em São Caetano do Sul
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UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA Comunicação e cultura na “Johannes Keller Schule” em São Caetano do Sul (década de 1930) Mariana Lins Prado Relatório e SOLICITAÇÃO DE PRORROGAÇÃO da pesquisa desenvolvida em Iniciação Científica no Memórias do ABC - Núcleo de Pesquisas e Laboratório de Produções Midiáticas da USCS. Orientação: Profa. Dra. Priscila Ferreira Perazzo São Caetano do Sul 2009 SUMÁRIO RESUMO 1. O PROJETO ORIGINAL DA PESQUISA - DESENVOLVIDO EM 2008-2009 1.1. A escola alemã de São Caetano do Sul 1.2. Problematização, objetivos e justificativas 2. RESULTADOS PARCIALMENTE ATINGIDOS 2.1. Coleta de dados: fontes orais 2.2. Coleta de dados: fontes documentais 2.3. Análise preliminar dos dados 3. SOLICITAÇÃO DE PRORROGAÇÃO DE PRAZOS E JUSTIFICATIVAS 4. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE ATIVIDADES – 2009-2010 BIBLIOGRAFIA ANEXOS 2 RESUMO Vivendo em um país totalmente diferente da sua origem, os imigrantes germânicos tiveram muito que se esforçar para manter a cultura de sua pátria. Para preservar seus costumes e sobreviver, em um sentido cultural, passaram a criar diversas associações, como escolas, clubes, jornais e partidos políticos, de modo a estabelecer um forte sentimento de unidade em torno da comunidade. O surgimento de colégios alemães deu-se na década de 1870 na capital paulista. Desde então, muitas outras escolas alemães foram fundadas em diversas cidades do Estado de São Paulo. Em São Caetano do Sul, a Johannes Keller Schule (Escola Alemã) foi fundada em 1930, na Vila Paula (atual Bairro Santa Paula). A escola alemã de São Caetano do Sul pode ser estudada como o meio de comunicação da cultura germânica nessa localidade, no sentido de mediar cultura e comunidade. Dessa forma, pergunta-se: como se deu o processo comunicacional de cultura germânica na cidade de São Caetano do Sul, a partir dos impressos veiculados na correspondência da escola teuta? O objetivo geral dessa pesquisa visa identificar o processo comunicacional de cultura germânica na cidade de São Caetano do Sul. A metodologia utilizada será a pesquisa documental e as entrevistas de história oral. As fontes consultadas são: as correspondências das Associações de Escolas Alemãs do Estado de São Paulo, encontradas no Instituto Martius Staden (SP) e o registro de depoimentos orais de história de vida com ex-alunos da Johannes Keller Schule, concebidos na história oral de acordo com a metodologia constituída pelo Núcleo de Pesquisas e Produções Midiáticas Memórias do ABC, da USCS (gravação de depoimentos em vídeo digital e coleta da documentação pessoal do depoente para o sistema HiperMemo da USCS). PALAVRAS-CHAVE: comunidade alemã, escola, meio de comunicação de cultura 3 1. O PROJETO ORIGINAL DE PESQUISA - DESENVOLVIDO EM 2008-2009 1.1. A escola alemã de São Caetano do Sul Segundo dados do Instituto Martius Staden, em São Paulo, dezoito milhões de brasileiros têm ao menos um antepassado alemão (algo em torno de 10% da população do país). Por isso que, em 2009, comemoram-se os 180 anos da imigração alemã para São Paulo. O início dessa imigração no Estado é comumente datado de 13 de dezembro de 1827, dia em que os 216 alemães, a bordo da embarcação Maria, atracaram no porto de Santos e subiram a serra em direção a São Paulo (SIRIANI, 2003). No entanto, comemora-se o ano 1829 de forma simbólica, pois são dessa data os registros mais expressivos de imigrantes germânicos. O imigrante, longe da pátria-mãe, trabalhando em lavouras de café ou nas indústrias paulistas teve sempre como premissa a preservação do idioma materno como de vital importância para a manutenção dos laços comunitários. Dessa forma, foi comum a criação de diversas associações culturais e escolas, espalhadas por vários bairros da capital e da Grande São Paulo, onde se localiza a cidade de São Caetano do Sul. O surgimento de colégios alemães na capital deu-se já na década de 1870. Por exemplo, a Comunidade Evangélica Alemã de São Paulo foi fundada em 1871 e a Deutsche Schule (atual Colégio Visconde de Porto Seguro) surgiu logo em seguida, em 1878, como também o Colégio Benjamin Constant, na Vila Mariana. (SIRIANI, 2003) Nas primeiras décadas do século XX muitos outros colégios alemães foram fundados em diversas cidades do Estado de São Paulo. Segundo dados encontrados nos acervos do Instituto Martius Staden, em São Paulo, ligado ao Colégio Porto Seguro, entre o final do século XIX e a década de 1930, existiram cerca de 30 escolas alemãs em cidades do Estado de São Paulo. Encontrou-se nas cidades de Santo André e São Caetano do Sul escolas alemãs que funcionaram nesse período. Trata-se de uma memória esquecida, pois, atualmente, pouco se lembram da existência dessas duas instituições. No entanto, proceder a uma investigação que recupere essa memória interessa tanto à história da imigração no Estado de São Paulo, como à própria história local da região do ABC. Mais ainda, envolve-se numa discussão de comunicação e cultura referente às diferentes comunidades que aqui se estabeleceram e contribuíram para o desenvolvimento local. Dentre essas escolas está a Johannes Keller Schule (Escola Johannes Keller), que foi fundada em 1930, em São Caetano do Sul, situada na rua Wenceslau Braz. O nome do 4 colégio refere-se ao ex-diretor e professor da Escola Técnica de Comércio Benjamin Constant, localizada na capital. Porém, durante o Estado Novo (1937 – 1945) de Getúlio Vargas, ocorreu de forma nacional uma efetiva repressão às manifestações culturais de alemãs, gerando a perseguição de imigrantes e descendentes e o fechamento de diversas instituições de caráter estrangeiro. Essa política nacional atingiu a Johannes Keller Schule, que foi fechada em 1938. Nesse momento, muitas escolas, clubes e associações políticas ou recreativas perderam a liberdade de ação de que até então dispunham: Até 1938, a Alemanha era vista como modelo de modernidade, sendo o nacionalismo alemão transformado em fonte de inspiração do que se pretendia construir: um Estado forte de cunho nacionalista. Os alemães sustentavam a imagem de um povo que sofrera derrotas e humilhações militares frente a outros povos europeus, mas que não se havia deixado abater; conseguira reeguer-se, alcançando o auge logo após a ascensão de Hitler ao poder. Nessa direção caminhava a propaganda do nacionalismo alemão entre os membros da colônia alemão no Brasil, imagem que, até 1938, satisfazia o governo Vargas em busca das bases pra o seu projeto nacionalista que, por sua vez, também se pautava nas versões de reerguimento, desenvolvimento e evolução do Brasil. Mas, a partir da instauração do Estado Novo, esse modelo se transformou num entrave à construção do projeto político pretendido por Vargas. Através das leis nacionalizadoras que tinham como intuito destruir os “estrangeirismos”, deu-se continuidade ao projeto nacionalista que, condizia com a imagem do estrangeiro identificado como a ameaça à segurança nacional e à construção da brasilidade (PERAZZO, 1999, p. 34). Diante do quadro aqui apresentado, muitas foram as questões que surgiram e que motivaram esse estudo de resgate de uma memória esquecida, bem como do entendimento de como se deram os processos de comunicação e cultura de comunidades alemã em São Caetano do Sul. 1.2. Problematização, objetivos e justificativas A partir de questionamentos de como era a comunidade alemã em São Caetano do Sul na primeira metade do século XX, de quais processos de comunicação foram acionados, por essa comunidade, para preservar valores e cultura da “pátria-mãe” e de quais meios de comunicação foram utilizados, deu-se início a essa pesquisa que visa entender como escolas 5 alemãs serviram de meios de comunicação da cultura nas comunidades germânicas e identificar os mecanismos utilizados por essas instituições no processo comunicacional da cultura. A pergunta inicial fora: como se deu o processo comunicacional de cultura germânica na cidade de São Caetano do Sul, a partir dos impressos veiculados na correspondência das escolas teutas? Propôs-se como objetivo geral: identificar o processo comunicacional de cultura germânica na cidade de São Caetano do Sul, a partir dos impressos veiculados na correspondência das escolas teutas. Para tanto, foi necessário identificar a comunidade germânica na cidade de São Caetano do Sul; apontar o papel da Johannes Keller Schule no processo de comunicação de cultura germânica da comunidade e identificar os impressos produzidos e recebidos pela Johannes Keller Schule no sentido da comunicação da cultura germânica e de ideais políticos e culturais próprios da comunidade e da época. No campo de pesquisa, foram identificados cinco ex-alunos da Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul, hoje na faixa etária dos 80 anos, que puderam, em entrevistas, contar suas histórias de vida em São Caetano do Sul e na referida escola. No campo da comunicação, estudos que envolvem narrativas orais, lembranças e memórias permitem que se discutam questões de cultura, de local/global, de diferenças regionais e de diversidades de comunidades. Fundamentos encontrados nas teorias de estudos culturais possibilitam pensar transformações comunicacionais e culturais considerando-se os meios e as mediações da comunicação. Essa pesquisa justifica-se por estudo da memória da comunidade alemã em São Caetano do Sul. A associação de estudos entre comunicação e história permite ... resgatar parte do passado “não realizado” que, distanciando-se diante da chantagem do presente, possibilita sua crítica e a inauguração de futuros distintos daqueles que nos condena o peso irredutível do presente (MARTIN-BARBERO, 2003, p. 78-79). Atualmente ainda é difícil entender as mudanças geradas pelos processos de globalização das últimas décadas. Entre essas mudanças está o “desairraigamento acelerado de nossas culturas”. Na tentativa disso compreender, obriga-se a também a compreender como algumas dimensões desse processo são “justamente as que dizem respeito às transformações nos modelos e nos modos da comunicação” (MARTÍN-BARBERO, 2003, p. 57-58). 6 2. RESULTADOS PARCIALMENTE ATINGIDOS – PERÍODO 2008-2009 2.1. Coleta de dados: fontes orais Seis pessoas que estudaram na Johannes Keller Schule, em São Caetano do Sul, na década de 1930, foram identificadas, contatadas e entrevistadas. As entrevistas seguem a metodologia do Memórias do ABC, que se baseia em gravar em vídeo digital a narrativa oral dessas pessoas que lembram e contam suas histórias de vida. Em seguida, processa-se a coleta de acervo pessoal, cujas entrevistas já foram gravadas, transcritas e analisadas, os depoentes emprestam seus objetos que são digitalizados, identificados e inseridos no HiperMemo – Acervo Hipermídia de Memórias da USCS. Os depoentes gravados e com entrevistas transcritas são: 1) Antônio Laefort Filho – descendente de romenos, estudou na Johannes Keller Schule. Nasceu em São Caetano do Sul, tem 81 anos e atualmente mora em Santo André. 2) Marta Wachtler – imigrante lituana, estudou na Johannes Keller Schule. Tem 86 anos e mora em São Caetano do Sul. 3) Miguel Zvonimir – imigrante iugoslavo (atual Croácia), estudou na Johannes Keller Schule. Tem 85 anos e mora em Santo André. 4) Frida Schmidt – descendente de austríacos, estudou na Johannes Keller Schule. Nasceu em São Caetano do Sul, tem 86 anos e ainda reside na cidade. 5) Pedro Josefino Pilo – descendente de austríacos, estudou na Johannes Keller Schule. Nasceu em São Caetano do Sul, tem 82 anos e atualmente mora em Santo André. 6) Gertrudes Dal Pos – descendente de austríacos, sua família é vinculada à fundação da escola alemã de Santo André. Nascida em São Paulo, tem 74 anos e atualmente reside em Santo André. Entre eles, foram digitalizados aproximadamente 95 documentos entre fotografias, boletins de escola, cadernos, panfletos, documentos pessoais, etc. Em seguida foram identificados na Ficha de Identificação de Objetos, do HiperMemo, que pode ser vista, juntamente com algumas dessas imagens no Anexo I. 2.2. Coleta de dados: fontes documentais Na condução da pesquisa documental, encontrada no Instituto Martius Staden em São Paulo, foram copiados aproximadamente 165 documentos, encontrados nas seguintes pastas: 7 Pasta nº 1112 G IV f, nº 31/5 – 31/11 Brasil dividido geograficamente; Estado de São Paulo; Johannes Keller Schule São Caetano. Pasta nº1113 Ref.: G IV f, nº 31/12, Allgemeiner Schriftwechsel, 1930 – 1933 (Mappe I), 1934 – 1936 (Mappe II), Correspondências (circulares) em geral da Johannes Keller Schule. Pasta nº1114 G IV f, nº 31/12, Allgemeiner Schriftwechsel 1930 – 1933 (Mappe I) 40182 1934 – 1936 (Mappe II) 40204 Correspondências (circulares) em geral da Johannes Keller Schule. Pasta nº 1969 Fragebogen – Mappe XII. Fragebogen 1934 – Estado de São Paulo – panfletos impressos que comunicavam os eventos da escola, Pasta XII Fragebogen São Paulo II - 1934 Entre esses documentos, encontram-se: • Panfletos impressos como convites para festas, peças de teatro, jogos, na Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul. • Recortes de jornais anunciando ou reportando festas na Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul. • Dados sobre o corpo docente da Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul. • Correspondência entre associações culturais alemãs, recebidas pela Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul. • Correspondências do Partido Nazista de São Paulo, recebidas pela Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul. • Lista de nomes de pais de alunos da Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul. Encontrou-se, cerca de 70 panfletos impressos de anúncios de festas, apresentações de teatro, comemorações cívicas, reuniões recreativas, etc, que se realizaram na Johannes Keller Schule, na Associação Cultural Alemã de São Caetano do Sul ou no Clube Teuto. Toda a documentação encontrada no Instituto Martius Staden está em alemão e pode ser vista em amostra no Anexo II. 8 2.3. Análise preliminar dos dados O enlace das histórias de vida narradas com os dados coletados na pesquisa documental esclarecem pontos importantes tanto para a história da escola alemã como para a própria comunidade imigrante no município. O acervo sobre a Johannes Keller Schule, encontrado no Instituto Martius Staden (documentos oficiais, panfletos de festas, recortes de jornais, material didático, listagem de alunos, curriculum dos professores, relatórios da direção), conforme proposto, foi coletado e iniciada sua tradução. Pelo volume de documentos copiados, ainda não se concluiu o processo de tradução dos documentos, para que possam ser interpretados e analisados com mais profundidade e precisão nos dados. Resta, assim, ainda, porém, realizar uma análise mais minuciosa a partir da tradução completa dos documentos, uma vez que a maior parte do material está em alemão. Os estudantes da Johannes Keller Schule têm origens, descendências e nacionalidades diversas, não se encontrando somente alemães. Entre os entrevistados, pode-se notar que são iugoslavos, romenos, lituanos e austríacos. Os iugoslavos, romenos, lituanos e húngaros formam o grupo dos os suábios, chamados Donauschwaben. É preciso voltar um pouco na história européia para entender qual o elo entre esses povos. No século XVIII, a imperatriz austríaca Maria Thereza deslocou a população de língua alemã que habitava as regiões ribeirinhas do Danúbio para povoar o Império. E, devido às disputas por território que ocorreram desde então, os suábios terminaram por se espalhar em muitos países europeus: Trata-se de imigrantes oriundos de diversos países da Europa Central que aqui desembarcaram logo após o final da Primeira Guerra Mundial e que, embora provenientes de países diferentes, portando passaportes e cidadanias distintas, tinham em comum um dialeto da língua alemã que falavam há séculos, além de costumes e tradições afins e uma homogeneidade étnica (JOVANOVIC, 1993, p. 11) Miguel Zvonimir, cujo depoimento foi gravado no Memórias do ABC em 2007, comentou a ocupação das cidades do ABC Paulista por esses grupos étnicos: Os alemães de Santo André eram diferentes dos alemães de São Caetano, porque em São Caetano era o pessoal dos Bálcãs. Já em Santo André tinha poucos Bálcãs, eram muitos alemães da Alemanha. 9 Desta forma, a escola alemã em São Caetano do Sul surge com a finalidade de preservar o idioma alemão, principal laço cultural que unia a comunidade imigrante suábia. Em 13 de fevereiro de 1930, houve uma reunião entre os imigrantes em que foi fundada a Associação Escolar Teuto-Brasileira de São Caetano, escola alemã conhecida como Johannes Keller. Inicialmente, a intenção era fazer concorrência à Sociedade União Esportiva TeutoBrasileira, fundada um ano antes (FERRARI, 2002). Segundo Ferrari (2002), Antônio Zerrener, acionista majoritário da Cia. Antártica Paulista, foi responsável por ceder o empréstimo necessário para a compra do terreno onde se localizava a sede da escola, à rua Wenceslau Braz, nºs 3 – 5, na Vila Paula. Os depoentes descrevem o material didático utilizado em suas aulas, os uniformes que usavam, os horários das aulas, as disciplinas ministradas, as características dos professores. Todos eles disseram que a Educação Física – ou a Ginástica, como muitos se referiam – era bastante incentivada entre os alunos. Alguns deles participaram da Juventude Hitlerista no ABC, sendo essa organizada pelos próprios membros da escola. Além dessas histórias, contam também sobre hábitos alimentares herdados dessa cultura, as brincadeiras de infância, os costumes familiares, relacionamentos com a vizinhança. É como diz Frida Schmidt (entrevistada no Memórias do ABC em 2008): A escola alemã era paga, naquele tempo. Dez mil réis por mês. E aí eu fiquei estudando lá na escola. Tínhamos aula o dia todo. Tinha aula de manhã – ou português ou alemão, porque sempre foi português e alemão. E aí à tarde havia ginástica, que sempre foi assim uma coisa extraordinária porque não se usava, não se conhecia, também. Essas aulas eram à tarde. Trabalho manual, isso era à tarde. Então praticamente a gente tinha aula de manhã e à tarde. Aí frequentei a escola até o quarto ano. Mas eu só fiz quatro anos, porque a escola Johannes Keller tinha oito anos. Equivalia ao ginásio de hoje, porque aprendia português e alemão. Uma escola muito, muito boa. De fato, a comunidade suábia manteve seus laços. Todos os depoentes, ainda hoje, dominam a língua alemã; casaram-se com pessoas de origem imigrante; passaram a seus descendentes algum traço cultural, como o ensino do idioma ou receitas culinárias típicas; a maioria manteve contato com familiares na terra natal e os visitou, já na idade adulta. Em virtude do projeto nacionalista do governo de Getúlio Vargas e com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial contra o Eixo, a Johannes Keller Schule foi fechada. Algumas narrativas também fazem referências a perseguições, cerceamento da língua estrangeira, etc. Sobre essas questões é possível completar a coleta de dados com uma investigação de documentos existentes no Fundo DEOPS-SP, no Arquivo Público do Estado 10 de São Paulo, uma vez que foram encontrados prontuários referentes a pessoas e instituições relacionadas à comunidade germânica no ABC. 11 3. SOLICITAÇÃO DE PRORROGAÇÃO DE PRAZO E JUSTIFICATIVAS Entre os objetivos propostos inicialmente, pode-se considerar que já é possível identificar a comunidade germânica na cidade de São Caetano do Sul e apontar o papel da Johannes Keller Schule na cidade e na comunidade. O processo de comunicação de cultura germânica aconteceu entre teutos e suábios, em São Caetano e a Johannes Keller Schule, foi, certamente, um instrumento importante desse processo. No entanto, muitas outras perguntas de pesquisa ainda não estão respondidas e demandam uma ampliação da coleta de dados e de análise minuciosa. A identificação, interpretação e análise dos impressos produzidos e recebidos pela Johannes Keller Schule dependem da tradução desses documentos do alemão para o português, de forma a possibilitar o entendimento da comunicação da cultura germânica e de ideais políticos e culturais próprios da comunidade e da época. A partir dos contatos estabelecidos com os depoentes acima citados, obteve-se a indicação de outras pessoas que estudaram na Johannes Keller Schule e que estão ainda lúcidas em relação às suas lembranças, mesmo que bastante idosas. Identificaram-se mais duas pessoas a serem entrevistadas, com o propósito de complementar as informações a respeito da escola alemã obtidas diretamente por meio de vivências pessoais. São elas: 1) Catarina Zvonimir – esposa de Miguel Zvonimir, que mesmo sendo conhecida desde a entrevista de seu marido, negava-se a gravar seu depoimento. Somente em junho de 2009, ela concordou em conceder tal entrevista. 2) Maria Scherk foi colega de sala de Antônio Laefort Filho. Tem-se estabelecido contato com Maria Scherk que não se opôs a gravar entrevista. É necessário relembrar que cada entrevista realizada, gera as tarefas de transcrição de depoimento, coleta de acervo pessoal, digitalização e identificação dos objetos e inserção no HiperMemo. Além da necessidade e oportunidades de ampliar o registro das histórias de vida de ex-alunos da escola alemã, deve-se realizar a tradução e análise dos documentos impressos, coletados no Instituto Martius Staden, para, posteriormente, fazer o cruzamento de dados com fontes do Arquivo do Estado de São Paulo. Tais ações permitirão o avanço de interpretações e de resultados no sentido de atingir um outro objeto de pesquisa, voltado a identificar nos processos comunicacionais encontrados se os meios e as mediações existentes foram inovadoras para a época e para a comunidade envolvida. 12 4. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE ATIVIDADES – 2009-2010 PLANO DE TRABALHO Contato com Catarina Svonimir e Maria Sherk CRONOGRAMA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 X Gravação de depoimentos X Transcrição de depoimentos X X Coleta de acervo pessoal X X Digitalização, identificação e inserção de dados HiperMemo X X Tradução do alemão para o português dos 93 impressos copiados no acervo Martius Staden X X X Tradução do alemão para o português dos 72 documentos copiados no acervo Martius Staden sobre material didático, professores, normas da Escola X X X Identificação de Prontuários DEOPS-SP sobre alemães e instituições alemãs do ABC X X Análise dos prontuários DEOPS-SP X X Apresentados de resultados em congressos X X X X X Elaboração de artigos científicos X X Redação da monografia X X Apresentação da monografia 13 X BIBLIOGRAFIA ALVES, Eliane Bisan. Etnicidade, nacionalismo e autoritarismo. A comunidade alemã sob vigilância do DEOPS. São Paulo: Humanitas/PROIN/Fapesp, 2006. CAMARGO, Deives Manoel. O cotidiano de algumas famílias do município entre 1930 e 1960. In: Revista Raízes. São Caetano do Sul: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul, nº 27, julho de 2003, ano 15, pp. 61 – 67. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci; KOSSOY, Boris (orgs). Imprensa Confiscada pelo DEOPS, 1924-1954. São Paulo: Ateliê Editoria/Imprensa oficial, 2004. CHAUÍ, Marilena. Brasil Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2000. CUNHA, Maria Inês Bernardi da. O legado das escolas dos imigrantes italianos para a história da educação brasileira DALMÁZ, Mateus. A imagem do Terceiro Reich na Revista Globo (1933 – 1945). Porto Alegre: Edipucrs, 2002. Coleção História 48. DIETRICH, Ana Maria. Caça ás Suásticas - O Partido Nazista em São Paulo sob a mira de Polícia Política. São Paulo: Associação Editorial Humanitas/ Imprensa Oficial, 2007. (Coleção Histórias da Repressão e da Resistência, 2) DONATO, Hernani. Colégio Visconde de Porto Seguro. 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Carlos não quis gravar entrevista. 16 Núcleo de Pesquisas e Laboratório de Produções Midiáticas FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DE OBJETOS DIGITALIZADOS ACERVO PESSOAL DE DEPOENTES Ficha: Nº: Identificação Data Visita: / Pesquisador: / Tema da Pesquisa: Acervo Pessoal de: Assinou autorização de cessão de direitos de objetos: Sim( ) Permite a reprodução do objeto: Sim( ) Descrição do Objeto (vide verso) Código do Tipo do Objeto: __ __ __ Pessoas Presentes: Lugar Relacionado: Acontecimento Registrado: Ficha Técnica: 17 Não( ) Não( ) Data Objeto: / / Resumo: Legenda: Palavras-Chave (3): HiperMemo Nome do Arquivo eletrônico: Imagem em 300dpi – local arquivado: Informações para preenchimento da Ficha dos Objetos: Codificação dos TIPOS dos Objetos: Pessoais Divulgação 001- Foto 200- Cartaz 002- Certidão 201- Folheto Nascimento 003- Passaporte 202- Banner 004- Carteira de 203- Painéis Trabalho 005- Reservista 204006- R.G. 205007- Cert. 206Casamento 008- Diploma 207009208010209- Texto 300- Livro 301- Revista Música 400- Música 401- Partitura Arte Visual 500- Quadro 501- Escultura 302- Jornal 303- Poesia 402- LP 403- CD 502- Desenho 503- Charge 304- Diário 305- Artigo 306- Fanzine 404405406- 504- Caricatura 505506- 307308309- 407408409- 507508509- Pessoas Presentes: procurar identificar o nome das pessoas que aparecem nas fotos (objetos) e as relações delas com o depoente. Lugar Relacionado: procurar identificar o(s) lugar(es) que aparece(m) na(o) foto(objeto). Acontecimento Registrado; procurar descrever o acontecimento que motivou a foto (objeto). Ficha Técnica: dependendo do objeto (ex. disco em LP) há uma ficha técnica associada. Copiar os dados da respectiva ficha técnica neste espaço. Informações Adicionais: procurar identificar o significado, o contexto, motivos e os detalhes contados pelo depoente a respeito do objeto. Por que o inseriu no documento? Legenda: informação inserida nas mídias junto à apresentação do objeto para o identificar. Não ser mais do que uma frase. Resumo: informações que serão disponibilizadas na mídia eletrônica (WEB) associada ao objeto. Deve ser de 2 a 5 linhas descritivas 18 Anexo II Amostra dos documentos encontrados no Instituto Martius Staden. Convite para festa feito pela Liga das Escolas Teuto-Brasileiras. 19