em São Caetano do Sul

Transcription

em São Caetano do Sul
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Comunicação e cultura na “Johannes Keller Schule”
em São Caetano do Sul
(década de 1930)
Mariana Lins Prado
Relatório e SOLICITAÇÃO DE PRORROGAÇÃO
da pesquisa desenvolvida em Iniciação Científica no
Memórias do ABC - Núcleo de Pesquisas e
Laboratório de Produções Midiáticas da USCS.
Orientação: Profa. Dra. Priscila Ferreira Perazzo
São Caetano do Sul
2009
SUMÁRIO
RESUMO
1. O PROJETO ORIGINAL DA PESQUISA - DESENVOLVIDO EM 2008-2009
1.1. A escola alemã de São Caetano do Sul
1.2. Problematização, objetivos e justificativas
2. RESULTADOS PARCIALMENTE ATINGIDOS
2.1. Coleta de dados: fontes orais
2.2. Coleta de dados: fontes documentais
2.3. Análise preliminar dos dados
3. SOLICITAÇÃO DE PRORROGAÇÃO DE PRAZOS E JUSTIFICATIVAS
4. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE ATIVIDADES – 2009-2010
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
2
RESUMO
Vivendo em um país totalmente diferente da sua origem, os imigrantes germânicos
tiveram muito que se esforçar para manter a cultura de sua pátria. Para preservar seus
costumes e sobreviver, em um sentido cultural, passaram a criar diversas associações, como
escolas, clubes, jornais e partidos políticos, de modo a estabelecer um forte sentimento de
unidade em torno da comunidade. O surgimento de colégios alemães deu-se na década de
1870 na capital paulista. Desde então, muitas outras escolas alemães foram fundadas em
diversas cidades do Estado de São Paulo. Em São Caetano do Sul, a Johannes Keller Schule
(Escola Alemã) foi fundada em 1930, na Vila Paula (atual Bairro Santa Paula). A escola
alemã de São Caetano do Sul pode ser estudada como o meio de comunicação da cultura
germânica nessa localidade, no sentido de mediar cultura e comunidade. Dessa forma,
pergunta-se: como se deu o processo comunicacional de cultura germânica na cidade de São
Caetano do Sul, a partir dos impressos veiculados na correspondência da escola teuta? O
objetivo geral dessa pesquisa visa identificar o processo comunicacional de cultura germânica
na cidade de São Caetano do Sul. A metodologia utilizada será a pesquisa documental e as
entrevistas de história oral. As fontes consultadas são: as correspondências das Associações
de Escolas Alemãs do Estado de São Paulo, encontradas no Instituto Martius Staden (SP) e o
registro de depoimentos orais de história de vida com ex-alunos da Johannes Keller Schule,
concebidos na história oral de acordo com a metodologia constituída pelo Núcleo de
Pesquisas e Produções Midiáticas Memórias do ABC, da USCS (gravação de depoimentos em
vídeo digital e coleta da documentação pessoal do depoente para o sistema HiperMemo da
USCS).
PALAVRAS-CHAVE: comunidade alemã, escola, meio de comunicação de cultura
3
1. O PROJETO ORIGINAL DE PESQUISA - DESENVOLVIDO EM 2008-2009
1.1. A escola alemã de São Caetano do Sul
Segundo dados do Instituto Martius Staden, em São Paulo, dezoito milhões de
brasileiros têm ao menos um antepassado alemão (algo em torno de 10% da população do
país). Por isso que, em 2009, comemoram-se os 180 anos da imigração alemã para São Paulo.
O início dessa imigração no Estado é comumente datado de 13 de dezembro de 1827, dia em
que os 216 alemães, a bordo da embarcação Maria, atracaram no porto de Santos e subiram a
serra em direção a São Paulo (SIRIANI, 2003). No entanto, comemora-se o ano 1829 de
forma simbólica, pois são dessa data os registros mais expressivos de imigrantes germânicos.
O imigrante, longe da pátria-mãe, trabalhando em lavouras de café ou nas indústrias
paulistas teve sempre como premissa a preservação do idioma materno como de vital
importância para a manutenção dos laços comunitários. Dessa forma, foi comum a criação de
diversas associações culturais e escolas, espalhadas por vários bairros da capital e da Grande
São Paulo, onde se localiza a cidade de São Caetano do Sul.
O surgimento de colégios alemães na capital deu-se já na década de 1870. Por
exemplo, a Comunidade Evangélica Alemã de São Paulo foi fundada em 1871 e a Deutsche
Schule (atual Colégio Visconde de Porto Seguro) surgiu logo em seguida, em 1878, como
também o Colégio Benjamin Constant, na Vila Mariana. (SIRIANI, 2003)
Nas primeiras décadas do século XX muitos outros colégios alemães foram fundados
em diversas cidades do Estado de São Paulo. Segundo dados encontrados nos acervos do
Instituto Martius Staden, em São Paulo, ligado ao Colégio Porto Seguro, entre o final do
século XIX e a década de 1930, existiram cerca de 30 escolas alemãs em cidades do Estado
de São Paulo.
Encontrou-se nas cidades de Santo André e São Caetano do Sul escolas alemãs que
funcionaram nesse período. Trata-se de uma memória esquecida, pois, atualmente, pouco se
lembram da existência dessas duas instituições. No entanto, proceder a uma investigação que
recupere essa memória interessa tanto à história da imigração no Estado de São Paulo, como
à própria história local da região do ABC. Mais ainda, envolve-se numa discussão de
comunicação e cultura referente às diferentes comunidades que aqui se estabeleceram e
contribuíram para o desenvolvimento local.
Dentre essas escolas está a Johannes Keller Schule (Escola Johannes Keller), que foi
fundada em 1930, em São Caetano do Sul, situada na rua Wenceslau Braz. O nome do
4
colégio refere-se ao ex-diretor e professor da Escola Técnica de Comércio Benjamin
Constant, localizada na capital.
Porém, durante o Estado Novo (1937 – 1945) de Getúlio Vargas, ocorreu de forma
nacional uma efetiva repressão às manifestações culturais de alemãs, gerando a perseguição
de imigrantes e descendentes e o fechamento de diversas instituições de caráter estrangeiro.
Essa política nacional atingiu a Johannes Keller Schule, que foi fechada em 1938. Nesse
momento, muitas escolas, clubes e associações políticas ou recreativas perderam a liberdade
de ação de que até então dispunham:
Até 1938, a Alemanha era vista como modelo de modernidade, sendo o nacionalismo
alemão transformado em fonte de inspiração do que se pretendia construir: um Estado
forte de cunho nacionalista. Os alemães sustentavam a imagem de um povo que sofrera
derrotas e humilhações militares frente a outros povos europeus, mas que não se havia
deixado abater; conseguira reeguer-se, alcançando o auge logo após a ascensão de
Hitler ao poder. Nessa direção caminhava a propaganda do nacionalismo alemão entre
os membros da colônia alemão no Brasil, imagem que, até 1938, satisfazia o governo
Vargas em busca das bases pra o seu projeto nacionalista que, por sua vez, também se
pautava nas versões de reerguimento, desenvolvimento e evolução do Brasil. Mas, a
partir da instauração do Estado Novo, esse modelo se transformou num entrave à
construção do projeto político pretendido por Vargas. Através das leis nacionalizadoras
que tinham como intuito destruir os “estrangeirismos”, deu-se continuidade ao projeto
nacionalista que, condizia com a imagem do estrangeiro identificado como a ameaça à
segurança nacional e à construção da brasilidade (PERAZZO, 1999, p. 34).
Diante do quadro aqui apresentado, muitas foram as questões que surgiram e que
motivaram esse estudo de resgate de uma memória esquecida, bem como do entendimento de
como se deram os processos de comunicação e cultura de comunidades alemã em São
Caetano do Sul.
1.2. Problematização, objetivos e justificativas
A partir de questionamentos de como era a comunidade alemã em São Caetano do Sul
na primeira metade do século XX, de quais processos de comunicação foram acionados, por
essa comunidade, para preservar valores e cultura da “pátria-mãe” e de quais meios de
comunicação foram utilizados, deu-se início a essa pesquisa que visa entender como escolas
5
alemãs serviram de meios de comunicação da cultura nas comunidades germânicas e
identificar os mecanismos utilizados por essas instituições no processo comunicacional da
cultura.
A pergunta inicial fora: como se deu o processo comunicacional de cultura germânica
na cidade de São Caetano do Sul, a partir dos impressos veiculados na correspondência das
escolas teutas? Propôs-se como objetivo geral: identificar o processo comunicacional de
cultura germânica na cidade de São Caetano do Sul, a partir dos impressos veiculados na
correspondência das escolas teutas. Para tanto, foi necessário identificar a comunidade
germânica na cidade de São Caetano do Sul; apontar o papel da Johannes Keller Schule no
processo de comunicação de cultura germânica da comunidade e identificar os impressos
produzidos e recebidos pela Johannes Keller Schule no sentido da comunicação da cultura
germânica e de ideais políticos e culturais próprios da comunidade e da época.
No campo de pesquisa, foram identificados cinco ex-alunos da Johannes Keller
Schule de São Caetano do Sul, hoje na faixa etária dos 80 anos, que puderam, em entrevistas,
contar suas histórias de vida em São Caetano do Sul e na referida escola.
No campo da comunicação, estudos que envolvem narrativas orais, lembranças e
memórias permitem que se discutam questões de cultura, de local/global, de diferenças
regionais e de diversidades de comunidades. Fundamentos encontrados nas teorias de estudos
culturais possibilitam pensar transformações comunicacionais e culturais considerando-se os
meios e as mediações da comunicação.
Essa pesquisa justifica-se por estudo da memória da comunidade alemã em São
Caetano do Sul. A associação de estudos entre comunicação e história permite
... resgatar parte do passado “não realizado” que, distanciando-se diante da chantagem
do presente, possibilita sua crítica e a inauguração de futuros distintos daqueles que nos
condena o peso irredutível do presente (MARTIN-BARBERO, 2003, p. 78-79).
Atualmente ainda é difícil entender as mudanças geradas pelos processos de
globalização das últimas décadas. Entre essas mudanças está o “desairraigamento acelerado
de nossas culturas”. Na tentativa disso compreender, obriga-se a também a compreender
como algumas dimensões desse processo são “justamente as que dizem respeito às
transformações nos modelos e nos modos da comunicação” (MARTÍN-BARBERO, 2003, p.
57-58).
6
2. RESULTADOS PARCIALMENTE ATINGIDOS – PERÍODO 2008-2009
2.1. Coleta de dados: fontes orais
Seis pessoas que estudaram na Johannes Keller Schule, em São Caetano do Sul, na
década de 1930, foram identificadas, contatadas e entrevistadas. As entrevistas seguem a
metodologia do Memórias do ABC, que se baseia em gravar em vídeo digital a narrativa oral
dessas pessoas que lembram e contam suas histórias de vida. Em seguida, processa-se a coleta
de acervo pessoal, cujas entrevistas já foram gravadas, transcritas e analisadas, os depoentes
emprestam seus objetos que são digitalizados, identificados e inseridos no HiperMemo –
Acervo Hipermídia de Memórias da USCS.
Os depoentes gravados e com entrevistas transcritas são:
1) Antônio Laefort Filho – descendente de romenos, estudou na Johannes Keller Schule.
Nasceu em São Caetano do Sul, tem 81 anos e atualmente mora em Santo André.
2) Marta Wachtler – imigrante lituana, estudou na Johannes Keller Schule. Tem 86 anos e
mora em São Caetano do Sul.
3) Miguel Zvonimir – imigrante iugoslavo (atual Croácia), estudou na Johannes Keller
Schule. Tem 85 anos e mora em Santo André.
4) Frida Schmidt – descendente de austríacos, estudou na Johannes Keller Schule. Nasceu em
São Caetano do Sul, tem 86 anos e ainda reside na cidade.
5) Pedro Josefino Pilo – descendente de austríacos, estudou na Johannes Keller Schule.
Nasceu em São Caetano do Sul, tem 82 anos e atualmente mora em Santo André.
6) Gertrudes Dal Pos – descendente de austríacos, sua família é vinculada à fundação da
escola alemã de Santo André. Nascida em São Paulo, tem 74 anos e atualmente reside em
Santo André.
Entre eles, foram digitalizados aproximadamente 95 documentos entre fotografias,
boletins de escola, cadernos, panfletos, documentos pessoais, etc. Em seguida foram
identificados na Ficha de Identificação de Objetos, do HiperMemo, que pode ser vista,
juntamente com algumas dessas imagens no Anexo I.
2.2. Coleta de dados: fontes documentais
Na condução da pesquisa documental, encontrada no Instituto Martius Staden em São
Paulo, foram copiados aproximadamente 165 documentos, encontrados nas seguintes pastas:
7
Pasta nº 1112
G IV f, nº 31/5 – 31/11
Brasil dividido geograficamente; Estado de São Paulo; Johannes Keller Schule São
Caetano.
Pasta nº1113
Ref.: G IV f, nº 31/12, Allgemeiner Schriftwechsel, 1930 – 1933 (Mappe I), 1934 – 1936
(Mappe II), Correspondências (circulares) em geral da Johannes Keller Schule.
Pasta nº1114
G IV f, nº 31/12, Allgemeiner Schriftwechsel
1930 – 1933 (Mappe I) 40182
1934 – 1936 (Mappe II) 40204
Correspondências (circulares) em geral da Johannes Keller Schule.
Pasta nº 1969
Fragebogen – Mappe XII. Fragebogen 1934 – Estado de São Paulo – panfletos impressos
que comunicavam os eventos da escola, Pasta XII Fragebogen São Paulo II - 1934
Entre esses documentos, encontram-se:
•
Panfletos impressos como convites para festas, peças de teatro, jogos, na Johannes
Keller Schule de São Caetano do Sul.
•
Recortes de jornais anunciando ou reportando festas na Johannes Keller Schule de São
Caetano do Sul.
•
Dados sobre o corpo docente da Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul.
•
Correspondência entre associações culturais alemãs, recebidas pela Johannes Keller
Schule de São Caetano do Sul.
•
Correspondências do Partido Nazista de São Paulo, recebidas pela Johannes Keller
Schule de São Caetano do Sul.
•
Lista de nomes de pais de alunos da Johannes Keller Schule de São Caetano do Sul.
Encontrou-se, cerca de 70 panfletos impressos de anúncios de festas, apresentações de
teatro, comemorações cívicas, reuniões recreativas, etc, que se realizaram na Johannes Keller
Schule, na Associação Cultural Alemã de São Caetano do Sul ou no Clube Teuto. Toda a
documentação encontrada no Instituto Martius Staden está em alemão e pode ser vista em
amostra no Anexo II.
8
2.3. Análise preliminar dos dados
O enlace das histórias de vida narradas com os dados coletados na pesquisa
documental esclarecem pontos importantes tanto para a história da escola alemã como para a
própria comunidade imigrante no município. O acervo sobre a Johannes Keller Schule,
encontrado no Instituto Martius Staden (documentos oficiais, panfletos de festas, recortes de
jornais, material didático, listagem de alunos, curriculum dos professores, relatórios da
direção), conforme proposto, foi coletado e iniciada sua tradução. Pelo volume de
documentos copiados, ainda não se concluiu o processo de tradução dos documentos, para
que possam ser interpretados e analisados com mais profundidade e precisão nos dados.
Resta, assim, ainda, porém, realizar uma análise mais minuciosa a partir da tradução completa
dos documentos, uma vez que a maior parte do material está em alemão.
Os estudantes da Johannes Keller Schule têm origens, descendências e nacionalidades
diversas, não se encontrando somente alemães. Entre os entrevistados, pode-se notar que são
iugoslavos, romenos, lituanos e austríacos.
Os iugoslavos, romenos, lituanos e húngaros formam o grupo dos os suábios,
chamados Donauschwaben. É preciso voltar um pouco na história européia para entender qual
o elo entre esses povos. No século XVIII, a imperatriz austríaca Maria Thereza deslocou a
população de língua alemã que habitava as regiões ribeirinhas do Danúbio para povoar o
Império. E, devido às disputas por território que ocorreram desde então, os suábios
terminaram por se espalhar em muitos países europeus:
Trata-se de imigrantes oriundos de diversos países da Europa Central que aqui
desembarcaram logo após o final da Primeira Guerra Mundial e que, embora
provenientes de países diferentes, portando passaportes e cidadanias distintas, tinham
em comum um dialeto da língua alemã que falavam há séculos, além de costumes e
tradições afins e uma homogeneidade étnica (JOVANOVIC, 1993, p. 11)
Miguel Zvonimir, cujo depoimento foi gravado no Memórias do ABC em 2007,
comentou a ocupação das cidades do ABC Paulista por esses grupos étnicos:
Os alemães de Santo André eram diferentes dos alemães de São Caetano, porque em
São Caetano era o pessoal dos Bálcãs. Já em Santo André tinha poucos Bálcãs, eram
muitos alemães da Alemanha.
9
Desta forma, a escola alemã em São Caetano do Sul surge com a finalidade de
preservar o idioma alemão, principal laço cultural que unia a comunidade imigrante suábia.
Em 13 de fevereiro de 1930, houve uma reunião entre os imigrantes em que foi fundada a
Associação Escolar Teuto-Brasileira de São Caetano, escola alemã conhecida como Johannes
Keller. Inicialmente, a intenção era fazer concorrência à Sociedade União Esportiva TeutoBrasileira, fundada um ano antes (FERRARI, 2002).
Segundo Ferrari (2002), Antônio Zerrener, acionista majoritário da Cia. Antártica
Paulista, foi responsável por ceder o empréstimo necessário para a compra do terreno onde se
localizava a sede da escola, à rua Wenceslau Braz, nºs 3 – 5, na Vila Paula.
Os depoentes descrevem o material didático utilizado em suas aulas, os uniformes que
usavam, os horários das aulas, as disciplinas ministradas, as características dos professores.
Todos eles disseram que a Educação Física – ou a Ginástica, como muitos se referiam – era
bastante incentivada entre os alunos. Alguns deles participaram da Juventude Hitlerista no
ABC, sendo essa organizada pelos próprios membros da escola. Além dessas histórias,
contam também sobre hábitos alimentares herdados dessa cultura, as brincadeiras de infância,
os costumes familiares, relacionamentos com a vizinhança. É como diz Frida Schmidt
(entrevistada no Memórias do ABC em 2008):
A escola alemã era paga, naquele tempo. Dez mil réis por mês. E aí eu fiquei
estudando lá na escola. Tínhamos aula o dia todo. Tinha aula de manhã – ou
português ou alemão, porque sempre foi português e alemão. E aí à tarde havia
ginástica, que sempre foi assim uma coisa extraordinária porque não se usava, não se
conhecia, também. Essas aulas eram à tarde. Trabalho manual, isso era à tarde. Então
praticamente a gente tinha aula de manhã e à tarde. Aí frequentei a escola até o
quarto ano. Mas eu só fiz quatro anos, porque a escola Johannes Keller tinha
oito anos. Equivalia ao ginásio de hoje, porque aprendia português e alemão.
Uma escola muito, muito boa.
De fato, a comunidade suábia manteve seus laços. Todos os depoentes, ainda hoje,
dominam a língua alemã; casaram-se com pessoas de origem imigrante; passaram a seus
descendentes algum traço cultural, como o ensino do idioma ou receitas culinárias típicas; a
maioria manteve contato com familiares na terra natal e os visitou, já na idade adulta.
Em virtude do projeto nacionalista do governo de Getúlio Vargas e com a entrada do
Brasil na Segunda Guerra Mundial contra o Eixo, a Johannes Keller Schule foi fechada.
Algumas narrativas também fazem referências a perseguições, cerceamento da língua
estrangeira, etc. Sobre essas questões é possível completar a coleta de dados com uma
investigação de documentos existentes no Fundo DEOPS-SP, no Arquivo Público do Estado
10
de São Paulo, uma vez que foram encontrados prontuários referentes a pessoas e instituições
relacionadas à comunidade germânica no ABC.
11
3. SOLICITAÇÃO DE PRORROGAÇÃO DE PRAZO E JUSTIFICATIVAS
Entre os objetivos propostos inicialmente, pode-se considerar que já é possível
identificar a comunidade germânica na cidade de São Caetano do Sul e apontar o papel da
Johannes Keller Schule na cidade e na comunidade.
O processo de comunicação de cultura germânica aconteceu entre teutos e suábios,
em São Caetano e a Johannes Keller Schule, foi, certamente, um instrumento importante
desse processo. No entanto, muitas outras perguntas de pesquisa ainda não estão respondidas
e demandam uma ampliação da coleta de dados e de análise minuciosa. A identificação,
interpretação e análise dos impressos produzidos e recebidos pela Johannes Keller Schule
dependem da tradução desses documentos do alemão para o português, de forma a
possibilitar o entendimento da comunicação da cultura germânica e de ideais políticos e
culturais próprios da comunidade e da época.
A partir dos contatos estabelecidos com os depoentes acima citados, obteve-se a
indicação de outras pessoas que estudaram na Johannes Keller Schule e que estão ainda
lúcidas em relação às suas lembranças, mesmo que bastante idosas. Identificaram-se mais
duas pessoas a serem entrevistadas, com o propósito de complementar as informações a
respeito da escola alemã obtidas diretamente por meio de vivências pessoais. São elas:
1) Catarina Zvonimir – esposa de Miguel Zvonimir, que mesmo sendo conhecida desde a
entrevista de seu marido, negava-se a gravar seu depoimento. Somente em junho de 2009, ela
concordou em conceder tal entrevista.
2) Maria Scherk foi colega de sala de Antônio Laefort Filho. Tem-se estabelecido contato
com Maria Scherk que não se opôs a gravar entrevista.
É necessário relembrar que cada entrevista realizada, gera as tarefas de transcrição de
depoimento, coleta de acervo pessoal, digitalização e identificação dos objetos e inserção no
HiperMemo.
Além da necessidade e oportunidades de ampliar o registro das histórias de vida de
ex-alunos da escola alemã, deve-se realizar a tradução e análise dos documentos impressos,
coletados no Instituto Martius Staden, para, posteriormente, fazer o cruzamento de dados
com fontes do Arquivo do Estado de São Paulo.
Tais ações permitirão o avanço de interpretações e de resultados no sentido de atingir
um outro objeto de pesquisa, voltado a identificar nos processos comunicacionais encontrados
se os meios e as mediações existentes foram inovadoras para a época e para a comunidade
envolvida.
12
4. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA DE ATIVIDADES – 2009-2010
PLANO DE TRABALHO
Contato com Catarina Svonimir e
Maria Sherk
CRONOGRAMA
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
X
Gravação de depoimentos
X
Transcrição de depoimentos
X
X
Coleta de acervo pessoal
X
X
Digitalização, identificação e
inserção de dados HiperMemo
X
X
Tradução do alemão para o
português dos 93 impressos copiados
no acervo Martius Staden
X
X
X
Tradução do alemão para o
português dos 72 documentos
copiados no acervo Martius Staden
sobre material didático, professores,
normas da Escola
X
X
X
Identificação de Prontuários
DEOPS-SP sobre alemães e
instituições alemãs do ABC
X
X
Análise dos prontuários DEOPS-SP
X
X
Apresentados de resultados em
congressos
X
X
X
X
X
Elaboração de artigos científicos
X
X
Redação da monografia
X
X
Apresentação da monografia
13
X
BIBLIOGRAFIA
ALVES, Eliane Bisan. Etnicidade, nacionalismo e autoritarismo. A comunidade alemã sob
vigilância do DEOPS. São Paulo: Humanitas/PROIN/Fapesp, 2006.
CAMARGO, Deives Manoel. O cotidiano de algumas famílias do município entre 1930 e
1960. In: Revista Raízes. São Caetano do Sul: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul,
nº 27, julho de 2003, ano 15, pp. 61 – 67.
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci; KOSSOY, Boris (orgs). Imprensa Confiscada pelo DEOPS,
1924-1954. São Paulo: Ateliê Editoria/Imprensa oficial, 2004.
CHAUÍ, Marilena. Brasil Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo, 2000.
CUNHA, Maria Inês Bernardi da. O legado das escolas dos imigrantes italianos para a
história da educação brasileira
DALMÁZ, Mateus. A imagem do Terceiro Reich na Revista Globo (1933 – 1945). Porto
Alegre: Edipucrs, 2002. Coleção História 48.
DIETRICH, Ana Maria. Caça ás Suásticas - O Partido Nazista em São Paulo sob a mira de
Polícia Política. São Paulo: Associação Editorial Humanitas/ Imprensa Oficial,
2007. (Coleção Histórias da Repressão e da Resistência, 2)
DONATO, Hernani. Colégio Visconde de Porto Seguro. Ponte entre duas culturas 1878 1993. São Paulo: Fundação Visconde de Porto Seguro, 1993.
ELIAS, Rodrigo. Braços para fazer um país. In: Revista Nossa História, Imigração: O Brasil
que veio de longe. Rio de Janeiro: Editora Vera Cruz, nº24, outubro de 2005, ano 2, pp. 1419.
FERRARI, Narciso. Teuto Brasileiro – um orgulho da colônia alemã. In: Revista Raízes. São
Caetano do Sul: Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul, nº 26, dezembro de 2002,
ano 14, pp. 111 – 113.
FERREIRA, Marieta de Moraes. Fontes históricas para o estudo da imigração. Rio de
Janeiro: CPDOC, 2000, 9f.
GREGORY, Valdir. Imigração alemã: formação de uma comunidade teuto-brasileira. In:
Brasil: 500 anos de povoamento. 2ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007, pp. 141 -157.
HALBWACHS, Maurice (1877-1945). A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990, pp. 25
– 89.
JOVANOVIC, Aleksander. Os Donauschwaben, uma comunidade de língua alemã em São
Caetano. In: Revista Raízes. São Caetano do Sul: Fundação Pró-Memória de São Caetano do
Sul, nº 9, julho de 1993, ano 5, pp. 11 – 18.
LE GOFF, Jacques. Memória. In: ROMANO, Ruggiero (ed.). Enciclopédia Einaudi, Memória
– História, v. 1, [S. l.]: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1997, p. 11-50.
14
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Globalização comunicacional e transformação cultural. In:
MORAES, Denis (ORG). Por uma outra comunicação. Mídia, mundialização cultural e
poder. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2003.
___________________________. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e
hegemonia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2003.
MARTINS, Ana Luiza; DE LUCA, Tânia. História da imprensa no Brasil. São Paulo:
Contexto, 2008.
MARTINS, José de Souza. Subúrbio. Vida Cotidiana e história no subúrbio da cidade de São
Paulo: São Caetano, do fim do Império ao fim da República Velha. São Paulo: Hucitec; São
Caetano do Sul: Prefeitura de São Caetano do Sul, 1992.
OSMAN, Samira Adel. Imigração e o Tema Movedor. In: História Oral: 15 Anos de
Experiência do NEHO-USP, 2006.
PERAZZO, Priscila Ferreira. O perigo alemão e a repressão policial no Estado Novo. São
Paulo: Arquivo do Estado, 1999.
POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. In: Estudos Históricos. Rio de
Janeiro, vol. 2, nº 3, 1989, pp. 3 -15.
SIRIANI, Silvia Cristina Lambert. Uma São Paulo alemã: Vida quotidiana dos imigrantes
germânicos na região da capital (1827 -1889). São Paulo: Arquivo do Estado, Imprensa
Oficial do Estado, 2003.
15
Anexo I
Passaporte de Heinrich Pilo, pai de Pedro Josefino Pilo (ex-aluno da Johannes Keller,
entrevistado durante a pesquisa inicial).
Turma do 3º/4º ano da Johannes Keller, por volta de 1935. Carlos Wachter, marido de Marta
Wachtler, está na fileira de baixo, na ponta da direita. Acervo de Marta Wachtler, ex-aluno da
Johannes Keller, entrevistado durante a pesquisa inicial. Carlos não quis gravar entrevista.
16
Núcleo de Pesquisas e Laboratório de Produções Midiáticas
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO DE OBJETOS DIGITALIZADOS
ACERVO PESSOAL DE DEPOENTES
Ficha: Nº:
Identificação
Data Visita:
/
Pesquisador:
/
Tema da Pesquisa:
Acervo Pessoal de:
Assinou autorização de cessão de direitos de objetos: Sim( )
Permite a reprodução do objeto: Sim( )
Descrição do Objeto (vide verso)
Código do Tipo do Objeto: __ __ __
Pessoas Presentes:
Lugar Relacionado:
Acontecimento Registrado:
Ficha Técnica:
17
Não( )
Não( )
Data Objeto:
/
/
Resumo:
Legenda:
Palavras-Chave (3):
HiperMemo
Nome do Arquivo eletrônico:
Imagem em 300dpi – local arquivado:
Informações para preenchimento da Ficha dos Objetos:
Codificação dos TIPOS dos Objetos:
Pessoais
Divulgação
001- Foto
200- Cartaz
002- Certidão
201- Folheto
Nascimento
003- Passaporte
202- Banner
004- Carteira de
203- Painéis
Trabalho
005- Reservista
204006- R.G.
205007- Cert.
206Casamento
008- Diploma
207009208010209-
Texto
300- Livro
301- Revista
Música
400- Música
401- Partitura
Arte Visual
500- Quadro
501- Escultura
302- Jornal
303- Poesia
402- LP
403- CD
502- Desenho
503- Charge
304- Diário
305- Artigo
306- Fanzine
404405406-
504- Caricatura
505506-
307308309-
407408409-
507508509-
Pessoas Presentes: procurar identificar o nome das pessoas que aparecem nas fotos (objetos) e as relações delas
com o depoente.
Lugar Relacionado: procurar identificar o(s) lugar(es) que aparece(m) na(o) foto(objeto).
Acontecimento Registrado; procurar descrever o acontecimento que motivou a foto (objeto).
Ficha Técnica: dependendo do objeto (ex. disco em LP) há uma ficha técnica associada. Copiar os dados da
respectiva ficha técnica neste espaço.
Informações Adicionais: procurar identificar o significado, o contexto, motivos e os detalhes contados pelo
depoente a respeito do objeto. Por que o inseriu no documento?
Legenda: informação inserida nas mídias junto à apresentação do objeto para o identificar. Não ser mais do que
uma frase.
Resumo: informações que serão disponibilizadas na mídia eletrônica (WEB) associada ao objeto. Deve ser de 2
a 5 linhas descritivas
18
Anexo II
Amostra dos documentos encontrados no Instituto Martius Staden. Convite para festa feito
pela Liga das Escolas Teuto-Brasileiras.
19