Universidade de São Paulo Escola de Artes

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Universidade de São Paulo Escola de Artes
Universidade de São Paulo
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Projeto de Formatura I
CARACTERIZAÇÃO E TAXA DE ENTRADA DE PELLETS PLÁSTICOS NA
PRAIA DO TOMBO DO MUNICÍPIO DE GUARUJÁ - SP
Gabriel Hirata de Lima
Orientador: Ednilson Viana
São Paulo
2012
Sumário
1. Introdução .................................................................................................................. 03
2. Objetivos .................................................................................................................... 12
3. Área de Estudo ........................................................................................................... 13
4. Metodologia ............................................................................................................... 17
5. Resultados e Discussão .............................................................................................. 21
6. Conclusão .................................................................................................................. 43
7. Referências Bibliográficas ......................................................................................... 46
1. Introdução
O que é Lixo Marinho:
Os oceanos, que já foram considerados o berço da vida, hoje, sofrem com as
ações antrópicas na Terra. A atual forma de consumo desenfreado praticado pela
sociedade gera toneladas de lixo por dia espalhadas pelo mundo, e pela falta de um
descarte final ambientalmente adequado, muitos materiais acabam indo para os mares,
degradando a paisagem costeira e a vida marítima.
De acordo com as autoras Araújo e Costa (2003), os mares tem sido usados
como depósito de resíduos humanos, desde efluentes líquidos sanitários ou industriais
até as mais diversas classes de lixo, como plásticos, vidros e materiais radioativos ou
tóxicos, há muito tempo, sem a consciência de que os oceanos não tem capacidade
ilimitada de assimilação desses rejeitos.
A United Nations Environment Programme (UNEP), 2005, define o lixo
marinho como qualquer resíduo sólido manufaturado ou industrializado que tenha sido
descartado, depositado ou abandonado em ambiente marinho ou costeiro, por qualquer
fonte.
O lixo que atinge as referidas áreas pode ser de fontes terrestres, que incluem os
resíduos deixados pelos freqüentadores das praias, os provenientes de drenagem de rios
e lançamento de esgotos e a própria geração de resíduos nas cidades costeiras, ou de
fontes marinhas representadas pelas plataformas oceânicas e por navios e barcos de
pesca (IVAR DO SUL, 2005). Como exemplo dessas últimas fontes citadas, temos
materiais de pescas perdidos em alto mar como linhas, redes e outros artefatos, que além
da contaminação, trazem riscos a fauna aquática (ARAÚJO & COSTA, 2003), e a perda
ou vazamento da própria carga dos navios (UNEP, 2005).
Frequentemente, o lixo marinho é encontrado próximo a sua fonte, mas também
pode ser transportado por longas distâncias pelos ventos e correntes marítimas, no
substrato dos oceanos e das águas costeiras ou flutuando na coluna d’água. Isso explica
sua ocorrência em locais aparentemente improváveis, como praias desertas, ilhas
oceânicas ou recifes costeiros (UNEP, 2005).
A maior parte da população mundial vive em zonas costeiras, e a tendência é o
aumento dessa concentração demográfica. Consequentemente cresce o volume de lixo
gerado, que aliado ao rápido aumento da produção de materiais sintéticos persistentes,
devido ao culto ao “descartável”, à ineficiência dos sistemas de coleta municipais e à
baixa taxa de reaproveitamento e reciclagem, fazem aumentar a quantidade e tipo de
lixo que terão seu descarte inadequado (ARAÚJO & COSTA, 2003).
Todos esses fatores reunidos evidenciam que as principais fontes de lixo
marinho são terrestres, segundo a autora J. Ivar do Sul (2005), representam 80% do lixo
presente nos oceanos.
Não há dados recentes precisos sobre a quantidade de lixo marinho que existe no
mundo. Mas, existem estimativas de que 8 milhões de partículas de lixo marinho são
lançados no mar todo dia. E que destes, 5 milhões são provenientes de navios (UNEP,
2005). Outro dado de escala global, afirma que até 80% do lixo encontrado nas praias
chega à costa através dos rios próximos. Os resíduos chegam com facilidade à rede
hidrográfica, pela ação do vento e das fortes chuvas ou são lançados diretamente nela, e
então chegam ao ambiente costeiro (ARAÚJO & COSTA, 2003).
O Brasil, país de 7.408 km de extensão de linha de costa e cerca de 442 mil km²
de zonas costeiras possui 5 das 9 maiores regiões metropolitanas situadas à beira-mar, e
grande parte da população não dispõe de redes de esgotos, nem de sistema de coleta de
lixo, o que torna os efeitos ambientais dessa concentração ainda maior (ARAÚJO &
COSTA, 2003).
No país ainda são escassos os estudos específicos sobre lixo marinho. Os
Estados que concentram os principais estudos realizados são Rio Grande do Sul,
Pernambuco e Rio de Janeiro. Há necessidade de ampliar os trabalhos qualiquantitativos, que caracterizem a composição, tamanho e local de ocorrência dos
resíduos (IVAR DO SUL, 2005).
Impactos do lixo marinho:
No passado, o lixo acumulado nas zonas costeiras era considerado desagradável
aos olhos, mas pouco associado a questões ambientais ou de saúde. Os primeiros
trabalhos relacionados ao lixo no ambiente marinho foram motivados, provavelmente,
pelo impacto estético na paisagem (OLIVEIRA, 2008). Hoje, já se sabe que, além das
perdas estéticas, o lixo pode trazer sérios prejuízos, tanto econômicos quanto
biológicos, ao ambiente marinho (ARAÚJO & COSTA, 2003).
O lixo marinho tornou-se um problema severo, que afeta os oceanos do mundo
inteiro. É a causa da morte e de lesões de inúmeros animais marinhos e aves, que
ingerem ou ficam enroscados nos resíduos, ao confundi-los com alimentos. Estes
configuram os principais impactos diretos à vida marinha (ALLSOPP et al., 2005).
Em pesquisa realizada por Tourinho (2007), 100% das tartarugas marinhas que
tiveram seus tratos gastrointestinais analisados estavam contaminados com resíduos
sólidos.
Muitas vezes estes resíduos são aqueles materiais perdidos ou abandonados pela
atividade pesqueira, que embora tenham sido descartadas ainda desempenham sua
função, capturando animais que não serão consumidos ou comercializados, como peixes
e tartarugas. Esse fato é conhecido como pesca-fantasma (SCHNEIDER, 2009).
A dispersão de espécies invasoras é outro risco potencial associado ao lixo
marinho. Os resíduos que flutuam, o plástico, por exemplo, podem servir como meio de
transporte para espécies de animais que se fixam em sua estrutura e são levadas para
outra região, onde podem se instalar, ameaçando os ecossistemas locais (OLIVEIRA,
2008).
Esses materiais, podem eventualmente afundar, e seu acúmulo no solo oceânico
pode afetar os organismos ali presentes, impedindo que haja trocas gasosas entre a água
superficial com a água dos poros dos sedimentos, resultando na diminuição dos níveis
de oxigênio (ALLSOPP et al., 2005). Nos recifes o lixo pode impedir ou dificultar a
penetração de luz e as trocas gasosas, afetando principalmente organismos fixos
(ARAÚJO
&
COSTA,
2003).
Segundo Nash (1992), os prejuízos para atividade pesqueira decorrentes da
ocorrência de lixo marinho podem ser diretos ou indiretos, através da diminuição da
captura de pescado ou causando danos aos equipamentos de pesca e aos motores dos
barcos, o que torna a atividade mais onerosa. Os pescadores artesanais também sofrem
as conseqüências, pois a presença de resíduos flutuantes e a ocorrência de lixo nas redes
e anzóis de pesca diminuem a produção e até impedem a própria atividade, pela falta de
equipamento (ARAÚJO & COSTA, 2003; IVAR DO SUL, 2005).
O lixo marinho também causa a degradação da beleza cênica e dos aspectos
estéticos dos ambientes costeiros e, consequentemente, traz prejuízos econômicos à
indústria do turismo dessas regiões. As pessoas que procuram estes destinos são cada
vez mais exigentes quanto a sua qualidade (IVAR DO SUL, 2005). A necessidade de
limpeza contínua das praias agrava a situação, pois gera um grande gasto financeiro
para o município, o qual poderia ser evitado (ARAÚJO & COSTA, 2003).
O lixo marinho não é um risco só para os organismos aquáticos. Pode ser tratado
também como um problema de Saúde Pública (OLIVEIRA, 2008). O acúmulo desses
materiais nas praias favorece o desenvolvimento de microorganismos patogênicos e
oferece abrigo a animais vetores de doenças, como ratos e baratas (ARAÚJO &
COSTA, 2003). Além da saúde, causa problemas também nas propriedades e sustento
das pessoas, como: impossibilidade da pesca, incrustação e enredamento nas hélices das
embarcações e contaminação de marinas e portos comerciais (UNEP, 2005)
Os significativos impactos do lixo marinho indicam a necessidade da diminuição
dos níveis de poluição por estes resíduos nos oceanos. Deve-se adotar medidas de
prevenção eficientes, para que os prejuízos ambientais e econômicos não se agravem
(ARAÚJO & COSTA, 2003).
Tipos de lixo marinho:
Os resíduos sólidos que são levados ao ambiente marinho, de diversas formas,
causam prejuízos à biota e às atividades econômicas locais, como turismo e pesca.
O lixo marinho resulta de lançamento proposital, manipulação ou eliminação
descuidada. De acordo com Araújo e Costa (2003) os fatores que mais influenciam a
produção de lixo marinho são o número de habitantes no território, seu nível
educacional e poder aquisitivo, além da eficiência do sistema de coleta.
A introdução destas substâncias no ambiente marinho propicia diversos efeitos
deletérios que se associam aos principais poluentes conhecidos neste ambiente, como
metais pesados, hidrocarbonetos (derivados de petróleo), esgoto, pesticidas, compostos
orgânicos sintéticos, sedimentos antrópicos e resíduos sólidos (WINDOM, 1992).
Os derivados de petróleo como plásticos, nylon e isopor, são de difícil
degradação natural e são amplamente usados em produtos industrializados. São
oriundos principalmente dos países mais desenvolvidos, e sua geração aumentou
drasticamente nos últimos 50 anos, devido ao atual estilo de vida das populações
humanas (ARAÚJO & COSTA, 2003).
A abundância de produtos plásticos tem criado sérios problemas ambientais.
Eles chegam aos oceanos sob diferentes formas, desde sacolas plásticas e garrafas até
grânulos de 1 mm de diâmetro, os chamados pellets, que são a forma básica de
comercialização dessa matéria-prima. Os plásticos não degradam rapidamente no
ambiente porque são resistentes ao calor, ao ar e à água. A degradação provocada pela
ação das radiações solares transforma os plásticos em partículas cada vez menores, mas
todas mantêm as características originais – continuam sendo plásticos. Por essas razões,
a quantidade desse resíduo nos oceanos cresce continuamente (TURRA; MALUF;
MANZANO, 2008).
Uma pesquisa realizada pela U. S. Commission on Ocean Policy (2004)
constatou que a maioria do lixo marinho tinha sua origem nas atividades recreacionais e
litorâneas, como são as sacolas plásticas, canudinhos, embalagens de alimentos e
latinhas de alumínio. O lixo associado ao tabagismo ficou em segundo lugar.
Segundo Araújo (2003) os resíduos encontrados com maior freqüência estão
relacionados à alimentação, pesca, limpeza doméstica e esgoto/higiene pessoal,
indicando a forte contribuição de fontes baseadas em terra.
Alguns resíduos encontrados no mar podem ser indicadores de ineficiência nos
serviços públicos de recolhimento, disposição e tratamento do lixo, como é o caso de
itens utilizados na limpeza doméstica, higiene pessoal e esgoto, os quais dificilmente
são deixados por banhistas nas praias (ARAÚJO, 2003).
Resíduos de serviços de saúde provenientes de hospitais, clínicas e laboratórios,
também já foram encontrados no ambiente marinho. Descartados de forma incorreta,
esses materiais podem causar sérios riscos à população por serem bastante perigosos,
tais como materiais perfurocortantes, frascos de remédios e restos cirúrgicos. Os
mesmos deveriam ser incinerados em local apropriado (ARAÚJO & COSTA, 2003).
O lixo de fonte marinha é constituído pelos despejos de embarcações (que
podem ser intencionais ou acidentais), incluindo as atividades pesqueiras, e as
atividades de plataformas de óleo e gás. Os resíduos sólidos das atividades pesqueiras,
em particular, são facilmente identificados, pois são bem característicos: redes de pesca,
anzóis, armadilhas e recipientes de combustível (TOURINHO, 2007; SCHNEIDER,
2009).
A atividade no mar é potencial geradora de impactos em função de suas
necessidades operacionais básicas: geração de lixo doméstico e esgoto, queima de
combustíveis fósseis, uso de água potável e água do mar. Em relação aos petroleiros e
navios químicos, a geração de impactos se deve principalmente ao transporte de cargas
perigosas (MARTINS, 2006).
Segundo Martins (2006), metade da produção anual de petróleo, 1,5 bilhões
ton/ano, é transportada por via marítima. Esse quantitativo tem levado à conseqüências
que resultam no lançamento de cerca de 500.000 ton/ano de hidrocarbonetos no mar,
provenientes de vazamentos acidentais provocados por navios, pelas atividades de
exploração e pelas atividades de produção. Em 70% dos casos o lançamento ocorre
durante as operações de carga e descarga desses navios nos portos e terminais.
O petróleo possui componentes como o benzeno, tolueno e xileno, o BTX, que é
a parcela mais tóxica para os moluscos marinhos e outros peixes quando ocorre um
derramamento de petróleo no oceano. Os hidrocarbonetos de maior peso molecular
formam gotas pegajosas semelhantes ao alcatrão que grudam nos pássaros, nos
mamíferos marinhos, nas rochas e em outros objetos que entram em contato com o
produto derramado (MARTINS, 2006).
No Brasil, as indústrias do complexo químico, as mais importantes para a
economia do país, estão localizadas na zona costeira e podem trazer sérios problemas à
fauna aquática, caso não haja tratamento eficiente dos dejetos lançados. As indústrias de
adubos e fertilizantes são as maiores responsáveis pelo aporte de nutrientes com metais
pesados no litoral (CEMBRA, 1998).
Os metais pesados, em escala global, não causam grande ameaça ao ambiente
marinho. Ao contrário dos resíduos sólidos, das descargas de esgoto e dos
derramamentos de óleo, que causam significativo impacto. Há estudos e conhecimento
suficientes, sobre suas fontes, destinos e impactos no ambiente, para se desenvolver
estratégias de gestão mais eficazes (WINDOM, 1992).
Os pellets e seus impactos:
A poluição marinha é uma das principais preocupações atuais relacionadas ao
meio ambiente. O plástico é um dos vários poluentes que ameaçam os oceanos, e está
distribuído virtualmente por toda a sociedade moderna e seu uso continua a se expandir
devido à sua resistência à degradação (TURRA, MALUF, MANZANO, 2008).
As características que o torna tão usado - baixa densidade e durabilidade também lhe asseguram ser um poluente persistente, tanto no meio aquático, quanto no
terrestre (HOLMES, TURNER, THOMPSON, 2012).
A matéria prima plástica é comercializada em forma de pellets. Plastic Pellets
são grânulos de plásticos que correspondem à forma principal com que as resinas
plásticas são produzidas e comercializadas para serem usadas como matéria prima para
a criação dos mais variados objetos. São produzidos de várias formas (esféricas, ovóides
e cilíndricas), tamanhos (de 1 a 5 mm) e cores (geralmente claras, brancas ou
transparentes), dependendo de sua composição química e de seu propósito final. As
resinas mais utilizadas no mercado, normalmente contem polietileno, polipropileno e
poliestireno (EPA, 1993).
Figura 1: Variedade de pellets (Fonte: Manzano, 2009).
Na produção destes grânulos, conhecidos no Brasil como “lágrimas de Sereia”,
também são adicionados compostos que alteram suas propriedades estéticas (cor e
forma) e físicas (resistência térmica e dureza), ou características relacionadas com o
processamento posterior (por exemplo: porosidade). Os aditivos apenas misturados com
o polímero são em geral removidos/ lixiviados com maior facilidade, enquanto os
incorporados quimicamente só são liberados se o plástico for degradado por processos
químicos (TURRA, MALUF, MANZANO, 2008).
Depois de produzidos, os grânulos são embalados e transportados até as
indústrias de transformação para serem moldados das mais varáveis formas. Em vários
pontos da cadeia produtiva do plástico, os pellets podem ser perdidos, de maneira não
intencional, na natureza e chegar até os oceanos. O caminho até o ambiente aquático
pode ser feito por meio das tubulações de efluentes urbanos e industriais, no caso dos
produtores e processadores de grânulos; de vazamentos em caminhões, vagões de trem e
barcos durante o transporte; como rejeitos de atividades realizadas em mar aberto
(lavagem de porões de navios e despejos de resíduos de barcaças); além de eventuais
acidentes com navios cargueiros durante as operações de manuseio de carga nos portos
ou durante o transporte de carga pelo mar. (EPA, 2003; HESKETT et al., 2011;
TURNER & HOLMES, 2011; TURRA, MALUF, MANZANO, 2008).
Plastic Pellets tem sido encontrados em várias praias ao redor do mundo pela
sua capacidade de se transportar por longas distâncias, pela durabilidade dos polímeros
do plástico e pelo aumento de sua produção (HESKETT et al., 2011). E hoje é um
importante componente da poluição marinha por resíduos sólidos. Por serem bem
pequenos e translúcidos, geralmente são imperceptíveis na areia da praia, e embora não
tenha a aparência desagradável de outros resíduos, adquirem relevância por sua
quantidade e persistência no ambiente marinho, e pelos impactos ambientais e
econômicos que causam (TURRA, MALUF, MANZANO, 2008).
No ambiente marítimo, os pellets que são mais pesados que a água descerão para
o fundo oceânico, e os mais leves, podem flutuar ou ficar em suspensão na coluna
d’água. Assim, podem ser ingeridos por animais costeiros e marinhos, acidentalmente,
ou por se confundirem com algas, ovos e larvas, ou mesmo com organismos de pequeno
porte, colocando suas vidas em risco. Eles podem causar bloqueio do trato intestinal,
reduzir a absorção de nutrientes ou ainda criar falsa sensação de saciedade em animais,
como peixes e aves, reduzindo a busca por alimento e levando-os à morte por inanição
(ENDO et al., 2005; EPA, 1993; TURNER & HOLMES, 2011; TURRA, MALUF,
MANZANO, 2008).
Segundo a Environmental Protection Agency (EPA) (1993), as aves marinhas
são os animais que mais ingerem pellets. Cerca de ¼ das espécies de aves marinhas
tiveram sua ingestão comprovada. Os grânulos causam a falsa sensação de saciedade
nas aves, diminuindo seu apetite por comida, o que diminui suas reservas de energia e
suas habilidades de viver em ambientes adversos.
Além disso, os pellets podem servir como veículos para alguns compostos
químicos tóxicos, pois adsorvem compostos orgânicos hidrofóbicos, como os poluentes
orgânicos persistentes (POPs): o diclorodifeniltricloroetano (DDT), bifenil policlorado
(PCB) e monofenóis. Essas substâncias aderem aos grânulos (levando a uma
acumulação que pode alcançar um milhão de vezes o nível que normalmente
apresentam quando dispersas na água), de forma que sua ingestão pode acarretar
problemas hormonais nos organismos marinhos que os consomem, e, indiretamente, em
humanos, já que muitos desses organismos, em especial os peixes, são comuns na dieta
humana. (ENDO et al., 2005; HESKETT et al., 2011; HOLMES, TURNER,
THOMPSON, 2012; TURRA, MALUF, MANZANO, 2008).
Os pellets flutuantes podem, ainda, estar associados a outro problema: a
migração de espécies exóticas, através da incrustação de propágulos, bactérias e algas,
que podem causar desequilíbrios ecológicos para ecossistemas de outras regiões
(MANZANO, 2009).
Os grânulos também têm impactos econômicos, pois o derramamento dos
grânulos durante sua cadeia produtiva representa perda de matéria prima
(PIANOWSKI, 1997).
O estudo sobre os plastic pellets é importante para entendermos os riscos
associados às substâncias químicas encontradas nos lixos plásticos dos oceanos, e para
possível identificação das fontes destes materiais. Podendo auxiliar os governos, os
órgãos responsáveis pela proteção ambiental e o setor privado envolvido, na avaliação
dos métodos de produção, processamento e transporte dos grânulos e na determinação
de medidas consistentes para controlar e prevenir sua liberação para o ambiente.
2. Objetivos
Objetivo Geral:
O objetivo geral deste trabalho é estimar a quantidade de grânulos plásticos
(pellets) que chegam diariamente à Praia do Tombo, Guarujá (SP) e caracterizá-los.
Objetivos específicos:
•
Calcular a taxa de entrada dos grânulos plásticos utilizando a quantidade na
linha de deixa como marcador;
Análise quantitativa por ponto de coleta.
Análise quantitativa por dia.
•
Analisar morfologicamente os pellets encontrados na praia estudada;
•
Contribuir com os dados gerados para o programa de monitoramento global de
Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), o International Pellet Watch.
3. Área de estudo
A área estudada foi a Praia do Tombo, localizada no município de Guarujá,
litoral sul de São Paulo (Figura 2).
Figura 2: Mapa do município de Guarujá (Fonte: Prefeitura Municipal de Guarujá).
O Município de Guarujá localiza-se na Ilha de Santo Amaro, litoral do Estado de
São Paulo, e é uma das nove cidades pertencentes à Região Metropolitana da Baixada
Santista (RMBS). Sua população atinge 290.752 habitantes em uma área territorial de
aproximadamente 143 km² dentro do bioma Mata Atlântica, e distante 84km da capital
paulista (IBGE).
Seus limites geográficos são o Canal de Bertioga, ao Norte, o Canal do Estuário
de Santos, a Oeste, e o Oceano Atlântico ao Sul e Leste.
As principais vias de acesso terrestre à cidade são: a Rodovia Cônego Domenico
Rangoni (SP-55) (antiga Rodovia Piaçaguera Guarujá), a partir do entroncamento da
Via Anchieta, em Cubatão, a Rodovia dos Imigrantes (SP-160) e as Rodovias RioSantos (BR-101) e Guarujá-Bertioga (SP-61) para quem vem do litoral norte do estado
de São Paulo.
Também é possível chegar à cidade via marítima através do Ferry Boat (Balsa)
que parte das cidades de Santos e Bertioga.
Guarujá é umas das 15 cidades consideradas como Estância Balneária pelo
Estado de São Paulo por cumprir determinados pré-requisitos definidos por Lei
Estadual, por possuir vocação turística e ter um histórico de atração de visitantes
durante o ano inteiro. Isso lhe garante uma verba anual concedida pelo DADE
(Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias), que deve ser investida em
infraestrutura voltada ao turismo regional (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO
PAULO).
O município de Guarujá, e mais especificamente, a Praia do Tombo, foram
escolhidas para o presente trabalho por se situarem próximas ao Porto de Santos, o
principal porto do Brasil, instalado no Canal do Estuário de Santos (figura 3).
Figura 3: Em destaque: a Praia do Tombo e o Porto de Santos (Fonte: Google Earth).
Santos é o polo da RMBS, mas todas as áreas urbanas dos municípios que a
constituem são limítrofes e interdependentes. A Enseada de Santos sofre forte influência
de Guarujá e também de Cubatão, onde há grande concentração de indústrias
petroquímicas (MANZANO, 2009).
O Porto de Santos possui uma área de 7,7 milhões de m², 3,7 milhões de m² na
Margem Direita e 4,0 milhões m² na Margem Esquerda. Possui 13km de extensão de
cais e um total de 59 berços, dos quais 49 são públicos e 10 privados (CODESP, 2012).
Nessa área e em todo seu entorno, onde existem armazéns, depósitos, silos e
pátios de manobras, ocorrem diversas emissões de poluentes para o ambiente estuarino
e marinho, principalmente relacionado com perdas de produtos nas operações de carga e
descarga, e lavagens de contêineres e porões de navios (MANZANO, 2009).
Segundo a Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP), o Complexo
Portuário Santista responde por mais de um quarto da movimentação da balança
comercial brasileira e inclui na pauta de suas principais cargas o açúcar, o complexo
soja, cargas conteinerizadas, café, milho, trigo, sal, polpa cítrica, suco de laranja, papel,
automóveis, álcool e outros granéis líquidos.
A carga movimentada no Porto de Santos nos cinco primeiros meses de 2012 foi
5,7% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. A previsão para
2012 é movimentar em torno de 44,5 milhões de toneladas de granéis sólidos. Um navio
cargueiro, por exemplo, o Angelic Power, que atracou no Porto de Santos no dia 28 de
Outubro de 2012, tem capacidade para transportar 65.000 toneladas de pellets
(CEDESP, 2012; PORTAL BRASIL, 2012).
A grande movimentação de embarcações aliada à grande presença de indústrias
petroquímicas na região possibilitam a emissão de pellets e outros resíduos no ambiente
(MANZANO, 2009).
Praia do Tombo: 24°00’50’’S; 46°16’22’’W
A praia tem 856 metros de extensão e fica situada entre o Morro da Caixa
d’Água e o Morro do Forte, em uma área urbanizada (Figura 4).
A Praia do Tombo recebeu este nome devido à sua formação geológica, que
junto com as fortes ondulações, formam alguns buracos na areia que podem provocar
“tombos” aos banhistas.
No ano de 2010 a praia recebeu o certificado internacional Bandeira Azul
concedido pela organização não-governamental dinamarquesa Foundation for
Environmental Education (FEE). Esta instituição é vinculada junto à União Européia e à
United Nations Environment Programme (UNEP) e concede este selo às praias segundo
critérios de Educação e Informação Ambiental, Qualidade da Água, Gestão Ambiental e
Segurança e Acessibilidade (FEE, 2012).
Para atender às exigências da ONG, a prefeitura do município tratou as fontes de
poluição do local, inclusive o esgoto residencial e criou o Núcleo de Informação e
Educação Ambiental de Guarujá e o Comitê Gestor da Praia do Tombo, formados por
representantes de vários segmentos da sociedade. Também dotou a praia de
infraestrutura
com
acessibilidade,
banheiros
públicos
com
água
potável
e
monitoramento por câmeras de vigilância para a segurança (PREFEITURA DE
GUARUJÁ, 2010).
Figura 4: Praia do Tombo, Guarujá - SP (Fonte: Arquivo pessoal).
4. Metodologia
a) Calcular a taxa de entrada dos grânulos plásticos
Para estimar a quantidade de pellets que chegam diariamente na Praia do Tombo
foi realizada uma avaliação direcionada à zona de deixa da maré, entre os dias 15 e 19
de outubro de 2012.
A metodologia foi parcialmente adaptada do trabalho de Manzano (2009).
Foram estabelecidos cinco pontos de coleta (2 no canto esquerdo da praia, 2 no canto
direito e 1 no meio) (Figura 5) que foram visitados diariamente durante o período da
amostragem, respeitando a Tábua de Marés do Porto de Santos (Figura 6), fornecida
pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), onde constam as previsões dos
horários das marés, preamares (maré alta) e baixa-mares (maré baixa), e suas
respectivas alturas.
Figura 5: Em destaque, os pontos de amostragem D1, D2, M, E1 e E2 (Fonte: Google Earth).
Figura 6: Tábua de Marés do mês de Outubro/2012 do Porto de Santos (Fonte: DHN).
Maré é a oscilação vertical da superfície do mar ou outra grande massa d’água
sobre a Terra, causada primariamente pelas diferenças na atração gravitacional da Lua e,
em menor extensão, do Sol sobre os diversos pontos da Terra (MIGUENS, 1993).
Como pode ser observado na Tábua de Marés, o padrão normal de marés é a
ocorrência de 2 preamares e 2 baixa-mares durante o período de 1 dia lunar, sendo o
intervalo de tempo entre uma preamar e a baixa-mar consecutiva de pouco mais de 6
horas (Figura 7). E, devido ao fato de 1 dia lunar ter aproximadamente 24h 50min, em
oposição ao dia solar de 24h, as marés não ocorrem todos os dias à mesma hora num
mesmo local (DHN; MIGUENS, 1993).
Figura 7: Esquema de variação da maré durante 1 dia (Fonte: Miguens, 1993).
Estas informações são de grande importância para se identificar a zona de deixa
da maré, que representa a altura máxima que a água do mar avançou em direção ao
continente durante a preamar superior, trazendo consigo os “novos” pellets e outros
resíduos à praia.
Um método simples para averiguar essa altura máxima que a água atingiu,
consiste em fazer um traçado na areia da praia em direção perpendicular ao mar, durante
a última baixa-mar do dia anterior a cada coleta. Desse modo, à medida que a maré
sobe, durante o dia seguinte, ela vai “apagando” a linha tracejada na areia. Então, a
linha de deixa da maré pode ser identificada a partir da altura em que a linha tracejada
não foi apagada, pois isto significa que a água não atingiu tal ponto.
Assim, em cada um dos pontos de coleta, era estabelecido um transecto de 1m²
na linha de deixa da maré, onde eram recolhidos todos os pellets encontrados para
posterior quantificação e caracterização. Este processo foi repetido durante os 5 dias de
amostragem.
Recomenda-se lavar as mãos com sabão neutro antes de recolher os grânulos
plásticos da areia, a fim de não interferir na análise de possíveis poluentes encontrados.
b) Análise morfológica dos grânulos plásticos
Essa abordagem teve o intuito de comparar as características dos pellets
encontrados nos diferentes pontos de coleta, segundo o formato e cor.
Para isso, dentre o total coletado no item anterior, foram sorteados
aleatoriamente 100 pellets de cada um dos pontos para serem analisados
morfologicamente. No caso de em alguma dessas áreas não fossem recolhidos 100
unidades, todas seriam analisadas.
c) Contribuição com os dados gerados para o programa de monitoramento global
de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), o International Pellet Watch
Os grânulos plásticos que não foram utilizados no item (b) foram embrulhados
em papel alumínio e enviados via aérea dentro de um envelope ao Laboratory of
Organic Geochemistry, que pertence a Universidade de Agricultura e Tecnologia de
Tóquio, no Japão, onde se concentram as pesquisas sobre o monitoramento global de
POPs em pellets do programa International Pellet Watch (IPW). Através dos grânulos,
o laboratório analisará a concentração média dos micropoluentes que chegam à Praia do
Tombo e, a partir destes dados, fazer o mapeamento qualitativo dos micropoluentes
orgânicos ao redor do mundo.
5. Resultados e Discussão
a) Cálculo da taxa de entrada dos grânulos plásticos
Durante o período de coleta, de 15 a 19 de Outubro, foram recolhidos um total
de 1106 grânulos plásticos, distribuídos entre os 5 pontos de amostragem da Praia do
Tombo (Quadro 1).
Quadro 1: número de pellets/m² encontrados por dia, em cada ponto de coleta.
15/out*
16/out
17/out
18/out
19/out
Total/ponto
E1
59
25
23
26
21
154
E2
122
145
88
78
72
505
M
11
43
69
83
75
281
D1
19
21
34
12
17
103
D2
15
13
16
8
11
63
Total/dia
226
247
230
207
196
Total=1106
* n° de pellets coletados no dia 15 de Outubro e que não serão considerados na estimativa de taxa de
entrada.
Como o objetivo do trabalho foi calcular a taxa de entrada dos grânulos
plásticos, ou seja, a quantidade que chega diariamente na praia, o número de pellets
coletados no primeiro dia de amostragem, dia 15 de Outubro, foi desconsiderado desta
análise, pois este número não representava a quantidade que havia chegado à praia de
um dia para o outro, e sim a quantidade acumulada ao longo do tempo (Quadro 2).
Quadro 2: número de pellets/m² encontrados em cada ponto de coleta, durante os 4 dias
analisados.
16/out
17/out
18/out
19/out
Total/ponto
E1
25
23
26
21
95
E2
145
88
78
72
383
M
43
69
83
75
270
D1
21
34
12
17
84
D2
13
16
8
11
48
Total/dia
247
230
207
196
Total=880
Análise quantitativa por ponto de coleta
Os resultados obtidos no presente trabalho foram analisados de forma a facilitar
a visualização dos padrões existentes encontrados e, portanto, estão apresentados na
forma de gráficos divididos entre os 5 pontos de coleta estudados na Praia do Tombo.
• Ponto de coleta E1
No ponto E1 houve uma média de deposição de aproximadamente 23 pellets/dia,
sem muita variação na deposição durante os 4 dias de estudo (Figura 8).
Figura 8: n° de pellets coletados por dia no ponto de coleta E1.
• Ponto de coleta E2
No primeiro dia houve uma deposição de 145 pellets, a maior neste ponto de
coleta e uma uniformidade na quantidade depositada ao longo dos outros 3
dias (Figura 9).
Figura 9: n° de pellets coletados por dia no ponto de coleta E2.
• Ponto de coleta M
No ponto de coleta M, as maiores deposições ocorreram nos últimos dois dias de
amostragem, com uma quantidade de 83 e 75 pellets/m², respectivamente.
Figura 10: n° de pellets coletados por dia no ponto de coleta M.
•
Ponto de coleta D1
No dia 17 de Outubro houve a maior taxa de entrada de pellets no ponto D1,
com 34 unidades por m², e no dia 18 de Outubro, a menor, com 12 pellets coletados.
Figura 11: n° de pellets coletados por dia no ponto de coleta D1.
• Ponto de coleta D2
No dia 17 de Outubro houve a maior taxa de entrada de pellets no ponto D1,
com 16 unidades por m², e no dia 18 de Outubro, a menor, com 8 pellets coletados.
Figura 12: n° de pellets coletados por dia no ponto de coleta D2.
A variação máxima encontrada durante esta análise foi de 8 a 145 pellets/m².
O ponto de coleta E2 foi o lugar onde se observou a maior concentração de
pellets no total (Figura 13). Entre os 4 dias considerados do período de amostragem
foram recolhidos 383 unidades do material neste ponto, sendo que 145 destes em um só
dia (16/Out). Nos demais dias houve pequena variação, de 72 a 88 pellets.
Figura 13: n° total de pellets coletados em cada ponto de coleta.
A maior concentração de pellets/m² no ponto de coleta E2 pode ser explicada por
dois motivos: o primeiro porque este ponto está localizado em uma área menos
acessível aos banhistas (Figura 14), isso evita que os grânulos sejam soterrados pelo
pisoteio, e o segundo considera a direção das ondas durante o período de análise, que foi
predominantemente de origem sudeste (Quadro 3), o que leva os resíduos sólidos que
estão no mar a se concentrarem no canto esquerdo da praia. Segundo, Pianowski (1997),
quando as praias são mais “preservadas”, os pellets são encontrados mais facilmente.
Figura 14: Foto da área do ponto de coleta E2, pequena faixa de areia situada entre o costão rochoso e
outras rochas, que dificultam seu acesso (Fonte: Arquivo pessoal).
Quadro 3: Tamanho da Ondulação em metros e Direção das Ondas no Guarujá (Fonte:
WindGuru).
O segundo ponto com maior concentração de pellets foi o M, ao todo foram
coletados 270 unidades. A variação neste ponto foi de 43 a 83 pellets/m². Juntos, os
pontos E2 e M representam aproximadamente 75% do total de pellets recolhidos.
No ponto de coleta M se observou o fato de existirem placas de sinalização do
Corpo de Bombeiros nesta área com indicação de forte correnteza do mar no local e
risco de afogamento (Figura 15). Se neste ponto a força do mar for realmente mais forte
que nos outros, isto pode explicar a grande taxa de entrada de pellets encontrada no
ponto em questão.
Figura 15: Em destaque vermelho, as placas de sinalização próximas ao ponto de coleta M, e em azul, a
demarcação feita na areia para se identificar a linha de deixa da maré (Fonte: Arquivo pessoal).
O ponto E1, o mais próximo do ponto de maior concentração de pellets (E2),
não seguiu a mesma tendência observada no ponto E2, provavelmente porque nessa área
havia banhistas, ao contrário da outra (Figura 16).
Figura 16: Em destaque, as localizações dos pontos de coleta E1 e E2 (Fonte: Google Earth).
Os pontos de coleta E1 e D1 apresentaram resultados finais próximos, com um
total de, respectivamente, 95 e 84 pellets recolhidos ao final da amostragem. O ponto E1
foi onde se observou a maior homogeneidade de taxa de entrada dos grânulos, com
variação de 21 a 26 pellets/m².
No ponto D2, apesar de ter o menor número de grânulos coletados durante a
amostragem, também foi possível observar pequena variação do número de pellets
recolhidos por dia, de 8 a 16 unidades por m².
Através da análise das Figuras 11 e 12, correspondentes aos pontos de coleta D1
e D2, ambos localizados no canto direito da praia, pode-se notar que houve um padrão
na taxa de entrada de pellets nesta área. Houveram maiores deposições deste resíduo no
dia 17 de Outubro, e as menores no dia 18 de Outubro.
Assim como no trabalho realizado por Manzano (2009), a taxa de entrada de
grânulos plásticos na Praia do Tombo pode estar subestimada porque a praia estudada
tem grande frequência de banhistas e praticantes de esportes que podem soterrar os
pellets, e também porque existe trabalho de limpeza com rastelos na linha de deixa para
a retirada de resíduos deixados pelos frequentadores da praia, mas que podem retirar ou
deslocar os pellets.
Análise quantitativa por dia
Os dias considerados nesta análise foram de 16 a 19 de Outubro. A figura 17
mostra em forma de gráficos qual foi a variação da quantidade de pellets que chegaram
à Praia do Tombo e também a contribuição de cada um dos pontos de coleta para se
chegar a esses números.
Figura 17: Número total de pellets recolhidos por dia, e a respectiva participação de cada ponto de coleta
neste número.
Em 16 de Outubro foi coletada a maior quantidade de grânulos plásticos desta
pesquisa, foram 247 no total. Neste dia, e em todos os outros, os pontos de coleta E2 e
M foram os locais que receberam maior aporte deste material, assim, foram os que mais
contribuíram para o resultado final.
Nos dias que se seguiram pode-se observar que a taxa de entrada de pellets
diminuiu dia a dia. A quantidade total coletada dos dias 17 a 19 de Outubro foram,
respectivamente, 230, 207 e 196 pellets por dia.
Durante este período a agitação do mar estava fraca, com ondas que não
ultrapassaram 1,5m de altura, observadas no Quadro 3. Em dias que a agitação do mar
está mais forte, com ondas maiores que 2m, podem ocorrer maior taxa de entrada de
pellets, como ocorreu na pesquisa de Manzano (2009) realizada na Enseada de Santos.
O referido trabalho verificou que após um período de agitação forte no mar houve um
aumento significativo de deposição de pellets, chegando a 377 pellets/m² onde a média
era de 102 pellets/m².
Willians e Simons (1997 apud Manzano, 2009) também relataram que nos dias
seguintes a períodos de chuvas intensas há um maior acúmulo de resíduos sólidos nas
praias. Durante os dias de coleta dos pellets, choveu intensamente na Praia do Tombo
no dia 17 de Outubro, das 6h até as 8h da manhã. Porém, como pode ser visto nos
resultados não houve um aumento da taxa de entrada de pellets neste dia. Por outro
lado, foi percebido um grande acúmulo de algas marinhas na linha de deixa.
A variação da taxa de entrada de pellets nos pontos de coleta durante os dias
analisados foi pequena, de 196 a 247 pellets no total, resultando em média 220 unidades
por dia. Como este resultado leva em conta os cinco pontos de coleta somados, o correto
é afirmar que em média chegam 220 pellets por dia em uma área de 5m² na Praia do
Tombo do Guarujá.
Em caso hipotético, se extrapolarmos esse resultado para toda a praia, que tem
856m de extensão, há a hipótese de que chega diariamente uma média de 37.664
grânulos plásticos por dia nesta praia. Assim, em 1 mês chagariam 1.129.920 pellets, e
ao final de 1 ano essa quantidade seria de 13.559.040.
Para que este número acima tenha maior credibilidade seria necessário realizar
amostragens em outros períodos do ano, pois pode haver flutuação sazonal de
abundância deste material. Manzano (2009) encontrou diferenças, em termos de
quantidade, em relação as estações do ano. Segundo a pesquisadora, no Outono e
Inverno, quando normalmente os ventos e as ondas ficam mais intensos, pode haver
maior deposição de pellets nas praias, enquanto na Primavera e Verão foram observadas
as menores taxas de entrada durante o ano, pois há menor variação de eventos
meteorológicos.
De toda maneira, a Praia do Tombo no Guarujá está recebendo quantidade
significativa de pellets, o que pode ser traduzido como perda de matéria-prima e que
ainda pode causar impactos aos organismos da região, devido à toxicidade que este
material apresenta, inclusive ao homem. A abundância de produtos plásticos tem criado
sérios problemas ambientais, pois estes não degradam rapidamente no ambiente devido
à sua resistência ao calor, ao ar e à água.
Estima-se que um quatrilhão de grânulos plásticos é produzido a cada ano, só
nos Estados Unidos, desde o início da década de 1990 (TURRA, MALUF,
MANZANO, 2008).
O controle de pellets assim como a gestão de sua cadeia produtiva é de
responsabilidade das indústrias plásticas. Os pellets são resíduos diferenciados, com
morfologia típica e particularidades quanto à dinâmica de perda para o mar,
comportamento hidrodinâmico e potencial de impacto ambiental em relação a outros
resíduos, além disso, se encontram na etapa pré-consumo, por isso exige o controle de
toda a cadeia produtiva. Para que o espalhamento destes grânulos no oceano e litoral
seja minimizado, deve haver mudanças na estocagem, manuseio e transporte deste
material (MANZANO, 2009; PEREIRA, OLIVEIRA, TURRA, 2011; PIANOWSKI,
1997).
b) Análise morfológica dos grânulos plásticos
Foi analisada uma amostra de 463 pellets para se comparar as características
morfológicas e verificar a ocorrência de alguma característica padrão, referente ao
formato e cor, entre os diferentes pontos de coleta do material. Estes resultados podem
servir de auxílio para uma futura identificação das fontes de descarga deste material
para o ambiente e também para avaliação cronológica destes despejos.
Formato
Foram observados 8 formatos recorrentes (Figura 18) nos pellets recolhidos na
Praia do Tombo: retangular, cúbico, cilíndrico grosso, cilíndrico fino, cilíndrico
achatado, esférico achatado, ovóide e disforme.
Figura 18: Principais formatos dos pellets coletados na Praia do Tombo: a) retangular; b) cúbico; c)
cilíndrico grosso; d) cilíndrico fino; e) cilíndrico achatado, f) esférico achatado; g) ovoide e h) disforme
(Fonte: Arquivo pessoal).
Dos 463 pellets analisados, 304 tinham formato cilíndrico achatado. Na análise
este formato foi o mais encontrado, passando de 60% em todos os pontos de coleta, com
destaque para os pontos E2 e M, que apresentaram respectivamente 73% e 71%.
Já o formato retangular não representou número significativo na amostragem
realizada, não passou de 1% do total analisado. Esta característica só foi encontrada nas
amostras dos pontos E1 e D2.
O formato cúbico representou 9% do total analisado, ficando em segundo lugar
em ocorrência. Este formato teve significativa representação no ponto M, com 18
unidades, nos demais pontos variaram de 4 a 7.
Os pellets esféricos achatados e ovóides somaram, cada um, 7% do total
analisado. Os esféricos achatados foram encontrados em maior número nas amostras
dos pontos E1 e D1, com, respectivamente, 11 e 12 unidades. Já a quantidade de
grânulos plásticos ovóides teve pequena variação de um ponto de coleta para outro, com
exceção do ponto M, onde só foram encontrados 2 pellets na amostra estudada.
O formato cilíndrico grosso, com 16 unidades, e o cilíndrico fino com 17,
representaram ambos, 3% do número total analisado. Os pellets cilíndricos grossos
foram encontrados em maior quantidade (6 unidades) na amostra do ponto D1, nas
demais variaram de 2 a 3 grânulos. Por outro lado, os de formato cilíndrico fino
variaram bastante, de 1 pellet no ponto M a 7 pellets no ponto E1.
Os grânulos plásticos considerados de formato disforme, são os que não se
enquadravam em nenhum dos formatos anteriores, seja por desgaste ou defeito de
fabricação. Na amostra analisada foram encontrados 15 pellets com essa característica.
Essa variação de formatos indica a existência de fontes variadas desse material
(MANZANO, 2009).
Na Figura 19 estão representadas as porcentagens dos formatos encontrados na
amostra de cada ponto de coleta e também a porcentagem referente ao total analisado. E
o Quadro 4 mostra o resultado da análise em números concretos.
Figura 19: Porcentagem dos formatos de pellets encontrados na amostra de cada ponto de coleta e na
amostra total analisada.
Quadro 4: Resultado da análise de formato dos pellets.
Formato
Ponto
Retangular
Cúbico
Cilíndrico
grosso
Cilíndrico
fino
Cilíndrico
achatado
Esférico
achatado
Ovóide
Disforme
E1
E2
M
D1
D2
Total
04
0
0
0
01
05
07
04
18
07
07
43
03
02
02
06
03
16
07
04
01
02
03
17
61
73
71
61
38
304
11
03
04
12
03
33
06
08
02
09
05
30
01
06
02
03
03
15
O formato cilíndrico achatado representou 66% da amostra analisada. Este
significativo número sugere que deve haver uma maior demanda de pellets neste
formato por parte do mercado consumidor e, portanto grande parte das indústrias de
plásticos produz sua matéria-prima nesta forma.
Pianowski (1997) e Manzano (2009) também observaram que a maior parte dos
grânulos encontrados apresentava formato cilíndrico achatado. No trabalho mais
recente, a porcentagem desta forma foi de 80%.
Cor
Na análise de coloração dos grânulos plásticos foram observados 7 principais
padrões de cores: branco opaco, branco translúcido, bege translúcido, amarelo
translúcido, laranja translúcido, marrom translúcido e preto opaco (Figura 20).
Figura 20: Principais colorações dos pellets coletados na Praia do Tombo: a) branco opaco; b) branco
translúcido; c) bege translúcido; d) amarelo translúcido; e) laranja translúcido; f) marrom translúcido e g)
preto opaco (Fonte: Arquivo pessoal).
A coloração branca translúcida foi a de maior ocorrência nas amostras de todos
os pontos de coleta. Dos 463 pellets analisados, 162 tinham essa característica, ou seja,
35%.
Os grânulos plásticos de cor bege translúcido representaram 27% da amostra
analisada, embora sua porcentagem relativa em cada um dos pontos tenha variado
bastante, de 18% no ponto D2, a 34% no ponto E2.
A porcentagem de pellets de cor amarela translúcida variou pouco entre os
diferentes pontos de coleta, foi de 13% a 17%, com exceção do ponto M, onde foram
encontradas apenas 8 unidades com essa coloração. No entanto, neste mesmo ponto foi
encontrado o maior número de pellets de cor laranja translúcida, 12 unidades. Nos
demais pontos a quantidade dessa cor variou de 4 a 9 unidades.
Os pellets de cor marrom translúcida representaram 5% do total analisado. Na
amostra do ponto de coleta D1 não foi encontrado nenhuma unidade com tal
característica. Os de cor branca opaca tiveram baixa representatividade, apenas 3%. A
quantidade de grânulos dessa cor encontrados na amostra analisada foi de 16 unidades.
Outra cor que teve número pouco significativo na análise foi à preta opaca, com 3
unidades.
Alguns pellets da amostra analisada tinham suas superfícies recobertas por outro
material (Figura 21), geralmente de cor preta, que impossibilitou a identificação de sua
cor original, por isso foram identificados como de coloração indefinida. Foram
encontrados 35 grânulos com essa particularidade, principalmente nos pontos M, D1 e
D2.
Figura 21: Pellets recobertos por substância preta, caracterizados como de coloração indefinida (Fonte:
Arquivo pessoal).
As porcentagens de cada cor em cada um dos pontos de coleta e na análise da
amostra total estão representadas na Figura 22. O Quadro 5 resume o resultado da
análise com números concretos.
Figura 22: Porcentagem das colorações dos pellets encontrados na amostra de cada ponto de coleta e na
amostra total analisada.
Quadro 5: Resultado da análise da coloração dos pellets.
Cor Branco
Branco
Bege Amarelo Laranja Marrom Preto Indefinido
trans.
trans.
trans.
opaco
Ponto opaco translúcido trans.
05
36
30
15
04
06
01
03
E1
03
37
34
13
08
04
01
0
E2
02
38
20
08
12
09
0
11
M
02
32
29
17
09
0
01
10
D1
04
19
11
09
04
05
0
11
D2
Total
16
162
124
62
37
24
03
35
Os pellets com coloração branca translúcida e bege translúcida representaram
juntos, 62% da quantidade total analisada. Essas características de coloração indicam
que estes são materiais produzidos recentemente e/ou que foram perdidos no ambiente
há pouco tempo.
Quando este material passa mais tempo flutuando nos mares ele adquire cor
mais amarelada, pois sofre processo foto-oxidativo causado pela exposição à radiação
ultravioleta. Assim, alguns pellets tem coloração que vai do amarelo ao marrom, de
acordo com o tempo de exposição ao meio ambiente (ENDO, 2005; MANZANO, 2009;
TURNER e HOLMES, 2011). Pellets com essas características representaram 26% do
total analisado neste estudo.
Devido ao maior tempo que estão no ambiente marinho estes pellets adsorvem
também maior quantidade de poluentes, como os PCBs (ENDO, 2005; TURNER e
HOLMES, 2011).
A substância que recobria alguns grânulos plásticos impedindo a identificação
de suas cores era, possivelmente, óleo combustível liberado por navios e barcos. Estes
grânulos foram encontrados em todos os pontos de coleta, exceto no ponto E2. Há
referência de caso parecido no trabalho realizado por Turner e Holmes (2011), que
encontraram ocasionalmente piche em alguns pellets.
O padrão de cores observado neste trabalho foi semelhante aos resultados de
obtidos por outros pesquisadores, como Manzano (2009), que classificou 60% dos
pellets de sua análise como de tons claros e transparentes. Nas coletas realizadas por
Turner e Holmes (2011) verificou-se que em todas as amostras a porcentagem de
material de cor mais clara foi maioria.
c) Contribuição com os dados gerados para o programa de monitoramento global
de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), o International Pellet Watch (IPW)
O resultado da análise de POPs existentes nos pellets recolhidos na Praia do
Tombo e enviados ao Laboratory of Organic Geochemistry, infelizmente não
contribuirá com o presente trabalho, pois só estará disponível no segundo semestre do
ano de 2013.
Segundo o responsável pelo laboratório, Dr. Hideshige Takada, cada análise leva
em média 1 ano para ser concluída e divulgada. No momento, sua equipe está
finalizando as análises de amostras enviadas em 2010. Com estes dados, o programa
IPW já realizou um mapeamento global com a concentração dos micropoluentes PCB
(bifenil policlorado), DDT (diclorodifeniltricloroetano) e HCH (hexaclorociclohexano)
(Figura 23).
Figura 23: Mapas da Poluição Global dos micropoluentes PCB, DDT e HCH (Fonte: IPW).
O mapeamento divulgado pelo IPW contem o resultado da análise de 3 praias do
Brasil: Morro de São Paulo – BA, Itaúnas – RJ e Baía de Santos – SP, local muito
próximo da Praia do Tombo, estudada neste projeto (Figura 24).
Figura 24: Concentração dos micropoluentes em ng/g-pellet nas praias brasileiras analisadas pelo IPW
(Fonte: IPW).
Estas substâncias fazem parte da lista de poluentes orgânicos persistentes (POPs)
estabelecida na Convenção de Estocolmo, realizada em 2001, um tratado internacional
que visa à eliminação segura destes poluentes e a limitação de sua produção e uso, e do
qual o Brasil é signatário (ALMEIDA et al., 2007; CETESB).
Os POPs tem como características em comum alta hidrofobicidade, baixa
reatividade no meio ambiente e grande tendência para se acumular, ou bioconcentrar,
nos tecidos dos organismos vivos através da cadeia alimentar, que chega até o homem.
Nos seres humanos estes poluentes atuam como interferentes endócrinos e alguns são
classificados como prováveis carcinógenos humanos (ALMEIDA et al., 2007;
CETESB; ENDO, 2005).
O HCH é um inseticida organoclorado composto de vários isômeros. Os
principais usos identificados para produtos contendo HCH são baseados na atividade
inseticida, para tratamento de madeira e grãos, do isômero gama-HCH, comumente
denominado lindano. Também já foi utilizado no combate aos vetores das doenças da
malária e de Chagas e no tratamento de sarnas e piolhos. O uso do lindano ainda é
permitido no Brasil para a preservação de madeiras (ALMEIDA et al., 2007; CETESB).
O DDT, assim como o HCH, é um agrotóxico organoclorado que foi usado
extensivamente como inseticida, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, para o
combate de mosquitos vetores de malária e tifo. Embora tenha salvado várias vidas no
controle de pragas como a malária, sua persistência e lipofilicidade (capacidade de se
dissolver em lipídios, como gordura e óleo vegetal) causou a morte de vários animais.
Assim, na década de 1970, seu uso foi banido em vários países. No Brasil o DDT teve
sua fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e uso
proibidos pela Lei nº. 11.936 de 14 de maio de 2009 (ALMEIDA et al., 2007; BRASIL;
CETESB; RIOS et al., 2007).
No mapeamento elaborado pelo IPW pode-se observar que a maior concentração
encontrada desta substância e dos produtos de sua degradação, o DDE e DDD, foram no
Brasil, nos pellets do litoral do Estado da Bahia. Esse resultado sugere que,
provavelmente no passado, quando seu uso era legal, este inseticida tenha sido bastante
usado na região.
Hoje em dia, uma das possíveis fontes de DDT para o meio ambiente é a
produção do pesticida dicofol, o qual pode conter DDT como impureza (ALMEIDA et
al., 2007).
Por último, os PCBs, do inglês polychlorinated biphenyls, são compostos
orgânicos aromáticos clorados artificiais, caracterizados pela presença de anéis
aromáticos halogenados. Foram utilizadas em vários setores industriais devido às suas
propriedades físico-químicas, em especial, a alta constante dielétrica e elevada
estabilidade térmica. As misturas técnicas contendo PCB possibilitam seu emprego
como capacitores dielétricos, fluidos hidráulicos, fluidos de transferência de calor e
plastificantes (ALMEIDA et al., 2007; CETESB, ENDO, 2005).
O uso do PCB está proibido em todo o mundo, no Brasil desde 1981, devido aos
potenciais efeitos nocivos à saúde humana e ao ambiente. Apesar disso, acredita-se que,
pelo menos, metade dos equipamentos produzidos com este composto, ainda está em
uso, em antigos equipamentos elétricos, ou podem ser encontrados armazenados.
Assim, mesmo com a proibição de seu uso, existe grande quantidade de PCB em
reservatórios com potencial de ser liberada ao meio ambiente (CETESB; RIOS et al.,
2007).
O mapeamento das concentrações de PCB apresentado pelo IPW corrobora com
o resultado obtido por Endo (2005), que afirmou que os pellets coletados em áreas
industrializadas apresentavam maiores concentrações de PCB do que os coletados em
regiões mais remotas. Assim, foi o caso dos pellets coletados na Baía de Santos, região
onde se encontra o Porto de Santos e o pólo industrial de Cubatão, que apresentaram os
níveis mais altos desse poluente em comparação com as outras praias brasileiras
analisadas.
6. Conclusões
Os plásticos estão entre os poluentes que mais ameaçam o ambiente marinho nos
dias de hoje. Consequência do culto ao descartável da sociedade moderna, a produção
destes materiais sintéticos persistentes, aumentou drasticamente nos últimos 50 anos.
O plástico chega aos oceanos em diferentes formas, desde produtos finais, como
sacos e garrafas, até a forma básica de comercialização dessa matéria-prima, chamada
pellet, que foram o foco desta pesquisa.
Este tipo de material, grânulos plásticos de aproximadamente 5 mm de diâmetro,
é liberado na natureza devido a perdas nos processos de produção, transporte e
manuseio, assim alcança os oceanos e deposita-se em grande quantidade nas praias,
causando impactos ambientais, estéticos e econômicos.
Pellets estão presentes em todos os oceanos e em diversas praias do mundo e
têm sido relatados desde a década de 1970. Estes pellets foram encontrados em grande
quantidade na Praia do Tombo, na cidade de Guarujá, área de estudo deste trabalho. Na
tentativa de estimar a quantidade desse resíduo que chega diariamente nesta praia,
foram realizadas coletas diárias entre os dias 16 e 19 de Outubro. Em média chegaram
220 pellets por dia, somadas as quantidades encontradas nos 5 pontos de coleta préestabelecidos que tinham 1m² cada.
Se essa taxa de entrada for extrapolada para 1 ano, a quantidade de pellets que
poderiam chegar nesta praia seria de 13.559.040, representando prejuízo econômico,
devido à perda de matéria-prima e à necessidade gastos com limpeza pública. A
poluição pode diminuir a atração de turistas e banhistas, o que também prejudica a
economia local e causa efeitos negativos à estética da paisagem e à aos organismos
costeiros.
Quanto às características morfológicas, a maioria dos pellets encontrados tinha
formato cúbico achatado, mais precisamente, 66%. Em relação à coloração, 62% tinham
tons mais claros, como branco e bege translúcidos, o que indica uma entrada recente no
ambiente. É importante reunir um banco de dados junto às indústrias produtoras para se
saber que tipo de pellet cada uma produz, assim seria possível identificar as prováveis
fontes de descarga, e posteriormente propiciar um monitoramento e fiscalização mais
efetivos.
Neste caso a provável fonte de emissão dos grânulos plásticos para a Praia do
Tombo é o Porto de Santos devido à sua proximidade.
Os pellets coletados nesta praia e enviados ao Internatioanal Pellet Watch (IPW)
servirão como fonte de análise para se verificar quais poluentes estão presentes nas
águas próximas a esta praia.
Através da literatura, sabe-se que estes grânulos plásticos funcionam como
veículos para alguns compostos tóxicos que não se dissolvem na água do mar, como o
DDT, o PCB e o HCH. Estes Poluentes Orgânicos Persistentes são adsorvidos pelos
pellets, que podem concentrar até um milhão de vezes a mais o nível que normalmente
apresentam quando dispersos na água.
Assim, quando são ingeridos por organismos marinhos, que confundem os
pellets com larvas ou ovos, podem acarretar problemas hormonais nestes organismos e,
indiretamente, nos humanos, que possuem, por exemplo, peixes em suas dietas.
Apesar de não possuir a aparência desagradável como as de outros resíduos, os
grânulos plásticos adquirem relevância por sua quantidade e persistência no ambiente
(PEREIRA, OLIVEIRA, TURRA, 2011).
O controle dos pellets é responsabilidade das indústrias plásticas que parecem
desconhecer os impactos negativos originados pelos plásticos no ambiente assim como
os benefícios econômicos na redução das perdas e na reciclagem do material “perdido”
(MANZANO, 2009).
No Brasil, pouco se conhece sobre estratégias de gestão direcionadas para
enfrentar este problema. Isso se reflete na escassez de práticas e políticas, públicas e/ou
privadas, desenvolvidas e na falta de marcos legais acerca do assunto.
Segundo a Environmental Protection Agency (EPA), a identificação das fontes
de emissão dos pellets para o ambiente se faz necessária para a adoção de estratégias
adequadas para lidar com este problema. Além disso, a EPA elaborou, junto com a SPI
(Society of the Plastics Industry), recomendações para o controle e prevenção de
descargas de pellets, que envolvem desde a educação e treinamento dos funcionários
das indústrias até o tipo de equipamentos que devem ser adotados para se atingir a meta
de “perda zero”, passando por todas as etapas da cadeia produtiva: produção,
embalagem, transporte e armazenamento.
Também é necessário que ocorra uma mudança na forma de produção e
consumo de materiais, deve-se inserir a sustentabilidade como norteadora destes
processos, com a união de interesses econômicos e interesses ambientais, pois a
consequência do atual padrão de consumo aliado com o culto ao descartável é a geração
cada vez maior de resíduos sólidos, sem a devida consideração à capacidade de suporte
da Terra.
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