AZ 192DEC

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AZ 192DEC
AZIMUTE
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Revista MILITAR DA INFANTARIA
EPI
6
N.º 192 – Dezembro 2011
Tomada de posse do novo Comandante da EPI
Diretor:
Comandante da EPI
COR INF João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro
Coordenação e Redação:
COR INF REF Nelson de Sousa Figueiredo
TCOR INF Rui Dias
TCOR INF Mário Alvares
CAP INF Bruno Mendes
Relações Públicas:
CAP INF Bruno Mendes
Capa:
TCOR INF Mário Alvares
Fotografia:
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Composição/Paginação:
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Impressão:
Rolo & Filhos II, S.A. (Mafra)
Tel. 261 816 500
A renovação da eficiência na Escola Regimental
29
Propriedade:
EPI - Alameda da Escola Prática de Infantaria
2640 - 777 MAFRA
Tel. Civil - 261 81 21 05
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Tiragem:
800 Exemplares
Depósito Legal n.º 4510/84
62
As provas de decisão militar
Nº 192 DEC11
1
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Indíce
3Editorial
4
Mensagem de Natal do Director-Honorário da Arma de Infantaria
5
Novo Comandante da EPI
6Tomada de posse do novo Comandante da EPI
Ronda pelas Unidades
9
Regimento de Infantaria N.º 10
Temas Gerais
15
14 de Agosto, Dia da Infantaria
22Exposição do 14 de Agosto
Tema - O desafio da qualidade e a reforma dos processos de trabalho
25
29
33
37
Um Sistema de Gestão da Qualidade Integrado
A renovação da eficiência na Escola Regimental - Novos processos, novas dinâmicas
A Escola e a importância dos processos na gestão dos recursos.
Saber Fazer, Saber Mais e Fazer Mais e Melhor - A Eficiência Processual das Organizações -
Tecnicamente Falando
40
Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas
43
Sistema de Análise Vídeo – Novas Dinâmicas Formativas para o Combate em Áreas Edificadas
45Instrução de Tiro e Infraestruturas de Tiro. Qual o caminho a seguir?
49
Nato Urban Operations.Nato Training Group Task Group - Reunião Grécia – 2ºsemestre
52
Operações de Cerco e Busca
59A Psicologia Organizacional e a Instituição Militar
62As Provas de Decisão Militar
65
Materiais fibrosos na proteção militar
70
Fibras na proteção pessoal
77A primeira Oficial de infantaria do sexo feminino - A vitória sobre um dogma
79Testagem de vidros com protecção balistica com a empresa VICER
Actividades
82
87
89
91
Cooperação Técnico-Militar com Timor-Leste - Projecto Nº4
MCCC – Maneuver Captains Career Course
Clube Militar de Oficiais de Mafra
Cursos, Visitas e Notícias
Cultural
99
Microtreinos ou Microssessões
103 O Natal visto por poetas portugueses ao longo de 500 anos
104In memoriam
Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores,
e não vinculam as opiniões do Corpo Editorial.
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Nº 192 DEC11
Editorial
Pensar, comunicar e agir com positividade
Nesta primeira oportunidade de escrever este editorial, quero iniciar esta mensagem saudando todos os
Infantes e também todos os leitores desta publicação que tanto tem contribuído para transmitir os ideais de
tradição e de inovação que sempre caraterizaram a Arma de Infantaria e a sua Casa Mãe.
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Uma segunda palavra é inteiramente devida aos militares e civis da
Escola Prática de Infantaria, os que nela atualmente servem e os que nos
deixaram este nobre legado que, diariamente, procuramos honrar com devoção e espírito de missão. É com particular orgulho e enorme satisfação
que constato e manifesto a elevada qualidade e proficiência com que a
Escola vem cumprindo com as suas atividades e tarefas. O seu volume,
abrangência e complexidade continua a encontrar o justo rival na iniciativa,
no espírito e na combatividade dos Infantes da Escola.
No atual momento de incerteza e de imprevisibilidade, a Escola procura
responder com atitudes positivas, novas aberturas e uma postura de esperança, não apenas porque a incerteza sempre foi, e sempre será, uma das
características próprias do ambiente operacional no qual os militares se
movem, mas pelas suas particulares responsabilidades na transmissão e
no reforço às novas gerações de Oficiais, Sargentos e Praças que aqui iniciam ou concluem as suas ações de formação inicial, dos mais puros valores militares, humanos e profissionais da Infantaria, instrumentos essenciais e particularmente adequados à ultrapassagem dos desafios e das perceções que em determinado momento nos possam parecer incontornáveis.
É desta forma que a Casa Mãe vem procurando reinventar-se todos os dias, reforçando estas mensagens e
procurando metodologias e instrumentos mais eficientes, reduzindo os encargos e cumprindo com eficácia as
suas missões. Simultaneamente, a Escola mantém o seu esforço na sua missão fundamental, a formação, mas
com um espírito crítico, procurando melhores conteúdos e formas de fazer chegar o conhecimento adequado
aos seus formandos. Abrimos ainda novas portas a novos atores, através do estabelecimento de relações no
mundo académico e empresarial, no âmbito da investigação e do desenvolvimento ou na cooperação com entidades diversificadas, de que procuramos dar boa conta nesta edição da Azimute.
Esta é a resposta que a Escola de todos os Infantes procura materializar, incessantemente, pensando, comunicando e agindo com positividade e, na certeza da continuidade da moralidade das missões, afastando a
negatividade com competência, determinação e criatividade.
Privilegiando os princípios da Segurança e da Qualidade, a EPI iniciou mais um ano letivo, exercendo o seu
esforço em três linhas de ação: a implementação de um Sistema de Gestão de Qualidade nos diferentes subsistemas funcionais da unidade, o desenvolvimento do Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas,
bem como projetando e preparando a provecta mas sempre jovem idade de quase 125 anos da nossa Escola.
É assim, com natural orgulho no nosso longo passado e com justificada esperança no nosso futuro que pretendo hoje, em conjunto com todos os militares e civis da Escola, desejar a todos os nossos leitores, de forma
muito sentida e sincera, um Santo Natal e um 2012 pleno de confiança e de realização.
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Mensagem de Natal
do
Director-Honorário da Arma de Infantaria
Caros (as) Infantes!
Não constitui surpresa para ninguém que a situação do Portugal de hoje é grave. Todos os dias nos
apercebemos nos mais diversos órgãos de comunicação social (OCS) que Portugal, a Europa e o Mundo
Ocidental atravessam uma grave e muito preocupante crise financeira. Ouve-se falar de bancarrota, de
colapso da economia e de desemprego. Nós militares, nós Infantes, não estamos imunes a tais situações e, por isso, sofremos, como os demais portugueses, os sacrifícios que o actual quadro do País nos
obriga.
No entanto, e sem pretender levantar qualquer polémica, até porque vos escrevo em pleno período e
espírito natalício, estranho, interrogo-me, tento descortinar a razão ou os motivos para ninguém falar em
crise de valores. Sim, porque, salvo melhor opinião, a situação em que vivemos só foi possível porque às
palavras não corresponderam os respectivos actos. Mas para nós Infantes as palavras e os actos têm de
andar sempre de mãos dadas, pois não é possível estar permanentemente disponível para defender os
mais elevados interesses de Portugal se esses não forem valores e desígnios verdadeiramente Nacionais
e não contribuírem para o engrandecimento da Pátria.
É em tempo de crise que nós Infantes mais facilmente compreendemos o que nos foi ensinado e que
procuramos praticar no dia-a-dia. É em tempos difíceis que o valor da iniciativa assume papel primordial. A rotina fácil e servil perverte vontades e promove em cada um de nós a execução automática das
prescrições superiores. O hábito, qual lei da natureza, potencia defeitos e vícios dificilmente extinguíveis.
Os tempos que estamos a viver carecem do contributo de todos, de modo que, esboçada a ideia geral,
a ideia directriz, a ideia motora, ou seja, o conceito de operação, que para merecer tal designação tem de
ser exequível, cada comandante ou chefe, ao seu nível, tem a obrigação e o dever de a completar consoante as circunstâncias particulares do seu caso. Deste modo, ninguém poderá ousar afirmar que não
fez o que devia por não ter recebido a ordem. Por outro lado, a verdadeira iniciativa, não deve, não pode,
contrariar o pensamento e a intenção do “General em Chefe”. Porém, o princípio da iniciativa não é cada
um fazer desordenadamente o que quiser. É, pelo contrário, a divisão organizada do trabalho, a sinergia
de esforços inteligentes, é o complemento da arte criadora do comando. A iniciativa nasce do estudo, da
competência, do critério, da razão e até da alma do subordinado. A iniciativa deve ser cuidadosamente
cultivada na paz, para não emergir como uma surpresa na guerra.
Neste período de Natal, aproveitemos para meditar no valor da iniciativa, para que sejamos capazes
de encontrar as melhores formas de contribuir, sem aumento de recursos, para a saída da crise que se
abateu sobre Portugal.
Um Santo Natal para todos (as) aqueles (as) que servem Portugal na Infantaria e, em especial, para
aqueles (as) que nesta quadra festiva, por razões de serviço, se encontram longe do Território Nacional.
O Director-Honorário da Arma de Infantaria
João Nuno Jorge Vaz Antunes
Tenente-General
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O Coronel João Pedro Ribeiro, nasceu na Covilhã,
a 29 de Dezembro de 1964.
Frequentou os estudos básicos e secundários na
mesma cidade, tendo concluído o 12º ano de escolaridade em Coimbra. Ingressou na
Academia Militar em Setembro de
1982, concluindo a Licenciatura em
Ciências Militares – ramo Infantaria,
no ano de 1987.
Frequentou posteriormente alguns cursos de especialização, nas
áreas da Defesa Nuclear, Biológica e
Química e Operações de Apoio à Paz,
para além dos cursos curriculares
normais, como o Curso de Promoção
a Capitão de Infantaria em 1991 e o
Curso de Promoção a Oficial Superior
em 1995. Frequentou ainda o Curso de
Estado-Maior do Exército, no Instituto
de Altos Estudos Militares, entre 1997
e 1999.
Ao longo da sua vida militar, desempenhou serviço na Academia Militar, Regimento de Infantaria
do Funchal, Escola Prática de Infantaria, Comando
da Instrução, Brigada Mecanizada Independente,
Instituto de Altos Estudos Militares, Presidência da
República e Comando das Forças Terrestres.
Entre 1989 e 1996, desempenhou diversas funções no âmbito do Comando, Direcção e Chefia, das
quais se destacam os três anos de comando de subunidades de escalão companhia e a Direcção do
Tirocínio para Promoção a Oficial de Infantaria. Ao
longo do mesmo período assumiu diversas responsabilidades no âmbito do ensino e da instrução, particularmente no que concerne à instrução do Corpo
de Alunos da Academia Militar e ao ensino de vários
Cursos de Promoção a Capitão de Infantaria. De
destacar igualmente as funções exercidas enquanto Chefe da Secção de Estudos Técnicos da Escola
Prática de Infantaria, realizando diversos estudos e
testes relativos a técnicas, tácticas e equipamentos
específicos da sua Arma.
Após a frequência do Curso de Estado-Maior que
concluiu com a classificação de distinto, foi colocado no Comando da Instrução, na directa dependência do Tenente General Comandante da Instrução do
Exército, onde desenvolveu estudos nas áreas do
Ensino à Distância, do Sistema de Instrução para o
Exército de Voluntários e no novo Regulamento de
Instrução do Exército.
No âmbito operacional, exerceu as funções de
Oficial de Operações do Agrupamento DELTA da
Brigada Mecanizada Independente, força nacional
destacada para o teatro de operações do Kosovo,
durante o período 2000-2001.
Foi posteriormente colocado no Instituto de Altos
Estudos Militares, como Professor, leccionando diversas matérias na área da Táctica, com destaque para as
Operações Conjuntas e Combinadas.
Entre Setembro de 2003 e Março
de 2006, desempenhou as funções
de Staff Training Development Officer
e Policy and Programming Officer,
na Divisão de Treino do Joint Force
Command Headquarters Naples, em
Itália, no âmbito do desenvolvimento
de conceitos de treino, programação e
execução de exercícios NATO.
De Março de 2006 a Julho de 2008
desempenhou as funções de Assessor
Militar para o Exército de Sua
Excelência o Presidente da República.
Posteriormente foi nomeado 2º
Comandante da Escola Prática de
Infantaria, funções que exerceu entre Agosto de 2008
e Dezembro de 2009.
Em Janeiro de 2010 iniciou o desempenho de funções no gabinete do Tenente General Comandante
das Forças Terrestres, assumindo em particular o
cargo de Chairman do EUROFOR SUBWORKING
GROUP, no âmbito do projecto do levantamento do
primeiro Battle Group disponibilizado por esta entidade à União Europeia e as funções de coordenador nacional, no âmbito do CFT, do projecto de levantamento
e aprontamento das capacidades nacionais oferecidas
para aquela capacidae de reacção rápida.
Foi ainda delegado do Exército Português em diversos grupos de trabalho NATO, tendo sido promovido ao actual posto em 30 de Junho de 2009.
Por despacho de Sua Excelência o General Chefe
de Estado Maior do Exército, foi nomeado por escolha para as funções de Comandante da Escola Prática
de Infantaria, funções que assumiu desde 05 de
Setembro de 2011.
Da sua folha de serviços constam diversos louvores e condecorações, das quais se destaca o agraciamento com o grau de Comendador da Ordem Militar
de Avis, três Medalhas de Prata de Serviços Distintos,
uma das quais com palma, a Medalha de Mérito Militar
de 3ª classe, a Medalha da Defesa Nacional de 2ª
classe, as Medalhas de 2ª e 3ª classes de D. Afonso
Henriques, a Medalha de Prata de Comportamento
Exemplar e duas Medalhas NATO da Campanha do
Kosovo.
O Coronel Ribeiro é casado e tem uma filha e dois
filhos.
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Novo Comandante da EPI
João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro
Coronel de Infantaria
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Tomada de posse do novo Comandante da EPI
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O Coronel de Infantaria João
Pedro Rato Boga de Oliveira
Ribeiro assumiu, em 05 de
Setembro de 2011, o comando
da Escola Prática de Infantaria.
Por despacho de 11 de Agosto de
2011 de SExa o GEN CEME, foi
nomeado, “por escolha” para as
funções de Comandante da EPI,
o Cor Inf João Pedro Rato Boga
de Oliveira Ribeiro, tendo ocorrido em 05SET11 a cerimónia
de tomada de posse do coman-
a formatura geral o aguardava.
Depois das honras militares o
Exmo comandante passou revista às tropas e proferiu o discurso
de tomada de posse que seguidamente se transcreve:
do da EPI na Parada Coronel
Magalhães Osório. Pelas 10h30
desse dia o Exmo Comandante
dirigiu-se para o gabinete do
comandante onde, tradicionalmente, lhe foi colocado o crachá
da Unidade, tendo-se dirigido
de seguida para a parada onde
mando da Escola Prática de
Infantaria. Assumo o comando
de uma Escola diferente. Porque
a Escola é sempre diferente.
Porque as pessoas que nela
servem são diferentes ou porque
exercem funções diferentes, porque utilizam novos instrumentos
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“ Oficiais, Sargentos, Praças e
Funcionários Civis da Escola
Prática de Infantaria:
25 anos após aqui me ter
apresentado como Aspirante
Tirocinante, assumo hoje o co-
ou processos ou porque estão
inseridas numa lógica estrutural
modificada ou até, porque existem novas missões e tarefas.
É esta permanente diferença que confere a esta Escola a
sua adaptatividade e a perspectiva inovadora que sempre lhe
garantiu e continua a garantir,
uma posição cimeira e um reconhecimento inequívoco do
desenvolvimento
doutrinário,
organizacional ou ao nível dos
equipamentos e armamentos da
Arma de Infantaria e tantas vezes, também do Exército. É esta
diferença, sempre amplamente
procurada, que garante a esta
Escola a dinâmica para a constante investigação e descoberta
de novos e melhores métodos,
processos e doutrinas, hoje cada
vez mais necessários para a
adaptação militar às exigências
do ambiente operacional interno
e externo.
É esta permanente diferença
que tem permitido a coerência
adequada às exigências de cada
tempo e de cada solicitação.
Será esta diferença que garantirá, uma vez mais, a capacidade
de adaptação e de inovação que
manterá a Escola na liderança
dos processos de modernização
e de formação da Infantaria e no
apoio ao levantamento das novas capacidades do Exército.
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Cerca de 2 anos após ter desempenhado as últimas funções
que nesta Casa exerci, assumo hoje o comando da Escola.
Da mesma Escola de sempre.
Porque a Escola é sempre igual.
Porque os valores, o espírito
de serviço, de sacrifício e de missão das pessoas que nela servem, são imutáveis e perenes.
Porque a vontade da perfeição
e da excelência e a procura da
sua transmissão aos que de nós
dependem, associada ao são orgulho de servir na Casa-Mãe da
Infantaria, continua a constituir
a motivação essencial dos seus
elementos. Porque o sentimento
de protecção que nos liga a este
espaço secular e a cumplicidade vivida com as entidades com
quem o partilhamos e com a comunidade onde nos inserimos se
mantém inalterada.
É esta tradição transmitida
e praticada de geração em geração, que vem conferindo à
Escola a sua longevidade e será
esta capacidade que lhe continuará a garantir a vontade férrea de
se manter única e sempre pronta
a aceitar e vencer os obstáculos
que se lhe colocarem.
Sempre diferente e sempre
igual, a Escola vem percorrendo o seu caminho de desenvolvimento sustentado em direcção
à excelência. Mas este percurso,
longe de poder ser considerado
automático, implica uma assunção individual e colectiva deste
objectivo permanente e um empenhamento diário e total na sua
consecução. Para continuarmos
esse caminho, é imperioso mantermos a aplicação constante de
princípios basilares: a segurança
e a qualidade.
será sempre uma prioridade desta Escola, que se deve traduzir
nas atitudes individuais e colectivas, nos procedimentos e na sua
constante verificação. Concorre
directamente para este desiderato a disciplina, não apenas
nos seus aspectos externamente
mais visíveis, mas sobretudo a
A actividade militar é por inerência uma actividade de risco.
Aceitá-lo significa reconhecê-lo,
identificá-lo e promover todas as
acções necessárias para o eliminar ou diminuir à sua mínima
expressão. Tanto nas nossas posições individuais, como nas nossas actividades ou na guarda e
utilização das instalações e equipamentos que nos são confiados.
A segurança é um alicerce
essencial da profissão militar e
auto-disciplina, praticada na sua
verdadeira essência, em todos
os actos e a todo o tempo.
De igual importância, a qualidade é um factor determinante
para o êxito da missão da Escola.
Este princípio manifesta-se através de uma cultura organizacional de profissionalismo e rigor,
sustentada em posturas e atitudes individuais de pormenor, materializando-se em processos verificáveis, incluindo a necessária
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definição de objectivos e metas,
uma programação criteriosa, um
planeamento exaustivo, uma
execução detalhada e uma avaliação contínua, permanentemente sob a supervisão e acompanhamento das lideranças de
cada nível.
Esta qualidade tem que ser
verificada não apenas nas actividades e tarefas que nos vierem a
ser solicitadas, mas também na
preservação e aperfeiçoamento
das condições de vida e de trabalho dos seus executantes.
Assumindo sempre a formação como a sua primeira prioridade, a Escola manterá o seu
esforço no desenvolvimento dos
projectos que vem assumindo e
nas reformas que tem vindo a encetar nos últimos anos, quer no
âmbito da investigação e dos processos formativos, no sentido da
manutenção do seu reconhecido
estatuto de qualidade, como nos
processos de âmbito regimental,
procurando todos os dias, alcançar melhorias e ganhos que lhe
garantam a melhoria das condições internas da unidade e a
adequada afectação de recursos
para as áreas essenciais da sua
missão.
A aplicação destes princípios
– segurança e qualidade – constituirá a linha de acção essencial do Comando, na certeza de
que a sua prática permanente
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contribuirá directamente para a
condição fundamental do sucesso da Escola – manter os seus
Soldados, no fundo os seus militares e civis, altamente motivados e conscientes da valia da sua
acção, devolvendo à Infantaria,
ao Exército e à Nação, quadros
e tropas com uma cultura de modernidade, iniciativa e profissionalismo e dotados de profundos
conhecimentos militares e vincados valores de cidadania.
Militares e Funcionários Civis
da Escola Prática de Infantaria
Encontro-me, hoje, inundado
por um sentimento de realização
pessoal e profissional ímpar, ladeando com a consciência da
enorme responsabilidade que
estas funções encerram, emoções que encontram conforto e
segurança nas vossas capacidades profissionais, extraordinário
sentido de lealdade e espírito de
missão que conheço e reconheço e com os quais conto de forma
incondicional.
Quero manifestar de forma
inequívoca a sentida homenagem a todos quantos se nos antecederam e que elevaram esta
Escola ao merecido patamar
onde se encontra, como uma
casa de formação de referência
e de saber militar. A melhor justiça que podemos fazer-lhes é
envidar todos os esforços para
dar a devida continuidade a esta
condição.
A incerteza das condicionantes dos tempos futuros e das
suas influências na vida da nossa
Escola, constituem desafios que
sendo seguramente diferentes
e que nos impelem a fazer melhor com menos, não serão certamente maiores do que a nossa
vontade, como em tantas outras
situações com que os nossos antecessores foram confrontados.
Tal como então, estou seguro, a
nossa resposta residirá na nossa
ambição de cumprir, na qualidade
da nossa preparação e organização, na dinâmica da nossa inovação e criatividade construtiva, na
eficácia das nossas acções e na
evidência das mais insignes características dos Infantes: o brio,
a disciplina e a humildade.
As missões cumprem-se com
as pessoas e hoje dirijo-me a
todos os Infantes da Escola. A
todos os que diariamente aqui
servem com devoção e aos que
longe do País levantam bem alto
o prestígio desta Casa. Ciente
da coesão e do espírito de união
que a todos nos liga, manifesto
a minha sólida confiança em todos vós, a minha esperança no
nosso futuro e a minha firme vontade, determinação, empenho e
dedicação à causa e à missão da
Escola.
“AD UNUM”
Azimute
Anfiteatro natural de terra mar e ar, várias foram as estruturas militares que estiveram aquarteladas no extremo Sul da
península de S Jacinto. O Regimento de Infantaria Nº 10 tem identidade própria, na sua génese convergem a linha do
local que ocupa e que lhe advém da ligação à origem e desenvolvimento da aeronáutica militar portuguesa e das tropas
pára-quedistas. Um outro ramo resulta da herança muito digna e honrosa conferida pela designação que actualmente
ostenta, um extenso legado de presença e excelso desempenho atribuídos a uma Unidade militar criada em Lisboa e
que esteve durante cerca de dois séculos e de forma descontinuada, sediada no Porto, na Figueira da Foz, em Bragança
e na cidade de Aveiro.
A Unidade Militar de S. Jacinto
Base Aeronaval Francesa
A presença militar na península
de S. Jacinto iniciou-se durante a
Primeira Grande Guerra Mundial,
quando o Governo Francês solicitou a Portugal a instalação de uma
esquadrilha da sua Aviação Naval
na região de Aveiro, para poder
combater a acção dos submarinos
das potências do Eixo, que cruzavam a costa Atlântica do Território
Europeu.
Esta instalação concretizou-se
no dia 1 de Abril de 19181, com a
chegada a S. Jacinto de oito hidroaviões franceses, com os respectivos pilotos e pessoal de apoio.
1 Actualmente celebrado como Dia da
Unidade.
Os oito hidroaviões desembarcaram em Leixões e chegaram a S.
Jacinto por terra, puxados por juntas de bois através dos areais do
litoral da península. Esta primeira
infra-estrutura, bastante precária,
era constituída por hangares e casas de madeira e lona.
Com o final da Primeira Grande
Guerra Mundial, em Dezembro de
1918, o Posto Aeronaval Francês
foi entregue ao Serviço de Aviação
da Armada Portuguesa, com todos
os seus hidroaviões, meios e precárias infra-estruturas.
Aviação Naval Portuguesa
Logo após o final da Grande
Guerra, em 1919, os hidroaviões
levantam voo de S. Jacinto, para
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Regimento de Infantaria N.º 10
no Porto participarem na contenção da revolta conhecida por
“Monarquia do Norte”2. É a esta acção militar que se deve a implantação definitiva do Centro de Aviação
Naval na península de S. Jacinto.
Terminada a instabilidade político-militar, o Centro de Aviação
Naval de S. Jacinto inicia um período de franca expansão em termos de material e infra-estruturas,
sobressaindo a construção de
um “hangar” que era o maior da
Península Ibérica. Desde 1934
passa a funcionar no Centro de
Aviação Naval de S. Jacinto a
2
Revolta que ocorreu na cidade do
Porto em 1919 e que pretendia a
restauração da monarquia em
Portugal, conhecida como Revolta da
Traulitânia.
Chegada dos primeiros hidroaviões à Península de S. Jacinto, 1918.
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AZIMUTE
Escola de Aviação Naval Almirante
Gago Coutinho legalmente criada
(no Bom Sucesso, junto à Torre
de Belém) em 1925 passando a
dispor de algumas instalações adicionais junto ao Forte da Barra, assim como um “hangar” na Torreira,
construído pelos estaleiros navais
de S. Jacinto, que permitia aos hidroaviões amararem em situações
de instrução.
É a partir deste ano que se inicia, até 1952, uma fase de franco progresso da Aviação Naval
Portuguesa, sendo de salientar
que a pista entretanto construída,
na extremidade da península de S
jacinto, foi a primeira em Portugal
a dispor de iluminação eléctrica,
mesmo antes do Aeroporto da
Portela de Sacavém em Lisboa.
Durante esses anos, numa lógica relação de causa e efeito, a
Aviação Naval percorreu o perío-
do da sua “maturação” e a Escola
de Aviação Naval Almirante Gago
Coutinho tornou-se sala de visitas
da Marinha, visitada e apreciada
por muitas entidades militares e civis, nacionais e estrangeiras.
A última Unidade Operacional
da Aviação Naval em S. Jacinto,
foi formada em princípios dos
anos 50 do Sec.XX, com os aviões
Helldivers SB2C-53.
Estes aparelhos, acabaram por
ser os últimos aviões da estrutura
da Aviação Naval. Em 1952, com a
criação da Força Aérea Portuguesa
3 Avião de fabrico americano que permitia
bombardeamento picado e uma eficiente
luta anti-submarina
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Centro de Aviação Naval de S. Jacinto
(FAP), através da fusão das aviações do Exército e da Marinha, a
Escola de Aviação Naval Almirante
Gago Coutinho, com todas as suas
infra-estruturas e material aeronáutico, passa para o controlo deste novo ramo das Forças Armadas
pela Base Aérea nº 7, mantendo-se esta Unidade sempre vocacionada para as missões de instrução
de pilotagem, a par da formação de
técnicos e especialistas de manutenção e abastecimento.
Em 1975, após o regresso das
Portuguesas e adopta a designação de Base Aérea Nº 5.
Forças Armadas das Províncias
Ultramarinas Africanas, considerada que foi a necessidade de efectuar o reajustamento e reorganização das Tropas Pára-quedistas, foi
criado, na dependência directa do
Chefe do Estado-Maior da Força
Aérea4, o Corpo de Tropas Páraquedistas (CTP), herdeiro das tradições e do património histórico-militar dos extintos Regimento de
Caçadores Pára-quedistas e dos
Batalhões de Caçadores Páraquedistas nº 12 (Bissau), nº 21
(Luanda), nº 31 (Beira) e nº 32
(Nacala).
Força Aérea Portuguesa
A Base Aérea n.º 5 era uma unidade especialmente vocacionada
para a instrução de pilotagem, sendo extinta em 1956 para dar lugar
ao Aeródromo – Base nº 2 (AB2),
Unidade com a mesma missão da
sua antecessora. Em 1957, por
razões relacionadas com o crescimento da Força Aérea, assim como
por razões de carácter político, baseadas na antevisão do envolvimento militar das Forças Armadas
Portuguesas
nas
Províncias
Ultramarinas, o AB2 é substituído
4 Vide Decreto-Lei nº 350/75 de 5 de
Julho.
Com a criação oficial da
BOTP26, em paridade com o termo da operação da Esquadra de
Aviões T-6, o Despacho nº 18/78
do Chefe do Estado-Maior da
Força Aérea desactiva a BA7, instaura o Aeródromo de Manobra nº2
(AM2) e estabelece o Estatuto de
Funcionamento conjunto do AM2/
BOTP2, o qual, além de definir
as responsabilidades das duas
Unidades em matéria de apoio
mútuo, estabelece e delimita as
áreas de ambas as Unidades em
função das suas características e
missões. O AM2 mantém uma esquadra operacional (operando aeronaves FTB-337), assim como as
instalações aeroportuárias de S.
5 Nos que antecederam a promulgação
do Dec.-Lei nº 350/75 de 5 de Julho,
foram efectuadas diversas diligências no
sentido de apurar a melhor localização
para as unidades pára-quedistas, tendo
ficado definido que uma seria no Norte
do país.
6 Vide Portaria nº 552-A/77 de 3 de
Setembro.
Jacinto.
Imediatamente
após a instalação da
BOTP2 em S. Jacinto, o
Comando do CTP inicia
um programa de recuperação e de adaptação do
aquartelamento às missões das Subunidades
nele instaladas, estabelecendo um plano
de construção de novas infra-estruturas e
de recuperação das já
existentes, por forma
a garantir o treino operacional um Batalhão
de Pára-quedistas (BP
21) e da Companhia de
Morteiros Pesados, aptos a serem integrados
num conjunto de Forças
que haveriam de constituir a Brigada Pára-
quedista Ligeira (BRIPARAS).
Durante o ano de 1990, no
âmbito de uma reestruturação do
dispositivo do CTP, o Batalhão
de Pára-quedistas Nº11 (BP 11),
então aquartelado na BOTP1 –
Monsanto, é transferido para S.
Jacinto. Posteriormente, com a
extinção da BOTP1 em 1991,
são igualmente transferidas para
S. Jacinto a Companhia AntiCarro (CACar) e a Companhia de
Comunicações (CCom), passando a estar aquarteladas em S.
Jacinto a maioria das Subunidades
da BRIPARAS, designadamente o Batalhão de Pára-quedistas
AZIMUTE
Durante o ano de 1977, fruto
da reestruturação Força Aérea, a
Base Aérea nº 7, que com o termo da Guerra do Ultramar viu a
sua importância reduzida e a sua
missão reformulada, cede grande
parte das suas instalações para o
levantamento da Base Operacional
de Tropas Pára-quedistas nº 2
(BOTP2)5, tendo, numa primeira
fase, sido instalados em S. Jacinto
o Comando da Base Operacional e
uma Companhia de Pára-quedistas
(Companhia de Pára-quedistas
211).
Torre de Controlo atribuída ao
Arquitecto Keil do Amaral
Nº11 (BP11), o Batalhão de
Pára-quedistas Nº21 (BP21), o
Grupo Operacional de Apoio de
Serviços (GOAS), a Companhia
de Morteiros Pesados (CMP), a
Companhia de Comunicações
(CCom) e a Companhia Anti-Carro
(CACar).
Com a redução de UnidadesBase consumada no início dos
anos 90, em 1992 a FAP desactiva totalmente o Aeródromo de
Manobra n.º 2, passando todas as
instalações militares de S. Jacinto,
para o controlo do Corpo de Tropas
Pára-quedistas. A BOTP2 passa a
administrar a totalidade da área
da Base em S.Jacinto, incluindo o
complexo aeronáutico e pistas, o
Nº 192 DEC11
11
AZIMUTE
Sessão de lançamento na área de instrução de Muranzel
Destacamento do Forte da Barra,
que durante a decada de 80 devido
às obras do Porto de Aveiro mudou
para as actuais instalações, assim
como o Campo Militar do Muranzel
- uma extensa faixa de terreno a
Sul da povoação da Torreira.
Exército Português
Em 1 de Janeiro de 1994, no
âmbito do processo de modernização e reorganização das Forças
Armadas Portuguesas, dá-se a
extinção do CTP na Força Aérea e
a criação do Comando de Tropas
Aerotransportadas
(CTAT)
no
Exército Português.
Com esta alteração é extinta a
BOTP2 e criada, a 1 de Janeiro de
1994, na dependência do CTAT, a
Área Militar de S. Jacinto (AMSJ).
Esta Unidade Territorial, recebe
todas as infra-estruturas e pessoal da extinta BOTP2 e passa a
apoiar administrativa e logisticamente as Subunidades operacionais da Brigada Aerotransportada
Independente (BAI) aquarteladas na Área Militar, designadamente o 2ºBatalhão de Infantaria
Aerotransportado, o Batalhão de
Apoio de Serviços, a Companhia
de Transmissões, a Companhia de
Morteiros Pesados e a Companhia
Anti-Carro.
Ainda em 1994, o Batalhão de
Apoio de Serviços da BAI, activado
em S. Jacinto com base nos efectivos e meios do extinto GOAS,
12
Nº 192 DEC11
é transferido para Tancos. Em
1996, segue-o a Companhia de
Transmissões, igualmente activada em S. Jacinto com os meios e
efectivos da extinta Companhia de
Comunicações. A Companhia de
Morteiros Pesados permanece activada até 1997, servindo simultaneamente como unidade de apoio
de fogos da BAI e embrião para a
formação da 1ª Bataria de Bocas
de Fogo (BBF) desta Brigada. Em
1997, é extinta a CMP e a 1ª BBF
é transferida de S. Jacinto para
Missão
“O Regimento de Infantaria
10 garante a prontidão do
2BIPara de acordo com os
padrões superiormente definidos; Assegura os serviços
gerais da Unidade, a conservação das instalações e
manutenção do material e
equipamento; À ordem colabora em acções no âmbito
das OMIP; Prepara-se para
garantir o aprontamento de
outras Forças para missões
específicas e superiormente
determinadas.”
Leiria.
Em 2006, a actual Lei Orgânica
do Exército7 extingue os Comandos
Territoriais e de natureza territorial, incluindo o Comando de
7 Decreto-Lei nº61/2006, de 21 Março.
Tropas Aerotransportadas, do qual
a AMSJ dependia. Igualmente,
em virtude desta reestruturação,
é extinta a BAI, sendo em sua
substituição criada a Brigada de
Reacção Rápida, com o Comando
em Tancos e da qual a Unidade sedeada em S. Jacinto passa a depender hierarquicamente.
A nova Lei Orgânica do
Exército altera também as designações de algumas Unidades,
pelo que, desde 01 de Julho de
2006, a AMSJ passou a designarse Regimento de Infantaria Nº 10
(RI10), sendo uma das Unidades
Regimentais da Brigada de
Reacção Rápida.
O 2º Batalhão de Infantaria
Pára-quedista (2BIPara)
Aquartelado no RI10 o 2BIPara
é uma força de infantaria ligeira,
vocacionada para as operações
convencionais, com capacidade de
projecção imediata e elevado estado de prontidão, caracterizando-se
pela concentração de potencial de
combate, rapidez na acção e flexibilidade, dotadas de capacidade de
inserção no Teatro de Operações
através de salto em pára-quedas.
Está equipado com armamento
ligeiro moderno e específico das
Tropas Pára-quedistas, de onde
se destacam os Morteiros 60 e
81 milímetros de longo alcance, o
sistema anti-carro MILAN, o canhão sem recuo CARL GUSTAF e
AZIMUTE
Vista aérea da unidade e áreas de instrução e treino operacional
Quase um século de história, a ostentação de ser a única Unidade das Forças Armadas Portuguesas que pertenceu
aos seus três Ramos, assim como o singelo garbo, da condição única de presença em todos os Teatros de Operações
em que estas estiveram envolvidas.
Nº 192 DEC11
13
AZIMUTE
Desfile do 2BIPara armado e equipado no Parque das
Nações nas comemorações do dia do Exército em 1999
a espingarda automática GALLIL
treino operacional, apanágio das
combinados e cooperações bilat-
de calibre 5,56 milímetros (calibre
tropas pára-quedistas, tem par-
erais, nomeadamente com forças
NATO).
ticipado em inúmeros exercícios
pára-quedistas de Espanha, de
nacionais e internacionais, no âm-
Itália e da Bélgica.
Missão
“O 2º Batalhão de Infantaria
Pára-quedista executa operações de assalto aéreo através
de salto táctico em pára-quedas ou desembarque de assalto para conduzir operações
de combate convencionais em
áreas sensíveis ou negadas.
Quando reforçado com meios
de apoio adicionais, executa
todo o espectro de missões
de um Batalhão de Infantaria.”
Força de elevado grau de
prontidão operacional, o 2BIPara,
dando continuidade à exigência do
bito da OTAN e EUROFOR, assim
O 2BIPara enriqueceu o histori-
como em cooperações bilaterais
al do Exército nos caminhos da paz
com países amigos. Neste con-
efectuando por 7 (sete) vezes o ci-
texto, além dos exercícios sectoriais do Batalhão, Exercício ARES,
tem participado anualmente no
exercício sectorial da Brigada de
Reacção Rápida, APOLO8, no exercício da série ORION do Exército
Português, no exercício conjunto
da Força Aérea portuguesa, REAL
THAW, assim como em exercícios
8 O exercício APOLO sucedeu ao
exercício anual da série JUPÍTER que
tinha por finalidade exercitar e testar a
força operacional do CTP, a BRIPARAS,
culminando o ciclo anual de instrução de
quadros e praças.
clo de Força Nacional Destacada,
envolvendo mais de 2400 dos
seus efectivos. É de realçar que
a 16 de Janeiro de 1996, pela primeira vez desde o final da Grande
Guerra, em 1918, uma unidade de
combate de escalão Batalhão das
Forças Armadas Portuguesas, o
então 2ºBIAT, voltava a actuar no
continente Europeu, nos Balcãs
na Bósnia-Herzegovina, assumindo de pleno direito as suas responsabilidades com a Aliança
Atlântica.
Salto de abertura automática do C-212 para
zona de lançamento de S. Jacinto
14
Nº 192 DEC11
Azimute
AZIMUTE
14 de Agosto, Dia da Infantaria
Comemorou-se uma vez mais a 14 de Agosto de 2011
de Infantaria.
o dia da Arma de Infantaria e da sua Escola Prática,
O programa das comemorações contou com as
numa evocação e homenagem ao seu patrono, D.
seguintes actividades centrais
Nuno Alvares Pereira (São Nuno de Santa Maria) e
• Missa de Acção de Graças
a todos os valorosos Soldados que desde Aljubarrota
• Guarda de Honra à chegada de Sua Excelência o
têm afirmado Portugal como uma Nação livre e
Ministro da Defesa Nacional à Escola Prática de
independente.
Infantaria
A cerimónia foi presidida por Sua Ex.ª o Ministro
da Defesa Nacional, Dr José Pedro Aguiar Branco
• Parada Militar no Terreiro D. João V presidida por
Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional
e contou com a presença de Sua Ex.ª o Chefe do
• Ponto de Imprensa
Estado Maior do Exército, General José Luís Pinto
• Inauguração da Exposição subordinada ao tema –
Ramalho e do Presidente da Câmara Municipal de
“EPI – Escola no caminho da modernização ao ní-
Mafra. Estiveram ainda presentes altas entidades da
vel das Pessoas, dos Processos, da Tecnologia e da
Estrutura Superior do Exército, das Forças Armadas,
Formação”.
Forças de Segurança e representações das Unidades
• Almoço Convívio no Refeitório dos Frades Nº 192 DEC11
15
AZIMUTE
Intervenção de Sua Ex.a Ministro da Defesa Nacional
Senhor Chefe de Estado-maior
do Exército,
Distintas e distintos convidados,
Senhoras e senhores,
Comemora-se hoje o Dia da
Infantaria portuguesa. Mas comemora-se, também, o aniversário da
Batalha de Aljubarrota. Há 626 anos,
não muito longe daqui, um punhado
de voluntários, homens livres, enfrentou a melhor cavalaria de então
naquilo que todos consideravam ser
uma batalha perdida. Diziam os sábios da época que nunca uma força
de infantaria seria capaz de resistir
a um ataque frontal da cavalaria
pesada.
Naquele final de tarde provou-se que os sábios estavam errados.
Uma vez mais errados. Contra todas
as probabilidades o quadrado resistiu. O dia não foi dos condestáveis,
da alta nobreza nos seus cavalos
ou dos sábios cheios de certezas.
O dia foi dos peões. Dos infantes.
E foram esses homens, os vossos
homens, que ensinaram uma lição
a este país. Uma lição que não podemos esquecer. Ensinaram-nos
que o engenho é mais do que os
meios, que a determinação é mais
do que a sorte, que o querer é mais
do que o fausto de um estandarte.
Ensinaram-nos que com pouco se
faz muito.
O dia, repito, foi dos peões. Dos
infantes. Dos vossos infantes. Da
gente boa que ali estava. Não pelas
honrarias mas somente pela honra
de ali estar.
Senhor Chefe de Estado-maior
do Exército,
Distintas e distintos convidados,
Senhoras e senhores,
Infantes,
Esta semana tomámos uma série de medidas difíceis. O congelamento da progressão das carreiras,
os cortes na despesa, a suspensão da abertura do primeiro ciclo
16
Nº 192 DEC11
do ensino básico
no Colégio Militar.
Podia não estar presente nesta cerimónia. Seria, porventura, mais cómodo.
Evitaria o risco de
ouvir algumas críticas. Umas compreensíveis e justas
outras nem tanto.
Mas o comodismo
não pode tomar o lugar da lealdade
e da frontalidade. Porque são estes
os valores que orientam as Forças
Armadas e inspiram a confiança. A
confiança no camarada que, lado a
lado, nas horas difíceis nos estimula
a vencer. Por causa disso fiz questão de aqui estar hoje. Quando me
convidaram para Ministro da Defesa
Nacional conhecia as dificuldades
da missão que me entregavam.
Sabia o que era preciso fazer e o
que estava em causa. E aceitei ser
vosso ministro. Com a mesma vontade que me motivou a estar aqui
hoje. Digo-vos que esta semana tomámos medidas difíceis. Digo-vos
também que só estamos no princípio. Perguntam-me muitas vezes
se podemos vir a cometer alguma
injustiça neste caminho. Não vos
posso garantir que isso não aconteça. O que vos posso garantir é que
aqui estarei para as corrigir se for
caso disso.
O que vos passo e quero, sobretudo, garantir é que não iremos
adiar problemas. Fingir que não
existem. Esperar que se resolvam
sozinhos. Não vou fazer isso. Não
sei fazer isso. E por isso vos digo,
também, que o anterior governo
deve um pedido de desculpas às
Forças Armadas.
Senhor Chefe de Estado-maior
do Exército
Distintas e distintos convidados,
Senhoras e senhores,
Infantes,
© M.Coutinho
Hoje, em Portugal, já não estamos a discutir política, doutrina ou
ideologia. Já não estamos a discutir
nada disso. Estamos a discutir algo
que é muito mais básico na sua essência. Todos sabemos que o país
precisa destas medidas, de mais
este esforço adicional. As dificuldades que nos esperam, o objectivo
que temos, é uma missão que é de
todos. Civis ou militares. E vamos
cumpri-la. Não será o ministério da
defesa nacional, não será o Ministro
da Defesa Nacional, não serão as
forças armadas que vão falhar ao
país. A mim, civil, vosso ministro,
disseram-me na primeira vez que fiz
o caminho para o Restelo: “Só se é
verdadeiramente militar quando se
é soldado. Só se é soldado quando sem olhar a medos se responde
presente”. Na altura não imaginava
quao exigente é dar na prática sentido a esta máxima. Hoje, apenas dois
meses depois, julgo já estar a beber
do seu significado. Do seu verdadeiro significado. Tenho a certeza que
as forças armadas, e o exército em
particular, serão capazes de cumprir
as missões que lhe estão confiadas.
Independentemente das adversidades, independentemente das
dificuldades. Independentemente
dos meios que tenha à sua disposição. Nesta hora crítica para a nossa Pátria, tenho a certeza que, tal
como há 626 anos, todos seremos
infantes dignos da nossa história.
Todos saberemos, sem olhar a medos, responder presente ao serviço
de Portugal
Disse.
se esperou a
serenidade
na
desordem, a fé
inabalável
no
seio da descrença, a esperança
ilimitada no meio
do
desespero.
As suas singulares qualidades
morais sempre
foram um factor
diferenciador e
potenciador da sua acção. A sua
resistência ao sofrimento, a sua
habilidade no combate, a sua tenacidade e vontade de vencer, ditaram em todos os casos a sorte
das batalhas, que é afinal a sorte
da própria guerra.
Mas, se como disse Roberto
Durão, em Aljubarrota todos foram
infantes, no mundo actual tal já
não se nos afigura como possível.
Naquele tempo, a escolha judiciosa do terreno, a capacidade de aguentar
“(…) Só quem soube sofrer, pode sonhar.
o poder de choque do
Só quem soube lutar, sabe vencer.
Só quem soube amar, sabe morrer e renascer
adversário, a coesão
e, entretanto, rir e confraternizar…
e precisão do fogo
“Mas, afinal, quem soeis?
do defensor, aliados
A que raça de heróis ou loucos pertenceis?”
a uma vontade férrea
Vós me respondereis:
de querer continuar a
“Nós somos os infantes, os verdadeiros conquistadores.
Criámos e desbravámos esta Pátria;
ser Português, foram
Estivemos em Ourique, em Aljubarrota,
factores
suficienteem Alcácer – Quibir,
mente
catalisadores
na vitória e na derrota,
da diferença operasem nunca desistir …
É isto que nos faz
cional que levaria ao
fortes e humildes
sucesso.
serenos e confiantes
Hoje, o infante,
seja na guerra ou na paz.
para
além dos seus
É esta teimosia em nunca desistir,
atributos de sempre
em querer sempre ter esperança,
em saber chorar e rir
a que já anteriorpois nenhum fracasso nos causa..
mente aludimos, tem
e a vida por nós passa
de ser detentor de
transfigurando em glória a própria desgraça.
uma grande mobiliPerdoem-nos este “desplante”;
Cristo, se fosse militar,
dade, versatilidade,
seria infante! (…)”
agilidade e potência
Estrato do poema “Homenagem à Infantaria”
de fogo, disponíveis
Senhor Ministro da Defesa
Nacional
Senhor General Chefe do
Estado Maior do Exército
Senhor Presidente da Câmara
Municipal de Mafra
Ilustres convidados
Infantes
O estrato do poema que acabo de ler, intitulado “Homenagem
à Infantaria”, é da autoria de um
distinto oficial de cavalaria, de seu
nome Roberto Durão, que o escreveu para homenagear a Infantaria,
a Rainha das Armas, que hoje
comemora o seu Dia evocando
o feito de Aljubarrota, onde todos
os combatentes actuaram como
Infantes. Este poema traduz, de
forma sublime, o Espírito, o sentimento, a inabalável força interior, e
a conduta firme e determinada dos
Soldados anónimos que pertencem à Infantaria. Efectivamente,
do soldado de infantaria sempre
© M.Coutinho
AZIMUTE
Intervenção do Ex.mo Diretor Honorário da Arma de Infantaria
designadamente através dos novos armamentos, viaturas blindadas e helicópteros, permitindo-lhe
conduzir, com êxito, as operações
em que se insere.
A Infantaria não pode, porém,
lutar só, de forma isolada. Ela precisa de sentir à sua volta o calor
amigo e o apoio forte dos militares da Força Aérea, dos marinheiros, dos artilheiros, dos cavaleiros
blindados e dos diversos serviços
de apoio, sem os quais ela não
pode mover-se, disparar, viver e
comunicar.
O Infante, mais do que nenhum
outro soldado, necessita de todo o
apoio que lhe possa ser fornecido,
tornando menos árduas as suas difíceis e complexas tarefas e maior
a probabilidade de poder sobreviver no campo de batalha.
Mas, não será demais recordar
que, se o marinheiro depende do
seu navio, o aviador do seu avião,
o artilheiro do seu obús e o cavaleiro do seu carro de combate, o
Infante depende, apenas, no último e verdadeiro momento em que
vê o inimigo cara a cara, do automatismo dos seus reflexos duramente treinados, da firmeza do seu
espírito e da força da sua coragem.
É nisto que se funda, afinal, a verdadeira grandeza da Infantaria.
É esta grandeza que temos
Nº 192 DEC11
17
AZIMUTE
testemunhado nos diversos teatros
de operações em que a Infantaria
tem vindo continuadamente a reforçar a credibilidade e o prestígio do Exército e de Portugal, nos
Balcãs, no Médio Oriente e em
África, fazendo uso das suas mais
profundas forças morais, pautando a sua actuação por elevados
padrões de desempenho, ao nível dos seus congéneres aliados,
dando um visível e notório contributo para a segurança alargada da
Nação no seio da Aliança Atlântica
e para a defesa dos superiores
interesses nacionais, aquém e
além-fronteiras, numa demonstração inequívoca de competência e
de saber fazer. A todos os infantes o sincero e reconhecido agradecimento do Director-Honorário
da Arma, que incontornavelmente
estendo a todos os vossos familiares – pelas angústias e ansiedades
acrescidas, pelo primado do serviço em detrimento da família, pelo
indispensável apoio de retaguarda,
enfim, pelas exigências inerentes à
condição militar.
Nos tempos que se seguem não
esperamos menos dos Infantes.
Pelo contrário, a actual conjuntura
continuará a exigir de todos nós
sacrifícios acrescidos e uma entrega ainda maior, que façamos mais
e melhor com menos recursos, que
mantenhamos a excelência como
padrão de actuação, para que possamos dar continuidade e elevar
bem alto as tradições e os pergaminhos da Arma de Infantaria.
Por tudo isto somos obrigados
a reconhecer e a afirmar publicamente, para terminar,
BEM HAJAS INFANTE!
VIVA A INFANTARIA!
Intervenção do Comandante da Escola Prática de Infantaria
Discurso do Coronel de
Infantaria Jorge Manuel Barreiro
Saramago nas comemorações do
14 de Agosto, Dia da Infantaria e
da Escola Prática de Infantaria
“Excelentíssimo
Senhor
Ministro da Defesa Nacional,
Excelência,
A presença do Ministro da
Defesa nesta cerimónia constitui
para nós um inequívoco sinal do
interesse pelo acompanhamento das actividades desenvolvidas
pelo Exército e em particular pelas suas realizações nas áreas
da Formação, Treino, Emprego
Operacional, Cooperação TécnicoMilitar e apoio à Investigação e
Desenvolvimento, que se constituem como algumas áreas de actividade em que a Escola Prática de
Infantaria colabora ao serviço do
Exército e de Portugal.
Excelentíssimo
Senhor
General Chefe do Estado-Maior
do Exército,
Excelência,
Os militares e civis que devotada e afeiçoadamente servem nesta
Escola Prática sentem-se, uma vez
mais, altamente distinguidos com a
presença de V. Exa. que interpretam como um sinal de confiança e
camaradagem, que marcadamente
18
Nº 192 DEC11
nos sensibiliza
e
reconhecidamente agradecemos, mas
também como
um sinal do
acompanhamento próximo,
e
permanente cuidado de
V. Exa., com a
adequação
e
aperfeiçoamento
técnico e tecnológico dos recursos disponíveis para
a Formação, constituindo-se para
nós num incentivo para continuar
a bem servir o Exército no cumprimento das missões que nos são
superiormente atribuídas.
Excelentíssimo
Senhor
Presidente da Câmara Municipal
de Mafra,
A presença de V. Exa. neste dia
é por nós muito apreciada e reconhecida como uma manifestação
da fácil e frutuosa ligação entre
a instituição militar e a sociedade
que nos envolve no concelho de
Mafra.
A Escola Prática de Infantaria
realça com sentida gratidão e,
grande apreço a elevada disponibilidade de V. Exa. para a
© M.Coutinho
cooperação que se desenvolveu e
da qual, em conjunto muito temos
beneficiado ao longo dos últimos
anos.
Através de V. Exa. saudamos
todas as entidades do concelho e
da autarquia que superiormente
dirige. Bem hajam por se juntarem
a nós neste dia de especial significado para a nossa Escola Prática.
Excelentíssimo
Senhor
Tenente-General
Director
Honorário da Arma de Infantaria,
Meu General,
Sentimos com elevada honra
e pundonor a presença do meu
General, em quem todos os Infantes
actualmente se revêem, cumprindo
as missões que lhes foram atribuídas em Território Nacional ou a milhares de quilómetros de distância
que nos são fixadas pelo Exército.
Pode o meu General continuar
a contar com a total disponibilidade
e empenhamento de todos quantos devotadamente servem nesta
Escola.
Exmos. Senhores Oficiais antigos Comandantes da Escola
Prática de Infantaria
A vossa presença é o testemunho do apego que é sentido por
quem serve nesta grande Casa,
em todas as suas dimensões.
Hoje, posso afirmar que sei o que
é esse sentir, bem como o que
significa o peso e o valor destas
paredes de história e de tradição
que foram também abrigo de todos
quantos nos antecederam e onde
se escreveram páginas que marcaram de forma indelével a nossa
história. Esperamos ter feito jus ao
privilégio que nos foi concedido
para aqui servir e ao legado que
nos foi deixado por V. Exas.
Concluindo nos próximos dias
o exercício das minhas funções,
passo o testemunho com os mais
sinceros e profundos votos de sucesso ao nosso novo Comandante,
Cor Boga Ribeiro.
Exmos. Senhores Oficiais
Generais
Autoridades Civis, Militares e
Religiosas,
Ilustres Convidados
Infantes,
Em finais de Julho de 1385,
Portugal vivia um dos momentos
mais difíceis da sua história. O
Exército Português estava reunido em Abrantes, e ali discutia-se a
táctica da guerra, havendo divergências quanto às modalidades de
acção a seguir, mas Nuno Álvares
Pereira, jovem capitão, cansado da
retórica toma a iniciativa, decide
fazer acontecer e avança contra o
inimigo tornando-se o principal responsável pela continuidade e definitiva afirmação de Portugal como
Nação e independente.
Assim podíamos começar a
contar a página de glória, talvez
uma das mais heróicas da nossa
história que hoje celebramos – a
Batalha de Aljubarrota. A diferença esteve na capacidade de liderança do seu Comandante e no
crer de um punhado de soldados
na defesa de um pedaço de terra
por que se é capaz de morrer  a
Pátria, no génio de Miguel Torga,
preservando a independência de
Portugal com a dádiva de sangue
e de sacrifício dos seus Soldados.
São estes valores de devoção
à Pátria, de humildade, de espírito
de sacrifício e abnegação que caracterizam o Soldado de Portugal,
que continuam a ser o culto dos
Infantes de hoje e com os quais
através de uma liderança forte,
do fazer acontecer, que trazemos
para o presente na formação dos
jovens líderes da Infantaria.
Fundados na solidez dos valores que a tradição histórica nos
transmite e nas paredes deste convento, onde com orgulho e coesão
servimos a Infantaria e o Exército,
evocamos também hoje a carta de
lei de 22 de Agosto de 1887, determinando a criação da Escola
Prática de Infantaria e Cavalaria
em Mafra, dando início a uma presença contínua e organizada dos
militares nesta vila, em perfeita
harmonia com as suas gentes, que
neste mesmo dia 14 de Agosto,
mas de 1887, levou uma representação de Mafrenses a agradecer a
el-Rei D. Luís I, o benefício que a
terra acabara de receber.
Militares e Civis da Escola
Prática de Infantaria,
Na passagem de mais um ano
de actividade orientado para a excelência, justifica-se apresentar um
balanço das actividades desenvolvidas, nos últimos 12 meses, numa
retrospectiva que se pretende não
exaustiva, mas que releve suficientemente a dimensão do nosso trabalho, em prol do cumprimento da
missão da Infantaria e do Exército.
Continuamos a orientar as nossas prioridades para a primeira das
tarefas explícitas da nossa Missão
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
ao serviço da Pátria. Na pessoa do
meu General saudamos todos os
antigos Directores da nossa Arma,
Comandantes das Unidades de
Infantaria e todos os Infantes que
neste dia evocam os valores e as
tradições que nos caracterizam.
Excelentíssimo
Senhor
Tenente-General Comandante da
Instrução e Doutrina do Exército,
Meu General,
Neste dia festivo, apraz-nos salientar que apesar do curto período
de tempo decorrido desde que o
meu General assumiu as actuais
funções, sentimos a presença activa e orientadora de V. Exa., incutindo-nos confiança e esperança
no futuro para nos assegurar os recursos adequados ao cumprimento
das missões, para nos definir critérios de rigor e de exigência e para
nos manifestar o reconhecimento
pelas realizações de sucesso.
Através de V. Exa. saúdo todos os Senhores Oficiais Generais
Comandantes dos Órgãos Centrais
de Administração e Direcção e da
Academia Militar, registando com
apreço a distinção com que nos
quiseram honrar ao associarem-se a esta cerimónia que interpretamos não só pela importância e
transversalidade da formação mas
também pelo espírito aglutinador
do Exército.
Excelentíssimo
Senhor
Major-General
Director
da
Formação,
Meu Comandante,
O acompanhamento próximo e
constante que o meu General nos
tem dedicado, de dia e de noite,
nos momentos de comemoração
e nos momentos de intensa actividade prática, fazem-nos sentir,
por um lado, a importância que o
Exército, atribui à formação dos
seus Quadros e Tropa, como elemento central da qualidade das
nossas Unidades Operacionais
e da excelência do Soldado de
Portugal e por outro, maior confiança e segurança na justeza do
nosso contributo para as metas
19
AZIMUTE
20
– ministrar formação – dando cumprimento às directivas e orientações superiormente recebidas.
A Escola Prática de Infantaria
é uma entidade de Formação
de Qualidade, Certificada pela
Direcção de Serviços de Qualidade
e Acreditação, que tendo visto, no
corrente ano mais uma vez homologado e reconhecido, o seu Curso
de Formação Pedagógica Inicial de
Formadores, iniciou o desenvolvimento de uma profunda actividade de reforma dos processos de
funcionamento agora ao nível das
actividades de apoio à Formação,
conscientes que estamos de que o
sucesso é determinado pela aptidão de satisfazer as necessidades
e expectativas, da Infantaria e do
Exército, no domínio da Formação
de forma sustentada e equilibrada.
Deste modo, tendo como horizonte a sua Certificação já no próximo ano lectivo, como organização
de Gestão Global pela Qualidade
e Excelência, reformularam-se os
processos de trabalho necessários
à conformidade com as normas
ISO 9001 e 9004, aproveitando-se
as sinergias resultantes das múltiplas vertentes tecnológicas que
possuímos em plena produção,
mas também as resultantes da plataforma de e-learning do Exército,
que nos vieram permitir uma ligação mais eficiente aos alunos dos
diversos cursos de que somos
responsáveis e, dessa forma, nos
possibilitaram que organizássemos o trabalho e concentrássemos
o nosso esforço nessas reformas
indispensáveis.
Queremos manifestar o nosso reconhecimento pelo precioso apoio que permanentemente
nos foi prestado pelo Comando
da Logística, especialmente através da sua Direcção de Material
e Transportes e Direcção de Infraestruturas, que nos permitiu modernizar diversas áreas funcionais,
mas também ao Comando do
Pessoal através da sua Direcção
de Administração de Recursos
Nº 192 DEC11
Humanos que nos assegurou os
efectivos necessários para concretizar os objectivos que fixámos
para o ano de actividade que hoje
encerramos.
Com essas condições, orientamos o nosso esforço para a obtenção de maior eficiência ao longo de
quatro eixos:
- Pelas pessoas: melhorando
as condições de trabalho e de vida
interna, e criando novas oportunidades de formação e de experiência profissional, mas também através de uma cultura de exigência
e de responsabilidade colectiva e
individual bem patente nos resultados e objectivos alcançados;
- Pelos processos: modernizando e implementando novas formas
de planeamento, gestão e controlo, confrontando sempre a nossa
actividade com os resultados obtidos, através de avaliações globais
periódicas;
- Pelos recursos materiais e financeiros: efectuando a adequada
manutenção ou a oportuna substituição do material desnecessário
ou obsoleto e obtendo mais-valias
de poupanças que nos permitiram
fazer muito mais com menos.
- Pelas Infra-estruturas: modernizando e requalificando instalações, sempre no respeito pelas
características patrimoniais do
convento, criando as condições
necessárias para melhorar a produtividade pela introdução de novos processos que incrementem a
eficiência do trabalho;
Relativamente às tarefas que
compõem a nossa Missão, no
estrito âmbito do programar, planear, conduzir, executar e avaliar
a formação, realizámos todas as
acções inicialmente previstas, no
âmbito da formação dos Oficiais e
Sargentos do Quadro Permanente
e do Regime de voluntariado e
contrato e também das Praças;
Qualificamos
Oficiais
e
Sargentos do Exército, nas áreas
do tiro, do combate em áreas edificadas, das operações de apoio à
paz, da formação de formadores
e do diagnóstico, planeamento e
avaliação da formação, domínios
em que somos Entidade Técnica
Responsável.
Adicionalmente,
colaboramos na formação de
quadros e praças para as Forças
Nacionais Destacadas e para as
NATO Response Forces e Battle
Group, e também na formação
dos Cadetes da Academia Militar
e dos jovens Sargentos da Escola
de Sargentos do Exército e ainda
no apoio ao Treino Operacional
dos contingentes multinacionais
do Allied Joint Force Command
Lisbon, para resumir apenas algumas das mais significativas.
No âmbito da Cooperação
Técnico-Militar apoiamos e ministramos acções de formação
na República de Angola e na
República Democrática de TimorLeste; no âmbito das Forças
Nacionais Destacadas conduzimos no Uganda uma missão a
favor da formação do Exército
da Somália e estivemos presentes no Afeganistão na missão
International Security Assistance
Force, onde com novos processos e tecnologias educativas ao
serviço da formação, maximizamos externamente e internamente
a nossa actuação, com base em
abordagens realistas e sustentadas em dinâmicas impulsionadoras de uma transformação autêntica para melhor servir o Exército
e Portugal fazendo mais e melhor.
No âmbito das actividades de
Formação, executámos a revisão
da totalidade dos referenciais dos
cursos à nossa responsabilidade,
actividade que se concluiu no passado mês de Julho com o envio ao
Comando da Instrução e Doutrina
do 25º referencial. De entre estes,
destacamos o relativo ao Curso de
Apoio de Combate destinado aos
jovens Alferes de Infantaria, que
só foi possível com a incorporação
das lições aprendidas que a realização do primeiro curso permitiu,
e por isso queremos reconhecer o
De entre as centenas de actividades relevo as acções de formação para os quadros superiores do
BPI e da Volkswagen Autoeuropa,
mas também o apoio a actividades culturais em parceria com a
Câmara Municipal e com o Palácio
Nacional de Mafra e ainda inúmeras actividades de apoio a Escolas
Secundárias, Universidades, associações culturais e desportivas e
Grupos de escuteiros e de jovens,
para além das acções de solidariedade social que nos orgulhamos
de poder continuar a conduzir.
Destacamos por fim nossa participação no esforço do Exército
no domínio da Investigação e
Desenvolvimento, através do contributo em projectos desenvolvidos
por empresas e universidades,
relevando os relativos a vidros balísticos, às novas fibras têxteis, à
micro-geração energética portátil e
ainda à robótica.
Oficiais, Sargentos, Praças
e Funcionários Civis da Escola
Prática de Infantaria
Este foi um ano lectivo vivido
intensamente por cada um de nós,
num ambiente de forte coesão, camaradagem e identidade colectiva
no seio da Família da Infantaria,
onde nos revemos no seu passado e nos valores e princípios
que o seu Patrono São Nuno de
Santa Maria continua a inspirar.
Permitam-me que publicamente
testemunhe que têm fundadas,
justificadas e visíveis razões para
afirmar que cumpriram a missão.
Em vós está patente a prova
de que o capital humano não pode
ser contabilizados de forma puramente matemática, mas sim de
forma bem mais complexa, onde
a motivação, o sentido do dever,
a coesão, a vossa disponibilidade, empenhamento e competência
técnico-profissional, e atrevo-me
a dizer o vosso apaixonado e abnegado apego pela nossa Escola,
são factores multiplicadores para
as realizações de sucesso e do fazer acontecer.
Não tenho dúvidas que cada
um de nós se pretende continuar
a rever numa Escola Prática prestigiada e indiscutivelmente reconhecida pela qualidade da sua acção,
através de um trabalho sério e rigoroso, com empenhamento sem
reservas e com lealdade sem restrições ao serviço do Exército e de
Portugal.
Ser comandante de tal gente,
que tudo dá, foi um privilégio e
uma subida honra.
Excelentíssimo Senhor Ministro
da Defesa Nacional,
Excelentíssimo Senhor General
Chefe do Estado-Maior do Exército,
Excelências,
Podem continuar a contar com
o dever, o saber e o querer fazer,
da Casa-Mãe da Infantaria, com
dedicação, lealdade, disciplina e
rigor para bem servir o Exército e
Portugal.
AD UNUM”
AZIMUTE
apoio imediato do Comando das
Forças Terrestres através da sua
Brigada Mecanizada, pois sem
ele não nos teria sido possível
concretizá-lo.
No domínio da Doutrina da
Arma e Estudos Técnicos, foram
elaborados 16 novos manuais
técnicos e tácticos que serão disponibilizados através da rede de
dados do Exército, incluindo já as
respectivas versões em formato e-book, dos quais destacamos
o Manual PANDUR Pelotão e
Secção de Atiradores por ter sido
o único realizado em colaboração
com o Regimento de Infantaria
13, Regimento de Infantaria 14
e Regimento de Cavalaria 6.
Relevamos ainda a realização
das Jornadas de Infantaria, este
ano dedicadas ao Combate e as
Operações Futuras nos baixos
escalões tácticos de Infantaria, e
que se constituem como elemento
incontornável da reflexão da nossa
Arma e garante da sua modernidade operacional, que nos permitirá
no próximo ano lectivo prosseguir
a actualização técnica e táctica do
emprego dos diversos escalões
das nossas Unidades.
Conduzimos ainda ao longo
deste ano uma grande diversidade de realizações e apoios a entidades externas que mereceram o
reconhecimento dos intervenientes
e das gentes da região, portugueses que nos envolvem, respeitam
e acarinham.
Azimute
Nº 192 DEC11
21
AZIMUTE
Exposição do 14 de Agosto
Processos, Formação e Inovação Tecnológica
TCor Inf Mário Álvares
A exposição alusiva às cerimónias de 14 de Agosto de 2011,
repartida por seis expositores,
procurou apresentar a missão
da Escola e as principais tarefas, processos e ferramentas
de controlo para apoio à gestão
dos seus recursos humanos, financeiros e materiais; processos
tecnológicos de apoio aos processos formativos pelos quais a
Escola é responsável; e projetos
de investigação e desenvolvimento que vem conduzindo com
empresas e estabelecimentos de
ensino superior contribuindo assim, ainda que indirectamente,
para o desenvolvimento da tecnologia e economia nacional.
No primeiro expositor foram apresentados o GANTT
PROJECT e o FACTUPLUS.
O GANTT PROJECT é
uma ferramenta eletrónica que
a Escola utiliza para garantir
uma GESTÃO GLOBAL PELA
QUALIDADE E EXCELÊNCIA,
sendo a única forma para alocar pessoas e recursos e estabelecer dependencias entre
tarefas que sejam concorrentes
para projetos/objetivos comuns.
Com a ferramenta de gestão
FACTUPLUS gerem-se recursos
materiais para que com previsão
e por antecipação haja assertividade na resposta às diferentes
subunidades da Escola, sendo
22
Nº 192 DEC11
possível ter uma clara visão, em
tempo real, das existências em
depósito. Entretanto, a partir de
requisições processadas electrónicamente, a resposta em tempo
é assegurada, enquanto o controlo que é exercido por artigo
permite estabelecer estimativas
de consumo por subunidades.
No
expositor
seguinte demonstrou-se o PORTAL
COLABORATIVO, o MOODLE e
a plataforma AGA.
O PORTAL COLABORATIVO
é uma ferramenta privilegiada
para promoção do trabalho em
equipa da Escola e veículo essencial para a difusão de informação de interesse comum entre
as diferentes subunidades da
Escola. Por exemplo, em termos
de grupos de trabalho internos e
externos, os militares participantes podem utilizar esta ferramenta para que à distância possam
partilhar documentação de interesse comum e, em certa medida, organizar trabalho e sistematizar informação.
Já
com
a
plataforma
MOODLE, ferramenta de trabalho essencial para que o aluno
trabalhe ao seu rítmo, os conteúdos, presenciais e não presenciais destinados à formação, estão acessíveis ao aluno a partir
de casa na INTERNET.
Por fim, com a plataforma
AGA – Aplicação por Gestão
de Actividades, o Gabinete de
Programação da Escola optimiza
recursos para apoio à formação,
nomeadamente em termos de
Entidades responsáveis, infra-estruturas e áreas de formação
e materiais críticos, como viaturas ou armamento (no futuro
pretende-se que possa gerir uma
bolsa de formadores da Escola).
Terminada a visão sobre alguns processos essenciais à
formação e optimização de ferramentas de apoio à gestão e
ação de direção e controlo foram
apresentados alguns projetos de
investigação e desenvolvimento
que a escola vem desenvolvendo
com empresas e outros estabelecimentos de ensino.
Num primeiro expositor foram
apresentadas as potencialidades de um mini unmanned aerial
vehicle, também designado por
UAV, sistema concebido pela empresa TEKEVER e que a Escola
vem auxiliando a desenvolver
e otimizar. Num outro expositor
foi apresentado um sistema de
apoio à formação em áreas edificadas que foi implementado pela
empresa SEGURTEC que, para
além de outras potencialidades
como a segurança da área, permite a gravação de tácticas técnicas e procedimentos nos baixos
escalões tácticos para posterior
AZIMUTE
análise e correcção.
Ainda no âmbito da investigação
e
desenvolvimento
tecnológico foram ainda apresentadas mais três parcerias:
empresa VICER, Projeto MEP
e Universidade do Minho. Com
a VICER, empresa vocacionada para a indústria vidreira, a
Escola vem apoiando a testagem de vidros balísticos de acordo com padrões e requisitos de
certificação da União Europeia.
Com o projecto MEP, que envolve a TEKEVER, Instituto de
Engenharia Mecânica e Gestão
Industrial e a ALMADESIGN, a
Escola vem apoiando o desenvolvimento de tecnologia de micro-geração de energia.
Embora o projeto com a
Universidade do Minho na área
da proteção e sobrevivência ainda esteja a dar os primeiros passos, essa universidade esteve
presente e apresentou novas fibras para a concepção de texteis
inteligentes e interactivos, nano
fibras, entre outros materiais.
No penúltimo expositor foi efetuado um ponto de situação sobre a missão European Training
Mission
Somalia
(também
designada pela EUTM Somalia)
e, recorrendo a uma maqueta,
foram apresentadas as potencialidades e desenvolvimento da
infra-estrutura de Combate em
Áreas Edificadas e sua afirmação
como Centro de Excelência em
Combate em Áreas Edificadas.
A Escola Prática de Infantaria,
entre Julho de 2010 e, mais recentemente, Julho de 2011,
participou na missão EUTM
Somalia com uma equipa de formação na área do Combate em
Áreas Edificadas com 13 militares. A missão, onde para além
de Portugal participaram mais
13 Estados Membros da União
Europeia e as Forças Armadas
Ugandesas, é uma missão de
treino de militares somalis e foi
conduzida, por razões de segurança, no Uganda.
Para além do módulo formativo que foi responsabilidade da
Escola, a formação ministrada,
orientada para futuros soldados, sargentos e oficiais somalis, centrou-se nas operações de
combate de infantaria até ao nível Pelotão, da responsabilidade
da Espanha em termos de sargentos e da França em termos
de oficiais, e contou ainda com
os módulos de especialidade de
comunicações (responsabilidade
alemã), suporte básico de vida
(responsabilidade italiana) e minas e armadilhas (responsabilidade italiana).
Na rentabilização da área de
formação de combate em áreas
edificadas, em todo o processo
de aprontamento, a Escola, com
o apoio do Exército Português,
adquiriu e utilizou ao longo da
formação no Uganda novas dinâmicas de formação das quais
se destaca a simulação com armamento de AIRSOFT, sistema
que pelas suas especificidades
introduz um grande realismo na
vertente formativa.
O Centro de Excelência em
Combate em Áreas Edificadas,
com base num plano de investimento faseado, procurará crescer numa óptica de optimização
de valências infra-estruturais que
concorram para a certificação da
área como Centro de Excelência
para essa área do conhecimento.
Sendo já uma área essencial para a formação ministrada pela Escola mas, também,
área de treino privilegiada da
Nº 192 DEC11
23
AZIMUTE
componente operacional e algumas forças de segurança, comporta já uma torre multiuso, um
laboratório, habitações multifuncionais com escadas, compartimentos e coberturas, e sistema
de redes de saneamento simulados para a prática de progressão
nesses ambientes.
Por fim, um último expositor,
espelharam-se as principais atividades formativas realizadas
pela Escola Prática de Infantaria
24
Nº 192 DEC11
que entre formação e apoios
externos:
• envolveu mais de 270 formadores e mais de 1.000 formandos
• consumiu mais de 8.000 horas
em formação
• Ministrou mais de 40 acções
de formação entre cursos de
formação inicial, progressão
na carreira e formação contínua, tendo
• nas suas quatro carreiras de
tiro mais de 9.000 utilizadores
repartidos por mais de 1.500
horas de utilização
• e o seu Complexo de Combate
em Áreas Edificadas, entre
apoios da própria Escola, de
outras unidades do Exército
Português, Forças Armadas e
Forças de Segurança, registou
a utilização de mais de 11.000
utilizadores repartidos por mais
de 2.000 horas de utilização.
Azimute
TCor Inf Rui Dias
procurar evidenciar a sua marca/idenA busca da qualidade e da excelêntidade e projetar a nossa Escola para
cia na atuação da Escola tem vindo a
um Sistema de Gestão da Qualidade
ser racionalizada ao nível dos seus
(SGQ) integrado.
meios e na reinvenção dos seus
processos, tendo sido identificada
a necessidade de um investimenGestão sustentada
to fundamental na otimização de
Com os pressupostos elentempos e de procedimentos. Para
cados para a implementação de um
garantir que esta aspiração seja alSGQ integrado, pretendemos garancançada, tem vindo a ser controlados
tir que são assegurados:
periodicamente os desvios verificados
- O uso eficiente de recursos;
e adequação das abordagens aos re- Figura 1 – Áreas de responsabilidade
- A tomada das decisões baseada
técnica para a formação da EPI
cursos existentes, através da uma
em factos;
ajustada monitorização, coordenação e avaliação dos
- As necessidades e expectativas de todos quanobjetivos e projetos, assentes numa ação partilhada
tos interagem no sistema;
de comando/direção, ativa e responsável.
- Uma perspetiva de planeamento de médio/longo
As pessoas, militares e civis, continuarão a ser
prazo;
o impulsionador central do desenvolvimento, onde o
- A monitorização e a análise constante e regular
reforço da liderança efetiva através do envolvimento
do ambiente interno e externo;
pessoal aos vários níveis e nas várias categorias, se- As relações mutuamente benéficas com os parrão um denominador comum em todas as atividades
ceiros locais e nacionais;
regimentais ou formativas. É neste pressuposto que
- A identificação dos riscos associados e a implea EPI se pretende continuar a projetar no futuro, comentação de medidas de mitigação;
locando-se numa posição de vanguarda e referência,
- A previsão das necessidades de recursos de pesdentro do Exército nas diversas áreas pelas quais é
soal, incluindo as competências requeridas;
tecnicamente responsável, sobretudo naquelas que
- O estabelecimento de processos apropriados
compõem a atividade central da Escola ou seja: a
para atingir os nossos objetivos, capazes de responformação.
der rapidamente a alterações de condições;
A estrutura regimental está a ser dotada com pro- A avaliação regular e consequente execução de
cessos que irão conduzir de modo integrado à exceações corretivas e preventivas apropriadas;
lência organizacional como um todo, concorrendo para
- A criação de oportunidades de aprendizagem a
a sustentação de políticas de controlo
de custos. A definição e implementação
de uma política de qualidade, visa integrar, otimizar e conferir qualidade aos
processos internos na EPI, vistos como
subsistemas de uma organização, que
ao serviço do Exército, contribui para a
excelência dos processos na Escola.
Tendo sempre presente suas tradições e raízes, mas voltada para o futuro, a EPI quer assentar a sua prática
em processos dinâmicos, versáteis, estratificados, dirigidos e controlados de
forma sistemática e transparente, que
levem à economia de recursos e à otimização das suas capacidades através
da melhoria contínua, pois só assim
poderá, num contexto de extrema racionalização dos recursos disponíveis,
Figura 2 – Planeamento, controlo e avaliação dos objectivos (GanttProject)
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
Um Sistema de Gestão da Qualidade Integrado
25
AZIMUTE
Figura 3 – Bolsa de formadores por competências
todos quantos servem connosco/ às pessoas, como
fonte de manutenção do dinamismo interno;
- O estabelecimento e manutenção de processos
para a inovação e a melhoria contínua.
Planeamento estruturado
Os processos e as práticas associadas ao nosso
SGQ permitirão:
- A tradução das diretivas internas e externas
em objetivos mensuráveis para todos os níveis do
sistema;
- O estabelecimento de cronogramas para cada
objetivo e a atribuição de responsabilidade e a autoridade para o atingir;
- A avaliação dos riscos e a definição das contramedidas adequadas;
- A atribuição dos recursos requeridos para o desdobramento das atividades necessárias;
- A realização das atividades necessárias para
atingir estes objetivos.
A comunicação de sustentação é desenvolvida de
modo contínuo e oportuno, funcionando tanto vertical,
como horizontalmente e adaptada às diferentes necessidades dos seus destinatários.
Gestão de recursos
Para assegurar uma utilização dos recursos (pessoas, conhecimentos, equipamentos, instalações/
infra-estruturas, materiais, energia e financeiros) consistentes com os objetivos a atingir, estão em otimização, maturação e elaboração um conjunto de processos que nos permitem fornecer, monitorizar, otimizar,
manter e preservar esses recursos.
As pessoas (os militares e os civis) constituem o
nosso recurso mais valioso e mais crítico, e o seu total
envolvimento permite-nos desenvolver a sua aptidão
para criar valor entre todos quanto interagem no sistema, a Escola. O desenvolvimento pessoal alicerçado
na aprendizagem, na transferência de conhecimento
e no trabalho em equipa, assegura a compreensão da
importância do seu contributo e dos papéis que desempenham. Sendo a gestão das pessoas desenvolvida através de uma abordagem planeada, transparente, ética e socialmente responsável, os processos
visam habilitá-las, para:
- A tradução dos objetivos da EPI em objetivos
individuais e em consequentes planos para a sua
26
Nº 192 DEC11
realização;
- A identificação de constrangimentos ao seu
desempenho;
- O assumir a posse e a responsabilidade da resolução dos problemas;
- A avaliação do seu desempenho pessoal, em função dos objetivos individuais;
- A procura ativa de oportunidades de melhoria das
suas competências e das experiências;
- A promoção do trabalho em equipa e o incentivo
Figura 4 – Gestão e controlo de custos das atividades
(FactuPlus)
das sinergias entre pessoas;
- A partilha de informação, do conhecimento e da
experiência dentro Escola.
Para assegurarmos as competências necessárias
é estabelecido o plano de formação e desenvolvimento das pessoas com processos associados.
O reforço da participação e a motivação das pessoas, assenta na compreensão do significado e na
importância das suas responsabilidades e atividades,
projectando a criação e provisão de valor interna e
externamente.
No plano das infra-estruturas, é feita uma adequação para ir ao encontro dos objectivos definidos, tendo presente a sua dependabilidade, o que inclui ter
em consideração a disponibilidade, a fiabilidade e a
manutenibilidade, identificando e avaliando os riscos
associados.
A base de conhecimento para a sustentação das
atividades e objetivos é permanentemente identificada e obtida a partir de fontes internas e externas, tendo em consideração:
AZIMUTE
Figura 5 – Medição, análise e revisão de objetivos através do registo em Painel de Indicadores
- A aprendizagem com as falhas e com os sucessos,
- A retenção do conhecimento e experiência das
pessoas;
- A recolha do conhecimento vindo dos nossos parceiros locais e nacionais;
- A retenção do conhecimento existente mas não
documentado;
- A comunicação eficaz de conteúdos informativos
relativos ao desempenho, às melhorias dos processos e aos progressos sustentados;
- As opções de carácter tecnológico para a melhoria do desempenho global;
- A gestão dos dados e registos consolidada.
No que respeita aos recursos financeiros, estão
já estabelecidos e em desenvolvimento processos de
monitorização, controlo e relato da afetação tendo em
vista a sua eficiente utilização.
Gestão de processos
As atividades dentro de cada processo são determinadas, adaptadas à dimensão e às características
distintivas de cada subsistema (subunidades e secções de Estado-Maior). A gestão dos processos assenta na proatividade, nas interdependências, nos
constrangimentos e nos recursos partilhados, sujeitos
a revisões regulares tendo em vista as ações de melhoria. O seu funcionamento é em rede definido por
fluxogramas chave e os seus interfaces.
No planeamento e controlo dos processos, tem-se
em consideração:
- Os objetivos a serem alcançados;
- As exigências regulamentares e estatutárias (do
sistema e/ou subsistema);
- Os riscos de caráter financeiro;
- As entradas e saídas dos processos;
- As interações com outros processos;
- Os recursos e a informação;
- As atividades e as metodologias;
- A medição, a supervisão e a análise;
- As ações corretivas e preventivas;
- As atividades de melhoria e/ou inovação.
Para cada processo, é nomeado um gestor com
Figura 6 – Ferramentas tecnológicas inovadoras de suporte à conceção, planeamento, execução, controlo e avaliação de atividades
(Portal Colaborativo, Aplicação para Gestão de Atividades – AGA, Plataforma de e-learning do Exército – Moodle, Plataforma de
videoconferência com apresentação de conteúdos – AdobeConnectNow)
Nº 192 DEC11
27
AZIMUTE
responsabilidades e autoridades definidas para estabelecer, manter, controlar e melhorar o processo e as
suas interações com outros processos. As pessoas
associadas aos processos individuais têm as competências necessárias para as tarefas e atividades
envolvidas.
análise do desempenho com base em dados/factos
e na incorporação de lições aprendidas, constitui-se
na atitude fundamental para a melhoria das nossas
capacidades e atividades, face aos objetivos a alcançar e treinando a flexibilidade de reação face às
oportunidades.
As oportunidades de inovação são em permanência identificadas, estabelecendo e mantendo procesMonitorização, medição, análise e revisão
sos eficazes e eficientes, com os recursos adequados
A monitorização/supervisão, medição, análise e
e ajustados. É aplicada através de alterações ao nível
revisão do desempenho acontece através de procesda tecnologia, da organização e dos processos tendo
sos destinados a compilar e controlar a informação,
por finalidade a utilização de novas oportunidades inestabelecendo:
ternas e externas.
- A identificação e compreensão das necessidades
A promoção da melhoria e da inovação de forma
e das expectativas de todos quantos interagem no
sustentada é adotada através da aprendizagem
sistema;
que integra as capacidades individuais de
- A avaliação dos pontos fortes, pontos fratodos quantos aqui servem (militares e cicos e das oportunidades;
vis) com as da nossa Escola, tendo em
- A avaliação das tecnologias de
consideração:
suporte;
- Os valores baseados na nos- A previsão de alterações ao nível das
sa missão, visão e
exigências regulamenestratégia;
tares e estatutárias;
- O apoio a
- A determinainiciativas
de
ção das necessiaprendizagem
dades de recursos
e a demonstra(a
médio/longo
ção
determinada
prazo);
das lideranças em
- A avaliação das
todos os níveis de
atuais capacidades e
atuação;
dos seus processos.
- O estimulo ao trabaO processo de medição
lhos em rede, à interativiassenta em indicadoresdade e à partilha do co-chave de desempenho,
nhecimento dentro e fora
quantificáveis que servem
d e
do sistema (EPI);
base à tomada de decisão.
- O reconheUtilizamos também
a metodologia de
cimento, apoio e
procurar as melho- Figura 7 – Gestão pela qualidade e excelência na execução da missão da EPI recompensa das
res práticas dencompetências
tro e fora da nossa
pessoais;
Escola, com o objectivo de melhorar o nosso desem- A valorização da diversidade e criatividade das
penho (benchmarking).
pessoas com unidade de ação.
As auditorias internas constituem uma ferramenTendo sempre presente suas tradições e raízes,
ta eficaz de análise e melhoria contínua do nosso
mas voltada para o futuro, a EPI quer assentar a sua
desempenho.
prática em processos dinâmicos, versáteis, estratifiA autoavaliação dos subsistemas e do sistema
cados, dirigidos e controlados de forma sistemática
global, é usada para a determinação do nosso dee transparente, que levem à economia de recursos e
sempenho e identificação das boas práticas. Constitui
à otimização das suas capacidades através da meuma metodologia que nos ajuda a atribuir prioridades,
lhoria contínua, pois só assim poderá, num contexto
planear e implementar melhorias e/ou inovações onde
de extrema racionalização dos recursos disponíveis,
necessário.
procurar evidenciar a sua marca/identidade e projetar a nossa Escola para um Sistema de Gestão da
Melhoria, inovação e aprendizagem
Qualidade integrado.
A nossa aptidão e habilitação de efetuarmos a
Azimute
28
Nº 192 DEC11
Cap Inf Parcelas
Sistema de Gestão de
Qualidade
A Expressão “ISO 9001:2000
– Sistemas de Gestão de
Qualidade (SGQ) – Requisitos”,
designa um grupo de normas técnicas que estabelecem um modelo de gestão de qualidade para
as organizações em geral, qualquer que seja o seu tipo e dimensão, sendo sua função promover
a normalização de produtos e
serviços, para que a qualidade
dos mesmos seja permanentemente melhorada. Assim sendo,
a Qualidade deve ser encarada
como um processo contínuo de
mudança que não se coaduna
com uma visão estática, mas que
deve aproximar-se da Qualidade
Total.
Estas normas estabelecem
requisitos que têm como finalidade: auxiliar a melhoria dos processos internos; rentabilizar dos
recursos humanos; monitorizar
o ambiente de trabalho, satisfação dos clientes e colaboradores
num processo contínuo de melhoria do SGQ, podendo estas
ser aplicadas nos mais diversos
domínios, tais como materiais,
produtos, processos e serviços.
O modo como estes processos
devem ser geridos e melhorados
envolve uma abordagem PDCA
(Plan-Do-Check-Act), resumida
na Figura 1.
Novos processos
AZIMUTE
A renovação da eficiência na Escola Regimental
Novos processos, novas dinâmicas
No caso da Escola Prática
de Infantaria, e especificamente na dita “Escola Regimental”,
a necessidade de estabelecer
processos integrados num sistema que simplifiquem a complexa
combinação de recursos (capital
humano, capital intelectual, instalações, equipamentos, sistemas
informáticos, etc.) é indispensável, pois só assim se consegue
atender à satisfação das necessidades das partes interessadas,
assegurando o melhor desempenho do sistema a partir da mínima utilização de recursos e do
máximo índice de acerto.
Contudo, antes do processo
ser implementado, este tem de
Figura 1 – Sistema de Qualidade
Fonte: API – ASSOCIATES IN PROCESS IMPROVEMENT/USA
Nº 192 DEC11
29
AZIMUTE
Figura 2 – Sequência de acções da abordagem PDCA a um problema numa organização.
ser desenhado, devendo responder às seguintes questões:
1.Qual a missão do processo?
Propósito, função e/ou incumbência do processo.
2.Onde o processo começa?
Qual é o limitador do processo,
limites da sua abrangência.
3.O que ele contém? Quais as
actividades principais desenvolvidas pelo processo.
4.Onde termina o seu processo? O que determina o final do
seu processo, limites da sua
abrangência.
5.O que ele não contém?
Actividades fora dos seus
limites de abrangência, mesmo
sendo relacionadas e/ou compatíveis com o processo.
6.Quais os objectivos do processo? Alvo ou fim que se quer
atingir com a missão do processo (níveis de qualidade, índices
de satisfação, competitividade
e custos)
7.Quais os factores críticos de
sucesso? Áreas onde o processo não pode falhar.
8.Pontos chaves do processo?
Pontos do processo que asseguram o sucesso de todos.
9.Quais são os suportes críticos ao processo? Todas as
actividades de suporte ao processo (inspecção, informática,
limpeza, outros processos, etc.)
Outros processos ainda que
existentes, poderão necessitar
de ser redesenhados – Figura 3.
Uma vez desenhado ou redesenhado, é efetuado o mapeamento do processo e identificado
o responsável pelo funcionamento do mesmo, podendo-se recorrer para tal a diversas ferramentas, tais como: diagrama de
blocos, fluxogramas1 funcionais,
1 Define-se um fluxograma como um
método para descrever graficamente
um processo existente, ou um novo
Figura 3 – Reengenharia de processos
Fonte: REENGENHARIA DE PROCESSOS – THOMAS H. DAVENPORT
30
Nº 192 DEC11
processo proposto, usando símbolos
simples, linhas e palavras, de forma a
apresentar graficamente as actividades
e a sequência no processo. A elaboração
de fluxogramas, também chamada de
diagramação lógica ou fluxo, é uma
ferramenta inestimável para se entender
o funcionamento interno e as relações
entre processos.
ao ciclo das ocorrências que
vai desde o seu registo, análise,
acompanhamento, avaliação da
eficácia, até ao seu encerramento, e que deve
envolver
talidade do contexto das não
conformidades, assim como não
permite uma supervisão e comunicação em tempo útil e a todos
os interessados dessas mesmas
não conformidades. Não existindo uma visão global e centralização da informação, o
responsável pelo(s)
processo(s) não
consegue agir
de forma sistematizada, cooperativa e rápida.
Consequentemente,
é afectada a capacidade
Figura 4 – Tablet PC
de agir segundo políticas
os váde melhoria contínua, uma vez
rios níveis da
que os seus procedimentos exiorganização.
gem uma análise de dados completa e contextualizada. Assim,
Novas dinâmicas
de forma a diminuir o tempo de
Um sistema tradicional de
resposta, bem como permitir
2
a comunicação em tempo útil,
comunicação não permite capmantendo uma contínua superturar de forma simples a tovisão e acompanhamento dos
2 Sistema de Comunicação é a rede por
processos, a organização deve
meio da qual fluem as informações, que
implementar formas de comunipermitem o funcionamento da estrutura
de forma integrada e eficaz (Vasconcellos
cação eficazes, o que implica a
1972:10). A capacidade para exercer
criação de sinergias entre o SGQ
influência numa empresa depende, em
e o Sistema de Comunicação em
parte, da eficácia dos seus processos de
comunicação. Por isso não é surpresa de
todas as fases do processo, tais
que a influência tem uma relação com
como:
o desempenho, comparável com a da
• Criação de áreas na Intranet
comunicação (Likert, 1971:71).
AZIMUTE
fluxogramas geográficos, matrizes de responsabilidades, etc.
Este mapeamento do processo,
permite fornecer uma estrutura
para que processos complexos
possam ser avaliados de forma
simples; permita a vizualização
de todo o processo; possibilita a visualização de alterações que
provoquem
impactos;
identifica
facilmente
áreas e etapas
que não agregam valor;
e estima tempos de duração
de cada ciclo para estabelecer os pontos de início e fim do
processo.
Em súmula, devemos ter a
capacidade de desenvolver processos capazes de gerir com
eficácia a informação relativa às
necessidades, no que respeita
Figura 5 – Modelo da organização baseado na abordagem por processos.
Nº 192 DEC11
31
AZIMUTE
Figura 6 – Esquema genérico para implementação de um SGQ através da associação com o Sistema de Comunicação
da organização como veículo de comunicação de informação relativa a políticas de
qualidade, definição de políticas de qualidade, definição de
procedimentos, e atribuição de
responsabilidades.
• Formulários electrónicos na
Intranet (dados internos à organização) e Internet (dados externos, incluindo questionários
de satisfação, reclamações,
informação sobre produtos, alterações, etc.
• Definição da metodologia de
suporte da análise de desempenho, adequação, eficácia e
melhoria do SGQ, através da
criação, edição, armazenamento, controlo de versões, consulta e distribuição electrónica de
documentos.
• Trabalho em grupo directamente nesse formato, definição de
listas de distribuição via e-mail
e definição de diferentes níveis
de acesso na Intranet.
• Recolha de dados através do
Sistema de Comunicação, permitindo a medição do desempenho, eficácia da formação e
avaliações externas e internas.
• Criação de datawarehouses3 e
3 Datawarehouses, é um sistema de
32
Nº 192 DEC11
aplicação de técnicas de data
4
mining .
• Recolha e armazenamento de
evidências em formato digital,
como forma de comprovar a realização e controlo de processos associados ao cumprimento dos requisitos da norma.
• Implementação de novas plataformas de comunicação, permitindo a recolha, análise e armazenamento de dados em tempo
real. (exemplo: utilização de
Tablet PC, sensores, etc.)
Observando a abordagem por
processos defendida pela norma, podemos visualizar a organização como um processo de
grande dimensão, ou macro-processo, em que a sua atividade,
com a utilização de um conjunto
de recursos geridos eficazmente,
computação utilizado para armazenar
informações relativas às atividades de
uma organização em bancos de dados,
de forma consolidada. O desenho da
base de dados favorece os relatórios, a
análise de grandes volumes de dados e
a obtenção de informações estratégicas
que podem facilitar a tomada de decisão.
4 Data mining, é o processo de analisar
grandes quantidades de dados à
procura de padrões consistentes, como
regras de associação ou sequências
temporais, para detectar relacionamentos
sistemáticos entre variáveis, detectando
assim novos subconjuntos de dados.
possibilita a transformação de
entradas em saídas – Figura 5.
Por outro lado, o Sistema
de Comunicação é simultaneamente uma infra-estrutura da
organização e faz parte do sistema de gestão da qualidade,
constituindo-se como um “fio
condutor” para a aplicação dos
procedimentos da organização,
podendo a implementação entre
estes dois sistemas ser efectuado de acordo com o esquema da
Figura 6.
A estrutura das normas ISO,
embora defendendo a abordagem da gestão como um sistema, foi criada para encorajar as
organizações a analisarem as
suas atividades como um processo e alcançarem, para além do
objectivo da certificação, a implementação de um sistema de gestão da qualidade que beneficie
o desempenho operacional de
toda a organização. Com a aplicação das normas ISO podemos
melhorar a estrutura do trabalho
nas tarefas diárias, diminuindo o
tempo perdido e as disfunções,
o que possibilita às pessoas dedicarem mais tempo e energia a
outras atividades.
Azimute
Cap Inf César Garcia
AZIMUTE
A Escola e a importância dos processos na gestão dos
recursos. Uma abordagem para a eficiência e eficácia
organizacional
“Se queres colher em três anos, planta trigo;
Se queres colher em dez anos, planta uma árvore;
Se queres colher para sempre, desenvolve o homem.”
Provérbio Chinês
O objetivo da elaboração deste artigo é, de uma forma clara,
procurar demonstrar como pode
a EPI beneficiar da aplicação
duma metodologia organizacional e funcional baseada em processos, integrada no Sistema
de Gestão da Qualidade e com
vista à racionalização dos seus
recursos humanos, materiais e
financeiros.
Não se pretendendo maçar
o leitor com um vasto conjunto
de definições e conceitos teóricos sobre a implementação e
importância dos processos nas
organizações, importa referir
aqui aqueles que são consideramos basilares para a perceção da metodologia. Por forma
a não nos dispersarmos, foi tida
como principal referência para a
elaboração deste artigo a série
de normas ISO 90001, no âmbito
de uma política de qualidade que
se procura implementar na EPI.
De acordo com a norma NP
1 A denominação ISO está associada
à “International Organization for
Standardization”, ou seja, Organização
Internacional de Normalização. Baseada
em Genebra, foi estabelecida em 1947 e
é uma federação, sem fins lucrativos, de
organismos de normalização nacionais.
Está atualmente representada em 162
países e tem como função promover a
normatização de produtos e serviços,
para que a qualidade dos mesmos
seja permanentemente melhorada. Em
Portugal faz parte da ISO o Instituto
Português da Qualidade (IPQ). Ao
contrário do que é frequentemente
assumido, “ISO” não pretende ser
uma abreviatura de “International
Organization for Standardization”, mas
sim uma expressão com origem na
palavra grega “ISOS”, que significa algo
que é uniforme ou homogéneo, como
em “isobar”, “isotérmica” ou, para os
entusiastas da geometria, “triângulo
isósceles”.
EN ISO 9001:20082, um processo é uma atividade ou conjunto
de atividades, utilizando recursos, gerida de forma a permitir
a transformação de entradas em
saídas (Figura 1).
A norma NP EN ISO
9004:20113 refere que, “para
2 A norma ISO 9001 especifica requisitos
para um sistema de gestão da qualidade
que pode ser utilizado para aplicação
interna pelas organizações, ou para
certificação, ou para fins contratuais.
Está focada na eficácia do sistema de
gestão da qualidade para ir ao encontro
dos requisitos do cliente.
3 A norma ISO 9004 proporciona linhas
de orientação à gestão para atingir
o sucesso sustentado para qualquer
organização num ambiente complexo,
exigente e sempre em mudança. A ISO
9004 proporciona uma focalização mais
abrangente na gestão da qualidade do
que a ISO 9001, aborda as necessidades
e expectativas de todas as partes
interessadas e a sua satisfação através
da melhoria sistemática e contínua do
Figura 1 - Definição de Processo
Nº 192 DEC11
33
AZIMUTE
assegurar que os recursos (tais
como equipamentos, instalações,
materiais, energia, conhecimentos, financeiros e pessoas) são
utilizados eficaz e eficientemente, é necessário estabelecer processos que permitam fornecer,
afetar, monitorizar, avaliar, otimizar, manter e preservar esses recursos”. Refere ainda que os processos são específicos de uma
organização e variam em função
do tipo, do tamanho e do nível de
maturidade da organização.
O anexo B às normas atrás
referidas descreve os oito princípios de gestão da qualidade,
entre os quais se encontra a
abordagem por processos, referindo que, um resultado desejado é atingido de forma mais eficiente, quando as atividades e os
recursos associados são geridos
como um processo. Os principais
benefícios da adoção desta abordagem são:
• Redução de custos e de tempos de ciclo, através do uso eficaz dos recursos;
• Resultados melhorados, consistentes e previsíveis;
desempenho da organização.
• Oportunidades de melhoria focalizadas e com prioridades
atribuídas.
Uma organização orientada
por processos pressupõe que
as pessoas trabalhem de forma
diferente. Em vez do trabalho individual e orientado por tarefas,
a organização por processos
valoriza o trabalho em equipa, a
cooperação, a responsabilidade
individual e a vontade de fazer
um trabalho melhor, permitindo,
desta forma, uma maior e melhor
visibilidade sobre o contributo de
cada um para o cumprimento da
missão da organização.
A mesma norma ISO refere
que, para cada processo, a organização deverá nomear um
gestor do processo, com responsabilidades e autoridades definidas para estabelecer, manter,
controlar e melhorar o processo
e as suas interações com outros
processos. O dono do processo
pode ser uma pessoa ou uma
equipa, dependendo da natureza do processo e da cultura da
organização.
Os processos da organização
são traduzidos em fluxogramas,
que não são mais do que a representação gráfica das várias
etapas, atividades e tarefas que
esse processo compreende, assentes num raciocínio lógico de
execução. Estes podem assumir
várias formas e aspetos gráficos,
existindo inclusivamente um vasto leque de aplicações informáticas destinadas a esse efeito.
De seguida vamos ver de
que forma podemos implementar
esta metodologia na Escola, não
esquecendo que, seja em que
organização for, são as pessoas o recurso mais valioso e mais
critico.
Importa salientar que aqui é
apresentada apenas uma metodologia, entre várias possíveis,
tendo em consideração a especificidade da EPI e a sua missão.
Ao nível da Escola podemos
considerar os processos globais
(de suporte) e os processos sectoriais (de execução).
Os processos globais (de suporte) são aqueles que envolvem
a Escola como um todo, como sejam, por exemplo, os seguintes:
• Segurança;
• Logística;
Figura 2 - Processo de reabastecimento de bens na EPI
34
Nº 192 DEC11
4 Software de gestão comercial que se
encontra disponível no mercado e está
direcionado para a gestão de depósitos e
faturação ao nível de pequenas e médias
empresas.
planeamento de necessidades
eficaz; seja para a Secção de
Logística e para Companhia de
Comando e Serviços (entidades
executantes), pois estas têm que
conseguir manter um controlo
rigoroso do processo e dos stocks, e ser capazes de dar resposta às solicitações que surgem
diariamente.
A par deste processo logístico
da Escola, outros estão em fase
de normalização e implementação, como seja, por exemplo, os
procedimentos a ter com atividades de que resultem receitas
para a Escola. Para a concretização da normalização de todos os
processos logísticos da Escola,
foram definidas as seguintes
fases:
• Listagem dos processos logísticos da Escola;
• Confrontação
da
listagem
dos processos com as NEP
existentes;
• Revisão e redação das NEP da
área logísticas (construção dos
fluxos);
• Apresentação do conjunto de
NEP da área logística, devidamente consolidadas e ajustadas à realidade da EPI.
Relativamente aos processos sectoriais (de execução),
estes não são mais do que os
processos (fluxos) de trabalho,
processos estes que todos nós
já praticamos diariamente, ainda
que na maioria das vezes de uma
forma inconsciente. Tomemos
como exemplo a metodologia que
está a ser utilizada na Secção de
Logística para o cumprimento de
um dos seus objetivos específicos, a definição e organização
dos seus processos de trabalho.
Para o efeito foram definidas as
seguintes fases:
• Listagem dos processos de
trabalho na área dos recursos
materiais e infraestruturas e na
área dos recursos financeiros;
• Realizar reuniões de trabalho
colaborativo, em cada uma das
áreas, para construção dos fluxogramas de trabalho;
• Consolidação dos fluxogramas
de trabalho;
• Apresentação dos fluxogramas
de trabalho.
O Quadro 1 procura mostrar
alguns dos processos sectoriais
levantados para a SecLog .
Cada processo terá um “gestor” atribuído e será composto
por um fluxograma (Figura 3)
com:
• Entrada (início do processo);
• Sequência de tarefas/ atividades e responsáveis pelas
mesmas;
• Saída (final do processo).
Os fluxogramas de trabalho
AZIMUTE
• Comunicação;
• Recursos humanos;
• Manutenção.
A título de exemplo, no âmbito
da logística, podemos considerar
o processo de reabastecimento
de bens, cuja nova metodologia foi implementada em Julho
deste ano, com a introdução do
sistema de requisição eletrónica
através da aplicação Factuplus4.
Esta ferramenta, facilitadora do
processo, é apenas um acessório
de todo um fluxo que se inicia
com a entidade requisitante a
solicitar um determinado artigo
através do Factuplus, e termina
com a entrega desse artigo pela
SecDep/CCS à entidade requisitante. O processo envolve várias
entidades da Escola ao longo do
seu percurso, está interligado
com outros processos e é do conhecimento de todos através de
NEP própria (Figura 2).
A implementação deste processo, apesar de não ser novo,
constituiu-se num desafio para
todos nós; seja para as diversas Secções de Estado-Maior
e Subunidades (entidades requisitantes), pois só funciona
havendo por parte destas um
Quadro 1 - Exemplos de processos de trabalho da SecLog
Nº 192 DEC11
35
AZIMUTE
Figura 3 - Fluxograma do processo de realização de despesa (SSRF)
(workflow) não são mais do que
uma ferramenta que permite sistematizar de forma consistente
os processos de uma determinada organização, de forma a
torna-los simples e transparentes aos vários intervenientes
no processo, o que, no nosso
caso concreto, também facilita
o seu processo de avaliação e
36
Nº 192 DEC11
reconhecimento.
À semelhança dos exemplos
aqui apresentados no âmbito
da logística também as restantes Secções de Estado-Maior e
Subunidades da Escola estão
a proceder à normalização dos
seus processos de trabalho, sejam eles globais ou sectoriais.
Este esforço, parte integrante
do processo de implementação
de uma política de qualidade na
Escola, vai contribuir para a eficiência e eficácia dos processos
organizacionais e permite uma
melhor visibilidade do trabalho
que cada um dos militares e
funcionários civis da EPI produz
diariamente.
Azimute
- A Eficiência Processual das Organizações -
Grupo TEKEVER
De há uns anos a esta parte,
o Grupo TEKEVER (www.tekever.com) e a Escola Prática de
Infantaria (EPI) têm vindo a colaborar no sentido de dotar a Arma de
Infantaria, e o Exército Português,
com as mais inovadoras tecnologias em sistemas de comunicações e plataformas autónomas.
Com o estreitar da nossa relação de parceria, gradualmente
apercebemo-nos que a EPI constitui uma complexa realidade organizacional, com centenas de Oficiais,
Sargentos, Praças e Funcionários
Civis a colaborarem no desempenho exímio da nobre missão de
formar, para mais bem servir a
Infantaria, o Exército e Portugal.
É também a missão do Grupo
TEKEVER contribuir para a melhoria contínua do desempenho das
Organizações. As nossas competências especializadas e ampla experiência em estruturação
e desenvolvimento de processos
organizacionais permitem-nos obter um conhecimento profundo da
personalidade processual, humana e tecnológica que enforma cada
identidade organizacional e transformar esse conhecimento numa
plataforma de trabalho com o propósito de identificar e alcançar o
estado óptimo da Organização,
em termos de eficiência, qualidade
e eficácia. Este nosso saber está
ao serviço da Escola Prática de
Infantaria, numa missão a realizar
colaborativamente.
O Modelo TEKEVER de
Eficiência Processual
Mais
do
que
inteligência
artificial, computação distribuída e
sistemas de informação, o Grupo
TEKEVER propõe a modelação
dos processos de trabalho e o
suporte aos fluxos de informação
entre as pessoas que cooperam
nesses processos, alinhando-as
em objectivos comuns e garantindo que a EPI controla e conhece o
estado de cada processo.
canais de interface com o utilizador, tendo em conta as características específicas dos ambientes
operacionais existentes. Quando o
modelo está completo, incluindo a
abordagem multi-canal de interface com o utilizador, e a implementação em todos os ambientes de
operação está finalizada, o sistema
pode entrar em funcionamento.
O primeiro passo é pois a
modelação, sendo embebidas
A entrada em funcionamento do
sistema não prescinde contudo do
AZIMUTE
Saber Fazer, Saber Mais e Fazer Mais e Melhor
Figura 1 – O Ambiente TEKEVER de Modelação de Processos
as características principais da
Organização, incluindo processos,
objectivos, artefactos e funções.
Depois, estabelece-se o modelo a implementar, o qual reduz
eventuais ambiguidades, cria os
componentes específicos que irão
interagir com a infraestrutura e aplicações existentes e identifica claramente os serviços a serem disponibilizados por outros sistemas.
Nesta fase, uma das tarefas mais
importantes é a definição clara dos
envolvimento ativo dos utilizadores, quer no processo de tomada
de decisão, quer na introdução no
sistema dos dados relevantes para
cada processo, uma interação
apoiada por um portal, um dispositivo móvel ou outro interface intuitivo. De resto, a flexibilidade do
componente de interface é fundamental para o sistema, permitindo
à organização trabalhar com múltiplos canais, equipamentos e redes.
Neste ambiente, a monitorização
Nº 192 DEC11
37
AZIMUTE
e de material de estudo
e um orçamento, bem
como um espaço físico
(interno ou externo às
instalações da Escola)
e uma calendarização.
É ainda possível enquadrar nesta atividade
um processo de avaliação, quer dos formandos, quer dos próprios
formadores, quer ainda
da estrutura do curso
de formação, dados
Figura 2 – Exemplo de um processo, no qual as várias atividades são suportadas em diferentes tipos estes que podem ser
de interfaces gráficas pela plataforma Multi-canal da TEKEVER
compilados na qualidade de instrumentos
dos processos é possível em todas de adaptação ágil, controlo rigoas atividades, independentemen- roso e monitorização contínua de de incentivo ao mérito dos formante de onde, quando e como são desempenho. Mais importante, a dos e formadores ou como lições
executadas, ou seja, independen- metodologia TEKEVER devolve à aprendidas para futuras atividades
temente do ambiente operacional Organização a liberdade para oti- de formação.
em que são realizadas, uma vez
que todo o sistema está baseado
no mesmo modelo.
mizar os seus processo de trabalho e para tornar esses processos
mais próximos às pessoas.
O resultado final é o de um processo perfeitamente orquestrado,
em que os utilizadores interagem
em função de objectivos organizacionais comuns. Dados e informação fluem entre os vários sistemas e todos os eventos podem
A Aplicação do Modelo
de Eficiência Processual
TEKEVER à EPI
Sem um esforço substancial,
o modelo de eficiência processual
TEKEVER permite tornar intuitiva,
simples, rápida, eficiente e eficaz
Figura 3 – Marcação de Serviço “Formação”
ser registados e visualizados com
o apoio de ferramentas gráficas,
as quais beneficiam a análise de
métricas de desempenho e o levantamento de oportunidades de
optimização para efeitos de melhoria contínua da Organização.
A aplicação do mesmo modelo tecnológico na abordagem dos
processos de uma Organização
e das diferentes tecnologias de
interface com o utilizador permite suportar as necessidades reais
de organizações complexas, que
não abdicam da sua capacidade
38
Nº 192 DEC11
a atuação diária da EPI, estabelecendo fluxos de operação modulares que gerem de forma automática os diferentes processos,
atividades e serviços, atribuindo
recursos humanos, materiais e financeiros num contexto espácio-temporal específico.
Utilizando como exemplo o caso
prático de uma formação ministrada pela EPI, teremos pois o curso
de formação como uma atividade
ou serviço, ao qual está associado
um ou mais formadores e formandos, um conjunto de equipamentos
Este caso prático, bem do conhecimento da EPI, corresponde
a um tipo básico de processos
já implementados pelo Grupo
TEKEVER, junto dos seus clientes.
O foco inicial é a criação de uma
formação no sistema por um utilizador responsável pela marcação
e atribuição de formações, e com
atribuição dos vários elementos ou
recursos envolventes, incluindo o formador e os
formandos. À nova formação é atribuída uma
data e hora, ficando-lhe
automaticamente
associado um evento de
calendário, disponível a
todos os que tiverem permissão de
acesso. Temos então uma marcação de um serviço, efectuado por
um dos utilizadores do sistema. A
Figura 3 ilustra este processo.
Após este processo, focamo-nos na alocação do espaço associado à formação. Um módulo do
sistema integra todos os espaços
internos e externos às instalações
da Escola, onde se podem realizar
as aulas teóricas e práticas. Uma
vez mais, com o auxílio do sistema,
o responsável pela formação tem
apresentado na Figura 4.
Finalmente, temos o processo
da avaliação, em que um sistema
simples de checklist introduz grupos de perguntas. A cada formando é associado um registo de ava-
Figura 4 – Gestão de Tarefas
recorrendo a um simples interface
gráfico, pode de forma rápida e intuitiva alocar um espaço livre para
o(s) intervalo(s) em que decorrerá
a formação.
Tendo a formação marcada e
o espaço definido, passamos à
gestão de pessoal, tarefas e equipamentos, elementos que podem
ser associados à formação. Cada
formação deve ter um ou mais
liação, preenchido posteriormente
pelo formador. Esse registo fica
associado ao processo do formado, permitindo que, em qualquer
momento, seja possível aceder à
informação do aluno através do
sistema. Neste contexto, cada utilizador do sistema usa credenciais
próprias, associadas a um grupo,
que lhe permite ver única e exclusivamente os dados aos quais tem
acesso.
Figura 5 – Ferramenta de Modelação de Processos –
Designer
formadores e um ou mais formandos, e esta informação é sempre
passível de ser modificada e atualizada. Cada formação pode também ter associado um conjunto de
tarefas e equipamentos, para os
casos em que faça sentido, como
De resto, toda a informação gerida pelos
sistemas de informação desenvolvidos e
implementados
pelo
Grupo TEKEVER está
sujeita a permissões
por perfil, de forma a
garantir o controlo dos
acessos e, de alguma
forma, a privacidade e
confidencialidade dos
dados sob registo.
O caso prático acima descrito demonstra a facilidade
com que um processo comum na
EPI (a marcação de formações e
associada logística) pode facilmente ser modulado e gerido, recorrendo a uma solução TEKEVER.
No sector das tecnologias de
informação, o Grupo TEKEVER
detém já um conjunto amplo de
produtos e soluções destinados à
optimização do desempenho das
organizações. Por exemplo, a linha
de produtos OZONO destina-se
a organizações que carecem de
optimização de processos
e apresentam uma grande dinâmica de atuação, e
permite gerir equipas geo-referenciadas no terreno,
destacá-las para serviços,
atribuir-lhes tarefas e seguir
o progresso da execução
de cada serviço. A integração com sistemas terceiros
é um factor determinante para que, nesta situação, seja
possível a continuidade do fluxo
de dados, desde o pedido de assistência até à faturação interna do
serviço. Por seu lado, a plataforma
MOBIZY oferece um conjunto de
aplicações modulares de gestão,
incluindo gestão de clientes, organização de serviços no terreno,
despesas e checklists, entre muitas outras. Todas as soluções do
Grupo TEKEVER assentam na
plataforma MORE (Model Once,
Run Everywhere), responsável
pela fácil modelação de processos (Figura 5) e pela capacidade
do Grupo de construir um fluxo de
processamento adaptado às necessidades específicas de cada
organização.
AZIMUTE
acesso a todos os espaços, disponíveis e indisponíveis, permitindo-lhe realizar de uma forma mais
eficiente a gestão destes recursos.
Então, o responsável pela formação procura um espaço disponível para a realização do evento e,
Captar o modelo de negócio de
cada Organização e transformá-lo
num fluxo integrado de processos é, de facto, um desafio a que
o Grupo TEKEVER tem correspondido superiormente. O nosso
compromisso para com a EPI é
pois o de disponibilizar todo o nosso saber credenciado no apoio ao
esforço de melhoria e renovação
dos processos da Instituição, contribuindo para a sua optimização e
sustentabilidade, numa óptica de
Qualidade e Excelência.
Azimute
Nº 192 DEC11
39
AZIMUTE
Centro de Excelência de Combate
em Áreas Edificadas
“ (… ) a melhor politica para as operações militares é obter a vitória, atacando a estratégia do inimigo. A segunda melhor
política é desintegrar as alianças do inimigo por meio da diplomacia; em seguida, atacar os seus soldados, lançando
um ataque ao inimigo; mas, a pior política é atacar violentamente cidades fortificadas e subjugar territórios. ”
Sun Tzu
Cap Inf Jorge Louro
A formação e treino das nossas
forças para as especificidades do
combate em ambiente urbano, tem
vindo a ganhar cada vez mais relevância, sendo actualmente impensável projectar uma Força Nacional
Destacada (FND) sem que esta siga
um plano de treino operacional iminentemente vocacionado para as
áreas edificadas. Tal facto permitiu
identificar algumas necessidades
ao nível da instrução e do treino
do Combate em Áreas Edificadas
(CAE).
Com o objectivo de contribuir
para um melhor nível de formação e
treino operacional, a Escola Prática
de Infantaria possui actualmente
um Centro de Formação e Treino
de Combate em Áreas Edificadas
(CFTCAE), designada peremptoriamente por “Aldeia de Camões” onde
se ministram cursos no âmbito do
CAE e possibilita o treino de várias
Figura 1 - Laboratório
operacional nesta vertente específica, tais como uma infra-estrutura
de treino que permita o desenvolvimento de Técnicas e Tácticas e
Procedimentos (TTP) e treino de
unidades escalão companhia (UEC)
ou mesmo batalhão (UEB) e a necessidade de acompanhar os países amigos e de referência no que
respeita à produção de doutrina
e actualização de TTP no âmbito
40
Nº 192 DEC11
forças do Exército, Forças Armadas,
Forças de Segurança, NRF, BG/EU
e elementos e forças dos países da
CPLP.
Prosseguindo com uma ideia
iniciada a alguns anos, em 2011,
através do despacho de 12 Agosto
de 2011 de SExa. o General CEME,
foi aprovado um projecto com a intenção de expandir as competências e possibilidades deste centro,
criando-se assim um Centro de
Excelência do Combate em Áreas
Edificadas (CdECAE). Esta intenção não se restringe apenas a alargar uma infra-estrutura actualmente
existente, mas sim a desenvolver
uma estrutura integrada de conhecimento, competências e infra-estruturas que permitam acompanhar os
avanços ao nível da doutrina e TTP,
assim como possibilitar o treino de
combate em áreas edificadas até
escalão batalhão, que permita uma
preparação realista e mais completa
das nossas forças e que contribua
para um exército melhor preparado
e mais eficiente.
De uma maneira sucinta os objectivos a atingir são:
Desenvolver, de forma coerente
e continuada, doutrina de emprego
de forças em Áreas Edificadas;
Desenvolver, experimentar e validar TTP para forças de infantaria
e de armas combinadas em Áreas
Edificadas;
Desenvolver uma capacidade de
sistemas de equipamentos de tiro
de armas ligeiras em que possibilite
aumentar os níveis de eficiência dos
militares na utilização do armamento individual e colectivo ligeiro neste tipo de ambiente, aumentando
o realismo e reduzindo custos inerentes à execução do tiro em Infraestruturas de tiro;
Desenvolver, experimentar e validar todo o treino individual de combate com vista à formação de todo
que permitam a sustentabilidade
das actividades do projecto.
Relativamente ao material, para
cumprir o objectivo de desenvolver
e experimentar novas técnicas, tácticas e procedimentos o CdECAE
terá obrigatoriamente de ter disponível, materiais e equipamentos individuais de combate, bem
como os colectivos para unidades
de escalão Esq/Sec/Pel das mais
diversas áreas, como por exemplo
Transmissões,
Sapadores,
Armamento, etc. De igual forma,
para desenvolver a capacidade de
sistemas de equipamentos de tiro
de armas ligeiras em ambiente de
CAE, será necessário equipar o
Centro com um estrutura de treino
e formação na área do tiro que permita apoiar a formação ministrada e
o treino operacional das forças que
recorram ao Centro no âmbito dos
seus planos de treino operacional.
Portugal actualmente participa de
forma modesta. O Centro terá a responsabilidade de ministrar os cursos actualmente previstos no Plano
de Formação Anual no âmbito do
CAE e propor superiormente outras
acções de formação que decorram
dos seus trabalhos de investigação.
A formação técnica, nomeadamente
no emprego de armamento individual e colectivo ligeiro e do emprego
táctico, poderá ser parcialmente realizada através do desenvolvimento
dos sistemas de equipamentos do
CdECAE.
Como referido, actualmente a
“Aldeia Camões” permite o treino
de todas as tarefas individuais e
colectivas, até ao escalão companhia, com excepção de “Progredir
tacticamente (escalão Companhia)”
e “Assalto a um edifício (escalão
Companhia)”, sendo esta última
passível de treinar desde que seja
O Centro pretende contribuir activamente para o desenvolvimento,
testagem e peritagem de novas soluções que possam vir a equipar as
forças do Exército no contexto do
combate urbano.
No sentido de manter os quadros
técnicos do CdECAE actualizados,
será fundamental a frequência de
cursos e de acompanhar os recentes desenvolvimentos noutras estruturas de formação similares dos países aliados e amigos, assim como
a participação a tempo inteiro em
grupos de trabalho internacionais,
de onde se destaca o NATO Urban
Operations Working Group, onde
utilizada a área adjacente para a colocação dos elemento de apoio da
companhia. Em termos de estrutura
implantada a “Aldeia Camões” apresenta duas limitações distintas que
importa melhorar:
• O facto de possibilitar uma experiência de treino para unidades
escalão companhia limitada, e não
possibilitar o treino de unidades
escalão batalhão;
• A falta de variedade de estruturas
de treino, individual e colectivo,
que permita uma experiência diversificada e rica aos utentes.
O alargamento do ponto de vista quantitativo e qualitativo, com a
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
o combatente em Áreas Edificadas;
Manter um processo de Lições
Aprendidas,
em
coordenação
com as unidades da Estrutura
da Componente Operacional do
Sistema de Forças (ECOSF), que
permita a implementação célere
e prática de TTP nessas mesmas
unidades;
Possibilitar o treino de unidades operacionais até ao escalão
batalhão;
Apoiar o planeamento e a execução de exercícios em ambiente
de CAE das unidades da ECOSF;
Apoiar projectos de cooperação
técnica e de assistência militar no
âmbito do CAE.
No entanto, tendo em consideração o conceito e a missão, os pré-requisitos identificados são fundamentais para a sua implementação
e sustentabilidade, dos quais se
destacam os seguintes:
• Uma equipa técnica especializada, dedicada à missão do Centro,
com os quadros orgânicos preenchidos na sua totalidade;
• Uma unidade de escalão pelotão
dedicada ao Centro para apoio
à formação, experimentação e
validação de técnicas, tácticas e
procedimentos;
• Uma infra-estrutura de treino moderna, que preencha os requisitos
técnicos previstos para a formação, treino e investigação;
• Materiais e Equipamentos especializados para apoio à formação,
treino e investigação;
• Um sistema de informação moderno que permita o acesso permanente a informação relevante,
o registo dos produtos e actividades desenvolvidos pelo Centro
e a partilha dos recursos com o
público-alvo;
• Acesso privilegiado a informação
pertinente, através do estabelecimento de relações de âmbito técnico com as unidades operacionais do Exército, de outros ramos
das Forças Armadas e das Forças
de Segurança;
• Recursos financeiros dedicados
41
novas
anos (ano 7 ao ano 12).
tecnologias que com-
Neste momento encon-
plemente
contri-
tra-se proposta e orça-
bua para uma melhor
mentada a construção
AZIMUTE
introdução
de
e
formação
da
“Aldeia
da área de aperfeiçoa-
Camões”, é factor de
sucesso
essencial
incontornável
para
mento individual (Nº1),
e
e o restabelecimento
o
da instalação eléctrica
CdECAE, pois repre-
na “Aldeia de Camões”
senta uma mais-valia
. De salientar o desen-
do Centro e aproxima-
volvimento de um siste-
-nos do que melhor se
ma de comunicações/
faz nestas áreas con-
vigilância
corrente a outros paí-
Centro
ses. O projecto inicial de
alargamento da Aldeia
montagem será efecti-
Camões prevê, generi-
vada até ao final do ano
camente, a construção
(ver artigo seguinte).
das seguintes áreas e
Como
melhoramentos:
• Área de aperfeiçoamento individual (Nº1);
• Área de aperfeiçoamento de equi-
Figura 1 - Desenvolvimento da área
Os custos previstos serão investidos num período de doze anos e
tendo em conta a implementação
pa (Nº 7, Nº8 a/b);
• Área de contentores (Nº2 a);
das capacidades de infra-estruturas
• Área de construção densa aleató-
e dos sistemas de equipamentos
assim como os custos administra-
ria (Nº2 b);
• Zona habitacional Médio Oriente
tivos, estimando-se o valor total na
ordem dos 1.051.619 €.
(Nº3);
A efectivação do projecto de
• Zona industrial (Nº4);
conclusão,
verifica-se que os investimentos
necessi-
tam de ser rentabilizados
a longo prazo e que a existência
sustentada de um centro de treino
com as dimensões e características
desejadas para a Aldeia Camões/
CdECAE, apenas é possível com
uma estrutura de apoio que assegure a sua manutenção e operacio-
• Área de sapadores (Nº5);
implementação desta capacidade
nalidade. Tal actividade necessita
• Área de apoio (Nº6);
compreende três fases: Fase I de 3
de competências técnicas e experi-
anos (ano 1 ao ano 3), Fase II de 3
ência adequadas, que se adquirem
anos (ano 4 ao ano 6) e Fase III de 6
com a prática continuada do apoio.
• Instalação
urbano.
de
equipamento
Figura 3 - Fases de Implementação
42
no
pela SEGURTEC, cuja
Nº 192 DEC11
Azimute
Cap Inf Rafael Lopes
They are… the post-modern equivalent of jungles and mountains—citadels of the dispossessed and irreconcilable. A
military unprepared for urban operations across a broad spectrum is unprepared for tomorrow.”
AZIMUTE
Sistema de Análise Vídeo – Novas Dinâmicas Formativas para
o Combate em Áreas Edificadas
Lieut\enant Colonel Ralph Peters, U.S. Army (Retired)
1. Introdução
Nos
conflitos
marcadamente assimétricos, como os
mais recentemente vividos no
Afeganistão ou Iraque, que encontram nos centros urbanos os
pólos privilegiados para a minimização das capacidades dissimétricas, é muito importante marcar
novos padrões de liderança, formação e treino que advoguem o
espírito de decisão, tenacidade
na ação, firmeza de vontade e
assertividade, mas também é imprescindível desenvolver novos
processos formativos como a automatização de procedimentos e
atitudes.
Numa nova vertente de fazer
a guerra onde a ação de comando tem que ter espaço para “errar”, importa também que desde
já se introduzam novas vertentes formativas que promovam
a adaptabilidade e criatividade,
pois aos novos líderes será sempre exigido energia realizadora.
No que respeita às operações de guerra em cidades há,
claramente, um assumir da importância no desenvolvimento de
plataformas de formação e treino
para essa realidade. Essa valência é fundamental para a modernização do sistema de forças de
qualquer Infantaria. Sem essa
capacidade, apesar do esforço
de modernização em termos de
equipamento e armamento, a
transformação ficará limitada em
termos de práticas de técnicas
e procedimentos para os quais
os desenvolvimentos tecnológicos dificilmente encontrarão
resposta.
2. O sistema de análise
Vídeo
Actualmente a Escola Prática
de Infantaria encontra-se no bom
caminho, encontrando-se equipada por um complexo que permite
desenvolver a formação e o treino neste tipo de terreno, valência
esta que se encontra designada
como Centro de Excelência de
Combate em Áreas Edificadas1.
Nesse centro, entre outras capacidades, encontra-se imple-
força (para o caso do treino operacional), inviabilizando a recolha
documental (vídeo) dos procedimentos/manobra para posterior
análise, interpretação, correcção e validação. Ao contrário
dos processos de modernização
dos Exércitos holandês e de outros Exércitos europeus, como o
alemão, finlandês, belga, dinamarquês ou polaco, a ausência
desta valência inviabiliza a maximização e optimização da infraestrutura (laboratório) bem como
a possibilidade ser parte de um
processo de geração de conhecimento e doutrina.
Figura N.º1. Exemplo de Control Station. Fonte: SGURTEC
mentado um edifício “laboratório” que permite desenvolver e
monitorizar as TTP desde o nível
individual ao pelotão de atiradores. Contudo, esta resume-se à
observação direta e correctiva
do formador ou comandante da
1 Despacho de 12 de Agosto de 2011
de Sua Exª o General Chefe do EstadoMaior do Exército, que aprova o Plano de
Implementação do Centro de Excelência
de Combate em Áreas Edificadas.
Nesse sentido, é fulcral constituir uma plataforma de apoio de
captação de imagem que sustente essa valência, plataforma esta
que possua na sua constituição
equipamentos como:
• câmaras tipo dome FD8361
para captação no interior do
edifício, de dia e de noite;
• câmara exterior tipo bulet IP7361 capazes de captar
as aproximações e as técnicas
Nº 192 DEC11
43
AZIMUTE
de abordagem de dia e
de noite;
• câmara Móvel de longo
alcance SD 7323 ou
SD 7151 passíveis de
acoplar aos sistemas de
armas dos formandos
ou militares em treino;
• bastidor
(plataforma
receptora do sinal de
todas as câmaras de
vídeo e som) completo com switching POE
e UPS para colocar no
CFTCAE;
• Control Station constituída por: três (3) monito- Figura N.º2. Exemplo de software de gravação e visualização com análise de vídeo inteligente
recetora do sinal de todas as câmaras de vídeo e som) completo com
res 20’’, um (1) network e bastidor (plataforma
switching POE e UPS para colocar no CFTCAE. Fonte: SEGURTEC
vídeo server capaz de
a todos os sistemas como sejam: a disponibilização de um sistema
operar e gerir até dezasseis (16) câmaras, um (1) capacidade de recolha de da- de vídeo que permita conduzir
working station com teclado e dos do exercício, disponibilizar revisões após ação e evidenciar
rato, um (1) joystik e uma (1) a informação recolhida em ma- os principais erros cometidos na
UPS;
pas 2D ou 3D, gerar relatórios execução de uma determinada
• equipamento de rede;
sobre a informação recolhida e ação contribuirá certamente para
• Software de gravação e visu- marcação de pontos importan- melhorar a proficiência técnica e
alização com análise de vídeo tes para a consecução do exer- tática dos nossos formandos. Por
inteligente.
cício. Todavia, e enquanto estas outro lado, não poderemos esferramentas disponibilizam infor- quecer os efeitos que a utilização
3. Análise
mação objetiva da execução do desta tipologia de sistemas proUm feedback preciso e em exercício, a análise e a avaliação vocará no aumento motivacional
tempo é um fator essencial para continua a ser executada pelos de formandos e formadores na
a condução de uma ação de for- formadores e ou observadores.
condução do processo de treino.
mação/treino. O Exército e a EPI
Nessa óptica, o treino individuA principal lacuna destes sisna condução das suas ativida- temas reside no planeamento e al e colectivo, ainda que perspecdes formativas (práticas) utiliza a preparação da missão, o rela- tivando o emprego da força em
Revisão Após Ação2 (RAA) como cionamento entre causa e efei- TO de baixa intensidade, deve
o principal método para comuni- tos e a conexão entre diversos ser transversal a toda a tipologia
car o resultado da formação/treieventos, trabalho este que hoje, de desafios e missões, e deverá
no aos formandos. O sistema de
apenas pode ser executado pelo procurar materializar o realismo
vídeo é objetivamente uma ferraavaliador/formador que poderá da acção através da introdução
menta para apoio à execução da
ainda incorporar as experiências de simuladores e novas plataforRAA.
e lições aprendidas resultantes mas de tiro que possam sustenApesar do desenvolvimentar o tiro e a manobra colectiva
do seu estudo e preparação.
to de ferramentas informáticas
de unidades de baixos escalões,
para a condução de RAA, exismas também promover e dotar
4. Conclusões
tem características transversais
A formação e treino terá sem- os centros de formação e treino
2 Como descrito no manual “A Leader’s
pre na avaliação/validação um com a capacidade de captação
Guide to After Action Reviews” o
último patamar para o aperfei- e interpretação das Tácticas,
objetivo da RAA é dar um feedback da
performance durante o treino e guiar os
çoamento e a busca da exce- Técnicas e Procedimentos exeformandos na descoberta própria das
lência do produto operacional do cutados ao longo dos processos
suas capacidades e fraquezas.
Exército – O SOLDADO, pelo que formativos/treino.
Azimute
44
Nº 192 DEC11
Ten Inf David Marcos
“Train as you will fight”
(US Army, 2008)
1. Introdução
Neste artigo pretende-se fazer uma pequena reflexão sobre a instrução e infraestruturas
de tiro, apresentando alguns
exemplos de países estrangeiros como a França e os Estados
Unidos da América e analisando
a nossa própria realidade. Em
seguida serão apresentadas algumas sugestões de como podemos atualizar os nossos métodos
de instrução, tornando-os mais
próximos da realidade encontrada hoje no campo de batalha.
Um combate assimétrico incentiva a fação mais fraca a
empreender meios e métodos de
combate que algumas vezes são
contrárias às Leis Internacionais
(Gei, 2006). O combate urbano deixou de ser algo a evitar e
passou a ser imprescindível para
o cumprimento da missão. A política de “ganhar os corações e
mentes da população” e conceitos como three block war2 são a
prova disso. Deste modo, a instrução e infraestruturas devem
acompanhar a evolução dos conflitos, trazendo para a instrução
um reflexo do que é a realidade
atual. Um exemplo desta realidade pode ser encontrado na instrução nos EUA, que em 2003
1 Um dos princípios da Instrução do
Exército dos Estados Unidos da América
2 Conceito descrito pelo General Charles
Krulak nos finais da década de 90 onde
os soldados no campo de batalha podem
realizar operações militares de alta
intensidade, operações de manutenção
de paz e ajuda humanitária.
simulava o combate das suas
forças em desertos nos centros
de treino, como Fort Irwin e Calif,
mas actualmente estes e outros
centros foram remodelados e
oferecem vilas, cavernas e armadilhas, “povoadas” por pessoas
reais que assumem o papel de
insurgentes e população local,
baseados numa variedade de
cenários reais encontrados no
Iraque e Afeganistão (Komarow,
2005).
2. Instrução de tiro
e Infraestruturas no
estrangeiro.
Atualmente existem já alguns países como a França e os
EUA, que decidiram aproximar o
treino dos seus militares o mais
possível da realidade vivida num
conflito contemporâneo. Para
tal investiram em infraestruturas
que representam pequenas vilas
onde colocam indivíduos a representar o inimigo e sistemas de
simulação de tiro que permitem
uma instrução muito mais real.
França possui um complexo de treino único na Europa, o
CENZUB (Centre d’Entraînement
aux actions en Zone Urbaine),
composto por 4 partes principais.
O distrito de Orleans onde as forças são instaladas e permanecem
durante o planeamento do exercício, a vila de Beauséjour onde
são conduzidos treinos antes de
iniciarem o exercício, a cidade
de Jeoffrécourt onde decorre o
exercício e por último um conjunto de 8 infraestruturas de tiro em
ambiente urbano (Ministère de
AZIMUTE
Instrução de Tiro e Infraestruturas de Tiro.
Qual o caminho a seguir?
la Défense, 2008). Nestas infraestruturas são conduzidas simulações de emboscada, assaltos
a/e defesa de pontos sensíveis,
reação a fogos de curtas distâncias, pistas de tiro de combate individual, de parelha e de secção,
tiro a partir de posições preparadas e uma adaptação às ondas
de choque e ruídos do campo de
batalha. Todas estas simulações
são aplicadas de forma modular,
podendo ser adaptado a vários
exercícios (Tranchant, 2009).
No caso dos EUA, existem 4
Centros de Treino de Combate
que proporcionam um treino altamente realista, o BCTP (Battle
Command Training Program)
sediado em Fort Leavenworth,
Kansas, onde o treino é vocacionado para os comandantes
de Grandes Unidades e o seu
Estado Maior. O CMTC (Combat
Maneuver Training Center), o
JRTC (Joint Readiness Training
Center) em Fort Polk, Louisiana e
o NTC (National Training Center)
em Fort Irwin, California. Estes
centros são designados como
MCTCs
(Maneuver
Combat
Training Centers) por ser onde
se realizam os exercícios de manobra, desde o nível do soldado
individual até à Brigada, tanto no
contexto de operações conjuntas como combinadas, em todo
o espectro das operações, das
operações de combate em alta
intensidade ou missões de apoio
à paz (US Army, 2003).
Estes 4 Centros de Treino
são considerados centros de
excelência e baseiam-se em 5
Nº 192 DEC11
45
AZIMUTE
princípios para conseguir cumprir
a sua missão. O primeiro defende que a unidade a treinar deve
estar organizada exatamente
como estará quando for destacada para o Teatro de Operações.
O segundo determina que exista
uma entidade responsável por
cada um dos MCTCs, garantindo
todo o apoio logístico ao campo,
assim como instrutores e pessoal
especializado para auxiliarem na
instrução e avaliação da unidade.
O terceiro princípio estipula que
a força opositora seja realista,
podendo simular uma força de
guerrilha, exército convencional
de forças mecanizadas, tropas
aerotransportadas ou forças de
operações especiais, através
forças treinadas e equipamento
igual ou semelhante ao que poderá ser encontrado na zona de
conflito. O quarto princípio impõe que seja possível simular o
combate, devendo para o efeito
ter espaço aéreo reservado, uma
larga área de treino e sistemas
de simulação como o MILES3,
permitindo uma aproximação o
mais possível do real. O quinto
e último princípio obriga a que
existam infraestruturas capazes
de alojar as unidades que estão
a treinar, assim como uma pista
que permita a aterragem de aviões de grande porte (Reeson,
2006).
Nesta lógica de melhoria da
preparação do militar para a realidade, através da evolução das
infraestruturas e instrução de tiro,
importa também analisar a evolução dos simuladores de tiro. Estes
simuladores não substituem o tiro
real mas optimizam as instruções
com fogo real (Muriente, 2009).
A sua utilização é tida como um
dos fatores pelo qual o treino
nos MCTCs americanos é tão
3 Multiple Integrated Laser Engagement
System – Sistema de Simulação de
Tiro semelhante ao SITPUL mas mais
evoluído
eficiente (Reeson, 2006).
Estes sistemas de simulação
podem ser de 2 tipos. Os que funcionam como se de um jogo de
computador se tratasse, em que
é projetada uma imagem num
ecrã, parede ou mesmo em 3 paredes em simultâneo permitindo
ao atirador ou atiradores, dependendo do programa que está a
correr, disparar num ângulo de
praticamente 180º (Laser Shot,
2011). O outro tipo de simulador
é aquele em que cada militar ou
veículo transporta uma série de
foto-sensores e um emissor laser
na respetiva arma. Cada vez que
o foto-sensor de um militar ou
veículo for atingido pelo laser de
outro, a sua arma deixa de disparar passando a ser considerado
uma baixa, no entanto se a arma
não tiver efeito no alvo, o laser é
ignorado, por exemplo evitando
que uma espingarda automática
destrua um carro de combate.
Este tipo de simulador tem ainda
Figura 1- Esquema de CENZUB Fonte: Adaptação da revista Fantassins
46
Nº 192 DEC11
3. Instrução de tiro e
Infraestruturas em Portugal.
Atualmente a instrução de
tiro em Portugal é baseada no
Plano de Instrução de Tiro de
Armas Portáteis (PITAP), o Plano
Básico de Tiro (PBT), publica-
o executante está em movimento. No que diz respeito ao tiro de
combate, a referência é o manual
de Tiro de Combate da EPI, onde
encontramos fichas de instrução
sobre pistas de tiro de combate
individual, parelha e secção, nas
os alvos estão em frente aos atiradores e estes têm de se deslocar de máscara em máscara
e efectuar 2 disparos para cada
alvo. No entanto, ambos os manuais são apenas referências e
como já foi supramencionado, a
imaginação do responsável da
sessão permite criar mais situações como obrigar o instruendo
Figura 2- Simulador Laser Shot Fonte: Laser Shot
ções e NEPs feitas pelas diversas unidades baseadas nestes
dois manuais e por último a imaginação do instrutor. Podemos
então verificar que a instrução no
nosso Exército baseia-se essencialmente em três tipos de tiro:
tiro de precisão, tiro instintivo e
tiro de combate, mas no combate
em ambiente urbanizado por ser
caracterizado como instintivo e
brutal, utilizamos maioritariamente os dois últimos.
O tiro instintivo ministrado actualmente na EPI tem como base
de referência o manual de tiro
instintivo desta Escola elaborado
em 2007, e após uma leitura do
mesmo é fácil constatar que em
todas as sessões, os alvos são
fixos e apenas na última sessão
a disparar para os alvos segundo uma ordem pré estipulada ou
para o alvo que estiver iluminado, se for uma instrução noturna,
de acordo com as limitações da
infraestrutura de tiro. As nossas
infraestruturas de tiro são construídas respeitando o MT 38-24
e o RAD 38-15 e embora esteja
prevista a utilização de alvos
móveis, tanto tombantes como
de movimentos transversais, em
ambos os casos estes são colocados sempre à frente do executante e no sentido do seu deslocamento, apesar deste tipo de
alvos é praticamente inexistente
no nosso Exército6. Assim, estes modelos de sessões de tiro,
aliadas às condições das nossas
carreiras de tiro não reflectem a
realidade que os nossos militares
poderão encontrar numa zona de
conflito da atualidade, isto porque o inimigo não está sempre à
nossa frente, à espera que seja
dado um sinal como um apito
para que possamos disparar,
pelo contrário o inimigo hoje esconde-se em casas, usa escudos
humanos, dispara de janelas que
estão acima de nós e ao nosso
lado, aciona IEDs7 para imobilizar
uma coluna de viaturas e depois
ataca.
No que diz respeito à simulação, o nosso Exército possui
nesta Escola um simulador de
tiro Laser Shot que nos permite
apenas fazer tiro com a pistola
do sistema, fazendo com que a
falta de mais equipamento não
torne este sistema tão rentável
quanto o deveria ou com um nível
de eficiência semelhante ao dos
Exércitos estrangeiros. Ainda na
área dos simuladores dispomos
do sistema SITPUL (Simulação
de Instrução de Tiro e de Táctica
de PUs Utilizando Laser) que foi
inicialmente utilizado no final da
década de 80 mas que com o
tempo acabou por deixar de ser
usado. Existem ainda na EPI
10 armas de airsoft, no entanto
e à semelhança do Laser Shot,
esta quantidade não é a suficiente para revelar todo o potencial que este tipo de treino pode
proporcionar.
AZIMUTE
a vantagem de os controladores
puderem seguir em direto o desenrolar do combate e obrigar os
comandantes, aos diversos escalões, a tomar decisões no que
diz respeito às evacuações ou
alterações das modalidades de
ação perante o cenário de terem
baixas nas suas forças.
4. O caminho a seguir…
O modelo ideal seria o caso
francês em que, aliado a um sistema de simulação de tiro compatível com todas as armas utilizadas no seu Exército, existe um
4 MT 38-2 Caracterização e Técnica das
Infra-Estruturas de Tiro, 1989
6 O CTOE é uma das poucas Unidades
que possui este tipo de alvo em perfeitas
condições de utilização
5 RAD 38-1 Infra-Estruturas de Tiro,
1988
7 Improvised Explosive Device –
Engenho Explosivo Improvisado
Nº 192 DEC11
47
AZIMUTE
48
centro de treino extremamente
especializado, realista e funcional, onde os recursos estão centralizados e a utilização dos mesmos é feita por todo o Exército,
com base num sistema de rotatividade de forças. Apesar da
conjuntura atual não nos permitir
enveredar por projetos megalómanos, existem pequenas mudanças que merecem uma tentativa de implementação.
Importa desde já refletir sobre
o modo a proporcionar às várias
carreiras de tiro existentes e ativas, a prática de tiro instintivo
onde os executantes tivessem
de disparar sobre alvos que não
estariam apenas à sua frente
mas também em pisos superiores e na sua lateral, alvos estes
que deveriam ser móveis, com
movimentos transversais ou
tombantes sendo que alguns devem representar população civil.
Este tipo de alvo não é obrigatório ser uma máquina extremamente complexa que registe os
impactos, existem alternativas no
mercado que permitem apenas
o movimento do alvo e que este
seja trocado com facilidade.
No que diz respeito a simuladores de tiro, pode ser considerado como opção a aquisição
de sistemas simuladores de tiro
que permitam um maior número de participantes em simultâneo, com cenários semelhantes
à realidade, em que é possível
simular o recuo da arma a cada
tiro assim como a necessidade
de troca de carregador. Deverá
ser equacionada a hipótese de
realizar um upgrade ao sistema
SITPUL, através de protocolos
com universidades nacionais,
evitando a fuga de capital para
o estrangeiro e dinamizando o
nosso sector tecnológico. De salientar que uma das vantagens
do SITPUL era a poupança de
verbas no que dizia respeito ao
consumo de munições em treino
(Exército, 1987). Podemos ainda
Nº 192 DEC11
Fig. 3- Simulador MILES Fonte: Adaptação da revista Fantassins
ponderar a aquisição de mais armas de airsoft, de modo a equipar pelo menos uma companhia
em cada Unidade Operacional,
sendo a sua responsabilidade
da respetiva unidade, permitindo
que as armas fossem utilizadas
sempre que a Unidade treinasse,
independentemente do local.
Os campos de tiro atuais deviam ser adaptados de modo
a que pudesse ser realizado o
treino de reação a emboscada
a uma coluna de viaturas, onde
houvesse simulação de rebentamentos de IEDs seguido de ataque por parte do inimigo8.
5. Conclusões.
Verificamos que a evolução
do treino das forças deve acompanhar a evolução dos conflitos,
adaptando a instrução de tiro e as
suas infraestruturas de uma forma constante e contínua ao longo do tempo. Devemos seguir o
exemplo de forças que têm mais
experiência em conflitos atuais e
esforçarmo-nos para adaptar o
conhecimento, adquirido através
das lições aprendidas, à nossa
realidade.
Constata-se com alguma
frustação que em 1987, quando
a tecnologia laser em sistemas
de simulação estava a dar os primeiros passos e Portugal já se
8 O Campo Militar de Santa Margarida
tem potencial para este tipo de treino
utilizando máquinas de alvos portáteis.
encontrava na vanguarda desse
processo, o sistema então criado
não viu crescer os upgrades necessários para manter essa tecnologia sempre actual.
Conclui-se que devemos revisitar e atualizar os livros que
regem a instrução de tiro e suas
infraestruturas adaptando-as à
realidade atual e voltar a utilizar
simuladores de tiro e novos alvos
para melhorar a forma como preparamos os nossos militares para
intervir num cenário de conflito
atual.
Azimute
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Urbaine. Fantassins , pp. 20-21.
USA Army. (2003). Combat
Training Center Program. Washington
D.C.: USA Army.
USA Army. (2008). FM 7-0
Training for Full Spectrum Operations.
Washimgton D.C.: USA Army.
Reunião Grécia – 2ºsemestre
Cap Inf Rafael Lopes
1. Introdução
A preocupação dos Exércitos
no âmbito da capacidade de
combater em ambiente urbano,
não é nova e reflete o modus
operandi da emergente tipologia
da ameaça – Ameaças Híbridas.
Esta ameaça caraterizada pela
modulariedade, flexibilidade e
imprevisibilidade tem nas áreas edificadas o palco ideal para
a degradação das capacidades
dos Exércitos mais desenvolvidos tecnologicamente. Todavia,
o alvo desta nova ameaça não é
muitas vezes os Exércitos internacionais, mas centra-se na conquista da população – Hearts and
minds – e no vencer da “guerra
da informação”.
Face a esta tipologia da ameaça, e após um investimento inicial dos Exércitos no desenvolvimento de áreas de treino no início
dos anos 90, muito foi aprendido,
muito foi desenvolvido, e hoje a
ameaça enfrenta Exércitos mais
capazes, modulares e flexíveis.
Todavia e fruto da tipologia de intervenções que têm vindo a ser
executadas – Iraque, Afeganistão
– observa-se que ainda existirá
um esforço grande a executar
no domínio da estandardização
e da interoperabilidade. Nesse
desiderato, a NATO apresenta-se como a estrutura ideal para
a sedimentação destes dois conceitos – estandardização e interoperabilidade, no benefício claro
da Aliança e dos países que a
compõem.
2. Reunião Grécia
A reunião do Grupo de
Trabalho (GT) decorreu no
Estado-Maior
General
do
Exército Grego, em Salónica entre os dias 19 e 23 de Setembro
de 2011, tendo participado 31 delegados em representação de 20
países1. Aquele que era à partida
para esta reunião o tema principal
a ser abordado – O emprego de
armamento em Áreas Edificadas
e seus efeitos, foi excluído em
virtude das recentes orientações recebidas pelo Chairman
do grupo, por parte do seu escalão superior NATO – o Executive
Working Group (EWG). Essas
orientações vertidas num novo
mandato determinam a elaboração do NATO Urban Operations
Training Handbook e uma proposta de Standard Agreement
(STANAG) para o treino em
1 Países NATO, Partnership for Peace (PfP)
e Diálogo do Mediterrâneo.
Áreas Edificadas até 31 de Julho
de 2012. Estes objetivos não
sendo novos no seio do grupo,
estabelecem uma reorientação
decorrente fundamentalmente do
prazo estabelecido pelo EWG, e
que naturalmente assimilaram os
5 dias de reunião e os 31 delegados na produção destes dois documentos que serão submetidos
à consideração superior (EWG)
no final da próxima reunião ordinária do grupo que decorrerá na
Suécia entre os dias 16 e 20 de
Abril de 20122.
O
NATO
URBAN
OPERATIONS NATO TRAINING
GROUP
TASK
GROUP
(NUONTGTG), constituindo-se
como um proscénio privilegiado para abordar temas com interesse no âmbito do Combate
em Áreas Edificadas (CAE), os
delegados tiveram ainda oportunidade para assistirem a diversas apresentações de especialistas e a uma demonstração
AZIMUTE
Nato Urban Operations.Nato Training Group Task Group
2 Foi decidido durante a reunião na
Grécia, o planeamento de uma reunião
intercalar para terminar os trabalhos
determinados pelo mandato que
decorrerá na Alemanha entre os dias 06
e 10 de Fevereiro de 2012. Esta reunião
permitirá terminar os trabalhos que serão
apresentados a todo o grupo na reunião
na Suécia.
Figura 1. Subsistemas da ameaça
Nº 192 DEC11
49
AZIMUTE
Figura 2. CCS e DVTE
dinâmica sobre o emprego de
um Subagrupamento na execução de um ataque a uma área
Edificada.
Sobre
as
apresentações
salienta-se as efectuadas pelos 2 representantes do United
States Marine Corps Warfighting
Laboratory, que se centraram
nas capacidades no âmbito dos
sistemas de simulação terrestre,
nomeadamente o Deployable
Virtual Training Environment
(DVTE)3, o Combat Convoy
Simulator (CCS)4 e o Combat
Hunter5, entre outros.
A
demonstração
executada no Centro de Treino de
Combate em Áreas Edificadas
– ARGIROUPOLIS, expôs as
dificuldades
sentidas
pelos
3 O DVTE é uma coleção de aplicações
especificamente designadas para
providenciar às forças a projetar
capacidade de treino para unidades com
missões específicas.
4 CCS é um sistema de treino imersivo
providenciado em ambiente 3D (terreno
realístico) para condutores e passageiros,
nomeadamente em: comando e controlo,
MEDEVAC, emprego de armas ligeiras,
pedidos de tiro e TTP de C-IED.
5 O Combat Hunter é a criação de uma
mentalidade através da integração de
observação avançada, perfis de combate
e rastreamento para produzir um soldado
etnicamente mais preparado, taticamente
astuto e letal, estando assim melhor
preparado para ter sucesso em todo o
espetro de operações militares.
50
Nº 192 DEC11
comandantes das pequenas unidades na condução de operações em ambientes urbanos integrando diversas plataformas das
quais se destacam: Helicópteros
de ataque (BlackHawk) e de
apoio, Artilharia de Campanha,
Carros de Combate com e sem
sistemas de abertura de brecha
e viaturas M113. Após a demonstração, foi possível verificar todas as ações executadas num
sistema de controlo do exercício
com base num sistema de vídeo
que permitiu ao avaliador/validador do exercício conduzir uma
Revisão Após a Ação.
3. O Futuro
A continuidade dos trabalhos
do grupo, ainda que hoje condicionados pelo mandato para a
elaboração de dois documentos estruturantes para o planeamento e condução do treino
em Áreas Edificadas limitado no
tempo – 31 de Julho de 2012,
pode e deve orientar-se para os
objetivos que estão na génese
do grupo, ou seja, a partilha de
informação e de lições aprendidas/identificadas pelos delegados tendente à atualização e harmonização do treino no seio dos
países da Aliança e à discussão
de temas com impacto no ajustamento de Técnicas, Táticas
e Procedimentos face ao novo
ambiente operacional. Todavia,
a determinação superior para a
apresentação de produtos mensuráveis e objetivos leva a que
o foco das reuniões se centre
na produção de documentos ao
invés da apresentação de experiências, lições aprendidas/identificadas e acima de tudo formas
de conduzir treino e métodos
de aperfeiçoamento individual e
coletivo.
No curto prazo, o desenvolvimento de um Centro de
Excelência de Combate em
Áreas Edificadas NATO em
MUSCATATUCK,
Indiana
Estados Unidos da América representa um caminho decisivo
para o desenvolvimento doutrinário, tático e técnico das estruturas NATO com responsabilidade nesta matéria com claros
benefícios para a preparação/
aprontamento de forças, não só
porque disponibilizará uma área
única para o treino em Áreas
Edificadas em todo o espetro de
operações, mas também criará
um fórum NATO de especialistas
residentes para o estudo, tratamento e desenvolvimento de
doutrina bem como para apoio ao
desenvolvimento de projetos de
investigação e desenvolvimento.
4. Conclusões
A pertinência e atualidade
AZIMUTE
Figura 3.Plataformas utilizadas na demonstração
Fonte: Fotos do autor
dos temas abordados no seio
deste grupo convive diretamente com o esforço diário que os
diversos Exércitos NATO efectuam para prepararem as suas
forças para este novo ambiente operacional, onde as Áreas
Edificadas figuram como terreno
importante e fator decisivo para
o sucesso de uma campanha militar. Esta conspeção sustentada
nos diversos projetos de investigação, nos projetos de desenvolvimento de centros de treino
(MUSCATATUCK e CENZUB) e
naturalmente nas lições aprendidas/identificadas de outras
campanhas e operações militares, orientam o nosso pensamento e direção de esforço para o estudo, análise e desenvolvimento
de tudo o que tenha a ver com
o emprego de forças militares em
terreno caraterizado pela presença de infraestruturas, população
civil e acima de tudo da ameaça
híbrida.
Consubstanciando o atrás referido, tudo aquilo que possa ser
feito ou desenvolvido no seio da
NATO e internamente dos países
que compõem esta aliança, tendente à melhor preparação dos
Exércitos para fazer face a este
complexo e volátil ambiente operacional, representa um passo
importante para a repressão da
ameaça e das suas intenções e
concorrentemente para a segurança e bem-estar das populações. Este grupo e acima de tudo
o trabalho que por ele é desenvolvido em espírito de aliança
contribui para o aperfeiçoamento do estudo, treino e formação
no âmbito do CAE. Compete à
Escola e ao Exército a sabedoria para melhor empregar esses
conhecimentos em benefício do
produto operacional nacional.
Azimute
Figura 4. Central Elétrica de MUSCATATUCK
Fonte: Fotos do autor
Nº 192 DEC11
51
AZIMUTE
Operações de Cerco e Busca
Cap Inf Alexandre Capote
(colaborador desta revista colocado no CMD PESS)
1. Introdução
O emprego da força militar não é exclusivo das situações de guerra, podendo ser aplicado como resposta
a crises emergentes ou em desenvolvimento e ainda
no cumprimento de missões de interesse público1. As
operações de resposta a crises estão integradas num
ambiente operacional complexo e bastante exigente,
em que os militares de uma Companhia são confrontados com elementos com um telemóvel numa mão, um
RPG-7 na outra e um ódio extremo no interior do seu
coração2. Os militares têm de ser capazes de dominar
um conjunto de tarefas que vão desde o efectuar uma
negociação ao estabelecer postos de controlo, postos
de observação, passando pela execução de escoltas
a colunas de viaturas3 e operações de Cerco e Busca.
Uma operação de Cerco e Busca baseia-se em
informações e pretende ser uma acção não violenta em que se isola (cerco) uma área e que pode ser
orientada para pessoas, material, edifícios ou terreno4
com a finalidade de deter um determinado indivíduo
ou apreender materiais chave, que podem incluir: armamento, munições, explosivos, contrabando, provas
ou informação5. Pode ainda ter a finalidade de ser uma
demonstração de força para a população.
De facto, tornou-se numa das operações mais comuns em Teatros de Operações (TO), como o Iraque
e Afeganistão, visto ser um método eficaz de privar
a ameaça de materiais chave ou deter elementos6.
Representa ainda uma forma de controlar a população
e os seus recursos.
Uma Companhia de Atiradores, durante o período
da NRF7 12, treinou por diversas vezes esta tarefa táctica, desenvolvendo e aplicando várias tácticas, técnicas e procedimentos, fruto da experiência dos seus
militares e dos ensinamentos recolhidos durante os
treinos. O presente artigo apresenta alguns dos ensinamentos retirados desses treinos.
O artigo está dividido em duas partes. Numa primeira, abordam-se alguns aspectos do planeamento
e da organização de uma UEC para uma operação de
Cerco e Busca. Na segunda parte, são apresentadas
as tarefas dos vários elementos que intervêm na operação e considerações relativas ao treino desta tarefa
táctica.
2. Planeamento e Organização
Existem dois métodos de abordagem a uma operação de Cerco e Busca: pode ser realizada com consentimento8, em que o risco é reduzido e a probabilidade de fuga ou resistência à detenção é baixa ou nula,
ou sem consentimento9, em que o risco é elevado e a
probabilidade de fuga ou resistência à detenção é alta.
O primeiro método é utilizado quando se pretende
1 RC Operações, 2005.
2 Tradução livre, Holden, LCol Christopher M.: CALL Newsletter
04-16 (2004) Cordon and Search.
6 Baillergeon, Rick and Sutherland, John: Cordon and Search
Operations.
3 Tradução livre: FM 3-21.11 The SBCT Infantry Rifle Company.
7 NRF: Nato Response Force.
4 Tradução livre: FM 3-06.11Combined Arms Operations in
Urban Terrain.
8 Tradução livre do inglês “Cordon and Knock”, FM 3-24.02
Tactics in Counterinsurgency.
5 Baillergeon, Rick and Sutherland, John: Cordon and Search
Operations.
9 Tradução livre do inglês “Cordon and Enter”, FM 3-24.02
Tactics in Counterinsurgency.
Figura 1 – Comparação dos métodos de Cerco e Busca
52
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
Figura 2 – Delimitação da área de busca
uma abordagem que permite estabelecer uma relação / reacção não agressiva. Neste caso a velocidade
e a necessidade de obter surpresa são secundários
em detrimento da legitimidade. O segundo método é
utilizado quando é necessário velocidade para obter
surpresa de forma a conseguir dominar a situação. O
cerco é rapidamente montado e o elemento de busca
entra no(s) edifício(s) a inicia a busca de pessoas e
material designados, mantendo a iniciativa sobre forças desconhecidas na área de busca. É necessário ter
em consideração que possíveis ganhos em segurança, utilizando este método, podem significar a perda
em relação a outros aspectos, tais como: risco para
não combatentes presentes na área, danos colaterais
nas infra-estruturas, opinião e entendimento por parte
da população, risco para as tropas, efeitos em futuras
buscas deliberadas10, etc (Figura 1).
2.1 Princípios
A execução de uma operação de cerco e busca
deve obedecer a alguns princípios, tais como:
» Surpresa, de forma a evitar que um possível alvo
fuja, que determinados materiais sejam escondidos ou
que se prepare uma reacção eficaz contra a força que
executa a operação, protegendo-a.
» Velocidade, é um princípio relativo, pois é necessária para evitar uma reacção por parte de uma possível ameaça, no entanto as tarefas de busca requerem
algum tempo, de modo a serem realizadas de uma
forma sequencial e metódica.
10 Tradução livre: FM 3-24.02 Tactics in Counterinsurgency.
2.2 Aspectos a ter em consideração durante o
planeamento
Existem diversos aspectos a ter em consideração
durante a fase de planeamento:
» Determinar e delimitar correctamente a área de
busca, de acordo com a área, determinar o efectivo
a utilizar. Dependendo do método de abordagem, da
situação da ameaça, das dimensões do objectivo e do
risco a assumir, o efectivo é variável, podendo ir de
uma Secção à utilização de toda a Companhia. Em
situações particulares, a Companhia pode ser apenas
um dos elementos dentro de uma operação de uma
UEB. Mas no mínimo o efectivo não deve ser inferior a
uma Secção (Figura 2).
Determinar o tipo de equipamento a utilizar em função do grau de perigosidade da busca.
» Procurar obter o maior número possível de informações sobre o local: plantas do edifício, fotografias, fotografias aéreas11, quantitativo de pessoas que
se espera no(s) edifício(s), presença de população e
possíveis reacções por parte dos ocupantes dentro do
edifício e possível população envolvente.
» Levantar as limitações e obrigações legais, tais
como ROE12, necessidade de mandato de busca e /
11 As fotografias aéreas são uma ferramenta importante
para o planeamento de operações, permitindo ter uma ideia
pormenorizada da área envolvente. Permite também esclarecer
e actualizar as cartas topográficas. É necessário ter atenção à
escala das fotografias, pois pode induzir em erro.
12
ROE: Do inglês Rules of Engagement, regras de
Nº 192 DEC11
53
AZIMUTE
ou detenção, autorização para detenção de pessoas,
autorização para confiscação de materiais e se estes
podem ser confiscados pela força, entre outros.
» Determinar a necessidade e confirmar a disponibilidade de meios e valências adicionais, que proporcionem um aumento das capacidades da força que
executa a busca, por exemplo: equipas de evacuação,
equipas de transporte13, equipas de intérpretes14, equipas de assuntos civis, equipas EOD15, equipas de polícia local e criminal16, equipas cinotécnicas17, equipas
de operações psicológicas / negociação18 e equipas
de vigilância / atiradores especiais19. É necessário o
comandante ou líder da subunidade que vai realizar a
operação, compreender as relações de comando, as
capacidades e limitações de cada uma das equipas,
assim como o seu modo de emprego20.
» Determinar o período do dia em que é mais vantajoso executar a busca, de forma a obter-se o efeito
surpresa, facilitar os movimentos e causar menores
restrições na população. Montar um anel de segurança durante um período de visibilidade reduzida, aumenta a probabilidade de se obter surpresa, mas é
mais difícil o comando e controlo, sendo sempre necessário ter em conta as restrições que vão ser colocadas à população, de forma a que esta não constitua
uma ameaça.
empenhamento.
13 Utilizadas pela Companhia para transporte de elementos a
deter, materiais apreendidos.
14 Úteis numa situação de busca com consentimento de forma
a facilitar a comunicação. É importante ter atenção à etnia ou
raça da população e do intérprete de forma a não se tornar um
problema em vez de uma solução.
15 EOD – Do inglês Explosive Ordnance Disposal, inactivação
de engenhos explosivos.
16 Em determinados teatros, como o do Kosovo, as forças
da NATO não podem deter indivíduos por mais do que um
determinado número de horas, após o qual têm de os entregar
às autoridades locais, de igual forma a recolha de provas para
uso em tribunal terá de ser feita por equipas especializadas.
17 São uma valência bastante útil, no entanto é necessário ter
atenção ao tipo de cão, podendo estes serem para busca de
estupefacientes, armas e explosivos, pessoas ou serem cães
patrulha. É também necessário compreender as limitações do
animal, por norma devem ser empregues por curtos períodos
de tempo, entre 20 a 30 minutos, após o que necessitam de
descansar, assim surge a necessidade definir uma prioridade
de busca.
18 Normalmente empregues em buscas com consentimento de
forma a permitir a execução da busca de forma pacífica. Têm
necessidade de segurança.
19 Na Companhia, sempre que possível e que a situação
o justificasse, eram organizadas equipas de vigilância que
também possuíam a capacidade de efectuar fogos de precisão
até uma distância de 300 / 400m.
20 Este ponto é especialmente importante quando se está a
operar num ambiente multinacional em que os procedimentos
das equipas podem diferenciar dos procedimentos das equipas
nacionais.
54
Nº 192 DEC11
2.3 Organização
Para uma operação de Cerco e Busca, muito embora pudesse haver algumas variações, a Companhia
de Atiradores tinha uma organização tipo, que incluía:
o comando, que para além dos elementos orgânicos
integrava os meios adicionais e algumas equipas que
eram organizadas a partir dos elementos de um dos
Pelotões, por exemplo equipas de vigilância e atiradores especiais, sendo responsável pelo comando e
controlo da operação, um elemento de segurança que
tinha tarefas associadas ao isolamento da área do objectivo, um elemento de busca responsável pelas tarefas associadas a encontrar uma determinada pessoa
ou material, um elemento de detenção responsável
pelas tarefas de processamento de pessoal e material
e uma reserva de forma a poder reagir a situações
inesperadas.
3. Tarefas
3.1 Comando
Numa operação de Cerco e Busca, um comando
e controlo efectivo de todas as acções é essencial e
é necessário ter atenção à sua dimensão e constituição, de forma a conseguir a coordenação e sincronização das tarefas de segurança, busca e detenção.
A localização do elemento de comando é um aspecto
importante a detalhar. Tendo em conta que o esforço é realizado pelo elemento de busca, é junto deste
que se deve posicionar o elemento de comando. Na
Companhia de Atiradores, o Cmdt de Companhia e
um operador de rádio, apeavam e estavam junto ao
elemento de busca, ficando o Oficial Adjunto na sua
viatura, garantindo as comunicações e relato das acções para o escalão superior e o controlo dos trens da
Companhia, assim como do seu emprego.
3.2 Elemento de segurança
O elemento de segurança monta um anel de segurança exterior, que tem por finalidade: bloquear,
controlar, alertar a entrada de viaturas e / ou pessoal
na área do objectivo e evitar possíveis ameaças para
o elemento de busca. As tarefas tácticas associadas
são: montagem de postos de controlo, posições de bloqueio, postos de bservação e patrulhas de segurança
nos principais itinerários de acesso ao objectivo e / ou
nas áreas entre eles, sendo necessário dar detalhes,
como: que viaturas / pessoas devem ser revistadas e
com que detalhe, em que circunstâncias as viaturas
/ pessoas são revistadas e apreendidas / detidas, se
estas instruções se aplicam a tráfego que circula de
fora para dentro e de dentro para fora e que tráfego é
autorizado a circular e em que circunstâncias.
As posições podem ser ocupadas antes do movimento do elemento de busca, se a situação o permitir e deve-se equacionar a necessidade de deixar
Figura 3 – Anéis de segurança
viaturas afastadas de forma a assegurar a surpresa,
ou em simultâneo com este21. Deve-se ter atenção à
identificação de viaturas e elementos que podem ou
não entrar e / ou sair da área do objectivo e a hora
/ acontecimento a partir da qual o cerco tem de ser
efectivo, como por exemplo: montado a partir de determinado GDH, activo após início da busca e a possibilidade de postos de controlo passarem a posições
de bloqueio.
Um dos erros que é comum cometer-se é posicionar o anel de segurança externo muito próximo do
edifício alvo, de forma a não ser capaz de alertar a
aproximação de uma ameaça em tempo e proteger o
elemento de busca.
É também necessário prever a utilização de meios
21 Normalmente, se o objectivo se encontra dentro de uma
área edificada com vários edifícios e população em volta, a
opção será ocupar as posições em simultâneo com o movimento
do elemento de busca, visto que de outra forma a surpresa é
quebrada.
Figura 4 – Anel de segurança interior
AZIMUTE
de controlo de tumultos para este elemento,
de forma a fazer face a possíveis manifestantes provenientes da população envolvente. Um aspecto importante a ter em conta
diz respeito aos materiais disponíveis, o
elemento de segurança deve ter disponível
materiais que permitam bloquear itinerários,
por exemplo concertinas se arame farpado e
“ouriços”(Figura 3).
3.3 Elemento de busca
O elemento de busca, monta um anel
e segurança interior, que tem por finalidade evitar a fuga de viaturas ou pessoas da
área do objectivo, proporcionar segurança
aos elementos que executam as buscas
na área do objectivo. As tarefas associadas
são: montagem de posições de combate,
postos de controlo e postos de observação
e a execução de buscas. Um dos factores
fundamentais a ter em consideração numa
busca, é o factor segurança, isto porque os
militares envolvidos na busca estão num meio que
lhes é desfavorável, ao passo que os residentes no
local onde é efectuada a busca, conhecem em pormenor o local, pelo que poderão utilizar o meio contra
os militares. Assim é de equacionar, em algumas situações em que o risco associado á busca é elevado,
por exemplo, quando a busca é sem consentimento,
o anel de segurança interior poder ser substituído por
posições de sobreapoio / apoio pelo fogo de forma a
dar liberdade de acção ao elemento de busca. Nesta
situação, algumas tarefas do anel interior poderão
passar para o anel exterior de segurança (Figura 4 e 5)
Na Companhia de Atiradores, o elemento de
busca da Companhia22, de uma forma geral, dividia-se em: busca, segurança, detenção e reserva. A
tarefa de busca podia ser atribuída a uma ou mais
22 Normalmente a tarefa era atribuída a um Pelotão, que para
algumas missões podia receber uma Secção adicional.
Figura 5 – Posições de apoio pelo fogo / sobreapoio
Nº 192 DEC11
55
AZIMUTE
Secções23 e tinha como princípios de actuação: evitar,
sempre que possível, danos na propriedade alheia,
evitar danificar possíveis provas criminais, procurar
primariamente aquilo que é o objecto da busca, deixando no local o que não o era.
Um dos aspectos a ter atenção é o método de
entrada a utilizar24: “hardy entry”, executado de forma rápida e violenta, de forma a não comprometer
a busca e a não causar baixas desnecessárias, utilizando métodos mecânicos, explosivos ou balísticos.
É utilizado quando o risco é elevado e a probabilidade
de fuga ou resistência à detenção é alta - busca sem
consentimento, “Soft Entry”, utilizado quando o risco
é reduzido e a probabilidade de fuga ou resistência à
detenção é baixa ou nula - busca com consentimento,
permite dar ao suspeito a oportunidade de colaborar,
é a que é preferível se houver um baixo risco e evita
uma escalada de violência. As buscas não se restringiam apenas ao interior dos edifícios, mas também ao
exterior dos mesmos, fazendo-se uso de meios que a
auxiliassem, por exemplo, detectores de metais. Se
possível, as buscas devem ser realizadas com consentimento, tendo papel importante neste aspecto, a
capacidade do comandante da força em negociar com
o líder da povoação ou dono da casa, a entrada e execução da busca. Neste caso, a capacidade de estabelecer uma relação de cooperação, tornando a busca
legítima e aceite pela população, é mais importante
do que a velocidade e surpresa.25 Um dos aspectos a
ter em atenção é o que fazer com os não combatentes, podendo ser empregues os seguintes métodos:
reunir num local central fora das casas, restringir os
habitantes às suas casas ou controlar a “cabeça” de
cada casa.
Em determinadas situações, eram conduzidas
buscas deliberadas26, sendo esta realizada, após o local de busca estar seguro. A tarefa era, normalmente,
atribuída a uma Secção27 que se organizava em co-
mando e equipas de busca, construída cada uma por
uma parelha. O número de equipas variava de acordo
com o efectivo disponível e as dimensões da área do
objectivo, no mínimo havia duas equipas, uma para
o interior e outra para o exterior do(s) edifício(s), a
equipa do exterior era também responsável pela área
envolvente, o que incluía possíveis viaturas. Durante
a busca, era efectuado um esboço detalhado da área
da busca, o qual constituía um anexo do relatório
efectuado.
Durante a realização da busca, cada compartimento era fotografado antes de começar a busca, fazia-se
um estudo do compartimento e procurava-se artigos
óbvios com interesse. A busca era efectuada de uma
forma sistemática, começava no centro do compartimento, de forma a libertar o espaço para artigos sem
interesse e depois, a partir do ponto de entrada, de
baixo para cima, deslocando-se em sentidos opostos,
sendo os materiais em excesso, sem interesse, colocados no centro. Eram tiradas fotografias aos artigos
com interesse, antes de lhes mexer. Sendo que estes
eram fotografados no local, manuseados com luvas
látex, colocados em sacos transparentes / Ziplock,
etiquetados, registados no inventário de artigos capturados e transportados para o local de reunião no
compartimento e depois entregue ao elemento de
detenção.
As pessoas eram revistadas e fotografadas com
uma placa de informação detalhada. No exterior dos
edifícios, era efectuada uma busca no perímetro dos
edifícios, tendo em atenção os artigos enterrados ou
escondidos em objectos. Às viaturas, era efectuada
uma busca inicial procurando possíveis armadilhas,
eram tiradas fotografias e documentada a informação
retirada .
Para executar este tipo de busca, foi criado um Kit,
que era transportado em mochiletes de mochila.
Mochilete 01 – Cmdt de Secção
23 Dependia das dimensões da área a efectuar a busca, se
incluía busca no interior e exterior dos edifícios e se incluía a
realização de uma busca deliberada.
24 Independentemente do tipo de busca e do método de
entrada utilizado os elementos que vão efectuar a busca
devem estar prontos a reagir a uma ameaça com armas de
fogo, passando a utilizar técnicas de precisão de limpeza de
compartimentos.
25 Baillergeon, Rick and Sutherland, John: Cordon and Search
Operations.
26 Tradução livre do inglês “Tactical Exploitation”, FM 3-24.02
Tactics in Counterinsurgency. Pretende ser a acção sistemática,
executada com os meus adequados, de forma a assegurar que
pessoal, documentos, informação electrónica e outro material
encontrado é identificado, recolhido e protegido de forma a
permitir obter informações e apoiar acções futuras.
27 Se a área fosse de grandes dimensões ou a quantidade
de material e pessoal a processar fosse elevada podia ser
atribuída a duas Secções.
56
Nº 192 DEC11
Mochilete Nº1
*
*
*
*
*
*
01 Mochilete
01 Bloco apontamentos + caneta
01 Lanterna Maglight
02 Sacos Ziplock
02 Pares luvas latex
Fita balizadora
Mochilete 02 – Adjunto
Mochilete Nº2
*
*
*
*
*
01 Mochilete
02 Pares luvas latex
01 Bloco apontamentos A4 quadriculado + caneta
Fita balizadora
01 Lanterna
Mochilete 03 – Equipas de busca
Mochilete Nº3
* 01 Mochilete
* Fita balizadora
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
10 Braçadeiras plásticas
06 Algemas de fio WD-1/TT
01 Lanterna Maglight
02 Conjuntos de 3m fio
01 Maquina fotográfica
10 Sacos plásticos transparentes (vários tamanhos)
Etiquetas material capturado
06 Sacos Ziplock
01 Rolo fita cola
03 Pares luvas latex
01 Conjunto paus giz
01 Marcador tinta permanente
01 Detector de metais (se necessário)
Figura 9 – Esboço resultante de uma busca deliberada
A segurança, dependendo do tipo de busca e das
características da área de busca, ocupava posições
de apoio pelo fogo / sobreapoio, ou montava um anel
de segurança interior, tendo como finalidade proteger
o elemento de busca ou elementos que efectuavam
uma possível negociação e evitar a fuga da área do
bjectivo28.
28 Em situações específicas em que são ocupadas posições
3.4 Elemento de detenção
De forma a libertar o elemento de busca das tarefas
de processamento de pessoal e material29, estas eram
atribuídas a um elemento em separado, que se organizava em: comando30, equipa de ligação, equipa de
segurança e equipas de detenção. A equipa de ligação
era responsável pela ligação ao elemento de busca,
recebendo deste as pessoas e materiais, possuindo
uma equipa de evacuação que transportava eventuais
feridos. A equipa de segurança garantia a segurança
próxima às equipas de detenção e ligação. As equipas
de detenção organizam espaços para colocar: elementos procurados, não combatentes, feridos, mortos
e material. Integrando as equipas de detenção, estava
um a dois socorristas que prestavam os primeiros socorros iniciais e executavam uma primeira triagem. Os
locais podiam ser organizados junto à área do objectivo, protegido das vistas e numa fase subsequente, ser
transferido para o interior de um edifício (Figura 11).
AZIMUTE
Figura 8 - Manuseamento de material durante uma busca deliberada
3.5 Reserva
Este elemento proporciona ao Comandante, flexibilidade e capacidade de fazer face a uma situação
inesperada. Deve estar preparada para reforçar os
elementos de cerco, busca ou detenção, podendo receber tarefas como: controlar distúrbios civis, reforçar
o anel exterior, controlar detidos, entre outras.
de sobreapoio / apoio pelo fogo e que o terreno seja restritivo,
a força pode não ter capacidade de evitar a fuga de elementos
da área do objectivo, passando esta tarefa para o anel de
segurança exterior.
29 O material incluía apenas aquele que poderia causar uma
ameaça imediata, por exemplo: armas, munições e explosivos,
caso contrário era deixado onde fora encontrado.
30 Na 2CAt esta tarefa era normalmente atribuída a um
Pelotão.
Figuras 10 - Manuseamento de material durante uma busca deliberada
Nº 192 DEC11
57
AZIMUTE
3.6 Uso de Equipas de vigilância / atiradores
especiais
A Companhia de Atiradores, de uma forma regular,
organizou e empregou equipas de vigilância / atiradores especiais. Não possuíam uma organização fixa,
mas de uma forma geral eram constituídas por duas
equipas de dois elementos cada, liderada por um
quinto elemento, um Sargento. Cada equipa possuía
um militar com uma Espingarda Automática G-3 com
Alça Trilux ou a Luneta AN/PVS-4 e um segundo militar com equipamento de vigilância diurna e nocturna,
para além dos meios de comunicação. Normalmente,
se a situação o permitisse31, eram colocados na área
do objectivo com algumas horas de antecedência, colocavam olhos no objectivo e actualizavam a situação.
Durante a aproximação do elemento de busca, actualizavam a situação e guiavam a força para o objectivo. Durante a acção no objectivo, permaneciam nas
posições, alertando para eventuais movimentos na
área do objectivo e nas imediações, além de proporcionarem a capacidade de efectuar fogos de precisão
até uma distância de 300 / 400m. Quando eram empregues duas equipas, uma ficava responsável pelo
31 Quando o objectivo se encontrava no meio de uma área
arborizada ou aberta e não houvesse uma ameaça era possível
colocar olhos no objectivo algumas horas antes, se o objectivo
se encontrava dentro de uma área edificada e houvesse
uma ameaça, ocupavam as posições em simultâneo com a
aproximação do elemento de busca.
objectivo propriamente dito e a segunda pela área envolvente. As comunicações eram efectuadas na rede
de comando e operações da Companhia, e durante a
fase de planeamento eram definidas medidas de controlo de fogos e medidas de coordenação.
4. Conclusões
A tarefa de Cerco e Busca é uma das tarefas mais
comuns em operações de resposta a crises. No entanto, não se apresenta como sendo uma tarefa fácil
de treinar e executar, visto ser uma tarefa que possui um enquadramento específico, sobretudo legal,
e apresenta um sem número de tarefas associadas,
algumas delas bastante técnicas e de uma forma geral as unidades não estão rotinadas a executá-las, e
naturalmente os resultados apresentam-se pouco satisfatórios, pois frequentemente ignoram cartas com
transparentes, fotografias, esquemas, frequências de
rádios, telemóveis, etc.
Todo o treino deve estar enquadrado, em particular
pelas considerações legais implicadas e ser progressivo. Deve-se treinar as tarefas associadas em separado e depois integrar as tarefas em diversos pequenos exercícios tipo STX. De uma forma natural, esta
tarefa táctica realiza-se em ambiente urbano, estando
assim o seu treino associado ao treino de tarefas de
combate em áreas edificadas.
Figura 11 – Esquema de colocação do elemento de detenção
58
Nº 192 DEC11
Azimute
Referências bibliográficas
Documentos oficiais:
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- FM 3-24.02 (2009) Tactics in
Counterinsurgency.
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- GTA 90-01-2008 Tactical Site
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RC
Operações.
(2005)
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Lisboa: EME.
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Tácticas, Técnicas e Procedimentos, EPI,
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- Directiva Nº 01-08 / AgrMec / NRF
12.
Apresentações:
- 3rd BCT / 3rd Infantry Division, Cordon
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- 3-502nd / 82nd Airborne Division, Cordon
& Search Vignette.
- B Coy / SWECOY, Concept of Search
Operations.
Artigos:
- Baillergeon, Rick and Sutherland, John:
Cordon and Search Operations.
- HUGHES, Major Christopher and ZIEK,
Major Thomas G., Cordon and Search
Operations.
- STANTON, Major Martin N., Cordon and
Search Operations – Lessons Learned in
Somalia.
1Sar Inf Sérgio Santos
(encontra-se a frequentar o curso de psicologia social e das organizações do ISCTE-IUL)
“Dado particularmente relevante para a transformação do Exército, e que assumimos em toda a sua amplitude, é a
mudança no modelo de obtenção de recursos humanos. …. Considerar que os recursos humanos nos devem ser
proporcionados por alguém, apenas nos competindo a sua formação e enquadramento, seria o espelho da inércia e da
passividade. Temos que ir ao encontro dos jovens. De forma séria, contínua e empenhada.”
AZIMUTE
A Psicologia Organizacional e a Instituição Militar
Discurso de SExa GEN CEME na Academia Militar na abertura Solene do Ano Lectivo 2003/04
Atualmente, as organizações,
perante novos desafios de natureza tecnológica, infraestrutural
e socioeconómica, vivem profundas transformações que exigem
novas abordagens para análise
e soluções dos mesmos problemas, agora com uma postura
proactiva e dinâmica.
No passado, o Homem era
colocado nas organizações como
complemento ao trabalho mecânico. O tratamento era impessoal e os processos de produção
eram essencialmente mecanicistas. Nessa altura, os gestores não se preocupavam com os
seus recursos humanos, que ao
longo do tempo, de forma directa
e indirecta, iam adquirindo conhecimentos que colocavam em
prática no seu quotidiano, com
todas as consequências positivas
e negativas para a organização.
Todavia, com a importância
crescente dos colaboradores e
a rentabilização das suas competências para os sucessos organizacionais, há claramente
uma nova forma de pensar o
todo organizacional. Na verdade, a evolução das ciências sociais fez com que estas instituições passassem a adoptar uma
postura mais atenta sobre o seu
papel no contexto social, levando à reorientação de estratégias
e processos, focalizando a sua
atenção no capital humano. Hoje,
os funcionários de uma organização não podem ser encarados
apenas como meros autómatos
que executam uma determinada
tarefa, onde não é tido em conta
os seus sentimentos, as suas
emoções as suas motivações
ou mesmo as suas frustrações.
Atualmente, esses funcionários
são vistos como preciosos colaboradores que se envolvem
no processo criativo e produtivo
dentro da organização.
A literatura relacionada com
a gestão de recursos humanos
revela que há uma grande evolução do papel dos indivíduos
dentro das organizações. Estas
estruturas são portanto constituídas por indivíduos que possuem
diferentes
atitudes,
valores,
pensamentos,
comportamentos, expectativas, motivações e
frustrações, que levam à edificação de um determinado clima
organizacional.
O clima organizacional, pode
então ser definido como o indicador do grau de satisfação dos
membros de uma organização,
em relação a diferentes aspectos
da cultura ou realidade aparente,
tais como: política de recursos
humanos; modelo de gestão;
missão da organização; processos de comunicação; valorização
profissional; e identificação com
a organização. É neste clima organizacional que os colaboradores estão envolvidos e labutam
no seu dia-a-dia. A organização
que procure sobreviver neste
contexto de “crise” deve procurar conciliar o interesse próprio,
(eficiência, produtividade e qualidade) com os interesses individuais dos seus colaboradores,
nomeadamente, realização pessoal, possibilidade de adquirir
novas competências e bem-estar
social.
Ou seja, para que um colaborador possa prestar um bom
trabalho é necessário que saiba fazer, que possa fazer e que
queira fazer. O saber fazer é
uma questão de conhecimento,
habilidades ou atitudes; o poder
fazer é uma questão de dispor
e poder usar os recursos necessários; e o querer fazer já é uma
questão voluntária, que depende
da satisfação das pessoas
quando realizam o seu trabalho,
logo está associado ao clima
organizacional.
Indubitavelmente as organizações terão que alterar o seu paradigma e promover uma profunda
mudança organizacional. Essa
mudança ocorre quando se altera consideravelmente a maneira
de pensar e de agir das pessoas.
A única maneira de mudar/inovar,
consiste em inculcar novos valores, ou alterar significativamente
os vigentes, de modo a instituir
um novo sistema de crenças. A
literatura salienta que essa mudança é extremamente difícil,
pois obriga a alterar um determinado conjunto de atitudes e
comportamentos que foram assimilados ao longo do tempo como
verdades indubitáveis. Nesse
sentido, concorre a prática nas
organizações para a aplicação da
psicologia na administração dos
recursos humanos, primordial
forma para o diagnóstico de possíveis problemas, obtendo assim
dados para a implementação de
estratégias e procedimentos de
Nº 192 DEC11
59
AZIMUTE
mudança no seio organizacional.
Um exemplo recorrente e cada
vez mais comum é o relativo à carga psíquica em ambiente de trabalho. A experiencia diz-nos que
indivíduos com excessiva
carga de responsabilidade
dentro
seleção. No recrutamento aplicam-se um conjunto de técnicas
e procedimentos que visam seleccionar candidatos potencialmente qualificados e capazes
de ocupar cargos dentro da organização.
E s t a
fun-
de
u m a
ç ã o
orgaé semnização,
pre reae na grande
lizada de acordo com
maioria, sem
Clima Organizacional
as necessio devido apoio
dades presentes e futuras de
de auxiliares e líderes, tendem recursos humanos na organia desenvolver problemas do foro zação, existindo dois tipos de
psicológico. Muitas vezes, o pró- recrutamento: o recrutamento
prio indivíduo consegue controlá- interno, que está fundamentado
-los, recorrendo se necessário
na movimentação de quadros de
a apoio especializado. Mas há
pessoal dentro da própria organicasos extremos em que poderá
zação, e o recrutamento externo,
recorrer a medidas ou acções
que ocorre quando não é possídrásticas como homicídios ou
vel obter candidatos para suprimesmo ao suicídio - temos camir as vagas existentes. Após o
sos recentes em Portugal e relaprocesso de recrutamento, emtivos, na sua maioria, a forças de
pregando-se testes, entrevistas
segurança.
A solução passa pelo acom- e dinâmicas de grupo, inicia-se o
panhamento psicológico, com o processo de selecção, que deve
objetivo de neutralizar e corrigir ser adequado aos objectivos da
desvios comportamentais, com organização.
Mas o que é afinal o comporo objectivo de recuperar o capitamento
organizacional? Como
tal humano e incrementar o nível
explica-lo?
de produtividade individual mas,
Uma das propostas para a extambém, colectivo.
plicação,
é o modelo “Atracção –
Numa primeira análise o psiSelecção
– Atrito” (ASA), definicólogo organizacional surge
como o profissional que tem a do por Schneider (1987) e revisto
função de “ajudar a organização por Schneider, Goldstein & Smith
a pensar” e com isso capacitar o (1995), como um modelo cíclico
indivíduo - no seio organizacional segundo o qual as pessoas cujas
características pessoais se as- a lidar com os problemas.
Mas a prática do psicólo- semelhem às características de
go organizacional deve estar a uma determinada organização,
montante do problema. Ou seja, são para ela atraídas, por ela seao nível do recrutamento e da leccionadas e nela permanecem.
60
Nº 192 DEC11
Por sua vez, as estruturas, os
processos e a cultura organizacional são o reflexo das características da personalidade do(s)
fundador(es) da organização e
dos seus principais líderes.
As organizações, na perspectiva do modelo ASA, tendem
ao longo do tempo para uma
maior homogeneidade em relação ao tipo de pessoas que as
constituem. Na fase inicial da
implementação da empresa no
mercado de trabalho, a homogeneidade é benéfica na medida
em que facilita a coordenação e a
comunicação, melhorando a socialização e a interacção. Mas a
homogeneidade poderá ter a longo prazo consequências negativas no futuro das empresas. Tal
como advoga Schneider (1995),
o psicólogo organizacional deverá na fase inicial seleccionar os
pretendentes que melhor se encaixem na organização para prevenir o atrito e assim criar um espírito mais homogéneo. Contudo,
com o avançar do tempo, deverá
promover a heterogeneidade tendo em vista o desenvolvimento
da inovação e do espírito crítico,
onde os colaboradores poderão
explanar as suas ideias, mesmo que divergentes, no sentido
construtivo de novas dinâmicas.
Outra actividade muito solicitada ao psicólogo organizacional
é o treino de desenvolvimento
pessoal. Esta é uma actividade necessária tanto para novos
funcionários como para os mais
experientes.
Avaliar o desempenho dos
colaboradores é também muito importante. Os dados sobre
o desempenho no trabalho têm
múltiplas aplicações nas organizações e levará certamente a
um incremento da produtividade.
Mas essa avaliação terá que ser
isenta e rigorosa, pois se assim
não for, poder-se-á tornar num
instrumento perverso.
É
importante
que
ao
colaborador seja reconhecido
o seu papel activo na execução
das suas tarefas, e que possua
liberdade para expor as suas
adensam sobre toda a função pública e por inerência sobre os militares, tornar-se-á complexo gerir os recursos humanos? Julgo
que não.
Olhando para a Instituição
Militar e fazendo uma analogia
com as demais organizações,
verifica-se que esta possui características que são transversais a
outros modelos de gestão, contudo, possui algumas especificidades que a tornam ímpar.
Neste âmbito importa reflectir
sobre cinco pecados capitais do
mundo organizacional que não
deixam de ser os nossos.
O primeiro, prende-se com
a estrutura de comunicação.
Muitos dos nossos problemas
estão relacionados com a gestão dos fluxos de informação.
Se promovêssemos uma maior
descentralização da informação,
certamente em muitos casos teríamos um papel pró-activo e não
reactivo como por vezes sucede.
O segundo é a rotatividade
(Turnover). Este, é a meu ver, o
maior entrave ao desenvolvimento sustentado de qualquer organização, porque provoca uma
perda substancial de processos
e dinâmicas já adquiridas, que
terão que ser novamente reinventadas. A instituição Militar
deve procurar promover uma
maior permanência no posto de
trabalho.
O terceiro pecado está relacionado com a falta de ética. O
clima organizacional é seriamente afectado, quando os colaboradores, ignoram os princípios
éticos para unicamente alcançar resultados a qualquer custo.
Esta situação leva à desmotivação, factor preponderante na
produtividade.
A gestão de competências é o
quarto pecado capital. Nas organizações os colaboradores são
seleccionados para a função,
tendo em conta as suas competências técnicas e sociais. O
quinto pecado, está relacionado
com a gestão do conhecimento,
condição determinante na evolução das organizações. Deve ser
encorajada a melhoria e a procura incessante do conhecimento
científico, com o intuito de fomentar a qualidade da formação.
Dito isto, talvez seja importante reflectir sobre:
O desenho de objectivos futuros, sustentados numa vontade
cooperativa, que podem e devem ser periodicamente revistos,
ajustando-os às expectativas de
cada colaborador.
Novos agentes motivacionais,
e,g., (gestão do tempo e gestão
do conhecimento), pois o indivíduo que se encontrar motivado
melhorará seguramente o seu desempenho e consequentemente
a dinâmica da organização.
Resta-me concluir reforçando
que acredito piamente que conseguiremos dar uma resposta
cabal aos novos desafios com
os quais a Instituição Militar se
depara, e nunca nos esqueçamos que os tempos de dificuldades são também tempos de
oportunidades, saibamos nós
aproveitá-las.
AZIMUTE
ideias, não se sentindo oprimido e desta forma, desenvolva as
suas capacidades e alargue o leque das suas competências.
Em 1964, Vroom defendia
que o esforço do(s) indivíduo(s),
ao ser o reflexo das motivações
que cada um suporta, será tanto maior quanto a expectativa
sobre o seu desempenho, ainda
que o(s) resultado(s) possa(m)
ou não ser o(s) pretendido(s) e
valorizado(s) por si. Assim, qualquer que seja esse resultado,
cabe ao psicólogo organizacional intervir junto do colaborador,
arranjando estratégias motivacionais adequadas, i.e., incentivando-o a manter ou melhorar a
sua prestação com o objectivo de
conseguir, manter ou recuperar
(consoante o caso) o equilíbrio
entre o esforço do seu trabalho
e a posterior recompensa comparativamente com outros. Deste
modo o colaborador, ao sentir-se
motivado e satisfeito, permanece
na organização.
As Forças Armadas e o
Exército em particular, no contexto de transformação atual,
são actualmente encarados pela
sociedade como uma organização em que, erradamente, há a
perceção de uma menor utilidade, associada a um consumo
excessivo de recursos materais.
Para confirmar o que escrevo
basta estar atento aos Órgãos
de Comunicação Social (OCS)
e aos comentários proferidos a
este respeito.
É nesta difícil conjuntura que
nos vemos obrigados a afirmar a
nossa importância, exigindo-se,
neste momento socioeconómico
repleto de grande incerteza, uma
criteriosa aplicação e orientação
dos recursos humanos, única forma para o desenvolvimento sustentado da Instituição Militar.
Mas, na conjuntura actual,
em que os cortes salariais se
Azimute
Referências bibliográficas
Schneider, B. (1987). The people
make the place. Personnel psychology, 40, 437-454
Schneider, B., Goldstein, H.
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Neves, J. (2011). Aptidões individuais e teorias motivacionais.
Psicossociologia das organizações, 9,
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Bibliografia
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Academy of Management Review, 14,
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Chatman J. (1991). Matching people and organizations: Selection and
socialization in
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Administrative Science Quarterly, 36,
459-484.
Nº 192 DEC11
61
AZIMUTE
As Provas de Decisão Militar
Salto para o tanque dos frades
Maj Inf Garcia Lopes
(colaborador desta revista colocado no CPAE)
Introdução
Uma das características fundamentais dos militares, sobretudo nos que desempenham
funções de liderança, é a capacidade de decisão. É ela que garante que, após serem ponderados os custos e benefícios (por
vezes em fracções de segundos), o líder consiga passar à acção e com isso orientar e motivar
os subordinados no cumprimento
de tarefas e missões.
Assim, durante o percurso de
selecção e de formação dos futuros líderes militares, tem sido
dada particular atenção às provas que exigem capacidade de
decisão. Como exemplos dessas
provas, e entre muitas outras, temos o salto do muro e da vala e
o salto para o galho incluídas em
provas de obstáculos ou as feitas
isoladamente e características
dos cursos de Infantaria, como
o salto para o tanque dos frades,
o salto para o desconhecido e o
slide e o rappel.
Uma questão colocada recorrentemente é se as provas de
Salto do muro da pista molhada
62
Nº 192 DEC11
decisão militar, para quem não
as supere, devam ter um carácter eliminatório ou somente
penalizador.
Para uma melhor compreensão do que está envolvido na
realização das tarefas de decisão, passaremos a analisar os
seguintes factores nelas envolvidos: Decisão, Percepção de
risco e Decisão face à percepção
de risco.
Decisão
Relativamente à decisão
Daniel Ellsberg (1960, cit. por
Baron, 1994) refere que existe
uma ambiguidade na decisão perante situações desconhecidas,
dado que as pessoas podem
violar o axioma da utilidade esperada, com o objectivo de evitar situações de risco quando a
probabilidade deste ocorrer é
incerta.
Ritov & Baron (1990, cit. por
Baron, 1994) encontraram ainda
evidências de que quando existe
falta de informação as pessoas
tornam-se relutantes em escolher
uma opção onde não há certeza
das suas consequências.
De
uma
outra
forma,
Rasmussen (1987) descreve que
na decisão está envolvida a identificação das discrepâncias entre
o estado actual e o estado após
a acção.
Percepção de risco
Singleton e Hovden (1987)
concluem, na sua obra sobre
“Risco e Decisões”, que o que
caracteriza o risco é: ser uma
exposição a um eventual perigo;
envolver incerteza relativamente ao que pode ocorrer; e estar
presente em situações onde
não existe informação completa
sobre as consequências. Ainda
segundo os mesmos autores,
o movimento para um território
desconhecido envolve sempre
riscos, mas este movimento é
feito porque há também potenciais benefícios associados. No
entanto, o risco é evitado se existe a percepção de que há possibilidades do resultado não trazer
benefícios ou, trazendo, se estes
no julgamento (crença) e por isso
entendem que essa avaliação é
subjectiva. Para tentar cruzar as
duas visões (do expert e do novato) o autor propõe que mais
indicado será comparar o risco
intuído pelo novato com o risco
estimado pelas várias variáveis
reais em jogo entendidas
pelo expert. Ainda sobre
o risco, Brehmer defende
que o que se percepciona
não é o risco mas sim as
possíveis consequências
da decisão.
Decisão face à percepção de risco
Salto para o desconhecido
é feita através do treino táctico e
operacional.
Berndt Brehmer (1987) na
sua teoria sobre “a psicologia do
risco” refere que a percepção de
risco face a provas de decisão
é sempre diferente para experts
(instrutores) e para novatos (instruendos). Para os experts, os
novatos têm um entendimento
errado e falta de informação sobre o risco, o que os leva a considerarem que existe perigo onde
ele não existe. Assim, para os
experts a percepção dos novatos
sobre o risco é “irracional”. Pelo
contrário, os novatos discordam
da avaliação do risco feita pelos
experts, pois consideram que estes a fazem somente baseada
Para Brehmer (1987) a
decisão sobre um risco é
uma decisão intuitiva que
expressa uma avaliação difusa e negativa da decisão
sobre uma alternativa, acompanhada de
um sentimento geral
de que “é algo que
não se quer fazer”.
De acordo com
Edwin Herr (1970) o
processo de decisão é um
fenómeno da experiência
humana que para ser compreendido tem que considerar a existência de vários
factores inter-relacionados
que a influenciam, tais
como a inteligência, a
aptidão, os valores, os
estereótipos, os interesses, as necessidades e o
auto-conceito.
Conclusões:
Da breve investigação
realizada podemos concluir que:
1. No ser humano existe uma
relutância em optar por uma
situação desconhecida, ou
onde exista falta de alguma
informação, quando esta envolve a ocorrência de riscos;
2. Existe um claro e natural desacordo entre instruendos e
instrutores sobre a percepção
de risco relativa às provas de
decisão, fruto da diferença de
experiências e de informação
conhecida;
3. O risco é inerente à condição
militar e é através do treino
que é feita a redução da percepção do impacto do mesmo;
4. Na decisão estão inter-relacionados factores como a inteligência, a aptidão, os valores e
a intuição.
AZIMUTE
não compensarem os prejuízos.
Relativamente ao risco na
vertente militar, Michael Page
(1987) defende que este é uma
parte central da vida dos militares, já que o risco está no coração das suas acções. Refere ainda que a redução do seu impacto
Proposta:
Relativamente à questão
base que serviu de motivação
à realização deste artigo: se as
provas de decisão militar, quando
Salto para o galho
não superadas, devam ter um carácter eliminatório dos cursos ou
somente penalizador, a seguinte
proposta não pretende ser a resposta única e cabal ao tema mas
Nº 192 DEC11
63
AZIMUTE
Execução do slide
sim apenas mais um contributo
para se encontrar uma solução
adequada.
Se por um lado a importância
da característica da decisão nos
líderes militares deveria excluir
os que não a possuem, por outro lado parece redutor que essa
exclusão seja feita somente com
base numa prova específica que,
apesar de avaliar a capacidade
de decisão tem associadas outras vertentes (incapacidades
particulares, receios específicos,
situações de indisponibilidade
pontual, eventual falta de treino
adequado, entre outras).
Assim, uma possível solução que evita as limitações atrás
abordadas será considerar as
provas de decisão militar como
64
Nº 192 DEC11
penalizadoras, no caso de não
serem superadas umas mas serem ultrapassadas outras, e serem consideradas eliminatórias,
no caso de, no seu conjunto, uma
parte significativa delas não ser
superada.
Por outras palavras, as provas de decisão militar devem ter
duas avaliações: uma individual,
em que cada uma conta somente
na prova em que está inserida,
devendo o instruendo ser penalizado caso não a consiga superar; e outra conjunta, onde todas
as provas de decisão do curso
são agrupadas e ao ser verificado que o mesmo instruendo não
supera 2/3 dessas provas deverá
então implicar a sua exclusão.
Azimute
Bibliografia
Baron J. (1994). Thinking and
Deciding. Cambridge: Cambridge
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Brehmer
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The
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Final discussion. In W. T. Singleton &
J. Hovden (Eds). Risk and Decisions
(pp. 209-224). Chichester: John Wiley
& Sons, Ltd.
Universidade do Minho
Catarina Guise, Katherine Mérida, Rita Nogueira e Raul Fangueiro
1. Enquadramento
Os materiais à base de fibras
têm sido utilizados pelo Homem,
desde há largos milhares de
anos, na produção de vestuário e artigos decorativos, devido às suas propriedades únicas
de conforto, flexibilidade e cair.
Estas aplicações representaram,
durante muitos anos, o principal
mercado dos materiais fibrosos.
No entanto, as evoluções ocorridas do século passado, despoletaram o desenvolvimento de
novas fibras com desempenhos
mecânico, térmico e químico extremamente interessantes, que
conduziram ao aparecimento de
uma vasta gama de aplicações
técnicas dos materiais fibrosos.
Para além disso, a possibilidade
de tornar estes materiais inteligentes, ou seja, com capacidade
de responderem por si só a um
determinado estímulo externo,
tem também contribuído para
desenvolvimentos extremamente interessantes neste domínio.
Dentro das características que
podem ser incorporadas por estes materiais destacam-se:
• A mudança de cor por acção da
temperatura, electricidade ou
luz;
• A criação e transferência de calor através da electricidade ou
de mudança de fase;
• A actuação como sensores,
reagindo à variação de temperatura do corpo humano ou do
ambiente;
• A memorização da forma, com
capacidade de voltar à forma
inicial, normalmente, por acção
do calor.
A incorporação da microelectrónica, como os sensores,
em materiais à base de fibras,
tem proporcionado, igualmente,
produtos de elevado interesse.
Destaca-se a utilização de sensores em vestuário de protecção
com o objectivo de localizar o
utilizador num dado território, por
exemplo.
Com o intuito de dar a conhecer este “mundo das fibras”
surgiu o projecto FIBRENAMICS
– O Novo Mundo dos Materiais
à base de Fibras, que visa desenvolver conteúdos para divulgação nos média, acerca dos
últimos progressos destes materiais, com especial enfoque
nas suas aplicações avançadas
nas áreas da medicina, construção civil, arquitectura, protecção
pessoal, transportes e desporto.
Trata-se de um projecto liderado
pelo Fibrous Materials Research
Group, da Escola de Engenharia
da Universidade do Minho.
2. Introdução às fibras
As fibras têxteis são elementos filiformes que apresentam um
elevado comprimento em relação
à dimensão transversal máxima,
sendo caracterizadas pelas suas
flexibilidade e finura.
São constituídas por macromoléculas, os polímeros, que por
sua vez, são compostos por uma
sequência de monómeros (1).
O comprimento do polímero
é um factor bastante importante, uma vez que todas as fibras
possuem uma cadeia polimérica
bastante longa, sendo que o arranjo molecular pode ser mais
ou menos orientado com influência direta nas propriedades das
fibras.
Assim, uma elevada orientação dos polímeros confere elevada resistência à tracção, baixo
alongamento, resistência ao calor e resistência aos químicos.
Pelo contrário, uma baixa orientação dos polímeros proporciona
características de flexibilidade,
suavidade e conforto às fibras
(1).
A classificação das fibras
pode ser realizada de acordo
com diversos aspectos. Em relação ao comprimento, podem
ser classificadas como: descontínuas, quando apresentam um
comprimento limitado, ou contínuas, quando apresentam um
comprimento bastante elevado,
sendo este apenas limitado por
razões técnicas. Em relação à
sua origem, as fibras podem ser
classificadas em naturais ou não
naturais (Figura 1). Dentro das
fibras naturais, estas podem, ainda, ser de origem animal (ex.: lã,
seda, alpaca), vegetal (ex.: algodão, linho, juta, sisal, cânhamo)
ou mineral (ex.: amianto). Por
outro lado, as fibras não naturais
podem, igualmente, ser divididas
em fibras artificiais (ex.: viscose,
acetato, cupro), sintéticas (ex.:
aramida, poliamida, poliéster) e
inorgânicas (ex.: vidro, carbono,
boro). As fibras artificiais e as
sintéticas são produzidas pelo
Homem. Contudo, as fibras artificiais utilizam como matéria-prima
componentes existentes na natureza, como é o caso da celulose,
enquanto as fibras sintéticas utilizam como matéria-prima produtos químicos (2).
No geral, as fibras apresentam
inúmeras aplicações em diversas
áreas, como, por exemplo, vestuário, desporto, medicina, construção civil, indústria automóvel,
arquitectura, protecção, entre
outras.
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
Materiais fibrosos na proteção militar
65
AZIMUTE
3. Tipos de protecção na
área militar
Na área militar, vestuário de
combate, coletes balísticos, capacetes, mísseis, carros de combate, armamento e vestuário de
protecção térmica são exemplos
de produtos que utilizam fibras
e estruturas fibrosas. Assim, verifica-se que neste campo existe
uma integração completa de todas as áreas de protecção pessoal: mecânica (ex.: coletes à prova
de bala), térmica (ex.: vestuário
de proteção contra temperaturas
extremas), biológica (ex.: respiradouros protetores de partículas
que possa ser nocivas ao utilizador) e química (ex.: vestuário de
proteção contra líquidos, gases,
poeiras nocivas). Realça-se, ainda, a importância da camuflagem
como proteção visual.
Os requisitos do material que
promovem proteção no campo
militar em cada área enumerada
anteriormente incluem (3):
• Na área da proteção mecânica:
-- Resistência ao impacto;
-- Elevada resistência à tração;
-- Resistência à abrasão;
-- Resistência ao rasgo.
• Na área da proteção química e
biológica:
-- Resistência ao rasgo para
evitar a possibilidade de
infeção;
-- Resistência e repelência a
vírus, bactérias, produtos
químicos;
-- Elevada impermeabilidade
e respirabilidade para proporcionar maior conforto
térmico;
-- Resistência térmica;
-- Durabilidade;
-- Resistência à abrasão;
-- Facilidade de limpeza.
Figura 1: Classificação das fibras.
• Na área da proteção térmica:
-- Elevado isolamento térmico;
-- Resistência a condições
ambientais extremas como
calor, chama, vento, frio e
neve;
-- Elevada
repelência
a
líquidos.
coletes à prova de bala são artefactos militares que protegem
os utilizadores contra projécteis
ou destroços. A Tabela 1 mostra a percentagem de acidentes
causados em campo de batalha,
onde a proteção mecânica assume importância.
• Na área da proteção visual
(camuflagem):
-- Resistência às condições
ambientais extremas (calor,
chama, vento, frio, neve);
-- Fácil adaptação ao meio
ambiente que facilita uma
rápida camuflagem;
-- Resistência aos raios UV;
-- Flexibilidade;
-- Leveza.
As fibras de aramida, que se
apresentam no mercado sob diversas marcas comerciais, incluindo o Kevlar®, são o material
base dos coletes à prova de bala.
São materiais fibrosos extremamente resistentes ao calor e sete
vezes mais resistentes que o aço
por unidade de peso. O colete
à prova de bala é, normalmente, formado por várias camadas
fibrosas sobrepostas com uma
certa folga, oferecendo, progressivamente, resistência ao avanço
do projéctil (Figura 2) (4,5).
4. Uso das fibras na área
militar
Na proteção militar do tipo mecânica, os avanços tecnológicos
permitiram uma evolução significativa, passando-se das pesadas
armaduras em ferro para coletes
e fatos leves e confortáveis. Os
De igual forma, a fibra de polietileno de alta densidade é largamente utilizada nesta área de
proteção. Um exemplo é a fibra
comercial Dyneema® utilizada
Tabela 1: Causa dos acidentes balísticos em geral em teatro de guerra (adaptado de (3)).
66
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
Um exemplo de esna proteção balística. Apresenta extrutura fibrosa comertrema resistência
cial utilizada nesta
aos raios UV e a
área é o Tyvek®, deprodutos químivido às suas elevacos e elevadas
das propriedades de
resistências
à
resistência ao rasgo,
tração e abrasão.
durabilidade e resDetém, igualmenpirabilidade. É uma
te, a capacidade de
estrutura 100% poflutuar na água e não
lietileno, onde os esabsorver humidade.
paços vazios entre as
Existem muitos oufibras permitem a cirtros equipamentos miculação de vapor de
litares que envolvem
Figura 2: Estrutura de um colete à prova de bala
água e ar, limitando, no
a utilização de fibras (Imagem retirada de http://gcmcarlinhossilva.blogspot.com/2011/04/
entanto, a circulação das
especial-armas-de-fogo-o-colete.html)
com o objectivo de
partículas, proporcionando
emocionais e letalmente terríproteção, como são o
protecção
e conforto.
caso dos capacetes e de muitos veis. Os efeitos químicos promodos veículos blindados utilizados. vem queimaduras, doenças a níQuanto à proteção térmica,
Nestes casos, as fibras de vel respiratório e a nível da pele,
dependendo
do clima, o soldaaramida ou de polietileno de alta podendo, em muitos casos, levar
do
deve
estar
em condições térdensidade são, normalmente, uti- à morte. Os dispositivos essenmicas
estáveis.
A transpiração
lizadas em combinação com ma- ciais de protecção para os militapode causar desconforto, podentrizes poliméricas como forma de res são os respiradouros nasais
do levar à hipotermia em climas
ou
totais
que
filtram
e
desactise obterem materiais compósitos
frios. A humidade da transpiravam
as
espécies
tóxicas.
Quanto
extremamente leves e com proção ou da chuva, pode reduzir,
priedades mecânicas, principal- à protecção oferecida pelo vestuseveramente, o isolamento formente de resistência ao impacto, ário, este tem que ser impermenecido pelo material utilizado no
ável, mas respirável (Figura 3),
extremamente interessantes.
vestuário.
A guerra química e biológica tal como no caso da protecção
No geral, a protecção, tancontinua a ser das maiores ame- térmica, mas permitindo a saída
to
contra
o frio como contra o
do
calor
e
aprisionando
a
entraaças silenciosas para o mundo,
calor, é conseguida através da
já que os produtos tóxicos são da de vírus e bactérias entre as
fáceis de produzir e têm efeitos fibras (3).
utilização de estruturas fibrosas
Figura 3: - Proteção em guerra biológica.
(Imagem retirada de http://lista.mercadolivre.com.br/mascara-militar-americana-contra-gases)
Nº 192 DEC11
67
AZIMUTE
Figura 4: Membrana Gore-Tex ®
(imagens adaptadas de http://www.goliath.co.uk/index.php?p=247 e de http://
randonneur-rs.blogspot.com/2010_01_01_archive.html).
multicamada, em que cada uma
destas desempenha um papel
específico no desempenho global do conjunto (5).
Fibras mais finas tendem a
aprisionar maior quantidade de
ar do que fibras com maior secção, para o mesmo volume. Um
isolamento suficiente será formado por 10-20% de fibras adequadamente dispersas e 80-90% de
ar.
Um exemplo de material comercial que é utilizado a nível militar na protecção contra o frio é a
membrana Gore-Tex®. Trata-se
de uma membrana microporosa
formada por politetrafluoretileno
(PTFE), contendo mais de 9 bi-
liões de poros microscópicos por
polegada quadrada, sendo que
estes poros são 20.000 vezes
menores que uma gota de água,
mas 700 vezes maiores que
uma molécula de vapor de água
(Figura 4). Assim, o tecido, através da membrana, permite que a
transpiração escape, mantendo-se impermeável à água (3,5).
A inclusão de microcápsulas em fibras surgiu com o elevado interesse na utilização de
materiais de mudança de fase
(PCM’s), para controlo Dinâmico
e inteligente da temperatura corporal. Estes materiais inteligentes activos sentem e reagem
de acordo com estímulos ou
condições externas, largamente
Tabela 2: Fibras retardantes de chama no uso militar (Adaptado de (3)).
68
Nº 192 DEC11
aplicados em vestuário de proteção térmica (6).
A Outlast® é uma tecnologia que incorpora nas fibras,
milhões de microcápsulas que
podem absorver, armazenar e
libertar calor, quando o material
de mudança de fase transita de
líquido para sólido e de sólido
para líquido, tal como se observa na Figura 11, proporcionando bem-estar (7).
A Tabela 2 mostra materiais
retardantes da chama utilizados
em vestuário de combate ao fogo
e em vestuário anti-explosões.
Quanto à proteção visual, o
objetivo foi alterado com o avanço da tecnologia. Antigamente,
o objectivo era “enganar” o olho
humano, sendo que atualmente passou a ser “enganar” as
câmaras e todo o tipo de radiação. Assim, a camuflagem deve
funcionar em diferentes comprimentos de onda: luz visível,
ultravioleta, próximo e longe do
infravermelho e, comprimentos
de onda de radar (Figura 5) (4).
Fibras como o poliéster e a
poliamida são utilizadas nesta
área mas, dependendo da radiação e das condições ambientais,
outro tipo de fibras, ou mesmo
pigmentação, são utilizadas
no vestuário e equipamento
militar.
Materiais fibrosos com capacidade de mudança de cor
são, também, utilizados na proteção visual. Os materiais que
alteram a sua cor apor acção
da temperatura, de forma a se
adaptarem a qualquer tipo de
clima, são conhecidos como
materiais
termocromáticos
(Figura 6). Podem ser aplicados em vestuário com o intuito
de proteger o utilizador de diferenças climatéricas e na sua
camuflagem, proporcionando
um maior conforto.
Os materiais fibrosos da última geração, podem ser utilizados com enorme vantagem na
área militar, contribuindo para
a melhoria do nível de proteção
do militar em cenário de guerra.
Estes materiais apresentam diversas aplicações, que vão desde o fardamento até aos veículos
militares.
Assim, neste domínio, áreas onde o Fibrous Materials
Research Group da Universidade
do Minho está a realizar trabalhos de investigação, incluem:
- sensores à base de fibras
formados por fibras piezoeléctricas que podem ser inseridas, por
exemplo, em veículos militares
para monitorização;
- materiais fibrosos auxéticos,
que apresentam um coeficiente
de Poisson inverso, ou seja, alargam transversalmente quando
são alongados longitudinalmente, podendo ser aplicados em capacetes, coletes à prova de bala,
etc;
- fibras com memória de forma que têm a capacidade de
recuperar a sua forma inicial
mesmo depois de severamente
deformadas, podendo ser aplicadas em estruturas com capacidade de self-repairing em vários
equipamentos;
- materiais com elevada resistência ao impacto por incorporação de nanofibras;
- materiais compósitos reforçados por nanotubos de carbono que podem ser aplicados no
reforço de tanques militares para
uma melhor protecção em campo
de batalha permitindo obter materiais extremamente resistentes
e muito leves;
- fibras condutoras, isto
é fibras com a capacidade de
conduzir
electricidade,
para
aquecimento, comunicação e
monitorização (3,4,5).
6. Conclusões
Neste artigo pretendeu-se
mostrar a envolvência da área militar com os materiais fibrosos. As
principais áreas militares onde os
materiais fibrosos desempenham
um papel crucial são: protecção
térmica, protecção mecânica,
protecção química e biológica e,
protecção visual. Cada área de
aplicação necessita de materiais
fibrosos específicos, com características e propriedades bem
definidas, sendo que a “chave”
para garantir elevados níveis de
protecção, em todos os domínios, está em combinar materiais
cujas propriedades contribuem
em parte para garantir o desempenho do conjunto. As fibras oferecem uma variedade bastante
Figura 5: Camuflagem de militares
(Imagem retirada dehttp://www.forte.jor.br/2011/02/24/bopepmerj-ira-adotar-camuflagem-semelhante-ao-usmc/)
alargada de soluções que podem ser escolhidas em função
das necessidades específicas. O
avanço tecnológico na área dos
materiais e estruturas fibrosas
tenderá a consolidar estes materiais como materiais de excelência na garantia da protecção de
militares.
Azimute
AZIMUTE
5. Tendências na utilização de fibras na área militar
Bibliografia:
Guillén, J. G. (1991). Fibras
Textiles: Propriedades y Descripción.
Universitat Politècnica De Catalunya.
In K.K.Chawla (1998). Fibrous
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Elena Onofrei, A. M. (2010).
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(LX), f. 2 , 99-110.
Bansal, D. (28 de Março de
2011). Outlast – New Developments
To Improve Comfort In FR Workwear.
Obtido em 17 de Outubro de 2011, de
Text on Textiles: http://textontextiles.
com/?p=1612.
Autoria:
Catarina Guise, Katherine Mérida,
Rita Nogueira e Raul Fangueiro
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Fibrous Materials Research Group
Campus de Azurém
4800-058 Guimarães
Figura 6: Material termocromático que altera de cor
com a temperatura
(Imagem retirada de http://www.inteligentes.org/blog/?p=512)
Nº 192 DEC11
69
AZIMUTE
70
Fibras na proteção pessoal
O espetro das operações militares. A aplicação de fibras em
novas dinâmicas de proteção e sobrevivência
Intervenção do Ten Cor Inf Mário Álvares na
Universidade do Minho
As primeiras palavras deste
trabalho são dirigidas à Reitoria
da Universidade do Minho para
publicamente expressar, em
nome do Exército e do Comando
da Escola Prática de Infantaria,
os profundos e sinceros agradecimentos pelo convite que nos foi
endereçado e, aproveitando esta
oportunidade, reiterar o apoio da
Escola Prática de Infantaria à
Universidade do Minho em projetos de investigação, inovação
e desenvolvimento tecnológico
a desenvolver no futuro contribuindo assim, ainda que indiretamente, para o conhecimento
científico e para a excelência e
qualidade da oferta formativa
dessa universidade.
Quando a Escola Prática de
Infantaria foi convidada a participar no workshop da Universidade
do Minho para apresentar e fundamentar a importância do desenvolvimento dos tecidos naquilo que são hoje as exigências
das operações militares, quer em
termos das suas tipologias, quer
em termos daquilo que é exigido
a um soldado de infantaria, aceitei o desafio sabendo que tinha
pela frente uma temática que
nem sempre solicita a devida
atenção revertendo esta mais facilmente para assuntos como as
dinâmicas de transformação na
industria do armamento, analisar
as táticas, pensar em cenários
de reequipamento de sistemas, e
olhar para o fardamento como a
ínfima parte de um todo que, se
desenvolvido e pensado, poderá
fazer a diferença.
Assim, procurando sempre
Nº 192 DEC11
enquadrar o leitor naquilo que
são hoje os cenários plausíveis
de emprego do aparelho militar, e
em termos daquilo que é hoje um
soldado de infantaria e as suas
capacidades, este ensaio procurará traduzir essa reflexão e
deixar algumas orientações para
que, noutros fóruns, se promova
a investigação e o desenvolvimento tecnológico de um vetor
de modernidade importantíssimo
para uma afirmação plena das
capacidades militares.
tecnológica associada à estrutura globalizante da economia
mundial e maior abertura de fronteiras, incrementam o tráfico de
droga, pessoas e armas de destruição massiva; ou a fragmentação política de muitos Estados,
muitos deles alicerçados às heranças da guerra-fria, com os decorrentes extremismos étnicos,
religiosos e culturais, são alguns
exemplos de uma conflitualidade
diferente, que oferece um novo
espectro de operações militares
1. As operações militares
no século XXI. Novos desafios operacionais.
com novas dinâmicas e vetores
de emprego militar.
Neste novo contexto de ação
as operações de guerra ofensivas e defensivas não podem
nem devem ser eliminadas do
léxico militar obrigando a que a
preparação e processos de reequipamento e reorganização sejam para elas orientadas. Porém,
decorrente da realidade política,
Muitos são os fatores que
vêm fundamentando uma nova
tipologia de conflitos armados.
A nova dimensão do terrorismo transnacional; a emergência de atores transnacionais
como o crime organizado, que
tirando partido da disseminação
e evacuação sanitária obrigando
à implementação de novas capacidades em termos de proteção e
sobrevivência, são alguns exemplos de um leque alargado de novos desafios táticos, técnicos e
tecnológicos (Vink, 2008).
Contudo, esta caracterização
situacional ficaria incompleta se
não fossem perspetivados dois
aspetos de natureza logística. O
primeiro respeita à possibilidade
de emprego das forças em limites territoriais que nem sempre
são os nacionais, muitas vezes
em regiões do globo com debilidades infraestruturais essenciais
à criação de áreas de sustentação para uma resposta logística
oportuna, alargando em tempo e
em espaço a cadeia de abastecimentos. No segundo terá que ser
tida em consideração a possibilidade de emprego de forças numa
ótica de multifuncionalidade de
atores e de apoios, obrigando ao
estabelecimento de parcerias e
rearranjos tecnológicos onde a
modularidade e interoperabilidade dos sistemas será essencial
(Pagonis, 1992).
Em suma, um novo ambiente
operacional que se traduz, necessariamente, no mesmo homem, sempre guiado pelo instinto e pela razão do momento, mas
com novas capacidades materializadas por um conjunto de sistemas que terão que dinamizar
a sua capacidade psicofísica e
cognitiva.
2. O soldado de Infantaria.
Novas capacidades e possibilidades de emprego.
O principal papel do soldado
de infantaria será, como à 800
anos atrás, o combate próximo
em terreno aberto e em cidades,
num espectro alargado de operações que podem englobar operações de resposta a crises, como
Imposição de Paz, Manutenção
de Paz, Apoio a Autoridades
Civis, Ações Humanitárias e a
Guerra Declarada.
Nesse contexto de emprego
será obrigado a atuar em diferentes cenários, terrenos, climas
e condições de visibilidade. E
quando hipoteticamente numa
operação de guerra abandona a
plataforma que lhe garante mobilidade tática terrestre, marítima
ou aérea, utilizará sempre o fogo
e o movimento para alcançar
uma posição mais vantajosa relativamente a um ou mais adversários, sempre num contexto de
grande intensidade e desgaste
psicofísico.
Mas esta visão redutora do
soldado de infantaria tem que
ser vista noutra perspetiva. Na
verdade, o soldado de infantaria
é, cada vez mais, um sistema de
armas. O soldado de infantaria
é um sistema materializado em
tudo que utiliza, carrega e consome numa operação, sendo parte
de uma subunidade que comporta outros soldados (quatro a
nove homens constituindo uma
Esquadra ou Secção, respetivamente) e onde, num contexto coletivo, terá que operar para atingir com eficiência os objetivos do
escalão superior em que se integra a sua unidade (normalmente
designada por Pelotão).
Os sistemas que transporta e
que dele fazem esse sistema de
armas respeitam sempre os seguintes requisitos (CEDS, 2011):
• modularidade, onde os interfaces que transporta permitam e
aceitem a integração de outros
módulos como são caso de power sources e sighting devices;
• adaptabilidade, para de acordo com a sua missão, independentemente da duração da
operação, tipologia da ameaça
e ambiente físico, os sistemas
que transporta tenham a capacidade para adicionar módulos,
afetando ao mínimo as configurações de base e ergonomia
do todo, disponibilizando assim
novas capacidades para outra
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
estratégia e social deste novo
século, agravada pelo aumento
exponencial das cidades e pela
tendência dominante da nova
conflitualidade se desenvolver no
seu interior, a dimensão e adequação do aparelho militar não
pode ignorar essa realidade e
terá que equacionar novos requisitos tecnológicos e doutrinários,
distintos de uma realidades de
emprego do aparelho militar que
é mais confortável.
Umas das características essenciais desse ambiente operacional é a influência dos civis
num contexto de ação que terá
que evitar, a todo custo, os danos colaterais e a sua mediatização. O erro decorrente de uma
baixa não desejada é um fator
preponderante para o sucesso
da operação ou até mesmo da
campanha militar. E se por um
lado essa caraterística condiciona o modo como as forças em
presença farão uso da força tendo em atenção as baixas entre
não combatentes, por outro lado
exige uma grande capacidade
de comando e controlo num contexto de ação com uma grande
descentralização.
Mas há outros parâmetros de
caracterização.
A elevada intensidade de combate ao nível do subsolo, solo,
acima do solo e no interior ou cobertura de edifícios obrigando ao
desenvolvimento de novas capacidades em termos de letalidade
e sistemas de reconhecimento e
aquisição de alvos; a aplicação
de estratégias de grande violência (ações que procuram maximizar a dissimetria negativa entre
atores) por parte de adversários
sem rosto ou uniforme procurando a vitória no mediatismo dos
media impondo novas dinâmicas
de proteção individual; e a condução de combates com campos
de tiro exíguos pautados pelo
consumo acentuado de abastecimentos e necessidades de apoio
71
AZIMUTE
tipologia de tarefas e missões;
• incrementabilidade, para que
a adição de novos sistemas
decorrente dos desenvolvimentos tecnológicos se traduza na
substituição de módulos e não
exija a permuta do todo por incapacidade de adaptação;
• incorruptibilidade, para que
a falência tecnológica de um
módulo primário de um sistema
não afete o funcionamento de
outros módulos acoplados;
• interoperabilidade, para que
os sistemas e seus módulos sejam compatíveis no seio de uma
força combinada (mais que um
país) e/ou conjunta (mais que
uma componente (marinha,
exército e força aérea);
• e simplicidade, para que o
sistema seja user-friendly e as
handling operations sejam reduzidas ao mínimo.
Mas que é hoje exigido em
termos de capacidades ao soldado de infantaria enquanto sistema de armas?
Segundo as orientações da
Agência de Defesa Europeia
72
Nº 192 DEC11
para o Combat Equipment For
Dismounted Soldiers as capacidades encontram-se repartidas
pelas seguintes áreas (CEDS,
2011):
• C4I
(Comando,
Controlo,
Computadores, Comunicações
e Informações);
• Effective Engagement (aquisição efetiva);
• Deployment and Mobility (projeção e mobilidade);
• Protection and Survivability
(proteção e sobrevivência);
• Sustainability and Logistics
(sustentabilidade
e
apoio
logístico).
Vejamos cada uma dessas
capacidades:
• C4I – Permite exercer uma
ação de comando efetiva para
planear, gerir, coordenar e
controlar pessoal, armas, equipamentos e o universo de comunicações necessários à operação. O soldado de infantaria,
dotado com essa capacidade,
é um nó de uma rede sendo, em simultâneo, um sensor
de informação e elemento de
aquisição de alvos. Claro que
os requisitos para potenciar
esta capacidade comportam
sistemas com capacidade de
partilha de informação na rede
da força. Entretanto, a informação partilhada aos mais baixos
escalões, nos quais o soldado
de infantaria se integra, deverá
ter a dimensão adequada à capacidade cognitiva do utilizador,
quer em termos de tratamento,
quer em termos de tempo de
resposta decorrente da tipologia e saturação de dados;
• Effective
Engagement
–
Permite ao soldado de infantaria derrotar o potencial de combate do seu adversário (físico,
moral e tecnológico) e limitar
a sua liberdade de ação. Os
sistemas que maximizam esta
capacidade deverão permitir
a observação, deteção, reconhecimento (identificação de
alvos) e aquisição de precisão
evitando ou limitando danos colaterais e permitindo o emprego da arma indicada tendo em
atenção os danos e objetivos a
logístico, seja em termos de
reabastecimento, seja em termos de manutenção. O apoio
de base tem que ter resposta
em termos de reposição de víveres respeitando requisitos
como volumetria, rentabilização energética e validade. Um
ou mais sistemas terão que
permitir a monitorização sanitária. E os principais sistemas
(nomeadamente em termos
de armamento e assessórios),
em termos de conceção, terão
que respeitar requisitos como
a reciclagem, otimização energética em termos de fontes de
energia e consumíveis (no caso
das munições), e otimização
do peso, volumetria e modularidade (diminuindo o fluxo de
sobressalentes e trabalhos de
manutenção).
A questão que agora se coloca é saber qual a aplicação das
fibras têxteis (e do vestuário) nesta dinâmica de capacidades e o
impacto desse desenvolvimento
tecnológico na operacionalização
de outros sistemas e na atividade
técnica e psicofísica do utilizador,
o soldado de infantaria.
3. A importância dos tecidos na concretização das
capacidades.
3.a. Capacidade C4I
Para além do que já foi referido, os sistemas C4I têm que
estar adaptados às funções específicas de cada soldado de infantaria no seio da sua unidade
(esquadra, secção ou pelotão),
terão que permitir o scanning do
utilizador em termos de posicionamento e situação de sistemas,
terão que possibilitar o rastreio
e indicação de forças amigas no
setor de tiro impedindo o fogo
fratricida, terão que garantir o
posicionamento cartográfico correto do utilizador e alvos, e terão
que permitir o envio e receção de
mensagens de texto, imagem e
voz.
Não há assim, numa primeira
análise, uma aplicação direta dos
tecidos na dinamização ou maximização dos sistemas que essa
competência comporta.
Contudo, a sua aplicação, nomeadamente a rentabilização do
uniforme para a geração de energia com têxteis interativos (têxtil
que responde de forma inteligente a um estímulo e que a partir
do sentir ou do reagir (mudança
de cor, oscilação, etc) executam
operações ou sejam produtores de energia), será relevante
quando temos que equacionar
todo o conjunto de sistemas que
necessitam de fontes de energia para serem operáveis. Este
aspeto é ainda mais importante
se pensarmos que a redução de
baterias (recarregáveis ou não)
Materializa-se numa redução de
peso, numa redução do esforço
logístico para reposição de abastecimentos consumidos, e numa
redução do desgaste psicofísico
do utilizador, nomeadamente em
termos do peso total a transportar e ergonomia dos invólucros e
bolsas de transporte dessas bases de energia. Importa contudo
refletir sobre o peso da assinatura eletromagnética desse sistema em termos da identificação
por sistemas de aquisição de objetivos adversários, ou o seu impacto em termos da porosidade
das fibras e sua importância para
a manutenção de efeitos térmicos decorrentes do clima e tipologia de esforço. Deverá merecer
também alguma preocupação o
comportamento da estrutura geradora de energia e incorporada
no uniforme a agentes naturais
como a água e a humidade, ou
a reação a fragmentos de um
engenho explosivo improvisado
ou projéteis de energia cinética
lançados por armas de projeção
de fogo automáticas ou ordinárias (sem mecanismo automático
para recuo da culatra).
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
atingir;
• Deployment and Mobility –
Faculta ao soldado de infantaria a orientação e capacidade
de movimento transportando
armas (pistola automática, espingarda automática, sabre-baioneta, granadas de mão
ofensivas, defensivas, de fumos e iluminantes e munições), equipamento e material
(capacete, óculos balísticos,
colete balístico, colete tático,
suspensórios e cinturão para
transporte de outro equipamento e sistemas (rádio, cantil,
porta-carregadores,
lanterna
tática, etc), mochila tática com
material de sobrevivência para
24 a 72 horas, sistemas de
aquisição e telemetria, sistemas de visão noturna, etc) em
todo o tipo de terreno, todo o
tipo de condições meteorológicas e ambiente afetado por
agentes Nucleares, Biológicos,
Químicos
e
Radiológicos
(NBQR). Nesta capacidade tem
particular importância o peso,
volumetria e ergonomia das armas, equipamento e materiais,
não podendo nem devendo ser
descorado o fardamento.
• Protection and Survivability
– Garante ao soldado de infantaria a proteção contra ameaças naturais e aquelas que
são provocadas por ação do
homem. Sistemas detetores de
agentes NBQR, proteção balística, acústica e térmica, proteção contra armas não letais,
camuflagem e minimização da
emissão térmica, e proteção
contra fogo fratricida através da
introdução de dispositivos de
identificação e proteção contra
Remote Controlled Improvised
Explosive Devices (RCIED),
são alguns exemplos dessa
capacidade.
• Sustainability and Logistics
– Possibilita manter um período
alargado de ação sem necessidade de intervenção do canal
73
AZIMUTE
3.b. Effective Engagement
O Effective Engagement exige a utilização de sistemas que
garantam uma capacidade de
observação e aquisição sobre
quaisquer condições climatéricas
e agentes NBQR. Mas também
deve permitir a leitura dos resultados obtidos após a aquisição
do alvo e a execução do fogo, e
deve garantir a possibilidade de
designação de alvos para outras
armas de projeção de fogo, individuais ou coletivas, sejam elas
terrestres, aéreas ou navais.
Também aqui, como verificado para a capacidade C4I, a
rentabilização do uniforme para
a geração de energia com têxteis
interativos será importante para
sistemas que necessitam de fontes de energia para serem operáveis. Entretanto, as limitações já
identificadas na capacidade C4I
devem ser equacionadas para
esta capacidade.
3.c. Deployment and Mobility
Esta capacidade diz respeito
a requisitos de mobilidade tática e projeção interteatro (no interior do Teatro de Operações)
e intrateatro (entre teatros de
Operações e a Zona do Interior
e/ou Zona de Comunicações1),
razão pela qual esta capacidade
não deverá merecer uma análise
em pormenor para afetação do
recurso tecnológico em análise.
Contudo, embora este assunto
1 A Zona do Interior, na maior parte dos
casos, coincide com território nacional
e é nela que tem lugar a logística de
alto de nível e de produção. A Zona
de Comunicações é a área do Teatro
de Operações destinada a efetuar
a transição entre a Zona do interior
e a Zona de Operações. A Zona do
Interior é caracterizada pela existência
de estruturas portuárias (aeroportos e
portos de mar (e rio)) e é nessa área
que se articulam as bases logísticas,
hospitais de campanha e unidades de
manutenção, entre outras estruturas
e comandos de direção e execução
logística.
74
Nº 192 DEC11
seja abordado na capacidade
seguinte, importa realçar a importância que os tecidos detém
na mobilidade que está associada aos movimentos e deslocamentos táticos realizados como
parte de uma operação ou ação
militar. Aspetos ligados à conceção e design do fardamento e do
equipamento devem ser equacionados para que haja sintonia
e interoperabilidade funcional,
única abordagem para que no
cumprimento de tarefas militares
(que vão desde a simples distribuição de alimentos ao combate), em ambiente urbano ou rural,
as capacidades de locomoção individual terrestre não sejam afetadas. De salientar ainda o papel
relevante que os tecidos podem
assumir quando as plataformas
de projeção e missões/tarefas
solicitam mais que uma valência
em termos de resposta. Ou seja,
por exemplo, importa equacionar
o fardamento e as suas valências
perante a projeção subaquática
(com mergulho de combate) para
a condução de uma operação
terrestre.
3.d. Protection and Survivability
Esta capacidade, que comporta dois vetores (Protection
and Survivability) concorrentes (a
sobrevivência depende significativamente da proteção) está em
parte orientada para a importância da proteção ao nível de partes
vitais do corpo humano (como o
cérebro, visão (olhos), aparelho
auditivo, pescoço, peito, região
abdominal e pélvis) contra armas
de energia cinética e fragmentos
de explosivos improvisados, minas e granadas. Por isso, parte
significativa do esforço de desenvolvimento tecnológico, é relativa
à proteção balística rígida e flexível, está última colocada em
outros equipamentos e peças de
vestuário do utilizador.
Mas será que não há campo
para a aplicação de têxteis com
novos requisitos?
Analisemos em primeiro lugar
a capacidade Protection. Se a
proteção balística, fruto da capacidade derrubante e penetrante
de projéteis ou fragmentos resultantes de engenhos explosivos
vem exigindo, até à data2, sistemas complexos e com capacidades de resistência unicamente
atingíveis pela introdução de ligas metálicas e cerâmicas com
alguma complexidade, a proteção contra agentes incendiários
como granadas incendiárias ou
cocktails molotov3, sempre vista
com uma grande complexidade,
pode e deve ser desenvolvida
em termos do aumento da capacidade de resistência do vestuário (com base em fibras de altas
prestações ou com funções especiais4) tendo sempre presente
a capacidade de sobrevivência,
seja em termos de mobilidade,
seja em termos de afetação da
resposta psicofísica face a restrições daí decorrentes, como o incremento da sudação decorrente
da composição e estrutura dos
2 Decorrem estudos para a aplicação de
fibras de carbono neste tipo de proteção.
As fibras carbónicas ou fibras de carbono
são matérias-primas que provêm da
pirólise de materiais carbonáceos que
produzem filamentos de alta resistência
mecânica e que são utilizados para os
mais diversos fins (inclui motores e naves
espaciais).
3 O cocktail molotov é uma arma
incendiária geralmente utilizada
na guerrilha urbana por adversários
sem capacidades tecnológicas. A sua
composição mais frequente inclui um
líquido inflamável, geralmente petróleo
ou gasolina, e eventualmente um agente
que melhora a aderência do combustível
ao alvo. É iniciado manualmente pelo
fogo através de uma mecha na boca do
invólucro (gargalo da garrafa)) e, sendo
uma arma de mão, tem no arremesso o
seu agente de projeção.
4 As fibras de altas prestações são
aquelas que possuem propriedades
físicas ou químicas muito superiores às
das fibras convencionais. As propriedades
físicas referem-se normalmente às
mecânicas (exemplo: resistência à
tração) e à termoresistência.
externo que não obvia a sudação e humedecimento do vestuário (peças de roupa interiores e
exteriores) em operações de exigência física extrema. O mesmo
racional poderá ser observado
no espectro de aplicação antagónica, como são o caso das recentes operações em climas áridos (vide Afeganistão ou Iraque),
onde os têxteis deverão limitar o
“stress térmico do utilizador”.
Por fim e não menos importante, o têxtil do vestuário interior deverá ter a vertente de
diagnóstico para permitir a monitorização de variáveis vitais
do utilizador. Com esta valência,
aspetos como indicadores do
ritmo cardíaco, de temperatura
e de saturação de oxigénio no
sangue, são analisados no local
ou em escalões superiores com
capacidade de controlo e influência médico-sanitária. Todavia,
a rentabilização dos tecidos não
pode nem deve centrar-se em
respostas tecnológicas pois o
seu design, em termos de corte e funcionalidades, contribuí
para o bem-estar e desempenho
técnico-tático do utilizador. Por
exemplo, importa refletir sobre a
colocação de bolsos nas calças
e no dólmen do uniforme, ajustando-os e dimensionando-os
à eventualidade de colocação/
transporte de outra tipologia de
equipamentos, armamento e sistemas. Como também tem que
ser pensado o reforço de áreas
do uniforme sujeitas a atrição de
tudo que é transportado durante
deslocamentos e movimentos
táticos.
3.e. Sustainability
Logistics
and
Esta capacidade centra-se,
em parte, em muitos dos pressupostos já elencados para outros
requisitos pois, direta ou indiretamente, ela é base do sucesso.
Por outras palavras, sem sustentação logística será impossível
suportar uma operação militar.
A Guerra do Iraque de 2002
e outros conflitos que recentemente afetam essa região
(Afeganistão) potenciam, de forma clara e inequívoca, um novo
espectro e tipologia de operações militares e uma nova filosofia de apoio, fortemente vocacionada para a implementação
da velocidade e eficiência dos
fluxos logísticos (informacionais
e físicos) através de uma criteriosa gestão da cadeia de abastecimentos, aproximando cada
vez mais a logística militar daquilo que hoje denominamos por
logística empresarial.
Mas, em que medida o desenvolvimento e aplicação de fibras têxteis (e do vestuário) concorre para essa aspiração?
Interessa, como já salientado, que esse desenvolvimento
e aplicabilidade concorram para
duas funções logísticas: reabastecimento e apoio sanitário.
Em termos de reabastecimento a aplicação de têxteis inteligentes sobressai, por exemplo, na redução dos fluxos de
abastecimentos de sistemas de
alimentação como as baterias,
mas também se poderá traduzir
num contributo para a modularidade dos sistemas e contentorização logística.
Já em termos sanitários, a
indicação e controlo centralizado de sinais vitais será importantíssimo para a previsão de
necessidades em material sanitário, necessidades de evacuação sanitária, e controlo de todo
um processo que pode implicar,
em termos globais, alterações
em áreas como os processos
formativos, adaptando-os às
exigências psicofísicas resultantes dessa monitorização, ou
em reajustamentos nos testes
de diagnóstico para a seleção
militar, minimizando-se assim as
discrepâncias identificadas entre
a função e o nível de exigência
Nº 192 DEC11
AZIMUTE
têxteis empregues, ou o desconforto originado pela rigidez que
o vestuário (fardamento) possa
comportar para garantir essa
valência. Uma outra aplicabilidade é a resposta que o vestuário
(fardamento) poderá dar contra
agentes NBQR. Contudo, neste
caso, a garantia hermeticidade
do vestuário (fardamento) não é
fácil pois tem que ser pensada e
sustentada a proteção integral
de toda a superfície corpórea
incorporando a proteção da cabeça, mãos, e pés (sobrebotas).
Mas é em termos de
Survivability que poderemos encontrar o espaço para rentabilizar esse recurso tecnológica que
são os têxteis inteligentes e, em
certa medida, maximizar valências como a mudança de temperatura, mudança de cor, condutividade elétrica, permeabilidade
controlada e incorporação de
hardware.
A primeira grande aplicabilidade centra-se na capacidade
de resposta aos requisitos de
uma camuflagem multiespectral
adaptável à tipologia de teatro,
principalmente o urbano.
A segunda vertente estará
sempre associada ao fator mobilidade (capacidade já apresentada e documentada neste
ensaio). Ou seja, no processo de
interação da pele com o vestuário interior e o vestuário exterior
(fardamento) e no decorrer de
uma operação, fruto de agentes
externos como o clima e agravados pela tipologia de equipamento, armamento e sistemas a
transportar individualmente, desenvolvem-se humidades, secreções e micoses (muito frequente
após esforços prolongados) que
podem ser obviadas ou reduzidas, total ou parcialmente, pela
utilização de têxteis adequados
a essa finalidade. Esta situação
é ainda mais gravosa quando
as operações se desenvolvem
com baixas temperaturas, fator
75
e têxteis em equipamentos
AZIMUTE
para politraumatizados (com
um espectro de aplicação
alargado), ou na resposta térmica para um saco de dormir,
umas luvas para combate em
áreas edificadas para o inverno e/ou para verão, ou umas
botas de combate para operações na selva, são outras
vertentes de desenvolvimento
tecnológico que devem merecer atenção e que podem ser
aprofundadas.
Para finalizar importa ter
presente que apesar da sustentação de muitas das ideias
fisiológica em contexto de ação
(trabalho) que resultem da monitorização médico-sanitária proporcionada por essa capacidade
de controlo centralizado.
4. Conclusões.
Como diria David Lynch na
sua obra “Em busca do grande
peixe”, a descoberta é uma história contínua e as ideias são como
os peixes. Se quisermos capturar
peixes pequenos, podemos ficar
pelas águas pouco profundas.
Mas se quisermos capturar os
peixes grandes temos de ir bem
mais fundo.
Julgo que neste ensaio, ainda que à tona da água de um
conhecimento limitado e pouco profundo, ficaram ideias e
oportunidades.
Com racionalidade, e olhando para as cinco capacidades
apresentadas, é na vertente C4I
e Protection and Survivability que
a rentabilização de têxteis inteligentes poderá ter uma grande
aplicabilidade.
Fontes de energia para equipamentos e sistemas de armas, proteção contra agentes
incendiários como granadas
76
Nº 192 DEC11
incendiárias, capacidade de
resposta aos requisitos de uma
camuflagem
multiespectral
adaptável à tipologia de teatro,
diminuição de humidades, secreções e micoses, e a vertente de
diagnóstico para permitir a monitorização de indicadores vitais do
utilizador, representam algumas
áreas de utilização, tendo presente que as variáveis do conhecimento e do desenvolvimento
tecnológico nesta área poderão
alargar esse espectro.
Mas o desenvolvimento das
fibras e dos têxteis em termos do
emprego militar não se limitam
unicamente aquilo que foi abordado neste trabalho.
Novos Equipamentos individuais e coletivos para apoio
à sustentabilidade e proteção
como mochilas, tendas e redes
de camuflagem, devem ser pensados e, se necessário, redesenhados, para que em termos
de produto final se traduzam
em redução de peso, volumetria
(quando não empregues), redução de assinatura eletromagnética, e resistência mecânica. Por
outro lado, a aplicação de fibras
e sugestões vinculadas não
deixarem de transparecer alguma intangibilidade em termos de
razoabilidade, pois serão sempre
vistas com desconfiança ao não
serem comuns, este ensaio não
é uma folha em branco.
Este ensaio é uma perspetiva
para o conhecimento pois sustenta ideias com causas, causas
que são vividas e sentidas.
Azimute
Bibliografia:
CEDS Programme [Relatório] /
autor CEDS. - Brussels : CEDS, 2011.
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PEQUENAS UNIDADES [Livro] / autor EME IAEM. - Lisboa : EME, IAEM,
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5
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RESPONSE OPERATIONS [Livro] /
autor AJP-3.4. - Bld Léopold III, 1110
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International Institute for Strategic. [s.l.] : IISS, 2010.
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DICIOPÉDIA
2004.
PORTO
EDITORA.
(2004)
ISBN
972-0-65255-1.
Alf Inf Andreia Freitas
Dedico este artigo aos camaradas do meu curso
que sempre acreditaram em mim e à minha parelha.
Não é pretendido com este artigo elogiar ou até
mesmo, pelo contrário, criticar alguém. O que se pretende é fazer passar o conhecimento do que é o TPOI
para uma mulher e, com isto, explicar o porquê de
uma mulher ser diferente. Contudo, não quer dizer que
tenha de ser tratada de forma diferente. Esta é, sem
dúvida, a parte mais difícil de explicar, dado que as
mulheres querem ser tratadas com igualdade.
É esperado alterar opiniões, quem sabe!
A mulher no desempenho de missões no seio da
infantaria
Este tema, como qualquer outro que fala de uma
mulher no seio da Infantaria, é um assunto controverso e, de certa forma, também sensível.
Não vale a pena fazer deste assunto uma preocupação, dado que a mulher não quer ocupar o lugar de
ninguém, mas sim o seu.
Quando se menciona o curso de Infantaria pensa-se logo em algo difícil, exigente e até mesmo, que
não é para mulheres.
Desta ideia obsoleta advém a questão:
Terá a mulher capacidade de responder a esta
exigência?
Talvez seja importante definir o grau de dificuldade
e exigência em causa, para posteriormente verificar se
a mulher é ou não capaz de cumprir.
A verdade é que, contrariamente a uma perceção
inicial e parcial de grande dificuldade ou mesmo de
impossibilidade, com o passar dos anos a mulher tem
vindo a adquirir mais competências para cumprir missões no seio da Infantaria, bem como noutras áreas
julgadas exclusivas do sexo masculino. Podemos na
realidade ter dificuldades, mas os homens também
as têm e, no entanto, isso não é colocado em causa. A mulher pode ter, por norma, menor força física
que o homem mas, na verdade, compensa essa pretensa vulnerabilidade com uma forte determinação e
vontade.
O melhor é não insistir neste assunto, que se baseia num conjunto de mentalidades algo retrógradas,
e deixar de colocar em causa as capacidades da mulher. Como em todas as organizações, existem bons
e menos bons profissionais, independentemente de
estes serem homens ou mulheres.
Frequência do curso de infantaria na academia
militar
A 1 de Outubro de 2006 iniciou-se um percurso de
4 anos na Academia Militar, efectivando-se a entrada
no curso Exército Armas. Após a conclusão do 1ºano
e já a ingressar no 2ºano da Academia Militar, realizou-se a escolha da Arma. Quando esse dia chegou,
só a Arma de Infantaria permanecia com vagas por
preencher.
Logo desde início, o ingresso na Arma de Infantaria
foi uma preocupação devido à exigente componente
física e psicológica que tão bem a caracteriza. Um primeiro obstáculo prendia-se com uma certa tradicional
desconfiança relativamente à existência de elementos
do sexo feminino no curso de Infantaria.
Ao longo do 2º ano foram frequentes as alusões,
de vários setores sobre as dificuldades na prossecução deste caminho. Mesmo assim e apesar da pressão, esse ano foi ultrapassado.
O mesmo sucedeu no 3ºano, contudo equilibrado
pela boa relação de camaradagem entre todos os elementos do curso.
O 4ºano foi, sem dúvida, o mais difícil de ultrapassar, talvez pela aproximação de provas mais difíceis
e pela eventual pressão que se ia desenvolvendo no
seio do curso.
Como acontecera tantas outras vezes, a opção de
desistir foi considerada, no entanto, tal não aconteceu
graças ao apoio das minhas camaradas de quarto e,
fundamentalmente, por outros camaradas do meu curso que não desistiam de acreditar que seria a primeira
mulher a terminar o curso de Infantaria.
A noção de que, mais ninguém senão eu própria
e os que em mim acreditavam, constituía o apoio essencial à minha capacidade de decisão, levou-me a
reforçar a minha determinação.
E assim conclui o 4ºano da Academia Militar.
AZIMUTE
A primeira Oficial de infantaria do sexo feminino.
A vitória sobre um dogma
A visão do tirocínio segundo a primeira mulher
oficial de infantaria, obstáculos e sugestões.
A 1 de Outubro de 2010 iniciou-se uma longa caminhada que, no ano de 2006, já havia sido alvo de grande atenção quando o ingressou no TPOI a primeira
mulher oficial oriunda da Academia Militar. A chegada
da segunda mulher ao TPOI era novamente seguida
com bastante atenção por diversas pessoas e surgia a
dúvida, “será que esta consegue?”.
Chegados à EPI, os recentes aspirantes foram bem
Nº 192 DEC11
77
AZIMUTE
78
recebidos e, como é característico da Infantaria, foram
cumpridas as tradições da tão desejada “ESPERA”,
designação dada ao 1ºdia.
Durante os seguintes dias e semanas, foram transmitidas as instruções que constituem a parte técnica e
táctica da Arma de Infantaria.
Ao longo do TPOI foram executadas provas de forma a averiguar a capacidade física e psicológica de
cada um, e foram estas provas que mais marcaram o
curso devido à sua dificuldade acrescida.
A primeira prova, a “MARCHA DA VÍRGULA”.
Como qualquer outra prova é difícil definir se é mais
difícil ou não que todas as outras, mas residia a certeza que tinha que ser ultrapassada, e esse sempre foi
o meu objectivo.
Ao longo do TPOI, cada dia era uma prova e, como
é normal, passaram-se momentos bons e outros menos bons.
Mais uma prova se avizinhava, a “MARCOR SR.
DO Ó” com cerca de 18km, até então a prova mais
difícil.
Com o passar dos dias comecei a constatar que
qualquer prova era difícil, cada uma diferente da outra.
Em Novembro iniciou-se a execução de tiro de
combate. Esta prova não pareceu ter o mesmo grau
de dificuldade de qualquer outra executada até então,
exceptuando o facto de estarmos “devidamente equipados”. Chegou o final da semana, sexta-feira, e dei
por mim a tentar levantar-me da cama, quando constato que tenho as pernas de tal forma inchadas que
mesmo parada sentia dores. Nesse dia o treino físico
constava numa corrida contínua à qual não conseguia
corresponder, e tive de faltar ao treino. Para agravar a
situação, fiquei dispensada devido a feridas nos pés.
Estes foram obstáculos a nível físico com que me deparei, mas é uma situação à qual ninguém consegue
fugir. No entanto, com o passar dos dias o corpo começou a recuperar.
Apesar destes contratempos, o objectivo era
sempre fazer tudo e conseguir chegar ao fim desta
caminhada.
Seguia-se mais uma prova, a “MARCHA DE
TORRES”, com cerca de 34 km. Esta não era menos
difícil que qualquer outra, mas com uma diferença,
era uma prova individual. Tendo a consciência das
minhas dificuldades, era mais fácil para mim encarar
este desafio, uma vez que o faria apenas comigo e
não com a necessidade de acompanhar o grupo. Não
sei se por esta razão, mas a verdade é que consegui
o alento para terminar, e terminar bem, mesmo com
um resultado mais positivo do que em relação a outros
elementos do curso. Não pela capacidade de os ultrapassar, mas sobretudo pela consciencialização da
capacidade de acompanhar o esforço dos restantes,
iniciou-se aqui uma nova alma para enfrentar as restantes provas.
Ainda no mês de Novembro iniciaram-se os
Nº 192 DEC11
exercícios. Numa semana praticava-se e na outra executava-se, e no final de cada exercício, cada um avaliava o desempenho dos outros elementos do curso.
Num destes exercícios, a minha parelha atribuiu-me
a avaliação mais alta, não sem gerar alguma controvérsia. Como é possível constatar através da minha
história, um grande obstáculo era tentar alterar mentalidades, o que nem sempre foi conseguido. Sem dúvida que este foi o meu maior obstáculo mas, apesar de
tudo, a concentração que mantive em tudo o que fazia
foi mais forte, o que me auxiliou para concluir o TPOI.
Aproximava-se o momento crucial do curso, o
“EXERCÍCIO DE LIDERANÇA”. A ansiedade inicial do
que sobre este exercício se conhece, faz-nos questionar a nossa capacidade para o levar a bom termo.
Contudo constatei que é possível cumpri-lo. O ser
humano tem capacidades inimagináveis e só nos
momentos difíceis se apercebe do que é realmente
capaz.
Foram diversas as provas executadas e os obstáculos confrontados e ultrapassados, e por inúmeras vezes senti o corpo todo a inchar devido ao frio e
cansaço.
Chegou o dia da cerimónia solene do final do exercício, em que se recebeu o tão desejado crachá da
EPI que no seu verso tem gravado o nome do respectivo tirocinante. Dito deste modo simples, faz crer
que tudo o que foi conquistado até então não passa
de algo banal mas, na realidade, não havia nada mais
importante, nada que sub tituísse aquele momento tão
marcante para os tirocinantes. Estava na altura de entrar na Sala de Honra da Infantaria para sermos apresentados como os novos Infantes que ali prometiam
honrar os seus deveres. Apesar de alguns momentos
não serem tão nítidos na minha memória, aquele é,
sem dúvida, pelo significado que tem, o que guardo
com grande presença e também saudade.
Embora se tenha finalizado um exercício tão importante, o TPOI não terminava ali, ainda faltava cerca
de um mês para o derradeiro final.
Durante o último mês, o orgulho dominava, o facto
de ter conseguido chegar até esta etapa, sentindo que
a caminhada estava quase concluída.
No mês de Janeiro continuaram as instruções e,
de seguida, as avaliações. No fundo, a continuação do
que se havia feito até então.
Ao longo do TPOI, a grande dificuldade esteve em
quebrar a forma de pensar relativamente à presença
feminina no seio da Infantaria.
Para ser mulher na Arma de Infantaria, tem de se
provar mais do que qualquer homem.
Apesar de tudo, provei que o TPOI é possível ser
concluído por uma mulher.
Deixo a sugestão para a próxima mulher: humildade acima de tudo e fazer sempre por ser e não por
parecer.
Azimute
Ten Inf Hugo Costa
A Escola Prática de Infantaria
encontra-se a apoiar um projeto
de realização de testagem de vidros com proteção balística, em
conjunto com a “VICER - Vidraria
Central de Ermesinde, Lda”. Este
projeto é ímpar no nosso Exército
e constitui um dos projetos de investigação mais “enigmáticos”
para a Escola.
A VICER é uma empresa ex-
Figura 1- Cabine de madeira
portadora prestigiada com cinco décadas de existência, que
no passado mês de Setembro
participou na exposição internacional denominada “GlassBuild
America 2011”, nos Estados
Unidos da América. A sua unidade fabril “… está inserida numa
área com 15000m², equipada
por um parque de máquinas altamente tecnológico, direcionada
para a sua atividade e em constante atualização. A empresa
está especialmente dotada para
trabalhar vidros seletivos de alta
performance, com características
de excelência no controlo solar,
térmico, acústico e de segurança…” 1, apresentando projetos
de futuro bastante ambiciosos
e inovadores no contexto global
e procurando inovadoramente
soluções mais eficientes para a
proteção balística dos vidros.
de modo a competir com empresas internacionais que se
encontram na vanguarda da produção desta tipologia de vidros.
O Exército, através da Escola
Prática de Infantaria, disponibiliza as suas infraestruturas de
tiro, os meios técnicos humanos
e materiais, fundamentais para
a concretização das respetivas
testagens, apoiando a empresa
AZIMUTE
Testagem de vidros com protecção balistica com a Empresa
VICER
Figura 2 e 3 - Suporte para o vidro com proteção balística
Um desses projetos é o desenvolvimento de novos padrões
de vidros com proteção balística
para futura aplicação na indústria da construção civil. Assim,
a empresa VICER encontra-se
a desenvolver vidros com proteção balística, diminuindo a sua
espessura e cumprindo a “Norma
EN 1063 European Standard –
Testing and Classification of resistance against bullet attack”,
1 In www.vicer.pt
VICER através da transferência
de conhecimentos técnicos ao
nível da balística, funcionamento do armamento e explosivos e
também através das experiências vividas nos diversos Teatros
de Operações para onde as
Forças Nacionais Destacadas
Portuguesas têm sido projetadas e onde a proteção balística é
uma preocupação constante.
Para a concretização
deste projeto verificou-se a
Nº 192 DEC11
79
AZIMUTE
necessidade de reunir as adequadas condições de segurança
para o atirador. Estas condições
assentam nas curtas distâncias
entre o vidro e o atirador, e visam
reduzir o ricochete do projétil e
dos estilhaços dos vidros após
o impacto. Assim, considerou-se
pertinente que o atirador se equipasse com capacete, óculos com
proteção balística, colete balístico e executasse fogo a partir de
uma cabine móvel em madeira,
criada e idealizada para o efeito.
Deparou-se, ainda, com a neces-
se encontra em uso no nosso
Exército, e tendo como principal
objetivo a validação das testagens foi escolhido o seguinte:
numa primeira fase a Pistola
Walther P38 de calibre 9mm, a
Espingarda Automática G3 de
calibre 7,62mm. Numa segunda
fase utilizar-se-á a Espingarda de
Tiro Automático modelo SG 543
de calibre 5,56mm, a Espingarda
Sniper ACCURACY AW de calibre 7,62mm, a Espingarda
FRANCHI modelo SPAS 15 de
calibre 12x70mm e a Espingarda
permite validar as mesmas.
Nas testagens foi utilizado
um reparo genérico para suporte do armamento existente no
Exército, tendo-se revelado pouco eficiente dada a especificidade
das testagens, pois apenas permite a utilização da Espingarda
Automática G3, e requer que
seja o atirador a estabelecer a
triangulação pedida na “Norma
EN 1063”. O ideal neste tipo de
testes será reduzir ao mínimo a
intervenção do atirador, e que a
distância entre impactos na trian-
Figura 4, 5 e 6 - Reparo para suporte do armamento em fase de desenvolvimento na empresa VICER
sidade de encontrar uma solução
para suportar e apresentar os vidros sujeitos a testagens. Esse
suporte teria de ser perfeitamente adaptado às infraestruturas
existentes na zona de alvos da
carreira de tiro, imóvel aos impactos, apresentar o vidro a uma
altura aproximada de 1,50m e
que a sua substituição fosse rápida e fácil. Tendo em conta estas indicações dadas pela Escola
Prática de Infantaria a empresa
desenvolveu o referido suporte
e aperfeiçoou a tecnologia utilizada nas testagens em vidros
balísticos.
A supracitada Norma EN 1063
é muito clara quanto às características do armamento a utilizar
e às munições para que as testagens sejam consideradas válidas internacionalmente. Deste
modo, de todo o armamento que
80
Nº 192 DEC11
Sniper BARRET M/95 de calibre
12,7mm. E para uma fase mais
adiantada das testagens prevê-se a utilização de explosivos
(petardos de TNT de 100g e
de 200g), de Granadas de Mão
Ofensivas de Guerra M/962, de
Granadas de Mão Defensivas
de Guerra M/963 e ainda da
Metralhadora Pesada Browning
de calibre 12,7mm.
Nesta primeira fase das testagens, o armamento usado foi
a Pistola Walther P38 de calibre
9mm e a Espingarda Automática
G3 de calibre 7,62mm com munições normais. No decorrer destas testagens com as diversas
tipologias de vidros e de acordo
com as respostas dos vidros e
projéteis, a cabine de madeira
foi sendo aproximada dos vidros
a testar, de modo a cumprir a
Norma EN 1063 que define a distância entre o alvo e o atirador e
gulação seja a mais aproximada
possível à exigida na Norma EN
1063. Verificados estes aspetos,
a Escola Prática de Infantaria
sugeriu à VICER que desenvolvesse um reparo para suporte de
armamento com um mecanismo
de elevação e de direção graduados e com sistema de fixação
aperfeiçoado onde a Espingarda
Automática G3, a Pistola Walther
P38 ou outro tipo de armamento
ligeiro sejam facilmente ajustados e adaptados, permitindo uma
maior eficiência nos testes a desenvolver com outra tipologia de
armas.
Relativamente às testagens,
salienta-se que dos oito vidros
com proteção balística testados,
independentemente da distância
do atirador ao vidro, do armamento e calibre utilizado, apenas o último não apresentou a
formação de estilhaços após os
AZIMUTE
Figura 7 e 8 – Vidro com boa visibilidade e sem a formação de estilhaços
três impactos – Pistola Walther
P38 de calibre 9mm a uma distância de 10m. A não formação
de estilhaços é relevante, pois
estes podem causar ferimentos e
assim sendo protegem balisticamente mas não garantem a total
segurança de pessoas e bens.
Constatou-se, ainda, que
nos vidros que apresentaram
formação de estilhaços, a visibilidade para o outro lado encontrava-se comprometida, e com
visibilidade reduzida será difícil
identificar a ameaça, tentar evitá-la ou até mesmo anulá-la.
Foi ainda observado em dois
testes em que o espaçamento
da triangulação foi bastante mais
curto, ao terceiro disparo o projétil atravessou o vidro com proteção balística, e um deles inclusive a porta traseira existente no
suporte para os vidros. Como na
atualidade o tipo de armas mais
usadas em ações de criminalidade são as armas semiautomáticas, cuja principal característica é a capacidade de executar
rajadas curtas de três a cinco
disparos, cuja distância entre os
impactos é bastante mais curta
do que a apresentada na triangulação exigida na Norma EN
1063, é pertinente a elaboração
de um estudo no qual se poderá
observar qual a resistência máxima, em número de impactos, que
o vidro conseguirá aguentar sem
deixar atravessar um projétil.
A empresa VICER encontra-se
a estudar os vidros testados de
modo a colmatar estas imperfeições e prevê-se a realização de
uma nova fase de testes com estas valências.
Na segunda fase de testes,
um dos pontos de estudo previsto será a resposta do vidro perante munições cujas características
são diferentes das munições
Normais de 7,62mm. Esses tipos
de munições serão as munições
tracejantes e as munições perfurantes utilizadas na Espingarda
Automática G3.
Numa fase mais avançada
das testagens será introduzida a
utilização de petardos de TNT e
de Granadas de Mão de Guerra.
Este capítulo apresentará um
grau de interesse elevado visto
que estes vidros com proteção
balística serão para futura aplicação na indústria da construção
civil, e de alguns anos a esta parte temos assistido a atentados
em grandes centros urbanos utilizando explosivos.
O faseamento das testagens, a introdução do armamento e das diversas munições e
explosivos são de acordo com os
objetivos traçados pela empresa VICER, indo ao encontro das
suas intenções de estudo.
Durante as cerimónias militares do 14 de Agosto na Escola
Prática de Infantaria, foram expostas e apresentadas pela administração da empresa VICER e
seus colaboradores as filmagens
das testagens, o suporte para a
colocação dos vidros e um vidro
testado, tendo sido possível avaliar os ótimos resultados alcançados e a perspetiva em que estamos na vanguarda da tecnologia
antibalística com vidros. As filmagens podem ser consultadas no
site da empresa VICER em www.
vicer.pt.
Azimute
Nº 192 DEC11
81
AZIMUTE
Cooperação Técnico-Militar com Timor-Leste
Projecto Nº4
Maj Inf Luís Barreira
Cap Art Álvaro Santos
“Depois da libertação, Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak dirigem a
transformação das Falintil numa força de defesa moderna. O general
Taur é um dos raros líderes guerrilheiros no mundo que preside à
transformação de uma força de guerrilha num exército regular, profissional, moderno.”
“O apoio desinteressado de Portugal foi fundamental para a constituição da componente naval, desde o seu início, e o seu apoio às operações de recrutamento e à formação do corpo de oficiais das F-FDTL
contribui positivamente para desenvolver e modernizar as nossas
forças.”
Excerto do discurso de Sua Excelência O Presidente da República
Democrática de Timor-Leste, Dr. José Ramos Horta no 35º Aniversário
das FALINTIL, Dili, 20 de Agosto de 2010.
Fig. 1 - FALINTIL
1. Introdução
A República Democrática de
Timor-Leste é um dos mais jovens países do mundo. Com
uma década de existência como
país livre e independente, após
uma longa e intensa luta contra
a ocupação Indonésia, TimorLeste é hoje um país em desenvolvimento com o objectivo de se
afirmar no seio da comunidade
internacional.
Como todos nós sabemos, as
Forças Armadas de um país são
o garante da defesa militar da
República contra qualquer ameaça externa, pelo que em TimorLeste esta missão está confiada
às FALINTIL – Forças de Defesa
de Timor-Leste (F-FDTL). As
F-FDTL são herdeiras dos valores, tradições e costumes das
Forças Armadas de Libertação
e Independência de Timor-Leste
(FALINTIL). Com a independência declarada a 20 de Maio de
2002, após conclusão de um
longo período que se iniciou com
uma negociação entre os governos de Portugal e da Indonésia
82
Nº 192 DEC11
para a realização de um referendo sobre a independência do
território, sob a supervisão da
Organização das Nações Unidas
(ONU), as FALINTIL foram integradas nas Forças de Defesa
de Timor-Leste. Ora, sendo as
FALINTIL uma força de guerrilha, com carácter permanente e
de clandestinidade, urgiu a árdua
tarefa de transformar uma força
de guerrilha numa força convencional, profissional e moderna
com capacidade de efectuar a
defesa militar do território. Para
tal, Timor-Leste tem contado ao
longo destes anos com o apoio
de países amigos com os quais
firmou acordos de cooperação
técnico-militar, em que Portugal
se constitui na vanguarda como
um destes parceiros em várias
áreas, com especial incidência
no recrutamento e formação de
quadros, no apoio à estrutura de
comando das F-FDTL e no apoio
ao desenvolvimento da componente naval e da componente
terrestre.
2. Cooperação TécnicoMilitar com Timor–Leste
A cooperação técnico-militar
entre Portugal e Timor–Leste
conta com uma década de existência. Surge da vontade de estreitar os laços de amizade e de
fraternidade existentes entre os
dois países e os dois povos que
outrora tiveram um passado comum. Daqui os dois países firmaram um acordo bilateral de cooperação técnico-militar: “numa
base de plena independência,
respeito pela soberania, não ingerência nos assuntos internos
e reciprocidade de interesses” –
in Resolução da Assembleia da
República nº 39/2003, Acordo
de Cooperação Técnico-Militar
entre a República Portuguesa
e a República Democrática de
Timor-Leste, assinado em Díli
em 20 de Maio de 2002.
Neste âmbito a cooperação
técnico-militar compreenderá acções de formação de pessoal e de
assessoria técnica. Assim sendo,
as acções de cooperação previstas no acordo acima mencionado
Fig. 2 - Timor-Leste
integram-se em programas quadro de cooperação bilateral, onde
estão explicitados os objectivos
orientadores das respectivas acções de cooperação.
Actualmente,
Timor-Leste
conta com a ajuda de Portugal
no âmbito da cooperação técnico-militar em 7 projectos distintos: Projecto Nº1 – Apoio à
Estrutura Superior da Defesa das
F-FDTL; Projecto Nº2 – Apoio
à Casa Militar do Presidente da
República; Projecto Nº3 – Apoio à
Componente Naval; Projecto Nº4
– Apoio ao Centro de Instrução
Militar
Comandante
Nicolau
Lobato (Metinaro); Projecto Nº5
– Apoio à Componente Terrestre
das F-FDTL; Projecto Nº6 – Apoio
ao desenvolvimento da engenharia militar de construção; Projecto
Nº7 – Formação em Portugal.
de servir a “mui nobre e augusta”
Arma de Infantaria e o Exército
Português além fronteiras, numa
dimensão de apoio à política externa do Estado, decorrente dos
compromissos internacionais assumidos por Portugal. Os objectivos específicos inscritos no programa-quadro 2011-2013 para
a Cooperação Técnico-Militar
Luso-Timorense são:
• Apoio técnico ao levantamento do modelo, organização e
funcionamento do Centro de
Instrução Militar;
• Apoio técnico à organização
e funcionamento da Direcção
de Instrução e à elaboração
dos curriculum dos cursos a
ministrar;
• Apoio técnico e pedagógico às
acções de formação de formadores dos cursos a ministrar no
Centro de Instrução;
• Apoio técnico à formação de
quadros da F-FDTL, incluindo na área das Operações de
Apoio à Paz;
• Apoio técnico à formação de
especialidades das F-FDTL;
• Apoio técnico à formação do
contingente geral das F-FDTL;
• Apoio técnico na produção de
material de instrução para os
diversos cursos ministrados no
Centro de Instrução Militar;
• Apoio na formação em língua
portuguesa dos militares das
F-FDTL;
Para atingir com sucesso os
AZIMUTE
um projecto que foi
iniciado com a vinda
da primeira equipa de
Assessoria Técnica,
em 2001, e actualmente está presente a décima quarta
equipa cujo Director
Técnico é o Major de
Infantaria João Luís
Barreira. A equipa
de assessores conta com dois militares
em permanência (um
Major e um SargentoAjudante), quatro militares que cumprem
uma missão temporária de seis meses
(um Capitão, um Tenente e dois
Primeiro-Sargento) e três militares que cumpriram uma missão temporária de quatro meses
(um Tenente, um Alferes e um
Primeiro-Sargento). Este é o
quantitativo de militares que no
último semestre do ano colaboraram activamente num esforço
colectivo para formar um total
de 92 Oficiais, 209 Sargentos,
351 Praças para os quadros das
F-FDTL.
Antes de falar e dar a conhecer aquelas que foram as actividades do Projecto Nº4 no corrente ano é importante ter presente
quais são os objectivos do projecto. Objectivos que se constituem
como farol orientador de acção
dos militares que, têm o privilégio
3. Projecto de Cooperação
Nº 4 – Apoio ao Centro
De Instrução Comandante
Nicolau Lobato (Metinaro)
Este projecto, como não poderia deixar de o ser, é um projecto ambicioso, de capital importância do domínio da formação
de quadros das F-FDTL, cuja
condução técnica está cometida
à Escola Prática de Infantaria. É
Fig. 3 – Porta de Armas do Centro de Instrução Comandante Nicolau Lobato
Nº 192 DEC11
83
AZIMUTE
Fig. 4 - 14ª Equipa de assessoria técnica
objectivos acima mencionados
tem sido desenvolvido um trabalho de equipa. Um trabalho que
nem sempre tem sido fácil de
concretizar, pois não nos podemos esquecer que as F-FDTL são
umas Forças Armadas jovens,
com uma década de existência.
No primeiro semestre do ano desencadearam-se esforços para a
concretização dos dois primeiros
e último objectivo. Actualmente o
Centro de Instrução está a funcionar com o seu Comando e
Estado-Maior e um Batalhão de
um objectivo que ainda não foi
possível alcançar, por falta de
recursos humanos das F-FDTL.
As F-FDTL enviam com grande
regularidade os seus recursos
humanos, em especial os oficiais
e sargentos, para frequentar cursos de promoção e qualificação
nos países amigos, pelo que a
orientação dos restantes está feita para a ocupação de funções
de comando o que dá origem a
que outras funções não sejam
ocupadas. No primeiro semestre,
foi ainda ministrada formação
Fig. 5 – Instrução de Técnica Individual de Combate
Instrução a quatro Companhias
face ao efectivo em formação
acima mencionado. Quanto à
Direcção de Instrução, este foi
84
Nº 192 DEC11
a doze militares (um Oficial, um
Sargento e dez Praças) para integrarem a Unidade de Engenharia
Nº11 portuguesa a fim de serem
projectados para o teatro de operações do Líbano/UNIFIL.
No segundo semestre do
ano, o esforço principal está a
ser direccionado para a formação.Estão a ser ministrados um
Curso de Formação de Oficiais
(CFO), um Curso de Formação
de Sargentos (CFS) com início em 30 de Maio e um Curso
de Formação de Praças (CFP)
com início em 30 de Agosto.
Os cursos têm o seu términus
a 16 de Dezembro. O Batalhão
de Formação está constituído a quatro Companhias, uma
Companhia a três pelotões
que corresponde ao Curso de
Formação de Oficiais, uma
Companhia a cinco pelotões
que corresponde ao Curso de
Formação de Sargentos e duas
Companhias a cinco pelotões
cada, que corresponde ao Curso
de Formação de Praças.
Para a condução dos cursos,
de modo a conseguir-se concretizar os objectivos do projecto, foram criados uma direcção de curso e dois gabinetes. A direcção
de curso, com responsabilidades
ao nível da assessoria técnica
aos comandantes de Batalhão e
Companhias de Formação; planeamento, condução, avaliação
e supervisão da formação; coordenação das actividades das
restantes assessorias presentes,
no caso assessoria australiana
(nas áreas de formação referentes a Comunicações e Saúde,
Higiene e Primeiros Socorros)
e assessoria neozelandesa (na
área de formação de Armamento
e Tiro). Os dois gabinetes, um
para a área da Técnica e Táctica
de Infantaria e outro para a área
da Educação Física Militar, foram constituídos com assessores portugueses e com instrutores timorenses. Os cursos
foram ministrados na sua maioria por instrutores timorenses
com excepção das matérias de
Administração de Subunidades.
Fig. 6 – Prova Topográfica
Os assessores portugueses ficaram com a incumbência de preparar previamente as instruções
para transmitir os conceitos aos
instrutores timorenses em acções de formação com carácter
diário. Assistir e supervisionar
todas as actividades de instrução
diária, revisão e actualização das
fichas de instrução existentes e
elaboração de novas fichas, bem
como a elaboração de manuais,
como é o caso do Manual de
Técnica Individual de Combate,
Manual de Tarefas Críticas de
Pelotão e Secção, Manual de
Topografia, Manual de Provas
Topográficas, Manual de Provas
Avaliativas e o Regulamento de
Educação Física Militar.
Quanto ao CFO e CFS, estes
cursos estão a ser ministrados
em duas fases distintas. Numa
primeira fase, com duração de
4 meses, onde foi ministrada
toda a formação técnica e táctica necessária ao desempenho
de funções de um oficial e sargento de infantaria. Formação
essa, ministrada na sua essência
por instrutores timorenses sob a
orientação, acompanhamento e
supervisão diária dos assessores
portugueses. Após a conclusão
de cada módulo, os alunos foram
sujeitos a testes escritos e provas
práticas a fim de testar os seus
conhecimentos e que serviu também de confirmação da prestação das equipas de instrução. Os
resultados obtidos foram bastante satisfatórios. No que respeita
à Educação Física Militar, podemos dizer que este foi um grande
desafio e teste quer à capacidade de destreza física e liderança
dos instrutores timorenses, quer
à capacidade de trabalho dos
AZIMUTE
má. Este foi sem sombra de dúvida, um desafio superado, pois
os resultados finais nas provas
físicas (Controlo 1, 2 e 3) foram
substancialmente positivos e
melhoraram ao longo do tempo.
Esta primeira fase culminou com
um exercício final de patrulhas,
iniciado com uma marcha forçada nocturna de 12 horas. Neste
exercício testaram-se ainda os
conhecimentos técnicos e tácticos adquiridos pelos alunos, a
par das capacidades de liderança
dos mesmos. Este exercício decorreu nas regiões de Manatuto,
Metinaro e Hera. Uma das principais dificuldades encontradas
durante o exercício prendeu-se
com o facto da não existência de
meios rádio portáteis para utilização em operações tácticas. O
planeamento e execução das acções das patrulhas foram acompanhados em permanência pelos
assessores portugueses. Numa
segunda fase, com duração de
dois meses, está a ser ministrada
uma formação complementar de
forma a ampliar os conhecimentos dos alunos nas áreas de métodos de instrução, combate em
áreas edificadas, operações de
apoio à paz, técnicas de trans-
Fig. 6 – Execução da Pista de 200 metros
assessores portugueses do gabinete de educação física. Pois
os alunos, que ingressaram nas
fileiras não foram sujeitos a testes físicos e a sua condição física
inicial era efectivamente muito
posição de obstáculos, construção de vários cenários (trincheira, abrigos, área edificada, área
para instrução de sobrevivência,
check-point fixo) e ensino de
português. Esta formação está
Nº 192 DEC11
85
AZIMUTE
Fig. 8 - Ordem de Operações do Comandante de Patrulha
a ser ministrada pelos assessores portugueses, com excepção
do combate em áreas edificadas
(ministrado por um militar timorense que frequentou o curso em
Portugal) e do ensino de português. Neste último a cooperação
técnico-militar conta com o apoio
do Programa de Consolidação da
Língua Portuguesa (PCLP) com
a cedência temporária de professores de língua portuguesa. Esta
parceria entre o Projecto Nº4 e o
PCLP, foi conseguida no terreno,
num esforço comum em prol da
consolidação do ensino da língua
portuguesa em Timor-Leste. No
que diz respeito ao português,
foi ainda iniciado um Curso de
Formação de Formadores da
Língua Portuguesa com os alunos que melhor dominam a língua portuguesa, no sentido de
desenvolver as suas capacidades para que, no futuro, se constituam como formadores de português das F-FDTL.
Quanto ao CFP, é um curso
que está a decorrer conforme
o programa de curso aprovado
para as F-FDTL. Está a ser ministrado por equipas de instrução timorenses, supervisionadas
pela assessoria portuguesa e pelos gabinetes de técnica e táctica
de infantaria e educação física
militar.
86
Nº 192 DEC11
4. Tendências de Futuro e
Conclusões
No futuro, perspectiva-se
que as F-FDTL consigam atingir a sua autonomia na condução dos CFO, CFS e CFP com
o acompanhamento de uma
equipa reduzida da assessoria
portuguesa. Relativamente aos
cursos de promoção, apesar de
conduzidos pela assessoria portuguesa numa fase inicial e com
a participação de militares timorenses formados em Portugal,
pretende-se que mais tarde sejam inteiramente ministrados por
timorenses com a supervisão e
orientação da assessoria portuguesa. É desejável que exista
uma Direcção de Formação com
capacidade e autonomia para
efectuar o planeamento, condução, avaliação e supervisão de
todos os cursos ministrados no
Centro de Instrução. Seria ainda
desejável, que as F-FDTL atingissem, a breve trecho, a sua
autonomia na preparação e execução, com os seus formadores,
de cursos técnicos como são
exemplo: Curso de Tiro, Curso
de Educação Física Militar, Curso
de Operações de Apoio à Paz,
Curso de Combate em Áreas
Edificadas, etc.
Nos últimos tempos, estão a
ser construídas infra-estruturas
de apoio à instrução, como são
o caso de cobertos de instrução,
pistas de 200 metros, treinos em
circuito, pórtico, etc. que indiciam
que as F-FDTL são uma preocupação de investimento do Estado
timorense na construção de
umas Forças Armadas sólidas,
profissionais, modernas e com
capacidade de resposta contra
qualquer ameaça externa.
Quanto ao Projecto Nº4, pode-se afirmar com toda a certeza que tem sido um projecto
que muito tem contribuído para
a formação dos quadros das
F-FDTL com resultados positivos
e reconhecimento dos órgãos da
Estrutura Superior de Defesa das
F-FDTL.
As restantes assessorias presentes no Centro de Instrução
(australiana e neozelandesa)
desenvolvem actividades de
formação sob a coordenação
da assessoria portuguesa num
ambiente de boas e francas relações de trabalho que se têm
procurado manter em prol de um
bem comum que é a formação
dos quadros das F-FDTL.
Azimute
Bibliografia
Resolução da Assembleia da
República nº 39/2003, Acordo de
Cooperação Técnico-Militar entre a
República Portuguesa e a República
Democrática de Timor-Leste, assinado em Díli em 20 de Maio de 2002;
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Timor-Leste
http://umalulik.blogspot.
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Cap Inf Jorge Magalhães
A 18 de Abril do corrente ano
teve início em Fort Benning, GA
– USA o MCCC. Este curso destinou-se a Oficiais Subalternos
e/ou Capitães Americanos e
Internacionais.
O
Maneuver
Captain Career Course (MCCC)
04-11, teve a duração de 28 semanas e contou com a presença de 192 alunos (Oficiais) dos
quais 20, eram alunos internacionais provenientes
de 17 Países.
Este curso, para os
alunos internacionais, foi
dividido em duas partes.
Uma primeira parte com
duração de 4 semanas,
cujo objectivo foi dar a
conhcer a orgânica das
diferentes Brigadas que
compõem o Exército dos
Estados Unidos bem como
as técnicas e tácticas utilizadas pelas Unidades
nos diferentes Teatros de
Operações.
Terminada esta primeira parte, os alunos internacionais juntaram-se
aos alunos Americanos
para iniciar, o referido,
Maneuver Captains Career
Course. Esta segunda parte do curso teve início em 16 de
Maio e terminou a 25 de Outubro.
Nesta parte do curso, os alunos
foram divididos em 12 seminários. Cada seminário era composto por 16 alunos sendo que,
no mínimo, dois desses alunos
eram alunos internacionais.
O Maneuver Captain Career
Course (MCCC) esta dividido em
2 fases – Fase de Companhia e
Fase de Batalhão.
A Fase de Companhia, foi a
primeira a ser ministrada, e constou de 5 Ordens de Operações
(4 Ordens de Operações sobre
Operações Ofensivas e 1 Ordem
de Operações sobre Operações
Defensivas). Esta fase de
Companhia culminou com a
denominada Company Battle
Forge – Ordem de Operações
final em que os alunos tiveram
6 horas para analisar a Ordem
de Operações do escalão superior e preparar a sua Ordem de
AZIMUTE
MCCC – Maneuver Captains Career Course
Operações de Companhia. No
final destas 6 horas, os alunos
entregaram todo o material produzido e prepararam-se para,
no local e hora indicada à posteriori, apresentar a sua Ordem
de Operações e todos os seus
produtos, a um avaliador que,
não pertencia ao grupo de instrutores/formadores do Curso.
Durante esta fase, foram realizados oito testes rápidos (QUIZ) e dois
exames finais (CALD
EXAM
e
COMPANY
C O M P R E H E N SIVE
EXAM). Esta fase de
Companhia teve um total
de 480 pontos.
A Fase de Batalhão
constou de 4 Ordens
de Operações (Defesa,
Ataque, Reconhecimento
e Targeting) e de um
Training
Management
Practical Exercise (construção de um horário para
preparação, treino e realização de um exercício
de fogo real – LFX, até ao
nível de Secção). Estas 4
Ordens de Operações permitiram colocar os alunos a
trabalharem em equipa (Battalion
Staff), dando-lhes a oportunidade
de ocuparem as diferentes posições, dentro de um Estado-Maior
de um Batalhão. Nesta Fase de
Batalhão, foram realizados 5 testes rápidos (QUIZ) e dois exames
finais (CALD EXAM e COURSE
Nº 192 DEC11
87
AZIMUTE
88
sucesso em cada
um dos testes,
exames ou apresentações
das
suas Ordens de
Operações necessitam de obter, no mínimo,
uma nota igual ou
superior a 75%.
A frequência
deste curso foi,
sem dúvida, uma
mais-valia não só
em termos pessoais como profissionais
pois,
permitiu
uma
Cerimónia de imposição da “Order of Saint Maurice”
grande troca de
COMPREHENSIVE
FINAL
experiências com
EXAM). Esta Fase teve um total os Oficiais alunos Americanos
de 505 pontos.
mas também com os Oficiais
De ressalvar o facto de que, os alunos Internacionais. A frequênalunos para terem nota positiva/ cia deste curso complementa as
Nº 192 DEC11
competências já adquiridas inicialmente no Curso de Promoção
a Capitão, em Portugal, revelando-se como uma importante
base para quem, num futuro próximo, possa vir a desempenhar
a função, não só de formador do
Curso de Promoção a Capitão
mas também, como Comandante
de uma Companhia de Infantaria
ou Cavalaria (Manobra). No final
de curso os melhores alunossão distinguidos com o grau de
Distinguished Honor Graduate
caso em que se atribui a medalha
“Order of Saint Maurice”.
Como balanço final considero
que os objectivos propostos inicialmente foram completamente
atingidos, sendo importante manter a continuidade da frequência
deste curso por Capitães de
Infantaria.
“AD UNUM”
Azimute
MajGen(ref) José Inácio Sousa
Notícias
Seis anos após a sua criação, o Clube Militar de Oficiais
de Mafra mantém os propósitos
da sua constituição como associação sem fins lucrativos e
promove um programa anual de
actividades que na prática concretizam os objectivos para que
foi criado.
Ao longo do ano de 2011 o
CMOM organizou convívios, tertúlias, visitas, actividades de solidariedade e valorizou a sede da
associação. Foi um ano de intenso empenhamento, com participação alargada de muitos associados, que com o seu contributo
pessoal, deram vida ao clube.
Os convívios estão a tornar-se uma tradição à qual adere
grande número de associados.
A passagem de ano, o carnaval,
o dia do clube em 9 de Março, a
festa da Família em Maio, os santos populares em Junho, a festa
da solidariedade em Julho (este
ano dedicada à Casa Mãe do
Gradil), o convívio de Setembro,
o S. Martinho em Novembro e o
almoço de Natal em Dezembro,
constituem referências já consolidadas que reúnem elevado número de associados e seus familiares. Para além deste programa
há iniciativas particulares, que
promovem com regularidade, outros convívios valorizando a vida
associativa.
Foram organizadas e realizadas visitas culturais à região
de Tancos e Tomar que incluíram os museus da Engenharia
e dos Pára-quedistas em Tancos
e o Convento de Cristo em
Tomar. Naturalmente o Castelo
de Almourol também mereceu uma visita, generosamente
apoiada pela Escola Prática de
Engenharia. Coruche, com as
suas elegantes pontes sobre o
rio Sorraia, mereceu a visita de
um grupo significativo de associados. O Museu da Cortiça e o
Museu Municipal proporcionaram
a visão da história e cultura locais e evidenciaram a actividade
económica da cortiça, que nesta
AZIMUTE
Clube Militar de Oficiais de Mafra
vila tem grande expressão. A região Oeste também mereceu a
atenção do clube com visita ao
Buda Parque no Ramalhal e ao
Museu Municipal da Lourinha
com o seu histórico( e pré-histórico) património.
Ainda no âmbito cultural têm
vindo a ser promovidas desde
Maio, tertúlias mensais na sede
do Clube, que designámos como
“Serões - Casa Dona Maria”,
com boa adesão e com inquestionável interesse e curiosidade.
Conferencistas convidados têm
dinamizado as noites da última
sexta-feira de cada mês abordando temas de interesse regional.
O edifício Dona Maria, sede
do CMOM, foi valorizado, por
iniciativa do clube, com obras
de recuperação e de conservação melhorando novos espaços
que muito facilitam a sua utilização pelos associados em encontros de natureza familiar e
associativa.
A Marinha cedeu a valiosa
mobília de caça “D. Carlos” que
Nº 192 DEC11
89
AZIMUTE
90
tornou muito digna uma das salas do rés-do-chão esquerdo.
Esta sala foi inaugurada em 23
de Setembro com a honrosa
presença do Chefe de EstadoMaior da Armada, Almirante José
Saldanha Lopes, circunstância
que evidencia a consideração
que o nosso clube merece à
Marinha Portuguesa. O Almirante
CEMA, participou na tertúlia alusiva ao Círio da Prata Grande
e assinou o livro de Honra do
CMOM.
O General Chefe de EstadoMaior do Exército, General José
Luís Pinto Ramalho, também
honrou o Clube com uma visita, no dia 14 de Agosto, dia da
Infantaria. Na circunstância foi
feita uma curta apresentação
seguida de visita às instalações,
assinatura do livro de honra, concluindo-se a vista com um Porto
de Honra no aprazível jardim da
casa Dona Maria. Este momento
foi de especial relevância para os
associados pelo valioso e incondicional apoio, que desde a criação do Clube, o General CEME
sempre nos proporcionou.
O CMOM ter participado nos
Nº 192 DEC11
encontros anuais com o Clube
Militar Naval, Clube Militar de
Oficiais de Coimbra (CMOC)
e Clube Militar de Oficiais de
Setúbal (CMOS) reflectindo sobre a identidade dos clubes e
aprofundando o tema da solidariedade. O III Encontro ocorreu
em 27 de Setembro em Setúbal
na sede do CMOS. Em Março
2012, vai decorrer em Mafra,
na sede do CMOM, um encontro entre delegações dos clubes
para aprofundamento do tema “
Solidariedade”.
O clube tem cumprido os preceitos estatutários.
Anualmente a direcção apresenta, em Assembleia Geral o
Relatório e Contas e o Conselho
Fiscal emite o seu parecer sobre o mesmo. Ainda este ano
realizam-se eleições para o triénio 2012/2015. Os novos membros dos corpos sociais tomam
posse em Fevereiro de 2012. A
direcção e órgãos sociais vão
empenhar-se na manutenção da
dinâmica de consolidação, reafirmando a utilidade do clube, num
momento em que a comunidade
militar vive situação de grande
complexidade e incerteza e em
que a solidariedade entre gerações é decisiva.
Não dispondo de pessoal de
apoio para abertura com maior
regularidade, a sede está porém
à disposição de todos os sócios
para a sua utilização. Os associados que o desejem, podem reservar as instalações, bastando
para tal que o façam através dos
telefones do clube (961088410
- 261853863) ou do endereço
clueboficiaismaelectrónico
[email protected]. Podem também acompanhar as actividades
do clube acedendo ao site do
CMOM – http://cmom.nocturno.
org.
O Clube pertence a todos os
Oficiais que se revejam nos fins
para que foi criado. È uma associação aberta, plural, com interesse cultural, solidária e acima
de tudo, local de convívio, de
aprofundamento e valorização,
dos princípios e fundamentos
que caracterizam a Instituição
Militar.
O clube está aberto a todos.
Mafra, 3 de Novembro de
2011
Azimute
Cursos, Visitas e Notícias
AZIMUTE
Cursos
Apresentação do 39º Curso de Formação de Sargentos de Infantaria
Realizou-se no dia 05 e 06 de Setembro de
2011 a chegada e receção do 39.º CFSI “General
Francisco Xavier da Silva Pereira – Conde das
Antas”.
É de salientar no dia 06 de Outubro a Cerimónia
de Homenagem aos Mortos pela Pátria, a apresentação do 39º CFSI ao Exmo. Comandante da EPI
no Salão Nuno Álvares com fotografia de curso e
almoço volante com o Comando da EPI.
Presidiu à Cerimónia de Apresentação o Exmo.
Comandante da Escola Prática de Infantaria, Coronel João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro.
Apresentação do Tirocínio Para Oficial de Infantaria 2011/2012
Realizou-se no dia 03 e 04 de Outubro a chegada e receção dos Aspirantes Alunos do TPOI
2011/2012 “Marechal de Campo António Teixeira
Rebelo”. No dia 04 de Outubro salienta-se a Cerimónia de Homenagem aos Mortos, a apresentação
do TPOI 2011/2012 ao Exmo. Comandante da
EPI, a fotografia de curso e almoço volante com
o comando da Escola.
Presidiu à Cerimónia de Apresentação o Exmo.
Comandante da Escola Prática de Infantaria, Coronel João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro.
Curso de Apoio de Combate para Oficiais de Infantaria 2011
De acordo com o Despacho
de 17 de Setembro do GEN
CEME, decorreu na Escola
Prática de Infantaria, de 10 de
Outubro a 11 de Novembro,
o Curso de Apoio de Combate para Oficiais de Infantaria
2011. Foram ministrados os
5 módulos de formação com
maior relevo para os módulos
de reconhecimento, anticarro
e morteiros pesados.
O curso culminou com o
Exercício SEMPER PRONTUS
no Campo Militar de Santa
Margarida de 07 a 10 de Novembro, no qual foi executado tiro de morteiro 10,7mm e 120 mm. Todos os
formandos concluíram o curso com sucesso tendo sido o melhor classificado o Alf Inf Ramalho Neto.
Nº 192 DEC11
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AZIMUTE
12º Curso de Ligação e Observação Militar
De acordo com o Plano de Formação Anual de 2011, decorreu na Escola Prática de Infantaria,
de 17de Outubro a 08 de Novembro de 2011, o 12º Curso de Ligação e Observação Militar. O curso
contou com a presença de 08 Oficiais, com a finalidade de adquirirem competências para o desempenho do cargo de observador militar e elemento das Liaison and Observer Teams (LOT). Em virtude
da abrangência das matérias inscritas no referencial de curso o mesmo contou com a presença de
formadores das várias Unidades, estabelecimentos e Orgãos do Exército e de entidades civis, que
contribuíram com o seu saber e experiência para o acréscimo de valor e conhecimento dos formandos.
2º Curso de Tiro 2011
De acordo com o Plano de Formação
Anual 2011 decorreu na Escola Prática de
Infantaria, de 07de Novembro de 2011 a 18 de
Novembro de 2011, o 2º Curso de Tiro 2011,
tendo sido frequentado por 20 elementos das
várias Unidades do Exército. O curso foi constituído por um total de 72 tempos de formação
diurnos e 6 tempos de formação noturnos.
Do programa de formação destacam-se os
seguintes temas:
1.Executar técnica de tiro com a Espingarda Automática G3 7,62 mm e com Pistola Walther 9 mm;
2.Caracterizar a Metodologia de Instrução de Tiro;
3.Caracterizar a Segurança na Instrução de tiro;
4.Caracterizar a Metodologia de Instrução de Tiro;
5.Enunciar as responsabilidades do Oficial e Sargento de tiro;
6.Caracterizar o reabastecimento de munições;
7.Tirar o máximo rendimento da Espingarda Automática G3 7,62 mm em instrução de tiro;
8.Caracterizar a condução de uma sessão de tiro de Companhia.
Visitas
Visita do Director de Formação MGen João Manuel Santos de Carvalho
Realizou-se no dia 12 de Setembro de 2011, na
Escola Prática de Infantaria (EPI), a visita do Exmo.
DF/CID MGen Santos Carvalho.
Do programa da visita salienta-se a reunião do
Exmo. MGen Santos Carvalho com os Formadores e
Formandos do 6ºCFGCPE/11 no auditório do BFMG
e a visita ao CFTCAE onde o Exmo. MGen Santos
Carvalho teve o 1º contacto com os elementos do 39º
CFSI.
92
Nº 192 DEC11
Decorreu no dia 20 de
Outubro de 2011, na Escola
Prática de Infantaria (EPI), a
visita de Veteranos de Guerra
que cumpriram o serviço militar obrigatório na época das
Guerras Coloniais. Pretenderam com esta visita, reviver
tempos e aventuras passadas
que jamais esquecerão.
AZIMUTE
Visita dos Veteranos da Guerra colonial
Visita e Almoço Convívio do Curso de Oficiais Milicianos de 1966
No dia 24 de Setembro de 2011 realizou-se uma Visita e um almoço convívio na
Escola Prática de Infantaria. No programa
do 45º Aniversário do Curso de Oficiais Milicianos constou: cerimónia de Homenagem
aos Mortos, descerramento da placa comemorativa, Visita à Capela e ao Museu da EPI
e almoço convívio no refeitório das Bicas.
Visita de Oficiais Generais do
JCF LISBON e do JALLC
Realizou-se no dia 15 de Outubro
de 2011, na Escola Prática de Infantaria (EPI), a visita de Oficiais Generais
do JCFF Lisbon do Joint Analysis and
Lessons Learned Centre. Da visita
salienta-se a passagem pela Sala Elíptica, Sala das Colunas e Refeitório dos
Frades.
Nº 192 DEC11
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AZIMUTE
Visita à EPI do Rotary Clube do Barreiro
Realizou-se em 23 de Outubro
de 2011 uma Visita de um grupo de
50 elementos do Rotary Clube do
Barreiro. Este grupo visitou o Palácio
Nacional de Mafra e a nossa Escola,
na qual realçamos o Refeitório dos
Frades e o Museu da Infantaria.
Visita pastoral à EPI do Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança,
Sua Excelência Reverendíssima Dom Januário Torgal Mendes Ferreira
Decorreu em 15 de Novembro de
2011 na Escola Prática de Infantaria,
a visita pastoral do Bispo das Forças
Armadas e das Forças de Segurança,
Sua Excelência Reverendíssima Dom
Januário Torgal Mendes Ferreira. Da
visita, que muito honrou todos aqueles que servem na EPI, salienta-se a
conferência proferida no seu auditório,
subordinada ao tema “São Nuno de
Santa Maria, o Homem, o Militar e o
Santo. Após a qual foi celebrada uma
Eucaristia na Capela da EPI na qual 5 Sargentos Alunos do 39º Curso de Formação de Sargentos de
Infantaria receberam a confirmação do batismo, o crisma.
A visita de Sua Excelência Reverendíssima Dom Januário Torgal Mendes Ferreira terminou com
a dedicação de uma mensagem a “ quem persiste na vocação que escolheu” no livro de Honra da
Escola Prática de Infantaria.
Visita da delegação do “International Special Training Center” (ISTC) à EPI
Pela visita da delegação do “International Special Training Center”
(ISTC), organização orientada para o
treino da OTAN, que visa aumentar a
integração e interação conjunta das
Forças de Operações Especiais da
OTAN a Portugal, o Adido de Defesa
dos EUA manifestou interesse que
a delegação visitasse o Centro de
Formação e Treino em Combate em
Áreas Edificadas (CFTCAE) da EPI.
A EPI recebeu a delegação do
ISTC em 17 de Novembro de 2011 e
preparou o programa da visita onde de onde se destaca o briefing e a visita ao CFTCAE. Do briefing
realça-se a parte inicial sobre a missão e organização da EPI e o futuro do CFTCAE que terá as suas
capacidades ampliadas e integrar o Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas (CEdCAE).
No CFTCAE a delegação assistiu a várias demonstrações sobre as suas capacidades e a utilização
dos meios e materiais dos programas de investigação e desenvolvimento a decorrer na EPI.
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Nº 192 DEC11
Reunião do “NATO URBAN OPERATIONS NATO TRAINING GROUP TASK GROUP”
Realizou-se entre os dias 19 e 23 de Setembro de 2011 a reunião do “NATO URBAN OPERATIONS NATO TRAINING GROUP TASK GROUP”, em Salónica na Grécia. A EPI como Entidade
Tecnicamente Responsável pelo Combate em Áreas Edificadas tem nos seus quadros um oficial
como Delegado Nacional no Grupo. A reunião teve como objetivo principal a finalização de dois documentos importantes para a disponibilização de “guidelines” para a formação e treino do Combate
em Áreas Edificadas no seio dos países da Aliança, contribuindo assim para a prossecução dos
objetivos comuns de interoperabilidade e estandardização.
AZIMUTE
Notícias
Encerramento do TPOI 10/11 e 38º CFSI
Realizou-se no passado dia 30 de
Setembro de 2011 o Tirocínio Para
Oficial de Infantaria 2010/2011, Curso
“Capitão André Furtado de Mendonça”.
O evento foi assinalado pela tradicional Cerimónia Solene de Encerramento, presidida por Sua Ex.ª o Director Honorário da Arma de Infantaria,
Tenente General João Nuno Jorge Vaz
Antunes, à qual se associaram oficiais,
sargentos, praças e civis da Escola
Prática de Infantaria, bem como familiares e amigos dos alunos.
As actividades de encerramento
compreenderam seis momentos principais: cerimónia de homenagem aos mortos, descerramento da placa de curso, cerimónia solene de
encerramento com entrega de prémios e diplomas, visita guiada à Biblioteca Nacional, almoço convívio
e, em conclusão, oferta do quadro de curso para posterior exposição na sala de oficiais.
Formalmente, executado o programa de formação planeado, o dia festivo reflecte o encerramento
do tirocínio no ano lectivo 2010/2011, com o consequente regresso dos Aspirantes Alunos à Academia
Militar, para o respectivo ingresso no Quadro Permanente, do Exército.
Nº 192 DEC11
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AZIMUTE
Receção do 2º Módulo de Formação em Combate em Áreas Edificadas (2º MFCAE)
da EUTM - Somália
Realizou-se no dia 10 de Outubro
de 2011, na Escola Prática de Infantaria (EPI), a Cerimónia de Receção do
2º Módulo de Formação em Combate
em Áreas Edificadas (2º MFCAE) da
EUTM - Somália. Esta cerimónia foi
presidida pela Sua Excelência o Adjunto do Comandante das Forças Terrestres, MGen Luís Manuel Martins Ribeiro.
Da cerimónia salienta-se a entrega da imagem do D. Nun’Álvares Pereira, que acompanhou o
nódulo de formação durante a sua missão no Uganda, ao Exmo. Comandante da Escola da Escola
Prática de Infantaria, Coronel de Infantaria, João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro e a leitura
da referência elogiosa ao 2º MFCAE do Comandante da EUTM – Somália, Coronel Michael Beary.
Participação da EPI no conselho local de Ação Social (CLAS)
Realizou-se no dia 18 de Outubro de 2011 pelas 14h30, na Casa da Cultura
D. Pedro V a reunião plenária do Conselho Local de Ação Social. A Escola
Prática de Infantaria, como parceiro da rede social de Mafra, esteve presente
e passou a integrar o grupo de trabalho sobre a temática “A segurança no
concelho de Mafra” juntamente com a representante da Câmara Municipal de
Mafra, Dra. Paula Ribeiro, Polícia Municipal, representante da Junta de Freguesia de Mafra, GNR de Mafra e um delegado dos Bombeiros Voluntários da
Ericeira, Mafra e Malveira. A primeira reunião está agendada para o dia 26 de
Outubro às 14h30, na sala de reuniões do edifício da Proteção Civil.
Reunião do Land Capability Group 1 – On Dismounted Soldier,
do NATO Army Armaments Group (NAAG)
Decorreu de 25 a 28 OUT11 na Holanda, a reunião do Land Capability Group
1 – On Dismounted Soldier, do NATO Army Armaments Group (NAAG), onde participou como Delegado Nacional o TCor Infª Rui Manuel Mendes Dias da EPI. Este
grupo de trabalho tem por objetivo a proposta de implementação de procedimentos
ao nível da interoperabilidade (armamento/equipamento/comunicações) para o
Soldado nas operações da NATO.
CREVAL ao 3º Modulo de Formação de Combate em
Áreas Edificadas da Missão EUTM - Somália
Realizou-se na Escola Prática de Infantaria
(EPI) entre os dias 02 e 04 de Novembro de 2011
o Exercício final de Aprontamento do Módulo de
Formação de Combate em Áreas Edificadas 3º
Intake (MFCAE3) EUTM - Somália.
No Dia 02 Novembro 2011 decorreu a CREVAL
ao MFCAE3, uma equipa da Inspecção Geral do
Exército, deslocou-se à EPI com a finalidade de
verificar a prontidão operacional da força.
A equipa da IGE assistiu a um briefing sobre o
estado do aprontamento por parte do comandante
do Módulo de Formação CAE, Cap Inf Araújo e
Silva.
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Nº 192 DEC11
Realizou-se no dia 02 de Novembro
de 2011, na Escola Prática de Infantaria
(EPI), assinatura do protocolo de colaboração entre o Exército Português,
a Tekever e a Universidade de Aveiro.
Este protocolo tem como objetivo os
termos da colaboração das entidades
no âmbito do projeto de teste, validação,
e certificação operacional de sistemas
robóticos com duplo uso, militar e não
essencialmente militar.
O Exército Português foi representado pelo Exmo. Comandante, Coronel de
Infantaria, João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro, a empresa TEKEVER pelo
Exmo. Engenheiro Ricardo Mendes e a
Universidade de Aveiro pelo Professor
Doutor Joaquim da Costa Leite.
AZIMUTE
Assinatura do protocolo de colaboração entre o Exército português,
a Tekever e a Universidade de Aveiro
A EPI no Workshop da Universidade do Minho
O evento, que contou na cerimónia de abertura com
a presença com a presença do Presidente da Escola de
Engenharia da Universidade do Minho, realizou-se no auditório da universidade no dia 03NOV11 entre as 14H00 e
as 19H00. A EPI, através do TCOR INF MÁRIO ÁLVARES,
apresentou uma intervenção subordinada ao tema: O espectro das operações militares. A aplicação de fibras em
novas dinâmicas de proteção e sobrevivência militar. As
restantes intervenções foram subordinadas aos seguintes
temas: Fibras na Medicina (Dr. Rui Dias do Hospital da Universidade de Coimbra), Fibras na Construção Civil (Engª.
Maria barbosa da empresa FiberSensig (spin-off da UM),
Fibras nos Transportes (Engº Eduardo Diniz da empresa ITA/Continental), Fibras no Desporto (Dr.
Rui Silva da empresa SAFINA) e Fibras na Arquitetura (Arq. Paulo Mendonça).
30º Aniversário do Tirocínio Para Oficial “General Vieira da Rocha” 81/82
Realizou-se em 04 de Novembro de
2011 na Escola Prática de Infantaria, o
30º Aniversário do Tirocínio Para Oficial
81/82 onde estiveram presentes 13 dos
21 elementos do Curso “General Vieira
da Rocha”. É de realçar a Cerimónia
de Homenagem aos Mortos, o descerramento da placa comemorativa. Após
a Fotografia de Curso, decorreu uma
visita à EPI seguida de um almoço na
Sala das Bicas.
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AZIMUTE
Distiguished Visitors Day do 3º INTAKE da EUTM - Somália
Decorreu no dia 09 de Novembro de 2011, na Escola Prática
de Infantaria (EPI), o Distiguished Visitors Day do 3º INTAKE da
EUTM - Somália.
O Distiguished Visitors Day do 3º INTAKE da EUTM - Somália.
Contou com a presença de Sua Excelência TGen Amaral Vieira,
Comandante das Forças Terrestre, e do seu Adjunto, o Exmo.
MGen Martins Ribeiro. Do programa do Distiguished Visitors Day
salienta-se o briefing sobre o 3º INTAKE pelo Comandante da
Força, Cap Infª Araújo e Silva, e a visita ao Centro de Formação
e Treino de Combate em Áreas Edificadas, onde foi possivel assitir a uma atividade de formação
similar às que o 3º INTAKE da EUTM – Somália vai desenvolver no TO do Uganda no âmbito do
Combate em Áreas Edificadas ministrada a Soldados, Sargentos e Oficiais Somalis.
2011 Concept Development & Experimentation Conference
De 14 a 17 de Novembro de 2011 realizou-se, no Hotel Marriott de Lisboa, a 2011
Concept Development & Experimentation
(CD&E) Conference. Esta é uma conferência
anual organizada e promovida conjuntamente
pelo Head Quarters Allied Command Transformation (HQ ACT), Capabilty Engeneering
da North Atlantic Treaty Organization (NATO)
e pelo United States Joint Chiefs of Staff,
Directorate for Force Development dos Estados Unidos da América e tem como objetivo
promover a interação, partilha de informação
e o desenvolvimento de oportunidades de trabalho em rede entre as nações no que concerne ao CD&E. Esta conferência contou com a participação
de mais de 200 participantes de diversos países membros e não membros da NATO e de organizações
da NATO e EUA, entre eles um oficial da Escola, Major de Infantaria Vítor Manuel Lourenço Borges,
Sub DF e Chefe SPAET da EPI.
98
Nº 192 DEC11
Cap Inf João Polho
O último trimestre é sempre
um período complicado de gerir.
Ao longo período de descanso
das férias, junta-se o ritmo do trabalho intenso, as obrigações familiares e os dias com tendência
a serem mais curtos. Isso tudo
impossibilita por vezes fazermos toda a atividade desportiva
pretendida.
Tendo em conta que existem
vários artigos relacionados com
a prática do atletismo em geral, e
que a utilização da bicicleta está
cada vez mais na «moda», porque, quer por diversão, descon-
tracção ou competição, pedalar
faz bem à saúde física e psicológica e ajuda a combater os quilos
a mais e ter uma aparência mais
elegante, contribuindo para o
desenvolvimento da auto-estima
e o bem-estar.
Segue então um artigo que
poderá interessar todos os cicloturístas em geral, sobre tudo
aqueles que pretendem alcançar
uma maior preparação em vista á
próxima época desportiva.
A tendência «MICRO», estende-se actualmente um pouco
por todo o lado: microinformática, microdosagens farmacêuticas, micronutrição, micromecânica, ou seja todo um conjunto
de microtecnologias. O conceito
consiste precisamente em reduzir os tamanhos ou quantidades,
mantendo ou melhorando os
objetivos pretendidos. Durante
muitos anos prevaleceu no ciclismo, os treinos de quantidade (os
usuais quilómetros acumulados
em cima da bicicleta), o que tem
vindo a ser contrariado por muitos treinadores actuais que defendem os treinos de qualidade,
prevalecendo pequenas saídas
mas com objectivos de intensidade bem definidos.
Com isso tenta-se alcançar
duas metas, em primeiro lugar,
optimizar legitimamente uma prática antiquada onde só se contabilizava as horas passadas em
cima do selim; em segundo lugar
tentar satisfazer o
grande número de
ciclistas que não
tem tempo para
estarem horas a
fio em cima da
bicicleta e que no
entanto desejam
uma boa e rápida progressão no
treino. Os treinos
passam assim a
ser baseados em
dados
fisiológicos fiáveis, utilizando ciclocomputadores (com velocidades e
cadências de pedalada), cardiofrequencímetros e para os
mais dedicados medidores de
potência.
Os últimos estudos realizados
sobre este tipo de treino revelam,
que um ciclista que não tenha
qualquer tipo de limitação física e
que tenha uma condição de vida
minimamente regrada a nível
alimentar e de descanso, não só
conseguirá manter o seu patamar
atlético como poderá aumentar o
seu nível se as curtas sessões de
treino forem perfeitamente organizadas ao longo da semana.
O microtreino em geral é praticado na rua, mas pode ser organizado e praticado em casa com
um home-trainer, vulgarmente
conhecido por “rolo”, que pode
em certos casos ser uma ferramenta muito adaptada a esta
prática de treinos, sobretudo por
aqueles que não tem mesmo
tempo para treinar. Esta metodologia de treino pode ser aplicada
de manha, antes do trabalho, no
deslocamento para o mesmo e/
ou a noite. Quando praticado
AZIMUTE
Microtreinos ou Microssessões
duas vezes ao dia, falaremos
de treinos bidiários. Os puristas
da modalidade não tem que ter
medo, porque quem realmente
quiser progredir para patamares
de maior competitividade para
além dos curtos treinos de intensidade, terá de haver habituação
aos esforços de longa duração
com todos os benefícios que trazem, muitas horas de rodagem e
muitos quilómetros de estrada.
Nº 192 DEC11
99
AZIMUTE
Para facilitar a perceção dos
treinos por parte dos cicloturístas
menos familiarizados com estes
métodos de treino, vamos dividir
o treino em seis microssessões,
onde será explicado o objetivo de
cada uma, em que dia se adapta
mais a prática da mesma, qual a
duração e intensidade a aplicar e
casos práticos das formas e locais onde realizar.
Antes há que explicar alguns
conceitos importantíssimos como
frequência cardíaca máxima
(FCM) e cadência de pedalada
(RPM). A FCM corresponde ao
número máximo de batimentos
cardíacas atingido durante um
esforço físico máximo. Existem
várias fórmulas usadas para calcular a FCM, uma das quais consiste em subtrair a idade ao valor
de 220, por exemplo: um atleta
de 33 anos terá uma estimativa
de FCM na ordem das 187 pulsações por minuto. Obviamente
que este número é uma estimativa pelo que é pouco exato, porque a FCM irá divergir consoante
o nível aeróbio do atleta, os hábitos quotidianos e outros factores
externos influenciadores. Para
quem procura valores com maior
exactidão deverá submeter-se á
um teste de esforço completo.
Em relação aos RPM, existem
muitas técnicas de medição do
RPM, mas a mais simples e fiável
é a sua avaliação através de um
ciclocomputador preparado para
tal. Sendo assim, a cadência da
100
Nº 192 DEC11
pedalada não é mais do que o
número de voltas completas que
a pedaleira dá no espaço de um
minuto.
Lembro que este artigo está
mais vocacionado para o treino
em bicicleta pelas razões anteriormente explicadas, mas poderá sem problemas ser adaptado
a outras atividades desportivas
como a corrida, muito em prática
na nossa instituição.
Microrrecuperação:
A microrrecuperação exige
uma ativação prévia do organismo, em progressão por patamares de esforço até atingir uma
intensidade média , cerca de 70
% da capacidade
física, neste caso
70% da FCM.
Este patamar de
esforço é facilmente identificado através de um
cardiofreqencímetro ou pela experiência, quando
já se está familiarizado com os
nossos limites físicos. Sendo assim a microrrecuperação consiste em activar o
organismo de uma forma muito
progressiva e linear, sem haver
«choques», com vista à eliminação de alguns resíduos musculares e articulares. Tem como
objetivos principais o desencadear a sensação de frescura e de
nos sentirmos “soltos” depois da
sessão. O dia mais propício para
realizar este tipo de treino será
no dia seguinte a uma prova ou
de uma sessão de esforço mais
intenso com amigos . O método
a utilizar será começar devagar ,
com intensidade a rondar os 20%
FCM, aumentando gradualmente
de 2 em 2 minutos até começar
a suar e depois deve-se manter
a intensidade alcançada. Por fim
subir de intensidade até aos 70%
FCM e manter durante o período
de 5 a 10 minutos, dependendo
da carga exercida na véspera. Se
treinar na rua, deverá escolher
um itinerário com pouco desnível que lhe permitirá não oscilar
na sua intensidade de trabalho,
durante um tempo aproximado
de 35 a 55 minutos, dependendo muito da sua capacidade de
recuperação e mais uma vez da
intensidade do evento do dia anterior. Caso não tenha disponibilidade de praticar na rua, poderá utilizar o rolo, executando os
mesmos procedimentos, num
período de 25 a 30 minutos.
Micropatamar:
Este é talvez dos treinos mais
importantes para a evolução
como ciclista. Consiste em aumentar o limite de trabalho aeróbio, ou seja a sua capacidade de
suportar uma carga física mais
elevada ao longo de um maior
período de tempo. Na prática é
começarmos a andar á uma velocidade constante de 33 km/h
num terreno plano, em vez de
30km/h, durante o mesmo período de tempo. Ao aumentarmos
o limite de trabalho aeróbio, aumentamos também a capacidade
de tirarmos mais rendimento nos
dias a seguir às provas ou eventos mais competitivos. Se treinar
na rua deverá inicialmente fazer
algum tempo de aquecimento
na ordem dos 20 a 30 minutos,
depois subir o patamar de esforço de 3 em 3 minutos e finalizar
com uma série de 15 minutos,
dentro do intervalo de 80 a 90%
FCM. Não existem restrições em
relação ao terreno a utilizar, tanto
pode ser feito em plano, em colinas ou em rampas mais acentuadas, contudo deve garantir um
aquecimento adequado, que não
deverá ultrapassar os 60 a 70%
FCM. Em casa, no rolo, poderá
começar com 15 a 20 minutos
de aquecimento, acabando com
3 series de 5 minutos cada entre
os 80 a 90% FCM, completando
assim um tempo total de exercício entre os 35 a 40 minutos.
Microvelocidade:
O consumo de energia de um
atleta está directamente relacionado com a potência exercida
pelo mesmo durante o exercício.
A potência corresponde à relação
entre a força exercida no pedal e
a cadência da pedalada. Estudos
realizados confirmam que uma
pedalada em cadência (a partir
dos 80 ou 90 RPM) permite um
menor desgaste muscular e articular. A pedalada rápida não sendo de todo um movimento natural, pode-se tornar algo fastidioso
inicialmente. A razão para isso
acontecer deriva de muitos factores, um deles é não termos os
músculos e as articulações com a flexibilidade suficiente
para executar esse
tipo de movimento,
outro é a quantidade e qualidade
diminuta de fibras
musculares de contração rápida que
existe inicialmente
nos grupos musculares chamados a
realizar o movimento. Há que treinar o movimento para evoluir em
qualidade no gesto da pedalada
e na potência exercida. Os dias
adequados serão por exemplo
a terça-feira ou a sexta-feira no
caso de haver prova no domingo. Se tiver tempo
para sair à rua, depois do período de
aquecimento de 15
a 20 minutos deverá fazer 3 series de
5 minutos nas 110
RPM, utilizando a
relação de transmissão que mais
se adapta o tipo de
terreno envolvente.
No rolo, 15 minutos
de
aquecimento
seguido de 10 minutos nas 110 rpm e 5 minutos de
retorno a calma será mais do que
suficiente para esta metodologia
de treino. Chama-se a atenção
que independentemente das 110
RPM deverá manter a preocupação de não ultrapassar os 80%
FCM. Para tal há que jogar com a
relação de transmissão utilizada.
Microforça:
À força usualmente associa-se à prática de musculação em
ginásio. Porém, o ginásio é bom
mas não chega. O treino de força em cima da bicicleta é por
vezes mais rentável, visto que
se desenvolve apenas os grupos
musculares solicitados no esforço da pedalada, para além de
se criar uma rotina de movimento. Treinar força é bastante fácil,
basta criarmos pequenas séries
onde a pedalada é feita, na relação de transmissão, o mais
pesada possível (segundo o tipo
de terreno), sem nos preocuparmos da frequência cardíaca no
momento nem com a cadência
lenta. Um bom princípio a seguir
é quando menor for o tempo de
esforço maior deve ser a intensidade empregue. Dependendo
do tipo de inclinação da estrada
poderá utilizar múltiplas séries de
1 minuto em terreno plano, 2 a 3
séries de 5 minutos em terreno
montanhoso. Importante, para
além de um bom aquecimento tal
com já foi explicado, é o retorno à
calma ou microdescontração (ex-
AZIMUTE
outros treinos, quer sejam eles
de potência ou de força. Para
o treino de patamar aeróbio e
conveniente possuir um cardiofrequencímetro e realizar séries
de 5 a 15 minutos, num patamar
entre 80 a 90% (dependendo do
seu nível) da sua capacidade
máxima. Este treino poderá ser
realizado as vezes que entender,
sem ser nas vésperas ou nos
plicação mais á frente), com bons
alongamentos a fim de estender
corretamente as fibras musculares e tendões, o que vai favorecer
um bom crescimento muscular e
prevenir as pequenas patologias.
Sendo este treino um esforço lácteo, o melhor dia para o treino de
força é ao meio da semana, para
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AZIMUTE
que se possa dar tempo de recuperação até ao fim-de-semana.
Se o fizer na rua, uma hora chega
para treinar a força, sendo a primeira meia hora de aquecimento,
depois consoante a inclinação do
piso poderá fazer 15 series de 1
minuto, 5 series de 3 minutos ou
3 series de 5 minutos, concluindo
com 5 a 10 minutos de retorno
a calma. Em casa, no ambiente
artificial criado pelo rolo, 30 a 45
minutos de exercício seguindo a
metodologia anterior chega para
o efeito. Em ambas as condições
a intensidade durante o esforço
poderá ir até aos 100% da sua
capacidade física.
Micropotência:
A potência é a combinação
da força com a velocidade. Por
norma mesmo sem sendo em
sessões de microtreino, o treino da potência muscular e cardiovascular é sempre feito com
séries curtas, devido à intensidade extrema do exercício.
Independentemente dos exemplos que serão citados, deverá
existir a preocupação de que o
tempo de recuperação entre repetições tem de ser o mais curto possível, de preferência igual
ou inferior ao tempo do exercício (dependendo do seu nível).
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Poderá a primeira sensação ser
a de um esforço muito violento
, mas irá trazer bons resultados
a curto prazo, tanto no treino em
rua como em rolo. O momento
indicado para exercitar será sempre 2 a 3 dias antes do fim-de-semana e de preferência nas
semanas que antecedem um
grande evento. Na rua, após 25
minutos de aquecimento, poderá
seguir uma das duas metodologias seguintes: duas séries de 5x
(15 sec sprint / 15 sec recuperação), com descanso ativo de 10
minutos entre series, ou 3 séries
de 40 a 50 sec sprint com 5 minutos de repouso ativo entre elas.
No rolo poderá seguir a mesma
metodologia, passando a fase
de aquecimento de 25 para 15
minutos, completando assim um
tempo total de exercício na rua
de 55 minutos e 35 a 40 minutos
em casa. É importante procurar
na fase do esforço a maior intensidade e velocidade possível
(dependendo do nível e das condições envolventes).
Microdescontração:
Quando falamos nesta metodologia da descontração de curta duração significa reduzir bastante o esforço físico e continuar
com o movimento ou «gesto»
desportivo, como por exemplo o continuar a pedalar
com pouca intensidade.
Tem de permite um ajustado
alongamento dos músculos
e tendões, para que os sinta
leves fisicamente e se sinta
melhor psicologicamente.
Há que ter como principio, o
baixo consumo de energia,
ou seja pedalar sem ter a
noção de carregar com demasiada força em cima dos
pedais. Qualquer pretexto é
bem-vindo para por em prática a micro-descontração,
a ida ao pão, uma volta de
BTT em família, uma volta ao
bairro ou ainda para os felizardos, o simples facto de se deslocarem diariamente para o trabalho. Pode ser praticado todos
dias, até na manha mesmo de
um evento. Na rua ou em casa,
a duração do treino irá depender
do seu tempo disponível, tendo
em atenção a não ultrapassar os
50% FCM, para não cair no erro
de deixar de ser “descontraído”.
Este conjunto de microtreinos não são mais do que uma
orientação para manter a forma
ou mesmo progredir. Poderá não
ser eficaz para todos, mas garantidamente irá enriquecer-vos os
conhecimentos técnicos, abrindo
novos caminhos na vossa prática desportiva. Obviamente que
existem muito mais métodos de
treino, mas sendo mais complexos e morosos, deixámo-los aos
competidores, que possuem tempo e orientações para os pôr em
prática. Se por ventura acharem
que este artigo não se vos adequa, não se preocupem, o que
conta é pedalar, conviver com a
natureza envolvente, criar amizades e combater o sedentarismo
demasiado presente na sociedade atual.
Azimute
AZIMUTE
O Natal visto por poetas portugueses
ao longo de 500 anos
Pobreza Presépio
Dos Céus à Terra desce a mor beleza,
Une-se à nossa carne e fá-la nobre;
E sendo a humanidade antes pobre,
Hoje subida fica à mor alteza.
Busca o Senhor mais rico a mor pobreza;
Que ao mundo o seu amor descobre,
De palhas vis o corpo tenro cobre
E por elas o mesmo céu despreza.
Como? Deus em pobreza à terra desce?
O que é mais pobre tanto lhe contenta,
Que este somente rico lhe parece.
Pobreza este Presépio representa;
Mas tanto por ser pobre merece,
Que mais o é, mais lhe contenta.
Luís Vaz de Camões
À Noite de Natal
Era noite de Inverno longa, e fria,
Cobria-se de neve o verde prado;
O rio se detinha congelado,
Mudava a folha a cor, que ter soía,
Quando nas palhas de uma estrebaria,
Entre dous animaes brutos lançado
Sem ter outro lugar no povoado
O Menino JESUS pobre jazia.
- Meu filho, meu Amor, porque quereis
(Dizia sua Mãi) esta aspereza
Acrescentar-me as dores, Que passais?
Aqui nestes meus braços estareis;
Que se vos força amor sofre crueza,
O meu não pode agora sofrer mais.
Natal
Nasceu um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.
Frei Agostinho da Cruz
Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.
Fernando Pessoa
Que o Menino Deus encontra lugar no nosso coração para nascer!
Santo e Feliz Natal para toda a família militar.
O Capelão
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AZIMUTE
In memoriam
Major-General Rui Alexandre Cardoso Teixeira
1946-2011
No dia 28 de Setembro, o Major-General Rui Cardoso Teixeira deixou-nos. Lutou com muita coragem suportando e enfrentando
com serenidade mas sempre com esperança, todas as provações. Nunca conheceu o desânimo e cada novo desafio constituía para si
a renovação da vontade de viver.
O Major-General Rui Teixeira nasceu em 11 de Dezembro de 1946 em Cabeceiras de Basto terra que muito amava e evocava
com carinho. Ingressou na Academia Militar em Outubro de 1967. Na Escola Prática de Infantaria concluiu o tirocínio em Julho
de 1971 iniciando uma carreira brilhante, de entrega, de grande profissionalismo e de elevado sentido do dever. Em Dezembro de
1971 parte para Moçambique onde cumpre uma comissão que lhe permite conhecer e viver a dura realidade da guerra que tanto envolveu e inquietou a sua geração. Em 1972 regressa a Mafra, à Escola, à Casa-Mãe da Infantaria.
Aqui aprofunda a sua formação, desempenha as exigentes funções de instrutor em sucessivos e
desgastantes cursos de oficiais milicianos, exerce funções de comandante de companhia, é
director do tirocínio e Instrutor de táctica entre outros desempenhos.
Em 1981 é colocado na 1ª Brigada Mista Independente como Comandante de Companhia de Atiradores do Batalhão de Infantaria Mecanizado. No exercício do comando manifesta o espírito de entrega sem limites que sempre caracterizaram a sua
conduta. Valoriza-se numa unidade de vanguarda do Exército consolidando uma
carreira sempre pautada pela determinação e frontalidade nos momentos decisivos.
De 1993 a 1996 cumpre uma missão no SHAPE em Mons. A sua preparação e
capacidade proporcionam-lhe um exercício de funções com grande dignidade prestigiando o Exército e Portugal.
Frequentou no Instituto de Altos Estudos Militares o Curso Geral de Comando
e Estado-Maior e o Curso de Estado-Maior. Colocado no Estado-Maior do Exército,
na Divisão de Operações, desempenha as novas e exigentes funções com a confirmada
dedicação, rigor e competência.
Em 1998 é nomeado Comandante da Escola de Sargentos do Exército. Exerce o Comando com elevadíssimo sentido do dever
procurando e conseguindo valorizar a sua Escola, tão importante na formação de todos os sargentos do Exército. Evocava esta passagem pela ESE com muito orgulho, carinho e saudade.
Após a frequência do Curso Superior de Comando e Direcção (2001/2002) é colocado no IAEM como professor, Chefe da Secção
de Ensino da Táctica. Foi um novo desafio, que mais uma vez enfrenta, com a determinação e capacidade, que o caracterizavam. Foi
curta esta passagem pelo IAEM mas suficiente para demonstrar que era a escolha justa e certa para o exigente e prestigioso cargo.
Após promoção a Major-General é colocado na Guarda Nacional Republicana exercendo o cargo de Chefe de Estado-Maior.
Foram anos de trabalho intenso, mas que adorava, sem horas, sem tréguas e mais uma vez com dedicação e entrega totais. Nada o
fazia esmorecer por mais complexo ou urgente que o assunto fosse.
Foram-lhe atribuídas as mais honrosas condecorações. Não seriam demais para o reconhecimento do seu contributo ao Exército
e a Portugal.
Em 2005 o seu estado de saúde obriga-o a cessar funções iniciando então a longa luta pela vida. Apesar das suas condições de
saúde empenhou-se desde então, até Agosto de 2011, no levantamento do Clube Militar de Oficiais de Mafra. Acreditava que era
possível organizar nesta vila, cheia de pergaminhos militares, um espaço onde fosse possível o convívio, a cultura e a defesa dos
valores patrióticos que orientaram as nossas vidas. Acreditava que o clube poderia ser o local onde as gerações deveriam passar o
testemunho. Estava certo. Continuará para sempre nos nossos corações e o seu espírito recordado.
A família foi desde sempre o farol da sua vida. À sua esposa Cármen, e aos seus filhos Gisela e Rafael aos seus netos e a toda a
sua família manifestamos o mais sentido pesar pela irreparável perda.
José Inácio Sousa
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