature on action research in particular has developed research practices that are in fact forms of social intervention: a willful intervention. The paper proposes a framework for conceptualizing ethics in research as a form of reflexive awareness of the impact of research practices on the setting under scrutiny. Any form of data collection of interactional data implies an impact on the setting and on the participant in the study. For example, asking questions to informers is likely to affect their understanding and perception of the issues at hand. It creates a focus of attention. The same would happen setting a video-camera, an interest is created for some events, facts, etc, that were generally going unnoticed. Social research, involving interactional data collection, has inescapably an effect of the field studied. The paper presents a systematic framework for reflecting on actual occasions in which ethical decisions are at stake in conducting empirical research. Examples and the decisions that were taken in actual research situation are discussed. The paper emphasizes the importance of researchers being reflexively aware and responsible for the inevitable impact they have on the investigated setting. 1.3. Sei que foi guerrilheira, combatente ou é mulher-soldado, quer participar nesta pesquisa? Margarida Paredes (ISCTE-IUL, Lisboa e UFSC, Florianópolis) Esta comunicação irá reflectir sobre os desafios éticos e metodológicos relacionados com o trabalho de campo realizado em Angola (2010/2011) com mulheres-soldado das Forças Armadas Angolanas e com ex-combatentes de estruturas militares e militarizadas dos diferentes nacionalismos. Apesar da desconfiança de muitos actores sociais em Angola em relação aos investigadores estrangeiros, a condição de antiga guerrilheira do movimento independentista agora no poder foi um elemento facilitador na abertura do terreno e permitiu reduzir a distância simbólica entre a antropóloga e as hierarquias das diferentes “famílias militares” e políticas que autorizaram a pesquisa assim como com as combatentes que participaram neste estudo. Registar memórias de guerra até agora silenciadas e narrativas de vida no feminino, ligadas a exércitos e conflitos, levanta grandes responsabilidades no que diz respeito ao “dever de memória” partilhada entre entrevistadas e entrevistadora e à gestão dessas memórias. Diante da densidade e intensidade das narrativas recolhidas, o investigador depara-se com inúmeros problemas éticos, sobretudo quando a quase totalidade das interlocutoras, na intenção de lutarem contra o esquecimento e silenciamento colectivo de que são vítimas declinam o anonimato. Nestas circunstâncias a devolução dos resultados da pesquisa às mulheres que participaram neste estudo encontra-se eivada de problemas que requerem reflexão. Abstract: This paper is a reflection on the ethical and methodological challenges faced in the fieldwork carried out in Angola (2010/2011) with women-soldiers of the Angolan Armed Forces and formercombatants of military and militarized structures of the different nationalist movements. Despite the reluctance of many social actors in Angola regarding foreign researchers, the condition of old guerrilla girls of the independence movement currently in power facilitated in opening of field and reduced the symbolic distance between the anthropologist and the different hierarchies of " military families" that authorized the research, as well as with the combatants who participated in this study. To register memories of war silenced until now and life narratives of women in the armies and conflicts, great responsibilities arise in respect to shared memories (between interviewed and interviewer) and the management of these memories. Aside from the density and intensity of the narratives collected, the investigator is coming across innumerable ethical problems, because almost all of the interlocutors, in an attempt to fight against forgetting and collective silence, decline anonymity. In these circumstances the devolution of the result of the research to those women who participated in this study and the "management" of the sources are rife with problems that require careful reflection 1.4. A responsabilidade social na pesquisa e na intervenção do Serviço Social com pessoas idosas Maria Irene Lopes B. Carvalho, PhD in Social Work Esta comunicação pretende abordar a responsabilidade social dos profissionais e investigadores do Serviço Social para com as pessoas idosas. Coloca o conceito de sujeito no seio do debate na investigação na actualidade. Parte da premissa de Michel Wieviorka (2010:40) de que o sujeito é o instrumento de análise, uma teoria aberta, que pode trazer a priori as respostas às perguntas que fazemos. Mas como torná-lo sujeito e “objecto de estudo” ao mesmo tempo. Esta abordagem é reflectida tendo como base o princípio da responsabilidade social do pesquisador e do profissional para com os sujeitos. Em termos éticos a relação entre o sujeito e o objecto como um todo é geradora de um processo transformador onde a responsabilidade e a autodeterminação ganham sentido. Estes dois termos, a responsabilidade e a autodeterminação, implicam a noção de consciência e só se pode viver plenamente quando esta se formar bem (cf. Guerra, 2004). A autora coloca a complexidade da resposta a esta questão pois ela decorre das interpretações múltiplas decorrente dos autores que a analisam. Por exemplo a ética kantiana privilegia a autonomia que se subordina aos imperativos éticos, onde a justiça social é o valor fundamental. Neste âmbito a ética deve conciliar a autonomia (justiça) e a relação (cuidado). A ética da justiça, ser autónomo é o principal objectivo, assim como a imparcialidade, distanciamento e direitos do indivíduo. O juízo ético exprime-se universalmente, a justiça é igualitária, a acção moral e a responsabilidade orienta-se para o dever. Além desta ética do dever e da responsabilidade como autonomia do indivíduo, Jonas (1994) contrapõe uma outra ética que valoriza a responsabilidade social do cuidado e da atenção ao outro, do particularismo, do interesse próprio pelos outros, do desejo de não provocar sofrimento e da relação de confiança que se traduz num imperativo não categórico mas hipotético (cf. Jonas, 1994). Para Jonas (op. cit) a responsabilidade social é diferente da responsabilidade jurídica própria da ética Kantiana. Na responsabilidade social o agente assume um compromisso com o outro no sentido da prospectiva. Neste âmbito a responsabilidade está antes da liberdade do outro e da própria humanidade. Neste tipo de responsabilidade social há uma perspectiva de futuro, que ao contrário da autonomia em Kant onde não há diferença entre presente e futuro, há uma consequência do acto. Jonas formula um novo imperativo “ age de tal maneira que os efeitos da tua acção sejam compatíveis com a permanência da vida humana genuína” ou “ não comprometas as condições de uma continuação indefinida da humanidade na terra” (Jonas, 1994: 13). Na verdade Jonas contrapõe “ manipulação simbólica do indivíduo” observável em todas as instituições de todo o género de sociedades “à manipulação tecnológica”, característica da técnica moderna e que condiciona a liberdade do eu individual (op. cit, 14). Concebida desta forma a responsabilidade social implica a adopção de medidas a favor dos que sofrem e das vítimas: defendê-los, patrocinar as suas causas e prestar-lhe auxílio. Subjacente à noção de responsabilidade está a de ser “depositário”, segundo a qual tudo de que dispomos é posto ao nosso cuidado para ser partilhado e utilizado em benefício dos outros (Cf. ONU, 1999). Neste âmbito a noção de responsabilidade social tem uma importância crucial no Serviço Social, pois são a sua razão de ser. Ao assumir um compromisso com os mais pobres e os mais necessitados como desenvolver a responsabilidade social e promover a liberdade individual? Esta responsabilidade aplicada aos profissionais questiona a “técnica” como factor que pode condicionar as liberdades e a autodeterminação dos indivíduos com os quais o Serviço Social desenvolve pesquisas e intervém. Este é um dilema ético que importa discutir no âmbito desta comunicação. Bibliografia GUERRA, Maria José C. Almeida de Sousa (2004), A responsabilidade como categoria ética fundamento de uma estética renovada da pessoa, Intervenção Social, nº 29, pp. 53-70. JONAS, Hans (1994), Ética, Medicina e Técnica, Lisboa, Veja, 1994. ONU (1999), Direitos Humanos e Serviço Social. Lisboa: ISSS Dep, Editorial. WIEVIORKA, Michel (2010), Nove Lições de Sociologia, Lisboa, Teorema. PAINEL 2 | PANEL 2 QUESTÕES ÉTICAS E METODOLÓGICAS NA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA - A ETHICAL AND METHODOLOGICAL ISSUES IN CONDUCTING EMPIRICAL RESEARCH - A 2.1. “Professor: como devo agir?”: Constrangimentos institucionais em contexto universitário Isabel R. Seara (CLUNL/Universidade Aberta) Rosalice Pinto (CLUNL/Universidade Lusíada de Lisboa) Esta contribuição, centrada em aspectos teórico-metodológicos do Interaccionismo sociodiscursivo (Bronckart, 1999), da Análise da Conversação (Jefferson, 2004; Rodrigues, Binet, 2010) e de contributos de abordagens discursivas multimodais (Kress et al, 2001; Filliettaz, De Saint Georges e Duc, 2008), visa reflectir sobre alguns constrangimentos observados em sala de aula quando da gravação de aulas (audio e vídeo) por parte de investigadores. Partindo do pressuposto de que os processos de ensino e aprendizagem em contextos institucionais não se restringem apenas a interacções verbais entre professor/investigador//aluno, mas também às realizadas a partir de múltiplos recursos multimodais, procurar-se-á, através de transcrições/gravações efectuadas, identificar de que forma estas ´coerções´ são identificadas no universo textual. O corpus utilizado para análise é formado por transcrições de uma intervenção de um investigador realizada no primeiro ano de licenciatura em gestão de uma instituição privada portuguesa, acerca do tema empreendedorismo. De forma a atingir o objectivo deste trabalho, a apresentação será dividida em três partes: num primeiro momento, realizar-se-á um breve panorama sobre os estudos actuais da multimodalidade tanto no lado anglo-saxónico quanto no francófono, de forma a definir o que entende-se por texto multimodal. Em seguida, dada a diversidade de formas semióticas que podem vir a ser analisadas, delimitar-se-ão as opções metodológicas adoptadas. Por fim, far-se-á a análise dos dados empíricos. 2.2. Utilização do vídeo para a compreensão da prática lectiva: que potencialidades? que desafios? C. Miguel Ribeiro (Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações, Universidade do Algarve) Quando equacionamos efectuar uma investigação relacionada com o processo de ensino, e enunciamos as questões de pesquisa, essas questões concretas encontram-se acopladas (pelo menos implicitamente, num momento inicial) a uma forma específica de encarar esse processo (em particular a prática e a formação dos professores), e a um conjunto de opções metodológicas. Estas opções metodológicas ditarão a qualidade da informação a obter, podendo ser um processo demasiado complexo quando pretendemos que essas informações se foquem na prática lectiva, em concreto no que o professor faz e porquê, e ainda mais quando um desses focos de atenção se prende com o conhecimento (do conteúdo e didáctico do conteúdo) que o professor revela durante essa prática e a(s) forma(s) como o exterioriza (comunicação promovida – interacções discursivas –, acções levadas a cabo e tarefas implementadas). Nesta comunicação irei apresentar, discutir e reflectir sobre algumas problemáticas relacionadas com a recolha de dados através de gravações áudio e vídeo de aulas de matemática e de entrevistas. Alguns desses momentos críticos prendem-se com o facto de o foco de análise ser o professor: o que faz, como o faz e porque o faz (em termos do papel das crenças que revela, dos objectivos que persegue, do conhecimento para o ensino que possui, tipos de comunicação que promove e acções que leva a cabo). Com recurso a um exemplo (da prática) discutirei também algumas questões metodológicas do processo de análise (e sua possível expansão a outros domínios do saber) evidenciando as suas potencialidades para um mais amplo, rico e profundo conhecimento da prática e dos factores que a influem, terminando com alguns desafios e obrigações que, enquanto investigadores e formadores de professores se nos levantam ao analisar, contrastar os resultados com os participantes e publicar. 2.3. "Observation flottante" e Corpus: exploração e consolidação da investigação empírica em Micro-Etnografia Michel G. J. Binet (GIID-CLUNL) Durante anos, acumulei muitas notas de observação de trocas conversacionais ocorridas numa multiplicidade de contextos e quadros de interacção quotidiana: rua, transportes, comércios, quadro familiar, vida académica, centro de saúde, repartição das finanças, etc. Trabalho de observação “naturalista” (observação de interacções verbais não provocadas ou intencionalmente modificadas pelo investigador), casual, não planeada, focalizada no comportamento comunicativo em geral e nas funções semântico-pragmáticas da entoação em particular, de que resultaram cadernos de notas: transcrição apoiada num registo memorial “capturando” um, dois ou três turnos de uma interacção conversacional, breve contextualização (situação e protagonistas) e pistas de análise. A presente comunicação pretende apresentar e discutir algumas destas notas de forma a reflectir sobre o método da “Observation flottante” (Pétonnet, 1982), o seu alcance e os seus limites, e isso numa perspectiva micro-etnográfica (Moerman, 1996). A heuristicidade do método e o seu alcance exploratório serão assim exemplificados com base numa releitura dos meus cadernos de notas e à luz da literatura científica incidindo sobre as interacções discursivas. As questões éticas levantadas por uma observação encoberta e furtiva que tira proveito da participação do investigador na vida social sem aberturas formais dos terrenos de observação serão igualmente abordadas. Esta discussão crítica do valor documental de notas de “Observation flottante” levará num segundo momento a uma reflexão sobre os contributos dos Estudos de Corpora (Freitas, 2010), que terá por base uma investigação em curso, em ordem a consolidação das investigações empíricas no domínio da Análise da Conversação e a superação dos problemas éticos acima levantados. Bibliografia Freitas, T., 2010. Estudos de Corpora. Da teoria à prática, Lisboa: Colibri. Moerman, M., 1996. Talking Culture. Ethnography and Conversation Analysis 4.º ed., Philadelphia, USA: University of Pennsylvania Press. Pétonnet, C., 1982. L'Observation flottante. L'exemple d'un cimetière parisien. L'Homme, 22(4), pp.37-47. 2.4. Pré-construções teóricas e método indutivo em Análise da Conversação David Monteiro (GIID-CLUNL) O trabalho feito em Análise da Conversação assenta num cuidadoso processo de observação, transcrição e descrição de ocorrências de interacção. Através da realização de análises detalhadas da organização da participação dos indivíduos em interacções, da organização sequencial destas interacções e da relação entre as instituições e as dinâmicas da interacção, esta disciplina científica tem permitido dar conta dos modos como os falantes participam nas várias interacções conversacionais que permeiam os seus quotidianos. Neste sentido, o analista da conversação procura ter como orientação metodológica uma abordagem indutiva e naturalista, partindo da observação dos fenómenos sem recorrer a préconstruções teóricas, uma vez que a organização da conversação deve ser analisada enquanto construída localmente e resultante de uma constante negociação dos participantes. No entanto, todo o trabalho de análise da conversação está em constante articulação com o trabalho realizado pela comunidade científica, do qual resultam instrumentos e procedimentos de análise, modelos de descrição e de sistematização e convenções de transcrição que constituem todo um campo de referência teórica e prática para o analista. As reflexões em torno das questões éticas levantadas pela investigação ganham ao serem perspectivadas à luz desta "tensão criativa" (Ten Have, 1999:39) entre, por um lado, referenciais e códigos preexistentes no seio da comunidade científica e, por outro lado, questionamentos e “microdilemas” éticos que emergem moment-by-moment no tratamento dos dados. Tendo ainda em consideração o facto de o trabalho de análise e descrição realizado no âmbito da Linguística ser feita de acordo com metodologias diferentes do método indutivo utilizado em Análise da Conversação (McIvenny & Raudakoski, 1996; Woofitt, 2005), esta comunicação propõe-se a ser uma reflexão pessoal sobre estes problemas e questões metodológicas, os quais surgem no decorrer de um trabalho de transcrição e análise de gravações de interacções discursivas. Procurar-se-á igualmente que esta comunicação permita reflectir acerca das implicações de uma possível integração destas perspectivas metodológicas no trabalho de Análise da Conversação. Referências McIvenny, P. & Raudaskoski, P. 1996. The Mutual Relevance of Conversation Analysis and Linguistics: A Discussion in Reference to Interactive Discourse. in Heltoft, L. (Ed.), Proceedings of the Thirteenth Scandinavian Conference of Linguistics, 1992, Roskilde, Denmark: 263-277. Ten Have, P. 1999. Doing Conversation Analysis. A Practical Guide. Sage: Thousand Oaks. Wooffitt, R. 2005. Conversation Analysis and Discourse Analysis: a Comparative and Critical Introduction. Sage Publications, London PAINEL 3 | PANEL 3 PESQUISA ETNOGRÁFICA E ÉTICA ETHNOGRAPHIC RESEARCH AND ETHICS 3.1. The researcher as a “gendered” insider: ethical issues posed by sharing knowledge and identity with a subset of participants Francesca Alby (University "Sapienza" of Roma – Department of Psychology of Development and Socialization) Marilena Fatigante (University "Sapienza" of Roma – Department of Psychology of Development and Socialization) In this work we discuss ethical issues arising when the researcher is an insider in the community under study. Within a reflexive perspective (Finlay 2002), we take our representations and descriptions as only partials truths (Clifford & Marcus 1996): how we represent and account for others’ experiences is intimately related to who we are, including our prejudices, ideology and tacit knowledge that may or may not be shared with the participants (cf. Wilkinson 1988, Lynch 2000). Avelsson (2009) emphasizes advantages of being an “insider” ethnographer, while, at the same time, alerting about the biases that may result from sharing the same lifeworld with the researched community. The paper draws upon 10 focus-group interviews involving, respectively, working mothers and fathers, who discuss about how time and family labour are managed in their daily domestic life. The data were collected and analyzed by three researchers, who were working women, have about the same age of the interviewees, and, in two cases, were also mothers. The interactions were videorecorded and transcribed according to the jeffersonian conventions (Sacks,Schegloff, Jefferson 1974). In this work we analyze episodes of the group interviews in which participants (interviewees and researchers) discursively orient to shared background knowledge and identity (i.e., being a woman and a working mother), that, while sustaining empathy and communication with some of the participants (i.e., the working mothers), may impair the relationship with the other participants (i.e. the working fathers). Through making the research process available to a reflexive and public scrutiny, we aim to enhance the research’s ‘moral integrity’ (Kvale 1996), here discussed as the researcher’s commitment to fully account for her actions and the production of results, in order to make them intelligible and fair to both the participants and the scientific community. 3.2. Olhe que eu estou a gravar tudo!” Ética, anonimato e divulgação de informações no trabalho etnográfico Inês Fonseca (Departamento de Antropologia da FCSH-UNL / CRIA-pólo FCSH-UNL) Nos últimos 3 anos tenho vindo a realizar uma investigação sobre as maneiras que as pessoas encontram para sobreviver a crises económicas a situações de desemprego. Nesse sentido, interessome sobretudo pelas formas de organização familiar (como os recursos económicos são partilhados entre os membros do agregado doméstico) e pelas redes de apoio que também existem fora do contexto familiar. Também presto atenção às práticas e estratégias da economia informal. O trabalho de campo decorre na Baixa da Banheira (uma freguesia do concelho da Moita) na cintura industrial de Lisboa, cujo centro é o Barreiro. A metodologia seguida centra-se em entrevistas semi-estruturadas (histórias de vida) juntamente com algumas estadias de terreno. Alguns dos entrevistados trabalharam comigo noutro trabalho de investigação (em 1995) e estabeleci uma relação de amizade com eles. Este facto tem-me permitido, em alguns casos, observar a evolução de diferentes membros e gerações do mesmo agregado doméstico ao longo destes 15 anos. Simultaneamente, tornou possível o estabelecimento de uma relação de confiança entre nós. Com esta comunicação o meu objectivo é referir e discutir alguns aspectos éticos do trabalho de campo etnográfico, tais como: o estabelecimento de uma relação de confiança entre o investigador e os entrevistados, a protecção do anonimato e a sua pertinência, a transmissão das informações do trabalho de campo e a responsabilidade dos cientistas sociais. “Remember that I’m recording all this!” Ethics, anonymity and transmission of data from the fieldwork For the last 3 years I’ve been doing an anthropological research about the ways people resort in order to survive economic crises and unemployment. To this sense my attention has turned to family organization (how the resources are shared among the members of the household members) and to the supporting networks existing outside the family context. Attention is also being focused on the practices and strategies of informal economy. Fieldwork is conducted at Baixa da Banheira (a parish within the municipality of Moita) in the industrial belt of Lisbon, whose centre is Barreiro. I’m following a methodology centred on semi-structured interviews (life histories) along with some short stays in the field. Some of the interviewees worked with me on another research project (in 1995) and we’ve become close friends. This fact has allowed me, in some cases, to observe the evolution of different members and generations of the same household over these 15 years. Simultaneously, it made possible a relationship of confidence between us. With this paper my purpose is to consider and discuss some ethical issues concerning some aspects of anthropological fieldwork, like: building reliability between the researcher and the interviewees, protection of the anonymity and its pertinence, transmission of data from the fieldwork and the responsibility of social scientists. 3.3. E o que fazer com o desejo? Práticas etnográficas em “espaços de engate gay” Paulo Jorge Vieira (Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa) Baseado num exercício reflexivo integrado numa etnografia sobre espacialidades lésbicas e gays em Lisboa este trabalho propõe-se a questionar a importância que o desejo sexual tem na prática etnográfica ena investigação social, repensando o papel do mesmo nos procedimentos metodológico, na negociação de campo, e em especial, na acessibilidade aos participantes na etnografia. A partir de uma perspectiva feminista, este ensaio via problematizar a importância que a sexualidade do pesquisador, incluindo a sua orientação sexual percebida pelos participantes, tem na construção da prática etnográfica em áreas de encontro e “engate gay”. Estruturado como uma viagem através destes espaços de significado para a população gay, nomeadamente alguns dos lugares de encontro na cidade de Lisboa, este ensaio pretende potenciar o debate epistémico e metodológico sobre a importância do desejo sexual na interacção etnográfica reafirmando a importância das interacções discursivas na investigação quer. Entre as discussões que esse trabalho visa também a repensar a maneira como a “colocação de perguntas” por parte do investigador nos processo etnográficos e de entrevista, bem como questionar o modo como ele negoceia o diálogo com os participantes num processo contínuo em que os jogos de sedução estão subliminarmente presentes. 3.4. Some Ethical and Methodological issues: A particular experience in the streets of São Paulo (Brazil) Maria José Coracini (Unicamp – IEL/DLA) Esta comunicação tem por objetivo discutir criticamente algumas possibilidades éticas e metodológicas usadas em pesquisas brasileiras na coleta e tratamento de dados realizados na ruas de cidades do Estado de São Paulo. Focalizaremos, a seguir, nossas pesquisas empíricas, principalmente na coleta oral de dados nas ruas. Em nossa atual investigação sobre a identidade de pessoas em situação de rua, também chamados “sem teto”, e em duas pesquisas precedentes - a respeito de posições discursivas ocupadas por quem fala mais de uma língua e a respeito de migrantes no Brasil - têm sido coletadas narrativas orais sobre a própria vida. É importante pontuar que falar de si significa criar uma história: ao mesmo tempo história e ficção, que, através da discursividade, se torna a verdade e a realidade de si. Desse modo, precisamos inventar algo que convença o outro, para que sejamos acreditados. Antes de o participante começar sua narrativa, o(a) pesquisador(a) introduz a temática da pesquisa, seguida por algumas questões simples. Pedimos que seja(m) espontâneo(s), na medida do possível: não somos ingênuos a ponto de pensar que a presença do pesquisador, sentado diante do participante, não tem nenhuma influência no que ele dirá, mas é possível tornar o ambiente quase natural. Quanto aos instrumentos de coleta, as narrativas são gravadas: em geral, as pessoas não gostam de ser filmadas. Do ponto de vista ético, é relevante afirmar que: 1) quem aceita colaborar é considerado “participante de pesquisa”; 2) antes de começar, informa-se a eles que seu nome, lugar e outros detalhes serão apagados e mudados em nossa pesquisa, com o objetivo de não implicá-los enquanto pessoa (em geral, eles temem as consequências de serem reconhecidos pela polícia e/ou seus colegas); 3) informamos os objetivos da pesquisa; 4) eles concordam em falar na presença de um gravador. Some Ethical and Methodological issues: A particular experience in the streets of São Paulo (Brazil) This presentation aims at discussing critically some ethical and methodological issues, used in Brazilian researches in the collection and treatment of data gathered in informal setting. We will focus after on our empirical researches, mainly in oral collecting data in the streets of São Paulo cities. In our recent investigation about homeless people and in the two precedent researches concerning the discursive positions occupied by people speaking more than one language and about migrators in Brazil, oral narratives about one’s own life have been used. It’s important to point out that speaking about oneself means to create a story, that is, at the same time, history and fiction, which through discursivity becomes the truth or the reality about oneself. So we must invent something able to convince the Other, in order to be trusted. Before the participant begins his/her narrative, the researcher introduces the thematic subject of the research followed by some simple questions. Also, we ask him(her) to be as spontaneous as possible: we are not naïve to think that the presence of the researcher sitting in front of the participant has no influence in what will be said, but we can make the ambiance seem almost natural. As regards the tools, we always tape record the narratives, as people don’t like to be filmed. In ethical concerns, it’s relevant to say that: 1) people that accepted to collaborate are considered “research participants”; 2) before beginning, they know that their name, location and other details will be deleted and changed in our research, in order not to implicate themselves as a person (in general they are afraid of the consequences of being recognized by the Police and/or their colleagues); 3) they know our objectives; 4) they agree to speak in the presence of a tape recorder. PAINEL 4 QUESTÕES ÉTICAS E METODOLÓGICAS NA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA - B ETHICAL AND METHODOLOGICAL ISSUES IN CONDUCTING EMPIRICAL RESEARCH - B 4.1. Professional ethics in legal research: the interface of client confidentiality, practioner protection and integrity of research data John F. Bourke (Macquary University, Austrália) Rosemary Lucadou-Wells (Murdoch University, Austrália) The relationship between legal practitioner and client is essentially based upon utmost confidentiality. The legal profession itself oversees the ethical behaviour of legal practitioners in all aspects of practice. The client can only be entirely frank with his or her lawyer because of the culturally embedded principle that the legal practitioner maintains utmost client confidentiality and utmost good faith. There are, however, instances when client confidentiality is over-ridden by requirements of competent authorities vested with power to seize client files held by a legal practitioner. In Australia the National Tax Agency is such an authority. The seized file may well contain contemporaneous notes made by a solicitor of a client’s instructions and comments made during a confidential interview. In such a scenario the legal practitioner is legally compelled to assent to the demands of the Agency without obtaining the consent of the client. The paper addresses the constraints of legal ethics for legal researchers. In particular it considers the requirement to specifically cite only materials which have been appropriately published in the public domain. A particular case is examined where confidential information was inappropriately published in the public domain by a competent authority. The ramifications for the client of such inappropriate publication are revealed. Safeguards for the protection of client anonymity in such instances are suggested. 4.2. Pairs on the Internet. The social architecture of online intimacy and beingin-common Krzysztof Stachura (University of Gdańsk) Magda Żadkowska (University of Gdańsk) With the dynamic development of ICTs, all types of social relations gain their online dimension. The impact of new technologies, especially the Internet, has brought a significant change in the way people interact and therefore opened new possibilities to research the uprising, fascinating but hardly expected phenomena of late modernity. One of them is the specifics of online relations between partners in a pair. We agree with the standpoint of Barry Wellman, Howard Rheingold and many others that internet does not give way to a totally new kind of communication but rather fosters it. At the same time, we stand in accordance with the perspective of Jean-Claude Kaufmann (Sex@mour, 2010) that there are certain threats resulting from a greater freedom to have contact with others online, the ability to create web-related identities and searching for mediated fulfillment. The question that needs to be raised here is to what extent contemporary pairs are capable to accept the online liberty in intimate relationships and what might be here the causes for a relationship to come to an end. The main aims of the paper are (1) to present a typology of relations concerning contacting via Internet, with special consideration of the factor of living together / apart and (2) to name the social advantages and drawbacks of internet communication both for partners considered as individuals and the pair. For these purposes, the results of ethnographic research – including in-depth interviews and observations – conducted on pairs in Polish Tricity will be presented along with reccomendations for further studies 4.3. Methodological Issues in Recording Corporate Meetings Anita Wolfartsberger (Department of English, University of Vienna, Austria) The recording of authentic spoken discourse in institutional settings is notoriously difficult, but more or less so depending on the situation and context in which the interactions take place. One of the fields where researchers frequently report problems in getting access to the research site is the domain of international business, where organizations might agree to participate in questionnaire or interview studies, but hardly grant permission to record authentic interactions (Kasper 2000, Charles 2007). According to Pan, Scollon and Scollon (2002: 135) "[m]eetings are amongst the most difficult aspects of professional communication in international settings to research, because they are very sensitive events which are normally treated with high levels of confidentiality." The present paper draws on experience gained through an empirical study of intra-company group business meetings audio-recorded in various professional organizations in Vienna, Austria. It outlines the methodological challenges and considerations such a study poses for the researcher and discusses the implications the choice of recording technique has on the ensuing linguistic transcription and analysis. In fact, settling for an ethical approach of collecting naturally occurring discourse demands a certain extent of methodological flexibility from the researcher, as the research design is frequently not just a result of theoretical considerations, but a compromise between what would be methodologically desirable and what is practically feasible. Against this background, the paper suggests the use of audio-recorded (not videoed) data as a way into sensitive research fields due to its lessened intrusiveness, but also acknowledges and discusses the limitations this recording method might pose for the choice of research topics and the subsequent analysis of the data. References Charles, Mirjaliisa (2007): "Language Matters in Global Communication." In: Journal of Business Communication, Vol. 44, Nr. 3, 260-282. Kasper, Gabriele (2000): "Data Collection in Pragmatics Research" In: Helen Spencer-Oatey (ed): Culturally Speaking, London: Continuum, 316-340. Pan, Yuling, Suzanne Wong Scollon and Ron Scollon (2002): Professional Communication in International Settings. Malden, Mass.: Blackwell. 4.4. Brazilian Emergency Center Marcia Del Corona (UNISINOS, São Leopoldo, Brasil ) This unfinished ethnographic study (O’REILLY, 2009) is based on the analysis of 200 phone calls to a Brazilian Emergency Center through the perspectives of Conversation Analysis and Ethnomethodology (GARFINKEL, 1967; SACKS, 1992). The calls at this center are answered by staff members of the state military police, an institution which operates with limited material and human resources. The permission to collect data and participate in the daily activities in this setting showed the willingness of the institution to hear the impressions on their operations from an outsider with supposed academic credentials (still to be settled at that time) and a deep desire to understand how calling an emergency center is co-constructed by its participants through the use of natural language. Permission was given in writing and the promise to keep participants’ identities secret was made and honored. The hours spent on conversations with the commanders allowed the researcher to understand some of the issues which were of concern to the institution. Time spent side-by-side with call takers and dispatchers proved crucial for the understanding of participants’ practices through an emic perspective and avoided the drawing of conclusions a priori based on the etic view of the researcher. Some of the findings resulting from the triangulation of the analysis of the calls, the written documents and the field notes were discussed with members as opportunities arose and changes considered appropriate have already been implemented while others are still awaiting authorization/resources. Care taken in the observation of the activities and in the discussion of possible interventions helped build rapport and trust between the researcher and the community. A result of this long-term relationship was a still informal invitation to conduct the training of all call-takers not only at the municipal, but at the state level. PAINEL 5 | PANEL 5 QUESTÕES ÉTICAS NAS VÁRIAS ETAPAS DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO ETHICAL ISSUES AT VARIOUS STAGES OF THE RESEARCH PROCESS 5.1. Putting the question “may I record it” into context: an example from family mediation Paulo Cortes Gago (Federal University at Juiz de Fora, Minas Gerais, Brazil) Researchers who depend crucially on recorded (video or audio) data as their raw material for work face always the famous question - “do you mind if I record it?”, as the title of this conference suggests. As a real question, it occurs always in talk-in-interaction and in some sequential context. The notion of context can be associated with the cognitive sciences, relating to informationprocessing structures that (pre)exist in our head (Rumelhart, 1975;Schank & Abelson, 1975; Minsky, 1974), or with sociological perspectives (e.g. Bateson, 1972; Goffman, 1974; Hymes, 1969), where contextual elements are broken down (e.g. into setting, scene, participants, ends, topics, etc.). The crucial point is that these perspectives consider context an inherent neutral element. Discourse (or conversation) doesn’t experience any sort of external constraint (Lindstrom, 1982). In Conversation Analytical (C.A.) terms, what is relevant for interpreting context must be there in the transcript, and participants must show, in the talk, an orientation to that contextual feature whose existence one wishes to claim. It is the procedural consequentiality principle described by Schegloff (1991). It is the participants’ orientation to that feature, and not the analyst’s, that counts. Bearing Lindstrom’s critique in mind, we explore here the internal and external contextual aspects around the adjacency pair request/grant of consent to record in one example of about 2 minutes of talk, from a case study of family legal mediation at a court in a small town in Rio de Janeiro, Brazil. As a main result, elements of distance, hierarchy and imprecise accounts about purposes of the research emerge in participant’s talk as a contextual element. These facts lead us to reflect on the validity of the consent given. Based on these data, reflections are also made on research paradigm (weather pure qualitative or collaborative). 5.2. Constrangimento ou confiança? Deambulações éticas sobre gravação de “entrevistas de ajuda” Emília Ferreira - Universidade Lusófona de Lisboa No contexto de interacção, a frase “Não se importa que eu grave?”, aparentemente simples e inócua, quando, como no corpora em análise, coloca falantes com posições desiguais e institucionalmente definidas, levanta questões do foro técnico (competências e práticas profissionais) e ético (fundamentos e valores deontológicos). A ideia é a de procurar através do material gravado nesse contexto, expressões reveladoras de constrangimento/confiança no processo de autorização e no decurso da entrevista. Qual a capacidade de resposta e entendimento da população atendida nos serviços da acção social da pergunta colocada? Terão os utentes, beneficiários de programas sociais, condições de responder negativamente? Terão a percepção que colocam na mão de outros “pedaços da sua vida” sobre os quais perdem, no momento da gravação, qualquer poder de decisão? Que garantias reconhecem quando o fazem? Qual a base e como se constrói a confiança que tal procedimento pressupõe? É assim, na qualidade de assistente social, que procuro resposta a interrogações. Nesse caminho a filosofia e a análise discursiva colocam-se como desafios e “ferramentas”a utilizar. Poder e confiança – qual destes conceitos justifica, e como se situam na aceitação de uma prática invasiva do espaço profissional e da interacção implícita à relação profissional? Definida como uma prática social complexa, a prática do serviço social na sua expressão de relação directa com a população, assenta na triangulação utente-profissional-instituição. Assim, embora configurada triangularmente a conjuntura descrita baliza a intervenção, atribuindo lugares e condições de poder segundo uma distribuição desigual, situando-o preferencialmente nos vértices opostos ao do utente. A confiança é determinante na qualidade da relação, e na percepção que o destinatário constrói da acção, na sua intencionalidade e procedimentos, sendo um elemento chave no trabalho de capacitação e mudança. A confiança pode assim ser, como contraponto ao poder institucional, o factor fundamental na abertura do terreno empírico. 5.3. Ethics on the move. Methodological dilemmas on scientific writing process Rosalina Costa (Department of Sociology, School of Social Sciences, University of Évora, Portugal) Data collection represents a crucial moment in research process. Commonly, this is the moment where “ethics questions” are placed and, therefore, solved, like if it could be possible, in that specific moment, to do it once and for all. That’s why ethics usually comes along with data collection and it’s often seen as taking place in a very specific phase in research design. Evidences of this are spread all over research projects and can be easily withdrawn from visual schedules’ representation. In that kind of planning, ethics is seen as a sub phase or topic to which researchers assign a specific time, somewhere nearby the construction of data collection instruments and immediately before data treatment and analysis. But scientific writing constantly challenges ethics questions as solved ones. In fact, most of ethics dilemmas raised on scientific writing process are only partially solved by informed consent. In this presentation we aim to discuss some ethic and methodological challenges arising from data collection process in the context of a sociological research. Departing from the presentation of a set of situations firstly imported from the conduction of episodic interviews (Flick, 2005), and subsequent analysis, we aim to discuss the difficulties associated with the safeguard for informants’ anonymity in view of the devolution of research results back to the communities studied that scientific writing somehow represents. In the framework of the social responsibility of scientists, we hope to contribute to the critical discussion of ethical and methodological issues in the collection and treatment of data gathered in academic research settings, stressing how ethics concerns are transversal to data analysis and writing and, in that sense, a never ending process. 5.4. Anonimizar transcrições – problemas éticos e metodológicos Ricardo de Almeida (GIID-CLUNL) O trabalho de investigação em ciências sociais com base em transcrições de interacções registadas em situações reais, e em particular quando estes registos são efectuados em quadros institucionais, conduz muitas vezes a uma necessidade de preservação do anonimato dos participantes e ao subsequente tratamento de todos os dados que possam possibilitar a sua identificação. A minha comunicação irá incidir sobre diversos problemas éticos e metodológicos que se colocam ao investigador/transcritor no decurso do processo de anonimização das transcrições, e à posterior utilização destas para fins académicos. O corpus em estudo, designado como Corpus ACASS (GIID-CLUNL), é composto por registos áudio e respectivas transcrições de atendimentos e visitas domiciliárias efectuados por técnicos de intervenção social. O corpus encontra-se ainda em fase de transcrição, e para esse efeito temos utilizado o programa ELAN, que consiste numa aplicação informática em Java que permite criar anotações complexas em ficheiros de áudio ou vídeo. As convenções de transcrição utilizadas resultam de uma simplificação e adaptação de convenções habitualmente usadas no domínio da Análise da Conversação (e.g. Atkinson & Heritage (1984: ix-xvi); Schegloff (2007: 265-269). Uma das tarefas que o GIID se propõe a realizar, a partir destes materiais, é disponibilizar as transcrições em linha para que outros investigadores deles possam fazer uso. No entanto, o método que adoptámos para anonimizar as transcrições tem-se revelado problemático, dando origens a diversas interrogações que colocam em causa não só a metodologia aplicada, como também a própria possibilidade de colocar as transcrições disponíveis integralmente. Para além deste aspecto decorrente de opções metodológicas, verifica-se que a necessidade de fazer uso para fins académicos de transcrições de interacções reais, e a imposição ética de respeitar a garantia de anonimato dada aos participantes, entram muitas vezes em conflito. Anonymizing transcripts – ethical and methodological problems The research in social sciences based on transcripts of naturally occurring interactions, and particularly when the data is collected in institutional settings, often leads to a need of preserving the anonymity of the participants and to the subsequent treatment of all the data that can make possible their identification. My communication will focus on several ethical and methodological problems that are posed to the researcher/transcriber in the course of the anonymization of transcripts, and to the following use of those transcripts for academic purposes The corpus in study, designated as ACASS Corpus (GIID-CLUNL), consists in a collection of audio recordings, and its respective transcriptions, of interviews and house calls made by social intervention professionals. The corpus is still in its transcription stage, and for this purpose we have been using ELAN, which is a Java software application that allows the creation of complex annotations in audio or video files. The transcription conventions used consist in a simplification and adaptation of the conventions normally used in Conversation Analysis (e.g. Atkinson & Heritage (1984: ix-xvi); Schegloff (2007: 265-269). One of the tasks that GIID is set to accomplish from these materials, is to make the transcripts available online so that other researchers can use them. However, the method we adopted for anonymizing the transcripts as revealed itself as problematic, leading to several questions that place at stake not only the methodology used, but also the possibility of making the transcripts fully available online. Besides this methodological aspect, it appears that the need of using transcriptions of naturally occurring interactions for academic purposes, and the ethical obligation of respecting the anonymity guarantee given to participants, are many times in conflict. Referências/References - ATKINSON, J. Maxwell & John Heritage (Eds.) (1984). Structures of Social Action: Studies in Conversation Analysis. Cambridge, Cambridge University Press. - ten HAVE, Paul (2007). Doing Conversation Analysis – Second Edition. London, Sage. - SCHEGLOFF, Emanuel A. (2007). Sequence Organization in Interaction: A Primer in Conversation Analysis Volume 1. Cambridge, Cambridge University Press. PAINEL 6 | PANEL 6 ÉTICA E CONSTRUÇÃO DE DADOS ETHICS AND DATA CONSTRUCTION 6.1. Ética da conversação e relações de inquérito Adriano Duarte Rodrigues (GIID-CLUNL) A resposta às questões éticas que a investigação em ciências humanas e sociais coloca, e que têm a ver com as exigências do respeito dos informantes à sua privacidade e ao seu anonimato, são habitualmente relegadas para o enquadramento legal e deontológico da investigação e dos profissionais envolvidos na recolha dos dados. Esta comunicação pretende 1) mostrar que, independentemente da necessidade de elaboração deste enquadramento, a solução para estas questões depende sempre e inevitavelmente de processos negociais que se realizam localmente e que obedecem às próprias normas e aos condicionamentos que regulam a interacção entre os investigadores e os informantes; 2) chamar a atenção para a importância da descoberta da maneira como, em cada caso concreto, os investigadores e os informantes negoceiam entre si as respostas à questões éticas suscitadas pela pesquisa. Analistas da conversação e estudiosos da cortesia verbal evidenciaram a centralidade da ética numa grande diversidade de quadros interlocutivos. Do mesmo modo, uma micro-análise das relações de inquérito próprias às várias metodologias de investigação seguidas em ciências sociais e humanas permite revelar a extensão e a riqueza das questões éticas tratadas e negociadas localmente como tais pelos interactantes. Neste sentido, as noções de face work e de footing, propostas por Erving Goffman, assim como a noção de negociação proposta pelos autores da Escola de Genebra serão consideradas particularmente fecundas para sustentar os pontos de vista que esta comunicação pretende defender. Bibliografia Goffman, E. - Interaction Ritual: Essays on face to face behaviour, Doubleday, 1967. Gofman, E. – Strategic Interaction, Univ. of Pensylvania Press, 1969. Goffman, E. - Forms of Talk, univ. of Pensylvania Press, 1981 Halkier, B., 2010. Focus groups as social enactments: integrating interaction and content in the analysis of focus group data. Qualitative Research, 10(1), pp.71-89. Heritage, J., 2002. The limits of questioning: negative interrogatives and hostile question content. Journal of Pragmatics, 34, pp.1427-1446. Heritage, J., 2002. Ad Hoc inquiries: Two preferences in the design of routine questions in an open context. Em D. Maynard et al., eds. Standardization and Tacit Knowledge: Interaction and Practice in the Survey Interview. Hoboken: John Wiley & Sons, pp. 313-334. Kidwell, M. & Martínez, E.G., 2010. 'Let me tell you about myself': A method for suppressing subject talk in a 'soft accusation' interrogation. Discourse Studies, 12(1), pp.65-89. Robinson, J.D. & Bolden, G.B., 2010. Preference organization of sequence-initiating actions: The case of explicit account solicitations. Discourse Studies, 12(4), pp.501-533. Roulston, K., 2006. Close encounters of the 'CA' kind: a review of literature analysing talk in research interviews. Qualitative Research, 6(4), pp.515-534. Sacks, H. – Lectures on Conversation, Oxford & Cambridge, Blackwell, 1992, vol. I-II Schegloff, E., 2002. Survey Interviews as Talk-in-Interaction. Em D. Maynard et al., eds. Standardization and Tacit Knowledge: Interaction and Practice in the Survey Interview. Hoboken: John Wiley & Sons, pp. 151-157. Schegloff, E., 1980. Preliminaries to Preliminaries : "Can I Ask You a Question ?". Sociological Inquiry, 50(3-4), pp.104-152. Lambrou, M., 2003. Collaborative oral narratives of general experience: when an interview becomes a conversation. Language and Literature, 12(2), pp.153-174. Roulet, E. - La description de l’organisation du discours, Paris, Didier, 1999. 6.2. “Observing the observer”. Data production as collaborative accomplishment Marilena Fatigante (University "Sapienza" of Rome – Department of Psychology of Development and Socialization) Franca Orletti (Third University of Rome – Department of Linguistics) Within ethnomethodological and interactional perspectives, scholars have become increasingly aware that knowledge construction is not neutral but always co-constructed by both the researcher’s and the participants’ interpretations toward the research scenario (including the hypotheses, instructions, agreements, tools, artifacts and bodies) (Reason and Torbert 2001; Seaks, Treleaven 2009). As Labov (1972) alerted about the collection of sociolinguistic data, participants’ beliefs upon the “observer” and her procedures may change the expected target of inquiry, as it is when informants interviewed to study vernacular speech shift instead into formal registers. Recent developments in reflexive perspectives (Finlay 2002), though, solicit to consider the interplay between the researcher – and her methodological apparel- and the “researched” not as a bias, but, rather, as a resource to fully account for the participants’ orientation toward the context (Mondada 2006). The paper we present aims to discuss how participants in an ethnography display their interpretations on the research scene and how the researcher herself deals with them. Data include a corpus of gynecologist - patient interactions collected in a public hospital in Italy. For the aim of this paper, 20 interactions between a gynecologist and a patient are analyzed, each 10 of them involving, respectively, a native and a non-native patient. Medical visits were audio and videorecorded and fully transcribed according to the jeffersonian conventions (Sacks, Schegloff & Jefferson 1974). From the overall corpus selected, authors examine excerpts in which the participants address the researcher or comment on her in her absence targeting aspects of the research context. Analyses focus on how these interpretations are managed in the conversations and how the researcher responds (or not) to them. The paper finally discusses ethical implications, namely, the way these reflexive analyses can be used in interpreting and giving back the research results to the community. 6.3. From possibilities to constraints and back: video recorded data and ethic issues in research with children Cristiane Schnack (Unisinos, Brazil) Recent research in the analysis of talk-in-interaction has highlighted the importance of working with video as well as audio recordings (e.g. Mondada, 2006; 2009; C.Goodwin, 2000). The importance of such an endeavor resides in the understanding of embodiment as a departing point when one aims to get closer to the cultural organization of social action. While such an understanding becomes widely accepted and more research is carried out using video as a research method for collecting data, one may be inquired about the ways to preserve participants´ identity. Working with video recorded interaction, this study aims at discussing the challenges that such a methodology presents us with while carrying out research with children. The data collection method included video recordings of home interactions among family members throughout a school year. Data are presented so as to bring to discussion the possibilities and constraints one may face if he/she decides to analyze action in its tapestry made of different semiotic fields (C.Goodwin, 2000), especially considering the moments in which researchers have to make public the research findings. 6.4. Vozes assimétricas: a relação entrevistador-entrevistado em relatos de professores de inglês de escolas públicas da cidade de São Paulo (Brasil) Deusa Maria de Souza Pinheiro Passos (Universidade de São Paulo – USP) Dentre as modalidades de coleta de dados, no contexto de pesquisas relativas ao ensino e aprendizagem de línguas na escola pública, sob a perspectiva teórica da Análise de Discurso, destacam-se as entrevistas, sobretudo as do tipo semi-estruturadas, caracterizadas pela pouca interferência do pesquisador-entrevistador, com o professor-entrevistado apresentando um relato quase espontâneo de sua prática pedagógica. Embora essa forma de coleta permita uma maior liberdade de expressão para o entrevistado, e a consequente riqueza de dados, extrapolando, por vezes, até mesmo o objetivo inicialmente estabelecido pelo pesquisador, ela não está livre da influência dos lugares discursivos, hierarquicamente constituídos, de pesquisador e pesquisado. Parte de um jogo de poder, a voz do pesquisador ao mesmo tempo provoca e autoriza o processo em que o outro se narra, fala de si, garantindo ao entrevistado sigilo autoral, uma vez que sua identidade jurídica é preservada. Apoiando-se em pressupostos das Teorias do Discurso e da Desconstrução, este trabalho busca investigar, a partir da análise de um corpus composto por entrevistas realizadas com professores de língua inglesa de escolas públicas da cidade de São Paulo, registradas em áudio e posteriormente transcritas, a dinâmica da relação entre o entrevistador e o entrevistado, assim como os efeitos de sentido do gesto de perguntar, responder e outros elementos dessa interação. Interessa-nos especialmente refletir acerca do funcionamento discursivo desse cenário, em que pesquisador (entrevistador) e professor (entrevistado) ocupam posições de sujeito, inseridas numa memória marcada pela assimetria de dizeres sobre o ensino de inglês na escola pública. A visibilidade do discurso sobre o saber/fazer pedagógico depende predominantemente da voz do pesquisador. Entretanto, a voz do professor da escola pública, embora quase inaudível e camuflada pelo anonimato, pode representar elemento de resistência à aparente estabilidade da ordem do discurso político-educacional. Asymmetric voices: the interviewer-interviewee relationship in narratives by state school English teachers in São Paulo (Brazil) Taking into consideration research about language learning and teaching in Brazilian state schools, under a discursive perspective, among data collection methods, it is usual practice to rely on interviews – especially life-history interviews – characterized by the investigator´s little interference, allowing the teacher-interviewer to present an almost spontaneous account of his/her teaching experience. Although this data collection method allows for a greater freedom of expression on the part of the respondent, with the consequent richness of data, even expanding on what was initially aimed by the researcher, this method may suffer the discursive influence of the roles of the interviewer and interviewee, hierarchically constituted. Inserted in a power game, the investigator´s voice provokes and authorizes the process through which the respondent offers a narrative about himself/herself, part of his/her life-history, guaranteeing confidentiality. Drawing on theories of discourse and deconstruction, this paper aims at investigating, based on a corpus composed by tape-recorded and transcribed interviews with teachers of English in São Paulo, the relationship between interviewer-interviewee, focusing on the effects of meaning produced as a result of the gesture of asking, answering, as well as other elements of this interaction. We are especially interested in reflecting critically upon the discursive functioning of this setting, in which both the investigator (interviewer) and the teacher (respondent) occupy subject positions, which in turn are part of a discursive memory marked by an asymmetry of statements regarding English teaching at state schools in Brazil. However, the state school teacher´s voice, almost inaudible and under anonymity, may represent an element of resistance to the apparent stability of the political and educational discourse order. PAINEL 7 | PANEL 7 QUESTÕES ÉTICAS NA INVESTIGAÇÃO EM LINGUÍSTICA ETHICAL ISSUES IN LINGUISTICS RESEARCH 7.1. 'I don't know if I should say this.' When interviewees talk about the interview1 Marta Filipe Alexandre (Instituto de Linguística Teórica e Computacional & Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) This paper is a critical reflection on the use of interviewing as a research method in applied linguistics. More specifically the paper focuses on a series of ethical questions that were explicitly pointed out by 20 interviewees in the context of individual interviews regarding both the nature of science and the practice of being a scientist in Portugal. The data analysed is part of 42 interviews collected between 2008 and 2010, during a PhD research framed by systemic-functional linguistics (SFL) and critical discourse analysis (CDA), and aiming at an understanding of the practices and beliefs characterizing the Portuguese scientific community. An overall review of the interviews shows that, apart from the expression of opinions and values - the topic of the questions and the main theme for the analysis -, there are particular statements about the interviews, not only regarding the context of the interview, but also regarding the researcher's expectations and the interviews' content treatment. It will be argued that, from the interviewees' point of view, confidentiality is definitely not the most proeminent concern. The purpose of the interviews and the researech they are part of turned out to be very important ethical concerns. Given the critical framework of the research project, it will be showed how the researcher managed (or not) to cope with the interviewees concerns. Particular excerpts of the interviews, as well as methological options and procedures, will be presented and commented. 1('Não sei se devia dizer isto.' - quando os entrevistados falam sobre a própria entrevista) 7.2. A noção de ética na pesquisa em Linguística: como manter sigilo do objeto de estudo na coleta de dados? Regina Lúcia Péret Dell´Isola (Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais/BRASIL) As características e atribuições dos Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil estão contidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O bem-estar dos indivíduos participantes em pesquisas realizadas no âmbito da Universidade Federal de Minas Gerais é protegido pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP), órgão administrativamente vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa, autônomo em decisões de sua alçada e de caráter multidisciplinar e multiprofissional. Necessitam da aprovação do COEP, os projetos de pesquisa cuja fonte primária de informação seja o ser humano, individual ou coletivamente, direta ou indiretamente. A análise ética pelo COEP não se restringe aos possíveis riscos que alguém possa correr por participar da pesquisa. De acordo com a Resolução 08/2007, que institucionaliza o COEP da UFMG, “é vedada a realização de pesquisa envolvendo seres humanos no âmbito da UFMG sem a prévia apreciação e aprovação pelo COEP/UFMG e, quando couber, pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)” (Art. 3) Entre os documentos a serem submetidos à apreciação do COEP, há o protocolo da investigação que é um resumo do projeto de pesquisa acrescido da documentação necessária. Nele deve conter a identificação completa de todos os envolvidos. Todos devem assinar as declarações que constam do protocolo. Entre as declarações, está o formulário de consentimento livre e esclarecido, com informações sobre as circunstâncias nas quais o consentimento será obtido, quem irá tratar de obtêlo e a natureza das informações a serem fornecidas aos sujeitos da pesquisa. Em que pese a importância desse formulário, levanta-se a seguinte questão: como se deve proceder quando é necessário manter, ao informante, o sigilo do objeto da pesquisa? Tem-se constatado que, na área da Linguística, não são poucas as investigações em que é imprescindível que seja mantido em secreto o foco da análise dos dados, sob a pena de invalidação da qualidade da coleta. Por isso, nesta comunicação, serão apresentadas reflexões a respeito do sigilo do objeto da pesquisa e acerca da exigência de se prestar essa informação aos sujeitos da coleta de dados. The notion of ethics in Linguistics research: how to keep the study object in secrecy during the data collecting The characteristics and attributions of Committee of Ethics in Research in Brazil are enclosed in the Resolution 196/6 of Health National Council. The welfare of participants in researches accomplished in the scope of the Federal University of Minas Gerais (UFMG) is protected by the Comitê de Ética em Pesquisa (COEP), the body administratively linked to the Pro-Rectory of Research, autonomous in decisions in its purview and of multidisciplinary and multiprofessional character. The projects of research whose primary source of information is the human being, individually or collectively, directly or indirectly, need the approval of COEP. The ethical analysis done by COEP is not restricted to possible risks that someone can be submitted to for taking part in the research. According to the Resolution 20/2007, which institutionalizes the COEP of UFMG, “the accomplishment of research involving human beings in the scope of UFMG is forbidden without previous evaluation and approval by COEP/UFMG and, when necessary, by Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) (National Committee of Ethics in Research)” (article 3). Among the documents that must be submitted to the evaluation of COEP, there is a protocol of investigation, which is a summary of the research project added to the necessary documentation. The complete identification of all the participants must be in it. All must sign the declarations that are reported in the protocol. It is enclosed, among the declarations, the free and informed consent form, with the information about the circumstances in which the consent will be obtained, who will be responsible for obtaining it and the nature of the information that the research subjects will be provided with. Concerning the importance of this form, the following question is arisen: how to proceed when it is necessary to keep, to the informant, the secrecy of the research object? It has been verified that, in Linguistics field, the investigations in which the secrecy of the data analysis focus is indispensable are not few, otherwise the quality of the data collecting can be invalidated. That is why, in this communication, reflections on the secrecy of the research object and on the exigency of rendering this information of the subjects of the data collecting will be presented. 7.3. “South Eastern Huastec (Maya, Mexico): Ethical issues in collecting the audio data" Ana Kondic (University of Sydney, Australia; University Lyon 2, France) South Eastern Huastec (Ethnologue code HSF) is an endangered Maya language spoken in the region La Huasteca, northern Veracruz, Mexico, by about 1700 people. It has not been passed to the new generations for about twenty five years. The author spent 12 months on a field work in the village of San Francisco Chontla collaborating with the members of this indigenous community to document and describe this least known Maya language and its culture. This project was supported by a SOAS HRELP grant. Apart from disussing the data collection and management of the data basis, the author will focus in this presentation on Ethics and methodology of collecting the data and working with consultants, native speakers of this language. The safeguards for consultants’ and sources' anonymity will also be discussed, as well as the linguist responsibility, and the way of making the whole database and the project results (collected data) available to the community. 7.4. “Anque steia bien, dezi más ua beçi”2: a guided quest for a spoken standard. José Pedro Ferreira (MLDC; ILTEC); Daniela Braga (MLDC); Pedro Silva (MLDC); Hyongsil Cho (MLDC); Miguel Dias (MLDC; ADETTI-ISCTE) For the past few months, we have been building a speech synthesis system for Mirandese. Typically, the data such systems are fed with are phonetically-rich prompts read by a voice talent and a phonetically-transcribed representative lexicon. The talent is expected to be a native standard variety speaker, and the quality of the provided data is judged in part for how reliable the talent is as a standard variety informant. In the case of Mirandese, though, there is no such thing as a widely accepted standard variety. Although strong steps towards the creation of a language policy were taken since the late nineties, when Mirandese was recognized as an official language in Portugal, those consisted mostly in the establishment of common spelling rules and teaching methodologies. Factors such as an eminently oral, direct contact transmission, the lack of an established body of literature, and the relative youth of the teaching system all contributed to that. Although localects can be grouped in loosely related dialect sets and some are perceived as more neutral than others, there is no clear cut standard that could be chosen for the lexicon transcriptions mentioned above. Given the system needs, a lect had to be chosen for the lexicon transcriptions, though. One of several viable ones was chosen, was based in existing descriptions and available recordings. This meant, though, that almost inevitably the voice talent’s speech diverges from the dialect used in the transcription, causing the recordings to be a trial-and-error process aimed at aligning the lexicon transcriptions and the speech. This provides for an unusual recording process where the person responsible for the quality assessment and assurance is the actual informant - although not one that is recorded - and the speaker being recorded is more of a ‘voice-lender’. This presentation will focus on the description and analysis of that peculiar interaction, namely on the following aspects: - the status of the voice-lender; 2“Although it was fine, do read once more”. - how this configuration exacerbates the asymmetry between recorder and ‘informant’; - how this is a case of a recording where the observers’ paradox isn’t central. PAINEL 8 | PANEL 8 MEMÓRIA, RELATOS, TEXTOS E ÉTICA MEMORY, ACCOUNTS, TEXTS AND ETHICS 8.1. Collecting oral transmitted literature: yesterday and today Mariana Gomes (Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) When covering methodological tendencies for the collection of Oral Traditional Literature during the 19th, 20th centuries and now, some ethical questions can be put concerning the collectorinformant relation. From then until today, different approaches followed by researchers can be traced regarding these main aspects: the context of collection, the informant, and the linguistic and literary nature of the collected compositions. The context is variable and its importance is being reconsidered since the beginning of the 20th century; the informant, since their role changed from a mere transmitter of material the investigator wants to study to a producer-transmitter; and the compositions, firstly adapted to the literacy of the collector, then made as bare as possible so that its original structure can be achieved. With this paper, having in mind these changes, I will try to focus on the questions of how the natural context of oral compositions is compromised in the act of collecting them and if the identity and integrity of the oral text can be assured when it is transformed to an editorial model suiting the needs of the researcher. This presentation will be composed by three parts: i) diachronic analysis of the different methodologies used to collect portuguese oral tradition; ii) collector, informant and context – approaches and perspectives; iii) the editorial method for oral literary corpus: the example of the “cancioneiro” in its natural context. 8.2. “Memóriamedia e-Museu de Património Imaterial” Filomena Sousa (Instituto de Estudos de Literatura Tradicional – FCSH/UNL) O projecto Memóriamedia dedica-se, desde 2006, à recolha e difusão da literatura tradicional/ oral/popular e de diversas formas desta manifestação cultural. Fundamenta-se na identificação, no registo e divulgação de contos, lendas, provérbios, lenga-lengas e demais expressões da cultura oral; o “saber-fazer” de antigos artesãos; os costumes e ritos que se manifestam nos quotidianos da esfera profissional, familiar e social das populações. Os materiais produzidos são depositados digitalmente no site www.memoriamedia.net onde estão disponíveis on-line para consulta e partilha. O projecto utiliza os novos media de transmissão de cultura que permitem registar e distribuir globalmente e online momentos da cultura oral para assegurar a sua perpetuação através do visionamento, apropriação e transformação por um público alargado. O I.E.L.T. - Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, é entidade parceira deste projecto, com o apoio da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A gestão executiva de todo o projecto é da responsabilidade de Memoria Imaterial CRL. Nesta comunicação apresentam-se os procedimentos metodológicos que suportam o trabalho do Memóriamedia, a base de dados do arquivo e alguns dos resultados do projecto. “MEMORIAMEDIA Immaterial Heritage e-Museum” Since 2006 Memóriamedia project collect and publicise traditional/oral/popular literature and any other manifestation of this culture. It is grounded on the need to identify, register, preserve and publicise tales, legends, proverbs, and any other form of oral culture: the skills of ancient artisans; the uses and rites prevailing in day-today professional, social and family circles. Produced material is uploaded on the website www.memoriamedia.net. This operation uses the new media for the transmission of culture which enables registration and distribution of significant moments of oral culture online at a global scale in order to assure that it will be perpetuated through appropriation and transformation by a large public. I.E.L.T. – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional, hosted by Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, and funded by FCT Fundação para a Ciência e Tecnologia of the Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior." is a partner institution in this Project. Memória Imaterial CRL is responsible for the executive management of the Project. This paper presents the methodological procedures that support Memóriamedia research and some results of this project. 8.3. From informers to consumers – reading ourselves Ana Piedade (LabAt – Laboratório de Animação Territorial; Instituto Politécnico de Beja) With this paper it is our aim to show how life stories and memory can be devolved to communities and how they can control the process of information transmission and register. Life stories allow one to understand how memories are built along a time line as well as daily life is lived. Cultural and social approaches are fundamental to understand this process and role a very important play in what identity processes construction is concerned. That means that a very tight connection has to be established between the researcher and the informer. In this context it´s quite important to choose the informers well and they deserve to know how the researcher apprehends their life and their story – how (s)he turns their life narrative into a life story – as well as understand their relationship with the territory they live in; with their family and groups (friends, neighbors, scholars,…) institutions and organizations and different levels of power. Considering that every field research is a work in process, build up with the researcher and his/her informers, collecting data through narratives of life is a good example of team work. Trust is absolutely fundamental in what this kind of work is concerned. The complicities that come up between this two people allow them to trust each other and trust generates complicity. This trust gives the informers the chance to say that they don’t want to see that words or episodes reveled as they read the constructed text. So, the advantage of this research method is the ability to build up texts and knowledge starting with information validated by the informers during the process. So, giving back information and results is not an act that occurs in the end of the research, but indeed, a work in process. At this point, the informers are the first consumers of the research they allow. 8.4. Projecto FLY - Cartas pessoais, vidas privadas: a integridade discursiva e a responsabilidade ética da investigação. Ana Rita Guilherme; Mariana Gomes; Leonor Tavares (Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) O Projecto FLY, desenvolvido no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, pretende estudar e disponibilizar online um corpus muito particular: 2000 cartas privadas do século XX, enraizadas em contextos potencialmente traumáticos para os indivíduos que as escreveram ou receberam, os contextos da guerra, da prisão, do exílio e da emigração. O âmbito de estudo deste projecto é transversal e cobre as áreas da Linguística, da História e da Sociologia, sendo que uma das perspectivas a adoptar é a da análise do discurso. Esta é uma investigação que lida com a referência directa a pessoas nossas contemporâneas e a eventos recentes da esfera privada; assim, foi necessário reflectir sobre a garantia da protecção de dados na correspondência a editar. Põe-se o problema de manter a integridade dos enunciados das cartas, tentando, ao mesmo tempo, respeitar princípios éticos, alguns deles mais abstractos, outros inclusivamente consagrados sob forma de lei. O interesse na manutenção da integridade das cartas advém da própria definição de ‘enunciado’, ‘texto’ e ‘discurso’. Os enunciados são irrepetíveis (Harris 1951), os textos são composicionais (Adam 1995/2005), os discursos são ideologicamente situados (Van Dijk 1997); logo, a preservação da unidade e a rigorosa contextualização de cada carta a estudar são condições absolutas para a sua abordagem discursiva. Esta comunicação pretende, perante o que se expôs acima, sistematizar os seguintes problemas e indicar formas de os solucionar: i) dados privados; ii) imposições éticas e legais na protecção de dados; iii) recolha e tratamento de enunciados linguísticos contendo dados privados; iv) arquivo digital completo, mas seguro, desses enunciados; iii) disponibilização online de um corpus discursivo contemporâneo que não ponha problemas éticos. Project FLY – Private letters, private lives: the discoursive truthfulness and the ethical responsibility for the investigation. The Project FLY, developed by the Linguistics Centre of the University of Lisbon, aspires to study and make available a very specific corpus: 2000 private letters from the 20th century rooten in potentially traumatic contexts for the individuals who wrote them or received them, the contexts of war, imprisionment, exile and migration. The study scope of this project is transverse and covers the fields of Linguistics, History and Sociology, and one of the perspectives to adopt is the speech analysis. This is an investigation that deals with the direct reference to persons that are our contemporary and to recent events of the private life; thus, it was necessary to reflect upon the guarantee of data protection in the correspondence to edit. It poses the problem of maintaining the integrity of the letters’ statements and trying, simultaneously, to respect ethical requirements, some of each more abstract, others legally consecrated. The interest in maintainig the truthfulness of the letters results from the own definition of “statement”, “text” and “discourse”. The statements are unrepeatable (Harris 1951), the texts are compounds (Adam 1995/2005), the speeches are ideologically situated (Van Dijk 1997); hence, the preservation of the unit and the rigid contextualization of each letter to be studied are absolute conditions to its discoursive approach. This presentation aims, in face of what was above described, at the systematization of the following problems and ways of solving them: i) Private data; ii) Legal and ethical impositions in data protection; iii) Collection and treatment of linguistic statements with private data; iv) Complete digital archive, but secure, of those statements; v) Online availabilty of a contemporary discoursive corpus that does not place ethical problems. Referências/References Adam, Jean-Michel (1992/2005): Les textes: types et prototypes. Récit, description, argumentation, explication et dialogue. Paris: Nathan. Harris, Zellig (1951): Methods in Structural Linguistics. Chicago: University of Chicago Press. Van Dijk, Teun A. (1997): “The study of discourse”, in Teun A. van Dijk (ed.), Discourse as Structure and Process. Londres: Sage, 1-34.