EFEITO ANTINOCICEPTIVO E ANTI
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EFEITO ANTINOCICEPTIVO E ANTI
0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS NATURAIS DO SEMIÁRIDO JULIANE CABRAL SILVA EFEITO ANTINOCICEPTIVO E ANTI-INFLAMATÓRIO DE Annona vepretorum Mart. (ANNONACEAE) EM ROEDORES PETROLINA 2013 1 JULIANE CABRAL SILVA EFEITO ANTINOCICEPTIVO E ANTI-INFLAMATÓRIO DE Annona vepretorum Mart. (ANNONACEAE) EM ROEDORES Dissertação apresentada à Universidade Federal do Vale do São Franciso, como parte das exigências do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais do Semiárido, para obtenção do título de Mestre em Recursos Naturais. Orientador: Prof. Dr. Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida Co-orientadora: Luciane Mendes PETROLINA 2013 Prof. Dr.ª Rosemairy 2 Silva, Juliane Cabral S587e Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores / Juliane Cabral Silva. – Petrolina, 2013. 183f. Dissertação (mestrado)- Universidade Federal do Vale do São Francisco. Recursos Naturais do Semiárido, Petrolina, 2013. Orientador: Prof. Dr. Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida. 1. Atividade Antinociceptiva. 2. Atividade Anti-inflamatória. 3. Annonaceae. I. Título. II. Universidade Federal Vale do São Francisco. CDD 615.1 Ficha elaborada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas da Univasf. CRB/04-1747. 4 Dedico este trabalho a Deus, aos meus pais José Aparecido da Silva e Verônica Vilar Cabral Silva, ao meu irmão Josielson Cabral Silva, aos meus familiares, amigos e ao meu orientador que acreditaram em mim e me apoiaram em todos os momentos. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus e à Nossa Senhora, por guiarem sempre os meus passos e me darem fortaleza, tornando possível o que era impossível. Ao meu orientador, Prof. Dr. Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida, escolha perfeita e pelo qual tive a sorte de, imediatamente, me aceitar como orientanda. Mais do que orientador e amigo você é um exemplo a ser seguido, um Pesquisador que apesar das adversidades, tudo supera e contribui cientificamente, “uma verdadeira MÁQUINA”. Obrigada por toda dedicação e ensinamentos. À minha co-orientadora Rosemairy Luciane Mendes, pela qual tenho um imenso afeto e admiração, sinônimo de sinceridade e honestidade. Obrigada por todas as contribuições científicas, por suas horas dedicadas e por toda amizade construída, a qual quero levar para sempre. Ao Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais do Semiárido, e a todos os professores pelos conhecimentos compartilhados, contribuindo na minha formação. A todos do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais (NEPLAME) e aos meus colegas de laboratório, em especial, Amanda, Ana Paula, Sarah Raquel, Camila Araújo, Tâmara Diniz, Grasielly Rocha, Raimundo Júnior, Suzana Rabêlo, Alessandra Pacheco, Larissa Macêdo, Leandra Macêdo e Viviane Araújo, pelo apoio e amizade. A Henrique Saraiva, Carlos Wagner, Keidy Costa, Camila Meirelles, Érica Lavor, Mariana Gama, Heloisa Stefanin, Angelo Amorim, José Roberto Rocha e Larissa Silveira pela parceria na realização dos meus experimentos. Ao Professor Dr. Lucindo José Quintans-Júnior, pela oportunidade de aprender novas técnicas em seu laboratório, ao Professor Dr. Leonardo Bonjardim pela atenção, e aos colegas pela paciência e técnicas ensinadas. Ao CRAD/UNIVASF na pessoa do Professor Dr. José Alves de Siqueira Filho. Ao pessoal do biotério Leonardo, Euda, Helenildo e Jean, por toda atenção e compreensão, me recebendo sempre com um sorriso no rosto. Aos Técnicos: Ana Paula, Amanda, Silvio Alan, Roniere A. Oliveira e Fernando pela ajuda e compreensão. Ao Prof. Dr. Fabrício Souza Silva pela ajuda nos ensaios de toxicidade. 6 À Aline Braga pela imensa compreensão. A todos os servidores da UNIVASF, em especial Francisca, João Paulo, Sr. Cícero, Geralda, Juliana, Maria e Neide por toda atenção a mim dedicada, na realização das suas funções. Aos colegas de Turma, em especial Fernanda Ribeiro, Camila Araújo e Tâmara Diniz, pelos momentos de estudo juntas e por toda amizade. A José Aparecido da Silva e Verônica Vilar Cabral Silva, meus pais, por todo amor incondicional e valores ensinados. Por me lembrarem sempre que “Deus me ama, que não estou só, que Deus cuida de mim quando fala por tuas vozes que me diz: Coragem” (Amor Humano de Deus – Adriana). Ao meu irmão Josielson Cabral Silva, a quem nem tenho palavras para expressar o meu amor, apenas agradeço por sua vida, pelas preocupações, renúncias e sacrifícios que fez para que hoje eu estivesse aqui. Agradeço às Irmãs Carmelitas e à minha avó pelas orações e atenção, ao meu avô por me fazer sentir tão importante, à minha cunhada, às minhas madrinhas, padrinhos, tias, tios, primas e primos por todo apoio. Aos meus amigos, Mestres e eternos orientadores: Rodrigo Cappato, Ana Carolina, Antonieta Albuquerque e meus docentes da UPE por sempre me lembrarem dos meus objetivos e dando forças para que eu jamais desista! A todos os meus amigos, impossível citar os nomes, pois graças a Deus, são muitos. Obrigada por todo apoio e compreensão pela minha ausência. Obrigada por me doarem um pouco de suas famílias. Com vocês tudo se torna mais fácil. À Comunidade dos Viventes e ao meu Vínculo, pelas orações e partilhas. Juntos! N’Ele Até o fim! À Coordenacão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de mestrado. Por último, para serem destacados por sua total doação, a vocês camundongos e ratos, sem vocês nada disso teria se concretizado. Muito obrigada! 7 “Posso, tudo posso Naquele que me fortalece Nada e ninguém no mundo vai me fazer desistir Quero, tudo quero, sem medo entregar meus projetos Deixar-me guiar nos caminhos que Deus desejou pra mim” (Celina Borges) 8 RESUMO Para esse estudo, foi selecionada a espécie Annona vepretorum Mart., conhecida popularmente como araticum, e utilizada na medicina popular para o tratamento de processos inflamatórios. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito antinociceptivo e anti-inflamatório do extrato etanólico bruto (Av-EtOH – 25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) e do óleo essencial (Av-OE – 25, 50 e 100 mg/kg, i.p.) das folhas de A. vepretorum em roedores, utilizando diferentes modelos experimentais, bem como avaliar a toxicidade subcrônica de Av-EtOH. Para avaliação da atividade antinociceptiva, foram realizados os seguintes ensaios: teste de contorções abdominais induzidas por ácido acético, teste da formalina, testa da placa quente e teste de retirada da cauda. Para avaliar o efeito anti-inflamatório, foram realizados dois modelos: edema de pata induzido por carragenina e histamina, e peritonite induzida por carragenina. Além disso, foi avaliado o efeito antinociceptivo de Av-EtOH em modelos de dor orofacial induzida por formalina, glutamato e capsaicina. O estudo toxicológico foi conduzido durante 30 dias, realizando administração diária de Av-EtOH nas doses de 100 e 400 mg/kg. Ao final do estudo, os animais foram eutanasiados para avaliação de parâmetros bioquímicos, hematológicos e histopatológicos. Em relação à atividade antinociceptiva, Av-EtOH e Av-OE demonstraram efeito em todos os ensaios experimentais e tiveram seus efeitos revertidos quando administrados juntamente com a naloxona nos testes de formalina e placa quente. Nos modelos de dor orofacial, Av-EtOH reduziu o comportamento nociceptivo induzido por formalina, capsaicina e glutamato. Em relação à avaliação da atividade anti-inflamatória, Av-EtOH e Av-OE também apresentaram resultados satisfatórios em todos os testes. Com o intuito de mensurar o perfil de segurança de Av-EtOH, foi realizado o estudo toxicológico subcrônico pré-clínico. A administração diária de Av-EtOH (100 e 400 mg/kg) durante 30 dias não provocou morte em nenhum dos grupos tratados, indicando baixa toxicidade do extrato. Conclui-se que Annona vepretorum possui atividades antinociceptiva e anti-inflamatória, corroborando com seu uso na medicina popular. Além disso, o estudo de toxicidade demonstrou que a espécie apresenta um perfil de segurança aceitável, o que respalda o desenvolvimento de estudos farmacológicos e toxicológicos posteriores. Palavras-chave: Annona vepretorum, Annonaceae, atividade antinociceptiva, atividade anti-inflamatória, dor orofacial, toxicidade subcrônica. 9 ABSTRACT For this study, we selected the species Annona vepretorum Mart., commonly known in Brazil as araticum, and used in folk medicine for the treatment of inflammatory processes. The aim of this study was to evaluate the antinociceptive and antiinflammatory effects in rodents of crude ethanolic extract (Av - EtOH 25, 50 and 100 mg / kg, p.o.) and essential oil (Av-OE 25, 50 and 100 mg / kg, i.p.) from the leaves of A. vepretorum, using different experimental models, as well as evaluate the subchronic toxicity of Av-EtOH. To evaluate the antinociceptive activity were carried out the tests: acetic acid-induced writhing, formalin, hot plate and tail flick. To assess the anti-inflammatory effect were performed two models: histamine and carrageenaninduced hind paw edema, and carrageenan induced peritonitis. Furthermore, we evaluated the antinociceptive effect of Av-EtOH in models of formalin, capsaicin and glutamate- induced orofacial nociception. The toxicological study was conducted during 30 days, performing daily administration of Av-EtOH at doses of 100 and 400 mg/kg. At the end of the study, the animals were euthanized for assessment of biochemical, hematological and histopathological findings. Regarding the antinociceptive activity, Av-EtOH and Av-OE showed effects in all experimental tests and had its effect reversed when administered with naloxone in formalin test and hot plate. In models of orofacial pain, Av-EtOH reduced the nociceptive behavior induced by formalin, capsaicin and glutamate. Regarding the assessment of anti-inflammatory activity, Av-EtOH and Av-OE also obtained satisfactory results in all tests. In order to measure the safety profile of Av-EtOH, the subchronic toxicology preclinical study was conducted. The daily administration of Av-EtOH (100 and 400 mg/kg) during 30 days did not cause any death in treated groups, indicating low toxicity of the extract. In summary, we concluded that Annona vepretorum have antinociceptive and antiinflammatory properties, supporting its use in folk medicine. Moreover, the toxicity study showed that the species has a safety acceptable profile, which supports the development of pharmacological and toxicological studies later. Keywords: Annona vepretorum, Annonaceae, inflammatory activity, orofacial pain, subchronic toxicity. antinociceptive activity,anti- 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Foto de Annona vepretorum......................................................................33 Figura 2 - Distribuição fitogeográfica de Annona vepretorum....................................34 Figura 3 - Exsicata de Annona vepretorum coletada em Jaguarari- BA....................55 Figura 4 - Exsicata de Annona vepretorum coletada em Petrolina- PE.....................56 Figura 5 - Camundongo observado no teste de contorções abdominais………........61 Figura 6 - Camundongo observado no teste da formalina. .......................................62 Figura 7 - Animal observado no teste da placa quente. ............................................63 Figura 8 - Animal observado no teste de retirada da cauda......................................64 Figura 9 - Teste de dor orofacial induzida por formalina............................................65 Figura 10 - Volume da pata mensurado utilizando o aparelho pletismômetro no modelo do edema de pata induzido por carragenina.................................................67 Figura 11 – Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum, indometacina e morfina no teste de contorções induzidas por ácido acético em camundongos.............................................................................................................73 Figura 12 - Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum, indometacina e morfina na primeira e segunda fase do teste da formalina...............74 Figura 13 - Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum e morfina no teste da placa quente em 30, 60, 90 e 120 minutos após sua administração.............................................................................................................75 Figura 14 - Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum e morfina no teste de retirada da cauda em 30, 60, 90 e 120 minutos após sua administração.............................................................................................................76 11 Figura 15 – Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum e morfina na primeira e segunda fase do teste de dor orofacial induzida por formalina.....................................................................................................................77 Figura 16 – Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum e morfina no teste de dor orofacial induzido por capsaicina.........................................78 Figura 17 – Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum, morfina no comportamento nociceptivo orofacial induzido por glutamato.................79 Figura 18 - Efeito anti-inflamatório do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum e indometacina no edema de pata induzida por carragenina em camundongos.............................................................................................................80 Figura 19 – Efeito anti-inflamatório do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum e indometacina no edema de pata induzida por histamina em camundongos.............................................................................................................81 Figura 20 - Histologia das patas de camundongos após indução de edema por carragenina e histamina após tratamentos................................................................82 Figura 21 - Efeito anti-inflamatório do extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum e dexametasona na migração leucocitária na cavidade peritoneal induzida por carragenina em camundongos...................................................................................84 Figura 22 - Dados de peso dos animais tratados com extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum durante 30 dias .........................................................................85 Figura 23 - Efeito antinociceptivo do óleo essencial de Annona vepretorum, indometacina e morfina no teste de contorções induzidas por ácido acético em camundongos.............................................................................................................89 Figura 24 - Atividade antinociceptiva do óleo essencial de Annona vepretorum, indometacina e morfina na primeira e segunda fase do teste da formalina...............90 Figura 25 - Atividade antinociceptiva do óleo essencial de Annona vepretorum e morfina, no teste da placa quente em 30, 60, 90 e 120 minutos após sua administração.............................................................................................................91 12 Figura 26 - Efeito do óleo essencial de Annona vepretorum e dexametasona na migração leucocitária na cavidade peritoneal induzida por carragenina em camundongos.............................................................................................................92 13 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Sistemas de eluição e reveladores utilizados para caracterizar os principais metabólitos secundários da espécie Annona vepretorum (Annonaceae).............................................................................................................58 Tabela 2 - Identificação das principais classes de constituintes químicos presentes no extrato etanólico bruto das folhas de Annona vepretorum (Annonaceae).............................................................................................................71 Tabela 3 Constituintes químicos identificados no óleo essencial das folhas de Annona vepretorum (Annonaceae)............................................................................72 Tabela 4 - Parâmetros hematológicos do sangue de camundongos tratados com extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum durante 30 dias (n= 10 por grupo).........................................................................................................................86 Tabela 5 - Parâmetros bioquímicos obtidos do soro de camundongos tratados com extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum durante 30 dias (n= 10 por grupo).........................................................................................................................87 Tabela 6 - Peso dos órgãos de camundongos tratados com extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum durante 30 dias (n= 10 por grupo)........................................88 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Aα Fibras do tipo A- alfa Aβ Fibras do tipo A- beta Aδ Fibras do Tipo A- delta AA Ácido araquidônico AAS Ácido acetilsalicílico ACTH Corticotropina AINES Anti-inflamatórios não esteroidais ALT Alanina aminotrasnferase AMPc Adenosina monofosfato cíclico ANOVA Análise de variância AST Aspartato aminotransferase ATP Adenosina trifosfato Av-EtOH Extrato etanólico das folhas de Annona vepretorum Av-OE Óleo essencial das folhas de Annona vepretorum CEUA Comissão de Ética no Uso de Animais CHCM Concentração de hemoglobina corpuscular média COX Enzima cicloxigenase CT Corticosteróides CRAD Centro de Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga EDTA Ácido etileno diamino tetra-acético GC Glicocorticoides 15 HCM Hemoglobina corpuscular média HVASF Herbário Vale do São Francisco IASP International Association for the Study of Pain ICAM moléculas de adesão intercelular IFNʏ Interferon Gama IL Interleucina iNOS Sintase Induzida pelo Óxido Nítrico LNRP Limiar Nociceptivo de Retirada da Pata LOX Enzima lipoxigenase MORF Morfina OMS Organização Mundial da Saúde NLX Naloxona NMDA N-metil-D-aspartato NO Óxido nítrico PAF Fator de ativação plaquetária PG Prostaglandina PGE2 Prostaglandina E2 PGF2α Prostaglandina F2α PI Prostaciclina PKA Proteína quinase A PKC Proteína quinase C PLA2 Fosfolipase A2 PNPIC Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares 16 RENISUS Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS RGC Receptores de Glicocorticoides Citosólicos SG Substância Gelatinosa SUS Sistema Único de Saúde TGO Transaminase glutâmico oxalacética TGP Transaminase glutâmico pirúvica TNF Fator de necrose tumoral TNF-α Fator de necrose tumoral-α TRVP-1 Receptor de potencial transitório vaniloide TX Tromboxano UNIVASF Universidade Federal do Vale do São Francisco VCAM-1 Moléculas de Adesão Vascular VCM Volume corpuscular médio VR Receptor vaniloide 17 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ………….…………..........…………….…………………….…..........21 2. OBJETIVOS .…….………………………..........……………………………….…...... 24 2.1. Objetivo geral ..……………….………….……........……………………….…....... .25 2.2. Objetivos específicos .…………………...........……………………..…….…..........25 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .…………………..........……………………….......26 3.1. Produtos naturais ...............……………….….………..........………………...........27 3.2. Considerações sobre família Annonaceae e o gênero Annona .........................29 3.3. Considerações sobre espécies do gênero Annona com atividades antinociceptiva e anti-inflamatória..............................................................................30 3.4. Considerações sobre a espécie Annona vepretorum .............…………..…........32 3.5. Considerações sobre dor ...................................................................................34 3.5.1 Dor e nocicepção ................……………….….……………….........………........ 34 3.5.2 Nociceptores .......................……………….….……………………..........…....... 36 3.5.3 Vias nociceptivas ...............……………….….……………………….................. 36 3.5.4 Mecanismo da dor central .....………….........……………………………..….......38 3.5.5 Mecanismo da dor periférica: dor inflamatória .................................................39 3.6. Drogas analgésicas ............................................................................................39 3. 7. Modelos experimentais para avaliação da atividade antinociceptiva.................40 3.7.1. Contorções abdominais induzidas por ácido acético ......................................40 3.7.2. Teste da formalina ………………………………………………………………....41 3.7.3. Teste de Randall-Selitto …………………………………………………………...42 3.7.4. Teste de von Frey ............................................................................................42 3.7.5. Dor orofacial induzida por formalina ................................................................43 18 3.7.6. Teste da placa quente ……………………………………………………….........44 3.7.7. Teste de retirada da cauda ..............................................................................45 3.8. Considerações sobre inflamação …………………………………………..............45 3.8.1. Eventos vasculares …………………………………………………………..........46 3.8.2. Eventos celulares …………………………………………………………….........47 3.8.3. Mediadores químicos ………………………………………………………...........48 3.9. Drogas anti-inflamatórias ....................................................................................49 3.9.1. Anti-inflamatórios não esteroidais ...................................................................49 3.9.2 Anti-inflamatórios esteroidais............................................................................50 3.10. Modelos experimentais ……………………………………………………….........51 3.10.1. Edema de pata induzido por carragenina .....................................................51 3.10.2. Edema de orelha induzido por óleo de cróton ...............................................52 3.10.3. Peritonite induzida por carragenina ……………………………………….........53 4. PARTE EXPERIMENTAL ……………………………………………….......…..........54 4.1. Material vegetal ..................................................................................................55 4.1.1 Coleta de Annona vepretorum para obtenção do extrato etanólico bruto ........55 4.1.2 Coleta de Annona vepretorum para extração do óleo essencial.......................56 4.2. Obtenção do extrato etanólico bruto das folhas de Annona vepretorum............57 4.3. Avaliação fitoquímica preliminar dos constituintes químicos de Av-EtOH..........57 4.4. Obtenção do óleo essencial das folhas de Annona vepretorum.........................59 4.5. Animais …………………………………………………………………………….…..59 4.6. Testes de atividade antinociceptiva ....................................................................60 4.6.1. Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético ......................60 4.6.2. Teste da formalina ………………………………………………………………....61 19 4.6.3. Teste da placa quente .....................................................................................62 4.6.4. Teste de retirada da cauda ..............................................................................63 4.6.5. Teste de dor orofacial induzida por formalina .................................................64 4.6.6. Teste de dor orofacial induzida por capsaicina ...............................................65 4.6.7. Teste de dor orofacial induzida por glutamato ................................................65 4.7. Testes de atividade anti-inflamatória …………………………………………........66 4.7.1. Edema de pata induzido por carragenina .......................................................66 4.7.2. Edema de pata induzido por histamina ...........................................................67 4.7.3. Migração de leucócitos na cavidade peritoneal ..............................................67 4.8. Toxicidade subcrônica ………………………………………………………….........68 4.8.1. Análise comportamental ………………………………………………………......68 4.8.2. Análises de parâmetros hematológicos e bioquímicos ...................................69 4.9. Análise estatística ………………………………………………………………….....69 5. RESULTADOS ......................................................................................................70 5.1. Triagem fitoquímica ............................................................................................71 5.2. Composição do óleo essencial ...........................................................................71 5.3. Resultados do extrato de Annona vepretorum ...................................................72 5.3.1 Atividade antinociceptiva do extrato de Annona vepretorum............................72 5.3.1.1 Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético ....................72 5.3.1.2 Teste da formalina .........................................................................................73 5.3.1.3 Teste da placa quente ....................... ...........................................................75 5.3.1.4 Teste de retirada da cauda ............................................................................75 5.3.1.5 Teste de dor orofacial induzida por formalina ...............................................76 5.3.1.6 Teste de dor orofacial induzida por capsaicina .............................................77 20 5.3.1.7 Teste de dor orofacial induzida por glutamato ..............................................78 5.3.2 Atividade anti-inflamatória do extrato de Annona vepretorum..........................79 5.3.2.1 Edema de pata induzido por carragenina .....................................................79 5.3.2.2 Edema de pata induzido por histamina .........................................................80 5.3.2.3 Análise histológica .........................................................................................81 5.3.2.4 Migração de leucócitos na cavidade peritoneal ............................................84 5.3.3. Toxicidade subcrônica do extrato de Annona vepretorum...............................84 5.3.3.1. Avaliação comportamental dos camundongos .............................................85 5.3.3.2. Parâmetros hematológicos ...........................................................................85 5.3.3.3. Parâmetros bioquímicos ...............................................................................86 5.3.3.4. Análise macroscópica e peso dos órgãos ....................................................87 5.4. Resultados do óleo essencial de Annona vepretorum .......................................88 5.4.1. Atividade antinociceptiva do óleo essencial de Annona vepretorum...............88 5.4.1.1 Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético.....................88 5.4.1.2 Teste da formalina .........................................................................................89 5.4.1.3 Teste da placa quente ..................................................................................90 5.4.2. Atividade anti-inflamatória do óleo essencial de Annona vepretorum..............91 5.4.2.1 Migração de leucócitos na cavidade peritoneal ............................................91 6. DISCUSSÃO..........................................................................................................93 7. CONCLUSÕES....................................................................................................102 REFERÊNCIAS .......................................................................................................104 APÊNDICES ............................................................................................................129 ANEXOS..................................................................................................................181 21 1. INTRODUÇÃO SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 22 1. INTRODUÇÃO A dor corresponde a uma resposta subjetiva que o organismo apresenta quando é submetido a algum estímulo potencialmente nocivo. Em tecidos normais, esse estímulo ativa reações fisiológicas adequadas para evitar uma possível lesão. Em tecidos ou órgãos que sofreram lesão, a instalação de um processo inflamatório provoca sensibilização de nociceptores a responderem a estímulos que são inócuos ou não provocam sensação dolorosa normalmente (SCHAIBLE et al., 2011). Na maioria das vezes esse tipo de reação configura-se como uma função protetora, representando, em muitos casos, o único sintoma para o diagnóstico de várias doenças (OLIVEIRA et al., 2009), porém quando persistente provoca reações emocionais negativas, tornando-se debilitante e causadora de sofrimento (GRIFFIS et al., 2006). Quando se trata de fármacos para o tratamento da dor, abre-se uma lacuna no que diz respeito ao regime medicamentoso que pode ser estabelecido, tendo em vista que ainda não dispomos de um analgésico e/ou anti-inflamatório ideal, ou seja, que não promovam efeitos colaterais potenciais. Embora sejam altamente eficazes, os analgésicos de ação central geralmente não estão dissociados de efeitos adversos importantes e os analgésicos de ação periférica também apresentam efeitos indesejáveis, tais como lesões do trato gastrointestinal e renal (RANG et al., 2012). Assim, tem-se a necessidade de buscar medidas alternativas para o desenvolvimento de medicamentos para o combate da dor. Nessa perspectiva, os produtos naturais são considerados como uma fonte promissora na pesquisa de moléculas com potencial atividade analgésica e anti-inflamatória. Uma região com uma rica diversidade de plantas é o Nordeste, cujo bioma é a Caatinga, estende-se o domínio do semiárido em uma área de 73.683.649 hectares (BRASIL, 2008). Embora seja a área menos estudada dentre as regiões brasileiras, merece destaque, pois é o único bioma exclusivamente brasileiro, cujos limites estão inteiramente restritos ao território nacional. Além disso, possui uma proporção expressiva de plantas endêmicas, comumente utilizadas pela população por suas propriedades terapêuticas e possuindo, assim, uma importante fonte de recursos naturais (LEAL et al., 2005). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 23 Tendo em vista a riqueza do bioma Caatinga, a ampla utilização de plantas como medicamentos e, na maioria das vezes, a falta de conhecimento científico sobre os efeitos biológicos de determinadas espécies, torna-se imprescindível estudos sobre potencialidades terapêuticas das plantas encontradas nessa região. Uma das plantas encontradas na região e que não possui estudos na literatura é Annona vepretorum, espécie encontrada no Vale do São Francisco, pertencente ao gênero Annona, cujas espécies, Annona diversifolia (CARBALLO et al., 2010) e Annona squamosa (CHAVAN et al., 2010) possuem substâncias biologicamente ativas com potenciais analgésico e anti-inflamatório. Portanto, a relevância desse estudo é para a pesquisa na área de recursos naturais do semiárido, no conhecimento de espécies da família Annonaceae, em especial do gênero Annona; bem como na descoberta de novas espécies com potenciais farmacológicos, em especial no tratamento da dor e inflamação. Assim, o objetivo do presente trabalho foi estudar o efeito antinociceptivo e anti-inflamatório do extrato etanólico bruto e do óleo essencial de Annona vepretorum, além de avaliar o perfil de segurança dessa espécie. Para isso, foi realizado ensaio toxicidadede subcrônica do extrato e testes farmacológicos que avaliam atividades antinociceptiva e anti-inflamatória. Em levantamento bibliográfico realizado nos principais bancos de dados sobre estudos com plantas medicinais, não foram encontrados registros de estudos farmacológicos com essa espécie, sendo este estudo pioneiro na busca e comprovação da atividade antinociceptiva e anti-inflamatória de Annona vepretorum, visando assegurar sua utilização e servir de parâmetros para o desenvolvimento de novos medicamentos fitoterápicos. 24 2. OBJETIVOS SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) 25 em roedores. 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Investigar a possível atividade antinociceptiva e/ou anti-inflamatória do extrato etanólico bruto e do óleo essencial de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores e avaliar possíveis mecanismos de ação envolvidos nos efeitos evidenciados. 2.2. Objetivos específicos - Estudar os aspectos farmacológicos de Annona vepretorum; - Avaliar o potencial antinociceptivo e anti-inflamatório da espécie Annona vepretorum; - Avaliar os possíveis mecanismos de ação envolvidos e a participação dos sistemas de neurotransmissão; - Avaliar o perfil de segurança, através do estudo de toxicidade subcrônica do extrato etanólico bruto da espécie; - Contribuir para o estudo farmacológico da espécie de Annonaceae. 26 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 27 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1. Produtos naturais O reino vegetal é o que tem contribuído de forma mais significativa para o fornecimento de metabólitos secundários, muitos destes de grande valor agregado devido às suas aplicações como medicamentos, cosméticos, alimentos e agroquímicos (PINTO et al., 2002). Plantas medicinais constituem uma das mais importantes fontes de substâncias ativas com potencial terapêutico e são frequentemente usadas nos países em desenvolvimento (SCHULZ et al., 2002). O uso de produtos naturais no combate a diversas enfermidades é prática antiga. A busca por alívio e cura de doenças pela ingestão de ervas e folhas talvez tenham sido uma das primeiras formas de utilização destes produtos (VIEGASJÚNIOR et al., 2006). Evidências arqueológicas mostram que o uso de drogas era amplo em culturas antigas. No mundo moderno, as grandes navegações trouxeram a descoberta de novos continentes, legando um grande arsenal terapêutico de origem vegetal (PINTO et al., 2002), enquanto a convivência e o aprendizado com os mais diferentes grupos étnicos trouxeram valiosas contribuições para o desenvolvimento da pesquisa em produtos naturais, do conhecimento da relação íntima entre a estrutura química de um determinado composto e suas propriedades biológicas (VIEGAS-JÚNIOR et al., 2006). Constituindo-se muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos, ainda hoje plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, mercados populares e encontradas em quintais residenciais nas regiões mais pobres do país e até mesmo nas grandes cidades brasileiras (MACIEL et al., 2002). É importante mencionar que as plantas, além de seu uso na medicina popular com finalidades terapêuticas, têm contribuído ao longo dos anos para a obtenção de vários fármacos, até hoje amplamente utilizados na clínica (CECHINEL-FILHO, YUNES, 1998); como a morfina e a codeína, obtidas a partir da Papaver somniferum que promovem analgesia e alterações no humor por atuar, principalmente, nos receptores opioides μ (HUANG; KUTCHAN, 2000). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 28 A maioria dos princípios ativos de importância farmacológica encontrada nos extratos vegetais, de modo geral, é oriunda de uma variedade de metabólitos secundários que são produzidos para modular seus próprios metabolismos, possuem uma constituição complexa e podem alcançar alvos terapêuticos de doenças humanas (FERREIRA; PINTO, 2010). Enquanto os medicamentos apresentam, em sua quase totalidade, um único princípio ativo que é responsável pelo seu efeito farmacológico, os extratos vegetais são constituídos por misturas multicomponentes de substâncias ativas, parcialmente ativas e inativas, que, muitas vezes, atuam em alvos farmacológicos diferentes (FERREIRA; PINTO, 2010; ULRICH-MERZENICH et al., 2010). Os extratos servem ainda como ponto de partida para a obtenção de compostos sintéticos ou biossintéticos. Existem aqueles que exibem uma atividade biológica maior ou diferente de seus componentes isolados (VILLAS-BÔAS, GADELHA, 2007). Cabe mencionar que cerca de 25% de todas as prescrições médicas nos Estados Unidos incluem substâncias naturais como princípio ativo, obtidas de plantas de regiões temperadas e tropicais, o que corresponde ao valor estimado de 900 milhões de dólares na circulação comercial (BRAZ-FILHO, 2010). Em 2000 o setor faturou US$ 6,6 bilhões nos EUA e US$ 8,5 bilhões na Europa. No Brasil estima-se que o comércio de fitoterápicos seja da ordem de 5% do mercado total de medicamentos, avaliado em mais de US$ 400 milhões (PINTO et al., 2002). O Brasil destaca-se no ranking mundial de países “megadiversos” e é considerado o país de maior diversidade biológica (PEIXOTO; MORIM, 2003). Abriga cerca de 19% do total terrestre da diversidade (GIULIETTI et al., 2005), e estima-se em 49 mil o número de espécies de plantas descritas (SHEPHERD, 2002). Esse cenário favorece a pesquisa e o desenvolvimento de fitoterápicos no país. Um grande avanço nesse sentido é a Portaria do Ministério da Saúde de nº 971 de 03 de maio de 2006, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS). Essa política traz em suas diretrizes a elaboração da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS). Ainda em 2006, o Decreto Federal de nº 5.813 de 22 de junho de 2006 instituiu a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que incentiva as pesquisas e dá diretrizes para implantação de serviços em caráter SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 29 nacional pelas Secretarias de Saúde dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 2006). Uma região brasileira com uma rica diversidade de plantas é o Nordeste e o estudo dos usos tradicionais de plantas e seus produtos nessa região têm aumentado gradualmente. Durante os últimos anos (AGRA et al., 2007; ALBUQUERQUE et al., 2006). Foi realizada uma investigação etnomedicinal das plantas conhecidas como medicinais e venenosas no Nordeste do Brasil. De um total de 483 espécies pertencentes a cerca de 79 famílias, 466 espécies, cerca de 96,5% são registrados pelo seu uso medicinal (AGRA et al., 2008;2007). O bioma Caatinga é o principal ecossistema dessa região brasileira, ocupando os estados da Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Maranhão e Minas Gerais (BRASIL, 2008). Algumas espécies endêmicas desse bioma possuem atividade antinociceptiva, como Neoglaziovia variegata (LIMA-SARAIVA et al., 2012) e Amburana cearensis (OLIVEIRA et al., 2009).Além disso, outras espécies coletadas na região Nordeste também possuem efeito antinociceptivo e anti-inflamatório (ANDRADE et al., 2012; LIMA et al., 2012). 3.2. Considerações sobre a família Annonaceae e o gênero Annona Plantas da família Annonaceae estão amplamente distribuídas pelo mundo todo, mas são predominantes em zonas tropicais (SIQUEIRA et al., 2011). Algumas espécies dessa família são conhecidas por produzirem diversos derivados alcaloídicos isoquinolínicos (FECHINE et al., 2002), outras são fragrantes devido à presença de óleos essenciais que, normalmente, são constituídos de monoterpenoides, sesquiterpenoides e/ou substâncias aromáticas; algumas têm importância comercial como o óleo de Cananga (Cananga odorata Hook var. macrophylla) e o óleo de Ylang-Ylang (Cananga odorata Hook var. genuina) que são usados em perfumaria (SOUSA et al., 2004). Uma nova classe de substâncias naturais bioativas, conhecidas como “acetogeninas de anonáceas”, deram um novo estímulo para o estudo fitoquímico desta família, por apresentarem uma gama de importantes atividades biológicas tais como: citotóxica, antitumoral, pesticida, vermicida, abortiva, antimicrobiana, imunossupressora, antiemética, inibidora do apetite e antimalárica (NASCIMENTO et al., 2003) SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 30 A família Annonaceae é constituída por árvores, arbustos, e raramente por arbustos escandentes, que se caracterizam por apresentar flores vistosas, andróginas, solitárias, ou em inflorescências, axilares ou terminais (PONTES et al., 2004). Esta é a maior família da ordem Magnoliales, possuindo de 2300-2500 espécies e mais de 130 gêneros. Apenas os gêneros Annona, Rollinia, Uvaria e Asimina produzem frutos comestíveis (CARBALLO et al., 2010). Siebra (2009) ao comentar sobre os gêneros da família Annonaceae no Brasil, baseia-se em Barroso, na obra Annonaceae, esclarecendo que neste país já foram registrados 29 gêneros, com cerca de 260 espécies, destacando-se o Annona. O gênero Annona, possui 250 espécies encontradas em território brasileiro (SIQUEIRA et al., 2011). As quais geralmente são consumidas como fruta fresca, e também são amplamente utilizadas na medicina popular. Isto, devido à presença de diferentes classes de metabólitos ativos, como alcaloides isoquinolinicos (SILVA et al., 2007), acetogeninas (YANG et al., 2009; SANTOS-LIMA et al., 2010), lectinas (COELHO et al., 2003) e óleos voláteis (SOUSA et al., 2004; SIQUEIRA et al., 2011; COSTA et al., 2012 ) e flavonoides encontrados nas raízes, folhas, cascas, sementes e frutos (CARBALLO et al., 2010). Algumas atividades biológicas descritas de plantas pertencentes a este gênero são: capacidade anti-oxidante (LIMA et al., 2010; JULIÁN-LOAEZA et al., 2010), efeito hipotensor (MORITA et al., 2006), hipoglicemiante (GUPTA et al., 2005), antibacteriano (RAHMAN et al., 2005; VIEIRA et al., 2010), antileishmania (JARAMILLO et al., 2000), anticonvulsivante (GONZÁLEZ-TRUJANO et al., 2006), atividade ansiolítica (LÓPEZ-RUBALCAVA et al., 2005), anti-inflamatória (ADZU et al., 2003a) e analgésica (SOUSA et al., 2007; CARBALLO et al., 2010). 3.3. Considerações sobre espécies do gênero Annona com atividades antinociceptiva e anti-inflamatória Ao longo da história o homem tem utilizado diversas formas de tratamento para o alívio da dor, entre elas, as ervas medicinais são destaque devido ao seu amplo uso popular (ALMEIDA et al., 2001). Os mais potentes e eficazes fármacos analgésicos são derivados de plantas, a exemplo da salicinina extraída de Salix alba e a morfina obtida da Papaver somniferum (VEIGA-JUNIOR et al., 2005). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 31 Algumas espécies do gênero Annona possuem atividade antinociceptiva e anti-inflamatória, dentre elas, Annona squamosa L., cujas folhas são usadas para o tratamento de reumatismo e dor no baço. O extrato de éter de petróleo bruto não saponificado e o óxido de cariofileno isolados do extrato da casca exibiram atividades analgésicas e anti-inflamatórias significativas (CHAVAN et al., 2010). O extrato das folhas frescas dessa espécie também é relatado por tais propriedades. O estudo fitoquímico preliminar mostrou diferença entre os metabólitos secundários presentes na decocção de folhas frescas e no extrato das folhas secas. Na decocção foram encontrados compostos fenólicos, cumarinas, compostos lactônicos, aminoácidos e açúcares redutores, enquanto no extrato foram encontrados flavonoides, compostos fenólicos, alcaloides, quinonas, cumarinas, compostos lactônicos, aminoácidos, antocianidinas e açúcares redutores, porém, neste não houve resultados de atividade analgésica e anti-inflamatória. Os resultados obtidos com a decocção das folhas frescas permitem a validação do uso popular (AMADOR et al., 2006). Annona diversifolia Saff., conhecida no México por muitos nomes locais como "Ilama" e "Ilama zapote", seus frutos são utilizadas como alimento, mas as suas folhas são empregadas como anticonvulsivante e analgésico, bem como um agente anti-inflamatório na medicina tradicional mexicana. Carballo et al. (2010), em seu estudo reforça a utilização das folhas de A. diversifolia no tratamento da dor e da inflamação, visto que seus resultados demonstraram capacidade de produzir total antinocicepção no modelo de dor visceral, e redução parcial da nocicepção artrítica. As análises indicaram a presença de flavonoides e a participação da palmitona na sua atividade antinociceptiva. Annona muricata L., vulgarmente conhecida como graviola, é encontrada na América Central, América do Sul, incluindo as regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. Tradicionalmente, as folhas são usadas para dores de cabeça, insônia, cistite, problemas de fígado, diabetes, hipertensão e como anti-inflamatório. Entre os constituintes químicos encontrados nessa espécie, os alcaloides e os óleos essenciais se destacam. Quando realizados testes pré-clínicos através dos modelos de nocicepção e inflamação, os resultados foram significantes em relação ao controle, especialmente na dose de 400 mg/kg, confirmando o uso popular (SOUSA et al., 2010). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 32 Annona glabra, popularmente conhecida no Brasil como araticum-do-brejo e araticum-bravo, têm demonstrado grande quantidade de compostos químicos, como alcaloides, acetogeninas e diterpenos em extratos preparados de cascas, caules, folhas e frutos. Siebra et al. (2009) em sua pesquisa demonstra que o extrato de A. glabra inibe a migração natural de granulócitos, de forma dependente da dose, sugerindo potencial anti-inflamatório. Annona coriacea Mart., popularmente conhecida como araticum, é encontrada nas regiões Sudeste, Norte e Nordeste do Brasil, especialmente no estado do Ceará. As folhas são usadas na medicina popular por via oral como carminativa, estomáquica, anti-reumática e anti-helmíntica e, externamente, em compressas e bochechos, no tratamento de estomatite, nevralgias e cefaleias. A pesquisa realizada com o extrato metanólico das folhas desta espécie demonstrou propriedades analgésica e anti-inflamatória, através dos modelos pré-clínicos de contorções abdominais, formalina, placa quente, edema de pata e pleurisia induzida por carragenina (SOUSA et al., 2007). A raiz e as folhas de Annona senegalensis são vendidas na Nigéria para alívio da dor, tratamento do câncer e artrite. O extrato metanólico da raiz tem propriedades anti-inflamatórias e antinociceptiva comprovados através de modelos de nocicepção e inflamação, podendo justificar o uso tradicional da planta na Nigéria para o tratamento de reumatismo e outras doenças relacionadas com a dor ( ADZU et al., 2003b). 3.4. Considerações sobre a espécie Annona vepretorum Mart. Annona vepretorum Mart. (Annonaceae), é uma espécie predominantemente tropical, é endêmica do Brasil e com distribuição na Caatinga (Figura 1) (SANTOS et al., 2012; MAAS et al., 2013). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 33 Figura 1. Foto de Annona vepretorum Mart. (Autor: NEPLAME - Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais) Há registro da ocorrência dessa espécie no município de Poço Redondo – Sergipe, que é totalmente inserido no bioma Caatinga. Nessa região é conhecida como “Bruteira” (SANTOS et al., 2012), "Araticum" e "Pinha da Caatinga", sendo amplamente utilizada na nutrição humana. Seus frutos normalmente são consumidos "in natura" ou utilizados em sucos (COSTA et al., 2012). Além disso, segundo a população local, as raízes quando maceradas apresentam indicação contra picada de abelhas, além do emprego como um anti-inflamatório natural (COSTA et al., 2011). Esta espécie também é encontrada em Jaguarari – Bahia, Petrolina e Lagoa Grande, cidades do estado de Pernambuco, inseridas no bioma caatinga (Figura 2). Estudos prévios realizados com esta espécie descrevem a composição química e atividade antimicrobiana, antioxidante, tripanozomicida e citotóxica do óleo essencial das folhas coletadas em Poço Redondo, estado de Sergipe, Nordeste do Brasil (COSTA et al., 2012; PINTO et al., 2012), porém, não há relatos na literatura de estudos farmacológicos referentes a esta espécie. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 34 Figura 2. Distribuição fitogeográfica de Annona vepretorum (Disponível em http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2013). 3.5. Considerações sobre dor 3.5.1. Dor e Nocicepção A palavra “dor”, na língua portuguesa, vem do latim: dolore, que significa sofrimento; e “pain” na língua inglesa, do grego: poiné, pena (FEIN, 2011). A dor é uma das principais causas do sofrimento humano, levando a incapacidades, comprometimento da qualidade de vida e repercussões psicossociais e econômicas que a torna um problema de saúde pública (BOTTEGA; FONTANA, 2010). Gerrits et al. (2012) mostra que transtornos depressivos e de ansiedade são maiores quando a dor está presente. De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), o termo dor conceitua-se como uma experiência sensorial e emocional desagradável, relacionado à lesão tecidual real ou potencial, ou descritas em termos desse tipo de dano. Assim, a dor caracteriza-se como uma experiência complexa que envolve além de transdução de estímulos nocivos ambientais, o processamento emocional pelo cérebro (JULIUS; BASBAUM, 2001). É uma consequência fisiopatológica de diversas morbidades e de suas repercussões, mas que na maioria das vezes configura-se como uma função protetora, representando, em muitos casos, o único sintoma para o diagnóstico de várias doenças (OLIVEIRA et al., 2009). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 35 Tendo em vista que a dor é um sintoma clinicamente importante de precaução e, consequentemente, limitação de possíveis danos (WOOLF, 2000), a Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública e a Sociedade Americana de Dor a descrevem como o quinto sinal vital, devendo ser avaliado indispensavelmente junto aos outros sinais vitais: temperatura, pulso, respiração e pressão arterial (SOUSA, 2002). Diferente de nocicepção, a dor é mais que uma sensação, é uma experiência, podendo incorporar componentes sensoriais com influências pessoais e ambientais importantes. Enquanto, o termo nocicepção refere-se ao estímulo doloroso propriamente dito, sem levar em consideração o componente emocional, ou seja, engloba as vias neuroanatômicas, bem como os mecanismos neurológicos e os receptores específicos que detectam o estímulo lesivo. Sendo assim, uma vez que os animais não são capazes de expressar verbalmente os componentes subjetivos da dor, neles não se avalia dor, e sim nocicepção. Logo, termos como dor e analgesia são empregados para estudos em humanos, enquanto que nocicepção e antinocicepção são mais utilizados para estudos pré-clínicos, envolvendo animais de laboratório (KANDEL et al., 2003). A dor pode ser classificada de acordo com o tipo de lesão e com os mediadores envolvidos, recebendo as seguintes denominações: neurogênica, quando ocorre lesão do tecido neuronal; neuropática, quando ocorre a disfunção de um nervo; psicogênica, que ocorre por fatores psicológicos; ou nociceptiva, quando ocorre por estimulação excessiva dos nociceptores. Em termos de duração, um episódio de dor pode ser agudo ou crônico. A dor aguda corresponde à ativação local de nociceptores induzida por um dano tecidual, sendo que a dor desaparece até mesmo antes do restabelecimento do tecido lesado (MILLAN, 2002). Já a dor crônica é aquela que persiste mesmo tendo passado a fase de cura de uma lesão ou injúria, passando a se repetir ou sustentar-se por período prolongado e não tem aparentemente nenhuma função fisiológica ou protetora (APKARIAN et al., 2009). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 36 3.5.2. Nociceptores Os nociceptores são terminações nervosas livres que respondem a estímulos nociceptivos, detectando, desse modo, lesão nos tecidos, onde os estímulos desencadeantes podem ser mecânicos, térmicos ou químicos (MILLAN, 2002). A função básica dos nociceptores é de transmitir informações aos neurônios de ordem superior sobre a lesão tecidual ocasionada por estímulos nocivos (FEIN, 2011), e se encontram dispersos por todo o corpo, inervando a pele, músculos, articulações e órgãos internos (JULIUS; BASBAUM, 2001). Alguns nociceptores são sensíveis a um estímulo específico, enquanto outros são sensíveis a vários tipos de estímulos. Estas estruturas são descritas em quatro classes: mecânicos, térmicos, polimodais e silenciosos. Os nociceptores mecânicos respondem à pressão intensa, os térmicos respondem às temperaturas extremas, quentes (> 45 °C) ou frias (< 5 °C) e possuem fibras A mielinizadas. Em conjunto, esses nociceptores de fibra A δ-β são denominados nociceptores mecanotérmicos. Os nociceptores polimodais respondem aos estímulos nocivos mecânicos, térmicos ou químicos, e os nociceptores silenciosos são ativados por estímulos químicos, mediadores inflamatórios, respondendo a estímulos mecânicos e térmicos somente depois de serem ativados (FEIN, 2011). A estimulação destes nociceptores promove uma liberação local de mediadores químicos, que por sua vez, irão interagir com nociceptores específicos conduzindo à propagação do sinal doloroso por alteração na permeabilidade da membrana da fibra nervosa gerando o potencial de ação (JULIUS; BASBAUM, 2001; GRIFFIS et al., 2006). 3.5.3. Vias nociceptivas A transmissão do sinal nociceptivo está sujeita a uma variedade de moduladores que podem atuar de forma facilitatória ou inibitória, desde os nociceptores até as estruturas cerebrais responsáveis pela percepção da dor (GEBHART, 2004). A cascata de eventos que levam à integração dos sinais dolorosos envolve receptores (nociceptores periféricos), vias ascendentes na medula espinhal, áreas SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 37 de integração no cérebro (localizadas principalmente no tálamo) e projeções corticais (para áreas do córtex somatossensorial primário e secundário, bem como para o córtex insular e cingular) (CALVINO; GRILO, 2006). Os nociceptores estão associados a fibras aferentes de pequeno diâmetro, que podem ser mielinizadas (fibras tipo A) ou amielinizadas (fibras tipo C). As fibras aferentes de primeira ordem, relacionadas com a condução de estímulos dolorosos, são classificadas de acordo com sua estrutura, diâmetro e velocidade de condução em três tipos: fibras C, fibras A-beta e fibras A-delta (RANG et al., 2012). Na percepção da dor, os neurônios aferentes primários que participam da transmissão da sensação dolorosa envolvem fibras intensamente mielinizadas, de maior diâmetro (10 μm) e que apresentam maior velocidade de condução (30-100 m/s), caracterizadas como fibras Aβ. Entretanto, a maioria dos nociceptores está inclusa nas fibras de pequeno (0,4-1,2 μm) e médio diâmetro (2-6 μm), que constituem respectivamente as fibras C, não mielinizadas, e as fibras Aδ, pouco mielinizadas (JULIUS; BASBAUM, 2001). Na medula espinhal, estas fibras nervosas sensoriais liberam neurotransmissores, tais como aminoácidos (glutamato) e neuropeptídeos. Além disso, ocorre a liberação de uma variedade de agentes (bradicinina, citocinas, eicosanóides, serotonina e histaminas), que, agindo sobre os seus próprios receptores, contribuem para alterar o limiar nociceptivo dessas fibras (CURY et al., 2011). Todas as fibras nociceptivas sensoriais primárias fazem conexões sinápticas com neurônios secundários na substância cinzenta do corno dorsal da medula espinhal. Os neurônios do corno dorsal, por sua vez, projetam seus axônios e transmitem a informação nociceptiva para os centros encefálicos, incluindo a formação reticular, hipotálamo e tálamo que através de neurônios terciários, enviam o sinal ao córtex cerebral (ALMEIDA et al., 2004). A informação nociceptiva é transmitida da medula espinhal para o tálamo e para o córtex por cinco vias ascendentes: os tratos espinotalâmico, espinoreticular, espinomesencefálico, cervicotalâmico, espinohipotalâmico (PINTO, 2000). Os pontos de projeções para os neurônios nociceptivos são divididos em quatro categorias. A categoria principal é composta pelos núcleos localizados no tálamo ventrolateral, o qual é específico para o toque e nocicepção; estes neurônios convergem pelos SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 38 axônios do trato espinotalâmico, os quais possuem seus corpos celulares nas lâminas I, IV e V do corno dorsal (HUNT; MANTYH, 2001). A segunda categoria inclui pontos de projeções do bulbo e mesencéfalo, estas áreas recebem informações que convergem através dos tratos espinoreticular e espinotalâmico. A terceira categoria é composta pelo hipotálamo que recebe terminações axônicas provenientes tanto diretamente do trato espinotalâmico, quanto indiretamente do trato espinobraquial-hipotalâmico. Finalmente, a quarta categoria envolve o complexo amigdaloide, que faz parte da estrutura límbica, este recebe informações do núcleo parabraquial lateral (CALVINO; GRILO, 2006). A regulação da dor é explicada pela Teoria da Comporta da Dor, desenvolvida por Melzak & Wall na década de 60. Constitui-se em um modelo de percepção da dor no qual há uma regulação da passagem dos impulsos das fibras aferentes periféricas para o tálamo através dos neurônios de transmissão no corno dorsal. Ela funciona como uma estação regulatória para a transmissão da dor. Assim, a percepção da dor se dá pelo somatório da estimulação sensorial e um intenso controle central. Neurônios inibitórios descendentes ou influxo aferente nãonociceptivo ativam os neurônios da substância gelatinosa (SG) os quais, por sua vez, inibem as células transmissoras da dor dificultando a passagem do impulso doloroso para os centros superiores. Já a estimulação das fibras C, inibe os neurônios inibitórios da SG permitindo a passagem do impulso doloroso para o tálamo, constituindo-se então o processo de regulação da passagem do impulso doloroso para os centros superiores (VITOR et al., 2008). 3.5.4. Mecanismo da dor central Um dos mecanismos centrais de grande importância na fisiopatologia da dor é o da transmissão facilitada no corno dorsal e consequentemente para as vias nociceptivas superiores (CARVALHO; LEMÔNICA, 1998). Após a lesão tecidual ou estímulo doloroso, canais iônicos na membrana plasmática do nociceptor originam um potencial de ação do receptor (FEIN, 2011). Em seguida, há liberação de neurotransmissores, como substância P, somatotastina, neurocinina-A, glutamato e aspartato. Essas substâncias estão relacionadas com a SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 39 ativação de potenciais pós-sinápticos excitatórios e dos receptores N-metil-Daspartato (NMDA). 3.5.5. Mecanismo da dor periférica: dor inflamatória A dor inflamatória ocorre devido à sensibilização dos neurônios nociceptivos sensoriais primários (CUNHA et al., 2005). Após uma lesão tecidual ou inflamação, os nociceptores são ativados pela ação de mediadores químicos (VERRI et al., 2006). Esses mediadores ativam cascatas de segundos mensageiros, influenciando canais iônicos, enzimas e proteínas de sinalização intracelular nos nociceptores, levando ao aumento da excitabilidade do neurônio, diminuindo o limiar de disparo e aumentando a frequência de potenciais de ação produzidos durante uma estimulação supralimiar (BASBAUM; WOOLF, 1999). A lesão tecidual inicial resulta na liberação de mediadores pelas células lesadas, incluindo os prótons H+, serotonina, bradicinina, histamina e óxido nítrico (NO). Posteriormente, a ativação do processo inflamatório induz a via do ácido araquidônico, resultando na produção de prostaglandinas e leucotrienos e, por fim, as células do sistema imune são recrutadas, liberando ainda outros mediadores, incluindo fatores de crescimento e citocinas como interleucina-1 (IL-1) e fator de necrose tumoral-α (TNF-α) (KIDD; URBAN, 2001). 3.6. Drogas analgésicas O alívio ou o cessar da dor é obtido pelo uso de analgésicos. A ação analgésica central pode ser mediada através da inibição dos receptores da dor central, enquanto o efeito analgésico periférico pode ser mediado através da inibição da cicloxigenase (COX) e/ou lipoxigenase, além de outros mediadores inflamatórios (CHAVAN et al., 2010). Os analgésicos de ação central, opioides, a exemplo da morfina, incluem fármacos capazes de aliviar a dor por atuarem em receptores de superfície celular denominados de receptores opioides (QUINTÃO et al., 2011). Estudos farmacológicos confirmaram, por clonagem dos receptores, que existem três tipos principais de receptores de opioides, chamados de μ, κ e δ que medeiam os SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 40 principais efeitos farmacológicos dos opiáceos (STEIN et al., 2009). A morfina e a maioria de seus análogos exercem seus efeitos analgésicos atuando principalmente nos receptores μ (MERRER et al., 2009). Os opioides, como a morfina, são os fármacos usados para o tratamento mais eficaz para a maioria dos tipos de dor. Infelizmente, o uso de opioides é limitado pelos seus efeitos secundários, o potencial de dependência e o desenvolvimento de tolerância (MORGAN; CHRISTIE, 2011). Alguns dos efeitos secundários são: constipação, náusea, vômito, sedação, depressão respiratória e retenção urinária (QUINTÃO et al., 2011). Em geral, os anti-inflamatórios não-esteroidais inibem, de forma variável, ambas as isoformas da COX em suas doses terapêuticas. Deste modo, passaram a ser caracterizados de acordo com sua capacidade de inibição da COX-1 e 2 (KUMMER; COELHO, 2002). Apesar de sua eficácia em uma ampla gama de condições de dor e inflamação, a administração de AINES em longo prazo pode induzir úlceras gastrointestinais, sangramentos e desordens renais devido à inibição não seletiva das isoformas constitutiva (COX-1) e induzível (COX-2) da enzima cicloxigenase (COX) (TAPIERO et al., 2002). A COX é a enzima responsável pela metabolização do ácido araquidônico em precursores das prostaglandinas. Estes são depois processados em prostaglandinas biologicamente ativas, sendo a prostaglandina E2 (PGE2) a mais relevante para a indução da dor inflamatória (CHOPADE; MULLA, 2010). Por outro lado, os coxibes, inibidores seletivos de COX-2, apesar da reduzida toxicidade gastrointestinal, têm sido associados a efeitos cardiovasculares adversos, como aumento da ocorrência de infarto do miocárdio e acidentes vasculares encefálicos (DOGNÉ et al., 2005), devido ao desequilíbrio de fatores prótrombóticos, podendo levar à agregação plaquetária e vasoconstrição (KUMMER; COELHO, 2002). 3. 7. Modelos experimentais para avaliação da atividade antinociceptiva 3.7.1. Contorções abdominais induzidas por ácido acético O teste de contorções abdominais é um modelo químico de nocicepção que SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 41 se baseia na contagem das contorções da parede abdominal seguidas de torção do tronco e extensão dos membros posteriores, como resposta reflexa à irritação peritoneal e à peritonite produzidas pela injeção intraperitoneal de uma solução de ácido acético 0,9% (WHITTLE, 1964). Este teste é sensível à avaliação de drogas analgésicas, no entanto, pode ser visto como um modelo geral, não seletivo, para estudos de drogas antinociceptivas (COUTO et al., 2011), uma vez que a irritação local produzida pela injeção intraperitoneal do ácido acético provoca a liberação de uma variedade de mediadores, tais como a substância P, bradicininas, prostaglandinas, bem como das citocinas pró-inflamatórias tais como IL-1, IL-6, IL-8 e TNF-α (PINHEIRO et al., 2011). Alguns investigadores têm associado este método com a liberação de prostanoides, em geral, níveis elevados de PGE 2 e PGF2α, bem como produtos da lipoxigenase em fluidos peritoneais (VERMA et al., 2005). 3.7.2. Teste da formalina O teste da formalina é um método de avaliação comportamental utilizado para medir a efetividade de agentes antinociceptivos (HUNSKAAR; HOLE, 1987; RANDOLPH; PETERS, 1997). Este modelo de dor está associado à lesão tecidual, no qual se quantifica a resposta comportamental provocada pela injeção subcutânea de formalina diluída na pata traseira do animal (DUBUISSON; DENNIS, 1977; MARTINS et al., 2006). A vantagem deste teste sobre outros métodos de nocicepção é a possibilidade de avaliar dois tipos diferentes de dor ao longo de um período prolongado de tempo e, assim, permite o teste de analgésicos com diferentes mecanismos de ação (RANDOLPH; PETERS, 1997). As respostas comportamentais à formalina seguem um padrão bifásico composto de uma fase inicial aguda (primeira fase), e por um período mais prolongado (segunda fase) de atividade comportamental aumentada, que pode durar até cerca de uma hora. O período entre as fases é denominado intervalo de quiescência (DUBUISSON; DENNIS, 1977, MARTINS et al., 2006). A primeira fase inicia-se imediatamente após a injeção de formalina e se estende pelos primeiros 5 minutos (dor neurogênica ou aguda), estando relacionada SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 42 com a estimulação química direta dos nociceptores das fibras aferentes do tipo C e, em parte, das fibras do tipo Aδ e está associada à liberação de aminoácidos excitatórios, óxido nítrico e substância P. A segunda fase ocorre entre 15 e 30 minutos após a injeção de formalina e está relacionada com a liberação de vários mediadores pró-inflamatórios, como bradicinina, prostaglandinas e serotonina, entre outros. O intervalo de quiescência entre a primeira e a segunda fase é resultado de uma inibição da transmissão nociceptiva através de circuitos supra-espinhais e espinhais (HUNSKAAR; HOLE, 1987). 3.7.3. Teste de Randall-Selitto O modelo experimental desenvolvido por Randall & Selitto (1957) é um método para avaliação da hipernocicepção bastante utilizado, que se fundamenta na indução de hiperalgesia através de pressão crescente na pata do animal. Este teste é baseado no princípio de que a inflamação diminui o limiar de reação à dor e que essa redução pode ser modificada por analgésicos narcóticos e não-narcóticos. Neste ensaio experimental, um agente flogístico é injetado no tecido subplantar de uma das patas traseiras, e é medido o tempo de latência da retirada da pata a partir da pressão exercida. O reflexo de retirada da pata é considerado representativo do limiar hipernociceptivo, ou seja, a força necessária aplicada à pata para que induza uma resposta aversiva a um estímulo nocivo (Limiar Nociceptivo de Retirada da Pata - LNRP). A força necessária para que esse animal exiba tal resposta é registrada em gramas. O LNRP é avaliado antes e após a administração dos estímulos hiperalgésicos ou inflamatórios, que variam de acordo com o experimento (RANDALL; SELITTO, 1957). 3.7.4. Teste de von Frey O uso de filamentos de von Frey é um método utilizado para avaliar a sensibilidade tecidual ao estímulo mecânico, sendo bastante utilizado clinicamente. Entretanto, tal método passou a ser utilizado também para experimentos laboratoriais, no sentido de avaliar a influência de drogas sobre a sensibilidade nociceptiva em animais. Além disso, essa técnica foi transformada em um método SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 43 eletrônico, usado primeiramente em humanos (JENSEN et al., 1986), e posteriormente em ratos e camundongos (CUNHA et al., 2004). Os experimentos são realizados com um anestesiômetro eletrônico, que consiste em um transdutor de pressão adaptado a um contador digital de força expressa em gramas (g). O contato do transdutor de pressão com a pata é realizado através de uma ponta descartável de polipropileno. Os animais são colocados em caixas de acrílico durante 15-30 minutos para adaptação. O assoalho da caixa é feito de arame não maleável na forma de rede. As alterações nos limiares nociceptivos são avaliadas exercendo-se uma pressão linearmente crescente no centro da planta da pata do animal até a produção de uma resposta caracterizada como sacudida (flinches) da pata estimulada. Os estímulos são repetidos por até seis vezes, em geral até o animal apresentar três medidas similares com uma clara resposta de flinch após a retirada da pata. A intensidade de hipernocicepção é quantificada como a variação na pressão obtida subtraindo-se a média de três valores, expressos em gramas (força), observada antes do procedimento experimental (0 hora) da média de três valores, em gramas (força), após a administração dos estímulos, que variam de acordo com o experimento (JENSEN et al., 1986). Os modelos experimentais baseados em testes mecânicos permitem a avaliação do aumento da sensibilidade do nociceptor a estímulos inócuos (alodinia) ou nocivos (hiperalgesia). Porém, além de estímulo de nociceptores de fibras Aδ e nociceptores de fibras C, também podem ser ativados mecanorreceptores, resultando em estímulos inespecíficos que nem sempre refletem a neurofisiologia da nocicepção. Particularmente, o teste de von Frey, é usado para avaliar através do estímulo mecânico inócuo e crescente (alodinia mecânica) a sensibilidade tecidual provocada pela incisão (LE BARS et al., 2001). 3.7.5. Dor orofacial induzida por formalina A região orofacial é uma área densamente ocupada pelo nervo trigêmeo e, muitas vezes, é sítio frequente de dores referida e crônica. Alterações clínicas no território trigeminal, como aumento de sensibilidade cutânea e hiperalgesia, observadas em cefaleias primárias e dores orofaciais em geral, são muito sugestivas de anormalidades no sistema nociceptivo trigeminal (PERLA, 2007). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 44 Entre os modelos nociceptivos experimentais de dores orofaciais e cefálicas, o teste da formalina é um dos mais relevantes em termos de aplicabilidade experimental e clínica, quando se estuda dores agudas (PERLA, 2007). Ele avalia a nocicepção trigeminal por meio da aplicação de estímulo químico (administração subcutânea de uma solução de formalina) na região orofacial. Este modelo constitui uma adaptação do teste da formalina administrada na superfície plantar de animais (DUBUISSON; DENNIS, 1977, RABOISSON; DALLEL, 2004). Contudo, vale ressaltar que para uma avaliação mais detalhada dos receptores envolvidos no mecanismo de ação do produto natural a ser testado, este ensaio experimental pode ser realizado com a aplicação de outros agentes químicos, como por exemplo, glutamato e capsaicina (SILVA, 2011). As principais respostas comportamentais que caracterizam a dor e que são observadas nesse modelo experimental são: medida do tempo ou do número de reflexos de autolimpeza (grooming) dirigidos ao local da injeção de formalina; vocalização espontânea; tremores vigorosos do corpo (shaking) associados ao ato de lamber as patas dianteiras e proteger vigorosamente a face; e trismo (PERLA, 2007). Assim como no teste da aplicação de formalina subplantar, os parâmetros indicativos de dor para este modelo também podem ser observados imediatamente após a aplicação do agente químico e, posteriormente, após o período de quiescência. Segundo Dubuisson & Dennis (1977), a dor, no modelo nociceptivo trigeminal, é inicialmente resultante da reação inflamatória gerada pela ligação da formalina às proteínas teciduais, por meio da formação de pontes primárias de carbono (propriedade fixadora do tecido). Tal reação inflamatória na área de injeção persiste por período relativamente longo. A resposta inicial (primeira fase) possivelmente decorre da estimulação direta dos nociceptores, enquanto que a segunda fase do teste deve-se à inflamação e sensibilização central. 3.7.6. Teste da placa quente O teste da placa quente (hot plate) avalia o tempo em que os animais permanecem sobre uma chapa metálica aquecida (55 ± 0,5 ºC) até reagirem ao estímulo térmico com o comportamento de levantar ou lamber as patas (TITA et al., SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 45 2011). As aferições são realizadas nos tempos de 30, 60, 90 e 120 minutos após a administração das substâncias a serem analisadas. O modelo experimental foi inicialmente descrito por Woolfe & Macdonald (1944) como modelo específico para a detecção de substâncias analgésicas de efeito central. Embora o uso de analgésico central e periférico responda pela inibição do número de contrações provocadas por estímulos químicos que levam à dor, apenas os analgésicos centrais aumentam o tempo de resposta no teste da placa quente. Este modelo utiliza a temperatura como estímulo nociceptivo. Dessa forma, os nociceptores (fibras C e Aδ, principalmente) são estimulados após a ativação dos receptores vaniloides, especificamente os receptores do tipo VR-1, que possuem limiar de ativação em 43 ºC, e os receptores do tipo VRL-1, que possuem limiar de ativação em 52 ºC. Estes últimos são importantes na avaliação da resposta a estímulos térmicos nocivos, pois são responsáveis pela resposta em decorrência do aumento da temperatura (JULIUS; BASBAUM, 2001; BENEDITO, 2009). 3.7.7. Teste de retirada da cauda O teste de retirada da cauda (tail-flick) é sensível para identificar a atividade de compostos presentes em extratos vegetais ou isolados a partir desses, além de sintéticos, cujos mecanismos sejam semelhantes aos promovidos pelos analgésicos opioides (OLIVEIRA et al., 2008). Este ensaio experimental consiste na aplicação de uma fonte radiante de calor na cauda do animal como estimulo nociceptivo térmico, provocando seu movimento de retirada (OLIVEIRA et al., 2009). Um aumento no tempo de reação é geralmente considerado como um parâmetro importante para avaliar a atividade antinociceptiva central, caracterizando-se por uma nocicepção aguda não inflamatória. Sendo assim, substâncias que atuam em nível central, como a morfina, são capazes de suprimirem respostas de neurônios espinhais ao estímulo térmico nocivo na cauda, aumentando o tempo de latência (FISCHER et al., 2008). 3.8. Considerações sobre inflamação O conceito de inflamação ou flogose é originado do grego phologosis e do SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 46 latim flamma, cujo significado é oriundo das características morfofisiológicas, significando assim área em chamas. Na clínica, quatro sinais principais da inflamação são conhecidos: rubor, dor, calor e tumor. A perda de função, quinto sinal clínico, foi posteriormente adicionada por Virchow. Estes sinais são tipicamente mais proeminentes na inflamação aguda do que na crônica (COTRAN, 2006). A inflamação é uma reação do tecido vascularizado a estímulos endógenos ou exógenos que podem provocar dano celular, podendo haver a prevenção ou progressão da mesma pelo isolamento ou destruição do agente lesivo. O processo inflamatório abrange uma série de fenômenos que se originam não só por agentes infecciosos, como também por agentes físicos, químicos, isquemia e interações antígeno – anticorpo (FLOWER et al., 2005). A resposta inflamatória pode ser dividida em aguda e crônica, divisão essa baseada na duração e características patológicas da reação inflamatória. A inflamação aguda apresenta relativamente, rápido início e uma duração relativamente curta (horas a dias) caracterizando-se por vasodilatação, exsudação de fluido ou exsudato rico em proteínas com formação de edema, migração de células (primariamente neutrófilos) para o sítio lesado e, em alguns casos, ativação da cascata de coagulação (SHERWOOD; TOLIVER-KINSKY, 2004). Já a inflamação crônica tem longa duração e está associada com a presença de linfócitos e macrófagos, proliferação de vasos sanguíneos, fibroses e tecidos necrosados. O processo inflamatório compreende dois eventos que ocorrem simultaneamente durante o curso evolutivo (eventos vasculares e celulares) (BRASILEIRO-FILHO, 2007). 3.8.1. Eventos vasculares Ao iniciar o processo inflamatório, os vasos sanguíneos sofrem alterações, que promovem a passagem de proteínas plasmáticas e células da circulação para o local da lesão ou da infecção (KUMAR et al., 2005). Os sinais da inflamação se desenvolvem rapidamente logo após a lesão, resultando na vasodilatação e extravasamento de células (ALLER et al., 2007; SHERWOOD; TOLIVER-KINSKY, 2004). A vasoconstricção é um contribuinte primário e é iniciada através da liberação de catecolaminas, contudo, células SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 47 lesadas que secretam prostaglandinas também contribuem para essa redução no calibre dos vasos (ALLER et al., 2007). A vasodilatação segue a vasoconstricção inicial sendo revertida após 10 a 15 minutos da lesão, sendo mediada por produtos endoteliais e fatores derivados de mastócitos como leucotrienos, prostaglandinas e, particularmente, histamina (ALLER et al., 2007). O edema é provocado pelo aumento da permeabilidade vascular, que promove extravasamento de fluido rico em proteínas, de alto peso molecular, do compartimento intravascular para o interstício (ALLER et al., 2007; KUMAR et al., 2005). 3.8.2. Eventos celulares A vasodilatação e a exsudação plasmática são acompanhadas pela marginação, adesão e migração de leucócitos para sítios de inflamação, processo esse crucial para as funções destas células tanto na imunidade inata quanto na adaptativa (VAN MIERT, 2002). A migração de neutrófilos, monócitos e células “natural killer” é, comumente, iniciada em respostas inatas, a partir da geração local de mediadores inflamatórios, como quimiocinas e algumas citocinas específicas (NOURSHARGH; MARELLIBERG, 2005). A migração dos leucócitos do compartimento vascular para o tecido extravascular é mediada por interações adesivas específicas entre os leucócitos e as células endoteliais. A sequência de eventos neste processo envolve marginação e captura dos leucócitos livres circulantes do lúmen vascular; rolamento, ativação, adesão firme e extensão na superfície do endotélio; passagem através da barreira das células endoteliais ou diapedese e transmigração (WAGNER; ROTH, 2000). Os grupos de moléculas de adesão de maior importância são as selectinas (E, P e L- selectinas), uma vez que medeiam à adesão fraca, acompanhada do rolamento e, em seguida, a adesão firme dos leucócitos, fenômeno intercedido por imunoglobulinas e integrinas β-2 presentes na superfície dos leucócitos, cuja expressão pode ser aumentada após a ativação do leucócito por mediadores inflamatórios como as citocinas. Seguida a adesão firme, ocorre ligação estável mediada por imunoglobulinas, principalmente molécula de adesão intercelular-1, moléculas de adesão intercelular-2, molécula de adesão de célula endotelial e plaquetas que estão presentes no endotélio, denominadas de integrinas β-2 SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 48 (WAGNER; ROTH, 2000). O recrutamento das células inflamatórias para os locais da lesão envolve, além das moléculas de adesão celular descritas, interações combinadas de diversos tipos de mediadores solúveis que parecem desempenhar um papel essencial na coordenação do processo inflamatório (ROBERTSII; MORROW, 2003). 3.8.3. Mediadores químicos Para que ocorra este processo, muitos mediadores químicos apresentam-se envolvidos, podendo ser de origem tissular, como as aminas vasoativas, fator de ativação plaquetária (PAF), eicosanoides, citocinas, radicais livres superóxidos, óxido nítrico (NO) e neuropeptídeos; ou ainda de origem plasmática, como os sistemas de coagulação, do complemento, das cininas e fibrinolítica (RANG et al., 2012). Estes por sua vez, são responsáveis pelos eventos vasculares, permitindo assim a vasodilatação, a estase vascular e o aumento da permeabilidade capilar; garantindo ainda a migração de leucócitos da circulação para o tecido inflamado e coordenando as múltiplas respostas de defesa local. Alguns desses mediadores apresentam a capacidade de estimular neurônios sensoriais locais, contribuindo para o surgimento da nocicepção (ROTH et al., 2009). Contudo, é possível que a inflamação ultrapasse certos níveis, sendo assim, permite que quantidades suficientes de mediadores endógenos entrem na circulação sistêmica, se disseminando na corrente sanguínea e provocando múltiplas reações, chamadas de resposta de fase aguda que incluem o desenvolvimento da febre, a perda do apetite, aumento do ciclo de sono, diminuição da atividade motora, a redução da libido e a diminuição do comportamento de alerta (ROTH et al., 2009). Dentre as citocinas liberadas no momento do trauma, destaca-se o fator de necrose tumoral (TNF-α) que promove a liberação de outras citocinas, destacandose a interleucina 1-beta (IL-1β) e a interleucina 8 (IL-8). A IL-1β, por sua vez, promove a ativação da enzima cicloxigenase (COX) responsável pela produção de prostaglandinas - PGs, prostaciclinas - PIs e tromboxanos – TXs, enquanto a IL-8 atua na liberação local de aminas simpatomiméticas (BASBAUM; JULIUS, 2006; VERRI et al., 2006). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 49 3.9. Drogas anti-inflamatórias 3.9.1. Anti-inflamatórios não esteroidais Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) são as drogas mais comumente prescritas no mundo todo, apresentam atividade analgésica, antipirética e antiinflamatória, apresentam-se como um grupo heterogêneo de compostos que embora não estejam relacionados quimicamente compartilham de ações terapêuticas e efeitos colaterais (GILMAN et al., 2006). Os fármacos inclusos nessa classe são classificados de acordo com sua origem química, em sete grandes grupos: os salicilatos; derivados do paraminofenol (paracetamol); derivados do ácido acético; fenamatos; derivados do ácido propiônico; ácidos enólicos (oxicans); e derivados da pirazolona. Cada um deles apresenta subgrupos que proporcionam uma variedade de produtos no mercado farmacêutico (GILMAN et al., 2006). Apesar do mecanismo de ação dos AINEs não ser completamente elucidado, sabe-se que seu principal mecanismo de ação é inibir a síntese de prostaglandinas, fato esse importante, contudo, não único no fenômeno da inflamação (RANG et al., 2012). Estes fármacos inibem o sítio ativo da enzima cicloxigenase, levando a não formação de prostanoides, combatendo assim a inflamação, a dor e a febre. Contudo, apresentam efeitos adversos principalmente no trato gastrointestinal, na função renal e na agregação plaquetária, que tornam limitados o uso dessas drogas (RANG et al., 2012). A maior parte desses fármacos não inibe a atividade das lipoxigenases podendo levar ao desvio do catabolismo do ácido araquidônico para esta via, promovendo a formação de leucotrienos e levando à continuidade do processo inflamatório por outros mecanismos (BASBAUM; JULIUS, 2006). Apesar da inibição da COX ser o principal mecanismo de ação dos AINES, essa classe de drogas pode ainda exercer outros efeitos, justificando assim, a eficiente ação de alguns fármacos, com fraca ação antiprostaglandinas. Entretanto, a extensão na qual esses mecanismos adicionais são importantes, varia de droga para droga e seus efeitos terapêuticos ainda são incertos (LEES et al., 2004). Em geral, esses fármacos inibem de forma variável as isoformas COX-1 e SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 50 COX-2 em suas doses terapêuticas, sendo então caracterizados de acordo com sua capacidade de inibição dessas respectivas enzimas. Se em sua dose terapêutica, o agente inibe apenas a isoforma COX-2, sem interferência na atividade COX-1, denominam-se agente inibidor específico COX-2, os coxibes, como por exemplo, o firocoxibe. Os fármacos que tem especificidade parcial para COX-2 são chamados seletivos COX-2, e são exemplos o carprofeno e o meloxicam (LEES et al., 2004). A partir de descobertas denominaram a COX-1 como fisiologicamente constitutiva, agindo como citoprotetora gástrica e mantenedora da homeostase renal e plaquetária e, a COX-2 ou indutiva, a qual expressava-se apenas em situações de trauma tissular e inflamação (YAKSH et al., 2001; PERAZELLA et al., 2001;). Surge então, a ideia de que inibidores específicos da COX-2 impediriam o processo inflamatório sem os efeitos colaterais indesejáveis. No entanto, evidências da presença de COX-2 em determinados tecidos humanos e de animais também envolvidas com a homeostase, pôs em discussão a segurança e até que ponto o uso de agentes anti-inflamatórios com inibição específica desta isoforma apresentaria realmente vantagens sobre os não seletivos (DOGNÉ et al., 2005). 3.9.2. Anti-inflamatórios esteroidais Os corticoesteroides (CT) são fármacos amplamente utilizados pelas suas conhecidas propriedades anti-inflamatórias e imunossupressoras, no tratamento de diversas patologias, tais como as doenças reumatológicas, auto-imunes, respiratórias e no processo de transplantação de órgãos (PATRICIO et al., 2006). São agentes que simulam os esteroides hormonais endógenos produzidos no córtex adrenal: o cortisol (glicocorticoide) e a aldosterona (mineralocorticoide). Os glicocorticoides são regulados primariamente pela corticotropina (ACTH), enquanto que os mineralocorticoides são regulado pelo sistema renina-angiotensina e possuem propriedades de retenção de sal (FINAMOR et al., 2002). Glicocorticoides (GC) são os mais eficazes anti-inflamatórios disponíveis, suplantando os não-esteroides. Empregam-se em doses equipotentes e são clinicamente classificados conforme sua duração de ação. A menor atividade mineralocorticoide é vantajosa por evitar retenção de fluido. Os glicocorticoides são capazes de induzir a maturação celular (pneumócito tipo II), diferenciação celular SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 51 (linhagens da crista neural) ou mesmo a morte celular por apoptose, o que permite seu uso no tratamento de tumores, especialmente os de linhagem hematopoiética (LONGUI, 2007). A maioria dos efeitos anti-inflamatórios dos glicocorticoides é mediada via receptores de glicocorticoides citosólicos (RGC), que são encontrados em cada célula do corpo e exercem uma variedade de ações fisiológicas afetando cada sistema do organismo (KIM et al., 2009). Os glicocorticoides são capazes de inibir citocinas pró-inflamatórias, como as interleucinas IL-2 e IL-12, o interferon gama (IFN-γ) e o fator de necrose tumoral (TNF-α), bem como moléculas de adesão, como a lipocortina-1, moléculas de adesão vascular (VCAM-1) e moléculas de adesão intercelular (ICAM), ou ainda enzimas, como a sintase induzida pelo óxido nítrico (iNOS), a ciclooxigenase (COX-2) e a fosfolipase A2 (PLA2) (LONGUI, 2007). Seus excelentes efeitos terapêuticos como anti-inflamatório e imunossupressor são, frequentemente, acompanhados por graves e, algumas vezes, irreversíveis efeitos colaterais, como diabetes mellitus, úlcera péptica, síndrome de Cushing com supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, osteoporose, atrofia cutânea, psicose, glaucoma, entre outras, ficando o uso dos GC limitado por estes efeitos colaterais (SCHACKE et al., 2002). 3.10. Modelos experimentais 3.10.1. Edema de pata induzido por carragenina A injeção subcutânea de carragenina na pata de ratos ou camundongos induz aumento agudo e progressivo do volume da pata injetada. Este edema é proporcional à intensidade da resposta inflamatória, constituindo um parâmetro útil na avaliação da atividade anti-inflamatória de novos compostos. Após a medida do volume basal de ambas as patas traseiras, os animais são tratados com o extrato da planta medicinal nas doses escolhidas em testes preliminares; com o veículo ou com a droga padrão. Após uma hora dos tratamentos, os animais recebem uma injeção s.pl. de carragenina (1-2 %) em uma das patas traseiras. Após a injeção, mede-se o volume das patas e repete-se a medida a cada hora até completar 5 h da injeção de carragenina. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 52 Para a medida do volume das patas, imerge-se a pata até o maléolo lateral em um hidropletismômetro elétrico. Este aparelho mede o volume de líquido deslocado e o traduz de forma digital. O valor do edema é obtido pela subtração do volume da pata injetada com salina do volume da pata injetada com o estímulo inflamatório (LAPA et al., 2003). O modelo experimental demonstra um elevado grau de reprodutibilidade. A resposta inflamatória induzida pela carragenina é caracterizada por uma resposta bifásica com formação de edema acentuado resultante da produção rápida de vários mediadores inflamatórios, tais como histamina, serotonina e bradicinina (primeira fase), e subsequentemente liberação de prostaglandinas e óxido nítrico (segunda fase), com pico em 3 h, produzido por isoformas indutíveis de COX-2 e de óxido nítrico sintase (iNOS), respectivamente (THOMAZZI et al., 2010). 3.10.2. Edema de orelha induzido por óleo de cróton O modelo de edema induzido na orelha de camundongos por óleo de cróton pesquisa a atividade de agentes anti-inflamatórios de uso tópico, mas também a administração sistêmica de anti-inflamatórios esteroidais. O anti-inflamatório e o extrato são aplicados topicamente nas orelhas direitas de camundongos e, após 1 hora, período de absorção, aplica-se topicamente na mesma orelha cróton diluído em acetona, enquanto a outra orelha é tratada apenas com o veículo. Após 4 horas, sacrifica-se os animais por deslocamento cervical, retira-se fragmentos de cada orelha e pesa-se os fragmentos em balança analítica. O edema induzido é medido pela diferença de peso entre as orelhas (LAPA et al., 2003). O edema de orelha induzido por aplicação tópica de óleo de cróton envolve a ativação da fosfolipase A2, com consequente biosíntese de prostaglandinas e leucotrienos (FURSTENBERGER; MARKS, et al., 1980). O efeito edematogênico deste agente flogístico é determinado pela presença, no óleo, de ésteres de forbol que estimulam diretamente proteínas quinase C, ativando as vias de sinalização celular por elas controladas (HARA et al., 1992). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 53 3.10.3. Peritonite induzida por carragenina A peritonite induzida pela injeção i.p de carragenina é um modelo de inflamação amplamente utilizado na pesquisa de drogas anti-inflamatórias (LAPA et al., 2003). A injeção intraperitoneal de carragenina leva à migração de leucócitos para o local da inflamação (ZHANG et al., 2011). A quantificação dos leucócitos através de uma câmara de Neubauer permite avaliar a influência de drogas neste parâmetro da resposta inflamatória, sendo particularmente sensíveis+9 a anti-inflamatórios esteroidais. A presença dos mediadores inflamatórios também podem ser avaliados e dosados no exsudato inflamatório obtido do peritônio (LAPA et al., 2003). Considerando a ascensão da fitoterapia no Brasil nas últimas décadas e a necessidade da busca de moléculas com atividade analgésica e/ou anti-inflamatória que garantam uma terapia eficaz e segura para o tratamento da dor e inflamação, o presente trabalho realizou a avaliação da atividade farmacológica do extrato da espécie Annona vepretorum Mart., abordando aspectos de atividade antinociceptiva e anti-inflamatória. 54 4. PARTE EXPERIMENTAL SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 55 4. PARTE EXPERIMENTAL 4.1. Material vegetal 4.1.1 Coleta de Annona vepretorum Mart. para obtenção do extrato etanólico bruto As folhas de Annona vepretorum Mart. foram coletadas no município de Jaguarari, estado da Bahia, em junho de 2008, cujas coordenadas geográficas são: latitude 10º03’00,00’’’ longitude 040º06’33,60’’ e altitude 689 m. O material botânico foi identificado pelo biólogo Dr. José Alves de Siqueira Filho do Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga (CRAD). Uma exsicata da espécie está depositada no Herbário Vale do São Francisco (HVASF) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) sob o código #946 (Figura.3). Figura 3. Exsicata de Annona vepretorum coletada em Jaguarari-BA. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 56 4.1.2 Coleta de Annona vepretorum para extração do óleo essencial As folhas de Annona vepretorum foram coletadas no município de Petrolina, estado de Pernambuco, em março de 2012, cujas coordenadas geográficas são: latitude 09º19’37,50’’’ longitude 040º33’01,40’’ e altitude 385 m. O material botânico foi identificado pelo biólogo Dr. José Alves De Siqueira Filho do Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas da Caatinga (CRAD). A exsicata da espécie está depositada no Herbário Vale do São Francisco (HVASF) na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) com o código #18350 (Figura 4). Figura 4. Exsicata de Annona vepretorum coletada em Petrolina-PE. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 57 4.2. Obtenção do extrato etanólico bruto das folhas de Annona vepretorum O material vegetal foi dessecado em estufa com ar circulante à temperatura média de 40 ºC durante três dias. Após a secagem e completa estabilização (eliminação de água, inativação de enzimas, etc.) o material foi pulverizado em moinho, obtendo-se um material vegetal seco e pulverizado (1400 g). Este material seco e pulverizado foi submetido à maceração exaustiva com etanol 95% em um percolador. Foram realizadas várias extrações com intervalos de 72 horas entre cada extração. A solução foi filtrada e concentrada no evaporador rotatório a uma temperatura de 50 ºC sob vácuo. Após evaporação do solvente em rotavapor, obteve-se o extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av- EtOH). A partir de 1.400 g do pó seco das folhas foi obtido 600 g do extrato etanólico bruto (42,86% de rendimento em relação ao peso seco da planta). 4.3. Avaliação fitoquímica preliminar dos constituintes químicos de Av-EtOH Esta triagem procura sistematizar ou rastrear os principais grupos de constituintes químicos que compõem um extrato vegetal. É um exame rápido e superficial através de reagentes de coloração ou precipitação que revela a presença de metabólitos secundários em um extrato. A triagem fitoquímica preliminar, com vistas ao estabelecimento da possível natureza química dos compostos existentes foi realizada com o extrato etanólico bruto. Os metabólitos secundários foram testados baseados nos já encontrados em outras espécies do mesmo gênero. Foram realizados testes para as classes específicas de constituintes químicos, tais como saponinas, esteroides, alcaloides, flavonoides e taninos. Os extratos foram avaliados em placas cromatográficas de sílica gel com suporte de alumínio, aplicados com micropipeta e eluídos em diferentes sistemas de solventes, conforme descrito por Wagner e Bladt (1996), procurando-se evidenciar os principais grupos do metabolismo secundário (Tabela 1). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 58 Tabela 1. Sistemas de eluição e reveladores utilizados para caracterizar os principais metabólitos secundários da espécie Annona vepretorum (Annonaceae). Classe química Sistema eluente Tolueno:acetato de Alcaloides gerais etila:dietilamina (70:20:10) Padrão Revelador Yoimbina Dragendorff Quinina Acetato de etila:ácido Antocianinas fórmico:ácido acético glacial:água Azul de metileno Anisaldeído sulfúrico (100:11:11:26) Antraquinonas Éter de Petróleo:acetato agliconas de etila:ácido fórmico Ácido Antraquinona (75:25:1) fosfomolíbdico/ H2SO4 etanólico 10% Acetato de etila:ácido Flavonoides fórmico:ácido acético Rutina glacial:água Quercetina NEU (100:11:11:26) Tolueno:éter etílico Cumarinas (1:1 saturado com ácido Escopoletina KOH etanólico 10% Aloína KOH etanólico 10% Estrato de linhaça Vanilina fosfórica acético 10%) Derivados antracênicos Lignanas Naftoquinonas Acetato de etila:metanol:água (100:13,5:10) Clorofórmio:metanol:água (70:30:4) Tolueno:ácido fórmico Biflorina (99:1) Lapachol Clorofórmio:ácido Saponinas acético:metanol:água (64:32:12:8) Saponina KOH etanólico 10% Anisaldeído sulfúrico (WAGNER; BLADT, 1996). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 59 Continuação Classe química Sistema eluente Padrão Revelador Acetato de etila:ácido Taninos acético glacial:ácido Catequina Vanilina condensados fórmico:água Epicatequina clorídrica Ácido gálico Sulfato de ferro Ácido tânico amoniacal ( 1%) (100:11:11:26) Taninos n-Butanol:acetona:tampão fosfato hidrolisáveis (40:50:10) Triterpenos e Tolueno:clorofórmio:etanol Lupeol Lieberman- esteroides (40:40:10) Sitosterol Burchard Cafeína Iodo- KI-HCl Acetato de Xantinas etila:Metanol:água (100: 13,5: 10) Adaptado de Wagner; Bladt, 1996. 4.4. Obtenção do óleo essencial das folhas de Annona vepretorum Para obtenção do óleo essencial, as folhas frescas de Annona vepretorum (549,0 g) foram cortadas e submetidas à hidrodestilação durante 2 h num aparelho tipo Clevenger. Obteve-se o óleo essencial das folhas (Av-OE), com percentual de rendimento de 0,3664%. A análise do óleo foi feita em espectrômetro de massa (QP-5050) equipado com um cromatógrafo em fase gasosa (GC-17A), para a identificação e quantificação do óleo essencial estudado. Os dados foram obtidos e processados com um software específico. 4.5. Animais Foram utilizados camundongos albinos Swiss (Mus musculus) de ambos os sexos, pesando entre 30-40 g e ratos (Rattus novergicus) Wistar machos, albinos, pesando entre 200-250 g, todos procedentes do Biotério Setorial da UNIVASF, Campus Petrolina. Antes dos experimentos, todos os animais foram randomicamente mantidos em gaiolas de polipropileno com ventilação e temperatura (22 ± 2 °C) controladas, em um ciclo claro-escuro de 12 horas, com a fase de luz SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 60 iniciando às 6:00 e terminando às 18:00 horas, com livre acesso à ração tipo “pellets” (Labina®) e água (disponível em frascos de plástico com bicos apropriados). Os animais foram privados de alimento 12 horas antes dos experimentos e para adaptação, eles foram transferidos do Biotério para o laboratório de fisiologia 48 horas antes do experimento. Durante este período, os animais foram manipulados apenas para limpeza das caixas. Todos os procedimentos foram conduzidos de acordo com os princípios éticos na experimentação animal, sendo aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF sob o número 0004/261011. 4.6. Testes de atividade antinociceptiva 4.6.1. Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético Este teste foi realizado de acordo com o método descrito por Collier et al. (1968) com modificações. Os camundongos foram divididos em seis grupos com seis animais cada. A nocicepção foi induzida por ácido acético via intraperitoneal (i.p.) em um volume de 0,1 mL/10 g. Os animais foram tratados com Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg), ou com veículo (Salina) administrados por via oral (v.o.) 1 hora antes do agente nociceptivo. Para o óleo essencial, os animais foram tratados com Av-OE (25, 50 e 100 mg/kg) administrados por via intraperitoneal (i.p.) 30 minutos antes do agente nociceptivo. Indometacina (20 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) foram usados como drogas padrões, sendo administradas por i.p. 30 minutos antes do agente indutor da dor. Após a injeção do ácido acético, o número de contorções abdominais (Figura 5) (uma resposta consistindo de contração da parede abdominal, rotação pélvica, seguida de extensão dos membros posteriores) foi registrado entre 5 - 15 minutos após administração (QUEIROZ et al., 2010). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 61 Figura 5. Camundongo observado no teste de contorções abdominais após a injeção do ácido acético. (Autor: NEPLAME) 4.6.2. Teste da formalina O método usado foi similar ao descrito por Hunskaar & Hole (1987). A solução de formalina (2,5% em salina 0,9%) foi administrada por via subplantar na pata posterior direita, em um volume de 20 μL/pata (SANTOS et al., 2010). Os camundongos foram observados em uma câmara com um espelho montado em três lados para permitir a visão das patas, e o tempo (em segundos) gasto lambendo e mordendo a pata injetada foi medido como um indicador de dor (Figura 6). Esta resposta foi mensurada durante 5 minutos (primeira fase, dor neurogênica) e entre 15 - 30 minutos após a injeção da formalina (segunda fase, dor inflamatória) (ALMEIDA et al., 2011). Os animais receberam veículo (salina, v.o.), Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) e Av-OE (25, 50 e 100 mg/kg, i.p.), indometacina (20 mg/kg, i.p.) e morfina (10 mg/kg, i.p.), administrados 1 hora antes da injeção de formalina (n= 6 por grupo). Para avaliação do envolvimento de receptores opioides no efeito do extrato e do óleo essencial foi administrado um antagonista do receptor opioide, a naloxona (1,5 mg/kg, i.p), trinta minutos antes da administração do extrato (100 mg/kg), óleo essencial (100 mg/kg) ou morfina (10 mg/kg). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 62 Figura 6. Camundongo observado no teste da formalina. (Autor: NEPLAME) 4.6.3. Teste da placa quente Os camundongos foram divididos em cinco grupos (n=6). Esses foram préselecionados no aparelho de placa quente (Insight, Brasil), na temperatura de 55 ± 0,5 °C. Animais que apresentaram um tempo de reação (definido como latência para levantar ou lamber as patas) maior que vinte segundos foram excluídos. Os camundongos selecionados foram pré tratados com veículo (v.o.), Av-EtOH (25, 50, 100 mg/kg, v.o.), Av-OE (25, 50 e 100 mg/kg, i.p.) ou morfina (10 mg/kg, i.p.). Cada animal foi colocado sobre a placa quente mantida a 55 ºC (Figura 7) e a latência foi medida em 30, 60, 90 e 120 min após a administração do veículo, extrato, óleo essencial ou morfina (ALMEIDA et al., 2011). Um tempo de corte de 20 s foi escolhido para indicar completa analgesia e para proteger o animal de lesão tecidual. A latência foi medida para cada animal. Para avaliação do envolvimento de receptores opioides no efeito do extrato, naloxona (1,5 mg/kg, i.p.) foi administrada 30 minutos antes do extrato (100 mg/kg) e morfina (10 mg/kg). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 63 Figura 7. Animal observado no teste da placa quente. (Autor: NEPLAME) 4.6.4. Teste de retirada da cauda A resposta antinociceptiva a estímulos térmicos foi avaliada com o teste de retirada da cauda (Analgesímetro Tail Flick, Insight, Brasil) (D’AMOUR, SMITH, 1941). Ratos foram divididos em cinco grupos de seis animais cada, e cada animal foi colocado em um contensor (tubo de acrílico, com ventilação) apropriado, com a superfície dorsal da cauda posicionada no estímulo térmico (Figura 8). O aquecimento foi aplicado no terço distal da cauda e consistiu em focar um feixe de luz, a 50 °C na cauda destes ratos. O tempo, em segundos, para remover a cauda do feixe é considerado como o tempo de latência, que é medido automaticamente por um registrador ligado ao aparelho. Cada ensaio foi encerrado após 7 segundos para minimizar a probabilidade de danos à pele. A latência de retirada da cauda foi medida antes e 30, 60, 90 e 120 minutos após a administração do veículo (v.o.), Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) ou de morfina (10 mg/kg, i.p.) (NAKAMOTO et al., 2010). Portanto, quanto mais tempo ficar a cauda do animal sob o feixe de luz, maior a atividade analgésica da substância em estudo. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 64 Figura 8. Animal observado no teste de retirada da cauda. (Autor: NEPLAME) 4.6.5. Teste de dor orofacial induzida por formalina O método usado foi similar ao descrito por Luccarini et al. (2006), com modificações. A solução de formalina (2,0% em salina 0,9%) foi administrada no lábio superior direito (área perinasal), em um volume de 20 μL (s.c.) (QUINTANSJÚNIOR et al., 2010). Os camundongos foram observados em uma câmara com um espelho montado em três lados, e o tempo (em segundos) gasto friccionando a área injetada com as patas posteriores e/ou anteriores foi medido como um indicador de nocicepção (Figura 9). Esta resposta foi mensurada durante 5 minutos (primeira fase, dor neurogênica) e entre 15 - 30 minutos após a injeção da formalina (segunda fase, dor inflamatória). Tratamentos com veículo (salina, v.o.), Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) e morfina (10 mg/kg, i.p.) foram realizados 1 hora antes da injeção de formalina (n= 6 por grupo). Para avaliação do envolvimento de receptores opioides no efeito do extrato foi administrado um antagonista do receptor opioide, a naloxona (1,5 mg/kg, i.p.), trinta minutos antes da administração do extrato (100 mg/kg) ou morfina (10 mg/kg). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 65 Figura 9. Teste de dor orofacial induzida por formalina. (Autor: NEPLAME) 4.6.6. Teste de dor orofacial induzida por capsaicina Os camundongos foram divididos em cinco grupos (n = 6). Tratamentos com veículo (etanol, dimetilsulfóxido, água destilada 1:1:8, v.o.), Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) e morfina (10 mg/kg, i.p.) foram realizados 1 hora antes da injeção de capsaicina. A capsaicina foi dissolvida no veículo e injetada (20 µL, 2,5 µg, s.c) no lábio superior direito (área perinasal). Os camundongos foram colocados em uma câmara com um espelho montado em três lados, e o tempo (em segundos) gasto friccionando a área injetada com as patas posteriores e/ou anteriores foi medido entre 10 – 20 minutos após a injeção da capsaicina (QUINTANS-JÚNIOR et al., 2010). 4.6.7. Teste de dor orofacial induzida por glutamato Os camundongos foram divididos em cinco grupos (n = 6). Tratamentos com veículo (salina, v.o.), Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) e morfina (10 mg/kg, i.p.) foram realizados 1 hora antes da injeção de glutamato. O glutamato foi administrado (20 µL, 25 µM, s.c) no lábio superior direito (área perinasal). Os camundongos foram observados em uma câmara com um espelho montado em três lados, e o tempo (em segundos) gasto friccionando a área injetada SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 66 com as patas posteriores e/ou anteriores foi medido durante 15 minutos após a injeção do glutamato (QUINTANS JÚNIOR et al., 2010). 4.7. Testes de atividade anti-inflamatória 4.7.1. Edema de pata induzido por carragenina A atividade anti-inflamatória foi estudada usando o modelo de edema de pata induzido por carragenina 2%, injetada em um volume de 20 µL/animal na região subplantar da pata direita do camundongo (WINTER et al., 1962). Camundongos foram divididos em seis grupos de seis animais cada. Os animais foram pré-tratados com Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.), salina (veículo, v.o.) ou indometacina (20 mg/kg, i.p.) 1 h antes da injeção da carragenina ou salina. O volume da pata foi mensurado imergindo-a até a altura do tornozelo, utilizando o aparelho pletismômetro (PanLab LE 7500, Espanha) antes (VA, basal) da administração intraplantar da carragenina e 1, 2, 3, 4 e 5 h após (VB) (Figura 10), como descrito anteriormente (HUANG et al., 2012). A inibição do edema foi calculado por (VB-VA)/VA, onde VA é o volume da pata direita anterior à injeção da carragenina, e VB é o volume da pata direita após a injeção da carragenina. Finalmente, os animais foram sacrificados e todas as patas direitas foram dissecadas. Cada amostra foi colocada em parafina, seccionada a 5 μm e corados com hematoxilina e eosina para análise histológica. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 67 Figura 10. Volume da pata mensurado utilizando o aparelho pletismômetro no modelo do edema de pata induzido por carragenina. (Autor: NEPLAME) 4.7.2. Edema de pata induzido por histamina O edema no camundongo foi induzido por injeção de 100 μg/pata de histamina (CAVALHER-MACHADO et al., 2008). Camundongos foram divididos em três grupos de seis animais cada. Os animais foram pré-tratados com Av- EtOH (100 mg/kg, v.o.), veículo (salina, v.o.) 1 h antes da injeção de histamina ou salina. O volume foi mensurado antes da injeção intraplantar de histamina ou salina (VA, basal) e 30, 60, 90 e 120 min após (VB) (SULEYMAN et al., 1999). A inibição do edema de pata foi calculada como descrito no teste do edema de pata induzido por carragenina. Os animais foram sacrificados e todas as patas direitas foram dissecadas para análise histológica. 4.7.3. Migração de leucócitos na cavidade peritoneal Camundongos foram divididos em cinco grupos de seis animais cada. A migração de leucócitos foi induzida por injeção de carragenina (1%, i.p., 0,25 mL) (ANDRADE et al., 2012) na cavidade intraperitoneal 1 hora depois da administração de Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.), veículo (salina, v.o.). Para a dexametasona (2 mg/kg, i.p.) e Av-OE (25, 50 e 100 mg/kg, i.p.) a solução de carragenina foi administrada 30 minutos depois (BASTOS et al., 2007). A migração de leucócitos foi SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 68 avaliada 4 horas após o estímulo, sendo os animais eutanasiados e as células da cavidade peritoneal foram colhidas com 3 mL de solução salina contendo 1 mM de EDTA. Imediatamente, uma breve massagem foi realizada, e em seguida foi coletado o fluido peritoneal, que foi centrifugado (3000 rpm por 6 min) em temperatura ambiente. O sobrenadante foi descartado e 300 µL de EDTA foi adicionado ao precipitado, do qual foi retirado uma alíquota de 10 µL. Foi adicionado 200 µL de solução de Turk à alíquota e o total de células foi contado em uma câmara de Neubauer, em um microscópio óptico. Os resultados foram expressos como número de leucócitos/mL (MELO et al., 2011). 4.8. Toxicidade subcrônica Na investigação da toxicidade subcrônica, os camundongos foram divididos em três grupos de 5 machos e 5 fêmeas (n = 10). O grupo controle recebeu veículo (salina). Os demais receberam doses diárias de Av-EtOH de 100 mg/kg e 400 mg/kg por via oral. Os animais foram observados durante 30 dias para avaliar a presença de morte e sinais de toxicidade. Outros parâmetros tais como: peso corporal, consumo de alimento e água foram avaliados diariamente, durante todo o estudo. 4.8.1. Análise comportamental Para a realização da análise comportamental foram avaliados alguns parâmetros específicos (piloereção, ptose palpebral, contorções abdominais, convulsões, catatonia, tremores, paralisia das patas dianteiras, sedação, ambulação aumentada, resposta ao toque diminuída, movimentação intensa das vibrissas, agressividade, estereotipia e analgesia), após a administração de Av-EtOH. No primeiro dia, tais parâmetros foram avaliados nos tempos de 0,5, 1, 2, 3 e 4 h após administração do extrato. Nos demais dias, a avaliação comportamental foi feita diariamente até o último dia da toxicidade subcrônica seguindo metodologia descrita por Almeida et al. (1999). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 69 4.8.2. Análises de parâmetros hematológicos e bioquímicos Para a avaliação dos parâmetros hematológicos e bioquímicos do sangue, foi utilizada a metodologia descrita por Vasconcelos et al. (2007) e Araújo et al. (2008) com modificações. O sangue foi retirado através do plexo braquial para análise laboratorial dos parâmetros hematológicos: contagem de eritrócitos (10 6/mm3), hemoglobina (g/dL), hematócrito (%), volume corpuscular médio (VCM, μ3), hemoglobina corpuscular média (HCM, g), concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM,%), leucócitos (103/mm3), linfócitos (%), monócitos (%) e plaquetas (103/mm3). Os parâmetros bioquímicos analisados em amostras de soro foram glicose (mg/dL), colesterol (mg/dL), triglicérides (mg/dL), AST/TGO (U/L), ALT/TGP (U/L), uréia (mg/dL) e creatinina (mg/dL). Para a determinação dos parâmetros hematológicos foi utilizado analisador de hematologia Horiba ABXPentra 60, já para os parâmetros bioquímicos foi utilizado um analisador semiautomático Bioplus (BIO-200). 4.9. Análise estatística Os dados obtidos foram analisados através do programa GraphPad Prism, versão 5.0, e expressos como média ± erro padrão da média (e.p.m). Diferenças estatisticamente significativas entre os grupos foram calculadas pela aplicação de uma análise de variância (ANOVA) one-way seguido do teste de Tukey ou Dunnett, ou pelo teste t de Student não pareado, conforme exigido pelo protocolo experimental. Foram considerados significativos valores de p < 0,05. 70 5. RESULTADOS SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 71 5. RESULTADOS 5.1. Triagem fitoquímica A análise fitoquímica preliminar (Tabela 2) demonstrou reação positiva para a presença de fenóis, esteroides, terpenos e flavonoides. No entanto, o extrato etanólico apresentou reação negativa para a presença de alcaloides. Tabela 2. Identificação das principais classes de constituintes químicos presentes no extrato etanólico bruto das folhas de Annona vepretorum (Annonaceae). Classe química Av-EtOH Alcaloides - Cumarinas + Derivados antracênicos + Flavonoides e taninos + Lignanas + Mono e diterpenos +++ Naftoquinonas + Triterpenos e esteroides ++ (-): ausência do constituinte, (+) leve presença do constituinte, (++): moderada presença do constituinte, (+++): intensa presença do constituinte. 5.2. Composição do óleo essencial A caracterização química do óleo essencial das folhas de A. vepretorum (Tabela 3) permitiu identificar 93,67% dos constituintes que compõem a amostra. Dentre os compostos identificados, 53,7% trata-se de monoterpenos, enquanto que 46,3% correspondem a sesquiterpenos. E-ocimeno, biciclogermacreno, germacreno D, limoneno, espatulenol e α-pineno configuram-se como sendo os constituintes majoritários de Av-OE, representando 83,55% da composição química total do óleo essencial. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 72 Tabela 3. Constituintes químicos identificados no óleo essencial das folhas de Annona vepretorum (Annonaceae). tR (min) IR Constituintes químicos (%) 5,80 933 α-Pineno 8,92 6,20 948 Canfeno 1,68 6,97 977 β-Pineno 0,88 7,34 990 β-Mirceno 1,22 7,79 1006 α-Felandreno 0,73 8,45 1024 p-Cimeno 0,62 8,59 1028 Limoneno 9,65 8,87 1036 Z-Ocimeno 1,07 9,27 1047 E-Ocimeno 25,56 15,66 1210 M = 152 (não identificado) 4,01 23,08 1387 M = 168 (não identificado) 1,21 24,37 1418 E-Cariofileno 1,97 26,89 1481 Germacreno D 14,61 27,50 1496 Biciclogermacreno 15,63 28,55 1523 δ-Cadineno 0,80 30,69 1579 Espatulenol 9,18 32,97 1639 M = 220 (não identificado) 1,11 33,55 1655 α-Cadinol 1,15 tR: tempo de retenção, IR: índice de retenção, (%): composição relativa. 5.3. Resultados da atividade farmacológica do extrato de Annona vepretorum 5.3.1 Atividade antinociceptiva do extrato de Annona vepretorum 5.3.1.1 Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético Os resultados mostrados na Figura 11 demonstram que o pré-tratamento com Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) foi capaz de inibir as contorções induzidas por ácido acético quando comparados com grupo controle (p<0,01). As porcentagens de inibição foram de 61,75%, 81,08% e 91,89%, respectivamente. Indometacina e SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 73 morfina apresentaram 92,90% e 100%, respectivamente, de redução de contorções quando comparados com o controle. Não houve diferença estatística entre as doses de Av-EtOH quando comparadas entre si (p>0,05). Número de contorções 20 Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Indometacina 20 mg/kg Morfina 10 mg/kg 15 10 * 5 * * 0 * * Figura 11. Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg), indometacina (20 mg/kg), morfina (10 mg/kg), no teste de contorções abdominais. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p < 0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.3.1.2 Teste da formalina O tratamento com Av-EtOH nas doses de 25 e 100 mg/kg (v.o.) produziu uma atividade antinociceptiva significante comparada ao grupo controle em ambas as fases (p<0,05) (Figura 12). Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) reduziu em 55,22%; 64,18% e 65,30%, respectivamente, o tempo de lambida da pata na primeira fase, bem como em 66,36%; 3,98% e 82,27%, respectivamente, na segunda fase do teste da formalina. A droga de referência indometacina reduziu somente na segunda fase do teste, enquanto que a morfina inibe ambas as fases do estímulo da dor (p<0,05). Não houve diferença significativa (p>0,05) entre as doses de Av-EtOH na primeira fase, enquanto na segunda fase apresentou diferença estatística (p<0,05) entre as doses de 25 e 100 mg/kg de Av-EtOH quando compradas a dose de 50 mg/kg de Av-EtOH, tendo em vista que esta dose não apresentou efeito antinociceptivo na segunda fase. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 74 O pré-tratamento com a naloxona (1,5 mg/kg, i.p.) reverteu a atividade antinociceptiva do extrato, na dose de 100 mg/kg e da morfina (10 mg/kg) na primeira fase deste ensaio, desta forma não houve diferença estatística quando comprados ao controle e entre si (p>0,05). a) Primeira fase Tempo de lambida (s) 60 Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Indometacina 20 mg/kg Morfina 10 mg/kg Morfina + Naloxona Av-EtOH + Naloxona 50 40 30 * 20 * * * 10 0 b) Segunda fase Tempo de lambida (s) 70 60 50 40 * 30 20 10 * * * * * Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Indometacina 20 mg/kg Morfina 10 mg/kg Morfina + Naloxona Av-EtOH + Naloxona 0 Figura 12. Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg), indometacina (20 mg/kg), morfina (10 mg/kg), AvEtOH (100 mg/kg) + naloxona (NLX 1,5 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) + naloxona (1,5 mg/kg) na primeira e segunda fase do teste da formalina. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p < 0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 75 5.3.1.3 Teste da placa quente No teste da placa quente, os animais tratados com morfina (10 mg/kg, i.p.) demonstraram um aumento evidente no tempo de latência em 30, 60, 90 e 120 min (p<0,05). Os grupos tratados com Av-EtOH (25 e 100 mg/kg, v.o.) mostraram um aumento na latência em 90 min. O grupo tratado com Av-EtOH (50 mg/kg, v.o.) não mostrou aumento significativo no tempo de latência. O efeito da morfina e Av-EtOH 100 mg/kg foram revertidos pela naloxona (Figura 13). Latência (s) 20 * 15 10 * ** * * 5 Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Morfina 10 mg/kg Morfina + Naloxona Av-EtOH + Naloxona 0 30 60 90 120 Tempo (min) Figura 13. Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg), morfina (10 mg/kg), Av-EtOH (100 mg/kg) + naloxona (NLX 1,5 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) + naloxona (1,5 mg/kg) no teste da placa quente em 30, 60, 90 e 120 minutos após sua administração. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. *p < 0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.3.1.4 Teste de retirada da cauda Av-EtOH administrado na dose de 50 mg/kg (v.o) induziu um aumento significativo (p<0,05) no tempo de reação estímulo térmico na cauda quando comparado ao grupo controle, nos tempos de 30 e 60 min após sua administração. O grupo tratado com morfina (10 mg/kg, i.p.) apresentou um aumento significativo na resposta de latência em 30, 60, 90 e 120 min (Figura 14). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 6 Latência (s) 5 * * Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Morfina 10 mg/kg * * * 76 4 3 2 1 0 30 60 90 120 Tempo Figura 14. Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) no teste de retirada da cauda em 30, 60, 90 e 120 minutos após sua administração. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p < 0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Dunnett). 5.3.1.5 Teste de dor orofacial induzida por formalina O tratamento com Av-EtOH nas doses de 25, 50 e 100 mg/kg (v.o.) produziu uma atividade antinociceptiva significante comparada ao grupo controle em ambas as fases (p<0,05) (Figura 15). Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) reduziu em 47,89%; 47,53% e 47,28 %, respectivamente, o tempo de fricção com as patas posteriores e/ou anteriores na área injetada, bem como 22,09%; 44,75% e 40,14%, respectivamente, na segunda fase do teste de dor orofacial induzida por formalina. A droga de referência morfina reduziu em ambas as fases o estímulo da dor (p<0,05). As doses de Av-EtOH quando comparadas entre si não houve diferença siginificativa (p>0,05). O pré-tratamento com a naloxona (1,5 mg/kg, i.p.) reverteu parcialmente a atividade antinociceptiva do extrato, na dose de 100 mg/kg na primeira fase do presente ensaio. O efeito da morfina (10 mg/kg) também foi revertido pela naloxona em ambas as fases. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 77 Primeira fase Tempo de lambida (s) 100 75 50 * * * * * Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Morfina 10 mg/kg Morfina+ Naloxona Av-EtOH + Naloxona 25 0 Segunda fase Tempo de lambida (s) 125 100 75 50 * * * * 25 Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Morfina 10 mg/kg Morfina + Naloxona Av-EtOH+ Naloxona 0 Figura 15. Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg), morfina (10 mg/kg), Av-EtOH (100 mg/kg) + naloxona (NLX 1,5 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) + naloxona (1,5 mg/kg) na primeira e segunda fase do teste de dor orofacial induzida por formalina. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p < 0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.3.1.6 Teste de dor orofacial induzida por capsaicina O tratamento com Av-EtOH nas doses de 25, 50 e 100 mg/kg (v.o.) produziu uma atividade antinociceptiva significante comparado ao grupo controle (p<0,05), reduzindo em 60,67%; 77,62% e 82,77% respectivamente, o tempo de fricção com as patas posteriores e/ou anteriores na área injetada (Figura 16). As doses de SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 78 Av-EtOH quando comparadas entre si não houve diferença siginificativa (p>0,05). A droga de referência morfina reduziu o estímulo da dor (p<0,05), inibindo em 86,44% a nocicepção. Tempo de lambida (s) 70 Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Morfina 10 mg/kg 60 50 40 30 20 10 * * * * 0 Figura 16. Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) no teste de dor orofacial induzida por capsaicina. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p<0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.3.1.7 Teste de dor orofacial induzida por glutamato O tratamento com Av-EtOH nas doses de 25, 50 e 100 mg/kg (v.o.) produziu uma atividade antinociceptiva significante comparada ao grupo controle (p<0,05), reduzindo em 31,15%; 29,60% e 39,99% respectivamente, o tempo de fricção com as patas posteriores e/ou anteriores na área injetada (Figura 17). As doses de AvEtOH quando comparadas entre si não houve diferença siginificativa (p>0,05). A droga de referência morfina reduziu o estímulo da dor (p<0,05), inibindo em 79,62% a nocicepção. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. Tempo de lambida (s) 50 Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Morfina 10 mg/kg 40 30 * * * 20 10 79 * 0 Figura 17. Efeito antinociceptivo do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) no teste de dor orofacial induzida por glutamato. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p<0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.3.2 Atividade anti-inflamatória do extrato de Annona vepretorum 5.3.2.1 Edema de pata induzido por carragenina Para determinar o possível efeito anti-inflamatório de Av-EtOH, o modelo de edema de pata induzido por carragenina em camundongos foi realizado. Quando a carragenina foi usada como indutor de edema (Figura 18), Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) inibiu significativamente (p<0,05) o edema de pata em 1 e 2 h, mas não foi significativo em 3, 4 e 5 h após o estímulo. Além disso, a droga controle, indometacina (20 mg/kg, i.p.), mostrou inibição do edema (p<0,05) durante as 5 h de realização do experimento. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. Volume do edema (mL) 0.8 Salina Salina + Carr Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Indometacina 0.7 0.6 0.5 0.4 * 0.3 * 0.2 0.1 0.0 0 1 80 * * * 2 3 * 4 * 5 Tempo (horas) Figura 18. Efeito anti-inflamatório do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg) e Indometacina (20 mg/kg) sobre o edema de pata induzida por carragenina. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p<0,05 significativamente diferente do grupo controle (salina+ histamina) (ANOVA seguido pelo teste de Dunnett). 5.3.2.2 Edema de pata induzido por histamina O edema inflamatório induzido por histamina foi significativamente reduzido por Av-EtOH 100 mg/kg, v.o. em 30 e 60 min (p<0,05), como mostrado na Figura 19. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. Volume do edema (mL) 0.5 81 Salina Salina + Histamina Av-EtOH 100 mg/kg 0.4 0.3 0.2 * * 0.1 0.0 0 30 60 90 120 Tempo (min) Figura 19. Efeito anti-inflamatório do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 100 mg/kg) sobre o edema de pata induzida por histamina. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p<0,05 significativamente diferente do grupo controle (salina+ histamina) (ANOVA seguido pelo teste de Dunnett). 5.3.2.3 Análise histológica A análise histológica mostrou a presença de infiltrado com edema subcutâneo nos grupos onde a inflamação foi induzida por carragenina. Entretanto, no grupo tratado com 25 mg/kg de Av-EtOH e Indometacina (20 mg/kg) o infiltrado foi menos intenso quando comparados aos demais grupos. No grupo onde a inflamação foi induzida por histamina e tratados com 100 mg/kg de Av-EtOH, o processo inflamatório foi menos intenso do que no grupo controle (Figura 20). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 82 SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 83 Figura 20. Histologia das patas de camundongos após indução de edema por carragenina e histamina após tratamentos. A) Grupo controle (salina + carragenina); B) Av-EtOH 25 mg/kg + carragenina; C) Av-EtOH 50 mg/kg + carragenina; D) AvEtOH 100 mg/kg + carragenina; E) Indometacina + carragenina; F) Histamina + salina; G) Histamina + Av-EtOH 100 mg/kg. As setas mostram infiltração de neutrófilos nos tecidos das patas, aumento original, 100x (A-C; E-G) e 400x (D). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 84 5.3.2.4 Migração de leucócitos na cavidade peritoneal Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, v.o) administrado 1 h antes da injeção de carragenina (1%, i.p., 0.25 mL) inibiu a migração de leucócitos (p<0,05) quando comparado ao grupo controle (Figura 21). As doses de Av-EtOH quando compradas entre si apresentou diferença estatística (p<0,05) entre as doses de 25 e 100 mg/kg. A droga de referência dexametasona (2 mg/kg, i.p.) também promoveu redução significante na migração de leucócitos (p<0,05). Leucócitos x 106 / ml 35 Controle Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Dexametasona 2 mg/kg 30 25 20 15 * 10 5 * * * 0 Figura 21. Efeito anti-inflamatório do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH 25, 50 e 100 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) no ensaio migração de leucócitos na cavidade peritoneal. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p<0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.3.3. Toxicidade subcrônica do extrato de Annona vepretorum A administração do extrato etanólico de Annona vepretorum nas doses de 100 e 400 mg/kg, por via oral, durante 30 dias de tratamento não ocasionou mortes, indicando baixa toxicidade do extrato. Em relação ao peso corporal (Figura 22), consumo de água e ração, não houve diferença estatística quando comparados com o grupo controle. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. Peso corporal (g) 40 85 Controle Av-EtOH 100 mg/kg v.o. Av-EtOH 400 mg/kg v.o. 35 30 25 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Dias Figura 22. Dados de peso dos animais tratados com extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum (Av-EtOH 100 e 400 mg/kg, v.o) e solução salina 0,9% durante 30 dias (n= 10 por grupo). 5.3.3.1. Avaliação comportamental dos camundongos Na avaliação comportamental foi observado piloereção, movimento intenso das vibrissas, analgesia, resposta ao toque diminuído, respiração forçada e diminuição da força para agarrar na dose de 400 mg/kg, comportamentos não observados nos demais grupos. 5.3.3.2. Parâmetros hematológicos É possível observar que os resultados dos parâmetros hematológicos (eritrócitos, hemoglobina, hematócritos, concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), basófilos, eosinófilos, leucócitos, linfócitos, monócitos, neutrófilos e plaquetas) após a administração de 100 mg/kg e 400 mg/kg v.o, de Av-EtOH não apresentaram diferença significativa, exceto no volume corpuscular médio (VCM) e SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 86 hemoglobina corpuscular média (HCM) que apresentaram diferença estatística (p<0,05) na dose de 400 mg/kg, cujo significado clínico deste aumento está sendo investigado. Os resultados estão expressos na Tabela 4 abaixo. Tabela 4. Parâmetros hematológicos do sangue de camundongos tratados com extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum (Av-EtOH 100 e 400 mg/kg, v.o) e solução salina 0,9% durante 30 dias (n= 10 por grupo). Parâmetros Grupos Controle 100 mg/kg 400 mg/kg Eritrocitos(106/mm3) 8,72 ± 0,17 8,66 ± 0,16 9,03 ± 0,15 Hemoglobina (g/dL) 13,93 ± 0,23 13,68 ± 0,35 13,98 ± 0,20 Hematocrito (%) 41,90 ± 0,71 41,55 ± 1,20 41,94 ± 0,80 VCM (μ3) 48,00 ± 0,26 47,80 ± 0,72 46,40 ± 0,30* HCM (μg) 15,99 ± 0,17 15,77 ± 0,19 15,50 ± 0,14* CHCM (%) 33,23 ± 0,30 32,96 ± 0,26 33,47 ± 0,31 Basófilos (%) 40,00 ± 0,40 38,64 ± 0,24 35,13 ± 0,24 Eosinófilos (%) 0,26 ± 0,10 0,84 ± 0,33 0,30 ± 0,09 Leucócitos(103/mm3) 4,88 ± 1,02 6,86 ± 1,09 6,92 ± 0,92 Linfócitos (%) 82,55 ± 2,23 82,10 ± 0,88 84,24 ± 1,00 Monócitos(%) 2,70 ± 0,48 4,43 ± 0,51 3,42 ± 0,46 Neutrofilos (%) 14,10 ± 2,09 12,17 ± 0,60 11,61 ± 0,73 Plaquetas(103/mm3) 569,30 ± 41,57 608,70 ± 32,90 562,60 ± 30,78 Valores são expressos em média ± erro padrão da média. Teste t de Student p< 0,05, comparado ao controle. 5.3.3.3. Parâmetros bioquímicos Em relação aos parâmetros bioquímicos, os resultados não mostraram diferenças significativas entre o grupo controle e o grupo experimental na dose de 100 mg/kg, v.o de Av-EtOH. O grupo de 400 mg/kg, v.o. apresentou diferença SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 87 estatística apenas nos valores dos triglicerídeos (p<0,05). Os resultados estão expressos na Tabela 5 abaixo. Tabela 5. Parâmetros bioquímicos obtidos do soro de camundongos tratados com extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum (Av-EtOH 100 e 400 mg/kg, v.o) e solução salina 0,9% durante 30 dias (n= 10 por grupo). Grupos Parâmetros Controle 100 mg/kg 400 mg/kg Glicose (mg/dL) 198,30 ± 11,21 193,30 ± 11,11 173,00 ± 10,39 Colesterol (mg/dL) 93,13 ± 5,16 87,50 ± 3,66 112,60 ± 20,27 Triglicerídeos (mg/dL) 177,50 ± 9,25 189,80 ± 8,51 268,40 ± 33,34* AST/TGO (U/L) 136,10 ± 76,71 197,00 ± 22,07 178,70 ± 32,42 ALT/TGP (U/L) 49,98 ± 10,14 58,26 ± 14,66 88,08 ± 33,37 Albumina (g/dL) 2,55 ± 0,36 2,23 ± 0,06 2,27 ± 0,22 Ureia (mg/dL) 60,25 ± 2,63 58,20 ± 2,44 55,30 ± 5,49 Creatinina(mg/dL) 0,96 ± 0,10 1,39 ± 0,37 1,03 ± 0,28 Valores são expressos em média ± erro padrão da média. Teste t de Student p< 0,05, comparado ao controle. 5.3.3.4. Análise macroscópica e peso dos órgãos Na análise macroscópica dos órgãos, apenas um animal tratado com Av-EtOH 400 mg/kg, apresentou o pulmão com aspecto mais pálido e enrijecido. Nos demais, não houve alterações. Não houve diferença significativa nos pesos dos órgãos quando comparados ao controle (Tabela 6). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 88 Tabela 6. Peso dos órgãos de camundongos tratados com extrato etanólico bruto de Anonna vepretorum (Av-EtOH 100 e 400 mg/kg, v.o) e solução salina 0,9% durante 30 dias (n= 10 por grupo). Parâmetros Grupos Controle Após 100 mg/kg Após 400 mg/kg Coração (g) 0,14 ± 0,01 0,13 ± 0,00 0,14 ± 0,01 Pulmão (g) 0,19 ± 0,01 0,19 ± 0,00 0,24 ± 0,03 Fígado (g) 1,36 ± 0,10 1,41 ± 0,06 1,44 ± 0,06 Estômago (g) 0,45 ± 0,03 0,42 ± 0,04 0,44 ± 0,03 Rim (g) 0,30 ± 0,02 0,37 ± 0,02 0,35 ± 0,02 Baço (g) 0,10 ± 0,00 0,11 ± 0,01 0,10 ± 0,00 Pâncreas (g) 0,16 ± 0,01 0,19 ± 0,01 0,21 ± 0,01 Ovário (g) 0,03 ± 0,00 0,06 ± 0,02 0,01 ± 0,00 Testículo (g) 0,13 ± 0,02 0,16 ± 0,00 0,17 ± 0,01 Valores são expressos em média ± erro padrão da média. Teste t de Student p< 0,05. 5.4. Resultados da atividade farmacológica do óleo essencial de Annona vepretorum 5.4.1. Atividade antinociceptiva do óleo essencial de Annona vepretorum 5.4.1.1 Teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético Os resultados mostrados na Figura 23 demonstram que o pré-tratamento com Av-OE (25, 50 e 100 mg/kg, v.o.) 1 h antes, foi capaz de inibir as contorções induzidas por ácido acético quando comparados com grupo controle (p<0,05). As porcentagens de inibição foram de 88,75%; 88,15% e 99,40%, respectivamente. Não houve diferença estatística entre as doses de Av-EtOH quando comparadas entre si (p>0,05). Indometacina e morfina apresentaram 91,26% e 100%, respectivamente, de redução de contorções quando comparados com o controle. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. Número de contorções 30 89 Controle Av-EO 25 mg/kg Av-EO 50 mg/kg Av-EO 100 mg/kg Indometacina 20 mg/kg Morfina 10 mg/kg 20 10 * * 0 * * * Figura 23. Efeito antinociceptivo do óleo essencial de Annona vepretorum (Av-OE 25, 50 e 100 mg/kg), indometacina (20 mg/kg), morfina (10 mg/kg), no teste de contorções abdominais. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p < 0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.4.1.2 Teste da formalina O tratamento com Av-OE nas doses de 25, 50 e 100 mg/kg (i.p.) produziu uma atividade antinociceptiva significante comparada ao grupo controle em ambas as fases (p<0,05) (Figura 24). Av-OE (25, 50 e 100 mg/kg, i.p.) reduziu em 39,83%; 25,50% e 20,50%, respectivamente, o tempo de lambida da pata na primeira fase, bem como 92,8%; 82,00% e 91,00%, respectivamente, na segunda fase do teste da formalina. As doses de Av-EtOH quando comparadas entre si, não houve diferença estatística entre 50 mg/kg e 100 mg/kg (p>0,05) em ambas as fases. As drogas de referência indometacina e morfina inibiram ambas as fases do teste de formalina (p<0,05). O pré-tratamento com a naloxona (1,5 mg/kg, i.p.) reverteu a atividade antinociceptiva do extrato, na dose de 100 mg/kg e da morfina (10mg/kg) na primeira fase do presente ensaio. SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 90 Primeira Fase Tempo de lambida (s) 70 60 50 40 * * 30 * 20 * * * 10 Controle Av-OE 25 mg/kg Av-OE 50 mg/kg Av-OE 100 mg/kg Indometacina 20 mg/kg Morfina 10 mg/kg Morf + Nal Av-OE+ Nal 0 Segunda fase Tempo de lambida (s) 125 100 * 75 * 50 * 25 0 * * * * Controle Av-OE 25 mg/kg Av-OE 50 mg/kg Av-OE 100 mg/kg Indometacina 20 mg/kg Morfina 10 mg/kg Morf + Nal OE + Nal Figura 24. Efeito antinociceptivo do óleo essencial de Annona vepretorum (Av-OE 25, 50 e 100 mg/kg), indometacina (20 mg/kg), morfina (10 mg/kg), Av-EtOH (100 mg/kg) + naloxona (NLX 1,5 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) + naloxona (1,5 mg/kg) na primeira e segunda fase do teste da formalina. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p < 0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.4.1.3 Teste da placa quente No teste da placa quente (Figura 25), os animais tratados com morfina (10 mg/kg, i.p.) demonstraram um aumento evidente no tempo de latência em 30, 60, 90 e 120 min. O grupo tratado com Av-OE (50 mg/kg, i.p.) mostrou aumento no tempo de latência em 30, 90 e 120 min, já o grupo tratado com Av-OE (100 mg/kg, SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 91 i.p.) mostrou aumento no tempo de latência em 60 e 90 min. O grupo tratado com Av-OE (25 mg/kg, i.p.) não mostrou aumento significativo do tempo de latência. Tempo de latência (s) 20 * 15 10 * * * 30 60 * ** * * 5 Controle Av-OE 25 mg/kg Av-OE 50 mg/kg Av-OE 100 mg/kg Morfina 10 mg/kg Morfina + NLX Av-OE + NLX 0 90 120 Tempo (min) Figura 25. Efeito antinociceptivo do óleo essencial de Annona vepretorum (Av-OE 25, 50 e 100 mg/kg), morfina (10 mg/kg), Av-OE (100 mg/kg) + naloxona (NLX 1,5 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) + naloxona (1,5 mg/kg) no teste da placa quente em 30, 60, 90 e 120 minutos após sua administração. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. *p < 0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 5.4.2. Atividade anti-inflamatória do óleo essencial de Annona vepretorum 5.4.2.1 Migração de leucócitos na cavidade peritoneal Av-OE (25, 50 e 100 mg/kg, v.o) administrado 1 h antes da injeção de carragenina (1%, i.p., 0.25 mL) inibiu a migração de leucócitos (p<0,05) quando comparado ao grupo controle (Figura 26). As doses de Av-OE quando comparadas entre si, houve diferença estatística (p<0,05) entre as doses de 25 mg/kg e 50 mg/kg, bem como entre 25 mg/kg e 100 mg/kg; entretanto não houve diferença estatística entre as doses de 50 mg/kg e 100 mg/kg. A droga de referência dexametasona (2 mg/kg, i.p.) também promoveu redução significante na migração de leucócitos (p< 0,05). SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. Leucócitos x 106 / ml 35 Control Av-OE 25 mg/kg Av-OE 50 mg/kg Av-OE 100 mg/kg Dexametasona 2 mg/kg 30 25 20 * 15 10 5 92 * * * 0 Figura 26. Efeito anti-inflamatório do óleo essencial de Annona vepretorum (Av-OE 25, 50 e 100 mg/kg) e morfina (10 mg/kg) no ensaio migração de leucócitos na cavidade peritoneal. Valores são expressos em média ± erro padrão da média, n = 6. * p<0,05 significativamente diferente do grupo controle (ANOVA seguido pelo teste de Tukey). 6. DISCUSSÃO SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 94 6. DISCUSSÃO Pela primeira vez na literatura, os dados reportados nesse estudo indicam que o extrato etanólico bruto de Annona vepretorum (Av-EtOH), bem como o óleo essencial das folhas dessa espécie (Av-OE), apresenta perfis de resposta antinociceptiva e anti-inflamatória frente a diferentes modelos que utilizam estímulos químicos e térmicos. Esse padrão de atividade provavelmente está relacionado com a diversidade de constituintes químicos que foram identificados na análise fitoquímica preliminar do extrato (Tabela 2) e na composição do óleo (Tabela 3). Dentre estes constituintes, as atividades farmacológicas estão correlacionadas à presença de flavonoides no extrato, que podem inibir certos estágios da inflamação, incluindo a formação de granulação e aumento da permeabilidade capilar observado no início do processo inflamatório. Além disso, não produz ulcerogenicidade, efeito colateral observado nas drogas antiinflamatórias clássicas. No óleo essencial, há presença de sesquiterpenos que exercem seus efeitos antiflogísticos por intervirem em mecanismos da reação imunológica, como o sistema complemento (CARVALHO, 2004). O teste de contorções abdominais induzidas por ácido acético tem sido utilizado como um modelo clássico para avaliar o potencial antinociceptivo e antiinflamatório de novos agentes analgésicos e anti-inflamatórios (MOHAMAD et al., 2010). De fato, esse ensaio configura-se como sendo um modelo não seletivo para avaliação do efeito antinociceptivo de substâncias, extratos vegetais ou outros produtos de origem natural. Isso porque a aplicação intraperitoneal de uma solução de ácido acético induz à produção e/ou liberação de vários mediadores envolvidos com o processo inflamatório e de neurotransmissão álgica, podendo ser citados: substância P, bradicinina, prostaglandinas (em especial, PGI 2), citocinas próinflamatórias (IL-1, IL-6, IL-8 e TNF-α), entre outros. Por sua vez, esses neurotransmissores acabam estimulando os nociceptores periféricos e os neurônios sensitivos, possibilitando a transmissão do potencial de ação de uma célula para outra, caracterizando a sensação dolorosa (LE BARS et al., 2001). O extrato etanólico (Av-EtOH) reduziu significativamente o número de contorções abdominais provocadas pela aplicação do ácido acético na região intraperitoneal. Os resultados apresentados na figura 11 demonstraram que o grupo controle apresentou 14,80 ± 2,08 contorções, 10 minutos após a aplicação do ácido SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 95 acético. Quando os animais foram previamente tratados com 25, 50 e 100 mg/kg de Av-EtOH, o número de contorções foi reduzido de maneira estatisticamente significante. Quando tratados com Av-OE (25, 50 e 100 mg/kg, i.p.) as porcentagens de inibição foram de 88,75; 88,15 e 99,40%, respectivamente, sugerindo que AvEtOH e Av-OE provavelmente apresentem agentes antinociceptivos por esse ensaio experimental. O teste da formalina é um método de avaliação utilizado para mensurar a efetividade comportamental de agentes antinociceptivos (HUNSKAAR; HOLE, 1987; RANDOLPH, PETERS 1997). A vantagem desse método em relação aos outros é a possibilidade de avaliar dois tipos diferentes de dor ao longo de um período prolongado de tempo e, assim, permite avaliar agentes antinociceptivos com diferentes mecanismos de ação (LE BARS et al., 2001; RANDOLPH, 1997). As respostas comportamentais à formalina seguem um padrão bifásico composto de uma fase inicial aguda (primeira fase) que dura alguns minutos e reflete o componente neurogênico de nocicepção, sendo produzida principalmente pelo uso de analgésicos opióides, e por um período mais prolongado (segunda fase), que pode durar até cerca de uma hora. O período entre as fases é denominado intervalo de quiescência (MARTINS et al., 2006). Substâncias que atuam eminentemente por mecanismos centrais, como os analgésicos opioides, reduzem a nocicepção em ambas as fases. Por outro lado, substâncias que atuam por mecanismos periféricos, como os anti-inflamatórios não esteroidais, reduzem em geral a nocicepção durante a segunda fase do teste. Sendo assim, Av-EtOH e Av-OE foram capazes de diminuir a nocicepção em ambas as fases no teste da formalina, embora esse efeito tenha sido mais proeminente na segunda fase do teste. Com o intuito de comprovar o envolvimento de mecanismos centrais no efeito antinociceptivo de Av-EtOH e Av-OE, o teste da placa quente foi realizado. Assim, analisando os resultados apresentados nas figuras 12 e 24, foi observado que AvEtOH (25 e 100 mg/kg, v.o.) e Av-OE (50 e 100 mg/kg, i.p.) aumentaram o tempo de permanência dos animais sobre a placa metálica previamente aquecida, fornecendo evidências de ação central, uma vez que esse padrão de resposta trata-se de um reflexo predominantemente espinal, sendo considerado, portanto, um modelo de avaliação da ação central de drogas analgésicas (NEMIROVSKY et al., 2001). Este teste associa a estimulação térmica com a neurotransmissão central, em que o calor fornecido desencadeia a ativação dos nociceptores (fibras Aδ e C) pela condução do SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 96 impulso ao longo do corno dorsal da medula espinhal e, posteriormente, aos centros corticais (PINHEIRO et al., 2011). O teste de retirada da cauda foi realizado com Av-EtOH. Este, quando administrado na dose de 50 mg/kg (p.o.) promoveu um aumento significativo do tempo de reação ao estímulo térmico, em comparação com o grupo controle, nos tempos de 30 e 60 minutos. Por envolver estímulo térmico, um aumento no tempo de reação durante o teste é considerado um parâmetro para avaliar a atividade antinociceptiva central (RUJJANAWATE et al., 2003). Portanto, a ponta da cauda é caracterizada como sendo uma região de nocicepção aguda e não inflamatória. Substâncias que agem em nível central, como a morfina, são capazes de suprimir respostas dos neurônios da coluna vertebral ao estímulo térmico nocivo na cauda, aumentando o tempo de latência (FISCHER et al., 2008). Para confirmar o envolvimento de receptores opioides no efeito do extrato e do óleo essencial, a naloxona (1,5 mg/kg, i.p.) foi administrada 15 minutos antes da administração de Av-EtOH e Av-OE (100 mg/kg) e morfina (10 mg/kg), sendo o efeito da morfina e Av-EtOH revertido na primeira fase do teste da formalina, enquanto o efeito de Av-OE foi revertido parcialmente na primeira fase deste teste. No teste de placa quente, o efeito da morfina, Av-EtOH e Av-OE foram revertidos. A naloxona é um antagonista não seletivo de receptores opioides. Dessa forma, sugere-se que o efeito antinociceptivo do extrato e do óleo pode estar sendo mediado pela ativação desses receptores. Ainda investigando o efeito antinociceptivo do extrato, foi realizado o modelo de dor orofacial, termo definido pela Academia Americana de Dor Orofacial como condições de dor que estão associadas com os tecidos duros e moles da cabeça, face, pescoço, e todas as estruturas intra-orais. A sensação de dor orofacial das estruturas intra-orais e da cabeça e face é transmitida para o sistema nervoso centra, pelo nervo trigêmeo (FAN et al., 2012). Dessa forma, o modelo de dor orofacial induzido por formalina, capsaicina e glutamato é ferramenta útil para o estudo dos processos nociceptivos na região trigeminal (RABOISSON; DALLEL, 2004). O uso de formalina na região orofacial (lábio superior direito) induz uma resposta nociceptiva bifásica (LUCCARINI et al., 2006). A primeira fase ou aguda (05 min) corresponde à ativação direta dos nociceptores, predominatemente fibras do tipo C, liberando neuropeptídeos como a substância P, bradicinina e glutamato SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 97 (SHIBATA et al., 1989, TJOLSEN et al., 1992). A segunda fase, inflamatória (15-30 min) é caracterizada pela sensiblização central dos nociceptores e neurônios de segunda ordem e liberação de óxido nítrico, aminoácidos excitatórios (glutamato e aspartato), prostaciclinas e prostaglandinas (PGE2), e leucotrienos, que mais tarde irão estimular a medula espinhal (HENRY et al., 1999, BONJARDIM et al., 2011). A primeira e segunda fase são inibidas por drogas de ação central, como opiáceos, enquanto a segunda fase deveria ser inibida também por fármacos anti-inflamatórios não-esteroidais, os quais não são eficazes na inibição dos mediadores inflamatórios, como leucotrienos, na dor orofacial (LINDENMEYER et al., 2010). Os resultados do presente estudo mostraram que AV-EtOH reduziu o tempo de fricção com as patas posteriores e/ou anteriores na área injetada em ambas as fases, sugerindo que o extrato tem atividade antinociceptiva central e periférica, de forma semelhante à morfina, droga padrão utilizada neste modelo. Para confirmar o envolvimento de receptores opioides nesse efeito, a naloxona também foi utilizada, revertendo parcialmente a atividade antinociceptiva do extrato na dose de 100 mg/kg na primeira fase do presente ensaio, enquanto o efeito da morfina (10 mg/kg) foi revertido pela naloxona em ambas as fases. Como os receptores vaniloides (TRPV1) também estão envolvidos na nocicepção orofacial, contribuindo na integração e detecção dos estímulos térmicos e químicos nos neurônios sensoriais periféricos, tais como fibras do tipo C e Aδ (CATERINA; JULIUS, 2001), o modelo de dor orofacial induzida por capsaicina foi utilizado. A capsaicina, responsável pela característica picante da pimenta, se assemelha a sensação de calor excitando seletivamente terminações nervosas nociceptivas, causando intensa dor se injetada (CATERINA; JULIUS, 2001, RANG et al., 2012). Com a ativação de TRPV1 pela capsaicina há um influxo de Ca2+ (VOGTEISELE et al., 2007) e liberação de neuropeptídeos, tais como taquicininas, substância P, calcitonina, aminoácidos excitatórios (glutamato e aspartato), óxido nítrico e outras substâncias pró-inflamatórias a partir de terminais periféricos para transferir o estímulo doloroso através do nervo trigêmeo (HONDA et al, 2008). Av-EtOH foi capaz de reduzir o efeito nociceptivo da capsaicina, sugerindo sua ação antagonista dos receptores vaniloides. A nocicepção orofacial ainda foi induzida por glutamato, um aminoácido excitatório encontrado tanto nos terminais centrais e periféricos do trigêmeo, como SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 98 também nos neurônios do gânglio da raiz dorsal (QUINTANS-JUNIOR et al., 2010). O glutamato é liberado a partir de fibras aferentes sensibilizadas pelo nervo ou lesão do tecido ou pela resposta a estímulos nocivos (LAM et al., 2005). Os principais mecanismos utilizados pelos agonistas dos receptores de glutamato para provocar dor incluem a liberação intracelular de Ca 2+, a ativação de mediadores celulares, e a abertura de canais iônicos (MILLAN et al., 1999). Além disso, o glutamato combinado com outros mediadores e citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e IL-1β) atuam sinergicamente na excitabilidade neuronal (MILLAN, 1999;. BERNARDINO et al., 2005). Os resultados do presente estudo mostraram que Av-EtOH inibiu a nocicepção causada pelo glutamato. O efeito antinociceptivo de Av-EtOH observado na segunda fase do teste da formalina (nocicepção inflamatória) e no teste de dor orofacial induzida por formalina tornou-se um indicativo de que Av-EtOH pode produzir efeito antinociceptivo através de mecanismos periféricos, possivelmente por meio da inibição da síntese ou liberação de prostaglandinas, mediado pela inibição da cicloxigenase (COX), ou por outra via inflamatória. Para confirmar a possível atividade anti-inflamatória de AvEtOH, foram realizados os modelos de edema da pata induzido por carragenina e histamina e o teste de peritonite induzida por carragenina. O óleo essencial também apresentou efeito na segunda fase do teste da formalina, para confirmação da sua possível atividade anti-inflamatória foi realizado o teste de peritonite. O teste de edema de pata induzido por carragenina é um modelo experimental amplamente utilizado para triagem de substâncias ou extratos vegetais de caráter anti-inflamatório e tem sido frequentemente utilizado para avaliar o efeito antiedematogênico de produtos naturais, como plantas medicinais, exibindo um elevado grau de reprodutibilidade (THOMAZZI et al., 2010). A formação do edema produzido pela administração intraplantar da carragenina é um evento bifásico, que é avaliado durante 1-5 horas. A primeira fase (1 ou 1,5 horas) é predominantemente caracterizada pela formação de um edema não fagocítico, enquanto que a segunda fase (2-5 horas) é caracterizada por um aumento da formação do edema, que permanece por até 5 horas (KHAN et al., 2009). Av-EtOH administrado 1 h antes da injeção de carragenina, inibiu significativamente o edema em 1 e 2 h, ou seja, na fase inicial do teste. Esta fase normalmente é ocasionada pela ação de mediadores pró-inflamatórios, tais como histamina, serotonina e bradicinina, sobre a permeabilidade vascular (ZHU et al., SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 99 2011), que é subsequentemente mantida pela liberação de prostaglandinas e de óxido nítrico (segunda fase), com pico máximo no tempo de 3 horas. Para confirmar a ação anti-inflamatória, também foi induzido o edema de pata por histamina na fase inicial do teste. Os resultados mostraram que o edema induzido por histamina foi significativamente reduzido pela administração de Av-EtOH. A resposta inflamatória induzida por carragenina tem sido associada à infiltração de neutrófilos (DAWSON et al., 1991). O estudo histológico mostrou a presença de infiltrado com edema subcutâneo, inclusive nos grupos tratados com Av-EtOH, porém, estes sinais foram menos intensos quando comparados ao controle. Esta infiltração de neutrófilos provavelmente tenha ocorrido entre 2-5 horas, onde o efeito do extrato não foi significativo. Para melhor caracterizar o efeito anti-inflamatório de Av-EtOH, foi realizado o teste de peritonite induzida por carragenina, que objetiva investigar a migração dos leucócitos para a cavidade peritoneal. A inflamação produzida por este modelo é lenta e prolongada, o que torna possível avaliar a saída de líquido intersticial, bem como migração de células, além da presença de citocinas, enzimas e mediadores químicos, tal como o NO, PGE2, IL-1β, IL-6 e TNF-α, utilizando diferentes agentes flogísticos (LORAM et al., 2007). Estes mediadores são capazes de recrutar leucócitos, tais como neutrófilos, em vários modelos experimentais. Sendo assim, Av-EtOH e Av-OE inibiram a migração de leucócitos. Esse efeito provavelmente se dá pelo envolvimento de mecanismos de inibição da síntese de mediadores inflamatórios, cujo envolvimento na migração celular está bem estabelecido. Embora seja amplo o uso de plantas medicinais para o tratamento de várias doenças, pouco é conhecido sobre a toxicidade e segurança (JOTHY et al., 2011). Para determinar a segurança dos medicamentos e dos produtos vegetais para uso humano, a avaliação toxicológica é realizada em vários modelos experimentais para prever a toxicidade e fornecer diretrizes para a seleção de uma dose segura. A maior concordância geral de toxicidade em animais, com o ser humano, são alterações hematológicas, gastrointestinais e cardiovasculares (OLSON et al., 2000). O presente estudo mostra que o extrato etanólico bruto de Annona vepretorum administrado por via oral na dose de 100 mg/kg durante 30 dias não provocou sinais de toxicidade nos animais, enquanto na dose de 400 mg/kg houve pequenas alterações de comportamento, nos parâmetros hematológicos e SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 100 bioquímicos. Ambas as doses não ocasionaram mortes após os 30 dias de tratamento, indicando baixa toxicidade do extrato. Uma vez que as alterações no peso corporal têm sido utilizadas como um indicador de efeitos adversos de fármacos e produtos químicos (TOFOVIC, JACKSON, 1999; RAZA et al., 2002, TEO et al., 2002), todos os dias foi realizada a verificação do peso corporal, não havendo diferença estatística quando comparados com o grupo controle. Além disso, não houve alterações significativas no consumo de água e ração nos grupos tratados quando comparados ao controle. Nos ensaios de toxicidade também são observados os efeitos sobre o comportamento, tais como: agressividade, ambulação aumentada, contorções abdominais, convulsões, estereotipia, movimentação intensa das vibrissas, piloereção, defecação, paralisia das patas dianteiras, analgesia, tremores, catatonia, ptose palpebral, resposta ao toque diminuída e sedação, como possíveis sinais de toxicidade (ALMEIDA, 2006). No presente estudo foi observado piloereção, movimento intenso das vibrissas, analgesia, resposta ao toque diminuída, respiração forçada e diminuição da força para agarrar, comportamentos não observados nos demais grupos. O sistema hematopoiético é um dos sistemas mais sensíveis para avaliar a toxicidade das drogas em seres humanos e animais (RAHMAN et al., 2001). É possível observar que os resultados dos parâmetros hematológicos (eritrócitos, hemoglobina, hematócritos, CHCM, basófilos, eosinófilos, leucócitos, linfócitos, monócitos, neutrófilos e plaquetas) após a administração de Av-EtOH não apresentaram variação significativa, exceto no volume corpuscular médio e hemoglobina corpuscular média que apresentou diferença estatística, cujo significado clínico deste aumento está sendo investigado. Em relação aos parâmetros bioquímicos, os resultados não mostraram diferenças significativas em relação ao grupo controle e o grupo experimental na dose de Av-EtOH. O grupo de 400 mg/kg, v.o. apresentou diferença estatística apenas nos valores dos triglicerídeos (p < 0,05). Porém, embora a alteração nos níveis de ALT e AST não tenham sido estatisticamente significativas nos grupos tratados, esse perfil de resposta pode ser fisiologicamente relevante. Esses parâmetros são importantes, visto que os resultados elevados de ALT e AST no sangue indicam alterações nas funções hepáticas, sendo a concentração de ALT alta do soro o primeiro sinal de lesões no fígado (HILALY et al., 2004). A creatinina é SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 101 conhecida como um bom indicador da função renal, seu aumento significa que há dano nos néfrons (LAMEIRE et al., 2005). Na análise macroscópica dos órgãos, apenas um animal tratado com AvEtOH, apresentou o pulmão com aspecto mais pálido e enrijecido. Não houve diferença significativa nos pesos dos órgãos quando comprados ao controle. Sendo assim, o estudo de toxicidade subcrônica indica baixa toxicidade do extrato etanólico bruto de Annona vepretorum, porém, estudos posteriores com diferentes metodologias são necessários para determinar um melhor perfil de segurança desse extrato. 102 7. CONCLUSÕES SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) em roedores. 103 7. CONCLUSÕES Diante dos resultados obtidos no presente estudo, pode-se concluir que o extrato etanólico bruto e o óleo essencial obtidos das folhas de Annona vepretorum apresentaram efeitos antinociceptivo e anti-inflamatório relevantes. Av-EtOH demonstrou efeito antinociceptivo envolvendo mecanismos centrais e periféricos, provavelmente relacionados aos receptores opioides. Além disso, a redução da migração leucocitária provocada pela administração de Av-EtOH comprova o efeito anti-inflamatório dessa espécie, onde este efeito pode também estar envolvido com mecanismos que inibem a síntese ou liberação de mediadores pró-inflamatórios. AvOE também demonstrou esse padrão de resposta. No que diz respeito à investigação do potencial antinociceptivo de Av-EtOH em modelos de dor orofacial, a espécie em estudo mostrou-se promissora, uma vez que apresentou efeito significativo em todos os testes realizados, especialmente no modelo de nocicepção orofacial induzida por capsaicina. Esses resultados demonstram que Av-EtOH pode estar atuando através de receptores opioides, via glutamatérgica e, principalmente, sobre receptores vaniloides. Em relação ao perfil de segurança de A. vepretorum, pode-se observar que Av-EtOH não foi capaz de provocar mortes nos animais submetidos ao ensaio de toxicidade subcrônica. Além disso, apenas algumas alterações hematológicas e bioquímicas foram verificadas ao final do estudo, sendo que a importância clínica dessas alterações ainda está sendo investigada. Dessa forma, essa espécie pode ser considerada, a priori, de baixa toxicidade, o que respalda a continuidade de estudos farmacológicos, toxicológicos e fitoquímicos. Todos os resultados apresentados nesse trabalho são inéditos para a espécie em estudo, destacando-se a contribuição do mesmo para o estudo farmacológico e toxicológico de plantas do bioma caatinga, em especial às espécies da família Annonaceae. Além disso, os resultados apresentados nesse estudo corroboram com a utilização da espécie na medicina popular, estimulando o desenvolvimento de novas pesquisas com valor tecnológico agregado, objetivando o desenvolvimento de produtos tecnologicamente obtidos e elaborados para utilização na prática clínica. 104 REFERÊNCIAS SILVA, J.C. Efeito antinociceptivo e anti-inflamatório de Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) 105 em roedores. 8. REFERÊNCIAS ADZU, B.; ABBAH, J.; VONGTAU, H.; GAMANIEL, K. Studies on the use of Cassia singueana in malaria ethnopharmacy. Journal of Ethnopharmacology, v. 88, p. 261–267, 2003a. ADZU, B.; AMOS, S.; ADAMU, M.; GAMANIEL, K. 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O objetivo desta revisão é apresentar os fundamentos dos principais métodos de avaliação da atividade antinociceptiva de uma substância ou extrato vegetal. A pesquisa foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Science Direct, usando diferentes combinações das seguintes palavras chave: experimental models, pain, medicinal plants, natural products e antinociceptive activity. Apesar de, na maioria das vezes, não se chegar ao 132 mecanismo de ação definitivo da substância ou extrato da planta em estudo, esses modelos experimentais são de grande importância e representam o ponto de partida para a caracterização farmacológica de novos compostos capazes de interferir com o curso da dor. PALAVRAS-CHAVE: Plantas medicinais, Dor, Nocicepção, Modelos experimentais, Revisão. ABSTRACT The interest in investigating plants with analgesic activity resides in the fact that they have a wide application in various pathological processes. Because of low efficacy and significant side effects produced by the majority of drugs available on the pharmaceutical market for this purpose, there is the great interest of researchers in discovering new prototype drugs from plants of the Brazilian flora. Several in vivo models are used in the search for compounds with analgesic activity. Several of the techniques described, used for a screening of antinociceptive activity are general and independent of the compound being tested. The aim of this review is to present the fundamentals of the main methods for assessing the antinociceptive activity of a substance or plant extracts. This literature search was performed through specialized search databases PubMed, Scopus, Web of Science and Science Direct using different combinations of the following keywords: experimental models, pain, medicinal plants, natural products and antinociceptive activity. Although in most cases not reach the definitive mechanism of action of the substance or plant extract under study, these experimental models is of great importance and represents the 133 starting point for the pharmacological characterization of new compounds capable of interfering with the course of pain. KEYWORDS: Medicinal plants, Pain, Nociception, Experimental models, Review. INTRODUÇÃO A dor crônica é um sério problema de saúde pública, não somente em termos do sofrimento humano, mas também por causa de seu grande impacto socioeconômico. A prevalência da dor crônica pode variar de 12 a 55% da população. Essas variações são atribuídas a diferentes definições de dor crônica, o tipo de população estudada e a metodologia usada na pesquisa (Vieira et al., 2012). Quando se trata de fármacos para o tratamento da dor, abre-se uma lacuna no que diz respeito ao regime medicamentoso que pode ser estabelecido, tendo em vista que ainda não dispomos de um fármaco analgésico e/ou antiinflamatório ideal, ou seja, que não promovam efeitos colaterais potenciais. Embora sejam altamente eficazes, os analgésicos de ação central geralmente não estão dissociados de efeitos adversos importantes. Adicionalmente, os analgésicos de ação periférica também apresentam efeitos indesejáveis, tais como lesões do trato gastrointestinal e renal (Rang et al., 2012). Assim, tem-se a necessidade de buscar medidas alternativas para o desenvolvimento de medicamentos para o combate da dor. Nessa perspectiva, os produtos naturais encaixam-se como uma fonte promissora na pesquisa de moléculas com potencial atividade analgésica. Há um crescente interesse mundial por produtos derivados da biodiversidade e, nesse aspecto, o Brasil é privilegiado, sendo detentor de grande diversidade 134 biológica, com inúmeras espécies vegetais com potencial medicinal (Dutra, 2009). Esse cenário favorece a pesquisa e o desenvolvimento de fitoterápicos no país. Um grande avanço nesse sentido é a Portaria do Ministério da Saúde de nº 971 de 03 de maio de 2006, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS). Essa política traz em suas diretrizes a elaboração da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS). Ainda em 2006, o Decreto Federal de nº 5.813 de 22 de junho de 2006 instituiu a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que incentiva as pesquisas e dá diretrizes para implantação de serviços em caráter nacional pelas Secretarias de Saúde dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios (Brasil, 2006). Considerando a ascensão da fitoterapia no Brasil nas últimas décadas e a necessidade da busca de moléculas com atividade analgésica que garantam uma terapia eficaz e segura para o tratamento da dor, o objetivo deste trabalho foi demonstrar, através de uma revisão bibliográfica, os mecanismos envolvidos com o processo da dor, bem como os ensaios experimentais comumente empregados para avaliação da atividade antinociceptiva de produtos naturais. Mecanismos Fisiopatológicos da Dor De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), o termo dor conceitua-se como uma experiência sensorial e emocional desagradável, relacionado à lesão tecidual real ou potencial, ou descritas em termos desse tipo de dano. Assim, a dor caracteriza-se como uma experiência complexa que envolve além de transdução de estímulos nocivos ambientais, o processamento emocional 135 pelo cérebro (Julius & Basbaum, 2001). É uma consequência fisiopatológica de diversas morbidades e de suas repercussões, mas que na maioria das vezes configura-se como uma função protetora, representando, em muitos casos, o único sintoma para o diagnóstico de várias doenças (Oliveira et al., 2009). Diferente de nocicepção, a dor é mais que uma sensação, é uma experiência, podendo incorporar componentes sensoriais com influências pessoais e ambientais importantes. Enquanto isso, o termo nocicepção refere-se ao estímulo doloroso propriamente dito, sem levar em consideração o componente emocional, ou seja, engloba as vias neuroanatômicas, bem como os mecanismos neurológicos e os receptores específicos que detectam o estímulo lesivo. Sendo assim, uma vez que os animais não são capazes de expressar verbalmente os componentes subjetivos da dor, neles não se avalia dor, e sim nocicepção. Logo, termos como dor e analgesia são empregados para estudos em humanos, enquanto que nocicepção e antinocicepção são mais utilizados para estudos pré-clínicos, envolvendo animais de laboratório (Kandel et al., 2003). A dor pode ser classificada de acordo com o tipo de lesão e com os mediadores envolvidos, recebendo as seguintes denominações: neurogênica, quando ocorre lesão do tecido neuronal; neuropática, quando ocorre a disfunção de um nervo; psicogênica, que ocorre por fatores psicológicos; ou nociceptiva, quando ocorre por estimulação excessiva dos nociceptores. Em termos de duração, um episódio de dor pode ser agudo ou crônico. A dor aguda corresponde à ativação local de nociceptores induzida por um dano tecidual, sendo que a dor desaparece até mesmo antes do restabelecimento do tecido lesado. Já a dor crônica provocada por uma lesão tecidual ou doença, geralmente ultrapassa o tempo de recuperação 136 do organismo, sendo um importante fator de incapacidade e sofrimento (Millan, 2002). Os nociceptores são terminações nervosas livres, não especializadas, que respondem a estímulos nociceptivos, detectando, desse modo, lesão nos tecidos, onde os estímulos desencadeantes podem ser mecânicos, térmicos ou químicos (Millan, 2002). Assim, o potencial antinociceptivo de um produto natural, por exemplo, pode ser medido pelo seu poder de aumentar o limiar de excitação dessas terminações nervosas ao estímulo doloroso, ou então, fazer com que os nociceptores não percebam ou não respondam ao estímulo doloroso promovido. Na percepção da dor, os neurônios aferentes primários que participam da transmissão da sensação dolorosa envolvem fibras intensamente mielinizadas, de maior diâmetro (10 µm) e que apresentam maior velocidade de condução (30-100 m/s), caracterizadas como fibras Aβ. Entretanto, a maioria dos nociceptores está inclusa nas fibras de pequeno (0,4-1,2 µm) e médio diâmetro (2-6 µm), que constituem respectivamente as fibras C, não mielinizadas, e as fibras Aδ, pouco mielinizadas (Julius & Basbaum, 2001). O principal neurotransmissor excitatório em todos os nociceptores é o glutamato, embora as fibras sejam também sensibilizadas por outras substâncias químicas endógenas liberadas no ambiente tecidual em condições anormais. Dentre elas destacam-se a acetilcolina, bradicinina, histamina, serotonina, leucotrienos, substância P, neuropeptídeo Y, purinas, íons K +, prostaglandinas, tromboxano, citocinas (interleucinas e TNF-α) e prótons (H+). Neste sentido, grande parte da ativação das fibras nociceptivas se dá por receptores específicos acoplados à cascata de segundos mensageiros intracelulares e canais iônicos (Luiz, 2007). 137 Considerando o envolvimento de diferentes vias de sinalização no processo da dor, faz-se necessário a utilização de modelos experimentais que diferenciem uma possível atividade antinociceptiva de um produto natural por mecanismos centrais, envolvendo mediadores imediatos; ou por mecanismos periféricos, envolvendo mediadores produzidos mais tardiamente, principalmente aqueles que são liberados durante o processo inflamatório. METODOLOGIA A pesquisa bibliográfica foi realizada em agosto de 2012 através de consultas a artigos científicos publicados em periódicos especializados na área de produtos naturais. Esta pesquisa na literatura foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e Science Direct, usando diferentes combinações das seguintes palavras chave: experimental models, pain, medicinal plants, natural products e antinociceptive activity. Para a elaboração deste artigo, as referências encontradas na pesquisa foram estudadas em detalhe. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nesta seção nós apresentamos algumas considerações sobre os principais métodos utilizados para avaliação da atividade antinociceptiva de produtos naturais, seus fundamentos, vantagens e desvantagens de cada método. Para detalhes dos modelos experimentais mais utilizados, as referências originais devem ser consultadas. Abaixo, são apresentados os principais modelos experimentais estudados: contorções abdominais induzidas por ácido acético, teste da formalina, 138 teste de Randall-Selitto, teste de Von Frey, dor orofacial induzida pela formalina, teste da placa quente e teste de retirada da cauda. Contorções abdominais induzidas por ácido acético O teste de contorções abdominais é um modelo químico de nocicepção que se baseia na contagem das contorções da parede abdominal seguidas de torção do tronco e extensão dos membros posteriores, como resposta reflexa à irritação peritoneal e à peritonite produzidas pela injeção intraperitoneal de uma solução de ácido acético 0,9% (Whittle, 1964). Este teste é sensível à avaliação de drogas analgésicas, no entanto, pode ser visto como um modelo geral, não seletivo, para estudos de drogas antinociceptivas (Couto et al., 2011). Uma vez que o ácido acético induz indiretamente a liberação de mediadores endógenos, tais como bradicinina, serotonina e capsaicina, estimulando neurônios periféricos, representados principalmente por fibras C, que são sensíveis aos mediadores inflamatórios (Deraedt et al., 1980; Marchioro et al., 2005). A liberação de prostaglandina via ação da ciclooxigenase sobre o ácido araquidônico também está envolvida. O grupo de pesquisa de Deraedt et al. (1980) descreveu a quantificação de prostaglandinas por radioimunoensaio no exsudato peritoneal, obtidos após injeção intraperitoneal de ácido acético, observando-se altos níveis de prostaglandinas PGE2 e PGF2 durante os primeiros 30 minutos após sua administração. 139 Teste da formalina O teste da formalina é um método de avaliação comportamental utilizado para medir a efetividade de agentes antinociceptivos (Hunskaar & Hole, 1987; Randolph, 1997). Este modelo de dor está associada à lesão tecidual, no qual se quantifica a resposta comportamental provocada pela injeção subcutânea de formalina diluída na pata traseira do animal (Dubuisson & Dennis, 1977; Martins et al., 2006). A vantagem deste teste sobre outros métodos de nocicepção é a possibilidade de avaliar dois tipos diferentes de dor ao longo de um período prolongado de tempo e, assim, permite o teste de analgésicos com diferentes mecanismos de ação (Randolph, 1997). As respostas comportamentais à formalina seguem um padrão bifásico composto de uma fase inicial aguda (primeira fase), e por um período mais prolongado (segunda fase) de atividade comportamental aumentada, que pode durar até cerca de uma hora. O período entre as fases é denominado intervalo de quiescência (Dubuisson & Dennis, 1977, Martins et al., 2006). A primeira fase inicia-se imediatamente após a injeção de formalina e se estende pelos primeiros 5 minutos (dor neurogênica ou aguda), estando relacionada com a estimulação química direta dos nociceptores das fibras aferentes do tipo C e, em parte, das fibras do tipo Aδ e está associada à liberação de aminoácidos excitatórios, óxido nítrico e substância P. A segunda fase ocorre entre 15 e 30 minutos após a injeção de formalina e está relacionada com a liberação de vários mediadores pró-inflamatórios, como bradicinina, prostaglandinas e serotonina, entre outros. O intervalo de quiescência entre a primeira e a segunda fase é resultado de 140 uma inibição da transmissão nociceptiva através de circuitos supra-espinhais e espinhais (Hunskaar & Hole, 1987). Teste de Randall-Selitto O modelo experimental desenvolvido por Randall & Selitto (1957) é um método para avaliação da hipernocicepção bastante utilizado, que se fundamenta na indução de hiperalgesia através de pressão crescente na pata do animal. Este teste é baseado no princípio de que a inflamação diminui o limiar de reação à dor e que essa redução pode ser modificada por analgésicos narcóticos e não-narcóticos. Neste ensaio experimental, um agente flogístico é injetado no tecido subplantar de uma das patas traseiras, e é medido o tempo de latência da retirada da pata a partir da pressão exercida. O reflexo de retirada da pata é considerado representativo do limiar hipernociceptivo, ou seja, a força necessária aplicada à pata para que induza uma resposta aversiva a um estímulo nocivo (Limiar Nociceptivo de Retirada da Pata - LNRP). A força necessária para que esse animal exiba tal resposta é registrada em gramas. O LNRP é avaliado antes e após a administração dos estímulos hiperalgésicos ou inflamatórios, que variam de acordo com o experimento (Randall & Selitto, 1957). Teste de von Frey O uso de filamentos de von Frey é um método utilizado para avaliar a sensibilidade tecidual ao estímulo mecânico, sendo bastante utilizado clinicamente. Entretanto, tal método passou a ser utilizado também para experimentos laboratoriais, no sentido de avaliar a influência de drogas sobre a sensibilidade nociceptiva em animais. Além disso, essa técnica foi transformada em um método 141 eletrônico, usado primeiramente em humanos (Jensen et al., 1986), e posteriormente em ratos e camundongos (Cunha et al., 2004). Os experimentos são realizados com um anestesiômetro eletrônico, que consiste em um transdutor de pressão adaptado a um contador digital de força expressa em gramas (g). O contato do transdutor de pressão com a pata é realizado através de uma ponta descartável de polipropileno. Os animais são colocados em caixas de acrílico durante 15-30 minutos para adaptação. O assoalho da caixa é feito de arame não maleável na forma de rede. As alterações nos limiares nociceptivos são avaliadas exercendo-se uma pressão linearmente crescente no centro da planta da pata do animal até a produção de uma resposta caracterizada como sacudida (flinches) da pata estimulada. Os estímulos são repetidos por até seis vezes, em geral até o animal apresentar três medidas similares com uma clara resposta de flinch após a retirada da pata. A intensidade de hipernocicepção é quantificada como a variação na pressão obtida subtraindo-se a média de três valores expressos em gramas (força) observada antes do procedimento experimental (0 hora) da média de três valores em gramas (força) após a administração dos estímulos, que variam de acordo com o experimento (Jensen et al., 1986). Os modelos experimentais baseados em testes mecânicos permitem a avaliação do aumento da sensibilidade do nociceptor a estímulos inócuos (alodinia) ou nocivos (hiperalgesia). Porém, além de estímulo de nociceptores de fibras Aδ e nociceptores de fibras C, também podem ser ativados mecanorreceptores, resultando em estímulos inespecíficos que nem sempre refletem a neurofisiologia da nocicepção. Particularmente, o teste de von Frey, é usado para avaliar através do 142 estímulo mecânico inócuo e crescente (alodinia mecânica) a sensibilidade tecidual provocada pela incisão (Le Bars et al., 2001). Dor orofacial induzida por formalina A região orofacial é uma área densamente ocupada pelo nervo trigêmeo e, muitas vezes, é sítio frequente de dores referida e crônica. Alterações clínicas no território trigeminal, como aumento de sensibilidade cutânea e hiperalgesia, observadas em cefaleias primárias e dores orofaciais em geral, são muito sugestivas de anormalidades no sistema nociceptivo trigeminal. (Perla, 2007). Entre os modelos nociceptivos experimentais de dores orofacial e cefálicas, o teste da formalina é um dos mais relevantes em termos de aplicabilidade experimental e clínica, quando se estuda dores agudas (Perla, 2007). Ele avalia a nocicepção trigeminal por meio da aplicação de estímulo químico (administração subcutânea de uma solução de formalina) na região orofacial. Este modelo constitui uma adaptação do teste da formalina administrada na superfície plantar de animais (Dubuisson & Dennis, 1977; Raboisson & Dallel, 2004). Contudo, vale ressaltar que para uma avaliação mais detalhada dos receptores envolvidos no mecanismo de ação do produto natural a ser testado, este ensaio experimental pode ser realizado com a aplicação de outros agentes químicos, como por exemplo, glutamato e capsaicina (Silva, 2011). As principais respostas comportamentais que caracterizam a dor e que são observadas nesse modelo experimental são: medida do tempo ou do número de reflexos de autolimpeza (grooming) dirigidos ao local da injeção de formalina; vocalização espontânea; tremores vigorosos do corpo (shaking) associados ao ato 143 de lamber as patas dianteiras e proteger vigorosamente a face; e trismo (Perla, 2007). Assim como no teste da aplicação de formalina subplantar, os parâmetros indicativos de dor para este modelo também podem ser observados imediatamente após a aplicação do agente químico e, posteriormente, após o período de quiescência. Segundo Dubuisson & Dennis (1977), a dor, no modelo nociceptivo trigeminal, é inicialmente resultante da reação inflamatória gerada pela ligação da formalina às proteínas teciduais, por meio da formação de pontes primárias de carbono (propriedade fixadora do tecido). Tal reação inflamatória na área de injeção persiste por período relativamente longo. A resposta inicial (primeira fase) possivelmente decorre da estimulação direta dos nociceptores, enquanto que a segunda fase do teste deve-se à inflamação e sensibilização central. Teste da placa quente O teste da placa quente (hot plate) avalia o tempo em que os animais permanecem sobre uma chapa metálica aquecida (55 ± 0,5 ºC) até reagirem ao estímulo térmico com o comportamento de levantar ou lamber as patas (Tita et al., 2011). As aferições são realizadas nos tempos de 30, 60, 90 e 120 minutos após a administração das substâncias a serem analisadas. O modelo experimental foi inicialmente descrito por Woolfe & Macdonald (1944) como modelo específico para a detecção de sustâncias analgésicas de efeito central. Embora o uso de analgésico central e periférico responda pela inibição do número de contrações provocadas por estímulos químicos que levam à dor, apenas os analgésicos centrais aumentam o tempo de resposta no teste da placa quente. Este modelo utiliza a temperatura como estímulo nociceptivo. Dessa forma, os 144 nociceptores (fibras C e Aδ, principalmente) são estimulados após a ativação dos receptores vaniloides, especificamente os receptores do tipo VR-1, que possuem limiar de ativação em 43 ºC, e os receptores do tipo VRL-1, que possuem limiar de ativação em 52 ºC. Estes últimos são importantes na avaliação da resposta a estímulos térmicos nocivos, pois são responsáveis pela resposta em decorrência do aumento da temperatura (Julius & Basbaum, 2001; Benedito, 2009). Teste de retirada da cauda O teste de retirada da cauda (tail-flick) é sensível para identificar a atividade de compostos presentes em extratos vegetais ou isolados a partir desses, além de sintéticos, cujos mecanismos sejam semelhantes aos promovidos pelos analgésicos opióides (Oliveira et al., 2008). Este ensaio experimental consiste na aplicação de uma fonte radiante de calor na cauda do animal como estimulo nociceptivo térmico, provocando seu movimento de retirada (Oliveira et al., 2009). Um aumento no tempo de reação é geralmente considerado como um parâmetro importante para avaliar a atividade antinociceptiva central, caracterizando-se por uma nocicepção aguda nãoinflamatória. Sendo assim, substâncias que atuam em nível central, como a morfina, são capazes de suprimir respostas de neurônios espinhais ao estímulo térmico nocivo na cauda, aumentando o tempo de latência (Fischer et al., 2008). CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização de modelos experimentais como os que foram demonstrados neste trabalho é de fundamental importância para a descoberta de novos fármacos, particularmente de analgésicos, visto que estes só podem ser comercializados após a realização de ensaios farmacológicos pré-clínicos que atestem sua eficácia e 145 segurança. Esses testes representam o início para a caracterização de novas drogas, capazes de interagir com os mediadores da dor e/ou inflamação, fornecendo assim um ponto de partida para a elucidação das vias de efeito antinociceptivo envolvidas, atendendo às necessidades da terapia farmacológica para este tipo de agravo à saúde. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro, bem como à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas bolsas de mestrado concedidas. REFERÊNCIAS Benedito RB. Efeito antinociceptivo do monoterpeno (S)-(-)-Álcool perílico em camundongos. 2009. Dissertação (Mestrado em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. 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(Annonaceae) in Rodents Juliane Cabral Silva,1 Camila de Souza Araújo,1 Sarah Raquel Gomes de LimaSaraiva,1 Raimundo Gonçalves de Oliveira-Junior,1 Tâmara Coimbra Diniz,1 Carlos Wagner de Souza Wanderley,1 Raimundo Campos Palheta Júnior,1 Rosemairy Luciane Mendes,1 Adriana Gibara Guimarães,2 Lucindo José Quintans Júnior2 and Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida1,1 1 Center for Studies and Research of Medicinal Plants, Federal University of San Francisco Valley, Postal Code 56.304-205, Petrolina, Pernambuco, Brazil 2 Department of Physiology, Federal University of Sergipe (DFS/UFS), Postal Code 49.100000, São Cristóvão, Sergipe, Brazil Short title: Biological properties of Annona vepretorum 1 Correspondence to: Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida, Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais, Universidade Federal do Vale do São Francisco, 56.304-205, Petrolina, Pernambuco, Brazil. Tel/fax + 55-87-21016862. E-mail: [email protected] 153 Annona vepretorum Mart. (Annonaceae) is a native tree from Caatinga biome, popularly known as “araticum” and “pinha da Caatinga”. In this study, we investigated the effects of the crude ethanolic extract (Av-EtOH) in models of pain and inflammation in rodents. The evaluation of antinociceptive activity was carried out by the acetic acid-induced writhing, formalin, hot plate and tail flick tests, while paw edema induced by carrageenan or histamine, and leukocyte migration to the peritoneal cavity were used for anti-inflammatory profile. Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o) significantly reduced the number of writhing (p < 0.01) and decreased (p < 0.01) the paw licking time in both phases of the formalin test. In the hot plate and tail flick tests, this extract increased the reaction time, consequently reduced painful behavior. The effects in the formalin and hot plate tests were antagonized by naloxone. Av-EtOH inhibited significantly (p < 0.01) the increase in the edema volume after administration of carrageenan and histamine. In the peritonitis test, acute pre-treatment with Av-EtOH inhibited leukocyte migration. Thus, Av-EtOH has significant antinociceptive and antiinflammatory properties, which are related probably with the activation of opioid receptors and inhibition of release of mediators of the inflammatory process. Keywords: antinociceptive effect; anti-inflammatory effect; pain, inflammation, Annonaceae; Annona vepretorum 154 INTRODUCTION The Caatinga biome (semi-arid vegetation) is a highly threatened biome covering a vast area in Northeastern Brazil and is the source of many few studied natural resources (Albuquerque and Andrade, 2002). Many medicinal plants species from the Caatinga are widely known and used in folk medicine and for commercial manufacturing of phytotherapeutic products. Few ethnobotanical and pharmacological studies have been undertaken in this region, however, in spite of the great cultural and biological diversity to be found there (Albuquerque et al., 2007). In the Brazilian Northeastern, the Caatinga has fundamental importance in the lives of people that inhabit this region because it offers a wide variety of animals and plants that are used for food, fuel, building materials and medicinal purposes (Almeida et al., 2010). Plants of the family Annonaceae are formed by trees and shrubs and can be found in tropical and subtropical regions (Fechine et al., 2002). It is the largest family of the Magnoliales order, having about 2300-2500 species and over 130 genera (Carballo et al., 2010). Many species of Annonaceae are usually consumed as fresh fruits, they are also widely used in folk medicine for antiparasitic, antitumoral and treatment of intestinal diseases (Habib and Waheed 2013; Araya et al., 2004). Several reports have characterized the pharmacological activity of these plants because of their bioactive compounds (mainly alkaloids and flavonoids) found in roots, leaves, bark, seeds and fruits (Carballo et al., 2010). Annona L. belongs to the Annonaceae family and comprises approximately 175 species of trees and shrubs. Economically, this genus is the most important of the Annonaceae family due to its edible fruits and medicinal properties (Dutra et al., 2012). Some studies have demonstrated that species of the genus Annona have pharmacological properties mainly antinociceptive (Hamid et al., 2012; Carballo et al., 2010) and anti-inflammatory activities (Foong and Hamid, 2012). 155 Annona vepretorum is endemic of Brazil (Caatinga biome), popularly known as “araticum” and “pinha da Caatinga” and is widely used in the human nutrition. The fruits are usually consumed “in natura” or used in juices. Previous study of this species described the chemical composition and bioactivity of the essential oil from the leaves collected in Poço Redondo, state of Sergipe, Northeastern Brazil (Costa et al., 2012). Considering the large consumption in our region and scarcity of chemical and pharmacological studies about this species, this study evaluated the antinociceptive and antiinflammatory properties of the ethanolic extract from Annona vepretorum in experimental models of pain and inflammation. MATERIALS AND METHODS Plant Material. The leaves of A. vepretorum were collected in Jaguarari, Bahia, Brazil, in October of 2010. The plant was identified by R. Mello Silva, a botanist from Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (CRAD). The voucher sample (#946) was deposited in the Herbarium Vale do São Francisco (HVASF) from Federal University of San Francisco Valley. Preparation of the plant extract. The leaves of A. vepretorum were dried in an oven at 40 ◦C for three days. The material dried and pulverized (1400 g) was macerated with ethanol (EtOH) 95% at room temperature for 72 h. The EtOH solution was concentrated under vacuum yielding 600 g of crude ethanol extract of Annona vepretorum (Av-EtOH). 156 Animals. Adult male Swiss mice (30-40 g) and rats (200-250 g), were randomly housed in appropriate cages at 22 ± 2 °C on a 12 h light/dark cycle (lights on at 6:00 a.m.) with access to food and water ad libitum. Animals were allowed to have a period of acclimation before any experimentation. They were used in groups of six animals each. All nociception tests were carried out by the same visual observer. Experimental protocols and procedures were approved by the Federal University of San Francisco Valley Animal Care and Use Committee by number 0004/261011. Acetic acid-induced writhing in mice. This test was performed using the method described by Collier et al. (1968) with modifications. Mice were divided into six groups of six animals each. Nociception was induced by intraperitoneal (i.p.) injection of acetic acid (0.9% v/v) in a volume of 0.1 ml/10 g. Animals were treated with the Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg), or with vehicle (saline) given by orally administered (p.o.) 1 h before the nociceptive agent. Indomethacin (20 mg/kg) and morphine (10 mg/kg) in vehicle were used as reference drugs and given by i.p. 30 min before algogen agent. Following the injection of acetic acid, the number of abdominal constrictions (a response consisting of contraction of the abdominal wall, pelvic rotation followed by hind limb extension) occurring between 5 and 15 min after injection (Queiroz et al., 2010). Formalin test. The method used was similar to that described by Hunskaar and Hole (1987). A formalin solution (2.5% in 0.9% sterile saline; 20 µl/paw subplantar) was injected into the right hind paw of the mice (Santos et al., 2010). Mice were observed in the chambers with a mirror and the amount of time (in seconds) spent licking and biting the injected paw was 157 measured as an indicator of pain. Responses were measured for 5 min after formalin injection (first phase, neurogenic) and 15-30 min after formalin injection (second phase, inflammatory) (Almeida et al., 2011). Treatments with vehicle (saline, p.o.), Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o.), indomethacin (20 mg/kg, i.p.) and morphine (10 mg/kg, i.p.) were given 1 h prior to formalin injection (n= 6 per group). For evaluation of the involvement of opioid receptors in the effect of the extract, naloxone (1.5 mg/kg, i.p.), an opioid receptor antagonist, was administered 30 minutes before administration of the extract (100 mg/kg) or morphine. Hot plate test. Mice were divided into six groups of six mice each. Mice were pre-selected on the hot plate apparatus (Insight, Brazil) at 55 ± 0.5 °C. Animals showing a reaction time (defined as the latency for licking the hind feet or jumping) greater than 20 s were discarded. Selected mice were pre-treated with vehicle (p.o.), Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o.), or morphine (10 mg/kg, i.p.). Each animal was placed on the heated surface of the plate maintained at 55 ◦C and the latency to a discomfort reaction (licking of the paws or jumping) was recorded at 30, 60, 90 and 120 min after the administration of the vehicle, extract and morphine (Almeida et al., 2011). A cut-off time of 20 s was chosen to indicate complete analgesia and to avoid tissue injury. The latencies for paw licking or jumping were recorded for each animal. For evaluation of the involvement of opioid receptors in the effect of the extract, naloxone (1.5 mg/kg, i.p.) was administered 30 minutes before administration of the extract (100 mg/kg) and morphine. Tail Flick. The antinociceptive response against thermal stimuli was assessed with the tailflick test (Analgesiometer, Insight, Brazil) (D’Amour and Smith, 1941). Rats were divided into five groups of six rats each and each rat was placed in a ventilated tube with the tail 158 positioned in radiant thermal stimulation of the dorsal surface of the tail. The heating was applied to distal third of the tail and consist focus a beam of light at 50 °C in the tail of rats. The time, in seconds, taken to remove the tail of the beam is regarded as the reaction time, which is measured automatically by a recorder coupled to the apparatus. Each trial was terminated after 7 s to minimize the probability of skin damage. The tail-flick latency was measured before and 30, 60, 90 and 120 min after administration of vehicle (p.o.), Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o.), or morphine (10 mg/kg, i.p.) (Nakamoto et al., 2010). Therefore, the longer delay with the animal's tail under the effect of beam higher analgesic activity. Carrageenan-induced hind paw edema in mice. The anti-inflammatory activity was studied using the paw edema model induced by 2% carrageenan, injected at volume of 20 µl/animal into the subplantar region of the right hind paw of the mice (Winter et al., 1962). Mice were divided into six groups of six animals each. Mice were pre-treated with Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o.), saline (vehicle, p.o.) or indomethacin (20 mg/kg, i.p.) 1 h before carrageenan injection or saline injection. The mice pedal volume up to the ankle joint was measured using plethysmometer (PanLab LE 7500, Spain) before (VA, baseline) the intraplantar administration of carrageenan and 1, 2, 3, 4 and 5 h after (VB), as described previously (Huang et al., 2012). The inhibition of the edema paw was calculated by (VBVA)/VA, where VA is the volume of the right hind paw before carrageenan injection, and VB is the volume of the right hind paw after carrageenan injection. Finally, the animals were sacrificed and all of right hind paw were dissected. Each sample was embedded in paraffin wax, sectioned at 5 µm and stained with hematoxylin–eosin for histological analysis. 159 Histamine-induced hind paw edema in mice. The edema in mice was induced by injecting 100 µg/paw of histamine (Cavalher-Machado et al., 2008). Mice were divided into three groups of six animals each. Animals were pre-treated with Av-EtOH (100 mg/kg, p.o.), vehicle (saline, p.o.) 1 h before histamine injection or saline. The volume was measured before the intraplantar injection of histamine or saline (VA, baseline) and 30, 60, 90 and 120 min after (VB) (Suleyman et al., 1999). The inhibition of paw edema was calculated as described in carrageenan induced paw test. The animals were also sacrificed and all of right hind paw were dissected for histological analysis. Leukocyte migration to the peritoneal cavity. Mice were divided into five groups of six animals each. The leukocyte migration was induced by injection of carrageenan (1%, i.p., 0.25 ml) (Andrade et al., 2012) into the peritoneal cavity of mice 1 h after administration of Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o.), or with vehicle (saline, p.o.) 0.5 h after injection of dexamethasone (2 mg/kg, i.p.) (Bastos et al., 2007). The leukocyte migration was evaluated 4 h after stimulus, when the animals were euthanized and the peritoneal cavity cells were harvested with 3 ml saline containing 1 mM EDTA. Immediately, a brief massage was done for further fluid collection, which was centrifuged (3000 rpm for 6 min) at room temperature. The supernatant was disposed and saline was added to the precipitate. An aliquot of 10 μl from this suspension was dissolved in 200 μl of Turk solution and the total cells were counted in a Neubauer chamber, under optic microscopy. The results were expressed as the number of leukocytes/ml (Melo et al., 2011). Statistical analysis. The results were presented as the mean ± standard error of the mean (SEM) and the statistical significance was determined using an analysis of variance 160 (ANOVA) followed by Dunnett’s test. Groups of data of histamine-induced hind paw edema in mice were analyzed using unpaired Student’s t-test. Values were considered significantly different at p < 0.05. All analysis was performed using by GraphPad Prism 5.0 program (Graph Pad Prism Software Inc., San Diego, CA, USA). RESULTS Acetic acid-induced writhing in mice The results shown in Fig. 1 demonstrated that the pre-treatment with Av-EtOH (25, 50 e 100 mg/kg, p.o.) 1 h before, was capable of inhibiting the abdominal writhing induced by the intraperitoneal administration of the acetic acid when compared with control group (p < 0.01). The inhibitions of writhes in percentage were 61.75, 81.08 and 91.89. Indomethacin and morphine produced a 92.90% and 100%, respectively, of reduction in acetic acid-induced writhing when compared to the control. INSERT FIGURE 1 Formalin test The treatment with Av-EtOH at doses of 25 and 100 mg/kg (p.o.) produced a significant antinociceptive activity compared to the control group in both the early and late phases (p < 0.05) (Fig.2). Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o.) decreased by 55.22, 64.18 and 65.30%, respectively, the paw licking time in the first phase, as well as 66.36, 3.98 and 82.27%, respectively, in the second phase of the formalin test. The reference drug indomethacin 161 suppressed only the second phase of the formalin test, while morphine inhibited both phases of the pain stimulus (p < 0.05). The pre-treatment with naloxone (1.5 mg/kg, i.p.) reversed the antinociceptive activity of the extract at dose of 100 mg/kg in the first phase of this test. The effect of morphine (10 mg/kg) was also reversed by naloxone. INSERT FIGURE 2 Hot plate test In the hot plate test (Fig. 3), the animals treated with morphine (10 mg/kg, i.p.) demonstrated a marked increase in latency at 30, 60, 90 and 120 min. The ones treated with the Av-EtOH (25 and 100 mg/kg, p.o.) showed a marked increase in latency at 60 and 90 min. The one treated with Av-EtOH (50 mg/kg, p.o.) did not shown significantly behavioral changes. The effect of morphine and Av-EtOH was reverted by naloxone. INSERT FIGURE 3 Tail Flick The Av-EtOH administrated at dose of 50 mg/kg (p.o) induced a significant increase in the reaction time to thermal stimuli when compared to the control group at 30 and 60 min. The group treated with morphine (10 mg/kg, i.p.) caused a significant increase in the response latency time at 30, 60, 90 and 120 min (Fig. 4). 162 INSERT FIGURE 4 Carrageenan-induced hind paw edema in mice To determine the possible anti-inflammatory effects of Av-EtOH, carrageenan-induced hind paw edema models were performed in mice. When carrageenan was used as inductor of edema (Fig. 5), Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o) administered 1 h before carrageenan injection, inhibited significantly (p < 0.01) the increase in the edema volume at 1 and 2 h, but not in 3, 4 and 5 h after stimuli. Moreover, control drug, indomethacin (20 mg/kg, i.p.), showed the highest inhibition of edema volume (p < 0.01) during 5 h. INSERT FIGURE 5 Histamine-induced hind paw edema in mice The inflammatory edema induced by histamine was significantly attenuated by Av-EtOH 100 mg/kg, p.o. in 30 min and 60 min (p < 0.05), as shown in Fig. 6. INSERT FIGURE 6 Histological examination 163 Histological analysis showed the presence of intense inflammatory infiltrate with subcutaneous edema in the groups where inflammation was induced by carrageenan and treated with 50 and 100 mg/kg of Av-EtOH. However, the group treated with 25 mg/kg of Av-EtOH the infiltrate was less intense. In the group where inflammation was induced by histamine and treated with 100 mg/kg of Av-EtOH the inflammatory process was less intense than in the control group (Fig. 7). INSERT FIGURE 7 Leukocyte migration to the peritoneal cavity Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o) administered 1 h before injection of carrageenan (1%, i.p., 0.25 ml) inhibited leukocyte migration (p < 0.01) when compared to control group (Fig. 8). The reference drug dexamethasone (2 mg/kg, i.p.) promoted significant reduction in leukocyte migration (p < 0.01). INSERT FIGURE 8 DISCUSSION For the first time in the literature, our data indicate that crude ethanolic extract (Av-EtOH) obtained from the leaves of Annona vepretorum possess antinociceptive and antiinflammatory profiles in different nociceptive responses generated by a chemical or thermal noxious stimulus. 164 The acetic acid-induced writhing test in mice has long been used as a classic model for the assessment of analgesic or anti-inflammatory properties of new agents (Mohamad et al., 2010). In fact, it is a non-selective model for antinociceptive studies, since an intraperitoneal injection of acetic acid triggers the release of a variety of mediators such as substance P, bradykinins, prostaglandins especially PGI2 as well as pro-inflammatory cytokines such as IL1, IL-6, IL-8 and TNF-α, stimulating the peripheral nociceptor and sensitive neurons that were responsive to the inflammatory mediators (Le Bars et al., 2001). The ethanolic extract (Av-EtOH) significantly reduced the acetic acid-induced writhing in mice. The acetic acid produced 14.80 ± 2.08 writhes in the control group for 10 min after the injection. The groups previously treated with 25, 50 and 100 mg/kg of Av-EtOH exhibited a significant reduction in the number of writhings of 61.75, 81.08 and 91.89%, respectively. Our results have shown that Av-EtOH possess a potent antinociceptive activity in this method. The formalin test is an evaluation method used to measure the behavioral effectiveness of antinociceptive agents (Hunskaar and Hole, 1987; Randolph, 1997). The advantage of this assay over other methods of nociception is the possibility to evaluate two different types of pain over a prolonged period of time and thus allows the testing of analgesics with different mechanisms of action (Le Bars et al., 2001; Randolph, 1997). The behavioral response to formalin followed a biphasic pattern composed of an initial acute phase (first phase), and for a longer period (second phase) and the period between phases is called the quiescent interval (Martins et al. 2006). Drugs which act mainly centrally, such as narcotic analgesics, inhibit both phases, while peripherally acting drugs, such as indomethacin, only inhibit the late phase. Av-EtOH inhibited both phases of the formalin-induced nociception, but its effect was more prominent in the second phase. 165 Seeking a possible central involvement in the antinociceptive effect of Av-EtOH, hot plate and tail flick assays were conducted. The increase in latency of Av-EtOH on hot plate show provide evidences of its central effect since this is predominantly a spinal reflex and considered as central model for centrally-acting analgesic drugs (Nemirovsky et al., 2001). This test, on thermal stimulation is associated with central neurotransmission in what the heat activates nociceptors (Aδ and C fibers) by driving the momentum of the dorsal horn of the spinal cord and subsequently to cortical centers (Pinheiro et al., 2011). In tail flick test, the Av-EtOH administrated at dose of 50 mg/kg (p.o) caused a significant increase in the reaction time to thermal stimuli as compared to the control group at 30 and 60 min. This test consists of a thermal stimulus, an increase in the reaction time is considered to be a parameter for evaluating central antinociceptive activity (Rujjanawate et al., 2003). Therefore, tail flick is characterized by an acute nociception and noninflammatory. Substances which act at central level, such as morphine, are able to suppress responses of spinal neurons to noxious thermal stimulus in the tail, increasing the latency time (Fischer et al., 2008). To confirm of the involvement of opioid receptors in the effect of the extract, naloxone (1.5 mg/kg, i.p.) was administered 30 minutes before administration of the extract (100 mg/kg) and morphine, being the effect of morphine and Av-EtOH reverted in the formalin and hot plate tests. As naloxone is a non-selective opioid receptor antagonist, it is suggested that this antinociceptive effect of the extract is mediated by activation of opioid receptors (Lewanowitsch et al., 2006). The inhibition on the second-phase (inflammatory nociception) of the formalin test in mice, suggested that Av-EtOH can produce antinociceptive action through the inhibition of COX and consequently prostaglandin synthesis, or other inflammatory pathway. To confirm 166 the possible anti-inflammatory activity of Av-EtOH, the carrageenan-induced paw edema model in mice was performed. The carrageenan-induced paw edema is an animal model widely employed for the screening of anti-inflammatory compounds or extracts and has frequently been used to assess the anti-edematogenic effect of natural products, as medicinal plants, and exhibits a high degree of reproducibility (Thomazzi et al., 2010). Edema formation produced by carrageenan administration in paw is a biphasic event, during 1-5 h. The initial phase (1 or 1.5 h) is predominantly a non-phagocytic edema followed by a second phase (2-5 h) with increased edema formation that remained up to 5 h (Khan et al., 2009). Av-EtOH (25, 50 and 100 mg/kg, p.o) administered 1 h before carrageenan injection, inhibited significantly (p < 0.01) the increase in the edema volume at 1 and 2 h, initial phase. This phase has been induced due to the action of mediators such as histamine, serotonin and bradykinin on vascular permeability (Zhu et al., 2010), which is subsequently sustained by the release of prostaglandins and nitric oxide (second-phase) with peak at 3 h. To confirm the anti-inflammatory action in the initial phase, histamine-induced paw edema was conducted. Our results showed that the edema induced by histamine was significantly inhibited by Av-EtOH 100 mg/kg, p.o. in 30 min and 60 min (p < 0.05). Then, the method of leukocyte migration to the peritoneal cavity was performed seeking a best characterization of the anti-inflammatory effect of Av-EtOH. The inflammation produced by this model is slow and prolonged, making it possible to evaluate the leakage of liquid, as well as cell migration, besides the participation of cytokines, enzymes, and chemical mediators, such as nitric oxide, prostaglandin E2, IL-1β, IL-6 and TNF-α, by utilizing different phlogistic agents (Loram et al., 2007). These mediators are able to recruit leukocytes, such as neutrophils, in several experimental models. Av-EtOH (25, 50 and 100 167 mg/kg, p.o) administered 1 h before injection of carrageenan (1%, i.p., 0.25 ml) inhibited the leukocyte migration (p < 0.01). A possible mechanism is an inhibition of the synthesis of many inflammatory mediators whose involvement in the cell migration is well-established. In summary, the present study has demonstrated that crude ethanolic extract of A. vepretorum has significant antinociceptive and anti-inflammatory properties, which are related probably with the activation of opioid receptors and inhibition of release of mediators of the inflammatory process, such as prostaglandins, histamine and neutrophils. ACKNOWLEDGEMENTS This work was supported by grants from the Brazilian agencies CAPES, CNPq and FACEPE. The authors wish to express their thanks to R. Mello Silva of Centro de Referência para Recuperação de Áreas Degradadas (CRAD) for botanical identification of the plant material. REFERENCES Albuquerque UP, Medeiros PM, Almeida ALS, Monteiro JM, Neto EMDFL, Melo JG, Santos JP. 2007. Medicinal plants of the caatinga (semi-arid) vegetation of NE Brazil: a quantitative approach. J Ethnopharmacol. 114: 325-354. Albuquerque UP, Andrade LHC. 2002. 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Effect of ethanol extract of A. vepretorum (Av-EtOH), indomethacin and morphine on acetic acid induced writhing test in mice. Values are mean ± S.E.M. **p < 0.01, significantly different from control; ANOVA followed Dunnett’s test (n = 6, per group). a) First phase Licking time (s) 60 Control Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Indomethacin 20 mg/kg Morphine 10 mg/kg Morph + NLX Av-EtOH + NLX 50 40 30 ** 20 ** ** ** 10 0 b) Second phase 70 Licking time (s) 60 50 40 ** 30 20 10 ** ** ** ** ** Control Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Indomethacin 20 mg/kg Morphine 10 mg/kg Morph + NLX Av-EtOH + NLX 0 Figure 2. Effect of ethanolic extract of A. vepretorum (Av-EtOH), indomethacin, morphine, morphine + naloxone (Morph + NLX; 10 mg + 1.5 mg/kg) and Av-EtOH + NLX (100 mg + 1.5 mg/kg) on formalin test in mice. Values are mean ± S.E.M.; **p < 0.01, significantly different from control; ANOVA followed Dunnett’s test (n = 6, per group). 174 Latency time (s) 20 ** 15 ** * * ** 10 ** *** 5 Control Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Morphine 10 mg/kg Morph + NLX Av-EtOH + NLX 0 30 60 90 120 Time (min) Figure 3. Effect of ethanolic extract of A. vepretorum (Av-EtOH), morphine, morphine + naloxone (Morph + NLX; 10 mg + 1.5 mg/kg) and Av-EtOH + NLX (100 mg + 1.5 mg/kg) on hot plate test in mice. Values are mean ± S.E.M.; *p < 0.05, **p < 0.01, significantly different from control; ANOVA followed Dunnett’s test (n = 6, per group). Latency time (s) 6 5 * * Control Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Morphine * * * 4 3 2 1 0 30 60 90 120 Time Figure 4. Effect of ethanolic extract of A. vepretorum (Av-EtOH) and morphine (10 mg/kg) on tail flick test in rats. Values are mean ± S.E.M.; *p < 0.05, significantly different from control; ANOVA followed Dunnett’s test (n = 6, per group). 175 Volume of edema (ml) 0.8 Saline Saline + Carr Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Indomethacin 0.7 0.6 0.5 0.4 * 0.3 ** 0.2 0.1 0.0 0 1 ** ** ** 2 3 ** ** 4 5 Hours Figure 5. Effect of ethanolic extract of A. vepretorum (Av-EtOH) and indomethacin (20 mg/kg) on carrageenaninduced hind paw edema in mice. Values are mean ± S.E.M.; *p < 0.05, **p < 0.01, significantly different from Volume of edema (ml) control; ANOVA followed Dunnett’s test (n = 6, per group). 0.45 0.40 0.35 0.30 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0.00 Saline Saline + Histamine Av-EtOH 100 mg/kg * 0 30 * 60 90 120 Time (min) Figure 6. Effect of ethanolic extract of A. vepretorum (Av-EtOH) on histamine-induced hind paw edema in mice. Values are mean ± S.E.M.; *p < 0.05, significantly different from control; unpaired Student’s t-test (n = 6, per group). 176 Figure 7. Histology of rat paw edema induced by carrageenan after treatments. (A) control group (saline + carrageenan), (B) Av-EtOH 25 mg/kg + carrageenan, (C) Av-EtOH 50 mg/kg + carrageenan, (D) Av-EtOH 100 mg/kg + carrageenan, (E) Indomethacin + carrageenan, (F) Histamine + saline, (G) Histamine + Av-EtOH 100 mg/kg. ) The arrows head shows neutrophil infiltration of paw tissues (Original magnification, 100X (A-C; D-G) and 400X (D). 177 Leucocytes x 106 / ml 35 Control Av-EtOH 25 mg/kg Av-EtOH 50 mg/kg Av-EtOH 100 mg/kg Dexamethasone 2 mg/kg 30 25 20 15 10 5 ** ** ** ** 0 Figure 8. Effect of ethanolic extract of A. vepretorum (Av-EtOH) and dexamethasone on leukocytes migration into the peritoneal cavity induced by carrageenan in mice. Values are mean ± S.E.M.; **p < 0.01, significantly different from control; ANOVA followed Dunnett’s test (n = 6, per group). 178 APENDICE C – Carta de submissão 179 APENDICE D – Certificado 180 APENDICE E – Resumo AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE ORAL SUBCRÔNICA DO EXTRATO ETANÓLICO DAS FOLHAS DE Annona vepretorum (ANNONACEAE) EM CAMUNDONGOS Silva. J.C1, Lavor. E.M1, Silva. M.G1, Lima-Saraiva. S.R.G2, Oliveira-Junior. R.G1, Vieira. H.S1, Diniz. 1 1 1 1 T.S , Silva. F.S , Mendes. R.L , Almeida. J.R.G.S 1: Universidade Federal do Vale do São Francisco, 56.304-205, Petrolina-PE, Brasil. 2: Universidade Federal de Pernambuco, 50.740-521, Recife-PE, Brasil. Introdução: Annona vepretorum é uma espécie pertencente à família Annonaceae, popularmente conhecida na região Nordeste do Brasil como araticum ou pinha da Caatinga. A avaliação da toxicidade possibilita caracterizar os efeitos sobre funções orgânicas importantes, tais como: locomoção, comportamento, sistema respiratório, dentre outros. Assim, o objetivo deste trabalho foi investigar a toxicidade subcrônica do extrato etanólico de A. vepretorum (Av-EtOH) visando à obtenção de parâmetros de segurança. Metodologia: A planta foi coletada no município de JaguarariBA, e uma exsicata (#946) foi depositada no Herbário HVASF. Foram utilizados 30 camundongos subdivididos em 3 grupos (n=10), que receberam solução salina e o extrato nas doses de 100 e 400 mg/kg, via oral, respectivamente, diariamente, durante 30 dias. Todos os animais foram observados em relação ao aparecimento de efeitos tóxicos, e diariamente foram medidos o consumo de ração e água. Posteriormente, os animais foram anestesiados com quetamina e xilazina, e o sangue foi coletado pelo plexo braquial para a avaliação de parâmetros hematológicos e bioquímicos [1]. Em seguida, os órgãos (coração, pulmão, fígado, estômago, rins, pâncreas, baço, ovário e testículo) foram coletados, pesados e analisados macroscopicamente [2]. O protocolo experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIVASF (Protocolo 0004/261011). Resultados: após 30 dias de tratamento, não houve morte dos animais nos grupos tratados com o extrato nas doses de 100 e 400 mg/kg, via oral. Na triagem toxicológica foi observado piloereção, movimento intenso das vibrissas, analgesia, resposta ao toque diminuído, respiração forçada e diminuição da força para agarrar na dose de 400 mg/kg, comportamentos não observados nos demais grupos. Não houve diferença significativa quanto ao peso corporal, consumo de líquido e ração, nem peso dos órgãos quando comparados ao grupo controle. Os exames hematológicos mostraram redução significativa (p< 0.05) de MCV, MCH no grupo tratado com Av-EtOH na dose de 400 mg/kg. Quanto aos exames bioquímicos, houve aumento significativo (p< 0.05) do nível de triglicerídeos no grupo tratado com AvEtOH 400 mg/kg. Na avaliação macroscópica dos órgãos, apenas um animal tratado com Av-EtOH 400 mg/kg, apresentou o pulmão com aspecto mais pálido e enrijecido. Nos demais, não houve alterações. Conclusão: Os dados mostram que não houve sobrecarga hepática ou renal, e que AvEtOH na dose de 100 mg/kg, via oral, apresentou-se seguro, não havendo nenhum indício de toxicidade quando ingerido diariamente, por 30 dias. Estudos histopatológicos deverão ser realizados posteriormente para avaliação de alterações microscópicas nos órgãos. Agradecimentos: CAPES, CNPq, FACEPE Referências: 1. Araújo, A.A.S., et al. (2008). Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences. 44: 707-715. 2. Okoye, T.C., et al. (2012). Asian Pacific Journal of Tropical Medicine. 5: 277-282. Sessão Científica: etnofarmacologia, farmacologia e toxicologia. 181 ANEXOS 182 ANEXO A – Aprovação do comitê de ética 183 ANEXO B – Tabela de triagem comportamental Triagem Farmacológica (Modelo retirado de Almeida et al., 1999) PLANTA UTILIZADA:_______________________ DOSES:_____________DATA:____/_____/_____ VIA DE ADMINISTRAÇÃO:_____________________ANIMAIS:______________________________ RESPONSÁVEL TÉCN.:_______________________________ GRUPOS:________________________ ATIVIDADE FARMACOLÓGICA Quantificação dos efeitos (0) sem efeito, (-) efeito diminuído, (+) efeito presente, (++) efeito intenso até 30` 1h 2h 3h 4h 1 - SNC a - Estimulante Hiperatividade Irritabilidade Agressividade Tremores Convulsões Piloereção Movimento intenso das vibrissas Outras_____________________ b - Depressora Hipnose Ptose Sedação Anestesia Ataxia Reflexo do endireitamento Catatonia Analgesia Resposta ao toque diminuído Perda do reflexo corneal Perda do reflexo auricular c - Outros comportamentos Ambulação Bocejo excessivo Groming Rearing Escalar Vocalizar Sacudir a cabeça Contorções abdominais Abdução das patas do trem posterior Pedalar Estereotipia 2 - SN AUTÔNOMO Diarréia Constirpação Defecação aumentada Respiração forçada Lacrimejamento Micção Salivação Cianose Tono muscular Força para agarrar 3 - MORTE obs.:_________________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ___________