De uma experiência nacional a uma experiência local em
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De uma experiência nacional a uma experiência local em
De uma experiência nacional a uma experiência local em bibliotecas escolares. O Programa de Bibliotecas Escolares da Secretaria da Educação de Bogotá. Elsa Pineda é a atual Subdiretora de Meios Educativos da Secretaria da Educação Distrital - SED - Prefeitura de Bogotá, Colômbia A Subdireção de Leitura e Escritura do CERLALC realizou uma entrevista a Elsa Pineda, Subdiretora de Meios Educativos da Secretaria da Educação Distrital, sobre o Programa de Bibliotecas Escolares de Bogotá. CERLALC: Como está concebido o programa de bibliotecas escolares de Bogotá e que ações estão sendo realizadas para concretizar dito propósito, no contexto do projeto educativo do Distrito Capital? Elsa Pineda: O projeto educativo do governo distrital se denomina Bogotá, uma grande escola (ver todo o documento em www.sedbogota.edu.co, sob o título de Plano Setorial de Educação 2004 - 2008). Neste marco, o programa de Bibliotecas Escolares está concebido como um subsistema integral do sistema escolar, no qual se desenvolvem quatro propósitos principais: 1. Apoiar o curriculum institucional, 2. Promover hábitos de leitura entre os atores da comunidade, 3. Formar no uso e a produção crítica de informação e 4. Trabalhar com a comunidade e promover seu desenvolvimento. Para consegui-lo, requerese o trabalho conjunto da direção institucional, dos professores, dos estudantes, dos pais de família e da SED. Por conseguinte, o subsistema é transversal a todos os atores da comunidade educativa e requer de sua participação ativa. CERLALC: Como é articulada a política de leitura e escritura do Distrito Capital de Bogotá com uma política pública para bibliotecas escolares? E. P.: A articulação é total. Os programas e serviços inscritos, o qual poderia torna-se uma política de Bibliotecas Escolares, garantem a existência de espaços de tempo, físicos e pedagógicos privilegiados para materializar as ações da política de leitura e escritura. Assim, recordemos que desde o Conselho Distrital de Leitura e Escritura – criado pelo Conselho de Bogotá, por acordo 106 de 2003, conformado por representantes das diferentes instituições comprometidas com o fomento da leitura e da escritura em Bogotá – projetou-se a formulação e a adoção de uma política pública de leitura e escritura para a cidade capital. Como parte deste processo, o Conselho de Leitura preparou uma agenda de prioridades a serem trabalhadas por todas as entidades comprometidas com o fomento da leitura e da escritura. A política surge também como resposta a uma situação problemática e de mecanismo de solução às situações apresentadas por diagnósticos que mostram indícios de uma pobre cultura escrita na cidade. Atualmente, o índice de analfabetismo (1) em Bogotá é, segundo dados oficiais, de 2,2% (2). Porém, esta cifra é maior no subregistro apresentado no dado estatístico devido ao aumento dos índices de pobreza, ao deslocamento pela violência, sem contar o número de analfabetos funcionais, muito difícil de calcular. Os resultados das enquetes de comportamento leitor indicam que os habitantes da capital têm muito pouca familiaridade com os livros e os objetos escritos (3). O acesso aos livros e aos materiais de leitura ainda é bastante restrito para um setor majoritário da população, especialmente para os grupos mais vulneráveis; as bibliotecas ainda são insuficientes para a totalidade da população, especialmente para alguns dos setores mais desfavorecidos, e o conhecimento que a população tem da existência das bibliotecas é mais limitado ainda. Das nove prioridades da Política, cabe destacar para o caso, as seguintes: a) Prioridade – 1. Garantir o atendimento integral ao problema do analfabetismo na cidade. b) Prioridade – 2. Fortalecer as instituições educativas em todos os níveis da educação formal para que estejam em condições de formar leitores e escritores, que possam fazer uso da leitura e da escritura de maneira significativa e permanente. c) Prioridade – 4. Criar, fortalecer e qualificar programas de formação inicial e contínua, para que docentes, bibliotecários e outros atores se tornem mediadores de leitura e escritura. Estas três prioridades falam de longe sobre a importância que as ações geradas desde as bibliotecas escolares, que não só projetam soluções a problemas escolares como também o analfabetismo e os baixos índices de leitura e escritura na escola y que também dinamizam o Plano Institucional de Leitura e Escritura (PILE). Igualmente, temos estado socializando – para cada uma das instituições educativas das 20 localidades da cidade – o desenho de um Plano Institucional de Leitura e Escritura (PILE) que dê sentido e lineamentos gerais pedagógicos a todas as atividades que usualmente é realizado pela escola, para semear a cultura da leitura e da escritura nos meninos, nas meninas e nos jovens. Não é suficiente com fazer, fazer, fazer; é necessário também pensar, refletir, organizar e a biblioteca escolar - como centro dinâmico da leitura e da escritura na escola - é a que puxa, desde seus lineamentos e políticas específicos, a estes processos pedagógicos. Bem, não podemos deixar de mencionar que o fortalecimento das bibliotecas escolares faz parte do Plano Distrital de Leitura e Escritura da Escola, que a Secretaria da Educação planejou como um conjunto de lineamentos e estratégias que procuram fomentar a leitura e a escritura dos meninos, das meninas e dos jovens dos colégios da cidade e como elemento fundamental da transversalidade curricular, dentro do programa: Transformação Pedagógica da Escola e do Ensino do Plano Setorial Bogotá, uma grande escola. As estratégias do Plano de Leitura e Escritura são: O Conselho Distrital de Fomento de Leitura e escritura; a modernização de bibliotecas escolares; o processo de Vitrine Pedagógica, o Projeto Institucional de Leitura e Escritura (PILE); Programa “Livro ao vento na escola”; Escritores à escola; Oficinas de criação literária para professores; Concurso de conto e poesia para estudantes dos colégios da cidade; Conformação de grupos de professores de Leitura em voz alta; Projetos da área de Humanidades; e a Rede Distrital de bibliotecas públicas Biblored. CERLALC: Indaguemos um pouco mais sobre o programa de bibliotecas escolares. Por que a SED está apostando na criação e implementação do Programa de Bibliotecas Escolares do Distrito Capital? E. P.: Estamos apostando em uma Biblioteca Escolar que faça parte ativa da escola, que esteja pensada desde sua particularidade e responda às suas necessidades, com professores e administrativos trabalhando em equipe com uma visão comum, com grupos de crianças, de jovens e de comunidade educativa em geral, fazendo um uso assíduo dela, com programas e serviços articulados ao labor pedagógico. E o estamos fazendo por múltiplas razões, entre outras: porque a mera existência de textos na aula, não equivale a uma educação ativa; precisam-se de materiais bibliográficos próximos às aulas, de acordo com as séries escolares, que complementem e ampliem o curriculum; a biblioteca escolar brinda os professores, materiais para preparar melhor as suas aulas; pretende desenvolver programas e serviços planejados especialmente para complementar o curriculum; permite o acesso próximo a materiais para fortalecer o hábito da leitura em todos os atores educativos; proporciona espaços e materiais para o uso do tempo livre, em consonância com a dinâmica escolar; seu bom uso pedagógico permite melhorar o clima escolar, entre outras coisas. Em geral, cada um dos colégios oficiais de nossa Bogotá conta com uma biblioteca escolar, porém seu desenho e dotação estão ancilosados. A SED já modernizou 53 bibliotecas com 3.500 títulos em média, sistemas de segurança, móveis especializados, equipamentos de cômputo, material bibliográfico, processamento técnico automatizado em WINISIS, formação de bibliotecários e fomento da leitura com um custo de $ 190.000.000 por biblioteca e colégio. O Programa de Bibliotecas Escolares da SED é um conjunto de ações orientadas a gerar bibliotecas escolares ativas, cujos programas e serviços estejam feitos à medida das necessidades da escola e contribuam ao seu desenvolvimento. Trabalha em duas vias, uma orientada a fortalecer o componente tangível e a outra, ao intangível. No componente tangível, o avanço mais significativo deu como resultado que cerca de 40 colégios contam - atualmente – com uma biblioteca escolar em condições físicas adequadas e agradáveis. Isto graças à ação conjunta dos colégios, das Prefeituras Locais e da SED. As limitações estão vinculadas principalmente ao alto investimento de recursos que implicam estas ações. No componente intangível, pôde-se encontrar muito boa disposição nas escolas e propostas pedagógicas muito interessantes dos professores, que ao vincular-se com a biblioteca escolar, têm o potencial de transformá-la no ambiente de aprendizado que estamos procurando. As limitações estão relacionadas principalmente com o tempo demandado pelo processo de mudança. CERLALC: As bibliotecas escolares do Distrito têm um projeto pedagógico próprio? E se for assim, aticula-se com os Projetos Educativos Institucionais? De que forma? E. P.: A SED tem realizado publicações relacionadas com o tema: A Biblioteca Escolar recurso educativo por excelência, Biblioteca Escolar e Projeto Educativo Institucional, o vínculo pedagógico e A Biblioteca Escolar como eixo transversal do Projeto Educativo Institucional nas quais se consigna uma proposta de projeto pedagógico para as bibliotecas escolares e se dão umas pautas específicas para sua articulação com o Projeto Educativo Institucional (PEI). Precisamente, uma das ações de acompanhamento que lhe mencionava na resposta anterior, tem como propósito adaptar esta proposta ao contexto de cada colégio para fazê-la realidade. Desta maneira, podem chegar a existir tantas propostas pedagógicas como instituições, tendo sempre em mente que os programas e serviços da biblioteca escolar devem estar pensados à medida de cada escola. No relacionado à forma de articulação entre o projeto pedagógico de biblioteca escolar e o Projeto Educativo Institucional, existem – pelo menos – 12 vínculos que devem ser tomados em conta. Por exemplo: 1. O marco da proposta pedagógica do Projeto Educativo Institucional determina como se estruturam pedagogicamente os programas de Bibliotecas Escolares e 2. O funcionamento do governo escolar estabelecido no Projeto Educativo Institucional determina o aproveitamento do serviço social do estudantado, a negociação de multas ou sanções por trabalho na biblioteca escolar, o manejo do bem público dentro do regulamento de biblioteca escolar, em caso de perdas, deterioração ou danos; somente por mencionar alguns. CERLALC: Para garantir a sustentabilidade do programa de Bibliotecas Escolares, que linhas estratégicas estão previstas e qual é o seu grau de avanço? E. P.: O Plano de Desenvolvimento Econômico Social e de Obras Públicas para Bogotá, 2004 – 2008, Bogotá sem indiferença, um compromisso social contra a pobreza e a exclusão, e seu programa Mais e melhor educação para todos e todas, o qual procura transformar os processos pedagógicos e metodológicos para conseguir mais e melhor educação, fortalece o programa das Bibliotecas Escolares, especialmente em setores onde os meninos e as meninas têm poucas oportunidades de acesso à cultura. O Plano Setorial Bogotá, uma grande escola, como parte de seus objetivos, contempla aportar ao desenvolvimento de uma cidade produtiva, a través do fomento do espírito científico, a criatividade e a apropriação crítica da tecnologia, permitindo a intensificação do conhecimento e recreação das riquezas artística, literária, científica e técnica. CERLALC: Em que consiste a Vitrine Pedagógica, que a senhora mencionou anteriormente como parte do Plano de Leitura e Escritura, e que papéis são desempenhados pelos diferentes agentes educativos, incluídos os bibliotecários, nesse programa? E. P.: A Secretaria da Educação, em cumprimento do acordo 30 de 1999 do Conselho de Bogotá, desenvolveu um processo continuado – desde esse mesmo ano – de melhoramento e fortalecimento das bibliotecas escolares, das bibliotecas de aula e dos bibliobancos, na direção de um melhor desenvolvimento dos processos de ensino, do aprendizado e da capacidade compreensiva dos meninos, das meninas e dos jovens, mobilizando – assim – o potencial educativo e cultural da cidade. A Vitrine Pedagógica tem tido importância relevante, já que tem permitido às instituições educativas, fornecer-se de material bibliográfico de acordo com as ênfases dos Projetos Educativos Institucionais de cada um dos colégios distritais. No esquema atual de aquisição de livros e textos escolares do Distrito Capital realiza-se à maneira de feira, nos pavilhões internacionais de CORFERIAS (4). As editoras apresentam, em stands, sua oferta de livros e textos. Os colégios, com um proposto que lhes foi designado previamente em função do número de estudantes, selecionam o material que consideram mais adequado desde a sua autonomia e critério institucional. Os diferentes agentes educativos estão chamados a aportar a este projeto através da construção deste critério de seleção e de compra institucional. Os responsáveis da biblioteca escolar devem estar em capacidade de dar conta das debilidades e fortalezas da coleção, com a finalidade de fortalecer este critério institucional e assim, garantir compras de qualidade. CERLALC: A Secretaria da Educação do Distrito dirige e Rede de Bibliotecas Públicas BIBLORED, a qual tem conseguido causar um grande impacto dentro da comunidade bogotana, pelo alcance de seus programas e serviços, e pela cobertura que inclui à comunidade educativa. Por que, então, está implementando-se outro programa que para muitos poderia significar a duplicação de recursos, como é o de bibliotecas escolares? E. P.: Existem dois grandes objetivos nos processos educativos que estão sendo realizados pela escola: propiciar espaços de socialização para estudantes e professores, e fomentar o aprendizado em forma significativa. Ao longo das práticas pedagógicas se provou que, geralmente, este segundo grande objetivo da educação na escola se consegue com o desenho, desenvolvimento e avaliação de Ambientes de Aprendizado na Aula (AAA). Na medida em que os professores e professoras consigam fomentar cada vez mais, melhores AAA, utilizando não somente modelos de ensino-aprendizado mais coerentes com as ênfases do Projeto Educativo Institucional e seu curriculum, senão também tratando de usar e aproveitar os recursos e materiais educativos com os quais conta, então poderemos, com segurança, conseguir melhores e mais aprendizados significativos nos alunos. Um desses recursos fundamentais é – sem dúvida – o livro. Especialmente o livro de primeira geração, onde se recolhem as idéias, teorias e propostas dos autores diretamente, livros que são levados de forma permanente às salas de aula ou, que, simplesmente, permanecem neles na forma de bibliobancos, em aulas cada vez mais especializadas, como são as que continuam conformando-se na grande maioria dos colégios oficiais e de concessão da cidade, onde implementa-se - nos dias de hoje- a rotação de estudantes. Todo este material bibliográfico, que poderíamos chamar de primeira mão, expedito e oportuno para a sede e a fome despertadas nas aulas, e sentidas pelos estudantes e professores dos colégios, através das bibliotecas modernizadas, fazem que o vazio na qualidade da educação - entre os colégios oficiais e os privados de elite - seja cada vez maior, dando possibilidades de inclusão, eqüidade e progresso cognitivo e cultural à grande população de meninos, meninas e jovens de menores recursos. As bibliotecas públicas, não são uma substituição das bibliotecas escolares, senão, um complemento. Um espaço de pesquisa e indagação, um cenário de encontro cultural com uma ampla margem de oferta artística, com tempos diferentes para a leitura e a procura do que o oferecido na aula, na escola. A consulta e a leitura nas escolas são mais grupais e lentas, nas bibliotecas públicas são mais individuais e imediatas. A biblioteca pública pode complementar o papel da biblioteca escolar, mas jamais substituí-lo, porque seus programas e serviços são de caráter geral e não pensados desde a particularidade dos espaços, tempos, contextos e Projeto Educativo Institucional de cada escola, como sim o são os da Biblioteca Escolar. Desta maneira, pesquisas realizadas em diferentes lugares do mundo, mostram que quando os estudantes dispõem no centro educativo de livros próximos à aula, eleva-se o seu rendimento acadêmico e que quando há um professor ou adulto que promove sua leitura e uso freqüente, os incrementos chegam a triplicar-se. Por sua cercania e missão, as bibliotecas escolares são que conseguem este impacto educativo, que dificilmente possa ser conseguido desde a amplitude das funções das bibliotecas públicas. Fazendo uma comparação: assim como é difícil imaginar uma escola sem pátios ou zonas de recreação, baseando-se no argumento que existem numerosos parques públicos na cidade (alguns deles próximos a ela), é inconcebível pensar em uma escola sem bibliotecas escolares pela existência da rede de bibliotecas públicas. CERLALC: Finalmente, que papel, a senhora acredita, pode ser desempenhado pelo CERLALC para o desenvolvimento das bibliotecas escolares? E. P.: A forma como estamos apresentando as bibliotecas escolares é inovadora para os colégios. Ajudarlhes-ia muito poder conhecer de perto a experiência do CERLALC no referente à promoção do acesso à leitura e ao cuidado do livro nas diferentes comunidades. Além do mais, como organismo assessor e proponente de políticas, pode orientar às diferentes regiões para que os programas de Bibliotecas Escolares sejam uma realidade e uma obrigação em todos os colégios da América Latina. “Por um lado, considera-se necessário que o ensino escolar contribua a criar leitores competentes na utilização de diversos tipos de textos, a promover atitudes reflexivas e críticas diante dos diferentes meios de transmissão e difusão da cultura escrita e a despertar interesse pela leitura como meio de entretenimento e como espaço importante do ócio. Insiste-se, igualmente, na necessidade de oferecer uma formação o suficientemente versátil como para adaptar-se a uma sociedade de mudanças, na qual a coleta, a seleção, o arquivo, a recuperação e a transmissão de informação são aprendizados imprescindíveis e onde o estudante deve dispor das estratégias precisas para aprender por si mesmo”. (Ministério da Educação e Cultura, Espanha. Documento Base A biblioteca escolar no contexto da reforma educativa). (1) Para efeitos deste documento, entende-se por analfabetismo a incapacidade para o manejo do texto escrito em suas diferentes possibilidades. (2) Segundo o DANE-DAPD, Enquete de qualidade de vida 2003. (3) Hábitos de leitura e consumo de livros na Colômbia. Bogotá: Câmara Colombiana do Livro, CERLALC, DANE, Fundalectura, Ministério da Cultura, Ministério da Educação, 2001. (4) Sigla de Corporação de Feiras e Exposições. Sociedade Comercial dedicada a organização de feiras e exposições.