curso de odontologia da unifor: 10 anos ensinando e aprendendo
Transcription
curso de odontologia da unifor: 10 anos ensinando e aprendendo
CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR: 10 ANOS ENSINANDO E APRENDENDO ORGANIZADOR PROF. LUIZ ROBERTO AUGUSTO NORO 1 1. Projeto pedagógico: a construção coletiva Luiz Roberto Augusto Noro Sharmênia de Araújo Soares Nuto Thiago Pelúcio Moreira Karol Silva de Moura Polyanna Maria Rocha Novais 2. Metodologia da problematização: uma escolha político-pedagógica Thiago Pelúcio Moreira Luiz Roberto Augusto Noro Rita de Cássia Moura Diniz Denise Klein Antunes Christina César Praça Brasil Fátima Maria Fernandes Veras Aldo Angelim Dias Maria Cristina Germano Maia Samuel Ilo Fernandes Amorim 3. Espaços de Saúde: é possível humanizar? Patrícia Pinheiro Santos Moura Heleni Barreira de Brito Sharmênia de Araújo Soares Nuto Rosanne Maria Medina Ávila Gomes Morgana Pontes Brasil Gradvohl Sandra Régia A. Ximenes 4. Como você se sente? A experiência do Estágio Extra Mural do Curso de Odontologia da UNIFOR Sandra Helena de Carvalho Albuquerque Maria Vieira de Lima Saintrain Luiz Roberto Augusto Noro Sharmênia de Araújo Soares Nuto Thiago Pelúcio Moreira Maria Cristina Germano Maia Maria do Carmo Rebouças Filha Maria Elisa Machado Ferreira 2 5. A Clínica integrada Juliano Sartori Mendonça Sandra Helena de Carvalho Albuquerque 6. Controle de Infecção no Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) Danilo Lopes Ferreira Lima Dilene Maria de Araújo Façanha Aminthas Alves Brasil Neto Elilton Cavalcante Pinheiro Júnior Solange Kátia Saito Fernandes Luiz Roberto Augusto Noro 7. Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de Odontologia – SIA/ODONTO Karol Silva de Moura Eveline Turatti Lívia Belchior Gomes de Matos José Leitão de Castro Feitosa José Raimundo Matos Miranda 8. Pesquisa: a essência do aprendizado Haroldo Rodrigues de Albuquerque Júnior Luiz Roberto Augusto Noro 9. Tratando desigualmente os desiguais: a busca da eqüidade no Curso de Odontologia da UNIFOR Grace Sampaio Teles Domingos Leitão Neto Fátima Maria Teixeira de Azevedo Luiz Roberto Augusto Noro 10. Jornada Acadêmica de Odontologia Juliano Sartori Mendonça Marlio Ximenes Carlos Sérgio Luís da Silva Pereira 3 OS AUTORES Aldo Angelim Dias Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Saúde Pública – Universidade Estadual do Ceará Doutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Aminthas Alves Brasil Neto Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Especialista em Prótese UMESP/SP Mestrando em Odontologia – Universidade Federal do Ceará Christina César Praça Brasil Professora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFOR Coordenadora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFOR Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana - Universidade Federal de São Paulo Danilo Lopes Ferreira Lima Professor do Curso de Odontologia e do Curso de Educação Física da UNIFOR Mestre em Periodontia UNICASTELO-Campinas/SP Doutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Denise Klein Antunes Professora do Curso de Fonoaudiologia da UNIFOR Mestre em Educação em Saúde - UNIFOR Dilene Maria de Araújo Façanha Enfermeira especialista em Centro Cirúrgico, Central Esterilização e Recuperação Anestésica pela SOBECC-SP Especialista em Educação em Saúde - UNIFOR Domingos Leitão Neto Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Especialista em Prótese Dental Total – Universidade Federal do Ceará Elilton Cavalcante Pinheiro Júnior Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Endodontia – Universidade Estadual do Rio de Janeiro Eveline Turatti Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Doutora em Odontologia – Universidade de São Paulo Fátima Maria Fernandes Veras Diretora do Centro de Ciências da Saúde da UNIFOR Mestre emFarmacologia - Universidade Federal do Ceará Fátima Maria Teixeira de Azevedo Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestranda em Educação em Saúde - UNIFOR Grace Sampaio Teles Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Doutora em Odontologia – Universidade de São Paulo 4 Haroldo Rodrigues de Albuquerque Júnior Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Doutor em Odontologia – Universidade Estadual Paulista - Araraquara Heleni Barreira de Brito Professora dos Cursos de Psicologia, Educação Física, Fisioterapia, Enfermagem, Fonoaudiologia da UNIFOR Mestre em Saúde Púbica – Universidade Estadual do Ceará José Galba de Meneses Gomes Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Psicologia – UNIFOR José Leitão de Castro Feitosa Analista de Sistemas da Gerência de Tecnologia em Informática – UNIFOR José Raimundo Matos Miranda Coordenador de Desenvolvimento da Gerência de Tecnologia em Informática – UNIFOR Mestre em Administração - UNIFOR Juliano Sartori Mendonça Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Doutor em Dentística – Universidade de São Paulo - Bauru Karol Silva de Moura Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Saúde Pública – Universidade Federal do Ceará Lívia Belchior Gomes de Matos Analista de Organização e Método do Curso de Odontologia da UNIFOR Especialista em Consultoria Organizacional – Universidade Federal do Ceará Luiz Roberto Augusto Noro Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Saúde Pública - Universidade Federal do Ceará Doutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Maria Cristina Germano Maia Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Saúde Pública - Universidade Estadual do Ceará Doutoranda em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Maria do Carmo Rebouças Filha Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Especialista em Educação em Saúde – UNIFOR Maria Elisa Machado Ferreira Ex-aluna do Curso de Odontologia da UNIFOR Maria Vieira de Lima Saintrain Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Doutora em Odontologia em Saúde Coletiva – Universidade de Pernambuco 5 Marlio Ximenes Carlos Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Especialista em Periodontia – Universidade Camilo Castelo Branco Morgana Pontes Brasil Gradvohl Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Psicologia – UNIFOR Patrícia Pinheiro Santos Moura Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Educação em Saúde – UNIFOR Polyanna Maria Rocha Novais Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Odontologia - Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto Doutoranda em Prótese – Universidade Estadual Paulista - Araraquara Rita de Cássia Moura Diniz Professora do Curso de Enfermagem da UNIFOR Coordenadora do Curso de Enfermagem da UNIFOR Mestre em Saúde Comunitária – Universidade Federal do Ceará Rosanne Maria Medina Ávila Gomes Assistente Social do Curso de Odontologia da UNIFOR Especialista em Consultoria Organizacional – Universidade Federal do Ceará Mestranda em Administração – Universidade Estadual do Ceará Samuel Ilo Fernandes Amorim Aluno do Curso de Odontologia da UNIFOR Sandra Helena de Carvalho Albuquerque Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Saúde Pública - Universidade Federal do Ceará Sandra Régia A. Ximenes Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Especialista em Radiologia e Dentística – Universidade de São Paulo - Bauru Sérgio Luís da Silva Pereira Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Doutor em Periodontia – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Sharmênia de Araújo Soares Nuto Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Saúde Pública - Universidade Federal do Ceará Doutoranda em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Solange Kátia Saito Fernandes Professora do Curso de Odontologia da UNIFOR Doutora em Dentística – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Thiago Pelúcio Moreira Professor do Curso de Odontologia da UNIFOR Mestre em Saúde Pública - Universidade Estadual do Ceará Doutorando em Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 6 APRESENTAÇÃO O curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza completa 10 anos de existência. Assim, é com grande satisfação que apresento a experiência relatada nesta obra como uma contribuição à história da Odontologia no Ceará. A criação desse curso caracteriza-se como um processo extremamente dinâmico e, por que não dizer, ambicioso, considerando o cenário da formação de recursos humanos em nossa região, mais especificamente de cirurgiões-dentistas conscientes do seu papel social diante dos desafios em promover o cuidado com a saúde bucal. Desde o início do Curso, em 1995, a Reitoria teve a felicidade de poder contar com um corpo docente de alto nível, muito bem qualificado com professores mestres e doutores, bastante criativos e dedicados, o que logo se traduziu numa atitude notável: o compromisso com a gestão colegiada e participativa. Essa orientação permitiu o diferencial do Curso, destacando-o entre os melhores de formação odontológica do País. Nesta publicação, o que o leitor vai encontrar é uma reflexão, de autoria do corpo docente sobre experiências no cotidiano do processo de ensinar e aprender como obra coletiva, fundamentada cientificamente, numa postura compartilhada, definidora das teorias e práticas odontológicas, construídas no ensino, na docência e na pesquisa desenvolvidas no Curso. O resultado é dos mais consideráveis: a excelência docente é assumida pela qualidade na formação discente, testemunhada nos relatos aqui reunidos, diante das atitudes profissionais do atendimento e no sucesso dos egressos. A consistência do Projeto Pedagógico do curso de Odontologia da UNIFOR levou-o ao reconhecimento da comunidade em geral, de tal modo que a excelência na graduação gerou a possibilidade da alta qualidade da especialização e, por último, viabilizou a proposta do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Odontologia. Por tudo isso, parabenizo a Coordenação, os Professores e Alunos do curso de Odontologia, e desejo aos leitores um passeio prazeroso pelos caminhos aqui redesenhados. Carlos Alberto Batista Mendes de Souza Reitor 7 PREFÁCIO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA: UM MARCO NO ENSINO ODONTOLÓGICO CEARENSE José Galba de Meneses Gomes Faltavam poucos dias para findar o mês de julho. O ano era 1995. Em março a UNIFOR havia iniciado o seu Curso de Odontologia. Estava eu no desempenho das funções do cargo de Chefe de Gabinete da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará quando fui convidado para o desafio de assumir a coordenação do curso com a perspectiva da estruturação de um curso referência para a região. Para ninguém manifestei a importância e a vontade pessoal de ingressar naquilo que foi meu sonho de jovem: seguir a carreira acadêmica, a qual fui impedido pelos rigores discriminatórios da ditadura vigente nos anos 60 e 70. Ironia do destino, aquilo que foi foco de discurso quando militante estudantil nos anos 60 contra a privatização do ensino tornou-se porta de entrada para o resgate de um sonho que, embora aparentemente tardio, não o foi, pois a vida é um incessante recomeço. A bem da verdade, após assumir o cargo, nos primeiros momentos assusteime, pois o curso havia sido iniciado e o projeto arquitetônico ainda passava por discussão e detalhamentos. Fiquei mais atarantado quando em visita ao terreno a ser edificado nada vi a não ser arbustos. Não tinha a devida avaliação do pragmatismo e obstinação da direção da UNIFOR em consolidar, como o fez, e continua a fazer. Com isso senti segurança mesmo com o atraso do cronograma e em razão da enorme responsabilidade que assumia porque aquela oportunidade implicava num resgate de um sonho que me induziu envidar todos os esforços possíveis para fazer o que melhor pudesse. Solicitei à Universidade de Fortaleza uma viagem para visita a algumas faculdades em diferentes pontos do país, a qual foi concretizada com o objetivo de colher sugestões para o projeto arquitetônico e pedagógico, além de silenciosamente fazer os primeiros contatos com quadros docentes e assegurar-me 8 de uma visão crítica bem sedimentada. A partir das visitas firmou-se posição quanto a necessidade de diferenciação no tocante a inovações na área da biossegurança assim como a ousadia em montar uma equipe docente jovem titulada com mestrado ou doutorado. Aproximava-se o fim do ano de 1995 e não havia nem sinal de início da edificação do prédio o que levou à improvisação de um espaço para o funcionamento, no primeiro semestre de 1996, da disciplina de Materiais Dentários e, em paralelo, buscar professores para essa disciplina específica, diga-se sob pressão e preocupação dos alunos. Dá para imaginar a ansiedade dos alunos e a minha própria. Fato é que o laboratório foi montado em caráter provisório e atendeu até o fim de 1996 também as disciplinas de Escultura Dental e Odontologia Social I. A seleção dos professores ocorreu sempre com a recomendação de que fosse realizada considerando a capacitação acadêmica de Doutor e Mestre ou, em última análise, Especialista e que os contratados tivessem disponibilidade e vontade de buscar o novo. É bom frisar que em nenhum momento ocorreram interferências das instâncias superiores para imposição de nomes dos futuros docentes. Sabendo que a existência de professores com qualificação de Mestre e Doutor no Ceará era bastante rarefeita, foram iniciados contatos com outros centros para tentar contratação de professores com estes títulos conclusos ou em fase de conclusão. Lembro que percebi da parte de alguns dirigentes da UNIFOR um sorriso de incredulidade ao verem a jovialidade dos futuros professores, e eu próprio, apesar das referências, apavorado uma vez que qualquer fracasso seria fatal para um curso que estava iniciando. A estes foram incorporados professores com experiência que muito contribuíram para controlar os arroubos próprios dos mais jovens, além de permitirem uma perfeita composição na condução das disciplinas. O projeto era pensar algo inovador dentro do conceito de formar profissionais tecnicamente capazes, éticos e humanos. Para tanto, seria indispensável contar com funcionários e docentes comprometidos e envolvidos, motivados e apoiados no sentido da construção de uma instituição exemplar e diferenciada. 9 É importante destacar que a UNIFOR deu largos passos a partir do modelo implantado pela odontologia, e que o ano de 1998 constituiu-se num marco, pois patrocinou juntamente com a Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO) um grande encontro em suas dependências, contando com a presença de professores de Odontologia de todo o Brasil que foi motivo de júbilo para todos nós pela participação e produção acadêmica. A semente foi regada com muita pertinácia e responsabilidade o que permitiu gerar frutos com uma continuidade – sem continuísmo – de coordenações se superando e mantendo a chama da vontade de acertar e com uma equipe jovem e envolvida, e ao olhar para trás afirmo com convicção que o envolvimento e a determinação da Universidade de Fortaleza foram determinantes para oferecermos à sociedade cirurgiões-dentistas efetivamente comprometidos com a perspectiva da promoção da saúde. 1 CAPÍTULO 1 Projeto pedagógico: a construção coletiva Luiz Roberto Augusto Noro Sharmênia de Araújo Soares Nuto Thiago Pelúcio Moreira Karol Silva de Moura Polyanna Maria Rocha Novais 1. INTRODUÇÃO O presente capítulo tem como objetivo apresentar o processo vivenciado pelo Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) durante os últimos cinco anos na discussão do Projeto Político Pedagógico Permanente, um dos instrumentos mais importantes na construção do referencial ao qual estará sedimentada a formação do aluno, tendo como desafio a formulação de uma nova referência para o ensino odontológico. Seu foco principal foi vislumbrar mecanismos visando proporcionar ao aluno formação geral por meio de conhecimentos relevantes para seu crescimento científico, formação profissional pertinente à sua atuação na área da saúde e formação cidadã contemplada por uma visão ampla da sociedade. Estas discussões envolveram todo o corpo docente em um trabalho construído de forma coletiva e pautado na perspectiva de se vislumbrar a capacitação de futuros profissionais em saúde bucal que tenham capacidade de refletir sobre seu papel na sociedade e analisar que contribuições podem trazer para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira, em especial, a cearense. A proposta foi marcada por um constante aprofundamento na definição de elementos vinculados à metodologia pedagógica problematizadora, à integração de conhecimentos, à experiência didático-pedagógica dos professores e na busca de alternativas instrucionais que permitissem um crescimento intelectual progressivo e constante do aluno, tudo em coerência com as Diretrizes Curriculares propostas para os Cursos de Odontologia, aprovadas desde novembro de 2001 pelo Ministério da Educação (MEC). 1 Estas Diretrizes Curriculares Nacionais apresentam linhas gerais bastante semelhantes à de outros cursos na área da saúde como Medicina, Enfermagem, Farmácia etc. Se comparada à proposta inicial em análise no MEC desde 1998, observam-se, claramente, alguns avanços como as competências gerais relacionadas à atenção integral à saúde, liderança social e setorial, gerenciamento e administração de recursos; observação de que os conhecimentos, competências e habilidades devem estar direcionados a todos os níveis de atenção em saúde; diversificação de cenários, desmonopolizando o ensino da clínica odontológica; interação com serviços de saúde e comunidade; aluno como sujeito da aprendizagem por meio da utilização de metodologias ativas de aprendizagem e, talvez a principal, a partir de agora, a formação em Odontologia deverá contemplar o sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde e o trabalho em equipe. Definiu-se, assim, o papel dos cursos de Odontologia na formação de profissionais de saúde efetivamente vinculados aos interesses da maioria da população. 2. APRESENTAÇÃO DO CURSO O Curso de Odontologia deu início a suas atividades no primeiro semestre de 1995, tendo como base legal a Resolução CFE 04/82, de 03 de setembro de 1982, parecer favorável do Conselho Nacional de Saúde em 11 de novembro de 1993 e deliberação assumida em reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade de Fortaleza em 14 de outubro de 1994. O curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza não foi criado na simples lógica de ser mais uma opção nesta área, mas sim no sentido de buscar uma formação baseada em princípios humanistas, que contribuísse devolvendo à sociedade profissionais altamente capacitados, quer do ponto de vista individual, quer do ponto de vista coletivo, que fossem habilitados a enxergarem o paciente como um todo em sua dimensão física, psíquica e social. É pretensão do curso se inscrever como referência no cenário odontológico nacional de forma a contribuir para o desenvolvimento de pesquisas, trabalhos e compreensão de que os problemas de saúde bucal devem ser resolvidos para também contribuir na conquista da cidadania. 1 A criação de qualquer curso na área de saúde, e primordialmente o de odontologia, só se justifica se houver real demanda social que torne os profissionais a serem formados como importantes agentes na melhoria da qualidade de vida da população. Segundo dados de dezembro de 1996 do Conselho Federal de Odontologia, o Brasil possuía nesta época um total de 90 faculdades ou cursos de Odontologia, formando anualmente um total de 8236 cirurgiões-dentistas, o que significa uma relação de 1 cirurgião-dentista para 1142 habitantes, representando até então, o melhor índice de toda a América. Neste mesmo levantamento observamos que o caso do estado do Ceará apresenta uma defasagem se comparado com o do Brasil. Segundo este levantamento, em 1996 o Ceará apresentava uma relação de 1 cirurgião-dentista para 2754 habitantes, deixando clara a necessidade de um contingente maior de cirurgiões-dentistas em nosso estado, tendo em vista a orientação da Organização Mundial de Saúde no sentido de uma relação adequada ser aquela de 1 cirurgiãodentista para 1500 a 2000 habitantes. Epidemiologicamente, o Ceará, assim como a maioria dos estados do Nordeste, apresenta uma situação de saúde bucal caótica, agravada pela péssima distribuição de renda, situação inadequada de habitação, educação, além de um sistema de saúde pública que pouco contribui na melhoria do quadro geral da população. Para reversão deste quadro torna-se imperioso vislumbrar-se possibilidades de maior acolhimento de futuros profissionais cônscios de seu papel político, ético e social nesta transformação. Neste sentido, é pretensão do curso de odontologia da UNIFOR contribuir para uma melhor participação de profissionais na reversão do negativo perfil epidemiológico, considerando que parte dos municípios do interior cearense não possui cirurgiões-dentistas ali residentes, apesar dos grandes avanços com a estratégia Saúde da Família. A concepção arquitetônica que abriga o curso de odontologia da UNIFOR foi resultado de uma ampla pesquisa das estruturas existentes de outros cursos no país, que resultou numa adaptação a nossa realidade climática dispondo para tanto de uma área construída de laboratórios, clínicas e demais setores relacionados à Odontologia de 3500 m2. As diferentes instalações estão estruturadas com equipamentos de tecnologia atual e com capacidade instalada para atender a 1 demanda dos cinqüenta e cinco ingressos semestralmente por meio do processo seletivo. Com estas instalações, o curso de Odontologia da UNIFOR está em condições de formar profissionais competentes e capacitados ao desenvolvimento das várias técnicas odontológicas. No plano das responsabilidades profissionais foram implantadas comissões de biossegurança e humanização que rotineiramente acompanham as metodologias de atendimento ao público, a relação professor-aluno e a inter-relação professores– alunos–funcionários–usuários, afora a permanente discussão quanto a metodologia do ensino. Quanto à titulação do corpo docente, a grande maioria dos professores do curso de Odontologia da UNIFOR (aproximadamente 76%) é composta de doutores ou mestres, não existindo qualquer professor sem pelo menos a especialização. Em relação à capacitação pedagógica, nossos docentes têm continuamente a sua disposição cursos das áreas de didática, dinâmica de grupo, relações interpessoais, avaliação, entre outros, que visam o contínuo aprofundamento da formação pedagógica. O Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza foi reconhecido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) em 08/12/1999 por meio do Parecer nº 1226/99. Desde então o curso já participou de cinco versões do Exame Nacional de Cursos tendo obtido o conceito “B”, no ano de 1999, o conceito “A” em 2000 e 2001 e o conceito “B” nos anos 2002 e 2003 e da primeira versão do ENADE obtendo o conceito 5. Na última Avaliação das Condições de Ensino, realizada em 2005, o Curso teve o conceito “Muito bom” em todas as dimensões avaliadas. Necessário se fez, portanto, a contínua discussão entre a comunidade acadêmica sobre quais rumos deveria tomar a formação de um profissional que pudesse efetivamente cumprir o estabelecido para sua missão. E, o caminho desenhado para conquista de tal objetivo foi o seu Projeto Pedagógico. 3. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO PEDAGÓGICO A estratégia escolhida para seu desenvolvimento consistiu na realização de oficinas semanais às quais eram convidados professores e alunos do curso para identificação dos principais problemas observados no desenvolvimento do projeto 1 em prática e os possíveis avanços a serem obtidos. As Oficinas de Construção Coletiva do Projeto Pedagógico foram articuladas com a Diretoria de Graduação e a coordenação do Curso de Odontologia da UNIFOR tendo como meta a discussão de elementos fundamentais para a efetiva implantação das propostas discutidas. Visando estabelecer com clareza o papel dos diversos atores na construção de uma proposta sólida e tendo como referencial as propostas apresentadas durante a XXXIII Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico – ABENO, em 1998, foram definidos os seguintes princípios norteadores: 1º) A construção do Projeto Pedagógico depende da capacidade dos participantes em perceber, analisar, aceitar (rejeitar) e promover mudanças, elaborando para isto mecanismos (métodos, estratégias) adequados. 2º) Para superar a fragmentação é necessário integrar as “disciplinas” para a articulação de propósitos. Esta integração deve romper com o isolamento e ocorrer de forma lógica na construção da totalidade do curso. 3º) A definição da política de graduação deve se dar no seguinte sentido: a) Formação universitária que permita um egresso com característica de generalista voltado para a promoção de saúde. b) Os estudantes deverão ser formados visando assumirem postura crítica, voltados para a sociedade, cientes do mercado de trabalho (mas capazes de transformá-lo) a partir das necessidades da população. c) Otimização curricular, promovendo estímulo e interação entre ensino, pesquisa e extensão por meio, inclusive, de estímulo financeiro e institucional (bolsas, monitorias, eventos etc.). Deve-se prever horário específico para pesquisa e extensão e divulgação dos dados e informações provenientes destas atividades. d) A relação teoria-prática deve ocorrer a partir da interação das várias áreas de conhecimentos, compondo uma totalidade. 4º) Projeto pedagógico enquanto prática social coletiva, a partir da interação com a sociedade em benefício da “classe” como um todo e da própria sociedade. Principal referência: formar um aluno crítico. 1 5º) Individualizar as características e demandas do curso na construção e legitimação do Projeto Pedagógico. Para isto, deve-se conhecer o “Modelo Macro” preconizado pela administração acadêmica identificando-se, a partir daí, limites e possibilidades concretas (número de alunos, estrutura física, currículo, apoio à pesquisa etc.). 6º) A coerência do Projeto Pedagógico tem a ver com a meta a ser alcançada. Esta meta deve ser em relação ao profissional desejado e sua relação com a sociedade. A natureza da ação a ser desenvolvida (generalista X especialista) está diretamente relacionada à definição desta meta. 7º) A gestão, para que o Projeto Pedagógico formulado seja efetivado, deve ser compartilhada. Deve permitir um espaço constante de discussão para que possa se trabalhar com a idéia de “Projeto Pedagógico Permanente”. A construção deste percurso foi viabilizada pela execução de 50 oficinas pedagógicas semanais, divididas em duas fases: a primeira, que contou com a participação de professores da área da pedagogia, configurou-se como espaço privilegiado na capacitação pedagógica do corpo docente e a segunda, que buscou harmonizar o referencial teórico construído com a necessidade de um processo de ensino-aprendizagem que permitisse efetiva interação entre formação e prática profissional, respeitando o conhecimento prévio do aluno e alterando o papel do professor de transmissor do conhecimento para mediador da aprendizagem. O que se pretendia era que, com a participação efetiva de todo o corpo docente, o Projeto Pedagógico pudesse definir o perfil do egresso do curso de Odontologia e, a partir daí, definir as metodologias pedagógicas e componentes curriculares necessários para viabilização deste objetivo. No semestre de 1999.1 ocorreram onze Oficinas Pedagógicas em que foram discutidos temas como objetivos do curso, perfil do aluno a ser formado, habilidades desejáveis dos futuros profissionais em saúde bucal, metodologias pedagógicas, diretrizes curriculares e avaliação do processo ensino-aprendizagem. Foi possível observar que o docente do Curso de Odontologia configurava-se, em geral, como um profissional bem sucedido em sua área de atuação clínica, mas 1 que se ressentia de uma formação pedagógica para pleno desenvolvimento de sua carreira acadêmica. As Oficinas permitiram uma efetiva participação da maioria do corpo docente com formação em Odontologia, apontando para a necessidade de uma contínua discussão principalmente com relação à adoção de metodologia pedagógica com base na problematização, substanciada por um currículo integrado, que viesse a ser formulado por meio do Projeto Pedagógico Permanente do Curso de Odontologia da UNIFOR. No segundo semestre de 1999 procurou-se avançar no sentido da discussão do currículo integrado. Analisando-se o currículo existente observava-se a inadequação de alguns elementos, tendo em vista a dissociação entre as disciplinas do ciclo básico das do ciclo profissionalizante, o baixo impacto das ações de saúde coletiva e a necessidade de se pensar em métodos de ensino que proporcionassem maior participação do aluno, transformando-o em agente de seu estudo. A posição passiva do aluno deveria ser substituída por uma postura que o levasse a aprender a aprender. Ao fim do semestre foi apresentada a proposta preliminar do Projeto Pedagógico, convidando-se os alunos para tomarem conhecimento das discussões, de forma a poderem contribuir significativamente com esta construção. No primeiro semestre de 2000 iniciou-se a participação do corpo discente. As dificuldades para viabilizar o seu comparecimento sempre estiveram presentes. Afinal, o Curso de Odontologia exige compromisso e, principalmente, muita dedicação por parte do estudante. Mesmo assim, em todas as Oficinas deste semestre, contou-se com a participação dos estudantes. A discussão central neste semestre foi a elaboração de uma grade curricular que viabilizasse a integração de conhecimentos. Tomou-se como referência para esta atividade, o perfil clínico do paciente do Curso de Odontologia, em que os conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para o atendimento deste, guiaria as atividades clínicas e laboratoriais. A partir da referência proporcionada pela construção de um currículo com base no perfil do paciente, que tivesse como direção o aumento da complexidade do caso clínico coerente com o processo de ensino-aprendizagem a ser vivenciado pelo estudante ao longo do curso, procurou-se no segundo semestre de 2000 desenvolver áreas de conhecimento que perderiam a característica da abordagem específica proposta pelas tradicionais disciplinas, permitindo uma abordagem com visão mais ampla do paciente, entendido em seu contexto social, psicológico, cultural e biológico. 1 Neste sentido, as Oficinas realizaram-se na perspectiva da construção de uma grade curricular que procurou integrar conhecimentos tanto ao longo do próprio semestre (integração horizontal) como de um semestre para o outro (integração vertical) permitindo ao aluno a real percepção de seu objeto de trabalho. Assim, os conhecimentos, habilidades e atitudes contidos nas tradicionais disciplinas clínicas e laboratoriais (materiais dentários, “dentísticas”, “endodontias”, “periodontias”, “próteses” e “cirurgias”) foram agrupados de acordo com o perfil do paciente nas disciplinas Pré-clínicas, Clínicas Odontológicas e nos estágios de Clínica Integrada. Esta estruturação curricular contribui, segundo TOMAZ (2001), no resgate de conhecimentos prévios dos alunos para construção de sólidas estruturas de aprendizagem. Outro fator que merece destaque é a possibilidade de conclusão dos casos clínicos dos pacientes, muitas vezes incompletos pela falta de articulação dos conhecimentos distribuídos nas disciplinas, fazendo com que o paciente seja muito mais um objeto de intervenção para o aluno do que um ser humano que procura resolver seus problemas de saúde bucal em um curso de Odontologia. Tendo como referência o perfil de atendimento do paciente e os conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para o desenvolvimento da prática pelo aluno, no semestre de 2001.1 foram alocados os conteúdos para o desenvolvimento de cada disciplina, por meio de representantes dos docentes de cada área de trabalho (materiais dentários, dentística, endodontia, periodontia, prótese, cirurgia, diagnóstico oral e saúde coletiva). Durante o ano de 2002, a proposta foi apresentada para o Centro de Ciências da Saúde (CCS) e para a Diretoria de Graduação (DIGRAD). Houve alguns questionamentos em relação à nova proposta curricular, principalmente pela presença de disciplinas com o número de créditos elevados. Finalmente, após o amadurecimento dos questionamentos levantados pela Universidade, optou-se, no semestre de 2003.1, pela realização de alguns ajustes à proposta inicial. Foram realizadas 10 Oficinas com a participação dos representantes das áreas de trabalho e aberto aos demais professores, em que foi revista a grade curricular, onde a principal modificação foi a separação das disciplinas da área de prótese das de clínicas odontológicas, criando os seus perfis próprios, com o intuito apenas de diminuir os créditos por disciplina; foram redefinidos os perfis (alguns perfis estavam muito complexos, com o acúmulo muito grande de 1 conhecimentos/habilidades); os conteúdos alocados em cada disciplina, iniciandose, a partir daí, a construção dos projetos de ensino. Ao longo dos semestres 2003.1 e 2003.2, algumas das iniciativas propostas durante as discussões passaram a ser operacionalizadas nos estágios de Clínica Integrada I e II. Os professores passaram a se responsabilizar pela orientação de uma série de procedimentos (diagnóstico das doenças bucais, elaboração do plano de tratamento, extrações, restaurações, tratamento endodôntico, moldagens, urgência, entre outros) a um grupo de alunos, independente de sua especialização ou área específica de conhecimento. Aos alunos foi colocado como meta dar alta a todos os pacientes sob sua responsabilidade atendendo integralmente suas necessidades, estando desobrigado de cumprir uma produção mínima em cada área específica. Acredita-se que desta forma será possível despertar no processo de ensino-aprendizagem a importante dimensão da motivação intrínseca, que é caminho genuíno para aprofundamento dos temas em estudo (SCHIMIDT, 2000). Com isto, buscou-se uma maior integração dos conhecimentos técnicos, articulados a uma visão mais humanista no atendimento à necessidade do paciente. No segundo semestre de 2003 a proposta foi encaminhada para a professora Luiza Nakama, da Universidade Estadual de Londrina e membro da REDE UNIDA, com a finalidade de análise e parecer sobre o projeto. Em maio de 2004, a professora Luiza Nakama, após ajustes no projeto analisado, desenvolveu em reuniões com os professores, Colegiado do Curso, Direção do Centro de Ciências da Saúde e Vice-Reitoria de Ensino de Graduação, uma consultoria visando aperfeiçoamento da proposta, principalmente no sentido da adequação às Diretrizes Curriculares para os Cursos de Odontologia. A proposta definida procurou absorver todas estas discussões, dificuldades, sugestões e análises no sentido de se configurar enquanto elemento de avanço na formação de um aluno realmente comprometido com a saúde bucal de seu futuro paciente e teve como grande virtude a construção de um trabalho de forma coletiva, em um processo que requisitou intensa dedicação ao longo dos últimos anos. As oficinas desenvolveram-se às terças-feiras, das 19:00 às 22:00 horas e a participação era voluntária. Para melhor compreensão do processo, disponibiliza-se na tabela 1 o total de Oficinas realizadas e a respectiva carga horária envolvida neste trabalho. 1 Tabela 1: Número de oficinas do Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia da UNIFOR e total de horas, por semestre. Semestre 1999.1 1999.2 2000.1 2000.2 2003.1 TOTAL Número de oficinas 11 8 16 10 10 55 Total de horas 33 24 48 30 30 165 Para chegarmos onde nos situamos hoje, foi necessário um processo que teve na participação do corpo docente do Curso de Odontologia seu maior referencial. O professor do curso, de forma geral, mantém atividades fora do âmbito da Universidade, principalmente vinculadas ao consultório particular, o que, em tese, deveriam ser elementos dificultadores para sua efetiva participação. Entretanto, pôde-se contar com a maioria dos professores nas discussões que tiveram sempre como pressupostos à busca dos melhores elementos na definição de um curso de Odontologia de excelência. A apresentação do Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia foi feita em 18 de novembro de 2004, junto ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade de Fortaleza, sendo aprovado para início no primeiro semestre de 2005. 4. REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR Formar cirurgião-dentista generalista apto a diagnosticar e tratar as principais doenças bucais, por meio da compreensão, aplicação e integração dos princípios gerais das ciências médicas e correlatas, inter-relacionando os efeitos entre tratamentos médicos e odontológicos na busca de soluções adequadas para os problemas clínicos, individuais e comunitários, promovendo a saúde e prevenindo as doenças e distúrbios bucais, mantendo espírito crítico, ético e com amplo interesse social em compreender a importância do impacto de políticas sociais, ambientais e de saúde sobre a saúde bucal, sendo capaz de planejar e administrar programas de saúde coletiva é o grande objetivo da reestruturação curricular do Curso de 2 Odontologia da UNIFOR. Para chegar a este objetivo, alguns elementos estão propostos dentro desta reestruturação. 4.1. CURRÍCULO INTEGRADO Vários são os conceitos e definições de currículo. O próprio significado da sua origem semântica no Latim (currere, que significa correr) pressupõe uma dimensão dinâmica, que segundo POSNER (1995) “devem permitir que os estudantes construam seu próprio conhecimento baseados no que eles já sabem e usem tal conhecimento em atividades que requeiram tomada de decisão, resolução de problemas e discernimento.” Em geral, o que se pode observar é que o currículo é um plano pedagógico sistemático utilizado para orientação da aprendizagem do aluno. Pode ser entendido como o meio pelo qual o ensino se cumpre, servindo de instrumento para viabilização do processo ensino-aprendizagem ao aluno e como referência estratégica para o professor no desenvolvimento de seu plano de trabalho. Mais importante do que a definição é a percepção sobre qual concepção de aprendizagem se orienta determinado currículo. O currículo formal ou currículo por disciplinas, presentes ainda hoje na organização da maioria dos Cursos de Odontologia do Brasil, têm como elemento básico uma metodologia pedagógica caracterizada pela transmissão de conhecimentos, representada pelas disciplinas estanques, preocupadas basicamente com a memorização de informação e/ou repetição de técnicas. A opção por um currículo integrado ocorreu previamente à efetiva integração entre ensino e prática profissional, que tivesse como referência um processo de ensino-aprendizagem respeitando o conhecimento prévio do aluno e, a partir daí, possibilitasse um avanço na construção de teorias, de forma compartilhada com o professor, tendo como base a busca de soluções adequadas aos problemas levantados, enfatizando na reflexão, na crítica e na criatividade, os elementos fundamentais na formação do aluno. O ensino deveria permitir que a estrutura interna do currículo fosse indutivoteórica, ou seja, o aluno selecionaria e ordenaria os assuntos da própria realidade e, a partir daí, buscaria elementos científicos e técnicos que viessem subsidiar a solução de tais problemas. Com isto, o ensino adquire um aspecto transdisciplinar, 2 já que os vários conceitos presentes em diferentes campos de conhecimentos deverão ser utilizados para explicação e solução do problema. Na construção da proposta, procurou-se definir o perfil do paciente atendido nas clínicas do Curso de Odontologia da UNIFOR para que fosse utilizado como referencial na organização dos conteúdos e objetivos a serem alcançados pelo currículo. Nesta estruturação por perfis partiu-se das situações menos complexas no atendimento clínico do paciente, assim como do entendimento da situação deste paciente na sua comunidade. Progressivamente, ao longo do curso, o aluno vai se deparando com pacientes com perfil clínico mais complexo, até chegar aos dois últimos semestres em uma situação onde o aluno deve estar apto a resolver a quase totalidade dos problemas bucais do paciente, assim como propor atividades dentro de um referencial que utilize a epidemiologia e o planejamento como elementos na solução destes problemas. Com isto, procura-se atingir uma integração horizontal, trabalhando conteúdos complementares dentro do mesmo semestre e integração vertical, fazendo uma abordagem sobre os assuntos de forma a observar a complexidade gradativa ao longo do curso. Outro elemento previsto no currículo integrado é a relação entre ensino, trabalho e comunidade, permitindo ao aluno entendimento do contexto imposto pelo mercado de trabalho e da realidade social a ser futuramente vivenciada. No desenho do novo currículo prevê-se a Integralização do curso em cinco anos, correspondente ao desenvolvimento de 286 créditos, sendo 178 práticos e 108 teóricos, distribuídos ao longo dos dez semestres de forma que o semestre com o maior número de créditos possibilite, pelo menos, dois turnos sem atividade curricular, possibilitando ao aluno envolvimento em atividades de qualquer outra natureza (cultural, científica, lazer, estudo individual, estágios etc.). 4. ESTRUTURA CURRICULAR A nova estrutura procurou basear-se nas competências e habilidades gerais previstas na formação do cirurgião-dentista, em especial a atenção à saúde, a tomada de decisões, a comunicação, a liderança, a administração e gerenciamento e a educação permanente que deverão ser exercitadas em todas as disciplinas previstas na nova estrutura curricular. Além disto, a aquisição de determinadas competências e habilidades específicas serão desenvolvidas de acordo com a 2 natureza dos campos de conhecimentos definidos nas disciplinas previstas nas áreas de Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Humanas e Sociais e Ciências Odontológicas. 4.2.1 – Ciências Biológicas e da Saúde Na área das Ciências Biológicas e da Saúde procurou-se organizar as disciplinas com conteúdos de bases moleculares e celulares dos processos normais e alterados no 1º semestre; as disciplinas relacionadas à estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos no 2º semestre, e as disciplinas das ciências biológicas e da saúde aplicadas às situações decorrentes do processo saúdedoença no desenvolvimento da prática assistencial de Odontologia no 3º semestre. Para isso, a disciplina de Microbiologia e a disciplina de Imunologia foram integradas em duas disciplinas: Microbiologia e Imunologia e Microbiologia e Imunologia Oral, possibilitando ao professor, nesta segunda, abordar temas específicos da Odontologia no seu conteúdo programático. O currículo anterior possuía as disciplinas de Farmacologia I e II. Na nova proposta somente existirá a Farmacologia e os conteúdos da Farmacologia II, que corresponde à aplicação clínica dos fármacos em Odontologia, serão contemplados nas disciplinas de Clínicas Odontológicas, de acordo com a necessidade dos perfis dos pacientes. A disciplina de Patologia Geral foi desmembrada em Patologia I e II com o mesmo número de créditos anteriores. Biologia passou a ter a denominação de Biologia Molecular, visando uma abordagem mais atual em relação aos grandes avanços observados nesta área, em articulação com as outras disciplinas do primeiro semestre. As disciplinas de Anatomia Humana, Histologia e Embriologia, Anatomia Bucofacial e Histologia e Embriologia Buco-faciais, Fisiologia e Bioquímica tiveram alterações quanto à disposição no semestre e integração de seus conteúdos, sendo mantidos os mesmos números de créditos. A disciplina de Parasitologia foi excluída do currículo atual, considerando que seu conteúdo tem pouca aplicação na formação de um cirurgião-dentista. O quadro 1, a seguir, detalha estas alterações. 2 Quadro 1: Número de créditos das disciplinas de Ciências Biológicas e da Saúde no currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3). Anterior Microbiologia Imunologia Farmacologia I Patologia geral Biologia Anatomia Humana Histologia e Embriologia Anatomia Buco-facial Histologia Embrio. Buco-faciais Bioquímica Fisiologia Parasitologia TOTAL Créd Atual 4 Microbiologia e Imunologia 4 Microbiologia e Imunologia Oral 4 Farmacologia 8 Patologia I Patologia II 4 Biologia Molecular 4 Anatomia Humana 4 Histologia e Embriologia 6 Anatomia Buco-facial 4 Histologia Embrio. Buco-faciais 4 Bioquímica 8 Fisiologia 4 56 Parasitologia Créd 4 4 4 4 4 4 4 4 6 4 4 8 --TOTAL 54 4.2.2 – Ciências Humanas e Sociais Com relação à área das ciências humanas e sociais, foram incluídos conteúdos referentes às diversas dimensões da relação indivíduo-sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúdedoença. As disciplinas de Elementos de Antropologia Filosófica e Elementos de Sociologia tiveram seus conteúdos integrados compondo as disciplinas de Ciências Sociais I e II. Elementos de Psicologia foi alterada para Psicologia do Relacionamento I e II (quatro créditos práticos) para o quinto e sétimo semestres, com o intuito de manter a integração com o atendimento clínico realizado pelo aluno. Os créditos práticos nas disciplinas de Psicologia foram garantidos para manter uma melhor relação professor/aluno permitindo atividades grupais e efetivo acompanhamento do desenvolvimento das habilidades interpessoais pelo aluno. Métodos e Técnicas da Investigação Científica teve seu nome alterado para Metodologia da Pesquisa Científica, mantendo-se com quatro créditos teóricos. Na área da saúde coletiva propõe-se uma tentativa de abordagem de elementos fundamentais apontados nas Diretrizes Curriculares que ocorressem ao 2 longo do curso. As disciplinas de Odontologia Social I, Epidemiologia Geral, Odontologia Social II e Odontologia Legal e Deontologia possuem, no currículo atual, conteúdos estanques trabalhados isoladamente, sendo sua maior carga horária concentrada no quarto e quinto semestre. Na nova proposta essas disciplinas foram substituídas por Saúde Bucal Coletiva I, II, III, IV e V, aplicadas desde o quarto até o oitavo semestre, viabilizando um crescimento contínuo de complexidade e de aplicação na realidade social. O Estágio Extra-Mural continua com a mesma característica do currículo atual, visto já possuir desde sua elaboração uma prática comprometida com o escopo da nova proposta pedagógica e curricular. Uma das principais características destas disciplinas é contemplar a formação do cirurgião-dentista contemplando o sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contrareferência, além do trabalho em equipe, conforme preconizam as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia. A distribuição dos créditos com as respectivas disciplinas encontram-se detalhadas no quadro a seguir: Quadro 2: Número de créditos das disciplinas de Ciências Sociais e Humanas no currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3). Anterior Créd Atual Créd Elem. de Antropologia Filosófica 4 Ciências Sociais e Saúde I 4 Elementos de Sociologia 4 Ciências Sociais e Saúde II 4 Elementos de Psicologia 4 Psicologia do Relacionamento I e II 4 Métodos Téc. Invest. Científica 4 Metodologia da Pesquisa Científica 4 Introdução à Odontologia 2 Introdução à Odontologia 2 Odontologia Social I 8 Epidemiologia Geral 6 Saúde Bucal Coletiva I, II, III, IV e V 20 Odontologia Social II 6 Odonto. Legal e Deontologia 4 Estágio Extra-Mural I 4 Estágio Extra-Mural I 4 Estágio Extra-Mural II 4 Estágio Extra-Mural II 4 TOTAL 44 TOTAL 46 2 4.2.3 – Ciências Odontológicas As disciplinas de Patologia Bucal e Radiologia tiveram seus conteúdos integrados e aplicados de acordo com os perfis dos pacientes compondo as disciplinas de Propedêutica Clínica I, II e III. Procurando aproximar o conhecimento básico de sua utilização clínica foi incluída a disciplina de Iniciação Clínica no 3º semestre que tem como objetivo aproximar o aluno de sua futura profissão, por meio do conhecimento real das situações de trabalho que irá vivenciar, abordando entre outros assuntos a ergonomia, biossegurança, bioética etc. Os conteúdos das disciplinas de Materiais dentários I e Materiais Dentários II, Semiologia Bucal, Cirurgia Odontológica I e II, Dentística Operatória, Dentística Restauradora I e II, Endodontia I e II, Farmacologia II, Periodontia I e II, Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial, Clínica Integrada I e II, tiveram seus conteúdos integrados de acordo com os perfis dos pacientes a serem atendidos, compondo as disciplinas de Pré-Clínica I, II, III e IV, Clínica Odontológica I, II e III e Clínica Integrada I, II, III, IV. Os perfis propostos para os pacientes a serem atendidos nestas disciplinas estão elencadas no quadro 3, a seguir. Quadro 3: Perfis de atendimento dos pacientes das disciplinas de Pré-clínica I, II, III, e IV, Clínica Odontológica I, II, e III e Clínica Integrada I, II, III e IV. ATIVIDADES/PROBLEMAS Adequação do meio bucal Remoção de fatores retentivos de placa DISCIPLINAS Pré-clínica I Clínica odontológica I Gengivite Restaurações provisórias Perfil I Restaurações diretas Pré-clínica II Clínica odontológica II Periodontite moderada Exodontia simples. 2 ATIVIDADES/PROBLEMAS DISCIPLINAS Perfil I + II Clareamento de dentes vitalizados / desvitalizados Restaurações complexas de dentes anteriores Pré-clínica III Clínica odontológica III Facetas Periodontite avançada Endodontia uni e bi-radicular Perfil I + II + III Restaurações complexas em dentes posteriores Restaurações indiretas Pré-clínica IV Clínica Integrada I Endodontia tri-radicular Biópsia / citologia Aumento de coroa clínica Cirurgia dentes inclusos. Perfil I + II + III + IV Restaurações indiretas Clínica Integrada II Endodontia tri-radicular e retratamento uni e bi-radicular DCM leve Cirurgia oral As disciplinas de Oclusão, Prótese Dental Total, Prótese Parcial Removível, Prótese Buco-maxilo-facial e Prótese Parcial Fixa passaram a compor as disciplinas de Prótese Dentária I, II, III e IV. A Implantodontia continua com a mesma composição. Para estas disciplinas também foram propostos perfis específicos de pacientes, que se encontram descritos no quadro 4. 2 Quadro 4: Perfis de atendimento dos pacientes das disciplinas de Prótese Dentária I, II, III e IV. PERFIL Prótese Total superior DISCIPLINAS Prótese dentária I Prótese Removível inferior Prótese Removível + Prótese Fixa Prótese dentária II Pré-clínica IV Prótese dentária III Prótese Removível + Prótese Fixa Prótese dentária IV Prótese Total bimaxilar As disciplinas de Odontopediatria I e II e Ortodontia Preventiva foram alteradas para Clínica Infantil I, II e III tendo como objetivo proporcionar uma maior integração dos conteúdos, a partir dos perfis dos pacientes infantis, descritos no quadro 5. Quadro 5: Perfis de atendimento dos pacientes da Clínica Infantil I, II e III. PERFIL Adequação do meio bucal Restaurações de cicatrículas Exodontia simples Restaurações diretas Programa de controle e tratamento em ortodontia preventiva e/ou interceptativa Perfil 1 Terapia pulpar (pulpotomia e pulpectomia) Cirurgias (ulotomias, ulectomias e frenectomias) Restaurações indiretas Reabilitação 1 elemento Programa de controlde de espaço (supervisão de espaço) Perfil 1 e 2 Reabilitação de mais de 1 elemento Traumatismos Reimplantes Emergências DISCIPLINA Clínica Infantil I Clínica Infantil II Clínica Infantil III 2 Visando a elaboração de trabalho científico pelo aluno, com orientação docente foi criada a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) a ser ofertada no 10º semestre. A sistematização destas alterações encontra-se no quadro 6. Quadro 6: Número de créditos das disciplinas de Ciências Odontológicas no currículo anterior (36.2) e no currículo atual (36.3) Anterior Créd Atual Materiais dentários I e II 12 Iniciação Clínica Escultura Dental 4 Propedêutica Clínica I Patologia Bucal 6 Propedêutica Clínica II Radiologia 6 Propedêutica Clínica III Semiologia Bucal 6 Pré-Clínica I Cirurgia Odontológica I e II 12 Pré-Clínica II Dentística Operatória 6 Pré-Clínica III Oclusão 6 Pré-Clínica IV Dentística Restauradora I e II 12 Clínica Odontológica I Endodontia I e II 10 Clínica Odontológica II Farmacologia II 3 Clínica Odontológica III Prótese Dental Total 6 Prótese Dentária I Periodontia I e II 12 Prótese Dentária II Prótese Parcial Removível 6 Prótese Dentária III Cirurgia e Traumatologia B.M.F. 4 Prótese Dentária IV Prótese parcial fixa 8 Clínica Integrada I Prótese buco-maxilo-facial 2 Clínica Integrada II Clínica Integrada I 20 Clínica Integrada III Clínica Integrada II 20 Clínica Integrada IV Implantodontia 2 Clínica Infantil I, II e III Odontopediatria I e II 12 Implantodontia Ortodontia Preventiva 6 TCC TOTAL 181 Créd 4 6 4 4 6 10 4 6 10 10 10 6 6 6 8 10 10 20 20 18 2 2 TOTAL 182 As áreas de Estágio Extra-mural I e II e Clínicas Integradas I, II, III e IV configuram-se como estágios curriculares desenvolvidos sob supervisão docente, de forma articulada e com complexidade crescente ao longo do processo de formação. Estas atividades correspondem a 23,7% do total da carga horária prevista no 2 currículo, contemplando a exigência de pelo menos 20% do curso destinado a estágio curricular supervisionado. A proposta prevê, ainda, como uma de suas disciplinas optativas Atividades Complementares, com a finalidade de aproveitamento de conhecimentos por meio de estudos e práticas vinculados às monitorias, programas de iniciação científica, estágios, programas de extensão e atividades realizadas em outras áreas do conhecimento que contribuam para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural. Para coerência com o currículo proposto, as avaliações dos alunos deverão ocorrer de forma processual, baseadas nas competências, habilidades e conteúdos curriculares permitindo constante acompanhamento do aluno. 5. CONCLUSÃO Há necessidade de capacitação constante do corpo docente visando a plena utilização de metodologia pedagógica com base na construção do conhecimento para se obter todos os benefícios de um currículo integrado. A partir daí pode-se efetivamente alterar o papel do professor de transmissor do conhecimento para planejador e organizador do curso, orientando e estimulando a leitura e interpretação de trabalhos científicos, desenvolvendo e estimulando a capacidade crítica dos alunos, apoiando-os e orientando-os a superar dificuldades, colaborando no desenvolvimento de seminários e discussões de casos clínicos, estratégias com enfoque em situações-problema. A presente proposta, implantada no primeiro semestre de 2005, configura-se como um enorme desafio tendo em vista ser o Curso de Odontologia da UNIFOR, atualmente, uma referência no ensino odontológico brasileiro, o que pode ocasionar certa apreensão pela insegurança do “novo”. Entretanto, o envolvimento do corpo docente, a estrutura proporcionada pela UNIFOR e a constante busca da excelência técnico-científica de todos aqueles que fazem o Curso de Odontologia permitem acreditar que qualquer avanço só é possível quando no processo de evolução estaremos todos sempre “ensinando e aprendendo”. 3 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais do curso de graduação em Odontologia. Resolução CNE/CES 3 de 19 de fevereiro de 2002. DOU de 4 de março de 2002, seção 1, p. 10. Brasília, 2002. POSNER, G.J. Analyzing the curriculum. 2 ed. New York: McGraw-Hill, 1995. SCHIMIDT, H.G.; MOUST, J.H.C. Processes that shape small-group tutorial learning: a review of research. Maastricht: Lawrence Erlbaum, 2000. TOMAZ J.B.C. O desenho de currículo. In: Mamede, S, Penaforte, J. Aprendizagem Baseada em Problemas: anatomia de uma nova abordagem educacional. Fortaleza: Hucitec/Escola de Saúde Pública do Ceará, 2001. 3 CAPÍTULO 2 Metodologia da problematização: uma escolha político-pedagógica Thiago Pelúcio Moreira Luiz Roberto Augusto Noro Rita de Cássia Moura Diniz Denise Klein Antunes Christina César Praça Brasil Fátima Maria Fernandes Veras Aldo Angelim Dias Maria Cristina Germano Maia Samuel Ilo Amorim 1. INTRODUÇÃO Uma das maiores especificidades do ser humano é a racionalidade, qual seja, a utilização da razão para conhecer ou julgar a relação entre pensamentos lógicos, levando a alguma conclusão por meio da capacidade de refletir e relacionar os fatos que explicam ou podem explicar determinado fenômeno. Tal especificidade levou o homem a dominar o mundo, passando a controlar os animais (grandes predadores dos homens nas eras mais remotas), alterar o curso da natureza (com o uso da tecnologia e da informação) e permitir que problemas como miséria, fome, injustiças, guerras levassem homens a procurarem dominar uns aos outros pela presença de um destes fatores, utilizados por meio da racionalidade no planejamento e formulação de estratégias. Assim, o homem tem utilizado todo seu potencial para construir grandes avanços em seu mundo que só podem ser conquistados pela sua capacidade ímpar de aprender. Este aprendizado pode ser desenvolvido de maneiras inúmeras, passando desde metodologias pedagógicas altamente elaboradas em múltiplas teses de doutorado, até o mais tradicional condicionamento que permite à criança não morrer de fome quando apela para o seio de sua mãe em busca de comida. Para aqueles que têm na educação seu grande objeto de trabalho, e por que não dizer, seu projeto de vida, o desafio permanente é a busca por formas que permitam aos seus alunos o melhor aprendizado possível. Este é o papel do educador que tem que ser coerente com a missão de dar ao mundo a possibilidade 3 que os avanços sonhados sejam efetivamente alcançados na conquista plena da cidadania. Sabe-se que todos os processos educativos são concebidos para conseguir que as pessoas aprendam alguma coisa e assim, venham a modificar seu comportamento, mas a opção pedagógica adotada para tal fim reflete o contexto em que se insere. De fato, ASSMAN (1998) já dizia que educar é fazer emergir vivências do processo de conhecimento, tendo como produto as diversas experiências de aprendizagem e não apenas a aquisição de conhecimento concebido como simples transmissão. Para o autor, a educação só conseguiria bons resultados quando se preocupasse em gerar experiências de aprendizagem, criatividade para construir conhecimentos e habilidades para acessar fontes de informação sobre os mais variados assuntos. Esta procura por um paradigma tem apontado a grande necessidade das Universidades brasileiras em reverem suas estruturas metodológicas, já que segundo VASCONCELOS (1993), a deficiência da prática educativa encontra na metodologia, no modo de fazer a educação, uma de suas causas. BORDENAVE e PEREIRA (1998) elencam alguns pontos-chave para a melhoria do ensino superior como: possuir uma visão integral dos problemas, compreender o processo de aprendizagem, conhecer melhor o aluno, planejar os cursos em forma sistêmica e integrada, ensinar os alunos a estudar e a aprender, saber como introduzir inovações, incentivar a participação ativa dos alunos, melhorar a comunicação professor-aluno, desenvolver nos alunos a atitude e a habilidade da pesquisa e racionalizar a avaliação. Nesta perspectiva, uma das estratégias que têm sido utilizadas para tentar alcançar estes objetivos são as metodologias ativas de aprendizagem, em especial na área da saúde, a Metodologia da Problematização. Para GOULART et al. (2001) a educação problematizadora tem como fundamentação o estímulo à autonomia do aluno por meio da participação ativa e crítica no processo de aprendizagem (aprender a aprender). Esta educação trabalha a construção de conhecimentos a partir da vivência de experiências significativas. Apoiada nos processos de aprendizagem por descoberta, os conteúdos de ensino não são oferecidos aos alunos em sua forma acabada, mas na forma de problemas, cujas relações devem ser descobertas e construídas pelo aluno, que precisa 3 reorganizar o material, adaptando-o a sua estrutura cognitiva prévia, para descobrir relações, leis ou conceitos que precisará assimilar. Como se trata de uma educação centrada na aprendizagem e não no ensino, o professor passa a assumir um papel de facilitador do processo ensinoaprendizagem, estimulando e ajudando o aluno a construir seu próprio conhecimento. Considerando estes pressupostos, o Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade de Fortaleza definiu como opção política-pedagógica, a adoção da Metodologia da Problematização enquanto estratégia para capacitação de seu corpo docente, vislumbrando os grandes avanços que tal proposta poderiam representar. 2. A METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO Filosoficamente, a educação problematizadora existe, na verdade, desde a antigüidade grega. Como lembra BERBEL (1999), a “maiêutica de Sócrates (469399 a.C.) já possuía características problematizadoras e pode-se dizer que suas contribuições estão presentes nos pressupostos filosóficos da Metodologia da Problematização”. Internacionalmente, na área da saúde, metodologias problematizadoras surgiram na década de 1980, em virtude da necessidade de buscar currículos orientados para problemas que melhor definissem como os estudantes aprendem e que habilidades cognitivas e afetivas estão sendo adquiridas. De acordo com FELETTI (1993) uma proposta foi implementada na Universidade do Havaí, no curso de Enfermagem, nomeada como “ensino baseado na investigação” (inquiry based learning), que inclui uma abordagem interdisciplinar de aprendizagem e solução de problemas, pensamento crítico e responsabilidade do aluno pela sua própria aprendizagem. No cenário brasileiro a Metodologia da Problematização, de acordo com PEREIRA (2003) tem suas origens nos movimentos de educação popular que ocorreram no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando estes movimentos foram interrompidos pelo golpe militar de 1964. Teve seu desenvolvimento retomado no final dos anos 70 e início dos anos 80, com a abertura política no final do regime militar, coincidindo com uma intensa mobilização de educadores. O objetivo era buscar uma educação mais crítica, a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas, tendo em vista superar as desigualdades sociais. 3 Segundo CYRINO e TORALLES (2004), a Metodologia da Problematização representa uma das manifestações do construtivismo educacional, estando fortemente marcada pela dimensão política da educação e comprometida com uma visão crítica da relação educação e sociedade. Volta-se à transformação social, à conscientização de direitos e deveres do cidadão, mediante uma educação libertadora, emancipatória, dirigindo-se para a transformação das relações pela prática conscientizadora e crítica. BERBEL (1998) acrescenta que na problematização há a necessidade não só de uma clara postura metodológica em relação ao processo de pesquisa e que o aluno deverá desenvolver ativamente, mas também de uma coerente postura política em relação ao processo educativo e aos problemas relativos ao tema em estudo. Pelas características do trabalho com o conhecimento, após o estudo de um problema poderão surgir outros desdobramentos sobre o tema, exigindo do professor e dos alunos o contato com situações ou conteúdos que não foram previstos pelo professor, num primeiro momento, mas que precisarão ser investigados por serem relevantes à compreensão do problema. Para LIMA JÚNIOR (2002), este novo paradigma pedagógico prepara os alunos para assumir uma postura mais crítica, trabalhar em grupo, cooperar e desenvolver um raciocínio lógico, com base nas mais diferentes situações que deverão enfrentar na vida profissional. Também leva o aluno a se envolver com a própria preparação profissional, assumindo responsabilidades em sua formação, estando, assim, mais comprometido e mais motivado para o estudo, redirecionando seu olhar para o futuro. Uma referência para utilização desta metodologia, no ensino médio e universitário, está presente em BORDENAVE e PEREIRA (1998). Estes autores propuseram um esquema de problematização da realidade, desenvolvido por Maguerez conhecido como “Método do Arco”, apoiado em cinco etapas: observação da realidade, levantamento dos pontos-chave, teorização, formulação de hipóteses de solução e aplicação à realidade. O processo de ensino-aprendizagem parte da observação de um aspecto selecionado da realidade que pode ser pela observação direta de uma situação real ou, quando isto não é possível, através de meios audiovisuais, modelos etc. Ao observar a realidade, os alunos expressam suas percepções pessoais, efetuando uma primeira leitura desta realidade. Na segunda fase, os alunos identificam nesta 3 observação inicial o que é realmente importante, identificando os pontos-chave do problema. Os alunos passam, então, à teorização do problema ao questionar o motivo dos eventos observados, propondo uma primeira explicação para os mesmos que será comparada com os conhecimentos científicos existentes sobre tal problema. Com isto o aluno tem a possibilidade de aprender a partir dos fatos contidos no cotidiano da prática pedagógica, mas também tendo como subsídio a pesquisa. Se a teorização é bem sucedida, o aluno chega a entender o problema não somente em suas manifestações empíricas ou situacionais, mas também os princípios teóricos que o explicam. Essa etapa de teorização é altamente enriquecedora e permite o crescimento intelectual dos alunos. Confrontada a realidade com sua teorização, o aluno se vê naturalmente movido à formulação de hipóteses de solução para o problema, utilizando a realidade para aprender com ela, ao mesmo tempo em que se prepara para transformá-la. Na última fase, o aluno pratica e fixa as soluções encontradas como sendo mais viáveis e aplicáveis. Aprende a generalizar o aprendido para utilizá-lo em situações diferentes e a discriminar em que circunstâncias não é possível ou conveniente a aplicação. Assim, pode-se dizer que a metodologia da problematização, além de uma nova proposta pedagógica, é uma filosofia de trabalho, pois contempla e busca, de maneira eficiente e prática, o equilíbrio dos três pilares da educação em saúde: o ensino teórico, a pesquisa e o ensino prático. 3. A EXPERIÊNCIA DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA A adoção da Metodologia da Problematização na área da Saúde da Universidade de Fortaleza ocorreu da necessidade de formação de alunos mais críticos, criativos e autônomos, que fossem responsáveis pelo desenvolvimento do seu aprendizado, capazes de observar a realidade e dela extrair os principais pontos de observação e a solução de problemas visualizados. KANITZ (2005) relata que o ensino brasileiro é voltado para perguntas prontas e definidas e que nossos alunos estão sendo levados a uma falsa consciência de que todas as questões do mundo já foram formuladas e solucionadas. Isso dificulta 3 que eles aprendam a fazer boas perguntas na vida, o que, segundo o autor, é mais importante do que as respostas. Esta visão ganha dimensão altamente significativa quando observamos em todas as redações das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação na área da Saúde a defesa da utilização de metodologias ativas de aprendizagem, transformando a lógica da formação em algo ligado ao sistema de saúde vigente no país, a ser executado por profissionais de saúde efetivamente comprometidos com a qualidade de vida da população. 3.1. UM POUCO DA HISTÓRIA... A vivência com a Metodologia da Problematização teve início quando, a partir das atividades de estágio na comunidade desenvolvidas por docentes e alunos de quatro cursos do Centro de Ciências da Saúde (Odontologia, Enfermagem, Fonoaudiologia e Fisioterapia) na Comunidade do Dendê, foram observadas determinadas inadequações pela falta de articulação entre os saberes e práticas desenvolvidos nestes estágios, tendo como conseqüência a não existência de uma visão interdisciplinar e multiprofissional. Partindo da idéia de refletir tais práticas, vislumbrou-se a possibilidade de transformar o conhecimento acadêmico em mecanismo de estímulo à inversão da lógica da atenção à saúde prestada à clientela, que tinha seu foco centrado no paciente e na doença, posto que alguns cursos tinham seus currículos muito voltados a um modelo biomédico e tecnicista. A nova lógica proposta sugere que o foco da atenção seja reelaborado no sentido de se compreender que o processo saúde-doença, assim como na visão de BREILH (1994), possa ser entendido como histórico e dinâmico, não se constituindo em um campo separado de outras instâncias, portanto extrapolando os limites de uma prática técnico-científica. Buscando consolidar essa proposta, em dezembro de 2001 foi realizada a Oficina de Capacitação Pedagógica, que contou com a participação de 30 docentes dos diversos cursos do Centro de Ciências da Saúde e 15 profissionais do serviço (Núcleo de Atenção Médica Integrada - NAMI), a fim de esboçar, dentre outras, uma proposta com os mesmos conteúdos programáticos em todas as disciplinas com práticas na Comunidade do Dendê, utilizando-se, inclusive, das mesmas estratégias pedagógicas. Tal ação visava favorecer aos docentes e profissionais do NAMI a efetivação de uma proposta pedagógica capaz de articular o saber e o fazer dentro 3 de uma visão crítica e reflexiva, aliando a competência técnica (o domínio do saber e do saber fazer) com a competência política (saber ser). Um dos momentos que merece destaque foi o reconhecimento, por parte da direção do Centro de Ciências da Saúde de uma proposta que, de certa forma, vinha na contra-mão da história, pois partia do serviço e não da docência. E o seu caráter de vanguarda ecoou de tal forma que todos os professores da área da Saúde Coletiva que participaram do processo de capacitação passaram a reformular suas propostas pedagógicas e vislumbrar novas possibilidades no processo ensino/ aprendizagem. Naquele momento estava lançada a idéia para a proposta de capacitação de todos os professores na Metodologia da Problematização. 3.2. UM POUCO DA EXPERIÊNCIA... Em julho de 2003, o Centro de Ciências da Saúde inicia efetivamente o processo de capacitação dos seus professores, tendo sua origem se dado a partir da experiência desenvolvida nas disciplinas de Saúde Coletiva. É importante esclarecer que tal iniciativa só foi possível pela decisão política da Direção do Centro e de um grupo de professores que, coerentes com sua experiência pedagógica com a referida metodologia, puseram-se à disposição de tal projeto. A proposta consistia em capacitar os professores e, ao mesmo tempo, identificar aqueles com perfil adequado a atuarem como multiplicadores do processo, de tal forma que, ao final, fossem capacitados todos os professores do Centro de Ciências da Saúde. Para a sua implantação, todos os cursos partiram de uma capacitação, com duração de 40 horas/aula, onde houve um direcionamento teórico-prático sobre os objetivos e as possibilidades do método. Após essa fase, veio a proposta de que o corpo docente dos cursos passasse a realizar acompanhamentos periódicos com os professores experientes no processo, ampliando as perspectivas de discussão e pontuando os pontos fortes e fracos dentro de cada realidade, a fim de favorecer a troca de experiências. Até então, já foram capacitados 240 professores, o que corresponde a 78% do total de professores do CCS e 14 professores que atuam como instrutores ou monitores no processo de capacitação. Todo esse desafio levou os cursos a uma discussão e atualização sobre seus projetos pedagógicos, uma vez que a nova proposta pedagógica impacta nas várias 3 dimensões ligadas ao ensino, partindo da capacitação docente e evoluindo a novas propostas curriculares. Desse contexto, participam ativamente docentes e discentes, facilitando a compreensão desta mudança. Foram encontradas dificuldades diante da reestruturação metodológica. Inicialmente, além da capacitação do professor, foi necessária uma conscientização do aluno, uma vez que este sai de um padrão de receptor de informações/ conteúdos para uma dimensão de construtor responsável por seu perfil profissional. Sabendo que a quebra de paradigmas gera resistências, percebemos que nossos alunos, inicialmente, manifestaram insegurança, negação, dúvidas, entre outros comportamentos que revelaram a dificuldade em assimilar e desenvolver a proposta. Segundo SANTOS (2002), na sua experiência com metodologias inovadoras, a reação dos alunos diante da mesma foi de irritação e falta de compreensão do papel do professor como facilitador do ensino-aprendizagem, uma vez que eles, inicialmente, não percebem a sua própria importância como atores dentro dessa perspectiva. A autora relata ainda que “as pessoas sempre foram escravas e demitidas da função de pensar, então qual é o raciocínio do aluno? Que ele vai fazer o curso, que o professor vai ensinar e que ele vai aprender, não é assim?” Outro aspecto a ser considerado diz respeito à proporção professor/aluno, sendo as disciplinas práticas e estágios supervisionados as que mais favorecem a aplicação da metodologia diante do número reduzido de alunos. Nas disciplinas teóricas, entretanto, que possuem maior número de alunos, procura-se utilizar estratégias que também levem o aluno a ser mais ativo e questionador. Nesta etapa de enfrentamento das dificuldades, foi muito relevante a cooperação entre os cursos, diante das contribuições que os professores que participaram da capacitação há mais tempo deram aos mais recentes ingressos na metodologia. A cada novo curso de capacitação eram identificados novos facilitadores e monitores que muito acrescentaram para a implantação e implementação da nova metodologia no Centro de Ciências da Saúde. Esses professores são referências no CCS e têm como compromisso alavancar as mudanças e trocar experiências que obtiveram êxito com outros professores que os procuram, além de ajudá-los a compreender algumas limitações. Esse processo coletivo é valioso, pois, segundo BORDENAVE (1992), “a pedagogia da problematização não separa a transformação individual da transformação social, motivo pelo qual ela deve desenvolver-se em situação grupal”, nas dimensões que 3 envolvem os professores, os alunos, a sociedade e outros elementos pertinentes à educação. Partindo de relatos de professores e coordenadores de cursos, observaram-se os primeiros resultados, visto que referem encontrar alunos mais envolvidos com as disciplinas, mais dinâmicos e curiosos, demonstrando mais autonomia. O que concorda com PIAGET (1986), quando refere que os alunos passam por esforço próprio do domínio das operações concretas para as abstratas, conferindo-lhes um maior poder de generalização e extrapolação. FREIRE (1996) refere que o professor precisa mover sua prática com clareza, conhecendo as diferentes dimensões que caracterizam a essência da sua prática, o que pode torná-lo mais seguro do seu próprio desempenho. Assim, o melhor ponto de partida para essas reflexões é a compreensão de que o ser humano se tornou consciente e que a capacidade de aprender é, sobretudo, importante para transformar a realidade e para nela intervir. Nos dias atuais, o aluno depara-se constantemente com novos desafios, casos e problemas para resolver precisando ter vasto conhecimento, ser hábil e objetivo, favorecendo a resolutividade em cada situação. Outro fator importante, é que as aulas ministradas dentro da perspectiva da problematização passaram a exigir do professor um maior planejamento e acompanhamento do processo, além de possibilitar a diversificação dos recursos e espaços que favorecem a interlocução entre o facilitador e o aluno. Nos planejamentos semestrais dos cursos sente-se a necessidade de uma programação intra e interdisciplinas, favorecendo um maior encadeamento metodológico. Nessa perspectiva, os projetos e planos de ensino das disciplinas precisaram ser ajustados ao novo fazer. Houve, ainda, a necessidade de um redimensionamento de conteúdos e práticas dentro de cada disciplina, tornando-as mais integradas e flexíveis. Assim, ao longo dos semestres, as experiências pedagógicas envolvendo a problematização ampliam-se e o amadurecimento do grupo avança. Novas atividades são compartilhadas e o nível de satisfação do aluno e do professor eleva-se simultaneamente. O processo de avaliação, dentro da nova metodologia, é um ponto de discussão constante tendo em vista a necessidade de melhor adequação desta prática, que seja coerente com o sistema proposto pela Universidade de Fortaleza. Tenta-se ampliar a abrangência da avaliação para que seja mais sensível a todas as 4 dimensões do processo ensino-aprendizagem e não se desenvolva apenas por meio da aplicação de provas ou atividades pontuais. Há muito trabalha-se nessa evolução por compreendemos essa necessidade. Não se pode avançar na pedagogia, mantendo-se a avaliação tradicional. Para HOFFMANN (1991), é necessário sair do modelo “transmitir-verificar-registrar” e evoluir no sentido de uma ação avaliativa reflexiva e desafiadora do educador em termos de contribuir, elucidar e favorecer a troca de idéias entre o professor e seus alunos, numa postura de superação do saber transmitido a uma produção de saber enriquecido. O aluno não constrói seu conhecimento com base somente em conteúdos, mas também desenvolve a cada dia habilidades, atitudes e competências necessárias a sua atuação profissional. Vários autores concordam que não se pode perder de vista o objetivo principal da ação educativa, que é desenvolver a personalidade integral do aluno, sua capacidade de pensar e raciocinar, assim como seus valores, hábitos, comportamentos etc. 3.3. UM POUCO DA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ODONTOLOGIA A aproximação dos professores do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza data de 1999 quando, a partir das discussões realizadas por meio da XXXIII Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico e por meio das Oficinas Pedagógicas para construção do Projeto Político Pedagógico do Curso, foram discutidas as várias formas de aprender e ensinar mais tradicionalmente utilizadas no ensino universitário. Na ocasião, foi consenso que as Metodologias de Condicionamento e de Transmissão de Conhecimentos não contemplam as necessidades de formação de alunos ativos e conscientes de seu papel de futuros profissionais de Saúde vinculados aos interesses da comunidade que atuam, além do desenvolvimento de ações com base na promoção de saúde. Assim, já naquela ocasião, houve consenso que haveria a necessidade de se buscar novas formas de desenvolver o processo ensino-aprendizagem que não tivessem no condicionamento ou na transmissão de conhecimento seu maior referencial. Dentro das Oficinas Pedagógicas foi lançado o desafio de se desenvolver atividades por disciplina que procurassem seguir a Metodologia da Problematização. 4 Nesta primeira abordagem, apesar das dificuldades, todas as áreas de conhecimento apresentaram propostas bastante criativas, o que deixou clara a perspectiva de se buscar este caminho. Ao longo dos cinco últimos anos várias experiências, quer em disciplinas isoladas no curso, quer em capacitações pedagógicas da qual participaram docentes a partir de seu interesse particular, muito tem se discutido a possibilidade real de melhorar o processo ensino-aprendizagem a partir deste referencial. Com a previsão da aprovação da nova proposta curricular do Curso de Odontologia, que tem em sua concepção o desenvolvimento de um currículo integrado, viabilizado por meio da utilização de uma metodologia ativa de aprendizagem, todos os professores do Curso de Odontologia participaram de Capacitação Pedagógica em Problematização nos meses de julho de 2004 e janeiro de 2005. A finalidade destas capacitações era permitir aos professores o planejamento adequado de projetos de ensino dos novos campos de conhecimentos definidos do currículo integrado, a partir de metodologia pedagógica compatível. Espera-se que, com o aprofundamento da percepção do corpo docente sobre as possibilidades efetivas dos avanços, assim como a compreensão do corpo discente quanto ao real ganho em sua formação, que a metodologia não represente apenas uma nova forma de ensinar e aprender, mas signifique uma ruptura radical com o conformismo e a mesmice de processos que não estimulam nem professores, nem alunos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A metodologia abordada favorece a integração entre o ensino e o serviço, levando à reflexão sobre o sujeito que aprende, o objeto a ser aprendido, a interação sujeito-objeto, restando ao professor o papel de facilitador desse processo. Esse processo aumenta ainda mais a capacidade que o professor terá de estabelecer relações concretas entre teoria e realidade. O desenvolvimento de competências na formação profissional em Saúde, segundo BONFIM (2000), tem na reflexão da realidade e na resolução de situaçõesproblemas reais vividas pelos alunos e proposta metodológica central - visto que uma competência não se constrói em situações abstratas e sim concretas. 4 As práticas já vivenciadas com essa metodologia dão conta de que, por meio da aplicação da mesma, vislumbra-se a possibilidade de se construir uma prática crítica e transformadora. É importante lembrar que, quando ensinamos, não basta apenas o domínio do conhecimento ou dos conteúdos específicos, devendo-se considerar a maneira de se repassar este conhecimento para o aluno, o que implica também saber desenvolver as habilidades inerentes à prática, como também um mínimo de formação pedagógica para se formarem profissionais de Saúde capazes de transformarem a realidade sócio-sanitária do país. É preciso também que, nessa transformação da realidade, procurem-se sempre novos conhecimentos e novas formas de “ensinar e apreender”. Importante ressaltar que a proposta feita pelo Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Fortaleza não pode ser considerada conclusiva, posto sabermos que essa tarefa é tão somente o início de uma experiência que trará novas bases para a reflexão, o que vai exigir do professor uma incessante busca junto aos seus pares para o aperfeiçoamento da metodologia. 4 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ASSMAN, H. Reencantar a Educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998. BERBEL, N.A.N. (org.). Metodologia da problematização: fundamentos e aplicações. Londrina: Editora UEL/INEP, 1999. BONFIM, M.I.R.M. Proposta Pedagógica: as bases da ação. Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro:Fundação Osvaldo Cruz,Escola Nacional de Saúde Pública,2000.98p. BORDENAVE, J.D.; PEREIRA, A.M. Estratégias do ensino-aprendizagem. 19 ed. Petrópolis: Vozes, 1998 BORDENAVE, J.D.; PEREIRA, A.M. Estratégias do ensino-aprendizagem. 14 ed. Petrópolis: Vozes, 1992 BREILH,J. Epidemiologia teoria e objeto. In: Costa, D.C (Org) . A reprodução social e investigação em saúde coletiva. 2. ed. Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 1994. 220p. CYRINO, E.G.; PEREIRA, M.L.T. Trabalhando com estratégias de ensinoaprendizado por descoberta na área da saúde: a problematizacação e a aprendizagem baseada em problemas. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, p. 780-788, mai./jun., 2004. FELETTI, G. Inquiry based and problem based learning; how similar are these approaches to nursing and medical education. Higher Education Research and Development, v. 12, p. 143-156, 1993. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 24 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GOULART, L.M.H.F. et al. Aprendizagem baseada em problemas em microbiologia no Curso de Medicina da UFMG. Revista Brasiliense de Educação Médica. Rio de Janeiro, 25(3): 22-27, set/dez, 2001. LIMA JÚNIOR, E. O Dilema do biscoito e o ensino universitário. Revista Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v. 26, n. 3, p. 211-214, set./dez., 2002 . KANITZ, S. Qual é o problema? Capturado em 25 de abril de 2005 de http://www.kanitz.com.br/veja/problema.asp PEREIRA, A. L. F. As tendências pedagógicas e a prática educativa nas ciências da saúde. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, p. 1527-1534, set./out., 2003. 4 PIAGET, J.; INHLEDER, B. A Psicologia da Criança. São Paulo: Difel, 1986. SANTOS, I. S. A arte e a paixão de aprender fazendo. Natal: Observatório RH NESC/UFRN, 2002, p. 67-68. VASCONCELOS, I. A metodologia enquanto ato político da prática educativa. In: CANDAU, V.M. Rumo a uma nova didática. 5ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. 4 CAPÍTULO 3 Espaços de Saúde: é possível humanizar? Patrícia Pinheiro Santos Moura Heleni Barreira de Brito Sharmênia de Araujo Soares Nuto Rosanne Maria Medina Ávila Gomes Morgana Pontes Brasil Gradvohl Sandra Régia A. Ximenes Odontologia e humanização Escrever sobre o Projeto de Humanização do Curso de Odontologia desta universidade nos leva inicialmente a pensar sobre o conceito de humanização a partir de diversas áreas do conhecimento e a rever os princípios da Odontologia, ainda sob o paradigma cirúrgico-restaurador, para, em seguida, interligá-los ao atual paradigma de promoção de saúde, abordando os diversos espaços construídos no curso: a ouvidoria, o acompanhamento psicológico e a sala de espera saudável. Todos esses espaços buscam viabilizar mudanças de atitudes na construção de uma cultura do tratar bem, na medida em que visam estabelecer a filosofia da humanização nos atendimentos de saúde e assim contribuir com a formação pedagógica do aluno. Nesse sentido, acredita-se estar refletindo sobre as práticas tradicionais e atuais de saúde dentro de uma visão da totalidade do ser humano. De acordo com definições contidas em dicionários da língua portuguesa, a palavra humanizar significa “tornar humano, dar condição humana a alguma coisa, “humanar”, tornar benévolo, afável, tratável, fazer adquirir hábitos sociais polidos, civilizar”. Os dicionários filosóficos apresentam para a palavra humanismo a seguinte conceituação: deriva do latim e significa humanus. Quanto ao termo humanista diz que é aquele cuja visão de mundo atribui grande valor aos seres humanos e à vida. A psicanálise é regida pelo humanismo, fundamenta-se na formação cultural de Freud, seu eminente criador, e se constituiu como sendo essencialmente humanística. Embora aponte distinção entre os conceitos de humanização e hominização, ressalta que o trabalho analítico está sobretudo a serviço deste último. 4 Para a antropologia, a humanização estaria relacionada fundamentalmente com a primazia da capacidade simbólica própria do ser humano. Na psicologia, merece destaque o posicionamento humanista de Erich Fromm, o qual propõe a tese de que o homem, paralelamente à liberdade que tem conquistado através da história, tem se distanciado cada vez mais de seus semelhantes, na busca por espaços e sucesso material. O autor acrescenta que somos animais e humanos, com necessidades fisiológicas e psicológicas importantes que precisam ser resolvidas. Uma sociedade madura perceberia que a solução de seus conflitos está no reconhecimento de que nossas necessidades exigem a participação das outras pessoas. Outro posicionamento que merece menção na psicologia é o da teoria humanista apresentada por Carl Rogers, a qual propõe um entendimento holístico e sistêmico do homem, opondo-se drasticamente às concepções fragmentadoras de visão do homem, preferindo a compreensão de homem como com potencial criativo e criador. Essa corrente aborda a psicologia sob a óptica da saúde, do crescimento e do desenvolvimento. A humanização, no contexto do Curso de Odontologia da UNIFOR, refere-se à idéia de melhorar não só a qualidade do atendimento, o que pressupõe uma atitude de respeito, empatia, aceitação incondicional, dignidade e com-paixão ao cliente e a sua família, mas também de investir no estabelecimento de relações harmoniosas e construtivas que envolvem professor / aluno / funcionário. Portanto, significa considerar a essência do ser, levando-se em conta a subjetividade e a totalidade. Nesse sentido, o atendimento humanizado requer uma reflexão sobre o significado da vida e da capacidade de compreender a si mesmo e ao outro. Desse modo, humanizar os atendimentos na área da saúde consiste em dar qualidade à relação cliente-profissional de saúde. As iniciativas realizadas nessa direção são, antes de tudo, tentativas de atender e de se adequar às solicitações do Ministério da Saúde que, por meio do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), pretende melhorar a qualidade da assistência, prestada nos hospitais e em outros locais de atendimento, à saúde da população baseada na humanização. Para alcançar os objetivos desejados na busca do atendimento humanizado em saúde, faz-se necessário romper com o paradigma reducionista, o qual enfatiza os padrões biológicos em detrimento dos aspectos sociais, culturais, espirituais e 4 emocionais; substituindo-o por uma concepção que considere a complexidade e plenitude do ser humano. É notório que, para os serviços de saúde atingirem essa meta de qualidade e humanização dos atendimentos, deverá contar com a adesão dos profissionais quanto a uma postura democrática e ética que perceba os seres humanos como possuidores de direitos, deveres e com a responsabilidade de dar forma e sentido as suas próprias vidas. No entanto, é contraditório referir-se aos princípios humanísticos num contexto marcado pelas desigualdades sociais. Desse modo, espera-se que o profissional identificado com o Projeto de Humanização do Curso de Odontologia norteie sua práxis na perspectiva da construção de uma sociedade mais humana, por meio de uma postura ética baseada numa visão de mundo que confere grande importância aos seres humanos, à vida, à dignidade e as suas capacidades de criar e transformar o mundo em algo melhor. Retrospectiva da Odontologia . No Brasil, a odontologia praticada a partir do século XVI restringia-se quase que unicamente às extrações dentárias. As técnicas eram rudimentares, o instrumental inadequado e não havia nenhuma forma de higiene. O barbeiro, responsável pelas cirurgias, devia ser forte, impiedoso, impassível e rápido (GARCIA, 2000). Três séculos depois, em 1884, foi instituído o Curso de Odontologia, baseado ainda em uma prática arcaica responsável por causar bastante dor, sendo, desse modo, um dos vetores decisivos na imagem negativa do dentista ainda nos dias de hoje (CFO, 1998). Havia nesta época dois ditados populares: “ou casa ou dente” ou “ou dente ou queixo, ou língua ou beiço”, indicando que, devido ao pouco conhecimento e inabilidade dos “tira-dentes”, ocorria freqüentemente traumatismos nessas regiões (GARCIA, 2000). Com o advento da anestesia local, alguns estudiosos acreditaram que o medo de dentista pudesse ser deixado para trás, mas isso não aconteceu, pois muitos pacientes ainda apresentam fobia ao tratamento dentário. O exercício da profissão era guiado por uma filosofia meramente restauradora, cujo interesse único consistia em buscar lesões e tratá-las, como se o corpo fosse separado da mente, ou seja, dividido em partes semelhante a uma máquina. Nessa 4 perspectiva, o corpo não representava um todo, prevalecendo a idéia, advinda da filosofia de Descartes, de que há uma divisão rigorosa entre corpo e mente (CAPRA, 1982). A conduta odontológica baseada nesses princípios era cheia de insucessos, pois já apareciam novas lesões em muitos pacientes ainda durante o próprio tratamento, ou seja, a prática dessa filosofia sequer diminuía a necessidade de tratamento. Baseado no ciclo vicioso de tratar, retratar e re-retratar, o tratamento era finalizado, em muitos casos, com a mutilação, isto é, com a extração de dentes. Ressalte-se que, atualmente, na área do serviço público, as extrações incluemse entre os procedimentos mais bem remunerados pelo Sistema Único de Saúde – SUS fato que eleva a opção pela exodontia como melhor procedimento e favorece a conseqüente marca anual de cerca de 35 milhões de dentes extraídos na rede pública, conforme estimativas internas do Ministério da Saúde (1988). Essa forma de atenção odontológica, baseada no paradigma1 cirúrgico-restaurador, não foi capaz de evitar que muitas pessoas tivessem problemas bucais e que perdessem seus dentes na meia idade, além de ter trazido mais frustração aos profissionais do que saúde bucal para os pacientes. (WEYNE, 1997). A revolução científica nessa área iniciou-se na década de 60, quando, por meio de pesquisas, identificou-se que as duas doenças bucais mais prevalentes 2, cárie e doença periodontal, eram de caráter infeccioso. Assim, com o avanço desses estudos, percebeu-se a inutilidade de resolver os problemas da cárie (que destroem os dentes) e da doença periodontal (que atinge as gengivas) apenas com procedimentos restauradores, já que as lesões encontradas representavam somente as conseqüências e não a causa dessas doenças. A partir dessas descobertas, viuse que a cárie e a doença periodontal eram de natureza infecciosa e causadas por bactérias, estando assim marcado o começo da mudança de paradigma na Odontologia (LÖE, 1995). Paralelamente, a alteração drástica na tabela de valores dos serviços odontológicos do SUS ocorre quando se valorizam os procedimentos relacionados com a prevenção de doenças e a promoção de saúde e as exodontias deixam de ser atos clínicos mais bem remunerados, iniciando-se, assim, uma mudança da filosofia norteadora de tratamentos na rede pública. A Associação Brasileira de Odontologia de Promoção de Saúde (ABOPREV) se organiza e 1 Paradigma, de acordo com KUHN (1975), se entende por um “conjunto de elementos culturais, de conhecimentos e códigos teóricos, técnicos e metodológicos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica”. 2 A cárie e a doença periodontal são as doenças mais prevalentes em Odontologia. 4 promove discussões e debates sobre a necessidade de mudança no exercício profissional e como fazê-la com foco na prevenção, programa que começou a ser chamado, na década de 90, de Odontologia de Promoção de Saúde (WEYNE, 1997). Apesar do nome, suas ações práticas foram, predominantemente, de prevenção às doenças dentárias. Ainda assim, esse avanço já se constituiu um ganho para a Odontologia. A atenção profissional, antes centrada no tratamento da cárie e da doença periodontal, evoluiu para os cuidados relativos à prevenção dessas doenças. De acordo com os importantes relatos de WEYNE (1997), houve melhor compreensão das propriedades preventivas e terapêuticas dos fluoretos no controle da cárie dentária, da importância do diagnóstico precoce e do tratamento específico dos pacientes que apresentavam maior risco para desenvolver lesões de cárie, da necessidade de essas patologias serem tratadas como patologias e não como lesões, da importância da biossegurança no controle das infecções cruzadas (paciente/paciente, paciente/profissional, profissional/paciente) ocorridas nos consultórios de atendimento e de que o atendimento precisa ser feito em uma perspectiva multidisciplinar, considerando que os microorganismos presentes nas doenças bucais podem produzir doenças sistêmicas. Em resumo, toda essa mudança já resultou em melhoria dos níveis de saúde bucal, embora mantido o enfoque de saúde como sendo a ausência de doença, não se atentando para o fato de que a essência da promoção de saúde tem um enfoque amplo, que envolve fatores psicológicos, sociais, econômicos e biológicos dos indivíduos. Atualmente, com a ampliação dos conceitos da dinâmica do processo de cárie e doença periodontal, consideram-se essas doenças decorrentes também de fatores socioeconômicos e culturais a que as pessoas estão submetidas. A partir dessas considerações, tem-se a possibilidade de desenvolver reais práticas de saúde; com vistas a sua promoção, cujos princípios são fundamentados para além do binômio saúde-doença, fazendo da humanização nos atendimentos uma prática necessária. Assim, quanto mais o profissional de saúde compreender o modo de vida do paciente e de seus familiares, tanto mais possibilitará um atendimento humanizado, em que o paciente possa se expressar e ser escutado, estabelecendo um processo de empatia que ajuda não apenas na recuperação da saúde desse paciente como suscita uma maior confiança por parte dos familiares. Essa relação personalizada se contrapõe à preocupação excessiva e quase exclusiva com os aspectos biológicos. 5 No caso específico da Odontologia, a preocupação deve ser primordialmente o estabelecimento de uma relação além das extrações e/ou reposições dentais, bem como a observância da saúde como um todo por meio dos aspectos sociais e psicológicos. Diante disso, atender a pessoa valorizando somente o que diz respeito a sua patologia, sem levar em consideração as causas biopsicossociais do processo de adoecer, significa atendê-la insatisfatoriamente, por negar toda a sua subjetividade, desconsiderando-a como um ser social, de inter-relação, fruto de uma cultura, de um espaço e de um momento histórico-social. O atendimento no Curso de Odontologia constitui um espaço educativo muito rico. Para ser bem aproveitado, é fundamental a integração dos diversos segmentos que o constituem, de modo que todos busquem uma melhor compreensão da realidade da clientela, de suas histórias de vida e dos significados da doença na vida de cada um. Para KLEINMANN (1988), a interação entre paciente e profissional de saúde se faz por meio do diálogo, pela escuta das palavras, tradução e interpretação, ações as quais o autor suspeita ser a arte da clínica que trata além da doença propriamente dita. Ouvir é, portanto, uma postura básica do profissional de saúde. É ouvindo o paciente que surge a condição de entendê-lo melhor e assim compreendê-lo sob os diversos aspectos biopsicosociais presentes nas diversas enfermidades. Nesse sentido, o atendimento humanizado enfoca o paciente além do aspecto biológico, proporcionando-lhe a possibilidade de pensar e sentir, o que pode despertar nele o desejo de trabalhar, em conjunto com o profissional, as causas que o levaram a adoecer e assim contribuir para a recuperação de sua própria saúde. Dentro dessa perspectiva, serão discutidos os espaços que foram delineados para contemplar as propostas do Projeto de Humanização do Curso de Odontologia. Ouvidoria Dentro de toda organização social, independente da sua natureza, os conflitos relacionais estão presentes, em maior ou menor grau. As situações de estresse são benéficas quando são motivos de readaptações positivas, gerando “saltos qualitativos”. Para isso, há necessidade de ouvir as divergências, tentando entender cada opinião. 5 Uma das primeiras iniciativas após a formação da Comissão de Humanização do Curso de Odontologia da UNIFOR foi a instalação da Ouvidoria. Em se tratando de uma entidade de ensino, a maneira mais adequada que se encontrou para instaurar o serviço de ouvidoria foi a utilização de urnas, pois, dessa forma, não havia necessidade de identificação do relator, além de ser o relato escrito mais fidedigno. A ouvidoria externa funciona na recepção do curso e destina-se aos pacientes e seus familiares que podem escrever ou verbalizar suas dúvidas, anseios, questionamentos, críticas e sugestões, sob a orientação e acompanhamento da assistente social do curso. A ouvidoria interna funciona por meio do suporte dos membros da Comissão de Humanização, quando são procurados diretamente por docentes, discentes e funcionários, ou por meio das urnas colocadas estrategicamente em locais de circulação das dependências do curso. Os participantes do curso de Odontologia, em todas as instâncias, foram estimulados pela Comissão de Humanização a externarem seus anseios, questionamentos, críticas a pessoas, disciplinas, estruturas, dentre outras, sugerindo que somente dessa forma poder-se-ia fazer um curso melhor. No segundo semestre de 2001, quando instaladas as urnas da ouvidoria interna, houve intensa procura dos alunos para registrar os conflitos interpessoais vivenciados entre colegas, professores, alunos e funcionários. Foi um momento importante de valorização da escuta e do exercício de soluções dos problemas. Era sugerido sempre não só o relato de problemas, mas as soluções para o conflito apresentado. Semanalmente, a Comissão de Humanização fazia a leitura quanti-qualitativa dos relatos para, em seguida, serem repassadas às devidas pessoas. Após a sistematização dos relatos e conversas com professores e funcionários, era-lhes solicitada uma reflexão e conseqüente elaboração, em equipe, de um plano de desenvolvimento para os principais problemas, visando à minimização de conflitos existentes. A elevada freqüência inicial de relatos foi diminuindo gradativamente a cada semestre, pois os principais pontos de conflitos e os planos de desenvolvimento em equipe trouxeram algumas sugestões que foram sendo incorporadas em todas as disciplinas da área profissionalizante, tais como: 5 • momentos de discussão após as avaliações escritas, em que são debatidos os erros e acertos e outros mecanismos de solução, utilizando as provas como um meio de aprendizagem e não como fim; • avaliações práticas, sendo discutidos previamente os critérios a serem utilizados, e a discussão a cada aula prática (na medida do possível) das falhas e acertos dos alunos, além do reforço e do acompanhamento mais intenso aos alunos com maior dificuldade de aprendizagem, seja motora, cognitiva ou afetiva; • fixação da orientação das aulas práticas com o mesmo professor durante todo o semestre, tornando possível acompanhar a evolução e o aprendizado dos alunos; • conversas periódicas com alunos (representantes de turma), professores (colegiado e reuniões por área) e funcionários, buscando sempre prevenir a ocorrência de conflitos e, quando estes ocorrerem, buscar soluções imediatas, não deixando causar repercussões maiores, que afetem o entrosamento dentro do curso; Esse processo dialético tem continuidade, objetivando atingir novas melhorias. Acompanhamento Psicológico A criação e regulamentação de gabinetes de acompanhamento psicológico de alunos são estratégias fundamentais de enfrentamento dos problemas crescentes que se têm identificado em termos de saúde mental dessa faixa etária (19 a 23 anos). Esses serviços podem atingir os alunos antes de os problemas mais sérios se desenvolverem, tendo um papel importantíssimo na prevenção. O serviço de acompanhamento psicológico pode potencializar, de certa forma, os processos de aprendizagem e de construção da carreira, contribuindo para o progresso acadêmico, a integração sociocultural e o bem-estar do aluno(O’ CONNOR,2001). Nos grandes centros urbanos, prevalece a idéia de que a Instituição de Ensino Superior que apóia e mantém um serviço de acompanhamento psicológico para seus alunos assume, assim, a função de promotora do bem-estar do estudante (GONÇALVES, 2000). 5 Entretanto, esse esforço não deve se restringir apenas à esfera de um único curso, mas deve ser estendido aos diversos centros da Instituição (TAVARES, 2000). Existe atualmente um interesse crescente, quer da parte de professores e pesquisadores, quer da parte de políticos e gestores da área educacional, a respeito do papel e função da educação superior, existindo um vasto material sobre o assunto (SOARES, 2000), o que remete à seguinte indagação: Qual seria a missão da Instituição de Ensino Superior numa época de drásticas mudanças de ordem política, econômica e social? Que tipo de serviço deve a Instituição de Ensino Superior prestar e com que finalidade? Essas inquietações e questionamentos não se processam de forma desconectada da constatação das pessoas que a freqüentam, exigindo uma reflexão sobre as conseqüências no processo de democratização do acesso ao ensino superior. Nesse contexto de contemporaneidade, as instituições de ensino superior dos países industrializados se defrontam com expectativas sociais elevadas quanto a sua missão e finalidade. A missão pública de educação e formação, a construção e difusão do conhecimento científico e tecnológico, a participação no desenvolvimento econômico, social e cultural dos cidadãos e da sociedade e a construção de práticas e políticas de qualidade seriam alguns dos principais desafios (Santiago et al, 2001). A instituição de ensino superior enfrenta ainda a crise ideológica, resultante da transposição para o mundo da educação da lógica empresarial e da linguagem de marketing e dos seus processos e resultados educativos. Nesta perspectiva, os serviços de acompanhamento psicológico de estudantes universitários se configuram como espaços legítimos e de fundamental importância dentro das instituições de ensino superior, na medida em que se constrói e se desenvolve como unidade de serviço entre duas culturas: a cultura acadêmica e a cultura da sociedade em que a instituição de ensino superior está inserida, de modo a não privilegiar somente a aquisição de competências técnicas formais, mas podendo também interferir positivamente no pleno desenvolvimento de competências humanas, de forma a corroborar decisivamente com a construção, desenvolvimento e bem-estar de seu aluno (Martins, 2001). Os Estados Unidos foram os pioneiros na criação de serviços de acompanhamento psicológico no âmbito do ensino superior, enquanto na Europa foi 5 a Inglaterra quem assumiu primeiramente essa preocupação. Desde então, tornouse uma preocupação crescente em muitas universidades do mundo todo. Estudos sobre essa temática demonstram uma correlação positiva existente entre o grau de adaptação à instituição e o desempenho acadêmico. Existe uma associação significativa entre a dimensão pessoal de adaptação à instituição de ensino superior e o rendimento dos alunos, destacando-se ainda o impacto dos métodos de estudo na performance acadêmica dos alunos (SOARES,2000). Outros estudos apontam para o impacto que tem o sucesso no ensino superior e a inexistência de competências adequadas para fazer frente aos desafios que são impostos aos alunos. É imperativa a necessidade de realização de programas de intervenção destinados tanto para a aquisição de competências acadêmicas que possibilitem uma abordagem ao estudo mais eficiente, como ao desenvolvimento pessoal e vocacional do estudante (DIAS, 2001). O Serviço de Acompanhamento Psicológico aos Alunos do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) foi criado a partir do Projeto de Humanização empreendido pelo referido curso, constituindo-se assim, uma das ações dentro de uma proposta mais ampla que vem sendo efetivada. A atividade visa promover o bem-estar e o desenvolvimento integral do aluno, condição essencial aos processos de crescimento pessoal e profissional. Nesse sentido, busca desenvolver ações de natureza preventiva e /ou remediativa, de modo a atender às necessidades pessoais, sociais, vocacionais e profissionais. O atendimento psicológico disponibiliza ao aluno a oportunidade de entrar em contato com um profissional da área, com formação específica para esse tipo de atendimento, em um contexto confidencial em que é possível expressar com segurança ansiedades e angústias. Cada atendimento dura em torno de uma hora e o acompanhamento persiste enquanto for necessário. As sessões são caracterizadas por uma atmosfera de empatia, de respeito e de aceitação incondicional, onde o aluno possa sentir-se seguro para verbalizar seus anseios, temores e dificuldades, podendo discuti-los sem receio de ser julgado ou rotulado. Nessa perspectiva, o atendimento psicológico privilegia a valorização da escuta das demandas do aluno, considerando que sentimentos desagradáveis, quando armazenados por muito tempo, tendem a tornar-se intensos, aumentando o mal 5 estar, os níveis de tensão e angústia e podendo comprometer seriamente o ajustamento e a funcionalidade do sujeito. Falar sobre as próprias dificuldades em um ambiente adequado a essa finalidade, onde haja neutralidade e o aluno possa sentir-se apoiado, poderá contribuir para a minimização dos sentimentos negativos, reduzindo a sensação de frustração e mal estar, favorecendo a compreensão e elaboração e tornando mais fácil a condução e administração dos próprios conflitos, à medida que torna-se mais consciente de suas limitações, possibilidades e motivos. O insight poderá ser facilitado se o sujeito vivenciar mais conscientemente o sentimento de SER e ESTAR no mundo. Por outro lado, parece conveniente ressaltar que o acompanhamento psicológico não oferece soluções mágicas para os problemas apresentados pelos alunos, tampouco faz parte de sua metodologia proceder lições moralistas, julgamentos de valor, controlar, gerir ou apontar resoluções. O serviço psicológico do Curso de Odontologia baseia-se na idéia de que, sentindo-se seguro e à vontade para expressar pensamentos, sentimentos e experiências, o aluno terá a possibilidade de compreender com mais clareza o que se passa consigo, colocando-se face a face com a situação constrangedora. Desse modo, o serviço de acompanhamento psicológico de alunos, procura contribuir para que o próprio estudante restabeleça o controle sobre sua vida e realize suas escolhas conscientemente. Faz parte da responsabilidade do serviço apoiar o estudante nas suas decisões deliberadas e nas mudanças que este pretende empreender. Por mais complexa e caótica que possa parecer a situação vivenciada pelo aluno, o serviço procura manejá-la com o máximo de respeito. Em alguns casos, um único atendimento torna-se suficiente; em outros, o acompanhamento poderá se alongar por mais algumas semanas. Os primeiros atendimentos são realizados em sessões semanais, mas com o tempo poderão ser espaçadas. Algumas vezes, os casos são encaminhados para outros profissionais e serviços externos, no entanto, a maior parte dos alunos que procuram o serviço ou que são encaminhados pelos professores não estão doentes; ao contrário, foram capazes de solicitar ajuda. 5 O Serviço de Acompanhamento Psicológico aos alunos do Curso de Odontologia da UNIFOR procura focalizar suas atividades em três direções: para os problemas relacionados às questões acadêmicas, para os desafios referentes às questões de desenvolvimento e para as dificuldades emocionais que se constituem problemas clínicos. As questões acadêmicas referem-se essencialmente ao sucesso ou ao insucesso em determinada disciplina, o que é decorrente de dificuldades relacionadas aos estudos e às aprendizagens, de problemas de atenção e concentração e da má gestão do tempo de estudo. Os problemas de ansiedade e dificuldades na relação professor-aluno também são comuns. É importante observar que a maioria dos estudantes de graduação são jovens adultos que vivenciam ainda uma difícil fase de transição do fim da adolescência para a idade adulta, crise agravada pelo impacto de mudança de ambiente escolar, acompanhado de novas expectativas e pressões sociais. Como toda fase de transição, essa também exige do indivíduo algumas aquisições e acentua antigos conflitos e vulnerabilidades, uma vez que a personalidade ainda não está totalmente consolidada. Durante a época da vida universitária, o jovem se depara com exigências psicossociais próprias dessa fase, que correspondem às demandas intrapsíquicas e interpessoais, de modo a atender solicitações do contexto social, econômico e cultural. Dentre elas, as mais importantes consistem na emancipação da tutela parental, no desenvolvimento da capacidade de estabelecer relações de intimidade amorosa, no comportamento referente a um conjunto de objetivos da vida, correspondentes não só à escolha vocacional / profissional, mas também à aquisição de um sentido de autonomia que se legitima a partir da capacidade de fazer escolhas, na autodeterminação, no desenvolvimento do senso de responsabilidade e na capacidade de viver a vida de acordo com seus valores pessoais e preferências. Essas tarefas são interligadas e devem estar razoavelmente resolvidas antes de o indivíduo atingir a idade adulta, o que significa afirmar que, durante todo o trajeto acadêmico, os jovens se defrontam com várias exigências distribuídas em quatro domínios fundamentais (ARNSTEIN, 1984): o domínio acadêmico, que envolve adaptações constantes às estratégias de ensino / aprendizagem e aos sistemas de avaliação e de estudo; o domínio social que compreende o desenvolvimento de padrões de relacionamentos mais maduros com 5 os professores, colegas e familiares; o domínio pessoal, que abrange o desenvolvimento de um sentido de identidade, uma maior consciência de si próprio e uma visão pessoal do mundo e o domínio vocacional, que se refere ao desenvolvimento de uma identidade vocacional. Essa fase mostra-se bastante complexa, podendo favorecer o surgimento de dificuldades, crises e vulnerabilidades que poderão afetar seriamente a vida acadêmica do aluno. Ao desenvolvimento cognitivo desse período da vida é acrescida a capacidade de reflexão e abstração, possibilitando aos jovens a reorganização de conflitos não solucionados e a reelaboração de aspectos de sua personalidade que foram bloqueados. Diante de tudo, o que foi exposto, percebe-se que a instituição de ensino superior deve, portanto, proporcionar ao aluno amplas oportunidades de experimentação interpessoal, social, intelectual e de reflexão. Os serviços de acompanhamento psicológico de alunos se apresentam como recursos que cada vez mais devem fazer parte integrante do conjunto de serviços ofertados pela instituição aos seus estudantes, pois estes serviços desempenham um papel significativo no desenvolvimento acadêmico, social e emocional dos alunos, por meio de estratégias multifacetadas que podem estabelecer diversas parcerias. As problemáticas abordadas são muito diversificadas, indo desde as políticas e procedimentos acadêmicos, até as competências e atitudes frente ao estudo, as estratégias de administração do tempo, o desenvolvimento de habilidades de comunicação e de relacionamento, o pluralismo cultural, a redução do estresse, a saúde, o bem-estar, a exploração vocacional, a preparação para a inserção no mercado de trabalho, o estabelecimento de objetivos de vida, a motivação e os problemas de ordem psicopatológica. Essa reflexão, baseada na experiência como psicóloga-clínica e numa revisão da literatura especializada, possibilita afirmar que há necessidade urgente de apoiar a ampliação e regulamentação desses serviços nas instituições de ensino superior do Ceará. 5 Sala de Espera Saudável O cuidado humanizado deve ser adaptado à estrutura hospitalar, modificando não apenas os custos, mas também a tradicional relação do profissional da saúde com seu cliente. A partir dessa nova visão, o autoritarismo ainda existente nessa relação deverá ser modificado, pois a modernização, a democracia, o desequilíbrio entre o uso da tecnologia e o contato humano vêm transformando a história das organizações em resposta às novas exigências sociais. Assim, não será suficiente à saúde apresentar os itens tradicionais de qualidade e organização, como ocorre com as demais instituições que estão inseridas em outros ramos, mas terá que, essencialmente, responder com ambientes, ações e gestos humanizados, humanizadores e de qualidade de vida em respeito aos direitos humanos e as exigências sociais. Nesse contexto, vale ressaltar que, diferente do que ocorre, quando se fala em profissionais de saúde, é necessário que se entenda como todas as categorias envolvidas no processo: médicos, enfermeiros, assistentes sociais, atendentes, vigilantes, todos, enfim, que prestam serviço na instituição. A presença desse quadro de funcionários preparados, engajados, qualificados e sensibilizados para tratar com usuários apresenta uma nova cultura no atendimento. A nova concepção torna-se importante porque o avanço da tecnologia trouxe consigo um aspecto maquinal, frio, não humano, atingindo bastante a área da saúde, onde seus funcionários são levados a agir quase como autômatos. Dessa forma, antes de pensar em paredes, móveis e equipamentos, os usuários e funcionários deverão ser levados em consideração para que, das suas necessidades, surjam estruturas mais humanizadas. Com essa nova visão da área da saúde, a humanização no âmbito do trabalho apresenta um novo perfil de usuários que deverão deixar de ser considerados como máquinas para conserto, para serem entendidos como seres humanos em processo de atendimento, que clamam por dignidade e respeito. Assim, o Curso de Odontologia da UNIFOR vem desenvolvendo e implantando o Projeto de Humanização. O referido Curso presta serviço à comunidade, buscando 5 no seu âmbito de trabalho implementar projetos, tais como a Sala de Espera Saudável, que favorece a clientela. O projeto foi idealizado em 2003/2 por membros da comissão de humanização do Curso de Odontologia da UNIFOR. As atividades na sala de espera iniciaram no primeiro semestre de 2004, com a participação de cinco alunos monitores da disciplina de Introdução à Odontologia, professores, psicóloga e assistente social, os quais procuram desenvolver e acompanhar o projeto, buscando preencher o tempo de espera do paciente, que muitas vezes encontra-se ansioso e irritado, a fim de transmitir informações educativas a respeito dos mais diversos temas voltados para a saúde e a vida dos indivíduos. As apresentações são realizadas no decorrer do mês, conforme a disponibilidade do corpo discente. A cada semana, um tema é pesquisado e abordado para os pacientes, os quais possuem a liberdade para sugerir outros assuntos do seu interesse. Nesse processo, são apresentados cartazes, folders, peças, teatro de bonecos, enfim, são usadas várias linguagens na perspectiva de resgatar e prender a atenção do público-alvo. Os temas abordados são escolhidos conforme o calendário da Secretaria da Saúde do Estado. Os alunos são acompanhados pela assistente social em todas as apresentações, buscando propiciar uma maior interação destes com os pacientes e funcionários do curso. Eles procuram trabalhar com o público de forma humanizada, visualizando-os em sua totalidade, diante de uma maior aproximação, para atender os seus anseios e reduzir suas angústias em decorrência, muitas vezes, do medo em relação ao tratamento dentário. Com o objetivo de acompanhar essas atividades, algumas reuniões são realizadas entre os profissionais envolvidos e os alunos, gerando um espaço para debates e novas idéias com relação ao programa. Segundo o relato desses alunos, foi verificada uma nova maneira de perceber o cliente, ou seja, este passa a ser visto como “gente”, “sujeito” e não mais como um “objeto de aprendizagem”. Surge, então, um amadurecimento e respeito com relação a sua clientela, que, por sua vez, supera os mitos e percepções distorcidas a respeito do atendimento odontológico. Quanto às apresentações realizadas, o programa favorece uma maior aprendizagem, pois vários temas passam a ser estudados e abordados. A redução da inibição, a aproximação e a 6 postura diante do público-alvo também não deixam de ser mencionados como pontos positivos vivenciados. Observa-se também, no que se refere aos pacientes assistidos, uma boa receptividade quanto ao programa, revelada por meio das perguntas, sugestões, comentários sobre os temas, experiências pessoais que são manifestadas. Alguns assumem a posição de facilitadores juntamente com os alunos para abordar o assunto proposto. Tal fato representa o grande envolvimento desses pacientes no decorrer da espera do atendimento, o que proporciona uma otimização do tempo, reduzindo os anseios e angústias muitas vezes apresentados. Os alunos envolvidos recebem, acolhem e encaminham o paciente para o atendimento. Eles desenvolvem grupos de valorização da escuta das demandas, visando uma diminuição do nível de ansiedade dos pacientes. Após um ano da implantação do projeto, torna-se possível visualizar o seu impacto na dimensão do crescimento e transformação no modo de acolhimento da pessoa a ser atendida. Portanto, o objetivo do Programa de Sala de Espera Saudável consiste em possibilitar ao paciente do Curso de Odontologia uma otimização do seu tempo de espera, reduzindo as tensões e angústias por meio de palestras e informações educativas relacionadas à saúde ou temas afins e possibilitando uma conscientização do tratamento e sua incondicional adesão. Mudanças de Atitude Em todo ambiente que congrega pessoas ocorrem relacionamentos, aumentando, portanto, o risco de surgimento de conflitos nas inter-relações, o que eleva os níveis de estresse. Porém, as situações estressantes podem ser benéficas quando se tornam motivo para a readaptação positiva, gerando saltos qualitativos no comportamento social. Opiniões divergentes produzidas nos embates e confrontos entre as pessoas podem, muitas vezes, favorecer o seu crescimento e desenvolvimento. Entretanto, cada indivíduo apresenta uma resposta específica a episódios de divergência, principalmente quando estes se dão no plano interpessoal. Neste momento, é oportuno falar de como foram criadas algumas estratégias de ação, bem como expor quais são os objetivos e alvos relevantes do Projeto de Humanização do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Da 6 mesma forma, vamos delinear também alguns conflitos observados no relacionamento, que evidenciam a necessidade de um fluxo incessante de acompanhamento psicológico dos três pilares do curso – o aluno, o professor e o paciente – além de relatar nossa experiência com os meios utilizados para obter e elaborar esses conhecimentos. Uma das estratégias do Projeto de Humanização do Curso de Odontologia da UNIFOR refere-se à sensibilização dos professores. A idéia é de estruturar condições para a discussão e aprimoramento do senso crítico dos docentes, em associação ao seu perfil comportamental e técnico-pedagógico. Almeja-se ainda aperfeiçoar a relação entre professores, alunos e pacientes, desenvolvendo nos dois primeiros características, competências e habilidades voltadas ao fomento e utilização de procedimentos mais humanizados na prática odontológica. Dessa forma, foram promovidas atividades cuja finalidade foi permitir a elaboração de um diagnóstico das necessidades dos distintos grupos, um esboço do perfil dos alunos e um perfil dos professores, para ampliar o entendimento das relações professor-aluno e atender às expectativas geradas. Outra iniciativa desenvolvida relacionou-se ao estudo da motivação, tomandoa como o sentimento que nos leva a empreender energia em uma direção específica, com um propósito determinado, ou seja, motivar-se significa utilizar o sistema emocional para catalisar todo este processo e mantê-lo em movimento positivo. A partir daí, iniciou-se uma nova etapa, denominada “humanização continuada”, na qual buscou-se identificar a necessidade de reforço e questionamento dos objetivos do Projeto de Humanização em si. A metodologia aplicada consistiu da apresentação de pensamentos e frases de impacto, expostos nas Clínicas Integrada e Multidisciplinar por meio de cartazes criativos, periodicamente modificados, dispostos em locais e espaços estratégicos que congregam maior concentração de professores, alunos e funcionários, tais como salas de raios-x, câmaras escuras portáteis, negatoscópio, central de esterilização, setor de entrega e devolução, carrinhos de materiais e áreas de uso de computadores. Esses pensamentos e frases, associados a um trabalho realizado nas salas de aula por intermédio dos próprios professores que os mostravam em slide inicial e/ou final, serviram para que os alunos, professores e demais profissionais do curso 6 pudessem ler e refletir conscientemente a respeito das relações de poder vigentes nos pares professor-aluno, aluno-paciente e funcionário-paciente. Enquanto isso, a reação dos alunos, professores e funcionários foi sendo observada, em relação à receptividade e à transformação mensurável de seus comportamentos. Assim sendo, no ano de 2003, a Comissão de Humanização do Curso de Odontologia, dando prosseguimento ao trabalho que já vinha sendo realizado, resolveu torná-lo mais criativo e lúdico. Surgiu então a “Turma do Armário”, com personagens fictícios que interagem pela via seqüencial da nona arte: os quadrinhos. Partindo da realidade de que cada um dos professores e professoras possui seu armário pessoal, encontramos o que poderia ser um ótimo espaço para nos comunicarmos com todos eles. Buscamos a forma de atrair sua atenção para o objetivo da Comissão de promover mudanças desejáveis de atitudes nos pares professor-aluno, professor-professor, professor-paciente e, indiretamente, até mesmo no par aluno-paciente. Dessa maneira, passou a fazer parte do cotidiano do Curso, sempre naquele local cheio de provas, projetos de ensino, pesquisas, disquetes, CDs e slides, entre outras coisas mais, uma “arrumadinha básica” executada pela Turma do Armário, integrada por um casal de garotos chamados Guga e Manu, que possuíam um mascote – seu gatinho chamado Trutti. Na realidade, a “arrumação” era imaginária, pois o que nos interessava era encontrar uma fórmula de prender a atenção dos professores e estimular-lhes a reflexão com aquelas mensagens – e, quem sabe, colher mais tarde frutos representados por mudanças observáveis de atitude. Quinzenalmente, uma nova mensagem era afixada na porta do armário de cada professor(a). Eram veiculadas, sob a forma de questionamentos, as vantagens da delicadeza muitas vezes perdida, da compaixão e do diálogo aberto nos relacionamentos interpessoais. Se nossos objetivos foram alcançados, não podemos ainda confirmar com absoluta certeza. Porém, o reconhecimento da presença de sentimentos humanos importantes no ser e estar cotidianos, assim como o avanço na capacidade reflexiva e nas discussões acerca dos relacionamentos hoje fazem parte indissolúvel da 6 nossa realidade. Uma conquista que a todos nós orgulha e preenche de fé o nosso trabalho diário. Para todos nós, tornou-se evidente e proveitoso conceber que, como afirmava o educador Paulo Freire, “ensinar exige querer bem”. Cultura do tratar bem A universidade deve possibilitar o encontro e a integração de todos os conhecimentos e seu encaminhamento à plenitude humana, resultante da integração e complementação do saber. Humanizar é preciso. Mas como a universidade deve conciliar essa necessidade científica com sua destinação humanística? O Curso de Odontologia da UNIFOR proporciona ao estudante um ensino teórico e prático que deve formá-lo, desenvolvendo suas potencialidades, de maneira a prepará-lo para estar a serviço da prática da Odontologia. Essa formação é deficiente se o estudante não desenvolve a sua própria qualidade de homem, aperfeiçoando-se para estar a serviço de uma cultura do humanismo. A valorização do outro e da escuta e o exercício de cidadania têm que ser vivenciados, sentidos, por cada um de nós. Não adianta “ensinar” aos nossos alunos “como tratar bem” seus pacientes, se esses são oprimidos e sufocados no processo ensino-aprendizagem. Por isso, a mudança na relação aluno-paciente que reflita na futura prática profissional passa pela mudança de prática pedagógica, em que as pessoas se sintam sujeitos ativos e construtores do processo de aprender e também de ensinar, ou seja, de troca não só de saberes e experiências, mas de troca afetiva. (NUTO, 2002) Ninguém aprende o que não gosta. Precisamos resgatar o amor ao nosso objeto de estudo, ato pouco valorizado na pedagogia tradicional, o amor ao nosso paciente, sem preconceitos e “culpabilização”, desenvolvendo a motivação para aprendizagem, sendo necessário, para isso, sentir e vivenciar sentimentos e energias positivas e incentivar a cultura da paz. A cultura da humanização reflete a idéia de valorização do outro, de respeito às diferenças, de atenção e cuidado aos nossos semelhantes. A cultura de “tratar bem” 6 nossos pacientes não pode estar descontextualizada, vazia e inerte; deve estar inserida em um panorama de difusão da cultura do amor e cuidado ao nosso entorno social. Toda essa abordagem não teve a pretensão de esgotar um assunto de tamanha complexidade, mas de refletir a importância da humanização nos espaços de saúde, especialmente em um ambiente de ensino e aprendizagem. 6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ARNSTEIN, R.L. Developmental issues for college students. Psychiatric Annals, 14, 643-646. 1984. CAPRA, F. O ponto de mutação . São Paulo: Cultrix, 1982. cap. 5 : O modelo biomédico, p. 116-155. DIAS, G.F.; AZEVEDO, M. Desenvolvimento psicológico, atitudes em relação ao estudo e sucesso acadêmico. Minho, Portugal. 2001. GONÇALVES, O.F.; CRUZ, J.F. A organização e implementação de serviços universitários de consulta psicológica e desenvolvimento humano. Revista Portuguesa de Educação, 1 (1) pp 127 – 147, 2000. KUHN, T.S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo, Perspectivas, 1975. LÖE, H.N. A view from the inside. J Dent Res, 74: 631-33, 1995. MARTINS, M.L. Um passo de dança na universidade. Boletim da Universidade do Minho, Portugal. 2001. O’ Connor, E. Student mental health: secondary education no more. Monitor on Psychology,32 (8),44-47. 2001. SANTIAGO R.A.; TAVARES, J.M.C.; LENCASTRE, L.; GONÇALVES, F. Promover o sucesso acadêmico através da avaliação e intervenção na universidade. Braga, Portugal. 2001. SOARES, L. Adaptação acadêmica e rendimento escolar: Estudo com alunos universitários do primeiro ano. Minho, Portugal. 2000. TAVARES, M.C.; MAIA, A.; SANTOS, L. et al . Apoio psicossocial na transição para o Ensino Superior: Um modelo integrado de serviços in: SOARES, A.P. e col. Transição para o Ensino Superior. Braga, Portugal. 2000. WEYNE, S. C. A Construção do Paradigma de Promoção de Saúde – um desafio para novas gerações. In: Kriger, L. et al. Promoção de Saúde Bucal. São Paulo: Ed. Artes Médicas, 1997. 6 CAPÍTULO 4 Como você se sente? A experiência do Estágio Extra Mural do Curso de Odontologia da UNIFOR Sandra Helena de Carvalho Albuquerque Maria Vieira de Lima Saintrain Luiz Roberto Augusto Noro Sharmênia de Araújo Soares Nuto Thiago Pelúcio Moreira Maria Cristina Germano Maia Maria do Carmo Rebouças Filha Maria Elisa Machado Ferreira “- Como você se sentiu conversando com a D. Maria ? - Como assim, professora ? - Como você se sentiu ao entrar na casa de taipa, sentar num sofá sujo e rasgado, andar no sol quente, pisar na lama, sentir o cheiro do lixo? - Ah, professora, foi normal... - O que é normal? Que sentimento é esse? É normal sentir raiva por estar lá? Ou será normal sentir medo por estar numa comunidade pobre onde tudo é exclusão? Ou ainda será normal sentir pena daquela família que não possui o mínimo para sua dignidade de ser humano? Ou será ainda normal sentir-se culpado por nunca ter feito nada que pudesse reverter aquela situação de penúria? O que é normal no campo dos sentimentos? - Ah, professora, sentimento a gente sente não precisa falar... - Eis o seu equívoco e o erro de muitos. Sentimento a gente define, pois todos eles nos marcam de forma indelével e definem padrões de comportamento que influenciam nossa reação frente às diversas situações em nossas vidas. E isso se torna fundamentalmente importante quando se trata de ocupações na área da saúde pois cuidar do outro pressupõe minimamente gostar de gente, estabelecer vínculos e tudo isso é carregado de sentimentos. Por isso é extremamente necessário que se identifique que sentimento nos move, nos motiva... - Pra quê falar disso agora? É só ir lá e pronto. 6 - Desde muito cedo nos ensinam a sufocar nossos sentimentos: é feio sentir raiva, você não pode sentir medo do escuro porque é coisa de criança, não interessa se no momento da prova você está ansioso e te dá um branco, não importa a tristeza do fim de um relacionamento que dificulta o aprendizado e dessa forma sufocamos e prendemos nossos sentimentos num quartinho escuro e só revelamos quando as conveniências julgam oportuno. Por isso não se falam deles e não sabemos ao certo o que sentimos, para quê sentimos, como agimos diante daquele sentimento. Daí surgem os conflitos nas relações, dúvidas ao reagir e somatização do que sufocamos. Vocês ainda acham que não precisamos falar sobre isso? - É que nunca ninguém falou isso pra gente... - Os bancos das escolas sempre nos ensinaram o aspecto científico de cada conhecimento sem trabalhar o impacto afetivo que eles imprimem em nós, e vamos seguindo assim até que um dia aquilo que aprisionamos naquele quartinho escuro explode muitas vezes de maneira descontrolada. - Professora, o que isso tem haver com a família que eu visito ou com o paciente que eu atendo? - Isso determina o tipo de vínculo que você estabelece com o outro enquanto você cuida dele. O que é o paciente para você? Alguém desleixado que se descuidou de sua saúde? Ou um coitadinho que não tem dinheiro para comprar uma escova de dente? Ou ainda alguém fútil que veste as melhores roupas mas não consegue fazer uma escovação satisfatória? Ou ainda um parceiro seu para administrar o processo saúde-doença ao longo de nossa existência? Todos esses aspectos definem nossa prática profissional e como encaramos aqueles a quem nos propomos tratar. - Ah, entendi, mas não é fácil definir o que sinto, acho que é um pouco de pena daquela família e também um pouco de culpa por viver num mundo tão confortável e às vezes reclamar por bobeiras que têm uma dimensão infinitamente pequena frente ao drama daquelas famílias. - Muito bem, começamos a mergulhar no campo dos sentimentos, não é fácil, mas aos poucos vamos nos familiarizando. É esse o desafio e o convite que faço a vocês: aprender a conhecer nossos sentimentos para conhecer melhor a nós mesmos e aos outros e poder refletir melhor sobre nossa prática. Vamos lá?” 6 A cada aula do estágio, lançávamos estas reflexões aos nossos alunos. Era um desafio mútuo: eles por serem questionados em aspectos sobre os quais não se costumam falar, e nós por tentarmos construir um caminho ainda muito novo e difícil de trabalhar. As emoções são pedagógicas, ousamos então discutir isso com o objetivo do aluno identificar o que o motivava ao cuidar do outro para poder refletir melhor sobre sua prática e identificar se estão sendo reprodutores de uma técnica ou se percebem o outro além da boca e conseguem aplicar o conhecimento para a transformação da realidade. Tudo isso são aspetos extremamente sutis mas que determinam fortemente o resultado que se pretende alcançar, principalmente ao se trabalhar com uma população de baixa renda, fatores sócio econômicos desfavoráveis para o pleno gozo da saúde. É essa a proposta do EEM ao trabalhar com as pessoas com a lógica do Programa de Saúde da Família, afinal não há família e grupos sem vínculos e sem sentimentos. 1. HISTÓRICO O Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) foi iniciado em 1995, com duração de dez semestres letivos e tem como pressuposto básico a formação de um cirurgião-dentista com filosofia preventiva e habilidade na aplicação de princípios técnicos, éticos e sociais para sua plena inserção como profissional de saúde. Seguindo esta filosofia, há a previsão da realização durante o 9º e 10º semestre do desenvolvimento, paralelamente à Clínica Integrada, do Estágio Extramural. O Estágio Extra-mural é composto por um total de oito créditos, distribuídos quatro créditos no 9º semestre (Estágio Extra-mural I) e quatro créditos no 10º semestre (Estágio Extra-mural II). Tem como grande meta a integração ensinoserviço-pesquisa, que tem se caracterizado, em diversas universidades, como forma de garantir a racionalização dos recursos e otimização dos objetivos a que se destinam as instituições de ensino superior e as instituições de prestação de serviços. 6 O aluno do estágio extra-mural inicia uma nova fase em sua formação profissional que tem como objetivo sua integração com os serviços públicos de saúde, o conhecimento sobre seu funcionamento, a aproximação com a realidade do processo saúde-doença vivenciado pela população e formulação de propostas que viabilizem e aperfeiçoem o Sistema Único de Saúde. O desenvolvimento do Estágio Extra-mural é fundamental para permitir ao aluno um contato privilegiado com a saúde coletiva, já que o aproxima da realidade existente e possibilita sua intervenção pensando em soluções para comunidades, tendo como referência a promoção de saúde. Os principais objetivos do Estágio Extra-mural são: formar profissionais com interesse social, observando, analisando e propondo soluções para os principais problemas bucais da comunidade; aplicar conhecimentos básicos das disciplinas de Odontologia Social I e II, Epidemiologia, Elementos de Antropologia Filosófica, Elementos de Sociologia e Odontologia Legal, além das disciplinas clínicas, em situação real de trabalho; propiciar integração com administradores públicos do sistema de saúde, usuários, professores e alunos do Curso de Odontologia da UNIFOR, buscando soluções mais adequadas aos problemas encontrados; desenvolver auto-confiança e segurança tanto no aspecto social como no conhecimento técnico-científico quanto na responsabilidade ético-profissional e contribuir para a formação de um profissional de saúde crítico, questionador e formulador de soluções criativas e viáveis para melhoria das condições de vida da população. Quando de sua implantação, o Estágio Extra-mural representou um grande desafio uma vez que previa como campo de estágio Unidades de Saúde da Secretaria de Saúde do Município de Fortaleza, serviço bastante descaracterizado daquilo que se pretendia propor enquanto sistema de saúde universal, integral, eqüânime e racional. Para desenvolvimento das atividades os alunos eram divididos em grupos possibilitando-se o acompanhamento durante um ano de uma mesma Unidade de Saúde. O Estágio era desenvolvido durante toda a semana (2ª a 6ª feira) sendo pela manhã no Estágio Extra-mural I e pela tarde no Estágio Extra-mural II. Assim, os quatro créditos destinados a esta atividade eram desenvolvidos em uma semana contínua por mês para cada grupo de alunos. Com isto, pretendia-se proporcionar 7 um maior acompanhamento dos alunos pelo professor responsável assim como permitir uma lógica seqüenciada de atividades. Neste momento foram definidas as seguintes atividades para acompanhamento dos alunos: Identificação do perfil da população, observando a multiplicidade de padrões de conduta e características culturais; Participação e organização dos serviços odontológicos, conhecendo as relações entre a Secretaria de Saúde e outros órgãos da administração pública (Secretaria de Educação, Secretaria de Recursos Hídricos, Secretaria de Ação Social etc.) tanto no âmbito estadual quanto no âmbito municipal; Realização de levantamentos epidemiológicos para diagnóstico da situação de saúde bucal da comunidade; Desenvolvimento de ações educativas em saúde; Realização de ações coletivas de saúde bucal; Capacitação de pessoal auxiliar (atendente de consultório dentário e técnico em higiene dental); Integração com Programa de Saúde da Família, capacitando agentes de saúde na orientação preventiva das principais doenças bucais; Participação em atividades do Conselho de Saúde das Unidades de Saúde, do Município de Fortaleza e/ou do Estado do Ceará; Acompanhamento no desenvolvimento de ações de vigilância sanitária e epidemiológica; Planejamento do trabalho clínico a ser realizado nas Unidades de Saúde, a partir do referencial de risco de doença por grupos populacionais. 2. O DESENVOLVIMENTO DOS ESTÁGIOS EXTRA-MURAIS Depois de seis anos de um processo de reflexão contínua sobre o Estágio Extra-mural e de várias modificações na forma de desenvolvimento das atividades, pode-se observar que os objetivos inicialmente propostos têm permitido aos alunos planejarem e executarem suas habilidades na atuação nos diferentes ciclos de vida, visando fundamentalmente à criação de vínculos entre o aluno e o sujeito de seu 7 cuidado, inserido na realidade em que vive, buscando nesse contexto, a formação de um profissional crítico e reflexivo dentro de sua prática. A maior parte das atividades do estágio são realizadas na área de abrangência do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) – a Comunidade do Dendê – incluindo-se nesta, seus espaços sociais (escolas e creches). No entanto, as atividades de estágio não se limitam a esse território, sendo também direcionadas a atenção à saúde dos idosos institucionalizados no Lar Torres de Melo e ao planejamento e desenvolvimento das ações e serviços de saúde, analisados do ponto de vista do gestor. Estas atividades serão desenvolvidas durante o Estágio Extra-mural I (9º semestre) ou no Estágio Extra-mural II (9º semestre). 2.1. ESTÁGIO EXTRA-MURAL I (EEM I) Alunos do 9° semestre do Curso de Odontologia da UNIFOR têm a oportunidade de atuar na mesma lógica que norteia atualmente a estratégia de Saúde da Família. Dessa forma, os alunos são estimulados a conhecer a realidade de vida das famílias as quais irão acompanhar, como parte de um projeto multidisciplinar envolvendo os diversos cursos do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UNIFOR e tendo o NAMI como Núcleo de Integração Docente-Assitencial. Nesse, o ensino e a pesquisa são inseridos às ações de saúde voltadas para população da Comunidade do Dendê em nível de atenção primária, promovendo, diagnosticando, tratando e reabilitando de maneira integrada e interdisciplinar, visando à melhoria da qualidade de vida de seus usuários. A Comunidade do Dendê situa-se próximo à UNIFOR, no bairro Edson Queiroz, tendo aproximadamente 14.000 habitantes, sendo dividida em micro-áreas, segundo uma lógica de homogeneidade sócio-econômica-sanitária, ou seja, é formada por pessoas que compartilham condições de vida e risco de adoecer semelhantes. A princípio, 6 (seis) micro-áreas foram delineadas, recebendo as denominações de cores para facilitar o processo de territorialização: Azul, Verde, Vermelha, Laranja, Amarela e Marrom, esta última também conhecida como Baixada, estruturada em local de preservação ambiental no mangue às margens do Rio Cocó. A partir de dados colhidos na comunidade ao longo dos anos de acompanhamento, mais três áreas de risco foram demarcadas, a Rocinha, anteriormente descrita como parte da área Amarela, mas vista atualmente como uma micro-área específica; a área de 7 invasão Chico Mendes, também conhecida como Pink e a área Lilás ou Final da Linha, em referência à última parada do percurso de transporte urbano local (ônibus). A partir do conhecimento da realidade demográfica e da condição sócio-cultural da população adstrita, obtidos por meio de visitas domiciliares, realiza-se um planejamento estratégico situacional para execução de ações, referenciando-se nos conceitos de promoção de saúde e princípios do SUS. As atividades domiciliares são realizadas por alunos dos cursos de Enfermagem, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psicologia e Odontologia. Durante as atividades dos estágios e disciplinas da área de Saúde Coletiva, os alunos realizam o cadastramento das famílias utilizando-se de três fichas: ficha A (Cadastro da família), ficha B (Atenção Integrada à Saúde da Família) – ambas baseadas no modelo de cadastramento familiar do Ministério da Saúde – e uma ficha específica de cada área de conhecimento. A ficha A objetiva cadastrar as famílias, abordando aspectos sócio-econômicos. Por meio dela, são obtidos os dados de identificação de todos os membros da família, incluindo os seus principais agravos à saúde, assim como sua ocupação, e alfabetização. A renda familiar, a situação de moradia e de saneamento também são questionadas nessa ficha; além de outras informações como participação em grupos comunitários, presença de animais domésticos e meio de transporte que utilizam. Buscando a interdisciplinaridade e atendimento à integralidade das necessidades da população adstrita, é preenchida a ficha B, que nos oferece uma visão geral da saúde da família, por meio de questões sobre a atualização do cartão de vacina, pré-natal das gestantes, revisão de parto das puérperas, prevenção de câncer ginecológico, crianças com atraso de desenvolvimento, problemas relacionados à fala, visão ou audição, permitindo assim os encaminhamentos de suas necessidades para o NAMI e/ou para os diversos cursos, na lógica da abordagem multidisciplinar em saúde. A ficha específica de cada especialidade possibilita um planejamento para ações preventivas e educativas a serem desenvolvidas nos domicílios. Para o preenchimento da ficha específica da Odontologia, é realizado um exame de necessidades em cada membro da família que o autorize, por uma dupla de alunos da disciplina de EEM I. 7 As atividades preventivas em Odontologia incluem: distribuição de escovas dentais, revelação de placa bacteriana, escovação supervisionada e aplicação de flúor gel. Além de, cumprindo o princípio da eqüidade, encaminhar o membro mais necessitado de cada domicílio visitado para a Clínica Integrada do Curso de Odontologia, na qual ele será atendido pela mesma dupla que o visitou, reforçando os vínculos entre o profissional e o paciente. Na clínica, são realizados procedimentos de adequação como: raspagens de tártaro, profilaxias, exodontias, curetagens para proteção do complexo dentina-polpa, abertura coronária e algumas restaurações. Esse tipo de abordagem facilita o acesso e o fluxo do paciente nas Clínicas da UNIFOR, respeitando o princípio da eqüidade, pois ao finalizar a adequação o paciente é encaminhado para o Setor de Triagem para que posteriormente sejam realizados os demais procedimentos de que necessita. Outros encaminhamentos para o curso abrangem a prevenção do câncer bucal por meio da disciplina de Semiologia, a confecção de próteses dentais e oculares e o atendimento a pacientes com necessidades especiais em projetos específicos. As atividades educativas não se restringem a temas de interesse odontológico. De fato, os alunos são estimulados a abordarem temas de saúde geral, dentro das necessidades encontradas em cada micro-área. Podendo-se citar ações sobre tabagismo, alcoolismo, drogas, gravidez na adolescência, higiene pessoal, prevenção da Dengue, da Diabete, da Hanseníase, aferição de pressão arterial, distribuição de camisinhas, dentre outros, tanto em uma abordagem individual quanto coletiva. Durante o desenvolvimento destas atividades, o que mais tem chamado a atenção é a perspectiva real de atendimento não somente às necessidades odontológicas desta população mas conhecer sua situação geral e poder permitir ao aluno uma aproximação com sua possibilidade de efetiva atuação enquanto profissional de saúde. Neste sentido, procura-se estimular o aluno a perceber o sentimento envolvido nestas relações. Diante do exposto, o aluno de Odontologia, ao findar o Estágio Extra-Mural I, será capaz de realizar a territorialização em ambiente comunitário, incluindo a utilização de mapas falantes, planejando e executando ações preventivas e educativas em saúde, conhecendo a realidade sócio-econômica e cultural das famílias adstritas e compreendendo a importância do estabelecimento de vínculos para promoção de saúde. 7 2.2. ESTÁGIO EXTRA-MURAL II (EEM II) Os alunos do 10º Semestre do Curso de Odontologia da UNIFOR, dentro da programação do Estágio Extra-Mural II, têm a oportunidade de atuar em diferentes espaços sociais, como também preconizado pelo Ministério da Saúde, em ações educativas e preventivas em saúde bucal direcionadas a públicos-alvos diversos (crianças pré-escolares, escolares e idosos). O EEM II também prevê atividades relacionadas ao conhecimento da gestão de serviços de saúde, tão necessária à prática do futuro profissional de saúde, visando integrar os conhecimentos adquiridos em todas as disciplinas de saúde bucal coletiva à lógica da organização dos serviços de saúde. 2.2.1. Atenção à Saúde Bucal de Crianças e Adolescentes Ao longo dos 10 anos de implantação do Curso de Odontologia da UNIFOR, diversos estabelecimentos de ensino referenciados na área de abrangência do NAMI têm sido contemplados pelo acompanhamento sistemático da saúde bucal de seus estudantes. Os alunos do EEM II são levados a fazer um reconhecimento dos espaços sociais e após o levantamento de necessidades dos estudantes matriculados, traçar um plano de ação específico para cada público-alvo, incluindo tanto ações preventivas quanto educativas em saúde bucal. Estas últimas, dentro do enfoque metodológico da problematização, no intuito de preparar o aluno para essa prática em sua vida profissional. Dessa forma, para os pré-escolares as ações podem incluir desde teatros, fantoches e jogos sobre temas educativos de higiene pessoal e bucal, como as ações preventivas de escovação supervisionada. A aplicação de flúor gel está restrita às crianças com maiores necessidades, tendo em vista o risco de deglutição do produto em menores de seis anos de idade. Para escolares e adolescentes, amplia-se o leque de temas educativos a serem abordados de acordo com a demanda dos próprios estudantes das escolas, como por exemplo: drogas, DST/AIDS, métodos anticoncepcionais, entre outros. Sempre 7 trabalhados de uma forma problematizadora, visando a real mudança de atitudes e hábitos no sujeito da ação educativa. As ações preventivas incluem: distribuição de escovas, revelação de placa, escovação supervisionada e a aplicação de flúor gel, de acordo com o perfil determinado para aquele estudante no levantamento de necessidades. Assim, poderão ser previstas até 4 (quatro) sessões de aplicações de flúor, caso o estudante apresente a necessidade de remineralização de manchas brancas. As crianças e adolescentes considerados de alto risco e com maior número de lesões ativas de cárie ou necessidades de tratamento dentário são, de uma forma eqüitativa, encaminhados para a clínica de adequação, para serem atendidas pelos mesmos alunos os quais lhes examinaram na escola, desta forma, fortalecendo os vínculos entre profissional-paciente. 2.2.2. Atenção à Saúde do Idoso Institucionalizado A pirâmide populacional brasileira tem sofrido modificações na sua base tendo em vista a redução da mortalidade infantil e das taxas de fertilidade. Os números indicam que entre os anos de 1980 e 2000 o aumento da população geral foi na ordem de 43%, no entanto, para o contingente de pessoas de 60 anos e mais este aumento foi de 101% (IBGE, 2003), verificando assim uma discrepância entre o crescimento da população idosa em relação às outras faixas etárias. No Brasil os idosos passarão a constituir grupo cada vez mais numeroso, em termos absolutos e relativos, exigindo recursos progressivamente mais significativos para o adequado atendimento de suas necessidades (PEREIRA, 1995), que segundo Veras (2001), constitui um grupo bastante diferenciado, entre si e em relação aos demais grupos etários, tanto do ponto de vista das condições sociais, quanto dos seus aspectos demográficos e epidemiológicos. Nesse contexto, dentre os espaços sociais destinados a realização do Estágio Extra Mural II, cita-se o Lar Torres de Melo, instituição dedicada a abrigar idosos de ambos os sexos e de todas as classes sociais, uma entidade filantrópica que abriga idosos sem distinção de classes, permitindo ao aluno do Curso de Odontologia, a oportunidade de compreensão maior da prática de atendimento a pessoas dessa faixa etária. 7 As atividades desenvolvidas pelos alunos do Curso de odontologia junto aos idosos incluem: a) ações de educação em saúde, reforçando a importância do banho de sol e dos cuidados com uma alimentação saudável, controle de doenças como a diabete e a hipertensão e o exercício de atividades ocupacionais e de lazer para uma melhor qualidade de vida; b) ações preventivas em saúde bucal, compreendendo instrução de higiene oral, orientação reforçada para os portadores de prótese dentária. Como os idosos recebem escova dental, oferecida pelo Estágio, é realizado o exercício de escovação e orientação para a conservação de próteses totais e removíveis, assim como, o cuidado de higiene oral para os desdentados totais. São ofertadas orientações para o exame de prevenção do câncer bucal e de outros agravos a saúde. Para os idosos dependentes, a orientação é ofertada em conjunto com os cuidadores dos idosos, utilizando técnica de higiene oral de acordo com a especificidade de cada paciente no intuito de remover detritos e produtos seborréicos, assim como, prevenir contra a candidíase. c) no que tange as atividades curativas, inicialmente, são realizados exames ou levantamentos epidemiológicos de necessidades, com base nas normas da Organização Mundial de Saúde (OMS, 1999). Os pacientes identificados com lesões cariosas, exodontias e remoção de tártaro são atendidos, pelos próprios alunos do estágio na Clínica Integrada do curso de Odontologia para a realização de procedimentos de adequação do meio bucal. Outrossim, aqueles pacientes portadores de lesões bucais são encaminhados e reavaliados pelos professores da Clínica de Semiologia da Universidade. 2.2.3. O EEM II e a gestão de serviços de saúde Estimulados pelas transformações globais no mercado de trabalho em decorrência, entre outros fatores, da queda de poder aquisitivo da população brasileira, os dentistas estão buscando de modo crescente a ocupação junto ao serviço público. De início, o cargo preferencialmente ocupado era o de clínico tradicional, porém, com as necessidades crescentes no campo geral da saúde 7 pública a presença dos cirurgiões-dentistas atuando como gerentes de serviços de saúde está cada vez mais requisitada. Assim que as primeiras turmas da Odontologia da UNIFOR começaram a colocar os egressos no mercado de trabalho estes muitas vezes retornavam aos professores para solucionar dúvidas sobre como melhor atuar no Programa Saúde da Família dos municípios em que trabalhavam. Com o passar do tempo, as dúvidas e o envolvimento desses recém-formados passou a ultrapassar também o campo da clínica e da prevenção em saúde bucal para encampar o campo multidisciplinar das ações de saúde. Desta forma, desde o período 2003.2 o estágio passou a contar com atividades que forneçam indicativos de gestão e organização dos serviços de saúde, possibilitando que atualmente vários dos ex-alunos ocupem cargos de chefia junto às Secretarias de Saúde. Esse crescimento de oportunidades vem associado ao modelo de financiamento e hierarquização dos serviços de saúde implantados pelo Ministério da Saúde desde a Norma Operacional Básica de 1993 (NOB 93). Com a NOB 96 e especialmente a Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS 2001) foi criado um caminho para uma organização dos serviços mais aproximada dos ideais do Sistema Único de Saúde promulgado na constituição de 1988. No Ceará, por exemplo, a estratégia para dar mais agilidade à gestão em saúde foi agrupar os 184 municípios em 21 sistemas microrregionais e 3 macrorregiões de saúde, que seriam responsáveis pela atenção de nível secundário e terciário respectivamente. Para que os alunos possam se aprofundar nessas diretrizes são realizados debates em sala de aula sobre a situação do sistema atual, observação da gestão na prática, seja por meio do contato com gestores do nível central da Secretaria de Estado da Saúde ou por visitas a municípios onde a gerência do serviço é examinada juntamente com os responsáveis locais. Nas atividades foi possível visitar os municípios de Aquiraz, Eusébio, Caucaia, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape e São Gonçalo do Amarante. Depois de vivenciar essas experiências práticas e discutir a teoria, os grupos de alunos elaboram projetos de gestão para os municípios visitados, já se preparando para atuarem como planejadores em saúde quando se formarem. 7 É possível concluir que neste estágio, as maiores contribuições, com relação ao aluno, tenham sido para elucidar o sentido de ser profissional, vivenciar o outro (paciente) de maneira incomum do dia a dia da clínica e poder discutir o conceito de cuidado à luz de referenciais construídos por meio da vivência humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Assessoria de Comunicação Social. Lei Orgânica da Saúde. Brasília: 2ª edição, 1991. 36p. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 1395/GM. Políticas de saúde do idoso em 10 de dezembro de 1999. DOU de 13 de 12 de 1999. Dispõe sobre a aprovação da Política Nacional de Saúde do Idoso. BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto SB Brasil 2003 – Condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003 - Resultados principais. Brasília: Coordenação Nacional de Saúde Bucal. DIÓGENES, O. Asilo de Mendicidade: memória histórica. Fortaleza: INEP. 1997. 162p. ETTINGER, R. L.; WATKINS, C.; COWEN, H. Reflections on changes in geriatric dentistry. Journal of Dental Education. v. 64, n.10. p.715-22. 2000. FRAZÃO, P. Epidemiologia em Saúde Bucal. In: PEREIRA, A.C. (org) Odontologia em Saúde Coletiva: Planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: Artmed. pp. 64-82, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2003). [on-line]. Disponível: http://www.ibge.gov.br ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Levantamentos básicos em Saúde Bucal. 4ª ed. São Paulo: Ed. Santos. 1999. 66p. PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1995. 583p. VERAS, R. P. Desafios e conquistas advindas da longevidade da população: o setor saúde e as suas necessárias transformações. Rio de Janeiro: UERJ, UnATI, 2001. 144p. 7 CAPÍTULO 5 A Clínica Integrada Juliano Sartori Mendonça Sandra Helena de Carvalho Albuquerque Os Estágios de Clínica Integrada I e Clínica Integrada II, juntamente com os Estágios Extramural I e II, são oferecidos para os alunos dos 9º e 10º períodos, respectivamente, constituindo a parte final do Curso de Odontologia e são considerados como estágios curriculares pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e, como tais, seguem as determinações da Resolução R-028/89. Os Estágios de Clínica Integrada I e Clínica Integrada II estão estruturados visando à formação de cirurgião-dentista generalista, humanista, crítico e reflexivo, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico, capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade, conforme proposto pelas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Odontologia. As atividades dos Estágios de Clínica Integrada I e II correspondem a 300 horas semestrais (20 horas semanais), incluindo o atendimento integrado de pacientes, discussão de casos clínicos, verificação teórica, Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e atividades nos Plantões de Urgência e Triagem. Para tanto, as atividades clínicas propostas permitem desenvolver no aluno a prática da clínica geral, com uma abordagem integral do paciente odontológico, possibilitando aos alunos o exercício das diferentes áreas de conhecimento odontológico, incluindo a preparação do ambiente de trabalho, diagnóstico, planejamento e execução de procedimentos preventivos e terapêuticos. Desta forma, constituem-se objetivos específicos dos Estágios de Clínica Integrada I e Clínica Integrada II: • Capacitar o aluno para o diagnóstico, planejamento, elaboração e execução de planos de tratamento e acompanhamento dos tratamentos odontológicos que contemplem as necessidades do paciente; 8 • Capacitar o aluno para o atendimento a quatro mãos, visando a adoção de princípios de trabalhos ergonômicos; • Adquirir hábitos de trabalho em que a biossegurança seja cumprida criteriosamente; • Sensibilizar o aluno para perceber a necessidade de um atendimento que trate o indivíduo como um ser integral, considerando aspectos afetivos, sociais e culturais; • Avaliar e propor alternativas de tratamento a um determinado caso clínico; • Tratar o paciente como efetivo participante de seu processo de educação, prevenção e reabilitação em saúde bucal; A integração O Curso de Odontologia da UNIFOR possuía uma estrutura curricular em que as disciplinas trabalhavam os conteúdos por especialidades resultando em fragmentação do conhecimento e sem atender às necessidades do paciente de forma integral. Cabia aos alunos nos semestres finais tentar organizar todos esses conhecimentos para aplicá-los de forma integrada. Era visível a insegurança com que todos os alunos iniciavam o Estágio de Clínica Integrada, organizar toda essa bagagem de conteúdos não era tarefa fácil e por vezes esses conhecimentos recortados e colados formavam um ‘Frankenstein’ e o aluno tinha dificuldade de visualizar a integralidade de todo o processo. Verificou-se que os professores e alunos ainda persistiam em trabalhar com o mesmo modelo fragmentado das disciplinas estanques: se o paciente tinha necessidade de Endodontia era solicitado o professor da respectiva especialidade, se a necessidade era restauradora o aluno requisitava o professor de Dentística resultando que o aluno não tinha um acompanhamento integral de seu desenvolvimento, daí iniciou-se a busca por um novo modelo que atendesse os objetivos para formação do cirurgião-dentista generalista conforme o que está colocado nas Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Odontologia. Em 2003.1 começou-se a tentar um avanço na busca dessa integração: cada professor, independente de sua especialidade, passou a ser responsável pela orientação de um grupo de alunos em procedimentos de pequena complexidade que 8 fossem do domínio do clínico geral, a ele convencionamos chamar de professororientador. Diante de um procedimento mais complexo fora do domínio do professororientador, o especialista é consultado. Dessa forma o professor-orientador pode acompanhar o desenvolvimento integral do aluno, estreitar o vínculo com ele podendo perceber também outras necessidades mais sutis a serem trabalhadas como relação ética e humanizada com o paciente ou mesmo o aspecto afetivoemocional de seus alunos. Esse foi (e ainda é) o grande desafio da equipe docente da Clínica Integrada. Romper com um sistema fragmentado, biologicista, tecnicista no qual todos fomos formados era uma grande dificuldade. Foi necessário muito amadurecimento de toda a equipe, flexibilidade para reconhecer que muitas vezes não se sabe tudo, abertura para aprender o novo, desprendimento para deixar de lado a postura e visão de especialista para construir um novo modelo que buscasse superar todas as limitações do modelo em que fomos formados e continuávamos formando. A busca por um modelo que atenda integralmente as necessidades do aluno e do paciente ainda não se esgotou. Tal como uma onda, a equipe docente tem aproximações e distanciamentos do modelo que supere essas distorções. A busca leva-nos constantemente a reflexões de nossa prática, pois ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. Corpo Docente e Recursos Humanos Auxiliares O corpo docente é composto por professores das áreas de Periodontia, Endodontia, Dentística, Cirurgia e Prótese, que formam a base da grande maioria dos planos de tratamento em Odontologia. A definição dos professores que compõem o corpo docente é de responsabilidade da Coordenação do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza, levando-se em consideração não somente a formação específica dos professores em cada uma das diferentes especialidades da Odontologia, mas sobretudo a possibilidade de formação de um cirurgião-dentista generalista, humanista, crítico e reflexivo, conforme proposto pelas Diretrizes Curriculares. Dentre os professores é designado pela Coordenação do Curso de Odontologia um coordenador para a Clínica Integrada I e outro para a Clínica Integrada II, a fim de proporcionar uma melhor articulação e comunicação entre os vários atores e setores envolvidos neste espaço de aprendizagem e serviço. 8 Além disso, visando proporcionar condições ideais para o desenvolvimento das atividades clínicas, os Estágios de Clínica Integrada I e II contam com a participação de duas atendentes, responsáveis por controlar a distribuição de materiais de consumo e equipamentos periféricos, e de dois auxiliares de serviços gerais, que são definidos por meio de articulação entre os coordenadores da Clínica Integrada e a Direção Clínica do Curso de Odontologia. Estrutura Física e Funcionamento As atividades dos Estágios de Clínica Integrada I e II do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza são desenvolvidas em ambiente clínico próprio (Clínica Integrada), que conta com 36 boxes com equipo odontológico, cadeira, refletor dois mochos, dois cestos de lixo com pedal, uma pia com bancada e um armário de apoio. O setor de distribuição de material de consumo e instrumental comunica-se com esta clínica por meio de uma janela. Além disso, a Clínica Integrada possui uma sala equipada com cadeira e aparelho para a tomada de radiografias periapicais e interproximais e dispõe ainda de armário móvel equipado para emergências. No início de cada semestre, os coordenadores das Clínicas Integradas I e II selecionam aleatoriamente os alunos pelos quais os professores orientadores serão responsáveis durante o semestre. Este professor responsável tem como tarefa direcionar e discutir a elaboração dos planejamentos e planos de tratamento, bem como acompanhar a execução dos procedimentos durante todo o semestre. Desta forma, Os professores orientadores são responsáveis por um grupo de oito a dez alunos, responsabilizando-se pelas seguintes atividades: • Orientação de diagnóstico; • Orientação no planejamento e elaboração do plano de tratamento; • Orientação de procedimentos básicos e de adequação do meio bucal; • Orientação nos procedimentos de urgência; • Orientação de biossegurança; • Orientação de ergonomia; • Orientação na relação ética e humanizada entre o aluno e o paciente; • Acompanhamento da execução do plano de tratamento das áreas específicas; 8 • Avaliação global do aluno. Para procedimentos de maior complexidade em uma determinada especialidade odontológica, o professor orientador solicita o auxílio do professor da área específica quando necessário. Desta maneira, o professor da área específica orienta o procedimento em comum acordo com o professor orientador, acompanhando a execução e discutindo o desempenho do aluno durante o procedimento executado, o que contribui para o processo de avaliação. O atendimento clínico aos pacientes e as demais atividades ocorrem de segunda à sexta-feira, das 7h30min às 11h10min para a Clínica Integrada I e das 13h30min às 17h10min para a Clínica Integrada II. Os alunos realizam as atividades em duplas, sendo o período clínico dividido preferencialmente em dois horários (AB e CD), de forma a permitir que cada aluno da dupla possa atender o seu paciente em um desses horários, combinado previamente entre eles. O atendimento em dupla permite que eles trabalhem em sintonia aprendendo a delegar tarefas e reconhecer a importância do auxiliar dentro da equipe de saúde, acompanhem simultaneamente o atendimento de um caso, planejem juntos o tratamento para o paciente e desempenhando a função de auxiliar, acumulem experiência para eles próprios treinarem seu pessoal auxiliar. Como ocorre na maioria dos Cursos de Odontologia, os pacientes atendidos nos Estágios de Clínica Integrada I e II apresentam-se com as mais diversas combinações de necessidade de tratamento. A utilização do Sistema de Informações Acadêmicas (SIA), que possui os perfis de necessidade de tratamento de cada paciente, permite escolher a combinação que mais interessa ao aprendizado de determinado aluno em um dado momento. Desta forma, além de proporcionar uma atuação integrada das diferentes especialidades da Odontologia e oferecer aos alunos a oportunidade de atuação com os perfis mais complexos, exercitando assim a capacidade de planejar e executar os mais diversos tratamentos, pode-se também reforçar alguma área específica em que o aluno venha demonstrando dificuldade, otimizando o aproveitamento do corpo docente. Planejamento e Plano de tratamento Após requisição e agendamento dos pacientes por meio do Sistema de Informações Acadêmicas (SIA), o aluno realiza a anamnese, exame clínico e exames complementares. Constatadas as necessidades de tratamento, executa-se 8 então um planejamento, baseado nestas necessidades. Em seguida é elaborado um plano de tratamento sessão a sessão, que vai orientar o aluno a cada atendimento. Para o planejamento e elaboração dos planos de tratamento, são realizadas as Oficinas de Planos de Tratamento, nas quais os alunos se reúnem e discutem o caso com seu professor orientador e demais professores que compõem o corpo docente, a fim de se avaliar e propor as diferentes alternativas para resolução das necessidades de tratamento odontológico de cada paciente. Posteriormente, os alunos esclarecem aos pacientes e/ou acompanhantes as possibilidades de tratamento, explicando cada procedimento proposto em linguagem acessível. Desta maneira, aluno e paciente discutem e, finalmente, estabelecem o plano de tratamento a ser executado, levando-se em consideração a autonomia e a condição sócio-econômica e cultural do paciente, a fim de promover uma maior participação durante o tratamento. Da mesma forma, qualquer alteração que ocorra no plano de tratamento previamente estabelecido é comunicada ao paciente, explicando-lhe o que a causou e quais as novas possibilidades e perspectivas. Determinado o plano de tratamento, todos procedimentos clínicos executados são registrados nos prontuários dos pacientes e no Sistema de Informações Acadêmicas (SIA). Quando os tratamentos executados são lançados, automaticamente os perfis que foram tratados são eliminados daquele paciente, auxiliando o acompanhamento da história de tratamento dos pacientes. A quantidade de pacientes a serem atendidos por cada um dos alunos é estabelecida pelos professores orientadores, cabendo aos alunos buscar a dar alta a todos os pacientes sob sua responsabilidade, procurando dar resolução às necessidades dos pacientes, conforme seu perfil clínico, não havendo a obrigatoriedade de cumprimento de uma produção mínima em cada uma das áreas do conhecimento odontológico. Discussão de Casos Clínicos Durante o semestre são planejados momentos em sala de aula, visando a promoção de discussões de situações e problemas recorrentes nas atividades clínicas, em que para sua resolução, exija a necessidade da participação das diferentes áreas do conhecimento odontológico. Inicialmente, o corpo docente se responsabiliza pela eleição das situações clínicas, normalmente documentadas em semestres anteriores, e pela condução da discussão dos casos clínicos. Ao final do 8 semestre, os alunos apresentam em forma de seminários os casos realizados que foram selecionados e documentados pelos professores durante o período letivo. Juntamente com a Oficina de Planos de Tratamento, a Discussão de Casos Clínicos se constitui como importante ferramenta durante o processo ensinoaprendizagem dos Estágios de Clínica Integrada I e II, uma vez que a discussão coletiva, entre professores e alunos, de situações vivenciadas na clínica, possibilita a implementação de uma filosofia de tratamento com base no rigor técnico-científico, assegurando padrões de qualidade, e respeito aos princípios éticos, sensibilizando o aluno quanto à necessidade de um atendimento integral ao paciente considerando aspectos afetivos, sociais e culturais. Plantão de Triagem Todos os pacientes que pleiteiam tratamento odontológico nas clínicas do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza passam obrigatoriamente pelo Setor de Triagem, sendo que o número e horário de atendimento dos pacientes são previamente agendados. Durante o período letivo, os alunos das Clínicas Integradas I e II participam obrigatoriamente do atendimento no Setor de Triagem, cumprindo o horário de funcionamento conforme escala estabelecida no início do semestre. Os alunos escalados ficam à disposição do Setor de Triagem durante toda a semana em que forem escalados e durante estes atendimentos, os alunos têm seus desempenhos avaliados pelos professores responsáveis pelo Setor de Triagem. Na impossibilidade de comparecimento no dia que estiver escalado, o aluno deve, antecipadamente, providenciar um substituto, trocando com este o seu dia de atendimento no Setor de Triagem, devendo tal substituição ser comunicada, previamente, à Coordenação das Clínicas Integradas I e II. Plantão de Urgência Odontológica A Urgência Odontológica é um serviço oferecido de segunda a sexta-feira nos períodos da manhã e tarde das 07h00min às 11h00min e das 13h00 às 17h00. Compete aos alunos do último período que tratam pacientes prioritariamente com diagnóstico de pulpites, fraturas, pericementites, abscessos, DTM, pericoronarite. No plantão de urgência o aluno pode experienciar com mais facilidade o diagnóstico e tratamento imediato para o alívio das dores da cavidade bucal. Este é um relevante 8 serviço prestado à comunidade, visto que poucos serviços prestam gratuitamente o atendimento de urgência odontológica. Ao chegar, o paciente é abordado por uma assistente social que organiza os casos por prioridade de atendimento, considerando necessidades especiais e aspectos subjetivos da dor. Após o cadastro na recepção o paciente flui para o plantão de Triagem a fim de constatar se o caso é realmente de urgência, pois muitas pessoas têm necessidade de pronto atendimento e buscam a satisfação dessa necessidade na urgência. Não se tratando de um procedimento de urgência, o paciente é devidamente orientado a procurar outros serviços ou agendado Triagem, havendo vaga disponível, para aguardar tratamento. Os atendimentos de urgência e triagem ocorrem normalmente no período de férias garantindo a continuidade do atendimento. Nesses períodos, os alunos da Clínica Integrada I realizam o atendimento no Plantão de Urgência e no Setor de Triagem e Radiologia, conforme escala estabelecida pela Coordenação das Clínicas Integradas, permitindo o fluxo contínuo desses serviços à população. A Clínica de Adequação A Clínica de Adequação surgiu de uma necessidade observada pelos alunos e professores que realizavam a visita domiciliar na comunidade do Dendê, como parte das atividades curriculares do Estágio Extra-Mural I, que também são alunos da Clínica Integrada. Durante as visitas era grande o número pessoas de que necessitavam de atendimento odontológico e esse paciente não fluía naturalmente para o Curso de Odontologia, isso criava uma frustração no aluno que havia diagnosticado uma situação de doença e tinha meios para limitar o dado, no entanto, esbarrava em alguns entraves operacionais e o paciente visitado seguia com sua lamentação e com o quadro tendo sua severidade agravada. Desde 2003.1 esse fluxo mudou: o aluno que realizava a visita domiciliar e diagnosticava necessidade de tratamento, passou a agendar esse paciente para ele mesmo atender na Clínica Integrada, permitindo uma integração das atividades da Clínica com o Estágio Extra-Mural. O paciente é atendido numa proposta de adequação da cavidade bucal e é trabalhada uma proposta para que o paciente se compreenda como sujeito de seu processo de cura. Dessa forma o aluno é responsável integralmente pelas ações de saúde daquela família acompanhando 8 inclusive todo o impacto que as ações de saúde têm no lar dessas pessoas e estreitando o vínculo do profissional com a família. Na Clínica de Adequação são realizados procedimentos que visem o preparo da cavidade bucal para o atendimento posterior, dessa forma são realizados procedimentos de: •selamento provisório de cavidade, •abertura endodôntica, •remoção de tártaro supragengival, •remoção de raízes residuais •restaurações de pequena complexidade Finalizada a adequação, o paciente é encaminhado ao setor responsável para a realização da Triagem ou agendamento para uma data posterior a fim de que seja dada continuidade ao restante do tratamento. É importante ressaltar que todas as pessoas atendidas pela clínica de adequação são oriundas da Comunidade do Dendê, que têm um perfil sócioecomômico muito baixo, o que acaba expondo essa comunidade a uma série de fatores de adoecimento. A Clínica de adequação foi pensada para atender fundamentalmente o princípio da eqüidade e justiça preconizado pelo Sistema Único de Saúde. Avaliação Os alunos têm sua prática avaliada diariamente segundo Aspectos Gerais do atendimento em que é avaliado o desempenho da dupla contemplando aspectos de Organização e planejamento, Biossegurança, trabalho a 4 mãos e cuidado e atenção durante o atendimento, e são avaliados individualmente pelo resultado do procedimento realizado, nas categorias satisfatório, regular ou não satisfatório registrados numa planilha própria para este fim. Tais avaliações culminam com notas que são divulgadas mensalmente. Mas, o mais relevante da avaliação é a capacidade de poder considerar o aspecto progressivo da aquisição de aprendizado e autonomia, dessa forma, se o aluno que tinha deficiência em determinado procedimento buscou superá-lo, na avaliação é considerado este aspecto e não a simples média de notas diárias. Os professores são orientados a periodicamente reunirem –se com seus orientandos para deixar claro quais aspectos necessitam de 8 aperfeiçoamento, e de como foi construída sua nota mensal. Essa clareza na construção da nota tem sido um aspecto de impacto muito positivo relatados pelos alunos pois lhes dá a clareza de suas limitações e a nota deixa de ser usada como um instrumento de poder e punição. Os sentimentos Os semestres finais são recheados de sentimentos e emoções extremamente opostas: felicidade por chegar ao último ano, insegurança por ter que adquirir mais autonomia no tratamento do paciente, vitória por concluir o curso, angústia por ter que iniciar uma caminhada para se inserir no mercado de trabalho... Esse carrossel de emoções deixa o aluno confuso e tem reflexo no seu aprendizado e no desempenho clínico. Começam a se questionar ‘E se aparecer algum problema no atendimento, como vou resolver ?’ ‘Eu não sei fazer isso sozinho.’, ‘E agora que acabei o curso, pra onde eu vou?’ Resolvemos então procurar administrar essas emoções para que elas tivessem uma proposta pedagógica: aprender a conviver com conflitos. Foram identificados os alunos que percebemos com maior dificuldade e junto com o professor orientador procurou-se discutir com eles os aspectos que mais o incomodavam, possibilidades de solução, objetivos a curto e longo prazo e vínculos estabelecidos. Com o apoio da Comissão de Humanização, é realizado um momento de culminância em que são planejadas vivências sobre as questões expostas, com o objetivo de fazer com que o aluno perceba que aquele momento de dificuldade é transitório e é necessário descobrir um equilíbrio para buscar o caminho que mais satisfaça as necessidades individuais. O modelo integrado é uma construção diária de professores, alunos e funcionários, numa proposta de aprendizado mútuo, em que as relações e o diálogo são instrumentos indispensáveis para alcançar o plano proposto, exercitando a flexibilidade para reconhecimento de limitações, abertura para apropriação de novos conhecimentos e atitudes e uma profunda reflexão crítica sobre a prática de ser educador. 8 CAPÍTULO 6 Controle de Infecção no Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) Danilo Lopes Ferreira Lima Dilene Maria de Araújo Façanha Aminthas Alves Brasil Neto Elilton Cavalcante Pinheiro Júnior Solange Kátia Saito Fernandes Luiz Roberto Augusto Noro 1. INTRODUÇÃO A década de 80 notabilizou-se pelo aparecimento da Síndrome da Deficiência Imunológica Adquirida (AIDS), o que levou os profissionais da área de saúde a reverem todos os seus conceitos que se referiam à proteção individual e à proteção de seus pacientes (BRASIL, 2000). Reflexo deste problema e considerando os danos que a infecção hospitalar podem causar, o Ministério da Saúde (BRASIL, 1983), por meio da Portaria 196, de 24 de junho de 1983, condiciona o funcionamento de qualquer hospital à implementação em suas dependências, de uma comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH). Entre os elementos propostos nas atividades das CCIHs estão as sugestões de medidas que resultem na prevenção ou redução das infecções hospitalares, a normatização para implantação destas medidas e o treinamento do pessoal envolvido. Assim, o objetivo maior de um programa de controle de infecção hospitalar (BRASIL, 1987) deve ser o de reduzir a agressão diagnóstica e terapêutica ao paciente, expondo-o a um ambiente tão pobre de microrganismos quanto aquele a que seria exposto fora do hospital. Estas Comissões permitiram uma série de avanços nas discussões relativas aos cuidados necessários visando a proteção do paciente e dos profissionais nos serviços de saúde, em decorrência dos riscos representados por procedimentos operatórios que envolvessem áreas de potencial infeccioso. Na realidade, esta discussão extrapolou os hospitais e permitiu que outros serviços de saúde, em 9 especial os odontológicos, desenvolvessem farto material didático visando a formação de profissionais de saúde mais preparados para enfrentamento destes problemas, assim como apresentassem serviços que representassem o menor risco possível ao paciente. Em decorrência destas necessidades, é publicado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1987, 1994, 1996, 2000) vasto material que vai servir de referencial teórico visando instrumentalizar os serviços de saúde e seus profissionais na busca nos níveis mais baixos de infecção possível. Sabe-se que os componentes da equipe odontológica (BRASIL, 1994) estão sob risco constante de adquirir doenças no exercício de suas funções, sendo responsabilidade do cirurgião-dentista a orientação da equipe e a manutenção do controle de infecção na prática odontológica. Na área da odontologia, o Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1995) emite o primeiro instrumento legal que detalha as condições ideais de trabalho relacionadas ao controle de doenças transmissíveis em estabelecimentos de assistência odontológica, permitindo a atuação de forma efetiva das equipes de vigilância sanitária na garantia de mecanismos adequados para funcionamento deste tipo de estabelecimento. Este conjunto de procedimentos que visa dar segurança e proteção ao paciente e aos profissionais que atuam dentro de ambientes passíveis de contaminação microbiana conhecido como biossegurança (OPPERMAN, 2003) é um processo operacional de fundamental importância em serviços de saúde, não só por abordar medidas de controle de infecções, mas por ter um papel fundamental na promoção da consciência sanitária, na comunidade onde atua, da importância da preservação do meio ambiente na manipulação e no descarte de resíduos químicos, tóxicos e infectantes e da redução geral de riscos à saúde e acidentes ocupacionais. 2. O CONTROLE DE INFECÇÃO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR 9 Criado em 1995, o Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) teve como preocupação primeira a conduta exemplar no que se refere à proteção daqueles que utilizam as dependências do curso, sejam eles professores, alunos, funcionários ou pacientes. Além de preparar o aluno por meio da melhor formação possível nos aspectos técnicos relacionados à prática odontológica, o Curso de Odontologia da UNIFOR sempre primou em evidenciar os cuidados com seus pacientes e com eles próprios, por meio da prevenção das infecções que cercam o ambiente da clínica odontológica. Com o objetivo de servir de articulador entre todos aqueles que atuam dentro das dependências do Curso de Odontologia, bem como de gerir programas que venham sempre buscar o aprimoramento e a atualização sobre prevenção de infecções buscando o respeito pelo próximo na realização desta prática, foi criada no dia 12 de fevereiro de 1998 a Comissão de Controle de Infecção do Curso de Odontologia (CCICO) da UNIFOR, ficando normatizado que esta comissão se reuniria ordinariamente uma vez ao mês e teria como membros efetivos, uma enfermeira, um representante dos funcionários, um representante dos alunos e um representante dos professores. Esta comissão é regida pela resolução n. 003/98 de 12 de Fevereiro de 1998. Muitas atividades têm sido desenvolvidas pela Comissão de Controle de Infecção desde a sua implantação, como: aulas teórico-práticas para os alunos que iniciam o atendimento clínico, atualização para professores recém admitidos e aos demais alunos que já estão em atendimento clínico; campanhas de conscientização sobre uso de equipamento de proteção individual (luva, máscara, gorro, avental, óculos protetor), uso correto de filme protetor de superfícies, a não utilização de anéis, relógios etc. durante o atendimento clínico, a prevenção de acidentes com materiais pérfuro-cortantes, a limpeza, desinfecção e esterilização correta dos kits de canetas de alta e baixa rotação e o incentivo a vacinação como método de prevenção de doenças infecto-contagiosas. Também foi instituída a notificação de acidentes ocupacionais dentro do Curso de Odontologia com o objetivo de se ter dados concretos e de se obter as reais causas com relação a este importante problema, buscando o correto encaminhamento para um hospital de referência e acima de tudo, a prevenção. A Comissão também divulga o seu trabalho em jornadas acadêmicas por meio da montagem de mesa clínica, apresentação de trabalho e premiações. Outro avanço obtido pela CCICO-UNIFOR 9 foi a classificação do lixo visando a reciclagem, já que a demanda de papel utilizado no Curso é muito grande. Uma importante característica desta comissão é a mudança constante de membros a cada mandato de um ano, sendo permitida a reeleição, para que todos pudessem ter a oportunidade de participar deste importante trabalho dentro do Curso. Desde então vários professores, funcionários e alunos se revezaram nesta função e isto fez com que o programa de Controle de Infecção existente no Curso de Odontologia da UNIFOR fosse reconhecido até mesmo fora do Estado do Ceará, sendo visitado por representantes de diversos cursos de Odontologia espalhados pelo país, para servir de espelho na implantação e implementação de seus programas de controle de infecção em Odontologia. Outra grande conquista dos avanços obtidos a partir do trabalho desenvolvido pela CCIO foi a confecção do “Manual de Normas e Rotinas de Atendimento Clínico no Curso de odontologia da UNIFOR” que tem como objetivo (Stefani et al, 2004) nortear o atendimento clínico no Curso de Odontologia da UNIFOR, quanto ao funcionamento das clínicas, o controle de infecção, a segurança e o conforto no trabalho. Este manual é entregue a cada aluno para que observe a conduta a ser tomada por eles dentro dos laboratórios e clínicas e está em constante revisão e atualização para que estejamos sempre em dia com as descobertas e novas ações nesta área. 3. NORMAS E ROTINAS PARA O ATENDIMENTO CLÍNICO NO CURSO DE ODONTOLOGIA O Curso de Odontologia da UNIFOR conta com duas clínicas que possuem ao todo 100 boxes equipados com equipo odontológico, cadeira, refletor, dois mochos, dois cestos de lixo, uma pia com bancada e um armário para apoio. A clínica multidisciplinar possui 64 boxes e dois pontos de apoio radiográfico e a clínica integrada possui 36 boxes e um ponto de apoio radiográfico, estando esta última 9 anexa ao laboratório de radiologia. Existem ainda mais três laboratórios e um centro cirúrgico para cirurgias eletivas. Na realização do atendimento, cada aluno deve seguir um rigoroso protocolo de biossegurança, começando por sua vestimenta que consta de uniforme branco e sapatos apropriados. No momento do atendimento o aluno deverá estar paramentado com jaleco padronizado, gorro ou touca, máscara, óculos de proteção e luvas. O paciente também recebe barreiras de proteção que constam de óculos de proteção, touca, babador impermeável e guardanapo, sendo estes três últimos descartáveis. Porém, para chegar ao atendimento um caminho deve ser trilhado. Tudo se inicia com o preparo e empacotamento do material para esterilizar. O aluno recebe o papel grau cirúrgico com filme na Central de Materiais e Esterilização (CME), nos quais os instrumentais limpos e secos devem ser colocados, seguido da selagem deste papel em máquina seladora automática. Uma técnica para empacotamento que também pode ser utilizada é a do envelope, em que duas folhas de grau cirúrgico sem filme as quais são cuidadosamente dobradas, na forma de um envelope. Após o empacotamento, os instrumentais são identificados com etiquetas específicas e em seguida são entregues para a esterilização em autoclave a vapor na Central de Material e Esterilização (CME). Na identificação do instrumental do aluno consta uma numeração própria, já que dentro da CME cada aluno possui um nicho para guarda e controle da esterilização de seus instrumentais, para que assim possa ser supervisionado esse processo e mantida a qualidade da esterilização desses materiais. A esterilização é realizada em autoclaves a vapor saturado sob pressão, máquinas de grande capacidade que trabalham a 121 0C em 1 atmosfera durante 20 minutos para materiais termo-sensíveis (vidros, plástico e borracha) ou a 132 0C, com 2 atmosfera durante 6 minutos para materiais termo-resistentes (instrumentais de aço inox, campos cirúrgicos, gaze, algodão, kits de alta e baixa rotação). Este processo é recomendável uma vez que destrói todas as formas de vida microbiana, vegetativa ou esporulada. As autoclaves do curso passam diariamente por testes biológicos com incubadora de leitura rápida e testes químicos (integrador, Bowie Dick e fita teste em todos os pacotes e/ou teste químico de pacote), bem como a 9 manutenção preventiva periódica de todas as máquinas, treinamento e reciclagem dos funcionários que trabalham no setor, para uma maior qualidade desse processo. Assim, nunca deve-se desinfetar aquilo que pode-se esterilizar. Dentro da Central de Materiais e Esterilização existe um local chamado de sala de recepção e expurgo, que recebe o material contaminado utilizado nas clínicas pelos professores. Dentro desta sala ocorre a limpeza com solução enzimática, enxágüe com água corrente, lubrificação apropriada e secagem do instrumental. Da sala de expurgo o material segue para o setor de seleção e preparo de materiais, no qual ocorre a classificação dos materiais em sensíveis e resistentes. Após a classificação, faz-se a proteção das pontas dos instrumentos pérfuro-cortantes, segue com o empacotamento e identificação para serem distribuídos em cestas aramadas. Todo material vai em seguida em carro transporte para a sala de esterilização, onde é realizada a autoclavagem. O material do aluno é recebido, na sala de recepção e expurgo, devidamente limpo, embalado e identificado onde serão inspecionados e conferidos, sendo encaminhados também para o setor de seleção e preparo de materiais, onde passam pela segunda inspeção e são selecionados em cestos aramados para então serem encaminhados para a esterilização. Após a esterilização, o instrumental vai para a sala de guarda e distribuição, sendo armazenados nos nichos numerados pertencentes a cada aluno. Nesta mesma sala, que possui janela de distribuição que é de acesso pelo interior da clínica, é realizada a entrega do material esterilizado aos professores, alunos e funcionários. O aluno antes de receber o instrumental estéril, já deve ter preparado o seu consultório para o atendimento clínico colocando as barreiras de proteção (filme de PVC) nas cadeiras, equipos, refletores e cuspideiras, utilizando também a paramentação individual anteriormente descrita, além de receber os materiais de consumo em carro suporte de distribuição dentro da clínica, antes de iniciar o atendimento ao paciente. Após o atendimento, haverá a desmontagem do consultório, que ocorre com a remoção das barreiras de proteção, e o aluno deverá estar devidamente paramentado com a proteção de luvas. Os materiais pérfuro-cortantes utilizados são descartados em caixas apropriadas e/ou incinerados e o instrumental utilizado deve ser colocado em depósito com solução de detergente enzimático, sendo alguns instrumentos levados ao ultra-som. Após 15 minutos imersos na solução enzimática é efetuada a escovação e em seguida o 9 enxágüe com água corrente. Para esse procedimento de limpeza dos instrumentais é necessário o uso de óculos de proteção, gorro, máscara, avental impermeável e luvas grossas de cano longo específicas para tal. Outro grande desafio de qualquer Comissão de Controle de Infecção está na prevenção de acidentes, principalmente por instrumentos pérfuro-cortantes. Na busca da redução sempre maior deste tipo de acidente a CCICO-UNIFOR vem, constantemente, realizando campanhas entre os alunos conscientizando sobre o problema que, na grande maioria das vezes, ocorre com agulhas. Para tanto, as clínicas possuem incineradores de agulhas e extratores de canhão, evitando assim, o reencapamento de agulhas ou a retirada destas com os dedos. Outra opção de descarte são as caixas para instrumentos pérfuro-cortantes distribuídas em vários pontos das clínicas, com o objetivo de haver o mínimo deslocamento dos alunos para estes depósitos. Uma vez ocorrendo algum tipo de acidente com instrumentos pérfuro-cortantes, o acidentado deve seguir um protocolo de atendimento que é elogiado por aqueles que trabalham no hospital de referência de doenças infectocontagiosas do Estado do Ceará, o Hospital São José. Este protocolo consta de: - Estimulação espontânea do sangramento da ferida sem espremer; - Lavar com água corrente e sabão anti-séptico líquido; - Realizar anti-sepsia com iodo-povidona a 1% ou clohexidina (em caso de alergia ao iodo); - Se necessário, fazer curativo com gaze estéril, fita micropore, esparadrapo, ou proceder com sutura; - Preencher ficha de Comunicação Interna de Acidente de Trabalho em 3 vias; - Encaminhar o acidentado ao Hospital São José, juntamente com a 2a via da ficha de acidentes (na maioria dos casos). - Exames a serem realizados: Paciente/fonte; Aluno acidentado. - Acompanhamento sorológico após 6 semanas, 3 meses, 6 meses e 12 meses. 9 Todos os acidentes ocupacionais ocorridos estão notificados e arquivados para controle da CCICO-UNIFOR. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Implantar normas é, em geral, algo desafiador considerando a dificuldade de, muitas vezes, as pessoas não reconhecerem a importância e pertinência das mesmas. Quando exigem rigor e precisão, como é o caso do controle de infecção em serviços de saúde, esta dificuldade é ainda maior. E, quando devem ser seguidas por pessoas com diferentes inserções (alunos, professores e funcionários) em instituição de ensino superior, onde o serviço é complementar às ações de ensino, este desafio ganha uma característica ainda mais sutil: colocar todos os participantes como co-responsáveis num processo onde cada um dos atores desempenhará papéis diferentes mas que terão que ter uma mesma prática e postura numa determinada atividade. Sabe-se que o controle de infecção é um processo progressivo e contínuo, devendo constantemente ser atualizado e supervisionado para se garantir padrões adequados de qualidade. Ao longo destes 10 anos do Curso de Odontologia da UNIFOR, apesar de todas as dificuldades para desenvolvimento em harmonia das normas e rotinas, o marco das ações de controle de infecção tem sido o reconhecimento por parte de todos da necessidade e urgência no pleno desenvolvimento destas atividades. O que se prega é que estas atividades não devem por em risco qualquer um dos participantes do processo terapêutico, permitindo que a satisfação obtida pelo paciente, com seu novo sorriso, pelo funcionário, no oferecimento de material em perfeitas condições, pelo aluno, com seu novo aprendizado e pelo professor, na sensação do dever cumprido na formação do aluno, não sejam minimizados por processos infecciosos preveníveis na prática odontológica. 9 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BRASIL. Ministério da Saúde. Hepatites, AIDS e herpes na prática odontológica. 1a. ed. Brasília, Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS. 1994. 56p. BRASIL. Ministério da Saúde. Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimento de Saúde. 2a. ed. Brasília, Secretaria de Assistência à Saúde. Dep. Ass. e Prom. de Saúde. Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar. 1994. 50p. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 196, de 24 de junho de 1983. Brasília, 1983. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria Nacional de Organização e Desenvolvimento de serviços de saúde. Manual de Controle de Infecção Hospitalar. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1987. 122 p. BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Coordenação Nacional de DST e Aids. Controle de infecções e a prática odontológica em tempos de Aids: manual de condutas. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. OPPERMAN, C. M. Manual de biossegurança para serviços de saúde. Porto Alegre: PMPA/SMS/CGVS, 2003. p. 80 SÃO PAULO. CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. PORTARIA CVS Nº 11, DE 04/07/1995 - Dispõe sobre condições ideais de trabalho relacionadas ao controle de doenças transmissíveis em estabelecimentos de assistência odontológica.São Paulo, 1995. STEFANI, C.M.; ARAÚJO, D.M.; ALBUQUERQUE, S.H.C. Normas e rotinas para o atendimento clínico no Curso de odontologia da UNIFOR. Fortaleza: Universidade de Fortaleza, 2004. 82p.: il. TAGLIAVINI, R. L. Prevenção de doenças ocupacionais em odontologia, São Paulo, 1998. 9 CAPÍTULO 7 Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de Odontologia – SIA/ODONTO Karol Silva de Moura Eveline Turatti Lívia Belchior Gomes de Matos José Leitão de Castro Feitosa José Raimundo Matos Miranda INTRODUÇÃO As discussões inerentes a este capítulo são pertinentes ao processo de implantação e gerenciamento do Sistema de Informações Acadêmicas do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza – SIA/ODONTO/UNIFOR. A década de 70 coloca-se como marco importante, a partir do qual as empresas, serviços e, mais recentemente as universidades, passaram a investir em uma forma organizada e integrada de agilizar seus processos de trabalho, tendo como referência as contribuições da tecnologia da informação e das políticas de otimização de recursos na construção de um referencial de excelência no processo de gestão acadêmica. Nosso objetivo é oportunizar a diferentes segmentos da área acadêmica o conhecimento da experiência vivenciada com as rotinas de gerenciamento do SIA/ODONTO, enfocando desde o levantamento de necessidades realizado para sua instalação; a estrutura operacional de elaboração; as estratégias de implantação adotadas; as rotinas de monitoramento, às contribuições do SIA na gestão acadêmica do Curso de Odontologia, considerando as diferentes categorias de usuários representados pelos alunos, professores e funcionários. SISTEMAS DE CONCEITUAIS. INFORMAÇÕES: ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS Define-se como um sistema de informações gerenciais – SIG uma estrutura de pessoas, máquinas e procedimentos destinados à geração de um fluxo de informações, podendo estas serem internas ou externas à organização, para uso no 9 processo de decisão, nos mais diversos níveis hierárquicos da organização (OLIVEIRA, 1999). Seus principais objetivos são: i) dar suporte ao corpo gerencial para a tomada de decisões, gerando informações no tempo em que elas são úteis; ii) melhorar o desempenho de todas os envolvidos no SIG de modo que todas as atividades da organização possam estar interligadas. O conceito de sistema de informações gerenciais, em outras áreas (computação, informática, etc.) consiste de uma ferramenta de software que, a partir de informações ou dados preliminares, realiza uma análise e sugere a tomada de uma decisão, a qual deverá ser analisada pelas pessoas responsáveis por este processo. No contexto atual, considera-se o SIA um sistema de apoio à decisão em processos gerenciais, classificado como OLTP(Processos de transação on-line). Quando uma organização decide trabalhar com um sistema de informações, deve analisar a relevância quanto aos objetivos e metas desejadas e que grau de importância ele exercerá no processo de tomada decisorial. É necessário distinguir quais as informações o sistema deve disponibilizar, identificando também os objetivos de cada setor e necessidades dos usuários que farão uso da ferramenta e dos dados disponibilizados pelo sistema, nos seus diferentes níveis de funcionalidade dentro da organização (CRUZ, 2002). O Curso de Odontologia da UNIFOR possui uma estrutura organizacional vinculada ao Centro de Ciências da Saúde – CCS e à Vice Reitoria de Graduação – VRG, sendo composto pelos seguintes setores: • Administrativos: coordenação, secretaria do curso, sala técnica e administrativa; • Clínicos: clínica de triagem, clínica de radiologia, clínica multidisciplinar e clínica integrada; • Acolhimento: recepção e serviço social; • Central de Material de Esterilização - CME. Nestes setores estão distribuídos os usuários do sistema de informações acadêmicas, ou seja, alunos, professores e funcionários. Ressalta-se, no entanto, que na atual fase de aplicabilidade do SIA/ODONTO, os setores aos quais o sistema encontra-se interligado operacionalmente resumemse aos setores administrativos, mas especificamente a coordenação, clínicos e de 1 acolhimento, que estabelecem uma interface direta com o fluxo de pacientes atendidos no Curso. Deste modo faz parte do Plano de Metas do Curso de Odontologia a extensão do SIA à CME após a expansão de sua atual estrutura física. O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO SIA – HISTÓRICO Criado em 1995, o Curso de Odontologia, a partir do início de suas atividades veio apresentando uma demanda crescente de busca da população pelos serviços originalmente planejados a serem prestados à comunidade. Nesta perspectiva, vislumbrou-se a necessidade de se criar um Sistema de Informações Acadêmicas, que fosse capaz de facilitar e otimizar o gerenciamento do fluxo de pacientes de modo integrado ao processo de formação do aluno de odontologia, ou seja, integrando a demanda social da coletividade às habilidades e competências adquiridas pelo aluno de acordo com seu estágio de formação. Ao mesmo tempo, como previsto no Currículo Mínimo para os Cursos de Odontologia, pudesse trazer algumas contribuições práticas à compreensão do processo de gerenciamento e administração de recursos, ressaltando elementos importantes no percurso de aprendizagem dos alunos, como: o trabalho em equipe, o impacto, no planejamento, da consolidação das redes de informação e a importância da construção de indicadores epidemiológicos, sociais e operacionais que sirvam de subsídios ao planejamento, monitoramento e avaliação dos serviços prestados, consolidando uma prática fundamentada nos princípios éticos que norteiam a busca por um acolhimento de qualidade à clientela. O Sistema de Informações Acadêmicas foi inicialmente desenvolvido por uma equipe formada por professores do Curso de Odontologia em parceria com a Gerência de Tecnologia da Informação – GTI da UNIFOR. Esta parceria se fez essencial para que as reais necessidades do curso pudessem ser traduzidas e codificadas na linguagem de sistema. Vale salientar o incentivo da equipe de coordenação do curso, neste período, como mentor da proposta inicial e motivadora da busca de outras experiências no âmbito acadêmico, em processo de informatização de fluxos gerenciais, que pudessem servir de referência à elaboração da estrutura operacional do SIA. Nesta perspectiva foi visitada a Faculdade de Piracicaba de Odontologia da Universidade 1 de Campinas, cujo modelo de informatização proporcionou o conhecimento de alguns importantes elementos operacionais e gerenciais. No segundo semestre de 1999, foi implantada sua primeira versão, na perspectiva de um funcionamento piloto para identificação e implementação dos ajustes necessários. A fase piloto teve uma duração de um ano consolidando-se a partir daí a versão operacional implantada em 2000, a qual foi desenvolvida utilizando-se da ferramenta Develop2000, da Oracle, baseada na arquitetura ClienteServidor. Atualmente o sistema encontra-se em sua segunda versão. Desde então, o sistema vem tendo um constante estímulo, da atual equipe de coordenação, e incorporando um conjunto de novas funcionalidades, requeridas ao bom funcionamento do Curso de Odontologia da UNIFOR. Dentre as mais significativas, podem ser citadas melhorias em sua usabilidade, facilitando o acesso a rotinas mais freqüentemente utilizadas e tornando as interfaces (telas) do sistema mais amigáveis. Esta é uma característica importante dado que quase sempre os usuários não possuem formação na área de tecnologia da informação. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento do SIA se deu de acordo com as etapas a seguir, consideradas padrão em todo processo de criação, implantação e acompanhamento de Sistemas de Informação (FERNANDES & ALVES, 1992): Requisitos: Nesta etapa foram feitas entrevistas com os responsáveis dos principais setores envolvidos com o projeto de informatização. O principal objetivo dessa fase foi conhecer o fluxo de gerenciamento vigente, fluxo de funcionamento dos processos envolvidos, para a montagem de uma proposta de informatização. Primeiramente foram elaboradas planilhas de procedimentos padrões que os professores preenchiam a mão, registrando a produção diária da clínica. Após um tempo de utilização destas planilhas, passamos para a fase seguinte de elaboração do sistema, contemplando a rotina do nosso curso. Foi uma fase de muito trabalho, onde a participação dos professores, com sugestões, foi extremamente importante. A cada disciplina foi solicitada a relação dos procedimentos que ela consideraria importante que entrasse na lista dos procedimentos realizados. Depois 1 disso, os procedimentos comuns a várias disciplinas foi agrupado em um único grupo, e os específicos receberam a nomenclatura da disciplina que os originaram. Paralelamente a isso acontecia o cadastro de todos estes procedimentos, incluindo suas particularidades, como, por exemplo, a classificação das classes de restaurações e seus dentes respectivos. Finalmente, foi definido que o sistema seria totalmente integrado com o sistema acadêmico da UNIFOR e que os dados seriam hospedados em um servidor de banco de dados Oracle. No levantamento dos requisitos fundamentais à elaboração da versão inicial do SIA foram destacados os seguintes aspectos, ou necessidades: GERENCIAIS: • Desenhar as funções e responsabilidades de cada setor, que compõem o curso e a sua importância na qualidade do produto final dispensado aos clientes internos: alunos e professores e clientes externos: pacientes; • Identificar dentro do fluxograma curricular todas as disciplinas clínicas, com atendimento de pacientes, para cadastro por área, definição de seus perfis de atendimento: características e complexidade e procedimentos padrão para cada protocolo de atendimento; • Informatizar as diferentes etapas que compõem o atendimento dos pacientes no curso, considerando o seu acolhimento; cadastro; perfil de necessidades em saúde bucal; complexidade de atendimento; caracterização sócio-econômica; encaminhamento às clínicas de atendimento; plano de tratamento elaborado; agendamentos de retorno; procedimentos realizados; necessidades de encaminhamento a outros centros de atendimento específicos de odontologia ou, de acordo com a necessidade diagnosticada, encaminhamentos para outras áreas, como: fonoaudiologia, fisioterapia, otorrinolaringologia, terapia ocupacional, nutrição, dentre outras; encerramento do plano e alta do paciente; • Formatar uma base de dados, que viabilize a construção de indicadores de suporte ao planejamento, monitoramento e avaliação 1 dos serviços prestados, ressaltando-se a caracterização do perfil epidemiológico e social dos pacientes atendidos no curso, bem como, a criação de informações pertinentes ao gerenciamento do fluxo de atendimento, como: capacidade de atendimento das disciplinas por semestre; duração média do tratamento dos pacientes, considerando as especificidades de cada área; tempo de espera dos pacientes para o atendimento após o cadastro e vazão de atendimento das clínicas segundo o sistema de trabalho adotado pelas disciplinas; • Controlar o fluxo de pacientes no curso, para tanto, acompanhar o funcionamento e rotina dos setores para elaboração de fluxos e encaminhamentos necessários; • Identificar o perfil de recursos humanos necessários no processo de gerenciamento do SIA; • Enumerar, após a elaboração da proposta de implantação, as estratégias de sensibilização e qualificação dos usuários; • Normatizar e documentar o fluxo de atendimento dos pacientes e os processos de trabalho de suporte em cada setor. PEDAGÓGICAS: • Elaborar uma ferramenta de suporte ao acompanhamento pedagógico dos alunos, pelos professores, no desenvolvimento de suas atividades práticas, mas especificamente, na elaboração, execução e controle dos procedimentos técnicos realizados; • Fomentar a criação de uma base de dados de suporte à realização de pesquisas no âmbito da odontologia; • Trabalhar as bases referenciais do planejamento em saúde ressaltando questões de natureza teórica, metodológica, técnica e instrumental, que possam contribuir com uma formação acadêmica voltada ao enfrentamento dos problemas e atendimento as necessidades da população delimitadas em função de seus critérios geográficos, demográficos, epidemiológicos e sociais. Além de se fazer um estudo de custos de instalação, equipamentos e modificações estruturais necessárias. Análise e Projeto: 1 Foi utilizada a metodologia da análise estruturada utilizando-se ferramenta CASE (Engenharia de Software Auxiliada por Computador) para definição de diagramas de fluxo de processos. Também foram elaborados o projeto de definição da estrutura do banco de dados e seus relacionamentos, a hierarquia, o fluxo de dados e diagramas hierárquicos de funções. Desenvolvimento: Nesta fase ocorreu a etapa de codificação ou programação e testes dos fluxos definidos na etapa de projeto. Atualmente o sistema encontra-se em manutenção contínua, para adequação das novas necessidades identificadas, ou mesmo implementações que viabilizem a incorporação ideal de todas as necessidades levantadas na fase de requisitos as quais não foram, ainda, na íntegra viabilizadas, conseqüentemente busca constantemente a melhoria dos serviços associados ao mesmo. A equipe de suporte e gerenciamento in loco do SIA/ODONTO é composta por uma Professora com formação em Odontologia, um recurso humano de nível médio que auxilia os professores e alunos na utilização do SIA e uma Analista de Organização e Métodos – O&M, que mantém a interface com a Gerência de Tecnologia da Informação, responsável pela análise e operacionalização das implementações solicitadas, pelos usuários, em prol da maior aplicabilidade do SIA às necessidades organizacionais do Curso do Odontologia. O sistema acadêmico encontra-se disponível em todos os computadores do curso de odontologia, assim distribuídos: Quadro 1. Informativo consolidado da distribuição de equipamentos por espaços no curso de odontologia. Universidade de Fortaleza. Período: 2005.1 Local Sala dos Professores Secretaria do Curso Coordenação Recepção Serviço Social Clínica de Triagem Clínica de Radiologia Clínica Integrada Clínica Multidisciplinar Núcleo de Pesquisa da Odontologia TOTAL Quantitativo de Computadores 02 01 02 06 01 01 02 05 08 02 30 1 CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE DE TI As características do ambiente de TI foram divididas em dois tópicos: a) Requisitos de Hardware; b) Requisitos de Software. a) REQUISITOS DE HARDWARE: Requisitos de hardware mínimos recomendados, das estações clientes: A configuração mínima para execução do sistema encontra-se abaixo: Microcomputador Pentium 266 MHz Memória: RAM (Randon Access Memory) de 64 Mb HD (Hard Disk – Disco Rígido) de 8Gb Vídeo: monitor de vídeo SVGA com resolução 800 X 600 ou superior e placa de rede para conexão à rede local. Conectividade: acesso à rede local. Requisitos de hardware mínimos recomendados, do servidor: devem ser dimensionados em função das necessidades e porte da Instituição em que será instalado. b) REQUISITOS DE SOFTWARE DAS ESTAÇÕES CLIENTES O SIA pode ser executado em computadores que dispõem do sistema operacional Windows 98 ou versões mais recentes (Windows 98 SE, Windows Millennium, Windows 2000 e Windows XP). Oracle Developer 2000 Run-time. Esse software permite a conexão e interface do SIA com o banco de dados localizado nos servidores da Universidade via protocolo IP (Internet Protocol). Os computadores nos quais o SIA está instalado devem estar conectados em uma rede local com velocidade de 10Mbps, para obter acesso à base de dados Oracle (SGBD - Sistema Gerenciador de Banco de Dados). POLÍTICA DE ACESSO E SEGURANÇA Cada usuário tem acesso ao SIA através da digitação do número de matrícula na UNIFOR e de uma senha criada e cadastrada pelo próprio usuário na biblioteca 1 da UNIFOR, sendo a mesma utilizada para solicitação e empréstimo de livros e periódicos. A utilização desta senha é uma das formas de segurança para garantir que o usuário somente acesse as telas cujas funcionalidades são pertinentes ao seu perfil, o qual é definido, a partir da análise das atividades de cada tipo de usuário (alunos, professores e funcionários). Para maiores esclarecimentos, serão apresentados adiante os perfis de usuários elaborados na fase de requisitos e análise do projeto com a relação de suas respectivas telas e modalidades de acesso, que serão posteriormente apresentadas em detalhes. É importante ressaltar que para cada tela há duas modalidades de acesso: consulta ou operação, que são definidas também de acordo com as atividades e, conseqüentemente, perfil de cada usuário. Na modalidade de acesso para consulta o usuário não tem permissão de alterar as informações que estão sendo consultadas. Na modalidade de acesso, operação, o ambiente disponibilizado ao usuário permite que ele insira, exclua, altere as informações contidas na tela. Operações estas que serão pertinentes às funcionalidades de cada usuário no Curso de Odontologia. Quadro 2. Apresentação das principais telas e modalidades de acesso segundo o perfil dos usuários. SIA/ODONTO. Universidade de Fortaleza. Período: 2005.1. Usuários Gerência in loco do SIA Analista de O & M Coordenação Telas de acesso Prontuário Modalidades de acesso Consulta Prontuário – Ficha Social Consulta Perfil odontológico Operação Plano de tratamento Operação Demanda Operação Requisição Operação Vinculação Prontuário Prontuário – Ficha Social Perfil odontológico Plano de tratamento Demanda Requisição Vinculação Tem acesso as mesmas Operação Consulta Consulta Consulta Consulta Operação Operação Operação Preservam-se telas da gerência in loco do SIA as mesmas modalidades 1 Recurso Humano de Nível Médio de apoio aos Professores e Alunos Professores da Área Clínica Professor - triagem Alunos Funcionários - recepção Funcionário – serviço social Funcionário - radiologia Perfil odontológico Prontuário Requisição Demanda Vinculação Prontuário Agenda-disciplina Pendências Plano de tratamento - Consulta Operação Operação Operação Operação Consulta Consulta Consulta Operação professor Perfil odontológico Solicitação de trabalhos Consulta Operação protéticos e ortodônticos Encaminhamento de Operação pacientes Prontuário Agenda-disciplina Pendências Plano de tratamento- Consulta Consulta Consulta Operação professor Perfil odontológico Encaminhamento Operação Operação de pacientes Prontuário Pendências Agenda-disciplina Plano de tratamento - aluno Solicitação de trabalhos Consulta/Operação Consulta Consulta Operação Operação protéticos e ortodônticos Prontuário Confirma requisições Perfil odontológico Prontuário Prontuário – ficha social Perfil odontológico Prontuário Imagem - paciente Operação Operação Consulta Consulta Operação Consulta Consulta Operação Outra política de segurança adotada para o acesso das telas e informações é a liberação de acesso somente para os professores e funcionários lotados no Centro de Ciências da Saúde, no Curso de Odontologia e para os alunos regularmente matriculados no curso. No caso dos professores e alunos, o acesso somente é permitido se estiverem, respectivamente, alocados e matriculados em disciplinas clínicas, que diretamente estão relacionadas ao fluxo de pacientes no Curso. Em relação aos funcionários, é feita uma análise se o setor em que o funcionário está alocado trabalha diretamente com alguma tela do sistema acadêmico. Após esta análise é enviada uma solicitação de liberação de acesso para a Gerência de Tecnologia da Informação da UNIFOR com a indicação de quais telas são 1 pertinentes ao perfil do usuário, em questão, e que tipo de acesso deverá ser permitido: consulta ou operação. A definição dos perfis de usuário, bem como, telas e modalidades de acesso é analisada e estabelecida pela Gerência in loco do SIA no Curso de Odontologia. AS ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÃO ADOTADAS Após a elaboração do SIA, foram realizadas Oficinas de Treinamento e Qualificação do corpo docente, discente e funcionários, de acordo com as funcionalidades de cada usuário. Em relação aos professores as Oficinas de implantação foram planejadas por área com o objetivo de analisar as necessidades de adaptação inerentes às especificidades de cada área, considerando sistema de trabalho adotado; informações de interesse específico da área; cronogramas de planejamento das atividades práticas; avaliação da capacidade média de atendimento no semestre; tempo médio de atendimento, tendo em vista a variabilidade de acordo com a natureza do procedimento, dentre outros. Quanto aos alunos, as Oficinas foram desenvolvidas no momento em que ingressavam em suas atividades práticas de caráter clínico com atendimento de pacientes. Os funcionários de cada setor passaram por uma qualificação simultânea para início da utilização das telas referentes a sua função. Como consideramos o gerenciamento do SIA um processo permanente, semestralmente as Oficinas de treinamento e monitoramento do SIA continuam ocorrendo até os dias atuais. As oficinas de treinamento ocorrem no início de cada semestre com os usuários (alunos), que estão tendo contato pela primeira vez com o SIA. Para o novo fluxograma curricular, 36.3, este momento se dá no 3o semestre, que demarca o início dos alunos em atividades clínicas. Sendo o treinamento do SIA, curricularmente previsto pelo conteúdo programático da Disciplina de Iniciação Clínica. O treinamento é realizado em laboratórios de informática com a utilização de um banco de dados de homologação, que simula todas as condições de atendimento dos pacientes, sendo ministrado pela professora responsável pelo gerenciamento do SIA e pela Analista de O & M. 1 A Oficina é dividida em dois momentos: no primeiro momento são expostas todas as normas de funcionamento dos setores que compõem o Curso de Odontologia e suas interfaces com o SIA, em seguida, se discute o fluxo de pacientes e sua operacionalização. No segundo momento, são simuladas as utilizações das telas e suas respectivas modalidades de acesso: consulta ou operação. Como material de apoio é disponibilizado aos alunos o Manual de utilização do SIA para alunos, o qual também é disponibilizado on-line na homepage do Curso de Odontologia. As oficinas de monitoramento ocorrem ao final do período letivo, para levantamento de sugestões por parte dos usuários, identificação de fatores dificultadores da sua usabilidade, encerramento ou interrupção temporária do fluxo dos pacientes em tratamento, dado o encerramento do semestre vigente. As sugestões e solicitações são analisadas quanto a sua viabilidade e pertinência para que as devidas implementações sejam realizadas. Segundo Walton (1994), é importante ressaltar a necessidade do comprometimento mútuo entre usuários e gestores do processo de informatização para a garantia de qualidade do produto final. Os sistemas só se tornam úteis e inteligentes se forem qualitativamente abastecidos por seus usuários. A respeito desta consideração coloca-se como um enorme desafio, na fase de implantação dos Sistemas de Informatização, a sensibilização dos usuários para sua correta utilização. Este desafio e porque não dizer dificuldade foi vivenciada no processo de implantação do SIA/Odonto, podendo-se ressaltar, que ainda hoje, no seu acompanhamento, temos dificuldades com a qualidade de adesão dos usuários. Para maior entendimento do suporte do SIA ao gerenciamento do atendimento de pacientes, será apresentado a seguir o fluxo de pacientes e as principais telas de gerenciamento. FLUXO DE PACIENTES DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR PACIENTE NOVO RECEPÇÃO (A) ESCOVÓDROMO (B) 1 RADIOLOGIA (D) CLÍNICA DE TRIAGEM (C) CLÍNICA MULTIDISCIPLINAR (F) SERVIÇO SOCIAL (E) CLÍNICA INTEGRADA (G) PÓSGRADUAÇÃ O (H) TRATAMENTO ENCERRADO OU TRATAMNETO INTERROMPIDO De acordo com o fluxo apresentado, um paciente novo, aqui considerado, é aquele que ainda não possui cadastro no Curso. Deste modo, não tem nenhum plano de tratamento previsto em qualquer das áreas. Geralmente, inicialmente os pacientes ligam para conhecimento dos serviços oferecidos pelo Curso e, de acordo com seu interesse, e disponibilidade de vagas agenda sua triagem. São serviços oferecidos pela graduação de odontologia: tratamento nas áreas de dentística, endodontia, periodontia, cirurgia, prótese dental (fixa, removível e total), odontopediatria e semiologia. Sendo disponibilizado ainda o serviço de diagnóstico por imagem da radiologia. A pós-graduação oferece, em níveis de complexidade maiores, tratamento nas áreas de dentística, periodontia, endodontia e prótese. Considerando o Curso de Odontologia da UNIFOR uma referência no atendimento odontológico para o Estado do Ceará, a clientela que busca por estes serviços distribuem-se nos mais diferentes bairros da capital e municípios do Estado. Contudo, a UNIFOR tem estabelecido uma atenção diferenciada à Comunidade do Dendê, que situa-se no bairro Edson Queiroz, vizinho ao Campus Universitário, constituindo uma das áreas de risco do bairro, onde vivem aproximadamente 2055 famílias com 9503 habitantes. 1 Após o conhecimento dos serviços disponibilizados, tendo o paciente interesse em agendar seu tratamento, lhe é solicitado que em dia e turno marcado ele compareça ao Curso portando um documento de identificação (ex: carteira de identidade, ou carteira de estudante, ou certidão de nascimento) e um comprovante de endereço (ex:água, luz, telefone), documentos estes utilizados para realização do cadastro do paciente. Ressalta-se, que o cadastro só deve ser realizado mediante apresentação dos documentos solicitados, para obtenção de um maior grau de fidedignidade e qualidade das informações prestadas. Com a realização do cadastro, na recepção (A), o paciente recebe o cartão UNIFOR, que possui uma tarja magnética, viabilizando assim, seu acesso por meio de catracas eletrônicas, aos serviços prestados pela Universidade. Desta forma, está aberto o prontuário do paciente, em uma tela específica do SIA, a tela de prontuário, a partir da qual poderemos identificar o paciente fazendo uma busca no SIA por meio de um número gerado automaticamente: o número do prontuário, ou pelo próprio nome do paciente. Com o cadastro pronto, os pacientes agendados para triagem são encaminhados para o escovódromo (B), local em que recebem orientações das normas e rotinas do curso e são esclarecidos sobre as tecnologias preventivas disponíveis para o controle das principais doenças de impacto na saúde pública: cárie e doença periodontal, a partir da realização de uma breve Oficina de Educação em Saúde. Participam deste momento, os alunos do último ano de formação sob orientação de um professor e a Assistente Social do Curso. No mesmo turno o paciente será encaminhado à clínica de triagem, serviço social e radiologia. Na clínica de triagem (C) o paciente é atendido, por alunos do 9o e 10o semestres e sob orientação de uma professora, para realização do exame bucal e determinação do seu perfil de necessidades, assim como, avaliação do grau de complexidade das intervenções requeridas, conforme definição prévia por cada uma das áreas, construindo-se assim o perfil odontológico do paciente que será inserido no SIA na tela de perfil odontológico e o qual só é totalmente fechado quando finalizada a avaliação do paciente na Clínica de Radiologia (D). Na clínica de radiologia (D), como rotina de atendimento é realizada a tomada radiográfica panorâmica para diagnóstico precoce de problemas odontológicos não discerníveis clinicamente, como: presença de dentes inclusos, localização dos mesmos, avaliação da necessidade cirúrgica, presença de tumores, dentes 1 supranumerários, dentre outros. Após a tomada radiográfica, a radiografia é processada, escaneada e anexada ao prontuário virtual do paciente para consulta através da tela de imagem – paciente, que possui uma interface direta com a tela de prontuário. O último espaço a ser percorrido pelo paciente é o serviço social (E), no qual ele é atendido por uma Assistente Social, que é responsável pela análise e elaboração do perfil sócio-econômico do paciente. O perfil sócio econômico é disponibilizado para consulta por determinados usuários (professores) através da tela prontuário-ficha social. Estando inseridos no SIA os dados referentes ao cadastro, perfil odontológico e sócio econômico, o paciente deverá aguardar um contato do Curso que será feito pela recepção (A), para o início do seu tratamento, cujo tempo de espera é variável de acordo com capacidade de vazão de cada disciplina. Ele é a partir de então considerado um paciente regular do Curso. O perfil odontológico e grau de complexidade do tratamento requerido, analisados na clínica de triagem, determinarão a qual clínica o paciente deverá ser encaminhado: multidisciplinar (F) ou integrada (G), recaindo sobre a clínica integrada a indicação dos casos mais complexos e demorados. Caso o perfil de complexidade não seja considerado de graduação os pacientes são encaminhados às clínicas de pós-graduação (H). O apontamento da clínica de encaminhamento é feito na tela de perfil odontológico. A ROTINA DE SOLICITAÇÃO DE PACIENTES PELAS CLÍNICAS DE ATENDIMENTO Ressalta-se inicialmente, que a solicitação de pacientes é feita tendo por base o cadastro das disciplinas clínicas com atendimento de pacientes no SIA e seus respectivos perfis de atendimento: característica e complexidade definidos ainda na fase de requisitos para o desenvolvimento do sistema. A rotina de solicitação de pacientes por disciplina segue o fluxo a seguir: No início de cada semestre, em função do número de alunos matriculados em cada disciplina, considerando as habilidades e competências do estágio de formação em que se encontra o aluno e as necessidades dos pacientes cadastrados para atendimento é feita a indicação da demanda por disciplina e conseqüente requisição 1 dos pacientes, de modo a selecionar um paciente para cada aluno. Esta fase de requisição de pacientes é executada pelo recurso humano de nível médio de apoio aos Professores e Alunos, no início das atividades clínicas, utilizando para tanto as telas de demanda e requisição de pacientes, respectivamente. Posteriormente, os pacientes são então vinculados aos alunos, que serão responsáveis pelo atendimento do paciente até sua alta sob supervisão do professor orientador. A tarefa de vinculação também é executada pelo mesmo recurso humano acima citado. Uma vez vinculado ao aluno, o paciente inicia seu tratamento, em uma determinada área, o qual de acordo com a sua complexidade poderá ou não ser finalizado ao longo do semestre. Caso seja finalizado, no final do semestre ele terá seu plano de tratamento encerrado. Caso não finalize, seu plano de tratamento será interrompido para continuidade no semestre seguinte. Ao longo do semestre, cabe ao aluno, utilizando a tela de plano de tratamentoaluno, elaborar o plano de tratamento do paciente e submetê-lo ao professor orientador, que o aprovará ou o rejeitará utilizando a tela: plano de tratamentoprofessor. O plano quando aprovado libera o aluno para execução dos procedimentos previstos, os quais na medida em que vão sendo executados também vão sendo registrados no SIA e submetidos ao Professor Orientador até o momento da alta do paciente, ou interrupção do plano. Desta maneira, ao final do semestre, temos um certo volume de pacientes que encerram seu tratamento e recebem alta e outros que interrompem temporariamente para continuidade no semestre seguinte. A revinculação dos pacientes, com tratamento interrompido de um semestre para outro, é realizada automaticamente pelo SIA, sendo a demanda de pacientes complementada com os pacientes novos em espera. PRINCIPAIS TELAS DO SIA DE SUPORTE AO FLUXO DE PACIENTES TELAS DE ACESSO AO SISTEMA COMUNS A TODOS OS USUÁRIOS 1. Tela de login: disponível ao usuário em rede, permite sua conexão na rede localda Universidade e posterior utilização do SIA/Odonto. No campo usuário é sempre usado, na situação dos alunos, a expressão: aluno-odonto, não sendo necessária a 1 digitação de senha. Para professores e funcionários, cada um deverá se logar utilizando a sua denominação própria de usuário e sua senha de rede, cadastrada previamente na Gerência de Tecnologia da Informação. Fig. 1.Tela de Login do usuário na Rede Local da UNIFOR. 2005.1. 2. Tela de login do SIA (Sistema de Informações Acadêmicas): é acionada a partir de um ícone presente na área de trabalho dos computadores. Esta tela solicita a identificação do usuário, que é fornecida com a digitação da matrícula na UNIFOR e da senha individual. Fig. 2.Tela de Login do SIA. 2005.1. A partir desta tela cada usuário, de acordo com suas atribuições, no Curso de Odontologia, terá acesso a um conjunto de telas específicas que lhe são pertinentes. O caminho a ser percorrido, por cada usuário, até o acesso das telas operacionais está especificado a seguir: transações – curso de odontologia – telas operacionais, cujo acesso é definido de acordo com o perfil de cada usuário. 1 Fig. 3.Tela Principal do SIA/ODONTO. 2005.1. Para conhecimento, abaixo, estão expostos os principais comandos do Sistema. TELAS OPERACIONAIS DE ACESSO 1. Tela Agenda-Disciplina Finalidades: - Informar o quantitativo determinada disciplina dos pacientes segundo dia e agendados turno de para uma atendimento, especificando-os nominalmente e pelo número do prontuário; 1 - Indicar o aluno responsável pelo atendimento do paciente na disciplina; - Atualizar dinamicamente o status do paciente o qual poderá indicar marcado, confirmou chegada, compareceu em atendimento ou atendido. Cada uma dessas indicações se dará de acordo com o fluxo de atendimento do paciente. Benefícios: - Viabiliza o levantamento do número médio de pacientes atendidos por dia e turno nas diferentes disciplinas; - Possibilita a identificação dos pacientes que estão sendo atendidos pela 1a vez no Curso e em determinada disciplina e, que conseqüentemente, demandarão por um tempo maior de atendimento naquele turno para elaboração de seu plano de tratamento; - Permite uma maior ordenação do planejamento de recepção dos pacientes, com a separação prévia de seu prontuário e entrega ao aluno responsável pelo tratamento do paciente anteriormente a sua chegada; - Permite o acompanhamento do fluxo interno de pacientes no curso de odontologia, facilitando rapidamente sua localização. A seleção da consulta pode ser por disciplina ou por professor orientador, com a indicação da data e turno que se deseja consultar. Fig. 4. Tela agenda-disciplina. SIA/Odonto.2005.1. 1 2. Tela de Prontuário Finalidades: - Permitir a inclusão dos dados cadastrais dos pacientes, endereço e telefone para contato, turno para o qual tem disponibilidade para o tratamento, data de inclusão no curso, formatando assim, uma base de dados referente aos pacientes do curso; - Identificar pendências relativas aos deveres dos pacientes mediante as normas de funcionamento do curso; - Identificar a qual requisição o paciente encontra-se vinculado e, conseqüentemente, área, disciplina, aluno e professor responsável pelo seu tratamento; - Localizar se o pacientes apresenta agendamento para outros serviços no curso: radiologia, urgência etc. - Associar o cartão UNIFOR com o qual o paciente passa a ter acesso aos serviços prestados pela Universidade. - Agendar os próximos retornos do paciente. - Benefícios: Acesso informatizado aos dados cadastrais do paciente, podendo estes serem consultados rapidamente; Possibilita a orientação aos pacientes quanto as suas responsabilidades e cumprimento das normas de funcionamento do curso; Permite a identificação dos alunos e professores responsáveis pelo atendimento; Permite o acesso regular dos pacientes às Clínicas de Atendimento; Viabiliza uma maior ordenação do planejamento de recepção dos pacientes, uma vez que há a previsão do atendimento para uma determinada disciplina, dia e turno. A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo nome ou data de nascimento do paciente. 1 Fig. 5. Tela de Prontuário. SIA/Odonto 2005.1. 3. Tela de Plano de Tratamento – Aluno Finalidades: - Permitir o planejamento dos procedimentos que serão realizados no paciente para melhor atendimento de sua necessidade de tratamento, considerando o menor tempo e as tecnologias disponíveis no momento; - Indicar o status do plano: aprovado, encerrado ou interrompido. Benefícios: - Otimização do tempo de atendimento do paciente; - Registro do planejamento de atendimento do paciente, para posterior análise de sua eficácia e pertinência frente ao diagnóstico inicial estabelecido; - Acompanhamento do aluno pelo professor orientador, na medida em que os procedimentos executados vão sendo inseridos e analisados quanto a sua previsão inicial ou não; - Conhecimento do status do plano para que se façam os encaminhamentos necessários. - Permite identificar a data de início de tratamento do paciente da disciplina, pela data de elaboração do plano, que demarca a sua primeira consulta na disciplina e assim o seu tempo médio de permanência na disciplina. 1 A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo número do plano do paciente. Fig. 6. Tela de Plano de Tratamento- Aluno. SIA/Odonto 2005.1. 4. Tela de Trabalhos Protéticos e Ortodônticos Finalidades: - Viabilizar o encaminhamento da solicitação, pelos alunos, de trabalhos protéticos e ortodônticos aos laboratórios, via serviço social, onde é realizado o planejamento de pagamento dos serviços; - Permitir o controle, por parte do Serviço Social, da solicitação dos trabalhos laboratoriais e planejamento das parcelas de pagamento, ou ainda, análise de isenção das mesmas. - Subsidiar o planejamento financeiro de pagamento dos trabalhos a partir da indicação do tempo de tratamento dos pacientes. Benefícios: - Permite o acompanhamento do fluxo de solicitação dos trabalhos protéticos e ortodônticos, desde a sua indicação até o retorno definitivo do laboratório para instalação. - Viabiliza o acompanhamento do planejamento financeiro para pagamento dos serviços solicitados, pelos pacientes, de acordo com a sua caracterização sócio econômica e tempo de tratamento previsto. 1 Fig. 7. Tela de Trabalhos Protéticos e Ortodônticos. SIA/ Odonto 2005.1 Essa tela é utilizada pelas Clínicas: multidisciplinares e integrada, nas quais são atendidos pacientes com necessidades protéticas e ortodônticas, cujas atividades laboratoriais são terceirizadas. Os trabalhos solicitados pelos alunos só são encaminhados mediante conhecimento e aprovação dos mesmos pelo professor orientador. A seleção da consulta pode ser pelo número do prontuário ou pelo nome do paciente. 5.Tela de Plano de Tratamento - Professor: Finalidades: - Permitir o acompanhamento do aluno, pelo professor, em relação ao planejamento e execução dos procedimentos; - Indicar o status do plano: aprovado e encerrado ou interrompido, a partir do andamento do plano do paciente. Benefícios: - Referem-se aos mesmos já relacionados para a tela de plano de tratamento-aluno, visto que suas atividades estão interligadas. A seleção da consulta poderá ser pelo número do plano, ou número do prontuário do paciente. 1 Fig. 8 Tela de Plano de Tratamento – Professor. SIA/Odonto. 2005.1 6. Tela de Perfil Odontológico Finalidades: - Registrar o perfil de necessidades odontológicas dos pacientes de acordo com a triagem realizada; - Identificar, para qual clínica o paciente deve ser encaminhado (clínica multidisciplinar,clínica integrada ou clínicas de pós-graduação), de acordo com o grau de complexidade do seu perfil; - Permitir a inativação dos perfis já apontados, quando necessário, indicando o motivo pelo qual um determinado perfil odontológico, ou todos, está sendo inativado; - Indicar os professores e alunos responsáveis pela triagem. Obs: A inativação de perfis ocorre em algumas situações específicas para as quais o SIA possui registrado um banco de motivos de inativação. Os principais motivos de inativação são: pacientes com dados cadastrais incorretos, que inviabilizam sua localização e agendamento das consultas; pacientes que faltam com freqüência e sem justificativa ao tratamento; pacientes que iniciaram o tratamento em outras Instituições; pacientes, que por alguma intervenção prévia ao tratamento, em outros locais, alteraram seu perfil inicialmente diagnosticado na triagem, pacientes que não tem mais interesse em iniciar ou continuar seu tratamento na Universidade; pacientes que faleceram; pacientes que já realizaram tratamento na Universidade sem plano, ou seja, usuários (alunos e professores) não inseriram as informações no SIA, dentre outros. - Benefícios: Agilizar o encaminhamento do atendimento dos pacientes. 1 - Dar suporte ao processo de aprendizagem dos alunos, relacionando a necessidade do paciente com as competências e habilidades requeridos no âmbito da disciplina que o aluno está cursando, deste modo, viabilizando uma maior coerência da articulação entre teoria e prática. Fig. Tela de Perfil Odontológico. SIA/Odonto. 2005.1 Fig 9. Tela de Perfil Odontológico. SIA/Odonto. 2005.1 7. Prontuário – Ficha Social Finalidades: - Registrar o perfil sócio econômico como parte do processo de triagem, identificando as condições psicológicas, sociais e financeiras dos pacientes. Benefícios: - Possibilitar a avaliação da necessidade de isenção de taxas dos pacientes; - Viabilizar o orçamento dos tratamentos protéticos e ortodônticos, de acordo com a condição sócio-econômica dos pacientes; 1 - Dar suporte às pesquisas realizadas no curso, no que diz respeito ao conhecimento do perfil sócio-econômico e comportamental dos pacientes; - Permitir a análise do acesso dos pacientes às tecnologias preventivas de controle das principais doenças bucais; A seleção da consulta poderá ser pelo número do prontuário, nome do paciente ou data do nascimento. Fig. 10 - Tela de Prontuário-Ficha Social. SIA/Odonto. 2005.1 8. Tela Imagem-Paciente Finalidades: - Registrar, no sistema, a radiografia panorâmica, disponibilizada para cada paciente cadastrado no momento da triagem do paciente. Benefícios: - Permitir um estudo detalhado dos pacientes, pelos alunos e professores, por meio da consulta da radiografia panorâmica,disponibilizada na tela de prontuário de pacientes, servindo como subsídio complementar à elaboração do plano de tratamento. 1 A seleção da consulta poderá ser feita pelo número do prontuário. Fig. 11 - Tela Imagem-Paciente. SIA/Odonto. 2005.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS A apresentação do sistema, aqui realizada, nos leva a perceber que a sua presença constitui-se em uma ferramenta facilitadora do processo de gerenciamento do fluxo de atendimento dos pacientes e acompanhamento dos alunos em seu processo de formação. Criticamente analisando-o, ainda observamos certas imperfeições que deverão ser continuamente ajustadas de modo a viabilizarmos sua ideal adequação às necessidades do curso. Se considerarmos todas as finalidades gerenciais levantadas na fase de requisitos para desenvolvimento do projeto de informatização, 1 veremos que alguns avanços relativos ao aperfeiçoamento e agilidade no fluxo de atendimento dos pacientes, assim como alguns requisitos de subsídio ao gerenciamento do curso, podem ser melhorados. Também se faz fundamental a melhoria do sistema no que diz respeito ao aprimoramento de suas finalidades pedagógicas. Em sua estrutura macro podemos afirmar a sua contribuição e suporte à qualidade das atividades desempenhadas por alunos e professores, não só inerentes ao fluxograma curricular, mas também, relacionadas a atividades extracurriculares como a elaboração e desenvolvimento dos projetos de pesquisas. O sistema pode ser visto como mais um canal de comunicação entre professores, alunos e gestores, visto que armazena um histórico de todas as atividades clínicas dispensadas à comunidade em suas dimensões técnicas, biológicas, psicológicas e sociais, deste modo reunindo os elementos fundamentais à melhoria qualitativa e quantitativa do acolhimento de nossos pacientes. Com o sistema de informações acadêmicas interligando os setores de suporte acadêmicos, aqui considerados, recepção e serviço social, tem-se um ganho de qualidade proporcionado pela maior agilidade das informações, pelo maior controle das rotinas de trabalho executadas pelos funcionários, e maior fidedignidade das informações geradas. Para a coordenação do curso o sistema se coloca como um possível instrumento norteador da tomada de decisão, na medida em que é abastecido pelos diferentes usuários fornecendo informações gerenciais, epidemiológicas e sociais pertinentes à clientela atendida. É uma ferramenta que poderá subsidiar importantes definições no planejamento estratégico do curso. Cabe, ainda, para finalizarmos estas considerações, ressaltar as dificuldades que ainda permeiam o processo de adesão dos usuários à utilização do SIA, mesmo ressaltando-se o cuidado tido na fase de implantação com o treinamento, qualificação e sensibilização dos usuários, este dificultador perpassa pela necessidade de nossos docentes incorporarem a totalidade de seu papel pedagógico na formação dos alunos, assim como, se enxergarem como elementos participantes fomentadores da inteligência operacional. Por outro lado, trabalhar a aceitação do SIA, pelos seus usuários, é um fator dependente da melhoria qualitativa do seu processo de interatividade, agilidade e capacidade de feedback aos interesses de cada usuário, considerando sua 1 funcionalidade na estrutura organizacional em que está inserido. Portanto um constante e instigante desafio. 1 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CRUZ, T. Sistemas, Organização & Métodos: estudo integrado das novas tecnologias de informação. 3a ed. São Paulo: Atlas, 2000. FERNANDES, A.A.; ALVES, M.M. Gerência Estratégica da Tecnologia da Informação: obtendo vantagens competitivas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos Científicos, 1992. GANE, C.; SARSON, T. Análise Estruturada de Sistemas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos Científicos, 1993. OLIVEIRA, D.P.R. Sistemas de Informações Gerenciais: estratégicas, táticas, operacionais. 6a ed. São Paulo:Atlas, 1999. RODGERS, U. A Database Developers Guide. ORACLE. Editora: PTRPH, 2005. WALTON, R.E. Tecnologia de Informação: o uso de TI pelas empresas que obtêm vantagem competitiva. São Paulo: Atlas, 1993. YOURDON, E. Análise Estruturada Moderna. Campus, 1990. 1 CAPÍTULO 8 PESQUISA: A ESSÊNCIA DO APRENDIZADO Haroldo Rodrigues de Albuquerque Júnior Luiz Roberto Augusto Noro 1. INTRODUÇÃO A pesquisa pode ser entendida como uma área privilegiada por permitir o avanço do conhecimento humano, por meio de aproximações teóricas previamente existentes e de experimentações, estimulando o aparecimento de novas descobertas que contribuem com a perspectiva de melhores condições de vida à sociedade. A sociedade contemporânea vive um grande desafio e uma enorme revolução: entender que o conhecimento, a ciência e o saber são a maior esperança e o grande valor do homem, para então, se criar uma cultura da inovação e da produção. Nada mais atual, do que dissera Eisntein: “O conhecimento traz, de qualquer forma, o poder...” Associado a um modelo onde a qualidade e a experiência são as principais armas, as Instituições de Ensino Superior (IES) têm a responsabilidade de formar profissionais capazes de enfrentar a competitividade, ao mesmo tempo em que precisam ser palco para desenvolver ciência, isto é, produzir. Desta forma, quem produz tem o mérito de ver reconhecida sua dedicação e sua co-responsabilidade, e quem aprende fica mais a vontade para colocar em prática modernas técnicas e avanços profissionais. Ao se produzir, os setores público e privado criam a oportunidade de formação e treinamento de pesquisadores para a resolução de problemas. O incentivo à pesquisa é uma das condições necessárias ao progresso tecnológico, ao desenvolvimento econômico e social. Para FERREIRA et al (2002) um dos projetos humanos, com importância fundamental para o homem contemporâneo e voltado para a recuperação da perda de segurança e o decorrente sentimento de angústia, provocadas por um mundo em constante mudança, foi o projeto da ciência moderna. Por conseguinte, “os povos que não participam do desenvolvimento científico estão, em grande medida, alijados 1 dos avanços nos padrões de qualidade de vida e são economicamente subalternos em relação aos povos que lideram os avanços do conhecimento. Isso é alcançado mediante libertação do homem quanto as necessidades básicas de sobrevivência e da conseqüente sofisticação da atividade humana em seus aspectos sociais, econômicos, culturais e artísticos” (UNICAMP, 2002). Coerente com este raciocínio observa-se na Conferência Mundial sobre a Ciência (UNESCO, 2000) a previsão de que "sem instituições adequadas de educação superior em ciência e tecnologia e em pesquisa, com uma massa crítica de cientistas experientes, nenhum país pode ter assegurado um desenvolvimento real". Entretanto, para conseguir um país com ciência, a educação universal, obrigatória e de qualidade é peça fundamental para que a população acredite que o bem-estar da sociedade depende da procura constante pela apropriação do saber, dependendo mais da visão do mundo que sua sociedade possui, do que da fração do PIB aplicada na compra de equipamentos necessários à pesquisa (UNICAMP, 2002). Fator que chama a atenção, e confirma esta visão, é a absurda exclusão da grande maioria da juventude brasileira do sistema de educação universitário que contempla não mais que 9% do total de jovens pelo sistema. Tal fato dificulta a incorporação da mentalidade científica de maneira plena pela sociedade. Nesta perspectiva é primordial o aumento da oferta de vagas no sistema superior, além de alterar o cotidiano do ensino universitário, flexibilizando-se os currículos, permitindo incluir a pesquisa como estratégia para melhor desenvolvimento cognitivo do aluno a partir de maior estímulo ao estudo individual (busca pela informação), a ser partilhada em grupo na sala de aula, tendo como objetivo melhores soluções a problemas vivenciados no dia-a-dia, tendo como base a reflexão crítica sobre estes problemas e sua solução baseada na ciência e na realidade. Desta forma, a educação deve capacitar o aluno a resolver problemas, confiando em suas potencialidades, além de desenvolver as habilidades de iniciativa, criatividade, num padrão de comportamento íntegro e ético. Com isto, segundo DEMO (1998) entra em cena a promoção da inclusão do processo de pesquisa no aluno, que deixa de ser objeto de ensino, para tornar-se parceiro de trabalho, passando a desenvolver com o professor uma relação de 1 sujeitos participativos, tomando-se o questionamento reconstrutivo como desafio comum a ambos. No entender de ZANCAN (2000) os membros da comunidade científica brasileira tem hoje mais uma tarefa: lutar para mudar o ensino de informativo para transformador e criativo. Este desafio é uma tarefa gigantesca, pois abarca todos os níveis de ensino sem privilegiar um em detrimento de outro. Para que se atinjam os objetivos de alterar o sistema educacional, é preciso concentrar esforços na formação do professor que deverá ser um orientador de seus alunos no processo da descoberta e da reflexão crítica. Para DEMO (1998) este movimento deve ser entendido enquanto processo de educar pela pesquisa, que tem como condição essencial primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípio científico e educativo e a tenha como atitude cotidiana. Ainda segundo este autor há um trajeto coincidente entre educação e pesquisa uma vez que ambas se postam contra a ignorância, fator determinante da massa de manobra; ambas valorizam o questionamento, marca inicial do sujeito histórico; ambas se dedicam ao processo reconstrutivo, base da competência sempre renovada; ambas incluem a confluência entre teoria e prática, por uma questão de realidade concreta; ambas se opõem terminantemente à condição de objeto, por ser a negação da qualidade formal e política; ambas se opõem a procedimentos manipulativos, porque estes negam o sujeito; ambas condenam a cópia, porque esta consagra a subalternidade. 2. APRESENTAÇÃO A Universidade de Fortaleza foi criada com a missão de promover a produção e difusão do saber, por meio da articulação do ensino superior, pesquisa e extensão, visando a formação integral do cidadão e a sua capacitação para o exercício profissional. O Curso de Odontologia investiu ao longo destes últimos dez anos na busca de um constante aperfeiçoamento do ensino, tendo como base a extensão, a partir do atendimento clínico prestado em suas dependências e das ações coletivas de saúde bucal desenvolvidas na comunidade do Dendê e em instituições (escolas de ensino fundamental e médio, creches, escola de aplicação, associações de moradores etc.), visando aproximar o aluno de sua futura prática profissional. 1 Diante disto, são importantes algumas reflexões em relação à pesquisa: Quem somos? Conhecemos a nossa verdadeira vocação e competência? Tem-se clareza do perfil que caracteriza a pesquisa regional? Os organismos de fomento têm interesse em estabelecer parcerias com as Instituições de Ensino Superior privadas? É relevante notar que na avaliação para reconhecimento do Curso, realizada por uma comissão de especialistas da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC) havia uma sinalização direta para a necessidade de se implementar um programa de iniciação científica regular no curso, proporcionando ao graduando uma formação mais abrangente, que incorporasse o seu treinamento na aplicação do método científico, complementando sua formação acadêmica. Os programas de Iniciação Científica ou Tecnológica propiciam às IES um instrumento de formulação de política de pesquisa, estimulando uma maior articulação entre a graduação e a pós-graduação; o pesquisador/orientador a formar equipes; e, principalmente, introduzir o aluno de graduação no mundo da pesquisa científica. 1 Ainda que de forma discreta e tímida, a maior cobertura deste programa, atualmente na UNIFOR, é contemplada pelo Programa de Bolsas de Iniciação Científica da UNIFOR (PROBIC / FEQ). Necessário se faz que haja um incentivo mais presente e regular por parte de órgãos externos: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC / CNPq) – Programa de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica (PBICT / FUNCAP). No ano de término da 1 a turma de graduação, 1999, teve início o planejamento e discussão dos projetos pedagógicos dos cursos de especialização para a área da odontologia, assim como o primeiro levantamento do perfil da produção interna do curso. A diretriz estabelecida foi a de buscar coerência com o projeto pedagógico da graduação, com o aprofundamento dos conteúdos e buscando a resolutividade dos problemas clínicos que não eram solucionados pelos alunos na graduação. Procurava-se com isto um trabalho mais integrado entre graduação e pós-graduação. Tal proposta, entretanto, apresentava divergência com as normas e regulamentações do Conselho Federal de Odontologia o que motivou a não implantação do modelo discutido. Em 2001, cinco cursos de especialização foram planejados e ofertados à comunidade: Periodontia, Endodontia, Prótese Dentária, Dentística e Odontologia em Saúde Coletiva. Destes, apenas foram desenvolvidos os cursos Periodontia e Endodontia. Cabe ressaltar que o Curso de Especialização em Saúde da Família, oferecido a partir do Curso de Odontologia, teve seu projeto aprovado e realizado com a participação de outros profissionais de saúde além do cirurgião-dentista, permitindo aprofundar-se a discussão sobre a necessidade de uma formação multidisciplinar. No ano seguinte, 2002, foi nomeada pela coordenação do Curso de Odontologia uma comissão para estudar as normas e procedimentos de propostas de cursos acadêmicos (mestrado e doutorado) considerando a carência local e regional, a demanda reprimida e a possibilidade de descentralização da produção científica e formação docente, hoje localizada na região sudeste do Brasil. 1 De acordo com a análise da comissão foi possível observar: o perfil docente de jovens doutores e mestres potenciais doutores, com perspectiva que sustentasse a competência técnico-científica para a promoção do curso e o diferencial de infra-estrutura de ensino e de grande potencial em pesquisa. E, como síntese diagnóstica, a necessidade de formação e maturação de grupos de pesquisa com produção intelectual relevante, em termos quantitativos e qualitativos (sistema Qualis), capazes de assegurar regularidade e qualidade às atividades acadêmicas na área da proposta do curso. Ressalte-se, em tempo, que ainda no ano de 2002, quando da Avaliação das Condições de Ensino por equipe designada pelo Ministério da Educação, apontou-se a conveniência de uma produção científica regular no curso e uma maior participação dos alunos nos programas de Iniciação Científica, reforçando o que já se havia observado em anos anteriores. A resolução CNE/CES 3/2002 estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Odontologia, as quais prevêem em seu artigo 12: para conclusão do Curso de Odontologia, o aluno deverá elaborar um trabalho sob orientação docente. Desta forma, o entendimento interno é que o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é uma atividade curricular, tendo um projeto de pesquisa como modelo de delineamento à execução do TCC, sendo, portanto uma atividade de pesquisa que tem como objetivo a produção do conhecimento. O Curso de Odontologia da UNIFOR compreende o TCC como um instrumento propulsor e de alavancagem para a formulação de uma política interna de pesquisa. 3. CÂMARA INTERNA DE PESQUISA A Câmara Interna de Pesquisa (CIP) é um órgão consultivo, educativo e de controle à pesquisa no âmbito do Curso de Odontologia da UNIFOR que tem como papel principal estimular a produção científica, tendo como referencial os Grupos e as Linhas de pesquisa estabelecidas pelo Centro de Ciências da Saúde/UNIFOR, assim como padronizar e sistematizar os diversos procedimentos e rotinas de pesquisa desenvolvidos no Curso de Odontologia. 1 Os objetivos da CIP do Curso de Odontologia são: Estabelecer uma filosofia de produção de conhecimento no curso de odontologia da UNIFOR; Elaborar políticas de controle aos projetos de pesquisa, desenvolvidos no curso, tendo como referencial o TCC; Elaborar políticas de controle aos projetos de pesquisa, desenvolvidos no curso, submetidos aos diversos órgãos de fomento à pesquisa; Elaborar políticas de controle aos projetos de cursos de pósgraduação (aperfeiçoamento/especialização), na área de odontologia da UNIFOR; Elaborar o projeto do programa de pós-graduação, stricto sensu, em odontologia da UNIFOR. A criação da CIP do Curso de Odontologia pode ser muito bem caracterizado como um modelo inovador ao estímulo a pesquisa na UNIFOR, uma vez que, a partir do pressuposto e da regulamentação da CIP do Curso de Odontologia todos os demais cursos do Centro de Ciências da Saúde aderiram ao formato gerencial referido. Para funcionamento da CIP foram propostas três células organizacionais que têm como papel desenvolver estratégias propondo mecanismos que têm como ponto central o aumento da produção científica no Curso de Odontologia. As três células são: a)CÉLULA INICIAÇÃO À PESQUISA (IP) Tem como papel central propor estratégias de propulsão de projetos de pesquisa no Curso de Odontologia/UNIFOR definindo rotina e protocolo de controle dos projetos de iniciação à pesquisa, definindo critérios para emissão de parecer aos projetos de pesquisa de iniciação científica assim como viabilizar mecanismos de controle da produção dos projetos de iniciação à pesquisa desenvolvidos no CO/UNIFOR. Das células criadas, foi a que menos conseguiu avançar tendo em vista as limitações impostas pelas agências de fomento, assim como pela pouca tradição em pesquisa desenvolvida no Curso de Odontologia. 1 b) CÉLULA APERFEIÇOAMENTO/ESPECIALIZAÇÃO (AP/ESP) Seu principal objetivo é propor estratégias de incentivo aos cursos de pósgraduação (aperfeiçoamento e especialização) no Curso de Odontologia/UNIFOR identificando rotina e protocolo de controle dos projetos de cursos apresentados à Coordenação do Curso de Odontologia a partir dos professores, além da adoção de critérios para emissão de parecer aos projetos de cursos de pós-graduação. c) CÉLULA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC) Com certeza, a célula que conseguiu mais evoluir, tendo em vista a definição política da coordenação do Curso de Odontologia quando, em 2003, apesar da inexistência de previsão no currículo do curso da necessidade de um Trabalho de Conclusão de Curso, optou por incluir tal atividade, buscando coerência com o preconizado nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia. As atribuições da Célula de Trabalho de Conclusão de Curso tiveram como referencial ajustar os projetos de pesquisa dentro das linhas e grupos do CCS, gerenciar o fluxo interno dos projetos de pesquisa, gerenciar o fluxo dos projetos de pesquisa junto ao NUPEQ/CCS e COÉTICA e estabelecer mecanismos de controle ao desenvolvimento da pesquisa, por meio de consultorias, exames de qualificação, fomento de cursos. Para incluir o TCC enquanto atividade curricular, definiu-se sua execução como atividade complementar ao estágio de Clínica Integrada II, sendo esta previsão estabelecida no regimento interno deste estágio. O TCC tem como elemento norteador um projeto de pesquisa referenciado no modelo estabelecido pelo Núcleo de Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde (NUPEQ/CCS) devendo se enquadrar nos grupos e nas linhas de pesquisa desenvolvidas no Centro de Ciências da Saúde, conforme pode ser observado no quadro abaixo. Quadro 1:Grupos e Linhas de Pesquisa do Centro de Ciências Saúde da Universidade de Fortaleza, 2005. Grupo de Pesquisa Linha de Pesquisa 1 CIÊNCIAS BÁSICAS DA 1. Ciências Biológicas SAÚDE 2. Produtos e tecnologias em saúde SAÚDE COLETIVA 1. Epidemiologia POLÍTICAS E PRÁTICAS NA 1. Educação em saúde PROMOÇÃO DA SAÚDE 2. Políticas públicas em saúde 3. Mercado de trabalho 1. Avaliação, diagnóstico e processo terapêutico em indivíduos adultos e idosos 2. Avaliação, diagnóstico e processo terapêutico em indivíduos bebês, ESTUDOS CLÍNICOS crianças e adolescentes 3. Avaliação, diagnóstico e processo terapêutico em cobaias Sempre que inclui seres humanos, os projetos de pesquisa devem ser encaminhados ao Comitê de Ética na Pesquisa por meio da folha de rosto (modelo do Conselho Nacional de Saúde/CONEP) que deve ser anexada ao projeto de pesquisa, para fins de cadastro e controle dos aspectos éticos da pesquisa. A orientação do TCC é sempre conduzida por professor, preferencialmente com título de Doutor ou Mestre, não se excluindo, entretanto, professores sem este tipo de titulação. A relação professor orientador/projeto de pesquisa será de, no máximo 1:3, para o semestre de referência do TCC, visando a maior participação possível do corpo docente. O professor orientador deve estabelecer mecanismos de controle para a execução procedimentos dos projetos estabelecidos no de pesquisa, cronograma viabilizando dos os projetos, proporcionando assim as condições necessárias à produção do TCC. Será seu papel, ainda, conduzir a execução do projeto de modo a trabalhar a divulgação dos resultados na forma de um artigo científico. O TCC deve ser desenvolvido por um grupo máximo de três alunos que terá como atribuição, conjuntamente ao professor orientador, definir o projeto de pesquisa e, a partir do desenvolvimento da pesquisa, apresentar os resultados na forma de um artigo científico a 1 ser encaminhado para periódico da área. Além disto, o grupo de alunos fará a sustentação dos achados da pesquisa diante de uma banca de avaliadores. O TCC será produzido em três exemplares, os quais deverão ser entregues a cada membro da banca de avaliação com uma semana de antecedência a data de defesa. Esta banca de avaliadores é composta por 2 (dois) docentes da UNIFOR, além do professor orientador, levando-se em consideração a pertinência da sub-linha do projeto com a formação do docente examinador sendo a indicação dos componentes de responsabilidade do professor orientador, em comum acordo com a CIP/CO. Para avaliação dos TCC são considerados os seguintes critérios: i. A relevância da proposição investigativa; ii. Coerência metodológica; iii. Obtenção de respostas aos objetivos previstos; iv. Contribuição profissional dos do resultados aluno, assim obtidos como na a formação sua geral inserção e social enquanto cidadão. Visando estabelecer relação de afinidade entre os alunos e a elaboração do TCC, estimulando que o aluno entenda a importância real deste trabalho e não apenas entendendo-o como mais uma obrigação em sua formação, a estratégia definida pela CIP prevê um Curso de Capacitação Discente em Projetos de Pesquisa para os alunos do 7º semestre letivo; a definição dos grupos, do tema e do orientador para os alunos do 8º semestre; a confecção do projeto de pesquisa no 9º semestre e o desenvolvimento da pesquisa e sua posterior defesa no 10º semestre. O grau de envolvimento entre alunos e professores orientadores na execução e elaboração do TCC nos semestres 2003.2, 2004.1 e 2004.2 pode ser observado na tabela a seguir. Tabela 1. Total de alunos, TCCs, professores orientadores e membros avaliadores, segundo semestre de realização do TCC. SEMESTRE ALUNOS TCC ORIENTADORES AVALIADORES 2003.2 44 16 12 30 2004.1 75 29 22 46 1 2004.2 47 20 14 37 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A avaliação preliminar do papel da CIP é bastante positiva, pois foi possível implantar, regulamentar e executar o TCC, sendo hoje referência à iniciação científica mínima requerida ao graduando, além de semear e permear a cultura da produção do conhecimento no Curso de Odontologia/UNIFOR. No que se refere a gestão da CIP com os cursos de especialização, é importante registrar a definição de se elaborar o trabalho final no formato de um artigo científico apropriado para publicação em periódico com qualidade, assim como o estímulo a continuidade na oferta de novos cursos. Apesar das dificuldades iniciais, principalmente a partir dos alunos que participariam pela primeira vez dos Trabalhos de Conclusão de Curso, esta atividade foi identificada como um dos elementos com maior potencialidade na produção de conhecimento científico a partir da pesquisa, tendo desenvolvido de forma exemplar uma proposta de regulamentação que está ainda hoje sendo utilizada na condução destes trabalhos. No ano em que o Curso de Odontologia completa 10 anos, a administração superior da UNIFOR, Desenvolvimento Institucional compromisso apoio de á (PDI), elaboração cumprindo assume do o Plano de integralmente projeto de o Mestrado Profissional em Odontologia, por meio da portaria R. 14/05, que nomeia comissão específica para formular e propor o projeto pedagógico para tal curso, visando sua aprovação junto à CAPES. O momento é mais que oportuno para impulsionar novos desafios, fazendo com que a Universidade desenvolva e democratize o acesso aos seus trabalhos à sociedade. 1 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Avaliação da educação superior. Condições de ensino do curso de Odontologia da UNIFOR – INEP/MEC. 2002. Avaliação das condições de oferta do curso de odontologia da UNIFOR – SESu/MEC. 1999. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Resolução CNE/CES 03/2002, de 19 de fevereiro de 2002. Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em odontologia. DEMO, P. Educar pela pesquisa. 3. ed. Campinas: Editora Autores Associados, 1998. FERREIRA, R.F.; CALVOSO, G.G.; GONZALES, C.B.L. Caminhos da pesquisa e a contemporaneidade. Psicol. Reflex. Crit. 15(2) Porto Alegre 2002. UNESCO . Science for the twenty-first century. Paris, 2000. UNICAMP. FORUM DE REFLEXAO UNIVERSITARIA. Desafios da pesquisa no Brasil: uma contribuição ao debate. São Paulo Perspec., out./dez 2002, vol.16, no.4, p.15-23. UNIFOR. Curso de Odontologia. Portaria 01/2003, de 08 de abril de 2003. Cria a Câmara interna de pesquisa do curso de Odontologia da UNIFOR. UNIFOR. Reitoria. Portaria R 14/2005, de 14 de março de 2005. Cria a Comissão de elaboração da proposta do curso de mestrado profissional em odontologia da UNIFOR. ZANCAN, G.T. Educação Científica: uma prioridade nacional. São Paulo Perspec. v.14 n.3 São Paulo jul./set. 2000. 1 CAPÍTULO 9 Tratando desigualmente os desiguais: a busca da eqüidade no Curso de Odontologia da UNIFOR Grace Sampaio Teles Domingos Leitão Neto Fátima Maria Teixeira de Azevedo Luiz Roberto Augusto Noro INTRODUÇÃO A Constituição Federal Brasileira prevê em seus artigos relativos aos direitos do cidadão em relação à saúde a universalidade do atendimento, em todos os níveis de atenção, independente de qualquer fator que diferencie um cidadão de outro, qual seja, sexo, raça, cor, classe social etc. Entretanto, num país que ainda não consegue proporcionar esta universalidade, um princípio que não pode ser esquecido é o da eqüidade, qual seja, tratar de forma diferente aqueles que têm necessidades diferentes, dando-lhes prioridade por sua menor condição de efetiva inserção na sociedade. É este o caso dos grupos de pacientes atendidos nos Projetos Especiais do Curso de Odontologia da UNIFOR: pessoas com necessidade de prótese facial ou pacientes com necessidades especiais, na maioria das vezes excluídos da convivência social ou, minimamente, com menores condições de desenvolver plenamente seus direitos de cidadania. O currículo do curso não prevê em suas disciplinas o atendimento deste tipo de pacientes, entretanto, a grande demanda observada nas clínicas de atendimento do curso como a própria existência desta lacuna nos serviços de saúde levou ao estudo da criação deste tipo de projeto visando o desenvolvimento destas atividades envolvendo alunos da graduação, orientados por professores, em um momento a parte. A previsão existente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Odontologia de que é importante e conveniente que a estrutura curricular do curso, preservada a sua articulação, contemple mecanismos capazes de lhe conferir um grau de flexibilidade que permita ao estudante desenvolver/trabalhar vocações, 1 interesses e potenciais específicos também foi elemento importante na definição desta estratégia. Além disto, as diretrizes curriculares também apontam como competências do futuro profissional reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e atuar de forma a garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade; exercer sua profissão de forma articulada ao contexto social, entendendo-a como uma forma de participação e contribuição social; buscar melhorar a percepção e providenciar soluções para os problemas de saúde bucal e áreas relacionadas e necessidades globais da comunidade; manter reconhecido padrão de ética profissional e conduta, e aplicá-lo em todos os aspectos da vida profissional além de atuar multiprofissionalmente, interdisciplinarmente e transdisciplinarmente com extrema produtividade na promoção da saúde baseado na convicção científica, de cidadania e de ética. Sem dúvida, todos os que participam destes projetos têm se capacitado amplamente para o desenvolvimento destas habilidades. Dessa maneira, o aluno de graduação tem a oportunidade de vivenciar e oferecer um atendimento de caráter holístico que favorece a socialização do indivíduo, preserva a auto-estima e promove a qualidade de vida da família.Com esta iniciativa, além de colocar o aluno em contato com a realidade da profissão, a universidade reitera seu compromisso com a comunidade. 1. PROJETO DE PACIENTES COM NECESSIDADES ESPECIAIS 1.1. INTRODUÇÃO O reconhecimento da especialidade Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais na 2a ANEO em 2001 trouxe maior valorização e qualidade de atendimento a esta parcela da população. A criação dessa nova especialidade se justifica pelo fato de que este grupo de pacientes, além das dificuldades enfrentadas em virtude de uma condição incapacitante, sofrem discriminação da sociedade pelos profissionais de saúde e até mesmo por seus familiares (EISEMBERG, 1976; KOCH, 1995). As respostas sociais às pessoas especiais são as mais variadas possíveis tais como medo, pena, perplexidade, repulsa, 1 constrangimento. A sociedade, de uma forma geral, tende a segregar estes indivíduos. Em decorrência destes fatores a ONU, em 1991, lançou uma proposta de criação da Sociedade Inclusiva. O documento defende a idéia de formar uma sociedade mais justa no futuro, sem preconceitos ou exclusões. Independente de qualquer parâmetro, incluindo as deficiências físicas ou mentais, A ONU quer ver a Sociedade Inclusiva implantada em todo o mundo até o ano de 2010. Essa população, representada por 10% da população mundial, naturalmente, encontra dificuldades adicionais para o exercício de seus direitos mais básicos, tais como ir e vir, estudar e trabalhar. Portanto, defende-se a necessidade de políticas públicas capazes de propiciar igualdade de condições para a vida em sociedade, garantindo a estas pessoas tratamento especial. A Constituição Brasileira, promulgada em 1988, garante como dever do Estado, não só a saúde como também o atendimento preventivo a todos os brasileiros, não havendo nenhuma discriminação aos portadores de deficiência, seja física, psicológica e social. No Brasil, a saúde bucal é apontada como a maior necessidade não resolvida das pessoas portadoras de necessidades especiais. Estes indivíduos apresentam necessidades odontológicas mais intensificadas em decorrência da patologia orgânica como também pela falta dos familiares acreditarem ser impossível a realização do tratamento dentário (FOURNIOL, 1998; CORREA, 1998). Os cuidados com a saúde do paciente portador de necessidades especiais extrapolam o trabalho específico de cada especialidade sendo preciso integrar, interdisciplinar, interagir, para que o resultado final seja satisfatório para o todo do paciente. 1.2. O ATENDIMENTO DE PACIENTES ESPECIAIS NA GRADUAÇÃO Atualmente, os cursos de graduação têm incluído no seu fluxo curricular ou mesmo na forma de estágios o atendimento ao paciente portador de necessidades especiais. Esta iniciativa incentiva assim como desmistifica o atendimento a estes pacientes que contam com uma parcela muito reduzida de profissionais. A literatura aponta discussão no que se refere ao atendimento de pacientes com necessidades especiais na graduação. Há uma corrente que concorde em enquadrar estes pacientes no atendimento normal da clínica multidisciplinar e outra corrente que alegue ser necessário um atendimento especializado. A Faculdade de Odontologia da Universidade de Fortaleza oferece aos alunos do nono e décimo 1 semestres a participação no Projeto de Atendimento aos pacientes com necessidades especiais como atividade extra-curricular onde os alunos inscrevemse voluntariamente e participam do atendimento por um período de um ano. A procura pelo estágio tem se intensificado ao longo dos semestres e isto reflete a repercussão da sociedade em termos de importância a estes pacientes. As maiores dificuldades encontradas pelos alunos durante a execução do tratamento são: • Capacidade de colaboração do paciente, indo desde o cooperativo até o absolutamente não cooperativo; • Interrupções freqüentes, durante o tempo operatório, devido a reações emocionais e fisio-patológicas do paciente; • Sialorréia, macroglossia, respiração bucal, entre outros fatores relacionados com a cavidade bucal; • Posição ergonômica nem sempre possível de ser executada, pois o profissional necessita se adaptar à posição do paciente na cadeira odontológica; • Movimentos involuntários durante a execução do tratamento. 1.3. FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR O atendimento clínico engloba procedimentos de prevenção, dentisteria, endodontia, cirurgia e ortodontia preventiva. A atuação clínica ocorre de forma interdisciplinar como também multidisciplinar. A rotina de atendimento segue os seguintes critérios: atendimento com a assistente social, clínica de triagem, consultas de adaptação do paciente ao ambiente odontológico, concomitantemente a realização de procedimentos preventivos, até a realização do tratamento curativo. Aos cuidadores são dadas atenções especiais: partindo-se do princípio que para cuidar é preciso conhecer, incentiva-se inicialmente o auto cuidado do cuidador para em seguida orientar os cuidados a serem realizados na pessoa portadora de necessidade especial. O número de consultas e o retorno são individualizados variando de semanal, mensal ou trimestral. Os cuidadores acompanham todos os passos do atendimento e auxiliam os alunos na comunicação com o paciente assim 1 como, auxiliam na contenção e adaptações necessárias na cadeira odontológica e em exames radiográficos. Os alunos trabalham em trio dispondo de uma hora para cada paciente. Previamente a entrada do paciente, o material necessário ao seu atendimento deve estar disposto e organizado na mesa clínica com o intuito de reduzir a tempo de atendimento. Os alunos também participam do plantão da prevenção onde semanalmente cada trio marca os pacientes que estão da fila de espera do atendimento. Esta atividade evita o agravamento dos casos, educa e previne. A atividade em sala de aula é dividida em apresentação de casos clínicos e discussão de temas inerentes aos casos. Cada paciente dispõe de um prontuário onde são registrados anamnese, exame clínico, exames radiográficos, encaminhamentos e declaração de condição sistêmica do paciente assinada pelo médico. O atendimento multidisciplinar é desenvolvido junto com o NAMI (Núcleo de Atenção Médica Integrada) que funciona integrado a Universidade. No NAMI encontram-se profissionais da área médica, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas e educadores físicos. Dessa maneira, o planejamento dos casos ocorre de forma integral por meio de discussão em aulas clínicas e englobando as necessidades gerais do paciente. Ainda há muito que se crescer e atingir. Estamos buscando um aperfeiçoamento do nosso trabalho para que possamos oferecer cada vez mais um tratamento holístico visando a melhoria da qualidade de vida do paciente. 2. PROJETO DE PRÓTESE DE FACE 2.1. INTRODUÇÃO A Prótese Buco-maxilo-facial é uma especialidade odontológica reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia e disciplina ofertada no currículo dos principais cursos de Odontologia que tem sua indicação terapêutica em pacientes com lesões onco-cirúrgicas onde for contra-indicada a cirurgia plástica e como tratamento complementar. O número de pacientes com lesões localizadas na face, causadas por variadas etiologias, inclusive o câncer, é muito grande. A recuperação somática por meio de processos autoplásticos (cirúrgicos) em inúmeros casos é insuficiente e em outros é conrta-indicada, necessitando-se lançar mão da terapêutica protética complementar. 1 Este é um fator importante a ser considerado, pois as pessoas portadoras desses tipos de lesões, em geral são muito carentes financeiramente. Não é importante apenas executar a técnica precisa a determinado quadro clínico que o paciente apresenta, isolando-a do indivíduo e do meio em que vive, mas sim considerar a pessoa como um todo. Neste sentido, HELMAN (1994:104) afirma em uma de suas publicações que: ... enfermidade é a resposta subjetiva do paciente, e de todos que o cercam, ao seu malestar. Particularmente, é a maneira como ele – e eles – interpretam a origem e a importância do evento, o efeito deste sobre o comportamento e o relacionamento com outras pessoas, e as diversas providências tomadas por ele para remediar a situação. O tratamento estético e funcional dos pacientes com lesões buco-faciais é, mais que em outras regiões do corpo, da maior importância. A recuperação somática, aliada à normalidade psíquica, faz com que os portadores destas lesões se reintegrem ao ambiente social e até mesmo, familiar. A partir dessa compreensão realiza-se um atendimento com mais humanização, buscando não apenas a cura da lesão em si, mas procurando fornecer estratégias educativas para promover a saúde desses pacientes e provocar uma mudança na sua qualidade de vida. 2.2. O ATENDIMENTO DE PACIENTES COM NECESSIDADE DE PRÓTESE DE FACE NA GRADUAÇÃO Levando-se em consideração que a prótese facial é de simples execução e de baixo custo, se comparada com a cirurgia plástica, observa-se que pode ser ofertada gratuitamente pelas instituições como ocorre com os pacientes que procuram o Serviço de Prótese da Face do Curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza. Com este objetivo, foi elaborado o projeto do serviço, para atendimento dos pacientes com necessidade de prótese buco-maxilo-facial. Levando em conta o grande número deste tipo paciente e a quase inexistência de serviços para atendê-los, considera-se extremamente oportuno a criação, nos 1 Projetos Especiais de Odontologia da UNIFOR, do primeiro serviço de atendimento a pacientes com defeitos na face, boca e maxila do Estado do Ceará. O serviço de Prótese Buco-maxilo-facial tem, como objetivo geral, o atendimento e recuperação, por meios protéticos, adotando estratégias de promoção de saúde, de pacientes portadores de lesões sediadas na boca, maxila e face visando sua recuperação estético-funcional, sua integração social, melhoria de sua qualidade de vida e conseqüente reabilitação para a atividade profissional. Pretende-se com o serviço dotar Fortaleza de um serviço especializado no atendimento aloplástico dos defeitos da face, qualificar, por meio de estágio curricular, acadêmicos de odontologia, fonoaudiologia, psicologia e fisioterapia no atendimento destes pacientes especiais, recuperar por meio de prótese ocular, pacientes portadores de lesões do bulbo ocular e óculo-palpebral, recuperar pacientes portadores de lesões onco-cirúrgica ou agenesias na face, por meio de prótese nasal, auricular e facial extensa, Confeccionar goteiras dentais, para, em integração com a cirurgia buco-maxilo-facial, atender os pacientes portadores de fraturas mandibulares, assim como desenvolver pesquisa na área de prótese facial implanto-suportada. É filosofia do projeto manter-se uma interdisciplinaridade e uma transdisciplinaridade com especialidades afins, para que se possa proporcionar um tratamento integral ao paciente e trabalhar estratégias de promoção de saúde. É grande o número de pacientes que necessita de atendimento nesta área, o que não existe é serviço para atendê-los. Portanto, é necessária uma articulação com outros serviços que atuam com pacientes com este perfil como o Instituto dos Cegos do Ceará, o Hospital do Câncer, as disciplinas de Oftalmologia, Oncologia e Cirurgia Plástica do Curso de Medicina, além do curso de Fonoaudiologia, para atendimento a pacientes portadores de fissuras palatinas. 2.3. FUNCIONAMENTO DO SERVIÇO NO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIFOR O serviço funciona com professores da disciplina de Prótese Buco-maxilofacial, disciplina obrigatório no fluxo curricular 36.2 da graduação, e com estagiários formados por alunos do 9o e 10o semestres, que trabalham em dupla/trio e realizam tanto procedimentos clínicos como laboratoriais na execução das próteses. Para o 1 atendimento aos clientes e orientação aos alunos estagiários e/ou pesquisadores estão lotados dois professores e, como auxiliar, um funcionário. A seleção dos alunos é feita junto aos acadêmicos do nono e décimo semestres e obedecendo a disponibilidade de horário dos mesmos. O critério de avaliação, leva em consideração o desempenho do aluno na disciplina de Prótese Buco-Maxilo-Facial, o interesse, o relacionamento interpessoal, o compromisso com o paciente, além de conhecimentos técnicos sobre o assunto. O serviço funciona durante três dias na semana, no Curso de Odontologia da UNIFOR, atendendo por turno, em média seis pacientes. Por serem pacientes especiais que fogem ao cliente tradicional de Odontologia, a triagem e seleção dos mesmos, é feita pelos próprios professores lotados no serviço. Durante o atendimento é preenchida uma ficha clínica para a qual são transcritos todos os relatos informados pelo paciente na anamnese. Tem-se observado que além das dificuldades financeiras relatadas, essas pessoas chegam tristes e muitas vezes deprimidas e até arredias, em conseqüência da situação vivenciada. Isto nos levou a repensar nossa abordagem eminentemente biomédica e visão segmentada do paciente. O atendimento do paciente com lesão facial, principalmente extensa, deve ser feito em local especial, tanto para conforto do paciente, geralmente sujeito de curiosidades, como o profissional de atendimento, que necessita de instrumentais e materiais, geralmente indisponibilizados nas clínicas odontológicas tradicionais. Hoje são atendidos pacientes de várias cidades do interior do Estado do Ceará, inclusive de outros estados, bem como de Fortaleza. Em geral são pessoas carentes, que na maioria das vezes, precisam da ambulância da prefeitura de sua cidade para comparecer ao serviço, o que provoca maiores dificuldades, além das inerentes à situação. Em dois anos de serviço já foram atendidas em média 120 pessoas, com as mais variadas necessidades. O projeto tem desempenhado seu papel de forma exemplar uma vez que observa-se no aluno uma maior motivação na solução do problema do paciente, considerando a importância que isto representa na reintegração social assim como vislumbra um campo de atuação ainda pouco identificado com a prática do cirurgiãodentista. 1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, N.C.B. Proposta para reconhecimento da especialidade Pacientes Especiais aprovada na assembléia preparatória estadual. Presidente da Associação Mato-grossense de Odontologia para Pacientes Especiais Relatora da APE – MT BRASIL. Lei N. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. CORREA, M.S.N.P. Odontopediatria na primeira infância. Ed Santos: São Paulo, 1998, 679 p. EISEMBERG, L.S. The care and treatment of Handicapped Children. JDC, Jul/Aug, 1976. FOURNIOL, A . Pacientes especiais e a Odontologia. Ed Santos: São Paulo, 1998, 472p. KOCH, G.; TOMAS, M.; POUSEN, S.; RASMUSSEN, P. O paciente criança no tratamento odontológico. In: KOCH, G.; TOMAS, M.; POUSEN, S.; RASMUSSEN, P. Odontopediatria: Uma abordagem clínica. 2a Ed. Ed Santos: São Paulo, 1995, p.6577. 1 CAPÍTULO 10 Jornada Acadêmica de Odontologia da UNIFOR Juliano Sartori Mendonça Márlio Ximenes Carlos Sérgio Luís da Silva Pereira A jornada de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) é uma atividade extracurricular, inserida no calendário de atividades letivas do curso de graduação em Odontologia, realizada anualmente desde 1998, no segundo semestre de cada ano. Em 2005, será realizada sua oitava edição. O evento surgiu quando da realização da XXXIII Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico na cidade de Fortaleza no ano de 1998, tendo como primeira designação “I Jornada Acadêmica da UNIFOR”, nome este que foi aprimorado, consolidando-se como a marca: Jornada Acadêmica de Odontologia da UNIFOR – JAO da UNIFOR. A jornada tem como objetivos primordiais: Permitir aos discentes expor sua produção científica bem como exercitar seus dotes pedagógicos, estimulando as atividades de monitoria bem como os trabalhos de iniciação científica; Permitir a exposição de conteúdos técnicos não trabalhados na grade curricular do curso de graduação em Odontologia da UNIFOR ou o aprofundamento dos trabalhados, e o contato com professores e filosofias de trabalho distintas das adotadas no curso, alargando os horizontes profissionais dos nossos discentes; Permitir a discussão de temas relevantes ao curso de Odontologia da UNIFOR ou a Odontologia cearense e brasileira, viabilizando aos nossos discentes o conhecimento, a participação e a influência nos grandes debates profissionais, aguçando ainda mais seu senso crítico; Ser um momento de encontro, de congraçamento entre os discentes da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) com os da Universidade Federal do Ceará (UFC), bem como com profissionais do Estado do Ceará, promovendo a interação e a troca de experiências. 1 O conclave é organizado por uma comissão composta de docentes e discentes do curso de Odontologia da UNIFOR, trabalhando sob os auspícios do Centro Acadêmico e da Coordenação do curso. O trabalho na organização da jornada é voluntário. Os discentes dispostos a trabalhar manifestam seu desejo após convocação do Centro Acadêmico e se distribuem pelas várias subcomissões, sendo o coordenador discente escolhido por meio de votação entre os voluntários. Já o coordenador docente e os demais professores são escolhidos e convidados pela comissão discente a integrar as comissões já estabelecidas, visto que o papel maior dos docentes é o de facilitador, pois a jornada é uma atividade feita pelos discentes para os discentes. A comissão organizadora é dividida em várias comissões temáticas: tesouraria, instalação, divulgação, secretaria, científica e social, com a finalidade de descentralizar os esforços e maximizar os resultados. Financeiramente, o evento é de responsabilidade do Centro Acadêmico do curso de Odontologia da UNIFOR, cabendo o bônus ou o ônus sobre o resultado financeiro do mesmo. No entanto, o conclave recebe forte apoio institucional da UNIFOR. Além disso, são comercializados espaços para feira promocional e “merchandising”, sem falar no montante arrecadado com adesões a jornada e inscrições às atividades científicas propostas. A jornada é realizada nas dependências da UNIFOR, aproveitando-se da estrutura do bloco do curso de Odontologia, uma vez que não há atividade letiva neste período, assim como da estrutura disponibilizada pela Vice-reitoria de Pósgraduação e da Vice-reitoria de Extensão. Eventualmente, são utilizados espaços externos a UNIFOR para realização de solenidades e festas. Dentre as estratégias de divulgação do evento, estão: visitas aos locais de concentração de acadêmicos e cirurgiões-dentistas para a distribuição de cartazes e “folders”; envio de mala direta e manutenção de página na internet, a fim de viabilizar informações e serviços, como a inscrição para apresentação de trabalhos científicos na jornada. Dentre as atividades oferecidas durante a jornada, podemos dividi-las em três grupos: as científicas, as comunitárias e as sociais. As atividades científicas, por sua vez, podem ser divididas: naquelas onde o participante da jornada é o protagonista da mesma, como os fóruns acadêmico e 1 profissional, clínico e científico, os temas livres e os painéis; e naquelas onde o participante da jornada caracteriza-se mais como um ouvinte, como os cursos, seminários, simpósios, fóruns de debate, mesas redondas, “workshops” e “handson”. As atividades comunitárias são caracterizadas pela prestação de serviços à sociedade, como campanha contra o câncer de boca, campanha de vacinação dos estudantes de Odontologia contra a hepatite, ou campanha educativa a respeito da cárie dentária, doença periodontal e traumatismo dentário com crianças de escolas próximas a UNIFOR e com os filhos de funcionários da própria instituição, entre outras. Estas ações são particularmente preciosas àqueles alunos que não chegaram as disciplinas profissionalizantes, pois normalmente as atividades científicas propostas não são de entendimento fácil em função do não domínio do conteúdo teórico por parte destes discentes. As atividades sociais são caracterizadas pelo congraçamento dos participantes da jornada, como as solenidades de abertura e encerramento, os “coffee-breaks”, os “happy-hours” e as festas noturnas. É importante destacar o espaço aberto nestas atividades para que os discentes exponham seus dotes artísticos por meio de apresentações de dança, teatro, música e literatura. Enfim, a jornada tem se mostrado um excelente instrumento para aproximar alunos e professores por meio de atividades nas quais a relação de poder esteja alterada e os papéis nessa hierarquia imprecisos. Também constitui um excelente laboratório para forjar líderes e testar seus desempenhos. Possibilita o convívio com acadêmicos e profissionais de outras áreas, como a Fonoaudiologia, Fisioterapia, Enfermagem, entre outros. 1