Javad Parvizi, MD, FRCS Thorsten Gehrke, MD
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Javad Parvizi, MD, FRCS Thorsten Gehrke, MD
Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas Javad Parvizi,MD,FRCS Thorsten Gehrke, MD Tradução e Edição em Português (Brasil) Prof. Dr. Luiz Sérgio Marcelino Gomes (Coordenador da Edição Brasileira) Dr. Marco Aurélio Telöken, Prof. Dr.Nelson Keiske Ono Dr. Pedro Ivo de Carvalho APOIO À EDIÇÃO BRASILEIRA: AsBIO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA O ESTUDO DE INFECÇÕES E IMPLANTES OSTEOARTICULARES 1 Prefácio "A porta do templo da sabedoria é o conhecimento de nossa própria ignorância." Benjamin Franklin A luta contra a infecção é tão antiga quanto a civilização humana. Nos últimos séculos, as descobertas extraordinárias de grandes estudiosos, como Louis Pasteur, Ignaz Philipp Semmelweis, Alexander Fleming e Joseph Lister, transformaram a prática da medicina. Apesar dos progressos obtidos e avanços alcançados, a nossa missão na prevenção da infecção cirúrgica continua inacabada. Não é um exagero afirmar que o temor pela infecção habita o coração de todo cirurgião que frequenta diariamente o centro cirúrgico. A infecção articular periprotética (IAP), com todas suas implicações desastrosas, continua sendo um grande desafio para a comunidade ortopédica. Os cirurgiões, dedicados à prática de procedimentos ortopédicos, não tem olvidado esforços no sentido de implementar estratégias que possam reduzir as infecções do sítio cirúrgico (ISC). Ainda que evidências de alta qualidade possam dar suporte a estas práticas, muitas delas são baseadas em pouco ou nenhum fundamento científico. Assim, há uma notável variação nas práticas de prevenção e tratamento das IAPs, em todo o mundo. Deve-se utilizar salas equipadas com fluxo laminar nas artroplastias eletivas? Qual a quantidade e tipo de antibiótico que deve ser adicionado aos espaçadores de cimento? Quais parâmetros devem ser utilizados para se decidir sobre o momento ideal para a reimplantação? Quais as indicações e contraindicações para a irrigação e debridamento? Quantos procedimentos de irrigação e debridamento devem ser realizados antes da artroplastia de ressecção ser considerada? Qual o melhor tipo de preparação cutânea pré-operatória? Estas dúvidas estão entre as muitas que a comunidade ortopédica se depara diariamente. Enquanto alguns aspectos da nossa prática necessitam de maior nível de evidência para apoiá-los, outros dificilmente podem ser submetidos ao escrutínio de um estudo randomizado, e assim o esforço, para gerar evidências que suportam essas práticas, pode ser trabalhoso e bastante difícil. A comunidade médica reconhece a importância de evidências de alta qualidade, e se envolve na sua geração, sempre que possível. Porém, reconhece também que alguns aspectos da medicina não se prestam à geração de evidências de alta qualidade, e que nem tampouco se deve tentar fazê-lo. É com o reconhecimento deste último aspecto, que o Encontro Internacional para o Consenso em Infecções Articulares Periprotéticas foi organizado. Delegados de várias disciplinas, incluindo cirurgia ortopédica, doenças infecciosas, patologias musculoesqueléticas, microbiologia, anestesia, medicina nuclear, dermatologia, reumatologia, radiologia musculoesquelética, cirurgia veterinária, farmácia, e vários cientistas com interesse em infecções ortopédicas, se reuniram para avaliar as evidências disponíveis, quando 2 presentes, ou chegar a um consenso em relação às práticas atuais de conduta frente às ISCs/IAPs. O processo de geração do consenso se estendeu por 10 meses. Cada questão foi redigida em um formato de busca de evidências, o que gerou mais de 3.500 artigos científicos a serem avaliados. As evidências, quando disponíveis, foram consideradas. Caso contrário, o conhecimento acumulado de 400 delegados de 52 países, representando mais de 100 sociedades médicas, foi considerado para se chegar a um consenso sobre as práticas que carecem de maior nível de evidência. Os membros da Sociedade Internacional de Infecção Musculoesquelética (MSIS) e da Sociedade Europeia de Infecção Osteoarticular, cuja missão comum é melhorar o atendimento a pacientes portadores de infecção musculoesquelética, contribuíram imensamente para esta iniciativa. Os delegados estiveram envolvidos em todos os passos do processo, através de proposições realizadas por meio de uma rede social privada, criada especificamente para este fim, e em que mais de 25.000 comunicações foram registradas. O documento de consenso foi desenvolvido utilizando-se do método Delphi, sob a liderança do Dr. Cats-Baril, um especialista de renome mundial em desenvolvimento de consensos. O modelo do processo de consenso foi estabelecido de modo a incluir o maior número possível de interessados, permitindo sua participação em múltiplos fóruns, uma vez providos de uma ampla revisão de literatura. Os seguintes temas foram abordados: mitigação e educação sobre comorbidades associadas com o aumento da taxa de ISC/IAP; preparação cutânea perioperatória; antibióticos perioperatórios, ambiente cirúrgico, conservação sanguínea; seleção do implante protético; diagnóstico de IAP; manejo da ferida cirúrgica; espaçadores; irrigação e debridamento; tratamento antibiótico e tempo de reimplantação; reimplantação em um ou dois estágios cirúrgicos; tratamento da IAP micótica ou atípica; tratamento com antibióticos orais, e prevenção de IAP tardia. Cada proposição de consenso foi avaliada detalhadamente, especialmente pelos profissionais com experiência na área específica, com o objetivo de assegurar que a implementação das práticas consensuais possam, realmente, resultar em melhoria da assistência ao paciente. Depois de resumir a literatura disponível e montar uma versão preliminar da proposição de consenso, mais de 300 delegados participaram de uma atividade presencial na Filadélfia, onde foram envolvidos em ativas discussões e votações das perguntas e declarações de consenso. Os delegados se reuniram pela primeira vez em 31 de julho, em pequenos grupos de trabalho, para discutir e resolver quaisquer discordâncias e assim finalizar suas proposições. Em seguida, os delegados se reuniram em assembleia para nova discussão das perguntas e declarações de consenso. Após a revisão do conteúdo de todos os grupos de trabalho, foi redigido o consenso que, naquela mesma noite, foi incluído em um programa de votação eletrônica. No dia 01 agosto de 2013 os delegados se reuniram em assembleia, na qual foram votadas as 207 perguntas e proposições de consenso apresentadas em plenário. O processo de votação foi realizado utilizando-se de teclados eletrônicos, em que eram possíveis as opções de voto a favor ou contra as proposições de consenso, ou ainda abster-se de votar. A força do consenso foi julgada pela seguinte escala: 1) Maioria simples: Sem Consenso (concordância entre 50,1% e 59%), 2) Maioria Qualificada: Fraco Consenso (concordância entre 60% e 65%), 3) Maioria Qualificada > 2/3: Forte Consenso (concordância entre 66% e 99%) e 4) Unanimidade: 100% de concordância. Das 207 questões, houve unanimidade para 3 uma pergunta (Controle de tráfego na sala cirúrgica); 202 perguntas foram classificadas como forte consenso; duas questões como consenso fraco e, em apenas duas perguntas não foi possível alcançar qualquer consenso (sem consenso). O documento aqui apresentado é o resultado de inúmeras horas de trabalho por parte dos agentes de ligação (liaisons ou mediadores), coordenadores e delegados, comprometidos com esta iniciativa histórica. A informação veiculada neste documento é baseada em evidências, sempre que existentes, ou então é o resultado do conhecimento acumulado de mais de 400 especialistas mundiais em infecção musculoesquelética, de 52 países. Estamos certos de que o "guia de boas práticas" estabelecido por esta iniciativa servirá a muitos de nossos pacientes nos próximos anos. É essencial afirmar que as informações contidas neste documento é apenas um guia para a prática de médicos que tratam de pacientes portadores de infecção musculoesquelética, e não devem ser consideradas como um "padrão de atendimento". Os médicos devem exercer seu conhecimento e perspicácia clínica na tomada de decisões relacionadas a cada paciente, individualmente. Em algumas circunstâncias, isso pode exigir a implementação de cuidados e decisões que podem diferir das afirmações sugeridas neste documento. Avante em nossa luta contra a infecção. Javad Parvizi MD, FRCS 4 Patrocinadores Um Encontro desta magnitude não poderia ocorrer sem o generoso apoio de parceiros da indústria, cuja missão conflui com a nossa em proporcionar um melhor atendimento aos pacientes. Somos gratos a cada um de nossos parceiros da indústria pelo seu apoio financeiro e sua importante participação no aporte educacional ao longo de todo o processo. Agradecemos o suporte financeiro durante a revisão da literatura e refinamento das perguntas, e sua concordância em não serem incluídos como delegados votantes. Patrocinadores Platina 5 Patrocinadores Prata Patrocinadores Bronze 6 Patrocinadores 7 Delegados Alemanha Alt, Volker Citak, Mustafa Frommelt,Lars Gebauer,Matthias Gehrke,Thorsten Haasper,Carl Heppert, Volkmar Kendoff, Daniel Krenn, Veit Lob, Guenter Lohmann, Christoph H. Perka, Carsten Thomas, Peter Thorey, Fritz Tohtz, Stephan Winkler, Tobias Zahar, Akos Brasil Carvalho, Pedro Ivo Gomes, Luiz Sérgio Marcelino Ono, Nelson Keiske Teloken, Marco Chipre Ketonis, Constantinos Argentina Burgo, Fedrico Jose Buttaro, Martin Del Sel, Hernan Piccaluga, Francisco África do Sul Lautenbach, Charles Austrália Alboltins, Craig Choong, Peter Peel, Trisha Azerbaijão Gahramanov, Aydin Bélgica Stuyck, Jose Thienpont, Emmanuel Canadá Backenstein, David Masri, Bas Mater, Wadih Safir, Oleg Vasarhelyi, Edward Chile Diaz-Ledezma, Claudio Mella, Claudio Schweitzer, Daniel China Cai, Xu Chen, Jiying Fei, Jun Huang, Deyong Lin, Jianhao Shang, Xifu Zeng, Yirong Zhang, Xian Long Zhou, Yixin Colombia Cortes, Luis Emilio Garcia, Julio Cesar Higuera, Carlos Lara, Gilberto Llinás, Adolfo Palacio, Julio Cesar Perez, Javier Restrepo, Camilo Coréia do Sul Seung-Beom Kim, Kang-Il Koo, Kyong-Hoi Costa Rica Villafuerte, Jorge A. Áustria Winkler, Heinz 8 Croacia Bicanic, Goran Dinamarca Kirketerpp-Møller, Klaus Jørgensen, Peter H. Egito Ebeid, Walid Griffin, William Hamilton, William Hansen, Erik Harrer, Michael F. Hickok, Noreen Hitt, Kirby D. Holtom, Paul Hozack, William James Huang, Ronald Huddleston, James Hume, Eric Israelite, Craig Jiraneck, William Kappadia, Bhaveen Kates, Stephen L. Kerr, Glenn J. Khatod, Monti Kim,Raymond Klatt, Brian A. Klein, Gregg Krebs, Viktor Kuderna, James Lachiewicz, Paul Lee, Gwo-Chin Levicoff, Eric Levine, Brett Lewallen, David Lichstein, Paul Lombardi, Adolph Lonner, Jess H. Mabry, Tad Manner, Paul Marculescu, Camelia Martson, Scott Noble, Phillip Mason, J. Bohannon Matsen, Laura McCarthy, Joseph C. McLaren, Alex McPherson, Edward J. Memtsoudis, Stavros Mihalko, William Mont, Michael A. Moore, Christopher C Morris, Michael J. Moucha, Calin Stefan Nana, Arvind D. Nelson, Charles L. Nelson, Sandra Noiseux, Nicolas O O’Donnell, Richard Oliashirazi, Ali Rubash, Harry E. Ong, Alvin Ong, Kevin Orozco, Fabio Osman, Douglas R. Padgett, Douglas E. Paprosky, Wayne G. Patel, Preetesh Patzakis, Michael J. Polkowski, Michael G. Post, Zachary Parsley, Brian Parvizi, Javad Poultsides, Lazaros Pulido, Luis Purtill, James J. Ranatat, Chitranjan S. Ranawat, Amar S. Randall, R. Lor Reina, Ricardo J. Ries, Michael Robb, William Ross, David A. Rosenberg, Aaron Roslund, Brian Saleh, Khaled J. Salgado, Cassandra Salmon, Julia V. Salvagno, Ralph Sawyer, Robert G. Schaer, Thomas P Schmitt, Steven K. Eslovénia Trebše, Rihard Estados Unidos Abboud, Joseph A. Abraham, John A. Aggarwal, Vinay K Alavi, Abass Alexander, Bryan T. Arnold, William V. Austin, Matthew Azzam, Khalid Babic, Maja Barnes, Lowry Barsoum, Wael Bauer, Tom Bedair, Hany Belden, Katherine Bezwada, Harri P. Bini, Stefano A. Blaha, J. David Bolognesi,Michael P. Booth, Robert E. Bostrum, Matthias Bradbury, Thomas L. Brause, Barry D. Calhoun, Jason H. Cardona, Lyssette Callaghan, John Chen, Antonia Conway, Janet Cui, Quanjun de Beaubien, Brian C. Deirmengian, Carl Deirmengian, Greg Fehring, Thomas K. Freiberg, Andrew A. Froimson, Mark Garrigues, Grant Good, Robert P. Goodman, Stuart Goyal, Nitin 9 Espanha Corona, Pablo Flores Sanchez, Xavier Font-Vizcarra, Luís Guerra, Ernesto Macule, Francisco Marín-Peña, Oliver Martinez-Pastor, J. Carlos Soriano, Alex Schutte Jr., Harold D. Schwarz, Edward M. Schwarzkopf, Ran Scuderi, Gil Segreti, John Sharkey, Peter Silibovsky, Randi Seyler, Thorsten Shapiro, Irving Simpendorfer, Claus Smith, Eric Spangehl, Mark Sperling, John W. Springer, Bryan D. Squire, Matthew Sterling, Robert Stocks, Greg Taunton, Michael Tokarski, Anthony T. Tischler, Eric H. Waters, Jonathan Watters III, William C. Wellman, Samuel Whiteside, Leo Williams, Gerald R. Wongworawat, Montri D. Yates, Adolph J. Zalavras, Charalampos Zmistowski, Benjami Holanda Altena, Mark Jutte, Paul C. Meermans, Geert Nijhof, Marc W Ploegmakers,Joris J.W. Poolman,Rudolf W. Van den Bekerom,Michel Vogely, Charles Wagenaar, Frank Christiaan Finlândia Huotari, Kasia Virolainen, Petri França Argenson, Jean-Noel Godefroy, Karine M. Sennevile, Eric Hungria Bucsi, László Skaliczki, Gabor India Malhotra, Rajesh Sancheti, Parag Vaidya, Shrinand Irlanda Cashman, James Glynn, Aaron Keogh, Peter Mulhall, Kevin O’Toole, Patrick Sheehan, Eoin Grécia Babis, George Malizos, Konstantinos Papagelopoulos, Panayiotis Tsiridis, Eleftherios Israel Heller, Snir Kosashvill, Yona Schwaber, Mitchell Irã Alijanipour, Pouya Eslampour, Aidin Ghazavi,Mohammad Taghi Hosseinzadeth, Hamidreza Mortazavi, Javad Rasouli, Mohammad Shahcheragh, G. Hossain Itália Baldini, Andrea Catani, Fabio Da Rin de Lorenzo, Ferdinando Drago, Lorenzo Esposito, Silvano Francheschini, Massimo Logoluso, Nicola Meani, Enzo Romano, Carlo Traverso, Francesco Japão Kobayashi, Hideo Kobayashi, Naomi Nishisaka,Fumiaki Saito, Tomoyuki Yamada, Koji Nova Zelândia Vince, Kelly George Líbano Bitar, Diana Ghanem, Elie Karam, Joseph Raphael, Ibrahim Moldávia Antoci, Valentin México Franco-Cendejas, Rafael Rivero-Boshert, Salvador Velazquez, Diego Portugal Souza, Ricardo Noruega Berdal, Erik Witzø, Eivind Peru Pena, Orestes Rolando Suárez, Rolando Polônia Bialecki, Jerzy Kruczynski, Jacek Marczynski, Wojciech Markuszeweski, Jacek Rússia Tikhilov, Rashid Porto Rico López, Juan Carlos Suarez, Juan Reino Unido Achan, Pramod Board, Tim N. Gambir, Anil Haddad, Fares Heidari, Nima Lee, Paul Morgan-Jones, Rhidian República Tcheca Gallo, Jiri Jahoda, David Taiwan Chang, Yuhan Peng, Kuo-Ti 10 Nathwani, Dinesh Parvizi, Sadegh Stockley, Ian Townsnd, Robert Suécia Lazarinis, Stergios Lidgren, Lars Stefánsdótir, Anna W. Dahl, Annette Singapura Lee, Paul Tunisia Kallel, Sofiene 11 Suíça Borens, Olivier Erhardt, Johannes B. Ochsner, Peter Vogt, Markus Wahl, Pete Uruguai Motta, Fernando Turquia Korkusuz, Feza Tözün, Ismail Remzi Tuncay, Ibrahim Venezuela Garcia Rangel, Gustavo Sociedades Representadas American Association of Hip and Knee Surgeons (AAHKS) American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS) American Association of Tissue Banks (AATB) American College of Rheumatology (ACR) American College of Surgeons (ACS) American Orthopaedic Association (AOA) American Shoulder and Elbow Surgeons (ASES) American Society of Bone and Mineral Research (ASBMR) American Society of Anesthesiologists (ASA) American Society of Regional Anesthesia (ASRA) AO Trauma Clinical Priority Program on Bone Infection Association Research Circulation Osseuse (ARCO) Asia Pacific Arthroplasty Association (APAS) Asia Pacific Knee Society (APKS) Asia Pacific Orthopaedic Association (APOA) Asociación Argentina de Ortopedia y Traumatología (AAOT) Associação Brasileira para o Estudo de Implantes Osteoarticulares (AsBIO) Association for Study and Application of Methods of Ilizarov (ASAMI) Association of Bone and Joint Surgeons (ABJS) Association of Orthopaedic and Trauma surgeons of Russian Federation (AOTRF) Association of periOperative Registered Nurses (AORN) Association of Surgeons of Great Britain and Ireland (ASGBI) Australian Knee Society (AusKS) Australian Orthopaedic Association (AOA) Azerbaijan Association of Orthopaedics and Traumatology Belgian Knee Society (BelKS) Belgian Orthopaedic and Trauma Society (BVOT) Brazilian Hip Society (SBQ) Brazilian Knee Society (BKS) British Association for Surgery of the Knee (BASK) British Hip Society (BHS) British Orthopaedic Association (BOA) Bulgarian Orthopaedic Association (BulOrtho) Bulgarian Orthopedics and Traumatology Association (BOTA) Canadian Orthopaedic Association (COA) Czech Society for Orthopaedics and Traumatology (CSOT) Chinese Orthopaedic Association (COA) Colegio Mexicano De Ortopedia y Traumatología (CMO) Combined Services Orthopaedic Society CSOS Croatian Orthopaedic and Traumatology Association (COTA) Dansk Ortopaedisk Selskab (DOS) Dutch Orthopaedic Association (NOV) Eastern Orthopaedic Association (EOA) Egyptian Orthopaedic Association (EOA) European Bone and Joint Infection Society (EBJIS) European Federation of National Associations of Orthopaedic Sports Traumatology (EFOST) European Federation of National Associations of Orthopaedics and Traumatology (EFORT) European Hip Society (EHS) European Knee Associates (EKA) European Society for Surgery of Shoulder and Elbow (ESSSE) European Society of Biomaterials (ESB) Finnish Orthopaedic Association (FOA) German Society for Orthopaedic and Trauma Surgery (DGOU) German Society of Pathology (DGP) Grupo de Estudio de la PatologíaSéptica del AparatoLocomotor (GEPSAL) Gruppo Italiano per lo Studio e il Trattamento delle Infezioni Osteoarticolari (G.I.S.T.I.O.) Hellenic Association of Orthopaedic Surgery and Traumatology (HAOST) Hungarian Orthopaedic Association (HOA) 12 Indian Orthopaedic Association (IOACON) Indian Society of Hip and knee Surgeons (ISHKS) Indonesian Orthopaedic AssociationIndoOA Infectious Diseases Society of America (IDSA) Institution of Mechanical Engineers IMechE International Congress of Joint Reconstruction (ICJR) International Geriatric Fracture Society International Society for Technology in Arthroplasty (ISTA) International Society of Arthroscopy, Knee Surgery and Orthopaedic Sports Medicine (ISAKOS) International Society of Orthopaedic Surgery and Traumatology (SICOT) Iranian Orthopaedic Association (IranOA) Irish Orthopaedic Association (IOA) Israel Ministry of Health, National Center for Infection Control Israeli Orthopaedic Association (IOA) Japanese Orthopaedic Association (JOA) Korean Hip Society (KHS) Korean Knee Society (KKS) Korean Orthopaedic Association (KOA) Mid American Orthopaedic Association (MOA) Musculoskeletal Infection Society (MSIS) Musculoskeletal Tumour Society (MSTS) New Zealand Orthopaedic Association (NZOA) Nordic Orthopaedic Federation (NORF) Norwegian Orthopaedic Association (NOA) Orthopaedic Research Society (ORS) Österreichische Gesellschaft für Orthopädie und orthopädische Chirurgie“ (ÖGO) Pan Arab Orthopaedic Association (PAOA) Peruvian Society of Orthopaedics and Traumatology (PSOT) Phillippine Orthopaedic Association (PhilOrtho) Polish Society of Orthopaedics and Traumatology (PSOT) Rheumatoid Arthritis Surgical Society (RASS) Romanian Orthopaedic Association (SOROT) Russian Orthopaedic Society (ROS) Singapore Orthopaedic Association (SOA) Sociedade Brasiliera de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) SocietatCatalana de CirugíaOrtopédica I Traumatología (SCCOT) Sociedad Chilena de Ortopedia y Traumatología (SCHOT) Sociedad Colombiana de Cirugía Ortopédica y Traumatología (SCCOT) Sociedad Española de Fijación Externa y Cirugia Reconstructivam(SEFEx) Sociedad Latinoamericana De Artroscopía Rodilla Y Traumatología Deportiva (SLARD) Sociedad Venezolana de Cirugía Ortopédica y Traumatología (SVCOT) Società Italiana di Ortopedia e Traumatologia (SIOT) Société Française de Chirurgie Orthopédique et Traumatologique (SOFCOT) South African Knee Society (SAKS) South African Orthopaedic Association (SAOA) Southern Orthopaedic Association (SouthOA) Spanish Orthopaedic Society (SECOT) Spanish Knee Society (SKS) Swedish Orthopaedic Association (SOF) Swiss Orthopaedic and Trauma Association (SGOT/SSOT) Taiwanese Orthopaedic Association (TaiOA) The Hip Society (HS) The International Hip Society (IHS) The Knee Society (AKS) Turkish Orthopaedic Association (TOTBID) Washington State Orthopaedic Association (WSOS) Weckebach Instituut (WI) Western Orthopaedic Association (WestOA) World Orthopaedic Concern (WOC) 13 Sumário Executivo A infecção articular periprotética (IAP), com todas suas implicações desastrosas, continua sendo um grande desafio para a comunidade ortopédica. Os cirurgiões, dedicados à prática de procedimentos ortopédicos, não tem olvidado esforços no sentido de implementar estratégias que possam reduzir as infecções do sítio cirúrgico (ISC). Ainda que evidências de alta qualidade possam dar suporte a estas práticas, muitas delas são baseadas em pouco ou nenhum fundamento científico. Assim, há uma notável variação nas práticas de prevenção e tratamento das IAPs, em todo o mundo. Com o reconhecimento destes aspectos, é que foi organizado o Encontro Internacional para o Consenso sobre Infecções Articulares Periprotéticas. Delegados de várias disciplinas, incluindo cirurgia ortopédica e doenças infecciosas, entre muitas outras, participaram deste encontro. O processo de geração do consenso se estendeu por 10 meses. Mais de 3.500 publicações relevantes foram avaliadas por 400 delegados de 52 países, representando inúmeras sociedades. O presente documento de consenso foi desenvolvido utilizando-se do método Delphi, sob a liderança do Dr. Cats-Baril. O modelo do processo de consenso foi estabelecido de modo a incluir o maior número possível de interessados, permitindo sua participação em múltiplos fóruns, uma vez providos de uma ampla revisão de literatura. Os seguintes temas foram abordados: mitigação e educação sobre comorbidades associadas com o aumento da taxa de ISC/IAP; preparação cutânea perioperatória; antibióticos perioperatórios, ambiente cirúrgico, conservação sanguínea; seleção do implante protético; diagnóstico de IAP; manejo da ferida cirúrgica; espaçadores; irrigação e debridamento; tratamento antibiótico e tempo de reimplantação; reimplantação em um ou dois tempos cirúrgicos; tratamento da IAP micótica ou atípica; tratamento com antibióticos orais e prevenção de IAP tardia. Cada proposição de consenso foi avaliada detalhadamente, seja pelos profissionais com experiência na área específica, como pelos generalistas, com o objetivo de assegurar que a implementação das práticas consensuais possam, realmente, resultar em melhoria da assistência ao paciente. Baseadas neste processo, as presentes declarações de consenso foram desenvolvidas. 14 Agradecimentos Um projeto dessa magnitude não é possível sem o apoio e a liderança de muitos. Gostaríamos de agradecer a Mitchell Maltenfort, PhD, gerente de Bioestatística e Bioética do Instituto Rothman, que tem sido um importante elemento na orquestração da revisão da literatura, no desenvolvimento de documentos, e nas numerosas edições que se seguiram . À Tiffany Morrison, MS e sua equipe do Instituto Rothman, deve ser atribuída a maior parte do crédito, por sua liderança na organização deste Encontro, o que não foi uma tarefa fácil. Tiffany e sua equipe trabalharam longas horas nos meses que antecederam o encontro, para garantir que cada detalhe fosse considerado e, por isto, a eles deve ser creditado o sucesso do evento. Um agradecimento especial à Katherine Huff, BA do Instituto Rothman, por suas habilidades editoriais inestimáveis e uma mente orientada para o detalhe, que a permitiu ver as árvores através de uma densa floresta, e assim assegurar a precisão de cada declaração de consenso contida neste documento. Precisamos agradecer a Greg Chang e sua equipe da ForMD que disponibilizou a rede "social" para a comunicação exclusiva entre os participantes. Numerosas interações e discussões valiosas que ocorreram entre os delegados não teriam sido possível sem a ForMD . A equipe está de parabéns pelo seu trabalho árduo e atitude extremamente responsiva, que permitiu uma comunicação eficiente e oportuna entre os membros do consenso. Uma menção especial deve ser feita à Dra Sandra Berríos-Torres, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que nos brindou com sua expertise e orientação durante todo o processo de consenso, assim como pela sua atuação especifica junto aos elementos de ligação (Liassons ou Mediadores) de alguns grupos de trabalho. Dra BerríosTorres foi igualmente muito gentil em participar pessoalmente do encontro porém, como representante técnica de uma agência Federal Americana, não teve direito a voto em quaisquer declarações de consenso. Ainda que não fosse possível inclui-la como delegada neste documento, agradecemos imensamente suas contribuições à esta iniciativa. 15 Sumário TEMA 1: MITIGAÇÃO E EDUCAÇÃO Mediadores: Vinay K Aggarwal, MD. Eric H Tischler, B.A. Coordenadores: Charles Lautenbach, MD. Gerald R Williams Jr, MD. Delegados: Joseph A Abboud, MD, Mark Altena, MD, Thomas Bradbury, MD, Jason Calhoun MD, FACS, Douglas Dennis MD, Daniel J Del Gaizo MD, Lluís Font-Vizcarra MD, Kaisa Huotari MD, Stephen Kates MD, Kyung-Hoi Koo PhD, Tad M Mabry MD, Calin Stefan Moucha MD, Julio Cesar Palacio MD, Trisha Nicole Peel MBBS, Rudolf W.Poolman MD, PhD, William J Robb III MD, Ralph Salvagno MD, Thorsten Seyler MD, Gabor Skaliczki MD, Edward M Vasarhelyi MD, William Charles Watters III, MD TEMA 2: PREPARAÇÃO CUTÂNEA PRÉ-OPERATÓRIA Mediadores: Anthony T Tokarski, BS Coordenadores: David Blaha, MD Michael A. Mont, MD Parag Sancheti, MS, DNB, MCh Delegados: Lyssette Cardona MD, MPH, MHA, AAHIVS, FIDSA, Gilberto Lara Cotacio MD, Mark Froimson MD, Bhaveen Kapadia MD, James Kuderna MD, PhD, Juan Carlos López MD, Wadih Y Matar MD, MSc, FRCSC, Joseph McCarthy MD, Rhidian Morgan-Jones MB BCh, FRCS, Michael Patzakis MD, Ran Schwarzkopf MD, Gholam Hossain Shahcheraghi MD, Xifu Shang MD, Petri Virolainen MD, PhD, Montri D. Wongworawat MD, Adolph Yates Jr, MD TEMA 3: ANTIBIÓTICOS PERIOPERATÓRIOS Mediadores: Erik Hansen, MD Coordenadores: Katherine Belden, MD Randi Silibovsky, MD (US) Markus Vogt MD (International) Delegados: William Arnold MD, PhD, Goran Bicanic MD, PhD, Stefano Bini MD, Fabio Catani MD, Jiying Chen MD, PhD, Mohammad Ghazavi MD, FRCSC, Karine M. Godefroy MD, Paul Holham MD, Hamid Hosseinzadeh MD, Kang II Kim MD, PhD, Klaus Kirketerp-Møller MD, Lars Lidgren MD PhD, Jian Hao Lin MD, Jess H Lonner MD, Christopher C Moore MD, Panayiotis Papagelopoulos MD, Lazaros Poultsides MD MSc PhD, R Lor Randall MD, Brian Roslund PharmD, Khalid Saleh MD MSC FRCSC MHCM, Julia V Salmon MD, Edward Schwarz PhD, Jose Stuyck MD, Annette W Dahl MD, Koji Yamada MD 16 TEMA 4: AMBIENTE CIRÚRGICO Mediadores: Pouya Alijanipour, MD Joseph Karam MD Coordenadores: Adolfo Llinás, MD Kelly G Vince, MD Charalampos Zalavras MD Delegados: Matthew Austin MD, Grant Garrigues MD, Snir Heller MD, James Huddleston MD, Brian Klatt MD, Viktor Krebs MD, Christoph Lohmann MD, Edward J McPherson MD, Robert Molloy MD, Ali Oliashirazi MD, Mitchell Schwaber MD, Eoin Sheehan MD, Eric Smith MD, Robert Sterling MD, Gregory Stocks MD, Shrinand Vaidya MD TEMA 5: CONSERVAÇÃO SANGUÍNEA Mediadores: Mohammad R Rasouli, MD Coordenadores: Luiz Sérgio Marcelino Gomes, MD, PhD Brian Parsley, MD Delegados: Wael Barsoum MD, Hari Bezwada MD, James Cashman MD, Julio Garcia MD, William Hamilton MD, Eric Hume MD, Rajesh Malhotra MD, Stavros Memtsoudis MD, PhD, Alvin Ong MD, Fabio Orozco MD, Douglas Padgett MD, Ricardo Reina MD, Marco Teloken MD, Emmanuel Thienpont MD, Jonathan H Waters MD TEMA 6: SELEÇÃO DO IMPLANTE Mediadores: Claudio Diaz-Ledezma MD Coordenadores: Javad Parvizi MD, FRCS Yixin Zhou MD Delegados: Valentin Antoci MD, Paul Ducheyne PhD, Andrew Freiberg MD, Gustavo Garcia Rangel MD, Seung Beom Han MD, Noreen Hickok PhD, Carlos Higuera MD, Constantinos Ketonis MD, Feza Korkusuz MD, Jacek Kruczynski MD, Francisco Macule MD, Jacek Markuszewski MD, Oliver Marín-Peña MD, Dinesh Nathwani MD, Phillip Noble PhD, Kevin Ong PhD, Nelson Ono MD, Mohammad Sadegh Parvizi PhD, Zachary Post MD, Salvador RiveroBoschert MD, Thomas Schaer VMD, Irving Shapiro DDS, PhD TEMA 7: DIAGNÓSTICO DE INFECÇÃO ARTICULAR PERIPROTÉTICA Mediador: Benjamin Zmistowski BS Coordenadores: Craig Della Valle MD Thomas W Bauer MD Konstantinos N. Malizos MD,PhD Delegados: 17 Abbas Alavi MD, Hani Bedair MD, Robert E Booth MD, Peter Choong MD, Carl Deirmengian MD, Garth D Ehrlich PhD, Anil Gambir MD, Ronald Huang MD, Yair Kissin MD, Hideo Kobayashi MD, Naomi Kobayashi MD, Veit Krenn MD, Drago Lorenzo MD, SB Marston MD, Geert Meermans MD, Javier Perez MD, JJ Ploegmakers MD, Aaron Rosenberg MD, C Simpendorfer MD, Peter Thomas MD, Stephan Tohtz MD, Jorge A Villafuerte MD, Peter Wahl MD, Frank-Christiaan Wagenaar MD, Eivind Witzo MD. TEMA 8: MANEJO DA FERIDA CIRÚRGICA Mediador: Elie Ghanem MD Coordenadores: Volkmar Heppert MD Mark Spangehl MD, FRCSC Delegados: John Abraham MD, Khalid Azzam MD, Lowry Barnes MD, Federico Jose Burgo MD, Walid Ebeid MD, Nitin Goyal MD, Ernesto Guerra MD, Kirby Hitt MD, Sofiene Kallel MD, Gregg Klein MD, Yona Kosashvili MD, Brett Levine MD Laura Matsen MD, Michael J Morris MD, James J Purtill MD, Chitranjan Ranawat MD, FRCS, FRCSC, Peter F Sharkey MD, Rafael Sierra MD, Anna Stefansdottir MD, PhD TEMA 9: ESPAÇADORES Mediador: Mustafa Citak, MD Coordenadores: Jean-Noel Argenson MD Bas Masri MD, FRCSC Daniel Kendoff MD Bryan Springer MD Delegados: Volker Alt MD, Andrea Baldini MD, Quanjun Cui MD, Gregory K Deirmengian MD, Hernan del Sel MD, Michael F Harrer MD, Craig Israelite MD, David Jahoda MD, Paul C Jutte MD, Eric Levicoff MD, Enzo Meani MD, Fernando Motta MD, Orestes Ronaldo Pena MD, Amar S Ranawat MD, Oleg Safir MD, Matthew W Squire MD, Michael J Taunton MD, Charles Vogely MD, Samuel S Wellman MD TEMA 10: IRRIGAÇÃO E DEBRIDAMENTO Mediador: Carl Haasper MD, PhD, MSc Coordenadores: Martin Buttaro MD William Hozack MD Delegados: Craig A Aboltins MD, Olivier Borens MD, JJ Callaghan MD, Pedro Ivo de Carvalho MD, Yuhan Chang MD, Pablo Corona MD, Ferdinando Da Rin MD, Silvano Esposito MD, Thomas K Fehring MD, Xavier Flores Sanchez MD, Gwo-Chin Lee MD, JC Martinez-Pastor MD, SM Javad Mortazavi MD, Nicolas O Noiseux MD, Kuo-Ti Peng MD, Harold Delano Schutte MD, Daniel Schweitzer MD, Rihard Trebše MD, Eleftherios Tsiridis MD, Leo Whiteside MD. 18 TEMA 11: ANTIBIOTICOTERAPIA E MOMENTO DA REIMPLANTAÇÃO Mediador: Camilo Restrepo, MD Coordenadores: Steven Schmitt MD David Backstein MD Delegados: Bryan T Alexander PharmD, Maja Babic MD, Barry D. Brause MD, John L Esterhai MD, Robert P. Good MD, Peter H Jørgensen MD, Paul Lee MB, BCh, FRCS, Camelia Marculescu MD, Claudio Mella MD, Carsten Perka MD, Aidin Eslam Pour MD, Harry E Rubash MD, Tomoyuki Saito MD, Rolando Suarez MD, Robert Townsend MD, I Remzi Tözün MD, Michel PJ Van den Bekerom MD TEMA 12: REVISÃO EM 1 ou 2 ESTÁGIOS Mediador: Paul Lichstein MD, MS Coordenadores: Thorsten Gehrke MD Adolph Lombardi MD, FACS Carlo Romano MD Ian Stockley MB, ChB, MD, FRCS Delegados: George Babis MD, Jerzy Bialecki MD, László Bucsi MD, Xu Cai MD, Li Cao MD, Brian de Beaubien MD, Johannes Erhardt MD, Stuart Goodman MD, PhD, FRCSC, FACS, FBSE, William Jiranek MD, Peter Keogh, David Lewallen, MD, MS, Paul Manner MD, Wojciech Marczynski MD, J. Bohannon Mason MD, Kevin Mulhall MB, MCh, FRCSI, Wayne Paprosky MD, Preetesh Patel MD, Francisco Piccaluga MD, Gregory Polkowski MD, Luis Pulido MD, Ian Stockley MBBS, ChB, FRCS, Juan Suarez MD, Fritz Thorey MD, Rashid Tikhilov MD, Job Diego Velazquez MD,Heinz Winkler MD TEMA 13: MANEJO DAS IAPs FÚNGICAS OU ATÍPICAS Mediador: Matthias Gebauer, MD Coordenadores: Lars Frommelt Delegados: Pramod Achan MBBS, Tim N Board MD, Janet Conway MD, William Griffin MD, Nima Heidari MBBS, Glenn Kerr MD, Alex McLaren MD, Sandra Bliss Nelson MD, Marc Nijhof MD, Akos Zahar MD TEMA 14: ANTIBIOTICOTERAPIA ORAL Mediador: Patrick O’Toole, MD Coordenadores: Douglas Osmon MD Alex Soriano DO Delegados: Erik Berdal MD, Mathias Bostrum, Rafael Franco-Cendejas MD, DeYoung Huang PhD, Charles Nelson, F Nishisaka, Brian Roslund, Cassandra D Salgado, Robert Sawyer MD, John Segreti MD, Eric Senneville PhD, Xian Long Zhang 19 TEMA 15: PREVENÇÃO DA IAP TARDIA Mediador: Antonia Chen MD, MBA Coordenadores: Fares Haddad Mb, ChB, FRCS Paul Lachiewicz Delegados: Michael Bolognesi MD, Luis E Cortes MD, Massimo Franceschini MD, Jiri Gallo MD, Aaron Glynn MD, Alejandro Gonzalez Della Valle MD, Aydin Gahramanov MD, Monti Khatod MD, Stergios Lazarinis MD, PhD, Guenther Lob MD, Arvind Nana MD, Peter Ochsner MD, Ibrahim Tuncay MD, Tobias Winkler MD, YiRong Zeng MD. PESQUISAS FUTURAS 20 TEMA 1: MITIGAÇÃO E EDUCAÇÃO Grupo de Trabalho Mediadores: Vinay K Aggarwal, MD. Eric H Tischler, B.A. Coordenadores: Charles Lautenbach, MD. Gerald R Williams Jr, MD. Delegados: Joseph A Abboud, MD; Mark Altena, MD; Thomas Bradbury, MD; Jason Calhoun, MD, FACS; Douglas Dennis, MD; Daniel J Del Gaizo, MD; Lluís Font-Vizcarra, MD; Kaisa Huotari, MD; Stephen Kates, MD; Kyung-Hoi Koo, PhD; Tad M Mabry, MD; Calin Stefan Moucha, MD; Julio Cesar Palacio, MD; Trisha Nicole Peel, MBBS; Rudolf W.Poolman, MD, PhD; William J Robb III, MD; Ralph Salvagno, MD; Thorsten Seyler, MD; Gabor Skaliczki, MD; Edward M Vasarhelyi, MD; William Charles Watters III, MD. -Questão 1A: Quais são os fatores de risco significativos para o desenvolvimento de infecção do sítio cirúrgico (ISC) ou infecção articular periprotética (IAP) após Substituição Articular Protética Total (SAPT)? Consenso: A infecção ativa em uma articulação artrítica (Artrite Séptica), a presença de septicemia, e/ou a presença de infecção ativa, seja cutanea, subcutânea ou profunda, são fatores de risco significativo, que predispoem os pacientes à ISC e IAP, e são contraindicações à realização de SAPT. Votação dos Delegados: A Favor: 99%, Contra: 0%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) -Questão 1B: Quais são os fatores de risco potenciais para o desenvolvimento de ISC ou IAP após SAPT? Consenso: Os fatores de risco para ISC ou IAP incluem: história de cirurgia prévia, diabetes mellitus descompensado (glicemia> 200 mg/dL ou Hb A1C> 7%), desnutrição, obesidade mórbida (IMC >40 Kg/m2), doença hepática ativa, doença renal crônica, fumo excessivo (>1 maço de cigarros ao dia), consumo excessivo de álcool (> 40 unidades por semana), abuso de drogas intravenosas, hospitalização recente, permanência prolongada em instituições de reabilitação, sexo masculino, diagnóstico de artrite pós-traumática, artropatia inflamatória, cirurgia prévia na articulacão afetada e imunodeficiência severa. Votação dos Delegados: A Favor: 94%, Contra: 4%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) 21 Justificativas: Infecção Articular Ativa, Corrente Sanguínea ou Tecidos Locais A presença de infecção ativa em uma articulação artrítica leva a taxas significativamente altas de IAPs após SAPT.1, 2 Alguns estudos longitudinais e relatos de casos também indicam que a presença de infecção, sistêmica ou local, pode resultar em inoculação hematogênica ou direta do implante após SAPT.3-9 Desta forma, a artroplastia eletiva deve ser retardada em pacientes com infecção ativa, até que a infecção seja tratada adequadamente e sua erradicação confirmada. História de Cirurgia Prévia O ambiente tissular ao redor da ferida cirúrgica pode estar comprometido em pacientes submetidos à procedimentos operatórios prévios, o que pode contribuir para o desenvolvimento de ISC ou IAP após SAPT.10 Peersman et al. compararam pacientes infectados e não infectados após a artroplastia total do joelho (ATJ), e concluíram que a história pregressa de procedimentos cirúrgicos abertos foi um fator de risco significativo (p<0.0001) para o desenvolvimento de IAP após SAPT.11 Ainda que a literatura correlacionando história de cirurgia prévia e o desenvolvimento de IAP não seja abundante, nós recomendamos que a história de cirurgia prévia seja documentada, e o ambiente local seja adequadamente avaliado. Uma investigação apropriada de processo infeccioso, como discutida em local específico neste documento, deve ser realizada em todos os pacientes com cirurgias prévias no local a ser submetido a procedimentos artroplásticos. Este fato poderá determinar modificações na abordagem e na técnica cirúrgica, necessárias para diminuir o risco de desenvolvimento de infecção.10 Hiperglicemia Descompensada Numerosos estudos e metanálises indicam que a glicemia pré-operatória, quando elevada (glicemia de jejum>180 mg/dL ou 10 mmol/L), está associada ao aumento na incidência de complicações pós-operatórias e eventos adversos.12-14 Ainda que pouco estudada em procedimentos artroplásticos, na cirurgia geral demonstra-se uma tendência sugestiva de que a hiperglicemia pós-operatória precoce resulta em maior incidência de ISC.15 Desta forma, deve-se intensificar as ações para manter um controle adequado dos níveis glicêmicos durante todo o periodo perioperatório. Poucas informações são disponíveis para o esclarecimento do papel dos níveis de hemoglobina A1C (HbA1C) como fator 22 preditivo para IAP.16,17 Enquanto não forem determinados os níveis de HbA1C, a partir dos quais os riscos de IAP estejam aumentados, nós recomendamos a otimização pré-operatória dos níveis glicêmicos em pacientes diabéticos, e devemos considerer com cautela a realização de artroplastia eletiva em pacientes com níveis de glicemia de jejum >200 mg/dL (10 mmol/L) e HbA1C>7%. Mais pesquisas são necessárias para determinar se os pacientes elegíveis para SAPT devem ser submetidos à avaliação rotineira dos níveis glicêmicos, a exemplo do que já tem sido praticado na cirurgia cardiotorácica. Desnutrição A desnutrição pode resultar em várias reações adversas após SAPT, incluindo-se a cicatrização deficiente, longa permanência hospitalar, maior duração da cirurgia e do tempo anestésico, e drenagem persistente da ferida cirúrgica com aumento da susceptibilidade à infecção.18-21 Estudos relatam os parâmetros laboratoriais pré-operatórios que podem ser utilizados na detecção de pacientes desnutridos.18,21,22 Os parâmetros de desnutrição podem variar e incluem a transferrina, contagem total de linfócitos, albumina total e pré-albumina. Atualmente, os parâmetros para se avaliar o estado nutricional incluem a albumina sérica (normal 3.5 - 5.0 g/dL), transferrina sérica (normal 204 - 360 mg/dL), pré-albumina (normal 15 - 35 mg/dL) e contagem total de linfócitos séricos (800 - 2000/mm3). Devido à correlação entre o estado nutricional e a recuperação pós-operatória, os pacientes suspeitos de desnutrição devem ser avaliados quando ao estado nutricional previamente à artroplastia eletiva.23 Embora ainda não esteja estabelecido o melhor método para a correção da desnutrição pré-operatória, as opções atuais incluem a administração de suplementos hiperproteicos, suplementação mineral e de vitaminas,24 aumento da ingestão calórica, mobilização precoce e fisioterapia.22 Obesidade Mórbida Relatos recentes (2010) dos Centros para o Controle de Doenças (CDC) indicam que mais de um terço dos Americanos, ou mais de 60 milhões de adultos acima de 20 anos de idade, são classificados como obesos [Índice de massa corporal (IMC) ≥30.0 kg/m2].25 Alguns estudos demonstraram que os pacientes obesos apresentam risco aumentado para cicatrização inadequada da ferida cirúrgica e IAP.26-29 As causas do aumento destes riscos podem estar relacionadas ao aumento do tempo cirúrgico, maior necessidade de transfusão sanguínea homóloga e a presença de outras comorbidades, em que se inclui o Diabetes 23 Mellitus.27, 29-31 A decisão de se realizar a artroplastia eletiva em obesos mórbidos, com IMC ≥40.0 kg/m2, deve ser fundamentada na consideração do maior risco de complicações, onde inclui-se a infecção. A relação risco/benefício deve ser criteriosamente considerada e a escolha do termo de consentimento específico é fundamental, uma vez que as complicações pós-operatórias são mais frequentes neste grupo de pacientes.32 É importante enfatizar que, em obesos submetidos a procedimentos cirúrgicos, existe o risco de subdosagem de antibióticos,33 e assim a dose adequada deve ser ajustada, como será discutido posteriormente neste documento. Tabagismo O tabagismo está associado à morbidade e mortalidade pós-operatória.34 A metanálise de 6 estudos randomizados demonstraram que a interrupção pré-operatória do uso do fumo diminui o risco total de complicações pós-operatórias [risco relativo (RR)=0,76, 95% interval de confiança (CI)=0,69-0,84].35 A mesma metanálise também consolidou os dados de 15 estudos observacionais e encontrou que a interrupção do uso do fumo proporcionou menor taxa de complicações da cicatrização da ferida cirúrgica (RR=0,73, CI=0,61-0,87).35 Singh et al. relataram que fumantes ativos submetidos à SAPT apresentam maior tendencia a desenvolver ISC, enquanto que ex-fumantes não apresentaram risco tão aumentado de desenvolverem ISC.34 Um intervalo maior de interrupção do fumo previamente a cirurgia está associado a taxas mais baixas de complicações pós-operatórias.35-38 Além disto, um estudo envolvendo pacientes submetidos à artroplastia total do quadril (ATQ) mostrou que as complicações pós-operatórias foram significativamente mais elevadas em fumantes compulsivos (> 25 cigarros ao dia).39 No periodo pré-operatório é importante inquirir sobre o tabagismo e apresentar estratégias para a interrupção do hábito de fumar, de modo a reduzir as complicações pós-operatórias da ferida cirúrgica e diminuir os riscos de ISC e IAP. Estudos em procedimentos ortopédicos e não ortopédicos sugerem que os programas de interrupção do tabagismo, quando instituídos entre 4 a 6 semanas antes da cirurgia eletiva, pode diminuir os riscos de infecção e complicações da ferida cirúrgica.40 Alcoolismo Os pacientes que consomem alcool frequentemente podem apresentar um aumento significativo do risco de complicações pós-operatórias após a artroplastia.41 Pela aplicação do questionário denominado Teste de Consumo e Identificação de Distúrbios relacionados ao uso de Álcool (Alcohol Use Disorders Identification Test-Consumption) em 9.176 veteranos 24 Americanos do sexo masculino, submetidos a cirurgia não cardíacas de grande porte, Bradley et al. encontraram que a incidência de ISC e outras infecções pós-operatórias estavam significativamente associadas ao abuso de alcool.42 O intervalo mais adequado para a interrupção do uso de alcool não é conhecido para pacientes a serem submetidos à artroplastia contudo, ao menos 4 semanas de abstinência podem ser necessárias para reverter as anormalidades fisiológicas que predispoem os pacientes ao aumento do risco de morbidade pós-operatória.43 No periodo pré-operatório tem-se a oportunidade de identificar pacientes que usam alcool em excesso. Ainda que os benefícios de programas dirigidos à interrupção do uso de alcool não estejam bem estabelecidos na literatura, parece razoável a attitude de aguardar até que os pacientes reduzam o consumo de alcool pré-operatoriamente (pacientes não dependentes) e pospor a cirurgia em alcoolatras, até que esta situação seja resolvida. Doença Renal Ativa Poucos estudos tem explorado as complicações associadas com doença renal ativa, em pacientes submetidos à SAPT. Sunday et al. relataram as complicações em SAPT para pacientes com doença renal avançada, em hemodiálise. Os autores encontraram que os procedimentos primários e de revisão, nesta coorte específica, estiveram associados com alta taxa de complicações e morte, sendo que 29% dos pacientes morreram de complicações intra-hospitalares e 2 pacientes apresentaram infecção devastadora (14.5%).44 Também Lieberman et al. reportaram alta taxa de complicações (81%), que incluiu 19% de infecção profunda, em pacientes portadores de insificiência renal crônica.45 Sakalkale et al. avaliaram pacientes em estágio avançado de insuficiência renal crônica e encontraram elevada mortalidade e uma taxa de complicações de 58%, com uma incidência de 13% de infecção profunda.46 No geral, o risco de desenvolvimento de infecção pós-operatória após SAPT é significativamente maior em pacientes portadores de insuficiência renal crônica, especialmente aqueles em tratamento por hemodiálise. Doença Hepática Ativa Inúmeros estudos avaliaram a SAPT em pacientes portadores de doença hepática, sintomática ou assintomática. Em um estudo comparativo de pacientes submetidos a SAPT, Pour et al. observaram que, quando comparado ao grupo controle, os pacientes portadores de hepatite C assintomática apresentaram taxa mais alta de complicações cirúrgicas, incluindo complicações da ferida cirúrgica.47 Ainda que o mecanismo responsável pelo 25 aumento da taxa de complicações seja desconhecido, mesmo os pacientes portadores de hepatite assintomática devem ser alertados sobre o o risco potencial de aumento da taxa de complicações pós SAPT eletiva. Hsieh et al. encontraram, em pacientes com cirrose avançada submetidos à SAPT, uma taxa elevada de complicações, especialmente as falhas sépticas, e uma taxa de sobrevivência protética de 77.8% em 5 anos de seguimento.48 Por outro lado Cohen et al. observaram que, mesmo em pacientes cirróticos, a SAPT eletiva pode ser realizada com segurança, sem aumento dos eventos adversos.49 Desta forma, a avaliação laboratorial pré-operatória rotineira para doença hepática não parece ter benefício adicional em pacientes elegíveis para SAPT, sem história prévia ou sinais de doença hepática ao exame físico. Imunossupressão Ainda que a associação entre imunossupressão e o aumento da incidência de ISC seja controversa, muitos cirurgiões acreditam que os pacientes imunossuprimidos tem risco aumentado para o desenvolvimento de IAP. Exemplos de agentes imunossupressores incluem os glicocorticoides, como a prednisona, citostáticos como a ciclofosfamida e metotrexate, drogas que agem nas imunofilinas como o tacrolimo, e outros agentes como os interferons e fatores inibidores da necrose tumoral - (TNF)-α. Berbari et al. criaram um modelo de estratificação de risco para ISC e IAP em que incluíram a imunossupressão como um fator de risco significativo para a IAP (HR=1,96, 95% CI=1,37-2,82).50 Adicionalmente, Peersman et al. encontraram que a terapia imunossupressiva era um fator predisponente à ISC.11 Em pacientes submetidos a transplante de órgãos, em particular o transplante hepático, inúmeros estudos relataram um risco aumentado de fratura osteoporótica e osteonecrose, com terapia imunossupressiva concomitante.51,52 Contudo, imunossupressão e qualidade óssea pobre, simultâneas, tem provocado opiniões conflitantes acerca do risco real de infecção pós-operatória.53 Parte da dificuldade da análise da imunossupressão como fator de risco para a IAP é, em parte, devida a atual variabilidade na definição de imunossupressão. Estudos futuros são necessários na delineação do verdadeiro impacto da imunossupressão no desenvolvimento de ISC e IAP, em pacientes submetidos à artroplastia eletiva. Abuso de Drogas Intravenosas Os pacientes com história pregressa de abuso de drogas intravenosas (ADIV) e pacientes com osteoartrose dolorosa requerem uma decisão difícil para o tratamento. 26 Lehman et al. determinaram a taxa de IAP em pacientes com Imunodeficiência Humana Viral (HIV), ou ADIV, após SAPT. Vinte e nove pacientes com HIV e/ou história de ADIV foram submetidos à SAPT. Dos 28 pacientes HIV-positivos submetidos à SAPT, 4 (14%) desenvolveram infecção. Duas das 8 SAPTs (25%) realizadas no grupo ADIV desenvolveram infecção. Duas de 5 SAPTs (40%) em pacientes ADIV e HIV-positivos desenvolveram infecção.54 Corroborou com estes achados o estudo de Habermann et al., que relataram complicação séptica pós-operatória em 28,6% dentre os pacientes com história de ADIV.55 Estudos adicionais são necessários para a determinação dos efeitos diretos do ADIV no desenvolvimento de ISC ou IAP. Este grupo de trabalho é da opinião que aos pacientes ativos para ADIV, a SAPT eletiva não deve ser oferecida. Infecção pelo Virus da Imunodeficiência Humana A terapia medicamentosa melhorou dramaticamente a expectativa de vida de pacientes HIV-positivos. Pacientes HIV-positivos apresentam uma progressão bastante variável para a Síndrome da Imunodeficiência adquirida (SIDA), que pode ser observada pela taxa de declíneo variável na contagem de células CD4. Pacientes com contagem celular CD4 maior que 400 células/ml e carga viral não detectável podem ser candidatos à SAPT eletiva, uma vez que o risco de ISC subsequente pode estar reduzido. Habermann et al não encontraram diferença no desfecho funcional pós SAPT entre pacientes com ou sem HIV.55 Além disto, Hicks et al. relataram que, ainda que as taxas de sepsis articular pós SAPT em pacientes HIV-positivos (18.7%) sejam maiores que a população normal, a sobrevida em longo prazo com grande alívio dos sintomas é uma expectativa razoável em uma grande proporção destes pacientes.56 É nossa recomendação que em pacientes HIV-positivos, o ortopedista deva atuar bem próximo do infectologista no monitoramento da contagem de CD4 e da carga viral e que, assim a decisão sobre a oferta de SAPT seja feita para cada caso isoladamente. Internação Hospitalar ou Permanência Prolongada em Centros de Reabilitação Lee et al. reviram 169 ISC em pacientes idosos submetidos à cirurgia ortopédica e compararam com um grupo controle de 171 pacientes. A admissão hospitalar oriunda de uma instituição de cuidados à saúde estava independentemente associada ao maior risco de infecção. (OR=4,35; 95% CI=1,64 – 11,11).57 Outros Fatores de Risco 27 Numerosos estudos mostram uma nítida tendência de maior propensão do sexo masculino ao desenvolvimento de ISC/IAP. Também, o diagnóstico pré-operatório de artrite pós-traumática, associado ou não à cirurgia prévia, é uma fator de risco para IAP.58-60 Aviso: Ainda que exista a necessidade de evitar a artroplastia eletiva em alguns pacientes em risco extremo de ISC/IAP, não existe evidência pertinente na literatura em relação ao limiar exato para a tomada de decisão. A incapacidade imposta pela doença degenerativa deve ser avaliada em relação ao potencial para desenvolvimento de IAP. Alguns especialistas tentaram introduzir um modelo matemático, que pode refinar o processo decisório de submeter o paciente à uma artroplastia eletiva. Dr. Charles Lautenbach desenvolveu um sistema de escores, que leva em consideração a dor, perda da função e fatores que predispoem à morbidade e mortalidade, de modo que o escore resultante permite ao cirurgião avaliar, mais objetivamente, as justificativas para a realização da cirurgia, ainda que em face de alto risco de morbi-mortalidade. A descrição do Método de Estimativa de Indicação e Contraindicação de Artroplastia, através do Sistema de Lautenbach, está disponível em: www.boneinfection.co.za. -Questão 2: Qual a importância da saúde bucal em pacientes submetidos à artroplastia eletiva? Consenso: Todos os pacientes submetidos à artroplastia eletiva devem ser avaliados quanto às evidências de infecção ativa, que pode ser realizada pela aplicação de um questionário ou exame odontológico. Votação dos Delegados: A Favor: 80%, Contra: 18%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Já está bem estabelecido que a propagação hematogênica, a partir de uma fonte de infecção remota, pode ocasionar IAP, ainda que anos após a SAPT. Inúmeras fontes, incluindo-se dados do CDC- National Health and Nutrition Examination Survey, detectaram a alta prevalência de doença periodontal, sobretudo em pacientes idosos.61 Infecções odontológicas podem atuar como um foco potencialmente perigoso de bactérias e, alguns estudos demonstraram que estas bactérias podem ser microbiologicamente indistinguíveis dos patógenos encontrados nos locais de IAP.62 Contudo, ainda debate-se sobre a utilidade da avaliação e tratamento pré-operatório de patologias odontológicas com o objetivo de garantir 28 uma saúde bucal adequada e assim prevenir a bacteremia ou IAP em todos os pacientes elegíveis para SAPT. Barrington et al. observaram que em 100 SAPT consecutivas, a avaliação pré- operatória revelou uma incidência de 23% de patologias odontológicas, muito embora nenhum paciente desta coorte desenvolveu ISC ou IAP.63 Inúmeros autores observaram que somente uma pequena porcentagem de infecções articulares podem ser seguramente atribuídas à patógenos ou procedimentos odontológicos. Laporte et al. revisaram, retrospectivamente, 2.973 pacientes e notaram que, dos 52 pacientes com infecções tardias somente em 3 houve associação nítida com procedimentos odontológicos64 A incidência de infecção hematogênica tardia em SAPT tem sido calculada entre <0.01% e 0.6% , com patógenos originados de fontes odontológicas entre 0.04% e 0.07%.65 Atualmente, não existem recomendações oficiais da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos (AAOS) no que diz respeito à correção de distúrbios gengivo-dentais previamente à SAPT, para a prevenção de IAP.66 Contudo, excluindo-se evidências nítidas de sepsis oral e má higiene bucal extrema, pouca justificativa há para que se faça uma avaliação e tratamento rotineiro para todos os pacientes com anormalidades odontológicas. Por outro lado, sinais e sintomas de infecção odontológica ativa devem ser investigados antes de submeter o paciente à SAPT. Um recente estudo prospectivo de Tokarski et al. mostrou que a aplicação de um questionário reduzido para os pacientes, pode identificar os fatores de risco para doenças odontológicas ativas.60 Neste estudo, os fatores de risco para a saúde bucal deficiente ou doença odontológica ativa incluem: o tabagismo, uso inadequado do fio dental, história de uma ou mais extrações dentárias, idade avançada, uso de narcóticos, e falta de acompanhamento odontológico nos últimos 12 meses prévios à aplicação do questionário. O estudo demonstrou que os pacientes com 4 dos 6 fatores de risco apresentaram um aumento de 4 vezes na incidência de má saúde bucal. Com base neste estudo, uma avaliação bucal seletiva fundamentada na estratificação de risco parece ser uma abordagem razoável. -Questão 3A: Qual deve ser o procedimento para a pesquisa de portadores de Staphylococcus aureus resistente à meticilina* (MRSA) e Staphylococcus aureus sensível à meticilina (MSSA)? Nota do Tradutor (NT:LSMG): * A oxacilina é o equivalente da meticilina, disponível comercialmente no Brasil 29 Consenso: Ainda que este grupo NÃO recomende uma triagem universal e descolonização de todos os pacientes elegíveis para a SAPT, ele aceita que a pesquisa pré-operatória e descolonização de portadores de MRSA e MSSA diminui a taxa de ISC e a incidência de infecções estafilocócicas e não estafilocócicas. Votação dos Delegados: A Favor: 85%, Contra: 11%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) -Questão 3B: Qual deve ser o regime de tratamento para a descolonização de MRSA e MSSA? Consenso: A aplicação nasal de mupirocina, de curta duração, é a forma de tratamento atualmente mais aceita para a descolonização de MRSA e/ou MSSA. Votação dos Delegados: A Favor: 80%, Contra: 11%, Abstenção: 9% (Forte Consenso) Justificativas: Extensa literatura documenta consistentemente que os pacientes hospedeiros do Staphylococcus aureus, mais frequentemente na porção anterior da narina, constituem um reservatório bacteriano e podem atuar como uma fonte potencial de infecções hospitalares e pós-operatórias.67 A taxa de colonização nasal de S. aureus tem sido estensivamente pesquisada em pacientes, profissionais da saúde e na população em geral.68,69 Kalmeijer et al. determinaram que a hospedagem nasal de altos níveis de S aureus foi o fator mais importante, e o único fator de risco independente e significativo para o desenvolvimento de ISC por S. aureus.70 Inúmeros estudos prospectivos e revisões sistemáticas de literatura na área ortopédica e de cirurgia geral indicam que o número de ISC por S. aureus pode ser reduzido através da identificação e descolonização de hospedeiros nasais de S aureus, durante a internação.71, 72 A descolonização cutânea prévia ao ato cirúrgico tem sido, desde a longo tempo, objeto de muito debate, com vários métodos propostos para o processo de erradicação. A pomada de Mupirocina nasal tem sido aceita para a redução de hospedeiros nasais de MRSA, ainda que o uso prolongado deste agente possa levar ao desenvolvimento de resistência bacteriana.67,73,74 Outros métodos de descolonização incluem a fotodesinfecção, o banho pré-operatório com gluconato de clorhexidina (GCE), e a aplicação de soluções a base de iodo horas antes da cirurgia. Lenços umedecidos com GCE a 2% eliminam a necessidade do banho logo antes da cirurgia e começaram a ganhar popularidade e proeminência na literatura ortopédica.75 30 -Questão 4: Os profissionais de saúde devem ser pesquisados para colonização com MRSA e MSSA? Consenso: NÃO. Não se justifica a triagem rotineira de MRSA e MSSA para os profissionais de saúde. A pesquisa de MRSA/MSSA deve ser reservada aos profissionais com infecções bacterianas sintomáticas. Votação dos Delegados: A Favor: 82%, Contra: 15%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Há controvérsias a respeito da importância dos profissionais de saúde na transmissão de MRSA. Infecções sintomáticas por MRSA tem sido descritas entre os profissionais de saúde.76-78 A controvérsia se assenta no benefício real da triagem realizada em todos os profissionais de saúde. O Grupo de Trabalho em Infecções, da Holanda, recomenda a triagem em profissionais de saúde, após a exposição a pacientes MRSApositivos; enquanto as sociedades de especialistas da Alemanha e América do Norte79-81 são contrárias a tal pesquisa. Oponentes à triagem para MRSA chamam atenção para o risco de estigmatização dos profissionais afetados, exposição à procedimentos de descolonização potencialmente tóxicos e custos elevados do processo de triagem82. Desta forma, aconselhase uma triagem seletiva envolvendo somente os profissionais de saúde sintomáticos, ao invés da triagem universal.83 -Questão 5: Qual o papel da triagem urinária de rotina em pacientes a serem submetidos à SAPT? Consenso: A triagem urinária de rotina NÃO é obrigatória em pacientes elegíveis para SAPT. A triagem urinária prévia à artroplastia eletiva deve ser reservada para pacientes com história ou sintomas atuais de infecção do trato urinário (ITU). Votação dos Delegados: A Favor: 74%, Contra: 24%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: As infecções do trato urinário podem, potencialmente, causar bacteremia e infecções pós-operatórias da ferida cirúrgica, particularmente em pacientes submetidos à artroplastia eletiva. Pacientes com análise e/ou cultura urinárias positivas são usualmente tratados com antibióticos antes da cirurgia eletiva. Contudo, não está claro se a análise e cultura urinária positiva, submetida a tratamento antibiótico subsequente, pode influenciar a incidência de infecção pós-operatória. Na literatura concernente à artroplastia, um estudo não encontrou associação significativa entre ITU perioperatória e infecção profunda pós SAPT. 84 Em outro estudo foi observado que pacientes com ITU assintomática, detectada por análise e 31 cultura urinária, apresentaram risco aumentado de ISC pós-operatória, a despeito do tratamento.85 A avaliação da relação custo-efetividade estimou que mediante a triagem urinária de rotina, 4,58 infecções pós-operatórias em cirurgias não protéticas do joelho podem ser prevenidas anualmente, porém com um custo de U$ 1.500 dólares para cada infecção prevenida.86 Atualmente, ainda não existem estudos da relação custo-efetividade ou diretrizes de organizações oficiais como a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas no que diz respeito à triagem urinária de rotina e tratamento antibiótico em todos pacientes submetidos a SAPT.87,88 Assim, parece razoável reservar a pesquisa urinária e tratamento antibiótico somente para os pacientes com história de ITU recorrente ou para aqueles com evidência de sintomas sugestivos de infecção ativa. -Questão 6: As drogas modificadoras do curso da doença (DMCD) devem ser interrompidas previamente à SAPT eletiva? Consenso: Sim. As DMCD devem ser interrompidas previamente à artroplastia total eletiva. O tempo para a interrupção da droga deve ser baseado no tipo de medicação específica e em cada paciente isoladamente. A interrupção de medicações imunossupressoras deve ser assistida e orientada pelo assistente clínico. Votação dos Delegados: A Favor: 92%, Contra: 5%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: De acordo com extensa revisão na base de dados do Medicare, os pacientes com Artrite Reumatóide (AR) apresentam riscos mais elevados de contrair IAP.89 A taxa de infecção entre pacientes com AR submetidos à artroplastia total do joelho (ATJ) é 1,6 vezes maior que em pacientes submetidos ao mesmo procedimento, por osteoartrite (OA).90 O maior risco de infecção em pacientes com AR pode ser devido à terapia imunossupressora, incluindo os corticoides, como a prednisona, e as DMCD, como o metotrexato.91,92 Altas doses de corticoides e bloqueadores do Fator de Necrose Tumoral (Anti-TNF), utilizados dentro do período de 1 ano da cirurgia, demonstraram aumento do risco de infecção subsequente.93,94 Dois estudos, um dos quais controlado, prospectivo e randomizado (ECR), não detectaram diferença quer nas complicações da ferida cirúrgica, como na taxa de infecção entre pacientes submetidos a SAPT que continuaram ou que interromperam o uso de metotrexato previamente à cirugia.95,96 Por outro lado, 2 outros estudos, um dos quais prospectivo não randomizado, mostrou uma taxa aumentada de ISC e IAP em pacientes que continuaram o uso de DMCD previamente a SAPT.94,97 Nós recomendamos que o manejo das DMCD seja baseado em sua meia-vida. A Associação Canadense de Reumatologia recomenda que o uso destas drogas 32 seja interrompido previamente ao ato cirúrgico em um tempo equivalente a 3-5 vezes a meiavida de cada substância específica, período este que pode durar de 0 a 3 meses. 98 É importante observar que os corticoides não devem ser interrompidos abruptamente devido ao risco de induzir a deficiência de cortisol, decorrente da supressão do eixo HipotálamoPituitária-Adrenal. A interrupção da medicação imunossupressora deve ser feita sob orientação e comando do clínico responsável. A Tabela abaixo lista as recomendações para interrupção de medicamentos (DMCD), em função de sua meia-vida. Medicação Meia Vida * Drogas Anti-inflamatórias não hormonais (AINH) 2-17 horas Metotrexato 0.7 - 5.8 horas Recomendação Interromper a medicação na semana prévia à Cirurgia. Interromper a medicação uma semana prévia à cirurgia. Reiniciar 2 semanas após a cirurgia. (Pacientes com disfunção renal, manter 2 semanas prévias à cirurgia) Sulfasalazina Azatioprina 5 - 7.6 horas Leflunomida ~2 semanas Hidroxicloroquina 1-2 meses Interromper a medicação uma semana prévia à cirurgia. Manter até 6 semanas prévias à cirurgia Manter a droga até o dia da cirurgia (inclusive) 33 Agentes Modificadores da Resposta Biológica Infliximabe 8-10 dias Manter pelo menos até 1.5 semanas prévias à cirurgia Manter até 3 semanas prévias à cirurgia Golimumabe Tocilizumabe Abatacepte Adalimumabe Certolizumabe 12-14 dias Manter até 1 mês prévio à cirurgia Etanercepte Rituximabe 4.3 dias 21 dias Manter até 2 meses prévios à cirurgia 1-2 horas 26-32 horas 26-32 horas Interromper 1 semana prévia à cirurgia Agentes Antigotosos Alopurinol Colchicina Probenecide -Questão 7: Em pacientes com artrite séptica prévia, quais estratégias devem ser realizadas para minimizer o risco de IAP subsequente? Consenso: TODOS os pacientes com artrite séptica prévia deverão submeter-se a avaliação sorológica e aspiração articular previamente à artroplastia, sempre que possível. Votação dos Delegados: A Favor: 84%, Contra: 14%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Consenso: Ainda que o momento ideal para a realização da artroplastia eletiva em um paciente com artroplastia infectada prévia necessite de mais pesquisas, os cirurgiões devem garantir que não exista nenhuma evidência de infecção ativa, colhendo culturas intraoperatórias. Votação dos Delegados: A Favor: 85%, Contra: 14%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Consenso: Durante a artroplastia em que o cimento ósseo é utilizado, antibióticos devem ser adicionados ao cimento. Votação dos Delegados: A Favor: 90%, Contra: 5%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Consenso: Caso as culturas intraoperatórias sejam positivas, o uso prolongado de antibióticos intravenosos deve ser apropriadamente instituído, sob a orientação de infectologistas. 34 Votação dos Delegados: A Favor: 93%, Contra: 5%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: A Artrite Séptica pode acarretar destruição rápida da cartilagem articular e resultar em osteoartrite avançada. Os Staphylococcus são a causa mais frequente de infecção articular bacteriana, em que o S. aureus é o agente etiológico primário em muitas series de casos do Reino Unido, França e Austrália.99-101 Marcadores inflamatórios tais como a Velocidade de Hemossedimentação (VHS) e Proteina C Reativa (PCR) são comumente dosados para a avaliação de pacientes com artrite séptica.102-104 A relevância destes marcadores, na avaliação da erradicação do estado infeccioso em pacientes com artrite séptica prévia, ainda não é conhecido. Em alguns pacientes com artrite séptica prévia estes marcadores apresentaram valores normais. Portanto, a maioria dos pacientes com artrite séptica prévia devem ser submetidos à aspiração articular antes da realização da artroplastia eletiva. As amostras devem ser enviadas para cultura, contagem total de leucócitos e contagem diferencial de neutrófilos. Alguns especialistas também realizam a dosagem do nível de glicose, procalcitonina, e outros parâmetros para a verificação da existência de processo infeccioso. O limiar de corte para o diagnóstico de infecção persistente, para quaisquer dos parâmetros mencionados acima, não está estabelecido, porém fundamentado na literatura de artroplastia, a contagem celular >3.000 cels/µl e um diferencial de neutrófilos >80%, podem ser indicativos de infecção ativa.105,106 Durante a artroplastia eletiva, múltiplas amostras para cultura (3-5) devem ser coletadas.106,107 Caso o cimento ósseo seja utilizado, o cirurgião deve considerar a adição de antibiótico com espectro de ação adequado para cobrir os patógenos isolados previamente. A dose de antibiótico adicionada deve ser baixa para manter as propriedades mecânicas do cimento. Pacientes com culturas positivas devem ser tratados com antibióticos apropriados para uso prolongado, após a artroplastia eletiva. Pacientes nos quais a análise do líquido sinovial revela um percentual de neutrófilos aumentado, e/ou aumento da contagem total de leucócitos, devem ter o período de incubação das culturas estendido, na expectativa de isolar o patógeno responsável pela infecção. Deve-se também considerar, nestes pacientes, a utilização da Reação em Cadeia da Polimerase -PCR-, ou outros marcadores moleculares. Referências: 1. Cherney DL, Amstutz HC. Total hip replacement in the previously septic hip. J Bone Joint Surg Am. 1983;65(9):1256-1265. 35 2. Jupiter JB, Karchmer AW, Lowell JD, Harris WH. Total hip arthroplasty in the treatment of adult hips with current or quiescent sepsis. J Bone Joint Surg Am. 1981;63(2):194-200. 3. Cruess RL, Bickel WS, vonKessler KL. Infections in total hips secondary to a primary source elsewhere. Clin Orthop Relat Res. 1975(106):99-101. 4. del Sel HJ, Charnley J. Total hip replacement following infection in the opposite hip. Clin Orthop Relat Res. 1979(141):138-142. 5. 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Votação dos Delegados: A Favor: 90 Contra: 8%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) -Questão 1B: Que tipo e quando a antissepsia química cutânea pré-operatória deve ser realizada? Consenso: Nós recomendamos que a antissepsia química cutânea de todo o corpo seja iniciada ao menos na noite anterior à artroplastia eletiva. O consenso é que, após o banho, os pacientes sejam orientados para dormir com roupas e lençóis limpos, sem aplicar qualquer produto tópico. Votação dos Delegados: A Favor: 85%, Contra: 10%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Banho ou antissepsia pré-operatória: Duas metanálises de 7 estudos controlados e randomizados (ECRs), realizadas pelo grupo Cochrane, concluiram que o banho préoperatório com GCE não reduz a taxa de de ISC quando comparado à situação sem o banho (3 ECRs) ou placebo (4 ECRs).1 Dois estudos o observacionais observacionais usando lenços 42 umedecidos com GCE, em pacientes submetidos a SAPT, demonstraram uma redução não estatisticamente significativa na incidência de ISC.2, 3 Em uma série prospectiva de pacientes consecutivos que utilizaram lenços umedecidos com GCE no dia anterior e pela manhã da ATQ, Johnson et al. encontraram que os pacientes que aderiram a este protocolo apresentaram menor taxa de ISC quando comparados aos que não aderiram ao protocolo. 2 Estes resultados foram reproduzidos, utilizando-se o mesmo protocolo, para a artroplastia total do joelho (ATJ).3 Em nenhum dos 2 estudos os pacientes foram randomizados para receber ou não o tratamento, contudo, os autores compararam os pacientes que aderiram totalmente ao protocolo com pacientes que não aderiram. Pacientes com aderência parcial ao protocolo foram excluídos de ambos os estudos. Clorexidina e organismos resistentes à Meticilina (Oxacilina)*: Uma revisão sistemática de literatura conduzida por Karki et al. reportou, em uma metanálise de dois estudos tipo antes/depois, que a desinfecção cutânea com pano de banho umedecido em GCE, não seguida de enxague, foi efetiva na redução do risco de colonização da pele por Staphylococcus aureus multirresistente à meticilina (MRSA ou MSSA, Ver Nota do Tradutor*,** ao fim da página) no ambiente de Unidade de Terapia Intensiva. Por outro lado, uma metanálise de 4 estudos tipo antes-depois não mostraram evidências que os panos de banho umedecidos com GCE reduzem o risco de infecção por MRSA.4 Outros estudos mostraram que a desinfecção com GCE leva à menor taxa de colonização por MRSA no ambiente hospitalar.5,6 Um estudo de caso-controle que avaliou o protocolo de muporicina nasal por 5 dias e a desinfecção cutânea com pano de banho embebido em GCE (iniciado no dia prévio à cirurgia e estendendo-se até 1-3 dias pós-operatórios) em uma população cirúrgica não geral, relatou a diminuição estatisticamente significativa da taxa de de ISC por MRSA nos dois anos que se seguiram à implementação deste protocolo.7 Contudo, nestes estudos os panos de banho umedecidos com GCE foram apenas parte de um protocolo mais amplo de descolonização do Staphlylococcus aureus. Por isto, não é possível determinar o impacto da descolonização ou uso de panos de banho umedecidos em GCE, isoladamente. Nota do Tradutor (NT:LSMG): * A oxacilina é o equivalente da meticilina, disponível comercialmente no Brasil. ** Pano de banho (washcloth) se refere ao hábito cultural em alguns países de utilizar pequenas toalhas para a higienização durante o banho, ao invés de buchas ou espumas como no Brasil. 43 Ocasião e duração do banho ou limpeza pré-operatória: Nenhum estudo abordou o impacto da ocasião ou duração da limpeza pré-operatória com agentes antissépticos. Alguns estudos introduziram protocolos de lavagem do sítio cirúrgico na noite anterior e na manhã do dia cirúrgico3,8,9, enquanto outros protocolos preconizam a limpeza local até o terceiro dia pósoperatório.7 Um estudo realizado em uma pequena amostra de voluntários concluiu pela diminuição da colonização microbiana com a lavagem associada ao GCE durante um período de 5 dias.37 Atualmente, o CDC recomenda que o banho pré-operatório se inicie pelo menos na noite anterior à cirurgia.10 Deve-se ter o cuidado de orientar os pacientes para que não pratiquem a lavagem excessiva com o GCE, pois alguns estudos não sugerem nenhum benefício para tal prática, que pode inclusive causar irritação da pele.11, 12 Limpeza de corpo inteiro x Limpeza resrtrita ao sítio cirúrgico: Um ECR com uma grande amostra mostrou que a limpeza de corpo inteiro foi mais efetiva na redução da taxa de ISC, quando comparada a limpeza restrita do sítio cirúrgico.13 É nossa recomendação que a limpeza cutânea de corpo inteiro seja realizada pré-operatóriamente. -Questão 2: Qual o agente ideal (se existente) para a preparação cutânea do sítio cirúrgico? Consenso: Não existem diferenças nítidas entre os vários agentes utilizados na preparação cutânea. Existe alguma evidência que a combinação de agentes antissépticos com álcool pode ser relevante para a antissepsia cutânea. Votação dos Delegados: A Favor: 89%, Contra: 8%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Agente ideal para preparação cutânea: Ainda que o GCE seja o agente recomendado para a prevenção de infecções relacionadas a cateteres intravenosos,14 atualmente o CDC não recomenda o uso específico de um agente ou outro para a prevenção de ISC.10 Quando comparados diretamente, os resultados são conflitantes em relação a evidências se o GCE ou a Iodopovidona (PVPI) proporciona maior eficácia na antissepsia cutânea e na diminuição da taxa de ISC. Em um amplo ECR multicêntrico, Darouiche et al. mostraram que o GCE alcoolico apresentou redução significativa na taxa de ISC quando comparado à Iodopovidona aquosa para lavagem e pintura cirúrgica; contudo a preparação de iodo não apresentava solvente alcoolico.15 Por outro lado, em um estudo institucional, observacional, controlado não 44 concorrente, em pacientes submetidos à procedimentos cirúrgicos gerais, Swenson et al. constataram que quando da utilização de álcool (como solvente para lavagem seguida de pintura com iodo), os pacientes preparados com Iodopovidona apresentaram menor taxa de ISC.16 Outros estudos mostraram que não existem diferenças na taxa de ISC em pacientes preparados com GCE ou Iodopovidona.17,18 Até o presente momento não são disponíveis estudos prospectivos randomizados comparando o tipo de preparação cutânea em pacientes submetidos a SAPT. Logo, nós não temos evidencias suficientes para recomendar um agente preferencial para a prevenção de ISC em procedimentos artropláticos eletivos. Alcool é um agente importante para a antissepsia cutânea: O ácool é utilizado como um antisséptico devido à sua ação antimicrobiana rápida.10 Uma revisão sistemática de 5 ECRs concluiu que as formulações alcoolicas do GCE foram mais efetivas na prevenção de ISC do que as soluções aquosas de PVPI e, em outros estudos, não foi encontrada evidência conclusiva quanto a maior efetividade das soluções alcoolicas de GCE em relação às soluções aquosas ou alcoolicas de PVPI.19 Ainda que não possamos identificar a superioridade do GCE sobre o PVPI, sugerimos que, qualquer um dos agentes utilizados seja dissolvido em álcool. Contudo, deve ser observado o tempo necessário para a secagem de produtos à base de álcool, uma vez que a geração de fogo no ambiente cirúrgico tem sido relatada.10, 20 -Questão 3A: Qual o método adequado para a tricotomia? Consenso: Aparar em vez de raspar é o método preferido para a remoção de pelos. Não podemos recomendar contra ou a favor do uso de cremes depilatórios. Votação dos Delegados: A Favor: 92%, Contra: 3%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) -Questão 3B: Quando a tricotomia deve ser realizada? Consenso: Se necessária, a tricotomia deve ser realizada tão próxima do início cirurgia quanto possível. Votação dos Delegados: A Favor: 94%, Contra: 4%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Aparar é a melhor forma de remoção de pelos: Preocupações quanto à tricotomia com lâminas têm sido levantadas uma vez que as abrasões ocasionadas por este processo podem se tornar locais de crescimento bacteriano. Uma revisão sistemática recente de ensaios 45 randomizados e quasi-Randomizados, mostraram que somente aparar os pelos reduziu a taxa de ISC quando comparado com a remoção com lâminas.21 Muitos outros estudos, tem mostrado a superioridade do aparamento sobre a raspagem, quando utilizada a ISC como desfecho.22-24 Algumas instituições utilizam agentes depilatórios para a preparação da pele. A tricotomia deve ser feita logo antes do procedimento cirúrgico: Não ha evidência na literatura atual que determina o tipo e tempo mais apropriado para a remoção de pelos do local cirúrgico. Um estudo que investigou os efeitos da remoção de pelos na noite anterior à cirurgia comparado com a remoção feita no dia da cirurgia, encontrou que o ato de aparar os pelos na manhã do dia cirúrgico esteve associado com menor taxa de ISC.25 Uma outra revisão retrospectiva demonstrou que a raspagem imediatamente anterior ao procedimento cirúrgico esteve associada com menor taxa de ISC comparada com a raspagem feita 24 ou mais horas prévias ao ato cirúrgico. Contudo este estudo não incluiu pacientes nos quais os pelos foram somente aparados, e foi delineado para testar o efeito da raspagem versus a remoção por depilação.26 O CDC recomenda a não remoção dos pelos pré-operatoriamente, a menos que os pelos próximos ou no local cirúrgico irão interferir com o ato operatório. Se a remoção de pelos for necessária, ela deverá ser realizada imediatamente antes da cirurgia, preferencialmente com barbeadores elétricos.10 Dada a falta de pesquisa específica em relação ao ambiente em que a remoção dos pelos deva ser realizada, nós recomendamos que ela deve ser feita no hospital, o mais próximo possível do horário da cirurgia pela própria equipe cirúrgica ou enfermeiras treinadas. Se possível, sugerimos que a tricotomia seja feita fora da sala cirúrgica. -Questão 4: Que considerações especiais devem ser observadas em pacientes portadores de lesões cutâneas? Consenso: A artroplastia eletiva NÃO deve ser realizada em pacientes com ulcerações cutâneas ativas na vizinhança do sítio cirúrgico. Nosso consenso é que as incisões não devem ser feitas através de lesões ativas da pele. Para algumas lesões, tais como eczema e psoríase, a cirurgia deve ser retardada até que as lesões cutâneas sejam tratadas. Votação dos Delegados: A Favor: 96%, Contra: 2%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Artroplastia Eletiva em Pacientes com Ulcerações Cutâneas Ativas: A literatura ortopédica é deficiente em estudos que avaliam a ISC em pacientes com ulcerações cutâneas ativas. Contudo, um estudo prospectivo mostrou que ulcerações ativas da pele é um fator de risco 46 significativo para a infecção da ferida cirúrgica.27 Desta forma, nós recomendamos que a artroplastia eletiva não deva ser realizada em pacientes com ulcerações cutâneas ativas que interessem o campo cirúrgico (ulcerações ativas são definidas como ruptura da barreira cutânea, excluindo-se arranhaduras superficiais). Incisões cirúrgicas através de lesões eczematosas ou psoriáticas. Da mesma forma, também não existem estudos que avaliem o risco de ISC quando as incisões se situam sobre lesões eczematosas e psoriáticas. Alguns estudos retrospectivos relataram altas taxas de ISC e IAP em pacientes com diagnóstico de psoríase ou eczema.28,29 Contudo, estudos posteriores não avaliaram se o aumento do risco de ISC está ligado à localização da incisão propriamente dita ou ao estado de imunossupressão dos pacientes portadores destas afecções. Em função dos relatos de resultados inferiores, assim como da carga bacteriana aumentada na pele psoriática,30 a realização de incisões cirúrgicas sobre lesões psoriáticas ou eczematosas deve ser evitada, se possível. A cirurgia deve ser postergada nestes pacientes, até que estas lesões sejam tratadas. -Questão 5A: Como o cirurgião e a equipe cirúrgica devem lavar as mãos? Consenso: O cirurgião e toda a equipe de sala cirúrgica devem lavar mecanicamente as mãos com um agente antisséptico por no mínimo 2 minutos para a primeira cirurgia. Um tempo mais curto pode ser apropriado para as cirurgias subsequentes. Votação dos Delegados: A Favor: 71%, Contra: 24%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) -Questão 5B: Qual agente deve ser utilizado para a lavagem da mão do cirurgião e assistentes? Consenso: Não existe diferença nítida entre os diversos agentes antissépticos na lavagem das mãos. Votação dos Delegados: A Favor: 80%, Contra: 15%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Duração da lavagem das mãos: Uma revisão de literatura realizada por Tanner et al. avaliou 4 ECRs comparando durações diferentes de antissepsia cutânea da equipe ciruúrgica31-34 Todos os estudos utilizaram como desfecho primário as Unidades Formadoras de Colônias (UFC) presentes nas mãos da equipe cirúrgica, e não a taxa de ISC. Um estudo não encontrou diferença entre lavagens com duração de 2-3 minutos e 1 minuto, realizadas com água e 47 sabão3.4 Outra pesquisa encontrou que a lavagem por 1 minuto seguida por 3 minutos esfregando as mãos com álcool foi mais efetiva na redução de UFC quando comparada ao esfregar as mãos por 5 minutos.31 Pereira et al. encontraram que a lavagem inicial durante ambos, 5 e 3 minutos, com GCE ou PVPI foram igualmente eficientes na redução das UFC.32,35 As recomendações atuais sobre a duração da antissepsia das mãos são variáveis. O CDC recomenda 2-5 minutos,10 enquanto a Association of Perioperative Registered Nurses determina que a lavagem por 3-4 minutos é tão efetiva quanto a lavagem por 5 minutos. 36 Fundamentados na variabilidade existente na literatura atual, nós recomendamos que a antissepsia cirúrgica das mãos tenha duração mínima de 2 minutos. Para a primeira cirurgia nós recomendamos a lavagem mecânica (com escovas cirúrgicas ou lavagem com agua e sabão) por um período mínimo de 2 minutos. Não ha nítidas evidências que suportem a utilidade de um método específico de lavagem das mãos para as cirurgias subsequentes. Se existir o risco de contaminação, o mesmo processo utilizado para a primeira cirurgia deve ser repetido. Agente mais adequado para lavagem das mãos: Os resultados em relação ao agente mais efetivo para a antissepsia das mãos são inconclusivos. Somente um de 10 ECRs avaliados na revisão sistemática feita por Tanner et al.33 reportou a ISC como desfecho primário. Um amplo estudo cross-over, multicêntrico, de análise de equivalência por agrupamento (equivalencecluster), com a ISC como desfecho, demonstrou que o método tradicional de lavagem das mãos (por 5 minutos) utilizando agentes aquosos (GCE 4% ou PVPI 4%) foram igualmente efetivos na redução da incidência de ISC quando comparado com a lavagem por 1 minuto com sabão antisséptico, no início do dia, seguida do método de somente esfregar as mãos com álcool. A eficácia do GCE comparado ao PVPI não foi testada diretamente, uma vez que cada instituição pôde escolher o agente incluído no protocolo.37 Um estudo observacional, retrospectivo, que determinou a infecção da ferida cirúrgica como desfecho primário, não detectou diferença entre a lavagem com produto de base alcoolica e a escovação tradicional por 6 minutos, contudo os autores não descrevem o protocolo ou o agente utilizado no grupo de lavagem tradicional.38 Referências: 1. Webster J, Osborne S. 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Avagard hand antisepsis vs. traditional scrub in 3600 pediatric urologic procedures. Urology. 2010;76(1):15-17. 50 TEMA 3: ANTIBIÓTICOS PERIOPERATÓRIOS Grupo de Trabalho Mediador: Erik Hansen, MD Coordenadores: Katherine Belden, MD Randi Silibovsky, MD Markus Vogt, MD Delegados: William Arnold MD, PhD, Goran Bicanic MD, PhD, Stefano Bini MD, Fabio Catani MD, Jiying Chen MD, PhD, Mohammad Ghazavi MD, FRCSC, Karine M. Godefroy MD, Paul Holham MD, Hamid Hosseinzadeh MD, Kang II Kim MD, PhD, Klaus Kirketerp-Møller MD, Lars Lidgren MD, PhD, Jian Hao Lin MD, Jess H Lonner MD, Christopher C Moore MD, Panayiotis Papagelopoulos MD, Lazaros Poultsides MD, MSc, PhD, R Lor Randall MD, Brian Roslund PharmD, Khalid Saleh MD MSC FRCSC MHCM, Julia V Salmon MD, Edward Schwarz PhD, Jose Stuyck MD, Annette W Dahl MD, Koji Yamada MD -Questão 1: Qual o momento ideal da dose pré-operatória de antibióticos? Consenso: A dose pré-operatória de antibióticos deve ser administrada dentro do período de 1 hora da incisão cirúrgica, que pode ser estendido até 2 horas quando da utilização de vancomicina e fluorquinolonas. Além disto, medidas de vigilância são críticas para garantir o compromisso do médico com este objetivo. Votação dos Delegados: A Favor: 97%, Contra: 2%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: O fundamento para a utilização racional dos antibióticos profiláticos é inibir ou eliminar micro-organismos contaminantes que ganham acesso ao sítio cirúrgico durante o procedimento, e assim reduzir a probabilidade do estabelecimento da infecção. Portanto, o objetivo da administração pré-operatória de antibióticos é alcançar a concentração adequada nos tecidos (sangue, partes moles e tecido ósseo) já no momento da incisão cirúrgica, que exceda a concentração inibitória mínima (CIM) para os organismos mais prováveis de serem encontrados durante toda a cirurgia. Isto depende do antibiótico utilizado. Há um grande número de estudos que validam a importância da dose pré-operatória de antibióticos na redução da taxa de ISC e IAP. Contudo, as opiniões são conflitantes em relação ao tempo ideal para esta dose. Alguns estudos sugerem que o período de 2 horas prévios à incisão é o melhor, enquanto outros recomendam a aplicação tão próximo do início da incisão quanto 51 possível. Várias diretrizes institucionais suportam a aplicação da dose pé-operatória em 1 hora, como parte de medidas para Projetos de Melhoria dos Cuidados Cirúrgicos (PMCC). Além destas diretrizes, é critica a adoção de medidas de vigilância que documentem a adesão a estes protocolos. A Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos (AAOS), os Centros para o Controle de Doenças (CDC) e diretrizes de PMCCs recomendam que os antibióticos profiláticos sejam completamente infundidos em até 1 hora prévia à incisão cirúrgica.1 A recomendação da AAOS para o uso de antibiótico profilático intravenoso (I.V) em SAPT eletiva (recomendação 2) afirma que “o tempo e dosagem da administração de antibiótico deve otimizar a eficácia terapêutica. Antibióticos profiláticos devem ser administrados dentro do período de 1 hora prévio à incisão cirúrgica.” Devido ao maior tempo de infusão, vancomicina e fluorquinolonas devem ser iniciados 2 horas antes da incisão cirúrgica. Quando o torniquete proximal é usado, o antibiótico deve ser completamente infundido antes do torniquete ser inflado.2 O US advisory statement recomenda que os antimicrobianos profiláticos sejam administrados dentro de uma hora antes da incisão, e interrompidos 24 horas após o término da cirurgia,3 enquanto as diretrizes Européias recomendam uma dose única 30 minutos antes da incisão.4 Tempo menor que 2 horas: O artigo de referência neste tema avaliou o tempo de administração de antibióticos profiláticos e o risco de ISC em cirurgias limpas e limpas- 5 contaminadas realizadas em um grande hospital comunitário. Este estudo envolveu 2.847 pacientes, dos quais 313 (11%) foram submetidos à substituição articular protética total. Os autores encontraram que a taxa de infecção foi inferior em pacientes que receberam antibiótico entre 0 e 2 horas antes da incisão.5 Especificamente, de 1.708 pacientes que receberam antibióticos profiláticos neste intervalo, somente 10 (0,6%) desenvolveram ISC subsequente, comparados com 14 (3,8%) de 369 pacientes que receberam antibióticos entre 2 a 24 horas pré-operatórias, 4 (1,4%) de 282 pacientes que receberam antibióticos dentro de 3 horas após a incisão e 16 (3,3%) de 488 pacientes que receberam antibióticos 3 a 24 horas após a incisão. Contudo, este estudo foi realizado entre 1985 e 1986, quando havia considerável variação no tempo de administração dos antibióticos profiláticos e somente 35% dos pacientes receberam a dosagem dentro do padrão atual de 1 hora antes da incisão. Além disto, este estudo não encontrou diferença sifnificativa na taxa de ISC quando os antibióticos foram administrados entre 1 e 2 horas antes da incisão cirúrgica, comparado com antibióticos administrados entre 0 e 3 horas pós-operatórias. 52 Tempo menor que 1 hora: O Projeto Nacional de Prevenção de Infecção Cirúrgica do Medicare comandou o encontro denominado Surgical Infection Prevention Guideline Writers Workgroup (SIPGWW) que utilizou a literatura disponível para elaborar um documento de consenso. A posição do SIPGWW é que a infusão da primeira dose de antimicrobiano deva ser iniciada dentro de 60 minutos prévios à incisão.3, 6 Galandiuk et al. combinaram os resultados de dois ECRs que compararam a profilaxia antibiótica (com dose única de piperacilina ou doses múltiplas de cefoxitina) em procedimentos cirúrgicos eletivos do trato gastrointestinal. Os autores concluíram que, entre outros fatores preditivos negativos, a administração do antibiótico em um tempo maior que 60 minutos préoperatoriamente esteve associado com taxas mais altas de complicações infecciosas.7 Em uma ampla coorte retrospectiva, que utilizou dados do National Veterans Affairs sobre profilaxia antibiótica em 32.459 procedimentos cirúrgicos, realizados no período entre 2005 e 2009, Hawn et al. concluíram que maior taxa de ISC esteve associada com a administração de antibióticos em um tempo superior a 60 minutos prévios à incisão [razão das chances não ajustada (OR 1.34, 95% intervalo de confiança (IC) 1.08-1.66)] comparada com procedimentos nos quais os antibióticos foram administrados dentro do período de 1 hora da incisão. Contudo, em modelos aditivos ajustados para paciente, procedimento, e variáveis relacionadas aos antibióticos, nenhuma associação significativa foi observada entre o tempo de profilaxia e infecção do sítio cirúrgico.8 Tempo entre 30-60 minutos: Em uma coorte prospectiva de um único hospital acadêmico, que analisou a incidência de ISC em função do tempo de administração do antibiótico, em uma série de 3.836 procedimentos cirúrgicos consecutivos, Weber et al. concluíram que a administração de dose única profilática de cefuroxima é mais efetiva quando realizada entre 30-59 minutos antes da incisão, do que quando administrada nos últimos 30 minutos. A taxa média de ISC para esta coorte mista de procedimentos cirúrgicos vasculares, gerais e ortopédicos, foi 4,7% (180), sendo que os antibióticos profiláticos foram administrados dentro dos 30 minutos finais em 59% de todos os procedimentos. A análise de regressão logística multipla mostrou um aumento significativo nas chances de ISC quando a profilaxia antibiótica ocorreu em menos de 30 minutos (Risco Relativo estimado OR 2.01; OR ajustada 1.95, 95% IC, 1.4-2.8; p<0.001) e entre 60 e 120 minutos (Risco Relativo estimado OR 1.75; OR ajustada 1.74; 95% IC 1.0-2.9, p=0.035) quando comparadas com o intervalo de referência entre 30 e 59 minutos antes da incisão.9 53 Tempo menor que 30 minutos: Em um amplo estudo observacional prospectivo multicêntrico, que examinou a relação entre tempo de administração do antibiótico e risco de ISC, Steinberg et al. concluíram que o risco de ISC aumentou progressivamente na medida em que aumentou o intervalo de tempo entre a infusão de antibiótico e a realização da incisão. Os autores analisaram a profilaxia antimicrobiana de 4.472 cirurgias cardíacas, artroplastia do quadril ou joelho e histerectomia, alocadas ao acaso, realizadas em 29 diferentes hospitais, e avaliadas quanto a taxa de ISC através da metodologia do National Nosocomial Infections Surveillance. Quando os antibióticos que requerem tempo estendido de aplicação (vancomicina por exemplo) foram excluídos, o risco de infecção subsequente à administração de antibióticos dentro de 30 minutos foi de 1,6%, comparado com 2.4% quando a administração foi feita entre 31 e 60 minutos antes da cirurgia (OR 1.74; 95% IC 0.98-3.04).10 Em outro recente estudo observacional multicêntrico na Holanda, que avaliou os fatores de risco para infecções pós-operatórias em 1.922 artroplastias totais do quadril (ATQ), os autores encontraram um padrão similar de diminuição da taxa de infecção nos pacientes que receberam a profilaxia dentro do tempo de 30 minutos prévios à incisão, embora não tenha atingido o nível de significância estatística.4 Os autores coletaram informações sobre ISC e fatores de risco potenciais relacionados à profilaxia, paciente e procedimento de 11 hospitais que participaram do Surgical Prophylaxis and Surveillance Intervention Project, e utilizaram a análise de regressão logística múltipla para identificar as variáveis preditivas de ISC. Apesar de que houve uma tendência não estatisticamente significativa para menor taxa de infecção em pacientes que receberam profilaxia 30 minutos antes da cirurgia, as razões de chances (OR) mais elevadas para ISC foram encontradas em pacientes que receberam profilaxia após a incisão (OR 2.8, 95% CI 0.9-8.6, p=0.07) e a duração da cirurgia (prolongada) foi o único fator de risco significativo para ISC subsequente à ATQ. Tempo com o uso de Torniquete: Em um ECR de 22 pacientes no qual a profilaxia com cefuroxima foi administrada em diferentes intervalos (5, 10, 15, ou 20 minutos) antes de insuflar o torniquete, em artroplastia total do joelho (ATJ), Johnson et al. mediram os níveis de antibiótico no osso e no tecido adiposo subcutâneo durante o ato operatório. Os autores encontraram que o intervalo de 10 minutos prévios ao ato de insuflar o torniquete foi necessário para obter uma profilaxia adequada. Ainda que os pacientes apresentaram níveis adequados no osso aos 5 minutos, um intervalo de 10 minutos ou mais foi necessário para que os pacientes apresentassem níveis terapêuticos no tecido gorduroso subcutâneo.11 54 Em outro ECR similar, 24 pacientes submetidos à ATJ foram randomizados para receber cefazolina 1, 2, ou 5 minutos antes da insuflação do torniquete. Amostras séricas, de partes moles, e do tecido ósseo foram submetidas à dosagem da concentração de cefazolina [definida como 4xCIM 90 (CIM 90=1 micrograma/ml)]. A porcentagem mediana da penetração de cefazolina nas partes moles e osso para os grupos de 5, 2 e 1 minuto foi respectivamente de 14,5% e 4,6%, 6,7% (partes moles) e 3,0% , 5,9% e 4,6% (osso). Os autores observaram ainda que o percentual de pacientes que atingiram o nível de 4xCIM 90 para as partes moles e osso, foi maior no grupo de 5 minutos, quando comparado aos grupos de 2 ou 1 minuto.12 Em outro estudo prospectivo, Soriano et al., randomizaram 908 pacientes submetidos à ATJ para receber 1,5 g de cefuroxima 30 minutos antes de insuflar o torniquete e placebo 10 minutos antes da liberação do torniquete (grupo padrão), ou placebo 30 minutos antes de insuflar e 1,5 g de cefuroxima 10 minutos antes de liberar o torniquete (grupo controle). Não houve diferença entre os pacientes com respeito aos diferentes fatores de risco para ISC/IAP. Os autores não encontaram diferença significativa na incidência de infecção para o grupo padrão (3.6%) e para o grupo controle (2.6%) até um seguimento de 12 meses. Os autores concluíram que a administração de antibióticos logo antes da liberação do torniquete não foi inferior ao regime profilático padrão.13 Medidas de Vigilância: Em um estudo que avaliou o impacto de um novo projeto nacional para reduzir a taxa de infecção em cirurgias artroplásticas na Suécia, Dahl et al. encontraram que somente 57% dos pacientes receberam antibióticos pré-operatórios durante o intervalo recomendado pelo projeto. Em 2009, após a introdução do uso do checklist pela Organização Mundial da Saude, e de um novo formulário para o Registro Sueco de Artroplastia do Joelho, que incluiu o tempo para a administração de antibióticos pré-operatórios, o número de pacientes que receberam antibióticos pré-operatórios em tempo apropriado aumentou para 69% em 2009 e 79% em 2010.14 -Questão 2: Há um antibiótico preferencial para ser administrado rotineiramente na profilaxia cirúrgica perioperatória? Consenso: Cefalosporinas de primeira ou segunda gerações (cefazolina ou cefuroxima) devem ser administradas rotineiramente na profilaxia cirúrgica perioperatória. A Isoxazolil penicilina é utilizada como uma alternativa apropriada. Votação dos Delegados: A Favor: 89%, Contra: 8%, 55 Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Cefalosporinas de primeira ou segunda geração devem ser aplicadas rotineiramente na profilaxia cirúrgica perioperatória devido ao amplo espectro de ação, relação custo/efetividade e pela necessidade de se preservar agentes terapêuticos mais novos e mais caros para micro-organismos resistentes e patógenos emergentes. Estes antibióticos cobrem patógenos Gram+ e bacilos aeróbicos Gram- clinicamente relevantes, e também microorganismos anaeróbicos Gram+.6 Adicionalmente, apresentam excelente perfil de distribuição no tecido ósseo, sinovial, muscular e em hematomas.15 Muitos estudos confirmam que a concentração bactericida para a maioria dos Staphylococcus aureus não resistentes à meticilina é obtida rapidamente nestes tecidos, em poucos minutos após sua administração.16, 17 O antibiótico profilático preferencial deve ser bactericida (penicilina, cefalosporina, vancomicina ou aminoglicosídeos), e não simplesmente bacteriostático como a clindamicina, que é uma lincosamida. Deve também ter meia-vida que cubra o intervalo crítico (primeiras 2 horas após a incisão, ou a contaminação) em concentrações terapêuticas, desde o início da incisão até o fechamento da ferida cirúrgica. A falha em manter as concentrações tissulares acima da CIM, aumenta o risco de infecção.18 Na Escandinávia e algumas outras regiões, as isoxazolil penicilinas, como a cloxacilina, flucloxacilina, naficilina ou oxacilina são utilizadas como alternativa apropriada. Algumas instituições utilizam o carbapenem (especificamente imipenem/cilastina e meropenem) em pacientes com alergia à penicilina, pois acreditam que o potencial para reação cruzada entre o carbapenem e penicilina é ainda menor do que se acredita.19 Em um ECR multicêntrico com a utilização de placebo, Hill et al. demonstraram convincentemente a eficácia da cefazolina, como profilaxia antibiótica, na redução do risco de IAP. Em 2.137 pacientes submetidos a ATQ, randomizados para 5 dias de cefazolina ou antibiótico placebo, observou-se a redução da incidência de infecção profunda de 3.3% para 0.9% (p<0.01).20 Tyllianakis et al. realizaram um ECR comparando a cefuroxima à 2 agentes antiestafolocócicos específicos (ácido fusídico e vancomicina) para a profilaxia em ATQ e ATJ, em uma instituição na qual a prevalência de Staphyloccocus aureus e epidermidis resistentes à meticilina excedeu 25% das infecções ortopédicas. Em 435 pacientes (260 quadris e 175 joelhos) seguidos por no mínimo 2 anos, os autores não encontraram diferença estatística significativa entre os grupos de tratamento, quer para a ATQ ou ATJ, apesar de admitirem que a potência do estudo para detectar diferenças significativas entre os grupos foi baixa e que, portanto não foi possível chegar a conclusões definitivas.21 56 A eficácia da cefuroxima por 1 dia contra 3 dias de cefazolina, na ocorrência de infecção da ferida cirúrgica, foi estudada por Mauerhan et al. em um estudo multicêntrico duplo-cego de 1.354 pacientes submetidos a artroplastia do quadril ou joelho. Os autores não encontraram diferença significativa entre os 2 regimes. Nos pacientes de ATJ a taxa de IAP foi de 0,6% (1/178) para os que receberam cefuroxima e de 1.4% (3/207) para os que receberam cefazolina. Nos pacientes de ATQ a taxa de IAP foi 0,5% (1/187) e 1,2% (2/168) para os pacientes que receberam, respectivamente cefuroxima e cefazolina.22 Em um estudo que investigou os padrões de colonização e resistência bacteriana em uma coorte de pacientes submetidos a artroplastias totais primárias na Suécia, Stefansdottir et al. observaram que na Escandinávia, dentre os antibióticos derivados da Isoxazolil penicilina, a cloxacilina é o antibiótico profilático mais utilizado. Além disto, estes agentes β-lactâmicos foram efetivos contra 99% das cepas de S. aureus e contra 80% das cepas de Staphylococcus coagulase-negativo (SCN), que colonizaram os pacientes submetidos a Artroplastia Total. Ainda, o cimento ósseo com gentamicina utilizado em muitos destes casos, promoveu cobertura contra a maioria das estirpes adicionais de Staphylococcus coagulase-negativo.23 -Questão 3: Qual o antibiótico de escolha em pacientes que possuem implantes protéticos prévios, como as válvulas cardíacas? Consenso: O antibiótico de escolha para pacientes com implantes protéticos prévios, como a valvula cardíaca, é o mesmo utilizado rotineiramente para artroplastia eletiva. Votação dos Delegados: A Favor: 94%, Contra: 3%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Pacientes com implantes protéticos prévios, como as válvulas cardíacas, estão em risco para endocardite infecciosa devido à bacteremia que, embora relativamente rara, pode levar a complicações catastróficas e morte. As diretrizes para a prevenção de endocardite infecciosa tem sido publicadas pela Associação Americana do Coração (AHA) desde ha mais de 50 anos. As 9 primeiras diretrizes (publicadas entre 1955 e 1997) foram fundamentadas em evidências científicas de nível inferior e, só mais recentemente as diretrizes tem sido estratificadas com base no risco da vida da endocardite infecciosa. De modo similar às alterações das recomendações para profilaxia dental em pacientes submetidos à SAPT, as diretrizes para a profilaxia antibiótica da endocardite infecciosa de 2007, da AHA e da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA), recomendam profilaxia antibiótica somente para pacientes de alto risco de endocardite infecciosa e para 57 procedimentos dentários selecionados, como aqueles que envolvem a manipulação de tecido gengival ou região periapical do dente ou ainda perfuração da mucosa oral.24 As infecções, que complicam as cirurgias de substituição valvar e substituição articular protética, tem vários fatores em comum. S. aureus and S. epidermidis são patógenos comuns e as taxas de infecção são similares.23-25 É geralmente aceito que a profilaxia antimicrobiana reduz a frequência de infecções pós-operatórias precoces, contudo, quando tais infecções ocorrem, elas são de difícil controle caso não se removam os implantes. Os antibióticos recomendados para a profilaxia da endocardite são similares aos da profilaxia para IAP. Similarmente, se uma infecção é sabidamente ou presumivelmente causada por S. aureus, o regime antibiótico deve incluir uma penicilina antiestafilocócica ou uma cefalosporina, enquanto a vancomicina deve ser usada nos casos em que a infecção seja causada ou presumivelmente causada por MRSA.25 Ainda que a literatura justifique o uso de antibióticos profiláticos até 48 horas pósoperatórias na cirurgia cardíaca, o objetivo é prevenir a infecção superficial e profunda do esterno, e não é relevante para nossa discussão no que diz respeito à cirurgia de substituição articular protética em pacientes portadores de implantes valvares cardíacos.26,27 Curiosamente, nos últimos anos tem havido alguns estudos mostrando o aumento no uso rotineiro da vancomicina na profilaxia de pacientes submetidos ao implante de válvulas cardíacas. Haydon et al. revisaram os padrões nacionais de práticas para a profilaxia antibiótica em cirurgia cardíaca na Austrália, e encontraram que, entre 2004 e 2008, duplicou a proporção de unidades cardíacas que se utilizam da vancomicina para profilaxia rotineira, de 31% para 62% (p<0.001).28 -Questão 4: Que alternativas estão disponíveis para a profilaxia de rotina quando as cefalosporinas não são uma opção? Consenso: Atualmente a teicoplanina e a vancomicina são alternativas razoáveis quando a profilaxia antibiótica de rotina não pode ser administrada. Votação dos Delegados: A Favor: 73%, Contra: 22%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: A teicoplanina tem se mostrado efetiva e segura como agente profilático na cirurgia de implante protético na Europa, porém ainda não está disponível nos EUA, Canadá ou China.29-32 Devido à crescente frequência de infecções por MRSA e MRSE nos últimos anos, o uso profilático de antibióticos alternativos como os glicopeptídeos (vancomicina e teicoplanina) em hospitais nos quais MRSA/MRSE são prevalentes, pode ser justificado.33 58 Uma vez que a vancomicina tem administração mais difícil, menor meia-vida e menor perfil de tolerabilidade, a teicoplanina pode ser uma melhor opção neste cenário.34 A teicoplanina é notável por ter uma longa meia-vida (32-176 horas), baixa toxicidade, e boa penetração tissular, que a permite atingir concentrações terapêuticas, no tecido ósseo e em tecidos adjacentes. 33, 35 A ceftarolina (cefalosporina de quinta geração) tem o mesmo espectro de atividade que a ceftriaxona, com atividade adicional sobre o MRSA. O FDA (Food and Drug Administration) e a Agência Européia de Medicamentos aprovaram a indicação do uso da ceftarolina somente para o tratamento de infecções complicadas da pele e partes moles, e não para profilaxia. Em um ECR multicêntrico, Periti et al. compararam a administração de dose única de teicoplanina (400mg I.V. embolo no momento da anestesia), com 5 doses de cefazolina em um período de 24 horas (2g na indução seguida de 1g a cada 6 horas) como profilaxia em pacientes a serem submetidos a SAPT. Foram randomizados 846 pacientes e, 6 pacientes (1,5%) no grupo da teicoplanina, e 7 pacientes (1.7%) no grupo da cefazolina, desenvolveram infecção da ferida cirúrgica durante a internação, diferença esta que não foi estatisticamente significativa. Ainda, uma diferença não significativa na ocorrência de eventos adversos foi registrada nos 2 grupos, com 3 pacientes (0,7%) no grupo da teicoplanina e 9 (2,1%) no grupo da cefazolina.32 -Questão 5A: Que antibiótico deverá ser administrado em pacientes com reconhecida anafilaxia à penicilina? Consenso: Em pacientes com anafilaxia reconhecida à penicilina, a vancomicina ou clindamicina deve ser administrada como agente profilático. A teicoplanina é uma opção nos países em que está disponível comercialmente Votação dos Delegados: A Favor: 88%, Contra: 10%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) -Questão 5B: Que antibiótico deve ser administrado em pacientes com reconhecida reação alérgica não anafilática à penicilina? Consenso: Em pacientes com reação não anafilática reconhecida à penicilina, a cefalosporina de 2a geração pode ser usada com segurança, uma vez que a ocorrência de reação cruzada é limitada. O teste cutâneo de reação à penicilina pode auxiliar, em algumas situações, no esclarecimento se o paciente apresenta uma alergia real. Votação dos Delegados: A Favor: 87%, Contra: 9%, 59 Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Quando os pacientes apresentam alergia à penicilina, mais informações devem ser obtidas para determinar se uma resposta mediada por imunoglobulina E (IgE- anafilática) ocorreu. Em pacientes com uma resposta documentada à penicilina, mediada por IgE, as cefalosporinas de 3a e 4a gerações podem ser usadas. As cefalosporinas de 1a e 2a gerações com cadeias laterais R1 similares aos da penicilina (ceflacor, cefadroxila, cefatrizina, cefprozila, cefalexina ou cefradina) devem ser evitadas, porém podem ser administradas se as cadeias laterais R1 forem diferentes. A vancomicina e clindamicina são recomendadas como alternativas para pacientes que apresentam alergia verdadeira tipo I β-lactâmica, manifestada por urticária imediata, edema laríngeo ou broncoespasmo.3 A clindamicina é melhor alternativa para pacientes com alergia β-lactâmica reconhecida ou com contraindicações ao seu uso, e em instituições com baixa taxa de infecção por MRSA. A clindamicina tem boa biodisponibilidade e em 30 minutos depois da infusão já mostra valores de concentração que excedem a CIM para S. aureus em amostras de tecido ósseo humano ou de animais.36 Contudo, a clindamicina é um agente bacteriostático. A vancomicina isolada tem baixa atividade contra Staphylococcus aureus e estudos clínicos indicam que a a vancomicina isolada como profilaxia, aumenta o risco de ISC. Portanto, um segundo agente deve ser considerado (levofloxacina, moxifloxacina) nesta condição.8 A reação cruzada entre penicilina e cefalosporina é superestimada, e muito inferior ao relatado em estudos prévios. O risco estimado de 10% de reações alérgicas à cefalosporina, em pacientes alérgicos à penicilina, é baseado em dados coletados e revistos das décadas de 60 e 70. Isto ocorreu, em grande parte, devido às revisões amplamente divulgadas na literatura, feitas por Dash and Petz, que reportaram reações alérgicas em 7,7% e 8,1% respectivamente, em pacientes alérgicos à penicilina (baseada na história do paciente) e somente incluiu cefalosporinas de primeira geração e o cefamandol, de 2a geração.37, 38 A elevada incidência de reação cruzada relatada em estudos prévios pode ser devida, também em parte, à contaminação das drogas de estudo com produtos da penicilina, durante o processo de fabricação.39,40 Além do mais, os autores dos estudos mais antigos consideravam uma definição mais ampla de alergia e não levavam em conta o fato de que os pacientes alérgicos à penicilina apresentam um risco aumentado de reações adversas à muitas outras medicações.41, 42 O teste cutâneo em pacientes alérgicos à penicilina não pode predizer, de forma confiável, a reação alérgica à cefalosporina, particularmente aos compostos com cadeias laterais não similares43, mas pode ser útil na determinação da existência de uma alergia real à penicilina.44 60 Vinte e sete artigos sobre o tema de reação cruzada penicilina/cefalosporina foram revistos, dos quais, 2 metanálises, 12 coortes prospectivas, 3 coortes retrospectivas, 2 pesquisas empíricas (Surveys) e 9 estudos laboratoriais. Os autores mostraram que a penicilina tem alergia cruzada com as cefalosporinas de 1a geração (OR 4,8; CI 3,7-6,2) e desprezível com as de 2a geração (OR 1.1; CI 0.6-2.1). Além disto, as pesquisas básicas e as coortes indicam que a cadeia lateral R1 e não o anel β-lactâmico, é responsável por esta reação cruzada. Os autores concluíram que a ocorrência de reação cruzada penicilina/ cefalosporina é inferior à previamente relatada de 10%, embora exista uma forte associação entre amoxicilina e ampicilina com as cefalosporinas de 1a e 2a gerações, que apresentam cadeia lateral R1 similares. Em geral, a frequência de reação cruzada entre penicilina e cefalosporina em indivíduos que referem alergia à penicilina é de aproximadamente 1%, e de 2,55% em pacientes com alergia confirmada à penicilina. Para pacientes alérgicos à penicilina, o uso de cefalosporinas de 3a ou 4a gerações, ou outras cefalosporinas, como a cefuroxima e ceftriaxona, com cadeias laterais diferentes da penicilina, apresentam um risco desprezível de alergia cruzada.45 Uma revisão similar de 44 artigos sobre a evidência de reação cruzada entre penicilina e cefalosporina, em estudos humanos e de animais, suporta o achado de que a cefalosporina pode ser prescrita com segurança para pacientes com reações não potencialmente fatais à penicilina (incluindo Anafilaxia tipo I, Sindrome de Stevens-Johnson, Necrose epidérmica tóxica e Angioedema).46 O risco relativo de reação anafilática às cefalosporinas varia entre 1:1.000 e 1:1.000.000 e este risco aumenta quatro vezes em pacientes com história de alergia à penicilina.47 Fundamentados em uma análise de 9 artigos que compararam reações alérgicas às cefalosporinas, em pacientes alérgicos e não alérgicos à penicilina, Pichichero et al. concluíram que as cefalosporinas de 1a geração apresentam reações cruzadas com a penicilina, que porém são desprezíveis com cefalosporinas de 2a e 3a gerações. Especificamente, o aumento significativo nas reações alérgicas à cefalotina (OR 2,5, 95% CI 1,1-5,5), cefaloridina (OR 8,7, 95% CI 5,9-12,8) e cefalexina (OR 5,8, CI 3,6-9,2), e todas as cefalosporinas de 1a geração, além do cefamandol (OR 4,8, CI 3,7-6,2), foram observadas em pacientes alérgicos à penicilina. Nenhum aumento foi observado em relação às cefalosporinas de 2a geração (OR 1,1, CI 0,6-2,1) ou 3a geração (OR 0,5, CI 0,2-1,1).41, 42 Em uma coorte retrospectiva envolvendo 2.933 pacientes que receberam uma cefalosporina (mais frequentemente a cefazolina), 413 eram alérgicos à penicilina, dos quais somente 1 paciente apresentou possível reação à cefalosporina, e 1 dos pacientes não 61 alérgicos à penicilina desenvolveu reações cutâneas enquanto o antibiótico estava sendo infundido, o que requereu a interrupção da administração.48 Em uma ampla revisão retrospectiva de 534.810 pacientes que receberam penicilina seguida de cefalosporIna, com no mínimo 60 dias de intervalo, Apter et al. notaram que um total de 3.877 pacientes apresentaram um evento tipo alérgico após a administração de penicilina, e somente 43 (1.1%) apresentaram uma segunda reação tipo alérgica após a administração de cefalosporina (Risco não ajustado (RR) 10.0; 95% CI 7.4-13.6). Curiosamente, em uma análise em separado envolvendo as sulfonamidas, 1,6% dos pacientes sensíveis à penicilina apresentaram uma segunda reação tipo alérgica, após receberem uma sulfonamida (7,2; 95% CI 3,8-12,5), sugerindo que os pacientes alérgicos à penicilina tem maior probabilidade de serem alérgicos a outras medicações em geral, o que não indica, necessariamente, a ocorrência de uma reação cruzada.49 Park et al. realizaram um estudo de coorte retrospectiva para determinar se os pacientes com alergia à penicilina apresentavam risco aumentado de reações adversas quando da administração de cefalosporina. Oitenta e cinco pacientes com história de alergia e teste cutâneo positivo para a penicilina, e 726 pacientes com história de alergia e teste cutâneo negativo para penicilina, receberam uma cefalosporina de 1a geração. Cinco (6%) dos 85 pacientes apresentaram reação adversa à cefalosporina comparado com apenas 5 (0.7%) dos 726 pacientes da população controle (p=0.0019). A taxa presumida de reação adversa à cefalosporina, mediada por IgE, entre os casos foi de 2 (2%) de 85, comparado a 1 (0.1%) de 726 da população de referência (p=0.03).50 -Questão 6: Quais são as indicações para a administração de vancomicina? Consenso: A vancomicina deve ser considerada para pacientes portadores de MRSA ou que apresentam alergia anafilática às penicilinas. Consideração especial deve ser dada à triagem de pacientes de alto risco, tais como: - Pacientes de regiões com alta prevalência de MRSA - Pacientes institucionalizados (casas de cuidados de enfermagem, pacientes em diálise e pacientes de unidade de cuidados intensivos). - Profissionais de saúde. Votação dos Delegados: A Favor: 93%, Contra: 7%, Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativas: A recomendação da AAOS sobre o uso de antibióticos profiláticos I.V. (recomendação 2) afirma que: “a vancomicina pode ser usada em pacientes colonizados por 62 MRSA ou em instalações com surto recente de MRSA”.51 Da mesma forma, a posição do consenso no encontro do Medicare National Surgical Infection Prevention Project’s SIPGWW , foi de que “para pacientes colonizados com MRSA, a vancomicina deve ser considerada como o agente antimicrobiano apropriado para a profilaxia”.6 Além disto, a Society for Healthcare Epidemiology of America recomendou, recentemente, a vigilância rotineira por culturas, no momento da admissão, em pacientes suspeitos (alto risco) de colonização por MRSA.52 -Questão 7: Existem evidências que podem dar suporte ao uso rotineiro de vancomicina na profilaxia pré-operatória? Consenso: Não. O uso rotineiro da vancomicina na profilaxia recomendado. Votação dos Delegados: A Favor: 93%, Justificativas: pré-operatória não é Contra: 6%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Os dados atuais sugerem que o papel da vancomicina na profilaxia em cirurgia ortopédica é limitado. Há ampla evidência que a vancomicina é inferior contra cepas de Staphylococcus sensíveis a meticilina, quando comparada às cefalosporinas e penicilinas resistentes à penicilinase.8, 53 Várias análises sistemáticas concluíram que nenhum benefício clínico evidente ou relação custo/eficácia foi demonstrado no uso rotineiro de vancomicina profilática, quando comparada à cefalosporina. Contudo, a maioria desses estudos foram realizados antes do aumento da prevalência de MRSA e pode não refletir com precisão o cenário atual. Em alguns hospitais, infecções comunitárias associadas a cepas de MRSA (CA-MRSA), são atualmente responsáveis por uma importante fração das ISCs.54, 55 No entanto, não há consenso a cerca do que constitui uma alta prevalência de resistência à meticilina e também não há nenhuma evidência de que o uso profilático rotineiro da vancomicina, em instituições nas quais se detectou risco mais alto de infecções por MRSA, resulte em menor taxa de ISC comparado ao uso das cefalosporinas. Ainda que 2 ECRs tenham sido realizados em instituições com alta prevalência de MRSA, a diferença nas taxas de ISC e desfechos foram conflitantes. Da mesma forma, vários estudos utilizaram modelos de análise decisória para calcular os limites da prevalência de MRSA, para os quais o uso de vancomicina teria benefício clínico e melhor relação custo/efetividade do que a cefalosporina profilática. Contudo, todos esses estudos apresentam a mesma limitação, ou seja, a falta de randomização, que poderia prover a probabilidade basal para a eficácia clínica de cada tratamento, para diferentes taxas de prevalência de MRSA. 63 Ainda que exista um crescente corpo de evidências para dar suporte ao uso rotineiro de vancomicina na profilaxia pré-operatória, deve-se pesar também o fato de que há uma ameaça cada vez maior de colonização e infecção por Enterococcus resistentes à vancomicina (VRE)56 e aumento da prevalência de cepas de MRSA com susceptibilidade reduzida para a vancomicina.57, 58 A escolha da droga profilática deve considerar os padrões de resistência antibiótica dos sistemas hospitalares. Em um estudo recente de Fulkerson et al., a sensibilidade do S. epidermidis e S. aureus à cefazolina, em dois centros acadêmicos de alto volume em Nova Iorque e Chicago foram, respectivamente 44% e 74 por cento.59 Os micro-organismos infectantes mais comuns em pacientes submetidos à SAPT nesses hospitais foram, em 26% a 56%, resistentes aos agentes profiláticos recomendados pela padronização. Trinta e três das 194 infecções foram diagnosticadas dentro de 1 mês após a cirurgia. Destas, 8 foram devidas ao S. epidermidis e 16 ao S. aureus. Ainda, somente 2 das 8 (25%) infecções por S. epidermidis e 11 das 16 (69%) infecções por S. aureus foram sensíveis à cefazolina. Contudo, estes micro-organismos foram 100% sensíveis à vancomicina. No Royal Orthopaedic Hospital e Queen Elizabeth Hospital na Inglaterra, um estudo das infecções profundas após ATQ e ATJ, em um período de 15 anos, mostrou que 22 das 75 (29%) infecções em ATQs e ATJs foram causadas por micro-organismos resistentes ao antibiótico profilático (cefuroxima). Incluem-se aí todas as 3 infecções por MRSA, todas 3 infecções por Pseudomonas aeruginosa e 11 infecções por staphylococcus coagulase negativo.60,61 Wiesel and Esterhai recomendam a administração de vancomicina em instituições onde a prevalência de MRSA é maior que 10% a 20 porcento.62 Em um hospital de alta prevalência para MRSA, Merrer et al. conduziram um estudo observacional prospectivo comparando a incidência de ISC na profilaxia pré-operatória com vancomicina ou cefazolina, em pacientes com fratura do colo femoral, assim como compararam o impacto da profilaxia antibiótica no surgimento de VRE e Staphylococcus aureus. Os autores não encontraram diferença significativa na taxa de ISC, sendo que foi detectado um total de 8 infecções (3%), das quais 4% no grupo da cefazolina e 2% no grupo da vancomicina (p=0.47). Uma semana após a cirurgia, um total de 6 pacientes (2%) apresentaram infecção hospitalar por MRSA, dos quais 0,7% no grupo da cefazolina e 5% no grupo da vancomicina (p=0.04), e nenhuma delas resistente aos glicopeptídeos. Adicionalmente, 3 pacientes (1%) adquiriram VRE, todas no grupo da cefazolina (p=0.27).63 Cranny et al. utilizaram uma combinação de revisão sistemática e modelamento econômico para responder questões sobre o nível de prevalência de MRSA, a partir do qual a 64 transição de antibióticos não glicopeptídeos para glicopeptídeos na profilaxia rotineira, fosse indicada em ambientes com alto risco de infecções por MRSA. A revisão para eficácia identificou 16 ECRs com 3 estudos adicionais que incluíram somente eventos adversos. Os autores não encontraram evidências que suportassem a maior eficácia de glicopeptídeos sobre não glicopeptídeos na prevenção de ISC. A maioria dos ensaios não relataram nem a prevalência basal de MRSA nas unidades cirúrgicas participantes, nem as infecções por MRSA como desfecho. O estudo da relação custo/eficácia incluiu 5 avaliações econômicas da profilaxia com glicopeptídeo. Somente um estudo incorporou a qualidade de vida relacionada à saúde e realizou a análise de custo/utilidade. Em conclusão, os autores afirmam que atualmente as evidências são insuficientes para determinar se há um limiar de prevalência de MRSA, a partir do qual a mudança da profilaxia de não glicopeptídeos para glicopeptídeos possa ser custo-efetiva.64 Bolon et al. realizaram uma metanálise de 7 ECRs, publicados na literatura de cirurgia cardiotorácica, que compararam a ISC em pacientes que receberam profilaxia com glicopeptídeo, com pacientes que receberam agentes β-lactâmicos. Ainda que nenhum dos 2 agentes apresentasse superioridade na prevenção do desfecho primário [ocorrência de ISC aos 30 dias (RR 1,14, 95% CI 0,91-1,42)], a profilaxia com vancomicina foi superior na prevenção de ISC causada por bactérias gram+ resistentes à meticilina (RR 0,54, 95% CI 0,33-0,90), aos 30 dias após a cirurgia. 65 As recomendações da AAOS para o uso I.V. de antibióticos profiláticos em SAPT primária (recomendação 2) afirma que: “a vancomicina pode ser usada em pacientes sabidamente colonizados por MRSA, ou em instalações que apresentaram surtos recentes de MRSA.”1 As diretrizes do Hospital Infection Control Practices Advisory Committee também sugerem que a alta frequência de infecção por MRSA em uma instituição, deve influenciar no uso de vancomicina para a profilaxia, porém alerta que não há consenso acerca de como se define a alta prevalência de resistência à meticilina.66 Dois ECRs avaliaram a profilaxia antibiótica em hospitais com alta prevalência de MRSA. Tacconnelli et al. randomizaram pacientes submetidos à cirurgia de derivação cerebroespinal para receberem vancomicina ou cefazolina. A prevalência de MRSA neste hospital universitário de 1.700 leitos, em 2001, foi de 1 caso novo para 100 admissões hospitalares. As infecções cirúrgicas se desenvolveram em 4% dos pacientes que receberam vancomicina (4/88) e em 14% dos que receberam cefazolina (12/88, RR, 0,22; 95% CI 0,110,99, p=0.03). A bactéria detectada foi MRSA em 2 de 4 pacientes (50%) que receberam vancomicina, e em 9 de 12 (75%) dos que receberam cefazolina.67 65 Finkelstein et al. randomizaram 855 pacientes submetidos à cirurgia cardiotorácica, para receberem vancomicina ou cefazolina. A prevalência de novos casos de infecção por MRSA na enfermaria de cirurgia cardíaca, reportada em 1995 e 1996 foram, respectivamente de 3,0 e 2,6 para 100 admissões. As taxas de ISC foram similares em ambos os grupos (9,5% para a vancomicina e 9,0% para a cefazolina). Uma tendência para maior número de infecções por patógenos Gram+ resistentes à meticilina foi observada no grupo da cefazolina (4,2% contra 2,0%; p=0.09), enquanto um maior número de infecções por staphylococcus sensíveis à meticilina foi observado no grupo que recebeu vancomicina (3,7% contra 1,3%; p=0.04).68 Três outros estudos clínicos utilizaram os períodos pré e pós intervenção para avaliar o efeito da mudança para a vancomicina na profilaxia cirúrgica em pacientes submetidos à cirurgia cardiotorácica ou ortopédica. Garey et al. demonstraram que a mudança de cefuroxima para vancomicina reduziu a taxa mensal de ISC em 2,1 casos/100 enxertos de pontes coronárias, quando comparada à cirurgia de substituição valvar. Esta redução foi atribuída à menor taxa de infecções causadas por MRSA e Staphylococcus coagulase negativo, durante os 4 anos de estudo, em cerca de 6.500 pacientes.69 Da mesma forma, Spelman et al. reportaram uma redução das taxas de ISC, de 10,5% para 4,9% (p<0.001), depois da mudança da profilaxia antibiótica da cefazolina para a vancomicina associada à rifampicina em 1.114 procedimentos de enxerto de pontes coronárias. Esta redução foi atribuída à diminuição na incidência de infecções por MRSA, de 67% durante o período de 1 ano pré-intervenção, para 0% no período de 1 ano pós-intervenção.70 Smith et al. revisaram, retrospectivamente, o número de IAPs total e por MRSA em 5.036 SAPTs, assim como a taxa bruta de IAP em um período pré-intervenção de 2 anos, quando a cefazolina era o antibiótico de escolha, com o período de 2 anos pós-intervenção, em que a vancomicina foi o antibiótico de escolha. Os autores concluíram que durante o uso da vancomicina a taxa total de IAP foi reduzida significativamente (1,0% contra 0.5%, p=0.03) e a taxa de infecção por MRSA foi também reduzida (0,23% contra 0.07%, p=0.14). Além disto, as IAPs foram tratadas com mais sucesso por irrigação e debridamento somente, sem o uso de espaçadores com antibióticos (76,9% contra 22,2%, p=0.002).71 Um estudo, que publicou dados da Australian Surveillance Data (Victorian Healthcare Associated Surveillance System- VICNISS) sobre mais de 20.000 cirurgias cardíacas e artroplastias, identificou 1.610 casos nos quais a vancomicina foi administrada, em comparação com 20.939 casos nos quais um agente β-lactâmico profilático foi usado. A razão de chances (OR), ajustada para ISC por Staphylococcus aureus sensíveis à meticilina, foi 2,79 66 (95% CI 1,6-4,9) no grupo da vancomicina (p<0.001), enquanto a razão de chances não ajustada para ISC por MRSA foi de 0,44 (OR 0,19-1,004; p=0,05).72 Muito estudos recentes desenvolveram modelos de análise decisória para determinar o limiar de prevalência de MRSA, em que a vancomicina poderia reduzir a incidência e custo da ISC. Para cirurgia de enxerto de ponte coronária, os autores de 2 estudos recomendaram o limiar de infecção por MRSA como sendo 3%, entre as infecções causadas por S. aureus.73-75 Miller et al. sugeriram que taxas menores de prevalência de MRSA (ex. 3-10%) situaram-se dentro da margem de erro do modelo criado, e que a profilaxia cirúrgica com vancomicina teria um efeito modesto na redução da incidência de ISC. Na cirurgia vascular, a prevalência de 50% de MRSA foi sugerida como limite, antes de substituir um antibiótico β-lactâmico por vancomicina, para a profilaxia.76 Os autores também sugeriram que um aminoglicosídeo fosse adicionado ao regime profilático, uma vez que a prevalência de MRSA pode atingir 10%, o que está em acordo com as diretrizes recentes da British Society of Antimicrobial Chemotherapy.77 Elliot et al. desenvolveram um modelo econômico para explorar a relação custo/eficácia da vancomicina e/ou cefalosporina para a profilaxia cirúrgica, em pacientes submetidos à ATQ. A vancomicina foi recomendada quando a taxa de ISC por MRSA fosse ≤ 0.15% e a taxa de ISC não-MRSA fosse ≥ 0.1%, ou ainda quando a taxa de infecção por MRSA fosse ≤ 0.2% e a taxa de outras infecções fosse > 0.2%.78 Todos estes estudos de análise decisória salientaram que a grande limitação foi a falta de evidência oriunda de ECRs, com a alta prevalência de infecções por MRSA como um dos fatores de maior influência nas suposições do modelamento. -Questão 8: Existe lugar para o uso rotineiro da associação de dois antibióticos profiláticos (cefalosporinas e aminoglicosídeos ou cefalosporinas e vancomicina)? Consenso: O uso rotineiro da associação de 2 antibióticos profiláticos não é recomendada. Votação dos Delegados: A Favor: 85%, Contra: 14%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Alguns estudos clínicos utilizaram os períodos pré e pós intervenção para avaliar o efeito da mudança para a vancomicina, como profilaxia cirúrgica em pacientes submetidos à cirurgia cardiotorácica. Walsh et al. implementaram um programa abrangente de pacote para MRSA, no qual a vancomicina foi acrescentada à profilaxia rotineira com cefazolina, em pacientes com teste positivo para MRSA nasal. Outros componentes do programa incluíram a descolonização de toda a equipe de assistência cardiotorácica, 67 aplicação de muporicina nasal por 5 dias em todos os pacientes, iniciada no dia anterior à cirurgia, aplicação de muporicina tópica nos orifícios de saída após a remoção dos drenos torácico e do mediastino, e nova triagem dos pacientes para colonização por MRSA no momento da alta hospitalar. Este programa resultou em uma redução significativa na taxa de ISC (2,1% para 0,8%, p<0.001), assim como a redução de 93% nas infecções da ferida cirúrgica por MRSA (de 32 infecções/2.767 procedimentos durante 3 anos do período préintervenção para 2 infecções/2.496 procedimentos durante 3 anos do período pósintervenção).79 Dhadwal et al. conduziram um ECR duplo-cego, para comparar a eficácia de uma dose de vancomicina ajustada ao peso, associada à gentamicina e rifampicina durante 48 horas, com um regime de cefuroxima por 24 horas, para a profilaxia de infecções do esterno em um grupo de alto risco submetidos à cirurgia de enxertia para revascularização miocárdica. As taxas de infecção reduziram significativamente, de 23,6% (25/106) no grupo da cefuroxima para 8,4% (8/95) no grupo de vancomicina combinada (p=0.004).80 Patrick et al. conduziram um ECR para comparar cefazolina e vancomicina ou daptomicina em 181 pacientes de baixo risco, submetidos à cirurgia vascular. Somente 6 infecções pós-operatórias por MRSA foram encontradas (2 no grupo da cefazolina, 4 no grupo da cefazolina e vancomicina e nenhuma no grupo da cefazolina e daptomicina), tornando a interpretação da diferença entre os regimes de antibiótico bastante difícil.81 Sewick et al. revisaram, retrospectivamente, 1.828 SAPT primárias que receberam um regime duplo de cefazolina e vancomicina, ou somente cefazolina, com o objetivo de determinar a taxa de ISC, assim como a microbiologia da ISC subsequente. Vinte e duas ISCs (1,2%) foram observadas, sem diferença significativa na taxa de infecção entre o regime duplo (1,1%) e o regime único com cefazolina (1,4%, p= 0.636), ainda que a prevalência de infecção subsequente por MRSA fosse significativamente inferior (0.002% contra 0.08%, p=0.02).82 Ritter et al. administraram uma dose profilática única de vancomicina e gentamicina em uma coorte de 201 pacientes consecutivos submetidos à SAPT, e documentaram a concentração sanguínea bactericida durante, e por 24 horas após a cirurgia, sem detectar nenhuma infecção.83 Elliot et al. desenvolveram um modelo econômico para explorar a relação custo/eficácia da vancomicina e/ou cefalosporina na profilaxia cirúrgica em pacientes submetidos à ATQ. A terapia combinada (tal como vancomicina + cefalosporina) foi recomendada quando a taxa de ISC por MRSA foi ≥ 0,25% e a taxa de ISC por não MRSA ≥ 0,2 por cento.78 68 Portanto, baseado na literatura disponível, este grupo de trabalho concebe que a associação de 2 antibióticos pode ser utilizada de modo a permitir uma cobertura mais ampla, em instituições ou regiões onde exista uma alta taxa de infecções por MRSA, para a qual o uso profilático da vancomicina seja julgado apropriado, como discutido na questão 6 acima. -Questão 9: Qual deve ser o antibiótico de eleição para pacientes com triagem positiva para distúrbios urinários e/ou sondagem vesical de demora? Consenso: A presença de sintomas urinários é indicação para investigação, prévia à SAPT. Pacientes com bacteriúria assintomática podem ser submetidos SAPT com segurança, desde que a profilaxia antibiótica de rotina seja realizada. Pacientes com infecções agudas do trato urinário devem ser tratados previamente à artroplastia eletiva. Votação dos Delegados: A Favor: 82%, Contra: 12%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Há pouca literatura sobre o risco de IAP em pacientes com urinálise perioperatória anormal. Ainda que muitos relatos de casos dos anos 70 tenham associado a infecção do trato urinário (ITU) à IAP pós-operatória84, 85, a literatura que suporta a correlação entre ITU pré-operatória e IAP pós SAPT é inadequada.86 Somente 3 estudos abordaram diretamente a relação entre bacteriúria pré-operatória e IAP pós SAPT, nenhum dos quais relatou uma correlação positiva.87-89 Não é de nosso conhecimento a existência de estudos acerca da realização de SAPT mediante profilaxia antibiótica de rotina, em pacientes com ITU sintomáticas. Não há evidências que indiquem ou contraindiquem a realização da cirurgia neste grupo de pacientes. A presença de sintomas de ITU deve indicar uma avaliação urinária pré-operatória nos candidatos à SAPT. Os sintomas podem ter natureza irritativa ou obstrutiva. Sintomas irritativos, tais como disúria, urgência urinária ou alterações da frequência, podem ou não estar associados à bacteriúria, e assim a contagem de leucócitos em uma amostra limpa do jato urinário médio, não centrifugada, deve ser realizada nesses pacientes. Nos pacientes com número de leucócitos maior que 104/ml, a contagem bacteriana e cultura devem ser realizadas, e nos pacientes com mais de 4 leucócitos por campo e contagem bacteriana acima de 103/mL, a cirurgia deve ser adiada até que o tratamento com o antibiótico adequado seja realizado, e nova urinálise seja efetuada. Por outro lado, pacientes com bacteriúria assintomática podem ser submetidos a SAPT com segurança, desde que a profilaxia antibiótica de rotina seja realizada. Pacientes com sinais obstrutivos devem ser submetidos à 69 avaliação urológica antes da artroplastia, uma vez que a retenção urinária pós-operatória tem sido indicada como fator de risco para a IAP.86, 90, 91 Em um estudo prospectivo multicêntrico de 362 ATJ e 2.651 ATQ, os autores reportaram 2,5% e 0,64% de IAP, respectivamente, em um seguimento de 1 ano pósoperatório. Ainda que a análise univariada não mostrasse associação entre IAP e ITU préoperatória (>105 UFC/mL ), a análise de regressão múltipla indicou que a ITU pós-operatória aumentou o risco de IAP em ATQ.88 Em 1.934 cirurgias (1.291 cirurgias ortopédicas) realizadas no Veterans Administration Hospital, a cultura pré-operatória de urina foi obtida em 25% (489) pacientes. Destas, a bacteriúria foi detectada em 54 (11%) pacientes, dos quais somente 16 receberam agentes antimicrobianos. A incidência de ISC foi similar entre os pacientes com bacteriúria (20%) e os pacientes sem bacteriúria (16%, p= 0.56), ainda que a taxa de ITU fosse mais frequente entre os pacientes com bacteriúria (9%) do que entre os pacientes sem bacteriúria (2%, p= 0.01). Entre os 54 pacientes com cultura urinária positiva, pacientes tratados foram comparados com os não tratados e, inesperadamente maior proporção de pacientes tratados desenvolveram ISC (45% contra 14%, p=0.03). Este efeito foi mais pronunciado entre pacientes com bacteriúria elevada (>105 UFC/mL), nos quais a ISC ocorreu em 4 de 8 (50%) dos pacientes tratados, e em 1 de 15 (7%) dos pacientes não tratados (p=0.03). Estes fatos levaram os autores a concluir que, neste sistema, as culturas de urina pré-operatórias foram solicitadas de forma inconsistente e, quando foram, raramente apresentaram bacteriúria. Mesmo quando a bacteriúria foi detectada, ela não foi rotineiramente tratada. Os autores observaram que o tratamento da bacteriúria associada a ISC foi provavelmente confundida por fatores que contribuíram para a decisão inicial de primeiramente administrar antimicrobianos.92 Um estudo retrospectivo de 274 ATQ encontrou que 5 pacientes com IAP apresentaram ITU perioperatória. Contudo, o mesmo organismo da ITU e do Quadril foi isolado somente em 3 pacientes. Destes, somente um tinha urinálise pré-operatória documentada.93 Em uma avaliação retrospectiva de 277 pacientes (364 SAPT) observou-se que 35 pacientes tinham evidência de ITU pré ou perioperatória com contagem de colônias maior que 105 UFC/mL em amostras urinárias com coleta limpa. Somente 3 pacientes (1.1%) desenvolveram IAP aos 9, 19 e 45 meses respectivamente, e em nenhum paciente a infecção foi supostamente devida à ITU perioperatória.87 Outro estudo retrospectivo detectou 57 pacientes com bacteriúria durante a internação hospitalar (55 assintomáticos, 2 sintomáticos) entre 299 artroplastias. Vinte dos 57 pacientes foram operados antes que os resultados fossem disponíveis, porém pósoperatoriamente estes pacientes receberam tratamento antibiótico específico para ITU. Em 18 70 pacientes o inicio do tratamento foi anterior à cirurgia enquanto que em 19 pacientes o tratamento da ITU foi iniciada e terminada previamente ao ato cirúrgico. Nenhum dos pacientes desenvolveu IAP, o que levou os autores a concluírem que o tratamento antibiótico da ITU pode ser iniciado em qualquer tempo do período perioperatório em que a cultura seja obtida.89 A incidência de bacteriúria aumenta em 0,5% a 1% para uma sondagem única de alívio, em 10% a 30% para sondagens com duração de até 4 dias e em até 95% para sondagens com duração de 30 dias ou mais.94, 95 -Questão 10: A escolha do antibiótico pré-operatório deve ser diferente em pacientes que ja foram tratados previamente por outra infecção articular? Consenso: O tipo de antibiótico pré-operatório a ser administrado em pacientes com artrite séptica ou IAP prévias deve cobrir o agente infeccioso prévio da mesma articulação acometida. Nestes pacientes nós recomendamos o uso de cimento com antibiótico, quando a fixação cimentada for utilizada. Votação dos Delegados: A Favor: 84%, Contra: 10%, Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: Não há evidência de que a artrite séptica ou IAP pode ser completamente curada. Jerry et al. conduziram um estudo em 65 pacientes, submetidos à ATJ, com história de sepsis ou osteomielite prévias na região do joelho, em que reportaram taxas de IAP de 4% e 15% respectivamente.96 Lee et al. avaliaram uma série consecutiva de 20 ATJ primária em 19 pacientes com história de sepsis ou osteomielite prévias na região do joelho. A avaliação pré-operatória para infecção incluiu serologia e radiografias simples em todos pacientes, enquanto em 8 pacientes a cintilografia com leucócitos marcados foi realizada e, em 7 pacientes foi feita punção aspirativa do joelho. Intraoperatoriamente, a biopsia de congelação, para observar evidência de inflamação aguda, foi usada para guiar a decisão sobre a realização do procedimento em 1 ou 2 tempos cirúrgicos. Todos componentes da ATJ foram fixados com cimento com antibiótico contendo 1g de vancomicina e 1.2g de tobramicina por pacote de cimento ósseo Simplex. Dos 17 pacientes com seguimento mínimo de 2 anos pós-operatórios, somente 1 desenvolveu IAP, aproximadamente 3 anos e meio após a artroplastia. De interesse, este paciente foi um dos 2 tratados em 2 tempos e que também apresentava comorbidade imunossupressiva, incluindo artrite reumatoide, diabete insulino-dependente e em uso de prednisona diariamente.97 71 Larson et al. realizaram um estudo retrospectivo de casos-controle pareados para avaliar os resultados clínicos de 19 pacientes submetidos à ATJ após fraturas do platô tibial infectadas, comparando-os com 19 controles pareados por idade, sexo e ano da artroplastia, submetidos à ATJ por fratura do planalto tibial sem história de infecção. Dos 19 casos, 13 receberam ATJ em um só estágio, enquanto os restantes receberam ATJ em 2 estágios seja com espaçadores com antibiótico ou debridamento e antibióticos I.V. O Cimento com antibiótico foi usado na maioria dos pacientes. Os joelhos previamente infectados tiveram 4,1 vezes mais propensão à requerer procedimentos adicionais por complicações, comparados aos joelhos sem infecção prévia (95% CI 1,2-18,3, p=0.02). A sobrevivência para 5 anos livre de infecção foi de 73%±10% no grupo com infecção prévia, comparado com 100% no grupo controle (p=0.023). Os autores recomendam que nos pacientes de alto risco, com menos de 1 ano de intervalo desde a evidência de infecção ativa, a ATJ em 2 tempos com antibioticoterapia, e 4-6 semanas de intervalo, seja realizada.98 -Questão 11: Os antibióticos pós-operatórios devem ser mantidos durante a permanência de sonda urinária ou dreno cirúrgico? Consenso: Não. Não há evidencias que suportem o uso contínuo de antibióticos pósoperatórios durante a permanência de cateteres urinários ou drenos cirúrgicos. Cateteres urinários e drenos devem ser removidos, tão rápido quanto a segurança permita. Votação dos Delegados: A Favor: 90%, Contra: 7%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: O uso da sondagem pós-operatória de demora, de curta duração, reduz a incidência de retenção urinária e distensão excessiva da bexiga urinária, sem aumentar o risco de ITU, e é portanto uma prática comum em vários hospitais.99 Contudo, tem sido demonstrado que a permanência do cateter por mas de 48 horas aumenta o risco de ITU.100,101 Tanto a retenção urinária quanto a cateterização podem levar à bacteriúria,101-103 que aumenta em 3-6 vezes o risco de IAP. 87,88,104,105 A literatura na área de oncologia cirúrgica demonstra que a colonização bacteriana de drenos cirúrgicos usados em procedimentos mamários e axilares é um fator de risco significativo para ISC, e os micro-organismos causadores da ISC foram os mesmos que colonizaram o dreno, em 83% dos casos.106 Outros estudos demonstraram que há uma associação entre a longa duração do dreno e o aumento da incidência de ISC.107 72 As recomendações da AAOS para o uso I.V. de antibióticos profiláticos em artroplastias primárias (recomendação 3), afirma que: “a duração da administração de antibiótico profilático no período pós-operatório, não deve exceder 24 horas. Os antibióticos profiláticos devem ser interrompidos dentro do período de 24 horas após o término da cirurgia. A literatura médica não suporta a manutenção de antibióticos até que todos os drenos e cateteres sejam removidos, e não mostram evidências de benefícios quando mantidos por mais de 24 horas.”2 A colonização de drenos pela flora cutânea certamente pode ocorrer, mas somente 10% dos casos com cultura positiva da extremidade dos drenos, desenvolvem infecção evidente.108 Michelson et al. conduziram um ECR de 100 SAPT que utilizou 2 métodos de manejo da bexiga urinária: sondagem urinária de curta duração (<24 horas) e cateterização intermitente. Todos os pacientes receberam a cefazolina como antibiótico profilático. Os autores constataram menor incidência de retenção urinária no grupo com sondagem de demora (27% vs 52%, p<0.01) e menor taxa de distensão da bexiga urinária (7% vs 45%; p<0.01). Além disto, os pacientes com sondagem de demora por mais de 48 horas apresentaram uma taxa significativamente maior de infecção urinária (35%) em relação aos pacientes com sondagem de alivio e/ou sondagem de demora por menos de 48 horas (6%, p<0.01).99 Van den Brand et al. realizaram um estudo prospectivo para determinar se a cateterização de demora por 48 horas ou a cateterização intermitente leva a menor taxa de bacteriúria ou ITU, com dose profilática única de cefazolina, em ATJ e ATQ primárias. O protocolo consistia de profilaxia com cefazolina I.V. durante 48 horas no período pósoperatório. Pacientes, nos quais o cateter persistiu após o térmico da cefazolina I.V., foram adicionalmente tratados com antibiótico profilático oral (nitrofurantoina) até a remoção do cateter. Dos 99 pacientes que completaram o estudo, 14 (5 homens e 9 mulheres) desenvolveram bacteriúria. O grupo de sondagem de demora apresentou bacteriúria em 11/46 pacientes (24%), enquanto no grupo de cateterização de alívio (intermitente) 3/53 pacientes (6%) apresentaram bacteriúria (p=0.018).109 Achados similares foram descritos por Oishi et al., que revisaram 95 pacientes consecutivos submetidos à sondagem de demora (72 horas) ou de alívio. Pacientes do grupo de cateterização de demora apresentaram menor incidência de retenção urinária (7% contra 84%, p<0.005) e distensão da bexiga urinária (7% contra 41%, p<0.005). Ainda que não estatisticamente significativo, nenhum paciente no grupo de sondagem de demora desenvolveu infecção, enquanto no grupo com sondagem de alívio 1 paciente (2%) apresentou bacteriúria e 1 paciente (2%) desenvolveu ITU (p>0.1).110 73 Koulouvaris et al. realizaram um estudo de caso-controle, retrospectivo para determinar se a ITU ou bacteriúria assintomática, tratada pré- ou pós-operatóriamente, aumenta o risco de IAP, e se os patógenos são os mesmos para ITU e IAP. Os autores parearam 58 pacientes com ISC, com 58 pacientes que não desenvolveram ISC, baseados na idade, sexo, cirurgião, articulação, ano da cirurgia e duração do seguimento. Não foi encontrada associação entre a ITU pré-operatória e ISC (OR 0,34; 95% CI 0,086-1,357, p=0.13), como também entre a ITU pós-operatória e ISC (OR 4,22; 95% CI 0,46-38,9, p=0.20). Somente um paciente apresentou a mesma bactéria (E. faecalis) cultivada na urina e na ferida cirúrgica.111 Em uma pesquisa entre membros da Sociedade Americana de Cirurgiões da Mama, sobre o uso de antibióticos perioperatórios em cirurgias de mama não reconstrutivas, que requerem drenos, 38% dos participantes mantiveram antibióticos durante 2-7 dias, enquanto 39% os mantiveram até a remoção dos drenos. Para cirurgia de reconstrução o percentual foi de 33% para ambas as durações de antibioticoterapia.112 Em um estudo similar das Sociedades de Cirurgia Plástica Americana e Canadense, os autores encontraram que 72% dos cirurgiões plásticos mantiveram antibióticos pós-operatórios, em nível ambulatorial, e 46% até a remoção dos drenos.113 -Questão 12: Qual a evidência da duração mais apropriada dos antibióticos pósoperatórios para reduzir a incidência de ISC ou IAP? Consenso: Antibióticos pós-operatórios não devem ser administrados por mais de 24 horas. Votação dos Delegados: A Favor: 87%, Contra: 10%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Muitos estudos, em todas as especialidades cirúrgicas, foram realizados para comparar diferentes durações de antibióticos profiláticos, e a imensa maioria não mostrou nenhum benefício no seu uso por mais de 24 horas, em casos clínicos limpos e eletivos.114-116 A profilaxia pós-operatória prolongada deve ser desestimulada, devido a possibilidade de toxicidade adicional do antimicrobiano, seleção de patógenos resistentes e custos desnecessários.24 As recomendações da AAOS para o uso de antibióticos I.V. em SAPT primária (recomendação 3) afirma que: “ a duração da administração de antibiótico profilático não deve exceder o período das 24 horas pós-operatórias. Antibióticos profiláticos deve ser interrompidos dentro de 24 horas da cirurgia.”1 74 Mcdonald et al. realizaram uma revisão sistemática entre diferentes especialidades cirúrgicas para determinar a eficácia geral da dose única ou múltipla dos antibióticos profiláticos em cirurgia de grande porte. Incluíram somente ECRs que usaram o mesmo antibiótico em cada braço de tratamento, publicados na língua Inglesa. Seja nos modelos fixos (OR 1,06, 95% CI 0,89-1,25) ou efeitos aleatórios (OR 1,04; 95% CI 0,86-1,25), não houve vantagem significativa de nenhum regime, único ou múltiplo, na prevenção da ISC. Além disso, a análise de subgrupos não mostrou diferenças significativas no tipo de antibiótico usado, duração do braço de doses múltiplas (> ou < que 24horas), ou tipo de cirurgia (ginecoobstétricas ou outras).117 Mauerhan comparou a eficácia do regime de cefuroxima por 1 dia com 3 dias de cefazolina, em um estudo prospectivo, multicêntrico, duplo-cego de 1.354 pacientes submetidos a SAPT e concluíram que não houve diferença significativa na prevalência de ISC entre os dois grupos. No grupo submetido a ATQ, a prevalência de ISCs profundas foi 0,5% (1/187) para os pacientes tratados com cefuroxima, e 1,2% (2/168) para aqueles que receberam cefazolina. No grupo de ATJ, a taxa de ISC profunda foi de 0,6% (1/178) no grupo da cefuroxima e 1,4% (3/207) para o grupo da cefazolina.22 Heydemann e Nelson, em um estudo envolvendo ATQs e ATJs compararam, inicialmente um regime de 24 horas de nafcilina ou cefazolina com um regime de 7 dias dos mesmos antibióticos, e não encontraram diferença na prevalência de infecção. Eles compararam então, uma dose única pré-operatória, com um regime de 48 horas, e também não encontraram diferença significativa na prevalência de infecção. Um total de 466 procedimentos foram realizados durante os 4 anos de estudo. Nenhuma infecção profunda se desenvolveu nos dois grupos, de dose única ou de 48 horas de antibioticoterapia profilática. Uma infecção protética (1/127, 0.8%) ocorreu no grupo de 24 horas e duas (2/128, 1.6%) no protocolo de 7 dias, com uma taxa geral de infecção de 0.6% (3/466). Os autores reconheceram a falta de potência do estudo para comparar o regime de dose única e de mais de uma dose, devido ao tamanho reduzido da amostra.118 Stone et al. realizaram 2 diferentes ECRs placebo, que envolviam diferentes durações de profilaxia antibiótica em pacientes submetidos à cirurgia eletiva gátrica, biliar ou colônica em um estudo, e em outro, pacientes submetidos a laparotomia de urgência, e não encontraram em ambas situações, nenhuma diferença significativa nas taxas de ISC. Especificamente, em um ECR de 220 pacientes submetidos à cirurgia geral eletiva, que foram radomizados para cefamandol perioperatório mais 5 dias de placebo ou cefamandol perioperatório, que se estendeu por mais 5 dias, os autores não encontraram diferença 75 significativa na taxa de ISC (6% e 5%, respectivamente). No segundo ECR de pacientes submetidos à laparotomia de urgência, no qual a cefalotina perioperatória foi usada, não houve diferença significativa na taxa de infecção peritoneal entre os que receberam somente profilaxia perioperatória (8% e 4%, respectivamente) comparada com os que receberam 5-7 dias adicionais de terapia pós-operatória (10% e 5% respectively).119 Em uma revisão retrospectiva de 1.341 SAPT, Williams and Gustilo não encontraram diferença significativa nas taxas de infecção entre os regimes de 1-dia e 3-dias de profilaxia antibiótica, mas enfatizaram a importância da dose pré-operatória, que foi de 2g de cefazolina.120 Estudos clínicos pré e pós intervencionais analisaram o efeito da duração do antibiótico na profilaxia cirúrgica. Uma instituição lançou um programa de vigilância de ISC para monitorar todas as cirurgias ortopédicas, e mudou o esquema de antibiótico profilático de cefuroxima I.V com uma dose pré-operatória e 2 doses pós-operatórias a cada 8 horas, para uma dose préoperatória única de cefazolina I.V para todas as cirurgias ortopédicas limpas. Os autores não encontraram diferença significativa nas taxas de infecção superficial ou profunda em 1.367 SAPT primárias, seja com a dose pré-operatória única de cefazolina ou 3 doses de cefuroxima. A taxa de ISC para ATQ foi de 1,1% (95% CI, 0%-3,3%) no grupo da cefuroxima e 1,1% (95% CI, 0%-2,2%) no grupo da cefazolina (p=1,0). Para a ATJ a taxa de ISC foi de 1,6% (95% CI, 0%-3,8%) no grupo da cefuroxima e 1,0% (95% CI, 0,3%-1,7%) no grupo da cefazolina (p=0,63).121 -Questão 13: Até que os resultados finais da cultura estejam disponíveis, qual antibiótico deve ser administrado em pacientes com suposta IAP? Consenso: Em um paciente com infecção presumida, em que as culturas estão pendentes, a cobertura antibiótica empírica vai depender da epidemiologia microbiológica local. Os dados da cultura irão auxiliar na adaptação dos regimes de antibióticos. Votação dos Delegados: A Favor: 96%, Contra: 1%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Diretrizes baseadas na epidemiologia microbiológica de instituições individuais devem ser desenvolvidas.124 Nos EUA, a vancomicina é recomendada para cobertura de patógenos Gram+, devido a alta taxa de resistência à meticilina e à gentamicina, ou as cefalosporinas de 3a e 4a gerações, para cobertura de Gram-. Contudo em áreas com baixa prevalência de MRSA, a vancomicina não deve ser recomendada como droga de 1a escolha, 76 até que os resultados da cultura sejam obtidos, e assim outros antibióticos podem ser indicados. Sharma et al. classificaram o espectro da sensibilidade antibiótica de espécimes de bactérias isoladas de cirurgia de revisão de ATQ e ATJ, de modo a recomendar empiricamente o antibiótico mais apropriado, antes da cultura ser obtida. Os autores identificaram 147 pacientes com amostras positivas, produzindo 248 micro-organismos de 195 amostras de tecido, 43 amostras de fluido articular, e 10 swabs. Entre os 248 patógenos isolados, o gênero, Staphylococcus foi o mais comum (53%), seguido por patógenos Gram- (24%). Oitenta e oito porcento de patógenos Gram- foram detectados até 48 horas após a semeadura e 94% dos gram-positivos dentro de 96 horas. No geral, 46% dos patógenos eram sensíveis à cefalotina, enquanto somente 35% dos SCN eram sensíveis à cefalotina. Nenhuma resistência à vancomicina foi encontrada entre os Gram+. Desta forma, os autores concluíram que os antibióticos profiláticos empíricos na revisão de ATQ e ATJ devem incluir a vancomicina, para patógrnos Gram+, e gentamicina para bactérias Gram-, e se a infecção é provável, ambos antibióticos devem ser mantidos continuamente por 96 e 48 horas, respectivamente, a menos que a cultura ou histologia sugiram outros agentes.122 Joelho: Em uma revisão retrospectiva de 121 pacientes submetidos à revisão de ATJ por infecção, entre 1994 e 2008 no Reino Unido, o patógeno mais comum foi o SCN (49%) e o S. aureus (13%). A prevalência de SCN parece estar aumentando, enquanto a de S. aureus e outros patógenos está diminuindo. Vancomicina e Teicoplanina foram os antibióticos mais efetivos, com taxa de sensibilidade geral de 100% e 96%, respectivamente. Também, os autores reportaram que, baseados em seu modelo teórico de comparação da sensibilidade dos patógenos aos antibióticos específicos, a gentamicina combinada com a vancomicina ou teicoplanina é o regime empírico mais efetivo. Ainda que os autores reconheçam o grande potencial nefrotóxico como efeito colateral, estes antibióticos podem ser adicionados ao cimento ósseo com segurança relativa. Os autores também sugerem que este regime empírico pode potencialmente permitir a revisão em 1 tempo cirúrgico, a ser realizado quando a infecção se manifesta.123 Em infecções precoces, retardadas e tardias observadas nos dados do SKAR, de 19862000, em 426 cirurgias de revisão, o SCN foi o mais prevalente (105/299, 35,1%) e 2 vezes mais comum que o S. aureus (55/299, 18,4%). Em infecções hematogênicas, o S. aureus foi o patógeno dominante (67/99, 67,7%), seguido pelo Streptococcus e bactérias Gram-. Resistência à meticilina foi encontrada em 1/84 dos S. aureus isolados e em 62/100 dos SCN 77 isolados. Durante o período de estudo entre 1986-2000, a resistência à meticilina entre os SCN aumentou (p=0.002). A resistência à gentamicina foi encontrada em 1/28 dos S. aureus isolados, e em 19/29 dos SCN isolados. Assim, os autores concluem que os antibióticos empíricos devem cobrir SCN, uma vez que a maioria das infecções precoces são causadas por este patógeno. Também levantam a discussão de que outros antibióticos devem ser usados no cimento ósseo, dada a alta taxa de resistência à gentamicina pelos SCN em revisão de ATJ infectada.23 Dados obtidos do SKAR foram previamente usados para descrever a microbiologia de 357 ATJ infectadas, em pacientes operados antes de 1986. O S. aureus foi o patógeno mais comum (45.4%) seguido pelo SCN (18%).124 Em estudos posteriores os staphylococci continuaram a ser o patógeno mais comum, com o S. aureus responsável por 13%-51% das infecções e o SCN por 15%-49%.123,125,126 Quadril: Rafiq et al. revisaram, retrospectivamente, a microbiologia de 337 revisões infectadas de ATQ em 1 estágio cirúrgico e encontraram que o SCN foi o patógeno predominante (67%) e o Staphylococcus (13%) está se tornando mais prevalente. Os autores também notaram um aumento na resistência antibiótica (24% para a gentamicina), os levaram a sugerir que outros antibióticos, tais como a eritromicina e o ácido fusídico sejam adicionados ao cimento ósseo durante estes procedimentos.127 Em um estudo que examinou a microbiologia da bactéria contaminante durante a ATQ primária, Al-maiyah et al. colheram culturas das luvas cirúrgicas (n=627 impressões) da equipe operatória em 50 ATQ após colocação dos campos, e a cada intervalo de 20 minutos, e então antes da cimentação. Encontraram contaminação em 57 (9%) das impressões e um total de 106 bactérias isoladas, com o SCN sendo o mais frequente (68.9%), seguido pelo micrococcus (12.3%) e difteroides (9.4%). O S. aureus representou somente 6.6% dos casos. Curiosamente, somente metade (52%) dos SCN foram sensíveis à cefuroxima, que neste período era o antibiótico profilático de escolha institucional e sugeriram os autores, que agentes alternativos podem ser indicados.128 Phillips et al. revisaram a microbiologia da infecção profunda pós artroplastia do quadril e joelho em um hospital ortopédico especializado do Reino Unido, por um período de 15 anos. O SCN foi o agente infectante mais comum (36%), seguido pelo S. aureus (25%), enterococcus (9%), e MRSA (4%). Dos organismos infectantes, 72% eram sensíveis aos agentes profiláticos de rotina. Não houve alteração significativa na microbiologia durante os 15 anos avaliados por este estudo.129 78 Ocasião (Momento) da Infecção: Uma análise retrospectiva foi realizada em 146 pacientes, dos quais 194 culturas positivas foram obtidas durante a revisão de ATQ ou ATJ. Setenta por cento das infecções foram classificadas como crônicas, 17% como agudas pós-operatórias, e 13% como agudas hematogênicas. Bactérias Gram+ causaram a maioria das infecções (87%, 168/194). Em 61% das amostras as bactérias eram sensíveis à cefazolina, 88% à gentamicina e 96% à vancomicina. As cepas mais resistentes aos antibióticos foram obtidas de pacientes nos quais à antibioticoterapia prévia havia falhado. As infecções pós-operatórias agudas tinham perfil de resistência maior do que as infecções crônicas. As bactérias isoladas de infecções hematogênicas agudas tinham alta sensibilidade à cefazolina e também à gentamicina. Estes fatos levaram os autores às seguintes recomendações: Até que as culturas estejam disponíveis, cefazolina e gentamicina devem ser usadas nas infecções hematogênicas agudas. Todas infecções crônicas e pós-operatórias agudas causadas por bactérias Gram+, e todos os casos em que a pesquisa de Gram falha em identificar a bactéria, devem receber vancomicina. Nas infecções por bactérias Gramindicadas. Nas infecções mistas (bactérias Gram+ e Gram-) uma combinação de vancomicina e cefalosporinas de 3a ou 4a gerações é indicada. Uma vez que 93% (180/194) das culturas mostraram-se positivas até o 4o dia pósoperatório, os autores recomendam que se as culturas não forem positivas até o 4o dia pós-operatório, a interrupção da terapia antibiótica empírica deve ser considerada.59 as cefalosporinas de 3a ou 4a gerações são Em uma revisão retrospectiva de 97 pacientes (106 infecções em 98 quadris), Tsukayama et al. notaram que os cocos aeróbicos Gram+ foram isolados em 109 (74%) das 147 amostras; bacilos Gram- em 21 (14%); e anaeróbios em 12 (8%). Dentre espécies de SCN, 27 (48%) foram resistentes à oxacilina, enquanto que 33 (100%) dos Staphylococcus coagulase positiva foram sensíveis à oxacilina. Os autores observaram ainda, que a maioria das bactérias Gram- isoladas originaram-se de infecções pós-operatórias precoces e crônicas tardias, enquanto que as bactérias isoladas de infecções hematogênicas agudas foram exclusivamente cocos Gram+.130 Irrigação e Debridamento (I&D): Uma revisão retrospectiva foi realizada para descrever o espectro microbiológico das IAPs em 112 pacientes tratados por I&D ou lavagem artroscópica realizadas entre 1998 e 2003, e assim orientar a escolha da antibióticoterapia empírica. De um 79 modo geral os micro-organismos mais frequentemente isolados foram SCN (47%) e MSSA (44%), enquanto que 8% foram MRSA e 7% foram anaeróbicos. Nesta revisão, 60% dos SCN isolados foram resistentes à meticilina. A maioria das bactérias Gram- isoladas foram resistentes à cefuroxima e todas foram sensíveis ao meropenem. Baseados na alta taxa de infecção polimicrobiana precoce, resistência às cefalosporinas entre as bactérias Gram-, resistência à β-lactamase entre os micro-organismos Gram- e resistência aos antibióticos βlactâmicos entre os SCN, os autores recomendam o uso de glicopeptídeos com 1 carbamapenem como regime inicial, modificado de acordo com a cultura e sensibilidade no momento em que forem disponíveis. 131 -Questão 14: Qual o antibiótico pré-operatório apropriado para o segundo estágio do tratamento cirúrgico estagiado de IAPs? Consenso: O antibiótico pré-operatório apropriado, para o segundo estágio do tratamento estagiado, deve cobrir os micro-organismos infectantes prévios. Implantes cimentados devem utilizar cimento ósseo com antibiótico. Votação dos Delegados: A Favor: 66%, Contra: 31%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Pacientes submetidos à cirurgia de reimplantação em 2 estágios são de alto risco para o desenvolvimento de infecções recorrentes.132,133 A infecção recorrente pode ser consequência da erradicação incompleta da bactéria prévia durante o procedimento com espaçadores, ou da ocorrência de uma nova infecção. De modo a abranger adequadamente ambos os cenários, os antibióticos pré-operatórios profiláticos devem incluir a cobertura dos micro-organismos prévios, assim como os micro-organismos infectantes mais comuns. O cimento ósseo com antibiótico demonstrou ser efetivo na redução das falhas sépticas pós artroplástica, em pacientes de alto risco, e é aprovado pelo FDA para o uso durante a reimplantação de componentes, no tratamento em 2 estágios cirúrgicos. Ainda que não haja evidência para suportar a prática, faz todo sentido na teoria, adicionar antibióticos que sejam efetivos no tratamento da infecção original. Em uma revisão sistemática de 31 estudos que compararam os resultados clínicos obtidos com o tratamento em 1 e 2 estágios cirúrgicos em revisões de ATJ, com diferentes tipos de espaçadores, os autores notaram que, após a revisão original para infecção, a infecção profunda foi detectada em 0 a 31% dos casos. Destes, a infecção foi considerada recorrente em 0 a 18% dos casos, enquanto nova infecção variou entre 0 e 31%. Ainda que a 80 duração do seguimento pós-operatório não pareceu influenciar a taxa de infecção recorrente, os estudos com menos de 4 anos de seguimento apresentou poucas novas infecções.134 Azzam et al. analisaram retrospectivamente 33 pacientes que apresentaram falha no tratamento inicial em 2 estágios, dos quais 18 foram submetidos a novo tratamento estagiado. Nesta coorte, o micro-organismo isolado foi diferente do patógeno infectante prévio em somente 1 dos 18 pacientes.132 Em um estudo similar, Kalra et al. avaliaram retrospectivamente 11 pacientes que desenvolveram reinfecção após o tratamento estagiado para ATQ infectada, em que o tratamento subsequente foi também realizado por re-revisão em 2 estágios. Nesta série, os patógenos foram múltiplos em 3 pacientes e somente 2 apresentaram reinfecção pelo mesmo micro-organismo.133 Em uma revisão dos desfechos em 69 pacientes com IAP pós ATJ, Mont et al. encontraram que 8 de 9 reinfecções foram ocasionadas por patógenos que haviam causado a infecção inicial, apesar de que em 6 de 8 pacientes a sensibilidade bacteriana aos antibióticos havia mudado.126 Kubista et al. publicaram os resultados de 368 pacientes tratados por revisão estagiada de ATJ infectada. Desta coorte, 58 (15,8%) apresentaram reinfecção e o patógeno responsável foi identificado em 47 de 58 (81%) dos pacientes.135 Em uma avaliação retrospectiva de 117 pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico estagiado para IAP do joelho, 33 pacientes (28%) foram reoperados para tratamento da infecção. Durante a reimplantação, o cimento ósseo com antibiótico (1,2g de tobramicina para 40g de cimento) foi usado para fixação dos componentes, porém não foi feita referência aos antibióticos parenterais perioperatórios utilizados no segundo estágio.136 -Questão 15: Em cirurgias de longa duração, quando uma dose adicional de antibiótico profilático deve ser administrada intraoperatoriamente? Consenso: Uma dose adicional de antibiótico deve ser administrada intraoperatoriamente após 2 meias-vida do agente profilático. As diretrizes gerais para a frequência de administração intraoperatória de antibióticos é mostrada em tabela anexa. Nós recomendamos que a dose adicional de antibiótico profilático seja administrada nos casos de grande perda sanguínea (>2000ml), e aporte de líquido de hidratação > 2000ml. Como estas variáveis são independentes, a dose adicional deve ser considerada tão logo qualquer um destes parâmetros seja atingido. Votação dos Delegados: A Favor: 94%, Contra: 5%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) 81 Justificativas: Em casos de grandes perdas sanguíneas e grandes volumes de líquidos de hidratação há uma perda considerável do agente profilático, que pode resultar em níveis abaixo da CIM. Isto também é verdadeiro para cirurgias que se estendem além da meia-vida do agente. Portanto, dose adicional de antibiótico (DAA) é necessária para restabelecer os níveis apropriados, acima da CIM. Uma DAA tem se mostrado efetiva na redução das taxas de ISC em pacientes cardíacos, e devem ser administradas intraoperatoriamente após um período de 2 vezes a meia-vida do agente profilático utilizado.3, 74, 75 As recomendações da AAOS para o uso de antibióticos profiláticos I.V. em SAPT primária (recomendação 2) afirma que: “a duração e dose de antibióticos deve otimizar a eficácia da terapia.”1 Ambos, IDSA e AAOS afirmam que: “Doses intraoperatórias adicionais de antibióticos são aconselhadas quando a duração do procedimento excede uma a 2 vezes a meia-vida do antibiótico ou quando existe considerável perda durante a cirurgia.” As diretrizes gerais para a frequência da administração de antibióticos intraoperatórios são as seguintes: Cefazolina a cada 2 a 5 (4) horas, cefuroxima a cada 3-4 horas, clindamicina a cada 3-6 horas, isoxazolil penicilina a cada 3 horas e vancomicina a cada 6-12 horas.2, 137, 138 Em um estudo prospectivo, multicêntrico explorando a relação entre frequência, duração, dose adicional de antimicrobiano profilático e o risco de ISC, Steinberg et al concluíram que a dose intraoperatória esteve associada a menor risco de infecção, somente quando o antibiótico profilático fosse administrado dentro do prazo recomendado. Em 1.062 (24%) casos, o procedimento cirúrgico teve duração mínima de 4 horas. Devido à meia-vida mais longa e necessidade reduzida de redosagem, os pacientes que receberam vancomicina ou fluorquinolonas foram excluídos da análise de impacto da DAA no risco de infecção (n=372). A DAA intraoperatória foi feita em 21% dos 690 procedimentos cirúrgicos prolongados. Do grupo cuja duração da cirurgia excedeu 4 horas e a dose pré-operatória foi feita dentro do período de 1 hora, 2 de 112 (1,8%) que receberam DAA intraoperatória desenvolveram infecção, comparado a 22 de 400 (5,5%) pacientes que não receberam a dose (OR 3,08, p=0.06).10 Scher et al. randomizaram 801 pacientes submetidos a cirurgias limpas contaminadas, para um dos 3 regimes de antibiótico: 1g de cefazolina pré-operatória; 1g de cefazolina préoperatória e outra dose 3 horas após; e 1 g de cefotetam pré-operatória. Ainda que todos os regimes mostrassem taxa similar de ISC em cirurgias com duração menor de 3 horas, nas cirurgias que se prolongaram por mais de 3 horas, o grupo que recebeu somente 1 dose préoperatória de cefazolina apresentou uma taxa de ISC significativamente mais elevada do que o grupo que recebeu uma nova dose de cefazolina (6,1% vs 1.3%, p<0,01).139 82 Shapiro et al. realizaram um ECR-placebo para testar a eficácia da cefazolina perioperatória na prevenção da infecção após histerectomia vaginal ou abdominal. Em um subgrupo, os autores analisaram o efeito da duração da cirurgia na eficácia da profilaxia perioperatória, pelo cálculo das chances relativas ajustadas de infecção com e sem profilaxia, em diferentes durações da cirurgia. Encontraram que a eficácia da profilaxia diminui rapidamente com o aumento do tempo cirúrgico, sendo que para até 3 horas e 20 minutos, não teve efeito mensurável (OR=1).140 Polk et al. analisaram prospectivamente os níveis de 3 diferentes cefalosporinas (cefazolina, cefaloridina e cefalotina) administradas em dose única pré-operatória, e encontraram que concentrações aceitáveis de cefazolina foram mantidas próximas do sítio cirúrgico, até 3 horas após a administração, enquanto os níveis de cefalotina, próximos à incisão, não se mantiveram em concentrações consistentes com atividade antimicrobiana efetiva141 Ohge et al. examinaram, prospectivamente, a concentração de cefazolina no tecido pancreático em 10 pacientes submetidos à pancreatectomia e determinaram o tempo ótimo, intraoperatório, para a repetição da dose de cefazolina. De acordo com os achados da pesquisa, os autores recomendaram que uma segunda dose de Kefazol deve ser administrada 3 horas após a primeira dose, para que níveis adequados da atividade antibiótica sejam mantidos. A medida da CIM de 4 espécies bacterianas isoladas, a saber, 360 MSSA, 204 K. pneumoniae, 314 E. coli, e 30 espécies de Streptococcus, como também os níveis tissulares de cefazolina foram determinados. A concentração antibiótica no tecido adiposo e peritônio 3 horas após a administração do kefazol foi inferior que a CIM 80 para K. pneumoniae, E. coli, e as espécies de Streptococcus.142 Em uma avaliação retrospectiva de 131 pacientes com câncer colorretal primário, em cirurgias prolongadas excedendo 4 horas, as taxas de ISC foram 8,5% e 26,5%, respectivamente para os pacientes que receberam (n=47) ou não (n=49) a dose adicional intraoperatória de antibiótico. Estes valores foram estatisticamente significativos tanto na análise univariada (p=0.031) como na análise multivariada (p=0.008).143 Zanetti et al. compararam, retrospectivamente, o riso de ISC em 1.548 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com duração maior que 240 minutos, após administração da dose profilática pré-operatória de cefazolina. O risco geral de ISC foi similar entre os pacientes com [43/459, (9,4%)] e sem [101/1089, (9,3%)] DAA intraoperatória de cefazolina (OR 1,01, 95% CI 0,7-1,47). Contudo, a aplicação de uma segunda dose foi benéfica para os procedimentos que excederam 400 minutos de duração, nos quais a infecção ocorreu em 83 14/182 (7,7%) dos pacientes que receberam dosagem intraoperatória e em 32/200 (16,0%) pacientes que não receberam a dose intraoperatória do antibiótico (OR ajustada 0,44, 95% CI 0,23-0,86). A aplicação de uma dose intraoperatória de cefazolina esteve associada à uma redução de 16% no risco global de ISC pós cirurgia cardíaca, incluindo procedimentos excedendo 240 minutos de duração.74, 75 Perda Sanguínea: Swoboda et al. se propuseram a determinar o efeito da perda sanguínea intraoperatória na concentração sérica e tissular de cefazolina e gentamicina profiláticas, através de um estudo prospectivo de cirurgias eletivas da coluna espinal, com grande perda sanguínea esperada. Aos 60 minutos após a incisão, a perda sanguínea correlacionou com a concentração tissular de cefazolina (r=-0.66, p=0.05), e com o clearance da gentamicina dos tecidos (r=0.82, p=0.01). Baseados nos valores farmacocinéticos obtidos, a dose adicional de cefazolina deve ser feita quando a cirurgia excede 3 horas e a perda sanguínea é maior que 1.500ml. Uma dose profilática de gentamicina maior que 1,8mg/kg deve ser administrada em período maior que 30 minutos prévios à incisão cirúrgica.144 Perda Sanguínea/ Reposição Volêmica: Markantonis et al. investigaram os efeitos da perda sanguínea e dos fluidos de reposição volêmica nas concentrações de gentamicina sérica, gordura subcutânea, gordura epiploica e parede do colon, em pacientes submetidos à cirurgia colorretal. A gentamicina foi administrada na dose padrão de 2 mg/kg, e amostras de sangue e tecidos foram obtidas concomitantemente em tempos determinados durante todo o procedimento cirúrgico. A concentração média durante a incisão cirúrgica foi 7,83 (0,82) µg/mL e reduziu para 2,60 (0,28) ug/mL durante o fechamento da pele, resultando em uma efetividade limítrofe, mesmo para micro-organismos Gram- sensíveis (CIM-1,0). Uma forte correlação negativa foi encontrada entre o volume de fluidos de reposição administrados I.V. e as concentrações séricas e tissulares de gentamicina (p< 0.04).145 Klekamp et al. estudaram, prospectivamente, pacientes ortopédicos com perda sanguínea pequena e grande, que receberam profilaxia com vancomicina, com o objetivo de determinar o efeito das mudanças intraoperatórias de volume sobre as concentrações séricas do antibiótico. Seis pacientes constituíram o grupo de grande perda sanguínea (>2L) e 7 constituiram o grupo controle (<2L), com uma média estimada de perda sanguínea, respectivamente de 4,4L e 1.0L; e o volume de fluido de reposição, excluídos hemoderivados, de 12,4L e 5,1L. Foi observada modesta correlação inversa entre perda sanguínea e a meiavida sérica da vancomicina intraoperatória. Embora os controles mantiveram as concentrações de vancomicina intra-operatórias ligeiramente mais elevados, a cada momento, não houve 84 diferença estatisticamente significativa entre os grupos, no que diz respeito às concentrações absolutas ou taxa de declínio. Depois de 8 horas, a concentração sérica de vancomicina excedeu a CIM-90 para o S. aureus em cerca de oito vezes em todos, exceto um paciente com obesidade mórbida, que apresentou perda sanguinea maciça. Assim, a perda sanguinea durante procedimentos ortopédicos tem um efeito mínimo sobre a cinética intra-operatória de vancomicina, e a administração de vancomicina a cada 8 a 12 horas parece apropriado para a maioria dos pacientes.146 Dois estudos controlados, sobre a profilaxia cirúrgica com cefazolina, demonstraram, de forma semelhante, os efeitos mínimos da perda sanguínea sobre as concentrações de drogas durante a ATQ e artrodese da coluna vertebral. Meter et al. examinaram o efeito da perda sanguinea intra-operatória e reposição volêmica, nos níveis séricos de cefazolina em 18 pacientes submetidos à ATQ. Quatro horas após a administração, o nível sérico de cefazolina foi de 45 mcg/mL, que ultrapassou em muito a CIM para S. aureus (0.5mcg/mL), apesar de uma perda de sangue intra-operatória média de 1.137 ± -436 ml. Isto levou os autores a concluir que, mesmo com perdas sanguínea de 2 litros, não é necessário qualquer DAA de cefazolina antes de 4 horas, a fim de manter a CIM para os micro-organismos infecciosos mais comuns.147 Os autores repetiram o estudo em 19 pacientes submetidos a fusão espinal posterior instrumentada, e constataram que não houve diferença significativa entre o clearance pré- e intraoperatório da cefazolina, e que não houve correlação entre a perda sanguínea e o nível de cefazolina.148 -Questão 16: As doses de antibiótico pré-operatório devem ser ajustadas ao peso do paciente? Consenso: Os antibióticos pré-operatórios têm diferentes farmacocinética em função do peso corporal, e assim suas doses devem ser ajustadas ao peso do paciente. Votação dos Delegados: A Favor: 95%, Contra: 4%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Devido à imprevisibilidade relativa da farmacocinética em indivíduos obesos, as doses devem ser preferencialmente estimadas com base em estudos específicos para medicamentos individuais, realizados nesta população. Apenas alguns antibióticos (aminoglicosídeos, vancomicina, daptomicina, e linezolida) têm sido estudados na população obesa. 85 As recomendações da AAOS para o uso I.V de antibióticos profiláticos em SAPT primária, (recomendação 2) afirma que "tempo e dosagem da administração de antibióticos deve otimizar a eficácia da terapia. A dose deve ser proporcional ao peso do paciente; para pacientes acima de 80 kg, as doses de cefazolina devem ser duplicadas”.2 A dose recomendada de cefazolina é baseada no índice de massa corporal (IMC) do paciente, de 1,0 g para as pessoas que pesam menos de 80 kg e de 2,0 g para aqueles que pesam mais de 80 kg. A dose de adulto da cefuroxima é de 1,5 gramas. A dose recomendada de clindamicina é de 600 a 900 miligramas.61 A dose recomendada de vancomicina, baseada no IMC, é de10-15mg/kg, até um limite de 1 g, em pacientes com função renal normal. 149 No entanto, existe literatura que suporta o uso de doses mais elevadas de vancomicina, enfatizando que doses maiores de 4g/dia têm sido associadas ao aumento do risco de nefrotoxicidade. Um nível mínimo é obtido antes da quarta dose programada e, em certas ocasiões, pode haver a necessidade de encurtar o intervalo das aplicações, para manter um nível terapêutico mínimo (por exemplo, de a cada 12 horas para a cada 8 horas). Pelo fato de 30% do tecido adiposo ser constituído por água, uma abordagem empírica é a de usar a fórmula de Devine para calcular o peso corporal ideal (PI), ao qual é adicionado um fator de correção do peso de dosagem (FC) de 0,3 vezes a diferença entre o peso corporal real (PR) e PI: [PI + 0,3 x (PR-PI)] para se chegar a um peso que possa servir de base para a dosagem de antibióticos hidrofílicos. Não há estudos que confirmem esta abordagem para as drogas β-lactâmicas. Estudos clínicos sugerem um FC de 0,4 para aminoglicosídeos e 0,45 para as quinolonas.150 Para os aminoglicosídeos, alguns sugerem usar o peso real (PR)151,153 utilizando um fator de correção de dosagem, enquanto outros sugerem a dosagem com base no peso corporal magro (PM) com um acompanhamento adequado na primeira dose152. As orientações atuais para a administração da vancomicina são baseadas nas doses de ataque de vancomicina em relação ao peso corporal total do paciente (PT), e a manutenção das doses, em relação à depuração da creatinina (CCr) do paciente.153, 154 No entanto, a decisão sobre realizar cálculos do CCr a partir do PR, PI ou outra medida, ainda está por ser determinada. Como regra geral, os pacientes obesos e obesos mórbidos necessitam doses mais elevadas de cefalosporina para alcançar resultados semelhantes, no entanto, há poucas recomendações de dosagens absolutas. Pelo menos um estudo demonstrou que uma dose de 2 g de cefazolina deve proporcionar os níveis suficientes por pelo menos 4 horas, mesmo na super-obesidade mórbida (IMC ≥ 50kg/m2).155 86 Outros estudos confirmam que a vancomicina deve ser administrada de acordo com o PR, com ajustes de dose com base em concentrações séricas156, enquanto que a administração de aminoglicosídeos requer o cálculo do peso corporal ajustado, através de um fator de correção. 157 Forse et. al. realizaram um ECR em pacientes obesos mórbidos submetidos à gastroplastia, e descobriram que os níveis sanguineos e tissulares de cefazolina foram significativamente menores para todos os pacientes com obesidade mórbida que receberam 1g de cefazolina, comparados com os níveis sanguíneos e tissulares da droga encontrada em pacientes com peso normal, que receberam uma dose semelhante de antibiótico. Além disso, os pacientes com obesidade mórbida que receberam apenas 1g de cefazolina tinham níveis de antibióticos abaixo da CIM de 2mcg/mL para cocos Gram+ e 4mcg/mL para bastonetes Gram-. As concentrações séricas e teciduais foram adequadas somente quando 2g de cefazolina foram administrados. Além disso, em relação a 1 g, a administração de 2g de cefazolina reduziu a taxa de infecção da ferida de 16,5% para 5,6%, nesses pacientes com obesidade mórbida.18 Van Kralingen et al. estudaram a influência do peso corporal e idade sobre os parâmetros farmacocinéticos e concentrações de cefazolina não ligada, avaliadas ao longo do tempo, em pacientes obesos. Vinte pacientes obesos mórbidos (OM) (IMC 38-79 kg/m2) foram estudados após a administração de 2 g de cefazolina durante a indução anestésica. Amostras de sangue foram coletadas até 4 horas após a administração, para determinar as concentrações plasmáticas de cefazolina total e não ligada. O clearance de cefazolina foi de 4,2 ± 1,0 L/h (média ± desvio padrão) e mostrou uma correlação negativa com a idade (p = 0,003), mas não com o peso corporal (p> 0,05). Em todos os pacientes, as concentrações de cefazolina não ligada manteve-se acima de 1 mg/L (CIM 90) para MSSA, até 4 horas após a administração.158 Ho et al. tentaram determinar um regime de dosagem ideal para a cefazolina como antibiótico profilático, em cirurgias de pacientes com obesidade mórbida(OM). Vinte e cinco pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos eletivos receberam uma dose única de cefazolina: 10 com OM (IMC 40-50 kg/m2) receberam 2g via intravenosa embolo (IVE), 5 com OM receberam 2g via infusão de 30 minutos (OM2INF), 5 com super-obesidade mórbida (SOM2INF, IMC > 50 kg/m2) receberam 2g via infusão, e 5 com SOM receberam 3g via infusão (SOM3INF). A duração da proteção, determinada usando um alvo farmacodinâmico para fT > CIM de 70%, foi de 5,1 horas para OM2- IVE, 4,8 horas para OM2INF, 5,8 horas para SOM2INF, e 6,8 horas para SOM3INF. Os autores concluíram que uma dose única de 2 87 g de cefazolina parece fornecer exposição antibiótica suficiente para procedimentos cirúrgicos gerais mais comuns, com menos de 5 horas de duração, independentemente do IMC.155 A Tabela abaixo lista as dosagens recomendadas (mg) de alguns antimicrobianos, de acordo com o peso corporal (Kg): Peso Corporal Real (PR; kg) Dose Recomendada (mg) Intervalo em horas até a Dose Adicional Perioperatória < 60 1000 4 60-120 2000 4 > 120 3000 4 Cefuroxima Ajuste desnecessário 1500 4 Profilaxia Perioperatória Primária Vancomicina Dose recomendada de acordo com o Peso corporal 15 mg/kg (Dose Máxima: 2000 mg) 6-12 Profilaxia Perioperatória para hospedeiros de MRSA e/ou pacientes com alergia aos lactâmicos 3 Profilaxia Perioperatória para pacientes com alergia aos -lactâmicos Não Disponível Profilaxia Perioperatória para hospedeiros de MRSA e/ou pacientes com alergia aos lactâmicos Antimicrobiano Cefazolina Clindamicina Teicoplanina Ajuste desnecessário Ajuste desnecessário 900 400 Indicação Profilaxia Perioperatória Primária Em contraste, Edmiston et al. concluiram que 2 g de cefazolina podem não ser suficientes para pacientes com IMC> 50 kg/m2, com base em medições das concentrações séricas totais em pacientes obesos mórbidos submetidos a bypass gástrico. Os autores incluiram 38 pacientes em um dos três grupos de IMC: A) IMC entre 40 e 49 kg/m2 (n = 17), B) 88 IMC entre 50 e 59 kg/m2 (n = 11), e C) IMC > 60 kg/m2 (n = 10), e as concentrações séricas e tissulares de cefazolina foram dosadas. Eles encontraram que os níveis tissulares terapêuticos só foram obtidos em 48,1%, 28,6%, e 10,2%%, respectivamente nos grupos A, B, e C. Os autores dosaram as concentrações séricas, na pele, no tecido adiposo, e no omento, mas não avaliaram as concentrações de cefazolina não ligada, que pode migrar rapidamente através dos tecidos.159 -Questão 17A: Que tipo de antibiótico profilático perioperatório é recomendado para portadores correntes de MRSA? Consenso: Para portadores correntes de MRSA, a vancomicina ou a teicoplanina são recomendados na profilaxia antibiótica perioperatória. Votação dos Delegados: A Favor: 86%, Contra: 12%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) -Questão 17B: Os pacientes com história prévia de MRSA devem ser reavaliados? Qual deve ser o antibiótico perioperatório profilático de escolha para estes pacientes? Consenso: Pacientes com história prévia de MRSA devem ser reavaliados préoperatóriamente. Caso sejam negativos para MRSA, recomendamos a profilaxia antibiótica perioperatória de rotina. Votação dos Delegados: A Favor: 76%, Contra: 23%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: A adoção de um programa de prevenção da infecção por MRSA pode reduzir significativamente a ISC por MRSA. No entanto, é improvável que qualquer intervenção única ou isolada, ainda que específica para a prevenção de infecção por MRSA, (como o uso da vancomicina) possa prevenir ISC adequadamente. Vários estudos mostram dados convincentes sobre a eficácia clínica da vancomicina na prevenção da infecção cirúrgica, quando a prevalência de MRSA é alta. 69, 70, 79 Pesquisa adicional é necessária para determinar quais os componentes de um programa específico de prevenção são essenciais na profilaxia de ISC por MRSA.160 É incerto se a descontaminação pode alterar o tipo de antibiótico utilizado, uma vez que poucos estudos reavaliaram o estado de contaminação por MRSA dos pacientes, imediatamente antes da cirurgia. As recomendações da AAOS para o uso I.V de antibiótico profilático em SAPT primária (recomendação 2) afirma que " a vancomicina pode ser utilizado em pacientes sabidamente colonizados por MRSA ou em instalações com surtos recentes de MRSA." 89 1 Além disso, a Society for Healthcare Epidemiology of America recomendou, recentemente, culturas de vigilância de rotina no momento da admissão ao hospital em pacientes com alto risco de contaminação por MRSA.52 Walsh et al. instituíram um programa abrangente de prevenção da infecção por MRSA, em que a vancomicina foi adicionada ao regime de cefazolina profilática de rotina, em pacientes com triagem positiva para portadores nasais de MRSA. Outros componentes do programa incluiram a descolonização de toda a equipe de cirurgia cardiotorácica que tiveram triagem positiva para o transporte nasal de MRSA, a aplicação de pomada de mupirocina nasal por 5 dias em todos os pacientes, iniciada um dia antes da cirurgia, a aplicação de mupirocina tópica nos orifícios após a remoção dos drenos torácicos e mediastinais, e nova triagem dos pacientes para colonização por MRSA no momento da alta hospitalar. Este programa resultou numa redução significativa na taxa de ISC (de 2,1% para 0,8%, p < 0,001), bem como a redução de 93 % das ISCs por MRSA (de 32 infecções em 2.767 procedimentos durante o período de pré-intervenção de 3 anos, para 2 infecções em 2.496 procedimentos durante o período pós-intervenção de 3 anos). Os dados sugerem que a adoção de um pacote de medidas na prevenção das ISCs por MRSA é mais importante do que uma intervenção única.79 Pofahl et al. avaliaram o impacto da adoção de programas de rastreabilidade e tratamento subsequente de ISCs por MRSA. Após a instituição de programas de vigilância, a taxa de ISC por MRSA reduziu de 0,23% para 0,09%, com redução mais pronunciada observada em SAPT (de 0,30% para 0%, p=0.04). Contudo, os autores observaram que as mudanças dos antibióticos perioperatórios em pacientes MRSA-positivos, foram definidas por decisão do cirurgião responsável.161 -Questão 18: Qual a profilaxia antibiótica recomendada para pacientes submetidos à reconstruções ortopédicas de grande porte, por condições tumorais ou não neoplásicas, em que são utilizadas megapróteses? Consenso: Até o surgimento de novas evidências, nós recomendamos o uso rotineiro de profilaxia antibiótica em pacientes submetidos a reconstruções ortopédicas de grande porte. Votação dos Delegados: A Favor: 93%, Contra: 6%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: A infecção profunda foi reportada como sendo uma das complicações mais comuns após a substituição endoprotética de grandes defeitos ósseos, variando entre 5% e 35% em algumas séries.162-166 As taxas de reinfecção após cirurgia de revisão para a infecção 90 endoprotética têm sido relatadas em níveis que chegam a atingir 43%.165 Apesar disso, não há evidências suficientes para sugerir que um regime antibiótico perioperatório diferente se justifique. Recentemente, foi criado um estudo multicêntrico, cego, randomizado, controlado, com um design de braços paralelos (estudo PARTITY), que vai avaliar 920 pacientes do Canadá e dos EUA, submetidos a excisão cirúrgica e reconstrução endoproptética de tumores ósseos primários. Os pacientes irão receber antibióticos profiláticos pós-operatórios de curta (24 h) ou longa (5 dias) duração. O desfecho primário será a taxa de infecção pós-operatória profunda, em cada braço. Os desfechos secundários incluem: o tipo e frequência de eventos adversos relacionados com antibióticos, os resultados funcionais dos pacientes e a pontuação de qualidade de vida, reoperação e mortalidade.167 Outra área de desenvolvimento envolve o revestimento com prata de implantes e dispositivos médicos, tais como válvulas cardíacas, cateteres cardíacos e cateteres urinários, que tem demonstrado a capacidade de reduzir a taxa de infecção de dispositivos médicos e, portanto, uma extensão lógica do trabalho foi a de traduzir esse conceito para o domínio da endoprótese.168,169 Tanto a ciência básica como a pesquisa clínica sugerem a redução da incidência de ISC e IAP em endopróteses revestidas com prata. Recentemente, Implantes de titânio revestidos com Iodo têm sido igualmente eficaz na prevenção e tratamento de infecções em cirurgias ortopédicas de grande porte.170, 171 Em um estudo experimental em coelhos, a taxa de infecção em próteses não revestidas e revestidas com prata foi avaliada, após a inoculação de Staphylococcus aureus, e em que também foram dosadas as concentrações de prata no sangue, urina e órgãos vítimas de possíveis efeitos colaterais tóxicos. Os autores demonstraram, de forma convincente, que as megapróteses revestidas com prata apresentaram taxa de infecção significativamente inferior, quando comparada com o grupo de próteses em titânio não revestidas (7% e 47%, respectivamente, p <0,05).173 Além disso, as medições de proteína C-reativa, neutrófilos, temperatura retal, e o peso corporal mostraram sinais inflamatórios significativamente menores (p <0,05) no grupo de revestimento com prata. Em um segundo estudo, os autores analisaram os potenciais efeitos colaterais toxicológicos destes implantes e encontraram que a concentração sanguínea [mediana 1,883 partes por bilhão (PPB)] e tissular (0,798-86,002 PPB) de prata estavam elevadas, sem alterações patológicas dos parâmetros laboratoriais e sem alterações histológicas dos órgãos.174 Em um estudo observacional, prospectivo, Hardes et al. compararam a taxa de infecção em 51 pacientes com sarcoma ósseo (fêmur proximal, n = 22; tíbia proximal, n = 29) submetidos ao implante de megapróteses revestidas de prata, com 74 pacientes (fêmur 91 proximal, n = 33; tíbia proximal, n = 41 ), nos quais foi utilizada uma megaprótese de titânio, não revestida. Os autores relataram a redução substancial da taxa de infecção, de 17,6% no grupo de titânio não revestido, comparada com 5,9% no grupo de implantes revestidos de prata (p = 0,06). Além disso, enquanto 38,5% dos pacientes, em última instância, sofreu amputação quando do desenvolvimento de IAP, isso não ocorreu, em nenhum caso no grupo de estudo. No entanto, os autores observam que a duração da cirurgia necessária para a substituição da tíbia proximal, foi significativamente menor no grupo com revestimento de prata (p = 0,034), e que a duração prolongada da cirurgia esteva associado com um aumento da taxa de IAP (p = 0,025).172a O mesmo grupo relatou a falta de efeitos colaterais toxicológicas de megapróteses revestidas de prata em 20 pacientes com metástases ósseas.172b Os autores relataram que os níveis de prata no sangue não ultrapassaram 56,4 PPB e podem ser considerados nãotóxicos. Eles excluíram ainda mudanças significativas na função hepática e renal com base em valores laboratoriais; e o exame histopatológico do ambiente periprotético, em dois pacientes, não apresentou sinais de granulomas de corpo estranho ou inflamação crônica, apesar de concentrações efetivas de prata de até 1.626 PPB estarem relacionadas diretamente com a superfície da prótese.172b Tsuchiya et al relataram que os implantes com revestimento de iodo foram usados para prevenir a infecção em 257 pacientes com o estado geral comprometido. A infecção aguda desenvolveu-se em apenas 3 casos de tumor e um pé diabético, entre todos os 257 pacientes. Anormalidades da função da glândula tireóide não foram detectadas. Nenhum dos pacientes apresentou soltura dos implantes. Excelente crescimento ósseo foi encontrado em torno de todas as próteses de quadril e implantes para tumores. Os resultados indicam que o titânio revestido de iodo tem atividade antibacteriana favorável, biocompatibilidade, e nenhuma citotoxicidade.170 Gosheger revisou 197 pacientes com megapróteses e encontrou que os implantados com próteses de cromo-cobalto tiveram mais infecções do que aqueles com implantes de titânio.174 Revendo 197 pacientes (77 pacientes com um sistema de liga de cromo-cobalto e 120 pacientes com um sistema de liga de titânio) que foram submetidos a reconstrução de extremidades inferiores com megapróteses, os autores relataram uma taxa de infecção de 31,2% no grupo de cromo-cobalto, em comparação com 14,2% no grupo de titânio (p <0,01). Quando se realizou uma análise secundária combinando dois subgrupos idênticos, o grupo cromo-cobalto ainda estava associada a uma taxa significativamente mais elevada de 92 infecção, com 5 infecções de 26 megapróteses contra uma infecção em 36 megapróteses de titânio (p <0,05). 174 -Questão 19: A profilaxia antibiótica deve ser diferente em pacientes submetidos a reconstruções com aloenxerto maciço? Consenso: Nós recomendamos o uso de profilaxia antibiótica de rotina em pacientes submetidos à reconstrução com aloenxerto maciço. Votação dos Delegados: A Favor: 93%, Contra: 5%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: A região periprotética é inerentemente um local de menor resistência. O enxerto ósseo maciço é, em essência, um grande corpo estranho e portanto, além dos implantes protéticos, representa um local adicional para a infecção profunda após a cirurgia. Além disso, enxertos maciços são usados com mais freqüência no ambiente de artroplastia de revisão, em que há o comprometimento vascular e de partes moles, o que agrava o risco de infecção. Portanto, parece razoável querer modificar o protocolo de antibiótico perioperatório para proteger estas reconstruções. Infelizmente, não existe literatura suficiente para suportar a alteração dos regimes de antibióticos perioperatórios, uma vez que a maioria dos estudos sobre o uso de aloenxerto maciço não indica ou detalha os esquemas de antibióticos profiláticos utilizados. Mesmo que esses dados estivessem disponíveis, não seria apropriado comparar as taxas de infecção de diferentes séries clínicas com base em seus protocolos antibióticos perioperatórios, devido à heterogeneidade das populações de pacientes. No entanto, há uma crescente tendência na literatura para apoiar o uso de aloenxertos impregnados de antibiótico, no cenário de revisão, como forma de diminuir as taxas de infecção. Além disso, existem vários relatos do uso de aloenxertos ou substitutos ósseos impregnados com antibióticos, como uma maneira de preencher defeitos ósseos e promover o crescimento ósseo, ao mesmo tempo em que libera doses supraterapêuticas de antibióticos para o ambiente local, em casos de osteomielite. Ainda que não exista literatura atual abordando esta tecnologia nas situações de defeitos ósseos em artroplastia de revisão infectadas, ela pode ser uma técnica promissora. Witso et al. utilizaram aloenxertos impregnados com netilmicina para reconstrução em cirurgias de revisão do quadril e joelho, e não encontraram efeitos adversos.175 Buttaro et al. utilizaram, com resultados favoráveis, os enxertos esponjosos suplementados com vancomicina, para a reconstrução após ATQ infectada.176,177 Michalak et al. e Khoo et al. 93 utilizaram aloenxertos segmentares impregnados com gentamicina e flucloxacilina respectivamente.178,179 No entanto, todos esses grupos utilizaram enxertos impregnados de antibióticos apenas na segunda etapa de uma revisão estagiada, após a resolução das evidencias clínicas e laboratoriais de infecção. Winkler et ai. realizaram 37 revisões não cimentadas em 1 tempo cirúrgico, usando aloenxerto de osso esponjoso impregnado com antibióticos e observou uma taxa de sucesso de 92%, definida como infecção recorrente, em um seguimento médio de 4,4 anos (variação de 2-8 anos). Além disso, não foram observados efeitos adversos, e a incorporação de enxerto ósseo foi comparável à dos enxertos não impregnados.180 Em uma série semelhante, Buttaro et al. analisaram a incidência de infecção, após a reconstrução em 1 tempo de revisões assépticas do quadril, utilizando aloenxerto impactado (femoral e/ou acetabular) impregnado com vancomicina, e os componentes protéticos fixados com cimento sem antibiótico. Em 75 pacientes consecutivos (80 quadris), seguidos por uma média de 36 meses (24-59 meses), a infecção profunda ocorreu em um paciente (1,25%), dois anos após o procedimento cirúrgico, o que levou o autor a suspeitar de origem hematogênica.181 O aloenxerto ósseo esponjoso pode armazenar e liberar elevadas quantidades locais iniciais de vancomicina, sem comprometer a incorporação do enxerto, e alguns resultados favoráveis com esta técnica foram publicados após a revisão estagiada de ATQ infectada 176,177,182-184 - Questão 20: Os pacientes com diabetes descompensado, imunossuprimidos ou com doença autoimune requerem uma profilaxia antibiótica perioperatória diferente? Consenso: Não. A profilaxia antibiótica de rotina é indicada para estes pacientes. Votação dos Delegados: A Favor: 90%, Contra: 9%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Vários estudos têm demonstrado que o diabetes mellitus (DM), especialmente o DM descompensado, é um fator de risco para a infecção pós-operatória em ATQ e ATJ.185-188 Um estudo de coorte retrospectiva recente, dentro do sistema Kaiser de Saúde, não encontrou aumento significativo do risco de revisão ou infecção profunda em pacientes diabéticos compensados (HbA1c <7%) ou não compensados (HbA1c> 7%). Especificamente, em comparação com pacientes não diabéticos, não houve associação entre DM compensado e risco de revisão (OR 1,32 CI 95% 0,99-1,76). Da mesma forma, quando comparados aos 94 pacientes não diabéticos, não houve associação entre DM descompensada e risco de revisão (OR 1,03 CI 95% 0,68-1,54).189 A obesidade também tem sido associada com uma taxa significativamente maior de infecção pós-operatória após SAPT. 190-192 O vírus da imunodeficiência humana (HIV), também tem sido associado com uma taxa alarmante de complicações pós-operatórias, incluindo a infecção. Parvizi et al. relataram 6 infecções profundas em 21 pacientes HIV positivos submetidos a SAPT. Os autores observaram que o estado imunológico dos pacientes estava relacionado com o risco de IAP profunda, em que 5 dos 6 pacientes desenvolveram Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) subsequente, e a contagem de CD4 foi significativamente menor (239 ± 112μL) no seguimento mais tardio dos pacientes que desenvolveram infecção, em comparação com 523 ± 171μL na população de estudo como um todo (p <0,001). Neste estudo, os autores relataram o uso de antibióticos profiláticos (cefalosporinas) pré-operatórios e 3 doses pósoperatórias, com o acréscimo de antibiótico (vancomicina e tobramicina) no cimento ósseo em 2 pacientes supostamente de alto risco para a infecção.193 Da mesma forma, Ragni et ai. encontraram uma taxa de infecção pós-operatória muito elevada (26,5%) em 34 SAPT em pacientes hemofílicos HIV-positivos, os quais tinham contagem de CD4 menor que 200/μL no momento da cirurgia.194 Haberman et al. observaram uma taxa de infecção de 12,7% em uma coorte de 41 pacientes HIV-positivos submetidos a SAPT, mas não identificaram nenhuma diferença nos resultados relativos à contagem de CD4.195 O protocolo de antibiótico perioperatório incluiu 5 dias de cefuroxima, e o uso de cimento com antibiótico (Palacos R, Zimmer, Warsaw, IN) em todos os procedimentos. Numa série menor, de 6 pacientes infectados pelo HIV submetidos SAPT, Wang et al. não observaram nenhuma infecção ou outras complicações. Os autores também utilizaram cimento ósseo com antibiótico (vancomicina) em todos os casos.196 Unger et al. avaliaram os resultados de 26 ATJ em hemofílicos HIV-positivos e não encontraram nenhum caso de infecção profunda, mas é interessante notar que a contagem média de células CD4 desses pacientes foi de 463μL.197 Historicamente a hemofilia tem sido considerada um fator de risco para a IAP, em parte devido à sua relação com o HIV e AIDS, mas também como um fator de risco independente. Um artigo de Silva et al. revisou os resultados em longo prazo das ATJs primárias em pacientes com hemofilia, e observaram os autores uma prevalência de IAP de 16%, com uma taxa de infecção em pacientes HIV positivos e negativos, respectivamente de 17% e 13%, (p=0.5). O protocolo perioperatório dos autores incluiu 3-5 dias de antibiótico profilático e a 95 fixação dos implantes com cimento sem antibiótico.198 Por outro lado, Rodriguez-Marchan relatou uma taxa de infecção de somente 3% em 35 SAPT em pacientes hemofílicos, porém utilizaram cimento com antibiótico para a fixação dos implantes, e 2 dias de profilaxia antibiótica perioperatória.199 Pacientes asplênicos têm risco aumentado para infecções por bactérias encapsuladas; e ainda que haja suporte para vacinação e profilaxia com penicilina em pacientes abaixo de 16 e acima de 50 anos de idade, não há presentemente consenso sobre o manejo perioperatório apropriado destes pacientes, imunocomprometidos. Em um relato de caso sobre um paciente asplênico submetido a ATJ, Shaarani et al. descreveram a evolução para infecção por MRSA. Neste caso o cimento ósseo sem antibiótico foi usado para a fixaçãoo dos implantes, e o paciente recebeu profilaxia antibiótica pré-operatória I.V. com cefalosporina de 2a geração.200 A doença renal (incluindo a insuficiência, dependência de diálise e transplante renal) tem sido implicada no aumento do risco de IAP. McCleery et al. analisaram o Registro Escocês de Artroplastia para determinar as taxas de IAP em pacientes com insuficiência renal (IR), dialíticos e transplantados. Relatam os autores, que pacientes com IR tiveram um aumento significativo do risco de infecção precoce (1,6%, RR 1,52, p=0.02) e tardia (4,47%, RR 2,2, p<0.001). Pacientes dialíticos apresentaram aumento significativo do risco de infecção (8,0%, RR 3,99, p<0.001) e revisão precoce (3,7%, RR 4,4, p<0.001). Pacientes transplantados renais tiveram aumento significativo do risco de infecção tardia, a despeito do transplante ser realizado antes da ATJ (9,1%, RR 4,5, p=0.03) ou em qualquer tempo (8,0%, RR 4,0, p=0.05).201 Lieberman et al. documentaram uma taxa de infecção profunda de 19% em 16 pacientes em diálise por IR crônica, e resultados mais favoráveis em pacientes transplantados.202 Sakalkale et al. relatarm uma taxa de infecção profunda de 13% em 12 pacientes dialíticos em estágio final de IR, submetidos a ATQ. Neste estudo os antibióticos profiláticos perioperatórios foram administrados por 2-5 dias.203 Por outro lado, outros autores não observaram aumento na taxa de infeção em pacientes sob hemodiálise crônica, que se submeteram à ATQ. 204, 205 A doença hepática tem sido também associada ao aumento da morbidade após SAPT. Pour et al realizaram estudo de caso-controle de 71 pacientes não cirróticos com hepatite C, submetidos à SAPT, e encontraram que esta coorte apresentou maiores taxas de drenagem persistente após ATQ, quando comparada aos controles pareados (15% e 3.8%, respectivamente, p=0.03).206 Orozco et al. publicaram recentemente um estudo de casocontrole para analisar o efeito da fibrose e trombocitopenia no diagnóstico de hepatite C, e nos desfechos clínicos. Em uma análise de 72 pacientes (77 SAPT), os autores encontraram que 96 pacientes com hepatite C fibrótica apresentaram maior taxa de infecção profunda (21 vs 0%, p =0.047) e de celulite (21 vs 0%, p =0.047), enquanto a trombocitopenia esteve associada com maior tendência à infecções.207 O transplante de órgãos sólidos (TOS) é um fator de risco para IAP, devido à necessidade do uso crônico de medicações imunossupressoras. Vergidis et al. realizaram um estudo de caso controle de pacientes com TOS, que desenvolveram IAP, comparando-os aos pacientes não infectados (controles pareados por tipo de transplante, tipo de substituição protética, e sequencia do procedimento cirúrgico de transplante ou SAPT). Dos 367 pacientes com ambos, SAPT e TOS, foram encontrados 12 casos de IAP, dos quais 8 associados a transplante renal, 3 a transplante hepático e 1 ao transplante cardíaco. Organismos Gram+ foram encontrados em 8 pacientes, micobactéria não tuberculosa em 2 pacientes, e em 2 pacientes as culturas foram negativas. De interesse é que os pacientes receberam cefazolina perioperatória, ou vancomicina no caso de colonização ou infecção prévia por MRSA. 208 Tannenbaum et al. relataram os resultados de 35 SAPT em 19 pacientes transplantados (renal ou hepático) e encontraram 5 pacientes com IAP, submetidos à SAPT após o transplante. Não foram detectadas infecções em pacientes que realizaram a SAPT antes do transplante. Nesta série, os antibióticos profiláticos foram administrados por pelo menos 48 horas, ou até que os drenos fossem removidos, e quando utilizado, o cimento ósseo não foi acrescido de antibióticos.209 -Questão 21A: Os antibióticos devem ser diferentes para SAPT primária e de Revisão? Consenso: Não. A profilaxia antibiótica perioperatória deve ser a mesma para artroplastia primária ou revisão não infectada. Votação dos Delegados: A Favor: 89%, Contra: 10%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) -Questão 21B: Os antibióticos devem ser diferentes para ATQ e ATJ? Consenso: A antibioticoperapia profilática perioperatória deve ser a mesma para quadril e Joelho. Votação dos Delegados: A Favor: 99%, Contra: 1%, Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativas: Pacientes submetidos à revisão de artroplastia apresentam maior risco de desenvolver IAP do que pacientes submetidos à artroplastia primária, e os pacientes 97 submetidos aos procedimentos de revisão de joelho ainda em maior risco.210-212 Um estudo recente demonstrou a efetividade de programas de prevenção de infecção em pacientes cirúrgicos de alto risco, que levam em conta a epidemiologia e antibiograma locais de uma instituição. 213 Liu et al. determinaram o impacto da adição de vancomicina à cefazolina como profilaxia antimicrobiana em 414 pacientes submetidos à revisão de ATJ, fundamentados no aumento marcante da IAP em revisão de ATJ, nas quais muitas são resistentes à meticilina. Após a introdução da vancomicina ao programa de profilaxia antibiótica de rotina pré-operatória, a taxa de infecção reduziu de 7,89% para 3,13% (p=0.046). Particularmente, a redução significativa na taxa de IAP por organismos resistentes à meticilina, no período de estudo,foi observada (de 4.2% para 0.9%, p=0.049).213 -Questão 22: Qual a melhor opção de antibiótico profilático em pacientes colonizados por enterobactérias resistentes ao carbapenem ou Acinetobacter sp multirresistente? Consenso: As informações atuais são insuficientes para recomendar uma profilaxia antibiótica expandida em pacientes sabidamente colonizados ou infectados por patógenos multirresistentes. Votação dos Delegados: A Favor: 76%, Contra: 8%, Abstenção: 16% (Forte Consenso) Justificativas: Há uma preocupação crescente sobre a ameaça representada mundialmente, por cepas de K. pneumoniae com sensibilidade reduzida aos carbapenens.214 Esta resistência é conferida por K. pneumo carbapenemase (KPC), que é uma β-lactamase a qual confere também resistência às cefalosporinas de amplo espectro, assim como às combinações de inibidores β-lactâmicos/β-lactamase, disponíveis comercialmente.215 Uma vez que existem poucas opções de antimicrobianos, a prevenção de K. pneumo carbapenemase K. pneumoniae (KPC-KP) tornou-se uma das principais prioridades dos que estudam infecções nosocomiais. 216 Ainda não há atualmente nenhuma evidência sobre o manejo da profilaxia antimicrobiana cirúrgica em um paciente com infecção prévia ou colonização por patógenos Gram- resistentes. Porém, se por um lado, parece lógico realizar a profilaxia com um agente ativo contra MRSA para qualquer paciente sabidamente colonizado por este patógeno Gram+ submetido à uma incisão na pele, especificamente para um patógeno gram-negativo resistente, a profilaxia em um paciente com infecção prévia ou colonização por esse patógeno, pode não ser necessária para um procedimento puramente cutâneo . 98 Em uma revisão da literatura, os micróbios produtores de KPC são resistentes a muitas moléculas não-β-lactâmicas. A maioria das cepas são resistentes às fluoroquinolonas, aminoglicosídeos, e cotrimoxazol. Algumas cepas são sensíveis à amicacina e gentamicina e a maioria são sensíveis à colistina e tigeciclina. 214, 217-219 Em um ECR cross-over, multicêntrico, de Smet et al. estudaram a descolonização em pacientes portadores de organismos multirresistentes, através da descontaminação orofaríngea seletiva e/ou do trato digestivo (SOD / SDD), utilizando a randomização por grupos (cluster) de 5.939 pacientes de unidades de terapia intensiva na Holanda. SOD incluiu 4 dias de cefotaxima intravenoso e aplicação tópica de tobramicina, colistina, e anfotericina B na orofaringe e estômago. SDD consistiu somente da aplicação orofaríngea dos mesmos agentes antimicrobianos. Usando uma análise de regressão logística de efeitos aleatórios, a razão de chances (OR) para a morte no 28o dia nos grupos SOD e SDD, em comparação com o grupo de tratamento padrão, foi de 0,86 (CI 95%,0,74-0,99) e 0,83 (CI 95% 0,72-0,97) respectivamente.220 Perez et al. utilizaram um modelo experimental em ratos para examinar o efeito do tratamento com antibióticos na criação e eliminação de colonização intestinal por KPC-KP. Eles administraram 3 dias de antibióticos (clindamicina, Zosyn, a tigeciclina, ertapenem, cefepima, e ciprofloxacina) prévios à administração orogástrica de KPC-KP. Os autores relataram que, dos quatro antibióticos com atividade mínima contra a cepa KPC-KP (CIM> 16mcg/mL), aqueles que suprimiram anaeróbios e Bacteroides (isto é, a clindamicina e Zosyn) promoveram a colonização por KPC-KP (p <0,001), enquanto que os agentes que não suprimiram anaeróbios e Bacteroides (isto é, a ciprofloxacina e cefepima) não promoveram a colonização (p = 0,35). Entre os antibióticos com atividade moderada contra KPC-KP, o ertapenem (CIM 4mcg/mL) não promoveu a colonização por KPC-KP, enquanto que a tigeciclina (CIM 3mcg/mL) promoveu a colonização (p <0,001), apesar de não reduzir os níveis de anaeróbios e Bacteroides totais. A administração orogástrica de gentamicina e polimixina E- suprimiram KPC-KP para níveis indetectáveis na maioria dos ratos. Os autores propuseram que os antibióticos que perturbam a microflora intestinal anaeróbia carecem de atividade significativa contra a KPC-KP, e promovem a colonização, enquanto a administração de antibióticos não absorvidos por via oral, pode ser uma estratégia eficaz para suprimir a colonização por este microorganismo.221 Referências: 99 1. Recommendations for the Use of Intravenous Antibiotic Prophylaxis in Primary Total Joint Arthroplasty. http://www.aaos.org/about/papers/advistmt/1027.asp. Accessed 2013. 2. Prokuski L. Prophylactic antibiotics in orthopaedic surgery. 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Antimicrob Agents Chemother. 2011;55(6):2585-2589. 111 TEMA 4: AMBIENTE CIRÚRGICO Grupo de Trabalho Mediadores: Pouya Alijanipour MD Joseph Karam MD Coordenadores: Adolfo Llinás MD Kelly G Vince MD Charalampos Zalavras MD Delegados: Matthew Austin MD, Grant Garrigues MD,Snir Heller MD,James Huddleston MD, Brian Klatt MD, Viktor Krebs MD,Christoph Lohmann MD, Edward J McPherson MD, Robert Molloy MD, Ali Oliashirazi MD, Mitchell Schwaber MD, Eoin Sheehan MD, Eric Smith MD, Robert Sterling MD, Gregory Stocks MD, Shrinand Vaidya MD. -Questão 1: Existe correlação direta entre o número de bactérias que alcançam a ferida operatória e a probabilidade de infecção? Consenso: A probabilidade de infecção no local da cirurgia se correlaciona diretamente com a quantidade de bactérias que alcança a ferida cirúrgica. Nós apoiamos todas as estratégias para minimizar o número de partículas e bactérias na ferida cirúrgica. Votação dos Delegados : A Favor: 97%, Justificativas: Acredita-se Contra: 2%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) que a infecção do sítio cirúrgico (ISC) ocorra por inoculação bacteriana no momento da cirurgia, ou como resultado de contaminação bacteriana da ferida através através de espaços que comunicam-se com as camadas mais profundas.1-3 A probabilidade de ISC é o resultado da interação de parâmetros que podem ser agrupados em três grandes grupos.2 O primeiro grupo consiste de fatores relacionados com a capacidade da bactéria de causar infecção. Relaciona-se com a carga de inoculação inicial e com os fatores de virulência geneticamente determinados, que são requeridos para a aderência, reprodução, produção de toxinas e superação dos mecanismos de defesa do hospedeiro. O segundo grupo envolve os fatores relacionados com a capacidade de defesa do hospedeiro, incluindo mecanismos locais e sistêmicos. O terceiro grupo é representado pelas determinantes ambientais de exposição, tais como, o tamanho, o tempo e a localização da ferida operatória, que dão a oportunidade para a bactéria entrar, superar as defesas locais e dar início a reações inflamatórias locais e sistêmicas. 112 O uso de campos plásticos impregnados com iodo revelam diminuição do número de bactérias na pele, no entanto, não há uma correlação estabelecida com a ISC, não sendo possível nenhuma recomendação. (Vide Tema 4, Questão 27) . -Questão 2: O número de bactérias no ambiente cirúrgico está diretamente relacionado com a probabilidade de infecção na ferida operatória? Consenso: Reconhecemos que as partículas transportadas pelo ar devam ser consideradas a grande fonte de contaminação no ambiente cirúrgico e que as bactérias carregadas pelas pessoas que ali circulam sejam as fontes predominantes dessas partículas. O foco de nossas recomendações é reduzir o volume de bactérias no ambiente cirúrgico, com atenção particular para as partículas aéreas. Votação dos Delagados: A Favor: 93%, Contra: 5%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: O ar é uma fonte potencial de contaminação no ambiente cirúrgico.2,4 Estudos têm demonstrado que o número de bactérias transportadas pelo ar, ao redor da ferida operatória, está correlacionado com a incidência de infecção periprotética.1 Foi sugerido também que, se fosse possível mensurar com precisão o número de bactérias na ferida operatória, isso constituiria a previsão mais precisa de uma infecção subsequente.5 A bactéria pode ser considerada como parte da massa total de partículas no ar. Alguns estudos sugerem que a contagem de partículas no ar deve ser considerada como substituta em potencial da densidade microbiana aérea.6 Outros autores tem encontrado correlação entre o número de partículas maiores que 10 micrômetros, com a densidade de bactérias viáveis no local da cirurgia (medidos pelas unidades formadores de colônias-UFC).7 Foi sugerido que a monitoração da contagem de partículas seja utilizada como um substituto em tempo real, do aumento do risco de contaminação ou de infecção.7 Pessoas na sala cirúrgica transportam e disseminam uma considerável carga de bactérias e partículas bacterianas. Estas partículas circulam em todo ambiente cirúrgico pelas correntes aéreas. A movimentação de objetos (equipamentos, incluindo aberturas e fechamentos de portas) podem gerar importantes correntes aéreas e aumento da probabilidade da deposição de bactérias no sítio cirúrgico 3, 8 -Questão 3: A sala cirúrgica onde é realizada uma SAPT eletiva deve estar equipada com Fluxo de Ar Laminar (FAL)? Consenso: Nós acreditamos que uma artroplastia pode ser realizada em sala cirúrgica sem FAL. Havia a expectativa de que salas com FAL e outras estratégias poderiam reduzir as partículas bacterianas. Os estudos não têm demonstrado diminuição de ISCs em salas equipadas com FAL e, alguns casos são associados com aumento das taxas de infecção. São 113 tecnologias complexas que devem atuar em estrita aderência aos protocolos de manutenção. Recomendamos maiores investigações neste assunto. Votação dos Delegados: A Favor: 85%, Contra: 7%, Abstenção: 8% (Forte Consenso) Justificativas: Os estudos mais citados, que defendem o uso de fluxo de ar laminar foram realizados nas décadas de 70 e 80, por Charnley e Lidwell et al. 9, 10 No entanto, vários estudos recentes não tem demonstrado benefícios na redução da incidência de infecção.11-14 Breier et al. realizaram um estudo nacional na Alemanha, controlado para fatores de confusão com análise multivariada, e não detectaram efeitos independentes do FAL nas taxas de infecção cirúrgica, mesmo quando consideraram as salas com teto alto (pelo menos (3.2m x 3.2m). 11 Um estudo recente de Hooper et al., com bases no registro de artroplastias da Nova Zelândia, avaliou o assunto em larga escala.13 Os autores analisaram 51.485 artroplastias totais de quadris (ATQ) e 36.826 artroplastias totais de joelhos (ATJ) e revelaram aumento das taxas de infecção precoce com o uso de FAL, especialmente para ATQ. Este aumento foi independente das características dos pacientes, tempo cirúrgico, cirurgião, ou instituição. Infelizmente, exceto pelo estudo realizado por Salvati et al., no qual o FAL horizontal demonstrou aumento do risco de infecção em ATJ, outros estudos, incluindo aqueles que defendem o uso de FAL 17 10 , aqueles opostos ao uso,13 e aqueles com resultados indiferentes,15- não realizaram uma sub-análise para distinguir a influência de diferentes tipos de FAL nas infecções periprotéticas. -Questão 4: Existem evidências suficientes para o uso universal de aventais com sistema de exaustão em SAPT? Consenso: Não há, até o presente, evidências conclusivas para defender o uso rotineiro desta indumentária nas artroplastias totais. Votação dos Delegados: A Favor: 84%, Contra: 11%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Semelhante ao assunto do FAL, o uso de indumentária com sistema de exaustão durante artroplastias totais é controverso. O estudo recente de Miner et al. não demonstrou benefício na utilização,14 e um estudo de Hooper et al. demonstrou aumento na taxa de infecção precoce com a utilização desta indumentária, tanto em sala convencional quanto em sala com FAL.13 No entanto, existem algumas sugestões de que deva ser utilizado em salas equipadas com FAL, para prevenir contaminação.18, 19 114 -Questão 5: Quais estratégias devem ser implementadas quanto ao tráfego na sala cirúrgica? Consenso: Recomendamos que o tráfego em sala cirúrgica seja o mínimo possível. Votação dos Delegados: A Favor: 100%, Contra: 0%, Abstenção: 0% (Consenso Unânime) Justificativas: As pessoas são grande fonte de contaminação do ar na sala cirúrgica, tanto pelo tráfego que promove turbulência, quanto pelo transporte de bactérias. Ritter et al. demonstraram que a contagem de bactérias no ar da sala cirúrgica aumenta 34 vezes na presença de 5 pessoas quando comparado com sala vazia.17 A manutenção de porta aberta também aumenta significativamente a contaminação do ar.17 Anderson et al. demonstraram uma correlação positiva entre o trafego de pessoas e a contagem de bactérias no ar, durante procedimentos ortopédicos,15 e também identificaram uma correlação direta entre o número de pessoas presentes na sala cirúrgica e a contagem de bactérias. Quraishi et al. demonstraram uma correlação direta entre o nível de atividade das pessoas na sala cirúrgica e a deposição de bactérias na área estéril.20 Panahi et al. observaram a abertura de portas durante artroplastias primárias e de revisão.21 Identificaram 0,65 e 0,84 aberturas por minuto nos casos de artroplastias primárias e de revisão, respectivamente. As pessoas responsáveis pela abertura de portas, em sua maioria, foram os representantes técnicos de implantes e circulantes de sala. Lynch et al. demonstraram uma relação exponencial entre o número de aberturas de portas e o número de pessoas dentro da sala. Na maioria das vezes, a abertura de portas esteve relacionada com a solicitação de informações (motivos facilmente evitáveis).22 Aberturas múltiplas das portas podem resultar na queda do gradiente de pressão, requerendo maior bombeamento de ar pelos sistemas de FAL e, por isso, os filtros de alta eficiência se consomem mais rapidamente. Tem sido proposto que o pessoal de sala passe por uma área sub-estéril, cada vez que entrar ou sair da sala cirúrgica, embora esta prática não tenha evidências que a validem. O planejamento operatório poderá prever o tamanho aproximado dos implantes, com potencial de uso, os quais devem estar em sala desde o início. -Questão 6: O controle das luzes deve ser realizado com pedais ao invés de manoplas estéreis? Consenso: Alertamos que o manuseio de manoplas estéreis do foco cirúrgico pode ser uma fonte de contaminação e, assim seu uso deve ser minimizado. Outras estratégias relacionadas com o controle de luzes deverão ser desenvolvidas para minimizar a contaminação. Votação dos Delegados: A Favor: 91%, Contra: 4%, 115 Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Davis et al. identificaram uma taxa de contaminação de 14,5% nas manoplas de luz durante os casos de artroplastias totais. 23 Hussein et al. não demonstraram evidências de contaminação nas manoplas de luz (plásticas ou metálicas autoclavadas) após 15 casos de artroplastias totais primárias.24 No entanto, não identificamos outros estudo na literatura direcionados ao risco de contaminação do avental do cirurgião ou de partes do campo estéril quando comparados com o alcance, no alto, para o ajuste das luzes, ou estudos que avaliem deslocamentos de ar secundários aos movimentos do cirurgião para a mesma finalidade. -Questão 7: O uso da luz ultravioleta (UV) tem algum papel na prevenção de infecção pós artroplastias totais? Consenso: Acreditamos que ambientes com UV possam diminuir as taxas de infecção, mas reconhecemos que a mesma possa oferecer riscos para o pessoal de sala. Reconhecemos também que o benefício da UV possa ser a inibição ao tráfego em sala. Votação dos Delegados: A Favor: 74%, Contra: 13%, Abstenção: 13% (Forte Consenso) Justificativas: Embora a UV tenha demonstrado um decréscimo significativo nas contagens bacterianas da sala cirúrgica, bem como na ocorrência de infecção pós-operatória, seu uso é deletério para o pessoal de sala e aumenta o risco de lesões corneais e de câncer de pele. Diretrizes de centros de controles de doenças norte americanos são contra a utilização de UV em sala cirúrgica para prevenir infecções.5, 25-30 -Questão 8: As luzes UV para descontaminação/esterilização ou as unidades portáteis utilizadas em ambientes não ocupados (noites e finais de semana) fazem diferença na esterilidade do ambiente cirúrgico? Consenso: Há expectativa de que luzes UV diminuam a carga bacteriana nas salas cirúrgicas, mas a tecnologia desta aplicação não foi estudada. Pode ser considerada um adjuvante, mas não um substituto da limpeza convencional. Existem riscos potenciais de ficarem ligadas inadvertidamente, desde o início do dia. Votação dos Delegados: A Favor: 84%, Contra: 3%, Abstenção: 13% (Forte Consenso) Justificativa: Após extensa revisão de literatura, não encontramos evidências para defender ou refutar o uso de luz UV para manter o ambiente cirúrgico estéril, fora dos períodos de cirurgias. 116 -Questão 9: O paciente e o pessoal de sala devem usar máscaras para evitar a contaminação do ar no ambiente cirúrgico? Consenso: Apesar da ausência de estudos conclusivos que demonstrem redução nas taxas de infecção quando usadas as máscaras, por todos e apropriadamente, nós acreditamos que existam razões para esperar uma diminuição da contagem de bactérias no ar. Até que surjam evidências que demonstrem vantagem em não usar máscaras, nós acreditamos que é parte da segurança do paciente que todos a usem, durante todo o tempo em que se encontrem no ambiente cirúrgico. Não há evidência suficiente para apoiar o uso de máscaras por pacientes, que supere o benefício do acesso às vias aéreas. Votação dos Delegados: A Favor: 85%, Contra:7%, Abstenção: 8% (Forte Consenso) Justificativa: O benefício do uso de máscaras, pelo pessoal de sala, na prevenção da contaminação aérea e da ferida operatória, tem sido questionado por vários autores. 31-33 Um estudo de Lipp e Edwards incluiu 3 ensaios com um total de 2.113 indivíduos e concluiu que o uso de máscaras não tem efeito significativo nas infecções da ferida operatória, em pacientes submetidos a cirurgias limpas.32 Sellden et al. decidiram evitar o uso de máscaras para o pessoal que não participa do ato cirúrgico.34 Um recente ECR de Webster et al. demonstrou que quando nenhuma pessoa, das que não participam da cirurgia, usou máscaras, não houve aumento das taxas de infecção no local da cirurgia. No entanto, este estudo incluiu procedimentos não–ortopédicos e ortopédicos, que foram seguidos apenas por 6 semanas.35 Além disso, não está claro se os procedimentos ortopédicos incluíram implantes. Não identificamos estudos específicos que investigassem o uso de máscaras pelos pacientes submetidos a artroplastias totais ou estudos que avaliassem o benefício desta prática na redução da contaminação do ar. -Questão 10: Qual vestuário deve ser utilizado pelo pessoal de sala? Consenso: Recomendamos que todos usem as roupas limpas tradicionais do centro cirúrgico, incluindo toucas descartáveis. Vestuário usado fora do hospital não deve ser usado durante artroplastias totais. Votação dos Delegados: A Favor: 98%, Contra:1%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Alguns aspectos relacionados ao vestuário do pessoal de sala (tais como aventais e luvas) são discutidos em outras seções. São crescentes as controvérsias relacionadas ao uso de máscaras e toucas na prevenção de infecções, com base nos resultados inconsistentes das investigações clínicas no campo da cirurgia geral, ginecológica e cardiológica.36-42 No entanto, como afirmado pelas diretrizes do CDC28, o uso de máscaras por todas as pessoas de sala é um comportamento vantajoso e sem nenhum prejuízo, que 117 promove um obstáculo mecânico às secreções oro e nasofaríngeas. Estas secreções podem conter partículas bacterianas e todos os esforços para diminuir a exposição da ferida operatória às mesmas, devem ser realizados. Além disso, máscaras podem proteger as pessoas de eventuais contatos com sangue ou outras secreções do paciente. -Questão 11: Quais restrições devem ser adotadas quanto ao uso de dispositivos eletrônicos portáteis (tais como telefones celulares, laptops, tablets ou aparelhos de som) na sala cirúrgica? Consenso: Reconhecemos que dispositivos eletrônicos portáteis possam estar contaminados com bactérias. Também reconhecemos que a conversação excessiva está associada com maiores níveis de bactérias no ambiente cirúrgico. Recomendamos que a utilização de dispositivos eletrônicos portáteis seja limitada àquela relacionada com os cuidados do paciente. Votação dos Delegados: A Favor: 84%, Contra:14%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Muitos estudos tem demonstrado altas taxas de contaminação de telefones celulares e outros dispositivos eletrônicos portáteis utilizados por funcionários dos hospitais,que pode variar entre 44% a 98%, com alta percentagem de cepas de bactérias Gram- resistentes, especificamente as produtoras de β-lactamase de amplo espectro, e de Staphylococcus aureus resistentes à metilicilina (MRSA).43-49 Ulger et al. demonstraram que 52% das cepas de Staphylococcus aureus isoladas de telefones celulares eram resistentes à meticilina.48 Brady et al. demonstraram que a limpeza de telefones celulares com solução à base de álcool reduziu significativamente a contaminação dos mesmos,43 semelhantemente ao que foi observado previamente por Singh et al., com pagers50 e Hassoun et al. com agendas eletrônicas.51 Por isso, a limpeza regular com álcool é fortemente recomendada, bem como os esforços para higienização das mãos, para prevenir infecções nosocomiais , incluindo as infecções cirúrgicas. Limitações ao uso de dispositivos eletrônicos portáteis na sala cirúrgica é também aconselhado, embora não exista evidências na literatura que associem o seu uso ao aumento das taxas de infecção. -Questão 12: O tempo cirúrgico prolongado predispõe ao maior risco de IAP? Consenso: Reconhecemos que as taxas de infecção cirúrgica aumentam diretamente com a duração da cirurgia. Algumas cirurgias apresentam grau inevitável de complexidade e necessitam maior tempo. Diminuir o tempo cirúrgico é um objetivo importante que necessita a cooperação e esforços de toda a equipe, bem como da instituição. Recomendamos que um esforço coordenado seja instituído para minimizar o tempo cirúrgico sem comprometer a técnica. 118 Votação dos Delegados: A Favor: 96%, Contra: 3%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Vários estudos tem associado o aumento do tempo cirúrgico com o risco de infecção após artroplastias, com significância estatística.52-65 Skramm et al. investigaram a incidência de infecção cirúrgica pós ATQ e ATJ por fraturas. Na avaliação dos fatores de risco para infecção, a duração da cirurgia foi o único fator de risco independente significativo no modelo de regressão logística. Também foram considerados a idade, o escore da American Society of Anesthesiologists (ASA), e o nível de emergência.61 Van Kasteren et al afirmam que o tempo da cirurgia maior do que o percentil 75 é um fator de risco para infecção periprostética,64 como previamente sugerido pelo índice de risco da National Noscomial Infections Surveillance (NNIS).66 No estudo populacional baseado no Registro Nacional de Artroplastias da Dinamarca, que incluiu 80.756 casos de ATQ primárias, o tempo cirúrgico foi um fator de risco independente significativo para revisão por infecção.57 Resultados similares foram publicados em países como Noruega e Inglaterra.60, 62 Peersman et al. sugeriram o uso dos tempos operatórios como um fator preditivo de risco para a infecção após ATJ, em um modelo de risco estratificado.58 Em uma revisão sistemática de apenas estudos observacionais que investigaram infecções cirúrgicas profundas em ATQ, que incluiram mais de 100 pacientes, Urquhart et al encontraram apenas dois estudos que examinaram o tempo operatório.54,60 Após a consolidação dos dados destes dois estudos, reconheceram a duração da cirurgia como um fator de risco independente para infecção cirúrgica. Além disso, numa análise recente de 56.216 ATJ primárias, Namba et al. identificaram um aumento de 9% no risco de infecção cirúrgica profunda, para cada 15 minutos de incremento no tempo operatório.56 No entanto, existem preocupações metodológicas sobre os estudos que suportam o papel do tempo operatório como um fator de risco para infecção periprotética, incluindo dados não coletados,9 falha em considerar os potenciais fatores de confusão,57,58 e aspectos estatísticos.59-61 Por outro lado, há estudos que não conseguiram demonstrar tal correlação67 ou até mesmo encontrando correlação oposta.68 Além disso, nenhum dos estudos anteriores considerou o potencial fator de confusão relacionado com doses de antibiótico repetidas, durante um procedimento prolongado. A duração do procedimento pode ser um indicador de complexidade da cirurgia (exposição cirúrgica extensa e dano tecidual mais grave), indicação cirúrgica (procedimentos prévios e indicações outras que não a artrose), inexperiência da equipe cirúrgica, cirurgião com ritmo lento, complicações perioperatórias, programas de padronização ideal inadequados, ou paciente com condições médicas pré-existentes.57,69,70 Talvez o ensino de técnica operatória, e 119 o empenho em seguir sistematicamente os passos técnicos definidos, possam diminuir o risco de infecção cirúrgica. Curiosamente, tem sido também demonstrado que os procedimentos de duração mais longa têm risco aumentado para a revisão por soltura asséptica. 62 -Questão 13: O agendamento de artroplastias eletivas deve ser realizado de modo a não ocorreram após casos de infecção conhecida ou casos contaminados? Consenso: Reconhecemos a preocupação em relação ao risco de infecção para a cirurgia limpa após uma cirurgia contaminada. Reconhecemos que os estudos não demonstraram aumento das taxas de infecção em cirurgia limpa realizada após as de casos contaminados. Recomendamos uma limpeza completa, tal como definido pelos padrões institucionais locais, após a cirurgia contaminada e antes de uma nova cirurgia. Votação dos Delegados: A Favor: 89%, Contra: 8%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativa: Embora a realização de uma artroplastia infectada antes de procedimentos nãoinfectados seja, teoricamente, arriscado para a contaminação cruzada, não há evidências suficientes para apoiar ou opor-se a esta prática. No entanto, esta política deverá ensejar um trabalho árduo do pessoal de limpeza para a desinfecção da sala cirúrgica no final do dia, quando não há nenhuma preocupação econômica sobre o tempo necessário para uma desinfecção apropriada. Uma prática comum em cirurgia ortopédica, especialmente na artroplastia, é organizar a sala cirúrgica de forma que os casos de infecção, confirmados ou suspeitos, sejam operados no final da sessão ou após os procedimentos de limpeza. Não há estudos adequados para comprovar se a prática de realizar uma artroplastia limpa, após um caso infectado, aumenta a probabilidade de infecção. Estudos microbiológicos demonstraram sobrevivência a longo prazo de organismos patogénicos nosocomiais em superfícies de objetos inanimados.71 Isto pode sustentar o risco teórico de contaminação cruzada entre os procedimentos, se não houver nenhuma estratégia preventiva para a desinfecção após cada procedimento. Existem apenas dois estudos retrospectivos que abordaram esta questão, mas ambos têm força inadequada e conclusões inconsistentes.72 73 Apesar da falta de evidências, uma boa prática deve incluir este fator como potencial para infecção periprotética, mesmo que não haja provas suficientes para a contaminação cruzada entre os procedimentos. Abolghasemian et al. avaliaram o risco de infecção em 85 casos primários e de revisão realizados após a artroplastia de ressecção para infecção periprotética.72 Depois de um seguimento mínimo de 12 meses, não foi encontrado aumento da taxa de infecções, superficiais ou profundas, neste grupo, quando comparado com 321 pacientes pareados por 120 fatores demográficos e que não realizaram artroplastia após artroplastia infectada na mesma sala. Um paciente do grupo de estudo, que desenvolveu uma infecção profunda, teve um agente infeccioso diferente daquele do caso cirúrgico anterior. Limpeza da sala cirúrgica após um caso infectado não difere da limpeza após um caso asséptico. Namdari et al. empreenderam um esforço semelhante quando detectaram o desenvolvimento de infecção em 39 casos de artroplastias primárias realizadas após casos contaminados. Eles identificaram um caso de infecção periprotética nesta coorte, quando o organismo infeccioso causador (Propionibacterium acnes) foi o mesmo que causou a infecção no caso séptico precedente. No entanto, nenhuma análise microbiológica foi realizada para certificar que ambos os organismos tinham idêntica linhagem.73 -Questão 14: A normotermia do paciente tem papel essencial na prevenção de infecções? Consenso: Reconhecemos a significância da normotermia do paciente e os dados oriundos de procedimentos não-ortopédicos. Defendemos as recomendações genéricas da literatura relacionada à cirurgia geral e identificamos este, como um tema que requer mais pesquisas. Votação dos Delegados: A Favor: 92%, Contra:1%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativas: Kurz et al. realizaram um ECR com pacientes de cirurgia colorretal e demonstraram diminuição significativa nas taxas de infecção operatória nos pacientes que receberam fluídos aquecidos e aquecimento com cobertor de ar aquecido forçado (CAAF), comparados com os pacientes que não tiveram manutenção da normotermia.74 Melling et al. conduziram um ECR em cirurgias não-ortopédicas limpas e identificaram um papel significativo na prevenção de infecção operatória nos pacientes aquecidos.75 Um protocolo sistemático utilizando CAAF ou aquecimento local com calor radiante demonstrou diminuição significativa nas taxas de infecção operatória. Nenhum estudo randomizado controlado, específico para artroplastias ou para procedimentos ortopédicos foi identificado. -Questão 15: Cobertores de Ar Aquecido Forçado (CAAF) aumentam o risco de ISC? Consenso: Reconhecemos o risco teórico imposto pelos cobertores de ar aquecido forçado e o fato de nenhum estudo ter demonstrado aumento nas taxas de infecção relacionadas à utilização destes dispositivos. Recomendamos mais estudos mas nenhuma mudança na prática corrente. Votação dos Delegados: A Favor: 89%, Contra:5%, 121 Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: Estudos recentes revelam uma preocupação crescente com a possibilidade de contaminação bacteriana aérea pela utilização de CAAF. Alguns autores investigaram a interrupção no fluxo de ar. McGovern et al. realizaram um estudo experimental no qual perceberam que os CAAF promovem interrupção no fluxo de ar no sítio cirúrgico em salas com FAL, quando comparados com cobertores tradicionais, em cirurgias simuladas de artroplastia total de quadril e cirurgia de coluna.76 Legg et al. detectaram aumento nas partículas aéreas sobre o campo operatório, quando utilizado o CAAF, comparado com aquecimento radiante.77 Contrariamente, Sessler et al. não identificaram nenhuma piora na qualidade do ar com o uso de CAAF sob fluxo de ar laminar. 78 Memarzadeh et al. reportaram os resultados de um estudo computacional conduzido pelo National Institutes of Health no qual a interrupção do fluxo de ar laminar foi desprezível com o uso de CAAF.79 Outros autores investigaram a contaminação bacteriana do ar na sala cirúrgica. Moretti et al. submeteram amostras de ar em condições experimentais e demonstraram aumento da contaminação bacteriana após ligarem o CAAF; no entanto, em proporção muito menor do que a piora da qualidade do ar induzida pelas pessoas que transportam o paciente para a sala cirúrgica.80 Tumia et al. submeteram amostras de ar sob condições de FAL em procedimentos ortopédicos a não conseguiram identificar nenhum aumento significativo na contagem de bactérias no ar, com o uso de CAAF.81 Sharp et al. também avaliaram amostras de ar em salas equipadas com FAL, para estudar o efeito do CAAF na qualidade do ar, utilizando pacientes voluntários com psoríase que tiveram aumento da descamação da pele.82 Foi coletado ar de uma distância teórica do local da cirurgia (30cm), e não houve culturas positivas. Um teste de fumaça que foi utilizado para avaliar visualmente o fluxo de ar, não demonstrou turbulência com o uso do FAL. Zink et al. também demonstraram preocupação com a possível contaminação da sala cirúrgica com a utilização de FAL, mas não coletaram amostra de ar. Colocaram placas de cultura sobre o abdômen de voluntários, mas não detectaram aumento das taxas de contaminação com este método.83 Albrecht et al. verificaram que os filtros utilizados nos fluxos de ar não são eficientes e revelaram colonização de suas partes internas. Em 92% dos dispositivos testados houve crescimento de bactérias que frequentemente produzem infecção em artroplastias (espécies de estafilococos).84 No entanto, não há evidência concreta para associar o uso de FAL com infecção cirúrgica em artroplastias. McGovern et al estudaram a mudança do sistema de fluxo de ar aquecido forçado para um sistema alternativo em 1.437 pacientes. Foi identificado um aumento significativo nas infecções articulares profundas, como demonstradas por uma elevada razão de chances de infecção OR (3,8, p = 0.024), durante o período quando o ar 122 aquecido forçado foi utilizado, comparado com o período quando foram utilizados cobertores tradicionais. Os autores admitiram que o estudo foi observacional, e pode ter sido afetado por outras medidas para a prevenção de infecção, instituídas pelo hospital. 76 -Questão 16: Deve-se solicitar ao pessoal de sala cirúrgica que descontaminem suas mãos, com degermante alcoólico, toda vez que tiverem contato com objetos (incluindo equipamento médico) localizados próximo ao paciente? Consenso: Nós apoiamos as recomendações atuais para a higienização das mãos no cuidado com o paciente. Votação dos Delegados: A Favor: 86%, Contra: 8%, Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: A higienização da mãos realizada adequadamente é um fator de proteção para a transmissão cruzada de agentes infecciosos, tanto para o paciente quanto para os profissionais da área da saúde. De acordo com a OMS, a higienização das mãos deve ser realizada pelo pessoal da sala cirúrgica que está envolvida no exame, manipulação e acomodação do paciente.85 Há uma ampla evidência para confirmar a transmissão de patógenos de paciente para o meio e vice-versa. No entanto, há evidências inadequadas para demonstrar a influência da descontaminação das mãos nesta sequencia. Serão necessários estudos clínicos de alta qualidade para determinar a eficiência da descontaminação das mãos na prevenção de ISC e IAP. Descontaminação frequente tem sido sugerido,86 porém há preocupação com a irritação da pele e dermatites de contato.87 Além disso, existe algum risco de modificação da flora bacteriana e colonização de lesões cutâneas.88 Foram descritos 5 passos sequenciais na transmissão cruzada de patógenos.86 Estes passos incluem a descamação da pele e sua flora para os objetos inanimados ao redor do paciente, transferência de bactérias para as mãos dos funcionários, sobrevivência dos microrganismos nas mãos dos funcionários, técnica de antissepsia inadequada das mãos, e transmissão de bactérias das mãos de funcionários para os pacientes ou para objetos que podem entrar e contato com os mesmos. Da pele normal se desprendem aproximadamente 106 escamas contendo microrganismos, por dia.89 Por isso, superfícies localizadas próximas ao paciente (assoalho, macas, aventais, mobília e equipamentos médicos) podem se tornar contaminadas com a flora do paciente.86,90-92 As mãos e luvas dos funcionários podem ser contaminadas após o contato com os objetos inanimados no quarto do paciente.93, 94 Estudos baseados em laboratórios tem demonstrado que muitas bactérias, incluindo Staphylococcus aureus, bacilos Gram- e Enterococci, podem ser transferidos para as mãos ao tocarem objetos 123 contaminados.86,94,95 Microrganismos podem sobreviver nas mãos por diferentes períodos, desde poucos minutos até várias horas; e as mãos dos funcionários podem ser progressivamente colonizadas por má higienização, períodos longos de cuidados e alta quantidade de contaminação.86 Em um estudo, o uso de álcool-gel nas mãos foi associado à diminuição de 36% nas taxas de infecção nosocomial.96 Há forte evidência que demonstra melhora nas taxas de infecções associadas aos cuidados de saúde com os programas de higienização das mãos utilizando álcool-gel, no entanto, são necessários estudos com modelo metodológico mais adequados.86 -Questão 17: Quais as recomendações para a higienização das mãos e o uso de luvas pelo pessoal que está em contato com o paciente para exames, manipulação e acomodação na mesa cirúrgica? Consenso: Recomendamos os princípios atuais de precauções padronizadas. 97 Votação dos Delegados: A Favor: 92%, Contra: 1%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativas: As luvas devem ser utilizadas pelo pessoal da sala cirúrgica, conforme os princípios de precauções padronizados.97 Proteção adicional é mandatória nos casos de potencial contato com sangue, fluídos corporais, secreções, excreções, mucosas, soluções de continuidade cutâneas ou equipamento contaminado.97 O uso de luvas não isenta a necessidade de aplicação dos princípios de higiene das mãos. Nas situações em que o paciente tem recomendação de precaução de contato, as luvas devem ser utilizadas para qualquer tipo de contato, direto ou indireto. As dinâmicas de contaminação são semelhantes entre mãos com ou sem luvas.86 Luvas podem ser contaminadas após o toque no paciente ou em objetos inanimados do seu quarto.92, 93, 98, 99 O risco de contaminação cruzada pelas luvas é semelhante àquele das mãos sem luvas.92, 99 Por isso, quando as luvas forem utilizadas no manuseio com o paciente, a higienização das mãos deve ser realizada antes de colocá-las e logo após sua remoção. -Questão 18: Devem ser usadas três luvas para prevenir contaminação durante SAPTs? Consenso: Recomendamos enluvamento duplo e reconhecemos a vantagem teórica do enluvamento triplo Votação dos Delegados: A Favor: 89%, Contra: 7%, 124 Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Uma taxa relativamente alta de contaminação da luva interna tem sido identificada com o enluvamento duplo em artroplastias totais e, por isso, a possibilidade de se considerar o uso de enluvamento triplo.100, 101 Hester et al. compararam as taxas de perfuração da luva interna com 3 protocolos de enluvamento em artroplastias: latex/tecido, latex/latex, e latex/tecido/latex.102 A menor taxa de perfuração foi demonstrada quando utilizada a luva de tecido interposta entre as luvas de látex. Uma taxa de perfuração reduzida foi encontrada quando a luva externa é de tecido em comparação com látex. No entanto, as taxas de perfurações, não foram estatisticamente significativas. Enquanto o enluvamento duplo, com luva externa de tecido, diminui a sensibilidade táctil e dificulta a manipulação do cimento, o enluvamento triplo com luva de tecido interposta entre luvas de látex não apresenta as mesmas desvantagens. Sebold et al. demonstraram que o uso de luva de tecido interposta entre látex reduziu as taxas de perfuração da luva interna para zero, em sua instituição.103 De acordo com suas observações, a destreza do cirurgião não foi comprometida por esta prática. Também demonstraram que as taxas de perfuração da luva interna é menor quando utilizadas luvas externas ortopédicas em comparação com as luvas de látex regular. Sutton et al. demonstraram que a taxa de perfuração é menor quando utilizado o enluvamento triplo com a interposição de uma membrana resistente ao corte entre as luvas de látex, comparando com o uso de enluvamento duplo.104 Em resumo, o enluvamento triplo parece diminuir as taxas de perfuração da luva interna, no entanto, diminui a sensibilidade táctil e a destreza do cirurgião. -Questão 19: Com que frequência as luvas devem ser trocadas durante a cirurgia? Consenso: Reconhecemos a vantagem de trocar as luvas, pelo menos a cada 90 minutos ou mais frequentemente, e quando perfuradas. A permeabilidade das luvas é comprometida após o contato com o cimento (polimetacrilato de metila), e assim, as luvas devem ser trocadas após a cimentação. Votação dos Delegados : A Favor: 89%, Contra: 6%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Al-Maiyah et al. realizaram um estudo controlado, em artroplastia total de quadril, no qual o grupo de estudo trocou as luvas a cada 20 minutos e antes da cimentação do implante, comparado com o grupo controle que trocou as luvas cimentação.105 somente antes da A troca periódica demonstrou uma redução significativa de perfurações e contaminação. Kaya et al. relataram que a perfuração de luvas ocorreram, em média, após 90 minutos. Por isso, sugerem a troca a cada 90 minutos.106 Dawson-Bowling et al. avaliaram a contaminação das luvas após a colocação dos campos cirúrgicos e antes da abertura do último componente de implante, verificando taxas de contaminação de 12 e 24%, respectivamente. 107 125 Beldame et al. identificaram maior taxa de contaminação das luvas antes da implantação da prótese e aconselham a troca antes deste momento.108 Os autores também demonstraram que, ao trocar as luvas externas que estavam contaminadas, a nova luva permenaceu nãocontaminada em 80% dos casos. Alem disso, um estudo prospectivo realizado por Carter et al. revelou que a perfuração da luva externa do cirurgião ocorreu em 3,7 e 8.3% das artroplastias primárias e de revisão, respectivamente. Os mesmos autores também observaram que a perfuração das luvas internas foi ignorada em 19% das perfurações das duas luvas (externa e interna), e recomendam uma inspeção mais cuidadosa da luva interna sempre que a externa for trocada. 100 -Questão 20: Quando as caixas de instrumental cirúrgico devem ser abertas? Consenso: Recomendamos a abertura das caixas no momento mais próximo do início da cirurgia, sem, no entanto, promover atrasos. O tempo entre a abertura das caixas de instrumentos e o início da cirurgia deve ser o menor possível Votação dos Delegados : A Favor: 98%, Contra: 1%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Dalstrom et al. demonstraram uma correlação direta entre a duração de exposição dos instrumentos e o risco de contaminação bacteriana.109 Algumas caixas revelaram contaminação imediatamente após a abertura. Após eliminadas estas bandejas, os autores demonstraram taxas de contaminação de 4% aos 30 minutos, 15% após 1 hora, 22% após 2 horas, 26% após 3 horas, e 30% após 4 horas. Brown et al. demonstraram que, durante a preparação e colocação de campos cirúrgicos, a contagem de bactérias no ar foi 4,4 vezes maior do que durante a cirurgia. Recomendam, portanto, que a abertura das caixas de instrumentos seja realizada após o preparo do paciente.110 -Questão 21: As caixas de instrumentos devem ser cobertas com campos estéreis quando não estão em uso? Consenso: Reconhecemos a vantagem teórica em cobrir as caixas de instrumentos quando não estiverem sendo utilizadas por longos períodos; e a desvantagem no uso de campos longos, quando são movidos de uma área contaminada sobre uma área estéril. Recomendamos mais estudos considerando tempo e técnicas. Votação dos Delegados : A Favor: 90%, Contra: 4%, Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: Chosky et al. demonstraram que a cobertura dos instrumentos com campos estéreis reduz em quatro vezes a contaminação bacteriana.111 As diretrizes para manutenção 126 da esterilidade no campo cirúrgico, da Association of Perioperative Registered Nurses (AORN), não recomenda a cobertura das mesas com campos que caiam abaixo de sua superfície, pois esta prática pode produzir turbulência de ar e transferir microrganismos de uma área não estéril (abaixo da mesa) para uma área estéril (sobre a mesa).112 Por outro lado, Dalstrom et al. demonstraram que a cobertura das caixas de instrumentos reduz significativamente o risco de contaminação e não identificaram nenhum aumento de risco de contaminação ao descobrilas.109 -Questão 22: A lâmina do bisturi deve ser trocada após a incisão da pele? Consenso: Reconhecemos altas taxas de contaminação em estudos de lâminas de bisturi que foram utilizados para a incisão na pele e recomendamos sua troca para uso em planos profundos. Votação dos Delegados : A Favor: 88%, Contra: 8%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Na maioria das instituições, lâminas individuais são utilizados para a incisão da pele e para os tecidos profundos, durante as artroplastias. No entanto, vários estudos têm questionado a necessidade de tal prática.113-115 Ao comparar a contaminação da pele e lâminas profundas, Ritter et al. não identificaram qualquer diferença nas taxas de contaminação em ambientes com fluxo de ar convencional e laminar.115 Além disso, os organismos recuperados de culturas ferida profunda não se correlacionavam com aqueles que estavam nas lâminas do bisturi, refutando assim a contaminação da ferida profunda pelas lâminas. Outros autores confirmaram esses achados.113,114 Contudo, Davis et al. identificaram uma taxa de contaminação de 9,4% nas lâminas superficiais e apoiam a prática rotineira de troca das mesmas após incisão.23 Schindler et al. relataram uma taxa de contaminação de 15,3% para as lâminas da pele, onde em 74% houve crescimento de Staphylococcus coagulase-negativo, uma das causas mais freqüentes de infecção periprotética.116 Neste estudo, 10,8% das lâminas profundas foram contaminadas, 50% das quais com Staphylococcus coagulase-negativo. Com base em seus resultados, os autores apoiam a troca da lâmina da pele após a incisão. -Questão 23: A ponteira do eletrocautério deve ser trocada durante a artroplastia? Com que frequência? Consenso: Na ausência de evidência recomendamos mais estudos e nenhuma prática específica. Votação dos Delegados : A Favor: 95%, Contra: 0%, 127 Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativa: Após revisão da literatura, não houve estudos relevantes para demonstrar a necessidade e freqüência de troca de ponteiras descartáveis do eletrocautério, durante a artroplastia eletiva. -Questão 24: As ponteiras do aspirador devem ser trocadas regularmente durante a cirurgia? Com que frequência? A ponteira do aspirador deve entrar no canal femoral? Consenso: Recomendamos a troca das ponteiras do aspirador a cada 60 minutos, com base em estudos que mostram taxas mais elevadas de contaminação. Ponteiras de aspiração podem ser introduzidas no canal femoral, durante o tempo necessário para evacuar fluidos, mas não deve ser deixado no canal, onde circulam grandes quantidades de ar e de partículas que podem contaminar a cirurgia. Votação dos Delegados : A Favor: 85%, Contra: 8%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativas: Vários estudos têm demonstrado altos índices de contaminação de ponteiras do aspirador durante a cirurgia.23,117-123 Em 1988, Strange-Vognsen et al. identificaram uma taxa de contaminação de 54% em procedimentos ortopédicos.123 Vinte anos depois, Givissis et al. encontraram a mesma taxa de contaminação, onde em 78% dos casos houve crescimento de Staphylococcus sp.117 Os autores relataram um caso de infecção cirúrgica profunda onde o organismo era o mesmo que foi isolado na ponteira de aspiração. Considerando o tempo cirúrgico, demonstraram uma taxa de contaminação de 9% nos procedimentos que duraram menos de uma hora, comparados com 66,7% em procedimentos que duraram mais de uma hora. Aconselham trocar a ponteira de aspiração a cada hora. Da mesma forma StrangeVognsen et al., recomendaram desligar a aspiração, quando não estiver em uso. No entanto, há a preocupação de que ao desligar a sucção, possa ocorrer contaminação do campo cirúrgico, devido ao escoamento de retorno do material ao longo do tubo e da ponta. Greenough et al. encontraram uma taxa de contaminação de 37% nas aspirações utilizadas em ATQ.118 No entanto, ao avaliar as pontas de sucção utilizadas somente para a limpeza do canal femoral, apenas uma delas (de 31) foi contaminada. Os autores aconselham mudar a ponta de sucção antes de preparar o fêmur em ATQ. A mesma conclusão foi reportada por Robinson et al. que realizaram um estudo semelhante entre os pacientes submetidos à ATQ, em salas com FAL, e identificaram uma taxa de contaminação da ponteira do aspirador, de 41%.122 -Questão 25: Devem ser utilizadas cubas ou bacias, uma vez que são reconhecidas fontes de contaminação? 128 Consenso: Não recomendamos o uso de bacias cheias de fluido que ficam abertas durante a cirurgia. Votação dos Delegados : A Favor: 88%, Contra: 3%, Abstenção: 9% (Forte Consenso) Justificativas: Andersson et al. demonstraram que 13 das 21 soluções de irrigação armazenados em bacias estavam contaminadas no final do procedimento, em salas com ventilação convencional.15 Baird et al. revelaram uma taxa de contaminação de 74% de amostras provenientes de fluidos da bacia. Em sua série, Staphylococcus epidermidis foi o agente mais prevalente.124A Anto et al. demonstraram uma taxa de contaminação de 24%, de amostras de líquido retiradas de bacias.125 Inversamente, Glait et al. mostraram taxas muito mais baixas de contaminação das amostras colhidas de bacias que foram usados para lavar ou armazenar os instrumentos, tendo apenas um caso de contaminação em 46 (2,17%).126 No entanto, eles usaram cotonetes para a coleta, diferentemente de outros estudos que realizaram cultura do líquido. -Questão 26: Os instrumentais e guias de corte descartáveis reduzem a contaminação e IAP subsequente? Consenso: Reconhecemos possíveis vantagens teóricas de instrumentos descartáveis, mas pela ausência de dados não podemos fazer recomendações. Votação dos Delegados : A Favor: 95%, Contra: 2%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Monte et al. demonstraram diminuição da taxa de contaminação de 57% em casos de ATJ não-navegadas, e 32% em casos navegados, quando se utilizou instrumentos, blocos de corte e provas descartáveis.127 Instrumentação específica pode encurtar a duração da cirurgia em ATJ.128 No entanto, não existem estudos que avaliaram especificamente a incidência de infecção peri-protética em pacientes que se utilizaram de guias de corte personalizados ou instrumentos descartáveis, comparados àqueles submetidos a artroplastias com instrumentos e guias de corte convencionais. Assim, esta questão continua não resolvida. -Questão 27: Existe papel para o uso de campos adesivos de incisão? Qual o tipo deve ser usado (impregnados ou simples) ? Consenso: Nós reconhecemos a existência de estudos que mostram que os campos adesivos impregnados com iodo diminuem a contagem de bactérias da pele, mas que nenhuma correlação foi estabelecida com a ISC. Não fazemos qualquer recomendação sobre o uso de barreiras de pele, exceto um estudo mais aprofundado. 129 Votação dos Delegados : A Favor: 89%, Contra: 7%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Existe preocupação acerca da recolonização do local cirúrgico e da pele, com a flora hospedeira durante a cirurgia.129-132 Campos para incisão destinam-se a proporcionar uma barreira estéril, no início do procedimento cirúrgico. Eles são utilizados no local cirúrgico, para proporcionar uma proteção suplementar e minimizar o risco de recolonização. Embora tenha sido demonstrado que campos impregnados diminuam a taxa de recolonização da flora cutânea, as conclusões sobre seu valor na prevenção de infecção cirúrgica são inconsistentes. Falta evidência de alta qualidade com a IAP como desfecho. O uso de adesivos impregnados com iodo deve ser evitado em pacientes com alergia sistêmica ou tópica à este agente. A ação bactericida do iodo impregnado nos campos adesivos é inferior às soluções convencionais de preparação de pele, tais como Betadine (NT: PVPI). A utilização de campos adesivos impregnados não substitui o preparo da pele convencional. 133 Em um estudo experimental sobre a pele de indivíduos normais, o uso de um campo adesivo impregnado com iodo foi significativamente associado à menor taxa de recolonização das bactérias da pele, em comparação com os métodos de preparação de pele local, com ou sem adesivo não-impregnado.131 No entanto, outro estudo experimental de um modelo animal em que a pele foi contaminada com Staphylococcus aureus, o campo adesivo impregnado com iodo foi tão ineficaz quanto o grupo de controle, na redução do número de colônias formadas 134 Outro estudo experimental verificou que campos não impregnados podem facilitar a taxa de recolonização da pele após preparação antisséptica.135 Em contraste, em uma investigação anterior, as bactérias não se multiplicam por baixo de um adesivo plástico e a migração lateral de bactérias não ocorreu.136 Em um estudo prospectivo, Chiu et al., não conseguiram demonstrar a diferença entre as taxas de contaminação da ferida, após a cirurgia de fraturas de quadril, com e sem o uso de adesivos plásticos (4/65 e 1/55 com e sem adesivos, respectivamente). 137 Em outro ECR, em cirurgia abdominal, dentro do grupo de procedimentos limpos e limpos-contaminados, adesivos impregnados com iodofor reduziram significativamente a contaminação da ferida cirúrgica por organismos da flora normal da pele, mas o estudo não foi capaz de detectar diferença significativa na taxa de ISC em comparação com o grupo controle, no qual não foi utilizado adesivo (5,9% e 5,6% para procedimentos realizados com e sem adesivos, respectivamente).138 Num estudo prospectivo comparando 122 pacientes submetidos a cirurgia do quadril, nos quais foi aplicado Ioban (3M), 24 horas antes da cirurgia, a amostragem bacteriana da ferida no fim do procedimento mostrou que a taxa de contaminação foi reduzida de 15 para 1,6% com 130 este método.139 Uma revisão combinou os resultados de ensaios clínicos de procedimentos cirúrgicos limpos e limpos-contaminados (cesarianas, abdominais, e fratura de quadril), mas a maioria não revelou evidência de alta qualidade. Nestes estudos foram utilizados os adesivos plásticos (definido como polietileno, poliuretano ou polivinil) como Op-site (Smith e Nephew), Ioban (3M) e Steridrape (3M,R.U). Os autores concluíram que os campos adesivos não estão associados com redução das taxas de infecção, em comparação com campos não adesivos e parecem estar associadas a um risco aumentado de infecção.140 No entanto, a qualidade dos poucos estudos incluídos nesta revisão sistemática não é alta. Os autores concluíram que, se a pele do paciente for adequadamente desinfectada antes da cirurgia, é improvável que ela seja a principal causa de infecção cirúrgica e, portanto, as tentativas para isolar a pele da ferida utilizando um campo adesivo, pode ser inútil e potencialmente prejudicial, pela umidade excessiva sob o plástico, podendo as bactérias residentes nos folículos pilosos migrarem para a superfície e se multiplicarem.137, 140 Outra questão que deve ser considerada é que o tipo de preparação da pele afeta a aderência do plástico.141 Alguns estudos demonstraram que a adição de Duraprep (3M) aumentou a capacidade adesiva do campo plástico.129,130 O uso da preparação da pele que aumenta a aderência poderá minimizar o descolamento do campo e o potencial para a contaminação da ferida. Concluiu-se que o desprendimento dos adesivos da pele foi associado com um aumento de 6 vezes na taxa de infecção, em comparação com os procedimentos cirúrgicos nos quais o adesivo não se desprendeu.142 Um ECR em pacientes submetidos a SAPT confirmou que a solução Duraprep (3M) foi associada significativamente a melhor aderência do que a degermação com iodo-povidona e pintura. No entanto, o estudo não foi capaz de demonstrar uma diferença significativa na contaminação da pele entre os grupos, muito embora o Duraprep tenha sido associado com uma menor taxa de contaminação.130 As reacções alérgicas a iodopovidona podem ocorrer, e há pelo menos um relato de um caso de dermatite de contacto alérgica associada com o uso de iodofor impregnado em campo cirúrgico.143, 144 -Questão 28: O uso de compressas ou campos estéreis, fixados na borda da ferida operatória, durante todo o procedimento, diminui as chances de contaminação e infecção da ferida? Consenso: Reconhecemos a prática tradicional de proteção das bordas da ferida operatória com campos estéries, mas como há uma grande variação do método, não fazemos nenhuma recomendação. 131 Votação dos Delegados: A Favor: 94%, Contra: 2%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: As evidências do uso de material estéril protegendo as bordas da ferida operatória estão, na sua maioria, relacionadas à cirurgia abdominal aberta.145 Não há evidências de seu uso em cirurgias ortopédicas e não foram encontradas recomendações relacionadas às IAPs. Compressas são úteis para proteger a ferida operatória de possíveis lesões causadas por instrumentos, como afastadores e raspas. Dispositivos de proteção das bordas da ferida tem sido utilizados em cirurgias abdominais para evitar contaminação e trauma durante laparotomias.145,146 Existem dois tipos de protetores: (1) com anel externo e interno conectados por um um plástico impermeável que cobre as bordas da ferida, e (2) com anel interno protegido com tecido estéril que se estende para fora e sobre o abdômen, para ser fixado com adesivo ou grampos.146 Eles formam uma barreira física para proteger o local da incisão de uma contaminação. Em contraste, campos adesivos não cobrem as bordas da ferida. Duas metanálises de ECRs compararam o uso de protetores da ferida operatória com o não-uso, em laparotomias. Os autores concluíram que o uso parece proteger contra infecção da ferida operatória.145, 146 No entanto, a qualidade desses estudos é pobre. Dois estudos multicêntricos relacionados à laparotomia estão registrados e estão sendo conduzidos no presente .147, 148 -Questão 29: Qual tipo de campo cirúrgico deve ser utilizado (reusáveis ou descartáveis)? Consenso: Reconhecemos que a permeabilidade a líquidos se equivale à contaminação e recomendamos campos impermeáveis. Na ausência de dados comparativos entre campos descartáveis ou reusáveis, mais estudos são recomendados. Votação dos delegados: A Favor: 90%, Contra: 6%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: As evidências existentes são apenas experimentais. A maioria dos estudos foi realizada em modelos sob condições rigorosas que não estão relacionadas com as situações reais. Faltam ensaios clínicos com a IAP como desfecho. Além das propriedades físicas do material aplicadas para a fabricação de campos cirúrgicos, fatores tais como, a pressão, o atrito, o tempo de contacto com o material contaminado, o estado de umidade/secura, e o agente hidratante (sangue, soro fisiológico, ou soluções anti-sépticas) podem afetar a permeabilidade bacteriana dos mesmos.149, 150 A passagem de bactérias através de campos secos ocorre e é facilitada quando os campos se tornam úmidos por solução fisiológica ou sangue. Diminui, no entanto, quando úmidos por 132 soluções anti-sépticas (iodo ou clorexidina).149 Além disso, o material dos campos pode apresentar diferentes níveis de impermeabilidade dependendo da partícula penetrante (fluidos aquosos, albumina, ou bactérias).151-153 Os tecidos dos campos cirúrgicos variam em sua capacidade de resistir a ação bacteriana. Campos descartáveis são superiores em resistir a penetração de bactérias quando comparados com os tecidos de algodão/linho reusáveis. Quando molhados por salinas, tecidos reusáveis foram penetrados por bactérias em 30 minutos, enquanto a maioria dos campos descartáveis, não.151 A impermeabilidade não significa necessariamente ser absolutamente impenetrável para as bactérias, sendo que a impermeabilidade pode variar entre diferentes marcas. No entanto, campos descartáveis diminuem consideravelmente a passagem de carga bacteriana através deles.154 Dois ECRs foram realizados comparando campos e aventais reusáveis e descartáveis em cirurgias de revascularização do miocárdio e cirurgia abdominal eletivas, tendo a ISC como desfecho principal. Nenhum destes estudos encontraram diferenças entre os dois tipos de materiais. 155, 156 -Questão 30: Existe evidência de que o uso de campos adesivos em “U”, aplicados antes e depois do preparo, efetivamente isolam a área cirúrgica da área não preparada? Consenso: Reconhecemos que os campos adesivos em “U” têm sido uma prática tradicional para isolar o períneo, mas na ausência de dados, não fazemos recomendações. Votação dos Delegados: A Favor: 83%, Contra: 11%, Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativa: Não há relatos publicados que pudessem ser relacionados com esta questão. -Questão 31: A irrigação é útil? Qual deve ser o método de irrigação (pulsátil de alta ou baixa pressão, ou manual com peras de borracha)? Consenso: Reconhecemos a base teórica da irrigação para diluir a contaminação e os tecidos não-viáveis, e que um maior volume de irrigação poderia promover maior diluição. Reconhecemos as vantagens e desvantagens dos diferentes métodos, mas não fazemos recomendações de um método sobre o outro. Votação dos Delegados: A Favor: 91%, Contra: 4%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativa: Há dados indiretos sobre o volume ideal de irrigação em artroplastias. Nos estudos em animais e humanos, o aumento do volume da solução de irrigação remove mais partículas e bactérias, mas o efeito máximo depende do sistema. Não há estudos clínicos em humanos relacionados com o volume de irrigação.157,158 Também faltam estudos de alta qualidade com a IAP como desfecho. Não foram encontradas evidências de diferenças na 133 irrigação de artroplastias primária e de revisão. O uso de lavagem pulsátil de alta pressão pode ter potenciais benefícios em poupar tempo e na maior efetividade na remoção de tecido necrosado e detritos.159-164 Além disso, melhora a estabilidade mecânica da artroplastia cimentada por permitir melhor penetração do cimento no osso esponjoso. No entanto, existem algumas preocupações relacionadas com danos aos tecidos e com a propagação de bactérias para as camadas mais profundas. A lavagem pulsátil de alta pressão talvez deva ser reservada para feridas gravemente contaminadas ou por ferimentos abertos nos quais o tratamento será adiado. Irrigação de baixa pressão pode ser útil se a contaminação for mínima ou o tratamento for imediato. Evidência de alta qualidade é escassa em relação à pressão de lavagem adequada em ATQ primária e de Revisão. Reduções na quantidade de bactérias presentes no local cirúrgico tem sido observadas com a lavagem com solução salina normal,165 indicando que um componente de remoção física para qualquer solução de irrigação deve ser considerada. Para uma cirurgia limpa contaminada (apendicectomia) a irrigação com solução salina normal revelou diminuição da ISC em comparação com as não irrigadas.166,167 Em um estudo que utilizou lavagem pulsátil com soro fisiológico após ATJ cimentada, as partículas maiores do que 1 mícron foram recolhidas após cada litro de lavagem, até 8 litros. O peso destas partículas atingiu um pico no primeiro litro e diminuiu, gradualmente, até o oitavo fluido de lavagem. Foram encontradas diferenças significativas entre o primeiro e segundo, segundo e terceiro, e terceiro e quarto litros de lavagem. No entanto, não foram encontradas diferenças significativas além do quarto litro. Os resultados deste estudo indicaram que 4 litros de lavagem pulsátil é eficaz para remover as partículas de osso e cimento durante ATJ cimentada. Os autores sugerem que, se as bactérias são consideradas como partículas de cerca de mais de 1 µm, 4 litros de lavagem pulsátil pode ser eficaz para a remoção de partículas bacterianas.158 A definição precisa de alta e baixa pressão de lavagem não está bem estabelecida na literatura. Geralmente abaixo de 15 psi (103,4 kPa) e maior que 35 psi (241,3 kPa), são consideradas de baixa ou alta pressão, respectivamente.168 Lavagem pulsátil de alta pressão aumenta a penetração de cimento no osso esponjoso e a resistência mecânica na interface cimento-osso in vitro.169-174 Os estudos in vivo também demonstraram menos zonas de radioluscência em seguimento de radiografias.175 Além disso, uma relação entre a pressão de irrigação e a quantidade de material celular removido das trabéculas ósseas foi demonstrado. 176 No entanto, não há consenso sobre um valor limite para a lavagem de alta pressão. Alguns estudos sugerem que até mesmo pressões de lavagem, consideradas como sendo demasiado baixas para ter influência macroscópica, ainda assim podem ter um efeito sobre as células 134 mesenquimais da medula óssea e direcioná-las para se diferenciar em tecido adiposo, diminuindo assim o teor de osteoblastos na medula. 159 A lavagem de alta pressão pode resultar em danos ao tecido ósseo esponjoso, osso cortical, e muscular, com influência negativa no processo de cicatrização e neoformação óssea. 91,176-178 A lavagem pulsátil (de alta ou baixa pressão) promove maior semeadura bacteriana profunda no osso do que o uso de escova e lavagem manual com seringa, in vitro,162, 179 e pode espalhar a contaminação para os tecidos próximos.179 A lavagem pulsátil de alta pressão produz penetração bacteriana mais profunda no tecido muscular em comparação com lavagem pulsátil de baixa pressão.168 Há consideráveis evidências sobre fraturas expostas e ferimentos contaminados. Alguns poucos estudos, passados e recentes, em humanos e animais, in vitro e in vivo, demonstraram que a lavagem pulsátil de alta pressão é mais eficaz do que a de baixa pressão para a remoção de partículas em suspensão, bactérias e tecido necrosado, particularmente em feridas contaminadas que tiveram seu tratamento retardado.159-164 Além disso, num modelo experimental, foi demonstrado que a lavagem pulsátil de baixa pressão foi mais eficaz e eficiente do que a irrigação com a pera de borracha na redução de bactérias .180 Um ECR mostrou que a lavagem pulsátil, em comparação com a lavagem normal, (seringa ou bulbo) reduz a incidência de IAP após hemiartroplastia cimentada, por fratura do quadril (3/164 e 10/192 para pulsátil e grupos de lavagem com seringa, respectivamente).181 Em outro estudo, o uso de lavagem pulsátil de alta pressão, durante debridamento aberto para o tratamento de infecções agudas de implantes ortopédicos (principalmente ATJ, ATQ e hemiartroplastia), foi associada a uma taxa de sucesso semelhante em comparação com o método de lavagem manual convencional de baixa pressão (n = 79).182 -Questão 32: Que tipo de solução de irrigação deve ser usada? Devem ser adicionados antibióticos à solução de irrigação? Consenso: Reconhecemos a vantagem mecânica da irrigação, conforme discutido na questão 31, como também reconhecemos as evidências conflitantes relacionadas ao uso de uma ou outra solução, e assim não fazemos qualquer recomendação quanto ao tipo de solução. Votação dos Delegados: A Favor: 90%, Contra: 7%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativa: Detergentes tais como sabão castela ou cloreto de benzalcônio são eficazes na diminuição da carga de bactérias em feridas musculoesqueléticas devido às suas propriedades tensoativas. Os detergentes atuam por interrupção das forças eletrostáticas e hidrofóbicas, 135 inibindo assim a capacidade das bactérias para se ligarem ao tecido mole e ao osso. É possível que alguns detergentes ajam em algumas bactérias de forma mais eficiente do que em outras. 157, 183 Há evidência fraca para o benefício da irrigação com solução de iodo (Betadine) diluída, antes do fechamento da ferida cirúrgica. No entanto, não há efeitos deletérios sobre a cicatrização de feridas ou de quaisquer outros efeitos adversos graves associados à sua utilização. Preocupações quanto a potencial de condrocitotoxidade são confirmados apenas por evidência experimental. Baixas concentrações (0,35 a 0,5%), com pouco tempo de lavagem, podem evitar efeitos tóxicos. É necessária mais evidência clínica para definir a concentração e tempo de exposição ideal. Os perfis farmacodinâmicos dos antibióticos variam dependendo do tipo, da dose e do modo de liberação.184 A variação destes fatores, a diferença nas cirurgias em que os estudos têm sido realizados, e a falta de critérios de eficácia específicas, tornam difícil chegar a uma conclusão sobre a efetividade de antibióticos tópicos, que tipo e que formulações seriam ideais para a profilaxia da IAP. Além disso, a segurança no uso de antibióticos em solução de irrigação tem sido questionada. Evidências sobre a irrigação da ferida com soluções de antibióticos foram obtidas principalmente nas especialidades não ortopédicas, em cirurgias limpas-contaminadas. A maioria destes ECRs relatou que a adição de antibióticos em soluções de irrigação não diminui a incidência de infecção cirúrgica significativamente, em comparação com a irrigação com solução salina normal.160,185-189 Este achado também foi apoiado por outros estudos experimentais157,190 É necessária mais evidência de alto nível, com ISC e IAP como desfecho, para avaliar a eficácia e os efeitos adversos potenciais da irrigação com soluções de antibióticos no local da cirurgia. Estudos in vitro mostram que o sabão castela é mais eficaz do que as soluções de antibióticos na remoção de Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa em implantes metálicos e osso Staphylococcus epidermidis, e 191,192 . Em um ECR nas fraturas abertas, o sabão e a solução de bacitracina não resultaram em nenhuma diferença na incidência de infecção cirúrgica, embora a bacitracina tenha sido associada com mais complicações da ferida.193 Em um ECR na área da cirurgia geral, houve mais infecções da ferida no grupo de solução salina (39/ 258), em comparação com o grupo de solução de iodopovidona (7/242).194 A irrigação com solução de iodopovidona diluído (0,35%) antes do fechamento da ferida cirúrgica, em ATQ e ATJ, foi associada a uma diminuição significativa de infecção periprotética195 A mesma solução foi associada com uma diminuição significativa de infecção 136 profunda em cirurgia da coluna (6/206 no grupo sem solução de iodo e 0/208 no grupo com solução de iodo).196 Dez de 15 estudos (11 ECRs e 4 estudos comparativos prospectivos) em uma revisão sistemática de diferentes especialidades cirúrgicas (2 estudos em cirurgia da coluna vertebral ), demonstraram que a irrigação com iodopovidona foi significativamente mais eficaz na prevenção da infecção cirúrgica do que as intervenções comparativas de salina, água ou não irrigação.197 Os outros cinco estudos não detectaram diferença significativa. Estes estudos tem importantes limitações metodológicas, como a considerável variedade nos tipos de cirurgias, a qualidade das intervenções limpas ou contaminadas, concentração inconsistente de iodopovidona e uso variável de antibióticos profiláticos. Não há relatos de complicações com o uso da irrigação de betadine diluído, e nenhum efeito adverso sobre a cicatrização de feridas, consolidação do osso ou evolução clínica, foi reportado.196 Um estudo demonstrou o aumento de iodo sérico pós-operatório, que não foi relacionado a nenhum evento adverso.197 A citotoxicidade da solução de iodopovidona é controversa. A capacidade para a síntese de DNA dos condrócitos diminuiu significativamente após 5 minutos de exposição á solução de iodopovidona a 1%. Outros estudos também mostram efeitos tóxicos da solução de iodopovidona em fibroblastos, queratinócitos, células sinoviais e condrocitos.198,199 Citotoxicidade relacionada à duração da exposição tem sido descrita em condrócitos bovinos, independentemente da concentração, embora as concentrações mais elevadas foram associadas a menor viabilidade dos condrócitos. Uma concentração de 0,35% de iodopovidona foi a de menor condrotoxicidade, mas ainda assim diminuiu a viabilidade celular quando aplicado por mais do que um minuto. A citotoxicidade foi observada em culturas de osteoblastos da tíbia embrionária de galinha à uma concentração de 5% de betadine. Menor efeito citotóxico ocorreu a uma concentração de iodopovidona de 0,5%.200 Preparações de iodopovidona de 1, 5, ou 10% não têm efeito deletério sobre a cicatrização de feridas em animais e humanos.201 Irrigação com Iodopovidona não deve ser utilizada em pacientes com sensibilidade ao iodo, queimaduras, doenças da tiróide ou renal. 197 A esterilidade da solução de iodopovidona, antes da sua utilização, deve ser cuidadosamente monitorizada, pois a sua contaminação tem sido associada a complicações infecciosas. 202, 203 Um estudo mostrou que não houve diferença na qualidade da fixação do cimento quando a irrigação foi feita com iodopovidona ou solução salina normal, embora ambas as soluções foram inferiores à solução de peróxido de hidrogênio.204 Os antibióticos tópicos devem ter um largo espectro e baixa absorção sistêmica, serem relativamente baratos e inofensivos para os tecidos. Os antibióticos mais comumente usados incluem as cefalosporinas, aminoglicosídeos (neomicina), glicopeptídeos, cloranfenicol, polimixina e bacitracina.184,205 As vantagens 137 potenciais do uso de antibióticos tópicos são o baixo potencial para a absorção sistêmica e toxicidade, baixo potencial de desenvolvimento de resistência aos antibióticos, e o fato de que o seu efeito é essencialmente independente das alterações fisiológicas locais, que podem afetar a eficácia de antibióticos sistêmicos.206 No entanto, os antibióticos tópicos podem produzir dermatite de contato ou hipersensibilidade e seu uso pode ser associado a efeitos sistêmicos graves, como anafilaxia com a bacitracina, surdez e insuficiência renal com a combinação de neomicina-bacitracina-polimixina.207-209 Estudos anteriores demonstraram que a administração tópica de antibióticos profiláticos na incisão cirúrgica, durante vários procedimentos ortopédicos e não ortopédicos, é mais eficaz do que a solução salina normal. No entanto, resultados consistentes em relação à sua eficácia não foram descritos.165 Estudos in vitro e em animais usando o osso ou superfícies metálicas não conseguiram mostrar melhor desempenho para soluções com neomicina e bacitracina, em comparação com a solução salina normal, para a remoção de bactérias do osso, titânio, ou aço inoxidável.190-192 Apesar da evidência de que os antibióticos tópicos diminuem o inóculo bacteriano em feridas cirúrgicas limpas,210 não foi demonstrado que eles oferecem qualquer vantagem sobre a profilaxia antibiótica intravenosa, nem que diminuam a incidência de infecção cirúrgica.184, 186 Um estudo em um modelo canino para artroplastia relatou a redução na taxa de infecção cirúrgica com a irrigação de solução contendo neomicina.211 Há uma preocupação sobre o efeito adverso de antibióticos tópicos na ferida e na cicatrização óssea. Um ECR em fraturas expostas demonstrou que a irrigação com solução tópica de bacitracina não diminuiu a incidência de infecção cirúrgica, em comparação com sabão, mas foi associado à maior taxa de complicações da ferida.193 -Questão 33: Existe papel para a aplicação intra-operatória, de produtos derivados de sangue autólogo na ferida cirúrgica, para a prevenção de infecção? Consenso: Na ausência de dados, não fazemos nenhuma recomendação sobre o uso de produtos derivados de sangue autólogo na ferida cirúrgica, para prevenir a infecção Votação dos Delegados: A Favor: 94%, Contra: 2%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Embora alguns benefícios tenham sido observados em relação à aplicação intra-operatória de produtos derivados de sangue autólogo em artroplastias, a maioria dos estudos não possuem força suficiente para detectar diferenças na incidência de IAP. Apenas 138 um ECR demonstrou que o uso desses produtos diminui a incidência de infecção cirúrgica.212 São necessários estudos em larga escala, com a IAP como desfecho. Em ATJ, a aplicação do gel de plaquetas autólogas e cola de fibrina, ao final da cirurgia, foi associado com um maior nível de hemoglobina pós-operatória e redução da necessidade de transfusões sanguíneas. As incidências de ferida secretante, distúrbios de cicatrização e infecção da ferida (0/85 e 4/80) foi significativamente menor em doentes tratados com gel de plaquetas e cola de fibrina. 212 Em um estudo multicêntrico (n= 58) com uso de fibrina pulverizada (crioprecipitado baseado em fibrinogénio não-autólogo) foi adicionado a medidas hemostáticas padrão em ATJ, e resultou numa diminuição da perda de sangue e menores taxas de de transfusão sanguínea. Houve três casos de infecção superficial da ferida (2/29 e 1/29 para os grupos de tratamento e controle, respectivamente), sem diferenças significativas.213 Outros ECRs similares, em ATJ (n = 53) 214 e ATQ (n = 81) 215 relatam resultados similares em relação à perda sanguínea. Em um ECR utilizando cola de fibrina autóloga em ATQ, houve associação com menor drenagem persistente da ferida e menor perda sanguínea (sem diferença significativa), mas a taxa de transfusão e internação hospitalar manteve-se semelhante ao grupo controle.216 Uma revisão da literatura incluiu 6 estudos213-218 com o uso de cola de fibrina em cirurgia ortopédica. Foram incluídos 482 pacientes, dos quais 235 foram randomizados para receber cola de fibrina. A avaliação constatou que o uso cola de fibrina foi associado a uma redução da perda sanguínea pós-operatória, em cerca de 223 ml por paciente, e reduziu o risco de transfusão alogênica em 32%. O tratamento com cola de fibrina não foi associada ao aumento do risco de infecção da ferida, qualquer infecção, formação de hematoma ou morte. O tempo de permanência hospitalar não foi reduzido em pacientes tratados com cola de fibrina. 219 -Questão 34: Existe algum efeito dos grampos metálicos ou do tipo de sutura sobre os eventos infecciosos? Se afirmativo, qual é o melhor método de fechamento para prevenir eventos infecciosos? Consenso: Na ausência de dados conclusivos, e a grande variabilidade de práticas cirúrgicas, não fazemos nenhuma recomendação sobre suturas ou grampos específicos para prevenir a infecção. Votação dos Delegados: A Favor: 92%, Contra: 3%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Não há como chegar a uma conclusão clara sobre o melhor método de fechamento para evitar complicações infecciosas, devido a definições inadequadas para as complicações infecciosas da ferida cirúrgica. Além disso, a maioria dos estudos revisados 139 tinham potência baixa. Faltam evidências em relação aos pacientes cujo estado de saúde possa interferir com a cicatrização de feridas e em locais cirúrgicos sujeitos a elevados esforços. Adesivos tissulares devem ser considerados como um selante biológico, em vez de um método de fechamento dotado de resistência mecânica. Em um ECR, que incluiu 90 pacientes submetidos a ATJ, não houve diferenças significativas na infecção, deiscência, estado geral de saúde, e avaliações funcionais e clínicas. O estudo comparou as seguintes situações: (1) combinação de adesivos tissulares para cápsula e camadas do tecido subcutâneo e (2-octil ou nbutil-2) para a camada cutânea, (2) grampos, e (3) sutura subcuticular convencional (suturas utilizadas para a cápsula, camada subcutânea, e cutânea). Observou-se que o tempo de permanência hospitalar foi maior para o grupo dos grampos. 227 Outro estudo incluiu 187 pacientes que foram submetidos a ATJ (n = 85) e ATQ (n = 102) e que comparou o fechamento da ferida com 2-octilcianocrilato (Dermabond®), grampos e suturas. 228 A drenagem espontânea precoce da ferida (menos de 24 horas pós-operatórias) foi reduzida com 2-octilcianocrilato, tanto em ATQ quanto em ATJ. Em ATJ, a drenagem prlongada da ferida foi observada com 2-octilcianocrilato. Não foi observada diferença significativa na incidência de infecções de feridas superficiais entre os grupos. Nenhuma infecção profunda foi detectada. A vedação da ferida medida pelo sangue drenado no curativo foi significativamente melhorada com 2-octilcianocrilato, em ambas as articulações. Os autores concluíram que em feridas cirúrgicas mais móveis (como por exemplo em ATJ), 2octilcianocrilato não é apropriado para o fechamento da pele, por não oferecer resistência suficiente durante a reabilitação. Em outro estudo que incluiu 90 pacientes com ATQ, adesivos e grampos cirúrgicos foram os dois métodos eficazes de fechamento da pele. Grampos foram mais rápidos, menos dispendiosos e mais fáceis de usar do que o adesivo. Não foi encontrada diferença significativa quanto à ocorrência de complicações, embora o estudo não foi adequadamente desenvolvido para detectar qualquer caso de infecção profunda.229 Uma revisão de ECRs em um grande número de pacientes não-ortopédicos, adultos e pediátricos,230 concluiu que as suturas foram significativamente melhores do que os adesivos, para minimizar a deiscência. As suturas foram também consideradas de execução mais rápida. Não foram encontradas diferenças entre os adesivos tissulares e o uso de fitas para minimizar a deiscência ou infecção. Fitas e grampos foram significativamente mais rápidos de usar do que os adesivos tissulares. Para todos os resultados de deiscência e infecção não houve diferença estatisticamente significativa entre adesivos de alta ou baixa viscosidade. 140 Smith et al. realizaram uma metanálise para comparar os resultados clínicos do uso de grampos e suturas em cirurgias ortopédicas.231 Os autores incluíram seis estudos de pequeno porte e observaram inconvenientes metodológicos incluindo definições inadequadas para as infecções superficiais e profundas, na maioria deles. Com base nesses estudos, detectaram um risco significativamente maior de desenvolver infecção da ferida quando a mesma foi fechada com grampos em vez de suturas (17/350 e 3/333 infecções superficiais ou profundas para grampos e suturas, respectivamente). Cinco dos seis estudos incluíram dados de pacientes que se submeteram à cirurgia de quadril. Maior risco de infecção com o uso grampos também ocorreu em pacientes que se submeteram à cirurgia de quadril. Há necessidade de estudos futuros para avaliar esta questão. -Questão 35: O uso da lista de verificação de cirurgia segura e a pausa para verificação (time-out) afetam a taxa de ISC em pacientes submetidos à SAPT? Consenso: Apoiamos o protocolo cirúrgico como benéfico para a segurança do paciente e, especialmente, quando aplicado para garantir a correta administração de antibióticos profiláticos. Votação dos Delegados: A Favor: 97%, Contra: 1%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativa: As listas de verificação de cirurgia segura (LVCS ou Checklists) parecem melhorar a comunicação inter-profissional na sala cirúrgica. Existe evidência de alta qualidade apoiando o efeito benéfico da LVCS e time-out para a redução de infecção cirúrgica e outras complicações pós-operatórias. No entanto, as evidências mostram que muitos elementos de listas de verificação não são realizados de forma adequada. Não há nenhuma evidência sobre a influência da implementação de uma lista de verificação cirúrgica obrigatória, que contemple à ISC em artroplastias. Para procedimentos mais simples há evidências do efeito benéfico de LVCS obrigatórias para as complicações infecciosas. Um estudo mostrou que a implementação de uma lista de verificação pré-operatória, inter-profissional na sala cirúrgica, foi associada a um declínio em falhas de comunicação (número médio de falhas de comunicação por procedimento diminuiu de 3,95 para 1,31; o número de falhas de comunicação associadas a consequências negativas visíveis diminuíram 64 %). 232 Parece existir uma relação entre a adoção de uma lista de verificação pré-operatória de rotina e a melhoria no tempo de administração de antibiótico profilático.233-235 Em um estudo prospectivo de 8 instituições diferentes, em todo o mundo (incluindo locais de alta e de baixa renda), foram observadas reduções substanciais nas principais complicações cirúrgicas e na 141 mortalidade pós-operatória imediata, após a implementação de uma lista de verificação da Organização Mundial da Saúde. A taxa de adesão à adequada administração antibiótica préoperatória aumentou de 5 para 83% e a incidência de infecção cirúrgica diminuiu significativamente de 6,2% para 3,4% (p <0,001). A melhoria na qualidade do atendimento foi observada mesmo com o cumprimento incompleto do checklist.236 Em outro estudo realizado em hospitais com alto padrão de atendimento, na Holanda, o checklist cirúrgico de segurança que inclui elementos pré, intra, e pós-operatórios, também reduziu a incidência de infecção cirúrgica (de 3,8% para 2,7%, p = 0,006), bem como de outras complicações pós-operatórias. A adesão foi associada com as melhorias na qualidade dos cuidados.233 Em um estudo prospectivo, observou-se que muitas medidas baseadas em evidências para a redução de infecção cirúrgica (momento de administração do antibiótico profilático, manutenção de normotermia durante a cirurgia, cateterização urinária adequada e higiene das mãos) não foram aplicadas adequadamente para procedimentos de artroplastia e que a situação era ainda pior para cirurgias de fraturas.237 Não há nenhuma evidência sobre a influência de um checklist obrigatório na aplicação adequada de seus componentes. No entanto, existem estudos prospectivos demonstrando que a implementação de LVCS resultou na diminuição da incidência de infecções da corrente sanguínea em pacientes da unidade de terapia intensiva. 238, 239 Referências: 1. Lidwell OM, Lowbury EJ, Whyte W, Blowers R, Stanley SJ, Lowe D. Airborne contamination of wounds in joint replacement operations: the relationship to sepsis rates. 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Votação dos Delegados : A Favor: 91%, Contra:5%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativa: Com base nas diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a transfusão de sangue alogênico no período perioperatório de artroplastias aumenta o risco de ISC e/ou IAP. A associação entre transfusão de sangue autólogo e o risco de ISC e/ou IAP é menos clara. De acordo com evidências de alta qualidade, de dois ECRs e de quatro estudos observacionais, há um aumento do risco de infecção cirúrgica com qualquer transfusão de sangue (alogênico, autólogo, e autólogo mais alogênico combinados), em comparação com nenhuma transfusão. Isto está em consonância com uma metanálise de seis estudos (n = 8.493) [(OR): 1,56, 95% CI: 1,18-2,06, p = 0,002] e uma metanálise (n = 7.484), de quatro estudos observacionais (OR 1,59, 95% CI: 1,15-2,18, p = 0,004).1 Dados de uma metanálise (n = 970) de dois ECR em ATQ sugerem que a transfusão de sangue autólogo não está associada com maior risco de infecção cirúrgica quando comparada com nenhuma transfusão de sangue (OR: 1,15, 95% CI: 0,43-3,13; p = 0,78) 1 Evidências de baixa qualidade de uma metanálise (n = 5.737) de quatro estudos observacionais indicam que a transfusão de sangue alogênico está associada com um risco 154 aumentado de infecção cirúrgica (Valores não ajustados OR:1,46, 95% CI:1,09-1,95, p = 0,01). 1 Evidências de uma metanálise (n = 2.592) de três estudos observacionais mostram que a transfusão de sangue alogênico aumenta o risco de infecção cirúrgica, em comparação com a transfusão de sangue autólogo (OR: 4,57, 95% CI: 2,39-8,73, p <0,0001).1 O estudo de Innerhofer et al. 2 demonstrou um risco maior para o sangue alogênico em relação ao sangue autógeno. A depleção de leucócitos não parece afetar a taxa de infecção com sangue autólogo em cirurgia do quadril. 3 Evidências de um ECR e de dois estudos observacionais indicaram que não há aumento do risco de infecção cirúrgica em pacientes que recebem transfusões de sangue tanto autólogos como alogênicos.1 -Questão 2: Quais são os preditores da necessidade de transfusão de sangue alogênico em pacientes submetidos à artroplastias totais (SAPT)? Consenso: O nível baixo de hemoglobina pré-operatória é o preditor mais forte para a eventual necessidade de transfusão alogênica após artroplastia total. Outros preditores são: a anestesia geral, o índice de comorbidade de Charlson, o sexo feminino, e a maior duração de cirurgia. Votação dos Delegados : A Favor: 90%, Contra:4%, Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: Todos os fatores acima mencionados têm sido descritos como preditores de transfusão de sangue alogênico em pacientes submetidos a artroplastias primárias. No entanto, nestes estudos, vários critérios para a indicação de transfusão têm sido utilizados, sendo que a menor taxa de transfusão, é observada quando se adota como indicação um nível mais baixo de hemoglobina (7-8 g/dl). Atualmente, o limite ideal de hemoglobina para transfusão sanguínea permanece desconhecido. O único ECR em ortopedia é o FOCUS,4 que não encontrou resultados diferentes com transfusão acima ou abaixo de 8 g/dL. Os resultados deste estudo foram semelhantes aos encontrados no TRICC 5 Há também muitos estudos enfatizando o efeito da duração da cirurgia sobre a taxa de perda sanguínea6-17 Em um estudo de uma única instituição, de 11.373 artroplastias, sendo 4.769 ATJ e 6.604 ATQ, uma análise multivariada indicou que o sexo masculino (263,59 ml e 233,60 ml em quadris e joelhos respectivamente), índice de comorbidade de Charlson > 3 (293,99 ml e 167,96 ml em quadris e joelhos), e doação de sangue autólogo pré-operatória (593,51 ml em quadris e 592,30 em joelhos) têm maior perda sanguínea.18 A anestesia regional comparada à anestesia geral reduziu a quantidade de perda sanguinea. A quantidade da perda sanguínea 155 em ambos ATQ (OR: 1,43, IC 95%: 1,40-1,46) e ATJ (OR: 1,47, 95% CI: 1,42-1,51) e o índice de comorbidade de Charlson somente em pacientes de ATJ (OR: 3,2, 95 % CI: 1,99-5,15), aumentaram o risco de transfusão de sangue alogênico. A doação pré-operatória de sangue autólogo (OR: 0,01, 95% CI: 0,01-0,02 nos quadris e 0,02, 95% CI: 0,01-0,03 nos joelhos) diminuiu o risco de transfusão de sangue alogênico. Em um estudo de Faris et al. 19 o poder preditivo de 7 variáveis pré-operatórias (concentração de hemoglobina, idade, nível de eritropoietina, concentração de ferritina, ferro sérico, capacidade total de ligação de ferro, e volemia) no risco de transfusão em pacientes ortopédicos foi testado em 276 casos cirúrgicos. Os autores reportaram que a concentração de hemoglobina de base e a volemia foram preditores significativos do risco de transfusão. Eles também encontraram uma correlação inversa entre a concentração de hemoglobina e o risco de transfusão. Pacientes com hemoglobina > 10 e ≤ 13 g / dL tratados com placebo, tiveram um risco aproximadamente duas vezes maior de receber transfusão do que pacientes com hemoglobina > 13 g / dL Prazoo et al. 20 também confirmaram que o nível de hemoglobina pré-operatória foi um forte preditivo da necessidade de transfusão de sangue após SAPT. Eles avaliaram a associação entre a doação de sangue autólogo pré-operatória e o risco de transfusão, em 600 pacientes de artroplastias, incluindo 312 ATQ e 288 ATJ. Os autores sugeriram que a doação autóloga pré-operatória pode não ser necessária. Os dados desta pesquisa também sugerem que a utilização de um sistema de recuperação de células pode ser eficaz na redução da taxa de transfusão sanguínea. O estudo de Hamaji et al. indicou que a infusão de fluidos pré-operatória pode reduzir a necessidade de transfusão e, possivelmente, a taxa de infecção, no entanto, o estudo é pequeno e com uma elevada taxa de infecção. 21 Colóide é preferível sobre cristalóide 22 e nenhum dos 2 métodos tem um efeito significativo sobre a coagulação in vitro. 23 -Questão 3A: Qual o papel do tipo de anestesia para minimizar a perda sanguínea e a transfusão alogênica durante a artroplastia para IAP? Consenso: Comparada com a anestesia geral, a anestesia neuroaxial reduz a perda sanguínea durante ATQ e ATJ. Votação dos Delegados : A Favor: 77%, Contra:11%, Abstenção: 12% (Forte Consenso) Questão 3B: Há evidências contra o bloqueio neuroaxial em casos de IAP (devido ao risco provável de espalhar a infecção)? 156 Consenso: Não. A decisão de usar anestesia neuroaxial ou geral, em pacientes com infecção periprotética é da equipe de anestesia, que precisa levar em conta os inúmeros benefícios da anestesia do neuroeixo em relação ao potencial de desenvolvimento de complicações infecciosas do sistema nervoso (aracnoidite, meningite e abscesso). Votação dos Delegados : A Favor: 83%, Contra:6%, Abstenção: 11% (Consenso Forte) Justificativas: Várias revisões sistemáticas e metanálises24-28 compararam anestesia neuroaxial com anestesia geral, em relação a quantidade da perda sanguinea e transfusão de sangue durante SAPT. Todas as revisões favorecem a anestesia do neuroeixo na redução da quantidade da perda sanguinea e necessidade de transfusão. Uma metanálise realizada por Hu et al.25 de 21 ECRs, publicados entre 1966 e 2008 foi conduzida para estudar a relação entre o tipo de anestesia e a necessidade de transfusão. Resultados obtidos a partir destes ensaios mostraram que a anestesia neuroaxial reduz o tempo de operação (OR: -0,19 IC 95%: -0,33 a -0,05) e necessidade de transfusão (OR 0,45, 95% CI: 0,22-0,94), em comparação com a anestesia geral. Além disso, uma revisão sistemática de 18 estudos publicados entre janeiro de 1990 e outubro de 2008, envolvendo 1.239 pacientes submetidos à ATQ mostrou que a perda de sangue pode ser reduzida em pacientes que receberam anestesia neuroaxial comparada com a anestesia geral.26 Outra revisão sistemática de artigos publicados até 2004 mostrou que a anestesia neuroaxial reduziu o número de transfusões em pacientes de ATQ (p = 0,0009)24. Os autores concluíram que os bloqueios do neuroeixo tem um efeito claro e definitivo sobre a perda de sangue operatória, resultando numa redução do número de pacientes transfundidos. Além disso, uma metanálise de 10 ensaios clínicos, cujos resultados foram publicados até agosto de 2005, e que incluiu 330 pacientes de ATQ sob anestesia geral, e 348 pacientes sob anestesia neuroaxial, demonstrou que o bloqueio neuroaxial diminui o tempo operatório total em 7,1 min /caso (IC 95% : 2,3-11,9 min) e a perda sanguínea intra-operatória em 275 ml/caso (95% CI: 180-371 ml).28 Outro estudo realizado por Stundner et al. 29 demonstrou que a anestesia neuroaxial em relação à anestesia geral reduziu significativamente as complicações gerais, incluindo a necessidade de transfusão. Por fim, usando um grande banco de dados, Memtsoudis et al. 30 demonstraram que a necessidade de transfusão de sangue foi reduzida com a anestesia neuroaxial em relação a anestesia geral. Pelo contrário, uma revisão sistemática de 28 estudos publicados entre janeiro de 1990 e outubro de 2008, envolvendo 1.538 pacientes de ATJ, não encontrou qualquer evidência apoiando a menor quantidade de perda sanguínea ou transfusão de sangue para os pacientes que receberam anestesia neuroaxial em relação a anestesia geral. 27 157 Uma metanálise de 17 ECRs envolvenfo vários tipos de cirurgias ortopédicas, incluindo artroplastias, indicou que a hipotensão induzida pode reduzir a perda sanguínea em 287 ml [95% CI: -447, -127].31 Além disso, uma redução estatisticamente significativa na taxa de transfusão foi também observada no mesmo grupo (-667 ml de sangue transfundido, 95% CI: 963, -370). Não houve diferença estatisticamente significativa em relação à duração da cirurgia e melhora na condição cirúrgica. Há ampla evidência de que a anestesia regional pode ser realizada de forma segura, se o tratamento antibiótico da infecção tenha começado antes do bloqueio. 32 São bastante raras as infecções do sistema nervoso central, tais como aracnoidite, meningite, e abcessos relacionados com a anestesia do neuroeixo. Por isso, a decisão deve ser individualizada nos casos de infecção. As alternativas anestésicas, as vantagens do bloqueio do neuroeixo, e o risco de infecção do sistema nervoso central, o que, teoricamente, pode ocorrer no caso de bacteremia, devem ser levados em conta na tomada de decisão. A literatura que estuda o risco de abscesso epidural em pacientes submetidos à cirurgia para IAP, sob anestesia regional, é escassa. Num estudo recente, Gritsenko et al. 33 sugeriram que o risco para o sistema nervoso central, após bloqueio neuroaxial durante a remoção de implantes infectados, do quadril ou joelho, é muito pequena e que os anestésicos neuroaxiais sejam usados mais liberalmente, se não houver sinais de infecção sistêmica. Eles também recomendaram que nenhum cateter peridural deva permanecer no local, após o procedimento. Parece que vários bloqueios do neuroeixo, dentro de um curto período de tempo, pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de abscesso epidural, em pacientes com infecção periprotética. Se a anestesia do neuroeixo é empregada em pacientes submetidos a tratamento para IAP, todos os esforços para remover o cateter epidural logo após a cirurgia devem ser feitos. Se ocorrer uma infecção do sistema nervoso central, o diagnóstico precoce e tratamento da infecção devem ser realizados, para evitar as sequelas neurológicas. O estudo realizado por Chang et al. 34 revelou que o risco de infecção foi 2,2 vezes menor com raquianestesia do que com anestesia geral. -Questão 4A: Qual é o papel de tecnologias adjuvantes, incluindo sistemas de recuperação celular, drenos de reinfusão, coagulação bipolar e hemodiluição, para minimizar a perda de sangue durante a cirurgia para infecção periprotética? Consenso: Não há nenhum benefício definido para a utilização de sistemas de recuperação de células, re-infusão de drenagens, coagulação bipolar e hemodiluição para minimizar a perda de sangue durante a cirurgia para infecção periprotética. 158 Votação dos Delegados : A Favor: 85%, Contra:8%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) Questão 4B: Qual é o papel de tecnologias adjuvantes, incluindo sistemas de recuperação celular, drenos de reinfusão, coagulação bipolar e hemodiluição para minimizar a perda de sangue durante SAPT primária? Consenso: Não há nenhum benefício definidos para a utilização de sistemas de salvamento de células, drenos de reinfusão, coagulação bipolar e hemodiluição durante artroplastia primárias unilaterais. Votação dos Delegados : A Favor: 80%, Contra:11%, Abstenção: 9% (Forte Consenso) Justificativas: O papel da recuperação de células na redução das taxas de transfusão não é claro, no entanto, parece que pode ser usada em casos de infecção. Filtros de remoção de leucócitos podem ser usados para filtrar todo o sangue recuperado. Estes filtros são eficazes na remoção de glóbulos brancos e de colonias bacterianas até 104 UFC/ml. Quaisquer bactérias residuais devem ser tratadas por antibióticos perioperatórios, do mesmo modo que seria para qualquer bacteremia que ocorre durante a cirurgia.35 O uso de coagulação bipolar tem sido associado com resultados mistos em artroplastias primárias. Em um ECR, duplo-cego, 71 e 69 pacientes de ATQ foram incluídos para o uso de coagulação bipolar ou para o grupo controle (eletrocautério convencional), respectivamente.36 Os autores não encontraram diferenças significativas entre os dois grupos em relação, tanto ao volume de perda sanguínea ou de transfusão. Com base nestes resultados, os autores abandonaram o uso de coagulação bipolar para pacientes de ATQ. Em outro ECR de 105 pacientes submetidos à ATQ primária, Zeh et al.37 constataram que não houve diferença estatisticamente significativa entre a perda sanguínea intra e pós-operatória, com o uso de coagulação bipolar e o grupo com uso de eletrocautério convencional. Ao contrário, um estudo pareado mostrou que o uso do cautério bipolar pode ser eficaz na redução da quantidade de perda de sangue e da queda da hemoglobina em pacientes submetidos a revisão de ATQ infectadas. 38 Hemodiluição não é utilizada rotineiramente em cirurgias ortopédicas, no entanto, alguns autores descrevem, em um estudo pareado de 76 ATQs consecutivas de revisão para a infecção, um grupo que utilizou cautério bipolar comparado com eletrocautério convencional.38 Os resultados deste estudo mostraram que a perda de sangue total, a perda de sangue intra-operatória, e a redução da hemoglobina perioperatória foi significativamente menor no grupo do cautério bipolar. Além disso, em um estudo prospectivo, cego, randomizado, 50 ATQ primárias foram divididas em dois grupos: bipolar e eletrocautério padrão.39 Os resultados deste estudo revelaram que a perda total de sangue no grupo bipolar diminuiu em 40% e a taxa de transfusão foi reduzida em 73%. Houve uma 159 redução significativa na perda sanguínea intra e pós-operatória. Da mesma forma, Marulanda et al.40 mostraram que o cautério bipolar pode reduzir a perda sanguínea em ATJ. -Questão 5A: O uso do dreno influi na incidência de ISC e IAP? Consenso: Não. Não há evidência para demonstrar que o uso de dreno fechado aumente o risco de infecção cirúrgica após SAPT. Votação dos Delegados : A Favor: 88%, Contra: 8%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) -Questão 5B: Quando o dreno deve ser retirado? Consenso: Não há evidência conclusiva para o momento ideal de remoção do dreno. Votação dos Delegados : A Favor: 68%, Contra:22%, Abstenção: 10% (Forte Consenso) Justificativas: Com base em uma revisão sistemática e em uma metanálise,41, 42 o uso do dreno após artroplastias totais aumenta a taxa de transfusão mas não aumenta o risco de infecção cirúrgica. Estudos revelam que em torno de 90% do sangramento pós-operatório é coletado pelo dreno, dentro das primeiras 24 horas. Considerando um aumento provável no risco de colonização bacteriana após 24 horas,43 recomenda-se sua remoção dentro deste período. Em situações selecionadas, o cirurgião poderá decidir pela permanência do dreno por um tempo maior. Na revisão sistemática Cochrane foram avaliados todos os ECR ou quasi- randomizados comparando o uso de sistemas de drenagem por sucção com o não-uso de drenos, para todos os tipos de cirurgias ortopédicas eletivas e de emergência.41 Foram incluídos 36 estudos que envolveram 5.464 participantes com 5.697 feridas operatórias. Vários tipos de cirurgias ortopédicas, incluindo ATQ e ATJ, foram avaliadas. Não houve diferença estatisticamente significativa na incidência de infecção da ferida, hematoma, deiscência ou reintervenções entre os pacientes com dreno e aqueles sem o dreno. Transfusão de sangue foi necessária mais frequentemente naqueles que utilizaram o dreno. A necessidade de curativos mais espessos e a ocorrência de flictenas foi mais comum no grupo sem dreno. Por isso, o estudo Cochrane concluiu que a evidência é insuficiente para defender o uso rotineiro de drenos por sucção em cirurgia ortopédica. Na metanálise de Parker et al.42 18 estudos em ATQ e ATJ eletivas, incluindo 3.495 pacientes com 3.689 feridas foram avaliadas. Os resultados desta revisão sistemática 160 indicaram que a drenagem por sucção aumenta a necessidade de transfusão e não trás nenhum benefício. -Questão 6A: Qual o papel do ácido tranexâmico (AT) na redução da perda sanguínea durante a cirurgia para tratamento de IAP? Consenso: A administração tanto intravenosa quanto tópica reduz a perda sanguínea e a necessidade de transfusão em artroplastias. Votação dos Delegados : A Favor: 82%, Contra:5%, Abstenção: 13% (Forte Consenso) -Questão 6B: Existe vantagem da administração tópica sobre a administração I.V de AT? Consenso: O AT tópico não tem qualquer vantagem evidente sobre a administração intravenosa do medicamento e ambos são seguros. No entanto, o uso tópico pode ser usado em certo grupo de pacientes em que o uso intravenoso seja considerado inapropriado. Votação dos Delegados : A Favor: 76%, Contra:4%, Abstenção: 20% (Forte Consenso) Justificativas: Com base em 7 revisões sistemáticas e metanálises, 44-50 a administração do AT reduz o volume de perda sanguínea e a transfusão em pacientes submetidos à ATQ e ATJ. Pode concluir-se que a administração de AT é segura e eficaz na redução da perda sanguínea e transfusões de sangue alogênico em revisão de ATJ, incluindo cirurgias para o tratamento de infecção articular periprotética. Não houve nenhum estudo para demonstrar que o uso de AT tópico ou intravenoso esteja relacionado com maior incidência de eventos tromboembólicos. Na verdade, o estudo Clinical Randomisation of an Antifibrinolytic in Significant Haemorrhage (CRASH) constatou que o AT pode proteger contra complicações trombóticas.51-53 Uma revisão sistemática e metanálise de Alshryda et al. 44 avaliou 19 ECR com placebo. Dezoito destes estudos abordaram a administração intravenosa de AT, 1 estudo svaliou a administração oral, 54 outro a aplicação tópica,55 e 1 comparou o AT associado à hemodiluição normovolêmica.56 Três ECRs avaliaram o efeito de doses elevadas (> 4 gramas) de AT e outros avaliaram o efeito de baixas doses de AT. 59-65 54, 57, 58 A revisão sistemática e metanálise concluiram que o AT provoca uma redução significativa na taxa de transfusão de sangue (RR: 2,56, 95% CI: 2,1-3,1, p <0,001; heterogeneidade I2 = 75%) e a perda de sangue total, em uma média de 591 ml (95% CI: 536-647, p <0,001; I2 = 78%). A análise de um subgrupo de alta dose de AT demonstrou uma redução na transfusão de sangue (RR 5,33, 95% CI: 2,44-11,65, p <0,001; I2 = 0%). Esta revisão sistemática e metanálise não revelaram nenhuma evidência de 161 que ocorra um aumento no risco de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar após a administração de AT em pacientes de ATJ. Uma revisão sistemática e metanálise de Sukeik et al.49 avaliaram o efeito da administração do AT em ATQ. Onze ECR 66-76 foram incluídos na metanálise. Os autores mostraram que o uso do AT reduz a perda sanguínea intra-operatória em uma média de 104 ml (95% CI: -164 a -44, p = 0,0006, I2: 0%), perda de sangue pós-operatória, em uma média de 172 ml (95% CI: -263 a -81, p = 0,0002, I2: 63%), e a perda de sangue total, em uma média de 289 ml (95% CI: -440 a -138, p <0,0002, I2: 54%). O AT resultou numa redução significativa na taxa de transfusão de sangue alogênico (diferença de risco: -0,20, 95% CI: -0,29 a -0,11, p <0,00001, I2: 15%). Não foram observadas diferenças significativas nas taxas de trombose venosa profunda, embolia pulmonar, infecção ou outras complicações entre os grupos de estudo. Administração de AT é eficaz para reduzir ainda mais a quantidade de perda sanguínea perioperatória em ATJ. Em um ECR de 151 pacientes, Lin et al. 77 randomizaram os pacientes submetidos a ATJ unilateral a um dos três grupos: 1) um grupo placebo (50 pacientes), 2) um grupo, que recebeu uma injeção de AT (10 mg / kg) durante a intervenção cirúrgica na deflação do torniquete (52 pacientes), e 3) um grupo que recebeu duas injeções de ácido AT (10 mg / kg) no período pré-operatório e intra-operatório (49 pacientes). Os autores demonstraram que uma dose intra-operatória do AT foi tão eficaz quanto duas doses, para a conservação de sangue durante a ATJ. Em um estudo realizado por Aguilera et al. 78 foi avaliado o efeito do AT na redução da perda de sangue e de transfusão de sangue na revisão ATJ. Neste estudo, os pacientes que receberam o AT apresentaram uma quantidade significativamente menor de perda de sangue (p = 0,015), no entanto, a taxa de transfusão não foi estatisticamente inferior (p = 0,057). Não houve eventos adversos nos pacientes estudados. Em um ensaio clínico randomizado 98 pacientes submetidos a ATQ ou ATJ, Oremus et al. 79 demostraram que a adição AT em um protocolo de transfusão restritiva, em pacientes submetidos à ATJ, torna desnecessário o uso de qualquer sistema de salvamento de sangue pós-operatório. -Questão 7: Qual o papel de outros agentes, tais como plasma rico em plaquetas (PRP) ou cola de fibrina, para minimizar a perda sanguínea? Consenso: Não recomendamos o uso rotineiro da PRP. Existe alguma evidência de que os produtos de fibrina podem reduzir a perda sanguínea. Votação dos Delegados : A Favor: 91%, Contra:1%, 162 Abstenção: 8% (Forte Consenso) Justificativas: Existem vários ECRs apoiando a eficácia de produtos de fibrina na redução da perda sanguínea e da necessidade de transfusões em ATJ. No entanto, os resultados dos estudos sobre PRP são ambíguos e assim é difícil tirar uma conclusão definitiva. No estudo de Diiorio et al.80 134 pacientes submetidos à ATJ que receberam PRP foram avaliados retrospectivamente. Os autores não conseguiram demonstrar uma diferença estatisticamente significativa em relação ao volume de perda sanguínea entre os pacientes que receberam PRP e aqueles que não receberam. Em um estudo retrospectivo de 98 ATJ unilaterais em que 61 receberam gel de plaquetas intra-operatória, Gardner et al.81 demonstraram que os pacientes que receberam o gel de plaquetas tinham menos diferença entre os níveis de hemoglobina pré- e pós-operatórias no terceiro dia (2,7 vs 3,2 g/dl, p = 0,026), o que foi considerado como um indicador de perda sanguínea. Em um estudo retrospectivo, Berghoff et al. 82 demonstraram que a administração de plasma rico em plaquetas e pobre em plaquetas, durante o fechamento da ferida, está associada com um melhor perfil de hemoglobina e menor taxa de transfusão. Em um ECR, 66 pacientes submetidos a ATQ foram distribuídos aleatoriamente para 1 de 3 dos seguintes grupos 1) 10 mg / kg de AT antes da cirurgia, 2) 10 ml de pulverização de fibrina durante a cirurgia, ou 3) um controle (sem AT e sem pulverização de fibrina). 83 Os autores sugeriram que ambos, a pulverização de fibrina e AT intravenoso reduziram significativamente a quantidade de perda sanguínea em comparação com os controles. Não houve diferença estatisticamente significativa entre a pulverização de fibrina e o grupo de AT relacionada à perda sanguínea. Em um ensaio clínico randomizado de 100 ATQ, os pacientes foram designados para o grupo de estudo (recebimento de cola de fibrina autóloga) ou grupo de controle (sem cola de fibrina). 84 Os resultados deste estudo demostraram uma quantidade significativamente menor de perda sanguínea, naqueles em que foi utilizada a cola de fibrina ( 580 ± 240 ml), em comparação com os controles (810 ± 341 ml). Em um ensaio clínico randomizado, 81 pacientes que se submeteram a ATQ foram designados para receber cola de fibrina (10 ml total) ou não. No grupo da cola de fibrina, a quantidade de perda de sangue diminuiu significativamente em 23,5%.81 Os resultados de dois ECRs mostraram que a administração de produtos de fibrina está associado com menor drenagem de sangue da ferida operatória e menor necessidade de transfusão em pacientes de ATJ. 85-87 -Questão 8: Qual o papel da recuperação sanguínea (intra e pós-operatório) durante o segundo estágio para troca de implantes, no tratamento de IAP? 163 Consenso: O papel do salvamento de sangue (intra e pós-operatória), durante a segunda fase do tratamento em 2 tempos da IAP é inconclusiva. A recuperação do sangue deve ser utilizada com precaução. Votação dos Delegados : A Favor: 80%, Contra:11%, Abstenção: 9% (Forte Consenso) Justificativas: A eficácia do sistema de recuperação de hemácias tem sido demonstrada em cirurgias ortopédicas.88 Embora não haja forte evidência em relação à contraindicação em casos de infecção periprotética, tradicionalmente, a presença de infecção é considerada como uma contraindicação para o uso deste tipo de sistema.89 No entanto, alguns autores sugerem que a recuperação de células possa ser usada em casos de infecção. Filtros de remoção de leucócitos podem ser usados para filtrar todo o sangue recuperado. Estes filtros são eficazes na remoção de glóbulos brancos e de colonias bacterianas até 104 UFC /ml. Quaisquer bactérias residuais seriam tratadas por antibióticos perioperatórios, do mesmo modo que seria para qualquer bacteremia que ocorre durante a cirurgia.35 Em uma revisão sistemática Cochrane, foram avaliados ECRs em que os pacientes submetidos a cirurgias eletivas foram randomizados para um grupo de recuperação de células, ou um grupo de controle (sem intervenção).88 Os resultados desta revisão sistemática indicaram que em procedimentos ortopédicos, o risco relativo de exposição à transfusão cai para 0,46 (95% CI: 0,37-0,57), nos pacientes em que as células foram recuperadas, e que o uso de sistemas de recuperação de células não foi associada a nenhum evento adverso. -Questão 9: Qual o papel da administração de eritropoietina, hematínicos ou outros agentes, entre os dois estágios de troca de implantes, para o tratamento de IAP? Consenso: O tratamento da anemia pré-operatória com Ferro, associado ou não à Eritropoietina, reduz o risco de transfusão em pacientes submetidos a SAPT. Votação dos Delegados: A Favor: 78%, Contra: 9%, Abstenção: 13% (Forte Consenso) Justificativas: Há evidências que sugerem que o tratamento da anemia pré-operatória com Ferro, associado ou não à Eritropoietina, reduzirá o risco de transfusão em pacientes submetidos a SAPT.90 No entanto, alguns autores sugerem que a anemia deva ser investigada, e não tratada empiricamente, uma vez que o risco de tumores e sangramentos gastrointestinais é considerável. Uma revisão sistemática realizada por Spahn90 indicou que o tratamento da anemia préoperatória com Ferro, associado ou não a Eritropoietina, reduzirá o risco de transfusão em pacientes submetidos a SAPT. 164 Um ECR multicêntrico e duplo-cego comparou dois regimes de Epoetin-α na redução da necessidade de transfusão sanguínea alogênica em pacientes submetidos a artroplastias. Os pacientes foram alocados para receber 40.000 unidades de Epoetin-α, 4 vezes por semana (alta dose; n=44); ou 20.000 unidades (baixa dose; n=79); ou placebo (n=78); iniciando 4 semanas antes da cirurgia. Todos os casos receberam Ferro suplementar, via oral (450 mg/dia) durante 42 ou mais dias antes da cirurgia. Os resultados revelaram que ambos os regimes foram efetivos em reduzir a necessidade de transfusão sanguínea alogênica. Os pacientes que receberam altas doses tiveram as menores taxas de transfusão.91 Em dois estudos, Delasotta et al.92,93 demonstraram que em anemias leves, a administração de Epoetin-α diminuiu as taxas de transfusão em pacientes submetidos a revisões de ATJ e ATQ. -Questão 10: Os sistemas de sucção fechados são fontes de contaminação? Consenso: Há evidências que indicam que a extremidade dos drenos possam ser fonte de contaminação. Votação dos Delegados: A Favor: 70%, Contra: 9%, Abstenção: 21% (Forte Consenso) Justificativas: Alguns poucos estudos demonstram que micro-organismos possam ser obtidos da cultura das extremidades dos drenos aspirativos. No entanto, não há evidências que indiquem a correlação da contaminação do dreno com infecção subsequente. Robinson et al.94 avaliaram a colonização da ponta do aspirador utilizados em sala cirúrgica com ar filtrado, em 39 pacientes, e detectaram contaminação bacteriana em 41%. De modo eemelhante, Strange-Vognsen e Klareskov obtiveram culturas positivas em 12 de 22 ponteiras utilizadas em ATQ.95 -Questão 11: Qual o papel da doação sanguínea autóloga pré-operatória entre os dois estágios de troca de implantes por IAP? Consenso: Não existe razão para doação sanguínea autóloga pré-operatória entre os dois estágios de troca de implantes por infecção periprotética. Votação dos Delegados: A Favor: 83%, Contra: 7%, Abstenção: 10% (Forte Consenso) Justificativa: Até a presente data não há estudos sobre o papel da doação sanguínea autóloga entre os dois estágios de troca de implantes por IAP. No entanto, considerando o risco 165 teórico de disseminar a infecção, os bancos de sangue recusam-se a aceitar a doação de indivíduos infectados ou com suspeita de infecção. Referências: 1. Healthcare Infection Control Practice Advisory Committee. CDC and HICPAC Draft Guideline for Prevention of Surgical Site Infection, Arthroplasty Section; Pending. 2. Innerhofer P, Klingler A, Klimmer C, Fries D, Nussbaumer W. Risk for postoperative infection after transfusion of white blood cell-filtered allogeneic or autologous blood components in orthopedic patients undergoing primary arthroplasty. Transfusion. 2005;45(1):103-110. 3. Frietsch T, Karger R, Scholer M, et al. 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Votação dos delegados: A Favor: 92%, Contra: 4%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Com base na literatura disponível, não há diferença na incidência de IAP ou ISC após artroplastias cimentadas (sem antibióticos no cimento) e artroplastias não cimentadas. Alguns dados de registros apoiam a constatação de que na artroplastia total do quadril (ATQ) o risco de revisão devido a infecção é equivalente entre artroplastias não cimentadas e cimentadas com cimento impregnado com antibiótico, mas o risco é maior para artroplastia cimentada sem antibiótico no cimento. ATQ Cimentada x não Cimentada: Embora tenham sido encontrados vários ensaios clínicos randomizados (ECRs) e revisões sistemáticas comparando a sobrevida dos componentes cimentados e não cimentados da THA1,2, nenhum tinha IAP como desfecho primário. Excluindo ATQ híbridas da análise, o Registro Sueco de Artroplastia de Quadril (SHAR) mostrou que, em 145.339 pacientes que foram submetidos a 170.413 ATQs entre 1992 e 2007, a taxa de infecção profunda foi de 0,5%. A principal indicação para ATQ foi artrose primária (OA), mas os casos de fraturas, artropatias inflamatórias, e outros foram responsáveis por 24%. THAs não cimentadas não apresentaram maior risco de revisão devido à infecção em 172 comparação com ATQs cimentadas (razão de chances (RR) = 0,9, intervalo de confiança (CI): 0,6-1,3). Ainda, uma análise diferencial comparando o cimento impregnado com antibiótico e o cimento sem antibiótico não fosse estudada, os autores observaram que, no SHAR, mais de 90% dos casos foram usados cimento impregnado com antibiótico. Os autores concluíram que "parece que o risco de revisão devido a infecção deve ser aproximadamente igual em ATQs não cimentadas comparado com fixação cimentada, desde que o cimento seja impregnado com antibiótico" 3. Os dados do Registro Norueguês mostraram que, em mais de 97.344 ATQs primárias realizadas em 79.820 pacientes de 1987 à 2007, a sobrevida em 5 anos foi de 99,46% quando a revisão era devido à infecção profunda, considerada como desfecho.4 O RR para a primeira revisão devido à infecção foi menor no grupo de pacientes que receberam prótese cimentada impregnada com antibiótico. Quando comparado com ATQs cimentadas com cimento impregnado com antibiótico, a fixação não cimentada tinha um risco maior de revisão devido à infecção (RR: 1,4 , IC: 1,0-1,8, p = 0,03). A utilização de cimento sem antibióticos também teve RR superior quando comparado com fixação cimentada com antibiótico no cimento (RR: 1,9, Cl: 1,5-2,3, p < 0,001). O maior risco de IAP apresentado em ATQs cimentadas com cimento sem antibióticos foi descrito em um estudo anterior do mesmo Registro, descrito por Engesaeter et al.,5 que demonstraram que o risco de revisão devido à infecção foi o mesmo para ATQs não cimentadas e cimentadas com antibiótico impregnado no cimento, mas superior para artroplastias cimentadas sem cimento com antibiótico. Um estudo prospectivo de três Registros de Saúde Norueguêses, compreendendo o período de 2005-20096, avaliou a taxa de ISC e revisões devido a IAP em ATQ. A taxa de ISC foi de 3% (167/5.540) e não foi influenciada pelo tipo de fixação (cimentada, não cimentada, ou híbrida). A taxa de revisão devido à IAP foi de 0,8% (236/31.086) e foi influenciada pelo tipo de fixação. Comparado com ATQs cimentadas, as ATQs não cimentadas tiveram maior risco ajustado de revisão devido à infecção (RR: 1,5, IC: 1,0 - 2,2, p = 0,03). A taxa de revisão devido à infecção na fixação híbrida não foi diferente quando comparada com a fixação cimentada (RR: 1,1, IC: 1,6 0,7, p = 0,7). Em um estudo demonstrando o crescente risco de IAP que foi realizado pela Arthroplasty Nordic Register Association (Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia), o uso de cimento sem antibiótico e ATQs híbridas foram considerados fatores de risco para infecção.7 Artroplastia devido a fraturas do quadril: Uma revisão Cochrane de 2010, comparou hemiartroplastias cimentadas e não cimentadas nas fraturas do fêmur proximal em adultos. Com relação à taxa de infecção superficial, a revisão não encontrou diferenças entre os grupos 173 (teste para efeito global: Z = 0,16, p = 0,88). Com relação às infecções profundas, novamente não houve diferenças entre os grupos estudados (teste para efeito global: Z = 0,46, p = 0,64).8 Um ECR publicado recentemente, comparou 80 hemiartroplastias cimentadas e 80 hemiartroplastias não cimentadas para fraturas do colo femoral desviadas em idosos e encontrou que a taxa de infecção foi similar em ambos os grupos: 5% (IC: 2,0 - 12,2) no grupo cimentado versus 6,3% (IC: 2,7 - 13,8) no grupo não cimentado.9 Infelizmente, a utilização de cimento impregnado com antibiótico não foi esclarecida pelos autores. Artroplastia devido à Osteonecrose: Uma recente série de casos de um único cirurgião não encontrou diferença na taxa de infecção entre as hastes cimentadas e não cimentadas empregadas no tratamento da OA avançada secundária à osteonecrose da cabeça femoral. É importante observar que, neste estudo, as hastes cimentadas foram definidas no contexto de ATQs híbridas.10 Artroplastia de Revisão: No cenário de Revisão de Artroplastia, um estudo a partir do Registro Sueco comparou a sobrevivência entre haste não cimentada e haste cimentada. Não foi observado diferenças na taxa de falhas devido à infecção.11 Artroplastia total do joelho (ATJ) cimentada versus não cimentada: Apesar de encontrados vários ECRs e revisões sistemáticas que compararam a sobrevivência dos componentes cimentados e não cimentados na ATJ, nenhum apresentou a IAP como o desfecho primário. Uma revisão recente do grupo Cochrane, comparando o desempenho de componentes cimentados versus não cimentados na ATJ não incluiu uma comparação formal sobre ISC / IAP como um evento relevante.12 Um ECR publicado recentemente avaliou o desempenho de ATJ cimentadas e não cimentadas no mesmo paciente (ATJ bilateral em 50 pacientes). Não foi encontrada diferença em termos de taxa de infecção.13 Um ECR comparou o desempenho de ATJ cimentadas (277 próteses) com os implantes condilares não-cimentadas do tipo press-fit (224 próteses), em uma análise de sobrevida de 10 anos. Maior número de implantes cimentados (5 cimentados e um não cimentado) foram revisados por infecção. Usando revisão por infecção como desfecho, as taxas de sobrevivência em 10 anos foram 98,1% (CI 95% 94,1-99,4) no grupo cimentado e 99,5 % (IC 95% 95,3-99,9) no grupo não cimentado. A diferença não foi estatisticamente significativa (hazard ratio 4,31, CI 95% 0,50-37,14, p = 0,18) .14 A análise em 15 anos mostrou que os componentes do grupo de próteses cimentadas foram revisados por infecção em sete pacientes (2,5%). No grupo não 174 cimentado, os componentes foram revisados por infecção em quatro pacientes (1,8%), não apresentando diferença significativa.15 Relevância da hidroxiapatita (HA): Uma revisão Cochrane estudou a hemiartroplastia e hemiartroplastia com implante recoberto de HA nas fraturas do fêmur proximal em adultos. Não houve diferença na taxa de infecções superficiais ou profundas.8 Um ECR comparou implantes tibiais recobertos com HA com implantes de fixação tibial cimentada na ATJ primária. Não foi encontrada diferença na taxa de infecção (3 casos de celulite/41 ATJ cimentada e três casos de celulite/40 ATJ revestido com HA).16 Outro ECR comparou ATJ revestida de HA (29 joelhos) com ATJ em que se utilizou componentes tibiais cimentados (28 joelhos). Duas infecções foram encontradas no grupo dos joelhos com HA e nenhuma no grupo cimentado, sem diferença estatística.17 -Questão 2A: O cimento impregnado com antibiótico (ABX-PMMA) reduz a incidência de IAP após artroplastia primária total (SAPT) eletiva? Consenso: Sim. Cimento de polimetilmetacrilato impregnado com antibiótico (ABX-PMMA) reduz a incidência de IAP após SAPT e deve ser usado em pacientes com alto risco de IAP após artroplastia eletiva. Votação dos Delegados: A Favor: 90%, Contra: 9%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) -Questão 2B: O cimento impregnado com antibiótico reduz a incidência de IAP após artroplastia de revisão eletiva? Consenso: Sim. Antibiótico deve ser adicionado ao cimento em todos os pacientes submetidos a fixação cimentada ou do tipo híbrida, como parte da técnica de artroplastia de revisão. Votação dos Delegados: A Favor: 88%, Contra: 9%, Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Há evidências de que a adição de antibióticos ao cimento de PMMA leva à redução na incidência de IAP e na frequência das falhas das próteses após artroplastia eletiva.18-21 Numerosos estudos tem demonstrado que a adição de antibiótico em pó ao cimento, principalmente nas artroplastias de revisão leva à redução drástica na incidência de soltura tardia por infecção.21, 22 Assim, está justificado afirmar que os antibióticos (dose e tipo 175 à critério do cirurgião) devem ser adicionados ao cimento na realização de artroplastia de revisão, especialmente na revisão realizada por infecção. O uso de ABX-PMMA durante artroplastia primária não é tão claro. As principais preocupações e questões não resolvidas que estão relacionadas ao uso rotineiro de ABX PMMA durante artroplastia primária são: a) o tipo e dose do antibiótico; b) custo; c) possível aparecimento de organismos resistentes; d) enfraquecimento mecânico do cimento de PMMA e um possível aumento na falha mecânica da prótese, e e) o uso não indicado pelo fabricante (“off-label”). É difícil determinar, a partir da literatura qual antibiótico, e qual dose de antibiótico deve ser adicionado ao cimento, e se há uma diferença entre as várias formulações de cimento no que diz respeito à sua capacidade para prevenir a infecção. Existe uma clara diferença no perfil de eluição de antibióticos impregnados no cimento de PMMA, que é afetado pelo tipo de antibiótico, pela sua dose, e pelo tipo de PMMA. Cimentos com alta viscosidade contendo copolímeros MA-MMA, tais como cobalto L- HV, Palacos R + L, Refobacin e SmartSet LHV, tem mostrado perfis de melhor eluição comparado com outros antibióticos de PMMA.23-28 O que ainda permanece desconhecido é, se o uso de cimento com antibiótico durante a artroplastia primária eletiva, é custo-efetiva.29 Uma das razões para a falta de resultados conclusivos sobre o aspecto econômico dessa prática relaciona-se com a incapacidade de determinar o custo exato do tratamento da IAP. Todos os custos disponíveis para o tratamento de IAP são estimativas e variam amplamente. No entanto, é um fato conhecido que o custo do tratamento de IAP, causada por organismos resistentes à meticilina, é extremamente elevado.30 Assim, a IAP em áreas geográficas do mundo onde a incidência de Staphylococcus aureus resistente a meticilina é elevada, o custo da utilização rotineira de cimento impregnado com antibiótico pode ser justificado. Devido ao custo,29 a utilização rotineira de ABX-PMMA durante artroplastia primária eletiva deve ser limitada a pacientes com risco elevado de IAP (tais como aqueles com diabetes ou condições imunossupressoras). Uma preocupação que persiste é se a mistura manual de antibiótico no cimento (em baixa quantidade) pode acarretar em uma redução significativa nas propriedades mecânicas do cimento e subsequente soltura da prótese.31, 32 Devido a este aspecto, nós recomendamos que seja utilizado ABX- PMMA pré- misturado (se o custo puder ser justificado), mas se a utilização de cimento com mistura manual for considerada, a dose de antibiótico adicionada ao cimento deve permanecer entre 1g e 1,5 g por pacote de 40g de cimento. Diferentes antibióticos podem ser misturados com o PMMA, tais como Gentamicina, Tobramicina, Cefuroxima,18 Vancomicina, Piperacilina/ Tazobactam,33 e Clindamicina.34 176 Potencialmente, outros antibióticos podem ser adicionados ao PMMA, incluindo Cefazolina, Ciprofloxacina, Gatifloxacina, Levofloxacina, Linezolida e Rifampicina.35 Uma publicação recente de Han et al.36 mostrou que a polimerização do cimento ósseo foi retardada para uma média de 122,5 minutos quando a Rifampicina foi adicionada à matriz. Os autores concluiram que a Rifampicina é inadequada como antibiótico a ser adicionado ao cimento ósseo. Um modelo animal comparou diferentes combinações: Cefazolina (Ancef; 4,5g/40g cimento em pó), Ciprofloxacina (Cipro; 6g/40g pó), Clindamicina (Dalacin; 6g/40g de pó), Ticarcilina (Ticar; 12g/40g em pó), Tobramicina (Nebcin; 9,8g/40g pó); e Vancomicina (Vancocin; 4g/40g pó).37 Clindamicina, Vancomicina e Tobramicina demonstraram a melhor eluição no osso e no tecido de granulação. Além disso, o registro de artroplastias da Associação Nacional de Ortopedistas da Australia mostrou que ATQs feitas com cimento com ABX resultou em menor taxa de soltura secundária à infecção e por causas assépticas.38 -Questão 3: O tipo de par tribológico na ATQ pode influenciar a incidência de ISC/IAP? Consenso: Os dados observacionais sugerem que o par tribológico metal-metal pode estar associado ao maior risco de IAP. Votação dos Delegados: A Favor: 78%, Contra: 15%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativas: Diferentes estudos avaliaram o desempenho de diferentes superfícies articulares em THAs . Milošev et al.39 compararam a sobrevida em 10 anos, de próteses de quadril com uso de polietileno convencional, metal-metal, ou superfícies de cerâmica-cerâmica, e não encontraram diferenças na taxa de IAP. Nikolaou et al.40 em um ECR compararam o cromo-cobalto/polietileno de ultra-alto peso molecular, cromo-cobalto/polietileno reticulado (“cross-linked”) e a superficie cerâmica/cerâmica. Mais uma vez, não foram encontradas diferenças em termos de IAP. Usando dados do Medicare, Bozic et al.41 observaram que as superficies metal/metal foram associadas com um risco maior de IAP (“hazard ratio”: 3,03, CI: 1,02-9,09) quando comparado com as superfícies cerâmica/cerâmica (0,59% e 0,32%, respectivamente). Num estudo mais recente do mesmo grupo,42 esta observação foi confirmada. Após o ajuste de fatores do paciente e do hospital, as superfícies metal\metal foram associadas com maior risco de IAP (p = 0,001) em relação à metal\polietileno, e maior risco de IAP (p = 0,014) em relação às superfícies cerâmica\cerâmica. 177 -Questão 4: O tamanho da prótese (volume de material implantado) influencia na incidência de ISC em SAPT? Consenso: Sim. A incidência de infecção é maior após a utilização de megapróteses. Votação dos Delegados: A Favor: 85%, Contra: 11%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Embora saiba-se que a incidência de infecção após a utilização de megapróteses para a reconstrução (tanto para as condições neoplásicas quanto para as não neoplásicas) é maior do que para a artroplastia de rotina,43 não há nenhuma evidência clara de que isto esteja relacionado com o tamanho ou volume da prótese usada. Os pacientes submetidos ao implante de megapróteses possuem um maior risco de infecção, devido à extensão da dissecção dos tecidos moles, perda sanguínea em grande quantidade com consequente necessidade de transfusão, o diagnóstico subjacente de câncer para alguns pacientes, estado imunodeprimido, idade avançada (para pacientes com alterações não neoplásicas) e mau estado local das partes moles (fibrose).44 Não existe nenhum estudo específico que avaliou a influência do tamanho e do volume da prótese na incidência de IAP. Questão 5: Existe diferença entre os vários tipos de cimento com relação à incidência da ISC/IAP após a SAPT? Consenso: Não há clara diferença na incidência da ISC/IAP após artroplastia, quando diferentes formulações de cimento de PMMA são usados. Votação dos Delegados: A Favor: 92%, Contra: 3%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativa: Embora existam alguns estudos in vitro, comparando os perfis de eluição de diferentes marcas comerciais de PMMA,24,28,45 não foram encontrados estudos clínicos que suportem a utilização de uma ou outra formulação de PMMA, por ser superior em termos de incidência de IAP. 178 -Questão 6: Há diferença entre os vários tipos de cimento, com relação à eluição do antibiótico? Consenso : Existe uma clara diferença no perfil de eluição dos antibióticos impregnados no cimento de PMMA, que é determinado pelo tipo de cimento, além do tipo e dose de antibiótico agregado. Votação dos Delegados: A Favor: 96%, Contra: 0%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Há uma série de estudos que avaliaram a eluição de antibióticos impregnados no cimento de PMMA. A maior parte são estudos in vitro que não envolvem situações clínicas. Cimentos de alta viscosidade contendo copolímeros MA-MMA, tais como cobalto L-HV, Palacos R+G, Refobacin e SmartSet GHV, demonstraram ter uma liberação cumulativa mais elevada de antibiótico do que outras formulações de PMMA 23-28, 45 Meyer et al. compararam a eluição do antibiótico nas formulações de Cemex Genta (1,0 g Gentamicina), Cobalto L-HV (0,5 g Gentamicina), Palacos R + L (0,5 g Gentamicina), P (1,0 g, Tobramicina), SmartSet GMV (1,0 g gentamicina ), e Simplex VersaBond AB (1,0 g de gentamicina ) . Cobalto G- HV e Palacos R+G produziram atividade antimicrobiana acumulada de 5 dias semelhante, seja com o regime de mistura à vácuo ou atmosférica. Estes dois cimentos produziram atividades antimicrobianas cumulativas que foram estatisticamente maiores do que todos outros cimentos testados, quando misturado à vácuo, exceto Cemex Genta, e todos quando misturados em condições atmosféricas, apesar de conter apenas metade da dose de antibiótico dos outros cimentos.25 Squire et al. compararam a eficácia do antibiótico de Cemex Genta (1,0 g gentamicina) , cobalto L -HV (0,5 g gentamicina ) , Palacos R+G (0,5 g gentamicina), Simplex P (1,0 g , tobramicina) , SmartSet GMV (1,0 g gentamicina), Simplex SmartSet GHV (1,0 g gentamicina), e VersaBond AB (1,0g de Gentamicina). De um modo geral, os cimentos de baixa e média viscosidade mostram a maior eficácia antimicrobiana após um dia, mas nos segundo e sétimo dias os cimentos de alta viscosidade demonstraram maior inibição do crescimento bacteriano. Não foram notadas diferenças significativas entre Palacos R+G, Cobalto L-HV, e SmartSet GHV em qualquer um dos períodos de tempo. Novamente, o desempenho do Palacos R+G e Cobalto GL – HV, neste estudo,foi conseguido apenas com metade da dose de antibiótico encontrada nas outras formulações de cimento.27 Estes dois estudos25,27, sugerem que a atividade e eluição do antibiótico nas formulações dos cimentos ósseos Palacos e HV Cobalto é muito semelhante (não houve diferenças 179 estatisticamente significativas nas comparações entre os dois estudos) e as características de eluição são geralmente superiores as dos outros cimentos ósseos de PMMA. Dall et al. compararam a eluição de gentamicina do Palacos R+G com o Refobacin R.23 Não houve diferenças estatisticamente significativas para a eluição de Gentamicina em 1 hora ou em 72 horas. Neut et al. também compararam a liberação de Gentamicina e eficácia antibacteriana de Palacos R+G com o Refobacin R.26 Não houve diferenças estatisticamente significativas entre Refobacin R e o Palacos R+G para a liberação de gentamicina, ou eficácia antimicrobiana da eluição da gentamicina. Os mecanismos específicos relativos a eluição de antibiótico pelo cimento não são perfeitamente claros, mas sabe-se que a hidrofilia de diferentes tipos de polímeros acrílicos variam, sendo que os copolímeros de MMA-MA são mais hidrófilos do que o PMMA puro, e o PMMA mais hidrófilo do que o copolímero MMA-estireno.46 Cimentos compostos com mais polímeros hidrofílicos irão trocar água mais facilmente com o ambiente liberando, assim, antibióticos solúveis mais facilmente. A viscosidade do cimento, resultando na morfologia da massa de cimento (por exemplo, o perfil de porosidade) também pode influenciar na eluição do antibiótico.25 -Questão 7: Existe diferença na incidência da ISC/IAP com a utilização de diferentes tipos de próteses não cimentadas? Consenso: A incidência de ISC /IAP pode ser menor com o uso de implantes de metal poroso (tântalo) em relação aos implantes de titânio durante a artroplastia de revisão. Votação dos Delegados: A Favor: 44%, Contra: 33%, Abstenção: 23% (Sem consenso) Justificativas: Não há nenhum estudo que demonstre com certeza que há uma nítida diferença na incidência da ISC/IAP ós SAPT primária, utilizando diferentes componentes não cimentados. Existe evidência na literatura,47-51 além de um recente estudo não publicado, que mostra a incidência da infecção menor com o uso de próteses de tântalo (Tokarski et al., aguarda publicação), que se mostrou particularmente verdadeira quando os componentes de tântalo foram usados em revisões para o tratamento da infecção. Assim, a incidência da recorrência ou reinfecção após cirurgia para reimplante em IAP foi muito menor nos pacientes que receberam implantes de tântalo, comparados aos de titânio. A justificativa científica para essa observação pode estar relacionada com o maior potencial de osseointegração do tântalo em comparação com implantes de titânio. A superfície 180 protética pode ser melhor habitada e mais precocemente, quando os implantes porosos são utilizados durante cirurgias reconstrutivas desafiadoras, particularmente aquelas realizadas para a infecção. Um fator adicional que tem sido proposto como um possível fator de proteção para IAP com implantes de tântalo, pode relacionar-se à estrutura tridimensional e tamanho dos poros dos implantes de tântalo, o que inibe o crescimento bacteriano e a formação de biofilme. -Questãp 8: Existe uma justificativa para o uso de antibióticos em pó (por exemplo, Vancomicina), na ferida operatória durante SAPT? Consenso: Não. Não existe literatura que sugere que a utilização de vancomicina em pó sobre a ferida ou na proximidade de um implante reduza a incidência de IAP. Alguns poucos estudos tem mostrado que a utilização de Vancomicina em pó reduz a incidência de ISC após procedimentos não artroplásticos. Futuros estudos são necessários. Votação dos Delegados: A Favor: 91%, Contra: 5%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativa: Não existem estudos que avaliaram o papel da adição de Vancomicina em pó na incisão durante SAPT. Há uma série de estudos que mostraram uma incidência reduzida de ISC após procedimentos na coluna vertebral, quando a Vancomicina em pó foi colocada na incisão. 50,52,53 Há uma clara necessidade de um estudo randomizado, prospectivo para avaliar esta questão. -Questão 9: Existe diferença na incidência da ISC/IAP com o uso de substitutos metálicos em comparação com aloenxerto na reconstrução da deficiência óssea na artroplastia infectada? Consenso: Não existe diferença na incidência de ISC/ IAP após o uso de substitutos metálicos ou enxerto homólogo para a reconstrução de defeitos ósseos. Votação dos Delegados: A Favor: 80%, Contra: 7%, Abstenção: 13% (Forte Consenso) Justificativa : Não há nenhum estudo na literatura ortopédica que avaliou esta questão em particular. Embora possamos ser levados a assumir que a utilização de enxerto ósseo, especialmente quando combinado com antibióticos, resulte em menor incidência de infecção, não há nenhuma evidência clara de tal suposição. A incidência de infecção após revisões 181 complexas com grande perda de estoque ósseo, que requeira a utilização de cunhas metálicas, e/ou de enxerto ósseo é naturalmente maior do que na artroplastia primária ou na revisão simples. No entanto, o aumento da incidência nestes pacientes não pode ser atribuído diretamente à utilização de cunha ou a de enxerto ósseo. -Questão 10: Existe justificativa para a modificação da superfície do implante protético, de modo a minimizar a IAP? Consenso: Há necessidades reais da modificação da superfície dos implantes para que estas possam atuar como adjuvantes na redução da colonização bacteriana e subsequente ISC/IAP. Votação dos Delegados: A Favor: 76%, Contra: 15%, Abstenção: 9% (Forte Consenso) Justificativas: A modificação da superfície protésica com o objetivo de reduzir a colonização e infecção bacteriana subsequente parece ser promissora no campo da SAPT. No momento, uma grande variedade de superfícies modificadas pela adição de antibióticos,54-57 prata,58-59 cobre,60-61 e outros agentes,62,63 têm-se revelado bem sucedidas em modelos pré-clínicos. Uma experiência favorável, no contexto clínico, com o uso do cobre em um espaçador foi relatada.64 Novas investigações são necessárias para conclusões mais definitivas sobre a aplicabilidade, biossegurança, e relação custo-eficácia dessas tecnologias. Em estudos clínicos emergentes, a utilização de implantes revestidos com prata ou de implantes de iodo com titânio, utilizados durante a reconstrução articular em pacientes imunocomprometidos, leva à redução significativa na incidência de ISC/ IAP (ver Questão 18 , Tema 3). -Questão 11: Existem novos desenvolvimentos para a prevenção da ISC / IAP? Consenso: A comunidade ortopédica precisa explorar o potencial de modificações de superfície da prótese, num esforço para reduzir a incidência de ISC / IAP. Votação dos Delegados: A Favor: 84%, Contra: 10%, Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: A IAP emergiu como uma das questões mais importantes no campo da SAPT e vai continuar a crescer nas próximas décadas . A utilização de índices de risco desenvolvidos para estratificar e otimizar clinicamente os pacientes, a modificação dos implantes para incorporar propriedades antimicrobianas e antibiofilme, e o desenvolvimento de vacinas 182 clinicamente aplicáveis e enzimas inibidoras de biofilme, irá auxiliar na luta atual para a prevenção da IAP. O sucesso das estratégias futuras de tratamento vai depender do refinamento das indicações e técnicas de procedimentos cirúrgicos atuais, bem como do uso racional de tecnologias para a quebra do biofilme e a terapia fotodinâmica. Finalmente, o campo da metabolômica, embora ainda relativamente novo, provavelmente tem a chave para uma abordagem diagnóstica e tratamento inovador da infecção e uma compreensão mais profunda da fisiopatologia da IAP no corpo humano.65 Novos métodos para a detecção e prevenção de infecções ortopédicas por biofilmes: A atividade limitada de antimicrobianos convencionais sobre infecções por biofilmes em dispositivos médicos requer novas estratégias para: 1) a detecção de biofilme em implantes de demora 2) opções de tratamento de implantes infectados e 3), conferir proteção para a colonização prévia de implantes e a consequente formação de biofilme. Ehrlich et al. argumentaram que a detecção de infecções por biofilme é influenciada negativamente pelo fato de que as culturas de biofilme não conseguem se recuperar e crescer em culturas com os protocolos atuais.66 Isso compromete a decisão clínica devido à falta de conhecimento do agente patogênico e a seleção de um regime antimicrobiano eficaz. 67 O consenso para melhor diagnóstico e detecção de biofilme é abordado pelo Tema 7. Novas abordagens da engenharia de controle de infecções ortopédicas por biofilmes foram discutidas por Ehrlich et al., nas quais sistemas de biossensores fundamentados na microeletromecânica monitoraram a dinâmica do biofilme bacteriano, com o objetivo de liberar uma carga de drogas e efetivamente erradicar tanto o biofilme quanto as bactérias planctônicas.66 Enquanto o processo de desenvolvimento e validação de implantes inteligentes ainda está em fase laboratorial, outras estratégias que abordam modificações de superfície de implantes têm avançado através de testes pré-clínicos rigorosos, ou já estão em ensaios clínicos humanos iniciais. Estas tecnologias baseiam-se essencialmente na liberação de uma carga cronometrada de um agente antimicrobiano para atingir concentrações tissulares locais elevadas, a partir de um revestimento de suporte, tal como um hidrogel, sol-gel, ou outro revestimento de camada fina.68 A cinética de liberação variável associada com as tecnologias de eluição de medicamentos frequentemente levantam as preocupações com a resistência bacteriana, uma área que continua a chamar a atenção tanto do ponto de vista clínico quanto regulatória. Outras estratégias de derivatização da superfície apresentam uma topografia “mortal”, matando as bactérias em contato com a corrente covalente de peptídeos antimicrobianos, ou pela ligação de moléculas carregadas à superfície do substrato.56,69 Ainda que alguns desses revestimentos covalentemente ligados 183 visam conferir proteção de longo prazo para o implante, a longevidade destes revestimentos bactericidas não foi estabelecida além da eficácia em curto prazo, em um cenário in vivo. O campo da biomimética está rapidamente ganhando interesse dominante em muitas disciplinas de engenharia e ciência dos materiais. As estruturas hierárquicas com dimensões de características, que vão desde a macroescala à nanoescala, são extremamente comuns na natureza para proporcionar propriedades intrigantes de interesse. Este campo permite imitar a biologia ou natureza através do desenvolvimento de nanomateriais, nanodispositivos e processos que poderiam fornecer topografias de superfície desejáveis na luta contra a colonização bacteriana de implantes. Os relatos crescentes na literatura sobre um grande número de objetos de estudo com interesse comercial, incluem animais aquáticos, insetos, plantas e bactérias com propriedades de superfície.70 Embora existam muitas tecnologias atraentes abordando a mitigação do biofilme para infecções associadas ao implante, desafios consideráveis permanecem. Desafios ao longo do caminho central da aplicabilidade incluem o desenvolvimento bem sucedido de conceitos para a transferência de processos de laboratório para a produção em massa (ou seja, a síntese de superfície) de uma maneira custo-efetiva, e modelos de estudos pré-clínicos refinados in vivo, para enfrentar de maneira pertinente as medidas regulatórias para ambos, a segurança e a eficácia (isto é, efeitos locais e sistémicos de exposição crónica antimicrobiana, a eficácia no contexto da exposição polimicrobianas, etc.). A medida que nossa compreensão da fisiologia do biofilme, modulação imunológica e interações com o hospedeiro locais e sistêmicas aumenta, também aumentará nosso repertório de estratégias anti-biofilme. Com contínuos esforços e colaboração interdisciplinares entre clínicos, pesquisa básica e indústria, novas e eficazes intervenções também surgirão. Um ponto crítico no equacionamento do sucesso para o controle da IAP é o diálogo educativo construtivo com os vários órgãos reguladores. Esse esforço é fundamental para apoiar a aplicação bem sucedida de tecnologias inovadoras. Referências: 1. Corten K, Bourne RB, Charron KD, Au K, Rorabeck CH. What works best, a cemented or cementless primary total hip arthroplasty?: minimum 17-year followup of a randomized controlled trial. Clin Orthop Relat Res. 2011;469(1):209-217. 2. Morshed S, Bozic KJ, Ries MD, Malchau H, Colford JM, Jr. Comparison of cemented and uncemented fixation in total hip replacement: a meta-analysis. Acta Orthop. 2007;78(3):315-326. 3. Hailer NP, Garellick G, Karrholm J. Uncemented and cemented primary total hip arthroplasty in the Swedish Hip Arthroplasty Register. Acta Orthop. 2010;81(1):34-41. 4. Dale H, Hallan G, Espehaug B, Havelin LI, Engesaeter LB. Increasing risk of revision due to deep infection after hip arthroplasty. Acta Orthop. 2009;80(6):639-645. 184 5. 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Malizos MD,PhD Delegados: Abbas Alavi MD, Hani Bedair MD, Robert E Booth MD, Peter Choong MD, Carl Deirmengian MD, Garth D Ehrlich PhD, Anil Gambir MD, Ronald Huang MD, Yair Kissin MD, Hideo Kobayashi MD, Naomi Kobayashi MD, Veit Krenn MD, Drago Lorenzo MD, SB Marston MD, Geert Meermans MD, Javier Perez MD, JJ Ploegmakers MD, Aaron Rosenberg MD, C Simpendorfer MD, Peter Thomas MD, Stephan Tohtz MD, Jorge A Villafuerte MD, Peter Wahl MD, Frank-Christiaan Wagenaar MD, Eivind Witzo MD -Questão 1A: Qual é a definição de infecção articular periprotética (IAP)? Consenso: A IAP é definida como: * Duas culturas periprotéticas positivas com organismos fenotipicamente idênticos, ou * Uma fístula que se comunica com a articulação (implante), ou * A presença de três ou mais dos seguintes critérios menores : - Elevação da Proteína C Reativa (PCR) E da velocidade de Hemossedimentação (VHS); - Fluido sinovial com elevada contagem de Leucócitos OU positividade (++) no teste da fita de esterase leucocitária - Fluido sinovial com elevada contagem percentual de Neutrófilos (%PMN) - Análise histológica positiva do tecido periprotético - Uma única cultura positiva Votação dos Delegados: A Favor: 85%, Contra: 13%, 189 Abstenção: 2% (Forte Consenso) -Questão 1B: Que considerações devem ser levadas em conta na definição de IAP? Consenso: Clinicamente a IAP pode estar presente sem cumprir estes critérios, especificamente no caso de organismos menos virulentos (por exemplo, P. acnes). A esterase leucocitária no líquido sinovial pode ser realizada como teste rápido de consultório ou intraoperatoriamente, utilizando-se das fitas para análise urinária. No caso de coletas hemorrágicas, por acidente de punção, a centrifugação da amostra pode manter a precisão do teste colorimétrico para a esterase leucocitária. Votação dos Delegados: A Favor: 76%, Contra: 14%, Abstenção: 10% (Forte Consenso) Justificativa: Esta é uma adaptação da definição de IAP1 da Sociedade de Infecção Musculoesquelética (SIM). Uma fístula de comunicação com a articulação protética ou duas culturas positivas com organismos fenotipicamente idênticos podem ser consideradas patognomônicas para IAP e, portanto, qualquer um destes 2 itens por si só já a define. Os critérios menores referem-se aos testes tradicionais utilizados na investigação da IAP, que tem comprovada acurácia e reprodutibilidade no diagnóstico, ainda que não sejam independentemente patognomônicos para infecção articular. Sorologia da VHS e PCR são conhecidos marcadores sensíveis de IAP com relativamente pouca especificidade e podem ser influenciados por outras doenças infecciosas ou inflamatórias não-infecciosas, incluindo infecções extra-articulares.2-6 A combinação de VHS e PCR elevadas, dentro de seus limites tradicionais, tem demonstrado ser um indicador mais preciso de IAP do que as elevações do VHS ou PCR isoladamente.4,5,7 A contagem de leucócitos e %PMN no líquido sinovial estão bem estabelecidos como marcadores de IAP.3, 8-12 Eles são indicadores precisos de IAP que podem, ocasionalmente, estar elevados em um quadro de dor de origem asséptica. Apesar da variabilidade significativa entre as instituições, vários autores, incluindo os de uma rigorosa metanálise13, tem mostrado a utilidade da análise histológica do tecido periprotético no diagnostico de IAP.13-20 Embora o limite apropriado para o diagnóstico de IAP na análise histológica seja controverso, uma concentração tissular máxima de 5 a 10 PMN/ campo em cada um dos cinco ou mais campos pesquisados, parece ter um melhor desempenho diagnóstico. O critério de um total de 23 PMNs em 10 campos pesquisados17 parece levar, na maioria dos casos, ao mesmo diagnóstico final, como os critérios listados acima. Neutrófilos aprisionados na rede de fibrina não são preditivos de infecção, e assim a coleta de amostras por dissecção simples ao invés de utilizar bisturi eletrico, poderá ajudar a limitar os diagnósticos falso-positivos devido a artefatos térmicos. 190 Análises recentes têm mostrado que a aplicação do teste de fita para análise urinária, no líquido sinovial, em que se observa com atenção a colorimetria para esterase leucocitária, pode ser um marcador preciso e instantâneo para IAP (sensibilidade entre 81%-93% e especificidade entre 87%-100%).21,22 Um estudo mostrou que um terço das punções sinoviais foram incapazes de ser testadas com tiras de reagente colorimétrico22, no entanto, uma publicação recente sugere que a centrifugação da amostra sinovial em 6.600 rotações por minuto durante 2-3 minutos, ajuda a separar as hemácias, permitindo que o teste seja realizado com precisão.23 Uma única cultura positiva, ainda que sugestiva de IAP, pode representar um falso positivo24-26 e é, portanto, um critério menor e assim deve ser ponderado à luz de outros testes diagnósticos. A Coloração de Gram 24,27-32 e a contagem total e diferencial de leucócitos no soro12, 33, 34 são marcadores pobres de IAP e, portanto, não foram incluídos nesta definição. O aspecto intra-articular purulento, anteriormente um critério menor pela SIM1, foi muitas vezes considerado como patognomônico para IAP. No entanto, o aspecto purulento também foi recentemente descrito em casos de reação tissular adversa local aos implantes de quadril do tipo metal-metal, e em reações de corrosão associadas também ao par tibologico metalmetal.35-37 Além disso, a determinação da presença de secreção purulenta é subjetiva. Como conseqüência a presença de pus foi removida como critério menor na definição de IAP. -Questão 2: Você concorda com o algoritmo da Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos (AAOS), para o diagnóstico de IAP? Consenso: Segue uma adaptação do algoritmo da AAOS para o diagnóstico de IAP. Este algoritmo deve ser aplicado a pacientes que se apresentam com artroplastia dolorosa ou com falha definida. Votação dos Delegados: A Favor: 91%, Contra: 0%, 191 Abstenção: 9% (Forte Consenso) Considerações: O julgamento clínico não deve ser superado pelo uso do algoritmo de diagnóstico ou qualquer outro teste individual. O diagnóstico pré-operatório de distúrbio asséptico utilizando este algoritmo, não deverá eliminar a suspeita de IAP. Os doentes devem ser considerados com maior probabilidade de infecção, se apresentarem uma história de dor persistente e rigidez ou qualquer das seguintes características: *Bacteremia Recente *Várias cirurgias no mesmo local, * História de infecção periprotética, * A presença de comorbidades que predispõem os pacientes a um estado imunossupressão, por exemplo, diabetes mellitus, artropatia inflamatória, ou desnutrição, 192 * Fatores que aumentam o risco de penetração da barreira da pele, por exemplo: uso de drogas intravenosas, as más condições de feridas, psoríase, estase venosa crônica, ou ulceração da pele, * Infecção superficial de sítio cirúrgico relacionado com a articulação. * Achados do exame físico sugestivos de IAP: - Deiscência da Ferida, ou - Calor, hiperemia ou edema articular * Sinais sugestivos de IAP à Radiografia simples: -Sinais de soltura de componentes previamente bem fixos (especialmente soltura observada nos primeiros 5 anos pós-operatórios), -Osteólise ou reabsorção óssea em torno dos componentes da prótese não deve ser considerada como associada ao desgaste da superfície, em particular, se observada antes de 5 anos pós-operatórios, -Reação subperiosteal, ou -Fístulas transcorticais. É importante notar que as radiografias simples são geralmente normais na instância de IAP. Justificativas: Na análise de dados efetuada pelos membros deste grupo de trabalho, a utilização de triagem sorológica seguida da análise da contagem de células no líquido sinovial, obtida por punção articular aspirativa, tem uma precisão estimada em 90%, para o diagnóstico de IAP na investigação pré-operatória, quando comparada com a definição de IAP fornecida acima. Uma análise de decisão a partir de multiplos critérios separados, realizada por membros deste grupo de trabalho, mostrou que a triagem para VHS-PCR seguida de aspiração articular é o método mais custo-efetivo para o diagnóstico de IAP.38 Este algoritmo é uma adaptação do algoritmo da AAOS39, incorporando os componentes da definição citados acima. Como discutido anteriormente, estes componentes individuais são marcadores precisos de IAP. A biópsia da articulação tem acurácia já estabelecida no diagnóstico IAP.40-46 Devido à natureza invasiva deste procedimento e o risco teórico de contaminação de uma articulação previamente asséptica, a biópsia pré-operatória deve ser limitada aos casos com uma elevada probabilidade de IAP e resultados inconclusivos pela punção. Biópsia de congelação, no entanto, pode ajudar a distinguir a infecção da falha asséptica, com menor morbidade potencial que a biópsia pré-operatória. 193 A presença de fatores de risco bem estabelecidos para IAP deve levantar a suspeita de soltura séptica. Os fatores de risco para IAP incluem aqueles que aumentam a exposição da articulação ao patógeno ou que prejudicam a capacidade biológica de erradicar os patógenos. 47-50 Uma fístula em comunicação com a articulação é considerada como um achado de exame físico patognomônico para IAP. Outros achados, como a deiscência da ferida, dor ou aumento de volume das articulações, não são específicos para IAP, mas devem aumentar a suspeita. -Questão 3A: Qual deve ser o valor de corte da VHS, PCR, %PMN e contagem de leucócitos na IAP aguda? Consenso: Os valores de corte aproximados listados abaixo se aplicam aos testes obtidos em menos de 6 semanas da cirurgia mais recente: - Nenhum valor de corte para a VHS pode ser determinado, uma vez que este exame não tem utilidade no diagnóstico de IAP aguda. - PCR > 100 mg/L (joelho e quadril), - Contagem de leucócitos no liquido sinovial > 10.000 células /µL, e - %PMN no liquido sinovial > 90%. Votação dos Delegados: A Favor: 81%, Contra: 12%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) -Questão 3B: Qual deve ser o valor de corte da VHS, PCR, %PMN e contagem de leucócitos na IAP crônica? Consenso: Os limites de corte aproximados, listados abaixo, se aplicam a testes obtidos mais de 6 semanas da cirurgia mais recente: - VHS > 30 mm/h, - PCR > 10 mg/L; - contagem de leucócitos no líquido sinovial > 3.000 células por µL , e - %PMN no líquido sinovial > 80%. Votação dos Delegados: A Favor: 81%, Contra: 14%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) -Questão 3C: Qual deve ser o valor de corte da VHS, PCR, % PMN e contagem de leucócitos na IAP, em artropatias inflamatórias? Consenso: Com base em evidências muito limitadas, recomendamos que não haja nenhuma mudança para aumentar os limites de corte da VHS, PCR, %PMN e contagem de leucócitos 194 para o diagnóstico de IAP em pacientes que tenham artropatias inflamatórias subjacentes. No entanto, são necessárias mais pesquisas para confirmar esta afirmação. Votação dos Delegados: A Favor: 87%, Contra: 9%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Sorologia: VHS e PCR são tradicionalmente utilizados como testes de triagem para a detecção de IAP. Como tal, é necessário que estes testes tenham uma sensibilidade elevada, possivelmente comprometendo a especificidade. Estes valores de corte sorológicos foram estabelecidos e confirmados por uma multiplicidade de estudos com variabilidade limitada. A VHS e a PCR, estão elevadas durante o período de tempo pós-operatório agudo (6 semanas), independentemente do estado da infecção. A VHS tem utilidade limitada no diagnóstico.8 Em pesquisas de grupos de trabalho e publicações, a PCR se mostrou como um método preciso de diagnóstico de IAP no período pós-operatório imediato.8 A literatura existente usa 6 semanas como definição do tempo pós-operatório agudo. No entanto, a VHS e PCR podem ainda estar elevadas até 90 dias após a cirurgia. Evidências limitadas sugerem que não há diferença nos valores de corte da VHS, PCR, ou contagem total e diferencial de leucócitos no líquido sinovial, para o diagnóstico de IAP em pacientes com e sem artropatia inflamatória.3 Líquido sinovial: Os valores de corte aqui apresentados são baseados em uma extensa análise de dados feita por membros deste grupo de trabalho. Evidências para os limites de corte nas análises do líquido sinovial, no diagnóstico de IAP, variam significativamente.7,9-12,51-53 Acreditase que estas variações são devidas à diferentes definições de IAP utilizadas nestes estudos e às divergências dos resultados laboratoriais.54,55 Os limites relatados aqui foram determinados com base na definição de IAP acima mencionada, e em técnicas de laboratório similares, quando disponíveis. Evidências publicadas e analisadas por este grupo de trabalho, mostraram que a contagem de leucócitos e %PMN no líquido sinovial tem um grande valor no diagnóstico de infecção, no período pós-operatório precoce, apesar de apresentar um valor basal mais elevado em função do trauma cirúrgico.8 Como discutido acima, ainda que esses limites possam ser válidos em um período de 90 dias, a evidência existente somente avalia as primeiras 6 semanas de pós-operatório. As evidências indicam que a presença de artropatias inflamatórias não tem impacto nos limiares da contagem de leucócitos e no %PMN do liquido sinovial para o diagnóstico de IAP.3 195 Os primeiros dados sugerem que a contagem de leucócitos no líquido sinovial pode não ser confiável e propenso a resultados falsamente positivos na presença de falha na superfície protética metal-metal ou na reação à corrosão dos implantes. Esses resultados devem ser considerados com cuidado neste cenário. Uma contagem manual de leucócitos no líquido sinovial é recomendada nesta circunstância e se a contagem diferencial não puder ser realizada na amostra, os resultados devem ser suspeitos. A presença de falha do par tribológico metal-metal ou a reação à corrosão podem resultar em uma variação acentuada da contagem total e diferencial dos leucócitos no líquido sinovial.56 Monócitos com partículas de metal fagocitados parecem ser interpretados como leucócitos polimorfonucleares (neutrófilos) por alguns instrumentos automatizados de hematologia levando a interpretações de falso positivo para PMN. Portanto, a análise dos leucócitos no líquido sinovial em pacientes com prótese metal-metal e reações de corrosão devem ser feitas manualmente, especialmente quando existe discordância entre a contagem diferencial e total de leucócitos. -Questão 4: Na análise da contagem de células no líquido sinovial, que técnicas são importantes para minimizar a variação? Consenso: Para analisar com precisão a contagem celular no líquido sinovial recomendamos que (1): Na circunstância de aspiração traumática os resultados da contagem de leucócitos sejam ajustados ao número de eritrócitos sinoviais e séricos, e à concentração sérica de leucócitos, e (2) para superfícies metal-metal, a análise e contagem manual dos leucócitos deve ser realizada. Votação dos Delegados: A Favor: 92%, Contra: 1%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativas: Numerosos estudos, apesar de utilizarem diferentes definições de IAP, identificaram limites semelhantes para a VHS e PCR sérica no diagnóstico de IAP.3-5,57,58 As variações entre os resultados de diferentes laboratórios, na análise de líquido sinovial 55 , podem ser a causa para a heterogeneidade dos valores de corte na contagem de leucócitos e %PMN no líquido sinovial, no diagnóstico de IAP, especificamente no quadril, comparado ao joelho e ao ombro. Tais diferenças podem ser devidas em parte a: - Punções traumáticas. - Presença de superfícies protéticas metal-metal ou reações de corrosão. 196 Usando uma técnica validada, o verdadeiro nível de leucocitose sinovial pode ser determinado por ajuste para os eritrócitos sinoviais e séricos, e contagem sérica de leucócitos. 59 Superfícies protéticas metal-metal e as reações de corrosão podem resultar em uma variação significativa na contagem total e diferencial de leucócitos no liquido sinovial.56 Assim, a análise e contagem de leucócitos no líquido sinovial em pacientes com prótese metal-metal e reações à corrosão, devem ser realizadas manualmente, especialmente quando há discordância entre a contagem diferencial e total de leucócitos. -Questão 5: Quanto tempo as culturas de rotina devem ser mantidas? Consenso: Nós recomendamos que as culturas de rotina devam ser mantidas entre 5 e 14 dias. Em casos de suspeita IAP com organismos de baixa virulência, ou se as culturas préoperatórias não conseguiram demonstrar o crescimento bacteriano em pacientes com quadro clínico consistente com IAP (suspeita de IAP com cultura negativa) as culturas devem ser mantidas por 14 dias ou mais. Votação dos Delegados: A Favor: 93%, Contra: 5%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Evidências mostram que a extensão do tempo das culturas periprotéticas até 2 semanas, na tentativa de diagnosticar IAP, aumenta significativamente a sensibilidade do exame ao mesmo tempo em que não aumenta o risco de contaminantes.60-63 Embora não haja evidência para determinar a relação custo-eficácia de 2 ou de uma semana de duração da cultura em casos assépticos presumíveis, a incidência de resultados positivos clinicamente significativos não é insignificante. Portanto, a duração adequada da cultura para todos os potenciais agentes patogênicos é recomendada, inclusive em casos presumidamente assépticos.64,65 Acredita-se também que a maioria dos organismos infecciosos comuns podem ser isolados dentro de alguns dias de culturas convencionais. Não há razão para prolongar a duração da cultura em doentes nos quais o organismo infeccioso foi isolado no pré-operatório. Para os pacientes com suspeita de IAP com cultura pré-operatória negativa, e pacientes que possam estar infectados com organismos de baixa virulência, a cultura deve ser mantida durante um período prolongado (14 dias e, talvez, ainda mais longo). 197 -Questão 6A: Existe papel para a pesquisa rotineira de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) e de fungos na suspeita de IAP? Consenso: Em IAP comprovada ou suspeita, a cultura para BAAR e Fungos deve se limitar a pacientes em risco para tais infecções, ou quando outros patógenos tradicionais não forem identificados, e a suspeita clínica ainda persiste. Votação dos Delegados: A Favor: 92%, Contra: 6%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) -Questão 6B : Existe papel para a pesquisa rotineira de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) e de fungos na suspeita de soltura asséptica? Consenso: Não. Culturas para BAAR de Fungos não desempenham um papel de importância nos processos assépticos presumíveis (por exemplo, os casos em que a contagem total e e diferencial de glóbulos brancos no líquido sinovial pré-operatória, não forem sugestivas de infecção). Votação dos Delegados: A Favor: 91%, Contra: 7%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Micobactérias e fungos são causas raras de IAP.66-68 Portanto, mesmo em casos de IAP comprovada ou suspeita, a investigação é cara e demorada e provavelmente não se justifica em pacientes sem risco ou suspeita de infecções atípicas . A evidência mostra que a pesquisa rotineira de BAAR e fungos em casos presumivelmente assépticos não produz resultados clinicamente importantes, e também não são economicamente efetivas.69 -Questão 7A: Quantas amostras intra-operatórias de tecido periprotético devem ser enviadas para a cultura em casos suspeitos de IAP, e em casos de suspeita de soltura asséptica? Consenso: Na maioria dos procedimentos de revisão, mais de três, mas não mais do que seis amostras de tecidos intra-operatórios distintos devem ser enviadas para cultura aeróbica e anaeróbica. Votação dos Delegados: A Favor: 88%, Contra: 10%, Abstenção: 2% (Forte Consenso) -Questão 7B : Como devem ser obtidas as amostras para cultura? 198 Consenso: Amostras de tecidos ou fluidos de áreas representativas devem ser coletadas, de preferência em interfaces, e cada amostra deve ser coletada com instrumento ainda não utilizado. Recomendamos fortemente contra o swab para a cultura dos tecidos da ferida ou periarticulares. Votação da delegação: A Favor: 97%, Contra: 2%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) -Questão 7C: O antibiótico deve ser suspenso antes da obtenção de amostras para a cultura, em todos os casos? Consenso: Não. Antibióticos perioperatórios profiláticos devem ser suspensos somente em casos com um alto grau de suspeita para IAP, em que nenhum organismo infeccioso foi isolado. Votação dos Delegados: A Favor: 87%, Contra: 12%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Protocolos para a coleta de tecido periprotético têm sido historicamente estabelecidos com a meta de 5 amostras.25,63,70 Na única análise quantitativa disponível, encontrou-se que a sensibilidade e especificidade são maximizadas com a coleta de 5 ou 6 amostras periprotéticas 24 Tem-se sugerido que, para organismos menos virulentos ou pacientes em uso recente de antibióticos, até 10 amostras periprotéticas devem ser rotineiramente coletadas.71 No entanto acredita-se que a baixa sensibilidade devido ao uso recente de antibióticos, ou organismos menos virulentos, possa ser superada por outras técnicas (por exemplo, aumento do tempo de incubação, técnicas moleculares, ou sonicação do explante) 63, 72-74 Da mesma forma, a especificidade da cultura não deve ser alterada pela obtenção de mais de cinco amostras. Em uma análise de 117 casos de revisão (30 com IAP) com culturas de 3 amostras de tecidos periprotéticos e 3 swabs periprotéticos mostrou-se que as culturas de swab, comparadas com as culturas de tecido, têm uma sensibilidade (de 70% contra 93%), e especificidade (de 89% contra 98%) inferiores.75 Isto corrobora um estudo anterior, que mostrou resultados semelhantes com uma definição menos rigorosa de IAP.76 Dois estudos prospectivos (um randomizado) demonstraram que os antibióticos préoperatórios profiláticos não prejudicam a sensibilidade das culturas tradicionais intraoperatórias.77,78 Dessa forma, sugere-se que a suspensão obrigatória de antibióticos profiláticos não se justifica nos casos em que os patógenos já foram identificados. Nos casos em que se 199 diagnostica ou suspeita de PJI e o patogéno ainda está por ser identificado, o uso de antibióticos profiláticos é dependente da avaliação clínica. -Questão 8: Justifica-se a sonicação rotineira da prótese? Se sim, em qual grupo de pacientes deve ser feita? Consenso: NÃO. Nós não recomendamos a sonicação de rotina do explante. Seu uso deve ser limitado aos casos de IAP suspeita ou comprovada (com base no exame clínico e outros testes), nos quais a punção aspirativa pré-operatória não produziu cultura positiva, e os antibióticos foram administrados durante as duas semanas anteriores. Votação dos Delegados: A Favor: 84%, Contra: 9%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativas : Tem sido mostrado que a sonicação do explante obtido de artroplastia de revisão do quadril, joelho e ombro, aumenta a probabilidade de isolar organismos patogênicos, sem aumentar a taxa de contaminação.73,74,79-83 A sonicação do explante é um procedimento de duração e recursos intensos, que provavelmente não se justificam em casos presumidamente assépticos. Além disso, o equipamento para realizar a sonicação não está amplamente disponível. Em uma ampla análise prospectiva de 331 casos, a maior vantagem da sonicação do explante sobre a cultura convencional de tecidos foi observada quando os antibióticos foram administrados dentro do período de 2 semanas da cirurgia.74 A sonicação provavelmente tem esta vantagem, porque o processo remove o biofilme do explante, permitindo a sua amostra para cultura. As bactérias planctônicas normalmente identificadas nas amostras periprotéticas convencionais, são mais suscetíveis a antibioticoterapia que os organismos sésseis . -Questão 9: Justifica-se o uso de técnicas moleculares, como a reação em cadeia da polimerase (PCR) para o diagnóstico de IAP? Se sim, em qual grupo de pacientes devem ser realizadas? Consenso: Testes à base de ácido nucléico não são atualmente testes de diagnóstico de rotina recomendados para IAP. Nos casos com forte suspeita clínica de infecção, mas culturas ou outros testes diagnósticos negativos, técnicas moleculares, com ou sem sonicação podem ajudar a identificar os agentes patogênicos desconhecidos, ou a sensibilidade aos antibióticos focando as terapias antimicrobianas. Votação dos Delegados: A Favor: 96%, Contra: 3%, Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativa: Técnicas de PCR demonstraram ser significativamente mais sensíveis do que a 200 cultura convencional de tecidos para a detecção de patógenos.72,79,84-92 No entanto, apesar de várias modificações técnicas, o número de resultados falso-positivos se opõe à triagem com os tipos de técnicas moleculares, atualmente mais comumente disponíveis. A especificidade das técnicas de PCR tem uma vasta amplitude, relatada entre 0% a 100%.72,86-89,93 Uma vantagem das técnicas moleculares é que elas podem ser usadas na detecção de organismos, mesmo com o recente uso de antibiótico.79,93 A detecção pode ser melhorada pela realização da PCR no fluido de sonicação de explantes, com e sem cultura convencional dos tecidos.79,85,90,93,94 Este efeito aditivo observado pode ser devido à introdução de bactérias sésseis na amostra testada. Ainda que as técnicas moleculares tenham mostrado alguma promessa na identificação de genes associados com a resistência aos antibióticos, 72,81,94 elas ainda não correspondem a aplicabilidade clínica de testar a sensibilidade aos antibióticos de organismos cultivados em cultura. O custo e a disponibilidade desta tecnologia limitam a sua ampla aplicação e, portanto, não é considerada uma ferramenta padrão no diagnóstico de IAP. -Questão 10: Existe um papel para modalidades de imagem no diagnóstico de IAP? Consenso: A radiografia simples deve ser realizada em todos os casos suspeitos de IAP. Ressonância magnética (RM), tomografia computadorizada (TC) e imagens nucleares não tem um papel direto no diagnóstico de IAP, mas podem ser úteis na identificação de outras causas de dor ou falha da reconstrução protética. Votação dos Delegados: A Favor: 93%, Contra: 7%, Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativas: As radiografias simples não são indicadores precisos de IAP.95 Apesar disso, outras etiologias de soltura são bem evidentes nas radiografias simples. Radiografias simples podem mostrar o crescimento do osso subperiosteal, soltura, fístulas transcorticais ou achados comuns no cenário da IAP. Há uma escassez de dados sobre o valor diagnóstico da ressonância magnética. No entanto, o artefato provocado pela presença do implante protético é bem conhecido e sugere que a avaliação da região periprotética para a infecção pode não ser possível.96 Uma estudo investigou a utilidade da tomografia computadorizada no diagnóstico de infecção periprotética do quadril.97 Esse estudo relatou que os achados de partes moles, como a distensão articular e coleções líquidas periprotéticas foram marcadores precisos de IAP (94% e 201 89%, respectivamente). No entanto, estes resultados não podem ser generalizados para outras articulações e não foram confirmados em estudos subsequentes. Portanto, atualmente não é recomendado utilizar a TC para avaliar a IAP, uma vez que outros exames de imagem e testes não-invasivos têm eficácia comprovada. Há evidências substanciais em relação à eficácia da imaginologia nuclear no diagnóstico de IAP.94,98-108 Ainda que muitas técnicas diferentes de imagens nucleares fossem testadas e comprovadas para o diagnóstico IAP, a técnica de maior precisão e custo-efetiva ainda não foi encontrada. Além disso, com os elevados custos da realização e análise cintilográfica, o seu papel no diagnóstico de IAP parece ser limitado. Desta forma, existe pouco espaço para a utilidade da imagem nuclear, com as inúmeras medidas mais custo-efetivas existentes. Também, os planos para o retorno do paciente à sala de operação, permitirá a visualização da articulação, obtenção de cultura de tecidos periprotéticos e possível sonificação do explante. Referências: 1. Parvizi J, Zmistowski B, Berbari EF, et al. New definition for periprosthetic joint infection: from the Workgroup of the Musculoskeletal Infection Society. Clin Orthop Relat Res. 2011;469(11):2992-2994. 2. Berbari E, Mabry T, Tsaras G, et al. 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Votação dos Delegados: A Favor: 63%, Contra: 25%, Abstenção: 12% (Fraco Consenso) Justificativas: O curativo oclusivo (Aquacel) fixado com hidrocolóide demonstrou ter menor taxa de formação de bolhas no período pós-operatório, quando comparado com o Mepore1-4 e o Cutiplast5, e menor incidência de troca de curativos. Uma comparação clínica entre Mepore e Aquacel evidenciou que o Aquacel está relacionado a menor incidência de infecção do sítio cirúrgico (ISC) (3 do grupo do Mepore e 1 no grupo do Aquacel) 1. Um estudo clínico controlado randomizado (ECR) prospectivo comparando Mepore com Aquacel demonstrou taxa de inflamação e de ISC semelhante nos dois grupos2. Em um ECR, a cicatrização da ferida se mostrou retardada e de maior custo no grupo de curativos oclusivos (foam, alginatos, hidrogéis, hidrocolóides, hidrofibras ou filmes), quando comparado aos curativos com gazes 209 convencionais6. Existem também dados inconsistentes comparando hidrofibras com alginatos7,8. Um estudo foi realizado com o objetivo de comparar o desempenho do curativo com uma hidrofibra (Aquacel), com o curativo de alginato (Sorbsan) em feridas cirúrgicas não eletivas ( abscessos da ferida em cisto pilonidal, mama, axila, região inguinal) deixados em cicatrização por segunda intenção. No total, 100 pacientes foram avaliados prospectivamente, sendo randomizados pré-operatóriamente para receber curativo com hidrofibra ou alginato. O desempenho do curativo foi avaliado no momento da cirurgia e no período pós-operatório, com 24 horas e 7 dias. Os parâmetros avaliados incluíram a facilidade da aplicação e da remoção do primeiro curativo, reaplicação no primeiro dia pós-operatório, e remoção e reaplicação uma semana após o procedimento. O curativo com hidrofibra recebeu escores mais elevados em todas estas categorias. Pacientes desse grupo também apresentaram menor intensidade de dor (leve ou nenhuma) durante a remoção do primeiro curativo e uma semana após. Contudo, estes resultados não obtiveram significância estatística e devem ser reconhecidos como uma tendência. Ainda sim, os autores recomendam o uso de hidrofibra em feridas cirúrgicas abertas7. Uma avaliação comparativa envolvendo 428 pacientes submetidos a artroplastias totais primárias de quadril ou joelho, foi conduzida em um único hospital entre janeiro e abril de 2006. Pacientes receberam o curativo tradicional (curativo adesivo com coxim absorvente, Mepore) ou um regime moderno de curativos (Aquacel fixado com curativo hidrocolóide, Duoderm), assim como o acrilato líquido formador de filme. Pacientes com menos de 50 anos e/ou com alguma condição ou comorbidade que poderia comprometer a cicatrização da ferida, foram excluídos. Um protocolo foi desenvolvido para a troca de curativos baseado na extensão do acesso cirúrgico. Os desfechos avaliados foram: formação de bolhas, tempo de desgaste, número de troca de curativos, taxa de ISC e retardo da alta hospitalar1. Pacientes tratados com o curativo moderno apresentaram menor taxa de formação de bolhas, menor incidência de secreção na ferida, maior tempo para desgaste, menor necessidade de troca de curativos e menor incidência de ISC. Apenas 4 casos de ISC, que necessitaram lavagem/debridamento cirúrgico, foram reportados em ambos os grupos (um para o de curativo moderno e 3 para o de curativo convencional), enquanto o restante dos casos foram tratados com sucesso por antibioticoterapia. Até o presente momento não houve revisões devido a infecção profunda em ambos os grupos. 210 Cento e vinte e quatro pacientes (62 ATQ e 62 ATJ) foram randomizados para receber curativo adesivo convencional (Mepore) ou o método de curativo Jubilee (Aquacel com uma camada de hidrocolóide, Duoderm). O número de troca de curativos, incidência de formação de bolhas, secreção da ferida, avaliação subjetiva de inflamação da ferida, taxa de infecção e tempo médio de internação hospitalar foram registrados para todos os pacientes. O grupo do curativo Jubilee apresentou redução significativa da taxa de formação de bolhas, secreção e do número de trocas de curativos, quando comparado com o curativo tradicional (p<0,05). A taxa de inflamação e o tempo total de internação hospitalar não apresentou diferença com significância estatística entre os grupos. Não ocorreu nenhum caso de infecção articular periprotética (IAP)2. O Cutiplast (curativo absorvente perfurado, com a borda adesiva, Smith & Nephew) é comumente utilizado após cirurgias ortopédicas, mas complicações com seu uso foram relatadas. Um ECR foi realizado para comparar a eficácia do Cutiplast e do Aquacel (curativo de hidrofibra, ConvaTec) coberto com Tegaderm (curativo impermeável, 3M). Duzentos pacientes foram randomizados para receber um dos dois tipos de curativos, após cirurgia no quadril ou no joelho, eletiva ou não-eletiva. Os autores foram capazes de avaliar 183 pacientes. A condição da ferida e qualquer complicação como formação de bolhas na pele ou sinais de infecção foram registrados, assim como a frequência de troca de curativos. O curativo com aquacel e Tegaderm apresentou 5,8 vezes maior probabilidade de resultar em uma ferida sem complicações, quando comparado ao curativo com cutiplast [razão de chances (OR), 5,8; 95% intervalo de confiança (CI) 2,8–12,5; p<0.00001]. Considerando formação de bolhas como uma complicação, no grupo Cultiplast 22,5% dos pacientes apresentaram feridas com bolhas comparada com apenas 2,4% no grupo do Aquacel/Tegaderm. Os pacientes que receberam curativo com Aquacel coberto com Tegaderm apresentaram estatisticamente menor necessidade de troca de curativos. Tomando o grupo como um todo, o escore de dor à troca de curativo foi estaticamente menor para os pacientes recebendo curativo com Aquacel/Tegaderm (p< 0,001) 5. Dois estudos clínicos prospectivos foram realizados num período de 6 meses, envolvendo 100 pacientes submetidos a ATQ ou ATJ. Cinquenta pacientes consecutivos com curativos tradicionais (Mepore) foram avaliados antes de efetuar-se a troca para aplicação de curativos modernos (Aquacel). Cinquenta pacientes consecutivos foram então avaliados para um novo tipo de curativo, para completar o ciclo do estudo. O desfecho clínico mensurado foi tempo de desgaste, número de troca de curativos, formação de bolhas e tempo de internação hospitalar. O tempo de desgaste do curativo tradicional (2 dias) foi significativamente mais curto 211 do que para os de curativos modernos (7 dias, p<0,001) e demandaram mais trocas de curativos (0 vs 3, p<0,001). Vinte por cento dos pacientes desenvolveram bolhas com o curativo convencional comparado com 4% no grupo de curativos modernos (p<0,028). A média de tempo de internação hospitalar foi a mesma para o curativo moderno quando comparado ao curativo tradicional (4 dias). No grupo do curativo moderno, 75% dos pacientes receberam alta até o dia 4, enquanto no grupo tradicional isto ocorreu no dia 6 3. Abuzakuk et al. reportaram os resultados de um ECR comparando uma hidrofibra (Aquacel) com um coxim central (Mepore) no manejo de feridas agudas após ATQ ou ATJ primárias, cicatrizadas por primeira intenção. O resultado dos curativos foi mensurado em 61 pacientes submetidos a ATQ e ATJ. Ocorreu redução significativa na necessidade de troca de curativos antes de 5 dias pós-operatórios no grupo da hidrofibra (45%) comparado a 77% no grupo do coxim, e ocorreu menor formação de bolhas no grupo de pacientes da hidrofibra (13%), comparado com 26% do grupo do coxim 4. Ubbink et al. compararam a efetividade e o custo de curativo com gazes, com curativos oclusivos umedecidos, em 205 pacientes cirúrgicos com ferida aberta. Os pacientes receberam curativo oclusivo (foam, alginatos, hidrogel, hidrocolóide, hidrofibra ou filmes) ou curativos com gazes convencionais até a ferida completar o processo de cicatrização. Nenhuma diferença significativa na cicatrização da ferida foi observada em feridas crônicas (por exemplo: insuficiência vascular, diabetes ou úlceras de pressão), feridas traumáticas, ou feridas incluídas na primeira metade ou na segunda metade do ensaio clínico (para detectar algum possível efeito na curva de aprendizado, se presente). Contudo, em feridas pós-operatórias, 62% de todas as feridas deste estudo, a cicatrização da ferida no grupo de curativos oclusivos levou mais tempo (p=0,02) (em média 72 dias, intervalo interquartil, 36-132 dias) que o grupo com gazes convencionais (em média 45 dias, interquatil 22-93 dias). O custo total para cuidados locais com a ferida por paciente por dia durante a hospitalização foi US$11,74 no grupo oclusivo e US$6,25 no grupo com o curativo com gazes (p=0,002). Ravnskog et al. compararam o resultado de curativos com hidrofibra e alginato utilizados no tratamento de feridas após ATQ primárias. Os pacientes foram randomizados em dois grupos, recebendo curativo com hidrofibra ou alginato. Medidas de desfecho incluíram dano à pele (eritema, bolhas e lesões de pele) e habilidade do curativo para o manuseio de exsudatos. Fotografias dos curativos e da área de pele ao redor das feridas foram obtidas. Os pacientes relataram problemas na pele, desconforto à mobilização e dor durante a retirada do curativo. No grupo do alginato, ocorreram menos bolhas na área da ferida comparado com o grupo da hidrofibra (7% versus 18%, p<0,03). Durante a remoção do curativo, menos pacientes no grupo 212 do alginato relataram dor, comparado ao grupo dos pacientes da hidrofibra (2,1% versus 15%, p<0,01) 8. -Questão 1B: O uso de curativos impregnados com prata reduz a incidência de ISC/IAP? Consenso: Os curativos impregnados com prata não têm demonstrado redução de ISC/IAP. Votação dos Delegados: A Favor: 87%; Contra: 5%, Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativas: Três ECRs compararam curativos coloides impregnados com prata (Aquacel, Alginato) com curativos sem prata no tratamento de diversos tipos de feridas, incluindo feridas cirúrgicas agudas, úlceras de pé diabético (infectadas e não-infectadas) e feridas traumáticas, e falharam em demonstrar qualquer diferença entre os grupos, em termos de desfecho da cicatrização das feridas/úlceras e taxas de infecção local.9-11 Um ECR, que comparou curativos de alginato impregnados com prata com curativos sem prata, no tratamento de úlceras venosas crônicas, encontrou vantagem significativa dos curativos impregnados com prata na prevenção da evolução de feridas para infecção, assim como observou uma melhor taxa de cicatrização de feridas¹². Uma metanálise da base de dados Cochrane, que comparou o efeito de curativos impregnados com prata com os curativos sem prata em feridas infectadas agudas e crônicas, não encontrou diferença significativa na taxa de cicatrização das feridas, necessidade de uso de antibióticos, dor, satisfação dos pacientes, tempo de internação e custos¹³. Outra metanálise da Cochrane que avaliou feridas por queimaduras e uma variedade de feridas não-infectadas descobriu que a adição de prata nos curativos não promoveu a cicatrização das feridas ou a prevenção de infecções¹4. Beele et al. avaliaram os sinais clínicos e sintomas de feridas de risco para ocorrência de infecção, ou seja, feridas criticamente colonizadas (infectadas por biofilmes). Eles estudaram a performance antimicrobiana de um curativo ionico de prata alginato/carboximetilcelulose (SACMC) em comparação com um curativo de fibra de alginato de cálcio sem prata (AF) em ulceras venosas crônicas da perna, e úlceras de pressão. Trinta e seis pacientes com úlceras venosas ou de pressão, consideradas criticamente colonizadas (infectadas por biofilme), foram radomizados para receber ou o curativo SACMC ou o curativo AF. A eficácia de cada curativo foi avaliada por um período de quatro semanas. Os desfechos primários do estudo foram a prevenção de infecção e a progressão para a cicatrização das feridas. O grupo SACMC apresentou significância estatística (P=0.017) na cura, indicada por uma redução da área da 213 ferida durante o período de estudo de quatro semanas, comparado ao grupo de controle (AF). O curativo SACMC demonstrou maior capacidade em prevenir a evolução de feridas para infecções, quando comparadas ao controle (AF). Os resultados desse estudo também mostraram uma melhoria na cicatrização de feridas com SACMC, quando comparadas com o curativo sem prata12. Trial et al. compararam a eficácia e a tolerabilidade de um curatio de uma nova matriz iônica de alginato de prata (Askina Calgitrol Ag) com as de um curativo convencional de alginato sem prata (Algosteril). Pacientes com feridas crônicas localmente infectadas (úlceras de pressão, úlceras venosas ou de outras etiologias na perna, ou úlceras de pé diabético) ou feridas agudas participaram deste ECR. Os pacientes foram randomizados para receber um dos dois curativos por um período de duas semanas. Os critérios de eficácia foram baseados na evolução dos sinais locais de infecção do dia 1 ao dia 15, utilizando um escore clínico que varia de 0 a 18, e a evolução do estado bacteriológico de cada ferida, o qual foi determinado por exames bacteriológicos obtidos de duas biópsias realizadas nos dias 1 e 15. Uma escala de 3 pontos (piora, sem alteração e melhora) também foi utilizada. A aceitabilidade, utilidade e tolerância também foram avaliadas. Quarenta e dois pacientes (20 mulheres e 22 homens com idade de 68,9 ± 18,8 e 66,5 ± 15,7, respectivamente) foram randomizados para receber Askina Calgitrol Ag (n = 20) ou Algosteril (n = 22). A maioria apresentava feridas crônicas, como úlceras de pressão (57%) ou úlceras na perna (venosas ou de etiologia mista) e pé com úlceras diabéticas (29%) e, uma pequena porcentagem apresentava feridas agudas (14%). Os escores clínicos de infecção foram comparáveis entre os dois grupos na inclusão do estudo, 8.9±2.4 e 8.6±3.2, no grupo Askina Calgitrol Ag e no grupo Algosteril, respectivamente (sem significância estatística), mas diminuiu significativamente em ambos os grupos no dia 15, 3.8±2.9 no grupo do Askina Calgitrol Ag (p=0.001) e 3.8±3.4 no grupo do Algosteril. Não houve nenhuma diferença significativa entre os grupos no dia 15. Apesar de também não ter sido observada nenhuma diferença estatisticamente significativa no estado bacteriológico entre os grupos de tratamento, houve uma tendência em favor do Askina Calgitrol Ag no risco relativo de melhora em pacientes que não foram tratados com antibióticos, nem no começo nem durante o estudo. Não foram observadas diferenças entre os grupos em relação a tolerância local, aceitabilidade e utilidade dos curativos9. Em um estudo retrospectivo, Saba et al. compararam o curativo de hidrofibra Aquacel Ag com o curativo padrão para o tratamento de queimaduras de espessura parcial em crianças. Os autores utilizaram os registros do centro de queimaduras do hospital St. Christopher para identificar 20 pacientes pediátricos que sofreram queimaduras de espessura parcial, ao longo 214 de um período de 10 meses. Dez desses pacientes foram tratados com curativo Aquacel Ag e os outros dez foram tratados com gaze tradicional Xeroflo com pomada de Bacitracina com zinco, que é o padrão da instituição para tratamento conservador de queimaduras de espessura parcial. Os desfechos avaliados foram o tempo de internação hospitalar (2.4 dias para Aquacel Ag vs 9.6 dias para Xeroflo), número de trocas de curativos durante a internação (2.7 vs. 17.1), dor em uma escala de 10 pontos associada com a troca de curativos (6.4 vs. 8.2), número total de administração intravenosa de analgésicos narcóticos (2.3 vs. 14.4), tempo de cuidados de enfermagem, ajustado por percentual da superfície corporal (1.9 vs. 3.5 min.), tempo para reepitelização da ferida (10.3 vs. 16.3 dias), e a satisfação dos pacientes em relação ao seu cuidador principal em um escore de 4 pontos, sendo 4 a máxima satisfação (3.8 vs. 1.8). Todas as variáveis foram estatisticamente significativas (p<0.001).15 Storm-Versloot et al. pesquisaram o Registro Especializado do Grupo de Feridas da base de dados Cochrane (Cochrane Wounds Group Specialized Register) (6 de maio de 2009), o Registro Central Cochrane de Estudos Controlados (The Cochrane Central Register of Controlled Trials (CENTRAL) (2009 edição 2), Ovid MEDLINE (de 1950 até a 4ª semana de Abril de 2009), Ovid EMBASE (de 1980 a 2009, semana 18), EBSCO CINAHL (de 1982 até a 4ª semana de Abril de 2009), e Digital Dissertations (Maio 2009), à procura de ensaios clínicos controlados (ECRs) relevantes comparando curativos contendo prata, com agentes tópicos sem prata em feridas não-infectadas. Essa busca identificou 26 ensaios clínicos, envolvendo 2.066 participantes, que compararam curativos ou cremes contendo prata com cremes que não continham prata. Vinte dos estudos avaliaram feridas de queimaduras, enquanto os demais tratavam de vários tipos de feridas. A maioria dos estudos eram pequenos e de baixa qualidade científica. Os autores concluíram que não há evidencias suficientes para apoiar o uso de curativos ou cremes que contenham prata já que, em geral, esses tratamentos não promoveram cura ou preveniram infecções. Um número pequeno de estudos, e de baixa qualidade científica, sugeriram que a sulfadiazina de prata não tem efeito em infecções e retarda o processo de cura em pacientes que sofreram queimadura de espessura parcial14. Em um estudo prospectivo multicêntrico, Jude et al. compararam a eficácia clínica e segurança dos curativos de Hidrofibra Aquacel contendo prata iónica (AQAg) com os de alginato de cálcio Algosteril (CA), no tratamento de pacientes ambulatoriais portadores de diabetes mellitus tipo 1 ou 2 e de úlceras de pés diabéticos graus 1 ou 2 de Wagner. Durante a inclusão, os pacientes foram estratificados por uso de antibióticos, e foram então distribuídos randomicamente em protocolos similares de curativos primários AQAg (n=67) ou AC (n=67) seguidos por curativos secundários por um período de 8 semanas ou até a cicatrização. O 215 tempo médio para a cura foi de 53 dias para úlceras tratadas com AQAg e 58 dias para as úlceras tratadas com CA (p=0.34). As úlceras tratadas com AQAg tiveram sua profundidade reduzida duas vezes mais do que as tratadas com CA (0.25 cm vs. 0.13 cm; p=0.04). Durante o estudo a incidência de eventos adversos foi comparável, com 11 casos de AQAg (16%) e 8 de CA (12%), relatando infecções como eventos adversos, nos grupos de estudo de úlceras. O tempo médio para que as infecções clínicas se solucionassem, sem recorrências, durante o estudo foi comparável entre os indivíduos dos grupos AQAg e AC: 9 dias para os 8 (88.9%) casos de infecção resolvidos com AQAg e 15 dias (p=0.35) para os 10 casos (76.9%; p=0.48) de infecção resolvidos com AC10. Um ECR de Jurczak et al. comparou dor, conforto, manejo de exsudatos e segurança do curativo de hidrofibra com prata iônica, com o curativo com gaze de iodopovidona para o tratamento de feridas cirúrgicas abertas e feridas traumáticas. Os pacientes foram tratados com curativo de Hidrofibra Ag ou gaze com iodopovidona por duas semanas. A intensidade da dor foi medida em uma escala analógica visual de 10 cm (EAV). Outros parâmetros foram avaliados clinicamente com várias escalas. O registro da escala de dor (EAV) reduziu durante o processo de remoção do curativo em ambos os grupos e diminuiu quando o curativo estava em uso no grupo da Hidrofibra Ag (n=35), mas não no grupo da gaze de iodopovidona (n=32). Os escores de dor (EAV) foram similares entre os grupos de tratamento. Na avaliação final, o curativo de Hidrofibra Ag foi significativamente melhor que a gaze de iodopovidona na capacidade de controlar a dor (p<0,001), sensação geral de conforto (p<0.001), trauma na ferida durante a remoção do curativo (p=0.001), manejo de exsudatos (p<0.001) e facilidade de utilização (p<0.001). Ao final do estudo as taxas de curas completas foram de 23% para os curativos de Hidrofibra Ag e 9% para gaze de iodopovidona (sem significância estatística). Nenhum evento adverso foi relatado com o uso do curativo de Hidrofibra Ag e um caso com a gaze de iodopovidona foi descontinuado devido uma reação adversa na pele. Durante o estudo, 4 (11.4%) indivíduos do grupo Hidrofibra Ag, e 4 (12.5%) indivíduos do grupo da gaze de iodopovidona, tiveram infecções em suas feridas (sem significância estatística)11. Em outra metanálise, Vermuelen et al. avaliaram os efeitos da prata tópica e curativos de prata no tratamento de feridas contaminadas e infectadas, agudas ou crônicas. Eles procuraram ensaios relevantes no Registro Central de Ensaios Controlados da base de dados Cochrane (CENTRAL), no Registro do Grupo Especializado em Feridas Cochrane em Março de 2006, e nos bancos de dados MEDLINE, EMBASE, CINAHL, e Dissertaçãoes Digitais até Setembro de 2006. Além disso, os autores contataram empresas, fabricantes e distribuidoras em busca de informações que identificassem estudos relevantes, procurando ECRs que 216 avaliaram a eficácia do uso da prata tópica no tratamento de ferimentos, agudos ou crônicos, contaminados e infectados. Três ECRs foram identificados, compreendendo um total de 847 participantes. Um estudo comparou a espuma contendo prata (Contreet) com espuma Hidrocelular (Allevyn) em pacientes com úlceras nas pernas. O segundo estudo comparou um alginato contendo prata (Silvercel) com um alginato puro (Algosteril). O terceiro ensaio comparou o curativo de espuma contendo prata (Contreet) com as melhoras práticas locais em pacientes com ferimentos crônicos. Os dados destes estudos mostraram que os curativos de espuma contendo prata não aumentaram significativamente a chance de cura completa da ulcera, comparado aos curativos da espuma padrão ou as melhoras práticas locais, depois de 4 semanas de acompanhamento, apesar de que foi observado maior redução no tamanho da úlcera com a espuma contendo prata. O uso de antibióticos foi avaliado em dois estudos, mas nenhuma diferença significativa foi encontrada. Informações sobre a dor, satisfação do paciente, tempo de internação e custos foram limitados, e não mostraram diferenças. Em um ensaio, houve menor formação de secreção em ulceras na perna e feridas crônicas tratadas com curativo de prata, do que com curativos de espuma padrão ou com as melhores práticas locais. Não há evidencias suficientes para recomendar o uso de curativos contendo prata ou agentes tópicos para o tratamento de feridas crônicas infectadas ou contaminadas13. Contudo, estão surgindo evidencias que parecem endossar o papel de curativos oclusivos impregnados por prata na redução de ISC/IAP. Em um recente estudo retrospectivo de uma única instituição, a incidência de IAP (ocorrendo dentro de 3 meses) foi comparada entre 903 pacientes consecutivos submetidos à SAPT, que receberam o curativo cirúrgico Aquacel e 875 pacientes consecutivos que receberam curativo convencional com gases (Cai et al, artigo em impressão). Após a realização de análise multivariada, os investigadores encontraram que o curativo com Aquacel foi um fator de risco independente para a redução de IAP aguda (incidência de 0.44% para os pacientes que receberam Aquacel, comparado com 1.7% para os pacientes que receberam curativos convencionais, p=0,005). Em outro artigo recente, um ECR (Nível I de evidência) envolvendo 300 pacientes, o curativo com Aquacel Ag comparado com curativo convencional, mostrou redução estatisticamente significativa das complicações da ferida, formação de bolhas, número de troca de curativos, e grau de satisfação do paciente com o curativo Aquacel Ag.16 -Questão 2: O que deve ser considerado drenagem persistente da ferida cirúrgica, após Substituição Articular Protética Total (SAPT)? 217 Consenso: Drenagem persistente de um ferida após SAPT é definida como sendo uma drenagem contínua na incisão cirúrgica, por mais de 72 horas. Votação dos Delegados: A Favor: 80%, Contra: 15%; Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativa: A literatura apresenta uma ampla gama de definições para drenagem persistente de feridas (de 48 horas até 1 semana). No entanto, limitando a normalidade de drenagem da ferida em até 72 horas após a cirurgia, permite uma intervenção mais precoce e pode evitar as consequências adversas de uma drenagem persistente. A drenagem persistente de feridas após SAPT é definida pelo tempo, tipo de secreção (hemática ou clara), sítio (secreção da ferida, secreção após a retirada dos drenos), e conteúdo microbiano. O tempo de drenagem é definido de várias maneiras: -Quarenta e oito horas16 -Terceiro ou Quarto dia pós-operatório17 -Após o 4º dia de pós-operatório18 -Vários dias após a cirurgia19 -Dois dias pós-operatórios para os casos de não-infecção, 5,5 dias pós-operatórios para casos de infecção20 -Quantidade limitada de tempo21 -Uma semana22 A quantidade de drenagem é alternativamente definida como: -Drenagem absorvida pelos curativos pós-operatórios17,18 -Área de drenagem na gaze de cobertura maior que 2cm x 2cm -Drenagem pela ferida cirúrgica -Microosganismo isolado da secreção24 Este grupo de trabalho acredita que a drenagem substancial (>2 x 2cm de área da gaze) de uma ferida, além de 72 horas pós-operatórias deve ser considerada anormal. Nós recomendamos fortemente contra a realização de culturas a partir de feridas secretantes. -Questão 3A: Quais são as estratégias não-cirúrgicas para tratar uma ferida secretante após SAPT? 218 Consenso: Feridas com secreção persistente por mais de 72 horas após SAPT devem ser tratadas com cuidados com a ferida. Votação dos Delegados: A Favor: 65%; Contra: 26%; Abstenção: 9% (Fraco Consenso) Justificativa: Vários estudos recomendam o tratamento conservador para tentar controlar a drenagem da ferida antes de indicar a intervenção cirúrgica. Outras intervenções, tais como antibióticos, são desencorajadas porque elas podem mascarar uma infecção subjacente. O acompanhamento isolado por si só é altamente desaconselhado, dado o fato de que a secreção persistente da ferida está relacionada com IAP.17,21,24,26. O risco de infecção aumenta 29% após ATJ e 42% após ATQ a cada dia de drenagem persistente da ferida24. Estudos recomendam inúmeras intervenções para reduzir a quantidade de drenagem após a SAPT. Um ECR avaliou a terapia da ferida com pressão negativa (NPWT) em pacientes com grandes feridas cirúrgicas após ATQ e descobriu que o NPWT diminuiu o tamanho dos seromas pós-operatórios27. Um estudo piloto de pacientes submetidos à ATQ que desenvolveram drenagem persistente pós-operatória tratada com NPWT, aplicado durante 2 dias em média (variação de 1-10 dias), constatou que 76% dos pacientes não necessitaram de intervenção adicional, enquanto 24% submeteram-se à cirurgia subsequente.18 Contudo, um ECR prospectivo comparando NPWT aos curativos secos padrão em incisões cirúrgicas (fechamento primário ou fechamento primário retardado de feridas abdominais ou feridas em membros inferiores) não encontrou significância nas taxas de deiscência de sutura, tempo médio até à deiscencia, infecção da ferida, e taxas de re-operação entre os grupos de NPWT e os grupos de curativos secos.28 Uma metanálise da Cochrane incluiu estudos que compararam NPWT com outros tipos de curativos ou comparou NPWT com um diferente tipo de NPWT para feridas com secreção persistente em pacientes com enxerto de pele, pacientes ortopédicos submetidos a artroplastia, assim como cirurgias gerais e de trauma. Os autores concluíram que não há evidência a favor da eficácia do NPWT na cicatrização completa de feridas em que se espera cicatrização por primeira intenção.29 Uma revisão retrospectiva avaliou 300 pacientes que desenvolveram drenagem persistente da ferida (mais de 48 horas pós-operatórias) e encontrou que a drenagem cessou espontaneamente entre 2 a 4 dias de drenagem em 72% dos pacientes com antibióticos orais e cuidados locais da ferida. É desaconselhável o uso de antibioticos além das 24 horas pós-operatórias para tratar feridas com drenagens persistentes após SAPT, pois não há evidencia que comprove seu 219 efeito na redução da incidência de IAP18,20. Além disso, administrar antibióticos para ferida com drenagem persistente pode confundir os resultados da cultura, caso uma artrocentese seja realizada para determinar se existe qualquer organismo presente no fluido sinovial. Este grupo de trabalho desencoraja o uso de antibióticos orais para o tratamento de drenagem persistente de feridas. -Questão 3B: Quais são as estratégicas cirúrgicas para o tratamento de ferida secretante pós SAPT? Consenso: O tratamento cirúrgico, consistindo em abrir a fáscia, realizar uma irrigação exaustiva e debridamento (I&D), com troca de componentes modulares, deve ser considerada caso a secreção na ferida persistir por 5-7 dias após o procedimento inicial de SAPT. Votação dos Delegados: A Favor: 77%; Contra: 16%; Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativa: Após 5 dias de secreção persistente da ferida, uma intervenção cirúrgica deve ser realizada para reduzir a probabilidade de desenvolvimento de IAP. A cirurgia deve consistir em abertura da fáscia, irrigação exaustiva e debridamento (I&D) com troca dos componentes modulares, e realizar meticuloso fechamento da fáscia e da pele. Caso a reconstrução meticulosa da fáscia e da pele não sejam possíveis, NPWT pode ser uma opção viável, seguida da cobertura da ferida por um cirurgião plástico após a exclusão de IAP precoce por culturas e outros dados clínicos. Amostras profundas para culturas devem ser colhidas no momento da re-operação e os antibióticos devem ser administrados de acordo com a sensibilidade do organismo. Nós não recomendamos a realização de culturas de swab da ferida. Um estudo retrospectivo mais antigo de Weiss and Krackow encorajou a intervenção cirúrgica em pacientes com secreção persistente na ferida após a SAPT, incluindo I&D, troca de polietileno e antibiótico parenteral.26 No entanto, isto foi executado 12,5 dias após a cirurgia, o que pode ter permitido uma maior colonização bacteriana no polietileno. Um estudo de Jaberi et al. demonstrou que os pacientes que falharam no tratamento conservador da ferida com secreção persistente após o quarto dia pós-operatório e, posteriormente, foram submetidos a I&D em único estagio, tiveram uma interrupção da drenagem em 76%.17 No entanto, apesar desta intervenção precoce, 24% dos pacientes foram submetidos a tratamento subsequente, incluindo antibióticos em longo prazo, artroplastia de ressecção ou repetição do debridamento. Um artigo de revisão apoiou a re-operação para exploração, cultura profunda, irrigação, e novo 220 fechamento meticuloso da ferida.20 Se as culturas profundas forem positivas, então os autores encorajam uma terapia de antibióticos parenteral por 6 semanas. Para garantir o debridamento adequado da área afetada, um estudo de Kelm et al. injetou azul de metileno na fístula, realizou um desbridamento com troca do polietileno acetabular e da cabeça femoral e fechou a ferida com um dispositivo assistido à vácuo.30 Drenagens persistentes mais preocupantes devem ser tratadas como uma IAP22, com um limiar mais baixo para a realização de I&D ou artroplastia de ressecção.31 Debridamento aberto com troca do polietileno tem resultados variáveis. Existe uma alta taxa de falência associada à troca de polietileno, o que pode levar à necessidade de uma futura artroplastia de ressecção.32 -Questão 3C: Antibióticos orais ou intravenosos devem ser administrados em pacientes com drenagem persistente da ferida cirúrgica? Consenso: Não recomendamos a administração de antibióticos orais ou intravenosos em pacientes com secreção persistente na ferida. Votação dos Delegados: A Favor: 80%; Contra: 17%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Atualmente existe pouca ou nenhuma evidência que apoie a administração de antibióticos em pacientes com drenagem persistente da ferida cirúrgica. Apesar da razão para esta prática parecer lógica, tentando evitar a entrada de organismos infectantes através da ferida secretante, o problema do aparecimento da resistência a antibióticos e os efeitos adversos associados à administração de antibióticos não devem ser ignorados. Além do mais, é provável que a administração de antibióticos mascare infecções iniciais ou dificulte o diagnóstico de IAP ao influenciar os resultados das culturas. Contudo, o consenso do grupo observa que esta é uma área que necessita de estudos futuros e não apoia a administração de antibióticos para pacientes que apresentam feridas com drenagem persistente. -Questão 4: Quais são as indicações para a reoperação em casos de drenagem persistente da ferida, após a SAPT? Consenso: Uma ferida com drenagem persistente por mais de 5-7 dias, a partir do diagnóstico, deve ser reoperada sem demora. 221 Votação dos Delegados: A Favor: 77%; Contra: 19%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Estudos têm demonstrado que o risco de infecção aumenta após 5 dias de secreção da ferida. Desta forma, uma intervenção cirúrgica após 5 dias é o mais apropriado para a prevenção de IAPs. O número de dias de secreção pós-operatória até ser realizada a I&D em feridas com secreção persistente variou entre 5 e 12.5 dias.17,21,26 Dois estudos mostraram que pacientes com 5 ou mais dias de secreção persistente estavam mais propícios a evoluirem com infecções subsequentes, e a necessitarem de intervenções cirúrgicas adicionais, quando comparados aos pacientes com menor tempo de secreção.17,21 Especificamente, o estudo de Saleh et al. demonstrou que pacientes que tiveram em média 5,5 dias de secreção estavam 12.7 vezes mais propensos a estarem infectados do aqueles que tiveram um tempo menor de secreção na ferida.21 Outro estudo detectou que cada dia adicional de secreção da ferida acrescia o risco de infecção em 42% após ATQ e 29% após ATJ. 24 Contudo, a demora de 5 dias para a ferida tornar-se seca pode ser secundária ao uso de anticoagulantes; Assim sendo, adiar o procedimento cirúrgico até o quinto dia de pós operatório é uma atitude razoável. Em outro estudo, a secreção das feridas foi examinada após 5 dias de NPWT.27 Houve uma redução da secreção persistente de feridas com o uso de NPWT e futuras intervenções cirúrgicas poderiam ser orientadas após a intervenção clínica. Um estudo baseado em registros encontrou que pacientes que realizaram ATJ e foram submetidos a um tratamento cirúrgico precoce (em 30 dias) para complicações de feridas, apresentaram uma probabilidade cumulativa em dois anos para cirurgia subsequente (ressecção de componentes, cobertura de retalho do músculo, ou amputação) e taxas de infecções profundas de 5.3% e 6.0%, respectivamente.33 -Questão 5: Como podemos otimizar a condição clínica do paciente, antes da reoperação para minimizar as chances de ISC? Consenso: Recomendamos que antes de submeter os pacientes à reoperação, a condição clínica deve ser otimizada através da correção, sempre que possível, da desnutrição, da anticoagulação, anemia e diabetes. Votação dos Delegados: A Favor: 95%, Contra: 3%, 222 Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativa: A desnutrição pré-operatória tem sido associada com o retardo de cicatrização da ferida,34 aumento do tempo de internação e tempo de anestesia/cirurgia,35 e insucesso no tratamento de secreção persistente da ferida, levando inevitavelmente à infecção profunda.17 Os marcadores de desnutrição são variados e incluem transferrina, contagem total de linfócitos (CTL), albumina total e pré-abumina. Desnutrição: Gherini et al. avaliaram 103 ATQs, pré- e pós-operatoriamente, para determinar o estado nutricional e correlacionar com o retardo de cicatrização das feridas. Parâmetros indicativos nutricionais incluíram níveis de albumina, transferrina e contagem total de linfócitos (CTL). O retardo da cicatrização de feridas complicou 33% das ATQs. Apenas os níveis préoperatórios de transferrina sérica apresentaram um significância estatística para predizer quais pacientes tiveram um atraso na cicatrização de feridas.34 Lavernia et al. avaliaram 119 pacientes nos quais os exames laboratoriais préoperatórios convencionais foram realizados. Pacientes com níveis de albumina inferior a 34g/L tiveram 32,7% de aumento de custos de hospitalização (p<0.006), maior gravidade clínica (p<0.03), e tempo de internação prolongados (p<001). Pacientes com uma contagem total de linfócitos inferior a 1.200 cels/mL tiveram custos maiores e tempo de internação prolongado (p<0.004), e maior tempo de anestesia (p=0.002) e, cirurgia (p=0.002), quando comparados com pacientes com CTL maior que 1.200 cels/mL.35 Diabetes: O diabetes tem sido associado a complicações precoces da ferida cirúrgica pós SAPT33, e associado à IAP36, com capacidade para dobrar este risco independente do diabetes.37 Foi demonstrado que o controle glicêmico perioperatório interfere na taxa de infecção, em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca.38 Em uma revisão de 3.468 pacientes submetidos a um total de 4.241 SAPT primárias ou de revisão do joelho ou quadril em uma única instituição, a hemoglobina glicosilada (HbA1C) não foi considerada um marcador confiável para predição do risco de infecções articulares. Níveis de hemoglobina A1c foram estudados para avaliar se havia correlação entre o controle dos níveis de HbA1c e infecção após SAPT. Foram detectadas 46 infecções (28 profundas e 18 superficiais [9 celulites e 9 abscessos da ferida]). Doze (3.43%) ocorreram em pacientes diabéticos (n=350; 8.3%) e 34 (0.87%) em pacientes não diabéticos (n=3891; 91.7%) (p<0.001). Ocorreram 9 infecções profundas (2.6%) em pacientes diabéticos e 19 (0.49%) em pacientes não diabéticos. Em pacientes diabéticos não-infectados o nível de HbA1c variou de 5.1% a 11.7% (média 7.2%) (p=0.445). A média do nível de HbA1c em pacientes com diabetes foi de 6.93%. Pacientes 223 diabéticos apresentaram risco de infecção aumentado após SAPT. O nível de hemoglobina A1c não foi considerado confiável para predizer o risco de infecção após SAPT.39 Similarmente, em outro estudo, pacientes com diabetes, compensado e descompensado, submetidos a ATJ foram comparados com pacientes não-diabéticos. Nenhuma associação foi encontrada entre o diabetes, compensado ou não, e o risco de requerer uma revisão ou o desenvolvimento de infecção profunda, quando se utilizou a HbA1c como marcador para o controle do diabetes.40 Jamsen et al. analizaram a incidência de IAP, no período de um ano, em uma série de um único centro, envolvendo 7.181 ATQs e ATJs primárias (unilateral e bilateral simultâneas), realizadas entre 2002 e 2008, para o tratamento da osteoartrose. Os dados referentes à IAP (definidos de acordo com os critérios do CDC) foram coletados a partir do registro de infecção hospitalar, através de busca ativa. A presença do diabetes mais que dobrou o risco de IAP, independente da obesidade (OR ajustada, 2,3; 95% CI, 1,1 – 4,7). Em pacientes diabéticos não diagnosticados até o momento da cirurgia, houve uma tendência para maior taxa de infecção associada ao nível pré-operatório de glicose >6.9 mmol/L (124 mg/dL), comparado com <6.9 mmol/L.37 Pedersen et al. avaliaram até qual extensão o diabetes pode afetar a taxa de revisões de ATQ. Pelo Registro Dinarmarquês de Artroplastia do Quadril os autores identificaram todos os pacientes submetidos a ATQ primárias (n=57.575) entre Janeiro de 1996 e Dezembro de 2005, dos quais 3.278 eram portadores de diabetes. A presença do diabetes entre esses pacientes foi identificada através do Registro Nacional de Pacientes da Dinamarca e do Banco de Dados Nacional Dinamarquês de Prescrições de Remédios/Drogas. Eles estimaram o risco relativo (RR) para a revisão, e o intervalo de confiança de 95% (CI 95%), para pacientes com diabetes, comparados com os sem-diabetes, ajustando os fatores de confusão. O Diabetes está associada ao maior risco de revisão secundária à infecção profunda (RR=1,45 [95% CI 1,00 – 2,09]), particularmente em pacientes com diabetes tipo 2 ( RR=1,49 [95% CI 1,02-2,18]), em pacientes com diabetes há menos de 5 anos antes da ATQ (RR=1,69 [95% CI 1,24- 2,32]), em pacientes com complicações devido ao diabetes (RR=2,11 [95% CI 1,41-3,17]), e naqueles com comorbidades cardiovasculares prévias à cirurgia (RR=2,35 [95% CI 1,39- 3,98])36. Golden et al. realizaram um estudo de coorte baseado em revisão de prontuários em um total de 411 adultos com diabetes que se submeteram a cirurgia de revascularização do miocárdio, no período de 1990 a 1995, no serviço de cirurgia cardíaca em um hospital universitário. O controle glicêmico no período perioperatório foi caracterizado pela média de 6 dosagens de glicemia capilar tomadas em um intervalo de 3 horas após o início da cirurgia. Após simultâneos ajustes realizados para idade, sexo, raça, presença de comorbidades, 224 gravidade da doença e tempo de internaçao na unidade de tratamento intensivo, os pacientes com valores médios de glicemia capilar mais elevados apresentaram maior risco de desenvolver infecções. Em comparação com as pessoas no quartil mais baixo de glicemia pósoperatória, aqueles no quartil 2 (razão de chances de infecção, 95% CI=1,17 [0,57 – 2,40]), quartil 3 (1,86 [ 0,94-3,68]), e quartil 4 (1,78 [ 0,86-3,47]) apresentaram risco progressivamente mais alto de infecção (p=0.05)38. Adams et al. conduziram um estudo retrospectivo de coorte em 5 regiões de uma grande organização integrada de saúde. Os pacientes elegíveis, identificados a partir do Registro Kaiser de Artroplastias Totais, foram submetidos a artroplastias primárias eletivas de joelho entre os anos de 2001 e 2009. Os dados sobre a demografia, o status do diabetes, o nível de hemoglobina glicosilada (HbA1c) pré-operatória e as comorbidades foram obtidos nos registros médicos eletrônicos. Os pacientes foram classificados como não-diabéticos, diabéticos com HbA1c<7% (diabetes compensado) ou diabetes com HbA1c >7% (diabetes descompensado). Os desfechos foram trombose venosa profunda ou embolia pulmonar dentro de 90 dias após a cirurgia, infecção profunda, ocorrência de infarto do miocárdio e todas as causas de rehospitalização dentro do período de um ano após a cirurgia. Os pacientes sem diabetes foram o grupo de referencia em todas as análises. Todos os modelos foram ajustados por idade, sexo, índice de massa corporal e o índice de comorbidade de Charlson. Dos 40.491 pacientes que se submeteram a ATJ, 7.567 (18,7%) apresentavam diabetes, 464 (1,1%) foram submetidos a revisão de artroplastia e 287 (0,7%) desenvolveram infecção profunda. Em comparação com os pacientes sem diabetes, nenhuma associação foi observada entre o diabetes compensado (HbA1c<7%), e o risco de revisão (OR, 1,32; 95% CI, 0,99 para 1,76), o risco de infecção profunda (OR, 1,31; 95% CI, 0,92 para 1,86), ou risco de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar (OR, 0,84; 95% CI, 0,60 para 1,17). Similarmente, em comparação com pacientes sem diabetes, nenhuma associação foi observada entre diabéticos descompensados (HbA1c >7%) , e o risco de revisão (OR, 1,03; 95% CI, 0,68 para 1,54), risco de infecção profunda (OR, 0,55; 95% CI 0,29 para 1,06) ou o risco de uma trombose venosa profunda ou embolia pulmonar (OR, 0,70; 95% CI, 0,43 to 1,13).40 Anticoagulação: Faltam estudos com desenho adequado para avaliar os efeitos da anticoagulação em complicações da ferida e formação de hematoma em pacientes submetidos à reoperação por complicações de feridas. Contudo, os efeitos da anticoagulação agressiva ou excessiva têm sido estudados intensamente em pacientes submetidos a ATQ e ATJ primárias ou de revisão. Um estudo caso-controle observou que pacientes com um INR pós-operatório 225 >1.5 estavam mais propensos a desenvolver hematomas e feridas secretantes após artroplastias, e também mais susceptíveis a evoluir com infecção. 41 Outro estudo observacional retrospectivo revelou que pacientes que receberam heparina/heparina de baixo peso molecular para tromboprofilaxia apresentaram maior tempo até que as feridas secassem após a cirurgia, quando comparados àqueles que foram tratados com aspirina e compressão mecânica ou aqueles que receberam Coumadin (varfarina) até o oitavo dia de pós-operatório. A cada dia de drenagem persistente da ferida, houve aumento no risco de infecção da ferida em 42%, após ATQ, e em 29% após ATJ24. Recentemente um estudo caso-controle de Mortazavi et al. identificou 38 pacientes que necessitaram de reoperação devido a hematoma pós ATQ, entre 2000 e 2007. Os 38 pacientes foram pareados com outros 117 pacientes sem hematomas. O tempo médio de acompanhamento foi de 4,1 anos (variação, 2,1-0,6). Uma regressão multivariada mostrou que a perda de sangue, a administração de plasma fresco congelado e vitamina K, anticoagulação perioperatória e terapia hormonal foram preditores independentes para a formação de hematoma. A anticoagulação crônica e a transfusão de sangue autólogo eram riscos independentes de mortalidade. O hematoma por si só demonstrou-se um fator de risco independente para resultados adversos, aumentando a morbidade e mortalidade, apesar do tratamento adequado.42 Apesar da secreção persistente e a formação de hematomas serem reconhecidos como fatores de risco para o desenvolvimento de IAP, não se sabe se o excesso de anticoagulação é um fator predisponente. Parvizi et al. conduziram um estudo caso-controle de 2 para 1 com 78 casos que foram submetidos à revisão por soltura séptica. Os controles foram expostos aos mesmos procedimentos mas não desenvolveram infecção subsequente. As comorbidades dos pacientes, medicações e fatores intra-operatórios e pós-operatórios foram comparados. Complicações pós-operatórias da ferida, incluindo hematomas e secreção persistente, foram fatores de risco com significancia para IAP. Uma média de INR maior que 1.5 foi mais prevalente em pacientes que desenvolveram complicações da ferida pós-operatória e subsequente IAP. Uma anticoagulação cautelosa para prevenir a formação de hematoma e/ou secreção persistente da ferida é crucial para prevenir IAP e suas consequências indesejáveis.41 Anemia: A anemia pré-operatória à SAPT tem sido associada ao aumento da permanência hospitalar, maior taxa de reinternação aos 90 dias e maior necessidade de transfusão sanguínea homóloga.43,44 Portanto, todas as medidas possíveis devem ser aplicadas de modo a melhorar os níveis de hemoglobina pré-operatória, previamente à SAPT. Contudo, tanto a anemia pré-operatória como a transfusão sanguínea alogênica estão associadas a taxas mais 226 elevadas de IAP.44 Desta forma, protocolos de conservação sanguínea são recomendados de modo a reduzir a necessidade de transfusões pós-operatórias em pacientes anêmicos. Uma abordagem sistemática com vistas à otimização dos níveis de hemoglobina pré-operatória, que se mostraram eficazes na redução da necessidade de transfusão alogênica inclui: hematínicos orais ou possivelmente intravenosos, suplementação de ácido fólico, e eritroproetina, ao mesmo tempo em que a redução da perda sanguínea intra-operatória deve ser feita através do uso de ácido tranexâmico, cell salvage e hipotensão induzida.43 Ainda que tais protocolos e estudos não estejam disponíveis em pacientes com SAPT submetidos à reoperação por ISC, estas medidas pré e intra-operatórias podem ser facilmente aplicadas durante o procedimento inicial e previamente à I&D. -Questão 6: Culturas intra-operatórias devem ser realizadas durante a execução de I&D para feridas secretantes após SAPT? Consenso: Sim. Culturas intra-operatórias (mínimo de três) devem ser colhidas na execução da I&D para feridas com secreção persistente. Votação dos Delegados: A Favor: 98%; Contra: 1%; Abstenção: 1% (Forte consenso) Justificativas: Em um estudo retrospectivo realizado por Jaberi et al., culturas bacterianas positivas de tecido periprotético estavam presentes em 34% dos casos (28/83) de feridas secretantes, que foram submetidas a I&D.17 Culturas bacterianas positivas obtidas do tecido periprotético foram mais comuns no grupo de falha do tratamento (17 de 20 [85%]) do que nos grupos de sucesso (11 de 63 [17%]). Em outro estudo retrospectivo de 8 ATJs com secreção persistente, 25% (2/8) apresentaram cultura articular positiva no momento da I&D. 26 Atkins et al. recomendaram coletar no mínimo 3 amostras, após terem constatado que o isolamento de um único microrganismo, de 3 ou mais espécies independentes foi altamente preditivo de infecção. Esse estudo foi realizado para estabelecer um critério para o diagnóstico microbiológico de IAP em revisão eletiva de artroplastia. Revisões de 334 pacientes foram realizadas durante um período de 17 meses, das quais 297 foram avaliadas. Havia 41 casos de infecção, com apenas 65% de positividade nas culturas dos pacientes infectados, sugerindo um baixo número de bactérias isoladas nas amostras. O isolamento de um único microrganismo de 3 ou mais espécimes independentes foi altamente preditivo de infecção (sensibilidade, 65%, especificidade, 99,6%; LR, 168,6)45. 227 -Questão 7: O uso de antibióticos perioperatórios deve ser retardado até o momento da incisão de pele na I&D, pós SAPT? Consenso: NÃO. Os antibióticos perioperatórios dados com uma hora de antecedência da reoperação de I&D, não devem ser retardados até a incisão da pele. Votação dos Delegados: A Favor: 82%; Contra: 14%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Ghanem et al. realizaram uma revisão retrospectiva de 171 pacientes submetidos a ATJ, diagnosticados como IAP entre 2000 e 2005, que apresentavam cultura positiva de aspirado pré-operatório. Os detalhes de quaisquer antibióticos administrados aos pacientes pré-operatoriamente foram registrados. Setenta e dois de 171 pacientes receberam antibióticos pré-operatórios. Culturas intra-operatórias foram negativas em 9, com taxa de falso-negativos de 12.5%. Nenhum organismo foi isolado a partir de amostras intra-operatórias em 8 de 99 pacientes que não receberam antibióticos pré-operatórios, com uma taxa de falsonegativos de 8%. Não foi observada nenhuma diferença na incidência de culturas falsonegativas entre os dois grupos. A administração de antibióticos pré-operatórios a pacientes com aspirado articular pré-operatório positivo não interferiu no isolamento do organismo infectante de amostras de culturas intra-operatórias, mais do que quando os antibióticos foram retardados. Dois estudos prospectivos chegaram a mesma conclusão, de que os antibióticos profiláticos pré-operatorios não tinham efeito significativo nas culturas obtidas no intraoperatório.46,47 Burnet et al. realizaram um estudo prospectivo para determinar se os antibióticos intravenosos profiláticos pré-operatórios afetariam os resultados de cultura obtidas no intraoperatório. Eles acompanharam 25 pacientes com 26 ATJs infectadas por um organismo reconhecido no pré-operatório, e sem antibioticoterapia recente. Re-aspiração das ATJs infectadas era realizada após a anestesia e a preparação estéril. Profilaxia antibiótica intravenosa era então administrada e o torniquete inflado. Coletas de swabs e tecidos para cultura intra-operatória foram obtidas durante a artrotomia. O momento dos eventos foi registrado. Os dados de culturas pré- e pós-antibióticos foram analizados para determinar o efeito dos antibióticos intravenosos profiláticos nas culturas obtidas no intra-operatório. Em todos os 26 joelhos, o(s) organismo(s) cultivado(s) na aspiração pré-operatória e na sala de operação de culturas coletadas previamente à infusão do antibiótico, foi o mesmo organismo cultivado no momento da artrotomia, apesar da rotina de infusão de antibióticos. 46 Tetreault et al. escolheram 65 pacientes com IAP conhecida após 37 ATJs e 28 ATQs em três centros. Os pacientes foram incluídos no estudo se tivessem uma cultura de aspirado 228 positiva e não tivessem recebido antibióticos no prazo de 2 semanas antes do procedimento. Os pacientes foram randomizados para receber antibióticos profiláticos antes da incisão na pele ou depois da coleta de, no mínimo, 3 amostras de cultura intra-operatória. As culturas préoperatórias e intra-operatórias foram então comparadas. Os resultados entre os pacientes que receberam e não receberam antibióticos foram comparados usando um teste de equivalência para diferença de proporções [two one-sided t-tests (TOST)] com margem de 0,2. As culturas intra-operatórias isolaram os mesmos organismos que as culturas pré-operatórias em 28 de 34 pacientes (82%) randomizados para receber os antibióticos antes da incisão na pele, em comparação com 25 de 31 pacientes (81%) que foram randomizados para receber antibióticos depois da coleta das culturas operatórias (estatisticamente equivalentes pela estimativa TOST, p = 0,0290).47 -Questão 8: Qual é o melhor método de fechamento da ferida após SAPT, para minimizar o risco de ISC e IAP? Consenso: Apesar da carência de evidência para apoiar a superioridade de uma técnica de fechamento de pele sobre outras (grampos, sutura, adesivo, ou fitas), recomendamos o uso de sutura de monofilamento para o fechamento da ferida em pacientes submetidos à reoperação devido a complicações relacionadas à ferida, no período pós-operatório precoce pósartroplastia primária. Votação dos Delegados: A Favor: 75%; Contra: 15%; Abstenção: 10% (Forte Consenso) Justificativas: Um ECR comparando adesivos de pele, fechamento subcuticular e grampos de pele para o fechamento de ATJ e ATQ não revelou nenhuma diferença significativa na incidência de complicações precoces e tardias, aparência cosmética da ferida ou satisfação do paciente48. Outro ECR comparou adesivos teciduais, grampeamento, e sutura, como técnicas de fechamento da ferida em ATJs, e não encontrou diferenças significativas nas taxas de infecção, deiscência de sutura, cosmética ou nos resultados funcionais.49 Um ECR similar, comparando adesivos de pele e grampos para fechamento da pele em ATQ, não encontrou nenhuma diferença significativa entre os grupos, na aparência estética de cicatrizes em 3 meses (p = 0,172), na ocorrência de complicações (p = 0,3), ou na satisfação do paciente (p = 0,42).50 Uma metanálise foi conduzida para comparar os resultados clínicos do grampo com a sutura, em fechamento de feridas após a cirurgia ortopédica. O estudo não encontrou diferença significativa entre a sutura e os grampos no desenvolvimento de inflamação, secreção, deiscencia, necrose e reações alérgicas; contudo, o risco de desenvolvimento de inflamação 229 superficial da ferida foi aumentado em 3 vezes após o uso de grampos, quando comparados ao fechamento com sutura (p=0.01).51 Porém os autores afirmaram que os estudos incluídos tinham algumas graves limitações metodológicas, como a inclusão de pequenas e fracas coortes, randomização inadequada de pacientes e não-cegamento dos avaliadores para os métodos de alocação do fechamento da ferida. Uma metanálise da Cochrane determinou os efeitos relativos de varios adesivos teciduais e técnicas convencionais de fechamento de pele (grampos, sutura e fitas) na cicatrização de feridas cirúrgicas.52 Os autores concluíram que não há evidências suficientes para apoiar ou refutar a ideia que o uso de adesivos teciduais aumenta ou diminui a incidência de deiscência de sutura, a satisfação com a aparência cosmética (avaliada por pacientes ou cirurgiões), a satisfação geral do paciente e do cirurgião e a incidência de infecção. Khan et al. realizaram um ECR cego comparando 2-octilcianoacrilato (OCA), sutura subcuticular (monocryl) e grampos de pele, para fechamento de pele após ATQ e ATJ. Eles incluíram 102 ATQs e 85 ATJs. O OCA foi associada a menor ocorrência de secreção da ferida nas primeiras 24 horas para ambos, quadril e joelho. No entanto, nas ATJs houve uma tendência para secreção na ferida por período prolongado com uso de OCA. Em ATJs não houve diferença significativa entre os grupos para complicações precoces ou tardias. O fechamento de feridas com grampos de pele foi significativamente mais rápido do que com OCA ou sutura. Não houve diferença significativa no tempo de internação hospitalar, na pontuação de avaliação (cosmética) Hollander da ferida , ou satisfação do paciente, entre os grupos em 6 semanas, tanto para quadris como para joelhos.48 Eggers et al. compararam quatro técnicas de fechamento de feridas para ATJ em um ECR com 75 individuos. O estudo comparou adesivos teciduais, grampos e suturas, respeitando o tempo de procedimento e custos, alem dos resultados funcionais e clínicos. O tempo de fechamento de ATJ (da cápsula à pele) favoreceu os grampos em 26s/cm, seguido pelos adesivos (45 e 37 s/cm para 2-octil e n-butil-2, respectivamente), e por ultimo a sutura subcuticular com 54 s/cm (p<0.0007). A redução do tempo do procedimento foi traduzida em redução de custos intra-operatórios, sendo que o custo do fechamento por centímetros foi U$70, U$62, US57 e U$75 para 2-octyl, n-butyl-2, grampos e suturas, respectivamente. Nenhuma diferença significativa foi observada nas taxas de infecção, deiscencia, cosmética, saúde em geral (SF – 12v2 ;QualityMetric Inc., Lincoln, Rhode Island), e avaliações funcional e clínica (amplitude de locomoção, escore da Knee Society, e dor).49 230 Livesey et al. realizaram um ECR para comparar os resultados dos adesivos e grampos para o fechamento de pele em ATQ. O desfecho primário foi a aparência estética da cicatriz em três meses usando uma escala analógica visual (EAV) graduada pelo cirurgião. Ao todo, 90 pacientes foram randomizados para o fechamento de pele usando o adesivo (n=45) ou os grampos (n=45). Os registros demográficos, detalhes cirúrgicos, infecção e secreção, foram coletados durante a internação do paciente. Mais adiante os registros de complicações, satisfação do paciente e avaliação da estética, foram coletados em três meses de acompanhamento e foi então retirada uma fotografia da cicatriz. Um cirurgião plástico e um ortopedista avaliaram, independentemente, a aparência estética da cicatriz a partir das fotografias. Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre os grupos em termos de aparência estética da cicatriz em três meses (p=0.172), ocorrência de complicações (p=0.3), ou satisfação do pacientes (p=0.42). Os grampos foram mais fáceis e rápidos de usar do que os adesivos de pele, além de mais baratos. O adesivo de pele e os grampos cirúrgicos são, ambos, métodos efetivo de fechamento de pele em THA.50 Smith et al. conduziram uma metanálise para comparar os resultados clínicos dos grampos e suturas no fechamento de feridas após cirurgia ortopédica. Medline, CINAHL, AMED, Embase, Scopus e os registros da base de dados Cochrane foram pesquisados, além da literatura não convencional (cinzenta) publicada em todas as línguas desde 1950 até setembro de 2009. Dois autores independentes avaliaram os artigos para elegibilidade. ECRs e não-ECRs que compararam o uso de grampos, com o uso de suturas para fechamento de feridas após cirurgia ortopédica, foram incluídos. As publicações não foram excluídas por conta da fraca qualidade metodológica. O desfecho primário foi a avaliação de infecção superficial da ferida após o fechamento com grampos, em comparação com as suturas. Seis artigos, que incluíram 683 feridas, foram identificados, dos quais 332 pacientes submetidos a fechamento com sutura e 351 com fechamento por meio de grampos. O risco de desenvolver infecção superficial da ferida após os procedimentos ortopédicos foi três vezes maior após o fechamento com grampos do que com sutura (RR 3,83, 95% CI 1,38 para 10,68; p=0.01). No subgrupo de análise de apenas cirurgias de quadril, o risco de desenvolver infecção na ferida foi quatro vezes maior após o fechamento com grampos do que com fechamento com sutura (4,79, 1,2418,47; p=0.02). Não houve diferença significativa entre suturas e grampos no desenvolvimento de inflamação, secreção, deiscência de sutura, necrose e reações alérgicas. Os estudos incluídos tinham sérias limitações metodológicas, como a inclusão de coortes pequenas e fracas, má randomização dos pacientes, e o não cegamento dos avaliadores dos métodos de fechamento de ferida.51 231 Coulthard et al. conduziram uma metanálise para determinar os efeitos de vários adesivos teciduais e técnicas convencionais de fechamento da pele (grampos, suturas e fitas) na cicatrização de feridas cirúrgicas. A classificação dos estudos elegíveis e a extração de dados foram conduzidos independentemente e em triplicata, enquanto a avaliação da qualidade metodológica dos testes foi conduzida independentemente e em duplicata. Os resultados foram expressados como modelos de efeitos aleatórios, utilizando a média da diferença de resultados contínuos e RR com 95% CI, para desfechos dicotômicos. A heterogeneidade foi investigada incluindo fatores clínicos e metodológicos. Para esta atualização os seguintes registros foram pesquisados: o Registro Especializado do Grupo de Feridas Cochrane (pesquisa realizada em 11/17/09), o Registro Central de Ensaios Controlados Cochrane (CENTRAL)-The Cochrane Library Issue 4, 2009, Ovid MEDLINE-1950 à primeira semana de novembro de 2009, Ovid EMBASE-1980 a 2009 (semana 46), e EBSCO CINAHL-1982 a 17 de Novembro de 2009. Em relação aos adesivos comparados às suturas, os resultados evidenciaram maior chance de deiscência com suturas. No entanto, as suturas foram significativamente mais rápidas para uso do que os adesivos teciduais. Comparando adesivos às fitas, houve uma diferença significativa no tempo utilizado para o fechamento, favorecendo o controle (fitas). A opinião dos cirurgiões a respeito dos resultados estéticos foi melhor para o grupo das fitas. Comparando adesivos aos grampos, houve uma diferença significativa no tempo para fechamento, favorecendo o grupo dos grampos. Comparando adesivos a outras técnicas, quando avaliada a satisfação do cirurgião e do paciente, houve uma diferença estatística favorecendo o grupo controle, ao invés dos adesivos. Nesta mesma análise, houve uma diferença estatística favorecendo o adesivo pelo tempo dedicado ao fechamento. Para todas as outras análises não houve evidencias suficientes para apoiar ou refutar a ideia de que o uso de adesivos teciduais pode aumentar ou diminuir os níveis de deiscência de sutura, satisfação com a aparência estética quando avaliado por pacientes ou cirurgiões, satisfação geral dos pacientes e cirurgiões, ou infecção, quando comparados ao uso de suturas, fitas adesivas, grampos ou um adesivo com baixa viscosidade. 52 Referências: 1. Clarke JV, Deakin AH, Dillon JM, Emmerson S, Kinninmonth AW. A prospective clinical audit of a new dressing design for lower limb arthroplasty wounds. J Wound Care. 2009;18(1):58, 10-11. 232 2. Burke NG, Green C, McHugh G, McGolderick N, Kilcoyne C, Kenny P. A prospective randomised study comparing the jubilee dressing method to a standard adhesive dressing for total hip and knee replacements. J Tissue Viability. 2012;21(3):84-87. 3. Hopper GP, Deakin AH, Crane EO, Clarke JV. 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Cochrane Database Syst Rev. 2004(2):CD004287. 235 TEMA 9: ESPAÇADORES Grupo de Trabalho Mediador: Mustafa Citak, MD Coordenadores: Jean-Noel Argenson, MD Bas Masri, MD, FRCSC Daniel Kendoff, MD Bryan Springer, MD Delegados: Volker Alt MD, Andrea Baldini MD, Quanjun Cui MD, Gregory K Deirmengian MD, Hernan del Sel MD, Michael F Harrer MD, Craig Israelite MD, David Jahoda MD, Paul C Jutte MD, Eric Levicoff MD, Enzo Meani MD, Fernando Motta MD, Orestes Ronaldo Pena MD, Amar S Ranawat MD, Oleg Safir MD, Matthew W Squire MD, Michael J Taunton MD, Charles Ch Vogely MD, Samuel S Wellman MD -Questão 1: Existe diferença funcional com o uso de espaçadores articulados e nãoarticulados para o tratamento de infecção articular periprotética (IAP) do joelho, nos casos de revisão de artroplastia em dois estágios? Consenso: Espaçadores articulados proporcionam melhor função do que espaçadores nãoarticulados para pacientes entre os estágios da artroplastia total do joelho (ATJ) infectada. Espaçadores articulados são especialmente utilizados em pacientes propensos a manter o espaçador por mais de 3 meses. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 6%; Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: A literatura atual revisada revela um numero total de 46 artigos originais (excluindo relato de casos, artigos de revisão e relatórios técnicos), incluindo 4 estudos de nível de evidencia 2, 8 de nivel 3 e 34 de nível 4, relacionados ao uso de espaçadores. 236 A maioria destes estudos avaliaram o resultado funcional, em médio prazo, dos pacientes após o reimplante, e compararam os espaçadores articulados aos não-articulados. A maioria dos estudos tem demonstrado maior amplitude de movimento em médio prazo no acompanhamento dos pacientes que receberam espaçadores articulados, em comparação aos pacientes com espaçadores não-articulados. Alguns estudos que avaliaram a função do paciente entre os estágios de artroplastia de ressecção e reimplantação, detectaram um resultado superior para pacientes que estavam recebendo espaçadores articulados, comparados àqueles com espaçadores não-articulados.1-46 -Questão 2: Existe alguma diferença no uso de espaçadores articulados e nãoarticulados no tratamento da infecção articular periprotética (IAP) do joelho com, no mínimo, dois anos após o reimplante? Consenso: Existe uma tendência não significativa para melhor amplitude de movimentos com espaçadores articulados em comparação aos espaçadores não-articulados, e este grupo de trabalho a considera válida para os pacientes. Votação dos Delegados: A Favor: 82%, Contra: 12%, Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: Uma revisão da literatura disponível revela um numero total de 46 artigos originais (excluindo relato de casos, artigos de revisão e relatórios técnicos), incluindo 4 estudos com nível de evidencia 2, 8 de nível 3 e 34 de nível 4, relacionados ao uso de espaçadores.1-46 A maioria destes estudos avaliaram o resultado funcional, em médio prazo, dos pacientes após o reimplante e comparou os espaçadores articulados aos não-articulados. A maioria dos estudos demonstram maior amplitude de movimento nos pacientes que receberam espaçadores articulados, em comparação aos pacientes com espaçadores não-articulados. O ângulo de flexão médio relatado para os pacientes que receberam espaçadores articulados (1.195 casos) após um acompanhamento médio de 44,3 meses, foi de 96,4º [variação 63-115º; desvio padrão (SD=10,8)], enquanto que em todos os casos relatados de pacientes do grupo de espaçadores não-articulados (474 casos), uma média de flexão de 91.2º (variação 73,8106º; SD=8.7) foi reportada após um acompanhamento médio de 52 meses. 237 -Questão 3: Existe alguma diferença funcional no uso de espaçadores articulados e nãoarticulados, implantados entre os 2 estágios, para o tratamento de IAP em quadris? Consenso: Um espaçador articulado funcionante proporciona melhor função ao paciente entre os estágios de uma revisão de artroplastia total do quadril (ATQ) infectada. Esses são especialmente preferidos para os pacientes que tenham uma alta probabilidade de necessitar do espaçador por mais de três meses. Votação dos Delegados: A Favor: 89%, Contra: 7%, Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativa: Existem 26 artigos originais (excluindo relato de casos, artigos de revisão e relatorios técnicos) analisando os resultados funcionais dos pacientes que se submeteram a uma revisão de ATQ em dois estágios para IAP. A maioria dos estudos disponíveis relatam os resultados funcionais de acordo com o escore de quadril de Harris – (Harris Hip Score, HHS). Encontramos um estudo de nível 1 de evidencia, dois de nível 2, dois de nível 3 e 21 de nível 4. Poucos estudos, que avaliam a função do paciente entre os 2 estágios, de ressecção e posterior reimplantação, detectaram uma evolução melhor dos pacientes que receberam espaçadores articulados, comparados com os que receberam implantes não articulados.42,47-71 -Questão 4: Existe alguma diferença no uso de espaçadores articulados e nãoarticulados no tratamento da infecção articular periprotética (IAP) do quadril com, no mínimo, dois anos após o reimplante? Consenso: Existe uma tendência não significativa para melhores resultados funcionais dos espaçadores articulados, quando comparados aos não-articulados, e este grupo de trabalho a considera válida para os pacientes. Votação dos Delegados: A Favor: 81%; Contra: 12%; Abstenção: 7% (Forte Consenso) Justificativa: Existem 26 artigos originais (excluindo relatos de casos, artigos de revisão e relatorios técnicos) analisando os resultados funcionais dos pacientes que se submeteram a revisão de ATQ em dois estagios devido a IAP. A maioria dos estudos disponíveis relatam os resultados funcionais de acordo com o HHS (Harris Hip Score). Encontramos um estudo de nível 1 de evidencia, 2 de nível 2, 2 de nível 3 e 21 de nível 4. A maioria dos estudos que comparam o resultado em médio prazo do tratamento cirúrgico para IAP revelam melhor resultado funcional (segundo a medição do HHS) para pacientes que receberam espaçadores articulados, em comparação com os espaçadores não-articulados. A média reportada do HHS para todos os pacientes que receberam espaçadores articulados (898 casos) após um 238 acompanhamento médio de 49,5 meses foi de 83,1 (variação de 68-97,8; SD=8,2), comparado a 80,6 (variação 78-82,3; SD=2,3) para aqueles que receberam espaçadores não-articulados (63 pacientes) após uma média de seguimento de 61 meses. 42,47-71 -Questão 5: Existe alguma diferença na reimplantação (dificuldade técnica) com o uso de espaçadores não-articulados ou articulados para o tratamento de IAP no joelho e no quadril? Consenso: Sim. A cirurgia de reimplantação em pacientes que receberam espaçadores articulados é mais fácil em comparação aos não-articulados. Votação dos Delegados: A Favor: 81%; Contra: 8% , Abstenção: 11% (Forte Consenso) Justificativas: Nossa pesquisa não encontrou estudos que compararam diretamente a dificuldade do reimplante entre pacientes que receberam espaçadores articulados e nãoarticulados. Contudo, relatos empíricos fundamentam a impressão de que o uso de espaçadores articulados facilitam a cirurgia de reimplante. Melhora da tensão de partes moles, habilidade do paciente em mover a articulação no intervalo entre a ressecção e o reimplante, e melhor restauração da anatomia, podem ser as razões para esta diferença. -Questão 6: Existe alguma diferença no controle da infecção com o uso de espaçadores não articulados e articulados no joelho? Consenso: NÃO. Os tipos de espaçadores não influenciam na taxa de erradicação da infecção na revisão de artroplastia do joelho em dois estágios. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 6% , Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: A revisão da literatura revelou 59 artigos originais (excluindo relatos de casos, artigos de revisão e relatorios técnicos) relativos a este assunto. Não houve nenhum estudo de nível 1 de evidencia com o objetivo de examinar o sucesso do tratamento cirúrgico no que diz respeito ao controle de infecções. Havia 5 estudos de nível 2, 11 estudos de nível 3, e 43 estudos de nível 4.1-59 Onze estudos compararam a taxa de erradicação da infecção pelo uso de espaçadores articulados e não-articulados. Foi analisada toda literatura disponível, incluindo 1.557 casos tratados com espaçadores articulados e 601 casos tratados com espaçadores não-articulados. Uma taxa de erradicação de 91,5% (132 casos de reinfecção) foi discretamente maior com o 239 uso de espaçadores articulados em um seguimento de 42,4 meses. A taxa de erradicação no uso de espaçadores não-articulados com 55,8 meses de seguimento foi de 87,0% (78 casos de reinfecção). É possível que o seguimento mais longo da coorte de espaçadores não-articulados possa explicar a leve diferença no controle de infecção entre as coortes de espaçadores articulados e não-articulados. Outro fator limitante para a comparação entre os grupos pode estar relacionado à diferença entre perfis dos organismos infectantes (fraca ou forte virulência), idade dos pacientes e as comorbidades clinicas. Nenhum dos estudos realizou uma análise multivariada para isolar o uso dos espaçadores como fator independente, que influencie os resultados de tratamentos cirúrgicos, no que diz respeito ao controle de infecção. 1-6,8-27,29-46,72-85 -Questão 7: Existe alguma diferença no controle da infecção com uso de espaçadores articulados e não-articulados no quadril? Consenso: NÃO. Os tipos de espaçadores não influenciam na taxa de erradicação da infecção na artroplastia de revisão do quadril em dois estágios. Votação dos Delegados: A Favor: 95%; Contra: 3% , Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: A revisão da literatura revelou 65 artigos originais (excluindo relatos de casos, artigos de revisão e relatórios técnicos) que tratam deste assunto. A maioria dos estudos disponíveis são de nível 4 de evidencia num total de 55 estudos, seguidos de 5 estudos de nível 3 e 4 estudos de nível 2. Apenas 1 estudo de nível 1 foi encontrado.9,42,47-72,74,78,86-120. Baseados na literatura disponível encontramos 2.063 casos de ATQ infectada tratados com espaçadores articulados e 354 casos de ATQ infectada tratados com espaçadores nãoarticulados. A taxa de erradicação, de 92.5% (154 casos de reinfecção), foi levemente maior com o uso de espaçadores articulados em um seguimento de 43,4 meses. A taxa de erradicação foi de 90,7% (33 casos de reinfecção) com o uso de espaçadores não-articulados, com seguimento 49,6 meses. Também foi analisada a taxa de complicação usando espaçadores articulados e não-articulados. A taxa total de complicação foi de 11.6% usando espaçadores articulados e 6.9% usando os não-articulados. As variáveis de confusão podem ser, novamente, diferenças no seguimento, no perfil dos organismos infectantes, na idade dos pacientes, nas comorbidades clinicas e outros diversos fatores que influenciam os resultados da intervenção cirúrgica para IAP. Nenhum dos estudos realizou uma analise multivariada para isolar o tipo de espaçador como um fator independente que influencie o controle da infecção. 240 -Questão 8: Existe alguma diferença no controle da infecção entre os diferentes tipos de espaçadores articulados, para uso no joelho? Consenso: Não há diferença no controle da infecção entre os diferentes tipos de espaçadores articulados no tratamento da ATJ infectada. Votação dos Delegados: A Favor: 90%; Contra: 5% , Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: A revisão da literatura disponível revelou 45 artigos originais (excluindo os relatos de casos, artigos de revisão e relatórios técnicos). Não havia estudos de nível 1 de evidencia; havia 5 estudos de nível 2, 11 estudos de nível 3, e 29 estudos de nível 4. 1,3-6,8-10,12- 14,16-18,21-25,27,29,30,32,33,35,38,40-45,51,72,73,77,79,82,83 Nós avaliamos os resultados das coortes combinadas, que incluíram 1.592 casos de ATJ infectadas tratadas com diferentes espaçadores articulados (PROSTALAC,Depuy-Warsaw-IN, n=314 casos; técnica de Hoffman, n=410; moldes cimentados, n=716; e Espaçador K, n=52 casos). A taxa de erradicação foi levemente maior com o uso do Espaçador K com 94.2% (3 casos de reinfecção) seguidos da técnica de Hoffman com 93.7% (26 casos de re-infecção), e moldes cimentados com 91.6% (60 casos de reinfecção), no tratamento da ATJ infectada. A taxa de erradicação com o uso do espaçador PROSTALAC foi de 91.1% (28 casos de reinfecção). -Questão 9: Existem contraindicações para o uso de espaçadores articulados e nãoarticulados? Consenso: Não existem contraindicações claras para o uso dos dois espaçadores, senão da viabilidade técnica do procedimento. Em pacientes com perda óssea e/ou falta de integridade das partes moles ou da restrição ligamentar, deve-se considerar o tratamento com espaçadores não-articulados. Votação dos Delegados: A Favor: 92%; Contra: 3% , Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Considerando evidências disponíveis, é difícil determinar se existe alguma contraindicação para o uso dos dois espaçadores no joelho ou no quadril. No entanto, cirurgiões especialistas que tratam pacientes com IAP no quadril e no joelho frequentemente sentem que o uso de espaçadores articulados em pacientes com perdas ósseas, ou prejuízo de partes moles ou da integridade ligamentar, podem causar luxação do espaçador. Além disso cirurgiões preferem usar espaçadores não-articulados em pacientes com déficit de partes moles ao redor das articulações a fim de prevenir a locomoção e permitir melhor cicatrização 241 de partes moles. Contudo esta prática não foi estudada cientificamente. Também foi analisada a taxa de complicação dos dois tipos de espaçadores. A taxa total de complicação foi de 11.6% com uso de espaçadores articulados e 6.9% com uso dos não-articulados 9,47-72, 74, 78,86-120. É importante enfatizar que a maior taxa de complicação foi encontrada com o uso de espaçadores articulados. -Questão 10: Existem diferenças nos resultados funcionais entre os espaçadores manufaturados ou espaçadores dinâmicos feitos pelos cirurgiões, para uso no joelho? Consenso: Não existe diferença no resultado funcional entre os espaçadores para o joelho sejam manufaturados ou os espaçadores dinâmicos feitos pelos cirurgiões. Contudo a questão dos custos, a facilidade de uso e a concentração de antibióticos deve ser considerada. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 5% , Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: A revisão da literatura disponível revelou 50 artigos originais (excluindo os relatos de casos, artigos de revisão e relatórios técnicos). Nenhum dos estudos eram de nível 1 de evidencia; havia 6 estudos de nível 2, 11 estudos de nível 3 e 33 estudos de nível 4.1-50 Foram analisados 1.525 casos de ATJ infectadas tratados com espaçador artesanal (n=1.074) ou espaçador manufaturado (n=451). A media de flexão ao final do seguimento foi de 101,9º (77º-115º; SD=8,3) utilizando um espaçador artesanal em comparação com 90,2º (variação de 63º-106º; SD = 12,3) com espaçadores manufaturados.1,3-10,12-14,16-19,22-25,27-29,3145,72,73,75,77,79-82,84,85,108. -Questão 11: Existem diferenças na taxa de controle da infecção entre os espaçadores manufaturados e espaçadores articulados feitos pelos cirurgiões, para uso no joelho? Consenso: Não existem diferenças na taxa de controle da infecção entre os espaçadores manufaturados e espaçadores articulados feitos pelos cirurgiões, usados no joelho. Contudo, a questão dos custos, a facilidade de uso e a concentração de antibióticos deve ser considerada. Votação dos Delegados: A Favor: 93%; Contra: 2% , Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: A revisão da literatura disponível revelou 50 artigos originais (excluindo os relatos de casos, artigos de revisão e relatórios técnicos). Nenhum dos estudos eram de nível 1 de evidencia; havia 6 estudos de nível 2, 11 estudos de nível 3 e 33 estudos de nível 4.1-50 242 Foram analisados 1.525 casos de ATJ infectadas tratados com espaçador artesanal (n= 1.074) ou espaçadores manufaturados (n= 451). A taxa de erradicação foi comparável, com 92,2% (84 reinfecções) com o uso do espaçador artesanal e 90,5% (43 reinfecções) com o uso de espaçadores industriais. -Questão 12: Existem diferenças no resultado funcional entre espaçadores manufaturados e espaçadores dinâmicos feitos por cirurgiões, para uso no quadril? Consenso: Não há nenhuma diferença no resultado funcional entre os espaçadores manufaturados e espaçadores dinâmicos feitos por cirurgiões, para uso no quadril. Contudo a questão dos custos, a facilidade de uso e a concentração de antibióticos deve ser considerada. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 7% , Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: A revisão da literatura disponível revelou 55 artigos originais (excluindo os relatos de casos, artigos de revisão e relatórios técnicos). Houve 1 estudo de nível 1 de evidencia; havia 4 estudos de nível 2, 4 estudos de nível 3 e 46 estudos de nível 4. 9,47-54,56-59,6167,70-72,74,78,86-88,90-98,100-108,110-113,115,117,119,120,123, Foram analisados 1.925 casos de ATQ infectadas tratados com espaçadores artesanais (n=1,011) ou espaçadores manufaturados (n=914). A media do HHS ao final do seguimento foi comparável com uso de espaçadores artesanais (media 84,9; variação 68-97,8; SD=8,7) ou espaçadores manufaturados (media HHS= 82,3 ; variação 70-93; SD=8,0). -Questão 13: Existem diferenças na taxa de controle da infecção entre espaçadores manufaturados e espaçadores dinâmicos feitos por cirurgiões, para uso no quadril? Consenso: Não há nenhuma diferença na taxa de controle de infecção entre os espaçadores manufaturados e espaçadores dinâmicos feitos por cirurgiões, para uso no quadril. Contudo a questão dos custos, a facilidade de uso e a concentração de antibióticos deve ser considerada. Votação dos Delegados: A Favor: 94%; Contra: 3% , Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: A revisão da literatura disponível revelou 55 artigos originais (excluindo os relatos de casos, artigos de revisão e relatórios técnicos). Houve 1 estudo de nível 1 de evidencia; 4 estudos de nível 2, 4 estudos de nível 3 e 46 estudos de nível 4. 72,74,78,86-88,90-98,100-108,110-113,115,117,119,120,123, 243 9,47-54,56-59,61-67,70- Foram analisados 1.925 casos de ATQ infectadas tratadas com espaçadores artesanais (n=1.011) ou espaçadores manufaturados (n=914). A taxa de controle de infecção com o uso do espaçador artesanal foi de 94,0% (61 reinfecções), similar ao uso dos espaçadores manufaturados, com 93,5% ( 59 reinfecções). -Questão14: Que antibióticos devem ser usados e em que quantidades devem ser adicionados aos espaçadores cimentados? Consenso: O tipo de antibiótico e a dose necessária a ser administrada para cada paciente, baseia-se no perfil do organismo e antibiograma (se disponível), bem como na função renal e na presenca de alergias medicamentosas. No entanto a maioria das infecções podem ser tratadas com um espaçador com Vancomicina (1-4 g por pacote de 40 g de cimento) e Tobramicina (2,4 – 4,8g por pacote de 40 g de cimento), ou Gentamicina (1-4g por pacote 40g de cimento). Apresentamos uma lista de todos os antibióticos disponíveis e a variação de doses a serem utilizadas contra os agentes infecciosos mais comuns. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 7% , Abstenção: 4% (Forte Consenso) A Tabela abaixo apresenta a lista de antibióticos disponíveis para serem usados nos espaçadores de quadril e joelho. As variações de dose demonstram somente as doses utilizadas nos estudos analisados e não são recomendações.1-134 Mais uma vez, os tipos de antibióticos e doses devem ser administrados, a cada paciente, conforme o perfil do organismo e antibiograma (se disponível), observando-se os pacientes renais e alérgicos. Grupos de Tipo de Antibióticos Antibiótico Aminoglicosideo Tobramicina Espectro de ação Dose por 40g de cimento Bacterias gram-negativas, ex Pseudomonas 244 1g–4.8g Aminoglicosideo Gentamicina Bacterias gram-negativas - Escherichia 0.25g–4.8g coli, Klebsiella e particularmente Pseudomonas aeroginosa, assim como bacterias aerobicas (anaeróbios facultativos) Cefalosporina de 1a Cefazolina Gram-positivos, cobertura limitada para geração Cefalosporina de 2a gram negativos Cefuroxime geração Cefalosporina de 3a Cobertura limitada para gram-positivos, Ceftazidime Bacterias gram-negativas, particularmente Cefotaxime Bacterias gram-negativas, sem ação 2g contra Pseudomonas Ceftaroilne Bacterias gram-negativas, sem ação geração Fluoroquinolona 2g Pseudomonas geração Cefalosporina de 5a 1.5g-2g melhor cobertura para gram-negativos. geração Cefalosporina de 4a 1g-2g 2g-4g contra Pseudomonas Ciprofloxacina Acao contra gram-negativos, inclusive 0.2g-3g Enterobacteriaciae Glicopeptideo Vancomicina Bacterias gram-positivas, inclusive 0.5g-4g organismos meticilina-resistentes Lincosamida Clindamicina Cocos gram-positivos , anaerobios 1g-2g Macrolideos Eritromicina cocos aerobios gram-positivos and bacilos 0.5g-1g Polimixina Colistina Gram-negativos 0.24 g ß-lactâmicos Piperacillina Bactérias gram-negativas (particularmente Pseudomonas), Enterobacteria e anaerobios 4g-8g ß-lactâmicos Aztreonam Apenas bacterias gram-negativas 4g 245 Inibidor de β-lactamase Tazobactam Bacterias gram-negativas (particularmente 0. 5g Pseudomonas), Enterobacteria, e anaerobios quando combinada a Piperacillina Oxazolidinona Linezolida cocos gram-positive multiresistentes, 1.2g como MRSA Carbapenemico Meropenem bacterias gram-positivas e gram- 0.5g-4g negativas, anaerobios, Pseudomonas Lipopeptideo Daptomicina Apenas gram-positivos 2g Antifungicos Anfotericina Maioria dos fungos 200 Antifungicos Voriconazol Maioria dos Fungos 300-600mg Justificativas: Alguns antibióticos se tornam desativados após a reação exotérmica do polimetacrilato de metila (PMMA), portanto, não podem ser usados em espaçadores. A lista de todos os antibióticos disponíveis e os organismos contra os quais eles atuam é fornecida acima. Embora existam alguns estudos que afirmem que a adição de altas doses de antibiótico ao cimento (PMMA) é possível e sem risco de toxicidade sistêmica, a maioria dos cirurgiões já teve experiência com pacientes que desenvolveram toxicidade renal após o uso de espaçadores de cimento impregnados com antibióticos. Existem três fatores principais que influenciam a liberação do antibiótico a partir do espaçador de PMMA, e do potencial para toxicidade renal. Isto inclui o tipo de cimento de PMMA usado (cimentos de alta viscosidade contendo co-polímeros de MA-MMA tem melhores perfis de liberação de antibióticos do que outras formulações de cimento ósseo acrílico), função renal do paciente, e a maneira como os espaçadores são feitos e posicionados na articulação infectada. Quanto maior for a área da superfície do espaçador, maior será a liberação de antibiótico pelo espaçador. Alguns cirurgiões colocam uma bola de espaçador cimentado na articulação, enquanto que outros podem colocar várias esferas de PMMA nas partes moles ou no canal intramedular. O cirurgião precisa levar em consideração ambas as opções, quando for operar uma artroplastia infectada. Não foi encontrada nenhuma evidência a favor ou contra qualquer dos cimentos de PMMA comercialmente disponíveis, que podem ser utilizados para formar um espaçador. Dois 246 dos mais utilizados cimentos de PMMA, denominados PALACOS e Simplex, foram comparados. Nós avaliamos os dados disponíveis com relação à taxa de controle de infecção entre estes dois tipos de cimento. No total, 1.160 casos de ATJ infectadas foram incluídos. Dos 1.160 casos, em 811 foi aplicado o cimento PALACOS (69.9%), e nos restantes 349 casos foi usado o cimento Simplex (30.1%). A taxa de erradicação foi semelhante, com 91,6% (68 casos de reinfecção), utilizando cimento Palacos, em comparação com cimento Simplex que apresentou uma taxa de erradicação de 89,4% (37 casos de reinfecção). 1-4,7-10,12-14,17,18,28- 30,32,33,36,38,40,41,43,72,73,76-78,80-84,108 Também foram analisados os dados disponíveis para os casos de ATQ infectadas. Foram incluídos 1.454 casos (Palacos, n = 1.201; e Simplex, n = 253). A taxa de controle de infecção foi idêntica em ambos os grupos, com uma taxa de 93,7% (16 casos de reinfecção) para o Simplex e 93,8% (74 casos de reinfecção) para o cimento Palacos. 3,9,47,48,50-54,56,60- 66,70,72,73,78,87,90-92,94,95,98,100,102,104,105,108,110,113,115,117,119,123 -Questão 15: Qual é a técnica ideal para a preparação de um espaçador de cimento com antibiótico de alta dose (tipo de mistura, quando e como adicionar antibióticos e porosidade)? Consenso: Não há consenso sobre o método de preparação de espaçadores de cimento com doses elevadas de antibiótico. Votação dos Delegados: A Favor: 93%; Contra: 3% , Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: A farmacocinética da liberação de antibióticos, a partir da matriz, é influenciada por vários fatores, incluindo a porosidade do cimento (cimento de alta viscosidade contendo copolímeros de MA-MMA tem demonstrado possuir melhores perfis de liberação de antibióticos do que outras formulações de cimento ósseo acrílico), a dose e tipo de antibióticos adicionados ao PMMA, e a forma e a área de superfície do espaçador. Um dos princípios básicos da preparação do espaçador inclui o reconhecimento de que a concentração local de antibiótico deve ser claramente superior à concentração inibitória mínima e apresentar concentrações bactericidas mínimas para o organismo infectante.124 Em geral, os espaçadores devem gerar elevadas concentrações locais de antibióticos, sem causar toxicidade sistemica. É reconhecido que a liberação do antibiótico a partir do cimento é mais elevada nas primeiras 24 a 72 horas após a cirurgia.125 Parece que a elevada liberação inicial de antibiótico do cimento é resultado da erosão mecânica da superfície do espaçador. A 247 emissão prolongada, no decorrer das semanas, refere-se a própria característica do cimento ósseo com os antibióticos.126 Outro fator que influencia a eficácia da liberação do antibiótico dos espaçadores inclui a combinação dos antibióticos usados, a resistência à fadiga do PMMA e a técnica de mistura. As combinações de antibióticos podem alterar a característica de liberação de cada agente; portanto, enquanto um antibiótico se dissolve, a porosidade aumenta e a superfície sofre alterações, o que permite maior liberação de outros antibióticos. Por exemplo, demonstrou-se que houve um aumento estatisticamente significativo na liberação da vancomicina, quando a dose de tobramicina foi aumentada de 2,4g para pelo menos 3,6g na mistura.108 Princípios gerais para misturar antibióticos ao cimento. O antibiótico precisa ser: -Bactericida. -Em forma de pó para permitir melhor integração com o cimento. 127 -Estéril. -Termoestável. -Solúvel em água. Os aspectos técnicos para preparação de um espaçador incluem: -Misturar o antibiótico estéril em pó ao PMMA -Esmagar os grumos de antibiótico. -A adição de monômero líquido para a mistura de PMMA e antibiótico.128,129 -Recomenda-se a mistura à mão em um pote sem vácuo, tendo em vista que bolhas facilitam a liberação dos antibióticos.130 -A adição de fillers, tais como Xyletol ou Ancef, melhoraram a liberção de antibióticos ativos. 122,131-133 -Caso o pó de antibiótico seja adicionado ao cimento após o monômero, o momento ideal para adição do antibiótico é 30 segundos após o monômero liquido ter sido misturado ao PMMA 134 -A adição de uma quantidade elevada de antibiótico ao cimento irá diminuir a resistência à fadiga e aumentar o risco de fratura. A adição de mais do que 4,5g de pó irá, enfraquecer substancialmente o cimento ósseo. No entanto, para a maioria dos espaçadores com antibióticos, a eluição do antimicrobiano são as principais preocupações, porém observada a resistência mecânica em casos de espaçadores estruturais. 248 Referências: 1. Anderson JA, Sculco PK, Heitkemper S, Mayman DJ, Bostrom MP, Sculco TP. An articulating spacer to treat and mobilize patients with infected total knee arthroplasty. J Arthroplasty. 2009;24(4):631-635. 2. Booth RE Jr, Lotke PA. The results of spacer block technique in revision of infected total knee arthroplasty. Clin Orthop Relat Res. 1989;(248):57-60. 3. Brunnekreef J, Hannink G, Malefijt Mde W. Recovery of knee mobility after a non-articulating or mobile spacer in total knee infection. Acta Orthop Belg. 2013;79(1):83-89. 4. Chiang ER, Su YP, Chen TH, Chiu FY, Chen WM. Comparison of articulating and nonarticulating spacers regarding infection with resistant organisms in total knee arthroplasty. Acta Orthop. 2011;82(4):460-464. 5. Choi HR, Malchau H, Bedair H. 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Votação dos Delegados: A Favor: 84%; Contra: 13% , Abstenção: 3% (Forte Consenso) -Questão 1B: A I&D pode ser indicada para infecções hematogênicas tardias? Consenso: A I&D pode ser realizada em pacientes com infecção hematogênica tardia, que ocorra dentro de três semanas após um evento provocativo ou com sintomas não superiores a três semanas. Votação dos Delegados: A Favor: 88%; Contra: 9% , Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: A I&D é uma opção viável em pacientes no período pós-operatório precoce ou com infecções hematogênicas tardias.1 A taxa de sucesso da I&D situa-se entre 0% e 89%.2 Sabe-se que este procedimento, realizado em infecções precoces ou infecções hematogênicas tardias, tem uma taxa de sucesso mais elevada em pacientes saudáveis, infecções com organismos de baixa virulência e em pacientes com sintomas de inicio recente.1,3-25 Caso a I&D 257 seja realizada, é necessário assegurar-se que a prótese esteja estável e bem posicionada, e que exista boa cobertura de partes moles. -Questão 2: Quais são as contraindicações para a realização de I&D? Consenso: Incapacidade para fechar a ferida, presença de fístulas e soltura e/ou instabilidade dos componentes são contra-indicações absolutas para a realização de I&D e retenção da prótese. Votação dos Delegados: A Favor: 95%; Contra: 4% , Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativa: A incapacidade para fechar a ferida é uma contraindicação absoluta para a retenção da prótese. Uma ferida aberta permite a contaminação e a colonização da prótese, e irá resultar em uma infecção crônica. Outras contraindicações relativas incluem a infecção com organismos altamente virulentos tais como o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA)25,26 ou infecções polimicrobianas27 (muitas vezes como resultado da presença de fístulas), e em pacientes com várias comorbidades, particularmente a imunossupressão.13,28 Marculescu et al. demonstraram que a presença de uma fístula leva a uma razão de chances (odds ratio [OR]) de 2,84 para o fracasso da I&D.29 -Questão 3A: Ao realizar a I&D para hematoma após ATJ, a fáscia profunda deve ser aberta? Consenso: A fáscia/artrotomia deve sempre ser aberta em pacientes com hematoma pós artroplastia total do joelho (ATJ). Votação dos Delegados: A Favor: 87%; Contra: 8%, Abstenção: 5% (Forte Consenso) -Questão 3B: Ao realizar a I&D para hematoma após ATQ, a fáscia profunda deve ser aberta? Consenso: A aspiração da junta quer antes da cirurgia, ou no momento da I&D, deverá ser executada. Em pacientes com defeito evidente na fáscia ou hematoma/fluido profundo à fáscia, confirmado pela aspiração, a mesma deverá ser aberta. Votação dos Delegados: A Favor: 87%; Contra: 9%, 258 Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Existe pouca ou nenhuma orientação na literatura sobre o que deve ser feito quando um cirurgião encontra uma ferida secretante e/ou hematoma em formação.18,30 Embora a formação de hematoma superficial não seja infrequente, as consequências de não se identificar hematoma ou infecção profundas em um paciente com prótese podem ser desastrosas.15 Assim sendo, a opinião deste grupo de consenso é que investigações apropriadas devam ser realizadas para avaliar se um hematoma é superficial ou se há extensão até as camadas mais profundas. A fáscia deve ser aberta e o hematoma profundo evacuado nos pacientes em que houve a coleta do fluido sanguíneo profundo à fáscia. A I&D é um procedimento diferente da reoperação realizada para o simples esvaziamento de hematoma. -Questão 4: Como a I&D deve ser executada para o tratamento da Infecção Articular Periprotética (IAP)? Consenso: A I&D de uma articulação protética deve ser realizada meticulosamente, e de acordo com o protocolo detalhado fornecido. Resumidamente este inclui: - Otimização clínica pré-operatória do paciente - Boa visualização e debridamento completo - Obtenção de múltiplas amostras de cultura - Irrigação abundante (6-9 L) da articulação - Retirada da prótese, se indicado. Votação dos Delegados: A Favor: 90%; Contra: 6%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: A articulação deve ser aberta através do acesso anteriormente mencionado, sob condições assépticas.30 Escove e lave todas as superfícies com uma solução antisséptica. Irrigação abundante com lavagem pulsátil de baixa pressão ou irrigação com seringa deve ser realizada. Relatos em cirurgia do trauma levantaram preocupações sobre o uso de lavagem de alta pressão, o que pode espalhar a infecção para uma situação mais profunda.31,32 -Questão 5: Os componentes modulares devem sempre ser trocados durante a I&D? Consenso: Sim. Todos os componentes modulares devem ser retirados e trocados, se possível, durante a I&D. Votação dos Delegados: A Favor: 92%; Contra: 8%; 259 Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativa: Há pouca evidência na literatura quanto ao papel da troca de componentes modulares. Embora este procedimento resulte em aumento de gastos, prolongamento da cirurgia e aumento da morbidade, em nossa opinião se faz necessário, a fim de permitir o acesso a partes da articulação que não poderiam ser acessadas sem a remoção dos componentes modulares. Isto é particularmente verdadeiro na ATJ. O acesso à cápsula posterior para execução do desbridamento adequado não é possível sem a remoção do polietileno tibial. Portanto, é aconselhável a remoção e troca dos componentes modulares (se possível) em todos os pacientes submetidos a I&D. 1,6,7,11,13,17,25,26,30,33,34 Apesar da remoção do polietileno ser totalmente necessária para o debridamento adequado, a reinserção de um componente "resterilizado" também pode ser razoável. Em um estudo de Laffer et al.35 o componente modular de polietileno foi removido e lavado com antiséptico durante a I&D de ATJ. Os autores sugerem que esta pode ser uma opção razoável em relação à troca de componentes, que gera custos adicionais. -Questão 6: Existem sistemas úteis de classificação (como a classificação de Tsukayama) que podem guiar o cirurgião para decidir sobre a aplicabilidade da I&D? Consenso: O sistema de classificação disponível é inadequado para orientar o cirurgião na escolha da intervenção cirúrgica apropriada para o tratamento da IAP precoce. Há a necessidade de mais estudos para a identificação de fatores de risco para o fracasso da I&D em pacientes com IAP aguda. Votação dos Delegados: A Favor: 84%; Contra: 5%; Abstenção: 11% (Forte Consenso) Justificativas: Existem inúmeros sistemas de classificação para IAP. A classificação de Tsukayama tem sido utilizada como guia e base para a indicação do tratamento cirúrgico. 17,36 Ela define uma infecção precoce como aquela que ocorre no prazo de um mês da artroplastia, e qualquer infecção após esse tempo é considerada tardia. A infecção hematogênica aguda está também incluída neste sistema de classificação. A classificação de Zimmerli/Trampuz define uma infecção precoce como aquela que ocorre dentro de 3 meses da cirurgia. Infecções com início entre 3-24 meses são ditas infecções retardadas, e infecções que ocorrem em um período maior que 24 meses após a artroplastia original, são classificadas como tardias.23 Estes sistemas de classificação são úteis na medida em que proporcionam uma descrição da patogenese, com a teoria de que as infecções precoces podem ser o resultado de contaminação durante a cirurgia, enquanto que as infecções tardias são provavelmente 260 adquiridas pela propagação hematogênica. Outra classificação, proposta por Senneville et al., baseia-se principalmente na duração dos sintomas e coloca menos ênfase no tempo da artroplastia índice. Com base nessa classificação, infecção aguda é aquela com menos de um mês de sintomas e, qualquer infecção com mais de um mês de sintoma é considerada tardia. 37 Menos do que 4 semanas de sintomas é bastante comum, de acordo com Garvin et al.17,38,39 A classificação proposta por McPherson considera outros critérios além do tempo, tais como fatores do hospedeiro e fatores do micro-organismo, e analisa períodos menores do que 3 semanas.40 Dados recentes sugerem que o sucesso da manutenção da prótese depende de muitos outros fatores além do momento em que a infecção aconteceu. 41,42 Assim, a decisão de realizar a I&D em um paciente com infecção deve levar em conta muitos outros parâmetros, incluindo o tipo de hospedeiro, a virulência do organismo infectante e a condição de partes moles. O Biofilme é o fator chave para o sucesso ou fracasso do uso da I&D. 30,43 Apenas com mais pesquisas será possível identificar os fatores que influenciam o resultado de uma intervenção cirúrgica para IAP em geral, e de I&D, em particular. -Questão 7: A I&D é um procedimento de emergência ou o paciente pode ser otimizado antes do procedimento? Nesta última circunstância, o que precisa ser otimizado? Consenso: Não. A I&D não é um procedimento de emergência em um paciente sem sepsis generalizada. Todos os esforços devem ser feitos para otimizar os pacientes antes da intervenção cirúrgica. Votação dos Delegados: A Favor: 92%; Contra: 6%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Embora muitos acreditem que o paciente que apresenta uma infecção aguda deva ser submetido a cirurgia assim que possível, não há evidência que sugira que qualquer atraso na intervenção cirúrgica afete negativamente o resultado. O que se sabe é que os pacientes com comorbidades clínicas, que não são controlados, podem estar em risco de complicações, algumas das quais podem se revelar fatais. Além disso, submeter o paciente à I&D sem identificar possíveis coagulopatias, que podem ser o resultado da administração de anticoagulantes, pode resultar no desenvolvimento de hematomas, com todos os seus efeitos adversos. Dessa maneira, é essencial que as condições, tais como hiperglicemia não controlada (> 180 mg/ml), anemia grave (Hb <10 mg/dL), coagulopatia e outras condições reversíveis, sejam identificadas antes de submeter o paciente à I&D. O estado nutricional de 261 qualquer paciente que será submetido a reoperação também deve ser verificado e, medidas (se houver) devem ser implementadas para reverter a desnutrição. -Questão 8: A artroscopia tem função na I&D? Consenso: Artroscopia não tem nenhum papel na I&D na articulação protética infectada. Votação dos Delegados: A Favor: 91%; Contra: 7%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Existem alguns estudos publicados os quais demonstram que o resultado da I&D é significativamente pior quando o debridamento foi realizado utilizando a artroscopia.6,35,44 Como mencionado anteriormente, um dos principais fatores determinantes do sucesso de uma intervenção cirúrgica para o tratamento de IAP é a capacidade de realizar debridamento adequado e reduzir a carga de microrganismos. Usando a artroscopia o cirurgião não é capaz de acessar todos os compartimentos e partes da articulação e, portanto, não é possível fazer o debridamento completo. No entanto, pode haver uma função diagnóstica para a artroscopia na ATJ. -Questão 9: Quantos procedimentos de I&D são aceitáveis antes da remoção dos implantes ser considerada? Consenso: Após o fracasso de uma I&D, o cirurgião deve considerar a retirada dos implantes. Votação dos Delegados: A Favor: 94%; Contra: 6%; Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativas: Embora a intervenção cirúrgica precise ser individualizada para cada paciente, é improvável que multipIas I&D possam ser uteis. Se várias tentativas de I&D não conseguirem controlar a infecção em um paciente, deve-se considerar a remoção dos implantes.13,45 Mont et al. consideraram razoável executar vários debridamentos em sua série de 24 infecções agudas de ATJ.46 Por outro lado, recomenda-se que na falha de um único procedimento de I&D a remoção dos implantes seja considerada.47 Um outro estudo revelou que a necessidade de um segundo debridamento é um fator de risco independente para o insucesso do tratamento.19 Na ausência de evidências conclusivas, é recomendado que múltiplas I&D não devam ser realizadas em pacientes com IAP aguda. No entanto, há evidências da execução de múltiplas I&Ds dentro de um protocolo específico. 262 -Questão 10: Amostras para culturas devem ser coletadas durante a I&D? Se sim, quantas e onde coletar? Consenso: Devem ser coletados tecidos e amostras de fluidos representativos da região periprotética, num total de 3 a 6, durante a I&D. Votação dos Delegados: A Favor: 98%; Contra: 2%; Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativa: Apesar das tentativas, a distinção entre hematoma benigno e infecção aguda pode não ser sempre possível. Assim, durante a I&D de uma articulação, amostras de tecido ou fluido devem ser enviadas para análise microbiológica. A informação obtida a partir da cultura pode, então, ser utilizada para determinar o curso do tratamento do paciente. De cinco a seis amostras devem ser coletadas de áreas que macroscopicamente pareçam mais clinicamente infectadas, na impressão do cirurgião. Estas devem incluir as camadas superficiais, profunda e periprotética, e as interfaces entre os componentes modulares. Se os componentes definitivos forem removidos, uma amostra da interface implante-osso também deve ser coletada. As amostras devem ser enviadas para cultura aeróbica e anaeróbica.48 Alguns autores demonstraram que a profilaxia antibiótica no momento da indução anestésica não altera os resultados das culturas microbiológicas obtidas durante a cirurgia e não deve ser retardada.49 -Questão 11: A antibioticoterapia deve se prolongar em pacientes após a I&D? Se sim, quais são as indicações, tipo de antibiótico, a dose e a duração do tratamento? Consenso: Não. A Antibioterapia prolongada só deve ser administrada a pacientes que preencham os critérios para IAP (ver Tema 7). O tipo, a dose e a duração do tratamento com antibióticos para casos de infecção deve ser determinada em consulta com especialista em Infectologia. Votação dos Delegados: A Favor: 75%; Contra: 20%; Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Pacientes submetidos a I&D devem ser avaliados de forma adequada para o diagnostico de IAP, incluindo VHS, proteína C-reativa, aspiração da articulação (antes ou durante a cirurgia), e cultura. Estas investigações permitem à equipe médica determinar se existe uma alta probabilidade de IAP. Para pacientes que possuem alta suspeita de IAP, o tratamento com antibióticos deve ser prolongado. Para outros com parâmetros sorológicos e 263 sinoviais normais e nenhuma evidência de infecção ativa durante a cirurgia, a terapia com antibióticos não é indicada. -Questão 12: Justifica-se o tratamento antibiótico intra-articular local após a I&D? Se sim, defina as indicações. Consenso: Não. Não há evidências adequadas para apoiar a administração do tratamento antibiótico intra-articular contínuo para o tratamento de IAP. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 7%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Embora o conceito de administração intra-articular contínua de antibióticos pareça lógico, permitindo assim concentrações locais mais elevadas de antibióticos, este procedimento requer uma avaliação mais aprofundada. A prática de administração do antibiótico intra-articular contínua foi introduzida por Whiteside et al. e tem sido apresentada como um procedimento bem sucedido em vários casos.50 Nenhuma análise multivariada foi realizada para demonstrar que a prática da administração intra-articular de antibióticos seja um fator independente que aumente a chance de sucesso. É provável que uma combinação de fatores, tais como o debridamento cirúrgico minucioso, possa explicar a elevada taxa de sucesso que foi observada naquela série de casos.4,51 Existem alguns riscos potenciais associados a esta prática, incluindo reações às drogas, despesas adicionais, necessidade de cirurgia adicional (para remover o cateter de Hickman) e, possivelmente, o desenvolvimento de resistência aos antibióticos. O uso contínuo de antibiótico intra-articular para tratamento de infecções crônicas, com uma taxa de 94% de sucesso relatado, também merece uma reavaliação.50 Essas e outras séries de casos ainda devem ser avaliadas de maneira mais aprofundada.52,53 -Questão 13: Justifica-se a utilização de grânulos reabsorvíveis (sulfato de cálcio, etc.) impregnados com antibiótico? Se sim, definir as indicações de utilização. Consenso: Não. Atualmente, não existe qualquer evidência conclusiva de que a utilização de material reabsorvivel impregnado com antibiótico melhore o resultado da I&D. Votação dos Delegados: A Favor: 88%; Contra: 6%; 264 Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: Algumas séries de casos tem avaliado o papel do material reabsorvível impregnado com antibiótico no tratamento da IAP. Embora os relatos iniciais das séries fossem encorajadores, não existem estudos clínicos randomizados para demonstrar que a utilização destes materiais melhore o resultado da intervenção cirúrgica.53 Em um estudo que avaliou o resultado da I&D em 34 pacientes, nos quais a gentamicina reabsorvível foi utilizada, uma taxa de 73% de sucesso foi descrita, o que não parece ser muito maior do que aquilo esperado com uma I&D convencional.54 O uso de material absorvível não é livre de problemas. Além do custo, que dependendo do material pode ser substancial, reações locais ao material reabsorvível tem sido descritas. O sulfato de cálcio granulado demonstrou o aumento na formação de exsudatos nas feridas.55,56 Um possível efeito citotóxico destes materiais também foi descrito. Modernos materiais, tal como nanopartículas de hidroxiapatita têm sido descritos.57 Futuros estudos são desesperadamente necessários para avaliar o papel do material reabsorvível impregnado com antibiotico, já que atualmente não existem evidências concretas que possam apoiar sua utilização. Referências: 1. Odum SM, Fehring TK, Lombardi AV, et al. Irrigation and debridement for periprosthetic infections: does the organism matter? J Arthroplasty. 2011;26(6 Suppl):114-118. 2. Romano CL, Manzi G, Logoluso N, Romano D. Value of debridement and irrigation for the treatment of peri-prosthetic infections. A systematic review. Hip Int. 2012;22(Suppl 8):S19-24. 3. Aboltins CA, Page MA, Buising KL, et al. Treatment of staphylococcal prosthetic joint infections with debridement, prosthesis retention and oral rifampicin and fusidic acid. 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Consenso: Há evidência para apoiar a terapia antibiótica oral, patógeno-específica e altamente biodisponível, como escolha para o tratamento de IAP. Votação dos Delegados: A Favor: 78%; Contra: 11%; Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: A IAP é tradicionalmente tratada com antibióticos por via intravenosa (I.V), a fim de se obter a concentração inibitória mínima no menor tempo possível. Uma vez que este objetivo seja cumprido e haja evidências clínicas de melhora, alguns regimes de antibióticos I.V podem ser trocados para regimes orais. Existe uma escassa literatura sobre o uso da terapia oral (combinada ou única) de antibióticos para o tratamento de IAPs, sem um regime inicial I.V.1-5 A maioria destes estudos foi conduzida nos casos em que a prótese foi mantida. Há um estudo em que nenhum regime oral ou I.V prolongado foi utilizado após o debridamento, e ainda assim a utilização de espaçadores cimentados impregnados com antibióticos conduziu a uma taxa de erradicação de 87%.6 Nenhuma literatura sustentou o uso da terapia oral de antibióticos (combinada ou única) antes do reimplante. As diretrizes recentemente publicadas 269 pela Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (Infectious Diseases Society of America IDSA)7, sugerem que, a terapia oral patógeno-específica e altamente biodisponível (por exemplo linezolida ou fluoroquinolonas) pode ser uma alternativa no tratamento inicial para alguns casos de IAP . -Questão 2: A antibioticoterapia oral é adequada após um curso inicial de antibiótico I.V? Consenso: Há evidências de que a terapia oral antibiótica patógeno-específica, altamente biodisponível, é uma escolha apropriada para o tratamento de IAP depois de um regime inicial de antibiótico I.V. Votação dos Delegados: A Favor: 98%; Contra: 1%; Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: Um regime antibiótico I.V é preferido, a fim de se obter a concentração plasmática ideal no menor tempo possível. A mudança para regimes orais, se possível, reduz o encargo financeiro para os pacientes e instituições pagadoras, reduz os riscos relacionados ao acesso vascular e aumenta a possibilidade de tratamento domiciliar. A maioria dos estudos usa um protocolo de 4-6 semanas de antibióticos I.V, seguido de 2-4 semanas de regime oral,8-10 embora alguns estudos utilizem o regime I.V isolado. Um estudo recente com apenas 14 dias de regime I.V, seguido de 6-8 semanas de terapia oral, não apresentou nenhuma recidiva.11 O uso da terapia antibiótica oral é apoiado após um curso inicial de antibióticos I.V para patógenos sensíveis. -Questão 3: Qual é a duração ideal do tratamento com antibiótico após a remoção do implante infectado? Consenso: Não há evidências conclusivas sobre a duração ideal da terapia antibiótica. No entanto, recomendamos um período de antibioticoterapia entre 2-6 semanas. Votação dos Delegados: A Favor: 88%; Contra: 6%; Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: A duração ideal da terapia com antibióticos (I.V exclusivo ou combinado I.V + oral) não é conhecida. Diminuir o tempo de regimes de antibióticos reduz o custo, o desenvolvimento de resistência, e as complicações inerentes a uma terapia com antibiótico único ou combinado.8-16 A maioria dos estudos na literatura recomenda antibioticoterapia com duração entre 6 e 12 semanas. Um estudo prospectivo não randomizado de Bernard et al. 270 concluiu que 6 semanas de tratamento com antibióticos (com uma semana de um regime antibiótico I.V) foi suficiente para controlar a infecção, contudo, este estudo incluiu grupos de pacientes tratados com irrigação e debridamento (I&D), revisão de artroplastia em estágio único, e revisão de artroplastia em dois estágios. Outros investigadores sugeriram um curso de antibiótico parenteral mais curto. Stockley et al.6 utilizaram um esquema curto I.V (2 semanas I.V), após o debridamento e colocação de um espaçador de cimento com antibiótico, com uma taxa de erradicação de 87%. -Questão 4: Como deve ser determinada a duração do tratamento com antibióticos? (marcadores inflamatórios, sinais clínicos, etc.). Consenso: Não há evidências conclusivas sobre como determinar a duração da terapia antibiótica. Uma combinação de sinais, sintomas clínicos e marcadores bioquímicos pode ser empregada. Há necessidade de um marcador que possa determinar o momento ideal para a reimplantação. Votação dos Delegados: A Favor: 96%; Contra: 3%; Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: A melhora das condições clínicas tem sido utilizada como um parâmetro para o controle de infecção enquanto os antibióticos são administrados. Infelizmente, apenas a melhora dos sinais clínicos durante a terapia antibiótica não prevê confiavelmente a erradicação da infecção, ou determina a duração do tratamento antibiótico. Por esta razão, a redução progressiva nos valores de marcadores inflamatórios, como a velocidade de hemossedimentação e a proteína C-reativa, têm sido utilizados como um dado auxiliar da melhoria dos sinais clínicos, para determinar o tempo ideal da interrupção da terapia antibiótica e a reimplantação18-23. Além disso, nenhum valor de corte ideal foi determinado para estes marcadores inflamatórios preverem o tempo ideal para a descontinuação do tratamento com antibiótico, ou para a reimplantação19,24. São necessários mais estudos em grande escala para validar e determinar os parâmetros de uso de novos marcadores inflamatórios, como prócalcitonina25, esterase leucocitária26-28, IL-6, e outros.2 -Questão 5: Deve haver um intervalo na antibioticoterapia antes da reimplantação? Consenso: Não há nenhuma evidencia conclusiva apoiando o período de intervalo após o tratamento com antibióticos previamente à cirurgia de reimplantação, como uma forma de assegurar a erradicação da infecção. 271 Votação dos Delegados: A Favor: 74%; Contra: 22%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Embora Bejon et al.30 não tenham encontrado evidências para apoiar a utilidade clinica do período sem antibióticos, esta foi uma analise retrospectiva publicada antes da nova definição de IAP do grupo de trabalho da Sociedade de Infecção Musculo-esquelética, estar disponível. Na prática, a melhoria dos sinais clínicos é frequentemente usada como um substituto para a avaliação do controle da infecção e terapia antibiótica efetiva. No entanto essas melhoras clinicas podem apenas persistir enquanto a antibioticoterapia estiver em andamento, e é aconselhável identificar a persistência da infecção, antes da reimplantação. Por essas razões, alguns profissionais consideram que o período de intervalo dos antibióticos antes do reimplante abra a oportunidade para a observação contínua, onde a estabilidade ou melhora clínica pode indicar a erradicação da infecção, enquanto a deteriorização pode indicar a recorrência. Nenhuma evidência conclusiva apoia a necessidade de um tempo ideal de intervalo dos antibióticos. -Questão 6: O uso da Rifampicina, em conjunto com a antibioticoterapia I.V após a remoção de um implante infectado, leva à erradicação mais rápida e definitiva da infecção por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA)? Consenso: Não existe evidência que apoie o uso da Rifampicina em conjunto com a terapia de antibiótico I.V como método mais adequado para o tratamento após a remoção do implante, quando comparado ao uso de qualquer antibiótico I.V isolado. Votação dos Delegados: A Favor: 77%; Contra: 18%; Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: Existem evidencias suficientes para apoiar o uso da Rifampicina em combinação com outros antibióticos para o tratamento de IAP, especialmente nos casos em que se o mantem material de implante1,34,35. As evidências que apoiam a sua utilização quando o implante infectado é removido são menos convincentes. A Rifampicina não deve ser usada como monoterapia devido ao seu baixo limiar para o desenvolvimento da resistência36. As limitações ao uso mandatório incluem interações medicamentosas significativas e eventos adversos.37 A rifampicina colore a maior parte das secreções e fluidos em cor alaranjada e é causa de intolerância gastrointestinal, hepatotoxicidade e outros eventos adversos menos comuns.37 A Rifampicina estimula as enzimas hepáticas, e assim aumenta o metabolismo de muitas drogas importantes e comuns, tais como outros antibióticos e antifúngicos, anticoagulantes (incluindo a varfarina e inibidores direto da trombina) e imunossupressores.38 272 -Questão 7: Qual é o melhor momento para iniciar o tratamento com a Rifampicina? Consenso: Não há evidências conclusivas em relação ao momento adequado para iniciar o tratamento com Rifampicina. A capacidade da ingestão oral do paciente e os preceitos da administração adequada de um agente antimicrobiano primário devem ser bem estabelecidos antes de iniciar a Rifampicina. Os potenciais efeitos colaterais e as interações medicamentosas devem ser avaliadas antes do inicio e ao final da terapia. Votação dos Delegados: A Favor: 83%; Contra: 11%; Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: Não há evidencia conclusiva que defina o momento ideal para começar o tratamento com Rifampicina. O rápido aparecimento de resistência à Rifampicina acontece em vários casos em que há bacteremia.39 Dado o potencial de desenvolvimento de resistência em monoterapia, parece prudente suspender a Rifampicina até que a bacteremia seja resolvida e/ou a terapia antibiótica primaria alcance concentrações teciduais adequadas. Um estudo sugere, em uma análise univariada, que a presença de fistula ou drenagem prolongada da ferida podem aumentar o risco de resistência à Rifampicina.40 Esta associação não foi confirmada em analise multivariada. Como um importante indutor enzimático, é importante considerar a interação medicamentosa com a Rifampicina, tanto previamente ao início da terapia, como ao final desta. A atividade da Rifampicina contra qualquer patógeno cultivado deve ser verificada previamente ao início da terapia. -Questão 8: Por quanto tempo o tratamento antibiótico deve ser mantido após a revisão de artroplastia para IAP, em estagio único? Consenso: Não há evidência conclusiva sobre a duração ideal da terapia antibiótica para a revisão de artroplastia em estagio único. Recomenda-se que o antibiótico parenteral seja dado por 2-6 semanas após a revisão de artroplastia de estagio único, seguidas por antibioticoterapia oral por um prazo mais longo. Votação dos Delegados: A Favor: 87%; Justificativas: Contra: 10%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) A revisão de artroplastia para IAP em estagio único tem a vantagem de consistir em apenas um único procedimento de grande porte , diminuindo assim os custos e o risco de complicações, que podem surgir a partir de cirurgias múltiplas.1,34,35 Não há evidências disponíveis sobre a duração ideal da terapia com antibióticos.12,41-43 Bernard et al.17 concluiram 273 que 6 semanas de tratamento (com uma semana de regime de antibiótico I.V) foi suficiente para controlar a infecção; no entanto este estudo incluiu a I&D e a revisão de artroplastia em dois estágios. As recentes diretrizes publicadas pelo IDSA7 recomendam de 2-6 semanas de terapia antimicrobiana I.V, guiada por antibiograma patógeno-específico, em combinação com Rifampicina oral, seguida de 3 meses de Rifampicina oral e Ciprofloxacina ou Levofloxacina para IAP por staphylococcus tratadas com revisão de artroplastia em estágio único. Para outros organismos alem dos staphylococcus , a diretriz da IDSA recomenda um curso inicial com terapia I.V por 4-6 semanas. Apesar de muitos profissionais utilizarem-na, não há uma recomendação unânime para a terapia de antibiótico supressiva oral crônica neste cenário. -Questão 9: Justifica-se o tratamento antibiótico reimplantação? Se sim, quais as indicações? intra-articular local após a Consenso: Não há evidencias conclusivas para apoiar o uso da terapia de antibióticos intraarticular local. São necessárias mais evidências para apoiar o uso da tal terapia. Votação dos Delegados: A Favor: 95%; Contra: 4%; Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativa: Estudos realizados por Whiteside et al.44,45 sugeriram bons resultados com o uso da terapia antibiótica intra-articular. No entanto, estas series eram pequenas, retrospectivas e descreveram as mesmas coortes. Além disso os estudos não utilizaram analises multivariadas para isolar a terapia antibiótica intra-articular como um fator independente que melhore o resultado da intervenção cirúrgica. -Questão 10: Qual é o melhor tratamento antibiótico para IAP com culturas negativas? Consenso: Não existe qualquer evidência conclusiva sobre o tratamento antibiótico ideal para pacientes com IAP, com cultura negativa. Sugerimos um regime de antibióticos de amplo espectro, cobrindo bactérias gram-negativas e gram-positivas (incluindo MRSA), bem como organismos anaeróbios. Em pacientes com suspeita de infecção fúngica, a cobertura para fungos comuns deve ser considerada. Votação dos Delegados: A Favor: 91%; Contra: 8%; Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: A incidência de IAP com cultura negativa varia entre 3% a 35%. Publicações anteriores demonstraram grande taxa de sucesso no controle de infecções em pacientes com 274 IAP e cultura negativa, sugerindo que a negatividade da cultura pode não ser um fator de risco para o fracasso.46 Em termos de seleção antibiótica, um estudo que avaliou o controle de infecção em IAP tratada cirurgicamente com artroplastia de revisão em dois estágios, não demonstrou nenhuma diferença entre pacientes com cultura negativa tratados com vancomicina no pós-operatório e os pacientes com cultura positiva.47 Uma enquete observou a preferência de infectologistas na escolha de combinações da vancomicina com ceftriaxona ou uma fluoroquinolona, para o tratamento de IAP com cultura negativa nos membros inferiores.48 -Questão 11: É necessária a aspiração articular antes da reimplantação? Consenso: Não existem evidências conclusivas que apoiem a necessidade de aspiração da articulação antes do reimplante. Ela pode ser útil em casos selecionados. Não é recomendada a infiltração de qualquer liquido na articulação infectada e reaspiração em pacientes com uma aspiração inicial seca. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 8%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Atualmente não há nenhuma definição pela qual se possa determinar o momento ideal para o reimplante ou de fato determinar se a IAP foi erradicada ou controlada. A aspiração articular antes da reimplantação pode fornecer informações úteis sobre o estado de infecção da articulação. Se os parâmetros do líquido sinovial se apresentam anormais (limite a ser determinado), o cirurgião pode decidir adiar o reimplante ou submeter o paciente a tratamento adicional após a reimplantação19,49-51 . Esta sugestão é limitada pelo fato de que pode haver uma quantidade mínima de fluido em pacientes com um espaçador de cimento no local, com elevada frequência de aspirado seco. Há também a possibilidade de obtenção de fluido periarticular, ao invés de fluido verdadeiramente articular. Não há evidência de que a infiltração de solução salina ou outra solução estéril dentro da articulação, e a então reaspiração, aumente a precisão da cultura, e não há evidência de que a lavagem da articulação tenha qualquer papel no isolamento do organismo infectante. Outros parâmetros de análise do líquido sinovial, como a contagem diferencial de linfócitos e neutrófilos, não são confiáveis quando liquido proveniente de lavagem articular está sendo utilizado. Referências: 1. Farhad R, Roger PM, Albert C, et al. Six weeks antibiotic therapy for all bone infections: results of a cohort study. Eur J Clin Microbiol Infect Dis. 2010;29(2):217-222. 275 2. Gomez J, Canovas E, Banos V, et al. Linezolid plus rifampin as a salvage therapy in prosthetic joint infections treated without removing the implant. Antimicrob Agents Chemother. 2011;55(9):4308-4310. 3. 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A morbi-mortalidade associada a este procedimento não deve ser ignorada. Um trabalho em equipe é fundamental para o sucesso da cirurgia. A abordagem multidisciplinar, com participação de microbiologistas, infectologistas, anestesistas afeitos às técnicas de cuidados intensivos, cirurgiões plásticos e ortopedistas com interesse especial em infecções, é essencial. 279 -Questão 1: Quais são as indicações e contraindicações para a revisão de artroplastia em um único estágio (RAUE)? Consenso: A revisão de artroplastia em 1 único estagio é uma opção razoável para o tratamento de infecção articular periprotética (IAP) em circunstâncias nas quais os antibióticos efetivos estão disponíveis, exceto em pacientes com manifestações sistêmicas de infecção (sepsis), nos quais pode ser necessária a artroplastia de ressecção e a redução da carga microbiana. Contraindicações relativas à RAUE podem incluir a falta de identificação de um organismo no período pré-operatorio, a presença de fistula ou grave envolvimento de partes moles, que podem levar a uma necessidade de cobertura com retalhos. Votação dos Delegados: A Favor: 78%; Justificativas: Contra: 17%; Abstenção: 5% (Forte Consenso) Atualmente não há ensaios clínicos randomizados (ECR) que forneçam indicações concretas ou contraindicações para a RAUE, em substituição à revisão de artroplastia em dois estágios (RADE). Existem poucos estudos que apoiam o uso da revisão em estagio único em outras articulações, que não o quadril (ATQ), ou ainda sem o uso de cimento impregnado com antibiótico ou enxerto ósseo.1-10 A Infecção sistêmica e sepsis são contraindicações bem definidas. Em situações clínicas que envolvem um paciente com descompensação aguda, portador de IAP, a administração adequada de antibiótico no momento correto e a rápida remoção dos implantes com debridamento extensivo são primordiais. O reimplante de componentes deve ser adiado até que a recuperação adequada do paciente e a erradicação do organismo agressor seja concluída.4,7,10-18. Embora haja relatos do tratamento efetivo de IAP envolvendo organismos resistentes e/ou fístulas com a RAUE, tais casos são geralmente tratados com procedimento em dois estágios, já que a presença da fístula pode contaminar as culturas pré-operatórias e inibir a identificação previa do organismo agressor. No caso de IAP com cultura negativa, a artroplastia de revisão em estagio único também deve ser contraindicada.4,7,10,11,14,16-33. Partes moles viáveis que proporcionam a cobertura adequada são essenciais para uma revisão de artroplastia de estagio único, e cirurgiões capazes de realizar retalhos e uma cobertura adequada de partes moles necessitam estar disponíveis no momento da artroplastia de estagio único. Se a cobertura de partes moles não puder ser realizada no momento da RAUE, a revisão em dois estágios deve ser considerada.7,17,18. 280 -Questão 2: Quais são as indicações e contraindicações da revisão de artroplastia em dois estágios (RADE)? Consenso: A artroplastia de revisão em dois estágios é uma opção razoável para o tratamento de IAP. Condições especificas, nas quais a RADE está indicada incluem: 1: pacientes com manifestações sistêmicas de infecção ; 2: presença de um organismo não identificado ou culturas pré-operatórias de difícil identificação para o tratamento, e organismos resistentes ao antibiótico; 3: presença de fístula; 4: cobertura de partes moles inadequada. Votação dos Delegados: A Favor: 93%; Contra: 7%; Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativas: Atualmente, a RADE é o procedimento cirúrgico mais popular no tratamento de IAP na América do Norte, e em alguns outros países; no entanto, não existem ECRs que forneçam indicações absolutas ou contraindicações para a artroplastia de revisão em dois estágios. 4,7,17,18 Embora haja uma grande variabilidade nas taxas de sucesso relatadas na erradicação da infecção, o possível aumento de morbidade e mortalidade, e os diferentes intervalos prévios ao reimplante, tornam difíceis as comparações diretas com a RAUE, devido também ao viés de seleção dos pacientes na literatura disponível.7,9,17,34. No entanto em uma recente revisão sistemática Romano et al. demostraram que a revisão em dois estágios proporciona, em média, melhores resultados em relação ao controle da infecção no joelho35. O mesmo grupo recentemente apresentou resultados similares para o quadril, embora a diferença no controle da infecção seja menor.36. Infecções sistêmicas e/ou sepsis são indicações para revisão em dois estágios, sendo necessária, nesta situação, a rápida administração dos antibióticos mais adequados, e uma pronta remoção dos implantes com amplo debridamento de partes moles, para reduzir os riscos associados à IAP, que podem ameaçar a vida do paciente. A imunossupressão ou a presença de comorbidades clinicas, como a doença metastática, doença cardíaca avançada e disfunção renal e/ou hepática tem impacto já demonstrado na taxa de sucesso da erradicação da infecção, e certamente influenciam a taxa de morbi-mortalidade. Não se sabe se a presença dessas comorbidades constitui uma contraindicação para a revisão em um estagio.7,14,17,18,32,34. O comprometimento de partes moles, com cobertura limitada do implante, é uma indicação para a artroplastia de revisao em dois estágios, onde o uso de expanssores de tecido, retalhos musculares e a necessidade de repetição do debridamento podem estar indicados, e requerer intervalo maior entre a artroplastia de ressecção e a reimplantação. 7,17,18,32. 281 -Questão 3: Qual é o intervalo ideal entre os dois estágios? Consenso: Não há na literatura evidências definitivas quanto ao intervalo ideal entre os dois estágios, com relatos variando de duas semanas até vários meses. Votação dos Delegados: A Favor: 87%; Contra: 9%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Deve haver tempo suficiente para administração completa de antibióticos, erradicação da infecção, repetição do debridamento, caso necessário, e para permitir a adequada preparação de partes moles no caso de comprometimento da cobertura. Bons resultados foram demonstrados em situações nas quais o implante foi realizado entre 2 a 6 semanas após a ressecção, em que o patógeno infectante não era resistente e a administração de antibióticos sistemicos foi adequada. 7,18. A terapia antibiótica intravenosa (I.V) com duração de 4-6 semanas, seguida de uma pausa de 2 até 8 semanas, é comumente empregada nos EUA, e tem produzido resultados positivos7, 37-40. Algumas evidências sugerem que intervalos de tempo maiores que 6 meses levam a resultados piores na restauração da função do paciente e na erradicação da infecção. Pacientes submetidos a revisão em dois estágios com um intervalo maior do que 6 meses entre a ressecção e o reimplante, não obtiveram qualquer melhora na função quando comparados àqueles que foram reimplantados nos primeiros 6 meses da ressecção.41 A necessidade de análise sorológica, análise do fluido sinovial e cultura de aspirado articular, é incerta. A VHS e a PCR são fracos preditores de IAP persistente, e os estudos foram incapazes de definir valores de corte ideais para VHS e PCR. Contudo, a mudança dos valores dos testes sorológicos comparados aos realizados no momento da ressecção, pode ser um indicador importante 17,42-45. -Questão 4: Existe alguma diferença nos custos entre a reimplantação em 1 ou 2 estágios? Consenso: Devido a falta de conhecimento sobre os custos reais e a ausência de estudos comparativos, não é possível uma definição clara sobre esse assunto. Contudo, quando a infecção é efetivamente tratada, sem haver necessidade de reoperação, a artroplastia em estagio único é menos dispendiosa do que a revisão em dois estágios. Mais estudos são necessários. Votação dos Delegados: A Favor: 91%; Contra: 5%; 282 Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: o impacto econômico da IAP é imenso, e portanto é essencial desenvolver e utilizar estratégias de tratamento cirúrgico eficaz e eficiente, que proporcionem recuperação satisfatória da função e resolução da dor, além da proteção contra recorrência.46-48. Diferenças de custo entre o estagio único e dois estágios não são óbvias. Os custos podem variar devido a diferentes fatores associados às instalações, pacientes, cirurgiões e organismos infectantes, e não há uma evidência definitiva que leve em conta todos os fatores que contribuem para os gastos gerais.4,46,47,49-51. O custo monetário direto do tratamento da IAP utilizando o estagio único ou dois estágios varia muito. No entanto pode ser geralmente aceito que a morbidade do paciente, a duração da operação, a utilização da sala cirúrgica, as taxas hospitalares e do cirurgião e a duração da administração do antibiótico são menores quando submetido a 1 procedimento do que a no mínimo dois procedimentos principais.4,7,46,49-51. A análise de custo de Klouche et al. revelou que a revisão de ATQ em dois estágios custa 1.7 vezes mais do que a revisão em estagio único.52. No entanto, se os resultados da artroplastia de revisão em 1 ou 2 estágios forem comparáveis, a revisão em 1 estagio pode ser a melhor escolha devido as vantagens relativas à diminuição da morbidade para o paciente, menor custo, maior estabilidade mecânica do membro afetado e menor tempo de incapacidade. 30,53. Embora as taxas de reinfecção possam ser maiores quando se realiza a artroplastia de revisão em estágio único quando comparadas com a revisão em dois estágios, os custos dos testes diagnósticos e avaliações clínicas adicionais, juntamente com a possibilidade de reoperação, e com uma análise que leve em consideração a qualidade de vida ajustada em anos, destaca-se a eficácia da revisão em estágio único.54 Uma análise de utilidade esperada de Markov, descrita por Wolf et al. favorece a revisão em um estágio se comparada à revisão em dois estágios, quando se leva em conta parâmetros de qualidade da saúde ajustada em anos.54 A IAP associada ao Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) emergiu como um problema difícil e dispendioso para uma erradicação eficaz, e está associada a maior custo. Algumas autoridades acreditam que a revisão em dois estágios pode ser o tratamento preferencial para IAP causada por organismos altamente virulentos que poderá, ao final, incorrer em custos totais mais baixos.31,55,56 -Questão 5: Quantas tentativas de reimplantação devem ser feitas em um paciente com IAP? 283 Consenso: Não existem evidências definitivas que apoiem um numero definitivo de revisões infectadas que devem ser tentadas. O reimplante é apropriado caso a infecção esteja controlada de forma adequada após repetidas ressecções, em um paciente capaz de tolerar cirurgias adicionais, havendo a possibilidade de reconstruir funcionalmente a articulação e tambem a cobertura adequada de partes moles. Votação dos Delegados: A Favor: 98%; Contra: 2%; Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativas: Fatores fundamentais para se considerar na revisão em dois estágios são: o organismo causador, a duração e gravidade da infecção, a vontade e capacidade do paciente de ser submetido a cirurgias subsequentes, o estoque ósseo adequado e partes moles viáveis capazes de permitir a reconstrução. A reimplantação é viável se a infecção estiver adequadamente controlada, após ressecções repetidas.17,31,55,57,58 A taxa de sucesso de revisões subsequentes, em dois estágios, é frequentemente favorável, mas é inferior do que a primeira tentativa.3,7,17,57-63 Pacientes com IAP causada por organismos resistentes incluindo, MRSA e Enterococcus, apresentam altas taxas de cirurgias de salvamento (ressecção definitiva, fusão ou amputação) e devem ser aconselhados sobre os possíveis resultados1, 23,25. No joelho, o envolvimento da tuberosidade anterior da tíbia pode ser uma indicação de falha da revisão em dois estágios. Na circunstância de comprometimento severo da musculatura extensora, a artrodese pode ser necessária.28. -Questão 6: Quais são as indicação da artrodese de joelho? Consenso: A literatura é deficiente na orientação sobre esta questão. A artrodese do joelho pode ser uma opção adequada aos pacientes que apresentaram falhas em varias tentativas de reconstrução e àqueles que apresentam risco inaceitável de recorrência da infecção com procedimentos artroplasticos de repetição, e/ou apresentam deficiência do mecanismo extensor. Na escolha entre artrodese e amputação é necessário levar em conta a situação clinica do paciente e sua preferência. Votação dos Delegados: A Favor: 96%; Contra: 1%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Dor e instabilidade em uma articulação que não seja passível de reconstrução, com ou sem historia de revisão de artroplastia mal sucedida, e com um risco inaceitavelmente alto de infecção recorrente em cirurgias artropláticas subsequentes, provavelmente irá requerer a fusão do joelho.7,9,18,25,43,56,66,59,60,64,65 284 As infecções polimicrobianas ou aquelas com organismos altamente resistentes, para as quais não existe tratamento efetivo, são mais propensas a tentativas mal sucedidas de revisão de artroplastia, e podem também se beneficiar da fusão do joelho.2,7,18,25,56,66 A Imunossupressão severa inibe tanto a erradicação da infecção, como a cicatrização da ferida, sendo proibitiva para a revisão de artroplastia estadiada, necessitando assim de um procedimento de salvamento.7,17,18 O abuso de drogas intravenosas pode ser uma contraindicação para repetidas tentativas de revisão em estágios, e pode também indicar a necessidade de procedimentos de salvamento.7 As contraindicações podem também ser aplicadas aos pacientes não-deambuladores, ou aqueles com importantes comorbidades clinicas, que podem impedir a realização de cirurgias múltiplas.2,7,17,18. -Questão 7: A artrodese, indicada para o joelho cronicamente infectado, deve ser realizada em estagio único ou em dois estágios? Consenso: A artrodese de joelho pode ser realizada tanto em 1, como em 2 estágios cirúrgicos, porém a decisão depende das circunstâncias individuais e dos fatores do hospedeiro. Votação dos Delegados: A Favor: 94%; Contra: 3%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: O debridamento cirúrgico dos tecidos infectados é um fator critico para o sucesso de todos os procedimentos cirúrgicos para o tratamento de IAP, em particular a artrodese de joelho. Desta maneira, na incapacidade de realizar o debridamento adequado em uma única cirurgia, o cirurgião deve levar em consideração a fusão do joelho em dois estágios. Ao considerar a artrodese do joelho em um ou dois estagios, outros fatores devem ser observados. Perdas ósseas extensas associadas a infecções crônicas tem apresentado baixas taxas de sucesso da fusão articular, e uma abordagem em dois estágios pode permitir o tratamento adequado dos defeitos ósseos após debridamento agressivo.2,65,67-70 A reinfecção é incomum após a artrodese de joelho executada em casos de IAP. Contudo, infecções causadas por organismos polimicrobianos ou resistentes, tem uma alta propensão para recorrência de infecção e falha, quando tratadas com protocolo de artroplastia de revisão em estagio único. 2,4,7,11-18,40,71-74 A erradicação da infecção antes da artrodese leva 285 a altas taxas de sucesso da fusão e permite a utilização de um extenso arsenal para fixação, tal como o uso de dispositivos intramedulares e placas.2,73,75-80 A fusão em estagio único com a utilização de fixação externa é bem sucedida quando realizada em situações onde a IAP é causada por organismos de baixa virulência, e sem comprometimento tecidual importante. 2,18,25,65,78,81,82 -Questão 8: Quais são as indicação para amputação? Consenso: A amputação para o tratamento da IAP que afeta o joelho ou o quadril, pode ser apropriada em alguns casos selecionados envolvendo pacientes não-deambuladores, em casos de fasciíte necrotizante resistente ao debridamento agressivo, perda óssea grave que impeça a artrodese (joelho), cobertura insuficiente de partes moles, múltiplas tentativas fracassadas de revisão estagiada e artroplastia de ressecção, ou doença vascular periférica e lesão neurovascular. Votação dos Delegados: A Favor: 98%; Contra: 1%; Abstenção: 1% (Forte Consenso) Justificativas: O salvamento após uma artroplastia total mal sucedida, em um cenário de infecção com fasciite necrotizante recalcitrante, organismos resistentes, artrodese fracassada e perda óssea, é difícil de se obter e pode não responder a futuras tentativas de reconstrução.2,7,17,18,25,56,59,83,84 A amputação acima do joelho leva a resultados funcionais inferiores e deve ser reservada para pacientes não-deambuladores, a menos que outras indicações estejam presentes e todas as tentativas para a erradicação da infecção tenham falhado.3,84,85 Exceto em casos emergenciais, o encaminhamento para um centro especializado no tratameno de IAP é aconselhável antes da amputação, devido as altas taxas de mortalidade. Outras indicações que não estão diretamente relacionadas com IAP incluem fratura periprotética, doença vascular periférica, dor ou neuropatia.2,84 Outras operações de salvamento utilizadas nas infecções recalcitrantes do quadril incluem a artroplastia de ressecção, realizada por alguns cirurgiões. Embora o resultado funcional nesses pacientes não seja o ideal, a artroplastia de ressecção pode ser bem sucedida no controle de infecção e pode permitir a deambulação assistida.86 Referências: 286 1. Casanova D, Hulard O, Zalta R, Bardot J, Magalon G. Management of wounds of exposed or infected knee prostheses. Scand J Plast Reconstr Surg Hand Surg. 2001;35(1):7177. 2. Conway JD, Mont MA, Bezwada HP. Arthrodesis of the knee. J Bone Joint Surg Am. 2004;86-A(4):835-848. 3. Hanssen AD, Trousdale RT, Osmon DR. Patient outcome with reinfection following reimplantation for the infected total knee arthroplasty. Clin Orthop Relat Res. 1995(321):55-67. 4. Jackson WO, Schmalzried TP. 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Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 7%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Geralmente uma IAP fúngica ou atípica existe quando os organismos como fungos ou bactérias atípicas são isolados a partir do fluido articular ou de amostras de tecido intra-operatórios, e que estes organismos sejam os agentes infecciosos dominantes na articulação protética. Os fungos podem ser bolor, leveduras ou fungos dimórficos. Bolores (mofo) são fungos que crescem sob a forma de filamentos multicelulares chamados hifas. A grande maioria (Candida) promovem infecções, que representam mais de 80% das IAPs fúngicas. Em contraste, os fungos que podem adotar o hábito de crescimento unicelular são chamados de leveduras. Fungos dimórficos podem existir como formas de bolor ou de levedura. Bactérias atípicas são bactérias que possuem desvios de uma ou mais das seguintes características de 292 uma bactéria típica: da parede celular (contendo peptidoglicanas), membrana celular, sem membrana nuclear, reprodução por fissão celular e susceptibilidade aos antibióticos, mas não aos agentes antifúngicos.1-3 -Questão 2: Quando os organismos fúngicos devem ser responsabilizados pela IAP? Consenso: A IAP fúngica deve ser considerada quando fungos patógenos são isolados a partir de culturas de tecidos periprotéticos ou punções articulares em um paciente que apresente outros sinais e sintomas de IAP, como sorologia e parâmetros de punções alterados (contagem total de leucócitos e diferencial de neutrófilos). Se os sintomas clínicos sugerirem a suspeita de IAP fúngica, a repetição da punção pode ser necessária para isolar o organismo infectante. Votação dos Delegados: A Favor: 94%; Contra: 4%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativa: Como não existem sintomas clínicos e alterações laboratoriais específicas para a IAP fúngica, a repetição da punção aspirativa é obrigatória. Em um terço dos casos de IAP por fungos, aspirações repetidas (2 ou 3) tiveram que ser realizadas para confirmar o agente infectante.4 -10 -Questão 3: Quais são os fatores do hospedeiro (doenças concomitantes e outros fatores) que predispõem às IAPs fúngicas? Consenso: Fatores predisponentes do hospedeiro para as IAPs fúngicas são: imunossupressão (diminuição da imunidade celular, neutropenia, corticosteróides ou outras drogas imunossupressoras, história de transplante de órgãos, e síndrome da imunodeficiência adquirida-AIDS), malignidade e/ou a utilização de agentes anti-neoplásicos, o abuso de drogas, a utilização prolongada de antibióticos, presença de cateteres permanentes (intravenoso, urinário ou alimentação parenteral), diabetes mellitus, desnutrição, artrite reumatóide, história de múltiplas cirurgias abdominais, queimaduras graves, tuberculose e infecções bacterianas prévias à artroplastia total (SAPT). Votação dos Delegados: A Favor: 95%; Contra: 2%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativa: A Tabela abaixo mostra a freqüência de doenças concomitantes em 46 IAPs fúngicas relatadas após artroplastia total do joelho (dados coletados a partir de 36 publicações). 293 Doenças concomitantes Diabetes Doenças autoimunes PJI anterior com antibioticoterapia prolongada Imunossupressão causada por medicamento Doenças malignas HIV Número de casos 10 6 Porcentagem (%) 22 13 10 22 7 15 4 1 9 2 -Questão 4: Quando se considera a possibilidade de IAP fúngica, quais amostras devem ser coletadas, quais as ferramentas de diagnóstico adicionais devem ser usadas e como elas devem ser processadas para otimizar o diagnóstico? Consenso: Meios de cultura seletivos para fungos devem ser incluídos e deve observar-se que a cultura prolongada pode ser necessária. Em casos específicos deve-se expandir os testes de diagnóstico para incluir amostras de tecido para exame histológico, principalmente nos casos em que há um alto índice de suspeita clínica. Resistência de espécies de Candida ao fluconazol foi reportada na literatura, e assim testes de sensibilidade devem ser solicitados quando a resistência ao fluconazol é suspeitada, baseada em espécies isoladas. Testes de sensibilidade aos antifúngicos são ainda bem menos desenvolvidos e utilizados que os testes para sensibilidade aos antibióticos. Votação dos Delegados: A Favor: 96%; Contra: 2%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Dos 59 artigos publicados até o momento sobre o tratamento de IAPs por fungos (incluindo 91 casos), em apenas 9, os autores relataram detalhes microbiológicos sobre o número de culturas. Em nenhum dos estudos o meio de cultura ou o tempo de incubação foi especificado. Embora os fungos possam crescer na maioria dos meios, os requisitos muitas vezes diferem daqueles para as bactérias, principalmente no que diz respeito à temperatura e o tipo de meio. Meios de cultura seletivos para fungos devem ser incluídos e o período de incubação prolongado, de acordo com as normas nacionais de laboratórios. 294 A maioria dos sistemas para hemocultura de rotina, manuais e automatizados, são capazes de dar suporte ao crescimento das leveduras tais como Candida sp. No entanto, se houver suspeita de infecção fúngica e as culturas de rotina são negativas, pode ser razoável considerar método alternativo de teste que é perfeitamente projetado para suportar o crescimento da maioria dos fungos. Bolor e especialmente fungos dimórficos, geralmente crescem pouco em sistemas típicos de hemocultura instrumentados. Técnicas de cultura alternativas incluem o método de lise por centrifugação, em que a amostra de sangue lisada e granulada pode ser usada. A identificação da espécie isolada é obrigatória, pois o tratamento pode variar em função das espécies. Amostras de tecidos e fluidos orgânicos podem ser igualmente investigadas utilizando procedimentos alternativos. Entre estes estão a histologia padrão, imuno-histoquímica, hibridação in situ, espectrometria de massa, e a análise de amostras, por procedimentos baseados na reação em cadeia da polimerase (PCR). Estas técnicas têm sido avaliadas de forma positiva em alguns estudos, mas geralmente não estão disponíveis, e na avaliação de terceiros, a sua precisão não foi determinada até o momento.11 -Questão 5: Qual a técnica cirúrgica mais adequada para o tratamento das IAPs fúngicas: irrigação e debridamento, reimplantação em um ou dois estágios, ou artroplastia de ressecção definitiva? Consenso: Com base na literatura atual, a revisão de artroplastia em dois estágios é a opção de tratamento recomendado para IAP fúngica. No entanto, a taxa de sucesso é menor que a dos casos bacterianos. Votação dos Delegados: A Favor: 95%; Contra: 2%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: O tratamento cirúrgico inicial, descrito para as infecções fúngicas periprotéticas do joelho, é heterogêneo. Como na IAP bacteriana, as modalidades de tratamento para a IAP fúngica (retenção do implante, remoção e reimplante ou ressecção) dependem do tempo de diagnóstico da infecção após a implantação, os resultados de eventuais tentativas anteriores para tratar a infecção, e a presença de comorbidades. Até o momento 91 casos de PJI fúngica foram relatados. A artroplastia de ressecção foi a intervenção inicial em 42 desses pacientes. Debridamento extenso e radical intra-operatório de todo o tecido infectado e necrótico, bem como a remoção de todo o cimento foi enfatizado como importante fator em relação ao resultado. A artroplastia de ressecção definitiva foi o tratamento de escolha em 5 pacientes com ATQ infectadas, e em 2 pacientes com ATJ infectadas. Após a artroplastia de ressecção inicial, 27 quadris e 20 joelhos foram submetidos à 295 reimplantação tardia (procedimento em dois estágios). Espaçadores intra-articulares foram usados em 25 dos 91 pacientes descritos. Para evitar superinfecção bacteriana os espaçadores foram impregnados com medicação antimicrobiana combinada (gentamicina e vancomicina, tobramicina e vancomicina, teicoplanina e anfotericina B, vancomicina e anfotericina B, vancomicina, vancomicina e piperacilina e cefamandole ). A maioria dos casos de sucesso foi tratada com o procedimento de troca em dois estágios.1, 8, 10-26 -Questão 6: Quais são os antifúngicos sistêmicos ideais a serem administrados (tipo e dose) no tratamento da IAP fúngica? Consenso: Agentes bem conhecidos para o tratamento sistêmico incluem os azóis e os derivados da anfotericina administrados via oral ou I.V, por no mínimo 6 semanas. A resistência de certas espécies de Candida para o fluconazol foi descrita na literatura, e assim os testes de sensibilidade devem ser realizados, com o auxílio do microbiologista. Votação dos Delegados: A Favor: 93%; Contra: 5%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Há poucos relatos sobre a administração antifúngica tópica. Antifúngicos tópicos, durante o tratamento cirúrgico, foram utilizados através da impregnação dos espaçadores de cimento, como mencionado acima, ou pela aplicação do pó intra-articular (100 mg de anfotericina B),8, 13 ou ainda por lavagem articular diária (fluconazol 200mg /dia),17, 27 Agentes antifúngicos sistêmicos foram administrados em todos, à exceção de um paciente, sendo que os agentes mais freqüentemente utilizados no tratamento sistêmico foram o fluconazol e a anfotericina B, administrados por via oral ou intravenosa. Além disso, as seguintes drogas foram administradas, em ordem decrescente de frequencia: 5-flucitosina, itraconazol/cetoconazol/voriconazol, e caspofungina e outras equinocandinas. Uma combinação de medicamento antifúngico ou um tratamento antifúngico sequencial com a troca de medicamento esteve presente em cerca de 25 % dos casos relatados.1 , 3, 8,14-17, 21, 22, 27-33 -Questão 7: No tratamento estagiado (2 ou mais) das IAPs fúngicas, quais medicamentos antifúngicos ou antibacterianos devem ser usados no espaçador de cimento? Qual é a dose recomendada? Consenso: A literatura mais recente confirma que os agentes antifúngicos são liberados em quantidades elevadas no local, mas ainda não existem estudos clínicos que comprovem a sua eficácia clínica. O uso da anfotericina B lipossomal, impregnada no cimento ósseo, tem mais de uma ordem de grandeza de liberação que o desoxicolato de anfotericina B convencional. 296 Existem também informações sobre as taxas de liberação controladas para os antifúngicos azólicos, com dados específicos sobre a eluição de voriconazol a partir do cimento ósseo. Deve ser levado em consideração a adição simultânea ao cimento ósseo, de um agente antibacteriano. Votação dos Delegados: A Favor: 94%; Contra: 2%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: Vários estudos têm relatado o sucesso do uso de espaçadores impregnados com drogas antifúngicas no tratamento da IAP fúngica. Embora a liberação destas drogas a partir do cimento ósseo tenha sido comprovada in vitro, há dados limitados a partir de estudos in vivo.3,18,27,29,34 De modo semelhante ao que acontece com as bactérias do biofilme, os fungos em biofilme apresentam maior resistência aos antifungicos, e assim o procedimento cirúrgico que diminua o biofilme e a carga fúngica, é provavelmente o aspecto mais importante do tratamento. Bons resultados têm sido também obtidos sem o uso de métodos de liberação local. Quando o cirurgião decide optar por antifungícos tópicos em complemento à terapia sistêmica, produtos derivados da anfotericina B ou antifúngicos azólicos são indicações razoáveis. Quando o voriconazol é escolhido, a redução da resistência mecânica do cimento deve ser considerada, durante a fabricação dos espaçadores.3,18,27,29, 34-45 -Questão 8: Quais investigações laboratoriais são recomendadas para o monitoramento da IAP fungica e para determinar o momento de reimplantação? Consenso: A dosagem da Proteína C-Reativa e a Velocidade de Hemossedimentação são recomendadas para monitorar a IAP fúngica. Não há nenhuma evidência clara para o momento ideal do reimplante, com base em testes de laboratório. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 8%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: A revisão da literatura atual não detectou nenhum teste de laboratório para monitorar especificamente a IAP fúngica. Assim, os testes laboratoriais geralmente aceitos são os mesmos usados para monitorar a IAP bacteriana.28 O teste de β-1,3, D-glucano sérica para Candida tem sido usado em pesquisas não ortopédicas, e pode ser uma área a ser desenvolvida no futuro, para o monitoramento da eficácia do tratamento da IAP por Candida.46 Punções repetidas antes do reimplante podem auxiliar o cirurgião a determinar o momento correto da reimplantação. 297 -Questão 9: Qual a duração da administração sistêmica do agente antimicrobiano (antifúngico) no tratamento da IAP fúngica? Consenso: A administração sistêmica do agente antimicrobiano (antifúngico) no tratamento da IAP fúngica deve ser iniciada durante a remoção do implante (primeiro estágio) e se manter por pelo menos 6 semanas. Em seguida, deverá ser interrompida antes do reimplante (segundo estágio) tempo este que deverá ser baseado na avaliação clínica e nos exames laboratoriais. Não há dados consistentes para apoiar a administração antifúngica após o reimplante. Votação dos Delegados: A Favor: 85%; Contra: 10%; Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: A avaliação dos casos relatados de IAP fungicas mostra que existe grande variação na duração da administração perioperatória do agente antimicrobiano sistêmico (antifúngico). Para os agentes mais frequentemente administrados, fluconazol e anfotericina B, o seguinte regime tem sido descrito: Fluconazol- Duração entre 3 a 6 semanas ou até 26 semanas antes da reimplantação, e de nenhum tratamento (na maioria dos casos), ou entre 2 a 6 semanas ou mais, após a reimplantação. Anfotericina B: Frequentemente a duração de seis semanas, apenas antes da reimplantação.1 , 3, 16, 18, 21, 22, 27-29, 31-33 , 47 É importante notar que as diretrizes da IDSA no tratamento da candidíase invasiva, recomendam a duração de tratamento de 6 a 12 meses para a osteomielite. Referências: 1. Azzam K, Parvizi J, Jungkind D, et al. 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Nota do Grupo de Trabalho: Este grupo de trabalho reviu a indicação e duração de antibióticos orais para a infecção articular periprotética (IAP) nas seguintes situações: I) IAP aguda (precoce ou tardia) tratadas com debridamento, sem a remoção do implante, e troca de componentes modulares, sempre que os mesmos pudessem ser removidos com segurança. Em geral, essas infecções não requerem antibióticoterapia supressiva (AS). II) Indicações para o uso de AS incluem: a) Os pacientes que recusam tratamento cirúrgico. b) Pacientes que não podem ser tratados cirurgicamente em função do risco elevado, consequente às comorbidades. c) Os pacientes tratados com cirurgia inadequada, tais como: 1. debridamento sem a remoção do implante em IAP crônica tardia ou 2. debridamento sem a remoção do implante em IAP Aguda (precoce ou tardia), sem substituir os componentes modulares. d) Os pacientes submetidos a tratamento cirúrgico adequado para IAP aguda, mas que receberam tratamento com antibióticos de qualidade inferior nas seguintes situações: 1. não receberam rifampicina em IAP causada por Staphylococcus sp, 2. IAP causada por Staphylococcus aureus (MRSA) resistente a meticilina, 3. não receberam fluoroquinolona em infecções por bactérias gram-negativas, e 4. nas IAP fúngicas. e) Os pacientes nos quais se suspeita que a infecção não foi erradicada de acordo com a avaliação clínica, laboratorial, ou os dados de imagem. 301 -Questão 1: Qual é o antibiótico oral ou as combinações antibióticas apropriadas após o tratamento cirúrgico adequado para a IAP aguda (precoce ou tardia) na qual o implante tenha sido mantido? Consenso: Regimes contendo rifampicina, quando possível, devem ser utilizados em IAPs causadas por bactérias Gram+, e as fluoroquinolonas nas causadas por bactérias Gram-. Não há consenso a respeito de quando a rifampicina deve ser iniciada. Votação dos Delegados: A Favor: 87%; Contra: 7%; Abstenção: 6% (Forte Consenso) Justificativas: Na IAP aguda, o debridamento aberto e retenção do implante está associado à uma vasta variação das taxas de sucesso. Uma vez que a decisão de mudar para a terapia oral é feita, uma combinação de antibióticos deve ser utilizada. As razões para esta discrepância incluem: 1) características dos pacientes , 2) técnica cirúrgica, incluindo a troca do inserto de polietileno, e 3) o tipo de antibiótico ou associação de antibióticos administrados, especialmente no primeiro mês após o debridamento.1,2 Existe uma preocupação com o uso da rifampicina durante os primeiros dias de tratamento por via intravenosa, a fim de reduzir o risco de seleção de mutantes resistentes.54 Staphylococcus aureus e staphylococcus coagulase negativa, na maior parte, são melhor tratadas com terapia combinada. Em termos de antibióticoterapia, é necessário analisar os resultados de acordo com o microrganismo isolado. Uma revisão da literatura publicada, na qual estafilococos foi o patógeno principal, incluiu 17 artigos e 525 casos de IAPs tratadas com debridamento aberto e retenção do implante. O estudo demonstrou uma taxa de sucesso entre 14% e 83% com uma taxa média de 48%4 e de apenas 32% em pacientes com artrite reumatoide.5 Uma revisão mais recente da literatura, utilizando o debridamento, antibióticos e a retenção do implante (DARI), mostrou uma taxa de sucesso inferior a 50%.6 É importante salientar que a maioria dos artigos incluídos nestes estudos não usou a rifampicina como parte do tratamento antibiótico. Em contraste, a vancomicina intravenosa ou β-lactâmicos I.V durante as primeiras 4 semanas foram as terapias antibióticas mais comuns. Observações in vitro e modelos experimentais em infecções associadas a implantes, têm demonstrado uma atividade reduzida desses antibióticos contra biofilme bacteriano, e a importância da combinação de antibióticos, preferencialmente com rifampicina.7-12 Zimmerli et al. realizaram um estudo duplo-cego e encontraram que as infecções estafilocócicas agudas em implantes ortopédicos tratadas com debridamento aberto sem remoção do implante, seguido de uma combinação de ciprofloxacina (750 mg/12h) e rifampicina (450 mg/12h), administradas durante 3 meses (para infecções de prótese de quadril e implantes ortopédicos infectados) ou 6 meses (para prótese de joelho infectadas), foi mais eficaz do que a ciprofloxacina sozinha (taxas de cura de 100% e de 53 %, 302 respectivamente, p <0,05, após 35 meses de seguimento). De 2005 até agora, outra série de casos foi publicada, usando combinações de antibióticos com rifampicina, que apóiam a eficácia desta estratégia, especialmente quando a IAP é devida aos germes sensíveis à meticilina e fluoroquinolona (incluindo Staphylococcus aureus e estafilococos coagulasenegativo), e a fase oral da terapia foi feita com rifampicina combinada com fluoroquinolonas, 2,13-22, em que obteve-se taxas de sucesso, em geral, maiores que 70%. A dose de rifampicina variou de 300 mg/8h, 450 mg/12h, 600 mg/24h até 10 mg/Kg/12h. A rifampicina é um antibiótico de concentração dependente e o melhor parâmetro relacionado com a sua atividade farmacodinâmica é a Cmax/mínima- concentração inibitória mínima (CIM). A rifampicina em uma administração monodose de 600 mg é mais fácil de administrar e é bem tolerada, e também pode resultar em maior Cmax/CIM do que a cada 12h. Além disso, a rifampicina serve para erradicar biofilmes e uma vez que o tempo de proliferação das bactérias do biofilme é significativamente maior do que sua contrapartida planctônica,23 por conseguinte, a administração de rifampicina uma vez por dia, como para infecções por Mycobacterium tuberculosis, parece razoável. Ciprofloxacina e levofloxacina são as fluorquinolonas mais amplamente utilizadas. A experiência com a ciprofloxacina é maior, no entanto, a levofloxacina tem maior biodisponibilidade via oral e é mais ativa contra estafilococos. A moxifloxacina é mais ativa do que a levofloxacina para estafilococos, mas a rifampicina, reduz significativamente a concentração sérica de moxifloxacina.24 A rifampicina também reduz a concentração sérica de clindamicina,25 cotrimoxazol,26 e linezolida,27 portanto, é necessário um acompanhamento atento quando essas combinações são usadas. A experiência clínica quando as IAPs são causadas por cepas resistentes à meticilina é escassa, mas a informação disponível sugere que o desfecho, para infecções por Staphylococcus coagulase negativo resistente a meticilina, está associado a bons resultados quando combinações com rifampicina são usadas.28 Em contraste, a experiência com MRSA tem mostrado uma alta taxa de insucesso;15,29-31 no entanto, a maioria destes pacientes foi tratada com vancomicina intravenosa. Há alguma experiência clínica com o uso da linezolida, associada ou não à rifampicina, em pacientes com IAP aguda causada por MRSA, tratados com debridamento e retenção do implante, com uma taxa de sucesso média em torno de 60%. 32-37 A toxicidade associada com a linezolida limita sua administração por períodos maiores que 4-6 semanas, e na sua manutenção, os níveis séricos devem ser monitorizados.38 A rifampicina combinada com o ácido fusídico ou o cotrimoxazol alcançou uma taxa de sucesso de 67% 39 e 60%,40 respectivamente. Realmente, os recentes dados in vitro mostram que as combinações de antibióticos orais, incluindo a linezolida, ácido fusídico, rifampicina, ou minociclina usando 303 concentrações semelhantes às concentrações séricas,41 têm uma boa atividade contra os biofilmes de S. aureus in vitro, no entanto, mais experiência clínica é necessária. A IAP devido aos estreptococos sensíveis à penicilina tratadas com penicilina I.V ou ampicilina tem sido associada a altas taxas de sucesso.42 Neste artigo, apenas 2 dos 19 pacientes falharam, mas ambos tinham IAP devido ao estreptococos do grupo B (n = 7, taxa de falha de 28,5 %). Em contraste um estudo recente, que analisou retrospectivamente 31 IAPs estreptocócicas tratadas com DAIR, descreveu uma taxa de insucesso de 67%, que era semelhante à do restante dos casos de IAPs, nos quais a taxa de insucesso foi de 71%,43 no entanto, os detalhes sobre a terapia antibiótica não foram descritos. Informações clínicas de IAP causadas por enterococos são limitados a um artigo, que descreveu uma taxa de sucesso de 80%, utilizando o debridamento, e a retenção do implante e ampicilina I.V, com ou sem gentamicina.44 A taxa de sucesso foi semelhante nos grupos de monoterapia ou nos de terapia combinada, mas a nefrotoxicidade foi significativamente maior entre aqueles que receberam aminoglicosídeos. A experiência com antibióticos orais é escassa nas IAPs por estreptococos e enterococos, mas é razoável usar um agente β-lactâmico de elevada biodisponibilidade oral (amoxicilina para enterococos), ao qual pode-se adicionar a rifampicina, uma vez que esta é ativa contra estreptococos. Na verdade, recentes estudos in vitro mostraram que a linezolida ou ciprofloxacina combinados com a rifampicina apresentaram melhor atividade contra biofilmes de enterococos do que a ampicilina ou ampicilina associada à rifampicina,45 portanto, essas combinações são alternativas potenciais. A evidência a cerca de IAPs causadas por organismos Gram- é escassa, mas a informação disponível sugere que, quando fluoroquinolonas (oral ou intravenosa) são parte do tratamento antibiótico, a taxa de sucesso é superior a 80%.46,47 No geral, a AS não é um tratamento extremamente bem sucedido para a IAP. Em resumo, o regime antibiótico selecionado após o debridamento está associado com o controle da infecção. Os dados clínicos de estudos observacionais sugerem que regimes contendo rifampicina em IAP causada por Gram+ e fluoroquinolonas em IAP causada por Gram-, estão associados com taxas de sucesso aceitáveis. As informações clínicas são escassas sobre outros regimes de antibióticos para bactérias resistentes, ou quando o paciente é alérgico ou desenvolve eventos adversos. Alguns dados clínicos com linezolida,19,33-36 cotrimoxazol,40 e moxifloxacina,48 como monoterapia para a IAP estafilocócica, têm mostrado resultados relativamente bons. Às vezes, o uso de rifampicina não é viável, como por exemplo nas interações medicamentosas. 304 -Questão 2: Qual deve ser a duração do tratamento com antibióticos em IAP aguda, tratada com debridamento e retenção do implante? Consenso: A duração do tratamento oral e intravenoso é uma questão que permanece não resolvida e não há ensaios clínicos comparando diferentes durações do tratamento antibiótico. Votação dos Delegados: A Favor: 85%; Contra: 11%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativas: A experiência clínica com osteomielite, incluindo infecções com implantes ortopédicos, demonstrou que a terapia oral ou a mudança precoce para a terapia oral é tão eficaz quanto o tratamento I.V.49-51 A maioria dos autores consideram necessárias 2 a 6 semanas de tratamento I.V específico, seguido de três meses de antibióticos orais também específicos na artroplastia total do quadril, e de 6 meses na artroplastia total do joelho.27,52,53 Levando em conta a alta biodisponibilidade (> 90%) de antibióticos orais, tais como rifampicina, fluoroquinolonas, cotrimoxazol, tetraciclinas, ácido fusídico, clindamicina, ou da linezolida, e a fraca atividade contra os biofilmes bacterianos dos antibióticos I.V mais frequentemente utilizados, tais como β-lactâmicos ou glicopéptidos,9,54 é razoável recomendar um período I.V restrito aos primeiros 5 a 10 dias, a fim de reduzir a inoculação bacteriana nos tecidos periprotéticos. Uma mudança precoce para a terapia via oral utilizando agentes antibiofilme potentes, com elevada biodisponibilidade oral, é recomendada. Este regime permite a alta hospitalar do paciente e evita problemas associados com cateteres I.V. A antibioticoterapia com duração total de 3 ou 6 meses baseia-se na experiência clínica,15,18-20 e outra grande série que utilizou uma duração média da terapia oral de 1,5 anos.15 Em ambos os casos, a taxa de sucesso foi > 70 %. Outros autores, utilizando uma duração significativamente menor de regimes de antibióticos (em geral ≤ 3 meses) também têm mostrado taxas de sucesso > 70%. 34,23 Estes dados sugerem que mais de 3 meses de tratamento não melhoram o resultado da IAP aguda tratada com debridamento e retenção do implante. Em um recente ECR, pacientes com IAP aguda precoce causada por estafilococos receberam 6 semanas (n= 22), ou 12 semanas (n= 17) de levofloxacina mais rifampicina (apresentado na Conferência de Interciência sobre Agentes Antimicrobianos e Quimioterapia, Denver 2013, por Lora - Tamayo) e nenhuma diferença na taxa de insucesso, após um ano de acompanhamento, foi observada. A Proteína C-reativa (CRP) não foi um preditor preciso do resultado dos pacientes após o desbridamento.55 Assim, o exame físico e os sintomas clínicos devem orientar a duração do tratamento com o antibiótico. De acordo com a literatura quando um regime de antibióticos, durante o primeiro mês após debridamento, inclui a rifampicina para infecção por bactérias Gram+1,14-23 ou uma fluoroquinolona para infecção por Gram-,46,47 durante 3 meses, ele está 305 associado a bons resultados3, 23,47 e alguns dados preliminares sugerem que mesmo um período ainda mais curto pode ser adequado. No entanto, são necessárias mais informações para confirmar este resultado. -Questão 3: Qual é o papel da associação de antibióticos no tratamento de IAP, que foi submetida à procedimentos cirúrgicos inadequados? Consenso: Nós não recomendamos a administração de antibióticos e debridamento aberto isolado, sem a remoção do implante na IAP crônica. Votação dos Delegados: A Favor: 84%; Contra: 14%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: A antibióticoterapia supressiva (AS) é definida como a utilização de antibióticos por via oral para a prevenção da recorrência dos sintomas e falha funcional em pacientes, nos quais os implantes foram mantidos. O tratamento com antibiótico isolado em IAP está associada a elevada taxa de fracasso.56 A taxa de insucesso é notadamente maior quando a IAP preenche os critérios de infecção crônica, mesmo quando estes pacientes são submetidos ao debridamento aberto sem a remoção do implante.14,57 No entanto, não existe nenhuma outra alternativa quando: a) Os pacientes recusam o tratamento cirúrgico; b) Os pacientes não podem ser tratados cirurgicamente devido aos elevados riscos cirúrgicos, decorrentes de morbidades associadas; c) Os pacientes foram submetidos a procedimentos cirúrgicos inadequados, tais como: 1) o debridamento, sem a remoção do implante em IAP crônica tardia, ou 2) debridamento sem a remoção do implante em IAP precoce ou tardia, sem que os implantes modulares de polietileno fossem trocados; d) Os pacientes apresentam IAP que não foi erradicada, de acordo com a avaliação clínica, laboratorial, ou exames de imagem; e) Os pacientes terão perda funcional importante com a remoção da prótese. Nestes casos, é altamente recomendável identificar o micro-organismo, antes de iniciar qualquer regime de antibióticos. Levando-se em conta a baixa probabilidade de erradicação da infecção e limitada experiência clínica, os autores recomendam antibioticoterapia em duas fases distintas: 1) Fase de indução da remissão e 2) a Fase de supressão crônica. A 306 recomendação inicial é a de iniciar uma potente antibioticoterapia via oral ou I.V mediante a combinação de antibióticos, cujos exemplos estão listados na Tabela da página seguinte, que inclui a rifampicina em casos de infecção por bactérias Gram+ ou as fluoroquinolonas em casos de infecção por organismos Gram-, sempre que possível. A primeira fase da antibioticoterapia deve ser mantida até que os sinais clínicos de infecção desapareçam e os parâmetros inflamatórios sistêmicos (por exemplo, a PCR e a VHS) melhorem, por pelo menos, 3 meses. Após este período, a AS por monoterapia antibiótica oral deve ser iniciada, mediante o uso de antibióticos com um bom perfil de segurança e elevada biodisponibilidade oral. -Questão 4: Quanto tempo a antibioticoterapia supressiva deve ser mantida? Consenso: Não há consenso sobre o tempo que os pacientes devem receber a AS, contudo há um consenso de que o tratamento deve ser individualizado. Votação dos Delegados: A Favor: 94%; Contra: 4%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: A terapia supressiva ideal deve ser administrada para o resto da vida do paciente. Não existe experiência clínica sobre as conseqüências da interrupção da AS no risco de recaída ou disseminação da infecção e sepsis secundária. No entanto, as experiências com a osteomielite crônica sugere que estas infecções são, em geral, localizadas. O tempo médio de AS oral foi de aproximadamente 23 meses, quando vários estudos foram comparados. Existem alguns estudos publicados que usaram supressão oral por um período entre 4 e 100 meses, em pacientes com IAP crônica,58-61 com taxas de sucesso > 60% após seguimento por período prolongado. No entanto, outros autores não observaram resultados similares e relataram uma alta taxa de eventos adversos associados à antibioticoterapia crônica. -Questão 5: Quais antibióticos podem ser úteis para o tratamento supressivo, com base no tipo de organismo infectante? Consenso: Não há consenso sobre os antibióticos apropriados para a terapia de supressão. O antibiótico deve ser escolhido de acordo com o padrão de sensibilidade do microrganismo isolado, de preferência obtido a partir de amostras profundas, por punção aspirativa ou debridamento cirúrgico. A lista de potenciais antibióticos e respectivas dosagens é fornecida na página seguinte. Votação dos Delegados: A Favor: 97%; Contra: 3%; 307 Abstenção: 0% (Forte Consenso) A Tabela abaixo apresenta os principais antibióticos orais para o tratamento de infecção articular periprotética (IAP). Antibiótico Penicilina V Amoxicillina Amoxicillina-clavulanato Cloxacillina Cefalexina Cefadroxila Ciprofloxacina Levofloxacina Clindamicina BD (%) 60 80 75* 50-70 >90 >90 75 >95 Dose Oral 0.5-1 g/6-8h 1 g/8h 875-125 mg/8h 0.5-1 g/4-6h 0.5-1 g/6-8h 0.5-1 g/8-12h 500-750 mg/12h 500-750 mg/24h 90 300 mg/8h 90** 10-20 mg/kg/2412h Doxiciclina Minociclina 95 95 100 mg/12h 100 mg/12h Cotrimoxazol (trimetoprim/sulfametoxazol) 90/90 160/800 mg/812h Linezolida 100 600 mg/12h Ácido Fusídico **** Fluconazol 90 0.5-1 g/8-12h >90 400 mg/24h Rifampicina*** Efeitos Adversos Erupção cutânea. Reações anafiláticas. Diarréia associada ao Clostridium difficile. Toxicidade hepática. Tendinite/ rupturas tendão de Aquiles, Neuropatia irreversível. Diarréia associada ao Clostridium difficile, Sintomas Gastrointestinais.. Diarréia associada ao Clostridium difficile, Toxidade hepática, Erupções cutâneas, Sintomas gastrointestinais. Hiperpigmentação cutânea. Toxidade hepática Hematológicos (leucopenia, anemia). Erupções cutâneas. Evitar com cumarínicos. Hematológicos (trombocitopenia, anemia). Evitar com antidepressivos tricíclicos Toxidade hepática Toxidade hepática. Inibe CYP3A4. BD = biodisponibilidade. * Referente ao clavulanato . ** Quando tomado com o estômago vazio. terapia combinada . **** Não disponível nos Estados Unidos . 308 *** Sempre use em Referências: 1. Lora-Tamayo J, Murillo O, Iribarren JA, et al. A large multicenter study of methicillinsusceptible and methicillin-resistant Staphylococcus aureus prosthetic joint infections managed with implant retention. Clin Infect Dis. 2012;56(2):182-194. 2. Silva M, Tharani R, Schmalzried TP. Results of direct exchange or debridement of the infected total knee arthroplasty. 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Para opiniões mais detalhadas e/ou alternativas de conceitos específicos, consulte os outros temas indicados abaixo: Fatores de risco para infecção Tema 1: Mitigação e Educação Procedimentos diagnósticos Tema 7: Diagnóstico de Infecção Articular Periprotética -Questão 1: Qual a definição para infecção articular periprotética (IAP) tardia? Consenso: IAP tardia pode ser definida como aquela que se desenvolve após um intervalo variável de tempo após o procedimento original de artroplastia primária. A IAP tardia ocorre após um procedimento primário, inicialmente bem sucedido, sem sinais clínicos ou 313 radiográficos de IAP. Os fatores de risco para a IAP tardia são semelhantes aos descritos para IAP (Tema 1). Votação dos Delegados: A Favor: 56%; Contra: 39%; Abstenção: 5% (Sem Consenso) Justificativa: A definição de IAP tardia é varíavel na literatura. A maioria dos membros do consenso acham que qualquer infecção que aconteça após um ano, deva ser considerada tardia. Coventry et.al. definiram os estágios da IAP, onde o Estagio I é uma infecção aguda que ocorreu dentro de 3 meses do procedimento primário, Estágio II: uma infecção tardia, que ocorreu entre 3 meses a 2 anos após o procedimento original em que não houve intervalo livre de dor, e Estágio III: infecções hematogênicas, em que houve um estágio livre de dor 1. Gavin e Hanssen definiram IAP crônica tardia como aquela que ocorreu quatro semanas após o procedimento primário, com um início clínico insidioso.2 McPherson et. al. definiram infecção crônica como sendo aquela que apresenta sintomas por 4 semanas ou mais.3 Na Suécia, uma IAP tardia é definida como aquela que ocorre 2 anos após o procedimento primário. Devido à enorme variação de prazos e intervalos, não encontramos consenso sobre a definição de um prazo para a IAP tardia. No entanto, IAP tardia foi classificada aqui, como IAP hematogênica, onde havia um período assintomático, seguido por sinais clínicos e/ou radiográficos de infecção. O grupo de trabalho considera a IAP tardia como uma consequência de bacteremia em um momento posterior, e deve ser distinguido de infecções que surgem como resultado de contaminação intra-operatória. Os fatores de risco da IAP tardia são similares àqueles descritos no Tema 1 (Favor referir-se à questão 1 do Grupo de trabalho 1: Mitigação e Educação). -Questão 2: Quais procedimentos diagnósticos devem ser realizados na suspeita de IAP tardia? Consenso: A pesquisa diagnóstica de pacientes com dor articular e suspeita de IAP (tardia) deve seguir o algoritmo apresentado no Tema 7. Votação dos Delegados: A Favor: 89%; Contra: 9%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativa: A IAP tardia pode apresentar-se como um quadro doloroso, que pode não ser óbvio em todos os casos. Para o diagnóstico pré-operatório de IAP tardia, uma abordagem sistemática para avaliação destes pacientes deve ser considerada. Este grupo de trabalho propõe o seguinte procedimento para pacientes com suspeita de IAP tardia. A investigação diagnóstica inicia-se por testes laboratoriais, seguido por aspiração da articulação, em 314 pacientes sem antibióticos por duas semanas caso a sorologia seja anormal, ou para pacientes com alto índice de suspeita para IAP. O teste sorológico deve incluir a VHS e a PCR. Uma VHS>30mm/hora e PCR>13.5mg/dL são sugestivos de IAP afetando uma artroplastia total de quadril (ATQ), e uma VHS>46,5 mm/hora e PCR>23,5 mg/dL são sugestivos de IAP em artroplastia total do joelho (ATJ)21. Uma amostra de fluido sinovial deve ser retirada da articulação antes de iniciar os antibióticos, ou quando o paciente estiver sem antibióticos por 2 semanas. O diagnóstico de IAP tardia deve basear-se em contagens de leucócitos no fluido sinovial, acima de 3.000 células/µl, com uma contagem diferencial de neutrófilos superior a 80%. Em caso de manifestação sistêmica, hemoculturas devem ser consideradas. Procedimentos de medicina nuclear podem ser utilizadas como adjuvantes para o diagnóstico de IAP tardia.6-18 Biópsia de tecidos periprotéticos pode ser realizada preoperatoriamente para se obter um diagnóstico. Para o diagnóstico intra-operatório de IAP, a cultura microbiológica ainda é o padrãoouro. Recomendamos que no mínimo três amostras de tecido sejam obtidas19. Histologia deve ser considerada como parte dos critérios de diagnóstico.20 Coloração pela técnica de Gram não deve ser utilizada para diagnosticar IAPs tardias21. Métodos diagnósticos adicionais, incluindo sonicação de implantes, a reação em cadeia de polimerase (PCR), reação em cadeia de polimerase de transcriptase reversa (TR-PCR), espectrometria de massa, a técnica de microarranjo e hibridização por fluorescência in situ, se disponíveis, podem ajudar a determinar o organismo presente, especialmente em pacientes com cultura negativa. Os explantes devem ser transportados em condições de baixo teor de oxigênio para o laboratório de microbiologia, onde devem ser processados imediatamente. A interpretação das culturas nas IAPs tardias é a mesma das IAPs precoces. Vários estudos determinaram que os marcadores inflamatórios, como a VHS e a PCR são altamente sensíveis para a detecção de IAPs.22-25 A PCR é um teste mais específico do que a VHS, embora ambos possam estar elevados na presença de outros processos infecciosos / inflamatórios. Há também alguma evidência de que a IL-6 sérica possa ser útil no diagnóstico de IAP.5-26 O líquido sinovial pode ser analisado para vários marcadores, com o objetivo de determinar a presença da IAP tardia. O método mais comum é contagem total e diferencial de leucócitos (% neutrófilos). Além disso, o líquido sinovial pode ser testado por cultura, PCR, esterase leucocitária, e outros marcadores moleculares. Os valores de referência para a contagem total e diferencial de leucócitos no líquido sinovial tem variado historicamente. Um estudo conduzido por Kersey et al determinou limites para descartar infecção e demonstrou que uma contagem de leucócitos menor do que 2.000 células/µl, sendo menos de 50% de 315 neutrófilos, teve um valor preditivo negativo de 98%.27 Mason et al conduziram um dos primeiros estudos para determinar um valor limite sugestivo de IAP em pacientes submetidos a ATJ. Eles determinaram que uma contagem total de leucócitos superior a 2.500 células/µl e diferencial superior a 60% de neutrófilos foi sugestiva de infecção28. Um estudo que avaliou revisões de ATJ determinou que a contagem total de leucócitos superior a 1.700 células/µl, e diferencial de neutrófilos superior a 65%, foram altamente sensíveis e específicos para IAP.29 Para a revisão da ATJ, uma contagem total de leucócitos superior a 3.000 células/µl, com VHS e PCR elevadas, teve 100% de sensibilidade, 98% de especificidade e 99% de precisão.30 No cenário de revisão de ATQ por infecção, mais do que 3.000 leucócitos/µl, proporcionou a maior combinação de sensibilidade, especificidade e valor preditivo positivo e negativo em pacientes com VHS e PCR elevados23,31,32. A PCR é um marcador inflamatório geralmente medida no soro, mas também pode ser encontrado no fluido sinovial. Estudos recentes avaliaram o papel de marcadores moleculares sinoviais para o diagnóstico de IAP.5,33 O teste da esterase leucocitária, que é tradicionalmente usado para a detecção de bactérias na urina, foi considerado 80,6% sensível e 100% específico para a detecção de infecção nas articulações protéticas.34 Esses valores também se correlacionam com elevados leucócitos polimorfonucleares, contagem total de leucócitos, VHS e PCR. Alguns outros marcadores que foram encontrados elevados no líquido sinovial em pacientes com IAP incluem IL-6, interleucina-8, α2-macroglobulina, PCR, e fator de crescimento endotelial vascular. Estudos demonstraram que a medição da PCR no líquido sinovial, utilizando um ensaio múltiplo, é um marcador mais sensível do que o PCR sérico (84% vs 76%)5,33. O diagnóstico da IAP tardia pode ser confundido nos casos de cultura negativa. Estender o período de incubação da cultura (7-14 dias) pode ajudar a minimizar esta situação. Num estudo, a taxa de detecção de organismos infectantes depois de 7 dias de incubação foi de 73,6% e isto aumentou significativamente quando as culturas foram incubadas durante 13 dias. Além disso, se o aspirado de líquido sinovial fornece um resultado de cultura negativo, a realização de uma biópsia sinovial, em lugar do aspirado articular, leva a uma sensibilidade de 82% e uma especificidade de 98%.52 Métodos diagnósticos avançados também podem ser empregados para identificar microorganismos responsáveis pela infecção.37 A utilização de sonicação/ultra-som para remoção de bactéria de explantes, aumenta a sensibilidade de detecção de bactérias (sensibilidade de 60,8% com a cultura de tecidos e 78,5% de sensibilidade com a cultura de fluido submetido a sonicação/ultra-som), porém ambos os testes apresentam especificidades semelhantes.38 Além 316 disso, havia 14 pacientes nos quais foram detectadas bactérias infectantes na cultura de fluido submetido a sonicação/ultra-som, que não foram identificados na cultura de tecidos. Outros métodos diagnósticos avançados podem ser usados para amplificar a bactéria que está presente no interior do tecido ou a partir de amostras sonicadas. A PCR39-42 amplifica o DNA da bactéria existente, enquanto que a TR-PCR43,44 amplifica o RNA. Isto aumenta a sensibilidade de detecção, se houver uma pequena quantidade de bactérias presentes.45 -Questão 3: O tipo, dosagem e duração da anticoagulação profilática, tem influência na incidência de ISC/IAP, após a substituição articular protética total (SAPT)? Consenso: Sim. O tipo, a dose e a duração da anticoagulação profilatica influencia a incidência da ISC/IAP após a SAPT. Votação dos Delegados: A Favor: 76%; Contra: 9%; Abstenção: 15% (Forte Consenso) Justificativa: Vários estudos de alto nível de evidencia compararam diferentes métodos de anticoagulação para profilaxia após a SAPT. A maioria dos estudos concluiu que não houve diferenças entre os diversos métodos de anticoagulação e a ocorrências de ISC, ou parâmetros associados a infecções cirúrgicas (por exemplo, infecção da ferida operatória, deiscência da ferida e infecção de hematoma). No entanto, poucos destes estudos apresentaram força estatística para detecção de diferenças entre tipos de ISC, e foram conduzidos, principalmente, para a avaliação da eficácia do anticoagulante. Quanto mais eficaz é o agente anticoagulante, mais provavelmente o paciente desenvolverá hematoma ou feridas secretantes, ambas as quais estão associadas com a ISC. O risco destas reações adversas pode estar associado ao tipo, dose e tempo de administração da anticoagulação. Uma extensa revisão da literatura foi realizada para identificar estudos que avaliaram a formação de hematoma, feridas secretantes, ISC, e/ou IAP com a administração da anticoagulação. Existe uma grande variabilidade na incidência de eventos adversos subsequentes em todos estes estudos. Alguns estudos mostram que não houve diferença na incidência de formação de hematoma, quando foram utilizados dextrana-70, warfarina (15mg de ataque e 5mg durante as 3 semanas subsequentes), e heparina em baixa dosagem (5000 UI duas vezes por dia) durante três semanas.46 Outro estudo não encontrou diferença na incidência de infecções profundas quando a aspirina, varfarina, ou anticoagulante injetável foram utilizados.47 As doses de profiláticos injetáveis e a duração da administração 317 foram variáveis neste último estudo. Outro estudo comparando a enoxaparina com a compressão pneumática intermitente controlada (meias de compressão graduada) não encontrou diferença na incidência de infecções superficiais.48 Em um estudo, a administração precoce de heparina de baixo peso molecular (HBPM) não demonstrou qualquer correlação com a ISC, quando comparada com um grupo controle de pacientes não infectados.49 Por outro lado, a anticoagulação que resulta em um INR superior a 1,5 apresenta maior probabilidade de desenvolver problemas relacionados às feridas, os quais estão associados a maior probabilidade de evoluir com infecção. Todos os pacientes receberam profilaxia da trombose venosa profunda com varfarina durante 6 semanas.50 Outro estudo mostrou que a administração de HBPM resultou em uma alta incidência de formação de hematoma e retorno à sala de cirurgia.51 Uma consideração no que diz respeito à dosagem da anticoagulação é a capacidade de reverter os efeitos destes agentes. Drogas tais como a varfarina podem ser revertidas com a vitamina-K, e a HBPM pode ser revertida com a protamina. Infelizmente, não há agentes diretos para reverter fondaparinux, a rivaroxabana, ou dabigatran, sendo o Fator VII a droga mais próxima deste efeito para uso durante o sangramento excessivo. -Questão 4: Pacientes portadores de implantes articulares protéticos devem receber profilaxia antibiótica rotineira para procedimentos dentários? Consenso: A utilização de profilaxia antibiótica dentária, em pacientes portadores de implantes articulares protéticos, deve ser individualizada com base em fatores de risco do paciente e a complexidade do procedimento dentário a ser executado. Votação dos Delegados: A Favor: 81%; Contra: 16%; Abstenção: 3% (Forte Consenso) Justificativas: Com base na literatura disponível, na qual não há consenso, a bacteremia importante pode ocorrer após procedimentos odontológicos, e assim o uso da profilaxia antibiótica antes destes procedimentos pode reduzir a carga de bactérias. Além disso, a maioria das IAPs ocorre nos primeiros dois anos após a cirurgia52-54. Um estudo demonstrou que o uso de profilaxia com antibióticos não reduz o risco de infecção, independentemente do procedimento dentário realizado num período de 2 anos.55 Procedimentos dentários podem não estar associados ao desenvolvimento de IAPs.56 No entanto, diversos estudos demonstram que há um aumento da bacteremia após procedimentos dentários, com a incidência de bacteremia, nesta situação, variando entre 5% e 65%.57-77,78-98 Assim, podemos concluir que o uso de profilaxia antibiótica para procedimentos odontológicos após artroplastias justifica-se 318 com o objetivo de reduzir o risco de bacteremia e assim o risco de desenvolver IAP nos primeiros dois anos após a SAPT. Consenso: Recomendamos que os pacientes portadores de SAPT, de alto risco para infecção, sempre recebam profilaxia antibiótica prévia aos procedimentos dentários. Justificativas: Os fatores de risco para IAP após procedimentos odontológicos são pacientedependentes, e o risco de infecção é maior em pacientes que recebem tratamento dentário. A literatura ortopédica e odontológica relatam grupos de pacientes que estão em maior risco de desenvolver uma IAP após procedimentos odontológicos e que podem se beneficiar do uso de profilaxia antibiótica. Os pacientes que podem receber os maiores benefícios incluem aqueles com: • artropatias inflamatórias (por exemplo, artrite reumatóide).53,99-101 • imunossupressão (induzida por drogas ou irradiação, incluindo oncologia ou pacientes transplantados, e pacientes com HIV).102,103 • diabetes insulino-dependente.103 • infecção sistêmica grave.104 • hemofilia.105 • nos fatores abaixo o prestador de cuidados dentários deve determinar o risco: o Escore e índice gengivais elevados.72,106,107 o Escore e índice de placa elevados72,106,108 o Sondagem profunda da gengiva72,106 o Periodontite.72 Consenso: Recomendamos que o antibiótico oral seja administrado nas seguintes dosagens, em apenas uma tomada, prévia aos procedimentos odontológicos. Justificativas: Uso de antibióticos orais pode reduzir a carga de bactérias que são liberadas durante procedimentos odontológicos. Os seguintes antibióticos orais são recomendados como profilaxia antes de procedimentos dentários: • Amoxicilina 2 g, uma hora antes do procedimento. 81,109-114 • Azitromicina 500mg, de 30 minutos a 1 hora antes do procedimento115 • Cefaclor 1g, 1 hora antes do procedimento.115 319 • Cefalexina 2g, 30 minutos a 1 hora antes do procedimento.116 • Clindamicina 600 mg, 1-1.5 horas antes do procedimento. 109,115,117,118 • Eritromicina 1,5 g, 1-1.5 horas antes do procedimento.119,120 • Moxifloxacina 400 mg, 1-2 horas antes do procedimento.109 • Penicilina 2g, uma hora antes do procedimento. 62,113,121,122 Consenso: Recomendamos que um dos seguintes antibióticos I.V, ou intramusculares, seja usado nas seguintes dosagens, em apenas uma aplicação prévia aos procedimentos odontológicos. Justificativa: Usar antibióticos I.V pode reduzir a carga de bactérias que são liberadas durante procedimentos odontológicos. Os seguintes antibióticos I.V são recomendados como profilaxia antes de procedimentos dentários: • Ampicilina 2g, 30 minutos a 1 hora antes do procedimento • Cefazolina 1g, 30 minutos a 1 hora antes do procedimento.115 • Cefuroxima 1,5g, 10 minutos antes do procedimento.123 • Ceftriaxona 1 g, 30 minutos a 1 hora antes do procedimento115 • Teicoplanina 400 mg, imediatamente antes do procedimento.111,124 -Questão 5: A profilaxia antibiótica deve ser administrada durante enfermidades virais em pacientes de alto risco para IAP tardia? Consenso: Não se justifica a administração de antibióticos orais em pacientes com artroplastias totais, que desenvolvem doenças virais. Votação dos Delegados: A Favor: 98%; Contra: 2%; Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativa: Os pacientes com fatores de risco para infecções bacterianas tardias, tais como aqueles submetidos a um procedimento invasivo que produza bacteremia, podem se beneficiar da administração de antibióticos profiláticos. No entanto, os antibióticos preventivos para doenças tais como infecções virais, só contribuem para o surgimento de organismos resistentes aos antibióticos e devem ser evitados na prática clínica. 320 Pacientes com fatores de risco para infecções bacterianas tardias são aqueles que são suscetíveis à infecção. Estes fatores de risco incluem, mas não estão limitados ao seguintes: • Immunocomprometimento ou imunossupressão (induzida por drogas, por radiação, diabetes, hepatite, HIV, neoplasia) 125-127 • hábitos sociais (tabagismo e etilismo)126-128 e artrite inflamatória128,129 • Obesidade 126,129-131 • Desnutrição 126 • infecção articular prévia (sem uso de antibióticos para supressão). Muitas vezes, os antibióticos são desnecessariamente prescritos, especialmente em condições tais como a rinossinusite.132 Um estudo demonstrou que os antibióticos só foram prescritos de forma justificada em 13,5% dos casos de infecção das vias respiratórias superiores.133 Finalmente, o uso de antibióticos para condições tais como infecções virais, pode resultar em aumento da resistência aos antibióticos. Isto reduz a eficácia do tratamento para IAPs potenciais. -Questão 6: A bacteremia transitória pode ser minimizada durante procedimentos endoscópicos, como as colonoscopias, para evitar a IAP tardia? Consenso: Os efeitos da bacteremia transitória podem ser minimizados durante procedimentos cirúrgicos menores, através da administração de antibióticos profiláticos para pacientes selecionados, especialmente para pacientes de alto risco. Votação dos Delegados: A Favor: 85%; Contra: 13%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: A bacteremia transitória pode resultar de procedimentos gastrintestinais (GI) e genitourinários (GU), e esta carga bacteriana pode ser diminuída pela administração de antibióticos profiláticos. No entanto, as sociedades GI não recomendam antibióticos profiláticos para pequenos procedimentos cirúrgicos, tais como endoscopias digestivas altas (EDA), sigmoidoscopias ou colonoscopias, enquanto as sociedades GU são divergentes em suas posições sobre a profilaxia antibiótica. Procedimentos gastrointestinais, tais como endoscopia digestiva alta, sigmoidoscopia ou colonoscopia podem produzir bacteremia transitória. Estudos na literatura demonstraram resultados mistos, mas predominantemente apoiam a idéia de que os procedimentos GI resultam em aumento da bacteremia. A administração profilática de antibióticos antes desses 321 procedimentos pode diminuir a bacteremia transitória, especialmente em pacientes de alto risco. Um dos primeiros estudos publicados relatou que havia bacteremia transitória quando sigmoidoscopias rígidas foram realizadas, através de exames de hemoculturas realizadas 5, 10, 15, e 30 minutos após o procedimento.135 Três estudos mais antigos avaliando a bacteremia em colonoscopias, considerou a carga de bactérias no sangue muito baixa, exceto em pacientes imunodeprimidos, como os portadores de doença hepática grave ou carcinomatose.136-138 Durante o mesmo período, outros estudos demonstraram até 15% de bacteremia após colonoscopias.139,140 Chamamos atenção que estes estudos variaram com relação aos momentos em que as amostras de sangue foram coletadas, e nem todos os estudos coletaram sangue no pico de bacteremia (5 minutos após o final do procedimento). Posteriormente, um estudo por Kumar et al. demonstrou que havia bacteremia limitada em colonoscopias realizadas em pacientes de baixo risco, mesmo quando foram realizados polipectomias ou biópsias.141 Isto também foi observado nas proctosigmoidoscopias.142 Com base nesses estudos, as sociedades endoscópico-gastrintestinais, tais como a Sociedade Americana de Endoscopia Gastrointestinal e a Sociedade Americana de Cirurgiões de Cólon e Reto, não recomendam o uso de antibióticos profiláticos antes de colonoscopias e outras endoscopias GI baixas.143,144 Em uma enquete entre os diretores de programas de doenças infecciosas, 50% dos diretores afirmaram que não dariam antibióticos profiláticos antes de colonoscopias e polipectomias.145 Entretanto, outros estudos demonstraram que existe um aumento da bacteremia a partir da colonoscopia (10%), e a maior elevação da taxa de bacteremia veio da colangiopancreatografia endoscópica retrograda (39%).146 Em um artigo de revisão, Nelson147 alertou que a bacteremia pós-procedimento difere, dependendo do tipo de procedimento, variando de 0,5% para sigmoidoscopias flexíveis, 2,2% para colonoscopias, 4,2% para esofagogastroduodenoscopias, 8,9% para a ligadura de varicosidades, 11% para colangiopancreato-grafia retrógrada endoscópica, 15,4% para a escleroterapia de varizes, até 22,8% para a dilatação do esôfago. A bacteremia pode também resultar de fontes exógenas, tais como o equipamento a ser utilizado no procedimento. Uma revisão sistemática avaliou a endoscopia GI e descobriu que salmonella, micobacterias e pseudomonas são organismos comumente transmitidos por esses procedimentos148. Outra revisão sistemática demonstrou que a esofagogastroduodenoscopia também pode ser responsável pela transmissão de organismos agressivos, tais como o HIV, salmonella, Pseudomonas, Helicobacter pylori, e hepatite.149 Na literatura ortopédica, houve alguns relatos de IAPs manifestadas após procedimentos gastrointestinais. Um relato de caso descreveu um paciente que desenvolveu uma IAP por 322 Listeria monocytogenes após uma colonoscopia de rotina, sem receber antibióticos profiláticos.150 Um estudo relatou uma taxa de infecção de 1,9% em articulações protéticas151 e, outro relatou que um paciente com ATJ e cirrose, de um total de 16 pacientes, desenvolveu uma infecção grave após um procedimento endoscópico.152 Coelho-Prabhu et al. relataram que existe um risco aumentado de IAP associado à esofagogastroduodenoscopia realizada com biópsias.153 Deste modo, a profilaxia com antibióticos pode ser administrada a pacientes de alto risco submetidos a procedimentos GI ou diálise peritoneal.154,155 Além disso, os pacientes cardíacos de alto risco, tais como aqueles que têm válvulas cardíacas artificiais, ou que adquiriram disfunção valvular, enxertos vasculares, desvios pulmonares cirúrgicos, doença cardíaca congenita complexa, e um histórico de endocardite, têm uma maior probabilidade de desenvolver endocardite e podem se beneficiar de profilaxia com antibióticos antes de procedimentos GI.156 Pacientes imunodeprimidos também podem se beneficiar da profilaxia de rotina.157 Procedimentos genitourinários (GU) são semelhantes aos procedimentos GI. Biópsias prostáticas e cistoscopias podem produzir bacteremia e/ou bacteriúria. Estudos têm demonstrado que bacteriúria está correlacionada com a bacteremia.158,159 A maioria dos estudos sobre os procedimentos GU incentiva o uso de antibióticos profiláticos sem exacerbar a resistência bacteriana.160 No entanto, em contraste com a literatura GI, as associações profissionais GU incentivam a utilização da rotina de profilaxia antibiótica. Um estudo anterior de Sullivan et al. demonstrou as seguintes taxas de bacteremia para certos procedimentos: 31% para ressecção transuretral da próstata, 17% para cistoscopia, 24% para a dilatação da uretra, e 8% para o cateterismo uretral.161 Enterococci e Klebsiella pneumonia foram os dois organismos mais comuns. Estes microrganismos anaeróbios também foram observados como agentes presentes após biópsias transretais da próstata162, bem como a Escherichia coli.163 Candida albicans também foi encontrada em infecções da corrente sanguínea em pacientes que foram submetidos a ureteroscopia e stents ureterais.164 Ao avaliar a biópsia prostática transretal, é recomendado que os pacientes recebam profilaxia antibiótica. Descobriu-se que em biópsias transretais guiadas por ultra-sonografia há uma taxa de 43% de bacteremia por Escherichia coli, após o procedimento.165 Um estudo realizado por Thompson et al. demonstrou que, quando a biopsia transretal da próstata é combinada com a cistoscopia, a incidência de bacteremia é muito elevada (73%), em comparação com a cistoscopia isolada (13%).166 A maior taxa de bacteremia após biópsia transretal da próstata foi relatada como 100%, pelo mesmo grupo,167 dos quais 87% tiveram infecção urinária pós-operatória, com 27% 323 de pacientes sintomáticos. Houve uma redução significativa na bacteremia quando o cefamandol, uma cefalosporina de segunda geração, foi administrada como profilaxia antibiótica. Uma revisão da base de dados Cochrane sobre a utilização de profilaxia antibiótica para biópsias transretais da próstata encontrou que a utilização de antibióticos durante, pelo menos 3 dias, pode evitar complicações infecciosas após o procedimento.168 Um artigo descreveu um caso de IAP em ATJ, por Klebsiella pneumoniae, após prostatectomia para carcinoma da próstata.169 Pacientes submetidos à cirurgia transuretral da próstata desenvolveram bacteremia subsequente, levando a incidência de infecções do trato urinário entre 6% e 60%, pacientes que não receberam profilaxia antibiótica. em 170,171 Pacientes submetidos a litotripsia extracorpórea por ondas de choque apresentaram uma incidência de 5% de bacteremia,172 e um relato de caso descreveu um paciente que desenvolveu endocardite por enterococcus após este procedimento.173 Para as mulheres, há um aumento da bacteremia durante o trabalho de parto174 e com a colocação de dispositivos intra-uterinos.175 Os pacientes que se submetem a biópsia de vilosidade coriônica, especialmente a transcervical, têm altas taxas de bacteremia176. Com base nestes estudos, a American Urological Association determinou que a profilaxia com antibióticos deve ser administrada em situações específicas, dependendo da população de pacientes.177. Por exemplo, pacientes submetidos a cistografia só devem receber uma fluoroquinolona ou trimetoprim-sulfametoxazol se apresentarem alto risco, mas todos os pacientes que se submetem a biópsia transretal da próstata devem receber profilaxia antibiótica com fluoroquinolona. Por outro lado, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas recomenda contra a profilaxia antibiótica.178 -Questão 7: Qual o papel dos suplementos de ervas medicinais, probióticos, e medicina alternativa na diminuição da translocação de bactérias através da parede intestinal? Consenso: Não há evidência suficiente para apoiar o uso de suplementos de ervas, probióticos, e medicina alternativa para diminuir a translocação de bactérias através da parede intestinal para evitar a IAP tardia. Votação dos Delegados: A Favor: 95%; Contra: 3%; Abstenção: 2% (Forte Consenso) Justificativas: Ainda que o uso de certos suplementos de ervas medicinais, probióticos e medicamentos alternativos pareçam diminuir a translocação de bactérias através da parede 324 intestinal, a maior parte dos estudos foi feita em animais e nenhum deles possui evidência de nível I. Assim, nós não recomendamos o uso de qualquer um dos produtos da medicina alternativa para evitar a bacteremia tendo como porta de entrada o intestino e, assim evitar IAPs tardias, mas esses produtos podem ser considerados para fins de saúde geral. Suplementos à base de ervas medicinais: Vitamina C (ácido ascórbico) e vitamina E (alfa-tocoferol) têm demonstrado reduzir a translocação de bactérias a partir do intestino e diminuir a peroxidação lipídica da mucosa da via biliar comum e a hipertensão portal crônica em ratos.179 A glutamina tem se mostrado um aminoácido eficaz na redução da translocação bacteriana através das paredes intestinais em modelos animais.180,181 Foi proposto que o mecanismo de ação seja o aumento dos níveis de IgA secretora, o aumento da altura das vilosidades e o aumento da espessura da mucosa, que reforçam a barreira intestinal e diminuem a translocação e aderência bacteriana. Um estudo mais antigo de White et al. demonstrou que a administração entérica de glutamina resultou em uma diminuição da translocação bacteriana aos sítios extra-intestinais, e que a glutamina pode reduzir a permeabilidade intestinal.182 Os efeitos protetores da glutamina também incluem a translocação bacteriana reduzida no sangue. Este estudo foi baseado nos modelos de enxerto murino agudo versus doença do hospedeiro, que demonstrou que a utilização oral de glutamina reduziu a permeabilidade gastrointestinal e a expressão de TNF-α, acentuou a oclusão, e resultou em menor número de células apoptóticas nas criptas intestinais.183 A arginina é um outro aminoácido que também tem demonstrado um potencial para diminuir a translocação bacteriana, medida pela diminuição do nível de bactérias nos nódulos linfáticos mesentéricos de ratos.184 A curcumina é um derivado da familia do gengibre relacionada a temperos turméricos. Um estudo realizado por Karatepe et al. demonstrou que a curcumina foi capaz de reduzir a quantidade de translocação bacteriana intestinal para o sangue, em um modelo de rato185. Suplementos de ervas chinesas demonstraram efeitos positivos sobre a flora intestinal e reforçam o sistema imunitário. Um estudo de Huang et al. demonstrou que o uso de ervas da medicina chinesa, como Panax ginseng, Dioscoreaceae opposite, Atractylodes macrocephala, Glycyrrhiza uralensis, Ziziphus jujube e Platycodon grandiflorum, pode aumentar a contagem de lactobacilos no íleo e diminuir a contagem de coliformes no cólon. As atividades imunológicas de leucócitos polimorfonucleares também foram acentuadas, incluindo o reforço da explosão respiratória, em leitões desmamados.186 Ervas dietéticas fermentadas, como Rhizoma Atractylodis Macrocephalae, Massa Medicata Fermentata e Dolichoris Semen, foram 325 demostrados como agentes protetores contra lipopolissacarídeos, uma endotoxina que desencadeia a resposta inflamatória sistêmica.187 A fosfatidilcolina é um fosfolípideo que compõe as membranas biológicas. Estudos têm mostrado que a utilização do suplemento de fosfatidilcolina pode proteger contra a translocação de bactérias em um modelo de colite em ratos.188,189 Probióticos: O Lactobacillus é uma bactéria que habita naturalmente o sistema digestivo e genitourinario humano.184 Também está presente em alimentos fermentados, tais como iogurtes e suplementos dietéticos. O Lactobacillus plantarum pode ser eficaz na adesão à mucosa do intestino e assim reduzir a translocação de microbactérias e endotoxinas para o exterior do trato digestivo.190 Lactobacillus plantarum e Lactobacillus reuteri reduziram a translocação bacteriana, recriaram mieloperoxidase no intestino a microbiota intestinal, e diminuiram a enzima 191 . Saccharomyces boulardii, uma levedura de padeiro benéfica, estimula mecanismos de defesa do hospedeiro e aumenta a IgA, a qual diminui a translocação de Candida a partir do intestino para os nódulos linfáticos mesentéricos, em modelos animais.192-194 Medicina alternativa: O hormônio do crescimento, quando combinado à glutamina, melhorou a barreira intestinal em pacientes com hipertensão portal, através da diminuição da permeabilidade intestinal e melhora da integridade da mucosa.195 Fibra de celulose reduz a translocação bacteriana, mas não evita o crescimento excessivo de bactérias.196-198 -Questão 8: Existe alguma função para o monitoramento pós-cirúrgico da colonização por MRSA, no paciente assintomático? Consenso: Recomendamos contra o monitoramento pós-cirúrgico de colonização por MRSA no paciente assintomático. Votação dos Delegados: A Favor: 98%; Contra: 2%; Abstenção: 0% (Forte Consenso) Justificativas: A monitorização pós-cirúrgica da colonização por MRSA não leva à redução da taxa de ISCs. A taxa de colonização por Staphylococcus aureus pode atingir 33%, no intervalo de 3-30 meses, do período pós operatório da artroplastia total do joelho (ATJ)199 e a maior parte 326 das bactérias têm sensibilidade aos antibióticos inalterada. Embora estes organismos possam persistir, a colonização por Staphylococcus aureus no período pós-operatório não tem sido correlacionada com o aumento do risco de ISC. Assim, o monitoramento e descolonização de pacientes colonizados por Staphylococcus aureus não representa um método eficaz para a prevenção da infecção e não deve ser incentivada até que novos estudos sejam realizados. Consenso: Recomendamos que os pacientes passem por triagem repetida para Staphylococcus aureus, e por um processo de descolonização, prévio à artroplastia. Justificativas: Devido ao fato da descolonização não persistir no período pós-operatório, nós recomendamos que os pacientes sejam reavaliados e descolonizados para procedimentos de artroplastia subsequentes após o procedimento primário. Um estudo demonstrou que houve 70% de descolonização persistente por MRSA e Staphylococcus aureus sensível à meticilina (MSSA), em uma média de 156 dias após o procedimento índice.200 No entanto, em 213 dias, 30% dos pacientes não estavam descolonizados. A repetição dos testes indicou que dois novos pacientes desenvolveram MRSA e 35 novos pacientes desenvolveram MSSA. Assim, a repetição dos testes e a descolonização de Staphylococcus aureus em pacientes colonizados são recomendadas antes de qualquer procedimento de artroplastia adicional. -Questão 9: Quais são os métodos para identificação de fontes extra-articulares de IAP tardia? Consenso: As fontes extra-articulares que contribuem para a ocorrência de IAP tardia devem ser identificadas obtendo-se histórico, realizando exame físico, exames laboratoriais e tomografia das áreas suspeitas de infecção. Votação dos Delegados: A Favor: 92%; Contra: 3%; Abstenção: 5% (Forte Consenso) Justificativas: A fontes mais comuns de infecção são as seguintes: dentária, cardíaca, pulmonar, GI, GU, dermatológica e hematogenica. Para identificação da origem da infecção, é executado um histórico apropriado e o exame físico pode apontar a região de interesse. Uma vez que a área infectada é identificada, exames laboratoriais, tomografia e a avaliação por especialistas podem identificar futuramente a fonte e prover a solução para a erradicação da infecção. A evidência mais forte para uma origem extra-articular de IAP é quando o mesmo patógeno é isolado na cultura de material intra-articular e da fonte de infecção extra-articular. 327 O método mais comum de adquirir a IAP tardia é pela propagação da infecção por via hematogênica.201,202 Desta maneira, a maioria dos órgãos infectados podem se transformar em uma fonte extra-articular de IAP tardia. As principais fontes de IAP extra-articular são as seguintes: dentária, cardíaca, pulmonar, GI, GU, dermatológica e hematogênica. Abscessos dentários também podem ser fontes extra-articulares de infecção. Actinomyces israelii é um organismo responsável pelas cáries dentais e pode ser isolado em IAPs.203 Actinomyces naeslundii é um outro organismo que foi identificado em IAP tardia após a rotina dentária em um dente molar.204 Pacientes com alta suspeita de infecção dentária devem ser assistidos por um dentista e os cuidados apropriados devem ser realizados (ex.: extração de um dente). Para problemas cardíacos tais como endocardite infecciosa,205,206 um ecocardiograma pode identificar vegetações. Os pacientes que são usuários de drogas I.V tem grande potencial para desenvolver endocardites infecciosas, que podem produzir embolia séptica. Antibióticoterapia I.V é o tratamento de escolha. Para os pulmões, condições infecciosas, tais como a pneumonia, podem ser fontes de infecção extra-articular. 207 A pneumonia também pode se sobrepor à uma condição crônica, tal como doença pulmonar obstrutiva crônica e asma. O uso de exames de imagem como radiografias do tórax ou tomografia computadorizada (TC) podem identificar a pneumonia, ou testes pulmonares podem diagnosticar a obstrução crônica. Culturas de secreção podem ser usadas para identificar os organismos apropriados para o tratamento com antibióticos I.V. Condições inflamatórias do sistema GI disseminar bactérias até o ambiente protético. 208 209 tais como a colecistite e colangite podem Outras doenças como a diverticulite, assim como distúrbios crônicos como a doença hepática (hepatite por exemplo),210 também podem colocar os pacientes em risco aumentado para IAP. Modalidades de tomografia, como a TC com contraste oral, podem elucidar a patologia GI, e ainda permitir a visão direta, pelo uso da endoscopia. Contudo, a endoscopia não é benigna, já que a realização de testes de preservação da saúde (checkup), como a colonoscopia de rotina, pode resultar em IAPs. Um relato de caso descreveu um paciente que desenvolveu a infecção por Listeria monocytogenes em uma ATJ.150 Existem múltiplas condições do sistema GU que podem ser uma fonte extra-articular de IAP. A bacteremia sistêmica é acentuada em procedimentos de rotina como a biópsia transretal da próstata.167 A realização da prostatectomia por carcinoma prostático levou ao desenvolvimento de infecção periprotética por Klebsiella pneumoniae em um paciente com ATJ.169 As bactérias relacionadas às doenças sexualmente transmitidas, como a gonorreia 328 211 podem também causar infecção protética. Infecções do trato urinário, incluindo cistite e piúria são fontes extra-articulares de infecção, que estão associadas ao aumento do risco de IAP.212,213 Se há uma suspeita de infecção do trato urinário, uma amostra de urina deve ser enviada para análise e cultura. Contudo, o tratamento de bacteriúria assintomática é controversa.214 Exames de imagem avançados, como ultrassom ou TC, podem ser realizados para identificar a fonte da infecção. Testes microbiológicos de líquidos corporais também podem fornecer culturas que podem orientar a terapia antibiótica. Lesões cutâneas de pele imunocompromotida, tal como psoríase215 ou úlcera venosa crônica podem ser fontes extra-articulares de bactérias, que podem levar a IAPs; no entanto, alguns estudos demonstraram que não há associação direta.216,217 Exame minucioso à procura de trincaduras ou rupturas da pele podem identificar feridas que podem ser tratadas por especialistas em tratamento de feridas ou em consultas dermatológicas. Contaminação direta da corrente sanguinea por bactérias, como no uso de drogas I.V, pode resultar em disseminação hematogênica para a prótese.218 Os cateteres podem ser colonizados pela flora da pele e podem contaminar diretamente a corrente sanguinea.219,220 A remoção dos cateteres pode reduzir o risco de infecção, e a cultura da ponta do cateter pode identificar o organismo a ser combatido. -Questão 10: Em que situações deve ser realizada pesquisa adicional para febre pós operatória em SAPT ? Consenso: Recomendamos contra a investigação rotineira da febre acima de 38,5oC no período pós-operatório imediato. Contudo, justifica-se a investigação de febre persistente após o terceiro dia pós-operatório. Votação dos Delegados: A Favor: 81%; Contra: 15%; Abstenção: 4% (Forte Consenso) Justificativa: A febre no período pós-operatório é comum após artroplastias. Contudo, quando os pacientes apresentam temperaturas maiores do que 39ºC, especialmente por vários dias e após o terceiro dia pós-operatório, justifica-se a investigação que inclui a análise urinária, cultura da urina, hemocultura e raio-X do tórax. Além disso, pesquisa para trombose venosa profunda, acessos profundos infectados e febre relacionada a medicamentos devem ser incluídos na investigação, se existir forte suspeita clínica. Tratar estas infecções pode reduzir o risco de IAP tardia. 329 No período pós-operatório imediato pós SAPT, os pacientes comumente apresentam temperaturas corporais elevadas devido a agressão do procedimento cirúrgico,221-223 e o aumento da concentração sérica, tissular e no líquido articular de moléculas inflamatórias, incluindo IL-1β do fluido de drenagem e IL-6, que pode ser detectada no soro e liquido articular.224 A febre no período pós-operatório pode ser frequente e causada por múltiplos fatores, incluindo infecções de trato urinário, infecções sanguíneas, pneumonia, TVP, embolia pulmonar, ISCs, infecção de acessos I.V ou febres ocasionadas pela administração de alguns tipos de drogas. Essas condições são frequentemente avaliadas por análise e cultura de urina, hemocultura, raio-X de tórax, ultrassom com doppler, culturas da ferida cirúrgica ou da articulação, ou parada na administração de certos medicamentos. Contudo, múltiplos estudos na literatura ortopédica demostraram que a febre pós-operatória, especialmente nos três primeiros dias, tem uma fraca associação com o desenvolvimento de IAP. Kennedy et al. demostraram que nenhum dos pacientes que apresentaram temperatura maior que 39ºC desenvolveram IAP, e as febres pós-operatórias foram correlacionadas hematócrito ou subsequente transfusão com cinco dias de cirurgia. 225 com a queda do Guinn et al. demostraram que 14/158 (8.9%) casos de ATJ desenvolveram febre pós-operatória que pôde ser atribuída a achados laboratoriais. Este estudo demostrou que pacientes submetidos a ATJ eram mais propícios a complicações, e a análise da urina, toilet pulmonar agressivo, e exames físicos repetidos foram úteis no diagnóstico.226 Shaw e Chung demostraram que dentre mais de 100 ATJs e 100 ATQs nenhum paciente desenvolveu IAP, e as culturas positivas de urina não se correlacionaram com resposta febril.227 Temperaturas corporais pós-operatórias são maiores no primeiro dia após a cirurgia. Usando a febre (≤38°C) como diagnóstico para o desenvolvimento de IAP, a sensibilidade foi de 0,286 (95% intervalo de confiança (CI) = 0,0840,581), a especificidade foi de 0,628 (95%CI = 0,548-0,704) e o valor preditivo positivo foi de 0,065 (95% CI = 0,018-0,157) 228 Hemoculturas tem baixa utilidade em casos de febre pós-operatória. Em um estudo realizado por Bindelglass e Pellegrino, hemoculturas foram coletadas em 40/240 ATJs e 31/124 ATQs, das quais em apenas dois pacientes com resultados positivos. Os resultados de ambos os testes foram considerados contaminação. A realização rotineira de hemoculturas nesta situação não se mostrou custo-efetiva.229 Um estudo conduzido por Tai et al. demonstrou que os pacientes, em que foi diagnosticada IAP, tiveram picos de temperaturas corporais no quarto dia pós-operatório e essas febres foram frequentemente mantidas por 3 a 4 dias. 230 Desta maneira, pesquisas diagnósticas para febre pós-operatória foram recomendadas para pacientes que mantiveram febres tardias e prolongadas. Além do mais, a investigação de todas 330 as febres pós-operatória pode ser caro e o custo não é justificado. Um estudo de Ward et al. demostrou que o custo da avaliação de rotina da febre pós operatória (>38,5ºC) por um período de dois anos foi de US$ 73.878, que totalizou a cobrança de US$ 959,45 por paciente avaliado.231 Contudo, a febre que ocorreu após o terceiro dia pós-operatório, em múltiplos episódios (>1) e com temperatura >39ºC, esteve associada, com maior frequência aos resultados positivos para infecção. Assim sendo, nesta última população de pacientes, a investigação rotineira da febre após artroplastias totais, pode ser bem indicada. Referências: 1. Coventry MB. Treatment of infections occurring in total hip surgery. Orthop Clin North Am. 1975;6(4):991-1003. 2. Garvin KL, Hanssen AD. Infection after total hip arthroplasty. Past, present, and future. J Bone Joint Surg Am. 1995;77(10):1576-1588. 3. McPherson EJ, Woodson C, Holtom P, Roidis N, Shufelt C, Patzakis M. Periprosthetic total hip infection: outcomes using a staging system. Clin Orthop Relat Res. 2002(403):8-15. 4. 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Cost and effectiveness of postoperative fever diagnostic evaluation in total joint arthroplasty patients. J Arthroplasty. 2010;25(6 Suppl):43-48. 342 PESQUISAS FUTURAS: Os grupos de trabalho identificaram tópicos potenciais que necessitam pesquisas adicionais, a saber: Influência do estado de imunodeficiência e imunossupressão na incidência de ISC/ IAP, Influência do HIV e/ou o abuso de drogas I.V na incidência de ISC/ IAP, Importância da triagem urinária de rotina em pacientes a serem submetidos à SAPT. Tempo ideal para a artroplastia eletiva em pacientes com artrite séptica prévia, Os valores de corte para a contagem total de leucócitos e diferencial de neutrófilos indicativos de ausência de infecção ativa, em pacientes com artrite séptica prévia, Os valores de corte para a contagem total de leucócitos e diferencial de neutrófilos indicativos de infecção ativa, em pacientes suspeitos de IAP, Importância do banho pré-operatório, ou lavagem local, na redução da incidência de ISC/ IAP, Importância da limpeza final das mãos com álcool antes do ato operatório, Duração da lavagem das mãos previamente ao ato cirúrgico, Reação cruzada com as cefalosporinas em pacientes alérgicos à penicilina, Uso da associação de antibióticos na prevenção de IAP, Indicações para administração de vancomicina em pacientes submetidos à SAPT eletiva, Estudos para avaliar a associação entre pacientes com anormalidades urinárias préoperatórias e ISC/IAP subsequente, Triagem e descolonização para MRSA: eficácia da descolonização, incidência de recolonização/colonização persistente, qual ação de descolonização (descontaminação nasal, cutânea ou antibiótico profilático) é a estratégia mais eficaz na prevenção de IAP? A importância de agentes recém introduzidos (tais como os derivados do Betadine) na descolonização de pacientes com MRSA, previamente à SAPT, 343 Investigação de novos métodos (além dos convencionais) de cultura para a identificação de pacientes colonizados por MRSA, Antibióticos apropriados aos pacientes a serem submetidos ao implante de megapróteses e/ou cirurgia de tumores, O uso de fluxo laminar reduz a incidência de ISC/IAP subsequente à SAPT? O uso de indumentária cirúrgicas dotadas de sistema de exaustão reduz a incidência de ISC/IAP subsequente à SAPT? Os pacientes devem usar máscaras cirúrgicas durante a SAPT? É possível realizar uma SAPT não infectada após um caso infectado, na mesma sala cirúrgica? O melhor método para a descontaminação da sala cirúrgica, Com que frequência as luvas devem ser trocadas durante a SAPT? Os campos incisionais plásticos devem ser utilizados em SAPT? Qual o tipo/volume/e momento ideal para o uso de soluções de irrigação? O uso de Betadine diluído durante a SAPT, para a prevenção de ISC. Determinar a dose ideal e duração da irrigação, O tipo de campos cirúrgicos (convencionais ou descartáveis) afeta a incidência de ISC/IAP? O uso de produtos derivados do sangue autólogo para a redução da perda sanguínea e subsequente ISC/IAP, Melhor método de fechamento da pele em pacientes submetidos à SAPT eletiva, Melhor método de fechamento da pele em pacientes submetidos ao tratamento de IAP, O uso de curativos impregnados com prata reduz a incidência de ISC/IAP? Melhor método de lavagem das mãos antes da cirurgia, O uso da vancomicina em pó na ferida cirúrgica para a prevenção de IAP em pacientes submetidos à SAPT, Sonicação de explantes protéticos para o diagnóstico de IAP (reprodutibilidade dos resultados), Estudo para determinar as indicações de punção articular prévias à cirurgia de revisão, por falhas presumivelmente assépticas, 344 Fatores de risco para o insucesso da irrigação e debridamento, O uso de material reabsorvível para a liberação de antibióticos na prevenção/tratamento da IAP, Estudos clínicos randomizados para determinar o sucesso de 1 ou de 2 estágios no tratamento da IAP, Estudos para determinar o momento ideal de reimplantação durante o tratamento estagiado de IAP, Estudos para identificar os testes sorológicos ou sinoviais apropriados à determinação do momento para a reimplantação, Estudos para determinar a duração ideal do tratamento antibiótico entre os 2 estágios, no tratamento da IAP, Indicações e duração do tratamento antibiótico supressivo após o tratamento cirúrgico da IAP, Profilaxia dentária para pacientes portadores de SAPT, Importância da manutenção da normotermia durante procedimentos ortopédicos, Estudos para determinar se a profilaxia antibiótica é necessária em pacientes submetidos à colonoscopia ou outros procedimentos de menor porte cirúrgico. 345