Federal University of Campina Grande, Brazil
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MEDIDOR VIRTUAL PARA ENSAIOS EM MATERIAIS MAGNÉTICOS E TRANSFORMADORES ANGELO M. A. ALMEIDA, FRANCISCO C. F. GUERRA, RAIMUNDO C. S. FREIRE, BENEDITO A. LUCIANO Departamento de Engenharia Elétrica, UniversidadeFederal de Campina Grande Rua Aprígio Veloso, 882 – Bairro Universitário, CEP 58429-140, Campina Grande - PB E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Abstract This article describes a virtual instrument to be used in tests of magnetic materials and transformers. The main functions of the instrument are digital oscilloscope, spectrum analyzer and transient recorder. The hardware consists of 16 bits, 250 kS/s, 8 analog inputs (multiplexed) data acquisition card and a personal computer. The software was developed in LabVIEW, version 8.2. Very accurate and fast measurements can be accomplished, such as saturation curves, hysteresis loops, magnetic losses, characteristic values of current, voltage and magnetic flux waveforms, besides spectral analysis and transient waveform recording, related to inrush currents and ferroresonance in transformers. Keywords Magnetic materials, transformers, virtual instruments. Resumo Este artigo descreve um instrumento virtual a ser empregado em testes de materiais magnéticos e transformadores. As principais funções do instrumento são: osciloscópio digital, analisador de espectro e registrador de transitórios. O hardware consiste em uma placa de aquisição de dados de 16 bits, 250 kS/s, oito entradas analógicas multiplexadas. O software foi desenvolvido em LabVIEW, versão 8.2. Medições precisas e rápidas podem ser realizadas, como determinação de curvas de saturação, laços de histerese, perdas magnéticas, valores característicos de formas de onda de correntes, tensões e fluxos magnéticos, além de análise espectral e registro de formas de onda de caráter não repetitivo, relacionadas a correntes de inrush e ferroressonância em transformadores. Palavras-chave Materiais magnéticos, transformadores, medidores virtuais. 1 2 Descrição do Medidor Virtual Introdução 2.1 Características Gerais do Medidor Um instrumento virtual consiste na associação de elementos de hardware e de software para aplicações nos campos de medição e controle. O hardware é composto por uma placa de aquisição de dados com entradas que convertem as grandezas analógicas em grandezas digitais correspondentes, de modo simultâneo ou multiplexado, além de um computador pessoal portátil ou de mesa. O software consiste em linguagens de programação de propósito geral, como C/C++, ou linguagens direcionadas à aquisição de dados, como LabVIEW ou EPICS. A linguagem Matlab também apresenta ferramentas gráficas e rotinas para aquisição e análise de dados. Em atividades de medição de grandezas elétricas e magnéticas, os instrumentos virtuais apresentam inúmeras vantagens em relação aos instrumentos convencionais. Uma delas é o baixo custo de aquisição de computadores pessoais, quando comparado a um instrumento de uso específico. A facilidade de adaptação desses instrumentos às necessidades de cada aplicação evita a compra de hardware de alto custo, cuja configuração é definida pelo fabricante. Outra vantagem é a facilidade de operação, mesmo para usuários pouco experientes. A linguagem de programação considerada neste trabalho é a LabVIEW, amplamente utilizada em ambientes acadêmicos e industriais. Os sinais provenientes do sistema em teste devem apresentar amplitudes adequadas às características do medidor. Também deve ser promovida isolação elétrica, resguardando-se a integridade do medidor e do operador. Os resultados das medições são exibidos em forma de gráficos e vetores na tela do computador. Apesar de um sistema de aquisição de dados ser capaz de gerar sinais para controlar outros dispositivos, as rotinas destinadas a tal finalidade ainda não foram implementadas neste medidor. As funções do medidor são três: osciloscópio, analisador de espectro e registrador de transitórios. Na função osciloscópio, para cada grandeza de entrada, o medidor é capaz de fornecer informações como valor máximo, mínimo, pico a pico, médio, eficaz, bem como período, frequência e diferença de fase de sinais elétricos. Também realiza as seguintes operações matemáticas: inversão, soma, subtração, multiplicação e integração, além da composição do sinal X versus sinal Y (X – Y) e filtragem. Tais funcionalidades permitem que se possa medir potência elétrica relacionada a sinais não senoidais com excelente grau de precisão (wattímetro true RMS). Isto pode ser feito multiplicando-se os sinais correspondentes à tensão e à corrente do circuito e tomando-se em seguida o valor médio do produto. 635 A interface dispõe dos recursos presentes em um osciloscópio clássico, como é mostrado na Figura 1. Figura 3. Tela do medidor virtual como registrador de transitórios 2.2 Descrição do Hardware Figura 1. Tela do medidor virtual como osciloscópio A placa de aquisição de dados é fabricada pela National Instruments, tipo NI-PCI-6221, que apresenta os seguintes dados: 16 entradas analógicas multiplexadas de 16 bits, duas saídas analógicas de 16 bits, taxa de amostragem de 250000 amostras por segundo. O computador utilizado é do tipo desktop. Como os conversores analógico-digitais têm resolução de 16 bits, resultam 216 = 65536 níveis de quantização. A tensão de pico máxima de entrada da placa é 10 V. Assim, a resolução do conversor é de 10 / 65536 ≈ 152 µV/nível. A taxa de amostragem é um fator de suma importância, pois se ela for baixa, os sinais não serão reproduzidos corretamente. Por outro lado, frequencias de amostragem elevadas resultam em arquivos de dados desnecessariamente grandes. Na frequencia de 60 Hz, com a taxa de 60000 amostras por segundo, são obtidas aproximadamente 1000 amostras por ciclo, suficiente para a uma grande variedade de aplicações. O analisador de espectro, mostrado na Figura 2, é o elemento que determina o conteúdo de harmônicos do sinal, dentro da faixa de frequência especificada, obtendo-se as amplitudes e ângulos de fase da componente fundamental e das harmônicas, assim como a taxa de distorção harmônica (TDH) do sinal. Figura 2. Tela do medidor virtual como analisador de espectro 2.3 Descrição do Software O sistema tem uma faixa de operação que analisa até a 50ª harmônica da freqüência fundamental de 60 Hz. Essa faixa é bastante larga para se analisar as harmônicas de maior interesse nos sistemas elétricos. O registrador de transitórios, cuja tela é mostrada na Figura 3, é responsável pela gravação de sinais de caráter não repetitivo de tensão e corrente após a ocorrência de distúrbios nos sistemas elétricos, normalmente originados por operações de chaveamento de elementos indutivos e/ou capacitivos, entre outras causas. O critério adotado para a detecção de um distúrbio consiste em se estabelecer um nível de tensão de gatilhamento. Quando este valor é atingido, o sinal é exibido na tela em uma janela de 500 ms, suficiente para que o regime de estado estacionário seja alcançado. Esta janela pode ser alterada pelo usuário, dependendo do grau de amortecimento dos sinais de corrente e tensão do fenômeno transitório considerado. A operação de gatilhamento também pode ser efetivada a partir de um sinal externo aplicado ao módulo de entrada do sistema de aquisição de dados. Dentre as ferramentas disponíveis, a linguagem de programação gráfica LabVIEW é uma das mais indicadas para o desenvolvimento de instrumentos virtuais. Este termo é o acrônimo para Laboratory Virtual Instrument Engineering Workbench, que consiste em uma linguagem desenvolvida pela National Instruments, com aplicações em atividades de medição e automação (Kring e Travis, 2006). Os programas em LabVIEW são compostos por um painel frontal contendo a interface e por diagramas de blocos, que contêm o código gráfico do programa, que não é processado por um interpretador, e sim, compilado. Usando o conceito do fluxo de dados mediante o emprego de ícones e estruturas, pode-se executar uma enorme gama de operações, desenvolvendo-se programas com muito maior rapidez, simplicidade e flexibilidade, em relação aos escritos em linguagens de programação tradicionais. Na Figura 4 é apresentado o aspecto de um diagrama de blocos típico da linguagem LabVIEW. 636 Para fim de isolação, é utilizado um núcleo toroidal de liga nanocristalina tipo N3E3, fabricado pela MECAGIS, com diâmetro interno de 2,5 cm, diâmetro externo de 4,0 cm, área de seção reta de 0,9 cm2, indução de saturação de 0,94 T e permeabilidade relativa máxima de 185707, em 60 Hz (Batista et al., 2007). Em torno do núcleo há um enrolamento primário de 100 espiras e um secundário de 20 espiras. Mediante a função osciloscópio, foram obtidos oscilogramas da tensão no secundário e da corrente de excitação no primário, bem como o laço dinâmico relativo ao fluxo de enlace (obtido por integração numérica da tensão ue da Figura 5) versus corrente de excitação, como é mostrado nas Figuras 7, 8 e 9. Figura 4. Leitura de grandeza analógicos usando o LabVIEW 3 Aplicação do Medidor Virtual Os medidores virtuais têm sido cada vez mais empregados, inclusive em ensaios de materiais magnéticos e transformadores (Carminati e Ferrero, 1992, Kis et al., 2004; Luciano et al., 1999, Pólik et al., 2007). Medições precisas e rápidas podem ser realizadas, como determinação de curvas de saturação, laços de histerese, perdas magnéticas, valores característicos de formas de onda, além de análise espectral e registro de surtos de correntes de magnetização em transformadores (correntes de inrush). O medidor foi testado fazendo-se medições em um transformador monofásico de 110/220 V, 1 kVA, com núcleo de liga ferro-silício de grãos não orientados (GNO), usando-se a montagem da Figura 5. Figura 7. Tensão no secundário do transformador Figura 8. Corrente de excitação no primário do transformador Figura 5. Circuito utilizado para teste do medidor virtual O sensor de corrente de alta precisão, ilustrado na Figura 6, converte a corrente em tensão proporcional, através de um amplificador de instrumentação (INA101), que confere excelente grau de imunidade a ruídos, no caso de medição de sinais de baixa intensidade. Também são utilizados resistores não indutivos, de resistências R = 0,2 Ω. Figura 9. Laço dinâmico em 60 Hz – Fluxo de enlace no secundário versus corrente de excitação no primário Através da função analisador de espectro, foram determinados os harmônicos das ondas da Figura 7 e da Figura 8, como é mostrado nas Figuras 10 e 11. Finalmente, utilizou-se a função registrador de transitórios para visualização da forma de onda da corrente durante a energização do transformador com o secundário em vazio (corrente de inrush), como é indicado na Figura 12. Antes do registro, a tensão no primário foi elevada até o núcleo saturar e, em seguida, anulada lentamente, anulando também o fluxo Figura 6. Sensor de corrente utilizado 637 valo, foram obtidas algumas medidas do valor RMS da tensão no secundário utilizando os instrumentos acima citados, além do medidor virtual. As medidas e o Desvio Médio Percentual (DMP) são mostrados na Tabela 1. Esse desvio é a média aritmética dos desvios percentuais apresentados por cada instrumento anteriormente citado, em relação às medidas efetuadas com o medidor virtual. Deve-se observar na Tabela 1 que os desvios relativos médios são menores ou iguais a 0,6 %, o que atesta um grau de exatidão satisfatório ao medidor desenvolvido. residual. O valor instantâneo da tensão aplicada no momento da energização foi feito igual a zero. Para isto, utilizou-se uma chave síncrona, constituída por um triac com instante de disparo estabelecido por um microcontrolador PIC16F877A (Araújo et al., 2009). Tabela 1. Medições realizadas com o medidor virtual e com outros instrumentos Tensão no secundário do transformador ( V ) Medidor Medidor Medidor Medidor 1 2 3 Virtual 20,571 20,450 20,507 20,580 40,808 40,750 40,630 40,660 60,475 60,200 60,452 60,500 80,493 79,700 80,228 80,100 100,665 100,700 100,621 100,500 121,121 121,550 121,130 120,800 140,547 140,750 140,450 140,400 160,488 160,300 160,340 160,200 180,478 179,850 180,030 180,200 200,473 199,700 200,500 200,100 220,306 220,350 220,570 220,800 Figura 10. Espectro de linhas da onda de tensão da Figura 6 Figura 11. Espectro de linhas da onda de corrente da Figura 7 DMP (%) -0,285 -0,313 -0,150 -0,600 -0,058 0,032 -0,001 -0,129 -0,250 -0,186 0,121 4 Conclusão Em relação aos medidores de precisão convencionais, o medidor virtual constitui uma solução de baixo custo, expansível e de fácil manutenção, sendo baseado em um poderoso ambiente de desenvolvimento como o LabVIEW. É importante observar que a confiabilidade dos resultados obtidos é garantida não apenas pela excelente resolução vertical da placa de aquisição de dados (16 bits), mas também pelo elevado graus de exatidão do sensor de corrente, que apresenta imunidade a ruídos e à influência da frequência de operação. Tais características são conferidas pelo núcleo de liga nanocristalina, resistores não indutivos e amplificador diferencial monolítico de alta precisão. O medidor foi originalmente desenvolvido para ensaios em materiais magnéticos e transformadores. Porém, o mesmo pode ser usado em inúmeras outras aplicações, podendo-se citar: qualidade de energia, registro de fenômenos transitórios em redes elétricas (curtos-circuitos, correntes de inrush e ferroressonância), além de oscilografia e análise harmônica em diversos campos da engenharia. Ainda que o sistema tenha sido implementado em uma arquitetura do tipo desktop, pode-se obter mais mobilidade e portabilidade com o uso de hardware com conexão USB, permitindo a implementação do medidor em notebooks. Isto constitui matéria para desenvolvimentos que já estão sendo efetuados. Figura 12. Corrente de inrush registrada durante a energização do transformador no lado de 110 V Para se ter uma idéia do grau de exatidão do medidor desenvolvido, foi realizada uma comparação considerando-se outros instrumentos de medição. Nessa comparação, foram usados os instrumentos descritos a seguir. ▪Medidor 1: osciloscópio digital marca Agilent, modelo DSO3062A. ▪Medidor 2: multímetro digital de bancada marca Agilent, modelo 34401A (true RMS). ▪Medidor 3: multímetro digital portátil marca Minipa, modelo ET-2517 (true RMS). No processo de comparação, o valor true RMS de tensão foi usado como referência, uma vez que esta é uma das grandezas mais frequentemente medida por todos os instrumentos. Para esta finalidade, alimentou-se o enrolamento primário do transformador da Figura 5, sendo a tensão neste enrolamento gradativamente aumentada até o valor nominal. Nesse inter- 638 Agradecimentos Ao CNPq, à CELTINS, à CAPES, à FAPESQ-PB e à Fundação Parque Tecnológico da Paraíba, pelo apoio concedido. Referências Bibliográficas Araújo, L. L., Guerra, F. C. F., Freire, S. C. F. (2009). Desenvolvimento de uma Chave Síncrona para Chaveamento Controlado de Transformadores Trifásicos, 8º Congresso Latino-Americano: Geração e Transmissão de Energia Elétrica, Ubatuba – SP, Brasil. Batista, T. C., Luciano, B. A., Lira, J. G. A. (2007). Caracterização de ligas nanocristalinas em núcleos toroidais para aplicações eletroeletrônicas. Revista Pesquisa, Vol. 1, No. 6, pp. 859-864. Carminati, E. e Ferrero, A. (1992) A virtual instrument for the measurement of the characteristics of magnetic materials. IEEE Transactions on Instrumentation and Measurement, Vol. 41, No. 6, pp. 1005-1009. Kis, P., Kuczmann, M., Füzi, J. and Iványi, A. (2004). Hysteresis Measurement in LabVIEW. Physica B, Vol. 343, pp. 357-363. Kring, J. and Travis, J. (2006). Labview for everyone – Graphical Programming Made Easy and Fun, Third Edition. Prentice Hall. Luciano, B. A., Morais, M. E., Camacho M. A. G. e L. E. B. Silva (1996). 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