O Comportamento reprodutivo da campainha-azul
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O Comportamento reprodutivo da campainha-azul
O Comportamento reprodutivo da campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens) em um encrave de Cerrado no Litoral Norte da Bahia. Um ensaio fotográfico gar durante quase todo o dia. Gravamos então os sons e os repetimos em seguida: o macho respondia ao canto e em seguida A campainha-azul (Porphyrospiza cae- voava para o solo e caminhava pulando e rulescens) é uma espécie que ocorre em se escondia no meio da vegetação rasteicampo aberto e no Cerrado na Bolívia, e ra, aproximando-se da fonte emissora do no Brasil sua distribuição abrange os esta- som. Ás vezes, voava para um arbusto e dos do Maranhão, e sudeste do Pará ao Pia- cantava muito, e em determinados mouí e Bahia, oeste de Minas Gerais, Goiás, mentos voava planando e cantando intenDistrito Federal e Mato Grosso (Sick, samente e depois pousava sobre o galho 1985,1997). A espécie é considerada endê- de um arbusto qualquer. Em determinado mica do Cerrado (BirdLife, 2002), e ape- ocasião, observamos a presença de outro sar da sua ampla distribuição geográfica, macho adulto que realizava as mesmas atiquase nada se sabe sobre seu comporta- vidades do primeiro. Em um dado momento reprodutivo. O primeiro registro de mento, os dois se encontraram e juntos puum ninho desta espécie ocorreu em no- laram pelo solo em busca de um possível vembro de 2002, no Parque Nacional da macho invasor do território. A presença Serra da Canastra, sul de Minas Gerais, on- de um segundo macho adulto nos intride um ninho foi encontrado entre ramos de gou. Seria este exemplar um filhote da nicanela-de-ema (Vellozia sp.), situado bem nhada anterior que ainda continuava no perto do solo, em ambiente de campo ru- território dos pais? Observando tais compestre. O ninho foi construído com capim portamentos, resolvemos procurar seu niseco, e continha três filhotes, com cerca de nho no entorno dos locais onde a ave canseis dias de vida (Buzzetti, 2005). Um se- tava para delimitar seu território e em megundo registro de reprodução da espécie nos de uma hora encontramos o ninho enfoi obtido pelo mesmo autor em novembro cravado no interior de uma moita de grade 2003, no município de Goiatins – GO, mínea, a cerca de 50 mm do solo. O ninho em ambiente de campo cerrado, quando era todo ele confeccionado com a mesma foi localizado um filhote que havia deixa- espécie de gramínea onde estava fixado; do o ninho há poucos dias. Desde 1988, a os pedaços maiores da gramínea mediam equipe de Estudo e Preservação da Fauna 250 mm e pesavam 0,2 g. O ninho molhada Cetrel vem desenvolvendo pesquisas do após a chuva pesava 12,5 g e o ninho sesobre o grupo de aves do Litoral Norte da co pesava 6,5 g. O seu diâmetro externo Bahia. Durante as atividades de pesquisa era de 65 mm X 60 mm, a profundidade de foi possível estudar e registrar o compor- 35 mm e a altura de 50 mm. O ninho estatamento reprodutivo de mais de 140 espé- va fixado a uma moita de gramínea, bem cies de aves, o que equivale a 32,5% de to- camuflado. A fêmea só saiu do ninho, das as espécies registradas até o momento quando nós mexemos na moita de gramí(434), dentre elas a campainha-azul nea onde estava fixado. Ela saiu pulando (Porphyrospiza caerulescens). pelo solo e depois desapareceu. Meia hoNo dia 17 de setembro de 2006, obser- ra mais tarde retornou ao ninho, emitindo vamos um exemplar da campainha-azul um som fino e agudo, semelhante ao tri(Porphyrospiza caerulescens) macho, nado de um canário-da-terra (Sicalis flacantando intensamente em um galho de veola). O ninho continha dois ovos: um embaúba (Cecropia glaziovii), a uma altu- deles tinha acabado de ser posto e ainda esra de quatro metros. Observamos durante tava recoberto por um muco viscoso. Os três dias, que a ave cantava no mesmo lu- ovos pesavam em média 1.8 g e mediam Pedro Cerqueira Lima¹, Dante R.C. Buzzetti² 18 mm x 14 mm e eram de cor branca com pintas de cor marrom e outras de cor preta. Nesse mesmo dia, retornamos ao ninho às 11h 20 min. e às 14h 30 min. e observamos que somente a fêmea chocava. No dia 23 de setembro, observamos às 07h 00 min., no dia 24 observamos às 07h 00min. horas e no dia 27 observamos às 05h 15min. e não encontramos ninguém no interior do ninho. No entanto, os ovos estavam lá. No dia 2 de outubro de manhã observamos que haviam nascido os dois filhotes, ambos ainda úmidos. A fêmea estava no interior do ninho, e o macho cantava muito nas proximidades do ninho para delimitar seu território. A fêmea saía do ninho em busca de alimento e logo retornava para aquecer os filhotes. Deitava-se sobre os filhotes recém - nascidos e quando o sol esquentava, abria o bico para dissipar o calor. Em determinados momentos, levantava-se por um curto intervalo de tempo, para diminuir a intensidade do calor sobre os filhotes, e fazia isso várias vezes durante o dia. O período de incubação foi de 14 dias. A fêmea sempre emitia um trinado semelhante ao do canário-daterra (Sicalis flaveola) quando chegava ao ninho. O macho também ajudou na alimentação dos filhotes, logo no primeiro dia, e chegava ao ninho trazendo alimento para os filhotes sem emitir nenhum som. Vinha saltitando pelo chão como a fêmea, e cantava apenas quando retornava com comida para os filhotes, pousando sempre nos poleiros que utilizava para delimitar seu território. O macho não participa da incubação, com seu colorido azul vistoso e bico amarelo intenso, chama muito a atenção e pode ser um alvo fácil para predadores de hábitos terrestres. A coloração parda da fêmea lhe permite uma boa camuflagem quando está incubando. A sua coloração se assemelha muito à coloração das gramíneas secas usadas na confecção do ninho e das gramíneas do entorno. Em Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br uma hora, os pais ofereceram comida para os filhotes duas vezes cada um, perfazendo um total de quatro alimentações por hora. A fêmea aqueceu os filhotes durante três dias e depois disso só retornava ao interior do ninho em dias de chuva, quando então protegia os filhotes ou em caso de sol intenso, quando os encobria para evitar que os raios solares incidissem sobre eles. Em determinados momentos, o casal alimentou os filhotes ao mesmo tempo. Num dado momento, a fêmea solicitou um gafanhoto que o macho trazia para os filhotes, balançando as asas para imitar o comportamento dos filhotes ao pedirem comida para os pais. O macho então colocou o gafanhoto na ponta do bico da fêmea e ela o ofereceu a um dos filhotes. Os filhotes com cinco dias de vida percebiam quando os pais estavam se aproximando com comida e emitiam um som muito parecido com o da mãe. Eles se comunicavam com a mãe e também emitiam sons quando o pai cantava em um dos poleiros do seu território. Quando os filhotes estavam entre um e quatro dias de vida, os pais lhes ofereceram pequenas larvas de besouros ou pequenos insetos. Quando estão maiores, os pais lhe oferecem insetos maiores, tais como grilos e gafanhotos. Muitas vezes o inseto é tão grande que os filhotes disputam o alimento por várias vezes, sem conseguir engolí-lo. Nesse caso, os pais recolhem o alimento e eles mesmos o deglutem. Tanto o macho quanto a fêmea removem as fezes do interior do ninho. Na maioria das vezes, logo depois de receber alimento, o filhote excreta fezes que são imediatamente removidas pelo membro do casal que está alimentando a prole. Com cinco dias de vida, anilhamos os dois filhotes com anilhas de metal do CEMAVE e anilhas coloridas de plástico, visando estudar seu comportamento no futuro. Com cinco dias, os filhotes apresentavam os seguintes dados biométricos: filhote maior: asa 14 mm, cauda 3 mm, bico 6 mm, tarso 17mm, comprimento total 63mm e peso 11.1g.; filhote menor: asa 12mm, cauda 2 mm, bico 6mm, tarso 16mm, comprimento total 62mm e peso 10.2g . Os filhotes abandonaram o ninho com nove dias, mas com oito dias já davam pequenos pulos na borda do ninho e retornavam para o seu interior. No dia 6 de outubro, descobrimos o território de um outro casal, cerca de 1 km distante do ninho que estudávamos. No dia 14 de outubro, colocamos uma rede no território do casal que foi estudado, e repetindo o som da espécie, em menos de cinco minutos capturamos o macho, que foi anilhado com anilha do CEMAVE e anilhas coloridas de plástico. Dados morfométricos do macho: comprimento total 140 mm, asa 62 mm, cauda 51 mm, bico 11 mm, tarso 18 mm, diâmetro do tarso 2 mm e peso 13g. As anilhas coloridas são de importância fundamental para que possamos estudar o comportamento deste casal em outro período reprodutivo. A presença de um outro macho adulto no território deste casal nos leva a crer que filhotes de ninhadas anteriores são tolerados no território do casal principal por mais de um ano, e podem eventualmente ajudar na alimentação da ninhada seguinte. Somente através do anilhamento com anilhas coloridas será possível comprovar essa hipótese. Entre os dois ninhos da campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens) observados até o momento, o primeiro em Minas Gerais, e o segundo na Bahia, há vários aspectos semelhantes, como material utilizado para a confecção do ninho, localização do ninho e sua altura em relação ao solo, participação de ambos os pais nos cuidados com os filhotes, itens alimentares oferecidos aos filhotes e comportamento dos adultos na aproximação e no entorno do ninho. Entre as diferenças observadas, podem-se apontar apenas os tipos de ambientes envolvidos, campo rupestre na Serra da Canastra e Cerrado na Bahia, e o número de filhotes, três na primeira localidade e Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br dois na segunda. Nos dados obtidos em Goiatins, norte de Goiás, em ambiente de campo cerrado, os dois adultos também traziam alimento para o filhote, e além disso, com a nossa aproximação, pairavam a uma altura de cerca de 10 m sobre o campo baixo, no local onde estava o filhote, vocalizando com asas e cauda abertas em leque.Dois meses após os filhotes terem abandonado o ninho, o macho continuava sonorizando, delimitando o seu território, sempre pousado nos arbustos mais altos. Os filhotes e a fêmea se locomoviam pelo solo em busca de alimento ou em pequenos arbustos, a coloração parda dos filhotes e da fêmea, lhe proporcionam uma perfeita camuflagem nesse tipo de ambiente. O outro casal, do território vizinho, possuía o mesmo comportamento. AGRADECIMENTOS: Agradeço a José Carlos Dias e Paulino Rocha, meus auxiliares que se dedicam a descobrir os ninhos para que eu possa estudar o comportamento das espécies. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Bencke, G.A & Maurício, G. N. Programas de IBAs no Brasil, Fundação Zoo Botânica. Setembro, 2002. Buzzetti, D.R.C e Silva, S. 2005. “Berços da Vida: ninhos de aves brasileiras” 247 pp. Editora Terceiro Nome. São Paulo - SP. Sick, H. 1985. “Ornitologia Brasileira, Uma introdução”, 1ª ed. V. 2, Brasília: Universidade de Brasília. Sick, H. 1997. Ornitologia Brasileira, Rio de janeiro: Editora Nova Fronteira. ¹ Cetrel S/A Empresa de Proteção ambiental do Pólo Petroquímico de Camaçari, Via Atlântica Km 9 Interligação Estrada do Coco - CEP 42810000 - Camaçari - Bahia. Email: [email protected] ² Centro de Estudos Ornitológicos, Rua Álvaro Rodrigues, 163 sala 4 CEP 04582000 São Paulo-SP. E-mail: [email protected]. Porphyrospiza caerulescens macho e fêmea pegou comida. Fotos P. Lima. Porphyrospiza caerulescens. Foto: Dante Buzzetti. Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br 3 Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br