REVOLTAS DE ESCRAVOS NA BAHIA EM IN!
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REVOLTAS DE ESCRAVOS NA BAHIA EM IN!
C.D.U. 301.185.12(814.2=96) REVOLTAS DE ESCRAVOS NA BAHIA EM IN!CIO DO SgCULO XIX Sêrgio Figueiredo * Ferretti(l) 1 - INTRODUÇÃO Entre 1807 e 1835 ocor reram em Salvador urna série revoltas de escravos que de até ho respeito dos movimentos e lutas sociais provêm dos setores que comandaram po~ a repressão. Os je não têm sido muito estudadas. cos autores que se interessaram Procuraremos, em estudar as revoltas de escra baseado na tura disponível, principais buscando reconstituir eventos os conhecidos interpretar o signif! cado desses movimentos M. Chauí litera sociais. diz que não possuímos a história dos escravos,nem a vos da Bahia, o que deles ram conhecimento, corno Nina drigues, a partir de orais provenientes coletiva, torna Ro tradições da memória em função de seu con tacto com os negros, tiveram,e~ dos servos, nem a dos trabalhadQ tretanto,que se limitar na re res vencidos(1980: 124). O vence constituição dos fatos, aos re dor e transformado em único su latos de governantes, impedindo que jeito da história haja urna história dos vencidos. Afirma ser necessário urna críti ca da ideologia para se compr~ chefes de polícia e aos autos dos sos que conseguiram Nina Rodrigues ma que localizar. (1977:43) tudos futuros acabem homem produz suas condições de do a lacuna que subsiste Por outro lado, Ciro 1816 e 1826, descobrindo Cardoso (1979:384) preenche~ entre os le que vantes que nesse período deviam repre~ ter tido lugar". Outros autor~~ afirma urna revolta que escape a afir "é de se esperar que e~ ender a históriá real de corno o existência. proce~ sao, escapa à história e que g~ ralmente quase todas as fontes a corno Clóvis Moura, ampliaram te período de insurreições e~ baia * Trabalho de conclusão da disciplina Movimentos Sociais (Seminário Especial), apresentado à professora Ângela Tygel no Curso de Mestrado em Antropologia Social da U.F.R.N. (1) Professor Adjunto de Departamento de Sociologia e Antropologia da Universi dade Federal do Maranhão - UFMA. Cad. Pesq. são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 65 nas, encontrando mencionam documentos que pelo Bill Abeerdeen, a InglateE ra podia intervir em navios bra uma revolta de escra vos em Salvador em 1844. Esper~ sileiros que fossem encontrados mos que futuras pesquisas contri transportando buam para um melhor conhencimen escravos. fluência do Govêrno sobre o partido to deste agitado período. - CONTEXTO HISTÓRICO escravagista lisa detalhadamente a ana importâ~ cia da produçâo do tabaco no mércio de escravos co desenvolvido r6z proibindo Quei a importação de escravos para o Brasil,que en tretanto continuará clandesti namente ainda por alguns anos. entre a Bahia e a Africa Ociden Constata-se com estes fatos o tal entre o seco XVII e meados interesse do Govêrno Inglês em do XIX, e inclui a fase que est~ difundir mos interessados, talista, substituindo o que denomina e impor o sistema capi o traba o quarto período do trâfico de lho escravo pelo trabalho escravos, de lariado. ou o ciclo da Baia Benin, que vai de 1770 a 1850-51. Entre os principais tão ocorridos, eventos podemos votou a proibição Inglês do tráfico escravos e a partir daí a çâo Industrial, de Ingl~ terra, após o início da Revolu vai lutar para impor seu ponto de vista a ou tras nações. Em 1810, e assinado um tratado de aliança e amizade entre Portugal e Inglaterra. 1826, a Inglaterra reconhece Em a independência do Brasil impondo como condiçâo a abolição do trá fico de escravos. Em 1831, o verno Regencial considera aprova lei Go que ilegal o tráfico de es cravos para o Brasil. Em 2.1 - Escravismo assa Colonial en destacar que em 1807 o Parlamento 66 aprovado em 1850 a Lei Euzébio de Pierre Verger(1968) in Britânico (Verger, 1968:385), é 2 Por 1845, Autores recentes Ciro Cardoso e Jacob identificam Gorender o sistema co predominante como econômi no Brasil no r~ ferido período como de produçâo denominado nial.Para de escravismo colo Ciro CardosoU975:69), a independência do Brasil 1822 não significa a em derrubada deste modo de produção no país, que continuou sendo dominante até 1850 e só desaparecendo 1888. Baseado em Marx, o .afirma que "o grau de autor explora ção dos escravos aumentava função de dois fatores: 1) grau de integração ao em em o mercado Cad. Pesq. são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 internacional, o qual aumentando implicava numa maior o que tam exigência em lugar de veículos, existên bém ocorria em outras 2) a de sobretrabalho; usados íngreme, os negros eram c:i,dades cia de um mercado de escravos re do país. Os negros eram gularmente regados de todos os serviços uE abastecido, possibilidade já que de substituir cilmente os escravos permite a fa falecidos lIextrair do gado humano a maior massa de rendimentos sível no menor tempoll. que ~stes dois fatores po~ Sabemos existiam no Brasil pela constante e cres banos, sobretudo o do Apesar da inexistência de investigações sistemáticas a respeito de Pernambuco Bahia, semelhante bre o Brasil Meridional,como os de Florestan importação Ianni e outros, que primeira metade do séc.XIX,sendo Fernandes, fundamentalmente a tese de berto Freire sobre o de da escravidão brasileira, mo afirma Gorender, não se pode concordar num dos fatores dessas revoltas. Segundo Gorender, na a cidade, embora as de províncias, nistrativos domi capitais como centros admi e cqmerciais concentrassem es também grandes massas escravos. Gorender(1978: de com do "mito da os democra criti cado entre outros por Bastide , Pierson, Florestan e especialmente Fernandes por Clóvis e Abdias Nascimento e Moura como efe tivamentedemonstraram no passado os inúmeros levantes de vos ocorridos 464 cQ (1978:351), cia racial", amplamente no cravismo colonial, o campo defensores Gil benignid~ ração dos trabalhadores sados, que se constituirá Octávio contestam portanto elevado o grau de explQ escravi da so ma e a correlata todas as fontes,foi crescente na e a estudos de matéria - pri escravos africanos, que, segundo transpoE te de mercadorias. cente exportação de encar escra em todo o país,co afirma que em fins do séc. XVIII, mo os de inícios do séc. XIX em no Convento de Santa Clara Salvador, que nos do freiras Desterro, na Bahia, 74 dispunham de 400 escravos para interessam aqui. Gorender afirma (1978:354) mesmo que foi provavelme~ servi-Ias. Diz que grandes casas te a sociedade escravagista de Salvador chegavam a Brasil, aquela que no Novo possuir 60 ou 70 escravos domésticos, que no segundo porto da do Sul, cidade com e América topografia do experimentou sas, como reflexo dos maus Cad. Pesq. são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 Mun revoltas de cravos mais contínuas e do es inten tra 6i núcleos de escravos tos recebidos. 2.2 - Quilombos e Outros Movimen fugidos que se formaram desde os primeiros séculos da colonização tos de Negros em todas as regiões do país, e que em g~ Abdias do Nascimento en fatiza a importância de brasileiro recuperar sua memória assumindo suas raizes históricas o negro étnicas, e culturais e de tar para ser tratado como aos demais segmentos da de, através do ideal igual socied~ quilombi~ ta. Para Nascimento qui lombo significa lu (1980:263) reunião comunhâo existencial, herdada dos quilombolas XV ao XIX. Considera cendentes dos seco que os de africanos Afirma ( 275) que "quilombismo mento político popul~ assumir o P2 ção, devendo,assim, der democrático. des consti tuem a maioria de nossa 1980: é um a Quilo~ bista, inspirado no modelo da R~ pública dos Palmares no e em outros quilombos afirma com Arthur Ramos a necessidade de combater a visão de que o negro aceitou pacific~ mente a escravidão. séc.XVI que exis vamente em numerosos destacando Goulart Alípio (1972), uma síntese bre movimentos de reação de cravos, ocorridos de pequenas em toda parte, es cotidianas especialmente séc. XIX, até aos quilombos 68 so no Brasil, des sedições levantes , em sociais do séc. XIX xomo a Cabanada no Pa rá, a Balaiada no Maranhão vários outros. Baseado palmente em falas e de Presidentes e em princl relatórios das Províncias e de Chefes de Polícia, apresenta uma visâo destes movimentos a década de 1880, nas até diversas Províncias. Em 1798 eclodiu na hia a Chamada Alfaiates", "Conspiração assim eram alfaiates no ou dos membros ou " conspiração dos búzios", porque seus de(1971:141). Ba denominada porque alguns de seus concha africana, em ati sua participação bros se reconheciam tiram e existem no País". Encontramos Comprova que os negros participaram brasi implant~ çâo de um Estado Nacional Gou movi dos negros leiros objetivando lart diversos movimentos fra terna e livre, solidariedade,co~ vivência, ral são pouco conhencidos. por sados, incluíram-se ciais militares, essa segundo Entre os ros, pedreiros, mem Basti proce~ carpintel soldados e ofi comerciantes, funcionários,um professor, 5 a! faiates, 11 escravos ( Tavares, (1975:10). t considerada a prl Cad. Pesq. são Luís, 4 (1) 65 - 86, jan./jun. 1988 meira ra. revolução social Tavares(22/88) transcrição ciosos dos apresenta de dez boletins apreendidos autos referência França, que da devassa aos a sedi diversas nos Entre da e inícios importante cidadão~ ta que,entre Haiti, po de "homens brasileiros 1794/97 um pequeno de consideração" que repudiavam ploração colonial ção pela França cráticas ... as conversas homens bem alguns a idéia garantisse de uma 1804. Clóvis os negros que autoridades ca sobre mas desses dos conce república que igualdade". Tavares, entre 35 acusados, 4 líderes foram à morte: condenados os Luiz Gonzaga e Lucas Dantas das da Bahia são João de Deus o ex-escravo Manuel Santos Os demais denados a açoites Tendo ocorrido antes das ressam certa aqui, Cad. Pesq. pardo e dos foram con e banimento de que é provive1 forma, tenham o espírito as em revol as guerras muçulmanas que na África de então Negra. em artigo e retomado N.!. public~ em sua Virgens Faustino menos revoltas in póstuma(1977:38/39), faz alfaiates Nascimento, Lira. a ser histórico tas obra e os da epQ influência fator se desenvolveram 1900 das comportamento que do em mulatos documen o temor no contexto na Rodrigues soldados ti brasileiros. se travavam os em revoltas, por no Outro expansão Segundo dessas a possível escravos cluído cul no Brasil brasileiras fatos e des do l790,que demonstram ~ro entre Moura(l977:115 e comprovado tos fator independência o que mula que sua demo livres de escravos, com que outro em notícias soldados ex-escravos iniciada minou diz do séc.XVIII foi a revolta veram relações me diversos repercutiu atra desses discriminados, soldados, cendentes ex idéias ... homens socialmente tos, das de suas fissionais a e sentiam cativaram e artesãos gr~ fins que os escravos em Salvador de classes e de do XIX, e à república.Const~ atuou das favorecidas à liberdade (25/96) a presença pessoas fazem acontecimentos os inclusive escravos. constam e que conclamando vista brasilei anos nos inte que, de influenciado de rebeJdia, são Luis, 10 tendo 4 (1) em 65 - 85, referência a esta Islam na África mando Nina expansão do Ocidental. Reto Rodrigues, A. Ramos, Bastide,Verger e outros, deram guerra que essa continuava tas de escravos liderados 1807 no Brasil pelo e 1816 jan./jun. santa se nas revol e negros livres haussas e 2elos 1988 consi nagos entre e ma 69 lê entre 1826 e 1835. Verger (1968:326) afirma que notícias da expansão islãmica entre os iorubfis chegavam regularmente Bahia à cada vinda de a escravos se possui dados mais cientes pois a repressão mária, seguindo-se foi su a dos nagôs, entre 1826 e 1835. 3.1 - Revolta de 1807 a do Golfo de Benin. Diz que Rodrigues(1977:40)infoE guerra Santa dos fulani, em 1804. e o avanço do Islan,ao norte do ma que segundo declaração do Go país dos iorubás, se refletia na vernador da Bahia, em 1806 chegada de prisioneiros traram naquela província vos.Considera maciças escra que estas chegadas de escravos resultantes forças ao 3entimento principalmente haussás e nagôs, grande govern~ especial dor tomou conhencimento de que negros haussás tramavam um le - REVOLTAS NA BAHIA EM INI CIOS DO S~C. XIX um embaixador prevendo em 1900, um capitão a fuga de escravos cidade e do Recôncavo ne Brazil em 1909 parece que fo para o dia da procissão ram dos primeiros se pus Christi. pelo estudo das revol tas ocorridas na Bahia na primei da para zer guerra aos brancos autores a e, para cada bairro, Caldas Brito em 1903 e Pe. Etien interessar parte dor. Em maio de 1807,0 vante designando Nina Rodrigues jejes, revolta mente aos islamizados. 3 8.037 em Salva novas de dos escravos da Bahia, escravos, en dos quais permaneceram das guerras, vinham dar fa ,marcada de Cor Informado do local das reuniões, conseguiu prender sete líderes mandar armados ra metade do século XIX, atribuí com arcos e flechas, facas, pi~ das principalmente tolas e tambor. Segundo Bastide O desenvolvimento aos escravos. histórico eventos é apresentado mos principalmente gues dos por alguns autores entre os quais Nina Arthur Ramos (1971). (1971:148) e Verger(1968:325 os escravos planejavam seguir~ tar a amotinação Rodri rarem do algumas (1977), Pierre Verger(1968) e ainda Roger Bastide (1971) e Rodrigues para se ), aprovei apod~ embarcações e viajarem para a Africa. Os haus sás foram traídos provavelme~ te por negros de outra naçao. divide as revoltas em dois perí~ O governo ,em repressão, dos: primeiro,a que dai em diante fossem presos dos haussás, partir de 1807 e sobre as 70 insufi a quais todos os escravos Cad. Pesq. são Luís, 4 (1) 65 - 86, ordenou encontrados jan. /jun. 1988 na rua apos as 21 horas sem au dos em Rodrigues dão a revolta torização escrita de seu senhor. como ocorrida em 1813 e Os dois principais diz que Rodrigues culpados,AntQ nio e Baltasar,foram condenados numero à morte e os demais,em Verger indicou aque le ano por engano. Na madrugada de 28 de fevereiro de 1814, ceE de dez, açoitados em praça públi ca de 600 negros haussás ca. varam-se e armados invadiram ca suble sas as senzalas atacando a 3.2 - Revolta de 1809 PQ voaçao de Itapoã, matando ou fe Em dezembro de 1808, cravos haussás e nagôs es deserta ram de engenhos do Recôncavo, em janeiro de 1809, e desertaram outros em Salvador. Atacados por forças militares, refugiaram-se nas matas vizinhas. No combate foram mortos grande numero , de escravos e mais de 100 foram pr~ sos e condenados a trabalhos çados transportandomaterial for para aterrar a futura praça do tea tro. Nina Rodrigues,repetido por Ramos e Bastide, refere-se existência a de uma sociedade se creta de escravos chamada Obgoni ou Ohogbo, de origem reconstituida (1968:329) africana, no Brasil. diz que um vante teria ocorrido em Verger outro le feverei ro de 1810, sendo igualmente primido,o que em decorrência Principe Regente ordenou que escravos insurretos fossem tados em praça pública posteriormente re o os devendo serem vendidos P~ nos combates. ano Em maio do mesmo houve denúncias sás preparavam de que os haus outro grande le vante para a noite da festa de S. João, com o apoio de forros e cativos de outras nações da cidade e do Recôncavo. Planej~ vam atacar a Pólvora Casa de tirando o que precisassem lhando o rosto, com a e de degolar todos os brancos. plano foi denunciado mo intenção por O diver gências outre os escravos. O gQ verno proibiu os festejos prendeu os implicados. e No prQ cesso iniciado em fevereiro, 39 réus foram condenados, 12 morre ram na prisão, 4 foram condena dos à morte e os demais ,açoit~ dos e degredados para Moçambi que, Benguela e Angola. Verger(1968:332) ta que os ingleses acredi estivessem por traz deste levante pois um escravo do cônsul inglês era um - Revolta de 1814 Ramos e Bastide de 50 negros foram mortos açoi ra fora da Província. 3.3 rindo cerca de 20 brancos. Mais apoi~ dos que insulflava Cad. Pesq. são Luis, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 a revolta. 71 Segundo o autor, apesar da pressão as revoltas re continuaram e cita correspondência do cônsul inglês de 1816 fazendo referên cia a revoltas de escravos ocor ridas em janeiro e fevereiro da ten do proibido as danças mas mendando moderação reco em sua execu ção,e como os divertimentos blicos são autorizados parte,mesmo p~ em toda às pessoas das clas quele ano com mortes de senhores ses a destruição cidiu que os escravos dançassem debelados de engenhos, sendo por corpo de milícia cavalo recentemente a organizado. mais baixas, deci na Praça da Graça e na de Barba lho, at~ a hora da Ave Maria" "O Governo Geral do Rio de Janei Diz ainda que comerciantes ro, respondendo contentes a correspondê~ cia do Conde dos Arcos, da-lhe um policiamento ro sobre os escravos, recomen mais sev~ determina~ do que fossem proibidas de negros chamadas batuques, reuniões vulgarmente à noite, especialmente fizeram uma ao governador petição lembrando que na última revolta ·os negros vam: Liberdade. grit~ Vivam os negros e seu Rei e Morte aos e mulatos. brancos, Temiam o que havia ocorrido no Haiti e protestavam embora isto lhes fosse permitido para alegrá-los mas que não na Bahia. Reclamavam que os de • des contra a falta de policiamento ba viam continuar pelos abusos come tuques fossem autorizados aos tiaos. No Rio,tais reuniões eram domingos e que as reuniões dos permitidas pois os negros angola negros continuassem e benguela são diferentes em conversas em suas línguas. Bahia, especialmente dos da os haussás" (Verger:330). Segundo Rodrigues (156), o Conde dos Arcos era vorável aos batuques que dicamente agrupavam os origens e animosidades escravos suas reclprQ cas na Âfrica. Considerava esses batuques tinham o 3.4 - Insurreições pela noite dos Nagõs em 1826, 1827, 1828 e 1830 fa periQ por nações lembrando-lhes que efeito Verger(333) respondência cita nova cor do cônsul da Ingl~ terra em 1822, fazendo referên cias e levante de populações n~ gras ocorridas em junho na Vila de Itaparica, dominada pela PQ da desunião entre essas diversas lícia com a morte de dois ne nações dificultando gros e o ferimento dos outros 20. a revolta conjunta de todos. Verger(331 .afirma que "o Conde dos 72 cumpriu as ordens recebidas Arcos Rodrigues (48) diz que em 1826, nas Matas do Urubu,em Pi Cad. pesq. são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 rajá, havia um quilombo que mantinha se com o auxílio de uma ca sa de fetiche chamada casa can domblé. Alguns capitães do mato de abril de 1830, so negros at~ caram tres lojas de da Cidade Baixa vi: ando apoder~ rem-se de armamentos. Atacaram escravos atacaram este qui lombo sendo re também um depósito de primidos. A polícia interviu e, recentemente após sérios combates, capturou ferragens Africa, desembarcados libertando mais de 100 e alguns negros e inclusive uma ne ferindo 18 que se recusaram gra chamada Zeferina. Ela segui-los. decla da Juntando-se a a escra rou que os negros estavam contan vos, o grupo atacou um posto de do com uma insurreição polícia para roubar armas.Ataca de nagos da cidade na véspera do natal dos por vários soldados, Perseguições morre na cidade levaram ram mais de 150 e cerca de a numerosas prisões,ao recolhi foram aprisionados, 40 dispersa~ mento de atabaques e outros obj~ do-se os demais. Este movimento tos que,segundo destinava-se pertencer Verger, deviam a conseguir armas a algum candomblé. Se para uma grande revolta que gundo Verger, por esta época as tava sendo tramada para o palavras nagõ e malé começam a aparecer nos relatórios da poli cia. 13 de abril e que ter1a do por denúncias. es dia aborda Diversos es craVOS nagôs foram presos,incl~ De acordo com Nina Rodri sive o escravo Francisco, gues, em 22 de abril de 1827,uma havia participado insurreição çao de 1828. de escravos muçulmis do Engenho Vitória, próximo Cachoeira, provocou um em outros engenhos do vo, reprimido à 3.5 da Recõnca luta. Informa também que em - Revolta dos Malês em 1835 A revolta estava jada para a manhã do dia 25 11 janeiro, quando grande parte da população gros africanos de Salvador deser fim, deixando a cidade tou, juntando-se a outros de deserta. Deveria ser genhos vizinhos. Foram en atacados havendo vai a igreja do os presos. surretos. Estava Cad. Pesq. são Luís, 4 (1) Bon quase iniciada apanhar água das fontes cas e poderiam 1 de quando os escravos s~íssem para numerosos mortos e punições para diz que a plan~ de de maio de 1828 uma parte dos ne Rodrigues(50) insurrei levante após dois dias pela pOlícia em Pirajá, que realização 65 - 86, jan./jun. se juntar aos in prevista de incêndios 1988 públi a simul 73. tâneos em vários pontos da ci crade para distrair a atenção da polícia. Contava-se com o apoio do escravos de plantações do Recôncavo. emancipada, Guilhermina Souza,preveniu uma casa, dirigiE do-se para Agua dos Meninos. chefe de polícia avaliou nago havendo ai~da grande Rosa de feridos que morreram a um vizinho, co de escravos,sobre a mortos, numero de depois. A polícia passou então em revista diversas casas de na gôs libertos, de haussás e soubera por várias alguns escravos. Nessas fontes, ~n O em revolta que se tramava e de que de buscas formando que alguns nagôs já ha foram apreendidos viam chegado de Santo Amaro.Avi péis escritos com sou que planejavam árabes e fardarnentos que consta os brancos, matar todos cabras e negros de livros e p~ caracteres vam de túnicas brancas e barre outras nações que não quisessem tes com distintivos. depoi:. se unir aos revoltosos,poupando mentos demonstraram lhes servir de escravos. forma tomadas que os es . critos eram oraçoes malês ou mu Comuni çulmis, e que Luís Sanin, da na cado o fato ao Presidente Província, Os a apenas mulatos destinados da diver ção Tapa, que era mestre de en e efetuadas que os escra \ ~ vos fizessem uma junta contr~ buscas em casas de africanos. buindo com uma ou meia pataca ca sas providências sinar, aconselhava Numa das buscas, cerca de 60 n~ da um, para comprarem gros armados reagiram dispersa~ de culto e passarem do os guardas. Dividiram-se seus senhores. dois grupos, atacaram a em guarda roupas alforria a Encontrara-se fragmentos de inscrições com do Palácio, o Colégio dos Jesuí frases do Alcorão e rezas for tas e tentaram várias vezes tes colocadas em pequenas boI in vandir a prisão da rua da Ajuda sas de couro, usados como talis para libertar prisioneiros. mã contra todos os perigos, bem caram outros quartéis de At~ poli como tábuas para ensinar a es cia e seguiram para Âgua dos Me crever. A descoberta desses ob ninos, onde havia um quartel de jetos em mãos de africanos, que cavalaria. Ai foram se pensava serem planos de violentos travados combates em que morre ram cerca de 40 escravos. 74 incendiaram mais de 60 o número de Na vespera, uma merciante ainda manhã retardatários Pela surreição, provocou a in oeport~ 1 ção de negros livres e penas de Cad. Pesq. são Luis, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 açoites aos escravos. Também ram encontrados rosários fo muçul Contra 08 Revo1tosos Entre os quase 300 ne gros que foram julgados,194 eram nagôs, 25 haussás, 9 jejes, 7 mi nas, 6 tapas e os demais,de tras procedências. Haviam 125 que eram africanos emancipados. ou Gra~ de parte dos revol tosas sabia ler e escrever em caracteres árabes, diversos eram mestres e alguns eram ricos. Verger(3411 afirma que os processos existentes nos arquivos da Bahia são incompl~ tos, tendo desaparecido os nos da revolta. Nina (58/60) pl~ Rodrigues afirma que nao trou documentos encon originais os planos e apresenta sobre tradução oficial feita pelo escravo no, de documentos Albi encontrados na casa dos nagôs libertos Gaspar e Belchior da Silva Cunha.Transcre ve a tradução encontrada de nove papéis e duas tábuas.Alguns lições em caracteres tros,oraçôes uma tradução dos árabes, eram ou transcrita instruçôes para reunião dos insurretos em Pú traduzida, e comentada Rolf-Reichert, por que foi republi cada na série Documentos O autor publicou os 30 tos encontrados, nº 9. documen com a respecti va tradução. Constata que os do cumentos transcrevem textos do Alcorão, orações livres, amule tos ou orações fortes, ções, exercícios invoca de escrita que revelam grau de e instrução muito variada de seus autores Alguns contêm nomes de te e destinatário. . remeten O autor con clui que nada nestes documentos era subversivo, embora sua po~ se era suficiente para que o réu fosse condenado como comprQ va pela transcrição processos. de um dos Afirma tratar-se tipo de escrita de que se vem os negros do Sudão tal, variedade de ser Ociden de tipo que usa no Magreb, originária se da Tu nísia. Os lideres para proteger o cor po e alguns continham do cumentos árabes do Arquivo blico do Estado, manos sem cruzes. 3.5.1 - Processos Afro-Ãsia, identificados foram muçulmanos considera dos chefes da insurreção.Verger Itapagipe. Havia alguns nomes co (324I mo Mala-Abubakar guintes; Aluná ou Arumá,escravo e o de um escra vo de cidadão inglês. nago com cicatrizes Em 1966/68, o Centro Estudos Afro-Orientais Ba. publicou em sua destaca entre eles os se da de tório, negro nagõ chamado Sulé, U.F. que vendia tecidos; Luis Sanin, Revista Cad. Pesq. são Luís, 4 (1) tribais; Vi negro Tapa, escravo que 65 - 86, jan./jun. 1988 ensina .15 va oraçoes e era alufin ou sacer dote; Pacífico Licutan, vo alfaiate. escravo que tinha grande prestígio entre A. Ramos(1971:50) referência ainda a Luiza Mahin, os nagos por ser alufá. Em novem mãe do poeta negro bro de 1834 fora posto em depôs! ta Luis Gama, de que se to na prisão da Ajuda, por ser da de seu senhor com os carmelitas. Recebeu dívi padres inúmeras vi princesa dos redutos da revolta. para obter sua liberdade, a que vos de estrangeiros seu mestre se opôs. Durante a tentaram assaltar a cadeia ele estava preso. Foi onde condenado a receber 1000 açoites; Elesbão do Carmo, haussá emancipado, co dizia refere-se um Verger escra a inculpados. Baseados em correspondência do consul inglês na Bahia, diz que muitos escravos de ros participaram estrange! da insurrei çao e que alguns foram proce~ sados e outros foram protegidos nhecido pelo nome de Dandara.Po~ por seus donos alegando o priv! suia uma barraca de cOffiãrcio e 1ãgio britânico. tambãm ensinava a ler em nagô e en t re os 160 escravos em haussá e era alufá: Luiz, faiate, escravo que aI confecciona va túnicas das usadas pelos voltosos, tinha 50 anos e re rece Constata que Lricu Lpa dos, 50 eram escravos de estran geiros, 45 dos quais de ses, muitos deles que ensinavam ingl~ professores a ler o Alcorão . beu 500 açoites; Belchior da Sil Afirma que em maio do mesmo ano va Cunha, nagô com marcas o Presidente bais, pedreiro emancipado;Gaspar da Silva Cunha, nagô, emancipado. tri alfaiate, Os dois irmãos alug~ vam quartos a outros nagôs e sua casa so se falava em em língua nagô; Ova, escravo carregador de .- que em sua casa se localizava (344/346) negros abolicionis na Africa.Diz sitas e seus amigos se cotizaram revolta várias vezes os faz da província fez discurso que impressionou bem o consul britânico,fazendo pro fissâo do fé contra o tráfico de escravos. A Assemblãia Provincial suspendeu por 30 dias as gara~ palanquim que morava na casa dos tias civis individuais irmãos Silva Cunha; Mateus Dada, do que se fizessem investigação escravo em todas as casas que permiti~ .; fereiro; Ojo, escravo n~ gô carregador de palanquim; ro, escravo nagôi gô emancipado 76 NamQ Josã Aliar, n~ e Josã,Congo,escr~ sem escravos, trangeiros. contives inclusive de Nessas çôes foram encontradas es investig~ algumas Cad. Pesq. são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 armas ocultas. Nagôs que culto aos orixás foram dos por vizinhos, os emancipados faziam denuncia entre os quais Tomás Antônio e em trabalhos portação forçados ou em de e em açoites para os escravos. Cinco condenados a morte foram executados em 14 de Domingos da Silva, que us~vam ves maio de 1835: Jorge da Cruz Bar tes brancas, colares, dançavam e bosa e José Francisco cantavam em companhia de ves, haussás emancipados,e outros negros. Ana Maria, escrava de Ana Joaquina, antiga nago escrava jeje emancipada ,foi presa com sua dona pois em sua casa foram encontrados tambores e instru Gonçal escravos nagôs Joaquim, Gonçalves. Pedra e Entre os 286 julg~ dos, 26 eram mulheres. diz ter encontrado 119 julgamentos. os verger vestígios As penas de de mentos do culto. Também pelos açoite variavam de 50 a 1.200 e mesmos motivos Pedra foram inflingidas foi preso Lino da nação mina. Rodrigues por dia, em praça pública, apl~ (59) refere-se a atos de bravura evidentes processos nos de alguns que se savam a dar informações, alegavam desconhecer companheiros ou de até 20 pétuas. Quatro foram condenados o escravo nagõ Henrique, ferido antes de morrer d~ que e que não diria mais a banimento. Os que que usar um colar de ferro ou uma cadeia nos pes, o que os res deviam conservar permanecessem duas coisas". Afirma ainda outras Províncias. carras co, os que foram condenados morte a foram fuzilados como sol senho enquanto na Bahia. Por so diversos que cumpriram penas de açoites tinham nada pois não era gente de dizer nao se tendo encontrado ~nos que Diz que o convidaram ve condenações de trabalhosforçadose degaleras ot!.!: inclusive clarou que "não conhecia os cadas entre março e junho .. Hou recu de moradia. nos combates, à razão de 50 foram vendidos para Duarte Mendes e sua lher Sabina da Cruz, emancipados is mu africanos que denunciaram a dados. Verger afirma que os doeu insurreição, mentos sendo incompletos im dos em 1845 e 1850 pelo Governo, de que os dispensou e possível conhecer o conjunto penas inflingidas executadas. e as que foram Houve pedidos de ele mência que transformaram de morte de alguns penas emancipados de impostos foram recompens~ do pagamento (Verger:350). Segu~ doVerger(358), o Presidente Província declarou em 1835 cerca de 150 africanos Cad. Pesq. são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 da que foram 77 deportados para a Africa e que po mesmo ano mais de 700 portes foram fornecidos nos que voltaram ao pass~ a africa continente, iniciando o movimento de retorno de escravos que se prolongou até corno Guerra dos Ma lês, a recusa dos senhores libertação de negros que ciam pelo resgate o valor se estipulava que' para os escravos. Luiz, que ao tempo de Nina Ro drigues exercia as funções Nina Rodrigues liman, confiou-lhe realizava seus estudos sobre negros a ofere fins do séc. XIX, a época em que primeiros que o de liman na época da revolta era o negro na Bahia. Em 1845 os i~gleses e~ malê Abukar, que assinava tabelecerarn o Bill Aberdeen prol dos documentos escritos em bindo o tráfico de escravos no be encontrados pela polícia e por Albino. Luiz re Atlântico Sul e autorgando-se o traduzidos direito do intervirem em embarca velou a Nina Rodrigues ções brasileiras,que me brasileiro seria siderado corno pirataria con este trá fico. O tráfico de escravos tretanto continuou 1850, quando,por no britãnico en intenso até apoio do aos gove~ parlamentares anti escravagistas(Verger;385) foi finalmente abolido pela Eusébio de Queiróz, tendo nuado clandestinamente Lei conti até mea Verger(349) comentando essas Nina Rodrigues descobriram um de Abukar era que insurreições, concluiu que "não nunca quem era ache To mé,que mais tarde foi deportado para a Africa, mas acrescenta o autor que nenhum Tomé teve participação surreições, conhecida nas ca de Nina Rodrigues, À dos Jelhos africanos terço sobreviven culto organizado. creve esta organização ga autoridade ep~ segundo ele afirma, cerca de um mantinha in o que poderia se de tes na Bahia era muçulmano lembra ára que o no ver ao sigilo dos fiéis. dos da década de 1850. e Des a partir central do imã ou liman, dos outros sacerdotes, marabus ou alufás,afirmando ter me do liman da Bahia naquela ep~ conhecido sete. Descreve sua ca era desconhecido da policia". mesquita, atos fúnebres, feti Nina Rodrigues(61) diz ches e fe real desta revolta,pois o no acredi possuía diversos tar que o liman em 1835 era Paci gris-gris, mandingas fico Licutan,pois tos de negros muçulmis. os africanos ao seu sobreviventes vam corno motivo da 78 conhecida tempo da insurreição alguns exemplares ou amule Enviou de sua ção para serem traduzidos Cada Pesq. são Luis, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. cole em Pa 1988 ris por um padre maronita. Apr~ sentou a versão portuguesa de cinco dessas peças que versículos místicas contém do Alcorão e palavras escritas de modo lico e semelhantes aos simbó encontra dos entre os revoltosos. influências revoltas islãmicas nestas liber e de tos. Nina Rodrigues, seguido por A. Ramos e Bastide, analisa os grupos de escravos islamiza dos chegados ao Brasil.Bles conhecidos eram como muçulmis ou lês. O têrmo muçulmis, muçulmano. ma deriva de O termo malê tem dado origem a várias suposições.Segu~ do Rodrigues (68), Malê ou Melli deriva de Malinké, homem do Ma li, um dos famosos impérios do (130), diz que Mali é modificação do termo mallit os árabes davam aos povos ké e que passou a Malin Diz que Nina Rodrigues em seu malês, os mandiga, os sofreram com o Islamismo. ainda identificou que significar negros que na África contactos em vários como os Malinké, grupos os haussá Sudão Central e Nigéria, subdivididos do também em grupos, e tros sudaneses ou islamizados como dos que na Bahia tomaram o nome genérico de malês, ou muçulmis, sendo que o maior grupo constituido tempo entre os negro os fula, haussá, os tapa e outros, estavam desaparecendo os que em fins do séc. XIX. Ramos identificou tre os negros Islamizados vieram para o Brasil, os en que peuhls era pelos haussás.Ainda a este respeito, Verger(352) forma que os dicionários i~ ioru bás traduzem a palavra imalê Reichert , por muçulmano, e Rolf em "Documentos Árabes •.•", diz que a palavra malê provem do iorubá "imalê", que talvez deri ve do árabe e nada tem a ver com Mali, como se acreditava significando islamizado. Manuel Querino( Vale do Niger. Ramos, em As Cultu ras Negras Sudão, que foram esses negros islamiza Discutindo escravos subdivididos do os tapa, bornu o gurunsi.Afirma 3.5.2 - O Têrmo Malê de fulá, os mandiga 101) 1955: diz que não encontrava verdadeira estrutura da palavra malê e pensa como que deriva de conhecidos Rodrigues malinké,que eram no Brasil como malês e eram islamizados.Querino senta também inúmeras ceu. Transcreve apr~ informa çoes sobre os malês que conhe diversas suas orações com a de respectiva tradução, descreve diversas suas cerimônias casamento, alimentares Cad , Pesq. são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. a religiosos, feitiços, o hábitos e higiênicos, 1988 de o j~ 79 jum, etc. Considera .verdade a atribuição da respossibilidade ser sos em várias partes do Brasil, malês corno no Rio e em S. Paulo, con~ levan tituindo uma comunidade purit~ na, isolada dos demais africa nao aos dos tes de 1835, achando que se via sobretudo aos nagôs e sas, haus pois nos processos a revolta não constam de sobre referên cias a escravos malês. Diz que entre os 1500 participantes da revolta de 1835 a que se refe riu Etienne Brasil, não se ap~ encontravam diluídas em diver sas práticas religiosas das ma cumbas e candomblés. Alipio Goulart(163) tra que c16vis Moura,em liôes da Senzala", mos "Rebe 1963, refe rou a presença de malês.Conc1ui re-se a documentos que os malês não tornaram parte ainda uma revolta de neste levante e sugere que o ocorrida na Bahia em 1844, dil~ p~ tando assim o ciclo de insurrei mesmo teria sido insulf1ado los ingleses então residentes material brasileiro sua existência. prudentemente despr~ particip~ çao para evitar conflitos com aquela naçao. mencionando escravos çôes baianas. Diz que na Bahia, dizendo que o governo zou as provas dessa embora o seja reduzido,constata O movimento diz que o termo malê englobava todos escravos e constata islamizados os nagos islamizados. As Francisco Lisboa,que dos participantes preto fora da um insurrei çao de 1835. Foi instituído fundo monetário malês ainda existentes sas. A polícia apreendeu para as mate di rial na residência fícil saber se esta posição de ceIo de Santa Escolástica, descrição dos malês para com ele ou de Querino para com seus leitores. Ramos(143) e Bastide(204) do preto Ma~ do foi sufocado o levante denúncia da amante de qua~ por Francis co. info~ mam que o islamismo dos negros no Brasil sempre esteve sincre tizado com práticas um desp~ ao seu tempo. Conclui que e Querino era devido à e reuniôes que Manuel Querino era amigo de na Bahia foi liderado por haussás, tapas, foram feitas na casa do Verger(350) 4 - INTERPRETACOES E DO DAS REVOLTAS SIGNIFICA Corno podemos interpr~ africanas, fenômeno que teria se na Africa. Eles estavam 80 nos e que suas sobrevivências se iniciado dispe~ tar estas explosôes de violên Cad. Pesq. são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 cia de escravos e ex-escravos aceitar para si próprios o que se desenvolveram tigma da escravidão". crescente com ímpeto entre 1807 e 1835 Bahia? Nina Rodrigues, seguido por A. Ramos e R. Bastide, atri Diz tempo um elemento mesmo religioso, so porque a herança poderio e de militarismo talmente religiosas. receberam tide consideram mesmo ter uma verdadeira sido guerra santa çulmana contra cristãos. mu Bastide (153) diz que este ponto de vis era uma herança muçul mana acumulada pelas guerras s~ culares entre negros tas, constituindo fetichis conseqllent~ mente uma cruzada religiosas. Aderbal Ju claro que também há o rema em "Insurreiç5es Negras no econ5mico. Brasil", 1935, que v~ nesses mo tivavam apoderar-se vimentos a expressão da luta de ra nelas fazerem trabalhar Embora não negue a exist~ncia elementos religiosos, a religião como idt~lógica de que é condicionada econômica que seria apenas um p~ e to de vista análogo e pon defendido também por Djacir Menezes,em "O Outro Nordeste", Ri beiro,em e por João "O Elemento Negro", vros estes que ,como da Senzala",de conseguimos li "Rebeli5es Clovis Moura, nao localizar. Bastide obj~ da terra p~ mula ci~ncia de classe. Os nos conservavam Considera cons muçulm~ suas escolas lugares de oração freqüentavam re e nao da ... e e pouco outros escravos" assim que a religião está na ess~ncia dessas revol tas. Na interpretação revoltas, não podemos a influência destas esquecer do contexto rico que destacamos histó no item pois havia no país uma (154} ou tos. Elas teriam surgido da instrumento Bastide diz que Estas revoltas ligião muçulmana E elemento tros negros, crioulos e considera superestrutura la infra-estrutura propagador. . de que ta foi criticado por classes sob sua forma colonial is social bui aos levantes causas fundamen Ramos e Bas que "o elemento étnico é ao na es 2, longa conside expri:. re que essas insurreiç5es tradição anterior de fugas de escravos para quilombos,que se mem sentimentos continua durante o período variados e plexos. Diz que "há um com elemento racial: os haussás e os que na África eram senhores nagos de escravos e da terra e não podiam que nos interessa aqui, e que e an tecedido pela Revolta dos Al faiates em que participaram nu merosos escravos e negros Cad. Pe sq , são Luís, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 eman 81 mesma cipados de Salvador. Da internacio forma, no contexto nal, acontecimentos como a inde a consciência dos maus tratos da escravidão e bu cando uma açao efetiva para com do Haiti, conseguida a bater este sistema e subverter partir de revoltas de escravos , a ordem estabelecida. Pereira de Queiroz lernbran pendência eram do conhecimento geral forme indicam diversos con depoime~ tos. Além disso, a partir 1807, a Inglaterra, do capitalismo de pela lógica em ascençao, come (1977:394), do Engels e Weber, diz que a re lj::riãotambém pode servir contribuin do para o movimento histórico, ser especialmente vil tomando medidas con redenção ativas rias revoltas participação va ficou evidente a de escravos de cida dãos ingleses, sobretudo a de 45 desses escravos entre os 160 cravos inculpados es em 1835. Seria de acordo com a atuação inglesa uma atitude favorável a tais re como veículo subversivo, çava a se opo r ao trabalho tra o tráfico de escravos.Em as religiões de (em que podemos cluir o islamismo), in que se de senvolvem em camadas sociais em situação negativa de gio, contribuindo de consciência privil~ para a tornada das dificuldades e das injustiças sociais e para 3e lutar pela mudança de urna si tuação considerada abominável, voltas, para que o Brasil,diante num movimento pela modificação deste perigo,se da realidade. As recentes revol desinteressase pela economia escravocrata. Outro elemento mente importante mo o principal drigues, tas no Irã igual e destacado de todos por Ramos e Bastide as guerras santa dos na África Ocidental se todos escravos camos,assim,a mento étnico religioso junto com elementos políticos in qu~ Verifi influência do ele atuando econômico e contribuindo vista. de culturas diferentes, islamizados,s~ bretudo haussás e nagos. ilustrar este ponto de Ro em inícios do foram para Assim, em situação de contactos mulçumanos fluentes das revoltas podem servir co foram séc. XIX. Os líderes mais 82 desenvolver e para a reli gião, criando urna irmandade ri t~al revolucionária, constitui um dos fatores atuantes na luta pela transformação social, ao lado de outros fatores que tam bém atuam. A identidade e a solidariedade étnica religiosa constituíram-se, assim em elemen tos de unidade de interesses criando movimentos de caráter político-religioso. Cad. Pesq. são Luís. 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 Como as fontes destes le vantes foram deixadas Ia sua repress~o, contrãrio", apenas p~ ou "pelo bando na denominaç~o ro Cardoso, nao é fãcil de Ci ter-se uma visão clara dos objetivos da estratégia destes movimentos. Em geral as revoltas eram jadas para eclodir num plan~ dia to importante como o Natal,a ta do Bonfim, a prociss~o nas, em que a cidade cipal da festa. Eram priQ planejadas por escravos e libertos da cida de, em acordo com escravos de plantações de engenhos da vizi nhança ou de qui lombos mais prQ ximos. Os levantes na cidade savam conseguir vi armas e munições, atacar guarnições policiais nores com o mesmo fim, e enateriormente. as revoltas me liber sidade crescente, culminando com a de 1835, que,segundo gumas fontes, contou com destaca-se cia do islamismo, aspecto a influên que difundia a escrita árabe entre os africa nos e seus descendentes, lização de cerimônias de culto com vestes e o uso de talismãs e oraçoes fortes, comuns entre os negros islamizados usadas e que eram como proteção contra os batuques ou de candomblés ram igualmente punidos. mes ridades, decorrente respoQ às auto geralmente do temor da participação de amante ou por divergências o local, aclamando chefes negros. tre grupos rivais, cujos Incluíam escravos e lhes não foram bem emancipados que eram artesãos ou pequenos comerciantes instruídos,que e,em sabiam ler e sinavam aos demais.Alguns res conseguiam geral, en lide sobrev í.ve r de uma dos. A de entre os revoltosos,e~ mo matar os brancos para dominar africanos fo Consta ta-se também a participação sãveis pelas denúncias de tam bém apoiavam as revoltas e escravos urbanos. Visavam à África ou inimi gos. Negros que participavam bora vãrias tenham sido para retornarem rea especiais depósito e contar com o apoio de de embarcações a próprias mulheres mente apoderar-se aI cerca No tar outros escravos presos ou em igua1 Assi~ foram tomando inten religioso, estivesse no lugar acumulada se experiência fes deserta com a pop~ lação concentrada guia, a partir da de 1500 revoltosos. juni partici paçao mais ativa na que se san de Cor pus Christi ou as festas relativamente e revolta a outra, tendo repressao vera e violenta, tes nos combates, um en deta esclareci era sempre se com muitas mar apesar do in teresse natural e se recapturar os escravos, Cad. Pesq. são Luis, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. condenações 1988 a p~ 83 nas de morte e de numerosos açoi fun tes em praça pública ou de degr~ diam em ocasiões de disputa con do para os emancipados, tra o inimigo comum, do-se o esquema de reforçag segurança p~ ra evitar novos levantes. Embora as revistas tives sem assumido intensidade crescen te, servindo as anteriores como preparo as que se seguissem, com destacan do-se os grupos dos haussás,dos nagõs, tapas, e outros. Nenhum dos lideres parece que tinha o controle sobre o grupo todo,não tendo sido identificados res centralizadores em lide nenhuma auge em 1814 a 1835, constatamos das revoltas, além da liderança que suas formas de dos mais alfabetizados. organização, pelo menos em função dos atualmente disponíveis, dados parecem ter sido incipientes. tuiam-se,assim,mais sões de violência Consti em que expl~ experime~ tavam potencial idades contra tuações de opressão. Somos si leva Consta ta-se a atuação de grupos camente segmentados que se diam por ocasião das fun revoltas e cuja descentralização agia como fator dé etni étnica minimização dos fracassos, gerando novas re voltas ou procurando estraté dos portanto a considerá-las,com gias alternativas Hobssawn e Ciro Cardoso, como m~ mento de retorno de vimentos pré-industriais e pré-p~ vos ao continente liticos, isto é, movimentos se inicia por volta de1835.Tais surrecionais "in que, mesmo chegando a graus inusitados de violência, são incapazes de articular projeto politico como um alternati va às formas vigentes de domina ção social" (Ciro Cardoso, 386). Tal constatação nui a importãncia não 1979: dimi histórica des tes movimentos como tentativas de organização popular contra Podemos igualmente tatar o caráter tes movimentos policéfalo como o movi ex-escra africano, que revoltas de escravos, corno rias outras, constituem dios pouco conhecidos epis~ e que história oficial procura frentam até hoje no a ign~ rar, na luta que os negros de sua afirmação va en processo como grupo cial, ao lado de outros so grupos denominados. a 5 - REFER~NCIAS opressão das elites dominantes. cons des político - religi~ sos, que tinham vários lídéres 84 com vários grupos que se , BIBLIOGRAFICAS BASTIDE, Roger. As Africanas Religiões no Brasil. Liv. Pio neira/Edusp. S. Paulo, 1971 (original 1960). Cad. Pesq. são Luis, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988 CARDOSO, Ciro Flamarion. "Sobre canos no Brasil. Brasiliense, os Modos de Produção Coloniais Vol. 9. C. Ed. Nacional.S.Pau da América". 10, 1977(original ln: América Colo nial. Org. Theo Santiago.Ed.P~ Ias. 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Centro de Estudos Básicos Universidade Federal do Maranhão Campus Universitário Tel.: do Bacanga (098) 221-5433 65.000 - SÂO Luis - MA. 86 Cad. pesq. são Luis, 4 (1): 65 - 86, jan./jun. 1988