Revista do Clima - Planeta Sustentável

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Revista do Clima - Planeta Sustentável
Revista do
Com textos de:
volume 2
os desafios
até 2020
um novo
tempo
Achim Steiner Alexandre Comin Augusto Rodrigues Caco de Paula
Carlo Linkevieius Pereira Chiaki Karen Tada Débora Spitzcovsky
Eduardo Matias Felipe Ferreira Jean R. Benevides Jorge Soto Kalil Cury Filho
Letícia Guimarães Liana John Mariana Martinato Matthew Shirts
Paulo Roberto dos Santos Pavan Sukhdev Ricardo Abramovay
Rodolfo Nardez Sirol Rodrigo Gerhardt Suzana Khan Tasso Azevedo
Thelma Krug Tim Jackson Virgílio Viana
O tempo mudou
As Cidades precisam ser preparadas e os oceanos
protegidos dos impactos das mudanças climÁticas
Emissões brasileiras
Levantamento por setor aponta: energia
e agropecuária ultrapassam desmatamento
Visões múltiplas
Empresários, pesquisadores, economistas e diplomatas analisam
os caminhos para a economia de baixo carbono
O grande avanço da COP19
Entenda os resultados do Marco de Varsóvia para o REDD+
e d i to r i a l
será que vai
dar tempo?
expedi en te
REVISTA DO CLIMA 2 é uma publicação do Planeta Sustentável e Editora Abril.
Direção: Caco de Paula. Coordenação: Matthew Shirts. Edição: Alessandro Meiguins, Chiaki Karen Tada
e Rodrigo Gerhardt. Com textos de: Achim Steiner, Alexandre Comin, Augusto Rodrigues, Caco de Paula, Carlo
Linkevieius, Chikai Karen Tada, Débora Spitzcovsky, Eduardo Matias, Felipe Ferreira, Jean Benevides, Jorge Soto,
Kalil Cury Filho, Letícia Guimarães, Liana John, Mariana Martinato, Matthew Shirts, Paulo Artaxo, Paulo Roberto
dos Santos, Pavan Sukhdev, Ricardo Abramovay, Rodolfo Nardez Sirol, Rodrigo Gerhardt, Suzana Kahn,
Tasso Azevedo, Thelma Krug, Tim Jackson, Virgílio Viana Projeto Gráfico: Suye Okubo.
Arte e Infografia: Naná de Freitas, Letícia Ledoux e Raísa Benito – Estúdio Alcachofra.
Revisão: Kátia Shimabukuro.
Planeta Sustentável é uma iniciativa multiplataforma da Editora Abril, cuja missão é disseminar
conhecimento sobre sustentabilidade. Diretor: Caco de Paula. Coordenador editorial: Matthew Shirts.
Gerente de conteúdo do site: Mônica Nunes. Site: Débora Spitzcovsky, Jéssica Miwa, Marina Maciel,
Pedro Gonçalves, Gilberto Castro. Marketing: Priscila Perasolo, Arthur Pesce Eliezer, Gabriela Moya,
Juliana Egito, Chiaki Karen Tada, Rodrigo Gerhardt e Maria Bitarello.
Coordenação administrativa: Ione Bonfim e Rafael de Almeida.
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Um antigo dito popular afirma que o simples fato de se saber para
onde se quer ir já significa um avanço equivalente a percorrer
metade do caminho. A imagem é muito adequada aos desafios trazidos
pelas mudanças climáticas.
Depois de ter sido manipulada para parecer o contrário do que efetivamente é, a questão
ressurge com espantosa clareza: ou nos dedicamos a construir rapidamente uma economia
de baixo carbono ou, em breve, não vai dar tempo de fazer mais nada que seja capaz de evitar
os piores impactos decorrentes dessa falta de ação.
Já sabemos onde queremos chegar. É como se tivéssemos percorrido metade do caminho.
Agora é preciso apressar o passo. É isso o que nos diz a boa ciência, é isso que defendem os
líderes comprometidos com ações efetivas no front do clima. É preciso agir, manter o curso
na direção certa e prosseguir. Ajudar a indicar essa direção certa é a meta desta edição que
o Planeta Sustentável traz, em meio ao aprendizado e as discussões levantadas pelo Quinto
Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Contamos com colaborações multidisciplinares para compor, neste volume 2
da Revista do Clima, um dos mais amplos painéis já produzidos sobre o tema.
Nas páginas seguintes, físicos, oceanógrafos, economistas e engenheiros somam-se a
profissionais de empresas, formuladores de políticas públicas, jornalistas e diplomatas
para lançar luzes sobre o principal ponto na agenda desta década. Num dos textos desta
edição, extraído da fala de Achim Steiner, diretor executivo do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente, ficamos sabendo que a destruição ambiental custa
cerca de 4,7 trilhões de dólares por ano à economia mundial. Atribuir um preço ao
que estamos destruindo é uma forma de identificarmos o valor do que deveríamos
estar construindo, a economia de baixo carbono.
Já sabemos qual é o caminho. Agora precisamos percorrê-lo. Será que vai dar tempo?
Caco de Paula
Diretor do Planeta Sustentável
3
con v ida d o s
Achim Steiner é diretorexecutivo do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente. Foi diretor geral da
União Internacional para a Conservação da
Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
Augusto Rodrigues é diretor de
Comunicação Empresarial e Relações
Institucionais da CPFL Energia, mestre
em ciência política pela Unicamp. É vicepresidente do Comitê Brasileiro do Pacto
Global e conselheiro do Planeta Sustentável.
Carlo Linkevieius Pereira
é gerente corporativo de sustentabilidade
da CPFL Energia. É bacharel em química
e mestre em ciências ambientais pela
USP, com MBA em sustentabilidade
pela Leuphana Universitat, Alemanha.
Eduardo felipe Matias é sócio do
escritório Nogueira, Elias, Laskowski
e Matias Advogados, doutor em direito
internacional pela USP e autor dos livros
A Humanidade e suas Fronteiras
e A Humanidade Contra as Cordas.
JEAN R. BENEVIDES é gerente nacional
de sustentabilidade e responsabilidade
socioambiental da Caixa, onde trabalha
há 24 anos, sendo 17 deles dedicados às
áreas socioambientais do banco. Também
é conselheiro do Planeta Sustentável.
Kalil Cury Filho é diretor da Partner
Desenvolvimento. É conselheiro do
Planeta Sustentável, da Aberje e do Conselho
da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil
- São Paulo. Foi secretário de desenvolvimento
econômico do Paraná.
Letícia Guimarães
é analista ambiental da
Secretaria de Mudanças Climáticas
do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
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Alexandre Comin é diretor do
Departamento de Competitividade Industrial
e secretário adjunto da Secretaria de
Desenvolvimento da Produção do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria
e Comércio Exterior.
Caco de Paula é jornalista e diretor
do Núcleo Planeta Sustentável. Dirigiu
o núcleo de publicações de turismo da
Abril e a National Geographic Brasil.
Também atuou em O Estado de S. Paulo,
Jornal da Tarde e Veja.
Débora Spitzcovsky é repórter
do site do Planeta Sustentável e,
desde o início da carreira, dedica-se
a cobrir questões relacionadas
à sustentabilidade.
Felipe Ferreira é diplomata
da Divisão de Clima, Ozônio e
Segurança Química do Ministério
das Relações Exteriores.
Jorge Soto é diretor de
Desenvolvimento Sustentável
da Braskem. É também presidente
do Comitê Brasileiro do Pacto Global
e diretor do Conselho Empresarial
para o Desenvolvimento Sustentável.
Chiaki Karen Tada é jornalista
formada pela ECA/USP, mestre
em antropologia social pela SOAS/
Universidade de Londres e editora
de conteúdo do Planeta Sustentável.
Liana John é jornalista ambiental,
especializada em biodiversidade,
mudanças climáticas e uso racional
de recursos naturais. É conselheira
do Planeta Sustentável e autora
do blog Biodiversa, no site.
Mariana Paal Martinato é gerente de
Sustentabilidade do Grupo Abril. É especialista
em sustentabilidade e responsabilidade
corporativa pela Unicamp, com formação em
empreendedorismo, mudanças climáticas e
liderança para o desenvolvimento sustentável.
Moacyr Araújo entrevistado especial,
é integrante do Departamento de
Oceanografia da Universidade Federal
de Pernambuco. Coordenou o Grupo de
Trabalho 1 do Painel Brasileiro
de Mudanças Climáticas.
Paulo Roberto dos Santos é advogado
e vice-presidente de Operações Corporativas
da Caixa. Já foi ouvidor e gestor do
jurídico e atualmente preside o Comitê
de Sustentabilidade e Responsabilidade
Socioambiental do banco.
Ricardo Abramovay é professor
titular do Departamento de Economia
da FEA e do Instituto de Relações
Internacionais da USP, pesquisador
do CNPq e da Fapesp e conselheiro
do Planeta Sustentável.
Rodrigo Gerhardt é jornalista,
editor de conteúdo do Planeta Sustentável.
É especialista em Gestão da Sustentabilidade
pela Fundação Getúlio Vargas.
Tasso Azevedo é empreendedor
socioambiental e consultor sobre
florestas, clima e sustentabilidade.
É coordenador do Blog do Clima
e conselheiro do Planeta Sustentável.
Tim Jackson é professor
de Desenvolvimento Sustentável
da Universidade de Surrey,
na Inglaterra, e autor de
Prosperidade sem Crescimento,
lançado em português pelo
Planeta Sustentável.
Matthew Shirts é jornalista e
coordenador editorial do Planeta Sustentável.
Dirigiu a revista National Geographic Brasil
por 13 anos e foi cronista do jornal
O Estado de São Paulo. Desde 2012
escreve regularmente na revista Veja SP.
Paulo Artaxo entrevistado especial,
é professor titular do Departamento de
Física Aplicada do Instituto de Física da USP.
É membro do IPCC e da coordenação do
Programa Fapesp de Mudanças Globais
e da Rede Clima do MCT.
Pavan Sukhdev é autor do relatório
The Economics of Ecossystems and
Biodiversity (Teeb), da ONU, que fala do valor da
biodiversidade para a sociedade e as empresas.
É autor de Corporação 2020, lançado em
português pelo Planeta Sustentável.
Rodolfo Nardez Sirol é oceanógrafo
pela Universidade Federal do Rio Grande,
com mestrado e doutorado pela Universidade
Federal de Viçosa. Atua no setor elétrico
desde 2001 e atualmente é responsável
pela diretoria de Meio Ambiente
do grupo CPFL Energia.
suzana kahn é subsecretária de
Economia Verde da Secretaria Estadual
de Ambiente do Rio de Janeiro, presidente
do Comitê Científico do Painel Brasileiro
de Mudança Climática e vice-presidente
do Grupo de Mitigação do IPCC.
Thelma Krug é assessora
internacional do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Virgílio Viana é Ph.D por Harvard;
foi secretário de Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável
do Amazonas (2003-8). É o atual
superintendente-geral da Fundação
Amazonas Sustentável (FAS).
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r e v i s ta do c l i ma 1
a história
do século
edição A nova realidade
da mudança climática,
do
P laneta Sustentável
e da united nations foundation
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na primeira edição, com a chamada
A nova realidade da mudança
climática, o Planeta Sustentável
compilou artigos do blog do clima
sobre o novo relatório do ipcc
Em uma edição de 36 páginas, o Planeta Sustentável reuniu artigos do Blog do Clima, que tem a curadoria de Tasso Azevedo,
coordenação de Matthew Shirts e Mônica Nunes, editora do site,
e a colaboração de vários jornalistas e especialistas. Esse material serviu de base para um curso, promovido pelo Planeta, para
melhor compreender os dados do 5o Relatório do IPCC e como
preparação para a COP19. Os artigos, gráficos e mídias contam
os principais aspectos das urgências climáticas. Baixe a edição,
gratuitamente, em planetasustentavel.abril.com.br/pdf/nova-realidade-mudanca-climatica.pdf. Veja, ao lado, um resumo dos
principais artigos.
1•
cinquenta gigatons de cinza
tasso azevedo
“O planeta passou por ciclos de
aumento e redução de GEE na
atmosfera, que duravam milhares
de anos e atingiam picos de 300
ppm (partes por milhão) de CO2e na
atmosfera, seguidos de reduções para
até 170 ppm. Desde os meados do
século 20 emitimos mais CO2 do que o
planeta é capaz de absorver. Invertemos
o caminho natural do planeta, que
estava em um ciclo de redução.”
3•
a ciência do clima
josé eduardo mendonça
”O método e técnica de observação
que determinaram o aumento das
concentrações de CO2 na atmosfera
foram obra do químico e oceanógrafo
Charles Keeling. Ele descobriu as
variações de concentração de CO2.
Sem seu trabalho os cientistas não
teriam a ferramenta essencial para
acompanhar o que estamos
fazendo com a Terra.”
5•
o que diz o relatório brasileiro
débora spitzcovsky
”Em 50 anos, a temperatura no
Brasil poderá ficar até 3 ºC mais alta.
O aumento será mais intenso
no Nordeste e no Norte. Os dados são
do primeiro Relatório de Avaliação
Nacional do Painel Brasileiro de
Mudanças Climáticas.” É o que diz
o climatologista Tercio Ambrizzi,
coordenador do Grupo de Trabalho 1,
do PBMC, em entrevista exclusiva.
2•
por que 2 oC?
tasso azevedo
”Esse foi o limite definido, durante
a COP15, em 2009, para o aumento
da temperatura média do planeta,
sem que a humanidade seja
dramaticamente afetada. Esse cenário
está cada vez mais distante e há
chances da temperatura média subir
4 oC entre 2050 e 2070. Devemos evitar
isso a qualquer custo.”
4•
o sol e o oceANo no balanço
energético da terra
suzana kahn
“Desde 1970 presenciamos uma
entrada de calor na Terra superior
à saída. Ou seja, o balanço energético
do planeta está em desequilíbrio.
O oceano tem papel de destaque na
busca pelo equilíbrio, mas ele tem
aquecido, expandido e acidificado.
As três últimas décadas foram as
mais quentes desde o século 19.
O aquecimento global é inequívoco.”
6•
A eficiência
do estudo brasileiro
suzana camargo
”O Brasil desenvolveu um modelo
de sistema terrestre, que integra
variações dos mais diversos
elementos- atmosfera, oceanos,
superfície. Os dados são analisados
por cientistas brasileiros com ajuda
do supercomputador Tupã, que
possui 30 mil processadores capazes
de realizar centenas de milhões
de cálculos por segundo.”
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a or i g e m d o c o n t e ú d o
multidisciplinar
e multimídia
mídias
site
expedição cop19
O Planeta publica
mais de 300 páginas
anuais sobre sustentabilidade
em cerca de 40 revistas da
Editora Abril. São anúncios que
tratam de múltiplos aspectos
da questão. Selecionamos
algumas que tratam do
aquecimento global.
Com edição ágil e atualizações
constantes, o site do Planeta
oferece uma gama abrangente
de abordagens sobre o assunto
em blogs, fotos, vídeos, notícias,
debates, infográficos, entrevistas,
simuladores e muito mais.
Uma comitiva do Planeta, formada
por 13 pessoas, foi a Varsóvia
para acompanhar os debates
que envolveram representantes
de quase 200 países, participou
de eventos de entidades
empresariais e trazem aqui as
suas reflexões e contribuições.
planetasustentavel.abril.com.br
planetasustentavel.abril.com.br/blog/
blog-do-clima/
t
blo g DO CLIMA
A R TIG Os
liv ro s
Desde julho de 2013, o Blog do Clima
publica, no site do Planeta, aspectos
urgentes sobre as mudanças
climáticas. Com curadoria de
Tasso Azevedo, é coordenado por
Matthew Shirts e Mônica Nunes.
Diversos estudiosos e
profissionais responsáveis
por áreas de sustentabilidade
de empresas de grande porte
escrevem artigos únicos para
esta edição especial da
Revista do Clima do Planeta.
O Planeta publica, através de
seu selo, livros de renomados
pensadores da nova economia.
O site do Planeta publica trechos
das obras e insights dos autores
em blogs.
planetasustentavel.abril.com.br/blog/
blog-do-clima/
planetasustentavel.abril.com.br/blog/
muito-alem-da-economia-verde
planetasustentavel.abril.com.br/blog/
corporacao-2020
planetasustentavel.abril.com.br/blog/
prosperidade-sem-crescimento
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Su má r i o
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Cidades com estrUtura precária serão afetadas
Suzana Khan
Precisamos de mais ambição
Tasso Azevedo
Pensar e agir
Caco de Paula
O hamster e a borboleta
Pavan Sukhdev
Prosperidade duradoura
Tim Jackson
Como o aquecimento provoca tempestades
Matthew Shirts
A hora e a vez de um acordo mundial
Chiaki Karen Tada e Matthew Shirts
Alívio no chorinho da prorrogação
Liana John
A economia a serviço do desenvolvimento
Ricardo Abramovay
COP20: Peru
Chiaki Karen Tada
o brasil precisa cuidar do seu oceano
Débora Spitzcovsky
não há carvão limpo
Chiaki Karen Tada
Olhar além do alcance
Mariana Martinato
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onde está nossa humanidade?
Rodrigo Gerhardt
Cooperação Sul-Sul: Novas perspectivas
Virgílio Viana
Avanço empresarial
Kalil Cury Filho
Multiplicadores de mudanças
Achim Steiner
Novos Horizontes
Alexandre Comin
A energia que vem do sertão
Jean R. Benevides
Gases de efeito estufa transformam a gestão
Rodolfo Nardez Sirol
O setor energético e o desafio dos 2 ºC
Augusto Rodrigues
O marco de Varsóvia para Redd+
Thelma Krug, Letícia Guimarães e Felipe Ferreira
O baixo carbono e o livre comércio
Eduardo Matias
Responsabilidade compartilhada
Carlo Linkevieius Pereira
por uma virada climática e competitiva
jorge soto
o setor financeiro e a agenda do século 21
paulo roberto dos santos
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gráficos d o i p cc
mudanças de temperatura
das superfícies terrestre e oceânica
medição entre 1850 e 2012
Média anual
0.4
0.2
-0.0
-0.2
-0.4
-0.6
0.6
Média por décadas
0.4
0.2
-0.0
-0.2
-0.4
-0.6
1850
1900
1950
2000
-0.6
o aumento nas temperaturas
está presente em todas as
superfícies do globo
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revista c lima | volume 2
-0.4
-0.2
0
0.2
Pode-se observar aumentos drásticos
de temperatura por todo o planeta.
Há regiões que já mostram um aumento
de 2,5 ºC. Parte delas está no Brasil
0.4
0.6
0.8
1.0
1.25
1.50
1.75
2.5
fonte: sumário do 5o relatório do ipcc - grupo de trabalho 1
Alteração na temperatura em relação a 1961-1990 (em ºC)
0.6
aumen to da temperatura po r região do pl an eta
entre 1901 e 2012 (em ºC )
13
t
AR TI GO
Cidades com estrutura
precária são afetadas
As mudanças climáticas irão estressar áreas urbanas mais
vulneráveis. É preciso implantar medidas de adaptação
Suzana Kahn
A
temperatura média pode
subir até 6 ºC em 2100,
e o regime de chuvas no
Brasil também sofrerá
alterações por conta das mudanças climáticas: nos Pampas e na
Mata Atlântica do Sudeste pode
haver aumento de até 30% na
precipitação, enquanto na Amazônia e na Caatinga, o cenário
deve ser de seca, com redução de
até 40% nas chuvas.
Em março, na cidade de Yokohama, no Japão, ocorrerá sessão plenária para aprovar o sumário para
tomadores de decisão do relatório
do IPCC sobre Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade às Mudanças
Climáticas e, em abril, na cidade de
Berlim, na Alemanha, será a vez da
aprovação do sumário do relatório
do IPCC de mitigação.
O objetivo maior da informação
contida nos dois sumários é que
os políticos possam traçar estratégias e adotar medidas de redução
dos riscos associados à mudança
climática, que podem ser tanto de
adaptação quanto de mitigação e
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uma combinação de ambas, sendo
que a escala dos efeitos da mitigação é global e da adaptação tem
efeitos locais.
Tradicionalmente, a mitigação
recebe muito mais atenção na comunidade acadêmica e nas negociações climáticas. Uma das razões é que a mitigação traz outros
benefícios (no caso de ações em
transportes, menos congestionamentos, poluição, tempo de viagem
etc.) além de reduzir emissões de
que se reduza muito a emissão, o
carbono que já está na atmosfera
ficará lá por mais de cem anos) e
da dificuldade de reduzir emissões, adaptar-se a um novo padrão
climático é imperativo. Adicionalmente, apesar de a adaptação
apresentar benefícios localizados,
eles podem ser percebidos no curto prazo, diferentemente de ações
de mitigação.
Recentemente, a questão urbana e a participação dos poderes
As cidades são responsáveis pela maior
parte da produção e do consumo em todo
o mundo. nelas está uma das maiores fontes
de emissão de gases de efeito estufa, em
função da demanda crescente por energia
gases de efeito estufa. Outra razão
é que é mais simples mensurar e
monitorar a redução de emissões
do que avaliar medidas de adaptação. No entanto, por conta da inércia do sistema climático (mesmo
locais na arena internacional começaram a ter maior destaque no
debate climático. As cidades são
responsáveis pela maior parte da
produção e do consumo em todo o
mundo e são propulsoras primá-
rias de crescimento e desenvolvimento econômico. Por conta disso, é nas cidades que está uma das
maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa, em função da
demanda crescente por energia.
É também o local em que os impactos das mudanças climáticas serão
mais sentidos, pois é onde reside a
maior parte da população mundial.
Ou seja, é nas cidades que se deve
buscar a implementação de medidas de mitigação e adaptação.
Porém, vale destacar que somente com medidas de adaptação
é que se poderá reduzir a vulnerabilidade “estrutural” das cidades,
sobretudo aquelas que se encontram em países em desenvolvimento. A vulnerabilidade estrutural vai além da vulnerabilidade ao
sistema climático.
A vulnerabilidade pode ser entendida em função de três componentes: capacidade de adaptação,
exposição e sensibilidade. Locais
com problemas associados ao
crescimento desordenado e desigual, deficiências na área de saúde
e educação, habitações em áreas
de risco, inexistência de sistemas
de saneamento, infraestrutura urbana precária, entre outras mazelas, são áreas que estruturalmente
se recuperar o mais rapidamente
possível, tornando-se mais fortes
a partir desses choques e tensões.
De acordo com a Rockefeller Foundation, o custo dos desastres urba-
As áreas urbanas começam a buscar o
aumento de resiliência, ou seja, a capacidade
de responder a catástrofes
já são sensíveis. Assim, a questão
climática só irá estressar ainda mais
a condição desses locais, potencializando a sua vulnerabilidade.
Por conta disso, atualmente, cidades de todo o mundo começam
a despertar para a questão de
aumento de resiliência, que pode
ser entendida como o quanto uma
nação ou uma cidade está preparada para enfrentar problemas
adversos. Construir resiliência diz
respeito a tornar as pessoas, comunidades e sistemas mais bem
preparados para resistir a catástrofes – naturais ou de origem
antrópica – e a serem capazes de
nos, só em 2011, foi estimado em
mais de 380 bilhões de dólares.
Ou seja, há que se ter uma avaliação de vulnerabilidade que inclua fatores “não climáticos” e que
compreenda questões ambientais,
econômicas, sociais, demográficas, tecnológicas e políticas. Nesse
caso, lamentavelmente, as nossas
cidades estão muito desprotegidas.
Um órgão do porte e abrangência
do IPCC não tem condições de focalizar questões tão heterogêneas
e tão dependentes de características diversas. Esse papel de análise
da vulnerabilidade estrutural das
cidades cabe aos poderes locais.
15
BLOG + S ITE
Precisamos
de mais ambição
Para cobrar uma postura mais pró-ativa dos países desenvolvidos,
o Brasil precisa ampliar suas metas de redução de emissão de gee
Tasso Azevedo
U
m dos temas-chave dos
debates das últimas COPs
(Conferência das Partes da
Convenção sobre Mudanças
Climáticas da ONU) e que deve perdurar até a COP21, em Paris, é a necessidade de aumentar o nível de ambição
dos compromissos de mitigação das
emissões de gases de efeito estufa
(GEE) pelos países-membro de forma
a fechar a lacuna entre as emissões
projetadas para 2020 e os limites de
tiva queda de suas emissões de GEE
desde 2005, como consequência da
diminuição do desmatamento e, especialmente, pelos compromissos
voluntários assumidos entre 2008 e
2009 para mitigar emissões nos setores de energia, indústria, agropecuária e mudança de uso do solo. O nível
de ambição do País vinha colocando
pressão sobre os países desenvolvidos e outras economias emergentes.
Mas uma série de sinais recentes
uma série de sinais recentes aponta um
cenário em mutação. nossos resultados
estão sendo refreados
emissões indicados pelo IPCC para
termos uma chance razoável de limitar o aumento da temperatura média
do planeta em 2 oC.
O Brasil tem sido um firme advogado da pressão sobre os países desenvolvidos para que estes aumentem
significativamente o seu nível de ambição para a redução das emissões
até 2020. A liderança e a força moral
do Brasil estão calcadas na significa-
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aponta um cenário em mutação. Nossos resultados estão sendo refreados
e o nível de ambição está sendo revisado, para baixo.
O desmatamento voltou a crescer
em 2012/2013 na Amazônia (Prodes/
Inpe) e Mata Atlântica (SOS Mata
Atlântica/Inpe). Dados preliminares
do Lapig – Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento mostram a mesma tendência
no Cerrado. A criação de unidades de
conservação, indicada por vários estudos independentes como um dos
mais eficazes meios de evitar o desmatamento, não só foi praticamente
paralisada no atual governo como foi
aberta uma frente de redução das
áreas existentes para fins de estudos
e implementação de projetos de infraestrutura.
mudança de perfil
Em novembro, os dados do Sistema de Estimativa de Emissões de
Gases de Efeito Estufa (Seeg), publicados pelo Observatório do Clima, mostram profunda mudança no
perfil das emissões brasileiras. As
emissões por desmatamento – que
chegaram a representar dois terços
das emissões, com queda nos últimos oito anos – em 2012, representaram menos de um terço do total.
As emissões diretas da agropecuária e do setor de energia já representam quase 60% das emissões.
O crescimento das emissões do
setor de energia acelerou nos últimos anos e deve se tornar a principal fonte nos próximos anos, ul-
trapassando as de agropecuária e
de mudança de uso da terra. Um
dos objetivos do plano nacional de
mudanças climáticas, lançado em
2008, era aumentar em 11% o consumo de etanol até 2018. Em vez
disso, entre 2008 e 2012, o consumo
de etanol caiu mais de 20% e o de
gasolina disparou, estimulado por
uma política de subsídio implícito
no controle de preços. A proporção de fontes renováveis em nossa
matriz energética caiu de 45% para
42,3% entre 2009 e 2012, quando
a meta apresentada em 2010, no
Conselho de Política Energética,
era aumentar essa participação
para 48% até 2020.
A geração de energia elétrica, que
historicamente representou uma
fração de cerca de 1% das emissões, chegou a quase 4% de participação em 2012, em função da necessidade de ligar termelétricas de
contingência por longos períodos.
E, em 2013, órgãos reguladores do
setor elétrico fizeram uma séria de
movimentos para viabilizar a termelétrica de carvão mineral como
parte da base do sistema elétrico.
metas de redução
Esses sinais dão pistas do que pode
ter provocado um nível de ambição tão
baixo na proposta de atualização do
Plano Nacional de Mudanças Climáticas, colocado em consulta pública nos
dentro de nossas possibilidades, para
liderar pelo exemplo.
Precisamos reverter esse quadro
em 2014, recuperando e reforçando as
politicas públicas orientadas para mitigação das emissões, buscando não
não podemos retroceder em nossos
compromissos. temos que ser mais ambiciosos,
dentro de nossas possibilidades
meses de outubro e novembro pelo
governo federal. A proposta de atualização produziu um documento com
muitas palavras, mas pouca reflexão
sobre a evolução no cenário brasileiro
de emissões. As metas de mitigação
de emissões foram revisadas para
baixo, retrocedendo em relação ao documento original publicado em 2008.
No momento em que cobramos,
com razão, um aumento de ambição
dos países desenvolvidos em relação
a seus compromissos de redução de
emissões, até 2020 e para o período
posterior, não podemos retroceder em
nossos compromissos. Pelo contrário,
temos de ser muito mais ambiciosos,
Texto originalmente publicado em 2/12/2013
só cumprir as metas estabelecidas
em 2008, como reforçá-las e aprofundá-las. Esse processo pode começar
com uma profunda revisão da proposta de atualização do Plano Nacional
de Mudanças Climáticas, de forma
que ele represente um claro aumento
da ambição brasileira para contribuir
para mitigação das emissões globais
de gases de efeito estufa.
Devido aos graves impactos que as
mudanças climáticas podem trazer
para o Brasil, conforme indicado pelo
recente relatório do Painel Brasileiro
sobre Mudanças Climáticas (RAN1), o
aumento do nível de ambição é mais
do que legítimo interesse nacional.
17
as emissões do
brasil por setor
Resíduos
55,7%
Disposição de resíduos
31,4%
Efluentes domésticos
12,6%
Distribuição
por setor, em %
Estimativa de emissões totais
de GEE em 2012, por setor, em CO 2 e (GWP)
Efluentes industriais
0,3%
Incineração de resíduos
Indústria
45,8%
Ferro e aço
30,3%
Cimento
11,5%
46,9Mt
5,3%
3,7%
Alumínio
Uso da Terra
3,3%
3%
Refrigeração
Calagem
3,6%
Emissões por tratamento de efluentes
e disposição de resíduos
84Mt
Emissões decorrentes
dos processos físico-químicos
de produção industrial
Mudanças de uso do solo
energia
46,8%
Agropecuária
436,7Mt
32,1%
CO2
N0x
CF4
CO2
CH4
NMVOC
CO
N2O
N0x
CO2
NMVOC
CO
> CH4 N20
N0x
CO2
NMVOC
CO
> CH4 N20
N0x
CO2
NMVOC
CO
> CH4 N20
N0x
CO2
NMVOC
CO
> CH4 N20
N0x
CO2
NMVOC
CO
> CH4 N20
N0x
CO2
NMVOC
CO
> CH4 N20
N0x
CO2
NMVOC
CO
4,4%
> CH4
4,1%
> CH4 N20 N0x
CO
Emissões para produção e consumo
de energia e de combustíveis
20,9%
Industrial
29,4%
9,6%
Setor energético
440,5Mt
Emissões nas atividades de produção
animal e vegetal, e manejo de solos
Residencial
revista do c lima | volume 2
> CH4 N20
> CH4 N20
5,7%
29,7%
18
> CO2
CO
11,1%
Fermentação entérica
> CO2
NMVOC
Geração de
eletricidade
55,9%
> CO2
CO2
Queima
de resíduos
Solos agrícolas
CO2
> HFC
0,8%
36,4%
CH4
N0x
3,2%
Manejo de
dejetos animais
>
CO2 (dióxido de carbono),
CH4 (metano) e N2O (óxido
nitroso) são gases de efeito
estufa diretos; os demais
são precursores, ou seja,
potencializam aqueles
que o são.
> CH4 N20
Transportes
4,9%
CH4 N20
> C2F6
93%
Cultivo
de arroz
>
>
Queima de resíduos florestais
1,9%
CH4
*
Cal, calcário, dolomita e barrilha
Química
>
Agropecuário
2%
Consumo final
não energético
0,9%
Outros
476,5Mt
Emissões por mudanças de uso de solo,
calagem e queima de resíduos florestais
> CH4
> N20
> CH4
> CO2
> CH4 N20
>
CO2
*Mt (milhões de toneladas)
fonte: Sistema de Estimativa
de Emissões de Gases de Efeito Estufa
(Seeg), do Observatório do Clima
19
Expedi ção c o p 19
Fotos: Caco de paula | Reprodução
PENSAR E AGIR
Também na política de clima, são pessoas de carne e osso – e não
máquinas amorais – que decidem o destino de muitas outras pessoas
Caco de Paula
S
eja marginal, seja herói”.
A frase-manifesto de Hélio
Oiticica me veio à mente ao
desembarcamos em Varsóvia para
acompanhar a conferência da ONU
sobre mudanças climáticas. A bela
capital polonesa reconstruída sobre
os escombros do terror nazista, é ela
própria, uma evocação do heroísmo
como último recurso em tempos
radicais, sombrios, incertos. Talvez
não haja personagem mais heroica
em toda a Segunda Guerra quanto
Irena Sendler, enfermeira que arriscou sua vida sistematicamente para
retirar clandestinamente mais de
2,5 mil crianças do gueto de Varsóvia
e, assim, salvá-las da morte certa.
A quem quiser saber mais recomenda-se o livro de Anna Mieszkowska,
A história de Irena Sendler – A mãe
das crianças do holocausto, recém-lançado em português pela Palas
Athena. Sua história é um sopro de
esperança ao reafirmar a capacidade humana de agir, enxergando
além de seu próprio benefício. Irena
não era parente de nenhuma das
“
20
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
pessoas que salvou. Agiu motivada
pela sua consciência e pelo exemplo
do pai, médico que viveu e morreu
por seu idealismo.
E isso não é pouco quando se
sabe que na mesma Polônia mais
de 1,5 milhão de pessoas foram
mortas nos campos de extermínio
graças a muita omissão e à “eficiência” desumana que fazia com
que trens abarrotados de pessoas
chegassem nos horários previstos, garantindo o funcionamento
de um sistema capaz de eliminar
2 mil pessoas por dia. A escritora
Hannah Arendt ensinou ao mundo
que o mal é muito mais banal do
que parece, ao mostrar que um dos
responsáveis pela logística dessa
operação, Adolf Eichmann, não era
um monstro caricato, mas um infame burocrata que se justificava por
estar “cumprindo ordens”.
O que tem a história do heroísmo
de Irena e da nefasta “eficiência” de
Eichmann a ver com a reunião de
países, empresas, organizações,
para discutir os acordos do clima?
Tudo. Uma saída para uma economia de baixo carbono não se dá
com a submissão fria a um plano
de eficiência. Trata-se também de
uma questão moral. A solução exige reflexão, pensamento autônomo,
livre-arbítrio. O espectro de possibilidades de escolhas do ser humano
vai de Irena a Eichmann. Os atos
de Irena nos dizem que o homem é
capaz de sair do seu conforto e se
arriscar por um bem maior. Os de
Eichmann nos mostram que o homem também é capaz de ir na direção contrária. A ascensão do nazismo não significou imediatamente a
criação de uma consciência de riscos para a humanidade. Mas uma
hora essa percepção chegou. Para
infelicidade de muitos, chegou tarde. Algo assim acontece agora também no front do clima. Já passou da
hora de as pessoas que falam em
nome de governos e de empresas
pararem de agir como se o grande
desafio do trem da história fosse
sua eficiência e pontualidade, e não
o seu destino.
Heroísmo na salvação,
eficiência no extermínio.
(No sentido horário a partir
do alto à esquerda) Retrato
de Irena Sendler; monumento à
resistência do Gueto de Varsóvia,
de onde ela tirou clandestinamente
2,5 mil crianças; cercas; sapatos
de vítimas; portão de entrada
com a inscrição “O trabalho
liberta”; alojamentos do campo de
Auschwitz, onde os trens chegavam
com pontualidade e eficiência.
21
LIVR O
LIV R O
O hamster
e a borboleta
prosperidade
duradoura
Alinhar os objetivos da corporação aos interesses da sociedade
levará a uma mudança de rumo e um crescimento complexo
Não podemos mudar os limites ecológicos ou a natureza humana.
Mas podemos recriar o mundo social, melhor e mais justo
Tim Jackson
Pavan Sukhdev
E
m um vídeo de animação
produzido pela New Economics Foundation, o narrador conta a história de um
hamster peculiar. Como todos os
hamsters, ele cresce em tamanho
a cada semana desde o nascimento até a puberdade. Mas, diferentemente de outros hamsters, ele
continua a crescer após a puberdade, aumentando progressivamente de peso. Em seu aniversário de 1 ano, o hamster já tinha
chegado a 9 bilhões de toneladas,
e era capaz de consumir todo o
milho do mundo em apenas um
dia. Com um rugido, ele dá início
a um ataque ao estilo do monstro
22
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
japonês Godzilla, destrói edifícios,
acaba por consumir todo o planeta
e sai flutuando pelo espaço, gordo
e feliz. “Existe uma razão para que
as coisas na natureza cresçam de
tamanho até certo ponto”, diz o
narrador. “Então, por que a maioria dos economistas e políticos
acham que a economia pode crescer para todo o sempre?”
Apesar de engraçado, o vídeo
destaca a realidade assustadora
de nosso sistema econômico. Não
conhecemos nenhum exemplo de
organismo biológico ou sistema
natural que cresça eternamente –
e, mesmo assim, esperamos que a
natureza sustente indefinidamente
o crescimento econômico.
Se a natureza sugere que temos um problema parecido com o
hamster Godzilla, talvez devamos
olhar para a própria natureza em
busca de soluções. Como crescem os organismos e os sistemas
naturais? Em geral, por meio da
complexidade. Reconhecemos que
isso acontece no que se refere aos
seres humanos: muito tempo após
chegarmos à maturidade física,
continuamos a desenvolver capa-
cidades intelectuais e físicas e podemos nos tornar mais produtivos.
No mundo da natureza, o termo
para descrever crescimento via
complexidade é intussuscepção, e
seu exemplo mais conhecido pode
ser a metamorfose – quando a lagarta se transforma em borboleta.
O biólogo conservacionista Tom
Lovejoy disse-me que “precisamos
de crescimento por intussuscepção
– o equivalente econômico à transformação da lagarta em borboleta”.
Obviamente, hamsters e borboletas não explicam a economia
mundial, mas podem servir de metáfora para o poder de uma nova
forma de corporação e de economia. Alinhar as metas da corporação aos interesses da sociedade preparará o cenário para uma
necessária mudança de rumo,
que se desvie do crescimento por
meio do tamanho e almeje o crescimento via complexidade. Devemos deixar para trás a economia
baseada em cortar, queimar e
cavar e adotar uma economia baseada em preservação da natureza, eficiência de recursos e, mais
importante, inovação.
TRECHO DO LIVRO CORPORAÇAO 2020 (SELO PLANETA SUSTENTAVEL)
A
sociedade enfrenta um dilema profundo. Resistir ao
crescimento é correr o risco
de um colapso econômico
e social. Persegui-lo de maneira implacável coloca em perigo os ecossistemas dos quais dependemos para a
sobrevivência a longo prazo. Em sua
maior parte, esse dilema segue não
sendo reconhecido pela política dominante. É pouco visível como um
debate público. Quando a realidade
começa a colidir com a consciência
coletiva, a melhor sugestão que temos
à mão é que podemos, de alguma
forma, “descasar” o crescimento de
seus impactos materiais. E continuar
a fazê-lo enquanto a economia se expande exponencialmente. Raramente
se reconhece a enormidade dessa tarefa. Em um mundo com 9 bilhões de
pessoas, todas aspirando a modos de
vida ocidentais, a intensidade de carbono de cada dólar de produção deve
ser, pelo menos, 130 vezes mais baixa
em 2050 do que é hoje. No fim do século, a atividade econômica precisará
retirar carbono da atmosfera, em vez
de acrescentar. As premissas simplistas de que a propensão do capitalismo
à eficiência irá estabilizar o clima e
resolver o problema da escassez de
recursos estão quase literalmente
falidas. Agora temos urgência por políticas mais ousadas, algo mais robusto em termos de estratégias com as
quais confrontar o dilema.
O ponto de partida deve ser a liberação das forças que nos mantêm
em uma negação perigosa. Natureza
e estrutura conspiram aqui juntas. O
motivo do lucro estimula uma busca
por produtos e serviços mais novos,
melhores ou mais baratos. Nossa procura incansável por novidades e status
social nos tranca na gaiola de ferro do
consumismo. A própria afluência nos
TRECHO DO LIVRO prosperidade sem crescimento (selo planeta sustentável)
traiu. Ela cria, e até depende, da contínua produção e reprodução da novidade do consumo. Mas a novidade
incansável reforça a ansiedade e enfraquece nossa capacidade de proteger metas sociais de longo prazo. Em
algum ponto do caminho, perdemos
a prosperidade partilhada que buscamos em primeiro lugar.
Nada disso é inevitável. Não podemos mudar os limites ecológicos.
Nem alterar a natureza humana. Mas
podemos, sim, criar e recriar o mundo social. E nós o fazemos. Suas normas são nossas normas. Suas visões
são nossas visões. Suas estruturas e
instituições formam e são formadas
por essas normas e visões. É onde a
transformação é necessária. Assim,
nossa única escolha real é trabalhar
para a mudança. Transformar as estruturas e instituições que moldam
o mundo social. Articular uma visão
mais verossímil de prosperidade duradoura. Está a nosso alcance uma
lógica social melhor e mais justa.
Nem limites ecológicos nem a natureza humana constrangem as possibilidades aqui: apenas nossa capacidade de acreditar e trabalhar para
a mudança.
23
mídias
Material originalmente publicado em 2009-2010
t
e x pedi ção c o p 19
Como o aquecimento
provoca tempestades
R EC OR DES DE EXTR EMOS
A mudança do jet stream
no h emisfé rio norte
A diminuição de gelo no polo Norte responde por novos padrões de
furacões, chuvas e secas no hemisfério Norte, afirma especialista
MATTHEW SHIRTS
Q
uem segue o debate sobre o aquecimento global sabe que os cientistas evitam ligar eventos
climáticos específicos ao aumento
da temperatura no planeta. Fazem ressalvas e cultivam analogias
sempre que são chamados para explicar furacões, tempestades, chuvas, secas ou incêndios. “O aquecimento injeta esteroides no clima”,
é uma das frases ouvidas com frequência, “aumentando a probabilidade de eventos extremos”. Mesmo
assim, muito dificilmente os cientistas atribuem uma tempestade
qualquer às mudanças provocadas
pela emissão de gases de efeito estufa por parte de nós, humanos.
Mas isso já começa a mudar. É
o que se conclui da aula magistral proferida por Jennifer Francis,
professora da Universidade Rugters (New Jersey, EUA), na COP19,
da ONU, no dia 18 de novembro de
2013, em Varsóvia, na Polônia. Nela
a cientista afirmou, com todas as
26
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
letras, que a mudanças provocadas
pelo homem no clima (climate) tem
um impacto claro sobre o tempo
(weather). A diminuição da quantidade de gelo no polo Norte responde por novos padrões de furacões,
chuvas e secas no Hemisfério Norte, diz. Nos últimos sete anos, resume, quebraram-se basicamente
todos os recordes de extremos do
tempo. Não é por acaso.
O aquecimento é duas vezes
maior no Polo Norte do que em outras latitudes do hemisfério, mais
ao sul, segundo a professora Francis. Nos últimos 30 anos, o aumento das temperaturas resultou na
diminuição da área coberta por gelo
no Polo Norte em 50% e uma queda, ainda maior, de 80% no volume
de gelo no topo do mundo.
A redução do gelo no Polo Norte,
explica Francis, tem um impacto
forte na trajetória e na velocidade
do jet stream, o corredor de vento
que nasce entre o ar quente tropical e o ar frio polar nas regiões
temperadas do globo. Com menos
gelo e temperaturas mais altas no
Polo Norte, os ventos do jet stream
perdem fôlego e se tornam mais
sinuosos, com uma trajetória mais
verticalizada em sentido norte e sul.
Não há dúvida, mostra a professora, de que essa transformação nos
corredores de vento muda o tempo,
prolongando as secas nas áreas
presas ao sul do jet stream e tornando as áreas acima dela, ao norte, mais vulneráveis a tempestades
de duração maior.
A má notícia é que o aumento da
temperatura no Polo Norte só tende a aumentar. Mas pelo menos a
ciência começa a entender melhor
como o aquecimento global provoca eventos climáticos extremos,
inclusive nevascas. No Hemisfério
Sul a dinâmica é outra, segundo a
professora Francis. Há disponível
um vídeo com uma versão anterior da sua palestra, em inglês, no:
www.youtube.com/watch?v=ETpm
9JAdfcs.
1.CORREDOR EM CURVA
O jet stream é o corredor de
vento que é criado entre as massas
de ar quente tropical e o ar frio
polar. Historicamente tem sido
uma curva equilibrada e previsível.
2. MUDANÇA NO PADRÃO
O aumento da temperatura no polo
Norte faz com que os ventos do
jet stream sejam mais fracos e o
corredor se torne mais sinuoso.
3. MAIS FRIO, MAIS CALOR
Com essa mudança, a curva
de temperaturas frias avança
mais ao sul, ao mesmo tempo
que a curva de temperaturas
altas “sobe” mais ao norte.
Jet stream histórico
Jet stream hoje
27
t
AR TI GO
A hora e a vez de
um acordo mundial
A bola, agora, está com o jogo da governança das mudanças
climáticas, diz Paulo Artaxo, membro do painel científico da ONU
Foto: wanezza soares
Chiaki Karen Tada e Matthew Shirts
A
partir de agora, o principal
órgão consultor de ciência
e tecnologia das mudanças climáticas da ONU deve
focar seus estudos na adaptação
e mitigação das alterações do clima. Mas nada disso adiantará caso
o mundo não chegue a um acordo
sobre o que deve ser feito para enfrentar esse desafio, diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da
Universidade de São Paulo e membro
do IPCC (Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas). Para
Artaxo, conferências como as COPs
não são um fracasso, mas uma demonstração de que, para que haja
avanços reais, é preciso uma governança global que defina as ações
28
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
para as próximas décadas, até mesmo séculos. “Não existe hoje mecanismo político, social e jurídico estruturado para lidar com essa questão.”
Artaxo também é crítico em relação
à postura da diplomacia brasileira. “O
Itamaraty não reflete o pensamento da população brasileira, que não
tem interesse em ver o processo de
desertificação do Nordeste continuar
avançando, ou em ver que a erosão
em praias daquela região já é séria.”Leia trechos da entrevista que o
cientista concedeu ao Planeta.
energia, você reduziria rapidamente
a produção pela queima de carvão e
substituiria as usinas a carvão, por
exemplo, por usinas a gás natural.
Uma segunda medida é substituir
totalmente a queima de combustíveis fósseis por energias renováveis.
Isso envolve o uso em larga escala
de energia eólica e de energia solar,
e a intensificação do uso de energia hidrelétrica. Não há uma única
solução, cada país deve achar suas
soluções particulares. Tem a questão da agricultura, um grande emis-
Não existe hoje mecanismo político,
social e jurídico estruturado para lidar
com a mudança climática
Qual é o principal fator para uma
estratégia global de redução das
emissões?
Há uma série de medidas que podem ser tomadas a custo relativamente barato. Isso em vários setores – na agricultura, no uso final de
energia, na produção de energia – e
em todo o sistema econômico. Na
sor de óxido nitroso e de metano,
que pode aumentar sua eficiência
na produção de alimentos emitindo menos gases de efeito estufa.
É um conjunto de medidas que já estão sendo implementadas, inclusive
no Brasil. Aqui já temos uma política
de implantação de usinas eólicas em
larga escala no Nordeste. Só que você
não muda todo um sistema de produção de energia baseada em combustíveis fósseis em 5, 10 ou mesmo
em 20 anos. Mas é fundamental que
o planeta inteiro entre num processo de sustentabilidade o mais rápido
possível. No aumento da eficiência
do uso de energia, o exemplo mais
óbvio são os automóveis. É possível,
com a tecnologia que temos, fazer
automóveis que emitam até quatro
vezes menos CO2 por quilômetro
rodado do que o que emitem hoje.
Mas é preciso que haja forte incentivo governamental global para
a implantação de veículos com
maior eficiência energética.
O senhor está esperançoso no potencial da humanidade de resolver
o problema da mudança climática?
A questão não é de crença nem de
esperança, porque acho que essas palavras não são adequadas.
A verdade pura e simples é: nós não
temos outra alternativa. O atual padrão de consumo e de emissão dos
combustíveis é insustentável mesmo
em curto prazo. Todos sabem disso. A
questão é como fazer essa transição
para uma economia muito mais eficiente no uso dos recursos naturais.
Ou fazemos essa mudança ou a pró-
que lide com a questão. Se um país
não cumpre suas metas de redução,
quem vai julgá-lo? Quem vai aplicar e
é possível que o próximo relatório
do IPCC já recomende deslocamentos
de populações
pria economia se tornará inviável do
ponto de vista ambiental.
O senhor vê algum avanço nas
políticas públicas?
Os países não aceitam colocar a
questão dessa maneira nas COPs,
mas a verdade é que não temos
governança global para lidar com um
problema tão grave, tão sério, quanto
são as mudanças climáticas. A ONU,
que é o único mecanismo existente
para lidar com questões multilaterais,
não foi feita para isso. Ela não tem as
ferramentas ou o poder para fazer as
mudanças necessárias para que o
mundo possa estruturar uma política
de redução de emissão de gases de
efeito estufa. O mundo carece, por
exemplo, de um sistema judiciário
recolher multas? Nada disso existe. E
isso sequer está sendo discutido nas
COPs ou na ONU.
Qual é o futuro do IPCC?
Estamos chegando à conclusão de
que do ponto de vista científico o
IPCC e a comunidade científica já fizeram o seu papel. Estamos discutindo se vale a pena ou não continuar
com relatórios periódicos sobre os
avanços da ciência na área. Talvez
uma alternativa seja focar mais nas
estratégias de adaptação e de mitigação. O working group 2 (que trata
da adaptação) e o working group 3
(que trata da mitigação) do IPCC
podem vir a se tornar mais relevantes do que o working group 1
(base científica), que dominou >
29
t
AR TI GO
É importantíssimo entender que a cooperação
internacional é estratégica e essencial
o painel até agora. O IPCC provavelmente vai continuar sua tarefa, mas
com outro foco, eventualmente em
como construir um sistema capaz
de estruturar limites de emissões.
Talvez essa possa ser uma tarefa
nova para o IPCC, como órgão consultor da ONU.
Os working groups 2 e 3 ainda não
divulgaram os resultados?
Não, saem no primeiro semestre
de 2014.
O que podemos esperar deles?
Do ponto de vista de adaptação,
o impacto do aumento do nível do
mar em áreas costeiras é um dos
mais importantes. Pode ser que
esse próximo relatório já comece a
fazer recomendações de deslocamentos de populações em áreas de
maior risco e elaboração de grandes
projetos de contenção de aumento
do nível do mar, como já está sendo
feito em Nova York e em San Francisco. A terceira parte do relatório do
IPCC é sobre estratégias de redução
de emissões. Qual é o estado da arte
hoje em captura de carbono? Em efi-
30
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
ciência energética? Na agricultura?
A Embrapa está desenvolvendo novas variantes de arroz e de feijão
para plantar num clima mais seco
no Nordeste. É possível? É. Mas isso
tem de ser feito em escala global e
de maneira regional. Não haverá
uma única variante de um novo arroz
que possa ser usada no mundo todo.
Mas é muito importante entender
que a cooperação internacional é estratégica e essencial, porque alguns
países da África, por exemplo, não
têm condição e tecnologia necessárias para aumentar a eficiência de
sua produção de alimentos. Essas
questões estão sendo discutidas na
terceira parte do relatório do IPCC,
que será lançada em março de 2014.
Diferentemente do working group 1,
que trata da ciência de uma maneira
muito mais global, tanto a adaptação
quanto a mitigação devem ser feita
país por país, setor por setor. Não
existe uma solução global, pois está
será uma soma linear de milhares
de pequenas ações.
O que os países devem fazer?
É fundamental que cada país cumpra
o seu papel na questão, por exemplo,
da redução das emissões. Nisso o
Brasil tem uma história de sucesso
enorme. Agora, esse sucesso não é
acompanhado pela diplomacia brasileira. Na COP de Varsóvia o governo brasileiro continuou insistindo
numa questão mais do que absurda, que é o cálculo das reduções
das emissões futuras baseado em
emissões históricas. Isso só pode
ser interpretado como uma tentativa de postergar qualquer decisão.
Isso é sério: que a diplomacia brasileira esteja atuando, em última
instância, contra o povo brasileiro,
que não tem nenhum interesse em
ver o processo de desertificação do
Nordeste continuar avançando, em
ver que a erosão em várias praias
do Nordeste já está séria. E essas e
são questões com impactos socioeconômicos importantes.
Se o Brasil é tão avançado e tem
resultados positivos, por que
age assim?
Não é o Brasil, é o Itamaraty. Eles
estão 50 anos atrasados. A política do Itamaraty para as mudanças
climáticas não reflete o pensamento
da população brasileira, sequer reflete o pensamento de setores majoritários do governo brasileiro. Eles
representam o interesse de alguns
diplomatas, de ficar postergando
essa discussão. E, com isso, fazer o
jogo dos EUA, Inglaterra, França, que
é adiar ao máximo a estruturação de
um acordo internacional de redução
de emissões de gases de efeito estufa. Tem milhares de outras questões
que são fundamentais. O que acho
curioso é por que os jornalistas não
entram de sola na questão da falta
de governança, que é o ponto central. Vocês ficam dizendo: ‘‘a COP
de Copenhague foi um fracasso‘’,
‘‘a COP de Durban foi um fracasso’’,
‘‘a COP de Varsóvia foi um fracasso’’...
Chega! É burrice ficar batendo numa
mesma tecla sem consistência. Essas COPs não foram um fracasso.
Só refletem a falta de um sistema de
governança global.
Estamos vendo alguns avanços
interessantes. Os EUA estão
praticamente banindo a queima
de carvão...
Mas estão permitindo a exploração
de gás de xisto. É trocar oito por
oito, do ponto de vista de emissões.
O único avanço importante que está
sendo feito é pela China. A China
não se comprometeu a reduzir as
emissões. Espertamente, comprometeu-se a aumentar a eficiência
energética do seu PIB, ou seja, para
cada ponto percentual de aumento
do PIB, diminui proporcionalmente
as emissões de GEE. Assim o país
não compromete o crescimento
econômico e ganha competitividade
no futuro, porque é inevitável, em
Num planeta com 8 bilhões de pessoas, ou você começa a pensar num
timeframe de décadas a séculos,
ou nós estamos fritos. O Brasil está
gastando dezenas de bilhões de dólares em obras para reverter o curso
do rio São Francisco. Só que é muito
possível que a redução de precipitação faça todo esse dinheiro evaporar, porque não haverá água para
fazer a reversão (leia mais na pág.
32). O Brasil está enterrando bilhões
de dólares em cimento, no meio de
uma região semiárida que pode se
tornar árida daqui a dez anos, que
Governos pensam em termos de quatro
anos. é preciso pensar em décadas.
alguma hora, um acordo venha a
ser implantado. A China já está pensando em daqui a 20, 30 ou 50 anos.
Coisa que outros países sequer conseguem pensar, porque os governos
são de quatro anos e têm uma visão
de estratégia de no máximo quatro
anos. Isso é um desastre do ponto
de vista dasustentabilidade global.
é quando a obra vai estar pronta.
É fundamental você pensar em longo prazo, em décadas ou séculos.
E nossa classe política não está preparada para isso. A nossa, a americana, a europeia, a japonesa, a chinesa, e assim por diante. A questão
da governança é estratégica. Ou a
gente faz isso, ou o barco afunda.
31
mídias
Material originalmente publicado em 2013-2014
blog + s i t e
alívio no chorinho
da prorrogação
somente nas últimas horas extras da cop19 é que resultados
favoráveis ao reequilíbrio do clima da terra foram alcançados
Liana John
a
plenária final da 19ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas (COP19 do Clima)
estendeu-se madrugada adentro em
seu último dia de debates. Foram
poucas horas a mais além da programação original, porém decisivas a
ponto de mudar o resultado de toda
a conferência ocorrida em Varsóvia,
na Polônia. Apesar do cansaço e do
sentimento geral de derrota prevalecente entre os observadores,
essa prorrogação ajudou os negociadores a fecharem pelo menos
três acordos significativos e não
irem para casa com a sensação de
ter apenas desperdiçado tempo, dinheiro e oportunidade.
O compromisso dos países desenvolvidos com um mecanismo
de Perdas e Danos foi um dos três
bons resultados. Ameaçado pela
resistência dos países desenvolvi-
34
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
dos em abrir mais uma frente com
alta demanda por recursos, o mecanismo foi salvo no último minuto graças à sugestão dos Estados
Unidos de acomodá-lo temporariamente entre as adaptações às
mudanças climáticas, porém com
a perspectiva de rever esse status
em 2016. Os países em desenvolvimento entendem Perdas e Danos
como um mecanismo para lidar
com desastres contra os quais não
há adaptação possível, mas concordaram com o arranjo temporário para viabilizar sua criação.
Ainda não há dinheiro suficiente
engajado, mas a partir de agora
podem ser trabalhadas questões
importantes para reduzir as perdas e os danos, como a transferência de tecnologias e a capacitação para adaptar a infraestrutura,
a agricultura, o uso das terras, o
preparo da defesa civil e, assim,
aumentar a resiliência dos países
mais sensíveis aos efeitos das mudanças climáticas. Além disso, devem ser discutidos os problemas
envolvendo a migração de populações atingidas por catástrofes, os
chamados refugiados do clima.
O segundo acordo importante reafirma o compromisso de todos os
195 países – e não só os desenvolvidos – quantificarem suas emissões e apresentarem seus planos
de redução dessas emissões até
2015. A proposta inicial, defendida pela União Europeia, tinha um
prazo menor: até 2014. A China
se opunha fortemente à ideia de o
compromisso incluir países emergentes, manifestando preocupação
quanto à ingerência de organismos
internacionais em seus assuntos
internos. E os Estados Unidos entraram com uma proposta conciliadora, de ampliar o prazo e garantir
a autonomia de cada nação sobre a
redução de suas emissões.
O acordo fechado em 23 de novembro garante alguns meses de
prazo entre o início de 2015 e a COP
de Paris (em novembro de 2015)
para a comparação entre os compromissos de cada país e o que,
de fato, precisa ser incluído como
meta no acordo, que a partir de então substituirá o Protocolo de Kyoto.
Serão as propostas realmente comparáveis? E essa boa vontade autodeclarada dos países, no conjunto,
chegará à redução de emissões
necessária para o planeta? Isso, só
saberemos daqui a dois anos…
Mais um ponto que merece atenção entre os resultados da COP19
é a validação do mecanismo conhecido como REDD+, que trata da
Redução de Emissões por Desmatamentos e Degradação Florestal e
valoriza o papel da conservação e
do manejo florestal sustentável. Até
agora o REDD+ estava à margem
dos instrumentos oficiais. O novo
acordo permite aumentar a escala
desse mecanismo, importante para
fixar carbono da atmosfera, estabilizar o clima local, garantir a biodiversidade e atenuar o impacto dos
desmatamentos sobre as popula-
avaliação de seus resultados, de
forma transparente e acessível.
O saldo final parece, de fato,
mínimo para duas semanas intensas de pressões, idas e vindas. Mas é melhor do que nada.
Ao menos não andamos para
trás. Agora, que faltou um sentimento de urgência aos negocia-
essa boa vontade autodeclarada dos
países, no conjunto, chegará à redução de
emissões necessária para o planeta? Isso,
só saberemos daqui a dois anos
ções tradicionais (leia mais na página 66). Estados Unidos, Noruega
e Reino Unido comprometeram-se
em disponibilizar US$ 280 milhões,
destinados à implementação do
mecanismo e à padronização da
Texto originalmente publicado em 25/11/2013
dores… Ah! Isso faltou mesmo.
E se o tufão Haiyan (que devastou
as Filipinas no início de novembro) não conseguiu ser suficientemente eloquente, o que mais
poderia ser?
35
LIV RO
E x p e d i ç ão C o p 1 9
COP20: Peru
Lima será a sede da próxima Conferência do Clima.
A proposta é representar toda a América Latina
Chiaki Karen Tada
a
para que serve
a economia
Qual o sentido da vida econômica? Ela deveria ter como eixo seus
efeitos no bem-estar humano e no estado dos ecossistemas
Ricardo Abramovay
U
ma nova economia (que promova a unidade entre sociedade e natureza, entre economia e ética) questiona o
mais importante pilar não só científico, mas também político, cuja base
se avalia o uso dos recursos sociais:
o crescimento econômico.
Esse questionamento não se apoia
em nenhum suposto intuito conservador de paralisar as transformações capazes de preencher as necessidades e os desejos humanos.
O fundamental é colocar a questão
ausente na maioria das ciências sociais: qual o significado e o sentido
da vida econômica? O crescimento
36
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
econômico, como objetivo autônomo e autorreferente, é a resposta
que os últimos 150 anos ofereceram
a essa pergunta. A economia se consolida como ciência no último terço
do século 19, à medida que distancia de seu horizonte qualquer consideração referente aos objetivos de
seu sistema que não seja a própria
expansão. Essa ideia está na raiz da
formação da macroeconomia desde
Keynes até hoje. A emergência de
uma nova economia, ao contrário,
supõe medidas de desempenho no
uso de recursos que têm por eixo
seus efeitos no bem-estar humano e
no estado dos ecossistemas.
TRECHO DO LIVRO muito além da economia verde (SELO PLANETA SUSTENTAVEL)
próxima Conferência da
ONU sobre Mudanças Climáticas (COP20) será em
Lima, no Peru, em novembro de 2014. Será mais perto, mais
quente e, quem sabe, mais decisiva
que a COP19 em Varsóvia, já que a
COP20 ocorrerá às vésperas do novo
acordo climático global a ser firmado em 2015, em Paris, com novas
metas de redução de emissões de
gases de efeito estufa para todos os
países. Em teoria, será um acordo
decisivo para tentar conter a elevação da temperatura da superfície
terrestre em 2 oC.
“Apresentamos nossa candidatura
porque acreditamos que temos algo
a mostrar”, disse Gabriel Quijandría,
vice-ministro peruano de Desenvolvimento Estratégico para Recursos
Naturais. Esse algo a mostrar, explicou, é a performance de um país que
cresceu nos últimos 15 anos, procurando incorporar responsabilidade
social e ambiental.
A ambição, porém é maior. O Peru
quer se tornar uma referência internacional, assim como ocorreu com
o México, que sediou a COP16 em
Cancún, em 2010. Ao mesmo tempo, quer unir os vizinhos. “Não será
Texto originalmente publicado em 18/11/2013
uma COP ‘peruana’, será uma COP
da América Latina. A região terá uma
voz mais forte”, disse Quijandría.
Vai faltar água?
Quijandría foi um dos debatedores
de uma série de conferências sobre
negócios e mudanças climáticas
realizadas em Varsóvia, promovida
pelo WBCSD (Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável). Ele conversou
com o Planeta Sustentável depois
de participar de um painel sobre a
situação do clima no mundo. Garantir acesso à água é uma grande
preocupação para o Peru, explicou.
A principal fonte desse recurso natural está nas geleiras localizadas
no alto das montanhas. Apenas 2%
da água resultante do derretimento
do gelo corre para o lado do Pacífico, onde vivem 60% da população
do país e onde não há chuvas em
quantidade suficiente. Quase todo
o restante vai para o outro lado, em
direção à Amazônia, onde moram
10% dos habitantes. No entanto, o
Peru perdeu 40% de suas geleiras,
quando comparado com fotos aéreas da década de 1950, afirmou
o vice-ministro.
Entre outras iniciativas para
enfrentar o risco de escassez de
água, o governo peruano está conversando com o setor de mineração. Além de ter sido o motor do
crescimento do país nos últimos
dez anos, as atividades de extração
de minérios, como ouro e cobre,
ocorrem justamente próximo às
fontes de água, e são um grande
consumidor desse recurso.
“Queremos convencer o setor de
que eles precisam fazer algo para
garantir esse recurso, para os negócios e para a comunidade”, disse
Quijandría. Ele contou, ainda, que as
mineradoras precisam de um projeto para lidar com as mudanças climáticas não como uma agenda de
responsabilidade social, mas ligando-a à rentabilidade dos negócios.
A realização de uma COP em Lima
pode levar a avanços nesse desafio,
acredita o vice-ministro. “O México
conseguiu aprovar leis relativas ao
clima três anos após Cancún. Acreditamos que, com um empurrão da
COP, outras áreas do governo peruano ficarão mais sensibilizadas e
mais ousadas em seus compromissos no enfrentamento das mudanças climáticas.“
37
BLOG + S ITE
O Brasil precisa
cuidar do seu oceano
Um terço da população brasileira vive na região costeira, e o aumento
do nível do mar será o principal desafio a ser enfrentado pelo País
Débora Spitzcovsky
A
umento de temperatura,
acidificação, perda de oxigênio… O acúmulo de gases
do efeito estufa (GEE) na
atmosfera está castigando os oceanos do planeta. Para o especialista
Moacyr Araújo, do Departamento de
Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, o aumento do
nível do mar será o principal desafio
a ser enfrentado no Brasil. “Em termos de pesquisa, o País tem tomado iniciativas importantes, motivado
inclusive por questões econômicas,
como o pré-sal. Mas esquecemos de
investir em medidas que aumentem
a capacidade do oceano de reagir às
pressões que está sofrendo”, disse
Araújo, que, ao lado do climatologista
Tercio Ambrizzi, coordenou o Grupo
de Trabalho 1 do primeiro relatório
do Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas. Confira, abaixo, os principais momentos da entrevista exclusiva para o Planeta Sustentável.
Os oceanos estão sofrendo forte
pressão por conta do acúmulo de
GEE na atmosfera. Como está o
oceano brasileiro?
38
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
Apesar de ainda ser pouco estudado, o oceano que banha o Brasil,
o Atlântico Sul, sofre os mesmos impactos dos demais, e todos os problemas estão interligados. O aumento
das emissões deixa os oceanos mais
quentes, o que, por sua vez, implica
na alteração do PH, ou seja, na acidificação e na menor concentração
de oxigênio na água. Mas, em médio prazo, a questão que talvez tenha
maior impacto no planeta, onde metade da população ou mais vive à beira dos oceanos, é o aumento do nível
do mar – que também é reflexo do
aumento da temperatura, que provoca a expansão da água. No Brasil,
cerca de um terço da população vive
na região costeira. Não foi à toa que o
assunto ganhou capítulo exclusivo no
novo relatório do IPCC. Vamos chegar a 2050 com um aumento maior
do que o previsto há dez anos.
Quais os principais impactos desse
aumento do nível do mar no Brasil?
Quando falamos sobre o aumento
do nível do mar, logo pensamos no
oceano “engolindo” porções de terra,
mas não é só isso que pode acontecer.
Há mudanças em todos os processos
de interação “oceano-atmosfera”:
o nível do oceano está aumentando
porque ele está mais quente e, se ele
está mais quente, significa que está
trocando mais energia com a atmosfera para buscar equilíbrio térmico.
Não significa apenas que ocorrerão mais chuvas em determinadas
regiões onde já chovia, ou mais furacões em uma região em que estes já
ocorriam. Significa, também, a ausência de chuvas em regiões onde há
seca, porque o fenômeno puxa para
os extremos, tanto em intensidade,
quanto em frequência.
Quais são as regiões brasileiras que
serão mais impactadas?
Com certeza, a região costeira.
Nela, eu ainda destacaria os estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina, que vão sofrer
bastante com o aumento do nível do
mar. No Sul do Brasil, ainda na costa, também existe propensão à entrada de frentes que geram instabilidades atmosféricas e provocam,
mais frequentemente, fenômenos
como furacões e tornados. Se for-
Texto originalmente publicado em 29/11/2013
mos para o interior, o problema da
seca no Nordeste será agravado, e
no Sudeste o excesso de chuva será
um problema importantíssimo.
O Brasil tem se dedicado à questão
dos oceanos?
O Brasil está participando de grandes fóruns internacionais, dando
boas contribuições e sendo consultado sobre o assunto, o que é ótimo.
Em termos de pesquisa, nos últimos
10 anos, o País tem tomado iniciativas importantes no Atlântico Sul,
motivado inclusive por questões econômicas, como o pré-sal. Vale destacar a criação do Instituto Nacional de
Pesquisas Oceânicas e Hidroviárias,
em 2013. No entanto, esquecemos
de investir na resiliência do nosso
oceano, de apostar em medidas que
aumentem sua capacidade de reagir
às pressões que está sofrendo. Parar
de lançar gases poluentes na atmosfera é importante, claro, mas cuidar
localmente da saúde do oceano – que
já mostrou ser um grande aliado no
processo de combate ao aquecimento global – também é fundamental.
Aumentar a resiliência é como dar
uma vitamina ao oceano para que ele
“suporte cada vez melhor a barra”.
E como isso pode ser feito?
Há uma série de medidas. É importante, por exemplo, cuidar da saúde
de estuários, mangues e recifes de
ência dos oceanos, e protegê-los. Já
assinamos vários acordos, mas ainda
não o fizemos nem de forma mínima.
Por que há tanta resistência na criação de áreas de proteção ambiental
no Brasil?
Para manter a saúde do seu oceano,
o Brasil precisa proteger pelo menos
10 de seu mar territorial.
corais. Parar de jogar lixo nos mares
também é fundamental. Mas uma
política importantíssima, que inclusive é uma recomendação do Painel
Brasileiro de Mudança Climática, é
a criação de áreas de proteção ambiental, porque você cria focos de fortalecimento dos oceanos. Muito ainda
deve ser feito no Brasil nesse campo.
O mar territorial brasileiro é, praticamente, do tamanho da Amazônia e só
0,5% dessa área é protegida. O ideal
seria proteger, pelo menos, 10% em
áreas espalhadas. Ou seja, identificar os hotspots, que são os sistemas
importantes para aumentar a resili-
Muitos desses hotspots já estão mapeados – embora ainda
haja muito para mapear –, à espera de ações concretas, da criação de unidades de conservação,
mas isso não acontece por conta
de forçantes econômicas. A pesca
é um grande conflito, e existem,
também, interesses do setor de
óleo e gás para que isso não seja
feito. Além disso, há a questão do
turismo. Mundo afora, turistas
procuram lugares preservados,
mas no Brasil essa ficha ainda
não caiu. É preciso uma mudança
de mentalidade.
39
mídias
Material originalmente publicado em 2012-2013
41
blog + s i t e
t
não há
carvão limpo
Se mantida a tendência atual, o uso desse combustível levaria a uma
elevação de 6 oC da temperatura do planeta, dizem os cientistas
Chiaki Karen Tada
P
or mais que a indústria do
carvão afirme o contrário, não
há como continuar a produzir
energia a partir desse combustível fóssil sem que essa atividade
ameace o limite de aquecimento de
2 graus Celsius. A não ser que essa
produção fosse acompanhada de
captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) - uma
tecnologia ainda muito cara.
Essa foi a mensagem lançada por
um grupo de 27 cientistas, de diferentes nacionalidades, durante a COP19
do Clima, em Varsóvia. O documento
foi uma resposta à indústria do carvão, que convocou o setor, à época, a
fazer “uso imediato de tecnologias de
combustão de carvão de alta eficiência e baixa emissão como um passo
imediato na diminuição da emissão
de gases de efeito estufa”.
Essa frase, porém, “é quase uma
desinformação, que confunde a opinião pública”, diz Emilio La Rovere,
professor da COPPE/UFRJ e um dos
cientistas que assinam o documento. “Era preciso esclarecer que só é
42
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
possível haver alguma eficiência (na
geração de energia a partir do carvão)
se houver o CCS”.
Segundo o artigo dos cientistas,
mesmo a mais eficiente usina de
carvão emite 15 vezes mais CO2 por
unidade de energia se comparada à
de fonte renovável, e mais de duas vezes a quantidade emitida por usinas a
gás. A tendência atual do uso de carvão indica que estamos a caminho de
uma elevação de temperatura acima
de 6 oC, o que pode ser “catastrófico”,
e “ir além de qualquer coisa que a
humanidade já experimentou em sua
existência”, afirmam os pesquisadores. Para manter a elevação da temperatura global em menos de 2 oC,
o uso do carvão precisa diminuir em
termos absolutos a partir de agora.
Ainda segundo os cientistas, o carvão é o combustível fóssil de mais
fácil substituição por fontes alternativas, que já estão disponíveis.
Diante dessa situação, La Rovere
classifica de “lamentável” a decisão do governo brasileiro de incluir
as termelétricas a carvão nos lei-
lões de energia, por temer que a
energia oriunda de hidrelétricas
não seja suficiente para suprir a
demanda em certos períodos do
ano. “Temos outras opções (de
fonte de energia), mesmo a curto
prazo”, diz La Rovere. Uma alternativa, afirma, seria a energia de
biomassa, principalmente aquela
gerada com a queima do bagaço de
cana-de-açúcar. “Há um potencial
enorme: é barato, é competitivo,
é tecnicamente conhecido. O problema é institucional. O setor sucro-alcooleiro não tem interesse,
pois o core business deles é o açúcar, que é uma commodity”.
Além disso, o setor estava sem
recursos para renovar os canaviais,
a produtividade caiu e o etanol encareceu, enquanto o subsídio à gasolina
foi mantido, explica La Rovere. “Mas
o governo retomou agora alguma política no setor”, diz o cientista. Agora
que o financiamento está voltando,
acrescenta, seria uma boa hora para
incluir nesse pacote de ajuda a questão da energia de biomassa.
Texto originalmente publicado em 12/12/2013
A R TIG O
OLHAR ALÉM
DO ALCANCE
Em função das alterações do clima, as estratégias de longo prazo
das empresas dependem de conhecimentos mais amplos
Mariana Martinato
A
visão de curto prazo que costuma direcionar as ações e
decisões de empresas traz
um dinamismo positivo e
com frequência é responsável por
mudanças significativas e resultados
tangíveis percebidos rapidamente.
Mas quando o assunto é sustentabilidade a perspectiva de tempo é bastante diferente e repleta de desafios.
Falamos em transformações que
terão impacto em 10, 20, talvez 70
anos, decorrentes de processos decisórios complexos, que envolvem
diversos stakeholders. São decisões
que dizem respeito à mitigação de
emissões, por meio de inovações
tecnológicas, à transformações sociais e à revisão de cadeias de valor,
cuja oferta de recursos pode estar
em risco em decorrência das mudanças do clima.
No setor editorial esse desafio é
bastante presente, já que parte significativa da nossa produção é impressa. A partir do manejo sustentável e
da certificação de suas atividades,
a produção do papel é uma atividade
cada vez mais qualificada e neutra
em emissões, pois as árvores absorvem o carbono atmosférico durante
sua formação. Utilizamos papel proveniente de florestas de até 70 anos
que são plantadas para esse fim, em
zonas temperadas do planeta, onde
o crescimento lento das árvores é
responsável pela maior resistência
e qualidade das fibras. É um prazo
quase impensável em nossos planejamentos e metas, mas fundamental
para que consigamos o maior nível de
qualidade possível em nossos produtos. No entanto, qual é o impacto que
o aquecimento global e as alterações
no ciclo hidrológico terão sobre essa
produção florestal no futuro?
A reflexão sobre o tempo acompanha a humanidade e nunca esteve tão atual. É no equilíbrio entre
as questões urgentes de curto prazo e as estratégias de longo prazo
que se baliza a condução de nossas
empresas. Mas que mundo queremos construir? Como a empresa
se insere nesse novo cenário? Qual
é a nossa responsabilidade nesse
processo de transição?
Além dos índices e perspectivas
de mercado, confiança do consumidor, regulações e situação política,
cabe aos gestores acrescentar novo
componente de informações em
sua tomada de decisão: a ciência
do clima, para que o olhar estratégico possa ir além de onde a vista
alcança. Por isso, torna-se tão importante que relatórios científicos
como o do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC) não se restrinjam aos debates acadêmicos e sejam amplamente compreendidos e acompanhados pelo mundo empresarial.
A Abril, como parte de sua missão, tem buscado promover e tornar mais acessível esses conhecimentos e suas implicações para os
mais diferentes públicos por meio
do conteúdo que produz e distribui,
contribuindo assim para a construção de um novo paradigma.
43
Expedição Co p 19
ONDE ESTÁ NOSSA
HUMANIDADE?
É preciso relembrar: mais que negócios, o enfrentamento das mudanças
climáticas é garantir a proteção à vida e aos direitos fundamentais
rodrigo Gerhardt
r
eflexo de uma adesão crescente desde a Rio+20, a última
conferência sobre mudanças
climáticasdas Nações Unidas,
em Varsóvia, a COP 19, foi marcada
pela grande participação institucional
de empresas, nos diversos eventos
corporativos realizados em paralelo
às negociações dos diplomatas. O
entusiasmo pelas amplas oportunidades de negócios em um novo mercado de baixo carbono contrastava
com a falta de empenho e ambição
em relação ao nível dos acordos oficiais que, como se observou, avançaram muito pouco para uma ampla
definição de metas em 2015. Porém,
tanto o otimismo empresarial quanto
o pessimismo dos governos residem
na mesma raiz: a visão ganha-ganha,
econômica, que tem predominado
no entendimento da sustentabilidade – a qual só parece ser possível
quando não há prejuízo para nenhuma das partes, em qualquer prazo.
A consequência é o fortalecimento de
posições resistentes a concessões,
ignorando o fato de que o custo de
não reagir ou se adotar medidas fra-
44
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
cas pode ser fatalmente maior.
Governos evitam assumir responsabilidades, ou a conta, sobre o
Fundo Verde do Clima, que pretende
financiar a transição de combustíveis
fósseis para renováveis (mitigação) e
a maior resiliência aos impactos das
mudanças climáticas (adaptação) nos
países em desenvolvimento. Do lado
das empresas, eficiência energética e
inovação têm se tornado mantras nos
painéis de executivos, que raramente
se voltam a discutir alternativas ao
business as usual. Juntas, eficiência
e inovação chegaram a ser usadas
para defender o carvão como tecnologia de baixa emissão em um futuro
sustentável (veja mais sobre o debate
do carvão na pág. 42).
A posição da associação mundial
do carvão, apresentada em paralelo
à COP, e referendada pelo ministro
da Economia polonês na abertura de
um importante fórum empresarial,
foi causa de inúmeros protestos e de
certa forma ofuscaram uma importante contribuição que a capital polonesa poderia oferecer para elevar
o nível e direcionar o foco das nego-
ciações: a memória dos 70 anos do
levante do gueto de Varsóvia.
A poucos quilômetros do belo
Estádio Nacional, onde delegados
e negociadores discutiam, comiam
e até dormiam, sem pôr o nariz no
gelado frio polonês, 380 mil judeus
foram confinados entre muros e espremidos sob a fome, doenças e o
medo, enquanto eram levados pouco
a pouco aos campos de extermínio,
durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao se tornar claro os planos de aniquilação do gueto, pelos nazistas, os
poucos sobreviventes se insurgiram.
Por quase um mês, resistiram com
bombas caseiras, coquetéis molotov e outras armas artesanais, até
serem massacrados por 3 mil homens do exército alemão, nesta que
foi a primeira reação civil armada à
ocupação nazista na Europa, e uma
vitória moral humana contra o conformismo e o impossível. Hoje, ouvir
essa história é se questionar: onde
estava a humanidade das pessoas
que cometeram tais atrocidades,
das que poderiam ter ajudado e não
o fizeram? (leia mais na página 20)
A conferência da ONU teve início
sob o impacto do supertufão Haiyan,
que devastou as Filipinas. O fato gerou discursos emocionados, choro
e três minutos de silêncio para as
vítimas, mas pouco ou nenhum impacto nas decisões. No dia seguinte ao anúncio de greve de fome do
principal negociador do país, pedindo por mais ação, a ONG alemã Germanwatch divulgava a última edição
do seu relatório Climate Index Risk:
mais de 530 mil pessoas perderam
a vida em cerca de 15 mil eventos
extremos entre 1993 e 2012, além
de perdas superiores a US$ 2,5 trilhões. Nos últimos 20 anos, as dez
nações mais afetadas são países em
desenvolvimento.
Os rebeldes do gueto de Varsóvia não receberam ajuda porque
muitos países, Estados Unidos
principalmente, afirmaram não
acreditar nas notícias iniciais sobre
o extermínio em massa de judeus.
Em relação aos guetos do clima, já
não há mais espaço para dúvidas.
Estudos apontam que, por inundações ou secas, 150 milhões de
pessoas terão de deixar os locais
em que vivem em 2050 – quando
haverão de se rebelar?
Diante da urgência e da profunda
transformação que as mudanças
No âmbito corporativo, do mesmo modo, empresas poderão aumentar em muito a contribuição
que já fazem ao fortalecer e dar
mais transparência aos seus pro-
Tanto o otimismo empresarial quanto o
pessimismo dos governos residem na mesma
raiz: a visão ganha-ganha, econômica,
que tem predominado no entendimento
da sustentabilidade
climáticas impõem, os direitos humanos devem ser farol no espesso
debate técnico do clima. Humanizar para sensibilizar, na tentativa
de que a visão ganha-ganha saiba
fazer concessões quando preciso,
para que o descompasso que existe hoje entre ciência e política seja
diminuído. Nesse sentido, áreas
do conhecimento como as artes,
a comunicação e o marketing do
consumo, que tocam diretamente
mentes e corações da sociedade
de forma rápida, têm papel enorme e devem ser mais exploradas.
gramas e políticas de responsabilidade socioambiental. Eficiência,
inovação e transformações tecnológicas são cruciais para o avanço da
mitigação de emissões e inegáveis
oportunidades de redução de custos
e novos negócios. Mas, diante de um
desafio que vai além de questões
técnicas, precisam ser orientadas
pela premissa maior que deu origem
a todo esse movimento: garantir os
direitos humanos e a proteção à vida.
Assim, no futuro, talvez não sejamos
igualmente questionados: onde estava a nossa humanidade?
45
ARTI GO
gr á f i C O d o IP C C
As soluções para os desafios dos países em desenvolvimento são
mais facilmente encontradas em outros países em desenvolvimento
Virgílio Viana
U
ma mudança radical na cooperação internacional está
em curso. Trata-se da cooperação entre países em desenvolvimento, chamada de “cooperação
Sul-Sul”. É um processo por meio do
qual dois ou mais países em desenvolvimento trocam conhecimento,
soluções, tecnologias e recursos.
A principal justificativa da cooperação Sul-Sul é de que as soluções necessárias para superar os gargalos
dos países em desenvolvimento são
mais facilmente encontradas em outros países em desenvolvimento, melhor do que nos países desenvolvidos.
Os problemas são mais assemelhados em função das suas características ecológicas e socioeconômicas.
Por exemplo, soluções e tecnologias
para o manejo florestal na Amazônia
são mais relevantes para a bacia do
Congo na África, do que aquelas encontradas nos países escandinavos –
ainda que estes estejam num estágio
bem mais avançado de desenvolvimento tecnológico na área florestal.
A cooperação Sul-Sul é uma resposta à história de insucessos na cooperação Norte-Sul. A cooperação entre países desenvolvidos e países em
46
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
desenvolvimento tem sido criticada
por fomentar soluções que não funcionam nos contextos para onde são
transferidas. Além disso, um elevado
percentual dos recursos destinados à
cooperação internacional pelos países
desenvolvidos retorna aos mesmos
na forma de salários, equipamentos e
outros produtos – não chega aos países em desenvolvimento.
Uma nova modalidade tem recebido crescente atenção: a cooperação
triangular. Nesse arranjo, os países
desenvolvidos fornecem o apoio financeiro, os países em estágio intermediário de desenvolvimento (como
o Brasil) fornecem soluções tecnológicas, e os beneficiários são os países menos desenvolvidos. No modelo
triangular, os países desenvolvidos
reconhecem a capacidade de países
em estágios intermediários de desenvolvimento para prover soluções
para os desafios dos países menos
desenvolvidos e apoiam financeiramente a cooperação Sul-Sul. Isso
talvez represente a modalidade mais
promissora de cooperação internacional nas próximas décadas.
O novo cenário para a cooperação internacional adquire um signi-
ficado especial diante da urgência
da mudança das economias rumo
ao desenvolvimento sustentável. O
recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) aponta para um cenário
preocupante. Como resultado das
atividades humanas, está havendo
um aumento da temperatura e da
frequência de eventos climáticos
extremos, como enchentes, secas e
vendavais. Se não houver uma mudança radical no estilo de desenvolvimento, o cenário aponta para um
futuro capaz de gerar tragédias humanas e conflitos sociais. A mudança rumo ao desenvolvimento sustentável é urgente. O desafio para a
sua promoção se aplica a todos os
países: desenvolvidos e em processo
de desenvolvimento.
Os novos rumos da cooperação internacional representam um sopro
de esperança diante da urgente necessidade de promover uma revolução no atual estilo de desenvolvimento. O desafio é fazer com que isso seja
feito com elevada qualidade e eficiência. Nesse contexto o Brasil tem um
novo e importante papel a desempenhar na comunidade internacional.
cen ário s para a el evaç ão da temperatura
Total de emissões antropogênicas de CO2 desde 1870 (em GtCO2)
1000
5
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
2100
4
2100
3
2050
2
2050
2050
2030
2100
2050
2100
2030
2010
1
2000
1950
0
1980
1890
500
1000
1500
2000
Total de emissões antropogênicas de CO2 desde 1870 (em GtC)
rcp2.6
rcp4.5
rcp6.0
rcp8.5
cenário
atual
1% yr/CO2
espectro
do RCP
espectro
1% yr/CO2
observe a diferença
As linhas coloridas indicam possíveis cenários para elevação da temperatura, chamados de RCP
(Representative Concentration Pathways), com projeções até 2100. Eles vão do mais otimista, em
que a elevação da temperatura fica em torno de 2 oC (RCP 2.6) ao mais pessimista (RCP 8.5). Tudo
depende do caminho que a humanidade traçar para conter suas emissões de GEE. Os outros cenários
consideram apenas o aumento de 1% ao ano do CO2 e não incluem outros gases e forças atuantes.
fonte: sumário do 5o relatório do ipcc - grupo de trabalho 1
Cooperação Sul Sul:
novas perspectivas
Elevação na temperatura, em relação a 1880 (em ºC)
t
47
Expedição Co p 19
t
avanço empresarial
enquanto os governos buscam um difícil consenso entre 200
nações diferentes, o setor privado delineia uma nova economia
Kalil Cury Filho
V
arsóvia. Mais uma reunião
das Nações Unidas para tratar da Convenção do Clima.
Novos debates e já velhos
temas. Dificuldades na busca do
interesse comum. E o clima do planeta em crise. Os cientistas já nos
mostraram que estamos consumindo recursos e emitindo gases acima
da capacidade de recuperação da
natureza. Esse processo tem de ser
revertido, sob pena de consequências desconhecidas, podendo comprometer as condições de vida das
próximas gerações.
Minha primeira participação em
COP’s foi em Copenhague, em 2009,
quando havia uma expectativa muito
grande de um acordo entre os países
sobre a redução das emissões de
CO2. Os principais líderes mundiais
estavam lá, e a boa notícia não veio.
Não veio em Cancún, em Durban,
em Doha e ainda não em Varsóvia. A
esperança está na COP21, em 2015,
que será realizada em Paris.
A minha participação sempre se
deu como representante do setor
privado. Foi no ambiente empresarial e nos eventos paralelos promovidos por empresas e ONGs que pude
48
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
interagir e procurar compreender o
que se passava.
Na área governamental, as notícias de acordos parciais sempre vieram com muita reserva, e os avanços foram poucos, considerando-se
o tamanho do desafio. A forma das
negociações, com a busca de um consenso entre quase 200 nações com
muitas diferenças, traz em si as raízes
das dificuldades.
Mas uma constatação que gostaria
de registrar é o crescente comprometimento do setor empresarial com o
tema da sustentabilidade.
Em Copenhague, as empresas estavam lá, muitas com suas
agendas de sustentabilidade incorporadas em seus planos de
negócios, mas o foco estava nos
governos. Agora em Varsóvia, os
eventos paralelos, as conversas
entre os representantes empresariais e das ONGs, as apresentações
de casos e de planos de ação para
os negócios já mostram um vigor
muito maior e não estão mais necessariamente ligados a políticas
ou exigências dos governos. A mudança de atitude está calcada na
incorporação do diagnóstico de
que é preciso buscar uma economia sustentável.
Assim, enquanto os governos negociam e um acordo não chega, o setor
privado avança.
As grandes corporações são entidades transnacionais e responsáveis por cerca de 70% do que se
produz no planeta. Em suas agendas
e planos de negócios, a cada dia, são
incluídas novas visões, inovações
e novos fatores de custo e risco relativos à crescente escassez de recursos e aos impactos no ambiente.
Uma nova economia se delineia.
A pergunta que não quer calar é
se há tempo suficiente para reverter
o processo.
Cabe aos governos a tarefa de incentivar as mudanças necessárias,
liderando e direcionando o caminho
para um desenvolvimento sustentável.
As COPs, com sua frequência
anual, mantêm o tema em debate e
mobilizam as partes interessadas.
Assim como em uma festa, na qual
a atmosfera alegre e vibrante se
mantêm com a música, as discussões sobre o clima que se repetem
nessas conferências precisam desse estímulo para continuar.
A R TIG O
multiplicadores
de mudanças
A ciência econômica ainda não acompanha a ciência do século 21,
em especial em relação às mudanças climáticas. É hora de agir
Achim Steiner
A
ciência do século 20 começou a abrir nossos
olhos para algumas das
mudanças mais fundamentais que já testemunhamos
nos mecanismos vitais de nosso
planeta. E, da mesma forma que
os médicos não conseguem explicar muitas coisas do nosso corpo
e nossa fisiologia, nosso conhecimento de como o planeta funciona
ainda está em seu estágio inicial.
Mas não conseguir explicar tudo
nunca deveria ser uma razão para
não partir para a ação. Essa tem
sido a condição humana em toda
a nossa evolução: nunca tivemos
conhecimento perfeito de algo antes de tomar decisões.
Dado o mais recente relatório do
IPCC e o enorme corpo de ciência
do clima que emergiu nos últimos
20 a 30 anos, sabemos mais do
que o suficiente para assumir posicionamentos sobre a urgência,
a necessidade e o imperativo de
agir. Será incompreensível, para
os que olharem para trás daqui
a 50 ou 100 anos, entender por
que, nesse ponto de inflexão do
século 21, a humanidade não conseguiu tomar algumas decisões
arrojadas. Mesmo se a mudança
climática comprovasse ser um
completo mal-entendido científico, muitas das respostas a ela
fazem sentido para a humanidade
e para o planeta, pois são sobre
eficiência de recursos, redução de
poluição, melhores condições de
saúde, padrões de urbanização.
O black carbon (fuligem, ou carbono negro), por exemplo, não influi apenas na mudança climática:
é parte do que deixa milhões de
pessoas doentes, levando a algo
entre 4 milhões e 6 milhões de
mortes prematuras por ano. Então por que não agimos?
A realidade científica nos pede
para transformar fundamentalmente nossa economia. Com frequência
digo que a ciência econômica e a
economia começaram lentamente
a acompanhar a ciência do século
21. Hoje falamos sobre dióxido de
carbono, metano, óxido nitroso, elementos que são parte de apenas 200
anos de história humana moderna
e que começaram a alterar nossa
atmosfera, com enormes implicações para nossa biosfera. É aí que
entra a ciência econômica, com suas
extraordinárias ramificações, pois
nossa economia, infraestrutura, os
lugares em que vivemos, os lugares
com que contamos para sobreviver,
ou seja, tudo o que sabemos e que
tomamos como realidade dada, está
sendo questionado pelas mudanças climáticas. Por exemplo, caso a
temperatura global subisse 4 graus
Celsius, o ecossistema da Amazônia
tal qual existe hoje não mais funcionaria. A Amazônia é a maior bomba
d’água do mundo. Se você matá-la,
você destrói o sistema hidrológico da
maior parte da América do Sul.
Então, aqui estamos, uma comunidade global de nações lutando para
negociar uma resposta de implicações de transformação sem precedentes. Talvez não seja surpresa que
estejamos lutando, particularmente
na questão da equidade, para saber
quem deve se mexer primeiro ou
quem tem mais responsabilidade, >
49
A mudança climática começa a ser
registrada no radar de gerenciamento
de risco de muitas empresas
porque todos enfrentaremos contas impensáveis por não agir. Mas
agir requer investimentos. Se a
ciência econômica e a economia
estão alcançando a ciência, podemos então começar a fazer com
que as finanças acompanhem a
ciência econômica no contexto da
mudança climática.
As transformações necessárias
requerem decisões sobre investimentos. O diálogo entre governos, formuladores de políticas,
reguladores e o setor privado será
necessário como nunca. A consultora Trucost calculou que as
100 maiores externalidades ambientais estão custando cerca de
4,7 trilhões de dólares por ano à
economia mundial em questões
relacionadas à poluição do ar, saúde, mudança climática, recursos
naturais, diminuição e destruição
de ecossistemas, etc. Nesse contexto, a indústria de cimento seria
uma “fabricante de perdas”. A única razão pela qual ela é um negócio lucrativo é que muito do custo
é absorvido pela sociedade. Como
50
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
resolver tal dilema? Bom, temos
governos. Governos tomam decisões que medeiam interesses de
longo e curto prazos, entre a capacidade de um mercado de funcionar e, em última instância, de
uma economia ser sustentável.
Esses são os maiores desafios
para os próximos anos, em especial no setor privado.
O aumento do interesse do setor privado nas questões do clima e a relevância da negociação
climática apontam para duas
realidades: uma, a mudança climática começa a ser registrada
no radar do gerenciamento de
risco de muitas empresas, não só
em termos de investimentos de
longo prazo, novas tecnologias e
estratégias existentes, mas também como uma oportunidade de
prever como seria uma economia
precificada de baixo carbono.
A outra realidade é a incerteza
das políticas. Tivemos algumas extraordinárias histórias de sucesso
nos últimos anos que mostram o
quão rapidamente o mercado pode
responder a sinais oriundos do
conjunto regulatório de decisões
que fornecem incentivos e políticas fiscais. Apenas nos últimos
seis anos, de 2006 a 2012, vimos
os investimentos em energia renovável crescerem para mais de
1,3 trilhão de dólares. Uma boa
soma para um componente do
nosso mix de energia que, até 15
anos atrás, as agências de energia,
o Banco Mundial e todos os gurus
macroeconômicos diziam que talvez começasse a emergir por volta
do meio deste século. Quebramos
recordes. Países como a Dinamarca e Alemanha tiveram grandes
inovações, de um quarto a um terço de sua eletricidade agora vem
de fontes renováveis.
Nunca, na história da tecnologia
de energia, as economias conseguiram introduzir um novo pilar em seu
mix na velocidade em que as renováveis têm entrado. Nunca a tecnologia se moveu tão rapidamente do
mundo industrializado para o mundo em desenvolvimento, porque
metade dos investimentos globais
em renováveis em 2012 estavam
nele. Nunca vimos as economias no
mundo em desenvolvimento construírem suas próprias capacidades
tão rápido, com a China sendo hoje
o maior produtor mundial de energia eólica. E, vamos admitir, tem
contribuído significativamente para
baixar o preço da tecnologia. Na
África, investimentos em renováveis
subiram para 12 bilhões de dólares
só em 2012. Nos últimos seis meses, a maior fábrica fotovoltaica do
continente foi aberta em Gana, a
maior fazenda de energia eólica na
Etiópia, o maior investimento geotérmico no Quênia.
Tudo isso está acontecendo porque os governos reconheceram
os benefícios social e econômico
das energias renováveis e os converteram em orientações de suas
políticas. Mas os governos também
estão atrasados, e talvez um dos
maiores riscos seja a volatilidade
da política pública. É o que vemos
acontecendo com o preço do carbono na Europa. O esforço global
para trazer o preço do carbono
para dentro da corrente econômica
principal está oscilando, em virtude da irrelevância do mercado, por
causa da incoerência das políticas.
Olhamos para os atores do setor
privado como o mais importante
fator multiplicador que irá determinar e definir a capacidade de nossos
países de responder a essas transformações. Estamos comprometidos em reduzir nossas emissões de
carbono em 50, 60, 80%, em apenas
30 a 40 anos. Temos recursos para
fazê-lo? Como iremos fazê-lo? É
economicamente viável? Os investimentos realmente seguirão as aspirações, as metas ambiciosas que
estabelecemos nas negociações
internacionais? Apenas no ano de
2012, as 200 maiores empresas de
combustíveis fósseis investiram 674
bilhões de dólares em exploração e
desenvolvimento de novas reservas.
Peguem esse número por um instante e justaponha-o com um objetivo pelo qual estamos lutando na
comunidade de nações no ano de
2013, que é de alguma forma juntar
100 bilhões de dólares para finan-
ciar um esforço coletivo de transição em direção à economia verde.
Se é assim que as cartas estão
distribuídas, é surpresa que muitas empresas e instituições financeiras estejam em cima do muro?
Muitas gostariam de pular, mas com
esse tipo de ambiente contraditório
de políticas macroeconômicas, por
que o fariam? Sim, pode haver alguma indústria que queira que os governos não se mexam. Mas aqui estão
cada vez mais atores do setor privado
que percebem que o custo da inação
está começando a migrar de uma
dimensão social macroeconômica
diretamente para seus balanços.
E aqui está, acredito, a oportunidade
de articular, de dentro do universo do
setor privado, do mundo financeiro e
do mundo da tecnologia, mensagens
claras para os governos, porque eles
irão liderar se tiverem a impressão
de que alguém irá segui-los. O atual
padrão de tabuleiro de xadrez onde
apenas movemos peões, reis e rainhas em reação ao movimento do
outro lado, está ignorando a ciência
e matando as finanças.
trecho extraído do discurso de abertura do evento Climate Action, side event da cop 19, realizado em 20/11/2013
51
t
ARTI GO
Novos horizontes
A mudança do clima oferece um conjunto de
oportunidades para determinados países e setores
Alexandre Comin
A
indústria brasileira vem
buscando há décadas vantagens competitivas que
lhe permitem hoje aproveitar oportunidades numa economia de baixo carbono.
Parte significativa da siderurgia
brasileira é baseada no carvão vegetal e investe no desenvolvimento
do aço de baixas emissões. Empresas brasileiras desenvolveram
tecnologia de reflorestamento para
celulose que tornou essa cadeia
imbatível em termos de produtividade e de sustentabilidade.
Há 20 anos o setor químico desenvolve programas de sustentabilidade em todas as frentes,
dentre elas a de emissões, com
resultados substantivos na comparação internacional. O desenvolvimento do plástico verde, liderado pelo Brasil, abre infindáveis
52
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
oportunidades para uma química
de baixo carbono.
A cadeia do alumínio, da mineração à reciclagem, coloca o País
numa posição vantajosa nas emissões de outros gases de efeito estufa (GEE), além do dióxido carbono.
independem disso, como na indústria do cimento, da celulose, entre
outras. E há casos em que as duas
dimensões se somam, como na siderurgia. A ampliação das fontes
não renováveis na matriz elétrica
não deverá anular a vantagem da
uma parte importante da vantagem
do brasil se deve à matriz elétrica
excepcionalmente limpa
Avanços significativos foram obtidos em áreas inovadoras, como
no etanol, e tradicionais, como no
cimento, dentre tantas outras.
Uma parte importante da vantagem da indústria brasileira se deve
à matriz elétrica excepcionalmente
limpa, sendo o alumínio o melhor
exemplo. Mas há vantagens que
indústria brasileira como um todo,
embora possa piorar marginalmente o perfil de alguns produtos.
Na mão contrária, é forçoso reconhecer que perduraram práticas
não sustentáveis que mancham a
imagem do País. É o caso particularmente do uso de madeira ilegal
e de práticas trabalhistas inacei-
táveis no carvoejamento e na produção de cal em várias regiões do
País. São fatos lamentáveis, mas
não deixam de representar oportunidades, por ora desperdiçadas.
Graças ao esforço do governo federal, sob a liderança do Ministério
do Meio Ambiente, o Brasil é o país
que mais contribuiu para a mitigação de emissões de gases de efeito
estufa, mediante a redução, sem
precedentes históricos, do desmatamento. Menos conhecida é a
contribuição de outros órgãos federais para a mitigação. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC) apoia em
diversas frentes os esforços de minimização de emissão de GEE da
indústria brasileira, sem descuidar
de sua principal missão, que é a
promoção do desenvolvimento e da
competitividade do setor produtivo.
A principal ação é o Plano Indústria, que trabalha desde 2012 para
a construção de um padrão internacionalmente comparável de Medição, Relato e Verificação (MRV) de
emissões. Ao mesmo tempo, orga-
gia do MDIC, sempre em diálogo
com o setor industrial e com o
apoio de vários órgãos federais,
é criar as condições de MRV que
evidenciem os esforços já realizados e as vantagens acumula-
estudos indicam que a indústria brasileira
já possui um nível baixo de emissões
por unidade de produto
niza instrumentos de financiamento
e de certificação, entre outros, que
facilitem os esforços de redução de
GEE sem prejudicar a produção.
Os estudos realizados pelo MDIC
indicam que a indústria brasileira
já possui um nível relativamente
baixo de emissões por unidade de
produto quando comparada com
outros países. Por isso a estraté-
das pela indústria em direção a
uma economia de baixo carbono.
É a melhor garantia de que o País
potencialize suas oportunidades.
Os esforços da indústria e do
MDIC reforçam, portanto, a estratégia brasileira de impulsionar as negociações do clima.
Isso interessa ao planeta e interessa ao Brasil.
53
t
ARTI GO
m í d i as
Material originalmente publicado em 2009-2010
A ENERGIA QUE
VEM DO SERTÃO
Um exemplo brasileiro para uma sociedade que precisa
agir contra o aquecimento global
Jean R. Benevides
o
aquecimento global e o
cenário dramático e de
incertezas que ele carrega costuma provocar um
sentimento de impotência e ceticismo em muitas pessoas quando o momento deveria ser de ação conjunta e
integrada na busca de soluções que
respondam a esse desafio. Um condomínio residencial do Programa Minha Casa Minha Vida em Juazeiro, na
Bahia, é uma demonstração de como
o enfrentamento das mudanças climáticas pode gerar novas oportunidades – ele tem atraído a atenção de
especialistas pela forma inovadora de
gerar energia limpa e renda aos seus
moradores ao mesmo tempo.
A produção e o consumo de energia
são os principais emissores de gases de efeito estufa, o que tem levado
governos e empresas a se mobilizar
por medidas que reduzam o uso de
combustíveis fósseis e a incentivar a
produção de energias renováveis. No
Brasil, ainda é incompreensível como
a abundância da radiação solar e dos
ventos não é aproveitada para geração de eletricidade, especialmente
54
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
quando se tem amplo conhecimento e
tecnologias para isso, de forma a garantir que o País continue a ser uma
referência mundial por ter uma matriz
energética limpa e renovável.
A mini e a microgeração distribuída de energia solar fotovoltaica tornaram-se realidade no Brasil desde
suas autorizações pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em
2012. Agora é preciso disseminar essa
fonte de energia por meio de incentivos financeiros e modelos de negócios
que fomentem a demanda e a viabilizem em todo o país.
Nossos telhados podem se constituir em milhares de microusinas,
lançando na rede de distribuição a
eletricidade produzida durante o dia
pela radiação solar, e com isso, gerar créditos a serem compensados
com a energia que for consumida
da concessionária.
No modelo de minigeração implantado em Juazeiro, os telhados de mil
residências formam uma usina solar
capaz de gerar 2,1 MW de energia
elétrica. O sistema é complementado ainda por seis aerogeradores que
aproveitam os bons ventos locais, iluminando as áreas de convivência do
condomínio. Nesse modelo de negócio, a energia gerada é vendida e a receita é distribuída entre os moradores
e um fundo de manutenção, criando
melhores condições para a administração do condomínio.
A experiência foi construída com
ampla participação e adesão das famílias, inclusive na execução do projeto – um grupo de 35 moradores, a
maioria mulheres, foi selecionado
para trabalhar na montagem e fixação
de todo o sistema.
O desafio do aquecimento global exigirá conhecimento e atitudes
para combatê-lo. O problema é global, mas as ações e soluções são
locais. Esse condomínio de geração
de energia renovável é uma inovação
brasileira, que reúne moradores,
agente financeiro e uma empresa
comercializadora de energia. Juntos, eles demonstram outra maneira de produzir riqueza com inclusão
social, transformando o sol e os ventos em ativos ambientais a serviço
do desenvolvimento sustentável.
55
mídias
Material originalmente publicado em 2009-2010
Caminhos para a redução
O gráfico abaixo mostra que, em alguns setores, os valores com a diminuição dos GEEs
são negativos (barras em azul). Em outros há boas oportunidades de negócios para o país. De
acordo com a McKinsey, o custo médio do Brasil para o abatimento de 70% das emissões até
2030 deve ser de 9 euros (cerca de 27 reais) por tonelada de CO2, metade da média mundial.
Conheça alguns dos caminhos para a redução das emissões de dióxido de carbono no país:
Saiba mais sobre o
estudo da McKinsey
em www.planeta
sustentavel.com.br/
brasilbaixocarbono
t
ARTI GO
Gases de efeito estufa
transformam a gestão
Eficiência, Inovação, Reputação e Competitividade são alguns dos
fatores que estão direcionando a Nova economia
Rodolfo Nardez Sirol
A
nualmente, mais de 6 mil
empresas de 70 países
são convidadas a divulgar seus dados de emissões e estratégias ambientais por
meio do sistema de reporte do
CDP (Carbon Disclosure Project),
que é mantido por 722 investidores globais com ativos coletivos de
US$ 87 trilhões. O relatório brasileiro teve a sua primeira edição
em 2006, baseando-se em dados
coletados das maiores empresas
brasileiras, tendo como escopo
100 convidadas do índice IBrX, da
BM&FBovespa.
Diversas empresas de rating e
fundos de investimentos utilizam o
relatório do CDP para compor sua
tomada de decisão em investimentos, já que a estrutura do relatório
passa por questões essenciais na
gestão corporativa de gases de efeito estufa (GEE), como governança e
estratégia, transmitindo aos investidores uma visão de sustentabilidade e preservação de valores.
58
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
As empresas têm investido na
governança sobre emissões de
GEE, estimuladas por quatro importantes drivers:
• O primeiro diz respeito a impactos econômicos diretos, na qual a
melhor gestão das fontes de emissão de GEE resulta diretamente em
ganhos de eficiência e consequente redução de custos operacionais
e/ou administrativos, modernizando
a gestão e trazendo ganhos tangíveis
para a empresa;
• O segundo driver está relacionado à
gestão de risco do negócio da empresa, em que crescentes regulamentações sobre emissões de GEE podem
acarretar perdas de receita ou a geração de custos adicionais (parcialmente tangível);
• O terceiro está relacionado ao desempenho nos relatórios de mercado
que são utilizados pelos investidores
para alocar seus investimentos;
• E finalmente, temos as questões
reputacionais, pelas quais as empresas de mercado, preocupadas em se
manter alinhadas às novas tendências da sociedade, buscam um posicionamento que as identifique como
engajadas e líderes nesses movimentos da economia de baixo carbono, também conhecida como nova
economia (intangível).
Um driver ainda incipiente é o que
norteia a competitividade no cenário
colocado pelas diferentes oportunidades que a nova economia proporciona e ainda proporcionará. Falo de
empresas que prestarão serviços
atrelados à baixa emissão de carbono, como a mobilidade elétrica
urbana, o fornecimento de energia
elétrica de fontes alternativas, as
novas soluções energéticas sustentáveis para empresas e cidadãos, as
soluções para ambiência de casas e
empresas, a geração elétrica distribuída e personalizada. Também haverá as empresas de novos produtos,
disruptivos, que promoverão acesso
às tecnologias e aos serviços de baixo custo, atendendo a grande população de baixa renda dos países em
desenvolvimento, carentes de produtos e serviços para o exercício de sua
cidadania. O impacto desses será tão
revolucionário quanto o smartphone.
A CPFL Energia tem utilizado
a governança como driver de decisão para implantar metas corporativas de redução de GEE em
fontes que interferem em mais de
80% de suas emissões (Escopo 1
e 2). Além disso, ações de menor
impacto sobre as emissões globais da empresa, mas com significativo impacto em custos operacionais e administrativos, têm
sido utilizados. Nessa direção, recentemente, promovemos a alienação de sites de baixa eficiência
ambiental (com significativa receita não recorrente), a otimização
de espaços para melhor desempenho ambiental per capta (maior
que 50%), o ganho de mais de 50%
na eficiência dos sistemas de iluminação e refrigeração, e campanhas de consumo inteligente de
recursos naturais e ecoeficiência.
Entendo que empresas como a
CPFL, que tem uma forte gestão
sobre suas emissões de GEE, estão se preparando para essa nova
de saúde assistida por via remota, produtos com baixa emissão para serem
produzidos, cadeias mais curtas de
produção, serviços em rede etc.
Em um horizonte curto teremos uma
drástica revolução no modo como
fazemos as coisas hoje, seja do ponto
de vista de produtos seja de serviços
economia, que enseja um novo ambiente de competição de mercado.
Um fato muito comum nelas é a definição da inovação como pilar de sua
estratégia de crescimento (orçamentos e pessoas dedicadas) e, portanto,
de sobrevivência futura, uma vez que
em um horizonte curto de alguns
poucos anos teremos uma drástica
revolução no modo como fazemos as
coisas hoje, seja do ponto de vista de
produtos seja de serviços. Podemos
observar alguns movimentos nesse
sentido, por exemplo, em programas
Nesse cenário, veremos muitas empresas tradicionais e
sólidas sucumbirem perante
um fato relevante nesse futuro
próximo. Um número praticamente infinito de novas empresas surgirão por todo o mundo
(o emergente, principalmente),
oferecendo soluções inusitadas, eficientes e acessíveis,
colocando em desafio a capacidade das empresas de hoje de
prover soluções semelhantes
e na mesma velocidade.
59
t
ARTI GO
O setor energético
e o desafio dos 2 C
o
o setor pode ajudar a conter a elevação da temperatura
global e ainda gerar oportunidades, mas é preciso se apressar
Augusto Rodrigues
A
indissociabilidade
entre
mudança do clima e energia é evidente. O setor de
energia, segundo a International Energy Agency (IEA), é responsável por 67% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE).
O desafio de limitar o aumento da temperatura do planeta em 2 ºC requer
um profundo repensar da forma como
geramos e utilizamos energia. Desafio
que, cada vez mais, passa a ser tecnológico, político e comportamental. E o
Brasil terá papel fundamental nesse
front, dispondo da oportunidade histórica de contribuir, como protagonista,
para o combate às emissões de GEE.
Apesar de avanços em determinados países, as emissões globais de
GEE relacionadas à energia aumentaram 1,4% em 2012, alcançando um
nível nunca antes experimentado.
Vale pontuar que, também em 2013,
a concentração de CO2 na atmosfera
chegou a 400 ppm, algo não conhecido pelo planeta, pelo menos, no período em que a tecnologia de medição
permite alcançar.
Segundo a ONU, a população mundial será de 9,3 bilhões de pessoas
em 2050. O nosso desafio é garantir
60
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
o acesso de todas elas à energia elétrica. Façamos alguns cálculos para
dimensionar o tamanho de tal desafio.
A emissão per capita do brasileiro para
produzir e consumir energia é 4 vezes
menor que a do europeu, ou 9 vezes
menor que a do americano. Na produção de energia elétrica, o setor brasileiro emite 6 vezes menos do que o europeu, 7 vezes menos do que o americano
e 11 vezes menos do que o chinês.
O Banco Mundial também nos informa
que o consumo per capita de energia
elétrica nos EUA é mais de cinco vezes
o de um brasileiro. Assim, no Brasil,
segundo o World Energy Outlook 2013,
já em 2030, haverá aumento de “80%
no uso de energia, incluindo a obtenção
de um acesso universal à eletricidade.
O aumento do consumo será impulsionado pelas necessidades de
energia de uma classe média em expansão, resultando em um forte crescimento na demanda por combustíveis para transporte e uma duplicação
do consumo de eletricidade”.
Podemos concluir, então, que
nosso desafio não passa somente
pela necessidade de reinventarmos tecnicamente a produção, a
distribuição e a utilização de ener-
gia, mas por inovações políticas e
econômicas que exijam mudanças
comportamentais.
A IEA, embora considere provável
o cenário de elevação da temperatura do planeta entre 3,6 ºC e 5,3 ºC
até 2100, enfatiza que as tecnologias
necessárias estão disponíveis para
garantir a meta buscada de 2 ºC.
Como podemos conciliar o aumento
dos níveis de consumo de energia das
populações excluídas com os limites
planetários e a redução das emissões? O artigo Sustainable Development and Planetary Boundaries, da
rede Sustainable Development Solutions Network, da ONU, indica quatro
possíveis cenários futuros. São eles:
I. Chutando a escada: os países em
desenvolvimento congelariam sua
prosperidade, o que favoreceria os
países já desenvolvidos;
II. Contratando e convergindo: os países desenvolvidos reduziriam drasticamente o seu nível de consumo até
haver uma convergência com o consumo de países em desenvolvimento;
III. Business as usual: falta de consenso internacional, onde cada
país continuará defendendo suas
reservas independentemente;
IV. Transformando para a sustentabilidade: os países chegam a um consenso, em busca de uma nova economia.
O desafio está colocado. Mas gostaria de trazer uma reflexão, considerando que as negociações climáticas estão em curso e que, mesmo
com um acordo em 2015, focando
o quarto cenário descrito acima, as
ações serão implementadas somente a partir de 2020. Os países precisam começar a agir imediatamente.
E, aqui, o setor energético pode dar
uma enorme contribuição. O Redrawing the Energy-Climate Map
(IEA), em seu último relatório, descreve como o setor pode contribuir
para limitar o aumento da temperatura a 2 ºC até 2050 pela:
•adoção de medidas de eficiência
energética específicas (49% das reduções de emissões);
•limitação da construção e da utilização das usinas menos eficientes (21%);
•minimização das emissões de metano (CH4) provenientes da produção
de petróleo e gás (18%);
•aceleração da eliminação progressiva dos subsídios ao consumo de
combustíveis fósseis (12%).
O relatório ressalta que as políticas
propostas consideram apenas tecnologias existentes, já adotadas em
alguns países. Essas medidas não
retardariam o desenvolvimento de países ou regiões. Esse projeto de redução das emissões incluiria também:
•a massificação da utilização de veículos elétricos;
•a progressiva geração de eletricidade sem a utilização de combustíveis fósseis até 2050, aumentando o
uso de energias renováveis. Dentro
disso, o uso crescente da geração
distribuída, transformando o consumidor de energia em gerador;
•o aumento do sucesso dos programas de eficiência energética, incluindo a implantação, em escala, de redes
inteligentes de transmissão e distribuição de energia elétrica;
•a utilização de biocombustíveis
para transporte;
•a incorporação de mudanças do
uso da terra e a redução de emissões na agricultura.
Esse enorme desafio traz, também, muitas oportunidades. Segundo
a IEA, o investimento necessário na
geração de energias renováveis, até
2035, é de US$ 1,8 trilhão. Somando a
geração renovável às outras tecnolo-
gias de baixo carbono, o investimento
previsto é de US$ 5 trilhões.
Esse movimento já começou!
O crescimento previsto para a geração
de energia no Brasil, até 2035, já conta
com 45% de renováveis. Precisamos
apertar o passo. Os últimos leilões no
País têm mostrado a força e a competitividade da energia renovável. No último leilão de energia nova, o 18º., foram
contratadas 16 pequenas centrais hidrelétricas, uma hidrelétrica, cinco térmicas à biomassa e 97 usinas eólicas.
A situação de nosso País é muito privilegiada. Possuímos o terceiro
maior potencial hidrelétrico do mundo, utilizando apenas 30%. Além disso, o potencial elétrico da biomassa
já representa quase 10% do total de
geração de energia elétrica e poderia
mais do que triplicar. Temos ainda um
potencial eólico que pode chegar a
300 GW, valor maior que todo o nosso
parque instalado. E o nosso enorme
potencial solar é indiscutível.
Portanto, todos têm a ganhar com
a realização de uma agenda da qual
participariam os governos, a sociedade civil e as empresas, na implementação de um novo paradigma
energético mundial.
61
mídias
Material originalmente publicado em 2013-2014
2009-2010
mídias
Material originalmente publicado em 2013-2014
t
ARTI GO
O Marco de
Varsóvia para REDD
o grande avanço da COP19: sete decisões adotadas sobre aspectos
financeiros, metodológicos e institucionais de REDD+
Thelma Krug, Letícia Guimarães e Felipe Ferreira
P
ara o Brasil, um dos principais resultados da COP19,
em Varsóvia, foi a conclusão de negociações sobre
a arquitetura internacional para
REDD+, sigla usada na ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (UNFCCC) para
“políticas e incentivos para redução de emissões por desmatamento e degradação florestal, e o
papel da conservação, manejo sustentável de florestas e aumento de
estoques de carbono florestal em
países em desenvolvimento”.
Na COP16, em Cancún, as Partes
na UNFCCC afirmaram o objetivo
coletivo de diminuir, parar ou reverter o desmatamento e a perda
de cobertura florestal, desde que
recursos adequados e previsíveis
para tal fim sejam assegurados a
países em desenvolvimento. O Marco de Varsóvia (Warsaw Framework
for REDD+) definiu as regras que
permitirão seguir essa aspiração,
a partir de normas multilaterais
sobre requisitos metodológicos e
do objetivo coletivo de canalização
66
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
de recursos para o pagamento por
resultados alcançados.
O conjunto das sete decisões
adotadas trata dos aspectos financeiros, metodológicos e institucionais de REDD+ no plano
internacional, ao amparo da UNFCCC. 1 Com isso, a COP19 estabeleceu as principais regras
internacionais para REDD+, concluindo, em grande medida, o ciclo de negociações sobre o tema.
O Marco de Varsóvia lança uma
nova etapa para REDD+, com
foco na implementação das regras multilateralmente acordadas para obter pagamentos por
resultados, de forma que os esforços de mitigação de países em
desenvolvimento no setor florestal possam ser reconhecidos internacionalmente e devidamente
recompensados.
A expectativa é que, com isso,
haja maior segurança jurídica e
uma melhor coordenação internacional para apoiar financeiramente atividades de REDD+, em particular pagamento por resultados.
Pagamento por resultados
Apesar de ser a principal característica de REDD+, esse é talvez seu
atributo menos compreendido. Pagamentos por resultados ou por desempenho são uma maneira inovadora de financiamento internacional,
na qual os recursos são transferidos
com base em resultados já alcançados em relação a indicadores previamente definidos.2 Nessa modalidade,
a transferência de recursos é feita,
portanto, a posteriori, com base em
desempenho, e não a priori com base
em uma expectativa.
No caso de REDD+, os pagamentos serão realizados por resultados
de mitigação, medidos em toneladas de CO2e (CO2 equivalente) em
relação a uma referência previamente definida, assegurados por
meio da implementação de atividades e políticas que visem diminuir,
parar ou reverter o desmatamento
e a perda de cobertura florestal.
Quais os principais elementos do
Marco de Varsóvia para REDD+?
Conforme já acordado em Cancún,
para ter acesso a pagamentos pelos
resultados de suas ações nacionais
de REDD+, o país em desenvolvimento deverá ter implementado todos os
elementos descritos no parágrafo
71 da decisão 1/CP.16: uma estratégia ou plano nacional; um sistema
de monitoramento florestal em nível
nacional; um nível de referência de
emissões por desmatamento e/ou
degradação florestal; e/ou nível de
referência de estoque de carbono florestal; e um sistema de informação
sobre salvaguardas. As ações nacionais deverão ser, ainda, plenamente
mensuradas, relatadas e verificadas
(MRV, na sigla em inglês).
O Marco de Varsóvia para REDD+
definiu o que significa “plenamente
mensuradas, relatadas e verificadas” ao adotar os procedimentos
para apresentação de níveis de
referência e para verificação dos
resultados. Criou também requisito adicional de apresentação do
relatório sobre o sistema de informações sobre salvaguardas. Esses
requisitos são voluntários e restritos ao contexto de pagamento por
resultados, e não geram, portanto,
meta de mitigação para países em
desenvolvimento. Passam a ser necessários, porém, para obter pagamentos por resultados mesmo que
a fonte de recursos esteja fora do
mecanismo financeiro da UNFCCC.
Na prática, isso cria ciclos de
dois anos para apresentação e reconhecimento dos resultados de
REDD+ pela UNFCCC, a partir de
comunicação nacional já feita sob
a convenção.
O ciclo tem dois passos. Anualmente, os países em desenvolvimento poderão submeter seus níveis de referência para avaliação por
uma equipe de especialistas credenciados da UNFCCC. Após essa
avaliação, os resultados das ações
nacionais de REDD+ correspondentes poderão então ser apresentados, a cada dois anos, na forma de
um anexo técnico ao Relatório de
Atualização Bienal (BUR, na sigla
em inglês).3 O anexo técnico deverá
conter informações sobre o sistema
de monitoramento florestal e uma
demonstração de como os resulta-
dos apresentados são consistentes
com as premissas e metodologias
adotadas para o nível de referência.
Conforme acordado na decisão
2/CP.17, os BURs serão submetidos
ao chamado processo de Consulta
e Análise Internacional (ICA, na sigla em inglês). O anexo técnico de
REDD+ passará pelo mesmo processo de transparência e verificação dos
BURs. O relatório sobre o sistema de
informações sobre salvaguardas, por
sua vez, deverá ser atualizado, pelo
menos, a cada quatro anos.
Uma vez que todos os requisitos tenham sido atendidos, os resultados serão publicados, com
os relatórios pertinentes, em uma
ferramenta on-line específica para
esse fim (o information hub) sob a
plataforma de REDD+ da UNFCCC4.
O information hub tem como função
ampliar a transparência sobre os
resultados e seus pagamentos correspondentes e reunirá em um só
lugar as informações necessárias
para o reconhecimento internacional das ações de REDD+ e seus respectivos pagamentos. >
67
t
ARTI GO
Um sistema multilateral pode atrair
novos atores, novas instituições
e novos financiamentos
O papel central do GCF
O Marco de Varsóvia prevê que, dentre as várias fontes que financiam
REDD+ (bilaterais ou multilaterais,
públicas ou privadas), o Fundo Verde
para o Clima (GCF, na sigla em inglês) terá um papel-chave, a fim de
canalizar recursos em escala adequada e previsível para os países em
desenvolvimento.
Não está definido explicitamente o que constitui esse “papel-chave”, até porque o GCF só deverá ser
capitalizado a partir de 2014. A boa
notícia é que, tão logo haja recursos,
o Comitê Executivo do GCF poderá começar a oferecer pagamento
por resultados quase que imediatamente, uma vez que o trabalho
metodológico já foi terminado. Ao
GCF caberá definir de que forma,
e em que volume, serão oferecidos
pagamentos por resultados. É de
esperar, assim, que o fundo venha a
assumir um papel de destaque entre
as fontes de recursos para REDD+,
de forma a oferecer montantes em
escala adequada e previsível para
os países em desenvolvimento inte-
68
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
ressados em implementar, de forma
voluntária, atividades de REDD+ em
nível nacional.
Em linha com a abordagem acordada na COP17 (Durban), de que os
recursos para REDD+ virão de “várias fontes”, caberá a cada país, após
terminado seu ciclo de apresentação de resultados, buscar parcerias
bilaterais ou entidades financeiras
internacionais dispostas a oferecer
pagamentos por resultados. Daí a
importância de a COP19 ter definido
um papel central ao GCF nessa arquitetura, de forma a assegurar previsibilidade na provisão de recursos
aos países em desenvolvimento.
A segurança oferecida por um
sistema multilateralmente acordado, ademais, poderá atrair novos
atores. Uma vez definido como os
resultados serão apresentados e
reconhecidos pela UNFCCC, outras
instituições financeiras interessadas
em financiar REDD+ poderão passar
também a oferecer pagamento por
resultados, sem que para isso tenham que desenvolver metodologias
e/ou requisitos próprios.
Coordenação de apoio: um
Mecanismo para REDD+?
As decisões da COP19 definem
os requisitos e as metodologias
acordados pela UNFCCC para aplicação pelas diferentes entidades
interessadas em financiar REDD+.
Estabelecem, também, ferramentas sob a Convenção com o objetivo
de aumentar a transparência sobre
os resultados REDD+ e seus respectivos pagamentos. A expectativa é de que, com isso, haja maior
segurança jurídica e melhor coordenação internacional para apoiar
financeiramente essas atividades.
É importante notar, contudo,
que não foi criado um “mecanismo de REDD+”. Em regimes multilaterais, a palavra mecanismo
está, a rigor, associada à criação
de arranjos institucionais formais, com poder de regulamentação e estrutura rígida. Como
as decisões de Varsóvia não estabeleceram tais arranjos, é mais
adequado descrever o conjunto
de decisões como um “marco” ou
“arquitetura” para REDD+.
A fim de melhorar a efetividade do
financiamento a REDD+, os países
(doadores e recipiendários) deverão
designar entidades nacionais ou
pontos focais para REDD+, que deverão se encontrar periodicamente
à margem das reuniões da UNFCCC
entre 2014 e 2017 (quando será revista a necessidade da criação de arranjos institucionais formais).
Projetos são elegíveis para receber pagamentos por resultados
sob o Marco de Varsóvia?
O Marco de Varsóvia reitera o entendimento da abordagem nacional para a implementação de atividades de REDD+, aceitando, caso
necessário de forma interina, uma
abordagem em escala subnacional. Definitivamente, no nível internacional, REDD+ não tem uma
abordagem baseada em projetos.
A arquitetura internacional de
REDD+ está inteiramente voltada
para o pagamento por resultados
de ações nacionais.
Projetos de REDD+ podem, contudo, ser compreendidos como
atividades a serem desenvolvidas
nas chamadas fases de preparação
(readiness ou fases 1 e 2), ou ainda
como forma de reaplicar os recursos
recebidos pelos resultados alcançados em nível nacional (a exemplo do
que faz o Fundo Amazônia).
Na fase 3 (“ações baseadas em
resultados”)5, são os países em
desenvolvimento os responsáveis
pelos resultados de suas ações
nacionais, portanto, são eles que
receberão os pagamentos correspondentes. Por essa razão, a
COP19 reconheceu que os países
em desenvolvimento têm a prerrogativa soberana de indicar quem
serão os recipiendários de pagamentos por resultados em seu
nome, segundo critérios a serem
definidos nacionalmente.
Offset ou não-offset?
Um tema que polariza opiniões diz
respeito à questão sobre se os pagamentos por resultados de REDD+
poderão ser utilizados para cumprimento de obrigações de mitigação
dos países desenvolvidos offsetting.
Países desenvolvidos, não surpreendentemente, gostariam de ter aces-
so a créditos de carbono em grandes
quantidades, a preços relativamente
baixos. O Brasil, junto a diversos países em desenvolvimento e organizações da sociedade civil, mantém firme posição de que REDD+ não deve
ser utilizado para offsetting, de forma a manter a integridade ambiental do regime. REDD+ poderá ser
utilizado pelos países desenvolvidos
para ajudar a alcançar seu compromisso financeiro de mobilizar 100
bilhões de dólares por ano, mas não
para cumprimento de seus compromissos de mitigação de emissões de
gases de efeito estufa.
O Marco de Varsóvia, efetivamente, adiou a discussão sobre offsetting para o futuro. Isso permite que
REDD+ comece a ser implementado e financiado desde já, resguardando as posições atuais. Nas
decisões do Marco de Varsóvia,
não há previsão de que os pagamentos por resultados de REDD+
gerem unidades de compensação
para cumprimento de compromissos de mitigação dos países
desenvolvidos sob a Convenção.
O reconhecimento dos resultados >
69
t
ARTI GO
t
A R TIG O
O baixo carbono
e o livre comércio
Pagamentos por resultados efetuados
por meio do fundo verde do clima serão
uma abordagem de não mercado
Lentidão e fragilidade das negociações oficiais
podem levar países a adotarem plano B
Eduardo Matias
e de seus pagamentos correspondentes não gera direitos ou obrigações de nenhuma natureza. Essa
foi a forma alcançada para permitir
o avanço das negociações, uma vez
que a proposta brasileira de proibir
explicitamente offsetting gerou resistência de alguns países. A elegibilidade ou não elegibilidade de atividades de REDD+ para abordagens
de mercado será uma questão a ser
definida nas negociações sobre o
novo mecanismo de mercado sob a
Convenção. Essas negociações, por
sua vez, dependem de definições sobre os compromissos de mitigação
no novo acordo, a ser implementado
a partir de 2020.
Cabe notar que pagamentos por
resultados efetuados por meio do
GCF serão, necessariamente, uma
abordagem de não mercado, baseada na transferência direta de recursos para países em desenvolvimento.
Para REDD+ funcionar como instrumento que gere mitigação real,
é necessário ir além da lógica de offsetting e desenvolver abordagens
apropriadas de mercado, que não ge-
70
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
rem unidades de mitigação para países desenvolvidos.
E quais serão os próximos passos
para o Brasil em REDD+?
O Ministério do Meio Ambiente iniciou
em 2010 processo participativo de
diálogo para subsidiar a formulação
da Estratégia Nacional de REDD+.
Em junho de 2011, o Grupo Executivo
(GEx) do Comitê Interministerial sobre
Mudança do Clima (CIM) indicou que
os elementos técnicos da Estratégia
deveriam ser detalhados por Grupo
de Trabalho Interministerial composto por representantes da Casa Civil
da Presidência da República e sete
ministérios (MMA, Mapa, MCTI, MDA,
MF, MPOG e MRE). Tomando como
base as recomendações do processo
de diálogo ocorrido em 2010, o Grupo de Trabalho Interministerial de
REDD+ preparou proposta preliminar
de Estratégia, que foi entregue ao GEx
para apreciação em 2013.
A proposta da Estratégia traz elementos para aprimorar a tomada de
decisão e o financiamento de políticas públicas relacionadas a florestas
no Brasil, sob a ótica da mitigação de
efeitos sobre a mudança do clima, de
forma conectada às negociações internacionais no âmbito da UNFCCC.
Essa proposta deverá ser atualizada com base no Marco de Varsóvia para REDD+, inclusive no que se
refere ao sistema de informações
sobre salvaguardas, à apresentação
dos níveis de referência e à elaboração do anexo técnico para verificação dos resultados.
1 Disponíveis em PERLINK www.unfccc.int. Até a publicação deste artigo, as decisões não haviam sido ainda
numeradas.
2 Para uma explicação mais detalhada, ver, por exemplo,
Müller, Fankhauser, and Forstater. Quantity Performance Payment by Results. OIES, EV 59, July 2013. Disponível em http://www.oxfordclimatepolicy.org/publications/
documents/QPPOIESEV59.pdf 3 A apresentação dos BUR foi acordada na COP17 – os
primeiros deverão ser apresentados ao final de 2014. É
uma das obrigações de comunicação dos países em desenvolvimento, em conformidade com o artigos 4.1 e 12
da Convenção. Para mais detalhes, ver http://unfccc.int/
national_reports/non-annex_i_natcom/items/2716.php
4 http://unfccc.int/redd
5 A “abordagem em fases” foi definida no parágrafo
73 da decisão 1/CP.16. Pode servir a mal-entendidos,
porém, uma vez que não basta realizar atividades da
fase 2 para se chegar à fase 3. Os requisitos para obter
pagamentos por resultados são definidos no parágrafo
71 da mesma decisão.
O
resultado mais aguardado na COP19, em Varsóvia, era um avanço no
caminho rumo ao acordo global de combate às mudanças
climáticas que, como definido duas
conferências atrás, deverá ser assinado até 2015.
Pouco se progrediu, entretanto, na
chamada Plataforma de Durban, o
que fica claro pela redação desse documento. Esse convida os países a iniciar ou intensificar os preparativos domésticos para suas “contribuições a
serem determinadas nacionalmente”,
que devem ser comunicadas por volta do primeiro trimestre de 2015 “por
aqueles que estiverem prontos para
fazê-lo”. Não é difícil imaginar que a
demora na apresentação de compromissos e metas diminuirá as chances de que esses sejam assimilados
e negociados a tempo de se chegar
a um acordo na COP21, prevista para
dezembro de 2015.
A necessidade de consenso nas
negociações climáticas na ONU vem,
há algum tempo, sendo apontada
como um problema. É difícil quase
200 países, com agendas completamente distintas, entrarem em acordo
e, quando isso acontece, o resultado
costuma ser frágil, graças à linguagem diluída e à falta de mecanismos
de supervisão e sanção.
A possibilidade de que esse acordo
atrase, não aconteça ou seja simplesmente pífio leva a pensar em
possíveis “planos B”.
Uma alternativa que vem sendo
discutida é a dos chamados “acordos
de baixo carbono”. A solução para o
aquecimento global passará pela internalização dos custos relacionados
às emissões – ou seja, pela adoção de
regulações ou tributos que as encareçam. Para evitar que alguns países
sejam “free riders”, pegando carona
nos esforços dos demais, aqueles
com políticas mais rígidas de controle
de emissões poderiam formar coalizões, com acordos que poderiam ter
um caráter comercial, excluindo os
países sem políticas equivalentes de
alguns benefícios e impondo-lhes
ajustes tarifários na fronteira.
Coincidentemente, o atraso em outra negociação multilateral, a de libe-
ralização comercial na Organização
Mundial do Comércio, pode abrir caminho para essa alternativa. Isso porque os entraves da Rodada Doha têm
levado a acordos de livre comércio bilaterais e plurilaterais – alguns deles
muito significativos, como a Parceria
Transatlântica, que vem sendo discutida entre Estados Unidos e União
Europeia, e a Parceria Transpacífica.
Dados levantados pela OMC mostram
que, até o início de 2013, haviam surgido 543 acordos desse tipo.
Alguns desses “clubes” poderiam
optar pela estratégia de adotar políticas climáticas mais avançadas e,
ao mesmo tempo, proteger-se da
concorrência de outros países por
meio de ajustes tarifários na fronteira. Porém, essas medidas podem
entrar em conflito com as normas de
proteção do comércio internacional,
cabendo esse controle à OMC – comumente acusada de colocar o livre
comércio acima do desenvolvimento
sustentável. Polêmica à vista, portanto, caso a lentidão das negociações
climáticas leve alguns países a adotar
esse tipo de estratégia.
71
mídias
Material originalmente publicado em 2013-2014
O que podemos aprender
e fazer juntos?
As empresas podem criar
uma nova economia e
construir um mundo melhor.
Junte-se a nós!
73
Foto: Luciano Candisani/National Geographic Brasil
www.pactoglobal.org.br
INTELIGÊNCIA COLETIVA: diante de uma ameaça, peixes brasileiros
da espécie curimbatá juntam-se em cardume para enfrentar o problema.
t
ARTI GO
Responsabilidade
compartilhada
Para as mudanças necessárias rumo ao desenvolvimento sustentável,
será necessário a coalisão entre todos os setores da sociedade
Carlo Linkevieius Pereira
A
o traçar uma linha do tempo entre as conferências da
ONU e, mais precisamente, as COPs, percebe-se
que todos os setores da sociedade
participaram ativamente das discussões e promoveram ações por
um desenvolvimento sustentável. A
bandeira foi inicialmente levantada
pelas nações, mas os resultados foram insuficientes. Ocorreu então o
advento das ONGs, que continuam a
desempenhar um papel importante,
mas que também não foi o bastante. Por último, surgiu o protagonismo das empresas nas discussões e
nas ações. No entanto, seria um erro
apostar apenas nas corporações,
pois o momento requer coalisão.
A Conferência de Estocolmo, de
1972, marcou o início das discussões multilaterais no âmbito da
ONU sobre o meio ambiente, já incluindo discussões sobre poluição
atmosférica. Os países, muito pautados pelo Relatório Brundtland,
acordaram para o tema.
74
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
Vinte anos depois, em 1992, a
Cúpula da Terra, ou Eco-92, atestou o aumento da importância das
questões ambientais no debate
mundial, evidenciado pela forte
presença de chefes de estado e por
importantes definições. Entre elas,
a criação da Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, destacando a relevância da questão climática.
Ali surgiu a definição da responsabilidade comum, porém diferenciada, com massiva aceitação das
nações. Paralelamente foi realizado,
no Aterro do Flamengo, um evento
das ONGs, quando a sociedade civil
mostrou que havia a necessidade
de um maior controle e participação
social. As ONGs aumentaram muito
em número e importância nos cenários sub e supranacionais.
Já na Rio+20, não houve um grande
entusiasmo, resultado da dificuldade
das nações em fecharem acordos
necessários ao endereçamento de
urgentes questões socioambientais.
Por outro lado, há muito que comemorar, se olharmos para as iniciativas de governos subnacionais, como
a C40 (coalisão de 40 megacidades
para lidar com questões do clima),
que se comprometeram, por exemplo, a reduzir a emissão de gases de
efeito estufa em suas cidades, ou se
focarmos a Cúpula dos Povos, que
reuniu milhares de ativistas em torno de agendas propositivas. No entanto, a vedete da conferência no Rio
de Janeiro foram as empresas. Mais
de 200 compromissos (muitos deles
com metas claras) foram acordados
entre organizações ou tornados públicos. O Fórum de Sustentabilidade
Corporativa do Pacto Global: Inovação e Colaboração para o Futuro que
Queremos foi um sucesso. E a Rede
Brasileira do Pacto Global, demonstrando o engajamento das empresas,
levou ao governo brasileiro uma carta
com dez compromissos socioambientais, assinada por 220 empresas.
A experiência da COP19, em Varsóvia, foi muito similar à Rio+20 em
dois pontos. Primeiro, decisões importantes foram tomadas, como o
avanço na Plataforma de Durban
(caminho para o novo acordo mundial a ser estabelecido em 2015), o
Mecanismo Internacional de Varsóvia
para Perdas e Danos associado aos
impactos das mudanças climáticas
e a Plataforma de Varsóvia para o
REDD+. Todavia, a decepção foi geral, pois os resultados ficaram bem
aquém do esperado. Tanto que reuniões extraordinárias foram agendadas para 2014. O segundo ponto foi
a satisfação dos participantes com a
qualidade dos eventos empresariais
realizados em paralelo aos debates
de chefes e representantes de estado, pelo conteúdo e engajamento.
O relatório The Future Quotient 50
Stars in Seriously Long-term Innovation demonstra que o pensamento e
a ação de longo prazo não são características de investidores ou governos, mas de indivíduos e empresas.
Isso poderia levar à conclusão que
a solução dos problemas climáticos
Texto exclusivo para a revista do clima 2
está nas corporações. Afinal, as empresas, por sua característica capacidade de gestão e influência, podem
influir muito na promoção, por meio
para construir um novo acordo climático para 2015 na COP21, em Paris.
Também para 2015, a ONU lançará os Objetivos do Desenvolvimento
O pensamento e a ação de longo prazo
não são características de governos,
mas de indivíduos e empresas
de iniciativas internas, setoriais, cadeia de valor e lobby sustentável, do
processo de mudança necessário
para levar a sociedade contemporânea aos níveis desejáveis de emissões de gases de efeito estufa. Além
disso, têm a responsabilidade de serem reconhecidamente as maiores
causadoras das mazelas ambientais.
No entanto, as empresas, sozinhas,
não conseguirão promover as mudanças. Será necessário a coalisão
entre todos os setores da sociedade.
Nesse sentido, foi decidido em Varsóvia que os governos devem consultar
os seus cidadãos e suas empresas
Sustentável (ODS). Para contribuir
com essa iniciativa, o Pacto Global,
a GRI (Global Reporting Initiative) e
o WBCSD (Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento
Sustentável), por meio de parcerias entre empresas, governos e a
sociedade civil organizada, desenvolveram neste ano a plataforma
Arquitetos de um Mundo Melhor,
que visa a promoção e apoio dos
compromissos empresariais para
o avanço das ODS.
Parcerias e coalisões são necessárias. E 2015 já é um ano
muito aguardado.
75
t
ARTI GO
t
A R TIG O
Por uma virada
climática e competitiva
O setor financeiro e
a agenda do século 21
O Brasil pode se tornar um importante fornecedor de produtos
de baixo carbono. É preciso transformar esse potencial em realidade
O Banco Central dotará o país de um instrumento que consolidará
práticas financeiras para o desenvolvimento sustentável
Jorge Soto
N
os últimos 21 anos, várias
tentativas para um acordo
global para as mudanças climáticas têm sido lançadas.
Acompanhei as últimas cinco Conferências das Partes (COP) da ONU.
É um processo de negociação complexo, pois a maioria dos países vê
as ações de mitigação e adaptação
como ameaças às suas economias,
já que as principais emissões decorrem da queima de combustíveis fósseis. E, como mudar essa dinâmica
não é simples, a maioria dos países
prefere manter uma postura reativa.
E o pior, na última COP, em Varsóvia,
essa posição se acirrou.
O Brasil tem buscado assumir uma
liderança proativa. Em 2009, em Copenhague, o país assumiu o compromisso voluntário de reduzir mais de
36% das suas emissões projetadas
para 2020, principalmente por meio
da diminuição do desmatamento.
E tem obtido resultados positivos.
Essa postura pode evoluir mais um
passo. O Brasil tem características
que lhe permitiriam buscar oportuni-
76
r e v is ta d o c lima | vo lume 2
Paulo Roberto dos Santos
dades. Temos uma matriz energética
relativamente limpa (48% de fontes
renováveis), temos a maior área arável do planeta, ampla insolação e
disponibilidade de água. Já somos o
segundo maior produtor mundial de
etanol e recentemente nos tornamos
o maior produtor de biopolímeros.
É possível sonhar mais alto. O País
pode se tornar um importante fornecedor de produtos de baixo carbono,
por exemplo, de produtos químicos
de origem renovável. Os benefícios
dessa alternativa industrial são muitos. O econômico seria o aumento
das exportações. O social decorreria
da maior geração de empregos ao
incentivar a cadeia industrial e a agrícola. Mas o grande diferencial vem
do lado ambiental, especificamente
na mitigação da mudança climática.
Por exemplo, o Polietileno Verde da
Braskem, em vez de emitir, captura gases de efeito estufa. A razão é
simples: o carbono que acaba fazendo parte da composição dessa resina
vem do etanol da cana-de-açúcar,
cujo carbono vem da atmosfera. Para
chegar a essa conclusão é necessário
considerar o ciclo de vida do produto.
E aí entra mais uma oportunidade. No
Brasil, podemos reforçar a reciclagem
dos materiais. No caso dos plásticos,
o reaproveitamento do material pode
se dar através da reciclagem mecânica (produzir um novo plástico), da
energética (recuperação do conteúdo
energético dos resíduos), ou até de
química (produzir outro produto químico). É esperado que esse aproveitamento também traga redução de
emissões de gases de efeito estufa.
Está em nossas mãos a possibilidade de transformar esse potencial
em realidade. O lado empresarial já
mostrou que é possível. Mas é necessário aumentar a escala. O governo
pode fazer diferença incentivando
pesquisa e desenvolvimento dessas
tecnologias e apoiando a desoneração dos investimentos verdes. Dessa
forma, o Brasil pode dar um importante passo para se tornar uma potência mundial da economia verde e
inclusiva e contribuir para uma “virada climática e competitiva”.
P
ara quem tem os olhos voltados
para o futuro é fácil perceber a
importância do setor financeiro
para a indução de um desenvolvimento sustentável que pressuponha a preservação ambiental e uma
contínua melhoria no bem-estar da
sociedade. É importante frisar o papel
fundamental dos grandes bancos brasileiros como instituições capazes de
gerar valor socioambiental, oferecendo portfólio diversificado e orientado
para isso, promovendo o microcrédito,
o financiamento habitacional e da infraestrutura social e econômica, atendendo a demandas que dialogam com
os preceitos da nova economia verde
e de baixo carbono desejados pela sociedade do século 21.
Embora existam importantes iniciativas dos bancos brasileiros nesse
paradigma, e sem pretender desmerecê-las, destaca-se no atual cenário
a discussão que o Banco Central tem
construído com a sociedade e que poderá se refletir em eminente publicação, possivelmente em 2014, de uma
resolução que regulamentará as prá-
ticas mínimas a serem observadas
sobre a responsabilidade socioambiental das instituições financeiras,
com diretrizes que se refletirão nos
seus modelos de governança.
O processo levado a curso pelo Banco Central dotará o aís de um instrumento regulamentar pioneiro em todo
o mundo e trará a possibilidade de
consolidação das práticas e políticas
já existentes e também a implementação de outras iniciativas bancárias
precursoras, multiplicadoras e demonstrativas da promoção do desenvolvimento com sustentabilidade.
Entre as propostas, por exemplo,
está a de tornar obrigatório a publicação de um relatório de prestação
de contas para a sociedade sobre o
cumprimento da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA)
do banco. Outra é a formação de um
comitê de responsabilidade socioambiental, de natureza consultiva,
vinculado ao conselho de administração da instituição ou à diretoria
executiva, com a atribuição de monitorar e avaliar a PRSA, podendo
propor aprimoramentos.
Essa regulação estará em sintonia com a robustez e segurança dos
bancos brasileiros. Contribuirá com
a visão de futuro das instituições e,
longe de refletir limitações, estará
associada à disposição sempre presente de nossos bancos de construir
soluções para os dilemas e desafios
de financiar o desenvolvimento com
responsabilidade.
Um banco agrega valor sustentável quando também considera os
impactos e custos socioambientais
na análise de atividades e projetos
que financia. Isso significa que, dependendo dos riscos, a análise de
crédito vai além da conformidade
legal, observando aspectos de prevenção e mitigação de impactos
ambientais, uso responsável de recursos naturais, proteção dos direitos humanos e dos trabalhadores e
respeito às comunidades.
Se nossos bancos já iniciaram esse
caminho, quer nos parecer que a Resolução em preparo em muito contribuirá nesse caminhar.
77
mídias
Material originalmente publicado em 2013
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mídias
Material originalmente publicado em 2013-2014
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Expedi ção Co p 19
Próximos passos
Ações para mudar o cenário atual
Paulo Roberto dos Santos (Caixa), o consultor Tasso Azevedo e Augusto Rodrigues
(CPFL Energia) conversam sobre os principais pontos da COP no café da manhã
Jean Benevides e Paulo Roberto dos
Santos (Caixa) no briefing do Brasil
dez dias intensos
na COP19 do Clima
A comitiva do Planeta, de 13 pessoas,
no Estádio Nacional de Varsóvia
Tasso Azevedo mostra dados das
emissões brasileiras na COP19
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r e v is ta d o c lima | vo lume 2
A comitiva do Planeta acompanhou
a COP em Varsóvia in loco. O
grupo, formado por executivos
da CPFL Energia, Caixa, Abril e
Partner Desenvolvimento, assistiu
às discussões oficiais e participou
de eventos paralelos, organizados
pelo Conselho Empresarial Mundial
para o Desenvolvimento Sustentável
e pelo Pacto Global. Houve ainda
visitas relacionados à dura história
da Polônia na Segunda Guerra.
A COP19 nas maçãs distribuídas
a delegados e observadores
1
2
preparar-se para eventos
climáticos extremos
3
buscar metas de
diminuição de gases
de efeito estufa (GEE)
mais agressivas
O grupo no Caring for Climate, side
event organizado pelo Pacto Global
adaptar as zonas
costeiras para
o aumento dos níveis
dos oceanos
4
investir em
tecnologias “verdes”
5
estimular o estudo,
divulgação e discussão
das mudanças climáticas
Visita ao antigo campo de
concentração de Auschwitz
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