Factores Qualitativos Que Determinam A Utilização Deficiente Dos
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Factores Qualitativos Que Determinam A Utilização Deficiente Dos
4301 N. Fairfax Drive, Suite 400 Arlington, VA 22203 Tel: (703) 310-3500 Fax: (703) 524-7898 www.advanceafrica.org Expanding family planning and reproductive health services in Africa Factores Qualitativos Que Determinam A Utilização Deficiente Dos Serviços de Planeamento Familiar em Angola: Resultados do Exercício de Mapeamento Estratégico Julho de 2003 Partner organizations: Academy for Educational Development • Centre for African Family Studies Deloitte Touche Tohmatsu • Forum for African Women Educationalists Family Health International • Management Sciences for Health Advance Africa is sponsored by the United States Agency for International Development Photo copyright Advance Africa República de Angola Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública USAID/Angola Advance Africa REPÚBLICA DE ANGOLA MINISTÉRIO DA SAÚDE DIRECÇÃO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA USAID/ANGOLA ADVANCE AFRICA FACTORES QUALITATIVOS QUE DETERMINAM A UTILIZAÇÃO DEFICIENTE DOS SERVIÇOS DE PLANEAMENTO FAMILIAR EM ANGOLA: RESULTADOS DO EXERCÍCIO DE MAPEAMENTO ESTRATÉGICO LUANDA, JULHO DE 2003 AGRADECIMENTOS Advance Africa gostaria de reconhecer e agradecer o apoio e os conhecimentos significativos oferecidos pelos nossos colaboradores durante este exercício de Mapeamento Estratégico. Advance Africa gostaria de agradecer sobretudo à Dra. Adelaide de Carvalho, Directora Nacional de Saúde Pública (National Director of Public Health) do Ministério da Saúde (Ministry of Health) em Angola e à sua equipa, que ofereceram o seu apoio e assistência técnica durante todo o processo; Cathy Bowes de USAID/Angola, que envolveu activamente a Missão USAID (USAID Mission) durante todo o processo e ofereceu a Zipporah Wanjohi apoio técnico e colaboração totais; o pessoal de saúde da província, especialmente o Dr. Elias Finde, Director, Direcção de Saúde Pública (DSP) (Directorate of Public Health) do Huambo, e a Dra. Maria Inês Leopoldo, Director, DSP de Benguela, pelo seu envolvimento e apoio; a Dra. Júlia Grave, do United Nations Population Fund (UNFPA), que proporcionou uma assistência técnica polivalente ao longo de todo o processo de investigação; a Dra. Maria de Lourdes Junça, do International Medical Corps (IMC)/Management Sciences for Health (MSH), que forneceu apoio administrativo e envolvimento técnico durante a estadia da equipa em Angola; o Christian Children’s Fund (CCF) e o International Medical Corps pela sua assistência técnica e apoio logístico em Luanda e nas províncias de Benguela e do Huambo; e Management Sciences for Health através do seu projecto de Maternal and Child Health (MCH) (Saúde Materna e Infantil - SMI) pelo seu apoio técnico e administrativo durante a estadia da equipa em Angola. Advance Africa também gostaria de reconhecer e agradecer ao elevado número de estagiários, participantes, e partes interessadas, assim como a todos os homens e mulheres angolanos que responderam às nossas perguntas e pedidos de informação e possibilitaram esta actividade. Equipa de Avaliação Avelina Magalhães dos Santos Domingos Jerónimo Eduarda do Amaral Gourgel Eliseu Mateus Elvira Joana Sauimbo Eva Napolo G. Castro Filomena Jesus Costa e Santos Isabel Nimba João Baptista Huvi Júlia Grave Maria Antónia Nogueira Maria Domingas Luciano Maria de Lourdes Junça Maria do Carmo C. da Cruz Maria Gabriela Xavier Maria Josefa Dombolo Rosalina Catanha Teresa Joaquina Zipporah Wanjohi MAPA DE ANGOLA iii SUMÁRIO Depois de mais de quatro décadas de conflitos e de guerra civil, a maior parte do território angolano tem sido destruído e abandonado. Perderam-se quaisquer benefícios de desenvolvimento previamente alcançados. No entanto, a pouco e pouco as populações estão a regressar às suas regiões de origem, à medida que a paz e a segurança se restabelecem. Angola está a emergir lentamente do seu difícil passado, e uma parte do processo de avanço para este país devastado pela guerra é iniciar e implementar estratégias nacionais para o desenvolvimento económico e social. A saúde é uma das prioridades estratégicas nacionais mais importantes, dado que a saúde da população afecta tantos outros sectores. O índice de mortalidade materna em Angola é um dos mais altos do mundo, com 1.850 mortes por cada 100.000 nados-vivos. 1 A assistência médica pré- natal não se encontra facilmente disponível e muitas mulheres não têm acesso a serviços de obstetrícia de emergência. O índice de utilização de serviços de planeamento familiar é baixo. A prevalência de utilização de contraceptivos é baixa, calculando-se ser de 1,8%.1 O índice de mortalidade infantil é muito alto e calcula-se ser de 195 por cada 1.000 nascimentos.1 Todos estes dados variam geograficamente entre zonas urbanas e rurais. Apenas 8% das mulheres angolanas (entre os 15 e os 49 anos de idade) possuem conhecimentos adequados sobre a transmissão e a prevenção contra HIV/SIDA, e quase um terço de todas as mulheres angolanas nunca ouviram falar de HIV/SIDA. Em 1999, 19% dos “trabalhadores de sexo” em Luanda apresentaram resultados positivos em testes do HIV. Dois anos mais tarde, esse número tinha aumentado para 32,8%. 2 Enquadrado no contexto descrito acima e com base no Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva de cinco anos, o Ministério da Saúde em Angola solicitou assistência técnica da parte de Advance Africa para a realização de uma avaliação participativa sobre o planeamento familiar no país. O objectivo desta avaliação era analisar os dados existentes sobre a saúde, colher dados qualitativos, e obter o consenso entre as partes interessadas em relação às lacunas, pontos fracos e oportunidades do programa. A equipa de Advance Africa concentrou os seus esforços neste exercício de Mapeamento Estratégico em três províncias, Luanda, Benguela, e Huambo, que foram seleccionadas como sendo representativas das restantes províncias. Também se realizou uma reunião das partes interessadas com todos os parceiros mais importantes para ajudar a identificar prioridades, necessidades e lacunas no planeamento familiar. Organizou-se um número total de 30 grupos de centragem envolvendo adolescentes, homens, mulheres, enfermeiras e parteiras tradicionais. Além disso, realizaram-se observações de locais e 21 entrevistas individuais semi-estruturadas com informadores chave em 11 locais. As pessoas entrevistadas incluíram líderes religiosos, 1 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP). 2002. Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva 2002-2006. Luanda, Angola: DNSP. 2 United Naçãos Office for the Coordinação of Humanitarian Affairs (OCHA). “Angola: Youth Centres to Fight AIDS.” IRINNEWS.org. <http://www.irinnews.org/print.asp?ReprotID=35861> (acedido a 20 de Aug. de 2003). iv políticos e comunitários; representantes das Nações Unidas (ONU); representantes de organizações não governamentais (ONGs); e outras pessoas influentes. Com base nos resultados do exercício de Mapeamento Estratégico, foram encontrados factores chave justificativos da fraca utilização dos serviços de planeamento familiar existentes: • A pobreza omnipresente, associada à e à saúde deficiente. • O sistema actual de cuidados de saúde tem sofrido imensamente devido a negligência e falta de fundos. Em consequência disso, os serviços de planeamento familiar, onde existem, são inadequados e ineficientes. • Determinados factores culturais e sociais contribuem significativamente para com as informações erróneas sobre o planeamento familiar e os entraves à sua utilização. • A iniquidade dos sexos em Angola determina que, embora as mulheres tenham uma maior responsabilidade para com os cuidados da família, as decisões finais relativas ao número e ao espaçamento dos filhos dependem dos homens. • A igreja reforça as normas culturais pregando contra os contraceptivos recentes e actuais numa sociedade em que ter muitos filhos é considerado o ideal. • A juventude é especialmente Foto 1: Equipa a codificar dados aos pares marginalizada porque tem falta Departamento de SR, Min. da Saúde, Luanda de acesso a informação e a serviços. Photo : B. de Negri Por outro lado, a equipa de avaliação também encontrou áreas chave para promover o planeamento familiar no âmbito das realidades de Angola. Uma consciencialização e aceitação do espaçamento de partos como uma estratégia positiva de saúde entre os homens e as mulheres constituem alicerces fundamentais para edificar o apoio ao conceito de planeamento familiar. A possibilidade de integrar um planeamento familiar em centros de saúde principais e secundários poderia também melhorar o acesso para as mulheres. Para alcançar isto, devem ser envidados esforços no sentido de reforçar e aumentar os conhecimentos e a competência do pessoal existente e novo e de modernizar os centros de saúde. Os desafios encontrados na promoção do planeamento familiar e no aumento da prevalência de utilização de contraceptivos não vai ser fácil de ultrapassar. No entanto, a avaliação, que constitui a etapa inicial na concepção de uma intervenção adequada, já identificou quatro áreas de intervenção principais. As quatro áreas principais abrangem: 1) a qualidade dos serviços de cuidados de saúde; 2) o acesso aos serviços de cuidados de saúde; 3) a procura limitada de planeamento familiar; e 4) a questão da sustentabilidade v dos serviços a longo prazo. A seguir ao exercício de Mapeamento Estratégico e apresentação dos resultados preliminares, a equipa de Advance Africa reuniu-se com as partes interessadas para discutir as estratégias de implementação que abordariam com eficiência os objectivos globais estabelecidos pela avaliação. Resumindo, estes são: • • • • A integração de serviços de planeamento familiar em serviços de HIV/SIDA e de saúde da mãe e da criança; A descentralização dos serviços de planeamento familiar para centros de saúde e estruturas comunitárias; O envolvimento da comunidade em todo o processo de planeamento e de implementação de serviços de planeamento familiar; A colaboração multi-sectorial e a parceria. A implementação destas estratégias com uma concentração nas quatro áreas acima referidas, ajudará o Ministério da Saúde em Angola a alcançar os objectivos estabelecidos no Plano Estratégico Nacional para Planeamento Familiar. Os resultados do exercício de Mapeamento Estratégico identificaram lacunas e pontos fracos no sistema da saúde de Angola. Advance Africa prevê que o processo de Mapeamento Estratégico continue a ser utilizado para criar um sentido de propriedade e para estabelecer parcerias no sentido de alcançar os objectivos do Ministério da Saúde. vi ÍNDICE I. INTRODUÇÃO Página I.A. Objectivos I.B. Metodologia do Mapeamento Estratégico I.B.1. Primeira Fase: Avaliação Participativa Rápida I.B.2. Segunda Fase: Planeamento de Grupos Interactivos I.B.3. Terceira Fase: Implementação e Monitorização de Programas 1 2 2 2 3 II. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE MAPEAMENTO ESTRATÉGICO EM ANGOLA II.A. Primeira Fase: Avaliação Participativa Rápida do Programa de PF/SR em Angola II.A.1. Análise de Dados Secundários e Chegar a Consenso II.A.2. Discussões dos Grupos de Centragem e Entrevistas dos Informadores Chave II.A.3. Observação de Campo II.B. Segunda Fase: Planeamento de Grupos Interactivos em Angola II.C. Terceira Fase: Programa de Implementação e de Supervisão 4 4 5 7 7 8 III. RESULTADOS III.A. Primeira Fase: Análise de Dados Secundários (Revisão de Material Informativo) e Chegar a Consenso III.A.1. População e Distribuição Etária III.A.2. Tendências Sócio-económicas III.A.3. Saúde Materna e Infantil III.A.4. Planeamento Familiar III.A.5. Chegar a Consenso III.B. Primeira Fase: Grupos de Centragem e Entrevistas de Informadores Chave III.B.1. Resultados das Discussões dos Grupos de Centragem Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Homens Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Mulheres Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Jovens Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Enfermeiras Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Parteiras Tradicionais III.C.2. Conclusões Principais das Entrevistas Semi- Estruturadas III.C.3. Visitas de Locais Seleccionados para Estudo de Observação 9 9 9 10 10 13 13 15 17 19 22 24 26 27 28 vii III.D. Resultados Sucintos do Exercício de Mapeamento Estratégico – Os mapas IV. PLANEAMENTO DE GRUPO IV.A. Desenvolvimento 30 36 V. ESTRATÉGIAS SELECCIONADAS V.A. Melhoria do Acesso e da Qualidade dos Serviços de Planeamento Familiar 35 V.B. Integração do Planeamento Familiar com os Serviços de HIV/SIDA e de Saúde Materna e Infantil (SMI) 37 V.C. Envolvimento da Comunidade 37 V.D. Parcerias e Colaboração Multi-Sectorial 38 VI. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES Próximas Etapas 39 ANEXOS Anexo 1 Anexo 5 Programa para a Avaliação Participativa e Plano de Trabalho sobre Saúde Reprodutiva/Planeamento Familiar/Espaçamento de Partos em Angola 42 Guias- modelo para Discussões de Grupos de Centragem, Luanda, 9 de Junho de 2003 43 Equipa de Mapeamento Estratégico de Advance Africa– Participantes 46 Programa para a Avaliação Participativa e Plano de Trabalho sobre Saúde Reprodutiva/Planeamento Familiar/Espaçamento de Partos em Angola, de 1 de Junho a 13 de Julho de 2003 47 Dados sobre a Situação Demográfica e da Saúde em Angola 50 Anexo 6 Lista de Participantes da Primeira Reunião de Partes Interessadas 52 Anexo 7 Anexo 8 Objectivos e Ordem do Dia da Reunião de Partes Interessadas Nome, Organização, e Função das Entrevistas dos Informadores Chave Lista de Participantes na Reunião Final de Partes Interessadas Reunião Final de Partes Interessadas 53 Anexo 2 Anexo 3 Anexo 4 Anexo 9 Anexo 10 BIBLIOGRAFIA 55 56 58 59 viii QUADROS QUADRO 1: Lista dos Temas mais Importantes para Consenso – Reunião das Partes Interessadas, Junho de 2003 QUADRO 2: Mapeamento Estratégico do Planeamento Familiar em Angola – Situação Actual QUADRO 3: Discussões de Grupos de Centragem, Entrevistas e Observações de Locais Realizados QUADRO 4: Acesso, Procura e Qualidade do Pla neamento Familiar tal como Entendido pela População QUADRO 5: Lista dos Centros de Saúde e das Maternidades Observados ix ACRÓNIMOS SIDA BCC CCF CPR DNSP DSP FGD FP/RH HIV PID (IDP) IEC IMC JIRO SMI (MCH) MS (MOH) MSH ONG OCHA PSI IRS (STI) TBA ONU UNFPA UNICEF USAID OMS síndrome de imunodeficiência adquirida comunicação de mudança de comportamento Christian Children’s Fund Taxa de prevalência de utilização de contraceptivos Direcção Nacional de Saúde Publica (National Directorate of Public Health) Direcção de Saúde Pública (Directorate of Public Health) discussão de grupo de centragem (focus grupo discussion) planeamento familiar/saúde reprodutiva vírus da imunodeficiência humana pessoa internamente deslocada informação, educação, e comunicação International Medical Corps Organização de Juventude Informada, Responsável e Organizada saúde materna e infantil Ministério da Saúde Management Sciences for Health organização não governamental Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários (Office for the Coordination of Humanitarian Affairs) das Nações Unidas Population Services International (Serviços da População Internacional) infecção transmissível sexualmente parteira tradicional Organização das Nações Unidas United Nations Population Fund United Nations Children’s Fund (Fundo das Nações Unidas para a Infância) United States Agency for International Development Organização Mundial de Saúde x I. INTRODUÇÃO Angola, um país de aproximadamente 13,5 milhões de habitantes, tem uma das taxas mais altas de mortalidade materna do mundo (1.850/100.000). 3 O coeficiente de mortalidade infantil calcula-se ser de cerca de 195 mortes por cada 1.000 nados- vivos. 4 Para fazer face às necessidades de saúde reprodutiva do país, o Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva 2002-2007 foi adoptado em 2002 com em Prestação de Serviços em Saúde Reprodutiva Políticas e Normas em Angola). Representantes do Ministério da Saúde, da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP), 17 províncias, a escola superior de medicina, agências internacionais, e organizações não governamentais (ONGs) reuniram-se para desenvolverem o plano estratégico cooperativamente. Os objectivos da estratégia e das actividades planeadas concentram-se em melhorar a saúde das mulheres e dos homens em idade reprodutiva através da prestação de serviços de qualidade em relação a cuidados pré-natais, assistência a partos, planeamento familiar, infecções transmissíveis sexualmente (ITSs), e HIV/SIDA. Foram incluídas no plano três estratégias fundamentais: 1. Desenvolver um sólido sistema de monitorização da saúde com indicadores concretos do processo; 2. Implementar intervenções baseadas em investigação de carácter operacional para melhorar e manter a qualidade dos serviços de planeamento familiar/saúde reprodutiva (PF/SR) através do vigor das capacidades institucionais; 3. Utilizar técnicas de mobilização social concentradas na juventude. Com base neste Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva, uma baixa utilização de planeamento familiar (a prevalência de utilização de contraceptivos declinou de 8,1% em 1996 5 para 6% em 2001 6 ) e o contexto específico de questões pós-conflito relacionadas com a prestação de serviços de saúde reprodutiva, a DNSP convidou Advance Africa a responder à pergunta: Porque razão é que a taxa de prevalência de utilização de contraceptivos está a diminuir? I.A. Objectivos O objectivo da missão era realizar um exercício de Mapeamento Estratégico, composto por uma avaliação qualitativa e um exercício de planeamento, para compreender as percepções, ideias, e crenças da população em relação ao planeamento familiar do país; para determinar áreas prioritárias para intervenção no sentido de promover o planeamento familiar; e para identificar mecanismos para cativar o apoio da comunidade. 3 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP). 2002. Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva 2002-2006. Luanda, Angola: DNSP. 4 Ibid. 5 Instituto Nacional de Estatística (INE) and United Nations Children’s Fund (UNICEF). 1998. Angola Multiple Indicator Cluster Survey (MICS) 1996. Luanda, Angola: INE/UNICEF. <http:/www.childinfo.org/mics/cntry_files/ANG_MICS_1996.pdf> (acedido a 22 de Setembro de 2003). 6 Instituto Nacional de Estatística (INE) and United Nations Children’s Fund (UNICEF). 2002. Angola Multiple Indicator Cluster Survey (MICS) 2001 (em preparação). Luanda, Angola: INE/UNICEF. 1 I.B. Metodologia do Mapeamento Estratégico O que se segue resume e descreve sucintamente a metodologia do Mapeamento Estratégico que Advance Africa utiliza na região para melhorar o acesso, a procura, a qualidade e a sustentabilidade dos serviços de planeamento familiar. O método de Advance Africa oferece aos directores, aos líderes e aos responsáveis por tomar decisões uma forma flexível de fortalecer a implement ação do programa de PF/SR. O método de Mapeamento Estratégico de Advance Africa consta de três fases: o Avaliação Participativa Rápida o Planeamento de Grupo Interactivo o Implementação e Monitorização do Programa I.B.1. Primeira Fase: Avaliação Participativa Rápida O Mapeamento Estratégico começa com uma avaliação qualitativa das actividades de implementação do programa em curso e a análise subsequente de dados provenientes de várias fontes. É utilizada na análise uma metodologia multi-dimensional. Por conseguinte, é realizada uma combinação de dados publicados e por publicar, assim como entrevistas de informadores seleccionados de todos os níveis, grupos de centragem, reuniões com todas as partes interessadas e observações de campo. Os resultados combinados colhidos a partir destas fontes diversas, são contra-comparados através de um processo de triangulação concebido para reter apenas informações que se sobrepõem (consultar a Figura 1). Figura 1. Triangulação de dados Estas informações sobrepostas são validadas, seguidamente, pelo grupo de partes interessadas, como sendo as informações mais exactas para serem utilizadas. Os principais pontos fortes e fracos identificados em cada centro de saúde ou instalação não de saúde, são depois resumidos através de uma grelha analítica que requer respostas de tipo “sim” (+) ou “não” (0) para cada área. As grelhas completadas demonstram as oportunidades e as lacunas que existem num “mapa” e proporcionam uma base de discussão para cada grupo a vários níveis. I.B.2. Segunda Fase: Planeamento de Grupo Interactivo A fase de Planeamento de Grupo Interactivo segue a recolha de dados descrita acima. Esta etapa baseia-se na determinação e na implementação de acções seleccionadas para cada oportunidade e lacuna identificada no programa. O seu sucesso depende do nível de participação dos parceiros chave que têm estado envolvidos no processo. Os participantes seleccionam e propõem as melhores práticas mais plausíveis e potencialmente eficazes para corrigir as lacunas e os pontos fracos identificados. 2 Um Modelo de Plano de Acção é utilizado para identificar as oportunidades, lacunas, actividades correctivas, e etapas necessárias para completar actividades para cada lacuna identificada. O plano de acção completado é utilizado como um plano a curto prazo durante um período não superior a um ano. Concentra o processo de planeamento de grupo interactivo nas medidas correctivas, ou no que fazer, relativamente a cada uma das lacunas prioritárias seleccionadas; os participantes principais; as datas de acabamento; e os resultados, ou qual é o rendimento que se espera, para cada actividade. Os indicadores são os meios de verificação, e as suposições também cobrem possíveis limitações. I.B.3. Terceira Fase: Implementação e Monitorização do Programa A implementação destes planos de acção será acompanhada com regularidade por membros do grupo, e serão também realizadas avaliações periódicas para polir as actividades. Este método garante que o Mapeamento Estratégico seja um processo contínuo, que evolve e se desenvolve à medida que as partes interessadas continuam a conceber, a avaliar e a adaptar os planos de acção. Em consequência disso, as actividades mantém sempre a sua relevância, apesar das modificações do contexto e do meio ambiente. 3 II. APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DE MAPEAMENTO ESTRATÉGICO EM ANGOLA Servindo-se dos meios do método de Mapeamento Estratégico sucintamente descritos acima, o relatório seguinte descreve em linhas gerais os resultados das fases de Avaliação Participativa Rápida e de Planeamento de Grupo Interactivo. A Terceira Fase inclui a implementação e a avaliação e terá início quando começarem as actividades do projecto. II.A. Primeira Fase: Avaliação Participativa Rápida do Programa de PF/SR em Angola Advance Africa enviou uma equipa de duas pessoas a Angola em Junho de 2003 para trabalhar com a DNSP do Ministério da Saúde, as Nações Unidas (ONU), e as ONGs no sentido de desenvolver as primeiras duas fases do exercício de Mapeamento Estratégico. O programa contido no Anexo 1 descreve em linhas gerais as actividades diárias da avaliação participativa. Os representantes da DNSP e das ONGs foram seleccionados e trabalharam em conjunto com Advance Africa para formar a equipa de investigação. A equipa de Mapeamento Estratégico de Advance Africa realizou as seguintes actividades de recolha de informações durante o processo de triangulação: • • • Análise de dados secundários e chegar a consenso; Entrevistas com informadores chave e com responsáveis por tomar decisões e discussões de grupos de centragem (FGDs – Focus Grupos Discussions) com perfis específicos da população; Observações de campo e de locais. II.A.1. Análise de Dados Secundários e Chegar a Consenso A equipa de Advance Africa procedeu a uma análise de material informativo para obter dados relevantes sobre programas actuais de planeamento familiar em Angola, assim como sobre os conhecimentos e o uso dos programas de planeamento familiar pela população angolana. As fontes de dados incluem materiais publicados e por publicar provenientes de organizações internacionais, de ONGs, do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Estatística. Na sequência da recolha completa de dados, 30 participantes estiveram presentes numa reunião de partes interessadas que decorreu a 3 e 4 de Junho de 2003 em Luanda. O principal objectivo desta reunião era proporcionar um fórum onde os responsáveis por tomar decisões e os directores de programas pudessem compartilhar a sua experiência e conhecimentos sobre o planeamento familiar em Angola. Como resultado desta reunião, chegou-se a consenso sobre quatro aspectos da prestação de serviços de planeamento familiar: acesso, procura, qualidade, e sustentabilidade. Através de exercícios de procura e desenvolvimento de ideias realizados em pares, em pequenos grupos e em plenários, a reunião das partes interessadas conseguiu chegar a consenso sobre um certo número de temas importantes. 4 QUADRO 1. TEMAS MAIS IMPORTANTES PARA CONSENSO – REUNIÃO DAS PARTES INTERESSADAS, JUNHO DE 2003 MÉTODO DE MAPEAMENTO ESTRATÉGICO DE MÉTODO DE ADVANCE AFRICA: CHEGAR A CONSENSO TRABALHO Consenso sobre a situação de planeamento familiar em geral, a cada nível e para cada aspecto (acesso, procura, qualidade, e sustentabilidade); Consenso sobre as áreas prioritárias chave para discussão Trabalho em suplementar plenário Consenso sobre a situação de PF existente com base nos elementos Trabalho em chave estabelecidos grupo/por região Trabalho em Consenso sobre a situação de PF existente por região grupo/por região Trabalho em Consenso sobre a situação de PF ideal grupo/por região Selecção dos Locais de Avaliação: A DNSP solicitou que o exercício fosse realizado em três províncias: Luanda, Benguela, e Huambo. As três províncias são representativas dos vários estratos económicos do país e da população. Por exemplo, a população de Luanda vive em melhores condições económicas do que as que se encontram em Benguela, que tem uma população que vive a níveis económicos de médios a baixos. Huambo, uma região profundamente afectada pela guerra, enfrenta o nível económico mais baixo. O Ministério da Saúde e os dirigentes da investigação concordaram em que a situação sócio-económica urbana contra rural das províncias (incluindo a infra-estrutura individual e governamental) talvez possa elucidar também as diferentes perspectivas e comportamentos das comunidades em cada província. Assim que a avaliação estiver concluída, será implementado um projecto-piloto em uma das três províncias para reforçar os serviços de planeamento familiar adequados às necessidades identificadas. Após um período de um a dois anos de implementação do projecto, realizar-se-á uma avaliação das intervenções que determinará as formas adequadas para replicar e para aumentar as melhores práticas e lições tiradas dos projectos-piloto. II.A.2. Discussões dos Grupos de Centragem e Entrevistas dos Informadores Chave A equipa desenvolveu uma metodologia para o questionário do inquérito com base na pergunta de base da investigação, “Porque razão é que as pessoas em idade reprodutiva não estão a comparecer nos centros de saúde para obterem serviços de planeamento familiar?” A fragmentação desta pergunta permitiu à equipa de investigação determinar os perfis dos indivíduos envolvidos nas discussões dos grupos de centragem e nas entrevistas individuais semi-estruturadas, assim como a organização com base na qual estas discussões deverão ser realizadas. Antes da avaliação, a equipa de investigação composta por 13 pessoas, participou numa semana de formação e treino. A equipa trabalhou no edifício da DSNP em Luanda, e daí resultou que a directora da DSNP participou activamente e forneceu direcção ao processo de planeamento. 5 A formação e o treino concentraram-se no seguinte: • • Realizar discussões de grupos de centragem, desenvolver a capacidade de tomar notas com eficácia, assim como sistematizar e organizar dados7 Recolher e analisar dados da província de Luanda, permitindo à equipa praticar o trabalho conjunto e chegar a uma metodologia comum A formação e o treino em Luanda proporcionaram à equipa uma oportunidade para desenvolver guias- modelo para as entrevistas e as discussões dos grupos de centragem. Através da utilização da primeira discussão de grupo de centragem como pré-teste, os guias-modelo foram adaptados para serem utilizados futuramente. A maioria das discussões dos grupos de centragem foi gravada. Quando a gravação não era possível, a equipa nomeou duas pessoas para tomarem notas. Transcrições parciais suplementaram dados incompletos para ajudar a descrever e a interpretar a informação. Os guias- modelo para as entrevistas e discussões dos grupos de centragem são apresentados no Anexo 2. Sempre que necessário, os membros da equipa falaram os dialectos locais e traduziram as suas notas para português. Antes de realizar as discussões dos grupos de centragem, a equipa concordou nas palavras-chave a utilizar no caso de terem que falar em dialectos locais. Depois de várias conversas, os membros da equipa e a Directora Nacional de Saúde Pública concordaram em seguir os critérios que se apresentam abaixo para a composição dos Grupos de Centragem. Em Luanda, os participantes das discussões dos grupos de centragem eram: Ø Mulheres (sexualmente activas) entre os 20 e os 35 anos de idade com três filhos ou mais, de uma zona urbana; Ø Homens (sexualmente activos) entre os 20 e os 35 anos de idade com dois filhos ou mais, de uma zona urbana; Ø Adolescentes, entre os 14 e os 19 anos de idade, de uma zona urbana; Ø Enfermeiras que trabalham nas unidades sanitárias (centros de saúde) e nos hospitais/maternidades. Em Benguela e no Huambo, os participantes das discussões dos grupos de centragem eram: Ø Mulheres do mercado entre os 20 e os 35 anos de idade, com um ou dois filhos, de uma zona rural; Ø Jovens do sexo masculino entre os 14 e os 19 anos de idade com dois filhos ou mais, de uma zona rural; Ø Homens (sexualmente activos) entre os 20 e os 35 anos de idade com dois ou mais filhos, de uma zona urbana; Ø Parteiras tradicionais que servem as comunidades locais. Todos os participantes dos grupos de centragem tinham vivido na comunidade pelo menos durante um ano. 7 De Negri, B., and E. Thomas. 2003. Making Sense of Focus Group Data: A Systematic and Participatory Análise Approach (in press). 6 A seguir à formação e treino e às iniciais discussões de grupos de centragem em Luanda, a equipa dividiu-se em dois grupos para viajarem até Benguela e Huambo. Os membros da equipa estão enumerados no Anexo 3. Cada equipa provincial trabalhou em duas sub-equipas e realizou uma média de duas discussões de grupos de centragem por dia, por região. Os restantes dias foram dedicados a organizar os dados em bruto e a concluir uma análise inicial das conclusões. A equipa decidiu realizar pelo menos duas discussões de grupo de centragem com pessoas do mesmo perfil, e mais ainda se necessário. A equipa organizou, analisou e descreveu os dados para identificar as diferenças entre as regiões. 8 Para além das discussões dos grupos de centragem, a equipa realizou entrevistas individuais servindo-se de um guia- modelo semi-estruturado de entrevista concebido pela própria equipa. Os entrevistados eram dirigentes políticos, líderes religiosos, responsáveis por tomadas de decisão, dirigentes comunitários, e pessoas influentes do governo e do grupo das Nações Unidas. Estes entrevistados foram seleccionados devido às suas posições de influência nos seus respectivos sectores; as entrevistas foram concebidas para suscitar as suas opiniões sobre as percepções que as populações têm sobre PF/SR nas áreas que os entrevistados servem. II.A.3. Observação de Campo Finalmente, como parte do processo de triangulação, a equipa realizou visitas locais a centros de saúde. Foram visitados onze locais nas três províncias, embora durante essa altura, foram visitados apenas dois centros de saúde em Huambo. 9 Foi criado um guia- modelo para ajudar a convergir a observação (consultar o Anexo 4). A equipa tirou muitas fotografias que retratam a situação actual em Angola, como se pode ver na secção de “Resultados” deste relatório. Ao longo de todo o processo, a equipa trabalhou em estreita colaboração com a Direcção de Saúde Públicas das Províncias de Huambo e de Benguela, o International Medical Corps (IMC), o United Nations Population Fund (UNFPA) em Huambo, e o Christian Children Fund (CCF) em Benguela. O gabinete de Management Sciences for Health (MSH) e o seu pessoal em Luanda forneceu apoio logístico, que foi muito útil para a equipa de avaliação. II.B. Segunda Fase: Planeamento de Grupo Interactivo para Angola A fase de Planeamento de Grupo Interactivo em Angola tomou uma configuração diferente daquela que tinha sido prevista. A equipa de investigação de Advance Africa organizou uma reunião com uma duração de um meio-dia com todos os parceiros chave interessados em PF/SR. Estiveram presentes cerca de 50 pessoas do governo, ONGs, e das Nações Unidas. A equipa apresentou os dados colhidos e analisados durante a Primeira Fase (a Avaliação Participativa Rápida). As partes interessadas presentes na reunião tinham uma capacidade limitada de participação pela simples razão de que até agora a implementação de planeamento familiar em 8 Todos os dados foram organizados de forma que qualquer pessoa interessada possa ter acesso aos dados em bruto e à sua análise preliminar. Contactar Maria do Carmo de Cruz, Ministério da Saúde Publica, Direcção Nacional de Saúde Pública, Luanda, Angola. Telefone: (244-2) 330-435. 9 Em Agosto, a equipa de Advance Africa visitou 16 centros de saúde adicionais na província de Huambo. Estas visitas confirmaram que a infra-estrutura e as condições de trabalho eram muito piores em Huambo do que no resto do país, na medida em que Huambo foi profundamente afectado pela guerra. 7 Angola tinha sido muito limitada. Por esta razão, muitas das partes interessadas manifestaram-se bastante chocadas quando se inteiraram das conc lusões alcançadas pela equipa. Teria sido difícil, nessa altura, para os participantes da reunião identificarem oportunidades e lacunas ou melhores práticas prometedoras, dado que o planeamento familiar é praticamente inexistente em Angola. No entanto, os participantes da reunião concordaram em que algumas práticas prometedoras poderiam ser defendidas, mas só depois de terem sido adaptadas. Na verdade, alguns participantes, deram exemplos de intervenções positivas; no entanto, os exemplos eram sobretudo de Luanda, onde a situação é muito diferente em termos de apoio e de fornecimento de materiais em relação às outras províncias. Os participantes também concluíram que em zonas mais pobre e mais remotas, seria difícil replicar essas práticas prometedoras sem adaptação. Também foi acrescentado que as questões de fornecimento de contraceptivos têm que ser tidas em consideração antes de se conceberem as intervenções de planeamento familiar. Por exemplo, Huambo dispunha de um fornecimento insignificante de contraceptivos nos centros de saúde visitados, o que não era o caso em Benguela ou Luanda. O grupo concordou que a acção deveria realizar-se não só em Luanda, onde estão a trabalhar quase todas as ONGs, mas que de preferência deveria ser desenvolvido um plano de acção suplementar quer para o Huambo ou Benguela. A equipa de Advance Africa, em acordo com o governo, decidiu desenvolver um plano de acção para o Huambo. A equipa projectou assim um plano preliminar que será desenvolvido futuramente durante uma segunda visita. II.C. Terceira Fase: Implementação e Monitorização do Programa Esta fase terá lugar assim que o plano de trabalho para o projecto-piloto em Huambo tiver sido concluído e examinado pela equipa de Advance Africa e pelo Ministério da Saúde. 8 III. RESULTADOS III.A. Primeira Fase: Análise de Dados Secundários (Análise de Material Informativo) e Chegar a Consenso Relevantes elementos indicadores demográficos e da saúde em Angola estão incluídos nas secções que se seguem. O processo de análise do material informativo foi simultaneamente gratificante e difícil, na medida em que a equipa se deparou com resultados e interpretações variáveis dos mesmos dados colhidos durante o mesmo período de tempo. As mudanças rápidas e fluidas resultantes da passagem de situação de conflito para pós-conflito também foram importantes. A transformação continuada de Angola é mais visível no sector da população previamente conhecida por Pessoas Internamente Deslocadas (PIDs). Actualmente, a maior parte das PIDs, voltaram às suas comunidades ou decidiram restabelecer-se em novos locais, o que põe em causa a aplicabilidade da sua classificação como PIDs. Por exemplo, o relatório do UNFPA, intitulado “The Trajectory of Life as Internally Displaced Persons in Angola” (“A Trajectória da Vida como Pessoas Internamente Deslocadas em Angola ”) publicado em Março de 2002, calculou que existiam mais de quatro milhões de PIDs em Angola. No entanto, em Junho de 2003, o número de PIDs calculava-se ser no máximo 300.000, na medida em que muitas delas deixaram os campos onde viviam ou regressaram às zonas rurais onde tinham vivido antes da guerra. 10 Continuar a definir todas estas pessoas como PIDs representa inadequadamente a situação actual. III.A.1. População e Distribuição Etária Com uma taxa de crescimento anual da população em Angola que se aproxima de 3%, a população de Angola em meados de 2003 calculava-se ser de 13,1 milhão de habitantes. 11 A população é jovem, tendo cerca de metade da mesma menos de 15 anos de idade (49%); a idade média da população em 2000 era de 15,9 anos. As mulheres em idade reprodutiva, entre os 15 e 49 anos de idade, representam 42,7% da população. A esperança de vida é mais alta para as mulheres (46,6 anos) do que para os homens (43,9 anos). 12 III.A.2. Tendências Sócio-económicas O índice nacional bruto per capita de Angola em 2002 era inferior a USD 600. 13 No entanto, 61% (dados de 1995) da população vive na pobreza. Vinte e sete por cento dos agregados familiares em Angola são encabeçados por mulheres. Nestes agregados familiares, mais de metade destas mulheres são analfabetas. A percentagem de mulheres com 15 anos de idade ou mais que são capazes de ler uma carta ou o jornal (54%) é muito inferior à dos homens (82%). 14 O inquérito em Huambo do International Medical Corps Angola/Saúde Reprodutiva para o 10 Paola Caros (Conselheira Sénior Residente, United Nations Office for the Coordination and Humanitarian Affairs), entrevistada pela equipa de Advance Africa, a 19 de Junho de 2003. 11 United Nations Population Division. 2000. World Population Prospects; the 2000 Revision, Volume I: Comprehensive Tables. 12 Ibid. 13 The World Bank Group, World Development Indicators Database. August 2003. Angola Data Profile. <http://devdata.worldbank.org> (acedido a 29 de Agosto de 2003). 14 Instituto Nacional de Estatística (INE) e United Nations Children’s Fund (UNICEF). 2002. Angola Multiple Indicator Cluster Survey (MICS) 2001 (em preparação). Luanda, Angola: INE/UNICEF. 9 Consórcio de Refugiados (IMC/RHR) também mostrou uma diferença significativa quanto ao nível de educação entre os sexos. Por exemplo, os homens frequentaram a escola numa média de 4,47 anos, enquanto que as mulheres frequentaram a escola numa média de apenas 2,64 anos. 15 III.A.3. Saúde Materna e Infantil As taxas de mortalidade infantil calculadas no ano 2000 variaram de 126 16 para 195 17 por 1.000 nascimentos. A taxa de mortalidade para as crianças com menos de cinco anos de idade foi calculada ser de 250 por 1.000 em 2001. 18 No entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que a taxa de mortalidade infantil em 2001 foi muito superior, a 279 para o sexo feminino e 306 para o sexo masculino. 19 A estimativa do Ministério da Saúde em 2000 para a mortalidade materna foi de 1.850 por 100.000 nascimentos, atribuindo a Angola uma das taxas de mortalidade infantil mais altas do mundo. 20 Além disso, o Ministério da Saúde calcula que em 2000, 80% dos nascimentos em Angola aconteceram em casa. 21 O inquérito do IMC no Huambo descobriu que em 2000, 74,7% dos partos aconteceram em casa, com uma grande percentagem destes partos assistida por um familiar (29,4%) ou acontecendo sem assistência (24,4%). 22 O estudo de MSH em 2002, de três municipalidades em Luanda descobriu que aproximadamente 56% dos nascimentos ocorreram num posto de saúde ou centro de saúde, enquanto que 43% ocorreram em casa (60% dos quais foram assistidos por um familiar ou pessoa amiga). 23 III.A.4. Planeamento Familiar 15 IMC Angola/Reproductive Health for Refugees (RHR) Consortium M&E Program. 2001. Improving Family Planning Services, Huambo and Luena, Baseline Survey. Luanda, Angola: IMC/RHR. 16 United Nations Population Division. 2000. World Population Prospects; the 2000 Revision, Volume I: Comprehensive Tables. 17 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP). 2002. Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva 2002-2006. Luanda, Angola: DNSP. 18 Instituto Nacional de Estatística (INE) and United Nations Children’s Fund (UNICEF). 2002. Angola Multiple Indicator Cluster Survey (MICS) 2001 (em preparação). Luanda, Angola: INE/UNICEF. 19 Organização Mundial de Saúde. 2001. Selected Health Indicators for Angola. <http://www3.who.int/whosis/country/indicators.cfm?country=ago> (acedido a 2 de Setembro de 2003) 20 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP). 2002. Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva 2002-2006. Luanda, Angola: DNSP. 21 Ibid. 22 IMC Angola/ Reproductive Health for Refugees (RHR) Consortium M&E Program. 2001. Improving Family Planning Services, Huambo and Luena, Baseline Survey. Luanda, Angola: IMC/RHR. 23 MSH, December 2002. Strengthening MCH Services Project, MCH Baseline Survey: presentation and unpublished data 10 Photo : B. de Negri A taxa de fertilidade em Angola é de Foto 2: Sessão de trabalho durante a reunião das partes 6,9%, o que quer dizer que, mais uma vez , é uma das mais altas do mundo. O Ministério da Saúde calcula que a taxa de prevalência de utilização de contraceptivos (CPR) em 2000 foi de 1,8%.24 Em 2001, o United Nations Children’s Fund (UNICEF) calculou que a CPR era 6%, 25 mais baixo do que a estimativa de 1996 da UNICEF de 8,1%. Entre as mulheres incluídas no inquérito da UNICEF, intitulado Multiple Indicator Cluster Survey (Inquérito de Indicadores Múltiplos Agregados) em 1996, apenas 3,5% usaram um método recente de contracepção e, no entanto 22,7% das mulheres não querem ter mais filhos. 26 O estudo de 2002 de MSH em Luanda mostrou que 34% das mulheres tinham usado contraceptivos ou estavam a usar um método de contracepção na altura da sondagem. Esta percentagem aumentou com a taxa de frequência escolar. 27 A sondagem de 2000 do IMC em Huambo indicou que 52% das mulheres não queriam ter mais filhos ou queriam atrasar o nascimento do seu próximo filho. 28 A sondagem de base levada a cabo pelo MSH na província de Luanda mostrou que 77% das mulheres conhecia um método contraceptivo, e em média, as mulheres conheciam 2,4 métodos recentes. Contudo, apenas 14,5% das mulheres conheciam um método tradicional. Apenas 2,7% das mulheres disseram que não conheciam nenhum método de contracepção. 29 As mulheres no Huambo a quem foi pedido que citassem as razões pelas quais não usavam contraceptivos responderam o seguinte: • 37,1% não têm informação sobre contraceptivos ou não sabem onde ir para contracepção. • 18,2% disseram que querem ter mais filhos. 30 24 Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP). 2002. Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva 2002-2006. Luanda, Angola: DNSP. 25 Instituto Nacional de Estatística (INE) and United Nations Children’s Fund (UNICEF). 2002. Angola Multiple Indicator Cluster Survey (MICS) 2001 (em preparação). Luanda, Angola: INE/UNICEF. 26 Ibid. 27 MSH, December 2002. Strengthening MCH Services Project, MCH Baseline Survey: presentation and unpublished data 28 IMC Angola/ Reproductive Health for Refugees (RHR) Consortium M&E Program. 2001. Improving Family Planning Services, Huambo and Luena, Baseline Survey. Luanda, Angola: IMC/RHR. 29 MSH, December 2002. Strengthening MCH Services Project, MCH Baseline Survey: presentation and unpublished data 30 IMC Angola/ Reproductive Health for Refugees (RHR) Consortium M&E Program. 2001. Improving Family Planning Services, Huambo and Luena, Baseline Survey. Luanda, Angola: IMC/RHR. 11 Em Luanda, obtiveram-se as seguintes respostas: • 20% das mulheres disseram que não usavam planeamento familiar porque queriam ter mais filhos. • 25% disseram que estavam a amamentar. • 21,2% disseram que não tinham uma relação sexual. • 12,6% citaram o medo dos efeitos secundários do método utilizado. • 4,8% mencionaram a oposição dos maridos ao uso de métodos de planeamento familiar. • 2,8% citaram influências religiosas. • 1,3% disseram que o custo era a principal razão pela qual não utilizavam planeamento familiar. Entre os homens, houve três respostas principais dadas para justificar não usar contracepção: o desejo de uma família grande, falta de interesse em planeamento familiar e falta de conhecimento sobre o assunto. 31 O estudo das PIDs realizado pelo UNFPA em 2000, nas províncias de Huila, Benguela, Malange, e Zaire indica que a taxa total acumulada de fertilidade nos grupos estudados era acima de 10 filhos por mulher. Todavia, entre os respondentes, cerca de um terço declarou que gostaria de usar um método contraceptivo. O estudo das PIDs mostrou que apenas 13% das mulheres nas províncias estudadas conheciam um método contraceptivo, enquanto que 30% dos homens disseram conheciam um método para evitar a gravidez. Entre as mulheres que conheciam um método, aproximadamente um terço disse que não usava contracepção. O estudo da UNFPA mostrou que a dificuldade na obtenção de serviços ou que a falta de informação sobre PF/SR constituía uma situação deveras preocupante. 32 Em 2002, a organização de socorro e desenvolvimento, GOAL realizou um inquérito qualitativo em dois campos de PIDs na província de Moxico. Os resultados do inquérito demonstraram que os conhecimentos da comunidade sobre métodos recentes de planeamento familiar, em geral eram baixos. Nos entanto, as pessoas exprimiram interesse em serviços de planeamento familiar, e tanto os homens como as mulheres queriam obter informação sobre contraceptivos. Apenas aqueles que trabalhavam para o projecto da GOAL como motivadores da saúde na comunidade, possuíam conhecimentos básicos sobre métodos recentes. 33 Num estudo da GOAL de 2002, todos os grupos de discussão tinham uma atitude positiva em relação à importância do espaçamento dos partos. Um respondente declarou, “Quando tem outro filho, o primeiro filho deve ser capaz de levar ou de segurar o novo bebé”. 34 Se bem que esta afirmação demonstre que a cultura acredita na importância de espaçamento de partos, existe ainda uma falta de conhecimentos em relação aos benefícios de espaçamento de partos como intervenção sanitária tanto para as mães como para os seus filhos. O estudo continua e transmite 31 MSH, December 2002. Strengthening MCH Services Project, MCH Baseline Survey: presentation and unpublished data 32 United Nations Population Fund (UNFPA). 2002. The Trajectory of Life as Internally Displaced Persons in Angola. Luanda, Angola: UNFPA. 33 GOAL. 2003. Relatório de Inquérito Qualitativo sobre PlaneamentoFamiliar. Luena, Moxico, Angola: GOAL, p. 5. 34 GOAL. 2003. Relatório de Inquérito Qualitativo sobre PlaneamentoFamiliar. Luena, Moxico, Angola: GOAL. 12 as dificuldades que as mulheres mais jovens têm com o método tradicional de espaçamento de partos, isto é, evitando o contacto sexual; “É de certo modo difícil ensinar isto às nossas filhas [este velho método de planeamento familiar] … Se o fizerem pensam que os maridos vão ter outras mulheres.” 35 Um quadro detalhado apresentando a situação de saúde actual, a par dos dados demográficos em Angola apresenta-se no Anexo 5. III.A.5. Chegar a Consenso Cerca de 35 responsáveis por tomadas de decisão e directores de programas fizeram parte de uma reunião de partes interessadas com a duração de dois dias, realizada em Junho de 2003 em Luanda. O principal objectivo da reunião era que os participantes compartilhassem os seus conhecimentos e experiência e chegassem a consenso em relação à situação actual da saúde, tendo em conta quatro dimensões: acesso, procura, qualidade e sustentabilidade dos sistemas de PF/SR. Os participantes na reunião, os objectivos e a ordem do dia desta estão contidos nos Anexos 6 e 7. O quadro que se segue oferece um resumo dos pontos fortes e fracos da situação actual da saúde em Angola, como determinado pelas partes interessadas durante a reunião. QUADRO 2: MAPEAMENTO ESTRATÉGICO DO PROGRAMA DE PLANEAMENTO FAMILIAR: CONSENSO SOBRE A SITUAÇÃO EXISTENTE — REUNIÃO DAS PARTES INTERESSADAS PONTOS FORTES ü Métodos disponíveis a nível nacional. ü Métodos fornecidos gratuitamente. ü Serviços de planeamento familiar em todas as sedes de província ü Palestras sobre planeamento familiar disponíveis ü Técnicos que recebem formação e treino específicos em planeamento familiar ü Plano estratégico actual desenvolvido para programas de saúde reprodutiva ü Compromisso e colaboração e nível intersectorial e multi-sectorial iniciados (Comunicação Social, Juventude e Actividades Desportivas, Mulheres, e Ministérios da Educação e a Direcção de Saúde Pública) ü Sistema permanente de abastecimento nacional ü Iniciativa em curso para formação e treino em serviço entre médicos e enfermeiras 35 PONTOS FRACOS ü Distribuição deficiente de métodos contraceptivos às províncias ü Sistema vertical para distribuição de contraceptivos ü Substituiç ão e rotação rápida de pessoal ü Métodos de longo prazo, tais como a esterilização e o planeamento familiar irreversível não são oferecidos ü Poucas ONGs envolvidas no programa de planeamento familiar ü Pouca interacção entre as ONGs que trabalham em PF/SR GOAL. 2003. Relatório de Inquérito Qualitativo sobre PlaneamentoFamiliar. Luena, Moxico, Angola: GOAL, p. 5. 13 III.B. Primeira Fase: Grupos de Centragem e Entrevistas de Informadores Chave O quadro que se segue apresentas os grupos de centragem, as entrevistas individuais, e as instalações de saúde observadas em cada província durante o período de 11 de Junho a 1 de Julho de 2003. O guia- modelo de observação criado para as visitas está incluído no Anexo 4. O Anexo 8 enumera as organizações e os entrevistados. QUADRO 3: DISCUSSÕES DOS GRUPOS DE CENTRAGEM, ENTREVISTAS, E OBSERVAÇÕES DE LOCAIS REALIZADAS36 PROVÍNCIA GRUPO DE CENTRAGEM LUANDA BENGUELA HUAMBO Mulheres 3 grupos de centragem (Palanca, Viana, Ilha) 2 grupos de centragem (mulheres do mercado) 2 grupos de centragem Homens 3 grupos de centragem 2 grupos de centragem (urbano e periféricourbano) 1 grupo de centragem Adolescentes 3 grupos de centragem (jovens, homens e mulheres) 4 grupos de centragem (3 eram de jovens de ambos os sexos; um composto apenas por jovens mulheres do mercado) 4 grupos de centragem (jovens separados por sexo; 2 rurais, 2 urbanos) Enfermeiras 3 grupos de centragem Parteiras tradicionais ENTREVISTAS 1 grupo de centragem 2 grupos de centragem 1 grupo de centragem LUANDA BENGUELA HUAMBO UNICEF, UNFPA, OCHA, OMS Dirigente da Saúde Publica Provincial (DSP) [reunião informal] UNICEF, OCHA, PSI Coordenação do Atendimento Obstétrico em Luanda (CAOL) 2 Directores de PF/SR do Centro de Saúde Director da Direcção de Saúde Pública Provincial (DSP) Arcebispo e Reitor da Universidade Católica 2 Ginecologistas / Médicos da Maternidade Arcebispo Director do Departam/ de Promoção da Família e das Mulheres (Minas, Ministério de Assuntos Sociais) Instituto Técnico de Saúde 36 Note: OCHA = United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs, DSP = Direcção de Saúde Pública, PSI = Population Services International, CAOL = Coordenação de Atendimento Obstétrico de Luanda. 14 QUADRO 3: DISCUSSÕES DOS GRUPOS DE CENTRAGEM, ENTREVISTAS, E OBSERVAÇÕES DE LOCAIS REALIZADAS36 PROVÍNCIA GRUPO DE CENTRAGEM LUANDA BENGUELA Dirigente da Comunidade (Soba) HUAMBO Dirigente da Comunidade (Soba) Dirigente das Parteiras Tradicionais OBSERVAÇÃO LUANDA BENGUELA 3 Centros de Saúde (Palanca,Viana, Ilha) 2 maternidades (Lobito e Benguela) 3 Centros de Saúde incluindo PF (Baia Farta, Camunda; São João) HUAMBO 2 Centros de Saúde (Bomba Alta, rural e Mineira, urbano) 1 Centro Maternal e Infantil (Benguela) III.B.1. Resultados das Discussões dos Grupos de Centragem Realizou-se um número total de 31 discussões de grupos de centragem e foram analisados os resultados. Foi eliminada apenas uma discussão de grupo de centragem porque as mulheres falavam sobretudo francês e não podiam comunicar bem em português ou num dialecto local. Seis discussões de grupos de centragem não foram gravadas porque os entrevistadores não dispunham do equipamento necessário para o fazer. Nestas discussões de grupo de centragem, duas pessoas estavam encarregadas de tomar notas, para garantir que todas as informações fossem registadas com precisão. As conclusões principais para cada perfil (mulheres, homens, juventude, enfermeiras e parteiras tradicionais) forneceram vastos dados qualitativos para o processo de Mapeamento Estratégico. Os anexos na versão deste relatório em português proporcionam uma descrição completa de cada uma das discussões de grupos de centragem, das entrevistas individuais, e dos guias de observação das instalações de saúde completados. Análise das Discussões dos Grupos de Centragem: As discussões dos grupos de centragem demonstraram que grupos de perfis semelhantes compartilharam opiniões sobre a importância de uma variedade de questões. Por exemplo, a juventude tanto em zonas rurais como urbanas, quer aconselhamento e informação sobre a saúde reprodutiva e a sexualidade, e ambos os grupos sentiram que dispunham de informação inadequada sobre planeamento familiar e um acesso limitado a serviços. Esta falta de informação e acesso a serviços, era ainda mais aparente no Huambo, onde até Julho de 2003 ainda não havia um clube ou organização dedicado à juventude. As únicas diferenças foram encontradas entre as mulheres que se ocupavam de pequenos negócios (vendedoras em mercado, frequentemente mulheres solteiras) e as mulheres casadas sem empregos fora de casa; as necessidades de contraceptivos das mulheres trabalhadoras que foram observadas eram superiores às das mulheres sem emprego, cujos maridos querem que elas tenham muitos filhos. 15 Também foram identificadas poucas diferenças entre os vários perfis dos grupos de centragem, e a equipa encontrou poucas variações através das regiões. Os respondentes das três províncias exprimiram a mesma confusão em relação aos efeitos secundários dos contraceptivos e ao impacto negativo dos métodos recentes de planeamento familiar. Em geral, a juventude solicitava mais informação. No entanto, a juventude de Benguela, graças à Organização da Juventude Informada, Responsável e Organizada (JIRO), está mais exposta a planeamento familiar, saúde reprodutiva, e informação sobre HIV/SIDA do que a juventude no Huambo, onde a JIRO ainda está a actuar. Na generalidade, os respondentes de Luanda dispunham de mais recursos em termos de instalações de saúde, equipamento e materiais e, por conseguinte, mais conhecimentos e exposição a métodos contraceptivos e serviços. Em cada área observada, as mulheres estão bastante dependentes dos homens e exprimem o medo de perder os seus companheiros se não tiverem filhos. O quadro que se segue descreve os factores negativos ou obstáculos e os factores positivos ou determinantes do planeamento familiar que foram notados entre a população entrevistada e observada. QUADRO 4: ACESSO, PROCURA, E QUALIDADE DE PLANEAMENTO FAMILIAR TAL COMO ENTENDIDOS PELA POPULAÇÃO Obstáculos e factores negativos principais do planeamento familiar o o o o o o o o o O desejo de ter famílias grandes depois da guerra; Normas culturais que consideram as crianças como fazendo parte da riqueza da família A oposição dos homens ao planeamento familiar; As mensagens contraditórias e frequentemente negativas da parte da igreja relativamente aos meios de contracepção actuais; A qualidade deficiente (equipamento insuficiente, falta de aconselhamento) e o difícil acesso aos serviços de PF/SR nos centros de saúde (frequentemente devido a necessidades monetárias); A informação e compreensão erradas e os boatos negativos acerca dos métodos de contracepção actuais entre a população; A ignorância dos jovens em relação ao planeamento familiar e o receio que têm de falar sobre sexualidade (ITSs, HIV/SIDA, PF/SR); A percepção geral negativa sobre o planeamento familiar; O espaçamento de partos muito raramente associado ao planeamento familiar. Factores positivos ou determinantes principais do planeamento familiar o o o o o Reconhecimento de que ter muitos filhos é uma responsabilidade financeira muito grande (em oposição directa à ideia tradicional de muitos filhos como riqueza); Desejo e responsabilidade de oferecer uma vida melhor aos filhos (especialmente educação); Espaçamento de partos praticado naturalmente (2 a 3 anos); Muitos centros de saúde munidos de instalações, recursos e produtos de planeamento familiar; As mulheres falam sobre planeamento familiar e algumas gostariam de praticá-lo. 16 A equipa de Mapeamento Estratégico analisou as conclusões e resumiu as necessidades, o discernimento e o processo de tomada de decisão observados para cada grupo. Os exemplos e as citações apresentadas neste relatório refo rçam os pontos principais apresentados neste quadro. 17 Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Centragem de Homens Os homens que participaram nos grupos de centragem nas três províncias, especialmente em Luanda, demonstraram alguns conhecimentos sobre planeamento familiar e métodos de contracepção. No entanto, os comentários sobre planeamento familiar frequentemente revelaram conhecimentos incorrectos relativamente ao uso, efeitos e benefícios do planeamento familiar. A maioria dos homens entrevistados declarou que as questões relacionadas com o planeamento familiar são “assuntos de mulheres” ou “a vontade de Deus”. Distanciaram-se do facto de serem uma das partes principais do processo de tomada de decisão. É simultaneamente interessante e importante compreender e tomar nota das opiniões contraditórias exprimidas pelos homens em relação ao planeamento familiar. Foto 3. Grupo de centragem de homens em Palanca, Luanda Photo : B. de Negri Apesar do facto dos homens terem conhecimento das vantagens económicas e dos benefícios para a saúde resultantes do planeamento familiar, abundam os receios relativos a infertilidade, promiscuidade, e religião. A convicção básica de que as famílias grandes são inerentemente algo de bom, faz com que seja difícil que os homens considerem que limitar o tamanho da família seja algo de positivo. No entanto, um respondente mencionou os benefícios do planeamento familiar em termos de melhores relações sexuais. Citações dos Grupos de Homens: “O planeamento familiar é bastante importante porque nos limita de ter muitos filhos; depois do planeamento familiar, pode-se ter relações [sexuais] normais porque a mulher não fica grávida…” (Um homem da Ilha, Luanda) “Ouvi dizer que na prática este planeamento [familiar] prejudica as mulheres que nunca mais podem voltar a ficar grávidas (Um homem da Ilha, Luanda) “Há homens que, quando as mulheres pensam em usar planeamento familiar, imaginam que as suas mulheres estão a ter relações sexuais fora da família”. (Um homem de Viana, Luanda) “…[Planeamento familiar] deve ser uma decisão comum, mas há homens que são os patrões e são bastante ditadores, e as mulheres só podem seguir os desejos deles, ou a relação pode acabar.” (Um homem de Viana, Luanda) 18 “…As nossas mulheres não gostam de usar planeamento familiar porque tudo aquilo que Deus nos dá é o que temos que guardar”. (Um homem da Baixa, Huambo) Também é crucial notar como os conflitos armados que têm dominado o país durante dezenas de anos têm afectado as percepções de planeamento familiar. Face às perdas sofridas durante o conflito, algumas pessoas têm sido incitadas a ter mais filhos, apesar das dificuldades inerentes a criá- los. Por vezes, a guerra era mencionada como uma das razões do desejo de querer ter famílias grandes, mesmo quando os entrevistados reconheciam que as dificuldades económicas actuavam como uma barreira a ter muitos filhos. A maioria dos homens entrevistados consideravam que o espaçamento dos partos em intervalos de dois anos era uma prática aceitável, mas, de uma maneira geral não compreendiam os benefícios desse espaçamento para a saúde. Apenas alguns homens associavam o planeamento familiar com o espaçamento de partos, porque o espaçamento de partos é considerado como sendo um fenómeno natural. Identicamente, os homens não se opõem a que as mulheres dêem de mamar, porque se considera que é natural fazer isso, mas, frequentemente, amamentar não é considerado como um método de planeamento familiar. 19 Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Centragem de Mulheres Photo : B. de Negri Todas as mulheres entrevistadas durante as discussões dos grupos de centragem em Luanda, Benguela, e Huambo concordaram que os homens desejam ter muitos filhos. As mulheres sentem que se não tivessem filhos, a probabilidade do homem ter um filho com outra mulher disposta a isso era significativa. Além disso, as mulheres nestes grupos sentiam que os homens se opunham ao planeamento familiar ou não apoiavam as decisões das mulheres de usar planeamento familiar. Uma Foto 4. Grupo de Centragem c/ jovens mulheres do mercado do Lobito mulher disse, “Quanto a mim, eu quero usar planeamento familiar; falo com o meu marido e ele não responde; ele só diz: “Tu é que sabes se deves usar (planeamento familiar) ou não…” Finalmente, a religião também tem influência na tomada de decisão das mulheres no que se refere ao planeamento familiar; a igreja exprime a pretensão de que os filhos são decisões de Deus. Em alguns casos, as mulheres admitem que tinham recebido aconselhamento e serviços de planeamento familiar em segredo por causa do receio de que os seus companheiros pudessem discordar e mesmo impedi- las de procurar obter esses serviços. Para fazer frente a estas situações, as mulheres usam medidas discricionárias, tais como esconder o método contraceptivo e deixar as suas fichas de planeamento familiar com os serviços consultados. “…Há homens não gostam disso, que não aceitam o planeamento familiar; eu sei que se não quiser ficar grávida, posso usar isso, às escondidas [do meu marido]…” Mulher de Viana, Luanda Os resultados mostraram que as mulheres que trabalhavam nos mercados estavam mais a par dos benefícios do planeamento familiar porque associam a gravidez e os nascimentos com a incapacidade da mulher produzir rendimentos. O seu desejo de obter mais informações e serviços de planeamento familiar também resultaram do receio de que os seus filhos pudessem vir a ser crianças da rua. “Os factores económicos determinam [o facto] ter mais filhos ou não; o facto é que as mulheres que têm um pequeno negócio não podem ter muitos filhos, porque estes têm um impacto negativo no negócio e tornar-se-iam em crianças da rua…” Uma mulher do mercado em Camunda, Benguela 20 Em geral, as mulheres não tinham muitas opiniões em relação à qualidade dos serviços de saúde reprodutiva. A falta de poder por parte das mulheres e a sua subordinação cultural aos homens não lhes permite levantar a voz ou criticar. O nível de qualidade parece mínimo e a má qualidade é a norma. Em alguns dos locais visitados, a equipa observou falta de sensibilidade entre os profissionais de saúde, da indiferença à falta de respeito e grosseria. A relação entre o cliente e o médico consiste no médico a receitar e ensinar a tomar o medicamento e as instruções para uma consulta de seguimento sem o esclarecimento das complicações do cliente ou qualquer compreensão fisiológica da parte do cliente. “Há enfermeiras,…pessoas que têm um dom natural e outras que são mal-educadas; trazem os seus problemas de casa.” Uma mulher do mercado rural, Chapanguela, Lobito, Benguela O acesso aos serviços também constitui uma preocupação importante, devido à localização dos centros de saúde, ao custo dos serviços, e à incerteza dos clientes sobre estes honorários e serviços. A falta de instalações na proximidade das comunidades é um factor limitativo, dado que a maioria das mulheres vivem longe dos centros de saúde e não têm meios para pagar os transportes. Em alguns casos, o transporte pura e simplesmente não existe. Para além da distância, o custo dos serviços de saúde é interpretado como uma barreira para os clientes. As comunidades são pobres, e para muitas mulheres e crianças, os sistemas de honorários a troco de serviços torna-se proibitivo. O custo da utilização de instalações de saúde que são subsidiadas pelo governo, em última análise, pode ser mais alto do que o custo de serviços de saúde privados. Em Angola, existem honorários variados incorporados na visita do cliente, tais como os pagamentos a porteiros, ao pessoal de limpeza e a outro pessoal não essencial. Uma mulher compartilhou a sua experiência numa clínica durante a discussão do grupo de centragem (ver abaixo). O seu exemplo ilustra não só a falta de previsibilidade do serviço ou dos custos de seguimento, mas também a compreensão de que o cliente espera pagar por serviços de qualidade, apesar da mudança dos honorários. “Quando vai a uma consulta médica, preparam um impresso para uma análise. A fim de obter a análise, tem que vir com uma seringa nova, ou tem que comprá-la lá. Como paciente, temos que ajudar [pagar] aqui e ali; a pessoa dá pouco dinheiro, 20 quanzas ; mais a análise, 80 quanzas. A partir daí, dão-lhe um cartão. O médico pede-lhe para fazer um sonograma; tem que pagar pelo sonograma. Tudo depende da sorte que tiver. Alguns pagam 400 quanzas, outros pagam 20 dólares, depende da sua sorte. Hoje em dia, temos que dar alguma coisa…” Uma mulher de Luanda 21 Foto 5: Jovem mãe a dar de mamar, Centro de Saúde de São João Métodos naturais de planeamento familiar, tais como o método do calendário e da amamentação são usados e aceites pelas mulheres, apesar de não serem considerados como sendo métodos de planeamento familiar. Photo: B de Negri Os efeitos secundários dos contraceptivos têm criado uma percepção muito negativa dos métodos contraceptivos actuais. Por exemplo, o medicamento Depo-Provera está associado a hemorragias graves e anos de infertilidade. “O planeamento familiar complica as coisas. Por exemplo, as pílulas e algumas injecções cortam a menstruação; às vezes provocam hemorragias, e o DIU dá-lhe infecção. Começa de dentro, cresce e a ferida é tão grande por dentro…Nada é bom, o DIU ou as injecções, é tudo o mesmo…” Mulher de Palanca, Luanda 22 Photo : B. de Negri Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Centragem de Jovens Em geral, as discussões dos grupos de centragem realizados com os jovens não proporcionaram tantas informações como as dos Foto 6. Discussão de grupo com jovens – Palanca, Luanda adultos, devido em parte ao facto de não estarem à vontade e à sua falte de conhecimentos sobre PF/SR. Isto verificou-se especialmente nas zonas rurais, tal como no Huambo onde a JIRO ainda não existe. Na verdade, as conclusões revelaram que a JIRO tem tido um impacto positivo nas comunidades nas quais tem organizado discussões sobre a sexualidade, HIV/SIDA, ITSs, e planeamento familiar e oferece gratuitamente aos jovens métodos de contracepção. O desconforto e o silêncio eram comuns durante as discussões dos grupos de centragem de jovens. Os adolescentes exprimiram a dificuldade que têm em procurar obter aconselhamento e informações básicas sobre HIV/SIDA, infecções transmissíveis sexualmente e planeamento familiar. Um adolescente no Huambo disse que o planeamento fa miliar não visava a juventude: “Nunca fui para usar planeamento familiar. A nós, raparigas, disseram-nos que não podíamos obter planeamento familiar.” Outra adolescente em Benguela disse, “Nunca estive interessada em usar planeamento familiar… Isso não é para mim.” Os jovens, especialmente nas zonas rurais do Huambo e de Benguela, não sabiam o que fazer, nem com quem falar sobre planeamento familiar. Alguns deles exprimiam claramente a dificuldade que tinham em falar com os seus pais. Uma jovem de Luanda disse ao namorado que se o pai dela soubesse que ela estava grávida, matava-a. O namorado respondeu- lhe que fizesse um aborto. Mais frequentemente, os amigos ou “a tia”eram mencionadas como fontes de informação ou de conselhos. Foto 7. Jovens em discussão de grupo em Huambo Photo : B. de Negri Quando lhes perguntaram se conheciam os métodos de contracepção actuais, os preservativos e o método do calendário eram os dois métodos mais frequentemente mencionados. A discussão de outros métodos actuais era acompanhada de afirmações negativas e confusas. “A injecção muitas vezes provoca hemorragia; e no caso do DIU, a pessoa fica ‘desfigurada,’ seca e suja. É por isso que as pessoas usam o calendário”, disse uma jovem urbana do Huambo. 23 A juventude nas províncias exprimiu interesse em aprender mais sobre a saúde reprodutiva, as ITSs, HIV/SIDA e planeamento familiar. Os adolescentes preferem estruturas organizadas como recursos para este tipo de informação, apoio e aconselhamento. Alguns jovens respondentes falaram em usar recursos educativos (ver o quadro abaixo). “…Desejo frequentar uma sessão [sobre questões sexuais e de saúde reprodutiva] porque o nível de conhecimentos é tão baixo aqui no bairro”. Um adolescente de Camunda, Benguela “Precisamos de ter campanhas organizadas para ajudar a resolver os problemas graves que os jovens enfrentam hoje em dia no nosso país …para nos ensinar a evitar essas doenças [transmissíveis sexualmente”. Uma adolescente de Camunda, Benguela Photo : B. de Negri Foto 8. Adolescentes de Lobito, Benguela 24 Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Centragem de Enfermeiras Em geral, as enfermeiras que participaram em discussões de grupos de centragem concordaram que as mulheres procuram serviços de saúde sobretudo para consultas pré- natais. Uma queixa foi que as mulheres frequentemente procuram ajuda apenas quando o seu estado de saúde passa a ser grave. “…As mulheres chegam quando estão em estado grave, por exemplo, com uma hemorragia, pouco podemos fazer… é tarde demais.” Uma enfermeira de Benguela Em Luanda, o método de contracepção mais solicitado é com Depo-Provera, e o segundo são preservativos da JIRO. As enfermeiras da Ilha (Luanda) declararam que o planeamento familiar é cuidadosamente explicado aos pacientes e que estes escolhem o método mais adequado às suas necessidades. Além disso, as enfermeiras disseram que discutem planeamento familiar com as mulheres grávidas, especialmente durante o parto e as visitas pós-parto. 25 Photo : B. de Negri Quando lhes perguntaram o que pensavam dos serviços de planeamento familiar, as enfermeiras disseram que apesar dos serviços serem gratuitos, o consentimento dos maridos não parece estar eminente. As enfermeiras consideram a resistência dos homens um obstáculo essencial à utilização dos serviços de planeamento familiar pelas mulheres. Fazendo eco às respostas das discussões dos grupos de centragem de mulheres nas três províncias, as enfermeiras reforçaram a ideia de que as mulheres receiam que os maridos ou companheiros as deixem por outras mulheres, se usarem planeamento familiar. O consentimento do marido é solicitado por muitos profissionais de saúde, tal como as enfermeiras confirmaram nas discussões de grupo. A enfermeira de planeamento familiar no centro de saúde de Baia Farta disse, “Não damos métodos de contracepção à mulher se esta não vier com o marido; ambos tem que concordar em tomar o que for preciso”. . Foto 9. Uma sala de espera bem organizada, com cobertura, em Palanca Outros problemas importantes enfrentados pelas enfermeiras incluíam a falta do equipamento devido e um pessoal de enfermagem sobrecarregado de trabalho, que com frequência é obrigado a fazer todo o tipo de trabalho necessário nas instalações. A importância de uma boa manutenção da clínica manifestou-se claramente à equipa de investigação; enquanto visitava e observava os centros de saúde, a equipa notou que a ordem e o asseio da sala de espera criavam um ambiente mais favorável para as mulheres que esperavam para serem atendidas. A sobrecarga que as enfermeiras têm de manter as suas instalações limpas é acrescentada às suas cargas de trabalho que já são pesadas. Em Palanca, Luanda, as enfermeiras explicaram as vantagens de fazerem visitas regulares ao domicílio e a apreciação por parte daqueles que visitavam. Estas visitas ao domicílio, para além da presença de um médico no centro de saúde, motivaram as mulheres a procurar os serviços. Para melhorar os serviços de planeamento familiar, as enfermeiras recomendaram a integração do planeamento familiar com outros serviços de saúde. Uma sugestão específica foi oferecer planeamento familiar aos jovens, ilustrar com clareza as vantagens do planeamento familiar e explicar os efeitos secundários dos vários métodos. A sensibilização dos homens foi outra recomendação. Uma enfermeira comentou, “Os homens que pensam que as suas mulheres são ‘bandidas 37 ’ deverão ser sensibilizados!” Na província do Huambo, a enfermeira mencionou que, frequentemente, as mulheres estavam interessadas em tratar de problemas relacionados com infertilidade porque queriam ter filhos. Continuou dizendo que, “Muitas delas [mulheres] vêm em estado grave porque já tomaram medicamentos tradicionais, e isto já as pôs em situação de risco”. Apesar de esta ser a única menção a mulheres que procuram obter tratamento para a infertilidade, era muito corrente as mulheres exprimirem o medo da infertilidade como uma consequência do uso de contraceptivos. Devem ser tidos em consideração o facto das mulheres associarem o uso de contraceptivos à infertilidade, assim como o papel da medicina tradicional nas vidas das mulheres. Concluindo, as enfermeiras sublinharam a importância dos cuidados preventivos e a detecção antecipada da doença, para diminuir a mortalidade e a morbidade. Foto 10. Enfermeira no trabalho, Camunda, Benguela Photo : B. de Negri 37 Significa literalmente “bandido”, mas é usado neste contexto para significar a ideia de que as mulheres que usam planeamento familiar estão envolvidas em relações sexuais com vários parceiros. 26 Conclusões Principais das Discussões dos Grupos de Centragem de Parteiras Tradicionais Identicamente às enfermeiras, as parteiras tradicionais lamentaram que as mulheres viessem vêlas, muitas vezes, quando já era tarde demais para resolverem os seus problemas. Segundo as parteiras tradicionais, as mulheres não comparecem regularmente durante a sua gravidez para serem acompanhadas e serem encaminhadas para o hospital, se necessário, a fim de evitar complicações. As parteiras tradicionais dizem que as mulheres contactam os dirigentes comunitários para se queixarem delas e para as culpar da saúde deficiente e da morte das mães e das crianças. As parteiras tradicionais mostraram estar claramente cientes da necessidade que têm de saber e de compreender melhor as questões relacionadas com a gravidez. Propuseram que sejam estabelecidas ligações mais fortes entre as parteiras tradicionais e as enfermeiras das maternidades e dos hospitais. Apesar de um centro de saúde em Benguela (Baia Farta) ter uma sólida relação com as parteiras tradicionais, que incluía a formação e treino, a situação das parteiras tradicionais em Camenga era diferente. O centro de saúde de lá nem sequer sabia qual era o número de parteiras tradicionais que serviam a comunidade. Photo : B. de Negri As parteiras tradicionais que foram entrevistadas disseram que as opções de planeamento familiar não eram discutidas com as mulheres que as consultavam; nunca ocorreu a muitas das parteiras tradicionais oferecer ou fornecer contraceptivos. Ao visitar a clínica privada de saúde materna e infantil e de planeamento familiar Marie Stopes, em Luanda, a equipa de Mapeamento Estratégico foi informada de que é contra a lei as parteiras tradicionais fornecerem contraceptivos. Foto 11: Parteiras tradicionais numa discussão de grupo de centragem em São João, Benguela 27 III.C.2. Conclusões Principais das Entrevistas Semi-Estruturadas A equipa seleccionou perfis diferentes de dirigentes para realizar entrevistas individuais nas três províncias. Os informadores chave foram identificados com base nos seus interesses em questões de PF/SR. Entre eles, estavam dirigentes religiosos, dirigentes comunitários, funcionários das Nações Unidas do sector da saúde, representantes de ONGs, profissionais de saúde ou directores de centros de saúde na província e médicos das maternidades e hospitais da província. Os informantes concordaram na existência de dois factores determinantes principais (ou factores externos) que têm um impacto negativo no uso de planeamento familiar: (1) o grau de pobreza da população, e (2) a falta de educação, especialmente entre as mulheres. A directora do Departamento de Mulheres e Assuntos de Família do Ministério da Saúde em Benguela, disse que o analfabetismo impede as mulheres de terem acesso aos recursos, o que as torna dependentes dos homens. Photo : B de Negri Foto 12. Dirigentes comunitários em Lobito, Benguela A falta de recursos também impede as mulheres de tomarem decisões em relação à saúde sexual e reprodutiva. Um informador da UNFPA comentou que, “As mulheres que sofrem de ignorância não conhecem os benefícios do planeamento familiar e são influenciadas por boatos [negativos]”. A Igreja Católica tem-se mostrado reticente quanto ao planeamento familiar em Angola. No entanto, o Arcebispo de Luanda, que também é o Reitor da Universidade Católica de Luanda, mostrou-se muito receptivo a uma conversa com um representante de Advance Africa e falou abertamente sobre a realidade da sexualidade entre os jovens. Reconheceu que a igreja tem um papel importante na saúde reprodutiva, mas a estrutura da igreja não é um mecanismo exclusivo de informação e consciencialização. Em contraste, o representante da igreja em Huambo demonstrou um alto grau de irritabilidade e, aparentemente, o sermão que proferiu no Domingo a seguir à sua conversa com a equipa de Advance Africa concentrou-se na oposição ao planeamento familiar. Numerosos dirigentes comunitários mostraram um alto nível de empenhamento na saúde reprodutiva, como evidenciado pelo seu envolvimento na organização das discussões dos grupos de centragem e no ambiente positivo que criaram para a discussão e o diálogo. Em várias instâncias, os dirigentes comunitários exprimiram a necessidade crítica de fazer incidir o planeamento familiar e a saúde reprodutiva nos jovens que são “tão ignorantes”, como declarou um dirigente comunitário de Lobito, Benguela. 28 III.C.3. Visitas de Locais Seleccionados para Estudo de Observação Visitas e observações de determinados locais foram realizadas em vários centros de saúde para o Mapeamento Estratégico. O quadro que se segue contém detalhes sobre a província e o local. QUADRO 5: LISTA DOS CENTROS DE SAÚDE E DAS MATERNIDADES OBSERVADOS LUANDA BENGUELA HUAMBO Centro de Saúde de Palanca Centro de Saúde e de Planeamento Familiar de Baia Farta Centro de Saúde de Mineira Centro de Saúde de Viana Maternidade de Benguela Centro de Saúde de Bomba Alta Centro de Saúde de Ilha Maternidade de Lobito Centro de Saúde e de Planeamento Familiar de São João, Lobito Centro de Saúde e de Planeamento Familiar de Camenda Centro de Saúde Materna e Infantil e de Planeamento Familiar Através da utilização do guia de observação (consultar o Anexo 4), foi realizada uma inspecção sistemática de cada local. Em geral, verificou-se que os centros eram bastante funcionais, apesar de funcionarem com equipamento mínimo. O pessoal estava frequentemente disponível e era em número elevado. Infelizmente, a equipa verificou que muitos centros de saúde não tinham doentes depois das 11 horas da manhã. Photo : B. de Negri Foto 13. Pessoal Médico na Maternidade de Baia Farta, Benguela 29 Vários dos centros que a equipa visitou tinham uma secção de maternidade com algumas camas. No entanto, na maioria das secções de maternidade dos centros Foto 14. Clínica em Benguela de saúde, as camas estavam vazias ou eram ocupadas por mães sem os filhos. A explicação dada pelo pessoal foi que a maioria destas doentes eram casos de parturientes com complicações graves, de nados- mortos ou em que a criança morreu durante o parto. Photo : B. de Negri Muitos centros de saúde que oferecem serviços de planeamento familiar têm a sua própria sala de consulta de planeamento familiar com os produtos básicos. Geralmente, os métodos contraceptivos estão disponíveis e são gratuitos. 38 A maioria das instalações de planeamento familiar têm o seu próprio sistema de seguimento, mas o livro de registos que foi apresentado à equipa mostrou que as entradas sobre o atendimento e os serviços fornecidos nem sempre eram precisas ou mantidas em dia. Alguns materiais de informação, educação, e comunicação (IEC) estavam em exposição. Infelizmente, estavam desactualizados, eram palavrosos e não visavam as populações específicas. Foto 15. Seguimento da informação de planeamento familiar Foto 16. Cartaz de IEC de Planeamento familiar Photo : B. de Negri Photo : B. de Negri 38 A equipa de Mapeamento Estratégico não visitou muitos centros de saúde no Huambo em Julho de 2003 devido a falta de tempo e dificuldades de deslocação no seio da província. No entanto, em Agosto, a equipa visitou 16 centros de saúde no Huambo. A situação dos centros de saúde é bastante diferente no Huambo em comparação com Benguela e Luanda. Huambo não tem produtos de planeamento familiar à disposição, e se o planeamento familiar é oferecido num centro de saúde, muitas vezes não é uma prioridade, sendo, por conseguinte, descuidado pelo pessoal. 30 III.D. Resultados Sucintos do Exercício de Mapeamento Estratégico – Quadros Os quadros que se seguem representam a situação geral baseada nos resultados da fase de avaliação do exercício de Mapeamento Estratégico. Os quadros apresentam a situação actual de PF/SR segundo o acesso, a procura, a qualidade e a sustentabilidade. 31 A. Análise Sucinta do Acesso à Informação e Serviços de PF/SR: Prestação actual de informação e serviços de aconselhamento e produtos do sistema de saúde provincial Pacote Mínimo de Informação e Serviços de PF/SR Escolas Outros sectores: social, juventude, agricultura Meios de comunicação Centros de serviços e informação 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0/+ 0 0 0 0 0 0 0 0/+ 0 0 0 0 0 0 0 População alvo Clínicas de saúde locais Maternidade nos Centros de Saúde Maternidades municipais Hospitais provinciais Clínicas de ONGs Mulheres jovens 0/+ + + + Mulheres em idade reprodutiva 0/+ + + Homens jovens 0/+ + Homens em idade reprodutiva 0/+ País 0/+ Farmácias Grupos ou Associações Comunitárias 0 0 + 0 + + 0/+ 0/+ 0/+ 0/+ Análise: Os sistemas de ligação multi-sectorial de planeamento familiar a outros tipos de actividades são muito limitados. Os clientes só encontram os serviços de planeamento familiar nos centros de saúde materna e provincial. No entanto, em centros de saúde locais, o aconselhamento e os serviços de planeamento familiar estão disponíveis de forma limitada com alguma implementação para grupos-alvo específicos. As clínicas de ONGs não oferecem serviços de planeamento familiar e constituem, por conseguinte, uma lacuna importante na promoção do planeamento familiar a nível do sector privado. As actividades de comunicação de modificação de comportamento (behavior change communicação - BCC) e de IEC que são necessárias para apoiar a consciencialização e a aceitação do planeamento familiar entre a população não estão documentadas. No entanto, a mobilização comunitária através do uso de redes de contacto da população que se encontra empenhada em várias actividades para além da saúde, são usuais e bem aceites. Os benefícios dos serviços de saúde, incluindo os serviços de PF/SR, frequentemente não são notados pela comunidade. Portanto, há muito trabalho por fazer, para que a comunidade seja receptiva a mudanças de comportamento em termos de planeamento familiar. 32 B. Análise Sucinta de Procura de Informação e Serviços de PF/SR: Prestação actual de informação e serviços de aconselhamento e produtos do sistema de saúde provincial para estimular a procura Serviços Informação sobre Benefícios de Espaçamento de Partos Informação, Aconselhamento sobre Métodos Informação sobre o Uso Correcto dos Métodos Prestação dos Métodos Informação sobre os Efeitos Colaterais dos Métodos Aconselhamento sobre os Efeitos Colaterais dos Métodos Informação sobre Visitas de Retorno e de Seguimento Informação e Acessibilidade Financeira Sector Público Hospitais Locais Hospitais e Centros de Provinciais Saúde Sector Privado Clínicas de Saúde Clínicas de Saúde Privadas com Privadas sem Fins Lucrativos Fins Lucrativos Nível Comunitário Escolas, Meios de Estruturas Comunicação e Comunitárias Outros 0/+ 0/+ NA NA 0 0 + + NA NA 0 0 + + NA NA 0 0 + + NA NA 0 0 + + NA NA 0 0 + + NA NA 0 0 + + NA NA 0 0 + + NA NA 0 0 Análise: Infelizmente, a equipa de Mapeamento Estratégico não analisou o sector privado, com excepção de uma ou duas instâncias (Population Services International, Marie Stopes). Como se apresenta no quadro, a procura é exclusivamente ao nível do sector de saúde pública. Muito pouco se está a fazer a nível comunitário, assim como através das escolas e dos meios de comunicação. 33 B. Análise Sucinta de Procura de Informação e Serviços de PF/SR: (cont.) Prestação actual de informação e serviços de aconselhamento e produtos do sistema de saúde provincial para estimular a procura Apoio Possível Serviços Estruturas de Apoio Outros ONGs locais Parteiras tradicionais voluntárias Escolas Grupos e Associações Comunitárias Dirigentes Colaboração inter-seccional Informação sobre Benefícios de Espaçamento de Partos 0 0 0 0 0 0 Informação, Aconselhamento sobre Métodos 0 0 0 0 0 0 Informação sobre o Uso Correcto dos Métodos 0 0 0 0 0 0 Prestação dos Métodos 0 0 0 0 0 0 Informação sobre os Efeitos Colaterais dos Métodos 0 0 0 0 0 0 Aconselhamento sobre os Efeitos Colaterais dos Métodos 0 0 0 0 0 0 Informação sobre Visitas de Retorno e de Seguimento 0 0 0 0 0 0 Informação e Acessibilidade Financeira 0 0 N/A N/A N/A N/A Análise: Este quadro mostra que a informação, os serviços e o aconselhamento de PF/SR não estão disponíveis nem são adequados, segundo as conclusões de triangulação do Mapeamento Estratégico. Em geral, mostra que a procura de prestação de serviços e de produtos não é satisfeita. 34 C. Análise Sucinta da Qualidade de Informação e Serviços de PF/SR: Uso correcto de normas de qualidade, protocolos, e padrões em serviços de aconselhamento e produtos no sistema de saúde provincial Sector Público Sector Privado Nível Comunitário Hospitais Provinciais Hospitais Locais e Centros de Saúde Clínicas de Saúde Privadas com Fins Lucrativos Clínicas de Saúde Privadas sem Fins Lucrativos Estruturas Comunitárias Escolas, Meios de Comunicação e Outros Preservativos + + + + 0 0 Produtos Injectáveis + 0 0 0 0 0 Pílulas + 0 0 0 0 0 DIUs + 0 0 0 0 0 Norplant + 0 0 0 0 0 Aconselhamento + + 0 0 0 0 Diagnóstico de ITSs + 0 0 0 0 0 Tratamento de ITSs + 0 0 0 0 0 Aconselhamento de PF/VCT 0 (4 in Luanda) 0 0 0 0 0 Aconselhamento de PF/PMTCT 0 (1 in Luanda) 0 0 0 0 0 Serviços analisados Nota: DIU = dispositivo intra-uterino; VCT = aconselhamento e testes voluntários de HIV/SIDA; PMTCT = prevenção de transmissão da mãe para a criança de HIV/SIDA. Análise: As mesmas observações e conclusões podem ser tiradas dos vários sectores (público, privado, e não de saúde) em referência ao fornecimento de normas, protocolos e padrões de qualidade ideal em serviços de aconselhamento e produtos no âmbito do sistema de saúde provincial. 35 D. Análise Sucinta de Sustentabilidade das Actividades de PF/SR: Sectores de saúde que apoiam medidas de sustentabilidade Sector Público Sector Privado Nível Comunitário Nível Nacional Nível Provincial Clínicas de Saúde Privadas com Fins Lucrativos Clínicas de Saúde Privadas sem Fins Lucrativos Estruturas Comunitárias Escolas, Meios de Comunicação e Outros Plano de Política e Acção + 0/+ 0 0 0 0 Estratégias de Implementação + 0/+ 0 0 0 0 Normas, Protocolos, e Padrões + 0/+ 0 0 0 0 Estratégias de Campanha de Sensibilização e Mobilização Social + 0 0 0 0 0 Logística Contraceptiva Funcional 0 0 0 0 0 0 Currículo de Formação e Treino 0 0 0 0 0 0 Recursos Financeiros Sustentáveis 0 0 0 0 0 0 Serviços Análise: Este quadro demonstra a realidade de que Angola tem poucas infra-estruturas para suportar serviços de saúde para os seus habitantes. Apenas aos níveis de políticas de actuação e de estratégia é que existe algum tipo de actividade. 36 IV. PLANEAMENTO DE GRUPO IV.A. Desenvolvimento Os parceiros principais que estiveram presentes na reunião das partes interessadas de Junho voltaram a reunir-se para ouvir e discutir as conclusões da avaliação. O grupo era maior do que em Junho, dado que algumas ONGs e membros das Nações Unidas ouviram falar no trabalho e estavam interessados em saber mais. Nesta altura, pouco planeamento detalhado se realizou por duas razões: 1) porque o director de SR/MS (Saúde Reprodutiva/Ministério da Saúde) se encontrava fora do pais e como tal não podiam ser tomadas nenhumas decisões; e (2) porque uma pequena implementação de planeamento familiar já estava a funcionar no país. Contudo, conjuntamente com os directores das Direcções de Saúde Pública (DSP) de Benguela e do Huambo, os membros da equipa de Advance Africa discutiram planos para a implementação de um programa de demonstração de planeamento familiar. O MS já tinha explicitado claramente que Advance Africa não deveria implementar um projecto de demonstração de planeamento familiar na capital; como tinha sido afirmado pelo director do Departamento de Saúde Reprodutiva, Dr. de Carvalho, “[Na capital, já se estão a fazer muitas coisas quanto a saúde materna e infantil, e seria difícil medir o impacto da intervenção [de Advance Africa].” A equipa discutiu depois o nível dos esforços e os componentes principais do projecto de demonstração em cada uma das duas províncias visitadas durante a avaliação. V. ESTRATÉGIAS SELECCIONADAS Com base nas conclusões colhidas a partir de uma variedade de fontes de informação captadas para o exercício de Mapeamento Estratégico, a concepção de futuras actividades de PF/SR reflectirá as necessidades observadas e articuladas da comunidade. As estratégias serão propostas a partir de possibilidades existentes identificadas na comunidade para tornar os serviços de PF/SR culturalmente adequados e aceitáveis. As estratégias para melhorar a prestação de serviços de PF/SR relacionam-se com as quatro componentes seguintes: 1. Melhoria do acesso e da qualidade dos recursos de cuidados de saúde; 2. Integração do planeamento familiar nos serviços de HIV/SIDA e de SMI (Saúde Materna e Infantil); 3. Envolvimento da comunidade; 4. Parcerias e colaboração multi-sectorial. V.A. Melhoria do Acesso e da Qualidade dos Serviços de Planeamento Familiar Para melhorar o acesso e a qualidade dos serviços, tanto os profissionais de cuidados de saúde como as parteiras tradicionais serão formados em aconselhamento e prestação de serviços de planeamento familiar. O actual currículo exige adaptação, mas utilizará o currículo de formação existente como base e serão aperfeiçoados os padrões e as normas de prestação de serviços de qualidade. O projecto formará o pessoal actual sobre as novas directrizes aperfeiçoadas. Estes novos protocolos e padrões serão utilizados para garantir a qualidade contínua da prestação de 37 serviços. A formação e treino darão ênfase ao aconselhamento e às relações inter-pessoais, o que é particularmente importante em Angola, devido a questões relacionadas com a violência e a exploração com base no sexo, decorrentes não só da baixa condição social da mulher na sociedade, mas também de factores associados à guerra civil. Esta faceta da formação e treino será especialmente relevante para as jovens adolescentes. A capacidade dos serviços de saúde será melhorada através de micro-planeamento nos pontos de prestação de serviço, aperfeiçoamento da direcção e da formação, aumento da coordenação, revisão das ferramentas do sistema de informação, e uma monitorização e avaliação adequadas. Em colaboração com a comunidade, o projecto seleccionará as parteiras tradicionais para formar e treinar, a fim de expandir o alcance. A gestão e a administração em locais de prestação de serviços serão melhoradas através de sistemas de direcção e de monitorização reforçados. Os sistemas de logística serão aperfeiçoados para eliminar a falta de produtos e aumentar as opções de contraceptivos. O Ministério da Saúde em colaboração com a UNFPA, garantirá a disponibilidade de contraceptivos durante a duração do projecto. V.B. Integração do Planeamento Familiar nos Serviços de HIV/SIDA e SMI O planeamento incluirá a integração do planeamento familiar nos serviços de HIV/SIDA, assim como nos serviços de Saúde Materna e Infantil (SMI) pré-natais e pós-natais. Esta estratégia permitirá que os homens e as mulheres tenham acesso a planeamento familiar e a outros pontos de prestação de serviços. O projecto examinará as actividades dos sistemas de informação da gestão em centros de saúde e integrará os indicadores de planeamento familiar. As actividades do sistema de informação da gestão, específico para Angola, serão adaptadas do plano de trabalho intitulado Performance Monitoring Plus (Monitorização Super do Desempenho) de Advance Africa, que actualmente está a ser implementado no Senegal. A integração do planeamento familiar não se limitará aos serviços, mas apoiará outras actividades, tais como IEC e comunicação de mudança de comportamento (BCC - behavior change communication) implementadas para imunização, maternidade livre de perigo, sobrevivência infantil e prevenção contra HIV/SIDA. Além disso, esta estratégia será apoiada pela formação e treino de voluntários que utilizam modelos apropriados, tais como uma distribuição baseada na comunidade, nas parteiras tradicionais, nos activistas, e nos trabalhadores de saúde da comunidade. V.C. Envolvimento da Comunidade Ao longo do ciclo do projecto, a descentralização dos serviços de planeamento familiar para os comités de saúde e para as estruturas comunitárias será uma importante consideração. A aceitação por parte da comunidade do espaçamento de partos como um método legítimo de PF proporciona a base para criar a consciencialização dos benefícios do planeamento familiar. As actividades de IEC e de BCC para informar e educar as pessoas sobre planeamento familiar motivarão a participação da comunidade, o que é crucial para conceber actividades sustentáveis de planeamento familiar. Entre a juventude e os homens, serão implementadas estratégias específicas de IEC e BCC para satisfazer as suas necessidades e encorajar o seu envolvimento nos programas de planeamento familiar. O projecto criará alianças com grupos de homens, dirigentes da comunidade, e grupos 38 religiosos para aprovar os serviços e ajudar as comunidades a procurar os serviços. As estratégias de defesa e apoio visando os dirigentes (dirigentes comunitários, responsáveis por tomadas de decisão e criação de políticas de actuação, etc.) realçarão os benefícios de saúde e não só, decorrentes do espaçamento de partos. V.D. Parcerias e Colaboração Multi-Sectorial O diálogo iniciado durante o exercício de Mapeamento estratégico, continuará entre as principais partes interessadas, particularmente as ONGs e outros doadores, que serão capazes de apoiar e de tirar partido destas actividades. Entre os parceiros encontrar-se-ão o governo, o Ministério da Saúde/Divisão de PF/SR; a UNFPA, a OMS, e outras agências da ONU, o projecto MSH em Angola; e outras agências e ONGs internacionais (IMC, CCF, Save the Children, Care International, etc.). O projecto examinará outros sectores para determinar se também podem apoiar intervenções de PF/SR, particularmente para a integração da IEC e do planeamento familiar nas suas actividades. Actividades com base na comunidade, tais como microempreendimentos, educação, alfabetização, e grupos centrados na juventude, serão explorados como possíveis mecanismos de integração. Um problema crucial identificado foi a falta de tomada de decisão por parte das mulheres, quanto ao uso dos serviços de planeamento familiar. Parte do problema reside em limitações de carácter cultural, mas as atitudes e os comportamentos dos profissionais de cuidados de saúde serão abordados através de uma formação com sensibilidade aos sexos, relacionando-se com o facto de servir mulheres com situações de vida diferentes. No fim do exercício de Mapeamento Estratégico, a equipa de Advance Africa, em conjunto com a equipa local de investigação, apresentou às partes interessadas as conclusões preliminares e as estratégias seleccionadas em resposta às necessidades e lacunas identificadas, assim como as oportunidades e pontos fortes existentes. O objectivo, ordem do dia, e a lista de participantes presentes nesta reunião estão apresentados nos Anexos 9 e 10. 39 VI. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES O Mapeamento Estratégico realizado em Angola oferece uma análise de primeiro nível, identificando oportunidades, obstáculos, e limitações que o país enfrenta no seu avanço baseado na Estratégia Nacional de Saúde Reprodutiva. Se bem que existam muitos desafios, existe a possibilidade de criar um ambiente para um sistema eficiente de prestação de serviços de planeamento familiar de qualidade. A avaliação tem em conta várias perspectivas de numerosos níveis e fontes de informação. A análise foi enriquecida pelas partes interessadas, que participaram activamente no exercício de Mapeamento Estratégico; os membros da comunidade que comunicaram abertamente as suas preocupações e perspectivas; e os profissionais de saúde, que são as pessoas responsáveis, em última análise por fornecer os serviços de qualidade que os homens e as mulheres de Angola merecem. Uma das realizações mais importantes deste processo tem sido o consenso alcançado em relação ao planeamento familiar como uma intervenção prioritária para alcançar objectivos de saúde reprodutiva. Têm sido identificadas várias estratégias a níveis diferentes para alcançar estes objectivos. O envolvimento das partes interessadas no processo criou parceria e direito de propriedade do plano de acção proposto e é apoiado pelo governo angolano e pelas partes interessadas. Aspectos ao nível da comunidade, da prestação de serviços de saúde, e da política de actuação indicam a necessidade de implementar actividades simultâneas para providenciar um programa coordenado. Um dos mais importantes resultados a longo prazo deste processo será um aumento da utilização dos serviços de planeamento familiar de qualidade. Ao nível da política de actuação, a coordenação entre os vários sectores e a integração de numerosos serviços, tais como os que têm a ver com a maternidade livre de perigo, a sobrevivência infantil e HIV/SIDA, devem ser encorajados. Ao nível de prestação de serviços, tanto as visitas ao local como as discussões dos grupos de centragem dos clientes indicaram que os serviços precisam de ser melhorados e que devem ser satisfeitos os padrões de qualidade. As mulheres que se dirigem aos centros de saúde em busca de serviços de planeamento familiar deverão encontrar e receber informação e serviços da parte de profissionais formados e altamente conhecedores, que são apoiados por sistemas logísticos eficientes e produtos adequados. As actividades de IEC e de BCC devem ser reforçadas ao nível da comunidade para promover conceitos adequados de saúde reprodutiva culturalmente aceites, tais como o espaçamento de partos, a fim de criar a procura de planeamento familiar. Além disso, os profissionais de saúde deverão ser sensibilizados para fornecer serviços a clientes de uma forma sensível tanto do ponto de vista cultural como relativamente ao sexo do cliente. Actualmente, 29% dos agregados familiares em Angola são encabeçados por mulheres, e uma opção individual para limitar ou espaçar os filhos deve ser promovida. Por outro lado, reconhecer o poder dos homens sobre as tomadas de decisão requer intervenções específicas que visam o envolvimento masculino no apoio às decisões das mulheres sobre planeamento familiar. Apesar de que as intervenções devem mudar as percepções negativas sobre planeamento familiar, o sucesso basear-se-á nas parcerias criadas com os dirigentes da comunidade, os dirigentes religiosos e outros grupos. 40 Próximas Etapas Advance Africa dará início à implementação na província do Huambo em 13 centros de saúde e nas suas respectivas comunidades. Está a ser desenvolvido um plano de trabalho detalhado para a província do Huambo, incidindo sobre a necessidade de melhorar a qualidade dos serviços de saúde e para responder a números baixos quanto à procura e ao acesso relativos ao planeamento familiar. 41 ANEXOS 42 ANEXO 1 Programa de Avaliação Participativa e Plano de Trabalho sobre Saúde Reprodutiva/Planeamento Familiar/Espaçamento de Partos em Angola, de 1 de Junho a 13 de Julho de 2003 DOMINGO SEGUNDA -FEIRA TERÇA - FEIRA QUARTA -FEIRA QUINTA -FEIRA SEXTA- FEIRA 1 de Junho Chegada dos Conselheiros Técnicos de AA 2 de Junho Manhã: Encontro com USAID e Dra. Adelaide Carvalho; preparação para apresentação 3 de Junho Reunião de partes interessadas/ responsáveis por decisões: apresentações pelo gov. e ONGs 4 de Junho Reunião de partes interessadas/ responsáveis por decisões: Apresentação de AA e sessões de trabalho de grupo 5 de Junho Reunião com MS, USAID; entrevistas individuais com responsáveis por decisões 6 de Junho Reunião com MS, USAID; entrevistas individuais com responsáveis por decisões 7 de Junho Meio-dia de trabalho com a equipa 8 de Junho Descanso (chegada de pessoas chave das regiões) 9 de Junho Preparação para a avaliação de Luanda 10 de Junho Trabalho de campo em Luanda (“pré-prova” das ferramentas) 11 de Junho Trabalho de campo em Luanda (formação e treino se necessário) 12 de Junho Recolha de dados em Luanda através de Grupos de Discussão, entrevistas e observações 13 de Junho Recolha de dados em Luanda através de Grupos de Discussão, entrevistas e observações 14 de Junho Recolha de dados em Luanda através de Grupos de Discussão, entrevistas e observações 15 de Junho Descanso 16 de Junho Recolha da análise de ferramentas da AA 17 de Junho Recolha da análise de ferramentas da AA 18 de Junho Versão preliminar do plano de trabalho para Luanda 19 de Junho Versão preliminar do plano de trabalho para Luanda 20 de Junho Revisão das ferramentas para as regiões 21 de Junho Partida para as regiões (subequipas) 22 de Junho Descanso (uma sub-equipa no Huambo, a outra em Benguela) 23 de Junho Preparação para as avaliações de Huambo e Benguela 24 de Junho Adaptação das ferramentas; preparação para a recolha de dados 25 de Junho Trabalho de campo: recolha de dados, grupos de discussão, entrevistas, observações 26 de J unho Trabalho de campo: recolha de dados, grupos de discussão, entrevistas, observações 27 de Junho Pré-análise dos dados colhidos 28 de Junho Pré-análise dos dados colhidos; versão preliminar dos planos de trabalho regionais 29 de Junho Descanso 30 de Junho Desenvolvimento do plano de trabalho regional 1 de Julho 2 de Julho Desenvolvimento Viagem de do plano de regresso a Luanda trabalho regional 3 de Julho Finalização dos planos de trabalho regionais e apresentação à equipa 4 de Julho Desenvolvimento do Plano de Acção Nacional a partir dos planos de trabalho regionais com outras organizações 5 de Julho Desenvolvimento do Plano de Acção Nacional a partir dos planos de trabalho regionais com outras organizações 6 de Julho Descanso (chegada do director de AA Dr. Issakha Diallo) 7 de Julho Preparação para a apresentação de planos de trabalho regionais e do Plano de Acção Nacional 8 de Julho Preparação para a apresentação de planos de trabalho regionais e do Plano de Acção Nacional 11 de Julho Relatório oral para MS, USAID 12 de Julho Partida dos Conselheiros Técnicos da AA 9 de Julho 10 de Julho Reunião de partes Relatório oral interessadas/ para MS, USAID responsáveis por decisões: apresentação do Plano de Acção Nacional e dos planos de trabalho regionais SÁBADO 13 de Julho Partida dos Conselheiros Técnicos da AA Nota: AA = Advance Africa; USAID = U.S. Agency for International Development; gov = governo; ONG = organização não governamental; MS = Ministério da Saúde; FGD = discussão de grupo de centragem 43 ANEXO 2 Guias-Modelo para as Discussões dos Grupos de Centragem Luanda, 9 de Junho de 2003 (Nota: Estes foram adaptados relativamente às províncias) Anexo 2A: Guia-Modelo para as discussões dos grupos de centragem de homens O QUE ESTÁ POR DETRÁS DA DIMINUIÇÃO DA COBERTURA DO PF? HOMENS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Quantos filhos gostariam de ter? Por quê? Ø Educação Ø Saúde Ø Valor económico Ø Ajuda a família Ø Cuida De quanto em quanto tempo a mulher deve engravidar? Ø Razões Ø O que acontece se a mulher tiver muitos filhos seguidos? O que vocês fazem para não terem filhos muito seguidos? Ø Razões, motivos [O que é para vocês o PF?] (se alguém falar em PF) Ø Isso é coisa de mulher ... Quem tomou a decisão? Ø Porque resolveram assim? Como foi? Onde conseguiram informação e orientação sobre PF? Ø Se falarem em Centro de Saúde – Acompanharam as vossas mulheres a esses serviços? Ø O que acharam desses serviços? Que métodos vocês utilizam para não engravidar? Ø Que acham desses métodos? Anexo 2B: Guia-modelo para as discussões dos grupos de centragem de mulheres O QUE ESTÁ POR DETRÁS DA DIMINUIÇÃO DA COBERTURA DO PF? MULHERES 1. Quais são os problemas de saúde que afectam as mulheres deste bairro? Ø Malária 44 2. 3. 4. 5. 6. 7. Ø Gravidez Ø Anemia De quanto em quanto tempo a mulher deve engravidar? Ø Razões Ø Saúde da mulher Ø Número de filhos desejados O que vocês fazem para não terem filhos muito seguidos? Ø Razões, motivos Ø PF • O que é para vocês fazer PF? • Onde procuram? • Como chegam lá? • Quanto tempo levam para chegar? • O que acham dos serviços? • Quanto custa? O que é para vocês fazer PF? Quem tomou a decisão? Onde conseguiram informação e orientação sobre PF? Ø Serviços Qualidade; Como melhorá- los? Acesso – Custo Disponibilidade de métodos Aconselhamento Barreiras/Tabus Que métodos vcs utilizam para não engravidar? Ø Que acham dessem métodos? Ø Onde ar ranjam desses métodos? Anexo 2C: Guia-modelo para as discussões dos grupos de centragem de jovens O QUE ESTÁ POR DETRÁS DA DIMINUIÇÃO DA COBERTURA DO PF? JOVENS 1. 2. 3. 4. 5. Como ocupam os tempos livres? Ø Namorar Como namoram os jovens? / O que é para vocês namorar? Ø Fazem sexo Quais são as consequências de fazer sexo durante o namoro? Ø Gravidez (indesejada) Onde é que vocês podem receber orientação ou conselhos para evitar a gravidez não desejada? Ø Serviços Ø Problemas que encontram nesses serviços Que tipo de serviços procuram no Centro de Saúde? Ø Planeamento Familiar Ø Conhecem os métodos Ø Quais usam mais? 45 6. Se fosses Ministro da Saúde, como gostarias que fossem esses serviços? Anexo 2D: Guia-modelo para as discussões de grupos de centragem de enfermeiras O QUE ESTÁ POR DETRÁS DA DIMINUIÇÃO DA COBERTURA DO PF? ENFERMEIRAS 1. 2. 3. Problemas de saúde das mulheres nesta comunidade Serviços que mais procuram? E que mais? O que acham dos serviços de PF oferecidos na vossa unidade Ø Qualidade / Atendimento / Privacidade / Confidencialidade Ø Quais os métodos oferecidos? Ø Estão sempre disponíveis? 4. Como é o seu dia, quando tem consultas de PF? 5. Problemas que as mulheres mais apresentam nas consultas de PF 6. Que soluções têm dado para os problemas encontrados? 7. Se fosse Ministra da Saúde, e tivesse que abrir um serviço de PF, como é que seria? Anexo 2E: Guia-modelo para as discussões de grupos de centragem de parteiras tradicionais O QUE ESTÁ POR DETRÁS DA DIMINUIÇÃO DA COBERTURA DO PF? PARTEIRAS TRADICIONAIS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Podem por favor, queridas colegas, falar-nos do vosso papel na comunidade. Como é o estado geral das crianças nesta comunidade? Na vossa opinião como é que a comunidade responde aos problemas de saúde. Qual é a vossa opinião especificamente em relação à saúde das mulheres (frequência das gravidezes, PF)? Onde é que as mulheres vão procurar aconselhamento sobre PF? Que solução têm dado para os problemas encontrados? Qual é a relação das PTs com o Centro da Saúde? Se fosse a líder das PTs na comunidade que condições gostaria que houvessem para desenvolver o seu trabalho? 46 ANEXO 3 Equipa de Mapeamento Estratégico de Advance Africa – Participantes 1 Avelina Magalhães dos Santos Directora Provincial do Programa de Planeamento Familiar, DSP de Benguela 2. Domingos Jerónimo Dirigente Juvenil, CAJ/JIRO 3. Eliseu Mateus Conselheiro Juvenil, CAJ/JIRO 4. Elvira Joana Sauimbe Responsável pelo Programa de Provincial de Planeamento Familiar, MS, DSP de Benguela 5. Eva Napolo Guilherme Castro Enfermeira, CARE – Kuito, Bié 5. Júlia Grave UNFPA DNSP 6. Maria Antónia Nogueira Chefe do Centro de Saúde e Maternidade de Palanca (enfermeira parteira) 7. Maria de Lourdes Junça IMC/MSH 8. Maria do Carmo C. da Cruz Directora Nacional das Parteiras Tradicionais, DNSP 9. Maria Gabriela Xavier Directora, Instrutora, Responsável pela Estatística, DNSP 10. Maria Josefa Dombolo Instrutora, CCF 11. Rosalina Catanha Directora do Programa de Saúde Reprodutiva, DSP de Huambo 12. Teresa Joaquina Enfermeira de MCH, CCF de Benguela 13. Zipporah Wanjohi Conselheira de Saúde Materna e Infantil, USAID/Angola 47 ANEXO 4 Guia-modelo de observação – Itinerário da visita aos Centros de Saúde MAPEAMENTO ESTRATÉGICO– Junho - Julho de 2003 LOCAL: DATA: REALIZADO POR: Perguntas Sim Não Comentários Quais são as horas de funcionamento durante a semana? Quais são as horas de funcionamento durante o fim-de-semana? O centro tem uma maternidade? O centro tem uma sala de partos? Tem quantas camas para partos? Tem um médico que vem à maternidade? Quantas enfermeiras estão de serviço? Há enfermeiras de PF/SR? As instalações têm…? Áreas/Salas Sim Não Comentários Sala de espera Sala de PF/SR Salas para procedimentos Laboratório Farmácia Maternidade Sala de urgências O estado geral das instalações era bom? 48 O equipamento que se segue está disponível nestas instalações? Sim Não Comentários Mesa para exame Mesa e tabuleiro de instrumentos Estetoscópio Equipamento de ecografia Equipamento de colheita de sangue Anti-sépticos Luvas esterilizadas Autoclave Caldeira Seringas e agulhas Banco Secretária Armários Roupa de cama Divisórias Cortinas Lavandaria separada Dimensão do Cliente: perguntar ao administrador ou a qualquer profissional de saúde o seguinte: Perguntas Sim Não Comentários Há alguns custos que tem que ser pagos (especificar)? O cliente paga pelos serviços recebidos? O cliente recebe explicações de orientação/educação? As instalações têm materiais de 49 IEC (cartazes, televisão, livros, panfletos)? As instalações oferecem qualquer aconselhamento de PF/SR? Lista de verificação de registos e livro de registos: Pedir ao administra dor para lhe mostrar os livros de registos dos dois últimos meses e se possível verificar o seguinte: Perguntas Sim Não Comentários FARMÁCIA Como é que os medicamentos são registados? Os tipos de métodos de contracepção são registados? INSTALAÇÕES DE PLANEAMENTO FAMILIAR (se aplicável) Tem um sistema de registos? Quem faz o aconselhamento de IEC de PF? Há alguns materiais de IEC à disposição? SALA DE PARTOS Quantos partos ocorreram nas instalações durante o último mês? Partos Abortos CAUSAS DA MORTALIDADE NA MATERNIDADE Tem cartões de registo de vacinas par dar aos clientes? A sala tem um sistema de cadeia de frio? LABORATÓRIO O laboratório tem um sistema de registos? Se assim for, para quê? (Especificar) 50 ANEXO 5 Dados sobre a Situação Demográfica e de Saúde em Angola FACTOR 2000 (est.) 1995-2000 (est.) 2005 (variância média) 2000-2005 (variância média) População (milhares) (1) 13.134 (1) Total Relação de sexo (homens por cada 100 mulheres) (1) 97,9 15.252 (1) 98,3 Distribuição Etária(1) Percentagem com idade de 0-4 19,7 20,1 Percentagem com idade de 5-14 28,4 28,5 Percentagem com idade de 15-24 19,0 19,3 Percentagem com 60 anos de idade e mais 4,5 4,3 Percentagem de mulheres com idade de 15-49 42,7 42,7 15,9 15,7 Idade média (anos) (1) Taxa de crescimento da população (percentagem) (1) 2,94 2,99 126 118 Saúde Materna e Infantil Taxa de mortalidade infantil (por cada 1.000 nascimentos) (1) Mortalidade com menos de 5 anos (por cada 1.000 nascimentos) (1) Taxa de mortalidade materna (por cada 100.000 nascimentos) (2) Nascimentos em casa (percentagem) (2) Esperança de Vida ao Nascer (anos) 201 1.800 80 (1) Ambos os sexos combinados 44,6 45,8 Sexo masculino 43,3 44,5 Sexo feminino 46,0 47,1 7,20 7,20 Planeamento Familiar Fertilidade total (por mulher) (1) Taxa de prevalência de uso de contraceptivos (2) 1,8 Mulheres que praticam meios de contracepção (3) (percentagem) 8,1 51 Mulheres que usam métodos actuais de contracepção (percentagem) (3) 3,5 Mulheres que não querem ter filhos (percentagem) (3) 22,7 Sócio -Económico Pessoas que vivem na pobreza (percentagen) (1995) (4) 61 Taxa de alfabetização dos adultos (% com 15 anos de idade e acima que são capazes de ler uma carta ou o jornal) (6) 67 Taxa de alfabetização das mulheres (% de mulheres com 15 anos de idade e acima que são capazes de ler uma carta ou o jornal) (6) 54 Taxa de alfabetização dos homens (% de homens com 15 anos de idade e acima que são capazes de ler uma carta ou o jornal) (6) 82 Agregados familiares encabeçados por mulheres (percentagem) (6) 27 Fontes de informação: (1) United Nations Population Division. World Population Prospects: The 2000 Revision— Volume 1: Comprehensive Tables, p. 110; (2) Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública, Plano de Acção Nacional de PF/SR; (3) Instituto Nacional de Estatística (INE) e United Nations Children’s Fund (UNICEF). Multiple Indicator Cluster Survey, Angola. 1996; (4) Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública, Plano Estratégico para o Programa Nacional da Luta contra a SIDA, 1999-2002; (5) United Nations Development Programme. Human Development Reports, Angola, 2002; (6) UNICEF. Multiple Indicator Cluster Survey, Angola, 2001. 52 ANEXO 6 Lista de Participantes na Primeira Reunião de Partes Interessadas (Incompleta) Luanda, 3 a 4 de Junho de 2003 Nome Organização 1. Avelina Magalhães Santos DSP de Benguela 2. Maria Antónia Nogueira MS/DSPL 3. Rosalina Catanha DSP de Huambo 4. Maria Gabriela Xavier DNSP 5. Maria de Lourdes Junça IMC MSH 6. Susan Shulman PSI 7. Maria Roble Columbia University/IMC 8. Fernando Vicente IMC de Huambo 9. Júlia Grave UNFPA DNSP 10. Jaakko Yrjo-Koskinen Consultor de INDEVEL 11. Vita Vemba DSPL de Luanda 12. Zipporah Wanjohi USAID 13. Adelaide de Carvalho Director, DNSP 14. Silvério dos Santos CAJ/JIRO 15. Miguel Madeira CAJ/JIRO 16. Nohra Villamil IMC de Huambo 17. Jaime Benavente MSH 18. Elias Finde Director, DSP de Huambo 19. Júlio Leite UNFPA 20. Maria José Queiros DNSP, Gabinete de Promoção da Saúde 21. Mary Daly CCF 22. Bérengère de Negri Advance Africa 23. Susan Veras Advance Africa E mais... 53 ANEXO 7 Objectivos e Ordem do Dia da Reunião das Partes Interessadas Objectivos: No fim da reunião das partes interessadas, os participantes terão: 1) Apresentado a situação de PF/SR em Angola ; 2) Identificado prioridades para o programa de PF/SR; 3) Chegado a consenso sobre as lacunas e os pontos fracos do programa de PF/SR em Angola; 4) Oferecido orientação para as actividades de avaliação de campo; 5) Ficado completamento empenhados no processo e nos resultados do método de participação de Mapeamento Estratégico. Ordem do Dia 3 de JUNHO de 2003 Actividade Responsável 9h00 Comentários de boas-vindas Objectivo Ministério da Saúde/USAID 9h30 Quebra-gelo Apresentação dos participantes Análise dos objectivos dos dois dias da reunião Advance Africa/MSH 10h00 Introdução: Importância de um Processo de Chegada a Consenso para Chegar a Acordo sobre um Programa Nacional de PF/SR Equipa de Advance Africa 10h45 Intervalo e café 11h15 Apresentação pelas ONG e organizações da ONU envolvidas em investigação e/ou projectos de PF/SR Situação actual – A nossa realidade de hoje 12h30 ALMOÇO 13h30 Apresentação pelas ONGs e organizações da ONU (continuação) 15h30 Intervalo e café 16h00 Apresentação pelas ONGs e organizações da ONU (continuação) Discussão e sessão de perguntas e respostas 17h30 Fim do primeiro dia MS/DNSP CAJ/JIRO IMC PSI UNFPA 54 ANEXO 7 Ordem do Dia da Reunião das Partes Interessadas (segundo dia) 4 de JUNHO de 2003 Actividade Responsável 9h00 Apresentação de Advance Africa Advance Africa 9h30 Discussão em pequenos grupos sobre a situação actual do programa e o desempenho em termos de acesso, procura, qualidade e sustentabilidade Acordo sobre a situação – Identificação de lacunas Todos 10h45 Intervalo e café 11h15 Continuação da discussão em pequenos grupos 12h30 Almoço 13h30 Em sessão plenária: Apresentação do trabalho dos pequenos grupos Discussão: Consenso sobre os pontos fortes e fracos Divergências de opinião Necessidade de avaliação adicional Áreas principais de acordo em termos de lacunas e oportunidades 15h30 Intervalo e café 16h00 Mesmo grupo de trabalho Troca de conhecimentos e experiência sobre as “melhores práticas” locais Acordo sobre a “situação ideal” (realista) em relação a dimensões chave de prestação de serviços Apresentação de grupo do trabalho de grupo Discussão 17h30 Encerramento Todos Todos Exercício facilitado pela equipa de Advance Africa 55 ANEXO 8 Nome, Organização, e Cargo dos Informadores Chave Entrevistados PROVÍNCIA Luanda Benguela Huambo Oscar Castillo, Coordenador do Sector de Saúde e Nutrição, UNICEF Maternidade de Lobito – Médico Ginecologista N’doza K. Luwawa, Director de Projectos Residente, UNICEF Dom Damião A. Franklin, Arcebispo de Luanda e Reitor da Universidade Católica de Angola Maternidade de Benguela – Médico Ginecologista Dom Francisco Viti, Arcebispo, Huambo Isabel Massocolo Neves, Supervisor das Actividades de SR, Coordenação do Atendimento Obstétrico de Luanda (CAOL) Director do Departamento de Promoção Social e da Família, Ministério de Promoção Social e da Família Elias Findi, Director, Direcção de Saúde Provincial (DSP) Paulo A. Campos, Coordenador, CAOL Avelina Magalhães dos Santos, Director Provincial das Clínicas de PF Maria Tereza Samanjata, Director, Instituto Técnico de Saúde Júlio Leite, Director Interino Antonica Hembe, UNFPA Vanda Lucília da Silva, Pascoal, Director Provincial do Programa de SMI Clementino Pedro, Sabá (Dirigente da Comunidade Tradicional), Kapango Paula Carosi, Director Sénior Residente, UN Office for the Coordination of Humanitarian Affairs (OCHA) Azenildo Martinho, Coordenador de PSI do Huambo Fernando Arroyo, Director Residente, OCHA Rebeca Benguela, Líder das Parteiras Tradicionais 56 ANEXO 9 Lista de Participantes da Reunião Final de Partes Interessadas Nome Organização 1. Kela di Lumbenba 2. Elias Finde MSF/Bélgica Director da Direcção de Saúde Pública (DSP) de Huambo Direcção Nacional de Saúde Pública (DSPL) IMC MSH IMC Luanda IMC Huambo Directora da Secção de Mulheres, Departamento de Saúde Reprodutiva UNFPA DNSP USAID USAID Marie Stopes CAOL (Coordenação do Atendimento Obstétrico de Luanda) – DSPL DNSP/Departamento de Mulheres DNSP Saúde Reprodutiva DNSP MSH/Sobrevivência Infantil CAJ/JIRO (Juventude) CAJ/JIRO (Juventude) CCF UNICEF DNSP/Departamento de Saúde da Criança e do Adolescente DSPL/ Departamento de Saúde da Criança e do Adolescente – Luanda MS/DSPL-Luanda CARE/Kuito MS/Benguela Rádio Ministério da Saúde Director, Africare Director, PSI Oxfam Luanda Oxfam Luanda DNSP Repartição de Promoção da Saúde FESA Luanda 3. Vita Vemba 4. Maria de Lourdes Junça 5. Josephine Ngonyani 6. Nohra Villamil Torres 7. Elsa Ambriz 8. Júlia Grave 9. Cathy Bowes 10. Gilberto Ribeiro 11. Maria Conceição Tchivale 12. Maria Isabel Massocolo Neves 13. Isabel Lemos Gomes 14. Maria de Lourdes Melo 15. Maria do Carmo C. de Cruz 16. Hirondina Cucubica 17. Eliseu Mateus 18. Domingos Jerónimo 19. Maria Josefa Dombolo 20. Victor Lara 21. Aida Menezes 22. Maria Isilda Neves 23. Maria Antónia Nogueira 24. Eva Napolo G. Castro 25. Maria Inês Leopoldo 26. Ana Maria 27. Hortênsia Trindade 28. Samson Ngonyanyi 29. Susan Shulman 30. Maria da Conceição 31. Lucas dos Santos 32. Maria José Queiroz 33. Verónica Tchivela 57 34. Basílio Cassoma 35. Zipporah Wanjohi 36. Júlio Leite 37. José Ribeiro 38. Issakha Diallo 39. Bérengère de Negri 40. Susan Veras 41. Eduarda do Amaral Gourgel Director do Departamento Nacio nal de Planeamento e Política da Saúde, Ministério da Saúde Conselheiro de Saúde Materna e Infantil, USAID Director Interino, UNFPA UNFPA Director, Advance Africa Advance Africa Advance Africa Advance Africa 58 ANEXO 10 Reunião Final de Todas as Partes Interessadas Apresentação dos Resultados de Mapeamento Estratégico Luanda, Angola, 9 de Julho de 2003 OBJECTIVOS 1. Apresentação dos resultados do Mapeamento Estratégico de Advance Africa 2. Apresentação do Plano de Acção 3. Consenso pelos participantes sobre os pontos-chave dos resultados e sobre o Plano de Acção ORDEM DO DIA 9:30 Chegada dos Participantes 10:00 Comentários de Abertura Elsa Ambriz, Chefe do Departamento de Saúde Reprodutiva, Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP) Cathy Bowes, Directora de Projectos, USAID/Angola 10:30 Apresentação dos Resultados do Mapeamento Estratégico pela equipa de Advance Africa 11:30 Apresentação do Plano de Acção pela equipa de Advance Africa 12:00 Debate e Perguntas sobre os Pontos-Chave 12:30 Certificados Atribuídos à Equipa de Investigação 12:30 Comentários de Encerramento 12:45 Almoço 59 BIBLIOGRAFIA Caros, Paola (Senior Resident Adviser, United Nations Office for the Coordination and Humanitarian Affairs). 19 Junho 2003. Interview. De Negri, B., and E. Thomas. 2003. Making Sense of Focus Grupo Data: A Systematic and Participatory Análise Approach (in press). GOAL. 2003. Family Planning Qualitative Survey Report. Luena, Moxico, Angola: GOAL. International Medical Corps (IMC) Angola/Saúde reprodutiva for Refugees (RHR) Consortium M&E Program. 2001. Improving Family Planning Services, Huambo and Luena, Baseline Survey. Luanda, Angola: IMC/RHR. Instituto Nacional de Estatística (INE) e United Nations Children’s Fund (UNICEF). 1998. Angola Multiple Indicator Cluster Survey (MICS) 1996. Luanda, Angola: INE/UNICEF. <http:/www.childinfo.org/mics/cntry_files/ANG_MICS_1996.pdf> (accessed 22 Sept. 2003). Instituto Nacional de Estatística (INE) and United Nations Children’s Fund (UNICEF). 2002. Angola Multiple Indicator Cluster Survey (MICS) 2001 (em preparação). Luanda, Angola: INE/UNICEF. Management Sciences for Health (MSH). December 2002. Strengthening MCH Services Project, MCH Baseline Survey: presentation and unpublished data. Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP). 2002. Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva 1999-2002. Luanda, Angola: DNSP. Ministério da Saúde, Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP). 2002. Plano Estratégico Nacional de Saúde Reprodutiva 2002-2006. Luanda, Angola: DNSP. United Nations Development Program (UNDP). Human Development Reports, Angola. 2002. <http://hdr.undp.org/reports/> (accessed April-May 2003) United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs (OCHA). “Angola: Youth Centres to Fight AIDS.” IRINNEWS.org. <http://www.irinnews.org/print.asp?ReprotID=35861> (accessed 20 Aug. 2003). United Nations Population Division. 2000. World Population Prospects; the 2000 Revision, Volume I: Comprehensive Tables. United Nations Population Fund (UNFPA). 2002. The Trajectory of Life as Internally Displaced Persons in Angola. Luanda, Angola: UNFPA. The World Bank Group, World Development Indicators Database. August 2003. Angola Data Profile. <http://devdata.worldbank.org> (acedido a 29 de Agosto de 2003). 60 World Health Organization (WHO). 2001. Selected Health Indicators for Angola. <http://www3.who.int/whosis/país/indicators.cfm?país=ago> (acedido a 2 de Set. de 2003) 61