Abr 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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Abr 2011 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
1 abr-mai/11 ÓRGÃO INFORMATIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS / ARCO - ANO 5 - Nº 21 – ABRIL / MAIO 2011 abr-mai/11 2 O ARCO JORNAL é o veículo informativo da ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE OVINOS – ARCO Av. 7 de Setembro, 1159 Caixa Postal 145 CEP 96400-901 – Bagé (RS) Telefone: 53 3242.8422 Fax: 53 3242.9522 e-mail: [email protected] home page: www.arcoovinos.com.br DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: Paulo Afonso Schwab 1º Vice-presidente: Suetônio Villar Campos 2º Vice-presidente: Arnaldo Dos Santos Vieira Filho 1º Secretário: Carlos Ely Garcia Júnior 2º Secretário: Almir Lins Rocha Júnior 1º Tesoureiro: Paulo Sérgio Soares 2º Tesoureiro: Teófilo Pereira Garcia de Garcia CONSELHO FISCAL Titulares Wilfrido Augusto Marques Joel Rodrigues Bitar da Cunha Thiago Beda Aquino Inojosa de Andrade Suplentes José Teodorico de Araújo Filho Ricardo Altevio Lemos Francisco André Nerbass SUPERINTENDÊNCIA DO R.G.O. Superintendente Francisco José Perelló Medeiros Superintendente Substituto Edemundo Ferreira Gressler CONSELHO DELIBERATIVO TÉCNICO Presidente: Fabrício Wollmann Willke SUPERVISOR ADMINISTRATIVO Paulo Sérgio Soares GERENTE ADMINISTRATIVO Bismar Augusto Azevedo Soares ARCO JORNAL Coordenação Geral Nelson Moreira Agropress Agência de Comunicação Edição Eduardo Fehn Teixeira e Horst Knak Agência Ciranda Jornalista responsável Nelson Moreira - Reg. Prof. 5566/03 Diagramação/Redação Nicolau Balaszow Colaboradores Luca Risi - charge; Marina Corrêa - reportagem Fotografia Banco de Imagens ARCO Jornal e Divulgação Departamento Comercial Nathalia Rocha e Paula Vasconcellos [email protected] Fone: 51 3231.6210 / 51 8116.9784 A ARCO não se responsabiliza por opiniões emitidas em artigos assinados. Reprodução autorizada, desde que citada a fonte. Colaborações, sugestões, informações, críticas: [email protected] Foto de Capa: Nelson Moreira / Fazenda Portão Vermelho E Os Degraus da Escada star em eventos onde encontramos praticamente todo o sistema produtivo da ovinocultura tem sido, atualmente, mais gratificante do que nunca. Mesmo que ainda surjam debates sobre como conduzir determinados temas do setor, o clima nestes encontros, felizmente, já está mudado. Com certeza isto está diretamente relacionado com o momento atual do setor, onde aumento de consumo da carne ovina e a baixa oferta estão elevando os preços pagos ao produtor a valores nunca vistos antes. Isto traz como consequência direta um sentimento positivo e de confiança entre todos, o que é muito importante para um segmento que vinha há anos com baixa estima e desvalorização do seu trabalho e do produto que dele resultava. A frase, “a ovelha não tá valendo nada”, parece que está deixada num canto do nosso vocabulário diário da atividade. Vamos somar a isto e justamente por conta desta “boa onda”, o fato de a ARCO estar sendo chamada a todo o instante, por diversos segmentos de Governos, para participar de encontros, reuniões e debates sobre o que fazer para montar ou reestruturar o setor. Um exemplo bem recente é o do Rio Grande do Sul onde, desde o momento em que foi definido o novo Governo, seus interlocutores realizavam encontros conosco para terem um diagnóstico do setor e determinar ações a serem tomadas a partir do momento em que assumissem a administração estadual. E isto, está acontecendo, felizmente. Já há um plano de financiamento para retenção de matrizes e outro para aquisição de ventres e reprodutores. Aliás, é também interessante citar que na primeira reunião da Câmara Setorial da Ovinocaprinocultura, feita pela Secretaria de Agricultura gaúcha, estavam presentes praticamente todos os segmentos do sistema produtivo, inclusive o setor de comércio, como é o caso da Associação Gaúcha dos Supermercados. HUMOR Editorial Na minha opinião e da nossa diretoria, quando isto acontece é sinal de que o setor está conquistando importância dentro dos vários segmentos econômicos no qual participa ou é insumo importante, seja direta ou indiretamente. E se há interesse de todos em expor sua opinião, deixar sua sugestão ou mesmo ver de que forma podem participar do processo como um todo ou em parte, chegamos, depois de muita luta, ao primeiro degrau de uma escada que há muito estamos tentando subir. E, se isto aconteceu, Parabéns a todos que estão nesta luta há pelo menos 20 anos, período no qual a ovinocultura esteve em certa dormência! Abram um espumante porque vale a pena comemorar! E, depois da comemoração, retomemos a concentração porque precisamos trabalhar para subir os outros degraus desta escada ou escalada, como preferirem. Digo isto porque realmente já é uma vitória ter atingido este estágio, algo pelo qual estamos lutando há muito tempo, com incontáveis reuniões, encontros, debates entre nós, criadores, ou com representantes de governos, parlamentares e uma série de outras autoridades. E poucas vezes alcançamos algum resultado satisfatório. O cenário mudou, os ventos se tornaram favoráveis para as nossas caravelas e é isso que precisamos aproveitar. Não podemos nos deitar nos louros e achar que a partida está ganha. Tomemos como exemplo o setor de aves e suínos que apesar de ter se transformado numa potência econômica, com milhares de empregos e divisas internas e externas, continua organizado e coeso, buscando sempre mais mercados e fortalecer a marca Made in Brazil. Vamos pegar este momento, ver o que de bom ele nos traz, o que é preciso fazer para aprimorar nos projetos, nas políticas públicas, nas parcerias com as indústrias de insumos, de processamento da carne ou do varejo, para que a ovinocultura como um todo, realmente solidifique, cada vez mais, as conquistas obtidas até agora e avance para novos objetivos. A guerra não está vencida, apenas uma pequena escaramuça. Vamos à luta, vamos vencer os outros degraus desta escada que poderíamos chamar, quem sabe, Mercado! Abraços, Paulo A. Schwab - Presidente da ARCO SILAGEM 3 abr-mai/11 Mercado Mercado aquecido estimula produção de cordeiros O mercado do cordeiro foi fortemente sacudido entre a metade do ano de 2010 e especialmente no primeiro trimestre de 2011. Além da redução das importações de carne do Uruguai, maior fornecedor do mercado formal do Brasil, novas ações estão alavancando o preço do cordeiro e trazendo expectativas favoráveis ao produtor. Na verdade, o mercado de cordeiros está aquecido em todo o País. Em 2010, a produção de carne ovina permaneceu em alta acompanhada pela demanda aquecida e queda nas importações. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o kg vivo fechou o ano entre R$ 4,00 e R$ 5,00. No início do ano, o preço pago ao produtor não passava de R$ 3,00. Em São Paulo, o ano de 2010 fechou com cotações médias de R$ 4,70 o kg/vivo. De acordo com a Secretaria da Agricultura, o preço médio do final de 2010 na Bahia foi de R$ 4,25, com crescimento de 18% sobre as cotações de 2009. Atualmente, na Bahia a oferta de cordeiros é boa, mas no Paraná, Mato Grosso e Goiás há falta de animais, segundo informes publicados em abril no site Farmpoint, mas nem por isso as tendências são altistas. Entretanto, quebrar uma história de abates clandestinos e/ou domésticos será a grande tarefa nesta nova era da ovinocultura. Em 2010, o número inspecionado de ovinos abatidos no Brasil foi menor que 2009 de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- Foto: Arquivo Gustavo Martini tecimento (MAPA). Em 2009, foi totalizado 334.710 cabeças e em 2010, 309.172 cabeças, queda de 8,26%. Estima-se que aproximadamente 93% da carne consumida no país é de origem informal. Considerando os dados oficiais combinados com estes cálculos, é possível prever que os abates de ovinos ultrapassem as 4,5 milhões de cabeças/ano. Maior fornecedor de carne ovina do Brasil, o Uruguai também apresentou recuo de 26,5% em suas exportações em 2010, queda que deve se confirmar em 2011. Da mesma forma, os preços da carne uruguaia cresceram de US$ 3,41 para US$ 5,82, a uma taxa de 70,6%. O valor da carne ovina desossada e congelada cresceu 54,6% frente ao mesmo período de 2009, atingindo US$ 7,25 o quilo. Lançado Cordeiro Seara Em março, em vários eventos pelo País, o Grupo Marfrig lançou a linha Seara Cordeiro, produzidos em um sistema de incentivos e contrapartidas. Além do fornecimento de Programa em São Gabriel antecipa resultados Bom índice de natalidade e de assinalação de cordeiros, bom preço obtido na comercialização da lã, baixa perda de matrizes e reprodutores fornecidos são itens positivos do Programa de Desenvolvimento da Ovinocultura, no município de São Gabriel, no centro sul do Rio Grande do Sul, já em seu segundo ano. Conforme o idealizador do projeto, José Galdino Garcia Dias, em dois anos de resultados acima das expectativas, os objetivos do Projeto serão atingidos em bem menos tempo que o esperado. “Doamos animais para 116 pequenos produtores do Município que não tinham muita experiência com a criação de ovinos, mas se mostraram interessados desde que algumas orientações sobre a criação fossem fornecidas”, explica Galdino. Segundo ele muitos cursos foram ministrados neste período pelos técnicos da Secretaria de Agricultura do Município, da Emater RS/Ascar e da Cooperativa de Lã Tejupá fazendo com que estes produtores aprendessem bastante sobre a criação e o manejo dos ovinos. Galdino afirma que os diversos aspectos da ovinocultura continuam a ser abordados e melhorados nas visitas técnicas e reuniões com os produtores, tais como o manejo sanitário, reprodutivo e nutricional, organização dos produtores para comercialização, incentivo ao uso da esquila tally-hi e melhoramen- to genético dos rebanhos. “Sempre há o incentivo na produção do Artesanato em Lã no município, não só de peças de vestuário, mas também de pelegos, xergões, tapetes, cobertores, etc. Este também tem destino certo em loja própria do grupo de artesãs fixada na própria Cooperativa, além da freqüente participação das mesmas, com o apoio da Emater/Ascar e Semam, nas principais exposições e eventos nacionais e internacionais no Estado e no País”, salienta o coordenador. Como conseqüência, os pecuaristas familiares já obtiveram um incremento na sua renda familiar. A maior parte dos produtores demonstra-se mais motivada a permanecer na atividade e a melhorar sua qualidade de vida. Soma-se a isso, o incentivo que o Programa e as entidades envolvidas dão à organização dos produtores, em comunidades e, especialmente, em associações, de maneira a facilitar a aquisição dos recursos e insumos necessários ao aumento e melhoria da produção, proporcionando uma elevação dos níveis sócio-econômicos. Também é preciso citar a comercialização de borregos de pecuarista familiares para abatedouros com inspeção oficial, através da organização destes pelas Entidades envolvidas na Execução do Programa. assistência técnica, encorpando seu programa iniciado há quatro anos, o Marfrig pagará uma bonificação ao produtor, que pode chegar a 15%. Segundo o coordenador de ovinos do Grupo Marfrig, Gustavo Martini, o produtor integrante do programa receberá orientações sobre nutrição, período de monta e outros aspectos para garantir uma escala de fornecimento, com o objetivo adicional de elevar a qualidade da carne oferecida ao mercado. A Carne Seara Cordeiro chega ao mercado em 14 cortes porcionados e congelados, com alto padrão de maciez e suculência. Além dos cortes populares em churrascarias, como paleta e costela, a linha apresenta o carré francês, bife de pernil e alcatra e o T-bone, entre outros. Segundo informou o gerente de marketing Walter Scheufler, outro objetivo do Grupo Marfrig é a divulgar as qualidades do produto fora do seu ambiente atual, salientando questões como sabor, saúde, valor nutritivo, diversidade de opções, idéias de preparo e a garantia de origem do produto. O Marfrig possui três unidades de abate de ovinos no Rio Grande do Sul - Alegrete, Capão do Leão e Mato Leitão. A capacidade instalada permite o abate de 4,5 mil cabeças por semana, volume que chega ao seu limite em épocas de safra. O número de produtores envolvidos com o programa chega a 300 apenas no Rio Grande do Sul. Em 2009, a empresa inaugurou sua primeira unidade industrial em Promissão, SP, onde já processa a carne de projetos no Brasil Central. Duale Alimentos investe Após 5 anos atuando na criação e seleção de ovinos, a Duale Alimentos vislumbrou as boas perspectivas do comércio de alimentos, trazendo ao mercado produtos com sabor diferenciado, qualidade, padronização e praticidade. Entre 2007 e 2010, a Duale passou de propriedade rural a empresa alimentícia, criando o Programa de Incentivo à Produção de Carne Ovina, em parceria com a Nova Era Agronegócios. “Este programa visa entre outras coisas dar sustentabilidade econômica ao setor produtivo, tornando mais atrativa e segura a atividade rural, e a partir deste projeto, diminuir ou se possível eliminar a necessidade de importarmos carne de países produtores. Nosso objetivo a partir dessa nova perspectiva de mercado é melhorar ainda mais nossos serviços, aumentar nossas linhas de produtos oferecidos e, sobretudo, criar um vínculo sólido e duradouro com os produtores rurais integrados ao nosso programa de produção”, explica o diretor da Duale, Alexandre Sousa Simões. A Duale atua em 53 municípios da região de Campinas, SP, e entrega ao mercado cortes de cordeiro, padronizados, embalados a vácuo e desenvolve campanhas de consumo e aproveitamento culinário desta carne. • abr-mai/11 4 Reportagem Produção de carne ovina esbarra na baixa fertilidade dos rebanhos Fotos: Divulgação distúrbios nos machos e acompanhar o desempenho das fêmeas. Segundo os pesquisadores da Embrapa os problemas puramente de fertilidade dos ovinos são pontuais. Em mais de 30 anos de avaliações, foi constatado que a infertilidade das ovelhas é determinada por falhas na concepção em torno de 10%, perdas durante a gestação de ate 5% e perdas no periparto que podem variar de 10 a até 40%. Marina Corrêa D urante muito tempo, no Brasil, ovelha foi sinônimo de lã. Ainda que a carne do animal fosse o alimento típico das campereadas dos gaúchos, só conseguiu romper a fronteira do RS, começar a ganhar o gosto popular e chegar aos melhores restaurantes do país nos últimos anos. Com a desvalorização da lã e a ascensão da carne, os produtores começaram a se preocupar com uma genética que atendesse o novo mercado. Na tentativa de suprir a necessidade da indústria, possíveis problemas de fertilidade em rebanhos ganharam maior atenção. No entanto, pesquisas revelam que os problemas de fertilidade estão muito mais ligados com o manejo dos animais do que com patologias. Um estudo de mais de dez anos do professor de medicina de pequenos ruminantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Luiz Alberto Oliveira Ribeiro, mostrou que o baixo índice de fertilidade nos ovinos está relacionado à três fatores: baixa taxa de prenhez, de 100 ovelhas, 80 pegavam cria, grande parte dos rebanhos analisados apresentavam gravidez simples e uma mortalidade perinatal alta, de 30%. Para o professor, um fator determinante para ocorrência desses problemas é a for- A raça não é um fator determinante O manejo correto das fêmeas no período pré-natal é fundamental para a obtenção de altas taxas de natalidade e para o nascimentos de cordeiros saudáveis ma de manejo dos animais. Nas pesquisas realizadas na Embrapa Pecuária Sul de Bagé, a constatação do baixo índice de fertilidade em alguns rebanhos também responsabiliza o manejo. Este, destaca o pesquisador Carlos Souza, pode ser de origem nutricional, sanitário ou mesmo reprodutivo. Ele explica que, com um animal nutrido e saudável, monitorar o encarneiramento é um passo importante para o sucesso da prenhes do rebanho. Souza destaca que várias técnicas, como a da colocação de tinta no peito do macho, facilitam o controle dos acasalamentos. “Os cuidados pós-parto, como monitoramento da temperatura, também são importantes para os ovinos vingarem”, diz Souza. Parceiro de Souza na pesquisa sobre fertilidade ovina, o colega José Carlos Ferrugem explica que os problemas de fertilidade podem ser observados tanto em fêmeas quanto nos machos, quando a questão extrapola a maneira de lidar com os animais. Exames andrológicos (servem para atestar a qualidade do reprodutor bem como a fertilidade do sêmen) são aliados para identificar Ainda quando o problema é pontual e não está ligado ao manejo, distúrbios de fertilidade podem ser encontrados em qualquer raça, seja ela de lã ou de carne, ainda que os ovinos apresentam baixo percentual de problemas genéticos que interfiram na fertilidade. Segundo a pesquisadora do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Anneliese de Souza Traudi, nos últimos anos foram encontrados diversos casos de patologias de testículo e de epidídimo em reprodutores e em cruzas de diversas raças. Ela diz que o que chama atenção é o fato de vários desses carneiros serem oriundos de plantéis que trabalham com seleção rigorosa e que fazem altos investimentos na importação de >>> Antecipação de cio Na Cabanha Bennevento, em Carambeí, no Paraná, há três anos, os cordeiros são vendidos durante o ano inteiro. Atrasando a tosquia até o final de novembro, utilizando superalimentação (flushing) e inserindo o macho só após a tosquia, o frio do animal sem lã estimula o cio e em vez do animal ciclar em fevereiro, como normalmente ocorre, cicla em dezembro. - Ocorre que eu sou o primeiro a ter cordeiros para oferecer para o mercado em um período que ninguém tem, que é a partir de abril - fala o sócio-proprietário da cabanha, Patrick Nienhuys. A técnica garante apenas 10% de ovelhas sem cria. Das prenhas, 40% têm gestação gemelar. A mesma ovelha que pariu em abril já é encarneirada em maio, ou seja, a técnica permite mais uma cobertura por ano. • Patrick Nienhuys tem oferta de cordeiros no período de escassez, a partir de abril Carneiro com o colete e algumas ovelhas marcadas, que ilustra método de controle de acasalamentos Inseminação artificial perdeu força A inseminação com sêmen fresco deixou de ser utilizada principalmente pela diminuição do efetivo dos rebanhos, uma vez que só é mais econômica que a monta natural em rebanhos com 500 ou mais ovelhas, informou Souza. Outros fatores que influenciaram os ovinocultores a diminuir o seu uso foi falta de mão-de-obra qualificada, incremento que problemas sanitários durante o serviço devido a concentração dos animais. A inseminação com sêmen congelado em ovinos só apresenta bons resultados (repetíveis) se for usada por via intra-uterina por laparoscopia,o que só justifica o investimento quando forem usados carneiros doadores provados por seleção com dados produtivos. • 5 abr-mai/11 Fotos: Arquivo animais e de embriões. “Independente da raça, um controle estrito deve ser feito por um veterinário competente, que avalie testículos e epidídimos da puberdade, até o momento da venda dos animais ou de seu preparo para futuro reprodutor, ou mesmo para a participação em concursos da raça, leilões e congelamento de sêmen”, destaca a especialista. Ela completa dizendo que vários borregos selecionados pelo seu ganho de peso, ou por ser morfologicamente superiores, podem ter problemas graves como a aplasia de epidídimo ou hipoplasia testicular, de caráter genético, que poderá levá-los à subfertilidade ou esterilidade na idade adulta. “Acreditamos que a consangüinidade esteja fortemente envolvida nesse problema”, avalia. A busca por gêmeos Para sanar as dificuldades de conseguir uma gestação gemelar, o professor da Ufrgs destaca que características genéticas devem ser observadas e lembra que animais com gens prolíferos tem sua taxa de ovulação elevada, deixando o exemplar com maior habilidade para uma gravidez de gêmeos. Patrick (à esquerda) e o Prof. Ribeiro em ação: atenção permanente às fêmeas “Essa gestação precisa de mais atenção ainda quando à alimentação do exemplar”, explica. Mortalidade está relacionada com o peso Ribeiro também observou que a média de peso dos ovinos nascidos no Estado é de 3,5Kg, quando o ideal deveria ser entre 4 e 4,5Kg. Com peso mais baixo, o animal tem suas defesas reduzidas. Junto com identificação do problema, o professor também aponta uma combinação que resulta em solução. “Um reforço nutricional no terço final da gestação gera uma placenta maior, portanto, animais maiores. Outra técnica utilizada para aumentar o peso do recém-nascido é a esquila pré-parto, com 70 dias de gestação. Esta técnica altera o metabolismo da ovelha, aumentando o nível de nutrientes para o útero, o que também faz aumentar o tamanho da placenta”, explica. Na prática Produtor de ovelhas há mais de 40 anos, Lauro Fittipladi, morador de Uruguaiana, sabe na prática que os problemas estão relacionados ao manejo dos animais. Ele explica que no Rio Grande do Sul há pouco cuidado no encarneiramento e no nascimento dos animais. Fittipladi acredita que alimentar bem a matriz, mudar a época de encarneiramento para o filhote não nascer em período muito frio e resguardar mãe e cria dos predadores sejam pontos fundamentais. “Só o fato de terem mudado a época de encarneiramento, fazendo os nascimentos acontecerem em setembro, os produtores do Uruguai aumentaram em 20% os índices de animais que nascem e sobrevivem. Não importa a raça, tanto as de carne como as de lã, tem potencial para produzir, basta cuidar de todo o processo”, observa. • abr-mai/11 6 Artigo Carne ovina: importante fonte de Ômega 3 Fotos: Arquivo André Sorio * O s ovinos se tornarão em breve uma fonte importante do saudável ácido graxo conhecido como Ômega 3. As fontes mais utilizadas atualmente são peixes de águas frias como atum, salmão e sardinha, além do azeite de oliva e algumas outras fontes vegetais de menor importância. Diversas pesquisas demonstraram altos níveis de Ômega 3 na carne ovina, com alta herdabilidade entre as gerações seguintes de filhotes. Isso está pavimentando um programa de seleção genética, na Austrália e na Nova Zelândia, para aumentar a quantidade de ácidos graxos benéficos na carne de ovelhas e cordeiros e estes animais chegarão em breve ao Brasil. Os benefícios dos ácidos graxos Ômega 3 são conhecidos há vários anos. O ácido graxo Ômega 3 mais importante em termos de nutrição humana é o ácido docosa hexanoico (DHA). Todas as membranas celulares no corpo humano necessitam o DHA. Ele é vital para o crescimento inicial das crianças e, em particular, para o desenvolvimento do cérebro e dos olhos. Também é largamente reconhecido como redutor da pressão sanguínea e do risco de doenças coronorianas, assim como da chance de ocorrência de diabetes do tipo 2, do malde-Alzheimer e da asma. As autoridades de saúde de alguns países sugerem um consumo diário de no mínimo 430 mg para mulheres e 610 mg para homens de ácidos graxos poliinsaturados, incluindo o DHA, para reduzir o risco de doenças crônicas. No entanto, diversas pesquisas de dieta da população mostram que o consumo real alcança somente uma fração desta quantidade, cerca de 10 a 30%, de acordo com o país. A maciez e suculência da carne vermelha é relacionada ao seu teor de gordura intramuscular (também chamado de marmoreio). Uma carne ideal, do ponto de vista industrial, contém de 3 a 5 gramas de gordura intramuscular por 100 gramas de carne. Esta gordura intramuscular, nos ovinos, é também fonte impor- TABELA 01 – Qualidade nutricional de cortes de carne crua de ovinos adultos Corte Calorias Lipídios Proteínas Cálcio Fósforo Ferro (100 gramas) (kcal) (g) (g) (mg) (mg) (mg) Carré Pernil gordo Pernil magro Paleta Costela Lombo Peito Fígado Rim Língua Coração 356 353 191 305 358 362 305 193 104 277 181 30 33 12 26 30 33 26 9 3 23 13 22 14 20 18 22 16 18 23 18 17 17 12 5 13 8 15 24 n.d. 8 40 n.d. n.d. Fonte: Adaptado do livro Carne Ovina, Turismo e Gastronomia, 2010 208 160 215 208 270 196 n.d. 364 270 n.d. n.d. 2 2 2 2 4 4 n.d. 13 4 n.d. n.d. tante de antioxidantes e de Ômega 3. A difusão da carne ovina como fonte importante de Ômega 3 pode trazer um impacto positivo para a ovinocultura, que figura há muitas décadas como um dos maiores rebanhos brasileiros desta espécie animal. Já foi demonstrado que ovelhas que se alimentam de pastagens comuns, como as existentes em várias regiões do Brasil, produzem altos níveis de Ômega 3, então, não existem custos adicionais para a produção deste tipo de carne pelos produtores brasileiros. Naturalmente, para se aproveitar melhor deste promissor nicho de mercado, os criadores deverão mudar seu foco de melhoramento genético, do aumento da velocidade de crescimento para o aumento da gordura intramuscular. Um fato curioso é que a idade da mãe interfere na proporção de Ômega 3 na carcaça dos cordeiros. Filhotes nascidos de ovelhas mais velhas têm quantidades significativamente mais altas de Ômega 3 em sua carne. Alguns grupamentos de ovelhas proporcionam mais do que o dobro da quantidade de Ômega 3 em relação ao padrão, e isto faz sua carne ser classificada com Boa Fonte de Ômega 3 de acordo com os padrões australianos e neozelandeses. A carne de salmão, por exemplo, também entraria nesta mesma classificação. Para os produtores rurais o grande benefício será o desenvolvimento de um mercado de nicho de cortes de carne de cordeiro ainda mais saudáveis do que a que atualmente se encontra no mercado. Para os consumidores piauienses, a maior vantagem será a disponibilidade de uma carne de produção local, rica em Ômega 3, que é muito mais acessível do que peixes importados. Assim, a combinação da rica culinária feita com carne ovina com o Ômega 3 pode se tornar mais um ponto importante para alavancar o desenvolvimento do interior do Estado e para melhorar as condições de saúde da população em geral. • * Engenheiro-agrônomo, M.Sc. em Agronegócios, autor do livro Carne Ovina, Gastronomia e Turismo [email protected] 7 abr-mai/11 Reportagem Homeopatia: aumento de produtividade dos rebanhos Nicolau Balaszow E ste é o caso do médico veterinário e consultor, Nei Macedo, que relata algumas de suas experiências com o uso da homeopatia em ovinos. A sua área de ação tem sido os campos fronteiriços de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, sendo que as suas primeiras pesquisas estiveram ligadas aos problemas do carrapato, da verminose e, em 2008, ao tema da produtividade ovina. A presença de helmitoses (vermes) gastrintestinais em ovinos têm se mostrado como uma das enfermidades mais comuns e reincidentes. O controle continuado através das drogas antihelmínticas já se mostra pouco eficaz e isso se deve ao aparecimento de parasitos resistentes a esse tipo de tratamento. Desta maneira, a busca de métodos que substituam o controle tradicional das verminoses, em ovinos, têm sido uma das alternativas para os pecuaristas. O uso da homeopatia no controle da helmitoses gastrintestinais começa a se mostrar promissor, mas, na visão do veterinário, ainda não existe a certeza ou mesmo uma confirmação de resultados. “É preciso entender que os poucos trabalhos desenvolvidos no campo da homeopatia não permitem afirmar com garantia que já existe uma solução definitiva”, reconhece Macedo, lembrando que é preciso levar em conta as peculiaridades de cada região do País, exigindo uma coleta de dados que dependem de variáveis climáticas, de raça, de pasto e até de método. Neste sentido, ele entende que novos investimentos precisam ser efetuados até constatar-se a plena eficiência da homeopatia numa doença que ataca os ovinos há muito tempo, sem que nem mesmo os medicamentos alopáticos tenham resolvido a questão. Carrapato A crescente demanda pelos produtos derivados dos ovinos faz com que boa parte dos produtores rurais não se dedique unicamente à produção de carne, atualmente o filé mignon dos lucros, mas com o natural aumento da população desses animais, ele já começa a pensar no mercado da pele, por exemplo. A possibilidade de produzir calçados e vestuário em quantidade suficiente para suprir a demanda interna e gerar excedentes exportáveis, já é uma realidade, especialmente no Norte e Nordeste do Brasil. Nestas regiões, os piolhos e ácaros causadores da sarna, são o maior entrave para uma produção regular. Já nas regiões mais ao sul, o problema maior é o carrapato. Isto leva a perda de produtividade, obrigando ao pecuarista a intervir. “Atualmente estou aplicando em um rebanho da região, uma nova vacina criada em Cuba, chamada Foto: Arquivo Para quem ainda não se deu conta, a homeopatia é uma das práticas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, em nosso País, é tratada oficialmente como especialidade médica desde 1980. Ainda mais, ela foi inserida no Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de 2006. Quer dizer, a comunidade científica deu o aval para o uso de suas técnicas e intervenções, tanto em seres humanos quanto em animais que necessitem de tratamento. O conceito de que com a homeopatia os partos são facilitados, de que há o incremento da fertilidade, as infecções em cordeiros e animais adultos têm um melhor controle, o estresse da desmama diminui, promovendo o crescimento e a engorda, já é um fato corrente, necessitando apenas de um maior investimento em pesquisa e divulgação. Deste modo, alguns pesquisadores e cientistas passaram a buscar, através de seus trabalhos, resultados em seus experimentos para entender não mais se a “coisa” funciona, mas como pode funcionar melhor. Gavaque que, dizem, está trazendo um novo alento ao produtor”, informa Macedo, que entende ser este um medicamento concorrente, mas que isso só acontece pela falta de investimentos em estudos e no desenvolvimento de novos medicamentos homeopáticos. Ele disse que continua os seus trabalhos e, futuramente, espera trazer a confirmação de que o carrapato, a sarna e o piolho são doenças plenamente tratáveis com a homeopatia. Produtividade ovina Por outro lado, o veterinário relata uma experiência que abre perspectivas animadoras aos pecuaristas, especialmente aqueles preocupados com a produção em suas fazendas. Em 2008, com o apoio da empresa Real H e aceitação da família Tellechea, no mesmo município gaúcho, ele começou um experimento com dois lotes de ovinos na conhecida Estância Juquiry. “Em primeiro lugar é preciso dizer que esta pesquisa só foi possível graças ao fornecimento dos medicamentos homeopáticos pela Real H e pela disponibilidade da família Tellechea, disposta a assumir desafios”, assinala Macedo. Antes de mais nada, é preciso conhecer os caminhos percorridos pelo médico veterinário para entender melhor como ele chegou aos atuais resultados: Os trabalhos tiveram início em janeiro de 2008 e se prolongaram até fevereiro de 2009, quando foram definidos dois grupos de ovelhas da raça Corriedale, sendo o Grupo Tratado com 98 fêmeas adultas (seis dentes), e o Grupo Controle com 103 da mesma idade. “Cada grupo de ovelhas foi encaminhado com quatro machos, conforme o manejo usual da fazenda. Também é importante destacar que os animais permaneceram em pastagens nativas semelhantes”, lembra. O Grupo Tratado recebeu através do suplemento mineral o Núcleo Homeopático (100% à base de carbonato de cálcio puro), enquanto que o Grupo de Controle recebeu apenas o suplemento mineral usual. “As tarefas desta pesquisa campeira tiveram o auxílio de peões da própria Estância”, enfatizou o médico, ao lembrar que o nascimento dos cordeiros nos períodos de junho e julho, do mesmo ano, foi documentado pelo capataz. “O resultado não poderia ter sido melhor”, comemora Macedo. No Grupo Tratado o percentual de produção atingiu 84,69%, quando nasceram 83 cordeiros, enquanto o Grupo de Controle mostrou-se menos produtivo, isto é, 66,01% com 68 nascimentos. Uma diferença significativa de 18,67%. O experimento evidenciou que o Núcleo Homeopático foi eficaz ao que se propunha, “mesmo em condições de campo nativo e com manejo tradicional, porém com uma época de acasalamento bastante curta, isto é, 30 dias”, ressalta Macedo, que ainda afirmou ser o resultado um fato que contradiz o que tem sido apregoado sobre a ação dos medicamentos homeopáticos no tocante ao tempo necessário para a obtenção do efeito desejado. Para o veterinário, as conclusões apontam que a prática da homeopatia, neste caso, traz vantagens tanto no aspecto da aplicação do medicamento, quanto no baixo custo do mesmo. Outro item conclusivo diz respeito ao potencial aumento dos rebanhos da região quando utilizado o Núcleo Homeopático. Na opinião do então administrador da Estância Juquiry, Sérgio Bastos Tellechea, a proposta de trabalho mostrou-se positiva. “Estamos abertos às novas tecnologias, principalmente, quando estas podem beneficiar a todos, tanto no aspecto comercial, quanto no tema do meio ambiente. A nossa intenção é continuar investindo nesta pesquisa que trouxe novas perspectivas para os criadores de ovinos”, afirmou o produtor. • abr-mai/11 8 Reportagem Silagem: quem guarda, sempre tem Fotos: Nelson Moreira / Agropress Eduardo Fehn Teixeira P artindo do pressuposto de que a dor ensina a gemer, talvez muito mais quando esta razão se expressa de forma extremada é que o ser humano compreende com objetividade a necessidade de guardar, para ter quando for preciso. Em lugares onde em certas épocas do ano as condições de vida se tornam realmente duras – com calor intenso, seca ou com frio e ocorrência de neve - é que a máxima “quem guarda tem” acaba se materializando de forma radical. E no contraponto, na fartura, se formos avaliar com a rigidez científica, muito se perde pela ausência marcante de uma emergência como o calorão ou a neve, que são situações extremas tanto à produção de alimentos quando à própria existência de vida produtiva vegetal ou animal. Para uma maior compreensão, é bom lembrar, por exemplo, que no hemisfério Norte, anualmente por cerca de quatro meses, as regiões de produção ficam cobertas por neve! E aqui no Brasil, para citar apenas um exemplo, na chamada “estação das águas”, no Brasil Central, tudo fica inundado duran- Animais da Fazenda Portão Vermelho, no Paraná, consomem silagem regularmente te praticamente metade do ano - geralmente de outubro a abril. Pois foi justo daí que surgiu a silagem, um método de conservação (de guarda) de alimentos / forragem na fartura, para a alimentação dos animais em épocas de restrição. A silagem é frequentemente o alimento de inverno de ruminantes, já que a necessi- dade de seu fornecimento está associada à baixa produção de pasto, de matéria verde, nesta época de baixa insolação e de frio intenso. A silagem é uma importante fonte de alimentação aos animais, muito embora a mais adequada seja o alimento natural, colhido na lavoura e imediatamente administrado aos bichos. É matéria orgânica proveniente da colheita de plantações comerciais, usualmente leguminosas ou gramíneas bem picadas, que são armazenadas em silos verticais, trincheiras ou outros modelos hermeticamente revestidos com plástico, e bem vedados para evitar o contato com o ambiente. Modernamente, outras técnicas também são utilizadas, sempre buscando a redução de perdas e a máxima manutenção das características nutricionais do que é guardado. O material armazenado em um silo passa por um processo de anaerobiose, isto é, na ausência de oxigênio, por acidificação do material verde vegetal, e pode ser utilizado como alimento de ruminantes (gado ou aqui no caso ovelhas) nas épocas de carência da produção de alimentos naturais. O silo é o produto obtido da fermentação de plantas que tenham quantidades suficientes de carboidratos para gerar o processo químico (fermentação) no interior de um compartimento totalmente lacrado. O alimento que foi ensilado pode ser considerado como uma forrageira de alto valor nutricional, preservada com o mínimo de perda de seus nutrientes naturais. Essa fermentação que ocorre dentro do silo, que pode ser controlada com o uso dos aditivos biológicos, ou em outras palavras, com os inoculantes de silagens. Existem dois modos de armazenar a superprodução de forrageiras no período das águas: fenação e ensilagem. Entre eles, apenas o segundo envolve processos microbiológicos de interesse, pois o processo de fenação apenas apela para duas condições: utilizar uma forrageira e secá-la com o mínimo de perdas nutritivas. Entende-se por ensilagem as alterações físico-químicas e organolépticas de uma forrageira ou alimento fermentescível armazenados na ausência de ar. O principal objetivo no processo de ensilagem é obter uma produção suficiente de ácido lático de origem microbiana. >>> 9 abr-mai/11 Reportagem Fartura de alimentos e falta de informação Impedem o uso maciço da técnica da silagem “N o Brasil, além da fartura de alimentos durante a maior parte do ano ou mesmo pelo ano todo, o uso ainda reduzido dessas tecnologias também está ligado ao aspecto cultural. Grande parte dos produtores, mesmo já conscientizados da necessidade de armazenar alimentos, simplesmente deixam para depois porque não sabem como fazer”, diz o técnico e empresário, especialista em silagem, Julio Cesar Gomez, da Sinuelo Genética e Tecnologia Agropecuária, de Curitiba, PR. Já a professora e pesquisadora Alda Lúcia Gomes Monteiro, do Departamento de Zootécnica da Universidade Federal do Paraná, observa que o mercado de silagem no Brasil está estimado em cerca de 600 mil hectares, utilizados de forma crescente nos sistemas de produção de leite e carne, principalmente. Segundo constata Alda Monteiro, Doutora e coordenadora de Pós- Fotos: Arquivo Mercado da silagem é de 600 mil ha Gradução em Ciências Veterinárias e ligada ao Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos da UFPR, dados euro- Produtos de tecnologia à disposição do produtor A fabricação de equipamentos de armazenagem de silagem em processos mecânicos avançados, representados pelo Silo Tubo e pela máquina Silo-Pack, é a especialidade da Sinuelo Genética e Tecnologia Agropecuária, de Curitiba, PR. Segundo no proprietário, Julio Cesar Gomez, no Silo Tubo a silagem é embutida em bolsas plásticas de 5, 6 ou 9 pés de diâmetro, num “linguição” de 60 m a 75 m de comprimento. A capacidade varia de 50 a 240 toneladas de silagem por tubo. E a máquina SiloPack embute a silagem em sacos de plástico flexíveis com 60 cm X 80 cm, com capacidade para até 200 kg. Gomez observa que dependendo da região, podem ser ensilados especialmente produtos alimentícios para os animais como milho, sorgo, girassol e capim (destaque para os capins Elefante). Também podem ser utilizados resíduos agroindustriais como borra de malte, glúten de milho, entre várias outras alternativas de armazenagem de alimentos para administração aos animais nas épocas de escassez. “A silagem é a melhor alternativa. A mais econômica e a mais prática”, afirma o empresário. Sobre outras técnicas de ensilagem, Gomez observa que os conhecidos silos Trincheira ou de Superfície tem como inconveniente as grandes perdas que ocasionam – no mínimo de 12% a 15% de perdas físicas e outro tanto ou mais em valores nutricionais. “No silo Tubo ou Silo-Pack, além de práticos e econômicos, as perdas não ultrapassam os 2%”, registra o especialista. • peus indicam que a silagem compreende cerca de 85% a 90% do total da forragem conservada em vários países. “A produção e comercialização de feno no Brasil ainda é atividade concentrada em poucas empresas agrícolas, não existindo classificação por qualidade e diferenciação de preços para o produto. Portanto, se paga por um produto de qualidade muito heterogênea, sendo o valor ditado pela lei da oferta e da demanda”, certifica a especialista. Os métodos de conservação de forragens em utilização nos trópicos, conforme Alda Monteiro, se baseiam nos processos de ensilagem e fenação. Os produtos finais destes dois processos, a silagem e o feno, podem ser utilizados de várias formas no sistema de produção. Muitas vezes são considerados volumosos suplementares, ou seja, tem a finalidade de suplementar a dieta dos animais em períodos de escassez de alimentos, tais como as pastagens em estação seca ou quando há elevada carga animal. Porém, freqüentemente, os volumosos conservados são utilizados como dieta principal dos rebanhos, em categorias animais de alta exi- gência nutricional, como é o caso de animais em lactação ou cordeiros em crescimento. Os ovinos são animais ruminantes e devem ser alimentados com volumosos de boa qualidade e que sejam produzidos com menor custo. Assim, é muito importante que se planeje o plantio de boas pastagens para o rebanho ovino, contando com a aplicação de adubação nitrogenada nas mesmas, de forma a aumentar a massa de forragem ofertada aos animais e a capacidade de suporte das áreas de pasto. Também faz parte do planejamento alimentar da propriedade, o cultivo de forrageiras para conservação na forma de feno e/ou silagem, visando atender períodos de escassez de alimentos ou para animais criados em estabulação. Assim, conforme Alda Monteiro, deve-se planejar o plantio de milho, sorgo, capim elefante ou outras espécies para colheita e armazenamento através da ensilagem, objetivando o uso durante o período de redução da oferta ou escassez de forragem. Além disso, o uso das forragens conservadas pode ser estratégia de suplementação alimentar para os rebanhos. >>> abr-mai/11 10 Reportagem Silagem é técnica conhecida há mais de um século S egundo trabalho de Oliveira, Perez e Evangelista, em Silagem de Milho para Ovinos, realizado em 2009, no Brasil não se tem idéia exata da introdução da ensilagem, mas é provável que tenha sido iniciada já no fim do século 18. O processo de expansão da ensilagem teve seu inicio na década de 1960, graças aos esforços de órgãos de extensão rural, fundações, universidades e cooperativas, resultando no começo dos trabalhos experimentais sobre os processos fermentativos que ocorrem com a planta. Alda Monteiro observa que empregamse muito bem os alimentos conservados nos períodos de redução da massa ou escassez de forragem. Nesse período, os ovinos podem ser suplementados com volumosos conservados (silagens ou feno), com a devida adequação às exigências nutricionais dos animais para cada categoria, o que permite manter os animais em bom estado corporal, principalmente quando se trata de alimentar ovelhas em final de gestação ou que estão amamentando seus cordeiros. Outra possibilidade importante indicada pela professora da Universidade Federal do Paraná é seu uso como a principal porção volumosa da dieta dos animais confinados, muito utilizada atualmente em regiões do Brasil onde predominam os confinamentos comerciais de cordeiros, como a Região Sudeste. De acordo com Silva, D. S. em seu trabalho “Potencial Forrageiro de Plantas da Caatinga” apresentado na Jornada da Produção Ecológica de Ruminantes no Semiárido em 2011 – “a sustentabilidade da pecuária ovina nordestina na zona semi-árida poderia ser garantida com o cultivo das forrageiras nativas associado às práticas de conservação de forragens, por fenação ou ensilagem”. Para ele, a menor disponibilidade de alimentos para os rebanhos do semi-árido nordestino nos períodos de estiagem constitui-se na grande barreira enfrentada pelos pecuaristas durante centenas de anos. Apesar da conhecida eficácia das técnicas de conservação de forragem, verifica-se baixo índice de adoção na região. O autor defende o armazenamento da biomassa vegetal acumulada na estação chuvosa. Alda Monteiro cita que tradicionalmente o material mais utilizado para ensilagem é o milho, devido à sua composição bromatológica, no ponto ideal de corte. Porém, há outras opções como o sorgo, a cana de açúcar, o girassol, o milheto e as gramíneas Fotos: Nelson Moreira / Agropress A retirada mecanizada da silagem evita desperdícios e reduz custos de mão-de-obra comuns de pastagens como as do gênero Pennisetum sp. (capim elefante) Panicum sp. (Tanzania, Mombaça) ou as do gênero Cynodon sp. (coast cross, Tifton), além de aveia e azevém. “As culturas de milho e de sorgo apresentam-se como as mais adaptadas ao processo de ensilagem, por sua facilidade de cultivo, alto rendimento e por possuírem características desejáveis à fermentação, tais como: adequado teor de matéria seca, baixo poder tampão e suficiente quantidade de açúcares solúveis, o que exclui a necessidade de aplicação de aditivos para estimular a fermentação”, sublinha Monteiro. Para a professora, a qualidade da silagem de milho ou sorgo está relacionada com a participação da produção de grãos na massa ensilada. Dessa forma, sem perder de vista a produtividade de biomassa total, as cultivares que apresentarem maior produtividade de grãos serão também as melhores para a produção de silagem. Para a obtenção de silagem de boa qualidade, a cultivar de milho deve apresentar 40 a 50 % de grãos na matéria seca do material ensilado, demonstrando a importância do conteúdo de grãos na qualidade da silagem. Outra alternativa que vem sendo pesquisada é a silagem de grãos úmidos de milho como componente da dieta. Os resultados obtidos até então evidenciam a viabilidade da utilização dos grãos de milho conservados como silagem na alimentação de animais, especialmente os de elevada exigência nutricional. O sorgo, segundo Alda Monteiro, pode ser plantado na Região Centro Sul do Brasil de agosto até meados de abril e seu uso para silagem se justifica pelas suas características agronômicas como alta produção de forragem, maior tolerância à seca e ao calor, sistema radicular abundante e profundo e possibilidade de se explorar a rebrota, com produção que atinge até 60% da produção inicial, sendo uma das culturas que mais cresce no país. O teor de proteína bruta da silagem de sorgo apresenta-se pouco inferior a do milho e de outras plantas forrageiras, principalmente as de clima frio, estando ao redor de 7%. A qualidade de alimentos volumosos é apontada frequentemente como o aspecto mais limitante à produtividade, devido às restrições ao desempenho individual dos animais. Por isso a importância de se trabalhar com volumosos de boa qualidade. É importante dizer que, quanto melhor a qualidade do volumoso da dieta, menor pode ser o uso de alimentos concentrados – rações; e isso é muito interessante do ponto de vista da rentabilidade do sistema de produção de ovinos. Edgard Matos Cavalcanti, da Emece – Emater do Ceará – CE, aponta que a silagem mais indicada para as condições duras do Norte e Nordeste brasileiros é feita a partir da lavoura de sorgo. “Tem qualidade nutricional e é muito resistente. Se não chove durante um período e depois volta a chover, o sorgo rebrota, volta com força”, diz. Cavalcanti observa que o tipo de silo mais indicado é o Trincheira, embora se a utilização da silagem for feita no mesmo ano, o produtor pode utilizar o silo de superfície. Mas ele chama a atenção para a falta de esclarecimento dos produtores sobre os tipos e as técnicas para a prática da silagem. “Falta informação mais precisa sobre como fazer, e isto acaba sendo o maior gargalo para uma utilização em larga escala da silagem”, diz o técnico. • 11 abr-mai/11 Políticas O Governo gaúcho cria o Mais Ovinos no Campo s pequenos e médios pecuaristas do Rio Grande do Sul, dedicados à criação de ovinos, passam a contar a partir de 2011 com o “Mais Ovinos no Campo”, projeto integrado ao Programa de Desenvolvimento da Ovinocultura Gaúcha. A meta do projeto, anunciado pelo Governo do RS durante a Feovelha, em Pinheiro Machado, é de fortalecer a cadeia produtiva da ovinocultura e propiciar renda, tendo como alvo o agricultor familiar e a Metade Sul do Estado. Nesse sentido, o produtor rural tem à sua disposição linhas de crédito para a retenção de matrizes, com taxas de juros subsidiadas. Estão acessíveis R$ 102 milhões e linhas de financiamento para a aquisição de matrizes e reprodutores, com prazo de três anos e um de carência antes de iniciar o pagamento (ver detalhes no quadro anexo). Para Nelson Wild, segundo vicepresidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag) e coordenador do Programa de Pecuária Familiar, além da Metade Sul, a Região das Missões e os Campos de Cima da Serra também merecem atenção especial. “Nós entendemos que a ovinocultura está fazendo parte de um processo de diversificação da produção nas propriedades gaúchas e o momento é favorável, pois há mercado, há preço e um ambiente de trabalho favorável”, diz. O dirigente informou ainda, que atualmente são aproximadas 60 mil famílias que podem se beneficiar com o projeto, além do que’ a entidade está coletando dados que, futuramente, permitirão obter um diagnóstico mais preciso sobre o interesse do produtor gaúcho em retomar a criação ovina no Estado. Relativamente ao projeto, a Fetag pretende organizar, em maio, um encontro que vai debater a questão da ovinocultura em seus vários aspectos. “Esse encontro pretende representar o ‘ponto de largada’ do Mais Ovinos no Campo e, para tanto, estarão presentes representantes de sindicados, federações, organizações ligadas à agricultura familiar, entre outros”, divulga Wild. O agricultor familiar João Heber Sabedra, 42 anos, natural no município de Dom Pedrito, é propriamente um exemplo de agricultor que sempre esteve atento ao mercado e, por essa razão, mantém um tipo de produção consorciada, isto é, utiliza tanto o ovino quando o bovino com a finalidade O Programa objetiva - Retenção e aquisição e matrizes e reprodutores; - Aumento do rebanho ovino no RS; - Promoção do consumo de carne e lã de qualidade; - Geração de emprego e renda. Linhas de crédito: O limite de financiamento por produtor é de R$ 130 mil. Retenção de matrizes – recurso disponível de R$ 52 milhões. Estes recursos servirão como capital de giro para a manutenção da atividade, sendo que a fonte é a Poupança Rural Banrisul. O prazo para o pagamento será de três anos, com carência de um: no primeiro serão pagos os juros; no segundo, 50% do principal + os juros e no terceiro ano, 50% do principal + juros. Para os pecuaristas enquadrados no Pronaf terão juros de 2%, enquanto os demais produtores pagam 5,75%. Aquisição de matrizes e reprodutores – recurso disponível de R$ 50 milhões. O prazo para o pagamento da dívida será de cinco anos, com dois de carência. A taxa de juros para os produtores enquadrados no Pronamp será de 6,25%. Para os ligados ao Pronaf a taxa será de 1%, 2%, 3% e 4%, de acordo com o valor tomado. 6,75% é a taxa para os demais produtores. Contrapartida do produtor: A proposta para o segundo ano é a de aumentar em 20% o encarneiramento de matrizes e vender a produção para frigoríficos com inspeção oficial. • Foto: Divulgação de trazer renda para a sua propriedade. Ele se diz temeroso em assumir qualquer tipo de financiamento, ainda assim, acredita que o projeto tem tudo para dar certo. “A minha preocupação e de muitos outros produtores é a de que o projeto não tenha continuidade, como já vimos acontecer em várias oportunidades”, alerta. Já, Edemar Pires Scholande, pequeno produtor do distrito de Palmas, em Bagé, se mostra confiante e está prestes a assumir financiamento oferecido pelo projeto e tem claro o que vai fazer com o dinheiro. “Tenho 120 ovinos na cria. Planto para dar de alimento, tanto para eles como para o gado e, penso que o melhor negócio para mim, neste momento é o de assumir o financiamento de retenção das matrizes, a galinha dos ovos de ouro de qualquer criador”, pontua. Ele explicou que o escoamento de sua produção não vai ser problema, pois já tem até a garantia de frigoríficos da compra do seu produto. “Hoje em dia, a gente pode até fazer uma escala com os frigoríficos, determinando o período que vamos entregar os cordeiros para o abate”, confirma Scholande. Do ponto de vista do governo, o secretário da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi, disse não existir produção suficiente nem para abastecer o mercado interno. “Com estes incentivos, acredito que em quatro anos teremos um rebanho muito maior e estaremos produzindo ovinos com muito mais qualidade”, afirma. Quanto à questão da demora para que as medidas entrassem em vigor, o se- cretário declarou que isso se deveu à complexidade do processo. “As negociações entre a Secretaria, a Casa Civil, a pasta Fazenda e o Banrisul, no que tange a linha de crédito para a retenção de matrizes, exigiram a reativação do Fundovinos, o que permite a equalização dos juros”, esclareceu. Em sua opinião, o mais importante é que, neste momento os ovinocultores já podem acessar os recursos. “Existe otimismo com os efeitos que estes R$ 102 milhões poderão ter no aumento da oferta de carne ovina, hoje bastante valorizada no mercado, e na retomada da ovinocultura gaúcha”, concluiu Mainardi. Os criadores do RS já podem encaminhar às agências da instituição bancária as solicitações de aprovação do crédito. Os pedidos levam de 15 a 20 dias para serem analisados e, recebendo o aval do Banco, o produtor pode buscar a matriz ou reprodutor que lhe interessa ou receber o crédito para a retenção. Após, formaliza efetivamente o contrato e o dinheiro estará na conta. • abr-mai/11 12 Sanidade Luiz Eduardo dos Santos1 Eduardo Antonio da Cunha2 Mauro Sartori Bueno2 Cecília José Veríssimo2 Altas lotações nas pastagens: Uma técnica viável para ovinos afirmativa de se poder criar ovinos em sistema intensivo de pastejo, utilizando-se forrageiras de elevada produtividade, como os capins do gênero Panicum (Aruana ou o Tanzânia), com lotação média de 35 ovelhas/ha/ano é baseada em anos ininterruptos de utilização desse sistema, na Unidade de Ovinos, do Instituto de Zootecnia / SAA, em Nova Odessa (SP), obtendo-se índices zootécnicos expressivos, notadamente em cruzamentos com ovinos deslanados da raça Santa Inês, relacionados na tabela. Estes índices tem sido obtidos dentro das seguintes condições de criação: * A lotação média preconizada para o nosso sistema é de 35 matrizes/ha/ano. * A produção média do capim Aruana é de 19 ton de Matéria Seca/ha/ano, nas condições de manejo rotacionado (7 a 15 dias de ocupação e 35 a 45 dias de repouso, conforme a época do ano), com uso de cerca eletrificada em faixas e número variável de piquetes; com adubação anual com 150 kg de N / ha subdividida em duas aplicações, sendo 2/3 no final do “período das águas” (abril/maio) e 1/3 no início do “período das águas” seguinte (setembro/outubro). * A proposta do Instituto, para produção de carne de cordeiro, no Estado de São Paulo, baseia-se na utilização de ovelhas da raça Santa Inês, com peso vivo médio de 60 kg, em cruzamento com reprodutores de raças de corte tais como Suffolk, Ile de France e Poll Dorset. * O consumo diário médio estimado de MS por matriz é de 2,7% do peso vivo, variando de 2,3% nos períodos pós-desmame e de início de gestação até 3,0% no terço final de gestação. Todavia, para efeito de calculo de lotação e considerando-se as perdas durante o pastejo (pisoteio e acamamento) utilizamos o valor máximo (3% do PV) * Nas nossas condições de produção o intervalo entre partos é de 7 a 8 meses, ou seja, são obtidas 3 parições a cada 24 meses, o que representa 1,5 parições / ano. * Dentro do sistema utilizado em Nova Odessa, as matrizes permanecem nas pastagens até o parto, quando são recolhidas às baias e mantidas confinadas até o desmame, com período de 45 a 60 dias (média de 50dias), sendo alimentadas com capim Napier cv Guaçu (no verão) e silagem (inver- A Parte 1 Foto: Arquivo A produção de cordeiros pode ser lucrativa sobre pastagens cultivadas no). Nesse período recebem suplementação com concentrados (média de 0,5 a 1% do PV, conforme o número de crias). * Com base nisso considera-se que cada matriz permanece confinada por 75 dias durante o ano. Esse período é obtido pela multiplicação do número médio de parições (1,5 parição/matriz/ano) pelo período médio de aleitamento (50 dias). * Dessa maneira considera-se que cada matriz permanece em pastagem por um período médio de 290 dias por ano, resultante da subtração do período de confinamento para aleitamento (75 dias) do total de dias do ano (365 dias). * Dessa maneira temos: - 60 kg de PV x 3% = 1,8 kg de MS de forragem / dia - 1,8 x 290 dias = 522 kg de MS / cabeça / ano - 522 kg x 35 matrizes = 18270 kg de MS / ano Verifica-se que a exigência em forragem, em termos de Matéria Seca, para manutenção de uma lotação média de 35 cabeças / ha / ano, da ordem de 18.270 kg, enquadrase plenamente na estimativa de produção de 19 ton de MS/ha/ano, sendo esse o valor médio obtido em mais de nove anos de trabalho com essa forrageira, nesse sistema de manejo, com limites de 18 a 21 ton/ha/ano. Acrescentamos que, nos últimos dois anos, com a utilização de irrigação e de plantio estratégico de forrageiras de inverno (aveia, azevém e trevo branco), se Parâmetros Peso ao nascer* Peso vivo ao desmame* Idade ao desmame Ganho diário de peso vivo pré desmame* Peso vivo do cordeiro ao abate* Idade ao abate* Ganho diário de peso vivo pós desmame* Rendimento de carcaça* Lotação média de pastagens** Fertilidade ** Número de ovelhas paridas** Intervalo médio entre partos** Número médio de parições/matriz/ano** Prolificidade média** Mortalidade até 120 dias de idade** meadas a lanço sobre o Aruana, no outono, obteve-se um aumento significativo da produção de forragem (produções da ordem de 30 ton MS/ha/ano), refletindo no aumento da disponibilidade de MS tanto no inverno, como no total do ano. Realçamos que estas observações ainda não podem ser consideradas definitivas, necessitando-se de um tempo maior de acompanhamento das respostas de produção, para que possa ser apresentada como tecnologia viável, todavia elas indicam o enorme potencial de crescimento da atividade e a possibilidade de sua intensificação. Vale frisar, ainda, que os sistemas de criação abordados e as tecnologias apresentadas foram desenvolvidas especificamente para as condições do Estado de São Paulo, em termos de suas características edafoclimáticas e sócio-econômicas, incluindo o perfil da distribuição agrária, bem como da realidade do mercado consumidor, podendo, desde que feitas as devidas adequações, serem aplicadas em boa parte da região Sudeste. Isto deve ser levado em conta, quando se buscam alternativas para regiões com características muito diversas das verificadas em São Paulo. • 1 Pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Nutrição Animal e Pastagem do Instituto de Zootecnia / Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. E-mail [email protected] 2 Pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Zootecnia Diversificada, do Instituto de Zootecnia * referentes a cruzados Suffolk x Santa Inês ou Ile de France x Santa Inês ** referentes a matrizes Santa Inês índices 3,5 - 4,0 kg 15,0 - 17,0 kg 45 - 60 dias 0,240 - 0,280 kg 28,0 - 30,0 kg 95 a 110 dias 0,200 - 0,240 kg 42 - 44 % 35 cab./ha/ano 85 - 90 % 26 cab./ha 7,5 – 8,0 meses 1,5 145% 5% 13 abr-mai/11 Genética Avaliação Genética, a ferramenta para o aumento da produtividade Fotos: Arquivo MV MSc. Edson Siqueira Filho U m dos grandes desafios no trabalho do selecionador é identificar os animais genéticamente superiores. A dificuldade está no fato de que não se pode “ver” os genes dos animais. O que se analisa e se mensura é o fenótipo, que é o resultado da interação entre os genes e o meio ambiente em que o animal se desenvolve. Ao comparar indivíduos, animais com genes inferiores podem apresentar fenótipos superiores, na dependência do manejo a que foram submetidos (nutrição, sanidade, etc). É importantíssimo ressaltar que o fenótipo que se aprecia nos animais e conseqüência da interação entre genótipo e ambiente. FENÓTIPO=GENÓTIPO + AMBIENTE A maneira encontrada para “visualizar” os genes dos animais foi utilizar de ferramentas estatísticas, trabalho que denominou-se Avaliação Genética. A qualidade genética do individuo avaliado é chamada de Diferença Esperada na Progênie (DEP). Essa informação determina o quanto a progênie de cada animal avaliado deve se comportar em relação a base genética da raça. As informações contidas em um sumário de avaliação genética são especificações técnicas que devem ser utilizadas com o objetivo de escolher os animais mais adequados aos objetivos de melhoramento de cada rebanho. O melhor animal para o rebanho de determinado criador dependerá de seu mercado, das condições ambientais, de seus objetivos na produção de ovinos e do correto diagnóstico de seu rebanho e da definição de quais características devem ser melhoradas. Nem sempre o máximo é o melhor. O que ocorre normalmente nas criações de ovinos é a seleção e o acasalamento baseado no fenótipo dos animais. Na prática, dois animais de boa aparência são acasalados e a produção nem sempre traduz a impressão dos paternais. Atualmente o que existe é a valorização de um animal por suas premiações. Um reprodutor se torna grande campeão de uma exposição de destaque, vira referência de mercado, vende muito sêmen e distribui muitos genes para a população. Sem uma grande consistência genética, grande parte de seus filhos volta para cobrir a campo e apenas uma pequena parcela retorna as pistas de exposições e atingem valorização de mercado por sua campa- nha nos julgamentos de fenótipos. Um reprodutor grande campeão acasalado com uma fêmea grande campeã não é sinônimo de uma progênie bela. É comum visitarmos propriedades e encontrarmos essas progênies no rebanho comercial. A falta de consistência genética nos acasalamentos, simplesmente pela falta de informações a esse respeito, fazem os criadores darem “um tiro no escuro” a cada acasalamento. Quando se trabalha com base em dados genéticos, os acasalamentos e a seleção se tornam mais seguros e a evolução é notória. Vejam o exemplo das aves, na década de 1950 a produ- de cada rebanho. O primeiro passo, então, é fazer um diagnóstico genético, ou seja, saber em qual patamar de produtividade o rebanho se encontra em relação à população de ovinos da mesma raça. As informações necessárias para isso são obtidas pela implantação de programas de avaliação, o ponto de partida no processo de seleção. Este irá determinar o potencial genético das características produtivas economicamente importantes que possui cada animal. As predições do potencial produtivo na determinação do mérito genético dos animais são realizadas pela avaliação do desempenho e relação genética dos Dois animais de boa aparência, acasalados, nem sempre têm uma produção que traduz as suas qualidades genéticas ção média dos aviários brasileiros era de frangos de 1,6 kg que eram abatidos em 70 dias e que convertiam 2,5kg de alimento para cada kg de peso vivo. Passados 50 anos e um trabalho forte de seleção genética, os frangos passaram a ser abatidos com 2,35 kg aos 40 dias e conversão de 1,7 kg/kg de peso vivo. Evidentemente que houve outras alterações tecnológicas e ambientais neste período, mas os estudos apontam que essa evolução deve-se em torno de 60 a 75% à genética e entre 25 e 40% para as mudanças de ambiente (clima, alimentação, saúde, etc.). Atualmente a produção de aves é totalmente embasada em programas de melhoramento genético. Os programas de melhoramento genético em bovinos de leite e corte, também, é uma realidade. Atualmente os grandes criatórios baseiam a seleção dos rebanhos totalmente em provas de avaliação genética. O objetivo dos programas de melhoramento é alterar as genéticas das populações, para que essas se tornem mais produtivas, de acordo com os objetivos animais nas diferentes características e serão expressas pelas DEPs (Diferença esperada na progênie). O primeiro relatório gerado irá emitir o retrato do seu rebanho, ou seja, vai mostrar “onde ele está” a partir daí, determinam-se os objetivos, “onde ele vai chegar” e em quanto tempo. A realização da coleta dos dados econômicos e zootécnicos dos rebanhos que são repassados as centrais de processamento de dados é o ponto fundamental para o sucesso do programa, a veracidade das informações é que permite identificar os pontos fortes e fracos do rebanho. Em geral os dados coletados consistem em mensurações de peso e medidas em datas pré-determinadas, pelo programa. Os resultados obtidos são repassados ao produtor, na forma de DEPs, e nelas estão comparadas as taxas de produtividade do rebanho em relação à média dos demais rebanhos avaliados. Com esses dados é possível detectar quais características devem ser melhoradas no rebanho para ampliar sua eficiência. O acasalamento entre indivíduos mais produtivos, capazes de transmitir melhores características produtivas, é uma das técnicas de seleção utilizadas e é possível a identificação destes indivíduos pelo desempenho de seus filhos. O descarte dos animais “menos produtivos”, ou abaixo da média do rebanho também é proporcionado pela avaliação destes dados. Nestes casos a orientação técnica é imprescindível para que o produtor siga o caminho da evolução em seu rebanho. Nem sempre os resultados acontecem rapidamente, isso depende de diversos fatores tanto do próprio rebanho, quanto de toda a população avaliada. Mas certamente a seleção baseada em genética é um trabalho de resultados garantidos, desde que bem executada. Assim pode-se mais rápido obter indivíduos com boa conversão alimentar, altas taxas de crescimento muscular e adequada deposição de gordura, essenciais para um produto final de qualidade com baixo custo. Para as matrizes e reprodutores buscam-se características fundamentadas na eficiência reprodutiva, rusticidade, longevidade produtiva, entre outros. Vantagens de participar de um programa de Avaliação Genética - Avaliação genética de todo o rebanho (reprodutores, matrizes e animais jovens). - Avaliação do desempenho produtivo e reprodutivo do rebanho, pela análise de características como peso ao nascer, peso a desmama, peso em determinadas idades; habilidade materna, idade ao primeiro parto, idade à puberdade, índices de partos simples e duplos, perímetro escrotal, entre outros. - Disponibilização das DEPs das diferentes características que permitirão identificar e selecionar os animais de melhores méritos genéticos, para alcançar os objetivos de seleção da propriedade. - Possibilitar o acasalamento de animais de acordo com suas características genotípicas, restringindo a consangüinidade e ampliando o progresso genético. - Agregar valor aos plantéis e principalmente aos reprodutores avaliados. - Publicação de Sumários de Avaliação Genética dos Reprodutores. Vamos a um exemplo prático com um comparativo entre a produção de dois reprodutores com diferentes DEPs. A DEP para Peso aos 150 dias do reprodutor A é de + 3,0kg, a do reprodutor B é – 2,0kg, isso significa que a média da progênie do reprodutor A, aos 150 dias, (Parte 2) é 3,0kg mais pesada que a média da população avaliada e 5,0kg mais pesada que a média da progênie do carneiro B, no mesmo período. O que isso pode implicar economicamente? Se a média da raça aos 150 dias for de 32kg, neste período os filhos de A pesarão 35,0 kg, e os de B 30 kg. Analisando um pouco mais, os filhos de A terão um ponderal de 0,233kg contra 0,200kg de B. Considerando um peso de abate de 35kg, os filhos de A estarão prontos para serem abatidos aos 150 dias e os filhos de B aos 175 dias. Se implicarmos um custo total de produção de um cordeiro no confinamento de apenas, R$ 0,50/dia*, os filhos de B custarão R$ 12,50*, a mais que os filhos de A. (* valor ilustrativo, cada produtor pode substituir o custo à sua realidade). Este exemplo compara apenas uma característica (peso aos 150 dias), mas podem-se adicionar mais características produtivas a seleção, o que evidenciará ainda mais as vantagens dos reprodutores geneticamente superiores. Quando se fala em produção de carne e qualidade de carcaça, a primeira idéia que surge são parâmetros mensuráveis como peso, acabamento, tamanho, etc. Portanto o desafio maior do produtor é como atingir os padrões com eficiência, ou seja, em um período mais curto e com custo mais baixo. Neste quesito o melhoramento genético é ponto fundamental para se atingir esses objetivos. O sistema de produção adequado e aliado ao desenvolvimento genético, independente da raça que se utilize, também é fundamental nesse processo. A raça é, sim, um fator importante para o sucesso do criatório. Porém temos que lembrar que antes de optar pela raça A ou B, devem-se compreender os níveis de exigências destas para cada ambiente e se ela será capaz de responder a ele com sua máxima produtividade. O processo de seleção genética trará muito mais benefícios se os animais puderem manifestar seu potencial máximo em seu ambiente de criação. Afinal, Fenótipo=Genótipo+Ambiente. • Médico-veterinário, Mestre em reprodução animal, e especialista em ovinocultura. Gerente de Produtos Caprinos e Ovinos da Alta Genetics do Brasil e Diretor Técnico da Pecora Assessoria Pecuária. [email protected] abr-mai/11 14 Especial No Amazonas, ovinos para proteger florestas A dura legislação ambiental do Amazonas, que restringe a criação de bovinos no Estado, está criando um outro espaço para a criação de ovinos. No rastro da proteção às florestas, a criação de ovinos ganhou impulso a partir de 2005, com a criação também da Associação dos Criadores de Ovinos e Caprinos do Amazonas (Acocam). Parceiras da expansão dos ovinos, Sebrae (rede Aprisco), ADS, Federação da Agricultura, Senar e Prefeitura de Manaus estão de mãos dadas aos criadores, buscando a introdução de animais, técnicas modernas de criação, envolvendo ainda uma palavra mágica, em se tratando de floresta: a sustentabilidade. Ente os criadores filiados à Acocam, ainda são poucos os que registram animais. Horst Knak Mas a afluência às exposições tem sido boa. O presidente da Acocam comemorou o suediada no Parque de Exposições An- cesso da 1ª Exposicam, realizada em 2010. gelino Beviláqua, em Manaus, a Aco- “Já marcamos a 2ª Exposicam para agosto cam conta com 62 associados, muitos de 2011 e esperamos pelo menos 900 anideles criadores há vários anos, informa o pre- mais”, prospecta Camilo Morato Neto. sidente Camilo MoTambém inspetor rato Neto. O grande técnico da ARCO número de migrantes no estado, Camilo nordestinos, explica Morato Neto destaCamilo Morato, acaca que o ingresso de bou trazendo ovinos e empresários na aticaprinos para a região vidade também está Norte. “Nordestinos sendo impulso para não vivem sem cabras a melhoria genética e ovelhas e sua expedo rebanho. Em luriência permitiu um gar de rebanho sem Palestras e treinamentos da Acocam rápido crescimento raça definida, hoje se do rebanho, estimado expandem os ovinos hoje em 120 mil animais, num total de 400 Santa Inês, Dorper, White Dorper e Suffolk. criadores, notadamente na periferia da capi- Com seu clima característico quente e úmital”, resume o presidente da Acocam. do, a região da grande Manaus é o pólo da S Fotos: Divulgação 30,00, isto porque o produto vem de outros estados, especialmente do Sul. Em caráter de estimativa, a produção consegue atender pouco mais de 30% do consumo do Estado. Entretanto, é preciso sair da informalidade e criar um fluxo de abates. Por isso, a Acocam buscou financiamentos oficiais para a construção de um abatedouro de ovinos, que está sendo erguido no km 21 da BR 174, com capacidade para 40 animais/dia. É um projeto padrão do Ministério da AgriculCamilo Morato Neto, da Acocam tura, que será administrado pela Acocam. O criação, espalhada em centenas de sítios de abatedouro será a primeira unidade certifilazer. “Estamos atraindo este público muito cada com o Serviço de Inspeção Estadual, interessado para a Acocam”, explica Camilo. permitindo o beneficiamento do produto e Entretanto, como tudo que está na Ama- sua comercialização regular. zônia, as dificuldades e as distâncias são Outra forma de estimular a criação são enormes. Fazer o fomento técnico em muni- as linhas de crédito do Banco da Amazônia cípios que ficam até 28 dias de barco é pra- (Basa) e do Banco do Brasil, que destinou ticamente impossível, explica o técnico da um montante de R$ 4 milhões, via programa ARCO. Mesmo assim, Camilo Morato Neto de Desenvolvimento regional Sustentável crê que seja possível triplicar o rebanho nos (DRS), para o setor de ovinocaprinocultura próximos quatro anos. do Estado. “Os interessados no fundo deConsiderando as características agrárias vem fazer parte da associação de criadores e de clima da Região Amazônica, os espe- e procurar o banco já com um projeto elabocialistas recomendam 30 matrizes para um rado”, explica. reprodutor. Um dos diretores da Acocam, Um dos principais obstáculos para obter Adisson Batista, explica porém que faltam estes recursos, porém, é a falta de títulos das reprodutores com genética superior. “Se terras. Afinal, a região de floresta amazônica cada criador introduzisse um macho de boa é de propriedade da União e as terras não linhagem, a qualidade dos borregos teria podem ser comercializadas, sob pena de um salto qualitativo muito grande”, afirma. prisão. Já as terras na periferia de Manaus Segundo ele, no já são cultivadas mercado amazohá muitos anos, nense, um ovino porém muitos de ou caprino pode seus “proprievaler entre R$ 300 tários” não pose R$ 2 mil, depensuem os títulos. dendo da raça e do No âmbito da padrão zootécnico pesquisa, poudo animal. co existe ainda, Certamenalém de alguns te, um ponto de experimentos Integração de ovinos na floresta é viável apoio é a Copa com pastagens do Mundo, já que Manaus será sede de jo- adequadas para ovinos e caprinos. A Acogos da primeira fase do evento. “Podemos cam e o governo estadual encomendaram fornecer proteína animal de qualidade ao um levantamento sobre ovinocultura na público que virá da Europa e outros países Amazônia à Embrapa Amazônia Ocidendesenvolvidos, que pagam pelo diferencial”, tal, situada em Manaus. A Embrapa está observa o presidente da Acocam. A Agência diretamente envolvida num programa de de Desenvolvimento Sustentável do Amazo- recuperação de áreas de deflorestadas e nas (ADS), ligada ao governo estadual, está de pastagens degradadas na Amazônia, trabalhando para introduzir a carne ovina na com propostas para uso de ovinos numa merenda escolar. integração silvipastoril. Camilo Morato A produção de carne é insuficiente para o também aponta investimentos da Agroconsumo no Estado e seu preço varia de R$ pecuária Estância Brecha, que investiu 15,00 a R$ 20,00 o kg nos pequenos açou- aproximadamente R$ 1 milhão somente gues. Nas grandes redes de supermercado, o em pesquisas dentro dos criadouros do valor do kg da carne ovina fica acima de R$ Estado. • 15 abr-mai/11 Sanidade Edema Maligno: o segredo é o manejo e a vacinação O Edema Maligno ou Gangrena Gasosa, conhecido popularmente por Manqueira, ocorre por contaminação de ferimentos através de bactérias do gênero Clostridium, presente no meio ambiente. Esta doença sempre representou tema de preocupação para os criadores, pois esta age rapidamente no organismo do animal, ocasionando a perda de ovinos e um rombo no orçamento do pecuarista em poucas horas. “Quando o criador se dá conta, já perdeu um ou mais animais em pouco tempo”, alerta o médico veterinário e gerente técnico da Novartis, Octaviano Pereira Neto. Na hora da tosquia pode acontecer acidentes que deflagram o problema Casos são observados esporadicamente e os surtos acontecem basicamente quando há traumatismo do grupo de animais. Não há distinção de idade para a ocorrência de casos que se manifestam após a tosquia, castrações, corte da cola ou injeções com agulhas contaminadas e também após o parto, quando há ferimentos na vulva da ovelha. A doença é ainda mais incisiva quando é causada pela utilização de agulhas contaminadas sendo que a mortalidade é muito alta nas primeiras 48 horas. Sinais clínicos O veterinário explica que os sinais da doença são claramente visíveis, porque é percebida anorexia, depressão, febre e, dependendo da localização da lesão, severa claudicação (daí também chamar-se Manqueira). O local afetado aumenta de volume e pode apresentar pequenos estalidos e/ou edema. A história clínica permite associar a ocorrência de edema maligno com ferimentos recentes e na necropsia encontram-se as lesões características. A identificação do agente pode ser realizada por imunofluorescência ou isolamento e caracterização do mesmo. Controle e profilaxia Os animais afetados podem ser tratados com altas doses de penicilina ou antibióticos de amplo espectro, mas não é uma solução para o problema, “principalmente porque a ação da doença é bastante aguda e, por assim dizer, inesperada”, diz Neto. Por isso, orienta o veterinário, o melhor método para evitar o problema é ter muito cuidado no manejo dos ovinos e vaciná-los com produtos que contenham C. septicum, C. novyi, C. perfringens, C. Chauvoei e, se possível, C. sordelli. As vacinas clostridiais são, na sua grande maioria, polivalentes, contendo em sua composição múltiplos antígenos e são utilizados como estratégia frente a uma grande variedade de agentes e produtos tóxicos. Fotos: Divulgação Octaviano Pereira Neto Tais imunógenos devem ser administrados por via subcutânea, preferencialmente, em duas doses intervaladas de 4 a 6 semanas na primeira vez e reforço anual. Quando o rebanho é sistematicamente vacinado, os anticorpos colostrais protegem os animais por até três a quatro meses após o nascimento, devendo então a primeira dose da vacina ser ministrada após esse período. Pode parecer desnecessário recomendar, mas cada animal deve ser vacinado com uma agulha própria, sem repetir a aplicação utilizando o mesmo aparelho em outro animal e, após, descartar o material. • abr-mai/11 16
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