Abr 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino

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Abr 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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abr-mai/11
ÓRGÃO INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS / ARCO - ANO 5 - Nº 21 – ABRIL / MAIO 2011
abr-mai/11
2
O ARCO JORNAL é o veículo informativo da
ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES
DE OVINOS – ARCO
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Vermelho
E
Os Degraus da Escada
star em eventos onde encontramos
praticamente todo
o sistema produtivo
da ovinocultura tem
sido,
atualmente,
mais gratificante do
que nunca. Mesmo
que ainda surjam
debates sobre como conduzir determinados temas do setor,
o clima nestes encontros, felizmente, já está mudado. Com
certeza isto está diretamente relacionado com o momento
atual do setor, onde aumento de consumo da carne ovina e
a baixa oferta estão elevando os preços pagos ao produtor
a valores nunca vistos antes. Isto traz como consequência
direta um sentimento positivo e de confiança entre todos,
o que é muito importante para um segmento que vinha há
anos com baixa estima e desvalorização do seu trabalho e
do produto que dele resultava. A frase, “a ovelha não tá valendo nada”, parece que está deixada num canto do nosso
vocabulário diário da atividade.
Vamos somar a isto e justamente por conta desta “boa
onda”, o fato de a ARCO estar sendo chamada a todo o
instante, por diversos segmentos de Governos, para participar de encontros, reuniões e debates sobre o que fazer para
montar ou reestruturar o setor. Um exemplo bem recente
é o do Rio Grande do Sul onde, desde o momento em que
foi definido o novo Governo, seus interlocutores realizavam
encontros conosco para terem um diagnóstico do setor e
determinar ações a serem tomadas a partir do momento
em que assumissem a administração estadual. E isto, está
acontecendo, felizmente. Já há um plano de financiamento
para retenção de matrizes e outro para aquisição de ventres
e reprodutores. Aliás, é também interessante citar que na
primeira reunião da Câmara Setorial da Ovinocaprinocultura, feita pela Secretaria de Agricultura gaúcha, estavam
presentes praticamente todos os segmentos do sistema produtivo, inclusive o setor de comércio, como é o caso da Associação Gaúcha dos Supermercados.
HUMOR
Editorial
Na minha opinião e da nossa diretoria, quando isto
acontece é sinal de que o setor está conquistando importância dentro dos vários segmentos econômicos no qual participa ou é insumo importante, seja direta ou indiretamente.
E se há interesse de todos em expor sua opinião, deixar sua
sugestão ou mesmo ver de que forma podem participar do
processo como um todo ou em parte, chegamos, depois de
muita luta, ao primeiro degrau de uma escada que há muito
estamos tentando subir. E, se isto aconteceu, Parabéns a
todos que estão nesta luta há pelo menos 20 anos, período
no qual a ovinocultura esteve em certa dormência! Abram
um espumante porque vale a pena comemorar!
E, depois da comemoração, retomemos a concentração
porque precisamos trabalhar para subir os outros degraus
desta escada ou escalada, como preferirem.
Digo isto porque realmente já é uma vitória ter atingido este estágio, algo pelo qual estamos lutando há muito
tempo, com incontáveis reuniões, encontros, debates entre
nós, criadores, ou com representantes de governos, parlamentares e uma série de outras autoridades. E poucas vezes
alcançamos algum resultado satisfatório. O cenário mudou,
os ventos se tornaram favoráveis para as nossas caravelas
e é isso que precisamos aproveitar. Não podemos nos deitar nos louros e achar que a partida está ganha. Tomemos
como exemplo o setor de aves e suínos que apesar de ter se
transformado numa potência econômica, com milhares de
empregos e divisas internas e externas, continua organizado e coeso, buscando sempre mais mercados e fortalecer a
marca Made in Brazil.
Vamos pegar este momento, ver o que de bom ele nos
traz, o que é preciso fazer para aprimorar nos projetos, nas
políticas públicas, nas parcerias com as indústrias de insumos, de processamento da carne ou do varejo, para que a
ovinocultura como um todo, realmente solidifique, cada vez
mais, as conquistas obtidas até agora e avance para novos
objetivos. A guerra não está vencida, apenas uma pequena
escaramuça. Vamos à luta, vamos vencer os outros degraus
desta escada que poderíamos chamar, quem sabe, Mercado!
Abraços,
Paulo A. Schwab - Presidente da ARCO
SILAGEM
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Mercado
Mercado aquecido estimula produção de cordeiros
O
mercado do cordeiro foi fortemente
sacudido entre a metade do ano de
2010 e especialmente no primeiro trimestre de 2011. Além da redução das importações de carne do Uruguai, maior fornecedor
do mercado formal do Brasil, novas ações estão alavancando o preço do cordeiro e trazendo expectativas favoráveis ao produtor.
Na verdade, o mercado de cordeiros está
aquecido em todo o País. Em 2010, a produção
de carne ovina permaneceu em alta acompanhada pela demanda aquecida e queda nas importações. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o kg vivo fechou o ano entre R$ 4,00 e R$
5,00. No início do ano, o preço pago ao produtor não passava de R$ 3,00. Em São Paulo,
o ano de 2010 fechou com cotações médias de
R$ 4,70 o kg/vivo. De acordo com a Secretaria
da Agricultura, o preço médio do final de 2010
na Bahia foi de R$ 4,25, com crescimento de
18% sobre as cotações de 2009.
Atualmente, na Bahia a oferta de cordeiros
é boa, mas no Paraná, Mato Grosso e Goiás há
falta de animais, segundo informes publicados
em abril no site Farmpoint, mas nem por isso
as tendências são altistas.
Entretanto, quebrar uma história de abates
clandestinos e/ou domésticos será a grande tarefa nesta nova era da ovinocultura. Em 2010,
o número inspecionado de ovinos abatidos no
Brasil foi menor que 2009 de acordo com o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-
Foto: Arquivo
Gustavo Martini
tecimento (MAPA). Em 2009, foi totalizado
334.710 cabeças e em 2010, 309.172 cabeças,
queda de 8,26%. Estima-se que aproximadamente 93% da carne consumida no país é de
origem informal. Considerando os dados oficiais combinados com estes cálculos, é possível prever que os abates de ovinos ultrapassem
as 4,5 milhões de cabeças/ano.
Maior fornecedor de carne ovina do Brasil,
o Uruguai também apresentou recuo de 26,5%
em suas exportações em 2010, queda que deve
se confirmar em 2011. Da mesma forma, os preços da carne uruguaia cresceram de US$ 3,41
para US$ 5,82, a uma taxa de 70,6%. O valor
da carne ovina desossada e congelada cresceu
54,6% frente ao mesmo período de 2009, atingindo US$ 7,25 o quilo.
Lançado Cordeiro Seara
Em março, em vários eventos pelo País, o
Grupo Marfrig lançou a linha Seara Cordeiro, produzidos em um sistema de incentivos
e contrapartidas. Além do fornecimento de
Programa em São Gabriel
antecipa resultados
Bom índice de natalidade e de assinalação
de cordeiros, bom preço obtido na comercialização da lã, baixa perda de matrizes e reprodutores fornecidos são itens positivos do
Programa de Desenvolvimento da Ovinocultura, no município de São Gabriel, no centro
sul do Rio Grande do Sul, já em seu segundo
ano. Conforme o idealizador do projeto, José
Galdino Garcia Dias, em dois anos de resultados acima das expectativas, os objetivos do
Projeto serão atingidos em bem menos tempo
que o esperado. “Doamos animais para 116
pequenos produtores do Município que não
tinham muita experiência com a criação de
ovinos, mas se mostraram interessados desde
que algumas orientações sobre a criação fossem fornecidas”, explica Galdino. Segundo
ele muitos cursos foram ministrados neste
período pelos técnicos da Secretaria de Agricultura do Município, da Emater RS/Ascar
e da Cooperativa de Lã Tejupá fazendo com
que estes produtores aprendessem bastante
sobre a criação e o manejo dos ovinos.
Galdino afirma que os diversos aspectos
da ovinocultura continuam a ser abordados
e melhorados nas visitas técnicas e reuniões
com os produtores, tais como o manejo sanitário, reprodutivo e nutricional, organização
dos produtores para comercialização, incentivo ao uso da esquila tally-hi e melhoramen-
to genético dos rebanhos. “Sempre há o incentivo na produção do Artesanato em Lã no
município, não só de peças de vestuário, mas
também de pelegos, xergões, tapetes, cobertores, etc. Este também tem destino certo
em loja própria do grupo de artesãs fixada
na própria Cooperativa, além da freqüente
participação das mesmas, com o apoio da
Emater/Ascar e Semam, nas principais exposições e eventos nacionais e internacionais
no Estado e no País”, salienta o coordenador. Como conseqüência, os pecuaristas familiares já obtiveram um incremento na sua
renda familiar. A maior parte dos produtores
demonstra-se mais motivada a permanecer
na atividade e a melhorar sua qualidade de
vida.
Soma-se a isso, o incentivo que o Programa e as entidades envolvidas dão à organização dos produtores, em comunidades e,
especialmente, em associações, de maneira
a facilitar a aquisição dos recursos e insumos necessários ao aumento e melhoria da
produção, proporcionando uma elevação dos
níveis sócio-econômicos. Também é preciso
citar a comercialização de borregos de pecuarista familiares para abatedouros com inspeção oficial, através da organização destes
pelas Entidades envolvidas na Execução do
Programa.
assistência técnica, encorpando seu programa iniciado há quatro anos, o Marfrig pagará
uma bonificação ao produtor, que pode chegar
a 15%. Segundo o coordenador de ovinos do
Grupo Marfrig, Gustavo Martini, o produtor
integrante do programa receberá orientações
sobre nutrição, período de monta e outros
aspectos para garantir uma escala de fornecimento, com o objetivo adicional de elevar a
qualidade da carne oferecida ao mercado.
A Carne Seara Cordeiro chega ao mercado
em 14 cortes porcionados e congelados, com
alto padrão de maciez e suculência. Além dos
cortes populares em churrascarias, como paleta e costela, a linha apresenta o carré francês,
bife de pernil e alcatra e o T-bone, entre outros. Segundo informou o gerente de marketing Walter Scheufler, outro objetivo do Grupo
Marfrig é a divulgar as qualidades do produto
fora do seu ambiente atual, salientando questões como sabor, saúde, valor nutritivo, diversidade de opções, idéias de preparo e a garantia de origem do produto.
O Marfrig possui três unidades de abate
de ovinos no Rio Grande do Sul - Alegrete,
Capão do Leão e Mato Leitão. A capacidade
instalada permite o abate de 4,5 mil cabeças
por semana, volume que chega ao seu limite
em épocas de safra. O número de produtores
envolvidos com o programa chega a 300 apenas no Rio Grande do Sul. Em 2009, a empresa inaugurou sua primeira unidade industrial
em Promissão, SP, onde já processa a carne de
projetos no Brasil Central.
Duale Alimentos investe
Após 5 anos atuando na criação e seleção
de ovinos, a Duale Alimentos vislumbrou as
boas perspectivas do comércio de alimentos,
trazendo ao mercado produtos com sabor diferenciado, qualidade, padronização e praticidade. Entre 2007 e 2010, a Duale passou
de propriedade rural a empresa alimentícia,
criando o Programa de Incentivo à Produção
de Carne Ovina, em parceria com a Nova Era
Agronegócios.
“Este programa visa entre outras coisas dar sustentabilidade econômica ao setor
produtivo, tornando mais atrativa e segura a
atividade rural, e a partir deste projeto, diminuir ou se possível eliminar a necessidade
de importarmos carne de países produtores.
Nosso objetivo a partir dessa nova perspectiva de mercado é melhorar ainda mais nossos
serviços, aumentar nossas linhas de produtos
oferecidos e, sobretudo, criar um vínculo sólido e duradouro com os produtores rurais
integrados ao nosso programa de produção”,
explica o diretor da Duale, Alexandre Sousa
Simões.
A Duale atua em 53 municípios da região
de Campinas, SP, e entrega ao mercado cortes
de cordeiro, padronizados, embalados a vácuo e desenvolve campanhas de consumo e
aproveitamento culinário desta carne. •
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Reportagem
Produção de carne ovina esbarra
na baixa fertilidade dos rebanhos
Fotos: Divulgação
distúrbios nos machos e acompanhar o desempenho das fêmeas.
Segundo os pesquisadores da Embrapa
os problemas puramente de fertilidade dos
ovinos são pontuais. Em mais de 30 anos de
avaliações, foi constatado que a infertilidade das ovelhas é determinada por falhas na
concepção em torno de 10%, perdas durante
a gestação de ate 5% e perdas no periparto
que podem variar de 10 a até 40%.
Marina Corrêa
D
urante muito tempo, no Brasil, ovelha foi sinônimo de lã. Ainda que
a carne do animal fosse o alimento típico das campereadas dos gaúchos, só
conseguiu romper a fronteira do RS, começar a ganhar o gosto popular e chegar aos
melhores restaurantes do país nos últimos
anos. Com a desvalorização da lã e a ascensão da carne, os produtores começaram a se
preocupar com uma genética que atendesse
o novo mercado. Na tentativa de suprir a necessidade da indústria, possíveis problemas
de fertilidade em rebanhos ganharam maior
atenção.
No entanto, pesquisas revelam que os
problemas de fertilidade estão muito mais
ligados com o manejo dos animais do que
com patologias. Um estudo de mais de dez
anos do professor de medicina de pequenos
ruminantes da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (Ufrgs), Luiz Alberto Oliveira Ribeiro, mostrou que o baixo índice de
fertilidade nos ovinos está relacionado à
três fatores: baixa taxa de prenhez, de 100
ovelhas, 80 pegavam cria, grande parte dos
rebanhos analisados apresentavam gravidez
simples e uma mortalidade perinatal alta, de
30%. Para o professor, um fator determinante para ocorrência desses problemas é a for-
A raça não é um fator determinante
O manejo correto das fêmeas no período pré-natal é fundamental para a obtenção de
altas taxas de natalidade e para o nascimentos de cordeiros saudáveis
ma de manejo dos animais.
Nas pesquisas realizadas na Embrapa Pecuária Sul de Bagé, a constatação do baixo
índice de fertilidade em alguns rebanhos
também responsabiliza o manejo. Este, destaca o pesquisador Carlos Souza, pode ser de
origem nutricional, sanitário ou mesmo reprodutivo. Ele explica que, com um animal
nutrido e saudável, monitorar o encarneiramento é um passo importante para o sucesso
da prenhes do rebanho. Souza destaca que
várias técnicas, como a da colocação de tinta no peito do macho, facilitam o controle
dos acasalamentos. “Os cuidados pós-parto,
como monitoramento da temperatura, também são importantes para os ovinos vingarem”, diz Souza.
Parceiro de Souza na pesquisa sobre fertilidade ovina, o colega José Carlos Ferrugem explica que os problemas de fertilidade podem ser observados tanto em fêmeas
quanto nos machos, quando a questão extrapola a maneira de lidar com os animais.
Exames andrológicos (servem para atestar a
qualidade do reprodutor bem como a fertilidade do sêmen) são aliados para identificar
Ainda quando o problema é pontual e
não está ligado ao manejo, distúrbios de fertilidade podem ser encontrados em qualquer
raça, seja ela de lã ou de carne, ainda que
os ovinos apresentam baixo percentual de
problemas genéticos que interfiram na fertilidade. Segundo a pesquisadora do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
da Universidade de São Paulo, Anneliese
de Souza Traudi, nos últimos anos foram
encontrados diversos casos de patologias
de testículo e de epidídimo em reprodutores e em cruzas de diversas raças. Ela diz
que o que chama atenção é o fato de vários
desses carneiros serem oriundos de plantéis
que trabalham com seleção rigorosa e que
fazem altos investimentos na importação de
>>>
Antecipação de cio
Na Cabanha Bennevento, em Carambeí, no Paraná, há três anos, os cordeiros são
vendidos durante o ano inteiro. Atrasando a tosquia até o final de novembro, utilizando
superalimentação (flushing) e inserindo o macho só após a tosquia, o frio do animal
sem lã estimula o cio e em vez do animal ciclar em fevereiro, como normalmente ocorre, cicla em dezembro.
- Ocorre que eu sou o primeiro a ter cordeiros para oferecer para o mercado em um
período que ninguém tem,
que é a partir de abril - fala
o sócio-proprietário da cabanha, Patrick Nienhuys.
A técnica garante apenas 10% de ovelhas sem
cria. Das prenhas, 40% têm
gestação gemelar. A mesma
ovelha que pariu em abril já
é encarneirada em maio, ou
seja, a técnica permite mais
uma cobertura por ano. •
Patrick Nienhuys
tem oferta
de cordeiros
no período
de escassez,
a partir de abril
Carneiro com o colete e algumas ovelhas marcadas, que ilustra método
de controle de acasalamentos
Inseminação artificial perdeu força
A inseminação com sêmen fresco deixou de ser utilizada principalmente pela diminuição do efetivo dos rebanhos, uma vez que só é mais econômica que a monta natural
em rebanhos com 500 ou mais ovelhas, informou Souza. Outros fatores que influenciaram os ovinocultores a diminuir o seu uso foi falta de mão-de-obra qualificada, incremento que problemas sanitários durante o serviço devido a concentração dos animais.
A inseminação com sêmen congelado em ovinos só apresenta bons resultados (repetíveis) se for usada por via intra-uterina por laparoscopia,o que só justifica o investimento quando forem usados carneiros doadores provados por seleção com dados
produtivos. •
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Fotos: Arquivo
animais e de embriões. “Independente da raça, um controle
estrito deve ser feito por um
veterinário competente, que
avalie testículos e epidídimos
da puberdade, até o momento
da venda dos animais ou de seu
preparo para futuro reprodutor,
ou mesmo para a participação
em concursos da raça, leilões e
congelamento de sêmen”, destaca a especialista. Ela completa dizendo que vários borregos
selecionados pelo seu ganho
de peso, ou por ser morfologicamente superiores, podem
ter problemas graves como a
aplasia de epidídimo ou hipoplasia testicular, de caráter
genético, que poderá levá-los à
subfertilidade ou esterilidade na idade adulta. “Acreditamos que a consangüinidade esteja fortemente envolvida nesse problema”,
avalia.
A busca por gêmeos
Para sanar as dificuldades de conseguir
uma gestação gemelar, o professor da Ufrgs
destaca que características genéticas devem
ser observadas e lembra que animais com
gens prolíferos tem sua taxa de ovulação
elevada, deixando o exemplar com maior
habilidade para uma gravidez de gêmeos.
Patrick (à esquerda) e o Prof. Ribeiro em ação: atenção permanente às fêmeas
“Essa gestação precisa de mais atenção
ainda quando à alimentação do exemplar”,
explica.
Mortalidade está
relacionada com o peso
Ribeiro também observou que a média
de peso dos ovinos nascidos no Estado é de
3,5Kg, quando o ideal deveria ser entre 4 e
4,5Kg. Com peso mais baixo, o animal tem
suas defesas reduzidas. Junto com identificação do problema, o professor também aponta uma combinação que resulta em solução.
“Um reforço nutricional no terço final da
gestação gera uma placenta maior, portanto, animais maiores. Outra técnica utilizada
para aumentar o peso do recém-nascido é a
esquila pré-parto, com 70 dias de gestação.
Esta técnica altera o metabolismo da ovelha,
aumentando o nível de nutrientes para o útero, o que também faz aumentar o tamanho
da placenta”, explica.
Na prática
Produtor de ovelhas há mais de 40 anos,
Lauro Fittipladi, morador de Uruguaiana,
sabe na prática que os problemas estão relacionados ao manejo dos animais. Ele explica
que no Rio Grande do Sul há pouco cuidado no encarneiramento e no nascimento dos
animais. Fittipladi acredita que alimentar
bem a matriz, mudar a época de encarneiramento para o filhote não nascer em período muito frio e resguardar mãe e cria dos
predadores sejam pontos fundamentais. “Só
o fato de terem mudado a época de encarneiramento, fazendo os nascimentos acontecerem em setembro, os produtores do Uruguai
aumentaram em 20% os índices de animais
que nascem e sobrevivem. Não importa a
raça, tanto as de carne como as de lã, tem
potencial para produzir, basta cuidar de todo
o processo”, observa. •
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6
Artigo
Carne ovina: importante fonte de Ômega 3
Fotos: Arquivo
André Sorio *
O
s ovinos se tornarão em breve
uma fonte importante do saudável ácido graxo conhecido como
Ômega 3. As fontes mais utilizadas atualmente são peixes de águas frias como
atum, salmão e sardinha, além do azeite
de oliva e algumas outras fontes vegetais
de menor importância.
Diversas pesquisas demonstraram altos níveis de Ômega 3 na carne ovina,
com alta herdabilidade entre as gerações
seguintes de filhotes. Isso está pavimentando um programa de seleção genética,
na Austrália e na Nova Zelândia, para
aumentar a quantidade de ácidos graxos
benéficos na carne de ovelhas e cordeiros e estes animais chegarão em breve ao
Brasil.
Os benefícios dos ácidos graxos Ômega 3 são conhecidos há vários anos. O
ácido graxo Ômega 3 mais importante
em termos de nutrição humana é o ácido docosa hexanoico (DHA). Todas as
membranas celulares no corpo humano necessitam o DHA. Ele é vital para
o crescimento inicial das crianças e,
em particular, para o desenvolvimento
do cérebro e dos olhos. Também é largamente reconhecido como redutor da
pressão sanguínea e do risco de doenças
coronorianas, assim como da chance de
ocorrência de diabetes do tipo 2, do malde-Alzheimer e da asma.
As autoridades de saúde de alguns países sugerem um consumo diário de no
mínimo 430 mg para mulheres e 610 mg
para homens de ácidos graxos poliinsaturados, incluindo o DHA, para reduzir
o risco de doenças crônicas. No entanto,
diversas pesquisas de dieta da população
mostram que o consumo real alcança somente uma fração desta quantidade, cerca de 10 a 30%, de acordo com o país.
A maciez e suculência da carne vermelha é relacionada ao seu teor de gordura intramuscular (também chamado de
marmoreio). Uma carne ideal, do ponto
de vista industrial, contém de 3 a 5 gramas de gordura intramuscular por 100
gramas de carne. Esta gordura intramuscular, nos ovinos, é também fonte impor-
TABELA 01 – Qualidade nutricional de cortes de carne crua de ovinos adultos
Corte
Calorias
Lipídios
Proteínas
Cálcio
Fósforo
Ferro
(100 gramas)
(kcal)
(g)
(g)
(mg)
(mg)
(mg)
Carré
Pernil gordo
Pernil magro
Paleta
Costela
Lombo
Peito
Fígado
Rim
Língua
Coração
356
353
191
305
358
362
305
193
104
277
181
30
33
12
26
30
33
26
9
3
23
13
22
14
20
18
22
16
18
23
18
17
17
12
5
13
8
15
24
n.d.
8
40
n.d.
n.d.
Fonte: Adaptado do livro Carne Ovina, Turismo e Gastronomia, 2010
208
160
215
208
270
196
n.d.
364
270
n.d.
n.d.
2
2
2
2
4
4
n.d.
13
4
n.d.
n.d.
tante de antioxidantes e de Ômega 3.
A difusão da carne ovina como fonte
importante de Ômega 3 pode trazer um
impacto positivo para a ovinocultura,
que figura há muitas décadas como um
dos maiores rebanhos brasileiros desta
espécie animal. Já foi demonstrado que
ovelhas que se alimentam de pastagens
comuns, como as existentes em várias
regiões do Brasil, produzem altos níveis
de Ômega 3, então, não existem custos
adicionais para a produção deste tipo de
carne pelos produtores brasileiros.
Naturalmente, para se aproveitar melhor deste promissor nicho de mercado,
os criadores deverão mudar seu foco
de melhoramento genético, do aumento da velocidade de crescimento para
o aumento da gordura intramuscular.
Um fato curioso é que a idade da mãe
interfere na proporção de Ômega 3 na
carcaça dos cordeiros. Filhotes nascidos
de ovelhas mais velhas têm quantidades
significativamente mais altas de Ômega
3 em sua carne. Alguns grupamentos
de ovelhas proporcionam mais do que
o dobro da quantidade de Ômega 3 em
relação ao padrão, e isto faz sua carne ser
classificada com Boa Fonte de Ômega 3
de acordo com os padrões australianos e
neozelandeses. A carne de salmão, por
exemplo, também entraria nesta mesma
classificação.
Para os produtores rurais o grande
benefício será o desenvolvimento de um
mercado de nicho de cortes de carne de
cordeiro ainda mais saudáveis do que a
que atualmente se encontra no mercado. Para os consumidores piauienses, a
maior vantagem será a disponibilidade
de uma carne de produção local, rica em
Ômega 3, que é muito mais acessível do
que peixes importados.
Assim, a combinação da rica culinária feita com carne ovina com o Ômega
3 pode se tornar mais um ponto importante para alavancar o desenvolvimento
do interior do Estado e para melhorar as
condições de saúde da população em geral. •
* Engenheiro-agrônomo, M.Sc.
em Agronegócios, autor do livro
Carne Ovina, Gastronomia e Turismo
[email protected]
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abr-mai/11
Reportagem
Homeopatia: aumento de produtividade dos rebanhos
Nicolau Balaszow
E
ste é o caso do médico veterinário e
consultor, Nei Macedo, que relata algumas de suas experiências com o uso
da homeopatia em ovinos. A sua área de ação
tem sido os campos fronteiriços de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, sendo que as suas
primeiras pesquisas estiveram ligadas aos
problemas do carrapato, da verminose e, em
2008, ao tema da produtividade ovina. A presença de helmitoses (vermes) gastrintestinais
em ovinos têm se mostrado como uma das
enfermidades mais comuns e reincidentes. O
controle continuado através das drogas antihelmínticas já se mostra pouco eficaz e isso se
deve ao aparecimento de parasitos resistentes
a esse tipo de tratamento. Desta maneira, a
busca de métodos que substituam o controle
tradicional das verminoses, em ovinos, têm
sido uma das alternativas para os pecuaristas.
O uso da homeopatia no controle da helmitoses gastrintestinais começa a se mostrar
promissor, mas, na visão do veterinário, ainda
não existe a certeza ou mesmo uma confirmação de resultados. “É preciso entender que os
poucos trabalhos desenvolvidos no campo da
homeopatia não permitem afirmar com garantia que já existe uma solução definitiva”, reconhece Macedo, lembrando que é preciso levar
em conta as peculiaridades de cada região do
País, exigindo uma coleta de dados que dependem de variáveis climáticas, de raça, de
pasto e até de método. Neste sentido, ele entende que novos investimentos precisam ser
efetuados até constatar-se a plena eficiência
da homeopatia numa doença que ataca os ovinos há muito tempo, sem que nem mesmo os
medicamentos alopáticos tenham resolvido a
questão.
Carrapato
A crescente demanda pelos produtos derivados dos ovinos faz com que boa parte dos
produtores rurais não se dedique unicamente
à produção de carne, atualmente o filé mignon dos lucros, mas com o natural aumento
da população desses animais, ele já começa
a pensar no mercado da pele, por exemplo. A
possibilidade de produzir calçados e vestuário
em quantidade suficiente para suprir a demanda interna e gerar excedentes exportáveis, já é
uma realidade, especialmente no Norte e Nordeste do Brasil. Nestas regiões, os piolhos e
ácaros causadores da sarna, são o maior entrave para uma produção regular. Já nas regiões
mais ao sul, o problema maior é o carrapato. Isto leva a perda de produtividade, obrigando ao pecuarista a intervir. “Atualmente
estou aplicando em um rebanho da região,
uma nova vacina criada em Cuba, chamada
Foto: Arquivo
Para quem ainda não se deu conta, a homeopatia é uma das práticas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, em nosso País, é tratada oficialmente
como especialidade médica desde 1980. Ainda mais, ela foi inserida no Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de 2006. Quer dizer, a comunidade científica deu o aval
para o uso de suas técnicas e intervenções, tanto em seres humanos quanto em animais que necessitem de tratamento. O conceito de que com a homeopatia os partos são
facilitados, de que há o incremento da fertilidade, as infecções em cordeiros e animais adultos têm um melhor controle, o estresse da desmama diminui, promovendo o
crescimento e a engorda, já é um fato corrente, necessitando apenas de um maior investimento em pesquisa e divulgação. Deste modo, alguns pesquisadores e cientistas
passaram a buscar, através de seus trabalhos, resultados em seus experimentos para entender não mais se a “coisa” funciona, mas como pode funcionar melhor.
Gavaque que, dizem, está trazendo um novo
alento ao produtor”, informa Macedo, que entende ser este um medicamento concorrente,
mas que isso só acontece pela falta de investimentos em estudos e no desenvolvimento de
novos medicamentos homeopáticos. Ele disse
que continua os seus trabalhos e, futuramente,
espera trazer a confirmação de que o carrapato, a sarna e o piolho são doenças plenamente
tratáveis com a homeopatia.
Produtividade ovina
Por outro lado, o veterinário relata uma
experiência que abre perspectivas animadoras
aos pecuaristas, especialmente aqueles preocupados com a produção em suas fazendas.
Em 2008, com o apoio da empresa Real H
e aceitação da família Tellechea, no mesmo
município gaúcho, ele começou um experimento com dois lotes de ovinos na conhecida
Estância Juquiry. “Em primeiro lugar é preciso dizer que esta pesquisa só foi possível
graças ao fornecimento dos medicamentos
homeopáticos pela Real H e pela disponibilidade da família Tellechea, disposta a assumir
desafios”, assinala Macedo.
Antes de mais nada, é preciso conhecer os
caminhos percorridos pelo médico veterinário para entender melhor como ele chegou aos
atuais resultados: Os trabalhos tiveram início
em janeiro de 2008 e se prolongaram até fevereiro de 2009, quando foram definidos dois
grupos de ovelhas da raça Corriedale, sendo o Grupo Tratado com 98 fêmeas adultas
(seis dentes), e o Grupo Controle com 103 da
mesma idade. “Cada grupo de ovelhas foi encaminhado com quatro machos, conforme o
manejo usual da fazenda. Também é importante destacar que os animais permaneceram
em pastagens nativas semelhantes”, lembra.
O Grupo Tratado recebeu através do suplemento mineral o Núcleo Homeopático (100%
à base de carbonato de cálcio puro), enquanto
que o Grupo de Controle recebeu apenas o
suplemento mineral usual. “As tarefas desta
pesquisa campeira tiveram o auxílio de peões
da própria Estância”, enfatizou o médico, ao
lembrar que o nascimento dos cordeiros nos
períodos de junho e julho, do mesmo ano, foi
documentado pelo capataz.
“O resultado não poderia ter sido melhor”,
comemora Macedo. No Grupo Tratado o percentual de produção atingiu 84,69%, quando
nasceram 83 cordeiros, enquanto o Grupo de
Controle mostrou-se menos produtivo, isto é,
66,01% com 68 nascimentos. Uma diferença
significativa de 18,67%. O experimento evidenciou que o Núcleo Homeopático foi eficaz
ao que se propunha, “mesmo em condições
de campo nativo e com manejo tradicional,
porém com uma época de acasalamento bastante curta, isto é, 30 dias”, ressalta Macedo,
que ainda afirmou ser o resultado um fato que
contradiz o que tem sido apregoado sobre a
ação dos medicamentos homeopáticos no tocante ao tempo necessário para a obtenção do
efeito desejado.
Para o veterinário, as conclusões apontam que a prática da homeopatia, neste
caso, traz vantagens tanto no aspecto da
aplicação do medicamento, quanto no baixo custo do mesmo. Outro item conclusivo
diz respeito ao potencial aumento dos rebanhos da região quando utilizado o Núcleo
Homeopático.
Na opinião do então administrador da
Estância Juquiry, Sérgio Bastos Tellechea,
a proposta de trabalho mostrou-se positiva. “Estamos abertos às novas tecnologias,
principalmente, quando estas podem beneficiar a todos, tanto no aspecto comercial,
quanto no tema do meio ambiente. A nossa
intenção é continuar investindo nesta pesquisa que trouxe novas perspectivas para os
criadores de ovinos”, afirmou o produtor. •
abr-mai/11
8
Reportagem
Silagem: quem guarda, sempre tem
Fotos: Nelson Moreira / Agropress
Eduardo Fehn Teixeira
P
artindo do pressuposto de que a dor
ensina a gemer, talvez muito mais
quando esta razão se expressa de
forma extremada é que o ser humano compreende com objetividade a necessidade de
guardar, para ter quando for preciso. Em
lugares onde em certas épocas do ano as
condições de vida se tornam realmente duras – com calor intenso, seca ou com frio e
ocorrência de neve - é que a máxima “quem
guarda tem” acaba se materializando de forma radical.
E no contraponto, na fartura, se formos
avaliar com a rigidez científica, muito se
perde pela ausência marcante de uma emergência como o calorão ou a neve, que são
situações extremas tanto à produção de alimentos quando à própria existência de vida
produtiva vegetal ou animal. Para uma maior
compreensão, é bom lembrar, por exemplo,
que no hemisfério Norte, anualmente por
cerca de quatro meses, as regiões de produção ficam cobertas por neve!
E aqui no Brasil, para citar apenas um
exemplo, na chamada “estação das águas”,
no Brasil Central, tudo fica inundado duran-
Animais da
Fazenda Portão
Vermelho,
no Paraná,
consomem
silagem
regularmente
te praticamente metade do ano - geralmente de outubro a abril. Pois foi justo daí que
surgiu a silagem, um método de conservação (de guarda) de alimentos / forragem na
fartura, para a alimentação dos animais em
épocas de restrição.
A silagem é frequentemente o alimento
de inverno de ruminantes, já que a necessi-
dade de seu fornecimento está associada à
baixa produção de pasto, de matéria verde,
nesta época de baixa insolação e de frio intenso. A silagem é uma importante fonte de
alimentação aos animais, muito embora a
mais adequada seja o alimento natural, colhido na lavoura e imediatamente administrado aos bichos.
É matéria orgânica proveniente da colheita de plantações comerciais, usualmente
leguminosas ou gramíneas bem picadas, que
são armazenadas em silos verticais, trincheiras ou outros modelos hermeticamente
revestidos com plástico, e bem vedados para
evitar o contato com o ambiente.
Modernamente, outras técnicas também
são utilizadas, sempre buscando a redução
de perdas e a máxima manutenção das características nutricionais do que é guardado.
O material armazenado em um silo passa
por um processo de anaerobiose, isto é, na
ausência de oxigênio, por acidificação do
material verde vegetal, e pode ser utilizado
como alimento de ruminantes (gado ou aqui
no caso ovelhas) nas épocas de carência da
produção de alimentos naturais.
O silo é o produto obtido da fermentação
de plantas que tenham quantidades suficientes de carboidratos para gerar o processo
químico (fermentação) no interior de um
compartimento totalmente lacrado. O alimento que foi ensilado pode ser considerado
como uma forrageira de alto valor nutricional, preservada com o mínimo de perda de
seus nutrientes naturais. Essa fermentação
que ocorre dentro do silo, que pode ser controlada com o uso dos aditivos biológicos,
ou em outras palavras, com os inoculantes
de silagens.
Existem dois modos de armazenar a superprodução de forrageiras no período das
águas: fenação e ensilagem. Entre eles,
apenas o segundo envolve processos microbiológicos de interesse, pois o processo de
fenação apenas apela para duas condições:
utilizar uma forrageira e secá-la com o mínimo de perdas nutritivas.
Entende-se por ensilagem as alterações
físico-químicas e organolépticas de uma
forrageira ou alimento fermentescível armazenados na ausência de ar. O principal
objetivo no processo de ensilagem é obter
uma produção suficiente de ácido lático de
origem microbiana.
>>>
9
abr-mai/11
Reportagem
Fartura de alimentos e falta de informação
Impedem o uso maciço da técnica da silagem
“N
o Brasil, além da fartura de
alimentos durante a maior
parte do ano ou mesmo pelo
ano todo, o uso ainda reduzido dessas tecnologias também está ligado ao aspecto cultural. Grande parte dos produtores, mesmo
já conscientizados da necessidade de armazenar alimentos, simplesmente deixam para
depois porque não sabem como fazer”, diz
o técnico e empresário, especialista em silagem, Julio Cesar Gomez, da Sinuelo Genética e Tecnologia Agropecuária, de Curitiba, PR.
Já a professora e pesquisadora Alda Lúcia Gomes Monteiro, do Departamento de
Zootécnica da Universidade Federal do
Paraná, observa que o mercado de silagem
no Brasil está estimado em cerca de 600
mil hectares, utilizados de forma crescente nos sistemas de produção de leite e carne, principalmente. Segundo constata Alda
Monteiro, Doutora e coordenadora de Pós-
Fotos: Arquivo
Mercado da silagem é de 600 mil ha
Gradução em Ciências Veterinárias e ligada
ao Laboratório de Produção e Pesquisa em
Ovinos e Caprinos da UFPR, dados euro-
Produtos de tecnologia
à disposição do produtor
A fabricação de equipamentos de armazenagem de silagem em processos mecânicos avançados, representados pelo Silo Tubo e pela máquina Silo-Pack, é a
especialidade da Sinuelo Genética e Tecnologia Agropecuária, de Curitiba, PR.
Segundo no proprietário, Julio
Cesar Gomez,
no Silo Tubo a
silagem é embutida em bolsas
plásticas de 5,
6 ou 9 pés de
diâmetro, num
“linguição” de
60 m a 75 m de
comprimento. A
capacidade varia de 50 a 240 toneladas de silagem por tubo. E a máquina SiloPack embute a silagem em sacos de plástico flexíveis com 60 cm X 80 cm, com
capacidade para até 200 kg.
Gomez observa que dependendo da região, podem ser ensilados especialmente
produtos alimentícios para os animais como milho, sorgo, girassol e capim (destaque para os capins Elefante). Também podem ser utilizados resíduos agroindustriais como borra de malte, glúten de milho, entre várias outras alternativas
de armazenagem de alimentos para administração aos animais nas épocas de
escassez. “A silagem é a melhor alternativa. A mais econômica e a mais prática”, afirma o empresário.
Sobre outras técnicas de ensilagem, Gomez observa que os conhecidos silos
Trincheira ou de Superfície tem como inconveniente as grandes perdas que ocasionam – no mínimo de 12% a 15% de perdas físicas e outro tanto ou mais em
valores nutricionais. “No silo Tubo ou Silo-Pack, além de práticos e econômicos,
as perdas não ultrapassam os 2%”, registra o especialista. •
peus indicam que a silagem compreende
cerca de 85% a 90% do total da forragem
conservada em vários países. “A produção
e comercialização de feno no Brasil ainda é
atividade concentrada em poucas empresas
agrícolas, não existindo classificação por
qualidade e diferenciação de preços para o
produto. Portanto, se paga por um produto
de qualidade muito heterogênea, sendo o
valor ditado pela lei da oferta e da demanda”, certifica a especialista.
Os métodos de conservação de forragens
em utilização nos trópicos, conforme Alda
Monteiro, se baseiam nos processos de ensilagem e fenação. Os produtos finais destes
dois processos, a silagem e o feno, podem
ser utilizados de várias formas no sistema
de produção. Muitas vezes são considerados volumosos suplementares, ou seja, tem
a finalidade de suplementar a dieta dos animais em períodos de escassez de alimentos,
tais como as pastagens em estação seca ou
quando há elevada carga animal. Porém,
freqüentemente, os volumosos conservados
são utilizados como dieta principal dos rebanhos, em categorias animais de alta exi-
gência nutricional, como é o caso de animais
em lactação ou cordeiros em crescimento.
Os ovinos são animais ruminantes e devem ser alimentados com volumosos de
boa qualidade e que sejam produzidos com
menor custo. Assim, é muito importante
que se planeje o plantio de boas pastagens para o rebanho ovino, contando com
a aplicação de adubação nitrogenada nas
mesmas, de forma a aumentar a massa de
forragem ofertada aos animais e a capacidade de suporte das áreas de pasto. Também faz parte do planejamento alimentar da
propriedade, o cultivo de forrageiras para
conservação na forma de feno e/ou silagem, visando atender períodos de escassez
de alimentos ou para animais criados em
estabulação. Assim, conforme Alda Monteiro, deve-se planejar o plantio de milho,
sorgo, capim elefante ou outras espécies
para colheita e armazenamento através da
ensilagem, objetivando o uso durante o período de redução da oferta ou escassez de
forragem. Além disso, o uso das forragens
conservadas pode ser estratégia de suplementação alimentar para os rebanhos. >>>
abr-mai/11
10
Reportagem
Silagem é técnica conhecida há mais de um século
S
egundo trabalho de Oliveira, Perez
e Evangelista, em Silagem de Milho
para Ovinos, realizado em 2009, no
Brasil não se tem idéia exata da introdução
da ensilagem, mas é provável que tenha
sido iniciada já no fim do século 18. O processo de expansão da ensilagem teve seu
inicio na década de 1960, graças aos esforços de órgãos de extensão rural, fundações,
universidades e cooperativas, resultando no
começo dos trabalhos experimentais sobre
os processos fermentativos que ocorrem
com a planta.
Alda Monteiro observa que empregamse muito bem os alimentos conservados nos
períodos de redução da massa ou escassez
de forragem.
Nesse período, os ovinos podem ser suplementados com volumosos conservados
(silagens ou feno), com a devida adequação às exigências nutricionais dos animais
para cada categoria, o que permite manter
os animais em bom estado corporal, principalmente quando se trata de alimentar
ovelhas em final de gestação ou que estão
amamentando seus cordeiros.
Outra possibilidade importante indicada
pela professora da Universidade Federal do
Paraná é seu uso como a principal porção
volumosa da dieta dos animais confinados,
muito utilizada atualmente em regiões do
Brasil onde predominam os confinamentos
comerciais de cordeiros, como a Região
Sudeste.
De acordo com Silva, D. S. em seu trabalho “Potencial Forrageiro de Plantas da
Caatinga” apresentado na Jornada da Produção Ecológica de Ruminantes no Semiárido em 2011 – “a sustentabilidade da pecuária ovina nordestina na zona semi-árida
poderia ser garantida com o cultivo das
forrageiras nativas associado às práticas
de conservação de forragens, por fenação
ou ensilagem”. Para ele, a menor disponibilidade de alimentos para os rebanhos
do semi-árido nordestino nos períodos de
estiagem constitui-se na grande barreira
enfrentada pelos pecuaristas durante centenas de anos. Apesar da conhecida eficácia
das técnicas de conservação de forragem,
verifica-se baixo índice de adoção na região. O autor defende o armazenamento
da biomassa vegetal acumulada na estação
chuvosa.
Alda Monteiro cita que tradicionalmente o material mais utilizado para ensilagem
é o milho, devido à sua composição bromatológica, no ponto ideal de corte. Porém,
há outras opções como o sorgo, a cana de
açúcar, o girassol, o milheto e as gramíneas
Fotos: Nelson Moreira / Agropress
A retirada mecanizada da silagem evita desperdícios e reduz custos de mão-de-obra
comuns de pastagens como as do gênero
Pennisetum sp. (capim elefante) Panicum
sp. (Tanzania, Mombaça) ou as do gênero
Cynodon sp. (coast cross, Tifton), além de
aveia e azevém.
“As culturas de milho e de sorgo apresentam-se como as mais adaptadas ao processo de ensilagem, por sua facilidade de
cultivo, alto rendimento e por possuírem
características desejáveis à fermentação,
tais como: adequado teor de matéria seca,
baixo poder tampão e suficiente quantidade
de açúcares solúveis, o que exclui a necessidade de aplicação de aditivos para estimular a fermentação”, sublinha Monteiro.
Para a professora, a qualidade da silagem de milho ou sorgo está relacionada
com a participação da produção de grãos
na massa ensilada. Dessa forma, sem perder de vista a produtividade de biomassa
total, as cultivares que apresentarem maior
produtividade de grãos serão também as
melhores para a produção de silagem. Para
a obtenção de silagem de boa qualidade, a
cultivar de milho deve apresentar 40 a 50 %
de grãos na matéria seca do material ensilado, demonstrando a importância do conteúdo de grãos na qualidade da silagem.
Outra alternativa que vem sendo pesquisada é a silagem de grãos úmidos de milho
como componente da dieta. Os resultados
obtidos até então evidenciam a viabilidade
da utilização dos grãos de milho conservados como silagem na alimentação de animais, especialmente os de elevada exigência nutricional.
O sorgo, segundo Alda Monteiro, pode
ser plantado na Região Centro Sul do Brasil de agosto até meados de abril e seu uso
para silagem se justifica pelas suas características agronômicas como alta produção de forragem, maior tolerância à seca
e ao calor, sistema radicular abundante e
profundo e possibilidade de se explorar a
rebrota, com produção que atinge até 60%
da produção inicial, sendo uma das culturas
que mais cresce no país. O teor de proteína bruta da silagem de sorgo apresenta-se
pouco inferior a do milho e de outras plantas forrageiras, principalmente as de clima
frio, estando ao redor de 7%.
A qualidade de alimentos volumosos é
apontada frequentemente como o aspecto
mais limitante à produtividade, devido às
restrições ao desempenho individual dos
animais. Por isso a importância de se trabalhar com volumosos de boa qualidade. É
importante dizer que, quanto melhor a qualidade do volumoso da dieta, menor pode
ser o uso de alimentos concentrados – rações; e isso é muito interessante do ponto
de vista da rentabilidade do sistema de produção de ovinos.
Edgard Matos Cavalcanti, da Emece
– Emater do Ceará – CE, aponta que a
silagem mais indicada para as condições
duras do Norte e Nordeste brasileiros é
feita a partir da lavoura de sorgo. “Tem
qualidade nutricional e é muito resistente. Se não chove durante um período e
depois volta a chover, o sorgo rebrota,
volta com força”, diz.
Cavalcanti observa que o tipo de silo
mais indicado é o Trincheira, embora se
a utilização da silagem for feita no mesmo ano, o produtor pode utilizar o silo
de superfície. Mas ele chama a atenção
para a falta de esclarecimento dos produtores sobre os tipos e as técnicas para
a prática da silagem. “Falta informação
mais precisa sobre como fazer, e isto
acaba sendo o maior gargalo para uma
utilização em larga escala da silagem”,
diz o técnico. •
11
abr-mai/11
Políticas
O
Governo gaúcho cria o Mais Ovinos no Campo
s pequenos e médios pecuaristas do Rio Grande do Sul,
dedicados à criação de ovinos, passam a contar a partir de 2011
com o “Mais Ovinos no Campo”, projeto integrado ao Programa de Desenvolvimento da Ovinocultura Gaúcha.
A meta do projeto, anunciado pelo
Governo do RS durante a Feovelha,
em Pinheiro Machado, é de fortalecer
a cadeia produtiva da ovinocultura
e propiciar renda, tendo como alvo
o agricultor familiar e a Metade Sul
do Estado. Nesse sentido, o produtor
rural tem à sua disposição linhas de
crédito para a retenção de matrizes,
com taxas de juros subsidiadas. Estão
acessíveis R$ 102 milhões e linhas
de financiamento para a aquisição de
matrizes e reprodutores, com prazo
de três anos e um de carência antes
de iniciar o pagamento (ver detalhes
no quadro anexo).
Para Nelson Wild, segundo vicepresidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag)
e coordenador do Programa de Pecuária Familiar, além da Metade Sul,
a Região das Missões e os Campos
de Cima da Serra também merecem
atenção especial. “Nós entendemos
que a ovinocultura está fazendo parte
de um processo de diversificação da
produção nas propriedades gaúchas
e o momento é favorável, pois há
mercado, há preço e um ambiente de
trabalho favorável”, diz. O dirigente
informou ainda, que atualmente são
aproximadas 60 mil famílias que podem se beneficiar com o projeto, além
do que’ a entidade está coletando dados que, futuramente, permitirão obter um diagnóstico mais preciso sobre
o interesse do produtor gaúcho em retomar a criação ovina no Estado.
Relativamente ao projeto, a Fetag
pretende organizar, em maio, um encontro que vai debater a questão da
ovinocultura em seus vários aspectos.
“Esse encontro pretende representar
o ‘ponto de largada’ do Mais Ovinos
no Campo e, para tanto, estarão presentes representantes de sindicados,
federações, organizações ligadas à
agricultura familiar, entre outros”,
divulga Wild.
O agricultor familiar João Heber
Sabedra, 42 anos, natural no município de Dom Pedrito, é propriamente
um exemplo de agricultor que sempre
esteve atento ao mercado e, por essa
razão, mantém um tipo de produção
consorciada, isto é, utiliza tanto o ovino quando o bovino com a finalidade
O Programa objetiva
- Retenção e aquisição e matrizes e reprodutores;
- Aumento do rebanho ovino no RS;
- Promoção do consumo de carne e lã de qualidade;
- Geração de emprego e renda.
Linhas de crédito:
O limite de financiamento por produtor é de R$ 130 mil.
Retenção de matrizes – recurso disponível de R$ 52 milhões. Estes
recursos servirão como capital de giro para a manutenção da atividade,
sendo que a fonte é a Poupança Rural Banrisul. O prazo para o pagamento será de três anos, com carência de um: no primeiro serão pagos
os juros; no segundo, 50% do principal + os juros e no terceiro ano,
50% do principal + juros. Para os pecuaristas enquadrados no Pronaf
terão juros de 2%, enquanto os demais produtores pagam 5,75%.
Aquisição de matrizes e reprodutores – recurso disponível de R$ 50
milhões. O prazo para o pagamento da dívida será de cinco anos, com
dois de carência. A taxa de juros para os produtores enquadrados no
Pronamp será de 6,25%. Para os ligados ao Pronaf a taxa será de 1%,
2%, 3% e 4%, de acordo com o valor tomado. 6,75% é a taxa para os
demais produtores.
Contrapartida do produtor:
A proposta para o segundo ano é a de aumentar em 20% o encarneiramento de matrizes e vender a produção para frigoríficos com inspeção
oficial. •
Foto: Divulgação
de trazer renda para a sua propriedade. Ele se diz temeroso em assumir
qualquer tipo de financiamento, ainda
assim, acredita que o projeto tem tudo
para dar certo. “A minha preocupação
e de muitos outros produtores é a de
que o projeto não tenha continuidade,
como já vimos acontecer em várias
oportunidades”, alerta.
Já, Edemar Pires Scholande, pequeno produtor do distrito de Palmas, em Bagé, se mostra confiante e
está prestes a assumir financiamento
oferecido pelo projeto e tem claro o
que vai fazer com o dinheiro. “Tenho
120 ovinos na cria. Planto para dar de
alimento, tanto para eles como para
o gado e, penso que o melhor negócio para mim, neste momento é o de
assumir o financiamento de retenção
das matrizes, a galinha dos ovos de
ouro de qualquer criador”, pontua.
Ele explicou que o escoamento de
sua produção não vai ser problema,
pois já tem até a garantia de frigoríficos da compra do seu produto. “Hoje
em dia, a gente pode até fazer uma
escala com os frigoríficos, determinando o período que vamos entregar
os cordeiros para o abate”, confirma
Scholande.
Do ponto de vista do governo, o
secretário da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, disse não existir
produção suficiente nem para abastecer o mercado interno. “Com estes
incentivos, acredito que em quatro
anos teremos um rebanho muito
maior e estaremos produzindo ovinos
com muito mais qualidade”, afirma.
Quanto à questão da demora para que
as medidas entrassem em vigor, o se-
cretário declarou que isso se deveu à
complexidade do processo. “As negociações entre a Secretaria, a Casa
Civil, a pasta Fazenda e o Banrisul,
no que tange a linha de crédito para a
retenção de matrizes, exigiram a reativação do Fundovinos, o que permite
a equalização dos juros”, esclareceu.
Em sua opinião, o mais importante é
que, neste momento os ovinocultores
já podem acessar os recursos. “Existe otimismo com os efeitos que estes
R$ 102 milhões poderão ter no aumento da oferta de carne ovina, hoje
bastante valorizada no mercado, e na
retomada da ovinocultura gaúcha”,
concluiu Mainardi.
Os criadores do RS já podem encaminhar às agências da instituição
bancária as solicitações de aprovação
do crédito. Os pedidos levam de 15 a
20 dias para serem analisados e, recebendo o aval do Banco, o produtor
pode buscar a matriz ou reprodutor
que lhe interessa ou receber o crédito para a retenção. Após, formaliza
efetivamente o contrato e o dinheiro
estará na conta. •
abr-mai/11
12
Sanidade
Luiz Eduardo dos Santos1
Eduardo Antonio da Cunha2
Mauro Sartori Bueno2
Cecília José Veríssimo2
Altas lotações nas pastagens:
Uma técnica viável para ovinos
afirmativa de se poder criar ovinos
em sistema intensivo de pastejo,
utilizando-se forrageiras de elevada produtividade, como os capins do gênero
Panicum (Aruana ou o Tanzânia), com lotação média de 35 ovelhas/ha/ano é baseada
em anos ininterruptos de utilização desse
sistema, na Unidade de Ovinos, do Instituto de Zootecnia / SAA, em Nova Odessa
(SP), obtendo-se índices zootécnicos expressivos, notadamente em cruzamentos
com ovinos deslanados da raça Santa Inês,
relacionados na tabela. Estes índices tem
sido obtidos dentro das seguintes condições
de criação:
* A lotação média preconizada para o
nosso sistema é de 35 matrizes/ha/ano.
* A produção média do capim Aruana é
de 19 ton de Matéria Seca/ha/ano, nas condições de manejo rotacionado (7 a 15 dias
de ocupação e 35 a 45 dias de repouso, conforme a época do ano), com uso de cerca
eletrificada em faixas e número variável de
piquetes; com adubação anual com 150 kg
de N / ha subdividida em duas aplicações,
sendo 2/3 no final do “período das águas”
(abril/maio) e 1/3 no início do “período das
águas” seguinte (setembro/outubro).
* A proposta do Instituto, para produção de carne de cordeiro, no Estado de São
Paulo, baseia-se na utilização de ovelhas
da raça Santa Inês, com peso vivo médio
de 60 kg, em cruzamento com reprodutores
de raças de corte tais como Suffolk, Ile de
France e Poll Dorset.
* O consumo diário médio estimado de
MS por matriz é de 2,7% do peso vivo, variando de 2,3% nos períodos pós-desmame
e de início de gestação até 3,0% no terço final de gestação. Todavia, para efeito de calculo de lotação e considerando-se as perdas
durante o pastejo (pisoteio e acamamento)
utilizamos o valor máximo (3% do PV)
* Nas nossas condições de produção o
intervalo entre partos é de 7 a 8 meses, ou
seja, são obtidas 3 parições a cada 24 meses, o que representa 1,5 parições / ano.
* Dentro do sistema utilizado em Nova
Odessa, as matrizes permanecem nas pastagens até o parto, quando são recolhidas às
baias e mantidas confinadas até o desmame, com período de 45 a 60 dias (média de
50dias), sendo alimentadas com capim Napier cv Guaçu (no verão) e silagem (inver-
A
Parte 1
Foto: Arquivo
A produção
de cordeiros
pode ser
lucrativa
sobre
pastagens
cultivadas
no). Nesse período recebem suplementação
com concentrados (média de 0,5 a 1% do
PV, conforme o número de crias).
* Com base nisso considera-se que cada
matriz permanece confinada por 75 dias
durante o ano. Esse período é obtido pela
multiplicação do número médio de parições
(1,5 parição/matriz/ano) pelo período médio de aleitamento (50 dias).
* Dessa maneira considera-se que cada
matriz permanece em pastagem por um período médio de 290 dias por ano, resultante
da subtração do período de confinamento
para aleitamento (75 dias) do total de dias
do ano (365 dias).
* Dessa maneira temos:
- 60 kg de PV x 3% = 1,8 kg de MS de
forragem / dia
- 1,8 x 290 dias = 522 kg de MS / cabeça
/ ano
- 522 kg x 35 matrizes = 18270 kg de
MS / ano
Verifica-se que a exigência em forragem,
em termos de Matéria Seca, para manutenção de uma lotação média de 35 cabeças /
ha / ano, da ordem de 18.270 kg, enquadrase plenamente na estimativa de produção
de 19 ton de MS/ha/ano, sendo esse o valor
médio obtido em mais de nove anos de trabalho com essa forrageira, nesse sistema de
manejo, com limites de 18 a 21 ton/ha/ano.
Acrescentamos que, nos últimos dois
anos, com a utilização de irrigação e de
plantio estratégico de forrageiras de inverno (aveia, azevém e trevo branco), se
Parâmetros
Peso ao nascer*
Peso vivo ao desmame*
Idade ao desmame
Ganho diário de peso vivo pré desmame*
Peso vivo do cordeiro ao abate*
Idade ao abate*
Ganho diário de peso vivo pós desmame*
Rendimento de carcaça*
Lotação média de pastagens**
Fertilidade **
Número de ovelhas paridas**
Intervalo médio entre partos**
Número médio de parições/matriz/ano**
Prolificidade média**
Mortalidade até 120 dias de idade**
meadas a lanço sobre o Aruana, no outono,
obteve-se um aumento significativo da produção de forragem (produções da ordem de
30 ton MS/ha/ano), refletindo no aumento
da disponibilidade de MS tanto no inverno,
como no total do ano. Realçamos que estas
observações ainda não podem ser consideradas definitivas, necessitando-se de um tempo maior de acompanhamento das respostas
de produção, para que possa ser apresentada
como tecnologia viável, todavia elas indicam
o enorme potencial de crescimento da atividade e a possibilidade de sua intensificação.
Vale frisar, ainda, que os sistemas de
criação abordados e as tecnologias apresentadas foram desenvolvidas especificamente
para as condições do Estado de São Paulo,
em termos de suas características edafoclimáticas e sócio-econômicas, incluindo o
perfil da distribuição agrária, bem como da
realidade do mercado consumidor, podendo, desde que feitas as devidas adequações,
serem aplicadas em boa parte da região Sudeste. Isto deve ser levado em conta, quando se buscam alternativas para regiões com
características muito diversas das verificadas em São Paulo. •
1 Pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Nutrição Animal e Pastagem do
Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
E-mail [email protected]
2 Pesquisador do Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento de Zootecnia Diversificada,
do Instituto de Zootecnia
* referentes a cruzados Suffolk x Santa Inês ou Ile de France x Santa Inês
** referentes a matrizes Santa Inês
índices
3,5 - 4,0 kg
15,0 - 17,0 kg
45 - 60 dias
0,240 - 0,280 kg
28,0 - 30,0 kg
95 a 110 dias
0,200 - 0,240 kg
42 - 44 %
35 cab./ha/ano
85 - 90 %
26 cab./ha
7,5 – 8,0 meses
1,5
145%
5%
13
abr-mai/11
Genética
Avaliação Genética, a ferramenta para o aumento da produtividade
Fotos: Arquivo
MV MSc. Edson Siqueira Filho
U
m dos grandes desafios no trabalho do selecionador é identificar os animais genéticamente
superiores. A dificuldade está no fato de
que não se pode “ver” os genes dos animais. O que se analisa e se mensura é o
fenótipo, que é o resultado da interação
entre os genes e o meio ambiente em
que o animal se desenvolve. Ao comparar indivíduos, animais com genes
inferiores podem apresentar fenótipos
superiores, na dependência do manejo
a que foram submetidos (nutrição, sanidade, etc). É importantíssimo ressaltar
que o fenótipo que se aprecia nos animais e conseqüência da interação entre
genótipo e ambiente.
FENÓTIPO=GENÓTIPO +
AMBIENTE
A maneira encontrada para “visualizar” os genes dos animais foi utilizar
de ferramentas estatísticas, trabalho
que denominou-se Avaliação Genética.
A qualidade genética do individuo avaliado é chamada de Diferença Esperada
na Progênie (DEP). Essa informação
determina o quanto a progênie de cada
animal avaliado deve se comportar em
relação a base genética da raça. As informações contidas em um sumário de
avaliação genética são especificações
técnicas que devem ser utilizadas com
o objetivo de escolher os animais mais
adequados aos objetivos de melhoramento de cada rebanho. O melhor
animal para o rebanho de determinado
criador dependerá de seu mercado, das
condições ambientais, de seus objetivos na produção de ovinos e do correto
diagnóstico de seu rebanho e da definição de quais características devem ser
melhoradas. Nem sempre o máximo é
o melhor.
O que ocorre normalmente nas
criações de ovinos é a seleção e o acasalamento baseado no fenótipo dos
animais. Na prática, dois animais de
boa aparência são acasalados e a produção nem sempre traduz a impressão
dos paternais. Atualmente o que existe
é a valorização de um animal por suas
premiações. Um reprodutor se torna
grande campeão de uma exposição de
destaque, vira referência de mercado,
vende muito sêmen e distribui muitos
genes para a população. Sem uma grande consistência genética, grande parte
de seus filhos volta para cobrir a campo
e apenas uma pequena parcela retorna
as pistas de exposições e atingem valorização de mercado por sua campa-
nha nos julgamentos de fenótipos. Um
reprodutor grande campeão acasalado
com uma fêmea grande campeã não
é sinônimo de uma progênie bela. É
comum visitarmos propriedades e encontrarmos essas progênies no rebanho
comercial. A falta de consistência genética nos acasalamentos, simplesmente
pela falta de informações a esse respeito, fazem os criadores darem “um tiro
no escuro” a cada acasalamento.
Quando se trabalha com base em
dados genéticos, os acasalamentos e
a seleção se tornam mais seguros e a
evolução é notória. Vejam o exemplo
das aves, na década de 1950 a produ-
de cada rebanho. O primeiro passo,
então, é fazer um diagnóstico genético,
ou seja, saber em qual patamar de produtividade o rebanho se encontra em
relação à população de ovinos da mesma raça. As informações necessárias
para isso são obtidas pela implantação
de programas de avaliação, o ponto de
partida no processo de seleção. Este irá
determinar o potencial genético das características produtivas economicamente importantes que possui cada animal.
As predições do potencial produtivo na
determinação do mérito genético dos
animais são realizadas pela avaliação
do desempenho e relação genética dos
Dois animais de boa aparência,
acasalados, nem sempre têm uma
produção que traduz as
suas qualidades genéticas
ção média dos aviários brasileiros era
de frangos de 1,6 kg que eram abatidos
em 70 dias e que convertiam 2,5kg de
alimento para cada kg de peso vivo.
Passados 50 anos e um trabalho forte
de seleção genética, os frangos passaram a ser abatidos com 2,35 kg aos 40
dias e conversão de 1,7 kg/kg de peso
vivo. Evidentemente que houve outras
alterações tecnológicas e ambientais
neste período, mas os estudos apontam
que essa evolução deve-se em torno de
60 a 75% à genética e entre 25 e 40%
para as mudanças de ambiente (clima,
alimentação, saúde, etc.). Atualmente a
produção de aves é totalmente embasada em programas de melhoramento genético. Os programas de melhoramento
genético em bovinos de leite e corte,
também, é uma realidade. Atualmente
os grandes criatórios baseiam a seleção
dos rebanhos totalmente em provas de
avaliação genética.
O objetivo dos programas de melhoramento é alterar as genéticas das populações, para que essas se tornem mais
produtivas, de acordo com os objetivos
animais nas diferentes características e
serão expressas pelas DEPs (Diferença esperada na progênie). O primeiro
relatório gerado irá emitir o retrato do
seu rebanho, ou seja, vai mostrar “onde
ele está” a partir daí, determinam-se os
objetivos, “onde ele vai chegar” e em
quanto tempo.
A realização da coleta dos dados
econômicos e zootécnicos dos rebanhos que são repassados as centrais
de processamento de dados é o ponto
fundamental para o sucesso do programa, a veracidade das informações é que
permite identificar os pontos fortes e
fracos do rebanho. Em geral os dados
coletados consistem em mensurações
de peso e medidas em datas pré-determinadas, pelo programa. Os resultados
obtidos são repassados ao produtor, na
forma de DEPs, e nelas estão comparadas as taxas de produtividade do rebanho em relação à média dos demais
rebanhos avaliados. Com esses dados
é possível detectar quais características
devem ser melhoradas no rebanho para
ampliar sua eficiência. O acasalamento
entre indivíduos mais produtivos, capazes de transmitir melhores características produtivas, é uma das técnicas de
seleção utilizadas e é possível a identificação destes indivíduos pelo desempenho de seus filhos. O descarte dos
animais “menos produtivos”, ou abaixo
da média do rebanho também é proporcionado pela avaliação destes dados.
Nestes casos a orientação técnica é imprescindível para que o produtor siga o
caminho da evolução em seu rebanho.
Nem sempre os resultados acontecem
rapidamente, isso depende de diversos fatores tanto do próprio rebanho,
quanto de toda a população avaliada.
Mas certamente a seleção baseada em
genética é um trabalho de resultados
garantidos, desde que bem executada.
Assim pode-se mais rápido obter indivíduos com boa conversão alimentar,
altas taxas de crescimento muscular e
adequada deposição de gordura, essenciais para um produto final de qualidade com baixo custo. Para as matrizes e
reprodutores buscam-se características
fundamentadas na eficiência reprodutiva, rusticidade, longevidade produtiva,
entre outros.
Vantagens de participar de um
programa de Avaliação Genética
- Avaliação genética de todo o rebanho (reprodutores, matrizes e animais
jovens).
- Avaliação do desempenho produtivo
e reprodutivo do rebanho, pela análise
de características como peso ao nascer,
peso a desmama, peso em determinadas idades; habilidade materna, idade
ao primeiro parto, idade à puberdade,
índices de partos simples e duplos, perímetro escrotal, entre outros.
- Disponibilização das DEPs das diferentes características que permitirão
identificar e selecionar os animais de
melhores méritos genéticos, para alcançar os objetivos de seleção da propriedade.
- Possibilitar o acasalamento de animais de acordo com suas características genotípicas, restringindo a consangüinidade e ampliando o progresso
genético.
- Agregar valor aos plantéis e principalmente aos reprodutores avaliados.
- Publicação de Sumários de Avaliação
Genética dos Reprodutores.
Vamos a um exemplo prático com
um comparativo entre a produção de
dois reprodutores com diferentes DEPs.
A DEP para Peso aos 150 dias do reprodutor A é de + 3,0kg, a do reprodutor B
é – 2,0kg, isso significa que a média da
progênie do reprodutor A, aos 150 dias,
(Parte 2)
é 3,0kg mais pesada que a média da população avaliada e 5,0kg mais pesada
que a média da progênie do carneiro
B, no mesmo período. O que isso pode
implicar economicamente? Se a média
da raça aos 150 dias for de 32kg, neste
período os filhos de A pesarão 35,0 kg,
e os de B 30 kg. Analisando um pouco
mais, os filhos de A terão um ponderal
de 0,233kg contra 0,200kg de B. Considerando um peso de abate de 35kg, os
filhos de A estarão prontos para serem
abatidos aos 150 dias e os filhos de B
aos 175 dias. Se implicarmos um custo total de produção de um cordeiro no
confinamento de apenas, R$ 0,50/dia*,
os filhos de B custarão R$ 12,50*, a
mais que os filhos de A. (* valor ilustrativo, cada produtor pode substituir
o custo à sua realidade). Este exemplo
compara apenas uma característica
(peso aos 150 dias), mas podem-se adicionar mais características produtivas a
seleção, o que evidenciará ainda mais
as vantagens dos reprodutores geneticamente superiores.
Quando se fala em produção de
carne e qualidade de carcaça, a primeira idéia que surge são parâmetros
mensuráveis como peso, acabamento,
tamanho, etc. Portanto o desafio maior
do produtor é como atingir os padrões
com eficiência, ou seja, em um período mais curto e com custo mais baixo.
Neste quesito o melhoramento genético
é ponto fundamental para se atingir esses objetivos.
O sistema de produção adequado e
aliado ao desenvolvimento genético, independente da raça que se utilize, também é fundamental nesse processo. A
raça é, sim, um fator importante para o
sucesso do criatório. Porém temos que
lembrar que antes de optar pela raça A
ou B, devem-se compreender os níveis
de exigências destas para cada ambiente e se ela será capaz de responder a
ele com sua máxima produtividade. O
processo de seleção genética trará muito mais benefícios se os animais puderem manifestar seu potencial máximo
em seu ambiente de criação. Afinal,
Fenótipo=Genótipo+Ambiente. •
Médico-veterinário, Mestre em
reprodução animal, e especialista em
ovinocultura. Gerente de Produtos
Caprinos e Ovinos da Alta Genetics
do Brasil e Diretor Técnico da Pecora
Assessoria Pecuária.
[email protected]
abr-mai/11
14
Especial
No Amazonas, ovinos para proteger florestas
A dura legislação ambiental do Amazonas, que restringe a criação de bovinos no Estado, está criando um outro espaço para a criação de ovinos. No rastro da proteção às florestas, a criação de ovinos ganhou impulso a partir de 2005, com a criação também da Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Amazonas (Acocam). Parceiras da expansão dos ovinos, Sebrae (rede Aprisco), ADS, Federação da Agricultura, Senar e Prefeitura de Manaus estão de mãos dadas aos criadores,
buscando a introdução de animais, técnicas modernas de criação, envolvendo ainda uma palavra mágica, em se tratando de floresta: a sustentabilidade.
Ente os criadores filiados à Acocam,
ainda
são poucos os que registram animais.
Horst Knak
Mas a afluência às exposições tem sido boa.
O presidente da Acocam comemorou o suediada no Parque de Exposições An- cesso da 1ª Exposicam, realizada em 2010.
gelino Beviláqua, em Manaus, a Aco- “Já marcamos a 2ª Exposicam para agosto
cam conta com 62 associados, muitos de 2011 e esperamos pelo menos 900 anideles criadores há vários anos, informa o pre- mais”, prospecta Camilo Morato Neto.
sidente Camilo MoTambém inspetor
rato Neto. O grande
técnico da ARCO
número de migrantes
no estado, Camilo
nordestinos, explica
Morato Neto destaCamilo Morato, acaca que o ingresso de
bou trazendo ovinos e
empresários na aticaprinos para a região
vidade também está
Norte. “Nordestinos
sendo impulso para
não vivem sem cabras
a melhoria genética
e ovelhas e sua expedo rebanho. Em luriência permitiu um
gar de rebanho sem
Palestras e treinamentos da Acocam
rápido crescimento
raça definida, hoje se
do rebanho, estimado
expandem os ovinos
hoje em 120 mil animais, num total de 400 Santa Inês, Dorper, White Dorper e Suffolk.
criadores, notadamente na periferia da capi- Com seu clima característico quente e úmital”, resume o presidente da Acocam.
do, a região da grande Manaus é o pólo da
S
Fotos: Divulgação
30,00, isto porque o produto vem de outros
estados, especialmente do Sul. Em caráter
de estimativa, a produção consegue atender
pouco mais de 30% do consumo do Estado.
Entretanto, é preciso sair da informalidade e criar um fluxo de abates. Por isso,
a Acocam buscou financiamentos oficiais
para a construção de um abatedouro de ovinos, que está sendo erguido no km 21 da BR
174, com capacidade para 40 animais/dia. É
um projeto padrão do Ministério da AgriculCamilo Morato Neto, da Acocam
tura, que será administrado pela Acocam. O
criação, espalhada em centenas de sítios de abatedouro será a primeira unidade certifilazer. “Estamos atraindo este público muito cada com o Serviço de Inspeção Estadual,
interessado para a Acocam”, explica Camilo. permitindo o beneficiamento do produto e
Entretanto, como tudo que está na Ama- sua comercialização regular.
zônia, as dificuldades e as distâncias são
Outra forma de estimular a criação são
enormes. Fazer o fomento técnico em muni- as linhas de crédito do Banco da Amazônia
cípios que ficam até 28 dias de barco é pra- (Basa) e do Banco do Brasil, que destinou
ticamente impossível, explica o técnico da um montante de R$ 4 milhões, via programa
ARCO. Mesmo assim, Camilo Morato Neto de Desenvolvimento regional Sustentável
crê que seja possível triplicar o rebanho nos (DRS), para o setor de ovinocaprinocultura
próximos quatro anos.
do Estado. “Os interessados no fundo deConsiderando as características agrárias vem fazer parte da associação de criadores
e de clima da Região Amazônica, os espe- e procurar o banco já com um projeto elabocialistas recomendam 30 matrizes para um rado”, explica.
reprodutor. Um dos diretores da Acocam,
Um dos principais obstáculos para obter
Adisson Batista, explica porém que faltam estes recursos, porém, é a falta de títulos das
reprodutores com genética superior. “Se terras. Afinal, a região de floresta amazônica
cada criador introduzisse um macho de boa é de propriedade da União e as terras não
linhagem, a qualidade dos borregos teria podem ser comercializadas, sob pena de
um salto qualitativo muito grande”, afirma. prisão. Já as terras na periferia de Manaus
Segundo ele, no
já são cultivadas
mercado amazohá muitos anos,
nense, um ovino
porém muitos de
ou caprino pode
seus “proprievaler entre R$ 300
tários” não pose R$ 2 mil, depensuem os títulos.
dendo da raça e do
No âmbito da
padrão zootécnico
pesquisa, poudo animal.
co existe ainda,
Certamenalém de alguns
te, um ponto de
experimentos
Integração de ovinos na floresta é viável
apoio é a Copa
com pastagens
do Mundo, já que Manaus será sede de jo- adequadas para ovinos e caprinos. A Acogos da primeira fase do evento. “Podemos cam e o governo estadual encomendaram
fornecer proteína animal de qualidade ao um levantamento sobre ovinocultura na
público que virá da Europa e outros países Amazônia à Embrapa Amazônia Ocidendesenvolvidos, que pagam pelo diferencial”, tal, situada em Manaus. A Embrapa está
observa o presidente da Acocam. A Agência diretamente envolvida num programa de
de Desenvolvimento Sustentável do Amazo- recuperação de áreas de deflorestadas e
nas (ADS), ligada ao governo estadual, está de pastagens degradadas na Amazônia,
trabalhando para introduzir a carne ovina na com propostas para uso de ovinos numa
merenda escolar.
integração silvipastoril. Camilo Morato
A produção de carne é insuficiente para o também aponta investimentos da Agroconsumo no Estado e seu preço varia de R$ pecuária Estância Brecha, que investiu
15,00 a R$ 20,00 o kg nos pequenos açou- aproximadamente R$ 1 milhão somente
gues. Nas grandes redes de supermercado, o em pesquisas dentro dos criadouros do
valor do kg da carne ovina fica acima de R$ Estado. •
15
abr-mai/11
Sanidade
Edema Maligno: o segredo é o manejo e a vacinação
O
Edema Maligno ou Gangrena
Gasosa, conhecido popularmente
por Manqueira, ocorre por contaminação de ferimentos através de bactérias
do gênero Clostridium, presente no meio
ambiente. Esta doença sempre representou
tema de preocupação para os criadores, pois
esta age rapidamente no organismo do animal, ocasionando a perda de ovinos e um
rombo no orçamento do pecuarista em poucas horas. “Quando o criador se dá conta,
já perdeu um ou mais animais em pouco
tempo”, alerta o médico veterinário e gerente técnico da Novartis, Octaviano Pereira Neto.
Na
hora
da
tosquia
pode
acontecer
acidentes
que
deflagram
o problema
Casos são observados esporadicamente e
os surtos acontecem basicamente quando há
traumatismo do grupo de animais. Não há
distinção de idade para a ocorrência de casos que se manifestam após a tosquia, castrações, corte da cola ou injeções com agulhas contaminadas e também após o parto,
quando há ferimentos na vulva da ovelha.
A doença é ainda mais incisiva quando é
causada pela utilização de agulhas contaminadas sendo que a mortalidade é muito alta
nas primeiras 48 horas.
Sinais clínicos
O veterinário explica que os sinais da
doença são claramente visíveis, porque é
percebida anorexia, depressão, febre e, dependendo da localização da lesão, severa
claudicação (daí também chamar-se Manqueira). O local afetado aumenta de volume
e pode apresentar pequenos estalidos e/ou
edema. A história clínica permite associar a
ocorrência de edema maligno com ferimentos recentes e na necropsia encontram-se
as lesões características. A identificação do
agente pode ser realizada por imunofluorescência ou isolamento e caracterização do
mesmo.
Controle e profilaxia
Os animais afetados podem ser tratados
com altas doses de penicilina ou antibióticos
de amplo espectro, mas não é uma solução
para o problema, “principalmente porque a
ação da doença é bastante aguda e, por assim
dizer, inesperada”, diz Neto. Por isso, orienta
o veterinário, o melhor método para evitar o
problema é ter muito cuidado no manejo dos
ovinos e vaciná-los com produtos que contenham C. septicum, C. novyi, C. perfringens,
C. Chauvoei e, se possível, C. sordelli.
As vacinas clostridiais são, na sua grande maioria, polivalentes, contendo em sua
composição múltiplos antígenos e são utilizados como estratégia frente a uma grande
variedade de agentes e produtos tóxicos.
Fotos: Divulgação
Octaviano Pereira Neto
Tais imunógenos devem ser administrados
por via subcutânea, preferencialmente, em
duas doses intervaladas de 4 a 6 semanas
na primeira vez e reforço anual. Quando o
rebanho é sistematicamente vacinado, os anticorpos colostrais protegem os animais por
até três a quatro meses após o nascimento,
devendo então a primeira dose da vacina ser
ministrada após esse período. Pode parecer
desnecessário recomendar, mas cada animal
deve ser vacinado com uma agulha própria,
sem repetir a aplicação utilizando o mesmo
aparelho em outro animal e, após, descartar
o material. •
abr-mai/11
16