Maciço Ibérico, W de Portugal
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Maciço Ibérico, W de Portugal
Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 9-35 ISSN: 0213-4497 Pseudotaquilitos e ultramilonitos associados a faixas de cisalhamento no Maciço Ibérico (Portugal): implicações para a geotectónica e a paleo-sismicidade Varisca Pseudotachylyte and ultramylonite bands in relation to shear zones of the Iberian Massif (Portugal): geotectonic and Variscan palaeoseismicity implications CHAMINÉ, H. I.1; FONSECA, P. E.2; F. MONTEIRO, J.3; BORGES, F. S.4 & MUNHÁ, J. M.3 Abstract Pseudotachylyte is regarded as a friction melt developed during brittle faulting at depths within the crust that approximate the seismogenic zone. It is a dark, very fine-grained fault rock, which may intrude as thin veinlets the surrounding gneissic rocks. Our work aims at studying pseudotachylytes identified in three main sectors of the portuguese branch of the Iberian Massif (Ossa-Morena Zone). The study took advantage of both field (geological and structural mapping) and laboratory (mineralogy, petrography, structural petrology) approaches. In mylonitic gneisses from NW Portugal (Vale Maior region, Porto–Albergaria-a-Velha–Tomar shear zone), evidence was found for the development of ultramylonite bands by ductile deformation of pseudotachylyte. In the SW Portugal (Alvito–Viana do Alentejo region and Vale do Guadiana region), geological mapping has shown deformed pseudotachylyte and ultramylonite bands in felsic gneisses. In the gneiss a mylonite shape fabric was produced by a continuous structural event during retrogression from amphibolite to upper greenschist facies. A microstruture typical of ultramylonite was produced in these deformed pseudotachylyte bands. These rare occurrences are discussed on the light of the Iberian geology framework in relation to frictional melting mechanisms in major shear zones and as meteoritic impact structures. Key words: Pseudotachylytes, mylonites, shear zones, tectonics, geodynamics, Iberian Massif, Portugal. Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 9-35 (1) Departamento de Engenharia Geotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto. Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 431, P-4200-072 Porto. Portugal, e Centro de Minerais Industriais e Argilas da Universidade de Aveiro. (2) Laboratório de Tectónica e Tectonofísica Experimental (LATTEX) e Departamento de Geologia da Universidade de Lisboa. Ed. C2, 5º piso. Campo Grande. 1749-061 Lisboa. Portugal. (3) Centro de Geologia e Departamento de Geologia da Universidade de Lisboa. Ed. C2, 5º piso. 1749-061 Lisboa. Portugal. (4) Centro de Geologia e Departamento de Geologia da Universidade do Porto. Praça de Gomes Teixeira. 4099-002 Porto. Portugal. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 1. INTRODUÇÃO Os pseudotaquilitos são um tipo especial de rocha, intimamente associados a falha e/ou a zonas de cisalhamento com movimentação muito intensa, envolvendo fenómenos de milonitização extremos e, por vezes, mesmo de fusão por atrito, e que possui uma natureza vítrea ou de granularidade muito fina (MAGLOUGHLIN & SPRAY, 1992; PASSCHIER & TROUW, 1996). Estas rochas, normalmente densas, são compostas (mesmo à escala submicroscópica) por uma matriz afanítica de material de tonalidade escura com inclusões em proporções variáveis de fragmentos líticos, de forma arredondada a angular, da rocha encaixante (CUREWITZ & KARSON, 1999). No terreno, os pseudotaquilitos são frequentemente confundidos com rochas ígneas devido a ocorrerem sob a forma de veios e de filonetes de aparência intrusiva. O estudo de rochas muito deformadas fascina, ainda hoje, a maioria dos geocientistas, desde que foram referenciados, por LAPWORTH (1885) e CLOUGH (1888) no País de Gales e na Escócia, um tipo muito particular, os milonitos. Um subtipo particular destas rochas foi designado por pseudotaquilito e descrita pormenorizadamente, pela primeira vez, por SHAND (1916) aquando da caracterização das rochas gnáissicas do domo de Vredefort nas redondezas de Parijs (SW de Joanesburgo, África do Sul). Assim, a designação de pseudotaquilito (“pseudotachylyte”, SHAND, 1916; MAGLOUGHLIN & SPRAY, 1992; ou “pseudotachylite”, na grafia da maioria dos autores NorteAmericanos e da África-Austral; e.g., KILLICK, 1990; REIMOLD, 1995) foi Pseudotaquilitos e ultramilonitos 11 dada a este tectonito por ser muito semelhante, quer pelo modo de ocorrência em estreitos veios de tonalidade muito escura quer pela sua textura vítrea e matriz afanítica, à rocha ígnea denominada de taquilito ou vidro basáltico (SHAND, 1916, 1951). Os vários artigos científicos dados à estampa, no último século e em particular no último decénio, evidenciam o espectacular avanço no conhecimento no estudo dos pseudotaquilitos com o recurso a técnicas analíticas e microscópicas (consultar o número especial, editado por MAGLOUGHLIN & SPRAY (1992), da ‘Tectonophysics’ [204, 3/4: 197-337] subordinado à temática “Frictional melting processes and products in geological materials”; e as sínteses posteriores de REIMOLD (1995) e de PASSCHIER & TROUW (1996). Os pseudotaquilitos ocorrem quase sempre ao longo de superfícies de ruptura tais como carreamentos, falhas normais e de desligamento (FAURE & PIN, 1979; GROCOTT, 1977, 1981; JEGOUZO, 1986; PASSCHIER, 1986a,b; JEGOUZO & ROSSELO, 1988; MAGLOUGHLIN & SPRAY, 1992; SWANSON, 1992; LIN, 1994; SPRAY, 1992, 1995, 1997; DAVIDSON et al., 2003), superfícies de escorregamento relacionadas com a movimentação de grandes massas de terreno (MASCH et al., 1985; UI et al., 1986; LEGROS et al., 2000), e estruturas resultantes do impacto de meteoritos (WILSHIRE, 1971; ERNSTSON et al., 1985, 1987; MAGLOUGHLIN & SPRAY, 1992; REIMOLD, 1995; THOMPSON & SPRAY, 1996; GIBSON et al., 1997). Embora haja alguma discussão sobre os mecanismos de formação e origem dos 12 Chaminé et al. pseudotaquilitos (e.g., FRANCIS & SIBSON, 1973; SIBSON, 1975; WENK, 1978; MADDOCK, 1983; SPRAY, 1995; O’HARA, 2001), é do consenso geral que estes são gerados por mecanismos relacionados com falhas activas, do ponto de vista sísmico, que envolvem a ocorrência de atrito rápido e fusão local em rochas geralmente anidras. Assim, os pseudotaquilitos podem ser considerados como um dos raros indicadores de paleosismicidade no registo geológico (SIBSON, 1975; PASSCHIER, 1986b) e todos os estudos sobre este tipo de tectonitos ganham uma importância acrescida para inferir as condições físico-químicas e reológicas dos materiais durante o processo de ruptura sísmica (e.g., SNOKE & TULLIS, 1998; O’HARA, 2001). Os modelos reológicos comummente propostos para a crusta continental indicam que a fusão por atrito (“frictional melting”) é mais frequente na crusta superior, de natureza frágil (SCHOLZ, 1987, 1988; SNOKE & TULLIS, 1998; RAY, 1999), ou mesmo na transição dúctil-frágil, e que poderá levar a uma situação de ruptura dos materiais em toda a litosfera (O’HARA, 2001; O’HARA & SHARP, 2001). Outras situações descritas na literatura geológica, estão relacionadas com desenvolvimento de tectonitos em condições dúcteis da crusta profunda e em regiões muito complexas e deformadas (SIBSON, 1980; HOBBS et al., 1986); desenvolvimento de pseudotaquilitos em condições de grande profundidade em contextos eclogíticos (AUSTRHEIM & BOUNDY, 1994; AUSTRHEIM et al., 1997); e, mesmo, em sismos muito profundos (KANAMORI et al., 1998). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Dados de campo, de laboratório e de investigação experimental vieram mostrar que a designação “pseudotaquilito” tem de ser encarada como um termo abrangente que inclui uma gama de situações texturais, que vão desde o ultramilonito até ao fluido (“melt”), formadas pela libertação de calor, por pulverização ou por atrito, devida ao movimento ao longo de uma zona de falha — >10-1 ms-1 a 1ms-1 (e.g., PHILPOTTS, 1964; FRANCIS, 1972; FRANCIS & SIBSON, 1973; SIBSON, 1975, 1989; GROCOTT, 1977; WENK, 1978; IROUSCHEK & HUBER, 1982; MADDOCK, 1983; SPRAY, 1987; SCHOLZ, 1988; MAGLOUGHLIN & SPRAY, 1992; KOCH & MASCH, 1992; TECHMER et al., 1992; SPRAY, 1995; O’HARA, 2001; O’HARA & SHARP, 2001). Nestas condições, o calor gerado é suficiente para fundir a rocha que depois solidifica sob a forma de um vidro, dando lugar aos pseudotaquilitos. Para que estes se formem, as temperaturas ao longo da superfície da falha terão que exceder os ~650ºC. Algum do fluido assim originado pode circular segundo os planos de falhas menores, ramificando-se desde a superfície, onde se gerou, através da rocha encaixante, formando veios de injecção de dimensões da ordem dos 10 a 50 mm (PASSCHIER, 1982b; PASSCHIER et al., 1990). O pequeno volume de fluido formado sofre, de imediato, um arrefecimento bastante rápido até à temperatura da rocha encaixante e, como resultado deste processo, solidifica, transformando-se num material afanítico de natureza vítrea ou de grão muito fino. A matriz dos pseudotaquilitos difere dos cataclasitos e/ou da brecha de falha, CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) pois nestes últimos faltam os pequenos fragmentos líticos inclusos nela, e os fragmentos isolados estão contidos numa matriz relativamente homogénea (MADDOCK et al., 1987; BOSSIÈRE, 1991; PASSCHIER & TROUW, 1996). O termo cataclasito (s.str.) é reservado para diversos tipos de rochas cataclásticas coerentes com uma percentagem de matriz superior a 10% (BORGES, 1996). Rochas análogas aos cataclasitos, mas em que a redução granular resultou de processos dúcteis designam-se por milonitos (e.g., ZECK, 1974; BELL & ETHERIDGE, 1973; WHITE et al., 1980; WISE et al., 1984; TANAKA, 1992; PASSCHIER et al., 1990; PASSCHIER, 1986b, 1988, 1991). Convém sublinhar que o estudo destas rochas são de extrema importância, visto serem um dos raros indicadores que permitem contextualizar a actividade paleosísmica regional (“paleoseismics activity” sensu SIBSON, 1975) em épocas anteMesozóica, em particular, nos episódios tardi- a pós-Variscos do Maciço Ibérico. 2. ÁREAS SELECCIONADAS No afloramento de Vale Maior (a NE de Albergaria-a-Velha) identificou-se, pela primeira vez na região (CHAMINÉ et al., 1996b; CHAMINÉ, 2000), à escala do afloramento, a existência de bandas de pseudotaquilitos e de ultramilonitos que recortam intensamente os gnaisses do maciço de Vale Maior. Este enquadra-se, do ponto de vista geotectónico, na faixa de cisalhamento de Porto–Tomar (Zona de Ossa-Morena, ZOM). Para além disso, foram também objecto de estudo as Pseudotaquilitos e ultramilonitos 13 regiões de Alvito-Viana do Alentejo e do Vale do Guadiana (ZOM, SW de Portugal) (figura 1). Nesta breve nota, as bandas de pseudotaquilitos e de ultramilonitos foram objecto de uma caracterização minuciosa de terreno e de laboratório (mineralogia, petrografia e petrologia estrutural). Foi ainda estabelecido um quadro síntese destas raras ocorrências no contexto da geologia Peninsular (quadro 1), quer relacionadas com mecanismos de fusão crustal associados a megaestruturas tectónicas Variscas (e.g., DOBLAS et al., 1983; DOBLAS, 1987; FONSECA, 1995, 1996; CHAMINÉ et al., 1996; CHAMINÉ, 2000; CASAS et al., 2000; CHAMINÉ et al., in prep.) quer como estruturas de impacto meteorítico, como o do caso de Azuara em Espanha (e.g., ERNSTSON et al., 1985, 1987; ERNSTSON & FIEBAG, 1992; AURELL, 1994). 3. A REGIÃO DE ALBERGARIA-AVELHA 3.1. Enquadramento geotectónico regional O gnaisse blastomilonítico de Vale Maior (figuras 2 e 3) inclui-se no domínio estrutural designado por alóctone da faixa metamórfica de Espinho–Albergaria-a-Velha ou ‘domínio estrutural 2’ (CHAMINÉ, 2000). Este estende-se desde os arredores da localidade de S. João-de-Ver até próximo da localidade de Vale Maior (a Leste de Albergaria-a-Velha). Neste domínio prevalece um metamorfismo de grau médio, caracterizando-se por possuir duas litologias bem diferenciadas, correspondendo à 14 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 1. Principais ocorrências de pseudotaquilitos na parte portuguesa do Maciço Ibérico (Zona de Ossa-Morena, W de Portugal). Base geotectónica adaptada de QUESADA et al. (1990). denominada Unidade de S. João de Ver (CHAMINÉ et al., 1996b; CHAMINÉ, 2000): na base reconheceram-se metapórfiros e gnaisses blastomiloníticos recortados, localmente, por pseudotaquilitos; para o topo, em aparente concordância estratigráfica, ocorre uma sequência de micaxistos, por vezes granatíferos, e metagrauvaques. Em toda a unidade afloram também inúmeros corpos anfibolíticos, de orientação geral NNW-SSE, que são interpretados, globalmente, como basaltos transicionais do tipo MORB (“mid-ocean ridge basalts”) com certas afinidades geoquímicas com traquiandesitos e/ou andesitos (cf. PORTUGAL FERREIRA, 1982; PORTUGAL FERREIRA et al., 1991; MENDES, 1988; MENDES & MUNHÁ, 1990; CHAMINÉ, 2000). Esta unidade corresponde à megaestrutura regional, de tectónica do tipo pelicular, interpretada como carreamento de S. João-de-Ver (RIBEIRO et al., 1995; CHAMINÉ et al., 1996b, 1999; CHAMINÉ, 2000). O contacto Oeste é geralmente sublinhado por granitóides variscos de duas micas e/ou corpos aplitopegmatíticos ou, então, é feito por contacto mecânico com os migmatitos e/ou gnaisses da Unidade de Lourosa inferior. O contacto Leste corresponde, essencialmente, ao ramo mais ocidental da faixa de CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Pseudotaquilitos e ultramilonitos 15 Quadro 1. Síntese dos principais trabalhos com descrições de pseudotaquilitos, relacionados com megaestruturas tectónicas, no Maciço Ibérico. cisalhamento de Porto–Tomar. Este contacto é dobrado pela estrutura de Santa Maria da Feira e intersectado obliquamente a Sul pelo cavalgamento tardio (sin-fase regional D3 Varisca) sobre a Unidade de Arada. O contacto é ainda cavalgado, por acidente tardio, pelas Unidades de Carvoeiro e do Quartzito 'Armoricano' de Caldas de S. Jorge, na região de Mouquim–Carvoeiro (CHAMINÉ et al., 1995, 1996b, 2000; CHAMINÉ, 2000). No domínio estrutural em questão reconhece-se uma xistosidade gerada por planos de cisalhamento do tipo C–S, dúcteis e, no geral, sub-horizontais. Esta xistosidade penetrativa relaciona-se com a 2ª fase de deformação regional varisca (D2) e 16 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 2. Esboço geológico do sector de Vale Maior, Albergaria-a-Velha (adaptado de CHAMINÉ, 2000). retoma uma foliação prévia. Foram cartografados vários locais em que as fases regionais D1 e D2 são co-planares, registando-se superfícies sub-horizontais com uma lineação de estiramento forte, de orientação média N–S. Observou-se, localmente, em litologias metapelíticas, uma clivagem de crenulação associada com a D3 Varisca regional. O sentido de cisalhamento precoce faz-se globalmente para o quadrante Norte (NNW) e foi deduzido através da presença de critérios cinemáticos tais como estruturas sigmóides, planos de cisalhamento C–S, porfiroclastos σ e δ em granada, feldspato, micas e quartzo (figura 3). 3.2. O afloramento de Vale Maior 3.2.1. Quadro geológico local A Sul de Oliveira de Azeméis regista-se a ocorrência de rochas gnáissicas de tonalidade acinzentada, de grão médio a fino, intensamente deformadas. Assinalam-se ocorrências constituídas por quartzo e feldspatos, por vezes, com abundante turmalina e, raramente, com granada. A distribuição espacial destas rochas encontrase ligada às zonas superiores do maciço granítico e são interpretadas como sendo gnaisses intensamente deformados. O afloramento de Vale Maior (figura 2) situa-se próximo da margem direita do Rio Caima, em Albergaria-a-Velha, Pseudotaquilitos e ultramilonitos 17 CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) A B C D Figura 3. Critérios estruturais observados no afloramento gnáissico (A) de Vale Maior, permitindo inferir um sentido de cisalhamento relativo para o quadrante Norte. Foram diferenciados sistemas de porfiroblastos δ (B, C) numa matriz de granularidade fina de quartzo, feldspato e micas. Em D um aspecto textural onde se observam sombras de pressão, preenchidas por fibras de quartzo dispostas em redor de grãos de limonite, onde os critérios microcinemáticos permitem inferir um sentido de cisalhamento para Norte. correspondendo à parte basal da Unidade de S. João-de-Ver (CHAMINÉ, 2000). Em afloramento esta rocha apresenta uma cor castanha escura e tem textura blastomilonítica com fenoblastos de feldspato; a sua orientação geral coincide com a foliação milonítica, NNW-SSE. Há referências genéricas (e.g., SHARPE, 1849; DELGADO, 1905) sobre a ocorrência de rochas graníticas e gnáissicas, mas sem qualquer estudo geológico particular, na região entre Oliveira de Azeméis e Albergaria-a-Velha. SEVERO GONÇALVES (1974) assinalou e estudou petrograficamente, em Vale Maior, corredores de rochas miloníticas e denominou-os genericamente como “pórfiros graníticos deformados”. Em CHAMINÉ (2000), e no presente trabalho, estes afloramentos foram considerados como definindo um 18 Chaminé et al. grupo único e denominados por metapórfiros blastomiloníticos, visto que se localizam ao longo de corredores de cisalhamento, encontrando-se em consequência transformados em rochas de natureza gnáissica deformadas a muito deformadas (blastomilonitos). Afloram como corpos isolados, longitudinalmente distendidos, com contactos nítidos com os micaxistos granatíferos e/ou anfibolitos encaixantes e são, geralmente, concordantes com estes. Assinalaram-se também nestes tectonitos rochas típicas de extrema deformação, ou seja, gnaisses recortados por pseudotaquilitos e bandas estreitas de ultramilonitos (CHAMINÉ et al., 1996b; CHAMINÉ, 2000). Foi efectuado um estudo geocronológico e geoquímico destes materiais gnáissicos característicos de uma série calcoalcalina muito rica em potássio (CHAMINÉ et al., 1998, 2001; CHAMINÉ, 2000). A idade U/Pb determinada de ca. 320 Ma (CHAMINÉ et al., 1998) corresponderá à instalação da megaestrutura alóctone de S. João-de-Ver e, assim, será sin-fase regional D2 a ante-fase regional D3 Varisca. O presente estudo permitiu destrinçar e refinar a sequência litológica que se encontra patente num corte localizado na margem direita do Rio Caima, de direcção geral SSE-NNW. Os litótipos considerados foram os seguintes a (CHAMINÉ, 2000): i) contacto tectónico entre filádios negros (aparentemente incluídos na Unidade de Arada; cf. CHAMINÉ, 2000 e CHAMINÉ et al., 2000) e gnaisses muito deformados da Unidade de S. João-de-Ver; ii) metapórfiros, de granularidade média a fina, muito deformados; iii) gnaisses blastomiloníticos, ou seja, rochas essencial- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) mente quartzo-feldspáticas intensamente deformadas, com uma foliação milonítica forte (D1+2) intensamente recortados por bandas de pseudotaquilitos e ultramilonitos. Em aparente continuidade tectonoestratigráfica, estes últimos contactam com os micaxistos granatíferos do topo da Unidade de S. João-de-Ver. No afloramento de Vale Maior observase, a todas as escalas, uma deformação intensa. O seu carácter dúctil é comprovado pela existência duma foliação milonítica subvertical, muito penetrativa, o que traduz a existência de uma forte movimentação tectónica. Contida nesta foliação, reconhece-se uma lineação de estiramento Norte-Sul. Este afloramento encontra-se próximo do ramo Leste da megaestrutura alóctone de S. João-de-Ver. Ao longo do mesma e, particularmente, nos gnaisses de Vale Maior, é possível observar numerosos critérios mesoscópicos para o estudo da deformação, sendo os mais frequentes os sistemas de porfiroclastos e/ou de porfiroclastos de feldspato do tipo σ. Pontualmente, reconhecem-se porfiroclastos do tipo δ, e corredores discretos com planos de cisalhamento C-S. A todas as geometrias observadas corresponde um movimento direito. A partir dos critérios cinemáticos referidos (por rebatimento para a horizontal da foliação milonítica e no quadro tectonoestratigráfico regional) inferiu-se uma forte movimentação para o quadrante Norte (N-NNW). Nos micaxistos granatíferos observaram-se, também, critérios de cisalhamento do tipo C-S. A geometria dos planos C-S condiciona a própria litologia, levando à definição de corpos sigmoidais, com movi- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) mento direito; o sentido de cisalhamento deduzido aponta também para NNW. 3.2.2. Petrografia O metapórfiro blastomilonítico de Vale Maior apresenta texturas de deformação gnáissica bem pronunciadas em bandas de moscovite e de quartzo-plagioclase. A textura blastomilonítica evidencia uma franca blastese de plagioclase. A matriz milonítica, materializando os planos de cisalhamento, apresenta uma forte redução de grão e posterior recristalização. Os minerais essenciais são o quartzo, a plagioclase e a moscovite. O quartzo apresenta-se muito suturado e milonitizado; o feldspato ocorre sob a forma de fenoblastos corroídos e, quando intercrescidos com quartzo, forma mirmequites; a moscovite é secundária e apresenta-se alinhada segundo a foliação milonítica. Como minerais acessórios, observam-se a biotite, a turmalina, a apatite, o zircão, os óxidos de ferro e, muito raramente, a granada. 3.2.3. Microestructura Os pseudotaquilitos de Vale Maior (figura 4) apresentam-se sob a forma de veios de espessura submilimétrica a centimétrica. Observam-se frequentemente veios de injecção com uma disposição regular e de dimensão muito fina. Estes veios estão associados a superfícies planares de fracturas mais ou menos discretas. Em afloramento, os veios de pseudotaquilito apresentam uma forma e limites, com os blastomilonitos que servem de encaixante, bem definidos. Em nenhum dos veios estudados, à meso e microescala, se Pseudotaquilitos e ultramilonitos 19 observou zonas transicionais com uma diminuição da deformação em direcção à rocha encaixante, como acontece com os cataclasitos. Os gnaisses blastomiloníticos de Vale Maior contêm numerosas bandas de pseudotaquilitos de tonalidade escura, mas que diferem, pelas suas características, das bandas de ultramilonitos que ocorrem no afloramento. As bandas de ultramilonitos definem habitualmente corredores de cisalhamento, discretos, típicos de milonitos de grão fino. A sua espessura varia de alguns centímetros a alguns metros e o seu comprimento é, em média, de 10 metros. À escala microscópica observa-se uma matriz de grão fino, composta essencialmente por quartzo e plagioclase, com porfiroclastos e “ribbons” ou agregados lenticulares de quartzo e de feldspato. Os gnaisses de Vale Maior contêm bandas de cor escura com características, quer de campo quer microestruturais, que correspondem a pseudotaquilitos, i.e., constituídas por rochas afaníticas de cor escura que acompanham planos de falha. As bandas de pseudotaquilitos observadas no maciço de Vale Maior não excedem os 10 cm de largura, mas as dimensões mais frequentes variam entre 1 e 5 centímetros de espessura. Distinguem-se das bandas ultramiloníticas pela sua espessura irregular, ramificação frequente, e presença de veios de injecção (PASSCHIER, 1982a, b). Muitas das bandas dos pseudotaquilitos mostram evidências de terem sido deformadas ductilmente. Do ponto de vista microestrutural, quer a banda principal quer os veios de injecção, consistem numa matriz negra de granularidade muito fina e com numerosas 20 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) B A C Figura 4. Aspecto dos pseudotaquilitos de Vale Maior, em afloramento (A), em secção polida onde se destaca o contacto bem definido e abrupto entre a rocha encaixante (blastomilonito)/pseudotaquilito (B), e microfotografia (nicóis cruzados) ilustra o contacto brusco e ligeiramente ondulado entre a banda negro do pseudotaquilito e a rocha encaixante, enquanto que o limite entre os grãos de quartzo e feldspato da matriz é bem vincado e também suavemente ondulado. inclusões. O contacto com a rocha encaixante é sempre muito bem definido, sem qualquer transição microestrutural típica das bandas miloníticas. A matriz do pseudotaquilito corresponde a uma massa vítrea muito escura com inclusões de quartzo e feldspato, em que o tamanho do grão tende a ser constante. Ao contrário do que ocorre nas bandas ultramiloníticas, nos pseudotaquilitos não se observa um bandado composicional. Contudo, obser- va-se uma certa variação na composição mineral e, ocasionalmente, o tamanho do grão leva a uma variação irregular da tonalidade das bandas ou mesmo a um bandado algo colorido. A ondulação do bandado escuro é devida à concentração local de biotite. Além disso, segue as irregularidades do contacto com a rocha encaixante, com limites ondulados obliquamente a este contacto, ou forma domínios bem definidos. Ambos os tipos de CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) bandados dos pseudotaquilitos, escuros ou coloridos, podem reflectir variações na composição química, relativamente à recristalização (e.g., SIBSON, 1975; PASSCHIER, 1982a). Mais de 25 % do volume destes pseudotaquilitos consiste em inclusões, i.e., fragmentos de quartzo, feldspato, zircão, biotite e fragmentos de agregados de outras rochas. O contacto entre a matriz do pseudotaquilito e a rocha encaixante é usualmente abrupto e bem definido, apresentando por vezes uma forma irregular, frequentemente com reentrâncias e pequenos veios de injecção ramificados na rocha encaixante. A nítidez do contacto entre os minerais do gnaisse e a matriz do pseudotaquilito diminui sucessivamente para os grãos de quartzo, feldspato e micas. O quartzo apresenta, geralmente, um contacto bem vincado, provavelmente devido a fracturação (são comuns fracturas suturadas de cristais de quartzo com orientações várias e inclusões fluidas); os grãos de feldspato tanto podem ter um contacto nítido como difuso com a matriz. 4. OUTROS AFLORAMENTOS NO W DE PORTUGAL 4.1. A região de Porto-AlbergariaA-Velha Na faixa de cisalhamento de Porto–Albergaria-a-Velha (NW de Portugal) foram, até ao momento, além do afloramento anterior (CHAMINÉ et al., 1996b), referenciados outros dois afloramentos de rochas miloníticas e pseudotaquilíticas. Assim, encontra-se inventariado e, em estudo, o afloramento da Igreja na região Pseudotaquilitos e ultramilonitos 21 de Albergaria-a-Velha (CHAMINÉ, 2000) e vários afloramentos do Complexo Metamórfico da Foz do Douro (CHAMINÉ et al., in prep.). Afloramento da Igreja (Albergariaa-Velha) O afloramento da Igreja situa-se próximo da localidade de Igreja (NE de Albergaria-a-Velha) — corte na E.N. 16 desde o nó de Albergaria-a-Velha até Vale de Cambra (São Pedro de Sul). Em vários pontos deste afloramento reconhece-se o contacto entre a Unidade alóctone de S. João-de-Ver e o substrato metapelítico, observando-se claramente (em especial entre o km19 e o km20 da E.N. 16) a descontinuidade tectónica entre estas. Regista-se, neste afloramento, a existência de níveis compactos de metagrauvaques, muito deformados, com intercalações de micaxistos, com uma foliação precoce sub-horizontal (e uma lineação de estiramento com uma atitude média 10º/N165º E). Estas rochas típicas da Unidade de S. João-de-Ver contactam directamente, por descontinuidade tectónica, com filádios negros-esverdeados da Unidade de Arada. Contudo, a recente descoberta de microfósseis pertencentes ao Paleozóico médio-superior (FERNANDES et al., 2000, 2001) em rochas metapelíticas negras (Unidade de Albergaria-aVelha e materiais metapelíticos correlacionáveis da região entre Coimbra e Tomar; CHAMINÉ et al., 2000a, b, 2003), patenteando metamorfismo de muito baixo grau (CHAMINÉ et al., 2000a; MOÇO et al., 2001) estas poderão ser consideradas 22 Chaminé et al. imbricadas tectonicamente à Unidade de Arada (datada radiometricamente como do Proterozóico superior; BEETSMA, 1995). Assim, todas as relações tectonoestratigráficas referidas anteriormente sobre as Unidades de Arada e de Albergaria-aVelha terão de ser encaradas com prudência. Encontra-se actualmente em curso um projecto de revisão cartográfica pormenorizada e encetou-se, paralelamente, uma amostragem minuciosa deste corte e de outros na região entre Espinho e Tomar, passando nomeadamente por Estarreja, Sernada do Vouga, Mealhada, Coimbra, Penela e Espinhal (CHAMINÉ et al., 2000b), para estudos de tectónica, de geocronologia, de micropaleontologia, de petrologia e geoquímica orgânicas, e de mineralogia e geoquímica de argilas. Estes metapelitos escuros, localmente, encontram-se muito alterados e têm uma cor acinzentada. Uma das características mesoestruturais destes metapelitos é o seu carácter frágil, pós-metamórfico, relacionado, provavelmente, com a instalação do carreamento de S. João-de-Ver, que imprimiu uma tectónica tangencial muito intensa. Nos locais do afloramento, onde se observa o contacto mecânico entre as rochas destas unidades, verifica-se que usualmente este é feito por “fault gouge” e litótipos muito deformados. Os critérios mesoestruturais (bandas de cisalhamentos do tipo C-S gerando sigmóides da própria litologia, vergência aparente de dobras assimétricas) observados nas rochas metagrauvaques permitem inferir um transporte tectónico da Unidade de S. João-de-Ver para o quadrante Norte. Convém referir que, ao CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) microscópio, em lâminas orientadas, se observaram critérios microestruturais, tais como, sombras de pressão (“fibrous shadows” ou “strain fringes”) e porfiroblastos σ (figura 4). As sombras de pressão estão materializadas por fibras de quartzo dispostas em redor de grãos, euédricos a subédricos, de limonite (pseudomórfica de pirite; O. C. GASPAR, comun. pessoal, 1996) e as microestruturas sigmoidais, por efeito de bandas de cisalhamento do tipo C-S, permitem também deduzir um sentido de cisalhamento para Norte. Em algumas lâminas regista-se a ocorrência de bandas, sub-milimétricas, de pseudotaquilitos. As observações microscópicas deste afloramento são coerentes com os critérios observados, à meso e microescalas, no afloramento de Vale Maior. Todas estas evidências denunciam uma forte movimentação tectónica da estrutura alóctone de S. João-de-Ver para o quadrante N-NNW. Afloramentos de rochas metamórficas da Foz do Douro Foram referenciados e cartografados recentemente no Complexo Metamórfico da Foz do Douro (faixa de cisalhamento de Porto-Tomar; pormenores em CHAMINÉ, 2000 [pp. 160]) alguns metamorfitos (gnaisses, quartzo-tectonitos) intensamente recortados por bandas de pseudotaquilitos e de ultramilonitos. Dado o interesse local e regional, estas ocorrências, serão objecto de uma caracterização mineralógica e petrográfica, bem como as consequências tectónicas no contexto do Maciço Ibérico (CHAMINÉ et al., in prep.). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 5. A REGIÃO DE ALVITO-VIANA DO ALENTEJO 5.1. Enquadramento regional e local Na região de Alvito–Viana do Alentejo (SW de Portugal) foram identificados em dois afloramentos de gnaisses félsicos, por FONSECA (1995), bandas de pseudotaquilitos e de ultramilonitos. O quadro geotectónico regional encontra-se estabelecido nos trabalhos de FONSECA (1995, 1996). As rochas pseudotaquilíticas e ultramiloníticas recortam, nas proximidades de acidentes tectónicos de grande envergadura (megacisalhamentos), os maciços gnáissicos félsicos de tipo 1 (FONSECA, 1995, 1996) na região supracitada. Estes gnaisses são, segundo FONSECA (1995, 1996), ortoderivados e/ou derivados de litótipos granitóides apresentado geralmente intensa deformação, representando tectonitos de tipo S/L a tectonitos de tipo L. Todos os tipos litológicos abrangidos pela designação de gnaisses félsicos possuem vários graus evolutivos de deformação. Passam por termos gnáissicos s.str. (texturas relíquias da rocha inicial podem ser ainda observadas), blastomilonitos, milonitos, chegando mesmo a ultramilonitos e, localmente, a pseudotaquilitos (FONSECA, 1995, 1996). Devido à intensa deformação, os termos finais apresentam-se como resistatos, constituídos quase que unicamente por quartzo e feldspato. Este facto é particularmente evidente no corte N-S, ao longo de ca. 4,5 km, na estrutura de Viana do Alentejo–Alvito (pormenores em FONSECA, 1995, 1996). Assim, seguindo de N para S, a aproximadamente 1 km a NE do v.g. Conde, na Pseudotaquilitos e ultramilonitos 23 Herdade dos Alfanges, encontra-se uma antiga pedreira constituída por ortognaisses de granularidade grosseira e, localmente, por blastomilonitos. A rocha deformada possui cor rosada a acinzentada. É constituída essencialmente por quartzo, feldspato potássico, biotite, moscovite, anfíbola verde, turmalina (relativamente abundante) e sulfuretos finamente disseminados. Nos cortes desta pedreira podem observar-se filões pegmatíticos constituídos por feldspato, quartzo e abundante biotite que ocorrem geralmente segundo os planos de cisalhamento (C-C'). A foliação é forte, segundo planos espaçados, podendo observar-se sectores da rocha original pouco deformados. Todos os critérios de movimentação observados, relativos à primeira fase de deformação Varisca, apresentam sentido para o quadrante N (FONSECA, 1995). Aproximadamente 2 km a SSW desta pedreira, no cruzamento da estrada Alvito-Vila Nova da Baronia, podem referenciar-se vários afloramentos interessantes para o tema em questão (figura 5). Assim, observam-se os típicos leptinitos (s.l.), i.e., gnaisses miloníticos félsicos de granularidade mais fina. Em lâmina delgada são quase exclusivamente constituídos por quartzo (com extinção ondulante, e bandas de deformação) e feldspato, com uma forte deformação sobre-imposta. Os critérios estruturais observados indicam movimentação com o topo para N. Os litótipos podem ser seguidos ao longo da estrada para V. N. da Baronia, sendo a sua exposição interrompida apenas cerca de 1.2 km a E desta povoação. Esta rocha rosada em alguns locais, vermelha clara, possui 24 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 5. Mapa geológico simplificado da megaestrutura de Alvito-Viana do Alentejo (modificado de FONSECA, 1995). A-Alvito; VNB-Vila Nova da Baronia; VA-Viana do Alentejo; AP-Águas de Peixe; AF-Albergaria de Fusos; VR-Vila Ruiva; a-Complexo Ígneo de Beja; b-Mármores; c-gnaisses félsicos (na sua maioria ortoderivados); d-metabasitos na fácies eclogítica ou retrogradados, e-litologias típicas da ZOM indiferenciadas; f-localização das amostras estudadas. foliação milonítica muito penetrativa, sendo praticamente impossível observar texturas primárias. Finalmente, 500 metros a NE do v.g. S. Miguel, nas proximidades de Alvito (distando cerca de 2 km das observações anteriores), a deformação é extrema, desenvolvendo-se milonitos e ultramilonitos. As rochas miloníticas têm coloração bran- ca a amarelada e são constituídas exclusivamente por quartzo e feldspato de granularidade muito fina. O estiramento do quartzo, com subgranulação é bem visível nestes felsitos. A petrofábrica dos eixos <c> do quartzo (figura 6), apresenta posição relativa segundo um plano N-S, com movimentação de cisalhamento, de topo para Norte. Com a diminuição de granula- Pseudotaquilitos e ultramilonitos 25 CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) ridade, observam-se evidências de comportamento superplástico a fusão (com geração de pseudotaquilitos). A lexiviação por processos metassomáticos, neste caso, é muito intensa. A rocha fica somente constituída pelos minerais que resistiram e não remobilizados (FONSECA, 1995, 1996). As ocorrências de pseudotaquilitos localizam-se precisamente ao longo desta estrutura, na proximidade de grandes cisalhamentos da primeira fase de deformação (localmente desenhando estruturas de cisalhamento esquerdos) e que ocorrem no geral associados a estruturas que evi- A denciam uma grande quantidade de movimento, representadas por milonitos e ultramilonitos. 5.2. Petrografia e microestructura Os gnaisses félsicos (ortoderivados) mostram uma foliação milonítica muito penetrativa. Esta foliação, observável à escala mesoscópica e microscópica, sublinha uma rocha essencialmente constituída por quartzo, algum feldspato potássico pertítico e oligoclase, extremamente deformados. Acessoriamente, inclui bioti- C B Figura 6. Aspectos petrográficos do ultramilonito da região de Alvito–Viana do Alentejo (A); em B apresenta-se um esquema representativo de uma área da lâmina delgada onde foram efectuados os estudos de eixos <c> de quartzo; estereograma geral da petrofábrica de eixos <c> de quartzo (n=122 grãos) e a posição relativa segundo um plano N-S, com movimentação de cisalhamento, de topo para Norte. 26 Chaminé et al. te, anfíbola verde-azulada, clinopiroxena, esfena, zircão, turmalina e opacos. Os pseudotaquilitos de Alvito-Viana do Alentejo (figura 7) apresentam-se sob a forma de estreitos veios de espessura submilimétrica a centimétrica e comprimento médio de 30 cm. Em afloramento, os veios de pseudotaquilito apresentam forma e limites (com o gnaisse encaixante) bem definidos. As bandas de pseudotaquilitos são de tonalidade muito escura a negra. À escala microscópica, observa-se matriz de grão muito fino a afanítica, formada por quartzo e feldspato, com porfiroclastos e agregados lenticulares de quartzo e de feldspato. O contacto com a rocha encai- A CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) xante é sempre muito bem definido. Por vezes, regista-se uma certa variação na composição mineral, e uma variação irregular da tonalidade das bandas ou, mesmo, um bandado algo colorido. 6. A REGIÃO DO VALE DO GUADIANA, COMPLEXO OFIOLÍTICO DE BEJA-ACEBUCHES 6.1. Geologia regional e local O Complexo Ofiolítico de BejaAcebuches (COBA) em território português estende-se desde a fronteira (com Espanha na região de Vila Verde de Ficalho) até à região do Torrão–Santa B C Figura 7. Aspectos petrográficos dos pseudotaquilitos do afloramento da Foz da Gravia, no Vale do Guadiana (A, nicóis cruzados; B, nicóis paralelos) e do afloramento de S. Miguel em Alvito–Viana do Alentejo (C, nicóis paralelos). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Susana. Sublinha e caracteriza uma sutura entre dois terrenos tectonoestratigráficos exóticos (i.e., o COBA e o Terreno Acrecionário do Pulo do Lobo, TAPL), separando duas zonas geotectónicas (ZOM e Zona Sul Portuguesa, ZSP) muito importantes no SW da Cadeia Varisca Ibérica. Ocorre ao longo de uma estreita faixa metamórfica que se estende desde Beja até Aracena (e.g., SOARES DE ANDRADE 1978, 1983, 1985; CRESPO-BLANC & OROZCO, 1988, 1991; FONSECA & RIBEIRO, 1993; QUESADA et al., 1994; FONSECA et al., 1999). Apresenta, no seu conjunto, uma sequência estratigráfica interna, típica de um fragmento de crusta oceânica, onde se observa (QUESADA et al., 1994; FONSECA, 1995; FONSECA et al., 1999) uma secção de manto (serpentinitos e cumulados máficos e ultramáficos), crusta inferior (metagabros, “flaser-gabros” e plagiogranitos) e crusta superior (complexo diqueem-dique, anfibolitos, metabasaltos e metassedimentos). O carácter oceânico do COBA foi determinado por QUESADA et al. (1994) que definiram um quimismo toleítico, transicional entre os basaltos dos fundos oceânicos (MORB N/T) e os basaltos dos arcos insulares. Este tipo de assinatura geoquímica suporta a ideia de que este complexo ofiolítico tenha sido gerado numa bacia “back-arc” onde estiveram envolvidos magmas anorogénicos (tipo MORB) e orogénicos (calcoalcalinos) típicos de zonas de subducção. Em termos gerais, o metamorfismo (FONSECA et al., 1999) no COBA apresenta, nas secções de crusta superior, fácies dos xistos verdesanfibolítica, e nas secções de crusta inferior fácies granulítica, evidenciando disconti- Pseudotaquilitos e ultramilonitos 27 nuidades no grau de metamorfismo ao longo de acidentes regionais de direcção WNW-ESE. A deformação apresenta três fases regionais, sendo a primeira (D1), vergente para Norte, a mais importante. A segunda fase (D2) corresponde a dobramentos vergentes para Oeste ou Sudoeste, enquanto que a terceira fase (D3) se traduz pela instalação de cavalgamentos e desligamentos. A idade do COBA permanece ainda em aberto, embora se admita uma idade anterior ao Devónico médio [Eifeliano] (FONSECA & RIBEIRO, 1993; FONSECA et al., 1999), não sendo de excluir idades anteriores ao SilúricoEodevónico (FONSECA, 1995). O COBA é limitado a Norte por cavalgamentos que colocam as unidades metamórficas infra-crustais do bordo meridional da ZOM sobre o complexo ofiolítico (FONSECA, 1995; OLIVEIRA, 1990). A Sul, o limite faz-se através da megaestrutura regional, o Cavalgamento de Ferreira–Ficalho, que coloca o COBA sobrejacente às unidades do TAPL (CARVALHO et al., 1971, 1976; CARVALHO, 1977). O TAPL é interpretado como sendo um prisma acrecionário, que se desenvolveu, inicialmente, numa bacia sobre crusta oceânica e que posteriormente evoluiu para ambiente de fossa ou “fore-arc” (QUESADA et al., 1994), estando a sua idade atribuída ao Fameniano médio a superior (OLIVEIRA et al., 1986). Encontra-se limitado por acidentes: a Norte, pelo Cavalgamento de Ferreira-Ficalho (CARVALHO et al., 1971, 1976) e, a Sul, pelo Cavalgamento de Pulo do Lobo (BRANDÃO SILVA, 1989), que coloca este terreno tectonoestratigráfico sobre a ZSP. 28 Chaminé et al. As duas ocorrências de pseudotaquilitos afloram sempre entre contactos de grande expressão tectónica (figura 8), i.e., entre acidentes tectónicos de grande importância, no âmbito da instalação por obducção deste complexo ofiolítico. Ambos ocorrem entre contactos de litologias com graus de reologia muito dispares. O primeiro entre “flaser-gabros” e uma CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) ocorrência de natureza metatrondjemítica (plagiogranito), na margem direita do rio Guadiana, nas proximidades da confluência com a Ribeira da Gravia. A segunda ocorrência verifica-se na região de Santa Iria, no contacto entre a Unidade de diques em gabros e a Unidade dos metabasaltos na fácies anfibolítica. Neste local, desenha pequenos filonetes de 15 a 20 cm, Figura 8. Mapa geológico simplificado da estrutura e litologias do Complexo Ofiolítico de BejaAcebuches (COBA) num troço ao longo do Rio Guadiana. 1-Granitos tardi-Variscos; 2-Complexo Ígneo de Beja indiferenciado; 3-Gnaisses félsicos relacionados com um possível arco vulcânico imbricado, ou bordo deformado da ZOM; 4-Xistos verdes e anfibolitos, na sua maioria metabasaltos; 5-Metagabros [s.l.] indiferenciados; 6-Metatrondjemitos (plagiogranitos); 7-Metagabros em fácies granulítica, cumulados máficos e ultramáficos, ‘flaser’ gabros e gabros bandados; 8Metaperidotitos, no geral fortemente serpentinizados; 9-Metassedimentos do Terreno Acrecionário do Pulo do Lobo. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) sublinhando cisalhamentos tectónicos esquerdos de grande envergadura, com direcção 120-130º azimutal. As bandas dos pseudotaquilitos têm uma espessura máxima de 2 cm, mas, no geral, atingem os 0,5 a 0,8 cm. Os tectonitos, em lâmina delgada (figura 6), mostram uma matriz de massa vítrea escura extremamente fina, formada por micro-grãos de anfíbola fortemente deformada, com as margens mostrando porfiroclastos de quartzo rolado a subrolado, enquanto o encaixante evidencia uma milonitização muito intensa. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O termo pseudotaquilito está reservado para um tipo de rocha cuja ocorrência é bastante rara e possível de ser observado ao longo de falhas e em zonas de cisalhamento muito complexas, particularmente aquelas que afectaram as zonas mais profundas da crusta continental e/ou oceânica. A ocorrência destas rochas está geralmente associada a registos de paleo-sismicidade profundos (SIBSON, 1975, 1977; PASSCHIER, 1986b). Para a sua existência são necessárias grandes quantidades de energia libertadas sobre condições extremas de pressão confinada e com taxas de deformação instantâneas. Os pseudotaquilitos que se formam ao longo de importantes zonas de falha representam um pequeno volume de fusão produzido por aquecimento devido ao atrito durante um evento sísmico. Existe, segundo alguns autores (SIBSON, 1975,1977), uma relação directa entre a expressão (extensão e espessura) dos pseudotaquilitos e a quantidade de movimentação ao longo dos Pseudotaquilitos e ultramilonitos 29 lábios da falha e, consequentemente, a paleomagnitude do evento sísmico gerador. A fusão necessária para gerar pseudotaquilitos, para além de requerer altos valores de quantidade de deformação e pressões confinantes de igual modo elevadas, requere ainda rochas anidras. Isto porque qualquer quantidade de fluido presente neste sistema absorveria o calor e não deixaria vestígios dessa fusão ao longo dos planos de falha. Assim, se uma rocha for submetida a um impulso de deformação, com uma quantidade de deformação muito elevada (“high-strain rate”), como a existente durante um evento sísmico ou um impacto meteorítico, logo os mecanismos de deformação dúctil não possuem capacidade de resposta suficientemente rápida para acomodar a deformação. AGRADECIMENTOS HIC beneficiou de uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, PRAXIS XXI), no período de 1994/ 1997 (BD/ 2633/ 93-RN) na Universidade do Porto, e beneficia actualmente de uma bolsa de pós-graduação da FCT (SFRH/ BPD/ 3641/ 2000) na Universidade de Aveiro. Este trabalho recebeu apoio dos projectos PRAXIS/ CTA/ 82/ 1994 e MODELIB/ FCT (POCTI/ 35630/ CTA/ 2000 – FEDER). São devidos agradecimentos, pela troca de impressões e apoios laboratoriais, aos Professores António Ribeiro (Lisboa), Alberto Marcos (Oviedo), F. T. Rocha (Aveiro) e ao Doutor Orlando C. Gaspar (S. Mamede de Infesta). Ao Dr. J. P. Fernandes (Porto) a informação sobre uma provável ocorrência deste tipo de tectonitos na região do Porto (Foz do Douro). 30 Chaminé et al. Agradece-se o apoio na execução de várias lâminas delgadas ao Sr. José Pinto (Porto), ao Sr. Joaquim Sousa (Aveiro) e ao Sr. Alberto Verde (Lisboa). Ao Dr. José Teixeira pelo apoio na execução das ilus- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) trações e à Dra M. J. Afonso pela revisão cuidada das referências bibliográficas. Recibido: 4-VII-03 Aceptado: 12-VIII-03 CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) REFERÊNCIAS AURELL, M. (1994). Discusión sobre algunas de las evidencias presentadas a favor del impacto meteorítico de Azuara. In: E. MOLINA (Ed.), Extinctión y registro fósil. Seminário Interdisciplinar de la Universidad de Zaragoza. Mira Editores. Cuadernos Interdisciplinares, Zaragoza, 5: 59-74. AUSTRHEIM, H. & BOUNDY, T. M. (1994). Pseudotachylytes generated during seismic faulting and eclogitization of the deep crust. Science, 265: 82-83. 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This major fault constitutes the boundary between the Ossa-Morena Zone (OMZ), in the west block, and the Central-Iberian Zone (Iberian Variscan Chain), in the east block. This tectonometamorphic belt comprises middle/upper Proterozoic and upper Palaeozoic units. To help clarify the complex geodynamic evolution of this major shear zone, we carried out stratigraphic and tectonic studies on the Foz do Douro (Porto)–Espinho–Coimbra–Tomar substrate (OMZ). We first performed a multidisciplinary study comprising systematic and detailed mapping of the region, as well as detailed characterisation of the tectonostratigraphic framework. In a subsequent stage, critical outcrops were selected for specific studies, namely meso- and microtectonic studies, in addition to structural petrology and geochronology analysis. Our results indicate that on the western border of the Porto-Tomar shear zone, a complex tectonic imbrication occurs which provides out-of-sequence tectonostratigraphic units with an unusual character and contrasting metamorphic features. Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 37-78 Indeed, tectonical, petrological and palynological evidences from Albergaria-aVelha–Coimbra–Espinhal revealed, for the very first time in this OMZ sector, an imbrication of black shales from the upper Palaeozoic (late Devonian to early Carboniferous ages) into upper Proterozoic garnetiferous phyllites and micaschists. Litho-tectonic and palaeontological similarities between OMZ borders in the northern (Porto–Tomar region, W Portugal) and southern branchs (Vendas Novas–Ferreira do Alentejo, SW Portugal) led us to infer that the Porto–Tomar shear zone extends itself to the south of Tomar, as far as Ferreira do Alentejo, constituting the Porto–Tomar–Ferreira do Alentejo major shear zone. This shear zone would correspond to the oldest and most important tectonic structure in the Iberian Massif. Furthermore, this shear zone would have been active since the early phases of the Variscan orogeny and, probably, during the whole Variscan Wilson cycle. This collisional oblique frontier corresponds to a transcurrent fault characteristic of an interplate background, in an oblique convergent plate boundary scenario. The geotectonic situation of Porto–Tomar–Ferreira do Alentejo and Tomar–Badajoz–Córdoba shear zones is closely similar to that of the San Andreas fault zone in California (U.S.A.). Key words: tectonostratigraphy, geodynamics, Porto–Tomar–Ferreira do Alentejo shear zone, Ossa-Morena Zone, Iberian Massif, W Portugal. (1) Departamento de Engenharia Geotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto. Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 431, P-4200-072 Porto. Portugal, e Centro de Minerais Industriais e Argilas da Universidade de Aveiro. ([email protected]) (2) Departamento de Ciências da Terra e Centro de Geociências (GMSG), Universidade de Coimbra. 3000272 Coimbra, Portugal. (3) Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Laboratório de Tectonofísica e Tectónica Experimental (LATTEX). Ed. C2-5º piso, Campo Grande. 1749-061 Lisboa, Portugal. (4) Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Centro de Geologia da Universidade do Porto (GIMEF, GIPEGO). Praça de Gomes Teixeira. 4099-002 Porto, Portugal. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 39 INTRODUÇÃO GERAL litologia, estrutura e metamorfismo. Assim, considerou-se cartograficamente para a região a existência de duas manchas litológicas (C. RIBEIRO & DELGADO, 1876; DELGADO & CHOFFAT, 1901; DELGADO & CHOFFAT, 1899). Estas correspondiam, genericamente, a duas manchas distintas, de direcção NW-SE, a saber: a primeira, de idade “Câmbrica” (rubrica Cb), constituída por xistos e grauvaques Azóicos; a segunda, referida como “Precâmbrico e Arcaico” (rubrica Z), composta por xistos luzentes, xistos anfibólicos e quartzitos. O significado destas unida- O substrato do bordo ocidental do Maciço Ibérico (figura 1) é vincado, genericamente, entre as regiões do Porto e Tomar por uma importante faixa de cisalhamento, com orientação geral NNWSSE. Para Oeste deste limite tectónico desenvolve-se uma vasta região constituída por depósitos pós-Pérmico enquadrados na denominada Bacia Lusitaniana. Na faixa de cisalhamento de Porto–Tomar podemos distinguir diferentes unidades geológicas que se destacam principalmente pela sua Figura 1. Enquadramento geotectónico regional da faixa de cisalhamento Porto–Coimbra–Tomar (Zona de Ossa-Morena, W de Portugal) no Maciço Ibérico. de 40 Chaminé et al. des, sendo uma preocupação actual, já era equacionado há mais de um século (e.g., DELGADO, 1870; C. RIBEIRO & DELGADO, 1876; DELGADO & CHOFFAT, 1901), tendo sido introduzido na “Carta Geológica de Portugal”, à escala 1/500.000 (C. RIBEIRO & DELGADO, 1876; DELGADO & CHOFFAT, 1899), uma sobrecarga a tracejado (na mancha a Sul do Porto) com que se procurava, assim, assinalar uma banda de “rochas sedimentares metamorfizadas” (rubrica Z) esboçando à escala cartográfica regional um sigmóide direito, suave. O principal critério para a separação em duas manchas foi o do conceito “terreno metamórfico” (cf. DELGADO, 1870), i.e., as unidades foram subdivididas com base no grau metamórfico. O conhecimento geológico e tectonoestratigráfico dos terrenos ante-Mesozóicos da faixa de cisalhamento de Porto–Tomar reduzia-se, até há bem pouco tempo, a um conjunto de trabalhos dedicados, em especial, a aspectos geológicos gerais e petrográficos. O objectivo deste trabalho pretende apresentar uma visão actualizada da geologia regional e constituir uma tentativa de uma síntese integradora da tectonoestratigrafia regional, alicerçada, fundamentalmente, nos trabalhos de GAMA PEREIRA (1987), de NORONHA (1994), de NORONHA & LETERRIER (2000), e de CHAMINÉ (2000). Do ponto de vista geológico regional este megadomínio integra-se numa faixa de cisalhamento mais vasta, de direcção geral NNW–SSE, que se prolonga, inequivocamente, desde os arredores do Porto até Tomar, passando pela Foz do Douro, Espinho e Albergaria-a-Velha (SEVERO GONÇALVES, 1974; RIBEI- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) RO et al., 1980; BORGES et al., 1985; NORONHA & LETERRIER, 2000; CHAMINÉ, 2000), voltando a aflorar entre Sernada do Vouga, Águeda, Mealhada, Coimbra, Espinhal, Alvaiázere e Tomar (GAMA PEREIRA, 1987, 1998; CHAMINÉ et al., 2000a, b, c, 2003). Este sector tomou a designação genérica de faixa de cisalhamento de Porto–Tomar (RIBEIRO, 1979; DIAS & RIBEIRO, 1993; RIBEIRO et al., 1990b). Esta faixa engloba unidades tectonoestratigráficas, de idade proterozóica média-superior a paleozóica média-superior (e.g., GAMA PEREIRA & MACEDO, 1983; GAMA PEREIRA, 1987; SERRANO PINTO et al., 1987; BEETSMA, 1995; TASSINARI et al., 1996; LETERRIER & NORONHA, 1998; CHAMINÉ et al., 1998b; NORONHA & LETERRIER, 2000; CHAMINÉ, 2000; FERNANDES et al., 2000, 2001), fazendo parte, tradicionalmente, da Zona de Ossa-Morena (ZOM) do Terreno Autóctone Ibérico inserido na Cadeia Varisca Ibérica (LOTZE, 1945; JULIVERT et al., 1974; RIBEIRO et al., 1990b; DIAS & RIBEIRO, 1993). A faixa de cisalhamento de Porto–Tomar (ZOM) contacta a oriente com a Zona CentroIbérica (ZCI). O conjunto anterior faz parte do megadomínio de cisalhamento de Porto–Tomar–Ferreira do Alentejo (CHAMINÉ, 2000; CHAMINÉ et al., 2000a, b, c, 2003; RIBEIRO et al., 2003). A sistematização tectonoestratigráfica e estrutural para a região em apreço é particularmente explicitada nos trabalhos de NORONHA (1994), de GAMA PEREIRA (1987, 1998), de NORONHA & LETERRIER (2000) e de CHAMINÉ (2000) permitindo um refinamento sobre CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) a visão da cartografia geológica de superfície patente, nomeadamente, na “Carta Geológica de Portugal”, escalas 1/50.000 (COSTA & TEIXEIRA, 1957; TEIXEIRA et al., 1962; TEIXEIRA & ASSUNÇÃO, 1963; MEDEIROS et al., 1964; TEIXEIRA & ZBYSZEWSKI, 1976; PEREIRA et al., 1980), 1/200.000 (PEREIRA et al., 1989) e 1/500.000 (OLIVEIRA et al., 1992). A figura 2 pretende sintetizar e enquadrar a geologia da faixa de cisalhamento de Porto– Coimbra– Tomar (ZOM), à luz dos trabalhos dos primeiros autores anteriormente citados. As figuras 3, 4 e 7 referem-se à cartografia geológica de pormenor dos sectores da Foz do Douro (Porto), de Espinho– Albergaria-a- Velha– Águeda e de Coimbra– Espinhal– Alvaiázere (Tomar). TECTONOESTRATIGRAFIA GENERALIDADES Uma parte substancial da região está ocupada por depósitos de cobertura de idade holocénica e/ou plistocénica (depósitos aluvionares, dunas fósseis, areias de praia e de duna actuais), e de idade plioplistocénica (depósitos de praias antigas e de terraços fluviais). Consideram-se, na segunda categoria os depósitos de vertente da região de Pindelo (SOARES de CARVALHO, 1949). A área compreendida entre o Sul de Espinho e Aveiro é relativamente aplanada, sendo composta por aluviões actuais e areias de duna e de praia, sendo parte integrante da denominada Bacia Sedimentar de Aveiro (ROCHA, 1994). Na região a Sudoeste de Albergaria-a-Velha afloram alguns depósitos argilo-gresosos do Cretácico inferior e Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 41 areníticos avermelhados do Triásico (e.g., SHARPE, 1849; ROCHA, 1994) e na região entre Sernada do Vouga (Aveiro) e Tomar afloram, numa vasta área, depósitos de idade pós-Pérmica incluídos na Bacia Lusitaniana (TELLES ANTUNES et al., 1979; OLIVEIRA et al., 1992). As rochas granitóides e filonianas ocupam uma área considerável desta região, denunciando sobretudo eventos tectonomagmáticos concomitantes com os diversos períodos de instalação relativamente à orogenia varisca ou anterior (NORONHA et al., 1979; GAMA PEREIRA, 1987; CHAMINÉ et al., 1998b; NORONHA & LETERRIER, 2000), i.e., genericamente afloram na região granitóides precoces e/ou ante-variscos, sin-variscos e tardi- a pós-variscos. Na faixa de cisalhamento de Porto–Tomar os planos axiais das estruturas dobradas, quer à escala regional quer à escala local, estão normalmente deformados por um padrão de cisalhamento norteado (de atitude azimutal N10ºW ou NNW), direito, ou seja, constituíndo um megadomínio de cisalhamento à escala regional entre a região do Porto e Tomar. Aliás, os primeiros registos das relações de campo na região, nomeadamente os de DELGADO (1870, 1905, 1908), dão conta desta orientação regional N10ºW. Com efeito, as estruturas cisalhantes direitas referidas dão origem ao aparecimento de sectores imbricados, em “échelon”, descrevendo estruturas regionais que desenham sigmóides, com critérios de movimentação dextrógiro. O estudo das rochas metassedimentares da faixa de cisalhamento de Porto– Albergaria-a-Velha–Coimbra–Tomar 42 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 2. Esboço geológico regional da faixa de cisalhamento de Porto–Coimbra–Tomar (adaptado e revisto: i. sector da Foz do Douro (Porto): CMP, 1994 e levantamentos inéditos de F. Noronha; ii. sector de E s p i n h o – A l b e r g a r i a - a - Ve l h a : CHAMINÉ, 2000; sector de Águeda–Coimbra: OLIVEIRA et al., 1992, e levantamentos inéditos de L. C. Gama Pereira e H. I. Chaminé; iii. sector de Espinhal–Alvaiázere (Tomar): GAMA PEREIRA, 1987, e levantamentos inéditos de L. C. Gama Pereira). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) (ZOM), efectuado a partir da análise de unidades tectonoestratigráficas (e.g., CONEY et al., 1980; NACSN, 1983; ISSC, 1994; HOWELL, 1995), permitiu a distinção formal de domínios estruturais (unidades alóctones, parautóctones e autóctones). Dadas as suas características geológico-estruturais particulares este megadomínio de cisalhamento é aqui apresentado em três sectores complementares, a saber: sector da Foz do Douro (Porto), sector de Espinho– Albergaria-aVelha– Águeda e sector de Coimbra– Espinhal– Alvaiázere (Tomar). SECTOR DA FOZ DO DOURO (PORTO) Na zona ocidental da cidade do Porto, junto à orla litoral entre a foz do rio Douro e o Forte S. Francisco Xavier (vulgo Castelo do Queijo), encontram-se magníficos afloramentos de variadas rochas metassedimentares, espacialmente associadas a rochas ortognáissicas de diferentes tipos, que no seu conjunto são cortadas por granitóides variscos. Estas rochas foram objecto de alguns estudos ou referências pontuais, nomeadamente, por SHARPE (1849), BARATA (1910), COSTA (1938, 1958), COSTA & TEIXEIRA (1957), TEIXEIRA (1970) e BRAVO & ABRUNHOSA (1978). Os trabalhos de BORGES et al. (1985, 1987), NORONHA & LETERRIER (1995, 2000), LETERRIER & NORONHA (1998), marcam o dealbar de uma abordagem pluridisciplinar e de síntese sobre tão importante sector-chave para a compreensão da faixa de cisalhamento de Porto–Tomar. Assim, as rochas da faixa metamórfica da Foz do Douro foram incluídas, neste trabalho, em Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 43 duas unidades tectonoestratigráficas distintas (figuras 2 e 3): a Unidade de Lordelo do Ouro (ULO) e a Unidade dos Gnaisses da Foz do Douro (UGFD). Estas unidades definem no seu conjunto o designado Complexo Metamórfico da Foz do Douro (NORONHA & LETERRIER, 1995) que se integra na ZOM (indicado com as rubricas γI1, “Granitos gnáissicos”, e CBR, “Complexo Xisto-Grauváquico”, em OLIVEIRA et al., 1992). Unidade de Lordelo do Ouro (ULO) A ULO constitui uma estreita faixa de rochas de natureza metassedimentar (micaxistos, quartzo-tectonitos recortados, localmente, por pseudotaquilitos; BORGES et al., 1985; CHAMINÉ, 2000; CHAMINÉ et al., 2003, in prep.). No seu limite Leste, contacta por acidente tectónico com o granito do Porto (γI3) que localmente apresenta corredores de intensa deformação (e.g., granito da Arrábida); no seu limite Oeste, contacta tectonicamente com a UGFD. Na ULO, é nítida a discordância entre as foliações presentes nos ortognaisses e nos micaxistos, o que denuncia uma foliação anterior nestes últimos (BORGES et al., 1985; RIBEIRO & PEREIRA, 1992). A discordância é ainda mais evidente quando retalhos de micaxistos ocorrem no seio dos ortognaisses, atestando a natureza intrusiva destes últimos (BORGES et al., 1985). Unidade dos Gnaisses da Foz do Douro (UGFD) A UGFD encontra-se confinada a uma faixa de ortognaisses, por vezes com corredores miloníticos onde se identificaram gnaisses recortados, à escala local, por 44 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 3. Mapa geológico de pormenor do sector da Foz do Douro, Porto (adaptado de CMP, 1994, e levantamentos inéditos de F. Noronha). pseudotaquilitos (CHAMINÉ et al., 2003, in prep.), compreendida entre o molhe de Felgueiras e o Castelo do Queijo. Foi caracterizada, mercê de uma cartografia de detalhe, por BORGES et al. (1985, 1987), como constituída essencialmente por qua- tro tipos de ortognaisses: (i) gnaisses biotíticos; (ii) gnaisses leucocratas de tendência ocelada; (iii) gnaisses leucocratas; (iv) gnaisses leucocratas ocelados, em regra, afectados por deformação cisalhante intensa. Petrograficamente os gnaisses leucocra- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) tas têm, no seu conjunto, uma composição granítica, e os gnaisses biotíticos, desprovidos de feldspato potássico, uma composição tonalítica. Associadas às rochas gnáissicas e aos micaxistos da ULO observam-se várias ocorrências de anfibolitos. Um estudo sobre a petrografia, composição e origem destes anfibolitos (BRAVO & ABRUNHOSA, 1978) mostrou que a sua formação não foi acompanhada de metassomatismo importante e que teriam uma origem magmática onde os produtos primários seriam rochas básicas com carácter toleítico. Estudos radiométricos Rb-Sr (RT, Rocha Total) efectuados na faixa metamórfica da Foz do Douro apontam idades de 523±96 Ma e de 566±47 Ma para os gnaisses (F. MENDES, 1967/1968) e de 604 Ma (isócrona de referência) para os gnaisses biotíticos (SERRANO PINTO et al., 1987). Mais recentemente foram realizados estudos sistemáticos de geoquímica e geocronologia para caracterização e datação do magmatismo desta faixa (NORONHA & LETERRIER, 2000). Estes estudos permitiram calcular para os gnaisses biotíticos uma idade Rb-Sr (RT) de 575±5 Ma, e um valor da razão 87Sr/86Sri de 0.702443, o que corresponde ao Proterozóico superior e indica uma origem profunda com contribuição mantélica para estas rochas (NORONHA & LETERRIER, 1995). Noutros estudos geocronológicos em gnaisses biotíticos, pelo método U-Pb em zircão, LETERRIER & NORONHA (1998) obtiveram uma discórdia inversa com uma intersecta inferior a 567±6 Ma. A idade definida por esta intersecta é muito próxima da idade Rb-Sr (575±5 Ma) que pode, assim, ser admitida como a melhor aproximação para a instala- Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 45 ção desta unidade gnáissica. Calculadas para esta idade, as razões muito baixas de 87Sr/86Sri (0.7023 a 0.7025) e muito elevadas de εNd (+6.65 a +6.67) dão para o material fonte uma assinatura mantélica do tipo manto deprimido. A análise de gnaisses de tendência ocelada, pelo método U-Pb em zircão, permitiu obter uma discórdia directa com uma intersecta superior a 607±17 Ma que representa a idade de instalação da unidade gnáissica; as razões 87Sr/86Sri (0.7053 a 0.7056) e εNd (2.84 a -2.89) indicam, contrariamente aos gnaisses biotíticos, uma assinatura francamente crustal (LETERRIER & NORONHA, 1998). Por sua vez, os anfibolitos apresentam composições químicas de basaltos deprimidos do tipo MORB (“Mid-Ocean Ridge Basalts”), não tendo o metamorfismo modificado sensivelmente a sua composição original. A idade modelo calculada, com base nos dados isotópicos Sm-Nd, aponta para 1.05 Ga, fornecendo uma boa aproximação da idade de cristalização destas rochas. Os valores de 87Sr/86Sri (0.7022 a 0.7025) e εNd (+6.45 a +6.53) estão de acordo com uma origem a partir de um manto deprimido (LETERRIER & NORONHA, 1998). Em conclusão, as idades determinadas para a UGFD (567±6 Ma e 607±17 Ma) são equivalentes às estabelecidas para diferentes unidades tectonoestratigráficas da ZOM nas faixas metamórficas de Porto–Coimbra–Tomar (e.g., GAMA PEREIRA & MACEDO, 1983; GAMA PEREIRA 1987; BEETSMA, 1995) e de Tomar–Badajoz–Córdova (e.g., SERRANO PINTO, 1987; QUESADA, 1996), e são ainda similares às encontradas para a Zona do Maciço Norte-Armoricano (e.g., D´LEMOS et al., 1990; CHANTRAINE 46 Chaminé et al. et al., 1994). Estes domínios caracterizamse assim pela existência de um magmatismo plutónico calcoalcalino de idade cadomiana (ca. 550–610 Ma). Este magmatismo é orogénico e sugere um enquadramento geodinâmico do tipo margem activa subducção–colisão. A presença, no CMFD, de anfibolitos com uma nítida assinatura de manto deprimido, e idade modelo (Nd) estimada em 1.05 Ga, marca um período de oceanização, permitindo supôr que este representa uma “mélange” tectónica resultante de um anterior período de colisão–obducção. SECTOR DE ESPINHO–ALBERGARIA-A-VELHA–ÁGUEDA Os domínios estruturais considerados para a faixa metamórfica de Espinho–Albergaria-a-Velha–Águeda e as unidades tectonoestratigráficas (figuras 2, 4, 5 e 6; quadro 1) são as que adiante se descrevem, ordenadas da base para o topo (pormenores em CHAMINÉ, 2000 e CHAMINÉ et al., 2000a, b, 2003): Parautóctone e Autóctone relativo da ZOM Unidade de Lourosa (UL) A Unidade de Lourosa aflora inequivocamente desde a localidade de Valadares (Gaia) até próximo a Santiago de Riba-Ul (Oliveira de Azeméis) e corresponde a uma larga faixa de metamorfitos com orientação geral NW-SE. Os esparsos retalhos de rochas metassedimentares e gnáissicas aflorantes, entre o Cabedelo do Douro (praias de Lavadores, das Pedras Amarelas, CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) de Salgueiros e da Madalena) e a praia de Valadares, consideram-se pertencentes a esta unidade tectonoestratigráfica. A Unidade de Lourosa constitui o parautóctone e apresenta aproximadamente 35 km de extensão e 9 km de largura máxima. Os metamorfitos são, nomeadamente, granitóides gnaissificados, migmatitos, micaxistos por vezes granatíferos e anfibolitos. A diferenciação litológica marcada pelo predomínio, nesta unidade, de migmatitos e/ou anfibolitos (às vezes granatíferos), bem como a sua posição relativa entre as unidades adjacentes, levou à sua subdivisão em duas unidades litodémicas (NACSN, 1983; ISSC, 1994), que foram designadas por Unidade de Lourosa inferior e Unidade de Lourosa superior. O limite desta subdivisão faz-se, grosso modo, a Oeste da antiforma de rochas graníticas de Santa Maria da Feira, existindo em muitos locais evidências de um importante lineamento estrutural, com orientação geral NW-SE. Assim, as unidades referidas caracterizam-se por: i) Unidade de Lourosa inferior, é constituída por migmatitos, onde se diferenciam corpos lenticulares de ortognaisses biotíticos que apresentam uma franca blastese de feldspatos e foliação gnáissica, de dimensão quilométrica e orientação geral NW-SE. Em afloramento as rochas migmatíticas, quando não alteradas, apresentam um bandado típico e exibem estruturas variadas; ii) Unidade de Lourosa superior, é formada por micaxistos biotíticos de cor castanha, por vezes granatíferos e, bem assim, com níveis de quartzo de exsudação. Em alguns pontos os micaxistos têm uma cor avermelhada CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 47 Figura 4. Mapa geológico de pormenor do sector de Espinho–Albergaria-a-Velha–Águeda (adaptado de CHAMINÉ, 2000, e levantamentos inéditos de H. I. Chaminé). 48 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 5. Coluna tectonoestratigráfica sintética reconstituída da faixa metamórfica de Espinho–Albergaria-a-Velha, Zona de Ossa-Morena (adaptado de CHAMINÉ, 2000). e/ou amarelada devida ao seu estado de alteração. Ocasionalmente, estas rochas estão intruídas por granitóides gnaissificados, tomando a forma de apófises, cordões, rosários ou lentículas. Próximo à localidade da Quinta do Engenho Novo (Paços de Brandão), regista-se a ocorrência do pequeno afloramento de ortoanfibolito olivínico, assinalado por SOUZABRANDÃO (1914) e estudado, do ponto de vista petrológico, por MONTENEGRO DE ANDRADE (1977). Interpretase esta ocorrência por protrusão em níveis crustais de material ultrabásico serpenti- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 49 Figura 6. Esboço geológico-estrutural da faixa de cisalhamento de Porto–Tomar, no sector de Espinho–Albergaria-a-Velha (adaptado de CHAMINÉ, 2000). Quadro 1. Unidades tectonoestratigráficas da faixa de cisalhamento de Porto–Tomar, no sector de Porto–Albergaria-a-Velha (adaptado de CHAMINÉ, 2000) 50 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) nizado por mecanismos de edução mantélica (BARRIGA et al., 1992), sendo possível que assinale um contexto de “mélange” tectónica. Intercalados a vários níveis nas duas unidades anteriores, mas ocupando faixas mais significativas na Unidade de Lourosa superior, encontram-se corpos anfibolíticos de cor negra e medianamente granulares, com orientação média NW-SE. O estudo do quimismo destes anfibolitos (MENDES, 1988) aponta para uma origem ortoderivada, com composição traquiandesítica sendo considerados basaltos do tipo MORB. O limite ocidental da Unidade de Lourosa corresponde a uma falha inversa, cavalgante para Oeste (cavalgamento de Lourosa) que põe esta unidade em contacto com as Unidades de Espinho e de Arada. O contacto oriental está sublinhado essencialmente pela presença de granitóides (granito pós-orogénico de Lavadores, γIIIL), e é feito, em parte, pelo ramo oeste do carreamento de S. João-de-Ver. Unidade de Espinho (UE) A Unidade de Espinho corresponde a uma estreita faixa parautóctone, de aproximadamente 20 km de extensão e 800 m de possança média com orientação geral NNW-SSE, de micaxistos biotíticos de cor cinzenta escura, quase sempre luzentes e acetinados, nos quais ocorrem porfiroblastos de estaurolite e de granada. Os porfiroblastos são visíveis em amostra de mão e, em regra, os cristais são idiomórficos apresentando dimensões variáveis. Foi na parte basal desta unida- Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 51 de que foram reconhecidos e cartografados, pela primeira vez, quartzo-tectonitos granatíferos (CHAMINÉ et al., 1995, 1998a; CHAMINÉ, 2000). As rochas quartzíticas com granada afloram em níveis descontínuos, com possanças médias que não ultrapassam as três dezenas de metros. Apresentam um aspecto muito homogéneo e compacto, granularidade média a fina, e cor acastanhada. À vista desarmada podem observar-se porfiroblastos de granada. É, também, frequente a ocorrência de finos níveis milimétricos de quartzo leitoso paralelos à foliação principal do quartzo-tectonito. Estudos microtectónicos revelaram a existência nas petrofábricas dos eixos <c> de quartzo de relíquias de alta temperatura (CHAMINÉ et al., 1998a; CHAMINÉ, 2000; FERNÁNDEZ et al., 2003). À escala microscópica identificaram-se agregados de granadas alongadas, indicadoras de condições tectonometamórficas de alta temperatura e de extrema deformação (e.g., JI & MARTIGNOLE, 1994; KLEINSCHRODT & MCGREW, 2000). O estudo microestrutural sugere uma génese por mecanismos de deformação por difusão intracristalina segundo um campo de tensões regional, denunciando eventualmente um evento tectonometamórfico, em condições de transição para um metamorfismo de alta temperatura, varisco precoce ou pré-varisco (CHAMINÉ, 2000). Os estudos de metamorfismo indicam uma ausência de variação composicional sistemática nos bordos da granada dos quartzo-tectonitos (CHAMINÉ, 2000; FERNÁNDEZ et al., 2003) e as condições geotermobarométricas estimadas apontam para uma temperatura de 700±50 ºC e os 52 Chaminé et al. valores de pressão correspondentes situamse entre 4 e 5 Kbar (FERNÁNDEZ et al., 2003). A referência na bibliografia geológica, especialmente no Maciço Ibérico, de afloramentos quartzíticos com características semelhantes às dos quartzitos granatíferos da Unidade de Espinho é extremamente rara. Contudo, alguns trabalhos mencionam a ocorrência de pequenos afloramentos quartzíticos com granada e/ou distena no Proterozóico da Serra Morena (Unidades de Campo Alto e das Querencias), em Espanha (e.g., DELGADO-QUESADA, 1971; OROZCO & PASCUAL, 1975; DELOCHE et al., 1979) e, por outro lado, no Escudo NW Africano (BERTRAND-SARFATI et al., 1991). A Unidade de Espinho contacta com a Unidade de Arada por acidente tectónico igualmente cavalgante para Oeste (cavalgamento de Espinho). Em vários locais da região reconheceram-se caixas de falha de ordem de grandeza variável, desde alguns centímetros até dezenas de metros, em que as rochas se encontram frequentemente milonitizadas, e em regra com preenchimento argiloso cinzento escuro (“fault gouge”). Unidade de Arada (UAr) A Unidade de Arada corresponde a uma extensa faixa, com uma orientação geral NNW-SSE, de rochas metassedimentares de idade Proterozóica superior (550 e 600 Ma; segundo BEETSMA, 1995) constituindo o autóctone relativo. Aflora junto à orla litoral, numa série de retalhos que vão desde o apeadeiro de Silvalde até Esmoriz, e prolongam-se para CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Leste da região entre Ovar e Estarreja, e para Sul até Angeja (arredores de Aveiro) onde contactam com os arenitos avermelhados do Triásico. É formada por uma sucessão monótona de filádios negros e esverdeados, com raras intercalações de níveis de metaliditos negros. Os filádios têm granularidade fina e neles encontramse, geralmente, intercalações de filonetes de quartzo de exsudação. O seu aspecto é acetinado e luzente. Estes filádios encontram-se muito deformados e registam-se localmente dobras, muito apertadas, com “microlithons” que materializam, possivelmente, uma foliação precoce ou antevarisca. Correspondem, em termos litológicos, a filádios quartzo-sericíticos e clorítico-moscovíticos que por vezes contêm granada. Intercalados nos filádios, na sua parte basal, ocorrem níveis de rochas anfibolíticas esverdeadas, os denominados ‘Anfibolitos e xistos anfibolíticos de Maceda’ (CHAMINÉ, 2000). Alóctone da ZOM Unidades de Albergaria-a-Velha (UAv) e de Sernada do Vouga (USv) Na região de Albergaria-a-Velha afloram, numa área restrita, rochas metapelíticas, de cor negra e de granularidade fina, apresentando um metamorfismo orgânico baixo (MOÇO et al., 2001a, b, c). Nestes metapelitos ocorrem alternâncias de níveis psamíticos, de cor cinzenta, e com dimensões milimétricas. Registam-se ainda intercalações de níveis, milimétricos a centimétricos, de lentículas e filonetes de quartzo de exsudação, bem como de rochas metacarbonatadas. Estas rochas metapelí- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) ticas negras datadas palinologicamente do Devónico médio-superior e do Carbonífero inferior (FERNANDES et al., 2000, 2001; CHAMINÉ et al., 2000a, b, 2003) caracterizam, do ponto de vista tectonoestratigráfico, a designada Unidade de Albergaria-a-Velha (CHAMINÉ et al., 2000a, b) e a Unidade de Sernada do Vouga (CHAMINÉ et al., 2003), respectivamente. Como se referiu anteriormente, foram também cartografados e descritos pela primeira vez níveis de rochas metacarbonatadas (do ponto de vista mineralógico constituídos por metacarbonatos complexos) intercalados, localmente, em metapelitos negros do Devónico médio-superior, correspondendo ao traço cartográfico de uma dobra maior e aflorantes a aproximadamente 600 m N40ºE da igreja de Albergaria-a-Velha (CHAMINÉ, 2000). As rochas metacarbonatadas apresentamse em níveis compactos com granularidade fina e cor cinzenta acastanhada, podendo em algumas bancadas apresentar uma tonalidade esverdeada. Os níveis têm uma possança média que não ultrapassa os 50 cm e são intersectados por uma rede filoniana quartzosa, decimétrica a centimétrica. Foram também individualizados níveis destas rochas, de espessura decimétrica, com uma coloração castanha escura e finamente dobrados segundo o mesmo estilo do encaixante. À escala meso e microscópica, identificaram-se bandas com intensa milonitização nestes níveis carbonatados. Estudos mineralógicos apontam para a existência, nos níveis metacarbonatados da Unidade de Albergaria-a-Velha, de concentrações minerais argilosas de cor branca correspondentes a dickite e interestratifi- Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 53 cados de caulinite–dickite (CHAMINÉ et al., 2001b). Desta forma, a presença das concentrações dos minerais argilosos referidos em rochas metacarbonatadas poderá ser indicadora da proximidade destes acidentes e de uma grande movimentação tectónica, assumindo, por isso, o valor de marcadores tectonoestratigráficos (e.g., PARNELL et al., 2000; CHAMINÉ et al., 2001b). Unidade de S. João-de-Ver (USJV) A Unidade de S. João-de-Ver corresponde a uma faixa com cerca de 40 km de extensão e 4 km de possança média, com orientação geral N-S a NNW-SSE, que contacta por tectónica do tipo pelicular (“thin-skin”) — Carreamento de S. Joãode-Ver — com as unidades de Lourosa e de Arada (CHAMINÉ et al., 1996a, b, 1999; CHAMINÉ, 2000). O contacto Oeste é sublinhado, ou por granitóides variscos e/ou corpos aplito-pegmatíticos, ou por contacto mecânico com os migmatitos e/ou gnaisses da Unidade de Lourosa inferior. O contacto Leste corresponde essencialmente ao ramo mais ocidental do megacisalhamento de Porto–Tomar. Aliás, a própria morfoestrutura regional reflecte esse ramo tectónico —falha de Carvalhal–Açores, coincidindo em parte ao limite Leste da megaestrutura alóctone de S. João-de-Ver — como evidencia o estudo preliminar de GOMES & BARRA (2001). A unidade desenvolve-se desde a localidade de S. João-de-Ver até próximo a Vale Maior (Albergaria-a-Velha), sendo constituída por rochas de metamorfismo de grau médio, com contactos tectónicos 54 Chaminé et al. bem visíveis, sublinhados, em regra, por uma faixa de corpos granitóides deformados e/ou bandas de alteração intensa (observam-se frequentemente caixas de falha argilosas muito profundas; CHAMINÉ et al., 1999). Possui duas litologias bem diferenciadas: na base observam-se metapórfiros e gnaisses blastomiloníticos localmente recortados por pseudotaquilitos; no topo, em aparente concordância estratigráfica, reconhecem-se micaxistos, às vezes granatíferos, e metagrauvaques. Ocorrem também inúmeros corpos anfibolíticos, com orientação média NNW-SSE. Unidade de Pindelo (UP) A unidade de Pindelo desenvolve-se desde a povoação de Togilde (Caldas de S. Jorge) até à de S. Martinho de Ossela (a Sudeste da Vila de Pindelo) e corresponde a uma faixa de rochas de alto grau metamórfico, com aproximadamente 30 km de extensão e 1,5 km de possança média, com orientação geral NNW-SSE. É uma unidade constituída por migmatitos e gnaisses, com franca blastese de feldspatos, e mais raramente por micaxistos. Contacta, tectonicamente, umas vezes com os xistos ardosíferos cinzentos do Paleozóico inferior (ZCI), e outras vezes com gnaisses blastomiloníticos. Esta unidade alóctone é equiparável, do ponto de vista litológico e tectonometamórfico, à Unidade de Lourosa, e encontra-se incluída na denominada faixa blastomilonítica de Oliveira de Azeméis (sensu RIBEIRO, 1979; RIBEIRO et al., 1980). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) SECTOR DE COIMBRA–ESPINHAL–ALVAIÁZERE A região em apreço localiza-se a cerca de 20 km a Sul de Coimbra (Penela–Espinhal) prolongando-se até cerca de 15 km a Norte de Tomar (Alvaiázere). Na parte Norte desta região a faixa metamórfica tem uma largura média inferior a 2 km, mas a Sul há locais onde ultrapassa uma dezena de quilómetros. Entre o paralelo de Espinhal e o de Alvaiázere obervam-se pequenos retalhos do soco da ZOM que se mostram estruturados de encontro ao substrato Paleozóico da ZCI, a Este, no bordo do Maciço Ibérico. Este Paleozóico, junto ao bordo, fecha o extremo norte do sinclinório de Amêndoa. Outros retalhos da ZOM que afloram por entre os terrenos do Triásico da Orla Meso-Cenozóica, mostram igualmente grande concordância com aquela geometria e reforçam a interpretação de uma faixa, relativamente larga, de cisalhamento. Esta faixa, à escala regional, apresenta uma movimentação direita que afecta não só aqueles metamorfitos que afloram na Orla e respectivo bordo Oeste, bem como o próprio Paleozóico (quartzito Armoricano, xistos ardosíferos, xistos negros e grauvaques que constituem o fecho do sinclinório de Espinhal–Dornes), o Complexo Xisto-Grauváquico (CXG) do Grupo das Beiras e os plutonitos graníticos da ZCI (Vila Nova, Figueiró dos Vinhos, Bouçã e Pedrógão). Em termos da macroestrutura regional as antiformas de Arega e do Beco (GAMA PEREIRA, 1987), bem como o retalho que lhe fica mais a norte (na zona a Este do Espinhal), mostram as unidades tectonoes- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) tratigráficas com metamorfismo de mais alto grau na região (com um núcleo gnáissico-migmatítico). A antiforma de Arega, com uma superfície axial em sigmóide direito com uma direcção geral NW-SE, mostra acentuada simetria axial assemelhando-se os flancos NE e SW. É nestes flancos que se observam melhor as unidades tectonoestratigráficas e as variações metamórficas destes terrenos. Os domínios estruturais considerados para a faixa metamórfica de Coimbra– Espinhal–Alvaiázere e as unidades tectonoestratigráficas para a ZOM (figuras 2 e 7) são as que adiante se descrevem, ordenadas da base para o topo (pormenores em GAMA PEREIRA, 1983, 1984a, b, 1987, 1988a, b, 1991, 1998; CHAMINÉ et al., 2000b, 2003): Parautóctone e Autóctone relativo: i) Unidade de Maçãs de D.Maria; ii) Unidade de Arega–Beco; iii) Unidades de Vale de Canas e da Ribeira do Brás; Alóctone: i) Unidades da Portela do Ceira e da Ponte de Penela, ii) Unidade dos Amarelos. Unidade de Maçãs de D. Maria Esta unidade corresponde a uma série de manchas de granitóides gnaissificados (tonalíticos e granodioríticos) e migmatitos, com orientação geral NW-SE, que afloram especialmente entre a Serra da Nexêbra e a Serra da Quinta (Chão de Couce a Alvaiázere), Maçãs de D. Maria e Beco (Ferreira do Zêzere). Assim, os ortognaisses apresentam uma franca blastese de feldspatos e uma foliação gnáissica bem desenvolvida. Devido à intensa deformação alguns destes corpos podem ser verdadeiros blastomilonitos. Em afloramento, Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 55 as rochas migmatíticas fazem a passagem aos metassedimentos e exibem estruturas lenticulares da migmatização. No seio dos tonalitos gnáissicos podem observar-se restitos de anfibolitos e metassedimentos. Próximo às localidades do Ral e do Casal do Zote (Ferreira do Zêzere), no seio dos tonalitos gnáissicos afloram, com orientação geral NW-SE, gabros olívinicos, gabro-noritos olivínicos e noritos horneblêndicos, em manchas descontínuas (GAMA PEREIRA, 1987). Estes afloramentos não estão em geral bem expostos estando, em regra, muito alterados. Só os núcleos dos blocos afectados pela alteração e por disjunção esferoidal permitem amostras relativamente sãs. Unidade de Arega–Beco Esta unidade é constituída genericamente por micaxistos de cor cinza-dourada ou acastanhada, com uma zonografia metamórfica progressiva no sentido do eixo da antiforma, desde a zona da clorite à zona da biotite, zona da estaurolite + granada e da silimanite + feldspato potássico. Em alguns locais, próximo ao contacto, que está relativamente tectonizado, os gnaisses tonalíticos e granodioríticos, passam a ter uma composição granítica e tomam um aspecto essencialmente migmatítico. Unidade de Vale de Canas e da Ribeira do Brás A Unidade dos filádios negros e verdoengos corresponde a uma estreita faixa, com uma orientação geral NNW-SSE. Do ponto de vista litológico são filádios quart- 56 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 7. Mapa geológico de pormenor do sector de Coimbra–Espinhal–Alvaiázere (Tomar) (adaptado de GAMA PEREIRA, 1987, e levantamentos inéditos de L. C. Gama Pereira). zo-sericíticos e clorítico-moscovíticos, com raras intercalações de níveis de metaliditos negros. Os filádios apresentam uma granularidade fina, de coloração esverdeada a negra, em regra acetinados, e registam-se neles, frequentemente, filonetes de quartzo de exsudação. Estes filádios encontram-se muito deformados e são os materiais onde melhor se registam os (micro)dobramentos, em regra, muito apertados. Unidade dos Amarelos No sector SW da antiforma de AgudaArega, entre Alvaiázere e Figueiró dos Vinhos, foi definida a Unidade dos Amarelos (GAMA PEREIRA, 1983, 1984a, b, 1987) sendo composta, da base para o topo, por: quartzitos finos, metagrauvaques e filitos, metarenitos, metapórfiros (ácidos) por vezes com fenoclastos CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) de feldspato bem desenvolvidos, finas laminações de material vulcanossedimentar, metagrauvaques e xistos. Estas litologias encontram-se, por vezes, muito alteradas, mas mostrando aspectos macroscópicos típicos desta unidade tectonoestratigráfica, especialmente as laminações finas de metavulcanitos ácidos, intercalados com metarenitos finos de cor verdoenga ou beije claro a cinza; ou, os níveis de metarenitos finos, com intercalações de xistos argilosos, que alteram para tons beije claro com intercalações de metapórfiros que alteram para tons brancos. Esta unidade dos Amarelos está discordante sobre os micaxistos e/ou filádios e filitos do Proterozóico superior. Unidades da Portela do Ceira e da Ponte de Penela As unidades tectonoestratigráficas da Portela do Ceira e da Ponte de Penela são formadas, genericamente, por metapelitos negros que foram recentemente datadas na região de Coimbra e do Espinhal, respectivamente (CHAMINÉ et al., 2000b, 2001b, 2002, 2003). Estas rochas metapelíticas negras, acetinadas, foram palinologicamente datadas como Devónico médiosuperior (FERNANDES et al., 2001; CHAMINÉ et al., 2000b, 2002, 2003). Assim, entre a região da grande Coimbra e o Espinhal (Serra de Penela) e, naturalmente, mais a sul, afloram, em áreas restritas, rochas metapelíticas, de cor negra, granularidade fina, e apresentando um metamorfismo orgânico baixo (MOÇO et al., 2001b; CHAMINÉ et al., 2003). Nestes metapelitos ocorrem alternâncias de bancadinhas metapsamíticas, quartzo- Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 57 sas, de cor cinzenta, e com dimensões centimétricas. Registam-se ainda intercalações de níveis, milimétricos, de filonetes de quartzo de exsudação, bem como de finos níveis de rochas metacarbonatadas. Estas rochas apresentam-se em níveis compactos com granularidade fina e cor castanha esverdeada clara. Os níveis cartografados têm uma possança média que não ultrapassa uma dezena de centímetros. Estudos mineralógicos apontam para a existência, nos níveis metacarbonatados da Unidade da Portela do Ceira, de concentrações minerais argilosas de cor branca correspondentes a um politipo da caulinite, a dickite, e seus interestratificados caulinite–dickite (CHAMINÉ et al., 2001b, 2002, 2003). UM ENSAIO DE CORRELAÇÃO T E C T O N O E S T R AT I G R Á F I C A : SÍNTESE E DISCUSSÃO TRABALHOS PRÉVIOS O substrato ante-Pérmico entre Porto e Albergaria-a-Velha forma uma faixa, aproximadamente sub-triangular, com 50 km de extensão longitudinal e 10 km de largura máxima que totaliza uma área de 500 km2. O seu limite ocidental estabelece-se entre Porto (Foz do Douro), Vila Nova de Gaia (Canidelo a Valadares), Espinho e Estarreja, e o limite oriental entre S. João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Albergaria-a-Velha. O sector de Porto–Albergaria-a-Velha suscitou, desde muito cedo, a curiosidade e a realização de estudos geológicos. Dos trabalhos que lhe foram dedicados destacam-se como mais relevantes os de SHARPE (1849), C. 58 Chaminé et al. RIBEIRO (1860), DELGADO (1870, 1905), BARATA (1910), SOUZABRANDÃO (1914), ROSAS DA SILVA (1936), FREIRE DE ANDRADE (1938/40), COSTA (1938, 1958), SOARES DE CARVALHO (1945, 1947), MESQUITA (1952), COSTA & TEIXEIRA (1957), ASSUNÇÃO (1962), TEIXEIRA (1970, 1976), SEVERO GONÇALVES (1974), RIBEIRO et al. (1980), BORGES et al. (1985, 1987), MENDES (1988), BEETSMA (1995), NORONHA & LETERRIER (2000), CHAMINÉ et al. (1995, 1998b, 2000a, b, 2003), FERNÁNDEZ et al. (2003). Para uma revisão bibliográfica aprofundada e exaustiva sobre a região em questão consultar os trabalhos de CHAMINÉ (2000) e de CHAMINÉ et al. (2003). No que respeita aos restantes sectores a sul da região de Albergaria-a-Velha até Coimbra encontra-se mal conhecido, sobretudo o limite cartográfico e a tectonoestratigrafia da sutura entre a ZOM e a Zona Centro-Ibérica (ZCI), à parte o que consta fundamentalmente dos trabalhos de DELGADO (1908), SOUZABRANDÃO (1915/16), COSTA (1950), CHARNAY (1962), COURBOULEIX (1972, 1974), COURBOULEIX & ROSSET (1974), POTRÓ (1995), MOÇO et al. (2001a, b), FERNANDES et al. (2001), CHAMINÉ et al. (2000a, b, 2001, 2002, 2003). A Sul da região de Coimbra e, em particular, no sector entre Espinhal–Alvaiázere–Tomar, os trabalhos de COSTA SIMÕES (1860) e de DELGADO (1870, 1905) foram pioneiros. Nesse mesmo sector, actualmente, a sutura encontra-se bem controlada e caracterizada em resultado de trabalho de investigação CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) pormenorizado (GAMA PEREIRA, 1983, 1984a, b, 1987, 1988a, b, 1991, 1998; A. PEREIRA & GAMA PEREIRA, 1994) e, no sector de Tomar–Sardoal, destacam-se os trabalhos de GONÇALVES et al. (1979), CARVALHOSA & GONÇALVES (1981-82), CONDE (1984), CONDE & GAMA PEREIRA (1993), PEREIRA et al. (1998a, b) e PEREIRA & RIBEIRO (2001) que contêm importante informação para a caracterização deste sector. UM ENSAIO DE CORRELAÇÃO TECTONOESTRATIGRÁFICA A ZOM constitui uma área considerável da Península Ibérica e, em particular, do território português sendo ocupada por terrenos em geral muito deformados e metamorfizados de idade proterozóica a paleozóica. Os terrenos ante-câmbricos que formam a faixa de cisalhamento de Badajoz-Córdova pertencem, segundo a mais recentemente sistematização, a duas grandes unidades tectonoestratigráficas, que do topo para a base são (QUESADA et al., 1990, QUESADA, 1996): i) Série sin-orogénica (substrato): Complexo vulcano-sedimentar e Complexo turbidítico (“Série Negra”, s.l.: Formações de Tentudía e de Montemolín); ii) Série pré-orogénica (faixa blastomilonítica): Unidade Alóctone superior (Complexos turbidítico e vulcano-sedimentar); Unidade de Sierra Albarrana (metapelitos e metagrauvaques, quartzitos com granada e/ou distena) e Unidade Acrecional (gnaisses, migmatitos e metavulcanitos). Uma das características marcantes da ZOM é a individualização de vários núcle- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) os de antiformas de rochas precâmbricas, subparalelos entre si, e com uma orientação geral NW-SE. Vários autores (e.g., LEFORT & RIBEIRO, 1980; HERRANZ, 1985; GAMA PEREIRA, 1987; QUESADA et al., 1990; RIBEIRO et al., 1990b), referiram, por exemplo, que as rochas precâmbricas da ZOM estão compartimentadas em grandes blocos muito estreitos, alongados e separados por mega-acidentes tectónicos, com uma orientação NW-SE. Logo, verificar-se-ia uma evolução geotectónica particular dentro de cada megabloco, com unidades de diferente significado estratigráfico e separadas por descontinuidades tectónicas entre elas (unidades tectonoestratigráficas), o que estaria na origem da grande variação observada no estudo da litologia e da estrutura segundo geotransversais NE-SW. Para além disso há uma ausência generalizada de registo fossílifero nas unidades metapelíticas muito deformadas. Assim, desta compartimentação resulta uma grande dificuldade no estabelecimento de correlações tectonoestratigráficas entre as unidades precâmbricas definidas, quer nos sectores a Oeste da faixa de cisalhamento de Porto–Tomar quer nos sectores setentrionais e meridionais da faixa de cisalhamento de Tomar–Córdova. Na última década do Século XX surgiram vários trabalhos de índole tectonoestratigráfica e tectonometamórfica de extrema relevância para diferentes sectores da faixa de cisalhamento de Tomar– Badajoz–Córdova (ZOM). Cite-se, entre outros, os trabalhos de: ABALOS (1992), FONSECA & RIBEIRO (1993), GONÇALVES & CARVALHOSA (1994), QUESADA et al. (1994), EGUILUZ et al. Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 59 (1996), FONSECA (1995, 1996), ARAÚJO (1995), ARAÚJO & RIBEIRO (1995, 1996), M. PEREIRA & BRANDÃO SILVA (1996), BRANDÃO SILVA (1996, 1998, 1999), QUESADA (1996). Para referências bibliográficas anteriores a 1992 consultar os trabalhos de referência de TEIXEIRA (1981), de QUESADA et al. (1990) e de OLIVEIRA et al. (1991). Os quadros 2 e 3 apresentam a síntese dos principais trabalhos sobre a tectonoestratigrafia da região de Porto–Tomar e um ensaio de correlação entre as unidades tectonoestratigráficas consideradas para os diferentes sectores da faixa de cisalhamento de Porto–Tomar (ZOM), respectivamente. Numa primeira aproximação pode referir-se que existe em todos os sectores uma espessa sequência metassedimentar pelito-psamítica de tonalidade escura, com frequentes intercalações de metaliditos negros, de metavulcanitos e de rochas metacarbonatadas, a qual representa genericamente a “Série Negra” (CARVALHOSA, 1965, 1983). Além disso, verifica-se também a ocorrência de rochas ortoderivadas onde se diferenciam gnaisses (ortognaisses, gnaisses ocelados, gnaisses blastomiloníticos) e migmatitos. Estas fácies da região de Porto–Albergaria-a-Velha (ZOM) foram também reconhecidas e susceptíveis de serem correlacionadas com os termos superiores, alóctones, da série precâmbrica de Trás-os-Montes (RIBEIRO et al., 1964) ou, na terminologia actual, seria equiparável ao “Complexo do Carreamento das Unidades Inferiores” da região de Morais–Bragança (RIBEIRO et al., 1990a; MARQUES et al., 1996). Quadro 2. Síntese dos principais trabalhos sobre tectonoestratigrafia das faixas de cisalhamento de Porto–Coimbra–Tomar e de Tomar–Badajoz–Córdova. 60 Chaminé et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Quadro 3. Um ensaio de correlação estratigráfica entre os sectores da faixas metamórficas de Porto–Coimbra–Tomar e Tomar–Badajoz–Córdova (ZOM). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 61 62 Chaminé et al. As unidades tectonoestratigráficas (Un.) do sector de Espinho–Albergaria-aVelha apresentam uma similitude litológica e estratigráfica razoável com as unidades definidas nos sectores de Espinhal–Figueiró dos Vinhos (GAMA PEREIRA, 1987) e de Tomar-Sardoal (GONÇALVES et al., 1979; CARVALHOSA & GONÇALVES, 1981-82; CONDE, 1984; PEREIRA et al. 1998a, b). Assim, a Unidade de Arada e a Unidade de Espinho serão equivalentes às unidades tectonoestratigráficas — quer às definidas nas antiformas de Arega e do Beco (referenciadas neste trabalho como Unidade dos filádios negros e verdoengos de Vale de Canas e da Ribeira do Brás) por GAMA PEREIRA (1987) quer às definidas, ainda que de carácter preliminar, na região de Tomar, por PEREIRA et al. (1998a) — designadas genericamente em ambos os sectores por “Série Negra” (sequência turbidítica composta, normalmente, no seu topo por alternâncias de metapelitos e grauvaques de tons escuros com níveis de quartzitos negros, e na sua base por micaxistos biotíticos granatíferos e estaurolíticos). No NE Alentejano a “Série Negra” foi reconhecida, especialmente, nos trabalhos de CARVALHOSA (1965) e de GONÇALVES (1971, 1978, 1984), e é na região de Portalegre que é descrita por GONÇALVES & PALÁCIOS (1984), pela primeira e única vez em Portugal, a ocorrência de microfósseis na “Série Negra”. Estes microfósseis possuem um invólucro orgânico (Eomicrhystridium) e sugerem uma idade proterozóica superior para esta série. Contudo, para GONÇALVES & V. OLIVEIRA (1986) a designação de “Série CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Negra” deve ser abandonada, em virtude da sua imprecisão estratigráfica, e substituída pelas seguintes formações (Fm.), do topo para a base: Formação de Mosteiros e Formação de Morenos. Com efeito, as Unidades de Arada e de Espinho são correlacionáveis, respectivamente, com a Formação de Mosteiros e a Formação de Morenos, ou, segundo as terminologias mais antigas (RIBEIRO, 1979), teriam equivalência ao Complexo Monometamórfico. De acordo com os trabalhos de HERRANZ (1983, 1984, 1985), equiparam-se à parte superior do Complexo inferior (Beturiano) e a parte do Complexo intermédio (Alcudiano). Também para a região de BadajozCórdova, QUESADA et al. (1990) referem-se ao Grupo da “Série Negra" que incluem no denominado Super-Grupo de Valencia de las Torres–Cerro Muriano (Série pré-orogénica). Posteriormente, QUESADA (1996) apresenta uma nova sistematização da tectonoestratigrafia da região espanhola, na qual considera as unidades tectonoestratigráficas do substrato da ZOM compostas pelas seguintes, do topo para a base: Complexo VulcanoSedimentar e “Série Negra”. Esta última é formada por duas formações em aparente continuidade estratigráfica (EGUILUZ, 1988), do topo para a base: Formação Tentudía (metagrauvaques) e Formação Montemolín (sucessão possante de metapelitos e metagrauvaques quartzosos, com intercalações de metaliditos negros e, localmente, mármores; no topo ocorre uma bancada espessa de metavulcanitos — Anfibolitos de Montemolín). Assim, as Unidades de Arada e de Espinho, do sector de Espinho–Albergaria-a-Velha, podem CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) equiparar-se ao Grupo da “Série Negra”, do Super-Grupo de Valencia de las Torres–Cerro Muriano, e mais concretamente a Unidade de Arada pode estar relacionada com uma parte da Formação de Montemolín. A Unidade de Lourosa, unidade parautóctone basal do sector de Espinho– Albergaria-a-Velha, equipara-se às unidades tectonoestratigráficas designadas por Complexo Metamórfico da Foz do Douro (NORONHA, 1994; NORONHA & LETERRIER, 2000) ou, mais concretamente, às Unidades dos Gnaisses da Foz do Douro e de Lordelo do Ouro (este trabalho) do sector da Foz do Douro (Porto). Equipara-se também à Unidade dos gnaisses e migmatitos de Maçãs de D.Maria, da região de Espinhal–Figueiró dos Vinhos (GAMA PEREIRA, 1987, 1998); e no sector Tomar-Sardoal é comparável ao designado Complexo de gnaisses e migmatitos (PEREIRA et al., 1998a). Na região do NE Alentejano a Unidade de Lourosa é correlacionável com a Formação de Campo Maior (gnaisses e migmatitos, com intercalações de anfibolitos) da faixa blastomilonítica da antiforma de Crato–Campo Maior (GONÇALVES, 1971, 1978). Em Espanha, a Unidade de Lourosa corresponderá, globalmente, à Formação Blastomilonítica segundo DELGADOQUESADA (1971), ao Complexo polimetamórfico de RIBEIRO (1979), ao Complexo Inferior considerado por HERRANZ (1983, 1984b, 1985) e ao Grupo da Formação Blastomilonítica de QUESADA et al. (1990). QUESADA (1996) considerou a existência das denominadas unidades tectono- Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 63 estratigráficas da faixa de cisalhamento de Badajoz-Córdova. Estas unidades são delimitadas por descontinuidades tectónicas maiores e organizam-se do seguinte modo, do topo para a base: Unidade Alóctone Superior (semelhante à Formação de Montemolín, “Série Negra” inferior, e a uma sucessão vulcano-sedimentar superior correlacionada com a Formação de Malcocinado), a Unidade de Sierra Albarrana (micaxistos de “El Hoyo”, metarenitos arcósicos e quartzitos com ‘Scolithos’, Formação de Albarrana; e complexo superior de micaxistos aluminosos, Formação de Atalaya ou Formação de Albariza), e a Unidade Acrecional (constituída por um conjunto de rochas muito deformadas: gnaisses, eclogitos, metaperidotitos e metavulcanitos). Devido à semelhança litológica e tectonoestratigráfica correlacionou-se a Unidade alóctone de S. João-de-Ver, definida no sector de Espinho–Albergaria-aVelha, com a Unidade dos Amarelos (sector Espinhal-Figueiró dos Vinhos) e com a Formação da Urra (NE Alentejano). Assim, no sector de Espinhal–Figueiró dos Vinhos foi definida a Unidade dos Amarelos (GAMA PEREIRA, 1984a, 1987) composta, da base para o topo, por: quartzitos, metarenitos, metapórfiros com fenoclastos bem desenvolvidos de feldspato, micaxistos, e metagrauvaques. Com efeito, GAMA PEREIRA (1987) paraleliza a Unidade dos Amarelos à Formação da Urra. Segundo este autor, este facto daria relevo a uma íntima relação do CXG com os terrenos precâmbricos de Ossa-Morena e marcaria uma linha paleogeográfica importante que podia separar significativamente os terrenos da ZOM e da ZCI, 64 Chaminé et al. bem antes das relações com terrenos do Paleozóico inferior que quase sempre cobrem este contacto ao longo duma zona caracterizada por forte instabilidade tectonossedimentar. Com efeito, a existência de uma paleo-sutura deverá estar mais próxima daquele limite paleogeográfico, o que justificaria e seria responsável pela instabilidade observada ao longo da faixa de cisalhamento supracitada. Não admirará por isso que só ocasionalmente possa ser observada e daí o enorme problema da definição do limite entre as duas zonas. A instabilidade seria marcada pela deposição contínua ou sincopada de sedimentos do Paleozóico associada a sucessivas fases de distensão a que se associam produtos vulcânicos de cariz essencialmente alcalino ou hiperalcalino (GAMA PEREIRA, 1987). A Formação da Urra (GONÇALVES, 1969, 1971, 1978) ocorre sobre a Formação de Mosteiros, a norte do antiforma de Campo Maior–Crato (NE Alentejo), e apresenta dois membros bem diferenciados do ponto de vista litológico que da base para o topo são (OLIVEIRA et al., 1990): um conjunto inferior de rochas com um aspecto “porfiróide”, constituído por metarcoses com clastos de quartzo, metaconglomerados e metapórfiros ácidos de granularidade grosseira; e um conjunto superior turbidítico formado por micaxistos e metagrauvaques. O contacto do membro inferior com a Formação de Mosteiros parece fazer-se de uma maneira brusca marcando possivelmente uma discordância estratigráfica (OLIVEIRA et al., 1990) ou então corresponderá a uma descontinuidade tectónica maior. Em Portalegre e no Sardoal a Formação da Urra contacta por cavalgamento com as CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) formações do Ordovícico da ZCI (GONÇALVES, 1971, 1978). No bordo Oeste da faixa de cisalhamento de Porto–Tomar ocorre uma tectónica de imbricação que proporcionou a existência de unidades tectonoestratigráficas com metamorfismo contrastante de vizinhança variável (e.g., SEVERO GONÇALVES, 1974; GAMA PEREIRA, 1987; CHAMINÉ, 2000). Evidências litotectónicas e micropaleontológicas descobertas quer na região de Estarreja–Albergaria-aVelha quer na região de Coimbra– Espinhal (cf. CHAMINÉ, 2000; FERNANDES et al., 2001; CHAMINÉ et al. 2000a, b, c; 2003) revelaram — pela primeira vez neste megasector da ZOM — a imbricação de material metapelítico, do Devónico (a datação palinológica permitiu atribuir um intervalo temporal entre o Givetiano Superior a Frasniano Inferior; FERNANDES et al., 2000, 2001) e do Carbonífero (Namuriano; FERNANDES et al., 2001), em filádios granatíferos do Proterozóico Superior (segundo BEETSMA, 1995). As similitudes litotectónicas e paleontológicas, flagrantes entre os bordos da ZOM dos sectores de Porto–Tomar e de Vendas Novas–Ferreira do Alentejo (e.g., van den BOOGAARD 1963, 1972; CONDE & SOARES DE ANDRADE, 1974; MOUTINHO DA SILVA, 1988; Z. PEREIRA & OLIVEIRA, 2001a, b) permitem deduzir que a influência da faixa de cisalhamento principal se prolongará para Sul de Tomar até à região de Ferreira do Alentejo, assumindo a designação de faixa de cisalhamento de Porto–Tomar–Ferreira do Alentejo (CHAMINÉ, 2000; PEREIRA & RIBEIRO, 2001; CHAMINÉ et al., 2000b, 2003; RIBEIRO et al., 2003). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) O registo de estruturas no material metapelítico negro do Paleozóico médio– superior, na região entre Estarreja e o Espinhal, atesta a acção de uma tectónica de imbricação em relação ao substrato do Proterozóico superior (segundo BEETSMA, 1995). A originalidade destes afloramentos é, quer em termos litológicos quer em termos estruturais, muito semelhante às descrições do Grupo da “Série Negra” (Séries de Mares e de Água de Peixes) da ZOM Alentejana (DELGADO, 1905; CARVALHOSA, 1965, 1983; GONÇALVES & V. OLIVEIRA, 1986). O reconhecimento, pela primeira vez, destas rochas de idade próxima ao limite do Devónico Médio-Superior/Carbonífero, e, bem assim, a sua relação espacial com a faixa de cisalhamento de Porto–Tomar, tem particular importância em termos de geologia regional, sendo plausível a comparação com as idades palinológicas dos grupos envolventes do Pulo do Lobo. Assim, tal como acontece nas unidades metapelíticas do Alentejo — Formação dos Xistos de Moura ou o Complexo Filonítico de Moura (e.g., FONSECA, 1995; ARAÚJO, 1995; ARAÚJO et al., 2000), próximo ao bordo Oeste da faixa de cisalhamento de Porto–Albergaria-a-Velha, a Unidade de Arada encontra-se amalgamada com outras unidades mais recentes (Unidades de Albergaria-a-Velha e de Sernada do Vouga), formando um imbricado tectónico de unidades com idades distintas (CHAMINÉ, 2000a, b; CHAMINÉ et al., 2003), vulgarmente referido pelos autores anteriores como ‘mélange’ tectónica. Em síntese, importa destacar que as rochas metapelíticas das Unidades de Albergariaa-Velha e de Sernada do Vouga atestam a Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 65 acção de uma tectónica de imbricação em relação ao substrato do Proterozóico Superior. No Devónico Médio o acidente de Porto–Tomar–Ferreira do Alentejo terá funcionado como uma falha de desligamento gerando estreitas bacias internas, aparentemente do tipo “pull-apart basin”, similares às descritas em áreas adjacentes a falhas deste tipo relacionadas com regimes transtensivos (e.g., Falha de ‘San Andreas’ vs. Falha de ‘Garlock’, Califórnia, E.U.A.; ver RIBEIRO, 2002). Alguns desses estreitos sulcos foram preenchidos por metassedimentos e/ou por rochas máficas preservando-se, assim, núcleos de estruturas de idade mais recente incorporadas num substrato mais antigo. Convém ainda sublinhar que os presentes dados reforçam a possibilidade (MOÇO et al., 2001a, b, c; CHAMINÉ et al., 2000a; 2003) da existência de unidades metapelíticas do Paleozóico médio-superior sob o substrato da Bacia Lusitaniana com conteúdo orgânico e maturação favoráveis à génese das ocorrências de hidrocarbonetos presentes na mesma bacia. A sua existência poderá indiciar um contributo importante sobre hidrocarbonetos gerados em unidades metapelíticas ante-Pérmicas, já sugerido por BLESS et al. (1977) e, mais recentemente, por UPHOFF et al. (2002). Uma consequência natural desta nova sistematização tectonoestratigráfica da faixa metamórfica de Porto–Albergaria-aVelha (ZOM) é o estabelecimento de correlações com os restantes sectores portugueses da ZOM. Assim, as unidades ante-paleozóicas consideradas para os sectores da Foz do Douro (Porto) e de Espinho–Albergaria-a-Velha–Águeda podem correlacionar-se, do ponto de vista 66 Chaminé et al. tectonoestratigráfico, entre si. Estes por sua vez podem ter seus equivalentes tectonoestratigráficos nos sectores de Coimbra–Alvaiázere, de Sardoal–Tomar, e de Abrantes–Campo Maior: i) a Unidade de S. João-de-Ver será paralelizável à Unidade dos Amarelos (GAMA PEREIRA, 1987), e à Formação da Urra (GONÇALVES, 1978, 1984), sendo-lhe atribuída uma idade proterozóica superior a câmbrica inferior [?]; ii) as Unidades de Arada e de Espinho serão equivalentes, respectivamente, às Formações de Mosteiros e de Morenos (GONÇALVES & OLIVEIRA, 1986), às Unidades dos filádios negros e verdoengos de Vale de Canas e da Ribeira do Brás (“Série Negra”), ou ao Grupo da “Série Negra” (CARVALHOSA, 1965; GAMA PEREIRA, 1987; QUESADA et al., 1990; PEREIRA et al., 1998a, b); estas unidades terão uma idade proterozóica superior (ou Brioveriano superior); iii) as Unidades de Lourosa superior e inferior (e de Pindelo), corresponderão ao Complexo Metamórfico da Foz do Douro — Unidades de Lordelo do Ouro e dos Gnaisses da Foz do Douro, às Unidades dos gnaisses e migmatitos de Maçãs de D.Maria e dos micaxistos de Arega–Beco (GAMA PEREIRA, 1987) e, ainda, ao Complexo de Gnaisses e Migmatitos (PEREIRA et al., 1998a, b), à Formação de Campo Maior (GONÇALVES, 1971, 1978), e ao Grupo da Formação Blastomilonítica (DELGADO-QUESADA, 1971; GONÇALVES, 1978; QUESADA et al., 1990); estas unidades terão uma idade proterozóica média a superior (ou Brioveriano médio a superior). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) IMPLICAÇÕES GEODINÂMICAS NO CONTEXTO DA IBÉRIA A organização geométrica e cinemática interna desde a escala mesoscópica até à microscópica, nos litótipos da ZOM, são coerentes com aquelas estruturas. O padrão microestrutural observado reproduz fielmente a tectónica regional, observando-se normalmente o desenvolvimento de uma foliação semidúctil, nos metamorfitos cisalhados, correspondendo à foliação desenvolvida pela 1ª fase regional Varisca. Posteriormente é cisalhada e reorientada por cisalhamentos direitos com orientação geral N10ºW. A designada faixa de cisalhamento de Porto–Tomar é responsável pela arquitectura do bordo ocidental do Maciço Ibérico. Sobre ela se instalou uma rede de fracturação pós-Pérmica, responsável pela estruturação do próprio bordo. Os retalhos isolados dos terrenos da ZOM, respeitam uma arquitectura que se explica através de um modelo com características tipo ‘Riedel’. Mais complexa parece ser a razão da proximidade daqueles terrenos já que ainda não foram observados ou interpretados contactos litológicos e estratigraficamente contínuos, mas sim, inequivocamente, limites controlados por uma tectónica complexa (SEVERO GONÇALVES, 1974; GAMA PEREIRA, 1987; CHAMINÉ, 2000). Sendo os contactos descontínuos, facilmente se aponta para a necessidade de terem decorrido de um processo orogénico ante-Varisco, ou de um processo transcorrente importante, mas não coerentemente formulado até à data. Os defensores (e.g., GAMA PEREIRA, 1987, 1998; PEREIRA et al., 1998a; NORONHA & LETE- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) RRIER, 2000; CHAMINÉ, 2000; FERNÁNDEZ et al., 2003) de que aquelas relações provêm da arquitectura de uma orogenia ante-Varisca mostram que os marcadores geológicos disponíveis apontam para uma idade precâmbrica superior (relacionada com o Ciclo Cadomiano). Assim sendo a arquitectura Varisca, que marca fortemente ambos os terrenos, pode privilegiar activamente uma zona de fragilidade antiga do substrato. Mas a arquitectura regional da faixa de cisalhamento de Porto–Tomar, em si, parece decorrer da evolução da 2ª fase regional Varisca, tal como parece estar bem registado na deformação do Paleozóico envolvido com os terrenos da ZOM ao longo da faixa citada, especialmente nos sectores entre Espinho e Albergaria-a-Velha (CHAMINÉ, 2000) e entre Espinhal e Tomar (GAMA PEREIRA, 1987). O megacisalhamento de Porto– Tomar–Ferreira do Alentejo pode ser considerado, com base em argumentos tectónico-regionais (CHAMINÉ, 2000; CHAMINÉ et al., 2000a, b, 2003; RIBEIRO et al., 2003), como um dos acidentes mais antigos do Maciço Ibérico (e.g., LEFORT, 1979, 1989; LEFORT & RIBEIRO, 1980; GAMA PEREIRA, 1998; MARTÍNEZ-CATALÁN, 1990; DIAS & RIBEIRO, 1993; SHELLEY & BOSSIÈRE, 2000; RIBEIRO et al., 2003). Este megacisalhamento intersectado pela faixa de cisalhamento de Tomar– Badajoz–Córdova, foi reinterpretado como um acidente estrutural profundo do tipo falha transcorrente que marca um contexto de interplaca. Este acidente estaria activo desde as fases precoces da orogenia Tectonoestratigrafia da faixa de cisalhmento 67 Varisca (Silúrico Superior a Devónico Inferior) e, provavelmente, durante todo o “Ciclo de Wilson” Varisco. Contudo, há outras perspectivas sobre a evolução geodinâmica deste complexo acidente tectónico no contexto das Variscides Ibérica (e.g., BRANDÃO SILVA, 1996, SHELLEY & BOSSIÈRE, 2001, M. PEREIRA & BRANDÃO SILVA, 2001). Deste modo, segundo a nossa perspectiva, ganha forma um modelo tectonoestratigráfico associado a uma falha de grande expressão, activa no espaço–tempo Varisco [s.l.; i.e., ca. 420–290 Ma], colmatado sob a forma de um sulco profundo, que regista uma deformação mais intensa num dos seus blocos (bloco ocidental), e que poderá dar origem a um deslocamento Norte–Sul, muito significativo, ao longo do acidente Porto–Tomar–Ferreira do Alentejo. Se associarmos os acidentes de Porto–Tomar, com direcção geral N-S, e de Ferreira do Alentejo–Ficalho, com orientação geral E-W, há a evidência de uma geodinâmica que preserva uma importante sutura de natureza ofiolítica, comprovada no bordo Sul, ao longo do acidente Ferreira do Alentejo–Ficalho (ver SOARES de ANDRADE, 1978, 1983, 1985; FONSECA, 1995; ARAÚJO, 1995; FONSECA et al., 1999) e possivelmente um esboço de oceanização incipiente abortado ao longo do acidente de Porto–Tomar (CHAMINÉ, 2000; CHAMINÉ et al., 2000b). Esta última possibilidade é apoiada pela existência de numerosos retalhos de anfibolitos (s.l.) com quimismo de tendência “MORB” e de ultramafitos (SOUZA-BRANDÃO, 1914; MONTENEGRO DE ANDRADE, 1977; BRAVO & ABRUNHOSA, 1978; 68 Chaminé et al. PORTUGAL FERREIRA, 1982; GAMA PEREIRA, 1987; MENDES, 1988; NORONHA & LETERRIER, 2000; CHAMINÉ, 2000) em conjugação com processos metassomáticos e/ou hidrotermais intensos, em termos de circulação de paleofluidos, na faixa de cisalhamento de Porto–Tomar (e.g., BOBOS & GOMES, 1998; CHAMINÉ, 2000; CHAMINÉ et al., 2001), que indiciam a natureza profunda deste acidente tectónico maior. AGRADECIMENTOS Esta publicação sintetiza o estudo tectonoestratigráfico desenvolvido na região de Espinho–Albergaria-a-Velha (ZOM/ ZCI) e sectores envolventes, e inclui parte das principais conclusões da dissertação, apresentada à Universidade do Porto, de HIC. Este beneficiou de uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), no período de 1994/1997 (BD/ 2633/ 93-RN) na Universidade do Porto, e de uma bolsa de pós-doutoramento da FCT (SFRH/ BPD/ 3641/ 2000) na Universidade de Aveiro. Este trabalho recebeu apoio dos projectos TECTIBER/ FCT, PRAXIS/ CTA/ 82/ 1994 e MODELIB/ FCT (POCTI/ 35630/ CTA/ 2000– FEDER). Aos Drs. José Teixeira, Eduardo Carvalho e Carla Ribeiro pelo apoio na execução das ilustrações. Os autores agradecem as discussões frutuosas, e apoio de ordem vária, dos colegas do Instituto Geológico e Mineiro (IGM), especialmente nos anos de 1994/1995, com os CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Doutores E. Sousa Pereira e B. Barbosa, os Drs. N. Ferreira, Y. Pedrosa, P. Castro, C. Meireles, o Professor Eng. M. R. Machado Leite, a Eng. M. E. Moreira, o Dr. J. Amaral Ferreira e o Sr. José Oliveira Rocha. Uma palavra de gratidão aos Srs. Norberto Silva, Júlio Oliveira e F. Cardoso (IGM), por todo apoio de campo, no ano de 1994, ao trabalho de HIC. Aos Drs. L. P. Moço e J. P. Fernandes, aos Professores D. Flores, A. Almeida, F. Sodré Borges e M. Montenegro de Andrade (Porto), e aos Professores C. Gomes, F. T. Rocha e M. Serrano Pinto (Aveiro), todo o apoio e discussão franca nas suas especialidades. As discussões e informações várias, no contexto da geologia Peninsular, tidas com o Professores Alberto Marcos (Oviedo), José M. Munhá (Lisboa), Ary Pinto de Jesus (Porto), Alexandre Araújo (Évora), Assunção Araújo (Porto), e os Doutores J. Leterrier (Nancy), S. LlanaFúnez (Oviedo), Alberto Gomes (Porto) e C. Quesada (Madrid) foram preciosas para o refinamento das ideias deste artigo. Por fim, um agradecimento muito especial ao Professor António Ribeiro (Lisboa) pelas numerosas discussões sobre a temática do presente trabalho e saídas de campo a muitos dos afloramentos chave, bem como pelas discussões animadas sobre os modelos geotectónicos e suas comparações com os modelos análogos actuais da região da Califórnia. Recibido: 4-VII-03 Aceptado: 12-VIII-03 CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) REFERÊNCIAS ABALOS, B. (1992). Cinemática y mecanismos en regimen de transpresion. Evolución estructural y metamórfica de la zona de cizalla dúctil de BadajozCórdoba. Labor. Xeol. Laxe, Série Nova Terra, Edicios do Castro, Sada, A Coruña, 6: 1-430. ARAÚJO, A. (1995). Estrutura de uma geotransversal entre Brinches e Mourão (Zona de Ossa-Morena): implicações na evolução geodinâmica da margem sudoeste do Terreno Autóctone Ibérico. Universidade de Évora. 200 pp. (Tese de doutoramento). ARAÚJO, A. & RIBEIRO, A. (1995). 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A.1; GOMES, A.1; CHAMINÉ, H. I.2; FONSECA, P. E.3; GAMA PEREIRA, L. C.4 & PINTO DE JESUS, A.5 Abstract One of the most common characteristics of the Portuguese littoral is the existence of a planed surface (the so-called “littoral platform”), situated at different altitudes and bordered from the inland by a straight relief, strongly contrasting with that planed surface. This one is generally covered with several outcrops of the so-called Plio-Pleistocene deposits. Till the eighties this platform has been interpretated as stable staircase of old marine levels, registering in a passive way the eustatic variations. The rigid step bordering it easterly should be a fossil cliff. However, our study has proved that many of these deposits have a continental origin. These continental deposits have fluvial or alluvial fan facies and they are lying above 40 meters. Marine deposition seems to be quite rare and it only occurs on a small western area, beneath the altitude of 40 meters, and developing into three different marine levels. There is a rigid step between the two kinds of deposits. We think that the clear geometric separation between these deposits together with this rigid step, indicates the results from tectonic activity. It seems that the sea must have touched only the western part of this surface, when neotectonic movements lowered it down. There are more evidences for neotectonic movements: a) there are faults (mainly inverse faults) affecting the higher deposits of this littoral platform; b) the same marine level seems to appear at different altitudes, developing an irregular pattern with a general trend dipping from the North to the South. Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 79-105 The tectonic situation seems to be related to the position of the area including two main zones of the Iberian Massif and the Porto-Tomar shear zone. The geomorphology and the late tertiary and quaternary deposits can help in the definition of the sense and amplitude of recent tectonic movements. However, in order to achieve such a goal, the interference between several kinds of phenomena (tectonics/epeirogenesis, climate, sea level) must be studied with sufficient detail. Key words: Littoral platform; marginal relief; alluvial fan; marine deposits; Quaternary; neotectonics, Porto-Tomar shear zone. (1) Gabinete de Estudos de Desenvolvimento e Ordenamento do Território (GEDES) e Departamento de Geografia, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto. Portugal. (2) Departamento de Engenharia Geotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto. Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 431, P-4200-072 Porto. Portugal, e Centro de Minerais Industriais e Argilas da Universidade de Aveiro. (3) Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Laboratório de Tectonofísica e Tectónica Experimental (LATTEX). Ed. C2-5º piso, Campo Grande. 1749-061 Lisboa, Portugal. (4) Departamento de Ciências da Terra e Centro de Geociências (GMSG), Universidade de Coimbra. 3000272 Coimbra, Portugal. (5) Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e Centro de Geologia da Universidade do Porto (GIMEF, GIPEGO). Praça de Gomes Teixeira. 4099-002 Porto, Portugal. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 1. INTRODUÇÃO Um dos traços comuns a quase todo o litoral português é a existência de uma faixa aplanada, designada como “plataforma litoral”, com largura e altitude variáveis, que bordeja quase todo o litoral, limitada, para o interior, por um rebordo, rigidamente alinhado e contrastante com a referida área aplanada. Essa plataforma está geralmente organizada em patamares e suporta depósitos com características muito variadas. A explicação tradicional veiculada nos anos quarenta (e.g., RIBEIRO et al., 1943; TEIXEIRA, 1949) que identificava estes patamares como níveis de praias antigas (figura 1), atestando as variações eustáticas do Quaternário, limitados, para o interior, por uma arriba fóssil foi aceite, na comunidade científica, até meados dos anos 1980. Os anos posteriores assistiram a uma modificação sensível na visão que se tinha da plataforma litoral portuguesa. Das ideias de um eustatismo estrito, combinado com uma pretensa estabilidade do continente, passou-se a uma visão mais complexa e mais dinâmica. É essa visão Geomorfologia e geologia regional 81 multisciplinar que pretendemos ilustrar, apontando, também, algumas das pistas a explorar no futuro. 2. MORFOLOGIA No mapa da figura 2 é possível apreciar o desenvolvimento topográfico da faixa litoral situada nas proximidades da cidade do Porto. A sua análise permite concluir pela existência de uma faixa aplanada, desenvolvendo-se a partir de altitudes próximas dos 125m, mas que parece subir um pouco para Sul, atingindo os 150m no limite Sul da área representada. Também é possível verificar que o relevo que delimita a plataforma para o interior (“Relevo Marginal”; ARAÚJO, 1991) tem um desenvolvimento bastante rectilíneo a sul do Douro. O relevo marginal assume frequentemente, no seu conjunto, direcções submeridianas. Porém, em mapas de maior escala pode ver-se que essa direcção de conjunto mascara a existência de tramos com orientações diversas, de NNW a NNE. Isto significa que se trata de rejogos das antigas direcções variscas, como aliás, é típico do estilo tectónico do Maciço Hespérico. Figura 1. Corte que resume a explicação tradicional da organização do relevo nos arredores do Porto, segundo O. RIBEIRO et al. (1943). 82 Araújo et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 2. Mapa hipsométrico da área entre a cidade do Porto e a lagoa de Esmoriz, com base nas curvas de nível da Carta Corográfica de escala 1:50000 (folhas 9A, 13A); Equidistância = 25m. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) A plataforma litoral suporta, frequentemente, numerosos afloramentos de depósitos genericamente classificados como “plio-plistocénicos” nas cartas geológicas de escala 1.50 000. Na figura 2 observa-se o desenvolvimento topográfico da faixa litoral situada nas proximidades da cidade do Porto. É possível identificar três grandes conjuntos: 1 - área acima dos 130m (relevo marginal); 2 - área situada entre 130 e 50m (onde, como veremos, ocorrem os depósitos de fácies fluvial); 3 - área situada abaixo de 50m (onde ocorrem os depósitos de fácies marinha). A figura 3 foi construída a partir do registo, numa folha de cálculo (‘Microsoft Geomorfologia e geologia regional 83 Excel’), das altitudes máximas da plataforma litoral e do relevo marginal em cada quadrícula de 1km de lado definido nas cartas topográficas 1:25 000. Nesta figura é possível verificar que, de um modo geral, o topo da plataforma litoral e do relevo marginal estão mais altos a Sul do Douro e parecem continuar a subir para Sul. Porém, essa subida não se faz dum modo contínuo. A partir do ponto em que se atingem cerca de 34km de distância à foz do Rio Ave, existe um ressalto que soergue o topo do relevo marginal. Também se verifica que este relevo não é contínuo, antes parece corresponder a segmentos separados por colos relativamente deprimidos. Figura 3. Desenvolvimento do relevo marginal e do topo da plataforma litoral ao longo do litoral estudado. 84 Araújo et al. 3. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO Do ponto de vista geológico a região entre Porto e Espinho integra-se numa faixa metamórfica, de direcção geral NNW–SSE, que se prolonga desde os arredores do Foz do Douro (Porto) até Tomar (RIBEIRO et al., 1979, 1990, 1995; GAMA PEREIRA & MACEDO, 1983; GAMA PEREIRA, 1987; CHAMINÉ, 2000), e se designa por faixa de cisalhamento de Porto–Tomar (DIAS & RIBEIRO, 1993). Esta faixa envolvendo terrenos do Proterozóico médio-superior (e.g., GAMA PEREIRA, 1987; BEETSMA, 1995; NORONHA & LETERRIER, 2000), faz parte do Terreno Autóctone Ibérico, e inclui-se na Zona de OssaMorena [ZOM] (RIBEIRO et al., 1990); contactando localmente a oriente, por intermédio da faixa blastomilonítica de Oliveira de Azeméis (RIBEIRO et al., 1980), com a Zona Centro-Ibérica [ZCI] da Cadeia Varisca Ibérica. Definiram-se, recentemente, as seguintes unidades tectonoestratigráficas incluídas, do ponto de vista geotectónico, no bordo da ZOM (CHAMINÉ, 2000; NORONHA & LETERRIER, 2000, e para pormenores sobre a sistematização tectonoestratigráfica e o enquadramento cartográfico regional consultar, neste volume, o trabalho de CHAMINÉ et al. (2003), a saber: I) sector do Porto, situado junto à orla litoral entre a foz do rio Douro e o Forte S. Francisco Xavier. Neste sector afloram metamorfitos que se incluem em duas unidades tectonoestratigráficas: a Unidade de Lordelo do Ouro (micaxistos e quartzo-tectonitos) e a Unidade dos Gnaisses da Foz do Douro (gnaisses, mig- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) matitos e blastomilonitos). Estas unidades definem no seu conjunto o designado Complexo Metamórfico da Foz do Douro (NORONHA & LETERRIER, 2000) parte integrante do bordo oeste da ZOM; II) sector de Espinho–Albergaria-a-Velha: para a ZOM, as Unidades de Lourosa inferior e superior, a Unidade de Espinho e a Unidade de Arada (unidades do parautóctone e autóctone relativo), e a Unidade de Pindelo bem como a Unidade de S. Joãode-Ver como unidades do alóctone; ii) para a ZCI, a Unidade de Carvoeiro e a Unidade do Quartzito ‘Armoricano’ de Caldas de S. Jorge, como unidades do parautóctone. A faixa de cisalhamento de Porto– Albergaria-a-Velha (s.str.) corresponde a uma faixa com uma série de acidentes tectónicos de 1ª e de 2ª ordem de extensão local de ca. 90km por ca. 3km de largura. Estas falhas são caracterizadas por corresponderem a cisalhamentos, de direcção NS a NNW-SSE, com movimentação direita por vezes muito forte consoante o comportamento reológico do material face à deformação. É possível distinguir acidentes maiores (ou ramos) desta faixa de cisalhamento entre a região do Porto e Albergaria-a-Velha que tomam as seguintes denominações, a saber (CHAMINÉ, 2000): i) ramo Oeste da faixa de cisalhamento de Porto–Albergaria-a-Velha — desenvolvese desde a região de Carvoeiro–Mouquim (Albergaria-a-Velha) até próximo a Fiães, pondo em contacto as unidades da ZOM com as unidades do Paleozóico inferior da ZCI (sinforma de Carvoeiro–Caldas de S. Jorge); nesta última localidade materializa-se por falhas discretas, de direcção NWSE, no granitóide pós-tectónico de CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Lavadores. Este segmento da faixa de cisalhamento passa na cidade do Porto, entre a Arrábida e o Castelo do Queijo (Forte de S. Xavier), contactando tectonicamente com o Complexo Metamórfico da Foz do Douro (ZOM) e o granitóide sin-tectónico do Porto, localmente orientado e deformado (NORONHA & LETERRIER, 2000; CHAMINÉ, 2000; CHAMINÉ et al., 2003); ii) ramo Leste da faixa de cisalhamento de Porto–Albergaria-a-Velha — corresponde ao contacto tectónico, de orientação média NNW-SSE, que se faz entre o quartzito 'Armoricano' e o Complexo Xisto-Grauváquico (Grupo das Beiras indiferenciado) desde a região de Caldas de S. Jorge até Ribeira de Fráguas–Carvoeiro; iii) outros acidentes, sub-paralelos aos anteriores, com alguma importância regional e que se enquadram na faixa de cisalhamento em apreço (e.g., falha do Porto, falha do “Filão Metalífero das Beiras”, falha de Pigeiros–Milheirós de Poiares–Pindelo). Para além dos acidentes que acabamos de descrever, foi também reconhecida uma rede de acidentes tectónicos de natureza frágil, gerada durante as fases tardi a pósvariscas, que se encontra em regra subordinada aos sistemas de fracturação de atitudes NNE-SSW a ENE-WSW e NW-SE a NNW-SSE (figura 4). São também de alguma importância os sistemas de fracturas, de orientação N-S a NNW-SSE e suas conjugadas, discretas, E-W a NNE-SSW. Estes últimos alinhamentos, devido ao processo de reactivação de estruturas e como resposta de um substrato pré-deformado sujeito a um campo de tensões tectónicas, correspondem a direcções de cisalhamento dúcteis desenvolvidas nas fases Geomorfologia e geologia regional 85 tardias da orogenia varisca (e.g., RIBEIRO et al., 1979; CABRAL, 1995). A observação de diversos indicadores cinemáticos mesoscópicos que evidenciam, de uma forma constante, uma movimentação direita aponta para a existência de uma cinemática transcorrente associada a mecanismos de deformação com importante componente não-coaxial, podendo muito provavelmente ocorrerem situações de cisalhamento simples. Aliás a região em estudo encontra-se directamente relacionada com a sua estrutura maior, a faixa de cisalhamento de Porto– Coimbra– Tomar, que se caracteriza por ser um importante megacisalhamento direito com uma complexa evolução geodinâmica desde os tempos paleozóicos (e.g., RIBEIRO et al., 1979; GAMA PEREIRA, 1998; RIBEIRO et al., 1995; DIAS & RIBEIRO 1993). Do exposto pode-se então concluir que a faixa de cisalhamento de Porto– Coimbra–Tomar (ZOM/ZCI) é constituída por megaestruturas de primeira ordem, podendo as falhas cartografadas ser interpretadas como diversos ramos do acidente tectónico principal e/ou estruturas secundárias associadas. Faixas de cisalhamento deste tipo sublinham habitualmente o contraste entre diferentes níveis crustais nos quais determinadas estruturas se manifestam com uma geometria típica, por exemplo, estrutura em flor, ou estrutura ‘Riedel’ (e.g. RIBEIRO, 2002). Estas geometrias reforçam a existência de vários ramos de um acidente tectónico principal ou de uma faixa de cisalhamento com estruturas dúcteis, ductéis-frágeis e frágeis. 86 Araújo et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 4. Morfologia da região a sul do Porto com base nas folhas 122, 133 da Carta Militar 1:25000 (equidistância = 10m), assinalando os principais lineamentos tectónicos. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 4. COBERTURAS FINI-TERCIÁRIAS 4.1. Introducão Os depósitos, genericamente considerados “plio-plistocénicos” (cf. OLIVEIRA et al., 1992), ocupam a área aplanada situada a Oeste do relevo marginal (plataforma litoral), bem como as áreas aplanadas que se situam a Leste do referido relevo, na proximidade do vale do rio Douro. A primeira abordagem que caracteriza a plataforma litoral como uma área aplanada é desmentida por uma observação de pormenor: geralmente é possível identificar, nessa plataforma, tramos aplanados, separados por faixas de maior declive, originando uma escadaria cujos degraus, apesar de suavizados pelos processos erosivos pós-deposicionais, ainda são claramente perceptíveis no terreno. Os afloramentos de depósitos coincidem com as áreas aplanadas, enquanto que os taludes que as separam normalmente são talhados no substrato rochoso. Embora o grande número de afloramentos cartografados nas cartas geológicas de Portugal (e.g., TEIXEIRA et al, 1962; OLIVEIRA et al., 1992) nos possa levar a pensar que se trata de uma área onde os depósitos estão bem preservados, o registo sedimentar na plataforma litoral da região do Porto está longe de ser contínuo e espesso. Além disso, os depósitos de fácies continental apresentam uma natural diversidade em termos sedimentológicos, a que se junta uma certa dispersão altimétrica (entre 130m e 50m de altitude, no sector considerado). Por tudo isto, o estabelecimento de uma cronologia para estes depósitos não foi uma tarefa fácil e tem, ainda, um carácter algo provisório, embo- Geomorfologia e geologia regional 87 ra pareça ser congruente com o que se conhece em outros locais. Uma das conclusões mais interessantes que pudemos extrair das análises sedimentológicas realizadas nas amostras de depósitos da plataforma litoral foi que muitos destes depósitos são de origem continental e não de origem marinha (praias levantadas) como era geralmente aceite nos primeiros trabalhos publicados sobre o assunto (e.g., O. RIBEIRO et al., 1943, TEIXEIRA & ZBYSZEWSKI, 1952; TEIXEIRA, 1979). Na nossa abordagem, o estabelecimento da cronologia relativa partiu de uma comparação das características essenciais (altitude e posição relativamente ao relevo marginal, cor, alteração do substrato rochoso, existência e importância das couraças ferruginosas e calibragem) dos vários afloramentos. Assim, e numa primeira abordagem, os depósitos de sedimentação continental da área em apreço podem organizar-se em dois grandes conjuntos: a) depósitos de fácies continental, que ocorrem acima dos 50m; b) depósitos marinhos, que se encontram abaixo dos 40m. A atribuição cronostratigráfica patente nas cartas geológicas (9-C e 13-A; CARRÍNGTON DA COSTA & TEIXEIRA, 1957; TEIXEIRA et al., 1962) foi revista e fortemente simplificada, de molde a que os diferentes depósitos fossem classificados segundo os 3 grandes conjuntos que definimos (isto é, depósitos fluviais da fase I e da fase II e depósitos quaternários, essencialmente marinhos; ARAÚJO, 1991), a saber: i) As analogias existentes entre os depósitos mais altos da plataforma, os quais se situam na imediata proximidade 88 Araújo et al. do relevo marginal, levam-nos a admitir que esses depósitos pertenciam a um conjunto formado numa primeira fase de deposição (fase I), depositada num contexto de planície litoral, por cursos de água de baixa energia (dado o carácter fino, por vezes até micáceo, que se encontra em alguns dos cortes de depósitos desta fase, nomeadamente no desaparecido corte da Rasa, figura 5). De um modo geral, dentro dos depósitos da fase I, foi possível identificar diversas unidades que aparecem associadas na maioria dos afloramentos. Porém, nem todos os afloramentos apresentam a sequência completa, o que poderá significar que nem todas as unidades (em relação com os sistemas deposicionais aluviais) se depositaram em todos os locais ou que algumas dessas unidades foram destruídas pela erosão; ii) A essa fase ter-se-iam seguido condições geomorfológicas muito contrastantes, dado CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) que os depósitos posteriores evidenciam características claramente torrenciais (fase II). A prova de que se trata de episódios diferentes, possivelmente separados por um importante evento tectónico e climático está no facto de que os depósitos da fase II contêm, em vários locais, blocos de arenito com cores claras atribuíveis à fase I (figura 6). 4.2. Os depósitos da fase I (Placenciano?) Na área estudada (ARAÚJO, 1991) os depósitos mais altos aparecem genericamente acima dos 100 metros de altitude, podendo atingir cerca de 130m. Estes depósitos foram geralmente considerados Pliocénicos e identificados na Carta Geológica de Portugal como P’ e P’’ (e.g., CARRÍNGTON DA COSTA & TEIXEIRA, 1957; TEIXEIRA et al., 1962). O melhor local para observar a sequência das unidades da fase I era a Rasa de Baixo Figura 5. Corte do depósito da Rasa mostrando o perfeito aplanamento da base e o seu basculamento para Leste. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) (também designada como Telheira), uma antiga exploração de caulino, situada na base do relevo marginal (figura 5). Actualmente, a exploração está desactivada e, devido à utilização da imensa cratera resultante da exploração do caulino como vazadouro de entulhos, o corte há muito deixou de ser observável. Os cortes de Canelas e do Carregal foram também parcialmente destruídos, ficando como melhor representante deste tipo de depósitos, na área compreendida entre o rio Douro e a latitude de Espinho, o corte de Aldeia Nova, a Leste do Relevo Marginal (REBELO, 1975). Também nessa área, devido à intensa urbanização que se verifica, alguns dos novos cortes têm sido rapidamente destruídos e o seu estudo torna-se uma tarefa cada vez mais urgente. A sequência para os depósitos da fase I, definida no corte da Rasa de Baixo, apresentava, de baixo para cima: Geomorfologia e geologia regional 89 i - base com blocos, os quais por vezes possuem cerca de 1m de diâmetro (I-A); estes blocos podem ser de granito completamente alterado (Rasa de Cima) ou de quartzo filoniano (Aldeia Nova de Avintes); ii - camada rica em elementos micáceos, com cor cinza esverdeada, aparentemente resultante de uma situação de baixa energia (I-B); iii - unidade superior, um pouco mais grosseira (areão e seixos) com estratificação entrecruzada (I-C). As áreas de topo do depósito apresentavam, com alguma frequência, um forte encouraçamento. Nos casos em que o depósito é pouco espesso, esse encouraçamento pode atingir a respectiva base. Parece-nos evidente que o processo de encouraçamento ocorreu depois da formação das unidades inferiores do depósito, que apresentavam uma cor branca característica, contrastando com a cor avermelhada/acastanhada do topo. Figura 6. Base do depósito da Fase II englobando blocos dos depósitos da Fase I (fundações do Centro Comercial, Candal – Vila Nova de Gaia). 90 Araújo et al. Também na margem esquerda do rio Douro, agora a montante do relevo marginal, na área de Aldeia Nova de Avintes, existe um depósito que se desenvolve numa faixa paralela ao rio Douro. Esta faixa, com cerca de 4km de comprimento, embora com algumas interrupções, estende-se desde Cabanões, em Avintes (106m), até Arnelas (134m) e reaparece em Lever, ainda na margem esquerda do rio Douro. Os novos cortes entretanto abertos na área de Aldeia Nova confirmam a existência de bastantes semelhanças relativamente aos depósitos da plataforma litoral, nomeadamente a ocorrência de níveis micáceos esverdeados. As principais diferenças dos depósitos de Aldeia Nova de Avintes relativamente aos da plataforma litoral (Rasa e Carregal) prendem-se com um maior calibre dos blocos da base, uma composição litológica diferente (quartzo e quartzitos versus granitos no depósito da Rasa), um encouraçamento mais intenso e a existência de níveis finos cinza-esverdeados menos espessos. Estas diferenças podem explicar-se por um carácter mais proximal do depósito de Aldeia Nova e pelas características xistentas do respectivo bed-rock. Com efeito, o maior conteúdo em ferro dos xistos do Complexo Xisto-Grauváquico, relativamente aos granitos alcalinos, bem como a menor permeabilidade dos alteritos, podem ter contribuído para uma maior intensidade da acumulação de ferro e para uma mais intensa formação de couraças. Na margem direita do rio Douro, em Gandra (Gondomar), encontra-se uma outra mancha, atribuível ao mesmo momento. Este depósito apresenta, além CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) de elementos muito grosseiros, fenómenos de intenso encouraçamento, responsáveis pela existência de arenitos e conglomerados ferruginosos, muito resistentes, que atingem uma espessura superior a 1,5m. A montante, na região de Medas, observamse dois depósitos escalonados. O mais alto (culmina a 162m) pode observar-se nas barreiras do campo de futebol de Medas. REBELO (1975) estabelece uma correlação entre o depósito do campo de futebol de Medas e o depósito de Aldeia Nova de Avintes. Essa opção justifica-se porque, apesar das características proximais dos depósitos de Medas relativamente aos de Aldeia Nova ou da Rasa, existem algumas semelhanças, nomeadamente no que respeita ao predomínio de cores claras. Além disso, em ambos os casos, trata-se dos afloramentos situados a maior altitude em cada um dos locais em questão. Ora, numa área que está a sofrer um processo de soerguimento mais ou menos contínuo, como é o caso desta região (REBELO, 1975; CABRAL, 1995), os depósitos mais altos deverão ser, em princípio, aqueles que estão a sofrer movimentação há mais tempo, isto é, os mais antigos. Naturalmente isso só se verifica dentro de áreas próximas que pertençam ao mesmo “bloco” e que, por isso, tenham sofrido uma taxa de movimentação idêntica. É evidente que a hipótese se torna tanto mais plausível quando existem semelhanças de fácies que corroboram as indicações fornecidas pela posição relativa dos depósitos. É o caso dos depósitos de Aldeia Nova e da Rasa, que, sendo os culminantes nas respectivas áreas, apresentam semelhanças que sugerem que se poderiam CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) ter formado numa mesma fase de sedimentação. A riqueza em caulinite (mais de 90%) dos depósitos desta fase e a elevada cristalinidade deste mineral, sugerem uma formação num clima quente e húmido. A existência de uma unidade mais grosseira no topo da formação indicaria uma certa degradação climática no sentido de condições mais resistáticas (ERHART, 1956). O encouraçamento poderia relacionar-se com um processo de acumulação lateral de ferro em áreas pantanosas na proximidade dos cursos de água (THOMAS, 1994). Um descida do nível freático permitiria a precipitação do ferro e converteria o antigo leito fluvial numa couraça conglomerática, como a que se podia observar num local, significativamente, designado de “Pedras Negras” (Sto. Ovídio, Vila Nova de Gaia). A base do depósito da Rasa, como já tinha sido notado por O. RIBEIRO et al. (1943), inclinava nitidamente para Leste (figura 5). O basculamento da base deste depósito para Leste, em direcção ao relevo marginal, só pode explicar-se devido a actividade tectónica pós-deposicional. Por sua vez, o depósito de Aldeia Nova apresenta níveis micáceos inclinando claramente para Oeste com pendores relativamente elevados que também sugerem actividade tectónica pós-deposicional. Para explicar o basculamento dos depósitos da fase I de um lado e de outro do relevo marginal teremos que admitir a existência de falhas, situadas na sua base, o que acaba por nos levar a interpretar o relevo marginal como um horst, com uma orientação geral NNW-SSE, cuja surreição será, pelo menos em parte, posterior aos depósitos da fase I. Geomorfologia e geologia regional 91 4.3. Os depósitos da fase II Os depósitos da fase II são muito mal calibrados e apresentam blocos muito grosseiros na base (Pedrinha, Valbom). Podem ocorrer finas crostas ferruginosas com espessuras que não ultrapassam um centímetro. Porém, nunca encontramos couraças, como as que existem nos depósitos da fase anterior. Estes depósitos aparecem em dois tipos de enquadramentos: i - na imediata proximidade do vale do rio Douro (Pedrinha, Valbom, Coimbrões), o que faz supor que nesse momento talvez o rio Douro já estivesse canalizado, mas teria um comportamento muito torrencial; ii - ao longo de uma faixa paralela e situada a Oeste do relevo marginal. Não encontramos nenhum caso em que os depósitos da fase II se sobrepusessem aos anteriormente referidos. Situam-se, geralmente, um pouco mais para Oeste, a altitudes mais baixas, compreendidas entre 100 e 50m. Em diversos locais (nomeadamente na barreira situada próximo da ponte da Arrábida, Candal) observamos casos em que blocos de arenito esbranquiçado, típicos da fase I, estavam englobados nos depósitos da fase II, junto à respectiva base, o que prova a anterioridade daqueles depósitos e o facto de se encontrarem a constituir relevo no momento em que os depósitos da fase II se estariam a formar. Porém, se há depósitos da fase II que podem corresponder a um período torrencial do curso do rio Douro, até porque aparecem conservados na proximidade do seu vale (caso descrito em 1), a organização espacial dos restantes depósitos da “fase II” (caso 2) mostra, claramente, que os respec- 92 Araújo et al. tivos afloramentos se distribuem paralelamente ao relevo marginal e não parece plausível relacioná-los com o traçado do rio Douro. Tratam-se, como já referimos, de depósitos resultantes de hidrodinâmica torrencial, apresentando, em corte, sequências granodecrescentes com canais preenchidos por elementos mais grosseiros na base e camadas granulometricamente mais finas e texturalmente compactas para o topo. Estes aspectos sugerem que se trata de leques aluviais formados à saída de um relevo em surreição. Nestas circunstâncias, parece plausível a hipótese de que teria sido o “relevo marginal” a área de origem dos depósitos da fase II. Assim sendo, a respectiva actividade poderá ser ligeiramente anterior, ou correlativa, da formação destes depósitos. Além da actuação tectónica é de supor a existência de uma situação de crise climática que condicionou a deposição torrencial destes depósitos e possibilitou o transporte de elementos de grande calibre (na Pedrinha é possível observar blocos com cerca de 0,5m de diâmetro). Estes teriam uma granulometria mais grosseira na proximidade das cristas quartzíticas (a Pedrinha fica a 6 km dos primeiros afloramentos quartzíticos da serra de Valongo), e menos grosseira nas zonas distais (Coimbrões situa-se a 11 km dos referidos afloramentos). A esta crise climática parecem seguir-se condições climáticas mais regulares, responsáveis por um regime hidrológico menos contrastante. Com efeito, em alguns locais (Av. Marechal Gomes da Costa, no Porto), no topo de formações do tipo debris-flow, verifica-se a deposição de materiais melhor calibrados e compatíveis com uma drenagem organizada (fase CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) II-B). Estes depósitos encontram-se apenas na proximidade do vale do rio Douro e poderão corresponder a um momento em que houve enfraquecimento no regime torrencial que tinha no início da fase II. Alguns destes depósitos estão claramente afectados pela tectónica. Esta manifesta-se, por vezes, através de movimentos compressivos, traduzidos na existência de falhas inversas, como no caso do Juncal, em Espinho (figura 7), e dos Pinhais da Foz, no Porto (ARAÚJO, 1995, 1997). Curiosamente, em ambos os casos referidos, as falhas identificadas situam-se muito perto do limite entre os depósitos fluviais e os depósitos marinhos que se encontram, na plataforma litoral, a cotas inferiores a 40m. 4.4. Tentativas de correlação e enquadramento estratigráfico O enquadramento estratigráfico destes depósitos (figura 8) é uma das tarefas mais difíceis com que nos deparamos (ARAÚJO, 1991). Com efeito, nenhum dos depósitos estudados apresentou até à data, fósseis. Por isso, as correlações têm que ser feitas através de semelhanças de litofácies. Porém, os afloramentos cenozóicos apresentam uma grande variabilidade de espessura, de fácies, de ordenação sequencial e de composição petrológica e mineralógica que resulta incompatível com um único e simultâneo contexto paleogeográfico e paleoclimático (MARTÍNSERRANO, 2000). Por isso mesmo, quando se admite que essas correlações são pertinentes, apesar da variabilidade acima referida, existem, geralmente, variações significativas nas idades atribuídas por CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Geomorfologia e geologia regional 93 Figura 7. Falha do Juncal (Espinho). Direcção NNW-SSE; pendor 70°W. A base do depósito é visível à esquerda. Trata-se de uma falha inversa com um rejeito aparentemente superior a 1m, já que a base do depósito, rica em elementos grosseiros, apenas aparece no bloco levantado (bloco da esquerda). No bloco abatido apenas se observa um nível fino do depósito. A base grosseira estaria subjacente, a um nível não observável. 94 Araújo et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 8. Esboço geomorfológico da área de Lavadores. diferentes investigadores, o que coloca, à partida, algumas dúvidas relativamente à validade e utilidade desse processo (PEREIRA, 1997). Desde os anos cinquenta que os depósitos da plataforma litoral da região do Porto têm sido considerados “plio-plisto- cénicos” (e.g., TEIXEIRA, 1949; 1979). A utilização das siglas P’, P’’ e Q (e.g., TEIXEIRA et al., 1962) sugere, justamente, uma oposição entre os depósitos mais antigos, tidos como pliocénicos e os restantes, atribuídos a diversas fases dentro do Quaternário. Isto significa que CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) sempre se admitiu que os episódios cenozóicos mais antigos (paleogénicos e miocénicos) referidos em diversos locais do País (nomeadamente Trás-os-Montes) não se encontram nesta área. Efectivamente, os depósitos estudados não parecem poder paralelizar-se com as formações paleogénicas e miocénicas conhecidas em Trás-os-Montes. Admitindo como boa a exclusão de depósitos paleogénicos e miocénicos, resta-nos a hipótese de que os depósitos da fase I se situem no Pliocénico. Com efeito, parece-nos que, a acreditar nas grandes fases de sedimentação cenozóica estabelecidas por MARTÍN-SERRANO (2000), os depósitos da fase I podem ser os correlativos das “fases ocres” referidas no interior da Península, correspondentes ao topo do enchimento Terciário e atribuídas ao Pliocénico. Se atentarmos na descrição da Formação de Mirandela (PEREIRA, 1997) segundo a qual os depósitos que constituem esta unidade se caracterizam especialmente pela cor esbranquiçada ou amarelada, pelo carácter conglomerático, com clastos quartzosos e quartzíticos numa matriz arenosa quartzo-feldspática e com caulinite largamente dominante na fracção argilosa, apercebemo-nos das semelhanças que existem entre os depósitos da fase I e a referida Formação de Mirandela, o que poderia situá-los no Pliocénico (Placenciano?). Os depósitos da fase II apresentam, pelo contrário, características que fazem supor um clima bastante diferente. Com efeito, a má calibragem e a grande dimensão que alguns dos elementos existentes no depósito da Pedrinha apresentam sugerem um clima com uma certa tendência para a ari- Geomorfologia e geologia regional 95 dez. Além disso, os depósitos da fase II aparecem embutidos nas superfícies culminantes da plataforma litoral, superfícies essas onde ocorrem os depósitos da fase I. O jogo da tectónica, com uma tendência persistente para o levantamento, bem como a proximidade do nível de base e a existência de uma possível regressão Vilafranquiana, poderá explicar o embutimento das superfícies que suportam os depósitos da fase II relativamente às superfícies culminantes. Essa ideia é congruente com um modelo do tipo de rotura sedimentar que CABRAL (1995) retoma de Martín-Serrano, e que aponta para a existência de uma fase de erosão que retoca e rebaixa a superfície estrutural fini-neogénica (nível de colmatação) e desenvolve pedimentos no flanco de relevos. Embora existam diferenças importantes, dado que no Noroeste da Península Ibérica o clima teria sido diferente do da região dos Montes de Toledo ou da região envolvente da Cordilheira Central, as características dos depósitos da fase II sugerem que estes poderiam ser equivalentes às rañas. Também a sua posição estratigráfica, face à sua localização entre os depósitos aparentemente pliocénicos da fase I e os depósitos claramente quaternários, aponta para um certo paralelismo com as rañas, o que permitiria sugerir uma cronologia próxima da transição Pliocénico-Quaternário (FERREIRA, 1993). Assim, face aos dados disponíveis no momento, parece-nos ser verosímil um modelo de evolução neogénica feita de dois momentos contrastantes atribuíveis, por analogia com o que se sabe da evolução em Trás-os-Montes oriental (PEREIRA, 1997) ao Placenciano e Vilafranquiano. 96 Araújo et al. 5. A EVOLUÇÃO QUATERNÁRIA E O ESCALONAMENTO DOS DEPÓSITOS MARINHOS Desde o topo da plataforma litoral até altitudes de cerca de 50m todos os depósitos que encontramos apresentam fácies continentais. Os depósitos inequivocamente marinhos apresentam-se em manchas de dimensões, geralmente, inferiores às dos depósitos fluviais e a altitudes inferiores a 40m. Uma análise comparativa veio confirmar a existência de três conjuntos de depósitos marinhos, que passamos a designar, por ordem cronológica do mais antigo para o mais recente, como nível 1 (o mais antigo), nível 2 e nível 3. O uso da designação de “níveis” não representa uma adesão às teorias fixistas do eustatismo, mas apenas o facto de os depósitos marinhos poderem ser sistematizados em conjuntos, que, em cada sector, se apresentam escalonados. Com efeito, estes “níveis” foram definidos, essencialmente, através de critérios sedimentológicos, já que, como veremos, a situação altimétrica dentro de cada um deles é variável. Infelizmente, é raro encontrar locais onde todos estes níveis estejam expostos. O único local onde conseguimos definir os três níveis propostos foi na área de Lavadores (Canidelo), onde se apresentam em escadaria. Por isso, as altitudes indicadas para cada “nível”, salvo informação em contrário, correspondem à altitude com que o mesmo se encontra na área de Lavadores. Os depósitos que se apresentam em manchas mais extensas são, normalmente, aqueles que se situam na proximidade dos depósitos fluviais, a altitudes compreendi- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) das entre 30 e 37m. Tratam-se de depósitos geralmente espessos, que assentam sobre um substrato rubefacto, bastante alterado, e que designaremos como “nível 1”. Os depósitos do “nível 2” (figura 9) apresentam uma certa ferruginização (cor acastanhada), assentam sobre um substrato cuja alteração, menos intensa que a do nível precedente, lhe confere uma cor esbranquiçada, e situam-se a altitudes de 18-15m. Enquanto que os depósitos do “nível 3” aparecem a cotas geralmente inferiores a 10m, e em certos locais chegam a atingir o nível actual das marés baixas (praias de Francelos, da Aguda e da Granja). Apresentam uma cor castanha, que corresponde a uma ferruginização bastante intensa, que os transforma, por vezes, em verdadeiros conglomerados. O seu bed-rock apresenta apenas uma alteração incipiente e uma pâtine castanha ou alaranjada, obviamente relacionada com a migração de ferro que condicionou a cimentação do depósito suprajacente. O estudo do escalonamento dos depósitos marinhos dos diversos sectores da área estudada, bem como das respectivas características sedimentológicas, permitiu concluir que os depósitos atribuíveis ao mesmo “nível” não se situam sempre à mesma altitude. Desenvolvem-se segundo um padrão irregular, em que se detecta uma tendência para uma descida das altitudes para Sul, como se o bloco em que se situam estivesse basculado para Sul, em direcção à orla ocidental meso-cenozóica (ARAÚJO, 1997). Esse padrão irregular sugere a existência de interferências entre esse basculamento e movimentos oblíquos à mesma (isto é, transversais ou oblíquas em relação à linha de costa). Efectivamente, CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Geomorfologia e geologia regional 97 Figura 9. Depósito marinho representativo do nível II (Lavadores 18-20m). Notar o arqueamento definido pelos leitos de seixos. parecem existir deformações recentes, afectando depósitos, presumivelmente, do último período interglaciário. O caso mais notório verifica-se na praia do Sampaio (Labruge-Vila do Conde), onde se encontram dois afloramentos de depósitos, provavelmente, do último interglaciário, a altitudes bastante diversas (5 e 9 m; ARAÚJO, 1994). Essas deformações traduzir-se-iam, também, em desníveis rigidamente alinhados existentes nas plataformas de erosão marinha e no desenvolvimento de algumas “arribas” que não passam de escarpas de falha, situação que é, de novo, o caso da praia de Sampaio (ARAÚJO, 1991, 1994). Num litoral onde as variações quaternárias do nível do mar se imprimiram sobre um continente com movimentos tectónicos aparentemente diferenciados, a identificação da parte que cabe à tectónica e ao eustatismo terá que ser feita por aproximações sucessivas. Porém, pensamos que só uma abordagem multidisciplinar permitirá uma correcta compreensão da morfologia dos sectores rochosos desta faixa litoral. 6. A TECTÓNICA E A ORGANIZAÇÃO DO RELEVO O mapa da figura 10 mostra bem em que medida o relevo marginal tem um desenvolvimento essencialmente rectilíneo, sofrendo apenas leves indentações provocadas pela incisão dos pequenos cursos de água que nascem na sua base e têm percursos da ordem de 5 a 6 km de comprimento, com curso limitado à plataforma litoral. A antiga ideia de que o relevo marginal poderia corresponder a uma “arriba fóssil” terá de ser reequacionada, já que os depósitos situados no seu sopé têm origem fluvial. Como dissemos acima, 98 Araújo et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 10. Mapa geomorfológico de síntese. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) próximo do limite ocidental do relevo marginal encontramos o megacisalhamento de Porto–Tomar que corresponde, localmente, ao contacto tectónico entre o substrato metassedimentar do Proterozóico (ZOM) e a mancha de granitos pós-tectónicos de Lavadores. CABRAL & RIBEIRO (1989) assinalaram, na margem esquerda do Douro, dois lineamentos estruturais com registo de movimentação recente, para além do acidente de Porto-Tomar, situados em posição idêntica à do relevo marginal. Parece, assim que a margem sul do Douro é uma área particularmente controlada, sob o ponto de vista tectónico. Efectivamente, tratando-se de um acidente tectónico que rejogou diversas vezes e, uma vez, que para além da falha principal, existem vários acidentes secundários, mas de grande importância na estruturação do relevo regional. O perfil da figura 11 foi construído de modo a que, partindo da linha de costa, Geomorfologia e geologia regional 99 atravessasse o relevo marginal e passasse pelos depósitos fluviais existentes na margem esquerda do Douro, na área de Aldeia Nova de Avintes. É particularmente curioso o facto de os depósitos da fase I, dum lado e doutro do relevo marginal, aparecerem basculados em direcção a este, o que coincide com a situação de facto observada no terreno. Dado que a litologia do substrato raramente facilita a identificação de deslocações tectónicas, estas poderão ser inferidas essencialmente por critérios geomorfológicos. É esse o caso dos abruptos visíveis no corte que foram marcados como acidentes tectónicos verticais. Porém, é quase certo que algumas destas falhas sejam inversas. Uma certa tendência para movimentos de tipo compressivo estaria de acordo com observações de campo feitas em diversos locais (Gião, Pinhais da Foz, Juncal; ARAÚJO, 1991, 1995, 1997) que mostram que, efectivamente, a maior parte dos acidentes tectónicos que afectam os depósitos cenozóicos da área em estudo são falhas inversas. Figura 11. Corte geológico realizado entre a foz da Ribeira de Canelas e a margem esquerda do Douro. Para a caracterização dos depósitos (FI, FII, T1, T2 e T3) ver texto. As falhas propostas, com excepção daquela que separa a faixa metamórfica de Porto–Albergaria-a-Velha do granito de Lavadores foram marcadas a partir de critérios geomorfológicos. 100 Araújo et al. Seja qual for o tipo de falhas em presença, no seu conjunto, o relevo marginal parece corresponder a um horst. Tal como é sugerido por DAVEAU (1987), relativamente ao litoral da Estremadura, os acidentes tectónicos que o delimitam terão jogado posteriormente à formação dos depósitos mais antigos da plataforma litoral. Quer no caso do depósito do Carregal quer no caso do depósito de Aldeia Nova, a respectiva conservação parece estar na dependência de uma situação em ângulo de falha, bastante evidente no caso do depósito do Carregal. O mapa da figura 4 é particularmente representativo dos constrangimentos geológico-estruturais no desenvolvimento geomorfológico da área a Sul da foz do Rio Leça. São óbvios uma série de lineamentos estruturais com relevância sob o ponto de vista geomorfológico. Estes encontram-se nas seguintes situações: i delimitando troços rectilíneos do relevo marginal; ii - sublinhando tramos do traçado do rio Douro e dos seus afluentes (rio Febros, na margem esquerda e rio Tinto, na margem direita). Um outro aspecto interessante tem a ver com um “degrau” que parece fazer a separação entre as áreas da plataforma litoral situadas abaixo e acima dos 50 metros. Trata-se de um alinhamento praticamente N-S entre as praias de Lavadores e de Miramar e que, a Sul desta última, roda ligeiramente para NNW. É muito interessante verificar que este alinhamento coincide com a separação entre depósitos marinhos e fluviais. Trata-se de uma hipótese levantada por ARAÚJO (1991), mas que ganha maior visibilidade a partir desta forma de representação (figura 2), ou seja, CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) posteriormente à formação dos depósitos da fase II, terá havido um abatimento da fachada ocidental, que colocou esta faixa deprimida ao alcance do mar aquando dos períodos interglaciários. A clara separação entre os depósitos fluviais e marinhos teria, assim, uma razão de ordem tectónica. É curioso verificar que existe uma espécie de avanço, uma deslocação para Oeste das áreas acima dos 50m que rodeiam a foz do rio Douro. Este facto sugere que o sector situado na imediata proximidade do rio Douro é um pouco mais alto do que as áreas envolventes. Isso pode acontecer por duas ordens de razões: i - este sector foi ligeiramente soerguido, o que vem provar a consistência da hipótese deste rio ser antecedente em relação à subida das suas margens na área em que ele atravessa o relevo marginal (grosso modo situada entre a ponte da Arrábida e a foz do rio Tinto); ii - trata-se de uma área coberta por depósitos fluviais da fase II. Estes depósitos são razoavelmente espessos e, dada a sua permeabilidade ser superior à do substrato, podem ter contribuído para proteger da erosão os locais onde existam depósitos, relativamente, àqueles onde afloram os xistos ou até mesmo os granitos. Isso permitiria a existência da projecção das curvas de nível detectada na figura 2. Os factos acima referidos conduzemnos a concluir que a neotectónica e/ou a tectónica recente poderá ter tido, na plataforma litoral da região do Porto, uma importância maior do que geralmente lhe é atribuída. Não devemos esquecer-nos que estamos numa área em que a probabilidade de movimentações tectónicas é particularmente grande, devido à passagem CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) de uma falha ainda activa, a faixa de cisalhamento de Porto-Tomar, muito próximo desta faixa costeira. É provável que os novos impulsos tectónicos actuantes durante o Quaternário (RIBEIRO, 1984) tenham feito rejogar antigas fracturas tardi-variscas situadas perto desta importante zona de cisalhamento, acabando por produzir um relevo com uma orientação geral próxima das suas estruturas. Tem que se ter também em conta que depois do Cretácico a Península Ibérica sofreu um rejuvenescimento escalonado da fracturação antiga, além da formação de novos sistemas de fracturas que ainda hoje estão, em parte, activos (RIBEIRO, 2002). A observação do mapa da figura 10 mostra ainda um outro facto bastante curioso. A margem direita do rio Tinto tem uma configuração claramente rectilínea, com direcção NE-SW. O mesmo sucede com o sector mais a montante orientado por um alinhamento com direcção NNE-SSW. Além disso, toda a área situada a Leste do rio Tinto parece corresponder a um graben em forma de losango, delimitado pelo alinhamento da margem direita do Rio Tinto, pela ribeira do Gramido (de NE-SW a NNE-SSW) e pelo troço de direcção NNW-SSE do Rio Douro, prolongado pelo seu afluente, o rio Febros (figura 10). Parece, assim, confirmar-se a importância dos lineamentos estruturais na organização do relevo a Leste do Relevo Marginal. Na figura 12 apresenta-se um modelo interpretativo da evolução fini-cenozóica para a plataforma litoral entre a Foz do rio Leça e Espinho. A variedade dos depósitos e a incidência de diversas fases de movimentação tectónica, implica a necessidade Geomorfologia e geologia regional 101 de definir as diferentes fases de deposição e estabelecer a sua relação com movimentação tectónica. Esta terá actuado continuamente, embora com fases de maior intensidade, que se fizeram sentir por diversas vezes. Assim, os depósitos da primeira fase (Placenciano?) correspondentes a uma planície aluvial litoral foram afectados pela actividade tectónica responsável pela edificação do relevo marginal. A criação do relevo marginal estará na origem dos depósitos de tipo leque aluvial (fase II). Por sua vez, estes depósitos são afectados por movimentos, provavelmente, transpressivos que poderão estar relacionados com a formação do degrau topográfico que separa os depósitos fluviais dos marinhos. É a existência de um abatimento na área ocidental que permite a invasão do mar e a deposição de antigas praias na parte ocidental da plataforma litoral. Estes depósitos marinhos, por sua vez, também são afectados pela tectónica, como pode deduzir-se da sua ocorrência a diferentes altitudes ao longo da área em estudo (ARAÚJO, 1997). Recentemente, encontrámos, em Lavadores, provas da deformação de depósitos marinhos por uma actividade tectónica compressiva, logo necessariamente muito recente. A situação do corte em questão, junto à praia de Lavadores e sugere que a proximidade da faixa de cisalhamento de Porto-Tomar poderá estar na origem desta movimentação. Em regra, no litoral, as superfícies de aplanação são muito pouco extensas. A sua compartimentação pode ficar a dever-se, às variações do nível do mar que aí se fazem sentir com muito maior acuidade. Mas, não é de negligenciar a hipótese de pode- 102 Araújo et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 12. Um modelo interpretativo da evolução fini-cenozóica para a plataforma litoral entre a Foz do rio Leça e Espinho. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) rem rejogar com movimentos epirogénicos de blocos, possivelmente de origem isostática. Todos estes aspectos contribuem para uma certa complexidade geomorfológica, bem patente no mapa da figura 10. Isso implica que o estudo da plataforma litoral deva ser feito tomando em linha de conta uma grande variedade de aspectos. Por isso, o respectivo tratamento deverá ser feito a uma escala de maior pormenor do que aquela que é utilizada nas áreas em que a compartimentação do relevo é, em regra, menos intensa. As ideias expostas anteriormente só poderão confirmar-se cabalmente na medida em que haja correlações regionais entre depósitos estribadas em datações radiométricas ou micropaleontológicas. Essas datações, em vias de realização na região entre Porto e Águeda, serão, segundo esperamos, um instrumento de excelência para a apoiar a construção de hipóteses mais consistentes. Geomorfologia e geologia regional 103 AGRADECIMENTOS Queremos manifestar a nossa gratidão ao Gabinete de Estudos de Desenvolvimento e Ordenamento do Território (GEDES) e ao projecto TBA / ‘The Tertiary of CentralNorthern Portugal: basin analysis, stratigraphy and resources” (FCT-POCTI/ CTA/ 38659/ 2001), pelo financiamento concedido. Este trabalho recebeu apoio dos projectos PRAXIS/ CTA/ 82/ 1994 (Universidade do Porto), MODELIB/ FCT (POCTI/ 35630/ CTA/ 2000– FEDER) e de uma bolsa (SFRH/ BPD/ 3641/ 2000, Universidade de Aveiro) para HIC. Aos Drs. José Teixeira, Eduardo Carvalho e Carla Ribeiro, o nosso agradecimento pelo apoio nas ilustrações cartográficas. Recibido: 4-VII-03 Aceptado: 14-VIII-03 104 Araújo et al. REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. A. (1991). Evolução geomorfológica da plataforma litoral da região do Porto. Universidade do Porto. 534p., 1 anexo e 3 mapas. (tese de doutoramento) ARAÚJO, M. A. (1994). Protection and Conservation of Sampaio Area (Labruge, Vila do Conde, North of Portugal). In: “Littoral/94” proceedings, Associação Eurocoast-Portugal, IHRH (Instituto de Hidráulica e Recursos Hídricos da Univ. do Porto) e ICN (Instituto de Conservação da Natureza), II: 865-877. ARAÚJO, M. A. (1995). 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Geomorphology in the Tropics: a study of weathering and denudation in low latitudes. John Wiley and Sons, Chichester. 460 pp. ISSN: 0213-4497 Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 107-125 Evolução sedimentar e tectónica da Bacia Carbonífera do Douro (Estefaniano C inferior, NW de Portugal) Sedimentary and tectonic evolution of the Douro Coalfield Basin (lower Stephanian C, NW Portugal) PINTO DE JESUS, A.1 Abstract Facies analysis and tectonosedimentary analysis methods were used to study the sedimentary record of the Douro Coalfield Basin (NW Portugal). The data obtained was integrated with alocyclical processes, mainly those resulting from tectonic and/or magmatic activity. For interpretation the regional geological setting was taken into consideration. Consequently, the main tectonic structures and data related to the magmatism for the region were taken into account. Furthermore, in order to account for the thermal evolution of the coals and other rocks of the Douro Coalfield Basin, organic and sedimentary petrographic elements as well as geochemical and mineralogical controls for the illite crystallinity based on the Kubler Index were taken into account. Integrating all the elements and data obtained we present one model for the genesis and evolution of the Douro Coalfield Basin. Thus, after the formation of the pull-apart basin, controlled by the sinistral shear activity of the Douro-Beira Carboniferous Trough after the upper Westphalian D, the depocentres migrated from NW to SE. Changes in tectonic settings allowed for the development of “foreland style” sedimentary basin with input from alluvial fans, structured at the margins of the Douro Coalfield Basin, providing sediments into a trough with palustrine/lacustrine characteristics where important deposition of vegetation took place. These structures were strongly cut and highly reworked by multistory-multichannel trunk braided river downstreaming northwestwards. The tectonic activity at the NE margin lead to an asymmetrical basin deepening northeastwards. This process and the decrease in the fluvial hydrodynamic energy resulted in the formation of palustrine/lacustrine depositional systems, first on the floodplains, and then filling all of the Douro Basin. Sedimentary records suggest that sedimentation was syntectonic throughout the series, with a progressive decrease in energy levels. Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 107-125 The implantation of granitoid rocks in the region and the resulting thermal contribution, concomitant with the downlift of the Douro Coalfield Basin, lead to the coalification of the coal measures allowing these to reach the meta-anthracite range of rank. At the same time, late variscan phases acting over brittle rocks (exception made to the coals), with a stress torque oriented NE-SW, and associated with sinistral shear activity, resulted in the formation of thrust faults with a “piggy-back” style and the subsequent deformation forming duplex and triplex tectonic structures. The obliqueness of the tectonic movement resulted in (diagonal) asymmetrical cut of the upper series of the Douro Coalfield Basin for the major overthrust fault. Also, related at this framework, at least in one mine (Germunde colliery), the rotation (plunging southeastwards) of the coal strata nearest to the major overthrust fault was recognized. Microfolds were observed in the coals, and other associated rocks showed evidence of cleavage and of brittleness processes. Syntectonic sedimentation, as manifested in the sedimentary record and in the structure of the Douro Coalfield Basin, strongly suggests that, in the Douro-Beira Carboniferous Trough, the regime changed from a transcurrent sinistral NW-SE one during Westphalian times to a transpressive sinistral regime with a W-E compressive component. The latter increased in intensity, becoming predominant over the sinistral shear component already during the lower Stephanian C and earlier times of the Variscan Orogeny. Key words: Lower Stephanian C; Terrestrial deposition; Tectonic control of sedimentation; Douro-Beira Carboniferous Trough; NW Portugal. (1) Departamento e Centro de Geologia da Universidade do Porto, Faculdade de Ciências, Praça de Gomes Teixeira, 4099-002, Porto, Portugal. ([email protected]) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 1. INTRODUÇÃO Enquadrado na Zona Centro-Ibérica [ZCI] e apresentando uma orientação aproximadamente NW-SE, o Sulco Carbonífero Dúrico-Beirão [SCDB] (NW de Portugal) alonga-se desde as imediações da Apúlia (Norte do Porto) até Mioma (NE de Viseu) (LEMOS DE SOUSA & WAGNER, 1983a,b), numa extensão correspondente a cerca de 85 km. Esta estrutura corresponde a uma faixa de cisalhamento, cuja actividade foi particularmente importante durante todo o ciclo varisco (DIAS & RIBEIRO, 1991), tendo controlado a abertura de várias bacias sedimentares continentais intramontanhosas durante o Carbonífero. A mais extensa dessas bacias é a Bacia Carbonífera do Douro [BCD] (figura 1), a qual se encontra datada do Estefaniano C inferior através de estudos paleobotânicos (WAGNER & LEMOS DE SOUSA, 1983), paleozoológicos (EAGAR, 1983) e palinológicos (FERNANDES et al., 1997) e cujas características intramontanhosas são atestadas pela presença de elementos paleobotânicos exteriores à bacia (WAGNER & LEMOS DE SOUSA, 1983). Tendo como limites geográficos as localidades de S. Pedro Fins a NW e de Janarde a SE, a BCD estendese ao longo de 53 km e apresenta-se como uma estreita faixa que raramente ultrapassa os 500 m de largura (PINTO DE JESUS, 2001). Geologicamente, o muro da BCD corresponde a uma descontinuidade por inconformidade com discordância angular, encontrando-se delimitado a SW pelas formações do Complexo Xistograuváquico [CXG] em quase toda a Evolução sedimentar e tectónica 109 extensão da BCD à excepção do extremo SE da bacia em que o contacto é feito com o terrenos do Silúrico. O tecto da BCD encontra-se invariavelmente cortado por importante falha inversa que coloca as formações do Paleozóico inferior [PI], estruturadas no flanco inverso do Anticlinal de Valongo, sobre os terrenos da BCD (DOMINGOS et al., 1983; LEMOS DE SOUSA, 1984; WAGNER et al., 1984; PINTO DE JESUS, 1987, 2001). 2. INVESTIGAÇÃO MULTIDISCIPLINAR O estudo do registo sedimentar da BCD e da respectiva estrutura sedimentar foi efectuado pela aplicação da análise de fácies (MIALL, 1996) e da análise tectonossedimentar (MEGIAS, 1982) integradas com os factores alocíclicos, sobretudo os de índole tectónica e/ou magmática. Os resultados obtidos foram enquadrados e interpretados tendo em consideração o contexto geológico regional. Foram efectuados levantamentos sobre estruturas tectónicas e estudada a distribuição dos eixos <c> dos quartzos para uma melhor compreensão acerca da deformação da geometria dos corpos sedimentares da BCD. A formulação de hipóteses de trabalho implicou a análise sobre elementos resultantes da análise de parâmetros mineralógicos, tais como a cristalinidade da ilite e a petrografia sedimentar e orgânica. Após a integração dos resultados obtidos nos diversos estudos que efectuamos concluímos sobre o modelo genético e evolutivo que aqui apresentamos. 110 Pinto de Jesus, A. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 1. Enquadramento regional da Bacia Carbonífera do Douro [BCD] (modificado de PINTO DE JESUS, 2001). 2.1. Estrutura Sedimentar A sedimentação e respectivo registo sedimentar da BCD encontram-se fortemente controlados pelas variações na actividade tectónica, resultando assim numa sedimentação predominantemente sintectónica cujas associações de litofácies (MIALL, 1996) (tabela 1) agrupamos em quatro unidades tectonossedimentares [UTS] fundamentais (MEGIAS, 1982) (figura 2), as quais se encontram tectonicamente duplicadas. UTS A – (Complexa; UTS A1 e UTS A2) Os processos sedimentares associados a instabilidade gravítica, levam à formação das brechas de base que forram o substrato da BCD, respectivamente UTS A1 e UTS A2.constituintes da UTS A (complexa) A proveniência dos sedimentos encontra-se relacionada, predominantemente, com transporte marginal a partir de ambas as margens da bacia e consequente incorporação das diferentes litologias que constituem as brechas da BCD. De acordo com CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Evolução sedimentar e tectónica 111 Tabela 1. Codificação de litofácies (modificado de MIALL, 1996). 112 Pinto de Jesus, A. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 2. Coluna simplificada do registo sedimentar da BCD. Litofácies segundo MIALL (1996); UTS segundo MEGIAS (1982). Coluna total = 350m. (PINTO DE JESUS, 2001). as características sedimentológicas da brecha de base presente na UTS A1, a sequência de litofácies predominante é constituída por litofácies Gmm sobrepostas por Gmg e Gmmf na fácies proximal, evoluin- do umas e outras para Gcm em profundidade, indicando a progradação do debrisflow para a fácies média do leque aluvial. Esta passagem lateral, é também colocada em evidência pelo incremento na maturi- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) dade textural. Isto é, a evolução das fácies proximais para as médias implicam a diminuição da viscosidade do meio por perda de carga sedimentar. O registo da distribuição das características das fácies fanglomeráticas, indicam a predominância do transporte de SW, o qual se deu por debris-flow na zona proximal, evoluindo para correntes mais fluidas em direcção ao bordo NE. A ocorrência de vários corpos sedimentares de fácies fanglomerática encimados por mud-flow com litofácies Gmmf e a sua distribuição vertical, encontram-se em relação com a existência de vários impulsos tectónicos e/ou com as variações climatéricas. A UTS A2, junto à margem NE é constituída por depósitos fanglomeráticos estruturados em leque aluvial e cuja fácies média-distal apresenta clastos quase exclusivamente de litologias do Paleozóico inferior, com granulometria menos grosseira, melhor calibrados, com melhor arredondamento e esfericidade, distribuídos numa textura menos imatura. Também texturalmente menos imaturas, as litofácies predominantes são as Gh e as Gcm, apresentando por vezes litofácies Gci. Estas características sedimentares levam-nos a concluir que a UTS A1 se estruturou a partir de debris-flow. Por outro lado, e apesar da actuação da tectónica pós deposicional, na UTS A2 encontramos litofácies distais de depósitos fanglomeráticos trabalhados e estruturados por fluxos pouco viscosos (pseudoplásticos). Apesar da aparente ausência das litofácies médias a proximais desta unidade, é indiscutível que as litofácies Gh passam lateralmente, para NE, a litofácies predominantes de Gcm (em profundidade). Este facto indica não só a fonte Evolução sedimentar e tectónica 113 alimentadora a NE como também que a unidade foi estruturada por debris-flow pseudo-plástico, com alta energia, em estreita relação com a tectónica actuante sobre a área de alimentação. A estrutura de ambas as brechas indica a sua relação com um modelo deposicional do tipo debris-flow dominated fan. Em resumo, relativamente à estrutura da UTS A, e de acordo com a actual configuração da BCD, foram observadas as fácies proximais a médias dos leques aluviais (brecha de base) que se depositaram junto à margem SW. As primeiras foram observadas à superfície e as segundas em profundidade sendo evidente não só a localização da área de alimentação como o tipo e sentido de transporte. Esta passagem lateral permite deduzir a continuação em profundidade da UTS A1 até se atingirem as fácies distais. Relativamente à UTS A2 a brecha que ocorre na base desta unidade trata-se da brecha basal com proveniência do quadrante Este. A distribuição de fácies é simétrica em relação à UTS A1. Isto é, o reconhecimento de fácies distais à superfície, passando a fácies médias em profundidade permitem-nos igualmente deduzir que a fácies proximal dos leques aluviais desta UTS se encontrará em profundidades maiores que as atingidas. A ocorrência destes depósitos ao longo de toda a bacia e a respectiva estrutura, parecem-nos argumentos suficientemente fortes para deduzirmos a existência de uma falha no limite do bordo SW da bacia, i.e., o controlo da sedimentação a SW teria sido condicionado, mais que pelo foreland bulge, por falha delimitada na margem SW. Por outro lado, existem depósitos fanglomeráticos relacionados com a margem NE 114 Pinto de Jesus, A. onde a instabilidade tectónica deveria ser, também, bastante forte. No entanto, a sua ocorrência e exposição encontra-se prejudicada pelo basculamento e encurtamento da BCD, razão pela qual afloram em poucos locais. Nesses poucos locais onde foi possível deduzir esta edificação, as características sedimentológicas evidenciam zonas distais, com uma estratificação nítida dos corpos sedimentares, no interior dos quais a textura clasto-suportada se encontra estruturada a partir de clastos com calibragem e arredondamento razoáveis. UTS B – (Simples; UTS B1 e UTS B2) Formada a partir da deposição das fácies pelíticas (tipo F) e das fácies fitogénicas (tipo C), provavelmente relacionadas com a planície de inundação da progradação do leque aluvial longitudinal, e, por outro lado, em relação com o transporte sedimentar referido para a UTS A, constituindo as fácies distais do respectivo modelo deposicional, já em ambiente palustre com passagem a lacustre por aumento progressivo da lamina de água. Isto é, as litofácies C ocorrem quase invariavelmente logo sobre a UTS A1, passando depois a alternar com litofácies tipo F, por vezes, com corpos lenticulares de arenito no interior sugerindo a formação de pequenos deltas. Relativamente quer às fácies pelíticas, quer às fácies orgânicas, a deposição dos materiais que as constituem deu-se essencialmente por acreção vertical, isto é, não estruturadas por correntes. Como resultado os diversos elementos detríticos que aí ocorrem apresentam laminação sedimentar com tendência paralela devida à deposição quer de detritos CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) vegetais quer de clastos lamelares, uns e outros ocorrendo invariavelmente com a sua superfície de maior exposição paralela à estratificação, numa estrutura própria de ambientes lacustres com baixa energia hidrodinâmica. Os sistemas deposicionais alimentadores não foram observados. A explicação para a sua ausência, deve ser encontrada, por um lado, em relação com a erosão do bordo SW da bacia, e, por outro lado, com o basculamento da bacia por descida do bordo NE, encontrando-se o referido sistema deposicional em zonas não expostas. Ainda em relação com esta margem não excluímos a hipótese de eliminação tectónica associada ao processo de escamização da BCD. UTS C – (Simples; UTS C1 e UTS C2) Sobre a sedimentação anterior desenvolve-se um sistema deposicional fluvial do tipo braided com curso longitudinal junto e paralelo à margem SW. Parte da alimentação continua a ser efectuada através das margens da bacia tal como indicam as estruturas de canal, a imbricação de clastos e a estratificação oblíqua, observável no contacto com a UTS anterior, nas quais é notório o fluxo longitudinal predominante e interferido por paleocorrentes provenientes de SW. A edificação de leques aluviais com alimentação marginal a partir de SW e cujas associações de litofácies são essencialmente do tipo G com passagem gradual a S e culminando por litofácies F, indica a zona média do leque aluvial e o recuo da margem SW, provocando uma configuração mais ampla da BCD. Este sistema deposicional marginal CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) constitui a UTS C1. No interior da bacia desenvolve-se um sistema fluvial tipo braided, com fluxo predominante SE - NW, constituindo também a UTS C2. A truncatura e respectiva erosão da zona distal da UTS C1 pelos sistemas que edificaram a UTS C2, coloca-nos perante um sistema aluvial tributário de um sistema fluvial em vale encaixado cuja estrutura sedimentar evidencia a existência de cursos de água com escorrência geral SE a NW. Apesar da intensidade de retrabalhamento dos sedimentos através destas correntes, a alimentação sedimentar é inequivocamente marginal. Assim o comprovam as litologias dos clastos presentes nos corpos sedimentares edificados pelos sistemas deposicionais fluviais, bem como as estruturas sedimentares. De um modo geral a transição das litofácies anteriores para as litofácies fluviais é uma transição gradual e desenvolve-se através de ritmos bissequenciais assimétricos. Isto é, na base desta UTS, encontramos a evidência de litofácies fluviais dispersas e alternantes com litofácies de planície de inundação. Para tecto desta UTS as litofácies arenosas fluviais passam a ter maior representatividade, desenvolvendo granosselecção inversa na base e passando a normal para tecto. A distribuição dos corpos sedimentares nesta UTS, cujo registo vertical, tal como já referido, é bissequencial assimétrico iniciando-se por coarsennig and thickning upward e passando a finnig and thinnig upwards. Este tipo de registo sedimentológico encontrase em consonância com um sistema fluvial tipo braided e com a activação e/ou reactivação dos canais superficiais, assim como com a mobilidade das barras. O maior desenvolvimento dos corpos sedimentares, Evolução sedimentar e tectónica 115 retrabalhados por este sistema fluvial, junto à margem SW pressupõe uma maior alimentação a partir deste sector, isto é, controlado pelo foreland bulge. Junto à margem NE e devido ao afundimento da bacia, com o consequente aumento de profundidade neste sector da bacia, a relação S/F diminui assim como a representação das litofácies fluviais. Este cenário leva-nos a admitir que após o episódio tectónico responsável pelo incremento da energia dos meios sedimentares houve um estádio de acalmia tectónica. Na zona intermédia da bacia, a ausência de estruturas sedimentares que comprovem a proveniência marginal dos sedimentos, torna difícil a percepção e a avaliação dos fenómenos sedimentares. Isto é, são raríssimas as estruturas (geralmente laminação oblíqua e imbricação de clastos) que nos indicam cursos de água transversais à bacia. Acresce ainda que essas estruturas podem ser interpretadas em termos de migração das barras que separavam os canais, pelo que a validade das mesmas, como indicadoras do transporte marginal, é duvidosa. A formação e o desenvolvimento do sistema fluvial longitudinal se bem que, eventualmente, em relação com mudanças climatéricas, deve ter sido controlada sobretudo pela tectónica. Assim, o levantamento do sector SE da bacia e consequente basculamento do eixo da bacia com mergulho para NW, bem como a activação da falha que limita a margem NE da bacia e a contínua sobreelevação do sector SE, provocaram um aumento da energia nos meios sedimentares. Dada a paleocorrente dominante e a estrutura dos corpos sedimentares, parece-nos evidente 116 Pinto de Jesus, A. uma maior actividade tectónica relacionada com o levantamento do sector SE em relação à envolvida na activação da margem NE da bacia. Em alguns sectores, nomeadamente em Germunde e em S. Pedro da Cova, encontram-se vestígios de reactivação fluvial sobre os sedimentos lacustres, em relação com sedimentação deltaica. Esta última encontra-se condicionada pelo fluxo longitudinal predominante e pela existência de depressões lacustres, também longitudinais, as quais dada a configuração da BCD, nessa altura, se encontravam com depocentros mais profundos em direcção a NW. No conjunto, poderemos situar o desenvolvimento completo de leques aluviais longitudinais alimentados a partir de SE e espraiando-se para NW, desaguando e estruturando lóbulos deltaicos no interior de depressões (depocentros) ocupadas por sistemas deposicionais lacustres. Isto é, a existência de altos relevos e de depressões associadas, levou ao desenvolvimento de leques aluviais longitudinais, eles também, de sistemas fluviais tipo braided cuja foz se encontrava em lagos. UTS D – (simples; UTS D1 e UTS D2) Na base desta UTS ocorrem associações de litofácies que denunciam sedimentação deltaica. O enfraquecimento das condicionantes tectónicas e consequentemente da energia dos processos sedimentares induziu a sedimentação pelítica e fitogénica por perda de energia e por migração dos meios sedimentares. Assim, este tipo de sedimentação em ambientes palustres que anteriormente já ocorria nos levées e nas planícies CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) de inundação assim como no preenchimento de canais abandonados, sofre agora uma generalização a toda a bacia instalando-se uma sedimentação com migração de palustre na base a lacustre para o topo (por aumento da lâmina de água) provavelmente relacionada com o máximo de afundimento da BCD. 2.2. Estrutura Tectónica A estrutura actual (figura 3), tectonicamente algo complexa, resultou da duplicação da série estratigráfica em relação com a actividade dos cavalgamentos que controlaram a BCD durante as fases tardias do ciclo varisco (PINTO DE JESUS, 2001). A implantação de rochas granitóides na região e as respectivas consequências geotérmicas, simultaneamente e em relação com o afundimento da BCD, levou à incarbonização dos carvões da BCD até ao grau de meta-antracite (LEMOS DE SOUSA, 1973, 1978). O enquadramento tectónico, durante o Estefaniano C inferior, estando sobretudo relacionado com o cisalhamento dúricobeirão e, obviamente, com a componente cavalgante com topo para SW, leva-nos a admitir que a depressão da bacia sedimentar se encontrava controlada por falhas inversas, provavelmente relacionadas com a edificação da estrutura em flor (flower structure) varisca (RIBEIRO et al., 1990b; DIAS & RIBEIRO, 1995), a actividade tectónica sendo muito superior na margem NE em relação à SW. Neste contexto, o tipo de bacia formada corresponde a uma bacia tipo foreland basin, com o foreland bulge ligeiramente falhado e situado na margem SW. O uplift do bloco SW, prova- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Evolução sedimentar e tectónica 117 Figura 3. Esquema da formação e enchimento sedimentar da Bacia Carbonífera do Douro e respectivas paleocorrentes. O perfil longitudinal refere-se à abertura da bacia por extensão de pullapart e o esquema transversal reporta-se ao início da inversão tectónica (PINTO DE JESUS, 2001). Simbologia de acordo com figura 2. Arquitectura do modelo inspirada em EINSELE (1992). velmente já iniciado com a implantação do granito da Serra da Freita (ca. 324 Ma, REAVY, 1987), continua controlado pelos fenómenos orogénicos, mas agora em relação com a implantação dos granitos tardia pós-fase D3 (PINTO, 1985a; PINTO et al. 1987; FERREIRA et al., 1987). Conjugando este fenómeno com o uplift da estrutura do Anticlinal de Valongo, controlado por cavalgamentos, dá-se o incremento da subsidência da BCD, iniciado em D1 e continuado em D3 varisca. O substrato da BCD adquire então uma configuração transversal assimétrica dada a maior velocidade de subsidência a NE que a SW. As fontes de alimentação dos sedimentos que constituem a brecha de base encontram-se relacionadas com a actividade tectónica de ambas as margens. Assim se justifica a maior representação de clastos arrancados ao CXG na litofácies proximal da brecha de base e, igualmente, a maior densidade de clastos com litologias do Paleozóico inferior na brecha mais próxima da margem NE. Após estes episódios tectónicos o registo sedimentar da BCD revela alguma acalmia tectónica interrompida apenas pela instalação de um sistema fluvial, o qual terá tido o controlo orogénico associado à granitização a SE de Janarde. No cômputo geral, o registo sedimentar revela, da base para o tecto, a migração de ambientes mais energéticos para meios sedimentares com menor ener- 118 Pinto de Jesus, A. gia, marcando assim a dedução acerca da acalmia tectónica durante a sedimentação, pese embora a grande mobilidade evidenciada pelos corpos sedimentares. Em relação provável com a implantação dos granitóides tardi- a pós-fase D3, ao longo (obliquamente) do bloco a SW da BCD, ocorre o incremento da incarbonização da matéria vegetal embora a um grau inferior ao que actualmente patenteia. Simultaneamente, a actividade cavalgante e de desligamento do cisalhamento dúrico-beirão provoca o basculamento da BCD. Os indicadores cinemáticos surgem registados sobretudo nas litologias dúcteis, formando microdobramentos nos leitos de carvão. Nas litologias menos competentes registamos sobretudo a componente de cavalgamento materializada pela configuração da penina, a qual apresenta o mesmo estilo estrutural que as estruturas em rosário das camadas de carvão levando à conclusão acerca de uma componente cavalgante predominante sobre o movimento de desligamento. A escamização da BCD, ocorreu nesta altura, seccionando a bacia. O modelo estrutural tipo piggy-back (cf. BUTLER, 1982) foi extensível às rochas da, então, bacia de Ervedosa e aos paleorrelevos internos da BCD. A continuação da transpressão associada a ω1 provoca a laminação oblíqua do flanco inverso do anticlinal de Valongo assim como das camadas do tecto da BCD. Cartograficamente, é evidente a eliminação de NW para SE quer do flanco inverso do anticlinal de Valongo quer da série do Estefaniano C inferior. Neste contexto, registam-se dois fenómenos interligados. Por um lado, ocorre o basculamento e afundimento da BCD, aproximando-se assim do foco térmico e CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) adquirindo um grau de incarbonização cada vez maior; a implantação dos granitóides que incarbonizaram os carvões da BCD. O basculamento e afundimento da BCD em simultâneo com a implantação dos granitos a SW da BCD, provocaram a incarbonização dos carvões num contexto sin-tectónico bem registado. Após o enchimento da BCD, o qual propomos ter sido contemporâneo da granitização que incarbonizou a BCD, a componente de cavalgamento associada ao flanco inverso do anticlinal de Valongo manifestou-se intensamente. A escamização que afectou a BCD desenvolveu um estilo piggy-back relacionado com o comportamento semi-frágil e as falhas inversas originadas pelas fases tardias (D4) da orogenia varisca tendo-se iniciado aquando da granitização, um e outro processos decorrendo no mesmo contexto tectónico. Após a incarbonização dos carvões da BCD, a continuação do binário tectónico levou à formação da “bacia oriental” no sector de S. Pedro da Cova por seccionamento da 3ª camada. Em relação com este processo ocorreu, também, a formação da escama tectónica que actualmente constitui o afloramento de Ervedosa. Assim, ainda em relação com o processo de incarbonização dos carvões da BCD a actuação do binário transpressivo provocou nas litologias mais dúcteis o registo cinemático do controlo tectónico, tendo ocorrido a formação de microdobras no interior das camadas de carvão em relação com a rotação da camada de tecto da mina de Germunde. A continuação destes eventos deu-se por migração centrípeta, dado a tectónica compressiva actuante, a qual provocou o consequente encurtamento da BCD. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 3. MODELO GENÉTICO E EVOLUTIVO De uma forma sintética abaixo listamos os principais episódios da evolução estrutural da BCD (figura 4). i) Abertura do sulco em duas etapas. A primeira relacionada com o dobramento D1 e a segunda relacionada com transpressão esquerda com passagem a componente cavalgante predominante; ii) Resultante da componente cavalgante predominante formação de uma bacia tipo foreland estendida ao longo da cuveta sinclinal relacionada com o flanco inverso do anticlinal de Valongo; Evolução sedimentar e tectónica 119 iii) Momento tectónico activo com a formação da UTS A; iv) Inundação do sulco por alimentação marginal; v) Paragem tectónica, favorecendo a deposição de material pelítico e fitogénico relacionado com sedimentação palustre associada ao desenvolvimento dos leques aluviais; vi) Aumento da lâmina de água e migração dos meios sedimentares com a migração de ambientes palustres para lacustres (UTS B); vii) Início da granitização relacionada com a implantação dos granitos (tipo Regoufe e Lamas), provocando o bascula- Figura 4. Esquema da estrutura actual da BCD (PINTO DE JESUS, 2001). 120 Pinto de Jesus, A. mento axial da bacia em relação com transpressão esquerda. Os fenómenos orogénicos relacionados com esta granitização ocorrem sobretudo no bloco SW (CXG) e no extremo SE do SCDB (zona do Maciço de Castro Daire) Consequentemente, a BCD adquire forma de cunha com a espátula orientada para NW e a ponta para SE, isto é com mergulho de SE para NW; viii) Desenvolvimento de leques aluviais longitudinais (Janarde–Fojo; Arda–Midões; Covelo–S.Pedro da Cova) alimentados por leques aluviais marginais tributários. Recuo erosivo da margem SW e avanço tectónico da margem NE; ix) Continuação da implantação dos granitóides e início da incarbonização dos carvões da BCD. Contexto tectónico controlado pelo cavalgamento ω1; x) Instalação de um sistema fluvial, tipo braided, com escorrência superficial sobre os leques aluviais longitudinais. Alta energia hidrodinâmica com a formação de camadas planas superiores e por vezes com a formação de “estruturas turbidíticas”. Barras sedimentares de reduzida expressão relacionadas com a energia hidrodinâmica forte e consequente e equivalente mobilidade dos corpos sedimentares; xi) Levantamento dos sectores situados a SE do Fojo. O registo sedimentar, nestes sectores, revela possanças muito inferiores às que se observam a NW. Não só a lâmina de água apresenta uma diminuição significativa, como também os sistemas fluviais têm uma menor expressão vertical. Embora se mantenham os processos autogénicos e alogénicos relacionados com os mesmos sistemas deposicionais que se encontram a NW, a actuação de uns e de CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) outros condiciona e encontra-se condicionada por uma sedimentação em ambientes com menor chegada de sedimentos; xii) Enfraquecimento dos sistemas fluviais, e aumento da lâmina de água no interior do sulco, dando origem a sedimentação palustre inicialmente nos canais abandonados e na planície de inundação, migrando, por expansão, a toda a BCD submersa, com excepção, provável, dos levées; xiii) O controlo de ω4 provoca o basculamento da BCD com mergulho SW para NE. Consequentemente, no sector NE da BCD, forma-se um sistema lacustre, por aumento da lâmina de água e dada a subsidência ter sido mais forte no sector referido. xiv) Em relação provável com a granitização em curso, acentua-se o mergulho axial do sulco, com levantamento do sector SE e afundimento para NW, provocando a migração das fontes de alimentação de SE para NW. Isto é, a sedimentação lacustre tende a desenvolver-se mais acentuadamente nos sectores a NW do Fojo. Exposição provável dos sectores a SE do Fojo; xv) Migração dos sistemas fluviais tipo braided de SW para NE, os quais vão ter a foz nos lagos então formados no sector NE, dando origem a estruturas deltaicas, com prolongamento palustre para SW; xvi) Paragem da sedimentação fluvial, em provável relação com acalmia tectónica. Sedimentação palustre e desenvolvimento acentuado de sedimentação lacustre; xvii) Reactivação tectónica com levantamento do sector a SE de Germunde e afundimento para NW. O desenvolvimen- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) to do ciclo sedimentar fluvio-palustrelacustre, surge assim menos evidente em Germunde e assume maior expressão em S. Pedro da Cova; xviii) Continuação da granitização com incarbonização das então formadas 1ª camada (toda a bacia), 2ª camada (zona intermédia e norte da bacia) e 3ª camada (zona norte da bacia). Continuação do basculamento da BCD, com mergulho da inclinação de SW para NE, seguida da escamização da BCD pela continuação do binário tectónico actuante, isto é, desligamento esquerdo subordinado a cavalgamento esquerdo do bordo NE sobre a BCD. Por ordem temporal, do mais antigo para o mais tardio, formação da escama controlada por ω4; máximo da incarbonização; formação da escama controlada por ω4, dando origem à designada bacia oriental de S. Pedro da Cova e à escama carbonífera no sector de Germunde; formação da escama que constitui o Afloramento de Ervedosa em relação com ω1 e com ω2. Os acidentes referidos prolongam-se para SE com encurtamento e subsequente eliminação das formações de tecto, incluindo Estefaniano C inferior, Afloramento de Ervedosa e Paleozóico inferior. Desaparecimento dos cavalgamentos de NW para SE, unindo-se e mantendo-se apenas um (ω4 ou ω2) nos sectores a SE de Germunde. Configuração oblíqua das escamas, cuja formação arrasta o substrato e o forro da BCD (paleorrelevos do Paleozóico inferior e brecha de base); xix) o binário tectónico oblíquo resultante de transpressão esquerda controlada por cavalgamento com topo para W provoca a rotação da parte superior da série da BCD. Evolução sedimentar e tectónica 121 Em relação com os fenómenos anteriormente descritos, ocorre a formação da clivagem de fractura com sigmoidização das estruturas, ocorrendo um reforço da geometria sigmoidal nos corpos sedimentares cuja geometria primária era lenticular (lóbulos deltaicos predominantemente), assim como a deformação evidenciada pelo microdobramento das camadas competentes formadas por carvão, controlada pelas falhas inversas que as delimitam a tecto e a muro. 4. CONCLUSÕES Em síntese, a nossa perspectiva quanto ao modelo genético-evolutivo é a que abaixo se expõe. Em regime transcorrente relacionado com a fase D3 varisca, o SCDB funcionou controlado pelo cisalhamento que delimita a SW o flanco inverso do anticlinal de Valongo. Essa actividade tectónica originou a abertura de bacias sedimentares, em regime de pull-apart, com migração de depocentros de NW para SE. Como resultado, e, com idades mais recentes migrando no mesmo sentido, estruturaram-se várias bacias de fácies continental durante o Carbonífero, tendo a BCD sido a última bacia a formar-se, já durante o Estefaniano C inferior. A continuação da actividade do binário tectónico compressivo de D3 varisca, induz à formação de um sistema “transpressivo” durante as fases tardias (D4) com a prevalência da componente cavalgante sobre o desligamento esquerdo associado ao SCDB. Assim se justifica, durante este estágio, a estrutura da BCD como uma bacia com 122 Pinto de Jesus, A. estilo foreland e com o foreland bulge situado na margem SW e associado a falha normal. O produto sedimentar resultante desta etapa evolutiva encontra-se estruturado nas brechas dos leques aluviais tipo debris flow dominated que se estruturaram nas margens da BCD. Simultaneamente, o controlo tectónico nas zonas de fecho da BCD, situadas respectivamente a NW e a SE provocam idêntico fenómeno com enchimento sedimentar para SE e para NW, respectivamente. Da conjugação destes processos resultou a UTS A que forra a base da BCD. O processo de abertura da BCD, logo na fase inicial, ocorreu de molde a que a abertura de espaço fosse suficiente para acomodar os sedimentos com proveniência marginal, cujos fluxos de transporte provocaram o alagamento da BCD, bem como a formação e instalação de meios palustres que evoluíram, por aumento da lâmina de água, para ambientes lacustres. Ao longo destes processos resultam produtos sedimentares caracterizados pela deposição pelítica e fitogénica que constituem a UTS B. Nas áreas envolventes da BCD, os efeitos da granitização sinorogénica pós-fase D3 varisca começam a fazer-se sentir e inicia-se a incarbonização da BCD. Em relação com a granitização pós-fase D3, e pela continuação do regime “transpressivo” no SCDB ocorre o basculamento do eixo da BCD em sentido oposto à migração do depocentro, isto é, basculamento mergulhante para NW e progradação do depocentro para SE. A reactivação tectónica inerente à granitização provoca um aumento de energia nos ambientes sedimentares provocando a instalação de sistema fluvial com escorrên- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) cia predominantemente longitudinal e interferida por fluxos marginais formando a UTS C. Com arquitectura multistory multichannel o sistema fluvial entrançado (tipo braided) desenvolve, longitudinalmente, um estilo de canais amalgamados, marcadamente erosivos na base, com as planícies de inundação a estenderem-se preferencialmente para NE. Por diminuição da energia nos meios sedimentares, condicionada por acalmia tectónica, os ambientes fluviais passam lateral e verticalmente a meios palustres, os quais, sob a continuação de enfraquecimento da energia hidrodinâmica, evoluem para ambientes com características lacustres. Os fracos impulsos tectónicos relacionados com a actividade orogénica da região durante esta etapa, encontram-se apenas registados na ocorrência de lóbulos deltaicos no interior desta unidade (UTS D) em que ocorre a sedimentação conjunta de material pelítico, de matéria vegetal e a intercalação de corpos deltaicos. Na área envolvente da BCD, ainda a continuação da granitização pós-fase D3 provoca o máximo da incarbonização do carvão do tecto da BCD. Em boa correlação com os estudos de LEMOS DE SOUSA (1973, 1978) a resultante térmica encontra-se situada a Sul da BCD em clara correlação com os episódios regionais do magmatismo nas fases finais da orogenia varisca. A rotação gradual do binário compressivo para E-W durante as fases tardias (D4) da orogenia varisca na BCD, encontra-se registada na predominância da componente cavalgante sobre a desligativa. As razões inerentes a esta circunstância CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) e que reforçam esta conclusão encontramse na “soldadura” do SCDB através das rochas granitóides presentes no maciço de Castro Daire. Os elementos resultantes da análise petrográfica, do registo dos trabalhos mineiros e da estrutura tectónica da BCD também corroboram e suportam esta conclusão. Assim, ocorre o início do basculamento pós-sedimentar dos corpos sedimentares da BCD e a duplicação da respectiva série estratigráfico-sedimentar, particularmente notória no sector de São Pedro da Cova com a formação da designada “bacia oriental”. Com as etapas finais da instalação dos granitóides na proximidade da margem SW da BCD e a Sul da mesma ocorre a aquisição de rang das camadas de carvão da UTS B. A diluição e o enfraquecimento do fluxo térmico para tecto da BCD não possibilita que esta etapa de incarbonização fique registada nos carvões da UTS D dado que o rang adquirido na etapa anterior é superior ao que resulta desta etapa. Após o final da instalação dos granitóides variscos pós-fase D3 e consequente conclusão da incarbonização da BCD, o contexto tectónico provoca o seccionamento da BCD e a consequente duplicação de série sedimentar e, obviamente, das UTS anteriormente referidas num estilo tipo piggy-back, isto é com a migração das falhas inversas para muro desenvolvendo o ramo Evolução sedimentar e tectónica 123 ocidental da estrutura em flor (flower-structure) varisca para a ZCI, provocando, também, o desenraízamento das escamas constituídas pelo substrato de Paleozóico inferior em contacto estratigráfico com a então designada brecha intracarbonífera. Nesta etapa e, pelo menos, em relação à falha inversa que trunca a parte superior da BCD no sector de Germunde, encontrase também associada uma componente desligativa esquerda cujo movimento conjugado com a componente de cavalgamento apresenta uma resultante oblíqua provocando a rotação das camadas de tecto da BCD. Durante todo o processo tectónico (D4) que actuou após a formação e a consolidação das rochas sedimentares da BCD e em flagrante concordância com a escamização, desenvolveu-se clivagem de fractura nas rochas com comportamento mais frágil e, por outro lado, as litologias mais dúcteis (principalmente o carvão) responderam com microdobramento da estratificação. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi efectuado ao abrigo do projecto PRAXIS/ CTA/ 82/ 1994 (Centro de Geologia da Universidade do Porto). Recibido: 04-VII-03 Aceptado: 14-VIII-03 124 Pinto de Jesus, A. REFERÊNCIAS BUTLER, R.W. H. (1982). The terminology of structures in thrust belts. J. Struct. Geol., 4 (3): 239-245. 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S.1 Abstract The results of multidisciplinary studies concerning the Poço Quente thermal (T≈22.9ºC) spring waters, located at the Granjão-Caldas do Moledo sector (Peso da Régua, Northern Portugal), are presented. The hydrogeological and geotectonic studies indicate that the location of Poço Quente spring is mainly conditioned by the local structural geology features of the aquifer system. The main features of the local geotectonic framework are the geologic boundary between the Schist-Greywacke Complex metasedimentary rocks and the Cidadelhe granite and, additionally, the intersection of NW-SE, NNE-SSW and E-W structural discontinuities, related to the Vigo-Régua shear zone, to the Régua-Verin fault zone and to the Douro fault, respectively. Hydrogeochemical and isotopic (18O, 2H and 3H) analysis were used to investigate the inter-relation between the Poço Quente thermal waters and the Caldas do Moledo hydromineral system. When compared with Caldas do Moledo thermomineral waters, the heavier isotopic composition of Poço Quente thermal spring waters, strongly controlled by the altitude effect, indicate that we are in the presence of a locally recharged hydrogeological circulation system, with no connection with Caldas do Moledo geothermal system. Cl, δ18O and δ2H values of Poço Quente thermal waters indicate that these waters should not be faced as the result of a Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 147-172 mixing process between deep thermomineral waters (of Caldas do Moledo type) and local meteoric waters. The results obtained are extremely important for the sustainable management of the hydromineral and geothermal resources of the Granjão-Caldas do Moledo sector. Key words: Poço Quente, thermal waters, tectonics, geomorphology hydrogeochemistry, isotopes, hydrogeology, Northern Portugal. (1) Centro de Geologia da Universidade do Porto e Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Praça de Gomes Teixeira, 4099-002 Porto. Portugal. ([email protected]) (2) Departamento de Engenharia de Minas e Georrecursos. Laboratório de Mineralogia e Petrologia (LAMPIST). Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa. Portugal. ([email protected]) (3) Departamento de Engenharia Geotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto. Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 431, P-4200-072 Porto. Portugal, e Centro de Minerais Industriais e Argilas da Universidade de Aveiro. ([email protected]) (4) Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Gabinete de Estudos de Desenvolvimento Económico e Social (GEDES). Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto. Portugal. (5) Departamento de Geologia e LATTEX da Universidade de Lisboa. Ed. C2, 5º piso. Campo Grande. 1749-061 Lisboa. Portugal. (6) Departamento de Geociências da Universidade de Évora, Apartado 94. 7001 Évora, Portugal, e Centro de Geologia da Universidade do Porto. (7) Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN). Estrada Nacional Nº 10, 2686-953 Sacavém Codex, Portugal. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) INTRODUÇÃO As nascentes termominerais estão, frequentemente, relacionadas com sistemas hidrogeológicos condicionados pelas condições tectónicas e morfoestruturais. A presença de estruturas tectónicas (especialmente falhas afectando zonas profundas da crusta) origina zonas de escoamento preferenciais, tais como fissuras, diáclases ou falhas (e.g., INGEBRITSEN & SANFORD, 1998; INGEBRITSEN & MANNING, 1999; BITZER et al., 2001). Uma anomalia geotérmica num maciço rochoso pode ter origem na redistribuição de energia térmica devida à movimentação ascendente ou descendente de fluidos (OLIVER, 1986). A localização das nascentes de águas minerais ao longo do traçado da falha de Régua-Verin constitui um indício importante de actividade neotectónica ao longo deste acidente maior no Maciço Hespérico (e.g., RIBEIRO & ALMEIDA, 1981; BAPTISTA, 1998; BAPTISTA et al., 1998; CALADO, 2003). Deste modo, as ocorrências termominerais, relacionadas com esta falha, são controlados, por uma lado, por estruturas profundas de direcção geral N-S (relacionadas com zonas propícias à circulação) e, por outro lado, por estruturas de direcção NNESSW, regra geral muito profundas, e activas, as quais induzem circulação dos fluidos pela sua actividade sismotectónica (entre outros modos por bombagem sísmica). A actividade sísmica parece ser contínua ao longo do tempo, e concentrada nos locais onde ocorrem as emergências termominerais. A circulação de fluidos e as reacções fluido-rocha são compo- Nascente termal do Poço Quente 149 nentes activas dos processos de ruptura sísmica, originando a fracturação hidráulica do maciço. As variações na tensão relacionadas com o ciclo de tensão sísmica, controlam a manutenção e a circulação das águas termominerais, nos segmentos activos da falha de Régua–Verín. As zonas intensamente fracturadas, correspondentes à intersecção destes tipos de estruturas, designadas habitualmente por nós tectónicos, são os locais mais propícios para a circulação, em regime forçado, dos fluidos termominerais (INGEBRITSEN & MANNING, 1999; BITZER et al., 2001). Os segmentos de falha activos podem actuar como barreiras e/ou como condutas, constituindo uma componente importante do controlo do fluxo termomineral (OLIVER, 1986). A circulação de fluidos e a sismicidade induzida ao longo de falhas activas são processos complexos e cíclicos auto-sustentados, os quais estão, em parte, relacionados com a tensão tectónica regional. Assim, no caso da falha de Régua–Verín, os acidentes de direcção NNE-SSW podem, também, funcionar como estruturas-barreira, muitas das vezes impermeáveis, que compartimentam o maciço, em blocos de forma aproximadamente rômbica, favorecendo a circulação dos fluidos. Para a diversidade e a grande variedade de características físico-químicas das águas termominerais contribui, certamente, o quadro evolutivo tectonoestrutural dos diferentes ramos que constituem as megaestruturas regionais. Para tal, podese ter em conta factores como (INGEBRITSEN & SANFORD, 1998): i) o gradiente geotérmico e/ou a temperatura a que os fluidos são submetidos, ii) o tempo 150 Espinha Marques et al. de contacto e de interacção fluido-rocha, iii) a velocidade de circulação dos fluidos, iv) a profundidade e as características do reservatório. A grande maioria das águas subterrâneas (das quais as águas termominerais são um excelente exemplo) tem a sua origem na precipitação atmosférica (IAEA, 1981, 1983). No entanto, em alguns casos, os processos de recarga e circulação subterrânea são relativamente complexos, sendo necessário obter o maior número possível de informações acerca dos processos envolvidos. O SISTEMA HIDROGEOLÓGICO DO POÇO QUENTE Um dos principais objectivos deste estudo consiste em apresentar uma nova contribuição para a elaboração de um modelo hidrogeológico conceptual associado às águas do Poço Quente, situado a cerca de 800m para NW do estabelecimento termal de Caldas do Moledo e a, aproximadamente, 300m para NNE da ponte de Granjão (Peso da Régua, N de Portugal). Trata-se de uma temática extremamente importante, tendo em vista a reavaliação dos recursos hidrominerais e geotérmicos da área das Caldas do Moledo. Neste âmbito, é fundamental averiguar a existência de inter-relações entre as águas subterrâneas do Poço Quente e o sistema hidromineral e geotérmico de Caldas do Moledo. A nascente do Poço Quente foi identificada durante a realização do inventário hidrogeológico realizado a propósito da definição do perímetro de protecção das captações de água mineral de Caldas do CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Moledo (ESPINHA MARQUES, 2001). Esta nascente não é referida em trabalhos anteriores (e.g., HENRIQUES, 1726; FERNANDES, 1944; ACCIAIUOLI, 1949/50, 1952/53; ALMEIDA & ALMEIDA, 1970; CANTO MACHADO, 1988; CARVALHO, 1996a,b; IGM, 1999; MARQUES et al., 2000a; CALADO, 2001). A água do Poço Quente distinguese das águas subterrâneas normais da região por apresentar características termais: i) trata-se de uma água de circuito hidrogeológico mais longo, profundo e lento, com características geoquímicas estáveis (isto é, ao abrigo de flutuações sazonais) e diferentes daquelas das águas subterrâneas normais da região; ii) a temperatura de emergência é de 22,9ºC, a qual permite classificar estas águas como termais de acordo com o critério de SCHOELLER (1962, 1982). Devido à referida complexidade dos fenómenos envolvidos no funcionamento de sistemas hidrominerais e geotérmicos, a avaliação dos georrecursos que se lhes associam deverá adoptar uma perspectiva multidisciplinar, mais conveniente para abranger a globalidade de processos (puramente naturais ou condicionados pelas actividades humanas) que têm lugar. No caso da nascente do Poço Quente e do sistema hidromineral de Caldas do Moledo, esta perspectiva revela-se fundamental para se levar a cabo a exploração dos respectivos recursos hidrominerais e geotérmicos, respeitando o paradigma do desenvolvimento sustentável, o qual implica que a qualidade e a quantidade dos mesmos deverá ser preservada a curto e a longo prazo. A este propósito, convém referir que o Poço Quente se localiza a menos de 100m do CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) limite oeste da zona alargada do perímetro de protecção das captações de água termomineral de Caldas do Moledo. Assim, os estudos realizados em torno da nascente do Poço Quente conduziram a um modelo hidrogeológico conceptual que permitirá apoiar a realização de estudos subsequentes, assim como a realização de eventuais sondagens de pesquisa e captação. Para estes estudos contribuiram os conceitos, métodos e técnicas de diversas disciplinas, em particular a geologia estrutural e a tectónica, a geomorfologia, a geoquímica (convencional e isotópica) e a hidrogeologia. ENQUADRAMENTO GEOTECTÓNICO REGIONAL E MORFOESTRUTURAL O sector de Granjão-Caldas do Moledo (figura 1) situa-se na Zona Centro-Ibérica do Terreno Autóctone Ibérico (RIBEIRO et al., 1990), mais precisamente entre dois troços principais da falha de Régua–Verín (também designada por Penacova– Régua–Verín) — e.g., CHOFFAT (1917), CARVALHO (1993, 1996a), BAPTISTA (1998) — e o segmento Amarante–Régua relacionado com o megacisalhamento de Vigo–Régua (também designado por Vigo–Vila Nova de Cerveira–Régua) — PILAR & FERNANDES (1962), BAPTISTA (1998). Segundo CABRAL (1995) a linha de fractura de Penacova– Régua–Verín é uma falha de desligamento esquerdo, com importantes deslocamentos verticais associados em alguns troços, do tipo “pull-apart”, constituindo zonas favoráveis para a instalação de corpos intrusivos. Este importante acidente foi reactivado no Quaternário e, para além dessas evi- Nascente termal do Poço Quente 151 dências, apresenta actividade tectónica nos tempos actuais. Esta depressão tectónica associa-se a um desligamento tardi-varisco que sofreu reactivação posterior, pertencente ao mesmo sistema de fracturas do acidente de Bragança–Vilariça–Manteigas, a que é subparalelo (CABRAL & RIBEIRO, 1988; CABRAL, 1995). Neste sector, o traçado do vale do Douro apresenta duas orientações principais: WNW-ESE (relacionada com o megacisalhamento Vigo-Régua) e NNESSW (relacionada com a falha de RéguaVerin). Trabalhos regionais prévios (e.g., CHOFFAT, 1917; ACCIAIUOLI, 1952/53; CABRAL, 1995; BAPTISTA et al., 1998; BAPTISTA, 1998) apontam para a existência de um controlo morfoestrutural das nascentes hidrominerais localizadas ao longo da depressão de Penacova– Régua–Verín. De acordo com BAPTISTA et al. (1998), as características tectónicas e morfoestruturais são preponderantes para a explicação da génese das ocorrências hidrominerais, devido à criação de zonas de maior permeabilidade por fracturação. Geomorfologia A geomorfologia da região envolvente do sector de Granjão-Caldas do Moledo (figuras 2 e 3) é dominada pelo entalhe profundo do vale do rio Douro (e de alguns dos seus afluentes) enquadrado, a norte, pelos cumes de natureza xisto-quartzítica da serra do Marão (1415m de altitude) e, a sul, pela serra das Meadas (1141m de altitude). Nesta região, o vale do rio Douro é encaixado, excepto na área da cidade de Peso da Régua, onde se desenvolve um vale de fundo mais amplo. 152 Espinha Marques et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 1. Mapa geológico-estrutural da região de Granjão-Caldas do Moledo, Peso da Régua (base geológica adaptada de ESPINHA MARQUES et al., 2001a; base neotectónica de CABRAL & RIBEIRO, 1988). Depósitos de Cobertura (Holocénico a Plio-Plistocénico): A – aluviões actuais; terraços fluviais; Rochas Metassedimentares (Paleozóico inferior): De – Formação de Desejosa (Complexo XistoGrauváquico) do Grupo do Douro, Ord – Xistos argilosos, ardosíferos e quartzito ‘Armoricano’; Granitóides (sin a tardi-fase D3 varisca): γCi - granito de Cidadelhe (grão médio a fino, moscovítico e turmalínico), γVal - granito de Valdigem (grão médio a fino, moscovítico e turmalínico), γBar - granito de Barro (porfiróide de grão médio a fino); Filões: q – quartzo; ap – aplitopegmatito e/ou pegmatito. O vale do rio Douro é bastante sinuoso e encaixado, dando origem a desníveis importantes entre o leito do rio (ca. 50m de altitude) e os cumes adjacentes, dos quais se destacam os que correspondem aos v.g. de Santa Sabina (443m), de Mesquitela (729m) e de Rojão (886m). A rede de drenagem apresenta, com frequência, troços de linhas de água rectilí- neos, com inflexões súbitas, sendo numerosos os paralelismos entre conjuntos de linhas de água. Estas evidências denunciam, de imediato, um forte controlo estrutural regional. O trajecto das linhas de água é amiúde, paralelo aos alinhamentos dos vários ramos da falha de Régua–Verín, facto especialmente evidente no troço final do rio CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Corgo, na ribeira da Meia-Légua e em certos segmentos da ribeira da Seromenha. As encostas, junto do rio Douro e de alguns dos afluentes, tendem a ser rectilíneas e bastante inclinadas (por vezes >40º de declive) — Espinha Marques (2001). Segundo BRUM FERREIRA (1978), podem-se definir vários níveis de aplanamento para esta área, embora a dissecação muito densa tenha reduzido, na generalidade, as superfícies aplanadas a estreitos interflúvios. Para este retalhamento também contribui o facto deste sector ser densamente tectonizado, donde resulta a movimentação vertical das superfícies aplanadas. Deste modo, poderá relacionar-se o topo aplanado das elevações acima dos 800 metros com o nível da superfície fundamental definido pelos cimos dos planaltos do Norte da Beira (BRUM FERREIRA, 1978). Abaixo desta superfície definem-se vários níveis de aplanamento, dos quais se destacam os níveis ligados ao encaixe do rio Douro: o nível dos 600-650 metros (Moura Morta); o nível dos 350-400 m (Cidadelhe) e o nível dos 200-250 metros (Mesão Frio). Saliente-se que o autor citado refere que os níveis de aplanamento no Complexo XistoGrauváquico são bem definidos, a oriente de Mesão Frio, por contraste com a geomorfologia do maciço granítico da região de Amarante–Mesão Frio. O vale da ribeira da Seromenha, onde se localiza a nascente do Poço Quente, apresenta dois tipos de perfil topográfico distintos. Assim, na área granítica, o rio tem um traçado rectilíneo num vale profundo e em V apertado, enquanto que nos xistos forma um vale ligeiramente mais largo e o curso de água segue um traçado Nascente termal do Poço Quente 153 sinuoso. Neste local, verifica-se que, no fundo do vale talhado nos granitos, se desenvolve um nível aplanado antigo, ao qual se seguiu o encaixe actual. Para a explicação deste aplanamento residual e da posterior ruptura no perfil longitudinal, concorrem, pelo menos, três razões: i) um abaixamento do nível de base da ribeira (no caso, o rio Douro), ii) a manifestação do fenómeno de erosão diferencial, uma vez que o nível de aplanamento não se define nos xistos, e iii) movimentação neotectónica recente que tenha motivado a ruptura do perfil. O sector terminal desta ribeira parece ser condicionado tectonicamente, já que é concordante com a direcção média da falha de Régua–Verín e está na continuidade de um importante alinhamento tectónico (vale da ribeira de S. Martinho, homólogo da ribeira da Seromenha) e desnivelamento topográfico existentes na margem esquerda do rio Douro. Unidades geológicas regionais Na região envolvente do sector de Granjão–Caldas do Moledo — em tempos conhecida como Caldas do Granjão (MACHADO, 1973) — (figuras 1 e 3) ocorrem, fundamentalmente, rochas metassedimentares de natureza turbidítica, de idade câmbrica inferior, enquadradas no “Complexo Xisto-Grauváquico” (Formação de Desejosa) do Grupo do Douro (BERNARDO DE SOUSA, 1982, 1983; BERNARDO DE SOUSA & SEQUEIRA, 1989). As rochas metassedimentares constam de metapelitos que apresentam, localmente, cor cinzenta clara a escura, alternando com níveis metapsa- 154 Espinha Marques et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 2. Esboço morfoestrutural da região de Granjão-Caldas do Moledo (base neotectónica adaptada de BAPTISTA, 1998). míticos esbranquiçados, exibindo o conjunto um aspecto listrado. Foram também reconhecidos níveis de rochas calcossilicatadas. A unidade metapelítica apresentase, em regra, como um conjunto muito homogéneo, monótono, e exibe uma fissilidade muito acentuada. Foi identificado um afloramento granítico, cartografável, que se estende pelo vale da ribeira da Seromenha (próximo da CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Nascente termal do Poço Quente 155 Figura 3. Esboço geológico do sector de Granjão-Caldas do Moledo (adaptado de ESPINHA MARQUES, 2001a). localidade de Cidadelhe), ao longo de ca. 1500 m, com uma largura que chega a atingir 200 m (ESPINHA MARQUES, 2001; ESPINHA MARQUES et al., 2001a,b). A presença deste granitóide não se encontra assinalada na cartografia geológica publicada (cf. FERNANDES, 1944; TEIXEIRA et al., 1967). Há, contudo, uma breve referência feita por FERNANDES (1944), a um pequeno afloramento (600m2) granitóide na área de Cidadelhe. O granitóide de Cidadelhe é de grão médio a fino, moscovítico e com turmalina. Mostra aspectos que apontam tratar-se de um granitóide algo evoluído, em termos geoquímicos, tais como o desenvolvi- 156 Espinha Marques et al. mento de moscovite, de turmalina e de feldspato potássico. Esta fácies apresenta características petrográficas similares às descritas para os granitos de Valdigem (TEIXEIRA et al., 1967) e de Favaios (BERNARDO DE SOUSA & SEQUEIRA, 1989). A observação em lâmina delgada do granitóide de Cidadelhe revelou que a mineralogia essencial é composta por quartzo, moscovite, microclina e clorite; acessoriamente, contém sericite, zircão, apatite e turmalina. O granitóide de Cidadelhe encontra-se associado espacialmente a alinhamentos tectónicos de orientação geral NNE-SSW e WNW-ESE, sugerindo tratar-se de um granitóide tardi a pós-tectónico, segundo a classificação proposta por FERREIRA et al. (1987). Encontra-se, em curso, uma caracterização geoquímica e geocronológica de pormenor que permitirá, concerteza, refinar o quadro geodinâmico da instalação deste granitóide e das rochas filonianas associadas. O contacto com o encaixante metassedimentar é brusco, tectónico, e observamse com frequência, junto deste, corneanas metapelíticas mosqueadas. Ocorrem, ainda, neste sector, numerosos filões e massas aplitopegmatíticas e pegmatíticas, instaladas em zonas de fractura na unidade metassedimentar. Tectónica Foram efectuados estudos preliminares relativos à geologia estrutural regional e local, com ênfase nos aspectos relacionados com as descontinuidades, tendo em vista definir a compartimentação do maciço rochoso e conseguir uma melhor compreensão da circulação das águas subterrâneas. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Assim, procedeu-se a um levantamento estrutural das descontinuidades principais (e.g., estratificação, xistosidade, diáclases e falhas). As superfícies de estratificação têm, em geral, inclinação inferior a 20º e uma direcção variável. A xistosidade regional apresenta, quase sempre, uma atitude sub-paralela à da estratificação. O diaclasamento no Complexo XistoGrauváquico (CXG) é predominantemente normal à xistosidade regional. As fendas de tracção são normalmente preenchidas por quartzo e são relativamente comuns nas bancadas metagrauváquicas. Recorrendo à fotografia aérea, à topografia e a um modelo digital de terreno, foi possível identificar os principais lineamentos estruturais regionais. Efectuou-se, ainda, um levantamento, em diversos taludes e afloramentos, das atitudes de diáclases e falhas através da técnica de amostragem linear (e.g., CHAMINÉ & GASPAR, 1995). Estas descontinuidades definem uma família principal de direcção N0ºE a N30ºE; regista-se, ainda, a existência de uma outra família, com menor número de observações, de orientação média N135ºE a N150ºE. A direcção das descontinuidades NNE-SSW é próxima da orientação da zona da falha de Régua–Verín. HIDROGEOLOGIA HIDROGEOQUÍMICA E Ocorrência da nascente termal do Poço Quente Foi inventariada uma nascente de água termal — designada pelo topónimo local pelo qual é conhecida, i.e., nascente do Poço Quente (próximo da Quinta da Esperança) situada a cerca de 800m para CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) NW do estabelecimento termal de Caldas do Moledo e a, aproximadamente, 300m para NNE da ponte de Granjão, a ca. 80m de altitude (figura 3). Neste sector, as descontinuidades de orientação NNE-SSW (subconcordantes com a falha de Régua–Verín) a NW-SE (subparalelas ao megacisalhamento de Vigo–Régua), contribuem, localmente, para o controlo do transporte dos fluidos hidrominerais até à superfície. Este controlo poderá, ainda, depender da estrutura maior — de orientação média E-W, denominada neste trabalho como falha do rio Douro (SEIFERT, 1967, 1969; SEIFERT & VICENTE, 1968; CARVALHO & SILVA, 1988) — assim como das descontinuidades que lhe são subparalelas, as quais compartimentam o maciço rochoso na encosta norte do vale do Douro. Deste modo, a falha do Douro funcionaria como estrutura hidrogeológica actuando como barreira, contribuindo para a ascensão dos fluidos hidrominerais. Outras estruturas hidrogeológicas são aquelas relacionadas com a ocorrência de rochas granitóides com o seu cortejo de filões e massas aplitopegmatíticas. O granito de Cidadelhe cartografado por ESPINHA MARQUES et al. (2001a), e as massas graníticas referenciadas por SEIFERT (1967, 1969) no sector de Caldas do Moledo são exemplos destas ocorrências. O quadro geológico-estrutural local denuncia um forte controlo litotectónico da circulação hidrogeológica. Assim, a nascente do Poço Quente encontra-se associada a um nó tectónico materializado pela intersecção de uma rede de descontinuidades com orientações médias NW-SE, NNE-SSW e E-W. O enquadramento geotectónico local é, ainda, caracterizado pela Nascente termal do Poço Quente 157 proximidade do limite geológico entre as rochas metassedimentares (CXG) e o granitóide de Cidadelhe. A emergência ocorre através da superfície de contacto entre os metassedimentos e um filão aplitopegmatítico com uma possança que ronda 1,5m, e com atitude de N80ºE;60ºSE. Aquele contacto apresenta indícios de movimentação tectónica materializados pela existência de estrias de deslizamento sub-horizontais. A temperatura desta nascente é de 22,9ºC e o caudal foi avaliado em ca. 1l/s. Esta nascente classifica-se como termal, de acordo com o critério de SCHOELLER (1962, 1982), segundo o qual a temperatura de uma água termal deverá superar em 4ºC a temperatura média do ar da região (ca. 15ºC, neste caso). Amostragem e métodos analíticos Os trabalhos de campo tiveram como objectivo a colheita de amostras quer de águas subterrâneas normais (provenientes de nascentes) quer de águas termominerais (provenientes de nascentes ou de furos de captação) na região em estudo. Durante a colheita procedeu-se, in situ, à determinação da temperatura (ºC), da condutividade eléctrica (μS/cm) e do pH, de todas as águas amostradas. No Laboratório de Mineralogia e Petrologia do Instituto Superior Técnico (LAMPIST) determinaram-se as concentrações dos elementos maiores através das seguintes técnicas analíticas: espectrofotometria de absorção atómica para o Ca e Mg; espectrofotometria de emissão para o Na, K e Li; métodos colorimétricos para a sílica e F; cromatografia iónica para o Cl, NO3 e SO4; potenciometria para o HS, HCO3 e CO3. 158 Espinha Marques et al. As determinações dos valores δ18O e nas águas foram efectuadas no Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN) segundo os métodos analíticos descritos por EPSTEIN & MAYEDA (1953) e FRIEDMAN (1953), respectivamente, sendo expressos na notação δ (desvio em permilagem relativamente ao padrão internacional V-SMOW). As análises de 3H foram, igualmente, efectuadas no ITN, utilizando-se a técnica de enriquecimento electrolítico e posterior medição das taxas de contagem por cintilação líquida. Os valores de 3H estão expressos em Unidades de Trítio (TU). δ2H Caracterização hidrogeoquímica Nos últimos anos, temos vindo a dar especial atenção à caracterização hidrogeoquímica das águas termominerais das Caldas do Moledo (ESPINHA MARQUES, 2001; MARQUES et al., 1998, 2000a,b, 2003). Neste contexto, águas subterrâneas normais e termominerais locais, provenientes de diversas nascentes e furos de captação, têm vindo a ser amostradas para caracterização geoquímica e isotópica (tabelas 1 e 2). Conforme referido anteriormente, no decorrer de trabalhos de campo efectuados recentemente, procedeu-se à identificação de uma nascente termal (Poço Quente) localizada na área do Granjão. Estas águas termais apresentam temperatura de emergência de ≈22.9ºC, e são caracterizadas por: i) pH = 6.7, ii) condutividade eléctrica ≈ 340 μS/cm, iii) HCO3 é o anião dominante, iv) Na é o catião dominante, v) valores de sílica elevados (SiO2 ≈ 45 mg/l), vi) presença de F (até 5 mg/l). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) As águas termais do Poço Quente apresentam temperatura de emergência praticamente constante ao longo de todo o ano, temperatura esta bastante superior à temperatura média anual da região (≈15ºC). Este facto corrobora a ideia de que as águas da nascente Poço Quente deverão ser encaradas como manifestações superficiais de um sistema hidrogeológico de características termais. No entanto, quando comparadas com as águas termominerais das Caldas do Moledo (furos AC1 e AC2), as águas termais do Poço Quente apresentam características geoquímicas distintas, nomeadamente (ver tabela 1): i) temperatura inferior. ii) pH mais baixo, iii) valores de Na, Li, F e HCO3 inferiores, iv) valores de K, Ca, Mg, SO4 e NO3 mais elevados; v) ausência de espécies reduzidas de enxofre (HS) Conforme indicado pela fácies HCO3Na, ao quimismo das águas termais do Poço Quente deverá estar associada a interacção água-rocha granitóide. De facto, a presença de F nestas águas deverá ser encarada como o resultado da interacção com alguns dos minerais (apatite e turmalina) presentes nas rochas granitóides da região. A ausência de espécies reduzidas de enxofre nestas águas deve ser encarada como uma das principais assinaturas químicas para as distinguir das águas termominerais das Caldas do Moledo. A localização geográfica e o enquadramento geológico da nascente Poço Quente sugerem a possibilidade de existir alguma correlação hidrogeológica com as águas termominerais das Caldas do Moledo. De Tabela 1. Características físico-químicas de águas termominerais e águas subterrâneas normais do sector de Granjão-Caldas do Moledo. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Nascente termal do Poço Quente 159 160 Espinha Marques et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Tabela 2. Composição isotópica das águas termais e normais da área das Caldas do Moledo. facto, conforme podemos observar através da análise da tabela 1 e dos diagramas de Stiff e Piper da figura 4, as águas da nascente Poço Quente apresentam algumas características químicas (e.g., concentração em K, Ca, Mg, SO4 e Cl) semelhantes às águas da nascente termal Fresca (Caldas do Moledo). Conforme referido por MARQUES et al. (2003), as águas da nascente termal Fresca apresentam leves indícios de contaminação antrópica. Segundo MARQUES et al. (2003), na área em estudo, as águas normais que apresentam maiores concentrações em K, Ca e Cl, são igualmente caracterizadas por valores de SO4 e NO3 elevados (as águas da nascente Outeiro são um bom exemplo desta tendência). Tal facto não é de estranhar dado que o K, Ca, Cl, SO4 e NO3 são os principais componentes dos fertilizantes e pesti- cidas utilizados na região para fins agrícolas (cultura da vinha) relacionados com a produção do Vinho do Porto. Assinaturas isotópicas (18O, 2H e 3H) A geoquímica isotópica apresenta-se como uma ferramenta hidrológica extremamente importante para, conjuntamente com a informação proveniente de outras áreas de investigação (e.g., geoquímica convencional, geologia, geomorfologia e tectónica), possibilitar a elaboração de um modelo hidrogeológico consistente, o qual constitui a base para o planeamento de futuras campanhas de pesquisa e captação, assim como para a elaboração de planos de desenvolvimento de qualquer recurso hidromineral. Os isótopos ambientais podem, igualmente, contribuir para a resolução de questões ligadas à CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Nascente termal do Poço Quente 161 (a) (b) Figura 4. Diagramas de Piper (a) e de Stiff (b) de algumas águas subterrâneas do sector de GranjãoCaldas do Moledo. 162 Espinha Marques et al. exploração sustentável dos recursos hídricos subterrâneos, nomeadamente no que respeita à utilização cuidada e à protecção deste tipo de georrecurso (envolvendo quer a quantidade quer a qualidade de água utilizada). Por exemplo, o conhecimento dos processos de recarga das águas termominerais é extremamente importante para a prevenção da deterioração da sua qualidade causada pela poluição. Os isótopos ambientais mais utilizados são o oxigénio-18 (18O), o deutério (2H) e o trítio (3H). Os dois primeiros isótopos (estáveis) são utilizados como traçadores naturais em problemas relacionados com a origem das águas e com os respectivos sistemas de fluxo subterrâneo, enquanto que o isótopo radioactivo (3H) é utilizado em questões relacionadas com a dinâmica dos sistemas de fluxo subterrâneo e, conjuntamente com os isótopos estáveis, pode ter um papel importante na avaliação da existência de mistura entre águas profundas e águas meteóricas de infiltração recente. Procura-se demonstrar a aplicabilidade das técnicas da geoquímica isotópica na resolução de questões de índole hidrogeológica. Esta forma de abordar a questão pretendeu possibilitar a identificação das potencialidades (e limitações) da utilização das técnicas isotópicas na resolução de problemas específicos. É de salientar o facto de as técnicas isotópicas poderem proporcionar uma abordagem independente na resolução de determinado problema hidrogeológico. No entanto, devemos estar conscientes de que estas técnicas são apenas uma das inúmeras ferramentas hoje disponíveis, e a sua utilização em paralelo com outras disciplinas foi, certamente, bastante mais proveitosa. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Neste capítulo, e recorrendo à utilização conjunta da geoquímica convencional e isotópica, abordar-se-á a possibilidade de as águas termais do Poço Quente serem encaradas como manifestações superficiais de um sistema hidrogeológico caracterizado por um processo de mistura entre águas termominerais (tipo Caldas do Moledo) e águas normais da região. A aplicabilidade dos isótopos ambientais (18O, 2H e 3H) como traçadores do fluxo de águas subterrâneas, e a sua sensibilidade a processos tais como a evaporação, a mistura e diluição torna-os excelentes indicadores dos fenómenos geoquímicos. Conforme se pode observar através da análise da figura 5, os valores δ18O e δ2H das águas termais do Poço Quente projectam-se sobre a recta das águas meteóricas mundiais (δ2H = 8 δ18O+10) definida por CRAIG (1961), indicando tratar-se de águas meteóricas que sofreram um processo de infiltração rápido no subsolo. Não se observa qualquer desvio na composição isotópica destas águas que sugira a existência de qualquer fenómeno de evaporação ou de interacção água-rocha a temperaturas muito elevadas (> 80ºC). Ao compararmos a composição isotópica (δ18O e δ2H) das águas termais do Poço Quente com a composição isotópica das águas termominerais das Caldas do Moledo (figura 5) podemos concluir que as águas termais do Poço Quente apresentam-se enriquecidas em isótopos pesados (valores δ menos negativos), podendo esta tendência ficar a dever-se a: i) diferentes altitudes de recarga, ii) mistura com águas meteóricas locais, iii) um efeito paleoclimático. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Nascente termal do Poço Quente 163 Figura 5. Diagrama δ2H vs δ18O. (σ) águas termominerais das Caldas do Moledo; (μ) águas termais do Poço Quente. MARQUES et al. (2000b) determinaram o efeito de altitude na região em estudo, através da composição isotópica (δ18O) de águas normais amostradas em nascentes localizadas na área envolvente das Caldas do Moledo e nas zonas montanhosas circundantes (figura 6). Utilizando a recta de regressão linear traçada pelos pontos amostrados (figura 6) é possível concluir que a composição isotópica das águas termais do Poço Quente (δ18Omédio = -5.7o/oo) aparenta corresponder a águas meteóricas infiltradas em pontos de cota baixa (≈125m). Esta altitude de recarga é próxima da altitude de emergência das águas do Poço Quente (ca. 80m). Através da análise do diagrama da figura 7a (Cl vs 3H), as águas termais do Poço Quente (B), caracterizadas por valores 3H consideráveis, encontram-se projectadas entre dois extremos (A) e (C) de uma possível recta de mistura: (A) águas termominerais das Caldas do Moledo (furos AC1 e AC2; nascentes Lameira 30 e Fresca), (C) água normal local (nascente de Outeiro, a qual se situa a ca. 160m de altitude). No entanto, esta tendência de mistura não é observada nos diagramas da figuras 7b e 7c. Conforme podemos observar, as águas termais do Poço Quente não apresentam valores δ18O e δ2H compatíveis com este modelo de mistura. A haver mistura, a composição isotópica das águas normais locais (representada pela nascente Outeiro) deveria apresentar valores δ18O da ordem de –4.5o/oo . Tais valores não são compatíveis com o efeito de altitude encontrado na região (figura 7), o qual é condicionado por factores climáticos locais. Deste modo, as águas termais do Poço Quente devem ser encaradas como estando associadas a um sistema hidrogeológico distinto do das Caldas do Moledo, caracterizado por recarga e circulação local. Os valores de 3H e Cl apresentados 164 Espinha Marques et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 6. Relação dos valores δ18O com a altitude dos locais de amostragem (segundo MARQUES et al., 2000b). (υ) águas subterrâneas normais locais. pelas águas termais do Poço Quente requerem: i) uma circulação relativamente mais profunda que a das águas normais locais (para explicar o decaimento do 3H) e ii) que a interacção água-rocha seja igualmente dominada pela presença de rochas metassedimentares locais (para explicar os valores de Cl). Uma explicação alternativa para a diferença encontrada na composição isotópica das águas termominerais das Caldas do Moledo e do Poço Quente poderia ser um efeito paleoclimático. Segundo IAEA (1983) paleoáguas são águas relacionadas com ciclos hidrológicos associados a condições ambientais diferentes das actuais. Os aquíferos recarregados no decorrer dos episódios pluviais ocorrentes em condições ambientais mais frias e húmidas são caracterizados por valores δ18O e δ2H mais negativos, quando comparados com a composição isotópica da precipitação actual (IAEA, 1983). Por um lado, as águas termais do Poço Quente apresentam valores de 3H consideráveis indicando recarga actual (posteriormente aos primeiros ensaios termonucleares), enquanto que as águas termominerais das Caldas do Moledo (furos AC1 e AC2) são caracterizadas pela ausência de 3H muito baixos e por uma idade aparente da ordem dos 15.66 ± 2.86 x 103 anos, estimada com base nos valores de 14C e δ13C determinados no carbono total inorgânico dissolvido (MARQUES et al., 2003). De referir que, quer as águas termais do Poço Quente quer as águas termominerais das Caldas do Moledo apresentam composição isotópica (δ18O e δ2H) semelhante à das águas meteóricas actuais da região (MARQUES et al., 2003), pelo que a possibilidade de existência de um efeito paleoclimático não nos parece muito plausível. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Nascente termal do Poço Quente 165 Figura 7. Relações 3H vs Cl (a), δ18O vs Cl (b) e δ2H vs Cl (c) para as as águas em estudo. (σ) águas termominerais das Caldas do Moledo; (μ) águas termais do Poço Quente; (υ) águas subterrâneas normais locais. A tracejado apresentam-se os domínios correspondentes às águas subterrâneas normais locais, compatíveis com um hipotético modelo de mistura. 166 Espinha Marques et al. UM MODELO CONCEPTUAL DE CIRCULAÇÃO Os resultados dos estudos geológicos, hidrogeoquímicos e isotópicos realizados na área do Granjão–Caldas do Moledo tornaram possível a elaboração de um modelo hidrogeológico conceptual associado às águas termais do Poço Quente. Este modelo é baseado na interpretação dos resultados provenientes da abordagem multidisciplinar adoptada. De acordo com o modelo delineado, a ocorrência da nascente termal do Poço Quente é fortemente condicionada pelo seu enquadramento geotectónico, especialmente no que respeita, à existência de um nó tectónico definido pelas principais descontinuidades estruturais localmente presentes, as quais incluem o contacto litotectónico entre as rochas granitóides e as rochas metassedimentares. A circulação hidromineral nas zonas de recarga e de descarga faz-se, fundamentalmente, através de rochas metassedimentares. Os estudos geológicos e tectónicos regionais permitem colocar a hipótese de a circulação hidromineral ser, ainda, controlada por rochas filonianas (aplitopegmatíticas e/ou pegmatíticas). O reservatório estará, provavelmente, instalado em rochas graníticas, tais como o granitóide de Cidadelhe, agora reconhecido e cartografado. Esta hipótese surge, igualmente, quando se consideram as características químicas destas águas, bastante semelhantes às que ocorrem em aquíferos graníticos noutros sistemas hidrominerais, na zona de falha de Régua–Verín. Os dados hidrogeoquímicos (valores de Cl) e isotópicos (valores δ18O e δ2H) sugerem que a possibilidade de ocorrência de CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) mistura entre águas termominerais de circulação profunda e águas subterrâneas normais locais deverá ser encarada com algumas restrições. Por outro lado, os resultados isotópicos (δ18O e δ2H) apontam para o facto de as águas termais do Poço Quente resultarem de águas meteóricas locais infiltradas em pontos de cota baixa, relativamente próximos da zona de emergência. Deste modo, o percurso subterrâneo deverá ser relativamente profundo e demorado, por forma a explicar a menor actividade em 3H apresentada por estas águas termais, comparativamente às águas normais locais. O quadro 1 apresenta uma comparação entre diversos sistemas hidrominerais do Norte de Portugal: Poço Quente, Caldas do Moledo, Caldas do Carlão, Caldas de S. Lourenço e Caldas de Aregos (figura 8). Para tal efeito, consideraramse as litologias ocorrentes na zona de descarga, o enquadramento tectónico, a temperatura máxima registada nas emergências termominerais e o quimismo dos respectivos fluidos. Constata-se que o sistema hidrogeológico do Poço Quente é mais semelhante aos restantes no que respeita ao enquadramento geotectónico do que quanto ao quimismo dos fluidos termominerais. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo permitiu apresentar um quadro morfoestrutural e hidrogeológico actualizado do sector do Granjão– Caldas do Moledo, bem como tecer as principais implicações do mesmo sobre o sistema hidrogeológico do Poço Quente. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Nascente termal do Poço Quente 167 Figura 8. Principais ocorrências de águas termominerais no Norte de Portugal (a) e enquadramento geotectónico do sector de Granjão-Caldas do Moledo (b) (adaptado de ESPINHA MARQUES et. al., 2001a). As investigações relacionadas com as águas termais do Poço Quente têm vindo a ser efectuadas no contexto do desenvolvimento de um modelo conceptual para este sistema hidrogeológico (MARQUES et al., 2003; ESPINHA MARQUES et al., 2001b, in press), modelo este que se tem vindo a aperfeiçoar à medida que informação adicional vai sendo obtida. Cada fase de investigação tem envolvido um deter- Quadro 1. Principais características de alguns sistemas hidrominerais do Norte de Portugal (dados extraídos de CARVALHO, 1996a, b; IGM, 1999; MARQUES et al., 2000a, b; ESPINHA MARQUES et al. 2001a,b). 168 Espinha Marques et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) minado número de operações para obter, processar e interpretar os dados de campo e de laboratório, com pormenor correspondente ao grau de conhecimento alcançado. O modelo hidrogeológico conceptual proposto para as águas termais do Poço Quente, aponta para um forte controlo morfoestrutural desta nascente. A sua ocorrência está claramente associada a um nó tectónico definido por descontinuidades subparalelas às grandes estruturas regionais (a falha de Régua-Verin e o megacisalhamento Vigo-Régua) e, adicionalmente, à falha do Douro e às superfícies de contacto (frequentemente tectónicas) entre as rochas metassedimentares do CXG e as rochas ígneas (granito de Cidadelhe e filões aplitopegmatíticos associados). O fluxo da recarga e da descarga deste sistema hidrogeológico ocorre, fundamentalmente, através de descontinuidades existentes nas rochas metassedimentares ou através de estruturas litotectónicas associadas ao contacto, já referido, entre rochas granitóides e metassedimentares. Por sua vez, o reservatório do sistema está instalado em rochas granitóides (e.g., granito de Cidadelhe). As assinaturas geoquímicas e isotópicas das águas termais do Poço Quente foram utilizadas por forma a compreender a origem destas águas, as potenciais áreas de recarga e o sistema de fluxo subterrâneo. As diferenças geoquímicas e isotópicas encontradas entre as águas termais do Poço Quente e as águas termominerais das Caldas do Moledo levam-nos a colocar a hipótese de estarmos na presença de sistemas hidrogeológicos distintos, sem conectividade em profundidade. Os valores δ18O e δ2H das águas termais do Poço Nascente termal do Poço Quente 169 Quente apontam para altitudes de recarga inferiores às das águas das Caldas do Moledo. Os valores de 3H associados às águas termais do Poço Quente, mais elevados que os associados às águas termominerais das Caldas do Moledo deverão ser encarados como o resultado de um percurso subterrâneo mais curto e menos demorado. A possibilidade de as águas termais do Poço Quente poderem ser o resultado de mistura entre águas profundas e superficiais parece ser de excluir. Os valores δ18O e δ2H associados às águas termais do Poço Quente não são compatíveis com este modelo de mistura. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Junta de Turismo de Caldas do Moledo–Régua por toda a disponibilidade demonstrada. Este estudo recebeu apoio do Centro de Geologia da Universidade do Porto, do projecto MODELIB/ FCT (POCTI/ 35630/ CTA/ 2000- FEDER) e de uma bolsa de pósgraduação (SFRH/BPD/ 3641/ 2000, Aveiro) para HIC. Aos Drs. Eduardo Carvalho, Carla Ribeiro, José Teixeira e Cristiano Veloso pelo apoio na execução das ilustrações. As trocas de impressões sobre a temática com os Professores J. A. Simões Cortez (FEUP, Porto) e L. C. Gama Pereira (FCTUC, Coimbra) foram fundamentais para consolidar algumas ideias expressas neste trabalho. Agradece-se à Dra. Maria José Afonso (ISEP, Porto) a leitura crítica ao manuscrito original. Recibido: 7-VII-03 Aceptado: 20-VIII-03 170 Espinha Marques et al. REFERÊNCIAS ACCIAIUOLI, L.M.C. (1949/50). Bibliografia hidrológica do império Português. Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos. 2 volumes. Lisboa. 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It is located in a complex geotectonic domain of the Iberian Massif, between the Porto–Albergaria-a-Velha–Tomar shear zone and the Douro-Beira Carboniferous trough. The region is characterized by the prevailing Variscan granitic rocks, which are two-mica granitoids, with medium grain and granular texture (Porto Granite) or porphyritic (Ermesinde Granite). The regional fracture study allowed to define preferential orientations: NW-SE are dominant, and more discreetly, NE-SW, while the predominant dip of the discontinuities is vertical to subvertical. The granitic rocks weathering in this region results in arenization, which may reach depths of more than 100 m. In geomorphological framework, the region corresponds to a wide flat area dipping gently to South and West. The drainage net reveals a structural control, which imposed morphostructural features to the region. The main water line is the Leça River, whose general orientation is NE-SW. In the climatological study it was determined the annual average values of precipitation and temperature in the region, which correspond to 1151.5mm and 14ºC, respectively. This study also enabled an evaluation of the effective evapotranspiration, which is 612.6mm/year. The infiltration rate was evaluated as 7% and the renewable underground hydric resources were estimated as 16x106m3/year, which corresponds to 2.7 l/s/km2. In the hydrodynamic analysis it is shown water productivity of wells, which led to a mean value of 1.7 l/s. Through pumping tests, the values of transmissivity and storage coefficient were estimated, which are in the ranges 1 to 46 m2/d and 10-6 to 10-2, respectively. These parameters allowed delineating a hydrodynamic model suitable to the granitic fractured media. Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 173-192 The hydrogeochemical study allowed verifying that local ground waters show significant mineralization (conductivity values between 427 and 489 μS/cm) and pH around 6. The mineralization of the waters is essentially controlled by the concentration of the rainwater evaporation. Nevertheless, the contribution of the silicates hydrolisis and of the artificial introduction of some salts due to human activity should not be neglected. The ground waters are mainly positioned in the sodium chloride and calcium chloride facies. Concerning groundwater contamination, it was detected a great number of contaminant sources in this kind of urban environment. The analysis of the water quality for human use revealed that these waters are generally admissible, although the contents of nitrate are sometimes high. The use of these waters for agriculture offers a low danger of alkalization and a medium to low danger of salinization of the soil. In terms of water vulnerability to pollution, the region fits in a low to medium vulnerability class. Key words: Porto granitic rocks, hydrogeology, hydrochemistry, NW Portugal (1) Departamento de Engenharia Geotécnica, Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP). Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 431, 4200-072 Porto, Portugal, e Centro de Minerais Industriais e Argilas da Universidade de Aveiro ([email protected]) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) INTRODUÇÃO Este trabalho teve como principal objectivo contribuir para um melhor conhecimento dos recursos hídricos subterrâneos em formações graníticas na parte portuguesa do Maciço Ibérico. Neste estudo de síntese, apresentam-se os resultados de um trabalho de investigação de maior dimensão sobre a região do Porto (AFONSO, 1997). Com efeito, a investigação na área em estudo prossegue, actualmente, centrando-se na temática da hidrogeologia ambiental e recursos hídricos da região do grande Porto–S. João da Madeira (AFONSO, 2003). O sector estudado reporta-se à região do Porto (NW de Portugal), ocupando uma área de ca. 190 km2 limitada a Sul pela parte terminal da foz do rio Douro e a Oeste pela faixa litoral do Oceano Atlântico (figura 1). Os meios fracturados graníticos, face às suas características geológicas e estruturais, caracterizam-se por uma elevada heterogeneidade e anisotropia, as quais colocam enormes dificuldades ao desenvolvimento e à gestão dos recursos hídricos. A identificação de descontinuidades, como contactos geológicos, filões e falhas, bem como o estudo da alteração, são de vital importância na investigação destas formações cristalinas. Enquanto que a alteração controla o fluxo na parte superior do maciço, funcionando esta zona como reservatório, as descontinuidades actuam como um sistema colector responsável pela circulação profunda (e.g., CARVALHO, 1984; CARVALHO et al., 1985; PEREIRA, 1992, 1999; CHAMINÉ et al., 1999; CARVALHO & CHAMINÉ, Hidrogeologia de rochas graníticas 175 2000; CARVALHO, 2001; AIRESBARROS & MARQUES, 2003). ENQUADRAMENTO GEOLÓGICOESTRUTURAL E GEOMORFOLÓGICO REGIONAL A região do Porto localiza-se (figura 1) num domínio geotectónico complexo do Maciço Ibérico (MI), i.e., entre os terrenos da faixa de cisalhamento de Porto– Albergaria-a-Velha–Tomar e o Sulco Carbonífero Dúrico-Beirão (CHAMINÉ, 2000; PINTO DE JESUS, 2001). O sector estudado situa-se, assim, ao longo da sutura com direcção geral NNW–SSE — faixa de cisalhamento de Porto–Tomar (Zona de Ossa-Morena) — que contacta com a Zona Centro-Ibérica (LOTZE, 1945; RIBEIRO et al., 1979, 1990b). O conjunto anterior faz parte do megadomínio de cisalhamento de Porto–Tomar–Ferreira do Alentejo (CHAMINÉ, 2000; CHAMINÉ et al., 2000; RIBEIRO et al., 2003). No MI a evolução tectónica posterior é imposta pela orogenia Alpina (e.g., RIBEIRO et al., 1979, 1990a; CABRAL, 1995; RIBEIRO, 1988, 2002) correspondendo à reactivação das falhas tardi-variscas e como consequência estará na origem dos actuais traços morfoestruturais da região (ARAÚJO, 1991; GOMES & BARRA, 2001). A presença de alguns depósitos plio-quaternários, discordantes sobre o substrato ante-Mesozóico, representará ou o testemunho do arrasamento do relevo e modelação da superfície do MI, ou o entalhe da rede hidrográfica actual (MARTÍNSERRANO, 1994). A região do Porto é caracterizada, em traços muito gerais, pela dominância de rochas graníticas de idade 176 Coxito Afonso, M. J. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 1. Enquadramento geológico da região do grande Porto (muito simplificado de OLIVEIRA et al., 1992). varisca e/ou pré-varisca (e.g., SERRANO PINTO et al., 1987; PEREIRA et al., 1989; CHAMINÉ et al., 1998; CHAMINÉ, 2000; NORONHA & LETERRIER, 2000), sendo estas, maioritariamente, granitóides de duas micas, de grão médio e textura granular (fácies granítica do Porto; segundo ALMEIDA (2001) tem uma idade de 318 Ma) ou porfiróide (fácies granítica de Ermesinde). Na sistematização proposta por FERREIRA et al. (1987) o granitóide do Porto (s.l.) enquadra-se num CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) granito sin-tectónico relativamente à 3ª fase da orogenia Varisca, tendo sido individualizados corpos granitóides na região incluídos quer na categoria de pré-tectónicos a variscos precoces quer na categoria de pós-tectónicos. O granito do Porto aflora em grande parte da cidade do Porto, estendendo-se ainda para os concelhos de Vila Nova de Gaia, Matosinhos e Maia, contactando, a Leste, com uma extensa mancha de rochas metassedimentares (tradicionalmente incluída no “Complexo XistoGrauváquico”; cf. CARRÍNGTON DA COSTA & TEIXEIRA, 1957) e, a Oeste–Sudoeste, com uma série de unidades tectonoestratigráficas de médio a alto grau metamórfico típicas da ZOM (CHAMINÉ, 2000; NORONHA & LETERRIER, 2000; CHAMINÉ et al., 2003). Uma parte da região está ocupada por depósitos de cobertura de idade holocénica e/ou plistocénica (depósitos aluvionares, areias de praia e de duna actuais), e de idade plio-plistocénica (depósitos de praias antigas e de terraços fluviais) — vide ARAÚJO (1991, 1997), SOARES DE CARVALHO (1992). Em termos de fracturação regional, as orientações dominantes são do quadrante NW-SE e, de uma forma mais discreta, encontram-se também as de direcção média NE-SW, predominando em termos de inclinação as descontinuidades verticais a subverticais. A análise da alteração permitiu constatar que o resultado da meteorização das rochas graníticas da região é frequentemente patenteada pela arenização e/ou decomposição do maciço (cf. BEGONHA & BRAGA, 1995; BEGONHA, 2001), que pode alcançar profundidades de mais de 100 m. Estes produtos de meteorização são Hidrogeologia de rochas graníticas 177 caracterizados por um esqueleto essencialmente constituído por minerais primários (quartzo, feldspato potássico e micas) e uma fracção argilosa dominantemente do tipo caulinite e gibsite. Estes dois minerais revelam uma elevada evolução mineralógica e conferem uma boa drenagem interna do maciço. Do ponto de vista geomorfológico, o sector estudado está enquadrado no MI (RIBEIRO, 1988; ARAÚJO, 1991), correspondendo a uma vasta área aplanada (as cotas não ultrapassam em geral os 100 metros) de posição marginal relativamente à plataforma litoral (figura 2), que transita para um relevo acentuado de rebordo interior de plataforma (i.e., o relevo marginal; ARAÚJO, 1991). A organização da rede de drenagem reflecte a tectónica da área, especialmente, dos sistemas de fracturação regional (NW-SE a NNW-SSE, NE-SW a NNE-SSW e W-E; cf. CONDE, 1983; ARAÚJO, 1991; CABRAL, 1995; PEDROSA, 1998, 1999; CHAMINÉ, 2000), impondo os traços morfoestruturais à região. Assim, estas estruturas maiores produzem uma compartimentação tectónica que, por sua vez, condicionou a distribuição das linhas de água, e consoante a litologia e a estrutura formaram-se as redes hidrográficas, em geral, do tipo rectangular e/ou dendrítico. A linha de água principal na região em estudo é o rio Leça, desenvolvendo-se sobre uma plataforma ligeiramente inclinada para o Oceano Atlântico com uma orientação NE-SW. As ribeiras do Arquinho e do Leandro são dois dos tributários mais relevantes, exibindo uma orientação geral N-S. A parte terminal do rio Douro constitui outro sistema fluvial, orientando-se localmente segundo W-E. 178 Coxito Afonso, M. J. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 2. Hipsometria e rede hidrográfica da região do grande Porto. CLIMATOLOGIA Seguindo as instruções da Organização Meteorológica Mundial (OMM, 1970), a qual recomenda para áreas litorais séries de dados climáticos de pelo menos 30 anos, seleccionaram-se seis estações hidrometeorológicas: Espargo, Paços de Ferreira, Pedras Rubras, Porto, Santo Tirso e Serra do Pilar. A série escolhida para os cálculos relacionados com a precipitação correspondeu ao período 1958 a 1993, enquanto que a análise climática se refere à série 1958 a 1988, uma vez que os registos de temperatura só estavam disponíveis para este período. A densidade média das seis CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) estações é ca. 1 estação/387km2, sendo este valor mais elevado que o recomendado pela OMM para áreas planas em regiões temperadas, mediterrânicas e tropicais (SHAW, 1988). Precipitação e temperatura As características pluviométricas na região do Porto estão condicionadas, com maior incidência, pelas perturbações atmosféricas de Oeste e pelas situações depressionárias em conjunto com os fluxos marítimos, os quais mantêm ainda, nesta área próxima do oceano, as suas propriedades higrométricas (VELHAS, 1991; MONTEIRO, 1997). A altitude parece ser também responsável pela distribuição da precipitação (MONTEIRO, 1997), uma vez que a estação que apresenta o volume pluviométrico mais alto (1655.5mm) é Paços de Ferreira, a qual se encontra à cota mais elevada (320m), enquanto que a precipitação mais baixa (1165.7mm) foi registada na estação de Pedras Rubras, localizada à cota de 70m. Quanto à delimitação temporal da estação chuvosa, verificou-se que o seu corpo central é constituído pelos meses de Inverno e fim de Outono, uma vez que são os que possuem precipitações mais elevadas (em termos médios) e aqueles que mais frequentemente se apresentam como os meses mais pluviosos. Relativamente ao cálculo da precipitação média na região em estudo, este foi feito recorrendo aos métodos da média aritmética, polígonos de Thiessen e isoietas. Para a aplicação destes métodos, foram utilizadas mais quatro estações com registos de 14 anos (1979 a 1993): Boa Nova, Vila Chã, Hidrogeologia de rochas graníticas 179 Ermesinde e Leça da Palmeira. O método dos polígonos de Thiessen e o das isoietas conduziram a valores muito aproximados, 1155.1mm e 1151.5mm, respectivamente. Estes valores estão de acordo com VELHAS (1991), que aponta um valor de precipitação média anual da ordem dos 1200mm para o sector da bacia do rio Leça mais próximo do litoral. No que diz respeito à temperatura, a sua análise reportou-se ao período 1958 a 1988, para as estações de Porto, Pedras Rubras, Serra do Pilar e Paços de Ferreira, e ao período de 1958 a 1981 para a estação de Santo Tirso. O mês mais frio em todas as estações foi Janeiro, sendo o mês de Dezembro igualmente mais frio na estação de Santo Tirso; quanto ao mês mais quente, este correspondeu a Julho. O cálculo da temperatura média anual na área de estudo conduziu a um valor de 14ºC. A análise climática, resultante do cômputo entre a precipitação e a temperatura, permitiu concluir que os meses de Julho e Agosto são aqueles que apresentam as precipitações médias mais baixas e as temperaturas médias mais elevadas, pelo que constituem o período seco anual, já que o dobro da temperatura supera o volume de precipitação (HERAS, 1976 ). Adoptando o critério de classificação climática de Köppen (in STRAHLER, 1979), o clima da região em estudo inclui-se no tipo Csb (cf. MONTEIRO, 1989), o qual corresponde a um clima mediterrânico, temperado húmido, em que o mês mais frio tem uma temperatura média compreendida entre -3ºC e 18ºC, o verão é quente e seco, não se atingindo temperaturas médias superiores a 22ºC durante o mês mais quente. 180 Coxito Afonso, M. J. Evapotranspiração A evapotranspiração real foi estimada através do método sequencial mensal de Thornthwaite e Mather, do método de Coutagne e de Turc (LENCASTRE & FRANCO, 1992), para as estações de Porto, Pedras Rubras, Serra do Pilar, Paços de Ferreira e Santo Tirso. O tratamento dos dados foi processado automaticamente pelo programa CEGEVAP (ALMEIDA, 1979). Este programa permite calcular a evapotranspiração real mensal, quer usando o método de Thornthwaite, quer recorrendo aos de Turc e Coutagne, necessitando para tal dos valores de precipitação, temperatura e ainda da reserva útil. Adoptou-se o valor de 150mm para a reserva útil, o que vai de encontro aos valores estabelecidos por VELHAS (1991), que utilizou os valores de 120mm e 150mm na bacia hidrográfica do Leça. Já ABRUNHOSA (1988), num trabalho hidrogeológico sobre a bacia do Ave, adoptou 130mm; enquanto que LIMA (1994) estabeleceu o valor de 100mm, e LENCASTRE & FRANCO (1992), os quais citam os valores de 100mm e 150mm como os mais coerentes para situações idênticas às da região de Braga. A aplicação do balanço hídrico sequencial (LENCASTRE & FRANCO, 1992) às áreas de influência das cinco estações revelou a existência de um período húmido extenso, que se inicia em Outubro e se prolonga até meados de Maio, e um período seco de curta duração que vai de Junho a Setembro. A evapotranspiração real obtida através do método de Thornthwaite e Mather conduziu a um valor médio na região de 612.6 mm/ano. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Recursos hídricos subterrâneos Como objectivo de estimar os recursos hídricos subterrâneos, procedeu-se ao cálculo da infiltração eficaz, recorrendo ao método do balanço de cloretos (CUSTÓDIO & LLAMAS, 1983). Para tal, foi levada a cabo, quinzenalmente, uma recolha simultânea de água da chuva e subterrânea em cinco estações inseridas na área de trabalho, durante sete meses. O teor médio do ião cloreto na água da chuva da região foi de 6.1 ppm. Este valor está ligeiramente abaixo dos indicados por CUSTÓDIO & LLAMAS (1983) para locais perto da costa (entre 10 e 40 ppm). Nas águas subterrâneas, o teor médio em cloretos cifrou-se nos 43.9 ppm. Com base nestes resultados, obteve-se uma taxa média de infiltração eficaz de ca. 7%. Este valor poderá estar sobreavaliado, uma vez que uma grande parte da região possui uma percentagem significativa de áreas impermeabilizadas. Não obstante, esta taxa está contida no intervalo de valores médios em formações cristalinas do Norte de Portugal (CARVALHO et al., 2000). Os recursos hídricos subterrâneos renováveis foram estimados com base na área total coberta pelo estudo (190.3km2), no coeficiente de infiltração eficaz (7%) e na precipitação média anual (1151.5mm), tendo-se cifrado estes em 16x106 m3/ano, o que corresponde a 2.7 l/s/km2. HIDRODINÂMICA Produtividades O estudo da produtividade das captações na região do Porto baseou-se em 62 relatórios hidrogeológicos, correspondentes a captações do tipo furo vertical, com CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) uma profundidade média, mínima e máxima de 123m, 23m e 205m, respectivamente. A análise cuidada e a triagem de informação dos relatórios citados permitiram obter valores de caudais avaliados por ‘air-lift’ (36) e por ensaio de caudal (26). A análise dos dados permitiu retirar as seguintes conclusões: i) no que toca aos ensaios ‘air-lift’, os caudais mínimo, máximo e médio foram 0.1l/s, 8.3l/s e 1.8l/s, respectivamente, enquanto que o caudal mediano foi de 1.1l/s; ii) relativamente aos ensaios de caudal, a mediana foi de 1.3l/s, correspondendo os caudais mínimo, máximo e médio a 0.4l/s, 4.0l/s e 1.7l/s, respectivamente. Foi estabelecida a correlação entre os caudais e a profundidade, tendo-se concluído que esta era nula. Parâmetros hidráulicos A condutividade hidráulica (K) foi avaliada com base em ensaios de permeabilidade tipo ‘Lugeon’ e ‘Lefranc’ e em ensaios de caudal. Relativamente aos ensaios de permeabilidade, os resultados obtidos foram os seguintes: Kmédia é moderada (1.2x10-1m/d), Kmínima é muito baixa (8.6x10-5m/d) e Kmáxima é moderada a elevada (1.15m/d). Com o intuito de explicar os valores de K encontrados, correlacionaram-se estes com a fracturação (i.e., nº fracturas/metro), com a espessura e o grau de alteração, bem como com a profundidade, correlações estas que resultaram bastante baixas a nulas. Desta forma, poder-se-á apontar como causa provável para as condutividades hidráulicas mais elevadas a presença de algumas descontinuidades mais permeáveis, quer devido à sua orientação relativamente ao fluxo, quer em termos da sua abertura e/ou preenchi- Hidrogeologia de rochas graníticas 181 mento. No que diz respeito aos ensaios de caudal, os valores de K média, mínima e máxima corresponderam, respectivamente, a uma condutividade moderada (4.1x10-1m/d), baixa (4x10-3m/d) e moderada a elevada (5.3m/d). Estes valores não exibiram qualquer correlação com a profundidade e foram idênticos, com excepção de K mínima, aos relatados para os ensaios ‘Lugeon’ e ‘Lefranc’. Os parâmetros hidráulicos transmissividade (T) e coeficiente de armazenamento (S) foram estimados a partir de ensaios de caudal, a maioria destes realizados a caudal constante e em 50% dos quais foi possível obter os rebaixamentos quer no furo de bombagem, quer em furos de observação. A interpretação dos ensaios, no que toca aos dados relativos à bombagem, foi efectuada com base nos modelos de escoamento disponíveis no programa AQFIS (OLIVEIRA, 1990; ALMEIDA & OLIVEIRA, 1990) e no modelo de Theis, através do programa SENTHEIS (ALMEIDA, 1981; ALMEIDA et al., 1992). Relativamente aos dados de recuperação, a sua interpretação foi elaborada com base no método de recuperação de Theis (KRUSEMAN & RIDDER, 1990), com recurso à folha de cálculo Microsoft® Excel. A análise dos resultados conduziu às seguintes conclusões: i) os valores de T foram bastante variáveis, oscilando entre 1 e 46m2/dia; ii) os valores mais baixos de T foram, na generalidade, os obtidos pelo método de recuperação de Theis, enquanto que os valores mais elevados corresponderam, de uma forma geral, à aplicação dos modelos do programa AQFIS; iii) os valores de T obtidos por intermédio dos furos de observação foram normalmente 182 Coxito Afonso, M. J. superiores aos resultantes dos furos de bombagem, quando se considerou a aplicação do mesmo método; e iv) os valores de S foram muito variáveis, situando-se entre 10-6 e 10-2, não obstante, para o mesmo furo, os resultados obtidos pelos modelos do programa AQFIS e pelo modelo de Theis não denotarem diferenças relevantes. Esta análise permitiu concluir que T é subavaliada por intermédio do método de recuperação de Theis e que o modelo de Theis pode fornecer uma aproximação razoável na estima de T e S. Um modelo de funcionamento hidrodinâmico A heterogeneidade e anisotropia dos meios fracturados graníticos, aliadas à escassez de informação, bem como às limitações inerentes aos ensaios de permeabilidade e de caudal, não permitiram a definição de um modelo muito acurado. Não obstante, tentou-se esboçar num modelo embrionário o funcionamento hidrodinâmico neste tipo de meios. Até cerca de 27 metros de profundidade verificou-se a existência de uma unidade aquífera livre (Smédio=1.4x10-2) com permeabilidade baixa a moderada (K=10-2 a 1m/d) e, na maior parte dos casos, produtividades baixas (Q≤0.4l/s). Este nível aquífero descontínuo, quer horizontal quer verticalmente, poderá corresponder aos níveis alterados ou fracturados dos granitos e a sua alimentação deverá ser directa, por infiltração. Subjacente a este nível, situa-se um outro até uma profundidade de ca. 48 m, com permeabilidades muito baixas a baixas (K=10-5 a 10-2m/d) e produtividades na maior parte dos casos baixas (Q≤0.8l/s). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Esta unidade aquífera corresponderá ao granito fracturado menos alterado, o qual deverá ser alimentado directamente por infiltração e/ou por drenância da unidade sobrejacente. Entre as profundidades de 48 e 80 m, a única informação disponível diz respeito às produtividades, as quais foram maioritariamente baixas (Q≤0.8l/s). O nível situado abaixo dos 80 m e que se estende, aproximadamente, até aos 122 m, corresponde a um aquífero confinado (Smédio=2.9x10-4), com permeabilidade baixa a moderada (K=10-2 a 1m/d) e produtividade média, avaliada através dos ensaios de caudal, de 1.6l/s. Estes valores de permeabilidade e produtividade deverão corresponder a um maciço mais ou menos são, cortado por descontinuidades abertas. A recarga deste aquífero dever-seá processar por infiltração directa, nos pontos em que o mesmo é de tipo livre ou semiconfinado, ou através dos níveis sobrejacentes. Por fim, subjacente a este nível situar-se-á o maciço são e compacto, o qual deverá ter uma permeabilidade praticamente nula. HIDROGEOQUÍMICA A caracterização hidrogeoquímica das águas da região em estudo foi baseada em 35 pontos de amostragem (figura 3), 28 dos quais furos, 4 poços e os restantes 3, minas. A campanha de amostragem incluiu três colheitas: Novembro de 1995 (28 pontos), Fevereiro de 1996 (25 pontos) e Julho de 1996 (27 pontos). Dos 35 pontos, 17 foram analisados nas três colheitas. No momento das colheitas foram medidos sistematicamente in situ os seguintes parâmetros: temperatura, pH, condutividade CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) eléctrica e potencial redox. Os dados hidrogeológicos de campo, em conjunto com os determinados analiticamente, foram tratados automaticamente pelo programa HIDSPEC (CARVALHO & ALMEIDA, 1989). A temperatura média das águas foi de 18.2ºC em Novembro, 15.5ºC em Hidrogeologia de rochas graníticas 183 Fevereiro e 19.9ºC em Julho. Ressalva-se o facto de que na maioria dos pontos de água a temperatura poderá não corresponder à real, uma vez que as águas antes de serem amostradas percorriam trajectos por vezes mais ou menos longos em condutas/tubagens, nalguns casos a céu aberto. Desta forma, considerou-se que o valor obtido na Figura 3. Localização dos 35 pontos de água amostrados, na região do Porto, para a análise hidrogeoquímica (adaptado de AFONSO, 1997). 184 Coxito Afonso, M. J. colheita de Fevereiro seria aquele que mais se aproximaria da temperatura média real das águas subterrâneas na região. Quanto à condutividade eléctrica média, constatou-se que esta aumentava ligeiramente de Novembro (476μS/cm) para Fevereiro (489μS/cm) e diminuía para Julho (427μS/cm), constituindo assim a época seca o período com mineralização mais baixa. Relativamente ao pH, verificou-se que os valores médios não diferiram muito nas três amostragens, observando-se um ligeiro decréscimo de Novembro (6.15) para Julho (6.02). A análise global dos dados permitiu concluir que cerca de 70% dos pontos apresentavam valores compreendidos entre 6 e 7, os quais estão contidos na gama de pH em que se incluem a maioria das águas subterrâneas (6 a 9). Relativamente aos quatro catiões principais, Na+, Ca2+, Mg2+ e K+, a sua análise permitiu concluir que o catião com valores médios mais elevados nas três colheitas era o Na+ (39.9 a 45mg/l), seguido por ordem decrescente, do Ca2+ (21.4 a 31mg/l), do Mg2+ (10.6 a 11.6mg/l) e do K+ (4 a 8.4mg/l). No sentido de verificar a existência de processos comuns que justificassem a proveniência dos diferentes catiões, estabeleceram-se as matrizes de correlação entre estes, as quais permitiram verificar que os coeficientes eram relativamente baixos (r ≤ 0.59), com excepção do par Na+/ Mg2+ o qual apresentou em Fevereiro uma correlação mais elevada (r = 0.71). À semelhança dos catiões, foi feita a análise dos quatro principais aniões, HCO3-, Cl-, SO42- e NO3-. O anião com valores médios mais elevados na 1ª e 3ª colheitas foi o HCO3- (69.6 a 78.6mg/l), CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) enquanto que na 2ª colheita foi o Cl(62.9mg/l). Estes dois aniões foram seguidos, por ordem decrescente, do SO42(36.0 a 51.1mg/l) e do NO3- (18.5 a 46.0mg/l). As relações esboçadas entre os quatro aniões foram pouco consistentes, face às suas baixas correlações (r ≤ 0.35), destacando-se apenas a correlação entre o Cl- e o SO42- em Fevereiro (r = 0.61). A análise das matrizes de correlação entre catiões e aniões permitiu verificar que o par Na+/Cl- exibia as correlações mais elevadas nas três colheitas (0.80 < r < 0.91), que o par Ca2+/HCO3- apresentava uma boa correlação em Julho (r = 0.83), que a correlação Mg2+/Cl- foi boa em Fevereiro (r = 0.80) e que o par K+/NO3- exibia correlações razoáveis em Novembro (r = 0.67) e Fevereiro (r = 0.62). O teor em sílica (SiO2), correspondente de uma forma dominante à espécie H4SiO4, uma vez que o pH médio destas águas se inclui na gama 6 a 9, conduziu a valores médios compreendidos entre 18.9mg/l (Novembro) e 28.2mg/l (Julho). Face aos resultados expostos tentou-se verificar quais os iões e processos que contribuiriam para a mineralização das águas no sector estudado. A hidrólise dos silicatos não parece exercer um papel preponderante na mineralização, uma vez que: i) as correlações condutividade/pH, condutividade/ HCO3- e condutividade/sílica são baixas; ii) as correlações entre os diversos catiões são relativamente baixas; e iii) a correlação entre o HCO3- e os catiões Na+, K+ e Mg2+ é fraca, no entanto nas amostragens de Novembro e Julho, a correlação HCO3-/Ca2+ foi, respectivamente, de 0.68 e 0.83, valores que poderão indicar algum controlo da hidrólise das plagioclases na CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) mineralização. Constatou-se ainda que, para a colheita de Julho, os iões que melhor se correlacionavam com a condutividade eram o Na+ (r = 0.81), o Cl- (r = 0.75) e o Mg2+ (r = 0.73), salientando-se ainda a correlação, em Fevereiro, entre a condutividade e o SO42- (r = 0.83). De todas as relações anteriormente apresentadas concluiu-se que a mineralização das águas parece estar essencialmente controlada pela concentração por evaporação da água da chuva, face à excelente correlação entre os iões sódio e cloreto e à boa correlação entre a condutividade e estes dois iões. Os teores por vezes elevados de sulfato, os quais controlam em parte a mineralização, podem igualmente ser atribuídos, pelo menos parcialmente, à concentração a partir da água da chuva. Esta origem comum dos iões sódio, cloreto e sulfato é suportada pela composição química da água da chuva no Porto (BEGONHA et al., 1995). Enquanto que o Cl- e o Na+ são de origem marinha, o SO42- será muito provavelmente de origem antrópica. Fácies hidroquímicas A caracterização das fácies hidroquímicas foi estabelecida através da projecção no diagrama de Piper. A título de exemplo, apresenta-se o diagrama de Piper relativo à colheita de Novembro (figura 4). Como se referiu, o HCO3- foi o anião que apresentou valores médios mais elevados na 1ª e 3ª colheitas, enquanto que o Clliderou na 2ª colheita. Contudo, a análise dos três diagramas permitiu constatar que a fácies cloretada foi dominante nas três amostragens, seguida da fácies bicarbonatada. Quanto aos catiões, o Na+ foi o Hidrogeologia de rochas graníticas 185 catião dominante seguido do Ca2+. No entanto, verificou-se que a fácies sódica dominou na 1ª e 3ª colheitas, enquanto que na 2ª predominou a fácies cálcica. Em Novembro, a maior parte das águas eram cloretadas sódicas e cálcicas, dominando as primeiras; em Fevereiro, período no qual a dispersão das fácies foi menor, as águas cloretadas sódicas e as águas cloretadas cálcicas estavam equiparadas. Em Julho, época que apresentou a maior variabilidade de fácies hidroquímicas, a maioria das águas eram cloretadas sódicas, cálcicas e magnesianas. Desta forma, concluiu-se que de Novembro para Fevereiro havia um nítido deslocamento no sentido do pólo cloreto e de forma menos evidente no sentido do cálcio, enquanto que de Fevereiro para Julho se verificou um deslocamento das fácies hidroquímicas no sentido do bicarbonato e do sódio. Índices de saturação A avaliação do estado de equilíbrio da água relativamente a um dado contexto mineralógico pode ser conseguida através dos índices de saturação (IS) relativos a diferentes espécies minerais. Os índices de saturação foram calculados pelo programa HIDSPEC (CARVALHO & ALMEIDA, 1989), o qual apresenta os índices sob a forma de logaritmo (LogIS) para diversos minerais, entre os quais se incluíam quatro polimorfos de sílica: quartzo, calcedónia, cristobalite e sílica gel. Todas as águas analisadas se apresentaram subsaturadas relativamente a todos os minerais que figuravam na especiação, com excepção dos polimorfos de sílica. Relativamente ao quartzo e à cristobalite, a maioria das águas encon- 186 Coxito Afonso, M. J. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 4. Diagrama de Piper relativo à colheita de Novembro de 1995. trava-se sobressaturada nas três colheitas; quanto à calcedónia, as águas estavam sobressaturadas em Fevereiro e Julho, encontrando-se em equilíbrio em Novembro. Em relação à sílica gel, as águas apresentaram-se subsaturadas nas três colheitas. Os valores médios dos quatro polimorfos sofreram um aumento de Novembro para Julho, no entanto, considerando apenas os dezasseis pontos analisados nas três colheitas, verificou-se que existe na maioria destes uma tendência para os valores aumentarem de Novembro para Fevereiro e diminuírem de Fevereiro para Julho. Estes resultados pouco consistentes não permitiram delinear com clareza um aumento da saturação no decurso do ano hidrológico. CONTAMINAÇÃO E VULNERABILIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS À POLUIÇÃO Sendo a região em estudo uma importante área urbana e fortemente industrializada, esta encontra-se sujeita a fortes pressões antrópicas. A tipologia das substâncias contaminantes está dependente das fontes consideradas, as quais são numerosas e variadas neste tipo de ambiente urbano. As fontes que provocam maior impacto na qualidade das águas subterrâneas da região são: i) as fossas e reservatórios sépticos, as quais ocorrem em zonas onde o saneamento básico é insuficiente ou simplesmente inexistente, situações que não são raras na área de estudo; ii) os cemité- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) rios, que deverão ter representatividade na área de estudo, uma vez que só na cidade do Porto existem onze; iii) reservatórios de armazenamento à superfície e subterrâneos, como é o caso dos reservatórios de produtos derivados de hidrocarbonetos petrolíferos, cujo impacto é muito grande na região em estudo, face ao número extraordinariamente elevado de estações de serviço existentes, bem como à presença da refinaria da Petrogal, localizada no quadrante Oeste da área estudada; iv) o escoamento urbano; v) os poluentes atmosféricos; vi) as lixeiras e entulheiras e vii) as actividades agrícolas. Qualidade da água para consumo humano e para uso agrícola A avaliação da qualidade da água para consumo humano foi feita com base numa adaptação de um diagrama elaborado pelo Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa (cf. AFONSO, 1997), no qual se projectaram os dados relativos à colheita de Julho. Este diagrama permitiu classificar as águas em três categorias: inaceitáveis, toleráveis (admissíveis) e recomendáveis. Constatou-se que a maioria das águas se situavam no campo das toleráveis relativamente à temperatura, ao sódio, ao cloreto e ao sulfato e que em relação à dureza, ao cálcio, ao magnésio, ao potássio e ao nitrato, a maior parte das águas eram recomendáveis. Chama-se a atenção para o facto de os teores médios de potássio e nitrato serem mais baixos na época seca, pelo que se se atentasse às águas da colheita de Novembro, 46% seriam consideradas inaceitáveis, enquanto que na colheita de Fevereiro estas representariam Hidrogeologia de rochas graníticas 187 36%. Estas conclusões seriam idênticas se se analisassem os parâmetros referidos à luz dos Decretos-Lei nº 236/98, de 1 de Agosto e nº 243/2001, de 5 de Setembro. Quanto à aptidão das águas para uso agrícola, recorreu-se ao diagrama de Riverside, da classificação do ‘U. S. Salinity Laboratory Staff’ (cf. CUSTÓDIO & LLAMAS, 1983). A análise do diagrama, aplicado à colheita de Julho, permitiu constatar que a maioria das águas se posicionava no sector C2S1, o que significa que as águas oferecem um baixo perigo de alcalinização e um perigo médio a baixo de salinização do solo. Vulnerabilidade à poluição A análise da vulnerabilidade das águas subterrâneas à poluição na região em estudo foi elaborada com base no índice DRASTIC (ALLER et al., 1987 in VRBA & ZAPOROZEC, 1994), o qual resulta da ponderação de sete indicadores hidrogeológicos (FERREIRA & OLIVEIRA, 1993): profundidade da zona não-saturada do solo (Depth to the water table), recarga profunda de aquíferos (net Recharge), material do aquífero (Aquifer material), tipo de solo (Soil type), topografia (Topography), impacto da zona não-saturada (Impact of the unsatured zone) e condutividade hidráulica (hydraulic Conductivity). O objectivo final deste processo é o mapeamento da vulnerabilidade, no entanto este não foi efectuado para a região em estudo, uma vez que os dados correspondentes a cada um dos parâmetros não estão sectorizados, correspondendo somente a informações gerais de toda a zona. Relativamente ao parâmetro D, atri- 188 Coxito Afonso, M. J. buíram-se os índices 7 e 9. Quanto ao parâmetro R, correspondeu o índice 3. Em relação ao parâmetro A, foram aplicados os índices 2-5 e 3-5. No que toca ao parâmetro S, adoptou-se o índice 6. No que diz respeito ao parâmetro T, o índice atribuído foi o 9. Quanto ao parâmetro I, seleccionaram-se os índices 2-8 e 6-9. Por fim, para o parâmetro C, o índice correspondente foi 1. Os valores mínimo e máximo do índice de vulnerabilidade DRASTIC foram 87 e 141, respectivamente, os quais correspondem a uma vulnerabilidade baixa a média. CONSIDERAÇÕES FINAIS A região do Porto apresenta, do ponto de vista quantitativo, potencialidades animadoras em termos de recursos hídricos subterrâneos. A existência destes recursos depende das características climatológicas, geomorfológicas e geológicas da região, comummente inserida no limite do Maciço Cristalino Antigo e da Orla Ocidental (e.g., CARVALHO, 1996; PEDROSA, 1999; CARVALHO et al., 2000). Apesar de a taxa média de infiltração ser baixa, a precipitação média anual é significativa e encontra-se bem distribuída sendo as condições geomorfológicas favoráveis. No entanto, a elevada heterogeneidade e anisotropia destas formações, resultantes das características geológicas e estruturais, é basilar na investigação destas formações cristalinas. Assim, é de vital importância a identificação, à escala local, de estruturas planares, como contactos geológicos, filões e falhas (e.g., CARVALHO, 1984; PEREIRA, 1992; CHAMINÉ et al., 1999; CARVALHO & CHAMINÉ, CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 2000). Em termos hidroquímicos, as águas da região do Porto apresentam uma mineralização significativa, a qual é essencialmente controlada pela concentração por evaporação da água da chuva, havendo um contributo da hidrólise dos silicatos e adição artificial de alguns sais, devido a actividades antrópicas. Relativamente à caracterização das águas, a maioria destas situa-se na fácies cloretada sódica e cloretada cálcica. Quanto à qualidade da água para consumo humano, o estudo revelou que estas são em geral admissíveis, apesar de conterem por vezes teores elevados de nitrato. No que toca à sua utilização para fins agrícolas, estas águas oferecem um baixo perigo de alcalinização e um perigo médio a baixo de salinização do solo. Em termos de vulnerabilidade à poluição, a região enquadra-se numa classe de vulnerabilidade baixa a média (índice DRASTIC). Face ao exposto e no seguimento do trabalho realizado, apresentam-se de seguida algumas recomendações para estudos vindouros, que poderão contribuir para um conhecimento mais profundo destes domínios hidrogeológicos. A avaliação da infiltração deverá contemplar outras metodologias, como as curvas de escoamento de nascentes e a decomposição de hidrogramas de escoamento em linhas de água. O estudo hidrodinâmico deverá incluir a elaboração de mapas de isopiezas, a definição da conexão hidráulica entre as unidades de cobertura sedimentar e as unidades cristalinas e ainda, a interacção entre águas superficiais e subterrâneas. Relativamente à caracterização hidrogeoquímica, dever-se-á construir uma malha apertada de pontos, nomeadamente nos locais onde a mineralização é mais elevada, CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) alargar os parâmetros físico-químicos analisados, designadamente os metais pesados e incluir parâmetros microbiológicos. O recurso aos isótopos de H, O e C possibilitará a definição de zonas de recarga, o estabelecimento da idade aparente das águas e a caracterização da dinâmica dos sistemas de fluxo. Quanto à contaminação e à vulnerabilidade das águas à poluição, deverse-á avaliar a sensibilidade das águas a impactos humanos e/ou naturais, recorrendo a ferramentas como, por exemplo, a modelação hidrogeológica e hidrogeoquímica isotópica, e ainda estudar a problemática da intrusão marinha. Do exposto ressalta claramente o interesse e a necessidade de aprofundar a investigação hidrogeológica (AFONSO, 2003), a várias escalas, na região do grande Porto, quer ao nível da integração actualizada numa base georeferenciada dos vários aspectos geotectónicos, geomorfológicos e hidrogeológicos regionais quer ao nível do refinamento da hidrogeoquímica e da hidrodinâmica, perspectivando o estabelecimento de um modelo conceptual dos recursos hídricos para a região. Esta abordagem poderá contribuir para uma melhor Hidrogeologia de rochas graníticas 189 gestão sustentável dos recursos hidrícos ao nível do planeamento estratégico ambiental numa área tão densamente urbanizada. AGRADECIMENTOS Esta publicação sintetiza um estudo hidrogeológico desenvolvido na região granítica do Porto, e inclui as principais conclusões da dissertação de mestrado, apresentada pela autora à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Ao Departamento de Geologia da FCUL e ao Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), todas as facilidades e apoios para a concretização deste estudo. Ao Dr. José Teixeira pelo apoio na execução das ilustrações. São devidos agradecimentos ao Prof. Helder I. Chaminé (ISEP, Porto) pelo incentivo e pela revisão cuidada do texto original. Ao Prof. J. Martins Carvalho (Universidade de Évora) e ao Prof. J. Manuel Marques (Universidade Técnica de Lisboa, IST) pela revisões críticas minuciosas do manuscrito. Recibido: 7-VII-03 Aceptado: 20-VIII-03 190 Coxito Afonso, M. J. REFERÊNCIAS ABRUNHOSA, M. J. (1988). Síntese hidrogeológica da Bacia Hidrográfica do Rio Ave. 22º Curso Internacional de Hidrologia Subterrânea. Barcelona. 52 pp. + Anexos. (Relatório Inédito). AIRES-BARROS, L. & MARQUES, J. M. (2003). Avaliação de recursos hidrominerais e geotérmicos. Potencialidades e perspectivas futuras no nosso País. Ingenium, Rev. Ord. Eng., Lisboa, 72 (II Série): 38-44. AFONSO, M. J. C. (1997). Hidrogeologia de rochas graníticas da região do Porto. Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 150 pp. + Vol. Anexos. (Tese de mestrado). AFONSO, M. J. C. (2003). Hidrogeologia e hidrogeoquímica da região entre Porto e S. João da Madeira (NW de Portugal): implicações ambientais - plano de trabalhos de doutoramento. Departamento de Geociências, Universidade de Aveiro. 12 pp. (Relatório Inédito). ALMEIDA, A. (2001). 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Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 193-211 ISSN: 0213-4497 Série Negra black quartzites - Tomar Cordoba Shear Zone, E Portugal: mineralogy and cathodoluminescence studies Estudios mineralógicos y de catodoluminiscencia en las cuarcitas negras de la Serie Negra-Zona de Cizalla de Tomar Cordoba, E de Portugal DE OLIVEIRA, D. P. S.1; REED, R. M.2; MILLIKEN, K. L.3; ROBB, L. J.4; INVERNO, C. M. C.5 & D’OREY(*), F. L. C.6 Abstract The Proterozoic black quartzites associated with important gold mineralisation prospects that crop out within the Tomar Cordoba Shear Zone in the northern Alentejo province have been previously referred to and interpreted to be metacherts, (meta)lydites, phthanites and quartzites. However, the range of terms used thus far implies a specific protolith and environment of deposition, i.e. a chemical vs. a clastic depositional environment. Mineralogically these rocks contain a variety of minerals, namely quartz, biotite ± chlorite, pyrite, chromite, ilmenite, chalcopyrite, pyrite with inclusions of magnetite, rutile, Fe-oxides, marcasite and arsenopyrite. In addition, amorphous carbon is an important constituent of these rocks. These black quartzites also contain substantial quantities of fine inclusions of possibly at least V-bearing titanite and V-bearing epidote-allanite, occurring with Fe-Ti-Cr-V oxides in the quartz. These inclusions are locally evenly distributed in the quartz grains indicating that these grains were recrystallised during their metamorphic evolution. Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 193-211 The use of CL shows evidence of different generations of quartz, i.e. quartz cores different from the rims that could represent detrital sand grains. CL has also shown that these rocks exhibit a tectonothermal history when the CL properties of the different quartz generations are observed. There is probable indication that these rocks had a sandstone protolith (i.e. a clastic precursor) and hence should rather be termed quartzites or metasandstones. Key words: Tomar Cordoba Shear Zone, Série Negra, black quartzites, mineralogy, CL, Proterozoic, quartzites/metasandstones (1) Instituto Geológico e Mineiro, Apartado 7586, 2721-866 Alfragide (Lisbon), Portugal (2) Bureau of Economic Geology, John A. and Katherine G. Jackson School of Geosciences, The University of Texas, Austin, TX 78713, United States of America (3) Department of Geological Sciences, John A. and Katherine G. Jackson School of Geosciences, The University of Texas, 1 University Station, Austin, TX 78712-0254, United States of America (4) Economic Geology Research Institute-Hugh Allsopp Laboratory (EGRI-HAL), University of the Witwatersrand, Private Bag 3, WITS 2050, Rep. of South Africa (5) Instituto Geológico e Mineiro, Apartado 7586, 2721-866 Alfragide (Lisbon), Portugal (6) Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Depto. Ciências da Terra, Quinta da Torre, 2825-114 Caparica, Portugal (* Deceased) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 1. INTRODUCTION Within the Tomar Cordoba Shear Zone (TCSZ), NE Ossa Morena Zone (figure 1) several lens-shaped, dark or black, silicified units crop out (figure 2), which are typical of the Série Negra metasedimentary succession. Over the last three decades, these units have been variously referred to as metacherts, (meta)lydites, phthanites (siliceous shales) and quartzites in the literature (e.g. GONÇALVES, 1971; GONÇALVES & FERNANDES, 1973; GONÇALVES et al., 1971, 1972a, 1972b, 1978; ABALOS & EGUÍLUZ, 1989; GONÇALVES & CAVALHOSA, Série Negra black quartzites 195 1994; PEREIRA, 1995, 1999; PEREIRA & SILVA, 2000; BANDRES et al., 2002, amongst others). This range of terminology and interpretation has been brought about by the ambiguous appearance of these black silicified units in the field, which in some cases is very fine grained although in others is coarser grained. However, the chosen nomenclature implies the difference between chemical and clastic sedimentation processes and, ultimately, whether these have been correctly applied to the rocks in question. Due to the persistence of the terms metachert, (meta)lydite, phthanite and quartzite in the literature, the purpose of this Figure 1. The location of the TCSZ in relation to the other major structures and the tectonostratigraphic domains. (Adapted after SILVA, 1997). Figure 2. Simplified geological map of the study area showing the aerial extent of the Série Negra rocks (Morenos and Mosteiros Formations) and other Preterozoic rocks (Campo Maior and Urra Formations) with the sample locations plotted (adapted after GONÇALVES et al., 1971, 1972a, 1972b; PERDIGÃO et al., 1977). 196 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) paper is to provide a first approach to the correct lithological nomenclature of these units by combining several field and petrographic observations with support from mineralogical data and preliminary cathodoluminescence (CL) studies. 2. GEOLOGICAL AND STRUCTURAL SETTING OF THE TCSZ The study area is located in the northern Alentejo province (figure 1 inset) in the Crato-Alter do Chão-Arronches area (figure 2). The Série Negra (Black Series) is a package consisting of metasedimentary (meta-arenites and metapelites), basic igneous (amphibolites and banded amphibolites) and felsic volcanic (metarhyolites) rocks (e.g. OLIVEIRA et al., 1991; de OLIVEIRA, 2001). The Série Negra occurs juxtaposed on both the north and south limbs of a large structure. This structure contains, from north to south, low-grade metamorphic rocks (greenschist facies) to intermediate-grade metamorphic rocks (amphibolite facies) separated by a central corridor of high-grade metamorphic rocks (the Blastomylonitic Belt), all collectively known as the TCSZ. The Blastomylonitic Belt separates rocks of lower metamorphic grade (greenschist facies) in the north of the TCSZ from rocks of higher metamorphic grade (amphibolite facies) in the south of the TCSZ. The TCSZ is a geologically complex and diverse zone showing intense deformation and metamorphism contemporaneous with a large sinistral displacement, which may be due to a large intracontinental sinistral fault active during the Série Negra black quartzites 197 Variscan Orogeny (BERTHÉ et al., 1979) with displacements of 100 km (BURG et al., 1981) to 300 km (ABALOS & EGUÍLUZ, 1992). Recent studies (PEREIRA & SILVA, 2001) have shown the Tomar Cordoba Shear Zone to be a major Eohercynian-Hercynian sinistral transcurrent fault overprinting a Cadomian arc localised at a convergent margin of Gondwana. The Portuguese sector of the TCSZ comprises a series of fault-separated, polymetamorphic structural-tectonic subdomains (PEREIRA, 1995; 1999) where the Neoproterozoic Série Negra rocks crop out. The maximum age for the final stages of sedimentation have been documented ca. 565 Ma (SCHÄFFER et al., 1993). Stratigraphically the Série Negra is made up of the (lower) Morenos and (upper) Mosteiros Formations (OLIVEIRA et al., 1991). The Morenos Formation is made up of micaceous schists that are locally garnet-bearing, limestones and calc-silicate rocks, meta-arkoses, meta-arenites (quartzites) and micaceous and siliceous schists, amphibolites and metapyroclastic rocks (OLIVEIRA et al., 1991). The Mosteiros Formation consists of black schists/slates, greywackes, black cherts (quartzites?), limestones and amphibolites (OLIVEIRA et al., 1991). North of the Blastomylonitic Belt and unconformably overlying the Mosteiros Formation occurs the Urra Formation made up of a lower porphyry unit and an upper pelite/greywacke unit (OLIVEIRA et al., 1991). At the TCSZ borders, a (Lower) Cambrian sequence of platform sediments is preserved, which unconformably overlies the Neoproterozoic Série Negra metasedi- 198 de Oliveira et al. ments and consists of micaceous schists, amphibolites, metamorphosed carbonate rocks and pelitic schists (OLIVEIRA et al., 1991; PEREIRA, 1995). The TCSZ is intruded by several preHercynian, syn-Hercynian and late- to post-Hercynian rocks (e.g. the Nisa granite batholith) as well as peralkaline rocks (see figure 2). 3. BLACK QUARTZITES WITHIN THE TCSZ 3.1. Setting The black quartzites crop out in relatively short, ribbon-like (lens-shaped) outcrops which trend NW-SE, parallel to the regional foliation. The quartzites are closely associated with prominent gold prospects (de OLIVEIRA, 2001). Outcrops are generally narrow and short (2-3 m wide and 5-10 m long, respectively) but can be several hundreds of metres long and up to 60-80 m high above the surrounding Alentejo plain. Within the study area only one outcrop of such magnitude is known between the villages of Assumar and Urra, site of sample DP93 in figure 2. Generally, outcrops are aligned with each other defining one or several “belts” or levels (see figure 2). Grain size varies from outcrop to outcrop but invariably most are very fine-grained (frequent) to medium-grained (rare), highly siliceous and resistant to weathering and breakage. These rocks appear homogeneous in some outcrops although in others there is a marked inhomogeneity that defines centimetre-scale layering that may represent relict bedding. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 3.2. Mineralogy The mineralogy of these black quartzites was investigated in two ways. The first was through optical microscopy using both transmitted and reflected light. The second was a study of the constituent heavy minerals, involving the collection of two bulk samples, DP27 and DP93, each representing a homogenised sample across the face of each respective outcrop. The reason for choosing these particular samples is that DP27 is slightly coarser-grained than DP93 and shows centimetre-scale layering, which may be relict bedding. Folding is not seen on outcrop scale even though the outcrop is approximately 5.5 m x 1.0 m. Sample DP93 is finer-grained and shows tight folding (Hercynian D2). Also, these samples are located in different metamorphic domains. Sample DP93 is located north of the Blastomylonitic Belt (figure 2), in low-grade (greenschist facies) metamorphic rocks whereas sample DP27 is located south of the Blastomylonitic Belt (figure 2) amongst higher-grade (amphibolite facies) metamorphic rocks. The samples were individually milled to 1 mm in an adjustable jaw crusher and sieved to extract the < 45 mesh (0.355 mm) fraction. This fraction was panned to preconcentrate it, washed in alcohol and then dried. The dried samples were further concentrated using a heavy liquid {bromoform [CHBr3; density (ρ) = 2.88)]} to remove the “lighter minerals” with ρ < 2.88. Samples were split into non-magnetic, super magnetic and magnetic fractions. Table 1 exemplifies and quantifies the phases of sample prepara- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) tion. The individual minerals were then identified using a binocular microscope and quantified in relative terms of their total contribution to sample composition. 3.3. Petrographic results Petrographically these black quartzites are primarily made up of quartz (± biotite ± chlorite). In thin section, quartz grain sizes vary from 6 to 63 µm in a fine-grained sample and from 30 to 600 µm in a coarsegrained sample. In the coarser-grained samples accessory biotite (± chlorite) is found interstially to quartz and at times aligned parallel to the regional foliation (NW-SE) of these rocks. However, sample RL823, taken from a tabular black quartzite outcrop SE of Travesso (figure 2), in addition to containing the above mentioned minerals, also contains small (6 mm) zircons and plagioclase (de OLIVEIRA, 2001). Série Negra black quartzites 199 The most common opaque phase seen interstially to quartz is amorphous carbon (figures 3A and B). Within the quartz, there are very fine mineral phases, which create a blue-grey shadow (figure 4) at low magnification (5x/10x) in plane polarised light and which disappears at higher magnifications. These are heavy mineral concentrations (discussed below). The heavy mineral concentrations are observed in very thin wafers, up to 200 µm thick, as darker streaks across the samples. In addition, rare, discrete sub-rounded grains of magnetite (at times with nuclei of spinel; figure 3A), chromite and ilmenite have been observed. These are larger than the accompanying quartz grains and their roundness implies abrasion. Other accessory opaque minerals include euhedral pyrite with traces of chalcopyrite, euhedral pyrite with magnetite inclusions (magmatic origin?), rutile, Fe-oxi- Table 1. Quantification of the steps in the concentration of the heavy minerals for bulk samples DP27 and DP93. 200 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 3. Photomicrographs of black quartzite sample DP27 located in São Martinho East showing, A- Amorphous carbon and a grain of magnetite with a nucleus of spinel (Reflected light; 40x; parallel polars, FOV = 0.3 mm). B- Amorphous carbon (opaque) and partially chloritised biotite grain (Transmitted light; 20x; parallel polars, FOV = 0.45 mm). Figure 4. Reflected light photomicrograph of sample DP84 (black quartzite) showing remnant bedding defined by Fe-oxides (A) as well as the grey(-blue) shadows of submicroscopic V-bearing and/or radioactive mineral inclusions in quartz (B). (FOV = 0.52 mm). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) des, marcasite (after pyrrhotite) and euhedral arsenopyrite crystals. No gold grains were observed in these units unlike nearby metapelitic rocks of the Série Negra, which sporadically show sulphide and gold mineralisation. 3.4. Heavy mineral concentrates Heavy mineral concentrates were obtained by crushing and processing cleaned samples. The heavy mineral concentrates yielded, through heavy mineral separation, three separate fractions; nonmagnetic (NM), super magnetic (SMG) and magnetic (MG). The Fe-oxides in the MG fraction are weakly magnetic to the Série Negra black quartzites 201 extent that they will adhere to a magnet if brought into direct contact with the magnet. The magnetite in the SMG fraction is strongly magnetic. Susceptibility values of 0.01x10-3 SI, 1.60x10-3 and SI 0.01x10-3 SI (sample DP27) and 0.0, 2.24x10-3 and 0.03x10-3 SI (sample DP93) were obtained for the individual NM, SMG and MG fractions respectively. The results of the heavy mineral separation in samples DP27 (higher metamorphic grade) and DP93 (lower metamorphic grade) are summarised in table 2. A common heavy mineral mixture observed in both samples in the SMG fraction is quartz with black inclusions (heavy minerals). Table 2. Results of the heavy mineral separation carried out on black quartzite samples DP27 and 93. NM- non-magnetic, SMG- super magnetic, MG- magnetic. (Adapted after SALGUEIRO & PATEIRO, 2000). 202 de Oliveira et al. 3.5. Carbon content The petrographic study of some samples of the black quartzites revealed that the samples contain considerable quantities of amorphous carbon. The carbon content of these quartzites was analysed at Actlabs using an Eltra CS-800 automated carbon sulphur analyser. Carbon content was determined by combusting, at 1370ºC in a oxygen atmosphere, a weighed sample with Fe-chips and a tungsten accelerator. Moisture and dust are removed and a solid infrared detector measures the CO2 gas. Carbonate (content) can be determined after first determining total C content. A weighed sample is placed in a ceramic crucible and 25% HCl is added dropwise until the reaction is no longer observed to drive off the CO2. The sample is then dried on a hot plate at low temperatures until dry. Samples are subsequently analysed in the same fashion as for CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) total carbon. The carbonate concentration is the difference between the total carbon and the reacted carbon, calculated as CO2 (written com., ERIC HOFFMAN, 1999). The carbon content of the black quartzites of the Série Negra varies from 0.09% to 1.27%, with the highest value being recorded in sample DP27 (table 3). An increase in the carbon content does not positively correlate with a darker coloured rock. Actually, two samples of pale quartzites from the Série Negra in the study area yielded analytical results of 0.05 and 0.32% C (de OLIVEIRA, 2001). Raman analysis of carbonaceous material is useful in determining the type of carbon present in the sample. Of the three types of “carbon materials”, diamond, amorphous carbon and graphite, diamond shows a strong peak at 1330 Rcm-1, graphite a strong wide peak at 1585 Rcm-1 while amorphous carbon will show a low Table 3. Carbon content (not as carbonate) of a few of the Série Negra black quartzite samples collected within the study area. Detection limits for C are 0.01%. (Adapted after de OLIVEIRA, 2001). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) broad peak around 1350 Rcm-1 (MURPHY et al., 1998; figure 5 inset). A Jobin-Yvon T6400 spectrometer with an Olympus BX40 microscope attachment and a liquid-N2 cooled CCD detector with an Ar ion laser (with 500mW power at the source) of 514.532 nm as excitation radiation, was used in single spectrograph mode to analyse the carbonaceous material in sample DP27. Several bands showed up due to the presence of quartz and resin in the samples. The following bands, namely 219, 403, 589, 606, 665, 950, 1345, 1585, 2044 and 2153 are not characteristic of quartz or resin. In the 1345 Rcm-1 region, a low broad peak is evident indicating the strong probability of the presence of amorphous carbon (figure 5). In the 1585 Rcm-1 region a short, low peak is seen (figure 5) which is not characteristic of the peak for graphite (figure 5 inset). The spectrum in the 403 and 500-600 Rcm-1 regions is characteristic of the anatase polymorph of TiO2. Since the primary objective of this exercise was to identify the carbon species, the other bands were not interpreted at the time (NIEUWOUDT, 2000). 4. PRELIMINARY CATHODOLUMINESCENCE (CL) STUDIES CL imaging is a highly effective technique for discriminating detrital quartz from authigenic quartz in quartz-cemented sandstones (e.g., SIPPLE, 1968; HOGG et al., 1992; HOUSEKNECHT, 1991; RAMSEYER & MULLIS, 2000; MILLIKEN & LAUBACH, 2000) and can detect quartz of different origins or reveal proces- Série Negra black quartzites 203 ses of crystal growth, recrystallisation, alteration or diagenesis by variable CL colours (GÖTZE et al., 2001). Contrast in CL between bright detrital quartz and more weakly emitting quartz cement survives to at least 200 °C in deep sedimentary basins, although at some still-poorly defined level of heating, homogenisation of quartz CL occurs (e.g., SPRUNT et al., 1976; RAMSEYER et al., 1988). However, preliminary work by some of the authors suggests that the differentiation between quartz grain and cement survives longer (to higher temperatures) in the blue-wavelength CL emissions. Images used for this study were acquired using an Oxford Instruments MonoCL2 system attached to a Philips XL30 SEM operating at 15 kV using a large spot size. The detectors and processing used for these images record CL emissions in the range of 185 to 850 nm (ultraviolet through visible into near infrared) and convert them to grey-scale intensity values. Acquisition of colour images using scanned CL requires filters and superposition of multiple images. Scanned CL imaging was applied to several samples in this study (DP1, DP27, DP51, DP61, DP64, DP84 and DP93) in an effort to obtain evidence on the nature of the samples prior to metamorphism. Two samples (DP1, DP27) showed evidence of CL textures that can be interpreted to represent relict quartz grains with quartz overgrowth cements. Figures 6A and B show that a sandstone precursor to these quartzites is plausible given the CL image obtained. It is clear that the quartzites are composed of equant regions of lighter coloured CL that are Figure 5. Raman spectrum obtained for the carbon inclusions in Série Negra black quartzite sample DP27. The low, broad peak at 1345 Rcm(shaded) is characteristic of amorphous carbon reflecting its presence in these rock types. Inset shows examples of spectra for the various carbon types (after MURPHY et al., 1998, figure 5). 1 204 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) the right size and shape to represent former detrital sand grains. The fuzziness of the CL at the boundaries of these different areas most likely represents the effects of incipient homogenisation that could have gone to completion had the rocks been heated further. Many of the samples manifest relatively uniform CL except for bright luminescent halos around a first generation of mineral inclusions (figures 6C and D). Development of such cathodoluminescent halos in quartz by radiation damage is a well-known phenomenon (e.g. OWEN, 1988; RINK & ODOM, 1989; MEUNIER et al., 1990). The identification of the mineral inclusion is hampered by their very small size. However, a few of the halos in samples DP27 and DP84 were cut through the centres allowing the acquisition of EDS spectra of the mineral inclusions. Figure 7 shows the EDS spectrum for the halo-producing mineral inclusions in sample DP27. The principal elements detected are Ti, Si and Ca, with additional amounts of Al, V, Cr and Fe. The obtained spectra indicate that there is more than one mineral that is producing the CL halos shown in figures 6C and D. These are possibly at least V-bearing titanite and V-bearing epidote-allanite, occurring with Fe-Ti-Cr-V oxides. The use of CL has also yielded some results concerning the tectonic and fluid flow history in these rocks. figures 6C and D also show microfractures in the rocks that are post metamorphic although the tectonic history of these rocks is not the focus of this work. The quartz in these fractures is clearly prominently zoned rather than yielding a fuzzy CL image. Série Negra black quartzites 205 Hence, we can be certain that these are from a later, more brittle stage of deformation after peak metamorphism. Therefore, these fractures are evidence of late fluid flow that has overprinted the bulk chemistry of these rocks. The fractures also clearly cut across the radiation halos (figure 6C) and yet the fracture-filling quartz has been there long enough to show faint halos itself, hence giving some idea as to the timing of the fractures and precipitation of the fracture-filling quartz. Figures 6E and F show a fracture filled with Fe-oxide with some V-bearing minerals. This second generation of V-bearing minerals clearly post dates the quartz precipitation in this fracture, which places it in another period of cooler brittle deformation that post dates peak metamorphism. This yields further evidence that the lower temperature portion of the history of these rocks was accompanied by significant chemical modification. 5. DISCUSSION Mineralogically these rocks are composed of quartz, biotite ± chlorite, local feldspar, and magnetite, chromite and ilmenite. Accessory minerals include pyrite, chalcopyrite, rutile (anatase), marcasite and arsenopyrite. Amorphous carbon is also an important component of these rocks. These black quartzites also contain substantial quantities of interstitial Fe-oxides, magnetite and pyrite as well as very fine inclusions of V-bearing minerals and/or radioactive minerals in the quartz. These inclusions are locally evenly distributed in the quartz grains indicating that 206 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 6. A- Panchromatic scanned CL image of sample DP1 showing support for the existence of a quartz cemented protolith. There are equant regions of light grey CL (dotted) that are about the right size and shape to represent former sand grains. The 'fuzziness' of the CL at the boundaries of these different areas most likely represents the effects of the incipient homogenisation that would have gone to completion if the rocks were heated further. One clear quartz grain boundary is shown in dashed lines (Note: the light grey regions referred to in A are in fact blue while the surrounding regions are purplish to pink); B- Panchromatic scanned CL image of sample DP27 further supporting for the existence of a quartz cemented protolith. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) these grains were recrystallised during their metamorphic evolution. Magnetite occurs both as discrete large grains and also as very finely disseminated small grains. Together with the other finely disseminated Fe-oxides and the V-bearing mineral and/or radioactive mineral inclusions, magnetite is responsible for the black shadow(s) observed at low magnifications in thin section. The high concentrations of the heavy minerals are believed to be responsible for the black colour of these quartzites. By contrast, the pale quartzites of the Série Negra also exhibit rare, small (< 5 μm) pyrite and arsenopyrite grains. And besides, they do not contain significant quantities of Fe-oxide minerals. Geochemical characterisation undertaken on these rocks shows that they are the result of the weathering of a wide range of rocks, i.e., granitic, basaltic or andesitic source rocks in a passive margin to arctype environment (de OLIVEIRA, 2001). This is corroborated by a probable (Cadomian) arc-type environment proposed by BANDRES et al. (2002). This variation in possible source rock is not surprising, perhaps, given what the petrography is telling us about the degree to which these samples have progressed along the metamorphic path. However, what is most interesting is that the petro- Série Negra black quartzites 207 graphic data shows that these rocks are inhomogeneous, which means that the metamorphic processes have not entirely wiped out the evidence that related them to their initial characteristics. CL textures, in the less deformed areas of the samples, from at least two samples are consistent with relict quartz grain overgrowth patterns being present (figures 6A and B). The CL images also show a cooler brittle deformation event with precipitation of new fracture-filling quartz and in some cases preceded by the precipitation of probable either radioactive or non-radioactive V-bearing minerals. 6. CONCLUSIONS The characteristic dark colour of the black quartzites may be derived from the copious quantities of finely disseminated heavy mineral concentrations within the quartz grains. Both sandstones and cherts could be possible protoliths for these rocks prior to metamorphic-induced recrystallisation. Field identification of these rocks can induce in error due to their general cherty appearance. These rocks are extremely hard and fine- to medium-grained. However, several lines of evidence point to their having a more likely detrital rather From figure 6 (previus page) C- Cathodoluminescence image of the bright luminescent halos around the inclusions of either radioactive or non-radioactive V-bearing minerals in sample DP84; D- Panchromatic scanned CL image of prominently zoned quartz-filled microfractures in sample DP84 that clearly post date the metamorphism; E/F- CL image and scanning electron image of post metamorphic fractures in sample DP1 respectively that are filled with Fe-oxides with vanadium. Here the precipitation of the Fe-oxide clearly post dates the fracture indicating a complex chemical history during the low temperature phase of formation of these fractures. 208 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 7. EDS spectrum obtained for the bright, luminescent, halo producing, disseminated minerals present as inclusions within the quartz of the black quartzites (sample DP27). than chemical origin. These are 1) the absence, in these rocks, of the very thin layering or laminations commonly found in true cherts (though existent would probably be obliterated by metamorphic recrystallisation), 2) the presence of centimetre-scale layering that probably represents relict bedding, 3) the presence of subrounded (detrital) opaque minerals, magnetite, chromite and ilmenite (the latter also present as a metamorphic mineral), 4) the presence of abrasion resistant, heavy minerals such as zircon and tourmaline, 5) the local presence of feldspar which would indicate a more arkosic precursor and 6) CL textures from at least two samples studied being consistent with relict quartz grain overgrowth patterns. The locally uniform distribution of either radioactive or non-radioactive Vbearing minerals is further evidence that these rocks have experienced pervasive chemical and textural reorganization. Based on the results obtained and given a more probable sandstone or arenite protolith for these rocks, the terms chert, metachert, (meta)lyddite and phthanite should be abandoned and the term quartzite or metasandstone adopted to describe these rocks of the Série Negra in the area. Furthermore, the use of CL imaging has demonstrated that more information can be gained from these rocks regarding the timing of metamorphism in relation to the formation of brittle deformation structures. ACKNOWLEDGEMENTS J.L. Pinto (sample acquisition/preparation), J.A.E. Fernandes (sample preparation), R. Pateiro and M. Martins (sample preparation and laboratory work) are thanked for their assistance. We thank Mrs. M. Nieuwoudt (Dept. of physics, Wits CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) University) for Raman spectroscopic work, R. Salgueiro and J.L. Lencastre of the IGM, Dr. Andrew Morton of The University of Aberdeen and Dr. Barry Roser of Shimane University for useful suggestions and discussion. The authors Série Negra black quartzites 209 would also like to thank Prof. H. Bahlburg and Dr. H. von Eynatten for comments on an earlier version of this manuscript. Recibido: 15-V-03 Aceptado: 21-V-03 210 de Oliveira et al. REFERENCES ABALOS, B. & EGUILUZ, L. (1989). Structural analysis of deformed early lineations in black quartzites from the central Badajoz-Córdoba Shear Zone (Iberian Variscan fold belt). Revista Sociedad Geológica España, 2 (1-2): 95-102. ABALOS, B. & EGUILUZ, L. (1992). Evolución geodinámica de la zona de cisalla dúctil de Badajoz-Córdoba durante el Proterozoico Superior-Câmbrico Inferior. In: Paleozoico Inferior de Ibero-América, Gutiérrez-Marco, J. C.; Saavedra, J. & Rábano, I., (Eds.), Universidad de Extremadura, pp.: 577-591. BANDRES, A.; EGUÍLUZ, L.; GIL IBARGUCHI, J. I. & PALACIOS, T. (2002). Geodynamic evolution of a Cadomian arc region: the northern Ossa Morena Zone, Iberian massif. Tectonophysics, 352 (1-2): 105-120. 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Vol. 28, pp. 213-229 ISSN: 0213-4497 Amphibolite vs. banded amphibolite: a case study in the São Martinho-Arronches area, Tomar Cordoba Shear Zone, NE Ossa Morena Zone, Portugal Anfibolita versus anfibolita bandeada: el caso de São Martinho-zona de Arronches, Zona de Cizalla de Tomar Cordoba, Zona NE de Ossa Morena, Portugal DE OLIVEIRA, D. P. S.1; WIECHOWSKI, A.2; ROBB, L. J.3 & INVERNO, C. M. C.4 Abstract Amphibolites and banded amphibolites form an integral part of the Série Negra rocks that outcrop within the Tomar Cordoba Shear Zone that forms the boundary between the Ossa Morena Zone and the Central Iberian Zone. The terms amphibolite and “amphibole schist” (here changed to banded amphibolite) have been regularly used by exploration geologists when referring to the amphibolitic-type lithologies, with or without a marked schistosity, that outcrop in the Ossa Morena Zone, e.g. in the vicinity of the São Martinho gold prospect. In this study the term amphibolite is used for homogeneous, massive-texture rocks at the mesoscopic scale whereas banded amphibolite refers to rocks that exhibit a distinct banding at the outcrop scale. Microscopically both rock types show a schistosity, which is better defined in the banded amphibolites. These rock types have a rather similar mineralogy. Geochemically, in terms of their major element composition, there is little difference between them. However, each exhibits a distinct mineral chemistry: the amphiboles in the amphibolites are actinolite-magnesiohornblende while those in the banded amphibolites are mostly magnesiohornblende and minor tschermakite. Likewise, the feldspars in the amphibolites plot in the oligoclase-andesine and labradorite-bytownite fields while those in the banded amphibolites are largely constrained to the labradorite fields with a few outliers in the andesine and bytownite fields. Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 213-229 Tentative geochemical signatures for protolith nature and tectonic setting indicate a probable basic protolith for both amphibolites and banded amphibolites although the textures preserved in the banded amphibolites may also indicate a sedimentary-tuffaceous origin. Key words: Amphibolite, banded amphibolite, Série Negra, Tomar Cordoba Shear Zone, NE Ossa Morena Zone. (1) Economic Geology Research Institute-Hugh Allsopp Laboratory (EGRI-HAL), University of the Witwatersrand, Private Bag 3, WITS 2050, Rep. South Africa. Present address: Instituto Geológico e Mineiro, Apartado 7586, 2721-866 Alfragide (Lisbon), Portugal (2) Department of Mineralogy and Ore Deposit Research, RWTH Aachen, Wüllnerstr. 2, D-52062 Aachen, Germany (3) Economic Geology Research Institute-Hugh Allsopp Laboratory (EGRI-HAL). University of the Witwatersrand, Private Bag 3, WITS 2050, Rep. South Africa (4) Instituto Geológico e Mineiro, Apartado 7586, 2721-866 Alfragide (Lisbon), Portugal CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 1. Introduction The terms amphibolite versus “amphibole schist” (here modified to banded amphibolite) have been regularly used by gold exploration companies operating in the Iberian Ossa Morena Zone (e.g. Rio Tinto Zinc, Portuglobal-Explorações Mineiras, Lda., Auspex Minerals Ltd.) when referring to the amphibolitic-type lithologies that outcrop in the gold prospect areas, as is the case of São Martinho, east of Alter do Chão. These amphibolitic-type lithologies (s.l.) are locally hosts to (significant) gold mineralisation on their own or at the transition between them and quartz biotite schists of the Série Negra (de OLIVEIRA, 2001). In São Martinho, amphibolites and banded amphibolites at times outcropping adjacent to each other, form part of the Série Negra rocks that outcrop within the Tomar Cordoba Shear Zone (TCSZ) in the NE Ossa Morena Zone. The amphibolites and banded amphibolites outcrop south of the Blastomylonitic Belt where the Série Negra rocks have reached amphibolite facies metamorphism as opposed to those outcropping north of the Blastomylonitic Belt that have only reached greenschist facies metamorphic grade. In light of the potential economic importance of these rocks and the distinction between the terms amphibolite and banded amphibolite (“amphibole schist”) that have crept into company reports on the area and other metallogenic studies, this paper, that does not intend to be a paper on fine metamorphic petrology, examines and records differences in texture, bulk geochemistry and mineral chemistry Amphibolite vs. banded amphibolite 215 between amphibolites and banded amphibolites and makes tentative observations regarding the protolith nature of these rocks from samples collected from outcrop and trenches in the area (figure 1) to investigate whether the differences observed at the mesoscopic scale are also evident at the microscopic scale, in view of the economic gold potential of these rocks in the area. 2. GEOLOGICAL AND STRUCTURAL SETTING The study area is located within a polygon that has at its extreme limits the towns of Alter do Chão and Arronches in the W and SE respectively (figures 1 and 2). The Série Negra (Black Series) is a package consisting of metasedimentary (metaarenites and metapelites), basic igneous (amphibolites and banded amphibolites) and felsic volcanic (metarhyolites) rocks (e.g. OLIVEIRA et al., 1991; de OLIVEIRA, 2001). The Série Negra occurs juxtaposed on both the north and south limbs of an asymmetric flower structure that contains, from north to south, low-grade metamorphic rocks (greenschist facies) to intermediate-grade metamorphic rocks (amphibolite facies) separated by a central corridor of high-grade metamorphic rocks (the Blastomylonitic Belt; figure 2) christened initially as the TCSZ. The TCSZ is, however, conventionally understood today to be the zone located immediately southwards of the Central Iberian Zone up to and including the Barreiros tectonised granitoids (e.g. OLIVEIRA et al., 1991; figure 2). The TCSZ is a geologically complex and diverse zone of intense deformation 216 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 1. Polygon of the São Martinho-Arronches area with sample locations. and metamorphism contemporaneous with a large sinistral displacement, which may be due to a large intracontinental sinistral fault active during the Variscan Orogeny (BERTHÉ et al., 1979) with sinistral displacements of 100 (BURG et al., 1981) to 300 km (ABALOS & EGUÍLUZ, 1992). This displacement caused mylonitisation and retrograde metamorphism (under greenschist to amphibolite facies) to all previous structures and mineral assemblages (QUESADA & MUNHÁ, 1990). PEREIRA & SILVA (2001) considered the Tomar Cordoba Shear Zone a major Eohercynian-Hercynian sinistral transcurrent fault overprinting a Cadomian arc localised at a convergent margin of Gondwana. The Portuguese sector of the TCSZ comprises a series of polymetamorphic structural-tectonic subdomains defined by PEREIRA in 1995 and 1999. These subdomains are, from north to south, UrraMosteiros-Ouguela Subdomain, DegoladosCampo Maior Subdomain, Arronches- Morenos-Caia Subdomain, Assumar Subdomain and the Alter do Chão-Elvas Subdomain. Each of these subdomains is a thrust fault-bounded package of rocks and the thrust faults and vergence are arranged in a flower structure more or less centered in the Blastomylonitic Belt (figure 1). The Blastomylonitic Belt (approximately the core of this flower structure) is made up primarily of Palaeoproterozoic age [2237 and 1700 Ma, by de OLIVEIRA et al., (2002) and ORDOÑES-CASADO (1998), respectively] migmatitic gneisses of the Campo Maior Formation. Within the TCSZ outcrops the Neoproterozoic Série Negra rocks (maximum age for the final stages of sedimentation, ca. 565 Ma; SCHÄFFER et al., 1993); the name derived as a result of the overwhelming majority of dark-coloured rocks that make up this series. The Série Negra outcrops scarcely both north and south of the Blastomylonitic Belt. Stratigraphically the Série Negra is made CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Amphibolite vs. banded amphibolite 217 Figure 2. Excerpt from the 1:500000 geological map of Portugal showing the simplified geology of the NE Ossa Morena and SE Central Iberian Zones (adapted after OLIVEIRA et al., 1992). The shaded area corresponds to the location of the study area that is located south of the Blastomylonitic Belt in amphibolite facies-grade metamorphic rocks (adapted after de OLIVEIRA, 2001). 218 de Oliveira et al. up of the (lower) Morenos and (upper) Mosteiros Formations (OLIVEIRA, et al., 1991). The Morenos Formation is made up of micaceous schists that are locally garnet-bearing, limestones and calc-silicate assemblages, meta-arkoses, meta-arenites (quartzites) and micaceous and siliceous schists, amphibolites and pyroclastic rocks (OLIVEIRA et al., 1991). The Mosteiros Formation consists of black schists/slates, greywackes, black cherts (quartzites?), limestones and amphibolites (OLIVEIRA et al., 1991). North of the Blastomylonitic Belt and unconformably overlying the Mosteiros Formation occurs the Urra Formation made up of a lower porphyry unit and an upper pelite/greywacke unit (OLIVEIRA et al., 1991) usually of a pale green colour (de Oliveira, 1998). At the TCSZ borders, a (Lower) Cambrian sequence of platform sediments is preserved, which unconformably overlies the Neoproterozoic Série Negra metasedimentary rocks (see figure 1) and consists of micaceous schists, amphibolites, metamorphosed carbonate rocks and pelitic schists (OLIVEIRA et al., 1991; PEREIRA, 1995). The amphibolites of the Série Negra in the vicinity of São Martinho are mostly hidden below a Palaeogenic clastsupported elluvium deposit that covers most of the area. Hence, in this area studies have mostly to resort to borehole samples. However, on the edges of this deposit further to the SSW of trig. beacon São Martinho (figure 1; location of sample DP91), small (< 2m-wide) outcrops of amphibolite occur. The best exposure of amphibolites and banded amphibolites is in the railway cutting CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) ESE of trig. beacon Travesso (figure 1; locations of samples DP42 and 43). Here the amphibolitic rock outcrops are dominantly massive (with local banding) in character with a dark colour and locally with ferruginous staining when slightly weathered. They outcrop adjacent to quartz-biotite schists, and black quartzites of the Série Negra and are intruded by aplitic veins, rhyolites and several apotheses of the Barreiros tectonised granitoid (figure 2.10 in de OLIVEIRA, 2001). Further to the E, near Assumar, the distinct banding of the banded amphibolites is more evident although outcrops are limited to small occurrences in road cuttings or stream beds. Two phases of Variscan deformation are identified in this sector (GONÇALVES et al., 1972a, b). The first phase of deformation (D1) develops folds with WSW verging axial planar schistosity (S1) with a tendency of the axial planes becoming more horizontal as one moves southwestwards. The second phase of deformation (D2) generated folds with subvertical axial planes or strongly dipping to the NE and striking NW-SE. D2 deformation generates refolding of the D1 structures and develops crenulation cleavage (S2) [PEREIRA, 1995]. The TCSZ is intruded by several preHercynian [e.g. the Late Cambrian (weighted mean 207Pb/206Pb age of 508 ± 8.1 Ma) Barreiros tectonised granitoids, de OLIVEIRA et al., 2002; the (ultra)basic to felsic intrsusions of Alter do ChãoCabeço de Vide,Campo Maior and Elvas), syn-Hercynian (e.g. the as yet to be dated elongated granitoid bodies E of Alter do Chão; figure 1) and late- to post- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Hercynian rocks (e.g. the Nisa and Santa Eulália granite batholiths). 3. PREAMBLE In order to follow our approach, a brief review of field and microscopic features of the amphibolitic rocks follows. Amphibolites are rather massive metamorphic rocks composed chiefly of hornblende and plagioclase (with An ≥ 17) and are diagnostic of the amphibolite facies of metamorphism. They are amongst the most common rocks formed by regional metamorphism of moderate-to- high-grade (WILLIAMS et al., 1982). Amphibolite facies metamorphism applies over a temperature range of approximately 500-650 ºC and pressures of 3-10 kb (figure 2.1 in SHELLEY, 1995). Amphibolite protoliths are commonly basalt, dolerite and gabbro. Banded amphibolites can be formed from a variety of rocks mostly from (ultra)basic to intermediate igneous rocks but also from impure calcareous and dolomitic sedimentary rocks (HYNDMAN, 1985). In thin section amphibolites show a preferred orientation of the hornblende prisms (WILLIAMS et al., 1982) defining a schistosity, a lineation or both (SPRY, 1969; SHELLEY, 1995), better defined in the banded amphibolites, where it is also well expressed mesoscopically. Banding in the banded amphibolites may be produced by segregation of constituents during recrystallisation or, alternatively, may be inherited from bedding or layering in sedimentary or igneous rocks, respectively (BATES & JACKSON, 1987). Amphibolite vs. banded amphibolite 219 4. DEFINITION STUDY AREA WITHIN THE Within the study area the distinction is made between amphibolite and banded amphibolite. This distinction stems from the more pervasive and penetrative schistosity (parallel to the schistosity in enclosing quartz-biotite schists) of the banded amphibolites vs. the more massive, homogeneous character of the amphibolites at the outcrop scale. The banded amphibolites show better-defined segregation of quartz and plagioclase crystals into discrete bands. Figure 3 exemplifies these features. However, these two lithologies often grade into each other and no sharp contacts between banded amphibolites and amphibolites are seen. Banded amphibolites extend for up to tens of metres within either amphibolites or quartz biotite schists. Though both banded amphibolites and amphibolites host gold mineralisation, it is more common in the former. 5. MINERALOGY AND TEXTURES The mineralogy of the amphibolites is generally similar in samples collected from outcrops and from trenches and boreholes. The only real difference between samples is the amount of alteration these have suffered as a result of the various prograde and retrograde metamorphic events. In both the amphibolites and banded amphibolites the grain size is extremely heterogeneous and can range from 10 µm to 250 µm in diameter. This value takes into account not only the amphibole size but also that of quartz, plagioclase and epidote (when present). 220 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 3. Photomicrographs highlighting the textural differences between banded amphibolite (A) and amphibolite (B). The former has a strongly developed schistosity with clear separation between alternating quartz/feldspar-rich bands (light) and amphibole-rich bands (dark) while the latter has a distinctly massive character. (Adapted after de OLIVEIRA, 2001). Mineralogically the banded amphibolites are made up of amphibole, plagioclase plus minor quartz with titanite and apatite with very few opaques set in a nematoblastic texture. No biotite was observed in the thin sections but discrete bands of biotite from intervening schists have been observed in borehole core. Microchemical analyses of the hornblendes and feldspars (average analyses shown in appendix 1 and appendix 2 respectively) allow these minerals to be classified, respectively, as predominantly magnesiohornblende (with a weak shift towards the actinolite and tschermakite fields) (figure 4A) and predominantly labradorite with a reduced num- ber of samples also falling in the andesine and bytownite fields (figure 4B). The amphibolites are more massive and consist of strongly coloured amphibole with mostly untwinned xenoblastic plagioclase, epidote plus minor quartz, titanite, magnetite, ilmenite and rare rutile. Garnet is common in higher-grade amphibolites (SHELLEY, 1995), but these have only been found in one sample near Assumar in a hornblende-garnet schist (sample DP69, figure 1; de OLIVEIRA, 2001,) gneiss similar to an amphibolite in mineralogy but interpreted as a retrogressed eclogite by PEREIRA (1999). Microprobe analyses of the amphiboles CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) and feldspars in the studied amphibolites allow these minerals to be classified as actinolite-magnesiohornblende, while the feldspars range from oligoclase to bytownite clustering into a oligoclaseandesine group and a different labradorite-bytownite group (figures 4A and B), both amphibole ands plagioclase diagrams being distinct from the banded amphibolites case. From this purely mineralogical point of view it would seem that both amphibolites and banded amphibolites in this area could be derived from basic protoliths. However, other alternative protoliths for the latter would also have to be suggested, since the presence in the banded amphibolites of discrete biotite bands may indicate a possible tuffaceous protolith (WILLIAMS et al., 1982) and in other cases, thin, variable bands rich in quartz, (carbonates) and biotite suggest a sedimentary origin (SHELLEY, 1995). 6. GEOCHEMISTRY 6.1. Methodology The samples were analysed by X-ray Fluoresecence (XRF) at the Dept. of Geology, University of the Witwatersrand in Johannesburg using a Philips PW 1400 with a rhodium X-ray tube at 50kV and 50mA. Strict quality control for major elements was done using the method laid out by NORRISH & HUTTON (1969) while quality control for the trace elements was carried out using the method laid out by FEATHER & WILLIS (1976). Absolute percentage errors and the standard deviation are set out in table 1. Amphibolite vs. banded amphibolite 221 6.2. Protolith signatures through geochemistry Since the contacts between the amphibolites and banded amphibolites are gradational, the geochemical analyses refer mostly to amphibolites and only in three cases where clear meso- and microscopic textural relationships were observed, banded amphibolites were analysed. All samples were free of analysis-contaminating features, e.g. quartz veins. Geochemically these rocks range from intermediate to basic in terms of their SiO2 content (table 1). Several plots, shown in figure 5, highlight some of the relationships obtained for these rocks in terms of their possible protoliths and tectonic setting. Using volcanic rock nomenclature diagrams, all samples plot in the basic fields of the diagrams shown by figures 5A and B. The diagram in figure 5A shows a spread of the amphibolite samples from the alkaline basalt to subalkaline basalt fields while the samples of the banded amphibolites plot on the border between the andesite/basalt and subalkaline basalt fields. The diagram in figure 5B mirrors the spread of amphibolite samples across the basalt and basalt-andesite fields whereas the banded amphibolites all plot within the basalt field. This approach corroborates, in a way, the previous considerations about a dominant basic protolith for these rocks. In order to evaluate the possible magma type the amphibolites may have been derived from, the set of samples has been plotted on the FeO(t)-(Na2O+K2O)-MgO (AFM) diagram (figure 5C). The spread of 222 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 4. A- Mineral classification diagram for the calcic amphiboles in amphibolite vs. banded amphibolite. Although both sets of amphiboles plot on the same field of the LEAKE et al. (1997) diagram, the amphiboles in the banded amphibolite, mostly classified as magnesiohornblende, while the amphiboles in the amphibolites cluster loosely across the actinolite and magnesiohornblende fields. B- Classification diagram for the feldspars in the amphibolites and banded amphibolites. The distribution of the types of feldspars that occur in the two lithologies is different. All diagrams plotted from data whose averages are shown in appendices 1 and 2. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) the amphibolite samples across both the tholeiitic and calc-alkaline fields of the diagram is observed. The banded amphibolite samples group tightly within the tholeiitic field (figure 5C). The diagram in figure 5D shows a plot of the samples with respect to their possible tectonic setting, tentatively Amphibolite vs. banded amphibolite 223 suggesting a within-plate versus a more MORB tectonic setting for amphibolites and banded amphibolites, respectively. However, the large scatter and lack of discrete grouping in any of the designated fields makes this diagram hard to interpret and is not conclusive. Table 1. Major and selected minor element geochemistry used for generating figures 5A, B, C and D. Fe2O3 was converted to FeO(t) and all major element values recalculated to 100% for the purposes of plotting the AFM diagram. Major element values expressed in wt% and minor element values in ppm. Absolute errors for analytical methods are shown: average of 5 calibrations for major elements and 3 calibrations for trace elements. 224 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 5. Geochemical relationships (after de OLIVEIRA, 2001) obtained for banded amphibolites and amphibolites. Figures A and B deal with the nomenclature of the various rocks (A - after WINCHESTER & FLOYD, 1977; B - after COX et al., 1979). The discrimination of tholeiitic from calcalkaline series is shown in the AFM diagram (C - after KUNO, 1968). The Zr/Zr-Y diagram for discriminating between within-plate, MORB and arc basalts is shown in D (after PEARCE AND NORRY, 1979). 7. DISCUSSION Amphibolite and banded amphibolite constitute a suite of rocks that are clearly distinguishable in the field on a mesoscopic scale. However, the above mentioned approaches and results, as well as the analytical data show that these rocks have a high degree of variability that is dependant on the mineralogy of each individual sample. Geochemical data are inconclusive with respect to establishing a tectonic setting perhaps due to an insufficient number of samples collected. The observed geochemistry and mineralogy indicate a probable basic protolith for both amphibolites and banded amphibolites, but the protolith could be more variable for the latter since they may also exist textures akin those found in rocks of sedimentary- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) tuffaceous origin as exemplified by the presence, in the banded amphibolites, of both discrete biotite layers and also the abundance of distinct amphibole-rich layers juxtaposed by plagioclase and quartz layers. Therefore, perhaps, this suite of rocks should be generically treated as amphibolite (s.l.) from a geochemical point of view but from a textural and mineralogical point of view these amphibolite and banded amphibolite should be treated as individual entities as they have been and continue to be by exploration geologists working in the area and in all the Ossa Morena Zone. Amphibolite vs. banded amphibolite 225 author and supervised by the second and fourth authors. We would like to acknowledge the contribution of Prof. F. M. Meyer of the Institut für Mineralogie und Lagerstättenlehre (Aachen, Germany) in supplying microprobe facilities and R. Solá of the IGM who helped with the diagrams. The senior author benefited from a Praxis XXI PhD bursary (BD/15877/98) awarded by the Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Messrs. A. Gouveia and A. Verde are thanked for polished thin section preparation. Mr. J. L. Pinto is thanked for help with sample collection and field work. ACKNOWLEDGEMENTS This work represents a small part of a much larger Ph.D. undertaken at the University of the Witwatersrand (Republic of South Africa) by the senior Recibido: 07-XI-02 Aceptado: 20-I-03 226 de Oliveira et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Appendix 1. Average microanalytical data for amphiboles. Structural formula calculated on an anhydrous basis to cations per 23O after RICHARD & CLARKE (1990); Fe2+ and Fe3+ calculated after ROBINSON et al. (1981). [Probe: JEOL JXA.8900R; 25 nA beam current; 15 kV accelerating voltage; 1 µm beam diameter; 10 and 5s counting times (peak and background respectively)]. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Amphibolite vs. banded amphibolite 227 Appendix 2. Average microanalytical data for feldspar. (Probe data as per appendix 1). 228 de Oliveira et al. REFERENCES ABALOS, B. & EGUILUZ, L. (1992). Evolución geodinámica de la zona de cisalla dúctil de Badajoz-Córdoba durante el Proterozoico Superior-Câmbrico Inferior. In: Paleozoico inferior de Ibero-América, Gutiérrez-Marco, J.C.; Saavedra, J. & Rábano, I. (eds.), Universidad de Extremadura, pp.: 577-591. BATES, R. L. & JACKSON, J. A (eds.) (1987). Glossary of Geology, 3rd Ed., American Geological Institute, Alexandra, Virginia, Thompson Shore, Inc., 788 pp. BERTHÉ, D.; CHOUKROUNE, P & JEGOUZO, P. (1979). Orthogneiss, mylonite and non coaxial deformation granites: the example of the south Armorican shear zone. Journal of Structural Geology, 1: 31-42. BURG, J. P.; IGLESIAS, M.; LAURENT, P. H.; MATTE, P. & RIBEIRO, A. (1981). Variscan intracontinental deformation: The CoimbraCórdoba Shear Zone (SW Iberian Peninsula). Tectonophysics, 78: 161-177. COX, K. G.; BELL, J. D. & PANKHURST, R. J. 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Vol. 28, pp. 231-262 Caracterización de cavidades de bloques graníticos y cuevas estructurales de VigoTui, (Galicia, España). Análisis morfoestructural del sistema de O Folón Description of a boulder cave system and structural caves from Vigo-Tui (Galicia, Spain). Morpho-structural analysis of O Folon site VAQUEIRO RODRÍGUEZ, M.1 ABSTRACT This paper studies the boulder fragment caves or erosion boulder caves and the structural caves located in a two mica granitic outcrop. This granitical outcrop is extended along the N-S axis, from As Laguelas (council of Cangas) to the river Miño bounded at the West by the Siluric-Precambiram complex of Monteferro - O Rosal, and at the East by the metamorphyc paragneises outcrop Vigo- Serra do Galiñeiro. Most of the studied caves are located between Vigo and Tui. The paper describe the endo and exo-karstic morpho-structural characteristics from eigth boulder caves located in the area. The caves or systems studied are: O Folón (Fragoselo, Coruxo), A Porteliña (Freixo, Valadares), A Chousa (Freixo, Valadares), A Cunchosa (As Laguelas, Aldán), A Casa do Demo (O Castelo, Vincios), O Ficho (Estocas, Vincios), A Raís (Arruidos, Vincios) and Os Santos (Freixo, Valadares). O Folón system is the more representative one structural cave. The paper examines this system relating geological structure, exo and endo-karstic forms and landscape, and poly-cyclical river incision. Cadernos Lab. Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 231-262 Granite weathering microforms (gnammas, over-sloped and flared sloped walls, tafone weathered in honeycomb mode), amorphous organic fulvic complex speleothemes, amorphous silica speleothemes, allophane concretions and other endokarstic forms are examined. Key words: Pseudokarst, no-karst, structural systems, granitic caves, genesis, policiclic evolution, morphologic characterization, organic speleothems, amorphous silica speleothems, occupation site Neolithic-Calcolithic-Bronze Age. (1) Manuel de Castro, 8 -3ºD – 36210 Vigo (Pontevedra)- Spain ([email protected]). Clube Espeleolóxico Maúxo. Travesía de Vigo, 195 - 7º C. 36207 VIGO (Pontevedra)- Spain (http://www.mauxo.com) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 233 1. INTRODUCCION Este trabajo estudia cavidades y sistemas graníticos de bloques fragmentados y erosionados (Boulder Fragment Caves o Erosion Boulder Caves (en.); Blocktruemmerhoehlen, Erosionsueberdeckubgshoehlen (gr.)) y en los sistemas graníticos estructurales (Structural Caves (en.); Tektonik gebundenehoehlen (gr.)) emplazados en un afloramiento de granito de dos micas (rocas ígneas, serie de granitos alcalinos) que se extiende en el eje N-S desde As Laguelas en el ayuntamiento de Cangas, hasta el río Miño, limitando al oeste con el complejo Silúrico-Precámbrico de Monteferro-O Rosal y hacia el este con el afloramiento metamórfico de paraneises con plagioclasa de Vigo - Serra do Galiñeiro. La mayor parte de las cavidades estudiadas en este afloramiento, se han localizado entre Vigo y Tui. La localización de la zona de estudio se indica en la (lámina 1). Este afloramiento se encuentra afectado por dos esquemas de fracturación posthercínicos diferenciados (IGME, 1981a; 1981b): a. Un esquema de fracturación (Fn) originado por fallas normales (normal fault, gravity fault, normal slip fault (en.)) con direcciones N30ºE y N30ºW y que se corresponden a una etapa de distensión mesozoica. Este esquema de fracturación afecta principalmente a la zona media y norte del afloramiento granítico. b. Un esquema de fracturación (Fd) originado por desgarres de direcciones coincidentes con la de los desgarres tardihercínicos originados en una etapa de distensión N-S. En la zona media e norte predominan las fallas de direcciones N60ºE, Nº170ºE y sus conjugadas (simétricas en relación con la dirección de distensión), mientras que en la mitad sur el esquema de fracturación se adapta a las direcciones N60ºE e N140ºE. Los sistemas estudiados en este área son: O Folón (Coruxo, Vigo), A Porteliña (Valadares, Vigo), A Chousa (Valadares, Vigo), A Cunchosa (Aldán, Cangas), A Casa do Demo (Vincios, Gondomar), Cobreiras (Vincios, Gondomar), A Raís (Vincios, Gondomar) e Os Santos (Valadares, Vigo). Se han analizado los rasgos morfoestructurales endo y exokársticos en ocho sistemas de cavidades de bloques fragmentados y cuevas estructurales que se localizaron en el afloramiento Vigo-Tui y en particular en el sistema de O Folón con una estructura mucho más compleja y desarrollada. Este análisis ha permitido determinar un conjunto de rasgos comunes que caracterizan a los sistemas de bloques y que se entiende constituyen la base para interpretar su génesis y evolución. Los rasgos morfológicos y estructurales que se han evaluado en estos sistemas son: a. Las direcciones principales de fractura, sus buzamientos y las alineaciones de bloques. Los planos de pseudo-estratificación y foliación de la roca. b. Las direcciones de apertura de fisuras debidas al asentamiento de bloques sin remoción asociada y las direcciones predominantes en otras galerías de pared continua. c. Los encajamientos fluviales y sus direcciones predominantes. Las formas y huellas de erosión fluviales: marmitas, canales. d. Los derrumbes y colapsos de bloques, los frentes y direcciones de las coladas formadas en el derrumbe. Se incluyen las depresiones tipo dolina, así como las Lámina 1. Localización Area de Estudio. Sistema granítico de O Folón. Fragoselo-Coruxo. 234 Vaqueiro Rodríguez, M. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 235 estructuras originadas por erosión de materiales blandos (pipping and gully erosion (en.); Tunnelerosion (gr.)) e. Los frentes y formas de alteración: Pías (gnamma-hole (en.)), formas llama y frentes extraplomados (over-sloped and flared sloped walls (en.)) y cacheiras (cacholas) (Tafone weathering in Honeycomb Mode (en.)). Formas de alteración degradadas, entre las que se incluyen formas seta (mushroom rocks, stone trees (en.); Pilzfelsen (gr.)), etc . f. Las mineralizaciones, los fenómenos de concrecionamento (espeleotemas) y su relación con los aportes de agua primarios y secundarios. Los resultados obtenidos se han visto reforzados por las observaciones realizadas en otras cuevas de bloques como Cabo de Lobo (Chandebrito, Nigrán), Pozo do Demo (Cabreiroa, Verín) y también en algunas cuevas laterales (Gorge Lateral Caves (en.); Kingenrandhoehlen (gr.)) asociadas a fracturas (fallas en cizalla) transversales al curso fluvial como Eiroa II (A Laxe, Fornelos de Montes). 2. TERMINOLOGIA Y CRITERIO 2.1. Marco de referencia En el presente documento se utilizan términos y símbolos que hacen referencia a morfologías típicamente endo y exo-kársticas. La utilización de términos propios de la morfología kárstica se realizará siguiendo el criterio de convergencia de formas (ERASO & PULINA, 1994), de forma que el término utilizado para designar la forma reconocible en el no-karst (Nichtkarsthöhlen (gr.)) o pseudo karst se ajustará al de su forma similar en el karst. La semejanza de formas sin embargo no implica un mismo proceso genético. En las mediciones, representación y simbología se ha aplicado el criterio de FEE (MARTINEZ I RIUS, 1992), con las consideraciones establecidas en (CEM, 2002). La simbología se ha completado con la documentación que figura en la base informativa de la UIS (UIS Cave Symbol: The definitive List). La lámina 2 incluye un resumen de la simbología topográfica utilizada. La sucesión de cursos fluviales colgados que conforman el curso de A Rega, se han designado mediante Li. Dónde i=0 es el nivel más antiguo. Cualquiera de los encajamientos se designará como Li/L(i+1) siendo Li su nivel de techo y L(i+1) su nivel de base. En 1996 el CEM inició un proceso de normalización de los resultados obtenidos en su proyecto de investigación de las cavidades no-kársticas. Esta normalización nace como necesidad de homogenizar los criterios y terminología con la que estaba siendo utilizada por otros investigadores y colaboradores del Comité de Pseudokarst de la UIS (Commission for Pseudokarst at the UIS). La terminología y criterios pueden consultarse en los documentos (CEM, 1999; FILED, 2002; STRIEBEL, 1995; TWIDALE, 1989; VIDAL ROMANÍ, 1989). En la tabla 1 se incluye copia del documento Resumen del Criterio de Clasificación de Cavidades Naturales del No-karst y Pseudo-karst Clasificadas Genéticamente. 236 Vaqueiro Rodríguez, M. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Lámina 2. Simbología utilizada en la topografía espeleológica. Resumen de los símbolos utilizados para la descripción de los rasgos morfo-estructurales más representativos. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 237 Tabla 1. Resumen del Criterio de Clasificación de Cavidades Naturales del No-karst y Pseudo-karst Clasificadas Genéticamente. 238 Vaqueiro Rodríguez, M. 2.2. Definiciones Perfíles de encajamiento similares Se entiende que dos perfiles de encajamiento son similares cuando presentan la misma transversal (sección media equivalente) y la misma profundidad de incisión vertical). Profundidad de incisión Se entiende por profundidad de incisión en el canal del encajamiento Ln/Ln+1, la diferencia de cotas entre el techo Ln y la base del canal Ln+1. Espelotemas y mineralizaciones orgánicas Estos fenómenos de concrecionamiento son procesos ligado al ciclo de pérdida y aportación de materia orgánica (compuestos carbonatados) al suelo. Cada etapa de este ciclo depende de factores externos que en mayor o menor grado van a repercutir en el tipo de concrecionamiento. La velocidad de aportes depende de la ventilación de la cavidad, temperatura, tipo de vegetación y de la alternancia y duración de los ciclos de humectación desecación de los depósitos. La principal pérdida de materia orgánica del suelo se realiza por transformación en anhídrido carbónico (CO2) tanto por difusión directa en la atmósfera como por lavado en forma de ácido carbónico o bicarbonato. En los suelos ácidos y en función de la acidez, la materia húmica del suelo se fracciona, formando un compuesto orgánico soluble que, por acción de las lluvias, es lavado desde la capa superficial. Este compuesto, caracterizado, frente a otras frac- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) ciones de la materia húmica, por su solubilidad tanto en álcali como en ácido, es el que da origen al fenómeno de concrecionamiento orgánico. El ácido fúlvico no es un compuesto químico puro. Su composición es variable y depende de algunas condiciones de fraccionamiento de la materia húmica, entre ellas el pH. Una de las propiedades de las fracciones del humus (en general ácidos húmicos) es su capacidad para retener cationes metálicos bivalentes como el cinc, calcio, manganeso, hierro ferroso, cobalto, níquel y cobre y trivalentes como el hierro férrico y aluminio, formando complejos orgánicos con estabilidad similar a la de un quelato. La coloración de las formaciones dependerá tanto de la pureza del precipitado como de la proporción existente entre los diversos cationes metálicos. El análisis cualitativo de muestras de espelotemas del tipo denominado Coral Roxo en este trabajo, indican la ausencia de carbonatos, nitratos y fosfatos (determinación negativa de aniones). Se han identificado cationes Fe+2/Fe+3 (alto) y Al+3 (bajo). El agregado orgánico presente en las formaciones es amorfo y de fractura terrosa. Los concrecionamientos presentan en algunas cavidades alternancia de capas orgánicas e inorgánicas. Los niveles inorgánicos son agregados de silicatos alumínicos hidratados (alofanos). Estructuras similares, en las que se combinan silicatos de aluminio con fosfatos Al-Fe y sulfato de bario han sido descritas por (MELKA y CÍLEK 1982). También la combinación de fosfatos Al-Fe con minerales orgánicos y silicatos alumínicos (evansita-alofanopigotita) han sido descritas por (URBANI 2002) en cavidades venezolanas. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 239 El elemento predominante en las concreciones de este sistema es el gour milimétrico (o microgour, micro-rimstone dams), aunque se han localizado conjuntos importantes de formaciones con gours decimétricos. Los gours se asocian por superposición formando, en función de la pendiente de la roca base, coladas de microgours o conjuntos de gours superpuestos. El microgour cubre la superficie de todas los demás tipos de formaciones: estalactitas, estalagmitas, columnas, colgaduras, órgano (llamado así por similitud con los tubos de órganos catedralíceos) y bandas (fotografía 1). Espeleotemas inorgánicos de sílice El estudio de la composición mineralógica de estas concreciones se realizó sobre muestras de estalactitas ramificadas fractaloidemente, tomadas en el Paso das Oias en el sistema de O Folón. Se han aplicado técnicas de difracción de Rayos X sobre las muestras pulverizadas. Los minerales identificados en la muestra son la sílice y la moscovita. Fotografia 1. Espeleotemas orgánicos próximos a la Sala da Burbulla en las proximidades del encajonamiento L L3/L4 que canaliza el curso actual hasta la cascada. Los espeleotemas se encuentran en un aporte secundario de agua. Presentan la superficie “erosionada” debido a las crecidas que inundan la sala durante el invierno (zona sifonable). 240 Vaqueiro Rodríguez, M. 3. CARACTERIZACION DE LOS SISTEMAS DE BLOQUES FRAGMENTADOS Los sistemas de bloques fragmentados del afloramiento granítico Vigo - Tui , se caracterizan por los siguintes rasgos: a. Los sistemas se han generado como consecuencia del encajamiento fluvial de un curso de agua. Este curso de agua lo denominaremos curso primogenético o primogénico, con el sentido de primer agente espeleogenético. b. En los casos estudiados, el curso de agua atraviesa un escalonamiento de bloques definidos por discontinuidades (fracturas, fallas, diaclasas) del esquema mesozoico (IGME 1981a y b). c. En algunos sistemas el encajamiento fluvial primario estaría favorecido localmente por la presencia de una falla de dirección coincidente con el esquema tardihercínico (IGME 1981 a y b). En estos casos el curso puede presentar un encajamiento policíclico que se adapta a las direcciones de la red de fracturas.(IGME 1981a y b). Estos sistemas de bloques fragmentados y erosionados constituyen el grupo de los sistemas estructurales. En algunos sistemas como O Folón y A Cunchosa el curso fluvial llega a encajarse a favor de las fracturas que originaron el escalonamiento de bloques que promovió el comportamiento torrencial del curso inicial. d. Cuando no exista fracturación alteración según la fracturación que facilite el encajamiento fluvial, el curso de agua mantiene una circulación predominantemente superficial, con algunos tramos subterráneos situados a escasa profundidad. Los sistemas de cavidades se originan por la combinación de los derrumbes de CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) bloques centrales y laterales provocados por la erosión remontante y lateral en planos de fracturación subverticales y subhorizontales, la alteración de la roca y el lavado y remoción de los materiales disgregados. En alguno de los casos, el derrumbe lateral se produce a favor de los planos de foliación por deslizamiento de la estructura de lajas hacia el valle. Las estructuras residuales laterales y centrales, en conjunto, constituyen los sistemas de bloques fragmentados y movilizados. e. Se han observado cuevas laterales (Gorge Lateral Caves (en.); Kingenrand-hoehlen (gr.)) originadas a favor de fracturas transversales al curso fluvial. En algunos casos las discontinuidades asociadas a estas cuevas pueden originar canales laterales que actúan como captadores del agua de escorrentía superficial o proveniente de otros aportes secundarios. En el caso de que produzca esta captación, la fisura o cueva lateral puede iniciar también su propia evolución como consecuencia de la combinación de la acción erosiva del aporte secundario y de la alteración de la roca. Aparecen así pequeños subsistemas de bloques (sean clasificables como estructurales o no). Conviene destacar que la acción erosiva del curso inicial alterará el nivel de base del aporte secundario canalizado en la fractura, por lo que este curso transversal se mantendrá en evolución continua. Ejemplos de la captación de un aporte secundario en una fractura subvertical lateral, se encuentran en el sistema de Cobreiras y en A Chousa. De este último se conserva mayoritariamente el subsistema lateral. Ejemplos de captación de un aporte secundario en una fractura de plano subhorizontal pueden observarse en A Porteliña y en O Folón. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 241 f. La presencia de una estructura de lajas, el deslizamiento de bloques en la ladera provoca una acumulación de bloques y cavidades con galerías de progresión paralela al frente de deslizamiento y avance ascendente paralelo a la ladera, mientras que las cavidades asociadas a la acumulación de bloques centrales, mantienen una progresión escalonada y condicionada a la estructura del curso de aguas y el asentamiento de los bloques residuales. g. Exceptuando el sistema de O Folón (sistema estructural), los sistemas de bloques fragmentados no conservan formas de erosión fluvial importantes. Existen sin embargo depósitos de cantos rodados generalmente de escasa potencia en O Folón, Cobreiras y A Cunchosa. h. Se han localizado formas menores en casi todos los sistemas estructurales. Generalmente son estructuras simples de oquedad única subhorizontal, formas llama o frentes extraplomados. Solamente se han localizado estructuras tafone complejas (cacholas) en el sistema de A Chousa y O Folón. Destacar la localización de un bloque en forma de seta (mushroom rocks, stone trees (en.); Pilzfelsen (gr.), términos recogidos en el sistema de Cobreiras. i. Los sistemas estructurales y de bloques fragmentados presentan por lo general dos zonas diferenciadas: Una zona asociada al curso fluvial dónde predominan los efectos de la erosión sobre la alteración de la roca y una segunda dónde la cavidad evoluciona básicamente por alteración degradando incluso las superficies y formas de erosión. Hay sistemas como A Chousa y A Raís, dónde el curso fluvial, por encajamiento y desplazamiento, ha abandonado completamente la circulación subterránea. También se ha observado que en muchos sistemas, incluso estructurales, los efectos de la alteración de la roca han borrado las huellas de erosión incluso en las proximidades de los canales de circulación actuales. j. Todos los sistemas estudiados son posteriores a la formación de la roca en la que se emplazan y a la definición de los esquemas de fracturación que siguen. 4. EL SISTEMA DE O FOLÓN 4.1. Consideraciones generales El sistema de O Folón es una cavidad estructural asociada a una fractura con desplazamiento cuyo plano de falla se adapta a la dirección N170ºE coincidente con las direcciones de los desgarres tardihercínicos en el área. La cavidad se ha desarrollado en granito de feldespato alcalino con intrusiones de leucogranitos y granitos moscovíticos (IGME, 1982b). Este sistema canaliza el río de A Rega a su paso por la población de Fragoselo, Coruxo, Vigo. Este río a su paso por el encañonamiento de O Folón presenta una estructura de curso policíclico con desplazamientos y encajamientos sucesivos del curso de aguas, lo que permite observar tramos de curso abandonado, colgados en diversas cotas a lo largo del sistema. Los desplazamientos y encajamientos se producen a favor de fracturas subverticales. Internamente el sistema progresa siguiendo la intersección de fracturas de direcciones aproximadas N30ºE (con buzamiento 70º - N60ºW), N60ºE, N60ºW y N160ºE. Los cambios de dirección y de sección importantes están rela- 242 Vaqueiro Rodríguez, M. cionados con la intersección de discontinuidades adaptadas a estas direcciones. Se ha observado una foliación subvertical en el curso inferior del sistema en la zona de Pozos Xemelgos. La estructura de la cavidad en esta zona parece adaptarse a estos planos. La topografía actual permite estimar un trazado lineal del sistema de aproximadamente 169 m, con un desnivel total entre la zona de absorción y la cota mínima de 30 m. Hasta la fecha se han topografiado un total de 425 m de galerías. Destacar la presencia de varias zonas sifonantes de alto riesgo, vinculadas principalmente al encajamiento L3/L4. Con el objeto de determinar la evolución de la estructura del sistema, se han estudiado las relaciones entre los tramos de curso colgados a lo largo del encajamiento subterráneo y superficial del Río da Rega, entre el lugar de Muiño do Tío Lourenzo y el puente de Fragoselo. La evaluación de los perfiles transversales del valle y cañón fluvial, así como la correlación entre estructuras similares situadas en cotas relativamente próximas a lo largo del cañón permiten determinar la sucesión de perfiles longitudinales seguida por este curso fluvial. Además, el análisis de los perfiles transversales del valle y sus encajamientos aguas arriba del sistema de cavidades permite determinar perfiles para el curso inicial previo a la formación de la estructura subterránea. La evaluación conjunta de los perfiles longitudinales de este curso primogenético y de las estructuras subterráneas y superficiales residuales que delimitan los cursos desplazados y colgados, han permitido establecer una sucesión de perfiles longitudinales que se corresponderían con CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) las distintas etapas del modelado endokárstico. Los modelados endo y exokársticos serían singenéticos al desplazamiento y encajamiento del curso fluvial. La correlación entre los tramos colgados del curso policíclico se ha establecido en base a la profundidad de la incisión del canal en cada etapa de encajamiento y a la similitud de perfiles transversales. Los diagramas de correlación entre las potencias de incisión se han incluido en la lámina 3 y se resumen en la tabla 2. Tomando como base la cartografía general del sistema se ha elaborado una topografía en planta y alzado detallando los rasgos morfo-estructurales observados (láminas 3 y 4), así como la secuencia de perfiles de encajamiento. Esta secuencia se ha basado en el principio de superposición. Se han señalizado los siguientes rasgos: a. Curso de aguas y encajamientos fluviales reconocibles: Sobre la cartografía general de la planta se han señalizado los límites de los encajamientos fluviales reconocibles. Combinando la topografía de planta/alzado general del sistema se han determinado las cotas y relaciones aproximadas entre los límites de los encajamientos. Se han estimado también las curvas de nivel calculadas para las zonas de cavidad con curso difuso (bien en la actualidad, bien durante alguna de las etapas anteriores). Sobre la topografía final se han situado las formas de erosión principales, así como el curso de agua actual. Los límites de las galerías del sistema se han marcado con dos grosores diferentes para discriminar los límites difusos de las galerías (fino), de los labios continuos (grueso). b. Perfiles longitudinales del curso de aguas: Sobre la cartografía general del alza- Lámina 3. Sistema granítico de O Folón. Rasgos morfo-estructurales y curso policíclico. Detalle de rasgos morfo-estructurales observados, así como de la secuencia y correlación de perfiles de encajonamiento. Incluye un diagrama de encajonamientos (potencia y sección) para los cursos L0, L1, L2, L3, L4, QAL y L5 en distintas zonas del sistema. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 243 244 Vaqueiro Rodríguez, M. do se han superpuesto los perfiles longitudinales del río da Rega en su paso por O Folón, correspondientes a los ciclos sucesivos de erosión y encajamiento. Los escalones de cada perfil se han establecido en base a los límites determinados sobre la topografía para cada uno de los encajamientos fluviales. c. Rasgos geomorfológicos internos: Detalle de las fracturas principales sobre la cartografía general en planta. Se indican las direcciones de fractura principales, secundarias y supuestas en cada zona, los buzamientos observados, las formas de erosión actuales o degeneradas, los aportes secundarios de agua y las zonas de concrecionamiento. d. Rasgos geomorfológicos externos y curso de aguas: Se indican la situación del curso de aguas superficial y subterráneo, los límites estimados para los hundimientos observados externamente (los límites de los hundimientos tipo dolina han sido cartografiados externamente). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 4.2. Descripción del sistema En el presente capítulo se realiza un descenso del curso fluvial actual del sistema de O Folón (L4) describiendo y destacando los rasgos morfológicos y estructurales, así como otros rasgos del modelado endokárstico. 4.2.1. Zona de absorción (absorption area): ZA La Zona de Absorción es el área pantanosa dónde el río da Rega es canalizado al interior del sistema. Esta zona está formada, en su techo por limos arenosos y aluviones cuaternarios. Los niveles visibles de la base del depósito están formados por bloques graníticos de tamaño variable Se han localizado puntos concretos de absorción de aguas, originando estructuras sedimentarias en los limos y depósitos orgánicos, con morfologías típicas de cavidades en materiales blandos (piping y Tabla 2. Correlación entre las potencias de incisión y los tramos colgados del curso policíclico de A Rega en el sistema de O Folón. Lámina 4. Sistema granítico de O Folón. Encajonamientos e interpretación del curso policíclico. Detalle de rasgos morfo-estructurales observados, así como de la secuencia y correlación de perfiles de encajonamiento. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 245 246 Vaqueiro Rodríguez, M. gully erosion (en.); tunnelerosion (gr.)). En la topografía se han indicado los puntos concretos de absorción identificados entre 1992 y 2002. A pesar de la existencia de estos "puntos concretos de absorción", la estructura de bloques de la zona origina una absorción difusa en la zona del pantano. 4.2.2. Pozo da Rá: PR Este pozo permite alcanzar el curso de aguas subterráneo en las proximidades de la Zona de Absorción. La boca del pozo constituye la cota cero del sistema y se localiza en el margen derecho del río entre los bloques que formaron el lecho (superficial) de un canal de circulación del río en la superficie. Este canal, originado en las primeras fases del encajamiento L0/L1, actúa de aliviadero para el pantano, cuando la absorción no es capaz de drenar suficiente caudal del río. Este canal tiene varios pozos de drenaje intermedio que canalizan las aguas directamente hacia Cova Grande. El pozo desciende hasta un primer nivel situado a -3.5 m. Las galerías laterales permiten alcanzar el curso de aguas destrepando varios bloques hasta los -8 m aproximadamente. Una de las salas del nivel -3.5 converge ascendentemente, con una pendiente media de 20º, hacia la dolina y aliviadero situado en las proximidades del pozo de entrada. Este pozo actúa también como drenaje de la absorción durante las crecidas y aunque la zona está prácticamente inundada en invierno, se han localizado depósitos de concreciones orgánicas en la cota -6 m. Las mineralizaciones se localizaron en 1994 y CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) se han revisado en agosto de 2002 sin poderse apreciar cambios o alteraciones en el conjunto: Los elementos más destacables del conjunto de espeleotemas de Pozo da Rá son de composición orgánica. Los microgours superficiales mantienen los rebordes erosionados aunque se reconoce la morfología original. El curso de aguas se alcanza a través de un resalte abierto formado entre unos bloques y un conjunto de marmitas telescópicas o sobreencajadas situadas sobre la roca base horadada por el río subterráneo. El conjunto de "pozo-absorción-caos de bloques" parece asociado a la intersección de fracturas de direcciones N60ºW y N60ºE. El curso de aguas evoluciona siguiendo la dirección aproximada N60ºW. El fondo del curso de aguas es arenoso, sin que se pueda apreciar la roca base salvo en algunos resaltes y encajamientos (asimilados según las zonas con L2/L4 y L3/L4). La galería mantiene un ancho medio de 1 m, si bien llega a estrecharse hasta los 40 cm. En algunos puntos, zonas señaladas como sifonantes en la topografía, la altura de la galería llega a reducirse hasta los 35 cm. En los laterales se aprecian formas erosivas tipo marmitas y marmitas degradadas. Apenas se aprecian cantos rodados en el curso actual. El fondo arenoso cubre el total del ancho de la galería. El nivel mínimo de agua en verano mantiene cubierto todo el ancho de la galería por lo que no se aprecia erosión diferencial en los depósitos arenosos del curso de aguas. La galería de este tramo del curso subterráneo, aparentemente circunvala el macizo por su cara SSW. Se alcanza Cova Grande en la cota -14 m, en una intersección con el eje de dirección aproximada N30ºE. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 247 4.2.3. Cova Grande: CG Esta cavidad se sitúa en los límites de la Depresión Central (swallowhole area). La boca de la cavidad abre hacia esta depresión. La cota absoluta de la boca es de -5 m. En la estructura de Cova Grande destacan los siguientes elementos: a. La bóveda tiene una altura media de 6 metros. Las paredes son continuas y pulidas por la erosión fluvial. La pared E de la galería presenta restos de marmitas degeneradas. Estas marmitas se degradaron por la erosión remontante que abre Cova Grande. Originalmente alcanzaron los niveles de los pozos de drenaje (collector shaft) y aliviaderos del canal de circulación superficial de aguas. Uno de estos aliviaderos es Pozo Bernardiño. En los niveles superiores del Pozo se han localizado niveles de roca muy alterada. b. La galería que comunica el curso de aguas con la boca exterior mantiene el eje original N60ºW del curso fluvial desde Pozo da Rá. La galería de entrada a Cova Grande está formada por paredes continuas en el lateral izquierdo (sentido ascendente) y por bloques "sueltos" en el lateral que da contra la depresión. Las galerías secundarias que permiten acceder a Niño de Cuco, mantienen aproximadamente también la dirección N60ºW y serían bloques basculados gravitacionalmente al N hacia la depresión. c. Cova Grande termina en la sala llamada Niño do Cuco. Esta sala tiene la pared E formada por roca continua. Se puede escalar hacia Pozo Bernardiño subiendo sobre los bloques basculados de Cova Grande. Uno de los bloques sostiene un depósito formado por lodos húmicos y abundantes fragmentos de materiales alóctonos entre los que se ha identificado cuarzo y esquistos. El depósito forma una colada de unos 2,5 m. d. Los espeleotemas orgánicos localizados en esta cavidad están vinculados siempre a paredes "continuas", próximos a los aportes de agua y pequeños manantiales que afloran en la cavidad asociados a discontinuidades subhorizontales de la roca. Los concrecionamientos que se forman son principalmente agregados húmicos que dan lugar a coladas de microgours superpuestos. e. Cova Grande está constituido básicamente por el encajamiento L2/L3 (fotografía 2). Los bloques que conforman las galerías ascendentes hacia la depresión solamente presentan superficie erosionada en las cotas más bajas lo que indicaría que el basculamiento de los bloques hacia la depresión sería post L2, coincidiendo posiblemente en las últimas fases del tránsito L2/L3. 4.2.4. Depresión Central (swallowhole area) En esta zona el curso de aguas es relativamente plano. Apenas hay variaciones de cota en el curso subterráneo. Los mayores accidentes están provocados por pequeños represamientos, sifones y zonas sifonantes. Externamente está caracterizada por la presencia de una gran dolina. Los bloques graníticos que forman el sistema tienen un tamaño medio menor que en otras zonas, lo que indica una mayor compactación de la estructura. La zona E está acotada subterráneamente por una pared granítica continua. En la zona NW se alzan en el 248 Vaqueiro Rodríguez, M. exterior formas dómicas cuya base hace de muro entre la dolina y el cañón exterior del río que se abre hacia el N. Hacia la intersección de Pozo Cabrón, abundan las marmitas. Muchas se encuentran en el curso de agua actual, sumergidas permanentemente, por tanto activas. La dispersión y compactación de los bloques que conforman la depresión no permite observar encajamientos modernos o antiguos Solamente se han apreciado algunas marmitas degradadas y que se han asimilado a L3/L4. Se considera que la disgregación en bloques de este tramo intermedio sería debido a la presencia de una zona con una alta densidad de discontinuidades. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) La proyección en planta de las galerías de la depresión permiten intuir una sucesión de numerosas discontinuidades paralelas de eje N60ºE distribuidas asimétricamente con distancias medias de 5 m. La red de fracturación local podría ser la formada por los ejes de dirección N160ºE, N60ºE (alineación de bloques en el sifón central), N60ºW y N30ºE. Asociados al endokarst de esta gran dolina caben destacar los siguientes elementos: a. Cova de Coral Roxo: Pequeña cavidad que destaca por los espeleotemas orgánicos (se han medido potencias de concrecionamiento de más de 120 mm) y por la presencia de estalactitas inorgánicas (mond- Fotografia 2. Sala principal de “Cova Grande”, formada por el encajonamiento L2/L3 – L1/L3. Fotografía tomada desde el colapso que genera el inicio de la zona sifonable del curso Pozo da Rá – Cova Grande. El colapso se genera por la intersección de discontinuidades N60ºE-N60ºW-N160ºE El tramo fotografiado progresa en N30ºE-Nº160ºE. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 249 milch tipo A Porteliña, formado por minerales arcillosos: alofano). Desatacan también los conjuntos de "huevos húmicos", formas de erosión similares a las conocidas como clay balls. Algunas de las galerías ascendentes y chimeneas de esta cavidad terminan en depósitos húmicos que colmatan total o parcialmente los pasos. b. Cova da Cascada (fotografía 3): Esta cavidad comunica con el curso de aguas en tres puntos del sistema: Burbulla, Pozo Cabrón y Xebas (Mirador da Cascada). La cavidad es un caos de bloques asociado a la intersección de dos fracturas de direcciones N160ºE y N30ºE. Ambas fracturas han canalizado el curso de aguas provocan- do dos saltos de agua importantes, con direcciones diferentes. Destaca el recorrido de Pozo Cabrón, pozo que se inicia en la cota -12 m y que comunica la depresión con el curso de aguas de Xebas a -23 m, tras descender primero una cavidad lateral formada a favor de N160ºE y a continuación una cascada encajonada (encajamientos L3/L4) de unos 5 m de altura, formada a favor de N30ºE. La boca de este pozo enlaza con la parte superior de la cascada a través de dos resaltes encadenados de 2 y 4,7 m respectivamente. c. Las huellas de actividades antrópicas trogloditas desde el IVº milenio AC (siendo cautos) hasta nuestros días. La localiza- Fotografia 3. Topografiando el paso de enlace Cova da Cascada – Pozo Cabrón. La galería progresa entre los bloques residuales situados sobre L2/L3-L21/L3 y que asientan sobre el plano subhorizontal que ha generado L21. 250 Vaqueiro Rodríguez, M. ción de algunos materiales arqueológicos "bien colocados" en algunas galerías prácticamente inaccesibles de la depresión sería un indicativo de que el colapso del sistema que originó la dolina central se produciría en una época relativamente moderna. No se descarta que la evolución del sistema, además de depender de factores exógenos, estuviese relacionada con factores tectónicos (factores endógenos) relativamente modernos y que hubiesen afectado en mayor o menor grado a la red de fracturas o al asentamiento de grandes bloques. Son conocidos, por ejemplo, en la zona terremotos importantes en los años 450, 1279, 1355, 1366, 1725 (AVILA & LA CUEVA 1956). Existen algunas leyendas locales sobre el derrumbe estruendoso de un "outeiro" (Os Penedos da Moura, Fragoselo) próximo al sistema de O Folón. Los materiales arqueológicos de O Folón se han localizado dispersos y "colgados" en las galerías y pozos a distintas alturas. d. El estancamiento de las aguas y la difusión del curso en la Burbulla y galerías convergentes es debido a la presencia de un cuello de botella formada a favor de la discontinuidad de dirección N160ºE que origina el Pozo Cabrón. Esta fractura canaliza el río desde la sala Burbulla hasta la parte superior de la cascada, entre paredes continuas formadas principalmente por el encajamiento L2/L3 que conforma la base del Laberinto de Xan Xebas y por la base de las formas dómicas exteriores (paramentos de L0) hacia el W. e. Los espeleotemas orgánicos se encuentran vinculados principalmente a paredes "continuas" (no se originan grandes concrecionamientos sobre bloques sueltos) sobre las que circula o cae agua. Algunos CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) de los aportes son pequeños manantiales que afloran en la cavidad asociados a discontinuidades predominantemente subhorizontales. Estos agregados dan lugar a coladas de microgours superpuestas, a formas colgantes degradadas tipo "medusa" y "tubos de órganos". Destacar la localización de materiales arqueológicos afectados por los concrecionamientos. 4.2.5. Xan Xebas: XX Se llega a esta cavidad tras descender la cascada desde Pozo Cabrón. La parte inferior de la cascada, la Bañera, tiene un ancho medio de 3 m. El frente de la cascada es una pared granítica de unos 60º de pendiente y una boca de más de 1,5 m de ancho, con diferentes "ventanas", situadas en una misma cota y formadas a favor de una discontinuidad de plano horizontal. Esta estructura se justificaría por la circulación de un curso a modo de tubo de presión, siguiendo esa discontinuidad subhorizontal. La reducción del caudal de agua provocaría una recanalización y concentración del curso en sus cotas locales más bajas y que por lo general coincidirían con las zonas de fracturación más erosionadas. El encajamiento es consecuencia de una erosión remontante siguiendo el plano subvertical de la fractura base que origina X.Xebas. Este encajamiento buza unos 70º - N60ºW (estimación sobre fotografía). La cota de la Bañera de la Cascada es de -23 m. La salida de la Bañera se hace, a nivel de curso de aguas, a través del llamado Paso das Oias (fotografía 4). El río atraviesa un pequeño colapso de la cavidad y vuelve a ser visible en la zona de El CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 251 Pasamanos. El río desaparece en una zona sifonada en la cota -25m, encajonándose posiblemente a favor de N30ºE. La pared NNW de esta galería es continua en toda su altura hasta la superficie. Se supone incluso que forma base de alguno de las paredes exteriores del cañón exterior, incluyendo niveles de L0 y anteriores. La pared E se fragmenta en bloques progresivamente desde la cascada (Cova da Cascada) hasta el Arenal. En esta pared se han localizado marmitas en cotas de hasta 5 m sobre el curso de agua actual y que se situarían sobre los niveles L1 y L2 coincidiendo en cota sobre el plano de la discontinuidad subhoriontal que determina el nivel de base de Pozo Cabrón y la Depresión Central. La desmembración en bloques de esta pared se observa en el deslizamiento a favor de N30ºE (?) de los bloques que forman las marmitas siguiendo discontinuidades subhorizontales con buzamiento al N. Existe una galería situada a una altura de unos 4 m sobre el Paso das Oias, formada por bloques graníticos colgados. En esta galería se aprecian también marmitas degradadas. Se han localizado conjuntos de concrecionamientos orgánicos importantes en los bloques continuos de Xan Xebas, en la pared E del Arenal, zona en la que se produce la intersección de las dos direcciones de fractura que Xebas de Xemelgos. Nuevamente los concrecionamientos se apoyan sobre paredes continuas como consecuencia de aportes de agua que surgen según discontinuidades subhorizontales. También se han localizado pequeños concrecionamientos asociados a discontinuidades en las paredes de la Bañera en cotas superiores a los 2 m. Fotografia 4. “Paso das Oias”: Marmitas en L3/L4 , en el curso fluvial actual de X.Xebas. El curso progresa en N30ºE. 252 Vaqueiro Rodríguez, M. Existen algunas cavidades intermedias con boca próxima a Xelmelgos que convergen a Xan Xebas en esta misma cota. Uno de los ejemplos más interesantes es Pozo Morto, cavidad que progresa en una fractura de plano principal N160ºE con pared al E continua. Esta pared marca el otro límite del cañón exterior. El fondo de la Bañera está formado por arena de grano medio. El resto del curso de agua tiene un fondo recubierto por detríticos gruesos abundando los cantos rodados de granito. Destaca el depósito detrítico del Arenal cuyas dimensiones varían con cadencia anual,( en función de las crecidas). La arena se encuentra retenida por los bloques colapsados en la salida del río subterráneo hacia Xemelgos. Existen en esta sala varios aliviaderos parcialmente colmatados. En épocas de avenidas continuas el depósito puede llegar a ser removido totalmente por lavado y arrastre. En los niveles superiores de Xan Xebas hay varias galerías y cavidades como son Laberinto I, Laberinto II y El Ermitaño que no han sido topografiadas hasta la fecha. El Laberinto II desciende desde la superficie hasta el Paso das Oias, siguiendo el caos de bloques y lajas acumulado en la fractura N30ºE vertical con buzamiento 70º - N60ºW. La galería está formada por la pared W del cañón y los bloques disgregados de Xan Xebas. La cavidad del Ermitaño presenta forma tipo tafone. En su interior se aprecian direcciones de fractura en los bloques coincidentes con las observadas en Pozo Cabrón. Esta pequeña cavidad se sitúa aproximadamente por encima del techo de la sala de la cascada. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) La boca de Xan.Xebas se alcanza ascendiendo varios resaltes encadenados situados por encima del Arenal. El primer resalte de 3 m nos lleva al nivel del Pasamanos (fotografía 5), techo local del encajamiento L2/L3. El segundo resalte, se correspondería con los límites del encajamiento L1/L2, tiene una altura desde el arenal de 5 metros (fotografía 6). Aproximadamente en la cota -16 m podemos acceder al Laberinto I, estructura de bloques construida sobre L1. Es un área formada por un caos de bloques muy compacto, en el que también se pueden apreciar varias direcciones de fracturación del sistema, predominando N60ºE y N160ºE. La boca exterior se alcanza ascendiendo un resalte de 3,6 metros y nos sitúa aproximadamente en la cota -13 m del sistema. Destacar finalmente la presencia de concrecionamientos inorgánicos, similares a los espeleotemas de sílice-moscovita localizados en el sistema de A Porteliña. 4.2.6. Xemelgos: PX Al N de la boca de X.Xebas se encuentra un resalte exterior formado por varias lajas y bloques graníticos. En su base se abre una pequeña gatera de unos 4 m de longitud y que avanza en dirección N60ºE. La galería termina en un bloque colgado que tapona los llamados Pozos Xemelgos, dos pozos paralelos situados en una zona de fracturación de ejes N160ºE (el eje principal del curso de aguas en esta zona )y N60ºE. En la pared W del cañón se aprecia una foliación subvertical con buzamiento variable en todo el ancho del cañón, pero que en esta zona de pared continua se aproximaría a los 70º - N60ºW. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 253 La boca del pozo se sitúa en la cota 20 m. El curso de agua se alcanza en la cota -27 m. El curso de aguas se unifica pero luego se dispersa al entrar en Xemelgos lo que se justifica por el aplanamiento del suelo de la cavidad. El curso de agua se encaja levemente en el salón principal. En sus laterales se pueden ver pequeñas marmitas telescópicas o sobreencajadas y depósitos de cantos rodados. Se aprecian alineaciones de bloques al E. El curso de aguas se sifona en la cota -30 m aproximadamente. En 1994 se alcanzó el exterior próximo a la surgencia siguiendo esta zona normalmente sifonada. En los pozos se han observado ejemplares de Salamandrita Rabilarga (Chioglosa lusitanica), viviendo en los concrecionamientos orgánicos que se forman sobre las paredes del pozo. Existen varios depósitos detríticos formados mayoritariamente por arena y limos, en los que abunda la mica moscovita. Estos depósitos forman pequeños bancos laterales en cotas de hasta 2 metros sobre el curso fluvial. Se aprecian varios aportes de agua en el lateral E del cañón. La zona exterior de Xemelgos no ha sido topografiada, por lo que no aparece reflejado en la cartografía. Fotografia 5. “El Pasamanos”: Pasamanos sobre L2/L3 próximo al sifón L3/L4 del Arenal de X.Xebas. El borde de L2 presenta varias formas de erosión centimétricas. Los límites de L2/L3 y L3/L4 avanzan siguiendo el eje principal de N30ºE, mientras que L1/L2 avanza a favor de N60ºE-N160ºE. 254 Vaqueiro Rodríguez, M. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Fotografia 6. Descenso desde L1 hacia L2 (proximidades de “El Pasamanos” ) ó L3 en el Arenal de X. Xebas. Los bloques caídos de L1/L2 han apoyado en la base de L0 en un cambio de dirección N30ºE – N60ºW. Destacar una pendiente ascendente (opuesta al curso actual descendente) en la que abundan las marmitas telescópicas o sobreencajadas. 4.3. Descipción del curso policíclico de A Rega La evolución del sistema está relacionada con la circulación de un curso de agua superficial, un curso de aguas primogénetico, que iniciaría la erosión remontante y diferencial a favor del plano de buzamiento de las fracturas principales. 4.3.1. Encajamiento inicial del curso L0 El encajamiento del curso L0 constituiría la primera etapa de modelado endokárstico. La incisión que forma el canal con fondo en L1 entre la meseta aluvial en la zona de absorción y los niveles superiores de Cova Grande (Pozo Bernardiño) indica una circulación de un curso cada vez más concentrado. Puede observarse el encajamiento de L 0 en ambos labios del cañón remontando el curso fluvial a lo largo de la de los depósitos aluviales de la zona de absorción. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 255 4.3.2. Encajamientos fluviales en Pozo da Rá - Cova Grande (PR-CG) Este encajamiento se originaría por erosión diferencial del fondo del curso L1 a favor de fracturas con plano de buzamiento subvertical. La zona "amesetada" situada por encima de Cova Grande formaría parte del fondo de este curso fluvial. El encajamiento que forma Cova Grande, coincide en cota (aproximadamente) con el encajamiento terminal del curso de aguas de Pozo da Rá formado por varias marmitas degradadas. El techo de este encajamiento se ha denominado L2. Esta incisión en canal presenta un encajamiento difuso entre Pozo da Rá y Cova Grande y sería consecuencia del colapso por disgregación de la meseta residual L1/L2, debido a una fuerte erosión (remontante) a favor de la red de diaclasado. Esto indicaría una etapa de circulación fluvial de alto poder erosivo que podría ocupar o invadir parte del antiguo curso L1 con posterioridad a la formación de su encajamiento en Cova Grande. La existencia de un salto de agua en retroceso durante una etapa pluvio-torrencial justificaría esta estructura. Entre 1992 y 2002, se han observado numerosas invasiones de niveles antiguos durante crecidas del curso da Rega. En estas invasiones el curso L4 llega a circular hasta en el nivel L1. Estas invasiones aperiódicas justifican la ausencia de estructuras sedimentarias estables. Los únicos depósitos sedimentarios son aluviales recientes. Este encajamiento, a medida que retrocede, destruye los techos del curso L1 y L2 formando el caos del actual canal de alivio exterior. Solamente en etapas de grandes avenidas, existiría curso activo a lo largo de este aliviadero. En el curso intermedio se observan dos encajamientos sucesivos con bases en L3 y L4, de poca potencia y que se han asimilado a las etapas más modernas del curso actual. 4.3.3. Encajamientos Cascada - Xan Xebas (CC-XX) Este encajamiento genera la meseta Depresión - Laberinto II de Xan Xebas a favor posiblemente de una discontinuidad de plano subhorizontal dejando colgados algunas marmitas degradadas y niveles de depósitos detríticos. Estas huellas fluviales indicarían que la roca base de esta zona amesetada formó parte de un curso estable durante L1/L2 previa a la incisión del canal que generó L3. La discontinuidad subhorizontal se observa en Pozo Cabrón, Mirador de la Cascada y mirador de Xan Xebas. El encajamiento principal está provocado por la erosión diferencial en el fondo del curso de aguas L2 a favor del plano de buzamiento de N30ºE, fractura principal de Xan Xebas. Se observa que la zona de la Bañera, en la actual cascada, se ha ensanchado con respecto al canal originado durante el encajamiento a lo largo de Xan Xebas hacia el nivel de L3. Este ensanchamiento justificaría una circulación estable de un curso L21 que formaría una cascada bordeando la Bañera desde Pozo Cabrón hasta el Mirador de la Cascada. Este nivel se situaría entre L2 y L3. El ensanchamiento podría estar provocado además por la socavación basal 256 Vaqueiro Rodríguez, M. del frente de la cascada en L21, L3 y L4, con el consiguiente desplome y remoción de bloques. En el Mirador de Xan Xebas hay pequeñas formas de erosión en los bloques que cuelgan frente a la Cascada. Estas huellas de erosión indicarían que los bloques que conforman el nivel intermedio de Xan Xebas se corresponden a un colapso de la estructura a favor del canal fluvial en el tránsito de L2 a L3. Por otro lado, la ausencia de huellas de erosión en los restantes bloques de este relleno indicaría que el derrumbe se ha producido cuando ya existía una circulación próxima al techo de L3. Este colapso se generaría bien previa circulación de L21 o bien coincidiendo con L21. De esta forma L21 sería un curso temporalmente estable posiblemente asociado a la retracción del curso L2/L3 sobre la meseta L2 de Xan Xebas y que se abandonaría definitivamente al encajarse el curso en la intersección de las dos discontinuidades que intersecan en Pozo Cabrón. En una última etapa, una vez que el curso de agua abandona definitivamente la zona amesetada de L2/L3 y L21, la erosión remontante de la cascada a favor del plano de buzamiento de N30ºE da lugar a un nuevo encajamiento asimilable al curso L4. El encajamiento L1/L2 se puede observar también en las proximidades del Arenal de Xan Xebas. Este segundo encajamiento sería consecuencia de la intersección de dos fracturas con buzamiento diferente en las proximidades del Pasamanos. El curso de agua actual se encajona a favor de la fractura principal N30ºE. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 4.3.4. Encajamientos Xemelgos (PX) en Pozos El encajamiento L1/L2 se ha deducido a partir de la dirección de incisión observado en Xan Xebas. Su límite se ha establecido tomando como referencia la alineación de bloques situados al E del salón principal y que forman los niveles superiores del Laberinto de Xemelgos. Se aprecia un segundo encajamiento que deja colgadas varias marmitas y depósitos de cantos rodados. Este segundo encajamiento se ha asimilado a los niveles L3/L4 descritos anteriormente. 4.3.5. Sedimentación Cuaternaria Los depósitos Cuaternarios identificados son estructuras aluviales modernas (QAL). La formación principal se habría desarrollado sobre L1 en la zona de absorción (ZA) del sistema. El curso de A Rega presenta un encajamiento superficial, a favor de ejes N60ºE y N120ºE, con una absorción variable y difusa, lo que indicaría que existió una canalización o encajamiento del curso L1 a lo largo del pantano actual. El nivel QAL ha variado considerablemente en los últimos 10 años, sobre todo en las proximidades de la absorción difusa del curso de aguas. Se ha definido un nivel L5 para designar las incisiones en canal de los depósitos modernos. La potencia aluvial es escasa no superando en el encajamiento actual los 90 cm. 4.4. Conclusiones El nivel de base de los distintos perfiles (L1 , L2 , L3 y L4) del Río da Rega a su CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 257 paso por O Folón, se aproximarían al nivel de base de la surgencia actual, lo que indicaría que el sistema se ha originado como consecuencia de la erosión remontante asociada a los cambios en el nivel de base desde el principio del Cenozoico (VIDAL ROMANÍ, 2002). La evaluación del curso L0 sobre la cartografía elaborada indicaría que este salto se formaría a favor de escalonamientos asociados a fracturas de dirección N30ºE con buzamiento normal en 70º N60ºE. La evolución policíclica del curso da Rega asociada al esquema de fracturación local, ha llagado a encajar el curso de aguas a favor del esquema más antiguo (IGME, 1918a y b). Estos encajamientos se producirían en períodos de erosión fluvial intensa, durante los que se vería favorecida la incisión de los canales de agua. Estos períodos serían asimilables con fases climáticas inter- o post-glaciares. Puesto que el encajamiento fluvial se produce también a favor del esquema de fracturación tardihercínico asociado a la descompresión Neógena-Cuaternaria, (VIDAL ROMANÍ, 2002) hay que considerar que el modelado endokárstico de O Folón sería de edad cuaternaria o finiterciaria. 5. EL LUGAR ARQUEOLÓGICO DE O FOLÓN 5.1. Antecedentes En (CEM, 1997; COSTAS GOBERNA et al. 1998) se realizaba un análisis sobre los lugares arqueológicos de O Folón y A Porteliña, planteando una primera hipóte- sis sobre el uso o habitación de estos lugares. Básicamente, O Folón sería un lugar de habitación en el que los materiales de uso fueron introducidos y colocados en el interior del sistema, mientras que A Porteliña sería un lugar de culto en el que los materiales fueron posiblemente arrojados al interior. Otros autores (CARBALLO ARCEO et al., 1998) descartan que se trate de un asentamiento o refugio temporal basándose en las condiciones físicas de inhabitibilidad (espacio exiguo, condiciones ambientales incomodas) y presuponen que el yacimiento está relacionado con un lugar de culto vinculado con el agua. (HIDALGO CUÑARRO et al., 1997) indica, en contra de esa conjetura que varias de las cerámicas encuadrables en la segunda mitad del IIº AC podrían ser recipientes de almacenaje. Los materiales arqueológicos de O Folón (ver lámina 5) se localizaron en la superficie de algunas galerías del sistema, colgados en techos o pozos, e incluso "colocados" en algunas salas (CEM, 1998). Depósitos realizados en el Museo "Quiñones de León", Vigo, números de registros 2.121 (02-101996), 2.122 (30-12-1996) (CEM, 1997), 2.150 (30-03-1998). 5.2. Caracterización de los yacimientos del endokarst de O Folón El estudio del curso policíclico y de las morfologías endokásticas, conjuntamente con la investigación realizada por el CEM (CEM, 1997; CEM, 1998; COSTAS GOBERNA et al., 1998), permiten establecer una primera caracterización arqueográfica de este sistema granítico: 258 Vaqueiro Rodríguez, M. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Lámina 5. Materiales arqueológicos de O Folón. Muestra de los materiales localizados en superficie en el interior de este sistema. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 259 a. La utilización o habitación del sistema de cavidades se circunscribe principalmente a las zonas asociadas con el curso difuso central y con la meseta residual techo de los niveles L1/L2. b. Los materiales localizados, en conjunto, indican que las actividades antrópicas trogloditas en O Folón presentan prácticamente una continuidad histórica desde el IVº milenio AC, al menos, hasta épocas modernas. El único período del que no existen vestigios que justifiquen la utilización o habitación del sistema se corresponde con la época Castreña. c. Los materiales arqueológicos asociados a los colapsos de los encajamientos terminales se encuentran "colgados" y desplazados con respecto a su posición original. Sin embargo, el desplazamiento no ha sido provocado por removilización fluvial de depósitos antiguos (no hay huellas de erosión fluvial), por lo que sería consecuencia de las últimas etapas del modelado endokárstico. d. Algunos vestigios se han localizado asociados a fenómenos de concrecionamiento. No hay datos que permitan establecer una edad para estos depósitos minerales, por lo que tampoco se puede establecer su correlación con los vestigios arqueológicos. En algunos casos particulares los espeleotemas se han desarrollado sobre los materiales prehistóricos. No se puede ni establecer, ni descartar una relación de ritualismo asociada con los fenómenos espeleotemáticos o con los aportes secundarios de agua asociados a estas formaciones en tanto no se realice una datación de los depósitos minerales. e. Los materiales se colocarían, inicialmente, en galerías y salas, secas, amplias y presumiblemente de fácil acceso. Esto se justificaría por el tamaño de los bloques basculados que conforman las salas actuales en las que se localizaron muchos materiales, así como las adyacentes. Nótese que algunos bloques de L2/L3 han basculado al N abriendo galerías entre cotas de -5 y -14 metros. Además, la mayoría de los materiales que no han sido desplazados, no se han visto afectados por las variaciones de nivel del curso de aguas. En algunos casos la afección es puntual y podría deberse exclusivamente a que el curso de aguas situado bajo la depresión, presenta en la actualidad un circulación en la red tridimensional generada por los bloques compactados. Nótese que estos bloques forman una red de filtrado fácilmente atascable y que con toda probabilidad no existía durante la utilización de la cavidad. f. La no habitación permanente del sistema se justificaría por la temperatura ambiental, la humedad y las corrientes en algunas galerías que actúan como tubos de aire. La temperatura del sistema se ha medido en pocas ocasiones. En Septiembre de 1994 se realizó una medición en distintos puntos de la Depresión Central y de Xan Xebas (VAQUEIRO RODRÍGUEZ, 1994). La temperatura media del sistema es de 15 ºC y la del agua 14ºC. Estos factores crearían una situación de disconfort. Existen zonas del sistema vinculadas a L1/L2, por ejemplo en el entorno del yacimiento que contenía el molino, que por su alejamiento del curso activo presentan una temperatura y humedad relativa, sensiblemente más agradables. La presencia de vasijas de almacenamiento y equipos de molienda (sean o no rituales) justificarían una utilización temporal y periódica, posiblemente en época estival. 260 Vaqueiro Rodríguez, M. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) AGRADECIMIENTOS La realización de este artículo no hubiera sido posible sin la colaboración de mis compañeros: José Bernardino Costas, Miguel García, Xavier Groba, Eduardo Méndez, Reinaldo Costas, David Vázquez, Jesús Sueiro, Francisco Alonso, Amelia Pérez, Francisco Rodríguez, Eva García; así como de nuestros colaboradores Begoña Barreiro, Concepción Álvarez, Victor Freso y Teresa Suárez. Recibido: 10-II-03 Aceptado: 28-VII-03 CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización de las cavidades de bloques graníticos 261 BIBLIOGRAFIA AVILA & LA CUEVA, F. (1956). Historia civil y eclesiástica de la ciudad de Tuy y su obispado. Tomo I. Pp. 64: 129-131, 558 CARBALLO ARCEO, X.; LUACES ANCA, J.; TOSCANO NOVELLA, M. C. (1998). Catálogo do Patrimonio Arqueolóxico. Arqueoloxía de Vigo e a súa Historia. Concellería de Patrimonio Histórico. Concello de Vigo. CdV (1992). Plano Nº 12-36. 1:2000. Subsanación de Deficiencias en la Adaptación del PGOU de Vigo de 1988 a la Ley 11/85 de Adaptación de la Ley del Suelo a Galicia. Concello de Vigo. CdV (1992). Plano Nº 12-37. 1:2000. Subsanación de Deficiencias en la Adaptación del PGOU de Vigo de 1988 a la Ley 11/85 de Adaptación de la Ley del Suelo a Galicia. Concello de Vigo. CEM (1997). Os Sistemas De Cavidades Do Folón e Porteliña. Contexto Prehistórico e Relevancia Da Zona Espeleolóxica G/PO-1. Maúxo, VigoNigrán. Castrelos Nº 9-10 (1996-1997). Revista do Museo Municipal "Quiñones de León". 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Vol. 28, pp. 263-283 ISSN: 0213-4497 Morphogenesis of the Ourense Plains (NW of Spain) Morfogénesis de las superficies de Orense (NW de España) YEPES TEMIÑO J.1 &. VIDAL ROMANÍ J. R.1 ABSTRACT We present a geomorphological analysis of Ourense Province (NW Spain) characterized by: a general narrowing of the fluvial network, highlands with smooth reliefs partially eroded and lowlands with residual reliefs, several extensive plains of erosion frequently limited by fractures -among which Tertiary grabens are inserted-, some “Hollow Surface”-type morphology, absence of sedimentary deposits outside the grabens, and a generalized outcrop of the Hercynian Massif substratum. Traditionally, this “piano’s keyboard morphology” has been interpreted as expression of block tectonics in tensile regimen; instead we suggest the existence of: an isostatic upheaval simultaneous to a sequence of tectonic pulses of compressive regimen with activity in favour of transcurrent faults, a General Surface (R600), several plains that present a “Hollow Surface”-type morphology (R1600 R1400 R1000), a generalized alteration that correspond to a same process of decomposition associated to fluctuating conditions of redox equilibrium, a erosional terraces related principaly to the palaeo-fluvial nets; moreover, we propose the existence of two morphoestructural lineament: the first one represented by the Fault of Vila Real (NE-SW) -a ramification of the “Basal Pyrenean Overthrust”-, that would have been active at an early moment of the tectonic sequence with a left transcurrent fault, secondly the lineament represented by the Fault of Maceda (NNW-SSE) that would be related to the “Fault System NW-SE” and would have produced a right transcurrent fault during a late tectonic pulse. Key words: regional geomorphology, planation surfaces, Hesperian Massif, Galicia NW Spain, Plate tectonics. (1) Instituto de Geología Isidro Parga Pondal, Universidade da Coruña, 15.071-La Coruña. E-mail: [email protected] 264 Yepes Temiño & Vidal Romaní INTRODUCTION The mapping area (figure 1) extends between the provinces of Lugo and Ourense (C.N.I.G. 1994; 1997). Geologically, the area belongs to Galicia-Tras-Os-Montes (BARRERA et al. 1989). Only in the NE part, the Asturoccidental-Leonesa area is represented. The main morphological characteristics of the territory are: 1) the deep narrowing of the rivers; 2) the abundance of little contrasted reliefs in the highlands and of residual ones in the lowlands; 3) the regional fractures separate extensive plains of erosion which limit small grabens located between 250-650 m of altitude; 4) outside the grabens the sedimentary deposits are scarce. 5) Geologically, it is an old territory (igneous outcrop, regolith, recent deposits in grabens); but its relief is rejuvenated (widespread incision, dismantlement of the plains, compartmentalization of the territory. On the whole, the territory is a mosaic of block mountains with inserted tectonic basins. In a traditional way, the previous studies (HERNÁNDEZ-PACHECO 1949; NONN 1966; VILLASANTE & PEDRAZA 1984; MARTIN SERRANO 1989; VERGNOLLE 1990; PÉREZ-ALBERTI 1993) accept the piano’s keyboard morphology that has been described (BIROT & SOLÉ 1954), interpreted as the expression of block tectonics in tensile regimen. In this paper, we present some observations which suggest the existence of block tectonics in compressive regimen, with displacements in favour of transcurrent faults. In view of the shortage of deposits; the reconstruction of the morphogeny has not been based on stratigraphic approa- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) ches, but on the analysis of: the topographical plains, the fluvial network, the fracture, and the alterations, as it has already been carried out in other areas of Galicia (VIDAL ROMANÍ 1996). THE PLAINS OF EROSION Eight plains of erosion have been distinguished (figure 1 and table 1), most of which have got associated to them intermediate surfaces of these types: degraded surface, glacis, or ramp. Some of them define gradual and uniform transitions between plains of erosion. The plains of erosion are topographically defined by two topographical heights: the highest one, denoted by the remains of a previous surface, and the lowest one, denoted by the joined degraded areas. The analysis of the spatial extension of the plains (table 2) reveals: a spatial distribution of different area; the main character of the surfaces R600 (24.7%) and R1000 (10.9%); the respectable extension of the grabens (11.9%); and an advanced state of degradation (slopes and valleys, 40.7%). The Surface of Serra de Queixa (R1600) This plain is well-preserved in the northern border of the Serra de Queixa-San Mamede (Cabeza de Manzaneda, 1781 m); where it is defined by a net steep (NWSE), at the N of which only some very degraded remains of the R1600 are identified. On the other hand, in the southern border of the mountain range, the plain is very degraded (Altos de Ganzedo, 1330 m). The western border is marked by a NE-SW structural alignment which has CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Morphogenesis of the Ourense Plains 265 Figure 1. Schematic topography of the SE of Galicia and N of Portugal. Legend: (1) 0-400 m; (2) 400800 m; (3) 800-1200 m; (4) 1200-1600 m; (5) 1600-2000 m; (6) 2000-2400 m; (7) River; (8) Town; (Al) Allariz; (B) O Barco; (Ba) Bande; (Br) Braga; (C) Carballiño; (Ce) Celanova; (Ch) Chantada; (Co) Cualedro; (Cv) Chaves; (G) La Gudiña; (L) Lobios; (Lu) Luintra; (M) Maceda; (Me) Melgaço; (ML) Monforte de Lemos; (Mo) Monçao; (Ou) Ourense; (Po) Ponte da Barca; (R) La Rúa; (Ri) Ribdavia; (P) Ponferrada; (PB) Puebla de Brollón; (PS) Puebla de Sanabria; (Q) Quiroga; (VB) Viana do Bolo; (Ve) Verín; (Vf) Villafranca del Bierzo; (XL) Xinzo da Limia. 266 Yepes Temiño & Vidal Romaní CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Table 1. Record of plains identified in the studied area. The rank of heights in which they are developed is included, as well as the calculated extension, both for the surfaces and for the grabens and slopes. The calculation of the extension was made from figure 2. Table 2. Erosion surfaces associated to the main basins of the Galician SE, with indication of the maximum and minimum heights marked by the sedimentary deposits. Legend: (Ri) Surface-Plain; (H Max) Highest altitude; (H min) Lowest altitude. Figure 2 (next page). Geomorphological map from the SE Galicia where eight plains of erosion have been identified. Legend: (1) Steep of topographical plain. (2) erosional terrace; Residual remmant. (3) Residual relief: Hill of circumdenudation, Castle-kopje. (4) Degradated crest; structural relief on fold axis. (5) Fluvial steep; landslide. (6) Degradated glacis: depositional, erosive. (7) River; sedimentary deposit. (8) Topographical plain. (9) Town. (ML) Monforte de Lemos. (Ou) Ourense. (XL) Xinzo da Limia. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Morphogenesis of the Ourense Plains 267 268 Yepes Temiño & Vidal Romaní been used by the river Návea to get narrowed and to dismantle the plain. And the eastern border would be characterized by a sequence of reliefs, progressively degraded towards the SE, strongly impacted by the fluvial network (Montes do Invernadoiro, 1550 m; Brotiais, 1532 m). These reliefs are terraced, until connecting with the surface of La Gudiña-Viana do Bolo (R1000). On the whole, it can be supposed that the contour of the plain of erosion would be defined by two systems of fractures: NE-SW, the main one; and NWSE, subordinate to the first one. Both systems would have dislocated the plain in some moment of the Mesozoic or of the Cenozoic. This hypothesis would be supported by the correlation which is showed by the systems of fractures with the long axis of the Surface of Xinzo and with the steeps of the Serras do Burgo and Paderne-Taboadela. As for the morphology of the plain, it seems to be related to the lithology. On granite, soft and rounded reliefs are defined. They mark culminating heights (Cabeza de Manzaneda, 1781 m, the Majadales, 1750 m) and they would be the residual of a previous surface, while, on quartzite and slate the relief is more contrasted and the heights are lower (Pereixada, 1501 m). Regarding the morphogeny, the general development of a regolith and the numerous residuals (castle-kopjes on granite and conical hills on quartzite and slate) allow to attribute to this surface an origin by chemical erosion. The preservation of the vasques (gnammas), in the castle-kopjes of the Alto de San Mamede and of the original regolith would indicate that, at this point of the CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) massif, the glaciarism would not have been developed during the Quaternary. This fact was already observed in other granite areas of Galicia (VIDAL ROMANÍ et al. 1994). Nowadays, the lingering erosion of the river Návea would have dismantled the initial surface until the degree of emptying it, reducing it to the initial contour. So only a residual would have been preserved in the central area (Altos do Acebral, 1606 m). It is what we have called a hollow surface morphology The Surface of Chaguazoso (R1400) This plain can be interpreted as a lower step of the R1600. It is identified both in the area of Queixa (Llanos de Chaguazoso; Portela das Merendas, 1400 m; Serra do Fial das Corzas, 1400 m; y Altos do Gancedo, 1300 m) and in San Mamede (As Donas, 1279 m; Lombo dos Gavianes, 1360 m; y O Marco; 1400 m). Towards the E, it could be correlated with the western slope of the Serra do Eixe (Llanos de Lamalonga, 1445 m; y Serra do Cañizo, 1469 m). Towards the S, with the surface of summits of the Serra de GerezXurés (1556 m). And inside the narrowing of the rivers Návea and Camba, it would be correlated with extensive surface-terrace remnants that would denote an old fluvial network, of a radial geometry to the Serra de Queixa. Concerning the morphogeny, the partial preservation of the original regolith, would allow assign to the plain an origin by chemical erosion. On the contrary, the dismantlement of the regolith, would be related with a Pleistocene glaciarism, favoured by the preserved position of the CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) plain regarding the dominant winds in two areas: Chaguazoso (HERNÁNDEZPACHECO 1958; PÉREZ ALBERTI 1993; VIDAL ROMANÍ 1994), and Dam of San Agustín del river Bibei (SÁENZ RIDRUEJO 1968). Regarding the hollow out of the plain in the area of Chaguazoso, it can be considered a hollow surface, like in the R1600, although in this case the eroding down would have been by the glaciar erosion. The Surface of the Serra do Burgo (R1200) In the studied area, the R1200 is represented by the level of summits of the Serra do Burgo, to the N of the Serra de QueixaSan Mamede. Its western border is defined by a NE-SW morphoestructural steep, and the oriental, by the narrowing of the river Návea. On this plain paleo-valleys of plain bottom are observed; to those ones, remnants of erosive terraces are embedded, partially recovered by an alteration layer. The direction of the paleo-valleys would be SW-NE, concordant with that of the river Návea. This plain of erosion could be correlated with the surfaces of the Serras de Gerêz-Xurés, Pisco, Pena y Larouco. In almost all the cases it defines narrow blocks, extended in NE-SW direction, among which wide valleys are inserted (rivers Salas, Cábado, Rábago and Porto de Rei), comparable to the plain R800. In the Serra de Gerez-Xurés, the situation of the plain regarding the prevailing winds, allowed the glaciarism development during part of the Quaternary (SCHMIDTTOME 1978; VIDAL ROMANÍ et al., 1990; BRUM et al., 1992). Morphogenesis of the Ourense Plains 269 The Surface of Castro Caldelas (R1000) This plain is well-represented in the studied area, being embedded to the Serra de Queixa-San Mamede and O Courel. The Llanos de Puebla de Trives and Llanos de Castro Caldelas are in the N area of Queixa-San Mamede; the S border of Plains of Castro Caldelas is denoted by the Serra do Burgo; the W by the Fault of Maceda; and the N and E, by the narrowing of the river Sil. On these plains, remains of terraces of a SW-NE paleo-network are recognized, nowadays captured by the river Sil. The fluvial erosion has begun to dismantle the plain, conferring it the aspect of a hollow surface similar to the R1600 and the R1400. The Llanos de Puebla de Trives constitute a remnant of the R1000, a bit more degraded, which is extended in the N slope of Cabeza de Manzaneda, at the E of the river Návea. The Llanos de La Gudiña-Viana do Bolo are in the E area of Queixa and they define a corridor of meridian direction between La Gudiña and La Rua, enough degraded towards the N; and flanked by Serras de Queixa y Eixe-Secundeira. This plain of erosion would denote an old base level of the rivers paleo-Camba and paleo-Bibei. This same level continues in Serras de Entirnos, Texeiras y Llanos de Carracedo da Serra. In the W area of San Mamede, remnants of the R1000 have been mapped, which are very degraded and broken into fragments by the fluvial incision. In the Graben of Maceda they would constitute the southern continuation of the steep of the Fault of Maceda; but more to the S, near Correchouso, Toro and Portocamba, they would correspond to surface-terraces 270 Yepes Temiño & Vidal Romaní and paleo-courses of an old NW-SE network that later on would have been captured by a S-N network. In the Serra do Courel, the plain R1000 defines the eastern end of the graben of Monforte and the general level of summits of the Serras de Peña Redonda, Trapa y Llanos de Maceiras. At a regional range, the R1000 would be correlated, because of its altitude, with the Serras de Oribio, in Sarria; Faro, in Chantada; and Faro de Avión, in La Cañiza. The morphogeny of the R1000 is by fluvial erosion. There can be still distinguished on it several incision levels, associate deposits (BARRERA et al. 1989; VERGNOLLE 1990), and residuals of older surfaces: Monte Meda (1321 m), Monte Cerengo (1235 m), Monte Legua (1311 m) and Cabeza Grande (1249 m). Nevertheless, some of their borders correspond to morphoestructural steeps: Fault of Maceda, NNW-SSE; river Sil, WSW-ENE; and Serra da Pena Redonda, NW-SE. The Surface of Baldriz (R800) This surface is represented in Esgos (Altos da Virxe do Monte) and in the graben of Xinzo (by the borders of the graben, except the northern one, and the Serra da Medorra). More to the S of the studied area, it would be correlated with the extensive interfluve of the areas of: BaltarCualedro, Chaves-Bragança and Alcañices de Zamora (MARTIN SERRANO 1989). The morphogeny of the R800 is by fluvial erosion. Nowadays, there can be still distinguished on it, some stretches of a paleo-network NW-SE (Baldriz area) and CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) several residuals: Monte Meda (1094 m), Monte Talariño (984 m) and Monte Penamá (927 m). Signs of fluvial touch have also been identified in the small remnants, comparable to the R800. This is the case of: 1) the tailpieces of Penelo (Quiroga) and Serra de Pena Redonda (Monforte); 2) the erosive terraces of the Sil (Parada y Teixeira), Lor, Támega, Riveiriña and Parada; and 3) the glacisterrace type ramps of the Sil (Castro Caldelas). Nevertheless, as it happened in the R1000, the borders of the R800 coincide with structural lines. The Surface of Xinzo da Limia (R600) This plain is identified along the river Miño, and in the borders of the grabens of Monforte and Maceda. Comparable surface-terraces are also observed, in the river Sil: La Rasa (560 m), confluence of the Cabe; and Peña Grande de Quiroga (613 m). Outside the studied area, the R600 would be correlated with the basin of Rábade and Serras da Loba and Montouto (Dorsal Galaica or Galician Ridge). The river Miño defines a level of regional devastation among Rábade (Lugo) and Ribadavia (Ourense). In the stretch Rábade-Portomarín, it extends among the Dorsal Galaica and Serras del Mirador and Punazo; in total, a strip of 40 km parallel to the river Miño. In the stretch Portomarín-Os Peares, the Graben of Monforte defines the E border of the plain, diminishing the extension of the strip to 20 km. In this stretch, the course of the river Miño is N-S and its narrowing reaches 400 m. In the stretch Os PearesMonção, the Miño has dismantled great CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) part of the R600 to substitute it for a R400. In the W riverbank only some remnants are identified in the head of the river Avia and in La Cañiza; and in the E riverbank, between the lineament Taboadela-Esgos and the Graben of Maceda. In the Graben of Monforte, two remnants of the R600 are observed in the southern border. Residuals of the R800 have been preserved on them. They coincide with axes of hercynian folds, of NW-SE direction (Barrera et al., 1989). They are the Serras do MarroxoMonte Vidual (680 m, 816 m) and the Serra de Auga Levada (887 m). These reliefs can be followed towards the S (Serra de Moncai, 531 m; and Serra das Penas, 787 m). The similarity of these residuals with those of the Sierra de la Culebra permits to compare them to the remains of the surface of phinimiocene erosion thet has been described (MARTIN SERRANO 1991), which would have been degraded, according to this author, before the Tertiary. Concerning the residuals identified on granite areas, they have been related to the phinimesozoic surface (MARTÍN SERRANO 1991): Monte Pozu (764 m), in La Peroxa; Monte Cabalo (732 m), in Luintra; Monte Boa (692 m), in Taboadela; and Alto del Portelo (834 m), in Xunqueira de Ambía. As to its morphogeny, it can be supposed prior to the beginning of the sedimentation in the basins which fossilize it (Xinzo, Monforte and Maceda). The concave profiles that these basins present would reinforce this hypothesis. In the case of Monforte, the scarce deformation of the deposits (DE GROOT 1974), suggests the existence of a paleo-relief in the basin. In the case of Xinzo, the slope of the R600 Morphogenesis of the Ourense Plains 271 observed at the W of the graben is attributed to the fluvial erosion. This is suggested by the remains of surface-terraces of the river Arnoia found in Allariz and Xunqueira de Ambía. However, to a regional level the distribution of the R600 would be partially conditioned by structural factors (figure 3). It makes think so, the existence of steeps in some borders of the plain: 1) in the W border, the steep (N-S) with the Macizo Galaico Portugués; 2) in the E border, the steeps of the Fault of Maceda (NNW-SSE) with the Llanos de Castro Caldelas and the Serra de San Mamede; 3) At the W of Ourense, between Allariz and Esgos, the steep (NE-SW) with the R400; and 4) In Xinzo, the steep (NE-SW) that defines the W border of the graben, which is associated to a diabasis dike (BARRERA et al. 1989) fossilized by the basin deposits. The Surface of Chantada (R500) The remnants of this plain have a small extension. Their distribution is associated to the R600 in three points: Maceda, Chantada and Monforte (Puebla de Brollón, Sober and Ferreira de Pantón), and to the narrowing of six rivers: Arnoia (Xunqueira de Ambia, Allariz); Cabe (Lornís); Lor (confluence of the Sil); Miño (Monte Güimil); Támega (Laza); and Sil (La Teixeira). In general, the characteristics of the plain are related with the structure. In Maceda, the E border of the graben is an important steep of fault (30 km of longitude, 400 m of difference and NNW-SSE direction), to which quartz dikes are associated. In Chantada, the N border is a steep (NE-SW), in favour of 272 Yepes Temiño & Vidal Romaní CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 3. Morphostructural outline of the Tertiary basins from the SE Galicia. Legend: (1) Fracture; Fracture supposed. (2) Fracture with sign of dowcast side; Overthrust. (3) End Hercynic vein. (4) Alpine displacement supposed. (5) River. (6) Sedimentary deposit. (7) Town. (B) Bóveda. (L) Laza. (Lu) Lugo. (M) Maceda. (Mo) Monforte de Lemos. (Ou) Ourense. (Q) Quiroga. (V) Verín. (X) Xinzo de Limia. which the river Asma is narrowed; the S border is the steep (ENE-WSW) of the mounts S. Cristóbal (826 m) and Rego (756 m). The courses that cut it (Sardiñeira-Portiño and brook Saviñao) are captured by the river Miño. In Monforte, the W border (Ferreira de Pantón) is marked by two fractures (NNE-SSW) which define an intermediate step, and which are associated to quartz dikes (BARRERA et al. 1989) and to fluvial elbows that could be expression of a dextral directional movement. Moreover, the courses that cut the plain (arroyo Regueiro-Rexidoira), are captured by the river Cabe near the fracture. Regarding the S border (Sober-Puebla de Brollón), it has a network of dikes associated (SW-NE) of porphyry and porfidic microgranite (BARRERA et al., 1989). And the courses which cut the plain (brook Lama-Santé and Monretán) are captured by a centripetal network. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Regarding the morphogeny of the plain, the short differences of heights it has with the R600 (<100 m), made suppose the existence of a General Surface, divided in two peneplanes (BIROT & SOLÉ 1954; MARTIN SERRANO 1989; 1994a). However, the R500 could be interpreted as a group of sunken blocks of the R600 and, in some cases, apparently tilted. In fact, in Monforte the R500 seems to form a topographical unit with Serras de Marroxo-Vidual and Auga Levada. On the other hand, the fact that the large fluvial courses don't interfere with the formation and development of the grabens of Maceda, Monforte and Xinzo, would permit to attribute the R500 an age prior to these three grabens. This background would already have been mentioned (MARTIN SERRANO 1989; 1994a; 1994b), when assigning a pre-Miocene age to the course of the rivers. The Surface of Sabadelle (R400) This plain is observed near Bóveda, in the city of Ourense and in the narrowing of the Miño (Os Peares, Barra), the Sil (Mounte Furado, La Teixeira), and the Támega (Valle de Laza). Under the R400, only levels of erosive terrace and Quiroga's Graben are identified (280 m), in which was observed (VERGNOLLE 1990) evidences of an Alpine synsedimentary tectonic. In Bóveda (Graben of Monforte) the plain defines the general level of the topography of the subbasin. Around the city of Ourense (basins of the Barra, Loña and Barbaña) the surface is very degraded and it presents abundant inselberg type residuals (conical hills, castle-kopje and tors), Morphogenesis of the Ourense Plains 273 boulders of weathering and alteration alveoli (San Ciprián das Viñas and Faramontaos-Lañoa). So only in the higher borders (La Peroxa, Paderne, Llanos de Sabadelle and Monte Alegre) the original surface seems to have been preserved. To be precise, deposits of the paleo-Loña have been preserved in San Ciprián das Viñas. It would flows in NE-SW direction before being captured by the Miño in the dam of Cachamuiña. All these observations indicate an origin of the R400 by chemical erosion (etched), to which there would have been imposed a fluvial network that would alter the surface and would have dismantled it partially. In broad outline, the R400 is equal to the Surface of Substitution S2 (VILLASANTE & PEDRAZA 1984), although some characteristics of the R400 seem to indicate a bigger influence of the structure: the capture of the paleo-Loña; the subparallel network of the basin of the Barra; and the morphoestructural steeps (NE-SW and NW-SE) that R400 and R600 articulate. DISCUSSION Reactivation of relief As it has already been said, in the studied area the geology is characteristic of an old territory and, however, the relief is rejuvenated. Before this fact, some tectonic pulses in compressive regimen that elevate the relief could be supposed. Nevertheless, there are some pitfalls: 1) the compressive structures are difficult to recognize and the associate deposits hardly exist; 2) the fractures should be closed and 274 Yepes Temiño & Vidal Romaní should not favour the escape of the network towards them. However, the course of the network seems to be related with the structure; 3) the absence of deposits could be due to an antiquity of the pulses, bigger than what had habitually been thought, all the above-mentioned sug- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) gest the existence of an isostatic rebounding, simultaneous to the tectonic pulses, which would justify the continuous waste away of sedimentary cover. An outline of the sequence of the supposed events appears in table 3. Table 3. Sequence of events proposed for the Galician SE during the Alpine cycle. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Morphogenesis of the Ourense Plains 275 Table 3. Continuation. 276 Yepes Temiño & Vidal Romaní Surfaces and fractures Almost all the plains define some of their borders with steeps which in some cases (R1000 to R1600) coincide with directions of alpine fracture (NNW-SSE and WSW-ENE). This seems to indicate a certain relationship between surfaces and alpine fracture. On the other hand, the degradation of the tectonic steps, as well as the appearance of transition ramps among surfaces, support the thesis of the antiquity of the tectonic pulse. This would be the case of the steeps: R400R600, in Ourense-Os Peares; R1600-R1000 and R1600-R1200 in the Serra de BurgoSan Mamede. Origin of the surfaces If it were necessary to specify the phase of dismantlement of a surface of erosion, the following ones could be distinguished: 1) well-preserved regolith; 2) appearance of the altered rocky substratum; 3) appearance of the engraving shapes; 4) appearance of the hollow surface, where only the contour of the initial surface is preserved; and 5) disappearance of the surface. In the case of the surfaces R1600, R1400 and R1000, they all have regoliths, etche forms and hollow surfaces associated; this is why they could be set in the 4th stage. However, it would be necessary to point out that the hollow out of the R1600 is bigger than in the R1000 which is bigger than in the R1400. This would indicate a bigger dismantlement of the R1600. The fact that the R1000 in the Llanos de Castro Caldelas appears covered by alluvial deposits, would permit to attribute its disman- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) tlement to the fluvial erosion. Something similar would happen with the R1400 in the Llanos de Chaguazoso, regarding the glacial erosion. Remains of old fluvial networks and erosion surfaces Of the mapping plains, some have been interpreted as remains of erosive terraces or paleo-channels. The cases in which deposits have been preserved are scarce (Llanos de Castro Caldelas, Puebla de Trives, Baldriz and Amandi and Valle de Allariz). This shortage could be justified because: 1) they are erosive levels, and 2) the general meteorization involves the edafization of the deposit, except for the case of quartz-containing materials or of well-drained deposits. On the other hand, the orientation of these remnants of fossil networks is different in each plain: 1) SWNE in Serra do Burgo (R1200) and Llanos de Puebla de Trives (R1000), where they would be related with the paleo-Návea; 2) NW-SE in the Surface of Baldriz (R800), where they would be related with the paleo-Arnoia-Támega; and 3) SE-NW in the Surface of Amandi (R500), where the paleo-course is parallel to the Sil. Lastly, it could be added that some fossil networks do not correspond to consequent rivers, but to resequent ones. This would be the case of the arroyo Santé, in the Surface of Amandi (R500), whose fossil stretch is at a height (460-440 m) lower than the one that defines the upper border of the narrowing of the River Sil in this area (540-520 m). The existence of the topographical beginning among both networks, makes us think of the development of the channel CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) in favour of an area of structural weakness (a fracture corridor), more degradable to the erosion. The course of the streams would be explained in this way: Portizo and Camilo (NW-SE), in Amandi (R500); of the headwaters of the Edo, Vaus and Alenza (SW-NE), in Llanos de Castro Caldelas (R1000); and of the arroyo Muiños (NE-SW), in Xunqueira de Ambía. The grabens and the tectonic activity In the grabens of the studied area, two significant morphoestructural directions are distinguished: 1) NE-SW which determines the orientation of the River Návea and the sedimentation in the Graben of Xinzo de Limia; and 2) NNW-SSE to NW-SE which would be represented in the Fault of Maceda. The NE-SW direction could be associated to one of the western terminations of the Basal Pyrenean Thrust defined (SANTANACH 1994). Its activity would have been of sinistral direction, and in the case of the graben of Xinzo, its geometry on surface and its stratigraphy (Division of Geology of As Pontes Lignite Mine, c.p.), would make suppose an pull-apart type operation. This family of fractures would have defined a block (Serra of Queixa-San Mamede, Llanos de Chaguazoso and Serra do Burgo) that would move in a solidary way after the R1000 and before the R800. The NNW-SSE direction would be represented in the Fault of Maceda that worked (figure 4) like a dextral directional fracture, in a similar way to what the fracture corridors of As Pontes and Meirama did (MONGE 1987; FERRUS 1994). The fact that the R1000 is observed exclusively Morphogenesis of the Ourense Plains 277 at the E of Maceda and at the S of the River Sil, would denote the N and W limits of an area which would reach the Surface of La Gudiña-Viana do Bolo, and which would have corresponded, as a single block, to the movement of the Fault of Maceda. The existence of this unitary movement would be based on several facts: 1) between the W and E borders of the Graben of Verín, there is a discontinuity that affects to the structures of Phase I and III of the Grupo Santabaia and to the Zona de Cizalla Dúctil del Rodicio (figure 5); this discontinuity has been interpreted as dextral break-up for which (ROEL & TOYOS 1993) estimate a displacement of 8 km; 2) the existence of a combined system of Faults NNW-SSE (Maceda)-NE-SW (Vila Real and Xinzo); and 3) the existence of hydrothermal signs (SOUTO 1996) in several points near the Fault of Maceda (Baños de Molgas, Verín and Chaves). Therefore, the combination of efforts in those two combined directions would show the fragmentation of a very old surface, may be finiMesozoic, and its later levelling down in several stages. The absence of slope deposits with mapping magnitudes supports the idea of a very old event. The sequence of the tectonic risings would be related, in a first moment, with the NE-SW fracture and later on with the NNW-SSE one. The relative dating is based on two observations: 1) that the N border of the graben of Xinzo de Limia is truncated by the Graben of Maceda, which indicates more antiquity of the graben of Xinzo in relation to that of Maceda; and 2) that the steep of the Fault of Maceda is evened in Luintra by the R600 (Serra do 278 Yepes Temiño & Vidal Romaní CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figure 4. Hypothesis about the possible work of blocks in the SE of Galicia during the Alpine Orogeny. The grabens-tectonic activity relationship is not evident, in view of the advanced degradation of the morphostructural steeps; however, two significant structural lineaments are distinguished: the first one (NE-SW) would be associated to the “Basal Pyrenean Overthrust” and would have worked as a transcurrent fault with left movement in a first phase (Phase I), defining a Pull-Apart basin in Xinzo; the second lineament (NW-SE) would be related to the “Fault System NWSE” and would have worked in a second phase (Phase II) as a transcurrent fault with right movement, defining the E border from the Graben of Maceda. The old age of the tectonic activity would come supported by the absence of significant slope deposits and the levelling down of the steep of the Fault of Maceda by the plains R800 y R600; the preceding of the NE-SW fracture in relation to the NW-SE direction comes pointed by the fact that the N border of the Graben of Xinzo is cut short by the Graben of Maceda. Legend: (look at figure 2). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Morphogenesis of the Ourense Plains 279 Figure 5. Tectonic scheme from the Fault of Maceda in the Graben of Verín; simplified from the Map nº 3 in (ROEL & TOYOS 1993). This fault, of NNW-SSE to NW-SE direction, would be related to the “Fault System NW-SE” which is observed round La Coruña and would have worked as a transcurrent fault with right movement defining the E border from the Graben of Maceda during the Alpine Orogeny; the supposed displacement in favour of this structural lineament would come supported by the observation of a combined fault network (NW-SE / NE-SW), associated to hydrothermal expressions (SOUTO 1996), which would have affected with right transcurrent fault (ROEL & TOYOS 1993) the structures of the Hercynian Phase III. Legend: (1) Stratigraphic unit. (2) Anticlinal of Fase I. (3) Synclinal of Fase I. (4) Antiform of Fase III. (5) Synform of Fase III. (6) Fault. (7) Direction of fault displacement. (8) The Rodicio’s Cizalla Ductile Zone. 280 Yepes Temiño & Vidal Romaní Cabalo and Llanos de Monteverde), and in Esgos by the R800 (Serra da Virxen do Monte and Llanos de Cortacadela). All this would indicate the precedence of the steep of Maceda, in relation to the surfaces R800 and R600. CONCLUSIONS a) Eight different plains have been recognized between the heights 1800 m and 100 m. Its distribution has neither equivalent areas, nor proportion to the height. The most extensive plain would be the R600, a General Surface in the sense used by Martin Serrano (1989). Two types of surfaces have been distinguished for its origin: those of fluvial erosion (R1400, R1200, R1000 and R600) and the etching or of chemical erosion (R1600, R800 and R400). Two types of surfaces have been distinguished for their morphology: the Ramp Surfaces (Llanos de Puebla de Trives and the R400); and the Hollow Surfaces (Llanos de Chaguazoso, Llanos de Castro Caldelas and the Serra de Queixa-S. Mamede). These morphologies would express different stages in the dismantlement of the plains of erosion. The Ramp Surfaces would show the initial stage, with prevalence of the areolar erosion; and the Hollow Surfaces would show a more advanced stage, with prevalence of the linear erosion by an organized network. The importance of the hollow out would indicate the advance of the dismantlement. b) The general alteration would be a consequence of an arenization process, associated to fluctuating redox conditions. The variations observed would be due to the substratum: the granite would be kao- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) linized and the metamorphic lithologies would show an argilic covering of motley colours. The preservation of the basins and remains of the regolith in the R1600 would indicate that at these points of the massif the glaciar erosion was not very strong. c) The remains of erosive terraces would correspond to old networks, nowadays hung and dismantled, which would be associated to the elaboration and/or the dismantlement of the plains; and in some cases, they would be related to areas of structural weakness, more changeable and therefore more subject to erosion. d) Two significant morphoestructural directions are observed: NE-SW and NNW-SSE. The NE-SW direction would be a ramification of the Pyrenean Basal Thrust, represented by the Fault of Vila Real. The NNW-SSE direction would be represented by the Fault of Maceda, a dextral directional fault. The sequence of tectonic pulses would be related, in a first moment, to the NE-SW fracture and later on to the NNW-SSE one. The NE-SW direction would have conditioned the orientation of the river Návea and the tectonic regimen in the Graben of Xinzo. This is why the pattern of pull-apart type basin is proposed, with a left directional activity and certain inverse component. During the activity of the NE-SW fractures a solidary behaviour is supposed to the block formed by the Serra of QueixaSan Mamede, Surface of Chaguazoso and Serra do Burgo. e) The Graben of Xinzo is supposed to be prior to that of Maceda, because its borders are truncated by those of Maceda. Concerning the activity of the Fault of Maceda, it is synchronous or CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Morphogenesis of the Ourense Plains 281 prior to the plains R600 and R800, which even the Fault steep in two points (Esgos and Luintra). ACKNOWLEDGEMENTS We are much indebted to our colleagues who have generously given us their opinions: J de Pedraza, J.M. Vilaplana, J. de D. Centeno, A. Martín Serrano and E. de Uña. Recibido: 10-II-03 Aceptado: 21-IV-03 282 Yepes Temiño & Vidal Romaní REFERENCES BARRERA MORATE J. L.; FARIAS ARQUER P.; GONZÁLEZ LODEIRO F.; MARQUÍNEZ GARCÍA J.; MARTÍN PARRA L. M.; MARTÍNEZ CATALÁN J. R.; DEL OLMO SANZ A.; DE PABLO MACIÁ J.G.; GALLASTEGUI G.; BEA F. & VILLASANTE PINTO R. (1989). Mapa Geológico de España. Scale 1:200.000, nº. 17/27, Ourense/Verín. Madrid, Instituto Tecnológico Geominero de España, 284 pp. 1 fold. Map. BIROT P. & SOLÉ SABARÍS L. (1954). Recherches morphologiques dans le NW de la Pèninsule Ibèrique. París, ed. Mémoires et Documents du C.N.R.S., 4: 7-61. BRUM A. DE; VIDAL ROMANÍ J. R.; VILAPLANA, J. M.; RODRÍGUES M. L.; ZEZERE J. L. & MONGE C. (1992). Formas e depósitos glaciários da Srra. do Geres-Xurés. PortugalGalicia. Levantamiento cartográfico. Cadernos do Laboratorio Xeoloxico de Laxe, 17: 121-135. C.N.I.G. (1994). Mapa Geográfico de Lugo. Scale 1:200.000. Madrid, ed. Centro Nacional de Información Geográfica del Ministerio de Fomento, 1 fold. 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T.1 Abstract The present work evaluates the water quality of a small spring that surfaces from the granitic massif of A Coruña. Several physico-chemical parameters, major ions, some nitrogenated ions and certain trace metals were determined. The results were compared with the values established by Spanish Law for drinking water. The data suggest incipient nitrogen contamination, given ammonium concentrations surpassed the maximum threshold values in some samples and guide levels on several occasions. Nitrates, like sulfates and chlorides, surpassed the recommended values in practically all samples and sodium in many cases. However, trace metal levels were below the established values, with the exception of aluminum and zinc in one sample. Key words: Water quality, spring, physico-chemical parameters, major ions, nitrogenated ions, trace metals (1) Facultad de Ciencias, Universidad de A Coruña. A Zapateira, 15071 A Coruña, España. E-mail: [email protected] 302 Rodríguez Blanco et al. INTRODUCCION Dentro del ciclo hidrológico, las aguas subterráneas son fundamentales tanto como fuente de agua potable para la sociedad como para el mantenimiento de muchos ecosistemas acuáticos. No obstante, cada vez es más común el incremento de ciertos elementos químicos en las aguas causado por prácticas humanas inadecuadas, ocasionando su inutilización para un uso determinado. Así FARINAN et al. (1994) indican que la mayor proporción de las aguas degradadas en el mundo se debe a la acción antrópica. En España los problemas de contaminación de las aguas subterráneas son importantes. Según indicaciones del MIMAM (2000), el 63% de las unidades hidrológicas presentan grados considerables de contaminación, encontrándose el 26% de las unidades con concentraciones muy altas de contaminantes. Existe por una parte la contaminación natural, esto es debida a la naturaleza geológica del subsuelo. Un ejemplo de ello son los depósitos evaporíticos que inducen la presencia de sulfatos y cloruros en cantidades que pueden ser excesivas para usos potables, algunos usos industriales e incluso a veces para los regadíos. Entre las actividades que pueden causar la contaminación de las aguas subterráneas se incluyen la actividad industrial y urbana, siendo la primera más variada y peligrosa que la segunda en cuanto a los productos objeto de vertido. La contaminación generada por la actividad urbana a través del vertido de residuos sólidos, efluentes líquidos domésticos, lavado de CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) calles, fugas de colectores y alcantarillas, fugas de fosas sépticas, etc… ( FEIGIN et al., 1991; FOPPEN, 2002), se manifiesta por aportaciones significativas de materia orgánica soluble, nitrógeno orgánico y amoniacal, nitratos y nitritos, fósforo, potasio, cloruros, boro, metales, ácidos y bases, así como posible contaminación bacteriológica (MOPTMA-MINER, 1994; NIÑEROLA PLÁ, 1998). Otro factor desencadenante de contaminación es la intrusión mariana. La explotación intensiva de las aguas subterráneas puede facilitar el que las aguas salinas invadan la zona de aguas dulces, por desplazamiento de la interfase entre los dos tipos de aguas (MIMOUNI et al., 1991, LLAMAS et al., 2000). Esta intrusión supone un aumento progresivo de la mineralización y por consiguiente el deterioro de la calidad del agua. Las actividades agrícolas y ganaderas son fuentes de gran importancia en la contaminación de las aguas. El uso de fertilizantes y plaguicidas en concentraciones elevadas conllevan a infiltraciones hacia las aguas, lo que en muchos casos ha puesto en peligro la calidad de los recursos hídricos e incluso se ha llegado a su inutilización. Paralelamente a esto se han incrementado los impactos ambientales a causa de prácticas de cultivo inapropiadas, regadio intensivo, sustitución de rotación de cultivos por monocultivo, ocasionando problemas de degradación de suelos que repercuten en la calidad de las aguas subterráneas (CANDELA LLEDO, 1998). Las actividades ganaderas son un foco importante de contaminación microbiológica de las aguas como consecuencia, sobre CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) todo, del uso de sus deyecciones como abono. Entre los contaminantes inorgánicos derivados de ellas se encuentran los nitratos y los metales pesados. Estos últimos pueden ser aportados como impurezas de algunos abonos, como sucede por ejemplo con el cobre en relación al abonado de porcino (MEEUS-VERDINNE, 1986; CASTRO INSUA, 1997). El vertido de purines y los desechos provenientes de la ganadería son la principal causa de contaminación de las zonas ganaderas de Galicia, cuyos contaminantes más significativos son los compuestos nitrogenados (XUNTA DE GALICIA, 1991; LÓPEZ PERIAGO et al., 1994; SAMPER et al., 1997; MOLINERO et al., 1999; DÍAZFIERROS, 2000; TABOADA et al., 2003) y la contaminación bacteriológica (ARAUJO, 1993; DIAZ-FIERROS & NUÑEZ, 1995; ARAUJO et al., 1996). Con el fin de delimitar la aptitud del agua para diferentes usos, existe una normativa que especifíca los criterios de calidad para consumo humano, vida piscícola, riego y baño. El objetivo de este trabajo es evaluar la calidad química del agua de un manantial que aflora dentro del macizo granítico de A Coruña (NW España), para lo cual se han determinando diversos parámetros físicoquímicos, los iones mayoritarios, así como iones nitrogenados usados frecuentemente como indicadores de contaminación de las aguas y algunos metales traza. Los resultados obtenidos se comparan con los valores guía establecidos por la Reglamentación Técnico-Sanitaria para el Abastecimiento y Control de la calidad de las aguas potables de consumo público en España (R.D. 1138/1990). Evolución de la calidad química 303 MATERIAL Y MÉTODOS Características del área de estudio El manantial se encuentra en los Montes de A Zapateira, localizados en la zona elevada del macizo granítico de A Coruña. Las características del área de estudio han sido descritas en un trabajo previo (RODRÍGUEZ BLANCO et al. 2003) por lo que aquí sólo se presenta una breve síntesis. Se ubica en una zona de ladera, sobre granodiorita tardía caracterizada por un elevado contenido de SiO2 y Al2O3, predominio del K2O sobre el Na2O y escasez de calcio (IGME, 1981). Desde el punto de vista hidrogeológico son rocas de baja permeabilidad, reduciendose la acumulación de agua a las zonas de fractura (XUNTA DE GALICIA, 1999; IGME, 1981). El punto de muestreo se ubica en un área de la ladera con suelos de escaso espesor, que está dedicada a monte de eucaliptos, con algún pino disperso y abundante matorral bajo formado básicamente por tojos, aúnque en la zona son frecuentes las urbanizaciones y las viviendas unifamiliares, que en algún caso no disponen de alcantarillado. También son importantes las áreas escolares y el Campus Universitario y escasas las parcelas dedicadas a cultivo. Toma de muestras Las muestras de agua se tomaron manualmente en un punto (P1) situado a unos 50 m de distancia del manantial, a través de los cuales el agua fluye superficialmente ladera abajo. 304 Rodríguez Blanco et al. Se realizaron tres campañas de muestreo, recogiendo un total de 163 muestras. La primera se efectuó entre noviembre de 1997 y marzo de 1998 (46 muestras), la segunda entre febrero y junio del año 2000 (36 muestras) y la tercera entre febrero y diciembre del 2002 (81 muestras). Métodos analíticos Las muestras se filtraron a través de filtros Millipore Millex-HN 0,45 µm. Durante las dos primeras campañas se analizaron Ca+2, Na+, K+, NO3-, Cl- y NH4+, así como pH y conductividad eléctrica mediante la Sonda Multiparamétrica Hydrion-10, un instrumento analítico basado en el empleo de electrodos selectivos, que permite realizar análisis simultáneos en aguas de una serie de parámetros físico-químicos de una forma más rápida y económica que los métodos convencionales, según se ha comprobado en DIÉGUEZ VILLAR (1998) y en TABOADA et al. (2000). En la tercera campaña, además de los parámetros citados, con la excepción de NH4+ y conductividad eléctrica, se midió la temperatura y se analizaron los siguientes aniones: SO42- por electroforesis capilar, Mg2+, Al, Mn, Cu y Zn por ICP-MS y Fe mediante Plasma Screen. RESULTADOS Y DISCUSIÓN En las tablas 1, 2 y 3 se recogen los valores medios y el rango de variación de la temperatura, pH, CE y aniones analizados durante las diferentes campañas en el punto P1. En la tabla 4 se reproducen los niveles guía y las concentraciones máxi- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) mas admisibles de los parámetros analizados establecidos por la legislación española para las aguas potables de consumo público (R.D. 1138/1990). En esta misma tabla se muestra la frecuencia de los parámetros que superan el valor guía y el valor máximo. La temperatura del agua durante la tercera campaña osciló entre 10 y 19ºC presentando un valor medio de 14,89ºC, encontrándose siempre por debajo del límite máximo establecido por el R.D 1138/1990. El valor medio de pH fue ligeramente superior a la neutralidad, situándose dentro del rango característico de las aguas naturales (6,5-8,5). La CE mostró valores muy bajos durante las dos campañas en las que ha sido analizada (tabla 1). El valor más bajo fue de 243 y el más alto de 294 µS/cm, por lo tanto inferiores al valor guía para aguas de consumo público (400 mS/cm). Los datos de conductividad indican que se trata de un agua de mineralización media (conductividad eléctrica comprendida entre 200 y 333 µS/cm) de acuerdo con la clasificación dada por RODIER (1990). Este resultado concuerda con los obtenidos por SORIANO y SAMPER (2000) en aguas subterráneas de la cuenca del río Valiñas (afluente del río Mero cercano a los Montes de A Zapateira) que circulan por materiales geológicos similares a los del manantial objeto de estudio. En cuanto a los aniones (tabla 1), las concentraciones medias de cloruros y nitratos están bastante próximas entre las tres campañas y entre sí. Los valores medios de cloruros ascienden a 29.88, 33.88 y 28.63 mg/L, situándose la con- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Evolución de la calidad química 305 Tabla 1. Valores medios y rango de variación de los parámetros físico-químicos y aniones analizados (C1: campaña 1; C2: Campaña 2; C3: Campaña 3). Tabla 2. Valores medios y rango de variación de los cationes analizados durante las diferentes campañas de muestreo. Tabla 3. Valores medios y rango de variación de los metales traza. centración máxima en 37.90, 41.80 y 38.40 mg/L para la primera, segunda y tercera campaña respectivamente, con un rango de variación muy próximo entre campañas, del orden de 13 mg/L. De las 163 muestras, 162 presentaron una concentración mayor del valor guía, cifrado para este anión en 25 mg/L (tabla 4). Los contenidos medios de nitratos se situaron en 29.41, 31.83 y 33.16 mg/L para la primera, segunda y tercera campaña respectivamente, lo que denota una ligera tendencia ascendente en la evolución temporal de este ión. En ningún caso alcanzó el umbral de 50 mg/L establecido en la Reglamentación Técnico Sanitaria, 306 Rodríguez Blanco et al. siendo los valores máximos de 37.90, 38 y 40.90 mg/L. Sin embargo, un amplísimo número de muestras (160 de 163 analizadas) superaron el nivel guía (25 mg/L), tal como se aprecia en la tabla 4. Los sulfatos, analizados en la última campaña, oscilaron entre 33,60 y 44,60 mg/L, situándose la media en 38,83 mg/L, encontrándose siempre por encima del valor guía. Respecto a los cationes (tabla 2), los valores promedio de calcio y sodio presentan una gran similitud, siendo del orden de 20 mg/L en las tres campañas. El rango CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) de variación es en ambos casos más elevado en la primera campaña, siguiéndole la tercera y por último la segunda. Destacan los elevados valores de sodio, que en su mayor parte sobrepasaron el valor guía, hecho que nunca ocurre con el calcio. El potasio, aúnque es el álcali predominante en las granodioritas de la zona (IGME, 1981), se distancia mucho de los valores de calcio y sodio en las aguas. Presenta durante las tres campañas valores promedios muy uniformes, ligeramente superiores a 2 mg/L, siéndo el valor máximo encontrado de 5,04 mg/L. Es decir, no Tabla 4. Niveles guía y máximos para aguas de consumo público (RD 1138/1990) y frecuencia de los parámetros analizados que superan dichos niveles. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) alcanzó en ningún caso el nivel guía cifrado en 10 mg/L para aguas de consumo, contrariamente a lo observado por SORIANO y SAMPER (2000) en algunas muestras de aguas subterráneas de la cercana cuenca del río Valiñas en las que incluso se llegó a superar el limite admisible (12 mg/L). Las concentraciones de magnesio oscilaron en la tercera campaña entre 5,30 y 7,90 mg/L, obteniéndose como valor medio 6,01 mg/L. Estos valores están muy alejados del nivel guía para aguas de consumo (fijado en 30 mg/L), sin embargo son ligeramente superiores a los encontrados en un estudio efectuado por EPTISA e IDASA en 1991 (XUNTA, 1991) en aguas de la zona norte y noroeste de Galicia, que cifran el valor más elevado en 4 mg/L. En lo que respecta al ión amonio, su presencia en las aguas en general se considera como una indicación de contaminación reciente y peligrosa. En la primera campaña osciló entre 0 y 0,23 mg/L, sobrepasando únicamente 6 muestras de las 25 analizadas el valor guía, mientras que en la segunda este valor lo sobrepasaron la totalidad de las muestras, alcanzando una concentración máxima de 1,26 mg/L (tabla 2). Por otra parte, cabe resaltar que en el 16% de las muestras en las que fue analizado superó la concentración máxima admisible, lo que indica que existe una contaminación incipiente nitrogenada en el manantial. En Galicia las concentraciones elevadas de compuestos nitrogenados en las aguas, se asocian frecuentemente con la actividad agropecuaria (LÓPEZ PERIAGO et al., 1994; TABOADA et al., Evolución de la calidad química 307 2003), sin embargo ésta es muy escasa en la zona de estudio, por lo que no cabe esperar un alto aporte de abonos nitrogenados a los suelos y en consecuencia su transferencia a las aguas sería más bien pobre. Como se indicó anteriormente la presencia de amonio en las aguas se relaciona con episodios recientes de contaminación. Si se tiene en cuenta que además de los fertilizantes y abonos, elevadas cantidades de este ión en las aguas tambien se atribuyen a aguas residuales (SORIANO y SAMPER, 2000) se podría considerar su presencia en el agua del manantial ligada a algún escape de las fosas sépticas de viviendas particulares situadas en las cercanías del área de estudio. De hecho los efluentes domésticos junto con el abonado orgánico constituyen dos causas fundamentales de contaminación de las aguas en Galicia (LÓPEZ PERIAGO et al., 1994; ARAUJO et al., 1996; DIAZ-FIERROS, 2000; SORIANO & SAMPER, 2000). Por último, en lo referente a los 5 metales traza estudiados, se deduce que el agua presenta contenidos muy bajos de estos metales. El cobre no llegó a alcanzar el límite de detección, mientras que el aluminio es el mayoritario. Atendiendo a los valores medios se obtuvo el siguiente orden de abundancia: Al>Zn>Fe>Mn. El aluminio presenta un alto rango de variación (2-52,10 µg/L) que tan sólo es superado por el zinc (0,33-146 µg/L) a causa de la existencia de una muestra con una concentración anómala, quizás fruto de alguna fuente superficial puntual contaminante. Únicamente aluminio y zinc sobrepasaron el valor guía en una proporción pequeña de análisis. 308 Rodríguez Blanco et al. CONCLUSIONES A partir de los resultados de los parámetros físico-químicos de las muestras analizadas y teniendo como referencia la Reglamentación Técnico-Sanitaria para el abastecimiento y control de calidad de las aguas potables de Consumo Público, que nos indica los rangos a partir de los cuales un agua es declarada apta para consumo humano, se puede concluir que el agua presenta una incipiente contaminación nitrogenada, superándo el amonio el límite máximo en un 16% de las muestras y el nivel guía en el 60%. Por otra parte, exis- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) te un riesgo potencial de contaminación por sulfatos, nitratos y cloruros, sobrepasando sus concentraciones, en todas o en la práctica totalidad de las muestras el umbral guía de 25 mg/L. Los contenidos de calcio, magnesio y potasio se encuentran muy alejados de los valores guía, contrariamente a lo que ocurre con el sodio que los supera (20 mg/L) en el 66% de las muestras. De los metales tan sólo aluminio y zinc superan dicho umbral en un 1% de las muestras. Recibido: 03-VI-03 Aceptado: 14-VII-03 CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) BIBLIOGRAFIA ARAUJO, M. (1993). Salubridad del agua en Galicia. Tesis Doctoral. Universidad de Santiago de Compostela. Departamento de Microbiología y Parasitología, pp. 224. ARAUJO, M.; SUEIRO, R. & GARRIDO, M. (1996). Contaminación Biótica. En: As Augas de Galicia. Díaz-Fierros, F. (Coord.). Consello da Cultura Galega. Santiago, pp. 447-574. CANDELA LLEDÓ, L. (1998). La contaminación de las aguas subterráneas por las actividades agrarias en España: Visión desde la investigación. En: La contaminación de las aguas subterráneas: un problema pendiente. Samper, J., Sahuquillo, A., Capilla, J.E. & Gómez Hernández, J.J. (Eds.). Instituto Geominero de EspañaAsociación Internacional de Hidrogeólogos Grupo Español. Madrid, pp. 53-63. CASTRO ÍNSUA, J. (1997). Producción de purines en Galicia. 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Xeolóxico de Laxe Coruña. 2003. Vol. 28, pp. 311-328 ISSN: 0213-4497 Caracterización micromorfológica de costras sedimentarias desarrolladas en suelos agrícolas en Galicia (NW España) Micromorphological characterization of sedimentary crusts developed in agricultural soils in Galicia (NW, Spain) TABOADA CASTRO, M. M.1; LE BISSONNAIS, Y.2; COUSSIN, I.2 & PAZ GONZÁLEZ, A.1 Abstract This work presents the morphological characterization of sedimentary crusts of an agricultural soil, taken from two areas of different microrelief and formed by the action of the precipitation itself. Approximate thickness, porosity and other characteristics were evaluated using the description of thin sections by optical microscopy and scanning electron microscopy. Notable morphological variation was observed when the crusts studied were compared in terms of the number and disposition of microhorizons, presence of oriented particles, degree of classification of particles and abundance of fine material that could be attributed to the action of the microrelief on the transport of materials and the sedimentation conditions. Key words: Sedimentary crust, thin section, microhorizons, optical microscope, scanning electron microscope. (1) Facultad de Ciencias. Universidad de A Coruña. A Zapateira, 15071 A Coruña, España. (2) INRA. Unité de Science du Sol-SESCPF. Orleáns. Francia. 312 Taboada Castro et al. INTRODUCCIÓN En comparación con zonas naturales o en aquellas en las se han llevado a cabo obras de ingeniería civil, en las que los rasgos erosivos tales como las incisiones de regueros y cárcavas permanecen visibles una vez que han sido formados, la degradación de los suelos en los campos agrícolas no es tan claramente manifiesta ya que las prácticas de laboreo eliminan periódicamente estos rasgos erosivos superficiales (De ALBA et al., 2003). Sin embargo, el paisaje agrícola gallego se caracteriza por la presencia generalizada de costras superficiales cuyo desarrollo y evolución está relacionado con el tipo de suelo, la precipitación, las prácticas agrícolas y la topografía del terreno. El desarrollo de una costra es un proceso dinámico y su morfología evoluciona al ir aumentando la precipitación (CHEN et al., 1980). Para poder evaluar la intensidad y/o gravedad de la degradación de la superficie del suelo es interesante identificar los diferentes tipos de costra. En este sentido, WEST et al. (1990) o posteriormente VALENTIN & BRESSON (1992) propusieron modelos generales que explican el desarrollo de costras superficiales. De modo general, en la dinámica de los procesos de encostrado se reconocen dos tipos fundamentales de costra, estructural y sedimentaria. Las costras estructurales se forman “in situ” mediante procesos directamente relacionados con el impacto de las gotas de lluvia y la humectación generalmente rápida de la superficie. En ellas se han podido identificar uno o incluso más microhorizontes, que consisten en niveles CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) más o menos potentes (1-10 mm) con porosidad muy poco desarrollada y diámetro medio de poro inferior al del material subyacente, formadas por partículas desprendidas de los agregados por acción de la precipitación, reordenamiento de partículas, y fragmentos de agregados y elementos estructurales más o menos coalescentes. La alteración morfológica más frecuente asociada con esta capa desorganizada es la modificación del sistema poroso, y la presencia de estructuras derivadas de fenómenos de eluviación e iluviación que pueden presentarse en el interior o sobre la misma. Generalmente, se admite que la formación de una costra estructural supone una reducción de la porosidad que oscila entre el 30 % y el 90 % de la original (PAGLIAI et al., 1983; NORTON, 1987; WEST et al., 1990). Si bien, como se acaba de mencionar las costras estructurales se forman por reorganización de partículas, de tal modo que el desplazamiento de los fragmentos es mínimo y están ausentes tanto la granoclasificación como los procesos de sedimentación, la formación de costras sedimentarias se atribuye al transporte inducido por el flujo de agua y la deposición de partículas individuales y microagregados desde zonas topográficas relativamente altas a posiciones bajas del relieve. Morfológicamente, la mayor parte de las costras sedimentarias han sido descritas como láminas o capas múltiples de partículas o microagregados que se depositan de modo discordante sobre una costra estructural o suelo no alterado (KOOISTRA & SIDERIUS, 1986; NORTON & SCHRÖEDER, 1987; BRESSON & BOIFFIN, 1990). CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) En cuanto a su génesis, se considera que cada lámina es consecuencia de un único episodio de lluvia y entre uno y otro se aprecian variaciones en cuanto al tamaño de grano y a la distribución granulométrica en función del microrrelieve de la superficie, las características del episodio de precipitación y las circunstancias en las que se originó el flujo que transportó estos materiales. En la mayor parte de los casos, las costras sedimentarias no presentan estructura pero han sido identificados tanto microagregados redondeados (FALAYI & BOUMA, 1975; BRESSON & BOIFFIN, 1990) como fragmentos que previamente habían formado otras costras (COURTY, 1986). Aúnque generalmente las costras sedimentarias están formadas por varias capas, algunos autores observaron costras sedimentarias con una sola capa y la atribuyeron a intensidades constantes de precipitación (FALAYI & BOUMA, 1975; ARSHAD & MERMUT, 1988; WEST et al., 1990). Las principales características observadas tras la formación de una costra sedimentaria están relacionadas con el espesor de las capas, las modificaciones de la porosidad y las características hidráulicas que difieren del material subyacente. El espesor varia considerablemente en función de la microtopografía y las características de la sedimentación. Cuando la costra sedimentaria cubre áreas extensas, los espesores medidos oscilan entre 0,6 mm (VALENTIN & RUÍZ FIGUEROA, 1987) y 20 mm (BRESSON & BOIFFIN, 1990), aunque en general se sitúan entre 3 y 5 mm. En las depresiones depende de la profundidad de estas y frecuentemente es del orden de varios centímetros. Caracterización micromorfológica 313 Dado que las costras sedimentarias, en general, no tienen estructura, los poros pueden considerarse de tipo primario, es decir, formados durante el proceso de acumulación de partículas. Su tamaño y número depende de la granulometría, y el grado de clasificación de los materiales que las originan. En muchos trabajos se ha observado que en las costras de este tipo no existen macroporos o bien que su número está muy limitado (COURTY, 1986; KOOISTRA & SIDERIUS, 1986; PAGLIAI, 1987; ARSHAD & MERMUT, 1988). En general, las costras formadas a partir de capas con granos gruesos o microagregados tienen mayor porosidad total que las formadas a partir de elementos de tamaño más fino. VALENTIN & RUÍZ FIGUEROA (1987), observaron que las costras sedimentarias desarrolladas a partir de un suelo limo-arenoso presentaban entre un 8 y un 14 % de poros mayores que 0,075 mm, mientras que el mismo suelo no encostrado tenía un 35 % de poros superiores a 6 mm de diámetro. NORTON (1987) en superficie con surcos observó que la costra sedimentaria en las zonas de menor relieve presentaba menos del 5 % de poros mayores de 0,02 mm de diámetro, hasta la profundidad de 10 mm. También comprobaron que la costra sedimentaria tenía menos porosidad que una costra estructural formada en el mismo suelo bajo otro tipo de cultivo. Asociados a costras sedimentarias pueden aparecer vesículas o poros circulares inmediatamente por debajo de la superficie (COURTY, 1986; KOOISTRA & SIDERIUS, 1986; VALENTIN & RUÍZ FIGUEROA, 1987). Su formación se rela- 314 Taboada Castro et al. ciona con la presencia de aire atrapado en los niveles más superficiales, tras la formación de charcos de agua en períodos de precipitación intensa. Debido al agua encharcada y al pequeño tamaño de los poros de la matriz arcillosa, el desplazamiento de aire está muy limitado, siendo reemplazado en los poros por el agua que se infiltra poco a poco. Las vesículas pueden suponer una proporción importante de la porosidad total de una costra sedimentaria. Sin embargo, como en general no hay conexión entre ellas su contribución a la transmisión de agua es prácticamente nula. Por lo tanto, la medida de estos poros ineficaces para el flujo de agua, puede enmascarar la relación entre la porosidad eficaz y la intensidad de flujo de agua a través de costras sedimentarias. En este trabajo se efectua la caracterización micromorfológica de dos costras sedimentarias formadas en un suelo agrícola de textura media. Dichas costras se originaron bajo la acción de la misma precipitación en dos zonas con distinto microrrelieve. Se evaluan en términos aproximados el espesor, porosidad y otras características, a partir del estudio de láminas delgadas observadas con microscopio óptico y microscopio electrónico de barrido. MATERIAL Y MÉTODOS Características del área estudiada Se tomaron dos muestras de costra sedimentaria en una parcela situada en Liñares-Culleredo (A Coruña, NW España), formada sobre esquistos básicos del Complejo de Órdenes. La parcela, con CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) una extensión de 0.296 ha, forma parte de una explotación tradicional dedicada a maíz desde 1997, como único cultivo anual, permaneciendo el resto del año el suelo a barbecho. Muestreo y preparación de láminas delgadas El muestreo se realizó en invierno a finales del mes de enero de 2000. La parcela se encontraba a barbecho desde el otoño anterior, después de haber efectuado un pase de fresa tras la recolección del maíz. Las muestras se tomaron en cajas Kubiena, en una zona de cabecera labrada a favor de la máxima pendiente (Li1) y en una zona de topografía llana entre las líneas de fresado (Li3). Se prepararon láminas delgadas siguiendo el protocolo del INRA de Orleáns-Francia (Le LAY, 1997), y se observaron al microscopio óptico y microscopio electrónico de barrido (MEB). A partir de las láminas delgadas, se realizaron descripciones generales referidas a la zona alterada y al material subyacente. La descripción se efectuó en base a características tales como presencia o ausencia de costra, número y espesor de las bandas, abundancia tipo y forma de los poros, así como tamaño, orientación y disposición de las partículas. También se tuvieron en cuenta la existencia de zonas de transición tanto entre bandas como entre zona de costra y material subyacente y disposición del material en ambas zonas. Así mismo se efectúan comparaciones atendiendo a la presencia de diferencias mineralógicas, cambios de color del material y, sobre todo, diferencias de porosidad. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) RESULTADOS Y DISCUSIÓN Caracterización micromorfológica 315 A continuación, se presentan los resultados de la observación de láminas delgadas con microscopio óptico y microscopio electrónico de barrido en dos muestras procedentes de la parcela de Liñares (Li1 y Li3). La formación de costras sedimentarias e incluso aparición de regueros es habitual en esta parcela. En trabajos previos se han descrito estos fenómenos (VALCÁRCEL, 1999; TABOADA CASTRO, 2001) bajo diferentes condiciones de laboreo durante los años 1997-2000. microtopografía se observaron zonas alternas de erosión y de sedimentación. La muestra Li1 se tomó sobre una pequeña hondonada local que contenía materiales arrastrados no sólo desde el entorno inmediato (centimétrico) sino también de distancias métricas y tal vez decamétricas. La muestra Li3 se tomó en una zona localizada entre los surcos de fresa en la que la costra sedimentaria también presentaba un espesor notable. En este caso los materiales que formaron la costra procedían en su mayor parte de distancias de pocos decímetros. Descripción agronómica y estado de evolución de la parcela Caracterización de las costras sedimentarias La parcela de Liñares fue fresada en noviembre de 1999. Esta labor originó un importante microrrelieve pero no desmenuzó totalmente el suelo ni los restos de las cañas de maíz. La precipitación acumulada entre el laboreo del suelo (noviembre de 1999) y la toma de muestra (27 de enero de 2000) fue de 217.7 mm. La superficie del suelo había evolucionado notablemente desde el estado inicial, de modo que la costra sedimentaria se había extendido desde las primeras hondonadas en que se observó y en donde también presentaba mayor espesor, a más del 90% de la superficie de la parcela. La muestra Li1 procedía de una zona con una pendiente fuerte, de aproximadamente 19-20 %, que correspondía con la cabecera de la parcela, y además, estaba labrada en la dirección de la máxima pendiente. En consecuencia, en esta área predominaba la erosión y se formaron pequeños regueros; no obstante, a favor de la En la figura 1 se presentan fotografías a tamaño natural de una sección pulida de las muestras Li1 y Li3, pudiendo apreciarse el importante espesor de la costra sedimentaria (mayor de 1.5 cm en ambas). A esta escala, en Li1 se reconocen detalles como la presencia de un fragmento vegetal en la base de la zona encostrada y una grava de dimensiones centimétricas que ocupa la zona central del material subyacente a la costra; además en la base de Li1 se observa una mayor abundancia de materiales finos y plasma que en capas más recientes de la misma. El aspecto fluidal de la sección pulida de esta muestra es muy aparente, indicando que procede de una zona en donde se estaba produciendo arrastre de materiales. En Li3 se observan un mayor número de bandas que presentan mayor horizontalidad que en Li1. Las observaciones con microscopio óptico y electrónico de láminas delgadas de la muestra Li1 permitieron diferenciar 316 Taboada Castro et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 1. Sección pulida de láminas delgadas de las muestras Li1 (izquierda) y Li3 (derecha) a tamaño natural. con claridad al menos cuatro bandas sedimentarias, que posiblemente sean consecuencia de la sedimentación de materiales durante otros tantos episodios importantes de lluvia; además en algunas zonas del transecto vertical parece que se individualizan otras bandas, más difíciles de diferenciar, que se formarían como consecuencia de episodios menores, que originarían fenómenos de arrastre también más limitado (figuras 2 y 4). En las cuatro bandas más importantes se aprecia con frecuencia granoselección y al mismo tiempo los sucesivos microhorizontes buzan siguiendo la dirección de la pendiente. También se observó una diferenciación entre la zona encostrada y el material subyacente que se presenta homogéneo (figura 3) y en el que aumenta de modo significativo el número y el tamaño de los poros, como se describe mas detalladamente a continuación. En la figura 2, se presentan microfotografias al microscopio óptico con luz normal y polarizada de tres zonas de la costra de la muestra Li1, que corresponden a la superficie (a y b), el interior (c y d) y la parte inferior de la costra (e y f) y en la figura 3 se puede apreciar el material subyacente a la costra. Con luz polarizada los granos minerales tienen colores claros, los agregados oscuros y los poros grisáceos; el contraste entre microfotografías tomadas con luz normal y luz polarizada, permite diferenciar mejor estos tres elementos. Al comparar ambas fotografías se comprueba el contraste entre las mayores dimensiones de las partículas de la costra y la zona del material subyacente. La estructura del material subyacente permaneció relativamente inalterada y la costra está caracterizada por el colapso de la estructura original y la presencia de fragmentos de menores dimensiones. Comparando las figuras 2 y 3 también se observan ya diferencias en cuanto a la importancia que cobra la porosidad en la capa sedimentaria y el material subyacente, como consecuencia del empaquetamiento más denso de las partículas que constituyen la costra. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización micromorfológica 317 a) Superficie, luz normal b) Superficie, luz polarizada c) Interior, luz normal d) Interior, luz polarizada e) Base, luz normal f) Base, luz polarizada Figura 2. Secciones de la muestra Li1 al microscopio óptico con luz normal y luz polarizada, que corresponden a la superficie, el centro y la base de la costra. 318 Taboada Castro et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 3. Secciones de la muestra Li1 al microscopio óptico con luz normal y luz polarizada, que corresponden al material subyacente. Para el estudio con el microscopio electrónico de barrido, se tomaron en primer lugar secuencias de microfotografías a 30 aumentos desde la superficie hasta el material subyacente; a continuación se tomaron imágenes con mayores aumentos, lo que permitió comparar la morfología de la costra sedimentaria y el material subyacente no alterado. En la figura 4 se presenta un transecto formado por superposición de sucesivas microfotografías al microscopio electrónico de barrido a 30 aumentos, con un espesor total superior a los 15 mm. Este transecto permite apreciar las cuatro bandas principales, orientadas en el sentido de la pendiente, y que se diferencian entre sí por el color y localmente por la granoselección; la orientación resulta particularmente evidente por la disposición de los minerales que se presentan en laminillas. Vista en conjunto, se aprecian en la costra discontinuidades y oscilaciones en cuanto al tamaño de grano y la distribución granulométrica, que deben de estar relacionadas con los episodios de precipitación y carac- terísticas del flujo que aportó los materiales sedimentarios y las interacciones de los mismos con el microrrelieve. La banda más próxima a la superficie está formada por partículas relativamente grandes, con tamaños que oscilan predominantemente de 0.1 a 0.2 mm, pero que pueden alcanzar hasta 0.5 mm a lo largo del eje mayor. Por tanto, se aprecia cierta selección por diámetros de partículas frecuentemente angulares o subangulares, de modo que se diferencia de las bandas vecinas por la menor abundancia de materiales laminares. En la figura 5 (a y b) se puede observar con más detalle (x121) la disposición de las partículas en esta capa. El límite entre la primera y la segunda banda tiene una inclinación importante, mayor de 30º. El color de esta banda es más claro que el de la inmediatamente inferior, lo que se debe a que el plasma es muy poco abundante y las partículas, en una mayor parte de naturaleza mineral, son de colores claros. La orientación del material es caótica. La porosidad es muy baja, inferior al 10% y predominan los poros de forma redondeada. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización micromorfológica 319 Figura 4. Microhorizontes en un transecto de la costra sedimentaria de Li1 al MEB (x 30). 320 Taboada Castro et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) La segunda banda está formada por partículas de menor tamaño y mejor clasificadas que las de la banda de la superficie. No se aprecia una zona de transición brusca con un límite claro entre esta banda y las vecinas; aunque está separada de la tercera por una capa de partículas similares en aspecto y tamaño a las de la primera capa. Por tanto, la segunda banda se presenta como una formación aproximadamente simétrica, en cuya parte central el plasma es relativamente más abundante y los fragmentos menos frecuentes. En conjunto, la segunda capa presenta un color más oscuro que la primera y la tercera lo que se puede atribuir a que el plasma es más abundante en ella que en las dos vecinas. El aspecto de las partículas de esta capa a mayores aumentos (x121) se puede observar en dos microfotografías (figura 5 c y d) apreciándose como partículas con diferentes aspectos que contrastan entre sí, subredondeadas y laminares se encuentran superpuestas unas a otras; el contraste es mayor dado que las formas laminares tienden a presentar una orientación preferencial. a) Primera banda (x 121) b) Primera banda (x 121) c) Segunda banda (x 121) d) Segunda banda (x 121) Figura 5. Microfotografías con detalles de la costra sedimentaria y del material subyacente de la costra sedimentaria de la lámina delgada Li1. Caracterización micromorfológica 321 CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) La tercera banda está bien definida por el color más claro que la hace destacar sobre el conjunto de la costra. El tamaño de partícula es muy heterogéneo y los materiales de mayores dimensiones, de hasta 250-300 µm a lo largo del eje principal, presentan un aspecto similar a los de la primera capa, en la superficie de la costra. Los fragmentos de agregados y partículas están superpuestas unas en relación a otras, siendo notable la orientación de los elementos laminares. La transición de la banda subyacente de color más oscu- ro es brusca, con un límite neto entre ambos. Una particularidad de la tercera banda es el desarrollo de poros alargados y estrechos, que se aprecian en sección longitudinal y transversal, con diámetros en general inferiores a 100 µm, que se comunican entre ellos. La cuarta banda, situada justo por encima del material subyacente es una zona relativamente ancha, bien delimitada y de color más oscuro que los restantes; debido a la mayor abundancia de plasma. Se aprecia como una microformación bien delimi- e) Cuarta banda (x 121) f) Cuarta banda (x 121) g) Material subyacente (x 121) h) Material subyacente (x 121) Figura 5. Continuación. 322 Taboada Castro et al. tada de las bandas suprayacentes y el material subyacente. Las partículas esferoidales son de pequeñas dimensiones en relación con otras capas, generalmente menores de 100 µm. Las partículas laminares, relativamente abundantes y menores que las laminillas similares de otras bandas, presentan una clara orientación y están superpuestas, como se aprecia en la figura 5 (e y f) en donde se presentan microfotografias de la cuarta banda a 121 aumentos. En conjunto, este microhorizonte tiene aspecto de masa compacta formada por fragmentos y partículas relativamente pequeñas ensambladas por plasma en los que apenas se observan poros. El material subyacente de la muestra Li1 limita con la cuarta banda, en la base de la costra por una zona de transición estrecha y discontinua, que puede representar el vestigio de una costra estructural, anterior al aporte de materiales alóctonos que constituyen la costra sedimentaria formada por las cuatro bandas principales antes descritas. Entre la banda inferior de la costra y el material subyacente no hay un verdadero cambio de color, pero en este último se aprecian partículas de grandes dimensiones mayores de 500 µm que son relativamente abundantes y le confieren más claridad. El material subyacente de tamaño muy heterogéneo presenta partículas más o menos angulares, subangulares y laminares de tamaño superior al de los que constituyen las sucesivas bandas de la costra. En el material subyacente ya se aprecia cierta proporción de plasma que se encuentra enlazando y cementando estas partículas. También queda patente un sistema de poros en general redondeados con dimensiones con frecuencia mayores de CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) 100 µm. En la figura 5 (g y h) se pueden apreciar a 121 aumentos las características de la masa subyacente. Al observar otros transectos de la lámina Li1 se comprobó la presencia de las cuatro bandas que componen la costra, con un espesor que varia en relación al transecto antes descrito; si bien localmente podía presentar oscilaciones sobre el patrón general, la organización antes descrita se mantiene relativamente uniforme. En síntesis, la costra Li1, se caracteriza por la segregación del material que la constituye en diferentes bandas, que se distinguen entre sí por la heterogeneidad de las partículas en cuanto a la forma y el tamaño. El espesor de estas bandas no es constante y buzan más de 30º, las partículas laminares muestran orientación. En general la porosidad es muy baja, si bien se observan notables variaciones entre bandas. De forma aislada se observan poros que no suelen superar 100 µm de diámetro. Los poros apreciados son más abundantes en la tercera banda, tienen disposición longitudinal y están comunicados entre sí. En el transecto estudiado no se observan restos vegetales. Un transecto de la muestra Li3 formado por superposición de una serie de microfotografías al microscopio electrónico de barrido a 30 aumentos se presenta en la figura 6. En este caso el espesor del transecto incluyendo costra y material subyacente es mayor de 20 µm. La principal diferencia del transecto de la muestra Li3 (figura 6) al compararlo con el de Li1 (figura 4) estriba en la disposición prácticamente horizontal de las bandas sucesivas, lo que está de acuerdo con el hecho de que en este caso la muestra se tomó en una CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Caracterización micromorfológica 323 Figura 6. Microhorizontes en un transecto de la costra sedimentaria de Li3 al MEB (x 30). 324 Taboada Castro et al. zona entre regueros, con una microtopografía local prácticamente llana. Las partículas desprendidas en esta zona entre regueros se desplazaban tanto por salpicadura como por flujo laminar que finalmente se concentra a favor de surcos de fresadora labrados perpendicularmente a la dirección de la máxima pendiente. En la lámina delgada Li3 se pudieron apreciar un mayor número de bandas, que en la muestra Li1, ocho en total, por lo que no resulta sencillo establecer una correlación entre ambas costras sedimentarias. Los materiales que forman la costra en esta muestra, deben de proceder del entorno centimétrico y decimétrico, dada su localización topográfica. En la banda de la superficie de Li3, predominan las partículas esferoidales relativamente grandes de hasta 0.250 µm, que recuerdan a las de la misma capa de Li1. Sin embargo, lo que realmente cabe destacar de esta banda son las láminas secundarias, menos potentes, de modo que capas formadas por partículas de mayores dimensiones alternan con otras formadas por materiales más finos y con plasma mucho más abundante. En estas últimas capas se aprecian pequeñas partículas planares orientadas. Sin embargo, la orientación de los minerales no resulta muy patente. En esta banda se aprecian poros de forma esferoidal poco abundantes y con un diámetro de hasta 0.1 µm. El espesor de las bandas ricas en plasma no es constante, pero aproximadamente es del orden de 80 a 160 µm. La segunda banda está formada por partículas gruesas y bien individualizadas, con una ausencia prácticamente total de plasma y en consecuencia una porosidad CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) elevada. Las partículas predominantes están constituidas por cuarzo de forma más o menos esferoidal y fragmentos esquistoides que tienden a presentar formas laminares. No existe una orientación preferencial de modo que la deposición de las partículas que constituyen esta lámina ocurriría en ausencia de una dirección de flujo preferencial. La tercera banda es de color más oscuro que la anterior; en cuanto al tamaño de las partículas las de mayor calibre son similares a las de la segunda capa pero están inmersas en un material laminar que forma estructura a modo de filamentos. Así mismo, los poros son menos abundantes que en la capa anterior, siendo de destacar que no todos los poros son de forma redondeada sino que también hay poros comunicantes que presentan aspecto planar en corte transversal. La cuarta y la quinta banda presentan cada vez material más fino. En el caso de la cuarta banda se aprecia que está formada por partículas superpuestas unas encima de otras de forma diversa. Como consecuencia disminuye sensiblemente la porosidad en relación a la de las capas suprayacentes llegando incluso a ser prácticamente inapreciable. Sin embargo, la quinta banda se presenta como bien delimitada, en donde se observa el material más fino de todo el transecto por lo que se puede afirmar que la porosidad es prácticamente nula. Esta capa es, en conjunto, muy homogénea, con finas partículas superpuestas unas a otras, si bien se puede observar en la parte superior de la misma una lámina secundaria, que se reconoce por su color ligeramente más oscuro. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) En la sexta banda, se invierte la tendencia en cuanto a disminución del tamaño de las partículas, de modo que presenta unas características similares a las de la cuarta banda. Las partículas presentan tamaños intermedios entre los de la banda quinta y los de las bandas más superficiales; la porosidad apenas es perceptible. La séptima banda tiene menor potencia que las anteriores y está formada también por materiales finos. La octava banda, menos delimitada que las anteriores y relativamente potente se considera una zona de transición con el material subyacente. Por último, el material subyacente está formado por partículas de tamaños y forma muy heterogéneos, de modo que se aprecian partículas grandes constituidas por agregados o granos minerales que se encuentran rodeados o cementados por otros de dimensiones más pequeñas, algunos de los cuales proceden de fragmentos de agregados. La porosidad aumenta sensiblemente en relación a la de las zonas superiores. Por tanto, esta capa subyacente está caracterizada ya por una cierta desorganización de los elementos estructurales en relación a lo que debió de constituir la estructura del suelo inicial. A pesar de ello, la porosidad de la misma es sensiblemente más elevada que la de las bandas que forman la costra sedimentaria. Comparación entre costras sedimentarias Para interpretar en términos aproximados la génesis de estas costras hay que tener en cuenta como señalan WEST et al. (1990) la conveniencia de haber efectuado observaciones en diferentes esta- Caracterización micromorfológica 325 dios de desarrollo de las mismas y no sólo al final de una serie de episodios acumulativos de precipitación, como es el caso en las láminas delgadas estudiadas. Las dos costras sedimentarias observadas, presentan una secuencia sucesiva de bandas, en algunas de las cuales a su vez se aprecian diversas capas o lechos de partículas, de modo que recuerdan a las descritas previamente por diversos autores (KOOISTRA & SIDERIUS, 1986; BRESSON & BOIFFIN, 1990, etc). Por otro lado, si se comparan las muestras Li1 y Li3, se constata la dificultad de efectuar una correlación de las capas observadas en las mismas. Esto pone de manifiesto la importante variabilidad de la morfología de transectos en el interior de una misma parcela. Dicha variabilidad debe de ser atribuida a la acción del microrrelieve sobre el transporte de materiales y las condiciones de sedimentación. Las semejanzas de la costra en las dos muestras tomadas sobre esquisto son más bien limitadas; aunque se hayan formado bajo la acción de la misma cantidad de precipitación. Ambas tienen una potencia similar del orden de 1.5 a 2 cm y están formadas por capas múltiples que se depositan de modo discordante sobre suelo no alterado, sin embargo no se diferencian el mismo número de capas principales en cada una de ellas. Aunque no fue posible correlacionar las sucesivas bandas de las costras, el análisis de las diferencias entre las mismas puede ser útil para efectuar inferencias acerca de las condiciones de formación. Las principales diferencias entre Li1 y Li3 se observaron en cuanto a la disposición de las bandas, la presencia de partículas orientadas, el grado de clasi- 326 Taboada Castro et al. ficación y la abundancia de material fino. El contraste entre la disposición inclinada de las bandas en Li1 y la horizontalidad de las mismas en Li3 sugiere ya que en la primera muestra los fenómenos de transporte simultáneos a la formación de costra pudieron ser importantes. El buzamiento de Li1 y su menor espesor total debe de estar relacionado con la fuerte pendiente de la zona de cabecera en que se tomó la muestra; por el contrario Li3 procede de una hondanada local de un área entre los surcos. En consecuencia los fenómenos de transporte en la primera costra afectan al conjunto de la ladera a escala decamétrica y en el segundo caso están muy localizadas y limitadas a escala centímétrica y decimétrica. En la mayor parte de las principales bandas de la muestra Li1 se aprecia claramente la orientación de materiales laminares; sin embargo, en Li3 esta orientación no es tan patente o no se aprecia en absoluto. La presencia de partículas orientadas se asocia con la translocación lateral de material fino durante el desarrollo de la costra (TARCHITZKT et al., 1984; WEST et al., 1990). Aunque puede ser consecuencia también de la deposición en la base de microdepresiones una vez que ha cesado la precipitación. No obstante, el volumen que ocupa el agua en las microdepresiones no permite explicar la formación de bandas de más de 1 mm de espesor con laminillas orientadas. En consecuencia, al menos en la muestra Li1 tomada en una zona de ladera, cabe atribuir la orientación de las laminillas a un transporte de materiales simultáneo de la formación de la costra a favor de la lámina de agua que se desliza por la superficie. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) En general, los materiales que forman las sucesivas bandas de la muestra Li1 están mejor clasificados que los de las bandas de Li3. Se puede considerar que la primera banda de ambas muestras en la que predominan las partículas esferoidales más o menos orientadas, es una excepción. Por otra parte en el interior de la costra Li3 se observan bandas muy ricas en elementos finos y plasma claramente diferenciados y con una potencia tal que no encuentran paralelismo en la costra Li1. Otros autores (BRESSON & BOIFFIN, 1990) han observado que las partículas de los depósitos iniciales de una costra sedimentaria formada entre terrones están poco diferenciados. En la posición topográfica que ocupaba la muestra Li3, desplazamientos de lodo a pequeñas distancias, como consecuencia de la desagregación inicial de los terrones pueden haber originado niveles relativamente ricos en materiales finos. De la discusión anterior se infiere que las condiciones climáticas durante la sedimentación que originaron las costras Li1 y Li3 debieron de ser muy diferentes. En la formación de la costra Li1 parece que fueron importantes los fenómenos de eluviación y desplazamiento lateral de materiales, asociados al flujo de una lámina superficial de agua, sin iluviación en profundidad. Por el contrario, en la génesis de algunas de las bandas de la costra Li3 parece que intervinieron translocaciones de material a escala local, dentro de la microdepresión en que se formó. Los transectos estudiados han puesto de manifiesto que la formación de una sola banda que compone una costra estructural supondrá una reducción drástica de la velocidad de infiltración, dado que la CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) porosidad se ve reducida por debajo de umbrales limitantes para permitir el desplazamiento de agua hacia el interior del perfil, en este sentido, las vesículas o poros de hasta 100 _m observadas en algunas bandas están relacionadas con la presencia de aire atrapado (KOOISTRA & SIDERIUS, 1986). Sin embargo, debido a su disposición transversal a la sección de la costra, su contribución a la infiltración de agua se considera prácticamente nula. CONCLUSIONES El estudio micromorfológico de costras sedimentarias formadas en la superficie de suelos sobre esquisto puso de manifiesto que el espesor de las mismas era del orden de 1.5 a 2 cm y que estaban constituidas por múltiples capas, cuyos sistemas porosos apenas son perceptibles o están muy poco desarrollados, que se depositaron Caracterización micromorfológica 327 como consecuencia de sucesivos acontecimientos erosivos sobre un material subyacente con porosidad bien desarrollada. Así mismo, se puso de manifiesto una importante variabilidad espacial de la morfología de las costras sedimentarias de acuerdo con las características del microrrelieve. AGRADECIMIENTOS A la Fundación Caixa-Galicia por la concesión de una beca de “Formación de Personal Investigador en Francia” a la primera autora para realizar una estancia en el INRA (Unité de Science du Sol-SESCPF) de Orleáns (Francia), y a este centro por su acogida en sus laboratorios. Recibido: 09-VI-03 Aceptado: 30-VII-03 328 Taboada Castro et al. BIBLIOGRAFÍA ARSHAD, M. A. & MERMUT, A. R. (1988). Micromorphological and physico-chemical characteristics of soil crust types in northwester Alberta, Canada. Soil Sci. Soc. Am. J., 52: 724-729. BOIFFIN, J. & BRESSON, L. M. (1987). Dynamique de formation des croûtes superficielles: apport de l’analyse microscopique. In: Micromorphologie des sols/Soil micromorphology. Fedoroff, N., Bresson, L. M., Courty, M. A. (Eds.). Association Française pour l’Etude du Sol. Plaisir. Paris. France, pp.: 393-399. BRESSON, L. M. & BOIFFIN, J. (1990). Morphological characterization of soil crust development stages on an experimental field. 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M.1; CAPOTE, R.1 & MARTÍNEZ-DÍAZ, J. J.1 Abstract A gravimetric study has been carried out in the Sarria Basin and its surroundings. This survey provides new data concerning the relationship between the tertiary tectonic and its sedimentary deposits. This study shows as well the relevant gravity anomaly associated to the granitic massifs. The data analysis confirms that the basin is organized by faults N 30º and N 50º, which also affect the granitic massifs and the variscan structures of the region. These faults are responsible for the tertiary basin depocentre and control its geometry and limits. The maximum current thickness for the basin is 200m. The main activity for this family faults is intratertiary. Key words: Bouguer Anomaly Map, Gravity, Modelling, Sarria Basin, Tertiary Tectonic, Galicia. (1) Departamento de Geodinámica, Facultad de Ciencias Geológicas, Universidad Complutense de Madrid. C/ José Antonio de Novais s/n, 28040 Madrid. E-mail: [email protected] 330 Martín González et al. INTRODUCCIÓN La cuenca de Sarria se sitúa en la transición de los relieves alpinos de las Sierras del Caurel y Ancares con las llanuras gallegas de la Terra Cha lucense. La zona de estudio se sitúa al Sur de la provincia de Lugo. Las localidades más importantes que se encuentran en la zona son Sarria, Baralla, Samos y La Puebla de San Julián. En cuanto a su situación dentro de las clasificaciones realizadas para el Macizo Ibérico, está incluida dentro de la Zona Asturoccidental Leonesa de LOTZE (1945) y en la Zona III (Galicia Oriental) de MATTE (1968). La morfología del área de estudio se puede dividir en dos zonas, una situada al Oeste y con formas suaves y cotas entre 400 y 500m y otra que ocupa la parte oriental, más abrupta y con grandes desniveles y alturas que llegan en su cuadrante Sureste a los 1447m (Airibio). La cuenca de Sarria se encuentra, por tanto, en la articulación de estas dos zonas. Geológicamente se encuentra también en una zona de transición entre los materiales metamórficos de edad precámbrica y paleozoica, situados al Este, que caracterizan la zona Asturoccidental-Leonesa, y un área, al oeste, caracterizada por la existencia gran cantidad de plutones graníticos y granodioríticos (figura 1). Respecto a las unidades litológicas que se encuentran en el área de estudio (figura 2) se diferencian dos grupos. Por un lado las rocas metamorfizadas y deformadas durante la Orogenia Hercínica junto con rocas granitoides tardihercínicas formando el basamento, y por otro lado materiales de edad cenozoica, discordantes sobre los anteriores. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Dentro del primer grupo se encuentran, el precámbrico de las Series de Villalba y Alba, formadas por esquistos de petrología muy homogénea y potencia en torno al millar de metros. La serie de Villalba, situada encima de la de Alba, presenta niveles anfibólicos discontinuos dispuestos paralelamente al plano de esquistosidad. A su vez toda la serie conforma el núcleo de un gran antiforme. Otras formaciones presentes son las formaciones paleozoicas, que en el área de estudio son de edad cámbrica y están representadas por las formaciones de Cándana y de las calizas de Vegadeo, ambas formando un gran sinclinal que atraviesa la parte noreste del área de estudio. Todo este grupo de metasedimentos está afectado por la Orogenia Hercínica que pliega y metamorfiza estos materiales. Las rocas plutónicas hercínicas son granodioritas en el Norte (Macizo de Neira y Macizo de San Julián) y granitos de dos micas en el Noroeste(Macizo de Sarria). Se han descrito tres fases tectónicas hercínicas, una primera de pliegues mayores, isoclinales y con desarrollo de la esquistosidad principal, una segunda etapa con esquistosidad de crenulacion local y amplios pliegues de escala cartográfica, y una tercera que verticaliza la esquistosidad produciendo pliegues tipo chevron y kink bands en la escala mesoscópica y pliegues de escala cartográfica de dirección E-O. Las intrusiones de los macizos graníticos se dividen temporalmente en macizos precoces (Macizo de San Julián) que se emplazaron con anterioridad a la 2ª fase tectónica, los macizos sin-fase 3, como es el caso del Macizo de Sarriá, y los tardíos que intruyen con posterioridad a toda la defor- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Estudio gravimétrico de la cuenca terciaria de Sarria 331 mación (Macizo de Neira y Lugo) (APALATEGUI et al. 1976; MARTÍNEZ CATALÁN et al., 1980). El segundo grupo litológico está formado por materiales terciarios discordantes sobre el sustrato ígneo y metamórfico. Forman el relleno de la cuenca de Sarria y varios afloramientos dispersos e irregulares de escasa potencia. Es en la cuenca de Sarria donde estos materiales terciarios tienen mayor representación cartográfica (60 Km2) y espesor. Esta cuenca se ha interpretado como un pequeño graben controlado por fallas N 20º y N 30º donde las formaciones terciarias han tenido mayor desarrollo (APALATEGUI et al. 1976; MARTÍNEZ CATALÁN et al., 1980; VERGNOLLE, 1985). Los depósitos ter- Figura 1. Esquema geológico del Noroeste peninsular con la situación del área de estudio. 332 Martín González et al. ciarios se dividen en tres formaciones, una unidad inferior compuesta por una alternancia de arcillas, margas y calizas margosas (miembro inferior -Armea- BRELL, 1972), por encima una unidad formada por arcillas, arenas y gravas poligénicas con matriz arcillo-arenosa de matriz roja (miembro superior –FuenteabuínBRELL, 1972). Finalmente, discordante sobre las series anteriores, se encuentra una formación compuesta por gravas y areniscas con intercalaciones de lentejones de arcillas y arenas. La edad de todos estos materiales es controvertida dada la ausencia de fósiles y la inexistencia de estudios específicos con dataciones en esta zona. Así han sido utilizados únicamente métodos indirectos, como correlaciones mineralógicas, similitudes litológicas, asociaciones de minerales de la arcilla o semejanzas morfológicas con otras cuencas mejor conocidas (As Pontes y Roupar) o con los materiales de la Meseta Norte. Según estos estudios (MARTÍN SERRANO et al. 1996), los materiales más antiguos de la cuenca de Sarria datarían del Mioceno Inferior o incluso del Oligoceno. Los estudios de tectónica terciaria en la región de Sarria son muy escasos frente al gran desarrollo que han tenido los estudios de tectónica hercínica. Los estudios de tectónica alpina de esta cuenca se enmarcan generalmente en análisis de carácter más regional, que proporcionan una información general. Por otro lado, el gran interés que despertaron la génesis y sedimentación de las cuencas terciarias gallegas por la posible explotación de lignito, no tuvo en la cuenca de Sarria (a diferencia de otras cuencas como As Pontes, Meirama o Xinzo de Limia) gran repercusión, debido CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) a la ausencia de indicios que aconsejaran su estudio en profundidad. Entre estos trabajos destacan los de BIROT & SOLÉ SABARÍS (1954), ARTHAUD & MATTE (1975), BRELL & DOVAL (1979), MARTÍN SERRANO (1979 y 1982), VERGNOLLE (1985), SANTANACH (1994), CAPOTE et al. (1999) y MARTINEZ DÍAZ et al. (2001) METODOLOGÍA GRAVIMÉTRICO DEL ESTUDIO Los datos utilizados para la elaboración de los Mapas de Anomalías Gravimétricas proceden de un levantamiento gravimétrico realizado en la cuenca de Sarria y su entorno, en el que se han tomado medidas en un total de 381 estaciones (figura 3), en una superficie de 608 Km2 y con una densidad de una estación por cada 1,59 Km2. La distribución de las estaciones ha sido planificada de forma que esté muestreada toda la zona de forma homogénea, aunque las características del terreno hace que exista una distribución irregular en algunas zonas. La totalidad de las medidas se han realizado con un gravímetro Lacoste & Romberg, modelo G nº 953, que proporciona una precisión de ± 0,01 mGal. La altimetría y posición geográfica de las estaciones se ha determinado mediante la utilización conjunta de altímetro barométrico y GPS con las respectivas correcciones de deriva y variaciones de presión y temperatura. En cada estación se han aplicado las correcciones clásicas de este tipo de estudios para poder hacer comparables las medidas tomadas en cada levantamiento. La corrección topográfica de cada estación se ha realizado en la Zona A (hasta CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Estudio gravimétrico de la cuenca terciaria de Sarria 333 167 km en torno a la medida) con la estimación de la altura por observación directa en el campo, y en la Zona B ( desde los 167 km hasta los 25 km) se ha efectuado la corrección por medio de la utilización de un modelo digital del terreno realizado para la ocasión con una resolución de 100 m. Las correcciones de aire libre y Bouguer se han realizado por los métodos clásicos. Se han obtenido así la anomalía de Bouguer completa para el conjunto de las estaciones, utilizando una densidad de reducción de 2.67 g/cm3. La discretización del Mapa de Anomalías se ha realizado por el método de kriging con un intervalo de isoanómalas de 0.1 mGal. Se ha realizado la separación de la anomalía regional de la residual, aunque el mapa del residual no se incluye en este trabajo, con el fin de diferenciar los efectos que la tendencia de la corteza y otros factores regionales puedan ejercer sobre la anomalía que producen las estructuras y sedimentos mas superficiales. Para ello se ha realizado una separación regional-residual por métodos numéricos tales como el ajuste polinómico. Este método consiste en ajustar una superficie mediante mínimos cuadrados a la tendencia del mapa hasta obtener un polinomio de orden n que nos refleje esa tendencia variando muy poco los resultados. El estudio se ha realizado tanto sobre el Mapa de Anomalías de Bouguer obtenido en este trabajo, como sobre datos de carácter regional cedidos por el Bureau Gravimetrique International (B. G. I.). La diferencia entre los valores del regional y el de el Mapa de Anomalías de Bouguer ha dado el Mapa de Anomalías Residuales. Este mapa no ha sido utilizado finalmente en este estudio ya que atendiendo a la estructura de la corteza en la región (CÓRDOBA et al. 1987; VEGAS & CÓRDOBA, 1988), no aporta sustancial mejora en la interpretación y pueden oscurecen parte de la información bruta obtenida en el Mapa de Anomalías de Bouguer. Esta información sí ha sido tenida en cuenta, sin embargo durante la modelización de los perfiles gravimétricos que se presentan mas adelante. La obtención del modelo sobre el perfil (figura 4) que mejor se ajusta a las anomalías de Bouguer, se ha llevado a cabo con la modelización en 2+1/2D basada en el método de TALWANI et al. (1959), usando los algoritmos descritos en WON & BEVIS (1987). En la modelización se ha considerado un modelo de corteza terrestre bidimensional sin curvatura que se extiende lateralmente hasta +∞ y -∞ en la dirección perpendicular al perfil y hasta 30.000 y –30.000 Km en la dirección del mismo, con el fin de evitar efectos de borde. Las densidades utilizadas en este estudio se han estimado a partir de los trabajos de BERGAMIN (1985), AUDRAIN et al. (1989), YENES et al. (1995), GÓMEZ ORTIZ (2001) y CAMPOS (2002). INTERPRETACIÓN DE LOS DATOS GRAVIMÉTRICOS Para la interpretación de los datos gravimétricos se han utilizado, por un lado, el Mapa de Anomalía de Bouguer obtenido, las modelizaciones del perfil (figura 4), y por otro lado, los datos procedentes del estudio geológico estructural de la cuenca y su entorno. Para el estudio geológico estructural se ha utilizado principalmente información procedente de la cartogra- 334 Martín González et al. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Figura 2. Mapa geológico del área estudiada en el que se observan las principales litologías y las principales fallas (mismas dimensiones que el mapa de la figura 3). Modificado de la cartografía de la Serie MAGNA. fía de la serie MAGNA y de estudios propios de fotografía aérea, cartografía, modelos digitales del terreno y reconocimientos en campo. El Mapa de Anomalías de Bouguer obtenido (figura 3) presenta unos valores máximos de –14 mGal y unos valores mínimos de –38 mGal. y se caracteriza por una importante anomalía negativa con forma elíptica que presenta los valores más bajo. El gradiente general del mapa es hacia el NNO donde se encuentran los valores más altos, tendencia que corresponde con los datos del Bureau Gravimetrique International y los trabajos de CÓRDOBA et al. (1987), en los que se observa para toda la región de Galicia un aumento de los valores hacia la costa debido al adelgazamiento cortical. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Estudio gravimétrico de la cuenca terciaria de Sarria 335 Figura 3. Mapa de Anomalías de Bouguer donde se han representado las principales alineaciones de gradientes: 1.- Alineaciones de gradientes asociados a fallas: a, presentan correspondencia con fallas cartografiadas de la figura 2, b, no presenta correspondencia. 2.- Alineaciones de gradientes asociados a macizos graníticos. 3.- Alineaciones de gradientes asociadas al contacto entre materiales paleozoicos y materiales cámbricos. 4.- Contactos de los materiales cenozoicos de la figura 2. B.Mínimo asociado a macizos graníticos: b’, Macizo de Neira, b’’, Macizo de San Julián. En el extremo inferior derecho se incluye el mismo mapa con los contactos del mapa geológico de la figura 2 y con los puntos gravimétricos tomados. Los principales rasgos del Mapa han sido clasificados en cuatro grupos en función de su relación con las características geológico-estructurales de la región. Así se han distinguido: • Anomalía asociada al Macizo Granítico (figura 3(2)(B)). • Alineación de gradientes asociados a fallas de dirección Noreste Suroeste (figura 3(1)). • Mínimo relativo asociado al depocentro de la cuenca de Sarria (figura 3(A)). • Contacto entre los materiales Paleozoicos y Precámbricos (figura 3(3)). Es de destacar que las formaciones terciarias que no se encuentran asociadas a la cuenca de Sarria carecen de reflejo en el Mapa de Anomalías de Bouguer. 336 Martín González et al. Anomalía asociada al Macizo Granítico Esta anomalía presenta el mínimo del Mapa de Anomalías de Bouguer con –38 mGal y una extensión de 15 Km. en su eje mayor (figura (3)(B)). La morfología de la anomalía se puede dividir en dos sectores. En el sector Norte la forma de la anomalía responde a la geometría del granito, observándose una perfecta correlación entre la forma de la anomalía y la traza cartográfica de este. Los sectores central y sur de la anomalía por el contrario no presentan una geometría continua ya que está seccionada por las fallas del Borde Norte, de Ferreiros, Sarria, Villamayor, Saá y Pousadas, de dirección NE-SO, perdiendo así los contactos definidos y la geometría continua que se observa en el sector Norte. Estas fallas desplazan y hunden el cuerpo granítico, produciendo nuevos mínimos relativos y generando alineaciones de gradientes de dirección NE-SO que rompen y desplazan en pequeños entrantes y salientes los gradientes más continuos que sin ellas tendría el granito. Así se observa como la Falla del Borde Norte corta al Macizo Granítico (figuras 2 y 3) poniéndolo en brusco contacto con los materiales precámbricos. La morfología de estos macizos en profundidad ha respondido a una modelización en forma de “seta”, con una raíz que no aparece en el perfil interpretado (figura 4). Otra característica del macizo granítico es la aparición de mínimos relativos en el sector Norte debidos a la distinta estructuración del macizo, que si bien no suponen variaciones apreciables en la densidades de los cuerpos modelizados, sí pueden implicar una geometría compleja en profundidad. Así el macizo de San Julian (situado al Este del sector Norte) (figura 3(b’’), es una granodiorita precoz que CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) intruyó antes que la granodiorita de Neira (situado al Oeste) (figura3(b’)) que lo hace con posterioridad y por tanto está menos deformado y puede presentar una morfología diferente en profundidad. Alineaciones de gradientes asociados a fallas de dirección NE-SO Uno de los rasgos más destacables en el Mapa de Anomalías de Bouguer es la alineación de gradientes de esta dirección que rompen la continuidad de los contactos de la anomalía del Macizo Granítico y de las direcciones hercínicas de la región. Estas alineaciones responden a fallas de la misma orientación y se correlacionan con fallas previamente cartografiadas (figuras 2 y 3(1)). Se trata de fallas de desgarre N 50º y N 30º, muy verticales que a lo largo de su longitud y en función de su orientación pueden presentar componentes normales o inversas llegando a presentar importantes desplazamientos en la vertical. Estas fallas son las responsables, en el mapa de anomalías, de la pérdida de continuidad en la forma de la anomalía gravimétrica del Macizo granítico produciendo los entrantes y salientes mencionados, así como de la aparición de un mínimo relativo fuera de la anomalía principal relacionado con el depocentro de la cuenca de Sarria. Mínimo relativo asociado al depocentro de la cuenca terciaria de Sarria Otro de los rasgos estructurales importantes del Mapa de Anomalías es un mínimo relativo (-34 mGal) al este del gran mínimo relacionado con el Macizo Granítico (figura 3(A)). Este mínimo gra- CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Estudio gravimétrico de la cuenca terciaria de Sarria 337 nítico esta situado en el centro de los afloramientos terciarios que formaron la cuenca de Sarria. Aparece limitado por el complejo de fallas de dirección N 30º y N 50. Concretamente la falla de Noba de Neira por el Sur, penetra en la cuenca y puede ser prolongada hasta la falla de igual dirección cartografiada al Oeste de la misma, por medio de la alineación de gradientes. Esta falla sería un relevo de la falla de Sarria. Por el Norte, el depocentro esta controlado por la falla de Ferreiros que se continua dentro de la cuenca tal y como indica este tipo de alineaciones (figuras 2 y 3). En la modelización realizada, la cuenca aparece articulada por fallas verticales que producen un salto acumulado de 200 m que responde al depocentro observado en el Mapa de Anomalías de Bouguer. Figura 4. Modelo gravimétrico 2+1/2 D realizado sobre el Mapa de Anomalías de Bouguer. a, Perfil de anomalía observada y de anomalía calculada según el modelo. b, Modelo de densidades ajustado (densidades de cada bloque en gr/cm3). c, Interpretación geológico estructural a partir del modelo de densidades. 338 Martín González et al. Gradiente asociado al contacto entre los materiales Paleozoicos y Precámbricos Sobre el Mapa de Anomalías de Bouguer se observa un importante gradiente hacia el NO que se corresponde espacialmente con el contacto entre los materiales del Cámbrico de la serie de Villalba y los Paleozoicos de las formaciones de Cándana (figuras 2 y 3(3)). Este gradiente da una alineación de dirección NO-SE que corresponde claramente con la traza cartográfica de la base de las formaciones cuarcíticas del Cambrico Inferior. Esta alineación de gradientes esta también afectada y deformada por la familia de fallas de dirección NE-SO, concretamente las fallas de Ferreiros, Noba de Neira, Baralla y Borde Norte. Finalmente, cabe destacar que los afloramientos del Terciario que aparecen al Norte de la Cuenca (figuras 2 y 3), aunque en algunos casos con gran extensión cartográfica, no tienen reflejo en el Mapa de Anomalías, lo cual confirma que se trata de formaciones de poco espesor tipo pie de monte extenso. No se trata, por tanto, de cuencas individulizadas, sino retazos de formaciones mas extensas separadas actualmente por la erosión. La cuenca terciaria de Sarria El presente estudio ha permitido evaluar las relaciones entre la sedimentación terciaria en la cuenca de Sarria y los afloramientos limítrofes, con la tectónica y las estructuras principales de la zona. La gravimetría ha reflejado que las fallas de desgarre de dirección N 30º y N 50º articulan la cuenca terciaria, compartimentando el sustrato de la misma y produciendo saltos en CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) la vertical de varias decenas de metros que, acumulados entre todo el cortejo de fallas, suponen al menos los 200m. de espesor de sedimentos de la cuenca (figuras 3 y 4). Más en detalle, se observa que las fallas de Noba de Neira y su posible relevo en la de Sarria, en el Sur, y la falla de Ferreiros en el Norte, son las que controlan el depocentro y que la estructuración del conjunto de la cuenca en “teclas de piano” está controlada por este cortejo de fallas. Estas fallas son muy verticales y presentan una componente principal de desgarre observada en campo, aunque según sean las condiciones locales presentan componentes verticales. Los desplazamientos en la vertical varían los espesores de la cuenca tal y como se observa de NNO a SSE. El borde Norte de la cuenca esta limitado por una falla perteneciente a este cortejo, con clara expresión en el Mapa de Anomalías de Bouguer que limita los afloramientos terciarios de esta cuenca por el norte. La cuenca además carece de desarrollo apreciable de facies de borde en el límite norte. En efecto, la proximidad de calizas y margas (serie inferior) que requieren estabilidad tectónica para su formación es indicio de que parte del movimiento de esta falla se ha producido con posterioridad al depósito de los materiales terciarios de la cuenca. Por otro lado, en el borde sur es rectilíneo y subparalelo al borde norte de la cuenca y a las otras fallas que articulan la cuenca. Este borde meridional esta asociado a un relieve y a un gradiente gravimétrico de igual dirección, aunque no ha sido establecido como un contacto por falla en la cartografía de la serie MAGNA, su geometría, permite pensar que este borde Sur fue también controlado por el grupo de fallas que articula la cuenca. CAD. LAB. XEOL. LAXE 28 (2003) Estudio gravimétrico de la cuenca terciaria de Sarria 339 CONCLUSIONES El estudio gravimétrico realizado en la cuenca de Sarria y su entorno, ha puesto de manifiesto las relaciones entre la tectónica alpina y los sedimentos y cuencas terciarias, así como su relación con la geometría de algunas unidades hercínicos. Los rasgos principales destacados en la gravimetría han sido, la geometría de macizos graníticos, el cortejo de fallas NE-SO que segmenta los macizos graníticos y la estructura hercínica, la articulación y control del depocentro de la cuenca terciaria de Sarria por este cortejo de fallas, y finalmente, la nula influencia en la anomalía gravimétrica de los depósitos terciarios no vinculados a la cuenca de Sarriá de gran extensión pero de poco espesor. La cuenca de Sarria, está controlada por fallas de dirección N 30º y N 50º que la limitan y hunden el sustrato en bloques que han sido identifi- cados en las anomalías gravimétricas (figuras 3 y 4). Estas alineaciones de gradientes NE-SO han sido precisamente correlacionadas con fallas previamente cartografiadas. El depocentro de la cuenca se ha situado entre las fallas de Sarria, Noba de Neira y Ferreiros. Se estima un espesor de materiales terciarios actual de 200m. Las relaciones de las fallas con los materiales de la cuenca indican, por lo tanto, una actividad intraterciaria que debió prolongarse después de culminar el relleno de la cuenca. AGRADECIMIENTOS Agradecemos a Carmen Rey, David Gómez y Rosa Tejero su ayuda en el tratamiento de los datos gravimétricos. Recibido: 02-III-03 Aceptado: 12-VIII-03 340 Martín González et al. BIBLIOGRAFÍA APALATEGUI, O. & CORRETGÉ, C. (1976). Baralla. Mapa Geológico de España E. 1:50.000 Serie MAGNA (hoja nº 98) (ed. by I.G.M.E.), Madrid. 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