luz, câmera e Bahia
Transcription
luz, câmera e Bahia
sumário a i c i l ’ D bamba composim u e d e s o cantor mória 46 Mreo inusitado com l” o Brasi Encont no Riachão o d n a t tor baia vou conquiserto 60 “Euto de Bebel Gilb música radiçãAofonjá t e d s o 00 an xé Opô o Religiã 25 1 êA ário do Il O encan O centen ade tabilid ável s u s te n sustent Atalaiaoubert Moraes e d a t s i art o sergipano J d 34 Um ividade re A invent rte de ser liv Musse r a a 68 A Dias por Itam Antonio rvolto po , o s i c e ue pr cinema jo porq a i V 8 3 mo que te apernambucano a rte s s da rrafas pet 26 Mos feitas com ga Bijuteria ogia ias te c n o l o de ide in Projeto ê Todo m io icia Fab L s or orial, p t i d E 8 ores aborad l o C 12 e der 15 Sit osso fol n o d r o riad 16 O c lástico Tunga O artista p laylicia pela 17 P sonora sugerida ta A trilha redação da revis uco ernamb t ife, P 27 Por ovador em Rec r o remédaiba o t n a S u at 30 res da c Os milag or e tradiçãoa, em Salvador ir 64 Sab Porto More comer e bebe á mprar para co Búzios nte 58 tória ia 24 His etros de histór V naciona da moda ordesteta a economia en vez do N ra ta tô foe muito a v a r g ar na vo livro tura litera b 67 Ba Gullar fala do no a ir Ferre o da 36 Mo a a à vist r r e T 44 io Santuár rismo 50 Tu co ir Bran t s e V 52 axar do 57 Rel va reser p Paraíso és lenda na ponta dos p r e S 2 m 6 e corage Talento ui iver aq v , á l r a r 65 Maoda da amizade ix a b Em nto tenime e r t n E 66 o assunt e d r a d 70 Mu ra Primave hia com Baz s a n i M e mais t om de Cau G O traço fotogr Marcas Rui de casa iras pelas lentes e D 0 4 s brasile Moradia ahia fo Faquini , câmera e B iretor e fotógra z d u do 48 L rabalho d hia g na Baoa terra n i r a H b a ith 55 Ke do artista com s tr e e t a rt o A relaçã ot Conheçarcez Pico Ga e idade s aldraba 54 As o colonialismo antigu afia e s p o rt ro nte negiamantina a m a i 69 D a Chapada D produ to O café d o do IRC asileir il único br o 43 A m é o n to baia Pilo tas colunis em ujo son Ara k c a J r o s, p urinho estrada s a d a edro To P fi o r s o o p l , fi ova cesso Falar b tter é a n de a wi excesso o d o p 28 O T tem lma mos no Jane Pa a r t o s p E , e 2 d 4 saú oque de t m U 56 editar 154 Acrança Na mud ERRATA: Na edição 7 o crédito correto da foto do Museu da Misericórdia é Fernanda Lopes Silva. 6 73 Nosso Folder Tunga 76 Perfil Gal Costa 80 Entrevista da Licia Gal Costa o o baianpromessa v o N 63 ampos, l itorino C 37 A ção civil movim Constru 15 centím lag eio por A GAL COSTA moda ia econom 39 o Um pass r nstruto o tura c e o it t u e q t i ar é, arqu 32 Lenlhosidade de Lelé pop ar oso do Gost l e u g i oas São M turism da regiã ui e l 22 Aq as Cinema Restaura A enge plástic D’lirio licia Luxo 88 Presente de Deus Quem canta, ora duas vezes Inspiração 92 A diva do horário nobre Músicas de novelas na voz de Gal Comportamento 98 Escarlate Lábios de diva Inteligência 106 Gal e Oiticica – voz e arte da Tropicália Depois deles tudo mudou Atitude 114 Roupa, pra quê? Depende de quem e como se vê 126 127 127 128 128 129 129 130 131 131 132 132 133 133 134 134 135 135 136 137 137 138 139 139 140 141 142 142 143 144 144 145 146 147 147 148 149 149 150 152 153 Iguatemi Gourmet Parabéns Celebration Ora iê iê ô Pra toda obra Atabaques Velocidade e perícia Elegância a toda prova Mas lentes da experiência Avental Vem chegando o verão Bebida nobre Sob nova direção Voa Voa com Ana Import Preta 3.6 Conteúdo e simpatia Terra do nunca Réveillon particular Velocidade máxima Début Martelo solidário De salto alto Brigadeiro Tendências Expansão Borbulhante Escala baiana Os mais sexies Moda e negócios 40 anos em cena Mainha Wine Bahia Rural Consagração Dia de festa Shimbalaiê Feira de fotografia Quiabo Dupla comemoração Bebida nobre Barra Fashion Mall Movimento de Moda Iguatemi Ficha Técnica LOGO Fotógrafo: Rodrigo Pirim Foto Fotógrafo: Mauricio Nahas Produtora: Marta Prado Mock up: Zsazsa Maurício Nahas é fotógrafo. Faz ensaios de moda e trabalhos publicitários para marcas como Gol, Samsung e Reebok. Seus projetos pessoais incluem fotos na Rússia, Índia, Cuba e no Nepal. Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 7 editorial Ainda estamos todos aqui encantados com o bate-papo gostoso que tivemos com nossa eterna diva Gal Costa. Ouvir sua voz iluminada é sempre um presente. Zé Simão traduziu em palavras o que ela representa pra ele e para o Brasil e Jean Wyllys relembrou músicas interpretadas pela cantora que marcaram a história das telenovelas brasileiras. E tem mais música nesta edição. Clara Angelica, colunista da revista, conversou com Bebel Gilberto, em Nova York. Aqui em Salvador, no Pelourinho, descobrimos alguns segredinhos do sambista Riachão. E continuamos nosso passeio pelo Nordeste. Paramos em vários lugares para cobrir festas deliciosas. Conversamos, fotografamos e festejamos juntos. Essa região é assim, não para. E a alegria aumentou quando chegou a hora de celebrar a vitória nas urnas do nosso parceiro Laurinho Menezes, para suplente do senador eleito Eduardo Amorim pelo Estado de Sergipe. E como é bom ver essas pessoas plantadas no Planalto Central. O que desejamos é que lutem por um país ainda mais lindo e com menos diferenças sociais. Agora é hora de se preparar para a estação mais festiva do ano, o verão. Soltar a voz, encher o peito de alegria, balançar as cadeiras e chamar o Brasil para curtir o melhor que essa parte do país tem para oferecer. Gastronomia ímpar, arte, cultura, sol, calor e um litoral deslumbrante a se desbravar. Além, claro, da maior folia brasileira, o carnaval, que, em 2011, na Bahia, chegará mais saudoso pela falta que faz o dedilhar virtuoso do nosso eterno mestre Saul Barbosa. licia fabio colaboradores Felipe Morozini se formou em direito e uma viagem à Índia mudou tudo. Voltou apaixonado por fotografia e começou a observar a vida por outros ângulos. Hoje, tem mais de 10 mil fotos do centro de São Paulo. D’licia é... ter amigos. ys jean wyll ini roz o m e Jean Wyllys é jornalista, escritor e mestre em literatura pela UFBA; autor de Aflitos (2001), Ainda Lembro (2005) e Tudo ao Mesmo Tempo Agora (2009). felip D’licia é viver! D’Licia é estar feliz! Adriano M Adriano Mascarenhas lidera o escritório Sotero Arquitetos, sediado sobre as águas da Baía de Todos os Santos, que tem trabalhos executados em todo o Brasil. É amante da boa música e tem a companhia da sua guitarra nas horas vagas para relaxar. ascarenha s ntes Luana Po D’licia é ver o sol se pôr no mar. D’licia é viajar pelo mundo sem hora de voltar. Pedro Fernandes é perito em imitação de personalidades, estudou jornalismo na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Escreve para o Caderno 2+, do jornal A Tarde, e para o blog da MTV Salvador. Publica seus desenhos no blog www.desenhameumcarneiro. wordpress.com Luana Pontes é designer e sócia da Cherry Plus, uma butique criativa com foco em inteligência digital, com escritórios em São Paulo e Recife. Curte gadgets, ouvir música e patinar no Parque do Ibirapuera. Ama o mar e seus gatos Garota Diadorim e Lafayette. Flávio Novaes é baiano da gema, baiano do bom. Formado em direito pela Ucsal e em jornalismo pela Facom, da UFBA, é fissurado na história do nosso país e, em especial, na da Bahia. D’licia é pegar um baba na praia, depois dar um mergulho e bater uma cerveja gelada. D’licia é coco espumante num fim de tarde na Barra. P Márcio Lima começou a fotografar em meados dos anos 80, depois de algumas experiências com pintura e escultura em madeira. Fez residência na Universidade de Syracuse, na Ligth Work, em Nova York, e, na França, no departamento de Charente Naritime, em Larochelle, apresentando duas mostras individuais. Recebeu os prêmios Nacional de Fotografia Pierre Verger, Aquisição do 15º Salão do MAM-BA e o Funarte Mac Ferrez. márcio lima ovaes Flávio N ndes edro Ferna D’licia é a deliciação. Publisher Licia Fabio Projeto Gráfico Sérgio Gordilho CoordenaçÃo executiva | mica araújo [email protected] Conselho Editorial Adriano Mascarenhas, Cristina Franco, Edinho Engel, Hulda Menezes, Iuri Sarmento, Itamar Musse, Jane Palma, Laurinho Menezes, Lila Lopes, Wanda Engel EDITORA REVISTA | ALINE QUEIROZ [email protected] Editora de Arte REVISTA | Lica de Souza [email protected] EDITOR SITE | JORGE THADEU [email protected] Jornalistas revista Tássia Novaes | [email protected] Jorge Thadeu | [email protected] Produtor de conteúdo | Pedrinho Figueredo [email protected] Fotógrafos Uran Rodrigues | [email protected] Marcel Takeshita | [email protected] Produção Ana Paula Lima | [email protected] Mariane Silva Reis | [email protected] Revisor | Inácio Silva Colaboradores Texto: Adriano Mascarenhas, Clara Angélica, Driu Oliveira, Edinho Engel, Fábio Gomes, Flávio Novaes, Itamar Musse, Jane Palma, Jackson Araújo, Jean Wyllys, Jorge Thadeu, Luana Pontes, Luciano Cenci, Melina Guterres, Pedro Tourinho, Pedro Fernandes. Folder: Tunga. Fotos: adriano mascarenhas, alex giarolla, felipe morozini, ivan moretti, Lúcio Telles, MÁRCIO LIMA, pedro aciolly, rodrigo brandassi, tony galvez, túlio tsuji. arte d’lirio: carlos rezende. direção de ARTE: bruno valença, IRON BRITO. ILUSTRAÇÕES 3D: Paulo Dias. ILUSTRAÇÕES: FLÁVIO LUIZ. Comercial revista Letra e Mídia: Adriana Assumpção | 11 8262.1234 | [email protected] Vinicius Araújo | 11 9197.8374 | [email protected] Comercial SITE Luana Pontes | 11 8499.5070 | [email protected] Tina Magalhães | 11 9477.5070 | [email protected] BAHIA | REVISTA E SITE Inês Barros | 71 8832-0602 | [email protected] Administrativo Financeiro | Eliza Reis [email protected] Licia Fabio Produções São Paulo Mila Andrade | [email protected] Licia Fabio Produções Bahia [email protected] EDITORA VERMELHO E BRANCO LTDA. Rua Augusta, 2.690 | 3º andar | Cerqueira César | 11 3063.0446 | CEP 01412-100 | São Paulo | SP Impressão e Acabamento | Gráfica Burti Tiragem desta edição | 30.000 exemplares Distribuição | DINAP | Distribuidora Nacional de Publicações Rodrigo Pirim | Assistente Kevin | Produção Edinalva Farias Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 15 Márcio Lima o criador do nosso folder: Tunga “a arte contemporânea está aberta para diversas leituras” A instalação À Luz de Dois Mundos ilustra o folder desta edição. Exposta no Louvre, em Paris, no MoMA, em Nova York, e agora no Museu Rodin, em Salvador, a obra causa perturbação e questionamentos Exposições individuais A rquiteto por formação, Tunga deu início à carreira de artista plástico na década de 1970, com desenhos e esculturas originárias do universo figurativo. Temas ousados e, muitas vezes, polêmicos, como a série Museu da Masturbação Infantil (1974), fazem parte da obra do artista. Nos últimos 20 anos, é recorrente a presença de elementos como fios de aço, bengalas e garrafas partidas, ímãs, crânios e esqueletos. Em À Luz de Dois Mundos, Tunga sugere a existência de uma balança capaz de balizar, de um lado, a existência de um esqueleto negro, sem cabeça, e, do outro, crânios – sendo um deles de ouro. Tranças e um pente gigante também fazem parte da instalação. Tunga é ainda autor do livro Barroco de Lírios. Como nasceu a exposição À Luz de Dois Mundos? Foi a partir de um convite de um curador do núcleo de arte contemporânea do museu do Louvre, em Paris. A ideia era fazer uma instalação que ocupasse a frente da pirâmide de vidro. Originalmente, foi montada para ter 11 metros de altura. Qual a expressão dessa mostra na sua carreira? Uma grande oportunidade. Talvez o Louvre seja a maior referência de museu na atualidade. É um lugar muito frequentado, a instalação ficou exposta por pouco mais de dois meses. Considerando o fato de o senhor ter sido o primeiro artista contemporâneo a expor uma obra no Louvre, na França, como foi apresentá-la no Museu Rodin, em Salvador (Bahia)? Foi também um convite, podia trazer a obra que desejasse. A instalação principal foi reduzida um pouco – o comprimento inicial de 11 metros passou para cerca de cinco. Se pudesse indicar um caminho para auxiliar na compreensão desse trabalho, qual seria? Visualmente é uma experiência individual. Não é uma equação fechada, a arte contemporânea está aberta para diversas leituras. Muitas vezes, o excesso de opinião de especialistas acaba por reduzir a potencialidade de uma obra. 2007 •Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York 2005 •Museu do Louvre - Paris, França 2004 •Individual, na Galeria Millan Antonio São Paulo 2001 •Resgate, no CCBB - São Paulo •Galerie Nationale du Jeu de Paume Paris, França 1999 •Galeria Luisa Strina - São Paulo 1998 •Museo Alejandro Otero - Caracas, Venezuela 1997 •Galeria Thomas Cohn - Rio de Janeiro •Center for Curatorial Studies - Nova York •Museum of Contemporary Art Joan Lehman Building - Miami 1996 •Galeria André Millan - São Paulo Individual, na Galeria Luisa Strina - São Paulo Márcio Lima 1995 •The New Museum of Contemporary Art - Nova York ficha técnica À Luz de Dois Mundos, 2005 Aço, bronze, resina, ouro - 11 metros 16 1994 •Galeria Luisa Strina - São Paulo •Galeria Millan - São Paulo Galeria Paulo Fernandes - Rio de Janeiro •The Museum of Contemporary Art Nova York playlicia D’licia Licia LUXO I’ve got you under my skin, Frank Sinatra All The Things You Are, Ella Fitzgerald You Go To My Head, Billie Holiday INSPIRAÇÃO Fugiu com a novela, Vanessa da Mata Luz de Tieta, Caetano Veloso e Gal Costa Meu bem, meu mal, Gal Costa Brasil, Gal Costa COMPORTAMENTO Oh, pretty woman, Roy Orbison Lady Marmalade, Christina Aguilera, Lil’ Kim, Mya, Pink Put The Blame On Mame, Rita Hayworth Todo beijo, Gal Costa INTELIGÊNCIA Tropicália, Caetano Veloso Presente cotidiano, Luiz Melodia ATITUDE Vou ficar nu pra chamar sua atenção, Erasmo Carlos e Roberto Carlos Nua Ideia, Gal Costa Voyeur, Gal Costa PAZ E ARROZ, Club do Balanço A dois passos do paraíso, Blitz Canto de Xangô, Vinicius de Moraes e Baden Powell Fogo e Gasolina, Roberta Sá e Lenine Construção, Chico Buarque Casa no campo, Elis Regina Cada macaco no seu galho, Riachão Samba da benção, Bebel Gilberto As curvas da estrada de Santos, Roberto Carlos À francesa, Marina Lima Você não entendeu nada, Caetano Veloso Canto do Pajé, Maria Bethânia Comida, Titãs GAL COSTA Perfil Vaca Profana, Gal Costa Entrevista Força Estranha, Roberto Carlos D’lirio Sinais de Fogo, Preta Gil Alejandro, Lady Gaga Skinny Genes, Elisa Doolitlle Strawberry Swing, Coldplay Island of the Sun, Weezer Flutuar, Chiclete com Banana #8 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 17 Playlicia PAZ E ARROZ, Club do Balanço | A dois passos do paraíso, Blitz | Canto de Xangô, Vinicius de Moraes e Baden Powell | Fogo e Gasolina, Bebel Gilberto | As curvas da estrada de Santos, Roberto Carlos | À francesa, Marina Lima | Você não entendeu nada, Caetano Veloso Roberta Sá e Lenine | Construção, Chico Buarque | Casa no campo, Elis Regina | Cada macaco no seu galho, Riachão | Samba da benção, | Canto do Pajé, Maria Bethânia | Comida, Titãs aqui e lá • rio grande do norte/rio de janeiro Rio Grande do Norte, e a de mesmo nome, sensação do verão no Estado do Rio de Janeiro. A nordestina, localizada flickr.com/photos/kirsten_m_lentoft no município de Nísia Floresta, a 20 quilômetros da capital, Natal, é uma das mais procuradas durante os meses de janeiro e fevereiro. “Fui convidado a prestar uma consultoria em Búzios e comprei um bilhete de avião para o Rio de Janeiro. Ao chegar, constatei que, na verdade, tinha sido contratado para trabalhar no Rio Grande do Norte”, conta o consultor empresarial paulistano Henrique Lunnardeli, que, desde 2005, presta serviço a empresas no estado. A praia potiguar também é muito procurada pelos surfistas por conta das ondas fortes. Outra opção de lazer são os passeios de buggy 22 por entre as dunas da região. “A estrutura hoteleira e de entretenimento de Búzios ainda é pequena. A maior parte do agito acontece nas casas dos veranistas, que têm se multiplicado nos últimos anos”, completa Lunnardeli. A versão fluminense é mais cosmopolita. O balneário, formado por 23 praias, localizado a 165 quilômetros do Rio de Janeiro, chamou a atenção do mundo na década de 60, quando a atriz Brigitte Bardot se refugiou do assédio da imprensa internacional na cidade. Bares, hotéis-butique, restaurantes e lojas de grifes internacionais movimentam a rua das Pedras. Pelas praias de águas mornas, como João Fernandes e Ferradura, circulam celebridades nacionais e internacionais, além de turistas de diversas partes do mundo. “Um dos melhores investimentos de toda a minha vida foi a compra de um terreno em Búzios. Lá, descanso da minha rotina atribulada além de ser um paraíso para as minhas filhas, Laura e Maria”, revela a jornalista Glória Maria. A casa da apresentadora fica no alto do morro Geribá. “Tive a oportunidade de conhecer as duas versões brasileiras de Búzios. A nordestina é mais rústica. A nossa se internacionalizou e ganhou o mundo. São dois destinos turísticos diferentes com uma coisa em comum: ambos devem ser desfrutados em sua plenitude, respeitando-se sempre a natureza”, pontua o prefeito da Búzios fluminense, Delmires Braga. Como chegar: Búzios | Rio de Janeiro Saindo do Rio de Janeiro pela ponte Rio/Niterói, seguir pela RJ-106 Búzios | Rio Grande do Norte Saindo de Natal, pegar a BR-101 norte e entrar no acesso ao município de Nísia Floresta Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 23 flickr.com/photos/chelseasolan M ar de águas cristalinas, praias de areia branca e um sol de rachar durante praticamente todo o ano. Essas são algumas características em comum de dois paraísos brasileiros, a praia de Búzios, no história pra comprar • bahia 15 centímetros de memória E les cruzam o mundo levando de declarações de amor a pedidos de desculpa. Em um espaço de apenas 15 centímetros de comprimento, além do nome e do endereço do destinatário, o sentimento de quem quer encurtar a distância e partilhar sentimentos. Assim, até pouco tempo, quando ainda não se falava em redes sociais, a compra de um cartão-postal era indispensável em qualquer viagem de férias. A função primordial sempre foi retratar o destino do remetente. A Torre Eiffel, em Paris, o Farol da Barra, em Salvador, o Corcovado e o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, por exemplo, estão entre os clássicos vendidos sempre com mensagens clichês: “Direto da Cidade Luz”, “Um axé da Bahia”, “A Cidade Maravilhosa”. Manifestações de afeto impressas pelo próprio punho e que dispensam envelopes. A era digital trouxe o acesso fácil e rápido a registros fotográficos, feitos até mesmo pelos aparelhos celulares. Com isso, o uso dos postais foi se tornando menos usual. Mas há quem não abre mão da prática e tenha transformado isso em hobby. É o caso do cartófilo potiguar José Valério Cavalcanti que tem catalogados mais de 171 mil unidades. “Comecei a colecionar em 1982. Naquela época, existia um remédio chamado Capivarol que fazia sempre algumas promoções. Nesse ano, lançaram uma carta enigma. Eu consegui decifrar e o prêmio foi 25 cartões-postais; tão feios que pensei em jogálos fora. Esses foram os primeiros”, relembra o médico aposentado de 77 anos. Outras duas grandes coleções são de cartófilos autores de livros sobre o assunto. O jornalista e historiador José Carlos Daltozo escreveu Cartão-Postal - Arte e Magia e mantém seu acervo na cidade de Marinópolis, no interior paulista. Já o professor Antonio Miranda, da Universidade de Brasília (UnB), é dono de uma 24 coleção com mais de 200 mil exemplares e escreveu o livro O que É Cartofilia, publicado em 1985 pela editora Thesaurus. Em Salvador, o Museu Tempostal expõe um acervo, aberto ao público, com mais de 45 mil cartões. O mais antigo data de 1898 e retrata o Elevador Lacerda, símbolo da arquitetura da cidade. Estão sediadas em São Paulo e em Porto Seguro, na Bahia, as maiores editoras de cartõespostais da América Latina, a Brascard e a Portocard. Para o proprietário das empresas, Sérgio Rether, a extinção não vai acontecer, principalmente em países da Europa. Mas informa que, no Brasil, as vendas caíram em torno de 70% pela falta de incentivo e iniciativas que prejudicam a exposição do produto. “A prefeitura do Estado de São Paulo, nosso maior consumidor, proíbe a exposição dos cartões-postais nas áreas externas das bancas de jornais, dificultando a visibilidade do produto. Eu acho que as escolas também deviam estimular o manuseio desse material, que, além de obra de arte, são verdadeiros registros da geografia, história, usos e costumes de povos e países.” Rether já editou dois números da revista Conheça o Brasil através dos Cartões-Postais e é um apaixonado pelo tema. “Novidades eletrônicas aparecem, mas eles nunca vão acabar”, garante. O primeiro cartão-postal foi criado oficialmente em 1º de outubro de 1869 pelo austríaco Emannuel Hermann. Onze anos depois, foi impresso o primeiro exemplar brasileiro. Sua popularização começou em 1890, quando passaram a exibir desenhos, pinturas e, posteriormente, fotografias. Nos anos 70, fruto de uma parceria entre o empresário Alfredo Colombo, dono do Cine Foto Colombo, com John Brunner, considerado o papa do fotolito no Brasil, começaram a ser produzidos, em São Paulo, os primeiros cartões-postais coloridos do país. Museu Tempostal Rua Gregório de Matos, 33 Pelourinho | Salvador | Bahia Visitação: Terça a sexta, das 10h às 18h Fim de semana e feriados, das 13h às 17h 71 3117.6382 religião • bahia 100 anos de tradição D o alto dos seus 100 anos de existência, comemorados nos meses de julho e agosto deste ano, o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá vive a dicotomia por Pedro Fernandes Mila Cordeiro/ AGECOM de representar a um só tempo a tradição e a vanguarda do candomblé no Brasil. Muito pelo caráter das ialorixás que o comandaram e comandam. Desde a sua fundação, sob as bênçãos de Afonjá (Xangô), o senhor da Justiça, o terreiro de São Gonçalo do Retiro é conhecido pela sua aproximação com intelectuais, abertura para o diálogo e respeito profundo aos fundamentos do candomblé e seus segredos. É assim que age Mãe Stella de Oxóssi, enfermeira aposentada, duas vezes doutora honoris causa, pelas universidades Federal da Bahia (Ufba) e do Estado da Bahia (Uneb), sucessora de Mãe Ondina de Oxalá, Mãe Senhora de Oxum e Mãe Bada de Oxalá. E era assim que também agia Mãe Aninha de Afonjá, fundadora do terreiro, mulher de crenças e de admirável intelecto. Ela fixou a casa em São Gonçalo do Retiro em 1910, mas, como conta Vivaldo da Costa Lima, antes passou por lugares como Camarão, no Rio Vermelho, e Alto da Santa Cruz. Isso aconteceu depois de deixar o terreiro do Engenho Novo, também conhecido como Casa Branca. Um ano depois de sua saída, aos 40 anos de idade, já era uma das ialorixás mais admiradas de Salvador e se orgulhava dos preceitos tradicionais de seu terreiro. Ao pesquisador Donald Pierson, da Universidade de Chicago, disse: “Tenho ressuscitado grande parte da tradição africana que mesmo o Engenho Velho tinha esquecido. Eles têm uma cerimônia para os 12 ministros de Xangô? Não! Mas eu tenho!”. Era tão respeitada que do seu encontro com o presidente Getúlio Vargas, em 1936, o resultado foi a legalização do culto aos orixás por meio do Decreto Lei nº 1.202, que proibia qualquer embargo aos exercícios do candomblé no país. Quando se realizou o 2º Congresso AfroBrasileiro, na Bahia, em 1937, lá estava Mãe Aninha entre os homens de saber, letrada, falando francês e admirada por todos. No fim ainda lhes ofereceu em homenagem uma festa no Ilê Axé Opô Afonjá e uma lista de comidas com nomes iorubás que foi publicada no livro O Negro no Brasil, em 1940. Claro que ela não revelou seus modos de preparo ou usos rituais. Intimidade com as letras também tem Mãe Stella, que já lançou quatro livros e luta para conciliar educação e culto. Ela viajou várias vezes para a África para aprofundar os conhecimentos sobre a cultura iorubá, que é basicamente oral, e conseguiu transformá-la em herança escrita. Sua última publicação, Epé Laiyé, voltada para crianças, fala de proteção ao meio ambiente e acaba de ser adotada pela Secretaria de Educação da Bahia. A ialorixá é conhecida por pregar a aproximação das nações de candomblé e por seu discurso antissincretismo, mas é completamente a favor do respeito mútuo entre as religiões afrodescendentes e as religiões cristãs. “Quando você tem essa consciência e valoriza a sua religião, não precisa ficar atacando as outras. O importante é que não existam agressões”, disse certa vez. Sempre a favor da justiça, como Afonjá, o guia de sua casa, rumo a mais 100 anos de existência. Ilê Axé Opô Afonjá São Gonçalo do Retiro , 557 Cabula Salvador | Bahia 71 3384.5229 / 6800 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 25 Otto Terra / SecultBA Mãe Stella de Oxóssi SUSTENTABILIDADE • bahia moda A sustentável preocupação com o meio ambiente chegou às passarelas. Utilizar materiais ecológicos e adotar meios sustentáveis na produção, além de ajudar o meio ambiente, agrega valor ao produto. Não à toa, as duas últimas edições da São Paulo Fashion Week (SPFW) tiveram como tema a sustentabilidade. Em outubro, Paris sedia a quarta edição de uma semana de moda dedicada, exclusivamente, às marcas que incentivam o trabalho de artesãos e desenvolvem alternativas para diminuir o impacto ambiental no processo industrial das confecções. Por aqui, a designer de moda baiana Ju Rabinovitz traduz isso com peças conceituais e exclusivas: “A sustentabilidade é princípio básico nas minhas criações. Não utilizo materiais recicla- uran rodrigues dos só pelo efeito que dá nos modelos”, ressalta. A estilista é filha do artista plástico Sérgio Rabinovitz, desde a infância esteve rodeada por obras de arte e aprendeu cedo sobre o cuidado com a natureza. Naturalmente, essa vivência pode ser percebida nas suas obras. Formada em arquitetura, só depois de um curso de modelagem feito no Serviço Nacional de Aprendizagem (Senac) a moda passou a ser uma prioridade. “Mas todo o meu trabalho é baseado no meu aprendizado com arquitetura. Desenvolvendo as peças, figurinos, cenários, na pesquisa e produção. Arquitetura fala muito de gente e para fazer minhas roupas penso muito sob esse aspecto.” Unindo as duas aptidões e com uma visão diferente sobre o que é moda sustentável, Ju está às volta com mais uma coleção, agora de bijuterias fabricadas a partir de garrafas PeTs. “Começou com uma ideia simples, mas virou uma linha de acessórios”, explica. Denominada PEThala, as peças são feitas com discos recortados da garrafas, que, unidos artesanalmente, um a um, lembram pétalas de flores. Tanto na produção dos acessórios como na modelagem das roupas, a estilista se diz livre para criar. Não importa o que dizem as colunas de moda, para ela o que conta é o valor que “está no intangível”. Ju acrescenta: “É um processo que funciona em cadeia: desde o tratamento dos funcionários, passando pela alimentação, todo o aspecto psicológico influi no negócio”. Essa liberdade também pode ser observada no corte de tecidos leves das roupas criadas em seu ateliê instalado no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Algodão orgânico e juta são alguns dos materiais utilizados na nova coleção de vestuário da marca, há cinco anos no mercado. Quase não se vê costura. “É uma roupa que tem essa coisa divertida no vestir, de descobrir maneiras e transformações. Para mulheres práticas, com estilo e que não estão a fim de se formatar.” Uma moda que não fica ultrapassada quando acaba a estação. “Faço uma roupa que pretende ser um bem de consumo. Um bem durável, que se compra hoje e dez anos depois ainda pode ser usada”, arremata. 26 tecnologia • recife porto de ideias J á faz tempo que o pernambucano tem escutado daqui e dali o quanto nosso povo é comunicativo, acolhedor e criativo, como se diz por aqui “povo sabido”. Temos tradição na culinária, na arquitetura, na política, na poesia, na música, um verdadeiro caldeirão em ebulição, cheio de referências e inspirações. Recife é linda, apaixonante, cortada por rios e pontes que embelezam a cidade e enchem nosso coração. E, atravessando algumas delas, chegamos ao Marco Zero, onde a cidade começou e onde tudo pode se renovar. Por que não? O pernambucano é empreendedor, inovador e, falando de design e tecnologia da informação, não é diferente, percebi isso muito cedo. Com um olhar novo de quem tinha apenas 17 anos, entrei na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) no curso de design gráfico. Esse olhar foi a chave de quase tudo: estava atenta e aberta às novidades. Estava no lugar certo. A incubadora de empresas de base tecnológica e o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) se estabeleciam no campus. Todo aquele “novo” era muito estimulante. Sedenta por aprender e entender aquele movimento, mergulhei rapidamente naquele universo. Lembro que Silvio Meira, um dos idealizadores do C.E.S.A.R, plantava sementinhas de sonhos e inovação naquela moçada ali presente. Algumas vezes vi Silvio pelo campus paramentado com cabeça de maracatu ou cocar de índio, acho que é um pouco da metáfora do estilingue, do pensador pernambucano Aloísio Magalhães: tem de ir pra trás, resgatar a cultura, entender a história para poder caminhar pra frente. Recife tem disso. Foi assim que vi começar esse movimento que hoje é referência. Tudo isso convergiu para a criação do Porto Digital, um centro www.portodigital.org de competências em tecnologia que surgiu em 2000 por meio de iniciativas pública, privada e de universidades. Instalado no sítio histórico no Bairro do Recife, tornou-se uma região extremamente moderna, que conta atualmente com mais de 100 empresas de TI. O Porto Digital reúne inúmeros talentos que se agregam e se estabelecem em empresas, diminuindo bastante a janela de evasão. Antes disso, anualmente 75% dos graduados em informática deixavam a capital em busca de novos horizontes. A permanência de excelentes profissionais na nossa cidade permite ainda exportação de serviços, não só para outras capitais como para o mundo. Como boa pernambucana e empreendedora que sou, em 2003, aos 24 anos, criei minha primeira produtora digital em Recife e, logo em seguida, nos tornamos uma das primeiras empresas com foco em design de interface embarcadas no Porto Digital. Há cinco anos me mudei para São Paulo onde, junto com minha sócia Andrea Bidlovski, fundei a Cherry Plus – uma butique criativa focada em inteligência digital. Hoje, tenho grande convicção de que parte do resultado do nosso trabalho e das nossas conquistas é fruto dessa vivência e desse aprendizado, de ter tido o privilégio de participar do início desse movimento pernambucano. por Luana Pontes Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 27 falar bem jackson araujo, cearense, multimídia, jornalista de formação, consultor de moda e analista de tendências. Estuda as ondas jovens no que diz respeito a comunicação, comportamento, artes, moda e música. o Twitter é a nova filosofia das estradas F oi-se o tempo em que as frases de para-choque de caminhão serviam como fontes de trocadilhos impagáveis, os tais trocadalhos do carilho. Mix de profetas, poetas e filósofos do mundanismo, os caminhoneiros decoravam suas carrocerias para exibir bem-humoradas expressões e pensamentos recheados de sabedoria popular. Não faltava ironia com a própria desventura, piadas sobre casos de amor e traição, um pouco de sentimento religioso ou declarações de amor para a mulher distante. Tudo bem, é verdade que a cada dia existem mais caminhões nas estradas de um Brasil sem ferrovias, mas o lirismo e o colorido dessa poesia sobre rodas tem sumido sob chassis metálicos, faróis de LED e detalhes fluorescentes. Os caminhões viraram transformers, destemidos super-heróis sem coração, robôs de extrema força e virilidade. Para matar essa saudade, até mesmo porque tenho passado mais tempo na internet do que no asfalto, acompanho o Twitter como quem lê para-choques: pequenas frases disparadas incessantemente por talentosos fazedores de humor. Veja o caso do cantor cearense Falcão, que se reinventa na internet com o Horóscopo Falconélico, colocando os mais de 26 mil seguidores em contato com a mesma vocação para piadas que o projetou no cenário musical dos anos 90. A veia brega-esotérica do cantor pode ser lida diariamente em tuites de previsões astrológicas dignas dos velhos para-choques. O nonsense impera: “Gêmeos – Em vez de explicar, é preferível dizer logo o que é. Dia bom para fazer churrasco em um spa”; “Áries – O dia se apresenta ótimo, por isso nem saia de casa que é pra não estragá-lo”. Falcão pega ainda a onda dos programas de culinária e cria tuites de receitas na Cozinha do Falcão: “Coisa diet de manga: Primeiro chupe a manga. Depois bata os ovos num liquidificador manual. Retire os fiapos. Sirva junto”; “Maria-mole dura: Ponha os ingredientes com o restante, mexendo de lá pra cá. Leve ao freezer para endurecer. Sirva crua”. “Medalhão de mocó com chutney de macauba: Tempere a siriguela. Misture bem e assobie. Regue e salpique o negócio a bambão”. A criatividade do @brega_falcao ganha ares de seita quando se começa a seguir a micronovela O Desgosto que Sua Mãe Me Deu. Cada tuite resenha os capítulos com a maestria de um cordel. “MNcap39: Onildo diz a Carminda que já serviu aluá na casa de Ronnie Von. Arinelson se assusta com as varizes no períneo de Cleuza. Algo cai.” “MNcap40: Tancredo tira uma barata do entreperna de Cleuza. Atanásio vê o Pe. Dedé bebendo no cabaré de Fideralina. Rui Jr afoga o ganso. É.” Falando em novela, a talentosa escritora cearense Natércia Pontes também está alimentando seus seguidores com ácidos tuites comentando diferentes momentos da TV aberta. “De novela a programa da Luciana Gimenez”, frisa. O melhor, os comentários são em tempo real, o que só acentua a inconsistência dos diálogos dos roteiristas ou apimenta o senso crítico de quem a lê. “Eu juro que tento. Mas sotaque italiano do Projac é algo que meus genes não foram programados para suportar.” Ou: “Um lado meu muito horrível morre de rir das piadas do Jô Soares”. Para finalizar, uma pérola colhida no tuíte que resume bem a nova mania: “Essas novas linguagens (email, blog, Twitter) despertam duas formas adormecidas de comunicação: as cartas e os diários”. Completo: o Twitter é o novo para-choque de caminhão. Siga: @brega_falcao @naterciapontes @shhh_fm. jackson araujo 28 comer e beber santo remédio A catuaba é uma árvore de tamanho pequeno, que produz flores amareladas e um fruto não comestível. Natural do norte do Brasil, a infusão da raiz da planta era utilizada pelos índios da tribo tupi, como um tônico medicinal no combate à insônia e à fraqueza. Os primeiros habitantes brasileiros também tinham a planta como um estimulante sexual natural. O tempo passou e a fama afrodisíaca da catuaba atravessou gerações. A infusão da planta é hoje componente de bebidas alcoólicas que garantem potencializar a libido daqueles que a consomem. amanda rossi A catuaba em sua versão contemporânea é composta de vinho tinto doce, xarope de catuaba, guaraná, marapuama e possui uma graduação alcoólica em torno de 1,6%. Atualmente, a iguaria é consumida em maior escala pelas camadas da população que não têm acesso aos medicamentos sintéticos, de combate à impotência sexual. “A fama afrodisíaca da catuaba no Brasil foi tamanha que a espécie quase foi extinta nas décadas de 30 e 40. O consumo da bebida entrou em decadência, mas a produção e distribuição ainda continuam em alta, nas regiões de menor renda per capita do país”, explica o pesquisador baiano Anderson Menezes, que estuda há quatro anos e meio o fenômeno da catuaba no Brasil. Muitas são as histórias daqueles que cresceram tendo a bebida como um referencial para a saúde sexual. “Lembro que meu pai sempre bebia um cálice pequeno de catuaba antes das refeições. Ele dizia que era para ficar forte e fazer a mamãe feliz. Ainda hoje, aqui em Minas Gerais, dizemos que até um pai chegar aos 60 anos, os filhos são dele. Após essa idade, a prole é da catuaba”, conta o empresário mineiro Joacir Santos, 30 que, aos 52 anos, dispensa potencializadores sexuais na relação com a sua esposa, que já dura uma década e meia. Segundo a medicina, a catuaba na versão alcoólica deve ser consumida com cuidado por aqueles que sofrem de problemas cardíacos, por causa de seu poder de vasodilatação. Outro aspecto importante, de acordo com os médicos, é o alto risco de dependência que os consumidores da bebida podem desenvolver, por sua associação com a potência sexual. “Eu diria que os benefícios da catuaba são maiores do que os malefícios. Porém, como tudo na vida, deve ser administrada com cautela. A essência da planta se potencializa se associada ao álcool e isso pode representar uma situação de risco para alguns indivíduos”, explica o clínico-geral baiano Pedro Almeida Lôbo. Apesar de ser uma planta de origem brasileira, o consumo da catuaba extrapola fronteiras. “Na Europa e nos Estados Unidos a planta, em sua versão alcoólica, é amplamente utilizada para o tratamento de patologias nervosas crônicas, como insônia e falta de memória. No exterior, porém, ainda se conhece muito pouco sobre os efeitos da catuaba como estimulante sexual”, completa o médico. Malefícios e benefícios à parte, a bebida ainda faz sucesso no Brasil. “Ano passado registramos um crescimento de quase 10% em nossas vendas. Para 2010, esperamos um incremento ainda maior. Muito se diz sobre a catuaba, mas o fato é que ela ainda é o remédio mais democrático para aqueles que estão com sua libido vencida”, diz Adamastor Nemez, representante do fabricante da Catuaba Selvagem, uma das marcas mais vendidas no Brasil. Catuaba Selvagem www.catuabaselvagem.com.br arquitetura • bahia Lelé, arquiteto-construtor E le mora na Bahia, nasceu no Rio de Janeiro, consolidou-se profissionalmente em Brasília, plantou benfeitorias pelo Brasil e ganhou o mundo. Ou melhor, prêmios pelo mundo. Bienal de Arquitetura de Buenos Aires (2001), Bienal Ibero-Americana de Arquitetura e Engenharia (Chile, 2002), dentre muitos outros. Reconhecimento e reverência que nada mudaram o jeito simples e a forma coerente como sempre encarou a vida por meio do seu labor, a arquitetura. Moradores das grandes cidades brasileiras não terão dificuldade em identificar o traço de João Filgueiras Lima, o Lelé, em mobiliários urbanos, passarelas, escolas, edifícios governamentais, estruturas de transporte e hospitais. Seu trabalho, essencialmente de- Darcy Ribeiro. “Sempre fui muito preocupado em aprender a profissão nos mínimos detalhes, inclusive a arte de construir. Gostava de me exercitar na obra, sempre pegava na ferramenta”, explica ele. Mas veio aquela história de 1964 que o levou de lá. De lá para a Bahia, e ali começar a desenvolver o seu trabalho autoral mais consistente. Projetou diversos edifícios para o novo Centro Administrativo do Estado a partir de 1973. Constituiu fábricas de edifícios e equipamentos como a Companhia de Renovação Urbana de Salvador (Renurb), 1978, Fábrica de Equipamentos Comunitários (Faec), 1986, culminando com a criação do Centro de Tecnologia da Rede Sarah, 1992, este uma matriz referencial da excelência que alcançou o seu trabalho. Hoje, após ter deixado a Rede Sarah, Lelé não reduz o ritmo de afazeres. No Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat (IBTH), com sede em Salvador, transmite com o mesmo entusiasmo e sabedoria o princípio da boa arquitetura, aquela que ajuda a construir um novo homem. por Adriano Mascarenhas adriano mascarenhas senvolvido no âmbito público, é de uma abrangência e originalidade que impressiona. Difícil concluir onde este inquieto artista da construção nos deixará seu maior legado. Será na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, para a qual desenvolveu desde macas e equipamentos hospitalares até sistemas inovadores de ventilação natural antes da moda sustentável, dentro de uma arquitetura arrojada e elogiada por tantos colegas mundo afora? Ou será sua contribuição ao uso e desenvolvimento da argamassa armada e estruturas pré-fabricadas na confecção de edifícios e equipamentos comunitários? Ou ainda o seu exemplo como servidor de uma causa tão abandonada atualmente que é a da construção do habitat em níveis de dignidade que ainda não conhecemos por aqui? É fato que a sua caminhada enriquece ainda mais os predicados da sua obra. A começar por ser ele uma referência viva e importante da construção de Brasília. Chegado ao cerrado em 1957, Lelé supervisionou e desenvolveu projetos de Oscar Niemeyer por 14 anos, tendo com ele estabelecido uma amizade que se estende até hoje. Naqueles dias de isolamento, falava com o Rio uma vez por semana em ligações precárias de rádio. Sobrava a companhia da sua sanfona e o céu do planalto sem-fim. Aprendeu ali, com auxílio dos operários, o ofício da construção para pouco depois dividir seu conhecimento como professor na recém formada UnB, criação do seu futuro amigo 32 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 33 artes plásticas • sergipe um artista de Atalaia “O par da restauração da Igreja da Ascensão, na qual fez quatro painéis. Wilson Rocha escreveu sobre a figuração metafísica e essencialidade da pintura de Joubert: “Uma obra pictórica realizada com paixão desmedida com uma desenvoltura, uma total ausência de complexos e uma margem de precisão… revestiu de prestígio a exposição de Joubert. Uma pintura figurativa e de uma conceituação atual da arte, que exprime uma visão interior, a paisagem psicológica, numa figuração metafísica que exalta a essencialidade de pintura, a matéria pictórica em que se concentra todo o seu elemento formal. A linguagem elaborada e consciente deste artista desenvolve uma mensagem purista de pintura numa teoria de exploração das profundezas subjetivas, das zonas ocultas do ser, as energias da mente, resultando em uma pintura de funções mágicas e saturadas de mistério”. Joubert pinta com os dedos, com panos e pincéis. Na escultura, trabalha com as duas mãos. Na pintura, é totalmente canhestro. Já no violão, em que se embala compondo e cantando todos os dias, é destro, “como Roberto Menescal”, lembra, “a gente tocou muito um dia e rimos sobre isto”. Joubert Moraes está preparando uma nova exposição para o segundo semestre, no Palácio Museu Olímpio Campos, em Aracaju, com esculturas em terracota, material com o qual vem trabalhando nos últimos 20 anos, pinturas abstratas e muito mar. por Clara Angelica Lúcio Telles joubert moraes mar me dá muita arte de presente.” E Joubert segue falando, pausadamente, de como o mar é a maior força da natureza e quando se mora muito perto do mar, do fluxo e do refluxo da maré, os presentes começam a chegar. Morava bem na beira da praia e começou a receber fragmentos do mar, que vinham bater no jardim da casa, entrando pela varanda sem pedir licença, tomando conta. O pintor a princípio olhava, admirava e deixava lá. Aprendia. Foi então que começou a pegar, interferir e a criar junto com a natureza: “Foi assim que nasceu minha escultura, foi o mar que me deu, até então era só a pintura”. Joubert pegava raízes e outros fragmentos que vinham do rio São Francisco até o mar e iam bater na porta de sua casa, na praia de Atalaia, em Aracaju. Os trabalhos se transformaram em um movimento, Aracajoubê, o que acabou chamando a atenção de Pierre Restany, crítico de arte francês de alcance internacional, que fez o Movimento Ouro Negro em São Paulo, nos anos 80. Restany viu as fotos da casa com as esculturas de fragmentos e se encantou. A arte de Joubert Moraes, pintor de Aracaju, é linda e refinada. Estudou na Escola de Belas Artes da Bahia com Rescala e Juarez Paraíso. Sua pintura passou por várias fases e uma das mais belas foi fruto dos estudos do artista do barroco e do período renascentista. “Eu gostava do sépia, dos claros e escuros, daquela visão renascentista; estudei muito e assim cheguei ao craquelê.” Foi nessa fase que Joubert levou uma exposição para o museu do Solar do Unhão, em Salvador, e foi convidado a partici- 34 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 35 divulgação moda por Pedrinho Figueredo divulgação Arte em renda Joias eco-friendly Bijuterias sustentáveis. Essa é a proposta da coleção In Natura lançada pelas designers paraibanas Érica Medeiros e Mariana Borba. Fabricadas com algodão orgânico colorido produzido na Paraíba, as biojoias foram confeccionadas artesanalmente. Sementes da Mata Atlântica, miçangas e madeira de reflorestamento compõem as peças, que já estão sendo exportadas para países como Portugal e França. Por causa do sucesso da coleção, a dupla está preparando um novo lançamento para dezembro deste ano. Dessa vez, as peças serão confeccionadas com coco, bambu, tacumã e babaçu associados a metais preciosos como ouro e prata. “Estamos impressionadas com o sucesso das biojoias. Além da grande procura no mercado nacional, temos recebido muitos pedidos de países estrangeiros. Em associação com uma cooperativa da Amazônia vamos utilizar material exótico na composição das peças da próxima coleção”, adianta Érica Medeiros. Biojoias by Érica Medeiros e Mariana Borba Babel das Artes www.babeldasartes.com.br Av. Senador Ruy Carneiro, 24 João Pessoa | Paraíba A estilista e rendeira cearense Perpétua Martins é considerada uma das precursoras da técnica do filé colorido. Com 20 anos de experiência, ela conquistou uma legião de admiradores pelo colorido e bom acabamento de suas criações. Saias, blusas, xales e vestidos são algumas das peças produzidas artesanalmente, que, atualmente, podem ser encontradas até em maisons francesas e italianas. Com uma equipe formada por 15 rendeiras, Perpétua está preparando a sua nova coleção, com lançamento previsto para dezembro deste ano. As peças terão texturas produzidas por designers com ajuda da computação gráfica e executadas à mão pela equipe cearense. As criações também vão fazer parte de uma mostra sobre artesanato e cultura popular que acontece em janeiro de 2011, em Milão. Pela primeira vez, Perpétua Martins vai emprestar o seu trabalho com renda em filé para uma linha de bolsas da Forum. “O trabalho de Perpétua impressiona por ser autoral, tradicional sem ficar perdido no tempo. Confesso que, mesmo sendo sua cliente, ainda me impressiono com o que ela produz”, conta a consultora de moda Cristina Franco, que consome o trabalho da cearense há cinco anos. Atelier Perpétua Martins Av. Dolor Barreira, 820, Vicente Pinzon Fortaleza | Ceará 85 3262.3962 / 85 3234.6080 Inspiração praiana divulgação O joalheiro Carlos Rodeiro foi buscar inspiração na atmosfera praiana de paraísos brasileiros como Búzios, Praia do Forte, Trancoso e Maresias para compor a sua nova coleção. Topázio, ágata, água-marinha e rubi foram algumas das pedras preciosas utilizadas. O toque sofisticado ficou por conta de detalhes em diamantes, pérolas, ouro branco e amarelo. “A nova coleção segue a linha do luxo, porém cheia da brasilidade característica da nossa grife. A ideia é homenagear o Brasil mais uma vez”, pontuou Rodeiro. O baiano também está lançando uma linha de joias masculinas, cujas coleções serão assinadas por personalidades brasileiras. A primeira ficou sob a batuta do badalado fotógrafo e maquiador Fernando Toquatto. O garoto-propaganda é o modelo Jesus Luz. As peças desembarcam no mercado em novembro deste ano. Considerado uma referência no mercado de joias brasileiro, Carlos Rodeiro tem representações nas cidades de Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris e Mônaco. Entre os clientes, estão personalidades como a top model Naomi Campbell e a apresentadora Hebe Camargo. 36 Carlos Rodeiro www.carlosrodeiro.com.br ECONOMIA a vez do Nordeste responder por um em cada três empregos gerados nessa área, sendo o crescimento mais acentuado que as demais regiões. Ali as perspectivas são mais animadoras, dado os investimentos e a oferta de crédito, como a contratação de mais de 343 mil residências somente para o programa Minha Casa Minha Vida. Há uma maior demanda por habitação e mão de obra que pode ser aproveitada com menor custo. Ainda, das 12 cidades sede da Copa de 2014, quatro são cidades nordestinas: Salvador, Recife, Fortaleza e Natal. Isso deverá representar um incremento de investimentos em mobilidade urbana, infraestrutura, hotelaria e mercado imobiliário poucas vezes vistos em tão curto espaço de tempo. Exemplo de uma cidade que reflete bem esse cenário, na capital da Paraíba, João Pes- soa, em cinco anos a oferta de apartamentos dobrou na cidade, com edificações alcançando mais de 40 andares, alterando a paisagem habitual. Já em Pernambuco a previsão é que haja uma movimentação ainda mais forte no interior, trazendo importante contribuição para reduzir o histórico problema do êxodo de pessoas para outras regiões do país. Apesar das construtoras e incorporadoras de todos os estados se movimentarem nessa direção, muitas em parcerias com empresas locais, os desafios se colocam à frente dos empresários. A corrida para formação de mão de obra agora tornou-se imperativa. Em estados como a Bahia, já existe a falta de profissionais qualificados, o que tem gerado o aproveitamento de pessoas com baixa experiência e consequentemente pouca produtividade. Os salários sobem no mesmo ritmo que somem os especialistas, numa região que gerou até julho deste ano 154 mil empregos, sendo Bahia, Ceará e Pernambuco seus grandes protagonistas. Há, de certo, uma grande expectativa de que toda essa conjuntura de números superlativos seja realmente convertida num avanço da qualidade de vida nas cidades. A presença de novos e grandes empreendimentos imobiliários, bem como os investimentos públicos previstos, cria uma chance histórica de passar as cidades a limpo no plano urbanístico, inaugurando uma nova etapa de conquistas pela frente. Resta observar se estaremos realmente preparados para isso ou se deixaremos a oportunidade escapar por entre os dedos. por Adriano Mascarenhas ivan moretti O s adjetivos são muitos para exaltar o atual momento da construção civil no país, em especial na Região Nordeste. Em expressões como “milagre econômico” ou mesmo “boom”, fica evidente o clima otimista do setor e a realidade demonstra com números que isso não é à toa. Passada a tempestade dos anos 2008 e 2009, agora o sol parece brilhar ainda mais intenso. Depois de ter atingido níveis catastróficos nos anos 80 e 90, a cadeia da construção civil representa hoje aproximadamente 9% do PIB do país. Os índices de crescimento aproximam este bom momento dos números da era do chamado “milagre” nos anos 70. São deste setor os recordes seguidos de geração de emprego e de produção. E o Nordeste já passa a Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 37 CINEMA • PERNAMBUCO viajo porque preciso, volto porque te amo P rincipal referência de vanguarda e produção audiovisual realizada fora do eixo Rio/SP, o cinema pernambucano tem sua pujança ligada a um incrível hiato produtivo de 20 anos. Em 1978 foi lançado o filme O Palavrão, de Cleto Mergulhão, que, apesar de relevante, teve pouca repercussão local e nacional. Quase duas décadas depois, em 1997, O Baile Perfumado, dirigido por Paulo Caldas e Lírio Ferreira, passou a ser considerado como “marco zero” de uma nova fase pernambucana e nacional quando as produções começaram a se reerguer depois do “apagão” causado pela era Collor. A partir de 1997 a onda foi outra mesmo. Desde então a nação mameluca vem produzindo uma excelente safra de cineastas e longas-metragens. Lírio Ferreira (Árido Movie; O Homem que Engarrafava Nuvens), Paulo Caldas (O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas), Cláudio Assis (Amarelo Manga; Baixio das Bestas), Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus; Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo), Camilo Cavalcante (A História da Eternidade). Trilha internacional Em 2003, Amarelo Manga foi apresentado em Berlim, Cinema, Aspirinas e Urubus es- 38 treou em Cannes em 2005 e foi escolhido para representar o Brasil numa hipotética indicação ao Oscar (que não se materializou). Baixio das Bestas foi um dos mais recentes brasileiros premiados em festivais internacionais. Trouxe de Roterdã, na Holanda, o prêmio Tiger de melhor filme. Mas, mesmo com todo avanço tecnológico, o cinema no Nordeste ainda é de resistência. Como também no Norte do país, podado pela falta de estrutura, recursos financeiros, técnicos e humanos, travados pelo gargalo da distribuição; o ótimo momento se deve mesmo à paixão em fazer. Contudo, justiça seja feita: de uns anos para cá, cineastas, roteiristas e produtores têm tido mais apoio por meio das leis de incentivo e editais de seleção pública, lançados pelo então ministro da Cultura Gilberto Gil. Na terra do sol Não é possível falar de cinema brasileiro hoje sem conferir o protagonismo do Nordeste. Desde o Cinema Novo, com Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, o sertão nordestino é tema e cenário de muitas produções, todas com forte denúncia social. A obra do cearense Karim Ainouz, roterista de Abril Despedaçado e de Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) – diretor de outros dois filmes primorosos: O Céu de Sueli e Madame Satã – são bons exemplos atuais. Na Bahia, após um jejum semelhante ao que houve em Pernambuco, a cena também vem se fortalecendo. Os longas Eu Me Lembro, de Edgar Navarro recebeu, em 2005, seis troféus Candango no Festival de Brasília. Em 2008, foi a vez de Cães, curta-metragem de Adler Kibe Paz e Moacyr Gramacho, levar os prêmios de melhor fotografia, melhor ator (Hilton Cobra) e melhor filme pelo júri da crítica na categoria curtas do mesmo festival. Os Filhos de João (2009), de Henrique Dantas, foi agraciado em quatro premiações também em Brasília. Filmes que estão em produção ou sendo finalizados, como O Jardim das Folhas Sagradas, de Póla Ribeiro, O Homem que Não Dormia, do próprio Navarro, e A Morte do Dr. Jota em Paris, de Igor Penna, prometem movimentar ainda mais a produção cinematográfica no estado. Por tudo isso, vale muito a pena conferir o novo cinema nordestino, espontaneamente liderado por Pernambuco, inclusive, o lançamento do momento de Gomes e Ainouz: Viajo porque Preciso, Volto porque Te Amo. por Luciano Cenci e Driu Oliveira pop art • bahia Minas com Bahia S ó o leve sotaque e o jeito esquivo entregam a mineirice do cartunista e artista plástico Cau Gomez. De resto, pas- sa fácil por baiano depois que trocou, há 17 anos, as montanhas das Minas Gerais pelo horizonte amplo do mar de Salvador. E a cidade retribuiu. Os mes- mos políticos que ele satiriza com suas charges foram os responsáveis por lhe entregar, no ano passado, na Câmara Municipal, o título de Cidadão Soteropolitano. “Sou quase um nativo. Me tornei muito universal morando aqui. Me tornei cosmopolita com a possibilidade do mar me levar para outros lugares.” Cau começou a trabalhar com ilustrações para o meio impresso aos 15 anos, depois de ler muita revista em quadrinhos, fazer caricatura de professores e tirar uma graninha pintando muros de escola. Começou no Diário de Minas, o mesmo onde o Henfil havia trabalhado, em Belo Horizonte. Hoje publica suas ilustrações, cartuns e charges (de traços, cores e técnicas tão característicos que tornam sua assinatura redundante) no jornal A Tarde, de Salvador, e colabora para o francês Courrier International. Mas já fez trabalhos para a Playboy, O Estado de S. Paulo e Jornal do Brasil. Lá se vão 22 anos de redações e prazos apertados, de interpretar notícias e traduzi-las em imagens que vão fazer rir e sobretudo refletir. O trabalho de Cau Gomez é pegar um fato de última hora e lançar sobre ele um olhar diferente, enxergar um ângulo não captado pelo texto. “O Ziraldo diz que a musa inspiradora para o cartunista é o prazo. Tem dias que saio de casa e nem imagino que vou desenhar tal coisa e no fechamento a ideia vem.” E como faz para saber se uma charge está mesmo engraçada? Desenvolveu nesse tempo todo de profissão uma escala própria para saber se aquele desenho está indo na direção certa e se vai agradar ou instigar alguém no outro dia. Perfeccionismo no fechamento de jornal é sonho e, para quem se preocupa tanto com a qualidade de seu próprio trabalho, é também fonte de muita frustração. Mas a experiência na profissão vai apaziguando a autocrítica. Sem poder atingir sempre os 100%, diz que está aprendendo a se contentar com 63%. “É uma meta tranquila, você vai dormir e a cabeça não fica girando tanto, como no caso de querer atingir a perfeição.” Ainda assim acumula mais de 40 prêmios ao longo da sua carreira em premiações de todo o mundo. Não que ele esteja contando. As menções honrosas ele nem lista em seu site. Em outubro vai receber mais um para a sua coleção, dessa vez em Istambul, na Turquia, no 27º Aydin Dogan International Cartoon Competition. No mesmo mês integra o juri do Salão Internacional do Humor contra o Racismo, que acontece em Montes Claros, Minas Gerais, nos dias 20, 29 e 30. Se por um lado é reconhecido por seu trabalho como cartunista, o lado artista plástico fica ainda restrito aos seus amigos, embora essa seja uma parte de sua história que não quer deixar secreta. “Tenho muita coisa em casa que só os amigos têm acesso. Quero uma hora poder divulgar isso. Tenho planos, quero fazer algo grande, mas não tenho a previsão de quando vai acontecer”, diz, cauteloso feito mineiro e tranquilo feito baiano. por Pedro Fernandes Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 39 FOTOGRAFIA de casa U m retrato do Brasil por meio da moradia de sua gente. Portas, janelas, cores, texturas e os mais diferentes tipos de materiais usados nas construções das casas dos brasileiros em uma viagem reveladora pelas lentes do fotógrafo goiano Rui Faquini. O registro resultou no livro Moradas do Brasil, lançado em parceria com o arquiteto Carlos Lemos, considerado uma autoridade em arquitetura vernacular no país. “Viajo há mais de 40 anos pelo Brasil todo, mas foi a partir de uma viagem pelo Norte, em um trabalho para a Usina de Tucuruí, que olhei com mais atenção para a forma de morar do brasileiro. O jeito artesanal de construir, sem engenheiros e arquitetos, como um João de Barro”, diz o fotógrafo. O livro nasceu depois de uma exposição realizada há seis anos. Ao expor as imagens em seu site pessoal, Faquini foi convidado para publicar a obra.“Publiquei as fotos em um livro com os textos do arquiteto Carlos Lemos, o que foi um privilégio. Tivemos o patrocínio da Caixa Econômica Federal.” Durante a produção, por sugestão de Lemos, Faquini visitou outras regiões do país, principalmente no Sul e no Sudeste, das quais tinha poucas imagens. A pesquisa foi aprofundada e o trabalho tomou uma proporção maior. 40 “Eu já estava impressionado com as moradas, no interior do Brasil, construídas com características indígenas, outras que conservam a forma de construir dos africanos. De repente, me chamou a atenção a mistura que estava representada nas casas dos imigrantes. Gente de diferentes culturas. Os japoneses, por exemplo, buscavam construir como os brasileiros, mas conservavam algumas características orientais. Dá para a gente ter uma total dimensão deste país. Uma sensação de que o mundo mora no Brasil”, conclui. Rui Faquini possui um acervo com mais de 30 mil imagens catalogadas por temas. Trabalhou em documentários, com publicidade e tem dezenas de livros publicados individualmente ou em parceria com outros fotógrafos. Entre os trabalhos destaca-se também outro projeto em que selecionou 45 fotógrafos para documentar Brasília, onde mora, por ocasião do 45º aniversário da capital federal. Outra publicação que expõe bem as diferenças étnicas, culturais e sociais do Brasil é O Grande Oeste, com imagens do Estado de Goiás. www.faquini.com.br Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 41 falar bem Pedro TourinhO é publicitário, especialista em entretenimento e mídia pela Universidade da Califórnia e diretor de conteúdo e interatividade na Rede Record. estamos no tempo do excesso de acesso A s relações de tempo e espaço foram completamente relativizadas. Hoje as maiores lojas do mundo não têm prateleiras, mas têm um estoque do tamanho do mundo. E já não importa mais quanto tempo levo até chegar a essa loja, e sim quanto tempo o produto leva para chegar até a minha casa. A programação da televisão, ou a lista dos lançamentos no cinema, também já não são assim tão importantes. Os sites de torrent, o iTunes e, pasmem, as próprias emissoras de televisão, já estão disponibilizando seu conteúdo na internet, às vezes até mesmo de graça. E na semana em que a gigante Blockbuster anunciava sua falência, o YouTube lança seu canal de filmes gratuitos e na integra, com qualidade HD. Quão sintomático é isso? As relações pessoais também mudaram. Hoje, temos acesso à vida de qualquer pessoa apenas digitando seu nome no Google. Qual empresa trabalha, quando passou no vestibular, a data de aniversário, fotos da formatura, últimas mensagens trocadas no Twitter, quem são seus amigos no Facebook ou em que festa estava presente no último fim de semana. Pois é, as redes sociais são as novas colunas sociais, e muito mais poderosas, pois todo mundo pode entrar. Quando falamos em entretenimento, a mudança é ainda mais emblemática, pois essa industria sempre se baseou na lógica da exclusividade para agregar valor a seus produtos e serviços. O show que ninguém jamais havia visto. A festa com celebridades que só se viam na TV. Os encontros musicais que só aconteciam na varanda da casa de Caetano. A vista da festa que só existia para quem tinha a pulseira do camarote. E vamos além, os melhores e mais exclusivos comentários sobre o que acontece, que antes estava restrito às rodas de amigos, ou às colunistas sociais mais engajadas, agora estão expostos e disponíveis para milhões de pessoas por meio de trocas de mensagens no Twitter. Pois é, democratizaram até a fofoca. Sem dúvida, a internet, e todas essas novas tecnologias baseadas nessa plataforma, surgiu para demo- cratizar o acesso à informação, produtos, serviços e, por incrível que pareça, à pessoas. Surgiu também para dar a cada indivíduo o poder da escolha, o tal do livrearbítrio que todos acreditávamos ter. Saímos de uma sociedade baseada em hábitos de consumo e partimos para um outro momento, em que todos nós temos “escolhas de consumo.” Mas como escolher a decisão mais certa diante de tantas opções, tendo acesso a tantas possibilidades? Um estudo feito pela UCLA, comprovou que o aumento da quantidade de decisões que somos obrigados a fazer diariamente está entre as maiores causas de estresse do cidadão atual. Comprar uma barra de cereal não é mais tão simples, a partir do momento em que existem dezenas de opções diferentes no mercado. Cada uma com sua composição, seus ingredientes, suas embalagens e seu posicionamento de marca. Quem nunca se deparou perdido na frente de uma prateleira de um supermercado tentando entender a diferença entre os diferentes tipos e marcas de detergentes? São decisões que há 20 ou 30 anos, de tão simples, nem eram consideradas decisões. E nessa loucura de informações e de possibilidades surge talvez o papel mais importante da nossa sociedade atual: o curador. Sejam pessoas ou entidades, seja por meio de paramêtros, editorias, critérios, afinidade ou até mesmo algoritmos, como é o caso do Google, não conseguiremos mais sobreviver a essa avalanche de conteúdo sem alguém que nos pegue pela mão e nos guie exatamente até onde queremos chegar, até o que realmente queremos consumir. Administrar o excesso de acesso a tudo e todos é sem dúvida um dos grandes desafios que teremos de passar tanto como sociedade, quanto como indivíduos. Num tempo em que todos têm esse poder, o diferencial é saber o que fazer com ele. pedro tourinho 42 esporte • bahia a mil O piloto baiano Daniel Oliveira, 25 anos, é hoje o único brasileiro competindo na atual temporada regular do Intercontinental Rally Challenge. Com apenas 8 anos, Oliveira já competia no kart e participou de diversos campeonatos juvenis pelo país. Em 2008 tro- cou as pistas pelos ralis off-road, chegando ao vice-campeonato no Mitsubishi Cup Nordeste, na categoria Cross Country. No ano seguinte participou do rali de velocidade do Campeonato Argentino de Rali. “É impressionante a receptividade que tenho fora do país. Nas competições sou sempre referenciado na mídia por ser brasileiro.” Os circuitos do IRC acontecem em diferentes lugares do mundo. Argentina, Espanha, Portugal e República Tcheca foram alguns dos países onde Oliveira já competiu. “Atualmente passo mais tempo entre treinos e competições fora do país. Quando estou no Brasil prefiro ficar em casa para descansar da adrenalina própria desse tipo de esporte.” Os acidentes, comuns em qualquer campeonato automobilístico, segundo Oliveira, afetam principalmente o aspecto pisicológico. “Este ano no rali de Ypres, na Bélgica, batemos a 140 quilômetros por hora sem freios. O impacto foi bem forte e o meu navegador teve alguns ferimentos, mas isso faz parte do jogo. O problema do acidente é que além de tirar a equipe da disputa, ele desestrutura emocionalmente o piloto, que sempre acaba se culpando.” As corridas são bastante desgastantes fisicamente e chegam a durar seis horas. “Antes das competições faço uma dieta à base de carboidratos e procuro treinar em terrenos semelhantes aos que vou me deparar nos circuitos”, completa. Atualmente o baiano pilota um Peugeot 206 da austríaca Stohl Racing. A equipe é formada por 15 integrantes e foi fundada pelo ex-piloto Manfred August Stohl. O próximo passo, segundo o piloto, é mudar para uma categoria maior. “Devo permanecer com a Stohl Racing e juntos temos estudado mudar de campeonato no próximo ano. Queremos passar a disputar o Word Rally Championship, que é um campeonato mais difícil e profissional. Mas, antes de decidir, definitivamente, pelo automobilismo, o piloto trocou o acelerador por uma outra paixão: a guitarra. Durante nove anos, integrou uma banda de heavy metal chamada Ungodly, que chegou a gravar um clipe com ares de superprodução com participação do ator Jackson Costa e locações na cidade de Cachoeira, Recôncavo Baiano, e na galeria subterrânea do Mercado Modelo, em Salvador. “Sou apaixonado pela velocidade e é isso que quero continuar fazendo daqui para frente. Vou acelerar o quanto for preciso para conseguir conquistar meus objetivos”, completa. daniel oliveira Daniel Oliveira danieloliveiraracing.blogspot.com Stohl Racing: www.stohl-racing.com Intercontinental Rally Challenge www.ircseries.com Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 43 TERRA à vista • maranhão santuário P raticantes do turismo ecológico e de aventura sabem muito bem que a descoberta de um novo lugar torna o passeio ainda mais inesquecível. Mas, quando o destino são os Lençóis Maranhenses, alie à sensação de surpresa e encantamento o sentimento de perplexidade. Paisagem símbolo das belezas naturais do país, a visita ao lugar é obrigatória para quem deseja conhecer o Maranhão e prefere ter a natureza como a atração principal na hora de programar o roteiro de viagem. Os 155 mil hectares que formam o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses reservam paisagens deslumbrantes. Dunas imensas, com altura de até 40 metros, emolduradas pelo azul infinito do céu e pelas águas mornas das lagoas proporcionam uma visão arrebatadora. Rios e manguezais entrecortam o cenário até o ponto onde a areia, em constante movimento, desenha uma vastidão branca de tirar o fôlego. O passeio requer espírito aventureiro e disposição, recompensados por um lindo pôr do sol e o banho renovador em uma das lagoas. Na época das chuvas, que vai de dezembro a julho, elas estão mais cheias e com temperaturas amenas. A Lagoa Azul, a Lagoa Grande e a Lagoa Bonita convidam a um mergulho mais demorado. Descer o rio Preguiças numa lancha “voadeira” é outro momento único. A velocidade da embarcação não é empecilho para se admirar a densa vegetação e a calmaria daquelas águas que correm para o mar. O jornalista Fernando Oliveira tem, nos povoados da região, endereços certos para passar as férias no verão. “Todo ano vou a Mandacaru e Caburé. O rio, o mar e as palmeiras proporcionam um espetáculo de beleza fantástica. Também adoro a culinária, o tempero do camarão, a caipiroska de caju ou sorvete de buriti – um fruto de palmeira nativa que tem em abundância por lá.” Quem preferir pernoitar terá boas opções de pousadas rústicas e a chance para explorar melhor as praias mais afastadas. É quase inevitável não desejar prolongar o passeio. Além da beleza e da magia, a tranquilidade com que a vida passa nos Lençóis fica guardada na memória por muito tempo. www.turismo.ma.gov.br Onde se hospedar: Gran Solares Lençóis Resort www.gruposolare.com.br Estrada de São Domingos, s/n, Boa Vista Barreirinhas | Maranhão 98 3349.6000 tony galvez Pousada Encantos do Nordeste www.encantosdonordeste.com.br Rua Boa Vista, s/n, Boa Vista Barreirinhas | Maranhão 98 3349.0288 44 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 45 música • bahia memórias de um bamba E m 14 de novembro de 1921, nasceu no bairro do Garcia, em Salvador, um dos sambistas mais representativos da música baiana: Clementino Rodrigues, o Riachão. “Quando menino eu gostava muito de brigar. Por isso os mais velhos me apelidaram de ‘riachão que não se podia atravessar’”, explica a origem do apelido. Conhecido pelas letras irreverentes e pelo jeito malandro, compôs o primeiro samba aos 12 anos. Depois de cantar em bandas de serestas e até grupos sertanejos, decidiu, inspirado por Dorival Caymmi, se dedicar, exclusivamente, ao samba. Ainda na década de 50, Riachão foi o primeiro compositor baiano a gravar um disco no Rio de Janeiro. Com três álbuns lançados, estourou nas rádios de todo país com o sucesso “Cada Macaco no Seu Galho”, gravado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, em 1972. A música marcou o retorno da dupla de cantores ao Brasil, após o exílio imposto pela ditadura militar. Em 2008, um acidente vitimou sua esposa, os dois filhos, uma nora e um genro. Desde então, as aparições do compositor estão cada vez mais raras. Os mais sortudos, no entanto, podem encontrá-lo em uma roda de samba no Pelourinho no seu melhor estilo: calça social impecável, correntes no pescoço, boina branca e a toalha no ombro para enxugar o suor depois de horas de cantoria. Foi o que aconteceu em uma segunda-feira qualquer no restaurante Cantina da Lua, localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco. O cenário não poderia ser mais propício para um bate-papo despretensioso. Uma volta ao passado para um tempo em que a Bahia era ainda mais bamba. Riachão: “Se estou com ela, minha vida é um paraíso/ Somente ela/ Se estou sem ela desassossega o meu coração ...” Pedrinho: E como você cria seus sambas? Riachão: Ah, vem na minha cabeça, meu filho. Depois eu coloco num papel pra não esquecer e faço um baticum numa mesa pra ver se dá certo. Aí já foi. É coisa de Jesus mesmo. Tá na cabeça. Eu sou muito iluminado. Pedrinho: O que você escutava na infância? Quais as suas principais influências musicais? Riachão: Olha meu amigo, na minha época de garoto não existia rádio. As músicas eram tocadas nas vitrolas a partir daqueles grande bolachões. Mas eu nasci com o dom de aprender músicas e logo cedo decorei aqueles versos da moçada da velha guarda. Ainda tem alguns que me lembro daquela época. Quer ouvir? Pedrinho: Claro. Riachão: “Ô Trepa no coqueiro, tira coco, gipe, gipe macambira olirá/ Ô trepa no coqueiro, tira coco...” Era algo mais ou menos assim. Cresci ouvindo essas coisas na vitrola. Mais pra frente apareceu Dorival Caymmi, Zé Trindade e Chico Fulô. Eram os artistas de quando eu era jovem, além de tantos outros que eu já esqueci. Pedrinho: Você fez alguma parceria com Batatinha (Oscar da Penha, importante compositor e sambista baiano)? Riachão: Nunca meu filho. A nossa parceria se restringia à roda de samba. Era um grande amigo do coração e que hoje olha por mim lá de cima. Nunca compus com ele. Ele tinha aquela coisa melosa, calma e triste em suas canções. Eu nunca gostei muito disso. Meu negócio é pagode e samba de ginga, de dança. É de “xô chuá” em diante. Pedrinho: Eu estou vendo aqui que as pessoas ainda mexem muito contigo. Riachão: Isso é gostoso não é mesmo? Um grita uma coisa, o outro diz outra e eu fico muito feliz com isso tudo. Adoro. A minha vida é cantar. Canto sozinho, na rua e às vezes acordo no meio da noite e me ponho a cantar. Outro dia entrei num ônibus pela porta da frente e o motorista puxou “xô chuá” . Fomos o trajeto inteiro com o ônibus inteiro cantando. Ninguém entendia nada. Pedrinho: Eu sei que você já deve ter vividos vários momentos marcantes em sua carreira. Tem algum mais do que especial? Riachão: Meu filho, tem muitos momentos especiais. Aliás todos são. Posso começar a te contar vários e só irei terminar quando o galo cantar. Mas é isso que a gente leva da vida: as lembranças. Nunca fiquei rico e nem quero. Sempre peço ao Deus absoluto que me conserve com saúde, para que eu possa fazer música pelo resto da vida. Pedrinho: Quais sambistas da atualidade você admira? Riachão: Olhe meu garoto eu gosto é de tudo que é boa música. Cada macaco no seu galho, não é mesmo? Gosto de mocidade, gosto de velha guarda e ponto final. Mas o menino Diogo Nogueira é maneiro e a Mart’nália também. Eles têm o meu estilo e o Diogo é um rapagão bonito. Pedrinho: Muito obrigado Riachão. Sua carona já está lhe chamando. Riachão: Eu que agradeço meu filho. Pena que sempre que termino uma entrevista quero cantar um samba que fiz para a imprensa. Mas como tantos, já o perdi em meus pensamentos por Pedrinho Figueredo rodrigo brandassi Pedrinho: Que samba é esse Riachão? Riachão: “Somente Ela”. Mesmo sendo uma música triste eu canto com o coração alegre. Ela foi inspirada em minha esposa Dalvinha, que agora é mais uma estrela no céu. Sabe meu filho, às vezes eu componho um samba e me esqueço. Já perdi não sei quantas músicas. Acho que escrevi mais de 500 músicas no meu tempo de rádio. Elas devem estar por aí voando, não me lembro nem de fumaça delas. 46 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 47 fotografia • bahia www.picogarcez.com luz, câmera e Bahia O fotógrafo e cineasta Pico Garcez é privilegiado. A vista da janela de sua casa no Corredor da Vitória, em Salvador, dá pistas do que lhe fez trocar São Paulo por Salvador há 15 anos. A Baía de Todos os Santos é pura inspiração. “Cheguei aqui para fazer um comercial de um shopping center, acabei me apaixonando pela Bahia e por uma baiana. Na época eu trabalhava em Los Angeles, no estúdio da Paramount Pictures, e finalizávamos o game Star Trek: Starfleet Academy com os atores da série original William Shatner, Walter Koenig e George Takei. Meses depois estava eu de volta pra casar e morar em Salvador, em 1997.” O fascínio pela imagem começou cedo. Os pais, colecionadores de antiguidades, tinham em casa inúmeras pinturas, desenhos e fotografias. Aos 9 anos, ganhou sua pri- meira câmera, que passou a ser o seu brinquedo predileto. Chegou a se formar em administração de empresas e trabalhar com commodities, mas logo se rendeu à sua verdadeira vocação. “Desenho e fotografia sempre estiveram muito presentes em minha infância. Depois, já atuando em estúdios de publicidade, decidi trabalhar com fotografia e cinema. Comecei a fazer os filmes e não parei mais. De uns cinco anos pra cá resolvi voltar a fotografar mais profissionalmente, trabalhando para livros de amigos e revistas.” Além de prêmios, Pico Garcez coleciona boas histórias. É dele, por exemplo, a assinatura do último comercial gravado pelo ator Raul Cortês para uma campanha de alfabetização realizada pelo governo federal. Entre os filmes produzidos ou dirigidos por ele, além da experiência com Hollywood, destaca-se o premiado curta-metragem Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti, de Anna Muylaert, 48 que tem no elenco André Abujamra, Etty Frazer e Marisa Orth. Há também uma lista de DVDs e clipes que inclui nomes como Titãs, Jorge Ben Jor, Jacques Morelembaum, Zizi Possi, Olivia Byington, Brian McKnight, Marcelo Nova, Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Banda Eva e a americana India. Arie, gravado na Bahia para a Motown/Universal. “Foi um trabalho incrível esse DVD com a India. Arie, que veio pra Salvador com todos os seus músicos especialmente para fazer esse trabalho. As locações deixaram os artistas impressionados com a exuberante beleza natural da Bahia.” O cineasta fotografou, recentemente, uma intervenção artística feita na Feira de São Joaquim por artistas plásticos e visuais de Salvador. “Foi bárbaro aquilo. A quantidade de artistas misturados com a profusão da arte natural do lugar com a exposição dos próprios objetos comercializados na feira. A gente não sabia onde começavam e onde terminavam as interferências. A feira é rica, a luz é maravilhosa, é uma coisa pulsante da Bahia.” Atualmente está trabalhando na finalização dos DVDs da banda Asa de Águia e da cantora Mariene de Castro, em um documentário sobre a rua Chile, em Salvador, e um piloto para uma TV americana em Nova York. Depois de tantas produções, só agora começou a pensar em fazer uma exposição individual. “Certamente terá a Bahia como tema, esta terra que me inspira tanto. Sou muito exigente comigo mesmo. Vivo essa constante busca do aprimoramento que só se consegue com a experiência. A prática, a busca por novas ideias, novas possibilidades. É algo meio autodidata mesmo. É a novidade e os desafios que me fascinam nessa profissão”, conclui, com olhar iluminado pela luz refletida no mar da Bahia. Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 49 divulgação turismo por Pedrinho Figueredo divulgação Pré-carnaval “É” Uma gastronomia de sabores exóticos influenciada pelas culinárias brasileira, francesa e oriental. Essa é a proposta do restaurante pernambucano “É”. Comandado pelo chef Douglas Van Der Ley, o espaço é um dos mais badalados de Recife. Entre as novidades está a seleção de kebabs preparados em panelas de barro. Os pratos são acompanhados de carneiro desfiado com legumes ensopados, além da tradicional massa fina de pães turcos. Outra novidade no cardápio é o camarão grelhado com pétalas de rosa comestíveis acompanhado de queijo do reino e azeite. “O nosso menu conta ainda com clássicos como o filé-mignon grelhado ao molho de vinho do porto coberto de foie gras”, explica o chef. São também da Turquia, vasos, esculturas e outras peças que compõem a nova decoração do restaurante. Para sobremesa, o chef Douglas prepara um cardápio semanal que durante os meses de outubro e novembro terá como base o mel. Restaurante É www.egastronomia.com.br Rua do Atlântico, 147, Boa Viagem Recife | Pernambuco 81 3325.9323 Uma prévia carnavalesca à beira-mar. Essa é a proposta do Sauípe Fest, evento que promete movimentar o complexo hoteleiro de Costa do Sauípe, litoral norte da Bahia. O agito praiano, que vai acontecer de 12 a 14 de novembro, contará com shows de grandes nomes da axé music, como as bandas Chiclete com Banana, Timbalada, Jammil e Uma Noites, Via Circular e Negra Cor. Cantores como Alexandre Peixe, Cláudia Leitte e Jau também fazem parte da programação. Uma estrutura completa com arena de shows e tenda eletrônica será montada para a festa. São esperadas seis mil pessoas por dia. “O Sauípe Fest é uma das maiores prévias carnavalescas do Brasil. Um evento que possui a energia típica do carnaval de Salvador”, diz a cantora Cláudia Leitte. Durante o dia, as piscinas dos hotéis do complexo serão animadas pelos DJs Renata Dias, Martinez e Ely Yabu. Já a noite, antes dos shows no palco principal, o agito fica por conta de bandas locais, que prometem animar a vila do resort. Ingressos individuais e pacotes com acomodação já estão sendo vendidos. Costa do Sauípe www.costadosauipe.com.br Sauípe Fest www.sauipefest.com.br Arte al mare Considerado um dos maiores navios de cruzeiro do mundo, o Allure of the Seas vai ganhar uma loja do artista plástico Romero Britto. A butique vai contar com uma linha completa de produtos estampados com as famosas gravuras do pernambucano: louças, artigos de papelaria, roupas, brinquedos e livros infantis e ainda uma borboleta de 25 metros na fachada. A embarcação será lançada ao mar em dezembro deste ano do porto filandês de Turku. Os passageiros poderão assistir também a um documentário exclusivo do artista, além de participar de leilões de pinturas originais. “Estamos muito felizes com a parceria com este brasileiro que encanta a todos com a sua arte. Já fizemos uma parceria em um navio menor, mas queríamos algo mais e o nosso sonho se concretizou”, disse Adam Goldstein, CEO da Royal Caribbean, armadora responsável pelo navio. O Allure of the Seas vai realizar cruzeiros de cinco e sete noites no Caribe. Nascido em Recife, Romero Britto começou a se interessar por arte aos 8 anos de idade. Ainda na juventude, partiu para Miami, nos Estados Unidos, onde começou a expor suas gravuras e ilustrações nas calçadas da cidade. As peças foram logo descobertas por donos de galerias de arte, que levaram as criações para as altas rodas sociais americanas. Atualmente, os trabalhos de Britto estão em casas de grandes personalidades mundiais como Madonna e Bill Clinton. Royal Caribbean www.allureoftheseas.com Romero Britto www.romerobritto.com.br divulgação 50 vestir branco símbolo cultural O ator Luiz Miranda é um autêntico filho do orixá Oxaguiã. O branco na sextafeira, portanto, é sagrado. Além de homenagear seu santo protetor, ele acredita que o dia concentra muita energia por ser fim da semana. “É o fechamento de um ciclo. Por isso, tomo um banho de mar, uso alfazema e visto o branco, pois me acalma e me renova.” No repertório, na performance no palco ou no figurino, as raízes culturais da Bahia estão sempre presentes no trabalho da cantora Margareth Menezes. Para ela, o branco, além de ser uma cor que transmite paz e tranquilidade, tornou-se símbolo de tradição para os baianos. “O branco faz parte da cultura baiana. Na festa do Bonfim, por exemplo, faço questão de vestir essa cor.” Adepto do candomblé, o arquiteto Paulo Henrique Souza não dispensa o uso do branco nas sextas-feiras. Aos poucos, em reverência à religião, a cor passou a predominar no guardaroupa do baiano. “O branco me auxilia a transpor determinadas situações da vida cotidiana de forma mais fácil, por conta do seu caráter neutralizador.” “O caráter neutralizador do branco já me ajudou a transpor situações difíceis da vida.” Paulo Henrique Souza Arquiteto “O branco transmite paz, tranquilidade e faz parte da cultura baiana.” Margareth Menezes Cantora “O branco me acalma e me renova.” Luiz Miranda PEDRO ACCIOLY Ator Calça Ópera Rock, camisa Zara, tênis All-Star 52 Vestido Kitty Cohim, joias de acervo pessoal Camisa e calça Sergio K para CR Su Misura Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 53 antiguidade • bahia as aldrabas A abertura de fronteiras agrícolas, transformações urbanas, implantação de ferrovias, chegada em massa de imigrantes europeus, a riqueza e o poder político crescentes foram algumas entre as várias mudanças associadas à presença do café em terras brasileiras desde o início do século 19. E, entre os legados culturais deixados pelo desenvolvimento da economia cafeeira, destacaram-se grandes transformações no modo de morar. A modernização das moradias urbanas das elites e de setores médios representou o sinal mais evidente da inserção das cidades do interior baiano num circuito de enriquecimento e de adoção de costumes europeizados. Os benefícios da rede de água e esgoto encanados foram lentamente incorporados. Sem falar na novidade absoluta, a luz elétrica, que aos poucos desbancou os candeeiros e os lampiões. Pormenores discretos, os batentes e aldrabas (palavra de origem árabe que significa trinco ou ferrolho), contam histórias, memórias e são pouco referenciados dentro do contexto do patrimônio. Existem de diversas formas. As encomendas eram feitas de acordo com a posição social, a função e importância do espaço, o que encarecia a mão de obra do Mestre Ferreiro – profissional muito bem remunerado nos idos de 1800. Alguns eram bem famosos, como Amador Leandro de Araújo. Seu contrato chegava a custar 20$400 réis. Os batentes ornavam as fachadas das portas e, além da função de avisar a presença do visitante, exibiam figuras alegóricas alusivas ao poder, religiosidade ou posição social do dono do imóvel. Um bom exemplo, no mundo, são as ruas com casarios pintados em azul e branco, em Sidi Bound, no Mediterrâneo. A arquitetura preserva a tradição de manter três batentes, um mais pesado (para ser usado por homens), um mais leve (para mulheres) e um menor e mais baixo (para crianças). Já as aldrabas eram confeccionadas de acordo com a função do espaço. Igrejas e conventos precisavam de trancas e fechaduras resistentes e de difícil manuseio, a fim de não facilitar a saída de monges e senhoritas reclusas nos colégios e reformatórios. No século 18, em Salvador, na rua da Misericórdia, Centro Histórico, foi construído o Recolhimento do Santo Nome de Jesus. O espaço abrigava as esposas e filhas dos donos de engenho, no período em que os senhores se ausentavam. Algumas das aldrabas, que por anos salvaguardaram a honra dessas mulheres, podem ser vistas em portas do Museu da Misericórdia. por Jane Palma 54 Museu da Misericórdia Rua da Misericórdia, 6, Centro Salvador | Bahia 71 3322.7355 STREET ART • BAHIA Keith Haring na Bahia Q ue o artista americano Keith Haring é referência na pop art mundial é uma unanimidade. Agora, o que poucos sabem é que, além de amar, o que ele chamava de “país da alegria”, o artista adorava a Bahia. A primeira vez em que esteve no Brasil foi em 1983, quando veio participar da Bienal de São Paulo. Na ocasião, doou uma de suas obras e deixou sua marca em algumas ruas paulistanas. Na segunda passagem por aqui, em 1984, Haring conheceu uma outra paisagem. Inevitavelmente, se encantou. O amigo Kenny Scharf, dos tempos da School of Visual Arts, havia se casado com uma brasileira. A residência do casal ficava entre a cidade de Ilhéus e Barra do Sargi, numa aldeia de pescadores no sul da Bahia. Haring desembarcou em Salvador em plena sexta-feira de carnaval. Junto com os amigos e o namorado, o portoriquenho Juan, hospedaram-se no antigo Hotel da Bahia. Deixaram as malas e foram para a rua. “Lembro que ele ficou impressionado com a multidão nos blocos, dançando na maior alegria, bebendo, se soltando. Ele ficou em êxtase. Apaixonou-se pelo Pelourinho e dançou no Campo Grande até o dia amanhecer”, relembra Tereza Scharf, que hoje vive na ponte aérea entre Ilhéus e Nova York. Logo sua presença foi notada na cidade. Alguns artistas locais o levaram para visitar a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Àquela altura Haring já era um artista famoso, seus rabiscos de giz feitos nas estações de trem e metrô de Nova York já haviam ganhado espaço em galerias badaladas e a admiração de artistas como Madonna, David Byrne, líder do grupo Talking Heads, Grace Jones e o reconhecimento de Andy Warhol, de quem se tornou amigo. No entanto, circulou anonimamente no dia seguinte, agora, já no carnaval de Ilhéus. Em uma área central da cidade, onde havia maior concentração de atrações musicais, os comerciantes e donos das casas próximas ao local protegeram seus imóveis com tábuas de compensado. Durante a madrugada, quando a cidade já dormia, Haring sacou pincéis e sprays e espalhou diversos desenhos nos tapumes. Ilhéus ganhou uma decoração exclusiva assinada por um dos maiores ícones da pop art dos anos 80. Pena que por pouco tempo. A exposição, assim como o carnaval, acabou em cinzas na quarta-feira. Já na casa de Kenny e Tereza, Keith e Juan se misturavam aos nativos como se fossem antigos moradores da praia. Desenhou em paredes nas casas dos pescadores e presenteou o casal de amigos com dois trabalhos. Um mural de golfinhos entre as janelas da casa e um piso em for- ma circular também ilustrado por peixes. “Ele sempre foi muito generoso com a sua arte. Sempre fez questão que todos tivessem acesso aos seus trabalhos. Tinha uma atenção e um carinho especial pelas crianças. Em 1984, minha filha Zena tinha acabado de nascer. Kenny o chamou para ser padrinho. Ele ficou tão feliz que na mesma hora, vendo-a engatinhar, fez o protótipo do que viria ser um de seus trabalhos mais famosos o Radioactive Baby (Bebê Radioativo). Guardamos o desenho com muito carinho e saudade”, diz a amiga e comadre do artista morto em 1990. Keith Haring está de volta ao Brasil representado por uma exposição no ano em que completaria 52 anos. O nova-iorquino era portador do vírus HIV. Um ano após o diagnóstico, fundou a Keith Haring Foundation, que trabalha em prol da prevenção e auxilia crianças portadoras da doença. Selected Works apresenta ao público brasileiro 94 obras inéditas no país. São 55 serigrafias, nove gravuras, 29 litografias e uma xilogravura, além de objetos pessoais do artista como um skate, pares de tênis pintados e o passaporte em que estão registradas as entradas no Brasil. A mostra já passou por São Paulo e fica até o dia 14 de novembro no Rio de Janeiro. A boa notícia é que Salvador poderá receber a exposição. Fica a torcida para o reencontro. Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 55 falar bem JANE PALMA, museóloga. Especialista em documentação, gestão de pessoas e restauro de obra de arte. Dirige o Museu da Misericórdia em Salvador e é consultora do Museu do Coração no Rio de Janeiro. um toque de saúde N em o apóstolo Lucas, o dito por São Paulo “médico amado” e nenhum dos seus seguidores profissionais, conseguiram desvendar todos os mistérios do corpo humano. Máquina do passado, não tem limite no cartão de memória, faz automaticamente o seu backup e com apenas cinco programas desenvolve, executa e atualiza as versões das nossas etapas na vida; infância, adolescência, vida adulta e velhice. Estamos programados para ouvir sem enxergar, para ver sem ouvir, sentir o aroma sem saborear, porém, não existe programação para os sentimentos sem o toque. O afago em uma face, o calor de um abraço, o dar as mãos, enchem os olhos de brilho, os lábios de sabor e soam como canções aos nossos ouvidos. Por meio do toque levamos ao cérebro as sensações, estimulamos nossas emoções e podemos descobrir a tempo a preservação da saúde. Nos tempos primitivos, o ato médico consistia em magias, ritos e encantamentos de toda ordem, associados a práticas empíricas tradicionais. As doenças eram atribuídas a causas sobrenaturais. Somente no século 5 a.C., com o surgimento da medicina hipocrática na Grécia, foi a mesma separada da religião, das crenças irracionais e do apelo ao sobrenatural, porém, a institucionalização do ato médico foi a partir da Idade Média, após a fundação da escola de Salerno e das primeiras universidades europeias. Em 1997, nas cidades Lodi e Yuba, Califórnia (EUA), teve início um movimento, quando importantes monumentos foram iluminados com a cor rosa, chamando a atenção sobre a detecção do câncer de mama. Doença que atinge 1,3 milhão de mulheres no mundo, 49 mil no Brasil. Hoje em dia, várias ONGs e institutos, além de iniciativas privadas, contribuem anualmente para esse projeto, levando informação, acesso à mamografia e incentivando o autoexame. Há dois anos, o Instituto Nacional do Câncer lançou o Rosamóvel, uma van personalizada que circula pelas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte e Florianópolis para alertar mulheres sobre a importância do exame de mamografia, o tratamento adequado e a reabilitação de pacientes. O mês escolhido para o movimento foi outubro, quando se comemora o dia do médico no dia 18. Conseguir o diagnóstico precoce de qualquer enfermidade é sempre o caminho mais curto para a cura. JANE PALMA 56 relaxar • ceará H á 20 anos, a vila de pescadores de Jericoacoara, no Ceará, era visitada apenas por viajantes aventureiros. Facilidades do mundo moderno, como eletricidade, telefone e televisão, não existiam naquele pedaço nordestino de praias paradisíacas. Mas Jeri, como é chamada carinhosamente pelos seus habitantes, foi descoberta por turistas e investidores que ambicionavam tornar a localidade em um destino turístico internacional. A energia elétrica chegou em 1998 e com ela o projeto de construção de uma pousada de charme, capitaneada por dois empresários italianos e um brasileiro. Assim nascia a Vila Kalango. Inaugurada em 1999, a pousada foi erguida à beira-mar em frente a um dos pontos mais bonitos de Jericoacoara, a Duna do Pôr do Sol. O pro- jeto arquitetônico, idealizado para aproveitar materiais da região como madeira moracatiara, palha de carnaúba e tijolos de barro, alia conforto e rusticidade. “Os apartamentos não possuem TV, telefone e, em algumas categorias, nem ar condicionado. A nossa intenção é que os hóspedes se desliguem da rotina e valorizem a natureza do lugar”, diz a diretora de marketing e vendas da Vila Kalango, Renata Honorato. A maioria dos artigos que compõem a decoração das 24 acomodações são fabricados por nativos. Alguns apartamentos foram erguidos em colunas de eucaliptos como palafitas e ficam a três metros do chão. A mão de obra da região também foi aproveitada para compor a equipe. “Dentro da nossa ideia de sustentabilidade, captamos o máximo possível de profissionais que passam por treinamentos constantes. Com isso, contribuímos para o incremento da renda per capita local. Eles são experts em Jericoacoara”, complementa a executiva. O cardápio do restaurante leva a assinatura do restauranter Paulinho Martins. A composição dos pratos é feita com utilização de ingredientes regionais. “Recomendo o peixe fresco grelhado com camarões. O sabor do pescado fresco atrelado às especiarias dão um toque sofisticado ao prato”, sugere o empresário baiano Rodrigo Pithon, que já se hospedou duas vezes na pousada. A brisa equatorial e o mar de ondas uniformes que banha Jericoacoara são um convite para aulas de wind e kitesurf. A Vila Kalango possui ainda um espaço relaxante, onde massoterapeutas realizam massagens e tratamentos em camas balinesas de frente para o mar. “O desenvolvimento chegou a Jericoacoara, mas a Vila Kalango ainda conserva ares de paraíso nesse pedaço de Brasil”, conclui Pithon. Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 57 DIVULGAção paraíso preservado Vila Kalango www.vilakalango.com.br Praia de Jericoacoara, Ceará 88 3669.2289 / 2290 turismo • RIO GRANDE DO NORTE São Miguel do Gostoso H á tempos, um senhor bem-humorado comandava uma hospedaria que servia de abrigo para mascates no litoral do Rio Grande do Norte. O senhor, bastante conhecido naquela região de praias paradisíacas, ganhou dos forasteiros o apelido de Manoel Gostoso. O povoado cresceu e foi fundada uma igreja em homenagem a São Miguel, proclamado o padroeiro do vilarejo. Pousada do Gostoso [email protected] Rua dos Corais, 2 Praia de Santo Cristo São Miguel do Gostoso | Rio Grande do Norte 84 3263.4087 alex giarola Assim nascia o município de São Miguel do Gostoso, distante 110 km da cidade de Natal. O balneário turístico é hoje um dos principais destinos do estado. As praias de águas mornas e tranquilas são ideais para a prática de esportes náuticos como o velejo e o kitesurf. “Cheguei a São Miguel do Gostoso pela primeira vez em 1976 e me encantei pela enseada que avistei do mar. Amo a tranquilidade deste lugar. O pôr do sol daqui é único”, conta Leonardo Godoy, um dos pioneiros no desenvolvimento turístico da região. Além de ser proprietário de uma das primeiras pousadas do local, a Pousada do Gostoso, Godoy ajudou a nomear todas as ruas do vilarejo. Entre as mais famosas estão a praia do Tourinho, formada por dunas fossilizadas de quase dois mil anos, e a praia do Marco. “Ela recebeu essa denominação porque foi lá que a expedição de Gaspar de Lemos fincou o primeiro marco da colonização brasileira, em 1501”, explica o historiador da Universidade Federal do Rio Grande Norte José dos Santos Marinho. São Miguel do Gostoso possui atualmente cerca de cinco mil habitantes. O local dispõe de boa infraestrutura turística, além de uma grande variedade de opções de entretenimento. Bares, restaurantes, pousadas e empreendimentos imobiliários surgem a cada verão. “Os investimentos são provenientes em sua maioria de grupos portugueses e espanhóis. Até 2015, será inaugurado um resort com cerca de 12 mil chalés, o que impulsionará ainda mais o turismo na região”, diz o consultor imobiliário carioca João José da Costa, que há oito anos atua no Nordeste. Segundo uma pesquisa realizada pela Nasa, a agência espacial americana, em 2007, o lugar possui o ar mais puro das Américas0 por causa da posição geográfica privilegiada. Distante 15 quilômetros do vilarejo está o Farol do Calcanhar, que mede 100 metros de altura e é considerado o maior da América Latina. “Além de um paraíso natural, São Miguel do Gostoso faz parte do patrimônio cultural brasileiro. Desde que estive aqui pela primeira vez, há dez anos, não consigo tirar esse pedaço de Nordeste da minha cabeça”, explica o cineasta paulistano, Eugênio Puppo, que atualmente está produzindo o documentário São Miguel do Gostoso. Como chegar: Saindo de Natal, pegar a BR-101 até o acesso ao Litoral Norte 58 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 59 música eu vou conquistando o Brasil À s duas horas da tarde, disse Didiê Cunha, marido de Bebel. Ficamos de nos encontrar terça-feira, 31 de agosto, na Cha-an, uma casa de chá na rua 9, entre a 2ª e a 3ª avenidas. Mas Bebel, ao sair da aula de ioga, torceu o pé e quebrou o dedo. Resultado: a entrevista teve de ser feita por telefone. Começamos jogando uma conversinha fora. Lembramos a última entrevista que fiz com ela aqui em Nova York. Ela disse que costuma responder às perguntas em entrevistas, de acordo com o momento em que está vivendo. Foi aí que tive certeza de como gosto de entrevistá-la. Bebel Gilberto é daquelas pessoas que falam o que sentem. É franca, suave, doce e firme, como o seu cantar. Sua música é descomplicada, afinada, limpa e linda. O que você tem feito, Bebel? Fiz uma música com Pedro Baby, filho da Baby, que se chama “Dahling”, (assim mesmo, com h) em inglês e português, que tem um pedacinho de “Fotografia”, de Tom Jobim. Foi produzida por Guy Sigsworth, produtor inglês com quem já venho trabalhando há vários anos. O Pedro Baby toca violão. Fiz o lançamento dessa música no meu website, oferecendo de presente a todos os visitantes durante o mês de agosto. Dar música de presente aos fãs é demais. Acredito que o futuro do comércio de músicas será pelos websites. É exatamente onde quero chegar. E seu último CD, All in One? Ah, é um disco querido, saiu pela Verve (Universal). Foi meu primeiro CD lançado por uma multinacional, em outubro de 2009. Fale um pouquinho sobre seu processo de composição, como é que a música lhe acontece, simplesmente vem ou você sai buscando? Vou fazendo a melodia na cabeça ou componho em cima de uma letra que já existe. Gosto muito de fazer música assim. Toco um pouquinho de violão e de piano, também. Mas quando uma melodia acontece na minha cabeça e eu estou sabe Deus onde, deixo mensagem gravada no meu celular e fica lá, guardadinha, até eu retomar. Quando a música aconteceu para você, foi compondo ou só cantando? Já compunha desde criança. Lembro bem quando fiz uma música para meu cachorro, aos 11 anos. Henrique Gendre All in One Universal Music Selo Verve R$ 29,90 60 Ser filha de João Gilberto e Miúcha foi um incentivo? E um saco também! Mas é ótimo o lado do incentivo. É uma coisa natural, do dia a dia. Por ser filha de artista, fica tudo mais fácil, como perder uma tarde inteira trabalhando uma canção, em vez de terminar o dever de casa. Eu podia fazer isso na minha casa, era natural. Papai vivia agarrado ao violão 24 horas por dia. Mamãe também sempre ligada na música, então era parte da nossa vida. Por outro lado, é difícil ser filho de superstar. Mas é isso mesmo. Eu não sei como reagiria se tivesse uma filha que, de repente, aparecesse cantando, compondo e dançando na minha frente. Meu pai é extremamente sensível e minha mãe não fica muito longe. Na nossa última conversa você confessou que estava apaixonada. Em fevereiro deste ano, você se casou com o engenheiro de som Didiê Cunha. Vocês pensam em ter filhos? Estou com 44 anos. Penso em ter um filho, estamos rezando para ver se ainda pode acontecer naturalmente, mas a verdade é que, nesse momento, filho não é uma prioridade. Eu e Didiê abrimos uma empresa que se chama Coruja Music. É o nosso estúdio, dentro da nossa casa. E isso é uma delícia, ter como marido um engenheiro de som incrível e poder gravar em casa, a qualquer hora, sempre que a alegria vem. Ter música de qualidade, masterizada e poder dar de presente aos fãs. É demais, não é? E esse DVD, primeiro e único, fale dele… É parte de um processo. Depois de dez anos de carreira, do lançamento de Tanto Tempo, quero fechar um ciclo que começou no ano 2000. Tudo está mudando tanto que você já nem sabe mais como se encaixar. Então, vou gravar um DVD, que talvez seja o primeiro e o último – Sem Contenção, que é o nome de uma música de Tanto Tempo. Na verdade, o DVD está sendo concebido, mas vai ser gravado em 2011 no Brasil e a Dora Jobim, que é neta do Tom Jobim, vai dirigir. Vai ter uma participação especial da Rita Lee. Estou superentusiasmada. Você me disse uma vez que cinema era um velho sonho. Continua pensando em encarnar Carmen Miranda? Continuo sonhando em fazer cinema, continuo sonhando em fazer Carmen Miranda. O cinema globaliza tudo e, por isso, sinto que qualquer artista uma hora passa pelo cinema, se é que já não nasceu no cinema. Vou ficar torcendo. Vi o novo filme da Julia Roberts, Comer, Rezar e Amar, inspirado no best-seller que teve mais de quatro milhões de exemplares vendidos. Você e João Gilberto cantam nas partes mais lindas da trilha sonora, nos melhores momentos do filme. Um sabia do outro? A produção do filme da Julia pegou “Samba da Benção”, do CD Tanto Tempo. Aliás, este é o se- gundo filme da Julia que toca música minha. O outro foi Closer, que tinha as canções “Mais Feliz”, “Tanto Tempo” e o mesmo “Samba da Benção”. Só soube que meu pai também cantava no filme pouco antes do lançamento. Foi um acerto entre a produção do filme e a gravadora. Estava em Londres na estreia, mas vi o filme depois que cheguei e adorei. Acabei também de fazer a voz de uma tucana chamada Eva, em Rio, novo filme do animador brasileiro Carlos Saldanha (que fez A Era do Gelo) e adorei. Foi muito divertido. Estou para gravar “Samba de Orly”, com Carlinhos Brown, para o mesmo filme. Brown é o autor da trilha sonora. Bebel Gilberto já é no Brasil o que é para os Estados Unidos e a Europa? Acho que pouco a pouco, sim. Este foi um ano bom no Brasil. Tive apresentações importantes. Quando eu for para o Brasil para gravar o DVD – provavelmente em um teatro em São Paulo – vou ficar bastante tempo, a partir de maio de 2011. Vou fazer também um CD. Eu vou conquistando o Brasil. Em outubro, vou até Jericoacoara, no Ceará. Será o primeiro show no Nordeste. Mas estou me preparando para ir de férias no fim do ano também. Ah, no segundo semestre de 2011, tenho uma turnê de verão em festivais na Europa, Estados Unidos, Canadá e Ásia. E em Nova York, Bebel, o que você anda aprontando? Ah, agora é hora do mistério em Nova York. Tem de ser assim, ano passado fiz quatro apresentações aqui. Aí tem de ter um pouco de mistério. Mas vou fazer a trilha sonora do Carlos Miele na Fashion Week, ao vivo. Maravilha, você vai vestir Miele para o evento? O mistério continua, lembra? É Nova York… mas já estou vestindo a camisa, né? Só mais uma coisinha … qual a melhor parte de ser filha de João Gilberto? Papai maravilhoso... Ele é sempre uma surpresa. É nisso que eu mais me amarro, é o que mais me intriga. Por Clara Angelica Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 61 ser lenda • ceará talento e coragem na ponta dos pés E m 1948 ele desembarcou no Rio de Janeiro, já como Hugo Bianchi e com um único propósito: aprender com os grandes mestres da dança no país. “Em Fortaleza, recebi muito incentivo da mestra Eros Volúsia. Ela me viu ensaiando no Theatro José de Alencar e quis saber quem era aquele garoto que dançava com tanta força e expressão. No mesmo ano eu já estava fazendo aulas com ela no Rio de Janeiro.” Assim começou a trajetória do bailarino, professor e coreógrafo Hugo Alves Mesquita, que, aos 83 anos, continua a fazer da dança seu estilo de vida. Formado em artes cênicas pelo Serviço Nacional de Teatro do Rio de Janeiro, Bianchi aperfeiçoou a técnica com coreógrafos renomados, como David Dupré, Tatiana Leskova e Maria Olenewa. A participação no elenco de grandes produções lhe permitiu viajar e fazer cursos em grandes templos das artes, a exemplo do Teatro Colón, na Argentina, e do New York Ballet e American Ballet, nos Estados Unidos. Bianchi participou de famosas companhias brasileiras: Paschoal Carlos Magno, Walter Pinto, Zico Ribeiro e Carlos Machado. Atuou em musicais e filmes. “Trabalhei em musicais de Denis Gray e na Companhia de Dercy Gonçalves. Cheguei a fazer filmes da Atlântida e Cinédia. Lembro que vi nascer para a arte a Marília Pêra, gordinha e talento62 sa, uma graça de menina. Essa foi a época do surgimento das TVs Tupi e Excelsior.” O ano de 1965 marcou o retorno pra casa. “Queria criar minhas próprias coreografias, movimentar a cena cultural da cidade.” Iniciou dando aulas no Salão Nobre do Clube Náutico e logo em seguida criou o Ballet Hugo Bianchi, que administra até hoje. Criou coreografias para espetáculos consagrados como Otelo, Lago dos Cisnes, O Quebra Nozes, Iracema e O Guarani, que lhe garantiram muitos prêmios e situações pitorescas. “Meu figurino em O Guarani era um tapa-sexo e o corpo coberto por tinta. No Teatro de Belém, uma família inteira deixou ruidosamente o camarote alegando que o homem estava dançando nu”, relembra com uma sonora gargalhada. “As famílias eram muito tradicionais. Passei uma temporada aqui dando aulas particulares. Uma grande dama da sociedade disse para a mãe de uma aluna minha que gostaria de ver a filha no balé, mas que eu era muito afeminado. A mãe de minha aluna disse então: “Eu contratei os serviços do professor Bianchi como dançarino, não como reprodutor”. Com 60 anos de carreira, Hugo Biachi já recebeu muitos prêmios e homenagens. É referência para gerações de artistas. Bailarino que desafia o tempo dando aula de dança, força e vitalidade. Homem que vê a arte como “território sagrado”. MODA • BAHIA estilista baiano Vitorino Campos, 22 anos, tem sido citado como uma das grandes promessas da moda nacional desde o dia em que a empresária Donata Meirelles foi a um jantar organizado para Kofi Annan, ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e Nobel da Paz, há pouco mais de um ano, em Nova York, com um vestido feito por ele. Para compor a sua mais nova coleção A Partida, lançada em setembro, Campos foi buscar inspiração no universo de mulheres abandonadas por seus amores, histórias que remontam desde o início do século passado. Transparências e ombros aparentes ajudam a retratar cenários de despedidas e saudade. “Quero provar que as mulheres foram feitas para ser vestidas como rainhas.” Atualmente, Vitorino Campos está à frente de duas marcas – Vitorino e Vitorino Campos. Esta última produz apenas quatro peças numeradas de cada modelo. Revelado em 2008 durante o concurso Novos Criadores de Moda, promovido pelo VITORINO CAMPOS Shopping Barra, em Salvador, seu primeiro contato com a costura aconteceu ainda na infância, quando ajudava a mãe em uma fábrica de fardamentos. “As cores, as texturas e as formas me fizeram acreditar que a moda seria a minha janela de comunicação”, conta. Convidado a participar do Rio Moda Hype, em 2009, Campos conquistou olhares da crítica especializada. “A primeira vez que assisti a um desfile dele notei que havia algo de novo sendo produzido na moda nordestina. Havia algo refinado e luxuoso, com traços marcantes típicos do Nordeste”, analisa a consultora de moda Lilian Pacce. Campos é bastante exigente e acredita que a roupa precisa, antes de conquistar as passarelas e a crítica, seduzi-lo em primeiro lugar. “Só considero uma coleção pronta quando ela consegue aguçar os meus cinco sentidos”, explica. Para a consultora de moda Cristina Franco, ele se destaca porque prioriza o aspecto plástico da criação: “Ele simplesmente não produz calça e camisa. Ele constrói um concei- to que pode ser exportado para qualquer peça de roupa e isso é digno de grandes estilistas”, define. Quando chega o momento de apresentar suas criações, ele participa de todos os detalhes da produção dos desfiles. “Sou apaixonado pelos desfiles de Vitorino. A trilha sonora e a luz pareciam ter sido feitas especialmente para as peças desfiladas”, pontua Cláudio Silveira, produtor do Dragão Fashion Brasil, evento de moda realizado em Fortaleza, no Ceará. Tecidos sofisticados, traços da alfaiataria masculina, golas trabalhadas e cinturas altas são algumas características das suas últimas coleções. “Vitorino apropria à sua moda aspectos de outros estilos, sem que eles fiquem perdidos nas composições. Outro diferencial é que mesmo sendo nordestino, ele não se sente na obrigação de aplicar caracteres típicos nas peças. Quando os utiliza, faz de forma elegante e diferente da maioria”, completa Cristina. www.vitorinocampos.com.br Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 63 divulgação novo baiano O COMER E BEBER • BAHIA Restaurante Porto Moreira Largo do Mocambinho, 488 Carlos Gomes, Salvador | Bahia 71 3322.4112 / 2814 sabor e tradição O lugar é simples, lembra uma tasca portuguesa – como são chamados os botecos em Portugal. Nas paredes, recortes de jornais com matérias sobre o estabelecimento e fotografias de clientes ilustres, preenchem todos os espaços. Assim é um dos endereços gastronômicos mais tradicionais de Salvador, o restaurante Porto Moreira. Fundado em 1938 pelo uran rodrigues imigrante português José Moreira da Silva, a casa é hoje administrada por Antônio e Francisco Moreira, filhos do fundador, que, assim como fazia o patriarca, garantem receber a todos como “velhos amigos”. “O restaurante de meu pai caiu no gosto de muita gente bacana logo após a abertura. O Porto Moreira serviu de ponto de encontro para grandes figuras da boemia baiana, 64 como os sambistas Batatinha, Walmir Lima, Riachão, entre outros”, conta Antônio Moreira. O restaurante de gastronomia simples e porções fartas era um dos preferidos do escritor Jorge Amado. O autor fez referências ao Moreira, como é mais conhecido, nos livros Dona Flor e Seus Dois Maridos e Os Velhos Marinheiros. A língua de boi acebolada com molho de tomate e a moqueca de carne, para citar alguns pratos, afamaram o lugar, tratado quase como ponto turístico por alguns clientes fiéis. Além da carne, a receita da moqueca leva azeite de dendê, camarão seco, leite de coco, tomate, cebola, coentro e ovo. “Já tinha experimentado moqueca de peixe e camarão, mas fiquei impressionado ao saber que existia uma de carne. Por isso fiz questão de conhecer o Moreira em minha última visita a Salvador. O sabor é tão marcante que até hoje me recordo da experiência”, conta o jornalista Ernesto Paglia. Localizado no Largo do Mocambinho, centro da capital baiana, o Moreira já faz parte da vida dos soteropolitanos. “O Porto Moreira foi o local em que eu trouxe a minha primeira namorada para almoçar. Aqui também pedi a minha esposa em casamento”, relata o aposentado José Ribeiro de Araújo Neto, que frequenta o local há aproximadamente 30 anos. O cardápio conta ainda com alguns pratos portugueses. “Jorge Amado era fã do bacalhau preparado por meu pai. Ainda hoje recebemos encomendas dos herdeiros de sua família”, lembra Antônio Moreira. A tradição também é mantida quando chega a hora da sobremesa. Doces, como abacaxi em calda, doce de banana e cocada, adoçam, há mais de 72 anos, o paladar, sambas e histórias. morar lá, viver aqui embaixada da amizade dor. Na Espanha cuidamos da Vinícola Riscal e do hotel em Elciego, que tem projeto assinado pelo arquiteto Frank Gehry. Em Assunção dirijo uma organização não governamental que presta assistência às mulheres vítimas de violência e produzimos um prêmio literário para jovens escritores paraguaios. Quando chega o mês de dezembro ninguém me segura. Eu e meu marido fazemos as malas e fugimos do frio europeu rumo ao sol de Salvador.” Segundo a jornalista, a cultura brasileira exerce grande influência em sua vida desde a infância. Na adolescência, a música de Roberto Carlos, Gal Costa e Caetano Veloso era a trilha sonora das reuniões na casa de seus pais, onde o português se juntava ao guarani e castelha- no, entre os idiomas falados pela família. “Não posso deixar de mencionar, por exemplo, que a primeira vez que pus os pés no mar foi na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Hoje, quando estou em Salvador, me sinto em casa. Vou à feira de Itapoã comprar frutas, caminho livremente pela areia da praia de pés descalços e, principalmente, reencontro meus amigos queridos que moram na Bahia. Josinha Pacheco, Claudia Cunha, são muitos.” A casa é também abrigo dos inúmeros amigos de outras nacionalidades que visitam Salvador. A hóspede mais recente, em maio deste ano, foi uma amiga jornalista de Santiago, Chile. “Eu costumo dizer que não tenho a casa branca, não tenho a casa rosada, mas tenho a casa aberta. Minha casa é a embaixada da amizade.” uran rodrigues A paixão da jornalista paraguaia Glória Gimenez pela Bahia já completou 30 anos. Tudo começou com uma pesquisa sobre suas raízes genealógicas. “Parte da minha família ficou no Brasil após a guerra da Tríplice Aliança e tínhamos notícia que poderíamos ter parentes na Bahia. Por isso aportei nesse paraíso em 1976. Fiquei enamorada e passei a frequentar Salvador sempre que podia, mas com a sensação de que um dia poderia morar na cidade. Na quarta temporada, eu e meu marido decidimos comprar nossa casa.” A casa de Glória fica há poucos metros do mar, na praia do Corsário, Boca do Rio. Objetos trazidos das inúmeras viagens feitas pelo mundo ajudaram a compor a decoração. “Divido meu tempo entre Madri, Assunção e Salva- Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 65 Imagens da Diáspora, assim foi batizado o mais novo livro do historiador Gustavo Fálcon. A obra, de conteúdo historiográfico, conta com ilustrações da designer baiana Goya Lopes, que há 23 anos fundou a grife Didara. Em edição bilíngue, o autor analisa os reflexos antropológicos na formação da sociedade brasileira resultantes do desembarque de cinco milhões de negros no país durante o período colonial e ressalta a importância do respeito a essa identidade cultural. “A obra é, ao mesmo tempo, um livro de arte e também de referência para os interessados na assimilação da cultura africana pelo Brasil”, pontua Fálcon. Imagens da Diáspora marca também a incursão de Goya Lopes na literatura. “Estou muito feliz com o resultado. Acho que consegui transmitir, por meio de minhas gravuras, a força do povo africano”. Imagens da Diáspora Gustavo Fálcon e Goya Lopes Solisluna Editora R$ 29.90 www.solislunaeditora.com.br divulgação entretenimento por Pedrinho Figueredo Cultura africana Para gargalhar Arte plural na Bahia O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), em Salvador, sedia até 14 de novembro a Exposição Prêmio CNI/Sesi Marcantonio Villaça para as Artes Plásticas. A mostra, que já passou por três capitais brasileiras, reúne 33 obras concebidas a partir de técnicas variadas. Acrílico sobre tela, desenho, pintura, além de foto performance e vídeo instalação são algumas das modalidades artísticas da mostra. As obras expostas são de autoria dos artistas plásticos Armando Queiroz, Eduardo Berlinder, Henrique Oliveira, Rosana Ricalda e Yuri Firmeza. Eles foram escolhidos por meio de um concurso promovido pela comissão organizadora entre mais de 800 inscritos. Além de participar da mostra itinerante, os selecionados foram agraciados com uma bolsa profissional no valor de R$ 30 mil, além do acompanhamento, durante um ano, de um crítico de arte para aperfeiçoar os seus trabalhos. Depois de Salvador, a mostra segue para Florianópolis e Goiânia. Segundo a coordenação da exposição, capitais nordestinas, como Recife e Fortaleza, devem receber a mostra no início do próximo ano. divulgação Exposição Prêmio CNI/SESI MarcAntonio Villaça edição 2009/2010 para as Artes Plásticas De 10.9.2010 a 14.11.2010 Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM Av. Contorno, s/n – Solar do Unhão Salvador | Bahia 66 O povo brasileiro representado por sete personagens hilários. O espetáculo teatral 7 Conto – A Comédia volta a Salvador depois de dois anos fora dos palcos baianos. A peça é protagonizada pelo ator baiano Luiz Miranda com direção de Ingrid Guimarães. “A ideia desse espetáculo surgiu quando eu tinha 14 anos e escrevi a minha primeira comédia”, conta Miranda. Desde o lançamento, em 2006, cerca de 20 mil pessoas já assistiram à montagem. No monólogo cômico, que dura cerca de duas horas, o ator encarna personagens que representam camadas distintas da sociedade. Temas polêmicos como exclusão social, racismo, insensibilidade das classes altas e maltrato dos idosos são retratados por meio de situações inusitadas. Novos personagens foram incorporados ao espetáculo, mas sucessos como o flanelinha Queixada e a líder comunitária Dona Edite continuam. Os figurinos dessa nova fase levam a assinatura da designer baiana Kitty Cohim. No fim do espetáculo o público pode adquirir camisas criadas especialmente pelo estilista Alexandre Herchcovitch para a peça. Nascido no município baiano de Santo Antônio de Jesus, Luiz Miranda decidiu voltar a morar Bahia após 16 anos fora, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. O ator participou de trabalhos expressivos no teatro como O Livro de Jô, do Teatro da Vertigem. No cinema nacional, esteve no elenco dos longas Meu Nome Não É Johnny (2008), O Signo da Cidade (2007) e Bicho de Sete Cabeças (2001). Além de Quincas Berro d’Água (2010), de Sérgio Machado, ao lado de Wagner Moura, João Miguel e Lázaro Ramos e o recém-lançado Trampolim do Forte, de João Rodrigo Matos. 7 Conto – A Comédia De 10.9.2010 a 21.11.2010 Teatro Jorge Amado Av. Manoel Dias da Silva, 2177, Pituba Salvador | Bahia Sextas e sábados às 22 horas Domingos às 20 horas Informações: 71 3525.9720 literatura • maranhão babar na gravata, tô fora livro de Ferreira Gullar, parece traduzir o seu atual momento de vida. Com 80 anos completados no dia 10 de setembro deste ano, o poeta está a todo vapor. Exala vigor e in- quietude, características não muito próprias à idade, mas peculiares às mentes dos grandes pensadores. “Eu não me sinto com essa idade cronológica. Tenho uma cabeça jovem. Se essa história de 80 anos é babar na gravata, tô fora. Acho que essa vitalidade vem em primeiro lugar por eu ser uma pessoa saudável, não tenho doenças. Depois, por eu ser uma pessoa otimista. Tenho uma visão crítica das coisas, mas não sou um pessimista. Você me vê falando das coisas, fazendo críticas políticas. Essa forma de interagir com os acontecimentos me ajuda a me manter jovem”, explica. Além da poesia, Gullar tem outra grande paixão: sua terra natal. “Eu não aguento mais dar entrevistas. Desde o anúncio do Prêmio Camões, do lançamento do novo livro e porque cheguei aos 80 anos, não faço outra coisa. Não quero mais dar entrevistas, quero que as pessoas leiam minhas poesias. Mas, você usou uma senha importante: o Maranhão.” O poeta, escritor e dramaturgo nasceu na rua dos Prazeres, na capital São Luís. Vencedor do Prêmio Camões de Literatura 2010, o mais importante da comunidade de países de língua portuguesa, não esconde sua paixão pela conhecida Ilha dos Amores. “Sou louco por São Luís de uma forma muito intensa. Amo a minha terra, minhas origens. Um dos meus livros mais importantes O Poema Sujo é todo inspirado em São Luís. Sinto falta, mas não ando mais de avião e lá fica muito longe.” Ao longo de sua carreira houve sempre grandes hiatos entre uma publicação e outra. Passaram- se mais de 30 anos desde o lançamento do primeiro grande sucesso – O Poema Sujo – até o livro mais recente. Mas, tempo é um advérbio que tem um significado particular para o poeta. “Não sei quando farei um novo livro de poesias. Só para você ter uma ideia, levei 11 anos para escrever o que lancei agora. Eu não escolho o momento de criar, a poesia é que me escolhe. Esse tempo não é meu. Esse livro pode ser o meu último. Poesia para mim sempre foi uma grande aventura. Mas tenho muita coisa pra fazer ainda. Tudo no seu tempo.” Contudo, o poeta não deixa seus leitores totalmente órfãos. Escreve para jornais e revistas e, semanalmente, publica crônicas no caderno Folha Ilustrada, do jornal Folha de S.Paulo. Em 2006, as crônicas foram reunidas no livro Resmungos. Este ano, está previsto o lançamento de uma nova seleção. “Vou lançar também este ano, pela editora José Olympio, uma peça de teatro. É o monólogo O Homem como Invenção de Si Mesmo, no qual divulgo a teoria de que a vida é uma invenção. As coisas boas e as coisas más são inventadas pelas próprias pessoas. Acredito, sim, que a vida é inventada, ela depende de mim.” Ferreira Gullar segue inventando a vida, criando cenas, fazendo poesia. “Quando já não for possível encontrar-me em nenhum ponto da cidade ou do planeta, pensa, ao veres no horizonte uma nesga azul de céu, que resta alguma coisa de mim por aqui. Não te custará nada crer que sorrio ainda naquela nesga azul celeste pouco antes de dissipar-me para sempre”, avisa em “Um Pouco Antes”, na abertura do novo livro. Em alguma parte alguma Editora José Olympio R$ 30 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 67 túlio tsuji “P erplexidades”, um dos poemas de Em Alguma Parte Alguma, o novo artes plásticas • paraíba a arte de ser livre A obra de Antonio Dias figura hoje entre as mais importantes na arte internacional. No Brasil, seu trabalho se destaca desde os anos 60. Se isso já era devidamente sabido, agora, em mim, essa opinião se efetivou e se consolidou após visitar recentemente a sua casa-ateliê no Rio de Janeiro. E digo mais: continua um artista de vanguarda, numa carreira iniciada com a primeira mostra em 1962, o que já beira 40 anos de exposições. Nascido em Campina Grande, Paraíba, em 1944, se transferiu para o Rio de Janeiro em 1958, onde estudou com Oswaldo Goeldi na Escola Nacional de Belas Artes. Dois anos depois de sua estreia, ganhou o prêmio Isenção de Júri no Salão Nacional de Arte Moderna e, no ano seguinte, o prêmio de pintura da Bienal de Paris. A partir de 1989 se fixou em Colônia, Alemanha, alternando daí por diante seu tempo entre o Brasil e a Europa, com uma intensa participação em bienais e com trabalhos presentes em várias coleções e museus, como o de Nova York. Antonio Dias é desses artistas que, nas suas criações – nas quais utiliza as mais variadas formas e materiais – não realiza simplesmente pinturas, mas ideias estéticas. Cria, KasaKosovoKasa, 1996 Foto digital sobre colunas de PVC 400 x 600 cm Foto José Manuel Costa Alves 68 com um estilo muito pessoal, uma poética plástico-visual. Neste momento, tem utilizado folhas metálicas e a transformação do material em decorrência da oxidação para realizar trabalhos capazes de expressar uma manifestação plena da arte como liberdade, o intenso prazer de ser livre. Com isso, explora uma de suas principais características: a atitude no seu processo criativo. Nos anos 60 trabalhou tendo como suporte o filme super-8, hoje trocado pelo vídeo. Inovou também quando apresentou uma sequência de telas com superfícies moduladas num conjunto de formas diferentes que revelava um modelo novo na organização pictórica final. Acompanhar essa nova fase de Antonio Dias explicita ainda mais o quanto seu trabalho marca profundamente a produção artística no Brasil e no mundo há tanto tempo – com reconhecimento de crítica, mercado e público – e por que se constitui uma referência para outros artistas, principalmente os das novas gerações. Uma mente singular que continua a abrir novas possibilidades para a arte. Um acervo elaborado por meio de uma inteligência rara e de um profundo senso de liberdade na criação e execução que o torna, reconhecidamente, um dos mais importantes artistas plástico da atualidade. www.antoniodias.com por Itamar Musse produto • bahia diamante negro A s minas de diamantes da Chapada Diamantina, na Bahia, hoje fazem parte apenas da história do lugar. Suas atuais riquezas não se acham mais embaixo da terra, mas em sua superfície. São as fazendas da cidade de Piatã, com a produção do melhor café gourmet do país, as responsáveis por mais uma vez levar o nome da região para o resto do mundo. No ano passado o Prêmio Cup of Excellence, do 10º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, promovido pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) e pela Alliance for Coffee Excellence (ACE), foi para o produtor Cândido Vladimir Ladeia Rosa, da Fazenda Ouro Verde, nos arredores de Piatã. Apesar de Minas Gerais ainda dominar o mercado, outros seis produtores da cidade baiana conseguiram colocações entre os 26 finalistas do concurso. As sacas (60 quilos) foram vendidas no último leilão internacional Cup of Excellence a preço de diamante. Michael Freitas, presidente da Cooperativa e da Associação dos Produtores de Café de Piatã, conta que o campeão do concurso de 2005 chegou a comercializar a saca por R$ 14 mil, quando a cotação normal não passa dos R$ 260. Este ano os preços não chegaram a tanto, mas atingiu a casa dos R$ 5,6 mil. Dos 250 cafeicultores da região, 50 praticam as técnicas de produção do café gourmet, famoso por ter aroma suave, notas de caramelo, trufas e cana-de-açúcar. O resultado é obtido por conta das características locais, como o tamanho reduzido das propriedades, de no máximo 10 hectares (em torno de dez campos de futebol). As técnicas de colheita também influenciam. São colhidos apenas os frutos maduros. Isso só vem sendo feito de dez anos para cá, depois que o governo do estado começou a enviar engenheiros agrônomos e técnicos para corrigir erros que vinham sendo cometidos desde os anos 70. A altitude também influencia. Piatã é a cidade mais elevada do Nordeste. As lavouras localizam-se entre mil e 1,4 mil metros acima do nível do mar. Por conta disso recebem muito sol e pouca chuva. No inverno a temperatura chega a 10 graus, o que atrasa a maturação do fruto em dois meses e intensifica o sabor adocicado da bebida. “É um café com gosto de melaço, muito transparente, frutado e elegante”, diz o barista norueguês Tim Wendelboe, que participou do júri composto pelos maiores especialistas do mundo na área e que deu o primeiro lugar à Fazenda Ouro Verde. Para ele, o processo quase artesanal é o que agrega mais qualidade ao produto baiano. Em Salvador é possível provar o café das fazendas Cafundó, São Judas Tadeu e Passagem Funda no Lucca Café, no Salvador Shopping. Se quiser levar para casa, pode optar pelo pacote de 250 gramas que custa módicos R$ 24, em grãos ou moído. por Pedro Fernandes Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 69 Primavera 70 mudar de assunto 72 73 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 74 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 75 76 principais cenas da noite do dia 21 de outubro daquele ano decisivo na música brasileira. Era Chico Buarque acompanhado pelo grupo MPB 4 cantando “Roda Viva”, Caetano Veloso evocando “Alegria, Alegria”, Gilberto Gil e os Mutantes, com “Domingo no Parque”, Edu Lobo, com “Ponteio”, Roberto Carlos, cada vez menos jovem guarda, com o samba “Maria, Carnaval e Cinzas”, e Sérgio Ricardo, com “Beto Bom de Bola”. Gal também subiu ao palco do Teatro Paramount, em São Paulo, naquela mesma noite, com a canção “Dadá Maria”, de Renato Texeira, mas não emplacou. Ficou fora da final, embora estivesse presente de corpo, alma e atitude. UMA MULHER: MUITAS FACES Com a mãe, Mariah Costa Penna, marota em 1940, TV Record em 1967, gravação do disco Índia, em 1973, e disco Água Viva, de 1978. E não poderia ser diferente, era o momento em que fervilhavam músicas para abalar os sentidos. Lá estavam eles, jovens e destemidos artistas, cara a cara com uma exigente e tumultuada plateia que acompanhava os festivais. Vibrante, sortida e, por que não, cruel. Munida de aplausos calorosos, sim. Outras vezes, não. Bastava desagradar – o público vaiava em coro. Fato é que, com discórdia ou euforia, a partir daí nada ficaria no mesmo lugar. Como quem se entrega a um rito de passagem, eles, os músicos, jamais seriam os mesmos. Tampouco o público. Submerso no ambiente da repressão militar, fruto do golpe de estado de 1964, no governo de João Goulart, o Brasil começava a se render a um vírus cultural capaz de desafiar o poder bélico. Música, teatro e artes plásticas caminhavam lado a lado rumo a um horizonte libertário. Ainda que não fosse declarado, ainda que fosse silenciado pelos mecanismos de censura, ainda que fosse terminantemente proibido, todos sabiam que havia algo diferente e definitivo pairando no ar. Ao lado de Caetano, Gil e Bethânia, Gal propôs a revolução tropicalista. Um ano antes, em 1966, ela havia assinado o primeiro contrato com uma gravadora – a Phillips. O feito foi consequência de sua apresentação no 1º Festival Internacional da Canção, interpretando “Minha Senhora”, composição de Gilberto Gil e Torquato Neto, também parceiro do principal movimento artístico cultural que mudou de vez o cenário da música brasileira. Embora não tenha sido finalista, novamente, sua participação foi suficiente para galcosta.com.br/acervopessoal NADA MAIS COMO ANTES amigos para sempre Com Gilberto Gil, Maria Bethânia e Caetano Veloso. BARRA 69 galcosta.com.br/acervopessoal Q uando digitamos o nome Gal Costa no Google – ferramenta de busca que mais parece um oráculo charlatão com respostas prontas para absolutamente tudo que se possa imaginar –, de imediato aparece: “cantora baiana de MPB”. Um grão de mostarda que sintetiza de forma rasteira os mais de 40 anos de sucesso, no Brasil e no exterior, da carreira de Maria da Graça Costa Penna Burgos, uma das maiores cantoras brasileiras. Talvez o show O Sorriso do Gato de Alice, apresentado em 1993, traga a melhor metáfora para compreendê-la enquanto artista: um felino solto pelas madrugadas. Para surpresa da plateia que a assistia na ocasião, Gal apareceu vestida com um uniforme de operária, escalando um telhado íngreme, em passos suaves, porém ariscos, tal como um bichano. O espetáculo teve direção de Gerald Thomas e, desde a estreia, no Rio de Janeiro, foi considerado uma montagem incomum. Sem dúvida, Gal Costa é uma artista que foge à normalidade. Ela nasceu em Salvador, em 26 de setembro de 1945. A voz inconfundível que ouvimos hoje é praticamente a mesma que estreou lá pelos idos dos anos 1960 cantando bossa nova. Nunca estudou canto. Aos poucos, cantarolando debaixo do chuveiro, foi se entendendo cada vez mais como cantora. Do violão, praticamente ausente em suas apresentações nos últimos anos, se fez parceira. Com naturalidade, aprendeu a desdobrar a potência acústica de seu privilegiado conjunto de cordas vocais, com respaldo do domínio da respiração profunda, controlada pelo diafragma. Só ela é capaz de segurar uma mesma nota por tanto tempo. Só ela é capaz de ser magnífica ao entoar um agudo tão estridente. Quem afirma e aplaude são os críticos e parceiros musicais (leia texto “Presente de Deus”, à página 88). Basta fazer uma viagem no tempo para perceber a diversidade de ritmos e estilos presentes na música de Gal Costa desde o lançamento do primeiro LP, Domingo, em 1967. Naquele momento ela vivia a ebulição do tropicalismo. A MPB, segundo Nelson Motta, começava a rachar. O 3º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, apresentava os grandes finalistas. Lançado recentemente, o filme Uma Noite em 67, de Renato Terra e Ricardo Calil, mostra as Gil e Caetano ficaram três meses presos. Ainda sob passos vigiados, em Salvador, realizam o show Barra 69, produzido por Roberto Santana, ex-produtor musical da Phillips e empresário, na época, de Vinicius de Moraes, antes de serem mandados para o exílio em Londres. “A ideia era arrecadar uma grana. O espetáculo foi emocionante, eles já eram considerados grandes ídolos. Gil cantou ‘Aquele abraço’. No final, a Polícia Federal os aguardava na porta do Teatro Castro Alves. Não era fácil, foi uma fase muito dura”, conta Santana. A boa forma física de Gal impressionava. A cantora chegou a posar nua em um ensaio na extinta revista Status. No LP Índia era pura sensualidade. O LP Profana abriu o verão de 1985, com Gal Costa cortando os cabelos em momento registrado pelo programa Gal Costa Especial, produção da extinta TV Manchete. CABELO, CABELEIRA, CABELUDA, DESCABELADA PÉROLA NEGRA Quem assume a produção do próximo show de Gal Costa, em 1972, é o poeta Waly Salomão, grande parceiro e amigo da cantora, morto em 2003. Nascido em Jequié, cidade do sudoeste da Bahia, Waly dirige Gal a Todo Vapor, evidenciando a sensualidade e a vocação artística da bela baiana, no auge de sua forma física. Por tabela, Waly – que andava pelo Morro do Estácio, onde Luiz Melodia morava com a família, no Rio de Janeiro, e já conhecia a sua esposa, Jane, que era sua conterrânea – apresenta o compositor a Gal. Imediatamente tem início mais uma grande amizade e parceria musical. Melodia apresenta algumas composições, Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 77 mas ao ouvir “Pérola Negra”, a Gal não restam dúvidas: é a música. Estava traçado mais um grande sucesso na voz da diva. “Gal é a minha madrinha, foi ela quem lançou a minha carreira. Tenho muito carinho por ela, a gente se gosta muito. Se ela quisesse, eu casava com ela”, declara Melodia, num tom faceiro acompanhado por um sorriso descontraído. A música foi inserida ao repertório do show e também ao LP Fa-Tal. “A primeira vez que a ouvi cantar minha música no teatro Tereza Rachel, no Rio, me derramei em lágrimas. Não aguentei, comecei a chorar”, relembra. Consolidado o sucesso e a amizade, Gal pede a Melodia uma música para o próximo LP, Índia, lançado em 1973. Nasce “Presente Cotidiano”, que, segundo o compositor, chegou a esbarrar nos corredores da censura. “Guilherme Araújo (produtor musical que acompanhou boa parte da carreira de Gal) teve de fazer umas ligações até dar um jeito de a música ser liberada”, conta. Para Melodia, é difícil escolher um único momento que seja emblemático na carreira de Gal Costa. “São vários. Ela sempre mudou muito, apostou em diversos estilos, e foi muito bem, porque é uma cantora excepcional, tem liberdade para fazer o que quiser. Particularmente, tenho muita admiração pela fase de lançamento de “Pérola Negra”. Para mim, ela é a maior cantora brasileira, adoro ouvi-la, trabalhar junto é melhor ainda”, ressalta. O sanfoneiro Targino Gondin é outro grande admirador. E mais: Targino acredita que Gal influenciou uma geração inteira de músicos que se formaram após o tropicalismo. “É uma grande fonte. Considero Gal e Bethânia as maiores referências femininas da música brasileira. Tenho muitos discos em casa, adoro ouvi-la, é divina.” Antes de entrar na década de 1980, Gal, Gil, Caetano e Bethânia juntam-se como Doces Bárbaros. A ideia do quarteto é comemorar os dez anos de carreira de cada um dos integrantes. Baianos, amigos e, sobretudo, irmãos de fé. Fé na vida, na música e nos orixás. Logo após, ainda em 1976, lançam o disco. O espetáculo arrasou, gerando comentários controvertidos que ressaltavam desde a linha musical ao figurino usado pelos artistas, estilo hippie – cintura baixa, tops com barriga à mostra e os homens de batas folgadas –, que mexia muito com as emoções de uma sociedade ainda provinciana tentando se firmar no admirável mundo novo dos baianos ousados. As músicas descambavam ora para o filosófico, ora para o protesto, com pitadas destiladas de contravenção, ainda que inseridas no movimento esotérico a ser descoberto pelas massas quase uma década depois, também foram alvo de críticas. Em 1994, fazem uma apresentação única dos Doces Bárbaros na quadra da Mangueira. MUNDO AFORA Em 1981, a maior parte dos shows de Gal Costa foi realizada no Japão. Ela se apresentou em mais PARCEIROS, AMIGOS E FÃS Dominguinhos é o sanfoneiro que acompanha a banda de Gal Costa na turnê do LP Índia, em 1973. De Djavan, gravou “Álibi”, “Açaí” e outros sucessos. Em 1981, cantou, junto com Elis Regina, pela primeira vez em um musical da Globo. A amizade e parceria com Chico Buarque começou em 1966. Momentos marcantes também ao lado de João Gilberto, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Paulinho da Viola, Mercedes Sosa, Pavarotti, Dorival Caymmi, César Carmargo Mariano e até o craque Diego Maradona. de dez cidades. No mesmo ano foi montado o show Fantasia, dirigido por Guilherme Araújo, no Canecão, no Rio de Janeiro, que resultou num disco de mesmo nome, trazendo no repertório sucessos como o frevo “Festa do Interior”, de Moraes Moreira e Abel Silva, outro grande sucesso na carreira de Gal. No mesmo disco, destaque também para os hits “Açaí”, de Djavan, e “Meu Bem, Meu Mal”, de Caetano Veloso. No ano seguinte, 1982, Gal levou Festa do Interior para Tel Aviv e Jerusalém num show inédito no Oriente Médio. Na década de 1990, destaque para o show Plural, direção de Waly Salomão, com influências que faziam jus ao nome – iam do erudito VillaLobos ao rei do reggae Bob Marley, além de reunir grandes músicos como o violonista Rafael Rabello e percussionistas do Olodum. O show foi exibido na Europa e na América Latina – em Buenos Aires, chegou a ficar dois meses em cartaz. GAL ATUAL Dona Mariah, sua mãe, foi a primeira a incentivá-la como cantora. Costumava cantarolar “Chululu”, uma melodia de ninar criada de forma improvisada para embalar o sono da filha. Em 1974, Gal gravou a música da mãe no disco Cantar, produzido por Caetano, com arranjos de João Donato. Hoje, ela é mãe e, quando não está fazendo shows, leva uma vida tranquila, dedicada ao filho Gabriel, de 5 anos, também ninado antes de dormir por seus chululus. O próximo CD, ainda sem previsão de lançamento, está sendo produzido por Caetano e Moreno Veloso. “Amores, hoje à noite vou trabalhar. Eu adoro trabalhar. Já estamos em processo de pré-produção. Até amanhã e muitos beijos. Doces sonhos para todos”, postou no Twitter recentemente. Sim, Gal é uma tuiteira de primeira. Da varanda de sua casa, no Campo Grande, com vista para a Baía de Todos os Santos, costuma compartilhar com seus mais de 19 mil seguidores deslumbrantes pores do sol. Registra tudo em fotografias postadas diariamente em sua página oficial no microblog (@gal_costa). É fã declarada de tecnologia, possui iPhone atualizado por ela própria sempre que surge uma nova versão. No Twitter, também costuma pedir dicas de filmes, programa de sua preferência à noite, quando está em casa. “Os meus seguidores são tão doces comigo que chego a ficar emocionada”, declarou, em outra postagem. Os últimos filmes assistidos foram Os Gritos do Silêncio, Um Olhar para o Paraíso e Os Infiltrados. Despede-se sempre com um suave “boa-noite”, acompanhado de “durmam bem”, “tenham bons sonhos” e “beijos”. No dia seguinte, retorna com o mesmo ânimo e amabilidade. “Bom-dia flores do dia, ótima semana para todos.” Mas, como as divindades que habitam a Terra e ainda conservam em seu corpo uma porção humana, Gal também impõe limites à sua privacidade como qualquer mortal. Às vezes responde com firmeza aos que considera intrometidos. Como o seguidor que se achou no direito de criticar o seu humorado bom-dia às 11 da manhã. Ela rebateu firme: “Era só o que me faltava, acordo na hora que quiser”. Duvida? Pois tente. O nome dela é Gal. Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 78 galcosta.com.br/acervopessoal por Tássia Novaes Em meio a tanta tensão, Gal desafiava mais uma vez. “Em vez de trilhar os caminhos do canto fácil e dos hits vendáveis, opta por experiências rascantes”, explica Logullo. Em poucos meses, estava pronto um novo repertório. O parceiro da vez é Jards Macalé. Nas composições aparecem “gritos, mixagens sujas, ruídos, sustos (...). Ela não queria mais as tardes mornais”. Roberto Carlos e Erasmo traduzem bem o momento compondo “Meu Nome É Gal”, mais um grande sucesso na voz da baiana. O clipe foi exibido no programa Fantástico, da Rede Globo, em 1979. Na abertura, Cid Moreira anuncia: “Um duelo contra a guitarra, um dos melhores momentos do show que já passou das 100 apresentações no Rio de Janeiro”. A música marcou época e continua sendo bastante executada até hoje nos shows – quando não está no repertório, é aclamada no bis. A verdade é que, com os companheiros fora do país, restava-lhe assumir a voz do tropicalismo. “Acho que foi uma missão que Deus me deu”, resume, em entrevista para LICIA (leia na página 80). Pouco antes da virada do ano em 1969, Gal vai a Londres, onde passa o réveillon com os amigos. Lá também estão Jorge Mautner e as irmãs Dedé e Sandra Gadelha (esposas de Caetano e Gil, respectivamente). Gal assiste à apresentação de Jimi Hendrix no festival da Ilha de Wight e, juntamente com Caetano e Gil, participa de uma jam session. A temporada na capital da Inglaterra a fez repensar a carreira, diz Logullo. “Já não partiria mais para o radicalismo do último disco e optaria por um trabalho que permitisse revelar as muitas possibilidades de sua voz.” No retorno ao Brasil, lança um compacto com “London, London”, de Caetano, e “Minimistério”, de Gil. Em seguida é a vez do LP Legal, cuja capa foi feita pelo artista plástico Hélio Oiticica (leia “Gal e Oiticica – Voz e Arte da Tropicália”, na página 106). O disco é uma consequência do show Deixa Sangrar, apresentado no teatro Opinião, no Rio, também no ano de 1970. O percussionista Naná Vasconcellos fazia parte da banda. “O espetáculo encerrava com o frevo ‘Deixa Sangrar’, de Caetano, composto em Londres como paródia ao título do álbum Let it Bleed, dos Rolling Stones.” galcosta.com.br/acervopessoal Da contracultura inspirada no movimento hippie ao dinamismo das redes sociais na internet, Gal Costa se mostra cada vez mais atual sem perder a veia tropicalista. Sim, ela continua aplaudindo diariamente o pôr do sol. A diferença é que nunca para. Está sempre conectada às novidades que surgem à sua frente chamar a atenção do então diretor artístico da Phillips, João Araújo, pai de Cazuza. Em 1968, na quarta edição do Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, Gal causou rebuliço ao apresentar um novo visual, inteiramente hippie, rompendo com o estilo comportado e tímido que a modelava até então. A mudança tinha como porta-voz a barulhenta “Divino, Maravilhoso”, composição de Caetano e Gil, na contramão da suavidade melódica da MPB. Gal estava também em cartaz numa temporada de shows com Tom Zé, em São Paulo. Era o prenúncio, ainda que não premeditado, do fantástico Doces Bárbaros, que estava por vir nos anos 1970. Um ano antes, em 1969, a ditadura mostrava sua face mais opressora com intervenções truculentas, porém de duvidoso efeito coibidor, dado o embalo que o movimento já causava na época. Caetano e Gil foram detidos em um quartel no Rio de Janeiro. Enquanto isso, suas ideias circulavam, propagadas pelas ondas de rádio de todo o país, por meio do LP Gal Costa, primeiro a ser gravado pelo selo Phillips. A faixa “Baby” (mais uma composição de Caetano) foi sucesso imediato – ultrapassou as 100 mil cópias vendidas, quantidade expressiva para um mercado fonográfico ainda incipiente se comparado ao que viria depois. A música foi incorporada à trilha sonora do filme Copacabana, Me Engana, de Antonio Carlos Fontoura. O momento era de total ascensão artística para Gal Costa. Com base na biografia escrita pelo jornalista Eduardo Logullo, a cantora era citada como “ícone feminino de uma reviravolta estética para os padrões brasileiros. Mulher que não combinava bolsa com sapato e ouvia rock.” Além da música de sucesso, o LP “mantinha o frescor da tropicália: canções de temáticas urbanas, doces reflexões anarquistas, constatações, citações, provocações, objetos não identificados, uma diversificação de ritmos”. Período tenso, de instabilidade política, os dias pareciam se arrastar. Importante contextualizar que no mesmo ano foi publicado o primeiro exemplar do jornal O Pasquim, a Globo transmitiu o Jornal Nacional pela primeira vez e os Estados Unidos chegaram à Lua. E a quem interessar possa, Vera Fischer foi eleita miss Brasil. SENSUALIDADE À FLOR DA PELE galcosta.com.br/acervopessoal O nome dela é Gal Arroz integral com Coca-Cola Eu sou do tempo em que a Gal gritava Meu Nome é GAAAAAAAAAL! A Gal é dona dos mais belos trinados do planeta! Sabe o que eu fiz ontem no meio da cobertura das eleições 2010, atolado em notícias insuportáveis? Botei um vídeo da Gal cantando “Eu Sei Que Eu Vou Te Amar” e depois “Antonico” e depois “Bota Mão nas Cadeiras”! E saí pulando e dançando pela casa! A Gal é o sol. Eu conheço a Gal há mais de 100 anos. Hahaha! E ela sempre foi transgressora: ela comia arroz integral com Coca-Cola. O pop. A introdução da guitarra na comida integral! Eu detesto nostalgia, mas, na década de 70, eu morava em Arembepe e aconteceram duas coisas psicodélicas: apareceu, pela primeira vez, um trio elétrico e a gente achava que era um disco voador. E noutro dia apareceu a Gal, gostosa como uma sereia com um vestido totalmente transparente. E a gente achava que era outro disco voador. Hahaha! Hoje eu tenho uma casa de praia em Arembepe (a volta de Tieta) e vi um hippie entrar no supermercado e comprar um maço de vela e sair, só isso, em pleno século 21, apenas um maço de vela! Achei engraçado, mas meio triste isso. Porque a Gal esteve em Arembepe, mas agora não sai do Twitter! E eu já fui até capa de disco da Gal! Ueba! No meio de mais dez, mas fui! O disco é Gal a Todo Vapor! Esse era o show que a gente ia toda noite no Rio. Peregrinação. Hahaha! Tocava o primeiro acorde a gente cantava o show inteiro, sabia de cor! De manhã, Gal na praia, deitada como sereia e quieta como uma esfinge numa duna de Ipanema, as famosas dunas da Gal. E, em volta da Gal, nós, abelhas, era uma efervescência tropical. Todo mundo aplaudia o pôr do sol, ninguém usava relógio e o Cazuza queria se enturmar mas a gente não deixava porque ele era muito criança! E um dia peguei os restos de cetim do cenário do show e fiz uma polo dourada. E fotografamos para a capa do CD junto com os Novos Baianos e mais uma renca! Eu queria ser a Gal! A Gal era maaagra e eu era maaaagro e todo mundo achava a gente gostoso. Hoje a gente tem o corpo da Cleo Pires e ninguém fala nada. Hahaha! E depois acho que apareci na capa de Legal. Mas não lembro, Vanusa me ajuda! Hahaha! E quando você entra no carro, liga o rádio e aparece a voz da Gal, um presente! Eu adoro a Gal cantando, eu adoro a Gal no palco, eu adoro a Gal, mas sabe o que adoro mesmo? O sorriso da Gal! E quando ela fica de perfil, séria, puxando levemente os cabelos pra cima? Bem, eu sou fã, né. O que você é da Gal? FÃ! José Simão Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 79 licia entrevista Voz de cristal fotos Uran Rodrigues O encontro de Gal Costa com Licia aconteceu no restaurante Amado, em Salvador. Em um dia lindo, iluminado, como tinha de ser. A cantora chegou acompanhada da assessora Vilma Dias. Inundou os olhares e ouvidos. Ouvir a voz de Gal impressiona, mesmo fora do palco. Encanta. Gal é sensorial. É preciso sentir. Usar o coração para en- tender o seu canto, a força da sua presença. E todo mundo queria saber mais sobre a Tropicália, as dunas de Ipanema, a amizade com Waly Salomão, Jards Macalé, Guilherme Araújo, religiosidade e, claro, a relação com Caetano, Gil e Bethânia. Para ela, mais do que uma boa coincidência ou sorte, uma questão espiritual. As quase duas horas de bate-papo passaram voando, quase desapercebidas para equipe da revista: a editora Aline Queiroz, a jornalista Tássia Novaes, a produtora Ana Paula Lima, o fotógrafo Uran Rodrigues, o cinegrafista Mateus Damasceno e para o chef Edinho Engel. Também, pudera, o “sorriso do gato de Alice” continua hipnotizante. 80 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 81 licia entrevista Cena 1: Parte com Iansã Licia: Tudo o.k., gente? Gal: Por mim, tudo bem. Só quero estar bonita. Tô bonita? Licia: Você é linda, minha irmã. Gal: Nossa, que bonito esse iPhone. Isso aqui é uma capa? Licia: É sim, foi meu filho que me deu. Gal: Ah, entendi. Licia: Mas aqui já está vendendo desse tipo. Gal: Ah, é plástico! Lá nos Estados Unidos é que tem umas bonitas. Você já fez o upgrade do seu? Licia: Ainda não! Gal: No meu eu já fiz. Faz pelo computador, aí você já baixa a versão mais nova. Licia: Ah, meu filho, me dê um suco de tangerina. Gal: Pegue ali o restinho do meu, é de melancia. Não quero outro inteiro, não, porque depois eu preciso provar esse bacalhau daqui, ora. (Risos) Licia: Eita, estamos aqui com dona Gal, essa irmã linda, querida... Gal: Essa aqui é minha irmã linda do Gantois, de Iansã. Eu também sou... Licia: Você também tem parte com Iansã... Gal: Tenho parte com Iansã... Licia: Essa era uma das coisas que eu queria falar, né, Gal. Como é essa coisa da sua fé? Gal: A minha fé é uma coisa muito forte. A melhor coisa que eu fiz foi conhecer mãe Menininha, entrar para o Gantois, ser iniciada por ela... Gal: Eu tenho uma voz privilegiada e o incrível é que eu nunca estudei canto. Quando eu comecei a cantar em casa na adolescência, depois que eu conheci João Gilberto pelo rádio, eu comecei a mudar meu jeito de cantar, em casa no banheiro. Eu tinha consciência de técnica vocal, o uso do diafragma pra cantar, a importância rítmica no canto, a expressão da palavra cantada, como dizer a palavra cantada, como dividir, isso tudo, toda essa coisa importante que é para o canto que o cantor deve saber, eu já nasci sabendo. Ninguém nunca me ensinou, isso é que é muito incrível. Licia: Uma coisa que eu sempre quis lhe perguntar é o seguinte: você tem total consciência da beleza da sua voz e de que ela é considerada uma das mais bonitas do mundo? Gal: É difícil ter essa consciência. Eu não sei, exatamente, como as pessoas reagem quando ouvem ou sentem a minha voz. Eu sei que minha voz é bonita, limpa, eu adoro cantar e é uma voz que eu trabalhei muito. Sei que é uma voz que parece um instrumento, eu sei. A minha voz é bonita, eu gosto da minha voz. Agora, é diferente saber que impacto ela causa nas pessoas. Licia: Ave Maria, é uma coisa! Por exemplo, eu tenho um amigo, o médico Diógenes Vinhaz, marido de dona Doralice, ele diz que quando ouve você cantando “Meu Nome É Gal” escuta uma orquestra completa. Eu quando escuto você cantando aquela versão de Stevie Wonder, eu digo, “meu Deus, o que é isso?”. (Risos) Licia: O que é uma honra, né? Gal: Não é só uma honra, me fez muito bem em todos os aspectos. Eu me lembro que, naquela época, era muito ansiosa e, pelo menos, 90% da minha ansiedade melhorou. E, quando eu cantei com Maria Bethânia a música do Caymmi, em homenagem a mãe Menininha, eu não a conhecia ainda. Por conta dessa música eu fui até o Gantois conhecê-la. Licia: Olha só! Gal: Então ela foi e jogou pra mim e tal. Ela dizia que eu era de Iansã, mas que Obaluaiê tinha muito apego por mim, ele ainda não tinha tomado a frente. Aos poucos eu fui frequentando o Gantois durante nove anos até ser iniciada. Eu sou realmente de Obaluaiê, mas tenho Iansã. Ela é muito forte na minha vida também. Licia: Que maravilha! Ele é um orixá muito especial, né, Gal? Gal: Eu tenho muita fé. É um santo especial, que se mostra pros filhos. Eu costumo dizer que sou teleguiada pelos anjos, pelos orixás, pelas energias boas do universo como quiserem chamar. A minha intuição, o meu trabalho, tudo que faço vem da minha fé. Até o meu próprio trabalho eu acho que é uma missão. Cena 2: A voz Licia: Então, pelo que você está dizendo, Obaluaiê foi quem lhe deu essa voz. Porque você tem uma das vozes mais bonitas do mundo, né Gal? 82 Cena 3: João, Caymmi, Waly... Licia: Agora, Gal, quem foi desses nomes todos que trabalharam com você – João Gilberto, Caymmi, Waly –, que você considera que conseguiu tirar mais da essência da sua voz? Gal: Eu comecei a trabalhar com Guilherme Araújo, na época da jovem guarda e da bossa nova, né. Eu era totalmente “bossa-novista”, até nem gostava muito da jovem guarda. Eu gostava de meia dúzia de pessoas e eu me lembro que o Guilherme Araújo me dizia: “Minha querida, você tem de ir cantar na jovem guarda. Olha a Wanderléia, você tem que ser como ela”. Eu ficava achando aquilo uma maluquice. (Risos) Até que Caetano e Gil vieram com o tropicalismo, aí passei a conviver diretamente com aquilo e dei uma virada na minha maneira de cantar e tudo mais. Eu passei a gostar de milhares de outras coisas que não gostava até então. Mas minha essência permanece “joãogilbertiniana” e “bossanovista”. Assim como Caetano também. Eu aprendi muito com o João, ele até hoje é moderno. Naveguei também pelo universo pop, na década de 80, 90... Cena 4: Porta-voz Gal: Era o Guilherme. Depois ele viajou com o Caetano e Gil quando eles foram exilados. Eu fiquei no Brasil, sozinha, cantando as coisas deles. Era um período muito difícil. Licia: Você teve medo de acontecer alguma coisa com você? Gal: É, tive, mas o pior de tudo não era isso. O pior foi ficar no Brasil sozinha. Eu fiquei, na verdade, representando o Caetano. Minha figura era muito ligada à figura dele. Fui algumas vezes à Londres visitá-los. E cantava as coisas que ele compunha. Quer dizer, eu acho que Deus me colocou ali pra manter viva toda aquela coisa do tropicalismo... Licia: Manter viva aquela voz... Gal: É, exatamente. Mas tudo que eu fiz na fase tropicalista, todo o experimentalismo que eu usei, que eu utilizei são apenas facetas da minha personalidade, porque minha essência mesmo é o canto, é a voz, é cantar. Aquele canto... Licia: Bonito, forte... Trio elétrico, cabelo e bustiê... Cena 5: Gal: Eu sou cantora. Acima de tudo, eu sou cantora, não sou outra coisa. Licia: Eu acho graça que algumas pessoas ainda cobram coisas de você, tipo, cantar em cima de um trio elétrico... Gal: Tem gente que me cobra irreverência, tem gente que me cobra tanta coisa que eu fiz no passado que não tem mais sentido... Licia: Pois é. A Gal hippie, linda maravilhosa, cabelos soltos, bustiê. (Risos) Gal: (Risos) Aquilo foi uma época, era outra coisa. Licia: Servia naquele momento, né? Gal: Hoje não tem nada mais a ver. Mas, assim, eu adoro o que faço. Tenho cantado muito pelo mundo inteiro. Cena 6: Caetano e Moreno Licia: Eu fico sabendo, Gal tá nos Estados Unidos, no Japão... Gal: Eu canto muito fora do Brasil. Eu gosto de viajar, de cantar fora. Agora tô me preparando para um trabalho novo... Licia: Com Caetano, Moreno... Gal: Caetano está produzindo com Moreno... Licia: Músicas novas, Gal? Gal: Músicas novas. Eles estão na fase da préprodução e eu estou esperando um sinal. Nós vamos começar muito brevemente e eu não sei nada ainda, não posso falar. Seria irresponsável da minha parte porque é um trabalho em conjunto. Licia: Inteligente, na dele, uma gracinha. Eu fico olhando, assim, tem muito dos Veloso, mas muito dos Gadelha, né? Gal: Parece muito com Caetano. Ele é muito talentoso. Tem mesmo o espírito musical nosso. Ele é cool, doce como eu, como Caetano. Ele segue a mesma linha. Então, será uma trilogia linda. Licia: Oba! Vamos ficar aqui torcendo, esperando. Cena 7: Bahia e Brasil Licia: Ô Gal, veja bem, você acompanha a música baiana? Gal: Acompanho. Assim, não vou lhe dizer que tenho discos de todas as pessoas da Bahia, de axé, não tenho, não ouço. Realmente, não é uma música que eu teria na minha casa para ouvir. É uma música pra dançar, ir em um lugar, por acaso, no carnaval e tudo mais. Mas eu admiro muito o pessoal de axé da Bahia, acho que eles se organizaram. Licia: E de quem você mais gosta? Gal: Eu acho a Daniela bacana, a própria Ivete. Eu acho o Chiclete bacana, todo esse pessoal aí é danado. São uma maquininha de fazer dinheiro. (Risos). Eu admiro essa competência para fazer as coisas. Acho muito legal. Licia: E no cenário nacional, Gal, quem seria a cantora ou o cantor, compositor com quem você se identifica? Gal: Eu gosto muito do Lenine, por exemplo. Eu acho ele um excelente compositor, gosto muito dele. Das cantoras, assim, de MPB... Licia: Tem um monte de mulher agora... Cena 8: Não posso falar Gal: Antigamente não tinha né? Eu não acompanho muito não, mas outro dia em hotel no Rio vi umas cantoras na TV que eu gostei. Lá acontece muita coisa, mas eu saí do Rio. Eu admiro muita gente, mas não sei quem eu elegeria como a grande cantora nova, moderna. Não gosto nem de falar muito porque (Risos) uma vez eu fui dizer uma coisa no jornal aí... sobre não existirem compositores modernos, claro que existem, novos, bons. Chico César eu já gravei. Já gravei tantos. O disco Hoje, dirigido pelo César Camargo Mariano, eu só gravei gente nova, incluindo o Moreno Veloso. Gente que faz produção independente, que não tem acesso à grande mídia. Mas eu fui dizer que a minha geração era imbatível, nossa, fizeram uma polêmica. Eu não posso falar muito não, sabe Licia. (Risos) Licia: (Risos) Mas, afinal de contas, quem tá falando é Gal Costa, né? Licia: E vai ser um trabalho lindo. Porque desse encontro só pode sair coisa de muita qualidade. Gal: É, mas a minha geração é muito importante, como a geração anterior a nossa, enfim. Mas eu acho que tem muitos bons compositores novos. O Brasil é muito rico, né? A música que se houve no sul, no norte... Gal: É, e trabalhei muito com o Guilherme Araújo. Foi uma pessoa que se deu muito bem comigo. Fez o Gal Tropical. Convivi com o Waly também. Gal: É um casamento musical perfeito, meu e de Caetano e Moreno também, né? Licia: Os regionalismos todos... Gal: É muito rico. Licia: Mas antes era o Guilherme? Licia: Tá é danado esse menino, viu? Gal: Tá sim, demais. Mateus (cinegrafista): Gal, para mim, o tropicalismo foi o movimento que mais marcou a Licia: O próprio Cazuza... cultura brasileira musicalmente, que mais criou empatia com as gerações futuras... Gal: O que mudou mesmo a cara da música brasileira foi a bossa nova. Essa mudou radicalmente. O tropicalismo acrescentou outros elementos; trouxe a instrumentação eletrônica, outra linguagem. A maneira de fazer poesia comportamental, tudo muito ligado ao momento, ao movimento hippie e tudo mais. Agora, o movimento mais revolucionário de música no Brasil ainda é a bossa nova. Mateus: Hoje, você acredita que pode surgir um outro movimento revolucionário parecido, com o mesmo impacto? Gal: Ah, não sei. Essas coisas só acontecem quando tem de acontecer. No momento certo. Licia: Outra bossa nova é difícil. Gal: Isso é! (Risos) Cena 9: Gal mãe Licia: Agora Gal, me conta uma coisa, você mãe... Gal: Ah, é a melhor coisa... Licia: Do mundo, né? (Risos) Gal: Nossa Senhora, como eu amo meu filho! Gabriel está com 5 anos e essa coisa de ser biológico, não ser biológico tem nada ver. Eu amo meu filho como se tivesse parido. Não sei se eu tivesse parido eu o amaria tanto. Ele mudou minha vida, ele me trouxe mais alegria, ele me rejuvenesceu. Criança em casa... Licia: É a melhor coisa do mundo. Eu, agora que sou vó, ave Maria, se eu pudesse eu ficava só sendo vó na vida. (Risos) Gal: Ser vó é melhor que ser mãe? Licia: Ave Maria, eu tô, assim, de quatro. Eu sei o quanto Gabriel fez bem a sua vida, porque meu neto tá me fazendo um bem, sabe? Eu tô me sentindo com 27 anos de idade. (Risos) Gal: (Risos) Gabriel me faz muito bem. Licia: Você leva ele para os shows? Gal: Levo, levo. Ele era muito ciumento. Até hoje ele não gosta que as pessoas me peçam autógrafo, que tirem foto comigo. Ele fica puto. (Risos) Uma vez, no aeroporto do Rio, duas mulheres pediram pra tirar foto e eu fui tirar. Depois ele foi lá e deu o maior esporro nas duas: “Não pode tirar foto com a minha mãe”!. (Risos) Mas ele tá crescendo e tá começando a entender. Licia: Sua mãe fez uma música pra você, né? Gal: Ela me ninava cantando uma música que eu acabei gravando. Licia: Você nina Gabriel com ela também? Gal: Eu nino. Às vezes canto essa canção. Adoro cantar pra ele dormir, é um momento muito especial, porque é uma coisa, não dá para explicar. É um momento que meu canto é tão puro. Eu invento música também, cantando com ele. (Risos) Invento melodias, eu até quero comprar um gravadorzinho para gravar isso. Licia: Ele gosta de cantar? Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 83 licia entrevista Gal: Ele gosta. Ele tem uma noção rítmica muito boa e já canta algumas músicas que eu canto. Outro dia ele tava cantando um pedacinho do “Desafinado”. Licia: Olha! Virou “joãogilbertiniano” também. (Risos) Gal: Não sei o que ele vai ser. Se ele for músico vai ser uma coincidência maravilhosa. Eu digo sempre que ele foi preparado lá em cima e veio em uma barriga de aluguel. Porque espiritualmente tem meu gene. O gene espiritual é meu. É um menino bom, tem um bom coração, é obediente... Licia: Mas você não deixa ele solto, não, né? Dá regras também. Gal: Ah, tem as regras. Eu acho que eu sou uma boa mãe. Eu imponho limites, não faço tudo. Eu acho que eu educo direito, sim. mento que eu não esqueço também. Espetacular. Vila Velha... Tanta gente bacana, né? Tanta gente com talento... Licia: Agora estão aí os meninos do Bando de Teatro Olodum que deu uma leva de atores... Gal: Grandes atores baianos. E Licia disse que não sabia entrevistar. (Risos) Licia: Mas isso não é uma entrevista, é um batepapo. (Risos) Cena 12: Frank Sinatra Aline: Gal, a gente falou de tanta coisa, de momentos importantes da sua carreira. Mas hoje o que te inspira, te motiva a realizar coisas novas, a experimentar? Licia: Ô Gal, se você fosse escolher uma música dentre as tantas que você já gravou, qual seria a sua preferida? Gal: A música continuar a me tirar do chão. Tenho feito muitos shows fechados, para empresas. O último que fiz foi em Volta Redonda. Nossa, foi uma loucura! As pessoas cantavam tudo, uma resposta da plateia comovente. Cantar pra mim ainda é uma emoção que não tem tamanho. E a minha voz continua cristalina como lá atrás. Gal: Ah, é difícil. Licia: Graças a Deus! Licia: Seriam todas de João Gilberto ou todas de Caetano? (Risos) Gal: É incrível, minha voz é de menina. (Risos) Minha voz é de coisa de 35 anos de idade. Porque nessa idade eu já era uma mulher mais madura e o meu canto já é carregado de uma densidade que não tinha quando eu era muitíssimo jovem, pelo fato de ser jovem. Mas a minha voz continua cristalina como no começo. Cena 10: Aquela música Gal: Não, seriam muitas. É difícil dizer. Tem muitas músicas de Caetano que eu acho belíssimas, do Tom Jobim também, do Gil, do Chico Buarque de Hollanda. Eu as vezes canto “Smile” do Charles Chaplin para Gabriel e acho a música mais linda do mundo. Aí, uma hora, eu canto uma de Caymmi e acho que não tem nada mais bonito. Acho que sou a cantora que mais gravou Caetano. Acho não, eu sou. Tem uma pesquisa sobre isso. Cena 11: Irmandade espiritual Licia: Essa união com Caetano vem desde a Tropicália, depois com os Doces Bárbaros. Qual período você gostou mais, quando você se lembra desses dois momentos? Gal: Os Bárbaros eu gosto muito do primeiro disco. Eu achei aquele show maravilhoso. Depois nós nos reencontramos e fizemos de novo. É importante juntar os quatro, cada um com sua carreira individual, com sua história própria. A ideia foi bonita porque nós temos uma irmandade espiritual, eu, Caetano, Gil e Bethânia. Tem uma coisa, uma áurea. Na época, da primeira versão, as pessoas me chamavam de Maria Bethânia, chamavam Maria Bethânia de Gal Costa. (Risos) As vezes a gente dava autógrafo trocado, eu como Bethânia e ela como Gal, só de sacanagem. (Risos) E você acredita que confundiam Gil com Caetano?! É essa coisa da áurea espiritual. Doces Bárbaros foi importante para reafirmar essa união espiritual que veio de outras vidas, outros mundos. Licia: Você mora ali bem perto do teatro Vila Velha e vocês todos começaram ali, você tem voltado lá? Gal: Voltei lá com Gabriel pra ver uma peça infantil. Tá muito diferente! Aquilo foi um mo84 Tássia: Recentemente você publicou no Twitter que sua voz já foi comparada à de Frank Sinatra . Gal: Uma vez um crítico de música escreveu para o New York Times quando eu fiz show no Carnegie Hall, em Nova York, e ele comparou o meu canto com o Frank Sinatra pela clareza na forma de cantar. Você entende cada palavra, quando ele canta, mesmo se você não fale inglês; comigo da mesma forma, as pessoas entendem cada palavra quando canto embora não saibam a língua. Aline: Comunica o sentimento... Gal: Expressa de forma clara a palavra também, né? Tem muita gente que canta e a gente não entende. Eu tenho essa coisa de cantar claro. Eu gosto disso, é uma coisa trabalhada. Eu acho que o cantor tem de expressar a palavra cantada. É importante o jeito de dizer aquela palavra. Só cantor entende o que eu tô falando. (Risos) Aline: É como dizia Fernando Pessoa: “Não gosto dizer, prefiro palavrar”. É mais que emitir o som... Gal: Exatamente! Cena 13: Voz revolucionária Licia: E você usou a sua voz para revolucionar. Passeou por estilos diferentes e está sempre contemporânea... Gal: É verdade. Licia: Uma das coisas mais lindas que vi você fazer foi o show O Sorriso do Gato de Alice... Gal: Ah, eu adoro! Licia: Ali você se transformou... Gal: Pena que não tenha sido registrado. Licia: É mesmo? Que pena. Gal: Não, não foi registrado. Plasticamente aquele show era lindo e musicalmente também. Tinha arranjos maravilhosos, uma banda maravilhosa... Gal: Eu ia, mas na terça-feira já enchia o saco e ia embora. Isso desde muito nova. Eu sou mais quieta, gosto de ficar em casa vendo um bom filme. Licia: Você gosta de cozinhar? Gal: Já cozinhei, mas não tenho o menor talento, se tiver a receita eu faço. (Risos) Licia: Eu sempre ouço esse disco. Gal: O disco é bem diferente do show, né? Licia: Ah, no show você fez uma coisa teatral linda. Gal: Aquele show foi polêmico. Nossa, eu me cansei. Licia: Mas você sempre foi ousada. Gal: Eu sou e gosto de ser. Mas esse show, especialmente, foi polêmico porque tinha a figura do Gerald Thomas que é um cara polêmico também, enfim, tantas outras coisas. As pessoas insistiam em dizer que eu estava desconfortável, porque eu fazia um pouco de atriz. Colocava uma mão, depois a outra, depois eu subia no telhado, como um gato mesmo, até cantar a primeira música. Aquilo era um grande barato, eu adorava fazer aquilo e as pessoas insistindo em dizer que eu estava desconfortável e eu não estava. Licia: Aí você curtia também com a cara das pessoas. Pronto! (Risos) Gal: Era muito legal, eu gostava muito. Cena 14: As dunas da Gal Aline: Eu li recentemente um texto do Zé Simão no qual ele relembra aquela época em que todos vocês ficavam lá em Ipanema. Ele diz ser da “era Gal”. Gal: (Risos) As dunas de Ipanema. Aquela parte da praia de Ipanema era um lugar que ninguém ia, porque tinha uma obra. Então, eu e o Macalé íamos ali porque era vazio. De repente aquilo ali virou o reduto dos loucos, dos hippies, né? Virou um ponto turístico, um lugar aonde os intelectuais iam, era meio protegido por uma redoma. Jorge Mautner que dizia isso. Eu ia lá todos os dias, ficava uma turma que era fã mesmo. Aline: Ele conta que você determinava o tempo de permanência na praia. Quando, de repente, você se levantava chegava a hora de ir embora. (Risos) Gal: (Risos) Eu vivi no Rio a melhor época da cidade. Cena 15: Morar em Salvador Licia: Você gosta daqui, né, Gal? Gal: Adoro o Rio também. Aqui eu me sinto muito isolada, sinceramente. Eu gosto de morar aqui, essa vista não tem preço. É uma cidade pacata, embora seja violenta, mas eu me sinto isolada, porque eu fico longe das pessoas, a minha turma está toda lá entre Rio e São Paulo. Aline: O que você gosta de fazer aqui Gal? Gal: Eu vou a um restaurante, vou comer em algum lugar. Eu sou muito caseira, não sou muito festeira, não gosto de carnaval. Gostava, relativamente, quando era jovem. Licia: Ainda na Praça Castro Alves... Cena 16: Por onde anda? Aline: E essas pessoas, Gal, que te acompanhavam? Na capa do Gal a Todo Vapor aparecem a Baby Consuelo, hoje do Brasil, Pepeu Gomes, Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, você ainda tem contato com essas pessoas? Gal: Esse pessoal todo não vi mais, não sei por onde eles andam. Baby hoje é pastora, eu soube. Casou-se com um homem, eu sei muito pouco, só o que me falam. Pepeu eu vejo de vez em quando aí na mídia. Licia: E esses compositores novos, Gal, eles têm mandado músicas pra você? Gal: Não, não têm mandado nada. Licia: São tantos agora. Gal: Um dos que eu me orgulho muito é o Luís Melodia. Esse é maravilhoso. Mas eu não tenho recebido muito. Assim, toda vez que eu vou fazer um show eu recebo um CD. Continuo recebendo, mas... é gente. (Risos) Eu tenho lá meu seguidores. Mas eu tenho a conta verificada. Meus seguidores são fiéis. Quem tem muitos seguidores às vezes ouve umas coisas desagradáveis, eu acho. Licia: Mas é uma coisa boa. Tem algumas interferências chatinhas, mas a gente deixa pra lá, é uma curtição. Gal: É bacana, sim, eu gosto. Você dizer às pessoas aonde você vai, onde você está, falar com as pessoas. Por exemplo, eu tenho alugado uns filmes e toda noite eu falo com meus seguidores: “Olha, vou ver o filme tal”. Eles dão opinião, uns já viram, outros não... Aline: É uma oportunidade para os fãs, né? Dizer “eu sigo a Gal, ela é minha amiga no Twitter”. Gal: Eu posto músicas que fizeram parte da minha formação musical. Uma vez eu fiz uma sabatina com eles. Uma enxurrada de perguntas pra eles responderem. (Risos) É engraçado, eu gosto. Tássia: Gal, eu tava me lembrando de um show que você fez no Festival de Inverno de Lençóis, emocionante. Me chamou a atenção, na época, a interação do público mais jovem. A galera do camping, mochileiros, no máximo com 18 anos. Foi todo mundo pra frente do palco, cantando todas as músicas... Licia: E Roberto Carlos? (Risos) Gal: Nos meus shows tem ido muita gente jovem. Eles têm comprado em sebos os meus vinis. Sabem tudo da minha vida, da minha carreira. O pessoal que me segue no Twitter é tudo garotada, entendeu? Eles ouvem aqueles discos tropicalistas e depois os das décadas de 80, 90. É engraçado, um seguidor disse assim: “As cantoras são dividas antes e depois da Gal”. Isso é engraçado. (Risos) Gal: Adoro, adoro. (Risos) Como compositor, como cantor, como pessoa. Nossa! Cena 19: Licia: Teve algum desses novos que te chamou atenção? Gal: Não, não. Cena 17: Meu nome é Gal Licia: Você gravou muita coisa dele e ganhou uma homenagem maravilhosa com “Meu Nome É Gal”, né? Gal: Com certeza. Ai, eu gosto tanto de Roberto. Ele é uma figura boa, uma pessoa boa. Você conhece ele? Licia: Pessoalmente, não. Mas sou apaixonada por ele, de quatro. Gal: Ah! Eu adoro, acho um grande cantor. Aline: Quem falou muito de você, na entrevista da revista de junho, foi Dominguinhos. Licia: Eu não sabia que ele tinha trabalhado tanto com você. Gal: Fomos para o Midem e depois ele fez o Índia comigo. Gil dirigiu musicalmente e ele era um dos músicos, viajou comigo. Hoje em dia ele não viaja mais de avião. (Risos) Licia: É uma figuraça, viu Gal? Tá ótimo. Cena 18: Tuiteira Licia: Você anda bem antenada com essa coisa das redes sociais, né? Gal: Eu comecei com o Facebook, jogando Farmville e Café World. Adoro. Já estou em um nível altíssimo e depois eu resolvi experimentar o Twitter. Tem gente que nem acredita. “É mentira, uma diva ter Twitter, uma diva”! (Risos) Gente, diva também Tietagem Licia: Você gosta de dar entrevista? Gal: Eu gosto sim. Hoje eu sou mais solta, mais falante, inclusive no palco. No início da minha carreira eu não falava. Há uma interação muito maior. A gente vai mudando, né, Licia? É bom. (Risos) Licia: Oxente, bom demais. E eu estou superfeliz de estar conversando com você. A gente tá planejando fazer uma coisa muito bacana como complemento deste momento. Gal: Ô minha irmã, obrigada, viu? Licia: Dê um beijo nesse seu Gabriel e vamos ver agora se a comida desse chef aqui presta. (Risos) Ele chegou (FALANDO DE EDINHO ENGEL), quer perguntar alguma coisa? Edinho: Essa é a diva da minha vida. Licia: Ah, é? (Risos) Edinho: É, uai, como não? Desde o primeiro disco. Gal: Você falou, “essa é a diva da minha vida” e eu me lembrei de uma coisa. Uma vez eu conheci um cara, não vou falar o nome. (Risos)Ele é importante. (Risos) Ele disse: “Ô Gal, muito prazer. Já toquei muita punheta pensando em você”. (GARGALHADAS) Licia: Com toda doçura e delicadeza. (Risos) Gal: Eu tomei um susto quando ele falou isso. (Risos) Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 85 luxo Presente de Deus por Tássia Novaes A clareza da voz de Gal Costa foi comparada à de Frank Sinatra por um colunista americano no The New York Times. Não foi exagero. Ouvir a eterna musa do tropicalismo mexe com todos os sentidos, eleva a alma. Para ela, cantar é uma “missão divina”. Inspiração A diva do horário nobre por Jean Wyllys A voz de Gal ajudou a eternizar personagens icônicos da teledramaturgia brasileira. Novelas que marcaram época, como O Dono do Mundo, Meu Bem, Meu Mal e a inesquecível Vale Tudo com a cantora interpretando “Brasil”, composição de Cazuza, Nilo Romero e George Israel. comportamento Escarlate por Tássia Novaes Coco Chanel, Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Carmen Miranda, Gal Costa. Em comum? O vermelho. Nos lábios dessas mulheres, o batom em tom escarlate tornou-se característica própria de uma diva. Inteligência Legal – Gal e Oiticica, a voz e a arte da Tropicália por Flávio Novaes Na voz de Gal o movimento tomava fôlego. A Tropicália, instalação de Oiticica, inspirou o nome da revolução e confundiu a crítica. Unidos em Legal, ele fez a capa do disco para ela mostrar que a história estava só começando. Atitude Roupa, pra quê? por Tássia Novaes Andar vestido virou regra. É preciso voltar no tempo para compreender por que tirar a roupa em público se tornou ato de protesto e contravenção. Na Grécia Antiga o corpo nu era símbolo de beleza e do divino, sem incitação à sensualidade. Nas artes plásticas há quem diga que tudo depende do olhar do observador. Mas quando termina a arte e começa a pornografia? luxo Cantores famosos encaram com naturalidade o divino dom de cantar e classificam a música como uma forma de expressar sentimentos e também se conectar com Deus, exatamente como preconizou Santo Agostinho séculos atrás: quem canta, ora duas vezes por Tássia Novaes Playlicia I’ve got you under my skin, Frank Sinatra | All The Things You Are, Ella Fitzgerald | You Go To My Head, Billie Holiday 88 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 89 luxo Conexão com o divino O canto como instrumento de ascensão espiritual é uma das filosofias pregadas pelo bispo e teólogo cristão Santo Agostinho. “Quem canta, ora duas vezes.” Com base nesse princípio, o canto gregoriano tem sido utilizado há muitos séculos, em celebrações eucarísticas da Igreja Católica. “É uma forma de nos transportar para a dimensão espiritual, nos ajuda a rezar e, principalmente, a estabelecer uma ligação mais pura com Deus”, explica dom Marcos Félix da Silva, mestre de coro, do Mosteiro de São Bento, em Salvador. C erta vez, um colunista americano comparou a voz de Gal Costa à de Frank Sinatra. “Ele quis falar da sonoridade, considera meu canto claro. Mesmo que a pessoa não domine o idioma, é possível compreender o que quero dizer pela da música. É a mesma coisa quando ouvimos Sinatra”, explica a cantora. Sem dúvida, a voz de Sinatra pode ser considerada uma das mais marcantes do século 20. A ele foi atribuído o apelido The Voice (em português, A Voz), uma tentativa de traduzi-lo como único, inigualável. E assim permanece. Mais de dez anos após a sua morte, suas canções aparecem entre as mais gravadas nos Estados Unidos na voz de outros artistas, segundo a pesquisa “His Way, Our Way” (Sua Maneira, Nossa Maneira), realizada por meio do iTunes, publicada no site oficial do cantor. Não é preciso nem ser especialista no assunto para constatar quão divina é a voz de Gal Costa. Basta apurar o ouvido e se render à potência de sua expressão. “Prefiro nem cantarolar junto para não estragar. Para mim, é um momento de contemplação. Sou muito fã dela, desde o primeiro LP que comprei, o Índia, em 1973. Foi amor à primeira vista. Considero a voz de Gal a mais bonita do Brasil”, declara Ana Cláudia Matos, 47 anos, professora. Certeza semelhante arremeteu Caetano Veloso, quando ouviu Gal pela primeira vez, na década de 1960, de acordo com registro publicado na coletânea Songbook Caetano Veloso, volume 1, escrita por Almir Chediak. “(...) a Gal cantou e, quando acabou, foi um choque. Aquela voz já era essa voz, cantando lindo. Eu disse: ‘Você é a maior cantora do Brasil, já não tem dúvida, você é o máximo’”. Ela própria concorda com naturalidade e simpatia inabalável. “Gosto da minha voz. É bonita.” A história da cantora é daquelas especiais. Ela nunca estudou canto. “Sei que tenho uma voz privilegiada. Já nasci sabendo, ninguém me ensinou”, conta. Para Roberto Santana, produtor musical que acompanha a carreira de Gal Costa desde a época do espetáculo musical Nós, por Exemplo, dirigido por ele, apresentado na inauguração do teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964, a voz de Gal é insuperável. “Até hoje não apareceu ninguém como ela. Sem dúvida, é a maior cantora do Brasil”, afirma. Ex-produtor da gravadora Phillips, Santana destaca que a grande “arma” de Gal é a capacidade que ela tem de respirar enquanto canta. “Ela não faz esforço. Sua extensão 90 As composições do canto gregoriano são baseadas em trechos da Sagrada Escritura. O nome foi conferido pelo papa São Gregório Magno, no século 6 depois de Cristo. Foi ele quem organizou o canto gregoriano com base nos cantos litúrgicos que já existiam na igreja, juntamente com mantras em hebraico entoados pelos judeus. “São Gregório é responsável pela unificação, por isso o nome canto gregoriano”, explica dom Marcos. Também conhecido como canto chão, tem como característica ser composto por uma única melodia, além de ser cantado sempre em latim. “Muita gente que vem à missa, diz que se sente como se fosse transportado para outra dimensão. É esse o objetivo: intensificar o encontro com Deus”, finaliza. vocal é muito rica, ou seja, ela tem facilidade em emitir o ar, por isso consegue segurar uma mesma nota por tanto tempo. Isso é uma coisa que não se ensina, é presente de Deus”, comenta. Quando menina, Gal cantarolava em casa, debaixo do chuveiro. “Aos poucos, aprendi como dizer a palavra cantada”, conta, destacando, ainda, que é fundamental empregar sentimento a cada palavra dita em uma canção. No time das recentes revelações da música brasileira, foi também debaixo do chuveiro que Diogo Nogueira, filho do sambista João Nogueira, descobriu sua capacidade de cantar. “Mas era sempre de brincadeira, eu ainda era pequeno, sem nenhuma pretensão”, explica. A vontade inicial do rapaz era ser jogador de futebol. Diogo chegou a treinar na categoria de base de clubes no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, até que um dia a vida lhe pregou uma peça – sofreu uma contusão no joelho que o obrigou a se afastar em definitivo dos gramados profissionais. Antes de gravar o primeiro CD pela EMI, em 2007, Diogo já tinha intimidade com o ambiente musical. “Quando fiz as minhas primeiras participações, em shows do meu pai, comecei a perceber que o palco era um lugar onde eu me sentia bem”, revela. Do pai, Diogo herdou, além do estilo musical (o samba), uma bela voz, que, em muitos momentos, nos faz recordar de João Nogueira nos palcos. “Nós temos sim muitas semelhanças no timbre da voz, mas temos muitas diferenças também”, comenta. Questionado se o fato de ser filho de um sambista consagrado um dia o intimidou, Diogo responde com segurança. “Lido com muita naturalidade, considero um orgulho, um privilégio. Faço meu trabalho com muita sinceridade e honestidade. Isso me dá uma grande base para ir em frente e confiar no meu próprio taco.” Diogo também acredita que ser cantor é benefício divino. “A gente já nasce com esse dom e aos poucos vai aperfeiçoando”, diz. Para cuidar da voz, ele faz uso de um recurso bastante simples. “Dormir bem é a melhor maneira, basta uma noite de sono bem dormida para a voz ficar numa boa”, revela. No CD Tô Fazendo a Minha Parte, lançado em 2009, segundo de sua carreira, ele parece sintetizar bem o momento atual na faixa “Presente de Deus”: “Eu canto sim porque / Assim vou vivendo e aprendendo / Se a vida quiser me ensinar / O que posso fazer / Se a missão que Deus me deu é cantar”. A letra é de sua autoria. Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 91 inspiração GABRIELA CRAVO E CANELA - 1975 - Sonia Braga “Quem matou Odete Roitman?” Mesmo quem ainda não havia nascido quando Vale Tudo, de Gilberto Braga, foi exibida (1988/1989), conhece a história ou pode já ter ouvido essa pergunta, quase um jargão hoje em dia. Para lembrar das cenas protagonizadas pela vilã Beatriz Segall, “Brasil” – música interpretada por Gal Costa – ativa a memória. Funciona assim também com Meu Bem, Meu Mal, O Dono do Mundo, Tieta e tantas outras por Jean Wyllys | fotos Agência O Globo Playlicia Fugiu com a novela, Vanessa da Mata | Luz de Tieta, Caetano Veloso e Gal Costa | Meu bem, meu mal, Gal Costa | Brasil, Gal Costa 92 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 93 inspiração A importância de Gal Costa para a cultura brasileira é incontestável, assim como o é o fato de que ela é a mais afinada e personalíssima cantora brasileira ainda em atividade, mesmo entre quem não entende de teoria musical. Gal é aquele tipo de artista que não precisa mais – nem nunca precisou – corresponder às exigências de mercado para figurar no imaginário popular. E ela está em nossa memória não porque seja um rosto vulgarizado em comerciais de tevê e/ou em revistas de celebridades, mas, sobretudo, por causa de sua bela voz e de seu repertório bem selecionado. Certamente foram muito mais estes – a voz, a interpretação e o repertório – que as estratégias de marketing das gravadoras que a levaram a ser quase uma recordistas de participação em trilhas de telenovelas. E estas, por sua vez, ajudaram a levar a arte de Gal Costa a quem está excluído dos espaços de consumo das artes – a massa – e possibilitaram à cantora baiana,inscrever-se na memória coletiva dos brasileiros e, daí, jamais desaparecer, pois, como diz a letra de uma canção que ela gravou e foi parar na trilha da novela Escrito nas Estrelas, só mesmo o tempo prova a eternidade das canções e de seus intérpretes. Muitos artistas da música entraram em trilhas de novelas, mas só os verdadeiramente talentosos e com algo a contribuir para a MPB ficaram no imaginário popular e conseguiram fazer de suas canções a trilha de episódios cotidianos e de lembranças de milhões de pessoas. No meu caso em particular, as músicas do repertório de Gal que foram parar em novelas embalam algumas de minhas melhores e saudosas recordações. Mas, antes de falar dessas canções, eu afirmo que não posso me lembrar de Salvador sem que a voz de Gal cantando “Na Baixa do Sapateiro” invada minhas lembranças. Isso porque, quando eu era menino lá em Alagoinhas e sequer televisão havia em minha casa, eu via, nas televisões dos vizinhos, a abertura da programação da tevê Itapoan em que essa canção de Ary Barroso, interpretada por Gal, embalava um videoclipe de imagens da Salvador turística: Centro Histórico, Elevador Lacerda, Mercado Modelo, Farol da Barra e Igreja do Bonfim. Oh, Bahia e Gal que não me saem do pensamento! Bom, mas vamos à novelas em cujas trilhas a cantora baiana se fez presente; ou, ao contrário, vamos às canções interpretadas por Gal que foram parar em trilhas de novelas e que, por sua atemporalidade, nos fazem lembrar delas (das telenovelas). Tenho certeza que, para a geração anterior à minha, “Modinha para a Gabriela” é o exemplo maior dessa relação. Talvez porque tudo ali – o fato de a canção ser de Dorival Caymmi e inspirada num romance popular de Jorge Amado bem como o fato de a novela ser uma adaptação desse romance e trazer, como protagonista, a atriz Sonia Braga, tão brejeira quanto a própria Gal Costa – tudo ali materializava e propagava aquilo que chamamos de baianidade. Mas, para a minha geração, é impossível ouvir a voz cristalina de Gal entoar “Se tem luar no céu, retira o véu e faz chover sobre o nosso amor” e não se lembrar de Um Sonho a Mais, novela de Lauro Cesar Muniz e Daniel Más, livre adaptação do clássico Volpone, de Ben Jonson, e que trazia os hilários Ney Latorraca e Marco Nanini nos papéis de Volpone e Mosca, respectivamente. Se não me falha a memória, a música “Chuva de Prata” era o tema da personagem Valéria, vivida pela bela Maitê Proença. E como não se lembrar de Vale Tudo quando se ouve a interpretação rocker de Gal para “Brasil”, música de Cazuza, Nilo Romero e George Israel? Impossível! Na inesquecível novela de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva, a música tocava na abertura, que trazia, entre imagens de um Brasil em crise ética e política, retratos dos quatro protagonistas: Regina Duarte, Antonio Fagundes, Glória Pires e Carlos Alberto Riccelli. Aliás, o autor Gilberto Braga parece gostar bastante da arte de Gal, pois, que eu me lembre, a cantora está nas trilhas de outras cinco novelas suas – Corpo a Corpo, Brilhante, Louco Amor, O Dono do Mundo e, mais recentemente, Celebridade – com as respectivas canções “Nada Mais”, “Meu Bem, Meu Mal”, “Dom de Iludir”, “Solidão” e “Nossos Momentos”. Esta última uma canção sobre o amor e o tempo, temas recorrente no repertório da hoje diva baiana e elementos que constituem a sua relação com seus ouvintes e admiradores, sejam aqueles que acompanham sua carreira desde Domingo, seu disco de estreia ao lado de Caetano Veloso, sejam os que a conheceram como a voz do horário nobre da tevê: quem ouve Gal ama e a leva consigo pelo tempo que lhe cabe nesta vida. O tempo e o amor dão prova todo dia da eternidade de Gal e de suas canções. VALE TUDO - 1988 - BEATRIZ SEGAL - foto IRINEU BARRETO 94 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 95 inspiração 1- DEUS NOS ACUDA - 1992 - EDSON CELULARI E CLAUDIA RAIA - foto Fernando Quevedo 2- BRILHANTE - 1982 - TARCíSIO MEIRA E RENÉE DE VIELMOND - foto Adir Mera 3- Final Feliz - 1983 - JOSÉ WILKER E NaTáLIA DO VALLE - foto Adir Mera 4- CORPO A CORPO - 1985 - SELTON MELO, ANTONIO FAGUNDES E DEBORA DUARTE - foto Adir Mera 5- TRANSAS E CARETAS - 1984 - Renata Fronzi, Ítalo Rossi e Natália do Valle - foto Cezar Loureiro 1 96 2 3 4 5 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 97 comportamento COMPORTAMENTO talracs scarlat De validade atemporal, o batom vermelho é muito mais que um componente de sedução da identidade feminina. É prova de autenticidade e coragem. Conheça as mulheres que não temem em usá-lo 98 por Tássia Novaes | fotos Felipe Morozini Playlicia Oh, pretty woman, Roy Orbison | Lady Marmalade, Christina Aguilera, Lil’ Kim, Mya, Pink | Put The Blame On Mame, Rita Hayworth | Todo beijo, Gal Costa Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 99 COMPORTAMENTO 100 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 101 COMPORTAMENTO V ermelha é a cor do batom usado por Emmanuelle, personagem interpretada por Mélanie Laurent, em Bastardos Inglórios, filme de Quentin Tarantino, minutos antes de pôr em prática o plano que mudaria os livros de história em todo o mundo, caso não tivéssemos falando de uma ficção: atear fogo em um cinema repleto de nazistas (mais de 300), incluindo o maior deles, o führer Adolf Hitler e seus principais generais. A noite é de gala. Emmanuelle veste um longo vermelho, de corte impecável, como solicita a etiqueta para a ocasião. Ela é a proprietária do cinema. Ironicamente, naquela noite, a vida lhe ofertou a missão de recepcionar com cordialidade o alto escalão que comandava o Holocausto – o delírio com requintes de carnificina que mudou sua vida e de tantos outros milhares de judeus e outras minorias durante a Segunda Guerra Mundial. Em outras palavras: Emmanuelle se arruma para receber em casa seu maior inimigo. Ela pinta os lábios com a discrição que a condição de refugiada lhe impôs. No último retoque, estamos diante de sua melhor versão fatal. Nada seria como antes. Mais do que vingança, o plano é uma tentativa de compensação, ainda que pequena diante da dimensão da perda. O incêndio criminoso (sem dúvida, aprovado por muitos que assistiram ao filme) pode ser traduzido como uma espécie de acerto de contas. Emmanuelle, na verdade, é Shoshanna, única sobrevivente de um fuzilamento desleal, que exterminou sua família durante a famigerada caça aos judeus, no ano de 1942. Desde então, Shoshanna é Emmanuelle, a jovem proprietária de um cinema na França, capaz de sintetizar luxo, sedução, força e, por que não, perigo em um único elemento: o batom vermelho. No filme, prenúncio de uma noite fatídica. Ainda em viagem pelos clássicos da sétima arte, são muitas as celebridades que marcaram época, desde a década de 1920 com os lábios graciosamente pintados de vermelho. Considerada a atriz de Hollywood mais querida em todo o mundo, Marilyn Monroe estrelou 102 diversos filmes – Os Homens Preferem as Loiras (1953), Torrentes de Paixão (1953), O Pecado Mora ao Lado (1955), Quanto Mais Quente Melhor (1959) entre outros –, sempre com os lábios pintados de vermelho, tornando-a ainda mais sedutora, desejável, irresistível. Em uma de suas últimas aparições em público, Marilyn sobe ao palco do auditório do Partido Democrático, em Nova York, para cantar “Happy Birthday, Mr. President” (Feliz Aniversário, Senhor Presidente) no dia da festa de 45 anos de John F. Kennedy. O figurino: um vestido colado ao corpo, em tom bege rosado, parecido com sua pele, confeccionado com cerca de seis mil pedras de cristal Swarovski pelo estilista francês Jean Louis. Nos lábios, vermelho em tom flamejante deixando ainda mais provocante o sinal próximo à boca. É indiscutível. Ela era muito sexy e assim permanecerá. Mais de três décadas depois de sua morte, a maior diva do cinema americano continua eleita a mulher mais sensual do mundo, dessa vez pela revista People, em pesquisa publicada em 1999. Um pouco antes de Marilyn, outra bela loira arrancava suspiro no cinema americano: Rita Hayworth, de elegância atemporal, musa do clássico Gilda, drama noir de Charles Vidor. Gravado em 1946, em preto e branco. Ainda assim é possível captar a força dos lábios de Gilda, amplamente desejados pelo público masculino e também o feminino, que começava a encontrar na maquiagem vibrante uma forma de expressão. A partir de 1947, com o fim da Segunda Guerra Mundial, começa a sair de cena o vestuário retilíneo inspirado nos modelos bélicos. Aos poucos, as roupas “uniformizadas” sedem ao luxo, à feminilidade. “Toda mulher parece mais bonita, a maquiagem é marcada pelo tom sangue nos batons e nos esmaltes”, conta o psicanalista Airton Embacher, no livro Moda e Identidade – A Busca pelo Estilo Próprio. Sobre a origem, Marcos Costa, maquiador da Natura, explica que “o primeiro batom vermelho era conhecido como ferrão de abelha. Foi utilizado ainda na década de 1920”. Na época, as moças faziam o contorno da boca em formato de coração. Para Costa, é uma maquiagem atemporal. “É a minha cor predileta. Não há restrições para usá-la, vai muito da personalidade da mulher. Basta ter bom senso, às vezes só precisa preparar a pele e o vermelho já define tudo”, sugere. E, como falar dos lábios vermelhos das divas do cinema sem reverenciar Carmen Miranda? Seria um pecado. Com personalidade pra lá de inovadora, Carmen Miranda (única mulher luso-brasileira a ter os pés na calçada da fama em Hollywood), exibiu influências tropicais, sem se intimidar com os padrões da alta-costura da época – Dior e Chanel. Estilo único: ela própria confeccionava os chapéus. Sandálias altíssimas conferiam elegância ao figurino divertido e sensual, sempre evidenciado, claro, pelo batom vermelho. Marcante também os lábios vermelhos da apaixonante Satine, personagem interpretada por Nicole Kidman, no musical Moulin Rouge – Amor em Vermelho. Ou ainda o vermelho sangue posto nos lábios da despreparada Andrea (Anne Hathaway), secretária que passa a ser a preferida de Miranda Priestly (Meryl Streep), após muito penar na mão da poderosa editora de moda, em O Diabo Veste Prada. E o bocão vermelho de Vivian Ward, personagem de Julia Roberts, em Uma Linda Mulher (1990), a comédia romântica de maior sucesso nos anos 90. São muitas as referências no cinema em épocas variadas. Mudam as roupas, as cores, os cortes de cabelo, mas o batom vermelho permanece como símbolo de sedução. No livro História da Beleza, o historiador francês Georges Vigarello explica que o cinema é uma ferramenta que “renovou o mundo imaginário e também os modelos de aparência, inspirando-se nas tendências de seu tempo”. E mais: “A beleza existe como primeiro fator de atração”. Resistem ao tempo também as gueixas, representação maior de sedução no Japão de cultura milenar. Delicados lábios de boneca são traçados com perfeição em tom vermelho intenso sobre a maquiagem branca. Já no cenário artístico brasileiro, ninguém como Gal Costa, a personagem desta edição, espalhou tanto encanto ao estam- par o bocão pintado de vermelho desde o início de sua carreira, na década de 1960. Em 1979, Gal gravou o clipe “Estrada do Sol”, composição de Dolores Duran e Tom Jobim, para o Fantástico, programa da Rede Globo, toda de vermelho: vestido, batom e duas rosas presas próximo à orelha direita, enfeitando o cabelo. Quem também costuma aparecer com os lábios pintados assim, em apresentações e capas de CD, é a cantora Marisa Monte. FATURAMENTO Por trás do vermelho e demais cores, cifras elevadas revelam nitidamente a paixão que as mulheres têm por batom em todo o mundo. No Brasil, é considerado item número 1. “Representam mais de 60% da venda de maquiagem no país”, conta Costa. Em 2009, foram fabricadas 88,5 milhões de unidades de batom, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). Acréscimo de 8% em relação ao ano anterior, gerando faturamento de mais R$ 366 milhões. “É prático, basta colocar na bolsa e o valor é acessível. Até quem não usa maquiagem passa um batonzinho de vez em quando”, ressalta. É nesse momento que o batom deixa de ser exclusivamente um assunto de mulher. Da praticidade às cifras gordas no setor econômico, Leonard Lauder, presidente da fábrica de cosméticos Estée Lauder, se inspirou no consumo entre as mulheres para criar o Lipstick Index, em português, o Índice Batom. Consiste em: mesmo quando a situação fica complicada economicamente, as mulheres compram batom. Lauder percebeu que, logo após os atentados de 11 de setembro (em 2001), em plena recessão, a venda de batons de sua empresa apresentou crescimento em relação aos anos anteriores. A justificativa se dá pelo fato de ser um produto relativamente barato, capaz de proporcionar felicidade e satisfação sem abalar o orçamento da casa. Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 103 COMPORTAMENTO Gal Costa e suas capas com bocas vermelhas 104 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 105 INTELIGÊNCIA Tropicália na uerj Tropicália PN2 e PN3, 1967 Uerj, 1990 Foto Andreas Valentin Gal e Oiticica voz e arte da Tropicália por Flávio Novaes | fotos cortesia Projeto Hélio Oiticica Playlicia Tropicália, Caetano Veloso | Presente cotidiano, Luiz Melodia 106 Gal Costa e Hélio Oiticica trabalharam juntos em Legal. O artista assinou a capa do disco e o show que apresentava “London, London”, de Caetano e Gil, na ocasião, exilados na Inglaterra pelo regime militar. Com os dois amigos longe, ela se tornou porta-voz da tropicália. Não poderia ter feito parceria melhor. Ainda havia muito por dizer Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 107 INTELIGÊNCIA Miro com Parangolé P4 Capa1, 1964 Foto Désdemone Bardin Nildo da Mangueira com Parangolé P15 Capa 11, 1967 Foto Claudio Oiticica 108 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 109 INTELIGÊNCIA Capa do LP LEGAL, 1970 criação de Hélio Oiticica A Tropicália está salva, é sempre bom lembrar. Não sucumbiu ao fogo inclemente que tomou conta do acervo de Hélio Oiticica, em outubro do ano passado. O incêndio consumiu cerca de duas mil obras que repousavam na casa da família do multiartista, no Jardim Botânico, bairro nobre do Rio de Janeiro. Um acervo, reunido após a morte do artista, em 1980, estimado em aproximadamente US$ 200 milhões. A instalação sobrevivente segue bem protegida no museu Tate Modern, em Londres, onde integra a coleção permanente da galeria. A aquisição em definitivo, há três anos, deu nova casa à obra responsável por batizar o grande movimento do fim dos anos 60, início dos 70. Revolução na música, cinema, design, moda e artes em geral. A mistura tinha de ser completa, exaltar e anunciar um novo Brasil. Viaje na descrição da peça, por Nelson Motta, em Noites Tropicais: “(...) um barraco-labirinto a ser percorrido pelo espectador descalço pisando em terra, areia, água, pedras e plástico, enquanto passava por diversos ambientes estéticos, miseráveis e exuberantes, primitivos e modernos, carnavalescos e rigorosos, até a visão final de uma televisão acesa”. Sucesso. O projeto artístico nascia enquanto Pelé era perseguido pela zaga portuguesa e o Brasil eliminado da Copa da Inglaterra, em 1966. Em abril do ano seguinte, a obra estava exposta no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio. Uma experimentação, uma invenção que deixaria marcas na história contemporânea da arte. “Tropicália é a primeiríssima tentativa consciente objetiva de impor uma imagem obviamente ‘brasileira’ ao contexto atual da vanguarda e das manifestações em geral da arte nacional”, escreveu Hélio, em março de 1968. Dava-se, portanto, continuidade à linha genial dos Oiticica. O pai, José Oiticica Filho, se destacou na fotografia. O avô, José Oiticica, foi filólogo, professor, escritor e jornalista. Discípulo do artista plástico Ivan Serpa, o representante da terceira geração sempre foi arisco, inquieto. Aos 17 anos, estaria à frente das manifestações, a exemplo do grupo Frente, criado em parceria com o mestre e com os colegas Lygia Clark e Franz Weissmann. Es110 tamos em 1954 e o movimento atua até 1956. Reinventar era preciso. Em seguida, integra o Grupo Neoconcreto, radicado no Rio de Janeiro, e inicia trabalhos com pinturas a óleo sobre tela e compensado. As obras monocromáticas, com pinturas triangulares em vermelho e branco, rodam pelo Brasil e chegam a Salvador. Chegam também os anos 60 e o desejo de criar o novo continua. Oiticica abandona a superfície plana dos quadros e cria os bólides, espécie de caixas-construções feitas de materiais diversos. Mas é em 1964 que a tendência se consolida com o surgimento dos Parangolés: capas, tendas e estandartes que ganham sentido artístico quando vestidos. O que o próprio autor definia como “antiarte por excelência”. É o resultado de uma maior aproximação da cultura popular, quando passa a frequentar os ensaios da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Vira passista e tudo mais. Transforma-se de vez em um apaixonado do morro, agora um autêntico verde-e-rosa. Lança a novidade na exposição Opinião 65, no MAM do Rio, onde acontece a primeira manifestação com as capas e tenda e muita música: o que era para ser contemplação vira carnaval com a participação de samba e passistas e ritmistas da escola do coração. É expulso do museu. O caminho estava trilhado e logo logo os destinos de Gal Costa e Hélio Oiticica iriam se cruzar. Ainda em 1964, Gal estreia para o mundo no Teatro Vila Velha ao lado de Caetano, Gil, Bethânia e Tom Zé. No ano seguinte, Oiticica, por sua vez, já sob o impacto causado pelos Parangolés, dá início à carreira internacional e realiza, em Londres, uma exposição ao lado de grandes artistas da época. O amadurecimento traz à tona a instalação que vai batizar outra grande invenção, dessa vez na música. Oiticica dá sua contribuição eterna para que o país se volte para ele mesmo, e que, pelo menos, tente dar as costas ao eurocentrismo. “(...) na verdade quis eu com a Tropicália criar o mito da miscigenação – somos negros, índios, brancos, tudo ao mesmo tempo – nossa cultura nada tem a ver com a europeia, apesar de estar até hoje a ela submetida: só o negro e o ín- Show de Gal Costa na Boite Sucata, 1970 Foto Claudio Oiticica Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 111 INTELIGÊNCIA Bandeira Seja Marginal Seja Herói, 1968 Foto César Oiticica Filho 112 dio não capitularam a ela. Quem não tiver consciência disso que caia fora”, deixou registrado no texto de 1968. Vem a música. “Sobre a cabeça os aviões / Sob os meus pés os caminhões / Aponta contra os chapadões / Meu nariz / Eu organizo o movimento / Eu oriento o carnaval / Eu inauguro o monumento / No planalto central do país / Viva a bossa sa, sa / Viva a palhoça ça, ça, ça, ça”. Nelson Motta, também no livro Noites Tropicais, registra a criação. “Na emblemática ‘Tropicália’, Caetano sintetiza intuitivamente o movimento, orienta o carnaval, encontra ‘A Banda’ com Carmen Miranda no Planalto Central, enquanto os urubus passeiam entre os girassóis. A música foi batizada como ‘Tropicália’ por sugestão de Luiz Carlos Barreto e pela amizade e admiração que uniam Caetano e Hélio Oiticica, criador da instalação Tropicália, que provocou furor no Museu de Arte Moderna”. Motta, aliás, é uma referência. Jornalista, compositor e produtor musical, viveu intensamente aqueles dias. E foi amigo de Oiticica. Lembra bem do que o artista dizia sobre os trabalhos: “O que eu faço é música”. Até que, finalmente, a música se encontra com a voz. E o que aconteceu foi bem Legal, nome do disco de Gal Costa cuja capa teve a assinatura do artista maldito. A embalagem complementava a riqueza do conteúdo. O trabalho é fruto da viagem que Gal Costa faz a Londres para visitar os irmãozinhos Caetano e Gil, exilados pelo regime militar. De lá traz presentes, a exemplo de “London, London”. A fase é considerada por especialistas de música como póstropicalista. Desfalcado de dois dos seus maiores representantes, o movimento organizado perde força. Mas é resistente. José Carlos Capinam e Jards Macalé estão próximos. Oiticia também. Além da concepção da capa, assina os cenários dos shows de Gal Costa. Mais de uma década depois, um filme passa na cabeça de Nelson Motta durante o show Bahia de Todos os Sambas, no Circo Massimo, em Roma. É agosto de 1983 e Gal se prepara para deixar o palco. Hora de relembrar as perdas de Oiticica, Glauber Rocha e Elis Regina. Assim ficou registrado em Noites Tropicais: “Choro de novo, pensando em Glauber e Hélio Oiticica, amigos queridos e mortos (os dois aos 42 anos), mestre e inventores de arte e linguagem, reverenciados por estrangeiros e massacrados em sua própria terra, banidos e perseguidos pela insensibilidade e violência da ignorância nacional. Como Gal e Elis na música, Glauber e Hélio desfrutam o respeito e admiração de qualquer crítico informado de cinema e artes plásticas. Na consagração de Gal, choro a perda, em pouco mais de um ano, de Elis, Glauber e Hélio”. Mas, assim como a Tropicália, Oiticica vive. Influencia artistas de todo o mundo, que ainda vêm beber da fonte da sabedoria do brasileiro. Um deles é o cantor e compositor americano Devendra Banhart, apaixonado pela diversidade do país. Em visita ao Rio de Janeiro, há quatro anos, resumiu o movimento tropicalista: “É um mundo completo, pleno como história. Hélio Oiticica sempre dizia que o tropicalismo é algo que começou nos anos 60 no Brasil, mas as ondas estão se ampliando para o resto do mundo. Está apenas começando. Está sempre começando”. Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 113 atitude O dia em que a Vênus Adormecida abriu os olhos e encarou o espectador é um marco na coibição da nudez na história da humanidade. Nascia ali, na atmosfera renascentista, a conotação de sensualidade por meio do corpo despido por Tássia Novaes | fotos Felipe Morozini Playlicia Vou ficar nu pra chamar sua atenção, Erasmo Carlos e Roberto Carlos | Nua Ideia, Gal Costa | Voyeur, Gal Costa 114 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 115 atitude Q uem nunca se impressionou ou, ao menos, achou engraçadas as fotos do inglês Spencer Tunick, nos quais aparecem centenas – e, às vezes, até milhares – de pessoas nuas em fotografias tiradas em locais públicos. Das Américas à Austrália, Tunick já percorreu diversos países, inclusive, o Brasil, onde reuniu 1.100 pessoas peladas no Parque do Ibirapuera (São Paulo), em 2002. No último trabalho, foram cinco mil pessoas em pé nos degraus da Opera House, um dos cartõespostais mais famosos de Sydney, na Austrália, em posição de costas para a rua. Isto é, com a bunda completamente de fora. No site oficial (www.spencertunick.com), o fotógrafo define seu trabalho como “um desafio, uma tentativa de reconfigurar pontos de vista sobre nudez e privacidade”. Como forma de expressão artística e até mesmo registro de uma época, Tunick segue uma tendência que remonta tempos distantes. Foi na Grécia Antiga que surgiram as primeiras representações humanas despidas. O sexo era construído de forma análoga ao real. Arte e religião caminhavam lado a lado. A mitologia foi um referencial capaz de impulsionar obras que continuam imponentes em pleno século 21, como a Afrodite de Cnido, um dos primeiros registros de uma deusa sem roupa. A cena – imortalizada em mármore no século 4 a.C. pelo escultor Praxíteles – seria um flagrante minutos antes de Afrodite entrar no banho. Já despida, ela segura a roupa com a mão esquerda. Ali, o sexo aparece de forma natural. Para Geraldo Dias, professor de arte contemporânea da Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (ECA-USP), a partir do século 5 a.C., os gregos marcaram o início do entendimento de uma cultura de prazer, tendo o corpo como um elemento central nas representações artísticas e nas práticas esportivas. “Talvez seja aí o início do culto ao corpo jovem, atlético, que passa a ser visto como ideal. Algumas cerâmicas vão exibir esses corpos em atividades sexuais, às vezes até homossexuais”, conta. Dias lembra ainda que, entre os egípcios (cerca de três mil anos antes de Cristo), o faraó e os escravos aparecem representados sempre de peito nu. 116 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 117 atitude “Mas as vestimentas abaixo da cintura têm a função de distinguir um do outro, enquanto classe social e não propriamente cobrir o sexo.” A nudez também era algo natural. No Brasil, pinturas rupestres encontradas na Serra da Capivara, no Piauí, revelam cenas de coito juntamente com cenas de caçadas. Para Dias, é possível avaliar esse registro histórico – cuja origem aponta cerca de 12 mil anos – como algo feito por um cronista da vida cotidiana alheio a qualquer tipo de censura moral sobre questões ligadas à sobrevivência (caça) e à perpetuação da espécie (sexo). “A partir do momento que o homem se veste para se proteger do frio, a noção de nudez como incitação à sensualidade começa a surgir lentamente. Consequentemente, a coibição vem à tona”, avalia. Foi assim no Renascimento. O período simboliza “nascer de novo” com base na cultura clássica (greco-romana). A mentalidade do homem culto europeu – ainda que representasse uma minoria – começava a se afastar dos padrões gregos envolvidos na mitologia. Surge, então, uma nova era com base na moral cristã e nos princípios da Igreja Católica. Nesse cenário, é possível encontrar na pintura significados antagônicos para um mesmo elemento. É o caso da Vênus Adormecida (1510), de Giorgine, e a Vênus de Urbino (1538), de Tiziano Vecellio. Ao contrário da primeira, a Vênus de Urbino está com os olhos abertos encarando ostensivamente o espectador. “É interessante compará-las. As poses são semelhantes, mas o fato de a Vênus de Urbino estar acordada indica uma conotação erótica, de sedução”, explica Dias. Ambas ocultam o sexo com a mão esquerda, diferente da exposição crua que ocorria na Grécia Antiga. Daí para frente, os corpos começam a aparecer cobertos com mais frequência até chegarmos à nudez como sinônimo de tabu, exatamente como compreendemos na atualidade. Rodrigo Nejm, psicólogo da ONG Safernet, que atua na área de combate a crimes na internet, ressalta que, ao longo dos séculos, foi incorporada a necessidade de se ter controle sobre o próprio corpo. “É uma herança cristã. O corpo é algo não puro que precisa ser escondido”, analisa. Para quem um dia se perguntou o por que das coisas, aí a base da nossa moral e conduta. É no mínimo constrangedor se, de repente, alguém tirar a roupa em plena praça de alimentação de um shopping center. E mais: pode ser enquadrado como crime de atentado violento ao pudor, de acordo com o Código Penal Brasileiro. “E faz sentido. Ninguém é obrigado a ver o que não gostaria de ver”, considera. Mesmo quando explícita nas artes plásticas, no cinema ou no teatro, a nudez tende a ser encarada como um momento de desconforto. Pelo menos para quem assiste. Desnecessário generalizar, é verdade, mas o coletivo há de convir que são muitos os olhos envergonhados diante de um corpo despido. Em muitos casos, a reação é de repulsa e censura. No filme nacional Baixio das Bestas, de Cláudio Assis, a atriz pernambucana Wanderlucy Bezerra interpreta uma prostituta que depila a vagina em posição frontal diante das câmeras. Para ela, encarar o desafio foi uma forma de selar uma fase de amadurecimento na carreira. “Quando comecei com teatro, nunca pensei que faria uma cena assim, mas, com o passar do tempo, a gente se envolve de forma definitiva com a profissão”, comenta. Para ela, a postura profissional do diretor e demais colegas de equipe é fundamental nesse momento. “Tenho orgulho de ter sido dirigida por Cláudio, ele direcionou uma luz maravilhosa. Não senti dificuldade, porque não foi uma cena apelativa. Havia um contexto maior, o problema é quando a nudez é gratuita, feita apenas por exibicionismo”, considera. De fato, é tênue a linha que separa nudez artística da pornografia. Segundo Nejm, a pornografia é mais explícita quando o erotismo é utilizado com o intuito de incitar uma relação sexual. “O nu artístico nem sempre tem esse objetivo”, argumenta. O professor Dias vai um pouco mais além. Para ele, o limite está no olhar do observador e não necessariamente no gesto de quem cria. “Não há barreiras que cerceiem o trabalho do artista. A arte sempre explora zonas limítrofes. Mas, se o artista não for bom, será apenas pornografia”, explica. Para ele, é justamente o impasse associado à obra do fotógrafo Robert Mapplethorpe com modelos nus sempre em posição frontal, com 118 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 119 atitude apelo sexual explícito. “Está situada exatamente nessa zona de intersecção. O apreciador artístico e o voyeur obsessivo vão ver o trabalho com o maior interesse. O resto quem faz é o contexto. Pode ser pornografia ou arte”, acredita. Sobre a onda de impactos negativos, é importante ressaltar que pornografia envolvendo crianças é crime, segundo o artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), não apenas para quem produz e assiste as cenas, como também para quem armazena e distribui na internet. Nejm alerta ainda que é preciso afinar a noção de privacidade versus espaço público. “Ao mesmo tempo que existe uma censura muito forte, vivemos uma fase de banalização do corpo com muita exposição, principalmente juvenil na internet.” 120 Nas aulas de pintura contemporânea que leciona na USP, professor Dias se preocupa em passar aos alunos uma discussão a partir dos trabalhos elaborados no ateliê. “O nu é uma linguagem que atravessa os séculos e sobrevive em meio às novas formas de geração de imagens.” Nas atividades de observação de um corpo tridimensional, as nuances desenhadas pela incidência diferenciada da luz sobre estes corpos são próximas, se pensarmos em objetos como frutas sobre a mesa. E revela: “É óbvio que haverá troca de olhares entre o pintor e a modelo e, nesse processo, uma boa parte de sua natureza anímica pode-se evidenciar”. Para Dias, à nudez convém primordialmente uma aura subjetiva. “Não existe um modelo físico a ser perseguido, mas sim uma situação de luz.” Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 121 atitude 122 Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 123 É primavera nos trópicos. O agradável clima da estação mais bonita do ano cria uma atmosfera de festa na natureza e faz aumentar o estímulo de se celebrar a vida. Época propícia para se encher o coração de alegria e festejar os bons momentos. Aliás, bons momentos não faltaram para se comemorar em diferentes lugares do país e até mesmo fora dele. Nossos repórteres e fotógrafos foram testemunhas, por exemplo, da ascensão, rumo à internacionalização de sua carreira, de Ivete Sangalo. A cantora brilhou em Nova York e a gente registrou tudo. Marcamos presença também no elegante jantar em que Nizan Guanaes e Donata Meirelles deram as boas-vindas ao publicitário Bazinho Ferraz ao grupo ABC. Em Salvador, pompa e circunstância também deram a tônica no aniversário de 15 anos de Isabella Brandalize. Os motores roncaram e os pilotos pisaram fundo nas etapas baianas do Rally Mitsubishi e no GP Stock Car. Em Salvador os atabaques bateram para festejar os 100 anos do Ilê Axé Opô Afonjá e para celebrar, no Gantois, o lançamento do livro Seleta de Acervo - Memorial Mãe Menininha. Baladas na Bahia, baladas em Sampa, a ferveção rolou solta. Em Salvador a Ministery of Sound e Café Del Mar bombaram. Em São Paulo marcamos presença nas melhores baladas de casas como Kiss and Fly, Pink Elephant, Disco e Kitsh Club. Mas, se o assunto for gastronomia, nossas lentes registraram a badalada feijoada de João Doria Jr. em Campos do Jordão, com o tempero do chef Ozi. Acompanhamos também as edições do Iguatemi Gourmet, que entrou para o calendário dos eventos do gênero em Salvador. No campo das artes a movimentação foi intensa. Exposições de artes visuais, shows, estreias no teatro, no cinema, a gente não perdeu nada. Vimos o sucesso do Bahia Moda Design e o lançamento do Movimento de Moda Iguatemi, evento que ainda vai render bons frutos. Enquanto o verão não apresenta suas armas vamos aproveitar a estação das flores para plantar sementes de alegria e deixar brotar o que temos de melhor em nossos corações. Viver intensamente, aproveitar cada minuto dessa vida que é uma festa! Bem-vindos ao D’lirio Jorge Thadeu Playlicia Sinais de Fogo, Preta Gil | Alejandro, Lady Gaga | Skinny Genes, Elisa Doolitlle | Strawberry Swing, Coldplay | Island of the Sun, Weezer | Flutuar, Chiclete com Banana 13.07, 27.07 e 24 .08 16.07 Fotos: Uran Rodrigues Fotos: Uran Rodrigues Parabéns Iguatemi Gourmet O jornalista Giácomo Mancini, o advogado Valton Pessoa e a colunista Lena Lebram comandaram as primeiras noites do Iguatemi Gourmet, evento que já se firma como um dos mais descolados de gastronomia em Salvador. Promovido pelo Shopping Iguatemi, com montagem da Licia Fabio Produções, o acontecimento proporcionou noites de conversas animadas e degustações deliciosas. Alexandre Luercio Andre Silveira Ewerton Visco Bia Lebram Claudia Galvão A produtora Ana Paula Pinto levou muita gente descolada para a comemoração do seu aniversário no Clube Ego, em Salvador. Gente bonita e animada na mesma vibe da homenageada. Nino Pinto Ana Paula e Camila Simon Renata Berbet Sheila Auster Lena Lebram Fernanda Freire Giácomo Mancini tô azuado Guto Correia Ive Lima Thais Olivieri Vanessa Sarti 17.07 Celebration Fotos: Uran Rodrigues 126 O aniversário da colunista e embaixadora da Vivara Mônica Gallas foi um verdadeiro acontecimento em casa de amigos, na Praia do Forte. Com direito a música ao vivo, a festa se estendeu por todo o dia em um domingo iluminado. Helio Tourinho Izabel Portela Roberta Pessoa Robson Costa Manno Goés Marcelo Rangel Roseli Souza Rabello Valton Pessoa Margareth Menezes Melina Silveira Mônica Gallas Patricia Chaves Angelica Munford Mirela Gaban André Guanaes Arthur Gallas Paola Marques Fabiola Mansur Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 127 22.07 Ora iê iê ô 30.07 Atabaques Fotos: Uran Rodrigues As portas do terreiro do Gantois, em Salvador, se abriram para o lançamento do livro Seleta de Acervo - Memorial Mãe Menininha do Gantois. Um projeto da ialorixá Carmem de Oxalá com o apoio do antropólogo Raul Lody, que, além de amigo da casa, é profundo conhecedor das relações África-Brasil. Gal Costa, uma das mais ilustres filhas de santo do terreiro, emocionou a todos ao cantar uma saudação em iorubá. Miriam fraga Gal Costa Gerônimo Bruno Ferreira Mãe Carmem Mãe Stella de Oxóssi Jackson Costa Ebomi Nice de Oyá Olívia Santana Edvaldo Brito Francisco Senna Gilberto Sá Angela Ferreira Marcio Meirelles Kat Steih Lídice da Mata Fátima Mendonça Fotos: Uran Rodrigues Fabio Lima Um dos mais antigos terreiros de candomblé da Bahia completou 100 anos e ganhou festa em Salvador. O Ilê Axé Opô Afonjá, comandado pela ialorixá Mãe Stella de Oxóssi, recebeu as homenagens em seu barracão principal no bairro de São Gonçalo. A festa foi animada pela cantora Margareth Menezes e pelos Filhos de Gandhy. 31.07 Velocidade e perícia Fotos: Uran Rodrigues 23.07 Leila Ferreira Leandro Ferreira Tercia Borges Nino Nogueira Burt Sun Eliane Zanchet Daniela Steele Glauber Duarte Marcelo Sá Sidney Quintela Ana Valeria Paulo Borges e o filho Henrique Borges Pilotos e navegadores nordestinos participaram da 5ª temporada do Mitsubishi Cup Nordeste, em Salvador. A prova baiana foi uma espécie de aquecimento dos motores para o famoso Rally dos Sertões, a mais importante competição brasileira off-road. Pra toda obra Fotos: Uran Rodrigues Os empresários Nino Nogueira e Eliane Zanchet expandiram seus negócios e reuniram amigos e clientes na inauguração da Anauá Madeira do Brasil, no Rio Vermelho, em Salvador. Raquel Zanchet 128 Lavoisier Monteiro e Solon Mendes Camila Nogueira Carla Barral Andre Mauro Daniel Junior Gustavo Xavier Luiz Sobreira Regis Braga Renata Oliveira Vinicius Castro Welligton Resende Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 129 02.08 Elegância a toda prova 02.08 Fotos: Marcel Takeshita Donata Meirelles e Nizan Guanaes abriram as portas de sua mansão no Jardim Europa para um jantar que selou a união do publicitário Bazinho Ferraz ao grupo ABC. Uma noite impecável que reuniu gente inteligente e sofisticada. Thomaz Farkas As lentes da experiência Fotos: Uran Rodrigues Daniela Zurita e Edu Guedes Donata Meirelles Ana Joma e Rogério Fasano Amir Slama Eduardo Cesafa Solange e Pedro Farkas Diógenes Moura Franco Cirri Cristiane Matusita Thomaz Farkas veio a Salvador para a abertura da exposição O Tempo Dissolvido, um dos mais badalados eventos culturais da temporada. Jornalistas, artistas e intelectuais foram conferir de perto a mostra, que, além das fotografias, exibiu objetos pessoais do artista de 86 anos. Sérgio Burgi D’licia é... cantar e fazer as pessoas felizes. Margareth Menezes Alvaro Garnero e Cristiana Arcangeli Bazinho Ferraz e Helena Ferraz João Doria 03.08 Avental Fotos: Marcel Takeshita 130 A inauguração da nova loja L’Occitane movimentou o Shopping Iguatemi, em São Paulo. Rodrigo Hilbert e Thiago Rodrigues foram os convidados especiais e esbanjaram simpatia com as fãs e clientes da loja. Tato Malzone Nizan Guanaes Ivan Zurita Esther Giobbi Mariana Du Bois Fabiola Kassin e Erh Ray Pedro Brando Renata Castro e Sergio Gordilho Alicinha Cavalcanti e Rodrigo Biondi Rodrigo Hilbert Anna Chaia Decio de Paula Machado e Carmen Friozzi Arieta Correa Bruno Barreto Juliana Imai e Rico Mansur Renata Kowarick e Ricardo Kowarick Joca Guanaes e Sérgio Valente Tadeu Fracari Helinho Calfat Thiago Rodrigues Paulo Ricardo e Luciana Figaro Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 131 03.08 Vem chegando o verão Fotos: Uran Rodrigues Lise Weckerle As empresárias Aline e Regina Weckerle abriram as portas da Paradoxus para apresentar as tendências do verão 2011. São propostas assinadas por renomadas grifes como Lenny Niemeyer, Cyann, Reinaldo Lourenço e Armani Jeans. Grifes representadas pela multimarcas baiana. 05.08 Antônio Carlos Magalhães Ana Amoedo Sob nova direção Fotos: Uran Rodrigues Regina Weckerle Sandra Gordilho Buba Werckerle Eliane Carvalho Silvio Pedra Andre Curvello Karla Borges Eliane Medonça Izahias Raw Juca Lisboa July Insensee Cintia Liberato Fernando Nadalini Renato Tourinho 04.08 Márcia Lírio 07.08 Bebida nobre Voa Voa com Ana Import Fotos: Uran Rodrigues Lançado com pompa e circunstância no restaurante Oui, em Salvador, o maior evento enogastronômico do Nordeste. O Wine Bahia apresenta as últimas novidades e tendências no mundo dos vinhos, com a participação de expositores de diversas nacionalidades. O evento tem a assinatura de André Freire de Carvalho e da Licia Fabio Produções. 132 A rede de delicatessens baiana Perini apresentou sua nova diretoria. Em concorrido coquetel na loja localizada no bairro da Graça, a sociedade baiana deu as boas-vindas a Silvio Pedra, CEO do grupo Ceconsud no Brasil, que passa a administrar as oito lojas de Salvador. Alvaro Camargo João Sabido Costa Vagner Freitas Fabio Salmeron Fred Barreto Lilian Bacelar Fotos: Uran Rodrigues Alex Daltro e Inez Giudice Família que comemora unida permanece unida. No Wet’n Wild, Bell Marques festejou a chegada do Voa Voa indoor a Salvador e Ana Marques celebrou dez anos de sucesso da Ana Import. No camarote do evento o clima era de descontração e alto-astral. Licia Fábio e André Freire de Carvalho Ana Marques Veronica Rodero Rafael Marques Nadja Valente Vivian Pinheiro Luzia Santhana Mari Cruz Marcela Luz Jacaré Huxley Castro Katia Guzzo Jony Torres Felipe Marques Fausto Franco Eduardo Valente André Pereira Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 133 12.08 Terra do nunca 07.08 PRETA 3.6 Fotos: Marcel Takeshita Fotos: Uran Rodrigues Pedro Tourinho O lançamento do DVD Noite Preta, em Salvador, coincidiu com o aniversário de 36 anos da cantora. Uma festa que agitou o Cais Dourado com uma multidão de fãs da artista. Preta Gil Lyu Arisson Marcel Souza Mariana Paes de Castro Carlos Henrique Lima Natasha Thomas Nega Marcelo Fedak e Fernanda Rolim Fernanda Rolim esbanja talento com a LEFT e se revela uma das mais criativas estilistas de sua geração. Desta vez, para compor sua coleção verão 2011, ela mergulhou fundo no mundo mágico de Peter Pan. Deu um show na passarela armada no Nacional Club. Tania Rolim Carol Castelo Branco Cesar Oliveira Gioconda Saad Johana Stein Birman Vanessa Hadi Garib Ricardo Goldfarb Camilla Camargo 13.08 Réveillon particular D’licia é... apreciar um belo pôr do sol. Fábio Arruda Fotos: Marcel Takeshita A publicitária Mariana Kertesz inaugurou nova idade e reuniu familiares e amigos para celebrar a data em seu apartamento, em São Paulo. 10.08 Conteúdo e simpatia Fotos: Uran Rodrigues Nem só de elegância entende a jornalista, empresária e consultora de moda Glória Kalil. Foi o que ela mostrou durante a palestra “Rumos do Varejo”, realizada em Salvador a convite das empresas JHSF e EULUZ. O encontro foi durante um café da manhã comandado pelos empresários Zeco Auriemo e Ana Auriemo Magalhães. Ana Auriemo Magalhães Ivo Barbosa Bruno Valença, Mariana Kertesz e Marcela Valença Sérgio Kertesz e Bia Kertesz Euvaldo Guimarães Robert Halley Luciana Melo Daniel Matsumoto Carolina Kok Eliana Kertesz Naildo Macêdo Natália Soares Zeca Auriemo Pedro Sayao Tamara Spinelli e Alan Petersen Miyoko Elza e Cecília Pinheiro Glória Kalil 134 Paulo Junger Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 135 14 e 15.08 Velocidade máxima 14.08 Début Fotos: Uran Rodrigues Alexandre Peixe Carla Schnitzberger Ingo Hoffaman José Mário Castilho Margareth Menezes O camarote Mini Challenge no GP Bahia Stock Car se transformou no território das celebridades no Circuito Ayrton Senna, em Salvador. Entre os convidados, o governador, Jaques Wagner, e a primeira-dama, Fátima Mendonça, os cantores Ricardo Chaves, Alexandre Peixe e Margareth Menezes. Também marcaram presença o diretor da categoria Mini Challenge, Martin Fritsches e a diretora de negócios das Havaianas, Carla Schnitzberger. Jackson Costa Jaques Wagner, Licia Fabio e Fátima Mendonça Patrick Gonçalves Fotos: Uran Rodrigues Célia e Bel Silva Isabella Brandalize reuniu amigos e familiares para celebrar seus 15 anos numa festa com muito luxo e requinte. A sempre bela Larissa Bicalho foi uma perfeita anfitriã na festa da filha caçula. Isabella Brandalize João Bicalho Luciana e Paulo Barbosa Rafael Brotto Gabriela Goldstein Marcella Bicalho Larissa Bicalho 16.08 Martelo solidário Fotos: Marcel Takeshita O hairstylist Wanderley Nunes se juntou à primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva, e realizou um leilão beneficente que levou empresários, artistas e personalidades da sociedade paulistana para o Buddha Bar. Toda a verba arrecadada tem como destino o programa de alfabetização Escola do Povo na periferia de São Paulo. Lá ele! Pódio de Cacá Bueno 136 Nathalia Lago Tatiana Ambrósio Joana Castro Wanderley Nunes e Christiane Fernandes Ana Paula Junqueira Chico Pinheiro Eike Batista Glória Coelho e Pedro Lourenço José Carlos Semenzato Gilberto Zaborowsky e Luiza Mell Marisa Letícia Lula da Silva Melissa Wilman e Otávio Mesquita Patrícia Cavalcante e Tom Cavalcante Rosana Fittipaldi e Emerson Fittipaldi Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 137 17.08 Salto alto 18.08 O empresário e designer Alexandre Birman desembarcou em Salvador para participar do coquetel de lançamento da nova coleção de calçados da sua grife Schutz, na loja Deusa Crioula. As clientes descoladas tiveram direito a consultoria. Fotos: Uran Rodrigues Fotos: Uran Rodrigues Carolina Galo Fernanda Brandão Alexandre Birman Manuella Martinez Daniela Oliva Mariane Regueira Brigadeiro A empresária Ethel Baratz abriu as portas de sua loja em Salvador para comemorar mais um aniversário e mostrar as novas tendências da multimarcas para as próximas estações. Cristina Carvalho Heli Costa Janete Freitas Ethel Baratz Raquel Regueira Lelia Guimarães Rita Magalhães Suca Baratz Juliana Penedo Roberto Camara Junior Tania Mascarenhas Virginia Dourado Dinho Santana e Tereza Franco Solange Carneiro 19.08 Tendências Fotos: Uran Rodrigues Rogério Regueira Mariana Morgeroth Perla Bastos Stephanie Mattos Pietra Ferrari Luana Rodrigues Rafaela Costa Rafaela Meccia Maria Franco O desfile Heaven Summer 2010/11 levou para a passarela, em Aracaju, as novidades da temporada das TalieNK, Juliana Jabour, Diva, Madri e Isabela Giobbi. Um coquetel reuniu a nata da sociedade sergipana antenada com a modernidade. José Rios Chris Vasconcelos Cristiane D’Ávila Madalena Sá Renata Abreu Silvio Aboim D’licia é... viajar, estar com a família, amigos e com meu cachorro bóris. Beth Zsafir 138 Adriana Peixoto Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 139 22.08 Borbulhante 20.08 Expansão Fotos: Marcel Takeshita O quadrilátero mais famoso do Brasil regado a champanhe mais poderosa do mundo. No Promenade Chandon, em São Paulo, as ruas Oscar Freire, Haddock Lobo, Bela Cintra e Sarandi ganharam cenografia francesa em um festival de gastronomia e moda com os lançamentos para o verão 2011. Fotos: Uran Rodrigues Com um badalado coquetel foi inaugurada em Lauro de Freitas, na Bahia, mais uma loja da rede Óticas Opção. Entre os convidados, os gêmeos Marcelo e Alessandro Timbó, garotos-propaganda da nova linha de óculos da grife. Carlos Sousa Edu Casanova Tatau Elisabete Valverde Alan Magarao Alexandre Leitão Danini Amaral Thiago Sousa Cesinha do Acordeon D’licia é... ser feliz e poder participar da revista LICIA. Paulo Henrique Souza 140 Laís Galvão Alessandro Timbó Mariana Ximenes e Guilhermina Guinle Alexandre Borges Marcia Karallas e Rosangela Lyra Caca Ribeiro Carol Franceschini David Marcowitch Ellen Jabour Francisco Calio Gontijo Pinto Mayana Moura É festa Sérgio Degese Renata Kuerten Mariana Weickert Alexandre Herchcovitch Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 141 27.08 Escala baiana 30 e 31.08 Fotos: Uran Rodrigues O clima de ferveção das baladas de Ibiza desembarcou em Salvador em mais uma edição do embalo Café Del Mar. Os DJs Thiago Mansur e Rodrigo Ardilha comandaram o agito eletrônico no eixo Trapiche Eventos - Just 1. Marcelo Maltez Juliana Barbosa Moda e negócios Tissiane Freitas Fotos: Uran Rodrigues Ale Rauen Caio Gazel Bruna Motta sou tiete Thiago Mansur Tuca Fernandes Rodrigo Gomes Cláudio Silveira comandou o Bahia Moda Design no Centro de Convenções do Othon Palace Hotel, em Salvador. Durante dois dias o evento mobilizou os fashionistas de plantão em rodadas de negócios e desfiles com o que há de melhor sendo produzido por marcas baianas. Chris Rabello e Rosemma Maluf Dany Brugni Marcos Gordilho Vitorino Campos Richard Alves Goya Lopes Cláudio Silveira 30.08 Os mais sexies Fotos: Uran Rodrigues 142 Maria João Abujanra Waldemar Kogos e Lika Kogos Reynaldo Gianecchini Jesus Luz Kiko - KLB Sabrina Sato Sandra de Sá e Simoninha Maurren Maggi No terraço Daslu, em São Paulo, a revista Istoé Gente reuniu imprensa e convidados para apresentar os 50 famosos mais sexies do ano, eleitos pela publicação. A lista começa por Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera. Grazi Massafera Selvya Mascarenhas Desfile Vivire Ju Rabinovitz Malu Mendes Marcelo Timbó Natalia Troccoli Paula Magalhães Daniela Antonini Virginia Moraes Ricardo Araujo Cacau Mendes Raphaela Rabelo Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 143 04.09 Wine Bahia Rural 31.08 40 anos em cena Fotos: Uran Rodrigues Fotos: Uran Rodrigues A atriz Glória Pires protagonizou um dos eventos literários mais concorridos da temporada em Salvador. A sessão de autógrafos da biografia 40 Anos de Glória de Eduardo Nassife e Fábio Fabrício Ferreti, levou uma legião de fãs e admiradores da atriz à livraria Saraiva do Shopping Salvador. Melissa Pacheco Vanessa Pinheiro Aghata Carvalho César Rego Chris Mendonça Eduardo Nassife Carlinhos Serra Thiago Couto Glória Pires Geraldo Machado Luis Claudio Lacerda Tatiana Mendes Ricardo Gallas Nilton Simões Filho Ximena Iglesias Vinicius Araujo Priscila Fraser Foi na Fazenda dos irmãos Carlos e Vardinho Serra, organizadores da Vaquejada de Serrinha, que um grupo comandado pela promoter Licia Fabio e o enólogo André Freire de Carvalho aproveitou todas as atrações country de mais uma ação do Wine Bahia 2010. Um lounge instalado na fazenda se transformou em território dos vips na maior vaquejada no Nordeste. André Lima Giovana Bandeira Susana Nobrega Malú Mendes Jorge Célio Cavalcanti 11.09 Mainha Fotos: Marcel Takeshita Denise Fraga e Glória Menezes Agemiro Villaça Cassia Godóy e Ari França Denise Fraga movimentou a Livraria da Vila – Fradique, com o lançamento do livro Travessuras de Mãe. A publicação reúne crônicas assinadas pela atriz sobre a tarefa de criar e educar os filhos. Os textos misturam delicadeza, amor e dúvidas em relatos recheados de humor, marca característica da atriz. Daisy Villaça e Argeu Villaça Izaurinha Heck Isa Martins Henrique Tourinho Nadja Pimentel Catarina Lima Inês Serra Arlete lima D’licia é... é ser ator. Luiz Miranda Renato Villaça 144 Silvia Villaça Alberto Villas Luis Villaça Gilberto Vieira Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 145 03.09 Dia de festa 04 .09 Consagração Fotos: Uran Rodrigues Ana Carrera Figura querida na sociedade soteropolitana, Tércia Borges ganhou festa surpresa durante um almoço organizado pela filha Bárbara, no restaurante Amado, em Salvador. Bárbara, César e Tércia Borges Ana Luiza Moscoso Arlete Magalhães Fotos: Samuel Cerqueira A gravação do DVD de Ivete Sangalo no Madison Square Garden se transformou num acontecimento brasileiro em Nova York. Muitos amigos e fãs foram ver de perto a consagração da cantora baiana rumo à carreira internacional. Ivete Sangalo David Brazil Jesus Sangalo e Kyioko Igaki Ivete Sangalo e Netinho Carlinhos Brown Ana Luiza Carneiro Bruna Yacob Gracinha Rodrigues Adriana Barreto Ticiane Pinheiro e Roberto Justus Ivete Sangalo Preta Gil e Carlos Henrique Isabela Dantas Kitty Soledade Tânia Muniz Barreto Daniela Nesser Maria Gadú e Jau Bruna Carranzone Catiane Magalhães 06.09 Shimbalaiê Fotos: Mila Cordeiro Carla Perez Juanes e Ivete Sangalo Diego Torres 146 Um banquinho, um violão e Maria Gadú em cena. Uma noite de música brasileira da mais alta qualidade tendo como cenário a Praia do Forte. Para completar a festa, a música alto-astral do baiano Jau. Seu Jorge e Ivete Robson Costa Marrom Nely Furtado Élida Cardoso Ive Lima Lila Moraes Mayra Cardi Samantha Schmutz Leonardo Miggiorin Andrea, Gabriela Lacerda e Marcelo Bandeira, Roberto Cordeiro Ricardo e Tânia Paiva Luiz Miranda Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 147 08.09 09.09 Fotos: Marcel Takeshita Quiabo Fotos: Uran Rodrigues A SP-Arte/Foto, maior feira de fotografia do país, chegou à 4ª edição e reuniu, no Shopping Iguatemi, em São Paulo, o melhor da fotografia contemporânea do Brasil e do mundo. Quando chega setembro é tradição na Bahia confraternizações entre amigos em torno do famoso caruru. A temporada foi aberta pelo arquiteto Sidney Quintela, que reuniu muita gente bacana em seu escritório sob as bênçãos de Cosme e Damião. Feira de fotografia Bob Wolfenson Anna Fernandes Ana Khouri Cesar Giobbi Claudio Edinger Eduardo Leme Sidney Quintela Antônio Medrado Carla Carmel Carol Sahade Emílio Kalil Erika Jereissati Fernanda Feitosa Francisca Botelho Tatiana Amorim Tarsila Filgueiras Sérgio Queiroz Susana Nobrega Cacá Garcia,Lele Saddi e Fernanda Paes Leme Marcos Maria André Vasco Chris Corchs Junior Lima Lilly Sart Ricardo Lounds e Jessica Staub Matheus Mazzafera e Ana Paula Junqueira Piny Montouro Thiago Gagliasso Victor Saad 12.09 Dupla comemoração Fotos: Marcel Takeshita Mônica Filgueiras Ricardo Van Steen Os empresários Marcos Maria e André Vasco trocaram de idade e receberam o carinho dos amigos na boate Disco, em São Paulo. Animação que entrou pela madrugada com a pista lotada o tempo todo. Ricardo Ohtake qualé meu bom? Silvana Tinelle 148 Maria Baro Julia Porchat e Luiz Porchat Mariana Weickert Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 149 10 e 11.09 Bebida nobre Fotos: Uran Rodrigues A 6ª edição da Wine Bahia consolidou a feira como o maior evento da enogastronomia do Norte e Nordeste. Durante dois dias, produtores, especialistas e apreciadores puderam degustar e conhecer os lançamentos do que há de melhor em vinhos nacionais e estrangeiros. A Wine Bahia 2010, uma iniciativa da Licia Fabio Produções e do enólogo André Freire de Carvalho, teve apoio da Bahiatursa, Banco Bonsucesso e Tenys Pé Baruel. Aldrick Muggler Alexandre Mendes Ângela Freitas Antônio Franco Adriana Ceron Romenilson Rehem Regina Weckerle Tô na paz Claudio Vella 150 Fábio Vilas Boas Eliane Carvalho Emília Silva Marcos Lessa Marcus Nicodemos Paulo Argolo Paulo Bruno Cordeiro Paulo Roberto e Nice Sampaio Pedro Costa Pedro Galvão Vivian Pinheiro Everaldo Caires Sérgio Moreira Edinho Engel Flávio Castro Gustavo Basto Licia Fabio e Beto Pimentel Sílvio Pessoa e Juliana Góes Jussara Silveira André Freire de Carvalho Lila Lopes Lorenzo Ramolini Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 151 28.09 a 01.10 Movimento de Moda Iguatemi 21 a 26.09 Barra Fashion Mall Fotos: Uran Rodrigues Fotos: Uran Rodrigues Ângela Freitas Caio Castro Thiago Rodrigues Cavalera Cristiana Neves Desfile Blue Man Sob o comando de Paulo Borges, diretor criativo da Luminosidade, o Movimento de Moda Iguatemi apresentou uma proposta que contemplou a interatividade e a conectividade. Exposições de coleções estilistas pelos corredores do shopping Iguatemi, lançamento de publicações especializadas e a inusitada passarela dentro da Saraiva Mega Store, o MMI inovou também com o Pense Moda, um fórum de discussão que reuniu famosos criadores e produtores de moda brasileiros. Henri Castelli Márcio Garcia Desfile Triton Ewerton Visco Sharon Azulay Mirela Cubilhas Fernanda Freitas Gisele Frank Samantha Jorge e Cristina Manucci Graziele Maslowsky Mariana Weickert Tatiana Amorim Hélio Tourinho Jessica Pauletti Jonathas Faro Lidiane e Paulo Frank Thaila Ayala Dito Espinheira Marcella Barradas Paulo Borges Marcelo Seba Mariana Freitas Luciana Galeão Ricardo Cubilhas Mauro Manucci Desfile New Order Oscar Magrini Paula Freitas Carlos Guimarães Danny Brugni Um dos pioneiros eventos de moda da Bahia movimentou Salvador num festival fashion que revelou talentos, promoveu desfiles das principais marcas comercializadas no shopping Barra e festejou os 50 anos de carreira do artista visual Luiz Jasmin. Instalado em lugar estratégico do shopping, o Lounge do Site e Revista LICIA se transformou em território das celebridades e convidados que circularam pelo evento. Fátima Mendonça e Karina Brito Fernando Torquato Ildi Silva José Carlos Poroca Júlio Rego Luiz Jasmin Maria Elisa Figueiredo Nunes Regina Werckerle e Renata Kuerten Renata Vasconcelos e Edison Rezende Alexandre Manzalli Doda Guedes 152 Tininha Viana e Marcelo Gomes Luxo + inspiração + comportamento + inteligência + atitude 153 acreditar a ç n a d u m na 154