UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
I
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva
PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS
NA QUALIDADE DE VIDA DE MOTORISTAS
DE UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO
Liriana Magalhães Carneiro
Rio de Janeiro
2005
II
LIRIANA MAGALHÃES CARNEIRO
PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NA QUALIDADE
DE VIDA DE MOTORISTAS DE UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO
URBANO
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Saúde
Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde
Coletiva
Orientadora: Professora Dra. Anamaria Testa Tambellini
Rio de Janeiro
2005
III
LIRIANA MAGALHÃES CARNEIRO
PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NA QUALIDADE
DE VIDA DE MOTORISTAS DE UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO
URBANO
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Saúde
Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde
Coletiva
BANCA EXAMINADORA:
........................................................................................
Jano Alves de Souza
Universidade Federal Fluminense
Sociedade Brasileira de Cefaléia
.........................................................................................
Heloisa Pacheco
Universidade Federal do Rio de Janeiro
........................................................................................
Anamaria Testa Tambellini
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
2005
IV
Aos meus grandes amores Alaor, Glorinha
e Fernanda, por serem a maior inspiração da minha vida.
Aos meus novos amores Ali e Lucas,
por trazerem um novo sentido a minha vida.
V
À minha avó Lira, em memória,
pela fé e sabedoria de viver.
VI
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Professora ANAMARIA TAMBELLINI, pelo grande senso ético e pela
profissional competente, cujos estímulos e ajuda, tornaram possível a realização deste
trabalho.
Aos Professores JANO DE SOUZA e HELOÍSA PACHECO, pela honra de participarem da
Banca Examinadora e pela amizade.
Ao mestre ABOUCH V. KRYCHANTOWISKI, pela admiração e aprendizado em cefaléias.
Aos professores MEDRONHO, MARISA PALÁCIOS, VALNEY CÂMERA, ANDRÉ
MARTINS, MACU e ISABEL responsáveis pela minha formação em Saúde Coletiva.
Ao VAL e PASCHOAL, por todas as mais belas alegrias.
Ao amigo Dr. HELION PÓVOA, pela sabedoria e bondade.
Ao amigo LUCAS FORTES MAIA, pela amizade e credibilidade em meu trabalho.
Ao amigo ARMANDO STROZENBERG, pelo grande estímulo, sempre pronto a ajudar.
À amiga LEONOR PAPOUCHADO, pela confiança e cuidado.
Ao amigo e grande exemplo de chefe CLEMENTE RANGEL, por ter me estimulado a ir ao
encontro de meus sonhos.
Ao professor PALMIRO TORRIERI, pela minha formação em fisioterapia e por ter me
mostrado o caminho que me trouxe até aqui.
Ao professor MARCO AURELIO BRUNO, pela sabedoria e pelo caminho que temos trilhado
juntos.
Ao professor FRANCISCO PEREIRA JUNIOR, por ter me inspirado na formação acadêmica.
À grande mulher e profissional NILMA PIMENTEL, pelo que temos compartilhado juntas.
Ao professor MARCUS VINICIUS DE MELLO PINTO, pela amizade e apoio.
Ao professor HERMINIO DA SILVEIRA, por manter viva a qualidade no ensino da
fisioterapia.
Aos colegas da ESCOLA NACIONAL DE CIRCO, pelo apoio e compreensão durante todo
este percurso.
Ao amigo e grande chefe CARLOS CAVALCANTI, por saber entender a importância deste
trabalho em minha vida.
VII
Aos meus grandes companheiros de estudo PROFESSOR SALLES CUNHA, SUELI DE
CARVALHO, KIKO, CRIS, SIMONE, CARMINHA e PAULO AFONSO, por não
desistirem nunca.
Aos amigos CAROL, RAQUEL, DAYSE E VALDECI, por terem me dado as mãos e me
encaminhado ao mestrado; sem eles o caminho não teria sido trilhado de uma forma tão
mágica.
Aos amigos REJANE, IARA, NÁDIA, ANDREA, RENATA, REGINA MIRANDA, GI,
CONCEIÇÃO, SHIRLEY e LEO, pelo estímulo e amizade neste momento e sempre.
Às amigas AIDA, SIMONE(S), GISELA HAIKAL, PATRICIA, LU e ROSANI STODUTO,
pela amizade, nosso maior tesouro.
À minha nova família no Rio D. LUIZA, FLAVIA, TED, GUIL, VITOR, RAFAEL, TIA
LUCIA, EDUARDO e MONICA, pelo acolhimento e carinho constantes.
Aos meus tios e primos MARRAZZO, DELIZETE, EVERTON, WELLINGTON e
WALLACE, pelo sentido de família.
Às amigas BURAQUEIRAS, por representarem o maior sentido de cuidado, amizade e
companheirismo.
À auxiliar ROSA, pelo cuidado e atenção neste momento.
Às amigas do mestrado CLAUDINHA, MARIA, DOLLY, LILIAN E SIGRID, pelo vínculo
que construímos nestes dois anos.
À equipe do NESC, DELVACI, DONA CLEA, IVETE, GERALDO OLIVEIRA, JOÃO e
IVISSON, pelo apoio e ajuda durante toda a realização deste trabalho.
Aos colaboradores LÉA CARDOSO ALVES, JOÃO LUIZ RIBEIRO, MAURÍCIO,
RICARDO e ANA BADARÓ pela ajuda na reta final.
Aos meus PACIENTES pela troca que firmamos nestes últimos 10 anos, estimulando-me a
trabalhar, estudar e produzir cada vez mais.
Aos colaboradores da empresa pesquisada, em especial a ELLEN DOUTEL, por terem me
acolhido com o maior carinho, respeito e disponibilidade.
Aos motoristas; sem eles este trabalho não teria sentido.
A DEUS, fonte de toda inspiração e proteção. Obrigada.
VIII
RESUMO
A cefaléia é um sintoma comum. Cerca de 90% da população experimentou ou vai
experimentar algum dos tipos desse mal no decorrer da vida. A migrânea e a cefaléia do tipo
tensional (CTT) são as formas mais comuns de cefaléia, com pico de prevalência coincidindo
com a idade produtiva da força de trabalho. Isso acarreta importante impacto na qualidade de
vida condicionada à saúde (QVCS) de seus portadores. O objetivo deste estudo é avaliar a
prevalência das cefaléias entre os motoristas de ônibus de uma empresa de transporte coletivo
urbano e o conseqüente comprometimento na qualidade de vida e no desempenho profissional
desta população, bem como analisar a dinâmica do processo de trabalho e sua organização O
estudo foi conduzido em duas fases. Primeiramente realizando o levantamento das condições
de organização do trabalho e a observação direta do processo das atividades laborais do grupo
em foco. Em segundo lugar, levantamento da prevalência da cefaléia por meio de um
questionário subdividido em três partes: dados gerais dos motoristas, descrição do quadro
geral da cefaléia e QVCS, medida pelo Medical Outcomes Short Forme 36-Item Health
Survey (SF-36). Foram estudados 55 motoristas do sexo masculino. Deste total, 31 (56,4%)
relataram apresentar cefaléia no último ano, com maior incidência na faixa etária de 31 a 40
anos. As características clínicas mais observadas no grupo com cefaléia foram: dor na fronte
(41,9%); dor de intensidade leve (45,2%); caráter pulsátil (51,6%); freqüência menor do que
uma vez por semana (41,9%); duração das crises de até 2 horas (67,7%). O consumo
excessivo de medicações sintomáticas foi observado em 71,0% dos entrevistados que
apresentam quadro de cefaléia. Um motorista relatou mudança no padrão da crise após
acidente. Não foi encontrada associação significativa da ocorrência freqüente da cefaléia com
o nível educacional dos pesquisados. O grupo de motoristas com relato de cefaléia apresentou
uma redução da QVCS em relação ao grupo sem cefaléia, registrando-se diferença
estatisticamente significante em todos os componentes pelo teste t de Student. A totalidade
dos motoristas (100%) respondeu não perder dia de trabalho devido à cefaléia,
desempenhando sua atividade mesmo com dor. Concluímos que a empresa investe em
Qualidade Total, melhorando as condições de trabalho e diminuindo os fatores de riscos a que
estão submetidos os motoristas; a cefaléia é freqüente entre a população pesquisada e sua
presença produz redução da QVCS.
Palavras-chave: Cefaléia; qualidade de vida condicionada à saúde (QVCS); motorista de
ônibus; saúde do trabalhador.
IX
ABSTRACT
Headache is a common symptom. About 90% of the population has had or will have
one of its varieties during their lifetimes. The most common varieties of chronic headaches
are migraine and those caused by stress. Their peak of prevalence coincides with the most
productive age of the work force, entailing a major impact on the health-related quality of life
(HRQoL) of its sufferers. The aim of this study was to assess the prevalence of chronic
headaches among bus drivers working on city routes and to avail the extent to which this
condition undermines their quality of life and professional performance, as well as to analyze
the dynamics of the work process and its organization. This study was conducted in two
phases. First, the conditions of the work organization were investigated and a direct
observation of the work process was conducted. In the second phase, the prevalence of
chronic headaches was surveyed with the use of a questionnaire divided in three sections: 1)
general data about the the drivers; 2) a general picture of chronic headaches and; 3) HRQoL,
as measured by the Medical Outcomes Short-Form 36-Item Health Survey (SF-36). Fifty-five
male drivers were surveyed, of which 31 (56.4%) reported to have had headache in the last 12
months, with more prevalence in the age groups of 31 to 40 years old. Clinical characteristics
more frequently observed in the group with headache were: forehead ache (41.9%); mild
intensity of pain (45.2%); throbbing headache (51.6%); frequency of less than once a week
(41.9%); continuing occurrences of up to 2 hours (67.7%). Excessive consumption of
symptomatic medication was observed in 71% of the cases. One driver reported a change in
the pattern of occurrences after being involved in an accident. There were no signs of
significant association between the prevalence of chronic headaches and educational level.
The group of drivers with chronic headache presented a decrease of HRQoL as compared to
the group of drivers thad did not report headaches. A statistically significant difference was
present in all the of the participants, according to Student’s test t. All drivers (100%) reported
not having ever missed a workday because of headache, working even in pain. We concluded
that the company invests in Total Quality, improving work conditions and diminishing the
risk factors which affect the drivers; headache is a frequent condition among the researched
population and its presence leads to the reduction of HRQoL.
Keywords: Headache; health-related quality of life (HRQoL); bus driver; worker’s health.
X
LISTA DE ABREVIATURAS
AC............................ Antes de Cristo
AINE........................ Antiinflamatório Não-esteróide
ANTP....................... Associação Nacional de Transporte Público
AP ............................ Área de Planejamento
AT............................ Acidente de Trânsito
BVQI ....................... Bureau Veritas Quality Internacional
CCD ......................... Cefaléia Crônica Diária
CEP.......................... Comitê de Ética em Pesquisa
CET-Rio ................. Companhia de Engenharia de Tráfego do Município do Rio de Janeiro
CID .......................... Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde
CLT.......................... Consolidação das Leis do Trabalho
CNT ......................... Confederação Nacional do Transporte
COMPET ................. Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados de Petróleo
e do Gás Natural
CPDI ........................ Cefaléia Persistente e Diária Desde o Início
CPT ......................... Cefaléia Pós-traumática
CS ............................ Cefaléia em Salvas
CTB ......................... Código de Trânsito Brasileiro
CTT.......................... Cefaléia do Tipo Tensional
CTTC ....................... Cefaléia do Tipo Tensional Crônica
CTTE ....................... Cefaléia do Tipo Tensional Episódica
DC............................ Depois de Cristo
DEPT ....................... Desordem do Estresse Pós-traumático
DETRAN ................. Departamento de Trânsito
DNER ...................... Departamento Nacional de Estradas e Rodagem
FEEMA.................... Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
FETRANSPOR........ Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do
Rio de Janeiro
GEM ........................ Genetic Epidemiology of Migraine
XI
IDAQ ....................... Instituto de Desenvolvimento, Assistência Técnica e Qualidade em
Transporte
INMETRO ............... Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
INSS ........................ Instituto Nacional do Seguro Social
ISO........................... International Standard Organization
LII ............................ Límpido e Isento de Impurezas
NESC ....................... Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ
OIT .......................... Organização Internacional do Trabalho
OMS ........................ Organização Mundial de Saúde
QVCS ...................... Qualidade de Vida Condicionada à Saúde
RH............................ Recursos Humanos
RIOÔNIBUS ........... Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro
SAC ......................... Serviço de Atendimento ao Cliente
SBCe........................ Sociedade Brasileira de Cefaléia
SCCSIC ................... Subcomitê de Classificação das Cefaléias da Sociedade Internacional de
Cefaléia
SF36......................... The MOS 36-item Short-Form Health Survey
SIC ........................... Sociedade Internacional de Cefaléia
SIPAT ...................... Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho
SMTU ...................... Superintendência Municipal de Transportes Urbanos
SPT .......................... Síndrome Pós-Traumática
SUNCT .................... Short-lasting Unilateral Neuralgiform Headache with Conjunctival
Injection and Tearing (Cefaléia de Curta Duração, Unilateral,
Neuralgiforme com Hiperemia Conjuntival e Lacrimejamento)
TCE.......................... Traumatismo Crânio-encefálico
TCQ ......................... Transportando com Cidadania e Qualidade
UAL ......................... Utilização, Arrumação e Limpeza
UKAS ...................... United Kingdom Accreditation Service
UNICAMP............... Universidade Estadual de Campinas
XII
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana
do Rio de Janeiro 2005..................................................................................................... 57
Tabela 2 – Linhas de Coletivos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2005 .............................. 57
Tabela 3 – Número de Veículos envolvidos em Acidentes, por Classe de Veículo - 1996-2000......... 63
Tabela 4 – Número de Pessoas Envolvidas em Acidentes, Segundo a Gravidade - 1996-2000 ........ 63
Tabela 5 – Número de Acidentes, Segundo a Gravidade - 1996-2000 ................................................ 64
Tabela 6 – Atendimentos Ocupacionais de acordo com a Razão das Consultas 2004/2005.............. 75
Tabela 7 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo Faixa Etária ....................................................... 84
Tabela 8 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo as Variáveis Selecionadas: ............................... 86
Tabela 9 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo Fator de Desgaste............................................ 87
Tabela 10 – Freqüência de Localização de Dores Relatada pelos Motoristas..................................... 88
Tabela 11 – Distribuição da Presença de Cefaléia por Faixa Etária dos Motoristas............................ 89
Tabela 12 – Distribuição (%) dos Motoristas com Cefaléia segundo as Variáveis Selecionadas........ 91
Tabela 13 – Tempo de Cefaléia de acordo com o Tempo de Início da Atividade de Motorista ........... 93
Tabela 14 – Cefaléia Auto-Referida segundo a Escolaridade .............................................................. 93
Tabela 15 – Média dos Resultados da Avaliação da Qualidade de Vida dos Motoristas
(Cálculo do Raw Scale) de acordo com a presença de Cefaléia ..................................... 95
Tabela 16 – Comparação das Médias dos Componentes do SF-36,
segundo a Presença ou Não de Cefaléia ......................................................................... 96
Tabela 17 – Classificação da Saúde em Geral comparada há 1 Ano .................................................. 96
Tabela 18 – Comparação das Médias dos Componentes do SF-36,
segundo a Presença ou Não de Cefaléia Combinada com Outras Dores ....................... 96
XIII
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Linhas Operadas ................................................................................................................ 69
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Prevalência Ajustada da Migrânea por Área Demográfica e Gênero ................................ 36
Gráfico 2 – Média dos Resultados da Avaliação da Qualidade de Vida dos Motoristas
(Cálculo do Raw Scale) de acordo com a presença de Cefaléia ..................................... 95
LISTA DE FOTOS
Foto 1 – Setor de Manutenção na Garagem da Empresa .................................................................... 68
Foto 2 – Prédio do Setor Administrativo na Garagem da Empresa...................................................... 69
Foto 3 – Filtro de Óleo Diesel................................................................................................................ 76
Foto 4 e 5 – Vista Interna e Externa da Cabine de Pintura ................................................................. 77
Foto 6 – Motorista Parado no Semáforo ............................................................................................... 82
Foto 7 – Posição Sentada com Anteriorização da Cabeça .................................................................. 82
Foto 8 – Inclinação do Tronco para Alcançar o Freio de Mão .............................................................. 82
Foto 9 – Movimento Repetitivo de Cabeça com Extensão Permanente de Cotovelo .......................... 82
Foto 10 – Instalação no Ponto Final ..................................................................................................... 83
Foto 11 – Limpeza da Instalação .......................................................................................................... 83
Foto 12 – Personalização do Ônibus .................................................................................................... 83
XIV
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................16
2 OBJETIVOS ..........................................................................................................19
2.1 GERAL........................................................................................................................... 19
2.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................................... 19
3 MÉTODO ..............................................................................................................20
3.1 ESTUDO DA PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA..........................................................20
3.2 ESTUDO DO PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .............................23
3.3 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................... 24
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................25
4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA CEFALÉIA ................................................................ 25
4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALÉIAS ......................................................................... 31
4.3 EPIDEMIOLOGIA DAS CEFALÉIAS ......................................................................... 34
4.3.1 Prevalência por Idade e Gênero ............................................................................ 35
4.3.2 Prevalência por Distribuição Geográfica .............................................................. 36
4.3.3 Prevalência por Situação Socioeconômica............................................................37
4.3.4 Cefaléia após Trauma de Cabeça .......................................................................... 37
4.4 CUSTO SOCIOECONÔMICO DAS CEFALÉIAS E QUALIDADE DE VIDA......... 38
4.5 QUADRO CLÍNICO DAS CEFALÉIAS ......................................................................42
4.5.1 Migrânea ............................................................................................................... 43
4.5.2 Cefaléia do Tipo Tensional ................................................................................... 45
4.5.3 Cefaléias em Salvas............................................................................................... 47
4.5.4 Cefaléia Crônica Diária......................................................................................... 50
4.5.5 Cefaléia Pós-Traumática ....................................................................................... 52
5 RESULTADOS ......................................................................................................56
XV
5.1 DO ESTUDO DO PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ..................... 56
5.1.1 Transporte Coletivo Urbano: Organização e Normas,
Responsabilidade Jurídica e Acidentes de Trânsito............................................... 56
5.1.2 Do Processo e Organização do Trabalho na Empresa........................................... 65
5.2 DAS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA .................................... 84
5.3 DAS CARACTERÍSTICAS DA CEFALÉIA ............................................................... 88
5.4 DA QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................94
6 DISCUSSÃO ..........................................................................................................97
6.1 OBSERVAÇÃO DO ESTUDO .....................................................................................97
6.2 DO PROCESSO DE TRABALHO E SUA ORGANIZAÇÃO ..................................... 97
6.3 DO ESTUDO DA CEFALÉIA .................................................................................... 102
6.4 DA QUALIDADE DE VIDA ......................................................................................106
6.5 DA CEFALÉIA E DO DESEMPENHO PROFISSIONAL.........................................108
6.6 LIMITAÇÃO DO ESTUDO ........................................................................................ 110
7 CONCLUSÃO......................................................................................................112
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................114
ANEXOS ...............................................................................................................125
ANEXO A – CARTA DE SOLICITAÇÃO À EMPRESA ................................................ 126
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO ................................................................128
ANEXO C – ESTUDO DA CEFALÉIA ............................................................................130
PARTE 1 – DADOS GERAIS DOS MOTORISTAS ..................................................131
PARTE 2 –QUADRO GERAL DA DOR DE CABEÇA ............................................. 135
PARTE 3 – SF-36 .........................................................................................................139
ANEXO D – PONTUAÇÃO DO QUESTIONÁRIO SF-36 .............................................. 145
ANEXO E – PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .................................... 148
ANEXO F – CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALÉIAS ....................... 150
16
1 INTRODUÇÃO
A ocorrência de dor tem crescido, principalmente a dor crônica. Isso se dá em
decorrência dos novos hábitos da vida, da maior longevidade do indivíduo, do prolongamento
de sobrevida dos doentes, das modificações dos ambientes e, provavelmente, do
conhecimento de novas condições álgicas e da aplicação de novos conceitos que traduzem seu
significado (TEIXEIRA et al., 2003).
A dor é uma qualidade sensorial complexa que nem sempre está relacionada ao grau
de lesão tecidual e aos seus elementos anatômicos e fisiológicos. A interpretação da sensação
dolorosa varia de um indivíduo para o outro, se manifesta de acordo com os componentes
sócio-culturais; particularidades do ambiente, chegando até ao momento histórico em que esta
se encontra, influenciando a sua percepção. (TEIXEIRA & OKADA, 2003).
Segundo estudo da Organização Mundial da Saúde – OMS em atendimento primário,
a dor é uma das razões mais comuns e um determinante pessoal para o indivíduo procurar um
médico. Neste mesmo estudo, a cefaléia aparece como a segunda queixa mais comum, só
perdendo para a lombalgia (GUREJE et al., 1999).
SILBERSTEIN et al. (1998) citam que a cefaléia é um sintoma comum na população e
que pode ter várias causas. O sintoma cefaléia pode ocorrer isoladamente, como manifestação
de um complexo sintomático agudo (por exemplo, a migrânea) ou como parte de uma doença
em desenvolvimento (por exemplo, um tumor cerebral).
Além das alterações relacionadas ao sofrimento que são geradas pela dor, a cefaléia
também causa uma perda no desempenho profissional, promovendo incapacidade para a
execução de tarefas. Em muitos estudos, a dor é uma das principais causas de afastamento do
trabalho, gerando um enorme ônus para a empresa, governo e sociedade. Por essas razões, a
cefaléia deve ser considerada um sério problema de saúde coletiva.
17
Análises relatam a gravidade das perdas financeiras e de qualidade de vida causada
pelas cefaléias, como mostra o estudo de STEWART et al. (1998). Nos Estados Unidos, 50%
das mulheres migranosas perdem três dias ou mais por ano e 31% perdem seis dias ou mais
em função da cefaléia. Entre os homens, 30% dos migranosos perdem três dias ou mais e 17%
perdem seis dias ou mais. Muitos migranosos vão trabalhar mesmo estando em crise de
cefaléia e, nesse caso, apresentam queda de produtividade (FERNANDES et al., 2002).
Além das perdas econômicas, a cefaléia produz conseqüências negativas consideráveis
sobre a qualidade de vida. Um dos maiores avanços no cuidado da saúde, na última década,
tem sido o crescimento do consenso sobre a extensão do impacto da doença no bem-estar do
indivíduo (BIGAL et al., 2001).
As mudanças ocorridas no mundo do trabalho têm proporcionado uma transformação
da classe trabalhadora: a redução da classe operária industrial, em paralelo à expansão do
trabalho no setor de serviços (LANCMAN, 2004). Observamos uma substituição de valores,
criando uma nova relação entre a produção e o meio. Estas mudanças vão desde a organização
do trabalho, passando pelo avanço tecnológico, até as novas formas de acumulação.
Diante desta reestruturação produtiva, os trabalhadores se encontram recuados, não
podendo fazer suas escolhas e, como resultado, aumentam e agravam o afastamento por
doenças e acidentes. Neste perfil, incluímos os motoristas de transporte coletivo do Rio de
Janeiro que diariamente enfrentam fatores de risco como trânsito pesado; instalações
inadequadas; excesso de ruídos; temperatura elevada; longa jornada de trabalho; e violência;
a níveis que ultrapassam sua capacidade e tolerância física e psíquica.
Segundo dados da OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO,
2002), todos os anos 270 milhões de trabalhadores são vítimas de acidentes de trabalho, dos
quais 2 milhões resultam em acidentes fatais. A OIT calcula que 4% do PIB mundial é gasto
com doenças profissionais, absenteísmo, adoecimentos, tratamentos, incapacidades e pensões.
18
Nos países mais industrializados onde se observou uma mudança no trabalho industrial,
ocorreu uma diminuição significativa do número de lesões graves. Em contrapartida,
cresceram novas formas de adoecer como: lesões musculoesqueléticas, estresse, alterações
psíquicas, e reações asmáticas e alérgicas (LANCMAN, 2004).
19
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Estudar a prevalência das cefaléias de acordo com a classificação da Sociedade
Internacional de Cefaléias e avaliar o comprometimento na qualidade de vida e no
desempenho profissional da população de motoristas de uma empresa de transporte coletivo
da cidade do Rio de Janeiro.
2.2 ESPECÍFICOS
Descrever e analisar a freqüência das cefaléias auto-referidas em motoristas
selecionados e suas características do ponto de vista sintomatológico e dos elementos das
condições do trabalho;
Mensurar e analisar a qualidade de vida condicionada à saúde dos motoristas que
referiram a presença de cefaléia;
Verificar o consumo de medicação sintomática no grupo de motoristas com cefaléia;
Descrever e analisar a dinâmica do processo de trabalho e sua organização,
caracterizando os agentes de trabalho da empresa, segundo suas características individuais,
seus instrumentos e o ambiente em que se dá, de maneira a estabelecer possíveis articulações
entre este processo e a presença das cefaléias em termos gerais.
20
3 MÉTODO
O estudo foi realizado em uma empresa de transporte coletivo da cidade do Rio de
Janeiro. A população estudada e a observação direta da dinâmica do processo de trabalho
foram realizadas em uma determinada linha de ônibus, no decorrer dos turnos existentes,
levando em conta os critérios de acessibilidade e segurança do pesquisador.
À empresa escolhida foi enviada uma carta de apresentação dos pesquisadores e de
solicitação para realização da pesquisa e acesso à empresa e aos motoristas (ANEXO A). Foi
informada a intenção da não divulgação do nome da companhia e de seus colaboradores,
mantendo-os em sigilo.
Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, do Núcleo de
Estudos em Saúde Coletiva, de forma a resguardar a integridade e os direitos dos
participantes. Os trabalhadores da empresa envolvidos na pesquisa precisaram estar de acordo
com os termos desta e para isso, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Informado
explicando toda a sua intenção (ANEXO B).
A pesquisa foi completada em duas fases, constando dos seguintes estudos:
•
Estudo da prevalência de cefaléia e suas conseqüências na qualidade de
vida dos motoristas;
•
Estudo do processo e organização do trabalho.
3.1 ESTUDO DA PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA
O estudo da prevalência foi realizado em motoristas selecionados de uma determinada
linha na qual foi feita a observação direta do processo de trabalho. Aceitamos a indicação da
empresa que se norteou pela acessibilidade e espaço seguro para a realização das entrevistas.
21
As entrevistas foram realizadas durante o horário de trabalho, em momentos anteriores
ao início e posteriores ao fim da jornada de trabalho, e nos intervalos entre as viagens, sempre
no mesmo local. A pesquisadora se mantinha no ponto “final” da linha, e os motoristas se
apresentavam voluntariamente para a atividade.
O estudo da cefaléia foi realizado por meio de questionário (ANEXO C), subdividido
em 3 partes, após explanação esclarecedora da pesquisa e da assinatura do Termo de Livre
Consentimento.
Parte 1– Constituído por quatro grupos de variáveis que se referem às características
do trabalhador (idade, escolaridade, estado civil); aos indicadores de percepção das condições
de trabalho e satisfação com o próprio trabalho; aos episódios prévios de trauma durante a
execução da tarefa (violência e acidentes); e à presença de dor em geral.
Os motoristas que relataram cefaléia quando perguntados sobre a presença de dor,
responderam à segunda e à terceira partes do questionário. Já os motoristas sem cefaléia não
responderam à segunda parte, passando da primeira à terceira parte do questionário.
Parte 2 – Visa caracterizar a cefaléia auto-referida. Suas variáveis se referem ao tempo
da dor; à freqüência, à intensidade, à localização, à duração, ao caráter, aos sintomas
associados, ao comportamento de evolução da dor, ao uso de medicamentos, sua relação com
os traumas sofridos, hereditariedade e absenteísmo.
Parte 3 – Objetiva mensurar a qualidade de vida condicionada à saúde dos motoristas.
Qualidade de vida condicionada à saúde (QVCS) é a expressão de uma percepção da posição
na vida que é afetada pela saúde física, pelo estado psicológico e relações sociais. Isto inclui
percepção subjetiva de uma situação de vida no contexto cultural e do sistema de valores no
qual estão inseridos, e em relação às suas metas, expectativas e princípios (VAN
SUIJLEKOM et al., 2003).
22
Utilizamos para esta análise o The MOS 36-item Short-Form Health Survey (SF-36),
questionário elaborado a partir do The Medical Outcomes Study – usado para avaliação
genérica de saúde, formado por 149 itens. No Brasil, o Short-Form-36 foi traduzido e
validado por CICONELLI et al. (1999) em pacientes com artrite reumatóide.
O SF-36 é um questionário genérico multidimensional, formado por 36 itens,
englobados em oito componentes, visando avaliar a qualidade de vida: (1) capacidade
funcional, (2) aspectos físicos, (3) dor, (4) estado geral de saúde, (5) vitalidade, (6) aspectos
sociais, (7) aspectos emocionais e (8) saúde mental. Engloba também mais uma questão de
avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e as de um ano atrás (SAKUMA,
2002).
Os componentes do SF-36 medem o impacto da saúde sobre a qualidade de vida e
podem ser resumidos como:
1 – Capacidade funcional: mede tanto a presença como a extensão das limitações
referentes à capacidade física, através de itens relacionados ao grau de dificuldade em realizar
atividades como correr, subir escada, levantar objetos pesados e cuidados pessoais, como se
vestir;
2 – Aspecto físico: avalia o quanto as limitações físicas dificultam a realização do
trabalho e de atividades da vida diária;
3 – Dor: avalia a sua intensidade e extensão no passar dos meses e sua interferência no
trabalho e atividades rotineiras;
4 – Estado geral de saúde: sumariza o status atual de saúde de forma global;
5 – Vitalidade: considera tanto o nível de energia quanto o de fadiga;
6 – Aspectos sociais: analisa a integração do indivíduo em atividades sociais;
7 – Aspectos emocionais: avalia se o fato de se sentir deprimido ou ansioso pode
dificultar as atividades do dia-a dia;
23
8 – Saúde mental: avalia a freqüência de nervosismo, depressão, felicidade e
tranqüilidade.
Esse questionário foi criado para estabelecer um método mais efetivo de mensurar
funções e conceitos subjetivos do estado de saúde do paciente, possibilitando comparar o
resultado de diferentes métodos de cuidados. As pontuações de cada componente do SF-36
são calculadas pelo somatório dos itens de cada questão e transformadas em uma escala de 0 a
100 pelo cálculo de Raw Scale (SAKUMA, 2002).
3.2 ESTUDO DO PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Este estudo constou de 2 etapas, antecipadas pelo levantamento das condições de
organização do transporte urbano na área metropolitana do município do Rio de Janeiro e suas
normas, como também, do acidente de trânsito como indicador das condições de trabalho.
.
Etapa 1 – Iniciamos esta fase da pesquisa pelo estudo das características da dinâmica
e da organização do processo de trabalho dos motoristas. Os dados foram levantados, através
de entrevistas feitas com a gerência da empresa de transporte, com os motoristas, os
profissionais de saúde. Os dados dos documentos de gestão organizacional também foram
levados em conta. Utilizamos o instrumento “Investigando a Relação entre Saúde e Trabalho”
(BUSCHINELLI, 1993), modificado por FERNANDES (2002) e pela autora.
Abordamos as seguintes questões:
Identificação e estrutura da empresa;
Estrutura do processo: agente (sexo, idade, estado civil, escolaridade, data de
admissão), instrumentos, meios e condições de trabalho;
24
Dinâmica e organização do processo de trabalho: turnos, horários de trabalho,
habilidades necessárias, hierarquia de trabalho, relação com o instrumento, fiscalização,
legislação e normas;
Condições ambientais de trabalho.
Etapa 2 –Uma observação direta do processo de trabalho durante uma viagem do
ônibus foi realizada, buscando avaliar as condições de trabalho que o motorista possui para
executar sua tarefa. Utilizamos o questionário elaborado a partir da adaptação do Manual de
Análise Ergonômica do Posto de Trabalho do Finnish Institute of Occupacional Health
(1989), modificado por FERNANDES (2002), NEVES (2004) e pela autora. (ANEXO E),
que aborda as seguintes variáveis: tempo de viagem, postura, conservação do veículo,
segurança, conversas, descanso entre as viagens, queixas. Esta observação foi realizada no
intuito de nos familiarizarmos com as formas que o trabalho normatizado pela empresa se
concretiza, ou seja, se refere ao “trabalho real”, possibilitando identificar atividades laboriais
que possam dar origem ou influenciar condições potencialmente morbígenas.
3.3 ANÁLISE DOS DADOS
As informações foram geradas em meio eletrônico, utilizando o programa EPI INFO (6).
Os dados levantados foram analisados do ponto de vista quantitativo e qualitativo
dependendo do tipo da informação obtida.
Foi realizada a análise quantitativa dos dados referentes aos aspectos relacionados à
cefaléia. O processo de trabalho foi submetido a uma análise qualitativa.
Foram construídos indicadores variados para melhor entendimento dos dados quantitativos. Para avaliação das relações entre as variáveis, utilizamos testes estatísticos (média,
medida de tendência central, desvio padrão, p valor e teste t de Student).
25
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA CEFALÉIA
A cefaléia é uma preocupação do ser humano desde os primórdios da civilização. Dela
encontramos referências médicas desde a época pré-hipocrática (BIGAL et al., 2000). Os
aspectos históricos da cefaléia por nós levantados, se encontram principalmente na obra de
SIBERSTEIN et al. (1998) e no site da HEADACHE AUSTRALIA (2005).
A evidência histórica mostra sinais de neurocirurgia em 7000 AC. Crânios neolíticos
evidenciam que a trepanação foi muito executada e que pode ter sido usada para liberar
demônios e maus espíritos da cabeça. O homem antigo acreditava que estes espíritos eram os
causadores das cefaléias e de desordens como a loucura e a epilepsia.
No século 17, a trepanação foi usada para o tratamento da migrânea e em 1660,
William Harvey recomendou o procedimento para um paciente com migrânea intratável.
O Papiros de Ebers, datado aproximadamente de 1200 AC, menciona a migrânea, a
neuralgia e as dores lancinantes da cabeça. No documento encontra-se o primeiro relato de
cefaléia unilateral, acompanhada de vômitos, denominada “doença da metade da cabeça”,
além da indicação de uma pomada para calvície. De acordo com o papiro, os egípcios
acreditavam que os deuses podiam curar suas doenças. Um crocodilo de argila prendendo um
grão pela boca era colocado sobre a cabeça do paciente, seguro por uma tira de linho cujos
furos tinham os nomes dos deuses. Este processo pode ter produzido o alívio da cefaléia pela
compressão do couro cabeludo.
Em 400 AC, Hipócrates separou a medicina da filosofia, alertando que a doença não
era uma punição divina e foi o primeiro a descrever os sintomas visuais da migrânea, a aura
visual. Ele discorreu sobre um brilho de luz, normalmente no olho direito, seguido de dor
forte começando nas têmporas e eventualmente atingindo a cabeça como um todo e a área do
26
pescoço. Tornando-se generalizada era aliviada pelo vômito. Hipócrates também notou a
associação entre a cefaléia e várias atividades como o exercício físico e as relações sexuais.
Por muito tempo, as cefaléias foram atribuídas aos distúrbios digestivos e ao fluxo da
bile. A palavra migrânea é derivada do vocábulo grego hemicrania e foi introduzida
aproximadamente há 200 DC por Galeno, um médico romano que comentou: “Como
constantemente nós vemos o ataque da cabeça com dor quando a bile amarela está contida no
estômago, a dor também cessa imediatamente quando a bile é vomitada.” Galeno criou e
difundiu a “teoria humoral”, na qual existiriam quatro humores – sangue, fleugma, bile
amarela e bile preta. Ele acreditava que o ataque era causado pelos vapores prejudiciais
ascendentes que atingiam o cérebro, oriundos de outras partes do organismo e que os vômitos
ocorriam em virtude do acúmulo de bile amarela. Suas idéias permaneceram como leis por
quase 15 séculos. Hipócrates já havia atribuído a migrânea aos vapores que se levantam do
estômago à cabeça e que através do vômito se poderia parcialmente aliviar a dor de cabeça.
No século 12 DC, Abbess Hildegarde of Bingen descreveu a atribuição que foi dada à
aura migranosa, tanto mística quanto apocalíptica.
Na Europa do século seguinte, o ópio e o vinagre foram largamente usados no
tratamento das cefaléias como remédios na forma de cataplasmas, embebidos e aplicados à
cabeça. O vinagre, provavelmente, foi usado para abrir os poros do couro cabeludo e permitir
que o ópio fosse absorvido mais rapidamente através da pele.
Três séculos mais tarde, em 1672, Thomas Willis introduziu o termo “neurologia” e
fez observações exatas dos ataques de migrânea e de suas causas, incluindo a hereditariedade,
mudanças de estações, estados atmosféricos e dieta. Ele introduziu também a teoria vascular
das cefaléias, atribuindo como a causa do estado migranoso a vasodilatação, além de
relacionar os sintomas da cefaléia aos espasmos ascendentes que começam nas extremidades
periféricas dos nervos (SILBERSTEIN et al., 1998; HEADACHE AUSTRALIA, 2005).
27
Já em 1700, Bernardino Ramazzini publicou o primeiro tratado de medicina
ocupacional. Dentre as 69 ocupações listadas, havia 12 que provocavam cefaléia como distúrbio
diretamente relacionado às condições do trabalho. Como profilaxia, desaconselhava aos
indivíduos queixosos de cefaléia assumirem profissões que envolvessem a utilização de
instrumentos musicais de sopro e canto livre. A cefaléia dos confeiteiros se dava em função da
permanência por horas próximos ao carvão quente; das estenógrafas, em virtude de horas de
intensa tensão; dos lacaios e mensageiros, ao esforço; e dos caçadores e marinheiros em
decorrência das modificações de temperatura e exposição ao sol (MARANHÃO FILHO, 2002).
Em 1783, Tisso distinguiu migrânea da cefaléia comum, atribuindo-a à neuralgia
supraorbital. Durante o século seguinte, DuBois Reymond, Mollendorf e mais tarde
Eulenburg propuseram diferentes teorias vasculares para a migrânea.
No final de 1700, Erasmus Darwin (avô de Charles Darwin) acreditava que as
cefaléias eram causadas pela vasodilatação, propondo o tratamento pela centrifugação.
Sugeriu girar o paciente numa centrífuga para forçar o desvio do sangue da cabeça para os
pés, aliviando-os assim do padecimento.
Fothergill, em 1778, introduziu o termo “fortificação espectro” para descrever a aura
visual típica da migrânea. Ele usou o termo fortificação, porque os distúrbios visuais
assemelham-se às cidades fortificadas rodeadas de baluartes.
Em 1814, James Ware descreveu ataques de aura visual desacompanhado de cefaléia. A
primeira monografia sobre migrânea intitulada “On Megrim, Sick-headache, and Some Allied
Disorders: A Contribution to the Pathology of Nerve-storms”, foi escrita por Edward Liveing,
em 1873. Foi ele o criador da teoria neuronal da migrânea que se diferenciava grandemente da
teoria vascular. Considerou serem as auras o resultado de uma “tempestade neural”, originadas
no tálamo e também acreditava na relação da migrânea e da epilepsia, sendo ambas causadas
pela descarga do sistema nervoso central. Liveing ressaltou a influência do sexo, a transmissão
28
hereditária e, como Tisso, enfatizou o caráter paroxístico dos sintomas da migrânea. Descreveu
os aspectos emocionais, visuais, táteis, afásicos e intelectuais do processo.
Conhecido como o fundador da neurologia moderna, William Gowers contribuiu para
a teoria neurogênica da cefaléia proposta por Liveing. Em 1888, publicou o manual de
neurologia “Um Manual de Doenças do Sistema Nervoso” no qual enfatizava a importância
do estilo de vida saudável e defendia o uso de uma solução de nitroglicerina a 1% em álcool
combinado com outros agentes para o tratamento das cefaléias. Mais tarde, esse medicamento
ficou conhecido como a “Mistura de Gowers”. Ele também fez uso da marijuana para alívio
do ataque agudo de cefaléia e foi um dos primeiros a dividir o tratamento em profilático e
episódico. Gowers defendeu o tratamento contínuo com drogas para diminuir a freqüência dos
ataques e para tratamento dos próprios ataques. Considerava improvável que os fenômenos
relativos à aura migranosa fossem ocasionados simplesmente por alterações da vascularização
cerebral (SILBERSTEIN et al., 1998; HEADACHE AUSTRALIA, 2005).
Em 1900, Deyl sugeriu que a migrânea, incluindo a migrânea menstrual, resultava do
edema intermitente da hipófise com compressão do nervo trigeminal. Um ano depois, Spitzer,
levantou a possibilidade da cefaléia ser produzida pela freqüente obstrução do forame
interventricular, causando uma dilatação ventricular lateral.
Na década de 30, Harold Wolff, juntamente com John Graham, estudou o assunto em
laboratório, realizando muitas experiências que sustentavam a teoria vascular da cefaléia e
publicou os resultados de suas experiências, nas quais utilizava métodos criativos de aferir a
dinâmica da circulação extra e intracranial, assim como os efeitos da ergotamina injetada.
Concluíram que os escotomas ocorriam em virtude da constrição das artérias cerebrais e que a
dor advinha da combinação de efeitos de dilatação das grossas artérias encefálicas, aliadas à
ação de substâncias que, acumuladas na parede dos vasos e tecidos perivasculares, diminuíam
os limiares da dor (SILBERSTEIN et al., 1998; MARANHÃO FILHO, 2002).
29
Considerado pioneiro no tratamento das cefaléias, Grahan introduziu o corticóide para
o tratamento da cefaléia em salvas e descreveu as fáceis características do paciente com essa
doença.
Bayard Taylor Horton (1895-1980) será sempre lembrado pela descrição da artrite
temporal (doença ou síndrome de Horton) e cefaléia histamínica (cefaléia de Horton ou
síndrome da cefaléia em salvas).
Em 1941, Karl Lashley publicou o mapeamento com a cronometragem de suas
próprias auras visuais. Considerou que o padrão do escotoma seria consistente com sua teoria
de integração cortical, baseada na interferência de ondas alastrantes de excitação cortical.
Três anos mais tarde, sem conhecer a publicação de Lashley, Aristides A Pacheco
Leão, ao estudar a propagação de descargas epilépticas no córtex cerebral de coelhos,
surpreendeu-se quando observou que em determinadas condições, em lugar do aparecimento
de atividade de alta voltagem, característica das crises epilépticas, havia diminuição da
amplitude do eletrocorticograma normal. Além disso, demonstrou que essa depressão
alastrante da atividade elétrica espontânea alastrava-se para regiões vizinhas do córtex
exposto a uma velocidade de 3mm/minuto. Ele relacionou a depressão alastrante com a
migrânea.
Em 1957, Picarelli e Gaddum foram os primeiros a comprovar a existência de tipos
diferentes de receptores da serotonina (5-HT). A importância prática dessas descobertas pode
ser avaliada pelos novos e mais específicos medicamentos antimigranosos que foram surgindo
como opção terapêutica.
Nos últimos 30 anos, o norueguês Ottar Sjaastad forneceu várias contribuições no
campo das cefaléias: seu livro sobre cefaléia em salvas; em 1976, a descrição da hemicrania
paroxística crônica; em 1978, denominou SUNCT (Short-lasting Unilateral Neuralgiform
Headache with Conjunctival Injection and Tearing – Cefaléia de Curta Duração, Unilateral,
30
Neuralgiforme com Hiperemia Conjuntival e Lacrimejamento), uma forma rara de cefaléia
associada com fenômenos autonômicos; em 1982, a cefaléia cervicogênica; e, no ano
seguinte, a hemicrania contínua.
Em 1984, Moskowitz propõe um mecanismo engenhoso para explicar o processo
fisiopatológico da migrânea, denominado “teoria trigêmino-vascular”. Esta teoria associa um
fenômeno neuronal (depressão alastrante) antecedendo e promovendo uma alteração vascular
(liberação de neuropeptídeos e vasodilatação) e tem sido mais considerada e pesquisada nas
últimas duas décadas.
No Brasil o Dr. Edgard Raffaelli Jr., considerado pai da cefaléia no país, por não
conseguir obter solução médica adequada para suas crises de cefaléia, resolveu estudar o
problema em 1956. Em 1973, começou a freqüentar os congressos internacionais e, em 1978,
devido ao seu idealismo e firmeza, nascia a Sociedade Brasileira de Cefaléia (SBCe). Foi ele
o autor das primeiras monografias sobre cefaléia (1979) e enxaqueca (1980) e das expressões
“cefaléia em salvas” para o cluster headache, além das denominações migrânea, cefaliatria e
cefaliatra (MARANHÃO FILHO, 2002).
Em 1979, foi realizado o primeiro congresso da nova entidade, a época, denominada
Sociedade Brasileira de Cefaléia e Enxaqueca, com a participação de 172 médicos. Com o
transcorrer dos anos, a sociedade mudou de nome, perdendo o apêndice “Enxaqueca”.
Atualmente, os congressos se realizam uma vez ao ano, reunindo mais de 400 médicos
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALÉIA – SBCe, 2005).
No Rio de Janeiro, em 1986, Dr. Abouch V. Krymchantowski fundou a primeira
clínica específica, em atividade até os dias de hoje, para avaliar e tratar pacientes com
cefaléia.
Relatos de sinais e sintomas após traumatismos cranianos, existem desde 1705,
quando um homem cometeu suicídio arremessando a própria cabeça contra uma parede. A
31
autopsia não revelou lesão do cérebro. Desde 1800, há registros de sintomas persistentes após
lesão da cabeça sem sinais residuais e, no final deste século, o termo síndrome pós-concusão
foi introduzido para a tríade de cefaléia, tonteira e intolerância alcoólica.
Com o advento do automóvel, acidentes por veículo automotores cresceram, tornandose a causa mais comum de lesão de cabeça e pescoço. O termo lesão por chicotada foi usado
pela primeira vez num encontro de ortopedistas em 1928, em que descreveram o efeito da
flexe-extensão nos acidentes de veículo automotor. O primeiro artigo foi publicado em 1945
e, a partir daí, tem crescido o interesse pelo assunto. Observa-se o aumento do número de
pessoas envolvidas na lesão de chicotada. Apenas na década passada, os fatores sociais e
culturais têm sido acrescentados a esta condição (SOLOMON, 2005).
4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALÉIAS
Embora a cefaléia seja uma das queixas mais antigas do ser humano, – encontramos
descrições de 5.000 anos atrás –, apenas no início da década de 1930 começou o seu estudo
sistemático embora de evolução lenta.
GÖBEL (2001) assinala que até 1960 não existia uma base internacional para
classificação das cefaléias que fosse aceita e usada consistentemente de forma universal. Em
1962, o Ad-Hoc Committee of the National Institute of Health publicou uma classificação das
síndromes de cefaléia, sendo o primeiro passo em direção a um consenso terminológico na
classificação e no diagnóstico das cefaléias. Porém, o glossário de definições requeria
interpretações subjetivas e, como resultado, a classificação gerou muitas controvérsias. Desta
forma, até o final da década de 1980 a nomenclatura e a classificação das cefaléias não eram
muito uniformes. Isto resultava em dificuldades para denominar, classificar e tratar os
pacientes. Em 1982, foi fundada a SIC e em 1985, um comitê foi organizado para redigir uma
classificação internacional capaz de obter consenso.
32
Ainda segundo GÖBEL (2001), após três anos de trabalho foi publicada em 1988 a 1a
edição da classificação da SIC sobre bases de critérios claros de operacionalização. O manual
original tinha 96 páginas e descrevia um total de 165 diagnósticos diferentes. A classificação
foi traduzida para as mais importantes línguas e adotada por todas as sociedades nacionais de
cefaléia representadas na SIC, na OMS (Organização Mundial da Saúde) e na Federação
Mundial de Neurologia. KRYMCHANTOWSKI (2000) observa que a classificação
representou um marco na cefaliatria, em função do estabelecimento da uniformização de
critérios sistemáticos e bem definidos para um grupo amplo de cefaléias.
Após 15 anos, em janeiro de 2004, foi apresentada a segunda edição da classificação
(SUBCOMITÊ
DE
CLASSIFICAÇÃO
DAS
CEFALÉIAS
DA
SOCIEDADE
INTERNACIONAL DE CEFALÉIA, 2004). Os critérios listados ainda estão longe de uma
perfeição, mas permitem o diagnóstico da maior parte das cefaléias existentes
(KRYMCHANTOWSKI, 2002), de forma mais consistente e sem discrepância.
Esta classificação divide as cefaléias em 14 principais grupos e uma distinção é feita
entre 2 subgrupos: primárias e secundárias.
Cefaléias Primárias – abrange as que não mostram nenhum achado patológico quando
são usados os métodos de investigação clínica e técnica. São doenças independentes e não um
sintoma secundário, sendo elas próprias a doença e o sintoma. Correspondem a 90% das dores
de cabeça existentes. Na classificação da SIC, ocupam os grupos 1-4.
1 – Migrânea;
2 - Cefaléia do tipo tensional;
3 - Cefaléia em salvas e outras cefaléias trigêmio-autonônicas;
4 - Outras cefaléias primárias.
Cefaléias Secundárias – decorrentes ou causadas por outras doenças, inclusive
sistêmicas, englobam vários tipos diferentes de cefaléias ou podem estar atribuídas a simples
33
infecções virais de vias aéreas superiores, graves neoplasias intracranianas ou como seqüela
do TCE (Traumatismo Crânio-encefálico). É possível detectar um achado patológico que
pode estar associado com as síndromes de cefaléia através dos métodos de investigação
clínica. Correspondem a 10% das cefaléias. Na classificação da SIC, ocupam os grupos 5-14.
5 – Cefaléia atribuída a trauma cefálico e/ou cervical;
6 – Cefaléia atribuída à doença vascular craniana ou cervical;
7 – Cefaléia atribuída a transtorno intracraniano não-vascular;
8 – Cefaléia atribuída a uma substância ou a sua supressão;
9 – Cefaléia atribuída à infecção;
10 – Cefaléia atribuída a transtorno da homeostase;
11 – Cefaléia ou dor orofacial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos,
ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou outras estruturas faciais ou cranianas;
12 – Cefaléia atribuída a transtorno psiquiátrico;
13 – Neuralgias cranianas e causas centrais de dor facial;
14 – Outra cefaléia, neuralgia craniana e dor facial central ou primária.
A classificação das cefaléias da SIC 2004 tem caráter hierárquico; esse sistema
adotado na primeira edição permanece o mesmo na segunda edição. Todos os tipos de cefaléia
estão classificados em grandes grupos e cada um desses grupos é subdividido uma, duas ou
três vezes em tipo, subtipo e subforma de cefaléia (SPECIALI, 2005).
Os códigos da SIC permitem uma especificação diferenciada para uma profundidade
de 4 dígitos, possibilitanado o uso sem dificuldades e com suficiente exatidão no trabalho de
rotina clínica, pesquisa clínica e experimental, assumindo uma alta subdivisão diferenciada. A
SIC (2004) orienta que o detalhamento desejado depende do propósito. Na prática clínica
geral, apenas o primeiro e o segundo dígitos são empregados, enquanto para os cefaliatras e
nos centros terciários é apropriado que se use até o terceiro ou quarto dígitos.
34
As doenças têm sido codificadas e classificadas usando a classificação internacional
de doenças CID-10 da OMS, porque esses são os códigos utilizados na prática clínica, em
atestados e para os pedidos de exames encaminhados aos convênios médicos. A OMS tem
adotado a classificação de cefaléia da SIC e usado a CID-10 para as cefaléias e dor facial
(GÖBEL, 2001). As cefaléias estão incluídas nos códigos G43 e G44, podendo ser
encontradas no código R51, referente a 2 tipos do subgrupo secundária: cefaléia atribuída a
transtorno psiquiátrico (12) e outra cefaléia, neuralgia craniana e dor facial central e primária
(14), e no G91, referente a cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana secundária à
hidrocefalia (7.13) (ANEXO F).
4.3 EPIDEMIOLOGIA DAS CEFALÉIAS
A cefaléia é um sintoma bastante presente na população em geral e na prática clínica
(BEKKELUND & SALVESE, 2003; BIGAL et al., 2001), com uma prevalência anual
estimada de 90% nos homens e 95% nas mulheres (BIGAL et al., 2001).
SILBERSTEIN et al. (1998) descreveram que a cefaléia é um sintoma comum que
pode ter várias causas, podendo ocorrer isoladamente, como na crise de enxaqueca, ou como
parte de uma doença em desenvolvimento, como na neoplasia cerebral.
Das desordens de cefaléia primária, a cefaléia tipo-tensional (CTT) é a mais comum na
população estudada. Mas a migrânea é a mais freqüente entre os pacientes que procuram
cuidado médico para cefaléia. As formas mais prevalentes de migrânea são com e sem aura
(LIPTON & BIGAL, 2005).
RASMUSSEN (2001) cita em seu estudo sobre a epidemiologia da cefaléia que a
prevalência da migrânea varia de 3% a 35%, esta variação se dá devido à larga diferença entre
as definições e metodologias dos estudos. A prevalência da migrânea em adultos foi de 10 a
12%, sendo 6% entre os homens e 15 a 18% entre as mulheres. Na população geral, 20% dos
35
migranosos têm crises freqüentes (mais do que uma vez ao mês). A prevalência de migrânea
sem aura é de 6% e de migrânea com aura é de 4%. Em relação à cefaléia tipo tensional
(CTT), a variação é grande em freqüência, duração e severidade das crises. Em seu outro
estudo (RASMUSSEN et al., 1991), foi constatado que 59% das pessoas com CTT tinham um
dia ou menos de dor ao mês, 37% várias vezes ao mês, e 3% tinham CTT crônica (maior igual
a 180 dias ao ano).
4.3.1 Prevalência por Idade e Gênero
A migrânea constitui a segunda cefaléia primária mais prevalente, sendo mais comum
antes da puberdade em meninos do que em meninas. Com a aproximação da adolescência a
migrânea aumenta mais rapidamente nas meninas do que nos meninos. Nas mulheres, a
prevalência aumenta durante a infância e a vida adulta até aproximadamente os 40 anos; a
partir daí declina. A prevalência é alta entre os 25 e 55 anos para ambos os sexos, coincidindo
com o período de maior produtividade (LIPTON & BIGAL, 2005).
A epidemiologia da cefaléia entre os adultos jovens é de interesse particular, pois a
idade mais comum do início da migrânea é entre os 10 e 19 anos (STEWART et al., 1994). As
cefaléias incapacitantes podem interferir significativamente no desenvolvimento (profissional,
social e de saúde) desses adultos jovens.
A cefaléia tipo-tensional também é mais prevalente nas mulheres do que nos homens
e, em ambos os sexos, seu pico ocorre entre os 30 e 39 anos, declinando com o avançar da
idade (RASMUSSEN, 2001).
Uma meta-análise de 24 estudos (STEWART et al., 1995) explanou aproximadamente
70% de variação na prevalência da migrânea entre os estudos (LIPTON & BIGAL, 2005).
SOLOMON et al. (1993) citam em seu estudo sobre a qualidade de vida e o bem-estar
dos pacientes com cefaléia que o National Health Interview Survey (1991) apresentou a
36
prevalência de migrânea crônica nos Estados Unidos: 41 pessoas para cada grupo de 1.000.
Esse quadro representa um aumento de 60% na prevalência nos últimos 10 anos. Estudos
epidemiológicos mostram que a migrânea afeta 28 milhões de americanos, aproximadamente
18% de mulheres e 6% de homens (LIPTON et al., 2001), com uma alta prevalência entre
brancos (SCHER et al., 1999).
4.3.2 Prevalência por Distribuição Geográfica
Uma meta-análise de estudos de prevalência usando os critérios da SIC realizada por
SCHER et al. (1999) encontrou a prevalência da migrânea alta na América do Norte e do Sul,
intermediária na Europa, baixa na África e sempre mais baixa na Ásia (GRÁFICO 1).
KRYNCHANTOWSKI et al. (2004) citam que nos EUA a prevalência da migrânea é
menor em asiáticos-americanos (9,2% em mulheres e 4,8% em homens), intermediária em
afro-americanos (12,6% e 7,2%) e maior em caucasianos (20,4% e 8,6%).
Gráfico 1 – Prevalência Ajustada da Migrânea por Área Demográfica e Gênero
Fonte: Scher et al. (1999).
37
4.3.3 Prevalência por Situação Socioeconômica
A relação entre prevalência da migrânea e situação socioeconômica é incerta. A
migrânea parece estar associada à inteligência e classe social elevadas. BILLE (1962 e 1989),
porém, não encontrou associação entre prevalência da migrânea e inteligência em seus
estudos com crianças.
A prevalência da migrânea foi inversamente relacionada com o rendimento familiar
nos American Migraine Study I e II, nos quais se observou uma diminuição da prevalência à
medida que o rendimento familiar aumentava (LIPTON et al., 1998 e 2001). Esta relação
inversa entre migrânea e situação socioeconômica foi confirmada em outros dois estudos de
STANG et al. (1993 e 1996).
Na Europa, o estudo da GEM – Genetic Epidemiology of Migraine (LAUNER et al.,
1999), não demonstrou relação entre migrânea e classe social, apesar de um estudo inglês
recente realizado por STEINER et al. (2003), tê-lo feito. Na maioria dos estudos, nos Estados
Unidos, a migrânea parece estar inversamente relacionada com a situação socioeconômica; já
na Europa, o mesmo não ocorre (LIPTON & BIGAL, 2005).
A alta prevalência nos grupos socioeconômicos baixos pode ser uma conseqüência de
circunstâncias associadas tanto com o baixo rendimento e migrânea, como com uma dieta e
cuidados médicos pobres e estresse. Pessoas com migrânea podem ter baixos rendimentos
porque a migrânea interfere na função educacional e ocupacional, causando uma perda de
rendimentos e/ou incapacidade para o progresso de um grupo socioeconômico baixo
(LIPTON & BIGAL, 2005).
4.3.4 Cefaléia após Trauma de Cabeça
Sabe-se que nas lesões da cabeça, a cefaléia é um dos sintomas esperados e relatados
pelos pacientes. No entanto, na maioria das ocasiões, ela é de curta duração e são poucos os
38
que desenvolvem a chamada cefaléia pós-traumática (CPT) que pode durar semanas, meses
ou até anos (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004) ou a Síndrome Pós-Traumática (SPT) com
sintomas somáticos, cognitivos, emocionais e comportamentais, dentre os quais a cefaléia
(DE SOUZA et al., 1999).
A cefaléia é o sintoma mais comum após lesão da cabeça, podendo persistir durante
anos (MARGULIES, 2000). EDNA & CAPPELEN (1987) relataram 23% de incidência de
cefaléia 3-5 anos após lesão moderada de cabeça. DENKER & PERRY (1954) também
relataram que após 3 anos, apenas 15-20% de seus pacientes tinham cefaléia pós-traumática
(CPT). Entre a maioria dos pacientes, a CPT se resolve de 6 a 12 meses após a lesão,
persistindo por mais de 1 ano em 33% e por mais de 3 anos em 15% a 20% dos pacientes
(PACKARD, 1992).
CARTLIDGE & SHAW (1981) encontram 52,4% pacientes sintomáticos durante a
hospitalização, 36% na alta, 27% em 6 meses, 18% em 1 ano e 24% em 2 anos após o trauma.
Estudos mais recentes têm mostrado que 44% apresentam cefaléia após 1-3 meses e que 20%
se queixa de cefaléia 3 anos após o trauma da cabeça (KEIDEL & RAMADAN, 2000;
JACOBSON, 1995).
4.4 CUSTO SOCIOECONÔMICO DAS CEFALÉIAS E QUALIDADE DE VIDA
A cefaléia constitui um grande problema de saúde pública, devido à sua freqüência e
morbidade associada, resultando em perda da produtividade, limitação da atividade e
deterioração da qualidade de vida (DELEU et al., 2002), além do significante custo do serviço
médico (BIGAL et al., 2000).
A migrânea e a cefaléia tipo-tensional estão associadas a um prejuízo significativo
tanto nas atividades relativas ao trabalho quanto nas sociais (WALDIE & POULTON, 2002).
A migrânea é o grupo das cefaléias mais pesquisado, sendo uma causa importante da falta ao
39
trabalho ou à escola e da diminuição da produtividade, tornando-se uma possível causa da
redução educacional e realização profissional (SANTANELLO et al., 2002).
A medida do impacto da migrânea na sociedade é avaliada tanto pelos custos diretos
com o atendimento médico e o uso de medicamentos quanto pelos custos indiretos
representados pela queda da produtividade devido ao absenteísmo e à redução do desempenho
no trabalho (LIPTON & BIGAL, 2005). Vários estudos têm demonstrado que os custos
indiretos das doenças excedem em muito os custos diretos (LIPTON et al., 1997).
O estudo de OSTERHAUS et al. (1992) mostra que o custo anual nos EUA
determinado pela falta ao trabalho ou diminuição da produtividade dos migranosos é de 5 a 17
milhões de dólares por ano. STEWART et al. (2003) estimaram, estudando a força-tarefa
americana, que a perda do tempo de produtividade devido à cefaléia, de todos os tipos, não
apenas a migrânea, é de US$ 19,6 bilhões por ano, correspondendo a 31,9% num total de US$
61,3 bilhões, incluindo as dores referentes a cefaléia, artrite, coluna e outras dores
musculoesqueléticas não específicas. O estudo de HU et al. (1999) estimou que a perda de
dias de trabalho e a diminuição da produtividade devido à migrânea custam ao empregador
americano U$ 13 bilhões por ano. Uma investigação recente determinou que a dor de cabeça
onera à Comunidade Européia em 20 bilhões de euros por ano (GÖBEL et al., 2000).
No Brasil, BIGAL et al. (2000) avaliaram os custos hospitalares para atendimento,
investigação e tratamento clínico de pacientes com cefaléias agudas numa Unidade de
Emergência pública, estimando em 76 mil dólares os valores despendidos durante o ano
(BAREA & FORCELINI, 2002).
A gravidade das perdas financeiras e da qualidade de vida causadas pela cefaléia nos
trabalhadores é mostrada no estudo de STEWART et al. (1998) nos Estados Unidos.
Cinqüenta por cento das mulheres migranosas perdem três dias ou mais por ano e 31%
perdem seis dias ou mais. Enquanto 30% dos homens migranosos perdem três dias ou mais e
40
17% perdem seis dias ou mais. Muitos migranosos vão trabalhar mesmo estando em crise de
cefaléia e, neste caso, apresentam queda da produtividade (FERNANDES et al., 2002).
O American Migraine Study II (LIPTON et al., 2001) constatou que 92% das mulheres
e 89% dos homens com migrânea grave tinham várias deficiências relacionadas à cefaléia, e
que cerca da metade era severamente incapaz ou buscava repouso. Em relação à incapacidade
causada pelo ataque, muitos pacientes com migrânea vivem com medo, sabendo que a
qualquer momento um ataque poderá ameaçar a sua capacidade no trabalho, os cuidados
consigo próprio ou com seus familiares ou encontros sociais. A grande evidência indica que a
migrânea reduz a qualidade de vida relacionada à saúde.
Os episódios de migrânea não apenas prejudicam a capacidade individual funcional
durante um episódio, como também podem reduzir a qualidade de vida entre os episódios. A
qualidade de vida reflete uma avaliação individual do bem-estar geral e posição na vida
dentro do contexto de cultura, sistema de valores, crença e negócios.
A OMS define conseqüências funcionais de uma doença em termos do prejuízo,
limitações das atividades funcionais e impedimento. Impedimento refere-se ao efeito primário
da doença e inclui dor e manifestações físicas ou mentais diversas. Limitações das atividades
funcionais são definidas como os efeitos da doença em outras áreas incluindo tarefas
domésticas e recreativas, social, familiar e outras atividades (LIPTON & BIGAL, 2005).
KRYMCHANTOWSKI et al. (2004) citam um resumo relativa à migrânea, qualidade
de vida e interferência sobre as atividades cotidianas:
•
Migranosos têm qualidade de vida pior do que os não migranosos;
•
A qualidade de vida dos migranosos é afetada não apenas durante os ataques, mas
também entre os ataques;
41
•
A maior parte dos migranosos teve seu rendimento afetado ou perdeu dia(s) de
trabalho, estudo ou lazer nos últimos meses;
•
O impedimento (disabilidade) da migrânea é severo. Cerca de 50% dos portadores
são quantificados como tendo impedimento moderado ou intenso pela maioria dos
estudos;
•
O impacto da migrânea é cumulativo ao longo da vida, aumentando com o passar
dos anos;
•
Migrânea está na lista das 20 doenças mais disabilitantes, de acordo com pesquisa
sobre o impacto global das doenças, conduzida pela OMS (1997);
•
O tratamento correto melhora muito a qualidade de vida e diminui
substancialmente a disabilidade.
Assim, são claras as conseqüências negativas ocasionadas pela migrânea, que pode
ocasionar severas implicações sobre a qualidade de vida e a disabilidade, impondo um
considerável fardo ao paciente e à sociedade.
Muitos estudos examinando o efeito da cefaléia sobre a produtividade no trabalho têm
registrado perda de dias de trabalho, mas não a redução como resultado da freqüência ao
trabalho apesar da cefaléia. Poucos estudos têm focado sobre os indivíduos que continuam
trabalhando mesmo com dor (RAAK & RAAK, 2003).
Existem migranosos que, mesmo na ausência de dor intensa, experimentam alto nível
de capacidade reduzida. Outros mantêm todas as suas capacidades mesmo na presença de dor
intensa. É certo que a deficiência relativa à cefaléia varia consideravelmente entre as pessoas;
muitas apresentam cefaléias de baixo impacto com pouca deficiência, enquanto outras são
acometidas de graves ataques incapacitantes. Um número substancial de pessoas que não
42
recebe tratamento para migrânea, experimenta um alto nível de dor e deficiência (STEWART
et al., 1996).
Um estudo canadense demonstrou que 77% dos migranosos têm limitações da
atividade, 50% interrompem suas atividades e 30% precisam descansar durante a crise.
RASMUSSEN et al. (1992) estimaram que o total de dias de trabalho perdidos por ano devido
à migrânea foi de 270 dias por grupo de 1.000 pessoas, enquanto em função da cefaléia tipotensional esse total foi de 820 dias por grupo de 1.000 pessoas.
Em relação à CTT, estudo citado por KRYMCHANTOWSKI et al. (2004) demonstrou
que a CTTE respondeu por 19% do absenteísmo e 22% da redução na eficácia da atividade.
BIGAL et al. (2001) mostraram que os estudantes universitários tiveram 24% de queda em
sua performance quando em crise de CTTE.
MARCUS (2003) demonstrou que a cefaléia crônica resultante de lesão de cabeça é
mais freqüente do que a cefaléia não-traumática, com uma freqüência (mais de 4 dias por
semana) descrita por 84% comparados com 60%, respectivamente, estando a cefaléia
traumática muito mais associada com uma maior disabilidade e redução do funcionamento
físico.
4.5 QUADRO CLÍNICO DAS CEFALÉIAS
Cefaléia é toda dor que acomete a região da cabeça, que vai desde os olhos até o final
da implantação do cabelo, na região da nuca. Cerca de 90% da população teve ou vai ter
algum tipo de cefaléia no decorrer de sua vida e cerca de 40% têm cefaléia com certa
regularidade. Cefaléias primárias são doenças nas quais a dor de cabeça é o sintoma que mais
chama a atenção e são diagnosticadas apenas pelas suas características clínicas (SPECIALI,
2003).
43
Vamos mencionar neste capítulo a apresentação clínica das cefaléias primárias mais
freqüentes como: Migrânea; Cefaléia do Tipo Tensional; Cefaléia em Salvas; Cefaléia
Crônica Diária; e, da cefaléia secundária, Cefaléia Pós-traumática que apresenta uma estreita
relação temporal com um trauma conhecido, podendo ser a queixa de muitos motoristas, alvo
da nossa pesquisa. A migrânea e a cefaléia do tipo tensional são as mais comuns, e também as
mais estudadas e citadas na literatura.
4.5.1 Migrânea
A migrânea é uma cefaléia primária comum e incapacitante. Pode ser definida como
uma reação neurovascular anormal que ocorre num organismo geneticamente vulnerável e
que se exterioriza, clinicamente, por episódios recorrentes de cefaléia e manifestações
associadas que geralmente dependem de fatores desencadeantes (SANVITO, 2002).
A migrânea é decorrência de uma disfunção bioquímica cerebral herdada. Em 75%
dos migranosos, pode-se detectar um consangüíneo bem próximo que possui também a
migrânea (RAFFAELLI JUNIOR & MARTINS, 1999). O histórico familiar, muitas vezes,
constitui um pré-requisito para o diagnóstico. A freqüência do quadro em algumas famílias
sugere uma transmissão do tipo dominante, tendo uma maior freqüência em gêmeos idênticos
do que em gêmeos fraternos.
Costuma ter início na infância, adolescência ou nos primórdios da fase adulta. Como
já vimos, o pico de prevalência se dá entre os 30 e 45 anos, com ligeira predominância nos
meninos durante o período pré-pubertário, entretanto, após este período há uma nítida
predominância no sexo feminino. A migrânea é altamente prevalente e estima-se que atinja
12% da população, sendo mais freqüente na mulher numa razão de 3:1 (SANVITO, 2002).
Segundo a classificação da SIC (2004), a migrânea pode ser dividida em 2 subtipos
principais: a Migrânea sem Aura que é uma síndrome clínica caracterizada por cefaléia com
44
características específicas e sintomas associados; a Migrânea com Aura que é primariamente
caracterizada pelos sintomas neurológicos focais que normalmente precedem ou, às vezes,
acompanham a cefaléia.
Alguns pacientes também experimentam uma fase premonitória, antecedendo em
horas ou dias o aparecimento da cefaléia, e uma fase de resolução da cefaléia. Os sintomas
premonitórios e de resolução incluem hiperatividade, hipoatividade, depressão, apetite
específico para determinados alimentos, bocejos repetidos e outros sintomas inespecíficos
relatados por alguns pacientes (SCCSIC, 2004).
As crises típicas de migrânea manifestam-se clinicamente por dor de cabeça moderada
ou intensa (incapacitando às atividades habituais), de localização frontotemporal unilateral ou
bilateral (podendo ser hemicrania), em caráter pulsátil e/ou pressão, geralmente associada à
náusea (podendo estar associada a vômitos), e fobias ou intolerância a luzes fortes e/ou a
ruídos intensos e/ou a odores mais marcantes. A dor pode durar de 4 a 72 horas quando não
tratada ou tratada de forma ineficaz (KRYNCHANTOWSKI et al., 2004).
Podemos, então, dividir a crise da migrânea em 3 ou 5 fases:
1ª – Pródomo – Precede ao aparecimento da dor em algumas horas ou até em um dia.
Nessa fase, o paciente fica mais irritado, com raciocínio e memorização mais lentos, tem fome
de doces e o sono é agitado e com pesadelos.
2ª – Aura – Sintomas visuais que ocorrem em cerca de 15% das crises. São transtornos
recorrentes que se manifestam em forma de crises de sintomas neurológicos focais reversíveis
que geralmente se desenvolvem gradualmente de cinco a 20 minutos e que duram menos de
60 minutos. Acontece imediatamente antes ou no início da cefaléia da migrânea. A aura visual
é a mais comum, podendo se apresentar como flashes de luz, como falhas no campo visual ou
imagens brilhantes em ziguezague (SBCe, 2005).
45
3ª – Dor – Cefaléia intensa, latejante/pulsátil, piorando com as atividades do dia-a-dia,
sensibilidade à luz e aos sons, durando de 4 a 72 horas.
4ª – Náusea – E/ou vômitos aparecem no final da fase de dor. Muitos pacientes referem
que, vomitando, a dor passa. Isto ocorre porque os vômitos indicam o final da fase de dor.
5ª – Exaustão – Última fase. Os pacientes ficam horas ou até dias com uma sensação
de cansaço, fraqueza, necessitando de um período de repouso para seu completo
restabelecimento (SPECIALI, 2003).
Vários fatores são responsabilizados pelo início da crise de migrânea, sendo
deflagradores do processo cerebral. Os desencadeantes mais comuns são:
•
Alimentos: queijos amarelos, chocolate, banana d’água, frutas cítricas, frituras,
carne suína;
•
Bebidas: principalmente fermentadas (vinho tinto, cerveja, chope);
•
Exposição ao sol;
•
Luzes, ruídos e odores intensos;
•
Mudança nos hábitos de sono;
•
Perda ou atraso de uma refeição;
•
Período menstrual;
•
Grande estresse ou aborrecimento;
•
Estresse físico (doença, cirurgia, infecção) (KRYMCHANTOWSKI, 2001).
4.5.2 Cefaléia do Tipo Tensional
A cefaléia do tipo tensional (CTT) é, em sua forma episódica, a modalidade mais
freqüente de cefaléia primária, com uma prevalência anual estimada entre 30% e 80%.
Estudos dinamarqueses mostram prevalência anual de 63% em homens e 86% em mulheres.
O início habitual situa-se entre os 20-40 anos e a história familiar de cefaléia foi referida por
46
apenas 29% entre os examinados (migrânea 69%). A forma episódica é bem mais freqüente
do que a crônica, o que deve explicar por que apenas 16% dos pacientes de cefaléia tipo
tensional procurem o médico.
Já foi conhecida como cefaléia tensional e já havia sido cognominada pelo comitê de
Bethesda, em 1962, como cefaléia de contração muscular, apresentando: dores ou sensação de
aperto, pressão ou constrição e amplamente variáveis na freqüência, intensidade e duração,
comumente suboccipitais (RAFFAELLI JUNIOR & DA SILVA, 2002).
A classificação da SIC (2004) divide as cefaléias do tipo tensional em três tipos de
acordo com a freqüência dos ataques: episódica infreqüente (menos que um ataque por mês
ou 12 por ano); episódica freqüente (de um a 14 ataques por mês); e crônica (15 ou mais
ataques por mês). As características clínicas dos três grupos de CTT são exatamente as
mesmas e são exemplificadas pela forma episódica (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004).
A cefaléia do tipo tensional episódica (CTTE) apresenta como critérios diagnósticos
pelo menos dez crises ocorrendo em menos de um dia por mês em média (< 12 dias por ano),
com duração de 30 minutos a 7 dias e com pelo menos duas das seguintes características:
localização bilateral; caráter em pressão ou aperto; intensidade de leve a moderada; não
agravada por atividade física rotineira como caminhar ou subir escadas; ausência de náuseas
ou vômitos. A fotofobia ou fonofobia podem não estar presentes ou haver manifestação de
apenas uma delas (SIC, 2004). Menos de 10% dos pacientes podem apresentar dor pulsátil e
até 2% podem referir dor unilateral, mas sempre com intensidade leve e não agravada por
esforços físicos rotineiros (IVERSEN et al., 1990).
A cefaléia do tipo tensional crônica (CTTC) difere da episódica apenas pela freqüência
de dor, que deve ser igual ou superior a 15 dias por mês, em média, por mais de três meses
(maior ou igual a 180 dias por ano), podendo durar horas ou ser contínua.
47
As cefaléias do tipo tensional episódica e crônica ainda podem ser subdivididas, de
acordo com a classificação atual de cefaléias, nos subgrupos de cefaléia associada ou não a
distúrbio dos músculos pericranianos. Essa divisão é baseada na presença do aumento da
sensibilidade dolorosa desses músculos demonstrada pela palpação manual ou pelo uso do
algômetro de pressão, ou ainda na presença do aumento dos limites eletromiográficos em
repouso ou durante testes fisiológicos (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). O dolorimento
pericraniano aumenta com a intensidade e a freqüência da cefaléia e acentua-se ainda mais
durante a crise.
Os pacientes apresentam freqüentemente associações com depressão e ansiedade.
Essas podem ser conseqüência ou participarem como desencadeantes, principalmente nos
casos em que há um aumento da intensidade das crises de cefaléia (ZUKERMAN, 2002).
4.5.3 Cefaléias em Salvas
Das cefaléias primárias, a modalidade conhecida como cefaléia em salvas (CS) é a que
acarreta maior sofrimento para os pacientes, evoluindo com características bem peculiares:
dor excruciante e de curta duração; presença de distúrbios autonômicos; ritmicidade
circadiana das crises e sazonalidade das salvas.
Tulpe, em 1641, relatou o caso de um homem que na mesma hora do dia e na mesma
época do ano tinha episódios de cefaléia de grande intensidade e duração menor que duas
horas, porém faltavam alguns elementos na sua descrição. Em 1745, Van Swieten’s fazia
relato de um quadro clínico de um paciente masculino com dor periorbitária unilateral e
sempre à esquerda, de grande intensidade, evoluindo por crise de poucas horas de duração e
que ocorriam na mesma hora do dia, tendo como sintomas paralelos hiperemia conjuntival e
lacrimejamento (DA SILVA, 2002).
48
A cefaléia em salvas varia principalmente de acordo com a latitude onde o estudo foi
realizado. A prevalência da CS é tanto maior quanto mais distante do Equador (climas
temperados ou subpolares). Sendo assim, a prevalência pode variar de baixas, 0,04% a altas,
4%.
O predomínio da CS ocorre em homens, variando de 3,5:1 até 5:1. A idade média de
aparecimento ocorre dos 27 aos 31 anos, embora casos na infância possam ocorrer. Diversos
estudos documentam maior prevalência em afro-americanos (KRYMCHANTOWSKI et al.,
2004).
A denominação de cefaléia em salvas foi dada pelo Dr. Edgard Raffaelli Junior,
conforme citado no capítulo sobre a História das Cefaléias (DA SILVA, 2002).
A cefaléia em salvas caracteriza-se, segundo a classificação da SIC (2004), por crises
de dor forte, estritamente unilateral, na região orbital, supra-orbital, temporal ou em qualquer
combinação dessas áreas. Sua duração é de 15 a 180 minutos, ocorrendo desde uma vez a
cada dois dias até oito vezes por dia. As crises associam-se a um ou mais dos seguintes sinais
e sintomas locais de disfunção autonômica: hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento;
congestão nasal e/ou rinorréia; edema palpebral, sudorese frontal e facial; miose e/ou ptose,
todos ipsilaterais à dor.
Os sinais e sintomas tendem a ocorrer regularmente, dia após dia, com uma
periodicidade aparentemente relacionada ao ciclo de sono-vigília. Os ataques de dor ocorrem
em surtos, chamados de períodos ativos (na CS episódica) que duram de uma semana a alguns
meses. Os períodos ativos são separados por remissões clínicas de no mínimo duas semanas e
a causa da ritmicidade circadiana e circanual não é reconhecida. Aproximadamente de 10% a
15% dos pacientes sofrem cronicamente sem períodos de remissão (CS crônica)
(KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). Embora pouco freqüente, a dor da cefaléia em salvas
49
causa tanto desespero aos seus sofredores que são encontradas atitudes suicidas e de projeção
da cabeça contra a parede durante as crises de dor (KRYMCHANTOWSKI, 2001).
Em crianças, as crises têm duração bem menor, de 3-4 dias a 3-4 semanas, porém o
aparecimento nessa faixa etária merece investigação. Segundo alguns autores, a cefaléia em
salvas é uma doença de transmissão autossômica dominante em algumas famílias.
As crises de dor podem começar com um simples desconforto na região do olho,
fronte ou têmpora. Em poucos minutos, esses sintomas tornam-se intensos e assumem um
caráter de dor propriamente dita. Em menos de 20 minutos, a dor se torna tão intensa que
chega a ser intolerável. O caráter é geralmente de pressão, queimação ou de um objeto fino e
pontiagudo que penetra o olho. A dor é estritamente unilateral e pode se irradiar, a partir da
região periocular, para fronte, têmpora e região parietal (síndrome superior) ou para região
infra-orbitária acometendo malar, mandíbula e até pescoço e nuca ipsilaterais (síndrome
inferior).
A freqüência das crises é bastante variável. Em um mesmo período ativo o paciente
pode ter crises que se apresentam de formas diferentes quanto à intensidade, à duração e à
freqüência. A maioria dos pacientes refere crises leves e/ou infreqüentes na fase inicial do
período ativo. A partir de alguns dias a dor se torna mais intensa, freqüente e evolui até o fim
da crise. Durante as crises, muitos pacientes deflagram crises de cefaléia quando da ingestão
de álcool, do contato com cheiros ativos de solventes químicos e quando dormem à tarde.
Fora
dos
períodos
ativos,
estes
(KRYMCHANTOWSKI et al., 2004).
fatores
não
precipitam
os
episódios
de
dor
50
4.5.4 Cefaléia Crônica Diária
O termo cefaléia crônica diária (CCD) ainda não foi aceito pela Sociedade
Internacional de Cefaléia, porém engloba pacientes que apresentam cefaléias bastante
freqüentes (RABELLO, 2002).
Tipos diferentes de cefaléia são definidos sob a denominação de cefaléia crônica
diária, constituindo o grupo das primárias de acordo com SILBERSTEIN & LIPTON (1997):
migrânea crônica; cefaléia do tipo tensional crônica; cefaléia persistente diária de início súbito
e hemicrania contínua. SPIERINGS et al., (1998a) definiram a CCD como uma cefaléia ou
cefaléias ocorrendo pelo menos cinco dias por semana por pelo menos um ano. MATHEW et
al. (1987) criaram o termo migrânea transformada e chamaram a atenção para aqueles
pacientes que desenvolvem cefaléia diária ou quase diária a partir de uma migrânea episódica.
As cefaléias crônicas diárias e a migrânea crônica, não eram classificadas e definidas
de forma prática e adequada na classificação das cefaléias de 1988 (1a edição). A
classificação da SIC, lançada em 2004, engloba os quatro tipos de CCD. A migrânea crônica
está classificada como uma complicação da migrânea episódica; a cefaléia tipo tensional
crônica permanece no grupo das cefaléias do tipo tensional; a cefaléia nova diária de início
súbito e a hemicrania contínua passam a ser incluídas no grupo 4 da classificação.
Os pacientes com CCD comumente utilizam analgésicos em excesso, na maioria das
vezes, os derivados da ergotamina, antiinflamatórios não-esteroidais (AINES) e triptanos. O
consumo excessivo de medicações por pacientes com migrânea freqüentemente leva ao
fenômeno de rebote, perpetuando a cefaléia de apresentação diária ou quase diária e levando
também,
ao
desenvolvimento
de
dependência
de
medicações
sintomáticas
(KRYMCHANTOWSKI et al., 2004).
A cefaléia por uso excessivo de medicação é uma interação entre um agente
terapêutico usado de maneira excessiva e um paciente suscetível. A cefaléia tipo tensional
51
crônica está menos associada ao uso excessivo de medicação. Os pacientes com uma cefaléia
primária pré-existente que desenvolvem um novo tipo de cefaléia ou cuja migrânea ou
cefaléia do tipo tensional piora notavelmente durante o uso excessivo de medicamento devem
receber concomitantemente o diagnóstico da cefaléia primária pré-existente e o de cefaléia
por uso excessivo de medicação. Segundo os critérios diagnósticos da classificação, a cefaléia
desaparece ou reassume o seu padrão prévio dentro de dois meses após interrupção da
medicação (SCCSIC, 2004).
A migrânea crônica está incluída no item da classificação “complicações da migrânea”
e é descrita, na maioria dos casos, por iniciar-se como migrânea sem aura, sendo a
cronicidade uma complicação da migrânea episódica. À medida que a cronicidade se
desenvolve, a cefaléia tende a perder sua apresentação episódica. Os critérios diagnósticos da
migrânea crônica atribuem uma duração de 15 dias ou mais por mês durante mais de três
meses, na ausência de uso excessivo de medicação.
A cefaléia do tipo tensional crônica é um transtorno que evolui da cefaléia do tipo
tensional episódica, com crises diárias ou muito freqüentes de cefaléia que duram de minutos
a dias. A dor é tipicamente de localização bilateral, com caráter em pressão ou aperto,
apresentando intensidade de fraca a moderada, e não piora com atividade física rotineira; pode
apresentar sintomas como náusea leve, fotofobia ou fonofobia. Devemos lembrar que os
pacientes com cefaléia do tipo tensional crônica podem desenvolver características
semelhantes às da migrânea, quando apresentam dor intensa.
A hemicrania contínua, outro tipo de CCD, ocorre por mais de 3 meses de forma
persistente sem intervalos livres de dor, estritamente unilateral (sem mudança de lado), de
intensidade moderada, porém com exacerbações para dor intensa. Durante as exacerbações,
há pelo menos uma das características autonômicas que ocorrem ipsilaterais à dor: hiperemia
52
conjuntival e/ou lacrimejamento; congestão nasal e/ou rinorréia; ptose e/ou miose. Uma
característica importante da hemicrania contínua é a de ser responsiva à indometacina.
A cefaléia crônica de início súbito ou cefaléia persistente e diária desde o início
(CPDI) é diária e sem remissão desde o início ou desde no máximo três dias após o início. A
dor é tipicamente bilateral, de caráter em pressão ou aperto, de intensidade fraca a moderada,
não se agravando com atividades físicas rotineiras. Pode acompanhar de fotofobia, fonofobia
ou náusea leve e apresenta características em comum com a cefaléia do tipo tensional. Porém
a CPDI é única pelo fato de ser diária e sem remissão desde o momento do surgimento, ou
quase desde esse momento, tipicamente em pessoas sem uma história prévia de cefaléia. A
lembrança do início da dor (dia, mês e ano) é necessária para o diagnóstico.
Estudos populacionais mostram que as CCDs são relativamente freqüentes na
população em geral com prevalência de 4%. Os mesmos estudos mostram que 0,5% a 1% da
população tem cefaléia virtualmente diária e severa, tendo a cefaléia do tipo tensional crônica
como a CCD mais freqüente. A migrânea crônica é a CCD que mais interfere na qualidade de
vida e no rendimento no trabalho (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004).
4.5.5 Cefaléia Pós-Traumática
A Classificação Internacional das Cefaléias de 2004 (2a edição), como também a de
1988, reservou o capítulo 5 para a cefaléia atribuída a trauma cefálico e/ou cervical. Diferente
da 1a edição, que classificava de forma genérica a cefaléia pós-traumática, englobando
quadros com patogenia e manifestações clínicas diferentes (DE SOUZA et al., 1999), a 2a
edição conseguiu com suas novas subdivisões, caracterizar melhor toda cefaléia que apresenta
uma estreita relação entre o trauma na cabeça, pescoço ou cérebro e o surgimento da dor.
Pertencem a este grupo as cefaléias pós-traumáticas (CPT). Considera-se CPT,
cefaléia secundária, no caso, ao trauma, aquela que se inicia dentro de 7 dias após o trauma
53
cefálico ou após a recuperação da consciência que segue ao trauma cefálico. As CPT podem
ser divididas em agudas e crônicas, ambas podem estar atribuídas à lesão cefálica moderada
ou grave e à lesão cefálica leve. Consideram-se agudas aquelas que desaparecem dentro de
três meses após o trauma cefálico ou as que persistem, embora não se tenha passado os três
meses do trauma cefálico.
Encontramos, ainda, neste grupo, as cefaléias atribuídas à lesão em chicotada; as
atribuídas a outro trauma cefálico e/ou cervical; e as pós-craniotomia (estas seguem o mesmo
padrão para a subdivisão em agudas e crônicas); e as cefaléias atribuídas a hematoma
intracraniano traumático. Essas se subdividem em atribuídas a hematoma epidural, com início
em minutos ou até 24 horas após o desenvolvimento do hematoma, e a atribuída a hematoma
subdural, com início da cefaléia de 24 a 72 horas após o desenvolvimento do hematoma.
A CPT tem causado controvérsia há muitos anos. Entretanto, as opiniões diferem
quando as considerações são a patogênese, o curso natural e o papel dos litígios (BAADRUP
& JENSEN, 2004). A cefaléia pode ocorrer em pacientes, mesmo após lesão moderada do
cérebro. Contudo, não existe, aparentemente, uma relação entre a severidade do trauma e a
cefaléia (BEKKELUND & SALVESEN, 2003). CARTLIDGE & SHAW (1981), assim como
BRENNER et al. (1944) observaram pacientes que apresentam lesão grave da cabeça e
tendem a ter uma menor incidência de CPT, quando comparados com pacientes com menor
lesão da cabeça. Outros estudos não têm encontrado a cefaléia como o sintoma mais comum
na lesão leve da cabeça, quando comparados com lesão grave da cabeça (COUCH &
BEARSS, 2001).
A apresentação clínica da CPT é variada, indo desde as apresentações típicas das
cefaléias primárias como a migrânea, à cefaléia tipo tensional e à cefaléia em salvas
(KRYMCHANTOWSKI et al., 2004) até manifestar-se como parte da síndrome póstraumática (SPT), um conjunto de sintomas somáticos, cognitivos, emocionais e
54
comportamentais (DE SOUZA et al., 1999). O déficit da função cognitiva envolve,
principalmente, o processo de aprendizagem rápido e a memória de curto prazo. Os pacientes
que apresentam SPT não mostram sinais objetivos ou evidências funcional ou morfológica,
envolvendo a trajetória neural e estruturas do sistema nervoso central, pela tomografia
computadorizada do crânio e ressonância magnética (ALBERTI et al., 2001).
Relatos a respeito da SPT somente se tornaram freqüentes a partir do século XIX,
graças à Revolução Industrial e ao desenvolvimento de meios de transporte mais velozes,
ocasionando maior número de acidentes ocupacionais e de trânsito (DE SOUZA, 1995).
A SPT tem início imediatamente após ou passadas algumas semanas do TCE (Trauma
Crânio-encefálico), que pode ser dos mais variados níveis de gravidade. Não é necessário
haver perda de consciência para seu desenvolvimento (FLEMING & DE SOUZA, 2002).
TATROW et al. (2003) divide os sintomas da SPT em três áreas: somática,
psicológica e cognitiva. Os sintomas somáticos incluem tonteira, fadiga, náusea, fraqueza,
insônia e distúrbios visuais. Náusea, vômitos e tonteira são os sintomas mais comuns na fase
inicial.
Dificuldades psicológicas podem se desenvolver após lesão da cabeça, especialmente
nos casos em que a cefaléia é um sintoma associado. O estudo inclui a personalidade, embora
esta não esteja envolvida com a etiologia da CPT, afetando a adaptação à lesão e ao resultado
do tratamento. Inclui, também, a desordem do estresse pós-traumático (DEPT) e o afeto
negativo. Um considerável número de sintomas da DEPT coincide com os encontrados na
SPT como irritabilidade, insônia, ansiedade e dificuldades de memória. Um estudo de
HICKLING et al. (1992) mostra uma diminuição da cefaléia na população quando os
sintomas da DEPT são avaliados e tratados. Ansiedade, depressão e irritação são também
comuns na CPT e quando comparados com outras dores da população, ou grupos de controle,
55
os portadores de CPT apresentam um nível significativamente alto destes transtornos
psicológicos.
Embora difícil de ser detectado, o distúrbio cognitivo é relatado em pacientes que
apresentam experiência de trauma da cabeça. Em geral, encontramos déficits incluindo
redução da capacidade de processamento da informação, prejuízo da habilidade de solucionar
problemas, cansaço mental e distúrbio de longo prazo e memória verbal. No estudo de
PACKARD et al. (1996), 65 dos 100 pacientes apresentavam dificuldades cognitivas, sendo
as mais comuns os problemas ou déficits de memória e concentração. Muitos achados acerca
dos estudos que examinam a função cognitiva são inconsistentes e podem estar relacionados
com as diferenças de medida. BRANCA et al. (1996) encontraram várias diferenças nos itens
da medida cognitiva subjetiva quando comparada com a objetiva. A presença da ansiedade ou
depressão também pode promover uma complicação nos achados desta disfunção.
56
5 RESULTADOS
5.1 DO ESTUDO DO PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
5.1.1 Transporte Coletivo Urbano: Organização e Normas, Responsabilidade Jurídica
e Acidentes de Trânsito
A Superintendência Municipal de Transportes Urbanos – SMTU (2005) tem como
missão gerir, planejar, controlar e fiscalizar os modos de transporte do município do Rio de
Janeiro – individuais (táxis) ou coletivos (ônibus), escolar, a frete (vans legalizadas) e
complementar (kombis). Vinculada à Secretaria Municipal de Transportes, cumpre o papel de
garantir o deslocamento dos usuários na cidade. Uma das tarefas mais importantes da SMTU
é resguardar, técnica e operacionalmente, o direito sagrado de ir e vir dos três milhões e meio
de passageiros que se deslocam de um ponto a outro do município, por meio de um sistema
composto por 49 empresas, 418 linhas e uma frota de 7.306 ônibus. Essa frota percorre uma
média de 3,4 milhões de quilômetros diários pelo território municipal. No Rio de Janeiro, a
modalidade ônibus é a mais utilizada, sendo uma das principais propulsoras para o
funcionamento da cidade.
Além da sede, a estrutura organizacional da SMTU é distribuída em nove Áreas de
Planejamento – AP’s – situadas estrategicamente no município. Cada área possui uma
Coordenadoria Regional de Transportes, que atua como uma micro-SMTU, de forma a
permitir uma atuação eficaz sobre os problemas e demandas das comunidades de cada região,
como pedidos para o aumento da oferta de ônibus em determinadas áreas, ampliação de
itinerários, implantação de novos pontos de ônibus, exigência de conforto, segurança e
pontualidade das linhas das empresas operadoras.
57
A AP de cada região deve funcionar como um centro receptor pró-ativo, fornecendo
respostas, dentro de sua competência, às questões geradas pelas comunidades. Para promover
essa interação com a população usuária de cada bairro e garantir um atendimento mais eficaz,
as AP’s têm de aplicar com rigor o Código Disciplinar de Transporte de Passageiros do
Município, que prevê sanções tanto para as empresas como para os motoristas e cobradores
que transgridem as normas pertinentes ao bom desempenho do serviço.
Segundo a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio
de Janeiro – FETRANSPOR (2005), que hoje congrega 10 sindicatos, o número de empresas
na região metropolitana do Rio de Janeiro é de 138, sendo 105 municipais e 65
intermunicipais, com uma frota de 10.133 ônibus do tipo municipal, 4.936 do tipo
intermunicipal e 1.332 microônibus. A quantidade de linhas na região metropolitana é de
1.298, sendo 724 de categoria municipal, estando 441 situadas na capital (TABELAS 1e 2).
Tabela 1 – Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2005
Transporte Regular de Passageiros
Total
Municipal
Intermunicipal
Dentro da região metropolitana do RJ
138
105
65
Fora da região metropolitana do RJ
94
62
55
232
167
120
Total de Empresas de Transporte Regular
Total de Empresas de Fretamento
56
Fonte: FETRANSPOR, 2005
Tabela 2 – Linhas de Coletivos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2005
QUANTIDADE DE LINHAS
TOTAL
MUNICIPAL
INTERMUNICIPAL
DENTRO DA REGIÃO METROPOLITANA
DO RIO DE JANEIRO
1.298
724
565
FORA DA REGIÃO METROPOLITANA DO
RIO DE JANEIRO
1.047
523
524
TOTAL
2.336
1.247
1.089
441
441
CAPITAL
Fonte: FETRANSPOR, 2005
58
O sistema gera 380.000 empregos, sendo 95.000 diretos. Considerando o índice de 2,5
familiares por empregado, estima-se que um milhão de pessoas dependam economicamente,
direta ou indiretamente, do trabalho proporcionado pelo segmento do transporte coletivo
urbano.
Em 2000, o número de passageiros transportados pelo sistema de ônibus dentro da
região metropolitana do Rio de Janeiro foi de 6,2 milhões por dia. Esse número tem
diminuído, passando para 4,5 milhões em 2005, o que representa uma perda de 27,4%. O
mesmo se observa fora da região metropolitana, que experimentou redução de 771 mil
passageiros em 2000 para 562 mil em 2005.
De acordo com a Lei Estadual no 3339/99, os beneficiários das gratuidades no Rio de
Janeiro são os estudantes, os idosos e os deficientes, totalizando 3,8 milhões de habitantes.
Em 2001, a lei foi estendida para os diabéticos e hipertensos, somando 2,3 milhões de
beneficiários. O total da população beneficiada é de cerca de 6,1milhões, correspondendo a
41,2% da população total do Estado.
O Estatuto do Idoso – Lei 10741/03 – veio reforçar os direitos da terceira idade com o
intuito de proteção. O estatuto define que aos maiores de 65 anos fica assegurada a gratuidade
nos transportes coletivos públicos, exceto nos serviços especiais e seletivos (por exemplo,
micro rodoviários e fretamento).
Segundo dados do Disque Denúncia/RJ, das 1.216 reclamações feitas pelos idosos de
janeiro a junho deste ano, 230 (18,91%) referem-se ao transporte público (RJTV, 2005).
5.1.1.1 Responsabilidade Jurídica
A responsabilidade da empresa, e conseqüentemente do motorista, incide na esfera
cível e criminal, respondendo civilmente pelo Código Civil e de Proteção ao Consumidor e
criminalmente pelo Código Penal.
59
A responsabilidade Civil é a obrigação da Empresa de indenizar os danos causados aos
passageiros ou terceiros, ocorridos em virtude do serviço prestado, independente da culpa do
motorista. Esta responsabilidade inicia-se a partir de algum prejuízo causado ao passageiro ou
a terceiro, ocasionado entre outros por um acidente de trânsito; uma queda do usuário no
interior do veículo; quebra do veículo; informação errada; e até mesmo tratamento ruim ao
cliente por parte do motorista.
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor – Lei 8078/90 –, consumidor é
toda pessoa física e jurídica que adquire ou utiliza produto e serviço. São direitos básicos do
consumidor: proteção à saúde, à vida e à segurança. No transporte coletivo urbano há uma
relação de consumo: o produto é a viagem; o serviço é o transporte de pessoas; e o cliente, o
passageiro.
Nesta relação de consumo, ao subir o primeiro degrau do ônibus, o passageiro está
assinando um contrato de transporte e qualquer lesão que aconteça a partir desse momento,
será de responsabilidade da empresa que poderá responder por perdas e danos. Uma das
claúsulas deste contrato é a incolumidade; o passageiro tem de chegar incólume ao seu
destino.
Atualmente, em função da Lei específica 9.503 – Código de Trânsito Brasileiro –
CTB, todo acidente de trânsito com vítima é considerado Crime de Lesão Corporal Culposa –
e o motorista é penalizado no artigo 303 por lesão corporal culposa (por Crime de Menor
Potencial Ofensivo) e 302 por homicídio culposo, no caso de morte da vítima. A mesma regra
se aplica as ocorrências de injúria, calúnia, difamação, crimes contra a honra. Portanto, todo
motorista envolvido nesse tipo de acidente responde criminalmente pela lesão causada ao
passageiro ou a terceiro, enquanto a empresa responde civilmente pelos danos havidos.
60
No caso de o motorista deixar de socorrer a vítima, fica caracterizada a omissão de
socorro, o que é um agravante do Crime de Lesão Corporal Culposa, classificado como
Homicídio Culposo, podendo o agente (o motorista) ser preso em flagrante delito.
O motorista é o real infrator no caso de acidente por estar conduzindo o veículo, posto
que esse profissional possui uma responsabilidade maior, o que passa a ser um agravante da
pena.
Como toda empresa de transporte coletivo urbano é uma concessionária do Estado, sua
responsabilidade é denominada objetiva ou “responsabilidade sem culpa”, prevista no
Parágrafo Único do art. 927 do Código Civil. Isto significa que independente do fator culpa
(negligência, imprudência ou imperícia) o agente causador, no caso a empresa, está obrigado
a indenizar os danos causados por seus prepostos (empregados).
Apenas três possibilidades podem ser consideradas excludentes de culpa:
1 – Culpa exclusiva da vítima;
2 – Fato de terceiro;
3 – Caso fortuito ou de força maior.
Devido às novas alterações ocorridas no processo de trabalho do motorista de ônibus
urbano, como a implantação do RioCard (vale-transporte eletrônico) e a entrada em vigor em
2004 do Estatuto do Idoso, cabem algumas considerações judiciais. O RioCard veio substituir
o vale-transporte de papel, sendo um documento oficial que tem transação de moeda, e
qualquer crime neste sentido é caracterizado como crime federal. Em relação ao Estatuto do
Idoso, aos desacordos ocorridos não cabe transação penal, caracterizando crime. O indivíduo
(motorista) pode ser preso. Nos demais casos também há possibilidade de prisão, cabendo,
inclusive, a prisão em flagrante nos casos de acidentes com vítimas em que o motorista deixe
de prestar imediato e integral socorro.
61
5.1.1.2 Acidente de Trânsito
Para os motoristas profissionais, os acidentes se constituem acidente de trabalho e sua
freqüência e gravidade refletem condições em que este trabalho é realizado. Neste sentido, os
dados registrados sobre os acidentes de trânsito demonstram sua importância na sociedade
contemporânea e seu impacto sobre a saúde em termos da organização e gastos próprios dos
serviços de saúde, bem como as conseqüências coletivas e individuais incidentes sobre as
pessoas afetadas (mortes e lesões).
TAMBELLINI & OSANAI (2001) citaram que o Comitê de Pesquisa do Trauma dos
EUA adotou uma definição das lesões traumáticas, explicitando que as mesmas são devidas à
exposição aguda à energia como o calor, eletricidade ou energia cinética liberada em um
choque, queda ou bala. As lesões podem também ser causadas por ausência súbita de
elementos essenciais como o calor, ou o oxigênio, como no caso de afogamento.
Uma das conseqüências negativas mais importantes do sistema de transporte é a sua
capacidade de produzir traumas, materializados ou não sob a forma de lesões, seja nos
usuários (motoristas, cobradores, passageiros), seja nos pedestres, população que usa as vias
para seu transporte sem utilização de veículo auto-motor.
Os acidentes de trânsito podem refletir perigo à saúde dos motoristas e transeuntes,
podendo levar a traumas e seqüelas. Entre as seqüelas após TCE leves, queremos destacar a
SPT, um conjunto de sintomas somáticos, cognitivos, emocionais e comportamentais, dentre
os quais a cefaléia é o mais proeminente (DE SOUZA, 1995). Na maioria das ocasiões, a
cefaléia é de curta duração e são poucos os pacientes que desenvolvem a chamada CPT, que
pode durar semanas, meses ou até anos, sendo divididas em agudas ou crônicas
(KRYMCHANTOWSKI et al., 2004).
Os acidentes de trânsito são considerados um dos problemas mais graves e importantes
da sociedade contemporânea (WEBER & MONTOVANI, 2002), constituindo um sério
62
problema de saúde pública na atualidade. A incidência dos traumas tem aumentado e os
acidentes de trânsito respondem por cerca de 50% destes.
O primeiro acidente rodoviário aconteceu em 1889 em Nova Iorque. Até hoje, mais de
32 milhões de pessoas morreram em acidentes. No Brasil, Olavo Bilac iniciou a série de
acidentes automobilísticos em 1897, quando dirigia no Rio de Janeiro (RODRIGUES &
MILLER, 2001).
Após a Segunda Guerra Mundial, o automóvel particular converteu-se em fenômeno de
massa, tornando-se um artigo de consumo. Uma frota de veículos cada vez crescente, circulava no
mundo inteiro. Com a incorporação do automóvel no cotidiano das comunidades, surge o acidente
de trânsito (AT), juntamente com o aumento da poluição do ar, do índice de ruídos e da
transformação degradante da paisagem urbana (MARÍN & QUEIROZ, 2000).
Segundo a OMS (2002), as lesões por acidentes de trânsito são as principais causas de
morte por traumatismo, a décima causa de todas as mortes e a nona das principais causas de
morbidade em todo o mundo. O crescimento urbano acelerado somado à mecanização dos
países em desenvolvimento e à falta de programas de prevenção no setor de Saúde Pública,
constituem os fatores que acarretam o aumento das taxas de morbidade.
Nos países desenvolvidos, os acidentes aumentaram 13% no período de 1983 a 1992.
Neste período, em 12 países da então Comunidade Econômica Européia, o número de mortes
foi cerca de 55 mil e um milhão e 600 mil de feridos, sendo que 150 mil pessoas ficaram com
alguma incapacidade. Nos EUA, 50 mil pessoas morrem a cada ano e os acidentes são a causa
principal de mortes na faixa etária de um a 37 anos. Quase a metade das mortes aos 17 anos é
devida a estes acidentes. No Canadá, os acidentes rodoviários são a principal causa de morte
nos grupos de um a 44 anos e 63% das mortes ocorrem entre os 15 e 20 anos (RODRIGUES
& MILLER, 2001).
63
Os acidentes de trânsito têm sido foco de preocupação social. No Brasil, os estudos
são escassos e as ações de prevenção e controle estão apenas se iniciando. Pouco se conhece a
respeito do comportamento do motorista e do pedestre, das condições de segurança das vias e
veículos, da engenharia de tráfego, dos custos humano e ambiental, do uso de veículos
motorizados e das conseqüências traumáticas resultantes dos acidentes (MARÍN &
QUEIROZ, 2000).
Os acidentes de tráfego rodoviário são mais freqüentes nos veículos de passeio,
seguidos dos de cargas e coletivos. No período de 1996 a 2000, observou-se uma diminuição
no número de veículos envolvidos em acidentes, passando o total de 186.039 em 1996 para
174.316 em 2000, representando um decréscimo de 6,3%. A média da representação dos
coletivos no total de veículos envolvidos em acidentes de tráfego rodoviário é de 4,4%.
Tabela 3 – Número de Veículos envolvidos em Acidentes, por Classe de Veículo - 1996-2000
CLASSE DE VEÍCULO
1996
1997
1998
1999
2000
Passeio
113.590
125.286
122.471
117.268
108.011
Coletivo
8.586
8.425
8.050
7.788
8.506
Carga
57.246
60.795
56.139
51.560
50.342
Outras
6.617
7.842
7.562
8.465
7.457
186.039
202.348
194.222
185.081
174.316
TOTAL
Tabela 4 – Número de Pessoas Envolvidas em Acidentes, Segundo a Gravidade - 1996-2000
GRAVIDADE
Mortos
1996
1997
1998
1999
2000
7.847
7.530
6.711
6.435
6.543
Lesões graves
20.797
21.866
20.390
20.844
20.620
Lesões leves
42.456
43.812
40.496
40.865
39.916
543.353
560.944
522.374
487.727
460.501
614.453
634.152
589.971
555.871
527.580
Ilesos
TOTAL
64
Tabela 5 – Número de Acidentes, Segundo a Gravidade - 1996-2000
GRAVIDADE
1996
1997
1998
1999
2000
Acidentes com mortos
6.013
5.873
5.305
5.140
6.543
Acidentes com feridos
31.087
32.941
31.492
32.294
30.640
Acidentes sem vítima
79.295
85.558
83.645
77.995
73.204
116.395
124.372
120.442
115.429
110.387
TOTAL
FONTE: DNER
NOTA: Os dados referem-se apenas aos acidentes ocorridos nas rodovias federais policiadas.
Em 1999, os tipos de acidente de tráfego rodoviário mais freqüentes foram por colisão
traseira (25,8%) e saída da pista (19,1%), seguidos de abalroamento no mesmo sentido
(10,8%) e choque contra objeto fixo (8,1%).
Em 1998, ocorreram 30.994 óbitos por acidentes de trânsito, o que representa um
coeficiente de 19,2 por 100 mil habitantes. Esses números expressam a relevância do tema
que tem demandado uma ação pactuada entre as duas áreas mais diretamente envolvidas com
o problema: a saúde e o trânsito. Vários projetos são implementados buscando a redução
destes acidentes e conseqüentemente de vítimas fatais. O Código de Trânsito Brasileiro,
vigente desde 21 de janeiro de 1998 – Lei Federal no 9.503 –, explicita as atribuições também
para o Ministério da Saúde em relação aos acidentes de trânsito (BRASIL, 2002).
No Rio de Janeiro, conforme estatística da Coordenadoria de Vias Especiais da
SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTE (2005), do total de atendimentos de 33.739
no período de janeiro a outubro de 2004, 7.997 (23,7%) correspondem a veículos acidentados,
sendo a Avenida Brasil o local de maior incidência (3.610 – 45,1%). Deste total de
atendimentos apenas 6,2% correspondem à categoria ônibus. Observa-se que com a entrada
em vigor do Código de Trânsito Brasileiro em janeiro de 1998 – Lei Federal no 9.503 –,
houve uma diminuição no total de atendimentos, como também de veículos acidentados,
principalmente no ano seguinte. O total de atendimentos passou em 1998 de 28.859 para
23.878 em 1999, e destes, 5.267 em 1998 e 4.590 em 1999 correspondem a veículos
65
acidentados. A diminuição observada foi de 17,3 e 12,9 no total de atendimentos e de veículos
acidentados, respectivamente.
No período de janeiro a outubro de 2004, das 641 vítimas, 601 (93,8%) foram
socorridas e 40 (6,2%) fatais. O mesmo se observa em relação aos anos de 1998 e 1999, com
uma queda de 43,1% do total de vítimas, sendo 42,6% a queda em relação às vítimas
socorridas e 50,0% em relação às vítimas fatais.
Segundo a Gerência de Informações da CET-Rio (2005), as áreas de maior incidência
de acidentes por Coordenadoria Regional de Tráfego no ano de 2003 de acordo com o Corpo
de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, foram a Barra da Tijuca (18,2%), Madureira
(15,4%), seguidos pela Ilha do Governador (12,8%) e Méier (10,6%). Neste mesmo período, a
maior incidência de acidentes por dia da semana é sábado (19,7%), domingo (16,7%), sextafeira (14,9%) e quarta-feira (12,8%). Quanto à faixa etária, tanto no sexo feminino quanto no
masculino, as faixas de maior índice de acidentes são de 30 a 59 anos e de 18 a 29 anos,
correspondendo no sexo feminino a 38,2% (30 a 59) e 33,8% (18 a 29) e no sexo masculino a
42,4% (30 a 59) e 41,1% (18 a 29). Em relação aos meses do ano, a incidência de acidentes é
maior no segundo semestre (53,2%) com maior pico nos meses de outubro, novembro e
dezembro.
5.1.2 Do Processo e Organização do Trabalho na Empresa
5.1.2.1 Dos Dados Obtidos na Empresa
A empresa estudada foi fundada em 1996, é uma prestadora de serviços nas áreas de
transporte coletivo urbano de passageiros no município do Rio de Janeiro e de transporte
coletivo em regime de fretamento e turismo, com um efetivo de 580 trabalhadores, sendo 247
motoristas. A empresa possui uma frota de ônibus urbanos e de turismo movimentando suas
linhas nos horários das 4h20 às 24h.
66
Mediante seu planejamento estratégico, a empresa adotou no final de 1999 na Gestão
pela Qualidade Total, traçando metas e objetivos alinhados à preocupação de priorizar a
satisfação de seus clientes e a credibilidade dos serviços; acreditando na educação e
treinamento contínuos de seus funcionários e na padronização e organização de suas
atividades.
Depois da certificação ISO 9001:2000 no ano de 2001, a organização vem
sistematicamente avaliando seu desempenho e estabelecendo novos critérios de avaliação a
fim de melhorar seus resultados. Neste sentido, decidiu participar do Prêmio Nacional de
Conservação e Uso Racional de Combustível em 2002.
Na área social, assumiu os dez compromissos do Programa Empresa Amiga da
Criança, recebendo o Selo da Fundação Abrinq em 2002, comprometendo-se com a causa da
criança e do adolescente.
Solicitou ao IDAQ – Instituto de Desenvolvimento Assistência Técnica e Qualidade
em Transporte uma auditoria a fim de validar as práticas de gestão e, como resultado,
conquistou o Selo de Qualidade IDAQ em 2002, concedido pela primeira vez a uma empresa
de Transporte Urbano Fretamento e Turismo no Rio de Janeiro.
Em 2003, a companhia ficou em 3º lugar no Prêmio ANTP de Qualidade da
Associação Nacional de Transporte Público e no ano seguinte, recebeu o Diploma Prata do
Prêmio Qualidade Rio, conferido pelo Estado do Rio de Janeiro, baseado nos critérios de
excelência do Prêmio Nacional de Qualidade.
Em março deste ano na reunião de Monitoramento das Estratégias, a empresa definiu
sua nova política de gestão e princípios pela análise das 12 estratégias da organização. O
resultado foi um percentual de 40% de Efetividade Estratégica, ou seja, de realização das
estratégias.
As principais estratégias são:
67
•
Respeitar o Meio Ambiente (ISO 14001) e Sociedade (Responsabilidade Social
SA8000);
•
Proporcionar Qualidade de Vida para os funcionários (OHAS 18000);
•
Estimular o conhecimento e a aplicação da legislação às atividades da empresa;
•
Oferecer diferencial competitivo (atendimento ao cliente);
•
Promover a otimização dos processos (melhorar a eficiência dos processos).
A implementação da bilhetagem eletrônica e a integração das linhas com o Metrô e
Trem foram estratégias traçadas pela empresa em 2003 e realizadas em 2004–2005, com
resultados bastante produtivos.
INSTALAÇÕES
A sede administrativa e a garagem estão situadas no bairro do Andaraí, com
instalações modernas que ocupam espaço de 13.200 m2.
Para a manutenção de suas instalações foi lançado e realizado em 2000 o Programa
UAL (Utilização, Arrumação e Limpeza), adaptado do Programa de Qualidade 5S, surgido no
Japão na segunda metade do século XX:
SEIRI – Utilização;
SEITON – Ordenação;
SEISO – Limpeza;
SEIKETSU – Saúde/Bem Estar;
SHITSUKE – Autodisciplina.
O conceito do UAL se baseia em atividades realizadas com a participação de todos no
local de trabalho, que resultem em segurança e em um ambiente de conforto e prazer. Para sua
realização é necessário:
68
•
Planejar – Programar as ações que não puderem ser realizadas imediatamente,
mas que deverão ser feitas através de planejamento.
•
Fazer – Executar as ações conforme planejamento.
•
Checar – Verificar tudo aquilo que deve ser feito.
•
Agir – Fazer tudo aquilo que for possível imediatamente.
O objetivo principal da UTILIZAÇÃO é não deixar materiais desnecessários em seu
local de trabalho. Da ARRUMAÇÃO é definir o local onde será colocado o material, de tal
forma que todos possam usá-lo imediatamente. Em relação à LIMPEZA, é manter limpo tanto
o local de trabalho como os equipamentos.
O programa conta com auditorias programadas semestralmente, avaliando
periodicamente a arrumação, a limpeza e a organização, com uma pontuação para cada setor.
Cartazes são encontrados em várias áreas da empresa, lembrando ao funcionário o seu
compromisso com o UAL.
Foto 1 – Setor de Manutenção na Garagem da Empresa
69
Foto 2 – Prédio do Setor Administrativo na Garagem da Empresa
FROTA
A empresa possui uma frota de 149 veículos, composta por veículos urbanos que
operam em 3 linhas municipais (110) e 2 de integração com o Metrô (9) (QUADRO 2),
veículos rodoviários que operam em regime de fretamento e turismo (17), e microônibus com
ar-condicionado (13), que circulam em linhas especiais urbanas e completam as atividades de
fretamento e turismo. A idade média dos veículos é de 2 anos.
Quadro 1 – Linhas Operadas
LINHA
DIREÇÃO
TEMPO DE VIAGEM (min)
A
ANDARAÍ X CARIOCA
80
B
CENTRAL X GAL. OSÓRIO
90
C
SAENS PENA X HORTO
90
GRAJAÚ X SAENS PENA
ANDARAÍ X SAENS PENA
50
50
METRÔ
70
SAC
A empresa dispõe de um Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) informatizado no
qual são registrados todos os atendimentos e respostas aos clientes. As principais reclamações
recebidas são: não parar para o embarque de passageiros; comportamento indevido do
motorista; relacionadas à área de turismo; e manutenção insatisfatória.
De acordo com as reclamações registradas pelo SAC, o motorista envolvido é
encaminhado pelo Setor Operacional ao departamento de Recursos Humanos (RH).
Quando as reclamações envolvem Direção Perigosa, o RH direciona os motoristas para o
instrutor que dará ao profissional um treinamento específico para cada irregularidade
apontada. Nos casos comportamentais, o RH os encaminha à psicóloga – Orientação
SAC.
Estes processos são os instrumentos usados para ajudar o motorista a se conscientizar
do papel que ele representa diante dos que procuram o seu serviço mas, principalmente, para
tentar auxiliá-lo e acompanhá-lo de acordo com o motivo da reclamação. É a oportunidade
que o motorista tem de se justificar e não ser advertido.
Em alguns casos específicos, como não parar para embarque, o motorista será
advertido. Há uma hierarquia de penalidades. Quando há acidente com culpa o
motorista receberá uma advertência. A partir da terceira advertência sofrerá uma
suspensão e caso seja reincidente terá suspensão de 3 dias. Se ainda houver
reincidência, serão 5 os dias de suspensão, podendo o funcionário ser demitido por
justa causa.
Nos casos de conduta grave, em que se coloca em risco a vida de várias pessoas, a
CLT protege o empregador para a rescisão do contrato por justa causa. No entanto, a empresa
não tem por praxe tomar tal medida.
71
SALÁRIO
A empresa não possui uma política de cargos e salários, inexistindo, no caso dos
motoristas, variação em função do tempo de serviço, ou do itinerário do ônibus. O salário do
motorista é de R$ 1.027,29 mensais. Um projeto de política de incentivo, que visa gratificar o
motorista com maior tempo de serviço, encontra-se em fase de elaboração,.
TREINAMENTOS
A corporação adota uma política de gestão que busca desenvolver o potencial humano
mediante implantação de criteriosa estrutura de educação, treinamento, habilidades e
experiências para todos os seus profissionais.
Como a empresa é recertificada mediante auditorias semestrais realizadas pela BVQI
(Bureau Veritas Quality Internacional), sendo validada pela UKAS Quality Management e
pelo INMETRO, é necessário manter alguns padrões de qualidade. Os treinamentos,
reciclagens, limites nos números de processos e acidentes são alguns desses padrões a seguir o
que exige que os funcionários se adaptem às normas implantadas.
Cada novo funcionário, após recrutamento de seleção, passa pelo Treinamento de
Integração – o primeiro contato com a empresa. Nesse treinamento ele conhecerá a função dos
setores (Departamento Pessoal, Recursos Humanos, Segurança do Trabalho, Manutenção,
Operação, Jurídico e Qualidade); como a empresa funciona e seu organograma, podendo,
assim, entender qual a sua função e responsabilidade dentro do processo. O Treinamento
Integração tem 4 horas de duração e a empresa busca a flexibilidade para evitar a impactação.
É explicado ao funcionário que a empresa possui um Planejamento Estratégico
disseminado, com procedimentos delegados pelo ISO. Cada área tem seu quadro de gestão à
vista, com os procedimentos, seu próprio macro-processo, fluxo e suas metas específicas.
72
Outro treinamento disponibilizado pela empresa é o TCQ – Transportando com Cidadania
e Qualidade. As metas a serem atingidas são comportamento; liderança; trabalho em equipe; e
relacionamento interpessoal. De início, atingiam 3% dos motoristas e hoje, o objetivo é chegar a
100% deles.
O TCQ consiste em uma reciclagem com os motoristas mais antigos, buscando
prepará-los para trabalhar com o público, com as determinações legais, relembrar o
aprendizado anterior, renovar material, inserir as mudanças de conceito, otimizar a relação
dos líderes com os motoristas e melhorar a abordagem.
Os 4 principais tópicos do TCQ são:
1 – Qualidade;
2 – Relações Humanas;
3 – Direção Defensiva (simulações de acidentes);
4 – Jurídico.
O objetivo da empresa é a empresa-escola, com formação interna, em que são usadas
as ferramentas que a empresa possui, sem precisar buscá-las fora. Dentro deste contexto, há o
projeto Job Rotation, que significa “rotação de trabalho”, ou seja, multifuncionalidade. No
departamento de manutenção são rastreadas todas as capacidades e competências dos
mecânicos, borracheiros e lanterneiros. A partir daí, é montado um treinamento no qual todos
são capacitados a fazer tudo e, no final do processo, são formados técnicos em várias áreas.
Um mecânico, por exemplo, é treinado para borracheiro e lanterneiro e, assim por diante.
Outro treinamento se dá através do Telecurso de 1o e 2o Grau, que busca melhorar o
nível de escolaridade dos funcionários e é extensivo também à sua família. As aulas são em
módulos com duração de 2 horas, conduzidas por uma orientadora própria da empresa. O
custo para o funcionário é o preço da apostila, é de R$ 2,00.
73
O número de procura para este treinamento ainda é pequeno, em torno de 5 alunos por
semestre, não atingindo a expectativa. A empresa possui 4 funcionários que se formaram pelo
Telecurso na faculdade, sendo 3 motoristas, e está tentando parcerias com cursos de inglês,
informática, faculdades, buscando redução de preços e novas oportunidades aos funcionários.
PRÊMIOS
Idéia Premiada – campanha interna que premia a idéia que possa melhorar o serviço da
empresa, de forma a desenvolver a capacidade inventiva e criativa dos funcionários. As idéias
são colocadas na caixa de sugestão e analisadas por um comitê interno criado com essa
finalidade. As premiações acontecem duas vezes por ano numa cerimônia em que os
vencedores recebem, além dos prêmios, um Certificado de Reconhecimento. No ano passado,
foram premiados 8 funcionários e suas idéias foram implementadas.
Prêmio Alberto Moreira – concedido pela FETRANSPOR aos trabalhadores em
transporte coletivo do Estado do Rio de Janeiro que mais se destacaram durante o ano.
Rodoviários do Ano – prêmio interno em implementação na empresa. Até o final do
mês de julho o pré-projeto deverá ser encaminhado à gerência, para implantação ainda em
2005. O objetivo é premiar os melhores do ano nas categorias motorista, e cobrador e, ainda
não definido, os funcionários da manutenção, segundo quesitos pré-estabelecidos.
MULTAS E INDENIZAÇÕES
O número mensal de multas referentes a infrações ao CTB e outras é grande. Foi
estabelecida como meta para 2005 a média de, no máximo, 115 multas por mês. A empresa
observa que nem sempre esta meta é cumprida. Em janeiro foram 167 multas, 91 em fevereiro
e 184 em março.
74
A responsabilidade das multas referentes a infrações ao Código de Trânsito Brasileiro
é do motorista. As demais multas referentes ao veículo, à documentação e às aplicadas pela
Secretaria Municipal do Meio Ambiente são de responsabilidade da empresa.
Em caso de acidentes com vítimas, se o crime for caracterizado de menor potencial
ofensivo, inicialmente, a empresa tenta uma composição com a vítima na esfera civil,
mediante indenização.
Se o motorista for considerado culpado, cabe a ele o pagamento de um valor
estipulado previamente de R$ 300,00.
SAÚDE
A assistência médica e odontológica da empresa é feita por uma médica do trabalho e
uma dentista que atendem três e duas vezes por semana, respectivamente.
Para classificação das doenças é usado o CID-10 – Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde da Organização Mundial de
Saúde.
O atendimento médico não está totalmente informatizado. Há um controle por
consultas não ocupacionais e ocupacionais, além do controle de dias concedidos,
encaminhamento ao INSS, afastamento da função por aposentadoria, dias concedidos para
odontologia e dias negados. As consultas ocupacionais são divididas em admissionais,
demissionais, retorno ao trabalho, periódicas e mudança de função. As consultas periódicas
são realizadas uma vez ao ano com todos os funcionários.
No último ano (julho/2004 a junho de 2005), foram realizadas 1.624 consultas, sendo
749 ocupacionais e 875 não ocupacionais, representando 46,12% e 53,88%, respectivamente.
Foram concedidos 28 encaminhamentos ao INSS, com um total de 420 dias concedidos. Os
meses com maior número de atendimentos não ocupacionais foram agosto/2004 e
75
janeiro/junho/2005. As consultas ocupacionais admissionais e periódicas são as mais
freqüentes seguidas pelas demissionais. Em julho/2004 ocorreu o maior número de consultas
admissionais (51,46%) e periódicas (39,77%).
No mês de setembro ou outubro é realizada a Semana Interna de Prevenção de
Acidentes – SIPAT, na qual são abordados assuntos de saúde e segurança do trabalho, assim
como, higiene, ergonomia, fumo, estresse e álcool.
Tabela 6 – Atendimentos Ocupacionais de acordo com a Razão das Consultas 2004/2005
2004/2005 Admissionais
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Mai
Junho
Total
Demissionais
Retorno ao
Trabalho
Periódicas
Mudança
Função
Total
88
12
13
22
31
13
12
16
50
39
30
6
5
9
5
5
10
9
13
7
11
9
2
2
4
1
5
4
2
2
3
3
1
68
36
4
4
5
22
17
9
20
6
13
7
2
0
2
2
0
8
2
19
1
0
171
57
30
34
48
49
48
42
99
60
53
326
89
29
204
43
691
Fonte: Serviço Médico da Empresa Estudada, 2005
MEIO AMBIENTE
Através de sistemas adequados de tratamento de óleo usado, estoques de combustíveis,
coleta seletiva de resíduos, juntamente com a programação das manutenções preventivas e da
verificação do nível de opacidade, a empresa busca atender à legislação e requisitos da norma
ISO 14001 para certificação.
O veículo automotor emite gases e partículas pelo tubo de escapamento de vapores,
através do sistema de alimentação de combustível, pelo respiro do carter e pelo desgaste de
pneus e freios. No caso do ônibus – veículo a diesel –, em que ocorre a formação de fuligem,
76
quanto mais negra for a tonalidade da fumaça emitida, maior será a emissão de poluentes
(FEEMA, 2005).
A cada 1.000 litros de óleo diesel economizados, correspondem 2,743 toneladas de
CO2 e 60 kg de fumaça negra não emitidos para a atmosfera (FETRANSPOR, 2005).
Foto 3 – Filtro de Óleo Diesel
A empresa possui um programa interno de avaliação da qualidade do óleo diesel. O
diesel precisa estar LII (Límpido e Isento de Impurezas), mesmo após armazenado na
empresa. Para seu consumo, é preciso que antes o combustível seja filtrado e drenado, a fim
de retirar as impurezas e diminuir os gases poluentes.
Já se encontra em fase de implantação o projeto de mini-laboratório para análise do
diesel, com o objetivo de se obter uma análise quantitativa.
Outro projeto da empresa é o Teste de Fumaça do Diesel, através de um equipamento
próprio – opacímetro – que realiza a medição da fumaça negra em veículo a diesel. Este
projeto é uma extensão do Projeto Economizar.
77
PROJETO ECONOMIZAR – lançado em 1996 em âmbito nacional, resulta da
parceria entre Petrobrás/COMPET e CNT/IDAQ, na busca de um instrumento de
racionalização do uso de combustível – óleo diesel – e melhoria da qualidade de vida. Oferece
apoio técnico ao setor de transporte rodoviário de cargas e passageiros e tem como objetivos:
•
Otimizar o consumo de óleo diesel;
•
Reduzir as emissões de fumaça negra;
•
Promover os cuidados necessários com o recebimento e o armazenamento do
óleo diesel;
•
Reduzir os custos com combustível e manutenção dos veículos;
•
Conscientizar e motivar à racionalização do uso do diesel (RIOÔNIBUS, 2005;
FETRANSPOR, 2005).
Além desses projetos, a empresa possui uma cabine de pintura, conforme exigência da
FEEMA, com exaustor e filtros, objetivando a filtragem de resíduos durante a pintura do ônibus,
impedindo a emissão de poluentes para a atmosfera. Um dos filtros da cabine encontra-se em mal
estado, porém o responsável pelo setor relatou que a empresa está realizando a substituição.
Foto 4 e 5 – Vista Interna e Externa da Cabine de Pintura
78
5.1.2.2 Dos Dados da Observação Direta do Processo de Trabalho
A nossa observação direta do processo de trabalho permitiu verificar algumas questões
individuais do motorista ao realizar sua atividade, assim como, sua relação com passageiros,
colegas e superiores, como também, o próprio ato de conduzir.
Os motoristas da linha observada têm uma jornada de trabalho de 7 horas/dia, sendo
que 42 (75%) fazem hora extra, a maioria de até 1 hora extra/dia.
•
Tempo de Viagem: A previsão de viagem foi de 40 minutos no total. O motorista
acompanhado pertencia ao primeiro turno e a observação foi realizada durante a sua 8a
viagem do dia, com um total de 8 a 9 viagens cumpridas diariamente. A viagem teve
início às 12h55 e a chegada às 13h35 com duração de 40 minutos, conforme previsto.
•
Tipo e Condições do Veículo: O ônibus era novo, em bom estado de conservação,
equipado com ar condicionado e possuía a roleta à frente.
•
Concorrência: O ônibus adota uma tarifa diferenciada para quem vai utilizar
ônibus/metrô, no valor de R$ 2,25, sendo esta uma das características de concorrência
no trajeto de ida até o metrô. O motorista relatou que a escassez de passageiros na
volta se dava devido ao concorrente à frente, passar primeiro no ponto. A volta não
possui a vantagem da ida, pois o preço não é diferenciado. Na ida, o motorista relatou
que ganha da concorrência, principalmente pela manhã, horário de maior número de
passageiros.
•
Características da Viagem: O trajeto observado teve como destino o metrô. O
motorista não fez uso do cinto de segurança, relatando se sentir preso para observar o
trânsito e olhar os espelhos retrovisores. Durante todo a viagem, houve apenas uma
freada brusca quando uma senhora atravessou a rua à frente do ônibus em movimento.
A viagem aconteceu de forma tranqüila. O motorista não relatou nenhuma mudança no
trânsito devido às férias escolares de julho, mas apenas que naquele dia, em particular,
79
havia mais carros na rua. Na parada no último ponto do trajeto de ida, na Praça Saens
Peña, foi a única vez que o motorista se levantou, trocou o itinerário, desceu do
ônibus, falou com o despachante que anotou o controle do horário de chegada e saída.
A parada neste ponto e a parada no ponto final duraram em torno de 3 minutos cada,
confirmando os dados levantados pela pesquisa que indicam que 94,3% dos motoristas
desta linha fazem intervalos de até 5 minutos. As paradas no ponto para pegar
passageiros totalizaram 9 na ida e 8 na volta, sendo que nesta todos os usuários
subiram no ponto do metrô (ponto de retorno). O restante que embarcou foram colegas
da empresa. Ocorreram 7 paradas no sinal vermelho na ida para 11 no retorno; o
motorista usou freio de mão duas vezes na ida e duas na volta durante estas paradas.
•
Relação com os Passageiros: O motorista apresentou uma boa relação com o
passageiro no ponto, mantendo-se próximo à calçada, aguardando um bom tempo
para dar partida com o veículo. Sua improcedência foi apenas tentar pegar uma
passageira fora do ponto na ida, e permitir a descida de um passageiro no sinal
fechado na volta, além de falar com o motorista do outro ônibus com a porta aberta.
Apenas 2 passageiros, num total de 28, cumprimentaram o motorista com retribuição
por parte deste.
•
Conversas: As conversas com o cobrador foram, na maioria das vezes, a respeito da
minha presença dentro do ônibus, realizando a observação. O motorista conversou
com todos os colegas que entraram no ônibus, mostrando ter um bom relacionamento
interpessoal. Apenas uma vez falou sozinho.
•
Posto de Serviço: A instalação do ponto final possui bebedouro com água gelada,
sala de espera com sofás e banco, 2 banheiros (masculino e feminino) que, apesar da
limpeza realizada sistematicamente, freqüentemente exalavam mau cheiro. É nesse
80
local que os motoristas realizam as refeições, descansam e aguardam para iniciar
suas atividades.
•
Comportamento de Frente às Características Ergonômicas da Atividade: O
motorista, durante todo o trajeto, manteve uma postura sentada com anteriorização
da cabeça e perda da lordose lombar, por não se apoiar sobre os ísquios. A
atividade foi realizada com uma postura flexionada da coluna, com o ápice da
curva se dando em região torácica baixa, favorecendo a cifose, a cabeça
anteriorizada e a retificação da coluna lombar e cervical baixa. Foram observados
vários movimentos repetitivos de cabeça, necessários para olhar os espelhos
retrovisores, para saída do ponto de parada dos ônibus, para falar com o cobrador,
e para observar a descida do passageiro pela porta traseira. Em relação aos
membros superiores, o motorista manteve por quase todo o tempo a mão direita
sobre a marcha, permanecendo com uma extensão, no final do arco de movimento,
da articulação do cotovelo direito. Esta postura manteve o ombro direito na posição
elevada por um período longo. Em relação aos membros inferiores, o assento
permitia um fácil acesso dos pés do motorista a toda engrenagem inferior do
ônibus, tanto para o membro inferior esquerdo responsável pela embreagem,
quanto para o direito responsável pelo freio e acelerador, que foram acionados por
todo o tempo. Nas paradas, nos pontos e nos sinais fechados o motorista apoiava os
braços no volante para descansar, conforme comentário feito por ele próprio.
Durante o uso do freio de mão, em algumas paradas no sinal vermelho, houve uma
inclinação muito grande do tronco para alcançá-lo, devido à sua localização muito
distante. O motorista afirmou estar cansado em função de estar próximo ao término
da jornada de trabalho. Não relatou nenhuma fadiga física ou mental e, na verdade,
demonstrou gostar muito do que faz.
81
•
Personalização: Alguns motoristas preparavam o ônibus de forma personalizada a
cada dia de trabalho. Usavam enfeites, bandeiras de times de futebol, fotos, toalhas
coloridas, etc.
82
Foto 6 – Motorista Parado no Semáforo
Foto 7 – Posição Sentada com
Anteriorização da Cabeça
Foto 8 – Inclinação do Tronco
para Alcançar o Freio de Mão
Foto 9 – Movimento Repetitivo
de Cabeça com Extensão
Permanente de Cotovelo
83
Foto 10 – Instalação no
Ponto Final
Foto 11 – Limpeza da Instalação
Foto 12 – Personalização do
Ônibus
84
5.2 DAS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA
O número total de motoristas da empresa é de 247. Foram selecionados todos os
motoristas de uma determinada linha, num total de 59 (23,9%), conforme já descrito. Destes,
56 motoristas (94,9%) participaram da pesquisa, sendo 55 do sexo masculino e 01 do sexo
feminino. Dos três motoristas que não participaram, somente um se negou a responder ao
questionário, outro estava de férias e outro de licença médica.
Optamos por analisar quantitativamente o grupo de 55 motoristas do sexo masculino,
excluindo a única motorista entrevistada.
A idade dos motoristas variou de 24,3 a 64 anos, com média de 38,3 anos, mediana de
37,2 e desvio padrão de 8,8. A maior concentração por faixa etária foi de 31 a 40 anos com
41,8% dos motoristas (Tabela 7). Chama atenção o fato de que 90,9% desta população é
constituída por indivíduos com 50 anos ou menos.
Tabela 7 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo Faixa Etária
IDADE
Número
%
De 21 a 30
12
21,8
De 31 a 40
23
41,8
De 41 a 50
15
27,3
De 51 a 60
4
7,3
Mais de 61
1
1,8
55
100,0
Total
A Tabela 8 mostra os resultados das variáveis abaixo selecionadas:
1. Os motoristas estudaram em média 7,7 anos. O nível de escolaridade com o maior
número de indivíduos foi o ginásio incompleto com 17 motoristas (30,9%). Dois
motoristas possuem o primário incompleto e outros dois estão cursando o terceiro
85
grau. Trinta motoristas (54,5%) têm nível de escolaridade igual ou superior ao ginásio
completo.
2. Dos 56 motoristas entrevistados, 41 (74,5%) relataram estar casados ou morando com
uma companheira.
3. Trinta e um motoristas (56,4%) afirmaram ser o principal ou único sustento da casa e
24 (43,6%) contribuem com mais alguém para a renda familiar.
4. Vinte e cinco motoristas (45,5%) dos entrevistados informaram que trabalham há mais
de 10 anos nesta função; 11 (20,0%) entre 1 e 3 anos; 9 (16,4%) de 7 a 10 anos; 8
(14,5%) de 4 a 6, e com menos de 1 ano, 2 motoristas (3,6%). São iniciantes, com 3
anos ou menos, 23,6% dos motoristas.
5. O meio de transporte mais utilizado pelos motoristas para chegar ao trabalho foi o
ônibus (n=46; 83,6%). Cinco motoristas (9,1%) afirmaram caminhar até ao trabalho
por morarem perto da garagem da empresa e os 4 (7,2%) restantes informaram utilizar
um dos tipos a seguir: bicicleta, carro, ônibus /trem ou van. Quatro motoristas
responderam que em alguns dias fazem uso de mais de um meio de transporte: 3 usam
também o carro e um, dos que caminham até ao trabalho, ônibus.
6. O tempo gasto de casa ao trabalho foi respondido conforme a seguir: entre 1 e 2 horas
por 37 motoristas (67,3%), menos de 1 hora por 14 (25,5%); de 2 a 3 horas por 3
(5,5%) e mais de 3 horas por 1 (1,8%).
7. Dos cinqüenta e cinco motoristas entrevistados, 41 (74,5%) relataram fazer hora extra.
8. O principal grau de satisfação ao trabalho foi bom (n=27; 49,1%), seguido do grau excelente (n=17; 30,9%)
e muito bom (n= 11; 20,0%). Deve-se notar que não houve nenhum motorista entrevistado que referiu não
estar satisfeito com o trabalho. A totalidade dos motoristas revelou achar o trabalho bom, muito bom ou
excelente. Notou-se que em relação a esta pergunta, os motoristas tiveram uma preocupação de agradar a
diretoria da empresa, respondendo com positividade excessiva sobre o grau de satisfação.
86
Tabela 8 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo as Variáveis Selecionadas:
Variável
Motoristas n=55
Freqüência
Nível de Escolaridade
Primário Incompleto
Primário Completo
Ginásio Incompleto
Ginásio Completo
2º Grau Incompleto
2º Grau Completo
Superior Incompleto
Total
Estado Civil
Casado
Divorciado
Separado
Solteiro
Viúvo
Total
Renda Familiar
Contribui no sustento
Principal ou único responsável
Total
Tempo como Motorista
Menos de 1 ano
Entre 1 e 3 anos
De 4 a 6 anos
De 7 a 10 anos
Mais de 10 anos
Total
Meio de Transporte
Bicicleta
A pé, por morar próximo
Carro
Ônibus
Ônibus e Trem
Van
Total
Tempo para chegar ao Trabalho
Menos de 1 hora
Entre 1 e 2 horas
De 2h01 a 3 horas
Mais de 3 horas
Total
Hora Extra
Não
Sim
Total
Satisfação com o Trabalho
Bom
Muito Bom
Excelente
Total
%
2
6
17
7
9
12
2
55
3,6
10,9
30,9
12,7
16,4
21,8
3,6
100.0
41
1
3
9
1
55
74,5
1,8
5,5
16,4
1,8
100.0
24
31
55
43.6
56.4
100.0
2
11
8
9
25
55
3,6
20,0
14,5
16,4
45,5
100.0
1
5
1
46
1
1
55
1.8
9,1
1.8
83.6
1.8
1.8
100.0
14
37
3
1
55
25,5
67,3
5,5
1,8
100,0
14
41
55
25.5
74,5
100.0
27
11
17
55
49,1
20
30,9
100,0
87
Dos 55 motoristas entrevistados, 21 (38,2%) afirmaram ter tido algum tipo de acidente
com o ônibus e 34 (61,8%) não relataram acidentes. Apenas um motorista relatou a morte da
vítima, deixando-o traumatizado, outro afirmou ter ficado triste, por ainda se encontrar no
período de experiência profissional, outro disse ter aprendido e outro sentiu-se
emocionalmente abalado após o acidente.
Em relação aos assaltos, 32,7% (n=18) já foram assaltados durante o trabalho e 67,3%
(n=37) afirmaram não ter passado por essa experiência. Dos motoristas assaltados, 7 (38,9%)
sofreram agressão durante o assalto, que variaram desde agressão verbal até ameaças sob a
mira de uma arma.
Cinqüenta e um (92,7%) dos motoristas se queixaram de um ou mais fatores
desgastantes na profissão. Entre os fatores de desgaste, o trânsito (n=32; 39,5%) foi o mais
citado, seguido da cadeira e/ou instalações (n=9; 11,1%), passageiros (n=8; 9,9%) e temperatura (n=7; 8,6%). Cada motorista (n=51) se queixou em média de 1,6 fatores (Tabela 9).
Tabela 9 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo Fator de Desgaste
Fator de Desgaste
Trânsito
Frequência
%
32
39,5
Cadeira e/ou Instalações
9
11,1
Passageiros
8
9,9
Temperatura Elevada
7
8,6
Dor
6
7,4
Excesso de Ruído
6
7,4
Poluição
4
4,9
Violência
4
4,9
Responsabilidade
2
2,5
Tempo entre as Refeições
1
1,2
Tempo de Chegada ao Trabalho
1
1,2
Falta de Plano de Saúde
1
1,2
81
100,0
Total
88
5.3 DAS CARACTERÍSTICAS DA CEFALÉIA
Dos motoristas que responderam ao questionário padrão, 36 (65,4%) apresentaram
algum tipo de dor. Trinta e um (56,4%) do total de dos motoristas relataram ter cefaléia no
último ano e destes, 22 (71,0%) referiram ter outro tipo de dor além da cefaléia. Ao contrário
do que se encontra na literatura onde a dor lombar é a queixa de dor mais freqüente, no nosso
estudo ela apareceu em segundo lugar (n=8; 11,6%), seguida da dor na cervical (n=4; 5,8%) e
dor em toda coluna (n=4; 5,8%). Cada trabalhador com algum tipo de dor teve em média 1,9
locais de dor referida (Tabela 10).
Tabela 10 – Freqüência de Localização de Dores Relatada pelos Motoristas
Localização
da Dor
Cefaléia
Lombar
Cervical
Toda a Coluna
Pé
Perna
Virilha
Ombro
Joelho
Ouvido
Torácica
Punho
Calcanhar
Peito
Estômago
Garganta
Total
Freqüência
Absoluta
31
8
4
4
3
3
3
3
2
2
1
1
1
1
1
1
69
Freqüência
Relativa (%)
44,9
11,6
5,8
5,8
4,3
4,3
4,3
4,3
2,9
2,9
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
1,4
100,0
A faixa etária com o maior número de motoristas com cefaléia foi a de 31 a 40 anos
(n=16; 51,6%), seguidos pela de 41 a 50 aos (n=9; 29,0) e pela de 21 a 30 (n=4; 12,9%)
(Tabela 11).
89
Tabela 11 – Distribuição da Presença de Cefaléia por Faixa Etária dos Motoristas
Faixa Etária
Com Cefaléia
%
Sem Cefaléia
%
Total
%
De 21 a 30
4
12,9
8
33,3
12
21,8
De 31 a 40
16
51,6
7
29,2
23
41,8
De 41 a 50
9
29,0
6
25,0
15
27,3
De 51 a 60
2
6,5
2
8,3
4
7,3
Acima de 61
0
0,0
1
4,2
1
1,8
31
100,0
24
100,0
55
100,0
Total
A tabela 12 mostra os seguintes resultados:
1. A cefaléia iniciou-se há mais de 10 anos em 9 motoristas (29,0%); entre 4 e 10 anos
em 9 motoristas (29,0%); entre 1 e 3 anos em 7 (22,6%); entre 6 meses e 1 ano em 4
(12,9%); e em menos de 6 meses em 2 motoristas (6,5%). Dos motoristas que
referiram dor por mais de 10 anos, em 2 a dor teve início na infância. Anote-se que
58,0% dos indivíduos apresentam cefaléia por período superior ou igual a 4 anos.
2. De acordo com a localização da cefaléia, foi encontrada a seguinte distribuição: na
fronte (n=13; 41,9%), no topo da cabeça (n=6; 19,4%); na fronte e região lateral da
cabeça (n= 4; 12,9%); sempre de um lado (n=4; 12,9%); na região lateral da cabeça
(podendo mudar de lado) (n= 2; 6,5%); difusa em toda cabeça (n=1; 3,2%); e na
região dos olhos (n= 1; 3,2%). A associação de mais de uma localização foi observada
em 2 motoristas que relataram dor na região de trás da cabeça, e 7 referiram a dor
ocorrendo bilateralmente.
3. O caráter da dor foi do tipo pulsátil em 16 motoristas (51,6%); em peso ou pressão em
12 (38,7%) e do tipo queimação em 1 motorista (3,2%). Dois motoristas (6,5%) não
conseguiram especificar o tipo de dor.
90
4. Quanto à freqüência da dor, 13 motoristas (41,9%) apresentaram dor menos de 1 vez
por semana, 7 (22,6%) entre 1 e 2 vezes por semana; 7 (22,6%) entre 3 e 6 vezes por
semana; e 4 (12,9%) apresentam dor diariamente.
5. A intensidade da dor foi classificada como leve por 14 motoristas (45,2%), como
moderada por 9 (29,0%) e como intensa por 8 (25,8%).
6. Em relação à duração das crises, verificou-se que para 21 motoristas (67,7%) a dor
dura até 2 horas mesmo com medicação. Para 5 motoristas (16,1%) a dor dura de 2 a 4
horas e para 3 (9,7%) dura de 5 a 6 horas. Um motorista (3,2%) relatou dor de 7 a 10
horas de duração e outro (3,2%) dor que durava mais de 24 horas mesmo com
medicação.
7. Em quinze motoristas (48,4%) a dor não variou de intensidade, mantendo o mesmo
padrão durante as crises. Treze motoristas (41,9%) responderam que a dor começa
leve e aumenta de intensidade e em três (9,7%) a dor começa forte e diminui.
8. Durante as crises de dor, foram encontrados 23 motoristas (74,2%) que preferem ficar
recolhidos em um local escuro e tranqüilo. Seis motoristas (19,4%) são indiferentes à
atividade ou repouso durante as crises e dois (6,5%) preferem caminhar ou se
exercitar.
Do total de motoristas com cefaléia, 9 (29,0%) não relatam sintomas associados e 22
(71,0%) afirmaram ter um ou mais destes sintomas, com média de 1,32 sintomas por
motorista. Os sintomas referidos foram: fonofobia (n=15; 51,7%); fotofobia (n=9; 31,0%);
vômito (n=2; 6,9%); náusea (n=1; 3,5%); osmofobia (n=1; 3,5%); e estocomas citinlantes
(n=1; 3,5%).
Um paciente observou que a cefaléia ficou mais freqüente por um período de 20 a 30
dias após o acidente onde ocorreu a morte da vítima.
91
Tabela 12 – Distribuição (%) dos Motoristas com Cefaléia segundo as Variáveis Selecionadas
Variável
Início da Cefaléia
Menos de 6 meses
Entre 6 meses e 1 ano
Entre 1 e 3 anos
De 4 a 10 anos
Mais de 10 anos
Total
Localização
Difusa em toda cabeça
Na fronte
Na fronte e na lateral da cabeça
Na região dos olhos
Na região lateral da cabeça
No topo da cabeça
Sempre de um lado
Total
Tipo de Dor
Peso-Pressão
Pulsa-Lateja
Queima-Arde
Não conseguiu especificar
Total
Freqüência da Dor
Menos de 1 vez por semana
Entre 1 e 2 vezes por semana
Entre 3 e 6 vezes por semana
Diariamente
Total
Intensidade
Leve
Moderada
Intensidade
Total
Duração das Crises
Até 2 horas
De 2 a 4 horas
De 5 a 6 horas
De 7 a 10 horas
Mais de 24 horas
Total
Comportamento da Dor
Começa e fica igual
Começa leve e aumenta
Começa forte e diminui
Total
Durante as Crises
É indiferente a isto
Fica recolhido num local escuro
Prefere caminhar ou se exercitar
Total
Motoristas
Freqüência
n=31
%
2
4
7
9
9
31
6,5
12,9
22,6
29,0
29,0
100,0
1
13
4
1
2
6
4
31
3,2
41,9
12,9
3,2
6,5
19,4
12,9
100,0
12
16
1
2
31
38,7
51,6
3,2
6,5
100,0
13
7
7
4
31
41,9
22,6
22,6
12,9
100,0
14
9
8
31
45,2
29,0
25,8
100,0
21
5
3
1
1
31
67,7
16,1
9,7
3,2
3,2
100,0
15
13
3
31
48,4
41,9
9,7
100,0
6
23
2
31
19,4
74,2
6,5
100,0
92
A totalidade dos motoristas (100%) respondeu não perder dia de trabalho devido à
cefaléia.
Quinze motoristas (48,4%) relataram caso de cefaléia em familiares de 1o grau; 7
(22,6%) não souberam responder.
Verificou-se freqüência de uso de medicação sintomática em 22 motoristas (71,0%). A
distribuição, na ordem da freqüência de uso foi: menos de uma vez a cada dez dias em 12
motoristas (38,7%); uma vez por semana em 5 (16,1%); diariamente em 3 (9,7%); duas vezes
por semana em 1 (3,2%); e três vezes por semana, também, em 1 (3,2%). A medicação
sintomática mais usada foi a Novalgina (n=8; 25,0%), seguida pela Neosaldina (n=4; 12,5%).
Doze motoristas (38,7%) observaram algum tipo de alteração quanto à apresentação
das crises. Notou-se que em 6 motoristas (50,0%) houve uma piora tanto da freqüência quanto
da intensidade da dor nos últimos 2 anos, em 2 (16,7%) a piora ocorreu há 3 anos, em 1
(8,3%) há 1 ano e em outro (8,3%) há 6 meses. Para 1 motorista (8,3%) a dor ficou mais
fraca, com melhora do quadro de dor. Em 1 motorista (8,3%) foi encontrada uma piora
acontecendo somente no verão.
Destes 12 (38,7%) motoristas que relataram mudança na apresentação das crises, em 7
(58,3%) motoristas a cefaléia iniciou-se há 4 ou mais anos e no restante (n=5; 41,7%),
iniciou-se há 3 ou menos anos.
Do total de motoristas que apresentaram cefaléia (n=31), 15 (48,4%) motoristas
possuem mais de 10 anos de atividades. Destes, 8 (53,3%) apresentaram a cefaléia há 3 anos
ou menos e 7 (46,7%) há 4 ou mais anos. Dos 5 (16,1%) motoristas que possuem 7 a 10 anos
de início de atividade, 1 (20,0%) iniciou a cefaléia no período de 1 a 3 anos e o restante
(80,0%) de 4 ou mais anos. Dos 3 (9,7%) motoristas que possuem de 4 a 6 anos de atividades,
o total (n=3; 100,0%) desenvolveu a cefaléia há 4 ou mais anos; e dos que iniciaram a
93
atividade de motoristas até 3 anos passados (n=8; 25,8%), 4 (50,0%) têm cefaléia há 3 ou
menos anos e 4 (50,0%) têm cefaléia há 4 ou mais anos (Tabela 13).
Apesar de não ser estatisticamente significante (p=0,10), parece que parte dos
motoristas desenvolveu cefaléia poucos anos após começarem a atividade de motorista (4/8 =
50%).
Observou-se que os motoristas que possuem o ginásio incompleto, com menos de 8
anos de estudos, são os que mais apresentam quadro de cefaléia. (n=9; 29,0%), embora a
distribuição por escolaridade entre os grupos com e sem cefaléia seja muito semelhante, não
havendo uma diferença estatística significante (Tabela 14).
Tabela 13 – Tempo de Cefaléia de acordo com o Tempo de Início da Atividade de Motorista
Início da
Atividade de
Motorista
Início da Cefaléia
Total
%
< de 1
ano
1
1a3
anos
-
4 a 10
anos
1
> de 10
anos
-
2
6,5
1 a 3 anos
1
2
1
2
6
19,4
4 a 6 anos
-
-
2
1
3
9,7
7 a 10 anos
-
1
2
2
5
16,1
Total
6
7
9
10
31
100
< 1 ano
Tabela 14 – Cefaléia Auto-Referida segundo a Escolaridade
%
Total
%
3,2
Sem
Cefaléia
1
4,2
2
3,6
5
16,1
1
4,2
6
10,9
Ginásio Incompleto
9
29,0
8
33,3
17
30,9
Ginásio Completo
5
16,1
2
8,3
7
12,7
2o Grau Incompleto
4
12,9
5
20,8
9
16,4
2o Grau Completo
7
22,6
5
20,8
12
21,8
Superior Incompleto
Total
0
31
0,0
100,0
2
24
8,3
100,0
2
55
3,6
100,0
Com
Cefaléia
1
Primário Completo
Escolaridade
Primário Incompleto
%
94
5.4 DA QUALIDADE DE VIDA
Foi examinada a Qualidade de Vida relacionada à saúde dos motoristas através do
questionário SF-36 em cada componente: capacidade funcional; aspectos físicos; dor; estado
geral de saúde; vitalidade; aspectos sociais; aspectos emocionais; e saúde mental.
A maior diferença entre os resultados foi encontrada na medida da vitalidade (59,8 para os
com cefaléia versus 66,7 para os sem cefaléia), seguida pela medida da dor (61,0 versus 87,4), do
estado geral de saúde (69,5 versus 89,7), da saúde mental (76,1 versus 93,5), dos aspectos físicos
(78,2 versus 92,7), da capacidade funcional (83,5 versus 94,0), dos aspectos emocionais (83,9
versus 90,3) e, por último, dos aspectos sociais (85,1 versus 95,3) (Tabela 15 e Gráfico 2).
O grupo de motoristas com cefaléia apresentou uma redução da qualidade de vida
relacionada à saúde em relação ao grupo de motoristas sem cefaléia, indicada pelo menor
escore encontrado nos oito itens. Foram comparadas as médias de todos os componentes do
questionário SF-36, segundo a presença ou não de cefaléia, através do teste t de Student.
Houve diferença estatisticamente significante em todos os componentes (Tabela 16).
A questão de número dois do questionário SF-36 não foi incluída no cálculo de
nenhum dos componentes e deve ser analisada em separado. Este item avalia a evolução da
saúde, comparando a saúde atual com a de um ano atrás. Dos 55 motoristas entrevistados, 35
(63,6%) responderam que se sentem quase com a mesma saúde de um ano atrás; 8 (14,5%)
sentem-se um pouco pior agora; 5 (9,1%) sentem-se muito melhor agora; 4 (7,3%) sentem-se
um pouco melhor agora; e 3 (5,5%) sentem-se muito pior agora (Tabela 17).
Comparando os 31 motoristas com cefaléia com os 24 sem cefaléia, a maior
freqüência foi encontrada nos que sentem quase a mesma saúde comparada há um ano [15
motoristas com cefaléia (48,4%) versus 20 motoristas sem cefaléia (83,3%)]; seguida dos que
sentem a saúde um pouco pior agora [6 (19,4%) versus 2 (8,3%)]; dos que sentem muito
melhor agora [4 (12,9%) versus 1 (4,2%)]; dos que sentem um pouco melhor agora [3 (9,7%)
95
versus 1 (4,2%)]. Para os motoristas que sentem a saúde muito pior agora do que há um ano,
verificou-se freqüência apenas no grupo de motoristas com cefaléia [3 (9,7%) versus 0].
A análise estatística mostrou que os pacientes com cefaléia tenderam a classificar sua
saúde como pior agora do que há 1 ano (p=0,05).
Ao compararmos os motoristas com e sem cefaléia e com outras dores, observamos
que os grupos “com cefaléia” e “com cefaléia e com outras dores” apresentaram uma maior
redução da QVCS do que os “sem cefaléia” e “sem cefaléia e com outras dores” (Tabela 18).
Tabela 15 – Média dos Resultados da Avaliação da Qualidade de Vida dos Motoristas (Cálculo do
Raw Scale) de acordo com a presença de Cefaléia
Componentes
Capacidade Funcional
Aspectos Físicos
Dor
Estado Geral de Saúde
Vitalidade
Aspectos Sociais
Aspectos Emocionais
Saúde Mental
Geral
88,1
84,5
72,5
78,3
62,8
89,5
86,7
83,7
Com Cefaléia
83,5
78,2
61,0
69,5
59,8
85,1
83,9
76,1
Sem Cefaléia
94,0
92,7
87,4
89,7
66,7
95,3
90,3
93,5
Gráfico 2 – Média dos Resultados da Avaliação da Qualidade de Vida dos Motoristas
(Cálculo do Raw Scale) de acordo com a presença de Cefaléia
100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Capacidade
Funcional
Aspectos
Físicos
Dor
Estado Geral
de Saúde
COM CEFALÉIA
Vitalidade
Aspectos
Sociais
SEM CEFALÉIA
Aspectos
Emocionais
Saúde
Mental
96
Tabela 16 – Comparação das Médias dos Componentes do SF-36, segundo a Presença ou Não de
Cefaléia
Componentes
Cefaléia
N
Média
D.P.
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
31
24
31
24
31
24
31
24
31
24
31
24
31
24
31
24
83,5
94,0
78,2
92,7
61,0
87,4
69,5
89,7
59,8
66,7
85,1
95,3
83,9
90,3
76,1
93,5
17,5
6,6
32,8
16,8
28,2
23,5
23,2
8,9
13,4
9,5
21,8
14,2
30,9
25,0
20,2
0,8
Capacidade
Funcional
Aspectos Físicos
Dor
Estado Geral
de Saúde
Vitalidade
Aspectos Sociais
Aspectos
Emocionais
Saúde Mental
t
p-valor
-2,77
0,008
-1,93
0,06
-3,72
0,0001
-4,02
0,0001
-2,117
0,04
-1,997
0,05
-0,827
0,41
-3,992
0,0001
Tabela 17 – Classificação da Saúde em Geral comparada há 1 Ano
Todos os Motoristas
Quase a mesma
Um pouco pior agora
Muito melhor agora
Um pouco melhor agora
Muito pior agora
Total
Freqüência
35
8
5
4
3
55
%
63,6
14,5
9,1
7,3
5,5
100,0
Com Cefaléia
Freqüência
15
6
4
3
3
31
%
48,4
19,4
12,9
9,7
9,7
100,0
Sem Cefaléia
Freqüência
20
2
1
1
0
24
%
83,3
8,3
4,2
4,2
0,0
100,0
Tabela 18 – Comparação das Médias dos Componentes do SF-36, segundo a Presença ou Não de
Cefaléia Combinada com Outras Dores
N=
Componentes
Capacidade Funcional
Aspectos Físicos
Dor
Estado Geral de Saúde
Vitalidade
Aspectos Sociais
Aspectos Emocionais
Saúde Mental
31
21
24
5
Com Cefaléia
Com Cefaléia e
Outra Dor
Sem Cefaléia
Sem Cefaléia e
com Outra Dor
83,5
78,2
61,0
69,5
59,8
85,1
83,9
76,1
78,1
70,2
50,0
61,0
56,0
82,1
77,8
68,6
94,0
92,7
87,4
89,7
66,7
95,3
90,3
93,5
93,0
75,0
49,2
80,0
60,0
80,0
86,7
90,4
97
6 DISCUSSÃO
6.1 OBSERVAÇÃO DO ESTUDO
Os primeiros motoristas que participaram da entrevista realizada por meio de
questionários relataram durante a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que
“dor de cabeça não é dor, pois todo mundo tem”. A partir de então, tivemos de reforçar a
pergunta de número 19 do Estudo da Cefaléia (ANEXO C – Parte 1), buscando evidenciar a
possível existência da cefaléia na história de dor de cada motorista entrevistado.
6.2 DO PROCESSO DE TRABALHO E SUA ORGANIZAÇÃO
O motorista de ônibus possui uma responsabilidade de controlar e guiar um veículo
com alto nível de ruído, de grande extensão, transportando passageiros, num trânsito urbano
movimentado e perigoso, em vias com pouca manutenção, estando ainda sujeito a assaltos e
violência verbal e física.
A esta carga se junta uma condição de trabalho que inclui longa jornada, controles
rígidos de itinerários e procedimentos, responsabilidades jurídica civil e penal, além de
punições no âmbito administrativo da empresa.
Um grande número de estudos nos países industrializados tem revelado que os
motoristas de ônibus urbano evidenciam morbidade e mortalidade aumentadas para um
número de doenças, quando comparados com grupos de ocupação similar (RYDSTEDT et al.,
1998).
No estudo de LEIGTH & FRIES (1992), que investigou as profissões de altos e baixos
níveis de inabilidade funcional, a ocupação de motorista de ônibus do sexo masculino ficou
em quinto lugar entre as profissões com altos níveis de incapacidade funcional.
98
RYDSTEDT et al. (1998) citou que o comprometimento com a saúde, dos motoristas
de ônibus, passa por elevados níveis de: pressão arterial; hormônios neuroendócrinos;
absenteísmo. O excesso de morbidade nas doenças cardiovascular, gastrointestinal e
musculoesquelética, tão bem como o excesso de mortalidade nas doenças cardiovasculares,
têm sido encontrados na maioria dos motoristas de ônibus nos vários estudos
epidemiológicos.
Somado a estas condições de saúde, podemos incluir o estresse ocupacional que
representa um estado emocional que resulta da discrepância entre o nível de demanda e a
habilidade da pessoa em lidar com uma questão (KROEMER & GRANDJEAN, 2005).
Quando as condições de trabalho associam-se às reações de estresse, a baixo apoio social
diante dos colegas e supervisores, horas irregulares de trabalho ou mudanças de turnos de
trabalho, demandas ambígüas, sobrecarga, condições físicas não saudáveis de trabalho,
proporcionam um aumento das reações, criando um ciclo de doenças e dores.
Estes elementos de estresse e das condições de trabalho podem determinar alterações
no quadro mórbido e da dor, criando respostas orgânicas em forma de doença reconhecida ou
de sintomas. Embora o estudo não tenha uma metodologia que avalie estas condições,
incluindo as características do trabalho, é lícito afirmar, pelos dados do processo de trabalho,
que há uma carga de trabalho psíquica e física na profissão de motorista de ônibus que pode
caracterizar em prejuízos à saúde do trabalhador e à performance de condução.
A organização da empresa estudada diferencia dos estudos de NEVES (2004) e
FERNANDES (2002) por apresentar, através de um planejamento estratégico, uma gestão
pela Qualidade Total. Esse planejamento beneficia não apenas a empresa mas o cliente e seus
funcionários. É notória a preocupação organizacional com melhores condições de trabalho e
com a diminuição dos fatores de riscos.
99
Para o exercício da profissão de motorista, conduzindo passageiros, é exigida uma
qualificação permanente com cursos anuais de direção defensiva e mais exigências em relação
à renovação da carteira de habilitação. Na empresa pesquisada, os motoristas contam com o
Treinamento de Integração e o TCQ tanto para o treinamento inicial quanto para melhorar
conduta profissional e desenvolver direção defensiva. Os estudo de FERNANDES (2002) e
NEVES (2004), citaram treinamentos que ocorrem em seguida da admissão com duração de
40 e 60 dias, respectivamente.
Um dos fatores mais estressantes para o motorista de ônibus é o acidente de trabalho,
no nosso caso, acidente de trânsito. O estudo de QUEIROZ & OLIVEIRA (2003) realizado
no Hospital das Clínicas da UNICAMP, revelou uma incidência significativa do não uso do
cinto de segurança, apesar do CTB tornar obrigatório o uso deste dispositivo. Nos 10
acidentes que envolveram automóveis (5 passageiros e 5 motoristas), os entrevistados
mencionaram não estarem usando o cinto de segurança para passageiro traseiro. Apesar da
diferença da população e do local do cinto de segurança citado, podemos constatar que o não
uso do cinto de segurança é uma prática comum entre alguns motoristas, principalmente na
população de motoristas de ônibus. A maioria dos motoristas observada não faz o uso do cinto
de segurança; eles o colocam sobre os ombros para mascarar e não atrair a atenção do policial
de trânsito. O mesmo foi encontrado nos estudos de NEVES (2004) e FERNANDES (2002),
nenhum dos motoristas fizeram uso do cinto de segurança durante a observação direta do
trabalho.
Neste mesmo estudo (QUEIROZ & OLIVEIRA, 2003), a gravidade do acidente foi
uma constante em todas as 20 vítimas pesquisadas, motivo pelo qual os pacientes estavam
hospitalizados. Diferentemente, em nosso estudo, encontramos 38,2% dos motoristas que
afirmaram ter tido algum tipo de acidente com o ônibus, apenas um relatou a morte da vítima
e nenhum mencionou ter tido algum tipo de lesão física em decorrência dos acidentes.
100
Nos ambientes de trabalho onde o contato com o público é grande e é feito por meio
da prestação de serviço, há uma exigência de maior esforço psíquico dos trabalhadores para a
realização das atividades técnicas repetitivas e para atender as demandas variadas dos clientes
(PAES-MACHADO & LEVENSTEIN, 2002). No seu estudo etnográfico sobre operadores do
transporte coletivo da cidade americana de São Francisco, BELKIC & SCHALL (1998)
apontaram a violência como o principal estressor dos rodoviários. No nosso estudo, em
relação aos fatores desgastantes, o resultado foi diferente, aparecendo em primeiro lugar o
trânsito (39,5%) e a violência em sexto (4,9%).
Em relação aos assaltos, FRANÇA et al. (1998) mostrou que quase todos os 144
cobradores estudados de uma empresa de transporte coletivo de Salvador, já haviam sido
assaltados, encontrando uma alta prevalência de estresse ocupacional. Tendo em vista o
grande número de casos registrados na cidade do Rio de Janeiro e o estudo de FRANÇA et al.
(1998) o percentual do nosso estudo é pequeno, 32,7% afirmaram terem sido assaltados
durante o trabalho. Segundo RJTV (2005), houve um aumento de 89,8% nos assaltos a
ônibus, comparado ao mesmo período em 2004. Acredita-se que este aumento tem como
motivação a compra de drogas.
O motorista de ônibus pode estar exposto a uma variedade de riscos do trabalho, à
vibração, ao estresse postural, a partir de uma posição sedentária durante o ato de dirigir.
ISSEVER et al. (2002) citaram em seu artigo que as pesquisas têm indicado que a postura
imprópria pode contribuir para muitas doenças comuns, incluindo as que afetam o sistema
circulatório (hipertensão arterial) e sistema locomotor (dor na coluna), possuindo, também,
um papel importante na etiologia das doenças psicológicas. O desconforto ergonômico e os
fatores físicos nos locais de trabalho, onde incluímos a qualidade das vias, somam-se aos
riscos de trabalho que podem produzir doenças físicas e psíquicas aos empregados.
101
O motorista observado, 31 anos, relatou queixa de cefaléia com padrão pulsátil, de
leve intensidade, presente desde criança. Ele manteve uma postura sentada imprópria,
principalmente, com anteriorização da cabeça, flexão da coluna favorecendo a perda da
lordose lombar e de cervical baixa. Estes dados estão em conformidade com vários estudos
que ao avaliarem a dor em lombar e cervical, colocam a postura e os fatores ergonômicos do
local de trabalho, como elementos essenciais para o diagnóstico das causas das dores
(KRAUSE, et al. 1997; MAGNUSSON et al., 1996; LEVI et al., 2000; HANNERZ &
TÜCHSEN, 2001).
O motorista observado no estudo de NEVES (2004) manteve uma postura favorável
no percurso de ida, porém, durante o retorno, era presente a fadiga física e o motorista
modificou a postura, adotando uma postura mais imprópria. No estudo de FERNANDES
(2002), o motorista manteve uma postura imprópria durante toda a viagem.
KRAUSE et al. (1997) concluem que, devido à alta associação dos riscos com os
fatores ergonômicos no estudo realizado por eles, redesenhar o local de trabalho do motorista
pode ser uma área promissora na prevenção das dores em região lombar e cervical.
Dos 61% dos pesquisados com queixa de dor lombar mostrado no estudo de ISSEVER
et al. (2002), 88% pensaram que suas desordens foram causadas pelas condições de trabalho,
associadas ao ato de dirigir.
Os trabalhos com condições não ergonômicas, carga de trabalho pesada, insatisfação,
estresse e movimentos repetitivos contínuos, contribuíram para efeitos negativos sobre o
trabalhador, levando-os a prejuízos psicológicos. As pessoas insatisfeitas com o trabalho
possuem alta somatização, depressão, ansiedade, irritabilidade e idéias paranóicas. O aumento
do estresse psicosocial no local de trabalho pode contribuir para o aumento dos acidentes e
doenças ocupacionais (ISSEVER et al., 2002).
102
Em nossa pesquisa, encontramos o trânsito (39,5%) como o maior fator de desgaste,
seguido pela cadeira e/ou instalações (11,1%), diferenciando do estudo de NEVES (2004) que
apontou a temperatura e os ruídos (somando 79,0%). Nos dois estudos, a relação com os
passageiros aparece como terceiro fator mais desgastante no trabalho.
6.3 DO ESTUDO DA CEFALÉIA
A cefaléia é um sintoma freqüentemente encontrado na prática clínica, tendo a
migrânea na 19a posição mundial entre todas as doenças causadoras de incapacidade segundo
a OMS (SCCSIC, 2004). A prevalência da cefaléia ao longo da vida, conforme estudo de
RASMUSSEN (1994), foi entre 93 e 96%. Em outros estudos, a prevalência da cefaléia tem
sido estimada pela razão de 35% a 84% em homens e de 46 a 95% em mulheres, dependendo
da população estudada e do método usado (STEWART et al., 1994). A prevalência estimada
tende a variar de acordo com a população alvo, índice epidemiológico (ponto, tempo de
prevalência e tempo de vida) e os tipos de entrevista (RASMUSSEN et al., 1991).
Em nosso estudo, a prevalência de cefaléia nos motoristas estudados foi de 56,4% e
encontra-se em conformidade com a prevalência para os homens estimada por STEWART et
al. (1994) e foi maior do que a encontrada no estudo de BEGHI et al. (2003) que estudou dois
grupos na Itália, apresentando uma pequena diferença na prevalência das duas áreas
pesquisadas, onde obteve um resultado de 28% entre os homens com queixa de cefaléia.
Acreditamos ocorrer a alta prevalência da cefaléia em nosso estudo em função do
baixo poder aquisitivo dos motoristas, que inviabiliza a ida ao médico especializado
(cefaliatra) e um tratamento adequado, como também, das condições de trabalho e dos fatores
de riscos inerentes à função de motorista. Estes podem, de alguma forma, ocasionar doenças
físicas e psíquicas, de forma a aumentar o estresse físico e emocional destes trabalhadores e,
assim, repercutir no aumento da freqüência das crises de cefaléia. BIGAL et al. (2000), ao
estudarem os funcionários do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, chegaram a esta mesma
103
conclusão para justificar a alta prevalência encontrada neste estudo. STEWART et al. (1992)
constataram que a migrânea foi muito mais prevalente no grupo de menor renda salarial e, os
motoristas estudados neste trabalho se incluem neste perfil.
Considerando que o pico de prevalência da migrânea se dá entre 30 a 45 anos e da
CTT entre os 20 a 40 anos, e que a migrânea e a CTT são os tipos mais comuns de cefaléia,
nosso estudo revelou uma maior predominância entre 20 a 40 anos. O mesmo foi observado
por DELEU et al. (2002) que encontrou uma prevalência alta de migrânea na segunda e
terceira décadas, com decréscimo da prevalência ocorrendo com o aumento da idade, e uma
prevalência alta de CTT durante a segunda e a terceira décadas. Igual registro se acha no
estudo de BIGAL et al (2000) que encontrou 51,9% dos pacientes com cefaléia entre 20 a 40
anos.
Em relação à freqüência das crises, a metodologia utilizada em nossa pesquisa aborda
a freqüência ocorrendo durante uma semana, variando de menos de 1 vez por semana até
diariamente. Desta forma, fica difícil comparar nossos dados com outros estudos que utilizam
metodologia de freqüência mensal. HENRY et al.(1992) e BIGAL et al.(2000) em estudo na
França e no Brasil, respectivamente, encontraram uma distribuição semelhante entre seus
estudos. O estudo na França, encontrou a seguinte distribuição de freqüência das crises:
menos de 1 por mês, 17%; 1/mês, 32%; 2 a 4 por mês, 40%; e mais de 1 por semana, 10%. A
pesquisa de ZIVADINOV et al. (2001), na Croácia, apresentou 49,2% menos de 1 por
semana; 37,6% menos de 1 por mês; e 13,2% menos de 1 por ano.
Quanto à intensidade da dor, a nossa amostra apontou que a dor leve foi a mais
referida (45,2%), diferenciando do estudo ZIVADINOV et al. (2001) que encontrou a maior
freqüência na dor moderada (45,7%). Em nosso estudo, 25,8% dos motoristas apresentaram
dor intensa, diferenciando do estudo de HENRY et al. (1992) que avaliou os ataques de dor
como sendo intenso pela grande maioria do entrevistados. Neste estudo, a severidade da dor
104
foi expressada mais por mulheres do que homens, e este aspecto pode explicar a diferença
entre esta amostra e a nossa que pesquisou apenas motoristas do sexo masculino. BIGAL et
al.(2001) que utilizou a escala de Von Korff com apenas uma modificação, encontrou dor
muito intensa em 59,4% dos estudantes com migrânea, comparada com 8,9 % dos com CTT.
Em nosso grupo de motoristas com cefaléia, a duração das crises mais freqüentemente
observada foi de até duas horas (67,7%), o que difere dos achados de HENRY et al. (1992),
na França que observaram predominância de 2 a 4 horas (29,0%) nos pacientes masculinos
com migrânea e de BEGHI et al. (2003) na Itália, que observaram de 4 a 24 horas (36,0%) em
seus entrevistados.
A localização da dor mais relatada foi na fronte (41,9%), o que diferencia da
observação de DELEU et al. (2002) que foi de cefaléia unilateral, mas não classificada por
migrânea.
Quanto ao tipo ou qualidade da dor, observamos que a maioria dos motoristas com
cefaléia relataram dor que pulsa ou lateja (51,6%) como o tipo mais freqüente. DELEU et al.
(2002) observaram ser mais predominante a dor em peso ou pressão em 36,3%.
Em relação aos sintomas associados, este estudo mostrou que as maiores freqüências
foram a fonofobia (51,7%) e a fotofobia (31,0%), o que se assemelha ao encontrado por
BEGHI et al. (2003), que observaram, nas duas amostras pesquisadas, o maior total na
fonofobia em 57,0%, seguido pela fotofobia em 14,0%.
Independente do tipo de cefaléia, muitos queixosos possuem uma história familiar de
cefaléia. Embora a genética da cefaléia primária permaneça incerta, é provável que o fator
hereditário possa representar um papel importante neste contexto. Em nossa pesquisa,
encontramos uma incidência de história de cefaléia em familiares de primeiro grau de 48,4%,
que se diferencia da apresentada no estudo de DELEU et al. (2002) numa população rural que
encontrou uma história positiva de cefaléia em 63,5% dos queixosos com cefaléia freqüente.
105
O nosso estudo mostrou-se consistente com o estudo de STEINER et al. (2003) que
não encontrou uma associação estatisticamente significante da prevalência da cefaléia
(migrânea) com o nível educacional. Não existiu uma tendência em direção à baixa
prevalência de cefaléia com o aumento da escolaridade como foi observado pelos estudos de
STEWART et al. (1992 e 1996).
KRYMCHANTOWSKI et al. (2004), apontaram que o consumo médio por paciente
que usa excessivamente as medicações sintomáticas e o tipo de substância utilizada varia
largamente. Eles citam o estudo de GUTZWILLER & ZEMP (1986) que utilizou uma
amostra representativa da população suíça em que 4,4% dos homens e 6,8% das mulheres
tomavam analgésicos pelo menos uma vez por semana, sendo que 2,3% deles os tomavam
diariamente. A incidência desse estudo está bem abaixo da encontrada na população de
motoristas estudada, com uma freqüência de 71,0% dos motoristas fazendo uso de medicação
sintomática, sendo 16,1% uma vez semana e 9,7% utilizando-a diariamente. A pesquisa de
KRYMCHANTOWSKI (2000) mostrou-se semelhante à nossa amostra com 68,0% dos
homens com migrânea transformada consumindo mais de um tipo de medicação sintomática.
No estudo de BEGHI et al. (2003) 27,0% se automedicam.
Quanto à cefaléia após o trauma, o nosso estudo mostrou que um motorista que
apresentou mudança da cefaléia após o trauma por um período de 20 a 30 dias, encontra-se
em conformidade com a classificação (SCCSIC, 2004), onde a CPT aguda atribuída à lesão
cefálica tanto leve quanto moderada ou grave, desaparece dentro de 3 meses após o trauma
cefálico ou persiste, mas ainda não se passaram 3 meses após o trauma. O estudo de DE
SOUZA (1995) constatou que o tempo de permanência com CPT recorrente variou de dois
meses a 16 anos.
A OMS considerou a lombalgia como primeira queixa de dor, seguida pela cefaléia
(GUREJE, 1999). Em nossa amostra, houve uma inversão a respeito da localização das dores
106
relatadas pelos motoristas. Encontramos a cefaléia como primeira queixa (44,9%), seguida da
lombalgia (11,6%).
O estudo de NEVES (2004) encontrou, nos motoristas entrevistados, a dor na coluna
(28,8%) como queixa principal seguida da cefaléia (17,8%). O trabalho de FERNANDES
(2002) mostrou que 39,2% do total de motoristas estudado apresentaram episódios de faltas
ao trabalho por motivos relacionados à saúde num período de 1 ano, sendo 13,2% por
distúrbios musculoesqueléticos. Segundo a autora, as principais regiões afetadas, conforme a
distribuição dos episódios de distúrbios musculoesqueléticos por localização anatômica,
foram: região lombar (45,9%), membros inferiores (24,3%) e região cervical (13,5%).
6.4 DA QUALIDADE DE VIDA
A percepção do estado de saúde e da qualidade de vida, bem como o impacto da
doença e do tratamento, estão sendo, cada vez mais, incluídos nos estudos epidemiológicos,
assumindo uma importante abordagem complementar. O nosso estudo mostrou que a
população de motoristas com cefaléia apresentou uma redução em todos os itens de qualidade
de vida condicionada à saúde (QVCS), medidos pelo Short Form 36 quando comparados com
a mesma população, porém sem cefaléia. Este resultado confirma a perda da QVCS nos
portadores de cefaléia e não a participação da atividade de motorista de ônibus nesse
processo.
Entretanto, os achados são similares aos de LIPTON et al. (2003) que encontraram na
população de migranosos uma redução estatisticamente significativa na maioria dos
componentes medidos pelo SF-36 da QVCS quando comparados com um grupo controle da
mesma população.
Vários estudos têm demonstrado as conseqüências negativas e as limitações da
cefaléia crônica na QVCS assim como no bem-estar do indivíduo quando comparados com
107
outros pacientes com condições não crônicas. SOLOMOM et al. (1993, 1994) observaram que
a cefaléia crônica tem um nível funcional e QVCS piores do que pacientes com outras
condições crônicas como artrite, diabetes, depressão e problemas de coluna, e também, pode
se perceber uma melhora dos escores da QVCS com o tratamento.
No estudo de LIPTON et al. (2000), conduzido numa população similar dos EUA e do
Reino Unido, foi observado que nos dois países os migranosos tinham baixo escores de
QVCS comparados com os não migranosos equivalentes. Neste mesmo estudo, a depressão
foi considerada mais comum entre os migranosos do que no grupo controle sem migrânea. A
QVCS foi significativamente reduzida nos migranosos com depressão em comparação aos
sem depressão. BRESLAU & DAVIS (1993) compararam o bem-estar dos migranosos com
um grupo controle, igualados por idade e sexo. Encontraram que entre as crises, os
migranosos relatavam mais sintomas e maior aflição emocional, assim como distúrbios de
satisfação, vitalidade e sono em relação à população controle. Em nosso estudo, não foram
avaliadas as comorbidades, impedindo análises neste sentido.
TERWINDT et al. (2000) administrou o SF-36 e encontrou uma redução na QVCS
quando comparou migranosos com controle sem cefaléia. Não houve nenhuma diferença entre
migranosos e sofredores de outros tipos de cefaléia. Neste mesmo trabalho, para todos os 8
componentes, a QVCS diminuiu significativamente com o aumento da freqüência dos ataques
de migrânea e, não se modificou pela idade, gênero ou classe socioeconômica.
LIPTON et al. (2003) observaram que a maior diferença entre os escores ocorreu no
aspecto físico seguido pela dor, aspecto social e aspecto emocional. A mesma diferença foi
observada no estudo de VAN SUIJLEKOM et al. (2003) ao avaliarem a QVCS em paciente
com cefaléia cervicogênica. No nosso estudo, encontramos a maior diferença entre os escores
do grupo com cefaléia e do grupo sem cefaléia no componente dor (61,0 com cefaléia versus
87,4 sem cefaléia) seguidos pelos componentes estado geral da saúde (69,5 com cefaléia
108
versus 89,7 sem cefaléia), saúde mental (76,1 com cefaléia versus 93,5 sem cefaléia), aspecto
físico (78,2 com cefaléia versus 92,7 sem cefaléia).
Quando analisamos o escore dos 8 componentes dos motoristas com e sem cefaléia e
outras dores, observamos uma redução do escore nos que relatam outras dores, com maior
incidência nos que apresentam cefaléia e outras dores, principalmente nos componentes dor e
vitalidade.
Pacientes com migrânea e dor musculoesquelética crônica apresentaram escores
significativamente menores nos 8 componentes do que o grupo controle, grupo com apenas
migrânea e grupo que relatou apenas dor musculoesquelética crônica. Para este estudo, o
impacto da migrânea foi maior sobre os componentes aspecto social e saúde mental, enquanto
a asma e a dor musculoesquelética crônica tiveram um maior impacto sobre o aspecto físico
(TERWINDT et al., 2000).
6.5 DA CEFALÉIA E DO DESEMPENHO PROFISSIONAL
Muitos estudos sobre o impacto da dor em relação ao trabalho têm focado sobre a
perda do tempo devido ao ausentismo, mas poucos têm estimado o impacto da redução da
performance do trabalho por causa da dor. A evidência tem mostrado que a redução da
performance do trabalho devido à dor, e não o ausentismo, é a causa principal de perda da
produtividade. Esta perda do tempo de trabalho vai intervir sobre o aumento dos custos
indiretos, que segundo muitos estudos têm mostrado que excedem os custos diretos.
O estudo de MICHEL et al. (1997), realizado com os trabalhadores da companhia
nacional de eletricidade e gás da França, mostrou estatisticamente maior ausentísmo nas
mulheres do que nos homens; nos migranosos do que nos sem cefaléia.
VON KORFF et al. (1998) encontraram um total de 8,1 dias de trabalho com cefaléia
em 3 meses e, neste período, os participantes apresentaram 1,1 perda de dias de trabalho
109
devido à cefaléia, com redução na produtividade. STEWART et al. (1996) relataram que 38%
dos homens e 51% das mulheres perdem o equivalente a 6 dias ou mais de trabalho por ano.
No grupo de trabalhadores da Força Tarefa Americana, 44% foram do sexo masculino
e do total dos participantes do estudo, 51% ganhavam menos que US$ 40.000 por ano e 83%
trabalhavam mais do que 30 horas por semana. Nesta pesquisa, a cefaléia e a dor da coluna
foram causas dominantes de perda de dias de trabalho devido à dor. Em relação à redução da
performance no trabalho devido à dor, observou-se que ela foi maior em todos os tipos de
dores quando comparadas com o ausentismo (STEWART et al., 2003).
Diferentemente, o estudo realizado por nós, mesmo sendo feito num grupo do sexo
masculino, não se constatou nenhuma falta ao trabalho atribuída à cefaléia. O nosso grupo de
motoristas trabalha 42 horas por semana ou mais e sua renda por ano é em torno de US$
5.380. Em relação à redução da performance no trabalho, devido a falta de uma metodologia
específica, podemos avaliá-la pelos componentes aspecto físico e dor do SF36, que medem as
limitações físicas e a intensidade de dor e sua extensão no passar dos meses, dificultando a
realização do trabalho e de atividade da vida diária. Neste caso, observamos uma redução dos
aspectos físicos e da dor dos motoristas com cefaléia (78,2 e 61,0, respectivamente) em
relação aos sem cefaléia (92,7 e 87,4, respectivamente).
Analisando esta totalidade de motoristas (100%) que respondeu não perder dia de
trabalho devido à cefaléia, é necessário acrescentar que durante a entrevista muitos dos que
responderam ter cefaléia, atribuíram uma causa para tal dor. Alguns disseram ter cefaléia por
causa do fígado, outros devido à visão ou por algo que comeram ou beberam. Será que
alguma das faltas ao trabalho que tiveram no decorrer da atividade de motorista foi devido à
causa (atribuída por eles) à dor e não pela incapacidade causada pela cefaléia, e desta forma
não ficou evidenciado o verdadeiro motivo da falta ao trabalho? Além disso, o serviço médico
da empresa estudada não possui um controle sobre os tipos de falta justificada por atestado
110
médico. Sendo assim, tornou-se impossível realizar o estudo do absenteísmo e seus tipos por
categoria do tipo da doença. No nosso estudo utilizamos o ausentismo referido.
Somado a isto, é preciso avaliar o efeito da cefaléia tanto crônica quanto aguda na vida
das pessoas. Muitos estudos têm mostrado que a dor dos migranosos é severa, gerando
sofrimento, e isto pode influenciar a capacidade da população sofredora. RASMUSSEN et al
(1991 e 1992) encontraram que 84,8% dos migranosos têm dor intensa, em nosso estudo o
percentual foi de 25,8%. O American Migraine Study (STEWART et al., 1992), observou que
um terço dos pacientes relataram ser severamente incapacitantes e que eles necessitavam de
repouso quando com cefaléia. No nosso grupo pesquisado, 74,2% dos motoristas disseram
preferir ficar recolhido num local escuro e, mesmo assim, todos eles relataram trabalhar diante
da crise de cefaléia. É necessária uma nova metodologia para avaliar se este percentual
elevado do comportamento diante da dor, possa influenciar a capacidade funcional dos
motoristas e se poderá estar afetando na perda da produtividade e/ou dos dias de trabalho (não
encontrada no nosso estudo).
É importante acrescentar que o impacto da cefaléia sobre a saúde pública pode ser
menor do que sobre a própria pessoa. Muitos migranosos podem sofrer “silenciosamente” e
trabalhar durante as crises. Este sofrimento silencioso somado ao sofrimento que para
DEJOURS (1992, 1994) é inevitável, surgindo quando a relação homem e organização do
trabalho impede ou limita os desejos dos sujeitos, criando estratégias de defesa que o
ajudarão a negar ou proteger o próprio sofrimento e com isto, ocorrer uma queda da
produtividade e perda de dias de trabalho.
6.6 LIMITAÇÃO DO ESTUDO
Nesta pesquisa não foi possível abranger a totalidade de motoristas da empresa (247),
sendo assim, a amostra estudada (n=55) foi selecionada entre os 59 motoristas de uma
111
determinada linha, e correspondeu a 22,3% dos motoristas da empresa. Contando que na
cidade do Rio de Janeiro, o total estimado de motoristas equivale a 14.000, o percentual
estudado passou para 0,4%;
Não foi possível classificar as cefaléias relatadas de acordo com a classificação da SIC
pelo modelo do questionário sobre cefaléia aplicado;
Não foi possível realizar uma análise por sexo, pois somente um motorista é do sexo
feminino. Ela foi excluída da análise estatística, mesmo apresentando características
semelhantes ao restante da amostra.
112
7 CONCLUSÃO
1. O levantamento das características do processo e da organização do trabalho da
população de motoristas de ônibus permite afirmar que a gestão da empresa
estudada investe em Qualidade Total, melhorando as condições de trabalho e
diminuindo os fatores de riscos a que estão submetidos estes trabalhadores,
diferenciando das características encontradas na literatura.
2. A análise da apresentação dos tipos de dores revela que a presença de dor é alta
neste grupo de trabalhadores (65,4%), sendo a cefaléia (44,9%) a dor mais
freqüente. Este achado aponta evidências contrárias à colocação da lombalgia
como queixa principal, reforçando a necessidade de mais pesquisas
epidemiológicas abrangendo cefaléia.
3. A prevalência da cefaléia, independente da classificação, é alta entre os
motoristas (56,4%), principalmente na faixa etária de 31 a 40 anos, sendo
semelhante ao que ocorre na população geral.
4. O uso excessivo de medicações sintomáticas foi freqüente no grupo de
motoristas com cefaléia, apresentando diferença significativa em relação aos
achados na literatura. Esta característica indica a falta de assistência médica
especializada capaz de gerar um tratamento adequado para cefaléia na
população de baixo padrão socioeconômico.
5. O único caso (n=1) com alteração da freqüência da cefaléia após acidente com
o ônibus, mostra evidências de que os acidentes de trânsito sofridos pela
população estudada não sugerem traumatismo de cabeça.
113
6. A verificação dos dados colhidos pelo SF36 permite afirmar que a cefaléia é
causa de redução da QVCS. O grupo de motoristas com cefaléia apresentou
uma redução em todos os componentes deste questionário quando comparado
com o grupo sem cefaléia. A mesma redução foi observada nos motoristas com
cefaléia e outras dores.
7. A análise do absenteísmo auto-referido devido à cefaléia (0%) nos revela que a
perda de trabalho relatada não apresenta uma relação de causa e efeito, sendo
necessários mais estudos para evidenciar uma possível queda da produtividade
gerada pela cefaléia, tendo em vista que estes motoristas trabalham mesmo
com dor.
114
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125
ANEXOS
126
ANEXO A
CARTA DE SOLICITAÇÃO À EMPRESA
127
Rio de Janeiro,--- de março de 2004
Ao Diretor da Empresa de Transporte Coletivo Urbano da Cidade do Rio de
Janeiro
Venho apresentar o aluno do mestrado, Liriana Magalhães Carneiro, sob minha
orientação junto ao Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. A tese em elaboração, com o título: “Prevalência e Impacto da
Cefaléia na População de Motoristas de uma Empresa de Transporte Coletivo
Urbano”, é parte de um programa de investigação que tem como objetivo avaliar e
caracterizar a dinâmica do trabalho e sua organização diante do quadro de cefaléia,
assim como, o impacto na produtividade.
Solicito a sua permissão para que o aluno possa proceder a coleta de dados
prevista pela metodologia da investigação junto aos motoristas desta empresa, que
acredito apresentar as condições e características do trabalho necessárias aos objetivos
propostos no estudo.
A relevância deste estudo será contribuir em benefícios para a saúde do
trabalhador – motorista. Todas as questões éticas em pesquisas que envolvem seres
humanos serão resguardadas conforme a Resolução 196/96. No estudo será preservada
a integridade do trabalhador e da empresa.
Atenciosamente
ANAMARIA TESTA TEMBELLINI
Professora Adjunta/NESC/UFRJ
Chefe do Departamento de Medicina Preventiva/ Faculdade de Medicina/ UFRJ
128
ANEXO B
TERMO DE CONSENTIMENTO
129
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, através do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva, convida você trabalhador
da empresa____________ (nome da empresa) a participar do estudo desenvolvido
pela pesquisadora Liriana Magalhães Carneiro, sob orientação da professora Anamaria
Testa Tambellini, cujo título é: “Prevalência e Impacto da Cefaléia na População
de Motoristas de uma Empresa de Transporte Coletivo do Municípo do Rio de
Janeiro”.
O objetivo deste estudo é estudar a prevalência da cefaléia e determinar seu
impacto na qualidade de vida e no desempenho profissional da população de
motoristas da empresa de transporte coletivo municipal e conhecer de que forma as
atividades de trabalho levam aos problemas de saúde, no nosso caso, de como o
processo de trabalho pode contribuir para a cronificação da dor.
Nesta pesquisa teremos a necessidade de observar o processo de trabalho e de
realizar entrevistas.
A participação nesta pesquisa é voluntária e sua recusa não implicará em
qualquer perda. Os dados colhidos serão inteiramente sigilosos, avaliados apenas pelo
pesquisador e sua orientadora. A identidade dos participantes será preservada.
Os resultados, em sua totalidade, serão publicados em literatura científica
especializada. Será marcada uma data para divulgação dos resultados e, caso seja
detectada alguma anormalidade, os participantes da pesquisa serão encaminhados para
avaliação clínica.
Pesquisadora: Liriana Magalhães Carneiro
Orientadora: Anamaria Testa Tambellini
Declaro estar de acordo em participar da pesquisa
Rio de Janeiro, __________________________________2005
Nome:____________________________________________________________
Assinatura:________________________________________________________
Identidade:_________________________________
130
ANEXO C
ESTUDO DA CEFALÉIA
131
ANEXO C – PARTE 1
DADOS GERAIS DOS MOTORISTAS
Idade_________________
P.1 – Nível de Escolaridade
1)
Alfabeto
2)
Primário Incompleto
3)
Primário Completo
4)
Ginásio incompleto
5)
Ginásio Completo
6)
2º Grau Incompleto
7)
2º Grau Completo
8)
Superior Incompleto
9)
Superior Completo
P.2 – Estado Civil
1)
Solteiro
2)
Casado
3)
Separado
4)
Divorciado
5)
Viúvo
P.3 – Participação na renda da casa
1)
Principal ou único responsável pelo sustento da casa
2)
Contribui no sustento da casa, dividindo as despesas
P.4 – Renda
1)
Menos de 500 reais
2)
De 500 a 1.000 reais
3)
Mais de 1.000 reais
132
P.5 – Tempo de Trabalho como Motorista
1. Menos de 1 ano
2. Entre 1 e 3 anos
3. De 4 a 6 anos
4. De 7 a 10 anos
5. Mais de 10 anos Quantos anos?_______________
P.6 – Turno de Trabalho
1. Diurno
2. Noturno
P. 7 – Faz horas extras?
1. Não
2. Sim
Quantas?_____________
P.8 – Horas de Trabalho em Média por Dia
1. Até 8 horas
2. De 8 a 12 horas
3. Mais de 12 horas
P.9 – Qual o número de viagens num dia de trabalho?
______________________________________
P.10 – Você faz intervalos entre cada viagem?
1.
Sim
2.
Não
(ir para a pergunta 12)
P.11 – Qual o tempo de intervalo entre cada viagem?
1.
Até 5 minutos
2.
De 5 a 10 minutos
3.
De 10 a 15 minutos
4.
Mais de 15 minutos
133
P.12 – Qual o tempo gasto para chegar ao local do trabalho
1.
Menos de 1 hora
2.
De 1 a 2 horas
3.
De 2 a 3 horas
4.
Mais de 3 horas
P.13 – Qual o meio que você utiliza para chegar ao trabalho
1. Caminho, por morar próximo ao trabalho
2. Ônibus
3. Trem
4. Ônibus e trem
5. Outros
Especificar______________________________
P.14 – Você já foi assaltado durante o trabalho?
1. Sim
2. Não (ir para a pergunta 18)
P. 15 – Houve algum tipo de agressão?
1. Não
2. Sim Qual foi o tipo____________________________________________
P.16 – Você foi ferido, teve que ir ao médico ou hospital?
1. Não
2. Sim
O que aconteceu?
P.17 – Você já teve Acidente com o Ônibus?
1. Não (ir para a P.20)
2. Sim
P.18 – Quais as conseqüências deste acidente, foi prejudicial à saúde, chegou a ir
para o hospital?
________________________________________________________________
134
P.19 – Nos últimos meses, apresentou algum tipo de dor dentro ou fora do
trabalho?
1. Não
2. Sim
Aonde é ou são a(s) dor(es)?_________________________________
P.20 – Fator Desgastante no Trabalho
1. Temperatura elevada
2. Excesso de ruídos
3. Trânsito
4. Violência
5. Poluição
6. Passageiros
7. Cadeira e/ou outras instalações
8. Dor
9. Outros ____________________________________
P.21 – Satisfação com o Trabalho
1. Excelente
2. Muito bom
3. Bom
4. Ruim
5. Péssimo
135
ANEXO C – PARTE 2
QUADRO GERAL DA DOR DE CABEÇA
P.22 – Você tem tido dor de cabeça?
1. Sim
2. Não
P.23 – Há quanto tempo tem tido Dor de Cabeça
1. Menos de 6 meses
2. Entre 6 meses e 1 ano
3. Entre 1 e 3 anos
4. De 4 a 10 anos
5. Mais de 10 anos – Com qual idade começou a ter dor de
cabeça?____________
P.24 - Sua dor de cabeça ficou mais freqüente (tem vindo mais vezes) ou é mais
forte de algum tempo para cá?
1)
Não
2)
Sim
Há quanto tempo?_______________________
P.25 – Lembra se após o acidente com o ônibus surgiu uma dor de cabeça?
(apenas para quem respondeu sim na P.17)
1)
Não
2)
Sim Quantos dias após o acidente surgiu esta dor de cabeça? __________
P.26 – Se SIM na P.25, houve alguma mudança na intensidade, no local ou na
freqüência da sua dor de cabeça antiga após o acidente?
1)
Não
2)
Sim Qual foi a mudança observada?_________________________
P.27 – A dor de cabeça que começou após o acidente ainda existe?
1. Sim
2. Não
Quanto tempo ela durou?______________________________
136
P.28 – Quantas vezes a sua dor de cabeça acontece?
1)
Menos de 1 vez por semana
2)
Entre 1 e 2 vezes por semana
3)
Entre 3 e 6 vezes por semana
4)
Diariamente
P.29 – Sua dor de cabeça atual, geralmente
1)
Pulsa/lateja
2)
Peso/pressão
3)
Queima/arde
4)
Outro tipo. Qual?________________________________
P.30 – Como você classifica a intensidade da sua dor de cabeça atual
1)
Leve
2)
Moderada, média
3)
Intensa, forte
P.31 – Localização da sua dor de cabeça atual.
1)
Na fronte
2)
Na região lateral da cabeça
3)
Na fronte e na lateral da cabeça
4)
Só de um lado, sempre do mesmo lado? Qual? ______________
5)
Só de um lado sendo cada vez de um lado?
6)
No topo da cabeça
7)
Na parte de trás da cabeça
8)
Difusa em toda cabeça
P.32 – Sua dor de cabeça atual, geralmente
1)
Começa leve e aumenta
2)
Começa forte e diminui
3)
Começa e fica igual em intensidade
137
P.33 – Sua dor de cabeça atual, geralmente
1)
É acompanhada de enjôo
2)
É acompanhada de vômitos
3)
A claridade incomoda mais do que quando está sem dor nenhuma
4)
Os barulhos incomodam mais do que quando está sem dor nenhuma
5)
Os cheiros incomodam mais do que quando está sem dor nenhuma
P.34 – Durante a sua dor atual, você geralmente
1)
Prefere caminhar ou se exercitar
2)
Prefere ficar quieto e recolhido a um canto escuro e tranqüilo
3)
É indiferente a isto
P.35 – Duração da dor de cabeça atual, geralmente
1)
Dura até 2 horas (mesmo com remédio)
2)
De 2 a 4 horas (mesmo com remédio)
3)
De 5 a 6 horas (mesmo com remédio)
4)
De 7 a 10 horas (mesmo com remédio)
5)
Dura + de 12 horas (mesmo com remédio)
6)
Dura + de 24 horas (mesmo com remédio)
P.36 – Você geralmente toma remédios para a sua dor de cabeça?
1)
Não
2)
Sim
Qual? _______________________________________________
P.37 – Quantas vezes por semana você geralmente toma remédios para a dor de
cabeça?
1)
Menos de 1 vez a cada 10 dias
2)
1 dia por semana
3)
2 dias por semana
4)
3 dias por semana
5)
4 dias por semana
6)
5 dias por semana
7)
6 dias por semana
8)
7 dias por semana
138
P.38 – Alguém tem dor de cabeça na sua família?
1)
Não
2)
Sim
Quem?
_______________________________________________
P.39 – Você já faltou ao trabalho por causa da dor de cabeça?
1)
Não
2)
Sim
Quantos dias nos últimos três meses?
_______________________________________________
139
ANEXO C – PARTE 3 – SF-36
Instruções: Esta pesquisa questiona você sobre sua saúde. Os dados a serem fornecidos
nos manterão informados sobre como você se sente e sobre quão bem você é capaz de
fazer suas atividades de vida diária. Responda a cada questão marcando a resposta
conforme indicado. Caso você esteja inseguro em como responder, por favor tente responder
o melhor que puder.
1. Em geral, você diria que sua saúde é:
(circule uma)
Excelente .................................................................................................................................... 1
Muito boa .................................................................................................................................... 2
Boa ............................................................................................................................................. 3
Ruim ........................................................................................................................................... 4
Muito ruim ................................................................................................................................... 5
2. Se comparada há um ano, como você classificaria sua saúde em geral, agora?
(circule uma)
Muito melhor agora do que há um ano .......................................................................................1
Um pouco melhor agora do que há um ano ............................................................................... 2
Quase a mesma de um ano atrás .............................................................................................. 3
Um pouco pior agora do que há um ano .................................................................................... 4
Muito pior agora do que há um ano ........................................................................................... 5
140
3. Os itens abaixo são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante um dia
comum. Devido à sua saúde, você tem dificuldade para fazer essas atividades? Neste
caso, quanto?
(circule um número em cada linha)
SIM
Dificulta
muito
SIM
Dificulta um
pouco
NÃO
Não dificulta de
modo algum
a) Atividades vigorosas, que exigem muito
esforço, tais como correr, levantar objetos
pesados, participar em esportes árduos
1
2
3
b) Atividades moderadas, tais como mover uma
mesa, passar aspirador de pó, jogar bola,
varrer a casa 1 2 3
1
2
3
c) Levantar ou carregar mantimentos
1
2
3
d) Subir vários lances de escada
1
2
3
e) Subir um lance de escada
1
2
3
f) Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se
1
2
3
g) Andar mais de 1 quilômetro
1
2
3
h) Andar vários quarteirões
1
2
3
i) Andar um quarteirão
1
2
3
j) Tomar banho ou vestir-se
1
2
3
Atividades
141
4. Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos problemas abaixo com o seu
trabalho ou com alguma atividade diária regular, como conseqüência de sua saúde física?
(circule um número para cada linha)
SIM
NÃO
a) Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu
trabalho ou a outras atividades?
1
2
b) Realizou menos tarefas do que você gostaria?
1
2
c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou em outras
atividades?
1
2
d) Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades
(p.ex.: necessitou de um esforço extra) ?
1
2
5. Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com o seu
trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de algum problema
emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)?
(circule uma em cada linha)
SIM
NÃO
a) Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu
trabalho ou a outras atividades?
1
2
b) Realizou menos tarefas do que você gostaria?
1
2
c) Não trabalhou ou não fez qualquer das atividades com tanto
cuidado como geralmente faz?
1
2
142
6. Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou seus problemas
emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família, aos
vizinhos, aos amigos ou em grupo?
(circule uma)
De forma nenhuma.......................................................................................................................... 1
Ligeiramente ................................................................................................................................... 2
Moderadamente ............................................................................................................................. 3
Bastante ......................................................................................................................................... 4
Extremamente ................................................................................................................................ 5
7. Quanta dor no corpo você teve durante as últimas 4 semanas?
(circule uma)
Nenhuma ........................................................................................................................................ 1
Muito leve ....................................................................................................................................... 2
Leve ................................................................................................................................................ 3
Moderada ....................................................................................................................................... 4
Grave .............................................................................................................................................. 5
Muito grave ..................................................................................................................................... 6
8. Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu no seu trabalho normal (incluindo
tanto o trabalho fora de casa como o de dentro de casa)?
(circule uma)
De maneira alguma ........................................................................................................................ 1
Um pouco ....................................................................................................................................... 2
Moderadamente ............................................................................................................................. 3
Bastante ......................................................................................................................................... 4
Extremamente ................................................................................................................................ 5
143
9. Estas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você
durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, por favor dê uma resposta que mais se
aproxime da maneira como você se sente, em relação às últimas 4 semanas.
(circule um número para cada linha)
Uma
pequena
Nunca
parte do
tempo
Todo o
tempo
A maior
parte do
tempo
Uma
boa
parte do
tempo
Alguma
parte do
tempo
a) Quanto tempo você tem se
sentido cheio de vigor,
cheio de vontade, cheio de
força?
1
2
3
4
5
6
b) Quanto tempo você tem se
sentido uma pessoa muito
nervosa?
1
2
3
4
5
6
c) Quanto tempo você tem se
sentido tão deprimido que
nada pode animá-lo?
1
2
3
4
5
6
d) Quanto tempo você tem se
sentido calmo ou tranqüilo?
1
2
3
4
5
6
e) Quanto tempo você tem se
sentido com muita energia?
1
2
3
4
5
6
f) Quanto tempo você tem se
sentido desanimado e
abatido?
1
2
3
4
5
6
g) Quanto tempo você tem se
sentido esgotado?
1
2
3
4
5
6
h) Quanto tempo você tem se
sentido uma pessoa feliz?
1
2
3
4
5
6
i) Quanto tempo você tem se
sentido cansado?
1
2
3
4
5
6
144
10. Durante as últimas 4 semanas, quanto do seu tempo, sua saúde física ou problemas
emocionais interferiram nas suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc.)?
(circule uma)
Todo o tempo ................................................................................................................................. 1
A maior parte do tempo .................................................................................................................. 2
Alguma parte do tempo .................................................................................................................. 3
Uma pequena parte do tempo ....................................................................................................... 4
Nenhuma parte do tempo ............................................................................................................... 5
11. O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?
(circule um número em cada linha)
Definitivamente
verdadeiro
A maioria
das vezes
verdadeiro
Não
sei
A maioria
das vezes
falsa
Definitivamente
falsa
a) Eu costumo adoecer um pouco
mais facilmente que as outras
pessoas.
1
2
3
4
5
b) Eu sou tão saudável quanto
qualquer pessoa que eu
conheço.
1
2
3
4
5
c) Eu acho que a minha saúde
vai piorar.
1
2
3
4
5
d) Minha saúde é excelente.
1
2
3
4
5
145
ANEXO D
PONTUAÇÃO DO QUESTIONÁRIO SF-36
146
Pontuação do questionário SF-36
Questão
Pontuação
01
1= > 5,0 2= > 4,4 3= > 3,4 4= > 2,0 5= > 1,0
02
Soma Normal
03
Soma Normal
04
Soma Normal
05
Soma Normal
06
1= > 5
07
1= > 6,0
2= > 4
3= > 3
2= > 5,4
4= > 2
3= > 4,2
5= > 1
4= > 3,1
5= > 2,2
6= > 1,0
Se 8 = > 1 e 7 = > 1 = = = = = = >>>>>> 6
Se 8 = > 1 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 5
Se 8 = > 2 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 4
Se 8 = > 3 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 3
Se 8 = > 4 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 2
Se 8 = > 5 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 1
08
Se a questão 7 não for respondida, o escore da questão 8 passa a ser o
seguinte:
1= > 6.0
2= > 4,75
3= > 3,5
4= > 2,25
5= > 1,0
a,d,e,h = valores contrários (1=6, 2=5, 3=3, 4=3, 5=2, 6=1)
09
Vitalidade= a+e+g+i
10
Saúde mental= b+c+d+f+h
Soma Normal
a, c = valores normais
11
b, d = valores contrários (1=5, 2=4, 3=3, 4=2, 5=1)
147
Cálculo do Raw Scale (0 a 100)
Questão
Limites
Score
Range
3 (a+b+c+d+e+f+g+ h+i+j)
10 , 30
20
4 (a+b+c+d)
4,8
4
Dor
7+8
2 , 12
10
Estado geral de saúde
1 + 11
5 , 25
20
9 (a+e+g+i)
4 , 24
20
6 + 10
2 , 10
8
5 (a+b+c)
3,6
3
9 (b+c+d+f+h)
5 , 30
25
Capacidade funcional
Aspectos físicos
Vitalidade
Aspectos sociais
Aspecto emocional
Saúde mental
Raw Scale
Ex.:
Item = [Valor obtido – Valor mais baixo] x 100
Variação
Ex.:
Capacidade funcional = 21
Valor mais baixo = 10
Ex.: 21 – 10 x 100 = 55
20
Variação = 20
Obs.:: A questão nº 2 não entra no cálculo dos domínios.
Dados perdidos
Se responder mais de 50% = substituir o valor pela média.
148
ANEXO E
PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
149
OBSERVAÇÃO DIRETA DO PROCESSO DE TRABALHO
Data: ______________________
1. Linha Observada
2. Previsão do Tempo de Viagem (ida e volta)
3. Horário: Início _______________ Término: ___________________
4. Linha Observada
5. Turno de Trabalho
6. Quantas viagens o motorista realiza todos os dias?
7. Quanto tempo o motorista permanece sentado durante a sua jornada de trabalho?
8. Quantas vezes o motorista levanta durante o período de um trajeto?
9. Descrição da postura do indivíduo na realização da atividade de dirigir
10. Número de paradas nos pontos e sinais fechados durante o trajeto de ida e volta
11. Intervalo entre as viagens
12. Conversa entre os motoristas, passageiros e cobradores
13. Motorista utiliza cinto de segurança?
14. Há queixas de fadiga física ou mental?
15. Condições da cadeira do motorista
16. Os objetos e mecanismos estão situados de forma que o motorista possa realizar os
movimentos necessários e manter uma boa postura?
17. Condições de conservação geral do ônibus
18. Há ar condicionado no ônibus?
19. A roleta de cobrança é na frente ou atrás?
150
ANEXO F
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL
DAS CEFALÉIAS
151
Classificação Internacional das Cefaléias
Código SIC Código OMS Diagnóstico
CID-Cf-II
CID-10NA
[e código CID-10 etiológico para cefaléias secundárias]
1
G43
Migrânea
1.1
G43.0
Migrânea sem aura
1.2
G43.1
Migrânea com aura
1.2.1
G43.10
Aura típica com cefaléia migranosa
1.2.2
G43.10
Aura típica com cefaléia não-migranosa
1.2.3
G43.104
Aura típica sem cefaléia
1.2.4
G43.105
Migrânea hemiplégica familiar (MHF)
1.2.5
G43.105
Migrânea hemiplégica esporádica
1.2.6
G43.103
Migrânea do tipo basilar
1.3
G43.82
1.3.1
G43.82
Vômitos cíclicos
1.3.2
G43.820
Migrânea abdominal
1.3.3
G43.821
Vertigem paroxística benigna da infância
1.4
G43.81
Migrânea retiniana
1.5
G43.3
Complicações da migrânea
1.5.1
G43.3
Migrânea crônica
1.5.2
G43.2
Estado migranoso
1.5.3
G43.3
Aura persistente sem infarto
1.5.4
G43.3
Infarto migranoso
1.5.5
G43.3 + G40.X
OU G41.X
Crise epiléptica desencadeada por migrânea
1.6
G43.83
1.6.1
G43.83
Provável migrânea sem aura
1.6.2
G43.83
Provável migrânea com aura
1.6.5
G43.83
Provável migrânea crônica
2
G44.2
Cefaléia do tipo tensional (CTT)
2.1
G44.2
Cefaléia do tipo tensional episódica infreqüente
2.1.1
G44.20
Cefaléia do tipo tensional episódica infreqüente associada a
dolorimento pericraniano
2.1.2
G44.21
Cefaléia do tipo tensional episódica infreqüente não-associada a
dolorimento pericraniano
2.2
G44.2
2.2.1
G44.20
Síndromes periódicas da infância comumente precursoras de
migrânea
Provável migrânea
Cefaléia do tipo tensional episódica freqüente
Cefaléia do tipo tensional episódica freqüente associada a
dolorimento pericraniano
152
2.2.2
G44.21
Cefaléia do tipo tensional episódica freqüente não associada a
dolorimento pericraniano
2.3
G44.2
2.3.1
G44.22
Cefaléia do tipo tensional crônica associada a dolorimento
pericraniano
2.3.2
G44.23
Cefaléia do tipo tensional crônica não-associada a dolorimento
pericraniano
2.4
G44.28
2.4.1
G44.28
Provável cefaléia do tipo tensional episódica infreqüente
2.4.2
G44.28
Provável cefaléia do tipo tensional episódica freqüente
2.4.3
G44.28
Provável cefaléia do tipo tensional crônica
3
G44.0
Cefaléia em salvas e outras cefaléias trigêmino-autonônicas
3.1
G44.0
Cefaléia em salvas
3.1.1
G44.01
Cefaléia em salvas episódica
3.1.2
G44.02
Cefaléia em salvas crônica
3.2
G44.03
3.2.1
G44.03
Hemicrania proxística episódica
3.2.2
G44.03
Hemicrania paroxística crônica (HPC)
3.3
G44.08
Cefaléia de curta duração, unilateral, neuralgiforme com hiperemia
conjuntival e lacrimejamento (SUNCT)
3.4
G44.08
Provável cefaléia trigêmino-autonômica
3.4.1
G44.08
Provável cefaléia em salvas
3.4.2
G44.08
Provável hemicrania paroxística
3.4.3
G44.08
Provável SUNCT
4
G44.80
Outras cefaléias primárias
4.1
G44.800
Cefaléia primária em facada
4.2
G44.803
Cefaléia primária da tosse
4.3
G44.804
Cefaléia primária do esforço físico
4.4
G44.805
Cefaléia primária associada à atividade sexual
4.4.1
G44.805
Cefaléia pré-orgástica
4.4.2
G44.805
Cefaléia orgástica
4.5
G44.80
Cefaléia hípnica
4.6
G44.80
Cefaléia trovoada primária
4.7
G44.80
Hemicrania contínua
4.8
G44.2
Cefaléia persistente e diária desde o início (CPDI)
5
G44.88
Cefaléia atribuída a trauma cefálico e/ou cervical
5.1
G44.880
Cefaléia pós-traumática aguda
Cefaléia do tipo tensional crônica
Provável cefaléia do tipo tensional
Hemicrania paroxística
153
5.1.1
G44.880
Cefaléia pós-traumática aguda atribuída a lesão cefálica
moderada ou grave (S06)
5.1.2
G44.880
Cefaléia pós-traumática aguda atribuída a lesão cefálica leve
(S09.9)
5.2
G44.3
5.2.1
G44.30
Cefaléia pós-traumática crônica atribuída a lesão cefálica
moderada ou grave (S06)
5.2.2
G44.31
Cefaléia pós-traumática crônica atribuída a lesão cefálica leve
(S09.9)
5.3
G44.841
Cefaléia aguda atribuída a lesão chicotada (S13.4)
5.4
G44.841
Cefaléia crônica atribuída a lesão em chicotada (S13.4)
5.5
G44.88
Cefaléia atribuída a hematoma intracraniano traumático
5.5.1
G44.88
Cefaléia atribuída a hematoma epidural (S06.4)
5.5.2
G44.88
Cefaléia atribuída a hematoma subdural (S06.5)
5.6
G44.88
5.6.1
G44.88
Cefaléia aguda atribuída a outro trauma cefálico e/ou cervical
(S06)
5.6.2
G44.88
Cefaléia crônica atribuída a outro trauma cefálico e/ou cervical
(S06)
5.7
G44.88
5.7.1
G44.880
Cefaléia aguda pós-craniotomia
5.7.2
G44.30
Cefaléia crônica pós-craniotomia
6
G44.81
Cefaléia atribuída a doença vascular craniana ou cervical
6.1
G44.810
Cefaléia atribuída a acidente vascular encefálico isquêmico ou
ataque isquêmico transitório
6.1.1
G44.810
Cefaléia atribuída a acidente vascular encefálico isquêmico
(infarto cerebral) (I63)
6.1.2
G44.810
Cefaléia atribuída a ataque isquêmico transitório (AIT) (G45)
6.2
G44.810
Cefaléia atribuída a hemorragia intracraniana não-traumática (I62)
6.2.1
G44.810
Cefaléia atribuída a hemorragia intracerebral (I61)
6.2.2
G44.810
Cefaléia atribuída a hemorragia subaracnóidea (HSA) (I60)
6.3
G44.811
6.3.1
G44.811
Cefaléia atribuída a aneurisma sacular (Q28.3)
6.3.2
G44.811
Cefaléia atribuída a malformação arteriovenosa (MAV) (Q28.2)
6.3.3
G44.811
Cefaléia atribuída a fístula arteriovenosa dural (I67.1)
6.3.4
G44.811
Cefaléia atribuída a angioma cavernoso (D18.0)
6.3.5
G44.811
Cefaléia atribuída a angiomatose encéfalo-trigeminal ou
leptomeníngea (síndrome de Sturge-Weber) (Q85.8)
6.4
G44.812
6.4.1
G44.812
Cefaléia atribuída a arterite de células gigantes (ACG) (M31.6)
6.4.2
G44.812
Cefaléia atribuída a angiite primária do sistema nervoso central
Cefaléia pós-traumática crônica
Cefaléia atribuída a outro trauma cefálico e/ou cervical (S06)
Cefaléia pós-craniotomia
Cefaléia atribuída a malformação vascular não-rota (Q28)
Cefaléia atribuída a arterite (M31)
154
(SNC) (I67.7)
6.4.3
G44.812
Cefaléia atribuída a angiite secundária do sistema nervoso central
(SNC) (I68.2)
6.5
G44.810
Dor da artéria carótida ou vertebral (I63.0, I63.2, I65.0 ou I67.0)
6.5.1
G44.810
Cefaléia ou dor cervical ou facial atribuída a dissecção arterial
(I67.0)
6.5.2
G44.814
Cefaléia pós-endarterectomia (I97.8)
6.5.3
G44.810
Cefaléia da angioplastia carotídea
6.5.4
G44.810
Cefaléia atribuída a procedimentos endovasculares
intracranianos
6.5.5
G44.810
Cefaléia da angiografia
6.6
G44.810
Cefaléia atribuída a trombose venosa cerebral ( TVC) (I63.6)
6.7
G44.81
Cefaléia atribuída a outra doença vascular intracraniana
6.7.1
G44.81
Arteriopatia cerebral autossômica dominante com infartos
subcorticais e leucoencefalopatia (CADASIL) (I67.8)
6.7.2
G44.81
Encefalopatia mitocondrial, acidose lática e episódios
semelhantes a acidente vascular encefálico (MELAS) (G31.81)
6.7.3
G44.81
Cefaléia atribuída a angiopatia benigna do sistema nervoso
central (I99)
6.7.4
G44.81
Cefaléia atribuída a apoplexia pituitária (E23.6)
7
G44.82
Cefaléia atribuída a transtorno intracraniano não-vascular
7.1
G44.820
Cefaléia atribuída a hipertensão liquórica
7.1.1
G44.820
Cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana idiopática (HII)
7.1.2
G44.820
Cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a
causas metabólica, tóxica ou hormonal
7.1.3
G44.820
G91.8
Cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a
hidrocefalia
7.2
G44.820
Cefaléia atribuída à hipotensão liguórica
7.2.1
G44.820
Cefaléia pós-punção dural (G97.0)
7.2.2
G44.820
Cefaléia por fístula liquórica (G96.0)
7.2.3
G44.820
Cefaléia atribuída a hipotensão liquórica espontânea (ou
idiopática)
7.3
G44.82
7.3.1
G44.823
Cefaléia atribuída neurossarcoidose (D86.8)
7.3.2
G44.823
Cefaléia atribuída a meningite asséptica (não-infecciosa)
[codificar para especificar a etiologia]
7.3.3
G44.823
Cefaléia atribuída a outra doença inflamatória não-infecciosa
[codificar para especificar a etiologia]
7.3.4
G44.82
Cefaléia atribuída a hipofisite linfocítica (E23.6)
7.4
G44.822
Cefaléia atribuída a neoplasia intracraniana
7.4.1
G44.822
Cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana ou hidrocefalia
causada por neoplasia [codificar para especificar a neoplasia]
7.4.2
G44.822
Cefaléia atribuída diretamente a neoplasia [codificar para
Cefaléia atribuída a doença inflamatória não-infecciosa
155
especificar a neoplasia]
7.4.3
G44.822
Cefaléia atribuída a meningite carcinomatosa [C79.3]
7.4.4
G44.822
7.5
G44.824
Cefaléia atribuída a injeção intratecal [G97.8]
7.6
G44.82
Cefaléia atribuída a crise epiléptica [G40.x ou G41.x para
especificar o tipo de crise]
7.6.1
G44.82
Hemicrania epiléptica [G40.x ou G41.x para especificar o tipo de
crise]
7.6.2
G44.82
Cefaléia pós-crise epiléptica [G40.x ou G41.x para especificar o
tipo de crise]
7.7
G44.82
Cefaléia atribuída a malformação de Chiari tipo I (MC1) [Q07.0]
7.8
G44.82
Síndrome de cefaléia e déficits neurológicos transitórios com
linfocitose liquórica (CDNL)
7.9
G44.82
Cefaléia atribuída a outro transtorno não-vascular intracraniano
8
G44.4 OU
G44.83
Cefaléia atribuída a uma substância ou a sua supressão
8.1
G44.40
Cefaléia induzida pelo uso ou exposição aguda a substância
8.1.1
G44.400
8.1.1.1
G44.400
Cefaléia imediata induzida por doador de NO
8.1.1.2
G44.400
Cefaléia tardia induzida por doador de NO
8.1.2
G44.40
Cefaléia induzida por inibidor da fosfodiesterase (FDE) [X44]
8.1.3
G44.402
Cefaléia induzida por monóxido de carbono [X47]
8.1.4
G44.83
Cefaléia induzida por álcool [F10]
8.1.4.1
G44.83
Cefaléia imediata induzida por álcool [F10]
8.1.4.2
G44.83
Cefaléia tardia induzida por álcool [F10]
8.1.5
G44.4
8.1.5.1
G44.401
8.1.6
G44.83
Cefaléia induzida por cocaína [F14]
8.1.7
G44.83
Cefaléia induzida por maconha [F12]
8.1.8
G44.83
Cefaléia induzida por histamina [X44]
8.1.8.1
G44.40
Cefaléia imediata induzida por histamina [X44]
8.1.8.2
G44.40
Cefaléia tardia induzida por histamina [X44]
8.1.9
G44.40
Cefaléia induzida por peptídeo relacionado com o gene da
calcitonina (CGRP) [X44]
8.1.9.1
G44.40
Cefaléia imediata induzida por CGRP [X44]
8.1.9.2
G44.40
Cefaléia tardia induzida por CGRP [X44]
8.1.10
G44.41
Cefaléia como efeito adverso agudo atribuído a medicação
usada para outras indicações [codificar para especificar a
substância]
8.1.11
G44.4 OU
G44.83
Cefaléia induzida pelo uso ou exposição aguda a outra
substância [codificar para especificar a substância]
Cefaléia atribuída a hiper ou hipossecreção hipotalâmica ou
hipofisária [E23.0]
Cefaléia induzida por doador de óxido nítrico (NO) [X44]
Cefaléia induzida por componentes alimentares e aditivos
Cefaléia induzida por glutamato monossódico [X47]
156
8.2
G44.41 OU
G44.83
8.2.1
G44.411
Cefaléia por uso excessivo de ergotamina [Y52.5]
8.2.2
G44.41
Cefaléia por uso excessivo de triptanos
8.2.3
G44.410
Cefaléia por uso excessivo de analgésicos [F55.2]
8.2.4
G44.83
Cefaléia por uso excessivo de opióides [F11.2]
8.2.5
G44.410
Cefaléia por uso excessivo de combinação de medicamentos
[F55.2]
8.2.6
G44.410
Cefaléia atribuída ao uso excessivo de outra medicação
[codificar para especificar a substânica]
8.2.7
G44.41 OU
G44.83
Provável cefaléia por uso excessivo de medicação [codificar
para especificar a substância]
8.3
G44.4
8.3.1
G44.418
8.4
G44.83
8.4.1
G44.83
Cefaléia da supressão de cafeína [F15.3]
8.4.2
G44.83
Cefaléia da supressão de opióides [F11.3]
8.4.3
G44.83
Cefaléia da supressão de estrógenos [Y42.4]
8.4.4
G44.83
Cefaléia atribuída a supressão de outras substâncias de uso
crônico [ codificar para especificar a substância]
9
Cefaléia por uso excessivo de medicação (CEM)
Cefaléia como efeito adverso atribuído ao uso crônico de
medicação [ codificar para especificar a substância]
Cefaléia induzida por hormônio exógeno [Y42.4]
Cefaléia atribuída a supressão de substância
Cefaléia atribuída a infecção
9.1
G44.821
Cefaléia atribuída a infecção intracraniana [G00-G09]
9.1.1
G44.821
Cefaléia atribuída a meningite bacteriana[G00.9]
9.1.2
G44.821
Cefaléia atribuída a meningite linfocitária [G03.9]
9.1.3
G44.821
Cefaléia atribuída a encefalite [G04.9]
9.1.4
G44.821
Cefaléia atribuída a abscesso cerebral [G06.0]
9.1.5
G44.821
Cefaléia atribuída a empiema subdural [G06.2]
9.2
G44.881
9.2.1
G44.881
Cefaléia atribuída a infecção sistêmica bacteriana [codificar para
especificar a etiologia]
9.2.2
G44.881
Cefaléia atribuída a infecção sistêmica viral [codificar para
especificar a etiologia]
9.2.3
G44.881
Cefaléia atribuída a outra infecção sistêmica [codificar para
especificar a etiologia]
9.3
G44.821
Cefaléia atribuída ao HIV/AIDS [B22]
9.4
G44.821 OU
G44.881
Cefaléia crônica pós-infecção [codificar para especificar a etiologia]
9.4.1
G44.821
Cefaléia atribuída a infecção sistêmica [A00-897]
Cefaléia crônica pós-meningite bacteriana [G00.9]
157
10
G44.882
Cefaléia atribuída a transtorno da homeostase
10.1
G44.882
Cefaléia atribuída a hipóxia e/ou hipercapnia
10.1.1
G44.882
Cefaléia das grandes altitudes [W94]
10.1.2
G44.882
Cefaléia do mergulho
10.1.3
G44.882
Cefaléia da apnéia do sono [G47.3]
10.2
G44.882
Cefaléia da diálise [Y84.1]
10.3
G44.813
Cefaléia atribuída a hipertensão arterial [I10]
10.3.1
G44.813
Cefaléia atribuída a feocromocitoma [D35.0 (benigno) ou C74.1
(maligno)]
10.3.2
G44.813
Cefaléia atribuída a crise hipertensiva sem encefalopatia
hipertensiva [I10]
10.3.3
G44.813
Cefaléia atribuída a encefalopatia hipertensiva [I67.4]
10.3.4
G44.813
Cefaléia atribuída a pré-eclâmpsia [O13-O14]
10.3.5
G44.813
Cefaléia atribuída a eclâmpsia [O15]
10.3.6
G44.813
Cefaléia atribuída a resposta pressórica aguda a um agente
exógeno [codificar para especificar a etiologia]
10.4
G44.882
Cefaléia atribuída ao hipotireoidismo [E03.9]
10.5
G44.882
Cefaléia atribuída ao jejum [T73.0]
10.6
G44.882
Cefaléia cardíaca [codificar para especificar a etiologia]
10.7
G44.882
Cefaléia atribuída a outro transtorno da homeostase [codificar para
especificar a etiologia]
11
G44.84
Cefaléia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio,
pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou
outras estruturas faciais ou cranianas
11.1
G44.840
Cefaléia atribuída a transtorno de osso craniano [M80-M89.8]
11.2
G44.841
Cefaléia atribuída a transtorno do pescoço [M99]
11.2.1
G44.841
Cefaléia cervicogênica [M99]
11.2.2
G44.842
Cefaléia atribuída a tendinite retrofaríngea [M79.8]
11.2.3
G44.841
Cefaléia atribuída a distonia craniocervical [G24]
11.3
G44.843
11.3.1
G44.843
Cefaléia atribuída a glaucoma agudo [H40]
11.3.2
G44.843
Cefaléia atribuída a erros de refração [H52]
11.3.3
G44.843
Cefaléia atribuída a heteroforia ou heterotropia (estrabismo
latente ou manifesto) [H50.5]
11.3.4
G44.843
Cefaléia atribuída a inflamação ocular [codificar para especificar
a etiologia]
11.4
G44.844
Cefaléia atribuída a transtorno dos ouvidos [ H60-H95]
11.5
G44.845
Cefaléia atribuída a rinossinusite [J01]
11.6
G44.846
Cefaléia atribuída a transtorno dos dentes, mandíbula ou estruturas
relacionadas [K00-K14]
11.7
G44.846
Cefaléia ou dor facial atribuída a transtorno da articulação
Cefaléia atribuída a transtorno dos olhos
158
temporomandibular (ATM) [K07.8]
11.8
G44.84
Cefaléia atribuída a outro transtorno do crânio, pescoço, olhos,
ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou outras estruturas
faciais ou cervicais [codificar para especificar etiologia]
12
R51
Cefaléia atribuída a transtorno psiquiátrico
12.1
R51
Cefaléia atribuída a transtorno de somatização
12.2
R51
Cefaléia atribuída a transtorno psicótico [codificar para especificar a
etiologia]
13
G44.847,G44.
848 OU
G44.85
Neuralgias cranianas e causas centrais de dor facial
13.1
G44.847
Neuralgia do trigêmeo
13.1.1
G44.847
Neuralgia clássica do trigêmeo [G50.00]
13.1.2
G44.847
Neuralgia sintomática do trigêmeo [G53.00] + [codificar para
especificar a etiologia]
13.2
G44.847
13.2.1
G44.847
Neuralgia clássica do glossofaríngeo [G52.10]
13.2.2
G44.847
Neuralgia sintomática do glossofaríngeo [G53.830]+[codificar
para especificar a etiologia]
13.3
G44.847
Neuralgia do intermédio [G51.80]
13.4
G44.847
Neuralgia do laríngeo superior [G52.20]
13.5
G44.847
Neuralgia do nasociliar [G52.80]
13.6
G44.847
Neuralgia do supra-orbitário [G52.80]
13.7
G44.847
Outras neuralgias de ramos terminais [G52.80]
13.8
G44.847
Neuralgia do occipital [G52.80]
13.9
G44.851
Síndrome pescoço-língua
13.10
G44.801
Cefaléia por compressão externa
13.11
G44.802
Cefaléia por estímulo frio
13.11.1
G44.8020
13.12
G44.848
Dor constante causada por compressão, irritação ou distenção de
nervos cranianos ou raízes cervicais superiores por lesão estrutural
[ G53.8]+[codificar para especificar a etiologia]
13.13
G44.848
Neurite óptica [H46]
13.14
G44.848
Neuropatia ocular diabética [E10-E14]
13.15
G44.881 OU
G44.847
Dor facial ou cefálica atribuída ao herpes-zóster
13.15.1
G44.881
Dor facial ou cefálica atribuída ao herpes-zóster agudo [B02.2]
13.15.2
G44.847
Neuralgia pós-herpética [B02.2]
13.16
G44.850
Síndrome de Tolosa-Hunt
13.17
G43.80
´´Migrânea`` oftalmoplégica
Neuralgia do glossofaríngeo
Cefaléia atribuída a aplicação externa de estímulo frio
159
13.18
G44.810 OU
G44.847
Causas centrais de dor facial
13.18.1
G44.847
Anestesia dolorosa [G52.800]+[codificar para especificar a
etiologia]
13.18.2
G44.810
Dor central pós-acidente vascular encefálico [G46.21]
13.18.3
G44.847
Dor facial atribuída a esclerose múltipla [G35]
13.18.4
G44.847
Dor facial idiopática persistente [G50.1]
13.18.5
G44.847
Síndrome da ardência bucal [codificar para especificar a
etiologia]
13.19
G44.847
Outra neuralgia craniana ou outra dor facial centralmente mediada
[codificar para especificar etiologia]
14
R51
Outra cefaléia, neuralgia craniana e dor facial central ou
primária
14.1
R51
Cefaléia não classificada em outro local
14.2
R51
Cefaléia não especificada