FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA- UNIR NÚCLEO DE SAÚDE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA EXPERIMENTAL Rosely Valéria Rodrigues “ESTUDO FITOQUÍMICO DOS FRUTOS DE Piper tuberculatum (JACQ.) E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA DOS EXTRATOS E CONSTITUINTES ISOLADOS”. Tese de Doutorado PORTO VELHO 2009 ROSELY VALÉRIA RODRIGUES “ESTUDO FITOQUÍMICO DOS FRUTOS DE Piper tuberculatum (JACQ.) E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA DOS EXTRATOS E CONSTITUINTES ISOLADOS”. Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Biologia Experimental do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Biologia Experimental : sub área Fitoquímica e Farmacologia de Produtos Naturais. Orientador : Prof. Dr. Valdir Alves Facundo. Co-orientador : Prof. Dr. Adair R. S. Santos PORTO VELHO 2009 ROSELY VALÉRIA RODRIGUES “ESTUDO FITOQUÍMICO DOS FRUTOS DE Piper tuberculatum (JACQ.) E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTINOCICEPTIVA DOS EXTRATOS E CONSTITUINTES ISOLADOS”. Tese apresentada ao Curso de PósGraduação em Biologia Experimental do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Biologia Experimental sub área Fitoquímica e Farmacologia de Produtos Naturais. Data da Aprovação _____/______/_______ ______________________________________________________ Prof. Dra. Vera Engrácia Gama de Oliveira (Coordenadora do Curso) Universidade Federal de Rondônia -UNIR _____________________________________________________ Prof. Dr. Valdir Alves Facundo (Orientador) Universidade Federal de Rondônia - UNIR _____________________________________________________ Prof. Dr. Adair Roberto Soares dos Santos (Co-Orientador) Universidade Federal de Santa Catarina -UFSC _____________________________________________________ Prof. Dr. Anselmo Enriques Ferrer Hernández Faculdade São Lucas - RO ______________________________________________________ Prof. Dr. Júlio Sancho Linhares Teixeira Militão Universidade Federal de Rondônia - UNIR _____________________________________________________ Prof. Dra. Juliana Zulini Universidade Federal de Rondônia - UNIR PORTO VELHO 2009 FICHA CATALOGRÁFICA Rodrigues, Rosely Valéria Estudo fitoquímico dos frutos de Piper tuberculatum (Jacq) e avaliação da atividade antinociceptiva dos extratos e constituintes isolados / Rosely Valéria Rodrigues – Porto Velho, 2009. Tese (doutorado) – Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia. Área de Concentração : Biologia Experimental. Sub área: Fitoquímica e Farmacologia de Produtos Naturais. Orientador: Valdir Alves Facundo Co-orientador: Adair R.S.Santos Descritores: 1. Piper tuberculatum 2. ÁCIDO 3,4,5-TRIMETÓXIDIHIDROCINÂMICO 3.NOCICEPÇÃO 4.INFLAMAÇÃO UNIR - 2009 DEDICATÓRIA À grande amiga Mabel Torres Ferrer que esteve presente em todos os momentos desse trabalho e sempre me incentivou. Aos amores maiores da minha vida: Gustavo e Luciana a quem deixo os frutos do estudo. AGRADECIMENTOS Á Deus, que em sua sabedoria maior, nos impele ao conhecimento, com paciência e aprendizado. Ao prof. Dr. Valdir Alves Facundo, como orientador e amigo, que tornou este trabalho possível e só aumentou minha admiração. Ao prof. Dr. Adair Santos por gentilmente ceder seus laboratórios para os ensaios farmacológicos e com quem aprendi muito. Á prof. Dra. Vera Engrácia Oliveira por estar a frente deste doutorado, incentivando e acreditando, contribuindo com o desenvolvimento da Ciência no estado de Rondônia. Á técnica Sueli Kikuchi pelas idas e vindas na UNIR. Ao aluno , hoje profissional, Leandro Flores, presente nas inúmeras coletas e trabalhos de bancada. Aos alunos de Florianópolis, Débora Lanznaster pelo auxílio durante as práticas de Farmacologia; Allison e Rodrigo pela acolhida calorosa. Á minha irmã Fabiana Carreto que me substitui em tantas tarefas quando me ausentei. Aos professores e colegas da UNIR : Ana Escobar, Lúcia Rejane, Eulália de Aquino, Rodrigo Stábile, Eliomar Silva e Berenice Tourinho, pelos incentivos recebidos. Á todos os colegas de doutorado: Patrícia Medeiros, Mauro Tada, Fernando Zandi, Elieth Mesquita, Joana D’Arc, Rosimeire Dalla Marta , Almeida Casseb e Adriana Nunes pela convivência,coleguismo e apoio mútuo. Á minha mãe, Francisca Carreto pelo incentivo incondicional e meu pai Eduil Rodrigues pelo gosto em estudar. Á um grande homem Emerson Garcia de Mendonça pelo companheirismo nesses anos todos. Aos componentes da banca pelas contribuições valiosas Á todos os professores do Curso, que nos transmitiram seus conhecimentos possibilitando essa jornada. Á Universidade Federal de Rondônia por propiciar o doutorado. “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é. Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem por que ama, nem o que é amar...” Alberto Caeiro RESUMO O presente estudo isolou e identificou os constituintes químicos presentes nos frutos da espécie Piper tuberculatum Jacq. A preparação dos extratos foi feita pela maceração dos frutos em diferentes solventes e o isolamento químico dos constituintes (Piplartina, Dihidropiplartina e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico) foi realizado através de métodos cromatográficos. A identificação estrutural foi realizada mediante espectroscopia (RMN-1H, RMN-13C e Massa). O composto Ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico foi isolado e identificado pela primeira vez nesta planta. Nos ensaios antinociceptivos os extratos: etanólico, hexânico, diclorometano, acetato de etila e metanólico bem como os compostos isolados Piplartina, Dihidropiplartina e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico foram capazes de reduzir de forma significativa e dependente da dose a nocicepção visceral induzida pelo ácido acético em camundongos. Além disso, o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico foi 7.709,7 vezes mais potente que a Aspirina em inibir as contorções abdominais. Quando administrado por via intraperitoneal, o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico reduziu a nocicepção induzida pela capsaicina e glutamato e foi capaz de reduzir de forma dependente da dose a nocicepção de origem neurogênica, mas não a de origem inflamatória induzida pela formalina. O Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico não reverteu o efeito hipernociceptivo induzido pela carragenina e pela prostaglandina E2 porém foi capaz de reverter a hipernocicepção, tanto térmica quanto mecânica, induzida pela injeção de BK e PMA. O efeito antinociceptivo do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não foi influenciado pelo pré-tratamento com naloxona e não está relacionado a efeitos inespecíficos como relaxamento muscular ou sedação, Além disso, o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não foi capaz de inibir a nocicepção espontânea induzida pela administração de bradicinina na pata de ratos, mas inibiu a nocicepção induzida pela administração intratecal de bradicinina em camundongos. Por outra parte, o extrato etanólico (v.o.) e o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico (i.p.) foram capazes de inibir a nocicepção induzida pela injeção intraplantar do veneno de Bothrops jararaca, embasando seu uso etnofarmacológico. O mecanismo de ação antinociceptiva do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não está completamente elucidado. Contudo, os dados permitem sugerir que o mesmo pode interagir com receptores TRPV (sensíveis á capsaicina) e a resposta mediada pela bradicinina, possivelmente por inibir a ativação da proteína quinase C sensível ao PMA. Desta forma, o presente trabalho demonstrou pela primeira vez, que a espécie Piper tuberculatum e seus compostos isolados apresentaram importante ação antinociceptiva e antiinflamatória. Assim os resultados obtidos no presente estudo confirmam em parte a utilização popular dessa planta justificando sua utilização etnofarmacológica. Palavras-chave: Piper tuberculatum Jacq., Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico, nocicepção, inflamação e proteína quinase C. SUMMARY The present study has isolated and identified the chemical components present in the fruits of the species Piper tuberculatum Jacq. The preparation of the extracts was done by the maceration of the fruits in different solvents and the chemical isolation of the components (Piplartine, Dihidropiplartina and Trimethoxy-Dihydrocinnamic 3, 4, 5 acid) were realized by the cromatographic methods. The structural identification was realized by means of spectroscopy (RMN-¹H, RMN-¹³C and Mass). The trimethoxydihydrocinnamic 3, 4, 5 acid composition was isolated and identified for the first time in this plant. At the antinociceptive field trials, the extracts: ethanolic, hexane, dichloromethane, ethyl acetate and methanolic as well as the isolated components Piplartine, Dihidropiplartina and trimethoxydihdyrocinnamic 3, 4, 5 acid were capable to reduce significantly and dependenting on the dose with nonciception viseral induced by acetic acid in mice. Moreover, the trimethoxy- dihydrocinnamic 3, 4, 5 acid was 7.709,7 times more powerful than the Aspirin in inhibiting the abdominal writhings. When administered by via intraperitoneal, the trimethoxy- dihydrocinnamic 3, 4, 5 acid reduced the nonciception induced by capsiacin and glutamate and was capable of reducing the dosage dependent with nonciception of neurogenic origin, but not with the inflamatoria origin induced by formalin. The trimethoxy- dihydrocinnamic 3, 4, 5 acid didn´t reverse the hipernociceptivo effect induced by the carrageenan and the prostalglandina E2 but it was capable of reversing the hypernociception, both thermal and mecanica, induced by BK and PMA injection. The antinociceptive effect of the trimethoxy- dihydrocinnamic 3, 4, 5 acid was not influenced by pretreatment with naloxone and is not related to nonspecific effects as muscle relaxation or sedation. Moreover, the trimethoxy- dihydrocinnamic 3, 4, 5 acid was not capable of inhibiting the spontaneous nonciception induced by the administration of bradykinin in the paw of the rat, but inhibited the nonciception induced by the intrathecal administration of bradykinin in mice. On the other side, the ethanolic extract (v.o.) and the trimethoxydihydrocinnamic 3, 4, 5 acid (i.p.) were capable of inhibiting the nonciception induced by the intraplantar injection of the poison of the Bothrops jararaca, basing on its ethnopharmacology use. The antinociceptive mechanism action of the trimethoxy-dihidrocinnamic 3, 4, 5 acid is not fully elucidated. However, the data suggest that the same can interact with TRPV receptors (sensitive and capsaicin) and the mediated answer by the bradykinin, possibly for inhibiting the activation of the kinase C protein sensitive to the PMA. So, the present work shows for the first time, that the Piper tuberculatum species and their isolated components presented important antinociceptive action and antinflamatoria. Therefore the results obtained in the present study confirm in part the utilization popular of this plant justifying its utilization ethnopharmacology. Key –words: Piper tuberculatum Jacq, Trimethoxy-dihydrocinnamic 3, 4, 5 acid, nonciception, inflammation and kinase C protein. LISTA DE FIGURAS pág. Figura 1: Estruturas químicas de amidas isoladas do gênero Piper. 11 Figura 2: Foto do arbusto e ramo de um espécime de Piper tuberculatum. 12 Figura 3: Estruturas químicas dos compostos isolados do gênero Piper. 16 Figura 4: Diagrama de fluxo de obtenção dos extratos e isolamento dos constituintes químicos dos frutos de Piper tuberculatum Jacq (analise fitoquímica) 31 Figura 5: Fracionamento e isolamento dos metabolitos presentes nos frutos de Piper tuberculatum Jacq. 43 Figura 6: Espectro de RMN-1H (500 MHz) do composto Pip, obtido em CDCl3. 44 Figura 7: Espectro de RMN Pip, obtido em CDCl3. 13 C-BB (125 MHz) do composto 45 Figura 8: O espectro de RMN 13C bidimensional de interação heteronuclear 1H -13C do composto Pip. 46 Figura 9: Espectro de massa (70 eV) do composto Pip. 47 Figura 10: Estrutura química proposta para o composto Pip. 47 Figura 11: Espectro de RMN 1H (500 MHz) do composto DihPip, obtido em CDCl3. 49 Figura 12: Espectro de RMN-13C-BB (125 MHz) de Dih-Pip, obtido em CDCl3. 50 Figura 13: Espectro RMN-13C utilizando a técnica DEPT do composto Dih-Pip, obtido em CDCl3. 51 Figura 14: Estrutura química proposta para o composto DihPip. 51 Figura 15: Espectro de RMN 1H (500 MHz) do composto TMDC, obtido em CDCl3. 53 13 54 Figura 16: Espectro de RMN TMDC, obtido em CDCl3. C-BB (125 MHz) de composto Figura 17: Espectro de RMN-13C – DEPT-135 de TMDC, obtido em CDCl3. 55 Figura 18: Expansão do Espectro de RMN-1H (500 MHz) de TMDC, obtido em CDCl3. 56 Figura 19: Espectro de massa (70 eV) de TMDC. 57 Figura 20 : Estrutura química proposta do composto TMDC. 57 Figura 21: Efeito do extrato etanólico (extrato bruto) de P. tuberculatum administrado por via oral, na nocicepção induzida por ácido acético (0,6%, i.p.) (barras abertas) comparado com controle C (barra fechada). 59 Figura 22: Efeito dos extratos acetato de etila (A), diclorometano (B), hexano (C) e metanol (D) obtidos de P. tuberculatum administrados por via oral, na nocicepção induzida por ácido acético (0,6%, i.p.) (barras abertas) comparado com controle C (barras fechadas). 60 Figura 23: Efeito dos compostos Dihidropiplartina (Dih-Pip AB), Piplartina (Pip C-D) e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolados de P. tuberculatum administrados por via intraperitoneal (A,C,E) e via oral (B,D,F), na nocicepção induzida por ácido acético (0,6%, i.p.) (barras abertas) comparado com controle C (barras fechadas). 61 Figura 24: Efeito dos compostos Dihidropiplartina (Dih-Pip, AB), Piplartina (Pip, C-D) e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolados de P. tuberculatum administrados por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pela formalina (2,5%, i.pl.) (barras abertas) comparado com controle C (barras fechadas). 64 Figura 25: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pela capsaicina (1,6%, i.pl.) (barras abertas) comparado com controle C (barra fechada). 65 Figura 26: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pelo glutamato (1,6%, i.pl.). 66 Figura 27: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, nos testes do Rota Rod (A) e campo aberto (B). 67 Figura 28: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, na hiperalgesia térmica (A,C) e mecânica (B,D) induzidas pela 68 bradicinina (BK; A-B) e PMA (C-D), em ratos. Figura 29: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, na hiperalgesia térmica (A,C) e mecânica (B,D) induzidas pela prostaglandina E2 (PGE2; A-B) e carragenina (Car; C-D), em ratos. 69 Figura 30: Efeito do pré-tratamento dos animais com naloxona (1 mg/Kg,i.p.) sobre a atividade antinociceptiva do Ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico (i.p.) e morfina (5 mg/Kg, s.c.), no modelo de nocicepção induzida pela injeção de ácido acético 0,6% (i.p.) em camundongos. 70 Figura 31: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pela bradicinina (3 nmol, i.pl.). 71 Figura 32: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pela bradicinina (i.t.). 72 Figura 33: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, nos seguintes parâmetros avaliados na pleurisia induzida pela injeção intrapleural de carragenina (0,1%): extravasamento plasmático (A), migração total de células (B), migração de células mononucleares (C) e migração de células polimorfonucleares (D). 73 Figura 34: Efeito do extrato etanólico (extrato bruto) de P. tuberculatum administrado por via oral, na nocicepção induzida pelo veneno de B. jararaca (1 µg, i.pl.). 74 Figura 35: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de P. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pelo veneno de B. jararaca (1 µg, i.pl.). 75 LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1. Rendimento dos extratos obtidos dos frutos de Piper tuberculatum Jacq 42 Tabela 2. Dados dos deslocamentos químicos dos espectros RMN de 1H e 13C de Pip e da Piplartina [14] 48 Tabela 3. Dados dos deslocamentos químicos dos espectros RMN de 1H e 13C do composto Dih-Pip e da Dihidropiplartina [25] 52 Tabela 4. Dados dos deslocamentos químicos dos espectros RMN de 1H e 13C de TMDC e do Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico [34]. 58 Tabela 5. Inibição do número de contorções abdominais induzidas pelo ácido acético e pelos extratos e compostos isolados dos frutos de Piper tuberculatum Jacq 62 LISTA DE ABREVIATURAS C H ADP AMPA AMPc/Ca++ BK BjV ATP Ca+2 CCD CDCl3 CH2Cl2 COX-2 d DEPT dd Dih-Pip GLU GTP DI50 H HMQC Hz ICAM IL-1 IL-1 IL- 8 iGluR i.p. i.pl. i.t. J KA m m/z mGluR MHz NMDA NO PGE2 Pip PKA PKC PMA Deslocamento químico Deslocamento químico do carbono Deslocamento químico do hidrogênio Adenosina difosfato -amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxalopropionato Adenosina monofosfato cíclica acoplada ao cálcio Bradicinina Veneno de Bothrops jararaca Adenosina trifosfato Cátion Cálcio Cromatografia de camada delgada Clorofórmio deuterado Diclorometano Cicloxigenase-2 Dupleto Reforço sem distorção por transferência por polarização duplodupleto Dihidropiplartina Glutamato Guanosina Trifostato Dose que reduziu a resposta em 50% quando comparado ao grupo controle Hidrogênio Espectro de RMN 13C bidimensional de interação heteronuclear -1H 13 C Hertz Molécula celular de adesão 1 Interleucina-1 beta Interleucina-1 alfa Interleucina- 8 Receptor glutamatérgico ionotrópico Intraperitoneal Intraplantar Intratecal Constante de acoplamento Cainato Multipleto Massa/carga Receptor glutamatérgico metabotrópico Mega hertz N-metil-D-aspartato Óxido nítrico Prostaglandina E2 Piplartina Proteína quinase A Proteína quinase C Miristato-acetato de Forbol RMN RMN 13C-BB RMN 1H RMN 13C Ressonância magnética nuclear Ressonância magnética nuclear de carbono -13 Broad Band Ressonância magnética nuclear de hidrogênio-1H Ressonância magnética nuclear de carbono - 13C RMN -DEPT Ressonância magnética nuclear utilizando a técnica DEPT s SNC t td TMDC SP TNF- TRP TRPA1 TRPM8 TRPV1 TRPV2 v.o VRL1 u.m.a. Singleto Sistema nervoso central tripleto Triplo dupleto Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico Substância P Fator de necrose tumoral – alfa Receptor de potencial transitório Receptor de potencial transitório relacionado a proteína anquirina 1 Receptor de potencial transitório melastatina 8 Receptor de potencial transitório vanilóide 1 Receptor de potencial transitório similar ao vanilóide 1 Via oral Receptor vanilóide 1 Unidade de massa atômica SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1.1 Considerações sobre a Família Piperaceae 1.2 Considerações sobre o gênero Piper L. 1.3 Considerações sobre a espécie Piper tuberculatum Jacq. 1.4 Dor e Inflamação 1 4 5 11 16 2. JUSTIFICATIVA 26 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral 3.2 Objetivos Específicos 28 28 28 4. MATERIAL E MÉTODO 4.1 Material Botânico 4.1.1 Coleta e identificação do material botânico 4.1.2 Obtenção dos extratos 4.1.2.1 Obtenção dos extratos e isolamento dos constituintes químicos para análise fitoquímica 4.1.2.2 Obtenção dos extratos para análise farmacológica 4.1.2.2.1 Extrato hexânico 4.1.2.2.2 Extrato diclorometano 4.1.2.2.3 Extrato acetato de etila 4.1.2.2.4 Extrato metanólico 4.2 Materiais e métodos cromatográficos 4.3 Materiais e métodos espectroscópicos 4.3.1 Espectros de massa 4.3.2 Ressonância magnética nuclear de hidrogênio H(RMN H) e de carbono C(RMN C) 4.4 Animais 4.5 Preparação das amostras 4.6 Avaliação da atividade antinociceptiva 4.6.1 Testes de contorções abdominais induzidas pelo ácido acético (0,6%) em camundongos 4.6.2 Nocicepção induzida pela formalina (0,92% de formaldeído) em camundongos 4.6.3 Nocicepção induzida por capsaicina em camundongos 4.6.4 Nocicepção induzida por glutamato em camundongos 4.6.5 Efeito sobre a atividade locomotora em camundongos 4.6.6 Hipernocicepção mecânica e térmica em ratos 4.6.7 Participação do sistema opióide 4.6.8 Participação do sistema de cininas 4.7 Avaliação do efeito antiinflamatório em camundongos 4.8 Nocicepção induzida pelo veneno extraído de B. jararaca 30 30 30 30 30 32 32 32 32 33 33 34 34 34 35 35 35 35 36 36 37 37 38 38 39 39 40 4.9 5. Análise Estatística 40 RESULTADOS 5.1 Obtenção dos extratos e dos constituintes químicos para análise fitoquímica. 5.2 Rendimento dos extratos para análise farmacológica 5.3 Rendimento dos constituintes químicos isolados dos extratos obtidos para analise farmacologica 5.4 Determinação estrutural da Pip 5.5 Determinação estrutural da Dih-Pip 5.6 Determinação estrutural de TMDC 5.7 Efeito dos extratos e compostos isolados de P. tuberculatum sobre as contorções abdominais induzidas pelo ácido acético em camundongos 5.8 Efeito dos compostos isolados de P. tuberculatum sobre a nocicepção induzida pela formalina 5.9 Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi- dihidrocinâmico sobre a nocicepção induzida pela capsaicina 5.10 Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi- dihidrocinâmico sobre a nocicepção induzida pelo glutamato 5.11 Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi- dihidrocinâmico sobre o desempenho motor no teste de atividade espontânea de camundongos 5.12 Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi- dihidrocinâmico sobre a hipernocicepção térmica e mecânica 5.13 Participação do sistema opióide sobre a atividade antinociceptiva do Ácido 3,4,5-trimetóxi- dihidrocinâmico 5.14 Participação do sistema de cininas sobre a antinocicepção induzida pelo Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico 5.15 Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico sobre pleurisia induzida pela carragenina 5.16 Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi- dihidrocinâmico sobre a nocicepção induzida pelo veneno de Brothops jararaca 41 41 6. DISCUSSÃO 76 7. CONCLUSÕES 91 REFERÊNCIAS 41 42 44 49 53 58 63 65 65 66 67 69 70 72 74 93 APÊNDICE 113 A. Constituintes químicos fixos e voláteis dos talos e frutos de Piper tuberculatum Jacq. E das raízes de P. hispidum H.B.K.. Revista Acta Amazônica 38(4):733-742, 2008 B. Antinociceptive effect of crude extract, fractions and three alkaloids obtained from fruits of Piper tuberculatum Biol. Pharm. Bull. 2009 1. INTRODUÇÃO A busca por novos fármacos parece ser menor que o mal que acomete a humanidade, este surpreendente pelas novas formas que toma em cada doença seja ela de conhecimento novo ou antigo. Assim o homem tem de superar-se a si mesmo na busca de novos estudos que gerem ciência e minimizem as aflições humanas. Aliada á esta busca surge a floresta, densa e ainda misteriosa pela infindável presença de tantos ativos naturais desconhecidos, fonte de fármacos vegetais dos mais significantes pela imensa biodiversidade que apresenta (DE SMET, P. A. G.M.,1997). Os trabalhos de Mendelsohn e Balick publicados em 1995 evidenciam que existam 375 novos fármacos para serem descobertos nas florestas tropicais, partindo-se das 250 mil espécies vegetais sendo que dentre estes números 12% já foram descobertos, porém esse número pode ser aumentado uma vez que novas espécies vegetais devem estar abrigadas na floresta. O homem utiliza os recursos fitoterápicos desde os primórdios com relatos de estudo sistemáticos de plantas medicinais acerca de 2.700 AC, durante o império Shennung (BALICK, M.J. & COX, P.A,1997). Atualmente, a OMS afirma que 80% da humanidade depende da medicina tradicional para o tratamento de doenças envolvendo o uso de extratos vegetais. Com relação às plantas usadas na medicina tradicional, é de suma importância a valorização dos aspectos étnicos e culturais para a escolha dos vegetais a serem pesquisados, visto que a etnofarmacologia aborda, além da escolha do vegetal, os aspectos culturais cuja probabilidade de princípios ativos aproveitáveis como medicamentos serão maiores (ELIZABETSKY, 2003). Devese levar em conta quais ações farmacológicas são atribuídas à planta e a possível atividade biológica a ser explorada (SIMÕES et al, 2001), que poderá conduzir á produção de fitoterápicos de uso terapêutico de acordo com diversos procedimentos de controle de qualidade.(DAVID, 2004). Em 1978, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu o uso de fitoterápicos com finalidade profilática, curativa, paliativa ou com fins de diagnóstico, e recomendou a difusão, em nível mundial, dos conhecimentos necessários para o seu uso. Para os anos de 2004 a 2005 a OMS reforçou o 1 compromisso em estimular o desenvolvimento de políticas públicas com o objetivo de inseri-las no sistema oficial de saúde dos seus 191 estados membros. O documento “Política Nacional de Medicina Tradicional e Regulamentação de Medicamentos Fitoterápicos“ publicado pela OMS (2005) apresenta a discussão sobre a situação mundial a respeito das políticas de medicina tradicional e medicamentos fitoterápicos, inclusive no Brasil, principalmente ao fato de ser o país com a maior diversidade genética vegetal do mundo. Cerca de 55.000 espécies catalogadas de um total estimado entre 350.000 e 550.000 espécies e possuir ampla tradição de uso das plantas medicinais, vinculada ao conhecimento tradicional (popular). Considerando que a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos tem interface com diversas áreas do conhecimento e demanda ações multidisciplinares, em seu papel institucional, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo diversas ações junto a outros órgãos governamentais e não governamentais no sentido de elaborar políticas públicas voltadas à inserção de plantas medicinais e da fitoterapia no SUS e ao desenvolvimento do setor. Em 2006, foi publicada, a Portaria nº 971/MS que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde e prevê a inserção no SUS das Plantas Medicinais e Fitoterapia, além da Homeopatia, da Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura e do Termalismo Social. Esse mesmo ano também foi publicado o decreto nº 5.813 que aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Garantir qualidade, eficácia, eficiência e segurança a todos os brasileiros usuários do sistema público de saúde é o objetivo do Ministério da Saúde ao estabelecer as diretrizes para incorporação e implementação dessas práticas no SUS (portal saúde.gov.br). Em dezembro de 2008 foi lançado o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos onde apresenta ações que visam cumprir as diretrizes da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Um de seus objetivos é inserir, com segurança, eficácia e qualidade, plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à Fitoterapia no SUS. O Programa busca, também, promover e reconhecer as práticas populares e tradicionais de uso de plantas medicinais e remédios caseiros. 2 O Programa prevê a elaboração da Relação Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (Renafito), que será disponibilizada no âmbito do SUS. Esta relação apresentará fitoterápicos produzidos com plantas nativas ou exóticas adaptadas, de uso na atenção básica, com o maior nº de evidências de segurança e eficácia, com registro na Anvisa, considerando os biomas brasileiros e as espécies da flora brasileira não ameaçadas de extinção (portal saúde.gov.br). Durante o processo de construção da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, ainda em 2005, a Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos, por meio do Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF/SCTIE/MS), construiu em parceria com outros ministérios e com a colaboração de consultores e pesquisadores, uma lista com 237 plantas medicinais. Para esse trabalho, foram consideradas as espécies vegetais já utilizadas nos serviços de saúde estaduais, o conhecimento tradicional e popular e os estudos químicos e farmacológicos disponíveis. Esse documento subsidiou, em 2008, a construção de uma nova lista, intitulada Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus), constituída de plantas medicinais que apresentam potencial de avançar nas etapas da cadeia produtiva e de gerar produtos de interesse ao SUS. A finalidade da Renisus é subsidiar o desenvolvimento de toda cadeia produtiva, inclusive nas ações que serão desenvolvidas também pelos outros ministérios participantes do Programa, relacionadas a regulamentação, cultivo/manejo, produção, comercialização e dispersão de plantas medicinais fitoterapêuticas. Esta relação nacional de plantas terá também a função de orientar estudos e pesquisas que possam subsidiar a elaboração da Renafito, o desenvolvimento e a inovação na área de plantas medicinais e fitoterápicos. A Renisus deverá ser revisada e atualizada periodicamente, a critério do Ministério da Saúde. Desta forma as pesquisas com fitoterápicos ganha, cada vez, mais o aspecto científico de real importância (portal saúde.gov.br). Considerando que a fitoterapia é um recurso de prevenção e tratamento de doenças caracterizado pela utilização de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas (ainda que de origem vegetal), cabe aos pesquisadores e à academia avaliar esses fitoterápicos, bem como isolar seus ativos na busca de novos fármacos. 3 A utilização da flora para fins medicinais é uma prática tão antiga quanto a civilização, e compõe um dos principais aspectos da medicina tradicional. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 65 a 80% da população mundial que reside em países em desenvolvimento e que vivem em pobreza absoluta, usam correntemente extratos de plantas medicinais para atendimento de suas necessidades básicas de saúde (FARNSWORTH et al., 1997; AKERELE, 1993; GRÜNWALD, 1995; GRÜNWALD e BÜTEL, 1996). Apesar dos grandes avanços da medicina nos últimos 100 anos, os produtos naturais, principalmente os compostos derivados das plantas medicinais, ainda têm papel fundamental no esclarecimento de fenômenos complexos relacionados à biologia celular e molecular. Estes conhecimentos são importantes para a descoberta e desenvolvimento de novos fármacos (CALIXTO et al., 2000). Nos últimos 10 anos o interesse por plantas medicinais tem crescido muito. Em algumas áreas, como no tratamento do câncer, cerca de 60% dos medicamentos disponíveis no mercado ou em fase clínica de desenvolvimento são derivados de produtos naturais, principalmente de plantas superiores (CRAGG et al., 1997; FARNSWORTH & BINGEL, 1997; DE SMET, 1997; CALIXTO, 2000). 1.1 - Considerações sobre a Família Piperaceae A família Piperaceae é classificada como uma das mais primitivas famílias entre as angiospermas, é constituída de 10 a 12 gêneros e um grande e incerto número de espécies, estimado em 1.400 a 2.000 que habitam lugares úmidos e sombrios das regiões tropicais (CRONQUIST, 1981; JOLY, 1991). Destacam-se os gêneros Piper e Peperomia, por serem os mais representativos na flora brasileira, perfazendo um total de 460 espécies (BARROSO, 1978; MOREIRA et al., 2000; PARMAR et al., 1997) As Piperaceaes possuem importância econômica, ecológica e medicinal, sendo que muitas espécies têm sido utilizadas na alimentação e na medicina popular para o tratamento de muitas patologias, como do trato respiratório (asma, bronquite e tosse), do aparelho digestivo (dores abdominais, diarréias, 4 digestiva, carminativa), antiinflamatório (reumatismo), antimicrobiana (antibacteriana, antifúngica, tratamento de feridas, vaginites e anti-helmíntica), antileucêmica, e doenças venéreas (LEAL, 2000). Em virtude destas inúmeras indicações terapêuticas, as Piperaceaes constituem uma estimulante fonte para a pesquisa fitoquímica e biológica (BENEVIDES et al., 1999; MOREIRA et al., 1995). A família Piperaceae, no Brasil, é representada, praticamente, em todos os estados do país, principalmente, pela espécie Piper nigrum, a pimenta do reino, que fora introduzida no século 17 pelos portugueses (EMBRAPA, 2005). Dentre os estados do nordeste brasileiro, tomando-se apenas o estado do Ceará como exemplo, além da espécie Piper nigrum, são compreendidos outros 35 taxos da família Piperaceae distribuídos em quatro gêneros: Ottonia, Pothomorphe, Peperomia e Piper (GUIMARÃES & GIORDANO, 2004). Muitas destas espécies são utilizadas popularmente como condimento, principalmente os frutos; como ornamentação; e como medicinais através de chás, infusão, banhos aromáticos tanto das raízes quanto do caule e dos frutos, estes, muitas vezes, na forma seca ou moída, são empregados para o tratamento de um amplo espectro de doenças (GUIMARÃES & GIORDANO, 2004). 1.2 - Considerações sobre o gênero Piper L. O gênero Piper pertencente à família das Piperáceas tem mais de 1.000 espécies que se distribuem geograficamente pelas regiões subtropicais (DYER et al., 2004), tropicais e temperadas dos dois hemisférios (GUIMARÃES & GIORDANO, 2004). Este gênero apresenta uma das maiores diversidades de táxons nos países neotropicais, em que corresponde a cerca de 2/3 de todas as espécies neles descritas. Muitas plantas deste gênero crescem em florestas quentes, úmidas e com alto índice pluviométrico. Aproximadamente, 300 espécies são endêmicas do sudeste da Ásia, incluindo o leste das ilhas da Índia e o norte da Austrália. Apenas duas espécies são nativas da África. Na América Central, há ocorrência de cerca de 90 espécies na Península Osa na Costa Rica, como também em alguns países da América do Sul (DYER et al., 2004). 5 No Brasil, ocorrem cerca de 266 espécies do gênero Piper, das quais 13 espécies e 4 variedades foram descritas apenas no estado do Ceará, embora praticamente todas também ocorram em outros estados nacionais (GUIMARÃES & GIORDANO, 2004). Em geral, são sub-arbustos, arbustos ou arvoretas com 1 a 5 metros, podendo atingir até 10 metros de altura. Os caules são mais ou menos lignificados, nodosos e ramosos. As folhas apresentam pecíolo longo e são alternas ao caule. O limbo é simples e a sua margem é inteira, apresentam diferentes formas e de tamanho variável, podendo atingir em algumas espécies até 40 cm de comprimento, consistência membranácea a coriácea. As flores são sésseis, aperiantadas, dispostas em espigas opostas às folhas que variam de comprimento e espessura, eretas, subcurvas ou curvas, providas de pedúnculos delgados ou espessos. 2 a 5 estames e 3 a 4 estigmas, filiformes, curvos, estilosos ou sésseis. Ovário ovóide ou subovóide. Os frutos são drupas globosas com pericarpo pouco espessado (MOREIRA et al., 2000; GUIMARÃES & GIORDANO, 2004; REITZ, 2003). Os principais agentes polinizadores das sementes de Piperaceae são os morcegos da família Phyllostomidae, em particular Carollia perspicillata, os quais demonstram uma distinta preferência pelos frutos de Piper. O morcego é atraído pelos frutos maduros, alimentando-se dos mesmos e eliminando em seguida as sementes através de seus excrementos (BIZERRIL et al., 1998). Muitas espécies de Piper são usadas para fins curativos em diversas culturas (BEZERRA et al., 2007). O histórico do gênero Piper descrito por PARMAR et al. (1997, 1998), relata o uso de espécies para o tratamento de algumas enfermidades em diferentes povos. Na China, algumas prescrições recomendam o uso das folhas de Piper futokasura no tratamento de arritmias cardíacas e da asma. Na Jamaica dores estomacais são tratadas com uma infusão das folhas de Piper aduncum e Piper hispidum. No México e no Brasil, usam-se as folhas de Piper amalago para aliviar dores estomacais e no combate a diversas infecções. Folhas e talos de Piper marginatum e Piper tuberculatum Jack são utilizadas, na Paraíba, contra mordida de cobra e como sedativos (CHAVES et al., 2006; ARAÚJO-JUNIOR et al., 1999). SILVA et al. (2007) demonstraram que os extratos das folhas e raízes de Piper aduncum, uma planta medicinal, apresentaram atividades inseticida sobre adultos de Aetalion 6 sp (cigarrinha). Os óleos essenciais das partes aéreas de plantas dessa espécie, coletadas em diferentes localidades da região Amazônica, apresentaram grandes concentrações do fenilpropanóide dilapiol [1], o qual foi considerado o responsável pelo efeito inseticida relatado por MAIA et al. (1998). Outra espécie de relevante valor comercial é a Piper hispidinervum por apresentar um óleo essencial rico em safrol [2], um fenilpropanóide, muito utilizado nas industrias de cosméticos e inseticidas (BERGO et al., 2005). Recentemente, foi divulgada a atividade larvicida, contra o Aedes aegypti, do óleo essencial de quatro espécies de Piper da região Amazônica, Piper gaudichaudianum, Piper permucronatum, Piper humaytanum e Piper hostmanianum (MORAES et al., 2007). Os estudos dos representantes do gênero Piper demonstram várias classes químicas com propriedades inúmeras: as amidas e alcalóides são depressores do sistema nervoso central, antipiréticas e antiinflamatórias, além de atividade inseticida, larvicida, vasodilatadora cardíaca, antibacteriana e citotóxica; os flavonóides; os lignanos possuem uma vasta atividade biológica; os neolignanos são inibidores da degranulação de neutrófilos, inibidores de enzimas lisossomais plasmáticas e antagonistas da atividade do fator de agregação plaquetária; os ésteres de cadeia curta e longa; terpenos; esteróides possuem atividade antiinflamatória, os propinilfenóis tem atividade fungicida, nematicida e antimicrobiana; alcalóides; kawapironas com atividade antidepressiva e inibidora do crescimento de ameba; piperolídeos; chalconas e dihidrochalconas possuem atividade antibacteriana e citotóxica (PARMAR,1997; DI STASI, 2002), alguns dos quais tem sido estudados e pesquisados através da identificação de novos compostos fitoquímicos pelos trabalhos de FACUNDO e colaboradores na Universidade Federal de Rondônia (FACUNDO & MORAIS, 2003; FACUNDO & BRAZ-FILHO, 2004; FACUNDO et al, 2004). Entre os compostos químicos, as amidas constituem os metabólitos característicos da família (FELIPE et al., 2007), além de possuírem uma forte atividade inseticida e fungicida (BERNARD et al., 1995; CAMPOS et al., 2005; EVANS et al., 1984; HATAKOSHI et al., 1984; LEE, 2005; MADUELL et al., 2002; MIYAKADO et al., 1979, 1980, 1981, 1983, 1985a; 1985b; NAVICKIENE et al., 2003; REIGADA et al., 2007; SCOTT et al., 2003, 2005a; CHAUBEY, 2007; STRUNZ, 2000; WU et al., 2004). 7 Estudos realizados por Hatakoshi (1984) revelaram a ação neurotóxica da amida pipercida [3] sobre o cordão nervoso central da barata, Periplaneta americana, conferindo a essa substância um potente efeito toxicológico. Estudos recentes têm demonstrado que extratos aquosos de folhas e raízes de Piper aduncum possuem uma forte atividade inseticida contra insetos que são considerados pragas de importância comercial, como Aetalion sp. (SILVA et al., 2007). Além disso, vários trabalhos têm sido realizados e tem atestado a potente atividade inseticida das amidas isoladas de várias espécies do gênero Piper. Miranda e colaboradores testaram o efeito da amida pelitorina [4] sobre as larvas de Apis mellifera, mostrando que as abelhas são altamente susceptíveis a ação tóxica da substância testada (MIRANDA et al. 2003). Navickiene e colaboradores também obtiveram sucesso ao testarem a atividade das amidas pelitorina [4] e piperlongumina [5] sobre as larvas de lagartas-dasoja (Anticarsia gemmatalis) (NAVICKIENE et al., 2007). De acordo com Scott (2004) essas substâncias possuem efeito repelente e são produzidas pelas plantas como um mecanismo de defesa contra a herbivoria e a ovoposição de insetos nas folhas. Ensaios biológicos realizados com os fungos Cladosporium cladosporioides e Cladosporium sphaerospermum têm demonstrado a atividade fungicida a partir de amidas isoladas dos talos de Piper hispidum e das sementes de Piper tuberculatum (NAVICKIENE et al., 2000), de derivados do ácido benzóico (LAGO et. al., 2004), do óleo essencial das folhas, frutos e caules de Piper aduncum e de Piper tuberculatum Jacq (NAVICKIENE et al., 2006.), do extrato bruto das folhas de Piper mollicomm e Piper ihotzkyanum (LAGO et al., 2007b), que além de possuir uma grande atividade contra os fungos Candida albicans e Cryptococcus neoformans, também apresentou forte atividade biológica contra a Leishimania amazonensis (BRAGA et al., 2007). Quando testadas com outras finalidades, amidas como pelitorina [4], guinensina [6], brachistamida B [7], sarmentina [8], brachiamida [9], 1-piperetil pirrolidina [10], 3’,4’,5’-trimetoxicinamoila pirrolidina [11], sarmentosina [12], (+)asarinina [13] exibiram atividade antituberculose, sendo que duas delas sarmentina [8] e 1-piperetil pirrolidina [10]) mostraram também atividade antiplasmodial (RUKACHAISIRIKUL et al., 2004). 8 Em seus estudos, Medeiros demonstrou que a amida piplartina [14] possui atividade antitumoral e vasorelaxante sobre a aorta de ratos (MEDEIROS et al., 2006). Também Bezerra e colaboradores testaram a atividade antitumoral de piplartina [14] e piperina [15] a partir de experimentos realizados com ratos transplantados com células de sarcoma 180 (BEZERRA et al., 2006), onde ambas apresentaram atividade, embora tenham causado efeitos reversíveis sobre o fígado e os rins, sendo que a piperina [15] foi mais tóxica sobre o fígado, causando a degeneração dos hepatócitos, acompanhada por uma “esteatose” em algumas áreas, enquanto piplartina [14] foi mais tóxica para os rins, causando pequenas mudanças nos túbulos proximais e no epitélio glomerular e hemorragia tubular nos animais tratados. Bezerra demonstrou que a piplartina [14] apresenta efeito citotóxico e antiproliferativo dose e tempo-dependente, esses efeitos parecem ser seletivos para células tumorais, embora haja uma pequena toxicidade contra células normais, como foi demonstrado em ensaios realizados com a proliferação de linfócitos (BEZERRA et al., 2007). Piplartina [14] possui efeito sobre a síntese de DNA, que nos experimentos realizados, mostrou ser dose-dependente, além disso, induz a apoptose da célula pela via mitocondrial e/ou pela via de sinalização de receptores de morte programada da célula. Piperina [15] apresenta efeito antinociceptivo, reduz o número de leucócitos presentes na cavidade peritoneal de camundongos tratados com carragenina (FELIPE, 2006a), possui efeito hipotensivo, atividade depressiva do tônus intestinal de cães (MAXWELL & RAMPERSAD, 1991) e efeito ansiolítico (FELIPE, 2006b), além de atividade depressora do sistema nervoso central (FELIPE et al., 2007). Em seus trabalhos, Reddy e colaboradores descreveram a atividade antibacteriana de isolados puros de Piper longum e Taxus baccata (REDDY et al., 2001), os quais foram ativos contra bactérias gram-positivas e moderadamente ativos contra bactérias gram-negativas, entretanto, cada composto foi altamente ativo pelo menos para uma espécie particular de bactéria: piperlonguminina [16] contra Bacillus subtilis, piperina [15] contra Staphylococcus aureus e pellitorina [4] contra Bacillus sphaericus. Campos e colaboradores também atestaram o efeito antibacteriano do extrato, das frações e dos compostos, conocarpano, conocarpano metilado, 9 eupomatenóide-3, eupomatenóide-5 e orientina, obtidos das folhas de Piper solmsinum contra bactérias, principalmente, as gram-positivas (CAMPOS et al., 2005). O O OCH3 OCH3 O O Dilapiol [1] Safrol [2] O O O N H N H O Pipercida [3] Pellitorina [4] O H S O N S N H O H OH Piperlongumina [5] Guinensina [6] O H N (CH2)6 O N O O Brachistamida [7] Sermantina [8] O O O O N N O O Brachiamida [9] 1-Piperetil pirrolidina [10] 10 O O O N O N O O O 3’,4’,5’-Trimetoxicinamoila pirrolidina [11] Sarmentosina [12] O O O O H3CO O N O H3CO O OCH3 O (+)-Asarinina [13] Piplartina[14] 8(E)-N-12,13,14-trimetóxicinamoilaΔ3piridin-2-ona O O O O N H N O O Piperina [15] Piperlongumina [16] Figura 1: Estruturas químicas de amidas isoladas do gênero Piper 1.3 - Considerações sobre a espécie Piper tuberculatum Jacq. A espécie Piper tuberculatum Jacq apresenta-se como arbustos com 2 2,5 m de altura, e ramos pubérulos (Figura 2). Folhas com bainha alada; pecíolo 0,5-1cm comprimento, pubérulo; lâmina oblongo-elíptica ou ovado-elíptica, 812,5 x 4-6 cm, base assimétrica, ápice agudo, papiráceomembranácea, brilhante, glabra na face adaxial, pubérula nas nervuras na face abaxial; nervuras ascendentes em número de 8 -10 pares, peninérveas, dispostas até o ápice da lâmina. Espigas eretas, com 4 -7cm comprimento; pedúnculo 1 - 1,5 cm comprimento; bractéolas triangular-subpeltadas, marginalmente franjadas, 4 11 estames, drupa tetragonal, ovada ou subobovada, lateralmente comprimida, glabra, 3 estigmas sésseis (GUIMARÃES & GIORDANO, 2004). (a) (b) Figura 2: (a) Foto do arbusto e (b) foto de ramo de um espécime de Piper tuberculatum Jacq com folhas e frutos. Sua distribuição geográfica estende-se desde o Continente Americano e Antilhas. No Brasil, nos estados do Amazonas, Rondônia, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e Mato Grosso. Cresce em altitudes aproximadas aos 550 m, em encosta úmida, em capoeira e em locais brejosos. Piper tuberculatum Jacq é conhecida como pimenta d’ardo, pimenta-demacaco ou pimenta-longa (PEREIRA & SILVA, 2002; GUIMARÃES & GIORDANO, 2004) e ainda como jamburana (PEREIRA & SILVA, 2002). É uma planta medicinal utilizada popularmente como estimulante e carminativa (BRAGA, 1953), além de analgésico, sedativo, dor de dente e antídoto para veneno de cobra (ARAÚJO-JUNIOR et al., 1999) e como estimulante para problemas estomacais (CHAVES et al., 2003). Em estudos fitoquímicos realizados nesta planta visando o isolamento dos seus metabólicos secundários descreveram a presença dos seguintes metabólitos: piplartina [14] e seu dímero [17] (BRAZ-FILHO et al., 1981), 12 piperdardina [18], piperetina [19], piperina [15] (ARAÚJO-JÚNIOR et al., 1997), ácido 3,4-metilenodioxi-cinâmico [20] (SIMMONDS & STEVENS, 1956), piplaróxido [21], demetoxipiplartina [22] (CAPRON & WIEMER 1996), cefaranona B [23] (ARAÚJO-JÚNIOR et al., 1999), Δα;β-dihidropiperina [24], dihidropiplartina [25], 8(Z)-N-12,13,14-trimetoxicinamoila)-Δ3-piridin-2-ona [26], 5,6-dihidropiperlonguminina [27], pellitorina [4], (NAVICKIENE et al., 2000), N[10-(13,14-metilenodioxidofenil)-7(E)-9(E)-pentadienoila]-pirrolidina [28], N-[10(13,14-metilenodioxifenil)-7(E)-pentadienoila-pirrolidina [29], fagaramida [30], trans-6,7,8-trimetóxi-dihidrocinamato de metila [31], 6,7,8-trimetóxi- dihidrocinamato de metila [32] (SILVA et al., 2002), piperina [33] (CHAVES et al., 2003). Muitas plantas pertencentes à família Piperaceae têm compostos químicos como amidas isobutílicas a qual foi encontrada também na espécie Piper tuberculatum. Estas demonstraram potencial atividade inseticida em broca de cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis e Anticarsia gemmatalis (NAVICKIENE, 2003). Além disso, as amidas mostraram atividades antifúngicas contra fungos fitopatógenos: Cladosporium sphaerospermum e C. cladosporioides (NAVICKIENE et al., 2000; SILVA et al., 2002; LAGO et al., 2004). O trabalho realizado por Miranda em 2003 relata o isolamento da amida pelitorina [4] que foi testada contra larvas de Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae) mostrando-se altamente tóxica. As substâncias investigadas no presente estudo, dihidropiplartina [25] e piplartina [14], isoladas dos frutos de Piper tuberculatum, já haviam sido isoladas nesta planta (NAVICKIENE et al, 2000), e foram encontradas também na espécie Piper rugosum (MAXWELL & RAMPERSAD, 1991;) e em outras espécies de Piper (PARMAR et al., 1997). O ácido 3,4,5-trimetóxi- dihidrocinâmico [34] já foi isolado de Piper retrofractum e foi separado por hidrolisis a partir do composto 3’,4’,5’-trimetóxi-cinamato de etila original, isolado de Piper longum (KUMAR et al., 2005). Muitos autores relataram a importância dos diversos compostos químicos isolados de Piper tuberculatum no que se refere à toxicidade destas substâncias contra insetos e fungos (NAVICKIENE et al., 2000; CUNHA et al., 2001; SILVA et al., 2002; SCOTT et al., 2002; CHAVES et al., 2003; MIRANDA et al., 2003), 13 especialmente como inseticida botânico para o controle de praga na agricultura (SCOTT et al., 2002 & MIRANDA et al., 2003). Navickiene e colaboradores (2002) realizaram investigações fungicidas com as substâncias dihidropiplartina [25] e piplartina [14], sendo as amidas do gênero Piper conhecidas por sua ação inseticida. Para o ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico [34] foi relatada atividade antiinflamatória contra a ação do TNFα sobre liberação de ICAM-1 pelas células (KUMAR et al., 2005). Estudos mais recentes revelam que o ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico [34] possui moderada ação anti-hemorrágica contra o veneno de Bothrops alternatus e que também interfere na replicação dos parasitas Leishmania amazonensis na forma promastigota (FERREIRA, 2006). H3C O O H3C O O O N O H3C O N O O O N CH3 O O H3C O H3C Dímero da Piplartina [17] Piperdardina [18] O O O N O O OH O Piperetina [19] Ácido 3,4-metilenodioxi- dihidrocinâmico [20] 14 OCH3 H3CO H3CO O N N H3CO O O O O Piplaróxido [21] Demetoxipiplartina [22] OCH3 O H3CO O N O NH O Δα;β-dihidropiperina [24] Cefaranona B [23] O H3CO H3CO O N H3CO H3CO O OCH3 N O OCH3 DihidroPiplartina [25] 8(Z)-N-12,13,14-trimetóxicinamoila Δ3-piridin-2-ona [26] Isômero (Z) Piplartina O O O O N H N O O 5,6-Dihidropiperlonguminina [27] N-[10-(13,14metilenodioxidofenil)-7(E)9(E)-pentadienoila]-pirrolidina [28] 15 O O O O N N H O O N-[10-(13,14-metilenodioxifenil)-7(E) Fagaramida [30] -pentadienoila-pirrolidina [29] O O H3CO OCH3 H3CO H3CO OCH3 H3CO OCH3 OCH3 Trans-6,7,8-trimetóxi-dihidrocinamato de metila [31] 6,7,8-Trimetóxi-dihidrocinamato de metila [32] O H3CO O O OH H3CO N OCH3 O Piperine [33] Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico [34] Figura 3: Estruturas químicas dos compostos isolados do gênero Piper 1.4 - Dor e Inflamação A dor é uma experiência pessoal e subjetiva, de forma que se aprende sentindo. Há um amplo conceito definido pela IASP - Associação Internacional para Estudo da Dor, no qual a dor pode ser definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano tecidual real ou potencial, 16 ou descrita em termos de tal lesão (MELZAC & LOESER, 1999; RAINVILLE, 2002; ALMEIDA et al., 2004). Além de estar envolvida a um estímulo potencialmente nocivo, a dor tem uma conotação individual e é representada por uma experiência subjetiva, envolvendo componentes afetivos e emocionais, que amplificam ou diminuem a sensação dolorosa (MELZACK & LOESER, 1999; RAINVILLE, 2002; ALMEIDA et al., 2004). Desta forma é absolutamente essencial para a sobrevivência dos animais e humanos a capacidade de sentir dor para desenvolver mecanismo de proteção contra perigos potenciais visando a sobrevivência, evitando lesão tecidual. O nociceptor é estrutura especial responsável por detectar estímulos nocivos proveniente do meio ambiente. Esses nociceptores correspondem às terminações nervosas livres e representam a parte mais distal dos neurônios aferentes de primeira ordem, que Aδ e do tipo C, respectivamente (JULIUS & BASBAUM, 2001; ALMEIDA et al., 2004). Há ainda o fenômeno doloroso que pode ocorrer espontaneamente, em decorrência da redução do limiar de sensibilidade para dor, devido a danos no SNC ou ainda lesão nas fibras sensoriais. A este tipo de dor é atribuído o termo de dor neuropática (MILLAN, 1999; ALMEIDA et al., 2004) Existe uma diferença entre os termos nocicepção e dor. O termo nocicepção refere-se a manifestações neurofisiológicas, geradas por estímulos nocivos. A dor envolve a percepção de um estímulo aversivo e requer a capacidade de abstração e elaboração do impulso sensorial (MELZACK & LOESER, 1999; ALMEIDA et al., 2004). Desta forma o termo dor seria mais apropriado para o homem, enquanto que nocicepção seria mais indicado para animais experimentais (WALL & MELZACK, 1999; JULIUS & BASBAUM, 2001) Em termos de duração, a dor pode ser classificada como aguda ou crônica. A dor aguda é caracterizada por ser pontual delimitada e desaparecer com a resolução do processo patológico. A dor crônica persiste por um longo período de tempo, sendo associada com processos patológicos crônicos e mudanças no padrão de transmissão neuronal (ALMEIDA et al., 2004, LOESER & MELZACK, 1999). Há também episódios de dor transitório com duração de poucos segundos ou minutos que se dissipa naturalmente e na qual o dano real é quase inexistente. 17 Quanto a origem há quatro tipos principais de dor: a dor tônica ou “nociceptiva”, que se origina devido á estimulação excessiva dos nociceptores localizados na pele, vísceras e outros órgãos; a dor “neurogênica” ou fásica e inflamatória, que reflete o dano de tecido neuronal na periferia ou no sistema nervoso central (SNC); a dor “neuropática”, que acontece devido a uma disfunção ou dano de um nervo ou grupo de nervos e a dor “psicogênica”, que não é oriunda de uma fonte somática identificável e que pode refletir fatores psicológicos (MILLAN, 1999). Quando ocorre dano tecidual a dor geralmente é mais persistente devido a influência de mediadores inflamatórios liberados subjacentes à lesão tecidual, geralmente ocorrendo um quadro de hipersensibilidade pela ativação e sensibilização dos nociceptores periféricos pelos mediadores químicos liberados pela lesão do tecido (DRAY, 1997). Nos quadros de hipersensibilidade, pode-se citar a hipernocicepção, que é o aumento na intensidade da dor, e a alodínia, que ocorre quando um estímulo de mínima intensidade passa a ser percebido como doloroso (LOESER & TREED, 2008). Demonstra-se assim que os neurônios espinhais apresentam plasticidade sináptica, pois estímulos nociceptivos repetitivos de baixa freqüência ou lesão tecidual periférica originam mudanças funcionais na medula espinhal, tais como redução do limiar nociceptivo, expansão do tamanho do campo receptivo (hiperalgesia secundária) e descargas neuronais prolongadas, gerando os quadros de hipersensibilidade (MA & WOOLF, 1996). É importante mencionar que tanto na dor clínica quanto na dor induzida em modelos experimentais não há, a princípio, um mediador ou uma via (ascendente ou descendente) dominante que contribua para a condução e perpetuação do estímulo nociceptivo. Dependendo do local, tipo e duração do estímulo, levando-se em conta componentes afetivos e emocionais, ocorrem a ativação de múltiplos canais sensoriais, que irão convergir e interagir com estruturas supraespinhais, promovendo a sensação global de dor (MILLAN, 1999). No processamento neural dos sinais nocivos que levam a experiência de dor o primeiro estágio compreende a transdução, no qual há a transformação dos estímulos agressivos em potenciais de ação que, das fibras nervosas periféricas, são transmitidos para o SNC (BENSOON & PERL, 1969). Os receptores sensíveis aos estímulos nocivos, amplamente encontrados na pele, 18 membranas, tecidos conectivos de órgãos viscerais, ligamentos, cápsulas articulares, periósteo, músculos, tendões e vasos sangüíneos são ativados e a dor se propaga. O segundo estágio no processamento dos sinais nociceptivos é a transmissão gerada na periferia e conduzida ao núcleo trigeminal caudal ou para o corno dorsal da medula espinhal, respectivamente, onde são retransmitidas mensagens através da liberação de mediadores. Os corpos celulares dos neurônios aferentes primários encontram-se nos gânglios trigeminais e nos gânglios da raiz dorsal (DRG), situados na coluna vertebral e dispostos lateralmente ao longo da medula espinhal, que contem ainda células dendríticas, e macrófagos e uma rede rica de capilares sanguíneos. O axônio aferente primário bifurca-se e envia prolongamentos à medula espinhal e aos tecidos corporais. As fibras Aδ, são fibras pouco mielinizadas, de médio diâmetro que medeiam a “primeira” dor, representada pela dor pungente, aguda e passageira, que aparece logo após a lesão tecidual e transmitem a sensação da periferia ao SNC em uma velocidade entre 12 a 30m/s, neste grupo ainda há um subgrupo de fibras Aδ do tipo I que respondem a temperaturas inferiores a 53ºC e a fibras Aδ do tipo II que respondem a temperaturas menores que 43ºC. As fibras C, não mielinizadas de pequeno diâmetro, medeiam a “segunda” dor, uma dor mais latente e difusa, que se perpetua por mais tempo e conduzem o estímulo em uma velocidade entre 0,5 a 2m/s (JULIUS & BASBAUM, 2001; CRAIG, 2003). As fibras Aβ são mais mielinizadas, de maior diâmetro e apresentam a maior velocidade de condução e respondem ao toque leve ou movimento, mas não contribuem para a dor, porém podem aliviar a dor quando são friccionadas com a mão após alguma lesão. (MILLAN, 1999). Estas fibras podem ser chamadas de polimodais, pois respondem a estímulos nocivos térmicos, mecânicos e químicos. Dessa forma, apresentam receptores termossensíveis ao calor e ao frio, bem como receptores específicos para substâncias algogênicas (HUNT & MANTYH, 2001; IKEDA et al., 2001; ALMEIDA et al., 2004; COUTAUX et al., 2005). Existem também os nociceptores silenciosos, que são normalmente inativos e irresponsivos ao estímulo nociceptivo agudo, porém tornam-se ativados e sensibilizados gradualmente durante a resposta nociceptiva e inflamatória (DRAY, 1997; HUNT & MANTYH, 2001; COUTAUX et al., 2005). 19 As fibras aferentes fazem sinapse em um neurônio de segunda ordem na camada superficial da medula espinhal. O neurônio de segunda ordem cruza a medula espinhal até o lado contralateral e ascende pelo trato espinotalâmico até alcançar o tálamo. No tálamo neurônios de terceira ordem são ativados, levando a informação do estímulo doloroso até o córtex somatossensorial, onde ocorre a percepção da dor (VANDERAH, 2007). Dentro deste contexto, basicamente, os neurônios aferentes primários podem ser ativados por uma gama de mediadores, liberados no tecido lesado. A lesão tecidual pode ser desencadeada por estímulos térmicos, traumas mecânicos, invasão com agentes infecciosos e reações antígeno-anticorpo (SAWYNOK, 2003). Estes mediadores promovem a despolarização das fibras aferentes primárias Aδ e C que irão conduzir o impulso doloroso, iniciado em diferentes tecidos, para o corno dorsal da medula espinhal, principalmente até suas lâminas mais superficiais, lâminas I/II e profundas V/VI e X (HUNT & MANTYH, 2001; MILLAN, 2002; CRAIG, 2003). A partir da integração dos impulsos no corno dorsal, as vias nociceptivas aferentes dão origem a diferentes modelos de projeção à estruturas corticais e supracorticais. Neste estágio, os componentes sensoriais; discriminativos e afetivos, bem como os componentes cognitivos, são atribuídos ao impulso nociceptivo (WILLIS et al., 1997; MORROW et al., 1999; ALMEIDA et al., 2004). Diversos neurotransmissores e neuromoduladores com a substância P (SP), óxido nítrico (NO), prostaglandinas (PGs), neuropeptídeo Y (NPY), opióides, serotonina (5-HT), adrenalina, adenosina, citocinas, glutamato, entre outros aminoácidos excitatórios são liberados após um estímulo capaz de gerar lesão tecidual, promovendo ativação de receptores específicos acoplados a cascatas de segundos mensageiros intracelulares e canais iônicos que afetam a excitabilidade da membrana e podem alterar a transcrição gênica, induzindo alterações em longo prazo, na bioquímica dos neurônios sensoriais, assim substâncias capazes de causar modificações seletivas destes receptores podem dar origem a novos agentes analgésicos e antiinflamatórios (DRAY et al.,1994; GUIRIMAND & LE BASRA, 1996; BENSSON,1997; COGGESHAL & CARLTON, 1997; DRAY, 1997; BESSON, 1999; MILLAN, 1999; RAJA et al., 1999). Os diferentes feixes ascendentes que se formam devido à interação de neurônios de primeira ordem com neurônios de segunda ordem no corno dorsal 20 da medula espinhal darão origem a diversas vias ascendentes que podem ser classificadas em dois grupos: monossinápticas e polissinápticas (MILLAN, 1999; ALMEIDA et al., 2004). Muitas destas vias ascendentes fazem conexões com neurônios de terceira ordem no tálamo, que projetam seus axônios pela cápsula interna do córtex somatossensorial até o giro pós-central, onde a localização do estímulo nociceptivo é realizada; e o giro anterior do cingulado, relacionado a interpretação emocional da dor (RUSSO & BRODE, 1998). Dentro deste contexto, há uma complexa e integrativa rede neuronal até estruturas supraespinhais, que constituem as vias ascendentes. Estas regiões supraespinhais são extensivamente interligadas e também interagem com mecanismos da modulação descendente, permitindo a ativação rápida de circuitos envolvidos no controle da dor (MILLAN, 1999). As vias descendentes originam-se no tronco cerebral e outras estruturas como hipotálamo, córtex e tálamo, bem como o núcleo magno da rafe (NRM), substância cinzenta periaquedutal (PAG) e estruturas adjacentes da medula rostroventromedial (RVM), que exercem um importante papel na modulação e integração das mensagens nociceptivas no corno dorsal (MILLAN, 1999; MILLAN, 2002; VANEGAS & SCHAIBLE, 2004). A importância de alguns mediadores na modulação das vias descendentes ainda não está totalmente esclarecida, contudo acredita-se que as vias serotoninérgica, noradrenérgica e em menor extensão a dopaminérgica além do sistema canabinóide endógeno, contemplam os maiores componentes dos mecanismos descendentes (MILLAN, 1999; MILLAN, 2002). Outros mediadores como a colecistocinina, encefalinas, glutamato e NO também estão envolvidos neste mecanismo (MILLAN, 1999; VANEGAS & SCHAIBLE, 2004). Grandes evidências indicam que os aminoácidos excitatórios, principalmente o glutamato, que é encontrado primariamente em fibras sensoriais C, apresentam um papel crítico na transmissão da informação nociceptiva da medula espinhal até estruturas centrais (MILLAN, 1999; BEIRITH et al., 2002; BEIRITH et al., 2003). No nível espinhal, o glutamato está presente nos terminais aferentes primários, nas lâminas I, III e IV do corno dorsal. Nas fibras C o glutamato coexiste com peptídeos como a substância P (SP), desta forma um estímulo 21 nocivo liberaria ambos, peptídeos e aminoácidos excitatórios das fibras nociceptivas aferentes e estes agiriam de maneira sinérgica na transmissão da dor (DICKENSON, 1997; BEIRITH et al., 2004). Existem dois grupos distintos de receptores glutamatérgicos denominados ionotrópicos (iGluR) e metabotrópicos (mGluR). Os receptores N-metil-Daspartato (NMDA), cainato (KA) α-amino-3-hidroxi-5-metil-4- e isoxazolepropionato (AMPA) são canais iônicos permeáveis ao Ca +2, Na+ ou K+. (DICKENSON, 1997; BEIRITH et al., 2002). Fortes evidências sugerem que os receptores glutamatérgicos ionotrópicos, sensíveis ao NMDA (um análogo do glutamato), são receptores formados por várias subunidades (NR1/NRA2, NR1/NRB2, NR1/NRC2, NR1/NRD2) e encontram-se amplamente distribuídos no SNC (OZAWA et al., 1998; YAMAKURA & SHIMOJI, 1999). Os receptores glutamatérgicos metabotrópicos (mGluR) são acoplados as proteínas de ligação ao GTP, conhecidas como proteínas G, e operam tanto pela liberação de segundos mensageiros intracelulares ou por influenciar canais iônicos através da interação com as subunidades da proteína G através da membrana. Dividem-se em oito subtipos classificados em três subgrupos de acordo com a sua homologia. O grupo I (mGluR 1 e 5) promove ativação da via da fosfolipase C; o grupo II (mGluR 2 e 3) e o grupo III (mGluR 4, 6 e 7) estão acoplados negativamente a adenilato ciclase (OZAWA et al., 1998). Outro importante transmissor associado a transmissão da dor é a substância P (SP), que interage com receptores da família das taquicininas (acoplados a proteína G) (VANDERAH, 2007) Fortes indícios sugerem que os aminoácidos excitatórios e seus receptores, além de contribuírem com a transmissão dolorosa, estão envolvidos na patogenia da dor neuropática (hiperalgesia), assim como desordens neurológicas crônicas, além de participarem de eventos como plasticidade neuronal e formação do potencial de longa duração (LTP) (OZAWA et al., 1997; MILLAN, 1999; YAMAKURA e SHIMOJI, 1999). Estímulos térmicos nocivos podem promover a ativação de canais específicos nos nociceptores (BEISE et al, 1998), principalmente os canais TRP (do inglês transiet receptor potencial; receptores de potencial transitório) sendo os mais estudados os TRPV-1 ou receptor vanilóide (VR1) e o TRPV2 ou 22 receptor similar ao vanilóide 1 (VRL-1) para o calor e o TRPM8 (melastatina) e o TRPA1 (relacionado à proteína anquirina) para o frio (CALIXTO et al., 2005; CORTRIGHT et al.; 2007; VENKATACHALAM & MONTELL, 2007; LEVINE e ALESSANDRI-HARBER, 2007). O TRPV1 é um canal catiônico não seletivo excitatório presente nos neurônios sensoriais, ativado por temperaturas acima de 43ºC e pela capsaicina, e contribui para a sensibilidade ao calor e é essencial ao desenvolvimento da hipersensibilidade térmica após lesão tecidual O canal iônico VRL-1 não responde à capsaicina, mas é ativado por temperaturas acima de 50ºC (McKEMY et al, 2002). O TRPM8 é um canal iônico ativado por baixas temperaturas (REID & FLONTA, 2001; PEIER et al, 2002). A modulação é o terceiro aspecto do processamento do estímulo nocivo, neste evento a resposta a estímulos nocivos representados por alterações ocorridas no sistema nervoso permitem que sinais nocivos recebidos no corno dorsal da medula espinhal sejam seletivamente inibidos, modificando a transmissão do sinal para centros superiores. O sistema de modulação endógeno da dor consiste de inter-neurônios bem definidos dentro das camadas superficiais da medula espinhal e tratos neuronais descendentes, que podem inibir a transmissão do sinal de dor (YAKSH, 2006). A inflamação possui sinais clínicos clássicos, como eritema, calor, inchaço e dor, que foram descritos no início da era clássica pelos gregos e romanos (FANTONE & WARD, 1990). O quinto sinal da inflamação, lesão aguda dos tecidos com perda da função dos órgãos, foi mencionado mais tarde por Virchow, no século XIX (ROCHA & SILVA, 1978). Tais sinais estão diretamente relacionados às várias fases do processo inflamatório, que é caracterizado por três fases distintas, cada uma delas aparentemente mediada por mecanismos diferentes: a primeira aguda, uma segunda subaguda relacionada à resposta imune e migração celular e uma terceira proliferativa, com regeneração tecidual e fibrose (COTRAN et al., 1996). A inflamação, então, é geralmente associada a dano tecidual. As células lesadas liberam enzimas do seu interior, que no ambiente extracelular degradam ácidos graxos de cadeia longa, atuando sobre os cininogênios e dando origem à formação das cininas. As cininas são pequenos polipeptídeos da α2-calicreína, presente no plasma e nos líquidos orgânicos (RANG et al, 2004). A calicreína é 23 uma enzima proteolítica que é ativada pela inflamação e outros efeitos físicos e químicos sobre o sangue e tecidos. Ao ser ativada, a calicreína atua imediatamente sobre a α2-globulina, liberando a cinina calidina, que é então convertida em bradicinina por enzimas teciduais. Uma vez formada, a bradicinina provoca intensa dilatação arteriolar e aumento da permeabilidade capilar, contribuindo para a propagação da reação inflamatória (STERANKA et al., 1988). Através da ação da fosfolipase A sobre a membrana celular, tem-se a produção e consequente liberação de ácido araquidônico. A reação das ciclooxigenases sobre o ácido araquidônico culmina com a formação de prostaglandinas, tromboxanos e prostaciclinas. Essas substâncias, sobretudo as prostaglandinas E2, promovem diminuição do limiar de excitabilidade dos nociceptores (ROCHA et al., 2007). Há também o recrutamento de macrófagos, linfócitos e células migratórias, que liberam substâncias como interleucinas préinflamatórias, fator de necrose tumoral, óxido nítrico e fatores quimiotáticos, contribuindo com a migração de mais células para o local da lesão. Dessa forma, a inflamação caracteriza-se por um fenômeno complexo multimediado geralmente associado à dor. Assim, a dor pode ser desencadeada por lesões térmicas, traumas mecânicos, invasão com agentes infecciosos e reações antígeno-anticorpo (KALANT & ROSCHESLAU, 1991). A liberação de mediadores em tecidos inflamados pode sensibilizar fibras nociceptivas periféricas, promovendo a facilitação central da transmissão nociceptiva (SYRIÁTOWICZ et al., 1999; VANEGAS, 2004), levando a uma resposta dolorosa aumentada a um estímulo nocivo, denominada hiperalgesia (TJØLSEN & HOLE 1997; VANEGAS, 2004; SOMMER & KRESS, 2004; COUTAUX et al., 2005). Alterações na percepção sensorial, envolvendo sensibilização central, pode levar a alodínia, relacionada à dor evocada por um estímulo normalmente não nocivo (MILLAN, 1999). Moncada e colaboradores (1978) sugeriram que a dor inflamatória resulta da ação concomitante de dois tipos de estímulos nos neurônios nociceptores. O 1º estímulo ativaria diretamente o influxo de Na+ e isso seria responsável pela iniciação da ativação dos nociceptores (bradicinina, histamina, estimulações mecânica e térmica). O 2º estímulo não geraria a atividade do nociceptor, mas facilitaria sua ativação, sendo, provavelmente, associado com um aumento das concentrações do AMPc/Ca ++ (LORENZETTI & FERREIRA, 1985). 24 Esse estado inflamatório, persistente por horas ou mesmo dias, culmina com a hipersensibilização dos nociceptores periféricos, levando às sensações de hiperalgesia e alodínia. Essa sensibilização também pode ocorrer no nível do corno dorsal, sendo chamada sensibilização central. Assim, mecanismos de amplificação possibilitam o recrutamento de neurônios periféricos, normalmente não associados à dor, para que evoquem sensações dolorosas (BROOKS & TRACEY, 2005). Os estudos no campo da dor são inúmeros e os conhecimentos cada vez ganham maior amplitude buscando melhorar as terapias e diminuir o sofrimento de tantos, neste sintoma que acompanha inúmeras patologias. Entender os diferentes tipos de dor é acima de tudo entender seus mecanismos fisiológicos, e a função da pesquisa tem sido o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas para o controle da dor baseadas no conhecimento dos mecanismos analgésicos (BESSON, 1997). O maior impacto da dor, especialmente sobre a população economicamente ativa, é a susceptibilidade a implicações financeiras. Vários estudos têm demonstrado o impacto das patologias associadas à dor no trabalho. Dados publicados por Steward e colaboradores (2003) sobre a força de trabalho nos Estados Unidos, relatam um gasto aproximado de $ 61,2 bilhões de dólares por ano devido à perda de produtividade relacionada à dor. Além disso, a perda de performance dos trabalhadores diminui aproximadamente 69,7% para indivíduos com dores nas costas e 84,4% para indivíduos acometidos de artrite (STEWART et al, 2003). A terapia atualmente disponível falha quanto a sua eficácia e efeitos colaterais relacionados. Entre os indivíduos que possuem enxaquecas nos Estados Unidos, apenas 41% relata ter recebido alguma prescrição de medicamentos específicos para o tratamento de enxaqueca, sendo que 29% destes indivíduos afirmam estar apenas moderadamente satisfeitos com o seu tratamento (STEWART et al, 2003). No Brasil, a dor está presente em mais de 70% dos pacientes que buscam os consultórios médicos por motivos diversos, sendo a razão das consultas em um terço dos casos. Esse argumento enfatiza a importância da busca de elementos que permitam uma melhor abordagem da dor aguda e crônica (ROCHA et al., 2007). 25 2. JUSTIFICATIVA A população ao utilizar de forma leiga os seus recursos naturais ao mesmo tempo em que gera preciosas informações etnofarmacológicas também apresenta o risco de efeitos indesejáveis e mesmo de intoxicações sérias advindas do mau uso dos remédios naturais. Assim sendo, cabe à ciência ordenar esses conhecimentos de maneira que o conhecimento empírico seja resguardado e transformado em conhecimento real de novos produtos fitoterápicos, sejam na forma de extratos ou mesmo de substâncias isolados. Assim, estas substâncias possam ser fármacos com atividade biológica comprovada e estabelecida, com potencial de ação, biodisponibilidade, uso clínico e efeitos colaterais conhecidos. A inserção da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) na região Amazônica torna mais veemente a necessidade de pesquisa com espécies naturais desta região com potenciais farmacológicos cabendo tanto a pesquisa de novos fitoterápicos desde o resgate da utilização empírica desses vegetais pela população, descoberta de novas estruturas químicas e estudos farmacológicos de interesse, quanto contribuindo na formação dos alunos na área da Saúde pelo vasto campo de pesquisa que representa, interligando disciplinas e cursos afins, o que culmina na criação atual do laboratório de farmacologia de produtos naturais, assim a formação de pessoal qualificado bem como a rotina de trabalho com as técnicas de atividades farmacológicas em produtos naturais tornar-se-á uma realidade local, fato este que não existe atualmente, uma vez que temos que enviar nossas amostras para outros centros especializados. Assim a determinação da atividade biológica de extratos vegetais através de métodos farmacológicos e clínicos contemplará vasto trabalho de pesquisa regional e contribuirá diretamente com a instituição que a realiza de forma prática e direta. A importância do conhecimento fitoquímico vai de encontro ao estudo farmacológico onde se busca um extrato fitoterápico que, acompanhado de ensaios que determinem a eficácia das frações isoladas, colaboram na identificação da substância ativa através de um ensaio farmacológico que 26 determinam um procedimento correto, orientado para as etapas de esgotamento da droga de modo ordenado, até o isolamento do(s) princípio(s) ativo(s) (SIXEL,P.J. & PECINALLI, N.R.,2005). Os estudos farmacológicos abrangentes dos extratos padronizados poderão subsidiar estudos farmacológicos preliminares em modelos experimentais relevantes, relativos á ação terapêutica, bem como á estudos clínicos posteriores na fase farmacodinâmica in vivo. Os estudos de obtenção de novos fármacos mostram que há uma maior probabilidade de encontrar um fármaco com grande valor terapêutico nos países em desenvolvimento através do estudo de fitoterápicos e das plantas medicinais do que pela obtenção sintética (LAPA, 1995) e face a nossa imensa biodiversidade e tradição no uso das plantas medicinais poderíamos disputar uma parcela significativa dos muitos milhões de dólares que movimenta esse mercado (CALIXTO, 2003). A escolha do gênero Piper justifica-se pela grande variedade de espécies com relevante variedade de constituintes químicos com propriedades farmacológicas potenciais para o estudo da farmacologia na possibilidade de descobertas de novos compostos que ainda não foram estudados sob o ponto de vista fitoquímico e farmacológico. Ainda pelas elucidações estruturais das substâncias comuns no gênero Piper que estão sendo realizadas na Universidade Federal de Rondônia, contribuindo também, com a quimiossistemática deste gênero. Outro fator de grande importância na escolha desta espécie é o fato das substâncias isoladas piplartina e dihidropiplartina, assim como o ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico, serem encontradas abundantemente na Região Amazônica e muito utilizadas pela população local, na forma de produto natural através do uso de Piper tuberculatum Jacq. 27 3. OBJETIVOS 3.1 - Objetivo Geral Isolar e identificar os constituintes químicos presentes nos frutos da espécie Piper tuberculatum Jacq, bem como avaliar e comparar a atividade antinociceptiva e antiinflamatória dos extratos obtidos em diferentes solventes e dos constituintes químicos isolados. 3.2 - Objetivos Específicos - Obter os extratos em diferentes solventes a partir dos frutos de Piper tuberculatum Jacq; - Realizar, através de métodos cromatográficos o isolamento dos constituintes químicos presentes nos frutos de Piper tuberculatum Jacq; - Identificar as estruturas dos constituintes químicos isolados, através de métodos espectroscópicos; - Verificar os efeitos antinociceptivos (analgésicos) dos extratos e constituintes químicos isolados dos frutos de Piper tuberculatum Jacq em modelos de nocicepção (dor) química (testes do ácido acético e formalina) em camundongos. - Verificar um possível efeito sedativo e músculo-relaxante dos constituintes químicos isolados. - Verificar, com o emprego de técnicas farmacológicas in vivo, o(s) possível(is) mecanismo(s) envolvido(s) no efeito antinociceptivo dos 28 constituintes químicos isolados, em modelos de nocicepção (dor) química (testes do ac. acético, formalina, capsaicina, glutamato), hipernocicepção térmica e mecânica, bem como o envolvimento dos sistema opióide e sistema de cininas. - Avaliar o potencial efeito antiinflamatório dos constituintes químicos isolados no modelo de pleurisia induzida por carragenina, em camundongos. - Verificar o efeito antinociceptivo do extrato etanólico de Piper tuberculatum Jacq e dos compostos isolados no modelo de nocicepção induzida pelo veneno de Bothrops jararaca. 29 4. MATERIAL E MÉTODO Os isolamentos e as purificações dos constituintes químicos de Piper tuberculatum Jacq foram realizados no Laboratório de Pesquisa em Química de Produtos Naturais - LPQPN na Universidade Federal de Rondônia - UNIR em Porto Velho - RO. As análises farmacológicas foram realizadas no Laboratório da Neurobiologia da Dor e da Inflamação, da Universidade Federal de Santa Catarina, sob responsabilidade do professor Dr. Adair Roberto Soares dos Santos, cujo protocolo do Comitê de Ética é CEUA 23080.003593/200884/UFSC. 4.1- Material Botânico 4.1.1 - Coleta e Identificação do material botânico Os frutos de Piper tuberculatum Jacq foram coletados no bairro Areal no município de Porto Velho, Rondônia em Setembro de 2005 (para identificação), e no período de abril de 2006 a outubro de 2007 (para análise fitoquímica e farmacológica) A identificação botânica da planta foi realizada pelo Dr. José Gomes do herbário do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), onde uma exsicata encontra-se depositada sob o número 211724. 4.1.2 - Obtenção dos extratos 4.1.2.1 - Obtenção dos extratos e isolamento dos constituintes químicos para análise fitoquímica. Os frutos de Piper tuberculatum Jacq (1,3 Kg), foram secos em estufa a 60 ºC, sob ventilação, durante 24h e triturados manualmente. A preparação dos 30 Frutos Piper tuberculatum secos e triturados (1,3 Kg) Extração com etanol (3L x3) a temperatura ambiente, durante 3 dias Destilação sob pressão reduzida Extrato etanólico Sílica gel Coluna Cromatográfica 1-hexano 2-clorofórmio 3-Acetato Etila 4-Metanol Eluato hexânico Eluato clorofórmio Eluato acetato etila Eluato metanol Cromatografia Camada Delgada (comparação cromatográfica) Cromatografia Coluna Ativos isolados Figura 4: Diagrama de fluxo de obtenção dos extratos e isolamento dos constituintes químicos dos frutos de Piper tuberculatum Jacq (analise fitoquímica) 31 extratos foi feita através de maceração, onde os frutos foram extraídos com etanol (3L x 3) à temperatura ambiente, durante 3 dias. Após a filtragem, o solvente obtido foi destilado sob pressão reduzida (Figura 4). Parte deste material foi adsorvida em sílica gel e a mistura, sob a forma de pastilha, foi colocada em uma coluna cromatográfica e eluída com hexano, clorofórmio, acetato de etila e metanol. Utilizou-se a cromatografia em camada delgada (CCD) para comparação cromatográfica e a cromatografia em coluna de sílica gel para isolamento dos ativos. 4.1.2.2 - Obtenção dos extratos para análise farmacológica. Os extratos hexânico, diclorometano, acetato de etila e metanólico dos frutos de espécie Piper tuberculatum Jacq foram preparados conforme a descrição a seguir: 4.1.2.2.1 - Extrato hexânico Os frutos de Piper tuberculatum (1,4 Kg) foram submetidos a duas extrações com hexano (2 x 2,5 litros) por três dias cada, a temperatura ambiente e posterior evaporação do solvente em evaporador rotativo e a pressão reduzida. 4.1.2.2.2 - Extrato diclorometano Os frutos após terem sidos extraídos com hexano (1,3 Kg) foram submetidos a duas extrações com diclorometano (2 x 2,2 litros) por três dias cada, a temperatura ambiente e posterior evaporação do solvente em evaporador rotativo e a pressão reduzida. 4.1.2.2.3 - Extrato acetato de etila Os frutos após terem sidos extraídos com diclorometano (1,2 Kg) foram submetidos a duas extrações com acetato de etila (2 x 2,3 litros) por três dias 32 cada, a temperatura ambiente e posterior evaporação do solvente em evaporador rotativo e a pressão reduzida. 4.1.2.2.4 - Extrato metanólico Os frutos após terem sidos extraídos com acetato de etila (1,0 Kg) foram submetidos a duas extrações com hexano (2 x 2,3 litros) por três dias cada, a temperatura ambiente e posterior evaporação do solvente em evaporador rotativo e a pressão reduzida. 4.2 - Materiais e métodos cromatográficos Nas cromatografias de adsorções em colunas foram utilizadas gel de sílica 60 da Merck e da Vetec ( m 63-200). O comprimento e diâmetro da coluna variaram de acordo com as quantidades de amostras a serem cromatografadas e de gel de sílica a serem utilizadas. Para cromatografia em camada (CCD) utilizou-se cromatoplacas de gel de sílica 60 ( m 2-25) sobre poliéster T – 6145 da Sigma Chemical CO (com indicador de fluorescência na faixa de 24 m). Os solventes utilizados nas eluições cromatográficas foram: hexano, acetato de etila e metanol, puros ou combinados em gradiente crescente de polaridade. As revelações das substâncias cromatografadas em CCD se deram por exposição das cromatoplacas analíticas à luz ultravioleta (UV), reveladas em um comprimento de onda (254 m) e por pulverização com revelador universal (mistura de etanol: ácido acético: ácido sulfúrico – 8:1:1), seguido de aquecimento em estufa a 100ºC por aproximadamente alguns segundos. 33 4.3 - Materiais e métodos espectroscópicos Os espectros apresentados neste trabalho foram obtidos em aparelhos pertencentes ao Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Central Analítica da Universidade Federal do Ceará e na Universidade Federal de Rondônia. Os modelos e condições dos aparelhos para a caracterização das substâncias isoladas estão descritas abaixo: 4.3.1 - Espectros de massas (E.M) Os espectros de massas foram registrados por impacto eletrônico (70 eV) em um aparelho GC/MS Hewlett - Packard 5971 usando coluna capilar (30 m x 0,25 mm) dimetilpolisiloxano BD-1, He como gás de arraste e as temperaturas de 250ºC no injetor, 200oC no detector e na coluna variando 1 º/min entre 35 180º C e 10ºC/min no intervalo de 180 - 250ºC. 4.3.2 - Ressonância magnética nuclear de hidrogênio-1H (RMN 1H) e de carbono -– 13C (RMN 13C) Os espectros de RMN unidimensionais e bidimensionais foram registrados em espectromêtros Bruker AC – 200 e 500, operando a 200 e 500 MHz para hidrogênio – 1 (RMN 1H) e 50 e 125 MHz para carbono – 13 C (RMN 13 C). As seqüências de pulsos utilizadas nas experiências bidimensionais estão contidas nos programas Bruker XHCORREAU, para correlação heteronuclear de hidrogênio – 1 e carbono – 13 C a uma ligação e a longa distância (1H x 1 13 C – 1 COSY, JCH, n = 1, 2 e 3) e COSY – UA, para correlação homonuclear ( H x H – COSY). Os espectros de 1 H e 13 C foram referenciados de acordo com o deslocamento químico do CDCl3. Nos experimentos unidimensionais de DEPT UA (ângulo de mutação 1350). Os deslocamentos químicos ( ) foram expressos em partes por milhão (ppm) e as multiplicidades dos deslocamentos indicados segundo a convenção: s (singleto), sl (singleto largo), d (dubleto), dd (duplo dubleto), t (tripleto), q (quarteto) e m (multipleto). 34 4.4 - Animais Foram utilizados camundongos Swiss (30-40g) e ratos Wistar (180-250g) de ambos os sexos, obtidos do Biotério Central da UFSC, aclimatados a 22 ± 2ºC, em um ciclo/escuro de 12 h (luzes acesas às 7 h), e tratados com água e ração ad libitum. Os animais foram mantidos no laboratório 1 hora antes da realização dos experimentos para aclimatação. Todos os experimentos foram conduzidos de acordo com as normas internacionais para o estudo com animais de laboratório, e o número de animais e a intensidade do estímulo nocivo usados foram o mínimo necessário para demonstrar efeitos consistentes nos tratamentos (ZIMMERMANN, 1983). 4.5 - Preparação das amostras para realização de testes em animais Os extratos e compostos puros da espécie Piper tuberculatum Jacq foram dissolvidos em Tween 80 (Merck AG, Darmstadt, Germany) e diluídos antes do uso em NaCl 0,9%. A concentração final de Tween 80 não excedeu 5% , o que não apresenta nenhum efeito por si só. 4.6 - Avaliação da atividade antinociceptiva 4.6.1 - Testes de contorções abdominais induzidas pelo ácido acético (0,6%) em camundongos Foi analisado o efeito dos extratos etanólico (Et 10 – 300 mg/Kg), acetato de etila (AcE 10 – 300 mg/Kg), diclorometano (DCM 10 – 300 mg/Kg), metanol (Met 3 – 100 mg/Kg) e hexano (Hex 30 – 300 mg/Kg) e dos compostos isolados Dihidropiplartina (Dih-Pip 0,01 – 1 mg/Kg), Piplartina (Pip 1 – 30 mg/Kg) e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico (TMDC 0,0001 – 1 mg/Kg) no teste de contorções induzidas por ácido acético de acordo com o método descrito por Santos et al. (1999). As contorções consistem em uma contração da musculatura abdominal, acompanhada da extensão das patas posteriores 35 (COLLIER et al., 1968). Os animas receberam o estímulo 60 min após o tratamento via oral e 30 min após o tratamento via i.p. Após a injeção intraperitoneal de 450 µl de ácido acético 0,6%, os animais foram colocados individualmente em funis de vidro, e as contorções contadas cumulativamente durante 20 min. O grupo controle foi tratado com veículo (10 mg/Kg, i.p. ou v.o.). 4.6.2 - Nocicepção induzida pela formalina (0,92% de formaldeído) em camundongos Para confirmação do efeito antinociceptivo dos compostos isolados de Piper tuberculatum, foi utilizado o teste de nocicepção induzida pela formalina, que permite avaliar a nocicepção de origem neurogênica (estimulação direta dos neurônios nociceptivos; 1º fase, 0–5 min) e a nocicepção de origem inflamatória (caracterizada pela liberação de mediadores envolvidos na inflamação; 2º fase, 15–30 min). O procedimento utilizado foi similar ao descrito anteriormente (Santos et al., 1999). Os animais receberam 20μl de formalina a 2,5% (0,92% de formaldeído) na região intraplantar da pata posterior direita. O tempo em que o animal permaneceu lambendo ou mordendo a pata injetada com formalina foi cronometrado, sendo este comportamento considerado como indicativo de nocicepção. Os animas foram tratados pela via intraperitoneal com os compostos isolados Dih-Pip (0,01 – 1 mg/kg), Pip (1 – 30 mg/kg) ou TMDC (0,0001 – 1 mg/kg), ou apenas salina (grupo controle, 10 mg/kg), 30 min antes da injeção irritante. 4.6.3 - Nocicepção induzida por capsaicina em camundongos A fim de se evidenciar o efeito do composto TMDC sobre a nocicepção espontânea provocada pela ativação direta de fibras C sensíveis a capsaicina, os animais receberam uma injeção intraplantar de capsaicina (1,6 µg/pata, 20 µl), e o tempo em que o animal permaneceu lambendo e/ou mordendo a pata injetada foi considerado como indicativo de nocicepção (SANTOS & CALIXTO, 1997). Os animais foram pré-tratados com o composto TMDC (0,0001 – 1 36 mg/kg) ou salina (grupo controle, 10 mg/kg), 30 min antes da injeção de capsaicina. Após receberem o estímulo, os animais foram colocados individualmente em funis de vidro, e a nocicepção foi cronometrada cumulativamente durante 5 min 4.6.4 - Nocicepção induzida por glutamato em camundongos Através desse modelo, pretendeu-se analisar a possível ação modulatória do composto TMDC sobre a nocicepção induzida por glutamato (20 µmol/pata), sendo que este neurotransmissor é um dos mais importantes na modulação da nocicepção e antinocicepção (BEIRITH et al., 2002). Os animais foram tratados com o composto TMDC (0,1 – 30 mg/kg) ou salina (grupo controle, 10 mg/kg) via intraperitoneal 30 min antes de receberem a injeção de 20 µl de glutamato na pata posterior direita. O tempo em que o animal permaneceu lambendo e/ou mordendo a pata injetada foi cronometrado durante 15 min, sendo este tempo considerado como indicativo de nocicepção. Os procedimentos utilizados foram similares aos descritos anteriormente (SANTOS & CALIXTO, 1997). 4.6.5 - Efeito sobre a atividade locomotora de camundongos Visando verificar um possível efeito sedativo ou músculo-relaxante do composto TMDC, os animais foram submetidos ao teste Rota Rod (SANTOS et al., 1999) e campo aberto (RODRIGUES et al., 1996). O teste do campo aberto consiste em uma caixa retangular (40 cm x 50 cm x 60 cm), cujo chão é dividido em 12 quadrados de mesma área. O número de cruzamentos efetuados com as quatro patas foi cumulativamente contado durante 6 min. O aparelho Rota Rod (Ugo Basile, Modelo 7600) consiste numa barra com 2,5 cm de diâmetro, subdividida em quatro compartimentos por discos de 25 cm de diâmetro. A barra é dotada de rotação constante (21 rotações/minuto), sendo mensurado o tempo em que o animal permaneceu na barra por três períodos consecutivos de 60 s. Em ambos os experimentos, os animais foram pré-tratados com TMDC (0,1 – 10 37 mg/Kg, i.p.) ou salina (10 mg/Kg, i.p.), 30 min antes de serem submetidos aos testes. 4.6.6 - Hipernocicepção mecânica e térmica em ratos O possível efeito anti-hipernociceptivo mecânico e térmico do composto TMDC foi avaliado utilizando os métodos descritos por Randall & Selitto (1957) e Hargreaves e colaboradores (1988), respectivamente. O peso no analgesímetro varia de 0 a 750 g e o limiar nociceptivo foi expresso como carga tolerada (em g). Para o limiar nociceptivo térmico os ratos foram habituados ao ambiente aproximadamente 10 min antes da realização do teste, e as latências de retirada da pata foram registradas automaticamente com luz fotossensível. O tempo de corte utilizado para o experimento foi de 20 s, para evitar possíveis danos teciduais. Ratos foram tratados com 100 l de carragenina (300 ng/pata), BK (3 nmol/pata), PGE2 (10 nmol/pata), PMA (100 µmol/pata), ou somente salina (grupo controle, 10 mg/kg), na região intraplantar da pata posterior direita. A hipernocicepção foi avaliada 4 horas após a injeção de carragenina e 30 min após a injeção das demais substâncias. No modelo de hipernocicepção induzida por BK, os animais foram pré-tratados com inibidor da enzima conversora da angiotensina, captopril (5 mg/Kg, i.p.), 1 hora antes dos experimentos, para prevenir a degradação da BK (Otuki et al., 2005). Os animais foram pré-tratados com o TMDC (0,1 – 10 mg/Kg, i.p.) ou salina (grupo controle, 10 mg/Kg, i.p.), 30 min antes da administração dos agentes irritantes. 4.6.7 - Participação do sistema opióide Com o objetivo de evidenciar uma possível participação do sistema opióide sobre a atividade antinociceptiva do composto TMDC, os animais (camundongos) foram pré-tratados com o antagonista não seletivo dos receptores opióides, naloxona (1 mg/Kg, i.p.), 20 min antes da administração do TMDC (10 mg/Kg, i.p.) ou de morfina (agonista não seletivo dos receptores opioides, 5 mg/Kg, s.c.), utilizada como controle positivo. Decorridos 30 minutos 38 após a administração do composto ou da injeção subcutânea de morfina, foi avaliado o efeito desse tratamento em relação à nocicepção induzida pela injeção intraperitoneal de ácido acético. O grupo controle foi tratado com salina (10mg/Kg). 4.6.8 - Participação do sistema de cininas O possível efeito do composto TMDC sobre a ação periférica de mediadores inflamatórios, em especial a bradicinina (BK), foi analisado através da injeção de BK na parte ventral da pata posterior direita (adaptado de Ferreira et al., 2004). Os animais (ratos Wistar) foram pré-tratados com TMDC (0,1 – 10 mg/Kg, i.p.) ou salina (10 mg/Kg, i.p.) 30 min antes da injeção de 100 µl de BK (3 nmol/pata) na região plantar da pata posterior direita, sendo avaliado o tempo em que o animal permaneceu lambendo e/ou mordendo a pata injetada durante 10 min. Com o objetivo de se avaliar a ação do composto TMDC nos receptores BK em nível central, 0,1 μg/sítio de BK foi administrado via i.t., conforme descrito anteriormente por Savegnago e colaboradores (2007). Os animais foram previamente tratados com o composto TMDC (0,1 – 10 mg/Kg, i.p.) ou salina (10 mg/Kg, i.p.) (grupo controle). 4.7 - Avaliação do efeito antiinflamatório em camundongos Através deste modelo, adaptado de Nardi (2007), pretendeu-se verificar a atividade antiinflamatória do composto TMDC. Os animais foram pré-tratados com Azul de Evans (usado para mensurar a permeabilidade capilar na cavidade pleural (adaptado de LUCENA et al., 2007; 2,5 mg/Kg), 30 min antes da administração do composto isolado TMDC (0,1 – 10 mg/Kg, i.p.) ou salina (grupo controle; 10 mg/Kg, i.p.). Após 30 min, os animais receberam 0,2 ml de carragenina 0,1% ou salina 0,9% (grupo controle) na cavidade pleural. Decorridas 4 horas da injeção de carragenina, o exsudato pleural foi removido, sendo avaliado o número total e diferencial de células, além do extravasamento plasmático através da absorbância (600nm) em espectrofotômetro. 39 4.8 - Nocicepção induzida pelo veneno extraído de Bothrops jararaca A fim de se comprovar um efeito real da espécie Piper tuberculatum Jacq sobre mordidas de serpentes, seu extrato etanólico, bem como o composto isolado TMDC, foram testados no modelo de nocicepção espontânea induzida pelo veneno extraído de Bothrops jararaca (BjV). A padronização do modelo e as doses utilizadas foram baseadas em estudos previamente encontrados na literatura (CHACUR et al, 2002), e os resultados comparados com os de outros modelos experimentais já estabelecidos na comunidade científica. Assim, padronizou-se a dose de 1 µg/pata para indução da nocicepção espontânea em camundongos. Os animais receberam uma injeção de 20 µl de solução contendo 1 µg de BjV (diluído em solução salina) na região ventral da pata posterior direita, e a nocicepção espontânea (tempo em que o animal permaneceu lambendo e/ou mordendo a pata injetada) foi cronometrada durante 30 min. Os animais foram pré-tratados com o extrato etanólico (30 – 1000 mg/Kg, v.o., 1 h antes) e TMDC (0,1 – 100 mg/Kg, via i.p., 30 min antes). 4.9 - Análise estatística Os resultados estão apresentados como média erro padrão da média (EPM), exceto as DI50 (doses dos extratos e compostos isolados capazes de reduzir 50% da resposta nociceptiva quando comparado com o grupo controle), que são apresentadas como médias geométricas acompanhadas de seus respectivos limites de confiança, em nível de 95%. As DI 50 foram estimadas a partir de experimentos individuais utilizando o método de regressão linear através do programa “Graph Pad Prism” (2005, San Diego, CA). A análise estatística dos resultados foi realizada por meio de análise de variância (ANOVA), seguido pelo teste de múltipla comparação utilizando o método de Newman Kuels, para os dados paramétricos. Para os dados nãoparamétricos (2 grupos independentes), a diferença estatística foi determinada através do teste de Mann-Whitney. Valores de p < 0,05 foram indicativos de significância. 40 5. RESULTADOS 5.1 - Obtenção dos extratos e dos constituintes químicos para análise fitoquímica. Os frutos de Piper tuberculatum Jacq (1,3 Kg) foram extraídos com etanol à temperatura ambiente, durante 3 dias. O solvente foi destilado sob pressão reduzida e forneceu 41 g (3,2% de rendimento) de uma massa de coloração marrom (extrato etanólico). Parte deste material (35 g) foi adsorvida em sílica gel (90 g) e a mistura, sob a forma de pastilha, foi colocada em uma coluna cromatográfica e eluída com hexano, clorofórmio, acetato de etila e metanol. O extrato obtido em clorofórmio (9,3 g) foi novamente submetido à cromatografia em coluna de gel de sílica e eluído com misturas de hexano e clorofórmio em gradiente de polaridade crescente, obtendo-se 83 frações. As frações 32 a 54 foram reunidas, após comparação em cromatografia em camada delgada (CCD), e a fração resultante foi submetida à cromatografia em coluna de sílica gel, eluída com hexano e acetato de etila em gradiente de polaridade crescente, obtendo-se 115,8 mg de um sólido chamado Pip (hexano:acetato de etila, 55:45), 221,5 mg de um sólido chamado Dih-Pip (hexano:acetato de etila, 45:55) e 54,8 mg de um sólido chamado TMDC (hexano:acetato de etila, 35:65). 5.2 - Rendimento dos extratos para análise farmacológica A tabela 1 mostra os valores de rendimentos obtidos dos extratos hexânico, diclorometano, acetato de etila e metanólico dos frutos de Piper tuberculatum. 41 Tabela 1. Rendimento dos extratos obtidos dos frutos de Piper tuberculatum Jacq Massa Massa obtida Rendimento Coloração do seca (Kg) (g) (%) extrato Hexânico 1,4 11,0 0,78 verde Diclorometano 1,3 7,6 0,35 verde Acetato Etila 1,2 8,0 0,67 marrom Metanólico 1,0 6,0 0,6 marrom Extratos 5.3 - Rendimento dos constituintes químicos isolados dos extratos obtidos para analise farmacológica. Os compostos Pip, Dih-Pip e TMDC foram isolados dos frutos de Piper tuberculatum Jacq e encaminhados para identificação mediante métodos espectroscópicos. Simultaneamente foram isolados estes mesmos compostos a partir dos extratos para serem utilizados na analise farmacológica. Por tal motivo uma parte dos extratos obtidos (Tabela 1) foi utilizada para isolar os compostos conforme a descrição a seguir: Parte do extrato hexânico (4,5g) foi submetido a cromatografia em coluna de sílica gel, eluido com uma mistura de hexano e diclorometano em gradiente de polaridade crescente, produzindo um total de 83 frações. As frações 32-54 foram reunidas, após comparação em cromatografia em camada delgada (CCD), combinadas e purificadas por recristalização com clorofórmio, resultando em 206,6 mg (4,58%) de um composto branco amorfo que após análises espectroscópicas identificou-se como o composto Dih-Pip como se mostra na figura 5. Assim como o extrato hexânico, o extrato diclorometano (5,1g) foi submetido a cromatografia em coluna e eluido com hexano da mesma forma, resultando em 15 frações. A fração 9 foi ressubmetida em cromatografia em coluna e eluída no mesmo gradiente acima, obtendo-se 7,1 mg (0,14%) de um sólido branco amorfo que após análises espectroscópicas identificou-se como o composto Pip. 42 Material vegetal Maceração com etanol Extrato hexânico Extrato diclorometano noano Extrato acetato etila Extrato metanolico Cromatografia coluna gel de sílica 60 (MERK: 0,063-0,200mm) (1- 83) Frações hexânicas/DCM (polaridade crescente) 1-Reunir frações 32-54, 2-Comparação CCD, 3- Recristalização clorofórmio Dih-Pip (206,6mg) (1- 15) Frações hexânicas Fração 9 resubmetida a cromatografia em coluna e eluida com hexâno Pip (7,1mg) Frações: Hexânicas Hexano/Clorofórmio Clorofórmio Clorofórmio/metanol Metanol TMDC (230,2 mg) Pip (37mg) Ensaios Biológicos Figura 5: Fracionamento e isolamento dos metabolitos presentes nos frutos de Piper tuberculatum Jacq 43 O extrato acetato de etila (5,1g) foi submetido a cromatografia em coluna ,eluido com hexano, hexano/clorofórmio, clorofórmio, clorofórmio/metanol e metanol com aumento de polaridade , resultando em 37,0 mg (0,72%) e 230,2 mg (4,51%), ambos sólidos brancos amorfos que após análises espectroscópicas identificou-se, respectivamente como Pip e TMDC. 5.4 - Determinação estrutural do composto Pip O composto Pip, sólido branco amorfo, com ponto de fusão 123-124ºC e solúvel em clorofórmio, foi isolado no eluato clorofórmio utilizando como eluente hexano:acetato de etila, 55:45. O espectro de ressonância magnética nuclear de hidrogênio-1 (RMN-1H) (Figura 6), apresentou uma absorção em 6,81 (2H, s) que pode ser atribuído a dois hidrogênios de um sistema de anel aromático tetra-substituído. 3000 2.458 2.462 2.467 2.471 3.830 3.863 3.878 4.012 4.025 4.038 6.022 6.042 6.794 6.924 6.943 7.398 7.429 7.646 7.677 2500 2000 1500 1000 500 0 8.0 ppm (f1) 7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 Figura 6: Espectro de RMN-1H (500 MHz) do composto Pip, obtido em CDCl3 44 Uma absorção, neste mesmo espectro, em 3,89 (s) que pela integração corresponde a nove átomos de hidrogênio é compatíveis com a presença de três grupamentos metoxilas. Duas absorções em 7,68 (1H, d, J=15,8 Hz) e 7,48 (1H, d, J=15,8 Hz) são compatíveis com uma ligação dupla trans-carbonocarbono. O espectro de ressonância magnética nuclear de carbono -13 - Broad Band (RMN13C-BB) (Figura 7), revelou a presença de dez absorções relacionadas a átomos de carbonos olefínicos, sendo dois correlacionados a dois grupos carbonilas , -insaturadas em 165,3 e 169,0. Este mesmo espectro confirmou a presença dos três grupamentos metoxilas, os quais absorveram em 2 x 56,1 e 60,9. 25000 24.961 41.812 56.340 61.102 76.985 77.239 77.494 105.699 121.259 125.947 130.805 143.934 145.713 153.509 169.025 20000 15000 10000 5000 0 150 100 50 ppm (f1) Figura 7: Espectro de RMN 13C-BB (125 MHz) do composto Pip, obtido em CDCl3 O espectro de RMN 13 C bidimensional de interação heteronuclear 1H-13C (HMQC) (Figura 8), revelou que das dez absorções relacionadas a carbonos 45 olefínicos, observadas no espectro de RMN 13 C-BB, cinco correspondem a átomos de carbonos mono-hidrogenados (CH) e cinco não-hidrogenados (C). 0 50 100 150 200 ppm (f1) 5.0 0.0 ppm (f2) Figura 8: O espectro de RMN 13C bidimensional de interação heteronuclear 1 H -13C do composto Pip A presença de dois átomos de carbonos não-olefínicos, excluindo os átomos de carbonos dos grupamentos metoxilas, foram observados no espectro de RMN 13 C-BB em 24,6 e 41,5. Os átomos de hidrogênios ligados a estes átomos de carbonos são observados no espectro de RMN 13 C (HMQC) em 2,48 (m) correspondente a absorção do átomo de carbono o qual absorveu em 24,6 e em 4,04 (2H, d, J=6,2 Hz) correspondente a absorção do átomo de carbono o qual absorveu em 41,5. Estas absorções observadas para os átomos de hidrogênios e de carbonos podem perfeitamente serem atribuídas a um grupamento etileno (-CH2CH2-) ligado a um átomo de nitrogênio e a um átomo de carbono olefínico. 46 O espectro de massas do composto Pip (Figura 9) exibiu o pico íon molecular em M+ em m/z 317 unidades de massa atômica (u.m.a), compatível com a fórmula molecular C17H19NO5. Esta fórmula, também, é compatível com uma molécula contendo nove graus de insaturações. Figura 9: Espectro de massa (70 eV) do composto Pip Todos estes dados e comparação dos dados de RMN-1H e com dados de RMN-1H e 13 C de Pip 13 C descrito na literatura para a Piplartina [14] (Facundo et al., 2008) levaram a propor a estrutura da mesma para Pip. O H3CO 1' 1 3 9 8 H3CO 6 4 O 7 2 5 2' N 3' 5' 4' OCH3 Figura 10: Estrutura química proposta para o composto Pip 47 Na tabela 2, encontram-se os dados de RMN 1H e 13 C do composto Pip e da Piplartina [14]. Tabela 2. Dados dos deslocamentos químicos dos espectros RMN de 1H e 13C de Pip e da Piplartina [14] Pip* C Piplartina [14]** C H 1 130,0 3 153,0 4 140,0 5 H 130,6 - 153,3 - - 140,1 - 153,0 - 153,3 - 9 168,5 - 168,8 - 1’ 165,3 - 165,8 - - - - - CH - C 2 105,6 6,81 (s) 105,4 6,81 (s) 6 105,6 6,81 (s) 105,4 6,81 (s) 7 143, 3 7,68 (d, J = 15,8 Hz) 143,7 7,65 (d) 8 121,0 7,48 (d, J = 15,8 Hz) 121,0 7,68 (d) 2’ 125,7 6,05 (dd, J = 9,9; 1,8 Hz) 125,8 6,04 (dd) 3’ 145,5 6,95 (td, J = 9,9; 4,8 Hz) 145,5 6,93 (m) - - - CH2 - 4’ 24,6 2,48 (m) 24,7 2,48 (m) 5’ 41,5 4,04 (d, J=6,2 Hz) 41,6 4,05 (m) - - - CH3 - CH3O-3 56,1 3,89 (s) 56,6 3,85(s) CH3O-4 60,9 3,89 (s) 61,0 3,85(s) CH3O-5 56,1 3,89 (s) 56,6 3,85(s) * obtido em CDCl3 ** Facundo (2008) 48 5.5 - Determinação estrutural do composto Dih-Pip O composto Dih-Pip, sólido branco amorfo, com ponto de fusão 145155ºC e solúvel em clorofórmio, foi isolado no eluato clorofórmio utilizando como eluente hexano:acetato de etila, 45:55. O espectro de RMN-1H (Figura 11) apresentou uma absorção em 6,47 (2H, s) que, pela integração, pode ser atribuído a dois hidrogênios de um sistema de anel aromático tetra-substituído. Uma absorção, neste mesmo espectro, em 3,85 (s), que pela integração corresponde a nove átomos de hidrogênios, é compatível com a presença de três grupamentos metoxilas. Figura 11: Espectro de RMN 1H (500 MHz) do composto Dih-Pip, obtido em CDCl3 O espectro de RMN-13C-BB, (Figura 12) revelou a presença de oito absorções relacionadas a átomos de carbonos olefínicos, sendo uma das 49 absorções correlacionada a um grupo carbonila , -insaturadas em outro a um grupo carbonila não-conjugado absorvendo em 165,1 e a 175,1. Neste mesmo espectro confirmou-se a presença dos três grupamentos metoxilas, os quais absorveram em 2 x 55,9 e 60,7. Figura 12: Espectro de RMN-13C-BB (125 MHz) de Dih-Pip, obtido em CDCl3 O espectro de RMN-13C utilizando a técnica DEPT -135, (Figura 13) revelou a presença de quatro átomos de carbono di-hidrogenados (CH2). Estes sinais foram observados em 24,4, 40,7, 31,5 e 40,8. Os átomos de hidrogênios ligados a estes átomos de carbonos são observados no espectro de RMN-13C (HMQC), em 3,25 (2H, t, J =7,5 Hz), 2,95 (2H, t, J =7,5 Hz), 2,35 (m) e 3,97 (2H, t, J=6,5 Hz), respectivamente. Os sinais dos átomos de carbonos em hidrogênios a eles ligados em carbonos olefinicos em 31,5 e 40,8 e os sinais dos 2,35 e 3,97, juntamente com os sinais de 125,7 e 145,2 e o sinal atribuído a carbonila , - 50 insaturada em 165,1, podem perfeitamente serem atribuídos a um anel piridinona, semelhante ao da piplartina [14]. Figura 13: Espectro RMN-13C utilizando a técnica DEPT do composto Dih-Pip, obtido em CDCl3 Todos estes dados e comparação dos dados de RMN-1H e com dados de RMN-1H e 13 C de Dih-Pip 13 C descrito na literatura (Facundo et al., 2008) para a dihidropiplartina [25] levaram a propor a estrutura da mesma para Dih-Pip. O H3CO 1' 1 3 9 8 H3CO 6 4 O 7 2 5 2' N 3' 5' 4' OCH3 Figura 14: Estrutura química proposta para o composto Dih-Pip 51 Na tabela 3, encontram-se os dados de RMN-1H e RMN - 13C de Dih-Pip e da dihidropiplartina [25]. Tabela 3. Dados dos deslocamentos químicos dos espectros RMN de 1H e 13C do composto Dih-Pip e da Dihidropiplartina [25] (Facundo, 2008) Dih-Pip* C Dihidropiplartina [25]** C H C H 1 136,7 - 136,8 - 3 153,1 - 153,0 - 4 136,0 - 136,2 - 5 153,1 - 153,0 - 9 175,1 - 175,4 - 1’ 165,1 - 165,3 - - - - - CH 2 105,5 6,47 (s) 105,4 6,48 (s) 6 105,5 6,47 (s) 105,4 6,48 (s) 2’ 125,7 5,98 (dd, J = 9,7; 1,6 Hz) 125,8 5,98 (d) 3’ 145,2 6,89 (m) 145,5 6,89 (m) CH2 - - - - 8 40,7 2,95 (t, J = 7,5 Hz 40,8 2,93(t) 7 24,4 3,25 (t, J = 7,5 Hz) 24,5 3,25 (t) 4’ 31,5 2,35 (m) 31,7 2,38 (m) 5’ 40,8 3,97 (t, J = 6,5 Hz) 40,9 2,97 (t) CH3 - - - - CH3O-3 55,9 3,85 (s) 56,0 3,84(s) CH3O-4 60,7 3,81 (s) 60,7 3,81(s) CH3O-5 55,9 3,85 (s) 56,0 3,84(s) * obtido em CDCl3 ** Facundo (2008) 52 5.6 - Determinação estrutural de TMDC O composto TMDC, sólido branco amorfo, com ponto de fusão 104ºC e solúvel em clorofórmio, foi isolado no extrato de clorofórmio utilizando como eluente hexano:acetato de etila, 35:65. espectro de RMN 1H de TMDC (Figura 15) uma absorção em 6,47 (sl), que levando em consideração a integração, pode ser correlacionado a dois átomos de hidrogênio ligados a um anel aromático, semelhante ao sistema de anel aromático tetra-substituído propostos para a Piplartina [14] e Dihidropiplartina [25]. Figura 15: Espectro de RMN 1H (500 MHz) do composto TMDC, obtido em CDCl3 No mesmo espectro foi possível observar dois singletos em 3,69, que pela integração corresponde a seis átomos de hidrogênios, e 3,56 de três átomos de hidrogênios que podem perfeitamente serem atribuídos a três grupamentos metoxilas. Estes grupamentos foram confirmados através do espectro de RMN 13 C-BB (Figura 16), através das absorções em 56,0 (pela 53 intensidade corresponde a dois átomos de carbonos) e em 60,1 (pela intensidade correspondente a um átomo de carbono). Figura 16: Espectro de RMN 13C-BB (125 MHz) de composto TMDC, obtido em CDCl3 O espectro de RMN 13 C utilizando a técnica DEPT-135 de TMDC (Figura 17), exibiu cinco absorções, duas de carbonos tri-hidrogenado (CH3) em 56,0 e 60,1, confirmando a presença dos grupamentos metoxilas, uma de carbono mono-hidrogenado (CH) em em 105,7 e duas de carbonos di-hidrogenados (CH2) 31,0 e 35,6. 54 Figura 17: Espectro de RMN-13C – DEPT-135 de TMDC, obtido em CDCl3 Uma absorção exibida em uma expansão do espectro de RMN 1H (Figura 18) em 10,24 foi fundamental para propor a presença de uma hidroxila de um grupamento carboxila em TMDC. 55 Figura 18: Expansão do Espectro de RMN-1H (500 MHz) de TMDC, obtido em CDCl3 O espectro de massas de TMDC (Figura 19) exibiu o pico do íon molecular m/z 240 u.m.a., sugerindo uma fórmula molecular C12H1605. Esta fórmula, também, é compatível com uma molécula contendo cinco graus de insaturações. 56 Figura 19: Espectro de massa (70 eV) de TMDC Figura 19: Espectro de massa (70 eV) de TMDC Todos estes dados e comparação dos dados de RMN-1H e 1 com dados de RMN H e 13 C de TMDC 13 C descrito na literatura (Facundo et al., 2008) para o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico [34] levaram a propor a estrutura da mesma para TMDC. Na tabela 4, encontram-se os dados de RMN 1H e 13 C de TMDC e do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico [34]. O H3CO 3 2 1 7 9 OH 8 6 H3CO 4 5 OCH3 Figura 20 - Estrutura química proposta do composto TMDC 57 Tabela 4. Dados dos deslocamentos químicos dos espectros RMN de 1H e 13C de TMDC e do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico [34]. Ácido3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico [34]**. TMDC* C C C H H 1 135,2 - 135,9 - 3 153,1 - 153,2 - 4 136,0 - 136,5 - 5 153,1 - 153,2 - 9 178,1 - 178,6 - - - - - CH 2 105,7 6,47 (s) 105,2 6,43 (s) 6 105,7 6,47 (s) 105,2 6,43 (s) - - - CH2 - 8 31,0 4,8 (t) 31,0 2,68 (t) 7 35,6 2,71(t) 35,7 2,90 (t) - - - CH3 - CH3O-3 56,0 3,69 (s) 56,7 3,84(s) CH3O-4 60,1 3,56 (s) 60,8 3,83(s) CH3O-5 56,0 3,69 (s) 56,7 3,84(s) OH - 10,24(sl) - 11,31(sl) * obtido em CDCl3 ** Facundo (2008) 5.7 - Efeito dos extratos e compostos isolados de Piper tuberculatum Jacq sobre as contorções abdominais induzidas pelo ácido acético em camundongos O extrato etanólico (10 – 300 mg/Kg), administrado via oral, inibiu de forma dose-dependente e significativa o número de contorções abdominais induzidas pelo ácido acético, alcançando inibição de 89 ± 5% na máxima dose 58 estudada e DI50 (juntamente com intervalo de confiança em 95%) de 46,22 (38,05 – 56,15) mg/Kg, demonstrando o potencial efeito analgésico da espécie Número de contorções abdominais estudada (Figura 21). 50 40 30 20 *** *** 10 0 *** C 10 30 100 300 Extrato Bruto (mg/kg, v.o.) Figura 21: Efeito do extrato etanólico (extrato bruto) de Piper tuberculatum Jacq administrado por via oral, na nocicepção induzida por ácido acético (0,6%, i.p.) (barras abertas) comparado com controle C (barra fechada). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 9). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para *** p < 0,001. Da mesma forma, os extratos acetato de etila (10 – 300 mg/Kg), diclorometano (10 – 300 mg/Kg), metanol (3 – 100 mg/Kg) e hexano (30 – 300 mg/Kg) inibiram de forma significativa e dependente da dose a nocicepção induzida pelo ácido acético, alcançando inibição e DI50 (juntamente com intervalo de confiança em 95%) de 71 ± 7% e 49,85 (35,64 – 69,72) mg/Kg, 77 ± 8% e (32,60 – 66,70) mg/Kg, 77 ± 7% e 61,50 (48,05 – 77,41) mg/Kg, e 75 ± 8% e (135,33 – 175,40) mg/Kg, respectivamente (Figura 22). 59 Número de contorções abdominais A B 40 40 30 30 ** *** 20 20 *** *** *** 10 0 C 10 30 100 0 300 C Fração Acetato de Etila (mg/kg, v.o.) 10 30 100 300 Fração Diclorometano (mg/kg, v.o.) C Número de contorções abdominais *** 10 D 50 50 40 40 * 30 * 30 20 20 *** 10 0 *** *** 10 C 30 100 300 Fração Hexânica (mg/kg, v.o.) 0 C 3 10 30 100 Fração Metanol (mg/kg, v.o.) Figura 22: Efeito dos extratos acetato de etila (A), diclorometano (B), hexano (C) e metanol (D) obtidos de Piper tuberculatum Jacq administrados por via oral, na nocicepção induzida por ácido acético (0,6%, i.p.) (barras abertas) comparado com controle C (barras fechadas). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para *** p < 0,001, ** p < 0,01 e * p < 0,05. Quando testado o efeito antinociceptivo dos compostos isolados de Piper tuberculatum, Dihidro-piplartina (Dih-Pip 0,01 – 1 mg/Kg), Piplartina (Pip 1 – 30 mg/Kg) e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico (TMDC 0,0001 – 1 mg/Kg), verificou-se que os mesmos inibiram significativamente e de forma dosedependente o número de contorções abdominais causadas pelo ácido acético (Figura 23), obtendo DI50 (juntamente com intervalo de confiança em 95%) e inibição de 5,42 (4,23 –6,94) mg/Kg e 82 6% e 0,0031 (0,0018 – 0,0053) mg/Kg e 81 7%, 0,07 (0,04 – 0,1) mg/Kg e 59 5%, respectivamente. Quando ad- 60 Número de contorções abdominais A B 50 40 40 30 30 ** ** 20 20 *** 10 *** 10 0 0 C 1 3 10 C 30 Dih-Pip (mg/kg, i.p.) Número de contorções abdominais C D 40 40 30 30 ** *** 20 *** *** 10 20 10 0 0 C 0,01 0,03 0,1 C 1 Pip (mg/kg, i.p.) E Número de contorções abdominais Dih-Pip 10 mg/kg v.o. Pip 1 mg/kg v.o. F 40 40 30 30 ** *** 20 *** 10 0 ** 20 *** 10 0 C 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 C TMDC 1 mg/kg v.o. TMDC (mg/kg, i.p.) Figura 23: Efeito dos compostos Dihidropiplartina (Dih-Pip A-B), Piplartina (Pip C-D) e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolados de P. tuberculatum administrados por via intraperitoneal (A,C,E) e via oral (B,D,F), na nocicepção induzida por ácido acético (0,6%, i.p.) (barras abertas) comparado com controle C (barras fechadas). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 4 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Para o grupo tratado pela via oral, a comparação entre os grupos foi realizada através do teste de Mann Whitney. Diferente do grupo controle para *** p < 0,001 e ** p < 0,01. 61 ministrados por via oral, os compostos também apresentaram significativo efeito antinociceptivo, obtendo inibições de 41 ± 15% para Dih-Pip na dose de 10mg/Kg, 42 ± 6% para Pip, na dose de 1mg/Kg e 54 ± 6% para TMDC na dose de 1mg/kg. Devido à pequena quantidade dos compostos, somente foi possível testar sua dose mais efetiva pela via oral. O tratamento oral dos animais com os extratos etanólico, hexânico, diclorometano, acetato de etila e metanol não produziram qualquer irritação (dados não mostrados), mas causaram uma inibição significativa e dosedependente no número das contorções abdominais induzidas pelo ácido acético em camundongos. Os valores da Dl50 (limite de confiança de 95%) e os valores da inibição são mostrados na tabela 5. Tabela 5. Inibição do número de contorções abdominais induzidas pelo ácido acético e pelos extratos e compostos isolados dos frutos de Piper tuberculatum. Dl50 (mg Kg-1) a Inibição (%) 46,22 (38,05 – 56,15) 89 ± 5 154,07 (135,33 – 175,40) 75 ± 8 Extrato Diclorometano 46,65 (32,60 – 66,70) 77 ± 8 Extrato Acetato de Etila 49,85 (35,64 – 69,72) 71 ± 7 Extrato Metanol 61,50 (48,05 – 77,41) 77 ± 7 Piplartina 5,42 (4,23 – 6,94) 82 ± 7 Dihidropiplartina 0,07 (0,04 – 0,10) 56 ± 7 0,0031 (0,0018 – 0,0053) 81 ± 5 Drogas Extrato Etanólico Extrato Hexano Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico 23,9 (13,1 – 43,6) (i.p.) Aspirinab 83 ± 2 108,7 (92,7 – 126,6) (v.o.) a Limite de Confiança 95%. b Dados de Campos et al. (1997). 62 5.8 - Efeito dos compostos isolados de Piper tuberculatum Jacq sobre a nocicepção induzida pela formalina Na figura 24 pode-se observar a ação dos compostos isolados sobre a nocicepção induzida pela injeção intraplantar de formalina. O composto Dihidropiplartina (Dih-Pip 0,1 – 3 mg/Kg) não foi capaz de inibir ambas as fases da nocicepção causada pela formalina (Figuras 24A-B). No mesmo modelo, o composto Piplartina (Pip 0,01 – 10 mg/Kg) não foi capaz de inibir a primeira fase da nocicepção (Figura 24C), enquanto que na segunda fase (Figura 24D) foi inibido em 53 ± 3% na dose de 1 mg/Kg e uma DI50 de 0,50 (0,32 – 0,80) mg/Kg. O Ácido 3,4,5-trimetoxi-dihidrocinâmio (TMDC 0,03 – 3 mg/Kg) inibiu de forma dependente da dose a nocicepção de origem neurogênica (Figura 24E), porém não foi capaz de alterar a fase inflamatória da nocicepção induzida pela formalina (Figura 24F). A DI50 calculada para a 1a fase foi de 0,20 (0,14 – 0,29) mg/Kg, com inibição de 72 ± 5% na dose de 3 mg/Kg. O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico, por ser considerado o mais potente entre os três compostos isolados de Piper tuberculatum Jacq testados no modelo do ácido acético e da formalina, foi testado também em outros modelos de nocicepção, a fim de avaliar seu possível mecanismo de ação 63 A Tempo de reação (s) 100 B 300 75 200 50 100 25 0 C 0,1 1 0 3 0,1 Dih-Pip (mg/kg, i.p.) C 3 D 300 100 80 200 60 *** 40 100 20 0 C 0,01 0,1 1 3 10 0 C 0,01 Pip (mg/kg, i.p.) 1 F 100 400 80 300 60 *** *** 40 200 *** *** *** 20 0 0,1 Pip (mg/kg, i.p.) E Tempo de reação (s) 1 Dih-Pip (mg/kg, i.p.) 120 Tempo de reação (s) C C 0,03 0,1 0,3 1 3 100 0 C 0,03 TMDC (mg/kg, i.p.) 0,1 0,3 1 3 TMDC (mg/kg, i.p.) Figura 24: Efeito dos compostos Dihidropiplartina (Dih-Pip, A-B), Piplartina (Pip, C-D) e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolados de Piper tuberculatum Jacq administrados por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pela formalina (2,5%, i.pl.) (barras abertas) comparado com controle C (barras fechadas). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para *** p < 0,001. 64 5.9 - Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico sobre a nocicepção induzida pela capsaicina No teste da capsaicina, o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico (0,0001 – 1 mg/Kg) apresentou uma inibição de 63 ± 6% na maior dose testada, e DI50 Tempo de reação (s) igual a 0,29 (0,17 – 0,49)mg/Kg (Figura 25). 75 50 * *** 25 *** *** 0,1 1 0 C 0,0001 0,001 0,01 TMDC (mg/kg, i.p.) Figura 25: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper tuberculatum Jacq administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pela capsaicina (1,6%, i.pl.) (barras abertas) comparado com controle C (barra fechada). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para *** p < 0,001 e * p < 0,05. 5.10 - Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico sobre a nocicepção induzida pelo glutamato A Figura 26 mostra que o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico (0,1 – 30 mg/Kg) foi capaz de inibir de maneira significativa a nocicepção induzida pela injeção intraplantar de glutamato em camundongos, com inibição de 42 + 10% na dose de 10 mg/Kg quando comparado ao grupo controle C. 65 Tempo de reação (s) 300 200 ** * 10 30 100 0 C 0,1 1 TMDC (mg/kg, i.p.) Figura 26: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pelo glutamato (1,6%, i.pl.). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para ** p < 0,01 e * p < 0,05. 5.11 - Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico sobre o desempenho motor no teste de atividade espontânea de camundongos O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não provocou alterações nos testes de campo aberto e Rota Rod, demonstrando a ausência de efeito sedativo ou sobre a performance locomotora. Os resultados estão apresentados na Figura 27. 66 150 100 50 0 C 0,1 1 10 TMDC (mg/kg, i.p.) Número de cruzamentos Tempo de permanência (s) A 200 B 100 75 50 25 0 C 0,1 1 10 TMDC (mg/kg, i.p.) Figura 27: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper. tuberculatum administrado por via intraperitoneal, nos testes do Rota Rod (A) e campo aberto (B). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 6). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. 5.12 - Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico sobre a hipernocicepção térmica e mecânica Nos testes de hipernocicepção térmica e mecânica, o Ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico foi capaz apenas de reverter a hipernocicepção induzida pela injeção de BK (Figura 28A-B), alcançando inibição de 89 ± 11% e 99 ± 1% nas hipernocicepções térmica e mecânica, respectivamente, e de PMA (Figura 28C-D), obtendo uma inibição de 61 ± 8% na hiperalgesia térmica e 46 ± 10% na hiperalgesia mecânica. 67 B A 300 *** * # 10 0 ** Carga tolerada (g) Latência (s) 20 *** 100 0 Salina BK 0,1 1 *** 200 10 # Salina BK C 1 10 D 750 *** 10 *** # Salina PMA 0,1 1 10 Carga tolerada (g) 20 Latência (s) 0,1 TMDC (mg/kg, i.p.) TDMC (mg/kg, i.p.) 0 *** 500 * * 1 10 250 # 0 TMDC (mg/kg, i.p.) Salina PMA 0,1 TMDC (mg/kg, i.p.) Figura 28: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper tuberculatum Jacq administrado por via intraperitoneal, na hiperalgesia térmica (A,C) e mecânica (B,D) induzidas pela bradicinina (BK; A-B) e PMA (C-D), em ratos. Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 6). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para *** p < 0,0001, ** p < 0,01 e * p < 0,05. Diferente do grupo salina para # p < 0,05. Contudo, o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não reverteu o efeito hipernociceptivo induzido pela prostaglandina E2 (Figura 29 A-B) e pela carragenina (Figura 29 C-D). 68 B A 400 10 0 Carga tolerada (g) Latência (s) 20 # Salina PGE2 0,1 1 300 # 200 100 0 10 Salina PGE2 1 D C 200 Carga tolerada (g) 20 10 # 0 150 100 # 50 0 Salina C ar TD MC 10 mg/kg, i.p. Salina C ar TD MC 10 mg/kg, i.p. Figura 29: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper tuberculatum Jacq administrado por via intraperitoneal, na hiperalgesia térmica (A,C) e mecânica (B,D) induzidas pela prostaglandina E 2 (PGE2; A-B) e carragenina (Car; C-D), em ratos. Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 6). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo salina para # p < 0,05. 5.13 - Participação do sistema opióide sobre a atividade antinociceptiva do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico Analisando a participação do sistema opióide no efeito antinociceptivo do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico, 10 TMDC (mg/kg, i.p.) TMDC (mg/kg, i.p.) Latência (s) 0,1 verificou-se que a naloxona, um antagonista opióide não-seletivo, não alterou o efeito antinociceptivo do ácido (10 mg/Kg, i.p.) no modelo de contorções abdominais induzidas pelo ácido acético, alterando somente o efeito antinociceptivo da morfina (Figura 30). 69 Tempo de reação (s) Controle Naloxona 40 # 30 *** 20 ** 10 0 Salina (10 mg/kg, i.p.) Morfina (5 mg/kg, i.p.) TMDC (10 mg/kg, i.p.) Figura 30: Efeito do pré-tratamento dos animais com naloxona (1 mg/Kg,i.p.) sobre a atividade antinociceptiva do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico (i.p.) e morfina (5 mg/Kg, s.c.), no modelo de nocicepção induzida pela injeção de ácido acético 0,6% (i.p.) em camundongos. Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 7 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para *** p < 0,001 e ** p < 0,01 e diferente do grupo morfina para # p < 0,05. 5.14 - Participação do sistema de cininas sobre a antinocicepção induzida pelo Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não foi capaz de inibir a nocicepção espontânea induzida pela administração de bradicinina na pata (Figura 31). 70 Tempo de reação (s) 500 400 300 200 100 0 BK 0,1 1 10 TMDC (mg/kg, i.p.) Figura 31: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper tuberculatum Jacq administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pela bradicinina (3 nmol, i.pl.). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo salina para # p < 0,05. Complementando estes dados, o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico inibiu a resposta nociceptiva induzida pela injeção intratecal de bradicinina, alcançando inibição de 67 ± 11% na maior dose testada e DI50 de 4,66 (1,58 – 13,75) mg/Kg, sugerindo uma possível ação em nível central (Figura 32). 71 Tempo de reação (s) 400 300 200 ** 100 0 C 0,1 1 10 TMDC (mg/kg i.p.) Figura 32: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper tuberculatum Jacq administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pela bradicinina (i.t.). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para ** p < 0,01. 5.15 - Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico sobre pleurisia induzida pela carragenina O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico reduziu significativamente o extravasamento plasmático (Inibição: 48 ± 7%) e a migração total de células (Inibição: 75 ± 7%) na inflamação induzida pela injeção intrapleural de carragenina (Figura 33 A-B). No que diz respeito à contagem diferencial de células, o referido composto reduziu tanto a migração de células mononucleares [Inibição: 99 ± 6% e DI50: 0,32 (0,02 – 6,76)mg/Kg] quanto à de células polimorfonucleares (Inibição: 73 ± 4%), como demonstrado na Figura 33 (C-D). 72 B Células totais (x10 6) Azul de Evans (µg/ml) A 1.5 # 1.0 * * * 0.5 0.0 Salina Car 0,1 1 15 # 10 *** 0 10 Salina Car # 3 2 * 1 0 Salina Car 0,1 1 10 Células Polimorfonucleares (x10 6) Células Mononucleares (x10 6) C 0,1 *** 1 10 TMDC (mg/kg, i.p.) TMDC (mg/kg, i.p.) 4 *** 5 D 8 # 6 4 *** *** *** 2 0 Salina Car 0,1 1 10 TMDC (mg/kg, i.p.) TDMC (mg/kg, i.p.) Figura 33: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper tuberculatum Jacq administrado por via intraperitoneal, nos seguintes parâmetros avaliados na pleurisia induzida pela injeção intrapleural de carragenina (0,1%): extravasamento plasmático (A), migração total de células (B), migração de células mononucleares (C) e migração de células polimorfonucleares (D). Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 6 a 8). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para ** p < 0,01 e *** p < 0,001. Diferente do grupo salina para # p < 0,05. 73 5.16 - Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico sobre a nocicepção induzida pelo veneno de Bothrops jararaca Através deste estudo verificou-se também que o extrato etanólico de Piper tuberculatum, bem como seu composto isolado, o Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico, foram capazes de inibir a nocicepção induzida pela injeção intraplantar do veneno de Bothrops jararaca (Figuras 34 e 35, respectivamente). A inibição alcançada pelo extrato etanólico foi igual a 39 ± 4%, enquanto que o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico alcançou uma inibição de 67 ± 9% e DI50 Tempo de reação (s) igual a 8,48 (2,44 – 29,45) mg/Kg. 400 * 300 * *** 200 100 0 Controle 30 100 300 1000 Extrato Bruto (mg/kg, v.o.) Figura 34: Efeito do extrato etanólico (extrato bruto) de Piper tuberculatum administrado por via oral, na nocicepção induzida pelo veneno de Brothops jararaca (1 µg, i.pl.) em camundongos. Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 9). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para * p < 0,05 e *** p < 0,001. 74 Tempo de reação (s) 400 300 *** 200 *** *** 100 0 Controle 0,1 1 10 100 TMDC (mg/kg, i.p.) Figura 35: Efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico isolado de Piper tuberculatum Jacq administrado por via intraperitoneal, na nocicepção induzida pelo veneno de Brothops jararaca (1 µg, i.pl.) em camundongos. Os resultados estão expressos como médias erro padrão das médias (n= 5 a 10). A comparação entre os grupos foi realizada através da análise da variância (ANOVA) seguida do teste de Newman Keuls. Diferente do grupo controle para *** p < 0,001. 75 6. DISCUSSÃO Os estudos científicos são de suma importância para validar o uso dos vegetais por parte da população e prover novos fármacos viáveis na busca do alívio de males que acomete essa mesma população. Desta forma pode-se ter os novos fitofármacos e seus compostos isolados, avaliados e validados sob o criterioso padrão de investigação científica até dar aos mesmos o rótulo de fármaco. O presente estudo mostrou pela primeira vez a presença do Ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico nos frutos da espécie Piper tuberculatum Jacq, bem como o isolamento e identificação dos compostos Dihidropipartina e Piplartina nos frutos dessa espécie. Também mostrou pela primeira vez que, quando administrado sistemicamente, os extratos etanólico, hexânico, diclorometano, acetato de etila e metanólico apresentaram atividade antinociceptiva, bem como os compostos isolados Dihidropiplartina, Piplartina e o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico, tendo, este último sido escolhido para continuidade dos trabalhos em função do seu efeito antinociceptivo ser superior aos outros compostos, em camundongos, contra dor visceral, através da injeção intraperitoneal de ácido acético em ratos. Além disso, foi demonstrado que o ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico apresentou importante atividade antinociceptiva induzida pelo veneno de cobra, como sugerido através do uso popular desta planta como analgésico, sedativo e antídoto pela mordedura de cobra (ARAUJO-JUNIOR et al., 1999). Os dados mais relevantes deste trabalho foram: (1) o isolamento pela primeira vez do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico dos frutos de Piper tuberculatum Jacq, tendo em vista que esta mesma planta, coletada em Manaus, quando pesquisada não levou ao isolamento do mesmo ácido, mais sim do seu éster metílico (SILVA et al., 2002); (2) os extratos e os compostos isolados Dihidropipartina, Piplatina e o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico obtidos dos frutos de Piper tuberculatum Jacq apresentarem ação antinociceptiva significante no modelo de dor visceral em camundongos, quando administrado pela via oral, reduzindo de maneira dose-dependente o número de 76 contorções abdominais induzida pelo ácido acético; (3) a ação antinociceptiva do ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico no modelo da capsaicina; (4) a ação antinociceptiva do Ácido 3,4,5- trimetóxi-dihidrocinâmico não foi revertida pelo pré-tratamento dos animais com naloxona; (5) apresentação de atividade antinociceptiva pelo Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico, no modelo de nocicepção química induzido pela injeção intraplantar de glutamato; (6) a ação antinociceptiva do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico induzida pela injeção intratecal de bradicinina; (7) O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico apresentou efeito antiinflamatório no modelo de pleurisia em camundongos; (8) o extrato etanólico e o Ácido 3,4,5- trimetóxi-dihidrocinâmico também apresentaram atividade antinoceptiva contra a nocicepçãp pela injeção intraplantar do veneno de Brothops jararaca. A análise espectroscópica dos compostos Pip, Dih-Pip e TMDC, mostrou que os metabolitos isolados dos frutos da planta Piper tuberculatum são Piplartina, Dihidropiplartina e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico respectivamente. O O O H3CO H3CO O N N H3CO H3CO OCH3 OCH3 Pip (Piplartina) Dih-Pip (Dihidropiplartina) O H3CO OH H3CO OCH3 TMDC (Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico) 77 Os espectros de RMN-1H dos três compostos isolados, Pip, Dih-Pip e TMDC apresentaram absorção em 6,47 para Dih-Pip e TMDC e em 6,81 para o composto Pip, que levando em consideração a integração pode ser correlacionado a dois átomos de hidrogênio ligados a um anel aromático, semelhante ao sistema de anel aromático tetra-substituído proposto para Piplartina 14 , Dihidropiplartina 25 e Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico 34 . Uma mesma absorção, nestes espectros dos diferentes compostos, em aproximadamente 3,89, que pela integração corresponde a nove átomos de hidrogênio, é compatível com a presença de três grupos metoxilas. Somente o espectro protônico do composto Pip apresentou duas absorções em 7,68 (1H, d, J=15,8 Hz) e 7,48 (1H, d, J=15,8 Hz) que são compatíveis com uma ligação dupla trans-carbono-carbono presente na molécula da Piplartina entre os carbonos C7 e C8 respectivamente. Isso se corrobora quando se compara com as absorções obtidas para esses mesmos carbonos ( 6,71 (C7) e 7,48 (C8)) do espectro protônico do isômero Cis (8(Z)-N-12,13,14-trimetóxicinamoila Δ3-piridin2-ona [26]) obtido e caracterizado por Navickiene (2000) Segundo análise RMN-13C BB, se pode confirmar a presença de uma dupla ligação nos carbonos 7 e 8 da molécula da Piplartina quando comparado com a Dihidropiplartina já que os espectros apresentaram 10 e 8 carbonos olefínicos respectivamente. O estudo destes espectros de ressonância carbono 13 BB, também revelou para a molécula do composto Pip a presença de dois carbonos (C9 ( 168,50 e C1’ ( 165,3)) de grupos carbonilas , insaturados propostos na molécula de Piplartina; no caso da molécula de Dihidropiplatina se evidenciou um carbono pertencente a um grupo carbonila , -insaturadas em 165,1 (carbono 1’) e a outro a um grupo carbonila não-conjugado absorvendo em 175,1 (carbono 9), já no composto TMDC observou-se a presença deste mesmo átomo de carbono de um grupo carbonila não-conjugado (C9) absorvendo em 178,1. A análise dos espectros RMN 13 C BB confirmou a presença de três grupamentos metoxilas presentes no anel aromático dos três compostos. Os espectros de massa obtidos ratificaram as propostas de estruturas químicas para Pip e TMDC. O espectro de massa de Pip exibiu um pico íon molecular em M+ em m/z 317 u.m.a compatível com fórmula molecular 78 C17H19NO5 e com uma molécula contendo nove graus de insaturações como é caso da Piplartina. O espectro de massa do Ácido 3,4,5-trimetóxi- dihidrocinâmico, fórmula molecular C12H1605 contendo 5 graus de insaturações, apresenta um pico íon molecular em M+ em m/z 240 u.m.a, compatível com o espectro obtido para o composto TMDC. Baseado na estrutura química do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico, o mesmo , enzimaticamente, pode ser precursor de Piplatina e Dihidropiplartina durante o metabolismo secundário da planta. A estrutura química dos compostos evidencia a diferença entre o composto Pip e Dih-Pip pela dupla ligação entre o C7 e C8 presente em Pip, porém o composto TMDC apresenta um grupamento ácido livre. A atividade dos antiinflamatórios não esteroidais frequentemente não está relacionada do ponto de vista químico, porém a maioria consiste em ácidos orgânicos (GOODMAN & GILMAM , 2003). Nota-se que o composto TMDC apresenta quimicamente esta característica o que poderia sugerir sua melhor resposta farmacológica em relação aos demais, pois facilita a acetilação irreversível na enzima ciclooxigenase, característica do mecanismo de ação da aspirina, que promove inibição na biossíntese das prostaglandinas e dos autacóides envolvidos no processo inflamatório e de dor. O interesse pelo estudo de novos fármacos de origem vegetal bem como o interesse para o uso clínico de novas substâncias com atividade analgésicas, utilizadas principalmente para o tratamento de vários tipos de dor (tanto de origem neurogênica quanto inflamatória), vem aumentando significativamente e vários modelos de nocicepção em animais de laboratório foram desenvolvidos para verificar a atividade analgésica de extratos e compostos. Entre os modelos de nocicepção utilizados neste trabalho, o teste das contorções abdominais, induzidas pelo ácido acético, é descrito como um típico modelo para avaliar a dor de origem inflamatória, pouco específico, mas com boa sensibilidade, sendo uma ferramenta de triagem para avaliação da atividade analgésica e antiinflamatória de novos agentes (IKEDA et al., 2001; LE BARS et al., 2001). Neste modelo, a administração de um agente irritante para membrana serosa, como o ácido acético, provoca comportamentos estereotipados em camundongos e ratos, que são caracterizados por contorções abdominais, 79 redução e incoordenação da atividade motora. Estes comportamentos são considerados reflexos e evidenciam a dor visceral (LE BARS et al., 2001). Os resultados indicaram que o extrato etanólico e os extratos hexânico, diclorometano, acetato de etila e metanólico obtidos da espécie Piper tuberculatum Jacq inibiram de modo dependente da dose a resposta provocada pela injeção do ácido acético. Esta foi a primeira descrição farmacológica deste tipo na literatura. Quando comparados com a aspirina, um antiinflamatório não esteroidal bem conhecido, o extrato etanólico e os extratos acetato de etila, diclorometano, e metanol, foram 1,8 a 2,4 mais potentes em inibir a indução nociceptiva, enquanto o extrato hexano foi apenas 0,7 vezes menos potente que a aspirina no modelo de dor visceral. Entretanto, os compostos isolados foram mais potentes, quando comparados com a aspirina em inibir as contorções abdominais. O TMDC apresentou a menor Dl50 sendo 7709,7 vezes mais potente que a aspirina, enquanto a Dih-Pip e a Pip foram 341,4 e 4,4 vezes mais potentes respectivamente que o AINES padrão. Este achado pode sugerir que estes compostos contribuem, em parte, pelo efeito antinociceptivo dos extratos diclorometano, acetato de etila e hexânico obtidos dos frutos de Piper tuberculatum, uma vez que os compostos isolados apresentaram maior potencial em inibir a resposta nociceptiva, até mesmo em doses baixas. O composto Pip foi o mais efetivo na inibição da resposta nociceptiva, mas não foi o mais potente entre os compostos testados, sendo o TMDC o mais potente deles em doses baixas. Desta forma pode-se sugerir que os compostos isolados contribuem sinergicamente para a ação do extrato etanólico, uma vez que este extrato foi o mais potente entre os tratamentos orais. A irritação local, provocada pela administração do ácido acético na cavidade intraperitoneal desencadeia a liberação de vários mediadores como a bradicinina, substância P e prostaglandinas, principalmente a PGI2, bem como algumas citocinas como IL-1 TNF- -8 (CORREA et al., 1996; RIBEIRO et al., 2000; IKEDA et al., 2001), modulados por mastócitos e macrófagos. Estes mediadores ativam nociceptores quimiosensíveis que contribuem com o desenvolvimento da dor de origem inflamatória, pois irão estimular neurônios aferentes primários aumentado a liberação de aspartato e glutamato no fluido cerebroespinhal. Dessa forma, o resultado obtido neste trabalho sugere que o 80 efeito antinociceptivo dos extratos e compostos isolados da espécie Piper tuberculatum Jacq pode estar relacionado à inibição da liberação de mediadores pró-inflamatórios, induzida pelo ácido acético. Outra possibilidade é a inibição da ativação da cascata do glutamato causada pelo ácido acético. Qualquer hipótese merece maiores estudos futuros. Recentemente, Fontenele e col, (2009) mostraram que a Piplartina inibiu significativamente a agregação plaquetária induzida pelo ácido araquidônico, colágeno ou ADP. O autor sugere que a ação antiplaquetária poderia estar relacionada com a inibição da atividade da ciclooxigenase. Desta maneira, podese sugerir que os extratos e compostos obtidos da espécie Piper tuberculatum Jacq promovem efeito antinociceptivo através da inibição da ciclooxigenase. Entretanto isto é apenas uma especulação e estudos adicionais são necessários para elucidar as propriedades antinociceptivas dos extratos bem como o mecanismo de ação dos compostos isolados. Os resultados obtidos no presente estudo também demonstraram que o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não apresentou qualquer interferência sobre a atividade locomotora, causando incoordernação motora ou ainda efeitos relaxantes sobre a musculatura, assegurando que o efeito antinociceptivo observado não está relacionado a um destes efeitos inespecíficos. Outro modelo empregado neste trabalho foi o de nocicepção induzida pela formalina. Este modelo consiste na injeção intraplantar ou subcutânea desta substância. A resposta provocada pela formalina constitui duas fases de nocicepção: uma fase inicial e uma tardia, que parecem envolver mediadores químicos diferentes (TJOLSEN & HOLE, 1997; SANTOS et al., 1999; VANEGAS & SCHAIBLE, 2004). A fase inicial é caracterizada pela dor de origem neurogênica causada pela estimulação química direta dos nociceptores das fibras sensoriais aferentes, principalmente fibras do tipo C. A fase tardia é representada pela dor de origem inflamatória que é desencadeada por uma combinação de estímulos que incluem inflamação nos tecidos periféricos e mecanismos de sensibilização espinhal e central (TJØSEN et al., 1992; TJØLSEN & HOLE, 1997). Vários trabalhos têm demonstrado que a administração intraplantar de formalina em roedores produz significativo aumento dos níveis espinhais de diferentes mediadores como aminoácidos excitatórios, neuropeptídeos, PGE2, óxido nítrico 81 e cininas (MALMBERG e YARSH, 1995; SANTOS & CALIXTO, 1997; SANTOS et al., 1998; OMOTE et al., 1998). Para o estudo da nocicepção induzida pela formalina foram utilizados os compostos isolados Piplartina, Dihidropiplartina e o Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico. Com os resultados obtidos neste trabalho foi possível mostrar que o composto Dihidropiplartina não foi capaz de inibir ambas as fases de nocicepção causada pela formalina. O composto Piplartina não foi capaz de inibir a primeira fase da nocicepção e na segunda fase alcançou uma inibição de 53±3% na dose de 1 mg/Kg e uma Dl50 de 0,5(0,32 – 0,80) mg/Kg. O ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico (TMDC 0,03 – 3 mg/Kg) inibiu de forma dosedependente a nocicepção de origem neurogênica, porém não foi capaz de alterar a fase inflamatória da nocicepção induzida pela formalina. A Dl 50 calculada para a 1ª fase foi de 0,20 (0,14 – 0,29) mg/Kg, com inibição de 72 ± 5% na dose de 3mg/Kg. Estes dados reforçam os indícios de que a planta em questão possui um importante efeito antinociceptivo e antiinflamatório, pois é nesta fase que ocorre a liberação de mediadores pró-inflamatórios, ocorrendo a ativação de neurônios aferentes sensibilizados, devido à liberação anterior de mediadores neuroativos (TJOLSEN & HOLE, 1997; SANTOS & CALIXTO, 1997; SANTOS et al., 1999; VANEGAS & SCHAIBLE, 2004). Para dar continuidade aos estudos selecionou-se o ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico por este ser considerado o mais potente entre os três compostos isolados de Piper tuberculatum Jacq testados no modelo do ácido ácido acético e da formalina, e pelos escassos estudos na literatura sobre a ação farmacológica desse composto, para, através de testes em outros modelos de nocicepção, possibilitar a elucidação de um possível mecanismo de ação. Apesar de ser mais efetivo na fase inicial da nocicepção evocada pela injeção de formalina, fase neurogênica, onde ocorre a estimulação direta dos nociceptores das fibras sensoriais aferentes e não na fase inflamatória da nocicepção induzida pela formalina, o ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não foi capaz de reduzir, o edema de pata causado pela administração intraplantar de formalina. Este resultado nos sugere que o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não interfere na liberação periférica dos mediadores pró-inflamatórios que contribuem com a formação do edema, mas sim, seu efeito pode estar 82 relacionado a uma ação inibitória sobre a condução nociceptiva espinhal ou central. O efeito do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico foi avaliado no modelo de nocicepção neurogênica, induzida pela administração intraplantar de capsaicina em camundongos. Os dados apresentados neste trabalho indicam que o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico, administrado por via intraperitoneal, foi capaz de reduzir a nocicepção causada pela capsaicina de maneira significativa em dose baixa a partir de 0,1mg/Kg , corroborando com o resultado encontrado no teste da nocicepção induzida ácido acético. A capsaicina (8-metil-N-vanilil-6-nonenamida) é o componente ativo encontrado em pimentas vermelhas, sendo uma valiosa ferramenta farmacológica para o estudo de drogas que atuam modulando a transmissão nociceptiva em mamíferos através dos neurônios sensoriais primários do tipo C e Aδ (HOLZER, 1991; JANCSO, 1992). Sua ação irritante e neurotóxica promove, quando administrada por via intraplantar, reação dolorosa caracterizada por mordidas e lambidas na pata (JULIUS & BASBAUM, 2001; LE BARS et al., 2001). Estudos demonstraram que o estímulo nociceptivo causado pela capsaicina é mediado pela ativação do receptor vanilóide (TRPV1), um canal iônico não seletivo encontrado nas fibras sensoriais de pequeno diâmetro presentes nas raízes do corno dorsal e no gânglio trigêmeo (CATERINA et al., 1997). Estudos indicam que quando administrada, a capsaicina promove liberação periférica de vários mediadores, aminoácidos excitatórios, óxido nítrico e taquicininas que contribuem com a transmissão da informação nociceptiva (SAKURADA et al., 1996; SAKURADA et al., 1992). Está bem estabelecido que os aminoácidos excitatórios, principalmente o glutamato, é o neurotransmissor encontrado na maioria das sinapses excitatórias rápidas no sistema nervoso de mamíferos e está envolvido em processos fisiológicos (memória e aprendizado) e em algumas patologias (neurodegeneração crônica e aguda) (GAVIRAGI, 2000). Além disso, está bem descrito na literatura que o glutamato exerce um papel crítico no processo de transmissão da dor até estruturas supraespinhais, sendo liberado na medula espinhal, após lesão tecidual ou em processos inflamatórios (ZHOU et al., 1996; DICKENSON, 1997; CARLTON, 2001; BEIRITH et al., 2003). 83 Os receptores glutamatérgicos são categorizados em dois grupos distintos: os ionotrópicos e os metabotrópicos. Os receptores ionotrópicos são classificados em três subtipos de acordo com sua permeabilidade a íons e o tipo de ligante, sendo denominados N-metil-D-aspartato (NMDA), -amino-3-hidroxi5-metil-4-isoxazolepropionato (AMPA) e cainato. Os metabotrópicos são divididos em oito subtipos, todos acoplados à proteína G (GAVIRAGHI, 2000). De maneira geral, a ativação de todos os tipos de receptores sensíveis ao glutamato participam na indução, modulação ou manutenção da dor (BEIRITH et al., 2003). Em concordância com essas afirmações, dados da literatura demonstram que substâncias capazes de bloquear os receptores glutamatérgicos tanto ionotrópicos quanto metabotrópicos, apresentam importante efeito antinociceptivo em diferentes espécies de mamíferos, inclusive em humanos (LUTFY et al., 1997; NEUGEBAUER, 2002; WIECH et al., 2004). Em um estudo, Beirith e colaboradores, em 2002 e 2003, demonstraram que o glutamato quando administrado por via intraplantar em roedores, desencadeia um comportamento nociceptivo rápido e de curta duração, associado à formação de edema de pata, que é desencadeado de maneira dependente da dose administrada de glutamato. A resposta nociceptiva estava fortemente relacionada à ativação de receptores NMDA e não-NMDA (AMPA, cainato e metabotrópico). O edema pareceu ser mediado principalmente por receptores glutamatérgicos do tipo não–NMDA, pelo NO e taquicininas. Os resultados obtidos no presente estudo mostraram que o Ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico, administrado por via intraperitoneal, apresentou importante atividade antinociceptiva no modelo do glutamato. Nossos dados também demonstraram que o efeito antinociceptivo do extrato pode ser explicado, em parte, por uma possível interação de um ou mais componentes do extrato com receptores glutamatérgicos em nível periférico ou central, porém esta interação não estaria interferindo com a liberação dos mediadores envolvidos na formação do edema como as taquicininas e NO. Os resultados do presente trabalho demonstraram que o Ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico reduziu, de maneira significativa, a nocicepção causada tanto pela administração i.p. de glutamato (agonista glutamatérgico). 84 Os resultados obtidos neste teste sugerem que o efeito antinociceptivo obtido no modelo da administração intraplantar do glutamato seja em parte devido à interação com receptores glutamatérgicos ionotrópicos sensíveis ao NMDA. Estes dados também sugerem que este mecanismo pode ainda estar envolvido indiretamente no efeito antinociceptivo do Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico em outros modelos de nocicepção realizados neste trabalho, como o da formalina e capsaicina, visto que estudos evidenciam que aminoácidos excitatórios são liberados na medula espinhal ou na pata em resposta a injeção intraplantar de formalina, capsaicina ou substância P, ou ainda em processos inflamatórios (BEIRITH et al., 2002). Citocinas como IL-1 e TNF- participam ativamente de processos inflamatórios e da transmissão nociceptiva (IKEDA et al., 2001; ITO et al., 2001; VANEGAS e SCHAIBLE, 2001). A citocina inflamatória IL-1 é produzida e secretada sobre condições patológicas associadas a neuropatias, crescimento tumoral e doenças inflamatórias crônicas como artrite reumatóide (SOMMER & KRESS, 2004). O TNF- é considerado uma citocina inflamatória protótipo, devido seu papel de iniciar a cascata de ativação de outras citocinas (IL-1 , IL-6 e IL-8), sendo que o ponto final da cascata resulta na ativação da cicloxigenase-2 (COX2) (SOMMER & KRESS, 2004). A IL-1 e o TNF- são produzidas e liberadas durante a inflamação periférica e também, nas mesmas condições, são liberados por células presentes no SNC, como células de Schwann, mononucleares (SOMMER & KRESS, 2004; KLEINSCHNITZ et al., 2004) e pela glia (VITKOVIC et al., 2000; WIESELER-FRANK et al., 2004). Além disso, um recente trabalho, realizado por Kleinschnitz e colaboradores (2004), demonstrou que os receptores glutamatérgicos NMDA modulam a expressão de citocinas inflamatórias, como a IL-1 e o TNF- em modelos de lesão de nervo periférico, em camundongos. Este resultado fornece subsídios, indicando que o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico , pode interferir direta ou indiretamente com a ação de citocinas, ou ainda inibir a resposta nociceptiva desencadeada pela IL-1 e TNF- , atuando em receptores glutamatérgicos ionotrópicos tipo NMDA. 85 O tratamento com Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico em doses que causaram efeito nociceptivo nos modelos anteriores, não foi capaz de causar mudança significativa sobre a atividade locomotora dos animais quando avaliados durante 5 minutos no teste de campo aberto, demonstrando que a administração de Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico apresenta ausência de efeito sedativo e/ou não age sobre a performance locomotora, descartando assim, a hipótese de que a redução do número de contorções abdominais esteja relacionada a um prejuízo motor induzido pela administração do composto. A atividade do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico também foi avaliada na hiperalgesia térmica e mecânica induzida por diferentes agentes hiperalgésicos. Como relatado anteriormente, a injeção de ácido acético intraperitoneal e de formalina na pata provoca a liberação de muitos mediadores relacionados com a reação inflamatória, como citocinas IL-1 , IL-6, TNF- , PGs, BK, que são responsáveis pelo processo de inflamação tecidual e pela sensibilização de nociceptores, que leva a hiperalgesia (MILLAN, 1999; LOESER & TREEDE, 2008). A injeção de BK e PGE2 na pata de ratos causa hiperalgesia, tanto em modelos térmicos quanto mecânicos (LUCENA et al.,2007). Alguns estudos sugerem que a hiperalgesia induzida pela PGE2 poderia ser mediada pela modulação da corrente dos canais iônicos e ativação direta de PKA (PORTANOVA et al., 1996; MALMBERG et al., 1997; KHASAR et al., 1999a). Por outro lado, a hiperalgesia mediada pela BK parece estar associada a sensibilização periférica através da ativação de PKC e receptores TRPV1, modulando a liberação de vários mediadores (SZALLASI & BLUMBERG, 1993; FERREIRA et al., 2004). O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico foi capaz apenas de reverter a hipernocicepção induzida pela injeção de BK e de PMA na hipernocicepção térmica e mecânica, mas não reverteu o efeito hipernociceptivo induzido pela prostaglandina e pela carragenina, a partir desses resutados, pode-se sugerir que um dos mecanismos pelo qual o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico possa promover a diminuição da sensação dolorosa seja através da inibição da ativação de PKC e receptores vanilóides, já que dados da literatura mostram que a nocicepção promovida pela formalina e pelo ácido acético são sensíveis a inibidores ou a deleção gênica de PKA e/ou PKC (MALMBERG et al.,1997, 86 KHASAR et al., 1999b). O que é corroborado pela inibição da nocicepção no modelo da capsaicina descrito anteriormente, onde houve bloqueio da nocicepção. Quando administrado bradicinina na pata dos animais, o Ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico não foi capaz de inibir a nocicepção, mas teve uma significativa resposta na inibição nociceptiva induzida pela injeção intratecal de bradicinina, sugerindo uma possível ação central do Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico . Outro mecanismo de ação investigado foi o envolvimento do sistema opióide na atividade antinociceptiva do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico . Os efeitos centrais dos opióides na transmissão da dor, por interação com seus receptores ( , , ), no corno dorsal da medula espinhal e regiões supraespinhais, têm sido reconhecidos por algum tempo. Em adição, os receptores opióides estão presentes também nos terminais periféricos das fibras aferentes sensoriais (SAWYNOK, 2003). Inúmeros estudos comportamentais têm sido utilizados para examinar os efeitos antinociceptivos dos opióides exógenos, como a morfina e também de extratos obtidos a partir de plantas medicinais. Dentro deste contexto, este trabalho também demonstrou que quando administrada por via subcutânea, a morfina foi capaz de reverter totalmente a nocicepção causada pela administração intraplantar de naloxona. Este efeito se deve a sua ligação a receptores opióides localizados em vários níveis de transmissão. Durante nossos experimentos, também foi observado que a naloxona, um antagonista não específico de receptores opióides, reduziu significativamente a nocicepção causada pela morfina, contudo, não reverteu a nocicepção promovida pelo Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico . Estes resultados sugerem que a atividade antinociceptiva do Ácido 3,4,5trimetóxi-dihidrocinâmico parece não estar envolvida com o sistema opióide. Do ponto de vista farmacológico, este é um método eficiente para verificar a atividade analgésica de substâncias com características semelhantes aos opióides (LE BARS et al., 2001), uma vez que a morfina, administrada sistemicamente, foi capaz de suprimir respostas de neurônios espinhais ao estímulo térmico nocivo da cauda (DOUGLASS & CARSTENS, 1997). 87 No presente trabalho podemos constatar que o Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico apresentou importante atividade antiinflamatória quando analisada no modelo de pleurisia induzida pela administração intrapleural de carragenina reduzindo o extravazamento plasmático e a migração total de células, também reduziu tanto a migração de células mononucleares quanto a de células polimorfonucleares para a cavidade pleural. Trabalhos descritos anteriormente (HENRIQUES et al., 1990; HENRIQUES, 1993), demonstraram que a administração de carragenina na cavidade pleural de camundongos induz uma resposta inflamatória, bifásica, com aumento significativo tanto do número total de células quanto da exsudação. Dessa forma, foi determinado que este padrão de resposta é precedido por duas fases, sendo uma precoce (primeira fase) e a outra tardia (segunda fase) da resposta inflamatória induzida pela carragenina em camundongos. Além disso, foi observado que a administração de carragenina na cavidade pleural promoveu um aumento gradual do número total de leucócitos, principalmente de neutrófilos, cujo pico foi em torno de 4h seguido do decréscimo por volta de 5h, retornando aos valores basais dentro de 24h. Paralelamente, também foi observado um aumento da exsudação, avaliada pelo extravasamento de azul de Evans na cavidade pleural, com picos entre 4 e 5h da indução da pleurisia. Deste modo, a carragenina tem sido o agente irritante mais utilizado para o estudo do processo inflamatório na cavidade pleural, principalmente por induzir intensa reação inflamatória (DE BRITO, 1989). Alguns estudos mostram que a resposta inflamatória induzida pela carragenina é, em parte mediada pela bradicinina (SALEH et al., 1997), sendo que a carragenina também promove a liberação de outros agentes como os prostanóides, histamina e serotonina (DE BRITO, 1989), observando-se que a liberação da bradicinina pode estar ligada com um processo proteolítico produzido pela própria carragenina (DI ROSA & SORRENTINO, 1968). Os resultados mostram que o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico foi capaz de inibir de forma significativa o influxo de leucócitos (migração), principalmente de neutrófilos, para a cavidade pleural. Dessa forma, o dado do presente trabalho sugere que um ou mais componentes do extrato estejam 88 promovendo o efeito observado, principalmente por interferir na atividade dos mediadores pró-inflamatórios principalmente ligados à migração celular. O modelo de inflamação, induzido pela injeção intraplantar de carragenina, é considerado um importante teste para pesquisa de drogas antiinflamatórias (CRUNKHORN & MEACOCK, 1971; HENRIQUES et al., 1987). A administração de carragenina na pata promove intensa vasodilação e extravasamento plasmático mediados pela liberação de substâncias como cininas, taquicininas, óxido nítrico, prostanóides, bem como a liberação de serotonina e histamina a partir de mastócitos (CRUNKHORN & MEACOCK, 1971; ALVES et al., 1999). Além de desencadearem a formação do edema, estes mediadores contribuem fortemente com a migração celular, principalmente de neutrófilos para o sítio inflamatório, como demonstrado por Henriques e colaboradores (1987) através da análise histológica de região subplantar da pata, realizado 4 horas após a administração de carragenina. Além de ser utilizada como antiinflamatória e analgésica, a espécie Piper tuberculatum Jacq também apresenta indicação popular para “mordedura de cobra”. Que envolvem componentes relacionados à dor e inflamação. Desta forma, foi investigada a antinocicepção induzida pelo extrato etanólico e o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico sobre a nocicepção induzida pelo veneno de Brothops jararaca. Observou-se que tanto o extrato etanólico, quanto o Ácido 3,4,5-trimetóxidihidrocinâmico foram capazes de inibir a nocicepção induzida pela injeção intraplantar do veneno de Bothrops jararaca , porém a inibição causada pelo Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico foi mais significativa e em dose menor que o extrato. Em síntese, os resultados do presente trabalho, confirmam alguns de seus usos populares e estendem os dados descritos na literatura, indicando que o extrato de Piper tuberculatum Jacq apresenta atividade antinociceptiva, em modelos de nocicepção química induzida pelo ácido acético. Os resultados apresentados para o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico , indéditos no modelo de dor, mostram que o mesmo apresenta atividade antinociceptiva em modelos de nocicepção química induzida pelo ácido acético, formalina, capsaicina e glutamato. Os resultados apresentados são de grande importância, uma vez que a antinocicepção induzida Ácido 3,4,5-trimetóxi89 dihidrocinâmico pode ser dependente de uma interação com receptores ionotrópicos glutamatérgicos tipo NMDA e da inibição da atividade de citocinas pró-inflamatórias (TNF- e IL-1 ). Além disso, com este trabalho foi possível confirmar, baseando-se no uso popular da espécie Piper tuberculatum Jacq, que o a planta possui o composto Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico, isolado pela primeira vez nos frutos dessa espécie e que o mesmo possui atividade antiinflamatória parcial no modelo de pleurisia. Outro dado relevante aqui demonstrado foi a atividade antinociceptiva na nocicepção induzida pelo veneno de Brothops jararaca, apresentada pelo extrato e o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico. Este dado é particularmente interessante, uma vez que esta atividade está ligada ao uso popular da planta. Estudos adicionais devem ser realizados com a finalidade de caracterizar de forma mais detalhada os mecanismos envolvidos neste efeito. Estudos adicionais deverão também ser realizados para a confirmação do preciso mecanismo de ação envolvido na atividade antinociceptiva do ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico. Estudos químicos estão em progresso para caracterizar outros compostos a partir do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico , que talvez possam contribuir ainda mais seu potencial antinociceptivo e antiinflamatório. Neste contexto, o resultado obtido neste estudo nos fornece base farmacológica para utilização da Piper tuberculatum Jacq validando seu uso popular e indicando seu potencial terapêutico para o desenvolvimento de novos fitofármacos com propriedades analgésicas e antiinflamatórias. 90 7. CONCLUSÕES De acordo com os resultados apresentados nesta tese podemos inferir que: Foram isolados e identificados, mediante espectroscopia RMN-1H, RMN 13 Ce Massa, os compostos Piplartina, Dihidropiplartina e Ácido 3,4,5,-trimetóxidihidrocinâmico dos frutos de Piper tuberculatum Jacq. Foi isolado e identificado pela primeira vez o Ácido 3,4,5,-trimetóxidihidrocinâmico da espécie Piper tuberculatum. É possível especular que o Ácido 3,4,5,-trimetóxi-dihidrocinâmico seja um precursor biossintético das amidas Piplartina e Dihidropiplartina. A administração sistêmica (v.o. e i.p.) dos extratos e compostos isolados de Piper tuberculatum Jacq causou antinocicepção no modelo das contorções abdominais induzidas pelo ácido acético. O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico foi o mais potente entre os três compostos isolados de Piper tuberculatum Jacq testados no modelo do ácido acético e da formalina. O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico inibiu de forma dose-dependente a nocicepção de origem neurogênica, porém não foi capaz de alterar a fase inflamatória da nocicepção induzida pela formalina. O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico foi capaz de inibir de maneira significativa a nocicepção induzida pela injeção intraplantar de glutamato e capsaicina em camundongos. 91 O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não reverteu o efeito hipernociceptivo induzido pela carragenina e pela prostaglandina E2 , porém foi capaz de reverter a hipernocicepção, tanto térmica quanto mecânica, induzida pela injeção de bradicinina e PMA. O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não exerce seu efeito antinociceptivo através da interação com o sistema opóide, uma vez que a naloxona (antagonista opióide) não foi capaz de reverter seu efeito antinociceptivo, acessado no modelo de contorções abdominais induzidas pelo ácido acético. O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não induziu alteração nos testes da barra giratória e campo aberto em camundongos, podendo-se afirmar que seu efeito antinociceptivo não se deve a algum efeito sedativo ou músculo-relaxante. O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não foi capaz de inibir a nocicepção espontânea induzida pela administração de bradicinina na pata, mas inibiu a nocicepção induzida pela administração central (i.t.) do mesmo agente algogênico. O Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico reduziu significativamente o extravasamento plasmático e a migração total de células na inflamação, tanto mononucleares quanto polimorfonucleares. O extrato etanólico e o Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico, foram capazes de inibir a nocicepção induzida pela injeção intraplantar do veneno de Bothrops jararaca, embasando seu uso etnofarmacológico. Os mecanismos de ação envolvidos na ação antinociceptiva e antiinflamatória do Ácido 3,4,5-trimetóxi-dihidrocinâmico não estão totalmente esclarecidos, mas pode-se afirmar que envolvem a interação com receptores TRPV1 (sensíveis à capsaicina), bradicinina e a sinalização intracelular induzida pela proteína quinase C. 92 REFERÊNCIAS ALMEIDA, T. F.; ROIZENBLATT, S.; TUFIK, S. Afferent pain pathways: a neuroanatomical review. Brain Res.1000: 40-56, 2004. ALVES, R.; CAMPOS, M. M.;SANTOS, A.R.S.; CALIXTO, J.B. Receptor subtypes involved in tachykinin-mediated edema formation. Peptides. 20: 921927, 1999. ARAÚJO-JÚNIOR, J.X.; CHAVES, M.C.O.; CUNHA, E.V.L., GRAY, A.I. . Cepharanone B from Piper tuberculatum. Biochemical Systematics and Ecology. 27: 325-327.,1999. AKERELE, O, Summary of WHO Guidelines for the Assessment of herbal Medicines. Herbal Gram. 28: 13-16, 1993. BARROSO, G.M. Sistemática de Angiosperma do Brasil. São Paulo: EDUSP. .1, 1978. BEIRITH, A.; SANTOS, A.R.S.; CALIXTO, J.B. 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Valdir Alves FACUNDO1, Aline Roberta POLLLI2, Rosely Valéria RODRIGUES3, Júlio S. L Teixeira MILITÃO4, Rodrigo guerino STABELLI5, Cosuelo Tamiris CARDOSO6 RESUMO Os óleos essenciais dos frutos e talos finos de Piper tuberculatum e das raízes de P. hispidum, coletados no estado de Rondônia, foram obtidos por hidrodestilação e analisados por GC e GC-MS. Foram identificados como constituintes majoritários, nos óleos dos frutos e talos finos de P. tuberculatum, o óxido de cariofileno (32,1%) e (26,6%) e o (E)-cariofileno (17,7%) e (12,3%), respectivamente. No óleo essencial das raízes de P. hispidum, foram identificados, como constituintes majoritários, o dilapiol (57,5%), a elemicina (24,5%) e o apiol (10,2%). Do extrato etanólico dos frutos de P. tuberculatum, foram isolados os esteróides β-sitosterol e estigmasterol, as amidas piplartina e dihidropiplartina e um derivado do ácido cinâmico, o ácido 3,4,5-trimetoxi-dihidrocinâmico. PALAVRAS-CHAVE: Piper tuberculatum, Piper hispidum, óleo essencial, amidas. Fixed and volatile chemical constituents from stems and fruits of Piper tuberculatum Jacq. and from roots of P. hispidum H. B. K. ABSTRACT The essential oils of the fruits and fine stems of Piper tuberculatum and of the roots of P. hispidum, collected in the state of Rondônia, had been gotten by hydrodistillation and analyzed by GC and GC-MS. Caryophyllene oxide - 32,1% in fruits and 26,6% in fine stem, and (E)-caryophyllene - 17,7% in fruits and 12,3% in fine stems, were identified as the major constituents in such parts of P. tuberculatum. In the essential oil of the roots of P. hispidum, dillapiol (57,5%), elemicine (24,5%) and apiole (10,2%) were identified as the most abundant constituents. From the ethanolic extract of the fruits of P. tuberculatum, the steroids β-sitosterol and stigmasterol, the amides piplartine and dihidropiplartine and the derivative of the cinâmico acid 3,4,5-trimethoxy-dihidrocinâmic acid were isolated. KEY WORDS: Piperaceae, Piper tuberculatum, Piper hispidum, essential oil, amides. 1 Universidade Federal de Rondônia, [email protected] 2 Universidade Federal de Rondônia, [email protected] 3 Universidade Federal de Rondônia, [email protected] 4 Universidade Federal de Rondônia, [email protected] 5 Universidade Federal de Rondônia, [email protected] 6 Universidade Federal de Rondônia, [email protected] 743 vol. 38(4) 2008: 733 - 742 Constituintes químicos fixos e voláteis dos talos e frutos de Piper tuberculatum Jacq. e das raízes de P. hispidum H. B. K. INTRODUÇÃO O gênero Piper pertencente à família Piperaceae, encontrase distribuído nas regiões tropicais e subtropicais de todo mundo. Muitas espécies de Piper são usadas para fins curativos em diversas culturas (Bezerra et al., 2007). O histórico do gênero Piper descrito por Parmar et al. (1997), relata o uso de espécies para o tratamento de algumas enfermidades em diferentes povos. Na China, algumas prescrições recomendam o uso das folhas de P. futokasura no tratamento de arritmias cardíacas e da asma. Na Jamaica dores estomacais são tratadas com uma infusão das folhas de P. aduncum e P. hispidum. No México e no Brasil, usa-se as folhas de P. amalago para aliviar dores estomacais e no combate a diversas infecções. Folhas e talos de P. marginatum e P. tuberculatum são utilizadas, na Paraíba, contra picada de cobra e como sedativos (Chaves et al., 2006; Araújo-Junior et al., 1999). Silva et al. (2007) demonstraram que os extratos das folhas e raízes de P. aduncum, uma planta medicinal, apresentaram atividades inseticida sobre adultos de Aetalion sp (cigarrinha). Os óleos essenciais das partes aéreas de plantas dessa espécie, coletadas em diferentes localidades da região Amazônica, apresentaram grandes concentrações do fenilpropanóide dilapiol, o qual foi considerado o responsável pelo efeito inseticida relatado por Maia et al. (1998). Outra espécie de relevante valor comercial é a P. hispidinervum por apresentar um óleo essencial rico em safrol, um fenilpropanóide, muito utilizado nas industrias de cosméticos e inseticidas (Bergo et al., 2005). Recentemente, foi divulgada a atividade larvicida, contra o Aedes aegypti, do óleo essencial de quatro espécies de Piper da região Amazônica, P. gaudichaudianum, P. permucronatum, P. humaytanum e P. hostmanianum (Moraes et al., 2007). P. tuberculatum Jacq e P. hispidum H. B. K, são conhecidas como pimenta d’ardo e jaborandi ou falso-jaborandi, respectivamente, (Araújo-Junior et al., 1999; Albiero et al., 2006). A distribuição geográfica destas duas espécies se estende pelas Américas, do México à Argentina. No Brasil elas ocorrem nos estados do Amazonas, Pará, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, São Paulo e Mato Grosso do Sul (Guimarães e Giordano, 2004). Os estudos da constituição química dos óleos essenciais de P. tuberculatum e P. hispidum têm revelado que os resultados nem sempre são uniformes (Machado et al.,1994; Cysne et al., 2005; Facundo et al., 2005a; Mesquita et al., 2005; Navickiene et al., 2006; Potzernheim et al., 2006). Isto pode ser atribuído à diversidade genética das espécies, ocorrendo uma variedade de quimiotipos. Outros fatores que também podem ser considerados são: a idade foliar da planta, as variáveis ambientais e as metodologias utilizadas pelos diferentes autores. 744 vol. 38(4) 2008: 733 - 742 Entre os constituintes fixos isolados de P. hispidum e P. tuberculatum destacam-se as amidas do tipo isobutílicas, pirrolidínicas, dihidropiridonas, piperidinas, derivados prenilados do acido benzóico, derivados do ácido cinâmico e flavonóides (Parmar et al. 1997). Neste trabalho relata-se a composição química dos óleos essenciais obtidos dos frutos e talos finos de P. tuberculatum e das raízes de P. hispidum, bem como, o isolamento de uma mistura de dois esteróides, 1 e 2, duas amidas, 3 e 4, e um derivado do acido cinâmico, 5, dos frutos de P. tuberculatum. MATERIAL E MÉTODOS Coleta do material As amostras de P. tuberculatum e P. hispidum foram coletadas em abril de 2005 no campus da Universidade Federal de Rondônia. A identificação botânica das plantas foi realizada pelo Dr. José Gomes do herbário do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), onde excicatas encontram-se depositadas sob os números 211724, para P. tuberculatum e 216630, para P. hispidum. Extração dos óleos essenciais Os frutos (1,0 kg) e talos finos (1,8 kg) frescos de P. tuberculatum, e raízes (2,7 kg) frescas de P. hispidum, devidamente triturados foram submetidos a hidrodestilação por 4 horas, utilizando-se extratores de vidro tipo Clevenger modificado. Após a obtenção dos óleos essenciais dos frutos (1,4 mL), talos finos (1,2 mL) de P. tuberculatum e das raízes (1,0 mL) de P. hispidum, foram tratados com sulfato de sódio anidrido para a eliminação de água. Análise dos óleos essenciais Os óleos essenciais foram analisados usando um aparelho Hewlett-Packard modelo 5890 A e um instrumento GC/ MS, modelo 5973, equipado com coluna capilar (30 m x 0,25 mm) dimetilpolisiloxano DB-5 (J&W) (25 m x 0,20 mm, 0,20 µm); gás de arraste: He (fluxo de 1,0 mL/min); as temperaturas do injetor (modelo split): 250º C; detector de ionização de chama (FID): 270º C; temperatura da coluna: 35–180ºC/3ºC/min, 180–250 ºC/10 ºC/min; O volume injetado 0,02 µL de óleo puro. Os espectros de massas: impacto de elétrons a 70 eV. Os diversos constituintes químicos dos óleos essenciais foram identificados através dos estudos dos espectros de massas, complementados por comparação com a biblioteca do aparelho, dados da literatura e os índices retenção (Adams, 1995). Isolamentos dos constituintes químicos fixos Os frutos devidamente secos e triturados de P. tuberculatum (1,3 kg) foram extraídos com etanol (3L x 3) à temperatura Silva et al. Constituintes químicos fixos e voláteis dos talos e frutos de Piper tuberculatum Jacq. e das raízes de P. hispidum H. B. K. ambiente. O solvente foi destilado sob pressão reduzida e forneceu 41 g de uma massa de coloração marrom. Parte deste material (35 g) foi adsorvida em sílica gel (90 g) e a mistura, sob a forma de pastilha, foi colocada em uma coluna cromatográfica e eluída com hexano, clorofórmio, acetato de etila e metanol. A fração obtida em clorofórmio (9,3 g) foi novamente submetida à cromatografia em coluna de gel de sílica e eluída com misturas de hexano e clorofórmio em gradiente de polaridade crescente, obtendo-se 83 frações. As frações de 10 a 19 foram reunidas, após comparação em cromatografia em camada delgada (CCD), e a fração resultante foi purificada por recristalização em clorofórmio, obtendo-se desta forma 35 mg de um sólido branco cristalino, posteriormente identificado como sendo uma mistura de 1 e 2. As frações 32 a 54 foram reunidas, após comparação em CCD, e a fração resultante foi submetida à cromatografia em coluna de sílica gel, eluída com hexano e acetato de etila em gradiente de polaridade crescente, obtendo-se 115,8 mg de 3 (hexano:acetato de etila, 55:45), 21,5 mg de 4 (hexano:acetato de etila, 45:55) e 54,8 mg de 5 (hexano:acetato de etila, 35:65). RESULTADOS E DISCUSSÃO A relação dos constituintes químicos dos óleos essenciais extraídos dos talos finos e frutos de P. tuberculatum e das raízes de P. hispidum, suas quantidades relativas e respectivos índices de retenção (IR) estão representados na Tabela 1. Foram identificados 92,7% dos constituintes químicos detectados do óleo essencial dos talos finos de P. tuberculatum, dos quais 15,2% são monoterpenos e 77,5% são sesquiterpenos. Os constituintes majoritários foram o óxido de cariofileno 32,1% e o (E)-cariofileno 17,7%. Do óleo essencial dos frutos foram identificados 90,4% dos constituintes, sendo 19,4% de monoterpenos e 71,0% de sesquiterpenos e os constituintes majoritários foram (E)-cariofileno com 12,3% e o óxido de cariofileno 26,6%. A identificação dos constituintes químicos do óleo essencial das raízes de P. hispidum foi de 99,9%, sendo 92,2% representados por fenilpropanóides, correspondendo aos três componentes majoritários dilapiol 57,5%, elemicina 24,5% e apiol 10,2%. Do extrato etanólico dos frutos de P. tuberculatum foram obtidos e identificados dois esteróides, o β-sitosterol 1 e o stigmasterol 2, em mistura, duas amidas, a piplartina 3 e a dihidropiplartina 4, e um derivado do acido cinâmico, o ácido 3,4,5-trimetoxi-dihidrocinâmico 5 (Figura 1). 745 vol. 38(4) 2008: 733 - 742 Tabela 1 - Composição química (%) dos talos finos e frutos de P. tuberculatum e raízes de P. hispidum. P. tuberculatum P. hispidum Componentes (IR) Talos finos Frutos Raízes α-pineno 930 4,4 4,9 canfeno 949 0,5 verbeneno 961 0,1 0,2 sabineno 969 3,3 4,7 β-pineno 975 0,1 0,1 α-felandreno 1003 2,8 p-cimeno 1025 0,9 limoneno 1028 2,6 3,6 1,3 canfonelal 1123 1,5 0,6 - trans-pinocarveol pinocarvona mirtenal mirtenol verbenona carvona Monoterpenos α-cubebeno α-copaeno β-borboneno β-elemeno (E)-cariofileno γ-elemeno aromadendreno α-humuleno allo-aromadendreno germacreno-D β-selineno α-muuroleno β-bisaboleno cis-calameneno δ- cadineno elemicina trans-nerolidol spatchulenol óxido de cariofileno óxido de humuleno dilapiol α-muurolol apiol Sesquiterpenos Fenilpropanóides Total 1140 1158 1190 1194 1200 1250 1,7 0,2 0,5 0,2 0,6 15,2 0,5 2,1 0,7 6,0 17,7 0,5 0,3 1,3 0,7 0,6 1,5 0,5 4,3 32,1 3,9 4,8 77,5 92,7 0,9 0,2 1,7 1,3 0,5 0,2 19,4 0,6 4,4 2,8 10,0 12,3 0,1 0,3 1,1 0,3 0,7 0,9 1,7 3,9 5,3 26,6 71,0 90,4 5,0 1,6 1,1 24,5 57,5 10,2 2,7 92,2 99,9 Silva et al. 1354 1380 1388 1395 1415 1430 1437 1450 1457 1483 1490 1503 1513 1523 1530 1557 1567 1580 1584 1610 1621 1644 1678 - Constituintes químicos fixos e voláteis dos talos e frutos de Piper tuberculatum Jacq. e das raízes de P. hispidum H. B. K. Figura 1 - Estruturas dos compostos 1 - 5, isoladas dos frutos de P. tuberculatum Estudos fitoquímicos com folhas, sementes, talos e raízes de P. tuberculatum realizados nos estados do Amazonas, Ceará, Paraiba e São Paulo, revelaram a presença de 15 amidas (piplartina, dihidropiplartina, piplartina-dimerica A, pelitorina, piperlonguminina, dihidropiperlonguminina, piperina, dihidropiperina, piperina S, piperdardina, piperidina-2E,4E-decadienamida, piperetina, N-(12,13,14trimetoxidihidrocinnamoil)-delta(3)-piperidin-2-ona, cispiplartina, fagaramida), uma aristolactama (cefaranona B), e três derivados do acido cinâmico (ácido 3,4,5-trimetoxicinâmico, 6,7,8-trimetoxidihidrocinamato de metila e trans-6,7,8trimetoxicinamato de metila) (Braz-Filho et al., 1981; AraújoJúnior et al.,1997; Araújo et al., 1999; Navickiene et al., 2000; Cunha & Chaves, 2001; Silva et al., 2002; Chaves et al., 2003; Miranda et al., 2003). Na Costa Rica e no Panamá, foram isoladas três amidas, duas comuns as encontradas nas espécies brasileiras, piplartine e dihydropiplartine e uma terceira, denominada piplaroxide (Capron & Wiemer, 1996; Scout et al., 2005). Neste estudo com os frutos de P. tuberculatum, coletados no estado de Rondônia, foram identificados, pela Tabela 2 - Dados de RMN 1H e 13C dos compostos 1 e 2 (CDCl3). 1 2 δC δH δC δH C 1 37,2 37,2 2 29,7 29,7 3 71,8 3,51 (m) 71,8 3,51 (m) 4 39,8 39,6 5 140,7 140,7 6 121,7 5,36 (d) 121,7 5,12 (d) 7 31,6 31,6 8 31,9 31,9 9 50,1 50,1 10 36,8 33,9 11 21,1 21,1 12 39,8 39,8 13 42,3 42,3 14 56,8 56,7 15 24,4 24,3 - 746 vol. 38(4) 2008: 733 - 742 primeira vez, o β-sitosterol 1, o estigmasterol 2 e o ácido 3,4,5-trimetoxi-dihidrocinâmico 5. Com o isolamento de 5, é possível especular que o mesmo seja um precursor biossintético das amidas piplartina 3 e dihidropiplartina 4. As determinações estruturais dos compostos 1-5 foram realizadas com base em dados de RMN de 1H e 13C, uni e bidimensionais, espectros de massas e comparação com dados da literatura (Facundo et al., 2003; 2005b). Os dados de RMN 1 H e 13C das substância 1 e 2 e 3-5, encomtram-se nas tabelas 2 e 3, respectivamente. O óleo essencial das raízes de P. hispidum, coletadas no estado de Rondônia, pertence ao quimiotipo dos fenilpropanóides e pode interessar as indústrias de cosméticos e inseticidas (Bergo et al., 2005). Além disto, este é o primeiro relato da composição química do óleo essencial das raízes dessa espécie e o perfil químico observado é diferente dos relatados para outras partes da planta (Machado et al., 1994; Santos et al., 2001; Pinto et al., 2004; Mesquita et al., 2005; Potzernheim et al., 2006). 1 C 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 - Silva et al. δC 28,9 56,1 11,9 18,9 36,1 18,8 33,7 26,1 45,8 29,1 19,4 19,0 23,1 11,8 - 2 δH 0,68 (s) 1,02 (s) 0,93 (s) 0,83 (s) 0,80 (s) 0,81 (s) - δC 28,2 56,9 12,1 12,2 40,5 21,2 138,3 129,3 50,1 31,9 21,2 19,8 25,4 11,9 - δH 0,69 (s) 1,02 (s) 1,03 (s) 5,22-4,95 (m) 5,22-4,95 (m) 0,86 (s) 0,81 (s) 0,83 (s) - Constituintes químicos fixos e voláteis dos talos e frutos de Piper tuberculatum Jacq. e das raízes de P. hispidum H. B. K. Tabela 3 - Dados de RMN 1H e 13C dos compostos 3-5 (CDCl3). 3 4 δC δH δC δH δC C 1 130,6 136,8 135,9 2 105,4 6,81 (s) 105,4 6,48 (s) 105,2 3 153,3 153,0 153,2 4 140,1 136,2 136,5 5 153,3 153,0 153,2 6 105,4 6,81 (s) 105,4 6,48 (s) 105,2 7 143,7 7,65 (d) 24,5 3,25 (t) 35,7 8 121,0 7,68 (d) 40,8 2,93 (t) 31,0 9 168,8 175,4 178,6 1’ 165,8 165,3 2’ 125,8 6,04 (dd) 125,8 5,98 (dd) 3’ 145,5 6,93 (m) 145,5 6,89 (m) 4’ 24,7 2,48 (m) 31,7 2,38 (m) 5’ 41,6 4,05 (m) 40,9 3,97 (t) OCH3-3 56,6 3,88 (s) 56,0 3,84 (s) 56,7 OCH3-4 61,3 3,86 (s) 60,7 3,81 (s) 60,8 OCH3-5 56,6 3,88 (s) 56,0 3,84 (s) 56,7 OH - 5 δH 6,43 (s) 6,43 (s) 2,90 ( t) 2,68 ( t) 3,84 ( s) 3,83 (s) 3,84 (s) 11,31 (sl) BIBLIOGRAFIA CITADA Adams, R.P. 1995. Identification of essential oil components by gas chromatography/mass spectrometry. Allured Publ Corp., Carol Stream, IL, 469 pp. Albiero, A.L.M., Paoli, A.A.S., Souza, L.A., Mourão, K.S.M. 2006. Morfoanatomia dos órgãos vegetativos de Piper hispidum Sw. (Piperaceae). 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