Nº 1 – Edição: Jan/Fev/Mar 2013 - Sociedade Brasileira de Geriatria
Transcription
Nº 1 – Edição: Jan/Fev/Mar 2013 - Sociedade Brasileira de Geriatria
Capa_Revista SBGG_Aprovada_10.7.2013.ai NOVO NUTREN SENIOR 7/16/13 2:21 PM Revista Geriatria & Gerontologia ® VIDA ATIVA EM QUALQUER IDADE C M M Y Y CM CM MY MY CY CY CMY CMY K K Revista Geriatria&Gerontologia C Combinação única de Proteína, Vitamina D e Cálcio na medida certa para o idoso. 1 ARTIGOS ORIGINAIS Órgão Oficial de Publicação Científica Sociedade Brasileira de Geriatria & Gerontologia Avaliação do programa público brasileiro de tratamento da doença de Alzheimer no ano de 2008 Desempenho funcional em idosas de uma Universidade Aberta à Terceira Idade em área urbana do Nordeste Índice de complexidade de famacoterapia do idoso dependente para autocuidado na atenção primária Perfil, estresse e necessisades de cuidadores familiares e profissionais de idosos/acamados na atenção primária em saúde na cidade de São Paulo em Belém, Pará moderate chronic kidney disease in elderly Brazilians Versatilidade e praticidade de uso em receitas salgadas e doces. Comparando resultados de aplicações de questionário QI-AASI em idosos protetizados ARTIGOS DE REVISÃO Jan/Fev/Mar 2013 NES-0185A - Anúncio Grupos de utilização de recursos Número 1 Referências bibliográficas: 1. Price R, Daly F, Pennington CR, McMurdo ME. Nutritional supplementation of very old people at hospital discharge increases muscle strength: A randomised controlled trial. Gerontology. 2005;51:179-185. 2. Fabian E, Bogner M, Kickinger A, Wagner KH, Elmadfa I. Vitamin status in elderly people in relation to the use of nutritional supplements. J Nutr Health Aging. 2012;16(3):206-12. 3. Morley JE. Sarcopenia in the elderly. Fam Pract. 2012;29 Suppl 1:i44-i48. Efeitos do condicionamento físico sobre a imunossenescência Volume 7 » Fortalece o músculo e a saúde óssea1,2,3 » Restaura a força e a energia1,2,3 » Auxilia no bom estado nutricional1,2,3 » Contribui na melhora da imunidade1,2,3 ISSN 1981-8289 Volume 7 Número 1 Jan/Fev/Mar EDITORIAL 13 Demandas, como equacionar? ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação do programa público brasileiro de tratamento da doença de Alzheimer no ano de 2008 | Edgar Nunes Moraes, Marco Túlio Gualberto Cintra, Dinah Belém, Flávia Lanna Moraes Desempenho funcional em idosas de uma Universidade Aberta à Terceira Idade em área urbana do Nordeste | Ana Elizabeth dos Santos Lins, Karen Argenti Simon, Luiz Roberto Ramos Índice de complexidade de farmacoterapia do idoso dependente para autocuidado na atenção primária | Janicéli Rosa Lisboa, Márcia Regina Martins Alvarenga, Rogério Dias Renovato 14 20 28 Perfil, estresse e necessidades de cuidadores familiares e profissionais de idosos/acamados na atenção primária em saúde na cidade de São Paulo | Ana Beatriz Ayroza Galvão Ribeiro Gomes, Ana Carolina Mayor de Carvalho, Carolina Puglia de Andrade, Flávia de Souza Oliveira Penido, Ingrid Cardoso Couto, Maurício Karakida Hashimoto, Priscila Biancalana, Regina Maria 34 Giffoni Marsiglia Perfil de idosos atendidos pelo programa de atenção à saúde do idoso em Belém, Pará | Jefferson de Abreu Monteiro, Manuela Lima Carvalho da Rocha, Rita de Cássia Gaspar da Silva 39 Accuracy of glomerular filtration rate estimation formulas for detecting moderate chronic kidney disease in elderly Brazilians | Jose Roberto de Almeida, Vinicius Daher Alvares Delfino,Rejane Tavares de Lima, Maria Emília Favero, Mar46 celo Tatit Sapienza, Tiemi Matsuo Comparando resultados de aplicações de questionário QI-AASI em 54 idosos protetizados | Ângela Ribas, Giselle Massi, Bianca Zeigelboim ARTIGOS DE REVISÃO Efeitos do condicionamento físico sobre a imunossenescência | Márcia Cristina Gomes dos Anjos, Luiz Fernando de Souza Passos, Adriana Malheiro 60 Grupos de utilização de recursos | Hélder Fernandes, Ignácio Martin INSTRUÇÕES AOS AUTORES Revista G&G Zero.indd 3 68 76 7/16/13 2:41 PM GRANDES PROJETOS N pelo bem da AS em as m par ofe pro que qua Des éq Acesse www.sbgg.org.br e conheça os nossos projetos atuais. AnuncioProjetosSBGG_42x28cm.indd 1-2 Book Revista G&G.indb 4 7/16/13 10:06 AM NOSSA SOCIEDADE. A SBGG empenha-se diariamente em proporcionar aos especialistas as melhores ferramentas de cuidados para os idosos. Com seus projetos, oferece a contínua atualização profissional de seus associados, para que todos tenham aprimoramento da qualificação técnica e científica. Dessa forma, o maior beneficiado é quem mais importa: o paciente. 06/03/13 16:38 Book Revista G&G.indb 5 7/16/13 10:06 AM Revista Geriatria & Gerontologia Editora-chefe Maysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp) Editores Associados João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC) Júlio César Moriguti – Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP) Milton Luiz Gorzoni – São Paulo, Brasil (FCMSC-SP) Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Wilson Jacob Filho – São Paulo, Brasil (USP) Editores Executivos João Senger – Novo Hamburgo, Brasil Karla Cristina Giacomin - Belo Horizonte, Brasil Maria do Carmo Lencastre Lins – Recife, Brasil Mônica Rodrigues Perracini – São Paulo, Brasil CONSELHO EDITORIAL NACIONAL Adriano César B. S. Gordilho – Salvador Ana Amélia Camarano – Rio de Janeiro Ângelo Boss – Porto Alegre Annette Leibing – Rio de Janeiro Anita Libetalesso Néri – Campinas Cláudia Burlá – Rio de Janeiro Clineu de Mello Almada Filho – São Paulo Edgar Nunes de Moraes – Belo Horizonte Eduardo Ferriolli – Ribeirão Preto Eliane Jost Blessmann – Porto Alegre Elisa Franco de Assis Costa – Goiânia Elizabete Viana de Freitas – Rio de Janeiro Emilio H. Moriguchi – Porto Alegre Emilio Jeckel Neto – Porto Alegre Flávio Chaimowicz – Belo Horizonte Guita Grib Debert – Campinas Ivete Berkenbrock – Curitiba João Carlos Barbosa Machado – Belo Horizonte João Marcos Domingues Dias – Belo Horizonte João Toniolo Neto – São Paulo Johannes Doll – Porto Alegre José Elias S. Pinheiro – Rio de Janeiro Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte Kátia Magdala L. Barreto – Recife Laura Mello Machado – Rio de Janeiro Leani Souza Máximo Pereira – Belo Horizonte Ligia Py – Rio de Janeiro Luiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo Luiz Roberto Ramos – São Paulo Maira Tonidandel Barbosa – Belo Horizonte Marcella Guimarães A. Tirado – Belo Horizonte Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina Maria Fernanda Lima-Costa – Belo Horizonte Maurício Gomes Pereira – Brasília Maurício Wajngarten – São Paulo Myrian Spínola Najas – São Paulo Mônica Rodrigues Perracini – São Paulo Newton Luiz Terra – Porto Alegre Paulo Hekman – Porto Alegre Renato Maia Guimarães – Brasília Renato Moraes Fabbri – São Paulo Ricardo Komatsu – Marília Roberto Dischinger Miranda – São Paulo Rômulo Luiz de Castro Meira – Salvador Sérgio Márcio Pacheco Paschoal – São Paulo Silvia Maria Azevedo dos Santos – Florianópolis Sônia Lima Medeiros – São Paulo Tereza Loffredo Bilton – São Paulo Toshio Chiba – São Paulo Tulia Fernanda Meira Garcia – Fortaleza Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha – Belo Horizonte Vânia Beatriz M. Herédia – Porto Alegre Wilson Jacob Filho – São Paulo CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL Andrea Caprara – Roma, Itália Antony Bayer – Cardiff, Reino Unido David V. Espino – San Antonio, EUA Jay Luxenberg – San Francisco, EUA Jeanne Wei – Little Rock, EUA Esta é uma publicação Masatoshi Takeda – Osaka, Japão Paulo Henrique M. Chaves – Baltimore, EUA Roberto Kaplan – Buenos Aires, Argentina Sergio Ariño Blasco – Barcelona, Espanha Direção executiva e comercial: Silvio Araujo | André Araujo Coordenação editorial: Natalie Gerhardt Contatos: [email protected] | www.acfarmaceutica.com.br São Paulo – (11) 5641-1870 | Rio de Janeiro – (21) 3543-0770 É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet e outros), sem permissão expressa da editora. Todo o desenvolvimento, fotos e imagens utilizadas nesta publicação são de responsabilidade dos seus autores, não refletindo necessariamente a posição da editora nem do laboratório, que apenas patrocina sua distribuição à classe médica. Esta publicação contém publicidade de medicamentos sujeitos a prescrição, sendo destinada exclusivamente a profissionais habilitados a prescrever, nos termos da Resolução RDC Anvisa nº 96/08. 2013 © AC Farmacêutica® LTDA. Todos os direitos reservados. Indexada na LATINDEX (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal). Book Revista G&G.indb 6 7/16/13 10:06 AM Líder de Vendas. Excelência em Performance e Tecnologia em todo Brasil. NOVO FITAS ADESIVAS REPOSICIONÁVEIS MAIS LARGAS BARREIRAS ANTIVAZAMENTO MAIORES COM FIXAÇÃO + SEGURA COM ALOE VERA COBERTURA FILTRANTE SUAVE NOVO INDICADOR DE UMIDADE / TROCA FLOCOS DE GEL SUPERFILTRANTES SUPERABSORVENTES NOVO A DE DE DURAÇÃO TOALHAS UMEDECIDAS ABSORVENTES DE USO ADULTO FRALDAS DESCARTÁVEIS Bigfral possui uma linha completa com fraldas, absorventes, toalhas umedecidas e Banho de Leito, desenvolvida com alta tecnologia, performance, segurança e qualidade comprovada. Disponível em várias versões e tamanhos (Juvenil, P, M, G e XG) para atender todos os tipos de necessidades. www.bigfral.com.br An_BigFral_G&G.indd 1 5/29/12 11:17 AM Book Revista G&G.indb 7 7/16/13 10:06 AM 8 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Diretoria Nacional da SBGG Presidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA) 1o Vice-Presidente Paulo Renato Canineu (SP) Pres. Depto. Gerontologia Mariana Asmar Alencar (MG) Secretária Geral Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ) Secretária Adjunta Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Tesoureiro Daniel Kitner (PE) Diretora Científica Maria Alice Vilhena de Toledo (DF) Diretora de Defesa Profissional Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Conselho Consultivo Maria Angélica dos Santos Sanches (RJ) Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR) Paulo Roberto Cardoso Consoni (RS) Conselho Consultivo Pleno Adriano Cesar Gordilho (BA) Antonio Jordão Neto (SP) Eliane Jost Blessmann (RS) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flavio Aluizio Xavier Cançado (MG) João Carlos Barbosa Machado (MG) Jussara Rauth (RS) Laura Melo Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Auxiliadora Cursino Ferrari (SP) Marianela Flores de Hekman (RS) Myrian Spínola Najas (SP) Paulo Cesar Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Sonia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP) Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP) Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG) Nezilour Lobato Rodrigues (PA) Mariana Asmar Alencar (MG) Marianela Flores de Hekman (RS) Comissão de Normas Presidente: Marianela Flores de Hekman (RS) Adriano Cesar Gordilho (BA) Eliane Jost Blessmann (RS) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Jussara Rauth (RS) Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Comissão de Ética e Defesa Profissional Presidente: Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Adriano Cesar Gordilho (BA) Carlos Roberto Takayassu (MT) Cristiane Ribeiro Maués (PA) Emylucy de Paiva Paradela (RJ) Gelson Rubem A. Almeida (MG) Janaína Alvarenga Rocha (ES) João Senger (RS) Jussimar Mendes de Aquino (MS) Katíuscia Karine Martins da Silva (AL) Marcelo Azevedo Cabral (PE) Marcelo de Faveri (DF) Mariste Mendes Rocha (PB) Rangel Osellame (SC) Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR) Rosina Ribeiro Gabriele (CE) Tassio José D. Carvalho Silva (SP) Yara Maria Cavalcante de Portela (MA) Comissão de Comunicação Presidente: Salo Buksman (RJ) Fabio Falcão de Carvalho (BA) Ivete Berkenbrock (PR) Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Leani de Souza M. Pereira (MG) Marcela Guimarães Assis (MG) Renato Moraes A. Fabbri (SP) Comissão de Cuidados Paliativos Presidente: Daniel Lima Azevedo (RJ) Isadora Crosara Alves Teixeira (GO) Claudia Burlá (RJ) Johannes Doll (RS) José Francisco Pinto de Almeida Oliveira (RJ) Josecy Maria S. Peixoto (BA) Laiane Moraes Dias (PA) Ligia Py (RJ) Lucia H.Takase Gonçalves (SC) Maristela Jeci dos Santos (SC) Toshio Chiba (SP) Comissão de Título de Geriatria Presidente: Elisa Franco de Assis Costa (GO) Adriano Cesar Gordilho (BA) Karlo Edson Carneiro Santana Moreira (PA) Livia Terezinha DEVENS (ES) Maira Tonidandel Barbosa (MG) Maria do Carmo Lencastre de M.E C. D.Lins (PE) Paulo José Fortes Villas Boas (SP) Rodolfo Augusto Alves Pedrão (PR) Veronica Hagemeyer Santos (RJ) Comissão de Título de Gerontologia Presidente: Cláudia Fló (SP) Jordelina Schier (SC) Marisa Accioly R. da C. Domingues (SP) Tulia Fernanda Meira Garcia (CE) Viviane Lemos Silva Fernandes (GO) Comissão de Formação Profissional e Cadastro Geriatria Veronica Hagemeyer Santos (RJ) Gerontologia Maria Celi Lyrio Crispim (RJ) Comissão de Informática Coordenador: Rodrigo Martins Ribeiro (RJ) Representante Institucional COMLAT-Diretora da Área de Educação Marianela Flores de Hekman (RS) CNA Elizabete Viana de Freitas (RJ) CNDI Jussara Rauth (RS) Comissão Científica de Geriatria Presidente: Maria Alice Vilhena de Toledo (DF) Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso (SP) Ana Lúcia de Sousa Vilela (RJ) Daniel Apolinário (SP) Edgar Nunes de Moraes (MG) Einstein Francisco de Camargos (DF) Jacira do Nascimento Serra (MA) Juliana Junqueira M. Teixeira (GO) Jussimar Mendes de Aquino (MS) Luiz Antonio Gil Junior (SP) Maisa Carla Kairalla (SP) Marco Polo Dias Freitas (DF) Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR) Maria Fernanda Coelho Moreira Costa (PA) Monica Hupsel Frank (BA) Rubens de Fraga Junior (PR) Comissão Científica de Gerontologia Presidente: Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Ana Elizabeth dos Santos Lins (AL) Leonor Campos Mauad (SP) Ligia Py (RJ) Márcia Carrera Campos Leal (PE) Maria Angélica dos S.Sanchez (RJ) Maria Izabel Penha de o. Santos (PA) Otávio de Toledo Nobrega (DF) Rosângela Corrêa Dias (MG) Vania Beatriz M. Herédia (RS) Comissão de Avaliação de Divulgação de Assuntos e Eventos Científicos Leila Auxiliadora José Sant’Ana (MT) Ligia Py (RJ) Maria Alice Vilhena de Toledo (DF) Marianela Flores de Hekman (RS) Comissão de Políticas Públicas Marilia Anselmo V. da S. Berzins (SP) Comissão de Publicações Editora-Chefe: Maysa Seabra Cendoroglo (SP) Diretorias das seções estaduais da SBGG ALAGOAS Presidente: Helen Arruda Guimarães 2o Vice-Presidente: Ana Elizabeth Lins Diretor Científico: Oswaldo da Silva Liberal BAHIA Presidente: Rômulo Meira 2o Vice-Presidente: Fábio Falcão Diretor Científico: Lucas Kuhn Prado CEARÁ MARANHÃO PARANÁ Presidente: Jacira do Nascimento Serra 2o Vice-Presidente: Adriano Filipe Barreto Grangeiro Diretores Científicos: Herberth Vera Cruz Furtado Marques Júnior e Margareth de Pereira de Paula Presidente: Debora Christina de lacantara Lopes 2a Vice-Presidente: Rosemary Rauchbach Diretor Científico: Breno Barcelos Ferreira MATO GROSSO DO SUL Presidente: José Roberto Pelegrino Diretora Científica: Marta Dreimeier Presidente: Alexsandra Siqueira Campos 2a Vice-Presidente: Luisiana Lins Lamour Diretor Científico: Sergio Murilo Fernandes PERNAMBUCO Presidente: João Bastos Freire Neto 2a Vice-Presidente: Lucila Bonfim Lopes Pinto Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho Presidente: Roberto Gomes de Azevedo 2a Vice-Presidente: Roseane Muniz Diretora Científica: Janine Nazareth Arruda MATO GROSSO RIO DE JANEIRO DISTRITO FEDERAL MINAS GERAIS RIO GRANDE DO SUL PARÁ SANTA CATARINA PARAÍBA SÃO PAULO Presidente: Marco Polo Dias Freitas 2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros Diretor Científico: Leonardo Pitta ESPÍRITO SANTO Presidente: Roni Chaim Mukamal 2o Vice-Presidente: Neidil Espinola da Costa Diretora Científica: Daniela Souza Gonçalves Barbieri GOIÁS Presidente: Isadora Crosara Alves Teixeira 2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva Fernandes Diretora Científica: Ricardo Borges da Silva Book Revista G&G.indb 8 Presidente: Rodrigo Ribeiro dos Santos 2a Vice-Presidente: Marcella Guimarães Assis Diretora Científica: Maria Aparecida Camargos Bicalho Presidente: Karlo Edson Carneiro Santana Moreira 2a Vice-Presidente: Maria Izabel Penha de O. Santos Diretor Científico: João Sergio Fontes do Nascimento Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas 2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade Diretor Científico: João Borges Virgolino Presidente: Rodrigo Bernardo Serafim 2a Vice-Presidente: Maria Angélica dos S. Sanchez Diretor Científico: Tarso Lameri Sant’Anna Mosci Presidente: Ângelo José Bos 2a Vice-Presidente: Vania Heredia Diretor Científico: Paulo Roberto Cardoso Consoni Presidente: Paulo Cesar dos Santos Borges 2a Vice-Presidente: Silvia Maria Azevedo do Santos Diretora Científica: Nagele Belettini Hahn Presidente: Renato Moraes Alves Fabbri 2a Vice-Presidente: Valmari Cristina Aranha Diretora Científica: Maisa Carla Kairalla 7/16/13 10:06 AM Só falta a sua. cas aqui. Revista Geriatria & Gerontologia ÓRGÃO OFICIAL DE PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA A Revista Geriatria & Gerontologia circula nas principais bibliotecas de ciências da saúde do país com artigos selecionados seguindo os padrões internacionais de indexação. Com seu caráter interdisciplinar, é a revista de maior circulação da área, com distribuição para cerca de 2.000 associados da SBGG. m, é evidente que sobram motivos para publicar na Revista Geriatria & Gerontologia. www.SBGG.org.br AnuncioPorquePublicar_PB_RevistaG&G_21x28cm.indd 1 11/07/12 17:30 DESACELERAR A EVOLUÇÃO DA D.A. É PRESERVAR A QUALIDADE DE VIDA.1,2 AO DIMINUIR O DECLÍNIO COGNITIVO, TRATA A SÍNDROME DEMENCIAL, MELHORANDO A TAXA DE AVALIAÇÃO GLOBAL.1 DISPONÍVEL EM TODAS AS FARMÁCIAS. 73% MAIS ACESSÍVEL QUE O PRODUTO REFERÊNCIA.4 EVITA A BUROCRACIA DO ALTO CUSTO. Apr 1,5 Regis 1.356 VASTIGMA® (Hemitartarato de rivastigmina). INDICAÇÕES: USO ADULTO, USO ORAL: tratamento de pacientes com demência leve a moderadamente grave tipo Alzheimer, também conhecida como doença de Alzheimer provável ou doença de Alzheimer. Tratamento de pacientes com demência leve a moderadamente grave associada à doença de Parkinson. CONTRAINDICAÇÕES: o uso em pacientes com conhecida hipersensibilidade à rivastigmina, a outros derivados do carbamato ou a qualquer componente da fórmula, também é contraindicado em pacientes com insuficiência hepática grave por não ter sido estudado nesta população. PRECAUÇÕES E ADVERTÊNCIAS: assim como outros colinomiméticos, deve-se ter cuidado ao utilizar VASTIGMA® em pacientes com doença do nó sinusal ou defeitos na condução (bloqueio sinoatrial, bloqueio atrioventricular). A estimulação colinérgica pode causar aumento da secreção ácido-gástrica e pode também exacerbar obstruções urinárias e precipitar convulsões. Recomenda-se precaução ao tratar pacientes predispostos e essas patologias. Como com outros colinomiméticos, deve ser utilizado com precaução em pacientes que já tiveram crises asmáticas ou alguma doença de obstrução pulmonar. O tratamento deve sempre ser iniciado com a dose de 1,5mg, duas vezes ao dia, e ser ajustado à dose de manutenção do paciente. Se o tratamento for interrompido por vários dias, deverá ser reiniciado com a menor dose diária a fim de se minimizar a possibilidade de reações adversas (por exemplo, vômitos graves). Titulação da dose: como com outros colinomiméticos, efeitos adversos foram observados logo após o aumento da dose e esses podem responder a uma redução da dose. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS: é metabolizada principalmente pela hidrólise por esterases. Não foram observadas interações farmacocinéticas com digoxina, varfarina, diazepam ou fluoxetina em estudos com voluntários sadios. Não foram observados efeitos desfavoráveis na condução cardíaca após a administração concomitante de digoxina. A administração com medicamentos prescritos comumente, tais como antiácidos, antieméticos, antidiabéticos, anti-hipertensivos de ação central, betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio, drogas inotrópicas, antianginosos, anti-inflamatórios não esteroídais, estrógenos, analgésicos, benzodiazepínicos e anti-histamínicos, não foi associada às alterações na cinética de VASTIGMA® nem ao aumento do risco de efeitos desfavoráveis clinicamente relevantes. Tendo em vista seus efeitos farmacodinâmicos, a rivastigmina não deve ser administrada concomitantemente com outras drogas colinomiméticas e pode interferir na atividade de medicações anticolinérgicas. Como um inibidor da colinesterase, a rivastigmina pode potencializar os efeitos de relaxantes musculares do tipo succinilcolina durante a anestesia. REAÇÕES ADVERSAS: as reações adversas relatadas mais comumente são gastrintestinais incluindo náuseas (38%) e vômitos (23%), especialmente durante a titulação. As pacientes dos estudos clínicos foram mais susceptíveis às reações adversas gastrintestinais e perda de peso. As seguintes reações adversas mais comuns: náusea, vômito, diarreia, perda de apetite, dor abdominal e dispepsia, agitação, confusão, cefaleia, sonolência, tremor, fadiga e astenia e indisposição. Registros MS nº 1.3569.0644 / 1.3569.0644.005-1 / 1.3569.0644.013-0 / 1.3569.0644.021-1 / 1.3569.0644.029-7. Detentora: EMS SIGMA PHARMA LTDA. Fabricado por: EMS S/A – Hortolândia/SP. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. ESTE MEDICAMENTO SÓ PODE SER VENDIDO COM RETENÇÃO DA RECEITA. Referências bibliográficas: 1) Birks J, Grimley Evans J, Iakovidou V, Tsolaki M, Holt FE. Rivastigmine for Alzheimer’s disease.Cochrane Database Syst Rev. 2009 Apr 15;(2). 2) Aguglia E, Onor ML, Saina M, Maso E. An open-label, comparative study of rivastigmine, donepezil and galantamine in a real-world setting. Curr Med Res Opin. 2004 Nov;20(11):1747-52. 3) Laudo de Bioequivalência VASTIGMA®. 4) ABCFarma de maio/2013. AF_anuncio_p_dupla_Vastigma_NQ_V3.indd 1 Book Revista G&G.indb 10 7/16/13 10:06 AM Contr e diar ww Rua Tel.F 2 heimer. ponente A® em vulsões. amento dade de TOSAS: ndução e cálcio, amente erase, a almente gitação, or: EMS tudy of 3 hemitartarato de rivastigmina hemitartarato de rivastigmina 4 Apresentações: 1,5 mg / 3 mg / 4,5 mg / 6 mg – 30 cápsulas Registro no M.S.: 1.3569.0644.005-1 / 1.3569.0644.013-0 / 1.3569.0644.021-1 / 1.3569.0644.029-7 Contraindicações: pacientes alérgicos ao hemitartarato de rivastigmina, bem como pacientes com problemas graves no fígado. Reações Adversas: reações gastrintestinais como náusea, vômito e diarreia. Interações Medicamentosas: a Rivastigmina pode exacerbar o efeito de relaxantes musculares durante a anestesia pré-cirúrgica; pode interagir com medicamentos anticolinérgicos. www.novaquimicafarma.com.br Rua Dr. Sampaio Ferraz, 453 | Cambuí | Campinas/SP | CEP 13024-431 Tel.Fax +55 19 3323 4000 | SAC 0800.026 22 74 21/05/13 09:37 Book Revista G&G.indb 11 7/16/13 10:07 AM COLABORA PARA O SEU SUCESSO Vá além da revalidação do seu título com o PEC da SBGG. Seu conteúdo de qualidade e altamente científico é a oportunidade para atualizar os seus conhecimentos. Participe e acumule pontos para revalidação do título de especialista. Para mais informações acesse www.sbgg.org.br AnuncioPEC_SBGG_21x28cm.indd 1 Book Revista G&G.indb 12 28/02/13 14:58 7/16/13 10:07 AM EDITORIAL D e m a n da s, c o mo e q uac io n a r ? Base Editorial Os perfis populacionais que vêm sendo identificados em diferentes cenários têm surpreendido pelo grau de risco de comprometimento funcional, pela crescente demanda e pela insuficiência e despreparo do sistema de saúde para alcançar os mais necessitados. A dispensação de medicações para pacientes demenciados ainda necessita ser ampliada e mais bem gerenciada para melhorar seu alcance. Assim como outros idosos dependentes, particularmente os institucionalizados também têm sido insatisfatoriamente atendidos, e um dos recursos a ser utilizado pode ser o Resource Utilization Groups. A grande demanda desse perfil de idosos são os cuidadores formais ou informais, muitas vezes familiares expostos a um cotidiano de estresse físico e emocional que precisa ser equacionado para que ofereçam um cuidado de qualidade. A avaliação da qualidade, seja do cuidado, seja, principalmente, da vida do indivíduo, deve abranger os cuidadores e os idosos, em particular para aqueles que apresentam potencial de desenvolver dependência. A qualidade do cuidado e de vida deve ser priorizada para que consigamos um equilíbrio entre investigação, tratamento e resultados a serem alcançados. Particularmente esses pacientes, quando não são bem avaliados, estarão mais sujeitos a iatrogenias, reações adversas e interações medicamentosas. O índice de complexidade da farmacoterapia e as fórmulas utilizadas para estimativa da função renal do idoso poderão compor parte dos instrumentos que devemos adotar para compreender a condição e a reserva funcional de nossos pacientes. Maysa Seabra Cendoroglo Editora-chefe Av. Copacabana, 500 sala 609/610, Copacabana 22020-001 – Rio de Janeiro. e-mails: [email protected] / [email protected] Book Revista G&G.indb 13 7/16/13 10:07 AM A rtigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA 14 | REVISTA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA PÚBLICO BRASILEIRO DE TRATAMENTO DA DOENÇA DE ALZHEIMER NO ANO DE 2008 Edgar Nunes Moraesa, Marco Túlio Gualberto Cintrab, Dinah Belémb, Flávia Lanna Moraesb,c R e s um o Palavras-chave anticolinesterásicos, doença de Alzheimer, demência Introdução: O Programa de Assistência aos Portadores de Doença de Alzheimer estabeleceu, em 2002, o fornecimento gratuito da medicação anticolinesterásica no Brasil. Objetivos: Avaliar a estimativa de cobertura do programa, com base nos dados de fornecimento dos anticolinesterásicos, nas diversas regiões e estados do Brasil. Metodologia: Foi estimado o número de idosos com demência por unidade da federação, com base nos estudos epidemiológicos brasileiros (7,1%). Projetou-se que 60% desses idosos teriam doença de Alzheimer (DA) provável ou possível. Estabeleceu-se como meta o fornecimento de anticolinesterásicos (IChEs) para 50% dessa população. Foram utilizados dados do Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS, da Superintendência de Assistência Farmacêutica/SES/MG e do IBGE. Resultados: A prevalência de síndromes demenciais foi de 1.332.034 pessoas. Destas, 799.220 eram portadoras de DA. Em 2008, o Ministério da Saúde dispensou IChEs para 47.886 pacientes, com custo anual de R$ 99.747.356,53. A cobertura do programa foi de apenas 12% dos pacientes com indicação para uso de IChEs. Essa taxa variou de 1,2%, no Amazonas, a 22,3% em São Paulo. O anticolinesterásico mais prescrito foi a rivastigmina (71,4%). Conclusão: A cobertura do programa, em 2008, foi baixa e extremamente variável, possivelmente devido ao subdiagnóstico da DA e às diferenças regionais no acesso ao programa. EVALUATION OF THE BRAZILIAN PUBLIC ALZHEIMER’S DISEASE TREATMENT PROGRAM IN 2008 A B S T RAC T Keywords Anticholinesterasics, Alzheimer’s disease, dementia Introduction: The Healthcare Program for Alzheimer’s Disease Carriers established in 2002 that anticholinesterasic drugs should be provided on a free basis in Brazil. Objectives: To evaluate the estimates for the program coverage based on data regarding the delivery of anticholinesterasics in several regions and states of Brazil. Methodology: It was estimated the number of elderly individuals with dementia per state based on Brazilian epidemiological studies (7.1%). It was predicted that 60% of these individuals had probable or possible Alzheimer’s disease (AD), and the delivery of anticholinesterasics (IChEs) to 50% of this population was established as the major goal by the Brazilian program. Brazilian Health System as well as the Superintendence of Pharmaceutical Aid of Minas Gerais State Secretary of Health and IBGE provided data on outpatient care. Results: The prevalence of dementia symptoms was of 1,332,034 cases. Of these, 799,220 patients had AD. In 2008, the Ministry of Health provided IChEs to 47,886 patients at a yearly cost of R$ 99.747.356,53. The program coverage reached only 12% of the patients who were eligible for receiving IChEs. This rate varied from 1.2% in Amazon state to 22.3% in São Paulo state. The most prescribed anticholinesterasic drug was Rivastigmine (71.4%). Conclusion: The program coverage was found to be low and extremely variable in 2008, possibly because of both poor diagnosis of AD and regional differences in the access to the program. a epartamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). D Instituto Jenny de Andrade Faria de Atenção à Saúde do Idoso do Hospital das Clínicas da UFMG. c Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/MG. b Dados para correspondência Marco Túlio Gualberto Cintra – Rua Kátia Teodoro Aguiar 90, apto 404, Bairro Padre Eustáquio, Belo Horizonte, MG. CEP: 30730-250 Tel: 31- 9636-6108 ou 3646-6108 Book Revista G&G.indb 14 7/16/13 10:07 AM Anticolinesterásico no Brasil em 2008 | 15 I n t ro d ução A demência é definida como uma síndrome clínica caracterizada pela deterioração progressiva de múltiplos domínios da cognição, capaz de comprometer a funcionalidade do indivíduo. Representa causa importante de incapacidade, institucionalização e redução de sobrevida na população idosa.1 A prevalência de demência aumenta de forma importante com a idade, dobrando a cada 5 anos, variando de 1,5%, entre 60-64 anos, a quase 40% nos nonagenários. No Brasil, varia entre de 6,0-7,1%. A incidência mundial anual é estimada em 7,5 casos a cada 1.000 habitantes idosos (idade ≥ 60anos).1-5 Em 2001, estimou-se a população mundial com demência em 24 milhões de pessoas. A expectativa atual é que esse número dobre a cada 20 anos, alcançando 81 milhões de pacientes em 2040. Estima-se que 50-70% dos quadros demenciais sejam secundários à doença de Alzheimer (DA).1 A prevalência real da DA no Brasil é desconhecida. Herrera et al. (2002) encontraram prevalência de demência no Brasil de 7,1% em pacientes com idade igual ou superior a 65 anos, sendo 55,1% de DA provável ou possível e 14,4% de DA associada à demência vascular.2 Lopes et al. (2005) demonstraram prevalência de 6,2% e 6,6% entre homens e mulheres idosos com idade igual ou superior a 60 anos, respectivamente, e que 60,8% deles apresentavam DA provável ou possível ou demência mista com DA.5 Bottino et al. (2008) observaram prevalência de 6,8% entre sujeitos com idade igual ou superior a 60 anos, sendo que 59,8% apresentavam diagnóstico de DA provável ou possível.4 A prevalência de demência na América Latina foi recentemente estimada em 7,1%.3 Até o momento, não existe cura disponível para a DA, e os fármacos disponíveis têm efeito modesto na sintomatologia e provável ação modificadora da evolução da doença. A U.S. Food and Drug Administration indica o uso dos anticolinesterásicos donepezila, galantamina e rivastigmina nos estágios iniciais e intermediários da doença, com poucas diferenças entre os efeitos das drogas. Recentemente, o uso de donepezila foi liberado para o estágio avançado.6 Essas medicações apresentam custo elevado, limitando o seu uso em países subdesenvolvidos. Todavia, representam o principal recurso terapêutico atualmente disponível. Em 2002, o Ministério da Saúde, através do Programa de Assistência aos Portadores de Doença de Alzheimer, estabelecido nas Portarias GM/MS n.º 703 (Programa de Assistência aos Portadores de Doença de Alzheimer, 2002) e SAS/MS n.º 843 (Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Doença de Alzheimer, de 31 de outubro de 2002), iniciou o fornecimento gratuito da medicação anticolinesterásica a pacientes com diagnóstico de DA em fases leve a moderada. Book Revista G&G.indb 15 Até o momento, no Brasil, não há registro de estudos visando avaliar a cobertura e os custos do programa, desde sua implantação. Este é o primeiro estudo brasileiro que avalia a cobertura e o custo do programa no Brasil. Ob je t i vo s Avaliar a cobertura do Programa de Tratamento da Doença de Alzheimer no Brasil e nas diversas unidades da federação, bem como investigar o seu custo no ano de 2008. M e to d o l o g i a Neste estudo, optou-se por utilizar o valor de 7,1% como a prevalência de demência no Brasil, o mesmo valor estimado para a América Latina.2-5 Inicialmente, realizou-se a estimativa de prevalência da doença de Alzheimer no Brasil e nas diversas unidades da federação, utilizando-se os dados da população idosa (60 anos ou mais), fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008.7 Entre os pacientes com demência, admitiu-se que 60% são portadores de doença de Alzheimer provável ou possível, como observado por Herrera et al. (2002), Lopes et al. (2005) e Bottino et al. (2008). É oportuno destacar que essa mesma metodologia foi utilizada por Chaimowicz (2009) para estimar quantos brasileiros apresentarão demência entre 2010 e 2050.8 Adotou-se como meta do programa o fornecimento de drogas anticolinesterásicas para, pelo menos, 50% dos pacientes com doença de Alzheimer. Admitiu-se que metade dos pacientes apresentava DA em fase avançada, intolerância aos anticolinesterásicos9-12 e/ou critérios de exclusão para o uso da medicação, conforme estabelecido pela Portaria 843, do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Doença de Alzheimer. O número de pacientes em uso de anticolinesterásicos e o custo do tratamento foram obtidos no Ministério da Saúde via Departamento de Informática do SUS (Datasus), consultando-se a base de dados consolidada para 2008 (Sistema de Informação Ambulatorial do SUS).13 Inicialmente, foi calculada a quantidade anual de comprimidos que cada paciente necessitaria tomar de cada medicamento e, posteriormente, realizada a divisão da quantidade total de medicação dispensada pelo resultado do cálculo anterior. Os dados do estado de Minas Gerais foram obtidos por meio da Gerência de Medicamentos Excepcionais (Superintendência de Assistência Farmacêutica da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais). Para avaliação da taxa de cobertura do Programa de Assistência aos Portadores de Doença de Alzheimer no país e em cada estado, comparou-se a prevalência estimada da doença com o número de pacientes em uso da medicação fornecida pelo Ministério da Saúde, em 2008, 7/16/13 10:07 AM 16 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA por unidade da federação, tendo como meta a cobertura de 50% dos pacientes com doença de Alzheimer. Utilizando-se essa metodologia, em 2008 a população idosa no Brasil era de 18.761.039 pessoas. A estimativa da prevalência de demências foi de 1.332.034 de idosos (7,1%). Destes, 779.220 têm DA provável ou possível. Dessa forma, a meta do programa seria o fornecimento da medicação anticolinesterásica para, pelo menos, 399.610 desses pacientes (50% dos pacientes com DA). O custo do programa foi avaliado diretamente em 2008 e feita uma estimativa do custo total, caso todos os pacientes com indicação de anticolinesterásicos fossem incluídos no programa. R e s u lta d o s A medicação anticolinesterásica foi distribuída para apenas 47.886 pessoas, resultando em taxa de cobertura de 12%. Além da baixa cobertura, observou-se grande heterogeneidade nas unidades da federação e regiões demográficas do país. A menor taxa de cobertura foi na Região Norte, com 2,3%. As menores taxas de cobertura foram observadas no Amapá (1,2%) e Amazonas (1,3%). A maior cobertura foi observada na Região Sudeste (16,9%), com destaque para os estados de São Paulo (22,3%), Espírito Santo (22,1%) e Minas Gerais (18,4%) – Tabela 1. Merecem destaque os índices baixos observados em estados com renda per capita alta, como Rio Grande do Sul (1,6%), Rio de Janeiro (2,5%) e Distrito Federal (3,6%). Tabela 1 Taxa de cobertura de anticolinesterásico por unidade da federação em 2008 Unidade da Federação População ≥ 60 anos População com Demência (7,1%) População com DA (60%) Meta do Programa (50%) Pacientes em Uso de IChEs Taxa de Cobertura (%) Rondônia 94.714 6.725 4.035 2.018 103 5,1% Acre 40.832 2.899 1.739 870 24 2,8% Amazonas 181.883 12.914 7.748 3.874 49 1,3% Roraima 18.378 1.305 783 392 12 3,1% Pará 479.857 34.070 20.442 10.221 180 1,8% Amapá 27.801 1.974 1.184 592 7 1,2% Tocantins 100.462 7.133 4.280 2.140 88 4,1% NORTE 943.927 67.019 40.211 20.106 463 2,3% Maranhão 483.624 34.337 20.602 10.301 483 4,7% Piauí 270.882 19.233 11.540 5.770 832 14,4% Ceará 786.096 55.813 33.488 16.744 2.404 14,4% Rio Grande do Norte 296.671 21.064 12.638 6.319 1.054 16,7% Paraíba 401.674 28.519 17.111 8.556 982 11,5% Pernambuco 852.311 60.514 36.308 18.154 735 4,0% Alagoas 242.848 17.242 10.345 5.173 380 7,3% Sergipe 165.313 11.737 7.042 3.521 385 10,9% Bahia 1.358.430 96.449 57.869 28.935 1.188 4,1% NORDESTE 4.857.849 344.907 206.944 103.472 8.443 8,2% Minas Gerais 2.140.618 152.000 91.200 45.600 8.397 18,4% 22,1% Espirito Santo 327.991 23.287 13.972 6.986 1.543 Rio de Janeiro 1.947.003 138.237 82.942 41.471 1.033 2,5% São Paulo 4.362.402 309.731 185.839 92.920 20.693 22,3% SUDESTE 8.778.014 623.239 373.943 186.972 31.666 16,9% Paraná 1.099.274 78.048 46.829 23.415 3.249 13,9% Santa Catarina 605.037 42.958 25.775 12.888 2.013 15,6% Rio Grande do Sul 1.367.604 97.100 58.260 29.130 459 1,6% SUL 3.071.915 218.106 130.864 65.432 5.721 8,7% Mato Grosso do Sul 214.344 15.218 9.131 4.566 553 12,1% Mato Grosso 214.708 15.244 9.146 4.573 294 6,4% Goiás 503.616 35.757 21.454 10.727 435 4,1% Distrito Federal 176.666 12.543 7.526 3.763 135 3,6% CENTRO-OESTE 1.109.334 78.762 47.257 23.629 1.417 6,0% BRASIL 18.761.039 1.332.034 799.220 399.610 47.886 12,0% Book Revista G&G.indb 16 7/16/13 10:07 AM Anticolinesterásico no Brasil em 2008 | 17 A medicação mais prescrita no país, assim como em todos os estados da federação, foi a rivastigmina (71,4%), seguida pela donepezila (26,2%) e galantamina (2,4%). A donepezila foi mais prescrita na Região Sudeste (30,3%), assim como a galantamina (3,5%). Nas regiões Norte e Centro-Oeste, não havia nenhum paciente em uso de galantamina, como pode ser observado na Tabela 2. Quando o Programa de Assistência aos Portadores de Doença de Alzheimer iniciou em 2002, o custo do primeiro ano foi de R$ 315.759,01, que foi aumentando progressivamente ao longo dos anos alcançando, em 2008, R$ 99.747.356,53 (Gráfico 1). O valor estimado para tratar todos os pacientes com DA provável ou possível incluídos como meta em 2008 seria de R$ 881.743.777,58 (Tabela 3). Tabela 2 Tipos de anticolinesterásicos distribuídos no Brasil em 2008 Unidade da Federação Pcts em uso Donepezila Rivastigmina Galantamina de IACHE (%) (%) (%) Custo da medicação R$ 99.747.356,53 R$ 74.167.816,53 R$ 100.000.000,00 R$ 80.000.000,00 R$ 20.715.734,28 R$ 8.108.565,58 R$ 60.000.000,00 R$ 40.000.000,00 R$ 20.000.000,00 R$ 315.759,01 R$ 0,00 2002 2003 2004 2007 2008 Gráfico 1 Evolução dos gastos com os anticolinesterásicos dispensados pelo setor público brasileiro entre 2002 e 2008. Tabela 3 Previsão de custos para cobertura de 100% da meta do Programa Público de Tratamento da Doença de Alzheimer em 2008 Unidade da Federação Custo da Cobertura em 2008 Custo para 100% de Cobertura Rondônia 103 6,8% 93,2% 0,0% Rondônia R$ 182.523,30 RS 3.578.888,24 Acre 24 4,2% 95,8% 0,0% Acre R$ 44.813,20 R$ 1.600.471,43 Amazonas 49 0,0% 100,0% 0,0% Amazonas R$ 82.704,08 R$ 6.361.852,31 Roraima 12 0,0% 100,0% 0,0% Roraima R$ 21.540,86 R$ 694.866,45 Pará 180 17,8% 82,2% 0,0% Pará R$ 396.782,37 R$ 22.043.465,00 Amapá 7 0,0% 100,0% 0,0% Amapá R$ 13.151,60 R$ 1.095.966,67 Tocantins 88 2,3% 97,7% 0,0% Tocantins R$ 166.277,85 R$ 4.055.557,32 NORTE 463 9,1% 90,9% 0,0% NORTE R$ 907.793,16 R$ 39.431.067,42 Maranhão 483 7,5% 92,5% 0,0% Maranhão R$ 910.221,90 R$ 19.366.423,40 Piauí R$ 1.976.087,87 R$ 13.722.832,43 Piauí 832 35,8% 64,2% 0,0% Ceará 2.404 29,5% 70,5% 0,0% Ceará R$ 5.289.234,98 R$ 36.730.798,47 Rio Grande do 1.054 16,9% 83,1% 0,0% Rio Grande do Norte R$ 2.300.423,60 R$ 13.774.991,62 R$ 16.036.362,35 Paraíba 982 5,1% 94,9% 0,0% Paraíba R$ 1.844.181,67 Pernambuco 735 13,1% 86,8% 0,1% Pernambuco R$ 1.624.722,73 R$ 40.618.068,25 Alagoas 380 1,3% 98,7% 0,0% Alagoas R$ 839.272,74 R$ 11.496.886,85 Sergipe 385 26,5% 73,5% 0,0% Sergipe R$ 829.748,86 R$ 7.612.374,86 Bahia 1.188 8,2% 81,8% 0,0% Bahia R$ 2.601.813,95 R$ 63.458.876,83 NORDESTE 8.443 18,6% 81,4% 0,01% NORDESTE R$ 18.215.708,33 R$ 222.817.615,06 R$ 110.349.551,69 Minas Gerais 8.397 29,6% 70,3% 0,1% Minas Gerais R$ 12.312.686,82 Espirito Santo 1.543 13,2% 86,7% 0,1% Espirito Santo R$ 3.099.364,60 R$ 14.024.274,21 Rio de Janeiro 1.033 21,9% 78,1% 0,0% Rio de Janeiro R$ 2.406.228,26 R$ 96.249.130,40 São Paulo 20.693 32,2% 62,4% 5,4% São Paulo R$ 47.618.612,83 R$ 213.536.380,40 SUDESTE 31.666 30,3% 66,2% 3,5% SUDESTE R$ 65.436.892,51 R$ 434.209.336,70 Paraná 3.249 21,5% 78,5% 0,0% Paraná R$ 7.069.802,93 R$ 50.861.891,58 Santa Catarina 2.013 20,9% 79,1% 0,0% Santa Catarina R$ 4.233.651,05 R$ 27.138.788,78 Rio Grande do Sul 459 12,4% 87,4% 0,2% Rio Grande do Sul R$ 920.482,29 R$ 57.530.143,13 SUL 5.721 20,6% 79,4% 0,02% REGIÃO SUL R$ 12.223.936,27 R$ 135.530.823,49 Mato Grosso do Sul 553 2,7% 97,3% 0,0% Mato Grosso do Sul R$ 1.119.302,44 R$ 9.250.433,39 Mato Grosso 294 28,6% 71,4% 0,0% Mato Grosso R$ 632.855,45 R$ 9.888.366,41 Goiás 435 7,6% 92,4% 0,0% Goiás R$ 891.237,55 R$ 21.737.501,22 Distrito Federal 135 32,6% 67,4% 0,0% Distrito Federal R$ 319.630,82 R$ 8.878.633,89 CENTRO-OESTE 1.417 12,4% 87,6% 0,0% CENTRO-OESTE R$ 2.963.026,26 R$ 49.754.934,91 BRASIL 47.886 26,2% 71,4% 2,4% BRASIL R$ 99.747.356,53 R$ 881.743.777,58 Book Revista G&G.indb 17 7/16/13 10:07 AM 18 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Disc us s ão A taxa de cobertura do Programa de Assistência aos Portadores de Doença de Alzheimer, no ano de 2008, foi baixa e bastante heterogênea nas diversas regiões do país e estados da federação (Tabela 1). Provavelmente, essa baixa cobertura deve-se ao subdiagnóstico da doença, que ainda pode ser atribuída ao processo de envelhecimento normal. As desigualdades econômicas e sociais do país também poderiam estar contribuindo para limitar o acesso ao programa e justificar a maior cobertura do tratamento da DA na região Sudeste. Todavia, tal justificativa não explica por que o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Sul e o Distrito Federal, incluídos entre as unidades federadas com as maiores rendas per capita do país, apresentam coberturas baixas. Uma hipótese deriva do fato de cada unidade da federação ter autonomia para determinar a forma de dispensação da medicação. Alguns estados exigem preenchimento de protocolos específicos, outros exigem realização de exames pouco disponíveis no SUS (ressonância magnética de encéfalo, eletroencefalograma etc.), e determinados estados somente liberam a medicação aos pacientes atendidos em centros de referência à pessoa idosa. Portanto, níveis variados de exigência na liberação dos anticolinesterásicos poderiam justificar a significativa variação de cobertura entre as unidades da federação. Estudos para avaliar se pacientes com DA têm acesso adequado aos anticolinesterásicos são escassos na literatura. Baldini et al. (2007) avaliaram, no ano de 2002, o uso dessas medicações entre os beneficiários com demência do Medicare, um programa governamental de assistência à saúde aos idosos dos Estados Unidos. Os resultados apontaram taxa de cobertura de 24,7% entre os idosos da comunidade e 26,3% entre os institucionalizados.14 Essas taxas representam mais do que o dobro da taxa brasileira observada no ano de 2008, confirmando que nosso índice de cobertura é consideravelmente baixo. A rivastigmina foi a medicação mais utilizada no Brasil, responsável por 70% das prescrições de anticolinesterásicos. Em outros países, a donepezila é também bastante utilizada,9,10 da mesma forma que a galantamina. Essa última foi pouco utilizada, provavelmente, pela sua inclusão tardia no programa. Entre os idosos em uso de anticolinesterásicos assistidos pelo Medicare entre os anos de 2001-2003, 62,8% estavam em uso de donepezila.9 Em um estudo realizado na província canadense de Ontário, entre os anos de 2000-2005, 87,2% dos pacientes utilizavam donepezila.10 Em relação aos custos, a DA ocupa a terceira colocação entre as doenças que causam maiores despesas à sociedade nos Estados Unidos, valor estimado entre Book Revista G&G.indb 18 80-100 bilhões de dólares americanos ao ano, perdendo apenas para o câncer e a doença arterial coronariana. Esses custos não estão associados somente com a medicação anticolinesterásica, mas também com os gastos com o cuidador formal, institucionalizações, consultas médicas, perda de produtividade do cuidador informal, entre outros.15 Mucha et al. (2008) não demonstraram diferenças significativas de custos entre os anticolinesterásicos, porém evidenciaram redução de 1,02% ao mês nos gastos globais com a saúde durante o uso da medicação.9 Suh et al. (2008) revelaram que o uso de galantamina na Coreia do Sul, após 52 semanas, representou redução significativa de custos quando comparada ao placebo (p = 0,0089).16 Trabalhos de Feldman et al. (2004),17 Caro et al. (2004),18 Fagnani et al. (2004),19 Sano et al. (2003),20 Wimo et al. (2003)21 e Hill et al. (2002)22 também demonstraram que a medicação anticolinesterásica reduz o custo do tratamento de pessoas com DA, resultados que não foram confirmados por Courtney et al. (2004),23 Fillit et al. (1999)24 e Small et al. (1998).25 Apesar dessas divergências, muitos trabalhos demonstram que o uso dos anticolinesterásicos reduz o custo global do tratamento dos pacientes com DA, justificando a utilização de R$ 99.747.356,53 dos recursos da área da saúde, no ano de 2008, para dispensação gratuita desses medicamentos. Em relação à metodologia empregada neste estudo, utilizaram-se dados do SIA-SUS, uma base de informações que depende exclusivamente dos dados enviados por municípios e estados brasileiros, portanto sujeito a falhas, principalmente de não envio de informações dessas esferas do SUS. Todavia, essa última representa a única base atualmente disponível que oferece informações acerca da dispensação de anticolinesterásicos pelo setor público em todo o país. No estado de Minas Gerais, foram utilizados dados obtidos da Gerência de Medicamentos Excepcionais (Superintendência de Assistência Farmacêutica da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais), devido ao detalhamento das informações oferecidas, incluindo a discriminação do tipo de medicação e a dose por paciente. Outra limitação do estudo é que a base de dados do SIA-SUS não oferece informações fidedignas sobre as doses de anticolinesterásicos utilizadas, o que poderia subestimar o número de pacientes em uso correto da medicação anticolinesterásica. Por último, não há informações confiáveis que abordem a dispensação da medicação pelo setor privado. Por isso, as taxas de cobertura encontradas neste estudo refletem apenas a realidade do setor público. Todavia, admite-se que a maior parte das medicações seja proveniente dos programas governamentais, de forma semelhante às outras drogas incluídas no Programa de Drogas Excepcionais do Ministério da Saúde. 7/16/13 10:07 AM Anticolinesterásico no Brasil em 2008 | 19 C oncl us ão A taxa de cobertura do Programa de Assistência aos Portadores de Doença de Alzheimer foi baixa (12%) e extremamente variável entre as unidades da federação. Observam-se maiores índices na região Sudeste e os menores na região Norte. Os estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais apresentam as melhores taxas de cobertura, enquanto as coberturas mais baixas localizam-se no Amapá e Amazonas. Três unidades da federação com renda per capita alta – Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal – apresentaram índices de cobertura consideravelmente baixos. Atribuem-se esses resultados ao subdiagnóstico da DA, ao desconhecimento sobre a existência do programa, assim como à presença de regras diferentes de dispensação da medicação em cada unidade da federação. O anticolinesterásico mais prescrito foi a rivastigmina, e o custo para tratar os 47.886 pacientes em uso da medicação foi de R$ 99.747.356,53 no ano de 2008. R e f e rê ncias 1.Qiu C, Ronche D, Fratiglioni L. The epidemiology of the demen- tias: an uptade. Curr Opin Psychiatry. 2007; 20:380-5. 2.Herrera Jr. E, Caramelli P, Silveira ASB et al. Epidemiologic survey of dementia in a community-dwelling Brazilian population. Alzheimer Disease and Associated Disorders. 2002; 16(2):103-8. 3.Nitrini R, Bottino CMC, Abdala C et al. Prevalence of dementia in Latin America: a collaborative study of population based cohorts. International Psychogeriatrics. 2009; 21:622-30. 4.Bottino CMC, Azevedo Jr. D, Tatsch M et al. Estimate of dementia prevalence in a community sample from São Paulo, Brazil. Dement Geriatr Cogn Disord. 2008; 26:291-9. 5.Lopes MA, Hototian SR, Azevedo Jr. D et al. Prevalence of dementia and Alzheimer’s disease in Ribeirão Preto, Brazil: A community survey in ederly population. In: 12th International Meeting of the International Psychogeriatric Association, 2005, Stocolmo. International Psychogeriatrics. 2005; 17: 210. 6.Raina P, Santaguida P, Ismaila A et al. Effectiveness of cholinesterase inhibitors and memantine for treating dementia: Evidence review for a clinical practice guideline. Ann Intern Med. 2008; 148:379-97. 7.Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. www.ibge.gov.br. Acesso em 27/6/2009. 8.Chaimowicz F. Dementia in the Brazilian population: prevalence estimates for 2010-2050. In: International Meeting of the International Psychogeriatric Association, 2009, Rio de Janeiro. Dement Neuropsychol. 2009; 3(2):136-78. 9.Mucha L, Wang SS, Cuffel B et al. Comparison of cholinesterase inhibitor utilization patterns and associated health care costs in Alzheimer’s disease. J Manag Care Pharm. 2008; 14(5):451-61. 10.Herrmann N, Gill SS, Bell CM et al. A Population-based study of cholinesterase inhibitor use for dementia. JAGS. 2007; 55:1517-23. 11. Hansen RA, Gartlehner G, Webb AP et al. Efficacy and safety of donepezil, galantamine and rivastigmine for the treatment of Alzheimer’s disease: A systematic review and meta-analysis. Clinical Interventions in Aging. 2008; 3(2): 211-25. 12. Voisin T, Vellas B. Diagnosis and treatment of patients with severe Alzheimer’s disease. Drugs Aging. 2009; 26(2):135-44. 13. Produção Ambulatorial do Sistema Único de Saúde – Datasus. www.tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabgci.exe?sia/cnv/qauf.def. Acesso em 27/6/2009. Book Revista G&G.indb 19 14. Baldini ALG, Stuart B, Zuckerman IH et al. Treatment of dementia in community-dwelling and institutionalized medicare beneficiaries. J Am Geriatr Soc. 2007; 55:1508-16. 15. Zhu CW, Sano M. Economic considerations in the management of Alzheimer’s disease. Clinical Interventions in Aging. 2006; 1(2):143-54. 16. Suh GH, Jung HY, Lee CU et al. Economic and clinical benefits of galantamine in the treatment of mild to moderate Alzheimer’s disease in a Korean population: A 52-week prospective study. J Korean Med Sci. 2008; 23:10-7. 17. Feldman H, Gauthier S, Hecker J et al. Economic evaluation of donepezil in moderate to severe Alzheimer disease. Neurology. 2004; 63:644-50. 18. Caro J, Salas M, Ward A et al. Assessing the health and economic impact of galantamine treatment in patients with Alzheimer’s disease in the health care systems of different countries. Drugs Aging. 2004; 21(10):677-86. 19.Fagnani F, Lafuma A, Pechevis M et al. Donepezil for the treatment of mild to moderate Alzheimer’s disease in France: The economic implications. Dement Geriatr Cogn Disord. 2004; 17:5-13. 20. Sano M, Wilcock G, Van Baelen B et al. The effects of galantamine treatment on caregiver time in Alzheimer’s disease. Int J Geriatr Psychiatry. 2003; 18:942-50. 21. Wimo A, Winblad B, Engedal K et al. An economic evaluation of donepezil in mild to moderate Alzheimer’s disease: Results of a 1-year, double-blind, randomized trial. Dement Geriatr Cogn Disord. 2003; 15:44-54. 22. Hill JW, Futterman R, Mastey V et al. The effect of donepezil the- rapy on health costs in a Medicare managed care plan. Manag Care Interface. 2002; 15:63-70. 23. Courtney C, Farrell D, Gray R et al. Long-term donepezil treatment in 565 patients with Alzheimer’s disease (AD2000): Randomized double-blind trial. Lancet. 2004; 363:2105-15. 24. Fillit HM, Gutterman EM, Lewis B. Donepezil use in managed Medicare: effect on health care costs and utilization. Clin Ther. 1999; 21:2173-85. 25. Small GW, Donohue JA, Brooks RL. An economic evaluation of donepezil in the treatment of Alzheimer’s disease. Clin Ther. 1998; 20:838-50. 7/16/13 10:07 AM A rtigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA 20 | REVISTA Desempenho funcional em idosas de uma universidade aberta à terceira idade em área urbana do Nordeste Ana Elizabeth dos Santos Linsa, Karen Argenti Simonb, Luiz Roberto Ramosc RESUMO Palavras-chave idoso, funcionalidade, cognição, atividades cotidianas, escolaridade. Objetivo: Avaliar se a população que frequenta a Unati (universidade aberta à terceira idade) é representativa da população geral em relação à capacidade funcional e características sociodemográficas. Método: Trata-se de um estudo de delineamento transversal com amostra de 115 mulheres idosas. O desempenho funcional foi mensurado pelos instrumentos: miniexame do estado mental (MEEM); escala Functional Brazilian Older American Resources and Services Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (Bomfaq) e International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). Foi utilizada análise descritiva, qui-quadrado e o teste exato de Fisher, sendo o nível de significância adotado p < 0,05. Resultados: A amostra foi de mulheres idosas; 67,16 ± 5,5 anos; bom nível cognitivo (27,92 ± 2,3 no MEEM); boa escolaridade (74,7% com ≥ 9 anos de estudo); 63,5% sem vida conjugal; 64,3% com renda > 4 salários mínimos; 51,4% relataram apenas uma doença crônica. Os fatores que se associaram com comprometimento moderado/grave nas AVD foram ter ≥ 75 anos, menor escolaridade, menor renda, relato de duas ou mais doenças crônicas e ser solteira. Em relação ao nível de atividade física, as idosas foram consideradas ativas em geral, entretanto a prevalência de idosas insuficientemente ativas no domínio lazer foi de 49,6%. Conclusão: As idosas que participam da Unati parecem ser uma população especial, apresentando-se mais saudáveis, ativas, com melhores condições socioeconômicas (maior renda e melhor nível de escolaridade), boa saúde (menos comorbidades) e boa capacidade funcional. Esse perfil é semelhante aos idosos de outras Unatis, enquanto, em muitos aspectos, não reflete a realidade da população idosa do município de Maceió, Alagoas. Functional performance in elderly women from an open university for the elderly in a Northeast urban area A B S T RAC T Keywords elderly, functionality, cognition, daily activities, educational status. Objective: The aim of this study is to evaluate if people who assist UNITAI is representative in general population related to the sociodemographic characteristics and functional capacity. Method: This is a transversal study with a sample of 115 elderly women. The functional performance was measured through the instruments Mini-Mental State Examination (MMSE); the Brazilian Older American Resources and Services Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (BOMFAQ) and International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). Descriptive analysis, chi-square, and Fischer’s exact test were used, and the significance level that was adopted was p < 0,05. Results: The sample consisted of elderly women; 67.16 ± 5.5 years; with good cognitive level (27.92 ± 2.3 in MMSE) and with good educational status (74.7% with ≥ 9 years of study); 63.5% without a conjugal relationship, 64.3% with an income > 4 minimum wages; 51.4% reported only one chronic disease. The features that were more associated with moderate/severe dependency were: age over 75 years lower education, being unmarried, having lower income, report two or more chronic diseases. Related to the level of physical activity was considered active elderly women in general, however the prevalence of elderly women with insufficientactive level in leisure time was 49.6%. Conclusion: The elderly women who participate in the Open University seems to be a special population, were healthy and active, with a good socio-economic status (higher income and better-educated) were health (fewer comorbidities) and able to perform daily activities without any difficulty. This profile is similar to the elderly from other universities for elderlies, while in many aspects it reflects the reality of the elderly population in the city of Maceió, Alagoas State. Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Escola Paulista de Medicina. Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. Ana Elizabeth dos Santos Lins trabalhou na concepção do estudo e seu delineamento, na consecução da metodologia, na análise e interpretação dos resultados e na redação do manuscrito. b Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Escola Paulista de Medicina. Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. Karen Argenti Simon trabalhou na metodologia e na revisão crítica. c Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Escola Paulista de Medicina. Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. Luiz Roberto Ramos trabalhou na metodologia, na análise dos resultados e na revisão crítica. a Dados para correspondência Ana Elizaberth dos Santos Lins – Rua Jorge de Lima 113, 3.º andar, Trapiche da Barra 57010-300 Maceió, AL Brasil E-mail: [email protected] Book Revista G&G.indb 20 7/16/13 10:07 AM Desempenho Funcional em Idosas | 21 IN TRO D UÇÃO O fenômeno do envelhecimento é uma realidade inegável, e as projeções indicam que esse crescimento continuará de forma mais rápida, especialmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. Esse fato deve-se à diminuição das taxas de natalidade e aos avanços científicos e tecnológicos, que têm ajudado a prolongar cada vez mais a vida do ser humano, proporcionando à expectativa de vida um ganho jamais visto, com ampliação da sobrevida, principalmente a feminina.1-3 Atualmente, 11,3% da população tem 60 anos ou mais, sendo 55,8% de mulheres.* Nesse contexto, essas pessoas precisam ser acompanhadas para se manterem ativas e preservarem sua capacidade funcional, o que envolve múltiplos fatores, desde como decidir e atuar em sua vida de forma independente no cotidiano até fatores associados às questões sociodemográficas e de saúde, como idade, escolaridade, renda, doenças crônicas e sedentarismo, que podem levá-las a limitações e incapacidades.1,4-9 O Brasil é um país com evidentes contrastes entre suas regiões no que se refere aos aspectos de oportunidades sociais e de saúde para os indivíduos em processo de envelhecimento. Nesse contexto, o estado de Alagoas é considerado um dos mais pobres do Nordeste: apresenta elevado índice de pobreza (52,5%), maior taxa de mortalidade infantil do Brasil (41,2%), grande concentração de renda (0,569) e a menor expectativa de vida do país.** A capital, Maceió, apresenta imensas desigualdades sociais e escassos serviços especializados para assistência aos idosos. No que se refere à capacidade funcional, estudo recente realizado no município10 mostra alta prevalência de comprometimento moderado/grave nos idosos, associado a fatores sociodemográficos e de saúde, apontando os potenciais impactos sobre os serviços de saúde. Entre os serviços que prestam assistência ao idoso na cidade de Maceió, destacamos o Programa de Extensão Interdisciplinar Pró-Idoso, o qual desenvolve o projeto Universidade Aberta à Terceira Idade (Uncisati), na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal). O projeto foi criado em agosto de 2006; é uma microuniversidade temática que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão, e assistência às pessoas com 50 anos ou mais, integrando a universidade e a comunidade, com o objetivo de atingir metas de envelhecimento ativo e com dignidade. Nessa perspectiva, o objetivo deste estudo foi entender se a população que frequenta a universidade aberta à terceira idade é representativa da população geral em relação à capacidade funcional e características sociodemográficas. ME TO D OLOGIA O delineamento do estudo foi do tipo transversal descritivo e analítico, e a amostra foi constituída por todas as idosas que se matricularam na única universidade aberta à terceira idade na área urbana do município de Maceió no ano de 2009. A variável dependente foi o desempenho funcional obtido nesse estudo por meio do estado cognitivo (provável déficit cognitivo – Mini-Mental State Examination – MMSE ≥ 24). Do comprometimento funcional nas atividades de vida diária foi utilizada a escala funcional Brazilian Older American Resources and Services Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (Bomfaq), previamente utilizada em estudos transversais com idosos residentes em São Paulo.7 O Bomfaq avalia a dificuldade referida na realização de 15 atividades cotidianas, sendo oito relacionadas às atividades de vida diária (AVD): deitar/levantar da cama, comer, pentear o cabelo, andar no plano, tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro em tempo e subir um lance de escada; e sete relacionadas às atividades instrumentais de vida diária (AIVD): medicar-se na hora, andar perto de casa, fazer compras, preparar refeições, cortar as unhas dos pés, sair de condução e fazer limpeza de casa. Considerou-se para cada um dos itens investigados dois tipos de respostas possíveis – “sem dificuldade”, “com dificuldade” (com ajuda e sem ajuda). Depois foram construídas categorias de acordo com o número de AVD/AIVD comprometidas. Através do nível de atividade física, foi utilizado o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ),4 forma longa, versão 8, que permite estimar o tempo semanal gasto na realização de atividade física de intensidade moderada a vigorosa em diferentes domínios (trabalho, tarefas domésticas, transporte e lazer). As idosas consideradas ativas foram aquelas que, no somatório das atividades físicas nos diferentes domínios, praticaram 150 minutos ou mais de atividades moderadas ou vigorosas por semana; foram consideradas insuficientemente ativas aquelas cujo somatório ficou abaixo desse valor. Investigou-se a associação entre o desempenho funcional e as seguintes variáveis independentes: socioeconômicas – renda per capita (< 1 salário, 1-3, 4-5 e > 6), valor do salário mínimo de R$ 510,00; escolaridade (analfabeta, até 4 anos, 5-8 anos e > 9 anos); demográficas – idade (60-64, 65-69, 70-74, 75-79 e 80 anos ou mais); estado civil (casada, viúva, separada/divorciada e solteira); composição familiar (uma geração, duas gerações, três gerações e morar sozinha). Morbidades referidas (relato de nenhuma doença, uma doença, duas doenças e três ou mais doenças). Os dados provenientes dos questionários MMSE, BOMFAQ e IPAQ foram analisados no programa SPSS 13.0. Após análises descritivas, realizou-se análise com * Brasil. IBGE Censo de 2010. ** Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio: Indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil. Rio de Janeiro. 2009. Book Revista G&G.indb 21 7/16/13 10:07 AM 22 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA o teste qui-quadrado e o teste exato de Fisher para as variáveis categóricas. Os dados da amostra do presente estudo foram comparados com dados recentes de estudos de base populacional realizados no município de Maceió em 2009. Para realizar a comparação dos grupos utilizou-se o teste Mann-Whitney. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, Uncisal (protocolo n.º 800/07). RESULTA D OS A amostra foi composta por 115 mulheres idosas que se matricularam na Uncisati em 2009, com média de idade de 67,3 (± 5,5 anos), entre 60-87 anos de idade. Quanto ao estado civil, 36,5% eram casadas, havendo maior predominância de idosas sem vida conjugal (63,5%); conviviam em domicílios multigeracionais (58,3%). Em relação à escolaridade, a maioria relatou 9 anos ou mais de estudos (74,7%) e, destas, mais de 1/3 (34,8%) tinha nível superior. Sobre a renda (64,3%) relataram receber 4 ou mais salários mínimos. Na análise da saúde, 51,4% referiram ter apenas uma doença crônica, e 21,7%, nenhuma doença. No que se refere à capacidade funcional em nosso estudo, as idosas apresentaram bom nível cognitivo (27,92 ± 2,3 no MMSE). A prevalência de comprometimento funcional moderado/grave na execução das AVD/AIVD foi de 20%. Mesmo não apresentando significância estatística entre as variáveis demográficas e socioeconômicas, as que influenciaram no maior risco de perda funcional nas idosas foram: ter idade acima de 75 anos, entre 75-79 anos (42,9%) e 80 anos ou mais (50,0%); menor nível de escolaridade entre 5-8 anos (27,3%), menor renda entre 1-3 SM (31,7%), ser solteira (44,4%) e possuir três ou mais doenças crônicas (66,7%). Em relação ao nível de atividade física, as idosas foram consideradas ativas em geral, entretanto a prevalência de idosas insuficientemente ativas no domínio do la- Tabela 1 Distribuição das variáveis sociodemográficas, de saúde, desempenho funcional nas AVD e nível de atividade física no fazer das idosas da Uncisati, 2009 BOMFAQ Variáveis Total n (%) Sem comp./ n (%) leve IPAQ (Lazer) Mod./ grave n (%) p-valor 0,177* Ativo n (%) Ins. Ativo n (%) p-valor 0,487* Faixa etária 60-64 41 (35,6) 34 (82,9) 7 (17,1) 65-69 40 (34,8) 35 (87,5) 5 (12,5) 22 (53,7) 19 (46,3) 23 (57,5) 17 (42,5) 70-74 23 (20,0) 17 (73,9) 6 (26,1) 9 (39,1) 14 (60,9) 75-79 7 (6,1) 4 (57,1) 3 (42,9) 2 (28,6) 5 (71,4) 80 ou mais 4 (3,5) 2 (50,0) 2 (50,0) 2 (50,0) 2 (50,0) Até 4 anos 18 (15,7) 15 (83,3) 3 (16,7) 7 (38,9) 11 (61,1) 5-8 anos 11 (9,6) 8 (72,7) 3 (27,3) 6 (54,5) 5 (45,5) 9 anos ou mais 86 (74,7) 69 (80,2) 17 (19,8) 45 (52,3) 41 (47,7) Escolaridade 0,851* 0,561** Renda 1-3 SM 41 (35,7 ) 28 (68,3) 13 (31,7) 18 (43,9) 23 (56,1) 4-5 SM 32 (27,8) 27 (84,4) 5 (15,6) 0,060** 18 (56,3) 14 (43,8) 6 ou mais SM 42 (36,5) 37 (88,1) 5 (11,9) 22 (52,4) 20 (47,6) Solteira 18 (15,7) 10 (55,6) 8 (44,4) 5 (27,8) 13 (72,2) Casada 42 (36,5) 36 (85,7) 6 (14,3) 26 (61,9) 16 (38,1) Viúva 38 (33,0) 30 (78,9) 8 (21,1) 19 (50,0) 19 (50,0) Divorciada/separada 17 (14,8) 16 (94,1) 1 (5,9) 8 (47,1) 9 (52,9) 0,550** Estado civil 0,029* 0,112** Composição familiar Sozinha 22 (19,1) 18 (81,8) 4 (18,2) 11 (50,0) 11 (50,0) 1 geração 26 (22,6) 19 (73,1) 7 (26,9) 0,744** 14 (53,8) 12 (46,2) 2 gerações 45 (39,2) 36 (80,0) 9 (20,0) 20 (44,4) 25 (55,6) 3 gerações 22 (19,1) 19 (86,4) 3 (13,6) 13 (59,1) 9 (40,9) Nenhuma 25 (21,7) 21 (84,0) 4 (16,0) 12 (48,0) 13 (52,0) 1 doença 59 (51,4) 50 (84,7) 9 (16,0) 33 (55,9) 26 (44,1) 2 doenças 25 (21,7) 19 (76,0) 6 (24,0) 10 (40,0) 15 (60,0) 3 ou mais doenças 6 (5,2) 2 (33,3) 4 (66,7) 3 (50,0) 3 (50,0) 0,699** Doenças referidas 0,041* 0,595* * Teste exato de Fisher. ** Teste qui-quadrado. Book Revista G&G.indb 22 7/16/13 10:07 AM Desempenho Funcional em Idosas | 23 zer foi de 49,6% associada àquelas de maior faixa etária, menor renda, relatar ter duas doenças crônicas ou mais e ser solteira (Tabela 1). Quando fazemos a comparação do presente estudo com o estudo recente realizado em Maceió10-11 (Tabela 2), verificamos que houve diferença significativa em relação à capacidade funcional e características sociodemográficas, principalmente no que se refere ao nível cognitivo, escolaridade e renda. O nível educacional da amostra revelou que 74,7% tinham 9 ou mais anos de estudos, enquanto no estudo em Maceió encontrou-se quase a mesma prevalência, porém de idosos analfabetos ou com até 4 anos de estudos (74,0%). Sobre a renda da amostra, 64,3% referiram ter 4 ou mais salários mínimos; no estudo em Maceió, 85,9% informaram ter menos de um salário mínimo ou até 3. Em relação à capacidade funcional, o nível de cognição, a amostra do estudo apresentou melhor nível, sendo a média no MMSE de 27,92 (DP± 2,3); apenas 1,7% apresentou sugestão de déficit cognitivo, enquanto na amostra de Maceió11 64,8% foram consideradas com déficit cognitivo. As mulheres analfabetas obtiveram a média no MMSE de 16,4 (DP± 5,7), e aquelas com 8 anos ou mais de escolaridade, 25,2 (DP± 3). A prevalência de perda funcional moderada/grave foi maior nas idosas do estudo em Maceió (51,4%), representando mais que o dobro de comprometimento funcional encontrado na amostra do presente estudo (20,0%). O nível de atividade física geral revelou que as idosas da universidade aberta foram consideradas mais ativas (> 150 min./semana – 97,4%) do que as idosas do estudo em Maceió12 (64,4%). Entre os domínios contidos no IPAQ, destacamos o domínio lazer (atividades de esportes, caminhadas, ginástica, dança, entre outras). As duas amostras apresentaram valores elevados de idosas insuficientemente ativas nesse domínio, sendo que as idosas do estudo em Maceió12 apresentaram maior prevalência (80,6%), quase o dobro em relação às idosas da universidade aberta (49,6%). D ISCUSSÃO Neste estudo e em experiências análogas realizadas em universidades abertas à terceira idade, nacionais e estrangeiras, observa-se maior proporção de mulheres idosas na faixa etária considerada jovem (60-70 anos). A pouca participação de homens idosos nos programas de universidade aberta justifica-se pelo fato de os homens procurarem menos esse tipo de participação em programas de educação permanente.13-15 Ao analisarmos as características sociodemográficas das idosas que participam da Uncisati, verificamos semelhanças quando comparadas a estudos realizados no mesmo tipo de programa, ou seja, programas para a chamada terceira idade. Entretanto, foram observadas diferenças marcantes, principalmente em relação à Book Revista G&G.indb 23 Tabela 2 Distribuição das variáveis sociodemográficas, saúde, estado cognitivo e comprometimento funcional nas AVD/AIVD e nível de atividade física no lazer em idosas da Uncisati e nos estudos de Maceió, 2009 Variável Local Uncisati Maceió Faixa etária p-valor* az 60-64 41 35,6 75 23,5 65-69 40 34,8 65 20,3 70-74 23 20,0 64 20,1 75-79 7 6,1 51 16,0 80 ou mais 4 3,5 64 20,1 < 0,001 Escolaridade Analfabeta 0 0,0 94 29,5 Até 4 anos 18 15,7 142 44,5 5-8 anos 11 9,6 43 13,5 9 a 12 anos ou mais 86 74,7 40 12,5 <1 SM 0 0,0 97 30,4 1-3 SM 41 35,7 177 55,5 4-5 SM 32 27,8 18 5,6 6 ou mais SM 42 36,5 27 8,5 Solteira 18 15,7 26 8,2 Casada 42 36,5 148 46,4 Viúva 38 33,0 121 37,9 Divorciada/separada 17 14,8 24 7,5 Sozinha 22 19,1 34 10,7 < 0,001 Renda < 0,001 Estado civil 0,008 Composição familiar 1 geração 26 22,6 127 39,8 2 gerações 45 39,2 122 38,2 3 gerações 22 19,1 36 11,3 Nenhuma 25 21,7 60 18,8 < 0,001 Doenças referidas 0,017 1 doença 59 51,4 128 40,1 2 doenças 25 21,7 82 25,7 3 ou mais doenças 6 5,2 49 15,4 ≥ 24 113 98,3 74 35,2 < 24 2 1,7 136 64,8 Sem comp./leve 92 80,0 102 48,6 Moderado/grave 23 20,0 108 51,4 IPAQ Geral (ativo) (Domínio lazer) 112 97,4 143 64,6 < 0,001 Ativo 58 50,4 43 19,4 < 0,001 Estado cognitivo (MMSE) < 0,001 BOMFAQ < 0,001 * Teste qui-quadrado. 7/16/13 10:07 AM 24 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA escolaridade e à renda, quando nos referimos a idosos residentes na população em geral, tanto em estudos realizados no Nordeste como em outras regiões do Brasil. De acordo com dados da PNAD,** o Nordeste é a região brasileira com o maior índice de analfabetismo (50,48%) entre pessoas acima de 60 anos. Esse dado revela uma das mais importantes desigualdades entre as regiões do Brasil, mostrando que o nível educacional afeta o estado de saúde e contribui para a qualidade de vida do idoso.1,2,16 O nível de escolaridade encontrado na amostra demonstra diferença significante, quando comparamos com o nível de instrução da população idosa do município de Maceió. As idosas de nossa amostra apresentaram cerca de 5 anos a mais de instrução (11,7 anos) em relação aos idosos do estado de Alagoas (2,3 anos).** Os estudos15,17,18 apontam resultados semelhantes à nossa amostra, revelando maior nível de escolaridade entre idosos que participam de universidades abertas. Essa situação educacional encontrada na amostra difere de estudos recentes realizados no município de Maceió.10-12 Os autores10 encontraram baixo nível educacional entre as idosas do município: 29,5% eram analfabetas e 44,5% tinham até 4 anos de estudos. Observaram que muitas dessas idosas sabiam apenas escrever o próprio nome, ou seja, eram analfabetas funcionais. Os autores mostraram preocupação pelo fato de essas idosas apresentarem chance 2 vezes maior de ter comprometimento funcional moderado/grave, revelando que, para as idosas analfabetas, a chance era maior (56,4%) e, para aquelas com até 4 anos de estudos, era de 50,0%. No estudo11 constataram que a baixa escolaridade e a baixa renda são fatores associados a déficit cognitivo. Outros estudos apontam associação entre incapacidade funcional e menor nível educacional. O estudo de Maciel19 realizado no RGN encontrou associação entre incapacidade funcional, idade (OR = 1,18), sexo feminino (OR = 4,30) e analfabetismo (OR = 3,78). No estudo de Rosa et al.,9 realizado no município de São Paulo, encontrou-se a chance, cerca de 5 vezes maior, de dependência moderada/grave nos idosos com nível mais baixo de escolarização (apenas lê e escreve ou analfabetos). Outro fator que merece destaque é a renda. Observamos que as idosas da universidade aberta apresentaram renda familiar mais alta (64,3%) com 4 ou mais salários mínimos, enquanto, entre as idosas de Maceió,10 85,9% vivem com menos de 1 salário mínimo ou entre 1-3 salários mínimos. Os autores observaram que grande parte dessas idosas era responsável pelo sustento de sua família. Essa diferenciação no padrão socioeconômico apresentada no grupo de idosas da universidade aberta pode ser explicada pelas características do programa, ou seja, os tipos de cursos que são oferecidos, como línguas estrangeiras, informática, meditação, biodança, violão, entre outros, não devendo suprir as expectativas da população em geral. Dessa forma, a baixa renda per capita de idosos do município de Maceió,10,11 associada a um suporte de saúde ineficiente, os priva de adequada assistência, da compra de alimentos nutritivos e medicamentos, de moradia adequada ou mesmo para manter a mensalidade de um plano de saúde, tendo reflexos diretos no desempenho funcional, visto que ter condições financeiras é essencial para a preservação da autonomia e para a manutenção ou recuperação da saúde1,19 ou a possibilidade de frequentarem programas como os da universidade aberta. O analfabetismo impede o acesso à cultura e a um conjunto de informações necessárias ao exercício da cidadania e à saúde. Em virtude disso, existem importantes diferenças e grande diversidade nos níveis de saúde de idosos, em função de fatores socioeconômicos.4,20 Por isso, ações políticas devem ser desenvolvidas em vários níveis, e serviços de saúde devem ser emergenciais para essa população. Em relação à estrutura familiar, tanto no nosso estudo como no de Maceió,10 prevaleceu a convivência em domicílios multigeracionais e de idosas casadas, como em outros estudos,13-15,21 porém chamamos a atenção para o grande números de idosas viúvas na Uncisati (33,0%) e em Maceió (37,9%). Estudos14,17 ressaltam que o estado de viuvez pode influenciar negativamente na capacidade funcional se houver fatores de risco, como ser portadora de doenças crônicas sem os devidos controles.7 A condição de morar só chama a atenção. No nosso estudo, 19,1% das idosas residem sozinhas. De acordo com Camargos,1 essa condição pode refletir as transformações ocorridas na estrutura familiar dos últimos anos, não significando, necessariamente, abandono ou isolamento. Porém, à medida que essa população vai envelhecendo, pode estar sujeita a algum tipo de risco, sendo necessário haver uma rede de suporte social. Mesmo a velhice não sendo considerada doença, sabemos que essa população está mais vulnerável a ter comorbidades que causam diferentes impactos na vida cotidiana, causando de certa forma perda gradativa da independência e da autonomia. As idosas da Uncisati apresentaram menos comorbidades, 51,4% relataram apenas uma doença, enquanto o estudo13 realizado com participantes de duas universidades abertas no estado de São Paulo registrou que 57% dos idosos possuíam 4-6 doenças crônicas. Estudo no município de Maceió10 revelou maior prevalência de comorbidades: 65,8% dos idosos indicaram possuir uma ou mais doenças crônicas e apenas 18,8% relataram não apresentar nenhuma doença. ** Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio: Indicadores sociodemográficos e de saúde no Brasil. Rio de Janeiro. 2009. Book Revista G&G.indb 24 7/16/13 10:07 AM Desempenho Funcional em Idosas | 25 Estudo20 realizado com dados da PNAD revela que as mulheres reportam número maior de doenças crônicas do que os homens. Por outro lado, há os aspectos comportamentais, que mostram maior fidelização da mulher a programas preventivos e educacionais, participando mais intensamente de atividades de centros de convivência, além de demandarem mais os serviços ambulatoriais de saúde do que os homens. As idosas deste estudo mostraram ser autônomas e independentes em relação à capacidade para desempenharem sozinhas e sem ajuda a maioria das atividades cotidianas; resultados semelhantes foram encontrados em estudos realizados em outras universidades abertas.13,14 A prevalência de comprometimento moderado/ grave foi de 20%, isto é, a dificuldade em realizar quatro ou mais atividades cotidianas associada aos seguintes fatores sociodemográficos: ter 75 anos ou mais, ser solteira, ter menor nível de escolaridade, menor renda, possuir 3 ou mais doenças crônicas, como no estudo.19 O estudo de Maceió10 revelou maior prevalência de comprometimento funcional moderado/grave entre as mulheres (51,4%) do que nos homens (48,6%), sendo aproximadamente, 1,4 vez maior a chance de incapacidade funcional para as mulheres. O estudo20 também destaca maior prevalência de incapacidade funcional entre as mulheres e alerta que isso deve aumentar com a idade. De acordo com Ramos,7 idosos com maior dependência para o desempenho das atividades cotidianas apresentam risco 3 vezes maior de morrer do que aqueles mais autônomos e independentes. Estudo20 confirma que os indicadores mais fortemente associados com o aumento da prevalência de incapacidade funcional foram o baixo nível de educação e o baixo rendimento familiar. Outro aspecto relevante a ser levantado é a falta de motivação ou interesse que os idosos têm para aderir à prática de atividades físicas, especialmente no lazer, levando-os a ter hábitos mais sedentários, como assistir à televisão; essa atitude é mais prevalente nas mulheres idosas e tende a aumentar com o avanço da idade.22,23 Em relação ao nível de atividade física em geral, as idosas do estudo foram consideradas ativas (97,4%). Outros estudos apresentaram menor prevalência de idosas ativas em comparação ao nosso. O estudo12 realizado com idosas do município de Maceió encontrou 64,4% de idosas ativas. No estudo5 com idosas que frequentavam grupos de convivência na cidade de Florianópolis, 66,2% foram consideradas ativas. Outro estudo4 na mesma cidade, porém com idosos da comunidade, detectou que a maioria (59,3%) também era ativa. Em estudos realizados no Nordeste (utilizando outros instrumentos de pesquisa), encontrou-se alta prevalência de idosas consideradas inativas ou insuficientemente ativas na realização de atividade física. Em estudo realizado na cidade do Recife21 com uma amostra de 100 Book Revista G&G.indb 25 mulheres idosas, 86% foram consideradas inativas ou insuficientemente ativas. Em Salvador,6 encontrou-se alta prevalência de idosos sedentários (77%). No Brasil, elevados índices de idosos insuficientemente ativos no lazer têm se mostrado uma constante nos estudos atuais, verificando pouca adesão de idosos em praticar exercícios no tempo livre. A falta de prática de exercícios no lazer (atividades de esportes, caminhadas, ginástica, dança, entre outras) pelos idosos pode ser justificada nos dias atuais pelo fato de as cidades apresentarem tráfego intenso, pouca quantidade de parques e locais de recreação, aumento no índice de violência, fazendo com que os idosos optem por atividades mais sedentárias, como na cidade de Maceió. De acordo com Benedetti,4 o maior nível de sedentarismo das mulheres é atribuído à redução do seu tempo livre e a questões culturais, que restringem sua participação em atividades de lazer, desde a fase adulta, e que pode se estender até a idade avançada. A alta prevalência de sedentarismo na sociedade moderna tem sido apontada como importante problema de saúde pública. Nesse sentido, recentemente, o governo federal, através da Portaria n.º 719, de 7 de abril de 2011, criou o Programa Academia da Saúde para incentivar a população a realizar atividade física como promoção da saúde. Agora resta os governos municipais favorecerem a população com essa política. A prática de exercícios no tempo livre deve ser incentivada pelos programas sociais e de saúde, sendo essa prática considerada um indicador de estilo de vida saudável e que mantém a capacidade funcional e a autonomia do idoso. Entre as idosas do estudo, 49,6% foram consideradas insuficientemente ativas no domínio lazer (atividades livres), sendo os fatores associados maior faixa etária, menor nível de escolaridade e menor renda, ser solteira e ter duas ou mais doenças crônicas. Verificou-se que a falta da prática dessas atividades é influenciada por fatores socioeconômicos, de saúde e das condições ambientais que não favorecem a prática de exercícios ao ar livre. Estudo realizado na cidade de Maceió12 revela também alta prevalência de idosas insuficientemente ativas no lazer (80,6%), quase o dobro em relação à nossa e ainda associada a menor renda (72,0%). Dos idosos da cidade de Florianópolis,4 74,3% foram considerados inativos ou insuficientemente ativos no lazer. Em 2006, o Sistema Vigitel (vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico) revelou a frequência de adultos que praticavam atividade física suficiente no lazer, indicando baixa prevalência em todas as cidades brasileiras estudadas, variando entre 10,5% em São Paulo a 21,5% no Distrito Federal. A literatura4,9,19,23,24 ressalta a importância de os idosos manterem-se ativos. Os estudos indicam que a realização 7/16/13 10:07 AM 26 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA de atividades físicas regulares previne problemas de saúde física e mental, amplia o convívio social e melhora o desempenho durante as atividades cotidianas. Estudo23 enfatiza que uma caminhada realizada com duração, frequência e intensidade adequada torna-se um exercício benéfico para a saúde e pode ser um meio acessível e de baixo custo para prevenir várias doenças. A participação em programas de atividade física tem demonstrado beneficiar a saúde de idosos, aumentando a interação social, podendo gerar hábitos de vida mais saudáveis,9,22 melhorando a qualidade de vida. Ao analisarmos os fatores de risco para incapacidade funcional encontrados em estudo de revisão sistemática,8 podemos afirmar que a amostra do presente estudo, quando comparada com os idosos do município de Maceió, apresenta de certa forma alguns fatores de “proteção”, como: as idosas são mais ativas em relação ao nível de atividade física, têm bom nível de escolaridade e de cognição, possuem melhor renda, têm boa interação social, por se encontrarem engajadas no programa universidade aberta, exercem sua autonomia e independência, bem como “preenchem certos papéis na vida”.9 Uma das limitações deste estudo foi o fato de não ter avaliado os homens idosos do projeto, mesmo sendo poucos. Esse parâmetro poderia contribuir para melhor característica da amostra, ficando a recomendação para futuros estudos. e melhor nível cognitivo. Esse perfil é semelhante ao de idosos de outras universidades para a terceira idade, enquanto, em muitos aspectos, não reflete a realidade da população idosa do município de Maceió e mesmo do Nordeste. Visto que as condições socioeconômicas e de saúde da maioria dos idosos do município de Maceió são precárias e sujeitas à influência de inúmeros fatores, são considerados preditores de déficit funcional, como a baixa renda e a baixa escolaridade. Essa situação revela os potenciais impactos sobre os serviços de saúde, já precários, sendo necessárias medidas abrangentes na atenção à saúde do idoso. Nesse sentido, podemos sugerir a implantação de medidas focadas na prevenção e na promoção da saúde, por meio do incentivo à realização de atividades físicas, valorização de atividades no trabalho e no lazer, bem como educação para o autocuidado e melhora no suporte da rede social, visando melhorar o estilo de vida para gerar melhor qualidade. As ações devem ser elaboradas por vários setores sociais e de saúde, incluindo as instituições de ensino superior, através da utilização de estratégias bem estabelecidas, que possam atingir um número mais abrangente de indivíduos idosos, visando torná-los mais ativos e saudáveis, sendo que essas ações devem ser em caráter emergencial na cidade de Maceió. CON c lus ÃO Ag r a d e c i me n to s As idosas que participam da universidade aberta parecem ser uma população especial, apresentando-se saudáveis, ativas, com melhores condições socioeconômicas, maior renda familiar e alto nível de escolaridade, boa saúde (menos comorbidades), melhor capacidade funcional, bom desempenho nas atividades cotidianas Os autores deste trabalho agradecem a todos que fazem parte do Programa de Extensão Interdisciplinar Pró-idoso, principalmente as idosas do Projeto Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas, que se dispuseram a fazer parte desta pesquisa. RE FERÊNCIAS 1.Camargos MCS, Machado CJ, Rodrigues RN. A relação entre ren- da e morar sozinho para idosos paulistanos - 2000. Revista Brasileira de Estudos Populacionais. 2007; 24(1):37-51. 2.Kalache A, Veras RP, Ramos LR. O envelhecimento da população mundial: um desafio novo. Rev Saúde Pública. 1987; 21(3):200-10. DOI:10.1590/S0034-89101987000300005. 3.Veras RP, Caldas CP. Promovendo a saúde e a cidadania do idoso: o movimento das universidades da terceira idade. Ciênc Saúde Coletiva. 2004; 9(2):423-32. 4.Benedetti TRB, Borges LJ, Petroski EL, Gonçalves LHT. Atividade física e estado de saúde mental em idosos. Revista de Saúde Pública. 2008; 42(2):302-307. DOI:10.1590/S0034-89102008005000007. 5.Mazo GZ, Liposcki DB, Ananda C, Preve D. Condições de saúde, incidência de quedas e nível de atividade física dos idosos. Rev Bras Fisioter. 2007; 11(6):437-42. 6.Pitanga FJ, Lessa I. Prevalência e fatores associados ao sedentarismo no lazer em adultos. Cad Saúde Pública. 2005; 21(3):870-7. DOI:10.1590/S0102-311X2005000300021. 7.Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cad Saúde Pública. 2003; 19(3):793-7. DOI: 10.1590/S0102-311X2003000300010. 8.Rodrigues MAP, Facchini LA, Thumé E, Maia F. Gender and inci- Book Revista G&G.indb 26 dence of functional disability in the elderly: a systematic review. Cad Saúde Pública. 2009. DOI: 10.1590/S0102-311X2009001500011. 9.Rosa TEC, Benício MHD, Latorre MRDO, Ramos LR. Fatores determinantes da capacidade funcional entre idosos. Rev Saúde Pública. 2003; 37(1):40-8. DOI: 10.1590/S0034-89102003000100008. 10. Costa e Silva MD, Guimarães HA, Trindade Filho EM, Andreoni S, Ramos LR. Fatores associados à perda funcional em idosos residentes no município de Maceió, Alagoas. Rev Saúde Pública. 2011; 45(6):1137-44. doi.org/10.1590/S0034-89102011005000073. 11. Guimarães HA. Fatores associados à cognição de idosos residentes no município de Maceió [Dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, 2011. 12. Mourão ARC. Nível de atividade física e fatores associados em idosos residentes no município de [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, 2011. 13. Silva AT, Cordeiro RC, Ramos LR. Factors associated to quality of life in active elderly. Rev Saúde Pública. 2009; 43(4):613-21. DOI: 10.1590/S0034-89102009005000030. 14. Barreto KML, Carvalho EMF, Falcão IV, Lessa FJD, Leite VMM. Perfil socioepidemiológico demográfico das mulheres idosas da Universidade Aberta à Terceira Idade no estado de Pernambuco. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2003; 3(3):339-54. DOI: 10.1590/ S1519-38292003000300013. 7/16/13 10:07 AM Desempenho Funcional em Idosas | 27 15.Irigaray TQ, Schneider RH. Participação de idosas em uma univer- sidade da terceira idade: motivos e mudanças ocorridas. Psic Teor Pesq. 2008; 24(2). DOI: 10.1590/S0102-37722008000200011. 16. Souza PS, Falcão JTR, Leal CC, Marino JG. Avaliação do desempenho cognitivo em idosos. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2007; 10(1):29-38. DOI: 1809-98232007000100003. 17.Guerreiro TC, Veras R, Motta LB, Veronesi AS, Schmidt S. Queixa de memória e disfunção objetiva de memória em idosos que ingressam na Oficina da Memória na Unati/Uerj. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2006; 9(1). 18. Rede de Universidades da Terceira Idade – RUTIS (Portugal, 2008). Disponível em: http://www.rutis.org. 19. Maciel ACC, Guerra RO. Influência dos fatores biopsicossociais sobre a capacidade funcional de idosos residentes no nordeste do Brasil. Rev Bras Epidemiol. 2007; 10(2):178-89. DOI: 10.1590/ S1415-790X2007000200006. Book Revista G&G.indb 27 20. Parahyba MI, Veras R, Melzer D. Incapacidade funcional entre as mulheres idosas no Brasil. Rev. Saúde Pública 2005; 39(3):383-91. 21. Marques APO, Arruda IKG, Espírito Santo ACG, Diniz Guer- ra MD. Consumo alimentar em mulheres idosas com sobrepeso. Textos Envelhecimento. 2005; 8(2). 22.C ardoso AS, Mazo GP, Salin MS, Santos CAX. Percepção subjetiva de saúde e nível de atividade física de idosos Rev Bras Geriatr Gerontol. 2008; 11(1). 23.Hallal PC, Victora CG, Wells JCK, Lima RC. Physical inactivity: prevalence and associated variables in Brazilian adults. Med Sci Sports Exerc. 2002; 35(11):1894-1900. 24.C osme RG, Okuma SS; Mochizuki L. A capacidade funcional de idosos fisicamente independentes praticantes de atividade física. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. 2008; 16(1):39-46. 7/16/13 10:07 AM A rtigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA 28 | REVISTA Índice de complexidade de farmacoterapia do idoso dependente para autocuidado na atenção primária* Janicéli Rosa Lisboaa, Márcia Regina Martins Alvarengab, Rogério Dias Renovatoc R e s um o Palavras-chave Saúde do idoso, assistência farmacêutica, cuidados de enfermagem, atenção primária à saúde, idoso. Introdução: Com o aumento do envelhecimento populacional, cresce o número de idosos com doenças crônicas degenerativas que, geralmente, são de desenvolvimento lento e de longa duração, e muitas vezes influenciam na capacidade funcional e mental do idoso, fazendo com que ele tome vários medicamentos por dia. Assim, este estudo objetivou pesquisar o índice de complexidade de farmacoterapia do idoso dependente para o autocuidado. Metodologia: estudo transversal, desenvolvido em Dourados (MS), com idosos cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF). Foram utilizados questionário para os dados sociodemográficos, a Medida de Independência Funcional (MIF), para avaliação da dependência para o autocuidado, e o Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT). Resultados: foram entrevistados 302 idosos de 29 ESF e identificados 38 idosos (12,6%) com algum grau de dependência. A locomoção foi a dimensão mais comprometida. O consumo médio de medicamentos por dia, pelos idosos dependentes, foi 4,1, sendo o máximo de 10 medicamentos diferentes por dia. O Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT) entre os 302 idosos obteve média 8,5. Ao analisar os 38 idosos com algum grau de dependência observou-se que a média do ICFT subiu para 10,3. Conclusão: Foi concluído que os idosos dependentes para o autocuidado possuem um esquema farmacológico mais complexo e isso evidencia o papel do enfermeiro quanto ao acompanhamento desses pacientes idosos, bem como a orientação e o trabalho conjunto com os demais profissionais da equipe para a educação em saúde. Index of complexity of the dependent elderly pharmacotherapy self-care in primary attention A B S T RAC T Keywords Health of the elderly, pharmaceutical services, nursing care, primary health care, aged. Introduction: With increasing aging population grows the number of elderly people with chronic diseases which generally are in slow development and long term which often influence the functional capacity and mental of the elderly, causing them taking multiple medications per day. So, this work aimed to study the index of complexity of the dependent elderly pharmacotherapy self-care. Methodology: transversal study, developed in Dourados (MS), with elderly registered in the Family Health Strategy (FHS). Questionnaire administered for the sociodemographic data, the Functional Independence Measure (FIM) for evaluation of dependence to the self-care and the Index of Complexity of Pharmacotherapy (ICP). Results: were interviewed 302 aged from 29 FHS and identified 38 (12,6%) aged with some dependence degree. The locomotion was the most compromised dimension. The average use of medicines per day by the dependent aged was 4,1 being the maximum 10 different medicines by day. The Index of Complexity of Pharmacotherapy (ICP) among the 302 aged was obtained an average of 8.5. Analyzing the 38 aged with any dependence degree observed that the average of ICP rose to 10.3. Conclusion: It was concluded that the dependent aged to the self-care have a pharmacologic scheme more complex and this evidence the nurse role as the attendance of these aged patients, as well as the orientation and the teamwork with other professionals of the team to the health education. a Acadêmica do Curso de Enfermagem da UEMS, Unidade Universitária de Dourados; Bolsista de Iniciação Científica Pibic/Ações Afirmativas. Membro do Grupo de Pesquisa em Necessidades de Saúde da Pessoa Idosa. b Professora Doutora do Curso de Enfermagem da UEMS, Unidade Universitária de Dourados; Orientadora do Projeto. Líder do Grupo de Pesquisa em Necessidades de Saúde da Pessoa Idosa. c Professor Doutor do Curso de Enfermagem da UEMS, Unidade Universitária de Dourados; Co-orientador do Projeto e Membro do Grupo de Pesquisa em Necessidades de Saúde da Pessoa Idosa. Dados para correspondência Janicéli Rosa Lisboa Alencastro – Ramona da Silva Pedroso, 835, Vila Santa Catarina, Dourados, MS – [email protected] *Parte dos resultados da pesquisa “Implantação de um sistema de informação para avaliação e monitoramento das necessidades sociais e de saúde de idosos em situação de vulnerabilidade social” foi financiada pela Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul – Fundect. Protocolo TO n.º 082/2009. Book Revista G&G.indb 28 7/16/13 10:07 AM Farmacoterapia do Idoso Dependente | 29 I n t ro d ução O Brasil passa pelo processo de envelhecimento populacional, sendo a queda da fertilidade e a diminuição da taxa da mortalidade infantil alguns dos fatores determinantes que resultaram no aumento gradativo de pessoas idosas.¹ Com o aumento do envelhecimento populacional cresce o número de idosos com doenças crônicas não transmissíveis que, geralmente, são de desenvolvimento lento e de longa duração, como, por exemplo, problemas de visão, hipertensão arterial, diabetes mellitus, osteoporose, depressão, incontinência urinária, osteoartrose, sequelas de acidente vascular encefálico, problemas de coluna, entre outras.¹,² Destaca-se, ainda, que muitos idosos possuem mais de uma doença crônica. As doenças crônicas não transmissíveis, às vezes, influenciam na capacidade funcional e mental do idoso, ocasionando incapacidade funcional com limitações para a realização de atividades da vida diária, dificultando o autocuidado.³ A capacidade funcional pode ser entendida como “a capacidade de manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente e autônoma”, como tomar banho, vestir-se, realizar higiene pessoal, transferir-se, alimentar-se, manter a continência, preparar refeições, manter seu controle financeiro, tomar remédios, arrumar a casa, fazer compras, usar o transporte coletivo, usar o telefone e caminhar certa distância.4 Com os agravos das doenças crônicas não transmissíveis, muitos idosos fazem uso de múltiplos medicamentos, podendo chegar a cinco ou mais medicamentos diferentes por dia. Esse elevado número de medicamentos, que recebe o nome de polifarmácia (prescrição simultânea de cinco ou mais medicamentos diferentes), altera o funcionamento do organismo. Muitos idosos procuram mais de um médico que dá prescrições diferentes, fazendo com que aumentem os riscos de reações adversas, podendo provocar interações medicamentosas.5,6 O número de doenças, muitos medicamentos diferentes por dia, a frequência das doses e dos horários, as instruções para administração, a complexidade das bulas, além de outros fatores, como baixas escolaridade e renda familiar, contribuem para a dificuldade de adesão ao tratamento medicamentoso pelos idosos, bem como influenciam na saúde deles. Segundo Acurcio et al.,7 essa situação se agrava quando o idoso é dependente para o autocuidado. Com o aumento da população idosa faz-se necessário que a Atenção Primária em Saúde se reorganize, para prestar cuidado integral e integrado direcionado às necessidades de saúde da pessoa idosa, atendendo às diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.8 Assim, para prestar esse tipo de assistência, a enfermagem, como parte essencial da Estratégia da Saúde da Família, precisa conhecer as particularidades da pessoa idosa através da consulta de enfermagem e usando ins- Book Revista G&G.indb 29 trumentos de medida que permitam identificar a capacidade funcional do idoso, bem como a capacidade de adesão ao tratamento medicamentoso.9 Por isso é importante enfatizar o papel do enfermeiro na equipe de saúde, pois sua prática também está ligada ao processo de educação, motivando o portador de doenças crônicas não transmissíveis a realizar o autocuidado, utilizando estratégias de ensino e aprendizagem, incentivando a comunicação do paciente e a verbalização dos seus problemas. Na maioria das vezes, os idosos com algum grau de dependência desejam não só esclarecimentos para suas dúvidas, mas, também, de alguém que amenize seus anseios. Dessa forma, cabe ao enfermeiro contribuir para o uso correto dos medicamentos, atuando de modo colaborativo com outros profissionais de saúde, como o farmacêutico e o médico. Portanto, este estudo teve por objetivo investigar o índice de complexidade da farmacoterapia do idoso dependente para o autocuidado. M e to d o l o g i a Trata-se de estudo exploratório e de corte transversal. A população da pesquisa foi constituída por idosos assistidos por 29 equipes da Estratégia da Saúde da Família (ESF) do município de Dourados, Mato Grosso do Sul. Sujeitos do estudo Consideraram-se como critérios de inclusão idosos (60 anos ou mais), de ambos os sexos, assistidos pela Estratégia da Saúde da Família (ESF). O tamanho inicial da amostra foi calculado em 300 idosos, considerando o nível de significância de 5%, a proporção de 7,6% de idosos com incapacidade funcional10 e margem de erro de 3%. Instrumentos de medida Os instrumentos utilizados foram um questionário para os dados sociodemográficos, a Medida de Independência Funcional (MIF), para avaliação da dependência para o autocuidado, e o Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT), para avaliar a complexidade da farmacoterapia para os idosos. A Medida de Independência Funcional (MIF) foi utilizada para avaliação do grau de dependência para o autocuidado. Essa escala avalia 18 atividades referentes aos domínios: autocuidado, controle esfincteriano, transferências, locomoção, comunicação e cognição social. A pontuação varia de 1 a 7, em que 1 é o maior nível de dependência e 7 caracteriza independência total. O escore total da MIF é obtido somando os escores de cada domínio. Obtém-se escore total mínimo de 18 e máximo de 126 pontos, que caracterizam: 18 pontos, dependência completa (assistência completa); 19-60 pontos, dependência modificada (dependência até 50% das tarefas); 61-103 pontos, dependência modificada (assistência de até 25% das tarefas); 104-126 pontos, independência 7/16/13 10:07 AM 30 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA modificada/completa. Adotou-se o critério de MIF total até 103 pontos como algum grau de dependência e 104 ou mais como independente para o autocuidado.10 O Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT) consiste em várias características do regime terapêutico, incluindo o número de diferentes medicações no esquema, o número de unidades de dosagem por dose, o número total de doses por dia e os cuidados na administração dos medicamentos. O Medication Regimen Complexity Index (MRCI) é um instrumento específico, traduzido e validado para o português do Brasil, que apresentou bom desempenho de validade e confiabilidade. É indicado na prática clínica e em pesquisas e dividido em três seções: a primeira corresponde às informações sobre as formas de dosagens, a segunda sobre as frequências das doses, e a última é para informações adicionais, como horários específicos, alimentos, entre outras. Cada seção é pontuada e o índice de complexidade é obtido pela soma dos pontos das três seções.2 Para caracterização da amostra, as variáveis pesquisadas foram: sexo, idade (categorizada em 60-69, 70-79 e 80 anos ou mais), escolaridade (iletrados e alfabetizados), renda mensal per capita (até 0,5 salário mínimo [SM], de 0,6-1,0 SM e acima de 1,0 SM), arranjo fami- liar (mora acompanhado ou sozinho), número e nome das doenças autorreferidas, grau de dependência para o autocuidado (dependente e independente), número de medicamentos por dia e índice de complexidade da farmacoterapia. Aspectos éticos Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da UFMS, conforme Protocolo n.º 1415/2009. Tratamento e análise dos dados A análise dos dados foi feita por meio da apresentação em frequência absoluta e relativa, média, desvio-padrão, mediana e valores mínimo e máximo. RESULTA D OS Foram entrevistados 302 idosos das 29 ESF que participaram da pesquisa e identificados 38 (12,6%) idosos com algum grau de dependência, sendo que as características sociodemográficas encontram-se descritas na Tabela 1. Destaca-se que a média de idade dos idosos com dependência para o autocuidado foi de 77,8 anos com desvio-padrão de 9,6 e a amplitude de idade variou entre 60-99 anos. Tabela 1 Distribuição dos idosos assistidos pela Estratégia Saúde da Família, segundo características sociodemográficas (Dourados, 2011) Independentes (MIF ≥104) Dependentes (MIF <104) Número % Número % Total % Masculino 77 29,2 16 42,1 93 30,8 187 70,8 22 57,9 209 69,2 110 41,7 08 21,0 118 39,1 118 44,7 15 39,5 133 44,0 36 13,6 15 39,5 51 16,9 Acompanhado 230 87,1 36 94,7 266 88,1 Sozinho 34 12,9 02 5,3 36 11,9 Analfabeto 120 45,5 24 63,2 144 47,7 Alfabetizado 144 54,5 14 36,8 158 52,3 Até 0,5 SM 45 17,1 02 5,3 47 15,6 0,6-1,0 SM 158 59,8 28 73,7 186 61,6 >1 SM 59 22,3 07 18,4 66 21,8 Não informado 2 0,8 1 2,6 3 1,0 264 100,0 38 100,0 302 100,0 Renda per capita (SM*) 70-79 anos 80 anos ou mais Arranjo familiar Feminino 60-69 anos Escolaridade Faixa etária Sexo Variáveis TOTAL * R$545,00 era o valor do salário mínimo em 2011 (Lei n.º 12.255, de 15/6/2011). A classificação dos idosos segundo o grau de dependência avaliado pela MIF revelou que a maioria apresentava independência modificada/completa para as atividades da vida diária. Dentre as 38 (100,0%) pessoas que apresentaram algum grau de dependência, 20 (52,6%) Book Revista G&G.indb 30 precisavam de assistência de até 25% para realização das tarefas (61-103 pontos), enquanto 16 (42,1%) apresentaram dependência de até 50% (19-60 pontos) e dois idosos (5,3%) tinham dependência total. A locomoção foi a dimensão mais comprometida. 7/16/13 10:07 AM Farmacoterapia do Idoso Dependente | 31 A média de doenças autorreferidas pelos idosos dependentes foi de 3,2 (desvio-padrão de 1,4). Entre elas destacam-se a hipertensão em 29 pessoas (76,3%), sequela de acidente vascular encefálico em 17 idosos (44,7%), 12 (31,6%) com incontinência urinária, 11 com diabetes (28,9%) e também o mesmo quantitativo para problemas de coluna. O máximo de doenças autorrelatadas foi seis, sendo que 25 (65,8%) idosos referiram ter 1-3 patologias, e o restante, quatro ou mais. O consumo médio de medicamentos por dia pelos idosos dependentes foi 4,1 (mediana 3,5 e desvio-padrão 2,5), sendo o máximo de 10 medicamentos diferentes por dia. Somente dois (5,3%) idosos dependentes não usavam nenhum medicamento. O Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT) entre os 302 idosos obteve média 8,5 (desvio-padrão de 5,6), mediana igual a 8,0, e a amplitude variou entre 0-29,5. Ao analisar os 38 idosos com algum grau de dependência observou-se que a média subiu para 10,3 (desvio-padrão de 7,4), com mediana 9,5 e mantendo a mesma amplitude. Na seção A, que corresponde às informações sobre as formas de dosagens, 32 idosos (84,2%) do total de dependentes fizeram uso de cápsulas e comprimidos na forma oral, e três (7,8%) idosos se submeteram ao uso tópico de cremes e pomadas. Apenas um idoso (2,6%) fez uso de nebulizador através da inalação. A Tabela 2 apresenta a distribuição da pontuação em cada seção do ICFT para os idosos dependentes. Tabela 2 Distribuição da pontuação de cada seção do Índice de Complexidade da Farmacoterapia para os idosos com algum grau de dependência (Dourados, 2011) Seções do ICFT Pontos n (%) Seção A Nenhum 1 3 7 2 (5,2) 28 (73,7) 7 (18,4) 1 (2,7) Seção B 0-4,0 4,5-8,5 9,0-13,0 13,5 ou mais 18 (47,4) 13 (34,2) 4 (10,5) 3 (7,9) Seção C 0-2 3-5 6-9 19 (50,0) 12 (31,6) 7 (18,4) ICFT total 0-9,0 9,5-18,5 19,0-29,5 19 (50,0) 14 (36,8) 5 (13,2) Total 38 (100,0) A seção B refere-se às frequências diárias das doses, sendo que 18 idosos (47,4%) marcaram 0-4,0 pontos, 13 (34,2%) pontuaram entre 4,5-8,5 e o restante dos idosos Book Revista G&G.indb 31 marcou 9,0 ou mais pontos. Quanto maior a pontuação, mais vezes por dia os idosos precisam tomar os seus medicamentos. Na seção C, observa-se que cinco idosos (13,1%) realizaram partição ou trituração dos fármacos em sua administração, quatro (10,5%) praticavam o uso de múltiplas unidades de fármacos ao mesmo tempo, 24 (63,2%) consumiam os medicamentos em horário específico. Vinte e um entrevistados (55,3%) usavam medicamentos que tinham relação com alimentos. D ISCUSSÃO A amostra deste estudo, composta apenas por pessoas com algum grau de dependência, também se revelou predominantemente feminina. A feminilização da velhice, quando associada à viuvez, pode implicar risco para a autonomia financeira e independência, além da possibilidade de a mulher assumir novos papéis, como chefiar uma família.11 Lima-Costa e Camarano11 afirmam que o aumento relativo da população idosa, além de mudanças somáticas e de alterações psíquicas, próprias da idade, tem levado o idoso a enfrentar outras situações, entre as quais se destacam: aposentadorias precárias, diminuição dos recursos econômicos, perda de entes queridos, diminuição da capacidade física, alterações da autoestima e perda da posição social. Na amostra estudada em Dourados, a maioria dos idosos dependentes possui baixa escolaridade, menor renda familiar e maior número de doenças crônicas. Pesquisas nacionais destacam que os idosos mais pobres têm maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde, mesmo quando a cobertura desses serviços é adequada.11-13 O fator econômico adquire especial importância no acesso aos medicamentos por idosos. Muitos trabalhadores informais, ao envelhecer, deixam de possuir qualquer rendimento, e a aposentadoria, na maior parte das vezes, reduz o poder econômico e rebaixa a condição social dos idosos que possuíam emprego formal, o que diminui significativamente sua capacidade de comprar medicamentos.14 Outros autores15,16 destacam também hipertensão, diabetes, acidente vascular encefálico, artrite, osteoartrose e problemas de coluna como as condições crônicas mais referidas pelos idosos. Em geral, as doenças dos idosos, além de crônicas e múltiplas, exigem acompanhamento constante, cuidados permanentes, medicação contínua e exames periódicos.11 A prevalência de doenças crônicas não transmissíveis nesse grupo etário implica tratamentos que exigem alto consumo de fármacos, assim como mudanças de comportamento e de hábitos de vida. Isso pode dificultar a adesão, levando a problemas relacionados aos medicamentos, a baixo controle de sintomas e redução da capacidade funcional.14 7/16/13 10:07 AM 32 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Neste estudo foi utilizado o Índice de Complexidade da Farmacoterapia como um dos instrumentos de avaliação que traduz a complexidade do regime medicamentoso, considerando a frequência das doses, as ações mecânicas necessárias a cada dose e as informações adicionais inerentes a cada medicamento, que garantam utilização segura e eficaz dos medicamentos prescritos, de acordo com as indicações dos profissionais de saúde.17 Assim, por ser um instrumento preenchido pelo profissional da saúde e não pelo paciente, seu formato permite que vários medicamentos e informações adicionais entrem na avaliação, tornando-a mais ampla. Alguns instrumentos publicados na literatura não permitem a avaliação completa da complexidade18 ou avaliam outros conceitos alheios aos de complexidade da farmacoterapia.19 Os principais pontos divergentes foram quanto à frequência das doses e necessidade de utilização de alguns medicamentos com alimentos, solucionáveis a partir da literatura, e ao uso em horários específicos, considerados mesmo quando a frequência é fixa. Estudo desenvolvido por Melchiors20 sobre hipertensão arterial e qualidade de vida, realizado em Araucária, Curitiba, entrevistou 191 pacientes adultos (72,8% mulheres), com hipertensão diagnosticada há 9,9 anos (DP = 9,1) e média de idade de 58,4 anos (DP = 11,4). A média de anti-hipertensivos por paciente foi de 1,7 (DP = 0,7) e 45,5% utilizavam monoterapia. Mulheres e pacientes com diagnóstico de insuficiência cardíaca apresentaram piores índices de qualidade de vida. A complexidade da farmacoterapia foi maior nos pacientes com diagnóstico de insuficiência cardíaca e obesidade. Pacientes com ICFT mais elevado apresentaram níveis maiores de pressão sistólica. Resultados do ICFT ≥11 foram melhores preditores do controle pressórico quando comparados a idade, sexo, índice de massa corporal, tempo diagnóstico e número de anti-hipertensivos. Estudo clínico sobre atenção farmacêutica em farmácias comunitárias de Curitiba e região avaliou os prontuários farmacoterapêuticos de 105 pacientes com diabetes do tipo 2, que utilizavam hipoglicemiantes orais ou insulina.20 A média de medicamentos por paciente foi de 4,5 (desvio-padrão de 2,5), e o ICFT obteve média de 15,7 pontos (desvio-padrão de 8,36). O valor máximo obtido foi de 45,5 pontos em um tratamento com 12 medicamentos, e o mínimo foi de quatro pontos em tratamento com um único comprimido por dia. Houve correlação significativa entre o número de medicamentos e o ICFT encontrado (r = 0,86; p <0,001), demonstrando convergência entre esses parâmetros. Diante dos resultados apresentados, fica evidente a importância do enfermeiro, pois ele comunica e facilita o desenvolvimento de atividades com as pessoas que lhes permitem ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de enfermagem,17 ajuda na gestão do regime medicamentoso, promove a adesão, informa e ensina sobre medica- Book Revista G&G.indb 32 mentos através de consulta de enfermagem. São tempos, formas ou modos de concretizar as intervenções, que, reunidos em um conjunto de competências específicas, permitem aos enfermeiros prestar cuidados aos idosos de forma a monitorar a medicação e os resultados de saúde. Por fim, a enfermagem contribui com o manejo correto do medicamento no cotidiano, o que necessita ser visto sob um olhar interdisciplinar, isto é, é preciso perceber o déficit de autocuidado na gestão dos medicamentos e implementar ações de cuidado.2 CONCLUSÃO Esta pesquisa identificou 38 idosos com algum grau de dependência, sendo a maioria mulheres, com baixas escolaridade e renda, além de múltiplas patologias e uso de múltiplos medicamentos. Mostrou que hipertensão, diabetes, acidente vascular encefálico, problemas de coluna e osteoartrose são as doenças que mais acometeram os idosos, contribuindo para o uso de vários medicamentos, e identificou que a média da complexidade da farmacoterapia ficou em 8,5. Sendo assim, os enfermeiros na equipe de saúde poderão ser o elo entre o médico e o farmacêutico porque, pela experiência de trabalho em equipes de saúde na comunidade, têm uma visão integrada dos cuidados. Ser enfermeiro implica estar sempre se atualizando e buscando melhorias na área da saúde em relação às condições que favorecem o desenvolvimento da saúde das pessoas, tendo em vista a prevenção e a eliminação da doença. Isso estabelece uma interação enfermeiro-paciente, em que o ambiente de desenvolvimento é fundamental, ajudando a pessoa a habituar-se, procurando desenvolver nela novas habilidades para manter e promover uma vida saudável. Sendo assim, é imprescindível a educação continuada dos profissionais de saúde, já que os idosos de pior condição socioeconômica e maior grau de dependência no autocuidado parecem estar mais expostos a regimes terapêuticos mais complexos. Este estudo serve para identificar a dificuldade que os idosos têm em cumprir o tratamento farmacológico, servindo como base para novas intervenções de enfermagem, tornando-as mais efetivas conforme as necessidades. Ficam abertos os espaços para novas pesquisas. Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesses Subvencionado pelas agências financiadoras: Fundect, CNPq/AAF. AGRA D ECIMEN TOS À Fundect, pelo financiamento da pesquisa. Ao CNPq/ Pibic/AAF, por ter proporcionado a bolsa de iniciação científica. E ao professor Nazir José Salomão, por ter me ajudado na elaboração do Abstract. 7/16/13 10:07 AM Farmacoterapia do Idoso Dependente | 33 RE F ERÊNCIAS 1.Peloso LA, Costa SMF. Caracterização do processo de enve- lhecimento da população e o município de São José dos Campos. Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP. Caxambu (MG), 2006. 2.Melchiors AC, Correr CJ, Fernández-Llimos F. Tradução e validação para português do Medication Regimen Complexity Index. Arq Bras Cardiol. 2007; 89(4):210-218. 3.Yamashita CH, Amendola F, Alvarenga MRM, Oliveira MAC. Perfil sociodemográfico de cuidadores familiares de pacientes dependentes atendidos por unidade de saúde da família no município de São Paulo. O mundo da saúde. 2010; 34(1):2024. 4.Thober E, Creutzberg M, Viegas K. Nível de dependência de idosos e cuidados no âmbito domiciliar. Rev Bras de Enf. 2005; 58(4):438-43. 5.B arbosa MT. Os idosos e a complexidade dos regimes terapêuticos. Rev Assoc Med Bras. 2009; 55(4):363-381. 6. S ecoli SR. Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de medicamentos por idosos. Rev Bras Enferm. 2010; 63(1):136-140. 7.Acurcio FA, Silva AL, Ribeiro AQ et al. Complexidade do regime terapêutico prescrito para idosos. Rev Assoc Med Bras. 2009; 55(4):468-474. 8.Brasil. Ministério da Saúde. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Caderno de Atenção Básica. Brasília, 2006; 19:50. 9.Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n.º 2488 de 21 de outubro de 2011 que aprova a Política Nacional de Atenção Básica. Acesso: 20 maio 2012. Disponível em http://pt.scribd.com/ doc/76483957/PORTARIA-N-2488 10.A lvarenga MAM, Oliveira MAC, Faccenda O, Souza RA. Perfil social funcional de idosos assistidos pela Estratégia Saúde da Família. Cogitare Enferm. 2011; 16(3):478-85. Book Revista G&G.indb 33 11. Lima-Costa MF, Camarano AA. Demografia e epidemiologia do envelhecimento no Brasil. In: Moraes EN. Princípios básicos de geriatria e gerontologia. Belo Horizonte: Coopmed. 2008; 1:3-19. 12.Garcia ESS, Saintrain MVL. Perfil epidemiológico de uma população idosa atendida pelo Programa Saúde da Família. Rev. Enferm Uerj. 2009; 17(1):18-23. 13.Fernandes HCL. O acesso aos serviços de saúde e sua relação com a capacidade funcional e a fragilidade em idosos atendidos pela Estratégia Saúde da Família. Dissertação (mestrado): Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, 2010. 14.Almeida HO, Versiani ER, Dias AR et al. Adesão a tratamentos entre idosos. Com. Ciências Saúde. 2007; 18(3):57-67. 15.Santos KA, Koszuoski R, Costa JSD, Pattussi MP. Fatores associados com a incapacidade funcional em idosos do município de Guatambu, Santa Catarina, Brasil. Cad Saúde Pública. 2007; 23(11):2781-88. 16.Maciel ACC, Guerra RO. Influência dos fatores biopsicossociais sobre a capacidade funcional de idosos residentes no Nordeste do Brasil. Rev. Bras Epidemiol. 2007; 10(2):178-89. 17.Henriques MAP. Adesão ao regime medicamentoso em idosos na comunidade. Eficácia das intervenções de enfermagem [tese de doutorado]. Lisboa: Escola Superior de Enfermagem. Universidade de Lisboa, 2011. 18.Muir AJ, Sanders LL, Wilkinson WE, Schmader K. Reducing medication regimen complexity: A controlled trial. J Gen Intern Med. 2001; 16 (2):77-82. 19. Tucker CM, Fennell RS, Pedersen T et al. Associations with medication adherence among ethnically different pediatric patients with renal transplants. Pediatr Nephrol. 2002; 17:251-256. 20.Melchiors AC. Hipertensão arterial: análise dos fatores relacionados com o controle pressórico e a qualidade de vida. [Dissertação.] Paraná: Universidade Federal do Paraná, 2008. 7/16/13 10:07 AM A rtigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA 34 | REVISTA Perfil, EstressE e necessidadeS de cuidadores familiares e profissionais de idosos/acamados na atenção primária em saúde na cidade de São Paulo Ana Beatriz Ayroza Galvão Ribeiro Gomesa, Ana Carolina Mayor de Carvalhoa, Carolina Puglia de Andradea, Flávia de Souza Oliveira Penidoa, Ingrid Cardoso Coutoa, Maurício Karakida Hashimotoa, Priscila Biancalanaa, Regina Maria Giffoni Marsigliab RESUMO Palavras-chave Introdução: Entre os residentes em áreas metropolitanas, 15% têm mais de 60 anos. Parte deles é dependente de cuidados de Cuidadores de idosos/acamados, estresse, perfil de saúde. profissionais ou familiares, que também necessitam de atenção especial. Objetivo geral: Conhecer o perfil, nível de estresse e necessidades de cuidadores familiares e profissionais de idosos/acamados atendidos em 2 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da área central da cidade de São Paulo. Objetivos específicos: Avaliar morbidade referida, interesse por capacitação e grupos de discussão e o grau de dependência do idoso/acamado. Metodologia: Foram aplicados 4 tipos de questionários em 18 cuidadores familiares e 8 profissionais de 2 UBS: perfil do entrevistado, inventário de sintomas e estresse, versão brasileira da Burden Interview e escala de avaliação funcional do idoso/acamado. Resultados: A maioria dos cuidadores profissionais (85,3% mulheres) tem 36-55 anos; 40,7% dos familiares têm mais de 60 anos; 100% dos familiares referiram patologia; 88% dos profissionais desejam mais capacitação e 88,9% querem participar de grupos de discussão sobre o trabalho; 22,2% dos familiares foram capacitados, 38,9% gostariam de receber capacitação e 83,3% querem participar de grupos de discussão. Estresse: cuidadores profissionais, nenhuma ou pequena sobrecarga; familiares, leve a moderada, mas severa em uma das UBS. Inventário de sintomas de estresse: 44,4% dos familiares; fase de alerta: 14,8% de resistência e 40,8% de exaustão. Avaliação funcional dos idosos/acamados: 77,8% dos cuidados pelos profissionais apresentam alta dependência e 75-100% dos seguidos pelos familiares. Conclusões: O cuidado de idosos/acamados causa estresse nos cuidadores, especialmente nos familiares. Todos valorizaram a capacitação e a participação em grupos de discussão. Recomendação: Atenção especial aos cuidadores familiares de idosos/acamados. Evaluation of professional and non-professional caregivers of elderly patients in primary care health units in São Paulo A B S T RAC T Keywords Introduction: 15% residents of urban areas are over 60. A part of them rely on caregivers who often need special attention Elder/ill caretaker. themselves. Primary objectives: To assess the profile, level of stress and needs of professional and non-professional elderly Stress, health patients caregivers of 2 primary care health units of São Paulo, Brazil. Secondary objectives: To assess their morbidity, profile. their interest in capacitation courses and discussion groups, as well as the level of disability of the patients under their care. Methods: 8 professional and 18 non-professional caregivers of 2 primary care units in São Paulo, Brazil, underwent an interview where 4 questionnaires where applied: Profile of participant, Inventory of Symptoms & Stress, The Brazilian Version of the Burden Interview and Functional Evaluation Scale of the Elderly Patient. Results: 85,3% of patients where women between the ages of 36-55; 40,7% of the non-professional caregivers where over the age of 60; 100% of them referred suffering from some form of disease. 88% of the professional caregivers showed interest in capacitation courses and 88,9% in belonging to support groups. Stress: Professional caregivers where mostly under light burden, non-professional caregivers where subjected to light/moderate burden. Inventory of Symptoms & Stress: 44,4%, 14,8% and 40,8% of nonprofessional caregivers where in the alert, resiliency and exhaustion phases, respectively. Functional Evaluation Scale of the Elderly Patient: 77,8% and 75-100% of the professional and non-professional caregivers patients were classified as highly dependent. Conclusions: The care of elderly patients is stressful and debilitating for caregivers, especially for nonprofessional ones. Most of the caregivers showed interest in capacitation courses and support groups. Recommendation: It is recommended that a better attention be paid to elderly patients caregivers. a b Acadêmico(a) da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalhou na concepção, pesquisa e redação final do artigo. Doutora, professora adjunta da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Orientadora. Dados para correspondência Ana Beatriz Ayroza Galvão Ribeiro Gomes – Rua Nebraska, 361, apt.º 61 Brooklin – São Paulo, Brasil CEP: 04560-011 [email protected] Book Revista G&G.indb 34 7/16/13 10:07 AM Estresse de Cuidadores Familiares e Profissionais de Idosos | 35 IN TRO D UÇÃO O Brasil tem, hoje, 17,7 milhões de idosos (IBGE, 2007), correspondendo a 8,5% da população, 27% dos quais necessitam de ajuda diária.1,2 Oitenta por cento são cuidados por mulheres da família, também com idade avançada.3 Nos distritos da área central da cidade de São Paulo, quase 15% da população é constituída por idosos de 60 anos ou mais, número bastante expressivo, principalmente se comparado a todo o Brasil (8,5%; IBGE, 2007). Existem dois tipos de cuidadores: o profissional, em geral técnico em enfermagem, pago para realizar o serviço, e o familiar, que ajuda o idoso nas atividades diárias, mas, muitas vezes, não sabe ao certo como proceder.3 Segundo autores como Hileman et al. (1992), Lee et al. (2003), Schulz & Beach (2001) e Cruz (2008),4-7 os principais aspectos a serem considerados ao se estudar a sobrecarga do cuidador são: rotina familiar, relações familiares, relações sociais, lazer e profissão, finanças, saúde e estresse, incluindo sentimentos e emoções negativas geradas pela experiência. O impacto sobre o cuidador está relacionado, também, ao nível de dependência física do paciente, à ocorrência de mudanças comportamentais no paciente, ao tempo despendido no seu cuidado e ao grau de parentesco que se tem com o paciente.8 As principais razões que geram a sobrecarga são o isolamento social, as mudanças e insatisfações conjugais, as dificuldades financeiras, o impacto psicológico, a falta de informação e o impacto na saúde do cuidador. A Secretaria Municipal de Saúde implantou, a partir de 2006, algumas Unidades de Referência para a Saúde dos Idosos (URSI) em UBS, contando com equipes multiprofissionais que desenvolvem atividades de atendimento em promoção e educação em saúde. Desde 2009, essas UBS e as URSI passaram a desenvolver também o Programa de Acompanhantes de Idosos (PAI), contando com acompanhantes, pessoas que receberam capacitação para a atenção aos idosos no domicílio. Nesta pesquisa, nós os denominaremos acompanhantes. A inclusão desse grupo foi realizada com o objetivo de comparar sua sobrecarga com a de cuidadores não profissionais (cuidadores). Este trabalho teve por objetivo geral conhecer o perfil, as condições de saúde e o grau de estresse de cuidadores e acompanhantes de idosos/acamados, atendidos em UBS da área central da cidade de São Paulo. Teve por objetivos específicos levantar o perfil, condições físicas, psicológicas e necessidades dos cuidadores de idosos/ acamados atendidos pelas equipes de saúde da família atendidos pela URSI e dos acompanhantes contratados para integrar a equipe do PAI. Visou, ainda, determinar o grau de dependência dos idosos/acamados. Book Revista G&G.indb 35 ME TO D OLOGIA Trata-se de um estudo exploratório definido a partir das experiências de visita domiciliar de acadêmicos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo no Programa de Reorientação da Formação dos profissionais de Saúde-Pró-Saúde (SGTES-MS/MEC, 2008). Observou-se nessas visitas que os cuidadores também necessitavam de cuidados, havendo carência de suporte e de estrutura para prestar cuidado efetivo ao idoso/acamado. O projeto foi aprovado no CEP/SMS, CAE: 0116.0.162.000-09, sendo assinado o TCLE pelos entrevistados. Universo Os cuidadores somavam 71 pessoas nas duas unidades estudadas, e os acompanhantes inseridos no PAI eram 12 pessoas. Amostra A amostra dos cuidadores foi calculada em aproximadamente 30%. Foram sorteadas 20 pessoas para a entrevista domiciliar, considerando-se os critérios de inclusão. Destas, entrevistaram-se 18 pessoas, tendo havido duas recusas em participar, sem possibilidade de reposição, pois os demais não preenchiam os critérios de inclusão. A amostra dos acompanhantes baseou-se na sua disponibilidade em responder aos questionários, uma vez que, dos 12 inseridos no programa, dois encontravam-se de férias e outros dois em licença médica. Ao final, a amostra foi constituída por 26 entrevistados: 18 cuidadores de idosos/acamados atendidos pelas equipes de saúde da família de uma UBS e da URSI, e 8 acompanhantes do PAI. Critérios de inclusão na amostra Conforme documento norteador do Programa Acompanhante de Idosos da SMS/SP (2009), tópico 14, p. 24, foram entrevistados cuidadores de idosos/acamados que apresentavam: • Idade igual ou superior a 60 anos. • Dependência funcional nas atividades da vida diária, decorrente de agravos à saúde. • Dificuldades de deambulação. • Dificuldades de acesso aos serviços de saúde. • Insuficiência de suporte familiar e social. • Isolamento ou exclusão social. • Risco de institucionalização. • Residência na área de abrangência das duas unidades selecionadas. Instrumentos de pesquisa Foram utilizados um questionário para caracterização do perfil dos cuidadores/acompanhantes, um inventário de sintomas de estresse (ISS),9-11 a versão brasileira da Burden Interview12,13 para avaliar o impacto psicológico 7/16/13 10:07 AM 36 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA do cuidado nos cuidadores/acompanhantes e um último questionário para avaliação do perfil, patologias e grau de dependência do idoso/acamado, segundo os cuidadores/acompanhantes. Todos esses questionários foram aplicados pelos estudantes após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo indivíduo que seria entrevistado. 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% RESULTA D OS Em relação aos dados do perfil dos entrevistados, levantou-se que 85,3% dos entrevistados são mulheres e 14,8% são homens, todos eles cuidadores. Idade e graus de parentesco dos cuidadores/acompanhantes podem ser observados nas Figuras 1 e 2. 81-85 76-80 71-75 61-65 56-60 51-55 46-50 36-40 31-35 21-25 0 0,5 1 1,5 Acompanhantes 2 UBS 1 2,5 3 UBS 2 Figura 1 Distribuição etária de cuidadores/acompanhantes de idosos/ acamados. UBS 1, UBS 2, cidade de São Paulo, 2009. 0,00% Acompanhantes Diabetes UBS 1 UBS 2 Hipertensão Hipercolesterolemia Figura 3 Morbidade entre os cuidadores/acompanhantes nas UBS 1 e 2, cidade de São Paulo, 2009. Todos os acompanhantes foram capacitados, no entanto 88% desejam mais capacitação e 88,9% querem participar de grupos de discussão sobre o trabalho; 22,2% dos cuidadores foram capacitados, 38,9% gostariam de receber capacitação e 83,3% querem participar de grupos de discussão. Os temas que os entrevistados mais gostariam de discutir são: “relacionamento com o idoso” (22,2%), “aperfeiçoamento de técnicas nos cuidados” (25,9%) e “violência contra o idoso” (18,5%). Através da versão brasileira da Burden Interview,8 avaliou-se que a sobrecarga dos entrevistados foi mais leve entre os acompanhantes, seguidos dos cuidadores, assim como nos mostra a Figura 4. 90,00% 80,00% 0,6 70,00% 0,5 60,00% 0,4 50,00% 0,3 40,00% 0,2 30,00% 0,1 20,00% Entre os acompanhantes, 77,8% têm escolaridade de nível médio. Os cuidadores se distribuem entre ensino médio, fundamental completo ou incompleto, com predominância deste último. As patologias referidas pelos entrevistados podem ser verificadas na Figura 3. Entre os entrevistados com patologias, 66,7% alegaram receber tratamento. A maioria dos cuidadores e acompanhantes trata-se pelo SUS e 11,1% por convênio. Book Revista G&G.indb 36 Acompanhantes ra ve se se br ec br ec So ar ga m ar ga a/ od er ad m e/ lev So br ec ar ga au br ec ar ga So Figura 2 Grau de proximidade entre os cuidadores e idosos/acamados nas UBS 1 e 2, cidade de São Paulo, 2009. ve od er ad ue n eq /p UBS 2 nt e UBS 1 se Acompanhantes ra a 0,00% So na l ho Fil ss io 10,00% a Es p Pr ofi ido os a/ m ar sc o ãe te M Se m pa re n o ã inh br Irm So eC ar e co br an Ho m iza Am Em de 0 UBS 1 UBS 2 Figura 4 Sobrecarga de cuidadores/acompanhantes de acordo com a Burden Interview, nas UBS 1 e 2, cidade de São Paulo, 2009. Nos itens da entrevista, observou-se que 88,9% dos acompanhantes referiram não se sentir estressados em cuidar, enquanto esses números foram 50% e 16,7%, respectivamente, nas UBS 1 e 2. Em relação à irritabilidade dos entrevistados, 77,8% dos acompanhantes e 7/16/13 10:07 AM Estresse de Cuidadores Familiares e Profissionais de Idosos | 37 91,7% dos cuidadores da UBS1 responderam negativamente a esse item; apenas 33% dos cuidadores da UBS 2 emitiram a mesma resposta. Observou-se que 77,8% dos acompanhantes e 75% dos cuidadores da UBS 1 “nunca” gostariam de deixar que outra pessoa simplesmente cuidasse do idoso. Entre os cuidadores da UBS 2, esse número foi de apenas 16,7%. Quando perguntado se o entrevistado sentia que sua saúde tinha sido afetada pelo seu envolvimento com o idoso, 88,9% dos acompanhantes disseram que “nunca”, enquanto 66,7% e 41,7% das UBS 1 e 2, respectivamente, responderam “sempre” (apenas 33,3% e 41,7%, respectivamente, responderam “nunca”). Entre os acompanhantes que disseram que sua vida social nunca havia sido prejudicada por cuidarem do idoso estavam 88,9% e apenas metade dos cuidadores deu a mesma resposta. O inventário de sintomas de estresse obteve os seguintes resultados: na fase de alerta, os sintomas que os cuidadores familiares mais referiram foram tensão (40,7%) e vontade súbita de iniciar novos projetos (44,4%). Na fase de resistência, o sintoma de irritabilidade excessiva apareceu em 70,4% dos casos. Apareceram sintomas de formigamento das extremidades (44,4%), sensação de desgaste físico (48,1%), cansaço constante (44,4%) e sensibilidade emotiva excessiva (40,7%). Na fase de exaustão, insônia (44,4%), hipertensão arterial continuada (40,7%) e cansaço constante (44,4%) foram os sintomas mais recorrentes. O grau de dependência dos idosos, de acordo com a Avaliação Funcional dos Idosos/Acamados, está ilustrado na Figura 5. 100,00% 90,00% 80,00% 70,00% CON c l u s ã o No estudo realizado, observamos que o cuidado de idosos/acamados tem impacto físico e psicológico sobre o cuidador ou o acompanhante, sobretudo sobre os cuidadores. Estes, em sua grande maioria, demonstraram interesse na participação em grupos de discussão e em maior capacitação para o cuidado de idosos. Recomendamos que a atenção básica dê maior atenção ao grupo de cuidadores não profissionais e que a geriatria tenha como objeto de sua atenção o binômio idoso/cuidador. Ag r a d e c i m e nto s 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Acompanhantes UBS 1 UBS 2 Figura 5 Prevalência de alta dependência de idosos/acamados. Avaliação funcional. UBS 1 e 2, cidade de São Paulo, 2009. D ISCUSSÃO A análise do perfil dos cuidadores mostrou a prevalência de mulheres e de idosos prevista na literatura.8 Foi observado, ainda, maior prevalência de cuidadores que mantinham relação de parentesco com o idoso/acamado, predominando cônjuges e filhos, o que também é suportado Book Revista G&G.indb 37 pela literatura.8 Em relação à morbidade, foi observado que a maioria dos entrevistados referia presença de hipertensão arterial, dado esperado devido ao perfil etário dos cuidadores/acompanhantes.4,5,14 A maioria dos cuidadores/acompanhantes demonstrou interesse em participar de grupos de discussão ou receber mais capacitação, evidenciando a carência de suporte ao cuidador/acompanhante, o que já foi observado em outros estudos.4,7,8 Correlacionando-se o grau de dependência do idoso/acamado com o nível de estresse e sobrecarga dos cuidadores/acompanhantes foi constatado que aqueles cuidadores responsáveis por pacientes com maior grau de dependência apresentavam piores resultados na avaliação de estresse e sobrecarga. Quando esses parâmetros foram comparados entre cuidadores e acompanhantes (profissionais), constatou-se que os cuidadores apresentavam maior estresse e sobrecarga. É interessante ressaltar que a população entrevistada era, em sua maioria, responsável pelo cuidado de pacientes de alto grau de dependência, o que está correlacionado com os altos índices de estresse e sobrecarga observados. A alta prevalência de cuidadores familiares também pode ser relacionada a esses resultados, conforme é descrito na literatura.4-6,8,14 Agradecemos às equipes de saúde da família da Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Retiro e à equipe do Programa de Acompanhantes de Idosos (PAI) do Centro de Saúde Santa Cecília, pertencentes à Supervisão Técnica de Saúde Sé-STS-Sé, da Coordenadoria Regional de Saúde Centro-Oeste, Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, pelo suporte durante a pesquisa de campo. Agradecemos à acadêmica Ana Karine de Oliveira pela participação na pesquisa de campo. Conflitos de interesse: não há conflitos de interesse. Trabalhos subvencionados: recebeu pequeno auxílio financeiro do Programa Pró-Saúde da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho para cópias, confecção de pôsteres e inscrições nos congressos Paulista de Ensino Médico e Brasileiro de Geriatria e Gerontologia em 2010. 7/16/13 10:07 AM 38 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA RE FERÊNCIAS 1.Veras RP et al. Pesquisando populações idosas. São Paulo, Revista de Saúde Pública. 1988; 22(6):513-8. 2.Veras RP, Dutra S. Envelhecimento da população brasileira: reflexões e aspectos a considerar quando da definição de desenhos de pesquisas para estudos populacionais. Physis – Revista de Saúde Coletiva. 1993; 3(1):107-125. 3.Duarte YAO et al. Cadernos de atenção básica em envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: Ministério da Saúde. 2006; 1:192 p. 4.Hileman JW, Lackey NR, Hassanein RS. Identifying the needs of home caregivers of patients with cancer. Oncol Nurs Forum. 1992; 19(5):771-7. 5.Lee S, Colditz GA, Berkman L, Kawachi I. Caregiving and the risk of coronary heart disease in U.S. women: a prospective study. Am J Prev Med. 2003; 24(2):113-9. 6.Schulz R et al. Involvement in caregiving and adjustment to death of a spouse: findings from the Caregiver Health Effects Study. JAMA. 2001; 285:3123-9. 7.Cruz MN, Hamdan ACO. Impacto da doença de Alzheimer no cuidador. Maringá, Psicologia em Estudo. Abr/jun 2008; 13:2. Book Revista G&G.indb 38 8.Kalaqche A, Aboderin P. Stroke: the global burden. Review article. Oxford University Press. Health Policy Planning. 1995; 10(1)1-21. 9.Lipp MEN, Guevara AJH. Validação empírica do inventário de sintomas de stress (ISS). Estud Psicol. 1994; 11(3);43-9. 10. Ferrareze MV, Ferreira V, Carvalho AM. Percepção do estresse en- tre enfermeiros que atuam em terapia intensiva. Acta Paul Enferm. 2006; 19(3):310-15. 11. Faria AM, Cardoso CL. Aspectos psicossociais de acompanhantes cuidadores de crianças com câncer: stress e enfrentamento. Estudos de Psicologia (Campinas). 2010; 27(1)13-20. 12. Scazufuca M. Brazilian version of the Burden Interview scale for the assessment of burden of care in carers of people with mental illnesses. São Paulo: Revista Brasileira de Psiquiatria. Mar. 2002; 24:1. 13. Zarit HS. Do we need another “stress and caregiving” study? The Gerontologist. 1989 April; 29(2)147-148. 14. De Moraes SRP, Silva SLT. An evaluation of the burden of Alzheimer patients on family caregivers. Rio de Janeiro: Cad. Saúde Pública. Ago 2009; 25:1807-1815. 7/16/13 10:07 AM APerfil rtigo de original Idosos | 39 Perfil de idosos atendidos pelo Programa de Atenção à Saúde do Idoso em Belém, Pará Jefferson de Abreu Monteiroa, Manuela Lima Carvalho da Rochab, Rita de Cássia Gaspar da Silvac R e s um o Palavras-chave Perfil de saúde. Saúde do idoso. Envelhecimento. Epidemiologia. Programa de saúde. Saúde pública. Objetivo: Caracterizar o perfil de idosos atendidos pelo Programa de Atenção à Saúde do Idoso em Unidades Municipais de Saúde (UMS) e Centro de Atenção à Saúde do Idoso (Casa do Idoso) no município de Belém (PA). Metodologia: Trata-se de um estudo do tipo descritivo, com delineamento transversal e retrospectivo. A amostra foi constituída de 1.433 fichas-controle das Cadernetas de Saúde da Pessoa Idosa, de idosos que realizaram consulta ambulatorial na rede municipal de saúde durante janeiro a dezembro de 2010. A análise estatística foi realizada no software BioEstat versão 5.2. Resultados: Houve prevalência de idosos na faixa etária de 60-69 anos (53,3%), sexo feminino (70,4%), baixa escolaridade (43,8%) e casados (41,8%). A maioria dos idosos referiu não fumar (94,5%), não consumir bebida alcoólica (90,9%), contar com o suporte familiar/cuidador (84,7%) e ser independente nos cuidados diários (90,2%). Já 85,8% dos idosos não tinham ocorrência de queda e 91,8% relataram não ter histórico de internação nos últimos seis meses. Destacou-se a prevalência de doenças do aparelho circulatório (58,6%) e doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (24,2%). Os principais problemas de saúde foram hipertensão arterial (53,1%) e diabetes mellitus (17,2%). Conclusão: O estudo permitiu traçar o perfil saudável de idosos no município de Belém, indicando a necessidade de implementação de ações de saúde preventivas e curativas, a fim de favorecer o envelhecimento ativo nessa população. Profile of elderly people served by Elderly Health Attention Program in Belém, Pará state A B S T RAC T Keywords Health profile. Health of the elderly. Aging. Epidemiology. Health program. Public health. Objective: To characterize the profile of elderly patients in the elderly health attention program in municipal health units and health care center for the elderly in Belém, Pará, Brazil. Method: Descriptive, cross-sectional and retrospective study. The sample consisted of 1.433 copies of The Health Book of the Elderly Person, of elderly who were consulted in the municipal health between January and December 2010. Statistical analysis was performed with BioEstat software version 5.2. Results: There was a prevalence of elderly people aged 60 to 69 years (53.3%), female (70.4%), low education (43.8%) and married (41.8%). Most seniors reported not to smoke (94.5%), not to consume alcohol (90.9%), to have family support/caregiver (84.7%) and to be independent in daily care (90.2%). Futhermore, 85.8% of the elderly had no fall-related events and 91.8% reported not having a history of hospitalization in the last six months. There was a higher prevalence of cardiovascular diseases (58.6%) and endocrine, nutritional and metabolic diseases (24.2%). The most important diseases were hypertension (53.1%) and diabetes mellitus (17.2%). Conclusion: According to the results obtained, this study allowed to profile healthy elderly in Belém, indicating the need to implement preventive and healing actions in health, in order to promote an active aging in this population. Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, Universidade Federal do Pará/UFPA. Responsável pela concepção, pesquisa bibliográfica e redação final do manuscrito, assim como pela análise, interpretação e discussão dos resultados. b Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz/Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães. Responsável pela concepção, pesquisa bibliográfica e redação final do manuscrito, assim como pela análise, interpretação e discussão dos resultados. c Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará/UEPA. Doutoranda em Ciências dos Desportos pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/UTAD, Portugal. Realizou a orientação teórica e metodológica da pesquisa e auxiliou na análise dos resultados a Dados para correspondência Jefferson de Abreu Monteiro. Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, Universidade Federal do Pará – Cidade Universitária Prof. José da Silveira Netto, Campus Básico I – Instituto de Ciências Biológicas. Rua Augusto Corrêa, n.º 1, Bairro Guamá, CEP 66.075-110, Belém, Pará. [email protected] Book Revista G&G.indb 39 7/16/13 10:07 AM 40 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA IN TRO D UÇÃO O crescimento da população idosa é um fenômeno mundial e um dos maiores desafios para a saúde pública contemporânea, especialmente nos países em desenvolvimento como o Brasil, onde as mudanças têm ocorrido de forma rápida e acentuada.1-3 Estima-se que, em 2020, o país seja o sexto com o maior número de idosos, atingindo um contingente superior a 30 milhões.4 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, no período compreendido entre 1999 e 2009, a proporção de idosos aumentou de 9,1% para 11,3% no conjunto da população brasileira.5 Com efeito, na cidade de Belém, estado do Pará, ocorreu aumento progressivo dessa população, passando de 6,9% em 2000 para 9,3% em 2010.6,7 Esse rápido aumento do número de idosos ocasiona impactos diversos para os setores da sociedade e necessita ser discutido, objetivando o enfrentamento adequado de suas consequências.1 Sabe-se que o envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, com modificações tanto morfológicas como funcionais, bioquímicas e psicológicas que podem interferir no cotidiano e determinar perda da capacidade de adaptação do idoso ao ambiente, predispondo-o a doenças.8 Essas modificações acarretam demandas crescentes para o indivíduo e os diversos setores da sociedade, principalmente na área da saúde. Nesse contexto, informações sobre o estado de saúde do idoso, quando respaldadas em evidências científicas, são de suma importância para as políticas de saúde pública, uma vez que auxiliam no planejamento de estratégias específicas para essa população.9 Portanto, a realização de estudos que buscam determinar o perfil populacional é essencial para identificação de problemas relevantes na velhice, dando subsídios às decisões relativas à definição de prioridades para intervenção e contribuindo para a reestruturação da assistência, pelo Estado, bem como para a reformulação de políticas e a tomada de decisões para a implementação das ações de saúde.10-12 Assim, o conhecimento do perfil de saúde dos idosos prevalente em determinada região é um indicador fundamental para o fornecimento de serviços e de recursos adequados, através de informações indispensáveis para o direcionamento de ações de saúde, evitando gastos desnecessários.11,13 Apesar do crescente interesse pela saúde do idoso, estudos representativos sobre essa população são escassos no Brasil, sobretudo em municípios da Região Norte do país.2 Diante dessa realidade, torna-se essencial o desenvolvimento de estudos com essa temática, indo ao encontro da necessidade emergente de se produzir conhecimento acerca das condições de saúde da população idosa na rede municipal de saúde da cidade de Belém, tendo em vista o planejamento da atenção e implementação de ações para a promoção da saúde. Book Revista G&G.indb 40 A partir dessa contextualização, o estudo teve como objetivo caracterizar o perfil de idosos atendidos no Programa de Atenção à Saúde do Idoso em Unidades Municipais de Saúde (UMS) e no Centro de Atenção à Saúde do Idoso (Casa do Idoso) no município de Belém (PA). ME TO D OLOGIA Trata-se de um estudo descritivo, do tipo transversal e retrospectivo. O local para coleta de dados foi a Referência Técnica em Saúde do Idoso, que faz parte do Núcleo de Promoção à Saúde (NUPS) da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) da prefeitura de Belém. Como instrumentos para a coleta de dados utilizaram-se as informações contidas em fichas-controle dos usuários, baseadas na Caderneta de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde, enviadas pelas Unidades Municipais de Saúde (UMS) e o Centro de Atenção à Saúde do Idoso (Casa do Idoso) à Referência Técnica, onde se encontram arquivadas. Os critérios de inclusão foram idosos com 60 anos ou mais, moradores da área de abrangência do município de Belém, que realizaram consulta ambulatorial na rede municipal de saúde durante o ano de 2010 e cujos itens da ficha-controle estavam completamente preenchidos. Os idosos que não atenderam a esses critérios foram excluídos. Segundo a Referência Técnica em Saúde do Idoso, de janeiro a dezembro de 2010 foram distribuídas 12.202 Cadernetas de Saúde da Pessoa Idosa entre 24 UMS (Bengui II, Cabanagem, Condor, Cotijuba, Cremação, Curió, Fátima, Guamá, Icoaraci, Jurunas, Maguari, Maracajá, Marambaia, Outeiro, Pratinha, Providência, Sacramenta, Satélite, Sideral, Tapanã, Tavares Bastos, Telégrafo, Terra Firme e Vila da Barca) e Casa do Idoso. Como procedimento interno, esse departamento solicita que 20% das cadernetas retornem à Sesma na forma de fichas-controle para monitoramento do material distribuído pelo Programa de Atenção à Saúde do Idoso. Assim, em 2010, a Referência Técnica deveria receber o equivalente a 2.440 fichas-controle, entretanto constavam nos dados de arquivo somente 1.763 fichas. Destas, foram excluídas 330, por não atenderem aos critérios de inclusão da pesquisa, restando 1.433 fichas-controle, que fizeram parte da amostra do estudo. As variáveis investigadas para o conhecimento do perfil dos idosos no presente estudo foram: variáveis sociodemográficas (gênero, idade, estado conjugal e escolaridade); hábitos de vida (tabagismo, etilismo e prática de atividade física); necessidade de cuidado para realização das atividades de vida diária; existência de suporte de um cuidador; internações hospitalares; ocorrência de quedas; e problemas de saúde, organizados segundo capítulos da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão (CID-10). 7/16/13 10:07 AM Perfil de Idosos | 41 Tabela 1 Características gerais dos idosos, segundo gênero (Belém, Pará, 2010) Geral Características Sexo Foi utilizada a definição da Organização Mundial da Saúde14 para os países em desenvolvimento, que considera pessoas idosas aquelas com 60 anos ou mais de idade. A estratificação das faixas etárias foi: 60-64; 65-69; 70-74; 75-79; 80 anos ou mais. Na variável problema de saúde, enquadraram-se sinais, sintomas, doenças diagnosticadas ou autorreferidas pelos idosos. Foram apresentados os dados em número absoluto, frequências e intervalos de confiança.15 Book Revista G&G.indb 41 Escolaridade Estado conjugal Tabagismo Etilismo Atividade Física Suporte familiar/ cuidador Cuidados diários Ocorrência de queda Internação hospitalar Os resultados apresentados na Tabela 1 permitiram identificar que 53,3% dos idosos estavam na faixa etária de 60-69 anos, sendo que o gênero da amostra estudada foi predominantemente feminino (70,4%). A maior parte (43,8%) possuía baixa escolaridade (até 4 anos de estudo). Os dados referentes ao estado conjugal mostraram que 41,8% dos idosos eram casados. Em relação aos hábitos de vida, 94,5% referiram não fumar e 90,9% não consumiam bebida alcoólica. Quanto à prática de atividade física, cerca de 67,9% dos idosos informaram não realizar nenhuma atividade física. Apenas 32% relataram praticar alguma atividade física regular, sendo a mais citada a caminhada. A maioria dos idosos (84,7%) afirmou que, caso precisem, podem contar com suporte familiar/cuidador. No que se refere à necessidade de cuidados diários, 90,2% dos idosos referiram ser independentes. Quanto à necessidade de apoio na realização dos cuidados diários, foram relatadas com maior frequência limitações para mobilidade funcional, autocuidado e manutenção da rotina medicamentosa. Em relação à ocorrência de quedas nos últimos 6 meses, 85,8% dos idosos não haviam sofrido nenhuma queda, ao passo que 14,1% tiveram ao menos um episódio de queda. Quanto às internações hospitalares, 91,8% dos idosos relataram não possuir nenhum histórico de internação nos últimos 6 meses, enquanto 8,1% apontaram já terem sido internados durante esse período. Entre as principais causas de internações hospitalares mencionadas estão problemas de saúde, procedimentos cirúrgicos, quedas e acidentes de trânsito. O estudo da prevalência de problemas de saúde, conforme a CID-10 (Tabela 2), destacou o alto índice de doenças do aparelho circulatório, com 58,6% dos acometimentos, seguidas das doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, com 24,2%, e das doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, com 21,9%. Verificou-se que 8% dos idosos possuíam algum sintoma, sinal ou achado anormal de exames clínicos e de laboratório, e 15,9% não possuíam queixas quanto ao seu estado de saúde. Os principais problemas de saúde dos idosos no município de Belém, conforme a Tabela 3, são a hipertensão arterial (53,1%) e o diabetes mellitus (17,2%). O terceiro problema de saúde mais referido foram as doenças do sis- Idade (anos) RESULTA D OS (n = 1.433) n % Masculino 424 29,59 Feminino 1.009 70,41 60-64 365 25,47 65-69 400 27,91 70-74 306 21,35 75-79 204 14,24 80 ou mais 158 11,03 Analfabeto 186 12,98 1-4 anos 628 43,82 5-8 anos 444 25,05 >8 anos 175 9,66 Solteiro 277 19,33 Casado 600 41,87 Viúvo 420 28,20 Separado ou divorciado 136 9,47 Sim 78 5,44 Não 1.355 94,56 Sim 130 9,07 Não 1.303 90,93 Sim 459 32,03 Não 974 67,97 Sim 1.214 84,72 Não 219 15,28 Sim 140 9,77 Não 1.293 90,23 Sim 203 14,17 Não 1.230 85,83 Sim 117 8,16 Não 1.316 91,84 7/16/13 10:07 AM 42 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Tabela 2 Prevalência e intervalos de confiança para problemas de saúde em idosos segundo gênero e CID-10 (Belém, Pará, 2010) Prevalência geral CID-10 D ISCUSSÃO n % Doenças do aparelho circulatório 840 58,62 0,551 0,612 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 347 24,21 0,221 0,264 Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 314 21,91 0,198 0,241 Sintomas, sinais e achados anormais* 115 8,03 0,066 0,094 Doenças do olho e anexos 62 4,33 0,033 0,054 Transtornos mentais e comportamentais 40 2,79 0,019 0,036 Doenças do sistema nervoso 34 2,37 0,016 0,032 Doenças do aparelho digestivo 34 2,37 0,016 0,032 Doenças do aparelho respiratório 31 2,16 0,014 0,029 Doenças do ouvido e da apófise mastoide 22 1,54 0,009 0,022 Doenças do aparelho geniturinário 15 1,05 0,005 0,016 Doenças infecciosas e parasitárias 10 0,70 0,003 0,011 Lesões, envenenamentos e outras causas externas 16 1,12 0,006 0,017 Doenças da pele e do tecido subcutâneo 7 0,49 0,001 0,008 Neoplasias (tumores) 7 0,49 0,001 0,008 Doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos 6 0,42 0,001 0,008 Causas externas de morbidade e de mortalidade 2 0,14 - - Sem queixa 229 15,98 0,141 0,179 IC 95% * Capítulo XVIII: sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos, de laboratório não classificados em outra parte. Incluem cefaleia, mal-estar, dor não especificada, tontura e instabilidade, dores lombares, garganta, torácicas e abdominais, perda de cabelo. Tabela 3 Distribuição dos principais problemas de saúde nos idosos (Belém, Pará, 2010) Problemas de saúde Geral n % Hipertensão arterial 762 53,17 Diabetes 247 17,23 Artrose 65 4,53 Artrite reumatoide 62 4,32 Hipercolesterolemia 57 3,97 Osteoporose 55 3,83 Cardiopatia 51 3,55 Déficit visual 36 2,51 Cefaleia 22 1,53 Dor abdominal e pélvica 20 1,39 Book Revista G&G.indb 42 tema osteomuscular e do tecido conjuntivo (21,9%), destacando-se a artrose (4,5%) e a artrite reumatoide (4,3%). Os resultados obtidos demonstram que os idosos atendidos pelo Programa de Atenção à Saúde do Idoso no município de Belém, de maneira geral, apresentam as mesmas tendências observadas nos estudos da população brasileira. Na amostra pesquisada, encontramos a presença marcante do gênero feminino. Esse resultado se assemelha aos encontrados em outros estudos13,16-19 e corrobora os achados nacionais, em que a maioria da população (51%) é constituída por mulheres. Na cidade de Belém, a situação não difere: 52,7% são mulheres e, destas, 5,5% estão com 60 anos ou mais.7 A predominância de mulheres na população brasileira e entre os idosos, assim como neste estudo, confirma o que Victor et al.20 (2009) denominam “feminização da velhice”, processo que reflete a maior sobrevida das mulheres em idades avançadas, em relação ao contingente de homens. Tal fenômeno pode ser atribuído ao fato de elas, em geral, serem menos expostas a riscos ocupacionais, consumirem em menor quantidade tabaco e álcool, e diferirem dos homens nas atitudes em relação ao controle e tratamento de doenças e incapacidades.19 No tocante à idade, a faixa etária predominante neste estudo, tanto no gênero feminino quanto no masculino (54,4% e 50,9%, respectivamente) se situa entre 6069 anos, caracterizando uma população idosa jovem, conforme classificação proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), ratificando os dados fornecidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)21 (2009), na qual o maior percentual de idosos brasileiros está incluso nesse grupo etário. Para avaliar a distribuição de problemas de saúde na amostra de 1.433 idosos foram aplicados métodos estatísticos descritivos e inferenciais, a partir do software BioEstat versão 5.2. A estatística inferencial constou da estimação pontual das prevalências com intervalo de confiança de 95%. O projeto foi aprovado pela Comissão de Análise de Projetos de Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Viana com protocolo n.º 222/10. Quanto à situação educacional, o baixo nível de escolaridade da maioria dos idosos, inferior a 4 anos, foi semelhante ao observado para a população brasileira (50,2%), com base nos dados da PNAD para a mesma faixa etária.21 Considera-se que, possivelmente, essa baixa escolaridade seja reflexo do acesso desigual ao ensino nas décadas de 1930-1950, quando frequentar a escola era restrito a segmentos sociais específicos.6 Para Menezes et al.18 (2007), nessa organização social não havia tanta cobrança por nível escolar, como na atualidade, e o papel das mulheres na sociedade estava 7/16/13 10:07 AM Perfil de Idosos | 43 limitado a casar, ter filhos e cuidar do lar, não sendo estimuladas a estudar. Em relação ao estado conjugal dos idosos deste estudo, houve proporção maior de homens casados (61%) e mulheres viúvas (35,5%), equivalente ao encontrado em outros estudos populacionais.16,18,22 No caso do estudo de Lima-Costa et al.16 (2002), realizado com idosos no município de Bambuí, em Minas Gerais, evidenciou-se o predomínio de mulheres viúvas sobre o de homens viúvos em todas as faixas etárias, especialmente naquelas de mais idade. Essa tendência também pode ser confirmada no estudo de Morais et al.22 (2008) com idosos octogenários, residentes em meio rural no município de Encruzilhada do Sul, Rio Grande do Sul, no qual o número de mulheres viúvas chegou a ser 4 vezes maior que o de homens viúvos. Essa situação ocorre pelo fato de as mulheres serem mais longevas e dificilmente voltarem a casar, enquanto os homens possuem maior probabilidade de casar novamente. Pinto et al.23 (2006) buscaram identificar associações entre variáveis sociodemográficas e categorias de suporte social, e detectaram que os idosos com maior escolaridade e renda familiar, bem como os casados e/ou vivendo em concubinatos, dispunham de apoio afetivo mais satisfatório quando comparados aos solteiros e/ou viúvos e aos de níveis de escolaridade e renda familiar menores. No referido estudo, houve elevado número de mulheres viúvas e de idosos com baixa escolaridade, representando, na visão dos autores, uma ameaça para a qualidade de vida desses idosos. No que tange aos hábitos de vida, apesar da baixa frequência de tabagismo e etilismo, observou-se que os homens apresentaram maior prevalência do hábito de fumar (7,7%) e consumir bebida alcoólica (15,8%) que as mulheres (4,4% e 6,2%, respectivamente), corroborando outros estudos para essa faixa etária.17,24 As diferenças no consumo de tabaco e álcool remetem aos padrões culturais vivenciados por esses idosos no passado, quando o uso dessas substâncias era aceito socialmente apenas para os homens. Destaca-se que o tabagismo é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e respiratórias, e também está relacionado a importantes perdas da capacidade funcional. Já o etilismo, por sua vez, aumenta a suscetibilidade de doenças do fígado, pâncreas e estômago, desnutrição e riscos para lesões e quedas.14 Diante disso, os efeitos benéficos da suspensão do fumo e do consumo de bebida alcoólica são evidentes nos idosos, principalmente em termos de qualidade e expectativa de vida. Em relação à prática de atividade física, a elevada prevalência de sedentarismo observada nos idosos (67,9%) foi similar à encontrada em outros estudos.17,25,26 Siqueira et al.25 (2008) analisaram residentes em áreas de abrangência de unidades básicas de saúde de municípios Book Revista G&G.indb 43 das regiões Sul e Nordeste, e encontraram 58% de sedentarismo em idosos. Alves et al.26 (2010) identificaram número superior (68,3%) em uma amostra de idosos de unidades básicas de saúde no estado de Pernambuco. Isso confirma a grande proporção de idosos que leva vida sedentária no país, para os quais se deve proporcionar maior adesão a programas de atividades físicas, com vistas a reduzir e/ou prevenir possíveis declínios funcionais associados com o envelhecimento.14 De acordo com a OMS14 (2005), os indivíduos sedentários devem ser estimulados a se tornar mais ativos à medida que envelhecem, por intermédio da formulação de políticas e programas de saúde. Nesse sentido, uma das ações do Ministério da Saúde, através da implantação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares,27 foi a inserção de práticas corporais da medicina tradicional chinesa no cotidiano da rede básica de saúde. Em Belém, iniciativas como a ministração de aulas práticas de lian gong e tai chi chuan para grupos de idosos indicam que tal ação é útil para a diminuição dos índices de inatividade física, bem como para o aumento dos relatos de bem-estar e melhora da qualidade de vida na população usuária da rede municipal. Quanto à existência de suporte familiar/cuidador, 84,7% dos idosos referiram que, caso precisassem, poderiam contar com esse tipo de atenção. Esse índice é considerado alto, quando comparado com o estudo de Paskulin & Vianna24 (2007), no qual se verificou ainda associação significativa entre grupo etário e percepção de contar com rede de apoio, passando esse suporte a ser significativo no segmento de 80 anos ou mais. Em relação à necessidade de cuidados diários, a maioria dos idosos (90,2%) relatou ser independente para a sua realização. Em geral, essa necessidade inclui a realização do autocuidado, como banhar-se, vestir-se e deambular, entre outros, sendo frequentemente utilizada como indicador de incapacidade funcional, refletindo o nível de comprometimento do idoso. Esse resultado é semelhante aos estudos realizados em Caracol (Piauí) e Garrafão do Norte (Pará), nos quais praticamente todos os idosos relataram ser capazes de realizar as atividades da vida diária.2 Na periferia de São Carlos (São Paulo), cerca de metade dos idosos referiu a necessidade de ajuda para realizar pelo menos uma tarefa diária.17 No tocante à ocorrência de quedas, 85,83% dos idosos não tiveram nenhuma queda nos últimos 6 meses. Esse baixo índice de quedas é similar ao estudo realizado por Cesar et al.2 (2008), no qual 90,5% (Piauí) e 86,4% (Pará) dos idosos relataram não ter caído nas 4 semanas anteriores ao inquérito. De acordo com Padoin et al.28 (2010), a taxa de queda entre idosos é da ordem de 30% ao ano, podendo aumentar com o avanço da idade. Para Siqueira et al.29 (2007), as chances de quedas recorrentes aumentam entre as mulheres, em idades mais avançadas, nível socioeconômico baixo, estilo de vida sedentário, 7/16/13 10:07 AM 44 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA autopercepção de saúde ruim e entre os idosos que referem maior número de medicamentos para uso contínuo. No que tange à internação hospitalar nos últimos 6 meses, 91,84% dos idosos não precisaram passar por nenhum tipo de internação. A hospitalização é considerada de grande risco, especialmente para as pessoas mais idosas, e, como repercussões desse processo, Siqueira et al.30 (2004) afirmam que podem ocorrer diminuição da capacidade funcional e mudanças na qualidade de vida, muitas vezes, irreversíveis. O período prolongado de internação do idoso, segundo Santos31 (2007), favorece o estabelecimento de incapacidades, o aumento da exposição a riscos de infecção hospitalar e o surgimento de diversas complicações que podem interferir em seu estado de saúde e recuperação. A população de idosos deste estudo apresentou alta prevalência de doenças crônicas, destacando-se as doenças do aparelho circulatório. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2010, entre as doenças do aparelho circulatório que afetam os idosos, a hipertensão arterial é a mais referida em todos os subgrupos, com 53,3%, e constitui a principal causa de óbitos no país.7 Em consonância com os achados desta pesquisa, as doenças do aparelho circulatório aparecem também como primeira causa de morbidade hospitalar no estudo de Amaral et al.32 (2004), com percentual superior a 26%. Santos & Barros33 (2008), estudando o perfil de morbimortalidade em idosos hospitalizados no município de Recife (Pernambuco) no ano de 2005, utilizaram dados do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) e encontraram como as principais causas de hospitalização doenças do aparelho circulatório (25,9%), do aparelho digestivo (14,1%), do aparelho respiratório (12,7%), neoplasias (8,7%) e causas externas (6,7%). A elevada incidência de hipertensão arterial encontrada neste estudo entre os problemas de saúde autorreferidos pelos idosos que compuseram a amostra é semelhante aos dados de outros estudos populacionais.11,12,17,34 No caso do estudo de Feliciano et al.17 (2004), na periferia de São Carlos (São Paulo), e o de Rodrigues et al.34 (2008), realizado com idosos de Ribeirão Preto (São Paulo), mais da metade dos entrevistados apresentava hipertensão arterial. No estudo de Piccini et al.35 (2006), realizado em 41 municípios nas regiões Sul e Nordeste, constatou-se a prevalência de hipertensão arterial em quase dois terços da amostra de idosos – 62% no Sul e 65% no Nordeste –, enquanto o diabetes mellitus atingiu um quinto, correspondendo a 20% no Sul e 19% no Nordeste. Na Região Sul, 16% dos idosos referiram ser portadores de hipertensão arterial e diabetes mellitus, enquanto, no Nordeste, essa proporção foi de 14%. Campos et al.13 (2009), estudando a distribuição espacial de idosos com diabetes e hipertensão arterial no município de Botucatu (São Paulo), encontraram maior prevalência de hipertensão e diabetes entre as mulheres (52,6% e 15%, respectivamente). A identificação precoce dos casos e o estabelecimento do vínculo entre os idosos e as unidades básicas de saúde são elementos imprescindíveis para o sucesso do controle desses agravos. O acompanhamento e o controle da hipertensão arterial e do diabetes mellitus, no âmbito da atenção básica, poderá evitar o surgimento e a progressão das complicações, reduzindo o número de internações hospitalares, bem como a mortalidade devida a esses agravos. A partir da compreensão do perfil de saúde dos idosos prevalentes em determinada região, são estabelecidos os indicadores para o fornecimento de serviços e de recursos adequados. No presente estudo, verificou-se que os idosos apresentaram características do envelhecimento ativo e saudável, o que deve direcionar ações de saúde preventivas e/ou curativas na rede municipal de Belém, visando prolongar o máximo possível a condição de autonomia e independência que esses idosos possuem. Espera-se, portanto, que a presente pesquisa auxilie no planejamento de estratégias específicas direcionadas à população idosa, em âmbito regional. RE FERÊNCIAS 1. Borges PLC, Bretas RP, Azevedo SF, Barbosa JMM. Perfil dos ido- sos frequentadores de grupos de convivência em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saúde Pública. 2008; 24(12):2798-2808. 2. Cesar JA, Oliveira-Filho JA, Bess G et al. Perfil dos idosos residentes em dois municípios pobres das regiões Norte e Nordeste do Brasil: resultados de estudo transversal de base populacional. Cad Saúde Pública. 2008; 24(8):1835-1845. 3. Cruz DT, Caetano VC, Leite ICG. Envelhecimento populacional e bases legais da atenção à saúde do idoso. Cad Saúde Colet. 2010; 18(4):500-508. 4. Veras R. Envelhecimento populacional contemporâneo: demandas, desafios e inovações. Rev Saúde Pública. 2009; 43(3):548-554. 5. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sinopse do censo demográfico 2010: distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade – Belém/PA, 2010a. 6. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Book Revista G&G.indb 44 7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010b. 8. Stumm EMF, Zambonato D, Kirchner RM et al. Perfil de idosos assistidos por unidades de Estratégia de Saúde da Família que sofreram infarto agudo do miocárdio. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2009; 12(3):449-461. 9. Alves LC, Leite IC, Machado CJ. Perfis de saúde dos idosos no Brasil: análise da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2003 utilizando o método Grade of Membership. Cad Saúde Pública. 2008; 24(3):535-546. 10. Uchôa E. Contribuição da antropologia para uma abordagem das questões relativas à saúde do idoso. Cad Saúde Pública. 2003; 19(3):849-853. 11. Venturini I, Rosado LEFP, Cotta RMM et al. Identificação da área de influência do serviço de atenção básica do sistema público de saúde à população idosa, município de Viçosa-MG. Ciência & Saúde Coletiva. 2008; 13(4):1293-1304. 7/16/13 10:07 AM Perfil de Idosos | 45 12. Garcia ESS, Saintrain MVL. Perfil epidemiológico de uma popula- ção idosa atendida pelo Programa Saúde da Família. Rev Enferm Uerj. 2008; 17(1):18-23. 13. Campos FG, Barrozo LV, Ruiz T et al. Distribuição espacial dos idosos de um município de médio porte do interior paulista segundo algumas características sociodemográficas e de morbidade. Cad Saúde Pública. 2009; 25(1):77-86. 14. Organização Mundial de Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005. 15. Ayres M, Ayres Junior M, Ayres DL, Santos AAS. BioEstat 5: aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. 5. ed. Belém: Publicações Avulsas do Mamirauá, 2007. 16. Lima-Costa MFF, Guerra HL, Firmo JOA, Uchoa E. Projeto Bambuí: um estudo epidemiológico de características sociodemográficas, suporte social e indicadores de condição de saúde dos idosos em comparação aos adultos jovens. Informe epidemiológico do SUS. 2002; 11(2):91-105. 17. Feliciano AB, Moraes AS, Freitas ICM. O perfil do idoso de baixa renda no município de São Carlos, São Paulo, Brasil: um estudo epidemiológico. Cad Saúde Pública. 2004; 20(6):1575-1585. 18. Menezes TN, Lopes FJM, Marucci MFN. Estudo domiciliar da população idosa de Fortaleza/CE: aspectos metodológicos e características sociodemográficas. Rev Bras Epidemiol. 2007; 10(2):168171. 19. Tannure MC, Alves M, Sena RR, Chianca TCM. Perfil epidemiológico da população idosa de Belo Horizonte, MG, Brasil. Rev Bras Enferm. 2010; 63(5):817-822. 20. Victor JFV, Ximenes LB, Almeida PC, Vasconcelos FF. Perfil sociodemográfico e clínico de idosos atendidos em Unidade Básica de Saúde da Família. Acta Paul Enferm. 2009; 22(1):49-54. 21. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2009. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 22. Morais EP, Rodrigues RAP, Gerhardt TE. Os idosos mais velhos no meio rural: realidade de vida e saúde de uma população do interior gaúcho. Texto Contexto Enferm. 2008; 17(2):374-383. 23. Pinto JLG, Garcia ACO, Bocchi SCM, Carvalhaes MABL. Características de apoio social oferecido a idosos de área rural assistidos pelo PSF. Ciência & Saúde Coletiva. 2006; 11(3):753-764. Book Revista G&G.indb 45 24. Paskulin LMG, Vianna LAC. Perfil sociodemográfico e condições de saúde autorreferidas de idosos de Porto Alegre. Rev Saúde Pública. 2007; 41(5):757-768. 25. Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX et al. Atividade física em adultos e idosos residentes em áreas de abrangência de unidades básicas de saúde de municípios das regiões Sul e Nordeste do Brasil. Cad Saúde Pública. 2008; 24(1):39-54. 26. Alves JGB, Siqueira FV, Figueiroa JN et al. Prevalência de adultos e idosos insuficientemente ativos moradores em áreas de unidades básicas de saúde com e sem Programa Saúde da Família em Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública. 2010; 26(3):543-556. 27. Brasil. Portaria n.º 971 de 3 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Ministério da Saúde. 2006; 3 mai. 28. Padoin PG, Gonçalves MP, Comaru T, Silva AMV. Análise comparativa entre idosos praticantes de exercício físico e sedentários quanto ao risco de quedas. O mundo da saúde. 2010; 34(2):158164. 29. Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX et al. Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Rev Saúde Pública. 2007; 41(5):749-756. 30. Siqueira AB, Cordeiro RC, Perracini MR, Ramos LR. Impacto funcional da internação hospitalar de pacientes idosos. Rev Saúde Pública. 2004; 38(5):687-694. 31. Santos MIPO. Perfil dos idosos internados no Hospital Geral de Belém (Pará). Esc Anna Nery R Enferm. 2007; 11(1):23-29. 32. Amaral ACS, Coeli CM, Costa MCE et al. Perfil de morbidade e de mortalidade de pacientes idosos hospitalizados. Cad Saúde Pública. 2004; 20(6):1617-1626. 33. Santos JS, Barros MDA. Idosos do município do Recife, estado de Pernambuco, Brasil: uma análise da morbimortalidade hospitalar. Epidemiol Serv Saúde. 2008; 17(3):177-186. 34. Rodrigues RAP, Scudeller PG, Pedrazzi EC et al. Morbidade e sua interferência na capacidade funcional de idosos. Acta Paul Enferm. 2008; 21(4):643-648. 35. Piccini RX, Facchini LA, Tomasi E et al. Necessidades de saúde comuns aos idosos: efetividade na oferta e utilização em atenção básica à saúde. Ciência & Saúde Coletiva. 2006; 11(3):657-667. 7/16/13 10:07 AM A rtigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA 46 | REVISTA ACCURACY OF GLOMERULAR FILTRATION RATE ESTIMATION FORMULAS FOR DETECTING MODERATE CHRONIC KIDNEY DISEASE IN ELDERLY BRAZILIANS José Roberto de Almeidaa, Vinicius Daher Alvares Delfinob, Rejane Tavares de Limac, Maria Emília Faverod, Marcelo Tatit Sapienzae, Tiemi Matsuof A B ST RAC T Keywords Aged, chronic kidney disease (CKD), cystatin C, 51Cr-EDTA, Glomerular filtration rate (GFR) Objective: The objective of this study was to investigate the accuracy of a glomerular filtration rate (GFR) estimation equation based upon serum cystatin C (Hojs) and the abbreviated Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) study and the Cockcroft-Gault (CG) corrected for body surface area (CG-BSA) estimation equations for detecting moderate chronic kidney disease against 51Cr-EDTA clearance (taken as the gold standard) in southern elderly Brazilians. Method: An Observational prospective study in which GFR estimates via CG without BSA correction were performed in 160 community patients 60 aged or more. The ones with estimated GFR < 60/ml/min underwent GFR determination using 51Cr-EDTA clearance. The GFR obtained with this method was compared with GFR estimates obtained via CG-BSA, MDRD and Hojs. Results: 69,1% of the patients were female. Forty of the 160 studied elderly studied had an estimated GFR < 60/ml/min and underwent GFR determination using 51Cr-EDTA. Of the forty patients with an estimated GFR < 60 ml/min, only 18 presented GFR values < 60 ml/min/1.73 m2 using 51Cr-EDTA clearance. The accuracy within 30% was 78% for MDRD, 75% for CG-BSA and 45% for Hojs, with a trend towards superiority of the first two equations over the last one. Conclusions: Either CG-BSA or MDRD can be used for GFR estimation in southern elderly Brazilians until larger studies about the subject are available. The common practice of using CG without BSA correction for chronic kidney disease screening led to overdiagnosis of the condition in our study. Acurácia de fórmulas de estimaTIva da taxa de filtração glomerular para detecção de doença renal crônica moderada em idosos brasileiros R e s um o Palavras-chave Envelhecimento, doença renal crônica (DRC), cistatina C, 51CrEDTA, Taxa de filtração glomerular (TFG) Objetivo: O objetivo deste estudo foi de investigar a acurácia de equações de estimativa de taxa de filtração glomerular (TFG) baseada na cistatina C (Hojs) e na fórmula abreviada do estudo MDRD (MDRD) e na fórmula de Cockcroft-Gault (CG) corrigida para superfície corpórea (CG-SC) para detectar Doença Renal Crônica Moderada comparada com a depuração de 51 Cr-EDTA ( padrão-ouro) em idosos do sul do Brasil. Métodos: Estudo observacional prospectivo no qual a TFG estimada pela formula CG sem correção BSA foi realizada em 160 pacientes da comunidade com 60 anos ou mais. Aqueles pacientes com TFG < 60 ml/min foram submetidos a determinação da TFG usando a depuração de 51Cr-EDTA. A TFG obtida com este método foi comparada com a TFG estimada obtida pelas fórmulas de CG- SC, MDRD e Hojs. Resultados: 69,1% dos pacientes eram do sexo feminino. Quarenta dos 160 idosos estudados tinham TFG < 60 mL /mL e foram submetidos a determinação da TFG usando a depuração de 51Cr-EDTA. Dos 40 pacientes com TFG estimada < 60 mL/min, apenas 18 pacientes apresentaram valores de TFG 60 mL/min/1.73 m2 usando a depuração de 51Cr-EDTA. A acurácia dentro dos 30% foi 78% para MDRD, 75% para CG-SC e 45% para Hojs, com um tendência de superioridade para primeira em relação às outras duas. Conclusão: As fórmulas de CG-SC ou MDRD podem ser usadas para estimativa da TFG entre idosos do sul Brasil até que grandes estudos estejam disponíveis. A prática comum de usar a fórmula de CG sem correção para SC para rastreamento de DRC levou a um excesso de diagnóstico em nosso estudo. Departamento de Clínica Médica, disciplina Geriatria/Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Concepção do estudo; coleta, análise e interpretação dos dados do estudo, esboço do artigo e fornecimento de conteúdo intelectual de importância crítica; aprovação final do manuscrito submetido. Departamento de Clínica Médica, disciplina Geriatria/Universidade Estadual de Londrina, Londrina,PR, Brasil Concepção do estudo; análise e interpretação dos dados do estudo; revisão do artigo e fornecimento de conteúdo intelectual de importância crítica; aprovação final do manuscrito submetido. c Departamento de Medicina Nuclear, Laboratório Labimagem, Londrina, PR, Brasil. Concepção do estudo; análise e interpretação dos dados do estudo; aprovação final do manuscrito submetido. d Departamento de Patologia Aplicada, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Concepção do estudo; desempenho dos testes laboratoriais além do Cr-EDTA utilizado no estudo; análise e interpretação dos dados do estudo; aprovação final do manuscrito submetido. e Departamento de Radiologia, Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina de São Paulo, SP, Brasil. Concepção do estudo; desempenho das depurações plasmáticas do Cr-EDTA; análise e interpretação dos dados do estudo; aprovação final do manuscrito submetido. f Departamento de Matemática Aplicada, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil. Concepção do estudo; análise estatística e interpretação dos dados do estudo; aprovação final do manuscrito submetido. a b Dados para correspondência José Roberto de Almeida – Departamento de Clínica Médica – Disciplina de Geriatria da Universidade Estadual de Londrina – Av Robert Koch, 60 – Hospital Universitário – Tel.: (43) 33243524 – Fax: (43) 33243524 – [email protected] Book Revista G&G.indb 46 7/16/13 10:07 AM GFR Estimation Formulas for Detecting CKD | 47 IN TRO D UC T ION Over the last few years, continuous increases in chronic kidney disease (CKD) prevalence have been observed around the world.1 These increases have mainly been concentrated among the elderly, who are more prone to developing CKD because of age-related physiological and structural kidney changes, as well as higher prevalence of hypertension and diabetes.2 Because of muscle mass loss relating to old age, serum creatinine is considered to be an imprecise marker of the glomerular filtration rate (GFR) among the elderly. It has been suggested that serum cystatin C, a protein that inhibits proteinase cysteine because it does not depend on the muscle mass, could be a better marker for the GFR among this group of patients.3 Early detection of CKD is important, since there are measures that are capable of reducing its progression and its high cardiovascular-related mortality. On the other hand, undue diagnosis of CKD results in unnecessary expenditure for the health system4 and may have a strong psychological impact on patients.5 A few years ago, the American National Kidney Foundation (NKF) established criteria for CKD diagnosis and management,6 which were incorporated by the Brazilian Nephrology Society (SBN).7 According to these criteria, GFR is estimated by serum creatinine using the Cockcroft-Gault (CG) formula, or by the abbreviated formula (four variables) of the Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) study. Individuals presenting values lower than 60 ml/min/1.73 m2 for three months and over are classified as having CKD, independently of age and of the presence of urinary abnormalities or kidney morphological alterations.6,7 Nephrologists, other medical specialists and other healthcare professionals have undertaken an intense campaign aiming to disseminate the use of the NKF’s definition of CKD for early diagnosis of this condition.5 However, it has occasionally happened that Brazilian 8 and international 2,9 studies have established the diagnosis of CKD, calculated the associated cardiovascular risk, and reported on the specialized treatment referral, without consideration of the three key points of CKD definition by the NKF. These points are: GFR reduction for three months or over; the correction factor for African-descendents in the MDRD formula; and the normalization of GFR values obtained via the CG formula, using the body surface area (BSA) index of 1.73 m2. Only after taking these measures can patients be diagnosed as having CKD.6,7,10 The present study was designed with the primary objective of investigating the accuracy of the two formulas suggested by the NKF (MDRD and CG)11,12 and that of a formula for GFR estimation based on serum Cystatin C (Hojs)13 for detecting moderate chronic kid- Book Revista G&G.indb 47 ney disease , in relation to the51 Cr-EDTA kidney clearance. The study population consisted of healthy elderly volunteer subjects, in whom the initial GFR estimation by the CG non-normalized formula for BSA 1.73 m2 was < 60 ml/min. ME T H O D S Study design, population and samples The subjects were recruited from a population of elderly individuals, with walking capability who volunteered for this study, in the city of Londrina, in the southern Brazil. At the end of the talk about depression and Alzheimer’s disease, given by the first author of the present paper in community centers, the audience was informed about the objectives of the present study. The possibility of participation was then opened up for the elderly people who attended the talk. Those who were interested in participating were instructed to leave their contact telephone number in their reference primary healthcare unit. The same author then called the elderly subjects in for an initial interview, which also clarified the aims of the study. There was no sample size determination or exclusion criterion. The study was approved by the Ethics Committee for Research Involving Human Beings of the State University of Londrina (no. 214/05). After signing a free and informed consent statement, 160 elderly subjects were consecutively included in this observational study between October 1, 2007 and January 31, 2009. Subjects were screened for CKD presence using CG formula, non-normalized for 1.73 m2 BSA, which is the CKD screening generally used in our place. Subjects with estimated GFR < 60/ml/min underwent GFR determination using 51Cr-EDTA clearance. During the study period, two subjects with clearance < 60 ml/min estimated from the CG formula died before undergoing the radioisotopic determination of GFR. A further group of six patients with estimated clearance > 60 ml/min were lost to follow-up, thus leaving 152 subjects for the final analysis. A summary of the study design is presented in Figure 1. The protocol for the first clinical evaluation included demographic data, anthropometric values, medications in use, previous history of arterial hypertension, diabetes mellitus, acute myocardial infarction, heart failure, peripheral arterial failure and stroke. At the end of this initial clinical evaluation, a fasting serum creatinine test was requested for GFR estimation. The baseline clinical and laboratory characteristics of these patients are shown in Table 1. Other clinical parameters and laboratory tests were documented, but these data were not relevant to the present study. 7/16/13 10:07 AM 48 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA 6 losses from follow-up 160 elderly people: consent statement, interview, physical examination and tests requested Elderly people invited to participate in the study (in community centers) 154 elderly people: GRF estimation using CG formula 42 patients CG < 60 mL/min 112 patients CG < 60 mL/min 2 deaths 40 patients 51Cr-EDTA, creatinine and cystatin C Figure 1 Schematic representation of the study. Ethnicity Table 1 Patients’ characteristics according to GFR ≥ 60 ml/min (n = 112) or < 60 ml/min (n = 40), estimated from the CG formula. Variables presented as medians and amplitudes or as percentages. CG < 60 CG > 60 Valor de p Age 74.5 (63 – 85) 67 (60-84) < 0,0001* Feminin sex 26 (65.0%) 79 (70.5%) 0,515† BMI (kg/m2) 25.1 (17.4 – 45.4) 30.1 (19.4-58.4) < 0,0001* Asian 9 (22.5%) 7 (6.3%) 0,033‡ White 23 (57.5%) 79 (70.5%) Black 2 (5.0%) 12 (10.7%) Mixed 6 (15.0%) 14 (12.5%) Arterial hypertension 25 (62.5%) 70 (62.5%) 1,0† Diabetes mellitus 8 (20.0%) 40 (35.7%) 0,066† Cardiovascular disease 9 (22.5%) 12 (10.7%) 0,063† ACEI or ARB 19 (47.5%) 50 (44.64%) NSAID 2 ( 5%) 1 (0.9%) Initial creatinine (mg/dl) 1.0 (0.63 – 2.67) 0.76 (0.37 – 1.40) < 0,0001 Initial CG (ml/min) 50.3 (15.3 – 59.5) 80.2 (60.2 – 154.3) < 0,001* Creatinine 2 (mg/dl) 0.77 (0.40 – 2.07) § NA Interval between initial creatinine and creatinine 2 (days) 102.5 (9 – 368) NA CG 2 (ml/min) 62.21 (19.77 – 111.15) NA CG 2-BSA (ml/min/1.73 m2) 67.45 (22.80 – 31.87) NA GFR 51Cr -EDTA (ml/min/1.73 m2) 61.15 (17.20 – 3.49) NA MDRD (ml/min/1.73 m2) 69.11 (30.34 – 116.33) NA Serum cystatin C (mg/l) 1.08 (0.78 – 2.61) NA Hojs (ml/min/1.73 m2) 82.96 (28.88 – 121.87) NA * p value from Mann-Whitney test; † p value from chi-square test; ‡ p value from Fisher’s exact test; BMI = body mass index; CG = Cockcroft-Gault formula; creatine 2 = creatinine measurement made on day of determining 51Cr-EDTA; CG 2 = CG estimated using creatinine measurement from day of determining 51Cr-EDTA; CG 2-BSA = CG estimated using creatinine measurement from day of determining 51Cr-EDTA, normalized for BSA; GFR 51Cr-EDTA = GFR measured using radioisotope; Hojs = GFR estimated by mean s of serum cystatin; cardiovascular disease: history of acute myocardial infarct or stroke or heart failure or peripheral artery failure; NA = not applicable; NS = p non-significant; § p < 0.001 for difference between initial creatinine and creatinine 2; ACEI = use of angiotensin II-converting enzyme inhibitor; ARB = use of angiotensin II receptor blocker; NSAID = use of nonsteroidal anti-inflammatory drug. Book Revista G&G.indb 48 7/16/13 10:07 AM GFR Estimation Formulas for Detecting CKD | 49 Laboratory tests Serum creatinine assay Serum creatinine was assayed using a modified version of Jaffé’s kinetic method, using the Dimension RXL apparatus (Dade Behring, Marburg, Germany), with a kit provided by the apparatus maker using two decimal places. The reference values for creatinine were 0.8-1.3 mg/dl for males and 0.6-1.0 mg/dl for females. The coefficient of variation (CV) for creatinine in our study was 0.018 (CV informed by the manufacturer = 0.058). To the creatinine value obtained from the apparatus used in this study, the value 0.15 was added for correction for differences between the apparatus used in this study and in the MDRD study (correction recommended by the kit manufacturer). Serum Cystatin C assessment Serum Cystatin C was assessed by immunonephelometry in a BNII nephelometer (Dade Behring, Marburg, Germany), using the kit provided by the manufacturer. The reference values for Cystatin C were 0.53-0.95 mg/l, for both sexes. The CV for Cystatin C in our study was 0.03 (CV informed by the manufacturer = 0.028). Microalbumirunia assessment Albumin, together with creatinine, was assessed in a morning-void urine sample in all 160 study subjects. Albumin was measured by imunoturbidimetry in Cobas Mira Plus (Roche), using kit by Ebran. The sensitivity of the assay is 3.6 mg/ dL. Creatinine was measured as already described. The results were presented as albumin/creatininine ratio (ACR). ACR > 30 mg/g was defined as microalbuminuria; ACR > 300 mg/g was defined as macroalbuminuria. GFR assessment GFR determination using 51Cr-EDTA Injection of 51Cr-EDTA and blood sampling from the patients were carried out in the Labimagem laboratory in the city of Londrina, Paraná, by one of the authors (RTL), a nuclear medicine specialist. The patients were instructed to fast for 12 hours overnight, preceding the test. On the day of the GFR assessment, the patients were instructed to drink 600 to 800 ml of water before starting the test, and they were encouraged to drink more water to keep up a high urinary volume during the test. The initial sampling consisted of a 10 ml blood sample collected from one of the forearms of each patient, in order to assay serum creatinine and cystatin C. Next, a single 1 ml dose of a solution prepared by IPEN-SP (Energy and Nuclear Research Institute of São Paulo) containing 3.7 MBq (100 µCI) of 51Cr-EDTA was injected intravenously into the other forearm. This injection was carried out by means of a syringe, which was further washed with 10 ml saline, in order to ensure complete 51Cr-EDTA injection. The precise dose injected was obtained by weighing the syringe in a high precision analytical balance, before and after the injection. Two and four hours after injection of the radioactive tracer, blood samples were obtained to measure it. GFR was assessed by means of the curve intercept method, as previously described.14 GFR estimation using equations based on serum creatinine and C cystatin GFR estimates based on serum creatinine were produced using the CG12 and MDRD formulas (shortened form, with four variables).11. The shortened MDRD formula provides BSA-adjusted results. The results obtained from the CG formula were normalized for BSA 1.73 m2 using the DuBois and DuBois formula15 (CG-BSA), in order to be able to use the NKF/SBN definitions for CKD. For GFR estimates from serum cystatin C, the formula proposed by Hojs et al was used.13 The Hojs formula gives results that are already normalized for BSA. Table 2 shows the CG, MDRD and Hojs equations. In all of these formulas, age is registered in years and weight in kg. Table 2 Equations used for estimating GFR GFR unit Formula CG (ml/min) ([140 – age] weight/72 Cr) 0,85 (F) MDRD (ml/min/1.73 m2) 186 Cr-1,154 age-0,203 0,742 (F) 1.210 (balck ethnicity) Hojs (ml/min/1.73 m2 ) 90,63 Cys-1,192 CG = Cockcroft-Gault formula; MDRD = shortened MDRD formula; Hojs = Hojs formula; Cr = serum creatinine (mg/dl); Cys = cystatin C (mg/l); F = female sex Definitions used in this study Diabetes mellitus was defined in accordance with the American Diabetes Association as fasting blood glu- Book Revista G&G.indb 49 cose ≥ 126 mg/dl, non-fasting blood glucose ≥ 200 mg/dl or use of oral hypoglycemic drugs.16 7/16/13 10:07 AM 50 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA mg/g creatinine in a morning urine sample), whereas 4 among the 22 individuals with 51Cr-EDTA ≥ 60 ml/ min/1.73 m2 presented microalbuminuria. Macroalbuminuria was not seen in any patient. A Statistical analysis RESULTS The study subjects’ characteristics are shown in Table 1. In analyzing the estimated GFR performance using CG-BSA, MDRD and Hojs, the three equations showed different errors. They all overestimated the GFR estimated by means of 51Cr-EDTA: in MDRD, the overestimation was 10.2; in CG-BSA, it was 9.6; and in Hojs, it was 20.4 ml/min/1.73 m2. Analysis of the differences in SD between the radioisotopemeasured GFR and the estimated GFR showed that all three equations presented similar imprecision. These values were 13.7, 14.3 and 13 ml/min/1.73 m2 for the CG-BSA, MDRD and Hojs formulas, respectively. The accuracy within 30% was 78% for MDRD, 75% for CG-BSA, and 45% for the Hojs formula. Figure 2 and Table 3 present these results. Among the 40 individuals referred for GFR determination by means of 51Cr-EDTA because they presented CG-estimated GFR < 60 ml/min, only 18 showed GFR measured by means of 51Cr-EDTA < 60 ml/min/1.73 m2. From these 18 individuals with 51Cr-EDTA< 60 ml/ min/1.73, only 3 presented microalbuminuria (> 30 Book Revista G&G.indb 50 80 60 +1,96 SD 51,9 20 40 20 Mean 14,5 0 -1,96 SD -22,9 -20 -40 20 40 60 80 100 120 Mean difference in GRF between 51Cr-EDTA and CG-BSA B GFR MDRD - GFR 51Cr (mL/min/1,73m2) 60 50 +1,96 SO 39,8 40 30 20 Mean 10,5 10 0 -10 -1,96 SD -18,9 -20 -30 20 40 60 80 100 120 Mean difference in GRF between 51Cr-EDTA and MDRD C 50 GFR Rojs - GFR 51Cr (mL/min/1,73m2) The data are presented as means ± standard deviation (SD), medians and range, and as proportions, depending on the data distribution. The results were considered to be statistically significant when p < 0.05. The serum creatinine and Cystatin C values obtained in the same day as the GFR determination by means of 51Cr-EDTA assessment were used, in order to compare the performance of the CG-BSA, MDRD and Hojs formulas using the Bland and Altman method . The mean difference between the estimated and measured GFR values was taken to be the GFR difference. The SD amplitudes of the different means were used to establish the precision. The accuracy within 30% for the different equations was established as the percentage of results that did not deviate more than 30% from the GFR measured by means of 51Cr-EDTA. For comparisons between the two study groups, the Mann-Whitney test, chi-square test and Fisher’s exact test were used, as indicated. GFR CG-GSA - GFR 51Cr (mL/min/1,73m2) Systemic arterial hypertension was defined according to the VII JNC as systolic blood pressure ≥ 140 mmHg and/or diastolic blood pressure > 90 mm Hg, or the use of hypotensive drugs.17 The presence of cardiovascular comorbidities (acute myocardial infarction, heart failure, peripheral artery failure and stroke) was defined according to the patient’s history. In order to define the ethnic origin and color, the criteria created by the Brazilian Institute for Geography and Statistics (IBGE) were used.18 Patients classified themselves as white, Asian, mixed or black. +1,96 SD 46,3 40 30 Mean 20,4 20 10 0 -1,96 SD -5,4 -10 20 40 60 80 100 120 Mean difference in GRF between 51Cr-EDTA and Rojs Figure 2 Bland and Altman graph for the differences in GFR between measurement by means of 51Cr-EDTA and the estimates from mathematical formulas. On the X-axis, the mean GFR; and on the Y-axis, the difference between the GFR estimated and the measured GFR via (A) CG-BSA, (B) MDRD and (C) Hojs. CG-BSA: Cockcroft-Gault formula, normalized for body surface area; Hojs: formula of Hojs et al for estimating GFR from cystatin C; MDRD: shortened formula from the MDRD study. 7/16/13 10:07 AM GFR Estimation Formulas for Detecting CKD | 51 Table 3 Error, precision and accuracy within 30%, for different GFR estimation formulas, in relation to GFR measured by means of 51Cr-EDTA Formula Error mL/min/1.73 m2 CG-BSA 9.6 20.4 10.2 Hojs MDRD Accuracy Precision mL/min/1.73 m2 within 30% 13.7 13 14.3 75% 45% 78% 95% CI for accuracy (58.5-86.8) (29.6-61.3) (61.1-88.6) Error was defined as the mean difference between estimated and measured GFR; precision as one standard deviation of the error; accuracy was calculated as the percentage of the patients whose estimated GFR did not deviate more than 30% from the GFR measured by means of 51Cr-EDTA; CG-BSA: Cockcroft-Gault formula, normalized for BSA; Hojs: formula of Hojs et al for estimating GFR from cystatin C; MDRD: shortened formula from the MDRD study Taking the results from GFR measurements by means of 51Cr-EDTA to be the gold standard, the MDRD, CGBSA and Hojs formulas were capable to correctly identify the presence of CKD in 77.8% (14 of 18 patients with 51 Cr-EDTA < 60 ml/min/1.73 m2) 66.6% (12 of 18 patients with 51Cr-EDTA < 60 ml/min/1.73 m2 ) and 44.4% (8 of 18 patients with 51Cr-EDTA < 60 ml/min/1.73 m2) of the cases, respectively (17 patients were in stage 3 of CKD, i.e. GFR between 59 and 30 ml/min/1.73 m2, and only one was in stage 4 of CKD, i.e. GFR between 29 and 15 ml/min/1.73 m2). Misclassification of CKD occurred with all tested formulas. D ISCUSSION GFR determination is considered to be the best index for overall kidney function, and it is used to classify CKD. Just as early diagnosis of CKD is important, it is also important that patients with normal kidney function should not inadvertently be identified as having CKD. The present guidelines from NKF/SBN recommend that the CG-BSA and MDRD mathematical formulas based on serum creatinine should be used for estimating GFR and staging CKD.8,9 These guidelines consider that, independently of age, estimated GFR < 60 ml/min/1.73 m2 for three months and over is an indicative of CKD. However, for diagnosing CKD among the elderly people, some authors have suggested that creatinine age-specific percentiles19 or the presence of albumin in the urine20 should be used. These suggestions particularly apply when GFR is between 10-15 ml/minute/1.73 m2 below the level of 60 ml/min/1.73 m2 established by the NKF for defining CKD.6,19 Other authors have suggested that serum cystatin C may be a better GFR marker than creatinine among elderly individuals.21 It is known that the production of creatinine varies considerably within and between individuals, thus giving rise to variability in serum creatinine values. This may not allow trustworthy estimation of kidney func- Book Revista G&G.indb 51 tion using only one assessment of creatinine values, particularly among patients who are very ill, as well as among children and the elderly people.22 For example, in an assessment on the criteria for chronicity of CKD according to the NKF, Eriksen and Ingebresten reported that out of 37% of the patients who were initially classified as presenting stage 3 CKD, only 16% retained this classification after one year of observation.23 The mean age of this group was 76.4 years. The relevance of creatinine variability can also be observed in the present study. The creatinine values used for patient selection for assessment of GFR by means of 51Cr-EDTA were significantly higher than those found on the day of the GFR determination using 51Cr-EDTA (median interval between the two creatinine tests of 102.5 days; range 9-368 days). Creatinine variability was not related to technical problems in its determination, since the CV for this evaluation was 0.018. Studies comparing the accuracy of the CG-BSA and MDRD formulas for CKD detection among the elderly people are available, but they are difficult to extrapolate because of the different ethnic groups involved in the populations studied. They also use different methods for determining serum creatinine levels, frequently without using creatinine calibration. In addition, they use different gold standards. Using the same gold standard as in the present study, Lamb et al. assessed 52 Caucasian patients with a mean age of 80 years, and concluded that there was a small advantage in using the MDRD formula, over using CG-BSA for estimating GFR.24 Wasen et al., assessing 1246 elderly subjects with a mean age of 74 years, described a good correlation between cystatin C and both CG-BSA and MDRD. In that study, however, no gold standard was used for measuring GFR.25 Brazil is a country with high levels of ethnic miscegenation. In such a population, use of the MDRD formula could be expected to lead to some distortions. Among American Afro-descendents, for example, the results obtained with this formula need to be multiplied by 1.21, in order to correct for the greater muscle mass of this ethnic group. For the inverse reason, the results must be multiplied by 0.881 among Asian descendents.26 Despite the ethnic heterogeneity observed in the present study (17 out of 40 patients with GFR assessed by means of 51Cr-EDTA declared themselves to be non-white: two as black, six as mixed and nine as Asian), the performance of the MDRD formula was identical to that of the CG-BSA formula. This may have been because, in Brazil, the ethnic phenotype does not correlate well with the ethnic genotype.27 Taking into consideration the several existing formulas for GFR estimation from serum C cystatin, it was decided for the present study to test the formula of Hojs et al, since it was developed in a comparative 7/16/13 10:07 AM 52 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA study between CG-BSA and MDRD. Their methodology was identical to the one used in the present study, with serum cystatin C levels assessed by immunonephelometry in the Dade Behring BNII apparatus, using GFR obtained from 51Cr-EDTA as the gold standard. Unlike those authors, the present study found this formula to be inferior to CG-BSA and MDRD for GFR estimation. In the study carried out by Hojs et al., it was not possible to precisely assess the mean age of the participants, since patients aged 55 years and over were grouped for sub-analysis. In the present study, cystatin C and creatinine correlated well with the GFR estimated from 51Cr-EDTA, without apparent superiority of one marker over the other. Using a serum cystatin C-based formula for GRF estimation that differed from the one used in the present study. Serum levels of cystatin C have been reported as being superior to those of serum creatinine for estimation of GFR among the elderly people, especially because they are not dependent upon the reduced muscle mass of the elderly people, as it is the case with creatinine assessments. This idea was seriously challenged by a recent American cross-sectional study involving 3418 patients, in which the cystatin C levels were 4.3% smaller for each 20-year increment of age, and was also 9.2% smaller for women and 1.9% smaller for the Afro-American ethnic group.28 It is certain that the present study has several limitations such as the small number of patients which limited the statistical power for group comparisons, a variable interval between the first and second creatinine assessments, and a large number of women (perhaps related to the manner in which the patients were selected). On the other hand, several positive points were also present, such as the GFR determination using a proper gold standard (51Cr-EDTA), simultaneously with the serum assessments of cystatin C and creatinine, and creatinine calibration with the MDRD study. Regarding the sample group, these were community-dwelling elderly individuals who were fully capable of walking, with a low likelihood of acute kidney failure, no apparent inflammatory or neoplastic diseases and no use of corticosteroids (factors that might have influenced the interpretation of serum levels of cystatin C.29 From the GFR estimation equations investigated, the MDRD and CG-BSA formulas presented similar accuracy, and both of these tended towards better accuracy than observed for the Hojs formula. This could not be fully confirmed because of the slight overlapping of confidence intervals. This, in addition to the much higher cost of cystatin C assessment, leads to the conclusion that both the MDRD and the CGBSA formula may be used for CKD screening among the elderly population of southern Brazil. This finding will hold true until larger studies exploring the question of ethnicity in relation to GFR estimation by means of the MDRD formula become available. It should be stressed that all formulas used for GRF estimation in our study resulted in considerable imprecision. Physicians need to be aware of the limitations of these formulas for CKD screening, specially in the aged. Conflict of interest The authors declare that there is no conflict of interests. RE FERENCES 1. Hallan SI, Coresh J, Astor BC et al. International comparison of the relationship of chronic kidney disease prevalence and ESRD risk. J Am Soc Nephrol. 2006; 17:2275-2284. 2. Atkins RC. The epidemiology of chronic kidney disease. Kidney Int. 2005; 94(Suppl):14-18. 3. Prates AB, Amaral FB, Vacaro MZ et al. Avaliação da filtração glomerular através da medida da cistatina C sérica. J Bras Nefrol. 2007; 29:48-55. 4. Glassock RJ, Winearls C. Screening for CKD witch eGFR: doubts and dangers. Clin J Am Soc Nephrol. 2008; 3:1563-1568. 5. Tong A, Sainsbury P, Chadban S et al. Patients experiences and perspectives of living with CKD. Am J Kidney Dis. 2009; 53:689700. 6. National Kidney Foundation. K/DOQI clinical practice guidelines for chronic kidney disease: evaluation, classification, and stratification. Am J Kidney Dis. 2002; 39 (Suppl 2):S1-S266. 7. Romão Jr JE. Doença renal crônica: definição, epidemiologia e classificação. J Bras Nefrol. 2004; 26 (Suppl1):1-3. 8. Bastos RMR, Bastos MG, Ribeiro LC et al. Prevalência da doença renal crônica estágio 3, 4, 5 em adultos. Rev Assoc Med Bras. 2009; 55:40-44. 9. Coresh J, Byrd-Holt D, Astor BC et al. Chronic kidney disease awareness, prevalence and trends among US adults, 1999 to 2000. J Am Soc Nephrol. 2005; 16:180-188. Book Revista G&G.indb 52 10. Pecoits-Filho R. Diagnóstico da doença renal crônica: avaliação da função renal. J Bras Nefrol. 2004; 26 (Suppl 1):4-5. 11. Levey AS, Greene T, Kusek JW et al. A simplified equation to pre- dict glomerular filtration rate from serum creatinine [Abstract]. J Am Soc Nephrol. 2000; 11:155 A. 12. Cockcroft DW, Gault MH. Prediction of creatinine clearance from serum creatinine. Nephron. 1976; 16:31-41. 13. Hojs R, Bevc S, Ekart R et al. Serum cystatin C-based equation compared to serum creatinine-based equation for estimation of glomerular filtration rate in patients with chronic kidney disease. Clin Nephrol. 2008; 70:10-17. 14. Brochner-Mortesen J. A simple method for the detection of glomerular filtration rate. Scand J Clin Lab Invest. 1972; 30:271-274. 15.DuBois D, DuBois EF. A formula to estimate the approximate surface area if height and weight are known. Arch Intern Med. 1916; 17:863-871. 16.The Expert Committee on diagnosis and classification of diabetes mellitus: Repot of expert committee on the diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care. 1997; 20:1183-1197. 17. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR et al., National Heart, Lung, and Blood Institute Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure; National High Blood Pressure Education Program Coordinating Committee. The Seventh report of the Joint National Commitee 7/16/13 10:07 AM GFR Estimation Formulas for Detecting CKD | 53 on prevention, detection, evaluation, and treatment of high blood pressure: The JNC 7 report. JAMA. 2003; 19:2560-2571. 18. hptt://ibge.gov.br/home (acessado em 12/1/2007). 19. Glassock RJ, Winearls C. An epidemic of chronic kidney disease: fact or fiction? Nephrol Dial Transplant. 2008; 23:1117-1121. 20. Jong PE, Gansevoort RT. Fact or fiction of the epidemic of chronic kidney disease – let us not squabble about estimated GFR only, but also focus on albuminuria. Nephrol Dial Transplant 2008; 23:10921095. 21. Herget-Rosenthal H, Bökenkamp A, Holmann W. How to estimate GFR ¾ serum creatinine, serum cystatin C or equation? Clin Biochem 2007; 40:153- 161. 22. O’Riordan SE, Webb MC, Stowe HJ et al. Cystatin C improves the detection of mild renal dysfunction in older patients. Ann Clin Biochem. 2003; 40:648-655. 23. Eriksen BO, Ingebretsen OC. In chronic kidney disease staging the use of the chronicity criterion affects prognosis and the rate of progression. Kidney Int. 2007; 72:1242-1248. Book Revista G&G.indb 53 24. Lamb EJ, Webb MC, Simpson DE et al. Estimation of glomerular filtration rate in older patients with chronic insufficiency: is the modification of diet in renal disease formula an improvement? JAGS. 2003; 51:1012-1017. 25. Wasen E, Isoaho R, Mattila K et al. Estimation of glomerular filtration rate in elderly: a comparison of creatinine-based formulae with serum cystatin C. J Intern Med. 2004; 256:70-78. 26. Imai E, Yamagata K, Iseki K et al. Kidney disease screening program in Japan: history, outcome and perspectives. Clin J Am Soc Nephrol. 2007; 2:1360-1366. 27. Pimenta JR, Zuccherato LW, Debes AA et al. Color and genomic ancestry in Brazilians: a study with forensic microllites. Hum Hered. 2006; 62:190-195. 28. Stevens LA, Schmid CH, Greene T et al. Factors others than filtration rate affect serum cystatin C levels. Kidney Int. 2009; 75:652660. 29. Wasen E, Isoaho R, Mattila K et al. Serum cystatin C in the aged: relationships with health status. Am J Kidney Dis. 2003; 42:36-43. 7/16/13 10:07 AM A rtigo originalGERIATRIA & GERONTOLOGIA 54 | REVISTA Comparando resultados de aplicações de questionário QI-AASI em idosos protetizados Ângela Ribasa, Giselle Massib, Bianca Zeigelboimc R e s um o Palavras-chave Fonoaudiologia, auxiliares de audição, surdez, satisfação, idoso. Introdução: A utilização de questionários para avaliação de rendimento de próteses auditivas é relevante na prática clínica da fonoaudiologia, pois fornece ao profissional dados que o auxiliam no acompanhamento dos pacientes. No Brasil e no mundo, são muitos os modelos de questionários propostos. Objetivo: O objetivo deste trabalho foi estudar o Questionário Internacional de Avaliação dos Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (QI-AASI) verificando se a aplicação dele interfere na qualidade da resposta do paciente. Métodos: Foram avaliados os resultados do QI-AASI de 400 pacientes idosos, alfabetizados e usuários de prótese auditiva, que foi aplicado em dois momentos: primeiro, o paciente respondeu às perguntas sozinho (autoaplicação) e, em um segundo momento, o pesquisador reaplicou o questionário fazendo as mesmas perguntas. Resultados: Os resultados revelam que não há diferença estatisticamente significante entre as respostas dadas pelo paciente no momento da autoavaliação ou no momento da aplicação pelo profissional. Conclusão: O instrumento apresenta resultados semelhantes quando autoaplicados pelo fonoaudiólogo. Comparing results of QI AASI questionnaire application in elderly patients with hearing AIDS A B ST RAC T Keywords Speech, language and hearing sciences, deafness, aged, hearing aids, satisfaction. Introduction: The use of questionnaires for the evaluation of auditory prosthesis output is very important in the clinical practice of speech-language pathology because it supplies the professional with important data that aids in patient follow-up. In Brazil and the rest of world there are many proposed models. Objective: The objective of this paper is to study the International Questionnaire for the Evaluation of Individual Sound Amplification Devices to verify if its application by the researcher interferes in the quality of the patient’s answer. Methods: The results of the questionnaire were evaluated in 400 elderly, literate patients, who used auditory prostheses; this was applied at two moments – first the patient answered the questions by himself (self-application) and secondly the researcher reapplied the questionnaire asking the questions himself. Results: The results revealed that there was no significant difference statistically among the answers given by the patients during self-evaluation or during the application by the professional. Conclusion: The instrument has similar results when applied by the patient or by the speech therapist. a Fonoaudióloga, Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná. Responsável pela coleta de dados, descrição e análise dos resultados e elaboração do manuscrito. b Fonoaudióloga, Doutora em Linguística. Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná. Participou da análise dos dados e elaboração do manuscrito. c Fonoaudióloga, Doutora em Distúrbios da Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do Paraná. Participou da análise dos dados e elaboração do manuscrito. Dados para correspondência Ângela Ribas – Rua José Izidoro Biazetto, 845, ap. 501, Curitiba - PR CEP 81200-240 – (41) 33317816 – [email protected] Book Revista G&G.indb 54 7/16/13 10:07 AM Aplicação do QI-AASI em Idosos | 55 IN T RO D UÇÃO A situação da assistência à pessoa idosa com deficiência no Brasil ainda apresenta um perfil de fragilidade, desarticulação e descontinuidade de ações nas esferas pública e privada. No âmbito assistencial, a maioria dos programas se revela bastante centralizada e atende a um reduzido número de idosos deficientes, além de não contemplar experiências comunitárias. Mais ainda: seus resultados raramente são avaliados.1 Nesse sentido, convém ressaltar que esses idosos sofrem uma violência indireta na medida em que lhes são negados cuidados necessários operados pela gestão pública. As violências contra os idosos se manifestam de forma estrutural, interpessoal e institucional. A violência estrutural diz respeito à que ocorre pela desigualdade social; a interpessoal refere-se às interações e relações cotidianas; a institucional vincula-se à omissão na gestão de políticas sociais e de instituições assistenciais.2 Assim, a avaliação da qualidade dos serviços públicos é um requisito indispensável quando o tema é saúde, e sua busca se faz presente em virtude da necessidade de atender exigências de uma população ciente de seus direitos.3 No contexto das ciências sociais, são três os principais caminhos para a obtenção de dados que permitam compreender determinada situação: a) observação do comportamento em ambiente real (estudo de caso); b) observação do comportamento em situações artificiais (experimento); c) aplicação de questionários sobre o que as pessoas fazem e pensam (survey).4 A utilização de questionários administrados em interação pessoal tem se mostrado uma ferramenta interessante para coleta de dados, pois é um método que tem a vantagem de permitir acesso a informações ricas em detalhes. Segundo Günther,4 o questionário pode ser definido como um conjunto de perguntas sobre determinado tópico de interesse que mede a opinião do respondente e seus interesses sobre determinado tema. Para tanto, o questionário deve avaliar algo existente e levantar as necessidades de algo que não existe, permitindo a distinção entre existência ou falta de algo externo ao indivíduo. O questionário é uma das maneiras mais populares para coletar dados. As respostas podem ser quantificadas facilmente. Para os autores, o questionário pode ser utilizado em entrevista face a face ou de forma que o respondente preencha as informações autonomamente. Como vantagens do questionário tem-se o uso eficiente do tempo, já que o instrumento pode ser preenchido no ritmo do respondente, e perguntas padronizadas. A vantagem dos itens padronizados é que o pesquisador controla o estímulo, o que facilita a análise.5 Os autores referem que uma das dificuldades apresentadas pelo questionário em pesquisas de diversas naturezas é que ele não é um bom instrumento para obtenção de explicações. Afirmam que, na administração do questionário, quando os mesmos itens são apresentados Book Revista G&G.indb 55 da mesma maneira, qualquer variação na resposta é o verdadeiro reflexo da variedade de visões e circunstâncias dos respondentes. Uma motivação para o respondente preencher fidedignamente o questionário é identificar alguma vantagem para si próprio. Entrevistas estruturadas são similares ao questionário porque tanto as perguntas como as respostas são estruturadas e permitem a aplicação em populações que não conseguem responder sozinhas ao instrumento. Uma das vantagens da entrevista estruturada é a reduzida possibilidade de o pesquisador influenciar, de modo a levar tendenciosidade à entrevista. Para Moreira e Caleffe,5 qualquer que seja o tipo de entrevista utilizado, o fato de o pesquisador estar diretamente envolvido em um contato face a face com o entrevistado significa, inevitavelmente, que a presença do pesquisador tem algum tipo de influência nos dados fornecidos por ele. Com o advento da Portaria de Saúde Auditiva no Brasil,6 cresceu a necessidade de se avaliarem os benefícios das ações dos serviços de média e alta complexidade que avaliam a audição, protetizam e acompanham pacientes idosos portadores de deficiência auditiva. Um instrumento largamente utilizado no Brasil é o Questionário Internacional de Avaliação dos Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (QI-AASI), que consta no anexo da Portaria de Saúde Auditiva. Esse instrumento verifica dados normativos referentes a deficientes auditivos em situações de escuta na vida diária que permitem a comparação das respostas sem e com ajuda do aparelho auditivo, possibilitando determinar o grau do benefício e a satisfação do usuário.7 O questionário é composto por oito questões que avaliam a eficácia do uso do aparelho auditivo e a evolução do tratamento de reabilitação audiológica nos indivíduos protetizados, contendo os seguintes aspectos: investigação sobre o uso diário, benefício, limitação de atividades do cotidiano, satisfação do uso da prótese auditiva, restrição da participação nas atividades diárias, impactos da perda auditiva, qualidade de vida e grau da dificuldade auditiva. O questionário contém cinco opções de respostas que se organizam do pior desempenho para o melhor, e o paciente deverá optar apenas por uma resposta, aquela que mais caracterize o resultado da adaptação da prótese auditiva. Esse questionário foi idealizado para ser autoaplicado. Por isso, as questões são de fácil interpretação e acesso para usuários de aparelho auditivo. Porém, em alguns serviços de saúde auditiva, o questionário vem sendo aplicado aos pacientes pelos profissionais fonoaudiólogos porque o usuário da prótese não possui condições de respondê-lo sozinho.8 Com a finalidade de orientar os fonoaudiólogos quanto à melhor maneira de utilização do questionário, estabeleceu-se como objetivo deste trabalho verificar 7/16/13 10:07 AM 56 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA se existe diferença significativa entre as duas formas de aplicação do QI-AASI em uma população idosa, ou seja, quando o instrumento é autoaplicado e quando o usuário é entrevistado pelo fonoaudiólogo. MATERIAL E M É TO D O Este estudo foi realizado no Laboratório de Audiologia da Clínica de Fonoaudiologia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) com pacientes oriundos do Programa de Saúde Auditiva da instituição. Foram analisados os resultados do QI-AASI em 400 pacientes idosos alfabetizados, portadores de perda auditiva e usuários de aparelho auditivo unilateral ou bilateral. O questionário QI-AASI (Anexo 1) foi aplicado em dois momentos: 1. Autoaplicação do questionário (o paciente leu e respondeu às perguntas sozinho). O tempo foi cronometrado. 2. Após um período de, no mínimo, 30 minutos o pesquisador reaplicou o questionário (o pesquisador fez as perguntas). O tempo foi cronometrado. Os dados obtidos foram digitados em planilha eletrônica e tratados estatisticamente. Aplicou-se o teste de diferença de proporções, sendo considerado o nível de significância de 0,05 (5%), onde a diferença será significativa se p <0,05. Outro aspecto avaliado foi o tempo gasto pelo paciente para responder ao questionário, nos dois momen- tos. Para realizar a comparação dos dados utilizamos o teste t de Student para dados pareados, considerando o nível de significância de 0,05. Todos os pacientes que participaram do estudo assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido autorizando o uso dos dados coletados. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos e Animais da Universidade Tuiuti do Paraná (CEP-UTP n.º 027/2008). RESULTA D OS Participaram desta pesquisa 400 idosos deficientes auditivos oriundos do Programa de Saúde Auditiva da UTP, sendo 240 do sexo feminino e 160 do sexo masculino, com idades compreendidas entre 56-86 anos e média de idade de 65 anos. Dentre todos os idosos avaliados, 34% apresentavam indicação de aparelho auditivo unilateral, e 66%, bilateral. A seguir são apresentados os resultados referentes a cada uma das questões contidas no questionário, comparando-se os dados obtidos na autoaplicação e na forma de entrevista. A Tabela 1 refere-se à análise dos resultados inerentes às perguntas 1, 2 e 3 do questionário (ver Anexo 1). Essas questões avaliam o tempo de uso da prótese auditiva na relação hora por dia, o benefício causado e o grau de dificuldade encontrado para compreender a fala mesmo utilizando a prótese. Tabela 1 Distribuição dos respondentes segundo o tempo de uso diário, benefício e limitação Tempo Autoaplicação Entrevista p Não usou 12 (3%) 12 (3%) 1, 0000 Menos que 1 hora 24 (6%) 4 (1%) 0, 0558 Entre 1-4 horas 68 (17%) 72 (18%) 0, 8526 Entre 4-8 horas 92 (23%) 200 (25%) 0, 7409 Mais que 8 horas 204 (51%) 212 (53%) 0, 7774 Situação Autoaplicação Entrevista p Não resposta 8 (2%) 8 (2%) 1, 0000 Não ajudou 8 (2%) 4 (1%) 0, 5614 Ajudou pouco 48 (12%) 20 ( 5%) 0, 0775 Ajudou moderadamente 44 (11%) 56 (14%) 0, 5220 Ajudou bastante 136 (34%) 140 (35%) 0, 8819 Ajudou muito 156 (39%) 172 (43%) 0, 5659 Dificuldade Autoaplicação Entrevista p Não resposta 4 (1%) 0 (0%) Muita dificuldade 20 (5%) 8 (%) 0, 2498 Bastante dificuldade 52 (13%) 24 (6%) 0, 0930 Dificuldade moderada 104 (26%) 108 (27%) 0, 8729 Pouca dificuldade 144 (36%) 152 (38%) 0, 7699 Nenhuma dificuldade 76 (19%) 108 (27%) 0, 1804 Book Revista G&G.indb 56 7/16/13 10:07 AM Aplicação do QI-AASI em Idosos | 57 A Tabela 2 refere-se à análise dos resultados inerentes às perguntas 4, 5 e 6 do questionário. Essas questões avaliam se o usuário percebe que usar a prótese “vale a pena”, se o uso auxiliou a minimizar os efeitos da perda auditiva e se o seu problema auditivo, mesmo com o uso da prótese, aborrece os outros. Tabela 2 Distribuição dos respondentes segundo satisfação do uso e restrição na participação das atividades diárias Usar Autoaplicação Entrevista p Não resposta 4 (1%) 0 (0%) Não vale a pena 4 (1%) 0 (0%) 0, 3173 Vale pouco a pena 20 (5%) 8 (2%) 0, 2498 Vale moderadamente a pena 28 (7%) 20 (5%) 0, 5522 Vale bastante a pena 124 (31%) 172 (43%) 0, 0804 Afetaram Autoaplicação Entrevista p Não resposta 20 (5%) 8 (2%) 0, 2498 Afetaram muito 20 (5%) 16 (4%) 0, 7334 Afetaram bastante 44 (11%) 28 (7%) 0, 3242 Afetaram moderadamente 48 (12%) 56 (14%) 0, 6746 Afetaram pouco 144 (36%) 108 (27%) 0, 1722 Não afetaram 124 (31%) 184 (46%) 0, 0305 A Tabela 3 refere-se à análise dos resultados inerentes às perguntas 7 e 8 do questionário. Essas questões avaliam a melhora da qualidade de vida após a adaptação da prótese e o nível de dificuldade auditiva antes da protetização. Tabela 3 Distribuição dos respondentes segundo o impacto causado pela perda auditiva em terceiros, a qualidade de vida e o grau da dificuldade auditiva Aborreceram Autoaplicação Entrevista p Não resposta 16 (4%) 8 (2%) 0, 4081 Aborreceu muito 16 (4%) 4 (1%) 0, 1758 Aborreceu bastante 36 (9%) 28 (7%) 0, 6028 Aborreceu moderadamente 36 (9%) 52 (13%) 0, 3671 Aborreceu pouco 100 (25%) 96 (24%) 0, 8696 Alegria Autoaplicação Entrevista p Não resposta 4 (1%) 0 (0%) Pior ou menos alegria 4 (1%) 4 (2%) 0, 5614 Não houve alteração 24 (6%) 14 (6%) 1, 0000 Pouco mais de alegria 96 (24%) 60 (15%) 0, 1098 Bastante alegria 120 (30%) 160 (40%) 0, 1398 Muito mais alegria 152 (38%) 148 (37%) 0, 8840 Quantidade Autoaplicação Entrevista p Não resposta 4 (1%) 0 (0%) Severa 116 (29%) 136 (34%) 0, 4475 Moderadamente severa 80 (20%) 84 (21%) 0, 8611 Moderada 148 (37%) 148 (37%) 1, 0000 Leve 44 (11%) 16 (8%) 0, 4702 Nenhuma 8 (2%) 0 (0%) 0, 1568 Com relação ao tempo gasto pelo paciente para responder ao questionário, observamos que a média, em minutos, no momento da autoaplicação foi de 4,50 min, Book Revista G&G.indb 57 com desvio-padrão de 3,41 min. No momento em que o questionário foi aplicado pelo fonoaudiólogo, a média foi de 3,41 min, com desvio-padrão de 1,79 min. 7/16/13 10:07 AM 58 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Aplicado o teste t de Student para dados pareados, registramos p = 0,0006. Considerando o nível de significância de 0,05, verifica-se que a diferença é significativa, pois p <0,05, mostrando que o tempo médio antes (A) é significativamente maior que o tempo médio depois (B). D ISCUSSÃO Sabe-se que a deficiência auditiva traz muitas limitações para o desenvolvimento do indivíduo e, nesse sentido, para a integração social da pessoa idosa. Considerando que a audição é essencial para os usos e o domínio da linguagem oral, sua deficiência não só influi no relacionamento social, mas também cria lacunas nos processos psicológicos de integração de experiências, afetando o equilíbrio e a capacidade de desenvolvimento pessoal.9 Uma das formas de diminuirmos o impacto da perda auditiva na vida de um idoso é pelo uso de prótese auditiva. Russo10 afirma que esses aparelhos, quando bem adaptados, oferecem vários benefícios ao indivíduo que os usa de forma efetiva, pois permitem resgatar a percepção dos sons da fala, além dos sons ambientais, promovendo a melhora de práticas comunicacionais e, consequentemente, das condições psicossociais. Depois da indicação e adaptação da prótese, é fundamental que o usuário seja acompanhado por um fonoaudiólogo, que deve, rotineiramente, avaliar os benefícios trazidos pela prótese. Essa avaliação auxilia na verificação dos controles do aparelho e permite a intervenção rápida, quando houver algum problema. Optou-se, nesta pesquisa, pela utilização do QI-AASI, pois ele investiga de forma direta os benefícios que a prótese auditiva traz para o usuário. Dos 400 entrevistados que compõem a amostra deste estudo, 100% conseguiram respondê-lo sem dificuldades. Bucuvic e Iório11 afirmaram que os questionários de autoavaliação surgiram a partir da necessidade de identificar as dificuldades de cada indivíduo durante o processo de intervenção. Através da avaliação subjetiva por meio desses questionários, medindo as consequências da perda de audição e os benefícios fornecidos pela prótese auditiva, é possível afirmar que há uma minimização dos efeitos da perda auditiva na vida social e pessoal dos idosos. Não foi observada diferença estatisticamente significante nas respostas dos idosos que compuseram a amostra, entre as duas formas de aplicação do QI-AASI (ver Tabelas 1-3). Pode-se afirmar, portanto, que o examinador não interferiu na resposta do indivíduo entrevistado. Tal dado não concorda com a afirmação de Moreira e Caleffe,5 que afirmam haver, inevitavelmente, influência nos dados fornecidos pelo entrevistado quando o entrevistador está face a face com ele. Ao serem analisadas as respostas individualmente, verifica-se que existe consistência nas alternativas elencadas pelos respondentes, o que permite inferir que o Book Revista G&G.indb 58 questionário QI-AASI pode ser aplicado aos usuários de aparelhos auditivos das duas maneiras distintas. Com relação ao tempo gasto durante as duas formas de resposta ao QI-AASI, a análise estatística revelou diferença significante, ou seja, gasta-se mais tempo para o questionário ser respondido pelo usuário quando ele é autoaplicado. Porém, uma análise qualitativa demonstra que a diferença em segundos é pequena, ou seja, o usuário levou 50 segundos a mais para responder o questionário sozinho, o que não comprometeu a qualidade das respostas. De qualquer forma, essa necessidade de um tempo maior para responder ao questionário sem a interferência do fonoaudiólogo pode estar relacionada ao fato de o usuário apresentar uma relação restrita com a leitura e com a escrita. Conclui-se, portanto, que o fato de o fonoaudiólogo aplicar o instrumento reduz o tempo gasto com a entrevista, porém tal fato não é preponderante no que se refere à aceitabilidade e confiabilidade do instrumento, e não deve ser considerado um fator decisivo para a escolha de uma ou outra maneira de se aplicar o questionário, tendo em vista a pequena diferença de tempo registrada. Contudo, convém ressaltar que todos os idosos participantes da pesquisa são alfabetizados e responderam ao instrumento da pesquisa com autonomia. Com relação a essa questão, cabe destacar que, de acordo com a Fundação Perseu Abramo,12 49% da população idosa brasileira é considerada analfabeta, sendo que, desse total, 4% afirmam só saber ler e escrever o próprio nome e 22% consideram a leitura e a escrita atividades penosas, seja por deficiências no aprendizado, seja por problemas de saúde ou por ambos os motivos. Dessa forma, esse trabalho volta-se para uma parcela de idosos brasileiros que, diferentemente de parte significativa dessa população, encontra-se alfabetizada e indica a necessidade do desenvolvimento de outras pesquisas que se ocupem com idosos com deficiência auditiva que sejam analfabetos. Nessa direção, entendemos estar trabalhando para minimizar violências que estão sendo imputadas aos idosos no que se refere às desigualdades sociais, interacionais e de omissão das gestões públicas e privadas, incluindo os atendimentos fonoaudiológicos voltados para a protetização. CONCLUS Õ ES Esta pesquisa permitiu concluir: O fato de o fonoaudiólogo aplicar o questionário QI-AASI não interfere na qualidade da resposta do paciente idoso com deficiência auditiva e alfabetizado. O tempo gasto pelo paciente idoso com deficiência auditiva e alfabetizado para responder ao questionário é menor quando o fonoaudiólogo faz as perguntas. Existe necessidade do desenvolvimento de outros estudos que, a partir deste, envolvam-se com idosos deficientes auditivos analfabetos. 7/16/13 10:07 AM Aplicação do QI-AASI em Idosos | 59 RE F ERÊNCIAS 1. Organização Mundial da Saúde. Deafness and hearing impairment. Disponível em: www.who.int/mediacentre/factsheets. Acesso em 25/5/11. 2. Minayo MC. Violência contra idosos: o avesso do respeito à experiência e à sabedoria. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2005. 3. Volpato LF, Meneghim MC, Pereira AC, Ambrosano GMB. Planejamento da qualidade nas unidades de saúde da família, utilizando o desdobramento da função qualidade (QFD). Cad. Saúde Pública. 2010; 26:1561-72. 4. Günther H. Como elaborar um questionário. Planejamento e pesquisa nas ciências sociais. Brasília: Laboratório de Psicologia Ambiental da UNB, 2003. 5. Moreira H, Caleffe LG. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. 6. Brasil. Portaria GM/MS n.º 2.073. Institui a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 7. Cox RM, Alexandre GC. The International Outcomes Inventory for Hearing Aids (IOI-HA): Psychometric properties of the English version. International Journal of Audiology. 2002; 41(1):3-26. 8. Lopes C, Ribas A. Comparando resultados do questionário QI-AASI em pacientes da clínica de fonoaudiologia da Universidade Tuiuti do Paraná. Trabalho de conclusão curso. Curitiba: UTP, 2009. 9. Teixeira C. Estudo avaliativo da política de atenção à saúde auditiva. Tese. Recife: UFPE, 2007. 10. Russo ICP. Distúrbios de audição: a presbiacusia. Intervenção fonoaudiológica na terceira idade. Rio de Janeiro: Revinter, 1999. 11. Bucuvic EC, Iório MCM. Benefício e dificuldades auditivas: um estudo em novos usuários de prótese auditiva após dois e seis meses de uso. Fono Atual. 2004; 7:19-29. 12. Fundação Perseu Abramo. Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade. São Paulo: Serviço Nacional do Comércio, 2007. ANE X O 1 QUES T ION Á RIO QI - AASI 1. Pense no tempo em que você usou o aparelho nas últimas duas semanas. Durante quantas horas usou o aparelho auditivo em um dia normal? ( ) Não usou ( ) Menos que 1 hora por dia ( ) Entre 1-4 horas por dia ( ) Entre 4-7 horas por dia ( ) Mais que 8 horas por dia 2. Pense em que situação gostaria de ouvir melhor, antes de obter o seu aparelho auditivo. Nas últimas duas semanas, como o aparelho auditivo ajudou nessa mesma situação? ( ) Não ajudou nada ( ) Ajudou pouco ( ) Ajudou ( ) Ajudou bastante ( ) Ajudou muito moderadamente 3. Pense novamente na mesma situação em que gostaria de ouvir melhor, antes de obter o seu aparelho auditivo. Que grau de dificuldade AINDA encontra nessa mesma situação usando o aparelho de amplificação sonora individual? ( ) Muita dificuldade ( ) Bastante dificuldade ( ) Dificuldade moderada ( ) Pouca dificuldade ( ) Nenhuma dificuldade 4. Considerando tudo, acha que vale a pena usar o aparelho auditivo? ( ) Não vale ( ) Vale pouco ( ) Vale moderadamente ( ) Vale bastante ( ) Vale muito Book Revista G&G.indb 59 5. Pense nas últimas duas semanas, usando o aparelho auditivo. Quanto os seus problemas de ouvir o afetaram nas suas atividades? ( ) Afetaram muito ( ) Afetaram bastante ( ) Afetaram moderadamente ( ) Afetaram pouco ( ) Não afetaram 6. Pense nas últimas duas semanas, usando o aparelho auditivo. Quanto os seus problemas de ouvir aborreceram (ou afetaram) outras pessoas? ( ) Aborreceu muito ( ) Aborreceu bastante ( ) Aborreceu moderadamente ( ) Aborreceu pouco ( ) Não aborreceu 7. Considerando tudo, como acha que o seu aparelho auditivo mudou a sua alegria de viver ou o gozo da vida? ( ) Pior ( ) Não houve alteração ( ) Pouco mais alegria ( ) Bastante alegria ( ) Muito mais alegria 8. Quanta dificuldade auditiva você tem quando não está usando a prótese auditiva? ( ) Severa ( ) Moderadamente severa ( ) Moderada ( ) Leve ( ) Nenhuma Tempo em minutos utilizado na autoaplicação: ________ Tempo em minutos utilizado na entrevista: __________ 7/16/13 10:07 AM A rtigo de revisão 60 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Efeitos do condicionamento físico sobre a imunossenescência Márcia Cristina Gomes dos Anjosa, Luiz Fernando de Souza Passosb, Adriana Malheiroc R e s um o Palavras-chave Envelhecimento, aptidão física, sistema imunológico, imunossenescência, condicionamento físico. Os fundamentos elaborados e sistematizados nesta revisão versam sobre os efeitos do condicionamento físico sobre o sistema imunológico de idosos diante da imunossenescência, visto que, atualmente, os temas envelhecimento e saúde têm merecido especial atenção em virtude do aumento exponencial da população de idosos no mundo. Este trabalho tem como objetivo realizar um levantamento bibliográfico sistemático acerca dos principais efeitos do condicionamento físico sobre a expressão de células e citocinas do sistema imunológico de idosos. Para contextualizar essa análise, foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados Medline, Scielo, Lilacs e Bireme. Foram selecionados estudos que incluíram no título os descritores: immunosenescence, aging, older aldults ou elderly, exercise, physical therapy ou exercise therapy e seus equivalentes em português. A contribuição do estudo é investigar se uma ferramenta simples e de baixo custo, a atividade física, pode ter eficácia também no sistema imunológico, considerando que já estão bastante elucidados os benefícios da prática regular de exercícios em outros sistemas do organismo, assim como em populações mais jovens. De modo geral, a atividade física prolongada e customizada para indivíduos idosos tem sido apontada como preditor importante da longevidade humana, pois repercute em todos os sistemas corporais e, em especial, no sistema imunológico, auxiliando na regulação das respostas imunes, reforçando a atividade das células NK, equilibrando o balanço das citocinas proinflamatórias e anti-inflamatórias, orquestrando melhor resposta aos antígenos e, sob um ponto de vista global, ajudando a reverter ou minimizar os efeitos deletérios do envelhecimento sobre o sistema imunológico. The effects of physical conditioning on the immunosenescence A B ST RAC T Keywords Aging, physical fitness, immune system, immune system. The foundations elaborated and systematized in this review deal with the effects of fitness on the immune system of elderly front of immunosenescence, since currently the aging and health issues have received special attention due to the exponential increase of the elderly population in the world. This work aims to conduct a systematic literature review on the main effects of physical conditioning on the expression of cytokines and cells of the immune system of elderly people. In order to contextualize this analysis, we performed a literature search in MEDLINE, SciELO, BIREME, and LILACS. We selected studies that included the keywords in the title: immunosenescence, aging, older aldults or elderly, exercise, physical therapy or exercise therapy and its equivalent in Portuguese. The contribution of this study is to investigate whether a simple and low cost, physical activity, can be effective also in the immune system, whereas already well elucidated the benefits of regular exercise in other body systems as well as in younger populations. In general, prolonged physical activity and customized for the elderly has been identified as an important predictor of human longevity therefore affects all body systems and especially in the immune system, aiding in the regulation of immune responses by enhancing the activity of NK cells, balancing the balance of pro-inflammatory and anti-inflammatory cytokines (de acordo), orchestrating a better response to antigens, and, under a global point of view, helping to reverse or minimize the deleterious effects of aging on the immune system. Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus, AM. Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Manaus, AM. c Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Manaus, AM. a b Dados para correspondência Márcia Cristina Gomes dos Anjos – Escola Superior de Ciências da Saúde ESA/UEA. Avenida Carvalho Leal, 1.777, Cachoeirinha, Edifício Adriano Jorge, Manaus/AM. Telefone: (92) 3214-9701 – [email protected] Book Revista G&G.indb 60 7/16/13 10:07 AM Condicionamento Físico e Imunossenescência: Repercussão do Exercício na Terceira Idade | 61 IN TRO D UÇÃO O envelhecimento é compreendido como a soma de todas as alterações biológicas, psicológicas e sociais que ocorrem com o passar dos anos, com vários efeitos deletérios que podem prejudicar a qualidade de vida dessa população. Portanto, como o envelhecimento está associado a limitações fisiológicas e funcionais, algumas medidas devem ser tomadas para garantir bem-estar, higidez e vitalidade aos idosos.1 O sistema imunológico sofre uma série de mudanças durante toda a vida. Essas mudanças compreendem alterações de ordem morfológica e funcional que atingem seu pico na puberdade e declínio gradual no envelhecimento. Sabe-se que, além do declínio natural, o sistema imunológico também pode ser afetado por outros fatores, como condições nutricionais inadequadas, níveis exagerados de estresse e doenças, podendo gerar um somatório de comprometimentos funcionais. O termo imunossenescência usualmente refere-se às disfunções do sistema imunológico relacionadas à idade que contribuem para a maior incidência de doenças infecciosas ou mesmo crônicas degenerativas, como hipertensão, câncer, afecções reumáticas, aterosclerose, coronariopatias, todas prevalentes na população de idosos.2 O declínio da função imune normalmente está evidenciado no rompimento da cascata de sinalização das células T, baixa resposta a estímulos mitógenos, diminuição da produção de interleucina 2 (IL-2), deficiência na ativação e, consequentemente, proliferação de células T, declínio na expressão de moléculas coestimulatórias como a CD28, queda na porcentagem de linfócitos T CD28+, aumento da produção de citocinas proinflamatórias como IL-1, IL-6 e TNF-α, perda do equilíbrio Th1 e Th2, entre outros.3 Em face da gama de evidências epidemiológicas que sustentam o efeito positivo de um estilo de vida ativo e da necessidade do envolvimento dos indivíduos com a atividade física, é imprescindível a investigação dos benefícios que a adoção de um programa regular de atividades acarreta para a saúde em geral, principalmente para compor as bases dos programas mundiais de políticas públicas de promoção do bem-estar geral e prevenção de doenças. A participação efetiva em um programa de exercícios físicos – sejam aeróbicos, com utilização de oxigênio pelo músculo para produção de energia, sejam anaeróbicos, para fortalecimento muscular – fornece inúmeras respostas favoráveis que contribuem para o envelhecimento saudável.4 Cipriani et al.5 destacam que uma das principais formas de evitar, minimizar e/ou reverter a maioria dos declínios físicos, sociais e psicológicos que frequentemente acompanham os idosos é a atividade física, demonstrando que ela está constantemente associada a melhoras significativas nas condições de saúde, como o controle do estres- Book Revista G&G.indb 61 se, da obesidade, do diabetes, das doenças coronarianas e, principalmente, a melhora da aptidão funcional do idoso, alcançada através da redução da sarcopenia nessa população. Desse modo, além dos benefícios citados, é possível realizar a profilaxia de quedas, que é um agravo prevalente e de alta morbidade e letalidade nessa faixa etária. A motivação para a realização do presente estudo foi a seguinte questão: a atividade física exerce influência sobre o perfil de mediadores celulares e humorais da resposta imune em idosos? Nesta revisão, de maneira sucinta e acessível, tentaremos contextualizar a imunologia com a atividade física. Para tanto, realizou-se uma revisão bibliográfica de artigos nacionais e internacionais relacionados ao tema. MAT ERIAIS E M É TO D OS Utilizando-se os descritores immunosenescence, aging, older aldults ou elderly, exercise, physical therapy ou exercise therapy e seus equivalentes em português, foram rastreados artigos que filtrassem as palavras-chave pesquisadas no título ou em resumos publicados no período de março de 1980 a outubro de 2011 nas bases de dados eletrônicas Medline, Scielo, Lilacs e Bireme nos idiomas inglês e português. Foram selecionados apenas os artigos que atendiam ao objetivo proposto, ou seja, discutir os efeitos do condicionamento físico sobre a imunossenescência, os quais foram lidos cuidadosa e criticamente. RESULTA D OS E D ISCUSSÃO Os resultados da busca perfizeram um total de 53 artigos, dos quais foram analisados 42 artigos científicos distribuídos em 33 estudos publicados em inglês e 9 estudos publicados em português. Dentre os estudos analisados, merece destaque o trabalho publicado por Kohut e Senchina,6 visto que enquadra-se como uma das mais completas revisões publicadas acerca da imunossenescência versus atividade física. A partir da análise dos artigos verificaram-se os efeitos positivos, negativos ou nulos dos programas de exercícios físicos implementados para verificação das respostas imunes alcançadas. Envelhecimento e alterações da resposta imune: imunossenescência O envelhecimento humano tem sido alvo de debates e discussão nos últimos anos. Tal fenômeno ocorre porque o envelhecimento populacional, principalmente nos países em desenvolvimento, tem crescido de forma acelerada. No Brasil, estima-se que por volta de 2020 haverá cerca de 30 milhões de idosos, porém não apenas o número de pessoas idosas está aumentando, mas também a expectativa de vida da população. A expectativa média de vida do brasileiro, ao nascer, passou de 66,93 anos em 1991, para 72,05 anos em 2005 e 73,5 anos em 2012.7-9 7/16/13 10:07 AM 62 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA O envelhecimento é definido como um processo que implica diversas modificações de ordem fisiológica, psíquica e social. No que se refere às capacidades físicas, é possível observar mudanças que ocasionam diminuição da capacidade aeróbica, da força e resistência musculares, declínios neuromotores, neurológicos e emocionais. Tais mudanças, sejam fisiológicas, sejam psíquicas, se refletem no desempenho motor, na qualidade de vida e na capacidade do indivíduo para cuidar de si mesmo.10 Imunossenescência é um termo utilizado para representar as inúmeras alterações que ocorrem no sistema imunológico associadas com o envelhecimento. Afeta tanto a imunidade inata como a imunidade adaptativa, aumentando assim a suscetibilidade dos indivíduos para adquirirem doenças infecciosas ou mesmo crônicas degenerativas, levando ao aumento da incidência de morbidade e mortalidade.2,11 Em estudo realizado por Van Duin et al.16 para avaliar a influência do envelhecimento humano sobre a função e a expressão de alguns componentes da família dos TLRs, foi realizado desafio com bactérias Gram-negativas, Gram-positivas, fungos e vírus em amostras de indivíduos jovens (21-30 anos) e idosos (>65 anos). Os resultados mostraram que os monócitos de adultos mais velhos expressaram níveis diminuídos de TLR 1 e 2, o que poderia contribuir para a formação de defeitos graves na sinalização do sistema imune inato e o comprometimento de uma resposta imune eficaz, tanto durante surtos infecciosos como durante a resposta à vacinação. Células natural killer (NK) A imunidade inata é o mecanismo de resistência natural que age de forma rápida e é automaticamente ativada para responder ao agente invasor.11 Ela atua como um elemento-chave da resposta imune através da ativação de diversos componentes celulares, como macrófagos, células natural killer (NK) e neutrófilos, que fornecem a primeira linha de defesa contra patógenos. Estudos acerca da resposta imune inata mostram que, numericamente, seus componentes – neutrófilos, monócitos, células dendríticas e NK – estão preservados em idosos saudáveis, contudo a atividade funcional dessas células aparece comprometida em diferentes situações.12 As células NK desempenham papel primordial na montagem de uma resposta imune inata para inibição do crescimento de tumores e metástases, e na defesa contra células infectadas por vírus;14,17 no entanto, ainda não existe consenso sobre as modificações que ocorrem na expressão e/ou função dessas células durante o envelhecimento. Apesar das divergências encontradas na literatura, está bem documentado que o número de células NK aumenta significativamente com a idade. Em contrapartida, ocorre depressão da sua função, diminuição da citotoxicidade e redução da produção de citocinas e quimiocinas por essas células.13,15 Estudos recentes apoiam a hipótese de que a elevada citotoxicidade das células NK está associada ao envelhecimento saudável e longevidade, enquanto a baixa citotoxicidade está associada ao aumento da morbidade e mortalidade.14 Monócitos/macrófagos Células dendríticas Impacto do envelhecimento sobre a imunidade inata Alguns estudos sugerem que o envelhecimento está associado com o aumento da produção de citocinas proinflamatórias por macrófagos. Acredita-se que elevados níveis desses mediadores podem ser responsáveis pela maioria das doenças associadas à idade porque todos compartilham uma patogênese inflamatória.13 De acordo com os achados de Larbi et al.,14 a expressão e a função de toll like receptor (TLR 1/2) em monócitos de adultos mais velhos é alterada provavelmente devido a defeitos na sinalização. Receptores de reconhecimento-padrão toll like receptor (TLR) A expressão e a função de TLRs diminuem com a idade, resultando no aumento da produção de citocinas proinflamatórias e quimiocinas, bem como na desregulação do sistema imune adaptativo. A modulação do sistema imune inato ou com ligantes TLR ou com os produtos da ativação TLR pode aumentar a resistência a doenças, a resposta imune e a eficácia da vacina em pessoas idosas.15 Book Revista G&G.indb 62 As células dendríticas (DC) são as principais células apresentadoras de antígenos (APC), importantes para a ativação de células B e T, e têm a função de iniciar uma resposta imune adaptativa.6,11 A função de apresentação de antígenos pelas DC permanece normal durante o envelhecimento saudável, porém em indivíduos idosos e frágeis ocorrem mudanças na expressão de moléculas coestimulatórias, o que demonstra diminuição na coestimulação entre linfócitos T e células apresentadoras de antígenos decorrente da baixa expressão das moléculas CD80 e CD86 nos monócitos.12 A alteração das moléculas coestimulatórias CD80/ CD86 após a estimulação com ligantes TLR (TLR-1, TLR-2, TLR-4, TLR-5, TLR-7 e TLR-8) em monócitos foi investigada por Van Duin et al.16 Estes, ao compararem amostras de soro (in vitro) colhidas de adultos jovens (21-30 anos) e adultos idosos (>65 anos) imediatamente antes da vacinação contra a influenza e aproximadamente 35 dias após a vacinação, identificaram defeitos generalizados na indução da expressão 7/16/13 10:07 AM Condicionamento Físico e Imunossenescência: Repercussão do Exercício na Terceira Idade | 63 de CD80 na superfície de monócitos de adultos idosos em comparação com a população de adultos jovens. Como consequência, os indivíduos senescentes apresentaram diminuição da resposta à vacinação contra a influenza. Toapanta e Ross,18 ao investigarem as respostas imunes de ratos (fêmeas BALB) com 12-16 semanas (adultas) ou 72-76 semanas de idade (idosas) infectadas com doses subletais do vírus da gripe, observaram que os ratos idosos apresentaram maior morbidade, perderam peso mais rapidamente e se recuperaram mais lentamente. Os achados imunológicos mostraram que, em geral, houve diminuição na cinética de infiltração das APC naturais – células dendríticas no parênquima pulmonar – relacionadas à baixa expressão de CD40 e detecção tardia de citocinas e quimiocinas no parênquima pulmonar. O mesmo estudo constatou, também, retardo na infiltração de células NK, células TCD4+ e TCD8+ no pulmão dos ratos idosos. Em contrapartida, houve maior percentual de células TCD8+, IL-2 e ativação de CD69+ em ratos adultos quando comparados aos ratos idosos. Imunidade adaptativa A imunidade adaptativa é formada por células antígenoespecíficas, como as células B e T, que são responsáveis não apenas por secretar anticorpos, citocinas e mediadores inflamatórios, mas também recrutar componentes da imunidade inata durante a defesa do organismo.11 Linfócitos T O envelhecimento humano está associado com diminuição no número e função de células T total, diminuição da diversidade e funcionalidade das subpopulações de células T CD4+ e T CD8+, e redução de células naïve na periferia.3,11,14,15 Em estudo realizado por Yan et al.,19 para identificar os efeitos da idade e do sexo em populações de linfócitos humanos, foi observado que não existiu mudança significativa na porcentagem de células T CD3+ e T CD4+ com a idade, porém houve declínio na porcentagem de células T CD8+ e aumento na proporção de CD4:CD8, como já relatado em estudos pregressos. Haynes et al.,20 ao examinarem a capacidade funcional de células T CD4+ de memória geradas a partir de células naïve em camundongos transgênicos jovens e mais velhos, descobriram que o momento em que as células T CD4+ naïve se encontram pela primeira vez com o antígeno é o fator crucial para determinar se uma robusta resposta de memória será alcançada. Tal afirmação é embasada no fato de que as células de memória geradas a partir de células T CD4+ naïve de camundongos jovens responderam bem à estimulação com antígeno, em comparação com as células T CD4+ de memória geradas de camundongos mais velhos. Book Revista G&G.indb 63 Linfócitos B Como foi visto anteriormente, a imunossenescência compromete funcionalmente os linfócitos T e suas subpopulações, porém causa impacto também sobre as células B. Nessa população de células, esse processo está associado com a diminuição do número e função, como ocorre nos linfócitos T. Muitos mecanismos têm sido sugeridos para explicar esse declínio, dentre os quais a capacidade diminuída de diferenciação celular e as alterações na sinalização intracelular.11 Além disso, a disfunção imune repercute também com as estratégias de vacinação em idosos, visto que tornam-se em parte ineficazes devido à baixa afinidade dos anticorpos produzidos por linfócito B de indivíduos idosos, quando comparados com indivíduos mais jovens. Existem ainda evidências que mostram que ocorrem mudanças na seleção das células B levando a aumento da frequência de células autorreativas durante a imunossenescência.14 Yan et al.,19 ao investigarem diferenças na imunossenescência entre homens e mulheres, observaram que as células B CD20+ sofrem alterações significativas com a idade, apresentando expressiva diminuição na ativação no sexo masculino. Citocinas A produção de citocinas proinflamatórias IL-1, IL-6 e TNF-α está aumentada nos idosos, refletindo uma alteração no padrão de regulação dessas citocinas, que podem estar associadas com os mecanismos desencadeadores de muitas doenças típicas da idade como aterosclerose, demência e doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide. Uma perda do equilíbrio entre as citocinas do padrão Th1 e Th2 também foi descrita, e essa perda pode ser responsável, pelo menos em parte, pelo aumento da suscetibilidade desses indivíduos a infecções causadas por vírus e por bactérias extracelulares.3 Eixo neuroimunoendócrino e envelhecimento A diminuição da amplitude de parâmetros imunitários no envelhecimento está relacionada com fatores comumente observados em idosos, como alterações do ciclo circadiano, levando a modificações no sono e redução da reserva funcional de O2, e do eixo neuroendócrino pela diminuição na produção de hormônios neurotransmissores e neuropeptídeos.12 Embora a maioria dos estudos se concentre em investigar as alterações imunológicas do envelhecimento associadas aos fatores ambientais ou biológicos, é importante que seja considerado também o status psicológico, já que este constitui um importante preditor da imunossenescência. Alguns autores defendem que alterações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal são fatores determinantes 7/16/13 10:07 AM 64 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA para uma resposta imune deficiente durante a senescência. Isso foi comprovado por Trzonkowski et al.21 que, ao avaliarem idosos deprimidos e idosos saudáveis submetidos à vacinação anti-influenza antes e após 6 meses, observaram que indivíduos idosos deprimidos são caracterizados por maior exposição ao citomegalovírus (CMV) no passado, o que poderia repercutir em perfil proinflamatório demonstrado por níveis elevados de fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), IL-6, deficiência de IL-10 e maior citotoxicidade de NK afetando negativamente as respostas imunes humorais e inatas em pacientes deprimidos. Estudos pregressos que relacionaram a resposta imune com a depressão e o estresse demonstraram que boa parte da população de pacientes deprimidos apresenta produção aumentada de mediadores inflamatórios e de autoanticorpos, levando a maior acometimento de inflamações crônicas e doenças autoimunes.22 Em indivíduos com importante sobrecarga emocional, as taxas de cortisol estão mais elevadas, enquanto os níveis de d-hidro-epiandrosterona (DHEA) encontram-se significativamente reduzidos. O desequilíbrio na correlação cortisol/DHEA induz produção de IL-6, IL-10 e TNF-α, além da diminuição da atividade citotóxica por células NK. Dessa forma, o aumento de glicocorticoides provocado pelo estresse crônico contribui para o desenvolvimento de infecções virais, doença cardiovascular, diabetes tipo II, osteoporose, artrite e neoplasias.23 Embora seja possível realizar uma associação entre a progressão da idade e o aumento dos níveis de cortisol e mediadores inflamatórios, não estão totalmente elucidados os mecanismos pelos quais o eixo neuroendócrino modula especificamente a resposta imune. Atrofia ou involução tímica O timo é um órgão vital para a manutenção da homeostase do sistema imune periférico. É nesse tecido mediastinal que as células T se desenvolvem e são amplamente maturadas para garantir o estabelecimento de um sistema imunológico funcional e eficaz. No entanto, uma das características marcantes e paradoxais do timo é que ele sofre atrofia associada a idade avançada. No período pré-natal e na infância, esse órgão é eutrófico e atua na composição do repertório T; ocorre regressão gradativa até a puberdade, quando se presume que o repertório T esteja completo, ocorrendo involução volumétrica com a idade, estando virtualmente ausente nos indivíduos idosos. Entretanto, a função tímica não fenece, e o desenvolvimento de células T naïve continua a ocorrer durante a vida adulta, sobretudo em situações de repovoamento como após quimioterapia e o uso de antirretrovirais em pacientes com AIDS.24 A atrofia tímica culmina com a perda do espaço epitelial tímico (TES), o que resulta em uma estrutura menos eficiente para o desenvolvimento de células T ou Book Revista G&G.indb 64 timopoiese e diminuição da emigração de células T naïve que entram no pool de células T periféricas.25,26 Durante o envelhecimento, a produção de células T cai significativamente na mesma proporção em que a atrofia tímica se desenvolve, o que foi demonstrado primeiramente em 1985 por Steinmann et al.27,28 Especula-se que a atrofia tímica observada com o aumento da idade possa resultar na diminuição da população de progenitoras de células T, perda da autoexpressão de peptídeos do epitélio tímico, defeitos no rearranjo de TCR e perda de citocinas tróficas, como IL-7.22 Além disso, a atrofia tímica se torna mais evidente a partir do início da puberdade, predominantemente devido aos níveis elevados de esteroides sexuais.29-31 Para investigar a relação da produção de esteroides sexuais com a involução tímica, Heng et al.26 submeteram camundongos isogênicos C57BL de meia-idade (8 semanas) e idosos (9 meses) à castração cirúrgica dos testículos, resultando em diminuição da testosterona sérica. As células tímicas desses animais foram coletadas e submetidas a citometria de fluxo para contagem das subpopulações das linhagens CD3, CD4, CD8, B220, CD11b e Gr.31 Os resultados mostraram que a castração afeta o desenvolvimento do compartimento tímico triplo negativo (TN) e simples positivo (SP), ambos dependentes de IL-7. Os esteroides sexuais podem provocar atrofia do timo através da regulação negativa da produção de IL-7 devido à perda de células epiteliais tímicas (TEC) produzindo IL-7. Isso pode ser revertido, em parte, pelo transplante de células estromais secretoras de IL-7 no timo de ratos velhos, aumentando a proporção de CD25+ nas células TN.32 O envelhecimento provoca drásticas mudanças arquitetônicas no timo, mas áreas residuais funcionais do tecido permanecem funcionantes nas fases tardias da vida. Terapias estão sendo desenvolvidas para explorar o potencial timopoiético, promover a reconstituição do órgão e o aumento da formação de células T naïve.25 Imunossenescência e atividade física Considerando a mudança demográfica que a maioria dos países vivencia atualmente, vários mecanismos têm sido investigados como alternativas para minimizar os efeitos deletérios do envelhecimento e suas implicações na qualidade de vida da população mundial. Apesar de ainda não ter recebido uma abordagem mais aprofundada, uma das alternativas mais atraentes é a prática regular de atividade física, visto que é uma terapia econômica sob o ponto de vista logístico, não invasiva, de fácil aplicação e implementação, e que ainda traz benefícios no que tange a outras doenças crônicas, incluindo artrite, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, diabetes, osteoporose e doença pulmonar.11 Em estudo desenvolvido por Bruunsgaard e Pedersen,33 envolvendo indivíduos idosos e controles jovens 7/16/13 10:07 AM Condicionamento Físico e Imunossenescência: Repercussão do Exercício na Terceira Idade | 65 para analisar o recrutamento de leucócitos durante a atividade física, observou-se que o grupo formado por idosos respondeu de forma semelhante ao grupo jovem, isto é, ambos apresentaram leucocitose induzida pelo exercício, porém no grupo de idosos a magnitude do aumento foi menor. Além disso, após a coleta imediata de sangue durante o pós-exercício, também foi observado que o número de células T (CD3+) aumentou de forma homóloga nos dois grupos etários, porém o grupo mais velho recrutou um número menor de células CD4+ em relação às células CD8+ do sangue. Estudo realizado por Timmerman et al.,34 para avaliar a influência do treinamento físico sobre a população de monócitos (CD14+ e CD16+) de idosos ativos e inativos, permitiu constatar que após 12 semanas de prática de exercícios físicos os idosos reduziram acentuadamente o percentual de monócitos na circulação em comparação com os controles inativos. Além disso, de acordo com o conceito de que os monócitos são poderosos produtores de proteínas inflamatórias, observou-se redução da produção de TNF-α quando estimulados com LPS. Exercícios de alta intensidade e de longa duração podem aumentar o risco de infecções do trato respiratório em idosos, porém tal risco foi reduzido durante exercício moderado. Além disso, a atividade física moderada realça a atividade das células natural killer.35 A Tabela 1 elenca alguns trabalhos pioneiros envolvendo a repercussão da atividade física programada e regular no sistema imunológico.36-39 Tabela 1 Estudos sobre os exercícios físicos utilizados para avaliar a repercussão no sistema imunológico Autor/ano Duração do programa e tipo de exercício Objetivo do estudo Resultados Campbell et al.,36 2008 12 meses Exercícios aeróbicos (grupo experimental) versus alongamento (grupo controle) Analisar os efeitos do exercício na função imune Não houve mudanças na função imune do grupo experimental em relação ao grupo controle Shimizu et al.,37 2008 6 meses Alongamento e treino de resistência Avaliar os efeitos do treinamento físico moderado sobre a expressão de CD28 e o equilíbrio das células Th1 e Th2 em idosos O treinamento físico moderado em idosos mostrou-se associado com melhor expressão de CD28 e regulação das células Th Akimoto et al.,38 2003 12 meses Treinamento de resistência moderada Avaliar os efeitos do exercício sobre a secreção de imunoglobulina salivar (IgA) em idosos A secreção de IgA aumentou significativamente em indivíduos idosos submetidos ao treinamento resistido moderado Drela et al.,39 2004 10 meses Programa de atividades físicas diversas Avaliar a distribuição de subpopulações de linfócitos no sangue periférico e citocinas intracelulares de idosos A atividade física moderada a longo prazo pode aumentar a produção de IL-2 e melhorar o estado do sistema imune frente à senescência Timmermam et al.,34 2008 12 meses Treinamento de resistência Avaliar se o exercício físico induz a uma redução de monócitos proinflamatórios CD14+ e CD16+ A atividade física foi associada com menor porcentagem de monócitos CD14+ e CD16+ em idosos treinados Sistema imunológico e atividade física Apesar de o exercício ser genericamente classificado como um estímulo estressante que pode ser comparado às respostas imunológicas e hormonais de estímulos estressores como cirurgia, trauma e sepse,40,41 é mais adequado dividir a resposta ao exercício em aguda e crônica. Resposta aguda ao exercício No pós-exercício imediato, é visto um incremento de 50-100% do número total de leucócitos, principalmente no nível de linfócitos, neutrófilos e, em menor proporção, monócitos. A resposta de neutrófilos polimorfonucleares a uma sessão única de exercícios depende da intensidade. Porém, imediatamente após a execução dos exercícios, é visualizado um quadro de neutrofilia; um segundo pico de neutrofilia é visualizado várias horas após o exercício.40 Book Revista G&G.indb 65 O número de neutrófilos aumenta durante e após o exercício, ao passo que o número de linfócitos aumenta durante o exercício e cai abaixo dos valores basais longo tempo após o trabalho físico. Vários relatos descrevem as alterações induzidas pelo exercício em subpopulações de células mononucleares do sangue (BMNC). O aumento da concentração de linfócitos é provavelmente explicado pelo recrutamento de todas as subpopulações de linfócitos para o compartimento vascular: células T CD4+, células T CD8+, CD19+, células B e células NK.41 As funções quimiotáticas e fagocíticas, bem como o aumento da capacidade microbicida de neutrófilos, aumentam durante a atividade física moderada.40 De acordo com Rosa e Vaisberg,40 as células NK, população de origem linfoide, são aquelas que demonstram maiores alterações frente ao exercício. No período imediato pós-esforço, essas células apresentam aumento 7/16/13 10:07 AM 66 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA de 150-300% em número no sangue periférico. Esse aumento é transitório e, após 30 minutos, há retorno aos níveis pré-exercício. Atividade física de longa duração (acima de 90 minutos) associa-se a menor aumento do número de células NK. Após o exercício de alta intensidade ocorre aumento de 40-100% da atividade citotóxica da célula NK. Para avaliar a resposta do exercício sobre as citocinas proinflamatórias, e anti-inflamatórias, e sobre os fatores de crescimento dos leucócitos, Zaldivar et al.42 coletaram amostras de sangue de 11 homens com idade entre 11-30 anos submetidos a exercício pesado de ciclismo. Os resultados obtidos mostraram que, ao final de 30 minutos, o número de leucócitos, incluindo linfócitos T e linfócitos B, células NK, monócitos e neutrófilos, tinha aumentado, como esperado. Porém, não foi observado um padrão predominantemente proinflamatório, visto que houve aumento no número de células positivas para citocinas intracelulares anti-inflamatórias, portanto isso reflete uma resposta mista. Outro achado importante desse estudo foi a elevada expressão da IL-6 na circulação após o exercício, mostrando que essa citocina é, sem dúvida, o mediador mais expressivo durante a atividade física pesada. Com relação às subpopulações linfocitárias, os linfócitos T CD8 apresentam um incremento de 50-100% após o exercício agudo. Em contrapartida, os linfócitos T CD4 e linfócitos B mostram poucas alterações. Já em relação à capacidade funcional, é bem descrita a diminuição da proliferação linfocitária após exercícios de grande intensidade. Essa alteração pode persistir por várias horas após uma maratona, por exemplo.40 Resposta crônica ao exercício Com relação às principais modificações resultantes do exercício crônico ou prolongado, os neutrófilos respondem ao exercício dependendo da intensidade em que ele é aplicado. O exercício moderado acarreta aumento no número de neutrófilos, mesmo durante o repouso; por outro lado, exercícios de alta intensidade provocam declínio no número dessas células. Também é possível observar aumento da atividade dos macrófagos, principalmente das células NK, durante o exercício crônico.40,41 Nas células NK, é observado aumento exponencial da atividade citotóxica, tanto em atletas idosos como em jovens. Alguns estudos mostraram ainda que a atividade das células NK é consideravelmente mais expressiva em atletas ou indivíduos condicionados quando comparados com sujeitos sedentários. Outro achado interessante é que indivíduos condicionados apresentam maior aumento da função das células NK, em comparação com sedentários com o mesmo percentual de células NK circulantes, quando submetidos a treinamento de alta intensidade.41 Embora a maioria dos estudos ressalte os efeitos positivos da atividade física para idosos com relação ao estado de imunossenescência, ainda não existe prescrição mínima relevante padronizada para esses indivíduos e uma definição do tipo de atividade física ideal. Porém, em face dos dados mostrados nos trabalhos de Timmerman et al.34 e Akimoto et al.,38 foi possível observar que a diminuição da imunossenescência tem sido associada, principalmente, com o treinamento de força e resistência com duração mínima de 12 semanas. CONSI D ERAÇ Õ ES F INAIS Com base nos autores citados nesta revisão verifica-se que o sistema imunológico recebe positiva influência da atividade física prolongada e prescrita de acordo com as limitações e peculiaridades intrínsecas do processo de envelhecimento humano. Apesar de ainda não existir consenso entre os autores quanto ao tipo de exercício mais eficaz para a repercussão no sistema imunológico, de forma geral a maioria dos estudos tem dado ênfase à prática de exercícios resistidos, e estes têm demonstrado de fato associação com as modificações positivas que configuram uma nova “roupagem” às respostas imunes em idosos. Porém, ainda continuam obscuros os efeitos da atividade física sobre determinados componentes do sistema imune, principalmente inatos, frente ao desafio do envelhecimento. Destarte, a prática regular de atividade física, seja por indivíduos mais jovens, seja por idosos, consiste em ferramenta imprescindível para a melhora da independência e, sobretudo, da qualidade de vida, pois os idosos que se exercitam têm menor incidência de infecções bacterianas e virais, menor incidência de neoplasias e melhor resposta às vacinas. No entanto, vale ressaltar que a prescrição de exercício para idosos requer prévia e criteriosa avaliação médica, evitando o surgimento de lesões secundárias, que são típicas nessa população. RE FERÊNCIAS 1. Zago AS, Gobbi S. Valores normativos da aptidão funcional de mulheres de 60 a 70 anos. Rev Bras Ci e Mov. 2003; 11(2):77-86. 2. Tonet AC, Nóbrega O. Imunossenescência: a relação entre leucócitos, citocinas e doenças crônicas. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2008; 11(2):120. 3. Ewers I, Rizzo LV, Filho JK. Imunologia e envelhecimento. Einstein. 2008; 6(Suppl 1):13-20. 4. Silva MC, Rombaldi AJ, Campos ALP. Ordem dos exercícios fí- Book Revista G&G.indb 66 sicos aeróbios e com pesos na aptidão física de mulheres acima dos 50 anos. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2010; 12(2):134-9. 5. Cipriani NCS, Meurer ST, Benedetti TRB, Lopes AM. Aptidão funcional de idosas praticantes de atividades físicas. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2010; 12(2):106-11. 6. Kohut ML, Senchina DS. Reversing age-associated immunosenescence via exercise. Exerc Immunol Rev. 2004; 10:6-41. 7/16/13 10:07 AM Condicionamento Físico e Imunossenescência: Repercussão do Exercício na Terceira Idade | 67 7.Dias RMR, Gurjão ALD, Marucci MFN. Benefícios do treinamento com pesos para aptidão física de idosos. Acta Fisiatr. 2006; 13(2):9095. 8.Borges LJ, Cardoso AS, Benedetti TRB et al. Teste de resistência de força de membros superiores para idosos: comparação entre halteres com pesos diferentes. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2008; 10(3):261-5. 9.Guimarães AC, Rocha CAQC, Gomes ALM et al. Efeitos de um programa de atividade física sobre o nível de autonomia de idosos participantes do programa de saúde da família. Fit Perf J. 2008; 1(6):5-9. 10.Hernandes ESC, Barros JF. Efeitos de um programa de atividades físicas e educacionais para idosos sobre o desempenho em testes de atividades da vida diária. Rev Bras Ci e Mov. 2004; 12(2):43-50. 11.Senchina DS, Kohut ML. Immunological outcomes of exercise in older adults. Clin Interv Aging. 2007; 2(1):3. 12.Esquenazi D. Imunossenescência: as alterações do sistema imunológico provocadas pelo envelhecimento. Rev Hosp Univ Pedro Ernesto. 2008; 7(1):38-45. 13.Aw D, Silva AB, Palmer DB. Immunosenescence: Emerging challenges for an ageing population. Immunology. 2007; 120(4):435-46. 14.Larbi A, Franceschi C, Mazzatti D et al. Aging of the immune system as a prognostic factor for human longevity. Physiology. 2008; 23:64-74. 15.Ongrádi J, Kövesdi V. Review factors that may impact on immunosenescence: An appraisal. Immun Ageing. 2010; 7(7). 16.Van Duin D, Mohanty S, Thomas V et al. Age-associated defect in human TLR-1/2 function. J Immunol. 2007; 178(2):970-5. 17.Gomez CR, Karavitis J, Palmer JL et al. Innate immunity and aging. Exp Gerontol. 2008; 43(8):718-28. 18.Toapanta FR, Ross TM. Impaired immune responses in the lungs of aged mice following influenza infection. Respir Res. 2009; 10:112. 19.Yan J, Greer JM, Hull R et al. The effect of ageing on human lymphocyte subsets: comparison of males and females. Immun Ageing. 2010; 7(4):1-10. 20.Haynes L, Eaton SM, Burns EM et al. CD4 T cell memory derived from young naive cells functions well into old age, but memory generated from aged naive cells functions poorly. Proc Natl Acad Sci USA. 2003; 100(25):15053-8. 21.Trzonkowski P, Myśliwska J, Godlewska B et al. Immune consequences of the spontaneous pro-inflammatory status in depressed elderly patients. Brain Behav Immun. 2004; 18(2):135-48. 22.Gruver A, Hudson L. Sempowski G. Immunosenescence of ageing. J Pathol. 2007; 211(2):144-56. 23.Heffner KL. Neuroendocrine effects of stress on immunity in the elderly: implications for inflammatory disease. Immunol Allergy Clin North Am. 2011; 31(1):95. 24.Abbas AK, Lichtman AH, Pillai S. Imunologia celular e molecular. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 25.Lynch HE, Goldberg GL, Chidgey A et al. Thymic involution and immune reconstitution. Trends Immunol. 2009; 30(7):366-73. Book Revista G&G.indb 67 26. Heng TSP, Goldberg GL, Gray DH et al. Effects of castration on thymocyte development in two different models of thymic involution. J Immunol. 2005; 175(5):2982-93. 27. Steinmann G, Klaus B, Müller HK. The involution of the ageing human thymic epithelium is independent of puberty. Scand J Immunol. 1985; 22(5):563-75. 28. Steinmann G. Changes in the human thymus during aging. Cur Top Pathol. 1986; 75:43. 29. Scollay RG, Butcher EC, Weissman IL. Thymus cell migration: quantitative aspects of cellular traffic from the thymus to the periphery in mice. Eur J Immunol. 1980; 10(3):210-8. 30. Hirokawa K, Utsuyama M, Kasai M et al. Understanding the mechanism of the age-change of thymic function to promote T cell differentiation. Immunol Lett. 1994; 40(3):269-77. 31. Utsuyama M, Hirokawa K, Mancini C et al. Differential effects of gonadectomy on thymic stromal cells in promoting T cell differentiation in mice. Mech Ageing Dev. 1995; 81(2-3):107-17. 32. Phillips JA, Brondstetter TI, English CA et al. IL-7 gene therapy in aging restores early thymopoiesis without reversing involution. J Immunol. 2004; 173(8):4867-74. 33. Bruunsgaard H, Pedersen BK. Effects of exercise on the immune system in the elderly population. Immunol Cell Biol. 2000; 78(5):523-31. 34. Timmerman KL, Flynn MG, Coen PM et al. Exercise traininginduced lowering of inflammatory (CD14+ CD16+) monocytes: a role in the anti-inflammatory influence of exercise? J Leukoc Biol. 2008; 84(5):1271-8. 35. Baik I, Curhan GC, Rimm EB et al. A prospective study of age and lifestyle factors in relation to community-acquired pneumonia in US men and women. Arch Intern Med. 2000; 160(20):3082. 36. Campbell PT, Wener MH, Sorensen B et al. Effect of exercise on in vitro immune function: A 12-month randomized, controlled trial among postmenopausal women. J Appl Physiol. 2008; 104(6):1648-55. 37. Shimizu K, Kimura F, Akimoto T et al. Effect of moderate exercise training on T-helper cell subpopulations in elderly people. Exerc Immunol Rev. 2008; 14:24-37. 38. Akimoto T, Kumai Y, Akama T et al. Effects of 12 months of exercise training on salivary secretory IgA levels in elderly subjects. Br J Sports Med. 2003; 37(1):76-9. 39. Drela N, Kozdron E, Szczypiorski P. Moderate exercise may attenuate some aspects of immunosenescence. BMC Geriatr. 2004; 4:8. 40. Rosa L, Vaisberg MW. Influências do exercício na resposta imune. Rev Bras Med Esporte. 2002; 8(4):167-72. 41. Pedersen BK, Hoffman-Goetz L. Exercise and the immune system: regulation, integration, and adaptation. Physiol Rev. 2000; 80(3):1055-81. 42. Zaldivar F, Wang-Rodriguez J, Nemet D et al. Constitutive pro-and anti-inflammatory cytokine and growth factor response to exercise in leukocytes. J Appl Physiol. 2006; 100(4):1124-33. 7/16/13 10:07 AM A rtigo de revisão 68 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA Grupos de Utilização de Recursos Hélder Fernandesa, Ignácio Martinb, R e s um o Palavras-chave Saúde do idoso, organização e administração, gestão em saúde. O objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão da construção dos RUG (Resource Utilization Groups) e um levantamento e análise das publicações sobre a sua validação e utilização em diferentes países. Verificou-se que, desde a sua criação nos Estados Unidos, vários países testaram esse sistema de classificação no seu contexto de cuidados institucionais para pessoas idosas, sendo que ele se mostrou válido e fiável para classificação de usuários de instituições de longa duração que prestam apoio social e cuidados de saúde a idosos, tendo bons resultados na explicação da variância da utilização de recursos. Conclui-se que esse sistema de classificação apresenta boas potencialidades para a sua implementação no contexto português e em países de língua portuguesa, podendo ajudar a perceber as características e necessidades dos usuários, providenciando informação baseada na evidência para os gestores das instituições e decisores políticos, ajudando a justificar a afetação de recursos, melhorando o planeamento estratégico das instituições, assim como a qualidade dos cuidados. Resource Utilization Groups A B ST RAC T Keywords Aging, physical fitness, immune system, immune system. The objective of this study was to review, survey and analyze the construction of RUG’s (Resource Utilization Groups) in use in various countries. It was found that since its creation in the U.S., several countries have tested this system of classification in the context of institutional care for the elderly. The system has proven to be valid and reliable with good results, explaining the variance of resources used especially for the institutions providing long-term health care and social support. It was concluded that this classification system has considerable potential for its implementation in Portugal and in many Portuguese-speaking countries. This system will help to understand the characteristics and true needs of its users by providing evidence-based information for the heads of institutions and policy makers alike. It will also further justify the allocation of resources as well as improve the strategic planning of institutions and quality of care. Mestre em Psicologia do Idoso. Aluno do Programa Doutoral em Geriatria e Gerontologia. Unidade de Investigação e Formação sobre Adultos e Idosos – UnIFai. Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança. b Doutorado em Ciências Biomédicas. Orientador de Doutoramento. Unidade de Investigação e Formação sobre Adultos e Idosos – UnIFai. Secção Autónoma das Ciências da Saúde da Universidade de Aveiro. a Dados para correspondência Hélder Fernandes – Rua Jorge Viterbo Ferreira, 228, 4050-313 Porto (Portugal) Tel.+351 220 428 161 URL: http://www.unifai.eu | E-mail: [email protected] Book Revista G&G.indb 68 7/16/13 10:07 AM RUG | 69 IN TRO D UÇÃO A população mundial continua a envelhecer,1 e a população portuguesa não fica fora dessa realidade.2 No mundo desenvolvido, isso é particularmente verdadeiro para os muito idosos. Essa alteração na sociedade coloca novos desafios de saúde pública, uma vez que grande parte dessa população precisa de cuidados de saúde e apoio social de longa duração.3 Esses cuidados podem ser fornecidos na habitação dos idosos ou em instituições. Apesar dos programas desenvolvidos para a prestação desse tipo de cuidados no domicílio, a institucionalização em Portugal é uma realidade que continua a aumentar.4 Um dos problemas dos cuidados institucionais é o alto custo que implica cuidar de uma população cada vez mais frágil, com maiores limitações e dependência. Essa população envelhecida consome maior proporção de cuidados de saúde e de apoio social per capita quando em comparação com os jovens, aumentando a carga dos serviços de saúde e apoio social.1 A prestação de cuidados de qualidade só é possível quando suportada por uma apropriada metodologia de financiamento. No entanto, é difícil projetar uma metodologia para o financiamento dessas instituições, uma vez que o sistema de saúde não funciona como um simples mercado, e o financiamento deve ser politicamente negociado.5 O custo dos cuidados institucionais vai depender em grande parte do tipo de usuário e da qualidade de cuidados prestados.6 As pessoas idosas, cuja saúde e problemas sociais são diversos e complexos, aumentam significativamente a carga sobre a saúde e os serviços sociais, desafiando governos e decisores políticos. Torna-se pertinente desenvolver um meio fiável que facilite a identificação das necessidades, a medição dos resultados e, nessa medida, a eficácia dos serviços prestados. Essa tarefa é, atualmente, dificultada pela variedade de ambientes em que esses serviços são fornecidos e a diversidade de fornecedores. Paralelamente ao aumento do número de instituições que prestam cuidados de longa duração a pessoas idosas, verifica-se ainda um aumento na sua capacidade, assim como um contínuo de taxas de ocupação muito elevadas.4 Nessas instituições existem usuários com características muito distintas, o que torna complexa a sua gestão e organização. Esses pacientes requerem cuidados específicos, que são diferentes de caso para caso. No entanto, é possível reuni-los em grupos, segundo as necessidades de cuidados. Para isso é importante o reconhecimento do tipo e amplitude de cuidados de que cada paciente necessita, compreender os fatores que influenciam as necessidades de cuidados relativos a um grupo de pacientes, os recursos disponíveis para cuidar desse grupo e o custo desses mesmos recursos. O cálculo do custo dos recursos utilizados por cada usuário é uma dificuldade transversal a vários modelos organizacionais e de gestão. Foram descritas várias abordagens para esse problema. Essas abordagens, no entanto, parecem con- Book Revista G&G.indb 69 centrar-se apenas em um tópico, examinando os fatores institucionais, quando na verdade será a necessidade de cuidados individuais um dos principais determinantes do custo.7 Nos Estados Unidos, desde a década de 1980, tem-se analisado a forma de otimizar recursos econômicos e humanos para diminuir o custo dos cuidados mantendo alto nível de qualidade de cuidados.8 Assim surgiram os “sistemas de classificação de usuários” (case-mix), sendo uma ferramenta importante para os gestores e políticos no que se refere aos cuidados de saúde e apoio social.9 Esse conceito defende que, apesar de cada usuário ser único, existem características comuns entre os usuários que determinam o nível de serviços e cuidados de que os usuários necessitam, e portanto o seu custo para a instituição pode ser, dessa forma, previsível.10 Existem dois grandes grupos de sistemas de classificação de usuários: os que dependem do diagnóstico, denominados Disease Related Groups (DRG) e os que são independentes do diagnóstico, denominados Resources Utilization Groups (RUG).8 O primeiro sistema ainda hoje é utilizado, no entanto, meramente em cuidados hospitalares a doentes agudos, por se ter verificado incompatibilidade na aplicação a cuidados de longa duração, como é o caso dos lares de idosos.11 Os RUG explicam melhor a utilização de recursos em instituições que prestam cuidados de longa duração a idosos (53% da variância explicada através do RUG II, comparados com 30-35% explicados pelos DRG).8 ME TO D OLOGIA Inicialmente foi realizada ampla pesquisa da literatura de língua inglesa e portuguesa sobre as palavras-chave “grupos de utilização de recursos”, Resource Utilization Groups, “RUG”, respectivamente, na base de dados científica B-ON. Após uma pré-análise da literatura recolhida sobre a construção, evolução e validação do RUG, quando se procurou perceber como foi construído o RUG, as várias alterações que sofreu e os motivos dessas alterações, foi realizada uma pesquisa aos artigos que descrevem a utilização do RUG-III em diferentes países. RESULTA D OS Esse sistema de classificação categoriza os pacientes nos diferentes grupos segundo características clínicas e recursos utilizados. Permite a comparação de resultados, qualidade dos cuidados e utilização dos recursos. É importante para os gestores e decisores políticos compreenderem os ganhos em saúde que a utilização dos recursos disponíveis com esse sistema de classificação pode representar nesse setor. O sistema RUG-III classifica os usuários com base na informação recolhida com o instrumento de avaliação de usuários Resident Assessement Instrument – Minimum Data Set (RAI-MDS), que se destina a ser utilizado em 7/16/13 10:07 AM 70 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA cuidados de longa duração a idosos, em que se integram os lares de idosos. Instrumento de avaliação O RAI-MDS contém itens que refletem o nível de cuidados que cada usuário necessita, incluindo diagnósticos, tratamentos e uma avaliação do estado funcional. Do RAI-MDS é extraída informação para classificar os usuários no RUG-III através de níveis de utilização de recursos,11 sendo possível a partir dessa classificação aferir o custo do usuário por discriminação positiva, segundo o nível de dependência. O RAI-MDS foi projetado para ser usado por profissionais de saúde no seu trabalho diário, proporcionando-lhes as informações necessárias para a identificação das necessidades de seus clientes, assim como auxílio no desenvolvimento de planos de cuidados para os problemas identificados. Para os gestores e decisores políticos, os dados gerados pela avaliação são adequados para avaliar a relação entre necessidades, cuidados prestados e resultados. O RAI-MDS foi contemplado em um conjunto de reformas aprovadas pelo Congresso dos Estados Unidos, tendo sido uma das reformas mais abrangentes nos lares de idosos nos meados da década de 1960, nos Estados Unidos. Essas reformas tinham como um dos objetivos resolver os problemas da qualidade dos cuidados nos lares de idosos e as dificuldades em promover um financiamento coerente. Todavia, essa regulamentação não foi totalmente eficaz.12 Em um esforço para resolver esses problemas, nos Estados Unidos, em 1983 foi solicitado ao Congresso da Academia Nacional das Ciências e ao Instituto de Medicina uma avaliação da qualidade dos lares de idosos em uma análise focalizando a melhoria da regulamentação desses equipamentos. Uma das recomendações fundamentais foi o desenvolvimento de um sistema de avaliação uniforme e global dos usuários.13 Esse fato levou à criação de novas versões desse instrumento, sendo que a versão atual é o RAI-MDS 3.0. Em Portugal, na tentativa de resolver esse problema, o Instituto da Segurança Social desenvolveu, em 2003, os Modelos de Avaliação da Qualidade das Respostas Sociais. Esses modelos objetivaram igualmente a constituição de um referencial normativo que permitisse avaliar a qualidade dos serviços prestados em lar de idosos e, consequentemente, diferenciar positivamente as respostas sociais.14 No entanto, a sua implementação não é obrigatória. O RAI-MDS tornou-se bastante atrativo para a comunidade científica internacional e foi por isso adaptado por outros países, tendo inclusive a criação de um grupo internacional de trabalho sobre esse instrumento: o InterRAI. O InterRAI é um grupo de acadêmicos, médicos e outros profissionais, no total de 45 individualidades de 22 países (ainda aumentando), comprometidos com o Book Revista G&G.indb 70 estudo dos cuidados para os idosos com base na utilização da avaliação padronizada a partir do qual os dados podem ser agregados para a formulação de políticas, gestão e pesquisa.15 Conta com representantes dos seguintes países: Austrália, Canadá, República Tcheca, Finlândia, França, Dinamarca, Alemanha, Hong Kong, Islândia, Israel, Itália, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Taiwan, Reino Unido e Estados Unidos. Todo o trabalho desse grupo é baseado no RAI-MDS. Desde 1991, o sistema de avaliação foi mandatado em todas as instituições de cuidados pós-agudos nos Estados Unidos e está sendo implementado em muitos outros países. Esse instrumento já foi utilizado em alguns países europeus e pelo Japão.16 A versão original foi traduzida em várias línguas: tcheco, dinamarquês, holandês, finlandês, francês, alemão, italiano, islandês, japonês, norueguês, sueco e espanhol. A sua fiabilidade e validade foram extensivamente testadas.17 O RAI poderá assim representar uma espécie de linguagem comum que permitirá aos investigadores de diferentes países e culturas compartilhar dados, comparar as populações e levar a cabo estudos sobre a população idosa que recebe cuidados institucionais de longa duração. O InterRAI acredita que esse instrumento de avaliação, que tem ligação direta com o plano de cuidados multidisciplinar e foi concebido para ser utilizado nas rotinas de serviço, cria novas oportunidades para abordar a prestação de serviços e necessidades de avaliação da saúde do idoso e os serviços de assistência social nas institucionais e ambientes comunitários. O grupo acredita que diferentes países e organizações compartilham problemas fundamentalmente semelhantes nas populações que servem. Dados fiáveis de diversos países podem surgir com novas informações para o debate sobre a melhor forma de gerir o cuidado às pessoas idosas. Melhorar a qualidade do atendimento e a qualidade de vida dos idosos institucionalizados é um desafio importante e transversal. A implementação do RAI-MDS mostrou-se uma medida científica e prática muito promissora para essas melhorias.18. Neste momento, o RAI-MDS é utilizado em diversas tipologias de prestação de cuidados de saúde e apoio social: apoio domiciliar, lares de idosos, residências para idosos, cuidados paliativos, cuidados pós-agudos, cuidados em saúde mental, cuidados a deficientes.17 Os itens do RAI-MDS foram desenhados de forma a proporcionar uma compreensiva visão sobre os problemas, capacidades e preferências dos idosos institucionalizados. Todos os itens foram rigorosamente testados, e esse instrumento pode ser utilizado para fins clínicos, administrativos e de investigação.19 Com a informação correta, a entidade prestadora de cuidados pode formular um plano de cuidados adequado. O RAI-MDS é um questionário estruturado, composto por 17 partes. São elas: identificação, audição, fala 7/16/13 10:07 AM RUG | 71 e visão, padrões cognitivos, humor e comportamento, preferências nas rotinas e atividades habituais, estado funcional, bexiga e intestino, diagnósticos e doenças ativas, condições de saúde, estado da deglutição/nutricional, condições da pele, medicação, tratamentos especiais e procedimentos, restrições, participação na avaliação e fixação de objetivos, finalizando com uma área de avaliação de cuidados. A validade e a fiabilidade dos itens do MDS foram testadas em estudos anteriores.16, 20-21 Nesses estudos, o método mais utilizado é a validação por dupla avaliação, em que dois avaliadores treinados e independentes avaliam com o MDS a mesma amostra, comparando posteriormente as avaliações. Essas verificações proporcionam credibilidade aos dados que são extraídos do MDS para classificar os usuários nos RUG. Assim consegue-se um sistema de coparticipação por discriminação positiva baseado na situação do usuário e na sua utilização de recursos da instituição. Sistema de classificação O sistema implementado em Portugal para o pagamento institucional em lares de idosos e cuidados de longa duração não reconhece explicitamente as diferenças entre residentes na utilização dos recursos. Esse fato torna-se um incentivo para as instituições admitirem usuários com menor grau de dependência, como foi verificado em outros países.22 Relacionar as características dos usuários com os recursos utilizados nas instituições tornou-se pertinente, resultando na criação dos RUG em 1985.7 A complexidade da classificação de usuários e a necessidade de uma divisão hierárquica que fizesse mais sentido para os profissionais de saúde na sua prática profissional levou à revisão dos RUG em 198822 com a criação do RUG-II e, em 1994, com a criação do RUG-III23 devido à necessidade da utilização em outro tipo de instituições com diferentes modelos de cuidados (principalmente reabilitação). Os estudos de criação e desenvolvimento dos RUG encontram-se comparados na Tabela 1. Tabela 1 Criação do sistema de classificação RUG Metodologia Autor Fries, Cooney (1985) Schneider et al. (1988) Fries et al.(1994) RUG I (9 grupos) II (16 grupos) III (44 grupos) Amostragem 1.469 (426 obs. direta do tempo) 3.427 7.658 Mista# Secundária 6.663 Primária 995 Variável dependente Tempo* Tempo * Desagregação por tipo de profissional** Tempo* Desagregação por tipo de profissional** e tipo de tempo+ Variáveis independentes Tipo de classificação Características do paciente (dicotômicas) Divisão da amostra em grupos feita através da análise de cluster com AUTOGRP++ (utiliza 4 variáveis) Características do paciente + serviços utilizados (195 itens) MDS (350 itens) Classificação por duas divisões: 1. Divisão teórica em categorias major (clínicas) 2. Subcategorias baseadas nas AVD Conclusões 37,8% de variância explicada O tempo autorregistrado parece ser bom substituto do tempo utilizado por paciente 53% de variância explicada Introdução de categorias clínicas ajuda a explicar a variância Análise de Cluster com AUTOGRP ++ (utiliza12 variáveis) Classificação por três divisões: 1. Grupos major de hierarquia clínica 2. Baseada nas AVD 3. Enfermagem de reabilitação, depressão e serviços extensivos 55% de variância explicada Tem aplicação mais universal devido à heterogeneidade da amostra Análise de cluster com AUTOGRP++ * Tempo autorregistrado. ** Tempo de enfermagem, tempo de ajudante de ação direta, tempo combinado (total) por dia; tempo utilizado em terapias por semana (fisioterapia, terapia ocupacional, etc.). + Tempo utilizado em cuidados diretos ou indiretos (reuniões, planificação do trabalho). ++AUTOGRP é um software interativo projetado para facilitar a análise rápida de informação médica complexa. Tem sido utilizado para ajudar na compreensão do processo de gestão de assistência, a fim de melhorar a eficácia do processo de decisão, tanto do ponto de vista médico como de gestão. Na análise de cluster, esse software utiliza o AID (Automatic Interations Detection), dividindo a amostra em subgrupos segundo as variáveis independentes que mais bem explicam a variância da variável dependente. #Uma vez que a amostra secundária apresentou poucos casos nos grupos que utilizam mais recursos (pricipalmente reabilitação e cuidados especiais), foram avaliados 995 residentes de instituições de reabilitação e cuidados especiais. Book Revista G&G.indb 71 7/16/13 10:07 AM 72 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA A metodologia utilizada para realizar a classificação RUG foi a análise de cluster hierárquica através do AUTOGRP. O AUTOGRP é um software interativo projetado para facilitar a análise rápida de informações médicas complexas. O AUTOGRP foi utilizado no estudo do processo de gestão de atendimento dos usuários em uma variedade de configurações, a fim de aumentar a eficácia da tomada de decisões, tanto do ponto de vista médico como de gestão.24 A primeira hierarquia RUG foi criada a partir da análise de cluster hierárquica. A avaliação dessa amostra incluiu variáveis demográficas, sociais, mentais, comportamentais, características físicas, atividades da vida diária, diagnósticos, serviços utilizados. Essa primeira classificação apresenta 9 grupos. As variáveis utilizadas para a divisão dos grupos, com incremento significativo na variância explicada na utilização de recursos, são majoritariamente variáveis relacionadas com as atividades da vida diária. Essa divisão parece ter sido pouco atrativa para a prática clínica diária, como se percebe na literatura.22 Surgiu assim a necessidade de criar uma hierarquia teórica, baseada na prática clínica diária e na divisão funcional dos serviços que prestam apoio social e cuidados de saúde a idosos, de modo que o sistema de classificação fosse mais bem recebido pelos profissionais de saúde. A criação dessa nova classificação, RUG-II, teve por base duas divisões dos diferentes grupos: a primeira segundo uma hierarquia clínica teórica e a segunda divisão orientada para o desempenho nas atividades da vida diária. Apenas a divisão em grupos segundo a hierarquia clínica conseguiu explicar a maior taxa de variância na utilização de recursos que a primeira versão do RUG. A introdução da segunda divisão orientada para o desempenho nas atividades da vida diária apresentou aumento significativo na variância explicada. A criação da terceira versão do RUG, o RUG-III, teve fundamento na necessidade de expandir a utilização desse sistema a outras tipologias de instituições, com diferentes modelos organizacionais e cuidados prestados, principalmente cuidados de reabilitação. O sistema de classificação RUG-III (Tabela 2) tem uma hierarquia clínica com 7 grupos major, que são, da maior utilização de recursos para a menor, respectivamente: reabilitação, serviços extensivos, cuidados especiais, clinicamente complexos, declínio cognitivo, problemas de comportamento, condição física reduzida. Os grupos com maior utilização de recursos subdividem-se ainda em subgrupos da hierarquia clínica: reabilitação muito intensa, reabilitação intensa, reabilitação moderada e reabilitação baixa no caso do grupo major de reabilitação e serviços extensivos tipos 1, 2 e 3, no caso do grupo major de serviços extensivos. Essa hierarquia clínica subdivide-se segundo as características dos usuários, para a obtenção do respectivo RUG, segundo o desempenho nas atividades da vida diária, a utilização de enfermagem Book Revista G&G.indb 72 de reabilitação ou a presença de sintomatologia depressiva. Essa divisão hierárquica resulta em 44 grupos. O grupo major de reabilitação inclui os usuários que utilizam terapia da fala, terapia ocupacional e/ou fisioterapia. Em Portugal, a Portaria n.º 67/2012 do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, que define as condições de organização, funcionamento e instalação a que devem obedecer as estruturas residenciais para pessoas idosas, não obriga a ter esses profissionais no pessoal que trabalha nessas instituições, prevendo-se assim que esse grupo major em Portugal possa ter poucos usuários ou nenhum. Para a avaliação do desempenho nas atividades da vida diária foi criado um índice próprio para o RUG, baseado em trabalhos anteriores de avaliação das atividades da vida diária, mas apenas com as atividades que melhor explicam a diferença na utilização de recursos. Assim, o índice de AVD do RUG-III avalia meramente quatro atividades: mobilidade na cama, utilização do banheiro, transferências e alimentação. O desempenho em cada uma dessas atividades é avaliado mediante o tipo de assistência providenciado e o número de funcionários necessários para providenciar a assistência. Essas atividades da vida diária foram incluídas no RUG-III, pois já tinham demonstrado em estudos anteriores7,22 serem as atividades de vida diária mais diferenciadoras na utilização de recursos. O sistema RUG-III, seguindo a internacionalização do RAI-MDS, foi também testado em diversos países.5,10-11,25-29 A validação e a variância explicada na utilização de recursos com o RUG em diferentes países encontram-se comparadas na Tabela 3. A validação do RUG é feita, em grande parte dos estudos, por comparação da classificação RUG com o tempo utilizado, calculando as diferenças das médias da utilização de recursos entre os diferentes grupos e verificando a homogeneidade dentro de cada grupo.30 Para recolher o tempo utilizado por cada paciente, o método recorrente nesses trabalhos é o autorregistro. Assim, é pedido a cada profissional que registre o tempo dispensado para a prestação de cuidados a cada paciente. Esses tempos são depois ajustados de acordo com o peso que têm no custo total dos cuidados necessários para o usuário, de acordo com as tabelas salariais em cada país. Verifica-se que, nos países que testaram o RUG-III, ele demonstrou ter potencial discriminatório na utilização de recursos. Como se pode verificar na Tabela 3, as maiores diferenças na utilização de recursos por grupo (CMI) foi encontrada nos Estados Unidos e na China, sendo que o grupo com maior utilização de recursos chega a utilizar cerca de nove vezes mais recursos que o grupo que utiliza menos recursos. A maior variação explicada foi encontrada nos Estados Unidos, onde o sistema de classificação foi desenvolvido, sendo que nos restantes países a variação explicada, apesar de menor, 7/16/13 10:07 AM RUG | 73 Tabela 2 Classificação RUG-III Características dos usuários Hierarquia clínica muitointensa intensa Reabilitação moderada baixa Serviços extensivos AVD Depressão Enfermagem de reabilitação 14-18 RVC 8-13 RVB 4-7 RVA 15-18 RHD 12-14 RHC 8-11 RHB 4-7 RHA 16-18 RMC 8-15 RMB 4-7 RMA 12-18 RLB 4-11 RLA tipo 3 SE3 tipo 2 SE2 tipo 1 SE1 Cuidados especiais 17-18 SSC 14-16 SSB 7-13 17-18 Clinicamente complexo 11-16 6-10 4-5 Declínio cognitivo Problemas de comportamento 6-10 4-5 6-10 4-5 16-18 11-15 Condição física reduzida 9-10 6-8 4-5 Book Revista G&G.indb 73 Nomenclatura do grupo RUG-III SSA Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não CD2 CD1 CC2 CC1 CB2 CB1 CA2 CA1 IB2 IB1 IA2 IA1 BB2 BB1 BA1 BA1 PE2 PE1 PD2 PD1 PC2 PC1 PB2 PB1 PA2 PA1 foi satisfatória. A menor variância explicada foi encontrada na China e na Finlândia. Na China, a variância explicada, inferior à maioria dos estudos anteriores, pode ser explicada pela distribuição da amostra, majoritariamente nos grupos com menor necessidade de cuidados, havendo 12 grupos do RUG sem indivíduos. Essa distribuição pode ser explicada pela tipologia de instituições. Na Finlândia, os investigadores foram confrontados com a mesma situação: o fato de haver grupos na classificação sem indivíduos, principalmente os grupos com níveis de utilização de recursos mais elevada, optando por reagrupar os grupos mais elevados, criando assim uma classificação com 22 grupos. Esse sistema de classificação de 22 grupos que deriva do RUG-III mostrou-se funcional para várias tipologias de cuidados dentro do sistema de saúde, chegando mesmo a ser mais prático devido ao reduzido número de variáveis necessárias para a classificação. Na generalidade, o sistema de classificação RUG-III mostrou-se válido e fiável para explicar a variação na utilização de recursos, sendo uma ferramenta útil em instituições que prestam cuidados de longa duração a idosos. CONCLUSÃO Esse sistema de classificação de usuários tem demonstrado bons níveis de validade e fiabilidade. A sua implementação em diversos países (Inglaterra, Finlândia, Itália, China, República Tcheca) mostrou-se útil para o financiamento das instituições, cálculo de rácios de pessoal, melhora da qualidade das instituições e tomada de decisão política. O desempenho desse sistema de classificação, paralelamente às potencialidades do RAI-MDS, levou à criação de um grupo, o InterRai, que conta com 45 individualidades de 22 países, o que demonstra o interesse internacional desse instrumento e do respectivo método de avaliação de usuários. O RUG-III poderá ajudar na sustentabilidade e melhoria das instituições que prestam apoio social e cuidados de saúde a idosos. 7/16/13 10:07 AM 74 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA No contexto português, tendo em conta o aumento do número de instituições que prestam cuidados de saúde e apoio social de longa duração a idosos, o aumento da sua lotação e o contínuo de taxas de ocupação elevadas, associado às dificuldades de sustentabilidade, e tendo em vista a melhoria da qualidade dos cuidados e serviços presta- dos, torna-se pertinente a implementação de um sistema de classificação com fins de financiamento que seja transversal a todas as instituições e que possa ser utilizado pela entidade que coordena o funcionamento desse tipo de instituições em nível nacional. No caso do RUG, esse sistema de classificação tem a vantagem de utilizar como Tabela 3 Comparação da variância explicada com o RUG-III em diferentes países Autor Fries BE, Schneider DP, Foley WJ, Gavazzi M, Burke R & Cornelius E (1994) Ikegami N, Fries BE, Takagi Y, Ikeda S & Ibe T (1994) Carpenter GI, Main A & Turner GF (1995) Bjorkgren MA, Hakkinen U, Finne-Soveri UH & Fries BE (1999) Topinkova E, Neuwirth J, Mellanova A, Stankova M & Haas T (2000) Brizioli E, Bernabei R, Grechi F, Masera F, Landi F, Bandinelli S et al. (2003) Chou KL, Chi I & Leung JC (2008) País EUA Japão Inglaterra e País de Gales Finlândia** República Tcheca Itália China (Hong Kong) Indivíduos 871 1.975 1.964 1.162 999 1.127 7.658 Instituições 4 26 10 18 11 7 202 Variação explicada % 55,5 43,8 28,2 38,2 59,0 45,0 28,8 Mín 0,40* 0,60* 0,42 0,39 0,45 0,52 0,39 Máx 3,23* 2,20* 2,52 2,71 2,53 1,91 3,68 – Diferencia efetivamente os recursos utilizadas pelos residentes – A classificação em 44 grupos explica melhor a diferença na utilização de recursos – Válido e fiável para medir a utilização de recursos em cuidados de longa duração – A elevada variância explicada na utilização de recursos demonstra que esse sistema é um bom preditor dos custos dos cuidados – Homogeneidade na utilização de recursos nos grupos RUG-III – Explica bem a variância na utilização de recursos – Ferramenta útil para a gestão de instituições geriátricas – Foi demonstrada a transferibilidade do RUG-III entre sistemas de saúde – A versão de 22 grupos do RUG-III pode ser especialmente útil em sistemas de informação, pois requer a avaliação de menos itens – Adequado para cuidado de longa duração – Além de seu uso para incentivos de pagamento, pode ser usado na gestão das instituições, em processo de garantia de qualidade e para a análise comparativa em nível nacional e internacional – Bom preditor dos recursos utilizados – Enfatiza a necessidade da implementação de um sistema de financiamento baseado nas características e necessidades dos pacientes, e não no tipo de instituição – Ajuda na gestão e controle da qualidade - Instrumento válido e fiável - A informação que fornece pode servir para desenvolver um sistema de financiamento, perceber os custos e a qualidade dos cuidados N CMI Conclusões *Dados aproximados retirados de gráficos. **RUG-III adaptado em uma versão de 22 grupos, devido à inexistência de alguns grupos no sistema de cuidados de longa duração na Finlândia. RE FERÊNCIAS 1. Carpenter GI, Phillips CD, Mor V. Introduction. Age and Ageing. 1997 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. January 1; 26(suppl 2):1. Resende Oliveira C. Research on aging in Portugal. Exp Gerontol. 2001 Nov; 36(10):1599-607. Lasch V, Reimann K. Ageing and demographic change: European research resources. In: Backes GM, Lasch V, Reimann K, editors. Gender, Health and Ageing: VS Verlag für Sozialwissenschaften. 2006; 227-40. GEP/MTSS. Carta social – rede de serviços e equipamentos 2009. Lisboa: Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, 2009. Ikegami N et al. Applying RUG-III in Japanese long-term care facilities. Gerontologist. 1994 Oct; 34(5):628-39. Marin PP et al. Assessment of 1497 Chilean nursing home residents, using the Resource Utilization Group method, RUG T-18. Rev Med Chil. 2004 Jun; 132(6):701-6. Fries BE, Cooney LM Jr. Resource utilization groups. A patient classification system for long-term care. Med Care. 1985 Feb; 23(2):110-22. Carpenter GI, Main A, Turner GF. Casemix for the elderly inpatient: Resource Utilization Groups (RUGs) validation project. Casemix for the Elderly Inpatient Working Group. Age Ageing. 1995 Jan; 24(1):5-13. Bjorkgren MA et al. Case-mix adjustment and efficiency measurement. Scand J Public Health. 2004; 32(6):464-71. Book Revista G&G.indb 74 10.Brizioli E et al. Nursing home case-mix instruments: Validation of the RUG-III system in Italy. Aging Clinical and Experimental Research. 2003 Jun; 15(3):243-53. 11.Bjorkgren MA et al. Validity and reliability of Resource Utilization Groups (RUG-III) in finnish long-term care facilities. Scand J Public Health. 1999 Sep; 27(3):228-34. 12.Hawes C et al. Development of the nursing home Resident Assessment Instrument in the USA. Age Ageing. 1997 Sep; 26 Suppl 2:19-25. 13. Rahman AN, Applebaum RA. The nursing home Minimum Data Set assessment instrument: Manifest functions and unintended consequences – past, present, and future. Gerontologist. 2009 Dec; 49(6):727-35. 14. Instituto da Segurança Social IP. Modelo de avaliação da qualidade - estrutura residencial para idosos. 2006; Disponível em: http:// www2.seg-social.pt/preview_documentos.asp?r=21437&m=PDF. 15.Fries BE et al. Implementing the Resident Assessment Instrument: Case studies of policy making for long-term care in eight countries. New York: Milbank Memorial Fund, 2003. 16. Sgadari A et al. Efforts to establish the reliability of the Resident Assessment Instrument. Age Ageing. 1997 Sep; 26 Suppl 2:27-30. 17.Carpenter GI. Accuracy, validity and reliability in assessment and in evaluation of services for older people: the role of the interRAI MDS assessment system. Age Ageing. 2006 Jul; 35(4):327-9. 7/16/13 10:07 AM RUG | 75 18.Achterberg WP et al. Effects of the Resident Assessment Instrument on the care process and health outcomes in nursing homes. A review of the literature. Scand J Rehabil Med. 1999 Sep; 31(3):131-7. 19. Chou K-L et al. Validation of Minimum Data Set for nursing home in Hong Kong Chinese elders. Clinical Gerontologist. 2001; 23(1/2):43-54. 20. Hawes C et al. Reliability estimates for the Minimum Data Set for nursing home resident assessment and care screening (MDS). Gerontologist. 1995 Apr; 35(2):172-8. 21. Morris JN et al. Designing the national resident assessment instrument for nursing homes. Gerontologist. 1990 Jun; 30(3):293-307. 22. Schneider DP et al. Case mix for nursing home payment: resource utilization groups, version II. Health Care Financ Rev. 1988 Dec; Spec No:39-52. 23. Fries BE et al. Refining a case-mix measure for nursing homes: Resource Utilization Groups (RUG-III). Med Care. 1994 Jul; 32(7):668-85. 24. Mills R et al. AUTOGRP: an interactive computer system for the analysis of health care data. Med Care. 1976 Jul; 14(7):603-15. 25. Carpenter GI et al. RUG-III and resource allocation: comparing the relationship of direct care time with patient characteristics in Book Revista G&G.indb 75 five countries. Age and Ageing. 1997 Sep; 26:61-5. 26. Carpenter I et al. Identification of registered nursing care of re- sidents in English nursing homes using the Minimum Data Set Resident Assessment Instrument (MDS/RAI) and Resource Utilisation Groups version III (RUG-III). Age Ageing. 2003 May; 32(3):279-85. 27. Chou KL, Chi I, Leung JC. Applying Resource Utilization Groups (RUG-III) in Hong Kong nursing homes. Can J Aging. 2008 Fall; 27(3):233-9. 28. Francesconi P et al. Classification of residents in nursing homes in Tuscany (Italy) using Resource Utilization Groups Version III (RUG-III). Aging Clin Exp Res. 2006 Apr; 18(2):133-40. 29. Topinkova E et al. Case-mix classification in post-acute and long-term care. Validation of Resource Utilization Groups III (RUG-III) in the Czech Republic. Cas Lek Cesk. 2000 Feb 2; 139(2):42-8. 30. Cooney LM Jr., Fries BE. Validation and use of resource utilization groups as a case-mix measure for long-term care. Med Care. 1985 Feb; 23(2):123-32. 31. Fonseca C et al. Nursing Care indicators to nursing homes. J Nurs Care [serial on the Internet]. 2012; 1(107). 7/16/13 10:07 AM 76 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA INSTRUÇÕES AOS AUTORES Informações gerais A revista Geriatria & Gerontologia – G&G é uma publicação científica trimestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, cujo objetivo é veicular artigos que contribuam para a promoção do conhecimento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br. Instruções para o envio dos manuscritos Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica (arquivo word) para o endereço: [email protected]; ou por correio, em CD ou DVD, para SBGG - Av. Copacabana, 500 - sala 609/610, Copacabana - 22020-001, Rio de Janeiro - RJ. O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça até dez dias úteis após o envio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá enviar, por via postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista G&G, a concordância com a sessão de direitos autorais, a declaração de conflito de interesses e o documento de aprovação do comitê de ética em pesquisa. Avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review) Os manuscritos que atenderem à política editorial e às instruções aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retomar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma. Pesquisas envolvendo seres humanos Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento a legislação específicas do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Tipos de artigos publicados A revista G&G aceita a submissão de: Editoriais e comentários: esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista. Artigos originais: contribuições destinadas à divulgação de resultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pes- Book Revista G&G.indb 76 quisa. Devem ter de 2 mil a 4 mil palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências (máximo de 30). Artigos de revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5 mil palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50. Comunicações breves: são artigos resumidos destinados à divulgação de resultados preliminares de pesquisa; de resultados de estudos que envolvem metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências), uma tabela ou figura e no máximo dez referências bibliográficas. Sua apresentação deve acompanhar as mesmas normas exigidas para artigos originais, fazendo-se exceção aos resumos, que não são estruturados e devem ter até 150 palavras. Relatos de caso: são manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. O título deve apresentar a doença ou a peculiaridade clínica – relato de caso. Devem observar a estrutura de resumo (150 palavras) com introdução (justificativa ao leitor o motivo do relato de caso, não se estender na descrição da «doença ou particularidade clínica»), relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos, seguimento, diagnóstico. ATENÇÃO: Não utilizar siglas ou notas de rodapé), discussão (comparar com dados de semelhança na literatura) e conclusão do caso. Devem conter a bibliografia consultada e não podem ter mais de 1500 palavras e 15 referências. Artigos especiais: são manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências previas quanto as referências bibliográficas. Cartas ao editor: seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de mil e até cinco referências. Orientações para a preparação dos manuscritos Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows (inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução. Devem ser apresentados na sequência: a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo nome, endereço, telefones, fax e e-mail. Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstracts), entre 150 a 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritos em Ciências d Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: 7/16/13 10:07 AM Instruções aos autores | 77 Introdução: deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada a apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado de arte) que serão abordados no artigo. Métodos: devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados: Devem se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão: deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos a luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Conflito de interesses Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas capazes de influenciar a interpretação dos resultados. Referências bibliográficas As referências devem ser listadas no final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” www.icmje. org). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguindo de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabilidade do autor. Livros Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics 5th ed. New York: McGraw Hill, 2004. Capítulos de livros Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8 Artigos de periódicos Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981; 135 (2): 482-91 Dissertações e teses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Textos em formato eletrônico Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 05/02/2004) More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: 05/06/1996. Instructions for Authors Background Geriatria & Gerontología (Brazilian Geriatrics & Gerontology) G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aiming the publication of articles on Geriatrics and Gerontology, including their several subareas and interfaces G&G accepts artirle submissions in Portuguese, English, and Spanish I ho print content is available for SBGG members and the online content can be accessed at: www.sbgg.org br Instructions for Manuscript Sending Papers should be sent either by e-mail to: [email protected]. The corresponding author will recerve message acknowledging the paper receipt should this do not occur up to seven working days from the ending, the author should get m touch with the journal Concurrently, the author should send by mail a declaration stating that the manuscript is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he (she) agrees with the cession of copyright. Manuscript Evaluation by Peer Review Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will e referred to editors who will evaluate the their scientific merit Manuscripts will be submitted at least two reviewers with expertise in the addressed theme Accepted manuscripts might return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by Die respective authors within three months Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, even partial, in other journals or translation into another language is unauthorized. Research involving human subjects Articles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (institutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compliance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000) shall appeal’ in the lest paragraph of Methods section, as well as fulfillment of specific lew requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have signed a Free and Informed Consent Term. Categories of manuscripts Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, seminários e outros Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild congnitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05. G&G accepts the following submissions: Artigos em periódicos eletrônicos Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Ver Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/rm Review articles: Critical and systematic evaluation of literature on I certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclusions. Book Revista G&G.indb 77 Original articles: contributions aiming at release of unpublished research results considering the theme relevance, its range and the knowledge generated for research purposes Original articles should contain 7,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures (not exceeding 5) and references (not exceeding 30). 7/16/13 10:07 AM 78 | REVISTA GERIATRIA & GERONTOLOGIA The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references. Brief communications: These are summarized articles designed for dissemination of preliminary results, results of studies involving methodology of low complexity, and novel hypotheses of relevance in the field of Geriatrics and Gerontology. They should contain 8001600 words (excluding tables, figures and references), one table or figure and a maximum of ten references. Your presentation should follow the same standards of original articles, with exception of the abstracts, which are not structured and should contain a maximum of 150 words. Case Reports: These are manuscripts reporting original and interesting clinical cases. The title should have the disease or clinical peculiarity — a case report. They must observe the structure of abstract (150 words) with introduction (an explanation to the reader for the case report does not extend the description of “illness or clinical particularity”), case report (with description of the patient, results of clinical tests, follow-up, and diagnosis — WARNING: Do not use acronyms or footnotes), discussion (comparison with similar data in the literature), and case outcome. They should contain a bibliography and have no more than 1500 words and 15 references. Letters to the editor: Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews They should not exceed 1,000 words and 5 references. Instructions for manuscript preparation Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables), figures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below: a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters, b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English, c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail. Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other manuscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information Abstracts should not contain quotations and abbreviations. At least three and at most six keywords should accompany the Abstracts being extracted from the vocabulary Descritores em Ciências da Saúde (DeCS - www.bireme.br) when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings -MeSH (http //www.nlm nih gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manuscript theme, words or expressions of known use might be indicated. Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text Introduction. The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods: this section should have clear and brief description of proceedings adopted, sampling; data source and selection criteria, measurement instruments; statistical analysis, among other features. Results: this section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Discussion: the discussion should properly and objectively explore the results, discussed in the Book Revista G&G.indb 78 light of further observation already registered in literature It Is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice. Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper. Conflict of interest Conflict of interest includes a) financial conflict such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent sharing related to marketed products or technology involved in the manuscript; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of influencing the result interpretation. References Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals Writing and Editing for Medical Publication” [http:// www.icmje org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in Med-Line. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text. Examples of reference style Books Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed New York: McGraw Hill, 2004. Book chapters Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8 Journal articles Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly West J Med 1981; 135 (2): 482-91 Essays and theses Marutinho AF Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Papers introduced in congresso, symposiums, meetings, seminars etc. Peterson R, Grundman M, Thomas R, Thai L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer’s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract 01-05-05. Articles from electronic journals Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10]; 15(1). Disponível em www.scielo.br/RN Texts in electronic format Institute Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de saúde: assistência médico-sanitária. www.ibge.gov.br (Acessado em: 05/ Fev/2004) More SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL; www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996. 7/16/13 10:07 AM Capa_Revista SBGG_Aprovada_10.7.2013.ai NOVO NUTREN SENIOR 7/16/13 2:21 PM Revista Geriatria & Gerontologia ® VIDA ATIVA EM QUALQUER IDADE C M M Y Y CM CM MY MY CY CY CMY CMY K K Revista Geriatria&Gerontologia C Combinação única de Proteína, Vitamina D e Cálcio na medida certa para o idoso. 1 ARTIGOS ORIGINAIS Órgão Oficial de Publicação Científica Sociedade Brasileira de Geriatria & Gerontologia Avaliação do programa público brasileiro de tratamento da doença de Alzheimer no ano de 2008 Desempenho funcional em idosas de uma Universidade Aberta à Terceira Idade em área urbana do Nordeste Índice de complexidade de famacoterapia do idoso dependente para autocuidado na atenção primária Perfil, estresse e necessisades de cuidadores familiares e profissionais de idosos/acamados na atenção primária em saúde na cidade de São Paulo em Belém, Pará moderate chronic kidney disease in elderly Brazilians Versatilidade e praticidade de uso em receitas salgadas e doces. Comparando resultados de aplicações de questionário QI-AASI em idosos protetizados ARTIGOS DE REVISÃO Jan/Fev/Mar 2013 NES-0185A - Anúncio Grupos de utilização de recursos Número 1 Referências bibliográficas: 1. Price R, Daly F, Pennington CR, McMurdo ME. Nutritional supplementation of very old people at hospital discharge increases muscle strength: A randomised controlled trial. Gerontology. 2005;51:179-185. 2. Fabian E, Bogner M, Kickinger A, Wagner KH, Elmadfa I. Vitamin status in elderly people in relation to the use of nutritional supplements. J Nutr Health Aging. 2012;16(3):206-12. 3. Morley JE. Sarcopenia in the elderly. Fam Pract. 2012;29 Suppl 1:i44-i48. Efeitos do condicionamento físico sobre a imunossenescência Volume 7 » Fortalece o músculo e a saúde óssea1,2,3 » Restaura a força e a energia1,2,3 » Auxilia no bom estado nutricional1,2,3 » Contribui na melhora da imunidade1,2,3 ISSN 1981-8289 Volume 7 Número 1 Jan/Fev/Mar