turismo ferroviário: um estudo sobre a percepção
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turismo ferroviário: um estudo sobre a percepção
UNIVERSIDADE DO CONTESTADO PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL MARCELO JOSÉ BOLDORI TURISMO FERROVIÁRIO: UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA REDE DE COOPERAÇÃO “AMIGOS DO TREM” NAS GÊMEAS DO IGUAÇU CANOINHAS 2012 MARCELO JOSÉ BOLDORI TURISMO FERROVIÁRIO: UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA REDE DE COOPERAÇÃO “AMIGOS DO TREM” NAS GÊMEAS DO IGUAÇU Dissertação apresentada como exigência para a obtenção do título de mestre no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional, ministrado pela Universidade do Contestado UnC, sob a orientação do professor Doutor Reinaldo Knorek. CANOINHAS 2012 TURISMO FERROVIÁRIO: UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA REDE DE COOPERAÇÃO “AMIGOS DO TREM” NAS GÊMEAS DO IGUAÇU MARCELO JOSÉ BOLDORI Esta Dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora como requisito parcial para a obtenção do Título de: Mestre em Desenvolvimento Regional E aprovado(a) na sua versão final em ___________, atendendo às normas da legislação vigente da Universidade do Contestado – UnC e Coordenação do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional _____________________________________________ Maria Luiza Milani BANCA EXAMINADORA: _________________________ Professor Dr. Reinaldo Knorek - Orientador _________________________ Professor Dr. Armindo José Longhi _________________________ Professora Dra. Nádia Régia Maffi Neckel AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por sua infinita misericórdia e eterna providência. Agradeço a minha família, em especial aos meus pais José e Marli e a meus avós Catarina (in memorian) e Hilário (in memorian) pela oportunidade de formação que me deram. Formação não apenas acadêmica mas moral e ética. Agradeço à Jilia, companheira leal, nos momentos bons e ruins proporcionados pela vida, o que não foi diferente durante este período acadêmico. Ao amigo Juliano Isoton Sampaio que me ajudou com as pesquisas e tabulação dos resultados das mesmas. Aos professores que estiveram comigo nessa caminhada, em especial ao meu orientador, professor doutor Reinaldo Knorek, que pacientemente me auxiliou mostrando-me como deve ser o olhar acadêmico. Aos meus alunos, para os quais busquei um pouco mais de conhecimento e com eles compartilhar. Aos companheiros de “bancos escolares” neste mestrado, Jacob e Douglas, por tornarem menos árduas as horas de estrada, o cansaço e os trabalhos acadêmicos. RESUMO O presente estudo trata do tema organização da rede de cooperação que se formou em torno do patrimônio ferroviário das cidades de Porto União e União da Vitória. O objetivo do estudo, que desenvolveu-se dentro da linha de pesquisa Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional, foi compreender como surgiu e se estruturou a rede de cooperação do turismo ferroviário e quais as percepções acerca da rede de cooperação citada. Deve o estudo se utilizar de entrevistas por um roteiro, por pesquisa de história oral, efetuamos pesquisa bibliográfica e documental. Conseguiu-se confirmar a hipótese proposta de que se o processo que gerou a rede de cooperação de turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu foi capaz de gerar desenvolvimento, então a implantação de redes de cooperação geram desenvolvimento local e resgatar a história da ferrovia e conhecer a estrutura da rede de cooperação que surgiu em torno do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu. Constatou-se que a percepção dos entrevistados é no sentido de que o turismo ferroviário será capaz de gerar desenvolvimento, dessa forma apontando que o setor deve ser alvo de investimentos. Palavras chave: desenvolvimento, turismo, redes. ABSTRACT This study is about the issue of cooperation network organization that has been formed around the railroad of the cities of Porto União and União da Vitória City. The purpose of the study, which was developed within the research line of Public Policy and Regional Development, was to understand how it came about and structured the tourism network cooperation and the perceptions about the cooperation network mentioned. The study must using interviews for a script for oral history research, we performed literature and documental research. It was able to confirm the proposed hypothesis that the process that generated the cooperation network of railroad tourism in Gêmeas do Iguaçu was able to generate development, then the implementation of cooperation networks generate local development and rescue the history of the railroad and meet the network structure of cooperation that emerged around the railroad tourism in Gêmeas do Iguacu. It was found that the perception of respondents is towards the railroad tourism will be able to generate development, thus indicating the sector should be targeted for investment. Keywords: development, tourism networks. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu para o usuário do serviço. ............................................................................................... 47 Gráfico 2 - Concordância com a implantação para o usuário ................................ 47 Gráfico 3 - Auxílio do turismo ferroviário no desenvolvimento das cidades gêmeas, na visão do usuário. ............................................................ 48 Gráfico 4 - Atuação da Associação Amigos do Trem para os Usuários. .............. 48 Gráfico 5 - A atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário para o usuário. ................................................................................... 49 Gráfico 6 - A implantação do turismo ferroviário como auxílio no desenvolvimento dos municípios de Porto União e União da Vitória na visão do usuário. ................................................................ 50 Gráfico 7 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória na visão do usuário .................................................. 50 Gráfico 8 - Avaliação do serviço prestado pela associação dos amigos do trem pelo usuário........................................................................................ 51 Gráfico 9 - Avaliação do serviço turístico ferroviário prestado pelo usuário ......... 52 Gráfico 10 - Como o Resgate da história das Gêmeas do Iguaçu contribuiu o para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades na visão do usuário. ................................................................................ 52 Gráfico 11 - A quem o usuário atribui o resgate histórico da ferrovia. ................... 53 Gráfico 12 - Como o setor de restaurantes identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu. .................................................... 54 Gráfico 13 - Como a implantação do turismo ferroviário trouxe influência para o setor de restaurante. .......................................................................... 55 Gráfico 14 - O setor de restaurantes concorda que o projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu. ......................... 55 Gráfico 15 - Como o setor de restaurantes avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem. ................................................................................ 56 Gráfico 16 - Como o setor de restaurantes avalia a atuação da classe política na implantação do turismo ferroviário. ............................................... 57 Gráfico 17 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida para o setor de restaurantes. ................................ 57 Gráfico 18 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória na visão do setor de restaurantes. ........................... 58 Gráfico 19 - Como o resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades, na visão do setor de restaurantes. .......................................................... 58 Gráfico 20 - A quem o setor de restaurantes atribui o resgate histórico da ferrovia? ............................................................................................. 59 Gráfico 21 - Como os amigos do trem identificam a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu. .................................................... 60 Gráfico 22 - Como os amigos do trem percebem o estágio de implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu......................................... 61 Gráfico 23 - Os amigos do trem Concordam que o projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu. ......................... 61 Gráfico 24 - Como os amigos do trem avaliam a atuação da Associação dos Amigos do Trem ................................................................................. 62 Gráfico 25 - Como os amigos do trem avaliam a atuação da classe política na implantação do turismo ferroviário. .................................................... 63 Gráfico 26 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida dos amigos do trem. .............................................. 63 Gráfico 27 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória, na visão dos amigos do trem. ................................. 64 Gráfico 28 - Como o resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades, na visão dos amigos do trem. ................................................................. 65 Gráfico 29 - A quem os amigos do trem atribuem o resgate histórico da ferrovia .. 65 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? ........................................................................... 66 Tabela 2 -Concorda que o projeto turístico ferroviário, auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu? ........................................ 67 Tabela 3 - Como você avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem? ... 67 Tabela 4 - Como você identifica a atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário? ..................................................................... 68 Tabela 5 - A implantação do Turismo Ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória? ................................................................................ 69 Tabela 6 - O resgate da história das Gêmeas do Iguaçu contribui para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? .................. 70 Tabela 7 A quem você atribui o resgate histórico da ferrovia? ......................... 70 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Primeira estação de União da Vitória, (1905).......................................... 29 Figura 2 - O primeiro encontro dos ex-ferroviários para discutirem sobre a preservação ferroviária, em 2003. .......................................................... 37 Figura 3 - Primeira reunião para a conscientização a preservação do patrimônio ferroviário. .............................................................................................. 42 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12 2 DESENVOLVIMENTO ................................................................................... 16 2.1 O DESENVOLVIMENTO ............................................................................ 16 2.2 TURISMO FERROVIÁRIO E CULTURAL .................................................. 19 2.3 O DESENVOLVIMENTO DAS GÊMEAS DO IGUAÇU .............................. 25 2.4 DO CAPITAL SOCIAL E DAS REDES DE COOPERAÇÃO ....................... 33 2.5 ORGANIZAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO TREM ................. 39 3. APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA........................................ 46 3.1. APRESENTAÇÃO DOS DADOS DOS USUÁRIOS................................... 46 3.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DO SETOR DOS RESTAURANTES ...... 54 3.3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DOS AMIGOS DO TREM ....................... 60 3.4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÕES .................................................. 66 CONCLUSÃO .................................................................................................. 74 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 78 ANEXO A ......................................................................................................... 82 APÊNDICE A ................................................................................................... 85 APÊNDICE B ................................................................................................... 89 APÊNDICE C ................................................................................................... 93 APÊNDICE D ................................................................................................... 97 APÊNDICE E ................................................................................................. 102 . 12 1 INTRODUÇÃO O tema da presente pesquisa recai sobre o desenvolvimento da rede de cooperação para o turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu. A ferrovia foi fator determinante para o desenvolvimento das Cidades de União da Vitória no Paraná e Porto União em Santa Catarina, conhecidas como Gêmeas do Iguaçu. A ferrovia é inclusive, o marco divisor das cidades. Com a desativação do trecho da malha ferroviária que passa pelas duas cidades, no ano de 1997, houve o abandono tanto por parte do Governo quanto pela concessionária que assumiu a via. Esse abandono levou à reunião de um grupo de pessoas que ao buscarem a preservação ferroviária, descobriram no turismo ferroviário uma forma de recuperação do patrimônio que envolve o patrimonial ferroviário. Salienta-se que o patrimônio a que se refere esta pesquisa envolve além do aspecto material, também o aspecto cultural e histórico da região pesquisada A pesquisa demonstra como esta rede de cooperação do turismo ferroviário foi formada e se investigou a percepção da comunidade sobre sua implantação para o desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu. O estudo documenta cientificamente toda a estruturação da rede que se formou para a implementação do turismo ferroviário, nas Gêmeas do Iguaçu. Foi mapeado e documentado desde que as primeiras ideias resultaram nas primeiras reuniões de conscientização com o descaso do governo, da concessionária, da própria comunidade com a situação da ferrovia, estendendo-se até os projetos atuais, juntamente com os resultados já alcançados, bem como a vinda de turistas de várias partes do país, também do exterior para utilizarem o serviço. Ao se mapear a estrutura e entender o processo de formação da rede de cooperação que gerou o turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu, se busca obter dados que apontam a percepção da população sobre a referida rede de cooperação e o desenvolvimento do território em análise. Diante do tema apresentado passa-se a refletir sobre a questão problema. A ferrovia foi responsável por uma importante parcela do desenvolvimento social e econômico do território em estudo. Com a desativação da ferrovia veio o abandono da malha e dos equipamentos ferroviários. Preocupados com o descaso por parte da concessionária e do governo federal, um grupo de ex-ferroviários se reuniu para buscar providências. À causa dos ferroviários uniram-se membros dos mais diversos 13 setores da sociedade das Gêmeas do Iguaçu e formaram uma associação que começou a recuperar esse patrimônio ferroviário. Diante destes seus aspectos, levanta-se a seguinte questão: Qual a percepção, do desenvolvimento do turismo ferroviário, dos membros da Associação dos Amigos do Trem, dos usuários e dos proprietários de restaurantes sobre a rede de cooperação que se estabeleceu Iguaçu? Nessa linha de estudo, tem-se por objetivo geral explicar o desenvolvimento da rede de cooperação do turismo ferroviário das Gêmeas do Iguaçu. Deste objetivo geral são objetivos específicos: a) resgatar o processo histórico da construção da ferrovia no vale do Iguaçu; b) identificar os elementos formadores da rede de cooperação do turismo ferroviário das Gêmeas do Iguaçu; c) avaliar a percepção dos usuários com relação ao turismo ferroviário; d) avaliar a percepção dos proprietários de restaurantes com relação ao turismo ferroviário; e) avaliar a percepção dos membros da Associação dos Amigos do Trem com relação ao turismo ferroviário. Dando prosseguimento ao estudo, tem-se como hipótese de que o processo que gerou a rede de cooperação de turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu foi capaz de gerar desenvolvimento, então a implantação de redes de cooperação gera desenvolvimento local. A justificativa da presente pesquisa possui duas relevâncias: uma teórica e a outra prática. Para a relevância teórica esta dissertação é resultado de estudos sobre o processo de formação da rede de cooperação de turismo ferroviário das Gêmeas do Iguaçu, em aspectos específicos de aplicação metodológica A relevância teórica ainda atribui-se ao conteúdo do estudo significar a divulgação de parte da história de um processo social relevante para a sociedade do que foi estudado sobre sua história e patrimônio. Para justificar a relevância prática deste estudo, ele vincula-se a um campo fértil de pesquisas científicas de um processo que se vive, que permite explicitar empiricamente pelo acompanhamento de seu desenvolvimento na sociedade. A mudança da forma de ver o mesmo objeto, num instante como prático e no outro como cientista é algo intrigante e fascinante que contribuirá para formação strictu sensu do pesquisador e para a carreira acadêmica, desafio constante. 14 Ainda no campo prático, esta pesquisa se justifica como instrumento de conhecimentos para a elaboração e melhoramentos de programas de ordem pública, no sentido de incentivo às demais redes de cooperação em diversos setores, a partir da identificação destes fatores neste projeto. Para a realização da pesquisa considera-se os ensinamentos de Lakatos e Marconi (1988, p. 41-42) que apregoam que o objetivo da atividade científica é a obtenção da verdade, comprovando-se as hipóteses que ligam a observação da realidade e a teoria científica que a explica. Deve-se estabelecer um método que permita alcançarmos os objetivos, com segurança. A pesquisa caracteriza-se como exploratória descritiva. Na fase preliminar explora-se os conhecimentos sobre a história da construção da ferrovia no Vale do Iguaçu. Posteriormente descreve-se o processo de revitalização da ferrovia para a exploração do turismo ferroviário e identifica-se neste processo elementos geradores das redes que o desenvolveram, processo inédito que se torna objeto deste estudo. Os procedimentos adotados foram o bibliográfico, documental, de entrevistas utilizando um roteiro e entrevista de história oral. Buscou-se material já elaborado como, por exemplo: livros, artigos, e obras referenciadas para justificar o avanço da ciência, do desenvolvimento local e a construção da ferrovia. Com relação a natureza dos dados da pesquisa, se caracteriza por ser qualiquantitativa. Qualitativa devido aos dados coletados pela história oral sobre a construção da ferrovia e a identificação dos elementos que construíram as redes de cooperação geraram o turismo ferroviário foram tratados na qualidade dos depoimentos. Quantitativa no que referiu-se às melhorias na qualidade de vida da população do território pesquisado, visto que estes dados foram obtidos e tratados na dimensão quantitativa. A pesquisa foi estruturada em cinco capítulos, sendo que o primeiro tratou da introdução, o segundo tratou do desenvolvimento, englobando desenvolvimento das ferrovias, o terceiro tratou do capital social e redes de cooperação, o quarto capítulo trata da organização da Associação dos Amigos do Trem, finalmente no quinto capítulo tratou-se da apresentação e análise dos dados da pesquisa. Para a coleta de dados, se utiliza a pesquisa ex-post-facto, sobre a percepção dos usuários com a aplicação de um questionário (apêndice), sobre a construção da 15 ferrovia e os benefícios, para os novos projetos de revitalização da ferrovia, por meio do turismo ferroviário, na região. Uma pergunta aberta no formulário levanta a percepção dos entrevistados com relação ao turismo ferroviário. O questionário dividido em três blocos, no primeiro deles trata sobre o processo histórico da configuração da rede de turismo ferroviário; o segundo trata dos elementos formadores da rede de cooperação, já pelo terceiro bloco de perguntas se investiga a percepção dos proprietários de restaurantes e usuários do turismo em geral com relação à implantação do turismo ferroviário. Os pesquisados são nove proprietários de restaurantes da região central das Gêmeas do Iguaçu, responderam ao questionário, entrevistou-se vinte e um usuários do serviço turístico em questão; e quatro membros da Associação dos Amigos do Trem responderam ao mesmo questionário. No mesmo sentido, visando complementar dados não documentados utiliza a história oral, para coletar elementos capazes de fundamentar a presente pesquisa. Para tanto, são entrevistados o Sr. Antônio Xavier Paes, presidente do Sindicato dos Ferroviários e o professor Bernardo Knapik, primeiro presidente da Associação dos Amigos do Trem. 16 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 O DESENVOLVIMENTO A primeira operação a ser feita por um estudioso do desenvolvimento é desconsiderar a observação deste apenas pelo viés econômico. O fator econômico é importante para o desenvolvimento, mas não é o único responsável pela sua obtenção e jamais será o seu sinônimo. Segundo Dallabrida (2001, p.18) Primeiro é necessário distinguir crescimento econômico de desenvolvimento. Não existe concordância entre os autores. Uns até consideram crescimento econômico como sinônimo de desenvolvimento. No entanto, para um maior número de autores, o crescimento econômico é condição indispensável para o desenvolvimento, mesmo admitindo não ser condição suficiente. Deste modo, é de suma importância ressaltar-se que o desenvolvimento não se limita ao desenvolvimento econômico, pois sem que haja bem estar, não há que se falar em desenvolvimento, por mais desenvolvida economicamente que seja uma região. Isso é muito fácil de entender-se uma vez, que os números do Produto Interno Bruto podem fornecer uma renda, per capita, que escondam uma extrema concentração de riquezas. Conforme Siedenberg(2008, p. 169), os locais são mais do que orçamentos e negócios. Eles abrangem pessoas, culturas, herança histórica, patrimônio físico e oportunidades. Os locais hoje são classificados e avaliados em todas as dimensões possíveis. Ainda para Dallabrida (2010, p17), desenvolvimento é: um processo de mudança estrutural, situado no histórica e territorialmente, caracterizado pela dinamização socioeconômica e a melhoria da qualidade de vida de sua população`. Assim entendido, como processo, o desenvolvimento não se apresenta como um estágio a ser galgado, um modelo a ser seguido. Talvez seja até equivocado falar-se em regiões desenvolvidas e não desenvolvidas, ou subdesenvolvidas! Ou seja, seria mais adequado falar-se em regiões em processo de desenvolvimento, onde 17 em algumas encontramos um maior dinamismo, com um projeto de futuro definido, construído coletivamente em todos os momentos de sua história, logo, com maior capacidade de proporcionar condições socioeconômicas qualificadas e uma boa qualidade de vida ao conjunto de sua população. No mesmo sentido, quando faz-se as análises dos processos integrais de desenvolvimento integrado, Wittmann, Dotto e Boff (2008. p. 320 e 321), explicam que: O desenvolvimento regional, atualmente, alicerça-se em diferentes modelos e fatores que geram práticas e dinâmicas distintas. Tais fatores, como cultura, tradição, crenças, arranjos organizacionais, liberdade, capital social e associativismo, quando integrados, tendem a potencializar a região. Conforme pode-se observar, desenvolvimento é algo que embora possa ser constatado objetivamente, trata-se de uma questão subjetiva e multissetorial, é muito mais um estado do que uma condição. Lembrando o que ensina Franco (2001), todos os aspectos do capital social podem ser sintetizados em “capacidade de viver em sociedade”, ou seja, a capacidade que o ser humano tem de colaborar e cooperar com outro ser humano. Colaborar trabalhar junto enquanto cooperar, desenvolver operações em conjunto. Segundo Rojas (2004), capital social é o conjunto de compromissos sociais em uma comunidade, o qual se manifesta através da confiança, normas e cadeias de relações sociais, sendo intangível. Segundo Putnam (1996), uma das características da organização social como a confiança, normas e sistemas, servem para aumentar a cooperação e a eficiência da sociedade, neste caso do projeto. Além disso, a criação de associações desenvolve o espírito de cooperação e de solidariedade. Desde que tenham formação horizontal e não vertical como era a máfia. Uma estrutura horizontal é uma estrutura não hierarquizada rigidamente, e assim é uma rede de cooperação. A confiança, criada através de interações contínuas dos indivíduos, é um dos principais aspectos do capital social. De acordo com Putnam (1996), os sistemas de participação cívicas são a forma essencial de capital social. Quanto mais desenvolvidos os sistemas de participação cívicas, mais capazes de cooperar são os cidadãos da comunidade. O que se deve, segundo Putnam (1996), a quatro fatores: a) aumenta o custo potencial ao transgressor; b) promovem sólidas regras de reciprocidade; 18 c) facilitam a comunicação e melhoram o fluxo das informações; d) corporificam o êxito em colaborações anteriores. Putnam constatou na Itália, que as regiões mais desenvolvidas eram as regiões com maior número de organizações horizontais, e onde a sociedade estava melhor organizada haviam governos fortes, democráticos, transparentes e organizados. Salienta Putnam que a sociedade organizada não concorre com o governo, mas coopera com este. Salienta-se que a estrutura da Associação dos amigos do trem é horizontal, conforme o modelo indicado para o desenvolvimento. Conforme escreve Birkner (2006, p. 17): Tentando dar alguma interpretação, seria possível definir o capital humano como resultante da soma das qualidades individuais (conhecimento e capacitação técnica) aplicadas na produção. Desse modo, poder-se-ia concluir que o capital humano é um importante recurso para aumentar a produção e a acumulação de capital, cuja fonte seriam os indivíduos. No caso do capital social, a fonte não seriam os indivíduos em si, mas as instituições por eles criadas a partir de suas relações sociais. Essas instituições sociais, conjunto de valores, normas, organizações e procedimentos historicamente construídos, estariam à disposição dos indivíduos em busca da acumulação. Entendendo-se desse modo, é possível oferecer alguns exemplos do que constituiria o capital social de cada comunidade, região ou nação. Machiavelli falava em “humanismo cívico”, enaltecendo as virtudes cívicas como a causa de instituições fortes e livres. (PUTNAM, 1996) Moraes (2008, p. 271), explica que A expressão ‘capital social’ é uma noção teórica de utilização recente na literatura e nas pautas dos governos, das organizações não governamentais (Ongs) e dos organismos internacionais. Sua criação está relacionada com a ‘ampliação’ teórica do termo ‘capital’. Se, nos anos sessenta a noção de capital humano foi proposta e se consolidou em diversos campos do conhecimento [culminando, inclusive, com a criação dos índices referenciais sobre ‘desenvolvimento humano’], nos anos noventa, foi mais explicitamente proposto esse terceiro tipo de fator: o ‘capital social’. Este conceito procura dar mais significado à presença e à qualidade das relações sociais para o desencadeamento do processo de desenvolvimento. Capital social significa relações sociais ‘institucionalizadas’ na forma de normas ou de redes sociais. Estas relações sociais são institucionalizadas porque representam acúmulos de práticas sociais, culturalmente incorporadas na história das relações de grupos, comunidades ou classes sociais. 19 Nesta percepção, contata-se que quanto mais capital social possui uma determinada comunidade, maior é a geração de novo capital social e maior é o desenvolvimento gerado. 2.2 TURISMO FERROVIÁRIO E CULTURAL Outro importante conceito a ser trabalhado nesta pesquisa é o conceito de Turismo. Tour significa volta e a palavra tourism tem origem inglesa, nos anos de 1760. Ainda, tur é palavra do hebreu antigo, significando viagem de descoberta. Turismo, que é o conjunto de resultados, sejam eles de caráter econômico, político, social ou cultural, que são produzidos em determinada comunidade; tais resultados decorrem do relacionamento entre os visitantes dessa comunidade com os locais visitados durante a passagem temporária. Tais visitantes devem ser pessoas que se deslocam, espontaneamente e sem fim de obter lucro, de sua morada habitual para outros locais. Sendo assim, sempre que determinada pessoa se deslocar de seu local de morada habitual, de forma intencional e sem fins lucrativos e relacionar-se com o local que visita, produz, assim, resultados (econômico, político, social ou cultural), tem-se o turismo. (OLIVEIRA, 2002). Nesse mesmo sentido: De acordo com a definição da OMT, o turismo é descrito como as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadias em lugares distintos de seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano, com a finalidade de lazer, por negócios e outros motivos, não relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no lugar visitado. Nesta definição incluem-se todas as atividades dos visitantes, como os turistas (visitantes que pernoitam) e os excursionistas [visitantes de um dia]. (DIAS, 2013, p. 18) Este envolve consumo fora do local de morada habitual. Desta forma, há a necessidade de se ter, de um lado a procura, ou seja, pessoas com renda suficiente para viajar; e de outro, oferta, ou seja, um mercado turístico. Para que haja um mercado turístico, faz-se necessária a presença de um produto turístico, que é a soma dos recursos culturais e naturais produzidos pela região (OLIVEIRA, 2002). Nesse sentido: 20 Assim, uma atração turística é um foco para atividades recreativas e, em parte, educativas, desempenhadas tanto por excursionistas quanto por turistas, e que são frequuentemente divididos com a população local. As atrações também servem a uma variedade de propósitos, alguns não relacionados ao turismo. Por exemplo, os atrativos frequentemente têm propósitos educacionais explícitos, são muitas vezes centrais à proteção ou mesmo criação de identidades culturais e podem contribuir para a conservação e proteção de muitos sítios históricos. (COOPER, 2008, p. 346). Os meios de transporte, entre eles, os trens, são recursos culturais de que podem dispor as comunidades para o turismo em regiões. O turismo causa impactos econômicos na região onde acontece, que podem ser de ganhos do câmbio exterior, geração de emprego e renda, e estímulo ao desenvolvimento local e regional (JENKINS e LICKORISH, 2000). Com relação ao impacto econômico na região turística, o desenvolvimento local e regional, sustentam-se em aspectos de orientação dos múltiplas possibilidades. Os impactos regionais do turismo são, em geral, os principais atrativos para os planejadores econômicos. O turismo pode fazer uso de locais históricos e culturais, (...) Muitos desses locais possuem, por diversas razões, poucas possibilidades de alternativas de desenvolvimento econômico. Por essas razões, o desenvolvimento alternativo, como pequenas indústrias ou manufaturas em geral, não é viável. O turismo não apenas ajuda a estimular a atividade econômica em tais regiões, mas talvez seja a única alternativa real para uma agricultura de baixa renda. (JENKINS e LICKORISH, 2000, p. 102) Desta forma, o turismo é necessário e benéfico ao desenvolvimento da região onde ele acontece. Para que exista turismo, vários fatores devem existir. O primeiro fator determinante é econômico e tem relação com a disponibilidade de renda real. “A renda real é o poder de compra da renda recebida após o ajuste da inflação” (JENKINS e LICKORISH, 2000. p. 75). Além do fator econômico, ou seja, de renda real suficiente para arcar com os custos da viagem do turista, existem fatores de oferta que devem estar presentes, no seguinte sentido: Embora os níveis da renda real arbitrária sejam os principais determinantes da demanda do turismo, também existem fatores de oferta que levam os turistas a determinados destinos. Alguns desses fatores incluem a oferta de acomodação e de comodidades e o fácil acesso ao destino. Esses fatores 21 combinados podem ser considerados como uma medida da atratividade do destino. (JENKINS e LICKORISH, 2000. p. 78) Sendo assim, a oferta do serviço turístico também influi, juntamente com a disponibilidade de renda, no turismo local e regional. Ainda, há a necessidade de se criar cultura turística, ou seja, conseguir “a participação das pessoas na busca de melhores condições para tornar essa atividade possível como forma de gerar benefícios à comunidade” (DIAS, 2006, p. 28). Tem-se tipos de turismo de acordo com as diversas motivações que levam o turista a viajar. Assim, deve-se admitir como tipos de turismo os seguintes: de férias, cultural, de negócios, desportivo, de saúde e religioso. O turismo de férias é um meio de recomposição de energias perdidas e alívio para cansaço e tensões. Desta forma, sempre que o turista procurar descanso para recomposição de energias e alívio, no período destinado às suas férias, estaremos diante do turismo de férias. Já o turismo cultural se caracteriza pelo objetivo de encontrar emoções artísticas, de formação ou informação em diversos ramos. (ANDRADE, 1998). Ainda, pode ser entendido como aquele em que se tem como objetivo conhecer bens materiais ou imateriais de produção do homem (BARRETO, 1995). Nesse sentido, quando o turista procurar enriquecer seu conhecimento, formar-se ou informar-se, teremos o turismo cultural. Quanto ao turismo de negócios, este é o (...) conjunto de atividades de viagem, hospedagem, de alimentação e de lazer praticado por quem viaja a negócios referentes aos diversos setores da atividade comercial ou industrial ou para conhecer mercados, estabelecer contatos, firmar convênios, treinar novas tecnologias, vender ou comprar bens e serviços (...) (ANDRADE, 1998, p. 73/74) Assim, quando o turista viajar por motivos profissionais ou de negócios nos diversos setores existentes, tem-se o turismo de negócios. Por outro lado, Barreto (1995), a viagem de negócios não pode ser considerada como turismo, porque há finalidade de lucro e a pessoa não está lá por vontade própria, e sim para trabalho. Com relação ao turismo desportivo, pode-se conceituá-lo como todas as atividades de viagem com o escopo de acompanhar, desempenhar, e participar de eventos desportivos. Já o turismo de saúde pode ser entendido como as atividades 22 turísticas exercidas pelo turista para manter ou adquirir o bom funcionamento e a sanidade de seu físico ou intelecto. Desta forma, a procura por manutenção ou aquisição de boa saúde, define o turismo de saúde. Por fim, com relação ao turismo religioso, este pode ser entendido como a visitação a receptivos de sentimentos místicos ou que suscitem a fé, esperança, caridade aos que nisso creem. (ANDRADE, 1998). Outra forma de atração de turistas para uma região ou território, é o turismo cultural. Neste sentido: O turismo cultural: é uma das modalidades de turismo alternativo que apresenta uma das maiores possibilidades de crescimento, dada a diversidade de conteúdos que podem ser explorados, tornando-se exce- lente complemento a qualquer outra forma de turismo. (DIAS, 2013, p. 71) Com a globalização, aumenta o interesse das pessoas em conhecerem seu passado, conhecer outras culturas e saber das origens da humanidade (DIAS, 2006). (...) o turismo cultural assume um papel educativo, pelo qual se amplia e consolida um conhecimento construído em processo complexo, que tem seu ponto culminante no contato direto do indivíduo com seu interesse particular, seja ele um sítio arqueológico, um museu, um monumento histórico, uma etnia, uma dança, um tipo de artesanato etc. Com a intensificação do processo de globalização, cresce o interesse das pessoas em seu passado histórico, em outras culturas, nas origens da humanidade, ou nas formas de vida na Terra há milhões de anos. Essa motivação em busca das origens, em nível tanto local quanto global, é fruto do aumento do tempo livre, que permite às pessoas pensarem em aspectos além de sua realidade imediata; bem como do maior acesso à informação, que facilita a busca por respostas, as quais só se satisfazem por meio do contato mais direto com o assunto pesquisado. Em decorrência dessa busca, intensificada nos últimos anos do século XX e neste início de século XXI, o turismo cultural assume um papel educativo, pelo qual se amplia e se consolida um conhecimento construído em processo complexo, que tem seu ponto culminante no contato direto do indivíduo com o seu interesse particular, seja ele um sítio arqueológico, um museu, um monumento histórico, uma etnia, uma dança, um tipo de artesanato etc. (DIAS, 2006, p. 36) Pode-se dividir o turismo cultural em vários segmentos. Desta forma, para Dias: a) o turismo histórico — um dos segmentos mais desenvolvidos do turis- mo cultural, que compreende as visitas a cidades históricas, a museus, a monumentos de valor histórico etc.; b) o turismo arqueológico — segmentação do turismo histórico, dedicado a um aumento da interação dos visitantes com ruínas arqueológicas de 23 cidades, de comunidades primitivas e locais de valor arqueológico como sambaquis e cavernas com pinturas rupestres; c) o turismo paleontológico — segmento voltado para a visitação de sítios, de parques e de museus que abrigam restos de animais extintos (vide Quadro 2.6); d) turismo ferroviário — segmento que visa valorizar o passeio em ferrovias e a visitação de locais que contam a história desse meio de transporte; e) turismo de patrimônio industrial — segmento voltado para a visitação de indústrias e de obras de engenharia do período industrial, princi- palmente do período compreendido entre o século XIX e a primeira metade do XX (vide Quadro 2.7); f) turismo industrial ou tecnológico — segmento voltado para a visitação de indústrias atuais com o objetivo de levar as pessoas a conhecerem os processos industriais e seus produtos; g) turismo étnico — segmento dedicado a levar as pessoas a conhecerem comunidades culturais diferenciadas da cultura mais geral; h) turismo gastronômico — segmento dedicado à visitação de locais que apresentam comidas e bebidas típicas da região visitada; i) turismo científico — segmento dedicado à visitação de locais que mantêm coleções científicas como jardins botânicos, aquários e zoo- lógicos; j) turismo de eventos culturais — atividade exercida pelas pessoas que viajam para assistir a festivais de teatro, de música, de cinema etc.; k) enoturismo — turismo cultural em meio rural dedicado a que as pessoas conheçam e participem do processo de elaboração do vinho. (DIAS, 2006, p. 54) Sobre esta perspectiva, a ferrovia do Contestado pode ser considerada um patrimônio cultural atrativo para o turismo, pois permite aos visitantes conhecer a cultura local e conhecer importante parte da história de formação social do território brasileiro. Com a troca de conhecimentos entre turistas e locais visitados, temos o turismo cultural que oferece a possibilidade de maior compreensão e comunicação entre os diferentes povos. Este contato enriquece culturalmente tanto aos turistas quanto à comunidade receptora (BUSSONS; HAMABATA; GONÇALVES, 2005, p. 8). É importante ressaltar que uma correta gestão do turismo cultural permite obter recursos para iniciativas de restauração do patrimônio histórico, de monumentos e de edifícios que podem ter algum uso turístico. Como resultado desse turismo cultural temos a recuperação e a revitalização dos municípios, não somente na parte econômica, mas também porque fortalece os laços do moradores locais com seu território (DIAS, 2006). Por isso, (...) o patrimônio cultural, seja de que tipo for – arqueológico, histórico, industrial, ferroviário etc. -, constitui recurso econômico, passível de ser 24 utilizado pelo turismo como ferramenta para o desenvolvimento. Esse novo enfoque em relação aos bens culturais implica uma mudança de atitude que tem relação direta com a concepção histórica de patrimônio e com o seu papel na constituição das nações. (DIAS, 2006, p. 47). Sendo assim, a rede ferroviária, como patrimônio cultural, pode ser utilizado como turismo cultural, recuperando e revitalizando os municípios que dele se utilizam. A exploração do patrimonial cultural pelo turismo cultural, pode ser benéfica a esse patrimônio, uma vez que implica a necessidade de maior proteção a esses bens para que se garantam a continuidade e a sustentabilidade de sua exploração econômica (DIAS, 2006, p. 48). Ainda, (...) um dos movimentos iniciais das administrações locais é sensibilizar a população relativamente aos seus valores culturais, a fim de conscientizá-la sobre a importância de conhecer e de proteger esse valores. É preciso provocar uma atitude ativa que desperte a auto-estima dos habitantes, os quais se identificarão com um legado cultural que antes lhes parecia distante. Nessa reabilitação do legado cultural, deverá estar associada à dimensão econômica, para possibilitar a iniciativa empreendedora que gera renda e trabalho, de modo a proporcionar melhorias às condições de vida da população local. Nesse contexto, devem-se aumentar os investimentos em patrimônio cultural, criar ou consolidar museus, recuperar o patrimônio histórico-artístico e o artesanato local, com vistas a um incremento da atividade turística que viabilizará o desenvolvimento municipal. (DIAS, 2006, p. 184). Por isso, o investimento no patrimônio cultural, a fim de recuperá-lo é de essencial importância para desenvolver o turismo cultural e proporcionar o desenvolvimento do local e da região. A preservação desse patrimônio deve servir para reforçar a identidade das pessoas e dos lugares em primeiro lugar e, se houver potencial turístico, sua utilização recreacional (PORTUGUEZ, 2004, p. 8). Pode-se sintetizar que (...) o patrimônio histórico cultural possui a capacidade de representar simbolicamente um período histórico marcante e de importância coletiva. Portanto, sua preservação garante a presença, de certa forma, do passado no presente, tornando mais fortes os laços culturais de uma sociedade (BUSSONS; HAMABATA; GONÇALVES, 2005, p. 5). 25 Na atualidade, há uma preocupação em se desenvolver o turismo de forma sustentável, atendendo às necessidades dos turistas, mas sem comprometer o uso dos recursos pelas futuras gerações (BUSSONS; HAMABATA; GONÇALVES, 2005). Para criar a consciência de preservação do patrimônio cultural, para fins turísticos, necessita-se de (...) uma educação patrimonial, visando colocar as pessoas a par de suas origens pode ser um caminho para que, até mesmo manifestações culturais sejam mais genuínas e não apenas ‘apresentações teatrais’ com objetivo de atrair turistas. Essa educação gera a conscientização sobre a importância da preservação do patrimônio histórico/cultural e faz com que as pessoas colaborem mais com ela. Essa educação patrimonial pode ocorrer através da inserção de disciplinas específicas sobre cada região, dissertando sobre sua História e as origens e ideologias de suas manifestações culturais. Tais disciplinas deveriam constar na grade curricular das escolas de ensino fundamental e médio, criando assim, desde cedo, a consciência sobre a importância de sua raízes na população (BUSSONS; HAMABATA; GONÇALVES, 2005, p. 9/10) Tem-se, portanto, que a tomada de consciência sobre a importância do patrimônio cultural e que, sua preservação é de vital importância para o turismo cultural, pois é nele que está inserido o turismo ferroviário. 2.3 O DESENVOLVIMENTO DAS GÊMEAS DO IGUAÇU Para que se possa estudar o desenvolvimento, é necessário que se faça um recorte territorial para fins da pesquisa. Cada recorte territorial tem características próprias que devem ser levadas em conta no momento da elaboração dos planos de desenvolvimento e questões para aquela região. Souza (2009, p.16) ensina que: A primeira dificuldade do conceito de região reside na delimitação precisa das fronteiras regionais. Que não coincidem, necessariamente, com as fronteiras administrativas adotadas pelo setor público. Independentemente disso, uma ambiguidade importante em relação à delimitação de uma região decorre do fato de seu tamanho ser variável de uma zona com pequeno núcleo populacional, incluindo sua área de influência, a um vasto território envolvendo vários países no interior de um mesmo continente. Como exemplo, tem-se a região amazônica (homogênea por suas características), 26 que engloba vários países, e a região de Palomas, em Livramento, no Rio Grande do Sul, caracterizada por um microclima europeu, propício à produção de vinhos finos. Também Brandão (2007, p. 36) diz que: Nenhum recorte espacial é natural, como querem os conservadores. As escalas são construções históricas, econômicas, culturais, políticas e sociais e, desse modo, devem ser vistas na formulação de políticas. É preciso repactuar relações, reconstruir espaços públicos e canais institucionalizados de concertação de interesses e estabelecer contratos sociais territorializados. Essa nova direção das políticas de desenvolvimento, em sua dimensão espacial e em sua pedagogia, democrática e politizadora, deve resgatar o potencial das diversidades (sociais, regionais, produtivas, etc.) da ‘civilização multicultural’ brasileira. Segundo Souza (2009. p.15), ainda, a delimitação de uma região tem por base o tamanho que se deseja para a unidade de análise. No caso em estudo, tratou-se do impacto da rede de cooperação no turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu, formada pelos municípios de União da Vitória no sul do Paraná e de Porto União no norte de Santa Catarina. A história das duas cidades é una. Para falar-se da história de União da Vitória, é necessário reportar-se aos tempos do Brasil Colônia Portuguesa, conforme ensina Silva (2006, p. 25): Para acharmos a fundação de União da Vitória, teremos de nos reportarà época das ‘bandeiras’, no período colonial quando o Brasil estava sob o domínio de Portugal e era ‘senhor daquem e dalém mar’ El rei Dom José e seu ministro, Sebastião José de Carvalho, Marquez de Pombal.Governava a esse tempo a Capitania de São Paulo, Dom Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, mui solícito às ordens e determinações que vinham da metrópole portugueza. Por ordem de Dom Luiz de Souza ocorreram expedições pelo interior do território que hoje, pertence ao estado do Paraná. Na visão de Melo Júnior (2001, p. 23): No século XVIII, atendendo às determinações do Governo de São Paulo, várias expedições militares foram formadas para desbravarem o interior do Paraná. A exploração do rio Iguaçu constituía o ponto básico do “Grande Projeto” de conquista e descobrimento do Sertão do Tibagi. Era ao longo do seu curso, pela sua corrente ou segundo seu eixo, que deveriam entrar as expedições exploradoras (MELO JUNIOR, 2001, p. 23). 27 Já em 1768 existiram expedições que não conseguiram chegar à região das Gêmeas do Iguaçu. Em 1769, o tenente Bruno da Costa Filgueiras chega pelo Rio Iguaçu, próximo ao Rio Potinga e retorna. Por retornar é preso pelo Capitão Antônio Silveira Peixoto, que prosseguindo chega ao local onde hoje é União da Vitória. (MELO JUNIOR, 2001) Silva (2006, p. 26), relata que “Silveira Peixoto estabelece o ‘Entreposto de Nossa Senhora da Vitória’ [hoje, União da Vitória] e continua a descer o Rio Iguassú, mandando antes fazer derrubadas e grandes roçadas para abastecimento da sua gente e dos homens que ele deixava no referido ENTREPOSTO”. Segundo Silva (2006), com o passar do tempo, foram abertas “picadas” para que se chegasse aos campos de Palmas e destes para os campos de Guarapuava, o que aconteceu em 8 de setembro de 1771. Entre 1842 e 1852, foi aberta a picada que unia Porto União da Vitória e os campos de Palmas, ligando os vilarejos ao Vilarejo de Palmeira. Na atual União da Vitória, ficava o “váo” ou “passo” do Iguaçu, que era o local mais raso do rio, adequado à travessia das tropas de mula e gado que saiam dos campos paranaenses até São Paulo. Importante dedicar-se algumas linhas ao nome das “Cidades Gêmeas”. Segundo Cleto da Silva, o Entreposto de Nossa Senhora da Vitória foi o local do encontro de duas comissões militares de exploração, uma que vinha de Palmas e outra que vinha de Palmeira. Assim sendo, a localidade passa a chamar-se Porto da União da Vitória. Com o acordo de limites, há a divisão política do vilarejo, que é transformada em duas, Porto União e União da Vitória (SILVA, 2006). A mesma história é relatada por Larzier (1985, p. 12). A origem de Porto União da Vitória está no vau. A utilização do vau para travessia do gado e dos cargueiros de sal foi o ponto de partida de Porto União da Vitória. O Sal vinha do litoral para alimentar o gado de Palmas. O gado vinha de Palmas para o centros consumidores. Porto União da Vitória surgiu, assim, com sentido econômico. (LARZIER, 1985, p. 12) Com localização geográfica estratégica o povoado foi se desenvolvendo, pelo caminho das tropas, juntamente à navegação fluvial. Conta Lazier (1985), que em 1880, o Coronel Amazonas de Araújo Marcondes fixa-se no pequeno povoado da Freguesia de União da Vitória, como um dos entusiastas pelo desenvolvimento da região. A colonização inicia-se com a vinda de 24 famílias de imigrantes em 1881. Em 1882 o vapor “O Cruzeiro” inicia a 28 navegação fluvial do Iguaçu, trazendo em 1884 a primeira caldeira para a primeira serraria da região. Pelo Decreto 54, datado de 27 de março de 1890, com a criação da Intendência Municipal de União da Vitória, ocorre o desmembramento da cidade do município de Palmas. Em 1904 a ferrovia chega a União da Vitória, partindo de Itararé em São Paulo e indo até Santa Maria no Rio Grande do Sul. De 1912 até 1916 ocorre a Guerra do Contestado e em 1917, um acordo de limites divide a Freguesia de União da Vitória, fazendo com que uma parte dela se chamasse Porto União, pertencendo a Santa Catarina e outra parte pertencesse ao Paraná, chamouse União da Vitória, eis o motivo de serem intituladas de “Gêmeas do Iguaçu”. (LARZIER, 1985) Ainda, segundo Lazier (1985), as cidades Gêmeas do Iguaçu tiveram seu nascimento na mesma data, mas foram registradas em datas diferentes. União da Vitória e Porto União são cidades irmãs. São, inclusive, irmãs gêmeas. Nasceram no dia 20 de outubro de 1916, quando da assinatura de acordo entre Afonso Alves de Camargo, pelo Estado do Paraná, e Felipe Schmidt, pelo Estado de Santa Catarina. O “parto” foi assistido, também, pelo Presidente da República, Sr. Wenceslau Brás. A gestação, porém, foi dolorosa. Durou muito tempo. Teve a interferência de muita gente e provocou o derramamento de muito sangue. A guerra do Contestado propiciou o ‘parto’ e exigiu uma cesariana. Assim sendo, União da Vitória e Porto União nasceram no dia 20 de outubro de 1916. Foram, porém, registradas em épocas diferentes. União da Vitória apenas trocou de nome, eliminando a palavra Porto, pois anteriormente chamava-se Porto União da Vitória. Porto União só oficializou-se em 25 de agosto de 1917, pela Lei nº 1147. (LARZIER, 1985, p. 5) Complementando a discussão sobre a origem das cidades e sua ligação com a ferrovia, Silva (2006, p. 93) relata que, Em 1905 é inaugurada a linha férrea São Paulo – Rio Grande no trecho de Paulo Frontin - União da Vitória. A 26 de Fevereiro de 1905, é inaugurado o trecho da linha férrea da Estação de Paulo Frontin a de UNIÃO DA VITÓRIA, numa extensão de 49 kilometros e 641 metros. - A 7 de Outubro de 1905, Lei n. 5 a Camara Municipal Concede à Companhia Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, com isenção perpétua de foro, uma área de terreno no quadro urbano, com 43.540 m/2, no Largo “Visconde de Guarapuava”, para a construção da Estação e mais dependências necessarias. Requereu-a o Eng. Dr. Guilherme Capanema (SILVA, 2006, p. 93). Foi essa estrada de ferro que serviu de marco divisório entre as Gêmeas do Iguaçu, conforme relata Melo Júnior (2001,p. 41): 29 À margem do rio Iguaçu, situava-se a cidade paranaense denominada Porto União da Vitória. Em virtude do acordo de limites entre Paraná e Santa Catarina de 20 de outubro de 1916, essa cidade foi dividida em duas partes, passando a divisa pelo eixo da então Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande. A parte que ficou no território catarinense tomou o nome de Porto União e a que coube ao Paraná, o nome de União da Vitória. (MELO JUNIOR, 2001, p. 41) A foto, aqui apresentada na figura 2, pertence ao acervo pessoal de Antônio Xavier Paes e documenta a primeira estação de União da Vitória, a qual foi substituída pela atual “Estação União” construída em 1942. FIGURA 1 - PRIMEIRA ESTAÇÃO DE UNIÃO DA VITÓRIA, (1905) Fonte: Acervo pessoal de Antônio Xavier Paes (2012) As Gêmeas do Iguaçu possuem um território com 1.571 km2 (mil quinhentos e setenta e um quilômetros quadrados), onde vive uma população de 86.228 (oitenta e seis mil duzentos e vinte e oito) habitantes. A população, que originariamente era composta de índios botocudos e caingangues, foi acrescida dos migrantes alemães, poloneses, italianos, ucranianos e sírio libaneses que vieram para as Gêmeas. (IBGE, 2012) Na economia, além da agropecuária e da indústria, se sobressai o setor de serviços no qual o trabalho da Associação dos Amigos do Trem com o turismo ferroviário. 30 O município de União da Vitória apresentava segundo o IBGE (2009) um Produto Interno Bruto Per Capita a Preços Correntes na ordem de R$ 10.767,86 (dez mil setecentos e sessenta e sete reais e oitenta e seis centavos) e Porto União apresentava o mesmo PIB na ordem de R$ 8.434,38 (oito mil, quatrocentos e trinta e quatro reais e trinta e oito centavos). Especificamente sobre a ferrovia no território das Gêmeas do Iguaçu, os municípios de Porto União no norte de Santa Catarina e União da Vitória no sul Paraná, são divididos, ou unidos, pela estrada de ferro São Paulo – Rio Grande. A ferrovia foi projetada em 1887, pelo Engenheiro João Teixeira Soares, com um traçado de 1403 quilômetros de extensão ligava Itararé em São Paulo a Santa Maria no Rio Grande do Sul, unindo assim as províncias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. (THOMÉ, 1980). Desde quando Províncias, no Império, e mesmo quando Estados, no início da República, o Rio Grande do Sul, o Paraná e Santa Catarina desenvolveram seus próprios sistemas ferroviários, independentes uns dos outros. A grande exceção foi a Estrada de Ferro São Paulo Rio Grande, porquê planejada pelo Governo Imperial, que veio a interligar São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. (THOMÉ, 1980, p. 25). Thomé (1980) diz que aos 9 dias do mês de novembro de 1889, seis dias antes da Proclamação da República, Dom Pedro II assina a concessão da ferrovia para Teixeira Soares. Tal concessão é ratificada pelo seu sucessor Marechal Deodoro da Fonseca, em 07 de abril de 1890. Após os estudos definitivos e o levantamento do capital necessário, a construção inicia em 1897, em Itararé o trecho que liga a Porto União do outro lado do Rio Iguaçu, com 264 quilômetros, concluído em 1905. Em 1900, estava concluída a primeira secção, de Ponta Grossa a Rebouças, com 132 quilômetros. Em final de 1904 foi concluído o prolongamento até União da Vitória, à margem do Rio Iguaçu, com mais 132 quilômetros de extensão, e se inaugurou a estação de Porto da União em 26 de fevereiro de 1905. O trecho Sul, de Ponta Grossa a União da Vitória, com 264 kms., foi então entregue ao tráfego ligando-se com as ferrovias paranaenses que demandavam ao litoral. (THOMÉ, 1980, p. 51 e 52). Narra Melo Junior (2001) que em União da Vitória, a inauguração da ponte provisória sobre o rio Iguaçu, para a passagem dos trens da companhia foi marcada com solenidade, na qual toda a população compareceu. 31 Ainda Thomé (1980) fala sobre o desenvolvimento da Ferrovia do Contestado, nos seguintes aspectos: a) Em 1907 a construção recomeça de Porto União para o Rio Grande do Sul. b) Em 1908 quem assume a concessão é Percival Farquhar empreendedor norte americano que integrou a ferrovia à holding Brazil Railway Company, a mesma holding que criou a Southern Brazil Lumber & Colonization Company, na mesma região. c) Farquhar contrata o engenheiro Achilles Stenghel para comandar a tarefa, contratando no total 8000 homens que foram distribuídos nos 372 quilômetros que ligam Porto União ao Rio Uruguai, no outro lado de Santa Catarina. d) O primeiro trecho entre Porto União e Taquaral Liso passando pelas atuais Matos Costa e Calmon, foi inaugurado em 03 de abril de 1909 pelo presidente da República, Affonso Penna, no local onde existe ainda hoje, a estação com seu nome. e) O trecho continuou sendo construído, mas o que nos importa diretamente está aqui, lembrando que além do fato de 8000 homens trabalhando na ferrovia em Santa Catarina, sendo que alguns vieram inclusive de fora do país, o custo do trecho catarinense ficou na época em 3 milhões de libras esterlinas. f) O contrato de concessão da ferrovia que era de 50 anos, terminou em 1940, transformando-se na Autarquia Rede de Viação Paraná - Santa Catarina. Em 1957, junto com outras autarquias foi formada a Rede Ferroviária Federal S/A. (THOMÉ, 1980 p. 52 e 53) Na visão de Melo Junior (2001, p. 72), A Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande e a Ponte Provisória sobre o rio Iguaçu, foram acontecimentos dos mais importantes para a região Sul e teve aspecto relevante na economia de União da Vitória e toda a região, à medida que favoreceu o fluxo de produtos e intensificou a exploração madeireira e ervateira (MELO JUNIOR, 2001, p. 72) Recentemente, a partir de 1997, a concessionária ALL assumiu, e foi, aos poucos, desativando alguns trechos, dentre eles o de Porto União – Piratuba (Rio Uruguai). Antes disso, boa parte da malha vinha do norte pelo Paraná e chegava até União da Vitória – Porto União, já havia sido desmontado pela própria Rede Ferroviária Federal S/A., conforme informado por Xavier Paes (2012). A história da ferrovia está intimamente ligada ao desenvolvimento das duas cidades. As raízes dessas cidades estão envoltas nos trilhos da estrada de ferro e, em seus dormentes. Tal fato faz com que haja nas cidades, mesmo que depois de um século da implantação da ferrovia, uma identidade dos moradores com a estrada de ferro. A história dos trilhos e o desenvolvimento das duas cidades se unificam, se sustentam e se entremeiam nos trilhos da própria rede. Até 1993 a presença das 32 composições ferroviárias que passam pelas duas cidades era constante e movimentava as suas vidas, como narra (Xavier Paes, 2012)1. Eu sai em 90 e ainda era a rede, acredito que mais três anos aí, em 93 ele funcionou ainda como rede, depois a rede foi parando foi parando e, eu acho que em 97 que ela passou pra Atlântica e mais uns três anos a Atlântica passou pra América Latina. Até a Atlântica ainda teve um transporte ferroviário até aí, as linha estavam mantendo como antes da privatização. Então a América Latina deixou mais ou menos uns cinco anos, no total abandono. (XAVIER PAES, 2012) Todo esse contexto gerou um senso republicano2 no que concerne à ferrovia e aos trens. O povo passa a ter a percepção de que se trata de patrimônio dos cidadãos das Gêmeas do Iguaçu. Com a privatização em 1996, a concessionária entendeu que o trecho que liga Mafra até Piratuba, não era viável economicamente, e em 1997 o desativou. A partir de então, o trecho começou a deteriorar-se e ser vandalizado3. Casas da Antiga Rede Ferroviária Federal S/A foram ocupadas, assim como estações e armazéns. Inúmeros imóveis foram depredados e outros tantos ruíram por falta de conservação, apesar da obrigação da Concessionária em mantê-los conservados e operacionais, conforme podemos extrair do contrato de concessão firmado entre a União e a Ferrovia Sul-Atlântico S.A., no ano de 1997: CLÁUSULA NONA – DAS OBRIGAÇÕES DAS PARTES 9.1 – DAS OBRIGAÇÕES DA CONCESSIONÁRIA: IV) manter pessoal técnico e administrativo, próprio ou de terceiros, legalmente habilitado e em número suficiente para a prestação do serviço adequado; IX) Cumprir e fazer cumprir as normas aplicáveis à ferrovia; X) Promover a reposição de bens e equipamentos vinculados à CONCESSÃO, bem como a aquisição de novos bens, de forma a assegurar a prestação do serviço adequado; XIV) Zelar pela integridade dos bens vinculados à CONCESSÃO, conforme normas técnicas específicas, mantendo-as em perfeitas condições de funcionamento e conservação, até a sua transferência a CONCEDENTE ou a nova CONCESSIONÁRIA; XXIII) Manter as condições de segurança operacional da ferrovia de acordo com as normas em vigor; XXIV) Manter a continuidade do serviço concedido, salvo interrupção emergencial causada por caso fortuito ou força maior, comunicando 1 Antônio Xavier Paes foi entrevistado na modalidade de história oral, sendo um dos fundadores da Associação dos Amigos do Trem de Porto União e União da Vitória 2 Senso republicano é o sentimento de titular de direitos sobre do patrimônio público, uma visão de que o patrimônio público é de todos e não do Estado. 3 Muitos foram os furtos de material e equipamentos da ferrovia desde a sua desativação, bem como ocorreram muitos atos de destruição desse patrimônio, especialmente das construções 33 imediatamente a ocorrência de tais fatos à CONCEDENTE. (Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT, 2012) Como determina o contrato de concessão, o serviço de transporte ferroviário, que é um serviço público, por constar da Constituição Federal do Brasil de 1988, não poderia deixar de ser oferecido à sociedade local e regional. Além deste fato, deveriam ser preservados trabalhadores suficientes para que o serviço fosse prestado adequadamente. A concessionária deveria zelar pelo patrimônio, seguindo normas técnicas de segurança. Quando ocorresse qualquer dano deveria a concessionária repor o bem danificado. Todas essas cláusulas estão sendo desrespeitadas pela concessionária, o que desencadeou a indignação na população que passa a se organizar para conter este descaso. 2.4 DO CAPITAL SOCIAL E DAS REDES DE COOPERAÇÃO Em decorrência da mobilização e organização das pessoas e instituições se dá a formação de redes para o desenvolvimento das regiões. No caso do turismo ferroviário das cidades gêmeas, a formação de redes foi um processo decorrente do mesmo processo histórico que originou o capital social, por isso afirma que o próprio capital social gera redes de cooperação conforme escreve SOTO (2008, p. 393) Existe um certo consenso em definir capital social como a capacidade que tem uma comunidade de construir redes de cooperação social baseadas na confiança interpessoal, com objetivo central de produzir bens coletivos que signifiquem prosperidade econômica e desenvolvimento sustentável. (SOTO, 2008, p. 393) Do aspecto econômico, vê-se o capital social atrelado às redes de cooperação, estudadas pela corrente econômica do Institucionalismo e Neoinstitucionalismo conforme se depreende no texto de DALLABRIDA (2010, p. 123) Os autores institucionalistas 34 Confiavam nos fatores psicológicos como determinantes maiores dos fenômenos econômicos, recorrendo, portanto, preferencialmente à indução, em detrimento da lógica ortodoxa, procurando uma visão dos agrupamentos e das instituições no lugar da visão individualista preponderante na Economia. (DALLABRIDA, 2010, p. 123) Ainda, (...) é oriunda, também, da vertente do neoinstitucionalismo a abordagem sobre capital social. O conceito é antigo, mas seu debate é revigorado a partir da década de 80, a partir de estudos realizados sobre a experiência italiana de gestão do processo de desenvolvimento local e regional, especialmente os realizados sob a coordenação de R. Putnam. Seguindo uma linha de raciocínio neoinstitucionalista, Putnam afirma que a cooperação voluntária é mais fácil numa comunidade que tenha herdado um bom estoque de capital social sob a forma de regras de reciprocidade e sistemas de participação cívicas. Assim, o capital social diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência na sociedade, facilitando as ações coordenadas. (DALLABRIDA, 2010, p. 123) A rede deve ser vista como um tecido que é composto pelos liames que unem os atores. O tecido em forma de rede é capaz de reter um número infinitamente maior de oportunidades do que seria possível por atores individualizadamente. Além disso, por mais que se identifique impacto capaz de causar o rompimento de um dos liames que forma o “tecido” da rede, o ator que sofreu diretamente esse impacto é sustentado pelo restante do tecido não afetado. Franco (2009) relata que percebeu que as pessoas devem interagir com as outras, no espaço público e gerar a energia suficiente para criar o seu próprio desenvolvimento juntamente com o da localidade, em que elas se encontram. Tocqueville (2005) quando viajou para a América Latina se impressionou com o espírito de associação e com a capacidade de autorganização da sociedade brasileira para resolver problemas. Franco (2009) ensina que capital social nada mais é, então, do que a própria rede social e explica o que são essas redes sociais quando fala dos padrões de organização, divididos em três aspectos: o centralizado, o descentralizado, também chamado de multi centralizado e, o distribuído. É justamente o “distribuído” que configura uma rede efetivamente. A cooperação é um atributo do modo como os seres humanos se organizam, portanto, não podemos esperar cooperação em um sistema centralizado ou multi centralizado. Vai haver cooperação, colaboração em um ambiente de organização 35 distribuída. A ciência das redes começa a estudar esse fenômeno da organização de pessoas, sem uma convocação ou organização, quase como sendo fruto do trabalho do inconsciente coletivo, que é o que ocorreu no caso da associação no Vale do Iguaçu, sem nenhum chamamento as pessoas se aglutinaram em torno de um objetivo comum e todo o sistema se desenvolve a cada dia. Conforme explica Franco (2009), quanto mais aumenta-se a conectividade e o grau de distribuição de uma rede social, menor o mundo vai ficando em termos sociais e quanto menor o mundo fica em termos sociais, mais empoderante é o campo social que ele está criando, com isso, maior é a capacidade de indução das pessoas de empreenderem, inovarem e assumirem protagonismos. Ainda nesse sentido Rojas, (2004, p. 259): Em suma, tudo indica que capital social é produzido por comunidades. A ampliação social da cooperação, que dá origem a (ou co-origina) esse fator do desenvolvimento chamado de capital social, ocorre (ou exclusivamente, ou predominantemente) em comunidades. Ora, comunidades são 'mundos pequenos' que atingiram certo grau de ‘tramatura’ do seu tecido social e, portanto, adquiriram mais 'poder social' para usinar padrões de comportamento (programas) capazes de se replicar. Esse 'poder social' dá a medida do capital social que ela é capaz de produzir (e é o próprio conteúdo da expressão 'capital social'. O que chamamos de 'capital social', malcomparando, é algo assim como se fosse o ‘combustível’ que alimenta a geração de identidade e a replicação de características (que podem ser vistas como softwares que instruem a construção de comportamentos) das peculiares identidades geradas. Sob esta orientação se percebe a questão do turismo ferroviário, que quanto maior o número de pessoas que se engajam no processo, maior o número de pessoas que buscam o engajamento. Elas são induzidas a participarem do processo. Mas não induzidas de forma direta e deliberada, mas induzidas pelo próprio crescimento do projeto, pelas próprias ações que estão cada vez mais aparentes nas duas cidades. Como se constatou, toda a história e a forma com que a ferrovia se instalou nas cidades Gêmeas do Iguaçu e a sua importância para os diversos contextos locais e regionais fez com que a ferrovia se constituísse num capital cultural para as Gêmeas do Iguaçu. Este capital cultural se constituiu num capital simbólico, tanto que hoje, a imagem dos municípios de Porto União e União da Vitória é divulgada também pela imagem da ferrovia e da locomotiva 310. 36 Quando se fala em capital social e redes de cooperação, correlatas ao tema do turismo ferroviário, não se pode dissociar a figura do capital simbólico. A figura do trem é revestida de um simbolismo muito forte que decorre do aspecto cultural nas Gêmeas do Iguaçu. Conforme Santos (2007, p. 35) Capital Simbólico é um conceito utilizado por Bourdieu com o objetivo de permitir compreender alguns fenômenos que de outra maneira permaneceriam insondáveis. O Capital Simbólico, diferentemente das outras modalidades de capital, não é imediatamente perceptível como tal e os efeitos de sua duração também obedecem a lógica(s) diferente(s). Especie de poder ligado à propriedade de "fazer ver" e "fazer crer", o capital simbólico é, a grosso modo uma medida do prestígio e/ou do carisma que um indivíduo ou instituição possui em determinado campo. Deste modo, a partir desta marca quase invisível de distinção o capital simbólico permite que um indivíduo desfrute de uma posição de proeminência frente a um campo, e tal proeminência é reforçada pelos signos distintivos que reafirmam a posse deste capital (como as insígnias do militar ou a mitra sacerdotal de um papa) (SANTOS, 2007, p. 35) Com esta pesquisa é possível constatar que é justamente este capital cultural e simbólico que geraram o capital social em torno da ferrovia nos municípios estudados. No tópico que se menciona o capital social, aborda-se como ele se forma. Franco (2009) explica que o capital social se forma da energia gerada no contato social público. No caso das Gêmeas do Iguaçu, vê-se que o contato social na esfera pública que gerou o capital social que gerou o turismo ferroviário, teve origem no capital cultural e simbólico formado ao longo de nove décadas. Esta foi a força capaz de unir as pessoas em torno de um ideal comum, o capital cultural formado ao longo do tempo, do qual derivou o capital simbólico, capaz de criar a rede de cooperação do turismo ferroviário das Gêmeas do Iguaçu. Na figura 2, a fotografia registra a primeira reunião de conscientização da necessidade de preservação do patrimônio histórico ferroviário. Nela aparecem Odemar Fernando Leão, Celso Moreira de Castilho, Sikorski, Valdomiro Repukna, Sandra Souza, Martins Queba, Ubaldino, Antônio de Paula e esposa, Basílio Zavarski e esposa, Luiz Mário da Silva, Mauro Marquezinski, Professor Dino, Orlando Schultz, João Cotoviski, Cesário, Sandro Calikoski, João Maria Prestes, 37 Antônio Xavier Paes, em frente à Estação União ao lado de Porto União. (XAVIER PAES, 2012) FIGURA 2 - O PRIMEIRO ENCONTRO DOS EX-FERROVIÁRIOS PARA DISCUTIREM SOBRE A PRESERVAÇÃO FERROVIÁRIA, EM 2003. Fonte: Acervo pessoal de Antônio Xavier Paes (2012) Foi possível captar-se o simbolismo quando das entrevistas aplicadas pelo método de história oral, especialmente pelo que relatou o entrevistado Antônio Xavier Paes, a ferrovia implantada nas cidades de União da Vitória no Paraná e Porto União Santa Catarina, no início do século passado, trouxe pelos trilhos uma nova perspectiva para os moradores dessas cidades situadas no Vale do Rio Iguaçu. Pelos trilhos vem o desenvolvimento na forma das mais diversas mercadorias, assim como no escoamento dos produtos locais trazendo dividendos e dessa forma, a riqueza. Também a ferrovia se torna o elo de ligação ao resto do mundo, não mais precisavam as pessoas andar a pé, a cavalo ou carroças, agora o trem pode levar e trazer às pessoas, aos mais diversos locais. O acesso ao mundo se dá pela estação ferroviária. A estação é um “portal mágico” pelo qual se acessa o mundo. Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Roma. Seja qual for o destino somente é acessível perante a passagem pelo “portal” que o leva ao local ou a outros “portais”. Os produtos de 38 outras partes do mundo, do sal às especiarias chegam pelo trem. A pessoa querida vem pelo trem ou pelo trem se chega até ela. Estes detalhes fazem com que as pessoas sentiam-se integradas não só ao Brasil, mas ao mundo também. A narração de Xavier Paes (2012), revela fatos que ocorriam em meio ao que é descrito até agora. Precisa-se mencionar mesmos para que seja possível entender a relação da comunidade com a ferrovia. Lembra que a relação é maior que apenas o emprego e o transporte de mercadorias e pessoas. Nesse contexto cita o entrevistado a sua versão sobre o progresso representado pelas fortes locomotivas, pelos pesados vagões que traziam e levavam pessoas para o resto do mundo. Eu acho assim... que a ferrovia aqui representou até uma época representou tudo. Porque as estradas ainda eram precárias, ônibus não existiam, e o pessoal, pouca gente tinha automóvel, era tudo na base da carroça. Nós sabemos que aqui na estação, muita gente que hoje tem, seus comércios aí, os filhos os netos, tem grandes empresas, mas o pai foi carroceiro aqui. Porque era um serviço diário, pra trazer a mercadoria até a estação e também tirar a mercadoria que o trem trazia, que descarregavam nos armazéns da Rede, entregar no destino, então entregava em toda a região. Tudo chegava de trem aqui, tudo que é material e muita madeira. A madeira dos arredores chegava tudo de trem aqui. Aqui se carregava também muita madeira que vinha de Palmas, de outras regiões aí, Bituruna, e de outros lugares, que chegavam de caminhão aí e tinham os pátios carregando vagão direto, que desciam ao pro sul. Foi formadas diversas cidades . nós sabemos que até concórdia foi muita madeira daqui descarregada em volta grande. Aqui vinha erva mate, suíno, o especial de gado, de boi. Tudo por trem. (XAVIER PAES, 2012) Estes detalhes fazem com que as pessoas sentissem-se integradas não só ao Brasil, mas ao mundo, dois presidentes da república vieram de trem para as Gêmeas do Iguaçu. (XAVIER PAES, 2012) No mesmo sentido, outro pesquisado, o professor universitário Bernardo Knapik (entrevistado pelo método da história oral) relata ter projetado e construído um veículo tracionado a pedais a ser utilizado para locomoção nos trilhos, com capacidade para seis pessoas e que sua equipe começa a “explorar” o trecho de Porto União a Piratuba. Essas duas frentes se unem e com o apoio da gestão do município de Porto União, se cria a Associação dos Amigos do Trem de Porto União/SC e União da Vitória/PR. Esta associação começa a desenvolver uma série de trabalhos por meio de seus voluntários. O primeiro deles é a limpeza da ferrovia no município. A partir 39 desse ponto, várias ações são realizadas pela Associação dos Amigos do Trem: limpeza da via, conserto da estrada de ferro, drenos, carros de passageiro, vagões e locomotiva, até chegar à oferta de passeios para a população. 2.5 ORGANIZAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO TREM A história da Associação dos Amigos do Trem foi obtida por meio de entrevistas modalidade história oral, com os senhores Antônio Xavier Paes e Bernardo Knapik, além da pesquisa em anexo. Para discutir soluções para o abandono narrado acima pelos entrevistados, reuniram-se no final do mês de março de 2003, na estação ferroviária de Porto União e União da Vitória, Odemar Fernando Leão, Celso Moreira de Castilho, Sikorski, Valdomiro Repukna, Sandra Souza, Martins Queba, Ubaldino, Antônio de Paula e esposa, Basílio Zavarski e esposa, Luiz Mário da Silva, Mauro Marquezinski, Professor Dino, Orlando Schultz, João Cotoviski, Cesário, Sandro Calikoski, João Maria Prestes, Antônio Xavier Paes. A reunião foi organizada pelo ferroviário aposentado, Antônio Xavier Paes e aconteceu na Fundação de Cultura de Porto União, com a presença do Diretor da Fundação de Cultura, o sociólogo, Ari Passos e vários ex-ferroviários. Um fator importante a ser destacado é que as Fundações de Cultura, tanto de Porto União, quanto de União da Vitória situam-se no prédio da Estação União, que é a estação ferroviária das cidades Gêmeas. Esta estação tem a peculiaridade de unir dois estados e inclusive ter uma ligação subterrânea por túnel, sendo este um meio seguro para que pessoas passassem por baixo dos trilhos do trem sem correrem risco. No ano 2000 o professor universitário Bernardo Knapik4, quase que por brincadeira, embalado por um saudosismo de quem viajou de trem tracionado por locomotiva a vapor, criou um veículo constituído por duas bicicletas, para brincar com a família na estrada de ferro abandonada. 4 O professor universitário Bernardo Knapik foi o primeiro presidente da Associação dos Amigos do Trem de Porto União e União da Vitória 40 Os sobrinhos de Knapik, que são mecânicos, tomaram conhecimento da ideia do tio e desenvolveram vários veículos a partir da ideia original, o último levava seis passageiros e era tracionado através de pedais, por isso chamado de “ferrobike”. Na semana entre o Natal de 2000 e o Ano Novo, a família Knapik percorreu o trecho de Porto União até Piratuba, pelos trilhos com o Ferrobike. Este passeio acabou sendo noticiado pela imprensa como uma forma de protesto. (Apêndice D) Este ato começa a mobilizar a opinião pública de todos os municípios por onde a família Knapik passou e, em Porto União da Vitória não poderia ser diferente. E de fato continuou muito bem, tanto assim que arriscamos a fazer uma aventura, uma aventura de Porto União até Marcelino Ramos, atravessando santa Catarina, nos marcamos em uma época que meus sobrinhos tinham férias lá na firma deles que era entre natal e ano novo, seis dias então tínhamos para fazer essa aventura, claro requereu um bom planejamento, tinha dois mecânicos juntos, o meu sobrinho e mais um que trabalhava lá, minhas duas filhas foram também, foi também o chefe dos escoteiro, que era o Celso, ele conhecia toda a estrada para baixo, eu não conhecia, só tinha lembranças de mil novecentos e pouco, então o grupo estava formado, seis pessoas, e mas antes disso, sem querer, eu fiquei , conversei com um colega aluno meu que foi Enio Weiss, que trabalha na Telepar, disse, nos temos que fazer uma reportagem disso aí, televisão, ele disse que topariam, quer fazer faça, e eles apareceram aí, e nosso ferro bike ainda não estava em condições, mas nos resolvemos fazer uma filmagem no Km 13 e depois também atravessando um túnel e lá na estação, a prefeitura nos auxiliou, emprestou um caminhão para carregar em cima, porquê?, na época havia vários setores desmoronados, fechado, não passava, como engenheiro melo até a cidade, estava tudo fechado, e aí para cima tinha lugares, tanto assim quando se prontificamos a ir até Marcelino Melo, começamos em Matos Costa, por que aqui não tinha condições, tivemos que levar o ferrobike de carro até lá, para daí descer na estrada, e acontece que saiu a reportagem lá por 19 de dezembro que nos iríamos no dia 26, mas eles puseram assim, em protesto pelo abandono da estrada de ferro, mais nos não tínhamos nenhuma ideia, quer dizer, estávamos escandalizados com a fortuna gasta e agora abandonada, só isso. Fizemos essa viagem, começamos cedo, 8 da manhã já estávamos lá, mas antes disso, eu fiz um trabalho, fui encarregado disso, para ver onde deveríamos posar, para fazermos 50, 60, 80 Km por dia com o menos gasto possível. (KNAPIK, 2012) Atento aos clamores da sociedade e sensibilizado pelo abandono com a ferrovia, o professor e sociólogo Ari Krüger dos Passos, então presidente da Fundação de Cultura de Porto União, procurou o representante dos ferroviários aposentados, Antônio Xavier Paes, que como poderia organizar uma reunião para iniciar um movimento de conscientização a respeito de tudo que estava se perdendo. Então pra você fazer um início dos Amigos do Trem nós vamos ter que falar um pouco o que nós se preocupamos com a preservação do patrimônio 41 ferroviário que é aqui a estação união que é esse complexo que abrange Paraná e Santa Catarina e daí na época de março de 2001 eu botei um escritório que eu sou diretor sindical dos ferroviários eu botei um escritório aqui perto da estação. Já venho de muitos anos, desde 80 no setor sindical da categoria dos ferroviários. E eu estando aqui eu comecei a notar que com a privatização, com o desuso de todo esse patrimônio começou a se deteriorar e não havia de quem responsabilizar, então comecei a falar pra um pra outro até que nós ai conversando, ai no início nós conversamos com alguém do poder público, com o secretário de cultura que é o Ari Passos, professor Bernardo, que é o professor que também se preocupava com o patrimônio ferroviário não sendo ferroviário mas ele tinha uma preocupação. Nós conversando nós vamos fazer o que? Então propuseram que eu como não dependo não sou funcionário municipal eu sou uma pessoa independente, sou ferroviário aposentado e diretor sindical do Paraná e Santa Catarina né, então se for vê eu fazer uma reunião com os ferroviários, que existia bastante ferroviário aposentado na época, hoje a maior parte foi falecendo. De 2001 pra cá deu uma baixa bastante grande, mas ainda tinha bastante gente aqui eu posso até em seguida ai eu posso falar o nome das pessoas porque eu tenho foto de tudo o que nós fizemos. Então era uma reunião pra reclamar o descaso com o patrimônio ferroviário. Então essa reunião com os ferroviários deu um efeito que o núcleo de educação aqui de União da Vitória também percebeu o nosso trabalho e marcou na semana seguinte, fizemos um programa voluntário da ferrovia onde esteve presente a professora Sandra que era do núcleo de educação e o professor Dino, não sei o nome completo deles. Então eles vieram e propuseram fazer uma semana de voluntários da ferrovia nas escolas, cada dia duas ou três escolas no horário das escolas, uma na parte da manha outra na parte da tarde e nós falar sobre a importância da ferrovia e do descaso com o patrimônio ferroviário existente ai e não esta sendo usado pela empresa concessionária. Ai nos trouxemos ai os ferroviários, o pessoal que faz telegrafia, que fazia comunicação pra passar mensagem atreves de telégrafo e os alunos saber como era a comunicação e o que os ferroviários faziam em suas diversas funções de telegrafia, da legislação, serviços gerais, mecânico, manobrador, maquinista, então tem uma série de função, agente de trem, tem agente de segurança, então eram muitas funções para que a ferrovia ande. Então a administração precisava ter todo esse povo. E a importância da geração de emprego, do sustento das famílias ferroviárias através do emprego na ferrovia. Com isso achamos que se criasse uma associação, nós podia fazer alguma coisa, só fazer a reunião e reclamar em vão não podia, então formou-se uma associação. Então ai que entrou mais pessoas não ligadas a ferrovia, que era o caso do professor Bernardo, até no segundo mandato o caso do Marcelo Boldori, que eu to fazendo a entrevista com ele NE. Ele que hoje é um membro da associação amigos do trem. (XAVIER, 2012) Pessoa bem relacionada, Xavier Paes utiliza-se das prerrogativas sindicais para mobilizar os ferroviários aposentados. Consegue também espaço nas rádios locais para fazer o chamamento dos interessados em preservação, ferrovia, história e cultura para que viessem à reunião na Estação União, na última semana de março de 2001. Inúmeras pessoas vieram para a reunião, dentre elas vários ferroviários aposentados, um vereador de Porto União, representantes do Núcleo Regional de Educação de União da Vitória, dentre outros. 42 A foto abaixo, pertencente ao acervo pessoal de Antônio Xavier Paes, registra o momento da primeira reunião de conscientização sobre a depredação do patrimônio ferroviário. A reunião aconteceu na Estação União, do lado de Porto União, em março de 2001. Dessa primeira reunião surge a ideia de trazerem os alunos das escolas de União da Vitória para a estação, o que foi feito na semana seguinte, primeira semana de abril de 2001. FIGURA 3 - PRIMEIRA REUNIÃO PARA A CONSCIENTIZAÇÃO A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO. Fonte: Acervo pessoal de Antônio Xavier Paes (2012) Nessas atividades os alunos tinham contato com os ferroviários, com a estrada de ferro, com a estrutura viária que era utilizada, com as instalações e puderam ter uma noção do funcionamento da ferrovia, desde a composição dos trens, a procedência e destino dos mesmos, até a forma de comunicação, que era a telegráfica. Para demonstrar essa última, dois ferroviários telegrafistas operaram esse sistema pelo código morse, mostrando na prática aos alunos como funcionava esse antigo e eficaz meio de comunicação. O primeiro passo estava dado, o movimento começa a se avolumar. Tais ações foram voluntariamente desenvolvidas em torno da ferrovia, como mutirões de limpeza, o assunto estava cada vez mais em pauta na comunidade. 43 O passo seguinte foi o da criação da Associação dos Amigos do Trem de Porto União, Santa Catarina e de União da Vitória, Paraná. A Associação dos amigos do Trem foi fundada no dia 23 de abril de 2003, na sede da Fundação de Cultura de Porto União, situada Estação União. Aos vinte e três dias do mês de abril do ano dois mil e três, na sede as Fundação Municipal de Cultura de Porto União, às dezesseis horas, reuniram-se, com o objetivo de criar e elaborar o estatuto da Associação dos Amigos do Trem de Porto União - Santa Catarina e União da vitória – Paraná, um grupo de pessoas da sociedade local. Após deliberação, leitura e aprovação do estatuto, passaram os presentes, agora na categoria de sócios fundadores, a eleição da Diretoria e do Conselho Fiscal. (Ata de fundação da Associação dos Amigos do Trem de Porto União e União da Vitória, Anexo A) A partir desta data a Associação dos Amigos do Trem é oficialmente constituída. Até ele tinha, antes de qualquer coisa, ele tinha feito um veículo por conta dele e ele tava usando alguns pedaços, alguns trechos da linha férrea que tá bem abandonado assim, um quilometro ou dois que ele tava usando aquela ferrobike mas só de brincadeira, mas já consciente que aquilo que ele tava fazendo ajudava a fiscalizar o trecho ferroviário ai dentro do nosso município de Porto União, ai nos com essa associação nos pensamos em fazer alguma coisa, nos não tinha um motor pra puxar alguma coisa mas nos se preocupamos em arrumar alguma coisa aonde nos descobrimos esse carro de passageiro em boas condições lá em Paulo Frontin, que tava La e eles não tinham mais interesse em fazer uso, até foi requerido pela prefeitura de Paulo Frontin pra fazer alguma coisa assim estacionaria, esse carro de passageiro como coisa de cultura e ele tem, na época ele tinha uma escrita assim trem da cultura mas daí era aquela coisa pequena e não comportava o pessoal tinha que ter mais espaço ai eles construíram alguma coisa La no município e deixaram esse carro estacionado lá sem uso, ai nos conseguimos que eles transferissem pra nos associação amigos do trem e nos trouxemos pra cá, através de carreta, ai e os voluntários que nos fomos lá levantar esse vagão e arrumamos carros pequenos com as duas prefeituras de Porto União e União da Vitória colaboraram conosco e nos trouxemos mas não trouxemos tudo numa vez só, a caixa desse vagão em cima da carreta e aqui nos montamos. Então agora nos temos um vagão mas nos não temos com o que tracionar, então falando com o prefeito da época que era o Eliseu Mibach, e o Eliseu disse se vocês tem no que por eu dou o motor, a prefeitura consegue um motor de retroescavadeira que não tem mais uso pra prefeitura, tem o motor, tem a caixa de cambio, ai bom já era alguma coisa, ai houve a idéia de procurar um mecânico torneiro pra nos ajudar e dar a idéia de como nos ia adaptar esse motor dentro desse carro de passageiro com cardã com diferencial com caixa de reversão, e chegamos a motorizar o dito vagão e pilotar por 2 anos só o vagão motorizado, que era inédito no Brasil, não existia vagão motorizado, tinha alguma litorina ai na região mas aqui não. (XAVIER, 2012) Quando fala-se da Associação dos Amigos do Trem das Cidades Gêmeas de Porto União e União da Vitória, percebe-se que as pessoas uniram-se em torno de 44 uma causa social, comum a todos e resgataram seu passado. Tem-se aí, a forte presença do elemento cultural. Conforme “(...) os locais são mais do que orçamentos e negócios. Eles abrangem pessoas, culturas, herança histórica, patrimônio físico e oportunidades. Os locais hoje são classificados e avaliados em todas as dimensões possíveis” (KOTLER apud BECKER e WITTMANN, 2008, p. 169). A cultura como propulsor do desenvolvimento, está acessível a todos os moradores de uma cidade, pois mesmo que fosse impossível utilizar-se do turismo ferroviário pela impossibilidade de pagamento das passagens, o que não é o caso das Gêmeas do Iguaçu uma vez que os preços são módicos, nada impediria que as pessoas assistissem ao espetáculo da partida e a chegada de um trem na estação ou mesmo o deslocamento dele, pelas cidades. Dentro de todo esse contexto, é importante focar-se na questão da rede de cooperação como um dos fatores capazes de gerar o desenvolvimento de uma região e a ferrovia foi capaz de gerar a Rede nas Gêmeas do Iguaçu e esta rede está gerando desenvolvimento. Diante de tudo o que se narrou sobre a história da ferrovia, associada com a rede do turismo ferroviário, pode-se destacar que a mesma é a propulsora da formação de capital social, tornando a sociedade capaz de lutar por ela para mantêla, zelando por aquela que já trabalhou por todos, como veremos adiante. Sem contar que o tempo através da história criou um capital cultural que é a ferrovia. Pelo que se pode constatar, somando às palavras de Xavier Paes e de Bernardo Knapik aos ensinamentos de Augusto de Franco, citados anteriormente, constata-se que todo esse contexto gerou um senso republicano no que concerne à ferrovia e aos trens. O povo tem a percepção real de que trata-se de patrimônio dos cidadãos das Gêmeas do Iguaçu. A partir de então o trecho começou a deteriorar-se e ser vandalizado. Casas da Antiga Rede Ferroviária Federal S/A foram ocupadas, assim como estações e armazéns. Inúmeros imóveis foram depredados e outros tantos ruíram por falta de conservação, apesar da obrigação da Concessionária em manter conservados em operação, tais patrimônios. 45 Diante do descaso, Antônio Xavier Paes, Delegado do Sindicato dos Ferroviários em Porto União, reuniu seus pares para discutirem sobre providências a serem tomadas, pois era parte das vidas de cada um deles presentes naquele patrimônio. Nesta cenário está se desintegrando no descaso da concessionária, que tinha o dever de zelar pelo mesmo, conforme já demonstrado. 46 3. APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA Este estudo utilizou a metodologia de Lakatos e Marconi (1988, p. 41-42) que apregoam que o objetivo da atividade científica é a obtenção da verdade, comprovou-se as hipóteses que ligam a observação da realidade e a teoria científica que a explica. Estabelece-se um método que nos permitiu alcançar os objetivos, com segurança e economia. Aplicou-se um questionário para os usuários do serviço turístico, outro para o setor de restaurantes e um terceiro para os membros da Associação dos Amigos do Trem. O questionário aplicado visou captar a percepção das pessoas, sobre os serviços prestados pela Associação e a percepção sobre a relação entre esse serviço e do desenvolvimento, das Cidades Gêmeas. Foram localizadas pessoas que utilizaram-se do serviço para aplicar o questionário com estes usuários. Além das questões fechadas, apresentou-se ao final do questionário uma questão aberta, que nem todos quiseram responder. Passa-se agora à análise dos dados coletados junto aos usuários do serviço turístico prestado pela Associação dos Amigos do Trem. 3.1. APRESENTAÇÃO DOS DADOS DOS USUÁRIOS O questionário para a pesquisa aplicado ao usuário do serviço turístico foi respondido por vinte e uma pessoas, sendo 57,14% do gênero masculino e 42,86% do gênero feminino. Dos entrevistados, 76,19% possuem curso superior, dos quais 31,25% são pós-graduados. A primeira pergunta foi: Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? A esta pergunta 38% dos entrevistados responderam que identificam como “excelente” a implantação, 33% entenderam como boa e 29% como regular. 47 Gráfico 1 - Turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu para o usuário Do serviço. . FONTE: BOLDORI, 2012 Constatou-se que a maior parte dos usuários vêem positivamente a implantação do turismo ferroviário. A segunda pergunta do questionário aos usuários é: Você concorda com essa implantação? Para essa pergunta 76% das pessoas concordam totalmente, 18% concordam parcialmente e 6% das pessoas discorda da implantação. Gráfico 2 - Concordância com a implantação para o usuário . FONTE: BOLDORI, 2012 48 O resultado dessa questão mostra que a implantação do turismo ferroviário não é acolhida por unanimidade, embora seja uma parte minoritária, é bastante significativa em simbologia e não pode ser desconsiderada. A terceira questão indagou: Concorda que o projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das gêmeas do Iguaçu? 76% dos entrevistados responderam que concordam totalmente com a implantação do turismo ferroviário, 19% concordam parcialmente e 5% discorda. Gráfico 3 - Auxílio do turismo ferroviário no desenvolvimento das cidades gêmeas, na visão do usuário. . FONTE: BOLDORI, 2012 Nesta questão, identifica-se a percepção que as pessoas têm sobre a relação entre o projeto de turismo ferroviário e o desenvolvimento. Concordando que o projeto em questão auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu. Na quarta questão indagou-se: Como você avalia a atuação da Associação dos amigos do trem? A esta questão 29% das pessoas classificaram a atuação como excelente, 28% das pessoas classificaram como boa, 24% como regular, 5% como ruim e 14% não souberam responder. Gráfico 4 - Atuação da Associação Amigos do Trem para os Usuários. 49 Como você avalia a atuação da Associação dos amigos do trem? Excelente Boa 14% 5% 28% Regular 29% Ruim 24% . Fonte: BOLDORI, 2012 Na quinta questão, “Como você identifica a atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário?”, as respostas foram: 5% dos entrevistados classificaram como excelente, 5% como boa, 24% como regular, 33% como ruim, 24% como péssima e 9% não souberam responder. Gráfico 5 - A atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário para o usuário. . Fonte: BOLDORI, 2012 Pôde-se constatar que a atuação da classe política, na percepção dos usuários do serviço turístico não tem alcançado os anseios dos mesmos no que tange a questão do turismo ferroviário. Na sexta questão indagou-se se a implantação do turismo ferroviário auxiliava no desenvolvimento dos municípios de Porto União e União da Vitória. A esta pergunta 71% das pessoas entrevistadas responderam que concordam totalmente que a implantação do turismo ferroviário auxilia no desenvolvimento das 50 Gêmeas do Iguaçu, enquanto 19% das pessoas concordam parcialmente, 5% das pessoas discordam e 5% não têm opinião. Gráfico 6 - A implantação do turismo ferroviário como auxílio no desenvolvimento dos municípios de Porto União e União da Vitória na visão do usuário. . Fonte: BOLDORI, 2012 Na sétima pergunta indagou-se se “A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória. Como resposta, 25% das pessoas concordam totalmente, 40% concordam parcialmente, 30% não possuem opinião e 5% discordam. Gráfico 7 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória na visão do usuário 51 . Fonte: BOLDORI, 2012 Na oitava questão questionou-se: Como você avalia o serviço prestado pela Associação dos Amigos do Trem. Gráfico 8 - Avaliação do serviço prestado pela associação dos amigos do trem pelo usuário. . Fonte: BOLDORI, 2012 Como resposta 38% das pessoas classificaram como excelente, 19% das pessoas como bom, 24% das pessoas classificaram como regular, 9% das pessoas classificaram como ruim, 10% pessoas classificaram como péssimo. Na nona questão indagou-se: Como você avalia o serviço turístico ferroviário prestado? A esta questão 10% das pessoas avaliaram como excelente, 38% como bom, 24% como regular, 14% como ruim e 14% não souberam responder. 52 Gráfico 9 - Avaliação do serviço turístico ferroviário prestado pelo usuário . Fonte: BOLDORI, 2012 Na segunda parte do questionário buscou-se captar a percepção do usuário do serviço turístico sobre o processo histórico da configuração da rede de turismo ferroviário. Na primeira questão dessa parte do questionário indagou-se se o resgate da história das Gêmeas do Iguaçu contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades. Nesta questão 66% das pessoas entenderam que contribuiu amplamente, 24% pessoas entenderam que contribuiu parcialmente, para 5% das pessoas contribuiu muito pouco, sendo que 5% dos entrevistados respondeu não saber informar. Gráfico 10 - Como o Resgate da história das Gêmeas do Iguaçu contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades na visão do usuário. . O resgate da história das Gêmeas do Iguaçu contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? Contribuiu 5% 5% amplamente Contribuiu 24% parcialmente 66% Contribuiu muito pouco Não soube informar Fonte: BOLDORI, 2012 53 Na segunda questão indagou-se a quem o usuário atribui o resgate histórico da ferrovia, sendo que 10% atribuíram à população, 33% atribuíram aos ferroviários, 5% atribuiu à classe política, 33% atribuíram às instituições ligadas à história e à cultura e 19% não souberam responder. Gráfico 11 - A quem o usuário atribui o resgate histórico da ferrovia. . Fonte: BOLDORI, 2012 Quando da questão aberta, apenas 61,9% das pessoas entrevistadas manifestaram sua opinião. Tem-se que 5% das pessoas que se manifestaram entenderam que o turismo ferroviário em nada contribui para o desenvolvimento, sendo apenas uma forma de resgatar a história das Cidades Gêmeas, em contrapartida as demais pessoas focaram em alguns aspectos. O que foi citado por seis dos treze entrevistados foi o aspecto econômico que seria diretamente influenciado uma vez que, o turismo ferroviário traria para cá pessoas que gastariam com produtos das nossas cidades, trazendo dinheiro de outras localidades para as duas cidades. Levantou-se que 14% das pessoas citam o resgate e a preservação da história das duas cidades, como um dos benefícios trazidos pelo turismo ferroviário 54 Ainda 14% das pessoas trouxeram a questão da melhoria da qualidade de vida em função da melhoria dos equipamentos turísticos, sendo que uma delas chega a citar a possibilidade de utilizarmos o trem em “horários de pico” como meio de transporte coletivo. E 5% das pessoas falaram especificamente sobre desenvolvimento social. Das pessoas que se manifestaram sobre as instituições públicas e os políticos, todas criticaram a falta de apoio dos políticos e das instituições públicas, desde ações simples como a sinalização de passagens de nível, quanto a falta de “responsabilidade” dos órgãos públicos, falta de apoio financeiro, material juntamente à falta de reconhecimento pelo serviço prestado pelos ferroviários. 3.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DO SETOR DOS RESTAURANTES Este questionário foi também aplicado para os responsáveis por restaurantes da região central das duas cidades, e foi respondido por nove entrevistados. Com relação à primeira pergunta: Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? Tem-se que 33% das pessoas responderam que identificam como excelente, enquanto 45% das pessoas identificam como bom e 22% das pessoas identificaram como regular. Gráfico 12 - Como o setor de restaurantes identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu. Fonte: BOLDORI, 2012 55 Na segunda questão: Como você percebe o estágio de implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? Tem-se 33% das pessoas respondendo que influenciou positivamente e 67% respondendo que não influenciou. Nota-se que mesmo as pessoas que entendem que o projeto não influencia nos seus negócios, no caso restaurantes, entendem que influencia no desenvolvimento do território em questão. Gráfico 13 - Como a implantação do turismo ferroviário trouxe influência para o setor de restaurante. Fonte: BOLDORI, 2012 Com relação à terceira pergunta, Concorda que o projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu? Responderam 44% das pessoas que concordaram totalmente e 56% que concordaram parcialmente. Notase que todas as pessoas entrevistadas tem a visão de que o projeto auxilia no desenvolvimento do território em questão, em maior ou menor grau, mas todos concordam. Gráfico 14 - O setor de restaurantes concorda que o projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu. 56 . Fonte: BOLDORI, 2012 À quarta pergunta: Como você avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem? Tem-se 11% dos entrevistados avaliando como excelente, 67% das pessoas avaliaram como boa a atuação e 22% das pessoas não souberam responder. Gráfico 15 - Como o setor de restaurantes avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem. Fonte: BOLDORI, 2012 Na quinta pergunta: Como você avalia a atuação da classe política na implantação do turismo ferroviário, 11% das pessoas identificaram como excelente, 56% apontaram como regular e 33% apontaram como ruim. Verifica-se que a maior parte dos entrevistados não desaprovam a atuação política e 11% qualificam como excelente, somando mais de 2/3 dos entrevistados, fato que demonstra aprovação da atuação da classe política. Gráfico 16 - Como o setor de restaurantes avalia a atuação da classe 57 política na implantação do turismo ferroviário. Fonte: BOLDORI, 2012 Na sexta questão: A implantação do turismo ferroviário auxilia no desenvolvimento dos municípios de Porto União e União da Vitória? Tem-se que 56% das pessoas responderam que concordam totalmente e 44% concordam parcialmente. Constata-se, portanto, que em maior ou menor grau, todos os entrevistados entendem que o turismo ferroviário auxilia no desenvolvimento das cidades. Gráfico 17 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida para o setor de restaurantes. Fonte: BOLDORI, 2012 Na sétima questão: A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória. Tem-se que 11% das pessoas entrevistadas concordam totalmente, 56% das 58 pessoas concordam parcialmente, 22% das pessoas não tem opinião a respeito e 11% pessoa discorda. Constata-se que mais de 2/3 dos entrevistados concordam que houve melhoria na qualidade de vida da população das Cidades Gêmeas. Gráfico 18 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória na visão do setor de restaurantes. Fonte: BOLDORI, 2012 Na segunda parte do questionário, nas questões sobre o processo histórico da configuração da Rede de Turismo Ferroviário, obtivemos as seguintes respostas: Na primeira questão: o resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? Aponta a pesquisa que 45% das pessoas entendem que contribui amplamente, 44% das pessoas entendem que contribui parcialmente e 11% das pessoas entende que não contribui de forma alguma. Constata-se dessa forma 89% dos entrevistados entendem existir relação entre o resgate histórico das Gêmeas do Iguaçu e a implantação do turismo ferroviário. Gráfico 19 - Como o resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades, na visão do setor de restaurantes. 59 Fonte: BOLDORI, 2012 Na segunda questão: a quem você atribui o resgate histórico da ferrovia? Obteve-se 11% das respostas apontando toda a população, 34% das respostas apontando os ferroviários, 11% apontando a classe política, 22% apontando as instituições ligadas à história e à cultura e 22% dos entrevistados não souberam responder. Constata-se que o a maior parte dos entrevistados entende que o resgate histórico da ferrovia foi realizado pelos ferroviários. Gráfico 20 - a quem o setor de restaurantes atribui o resgate histórico da ferrovia? . Fonte: BOLDORI, 2012 60 O questionário foi finalizado com a seguinte questão aberta: Qual a tua percepção sobre a relação entre o desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu e a implantação do turismo ferroviário? Dos entrevistados 78,77% responderam a questão aberta e entendem que o turismo é uma ferramenta capaz de gerar o desenvolvimento econômico. Ainda, 11% dos entrevistados em uma visão mais ampla falam do turismo ferroviário como instrumento de desenvolvimento econômico, social e cultural. E salientam que é não só para a população local, mas para o próprio turista que vem usufruir os benefícios trazidos pelo turismo, especialmente no aspecto histórico, portanto cultural. Verificam que falta investimento por parte das autoridades e há a necessidade de entrosamento, que não é verificado no projeto. 3.3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DOS AMIGOS DO TREM O mesmo questionário foi aplicado aos membros da Associação dos Amigos do Trem, dos quais apenas quatro retornaram respondidos. Com relação à primeira pergunta: Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? 100% dos entrevistados responderam “bom”. Constata-se que todos os entrevistados concordam com a implantação do turismo ferroviário. Gráfico 21 - Como os amigos do trem identificam a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu. . Fonte: BOLDORI, 2012 61 Na segunda questão: Como você percebe o estágio de implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? Aponta-se para 50% dos entrevistados respondendo “bom” e 50% dos membros entrevistados responderam “regular”. Verifica-se que para metade dos entrevistados, que identificou como regular o estágio de implantação do turismo ferroviário, a etapa de implantação poderia estar em um estágio mais avançado. Gráfico 22 - Como os amigos do trem percebem o estágio de implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu .. Fonte: BOLDORI, 2012 Com relação à terceira pergunta, Concorda que o projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu? Indica a pesquisa que 75% das pessoas entrevistadas concordaram totalmente e 25% concordaram parcialmente. Embora 25% dos entrevistados concordam parcialmente com a questão, todos os entrevistados, em maior ou menor grau, concordam que o projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das cidades gêmeas. Gráfico 23 - Os amigos do trem Concordam que o projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu. 62 . Fonte: BOLDORI, 2012 Quarta pergunta: Como você avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem? Tem-se que 50% das pessoas responderam que a atuação da Associação é excelente enquanto 25% das pessoas entrevistadas responderam que avaliaram como boa e 25% como regular. Constata-se o senso crítico da Associação. Gráfico 24 - Como os amigos do trem avaliam a atuação da Associação dos Amigos do Trem . Fonte: BOLDORI, 2012 Na quinta pergunta: Como você avalia a atuação da classe política na implantação do turismo ferroviário? 50% das pessoas responderam que a atuação é boa, 25% classificaram como regular, 25% classificaram como ruim. Constata-se que diferente dos outros dois grupos entrevistados, os membros da Associação dos Amigos do Trem, que possuem uma atuação mais próxima da classe política, possuem uma visão mais crítica com relação à atuação desta classe, sendo que 25% dos entrevistados classificou como ruim tal atuação. 63 Gráfico 25 - Como os amigos do trem avaliam a atuação da classe política na implantação do turismo ferroviário. . Fonte: BOLDORI, 2012 Na sexta questão: A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a sua qualidade de vida? Tem-se que 75% dos membros entrevistados responderam que concordam parcialmente e 25% dos entrevistados concordam totalmente com a afirmativa em questão. Constata-se que em maior ou menor grau todos os membros da associação concordam que houve melhoria em sua qualidade de vida. Gráfico 26 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida dos amigos do trem. 64 . Fonte: BOLDORI, 2012 Na sétima questão: A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória. Aponta a pesquisa para 75% dos membros concordando parcialmente e 25% dos membros concordando totalmente. Constata-se que em maior ou menor grau todos os membros da associação concordam que houve melhoria na qualidade de vida da população dos municípios de União da Vitória e Porto União. Gráfico 27 - A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória, na visão dos amigos do trem. Fonte: BOLDORI, 2012 Na segunda parte do questionário, nas questões sobre o processo histórico da configuração da Rede de Turismo Ferroviário, obteve-se o que segue: Na primeira questão: o resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? 100% dos membros 65 entrevistados responderam que “contribuiu amplamente”. Constata-se que para os membros da associação, o turismo ferroviário está ligado ao resgate da história das Gêmeas do Iguaçu. Gráfico 28 - Como o resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades, na visão dos amigos do trem. . Fonte: BOLDORI, 2012 Na segunda questão: a quem você atribui o resgate histórico da ferrovia? 60% respostas apontou os ferroviários, 20% indicou as instituições ligadas à história e à cultura e, um dos membros, marcou a alternativa que atribui o resgate histórico à toda a população, perfazendo 20% das respostas. Constata-se que os membros da associação atribuem, em sua maioria, aos ferroviários o resgate histórico da ferrovia. Gráfico 29 - A quem os amigos do trem atribuem o resgate histórico da ferrovia . Fonte: BOLDORI, 2012 O questionário foi finalizado com a seguinte questão aberta: Qual a tua percepção sobre a relação entre o desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu e a implantação do turismo ferroviário? 66 Nessa questão captou-se que existe unanimidade no entendimento de que precisa melhorar e que precisam de apoio do poder público, especialmente municipal local. Os entrevistados citaram que há a necessidade de apoio do poder público, auxiliando desde a capacitação do operador do trem turístico, até na elaboração de políticas públicas, para que seja criado e implantado um projeto turístico regional. Também é necessária a elaboração de um projeto local ,para que se crie um conjunto de atividades para que o turista atraído pelo trem permaneça em nossas cidades. 3.4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÕES Diante dos dados coletados passa-se à sua análise confrontando-se os posicionamentos dos grupos estudados, analisando-se as respostas das questões dos três grupos. Importante ressaltar-se que a proximidade de determinados grupos à determinadas questões, alteram-lhes as percepções. Exemplifica-se que os membros da associação possuem uma proximidade maior com a classe política do que os proprietários de restaurantes, no que se refere às questões do turismo ferroviário, o que reflete no resultado dos dados. Ao estudar-se as respostas à primeira questão, tem-se que a grande maioria das pessoas, que responderam ao questionário percebem positivamente a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu. Tabela 1 - Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? Usuários Setor Restaurantes de Membros Associação da dos Amigos do Trem 67 Bom e Excelent 71% 78% 100% e Fonte: BOLDORI, 2012 Tal fato demonstra que a percepção dos entrevistados é de que a implantação do turismo ferroviário é positiva nas Gêmeas do Iguaçu, independente do grupo a que pertencem. Com relação à segunda questão comum aos três grupos, tem-se: pergunta: Você concorda com essa implantação? Tabela 2 - Concorda que o projeto turístico ferroviário, auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu? Concorda que o projeto turístico ferroviário, auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu? Usuários Setor de Membros Restaurantes da Associação dos Amigos do Trem Concordam total ou 95% 100 % 100% parcialmente Fonte: BOLDORI, 2012 Fica evidente que a maioria absoluta dos três grupos percebe o turismo ferroviário como capaz de auxiliar no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu. Na terceira questão comum aos grupos tem-se: Como você avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem. Tabela 3 - Como você avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem? 68 Como você avalia a atuação da Associação da Associação dos Amigos do Trem? Usuários Setor de Membros Restaurantes Associação da dos Amigos do Trem Excelente e Boa 57% 78 % 75% Fonte: BOLDORI, 2012 Como pode-se constatar, comparando-se com as perguntas anteriores, embora a implantação do turismo ferroviário seja tida praticamente por unanimidade, como algo bom, capaz de gerar desenvolvimento, o percentual de pessoas que veem positivamente a atuação da Associação Amigos do Trem cai, mesmo assim continua sendo a maior parte da opinião dos questionados. Interessante ressaltar-se que esse percentual cai mesmo dentro dos números apresentados pelos membros da AT. Na quarta questão comum aos três grupos, indagou-se: Como você avalia a atuação da classe política na implantação do turismo ferroviário? Tabela 4 - Como você identifica a atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário? Como você identifica a atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário? Usuários Setor de Membros Restaurantes Associação da dos Amigos do Trem Regular, Ruim e 81% Péssima Fonte: BOLDORI, 2012 89 % 50% 69 Como pode-se constatar a maior parte das pessoas entrevistadas avalia negativamente a atuação da classe política. Assim tem-se evidenciada a percepção negativa que se tem da classe política sobre o projeto em estudo. A quinta questão comum aplicada aos grupos é: A implantação do Turismo Ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória? Tabela 5 - A implantação do Turismo Ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória? A implantação do Turismo Ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória? Usuários Setor Restaurantes de Membros da Associação dos Amigos do Trem Concorda Total ou 65% 67 % 100% Parcialmente Fonte: BOLDORI, 2012 Nota-se que embora a maioria dos entrevistados perceba de forma positiva a implantação do turismo ferroviário, no que tange a melhoria da qualidade de vida da população, é significativo o número de usuários, que mesmo sendo beneficiados diretamente com serviço turístico, não percebem isso como incremento de qualidade de vida. Em um percentual muito próximo está a opinião dos representantes dos setores de restaurantes. É perceptível o contraste que existe quando confrontamos com a percepção dos membros da Associação Amigos do Trem, que em 100 % responderam que existe o incremento da qualidade de vida da população com o Turismo Ferroviário. 70 Na sexta questão comum aos três grupos, questionou-se se o resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribui para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades. Tabela 6 - O resgate da história das Gêmeas do Iguaçu contribui para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? O resgate da história das Gêmeas do Iguaçu contribui para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? Usuários Setor de Membros Restaurantes da Associação dos Amigos do Trem Contribui Ampla ou 90% 89 % 100% parcialmente Fonte: BOLDORI, 2012 Evidencia-se que existe uma paridade entre as percepções dos três grupos questionados, a maior parte dos entrevistados percebem que o resgate da história contribui para o desenvolvimento do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu. A última questão comum aos três grupos é: A quem você atribui o resgate histórico da ferrovia? Tabela 7 - A quem você atribui o resgate histórico da ferrovia? A quem você atribui o resgate histórico da ferrovia? Usuários Setor de Membros da Associação Restaurantes Toda a 10% 11% População Classe Política 5% 11% dos Amigos do Trem 20% 71 Ferroviários 33% Instituições 33% Ligadas à História e 34% 22% 60% 20% Cultura Fonte: BOLDORI, 2012 Constata-se que a maior parcela dos entrevistados atribui aos ferroviários o resgate histórico da ferrovia, sendo que em segundo lugar estão apontadas as instituições ligadas à história e à cultura. Em terceiro lugar apontam para toda a população e, em último lugar a classe política. Percebe-se novamente, o descrédito da classe política com relação ao projeto do turismo ferroviário, desta vez especificamente no tocante ao resgate histórico da ferrovia. Passa-se agora a análise das questões específicas aplicadas ao grupo dos usuários, a primeira delas indagava se os usuários concordavam com a implantação do turismo ferroviário. A esta questão 94% dos questionados respondeu que concordavam total ou parcialmente. Portanto tem-se que a maioria absoluta dos questionados percebe que a implantação do turismo ferroviário é benéfica para as Cidades Gêmeas. A segunda questão específica aplicada aos usuários do serviço turístico foi a seguinte: A implantação do Turismo Ferroviário auxilia no desenvolvimento dos municípios de Porto União e União da Vitória? A esta questão 89% dos questionados responderam que concordam total ou parcialmente. Portanto a maior parte dos entrevistados percebem o Turismo Ferroviário como capaz de auxiliar no desenvolvimento das Cidades Gêmeas. Com relação às questões específicas aplicadas aos responsáveis pelos restaurantes da região central da Gêmeas do Iguaçu, temos a primeira sendo: A implantação do turismo ferroviário trouxe alguma influência no seu estabelecimento? A esta questão 67% dos entrevistados respondeu que não influenciou no estabelecimento de sua responsabilidade. Este dado traduz uma percepção que vai 72 além dos resultados econômicos e imediatos. Mesmo não havendo influência direta sobre os estabelecimentos comerciais de suas responsabilidades, as respostas das questões anteriores demonstram que os entrevistados acreditam em benefícios trazidos pelo Turismo Ferroviário. Na segunda questão específica para os representantes dos restaurantes foi: A implantação do turismo ferroviário auxilia no desenvolvimento dos municípios de Porto União e União da Vitória? A esta questão obteve-se como resposta que 100 % dos questionados concordam total ou parcialmente que a implantação do Turismo Ferroviário, resposta que corrobora a afirmativa do parágrafo anterior, onde mesmo sem obterem um resultado imediato, todos os entrevistados percebem o turismo como instrumento capaz de auxiliar no desenvolvimento das Cidades Gêmeas. Aos membros da Associação dos Amigos do Trem, foram aplicadas duas questões específicas, a primeira delas indagava “como você percebe o estágio de implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu?” Metade dos entrevistados entendeu que o projeto encontra-se em um estágio regular e a outra metade em um estágio bom, o que indicaria a possibilidade de melhora com relação ao avanço do projeto. Na segunda questão específica indagou-se aos membros da Associação se a implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a sua qualidade de vida. A esta questão tem-se que 100% dos entrevistados concordam total ou parcialmente que houve melhoria na sua qualidade de vida. Com relação as questões abertas aplicadas aos entrevistados, pode-se constatar em linhas gerais que a percepção que possuem os entrevistados é de falta de apoio da classe política e das instituições públicas. O turismo ferroviário é citado pelos entrevistados como capaz de gerar o desenvolvimento das Cidades Gêmeas, não apenas no aspecto econômico, mas em seu sentido amplo, inclusive tendo sido citado especificamente o desenvolvimento sócio cultural e que esse desenvolvimento não seria apenas nas cidades Gêmeas, mas para toda a região, inclusive melhorando a qualidade de vida das pessoas que vêm para cá para utilizarem-se do serviço turístico ferroviário. Pela percepção dos entrevistados é necessário o apoio do setor público, inclusive com a elaboração de um projeto regional e não apenas local, para que o 73 turista que vem atraído pelo turismo ferroviário, possa permanecer mais tempo na região, ampliando os benefícios da sua permanência. Em síntese tem-se que a percepção dos entrevistados é de que o turismo é capaz de gerar desenvolvimento e também que a rede de cooperação foi capaz de gerar o turismo ferroviário. Perceberam os entrevistados que a rede de cooperação se formou através da cultura de da população de um território específico. Portanto a cultura pode gerar desenvolvimento. 74 CONCLUSÃO No início da presente pesquisa formulou-se a questão problema nos seguintes termos: qual a percepção dos membros da Associação dos Amigos do Trem, dos usuários e dos donos de restaurantes sobre a rede de cooperação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? Buscava-se saber se a percepção dessas pessoas se coadunava com a percepção teórica de que o turismo ferroviário traz desenvolvimento. Corroborando com os teóricos que tratam das ferramentas do desenvolvimento e dentre elas o turismo ferroviário, obteve-se dados informando que a percepção dos três grupos entrevistados é no sentido de que a rede de cooperação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu realmente são capazes de gerar o desenvolvimento. Importante salientar-se que mesmo entre os leigos em desenvolvimento regional, foram mencionadas formas de desenvolvimento diversas do desenvolvimento econômico, sendo expressamente citado o desenvolvimento social e cultural, além do esperado desenvolvimento econômico. Isso mostra que as pessoas já estão dissociando a ideia de desenvolvimento, e este exclusivamente econômico. Dessa forma obteve-se uma resposta clara à “Questão Problema”, visto que se pode captar a percepção dos membros da Associação dos Amigos do Trem, dos usuários do serviço e dos responsáveis pelos restaurantes da região central das Cidades Gêmeas. O objetivo geral da presente pesquisa era compreender o desenvolvimento da rede de cooperação do turismo ferroviário das Gêmeas do Iguaçu, o que foi alcançado especialmente pela aplicação dos questionários aos usuários do serviço prestado pelos Amigos do Trem, aos responsáveis pelos restaurantes e aos membros da Associação. Além disso, realizou-se pesquisa de campo aplicando-se a metodologia da história oral, realizada com ferroviário Antônio Xavier Paes e o professor Bernardo Knapik que nos contaram como especificamente nasceu a Associação dos Amigos do Trem. Porém, mais do que isso houve o registro de como iniciou o processo de mobilização para a preservação. Começou como uma atividade recreativa familiar no ano de 2010, que em 2012, representa o turismo ferroviário em operação nas Gêmeas do Iguaçu. Constatou-se que o saudosismo do professor Knapik o levou a buscar os trilhos da ferrovia que passavam perto do seu sítio, a partir disso vendo o patrimônio em desuso criou um veículo para andar nos 75 trilhos. O veículo foi aperfeiçoado pelos sobrinhos do professor. E entre Natal do ano 2000 e o Ano Novo foram de Porto União a Piratuba. Essa viagem foi tida como viagem de protesto e gerou repercussão por todas as cidades onde passava inclusive Porto União e União da Vitória. A partir daí houve uma sensibilização e o sociólogo Ari Passos em conversa com Xavier Paes idealizou a mobilização dos ferroviários que foi implementada por Xavier Paes. A partir da reunião, contando com o envolvimento do Núcleo Regional de Educação de União da Vitória, o movimento foi se fortalecendo valendo-se dos laços de toda a comunidade com a ferrovia, até que em 2003 foi fundada a Associação dos Amigos do Trem. Dessa forma alcançou-se o objetivo, pois foi possível compreender-se como se desenvolveu a rede de cooperação do Turismo Ferroviário, desde o primeiro passo numa tarde de domingo até a oficialização dessa rede com a fundação de uma associação legalmente constituída, passando pelos detalhes de conscientização e mobilização das pessoas envolvidas na referida rede de cooperação. Do objetivo geral decorreram cinco objetivos específicos, o primeiro deles foi resgatar o processo histórico da construção da ferrovia, no vale do Iguaçu, o que conseguiu-se através de pesquisa bibliográfica e, em sítios da rede mundial de computadores, levantou-se informações desde a época do império até os dias de hoje, informações que não constam dos livros, por isso, obtidas pelo método de história oral. Como segundo objetivo específico; identificar os elementos formadores da rede de cooperação do turismo ferroviário das Gêmeas do Iguaçu. O objetivo foi alcançado quando constatou-se que o principal elemento formador da rede de cooperação foi o elemento cultural do qual sentiu-se a necessidade do resgate e da preservação, especialmente o elemento histórico cultural. Em seguida, tem-se o elemento econômico, fator que serviria de amálgama para essa rede. O terceiro objetivo específico: avaliar a percepção dos usuários com relação ao turismo ferroviário, para tanto aplicou-se questionários com questões fechadas e uma questão aberta, assim como fez-se para alcançarmos o quarto e o quinto objetivos específicos que eram respectivamente avaliar a percepção dos proprietários de restaurantes com relação ao turismo ferroviário e avaliar a 76 percepção dos membros da Associação dos Amigos do Trem, com relação ao turismo ferroviário. Ao analisar-se os questionários foi possível constatar-se a percepção dos usuários do serviço turístico, dos donos de restaurantes e dos membros da Associação dos Amigos do Trem. Os três grupos percebem o turismo ferroviário como um instrumento capaz de gerar desenvolvimento, não só econômico, mas social e cultural. Constatou-se que a percepção que existe dos membros dos três grupos pesquisados é que falta apoio do poder público em forma não só de recursos mas de uma política pública realmente voltada para o desenvolvimento do turismo de forma integrada e séria. Para finalizar, analisou-se a hipótese proposta de que: “se o processo que gerou a rede de cooperação de turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu foi capaz de gerar desenvolvimento, então a implantação de redes de cooperação geram desenvolvimento local.” Pode-se concluir pelos dados levantados na pesquisa que a hipótese se confirma pelas percepções dos grupos pesquisados. De forma ampla a contata-se que a cultura do território pesquisado, especialmente decorrente da história desse território, foi capaz, através do seu resgate, de gerar uma rede de cooperação em torno da cultura ferroviária, que evoluiu para o turismo ferroviário que, pela percepção da maior parte dos entrevistados foi capaz de gerar desenvolvimento em sentido amplo, ou seja, não apenas atrelado ao aspecto econômico. Constatou-se que a percepção crítica da maior parte dos entrevistados com relação à atuação da classe política no projeto, o que demonstra um desprestígio desta classe com relação ao turismo ferroviário. Para a realização da presente pesquisa, encontrou-se dificuldade na aplicação do questionário aos usuários e aos membros da Associação dos Amigos do Trem, o que deveu-se ao fato de estarem suspensos temporariamente os passeios em função do rompimento de um dos tubos da caldeira da locomotiva. Assim sendo buscou-se informações sobre pessoas que já haviam se utilizado do serviço turístico ferroviário e que se dispusessem a responder ao questionário. Pelo mesmo motivo não existiram reuniões da Associação dos Amigos do trem nesse período. 77 Sugere-se para futuros trabalhos científicos sobre o turismo ferroviário que sejam pesquisados hotéis, agências de turismo, postos de combustíveis, que serão capazes de complementar o presente trabalho, permitindo uma visão mais ampla e completa do tema em estudo. Especialmente no sentido de pesquisa das percepções da sociedade sobre quais políticas, públicas e privadas, devem ser adotadas para o desenvolvimento do setor turístico ferroviário nas Cidades Gêmeas. 78 REFERÊNCIAS A FERROVIA DO CONTESTADO. Em 14 de agosto de 2010, Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/img1_16.pdf, em 10 de setembro de 2010. 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São Paulo: Martins Fontes, 2000. 82 ANEXO A Ata da Assembleia Geral de Criação da Associação dos Amigos do Trem de Porto União – Santa Catarina e União da Vitória – Paraná. 83 84 85 APÊNDICE A Questionário Aplicado aos Usuários do Serviço Turístico 86 QUESTIONÁRIO DE PESQUISA: Usuário do Serviço Turístico DISSERTAÇÃO MESTRADO MESTRANDO: MARCELO JOSÉ BOLDORI Nº da entrevista Identificação do GESTOR Nome Profissão Município Gênero ( ) masculino ( ) feminino Idade: ( Escolarização: ( ) Ensino primário ) ( ) Ensino Fundamental ( ) Segundo Grau ( ) Graduação ( ) Pós-graduado ( ) outro 1 CONHECIMENTO SOBRE A PERCEPÇÃO DO USUÁRIO DO SERVIÇO TURÍSTICO FERROVIÁRIO Perguntas Respostas 1-Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Não sei responder 2- Você concorda com essa implantação? ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 3- Concorda que o projeto turístico ferroviário, auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu? 87 ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 4- Como você avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem? ( ) Excelente. ( ) Boa. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Péssima. ( ) Não sei responder. 5- Como você identifica a atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário? ( ) Excelente. ( ) Boa. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Péssima ( ) Não sei responder. 6- A implantação do turismo ferroviário auxilia no desenvolvimento dos municípios de Porto União e União da Vitória. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 7- A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 8- Como você avalia o serviço prestado pela associação dos amigos do trem? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. 88 ( ) Ruim. ( ) Péssimo ( ) Não sei responder 9- Como você avalia o serviço turístico ferroviário prestado? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Péssimo ( ) Não sei responder 2 - PERCEPÇÃO SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO DA CONFIGURAÇÃO DA REDE DE TURISMO FERROVIÁRIO; Perguntas Respostas 1- O Resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? ( ) Contribuiu amplamente. ( ) Contribuiu parcialmente. ( ) Contribuiu muito pouco. ( ) Não contribuiu de forma alguma. ( ) Não sei informar. 2- A quem você atribui o resgate histórico da ferrovia ? ( ) Atribuo à toda população. ( ) Atribuo aos Ferroviários. ( ) Atribuo à classe política. ( ) Atribuo às instituições ligadas à história e cultura. ( ) Não sei responder. Questão aberta: 1- Qual a tua percepção sobre a relação entre desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu e a implantação do turismo ferroviário? ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. 89 APÊNDICE B Questionário Aplicado ao Setor de Restaurantes 90 QUESTIONÁRIO DE PESQUISA: Setor de Restaurantes DISSERTAÇÃO MESTRADO MESTRANDO: MARCELO JOSÉ BOLDORI Nº da entrevista Identificação do GESTOR Nome do Entrevistado: FUNÇÃO TEMPO NA FUNÇÃO EMPRESA Município Gênero ( ) masculino ( ) feminino Idade: ( Escolarização: ( ) Ensino primário ) ( ) Ensino Fundamental ( ) Segundo Grau ( ) Graduação ( ) Pós-graduado ( ) outro 1 CONHECIMENTO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS DE RESTAURANTES COM RELAÇÃO À IMPLANTAÇÃO DO TURISMO FERROVIÁRIO Perguntas Respostas 1-Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. 91 ( ) Ruim. ( ) Não sei responder 2- A implantação do Turismo Ferroviário trouxe alguma influência no seu estabelecimento? ( ) Influenciou positivamente ( ) Não influenciou ( ) Influenciou negativamente 3- O projeto turístico ferroviário auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu? ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 4- Como você avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Não sei responder 5- Como você identifica a atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Não sei responder 6- A implantação do turismo ferroviário auxilia no desenvolvimento dos municípios de Porto União e União da Vitória. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 7- A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião 92 ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 2 - PERCEPÇÃO SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO DA CONFIGURAÇÃO DA REDE DE TURISMO FERROVIÁRIO; Perguntas Respostas 1- O Resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? ( ) Contribuiu amplamente. ( ) Contribuiu parcialmente. ( ) Contribuiu muito pouco. ( ) Não contribuiu de forma alguma. ( ) Não sei informar. 2- A quem você atribui o resgate histórico da ferrovia ? ( ) Atribuo à toda população. ( ) Atribuo aos Ferroviários. ( ) Atribuo à classe política. ( ) Atribuo às instituições ligadas à história e cultura. ( ) Não sei responder. Questão aberta: 1- Qual a tua percepção sobre a relação entre desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu e a implantação do turismo ferroviário? ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. 93 APÊNDICE C Questionário Aplicado aos Membros da Associação Amigos do Trem. 94 QUESTIONÁRIO DE PESQUISA: Membros da Associação AT DISSERTAÇÃO MESTRADO MESTRANDO: MARCELO JOSÉ BOLDORI Nº da entrevista Identificação do GESTOR Nome do Entrevistado FUNÇÃO NA ASSOCIAÇÃO AT TEMPO NA FUNÇÃO Município Gênero ( ) masculino ( ) feminino Idade: ( Escolarização: ( ) Ensino primário ) ( ) Ensino Fundamental ( ) Segundo Grau ( ) Graduação ( ) Pós-graduado ( ) outro 1 CONHECIMENTO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO AT COM RELAÇÃO À IMPLANTAÇÃO DO TURISMO FERROVIÁRIO Perguntas Respostas 1-Como você identifica a implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. 95 ( ) Ruim. ( ) Não sei responder 2- Como você percebe o estágio de implantação do turismo ferroviário nas Gêmeas do Iguaçu? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Não sei responder 3- Concorda que o projeto turístico ferroviário, auxilia no desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu? ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 4- Como você avalia a atuação da Associação dos Amigos do Trem? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Não sei responder 5- Como você avalia a atuação da classe política na implantação do Turismo Ferroviário? ( ) Excelente. ( ) Bom. ( ) Regular. ( ) Ruim. ( ) Não sei responder 6- A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a sua qualidade de vida? ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 7- A implantação do turismo ferroviário melhorou de alguma forma a qualidade de vida da população dos municípios de Porto União e União da Vitória. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parcialmente 96 ( ) Sem opinião ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente 2 - PERCEPÇÃO SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO DA CONFIGURAÇÃO DA REDE DE TURISMO FERROVIÁRIO; Perguntas Respostas 1- O Resgate da história das Gêmeas do Iguaçu, contribuiu para o desenvolvimento do turismo ferroviário nessas cidades? ( ) Contribuiu amplamente. ( ) Contribuiu parcialmente. ( ) Contribuiu muito pouco. ( ) Não contribuiu de forma alguma. ( ) Não sei informar. 2- A quem você atribui o resgate histórico da ferrovia ? ( ) Atribuo à toda população. ( ) Atribuo aos Ferroviários. ( ) Atribuo à classe política. ( ) Atribuo às instituições ligadas à história e cultura. ( ) Não sei responder. Questão aberta: 1- Qual a tua percepção sobre a relação entre desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu e a implantação do turismo ferroviário? ............................................................................................................................................. ............................................................................................................................................. 97 APÊNDICE D Degravação das entrevistas de história oral. Entrevista de história oral realizada com Bernardo Knapik, sobre a fundação da associação dos Amigos do Trem nas Gêmeas do Iguaçu Marcelo: Bom nos estamos aqui com o professor Bernardo Knapik para que ele nos conte um pouco da história turismo ferroviário em Porto União e União da Vitória. Agora gostaria que o Sr. Falasse, o Sr. foi um dos entusiastas. Bernardo: Bom, temos que ter uma retrospectiva bem mais ampla lá na minha infância, porque eu acabei saindo daqui do município de Porto União , de Lança, indo para um seminário em Luzerna de trem, Maria fumaça, na época era janeiro, pegamos uma enchente, com o rio cheio e tudo, bom tudo isso me marcou, aquela grandiosidade da estrada de ferro da época, não havia asfalto, ano 1956, tudo bem, e eu continuei meus estudos e etc., e bem mais tarde no ano de 1997, por aí, ou pouquinho antes, aqui da minha chácara, Aquiles Sthengel, Antônio Cândido, próximo está a estrada de ferro, mais eu não sabia onde se localizava a estrada de ferro e eu escutava o barulho do trem, passando aí, depois parou, a partir de 1997 parou, aí um belo dia, um domingo, falei para minha esposa mas eu saber onde que passa mesmo esta estrada de ferro, se e perto da chácara aí ou não. Peguei o carro e me desloquei, em uma direção, eu sabia que passa por baixo ali da igreja, Sthengel, por ali, e acabei encontrado uma entrada e vi a estrada de ferro lá abandonada, ainda relativamente limpo, mais ou menos em 1998, por aí, cortes, andei 4 Km, cortes muito bonitos, e foi aí que senti uma espécie de revolta muito grande pelo abandono de toda essa grandiosidade do passado, e que não está se usando, e que poderia ao menos servir ao turismo. E agora, como fazer que isto aconteça. Bom eu fui em outro domingo, convidei meus sobrinhos também e nos andamos bastante, ali, e eu acabei fazendo um primeiro protótipo do ferrobike, eu mesmo dua bicicletas, uma acoplada na outra, com rolimãs rolamentos do lada como guia, fixado na frente para não sair na frente, fizemos então se não me engano, ano 2000, eu fui com as minhas filhas daqui até a cidade nessas duas 98 bicicletas, cabia duas pessoas pedalando, e no meio colocamos uma espreguiçadeira , onde ficava tranquilamente uma terceira pessoa. Temos fotos de tudo isso etc, então era muito gostoso fazer aquilo, claro, desencarrilhava as vezes, estraguei um pneu de bicicleta mas ainda tá funcionando o pneu, não usa mas, estragou bastante do lado, raspou. Falando com meus sobrinhos, eles falaram, a não ir só duas ou três pessoas é muito pouco, vamos fazer uma coisa maior, aí anima. Então vamos fazer uma bicicleta que caiba seis, dez pessoas. E foi assim que surgiu o Ferrobike, o nome foi dado pela minha filha a Eloise, ela batizou de Ferrobike, Bike -> Bicicleta na linha, com aquela mesma ideia original, pneus em cima do trilho, e no lado uma rodinha que girasse e não deixasse sair, sabia que a distância era um metro, tinha que ser bastante exato, bastante preciso. Erramos na primeira tentativa, colocamos pneu de moto, muito estreito, então a linha nas curvas não tem um metro, tem um metro e cinco, um metro e seis, pois já está dilatado, aí tínhamos problema com o trilho, aí resolvemos colocar pneu de fusca, mais largo, da menos problema de cair, e fizemos os guias laterais, porque internamente na linha é sempre liso, por fora que tem irregularidades, então daria para fazer direitinho e fizemos. Fizemos de tal maneira que 6 pessoas ficassem pedalando, e conduzissem para passeio, seis pessoas. E de fato continuou muito bem, tanto assim que arriscamos a fazer uma aventura, uma aventura de Porto União até Marcelino Ramos, atravessando santa Catarina, nos marcamos em uma época que meus sobrinhos tinham férias lá na firma deles que era entre natal e ano novo, seis dias então tínhamos para fazer essa aventura, claro requereu um bom planejamento, tinha dois mecânicos juntos, o meu sobrinho e mais um que trabalhava lá, minhas duas filhas foram também, foi também o chefe dos escoteiro, que era o Celso, ele conhecia toda a estrada para baixo, eu não conhecia, só tinha lembranças de mil novecentos e pouco, então o grupo estava formado, seis pessoas, e mas antes disso, sem querer, eu fiquei , conversei com um colega aluno meu que foi Enio Weiss, que trabalha na Telepar, disse, nos temos que fazer uma reportagem disso aí, televisão, ele disse que topariam, quer fazer faça, e eles apareceram aí, e nosso ferro bike ainda não estava em condições, mas nos resolvemos fazer uma filmagem no Km 13 e depois também atravessando um túnel e lá na estação, a prefeitura nos auxiliou, emprestou um caminhão para carregar em cima, porquê?, na época havia vários setores desmoronados, fechado, não passava, como engenheiro melo até a 99 cidade, estava tudo fechado, e aí para cima tinha lugares, tanto assim quando se prontificamos a ir até Marcelino Melo, começamos em matos costa, por que aqui não tinha condições, tivemos que levar o ferrobike de carro até lá, para daí descer na estrada, e acontece que saiu a reportagem lá por 19 de dezembro que nos iríamos no dia 26, mas eles puseram assim, em protesto pelo abandono da estrada de ferro, mais nos não tínhamos nenhuma ideia, quer dizer, estávamos escandalizados com a fortuna gasta e agora abandonada, só isso. Fizemos essa viagem, começamos cedo, 8 da manhã já estávamos lá, mas antes disso, eu fiz um trabalho, fui encarregado disso, para ver onde deveríamos posar, para fazermos 50, 60, 80 Km por dia com o menos gasto possível. Levamos uma barraca pequena junto para eventual problema no meio do caminho, tínhamos que levar um pouco de mantimentos. Não sabíamos como, mas eu telefonei para Caçador, para Videira, para Luzerna, foram os três pontos onde nos iríamos posar. Em Piratuba nos iríamos posar, haveria um carro que ia nos acompanhar de certa maneira, e lá íamos passar o ano novo, seria essa a programação. Olha a ideia da época, a ajuda do povo de fora, não daqui, era espetacular, todos tinham uma ansiedade muito grande para que existisse turismo pela estrada de ferro. Então prontamente eles atenderam, num lugar na estação, eles colocaram colchões, nos deram almoço, janta em todos os lugares, tanto caçador, videira sempre tínhamos tudo a disposição. Eu na verdade na época dei para minhas filhas, cada uma, cento e dez reais para o gasto com a viagem. Não gastamos nada, absolutamente nada, tudo foi ganho, então isso deu para perceber, a vontade deles, na época, videira, tentando por uma litorina, pois a estrada está muito boa, mas a verdade é que na época a estrada tinha apenas 30 Km que a estrada dava para andar, o resto tudo mato, agente na seguíamos muito longe por 50, 60 Km, por causa que tinha muito mato, tivemos que tirar com o facão e etc., tinha que empurrar em vez de andar, então tivemos percauços e mais percauços. Em videira era para chegarmos ao meio dia, sábado, eles estavam esperando com banda, sábado não, sexta a noite, alias era par chegar lá, eles estávamos com banda e tudo para nos recepcionar, tivemos que avisar que 5 horas estávamos no Rio das Antas, ninguém sabia quantos Km era, mas nos fomos vasculhando e descobrimos que era 29 KM, era perto, mas esses 29 KM demoraríamos umas 5 ou 6 horas, por que muita unha de gato, tem que cortar, pedacinho andava e depois não andava, então nos com cautela dormimos em Rio 100 das Antas, e lá eles se prontificaram, nos ajeitaram colchões, os bombeiros fizeram isso para nos, e a maioria sabia que nós iríamos passar por que publicaram em Videira, Caçador que havia um Ferro Bike e etc., todo muito já estava ansioso, em parte para o resgate da estrada de ferro. Tudo bem, até que assim, em videira falamos em público que o carro chefe para resgatar essa estrada é o turismo, assim pensávamos em dois mil e um. Tudo bem, fizemos essa aventura que foi muito gostoso, o grupo bom, claro que tivemos que maneirar pois houve momentos de desanimo, muito difícil, mas compensou tudo isso no fim, na verdade nos pedalamos uns 150 km, mais não conseguíamos, pois tínhamos que pular por haver obstáculos intransponíveis na época, e fizemos o ultimo trecho, Piratuba não logo, por que ali também estava no mato. Nos últimos 6 km havia sido reformado, erguido a linha toda por causa de um represa lá no rio Uruguai, então na verdade inauguramos aquele trecho, não tinha passado ninguém e fomos até Marcelino Ramos. É essa a nossa história que deu muito o que falar pois houve uma repercussão, não esperada. Fizemos um filme, depois restringimos o filme para 1 h e pouco. Foi até na rede federal, naquela época, esse filme e aí eles perceberam que a América Latina tinha abandonado tudo. Então, aí começou uma reviravolta com quem cuidada, por isso hoje está relativamente limpa. E agora estamos aguardando que aconteça o turismo de fato aqui, então claro, para fazermos essa leitura eu pedi autorização para quem??, eu pedi para o Secretário de Cultura e Turismo que era o Ari Passos, e ele prontamente atendeu, telefonou para Curitiba, pedindo autorização para nos podemos viajar, a resposta foi não, mas o Ari passos ficou quieto, não nos falou, por que ninguém viria até aqui por estar tudo trancado, e nos fomos assim mesmo. Depois disso passou o Ari passos fomentar, ele foi o chefe intelectual da parte burocrática para fazer a associação, associação amigos do trem, convidado ferroviários e outras pessoas. Marcelo: Como você vê a representatividade da ferrovia nos aspecto histórico, o que a ferrovia representou para nossa cidade Porto União e União da Vitória? Bernardo: Olha não só para as nossas duas cidades, tanto videira, rio das antas, videira, tangará, todos esses lugares iniciaram o povoado devido a ferrovia , rio do peixe, pois só existem por causa da rodovia, antes não existia praticamente nada, então, realmente as nossas raízes foi a estrada de ferro, tudo dependia disso, 101 pois não havia estrada de rodagem, nem carro em 1910 existia, então a condução realmente era a estrada de ferro, tudo estava centralizado nessa estrada de ferro que ligava são Paulo ao rio grande Marcelo: E como o Sr. Vê o turismo ferroviário, o que você acha do turismo ferroviário na nossa região? Bernardo: Eu acho que o turismo ferroviário é o motor chefe de todo turismo nosso, ou melhor se acontecer o turismo ferroviário até os outros turismos vão acontecer, a estrada de ferro, temos uma ligação aí lá dos nossos avós, e como nos conhecemos essa estrada de ferro aqui, que sobe se 120 a mil de poucos metros de altitude, passa por túneis, é algo inigualável , nos temos isso exatamente aqui. O que tá faltando é uma unidade, um arranque melhor para que isso aconteça Marcelo: O turismo ferroviário é benéfico para nossa cidade, no que pode ajudar e atrapalhar Bernardo: no atrapalhar, pode ser no transito do centro, ali precisar ser resolvido com cancelas, mas no mas vai favorecer muito, muitos viriam de foram para fazer este turismo, pode ficar tranquilo que isso vai acontecer, já recebi telefonemas perguntando quando que vai sair. 102 APÊNDICE E Entrevista de história oral realizada com Antônio Xavier Paes, sobre a fundação da associação dos Amigos do Trem nas Gêmeas do Iguaçu Marcelo: Então nós estamos aqui na entrevista História oral com o senhor Antonio Xavier Paes pra falar um pouco sobre como começou a Associação Amigos do Trem ai nesse trabalho pra minha pesquisa de mestrado. Bom dia seu Paes. Paes: Bom dia Marcelo, seja bem vindo, espero que possa prestar a informação que você nos pergunta, até onde nós conhecemos NE. Então atendendo o pedido do Marcelo, nós vamos falar um pouco sobre a associação amigos do trem. Então pra você fazer um início do amigos do trem nós vamos ter que falar um pouco o que nós se preocupamos com a preservação do patrimônio ferroviário que é aqui a estação união que é esse complexo que abrange Paraná e Santa Catarina e daí na época de março de 2001 eu botei um escritório que eu sou diretor sindical dos ferroviários eu botei um escritório aqui perto da estação. Já venho de muitos anos, desde 80 no setor sindical da categoria dos ferroviários. E eu estando aqui eu comecei a notar que com a privatização, com o desuso de todo esse patrimônio começou a se deteriorar e não havia de quem responsabilizar, então comecei a falar pra um pra outro até que nós ai conversando, ai no início nós conversamos com alguém do poder público, com o secretário de cultura que é o Ari Passos, professor Bernardo, que é o professor que também se preocupava com o patrimônio ferroviário não sendo ferroviário mas ele tinha uma preocupação. Nós conversando nós vamos fazer o que? Então propuseram que eu como não dependo não sou funcionário municipal eu sou uma pessoa independente, sou ferroviário aposentado e diretor sindical do Paraná e Santa Catarina NE, então se for vê eu fazer uma reunião com os ferroviários, que existia bastante ferroviário aposentado na época, hoje a maior parte foi falecendo. De 2001 pra cá deu uma baixa bastante grande, mas ainda tinha bastante gente aqui eu posso até em seguida ai eu posso falar o nome das pessoas porque eu tenho foto de tudo o que nós fizemos. Então era uma reunião pra reclamar o descaso com o patrimônio ferroviário. Então essa reunião com os ferroviários deu um efeito que o núcleo de educação 103 aqui de União da Vitória também percebeu o nosso trabalho e marcou na semana seguinte, fizemos um programa voluntário da ferrovia onde esteve presente a professora Sandra que era do núcleo de educação e o professor Dino, não sei o nome completo deles. Então eles vieram e propuseram fazer uma semana de voluntários da ferrovia nas escolas, cada dia duas ou três escolas no horário das escolas, uma na parte da manha outra na parte da tarde e nós falar sobre a importância da ferrovia e do descaso com o patrimônio ferroviário existente ai e não esta sendo usado pela empresa concessionária. Ai nos trouxemos ai os ferroviários, o pessoal que faz telegrafia, que fazia comunicação pra passar mensagem atreves de telégrafo e os alunos saber como era a comunicação e o que os ferroviários faziam em suas diversas funções de telegrafia, da legislação, serviços gerais, mecânico, manobrador, maquinista, então tem uma série de função, agente de trem, tem agente de segurança, então eram muitas funções para que a ferrovia ande. Então a administração precisava ter todo esse povo. E a importância da geração de emprego, do sustento das famílias ferroviárias através do emprego na ferrovia. Com isso achamos que se criasse uma associação, nós podia fazer alguma coisa, só fazer a reunião e reclamar em vão não podia, então formou-se uma associação. Então ai que entrou mais pessoas não ligadas a ferrovia, que era o caso do professor Bernardo, até no segundo mandato o caso do Marcelo Boldori, que eu to fazendo a entrevista com ele NE. Ele que hoje é um membro da associação amigos do trem. Isso ai fez com que nós tivesse mais poder de fazer alguma coisa em torno desse patrimônio ferroviário. Marcelo: Sr. Paes e de quem partiu essa idéia de mobilização dos ferroviários? De onde que surgiu essa idéia e porque ela surgiu? Sr. Paes: ela surgiu porque nos tando aqui, eu tendo o escritório aqui do lado da secretaria de cultura que é no mesmo prédio da estação, conversando com o Ari Passos, ele disse tá me preocupando esse descaso com a estação ferroviária porque era vidro quebrado, pessoal permanecendo aqui embaixo desse arco da estação, pessoal desocupado, e ai tinha dois carro de passageiro que pertencia a rede ferroviária e que estavam aguardando leilão, esses vagão foram vendidos depois, e marginais, mendigos, pessoal que não tem onde parar ficavam dentro do 104 vagão e nos conversando isso ai eu disse nós temos a estação mais bonita do Brasil ai que só existe essa ai nesse modelo que é feito dois estados numa arquitetura só e então ele disse olha eu não posso fazer porque eu sou um cara da prefeitura e isso aqui não é um bem da prefeitura, e o senhor como neutro nessas alturas o senhor tem como fazer. Eu disse então nos vamos fazer e foi com uma ideia assim que nós conversando chegamos a essa ideia. Marcelo: e como é que chegaram a mobilizar, quais o meios utilizados? Paes: eu fui La na rádio união e disse, eu tinha mais contato com o Brittes, então fui na rádio união e nos tava marcando um dia e convocando os ferroviários pra que viesse pra nos fazer uma reunião e falar sobre o patrimônio ferroviário e mostrar através de foto o descaso com o patrimônio ferroviário. Tanto a parte aqui da estação quanto a parte La do pátio de triagem onde era o galpão das maquinas, o deposito de locomotiva, onde na época que eu trabalhei ainda nos tinha muitos vagão circulando por ai e eu era o responsável por 12 locomotivas que nos tinha no 3º distrito, que aqui era considerado o 3º distrito e eu tinha 12 locomotiva que ficava praticamente sob a minha responsabilidade e operação. Então, conscientizar através dos ferroviários e eu disse que cada um tinha que fazer a sua parte, falar sobre isso. Então não teve repercussão na imprensa, teve repercussão por causa do núcleo de educação que trouxe todas as professoras e o pessoal do núcleo e outros simpatizantes vieram tudo junto aqui, fizeram um coquetel. Marcelo: mas isso já na primeira reunião? Paes: na primeira reunião, nos fizemos a primeira reunião e já na segunda que o núcleo de educação fez a semana dos voluntários da ferrovia. Marcelo: mas nessa primeira reunião já tinha gente do núcleo? Paes: já na primeira reunião tinha, na foto, eles ouviram no rádio essa reunião e eles compareceram, a professora Sandra e o professor Dino. Esses dois aparecem na foto e fizeram parte da equipe que eu tava. Eu vou pegar meu óculos aqui. Marcelo: e essa reunião aconteceu em março de 2001. Paes: é em 2001. Sei que foi no mês 3. Então eu olhando aqui a foto do pessoal que nós fizemos a primeira foto aqui em frente a estação ferroviária depois aqui embaixo do arco que aparecia o vagão e já a arquitetura do arco da estação. 105 Então aqui de ferroviário já aposentado: o Odemar Fernando Leão, tem aqui o Celso Moreira de Castilho, esse aqui chamava-se Sikorski, o primeiro nome eu já tinha esquecido, o Valdomiro Repukna que era o antigo telegrafista, aqui aparece a professora Sandra Souza, Martins Queba, antigo ferroviário, o Baldino que parece que é Souza, não tenho bem certeza, o Antonio de Paula que era um agente de trem também aposentado, junto com a esposa, o sobrenome da esposa, O Basílio Zavarski antigo ferroviário aposentado da parte de via permanente também acompanhado da esposa, Luiz Mario da Silva que era o maquinista depois supervisor de tração que era o cara que sobe de cargo na categoria de maquinista, o Mauro Marquizinski que não era aposentado mas trabalhava ainda como segurança de patrimônio da rede, ele era contratado por Curitiba pra fazer alguma segurança ai. Ai aparece o professor Dino que é do núcleo de educação, o Orlando Schultz que era da segurança, ferroviário aposentado, o seu João Cotovinski também é um ferroviário aposentado, tem um outro rapaz chamado Cesário, me parece que é de Souza, não tenho bem certeza, o Sandro Calikoski, Sandro Batata que é do primeiro mandato de vereador, ele nos acompanhou, Joao Maria Prestes que também era maquinista depois supervisor de tração, eu to do lado dele, Antonio Xavier Paes que fui quem programou essa reunião, e tem mais um outro rapaz aqui, chamado... alguns a gente esquece o nome, todos já faleceram, e tem mais uma mulher aqui de ferroviário que nós não vamos lembrar o nome. Esse povo nos acompanhou na caminhada aqui, não aparece na foto aqui na frente da estação, mas aparece na caminhada o Ari Passos que é o secretário de Cultura aqui de Porto União que tem o escritório aqui na estação, que tão mudando pra outro lugar. Aparece também o Martins Sikorski, que é mais um Sikorski e tem umas pessoas que eu tenho o nome aqui todos eles se apresentaram aqui e se preocuparam com o descaso com esse patrimônio ferroviário. Marcelo: ai seria onde nasceu a associação? Paes: sem ter o objetivo de trem turístico mas nasceu a associação. Ai depois da associação começou a reunião e agora nos temos que usar essa ferrovia, temos que começar a limpar essa ferrovia, então havia o professor Bernardo que foi o primeiro presidente da associação, eu fui o vice presidente, eu achei melhor ser ele o primeiro presidente porque a burocracia de início seria maior, ele e a Regina que trabalhava na secretaria de cultura tinha mais facilidade de mexer com as coisas de 106 computador, de escrita, então eu e os ferroviário ficamos mais na parte de... começou a surgir a ideia de movimentar alguma coisa de veículo ferroviário, e se movimentar, tem que se movimentar se não não consigo. Até ele tinha, antes de qualquer coisa, ele tinha feito um veículo por conta dele e ele tava usando alguns pedaços, alguns trechos da linha férrea que tá bem abandonado assim, um quilometro ou dois que ele tava usando aquela ferrobike mas só de brincadeira, mas já consciente que aquilo que ele tava fazendo ajudava a fiscalizar o trecho ferroviário ai dentro do nosso município de Porto União, ai nos com essa associação nos pensamos em fazer alguma coisa, nos não tinha um motor pra puxar alguma coisa mas nos se preocupamos em arrumar alguma coisa aonde nos descobrimos esse carro de passageiro em boas condições lá em Paulo Frontin, que tava La e eles não tinham mais interesse em fazer uso, até foi requerido pela prefeitura de Paulo Frontin pra fazer alguma coisa assim estacionaria, esse carro de passageiro como coisa de cultura e ele tem, na época ele tinha uma escrita assim trem da cultura mas daí era aquela coisa pequena e não comportava o pessoal tinha que ter mais espaço ai eles construíram alguma coisa La no município e deixaram esse carro estacionado La sem uso, ai nos conseguimos que eles transferissem pra nos associação amigos do trem e nos trouxemos pra cá, através de carreta através do ai e os voluntários que nos fomos La levantar esse vagão e arrumamos carros pequenos com as duas prefeituras de Porto União e União da Vitória colaboraram conosco e nos trouxemos mas não trouxemos tudo numa vez só, a caixa desse vagão em cima da carreta e aqui nos montamos. Então agora nos temos um vagão mas nos não temos com o que tracionar, então falando com o prefeito da época que era o Eliseu Mibach, e o Eliseu disse se vocês tem no que por eu dou o motor, a prefeitura consegue um motor de retroescavadeira que não tem mais uso pra prefeitura, tem o motor, tem a caixa de cambio, ai bom já era alguma coisa, ai houve a idéia de procurar um mecânico torneiro pra nos ajudar e dar a idéia de como nos ia adaptar esse motor dentro desse carro de passageiro com cardã com diferencial com caixa de reversão, e chegamos a motorizar o dito vagão e pilotar por 2 anos só o vagão motorizado, que era inédito no Brasil, não existia vagão motorizado, tinha alguma litorina ai na região mas aqui não. Então com isso despertou na comunidade e em mais pessoas de fora que foi ate o até o trabalho do Deputado da Região Airton Roveda de arrumar um dinheiro 107 através do Ministério da Cultura, La do Ministério do Turismo La de Brasília, com uma emenda parlamentar e tirar essa locomotiva da praça. Ai houve um interesse maior do Marcelo Boldori, da Regina e depois com isso o Marcelo chegou a ser o presidente da associação no segundo mandato que o estatuto diz que permanece por dois anos, no primeiro mandato foi o Bernardo, no segundo já nos colocamos o Marcelo Boldori de presidente da associação e depois ele acabou terminando o mandato e passando pro Marcelo Roveda que ainda permanece. Então assim foi criada uma associação mas tudo teve inicio com uma reunião dos ferroviários reclamando o descaso do patrimônio ferroviário porque tinha retirada de trilhos de certo lugar a passagem de nível por cima dos trilhos, a retirada dos trilhos aterrando a linha, pessoas fechando as áreas de uso até próximo os trilhos. Os 25 metros de cada lado tem que ser respeitados porque são da União e são a segurança da parte rodante dos trilhos, então isso ninguém nunca vai tirar do patrimônio da União. Então isso foi melhorando e com isso também com esse movimento a América Latina começou a também ver que alguma coisa devia ser feito, começaram a aparecer fazendo limpeza na linha e fazendo a manutençãozinha, contrataram algumas pessoas terceirizadas. Começaram a melhorar e até hoje tem uma manutenção da América Latina e nos temos mais confiança em fazer um trem turístico que no momento tá parado ai até por falta de recurso e os contratos que tem que ser feitos com a América Latina e com a União. Então é a história do turismo ferroviário. Eu acho que a nossa região precisa desse turismo ferroviário. É tudo o que traz o turista pra Ca nas diversas modalidades de turismo que nós temos de cachoeira e essas coisas que nós temos, mas o pessoal pede primeiro o trem turístico com aquela vontade de andar de trem ainda mais com a locomotiva a vapor. A maioria que tem ai na faixa de 30 anos, 35 anos ainda não viu funcionar um trem com locomotiva a vapor. E nos temos o privilégio de ter uma locomotiva aqui e alguns vagões e alguns carros de passageiro que da pra nos fazer esse turismo ferroviário so que depende de mais investimento. Marcelo: hoje essa locomotiva tá danificada no tubo dela. Paes: é hoje ela tá com o tubo danificado. E nos temos condição temos empresa aqui em União da Vitória se propondo a fazer só que querem a garantia do recurso porque são profissionais dessa área de recuperação de locomóvel tem pessoa antiga que sempre Fez esse tipo de trabalho e que não tem receio nenhum 108 de pegar essa locomotiva e deixar ela como deve ser, e como nos andamos com ela quase 5 anos e tiramos da praça a locomotiva 1913, tiramos da praça e andamos quase 5 anos é justo que agora comece a apresentar algum defeito, porque é tudo peça de ferro. Ela vai fazer 100 anos e mesmo assim nos conseguimos mostrar o potencial turístico ferroviário que nos temos na região. Agora só existe o problema que agora nos temos que dar uma recuperada na locomotiva porque pra você fazer um turismo organizado, com roteiro turístico, o pacote turístico que pode ter aqui e viajar de trem nos temos que estar com ela mais em ordem. Então nos temos essa preocupação agora de refazer o que está desgastado, nessa locomotiva, então a idade dela mostra que ela já trabalhou bastante. Marcelo: Seu Paes quando que a América Latina, a rede trabalhou aqui até quando? Paes: pois é, eu sai em 90 e ainda era a rede, eu acredito que mais 3 anos ai em 93 ai ele funcionou ainda como rede, depois a rede foi parando foi parando e eu acho que em 97 que ela passou pra Atlântica e mais uns 3 anos a Atlântica passou pra América Latina. Até a atlântica ainda teve um transporte ferroviário ate ai as linha estavam mantendo como antes da privatização. Então a América Latina deixou mais ou menos uns 5 anos no total abandono, sem nada de... a única fiscalização que tinha era do Mauro Marquezinski que era fiscal do patrimônio da rede que a rede contratou pra viajar nos trechos por causa de invasão por causa de descaso por causa de divisa de terra então as pessoas precisam de informação da rede que moram em volta da área da União. Então é mais uns anos ai ainda ficou a fiscalização da União, pra olhar esse patrimônio que já estava na concessão da América Latina só que eles demoraram muito em se preocupar em cuidar desse patrimônio na nossa região entre Mafra Porto União, Porto União, Erechim, mas eu sei que eles trabalham, transportam diariamente, mas como eu sei que eles acham que o frete não da o resultado esperado pela América Latina. Então só eles estão mantendo hoje só como operacional só pra passagem de veículo leve. Marcelo: E voltando agora no tempo o senhor trabalhou como ferroviário quanto tempo, de quando até quando? 109 Paes: É eu trabalhei, eu entrei em 60 e saí em 90. O meu tempo de serviço dá 31 anos 2 meses e 16 dias. Na minha aposentadoria tá marcado 31 anos 2 meses e 16 dias de trabalho como ferroviário. Marcelo: E o Senhor que mora aqui há muitos anos, o que que representou a ferrovia pras nossas cidades de União da Vitória e Porto União? Paes: Eu acho assim... que a ferrovia aqui representou até uma época representou tudo. Porque as estradas ainda eram precárias, ônibus não existiam, e o pessoal, pouca gente tinha automóvel, era tudo na base da carroça. Nós sabemos que aqui na estação, muita gente que hoje tem, seus comércios aí, os filhos os netos, tem grandes empresas, mas o pai foi carroceiro aqui. Porque era um serviço diário, pra trazer a mercadoria até a estação e também tirar a mercadoria que o trem trazia, que descarregavam nos armazéns da Rede, entregar no destino, então entregava em toda a região. Tudo chegava de trem aqui, tudo que é material e muita madeira. A madeira dos arredores chegava tudo de trem aqui. Aqui se carregava também muita madeira que vinha de Palmas, de outras regiões aí, Bituruna, e de outros lugares, que chegavam de caminhão aí e tinham os pátios carregando vagão direto, que desciam ao pro sul. Foi formadas diversas cidades . nós sabemos que até concórdia foi muita madeira daqui descarregada em volta grande. Aqui vinha erva mate, suíno, o especial de gado, de boi. Tudo pro trem. Os trens vinham do rio grande e daqui ia pra Joinville, aqui tinha tropas no pátio e tinha o carregamento e a secretaria de agricultura fazia a desinfecção dos vagões que precisavam ser lavados. Lá se carregavam os bois. A carga aqui era a madeira, tinha muitas madeireiras que tinham ramais da ferrovia dentro da própria empresa, a carga e descarga era feito dentro da própria empresa, com os vagões sendo carregados e descarregados lá. Então nós sabemos que muita coisa se criou na região porque tinha uma ferrovia, tinha seus empregados. Quantas famílias tinham aqui? Vamos supor que tinha 3 mil famílias, 2 mil famílias, mas era assim... tinha os filhos... aumentava muito essa quantidade de gente, ligado a ferrovia e os hotéis tinham muito movimento, tinha gente que vinha do sul e precisava pegar o trem o pessoal chegava aqui e ia pro hotel pra no outro dia cedo pegar o trem. O movimento hoteleiro era enorme na época. O restaurante da estação era 24 horas, tinha trem que saia meia noite, 2 horas, tinha o misto que chegava ás 10, então quando não queriam ir pro hotel ficavam na estação. 110 Marcelo: quantos funcionários tinha a Rede na época forte dela? Paes: quando eu entrei se falava que tinham 11 mil funcionários na parte do Paraná e Santa Catarina, a FR5. Aqui nós temos pelo que a gente conversa, a base de 2000 empregados só em um união da vitória. Marcelo: e como era o Salário do ferroviário? Paes: Nunca foi um bom salário, lembro que quando eu entre o salário mínimo era 4200, não sei se 4 milhões e duzentos mil, mas era quatro e duzentos, e o salário do ferroviário era de 3800, aí foi dado um abono de 2000 que depois foi incorporado ao salário, então estava acima do mínimo, mas alguns ganhavam mais. Sempre era um salário acima do mínimo, ninguém ganhava menos que 2 salários. Hoje está defasado porque é uma empresa privada e do aposentado não tem o mesmo reajuste do salário mínimo. Marcelo: O Sr. Falou do trem misto e o que era o famoso trem internacional? Paes: quando eu comecei a trabalhar, não havia mais trem internacional, o trem internacional parou de circular em 1958, mas eu vi ele porque morava perto da estação, então a gente via que a maioria das pessoas ali não falava português. O trem internacional vinha de Buenos Aires e ia até o Rio de Janeiro, era uma composição de 5 vagões, tinha o bagageiro, o carro de passageiros, o dormitório e o restaurante, era um trem muito chique, a decoração parecia da época do império. Na nossa região nós procuramos pra ver se encontrávamos alguém que viajou no internacional e parece que tem algumas pessoas, falaram que da família Tomazi, parece que chegou a viajar nesse trem. É um pena que não se tenha fotos desses vagões e que não se tenha um de amostra. Hoje qualquer criança vem filmar nosso trem aqui, naquela época era mais difícil. O trem passava por aqui uma vez por semana era norte sul e outra sul norte. Duas vezes por semana. Depois que saiu o internacional ficou o direto, então o direto era um trem que não era só de passageiros. Tinha um vagão que era especial para animais especiais, como cavalos de raça, touro de raça. Tinha esse vagão, o carro correio, o carro de primeira, de segunda e o restaurante. O trem era bom, rápido e bem organizado, até vi um tombamento de um trem desses quando eu era encarregado do trem de socorro. Foi um acidente quando um pinheiro caiu no trilho e fez a maquina cair perto do rio 111 do peixe com os primeiros vagões. Naquele acidente morreu o rapaz do correio. Depois disso começaram a tomar precauções de retirar as arvores de perto do trilho. Marcelo: E a estação o que representava? Paes: Eu sempre acho que a estação representava o centro da cidade, o cartão de visitas da cidade. Todo o movimento da cidade passava pela estação. A passagem do trem era um evento. Quando chegava parentes um dos programas era ir na estação. E era o ponto de encontro dos domingos, a juventude ia namorar na estação no domingo. Essa estação era fechada, só podia entrar aqui quem tinha o bilhete de ingresso, mas mesmo do lado de fora ficava cheio de gente esperando o trem chegar. Isso era em todas as estações. Hoje o pessoal não vai na rodoviária ver o ônibus chegar. Por aqui passaram os presidentes Getúlio Vargas esteve aqui e fez discurso no hotel Internacional aqui e Afonso Penna que veio inaugurar o trecho da ferrovia de 104 km que chegava em Taquaral Liso, e a estação recebeu o nome desse presidente. O trecho era Matos Costa, Calmon e Presidente Penna. Estive na estação e a estação ainda está inteira mas está começando a se deteriorar. É um patrimônio histórico, o município devia cuidar disso. Talvez até colocar uma pessoa pra morar, lá tem água corrente, é só puxar luz. Tem que ter algumas pessoas insistentes. Eu fui pra localidade de Uruguai para arrumar a situação porque a imagem dos ferroviários era ruim lá. Tudo isso porque dependia da liderança de uma pessoa. Marcelo: Sr. Paes, como o Sr. Vê a Associação dos Amigos do Trem e o Turismo Ferroviário? Paes: Eu honestamente eu fico um pouco triste. O tempo tá passando e eu que sou ferroviário to ficando com a idade avançada e eu sei que o turismo ferroviário ainda depende muito de mim, não que eu quisesse isso, mas eu sei que depende... não tem outra maneira, o pessoal vai desaparecendo, vai desaparecendo, e eu to aqui... não precisam me procurar, eu to aqui. Mas to achando que tá muito fraco, eu pensei já andou bem melhor o turismo ferroviário, e foi formando uma equipe meio burocrática, e a mão de obra foi ficando, o pessoal não tá tendo consciência do que é a operação ferroviária. Então agora eu to vendo dificuldade de por em ordem o turismo ferroviário, porque hoje precisa de mais 112 investimento. Então se hoje não tiver consciência do poder público, e do poder do turismo regional, que nem o pessoal está pensando nesse projeto regional que iria até três barras, ou até matos costa, então se não houver um esforço maior eu acho que vai fracassar, não vai prosperar e o pessoal envolvido não está aprendendo a lidar com operação ferroviária, então o pessoal tá, não é querer falar mal, mas o pessoal quer mais ser diretor, “eu sou diretor da Associação dos Amigos do Trem”, e não basta isso aí, não basta, eu queria ser só diretor e vê o trem andar e andar no trem, e no fim eu tenho que por a mão direto porque o cara que tem vontade não sabe fazer, que não tem noção do que vai fazer, e uma locomóvel é uma caldeira, é uma panela de pressão, é perigoso. Do tempo que eu sei nunca explodiu uma máquina, mas temos que ter consciência que ela pode dar problema, é água fervendo, é fogo, isso aqui não pode atingir pessoas. Então isso aí a pessoa que opera tem que ter muita consciência de tudo que deve fazer ali, não é que nem uma máquina diesel que ela tendo combustível e tendo o material rodante bom, e a linha estando limpa, estando bem, o cara puxa ali no regulador e é melhor do que um caminhão porque não tem que dirigir, não tem volante. Então você tendo consciência põe no primeiro ponto, segundo ponto, até o oitavo ponto conforme o trecho se precisar mais força, menos força e saber lidar com a frenagem, não dar freada brusca. Agora já o vapor tem que manter fogo, nível de água, tem que saber que você não pode deixar o nível de água baixar muito, senão tem que colocar muita água e cai a pressão, vai esfriar a máquina, então, todo esse controle você tem que ter, o Marcelo já tem consciência disso, só que ele não tá assim na situação de operador de trem, tá mais assim, hoje mais jurídico, eu sei que ele gosta disso, então eu to vendo assim, o desinteresse da pessoa querer ser um ferroviário, por isso que eu acho que o turismo ferroviário está fracassando. Marcelo agradece e encerra.