anais hidrográficos
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ISSN 0373-9260 MARINHA DO BRASIL DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO ANAIS HIDROGRÁFICOS REVISTA ANUAL DA DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO TOMO LXV BRASIL Anais Hidrog. Rio de Janeiro T. 65 p. 1-130 2008 ANAIS HIDROGRÁFICOS – Publicação anual da Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil. Tem como propósitos relatar os trabalhos desenvolvidos na DHN no ano de referência, publicar textos de natureza histórica ou técnica-profissional, para informação dos Hidrógrafos, relacionados com o campo de atividades da DHN, e por ela selecionados, além de divulgar matérias originais e inéditas, de caráter técnico-científico, que versem sobre assuntos da área de competência da Diretoria. EDIÇÃO: Superintendência de Ensino da DHN. CONSELHO EDITORIAL: Conselho Técnico da DHN. Os trabalhos originais e inéditos aqui publicados são de responsabilidade da DHN e só podem ser reproduzidos, em partes ou no todo, com sua expressa autorização. As matérias são de responsabilidade dos autores, não constituindo necessariamente a opinião da DHN. AOS AUTORES – A revista aceita colaboração, na forma de trabalhos originais e inéditos ou de resumos informativos e resenhas críticas de teses, artigos técnico-científicos, conclaves ou palestras relativas à Hidrografia, Navegação, Sinalização Náutica, Oceanografia, Geologia e Geofísica Marinha e Meteorologia Marinha. As colaborações devem ser entregues digitadas em disquete no editor de texto Word for Windows, acompanhadas dos originais, à Superintendência de Ensino da DHN até a 1ª quinzena de março. O texto dos originais deve ter entre 250 e 500 linhas e das resenhas/resumos entre 75 e 150 linhas. Na confecção dos artigos deve-se seguir as seguintes Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): NBR 6021, NBR 6022, NBR 6023, NBR 6024, NBR 6027, NBR 6028, NBR 10520 e NBR 14724. As referências bibliográficas devem ser apresentadas em lauda separada. Os trabalhos devem ser acompanhados de um sumário, com o máximo de 10 linhas, e do currículo do autor, com até 5 linhas, iniciando-se pelo seu nome. ANAIS HIDROGRÁFICOS Diretoria de Hidrografia e Navegação Rua Barão de Jaceguai s/n 24048-900 - Niterói, RJ - BRASIL © Diretoria de Hidrografia e Navegação – Marinha do Brasil. 2008 A532 2008 Anais Hidrográficos / Diretoria de Hidrografia e Navegação. T. 1, Rio de Janeiro: A Diretoria, 1933 – 130 p. : il., graf. Anual ISSN 0373-9260 1. Hidrografia - I. Brasil. Diretoria de Hidrografia e Navegação. CDD 551. 46005 APRESENTAÇÃO É com grande satisfação que apresento mais uma edição dos Anais Hidrográficos. Publicada desde 1933, esta revista reflete o grande esforço desempenhado pelos Militares e Servidores Civis que aqui servem, na busca inconteste por alcançar patamares científicos mais elevados, materializados pelos artigos aqui apresentados, relativos à hidrografia, oceanografia, cartografia náutica, meteorologia, navegação e sinalização náutica, atividades que compõem o universo de tarefas atribuídas à nossa Diretoria de Hidrografia e Navegação. LUIZ FERNANDO PALMER FONSECA Vice-Almirante Diretor Diretoria de Hidrografia e Navegação 6 Aula Inaugural para a 61ª turma do Curso de Aperfeiçoamento de Hidrografia para Oficiais (CAHO) proferida pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra (RM1) Frederico Antonio Saraiva 8 I − TRABALHOS REALIZADOS EM 2008 Cartas náuticas – novas edições e reimpressões Publicações – novas edições e reimpressões Cursos Trabalhos realizados pelos navios 26 27 28 37 II − ARTIGOS DETALHAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO TALUDE NA REGIÃO NORTE DA BACIA DE PELOTAS A PARTIR DE DADOS BATIMÉTRICOS MULTIFEIXE CF (T) Izabel King Jeck 48 ESTUDO DE SISTEMAS DE COORDENADAS USADOS EM TOPOGRAFIA COSTEIRA PARA ÁREAS DE GRANDE DEFORMAÇÃO DO SISTEMA UTM Prof. Antonio Vieira Martins 57 ANÁLISE DA QUALIDADE DO POSICIONAMENTO DE UMA EMBARCAÇÃO EM UM LEVANTAMENTO HIDROGRÁFICO Diuliana Leandro, Suelen Cristina Movio Huinca, Claudia Pereira Krueger e CC Alexandre Moreira Ramos 75 DETERMINAÇÃO DA LINHA DE COSTA POR MEIO DA MONORRESTITUIÇÃO DIGITAL DE IMAGENS DE CÂMARAS DE PEQUENO FORMATO E TÉCNICAS GPS CC Alex Pinto Babinsck, Claudia Pereira Krueger e Jorge Antonio Silva Centeno 87 PROCESSAMENTO AUTOMÁTICO DE BATIMETRIA MULTIFEIXE PARA CONSTRUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS CC Aluizio Maciel de Oliveira Junior 99 O USO DE LINHAS DE BASE TRIVIAIS NO AJUSTAMENTO DE REDES GPS CC Maurício dos Santos Silva e Verônica Maria Costa Romão 109 CRITÉRIO DE ESCOLHA DE LOCAIS PARA INSTALAÇÃO DE UMA REDE MAREGRÁFICA BÁSICA PERMANENTE Prof. Dr. Geraldo Nogueira da Silva 117 III – EFEMÉRIDES HIDROGRÁFICAS 127 DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO (EM 31/12/2008) Diretor Vice-Almirante Luiz Fernando Palmer Fonseca Vice-Diretor Capitão-de-Mar-e-Guerra Walter dos Santos Duarte Júnior Superintendente Técnico Capitão-de-Mar-e-Guerra Amaury Poyares Rocha Superintendente de Administração Capitão-de-Fragata Marco Antonio Fernandes Rosa Superintendente de Ensino Capitão-de-Fragata (T) David Canabarro Savi GRUPAMENTO DE NAVIOS HIDROCEANOGRÁFICOS Comandante Capitão-de-Mar-e-Guerra Marcio Ferreira de Mello BASE DE HIDROGRAFIA DA MARINHA EM NITERÓI Comandante Capitão-de-Mar-e-Guerra Nilberto Silva da Cruz Imediato Capitão-de-Mar-e-Guerra José Antônio da Costa dos Santos Mesquita Chefe do Departamento de Intendência Capitão-de-Mar-e-Guerra (IM) Marcelo Herzog de Luna Alencar Chefe do Departamento de Material e Serviços Náuticos Capitão-de-Fragata (T) Celso Goulart Oreiro Chefe do Departamento de Apoio Capitão-de-Fragata Bruno de Souza Paim Chefe do Departamento de Administração Capitão-de-Fragata (S) Mariléa de Carvalho César Leite Chefe do Departamento Industrial Gráfico Capitão-de-Corveta (T) Marcus Vinicius Ribeiro Jaqueira Imediato Capitão-de-Fragata José Manuel da Costa Nunes Encarregado da Seção de Operações Capitão-de-Fragata Sérgio Gomes Encarregado da Seção de Logística Capitão-de-Fragata José Henrique Rodrigues Sousa CENTRO DE SINALIZAÇÃO NÁUTICA E REPAROS ALMIRANTE MORAES REGO Diretor Capitão-de-Mar-e-Guerra Márcio Leite Teixeira Encarregado da Seção de Organização Capitão-de-Fragata Marcelo O’Reilly de Miranda Vice-Diretor Capitão-de-Mar-e-Guerra Aguinaldo Luiz Martins Engrel Maciel Encarregado da Seção de Inteligência Capitão-de-Fragata Cláudio da Silva Marques Departamento do Balizamento do Sudeste Capitão-de-Fragata João Carlos Coelho de Brito Departamento de Sinalização Náutica Capitão-de-Fragata Remy Torres Ferreira Junior Departamento de Administração Capitão-de-Corveta Ricardo Alves Ribeiro CENTRO DE HIDROGRAFIA DA MARINHA Diretor Capitão-de-Mar-e-Guerra Antonio Fernando Garcez Faria Superintendente de Segurança da Navegação Capitão-de-Mar-e-Guerra Luiz Carlos Torres Encarregado do Banco Nacional de Dados Oceanográficos Capitão-de-Fragata Nickolás de Andrade Roscher Imediato Capitão-de-Corveta Maurício dos Santos Silva NAVIO HIDROCEANOGRÁFICO “CRUZEIRO DO SUL” Comandante Capitão-de-Fragata Hilbert Strauhs Imediato Capitão-de-Corveta Frederico Carlos Muthz Medeiros Barros NAVIO OCEANOGRÁFICO “ANTARES” Comandante Capitão-de-Fragata Luiz Cláudio Teixeira Palhota Imediato Capitão-de-Fragata José Manoel Domingues NAVIO-FAROLEIRO “ALMIRANTE GRAÇA ARANHA” Superintendente de Meteorologia e Oceanografia Capitão-de-Fragata Carlos Augusto Chaves Leal Silva Comandante Capitão-de-Fragata Jorge Edimo Gomes de Moraes Superintendente de Administração Capitão-de-Fragata (IM-RM1) Alexandre Souto Imediato Capitão-de-Corveta Benevides Collela Xavier NAVIO DE APOIO OCEANOGRÁFICO “ARY RONGEL” Comandante Capitão-de-Mar-e-Guerra Arlindo Moreira Serrado NAVIO HIDROCEANOGRÁFICO “AMORIM DO VALLE” Comandante Capitão-de-Corveta Marcus Vinícius Almeida Silveira Imediato Capitão-Tenente Jansen Santos Poças Imediato Capitão-de-Fragata João Rafael Ribeiro Seydel NAVIO HIDROCEANOGRÁFICO “TAURUS” NAVIO HIDROGRÁFICO “SIRIUS” Comandante Capitão-de-Corveta Fábio Queiroz Rios Comandante Capitão-de-Mar-e-Guerra Roberto Pacheco Leandro Imediato Capitão-Tenente Marcos Carvalho dos Santos AULA INAUGURAL PARA A 61ª TURMA DO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE HIDROGRAFIA PARA OFICIAIS (CAHO) PROFERIDA PELO CAPITÃO-DE-MAR-E-GUERRA (RM1) FREDERICO ANTONIO SARAIVA er convidado para proferir a aula inaugural do Curso de Aperfeiçoamento de Hidrografia para Oficiais (CAHO) é uma deferência muito especial conferida, normalmente, aos Almirantes Hidrógrafos da ativa e da reserva. Significa, ainda, ser reconhecido como Hidrógrafo pelos demais, sem qualquer dúvida ou contestação. Por esse motivo agradeço ao Vice-Almirante Lawrence o imenso privilégio que me concede de dirigir estas palavras aos oficiaisalunos deste CAHO 2008, o qual simboliza a continuidade desta instituição tão importante de nossa Marinha. Os amigos que fiz ao longo de trinta e dois anos de atividade marinheira, dos quais vinte e seis ligados diretamente às atividades da nossa querida Repartição Hidrographica, provavelmente já me ouviram dizer que a Hidrografia é uma grande família, unida, forte e bela. Pelo menos é assim que eu a vejo. São mulheres e homens, militares e civis, de várias especialidades e formações acadêmicas que se dedicam ao nobre mister de planejar e conduzir os levantamentos; produzir as cartas e demais publicações; tripular os navios e as lanchas; manter acesas as luzes dos nossos faróis e das nossas almas; e S 8 ainda prover apoio de administração, comunicações, eletrônica, engenharia, intendência e máquinas. Sim, meus prezados oficiais-alunos: somos todos Hidrógrafos. Começais agora a fazer parte desta grande família e juntamente com a ciência, a técnica, o engenho e a arte recebereis o fogo sagrado da mais bela e marinheira das especialidades. Por oportuno, quero dizer que, ao ingressar na Escola Naval em 1975 estava firmemente decidido na escolha do Corpo e até da especialidade: seria Fuzileiro Naval. Ainda os admiro até hoje porque eles possuem uma tenacidade e determinação muito parecidas com as nossas. Trata-se de uma bela casa. No entanto, no ciclo de palestras que acontece no segundo semestre do segundo ano da Escola Naval, com a finalidade de orientar os aspirantes quanto à opção de Corpo e escolha de Especialidade, compareceu à EN o então Capitão-de-Corveta Luiz Antonio de Carvalho Ferraz. Foi nesse momento que a Marinha perdeu um “Naval” promissor e ganhou um Hidrógrafo. Se me fosse permitido voltar no tempo, faria tudo de novo! A primeira lição hidrográfica que poderemos tirar desse episódio é que, em nossa mente, toda certeza DH3 – LXV Pero Vaz de Caminha: “Neste mesmo dia, à hora de véspera, houvemos vista de terra!... Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao Sol posto, a umas seis léguas de terra, lançamos âncora em dezenove braças. Pasmem, o primeiro contato de um objeto português com a terra brasileira foi o de um prumo de mão! O trabalho hidrográfico dos portugueses prosseguiu de forma intensa até meados do século XVII. A Cartografia Náutica foi considerada essencial para a exploração e defesa eficazes do novo território. A terceira lição hidrográfica será, nesNOSSA HISTÓRIA te momento, retirada da História: a Cartografia Náutica já constituía faA história da Hidrografia no tor de força para a atividade militar Brasil começa com o descobrimento. naval em nosso País desde o século publica XVI. Assim permanece no temRecomendo que leiam a publicaDES S, po presente. presen ção “HISTÓRICO, ATIVIDADES, A PERSPECTIVAS – DIRETORIA A at atividade hidrográfica portugu p DE HIDROGRAFIA E NAVEportuguesa no Brasil declinou e GAÇÃO” editada em 2003. em quantidade a partir da d segunda metade Recomendo aos mais indo século XVII. No enteressados que leiam, tan no Tomo XXI dos Anais tanto, houve incremenHidrográficos, o artito d de qualidade a partir go do Almirante Max dos avanços tecnológico que permitiram Justo Guedes, histogicos so riador naval de compea solução do problema d tência reconhecida por da determinação da longitud Foi necessária a todos. Recomendo ainda C gitude. z ap e s a leitura das conferências revisão dos levantamenitã ch o ou anteriores, principalmente dos -de-Fragata M tos hidro hidrográficos em todo o s Parcas”, Parcas” mundo Esta qua que “já foram levados pelas mundo. quarta lição nos ensina como disse o saudoso Vice-Almirante que devemos permanecer atentos à Paulo Gitahy de Alencastro na Aula evolução científica e progresso tecInaugural de 1982. Isto também é nológico. Mais ainda no tempo preHistória, com a vantagem adicional sente, quando as inovações se sucede nos transmitir preciosos ensinadem cada vez mais rápido. mentos que permanecem válidos nos O segundo período da histódias atuais. ria da hidrografia no Brasil foi caComo disse, a história da racterizado pela influência francesa Hidrografia no Brasil começa com o e abrangeu quase todo o período descobrimento. Consta na carta de do Brasil Império. Essa atividade foi possui uma margem de erro. A segunda é que a Marinha possui muitas boas casas sendo que esta é a melhor. Congratulo-me, portanto, com os senhores pela escolha que fizeram. Esta é a mais bela e marinheira das especialidades. A partir deste momento, os senhores começam a conhecer a nossa história, habitar a nossa casa, compor a nossa gente, e passam a contribuir para o propósito de nossa missão. Pretendo dividir esta apresentação em tópicos, como veremos a partir de agora. DH3 – LXV 9 Aula Inaugural iniciada cerca de três anos antes da independência, motivada, principalmente, pelos interesses comerciais marítimos daquele país. Esses tra- Cronômetro de Navegação balhos foram todos conduzidos por oficiais de Marinha, cobrindo quase toda a costa brasileira. O saudoso Almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca cita, em sua aula inaugural no ano de 1974, duas consequências muito importantes das campanhas francesas. Os trabalhos dos franceses e a compilação dos trabalhos dos Hidrógrafos portugueses permitiram a construção de uma coleção de Cartas Náuticas da Costa do Brasil que, com os melhoramentos introduzidos ao longo dos anos, resultantes de trabalhos de Hidrógrafos brasileiros, constituíram a quase totalidade da cartografia náutica de nosso litoral até meados da década de 1950. Resquícios desses trabalhos ainda se encontravam presentes em nossas cartas em meados da década de 1970. O segundo aspecto importante citado pelo ilustre conferencista é que essas campanhas motivaram o nascimento da Hidrografia genuinamente brasileira. Reproduzindo integralmente suas palavras: “Por um lado, se a presença dos hidrógrafos 10 franceses em nosso litoral retardou a necessidade de efetuarmos o seu levantamento com nossos próprios meios, por outro lado, ela motivou os Oficiais de nossa então incipiente Marinha para tal atividade.” A leitura dos parágrafos anteriores nos permite aprender mais algumas lições. Senão vejamos: a) os Estados utilizarão os meios a seu alcance para garantir os seus interesses, mesmo longe de seu território e de suas águas jurisdicionais; b) a Hidrografia constitui uma atividade necessária e decorrente dos interesses nacionais para todos os países que utilizam o mar para sua defesa e progresso econômico; c) o Hidrógrafo não despreza, a priori, o trabalho dos que o precederam; d) a Hidrografia no Brasil Independente sempre foi conduzida por Oficiais de Marinha, ainda que, no início, por Oficiais da Marinha Francesa; e e) se não estivermos capacitados para realizar o trabalho, uma potência estrangeira o fará, não se iludam. Repetindo, o nascimento da Hidrografia genuinamente brasileira decorreu da influência francesa e produziu Hidrógrafos notáveis — todos Oficiais de Marinha — que antes de um invejável preparo técnico possuíam formação militar notável, comprovada posteriormente no campo de batalha. Esses Oficiais de Marinha, Hidrógrafos, construíram a Hidrografia neste País desde os tempos do Império e são os responsáveis pelo que somos atualmente. Dentre eles se destaca o Capitão-de-Fragata Antônio Vital de Oliveira, patrono da Hidrografia brasileira. As suas campanhas hidrográficas pioneiras, longas DH3 – LXV e difíceis; sua competência técnica invejável e reconhecida; e sua morte gloriosa, no campo de batalha, durante o bombardeio de Curupaiti, em 02 de fevereiro de 1867, estão amplamente documentadas. Recomendo com empenho que leiam a respeito. Coincidência ou merecida homenagem? Não sabemos. Vale notar que essa data está repleta de simbolismo onde o renascimento da hidrografia brasileira remete ao passamento de seu mais ilustre protagonista. Seu primeiro Diretor foi o Capitão-deFragata Antonio Luiz Von Hoonholtz, o Barão de Teffé, a quem voltaremos a nos referir parágrafos adiante. Poucos dias antes, em 26 de janeiro daquele ano, havia sido criada a Repartição de Pharoes e em 04 de abril de 1888 é criada a Repartição Central Meteorológica. Essas três Repartições foram reunidas em 07 de novembro de 1891 para formar a Repartição da Carta Marítima. Desde então, “a nobre missão de garantir segurança nos mares, segurança da navegação” ficou sob a “escolta” de um só timoneiro nesta que passou a ser a “nossa casa” e que doravante será também a “vossa casa”. Capitão-de-Fragata Antônio Vital de Oliveira NOSSA CASA O desaparecimento prematuro de Vital de Oliveira constituiu o principal fator de fraqueza para a interrupção praticamente completa da atividade hidrográfica brasileira nos seis anos subsequentes à Guerra do Paraguai. Desse episódio decorre a décima lição: considerando que a Hidrografia pressupõe continuidade, ela não pode ser conduzida em bases pessoais, ou seja, não pode repousar exclusivamente na competência técnica, liderança e determinação de um único indivíduo. O governo imperial percebeu essa limitação e, para garantir o renascimento da nossa Hidrografia em bases sólidas e institucionais, criou, por Decreto de 02 de fevereiro de 1876, a Repartição Hidrographica, no mesmo dia e mês da morte de Vital de Oliveira. DH3 – LXV Esta casa recebeu várias denominações até chegar à denominação atual de Diretoria de Hidrografia e Navegação; e ocupou vários prédios ao longo de sua história. O mais famoso e mais tradicional e que ainda é reconhecido como a sede histórica de nossa Diretoria é a Ilha Fiscal, ocupado entre 1914 e 1983, quando ocorreu a mudança para as atuais instalações no Complexo Naval da Ponta da Armação (CNPA). A Ilha Fiscal testemunhou, simbolicamente, o renascimento, o desenvolvimento e a modernização da Hidrografia brasileira incluindo a criação do Curso de Aperfeiçoamento de Hidrografia para Oficiais, em 1933, e o estabelecimento da “Doutrina do nosso Serviço Hidrográfico”, que 11 Aula Inaugural constitui a nossa décima primeira lição, qual seja: “verificar a validade dos resultados questionando-os à Os senhores já devem ter percorrido as instalações do CNPA. Se não o fizeram, que o façam com brevidade. Poderão perceber as modernas instalações que abrigam a Divisão de Cartografia (CH-32) e o Departamento Industrial Gráfico (BH-40), com seus equipamentos modernos de geo-processamento e máquinas no estado-daarte para impressão de cartas e publicações; as oficinas do Departamento de Material e Serviços Náuticos (BH-10); as instalações extremamente Departamento Industrial Gráfico exaustão”. Essa doutrina, obedecida à risca, garantiu a continuidade dos trabalhos, o respeito da Marinha e o prestígio nacional e internacional de nossa Diretoria. Com o passar do tempo, a Ilha Fiscal se tornou pequena para abrigar o volume de trabalho, a diversidade disciplinar e a infraestrutura necessária ao suporte da evolução tecnológica. Ainda antes da mudança, alguns de seus departamentos (Departamento de Navegação – DHN20 e Departamento de Instrução – DHN-60) ocupavam prédios no chamado “Arsenal Velho”, nas proximidades do prédio atual do Comando do 1º Distrito Naval. Apesar do nosso apego às instalações da Ilha Fiscal, a transferência para a Ponta da Armação foi inevitável. 12 Departamento de Material e Serviços Náuticos funcionais do Grupamento de Navios Hidroceanográficos (GNHo); poderão conhecer ainda o Espaço da Memória, localizado neste prédio, no pavimento abaixo deste auditório. (Casa D´Armas da DHN). A permanência da DHN na Ponta da Armação permitiu, mais recentemente, construir instalações modernas e funcionais para receber o Centro de Sinalização Náutica e Reparos Almirante Moraes Rego (CAMR). DH3 – LXV Restava ainda uma queixa: os navios permaneciam afastados do CNPA, com todos os prejuízos administrativos, técnicos e operacionais decorrentes. Essa questão foi plenamente resolvida com a construção e inauguração, em 01 de outubro de 2004, do Píer Almirante Paulo Irineu Roxo Freitas, Hidrógrafo ilustre de quem voltaremos a falar parágrafos adiante. A inauguração do novo cais de atracação proporcionou aos navios subordinados ao GNHo a proximidade necessária com aquele grupamento operativo e com as demais OM do Complexo Naval da Ponta da Armação, facilitando a troca salutar de informações e, consequentemente, constituindo fator de força para o seu aprestamento. Hoje, a grande família hidrográfica está fisicamente reunida em um Espaço da Memória — DHN mesmo Complexo, excetuando-se os Serviços de Sinalização Náutica (SSN) distritais e seus Navios Hidroceanográficos e Balizadores subordinados, que se encontram nas áreas de subordinação dos respectivos Distritos Navais. Recomendo mais uma vez a todos os senhores oficiais-alunos que aprendam a localização e as atribuições de cada setor do CNPA. Visitem os setores: a Divisão de Levantamentos (CHM-31), a Logística do GNHo, as oficinas de manutenção de boias e balizas do CAMR; a Divisão de DH3 – LXV Transportes da BHMN e a Biblioteca. Possuímos um vasto acervo técnico e científico não somente na Biblioteca, mas sobretudo no Arquivo Técnico sob a responsabilidade do CHM. O contato pessoal é importantíssimo porque contribui para criar laços que transcendem o mero relacionamento funcional. O Departamento de Instrução, hoje Superintendência de Ensino, sempre foi tratado com muita atenção pela DHN, a exemplo dos navios. Mesmo que o aporte de recursos do Plano Básico INDIA, da Diretoria de 13 Aula Inaugural Píer Almirante Paulo Irineu Roxo Freitas Ensino da Marinha, seja, às vezes, insuficiente para atender a todas as necessidades da Superintendência, sempre ocorre a suplementação pelo Plano Básico JULIET. As instalações da Superintendência de Ensino passam, no momento, por uma reforma ampla destinada a proporcionar mais conforto, segurança e recursos instrucionais que beneficiarão alunos e instrutores e constituirá fator de força para a formação cada vez melhor das futuras gerações de Hidrógrafos. O Levantamento Hidrográfico de Fim de Curso (LHFC) constitui o clímax do curso que ora se inicia. Normalmente, o LHFC é planejado e executado com vistas ao seu real aproveitamento na construção ou atualização da Carta Náutica. A DHN prepara com muito cuidado o LHFC, com a participação de oficiais-alunos 14 no planejamento, reconhecimento e na execução do mesmo, sob a orientação de professores e instrutores. Ainda que “à vera”, o planejamento e a execução são conduzidos de forma didática, com boa margem temporal de segurança a fim de garantir que todo o planejamento seja cumprido na íntegra e o trabalho seja concluído e apresentado na cerimônia de encerramento. Essa prática proporciona tempo adicional suficiente para cumprir a finalidade didática de repetir procedimentos e compensar atrasos eventuais decorrentes de condições meteorológicas adversas ou avarias de equipamentos. De qualquer forma, enfrentar e resolver essas adversidades constitui parte importante do aprendizado de todo oficial Hidrógrafo. Acreditem, esse aprendizado dura a vida toda! DH3 – LXV NOSSA GENTE A nossa gente é composta por pessoas que gostam de estudar. Cada qual na sua área. Temos Hidrógrafos especialistas em Sinalização Náutica, Oceanografia, Meteorologia, Cartografia, Geologia, Geofísica, dentre outras disciplinas ligadas às Ciências da Terra. Alguns deixam a Diretoria por contingência de carreira e, oficiais brilhantes que são, acabam se tornando “expertos” em áreas do conhecimento humano relacionadas à Política e Estratégia de Guerra Naval e Administração, entre outras. A mente inquisitória, capaz de verificar e questionar a validade dos dados obtidos também faz parte do éthos da nossa gente. Aqui se desenvolve um pouco mais a paixão pela busca do conhecimento, principalmente nas disciplinas citadas no parágrafo anterior. No entanto, não devemos e não podemos perder de vista a doutrina hidrográfica (legado dos antigos), as necessidades da Marinha e o propósito da missão. Mesmo porque, ademais de nossa capacidade pessoal, os recursos e os meios nos são fornecidos pela Marinha. Se os senhores cumprirem (e torno a aconselhar que o façam) as recomendações que fiz no início desta apresentação, poderão verificar que a eventual insuficiência de recursos não é prerrogativa do momento presente e nunca foi discrepância proibitiva para os que trabalham com competência, seriedade e entusiasmo. Na verdade, a escassez de recursos nunca foi obstáculo para a execução dos trabalhos e para o progresso da Hidrografia. A determinação, criatividade, organização, e tenacidade dos Hidrógrafos fazem DH3 – LXV com que os obstáculos sejam superados e o trabalho concluído. A posse dessas características não constitui privilégio das gerações passadas. Elas são transmitidas a cada geração de Hidrógrafos e os senhores certamente receberão esse legado quase sem perceber. E quando menos esperarem estarão “fazendo o impossível” para concluir a sondagem e fechar a Folha de Bordo. No final da década de 1990, o NOc “Almirante Câmara” sondava o litoral do Estado da Bahia entre Ilhéus Capitão-de-Fragata Antonio Luiz Von Hoonholtz e a Barra do Poxim. A Comissão já se arrastava por quase dez meses, com interrupções, regresso à sede e antecipação de um período de docagem (PDR) por força de avarias muito frequentes. Faltava fechar os últimos 2/3 da décima e última Folha de Sondagem (FS) e as linhas de verificação das três últimas FS quando ocorreu avaria no sistema de governo. E agora...? Consta que algumas horas após, com o navio à deriva e aproximando-se de terra o chefe de 15 Aula Inaugural máquinas trouxe a notícia da impossibilidade do restabelecimento pleno do sistema de governo, na seguinte forma: “Comandante, estamos prontos para prosseguir com o governo a ré”! Os Hidrógrafos (os cursados em Máquinas, inclusive) não desistem nunca! É desnecessário complementar a informação de que a FS foi concluída e também as quatro linhas de verificação das três últimas folhas do referido LH, após o que o navio regressou à sede para realizar o reparo. Voltando a falar do Capitão-deFragata Antonio Luiz Von Hoonholtz, o Barão de Teffé, recomendo que meditem sobre a sua atitude, sintetizada na placa existente à entrada deste prédio, na qual “reivindica seus foros de Oficial combatente”. Temos agora a nossa décima segunda lição. Os Hidrógrafos não podem esquecer a sua condição de oficiais combatentes. Considero altamente desejável que, passada a fase puramente técnica, já como oficiais superiores, os Oficiais Hidrógrafos conheçam e, principalmente, se façam conhecer nas outras boas casas que existem na Marinha. As consequências serão todas edificantes para nós, Hidrógrafos, para a Marinha e para a DHN. A Diretoria ganha porque poderá receber de volta os oficiais em posições mais elevadas e com horizontes ampliados. Ganham os outros setores da Marinha porque receberão oficiais com excelente formação técnica, além de fortemente doutrinados para cumprir a missão de forma impessoal, e capazes de avaliar os problemas de um ponto de vista diferente, mantendo em comum a Rosa das Virtudes da Escola Naval que, suponho, é bem conhecida dos senhores. Finalmente ganha o oficial, porque suas qualidades serão conhecidas na Marinha. Seguem-se algumas recomendações dos antigos, mais especificamente do Almirante Paulo Irineu Roxo Freitas, na Aula Inaugural do CAHO 1973, reproduzidas em quase todas as Aulas Inaugurais. Essas recomendações configuram as décima terceira, décima quarta e décima quinta lições: “O conservadorismo, o respeito à tradição, nunca deverá ser confundido com estagnação. As atividades da nossa Diretoria estão sempre em mutação, em constante evolução, e todos os esforços devem ser feitos no sentido de nos mantermos atualizados. Essa busca permanente em prol da modernização e atualização tem sido uma das nossas mais sadias tradições.”(FREITAS,1973). “Não alterem nem inovem nada, sem antes procurar saber, com os que os antecederam, as razões que os levaram a adotar a linha de ação que lhes pareça errada ou ultrapassada. O segredo do êxito da DHN reside na continuidade de ação dos que por aqui passaram e na coordenação que sempre existiu entre as várias gerações que se sucederam.” (FREITAS,1973, p.7). “Mantenham sempre o caráter impessoal de toda a sua obra como hidrógrafos. A produção da DHN se caracteriza pelo anonimato de seus autores, cabendo a cada um de nós apenas a satisfação íntima de saber até que grau concorreu para os melhores resultados.” (FREITAS,1973, p.8). 16 DH3 – LXV NOSSA MISSÃO Atrevo-me a iniciar a descrição sucinta de nossas atividades a partir da Sinalização Náutica. Em primeiro lugar pelo simbolismo que as luzes conferem à nossa missão mas, principalmente, para obter, dos Hidrógrafos Faroleiros, a minha absolvição do grave pecado de conhecêla tão pouco. Se por um lado, o prumo de mão é a melhor representação de nossos instrumentos de trabalho, a estrofe da Canção do Hidrógrafo que acabo de ler constitui a melhor síntese do propósito de nossa missão: Mostrar o caminho. Para dar cumprimento simbólico a esse propósito, ascendem-se os faróis e se formam faroleiros. Senhores, a Sinalização Náutica é um elemento essencial na segurança da navegação e, como tal, parte integrante de nossa missão. Para cuidar dos faróis, boias, balizas, enfim, dos sinais de auxílio à navegação, a DHN conta com o Centro de Sinalização Náutica e Reparos Almirante Moraes Rego. O CAMR é a OM subordinada mais antiga e ao mesmo tempo o mais novo inquilino deste Complexo. Constitui o núcleo de uma atividade iniciada no Brasil no século XVII, com o acendimento do farol de Santo Antônio, na Bahia, em 1698, primeiro que se tem notícia no Continente Americano. O CAMR representa, em síntese, os últimos quarenta anos de um trabalho continuado em prol do desenvolvimento da Sinalização Náutica do nosso País. É o sucessor DH3 – LXV da antiga Repartição de Faróis, criada a 26 de janeiro de 1876 e sua denominação guarda a memória de um ilustre Marinheiro que dedicou com empenho e sacrifício muitos anos de sua vida à Marinha, o Almirante Tácito Reis de Moraes Rego. Em nossos dias, a Sinalização Náutica enfrenta uma mudança de paradigma, inserindo-se no conceito moderno de segurança da navegação, que integra Cartas Eletrônicas, Sistemas de Identificação Automática de Embarcações, alertas meteorológicos em tempo real e, é claro, sinais luminosos e sonoros. O novo conceito se aplica, principalmente, à navegação de longo curso, de cabotagem e na navegação de esporte e recreio em embarcações sofisticadas. No entanto, ainda por muito tempo, não poderemos dispensar as luzes (faróis, faroletes, e boias) em prol das centenas de traineiras e outras embarcações miúdas para os quais esses auxílios à navegação constituem vital significado. CARTOGRAFIA NÁUTICA E SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO A DHN, por meio do Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) é responsável pela execução dos levantamentos hidrográficos destinados à construção da Carta Náutica. Além dos levantamentos executados pelos Navios do GNHo e por Comissões Volantes realizadas por equipes do próprio Centro, o CHM fiscaliza, por força de diploma legal, a 17 Aula Inaugural execução de levantamentos hidrográficos executados por entidades extramarinha. Possui a atribuição legal de construir e manter atualizadas as cartas destinadas à navegação. Estão publicadas e em vigor cerca de 450 Cartas Náuticas, no Brasil e no Exterior. A DHN conduziu, a partir de 1935, o Primeiro Plano Cartográfico Náutico Brasileiro, concluído integralmente quarenta anos depois. Trata-se, talvez, do único programa governamental brasileiro de longa duração, cujo planejamento foi cumprido na íntegra. No entanto, as especificações para levantamentos hidrográficos evoluíram muito desde 1935 até os dias de hoje. Tomemos como exemplo um navio mercante de grande porte, com vinte metros de calado. Considerações de segurança indicam que a folga mínima admissível sob a quilha, em águas rasas, é de 10% do calado. Isto significa que a profundidade mínima em que pode navegar é de 22m e, principalmente que, nessa profundidade, todas as irregularidades que se elevem do fundo a 2m ou mais devem ser perfeitamente delimitadas e identificadas. Para um navio, as águas são consideradas profundas quando cessa a interferência do fundo sobre o seu governo. Isso acontece a uma profundidade de duas vezes e meia o calado. Dessa forma, para esse navio, o fundo deve ser perfeitamente conhecido até 50m de profundidade. A evolução das necessidades de segurança da navegação causou uma consequente mudança nas especificações para levantamentos hidrográficos. No próximo parágrafo, citaremos as principais, cabendo lembrar que estamos falando apenas de segurança da navegação. Sob o ponto de vista das operações navais, os requisitos tornam-se ainda 18 mais rigorosos, basta lembrar que o calado de um submarino pode ser tão grande quanto a sua máxima profundidade de imersão. Os levantamentos hidrográficos passaram a ser por área, com escala mínima compatível com suas características. Por exemplo, áreas oceânicas, proximidades dos portos, áreas costeiras, etc., anteriormente vinculavam-se à escala da respectiva carta náutica. O espaçamento entre linhas de sondagem deixou de ser função exclusiva da escala da carta. A profundidade local e o ângulo de abertura do feixe do ecobatímetro passaram a ser considerados para a definição da escala do levantamento. Essa providência diminui o espaçamento entre linhas de sondagem, em águas rasas, mesmo quando a escala da carta for mantida pequena. O sonar de varredura lateral, isoladamente, não é capaz de fornecer a profundidade, mas acusa a existência de irregularidades por menores que sejam, que poderiam passar despercebidas entre linhas de sondagem com ecobatímetro de feixe estreito. As irregularidades detectadas são pesquisadas até que fiquem perfeitamente conhecidas a sua profundidade e dimensões. O NHo “Taurus” já está equipado com equipamento de batimetria multi-feixe. Em resumo, os levantamentos precisam ser refeitos nas regiões onde os LH existentes não atendem às novas especificações (a história se repete; lembrem-se do problema da determinação da longitude no século XVII). Os demais NHo da classe “River”: “Amorim do Valle” e “Garnier Sampaio”, ainda não correspondem plenamente à sua nova classificação. A DHN já tomou providências para reverter a situação, de forma DH3 – LXV que o guincho oceanográfico do NHo “Amorim do Valle” já se encontra instalado e o ecobatímetro multi-feixe, recém adquirido, aguarda oportunidade para sua instalação. As mudanças nos parâmetros de segurança da navegação, tais como: o maior calado dos navios (citado acima), a maior velocidade das embarcações e um aumento contínuo do tráfego marítimo aliados aos anseios da comunidade marítima por uma padronização internacional dos documentos náuticos, levaram à elaboração do II Plano Cartográfico Náutico Brasileiro. Esse Plano foi elaborado em 1995 pela DHN, em consonância NHo Taurus com as Especificações de Cartas Internacionais da Organização Hidrográfica Internacional (OHI), e a previsão de término é 2010. Ele é composto por 8 cartas na escala de 1:1.000.000 e 26 na escala de 1:300.000. OCEANOGRAFIA E METEOROLOGIA MARINHA A Oceanografia na Marinha data de 1954, quando foram realizados os primeiros trabalhos sistemáticos do DH3 – LXV Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva. A partir desse período, mais especificamente do Ano Geofísico Internacional (1957), as atividades oceanográficas assumiram importância em todo mundo a partir da possibilidade de conhecer e explorar as riquezas contidas nos mares e oceanos, além do interesse que despertaram no campo militar. No Brasil, a participação da Marinha foi fundamental para o desenvolvimento da 19 Aula Inaugural oceanografia não somente pelo papel de catalisador institucional, mas principalmente por dispor dos meios flutuantes indispensáveis. Pode-se inferir com boa precisão que sem a presença da Marinha (DHN/SECIRM/ IEAPM) a evolução da oceanografia no Brasil teria sido bem mais difícil e demorada. Senão vejamos: a) o maior oceanógrafo que este País já teve foi o Vice-Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva, fundador do Instituto de Estudos do Mar que leva o seu nome (IEAPM); b) o Vice-Almirante Alberto dos Santos Franco é, aos noventa e quatro anos, a maior autoridade brasileira em estudos maregráficos; permanece como referência para os pesquisadores de mais alto nível nessa disciplina; c) o NOc “Almirante Saldanha” foi durante vários anos o único navio oceanográfico brasileiro e permaneceu como o principal até a sua baixa em 1990; d) o Programa de Reconhecimento da Margem Continental Brasileira, conhecido como Projeto REMAC, tornouse exequível somente após a incorporação do NOc “Almirante Câmara”; e e) coube àquele navio o esforço principal de coleta de dados para o Programa de Geologia e Geofísica Marinha (PGGM) até o ano de 1986, quando foi readaptado para prospeção geofísica. A Marinha (DHN/SECIRM) atuou de forma decisiva durante todo o desenvolvimento do Programa de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) desde 1996 até os dias atuais em que defendemos a proposta brasileira junto à Comissão de Limites das Nações Unidas. Foram empregados quatro navios: NOc “Almirante Câmara”, 20 NOc “Almirante Alvaro Alberto”, NOc “Antares” e NHi “Sirius”. O Programa de Levantamento do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na Zona Econômica Brasileira (REVIZEE) acaba de ser concluído com sucesso, a partir do apoio da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SECIRM), do emprego do NOc “Antares” na coleta de dados oceanográficos nas áreas abrangidas pelos Subcomitês Regionais Norte, Nordeste e Central e da participação efetiva do IEAPM no processamento dos dados do Subcomitê Central. Atualmente, a parceria entre Marinha e a comunidade oceanográfica é cada vez mais intensa não somente por meio de projetos compartilhados (CHM/IEAPM), mas também pela infraestrutura indispensável para execução das pesquisas, através da utilização dos navios hidrográficos e oceanográficos. No início, a atividade oceanográfica na DHN era predominantemente científica e exigia dos Hidrógrafos que a escolhessem à vocação natural para a pesquisa. No tempo presente esse conceito é válido apenas parcialmente. O progresso vertiginoso que a oceanografia obteve, a partir do final dos anos 1980, com o desenvolvimento de novos equipamentos e novas técnicas de observação “in situ” e remota, permitiu uma densidade e precisão de dados não igualada anteriormente. Tornou-se possível a medição contínua de correntes na superfície e em profundidade com o advento de correntômetros “Doppler”. A utilização generalizada de perfiladores CTD (Condutividade x Temperatura x Profundidade) permitiu a obtenção de perfis contínuos de temperatura, salinidade, oxigênio DH3 – LXV e outras propriedades físico-químicas da água do mar. Há que se mencionar ainda a obtenção e transmissão, em tempo real, de dados por meio de satélites, boias de deriva e fundeadas e derivadores de profundidade (ARGO). O refinamento das técnicas de perfilagem geofísica permitiu obter imagens mais profundas, mais precisas e mais detalhadas da estrutura sedimentar no subsolo marinho. Essas técnicas e equipamentos contribuíram sobremaneira para a disponibilidade de dados contínuos, fartos, densos e, principalmente, em tempo real. A consequência natural foi o nascimento e desenvolvimento da Oceanografia Operacional, com o monitoramento contínuo de variáveis oceanográficas cujos dados são inseridos e assimilados por modelos numéricos. A DHN procura se manter atualizada na utilização dos equipamentos e no aprendizado das técnicas de coleta e processamento. Resta ainda muito que fazer para que a DHN possa dispor integralmente das facilidades citadas no parágrafo anterior. A visita aos diversos setores, que recomendei parágrafos atrás, proporcionará aos senhores a visão detalhada do que existe e do que falta. Entretanto, não nos quedamos inertes à espera de condições ideais. Os Programas REMAC, PGGM, LEPLAC, REVIZEE, dentre outros, foram realizados com os recursos possíveis e com as parcerias necessárias. O resultado pode ser resumido em uma expressão de rara felicidade cuja autoria é bem conhecida de todos os presentes: “Amazônia Azul”. Os resultados desse trabalho, que dignificam a Marinha e a Hidrografia brasileira, são fruto do esforço, dedicação, entusiasmo de muitos Hidrógrafos de várias especialidades e instituições e DH3 – LXV que tipificam a antiga sinergia entre a DHN, a Empresa e a Academia. O Brasil é signatário da Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS) e, como tal, possui a responsabilidade de produzir e disseminar informações meteorológicas e Avisos aos Navegantes na área marítima compreendida entre os paralelos de 07ºN e 36ºS, e entre o meridiano de 20ºW e o continente (METAREA V e NAVAREA V). As informações meteorológicas de interesse do navegante são elaboradas pelo CHM e agrupadas em boletins e cartas meteorológicas, conforme a sua finalidade. O mais conhecido dos senhores é o boletim de condições e previsão do tempo para a área marítima de responsabilidade do Brasil conhecido como METEOROMARINHA. A divulgação de boletins de análise e previsão do tempo, previsão numérica, boletins especiais de tempo para operações de socorro, de salvamento e militares, de dados estatísticos e da previsão de ventos e vagas é de utilidade real para diversas atividades, que transcendem às necessidades específicas do navegante. A DHN participa de programas nacionais e internacionais de coleta e disseminação de dados obtidos por boias em estreita parceria com a comunidade científica. Os mais importantes são: a) Programa Nacional de Boias (PNBOIA); b) International South Atlantic Buoy Program (ISABP); e c) Pilot Research Moored Array for the Tropical Atlantic (PIRATA). A participação da DHN nesses programas conta com o auxílio de um programa mais amplo de 21 Aula Inaugural Oceanografia Operacional, o Programa Piloto GOOS/BRASIL, cujo propósito é obter e disseminar em tempo real, via enlace de satélite, dados oceanográficos e meteorológicos por meio de boias de deriva e de fundeio, a fim de contribuir para o fornecimento de dados ambientais necessários à qualidade da previsão meteorológica marinha, e fundamentais para a segurança da navegação na área marítima sob a responsabilidade do Brasil (METAREA V) e para a salvaguarda da vida humana no mar. NOSSOS NAVIOS A existência de processos sofisticados de coleta de dados oceanográficos, dos novos métodos de batimetria a laser e dos instrumentos eletrônicos de segurança da navegação citados parágrafos anteriores não dispensam a necessidade da utilização eficiente e criteriosa dos navios hidrográficos, oceanográficos, faroleiros e balizadores, enfim, estes navios que possuem chaminés pintadas de laranja com a inscrição que representa ao mesmo tempo uma lição de humildade e a consciência do cumprimento do dever: “Restará sempre muito o que fazer...”. As comissões oceanográficas, hidrográficas e de apoio à sinalização náutica e ao Programa Antártico Brasileiro são, quase sempre, de longa duração, exigem grande esforço das tripulações, níveis elevados de disciplina e apurado espírito de equipe que, ademais é imanente ao serviço hidrográfico. O aprestamento dos navios empregados na realização das atividades de sua responsabilidade sempre foi prioritário na Diretoria de Hidrografia e Navegação. Em um passado quase 22 recente, essas atividades estavam diluídas pelos diversos departamentos da nossa “Repartição Hidrographica”, mais que centenária, sob a coordenação e controle do Vice-Diretor. Essa estrutura, ainda que eficaz, era desconfortável e, principalmente, sobrecarregava o Diretor. A solução encontrada foi a criação, em 1990, da Superintendência de Navios da DHN (SUPNAV) como um componente organizacional, com características de Estado-Maior, para cuidar dos assuntos afetos aos Navios. A criação da SUPNAV dotou a DHN de um elemento organizacional para o atendimento exclusivo das necessidades dos navios subordinados, aliviando os departamentos técnicos e administrativos. Essa estrutura revelou-se vitoriosa, de forma que a 02 de setembro de 1996 foi criado o Grupamento de Navios Hidroceanográficos (GNHo), subordinado à DHN e ativado em 31 de outubro do mesmo ano, com sede na histórica Ilha Fiscal. Em 23 de março de 1998, a sede do GNHo foi transferida para a Ponta da Armação, na cidade de Niterói — RJ. Atualmente, o GNHo dispõe de seis navios subordinados: Navio de Apoio Oceanográfico “Ary Rongel”, Navio Oceanográfico “Antares”, Navio Hidrográfico “Sirius”, Navio- Faroleiro “Almirante Graça Aranha”, Navio Hidroceanográfico “Amorim do Valle” e Navio Hidroceanográfico “Taurus”. Neste mês de fevereiro, o número de navios passará a sete, com a chegada do novo NHo “Cruzeiro do Sul” adquirido em parceria com o MCT e já incorporado à MB, de forma a tornar ainda mais efetivo o apoio da Marinha à comunidade oceanográfica nacional. Esse deverá chegar ao Rio de Janeiro em 15 de fevereiro próximo. DH3 – LXV Os Navios do GNHo, ao se fazerem ao mar, exercem atividades importantes para a DHN, para a Marinha e para o País. Realizam a coleta de dados ambientais, participam da manutenção dos faróis e outros sinais náuticos. Contribuem, de maneira fundamental e indispensável, para o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). Concorrem para o apoio logístico ao Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT). Participaram e continuam participando da formação de gerações de Hidrógrafos e oceanógrafos deste País. Repito, a realização de todas essas múltiplas atividades exige grande esforço das tripulações, níveis elevados de disciplina e apurado espírito de equipe. Envolvem, ainda, um apoio logístico complexo. Proporcionar tais requisitos sempre constituiu um desafio indispensável ao cumprimento de nossa missão e garantia de nosso futuro. 2009 NOSSO FUTURO Nosso futuro repousa na nossa gente e nas nossas tradições. Será promissor na medida em que continuemos a perseverar na formação e DH3 – LXV aperfeiçoamento do pessoal, mantivermos a nossa doutrina e cultuarmos as nossas tradições. Essa conduta é extremamente salutar, contribuindo para manter a qualificação adquirida sem, contudo, 23 Aula Inaugural inibir as alterações de procedimentos que se fizerem necessários. Devemos acompanhar a evolução científica e tecnológica das disciplinas que nos dizem respeito de forma tal que o conhecimento novo não substitua o conhecimento existente, mas que seja a ele somado. O éthos da Hidrografia é o de produzir informações para a segurança da navegação e para o apoio às operações navais (mostrar o caminho). Isto não muda, o que muda é a forma de representar as informações. Nossas atividades poderão ser ou não subsidiárias, conforme o emprego de nossos produtos e serviços. São subsidiárias na medida em que contribuem para atender ao Art. 17, inciso II da Lei Complementar nº 97/1999. No entanto, são parte integrante e inseparável da aplicação do Poder Naval quando utilizados para o planejamento e condução exitosa das operações navais. Não esqueçam, pertencemos à Marinha! Convém lembrar um desafio para o futuro próximo: a produção e distribuição das cartas eletrônicas. No ano passado, na XVII Conferência Hidrográfica Internacional (CHI) foi estabelecido um prazo de até o ano de 2010 para que os Estados Membros produzam e distribuam suas cartas eletrônicas. Caso o Brasil não tenha condição de fazê-lo, deverá conceder a outro País o direito de editar as referidas cartas. Para que a cobertura total das águas jurisdicionais brasileiras em ENC esteja pronta até 2010, o CHM conduzirá o processo de produção das ENC a partir dos dados ora existentes, oriundos de arquivos isolados e ainda não completamente ajustados entre si, mas com certificado internacional de qualidade e consistência 24 compatível com as cartas náuticas em vigor. Simultaneamente, buscará soluções em médio prazo para a melhoria da qualidade das informações disponíveis aos usuários, o que inclui o aperfeiçoamento do processo por meio de um banco de dados cartográficos, bem como novas informações de áreas onde as normas assim o requeiram. A construção de um cenário desejado está alicerçada na experiência e nos ensinamentos do passado. Permitam-me remeter ao ano de 1952, quando o NHi “Rio Branco” sob o comando do então Capitão-deCorveta Maximiano Eduardo da Silva Fonseca suspendeu para realizar o Levantamento Hidrográfico da Barra Norte do Rio Amazonas. O referido LH tornou-se prioritário a partir da descoberta de manganês no Amapá. Fortes pressões foram feitas para que o trabalho fosse entregue a estrangeiros. A DHN assumiu a missão graças à visão e determinação de nossos Chefes. “Em memorável e heróica campanha” o NHi “Rio Branco” cumpriu a missão que nos cabia, em dois longos períodos de 11 e 14 meses respectivamente” (Adrião, 1985). CONSIDERAÇÕES FINAIS A continuidade é, talvez, a principal característica do serviço hidrográfico. A propósito, essa palavra – “continuidade” – está presente em várias conferências e trabalhos sobre a Hidrografia e a natureza do serviço hidrográfico, que os senhores certamente terão a oportunidade de ler. Praticamente todos os novos trabalhos utilizam como ponto de partida o levantamento anterior. Nosso futuro repousa na nossa gente e nas nossas tradições. Será DH3 – LXV promissor na medida em que perseveremos na formação e aperfeiçoamento de nossos Oficiais e Praças, mantivermos nossa doutrina e cultuarmos as nossas tradições. No serviço hidrográfico não há segredos. Nem tampouco soluções pomposas. Apenas o trabalho discreto e eficiente no planejamento e na condução dos trabalhos, no controle efetivo e aplicação judiciosa dos recursos financeiros disponíveis e na supervisão da formação, adestramento e aperfeiçoamento do pessoal. Tudo se resume ao trato profissional e responsável das tarefas do dia a dia. Sejam muito felizes! Bem-vindos à família hidrográfica! Bons Ventos! Casa D’Armas DH3 – LXV 25 Trabalhos realizados em 2008 TRABALHOS REALIZADOS EM 2008 1 – CARTAS NÁUTICAS – NOVAS EDIÇÕES E REIMPRESSÕES a) NOVAS EDIÇÕES CARTA 25119 25120 23000 210 ESCALA EDIÇÃO PRONTO 1:40.000 1ª Fevereiro 1:40.000 1ª Fevereiro Do Cabo de São Tomé ao Rio de Janeiro 1:300.000 2ª Março Proximidades da Barra Norte do Rio Amazonas 1:199.968 7ª Março 1:25.000 8ª Abril Antártica – Ilhas Shetland do Sul – Baía Sherratt (Ilha Rei George) Antártica – Ilhas Shetland do Sul – Baía Rei George (Ilha Rei George) 1003 Barra do Rio Sergipe 1550 Bacia de Campos 1:300.000 1ª Junho 22700 Da Ponta Cumuruxatiba ao Rio São Mateus 1:300.000 1ª Julho 23500 De Pinhal a Rio Grande 1:300.000 1ª Julho 1403 Da Ponta do Ubu ao Cabo de São Tomé 1:150.000 2ª Julho 4104 Da Ilha do Meio à Ilha de Santa Rita 1:100.000 4ª Julho 1:50.000 3ª Agosto – 2ª Setembro 1:14.991 1ª Outubro 1:8.500 8ª Novembro 1:300.000 1ª Novembro 1410 12000 1644 802 22800 26 TÍTULO Proximidades dos Portos de Vitória e Tubarão Símbolos, Abreviaturas e Termos usados nas Cartas Náuticas Canal de São Sebastião – Parte Sul Porto de Natal Do Arquipélago dos Abrolhos a Vitória DH3 – LXV b) REIMPRESSÕES CARTA TÍTULO PRONTO 1101 Proximidades do Porto de Salvador 1633 Baía da Ilha Grande – Parte Oeste Abril 4101 De Macapá à Ilha Mangabal Abril 2109 Da Ponta Grossa a Porto Alegre Maio 1000 De Maceió ao Rio Itariri Maio De Macapá à Ilha de Santana Junho 1632 Baía da Ilha Grande – Parte Centro-Norte Junho 1905 Porto de Florianópolis Julho 205 Porto de Manaus 411 Janeiro Agosto 21900 Da Ponta Maceió ao Cabo Calcanhar Agosto 1110 Baía de Todos os Santos Agosto 1131 Porto de Camamu Agosto 400 Do Cabo Gurupi à Ilha de Santana Setembro Canal Norte de Santa Catarina Setembro 220 Da Barra Norte ao Porto de Santana Novembro 203 Da Ponta do Capinal às Ilhas Pedreira Novembro 304 De Mosqueiro a Abaetuba Novembro 1101 Proximidades do Porto de Salvador Dezembro 1508 Do Cabo Frio a Ponta Negra – Milha Medida Dezembro 1642 De São Sebastião à Ilha dos Gatos Dezembro 1903 2 – PUBLICAÇÕES – NOVAS EDIÇÕES E REIMPRESSÕES a) NOVAS EDIÇÕES NÚMERO TÍTULO EDIÇÃO DH3 Anais Hidrográficos – Tomo LXIV 64ª DG6 Tábuas das Marés para 2009 46ª DN5 Almanaque Náutico para 2009 65ª b) REIMPRESSÕES NÚMERO TÍTULO EDIÇÃO DH1-I Tábuas de Distâncias 3ª reimp. DH8-II Lista de Auxílios-Rádio 4ª reimp. DH3 – LXV 27 Trabalhos realizados em 2008 3 – CURSOS A DHN promove a realização de cursos do Sistema de Ensino Naval que lhe competem e supervisiona a participação do pessoal da Marinha nos cursos sob a sua orientação técnica. Assim, ministra cursos de aperfeiçoamento de Hidrografia para Oficiais, em Hidrografia e Navegação e de Faroleiro para Sargentos; e de especialização em Hidrografia e Navegação e de Faroleiro para Marinheiros. Cinco são, portanto, os cursos regulares conduzidos. A orientação teórica se aplica aos oficiais em cursos de pós-graduação, dentro do programa de preparação para o exercício de funções técnicas avançadas. A par dos cursos de aperfeiçoamento e especialização, a DHN tem desenvolvido o treinamento do pessoal, para o correto desempenho das suas funções técnicas e administrativas, por meio de cursos expeditos e de estágios de qualificação, nas áreas de Meteorologia, Oceanografia e Batitermografia; e os estágios voltados para a área de Sinalização Náutica e dos diversos sistemas e equipamentos utilizados nas atividades de processamento e aquisição de dados das fainas hidrográficas e oceanográficas. Trata-se de atividade basilar dessa Diretoria, tendo o Curso de Aperfeiçoamento de Hidrografia para Oficiais, sido, em 1993, reconhecido como categoria “A” pela Organização Hidrográfica Internacional (OHI), e o Curso de Aperfeiçoamento de Hidrografia para Sargentos em processo de reconhecimento por aquela Organização como categoria “B” o que atesta a excelente qualidade dos cursos ministrados e que a DHN, a cada dia, se qualifica para vencer os novos desafios de suas atividades, investindo na qualidade da formação de seu pessoal. a) CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE HIDROGRAFIA PARA OFICIAIS (CAHO) Oficiais que concluíram o 61º Curso de Aperfeiçoamento de Hidrografia para Oficiais – Turma 2008: Capitão-Tenente Capitão-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente Primeiro-Tenente MARCELO MANOEL SENRA MENDES; WELLINGTON NOGUEIRA CAMACHO; MÁRCIO MORAIS DE LIMA; FRANCISCO CLÁUDIO GONÇALVES ALVES; FÁBIO LUÍS MOREIRA JACOBUCCI BAMBACE; JUAREZ CERQUEIRA FERREIRA; JONATHAS DINIZ VIEIRA COELHO; SHALON GONÇALVES DE SOUZA; EDNO VIEIRA DA ROSA NETO; TIAGO NICOLAY FREITAS; PHELLIPE DE ARAÚJO MAGALHÃES; RAMON GROSSO DE ALMEIDA; e RODRIGO FELIPE MARQUES DO NASCIMENTO. 1° Colocado: Primeiro-Tenente MÁRCIO MORAIS DE LIMA, com média final 9,88. 28 DH3 – LXV PRÊMIOS ESCOLARES: I – PRÊMIO “EVOLUÇÃO E APLICAÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Ensino da Marinha. Destina-se a premiar o aluno que mais se destacou no curso, concluindo-o em primeiro lugar. Consiste em uma medalha em vermeil. Conquistado pelo Primeiro-Tenente MÁRCIO MORAIS DE LIMA, com média final 9,88. II – PRÊMIO “DISTINÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno com desempenho excepcional no curso, sendo assim considerado aquele que obtiver média igual ou superior a 9,5. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelos seguintes alunos: Primeiro-Tenente MÁRCIO MORAIS DE LIMA, com média final 9,88; Primeiro-Tenente FRANCISCO CLÁUDIO GONÇALVES ALVES, com média final 9,68; e Primeiro-Tenente FÁBIO LUÍS MOREIRA JACOBUCCI BAMBACE, com média final 9,67. III – PRÊMIO “VITAL DE OLIVEIRA” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Hidrografia, desde que em nenhuma delas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo Primeiro-Tenente MÁRCIO MORAIS DE LIMA, com média final 9,90. IV – PRÊMIO “ALMIRANTE PAULO MOREIRA” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas na área de Geofísica, desde que em nenhuma delas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo Primeiro-Tenente MÁRCIO MORAIS DE LIMA, com média final 9,95. DH3 – LXV 29 Trabalhos realizados em 2008 b) CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO (C-Ap-HN) Militares que concluíram o 36° Curso de Aperfeiçoamento em Hidrografia e Navegação – Turma 2008: 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 3ºSG-HN 96.0091.87 96.0218.29 96.0361.25 97.0182.87 97.1068.95 96.1141.85 97.0136.92 95.0957.56 97.0187.75 97.1142.01 96.1166.68 97.1037.64 97.0202.90 JOACI DA SILVA VIEIRA; OSVALDO CAMPOS GUEDES; DAVI SANTA BRIGIDA DOS SANTOS; EDSON ROGÉRIO ROSA RIBEIRO DOS SANTOS; CHARLES AHNERT NUNES; CELIJAILSON TAVARES SANTANA; CARLOS HENRIQUE COSTA DE ALMEIDA; CELSO ROBERTO DE ANDRADE; HENRIQUE CÁSSIO MACEDO CARVALHO; ERIVAN VARELA DO NASCIMENTO; PAULO MENEZES PIRES COSTA; CÉLIO DOUGLAS PINTO MOREIRA; e RÔMULO CARVALHO DO AMARAL. 1° Colocado: 3ºSG-HN JOACI DA SILVA VIEIRA, com média final 9,84. PRÊMIOS ESCOLARES: I – PRÊMIO “ESTUDO E APLICAÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Ensino da Marinha. Destina-se a premiar o aluno que mais se destacou no curso, concluindo-o em primeiro lugar. Consiste em uma medalha de prata. Conquistado pelo 3ºSG-HN JOACI DA SILVA VIEIRA, com média final 9,84. II – PRÊMIO “DISTINÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno com desempenho excepcional no curso, sendo assim considerado aquele que obtiver média final igual ou superior a 9,5. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelos seguintes alunos: 3ºSG-HN JOACI DA SILVA VIEIRA, com média final 9,84; 3ºSG-HN OSVALDO CAMPOS GUEDES, com média final 9,80; e 3ºSG-HN DAVI SANTA BRIGIDA DOS SANTOS, com média final 9,77. III – PRÊMIO “BARÃO DE TEFFÉ” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Hidrografia, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. 30 DH3 – LXV Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo 3ºSG-HN JOACI DA SILVA VIEIRA, com média final 9,70. IV – PRÊMIO “RADLER DE AQUINO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Navegação, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo 3ºSG-HN JOACI DA SILVA VIEIRA, com média final 9,90. V – PRÊMIO “COMANDANTE FERRAZ” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Geofísica, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo 3ºSG-HN OSVALDO CAMPOS GUEDES, com média final 9,80. c) CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE FAROLEIRO (C-Ap-FR) Militares que concluíram o 22° Curso de Aperfeiçoamento de Faroleiro – Turma 2008: 3ºSG-FR 3ºSG-FR 3ºSG-FR 3ºSG-FR 3ºSG-FR 3ºSG-FR 97.0276.18 96.0975.66 97.0227.46 96.0284.67 96.0911.42 97.0265.65 OSVALDO FERREIRA DE SOUZA JÚNIOR; ROQUE ANTÔNIO PAIVA SAMPAIO; JURANDI LOPES DOS SANTOS JÚNIOR; JOCIVAN FRANÇA LAU; JOÃO MÁRCIO FELIZ; e EDILTON DE JESUS DA HORA. 1° Colocado: 3ºSG-FR OSVALDO FERREIRA DE SOUZA JÚNIOR, com média final 9,88. PRÊMIOS ESCOLARES: I – PRÊMIO “ESTUDO E APLICAÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Ensino da Marinha. Destina-se a premiar o aluno que mais se destacou no curso, concluindo-o em primeiro lugar. DH3 – LXV 31 Trabalhos realizados em 2008 Consiste em uma medalha de prata. Conquistado pelo 3ºSG-FR OSVALDO FERREIRA DE SOUZA JÚNIOR, com média final 9,88. II – PRÊMIO “DISTINÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno com desempenho excepcional no curso, sendo assim considerado aquele que obtiver média final igual ou superior a 9,5. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelos seguintes alunos: 3ºSG-FR OSVALDO FERREIRA DE SOUZA JÚNIOR, com média final 9,89; e 3ºSG-FR ROQUE ANTÔNIO PAIVA SAMPAIO, com média final 9,53. III – PRÊMIO “ALMIRANTE MORAES REGO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Equipamentos de Sinalização Náutica, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo 3ºSG-FR OSVALDO FERREIRA DE SOUZA JÚNIOR, com média final 9,80. IV – PRÊMIO “FAROLEIRO ARÊAS” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Navegação, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo 3ºSG-FR OSVALDO FERREIRA DE SOUZA JÚNIOR, com média final 10. V – PRÊMIO “FAROLEIRO NASCIMENTO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Sinalização Náutica, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo 3ºSG-FR OSVALDO FERREIRA DE SOUZA JÚNIOR, com média final 10. 32 DH3 – LXV d) CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO (C-Espc-HN) Militares que concluíram o 47° Curso de Especialização em Hidrografia e Navegação – Turma 2008: MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN MN 04.0226.53 86.7838.31 04.0174.55 04.0172.42 04.0092.58 04.0143.59 03.0092.20 04.0083.32 04.0096.31 04.0085.96 04.0134.41 04.0157.97 02.1434.61 04.0113.17 86.7164.76 04.0229.80 04.0182.14 04.0115.11 04.0236.50 UALACE CAVALCANTE DA CRUZ; FABIANO ARRUDA DOS SANTOS; LUIS EUCLIDES SANTIAGO DA SILVA; KELVER OLIVEIRA DA CUNHA; HUDSON NEY MALTEZ DE SOUZA; RAFAEL DE ANDRADE SILVA; WELLINGTON ALMEIDA LIMA; ANTONIO CESAR ROQUE DA SILVA JUNIOR; LEANDRO SANTOS GUALBERTO; PATRYCK GOMES DOS SANTOS FREITAS; JOÃO CARLOS DA SILVA GONÇALVES; BRUNO DA SILVA OLIVEIRA; WANDERSON RODRIGO DA SILVA MENDONÇA; BRUNO OLIVEIRA FERREIRA; ALEX SANDRO VIEIRA GIVIGI; JOEL DE LIMA SILVA; ROBERTO CARLOS SILVA DE SALLES FILHO; SIDNEI SARDI DOS SANTOS; e ORLANDO DIÊGO MAUÉS MAIA. 1° Colocado: MN UALACE CAVALCANTE DA CRUZ, com média final 9,64. PRÊMIOS ESCOLARES: I – PRÊMIO “INSTRUÇÃO E APLICAÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Ensino da Marinha. Destina-se a premiar o aluno que mais se destacou no curso, concluindo-o em primeiro lugar. Consiste em uma medalha de prata. Conquistado pelo MN UALACE CAVALCANTE DA CRUZ, com média final 9,64. II – PRÊMIO “DISTINÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno com desempenho excepcional no curso, sendo assim considerado aquele que obtiver média final igual ou superior a 9,5. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelos seguintes alunos: MN UALACE CAVALCANTE DA CRUZ, com média final 9,64; e MN FABIANO ARRUDA DOS SANTOS, com média final 9,52. DH3 – LXV 33 Trabalhos realizados em 2008 III – PRÊMIO “BARÃO DE JACEGUAY” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Hidrografia, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo MN FABIANO ARRUDA DOS SANTOS, com média final 9,90. IV – PRÊMIO “OCEANOGRÁFICO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Geofísica, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo MN UALACE CAVALCANTE DA CRUZ, com média final de 9,23. V – PRÊMIO “NAVEGADOR” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Navegação, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo MN UALACE CAVALCANTE DA CRUZ, com média final de 9,46. e) CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE FAROLEIRO (C-Espc-FR) Militares que concluíram o 23° Curso de Especialização de Faroleiro – Turma 2008: MN MN MN MN MN MN MN MN MN 34 04.0180.36 04.0249.58 04.0248.51 06.7756.67 85.8950.41 04.0228.58 04.0123.30 04.0252.29 04.0167.93 RAFAEL SÁ FREIRE DIAS; ELTON SANTOS DE ARAÚJO; EDSON BATISTA RAMOS; MARCELO MACHADO GEDIÃO; THIAGO FRANCISCATTE BISPO; WELTON SOUSA MARTINS; CESAR AUGUSTO BEZERRA ESTEVES; FRANCISCO DANILO SOUSA CASTRO; GLEIDSON ANTONIO GOMES; DH3 – LXV MN MN MN 04.0173.31 04.0096.14 04.0229.71 LEANDRO GUIMARÃES VIDAL; RODRIGO DO NASCIMENTO SOARES; e JOÃO FRANCISCO NASCIMENTO ARAUJO. 1° Colocado: MN RAFAEL SÁ FREIRE DIAS, com média final 9,79. PRÊMIOS ESCOLARES: I – PRÊMIO “INSTRUÇÃO E APLICAÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Ensino da Marinha. Destina-se a premiar o aluno que mais se destacou no curso, concluindo-o em primeiro lugar. Consiste em uma medalha de prata. Conquistado pelo MN 04.0180.36 RAFAEL SÁ FREIRE DIAS, com média final de 9,79. II – PRÊMIO “DISTINÇÃO” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno com desempenho excepcional no curso, sendo assim considerado aquele que obtiver média final igual ou superior a 9,5. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelos seguintes alunos: MN RAFAEL SÁ FREIRE DIAS, com média final 9,79; MN ELTON SANTOS DE ARAÚJO, com média final 9,66; MN EDSON BATISTA RAMOS, com média final 9,60; e MN MARCELO MACHADO GEDIÃO, com média final 9,50. III – PRÊMIO “ALMIRANTE ALVES CÂMARA” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Equipamentos de Sinalização Náutica, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo MN THIAGO FRANCISCATTE BISPO, com média final 9,67. IV – PRÊMIO “SUBOFICIAL OLIVEIRA” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Navegação, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. DH3 – LXV 35 Trabalhos realizados em 2008 Conquistado pelo MN ELTON SANTOS DE ARAÚJO, com média final 9,95. V – PRÊMIO “MESTRE JOÃO DOS SANTOS” Oferecido pela Diretoria de Hidrografia e Navegação. Destina-se a premiar o aluno que obtiver a maior média no conjunto de disciplinas da área de Sinalização Náutica, desde que em nenhuma das disciplinas tenha obtido média inferior a 8,0. Consiste em um certificado assinado pelo Exm° Sr. Diretor de Hidrografia e Navegação. Conquistado pelo MN RAFAEL SÁ FREIRE DIAS com média final 9,98. 36 DH3 – LXV NAVIO DE APOIO OCEANOGRÁFICO “ARY RONGEL” A OPERANTAR XXVI, maior Operação Antártica (OPERANTAR) já executada pelo Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), ficou marcada por números expressivos e jamais alcançados antes: 162 dias de mar, 241 horas de vôo e 189 dias de comissão, tendo se inciado no dia 7 de outubro de 2007 e encerrada no dia 13 de abril de 2008, com a atracação do navio no Píer Paulo Irineu Roxo Freitas (PIRF), localizado na DHN. A OPERANTAR XXVII foi iniciada em 07 de outubro, devendo terminar em 14 de abril de 2009. As OPERANTAR XXVI e XXVII se destacam das demais até hoje realizadas por marcarem a primeira participação do Brasil e, consequentemente, do PROANTAR, em um Ano Polar Internacional (API) (International Polar Year – IPY), tendo o primeiro API ocorrido no biênio 1882/1883, o segundo em 1932/1933, o terceiro em 1957/1958 e o quarto no período de março de 2007 a março de 2009. Na OPERANTAR XXVII, o Brasil está participando das pesquisas relacionadas ao API com 6 projetos científicos de campo e, nesse contexto, ressalta-se o Projeto Lúcia, iniciado em dezembro de 2008, cuja DH3 – LXV 37 Trabalhos realizados em 2008 principal meta é estudar a biodiversidade (de micróbios a predadores do topo da teia alimentar) em relação à complexidade do ambiente marinho da Baía do Almirantado e áreas adjacentes. No ano de 2008, o Projeto Lúcia desenvolveu suas atividades a bordo do navio no período de 1º a 7 de dezembro, alcançando ao seu 38 final resultados históricos: foram concretizadas 15 estações de coleta de amostras de sedimentos e 10 estações de coleta de água no interior da Baía do Almirantado e no Estreito de Bransfield, nas profundidades de 100, 300, 500, 700, 1.100 metros, e o material obtido pelo navio foi considerado inédito na comunidade científica nacional. DH3 – LXV NAVIO HIDROGRÁFICO “SIRIUS” Foram realizadas as seguintes comissões em apoio ao Destacamento do Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade: – POIT I/2008, de 14 a 23 de fevereiro; – POIT II/2008, de 16 a 25 de abril; e – POIT III/2008, de 10 a 20 de junho. Durante os meses de agosto e setembro, o navio esteve docado na DH3 – LXV Base Naval de Natal para reparo no sistema do hélice. Concomitantemente, equipes volantes realizaram levantamentos hidrográficos no Rio Potengi e no Canal de Acesso ao Porto de Aracajú. Ao fim do reparo, deuse início à comissão “Atualização Cartográfica III”, na Barra Norte do Rio Amazonas. O navio regressou ao Rio de Janeiro no início do mês de dezembro. 39 Trabalhos realizados em 2008 NAVIO HIDROCEANOGRÁFICO “CRUZEIRO DO SUL” Iniciou suas atividades operativas realizando, no período de 08 a 17 de dezembro de 2008, no litoral do estado de Santa Catarina, comissão em apoio ao Programa de Avaliação de Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (REMPLAC), cujo propósito é contribuir para o conhecimento do substrato marinho da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (PCJB), por meio da avaliação dos seus recursos minerais, abordando as questões ambientais, de manejo e gestão associadas a este conhecimento. O REMPLAC é vinculado ao Plano setorial para os Recursos do Mar (CIRM). A DHN, como membro do comitê executivo do programa REMPLAC, adota uma política de colaboração e apoio, buscando contribuir com iniciativas que visem desenvolver o programa. 40 Como parte do convênio Laboratório Nacional Embarcado (LNE) entre a Marinha do Brasil e o Ministério da Ciência e Tecnologia, embarcaram no navio um professor e 10 alunos do curso de Oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) para acompanhar os serviços realizados durante a comissão. Dentre as tarefas executadas, destacam-se a realização de sondagens com transdutor de baixa frequência para mapeamento de reservas de siliciclásticos nas proximidades da Ilha de Santa Catarina, a perfilagem vertical de correntes com o Acoustic Doppler Current Profiler (ADCP), análises físico-químicas de amostras de água e observações batitermográficas com lançamentos de XBT. DH3 – LXV NAVIO OCEANOGRÁFICO “ANTARES” Realizou a Operação PIRATA BR-X EXTENSÃO SW-III. Nesta comissão, o navio ficou responsável pelo recolhimento, substituição de sensores meteorológicos e oceanográficos e reposicionamento de oito boias ancoradas em profundidades superiores a 4.000 metros, ocupando posições que distam entre 260 e 1050 DH3 – LXV milhas náuticas da costa (entre 480 e 1945 km), além da coleta de dados oceanográficos e meteorológicos, na região compreendida entre Vitória-ES e o paralelo 15° N e os meridianos 030° W e 038° W. Adicionalmente, foram lançadas 6 boias de deriva, em apoio ao Programa Nacional de Boias (PNBOIA). 41 Trabalhos realizados em 2008 42 Entre os dias 15 de julho e 13 de agosto, o navio realizou a Comissão LEPLAC XIV, em que foram coletados dados batimétricos em apoio ao Programa de Levantamento da Plataforma Continental (LEPLAC), que tem por propósito determinar a área da Plataforma Continental Brasileira além da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), conforme estabelecido no artigo 76 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Entre os dias 14 de outubro e 16 de dezembro, foi realizada a Comissão Oceano Norte III, em que foram coletados dados ambientais para a produção de informações complementares para o planejamento e condução das Operações Navais e apoio às pesquisas propostas pelo projeto PIATAM-OCEANO, integrante da Rede Temática de Monitoramento Ambiental Marinho (REMAM), da PETROBRAS. Para tal, houve coleta de dados geológicos, oceanográficos, meteorológicos e de auxílio à navegação na plataforma e talude amazônico. DH3 – LXV NAVIO-FAROLEIRO “ALMIRANTE GRAÇA ARANHA” No período de 10 a 14 de dezembro de 2008, o Navio-Faroleiro “Almirante Graça Aranha” realizou a Comissão de Apoio Humanitário, a fim de prestar ajuda às vítimas da enchente que devastou vários municípios do Estado de Santa Catarina. Nesta comissão, o navio transportou 80 toneladas de diversos donativos, dentre eles: água mineral, roupas, alimentos não DH3 – LXV perecíveis e material de higiene. Tais donativos foram fornecidos pela população do Estado de São Paulo e a coordenação da faina de recolhimento do material ficou a cargo da Companhia Docas do Estado de São Paulo. O embarque e desembarque da carga ficou a cargo da Capitania dos Portos de São Paulo, Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí e deste navio. 43 Trabalhos realizados em 2008 NAVIO HIDROCEANOGRÁFICO “AMORIM DO VALLE” COMISSÃO COSTA LESTE-SUDESTE II E III – 08 a 22 de fevereiro; e – 12 a 28 de agosto. Com o intuito de coletar dados ambientais para a produção de 44 documentos cartográficos e obter informações complementares para o planejamento e a condução das Operações Navais, o navio demandou a região oceânica entre o Rio de Janeiro-RJ e Vitória-ES em dois períodos. DH3 – LXV A realização das duas Comissões visou à obtenção de dados em duas situações climatológicas distintas, quais sejam no verão e no inverno. Na primeira Comissão foram obtidos dados por meio de linha de garrafas com mensageiro e mini-CTD (“Conductivity, Temperature and Depth”) e, na última, destacou-se a primeira utilização de equipamentos CTD/ROSETTE pelo navio, utilizandose a estação de popa. DESFILE NAVAL COMISSÃO COSTA NORTE I três pernadas ao longo da Plataforma Continental compreendida entre os estados do Ceará e do Amapá. – 06 de outubro a 14 de dezembro de 2008. Em apoio ao projeto PIATAMOCEANO, foram realizadas 51 estações oceanográficas com coleta de dados geofísicos, geológicos, biológicos e batimétricos, distribuídas por DH3 – LXV – 02 a 07 de setembro de 2008. O navio compôs o Grupo-Tarefa 709.1, que realizou Desfile Naval pelo litoral do Rio de Janeiro. No dia da Independência, o navio compôs o Grupo-Tarefa 709.2 e participou de novo Desfile Naval com o mesmo percurso do dia 3, este em homenagem ao Chefe do Estado-Maior da Armada. Foi realizada sondagem com perfilador de subfundo ao longo da derrota em conjunto com pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Pará (UFPA). 45 NAVIO HIDROCEANOGRÁFICO “TAURUS” 46 De 12 a 16 de fevereiro de 2008, o navio realizou levantamento hidroceanográfico, com ecobatímetro monofeixe, em áreas localizadas nas proximidades dos píeres do CADIM e de Itacuruçá. No período compreendido entre 16 de abril e 09 de maio de 2008, realizou um levantamento hidroceanográfico utilizando o ecobatímetro monofeixe “EM 1002” no Canal da Galheta e em parte do canal de acesso ao porto de Paranaguá. Na comissão SISPRES II, no período compreendido entre os dias 13 de maio e 13 de junho de 2008, realizou sondagem multifeixe, com aquisição de backscallering, em uma área compreendida entre os municípios de Saquarema e Arraial do Cabo. DH3 – LXV DETALHAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO TALUDE NA REGIÃO NORTE DA BACIA DE PELOTAS A PARTIR DE DADOS BATIMÉTRICOS MULTIFEIXE1 Izabel King Jeck2 RESUMO O detalhamento morfológico do talude na região norte da Bacia de Pelotas foi obtido pela utilização de batimetria multifeixe, que possibilitou a identificação de feições menores de relevo de modo contínuo. Em águas mais rasas foram identificadas escarpas e cristas com pequenos canais associados, onde foram iniciados os processos de remoção de sedimentos que, ao serem removidos, esculpiram escarpas e desenvolveram canais. Em maiores profundidades são observados dois canais de grande expressão topográfica que teriam sido os responsáveis pela canalização dos sedimentos removidos dos níveis mais rasos para águas profundas. Esta região apresenta-se como um anfiteatro regional formado por uma cicatriz de remoção, com alvéolos de deslizamento e desmoronamento associados, causando uma reentrância do talude. Palavras-chave: Geomorfologia submarina; Batimetria multifeixe; Bacia de Pelotas. ABSTRACT The detailed morphology in the North of the Pelotas Basin was obtained using multibeam data, which allowed the identification of seafloor small features. It was observed regions with scarps and faults in shallow waters. This region remains as a removal scar with related slump/slide lobes that generated a slope retreat. They individualize steps and small channels with a NW-SE direction, where the removal process was probably initiated. The sediment removal by gravitational and mass flows sculpted the scarps and channels. Two huge channels were observed in deeper waters. Those channels are associated with secondary channels and local slump/slide features and must have been the pathway to deeper water of the sediments removed from shallow waters, helping to develop the huge removal scar.Those features seem to be part of a huge region of sedimentary removal in the upper and intermediate slope, if inserted in a regional context. Keywords: Marine geomorphology; multibeam ; Pelotas basin. 1 Extraído da dissertação de mestrado apresentada pela autora em 2006 no Laboratório de Geologia Marinha (LAGEMAR) – Universidade Federal Fluminense (UFF). 2 Capitão-de-Fragata (T) – Centro de Hidrografia da Marinha. 48 DH3 – LXV 1 INTRODUÇÃO No ano de 1998, o Navio de Pesquisa MV Knorr – cruzeiro 159-5, do Instituto Oceanográfico Woods Hole (WHOI), realizou levantamento na região sul do embaiamento de São Paulo a fim de estudar a paleoceanografia da região. Para isto, foram adquiridos, entre outros, dados de batimetria multifeixe e perfis de 3,5kHz. A partir da utilização destes dados multifeixe foi possível um maior detalhamento morfológico do talude da região norte da bacia de Pelotas. A fim de possibilitar a contextualização regional dos dados multifeixe, os mesmos foram integrados a dados de batimetria convencional monofeixe. A figura 1 apresenta a região de estudo, associada ao mapa fisiográfico (modificado de Zembruscki, 1979) nas províncias morfológicas de plataforma externa, talude e sopé continentais. 042°W e 049°W, está contida nas províncias de plataforma e talude continentais, no setor Embaiamento de São Paulo (figura 1), descrito por Zembruscki (1979), que se estende desde o alto de Cabo Frio até a plataforma de Florianópolis. A plataforma continental apresenta um relevo suave, com gradiente em torno de 1:1000, largura média de 130 km e máxima de 220 km. A linha da quebra da plataforma ocorre, em geral, entre as isóbatas de 100 e 300 metros, refletindo nestas profundidades, o traçado da linha de costa. O talude continental tem direção geral NE-SW, tendendo a acompanhar a linha de costa. Contudo, muda de direção entre as latitudes de 27ºS e 28ºS, e 29ºS e 30ºS, ficando quase N-S. Distinguiram-se duas seções de talude: a superior (mais estreita e íngreme) com declividade em torno de 3º; e a inferior, mais larga e menos íngreme, com declividade oscilando entre 0,8º e 2º. A morfologia do talude nesta região é descrita por Lima (2004) como muito irregular, em especial no talude superior. Mello et al. (1992) identificaram a presença de zonas de instabilidade, relacionadas a processos de deslizamento e escorregamento nesta região. 3 METODOLOGIA E DADOS UTILIZADOS Figura 1 – Mapa fisiográfico da região (modificado de Zembruscki, 1979) com a área de estudo demarcada pelo retângulo preto duplo. 2 GEOLOGIA DA ÁREA A área em estudo, localizada entre os paralelos 24°S e 31°S e meridianos DH3 – LXV O detalhamento de feições topográficas relevantes na área de estudo foi realizado com base em dados de batimetria multifeixe e perfilagem subsuperficial, que proporcionaram o detalhamento morfológico e considerações sobre os processos geológicos responsáveis pela modelagem do relevo. Dados de sondagem monofeixe proporcionaram uma caracterização morfológica regional, tendo sido utilizados dados batimétricos adquiridos pelo Projeto LEPLAC comissões IV e XI, e dados disponíveis no GEODAS (GEOphysical DAta System – NGDC/NOAA). 49 ARTIGOS 4 RESULTADOS O levantamento batimétrico multifeixe e a perfilagem subsuperficial de 3,5 kHz permitiram detalhar importantes feições geomorfológicas na região estudada. Estas novas informações contribuem para o conhecimento dos processos responsáveis pela modelagem do relevo do talude superior, em particular o transporte por fluxo gravitacional de massa e a redistribuição de sedimentos por correntes de fundo nesta parte da bacia do Brasil. As feições observadas distribuem-se na área apresentada na figura 2. Observam-se dois conjuntos de feições (figuras 2 A e B), relacionados à remoção sedimentar por meio de desmoronamentos e deslizamentos. O primeiro conjunto de feições (figuras 2A e 3) é localizado na porção mais rasa do talude superior, entre as profundidades de 540 a 750 metros, onde é observada uma topografia irregular do fundo, característica de remoção de sedimentos, com diversos altos e depressões, em uma área de aproximadamente 260 km2. São identificados três patamares em profundidades em torno de 640, 700 e 750 metros. Os patamares são separados por cristas e escarpas de até 100 metros de relevo relativo (perfis – figura 3) em cujas bases são desenvolvidos canais, com direção aproximada NW-SE, e profundidades em torno de 50 metros abaixo do assoalho oceânico. Além dos canais, outras depressões são observadas, com profundidades de 20 a 50 metros abaixo do fundo, caracterizando a grande irregularidade batimétrica desta região. Figura 2 – Localização das principais feições observadas na batimetria multifeixe apresentando no quadro esquerdo uma ampliação das regiões de feições de remoção (A) e de transporte de massa e remoção (B) no talude continental. 50 DH3 – LXV Figura 3 – Batimetria em planta (quadro superior) e em perfil (quadros inferiores) na região das estruturas de deslizamento. Os perfis A e B estão indicados no mapa superior pelas linhas pretas. A seta ao lado direito indica o exagero vertical. A orientação das escarpas e dos canais subordinada mostra uma coalescência em direção a SE, o que deve indicar uma direção preferencial de fluxo NW-SE. O segundo conjunto de feições (figuras 2B e 4) é localizado no talude médio, entre profundidades de 900 a 2000 metros, e é composto por dois canais perpendiculares à direção geral das isóbatas, aqui denominados A e B (figura 4, canais esquerdo e direito respectivamente), não descritos na literatura consultada. DH3 – LXV 51 ARTIGOS Figura 4 – Batimetria em planta na região dos canais A e B. Os perfis definidos em preto são descritos a seguir. O canal A é observado em profundidades que variam de 990 a 1310 metros, com comprimento de 28 km, tendo direção NW-SE na parte mais rasa e W-E na parte mais profunda. A largura é variável, em média 1800 metros, e o relevo relativo varia em torno de 250 metros de profundidade. O perfil da figura 5 apresenta uma seção perpendicular aos canais, onde pode ser observado, no perfil C-C´, a existência de um canal secundário, na margem NE do principal, com variação de profundidade em torno de 25 metros. A partir do registro de 3,5 kHz do canal A foi possível observar a inexistência de sedimentação no seu fundo e a presença de estratos truncados nas suas bordas, indicativos de processos erosionais. Figura 5 – Perfil batimétrico da seção C-C´ do canal A, indicado na figura 4 pela linha preta. A seta ao lado direito indica o exagero vertical. 52 DH3 – LXV O canal B (figura 4) encontra-se em profundidades de 1600 a 1980 metros, apresentando duas seções, norte e sul, com comprimentos de 20 km e 22 km respectivamente. Entre as duas seções o canal é interrompido. A porção norte tem direção aproximada NW-SE, largura média de 2500 metros e relevo relativo de 50 a 150 metros. Apresenta localmente um canal secundário na sua margem E, com 50 metros de variação de profundidade (figura 6 – perfil E-E´). Figura 6 – Perfis batimétricos das seções D-D´e E-E´ do canal B – seção norte, indicados na figura 4 pelas linhas pretas. A seta ao lado direito indica o exagero vertical. A figura 7 apresenta o registro de 3,5 kHz da seção norte do canal B, próximo ao perfil E-E´. Na sua margem direita, a leste, os refletores indicam a presença de um bloco deslizado, como indicado pela linha vermelha, com os refletores contínuos internamente. Como consequência deste deslizamento, o canal secundário foi estabelecido. Na margem esquerda, a oeste, não são observadas feições de deslizamento e os refletores desta borda apresentam-se truncados. A interrupção do canal B deve estar relacionada aos processos de desmoronamento das margens. Em função da proximidade deste bloco alóctone com a região interrompida pode-se sugerir que esta é uma porção distal da camada que colmatou o canal. DH3 – LXV O talvegue do canal apresenta preenchimento incipiente, indicando ausência de fluxo erosivo em épocas recentes. Figura 7 – Registro de 3,5 kHz (Linha 19981024/25) próximo ao perfil E-E´ da figura 4. 53 ARTIGOS A seção sul do canal B (figura 8) tem direção aproximada N-S, largura média de 2000 metros e relevo relativo iniciando em 150 metros, diminuindo conforme a profundidade circundante aumenta. É um canal assimétrico e mostra, em toda esta seção, a borda leste mais profunda. Em torno de 1980 metros, o canal perde expressão topográfica, se configurando apenas uma depressão no fundo, presente até o final do registro, a 2080 metros. Figura 8 – Perfil batimétrico da seção F-F´ do canal B – seção sul, indicado na figura 4 pelas linhas pretas. A seta ao lado direito indica o exagero vertical. A partir da análise do mapa batimétrico regional (figura 2), é possível observar que os dois conjuntos de feições aqui descritos estão inseridos no talude, em um anfiteatro regional formado por uma grande cicatriz de remoção de sedimentos, com alvéolos de deslizamento e desmoronamento associados. A expressão morfológica desta remoção é observada em uma área de aproximadamente 32400 km2, sendo evidenciada pelo recuo da quebra de plataforma em mais de 100 km, e consequente recuo do talude, que neste local apresenta inclinações superiores a 4º. Neste contexto, o primeiro conjunto de feições (figuras 2-A e 3), com escarpas e canais menores associados, individualizando patamares, seria o local onde os processos de remoção foram iniciados. Os sedimentos, ao serem removidos por um fluxo NW-SE, esculpiram escarpas e desenvolveram canais que serviram de canalizadores nos processos gravitacionais. Em prosseguimento ao processo de remoção de sedimentos, em profundidades maiores, é observado o segundo conjunto de feições (figuras 2B e 4), 54 composto pelos dois canais de grande expressão topográfica. Esses canais devem ter atuado como principais canalizadores do fluxo gravitacional em época de nível de mar rebaixado; além disso, a presença de canais secundários e de feições de deslizamento e desmoronamento evidencia a grande dinâmica sedimentar atuante, o que corrobora a hipótese de que um grande volume de sedimentos foi retirado do talude superior. Conjuntos de feições semelhantes aos conjuntos aqui descritos, com estruturas relacionadas a deslizamentos e movimentos de massa no talude continental foram observados por Almagor e Wiseman (1980) na margem de Israel (figura 9) onde pode ser observada a topografia irregular, com vales esculpidos por processos de deslizamento e transporte de massa, e escarpas remanescentes do fundo não removido; e por Embley (1982) na margem noroeste africana (figura 10), onde podem ser observados o recuo da quebra de plataforma, a presença de escarpas, canais primários e secundários, e os altos topográficos remanescentes dentro da região de remoção. DH3 – LXV Figura 9 – Cicatrizes de deslizamento e debris no talude continental de Israel. Exagero vertical de 46x. (Almagor e Wiseman, 1980). Os resultados obtidos neste trabalho, quando comparados com trabalhos pretéritos, com aspecto regional, corroboram de modo geral as interpretações propostas. Os Complexos de Deslizamentos descritos por Mello et al. (1992), e as zonas de escarpas e falhas com canais associados, descritas por Lima (2004), estão inseridas dentro da grande cicatriz de remoção de sedimentos no talude superior e médio aqui proposta. 5 CONCLUSÃO A recuperação dos dados multifeixe coletados pelo MV Knorr no ano de 1998 na região norte da bacia de Pelotas, possibilitou agregar importantes informações sobre feições e processos de morfogênese e sedimentação no talude continental. A partir da análise e processamento destes dados, integrados a registros de 3,5 kHz e a dados monofeixe, as seguintes observações e conclusões foram obtidas: No limite norte da bacia de Pelotas foram observadas feições indicativas de intensa remoção de sedimentos por DH3 – LXV Figura 10 – Bloco diagrama de uma cicatriz de deslizamento na margem atlântica africana. (Embley,1980). meio de correntes de fluxos gravitacionais e transporte de massa. Esses episódios erosivos produziram na margem uma grande cicatriz de remoção de sedimentos, causando uma reentrância do talude. Nesta região foram descritas as seguintes feições: Em menores profundidades foram identificadas escarpas e cristas com até 100 metros de relevo, individualizando patamares, e pequenos canais associados, de direção NW-SE, onde os processos 55 ARTIGOS ARTIGOS de remoção teriam sido iniciados. Os sedimentos, ao serem removidos por um fluxo NW-SE, esculpiram as escarpas e desenvolveram canais, por onde foram conduzidas correntes de fluxos gravitacionais e transporte de massa. Em maiores profundidades são observados dois canais de grande expressão topográfica, denominados canais A e B, com canais secundários e feições de deslizamento e desmoronamento associadas. Em prosseguimento ao processo de remoção de sedimentos, foram os responsáveis pela canalização dos sedimentos removidos dos níveis mais rasos para águas profundas, em época de nível de mar rebaixado, contribuindo para a modelagem da grande cicatriz de remoção. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALMAGOR, G.; WISEMAN, G. Submarine slumping and mass moviments on the continental slope of Israel. In: SAVOX, S. e NIEUWENHUIS, J. K. (Ed.) Marine Slides and Other Mass Moviments: NATO workshop on Marine slides and other mass moviments. Nova Iorque: Plenum Press, 1980. p. 95-128. EMBLEY, R.W.Anatomy of some Atlantic margin sediment slides and some comments on ages and mechanisms. In: SAVOX, S. e NIEUWENHUIS, J. K. (Ed.). Marine Slides and Other Mass Moviments: NATO workshop on Marine slides and other mass moviments. Nova Iorque: Plenum Press, 1982. p. 189-213. LIMA, L. M. Avaliação dos processos sedimentares submarinos ao sul da Bacia de Santos e norte da Bacia de Pelotas. 2004. [1 v.]. Dissertação (Mestrado em Geologia e Geofísica Marinha) – Laboratório de Geologia Marinha, Universidade Federal Fluminense, Niterói. MELLO, G. A. et al. Southern Brazil Basin: sedimentary process and features and implication for Continental-Rise evolution. In: POANG, C.W.; GRACIANSKY, P.C. de (Ed.). Geological Evolution of Atlantic Continental Rises. New York: Van Nostrand Reinhold, 1992. p. 189-213. ZEMBRUSCKI, S. G. Geomorfologia da Margem Continental Sul Brasileira e das Bacias Oceânicas Adjacentes In: CHAVES, H. A. F (Ed.). Geomorfologia da Margem Continental Brasileira e das áreas adjacentes. Rio de Janeiro: PETROBRAS/CENPES/DINTEP, 1979. n. 7, p. 129-177. (Série Projeto REMAC). 56 DH3 – LXV ESTUDO DE SISTEMAS DE COORDENADAS USADOS EM TOPOGRAFIA COSTEIRA PARA ÁREAS DE GRANDE DEFORMAÇÃO DO SISTEMA UTM Antonio Vieira Martins1 RESUMO ABSTRACT Neste artigo são estudados alguns sistemas de coordenadas usados em Topografia Costeira com foco no cálculo de poligonal topográfica com o propósito de subsidiar a elaboração de instruções técnicas que atendam às especificações da Publicação Especial S-44 da OHI. É lembrado que, para respeitar o nível de 95% de confiança para a tolerância de 1/10.000 é preciso, na prática, duplicar o erro de fechamento calculado da maneira como as atuais especificações da DHN preconizam. A razão entre esse erro duplicado e o comprimento da poligonal deve ser no máximo, 1/10.000. Fazse uma breve exposição histórica do sistema UTM evidenciando que foi criado para o atendimento do mapeamento topográfico, na escala 1:50 000 e menores, numa época em que os recursos tecnológicos não permitiam as precisões alcançadas atualmente. Também se avalia a magnitude dos erros sistemáticos da projeção UTM e dos erros acidentais de medição da poligonal para se definir em que circunstâncias é menos aconselhável a utilização do sistema de projeção UTM. Em adição, mostra-se que a adoção do sistema LTM é uma alternativa para não se considerar as deformações do sistema UTM nos cálculos topográficos, principalmente se o LH estiver contido em apenas um fuso do sistema LTM. Conclui-se o artigo com várias considerações em relação à utilização dos sistemas de coordenadas estudados. This paper studied some systems of coordinates used in Coastal Topography focused on calculation of topographic polygonal with the purpose of subsidizing the development of technical instructions that meet the requirements of Special Publication S-44 of ohi. It is remembered that to comply with the 95% level of confidence for the tolerance of 1/10.000 need in practice to duplicate the error of closure calculated the way the current specifications of DHN advocate. The ratio between this error and the length of the polygonal duplicate should be up to 1/10.000. It is a brief history of the system showing that UTM was created for the care of topographical mapping at 1:50000 scale and smaller, at a time when the technological resources did not allow the points made today. It also assesses the magnitude of systematic errors of the UTM projection and accidental errors of measurement of the polygon to define under what circumstances is less advisable to use the UTM projection system. In addition, it is shown that the adoption of the LTM is an alternative not to consider the deformations of the system in UTM topographical calculations, especially if the LH is contained in only one zone of the LTM. It concludes the article with several considerations in the use of coordinate systems studied. Palavras–chave: Especificação do levantamento hidrográfico; teoria dos erros; sistema LTM. Keywords: Specification of hydrographic survey; theory of errors; LTM system. 1 Prof. Geodésia – MSc Geomática. DH3 – LXV 57 ARTIGOS 1 INTRODUÇÃO Atualmente, a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) segue os padrões de precisão estabelecidos pela Organização Hidrográfica Intenacional (OHI) com tolerâncias menos complacentes do que aquelas usadas no passado. O erro gráfico não é mais um parâmetro para a seleção do sistema de projeção e a utilização dos Sistemas de Informação Geográficas (SIG) aponta para a generalização cartográfica, ou seja, a escala do levantamento hidrográfico pode ser considerada como 1:1. Desta forma poderá ser usado, futuramente, na construção da carta náutica em qualquer escala. A publicação Especial S-44 da OHI determina que os pontos de controle primário sejam estabelecidos por meio de processos geodésicos com um erro relativo de 1: 100.000 ou 10 ppm (partes por milhão) da distância entre o ponto a ser determinado e o ponto tomado para referência. Os pontos materializados sobre a superfície do terreno devem ser selecionados criteriosamente de modo a servirem de controle da Topografia e da Hidrografia. Além da precisão relativa, a especificação da OHI dispõe sobre o erro absoluto quando estabelece que a incerteza da posição de um ponto primário não pode exceder 10 cm a um nível de confiança de 95% com respeito ao sistema WGS – 84. Normalmente, a determinação dos pontos de controle primário é feita por GPS e os de controle secundário por GPS e/ou por topografia clássica onde os ângulos e as distâncias são medidos com Estação Total. A tolerância para o erro relativo da poligonal topográfica, também para o nível de confiança de 95%, é 1 metro em 10.000 metros, o que obriga, em alguns casos, ter de se considerar as deformações do sistema UTM nos cálculos topográficos para se adequar às especificações da OHI. Para compreender por que não se corrigiam as deformações do sistema 58 UTM nos cálculos topográficos é preciso conhecer alguns aspectos históricos. Com este propósito introduz-se neste artigo um breve histórico sobre sua implantação no Brasil. 2 SISTEMAS DE COORDENADAS NO LEVANTAMENTO HIDROGRÁFICO A seguir serão comentados os sistemas de coordenadas Mercator e uma variante dele conhecida como Noção do Plano; UTM e uma particularidade dele que pode ser denominada UTM_ Modificado; o Cartesiano, que , na prática, pode ser considerado como isento de projeção cartográfica o qual é conhecido, também, como Plano Topográfico e finalmente o Local Transverse Mercator– LTM que, tal como o UTM, fundamentase na projeção conforme de Gauss. São apresentadas algumas de suas características relevantes para o estudo em questão. 2.1 A projeção de Mercator e a Noção do Plano Segundo Bakker (1975), “a DHN utiliza a noção do plano para a construção de suas cartas e folhas de bordo em escala natural igual ou superior a 1: 25.000.” Esta concepção de plano se refere ao fato de se desprezar a variação da latitude crescida da projeção de Mercator no trecho abrangido pela carta. Chama-se latitude crescida à distância entre o equador terrestre e um paralelo. O limite da aplicação da noção do plano é a escala 1: 10.000. No plano é traçada uma rede geográfica para facilitar a plotagem dos pontos por suas coordenadas geográficas. A escala natural é aquela ao longo do paralelo médio da carta, representado sem deformação. quando o plano não se destinar, especificamente, à cartografia náutica, isto é, à navegação, é usual, no traçado do seu quadriculado representar-se uma rede de retas paralelas aos eixos coordenados X e Y, portanto, perpendiculares DH3 – LXV entre si, igualmente espaçadas umas das outras, em vez da rede geográfica (meridianos e paralelos). Neste caso, os pontos a serem plotados serão determinados por suas coordenadas retangulares cartesianas x e y, obtidas diretamente dos processos topográficos. (BAKKER,1975, 112p.). Destaca-se que, na noção do plano e na projeção de Mercator, as dificuldades para empregá-los em cálculos topográficos devem-se a alguns fatores comentados a seguir. As escalas dos eixos horizontal e vertical são diferentes, o que impede de considerá-lo como um plano cartesiano, na concepção matemática do termo. A graduação de cada um dos eixos é proporcional ao comprimento dos arcos de um grau de meridiano e de paralelo, na latitude média e, estes valores, são diferentes. Neste caso, os cálculos topográficos devem ser feitos sobre a superfície do elipsóide e depois, transformados para o plano de projeção. Além disso, a direção da menor distância medida ou calculada sobre o elipsóide não é representada na projeção de Mercator como uma linha reta porque ela é originada por uma seção normal; portanto, produzida pelo plano normal ao elipsóide o qual é formado por duas retas, a vertical do lugar, correspondente à reta Zênite-Nadir do teodolito nivelado, e o eixo de colimação da luneta. As linhas retas na projeção de Mercator são representações das loxodrômicas enquanto que a seção normal pode ser considerada uma ortodrômica. Na projeção de Mercator a ortodrômica é representada por uma curva com a concavidade voltada para o equador. Para usar a projeção de Mercator nos cálculos topográficos ou geodésicos seria necessário transformar o azimute geodésico (ortodrômico) em azimute loxodrômico. Além dessa redução angular seria preciso considerar o coeficiente de deformação linear da projeção, para reduzir as distâncias elipsóidicas ao plano de Mercator ou à sua variante noção do plano. DH3 – LXV 2.2 Os Sistemas UTM e UTM_Modificado 2.2.1 Breve Histórico do Sistema UTM O sistema UTM, cuja sigla se origina do inglês Universal Transverse Mercator, tem sua origem no levantamento do território de Hannover, Alemanha, realizado por Gauss durante a década de 1818 a 1828. Em 1822, Gauss criou um método para a representação de uma superfície curva sobre outra de maneira que ficassem semelhantes nas suas pequenas partes. Atualmente esse método é conhecido como projeção conforme de Gauss. Desde aquela época ele sofreu algumas alterações para adaptar-se à realidade dos países no que diz respeito às suas dimensões territoriais e aos recursos tecnológicos usados no campo e no gabinete. Em 1912, o geodesista alemão Krüger aplicou a projeção de Gauss em sistemas parciais de coordenadas (fusos), ficando, a partir daí, conhecido como projeção Gauss-Krüger. Cada fuso pode representar a área do elipsóide ampliada ou ter uma zona de redução, e duas de ampliação. O meridiano central é um eixo de simetria e a zona de redução é a mais próxima dele. Neste caso, diz-se que há uma redução de escala, que é quantificada pelo coeficiente de redução de escala k0 menor do que a unidade. É usual fazer uma abstração geométrica de um cilindro seccionando o elipsóide para produzir essas zonas de redução e de ampliação de escala, embora a projeção de Gauss não possa ser realizada com auxílio de recursos geométricos. Nessa concepção geométrica, o valor de k0 = 1, corresponde ao caso do cilindro tangente ao elipsóide ao longo do meridiano central do fuso. Após a primeira guerra mundial, por exigências militares, as cartas topográficas passam a utilizar as projeções conformes e a de Gauss é uma delas. No Brasil, em 1932, segundo Chagas (1959), o Serviço Geográfico do Exército (SGE) adotou para amplitude do fuso o valor 3º (1,5º para cada lado do meridiano central). Este valor acarretava uma grande quantidade de sistemas parciais de coordenadas devido 59 ARTIGOS à dimensão leste-oeste do Brasil, consequentemente o aumento das dificuldades de ordem prática, nos cálculos geodésicos e na impressão das folhas de cartas, nas interseções dos fusos. A partir de 1943, o SGE passou a adotar fusos de 6º (3º para cada lado) segundo o sistema Tardi. Este sistema foi sugerido pelo Comandante Tardi, hidrógrafo da marinha de guerra francesa e ficou conhecido como GaussTardi, que, entre outras características, usa a projeção de Gauss aplicada a fusos de 6º. Para longitude dos meridianos centrais dos fusos adota os múltiplos de 3, ímpares. Para origem do sistema de coordenadas, tal como os anteriores, adota o cruzamento do meridiano central com o equador mas, com a imposição das constantes 5000 km para o equador e 500 km para o meridiano central. No sistema Gauss-Tardi o coeficiente de redução de escala k0 tem o valor de 0,999 333 3333..., significando uma deformação de 1 metro em 1500 metros medidos sobre o elipsóide ao longo do meridiano central do fuso. Na abstração do cilindro tangente e fusos de 6º, o meridiano central é representado sem deformação e nos extremos do fuso a deformação é, praticamente, 1 metro em 1000 metros. Este é, em suma, como já se disse, o sistema Gauss-Tardi. Entretanto, o SGE não o seguiu na sua plenitude: para longitude dos meridianos centrais dos fusos adotou os valores pares múltiplos de 3º e, assim, os extremos de cada fuso coincidiam com os limites da carta internacional na escala 1: 1 000 000 (carta ao milionésimo). Finalmente, em 1955 o SGE, o IBGE e a DHN aceitam a recomendação da União Geodésica e Geofísica Internacional (UGGI), adotam o sistema UTM, com k0 = 0,9996 e as constantes 10 000 km para o equador e, tal como no de Gauss-Tardi, 500 km para o meridiano central. O coeficiente de redução de escala 0,9996 sobre o MC corresponde a uma deformação de 1metro em 2500 metros, permanecendo, 2 60 no extremo do fuso, a deformação de 1 metro em 1000 metros. A justificativa para a aceitação destas deformações causadas pelo sistema UTM foi baseada nas precisões dos instrumentos topográficos usados nos levantamentos e na escala das cartas topográficas de valor 1: 50.000 e menores. Naquela época, a tolerância usual no cadastro rural era 1: 1000, ou seja, 1 metro em 1000 metros. Com respeito ao cadastro urbano, que exigia tolerância bem menor, Abreu (1943) acrescenta que há necessidade de suas plantas serem enquadradas no sistema cartográfico geral do país2 pois, ele abrange áreas reduzidas e os dados levantados são catalogados em fichas e em plantas em escala grande (1: 2000 e maiores). Neste tipo de levantamento a superfície topográfica é representada no plano horizontal de altitude média do terreno, tendo uma concepção cartesiana para seu sistema de coordenadas. Portanto, usa-se o Plano Topográfico e a graduação é a mesma nos dois eixos de coordenadas X,Y. Sintetizam-se, a seguir, as premissas que nortearam o uso do sistema UTM tal como o conhecemos hoje: a) a deformação causada pela amplitude do fuso e pelo fator de redução de escala k0 devem ser compatíveis com as precisões do instrumental topográfico utilizado no levantamento e com a escala da carta ou planta; b) a finalidade do levantamento topográfico; e c) a extensão da área a levantar e a necessidade de enquadramento das cartas ou plantas em um sistema cartográfico geral. 2.2.2 O Sistema UTM na DHN No que diz respeito ao sistema UTM da projeção de Gauss, ao se examinar as Instruções Hidrográficas antigas da DHN, por exemplo, a DHN-L10, nas páginas L10-I-12 e 13 percebe-se que o Em setembro de 1998, a ABNT normatizou esta matéria através da NBR 14166. Nesta norma, o Plano Topográfico é denominado sistema Topográfico Local. Nota do autor. DH3 – LXV enfoque da sua utilização é a “Construção da Folha UTM”, ou seja, a representação de uma série de eixos, uniformemente espaçados, desprezando-se a representação integral da rede geográfica, exceto das cruzes de acerto nos cantos da folha cuja finalidade é a sua inserção na projeção de Mercator da carta náutica. Sobre a obtenção das coordenadas da rede principal é destacado que “[...] é de toda a conveniência a utilização do sistema UTM para se evitar o laborioso transporte de coordenadas sobre o elipsóide e a posterior transformação para o plano” (DHN, 19-?, p. L10-I-11). A partir daí a antiga Instrução Hidrográfica discorre sobre a construção da folha UTM e, na página L10-I-12, exemplifica como obter as coordenadas UTM dos eixos que compõem o reticulado da carta. Na página L10-II-4 enfatiza que a base do traçado de uma folha é o seu reticulado e que a DHN adota a noção do Plano para escalas iguais ou superiores a 1:25.000. Bakker (1975) acrescenta que para escalas superiores a 1: 10.000 a DHN recomenda a utilização do sistema UTM na construção do reticulado. A notação em itálico é do autor deste artigo para destacar que o enfoque da aplicação do sistema UTM na Cartografia e na Topografia é a construção do reticulado ou a plotagem de pontos com base nesse reticulado. Portanto, verifica-se pelo exame das Instruções Técnicas antigas e pela bibliografia da DHN que no cálculo das coordenadas dos pontos de apoio principal do levantamento a recomendação do sistema UTM é explícita, mas para o apoio secundário a menção é implícita. As tolerâncias antigas permitiam que se desprezasse a deformação do sistema UTM no cálculo dos processos topográficos, mesmo nas extremidades do fuso. 2.2.3 O Sistema UTM_Modificado O sistema UTM-Modificado consiste na utilização de todos os parâmetros do sistema UTM convencional, exceto o valor da longitude do meridiano central do fuso UTM. Em vez do valor convencional DH3 – LXV é escolhido outro que acarreta a passagem da linha de secância pelo centro da área a levantar. Sendo λ a longitude do meridiano que passa pelo centro da área, a longitude do meridiano central do fuso do sistema UTM_Modificado será λ0 = λ ± 1,6°, onde o acréscimo da longitude é a distância entre o meridiano central e as linhas de secância (cerca de 180km). Na prática, pode-se adotar para λ0 um valor inteiro na dezena de minutos. Ao se fazer o levantamento nas proximidades da linha de secância pode-se desprezar as deformações da projeção nos cálculos topográficos. A amplitude da faixa do fuso onde esta premissa é verdadeira é determinada mais adiante. 2.3 O sistema Cartesiano Na década de 1960 e anteriores, as tolerâncias dos erros dos processos topográficos, em geral, eram norteadas pelo erro gráfico na escala da carta ou planta. Nas aplicações da Topografia a Terra era considerada rigorosamente plana para representar regiões relativamente pequenas, tais como portos, canais ou baías e cidades. O sistema de coordenadas utilizado era a mais pura concepção do plano cartesiano. Os processos topográficos eram controlados por pontos da rede geodésica cujas coordenadas eram calculadas no sistema UTM e as tolerâncias admitidas para os processos topográficos absorviam as deformações do sistema, mesmo em regiões do extremo do fuso onde essa deformação é da ordem de 1 metro em 1000 metros da distância elipsóidica. Atualmente, na cartografia náutica, pelos padrões de precisão estabelecidos pela OHI, a deformação causada pelo sistema UTM não pode ser desprezada, principalmente quando a área do levantamento está situada nos extremos do fuso. Por conseguinte, no cálculo dos processos topográficos, que iniciam e terminam em pontos cujas coordenadas estão nesse sistema, não se pode desprezar suas deformações. Esses cálculos são realizados no plano topográfico. 61 ARTIGOS 2.3.1 Condição para se usar o Plano Topográfico Para se utilizar o plano topográfico, na concepção cartesiana, é preciso transformar as coordenadas UTM dos pontos de controle para coordenadas topográficas, ou seja, reduzi-las ao plano topográfico. Para isso, as coordenadas do ponto extremo do lado de controle devem ser calculadas pelo transporte de coordenadas do ponto inicial usando-se o lado elipsóidico e o seu azimute elipsóidico. Se o azimute elipsóidico for o projetado, o norte do plano topográfico será o norte de quadrícula do sistema UTM, porém se for usado o azimute geodésico verdadeiro o norte será o verdadeiro. Dessa maneira, as coordenadas que controlam os processos topográficos são consideradas coordenadas topográficas. Os lados medidos com estação total devem ser reduzidos ao geóide, pois, neste caso, considera-se o plano topográfico tangente ao geóide. O eixo das abscissas, horizontal, é orientado para o leste e o das ordenadas, vertical, para o norte. 2.4 O sistema LTM da projeção de Gauss Para levantamentos hidrográficos em escalas superiores a 1:10.000 uma alternativa ao sistema UTM pode ser o sistema LTM, sigla em inglês de Local Transverse Mercator. Este sistema, tal como UTM, adota a projeção conforme de Gauss. Para referenciar os fusos do sistema LTM, cada fuso do sistema UTM poderia ser dividido em faixas de um grau de largura. Cada uma delas seria um fuso do sistema LTM. O valor da longitude do meridiano central da zona LTM é a longitude correspondente ao centro da faixa de largura de um grau. O fator de escala k0 sendo 0,999995 acarreta uma deformação de 5 milímetros em 1000 metros desprezível na presença da precisão da Estação Total usada na medição de distâncias. Mesmo no extremo do fuso LTM a deformação é desprezível, por exemplo, sendo 48º 45’W a longitude 62 próxima ao porto de Laguna em Santa Catarina, sua distância ao meridiano central do sistema LTM é 15’ ou seja, aproximadamente 28 km. O coeficiente de deformação linear da projeção LTM no porto é K = 1,000004658 o que significa dizer que o erro relativo desta projeção é 4,7 milímetros em 1000 metros, ou seja, menor do que 1: 200.000. Comparado com a tolerância 1: 10.000 da poligonal topográfica, o sistema LTM pode ser considerado isento de erro. A utilização de softwares do tipo TGOffice ou GPSurvey da Trimble, permitem a adoção do sistema de coordenadas LTM de modo bastante simples, pois a projeção de Gauss, transverse Mercator, faz parte de suas bibliotecas de rotinas, portanto a criação de zonas pode ser neles convencionada. Para evitar a possibilidade de se confundirem os sistemas de coordenadas entre si, e com levantamentos antigos em UTM, pode-se adotar uma maneira de representá-los. A sintaxe usada poderia ser do tipo LTMλ0[nome-da faixa-de-um-grau], onde LTM indica que o sistema de coordenadas usado é o Local Transverse Mercator, λ0 é a longitude do meridiano central do fuso do sistema UTM da área do levantamento e o nome da faixa poderia ser: [oeste1], [oeste2], [oeste3], [leste1], [leste2] e [leste3], correspondentes, respectivamente, às seis faixas de um grau de longitude que cobrem o fuso UTM de oeste para leste. No exemplo da carta 1901-Porto de Laguna a aplicação da sintaxe fornece para a identificação do sistema de coordenadas: LTM51[leste3]. Outra maneira de representar as zonas do sistema LTM poderia ser adotando o número do fuso UTM em vez da longitude do seu meridiano central e numerar as faixas, sequencialmente, de 1 a 6, de oeste para leste. Por exemplo, o fuso 22 seria coberto pelas faixas LTM22-1; LTM22-2; LTM22-3; LTM22-4; LTM22-5 e LTM22-6. A carta 1901-Porto de Laguna pertenceria à última faixa. Em cada fuso a coordenada norte seria representada como X e a coordenada leste como Y, tal como foi concebido por Gauss na sua projeção, DH3 – LXV pois o sistema é da mão esquerda, ou seja, o sentido positivo de crescimento dos ângulos é o horário. A origem falsa teria as coordenadas 5 000 000m para o equador e 200 000m para o meridiano central. Caso a região do levantamento seja abrangida por mais de um fuso do sistema LTM, a adoção do sistema UTM pode ser mais conveniente. 3 INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES SOBRE OS SISTEMAS DE COORDENADAS A seguir são apresentadas algumas informações com o propósito de complementar a análise dos sistemas de coordenadas e usá-las, se for o caso, na redação de Instruções Técnicas. 3.1 Para a Projeção de Mercator Na hipótese de se adotar o sistema de coordenadas baseado na projeção de Mercator, o transporte de coordenadas é realizado sobre o elipsóide e, a seguir, suas coordenadas são transformadas em planoretangulares (x,y) na projeção de Mercator. No reticulado da projeção de Mercator ou da noção do plano, a plotagem de pontos pode ser feita graficamente com auxílio das escalas de latitude e de longitude. Se essas escalas gráficas não existirem, traçam-se as distâncias dn e de em relação a um paralelo e a um meridiano, respectivamente, que definem a quadrícula do ponto a locar. Essas distâncias são calculadas com auxílio da lei da projeção de Mercator multiplicadas pelo fator de redução de escala K0. a) y0 é calculado valorizando-se a lei da projeção com o valor da latitude ϕ0 do paralelo de referência (o mais ao norte da quadrícula do ponto a locar); b) yi é calculado da mesma forma que y0, mas com o valor da latitude ϕ do ponto a plotar na quadrícula considerada; c) ln é o símbolo dos logaritmos neperianos; d) a é o semi-eixo maior do elipsóide adotado, em metros; e) e é a excentricidade do elipsóide adotado, em m/m; e f) (ϕ, λ) são as coordenadas geográficas do ponto a locar na carta. Para a plotagem de pontos pode-se considerar um sistema de coordenadas para cada carta. A latitude é considerada em módulo. No hemisfério norte, o eixo vertical y aponta para o norte e coincide com o meridiano mais a oeste enquanto o eixo x aponta para o leste e coincide com o paralelo da carta mais ao sul. No hemisfério sul realiza-se uma simetria em relação ao ponto origem, assim o eixo y aponta para o sul e coincide com o meridiano da carta mais a leste e o eixo x aponta para o oeste e coincide com o paralelo mais ao norte da carta. Se houver preferência de se expressar as coordenadas planas de Mercator em milhas equatoriais (minutos) em vez de metros, substitui-se o valor do semi-eixo maior do elipsóide da lei da projeção de Mercator pelo valor de a retirado da expressão abaixo. 2πa = 360 x 60’ 3.2 Para o Plano Topográfico A redação de uma Instrução Técnica deveria explicitar os cálculos a serem realizados, cuja metodologia e as fórmulas apresentam-se a seguir. Para transformar as coordenadas UTM em coordenadas topográficas X,Y do ponto extremo do lado elipsóidico L12 as fórmulas são: Onde: K0 =(N0 cosϕ0)/a, sendo N0 a grande normal ao elipsóide na latitude de referência (média) do plano: DH3 – LXV 63 ARTIGOS Onde: a) N1,E1 são as coordenadas UTM do ponto origem do plano topográfico; b) L12 é o lado elipsóidico; e c) A12 é o azimute geodésico projetado, ou seja, A12 = a12 -Ψ12, sendo: – a12 é o azimute plano, calculado com as coordenadas UTM dos pontos 1 (origem) e 2 (ponto de controle do processo topográfico); e – Ψ12 é a redução à corda do lado de extremos 1 e 2. Calculada com as coordenadas UTM desses pontos e comentada mais adiante. Lembra-se que, ao se adotar o azimute geodésico projetado o norte do plano topográfico é o norte de quadrícula do sistema UTM. Se, em vez deste norte, for adotado o norte verdadeiro (direção do meridiano geográfico que passa pelo ponto de origem), deve-se fazer o transporte de coordenadas, indicado nas fórmulas acima, usando-se o azimute geodésico verdadeiro α12 em vez do azimute geodésico projetado, calculado como abaixo. α12 = A12 + γ1 Onde: a) A12 é o azimute geodésico projetado; e b) γ1 é a convergência meridiana plana do sistema UTM, no ponto origem calculada com as coordenadas UTM, ou geográficas. 3.3 Para o sistema UTM Já foi dito que o sistema de projeção UTM foi especificado para construção de cartas topográficas em escalas 1:50 000 e menores. Ao ser usado para construção de cartas ou plantas em escalas grandes, deveria ficar explícito em que circunstâncias as correções e reduções teriam que ser aplicadas aos ângulos e aos lados elipsóidicos de modo a respeitar as tolerâncias estabelecidas. Essas circunstâncias evidenciam-se pela magnitude dos erros sistemáticos da projeção de Gauss, dos erros acidentais presentes na realização da poligonal e pela localização da área do levantamento no fuso UTM. 64 4 AVALIAÇÃO DOS ERROS SISTEMÁTICOS E ACIDENTAIS EM UMA POLIGONAL O resultado dessa avaliação permite conhecer em que condições a deformação linear e a redução angular do sistema UTM poderão ser desprezadas no cálculo da poligonal topográfica. Também indica se é mais conveniente adotar uma poligonal com grande quantidade de lados pequenos ou pequena quantidade de lados de grande comprimento cada um. Esta informação pode ser usada no planejamento da rede GPS principal de apoio ao levantamento, no que diz respeito à distância entre seus vértices. É preciso lembrar como se transformam ângulos e lados elipsóidicos nos respectivos elementos planos da projeção conforme de Gauss. 4.1 Transformação de lados elipsóidicos em lados planos do sistema UTM Em Topografia Costeira, para representar os lados elipsóidicos no sistema UTM, cada um deles será multiplicado pelo mesmo (único) coeficiente de deformação linear K. Este coeficiente é calculado com as coordenadas dos pontos de partida e chegada da poligonal topográfica. Se ele iniciar e terminar no mesmo ponto, utiliza-se o ponto médio da área coberta pela poligonal. No cálculo do K pode-se usar a fórmula abaixo, idealizada pelo autor. Onde: a) r = K0R, sendo K0 = 0,9996; b) R = (MN)1/2, é o raio gaussiano calculado para o centro da área do levantamento. M e N são as seções normais principais do elipsóide nesse ponto; c) E’ = E – 500.000 m, sendo E a coordenada UTM; e DH3 – LXV d) E’m = 0,5(E’1 + E’2), média aritmética das abscissas UTM dos pontos extremos do lado de controle pa poligonal topográfica. 5.1 Avaliação do efeito dos erros sistemáticos angulares Ψ do sistema UTM no erro de fechamento da poligonal Na fórmula, a linha trigonométrica é o cosseno hiperbólico, disponível nas máquinas de calcular científicas, na planilha eletrônica Excel ou no software MatLab. Seu desenvolvimento em série de Taylor reproduz a fórmula convencional. Por ser uma fórmula cerrada, não apresenta o erro de truncamento da série da fórmula convencional. Para ilustrar esse estudo, vai-se considerar uma poligonal hipotética, situada no extremo de um fuso do sistema UTM, iniciando e terminando em vértices da rede GPS principal distantes 10 km entre si e de coordenadas UTM conhecidas. Esse lado de controle estará orientado na direção norte-sul, por ser a situação onde o valor da redução à corda Ψ assume o seu valor máximo. A poligonal topográfica de 5 lados será medida com uma Estação Total cujo comprimento médio do lado é 2000m. Presume-se que todos os lados desenvolvem-se na direção norte-sul pela mesma razão citada para o lado da rede principal. 4.2 Transformação de ângulos elipsóidicos em ângulos planos na projeção UTM Os ângulos elipsóidicos são transformados em ângulos planos somandose, algebricamente, as reduções angulares ao valor medido do ângulo. Para o cálculo das reduções angulares usam-se as fórmulas abaixo. ψ 21 = − ∆N ( E1' + 2 E2' ) 6 K 02 R 2 Onde, N1 e N2 são as ordenadas UTM dos extremos do lado considerado e E’1 e E’2 são as suas abscissas reduzidas à origem verdadeira do sistema UTM. 5 AVALIAÇÃO DOS ERROS SISTEMÁTICOS, DOS ERROS ACIDENTAIS E DOS ERROS POLIGONAIS Sabe-se que os erros sistemáticos são aqueles cuja lei de formação é conhecida e, por conseguinte, podem ser corrigidos. A avaliação deles permite conhecer em que condições a deformação linear e a redução angular do sistema UTM poderão ser desprezadas no cálculo da poligonal topográfica. DH3 – LXV Figura 1 – Redução angular do lado de controle 5.1.1 Efeito da redução angular Ψ10 do lado de orientação de partida da poligonal O cálculo da poligonal topográfica segue a sequência 0,1,2,3.....5. A redução angular Ψ10 correspondente ao lado de orientação de partida da poligonal e é calculada pela fórmula da projeção de Gauss a seguir. 65 ARTIGOS desvio padrão do deslocamento total, a lei de propagação das variâncias permite escrever: Onde: a) ∆N = N1 – N0 = 10.000 m (N0 > N1, neste ε2 = l.Ψ(12 + 22 + 32 + ...+ n2)1/2 caso); b) E’1 = E’2 = 330.000m (extremo do fuso UTM); c) R = (MN)1/2 = 6.378.137,0 m (calculado para esta região hipotética); e d) K0 = 0,9996 (coeficiente de redução de escala da projeção UTM, sobre o MC). Calculando a redução angular, encontra-se: Ψ10 = 0,000040592 radianos, ou Ψ”10 = 8”,373. Se este valor da redução angular não for considerado na composição do azimute de partida da poligonal topográfica ocorrerá uma rotação dela em torno do ponto 1 de origem. O ponto extremo da poligonal experimentará um deslocamento ε1 igual ao produto do comprimento da poligonal (5 lados de 2000 m cada um) pelo valor da redução angular, em radianos, ou seja, ε1 = 10.000,00 x Ψ10 = 10.000,00 x 0,000040592 = 0,406 m. Figura 2 – Efeito da redução angular A expressão no interior dos parênteses é a soma dos quadrados dos números naturais, logo, A expressão acima pode ser simplificada na forma abaixo. 5.1.2 Efeito das reduções angulares Ψ dos lados O desprezo da redução angular de cada lado implica em deslocamentos transversais do vértice final da poligonal. Para n lados de comprimento médio l com a redução angular Ψ de cada um deles, os deslocamentos transversais do vértice final da poligonal correspondentes à redução angular são os seguintes. Contribuição Contribuição Contribuição Contribuição Contribuição do do do do do lado lado lado lado lado 1 = (0a) = .................l. Ψ.n 2 = (ab)= .............l. Ψ.(n-1) 3 = (etc)................l. Ψ.(n-2) (n-1) =........................l. Ψ.2 n = ....................................l. Ψ.1 Considerando os deslocamentos independentes entre si e sendo ε2 o 66 Fazendo nl = L, para o comprimento da poligonal: Donde se conclui que a composição do erro de deslocamento por não se considerar as reduções angulares é tanto menor quanto menor for o número n de lados, isto é, quanto maior forem os comprimentos dos lados da poligonal. Esta conclusão interessa ao planejamento da rede GPS principal, pois a poligonal topográfica é controlada pela rede GPS principal. Sendo 2000m o comprimento médio dos lados e norte-sul as orientações DH3 – LXV deles, no extremo do fuso UTM, o valor da sua redução angular é Ou seja, onde L é o comprimento da poligonal de n lados. Permanecem válidas as conclusões destacadas no caso das reduções angulares sobre o comprimento dos lados da poligonal e o número de seus lados. Admitindo que, de modo conservativo, o desvio padrão da medida angular seja 3”, a sua contribuição para o erro transversal da poligonal será: Substituindo-se este valor na expressão de ε2, para L = 10.000m e n = 5, tem-se: ε2 = 0,105m. Portanto, se as reduções angulares não forem consideradas o vértice final da poligonal estará afastado 0,406 + 0,105 = 0,511m de sua posição mais provável. Resta, ainda, avaliar o efeito do desprezo dos erros lineares, que será feito, mais adiante, em 5.3. 5.2 Avaliação dos erros acidentais na medição dos ângulos β da poligonal Cada erro angular medido com a Estação Total contribui para a formação do erro transversal da poligonal. Supondo que o desvio padrão de cada série de reiterações da medida de um ângulo vale σ e que todos tenham o mesmo sinal, seu efeito será análogo ao da redução angular já estudado. Portanto, o deslocamento correspondente a cada lado da poligonal será: Lado 1 = (0a) = ....................................... l. σ.n Lado 2 = (ab) = ................................. l. σ.(n-1) Lado 3 = (etc) = ................................. l. σ.(n-2) Lado (n-1) = ............................................ l.σ.2 Lado n = ................................................ l. σ.1 Aplicando a lei de propagação das variâncias e simplificando a equação final, chega-se à fórmula 5.3 Avaliação do efeito dos erros lineares no erro de fechamento da poligonal Ao se medir cada lado da poligonal com a Estação Total, cometem-se erros de estacionamento do aparelho na estação e do portaprisma no extremo do lado. Da mesma forma, quando se mede a distância, várias vezes, usando ondas eletromagnéticas, raramente se obtêm o mesmo valor. A natureza desses erros é diferente da tratada anteriormente, pois eles ocorrem ao acaso e, por isso, são denominados erros acidentais. Outro erro linear que tem que ser avaliado é aquele decorrente de não se considerar a deformação da projeção UTM no cálculo da poligonal. Como, neste caso, há uma lei matemática que modela este erro, ele é classificado como sistemático. A seguir são avaliados separadamente o efeito dessas duas classes de erro. 5.3.1 Avaliação do efeito dos erros lineares acidentais Admitindo que os erros de estacionamento da estação ee e do prisma es valem 1cm cada, tem-se: ε4 = ee + es = 0,02m. DH3 – LXV 67 ARTIGOS Admitindo que a precisão da estação total seja (2mm + 5ppm), cada lado de 2000m terá para desvio padrão: 5.6 Erro de fechamento total fl da poligonal, sem a consideração do erro linear da projeção ε5 = (2mm + 5mm/km) = 0,012m. O erro médio quadrático dos erros de fechamento longitudinal e transversal fornece o erro de fechamento total da poligonal. O erro linear sistemático é aquele causado pela deformação da projeção e será avaliado, mais adiante, em 5.9.1. 5.4 Erro de fechamento longitudial Tl da poligonal Os erros lineares acidentais de cada lado serão a composição dos erros ε4 e ε5. Eles foram avaliados em 5.3.1. Seu valor será: el = (ε4 + ε5 ) = 0,032m O erro de cada lado deslocará o vértice final da poligonal daquele valor, na direção do lado. O deslocamento total para os n lados é chamado erro longitudinal da poligonal, ou seja, para uma poligonal de 5 lados, tem-se, aplicando a lei de propagação dos erros: Tl = el(n)1/2 = 0,032(5)1/2 = 0,072m 5.5 Erro de fechamento transversal Et da poligonal O erro transversal da poligonal será o erro médio quadrático dos efeitos dos erros angulares avaliados em 5.1 e 5.2. ε1 = 0,406m, devido à redução angular do lado de controle. ε2 = 0,105m, devido às reduções angulares dos lados da poligonal. ε3 = 0,188m, devido à medição dos ângulos com a estação total. Portanto, o erro transversal será: Et = (0,4062 + 0,1052 + 0,1882)1/2 = 0,460m 68 fl = (Tl + Et)1/2 fl = (0,072 + 0,4602)1/2 = 0,466m 2 5.7 Precisão da poligonal eivada de erros sistemáticos e acidentais A precisão da poligonal é dada, usualmente, pelo valor de seu erro relativo, que, como se sabe, é a razão entre o erro absoluto e o comprimento da poligonal. Para a poligonal hipotética em estudo o seu erro relativo, sem a consideração do erro linear de projeção, será: P = 0,466/10.000 = 0,0000466 = 1:21.459 5.8 Comparação com a Especificação da OHI No caso de uma poligonal calculada sem a correção das reduções angulares (e desprezando-se a deformação linear da projeção UTM) constata-se que seu erro de fechamento 1:21.459 é aceitável na presença da tolerância 1:10.000 a um nível de confiança de 95% especificada na Publicação Especial S-44 da OHI. Isto leva a uma conclusão que o sistema UTM poderá ser usado no cálculo da poligonal topográfica sem levar em conta as reduções angulares da projeção. É claro que se as reduções angulares fossem corrigidas se obteria uma precisão maior do que 1:21.459. Entretanto, ainda é preciso responder a questão: A deformação linear da projeção UTM poderia ser desprezada? A resposta será obtida no próximo item. É conveniente lembrar que o erro de fechamento linear da poligonal é obtido ao comparar as coordenadas calculadas DH3 – LXV do ponto de chegada com as respectivas coordenadas fixas. A distância entre esses dois pontos é igual ao raio do círculo de incerteza do ponto calculado de chegada. Para se obter o erro relativo da poligonal de modo a ter a expectativa de 95% de confiança, o raio do círculo de incerteza deve ser multiplicado por 1,96. A razão entre o raio ampliado e o comprimento da poligonal deve ser, no máximo, 1/10.000. 5.9 Determinação da região do fuso UTM onde se pode desprezar o erro linear sistemático do sistema UTM Com relação à deformação linear do sistema UTM, pelo que foi explicado no início deste artigo, é fácil constatar que ela tem que ser corrigida se a poligonal se situar próxima ao meridiano central ou dos extremos do fuso. Caso contrário o erro de fechamento da poligonal ultrapassará o limite estabelecido pela OHI que é 1:10.000, pois os erros relativos da projeção são 1:2.500 e 1:1.000, respectivamente, naquelas regiões do fuso. Sejam a e b os pontos inicial e final da poligonal topográfica representados no sistema UTM, ou seja, dados por suas coordenadas UTM. Eles representam os pontos a’ e b’, sobre o elipsóide. Supondo que foram medidos os 5 lados de comprimento médio de 2000m com a Estação Total e não se cometeu nenhum erro. Fazendo-se o cálculo da poligonal sem reduzir os lados para a superfície de projeção, a partir do ponto inicial (a) o ponto calculado, extremo do último lado da poligonal não coincidirá com o ponto (b), conhecido por suas coordenadas UTM. Por quê? Porque, estando o lado de controle a-b no extremo do fuso UTM, ele sofre uma deformação da ordem de 1m em cada 1000m. Para um lado de 10.000m a deformação é de 10m. Jamais se atenderia às especificações da OHI, pois para uma poligonal de 10.000m de comprimento, o erro relativo de 1:10.000 corresponde a uma tolerância, em erro absoluto, de 1m. Portanto, não se pode desprezar a deformação linear do sistema UTM, nas extremidades do fuso UTM. 5.9.1 Avaliação da deformação linear do sistema UTM ao longo de um fuso Figura 3 – O cilindro secante A figura acima representa a abstração geométrica da projeção de Gauss, o cilindro seccionando o elipsóide. Para clareza da representação apresentam-se os vértices a e b da rede GPS, que controlam a poligonal topográfica, na direção leste-oeste. Isto não interfere na análise porque a projeção de Gauss é conforme. Por isto, a deformação linear independe da orientação do lado. DH3 – LXV A conclusão de que a deformação linear do sistema UTM é muito grande no extremo do fuso leva ao questionamento da aplicação desse sistema em outras regiões do fuso afastadas dos seus extremos. A pergunta que se deve responder é: em que região do fuso UTM se poderá desprezar a aplicação do coeficiente de deformação linear K? Para responder a essa pergunta, serão considerados os erros relativos devido aos vários erros absolutos e comparar a soma deles com o erro relativo tolerável no cálculo da poligonal. Sejam: a) L = comprimento da poligonal = 10.000m; 69 ARTIGOS b) EL = erro relativo tolerável da poligonal = 1/10.000; c) EΨL = 0,406/L, o erro relativo devido à redução à corda do lado de controle; d) EΨ = 0,105/L, o erro relativo devido à redução à corda dos lados da poligonal; e) Eβ = 0,188/L, o erro relativo devido aos erros na medição dos ângulos da poligonal; f) El = 0,072/L, o erro relativo devido à medida linear dos lados e estacionamento; e g) EK = erro relativo do sistema UTM devido às deformações lineares. Condição a cumprir: 0,406/L + 0,105/L + 0,188/L + 0,072/L + EK ≤ 1/10.000 Donde, EK ≤ 1:43.688. A região do fuso do sistema UTM que cumpre a condição anterior se situa nas proximidades das linhas de secância. Ela pode ser delimitada com auxílio do valor do coeficiente de deformação linear K, que fornece o valor do afastamento ao meridiano central do fuso. A relação entre o coeficiente de deformação linear K e o erro relativo da projeção é determinada a partir da definição do coeficiente de deformação linear K. Por definição K = S/s, onde S é a representação na projeção do lado elipsóidico s. Aplicando uma propriedade das proporções à expressão da definição do K, tem-se: Pela análise da expressão, constata-se que o segundo membro é o erro relativo da projeção, pois é a razão entre a deformação linear (S - s) causada pela projeção e o lado s. E mais, que esse erro tem sinal positivo na região extrasecância onde há ampliação do lado s, logo S é maior do que s, e negativo na intrasecância onde ocorre a redução dos lados s. 70 Para determinar a distância Y do lado de controle até ao meridiano central do fuso, é mais conveniente usar a fórmula aproximada de K, abaixo. Onde: K0 = 0,9996 é o valor de K sobre o meridiano central, ou seja, para Y = 0; e R = 6371 km é o raio médio da Terra. Os valores de K correspondentes aos valores positivo e negativo dos erros relativos do sistema UTM são: K – 1 = + (1/43.688) ∴ K = 1,0000229 K – 1 = – (1/43.688) ∴ K = 0,9999771 Substituindo-se esses valores na expressão do K, tem-se: Y1 = 185 km e Y2 = 175 km. Ao se substituir o valor de K por 1 na expressão, tem-se a distância das linhas de secância ao meridiano central do fuso. Esse valor é 180 km. Conclui-se que o coeficiente de deformação linear K só poderá ser desprezado no cálculo da poligonal topográfica se ela estiver situada nas faixas de dez quilômetros que envolvem as linhas de secância. Essas faixas podem ser delimitadas pelas abscissas E do sistema UTM, pois, E = 500.000 ± Y. Figura 4 – Zonas de ampliação e redução no fuso UTM DH3 – LXV Fora dessa faixa de 10 km de largura, que contém as linhas de secância, deve-se levar em consideração o coeficiente de deformação linear K. Para uma largura de 660 km do fuso, pode-se concluir que, na prática, o valor de K deverá ser sempre utilizado no cálculo dos processos topográficos ao se considerarem as tolerâncias da Publicação Especial S-44 da OHI. 6 INDICAÇÃO DA INCERTEZA POSICIONAL NA INSTRUÇÃO TÉCNICA Qualquer que seja o sistema de coordenadas considerado, a Instrução Técnica deveria explicitar que as coordenadas calculadas pelos processos topográficos devem ser acompanhadas das respectivas incertezas posicionais com 95% de nível de certeza, tal como preconiza a Publicação S-44 da OHI. Vale lembrar que a posição é uma variável bidimensional, portanto o escalar a ser utilizado para multiplicar o respectivo desvio padrão do raio do círculo de incerteza é 2,447 e não 1,96 como no caso de uma variável unidimensional. Essas incertezas posicionais são calculadas por propagação de erros e pela aplicação do método dos mínimos quadrados. 7 CONCLUSÃO Pode-se concluir que qualquer um dos sistemas de coordenadas mencionado neste estudo poderia ser adotado no cálculo da poligonal topográfica, desde que se observe as considerações explicadas e as ressalvas relativas ao atendimento das especificações da Publicação Especial S-44 da OHI. No entanto, como o mapeamento realizado pela DHN é de natureza sistemática, deve-se fazer uma escolha que contemple a praticidade e a simplicidade. Com respeito à praticidade, devem-se adotar precauções que evitem falhas de interpretação ao se usarem os resultados de um levantamento, futuramente, em outros. DH3 – LXV Tendo em vista as tolerâncias da OHI, conclui-se que, no caso do LH se situar dentro de um fuso do sistema LTM, a adoção deste sistema acarretaria uma maior simplicidade nos cálculos topográficos porque ele pode ser considerado, praticamente, um plano topográfico. Pela maneira como ele pode ser sistematizado devido às suas zonas de um grau inseridas em um fuso do sistema UTM, fica resguardada a possibilidade de enganos no uso das coordenadas de seus pontos em levantamentos futuros. A transformação das coordenadas LTM para coordenadas geográficas é feita com a lei da projeção conforme de Gauss. Desta maneira, pode-se, sempre, ter dois conjuntos de coordenadas, as geográficas e as planas LTM, para os vértices da rede GPS principal, secundária e do apoio imediato. Desta maneira, o georreferenciamento de imagens de satélite e de outros produtos cartográficos digitais existentes poderia ser feito neste sistema de coordenadas. Posteriormente, na construção de carta náutica, a transformação do sistema LTM para a projeção de Mercator seria feita no âmbito do SIG. Ainda no âmbito do SIG, pode-se considerar que o levantamento hidrográfico é realizado na escala 1:1 e a generalização cartográfica torna-se uma realidade. Futuramente, esse levantamento e seus produtos georreferenciados poderão ser representados em qualquer escala. 7.1 Com relação a adoção do sistema UTM Conclui-se que uma vantagem a seu favor é que ele está enraizado na cultura técnica da DHN. No caso de ser ele o preferido, bastaria informar na Instrução Técnica que: a) Se a área do levantamento hidrográfico se situar fora da faixa de 10km abrangida pelas linhas que distam 175km e 185km do meridiano central é preciso levar em conta a deformação linear do sistema UTM no cálculo dos métodos topográficos; 71 ARTIGOS b) Após reduzir ao geóide todos os lados medidos com a Estação Total, eles devem ser transformados em lados planos do sistema UTM. Para transformar cada lado elipsóidico em lado plano, devese multiplicar cada um deles pelo fator de escala K (único) correspondente ao lado definido pelos pontos inicial e final da poligonal. Se a poligonal for fechada, ou seja, partir e chegar no mesmo ponto, o valor de K será calculado para o ponto médio da área abrangida pela poligonal; e c) No cálculo da poligonal, despreza-se o efeito dos erros sistemáticos referentes às reduções angulares do lado de controle Ψ10 e dos lados da poligonal Ψ. Porém, se a tolerância de 1:10.000 for ultrapassada, antes de se considerar a hipótese de remedir a poligonal no campo, ela deve ser recalculada considerando-se os valores das reduções angulares. 7.2 Se o sistema UTM_Modificado for adotado, conclui-se que: a) Deve-se adotar um novo valor para a longitude do meridiano central que force as linhas de secância a passarem pelo centro da área do levantamento hidrográfico. Esse valor deve ser explicitado em todos os documentos que contiverem as coordenadas planas; e b) É conveniente usar valores diferentes de 10.000.000 e 500.000 para a origem falsa, para evitar que se confundam as novas coordenadas com as coordenadas do sistema UTM convencional. 7.3 Se o Plano Topográfico for usado, conclui-se que: a) A origem de coordenadas será o ponto da rede GPS principal cujas coordenadas UTM são conhecidas; e b) As coordenadas do ponto de chegada da poligonal são obtidas por transporte de coordenadas do ponto inicial usando-se o lado elipsóidico, formado pelos pontos inicial e final, e pelo azimute geodésico. Se o norte de referência do plano topográfico for o de quadrícula 72 (do sistema UTM), o azimute geodésico será o projetado. Se for o meridiano geográfico que passa pelo ponto origem, o azimute será o geodésico. Na construção do reticulado procede-se como na noção do plano explicado a seguir. 7.4 Se a projeção de Mercator for utilizada No levantamento em escala grande, conclui-se que a Instrução Técnica deve explicitar que: a) O reticulado deverá ser construído segundo a noção do plano; b) A distância entre os eixos coordenados deve ser 10 cm ou 20 cm para facilitar a plotagem de pontos por processos geométricos usando régua e compasso. Os eixos mais próximos das bordas da folha podem afastar-se delas de um valor menor do que o espaçamento estabelecido, de modo que o valor do eixo seguinte tenha para coordenada um valor inteiro segundo a razão da progressão aritmética formada desde o paralelo e do meridiano de origem, respectivamente. As folhas adjacentes devem ter um meridiano e um paralelo comum; e c) Devem ser construídas escalas de latitude e de longitude para facilitar a plotagem de pontos, graficamente. Caso não se construir essas escalas, as coordenadas do ponto a locar devem ser calculadas usando-se a lei da projeção de Mercator. As fórmulas devem constar do corpo da Instrução Técnica, para os casos de se usar a unidade metro ou milha equatorial. A posição e a orientação dos eixos de coordenadas são aquelas comentadas no item 3.1 deste artigo. Qualquer que seja o sistema de coordenadas utilizado, a poligonal deve ter a menor quantidade de lados possível. Esta recomendação tem reflexos no planejamento da rede GPS principal, a qual deverá ter alguns de seus vértices espaçados e localizados de tal maneira que permitam controlar a poligonal. DH3 – LXV Finalmente, a incerteza da posição, ao nível de 95% de confiança, de cada um dos vértices da poligonal, ou de outros pontos obtidas por qualquer outro processo topográfico, deve ser informada em seguida às coordenadas do respectivo vértice. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABREU, Luiz de Freitas. A projeção Conforme de Gauss. 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O posicionamento da embarcação foi realizado sobre linhas de sondagem, no sentido Leste-Oeste e Norte-Sul, por meio de um posicionamento diferencial em tempo real empregando as seguintes técnicas: a fase portadora (RTK), posicionamento relativo cinemático pós-processado e posicionamento GPS Global corrigido (RTG). As análises realizadas mostraram que tanto o método RTK quanto o RTG são viáveis para o posicionamento da embarcação em tempo real. Currently in Brazil is growing within the studies surveying marine making the knowledge of the positioning of vessels in real time becomes of great importance. In this context, the study was conducted, evaluating different methods of positioning a vessel. Data for analysis were collected from 17 to 28 July 2006, in Guanabara Bay, Rio de Janeiro. The positioning of the vessel was on line survey, to East-West and NorthSouth, through a differential positioning in real time using the following techniques: the carrier phase (RTK) positioning on kinematic post-processed and positioning processed corrected GPS Global (RTG). The analysis performed showed that both the method and the GTR RTK are viable for the positioning of the vessel in real time. Palavras-chave: Posicionamento RTK; RTG; DGPS. Keywords: DGPS. Positioning RTK; RTG; 1 Engenheira Cartógrafa, Mestrado em Ciências Geodésicas – Universidade Federal do Paraná – UFPR. Engenheira Cartógrafa, Mestrado em Ciências Geodésicas – Universidade Federal do Paraná – UFPR. 3 Engenheira Civil, Profa, Dra. em Ciências Geodésicas – Universidade Federal do Paraná – UFPR. 4 Capitão-de-Corveta (HN) – Centro de Hidrografia da Marinha. 2 DH3 – LXV 75 ARTIGOS 1 INTRODUÇÃO O Brasil é um país que possui uma região costeira com aproximadamente 9.000 km, na qual, desde 1857, vêm sendo realizados levantamentos hidrográficos; no entanto, a região costeira na grande maioria de sua extensão não é realmente conhecida, pois verifica-se que há poucos estudos e desenvolvimento de pesquisa na área de hidrografia em nosso país, mesmo sendo eles essenciais para seu desenvolvimento econômico e manutenção de sua soberania. Ressaltase que a partir dos levantamentos hidrográficos é possível mapear as áreas costeiras, coletando dados de posição e profundidade para a descrição do relevo submarino, podendo assim atender as necessidades da navegação, proporcionando-lhe segurança, além de servir de apoio a uma série de outras atividades como pesquisas, proteção ambiental e predições. Vendo tal importância, realizou-se um projeto nesta área de estudo, visando indicar dentre alguns dos métodos de posicionamento para embarcações o melhor deles para obtenção de dados em tempo real. Para isso o projeto está a realizar estudos na baía de Guanabara (Figura1), através de um levantamento hidrográfico composto por perfis longitudinais e transversais (Figura 2), no qual o posicionamento da embarcação foi realizado empregando diferentes técnicas espaciais GPS (Sistema de Posicionamento Global), como: o posicionamento diferencial em tempo real empregando a fase portadora (RTK) e o posicionamento diferencial em tempo real empregando o código suavizado pela onda portadora com correções das órbitas e dos relógios dos satélites mensuradas pelo programa GIPSY (RTG). Avalia-se a qualidade dos posicionamentos: horizontal e vertical com o emprego dos métodos supracitados. Figura 1 – Área de Estudo – Baía de Guanabara Figura 2 – Linhas de sondagem planejadas 76 DH3 – LXV 1.1 RTK 2.2 Materiais e Métodos O princípio de posicionamento RTK fundamenta-se na transmissão das medições puras da fase da onda portadora ou das correções diferenciais da fase da onda portadora, ambas mensuradas na estação de referência para uma estação móvel (embarcação), equipada com um receptor GPS e um rádio modem transmissor. Essa técnica é destinada ao posicionamento de alta precisão em tempo real. Os equipamentos utilizados para posicionar a embarcação foram: para o método RTK dois receptores geodésicos de dupla frequência Trimble 7400DSi e 7400Rsi, para o método relativo cinemático dois receptores geodésico de dupla frequência Ashtech Z-XII, e para o posicionamento pelo método RTG foram empregados um receptor C-Nav2050 e uma unidade de exposição do controle C-Navegador. Para o desenvolvimento do trabalho as antenas dos receptores foram instaladas na estação móvel, logo acima da cabine do timoneiro localizada no primeiro convés da lancha, conforme observa-se na Figura 3. A distância entre as antenas foi determinada com o auxílio de uma trena. A antena geodésica cinemática Ashtech cinemática (Figura 3) foi definida como antena padrão. À distância entre ela e a antena RTK (situada à esquerda na Figura 3) é igual a 30,2 centímetros e entre ela e a antena RTG (situada à direita na Figura 3) é igual a 32,6 centímetros. 1.2 RTG O método de posicionamento RTG é também denominado de GPS Global corrigido (GcGPS). Ele não requer estações terrestres de referência locais, como no caso do RTK, opera com uma rede de estações de referência. O método que produz correções de refração e de órbita para cada satélite ativo GPS, através das medidas realizadas por receptores de dupla frequência instalados na rede de estações de referência. As correções finais são enviadas aos usuários através de três satélites de INMARSAT (satélites comerciais de comunicação geoestacionários). O sistema RTG possui uma potencialidade de posicionamento global, fornece uma precisão da ordem de centímetros a decímetros, e oferece dados em tempo real. 2 METODOLOGIA 2.1 Levantamento de Campo Os levantamentos de campo sucederam-se no período entre 17 a 28 de julho de 2006. Para se realizar os estudos propostos na Baía de Guanabara, foram planejadas 23 linhas no sentido N-S (Norte e Sul) e 16 no sentido E-W (Leste-Oeste), situadas entre a Ponta da Armação – Niterói e a Ilha Fiscal – Rio de Janeiro. Elas foram percorridas com uma embarcação que alocou os equipamentos necessários à avaliação dos métodos de posicionamento. DH3 – LXV Figura 3 – Antenas instaladas 3 PROCESSAMENTO De posse dos dados brutos obtidos com o posicionamento relativo cinemático efetuou-se o processamento com o programa Ashtech Solutions 2.6, utilizando efemérides precisas e adotando 77 ARTIGOS a estação base Rio-D como estação de controle e fixa. Obtiveram-se as coordenadas precisas, os desvios padrão, valor de PDOP (Position Dilution of Precision) e o número de satélites dos 31.502 pontos que compõe as linhas de sondagem. Das 31.502 posições da embarcação calculadas neste levantamento eliminaram-se as coordenadas que apresentaram soluções: flutuante ou parcial. Para essas posições as ambiguidades não foram resolvidas ou foram resolvidas parcialmente, restando então 18.700 posições (Figura 4) consideradas confiáveis para comparação entre os métodos de posicionamento. Elas representam 59,36% das soluções totais geradas com o processamento dos dados. Este procedimento foi adotado em face de que se almeja comparar as demais trajetórias obtidas com os métodos diferenciais com uma trajetória padrão (obtida com o método de posicionamento relativo cinemático). se considera que quanto maior for esse valor menor será a qualidade do posicionamento. Juntamente com o PDOP, avaliou-se o número de satélites, já que esse influencia diretamente no valor do PDOP, visto que quanto maior for o número de satélites observados menor será o valor do PDOP. Utilizou-se as diferenças entre as coordenadas geodésicas obtidas entre dois métodos para calcular os valores do RMS 2D e RMS 3D. Com o RMS 3D analisa-se a precisão tridimensional das coordenadas da embarcação através da média quadrática destas e com o RMS 2D a precisão bidimensional da embarcação. Figura 4 – 18.700 posições utilizadas como padrão para as comparações entre os métodos de posicionamento. 4.1.1 Altitudes 4 ANÁLISES E RESULTADOS As análises levaram em conta os seguintes aspectos: número de satélites, valor de PDOP, diferenças entre as coordenadas geodésicas obtidas entre dois posicionamentos distintos, valores de RMS 2D e RMS 3D. O valor do PDOP foi avaliado porque ele está ligado diretamente à qualidade posicional das observações, pois 78 4.1 Comparação entre as Trajetórias Obtidas pelos Métodos de Posicionamento Relativo Cinemático, RTK e RTG A princípio as análises seriam feitas utilizando os dados das antenas RTK e RTG, sendo os dados sobrepostos a antena cinemática através do software Hypack, procedimento chamado de offset. Porém, o Hypack não permitiu uma coincidência exata dos instantes do RTG e RTK, introduzindo um erro de aproximadamente 0,5 segundo, o que representa linearmente 1,5 m, devido ao deslocamento da embarcação. Esse fato conduziu a análise dos dados brutos sem as correções de offset. As diferenças de altitude dos três métodos de posicionamento da embarcação podem ser observados na Figura 5. Nota-se que os métodos de posicionamento Relativo Cinemático e RTK apresentam comportamentos semelhantes durante quase todo o período, com exceção de um intervalo de tempo (das 13h 14min 45seg às 13h 21min 00seg), o qual pode ser melhor visualizado na Figura 5. Percebe-se que o posicionamento RTG possui o mesmo comportamento linear que o posicionamento DH3 – LXV relativo cinemático e o posicionamento RTK, no entanto com uma diferença média de 47cm (Tabela 1). Na Tabela 1 apresenta-se a maior e a menor diferença e a média das diferenças de altitudes elipsoidais, em módulo, ocorridas durante a trajetória descrita pela embarcação. A maior média apresentou- se entre os posicionamentos RTK e RTG, 47cm. A menor diferença encontrada foi de 0 mm entre os posicionamentos Relativo Cinemático e RTK, bem como os posicionamentos RTK e RTG. Entre os métodos de posicionamento Relativo Cinemático e RTK foi observada a maior diferença de altitude igual a 1,148 m. Figura 5 – Comparação das altitudes elipsoidais pelas técnicas Cinemática, RTG e RTK Cinemático-RTK Cinemático-RTG RTG-RTK Maior Diferença (m) 1,148 0,903 0,876 Menor Diferença (m) 0,000 0,020 0,000 Média (m) 0,014 0,456 0,470 Tabela 1 – Comparação das diferenças da altitude elipsoidal entre os métodos de posicionamento Na Figura 6 percebem-se as maiores diferenças encontradas com os métodos de posicionamento Relativo Cinemático e RTK. Isso se deve a diminuição do número de satélites, de 6 satélites houve uma redução para 5 satélites, no método de posicionamento Relativo Cinemático como pode ser observado na Figura 7. Figura 6 – Maiores diferenças das altitudes entre os posicionamentos relativo cinemático e RTK DH3 – LXV 79 ARTIGOS 4.1.2 PDOP, número de satélites e RMS 3D Na Figura 7 apresenta-se a variação do valor de PDOP, do número de satélites e do RMS 3D em função do horário, para um período de aproximadamente 8 horas de levantamento (08h 52min 37seg às 16h 38min 07seg) para os posicionamentos da embarcação com os métodos Relativo Cinemático e RTG. Percebe-se também que o posicionamento Relativo Cinemático apresentou dois picos no valor do PDOP, das 9h 07min 47seg à 9h 23min 42seg (Amostra 1) e das 15h 02min 40seg à 15h 05min 31seg (Amostra 2), respectivamente. Este fato ocorre em função da geometria dos satélites, o que foi verificado através do programa Ashtech Solutions. No RTG, o PDOP se manteve estável para grande parte da trajetória descrita pela embarcação, havendo poucas diferenças significativas, por exemplo, no horário 15h 06min 16seg, chegou ao valor de 4,5. Nota-se que na Figura 7 o número de satélites para o posicionamento Relativo Cinemático variou de 5 a 9 para a trajetória descrita pela embarcação. Figura 7 – Comparação do número de satélites com o PDOP para o posicionamento cinemático Na Tabela 2 apresenta-se a maior diferença, a menor diferença e média das diferenças de latitude, longitude, RMS 2D e RMS 3D, em módulo, entre os métodos de posicionamento Relativo Cinemático e RTG. Com relação ao RMS 2D e RMS 3D, o RMS 3D apresenta os maiores valores de diferenças devido a influência direta do valor da altitude dos pontos para o calculo deste. Latitude Longitude RMS 2D RMS 3D Maior Diferença (m) 0,465 0,583 0,653 1,068 Menor Diferença (m) 0,000 0,001 0,123 0,194 Média (m) 0,076 0,240 0,422 0,649 Tabela 2 – Comparação das diferenças entre os métodos de posicionamento relativo cinemático e RTG 80 DH3 – LXV A porcentagem dos dados que atendem as especificações da OHI para posicionamento horizontal em levantamentos são apresentadas na Tabela 3. Constatase que para a ordem 1, na qual a acurácia posicional deve ser inferior a 5 m, todos os dados se enquadram na especificação. Na ordem especial, na qual a acurácia posicional deve ser inferior a 2 metros, também todos os dados se adequam. Figura 8 – Comparação RTG e o método relativo cinemático (pósprocessado) para o RMS 3D Posicionamento Horizontal ORDEM ESPECIAL ORDEM 1 100% 100% Tabela 3 – Quantidade de dados que atendem as especificações da OHI para posicionamento horizontal em levantamentos Hidrográficos Na Figura 9 observa-se o RMS 3D obtido com a comparação entre os métodos RTK e Relativo Cinemático. Percebese que houve uma estabilidade do valor de RMS 3D, o número de satélites dos dois métodos não sofreu variações bruscas. No entanto, no período de 13h 11min 33seg à 13h 21min 03seg, o valor do RMS 3D aumentou em função da geometria dos satélites, fato esse verificado através do programa Ashtech Solutions. Havia número suficiente de satélites, acima de 4, para resolver as incógnitas mínimas necessárias ao posicionamento, porém alguns desses possuíam elevação abaixo de 35°. Figura 9 – Comparação entre os métodos RTK e relativo cinemático para o número de satélites e o valor do RMS 3D Verifica-se na Tabela 4 a maior diferença, menor diferença e média das diferenças de latitude, longitude, RMS 2D e RMS 3D, em módulo, entre os métodos de posicionamento Relativo Cinemático e RTK. DH3 – LXV A quantidade de dados do posicionamento RTK que atendem as especificações da OHI para acurácia posicional horizontal da Ordem Especial e da Ordem 1 representam 100% dos dados analisados. 81 ARTIGOS Latitude Longitude RMS 2D RMS 3D Maior Diferença (m) 0,375 0,447 0,473 1,165 Menor Diferença (m) 0,000 0,000 0,146 0,216 Média (m) 0,013 0,003 0,287 0,309 Tabela 4 – Comparação das diferenças entre os métodos de posicionamento relativo cinemático e RTK 4.1.3 RMS 2D Na Figura 10 constata-se a variação do RMS 2D no decorrer da trajetória descrita pela embarcação, os quais também podem ser analisados na Tabela 4, para os posicionamentos RTK e Relativo Cinemático. Figura 10 – Comparação RTK e Cinemático para o RMS 2D Analisando o RMS 2D obtido com o método RTG e Cinemático (Figura 11) constata-se que ele apresenta praticamente o mesmo comportamento já visto anteriormente para o RMS 3D (Figura 8). Durante toda a trajetória o RMS 2D calculado não atingiu 1 m, conforme pode ser verificado na Tabela 2. Figura 11 – Comparação RTG e Cinemático para o RMS 2D 82 4.1.4 Diferenças entre Latitudes, Longitudes e Altitudes Elipsoidais Para avaliar a qualidade posicional dos métodos empregados, compararam-se os valores das coordenadas geodésicas obtidas em tempo real por ambos os métodos RTK e RTG com os valores adotados como padrão, ditados com o posicionamento Relativo Cinemático. Determinaram-se os erros resultantes em latitude, longitude e altitude geométrica. Os erros foram expressos pela variação em distância entre as posições obtidas com o RTK, para cada horário, com o método de posicionamento Relativo Cinemático. Posteriormente foram avaliadas as posições obtidas com o RTG também com o Relativo Cinemático. Outra avaliação realizada foi entre as posições obtidas pelos métodos RTG e RTK. As diferenças entre as coordenadas obtidas no levantamento entre os métodos de posicionamento Relativo Cinemático e RTK podem ser percebidas em função da orientação das linhas de sondagem, devido ao posicionamento da instalação das antenas na embarcação. No período da manhã navegou-se no sentido E-W (leste-oeste) e as maiores variações ocorreram em latitude, como pode ser visualizado na Figura 12. Já no período da tarde as linhas de sondagem eram no sentido N-S (norte-sul) as maiores variações ocorreram em longitude. Na Figura 12 também se verifica as diferenças em altitude geométrica. A amplitude das variações ocorridas entre os métodos de posicionamento Relativo Cinemático e RTK podem ser verificadas na Tabela 4. DH3 – LXV Figura 12 – Diferença entre as posições obtidas com o RTK com o método relativo cinemático pós-processado Como dito anteriormente, as variações entre latitude e longitude se dão em função do sentido da navegação. O mesmo pode ser observando entre os métodos RTG e Relativo Cinemático através da Figura 13. A maior diferença, a menor diferença e as médias das variações ocorridas entre estes métodos de posicionamento podem ser verificadas na Tabela 2. Figura 13 – Diferenças entre RTG e Cinemático DH3 – LXV 83 ARTIGOS Do mesmo modo que verificado anteriormente na comparação entre os métodos Relativo Cinemático com o RTK e Relativo Cinemático com o RTG, a variação entre as coordenadas geodésicas se repete para a comparação entre os métodos RTK e RTG como pode ser constatado na Figura 14. A maior diferença, menor diferença e média das diferenças de latitude, longitude, RMS 2D e RMS 3D, em módulo, entre os métodos de posicionamento RTK e RTG são apresentadas na Tabela 5. Figura 14 – Diferença entre RTG e RTK Latitude Longitude RMS 2D RMS 3D Maior Diferença (m) 0,759 0,862 0,916 1,209 Menor Diferença (m) 0,000 0,000 0,193 0,403 Média (m) 0,090 0,237 0,673 0,831 Tabela 5 – Comparação das diferenças entre os métodos de posicionamento RTK e RTG 5 CONCLUSÃO Com as análises realizadas percebeu-se que a avaliação dos métodos RTK e RTG tomando como padrão a trajetória obtida com o emprego do posicionamento Relativo Cinemático foi pertinente. Os resultados obtidos na comparação satisfazem as especificações da OHI para posicionamento horizontal em levantamentos hidrográficos tanto de Ordem 1 quanto de Ordem Especial. O método RTG se mostrou perfeitamente viável para ser utilizado em levantamentos hidrográficos de ordem especial ou inferiores. Contudo, salientase que o custo deste método é elevado, 84 devido ao fato dos sinais serem transmitidos por satélites geoestacionários. Ao avaliar-se a sua utilização dentro de áreas de até 11km aquém da linha de costa, ele tem um custo mais elevado quando comparado ao método RTK. Já para as áreas localizadas a mais de 11km aquém da linha de costa sua utilização torna-se mais atrativa do que o método RTK, mesmo com um custo mais elevado. Ressalta-se, que segundo Prado (2001) a precisão para o RTK começa a se degradar a partir de uma linha de base superior a 10 km. Conforme exposto anteriormente o método RTG possui um alcance global. Ele se mostrou bastante estável, por apresentar um número de DH3 – LXV satélites de 5 a 10 e um valor de PDOP inferior a 3 na maior parte da trajetória descrita pela embarcação, garantindo assim a sua qualidade posicional. O método RTK apresentou resultados acurados quando comparado ao método de posicionamento Relativo Cinemático, sendo o seu uso totalmente viável para posicionamento de embarcações em tempo real. Após as análises, percebe-se que o número de satélites RTK, se mantém em grande parte do levantamento acima de 5, não havendo grandes variações no decorrer do tempo. Os resultados do método de posicionamento RTK quando comparado ao RTG apresentaram menores diferenças de RMS 2D e 3D e principalmente altitudes elipsoidais mais acuradas. Obtiveram-se para o método RTK valores de RMS2D médio igual a 28,7cm, máximo igual a 41,3 cm e mínimo igual a 14,1 cm. Já para o método RTG obtiveram-se valores médio, máximo e mínimo para o RMS2D igual a 42,2 cm, 65,3 cm e 12,3 cm, respectivamente. Os valores encontrados para o RMS 2D e RMS 3D foram centimétricos, devido a não correção dos offset das antenas. Se esses tivessem sido corrigidos os valores seriam na ordem do milímetro. Analisando-se estes resultados pode-se dizer que o RTK apresentou uma melhor precisão que o RTG. A comparação entre os métodos de posicionamento RTK e RTG foi importante para se avaliar a qualidade da trajetória obtida com o método de posicionamento Relativo Cinemático. Verificouse que os valores de RMS2D e RMS3D obtidos estão coerentes, o que valida a trajetória definida como padrão durante estas análises. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ASHTECH PRECISION PRODUCTS. Ashtech solutions user´s guide. Santa Clara, USA: Ashtech Precision Products, 2001. DALBELO, L. F. A ; ALVES, D. B. M. ; MONICO, J. F. G. DGPS em Rede: aspectos teóricos, implementação e análise dos resultados. São Paulo: UNESP, 2006. DIVIS, D.A. AS: Going the way of the dinosaur. GPS World, Washington, v. 11, n. 6, 2000. GEMAEL, Camil. Geodésia elementar. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1959. HATCH, R. et al. A Global High Accuracy Differential GPS System, C & C Technologies. In: HUDSON, J. R. ; SHARP, T. Globally Corrected GPS (GcGPS): C-Nav GPS System. C & C Technologies, 2002. NORDEN, M. ; ARROYO-SUAREZ, E. 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A experiência adquirida em 55 anos de atividades, atendendo diversos segmentos do mercado de engenharia com soluções inovadoras, é a credencial que posiciona a Mendes Júnior na vanguarda do desenvolvimento econômico-social. Hoje, todo esse reconhecimento serve como base para um crescimento constante, sempre em busca da excelência operacional e tecnológica, no respeito aos contratos e na postura ética e responsável. Uma atitude que se reflete em projetos reconhecidos nacional e internacionalmente, como a Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira e o Rodoanel, em São Paulo, a construção do Centro Administrativo Minas Gerais e a expansão do Rio Paracatu Mineração, em Minas Gerais, e a manutenção de plataformas marítimas na Bacia de Campos. Projetos que refletem a cultura de uma empresa com bases sólidas para realizar as grandes obras do futuro. 86 DH3 – LXV DETERMINAÇÃO DA LINHA DE COSTA POR MEIO DA MONORRESTITUIÇÃO DIGITAL DE IMAGENS DE CÂMARAS DE PEQUENO FORMATO E TÉCNICAS GPS Alex Pinto Babinsck1 Claudia Pereira Krueger2 Jorge Antonio Silva Centeno3 RESUMO ABSTRACT Este trabalho demonstra uma metodologia de atualização da linha de costa em Cartografia náutica, baseada em aerofotos obtidas com câmaras digitais de pequeno formato, monorrestituição digital e com o GPS. Foi utilizada uma câmara digital calibrada, acoplada a uma aeronave da empresa AGRITEC S.A. Agrimensura Aerofotogrametria para a obtenção das aerofotos digitais que compõem o bloco da região litorânea do município de Matinhos (PR), que depois de aerotrianguladas foram inseridas no sistema Monorrestituidor. Então, após a geração do MDT (Modelo Digital do Terreno), a linha de costa foi extraída. Revelando que em 92,91 % dos dados o erro planimétrico obtido foi inferior a 2,5 m e em 100 % dos dados o erro planimétrico obtido foi inferior a 10 m, atendendo às especicações técnicas da DHN (Diretoria de Hidrografia e Navegação) e da OHI (Organização Hidrográfica Internacional). Também realizou-se a extração da linha de costa com o GPS (Global Positioning System) empregando-se o método de Posicionamento Relativo Cinemático Contínuo Pós-processado. Os melhores resultados na determinação da linha de costa foram obtidos no Posicionamento Relativo Cinemático Contínuo, com 99,9 % dos dados com erro planimétrico inferior a 10 cm. A metodologia ora apresentada tem por objetivo fornecer à Marinha do Brasil uma forma alternativa para a atualização cartográfica náutica, com seus próprios meios, eficiente e econômica. This essay demonstrates a nautical cartography coastline updating methodology, based in aerial photographics taken from small-format digital cameras, digital monorestitution and GPS. A common, calibrated digital camera, fixed on an aircraft from Agritec S.A. enterprise was used to obtain digital aerial photographics that compose the city of Matinhos’s shore block which, after triangulation, were inserted into the monorestitution system. Thus, having generated the DTM, shoreline featurewas extracted. Showing that in 92,91% of the data the planimetric’s wrong was smaler than 2,5 meters and in 100 % of the data the planimetric’s wrong obtained was smaler than 10 meters, attaining the technical specifications from DHN (Directory of Hydrography and Navigation) and IHO (International Hydrographic Organization). Shoreline feature was also extracted through Post-processed Kinematic Relative Positioning GPS Technique. The best results in the shoreline determination was obtained in the Post-processed Kinematic Relative Positioning GPS Technique, with 99,9 % of the data with planimetric’s wrong smaller than 10 centimeters. The present methodology aims to give the Brazilian Navy alterate means for nautical cartography updating, both cost-effective and efficient. Palavras-chave: Linha de costa ; monorrestituição digital ; câmeras digitais ; sistema de posicionamento global. Keywords: Coastline, digital monorrestitution , digital cameras ; global positioning system. 1 Capitão-de-Corveta, MSc – Centro de Hidrografia da Marinha. Engenheira Civil, Professora, Dra. em Ciências Geodésicas – Universidade Federal do Paraná – UFPR. 3 Professor, Dr. em Ciências Geodésicas – Universidade Federal do Paraná – UFPR. 2 DH3 – LXV 87 ARTIGOS 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento de novas metodologias para o mapeamento e a disponibilidade de equipamentos cada vez mais acessíveis tem contribuído para facilitar e baixar os custos de produção e atualização de cartas náuticas. Neste trabalho optou-se por determinar a linha de costa por meio da monorrestituição digital de imagens de câmaras de pequeno formato e técnicas GPS, visando fornecer alternativas que contribuam com soluções criativas e viáveis específicas para o processo de atualização cartográfica náutica. Portanto, este trabalho tem como objetivo apresentar uma metodologia visando à atualização da linha de costa brasileira, atendendo às especificações da DHN e da OHI. 2 METODOLOGIA As seguintes etapas foram desenvolvidas para que a metodologia desejada pudesse ser implementada: a) Calibração da câmara digital; b) Planejamento de voo; c) Realização do voo sobre a região litorânea do município de Matinhos, a 600 metros de altitude; d) Planejamento e levantamento em campo dos pontos de apoio e de verificação para a aerotriangulação; e) Processamento das coordenadas dos pontos de apoio e de verificação; f) Elaboração do Modelo Digital do Terreno ou a coleta de dados em campo para a elaboração do MDT; g) Digitalização, processamento e edição da linha de costa no sistema monorrestituidor; e h) Comparação entre a linha de costa gerada e a existente, a fim de detectar alterações. 2.1 Calibração da câmara A câmera utilizada para se adquirir as aerofotos digitais foi uma Sony DSC- 88 F707 de 5.2 megapixels, pertencente à empresa AGRITEC S.A. Agrimensura Aerofotogrametria e o método de calibração utilizado foi o das Câmaras Convergentes. Durante o processo de calibração utilizou-se o software ENVI 3.6 para a realização das leituras das coordenadas do campo de calibração da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e um programa implementado no ambiente MATLAB por Delara (2003) chamado “Calibra10”. O programa utiliza como modelo matemático as equações de colinearidade, realiza o ajustamento através do Método dos Mínimos Quadrados na forma paramétrica com injunções de posição; além dos 3 parâmetros de orientação interna (distância focal e as coordenadas do ponto principal), calcula 3 coeficientes de correção da distorção radial simétrica (k1,k2,k3), 2 coeficientes de correção da distorção descentrada (P1 e P2) e 2 coeficientes de correção da afinidade ou não-ortogonalidade entre os eixos (A e B). Isso permitiu recuperar os parâmetros de orientação interior necessários à reconstrução matemática da geometria projetiva e parâmetros de orientação exterior das imagens utilizadas. 2.2 Planejamento de vôo e realização do vôo O planejamento de voo foi realizado utilizando-se um mapa da região do Pontal do Paraná, na escala (E=1:50.000), confeccionado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A região a ser imageada é o litoral do município de Matinhos (figura 1). Como o objetivo deste trabalho é a determinação da linha de costa, houve uma preocupação em se obter imagens com mais de 80% de terra para se poder obter um maior número de pontos de apoio nas imagens. Um detalhe importante a ser considerado é a resolução desejada, ou seja, o tamanho do pixel no solo, que depende fundamentalmente do tamanho do CCD da câmara utilizada. DH3 – LXV uma única faixa de 5 km por 516 m, obtém-se um total de 41 fotos e um tempo máximo de exposição T=1:18,49 s, que deve ser arredondado para uma velocidade do obturador maior a fim de se evitar fotografias arrastadas (DALMOLIN, 1999), então T=1:800 s. As coordenadas do início (ϕ = 25º 48’ 50,1” S e λ = 048º 32’ 01,5” W) e do final da faixa (ϕ = 25º 46’ 20,2” S e λ = 048º 30’51,1 W), no datum WGS84, foram colocadas num receptor GPS a bordo da aeronave, permitindo que se realizasse o voo sobre a faixa planejada. O voo foi realizado no dia 19 de julho de 2005, com boas condições meteorológicas, o que permitiu que a qualidade das 41 fotografias aéreas obtidas fosse satisfatória, conforme o planejado. 2.3 Processamento do bloco Figura 2 – Localização geográfica do município de Matinhos (Fonte: Adaptado de PARANATURISMO 2006) Os parâmetros utilizados neste planejamento são a distância focal calibrada (c=10,23mm), a velocidade da aeronave (v=200 km/h=55,5 m/s), o CCD de 8,8mm por 6,6mm (diagonal de 1mm), a resolução da imagem desejada (2560 por 1920 pixels), um tempo de 1,9 s para a câmera adquirir a imagem e finalmente a altitude de vôo (H=600 m). Usando-se a relação entre altura e distância focal, consegue-se saber a escala a ser considerada, no caso, 1:58.691. E, com isso, obteve-se um pixel no solo de 0,20 m e as dimensões no terreno de uma imagem capturada pela câmara de 516,35 m por 387,26 m. Considerando-se uma superposição longitudinal de 60 %, obteve-se uma Base Aérea (B) de 154,944 m e um intervalo entre exposições (t) de 2,85 s, ajustando-se para t=2,5 s e para B=137,5m. Considerando-se o planejamento para DH3 – LXV Após a obtenção das aerofotos digitais foi realizado o planejamento e a coleta de pontos de apoio e de verificação para a realização da aerotriangulação. Durante o levantamento de campo foram coletados 22 pontos de apoio, sendo 2 pontos no primeiro modelo e a cada 4 bases aéreas, sucessivamente até o final da faixa de voo. Durante a coleta dos pontos foi utilizado o método de posicionamento relativo estático rápido com uma ocupação, sendo que a estação base utilizada foi a Pedra de Matinhos. Na base foi utilizado o receptor ASHTECH ZXII e nos pontos de apoio o receptor PROMARK2. A taxa de aquisição dos dados foi de 5s e o tempo de rastreio foi de 20 a 25 minutos por ponto. Para o processamento dos dados coletados foi utilizado o software ASHTECH SOLUTIONS. A leitura das coordenadas de imagem dos pontos fotogramétricos e dos pontos de apoio foi realizada utilizandose o software LPS – Leica Photogrammetry Suite. Após isto, foi gerado o relatório do processamento da aerotriangulação, 89 ARTIGOS apenas para se obter as coordenadas de imagem de todos os pontos lidos, num arquivo de texto. O processamento da aerotriangulação foi realizado no software MATLAB, utilizando-se do programa “aerotri.m” confeccionado por Jubanski (2003). O programa realiza um ajustamento em bloco. Também foi utilizado o mesmo modelo de ajustamento da calibração, ou seja, paramétrico com injunções de posição. O programa fornece os parâmetros de orientação exterior de cada fotografia, as coordenadas planialtimétricas de todos os pontos ajustados, o desvio padrão de cada ponto juntamente com o respectivo RMS – Erro Médio Quadrático e a precisão dos parâmetros. A aerotriangulação foi utilizada para se determinar os parâmetros de orientação exterior de cada fotografia (κ, ϕ, ω, X0, Y0, Z0 ) e com isso se realizar a orientação exterior das aerofotos digitais dentro do sistema monorrestituidor. 2.4 Modelo digital do terreno O MDT foi gerado utilizando-se de Curvas de Nível em meio digital, arquivo vetorial com a extensão .DXF (Drawing Interchange File), do Município de Matinhos, gentilmente cedidas pelo Paranacidade, órgão do Governo do Estado do Paraná. Os dados com a extensão. DXF foram convertidos em um arquivo com dados tabulares, que são pontos isolados dos vetores CAD (Computer Aided Design), transcritos em colunas e que mantém seus atributos. A referida conversão é facilmente efetuada por meio de um software específico, chamado Dxf2xyz, que pode ser obtido gratuitamente na Internet pelo site http://www. guthcad.com.au/freestuff.htm. Então, estes dados (com as coordenadas tridimensionais da região) foram salvos com extensão .DAT dentro do software SURFER 8.0 para que posteriormente fosse gerado o MDT. Na etapa seguinte, foi gerado o MDT através do algoritmo KRIGAGEM, criando-se pontos a cada 2 metros. 90 2.5 Sistema monorrestituidor Primeiramente, deve-se observar como funciona o sistema que determina coordenadas através da monorrestituição: a) Fase nº 1 – Início do Processo: – Um ponto de uma entidade gráfica, obtido por digitalização vetorial monoscópica da aerofoto, tem suas coordenadas no referencial de máquina (desenho - xm , ym); b) Fase nº 2 – Coordenadas Fotogramétricas: – As coordenadas do referencial de desenho (xm , ym) do ponto digitalizado, são transformadas para o referencial fiducial (xf , yf ) e posteriormente para o referencial fotogramétrico (x”, y”); c) Fase nº 3 – Coordenadas Planas Aproximadas: – As coordenadas fotogramétricas (x”,y”) do ponto digitalizado, são transformadas para coordenadas geodésicas locais aproximadas, com a transformação linear projetiva plana; d) Fase nº 4 – Coordenada Altimétrica: –Tendo-se as coordenadas geodésicas locais aproximadas, determina-se no modelo digital do terreno (MDT) a coordenada altimétrica aproximada do ponto (ZL); e) Fase nº 5 – Coordenadas Planas Exatas: –Tendo-se as coordenadas do ponto digitalizado (x”,y”) e a coordenada altimétrica aproximada (ZL) derivada do MDT, utilizando-se da equação de colinearidade inversa, determina-se as coordenadas geodésicas planas aproximadas do ponto digitalizado (XL,YL). Trata-se da aplicação de um modelo matemático, parametricamente correto para a transformação de coordenadas fotogramétricas (x”,y”) em coordenadas geodésicas locais planas (XL,YL), desde DH3 – LXV que se tenham os parâmetros de orientação exterior da aerofoto e a coordenada altimétrica do ponto no referencial geodésico local, corretamente determinado nas etapas anteriores; f) Fase nº 6 – Processo Interativo: – Apesar das equações de colinearidade inversa viabilizarem a correta determinação das coordenadas planimétricas, verifica-se que a determinação realizada na fase nº 5 é imprecisa, pois a coordenada altimétrica do ponto (ZL) foi obtida a partir de interpolação matemática no MDT, com valores aproximados de Coordenadas planimétricas determinadas na fase nº 3. Os valores de coordenadas planimétricas, determinadas na fase nº 5 (XL,YL), são mais precisas que as determinadas na fase nº 3. Então, estas novas coordenadas planimétricas são utilizadas para o cálculo da nova coordenada altimétrica, mais precisa, no MDT (Z”). Com esta nova informação altimétrica, determina-se outras coordenadas planimétricas com as equações de colinearidade inversa (X” ,Y”). As fases de cálculo que determinam as coordenadas altimétricas no MDT (fase nº 4), e coordenadas planimétricas com as equações de colinearidade inversa (fase nº 5) são repetidas até que a diferença entre as coordenadas planimétricas calculadas na iteração n e iteração (n-1) seja compatível com a precisão adotada nos trabalhos. A convergência neste tipo de transformação ocorre geralmente na terceira ou quarta iteração” (MITISHITA1997, p. 122-124). A figura 2 mostra a convergência do processo. Figura 2 – Convergência do processo iterativo Fonte: Adaptada de VILLAREAL (1992) DH3 – LXV 2.6 Determinação da linha de costa com a monorrestituição A linha de costa é definida como a linha de preamar ou pela linha do nível médio do mar, quando não existir uma maré apreciável. Em lugares onde as marés são sensíveis e existe uma praia, a linha de costa é o limite interior da praia e, portanto, corresponde aproximadamente a linha de preamar das marés mais altas (DHN, 1992, p.3-5). A linha de costa foi obtida através do sistema monorrestituidor, sendo extraída alternadamente, devido à superposição existente nas aerofotos digitais, totalizando vinte e uma fotos retificadas. Inicialmente seriam utilizados os parâmetros de orientação exterior das fotografias, mas devido a problemas no sistema, utilizaram-se as coordenadas UTM em SAD 69 dos pontos fotogramétricos de cada aerofoto digital, obtidas através da aerotriangulação, para a orientação das aerofotos. A monorrestituição permitiu que se obtivesse mapeamento planimétrico das entidades gráficas de interesse (no caso a linha de costa) a partir da digitalização vetorial monoscópica de cada aerofoto. 2.7 Determinação da linha de costa com o emprego do GPS Utilizou-se o método de posicionamento relativo cinemático pós-processado, utilizando-se diferentes estações base para a determinação da linha de costa. O experimento foi realizado no dia 27 de junho de 2005 (GPS 178/05), utilizandose como estações base (figura 3): a) Pedra de Matinhos (PEDR), localizada no município de Matinhos, litoral paranaense; b) o Centro de Estudos do Mar (CEM), situado no município de Pontal do Paraná; c) a Capitania dos Portos do Estado do Paraná (CPPR), localizada no município de Paranaguá; 91 ARTIGOS d) duas estações da Rede MANFRA de Monitoramento Contínuo: UNICENP, localizada em Curitiba e CESUMAR (CESU), localizada na cidade de Maringá; e e) uma estação da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (PARA), também localizada em Curitiba. Os diferentes receptores GPS de dupla frequência utilizados com as respectivas taxas de aquisição constam da tabela 1. Estações Receptor Taxa de Aquisição PEDR ASHTECH Z-XII 3s CEM TRIMBLE 4000 SSI 3s CPPR TRIMBLE 4000 SSE 3s UNICENP LEICA RS500 1s CESU LEICA RS500 1s PARA TRIMBLE 4000 SSI 15 s MOBI ASHTECH Z-XII 3s Tabela 1 – Estações e receptores GPS Buscou-se determinar a linha de costa no litoral de Matinhos, desde o marco PEDR até o limite norte da faixa de voo, com aproximadamente 5 km de extensão. Figura 3 – Croqui com a localização das estações (Fonte: http://www.earth.google.com) 92 Figura 4 – Vista ampliada das estações litorâneas (Fonte: http://www.earth.google.com) 3 RESULTADOS 3.1 Linha de costa monorrestituída Para se avaliar a qualidade da linha de costa extraída da monorrestituição foram medidas diversas distâncias a partir da referência adotada como “padrão”, no caso, a linha de costa extraída no mês de junho de 2005, através do método de posicionamento relativo cinemático pós-processado, utilizandose uma linha de base curta (5 km) e onde 99,95% dos pontos da trajetória descrita possuíam um erro planimétrico inferior a 50 cm. O voo fotogramétrico foi realizado no mês de julho de 2005 e com isso tentou-se evitar que a variabilidade da linha de costa mascarasse resultados ou fornecesse falsas informações. A tabela 2 apresenta um trecho da planilha onde os dados foram inseridos e posteriormente analisados. Nela observa-se que no trecho de 4 km analisados, 100% das distâncias entre as trajetórias levantadas mantiveram-se dentro do limite de tolerância exigido pela OHI e pela DHN, que é de 10 metros, inclusive o seu valor máximo que foi de 6,39 m. DH3 – LXV Pt Dist (m) Pt Dist (m) 669 0,25 683 0,35 670 0,40 684 0,18 671 0,45 685 0,67 672 2,78 686 0,64 673 3,36 687 0,24 674 0,17 688 0,82 675 1,11 689 1,39 676 1,51 690 0,18 677 1,05 691 1,01 678 0,89 692 3,81 679 0,77 MÉDIA 1,09 680 1,45 DESVPAD 0,95 681 1,02 MÍNIMO 0,01 682 0,46 MÁXIMO 6,39 Tabela 2 – Distância entre os pontos obtidos por monorrestituição e GPS (padrão) correspondentes a um trecho da linha de costa A tabela 3 apresenta a distribuição da diferença planimétrica entre a monorrestituição e a trajetória “padrão” obtida por GPS ao longo da linha de costa. Faixa Porcentagem Acúmulo 0 a 0,5 m 29,62 % 29,62 % 0,5 a 1 m 25,14 % 54,76 % 1,0 a 1,5 m 22,54 % 77,3 % 1,5 a 2,0 m 12,86 % 90,16 % 2,0 a 2,5 m 2,75 % 92,91 % 2,5 a 3,0 m 3,03 % 95,94 % 3,0 a 3,5 m 1,45 % 97,39 % 3,5 a 4,0 m 0,58 % 97,97 % > 4,0 m 2,03 % 100 % Tabela 3 – Distribuição da diferença planimétrica DH3 – LXV 93 ARTIGOS Nela verificou-se que a maior parte dos pontos observados (cerca de 30%), concentrou-se na faixa de 0 a 0,5 m. Constatou-se também que 90% dos pontos apresentou uma diferença menor que 2,0m. Na Cartografia os produtos cartográficos são avaliados em função dos padrões fixados pelo Decreto Lei 89.817 de 20 de junho de 1984 (PEC – Padrão de Exatidão Cartográfica) que estabelece as especificações para classificar cartas. Os dados obtidos neste experimento atestam que a monorrestituição das fotografias obtidas pode ser utilizada para produzir cartas planimétricas na escala de 1:25000, classe A. Com o intuito de permitir uma melhor visualização de todas as observações realizadas a figura 5 foi construída. A média desta série de dados é de 1,0 m. O gráfico também serve para visualizar a dispersão dos valores em torno da média. Esta dispersão pode ser também analisada através do desvio padrão, que é de 0,95m (tabela 2). Supondo-se que a linha de costa adotada como referência possuísse todos os seus pontos com erro de 50 cm, ainda assim todos os pontos da linha de costa monorrestituída estariam com erro planimétrico inferior ao limite adotado pela DHN e pela OHI, que é de 10 metros. ERRO PLANIMÉTRICO DA MONORRESTITUIÇÃO AO LONGO DA LINHA DE COSTA Figura 5 – Diferença planimétrica da monorrestituição ao longo da linha de costa 3.2 Linha de costa obtida com o emprego do GPS 3.2.1 Comparação dos resultados planimétricos para as distintas linhas de base Para facilitar a visualização dos resultados a figura 6 foi construída. Ela mostra que a magnitude do erro planimétrico das coordenadas geodésicas dos pontos que compõem a trajetória descrita para a linha de base CESU/MOBI (432,2 km) é superior a todas as demais, 94 por se tratar de uma linha de base longa, dentre outros fatores. Daí a dificuldade em compará-la com as demais. Por isso optou-se em incluir na figura 7 somente os erros planimétricos inferiores a 2m (84,56% dos dados). Outra peculiaridade presente na figura 6 é a proximidade entre os erros planimétricos das linhas de base PEDR/ MOBI e CEM/MOBI; e das linhas de base PARA/MOBI e UNICENP/MOBI, evidenciando uma relativa proximidade entre as referidas estações base. DH3 – LXV A figura 7 apresenta a comparação do erro planimétrico para 4 linhas de base, excetuando-se a linha de base CESU/MOBI. Ressalta-se que todos os pontos com erro planimétrico superior a 50 cm foram excluídos. Entre os pontos de número 863 a 1200 constata-se um aumento dos erros planimétricos das coordenadas geodésicas para todas as linhas de base processadas. Percebe-se através dos relatórios de processamentos dos dados que neste intervalo houve uma redução do número de satélites (de 7 para 5) e também uma elevação do PDOP (de 1,2 a 5,8). Estes dois fatores podem ter contribuído para a elevação do erro planimétrico. Em face dos valores obtidos para o erro planimétrico adotou-se a linha de costa obtida com a estação base PEDR como a “padrão”. Buscando-se realizar uma avaliação da acurácia das demais linhas de costa obtidas com as demais estações base (CEM, PARA, UNICENP e CESU) comparou-se estas linhas com a linha “padrão”. Para isto foram escolhidos 15 pontos aleatórios sendo calculadas as distâncias entre estes pontos e a linha “padrão”, a média (µ) das distâncias e também o desviopadrão (σ) das distâncias de cada uma das linhas de base analisadas. Desta forma adotou-se a linha de costa PEDR/ MOBI como origem das medidas de distâncias realizadas, pois de acordo com a figura 7 é a que apresenta o menor erro bidimensional. Figura 6 – Comparação do erro planimétrico na trajetória Figura 7 – Comparação do erro planimétrico na trajetória para 4 linhas de base DH3 – LXV 95 ARTIGOS Analisando-se a tabela 4 constatase que a linha de costa obtida com a linha de base CEM/MOBI e a linha de costa obtida com a linha de base PARA/MOBI apresentam as menores distâncias. CEMMOBI (m) PARAMOBI (m) UNICENPMOBI (m) CESUMOBI (m) 1 0,11 0,06 0,49 1,03 2 0,14 0,07 0,52 1,01 3 0,16 0,06 0,51 0,97 4 0,19 0,09 0,52 0,94 5 0,16 0,07 0,52 0,94 6 0,13 0,07 0,58 0,94 7 0,17 0,06 0,43 0,37 8 0,20 0,11 0,42 1,42 9 0,18 0,10 0,41 0,67 10 0,19 0,09 0,39 0,90 11 0,13 0,06 0,42 3,20 12 0,17 0,04 0,42 1,17 13 0,16 0,06 0,39 1,20 14 0,14 0,05 0,38 0,78 15 0,14 0,05 0,38 1,00 µ 0,16 0,07 0,45 1,10 σ 0,02 0,02 0,06 0,63 PT CEMMOBI (m) µ 0,16 PARA- UNICENP- CESUMOBI MOBI MOBI (m) (m) (m) 0,07 Err. Plan. ± 0,20 ± 0,30 µ + Err. Plan. 0,36 0,37 0,45 1,10 ± 0,30 ±2 0,75 3,1 Tabela 5 – Média acrescida do erro planimétrico médio 3.2.2 Comparação dos resultados tridimensionais para as distintas linhas de base Para esta comparação a figura 8 foi construída. Observa-se que a magnitude do erro tridimensional das coordenadas geodésicas dos pontos que compõem a trajetória descrita para a linha de base CESU/MOBI (432,2 km) é superior a todas as demais, por se tratar de uma linha de base longa, dentre outros fatores. Daí a dificuldade em compará-la com as demais. Por isso optou-se em incluir na figura 9 somente erros tridimensionais inferiores a 2 m (70,54% dos dados). Tabela 4 – Distribuição da diferença planimétrica Na tabela 5 para cada linha de base a distância média foi acrescida do erro planimétrico médio encontrado nas faixas onde ocorreram as maiores concentrações das coordenadas geodésicas que compõem as trajetórias das linhas de base (CEM/MOBI, PARA/MOBI, UNICENP/ MOBI e CESU/MOBI). Analisando-se a tabela 5 constatase que os resultados obtidos após a soma são coerentes com a situação real do experimento. 96 Figura 8 – Comparação do erro tridimensional na trajetória A figura 9 apresenta o gráfico da comparação do erro tridimensional obtido para as coordenadas geodésicas calculadas para as distintas linhas de base, sem a linha de base CESU/MOBI, DH3 – LXV objetivando uma maior facilidade na visualização do gráfico. Nela observou-se que para a linha de base PEDR/MOBI está associado o menor erro e que este erro entre os pontos 4000 e 5000 aumenta de magnitude (passa de 8,0 para 17,6cm), isto é explicado pela elevação do PDOP (que passa de 3,1 para 5,8) e diminuição do número de satélites (de 8 para 5) captados pela estação MOBI justamente entre os referidos pontos. Observa-se na figura 9 que os pontos que compõem a trajetória descrita pela linha de base PARA/MOBI possuem erro tridimensional inferior aos da linha de base UNICENP/MOBI, entre os pontos 0 e 4500, a partir daí ocorre uma inversão, ou seja, os pontos da trajetória UNICENP/MOBI passam a apresentar erro tridimensional menor. Isto ocorre porque há uma redução na quantidade de satélites recebidos pela estação MOBI quando utilizando a estação base PARA (de 6 para 3), concomitantemente com a elevação do PDOP (de 3,1 para 20) a partir do ponto 4500. Por outro lado, com os pontos da estação MOBI utilizando a estação base UNICENP, a partir do ponto 4500, ocorre a elevação do número de satélites recebidos pela estação móvel (de 5 para 7), concomitantemente com a redução do PDOP (de 5,6 para 1,9). Figura 9 – Comparação do erro tridimensional na trajetória em 4 linhas de base Ainda observando-se os pontos da trajetória com a estação base PARA, entre os pontos 5800 e 6700 ocorre uma significativa redução na quantidade de satélites, chegando a 3 e uma consequente elevação no PDOP, chegando a 20 e fazendo com que o erro tridimensional supere o valor de 50 cm, sendo por isso que neste trecho os pontos com formato triangular não podem ser visualizados (figura 9). DH3 – LXV 4 CONCLUSÃO A nova metodologia apresentada satisfaz aos requisitos exigidos pela DHN e pela OHI para a confecção e atualização cartográfica náutica, viabilizando uma nova alternativa para a determinação da linha de costa. Esta metodologia apresenta a vantagem de ser econômica e não necessitar de operador com treinamento específico, o que custa caro e demanda 97 ARTIGOS ARTIGOS tempo para que o pessoal envolvido seja treinado, permitindo que qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento de informática possa ser treinada rapidamente para utilizar o sistema monorrestituidor. Além do que, ela permitirá que a Marinha do Brasil possua independência em relação a outros órgãos e empresas do ramo da Fotogrametria, pois todas as etapas envolvidas no processo de determinação da linha de costa poderão ser realizadas pelo seu próprio pessoal. Quanto à análise da precisão alcançada com as diferentes técnicas empregadas neste trabalho, pode-se concluir que de uma maneira geral todas as técnicas atingem a precisão exigida pela DHN, sendo que a técnica GPS é mais precisa do que a monorrestituição. A técnica da monorrestituição atendeu aos requisitos de precisão exigidos pela DHN e pela OHI, permitindo-se determinar a linha de costa e os acidentes topográficos, atendendo a todos os tipos de levantamentos (Ordem Especial, Ordem 1, 2 e 3). A dimensão do erro tridimensional e do erro planimétrico encontrado na linha de costa obtida com o posicionamento relativo cinemático pós-processado, em condições normais, ou seja, com um número mínimo de satélites observados (4) e uma configuração geométrica boa (PDOP entre 1 e 3) será diretamente influenciada pelo comprimento da linha de base utilizada bem como pela taxa de gravação dos dados utilizados na estação base, ou seja, de uma forma geral quanto menor a linha de base e menor a taxa de gravação dos dados, menor será o erro planimétrico encontrado, bem como o erro tridimensional. De todas as linhas de base analisadas, a que forneceu os melhores resultados, ou seja, a que possui o menor erro tridimensional e planimétrico é a linha de base formada pela Pedra de Matinhos com a estação MOBI, com extensão máxima de 5 km. Por isso, esta linha de base foi escolhida para avaliar a precisão da linha de costa monorrestituída, sendo chamada de “padrão”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DALMOLIN, Q. Projeto fotogramétrico. Curitiba: Imprensa Universitária da UFPR,1999. DELARA, R. Calibração de câmaras digitais não-métricas de pequeno formato. In: SEMINÁRIO APRESENTADO À DISCIPLINA FOTOGRAMETRIA AVANÇADA. Curso de Pós-graduação em Ciências Geodésicas, Universidade Federal do Paraná, 2003, 50p. DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO. Especificações para levantamentos hidrográficos. 2ed. Organização Hidrográfica Internacional, 1998. ___________. Especificações de cartas da OHI: seção 300 – Topografia. Rio de Janeiro: Organização Hidrográfica Internacional, 1992. JUBANSKI, J. J. Monorrestituição digital de aerofotos, apoiada por imagens LASER scanning, aplicada ao mapeamento de elementos cadastrais urbanos. Paraná: Universidade Federal do Paraná, 2003. Projeto Final apresentado ao Curso de Engenharia Cartográfica, Setor de Ciências da Terra - Universidade Federal do Paraná. KRUEGER, C. P. et al. DIAMAT: diagnóstico do impacto ambiental na área de matinhos. [S.l.: s.n.],2002. Relatório Final. MAKAROVIC, B. Digital mono-plotters. ITC Journal, v.1. 1, p.101-122, 1973. MITISHITA, E. A. Monorrestituição digital de aerofotos, associada com sistema de computação gráfica CAD, para fins de mapeamento na área florestal. Curitiba, 252 f. 1997. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) – Curso de Pós-Graduação em Engenharia Florestal – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná. SEEBER, G. Satellite geodesy: foundations, methods and aplications. 2.ed. New York: Walter de Grynter, 2003. Google earth. Disponível em: <http://earth.google.com/>. Acesso em: 21/01/06. 98 DH3 – LXV PROCESSAMENTO AUTOMÁTICO DE BATIMETRIA MULTIFEIXE PARA CONSTRUÇÃO DE CARTAS NÁUTICAS Aluizio Maciel de Oliveira Junior 1 RESUMO ABSTRACT O método tradicional de processamento multifeixe é parecido com o método usado no processamento monofeixe. Mas, como o multifeixe adquire uma quantidade de dados muito maior, ocasiona um tempo mais longo de processamento. Recentemente, um novo método de processamento automático foi desenvolvido e disponibilizado nos programas de hidrografia. Esse método, apesar de ter sua eficácia comprovada na limpeza dos dados batimétricos, gera grande desconfiança aos hidrógrafos responsáveis pela segurança das informações representadas nas cartas náuticas. O Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) realizou extensivos testes em 2008 e verificou que o método de processamento automático CUBE (estimador de batimetria e incerteza combinados), quando usado com a ferramenta de “filtro de superfície”, melhora a qualidade do processamento multifeixe com fins a produção da carta náutica. Traditional method used to process multibeam data resembles that one used for singlebeam processing. Because multibeam sonars acquire more data, its processing lasts longer. Recently, a new automatic processing method was developed and became available in hydrographic programs. Despite its proved efficacy to clean data, still is mistrusted by hydrographers who are responsible for the safety information represented in nautical charts.The Brazilian Navy Hydrographic Center (CHM) performed extensive experiments in 2008. Results demonstrated that CUBE (combined uncertainty and bathymetric estimator) automatic processing method, when used with “Surface Filter” tools, enhances multibeam processing quality undertaken for nautical charts production purposes. Palavras-chave: Ecobatímetro multifeixe ; processamento batimétrico ; CUBE. Keywords: Multibeam echosounder ; Bathymetric processing ; CUBE. 1 INTRODUÇÃO multifeixe causou um grande aumento na quantidade de dados adquiridos em relação aos ecobatímetros monofeixe usados anteriormente. Enquanto um ecobatímetro monofeixe obtinha A Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) começou a operar com ecobatímetros multifeixe em 1999. O 1 Capitão-de-Corveta, MSc – Encarregado da Seção de Batimetria do Centro de Hidrografia da Marinha. DH3 – LXV 99 ARTIGOS em média 3.600 medições de profundidades a cada hora, o multifeixe Kongsberg EM1000 instalado no NHo Taurus era capaz de adquirir aproximadamente 700.000 profundidades neste mesmo intervalo. Este fato ocasionou um considerável aumento no tempo necessário para o processamento dos dados batimétricos, pois o método de processamento era bastante similar ao usado no monofeixe. Apesar da grande vantagem dos dados multifeixe, que permitem a ensonificação completa do fundo, existia a desvantagem do grande esforço necessário para o processamento. Estima-se que o período gasto para o processamento era três vezes maior do que o tempo da sondagem. Por isso, geralmente, o navio terminava o processamento após ter saído da área de sondagem. Caso existisse alguma dúvida durante o processamento, com a necessidade de investigação de algum fundo duvidoso, não havia a possibilidade de se retornar ao local para realizar a investigação. Em 2008, a DHN operacionalizou o multifeixe Kongsberg EM3000 para águas rasas, que por possuir maior quantidade de feixes que o EM1000 e transmitir maior número de pulsos por segundo, agravou o problema do tempo de processamento versus tempo de sondagem. O EM3000 grava aproximadamente 13 milhões de sondagens por hora quando operando a 20 metros de profundidade. Durante esses primeiros 10 anos de operação multifeixe na DHN, se usou o método tradicional de processamento multifeixe, que exige bastante esforço do hidrógrafo na fase de limpeza dos dados, sendo necessário verificar cada linha separadamente. Recentemente, novas tecnologias para o processamento de dados multifeixe foram desenvolvidas. Essas metodologias usam processos estatísticos e permitem a análise automática dos dados. Dessa forma, minimiza-se o esforço do hidrógrafo para limpeza dos dados e reduz-se o tempo de processamento. 100 Destaca-se a ferramenta CUBE, que usa as incertezas das sondagens, calculadas através do erro total propagado (TPE), como referência para suas decisões. Também analisa as sondagens, quanto à sua coerência espacial com as áreas vizinhas para definir a consistência do modelo batimétrico e identificar as sondagens inválidas. Esse processo permite uma redução considerável no tempo de processamento, pois possibilita que o hidrógrafo focalize seu esforço nas regiões mais problemáticas. Enquanto as regiões que apresentam inconsistências são assinaladas para serem analisadas com maior cuidado pelo hidrógrafo, as outras regiões consistentes podem ser verificadas mais rapidamente. Apesar da grande aceitação da ferramenta CUBE para construção de modelos batimétricos em diversas aplicações (ex. modelos hidrodinâmicos), ainda desperta desconfiança entre os hidrógrafos responsáveis em produzir as cartas náuticas, por ser um processo automático. A fim de avaliar a eficácia desse método para o processamento de dados destinados à produção de cartas náuticas que garantam a segurança da navegação, o CHM realizou diversos testes com a ferramenta CUBE em 2008. Nesse trabalho, o método tradicional (usado desde 1999) e automático CUBE (testado em 2008) serão comparados. Ressalta-se a importância do filtro de superfície utilizado após o processamento CUBE para permitir que as menores profundidades válidas fossem mantidas, permitindo a validação desse método para a construção de cartas náuticas. O resultado final mostrou que o método CUBE usado juntamente com o filtro de superfície possibilita várias vantagens em relação ao processamento tradicional, como por exemplo: redução de tempo de processamento, análise dos dados de sondagem enquanto o navio ainda se encontra na área de sondagem e concentração de esforços do hidrógrafo no processamento dos dados críticos à segurança da navegação. DH3 – LXV 2 PROCESSAMENTO MULTIFEIXE USANDO MÉTODO TRADICIONAL O método tradicional de processamento multifeixe é parecido com o usado no processamento monofeixe, pois exige que o hidrógrafo verifique cada linha de sondagem separadamente em diferentes fases de análise (posição, sensores de atitude e sondagem). Além disso, possui uma fase adicional (análise por área) onde linhas adjacentes podem ser comparadas. O processamento de cada linha de sondagem é um processo bastante demorado porque os dados espúrios de posição, sensores de atitude e sondagem precisam ser editados manualmente à medida que se percorre cada linha que está sendo verificada. Esse processo também é muito subjetivo, por dois motivos principais: a) cada analista pode usar configurações diferentes (ex. fatores de aumento de escala) em seu processamento, ressaltando de formas distintas as informações na tela; e b) os dados possuem natureza randômica, sendo difícil estabelecer-se o limite máximo para aqueles que são válidos ou espúrios. Foi verificado que dois analistas distintos ou até o mesmo analista pode interpretar de forma diferente uma série de dados. Esse processo tem a desvantagem de não possibilitar a comparação entre linhas de sondagem adjacentes, mas é útil para isolar erros associados a algum sensor específico (MALLACE ; GEE, 2004). A Figura 1 apresenta a etapa (swath editor) usada para limpeza de sondagens espúrias linha-por-linha. Figura 1 – Ferramenta swath editor, usada para limpeza das sondagens espúrias. Cada linha representa uma transmissão do ecobatímetro. Os feixes de boreste estão em verde e os de bombordo em vermelho. Os feixes que foram eliminados estão em cinza. Esta limpeza é realizada manualmente, sendo demorada e subjetiva. No eixo vertical do gráfico, veem-se as profundidades. O processamento por área permite a verificação entre linhas de sondagens adjacentes. Sendo útil na identificação de erros específicos como, por exemplo, os causados por falhas na medição da velocidade do som ou da maré. Normalmente, deve-se verificar se as DH3 – LXV sondagens entre as linhas adjacentes estão coerentes. Assim, um alto-fundo precisa estar presente em todas as linhas que passem sobre ele. Caso somente uma linha de sondagem apresente um perigo e as demais não, isto representa um indício de que estes dados 101 ARTIGOS sejam falsos. Além disso, todas as linhas adjacentes devem estar encaixadas, confirmando a correta calibragem de todo o sistema. A Figura 2 apresenta a ferramenta (subset editor) usada para limpeza por área. Figura 2 – Ferramenta subset editor, usada para análise da coerência entre linhas de sondagem adjacentes. Em cima, à direita, navio afundado e, sobre ele, um quadrado amarelo. Embaixo, vista frontal das linhas de sondagem (verde, vermelho, amarelo, laranja, rosa) que ensonificaram esse quadrado amarelo. As sondagens consideradas espúrias são representadas em cinza. No eixo vertical do gráfico, veem-se as profundidades. Portanto, podemos fazer um diagrama das etapas do processamento tradicional, disposto na Figura 3, onde se ressalta a grande interferência dos hidrógrafos na limpeza manual dos dados. Figura 3 – Etapas do método tradicional de processamento multifeixe. As etapas assinaladas em vermelho precisam da ação do hidrógrafo. 102 DH3 – LXV 3 PROCESSAMENTO MULTIFEIXE USANDO MÉTODO DE PROCESSAMENTO AUTOMÁTICO CUBE O algoritmo CUBE, destinado ao processamento automático de dados multifeixe, começou a ser desenvolvido pela Universidade de New Hampshire em 2000. Tendo sido disponibilizado nos principais programas hidrográficos de processamento multifeixe (ex. Caris HIPS) desde 2005 (CALDER ; WELLS, 2007). Essa ferramenta surgiu na mesma época em que aumentava a preocupação da comunidade hidrográfica em quantificar a incerteza associada aos dados. A Organização Hidrográfica Internacional (OHI) havia definido, em sua publicação S-44 (4a ed.) de 1998, os novos parâmetros de incerteza a serem cumpridos nas distintas ordens de levantamentos hidrográficos. O Serviço Hidrográfico Canadense (CHS) havia avançado no estudo dos erros totais propagados (TPE), Figura 4 – CUBE gera uma malha batimétrica. As profundidades de cada nó dessa malha são geradas a partir da propagação das sondagens (valor medido) vizinhas e suas incertezas associadas. calculados a partir da propagação dos erros de cada sensor componente do sistema multifeixe (HARE, 2001). A ferramenta CUBE denomina de “sondagem” a medição realizada por cada feixe Wells (2004). Sendo que cada “sondagem” possui uma “incerteza” associada, que é obtida através do cálculo do TPE. Passaremos a usar estas denominações neste artigo. Para se realizar o processamento automático, uma malha batimétrica, com nós espaçados regularmente, é construída conforme mostrado na Figura 4. As sondagens e suas incertezas são propagadas DH3 – LXV para cada nó. Essas incertezas são degradadas à medida que se afastam de sua posição original em direção aos nós. Conforme cada nó recebe as sondagens de sua vizinhança, vai acumulando suas informações. Se as sondagens estiverem todas coerentes, será criada uma hipótese (solução) única. Se as sondagens não estiverem coerentes, teremos mais de uma hipótese. Nesse último caso, o modelo usa um método de “disambiguidade” para escolher qual hipótese será a mais provável de estar correta (hipótese verdadeira). Sendo definida como verdadeira aquela hipótese que possuir maior 103 ARTIGOS densidade de sondagens e que também estiver mais coerente com as informações dos nós vizinhos. A ferramenta CUBE denomina de “profundidade” o valor final obtido em cada nó, sendo calculado a partir das sondagens que contribuíram para a hipótese verdadeira. As hipóteses inválidas que não foram escolhidas no método de disambiguidade são chamadas de “hipóteses alternativas”. Essas podem ser validadas posteriormente pelo hidrógrafo caso considere necessário. Cabe ressaltar que o método CUBE foi desenvolvido para trabalhar com os erros randômicos inerentes à medição, devendo os erros sistemáticos e grosseiros (ex. sensores desalinhados) serem corrigidos antes da sondagem. O processamento automático com o método CUBE tem sua eficácia comprovada para diversas aplicações como, por exemplo, para construções de modelos batimétricos utilizados em modelos hidrodinâmicos. Entretanto, por ser um processo automático, sempre despertou receio aos hidrógrafos com medo de que algum perigo à navegação fosse desconsiderado durante este processamento e comprometesse a qualidade das cartas náuticas. A fim de avaliar esse método de processamento automático, foram utilizados dados dos levantamentos hidrográficos com multifeixe EM3000 realizados em Paranaguá (MAI2008), Baía de Guanabara (JUN2008) e Antártica (NOV2008). Logo no início dos testes, pôde-se verificar sua grade capacidade de diminuir o tempo de processamento. Mas, como o enfoque principal sempre foi a segurança da navegação, foi necessário se comparar os resultados obtidos com o método tradicional e com o método automático CUBE, para se estabelecer um grau de confiança nesse novo método. Comparando-se os resultados obtidos usando-se o método tradicional e automático, chegou-se a conclusão que seus resultados são bastante semelhantes, sendo que: a) existe grande coerência nas áreas que possuem somente uma 104 hipótese válida; e b) existem pequenas discrepâncias nas áreas com mais de uma hipótese. Portanto, definiu-se que o esforço do hidrógrafo deveria ser focado nas áreas que apresentassem múltiplas hipóteses, onde seria necessário realizarse a análise minuciosa e edição manual dos dados de batimetria. Esse procedimento permitiu reduzir bastante o tempo de processamento, pois essas áreas representam normalmente pequena parcela da região total de sondagem. A Figura 5 apresenta o número de hipóteses obtidas durante o processamento dos dados da Baía de Guanabara, podendo ser observado a região assinalada em amarelo onde seria necessário maior enfoque do hidrógrafo. Essa região corresponde à posição de um casco soçobrado. Figura 5 – Região sondada na Baía de Guanabara, apresentando o número de hipóteses CUBE. Em amarelo, ressaltase a área com mais de uma hipótese, onde deverá ser dado maior enfoque pelo hidrógrafo na validação dos dados. DH3 – LXV Sobre essa posição do casco soçobrado, o hidrógrafo pode visualizar todas as hipóteses (verdadeiras e alternativas) definidas automaticamente pelo método de disambiguidade CUBE. Cada analista, usando seu conhecimento hidrográfico, pode posteriormente “nomear” uma hipótese alternativa para que se torne verdadeira, conforme apresentado na Figura 6. Figura 6 – Visualização e edição de hipóteses CUBE. As hipóteses verdadeiras estão na cor verde; as hipóteses alternativas (inválidas) estão em vermelho; e a hipótese ‘nomeada” verdadeira manualmente pelo hidrógrafo tem cor azul. A profundidade de cada nó da malha batimétrica definida pelo método CUBE corresponde à média ponderada das sondagens vizinhas que contribuíram para a hipótese verdadeira, sendo que as sondagens que possuem menor incerteza têm maior peso neste cálculo. Portanto, o modelo batimétrico é uma superfície média, em torno da nuvem de sondagens medidas pelo multifeixe. Como precisamos das menores profundidades para construção das cartas náuticas, foi necessário adicionar mais uma etapa no processamento capaz de detectar essas profundidades mínimas. Essa etapa consiste no uso de um filtro de superfície construído em torno da profundidade média CUBE. O programa Caris HIPS usado pelo CHM permite DH3 – LXV construir um filtro usando os seguintes parâmetros: desvio padrão, incertezas, “maior dos dois valores” (desvio padrão e incerteza) ou “menor dos dois valores” (CARIS, 2007). Após extensivos testes, chegou-se à conclusão que se usarmos um valor igual a 1,5 vezes o “maior dos dois valores”, podíamos obter resultados semelhantes aos normalmente produzidos por um analista humano. Conforme apresentado na Figura 6, as sondagens que se encontrarem fora do limite ou janela definida pelo filtro de superfície são consideradas espúrias e devem ser eliminadas. Todas as profundidades contidas no interior do filtro são mantidas e podem ser exportadas para construção do modelo batimétrico que será usado para construção da carta náutica. 105 ARTIGOS Figura 7 – Filtro de Superfície, que é usado para construir uma janela em torno da profundidade média obtida com o método CUBE. O tamanho da janela pode ser definido pelo analista e é função do desvio padrão e incertezas de cada nó. As sondagens que se encontram fora desta janela são consideradas espúrias e são eliminadas. Esses procedimentos geraram uma malha batimétrica similar àquela obtida por um analista experiente usando o método tradicional, mas em um tempo mais de 20 vezes menor. Os resultados mantiveram as menores profundidades, conforme o propósito estabelecido anteriormente de garantir a segurança da navegação. Com os resultados satisfatórios obtidos durante os testes, foi possível definir-se uma nova sequência para o processamento de dados multifeixe destinados à construção de cartas náuticas. Conforme apresentado na Figura 8, esta sequência apresenta algumas fases similares ao processamento tradicional, mas permitiu diminuir o número de vezes que o hidrógrafo necessita atuar na edição de dados. Figura 8 – Sequência de processamento estabelecido para processamento de dados multifeixe usando ferramenta automática CUBE para produção de cartas náuticas. Em vermelho, ressalta-se a fase que o hidrógrafo deve interagir manualmente no processamento. 106 DH3 – LXV 4 CONCLUSÃO Os dados multifeixe de três levantamentos hidrográficos realizados em 2008 foram processados usando o método tradicional e o método automático CUBE. Após a comparação dos resultados obtidos por esses dois métodos, verificou-se que o método automático CUBE, se usado juntamente com a ferramenta filtro de superfície, é capaz de produzir resultados batimétricos similares ao método tradicional. Porém o tempo gasto no processamento automático CUBE é mais de 20 vezes menor que o método tradicional. Isso permite que se obtenha as seguintes vantagens quando se utiliza o método automático CUBE: a) realizar o processamento dos dados enquanto a embarcação de sondagem ainda se encontra no campo, podendo eliminar dúvidas sobre a sondagem rapidamente; b) aumentar enfoque do hidrógrafo para as áreas críticas de perigos durante o processamento, ao invés de se perder na tarefa exaustiva de limpeza manual do método tradicional; c) maior objetividade, portanto diversos analistas irão produzir resultados similares de processamento; e d) estabelecer as incertezas das sondagens, conforme determinado pela OHI na publicação S-44. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CALDER, B. ; WELLS, D. CUBE User’s Manual: version 1.14. USA: University of New Hamphsire, 2007. CARIS: HIPS/ SIPS User’s Guide. Fredericton, Canada.: CARIS, 2007. 1 CD-ROM. COLLINS, C. M. The study of total propagated errot in hydrographic surveying: BSc report. Fredericton, NB, Canada: Department of Geodesy and Geomatics Engineering, University of New Brunswick, 2004. [1v.] HARE, R. Error budget analysis for US Naval Oceanographic Office (NAVOCEANO): Hydrographic Survey Systems. USA: University of Southern Mississippi, 2001. HARE, R. et al. Multibeam error management: new data processing trends in hydrography. GIM, v. 8, out 2004. MALLACE, D. ; GEE, L. Multibeam processing: the end of manual editing?. [S.l.: s.n.], 2004. ORGANIZAÇÃO HIDROGRÁFICA INTERNACIONAL. Standards for hydrographic surveys: publicação S-44. 4.ed. Mônaco: OHI, 1998. SMITH, S. Navigation surface creation and use for charting example: seacoast New Hampshire. USA: University of New Hamphshire, 2003. WELLS, D. An introduction to CUBE: axioms and steps: version 6. Brunswick, Fredericton, Canada: University of New, out. 2004. DH3 – LXV 107 ARTIGOS O USO DE LINHAS DE BASE TRIVIAIS NO AJUSTAMENTO DE REDES GPS Maurício dos Santos Silva1 Verônica Maria Costa Romão2 RESUMO ABSTRACT Nos ajustamentos de redes GPS devemse usar apenas as linhas de base (LB) independentes ou todas as LB existentes, isto é, as independentes e também as triviais? Este trabalho busca fazer uma análise da variação nos valores de coordenadas/incertezas obtidas no ajustamento de uma rede GPS, de acordo com os tipos de LB incluídas nos cálculos. O estudo foi feito a partir de dados de algumas estações da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC) e dados de um conjunto de rastreios estáticos realizados em Florianópolis–SC no decorrer do último trimestre de 2007, durante o levantamento hidrográfico de Final de Curso (LHFC). Diversas combinações de pontos e configurações de rede foram adotadas, em diferentes dias de rastreio. Os testes desenvolvidos mostraram que as coordenadas dos vértices pouco variam em função do procedimento adotado no ajustamento e que as incertezas apresentaram valores mais homogêneos quando todas as linhas de base das sessões de rastreio são ajustadas ao mesmo tempo. On GPS networks adjustments it must be used only the independent baselines (LB) or all the existing LB, that is, trivial and also independent ones? In this paper it’s made an analysis of the variation in the values of coordinates/uncertainties obtained in GPS networks adjustments, in accordance with the types of LB enclosed in the calculations. The study was made using data of some stations of the Brazilian Network for Continuous GPS Monitoring (RBMC) and data from a GPS static positioning carried out in Florianópolis-SC on the last quarter of 2007, during a Brazilian Navy hydrographic survey. Many combinations of points and configurations of networks had been adopted, in different days of positioning. The developed tests had shown that the coordinates of the stations had almost no variation in function of the procedure adopted in the adjustment. The uncertainties, otherwise, were more coherent when all the baselines of the sessions are adjusted together. Palavras-chave: ajustamento de rede GPS ; linhas de base triviais ; incertezas. Keywords: GPS networks adjustment ; trivial baselines ; uncertainties. 1 2 Capitão-de-Corveta (HN) – Navio Hidrográfico Sirius. Universidade Federal de Pernambuco. DH3 – LXV 109 ARTIGOS 1 INTRODUÇÃO Os chamados “programas comerciais” de processamento de dados GPS fazem, em um primeiro estágio, o cálculo de linhas de base (LB) e, no segundo estágio, o ajustamento da rede. Com isso, geram as coordenadas das estações rastreadas e suas respectivas incertezas. No processamento de dados de uma mesma sessão, algumas das LB originadas podem ser interpretadas como sendo um vetor resultante da soma de outros vetores também calculados nesse processamento. Esse tipo de LB é denominada trivial. As demais LB são chamadas de independentes. Para avaliar o efeito do uso de LB triviais no ajustamento de redes GPS foram utilizados dados de um levantamento hidrográfico realizado em Florianópolis– SC, durante o levantamento hidrográfico de Final de Curso, no final de 2007, quando foram executados rastreamentos estáticos usando receptores GPS geodésicos de dupla frequência. Foram utilizadas também algumas estações da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC), mantida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os vértices utilizados distam de 2 a 1000 km entre si e as sessões estudadas possuem de 3 a 6 vértices. O uso das LB triviais no ajustamento da rede amplia artificialmente a redundância de dados e, por isso, os valores das incertezas resultantes para as coordenadas dos vértices ficam menores. Nesse caso, de acordo com estudos anteriores, as incertezas deveriam ser multiplicadas por um fator n , onde n é o número de 2 receptores, tornando-se maiores e alcançando um valor mais realista. Esse escalar não seria aplicável a ajustamentos feitos com linhas de base de sessões diferentes, somente para LB obtidas a partir de uma mesma sessão de rastreio. O objetivo deste artigo é dimensionar o efeito do emprego de linhas de base triviais sobre as coordenadas e as incertezas dos vértices de uma rede 110 GPS, quando o ajustamento é efetuado em um programa comercial de processamento, combinando LB de duas, três e quatro sessões de rastreio. No caso de as LB triviais não serem usadas no ajustamento e somente as independentes serem usadas, ainda que os valores das incertezas sejam mais realistas são, porém, diferentes para cada combinação de LB selecionadas para os cálculos. Qualquer que seja o caso, isto é, ajustando-se a rede somente a partir das LB independentes, ou a partir de todas as LB (triviais + independentes), não foi registrada variação expressiva nas coordenadas, somente nas suas incertezas. E ainda que as incertezas com as quais se trabalhou na presente pesquisa tenham valores absolutos pequenos, elas apresentaram grandes variações no decorrer dos cálculos, e é nessa variação relativa que este trabalho está focado. O escalar n , adotado em estudos 2 anteriores, mostrou-se não aplicável à quase totalidade dos ajustamentos realizados nesta pesquisa. Ajustamentos feitos com LB rastreadas em diferentes sessões apontam ser adequada a inclusão de linhas de base trivias no ajustamento de rede. Para compensar o aumento artificial na redundância é proposto um outro escalar, obtido empiricamente por este autor, que é função do número de vértices da rede e do número de sessões combinadas no ajustamento. Na presente pesquisa todos os processamentos foram executados usando efemérides precisas, referenciadas ao International Terrestrial Reference System (ITRS); e a altura do centro de fase L1 das antenas foi adotado conforme dados de calibração fornecidos pelo National Geodetic Survey (NGS), no endereço http://www.ngs.noaa.gov/ANTCAL. 2 POSICIONAMENTO RELATIVO Tendo-se receptores instalados em dois pontos, é determinado o vetor que liga ambos. Conhecendo-se as coordenadas DH3 – LXV de um desses pontos, pode-se adicionálas às componentes do vetor e as coordenadas do segundo ponto pode ser determinada (IHO, 2005). Por meio de um pósprocessamento dos dados, eliminam-se erros e aumenta-se a exatidão das coordenadas. As coordenadas não são, assim, obtidas em tempo real. As estações da Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC) desempenham justamente o papel do ponto de coordenadas conhecidas, eliminando a necessidade de que o usuário instale receptores nas estações de referência. Essa Rede, que é o que se chama de Sistema de Controle Ativos é mantido no Brasil pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A RBMC vem sendo integrada à Rede INCRA de Bases Comunitárias (RIBaC). Isso possibilitou um grande salto no número de estações: de 24 estações em 2006 para 61 estações em MAI/09. A expectativa é de que esse número chegue a 80 estações até o fim de 2009 (IBGE 2007). Os dados coletados pelas estações estão sendo disponibilizados através do portal do INCRA (http://ribac.incra.gov. br) e do IBGE (ftp://geoftp.ibge.gov.br/ RBMC). No primeiro são disponibilizados arquivos horários com intervalo de coleta de cinco segundos, já no outro portal, os arquivos são diários com intervalo de coleta de 15 segundos (IBGE, 2007). Qualquer sessão de rastreio que use três ou mais receptores vai produzir linhas de base triviais. Conforme Seeber (2003), para n receptores operando simultaneamente, valem as seguintes expressões: número total de linhas de base produzidas na sessão (1) n (n – 1) 2 número de linhas de base independentes da sessão (n – 1) (2) Observando a figura 1, nota-se que a terceira linha (AB), que fecha a figura, foi produzida com dados já utilizados para produzir RA e RB. Figura 1 – Linha de base trivial Sendo assim, quando ela é usada no ajustamento, cria uma falsa redundância. Para que essa linha possa contribuir para a solução do problema, deve ser oriunda de uma outra sessão de rastreio (FERNANDES, 2004). 3 AJUSTAMENTO DE REDES GPS 3.1 Linhas de base triviais e linhas de base independentes Em uma sessão de rastreio que use três receptores, três linhas de base são formadas. Porém, duas linhas, que vamos chamar de independentes, seriam suficientes para que se obtivessem as coordenadas de todos os pontos. Logo, a terceira linha é redundante e pode ser também obtida por soma vetorial das outras duas linhas. Linhas trivias são as linhas redundantes de uma sessão. DH3 – LXV 3.2 Desdobramentos do uso de linhas de base triviais Os valores das coordenadas dos pontos envolvidos no ajustamento não variam de forma expressiva com a inclusão das LB triviais no ajustamento, fato citado por (BECK et al., 1989 ; HOLLMANN et al., 1990). A variação significativa ocorre somente nas incertezas dessas coordenadas. Conforme a equação 6.2, se são usados n receptores em uma determinada sessão de rastreio, serão produzidos 111 ARTIGOS n – 1 vetores independentes. Os demais são triviais, combinações lineares dos independentes. O seguinte caminho é percorrido quando se faz uso de um programa comercial: a) Faz-se inicialmente um processamento dos dados obtidos no rastreio GPS realizado em cada um dos vértices da rede, gerando n (n – 1) linhas de base; e 2 b) Faz-se o ajustamento da rede. Se apenas LB independentes forem usadas no ajustamento, o resultado dependerá de quais n – 1 linhas de base são selecionadas dentre as diversas combinações possíveis e, com isso, não haverá solução única. Isso já não ocorre se no ajustamento da rede forem efetivamente usadas todas as n (n – 1) linhas de base. No rianópolis pela DHN, dois pontos foram adotados como fixos e tiveram suas coordenadas calculadas a partir das estações da RBMC apresentadas na figura 2: a) CPSC – adotado como fixo nos dias 276, 316 e 319; e b) CAIS – adotado como fixo no dia 277. Para testar o efeito do uso de LB triviais, foram processados e ajustados dados de rastreios GPS realizados em sessões: a) Com 3, 4, 5 e 6 receptores, fazendo com que as configurações abrangessem a maior parte dos casos práticos; b) Com diferentes tempos de rastreio – 10min a 17h; c) Em diferentes períodos do dia – entre 00:00 e 20:30; e d) Com diferentes comprimentos de linhas de base – de 2 a 1000 km. 2 Canadá, no início da década passada, CCS (1992) já recomendava o uso das linhas de base triviais nos ajustamentos de sessão. Em contrapartida, quando isso é feito, há um aumento artificial nos graus de liberdade e as incertezas das coordenadas apresentam-se menores e irreais. Para compensar esse efeito, Beck; Duval; Taylor (1987), Craymer et al. (1990), Craymer e Beck (1992), Craymer (1995) e Vincenty (1987) defendem que as incertezas das coordenadas devem ser escaladas por n . 2 4 CÁLCULOS REALIZADOS Foram utilizados dados GPS de duas fontes: a) estações da RBMC; e b) levantamento realizado pela turma do Curso de Aperfeiçoamento de Hidrografia para Oficiais, turma 1997, em Florianópolis-SC, durante o qual foram executados rastreamentos estáticos usando receptores geodésicos de dupla frequência. Para o processamento das redes formadas por pontos rastreados em Flo- 112 Figura 2 – Estações da RBMC usadas no cálculo de CPSC e CAIS Além disso, os ajustamentos foram feitos combinando diferentes números de sessões: uma, duas, três ou quatro sessões. 5 ORGANIZAÇÃO E REGISTRO DOS RESULTADOS De maneira geral, cada sessão isolada foi submetida a um processamento de linhas de base usando-se um programa comercial. Dispondo-se de todas DH3 – LXV as n (n – 1) linhas de base dessa sessão, 2 foi feito inicialmente um ajustamento de sessão usando-se todas as LB. Fez-se o registro das coordenadas determinadas e suas incertezas. Em seguida foram feitos ajustamentos de sessão a partir de uma série de diferentes combinações de LB independentes. Novamente todas coordenadas e incertezas foram registradas. Por fim, foram calculadas as médias das coordenadas e das incertezas obtidas a partir de LB independentes e foi determinada, para cada vértice, a razão entre o valor médio das incertezas oriundas dos ajustamentos de rede usando somente LB independentes e o valor de incerteza resultante do ajustamento usando todas as LB (triviais + independentes). O mesmo cálculo foi executado para outras sessões e combinações de LB independentes. nº. de vértices nº. de sessões A partir de 44 tabelas produzidas nesses cálculos, foi efetuada uma análise dos resultados obtidos e elaborada uma nova tabela onde foram anotados: a) a variação absoluta das coordenadas horizontais e verticais dos vértices; b) a variação relativa das incertezas das coordenadas; c) o valor médio das incertezas horizontais e verticais; e d) o escalar a ser aplicado às incertezas das coordenadas resultantes do ajustamento que usou todas as LB, a fim de tornarem-se mais realistas. A tabela 1 traz o fator de escala médio encontrado nos ajustamentos, de acordo com o número de estações rastreadas e o número de sessões combinadas no ajustamento. Fator de escala n Calculado 2 1,5 1,36 2 2 1,53 4 2 1,30 2 2,5 1,71 3 2,5 1,50 3 3 1,60 2 3 4 5 6 Tabela 1 – Resumo dos resultados Por ocasião do processamento e ajustamento dos dados: – Foi usado um programa comercial, o Trimble Geomatics Office (TGO); – Foram usadas efemérides precisas produzidas pelo IGS; – Considerou-se não ter havido erros na medição da altura da antena e na centragem do tripé; – Foi usada máscara de elevação de 13º; e – Os erros fornecidos foram de 1 desvio-padrão. DH3 – LXV 6 ANÁLISE DOS RESULTADOS 6.1 Coordenadas e suas incertezas Os resultados foram organizados em tabelas onde foram estabelecidos alguns indicadores que favoreceram a comparação entre os diversos dados. Para cada combinação de LB independentes que se ajusta são produzidas diferentes latitudes, longitudes e alturas, com suas respectivas incertezas, para cada vértice da rede. As seguintes 113 ARTIGOS informações puderam ser extraídas dessas tabelas: a) Em 83% dos casos, as coordenadas horizontais (latitude e longitude) de cada um dos vértices da sessão de rastreio (ou combinação de sessões) estudada variou menos que 0,001” de uma combinação de LB independentes ajustada para outra. Isso representa uma variação linear menor que 3cm; b) No caso da coordenada vertical (altura geométrica), a variação não ultrapassou o valor de 4cm em 83% dos casos; c) Quando duas sessões foram combinadas, as coordenadas horizontais produzidas apresentaram valores similares aos obtidos nos ajustamentos das sessões isoladas. Já a coordenada vertical apresentou um valor intermediário aos obtidos em cada sessão isolada; d) A variação das incertezas foi, em média, 3 vezes maior nos ajustamentos combinando sessões. Isso indica que as incertezas obtidas a partir das sessões isoladas mostraram-se mais homogêneas que as obtidas nos ajustamentos feitos a partir da combinação de sessões. e) As incertezas das coordenadas foram maiores na componente vertical. Tanto nos ajustamentos de sessões isoladas, como nos ajustamentos combinando sessões, a incerteza vertical foi, em média, três vezes maior que as horizontais; f) As incertezas obtidas nos ajustamentos envolvendo combinação de sessões foram, em média, dez vezes maiores que as incertezas das sessões isoladas. Esses valores de incertezas podem ser considerados mais realistas, em virtude de terem sido calculados a partir de um conjunto maior de dados; sobretudo dados obtidos em diferentes dias e horários; e g) Ainda nos ajustamentos combinando duas ou mais sessões de rastreio, a variação das incertezas, de uma combinação de LB independentes para outra, foi em média de 300%. Dependendo do conjunto de LB independentes selecionado para o ajus- 114 tamento, pode-se ter uma variação significativa nas incertezas das coordenadas. Isto é, o processo de seleção das LB torna-se decisivo. Em um dos ajustamentos essa variação no valor das incertezas das coordenadas foi de 670%. 6.2 Fator de escala Somente em alguns casos os fatores de escala, calculados com base em resultados de ajustamentos de sessões isoladas, coincidiram com a expressão n 2 , conforme defendem (BECK; DUVAL; TAYLOR (1987); CRAYMER et al., (1990); CRAYMER; BECK (1992); CRAYMER, (1995); VINCENTY, (1987). Nesta pesquisa, houve 31 experimentos em que sessões de rastreio foram ajustadas isoladamente antes de serem combinadas em pares. Nesses ajustamentos, apenas em seis casos o escalar obtido em uma das sessões do par foi igual ou bem próximo de 2n . Somente em dois casos ambas as sessões do par, ajustadas isoladamente, resultaram em escalares iguais ou bem próximos de 2n . Nos demais 83% dos casos os escalares oscilaram de 0,1 até 10. Isso evidencia o quanto instável é o valor do escalar para situações de sessões isoladas. Porém, quando múltiplas sessões são ajustadas em combinado, os valores do escalar é bem mais coerente com expressões dependentes de 2n . A expressão abaixo, proposta em Silva (2009), fornece uma boa aproximação para o fator de escala dos ajustamentos que combinam linhas de base independentes geradas no processamento de dados GPS obtidos em mais de uma sessão de rastreio: (/) 1,10. n 2 1 S (3) Onde: n número de receptores na sessão; e s número de sessões combinadas no ajustamento. DH3 – LXV Na terceira coluna da tabela 2 foi relacionado cada fator de escala médio encontrado nos ajustamentos, conforme o número de estações rastreadas e o número de sessões combinadas no ajustamento. nº. de nº. de Fator obtido vértices sessões nos 1,10. n 2 (n) (s) ajustamentos (/) 3 2 1,36 1,35 2 1,53 1,56 4 1,30 1,31 2 1,71 1,74 3 1,50 1,49 3 1,60 1,59 4 5 6 Tabela 2 – Fator de escala obtido conforme o número de vértices ajustados Na coluna da direita foram relacionados os valores de escalar obtidos a partir da expressão empírica, conforme a equação 3. CONCLUSÃO Pouca variação pôde ser observada nas coordenadas dos vértices das redes, em função do número de sessões combinadas, ou em função das linhas de base selecionadas. As possíveis variações se observam nas incertezas dessas coordenadas. Observou-se que as incertezas das coordenadas obtidas nos ajustamentos que usam todas as LB da sessão são menores que a média das incertezas obtidas nas combinações de LB independentes. Porém, como a inclusão das linhas de base triviais produz uma falsa redundância no ajustamento, as incertezas geradas nos ajustamentos feitos apenas com LB independentes tornam-se mais realistas. Em contrapartida, o resultado desse tipo de ajustamento varia conforme a combinação de LB independentes feita. DH3 – LXV Isso faz com que alguns autores, já citados na presente pesquisa, afirmem que a opção mais adequada é fazer o ajustamento com todas as linhas de base, evitando o problema da diversidade de resultados, devendo as incertezas ser multiplicadas por 2n . Quanto a esse assunto, o seguinte pode ser verificado: 1 S a) O fator 2n é sugerido por outros autores para escalar as incertezas das coordenadas oriundas de ajustamentos de sessões isoladas. Estudos anteriores não contemplaram os ajustamentos que combinam linhas de base rastreadas em momentos distintos, ou seja, diferentes sessões de rastreio. Por fim, em poucos ajustamentos feitos nesta pesquisa o fator n mostrou-se aplicável; e 2 b) No caso dos ajustamentos de linhas de base de diferentes sessões, os escalares a serem aplicados às incertezas resultantes do ajustamento quando todas as LB (independentes + triviais) tiveram comportamento bastante homogêneo. De maneira empírica, este autor estabeleceu a expressão 3, que correlaciona o valor do fator de escala ao número de vértices da rede (n) e ao número de sessões (s). O fato de as incertezas verticais terem valores três vezes maiores que os horizontais condiz com as características do sistema GPS, que privilegia o posicionamento horizontal. Ainda que os ajustamentos de redes a partir de sessões isoladas produzam incertezas, em média, dez vezes menores, esses valores devem ser considerados irreais. A combinação de sessões proporciona uma melhor amostragem de dados, obtidos em diferentes condições. Por fim, pode-se fazer uso de ajustamentos com 1 sessão (sessão isolada), desde que a informação de incerteza não seja de importância fundamental. 115 ARTIGOS ARTIGOS REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BECK, N. ; DUVAL, R.; TAYLOR, P. GPS Processing methods: comparison with precise trilateration. Journal of Surveying Engineering, [S.l.], v. 115, n 2, p 181-197, 1989. CANADA CENTRE FOR SURVEYING (CCS). Guidelines and specifications for GPS surveys: Release 2.1. Vancouver: Geodetic Survey Division, 1992. 63p. CRAYMER, M. R. Recomended procedure for the adjustment of individual GPS baseline solutions: internal report. Canada: Geodetic Survey Division Geomatics, 1995. 1p. CRAYMER, M. R. ; BECK, N. Session versus baseline processing. New Mexico: International meeting of the satellite division of the institute of navigation, 1992. p. 995-1004. CRAYMER, M. R. et.al. Specifications for urban GPS surveys. Surveying and Land Information System, [S.l.], v.50, n. 4, p 251-259, 1990. DALMOLIN, Q. 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Em seguida são estabelecidas áreas cuja abrangência depende da análise das funções de correlação cruzada. Também é feita análise comparativa entre as curvas de marés previstas, a fim de verificar se, além do coeficiente de correlação, há semelhança entre as formas, assegurando um grau maior de dependência entre as marés envolvidas. O propósito é estabelecer um grau de relacionamento entre as estações, mesmo que não haja entre elas implicações físicas. This article presents a criterion for the choice of places to install a basic tide stations network standing along the Brazilian coast, whose purpose is to contribute to the safety of the navigation through the continuous and systematic update of the references of bathymetric nautical charts. The criterion is based on cross-correlation coefficient between the predictions of hourly tide, for the year 2009, the tide stations in the tide tables. First, the reference stations are established to use as the basis for determining the cross-correlation functions. These stations were chosen in preference to ports have better structural conditions for the ongoing maintenance of logistics of these tide stations. Next, areas are established which coverage depends on the analysis of the functions of cross-correlation. Is also made comparison between the curves of predicted tides in order to verify if, in addition to the correlation coefficient, there is similarity between the forms, ensuring a greater degree of dependence between the tides involved. The purpose is to establish a degree of relationship between the stations, even if among them there are no physical implications. Palavras – chave: Maré; estação maregráfica; referência batimétrica; correlação cruzada. Keywords: Tide; tide station; reference bathymetric; cross-correlation. 1 Professor da Superintendência de Ensino – DHN e Dr. em Ciências Navais pela EGN. DH3 – LXV 117 ARTIGOS 1 INTRODUÇÃO O monitoramento do nível médio do mar torna-se cada vez mais relevante nas atualizações das referências batimétricas face às mudanças climáticas, uma vez que estas estão causando variações no nível médio dos mares, devido, principalmente, ao derretimento de geleiras e expansão volumétricas dos oceanos (IPCC 2007). Do ponto de vista da hidrografia, esta relevância se faz sentir através da implicação que as mudanças climáticas causam sobre as referências batimétricas das nossas cartas náuticas, visto que estão vinculadas ao nível médio da estação de referência das reduções de sondagens. A implementação de uma rede maregráfica permanente proporcionaria a atualização contínua das referências batimétricas. Por outro lado, a rede maregráfica permanente deve ser conectada à rede altimétrica brasileira, a fim de permitir os transportes de constantes harmônicas, através da análise harmônica cruzada, e de nível de redução entre suas estações. Atualmente, a grande maioria das estações maregráficas não está conectada entre si, impossibilitando a realização de estudos comparativos ou inferências de parâmetros entre elas. Isto constitui um problema, pois, sem a conexão, a referência batimétrica de uma área pode, por exemplo, conflitar com a referência de uma estação adjacente. A FIG.1 mostra duas estações maregráficas A e B não interligadas. Figura 1– Diferença batimétrica entre duas estações maregráficas A e B não conectadas (Elaborado pelo autor) Nota-se que a diferença ∆, entre os níveis de redução (NR), não pode ser determinada porque os níveis de referências (NR) não estão nivelados entre si. Segundo pesquisa realizada junto ao Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), há apenas oito estações maregráficas permanentes na costa brasileira, sendo que somente duas destas estações estão operando há mais de 50 anos: Ilha Fiscal (RJ) e Cananeia (SP), sendo este o tempo mínimo necessário de observação para estudo de tendência de variação 118 do nível médio dos mares (PIRAZZOLLI, 1986). Além disso, estas estações fazem parte do programa internacional de monitoramento contínuo do nível do mar, chamado GLOSS (Global Sea Level Observation System), cujo propósito primário é estudar as variações do nível médio do mar em termos globais e, portanto, são instaladas, preferencialmente, em mar aberto. O Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) também possui uma rede maregráfica permanente, chamada de Rede Maregráfica Permanente para DH3 – LXV Geodésia – RMPG, com com quatro estações: Imbituba-SC, Macaé-RJ, Salvador-BA e Santana-AP, com o objetivo de aprimorar o referencial da rede altimétrica brasileira. Estas redes não têm compromissos com os propósitos hidrográficos. Portanto, há necessidade da implantação de uma rede maregráfica permanente para fins hidrográficos, tendo os marégrafos instalados em áreas portuárias, a fim de manter atualizadas as referências batimétricas, contribuindo para a segurança da navegação. 2 SITUAÇÃO ATUAL DAS MEDIÇÕES MAREGRÁFICAS Atualmente, as previsões de maré constantes das tábuas das marés são baseadas em dados coletados, na sua maioria, há mais de 30 anos e, com durações inferiores há um ano (TAB.1). Isto acarreta erros significativos nas previsões de maré tanto em amplitude quanto em fase. Vale lembrar que períodos de coletas de dados inferiores há um ano não Tabela 1– Épocas e durações das medições maregráficas das tábuas das marés (Fonte: Sistema de Marés (Sismaré) da DHN) devem ser utilizados para a determinação do nível de redução, por serem inadequados à separação direta das componentes harmônicas, além de serem insuficientes à determinação do nível médio do mar. Também a coleta dos dados não pode ser muito remota (há mais de 30 anos), sob pena de não se estar usando informações representativas das condições atuais da maré da região. A rede maregráfica básica permanente irá proporcionar um monitoramento contínuo do nível do mar, permitindo desta forma a atualização sistemática das referências batimétricas das cartas náuticas. Uma vez que esta rede esteja interligada à rede altimétrica brasileira, possibilitará a comparação entre os diversos níveis médios, bem como permitirá DH3 – LXV o transporte de NM e NR de uma estação de rede para outra secundária. Por outro lado, os dados atualizados desta rede também contribuirão para projetos de obras costeiras, dragagens, aprimoramento da rede altimétrica brasileira, calibragem de modelos numéricos de circulação de massas d´água etc. 3 DESCRIÇÃO DO CRITÉRIO INSTALAÇÃO DA REDE DE Para este critério foram escolhidas as estações maregráficas constantes das tábuas das marés por serem as de maior utilização na navegação. O critério para a escolha de locais de instalação dos marégrafos da rede básica permanente baseou-se na análise das funções de 119 ARTIGOS correlação cruzada entre as marés das estações distribuídas por faixas de latitudes. Visto que as medições de maré coletadas ao longo da costa brasileira foram realizadas em épocas diferentes, utilizou-se como referência para este estudo a maré prevista para o ano de 2009. Inicialmente, foram escolhidas, em toda a costa brasileira, estações de referências para servir de base nas determinações das funções de correlação cruzada. Deuse preferência àquelas localizadas em portos, por oferecerem melhores condições logísticas e estruturais de operação. Conforme a análise dos resultados das funções de correlação, mudava-se, ou não, a estação de referência. Em áreas tais como baías, canais ou deltas de rios, devido à forte influência de atritos de fundo, estreitamento lateral e fluxo do rio, optou-se por sugerir a instalação de dois marégrafos permanentes: um na entrada e outro dentro da área. Os fatores citados acima distorcem a onda de maré de tal forma que a correlação entre elas torna-se muito fraca. Como exemplo de tais ocorrências, pode-se citar: Baía de Paranaguá e Barra Norte do rio Amazonas. No primeiro caso, as curvas de marés entre as estações de Galheta (entrada da baía) e do porto de Paranaguá mostraram-se bastantes diferentes, devido ao estreitamento lateral e à baixa profundidade. Na Barra Norte do rio Amazonas, devido ao fluxo do rio, as marés de Ponta do Céu e do porto de Santana apresentaram formas fortemente incoerentes, sendo que, em 4 RESULTADOS Os resultados das correlações cruzadas entre as alturas horárias da maré prevista, para o ano de 2009, das estações maregráficas constantes das tábuas das marés são mostrados na TAB. 2. Cada estação de referência é indicada por uma faixa que pode abranger uma ou mais estações maregráficas, mostrando a abrangência desta. Por exemplo, Belém, estação de referência – REF4, representa uma área cuja extensão abrange as estações de Ilha Mosqueiro e Vila do Conde. Lat Long Dif. Fase (horas) Coef. Corr Pta. Céu (REF1) 000 45´6 N 500 06´8 W - - Porto Santana (REF2) 000 03´4 S 510 10´9 W - - Salinópolis (REF3) 000 37´0 S 470 21´0 W - - Ilha Guarás 000 34´0 S 470 54´5 W 1 98% Ilha Mosqueiro 010 09´9 S 480 28´5 W -1 98% Belém (REF4) 010 26´2 S 480 29´6 W - - Estações Maregráficas 120 Santana, a curva de maré é bastante assimétrica, tendo o período de enchente (aproximadamente 4 horas) muito menor do que o de vazante (aproximadamente 8 horas). Portanto, em ambos os casos, optou-se por sugerir a instalação de dois marégrafos, independentemente da função de correlação cruzada entre elas. Nas outras regiões da costa brasileira, procedeu-se o estudo da análise das funções de correlação cruzada entre as marés previstas. Cada estação escolhida para ser uma estação da rede básica permanente teria uma área de abragência determinada tanto pelo coeficiente de correlação cruzada, quanto pela análise comparativa das formas das curvas de maré das estações envolvidas. O objetivo da seleção destas áreas é permitir o transporte de NR e das constantes harmônicas entre uma estação da rede e uma secundária, abrangidos por estas áreas. DH3 – LXV Lat Long Dif. Fase (horas) Coef. Corr Vila do Conde 010 32´4 S 480 45´2 W 1 97% São Luís 020 31´6 S 440 18´7 W 0 99% Pta. da Madeira (REF5) 020 33´9 S 440 22´7 W - - Porto de Itaqui 020 34´6 S 440 22´2 W 0 99% Porto de Tutóia 020 45´9 S 420 16´5 W 0 97% Porto Luís Correia 020 51´1 S 410 38´7 W 0 99% Terminal Pecém 030 32´1 S 380 47´9 W 0 99% Porto de Mucuripe (REF6) 030 42´9 S 380 28´6 W - - Porto Areia Branca 040 49´5 S 370 02´4 W 0 99% Porto Guamaré 050 06´3 S 360 19´1 W 1 97% Porto Macau 050 06´0 S 360 40´4 W 1 97% Porto de Natal (REF7) 050 46´7 S 350 12´5 W - - Porto de Cabedelo 060 58´3 S 340 50´4 W 0 99% Porto de Recife 080 03´4 S 340 52´1 W 0 97% Porto de Suape (REF8) 080 23´9 S 340 57´6 W - - Porto de Maceió 090 41´0 S 350 43´5 W 0 99% Terminal Inácio Barbosa 100 50´0 S 360 55´7 W 0 99% Capitania Portos de Sergipe 100 55´2 S 370 02´8 W 0 98% Porto Madre Deus 120 44´7 S 38037´3 W 0 99% Porto de Aratu 120 47´8 S 380 29´5 W 0 99% Porto de Salvador (REF9) 120 57´9 S 380 31´0 W - - Porto de Ilhéus (REF10) 140 46´8 S 390 01´6 W - - T. Barra do Riacho 190 50´3 S 400 03´6 W 0 99% Porto de Vitoria 200 19´2 S 400 19´1 W 0 99% Porto Tubarão (REF11) 200 17´3 S 400 14´6 W - - T. Ponta do Ubu 200 47´2 S 400 34´2 W 0 99% T. Imbetiba 220 23´1 S 410 46´2 W 0 94% Porto do Forno (REF12) 220 58´3 S 420 00´8 W - - Rio de Janeiro (REF13) 220 53´8 S 430 10´0 W - - Porto de Itaguaí (REF14) 220 55´9 S 430 50´5 W - - T. Ilha Guaíba (REF15) 230 00´0 S 440 01´9 W - - Porto Angra dos Reis 230 00´8 S 440 18´9 W 0 95% Estações Maregráficas DH3 – LXV 121 ARTIGOS Lat Long Dif. Fase (horas) Coef. Corr Porto São Sebastião (REF16) 230 48´6 S 450 23´9 W - - Porto de Santos (REF17) 230 57´1 S 460 18´3 W - - Porto Paranaguá (REF18) Canal da Galheta (REF19) 250 30´1 S 480 31´5 W - - 250 34´3 S 480 19´1 W - - Porto S. Francisco do Sul 260 14´7 S 480 38´4 W 0 89% Porto de Itajaí (REF20) 260 54´1 S 480 39´7 W - - Porto de Florianópolis 270 35´3 S 480 33´4 W 0 84% 280 13´8 S 480 39´0 W - - 320 07´4 S 520 06´2 W Estações Maregráficas Porto de Imbituba (REF21) Porto Rio Grande (REF22) - - Tabela 2 – Correlação entre as marés previstas de estações maregráficas das tábuas das marés Na tabela são mostrados os coeficientes máximos da função de correlação cruzada, cujos valores foram estimados de acordo com a diferença de fase, em horas inteiras, entre as curvas de marés previstas. Nota-se uma forte correlação entre as marés semidiurnas (Ponta do Céu – AP à Ponta do Ubu – ES) e valores menores nas marés semidurnas com desigualdades diurnas (Terminal Imbetiba – RJ à Imbituba – SC). Isto acontece, provavelmente, devido à forte influência metereológica nesta região e pela pequena amplitude de maré nesta região. Apesar de todos os coeficientes mostrados na tabela estarem acima de 80%, verificou-se que somente quando o valor do coeficiente de correlação cruzada fosse acima de 96% havia realmente uma semelhança entre as formas das curvas de marés. Como exemplos deste fato têm-se as FIG. 2 (Galheta e Paranaguá) e FIG. 3 (Porto de Natal e Porto de Cabedelo). No primeiro caso, o coeficiente máximo de correlação cruzada é de 99%, 122 enquanto no segundo, é de 92%. Isto mostra que, apesar do alto coeficiente de correlação cruzada, as curvas de marés não têm formas semelhantes. Somente quando o coeficiente de correlação for acima de 96% considerase que as marés correlacionadas são afins. Este foi o critério usado, nas marés semidiurnas, para determinar a área de abrangência de cada estação da rede maregráfica permanente, como mostrado na TAB. 2. Nas marés semidiurnas com desigualdades diurnas, devido à forte influência meteorológica, considerouse o coeficiente de correlação cruzada acima de 93% como suficiente para estabelecer a área de abrangência de uma estação da rede permanente. Na área abrangida pelas estações de São Francisco do Sul e Florianópolis, considerou-se, por se tratar de uma rede básica, o Porto de Itajaí como local escolhido para a rede, embora, futuramente, seja recomendável instalação de marégrafos permanentes nestes locais. DH3 – LXV Comparação entre Marés Previstas (01 a 03/01/2009) a) Correlação Cruzada entre Marés Previstas (Natal x Cabedelo) b) Figura 2 – a) Comparação entre as marés previstas e b) função de correlação cruzada para os portos de Natal e Cabedelo (coef. corr. 99%) DH3 – LXV 123 ARTIGOS Comparação entre Marés Previstas (01 a 03/01/2009) a) Correlação Cruzada entre Marés Previstas (Galheta x Paranaguá) b) Figura 3 – a) Comparação entre as marés previstas e b) função de correlação cruzada para Galheta e Paranaguá (coef. corr. = 92%) 124 DH3 – LXV Após a análise dos resultados, os locais escolhidos para a implementação da rede maregráfica básica permanente ao longo da costa brasileira é mostrada na FIG. 4. Figura 4 – Locais de instalação da rede maregráfica básica permanente DH3 – LXV 125 ARTIGOS ARTIGOS 5 CONCLUSÃO Há necessidade de implementação de rede maregráfica básica permanente ao longo da costa brasileira com fins hidrográficos. O monitoramento das variações de longo período do nível médio do mar, nos locais escolhidos para instalação desta rede, permitirá a atualização das referências batimétricas das cartas náuticas brasileiras, evitando que haja descontinuidades significativas entre as diferentes áreas contempladas por estas cartas. A função de correlação cruzada, usada neste trabalho, é apenas um indicador de afinidade entre as marés de dois lugares relativamente próximos, não implicando, necessariamente, numa correlação física entre elas. É importante que, além do coeficiente de correlação cruzada, haja uma comparação visual entre as curvas de marés a fim de verificar a semelhança entre estas. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO (Niterói, RJ). Tábuas das Marés. Rio de Janeiro: DHN, 2007. FRANCO, A. S. Tides: fundamentals analysis and prediction. São Paulo: IPT, 1981. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (Rio de Janeiro, RJ). Rede Altimétrica. Disponível em: <http://www.ibge.gov. br/home/geociências>. INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Disponível em <http://www.ipcc.ch/>. Acesso em: 26 jun. 2009. PIRAZZOLLI, P. A. Secular Triends of Relative Sea Level (RSL) Changes Indicated by Tide-Gauge Records. Journal of Coastal Research, n. 1, p. 1-26, 1986. SALLES, F. J. P. et al. Catálogo de Estações Maregráficas Brasileiras. Rio de Janeiro: FEMAR, 280p. 2000. SILVA, G. N. Variação de Longo Período do Nível Médio do Mar: Causas, Conseqüências e Metodologia de Análise. Dissertação de mestrado COPPE/UFRJ 93p. 1992. SILVA, G. N. Mudanças Climáticas: Influência sobre as Referências Batimétricas das Cartas Náuticas Brasileiras. Monografia – C-PEM/ EGN 53p. 2008. 126 DH3 – LXV EFEMÉRIDES HIDROGRÁFICAS 2007 — Em 7 de dezembro, o CHM foi credenciado pelo CNPq, por um período de 5 anos, como entidade de pesquisa e desenvolvimento. Esse credenciamento veio propiciar a participação do CHM em projetos de fomento à pesquisa, bem como proceder à importação de bens destinados à pesquisa científica e tecnológica, com os benefícios previstos na Lei 8.010, de 29 de março de 1990. 2008 — No dia 17 de janeiro, o navio Hidrográfico Sirius completou cinquenta anos de incorporação à Marinha do Brasil. Construído no estaleiro Ishikawajima Heavy Industries Co. Ltda, de Tóquio, no Japão, o NHi Sirius foi especialmente projetado para as atividades hidroceanográficas e tem acompanhado todas as fases de evolução e desenvolvimento do serviço hidrográfico contemporâneo. — Em 15 de fevereiro o NHo Cruzeiro do Sul chegou ao Rio de Janeiro, após 63 dias desde o suspender de Cingapura, onde foi incorporado à Marinha do Brasil em 08 de novembro de 2007, com atracações na Ilha Reunião (França) e na Cidade do Cabo (África do Sul). — Em 26 de fevereiro foi celebrado um Acordo de Cooperação Técnica com a Casa Civil da Presidência da República, visando a participação da DHN na execução no Subprojeto de Cartografia Náutica do Projeto Cartografia da Amazônia. O projeto visa o aprofundamento do conhecimento sobre a Amazônia brasileira, bem como o suporte a projetos de infraestrutura a serem implantados na região. Além do desenvolvimento regional, o projeto prevê a geração de informações estratégicas para monitoramento regional e segurança nacional, com especial ênfase nas áreas de fronteira. A execução do projeto demandará um período de cinco anos, contemplando a construção de um navio hidroceanográfico fluvial e de quatro avisos hidroceanográficos fluviais, bem como a aquisição de equipamentos de hidroceanografia e cartografia, tendo como contrapartida a produção de 74 cartas na escala de 1:100.000. — Em 28 de fevereiro foi realizada, na Diretoria de Hidrografia e Navegação, a Cerimônia de Incorporação à Armada do NHo Cruzeiro do Sul, DH3 – LXV 127 ARTIGOS presidida pelo Excelentíssimo Senhor Almirante-de-Esquadra Júlio Saboya de Araújo Jorge, Chefe do Estado-Maior da Armada. — Em 04 de março foi disponibilizada a primeira carta náutica eletrônica (ENC) brasileira (célula BR501821– Barra de Paranaguá), que passou a ser comercializada pelo Centro Internacional de Distribuição de Cartas Eletrônicas (IC-ENC), operado pelo Serviço Hidrográfico do Reino Unido (UKHO). — Em 9 de julho foi inaugurado o prédio da modelagem oceanográfica, fruto de um empreendimento conjunto entre a comunidade científica, a Academia e o CHM, com financiamento da PETROBRAS, destinado às atividades de pesquisa e desenvolvimento que virão a ser conduzidas no âmbito da Rede de Monitoramento e Observação Oceanográfica – REMO. — No dia 11 de abril foi adotada, em caráter experimental, uma nova sistemática de produção e publicação de bacalhaus (correções) para as cartas náuticas da Bacia Amazônica. Esse procedimento prevê que num prazo de até 30 dias após a realização de um levantamento hidrográfico na região, o SSN-4 publicará, se pertinente, um “bacalhau provisório” do trecho levantado, onde constará no corpo destes documentos uma nota com o seguinte teor: “Documento provisório, ainda não aprovado pela DHN, sujeito à alteração”. Esse novo procedimento visa aumentar a eficácia e a celeridade do processo de atualização das cartas náuticas da região. Em uma fase subsequente serão produzidos, para os mesmos trechos, os respectivos “bacalhaus definitivos”, cuja publicação se dará de modo ordinário por meio dos Avisos aos Navegantes. — Entre os dias 22 de julho e 20 de agosto, atendendo a uma solicitação do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e da Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM), a DHN, por meio do Serviço Meteorológico Marinho (SMM-MB) e do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) apoiaram a delegação brasileira durante os XXIX Jogos Olímpicos, produzindo previsões meteorológicas diárias para Pequim, sede dos Jogos, e para a área da baia de Qingdao, local onde foram realizadas as competições de iatismo. — Entre os dias 08 de setembro e 11 de novembro, uma equipe volante do CHM realizou a primeira batimetria multifeixe da MB em águas antárticas, realizando a ensonificação total da Enseada Martel, na Baía do Almirantado, onde se localiza a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), visando uma nova edição da Carta 25121. Durante essa comissão, também de forma pioneira, foi feita a observação da maré, durante o período de um mês, com marégrafo digital de pressão, o que inclui a previsão para a estação da EACF nas Tábuas das Marés da DHN de 2009. — Em 29 de setembro, pela portaria nº 93 do DGN, foi aprovado o novo Regulamento do CAMR, que mantém em definitivo o Departamento de Balizamento do Sudeste (anteriormente transferido para a BHMN, como parte da anterior extinção do CAMR). Esse ato administrativo pode ser considerado 128 DH3 – LXV como a última etapa da transferência do CAMR para a Ponta da Armação e encerra esse ciclo histórico. — No período de 17 e 21 de novembro, a DHN sediou um workshop internacional sobre operação de ecobatímetro multifeixe, no qual foram apresentados aspectos relacionados à teoria, à aquisição e ao processamento de dados batimétricos. O evento foi o primeiro realizado no país, sendo adicionalmente o 1º curso realizado com recursos do Programa de Capacitação da OHI e destinado a hidrógrafos do continente americano. — No mês de novembro, durante a realização do levantamento hidrográfico de final de curso do CAHO, em Laguna – SC, foi testado, pela primeira vez no país, o emprego das correções diferenciais RTK (Real Time Kinematic – Posicionamento cinemático e em tempo real) transmitidas pelas estações da RBMC (Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo do Sistema GPS) do IBGE, através de um link de tecnologia móvel 3G. Em função da alta precisão vertical desses sistemas, foi possível a aplicação de correções de marés às sondagens batimétricas, a partir das variações verticais registradas pelas antenas dos posicionadores a bordo da embarcação de sondagem, utilizando-se uma rotina específica do programa de processamento CARIS HIPS/SIPS. — Em 7 de dezembro, o processo de produção cartográfica náutica (cartas eletrônicas e em papel) recebeu a certificação ISO 9001:2000, pelo Lloyd’s Register Quality Assurance (LRQA), sob a responsabilidade do CHM. — De 08 a 17 de dezembro, o NHo Cruzeiro do Sul iniciou suas atividades de pesquisa, realizando a Comissão REMPLAC II, com embarque de pesquisadores da UNIVALI, como parte do projeto Labotório Nacional Embarcado. Foram realizadas sondagens, batitermografia e perfilagem de correntes no litoral de Santa Catarina. — Em 22 de dezembro, foi aprovado pela Portaria no 124/DGN, o novo plano cartográfico para a Bacia do Rio Paraguai. As novas cartas para a região passam a ser referenciadas ao datum WGS-84, sendo impressas no tamanho A2 (594 x 420) e com eixos orientados nas direções Norte-Sul. No trecho de Assunção a Corumbá as cartas serão construídas na escala de 1:25.000. Os atuais croquis do Rio Paraguai, no trecho Ladário a Cáceres, e do Rio Cuiabá, da foz a Cuiabá, também serão substituídos por cartas no tamanho A2, na escala de 1:10.000. Nesse mesmo ano foi disponibilizado um conjunto de 5 cartas, abrangendo o trecho Corumbá a Saladeiro Otília, no Rio Paraguai. Prevê-se que a produção de toda a nova coletânea de cartas náuticas da bacia do Rio Paraguai, que compreende 205 cartas, estará concluída em 2012. DH3 – LXV 129 PATROCÍNIO: APOIO: