Síndroma febril e lesões cutâneas num doente com infecção por HIV
Transcription
Síndroma febril e lesões cutâneas num doente com infecção por HIV
Caso clínico flash Flash Clinical report Barvalento Médico 2008; 2 (vol.1): 31-33 Síndroma febril e lesões cutâneas num doente com infecção por HIV Fever and skin lesions in an HIV-infected patient José Bernabeu-Wittel1, Máximo Bernabeu-Wittel2, Águeda Pulpillo-Ruiz1, 2 Manuel Ollero-Baturone 1 2 Servicios de Dermatología e Medicina Interna . Hospitales Universitarios Virgen del Rocío. Sevilla. España. CASO CLÍNICO CLINICAL CASE Correspondência | Correspondence [email protected] Fig. 1 e 2: Imagens prévias ao tratamento Images prior to treatment A 53 years old male, with antecedents of VIH infection in stage B2 CDC (relapsing oral muguet and previous lymphocite count 382/mcl), under antirretroviral therapy with Zidovudine, lamivudine and nelfinavir, with a viral load presistently undetectable consulted us for a fevre and astenia from one month together with asymptomatic cutaneous lesions starting in trunk and limbs with further palmoplantar affectation. In the physic exam, he presented in palms and soles several papulous lesions grouped of 6-10 mm of diameter rounded or ovoid of pale to dark pinkish colour with a central keratosic disc (figures 1 and 2. There was not affectation of the rest of the tissue or mucosae, an exam by organs, including a complete neurologic exam, did not reveal alterations. Hemogram, biochemistry, coagulation and a chest X ray were normal. 31 Barlavento Médico Um homem de 53 anos de idade com antecedentes de infecção de HIV na fase B2 dos CDC (candidiase oral recividante com recontagem de linfócitos prévios de 382uL) em tratamento anti-retroviral com zidovudina, lamivudina e nelfinavir e em situação de carga viral de HIV persistentemente indetectável. Dirigiu-se à nossa consulta por se encontrar com febre e astenia com um mês de evolução, simultaneamente com lesões cutâneas assintomáticas que principiaram no tronco e extremidades com posterior afectação nas palmas e nas plantas. A observação das mesmas apresentava múltiplas lesões papulosas agrupadas entre 6 e 10 milímetros de diâmetro circular ou oval, de cor rosada a arroxeada com um disco central queratósico (Figuras 1 e 2). Não possui afectação do resto do tegumento nem de mucosas e a observação dos restantes aparelhos, incluindo uma exploração neurológica completa não mostram alterações. O hemograma, a bioquímica sanguínea, o estudo de coagulação e a radiografia ao tórax foram normais. DIAGNOSIS AND OUTCOME As lesões cutâneas correspondiam com uma elevada probabilidade de clavis sifilíticos com suspeita clínica de secundarismo solicitou-se serologia frente a sífilis mostrando as provas reagentes/reactivas um titulo de RPR de 1/64 hemoglutinação (TPHA) um valor 1/10.240, e a prova de absorção para o antígeno de Treponema florescente (FTA-ABS) tanto IgG como IgM positivo. Após se conhecer este resultado realizouse uma punção lombar mostrando o líquido cefalorraquídeo 82 células (60% mono nucleares), proteínas 0,1 g/L, glucose 1,65 g/L; a prova de RPR foi positiva (1/32), assim como FTA-ABS IgG e IgM. Após estabelecimento do diagnóstico definitivo de sífilis secundário com meningite sifilítica assintomática associada iniciou-se o tratamento com penicilina G Sódica intravenosa em doses elevadas (24 000.000) de unidades/24horas repartidas em 6 doses) durante 14 dias com boa tolerância e franca melhoria das lesões cutâneas (figura 3) e da sintomatologia sistémica. O estudo do líquido cefalorraquídeo efectuado no dia + 11º do tratamento demonstrou ausência de pleocitósis. Na alta, o paciente encontrava-se completamente assintomático. A serologia praticada dois meses depois da finalização do tratamento mostrou um valor de RPR de 1/8. Cutaneous lesions corresponded with high probability to siphilitic clavis. With the clinical suspect of secondary lues, a serology to siphilis was asked, reaginic tests showing RPR titulations of 1/64, hemaglutinin (TPHA) a titulation of 1/10.240, and absorption tests to fluorescent Treponema antigen (FTA_ABS), a positive IgM and IgG: After having this result, a lumbar puncture was done, cerebrospinal liquid having 82 cells (60% mononuclears), proteins 0.1 g/L, glucose 1.65 g/L; RPR test was positive (1/32), such as FTAABS IgG and IgM. After stablishing the definitive diagnosis of secondary siphylis with asymptomatic syphilitic meningitis associated, treatment with sodic Penicilin G intravneously at high doses (24.000.000 units per day in 6 doses) was initiated during 14 days with a good tolerance and spectacular improvement of the cutaneous lesions (Figure 3) and systemic symptomatology. The study of cerebrospinal fluid done at 11th day of treatment showed abscense of pleocytosis. When discharged, the patient was completely asymptomatic. Luetic serology done two months after finishing treatment showed a title of RPR of 1/8. Barlavento Médico 32 DIAGNÓSTICO E EVOLUÇÃO COMMENTARY Syphilis is a sexually transmitted disease caused by Treponema pallidum. Prevalence of syphilis and its complications has decreased importantly since the Fig. 3: Imagem após terapêutica Image post therapeutics A sífilis é uma doença de transmissão por via sexual causada por Treponema pallidum. A prevalência da sífilis e das suas complicações tem vindo a registar uma franca diminuição desde a generalização do uso de antibióti1,2 cos treponemicídas ; contudo foi observado um incremento da incidência desta doença desde o ano 2000, associado a uma maior taxa de co-infecção com HIV, provavelmente causada pela partilha de mecanismos de 3 transmissão . Os pacientes com sífilis e infectados com HIV possuem um maior risco de rápida progressão da doença assim como o desenvolvimento da neurosífilis e outras complicações, podendo surgir com maior frequência 4,5 formas clínicas atípicas. Daí a importância da realização do diagnóstico clínico precoce e da realização de um estudo do líquido cefalorraquídeo aquando da sua confirmação, mesmo na 5-8 ausência da clínica neurológica. como procedemos no nosso caso. O tratamento de eleição é a Penicilina G sódica intravenosa em doses elevadas (entre 18 e 24 milhões de Unidades ao Dia) durante 14 dias 4-10. Por outro lado, os pacientes infectados com HIV apresentam um maior risco de recidiva de neurosífilis após um tratamento específico correcto no dois primeiros anos, pelo que é necessário um seguimento clínico e serológico 4,7 apertado para comprovar a descida dos títulos . Com este caso queremos destacar a necessidade de manter u alto grau de suspeita de sífilis, sobretudo e doentes de especial risco que desenvolvam lesões cutâneas acompanhadas de síndrome febril. Mesmo assim assinalamos a indicação da punção lombar em todo o doente com infecção por o HIV onde se confirme o diagnóstico de sífilis, mesmo em estádios precoces. generalizartion of the use of treponemicide antibiotics 1,2 ; nevertheless, an increase in the incidence of this condition has been observed from the year 2000, associated to a higher rate of coinfection by HIV, probably 3 bexause they share the mechanisms of transmission . Patients with syphilis and infection by HIV have a higher risk of rapid progression of the disease and the development of a neurosiphylis and other complications, and it can present more usually in the 4,5 form of atypical clinical presentations . That is the importance of making an early clinical diagnosis and a study of the cerebrospinal fluid, even when there 5-8 are not neurological symptoms as we did in our case. Treatment of choice is Penicilin G at high doses intravenously (between 18 and 24 millions units per day) during 14 days (4-10). By the other hand, patients with infection by HIV present a higher risk of relapse of neurosiphylis after a correct specific treatment in the first two years, for what it is necessary a close clinical and serologic follow up to verify the descent of 4,7 reaginic titulations . Whit this case we want to underline the need of keeping a high degree of suspiction of syphilis, overall in patients with special risk who develop skin lesions and fever. Besides, we want to enphasize the indication of a lumbar puncture in all patients with HIV infection in which diagnosis of siphylis have been done, even though in early stages. Referências | References 1. Kassutto S, Doweiko JP. Syphilis in the HIV era. Emerg Infect Dis 2004 Aug;10:1471-3. 2. Erbelding E, Rompalo A. Changing Epidemiology of Syphilis and Its Persistent Relationship with HIV. Curr Infect Dis Rep 2004;6:135-40. 3. Lavigne JP, Rouanet I, Gleize E, Mauboussin JM, Michaux-Charachon S, Labauge P, et al. Resurgence of syphilis: a prospective study at an University Hospital, Nimes. Rev Med Interne 2004;25:715-9. 4. Lynn WA, Lightman S. Syphilis and HIV: a dangerous combination. Lancet Infect Dis 2004;4:456-66. 5. Hartmann M, Gey D. Syphilis diagnosis, treatment and peculiarities in HIV-infected patients. MMW Fortschr Med 2004;146 (Suppl 1):39-41. 6. Hall CS, Klausner JD, Bolan GA. Managing Syphilis in the HIV-infected Patient. Curr Infect Dis Rep 2004;6:72-81. 7. Marra CM, Maxwell CL, Tantalo L, Eaton M, Rompalo AM, Raines C, et al. Normalization of cerebrospinal fluid abnormalities after neurosyphilis therapy: does HIV status matter? Clin Infect Dis 2004;38:10018. Conde-Sendin MA, Hernandez-Fleta JL, Cardenes-Santana MA, Amela-Peris R. Neurosyphilis: forms of presentation and clinical management. Rev Neurol 2002;35:380-6. 9. Peeling RW, Mabey D, Fitzgerald DW, Watson-Jones D. Avoiding HIV and dying of syphilis. Lancet 2004;364:1561-3. 10. Marra CM. Neurosyphilis. Curr Neurol Neurosci Rep 2004;4:435-40. 33 Barlavento Médico COMENTÁRIO