Pobreza e Patrimônio
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Pobreza e Patrimônio
Pobreza e Patrimônio A Comunidade do Planalto II Enrico Novara Érlia Esteves Benevides Achilles G. Coelho Júnior Paulo Frederico Bulos Prefácio de Vincenzo Petrone P O B R E Z A E PAT R I M Ô N I O A COMUNIDADE DO PLANALTO II P O B R E Z A E PAT R I M Ô N I O A COMUNIDADE DO PLANALTO II Enrico Novara Érlia Esteves Benevides Achilles Gonçalves Coelho Júnior Paulo Frederico Bulos POBREZA E PATRIMÔNIO – A COMUNIDADE DO PLANALTO II Enrico Novara Érlia Esteves Benevides Achilles Gonçalves Coelho Júnior Paulo Frederico Bulos Preparação de textos: Marco Antônio B. Matos (Edição em Português) Luisa Cogo (Edição em Italiano) Revisão: Viviane Lemos de Oliveira Belga Projeto gráfico e produção gráfica: Juliana Vaz e Derval Braga Júnior Impresso no Brasil ISBN: 85-89391-02-7 Copyright © – AVSI – 2003 Este material, ou parte dele, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor. P739 Pobreza e patrimônio: a comunidade do Planalto II / Enrico Novara ...[et al.] – Belo Horizonte: AVSI, 2003 174 p.; 16 x 23 cm. ISBN 85-89391-02-7 1.Pobreza – Brasil. 2.Bem-estar social – Brasil. I. Novara, Enrico. II. Associação Voluntários para o Serviço Internacional. CDD 339.460981 Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do Livro Editado com a colaboração de: Editora AVSI Rua Padre Marinho, 37 – 12° andar Santa Efigênia – Telefone: (31) 3241-2100 Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil Provincia Autonoma di Trento SUMÁRIO PREFÁCIO Vincenzo Petrone .............................................................. 07 PREFAZIONE Vincenzo Petrone .............................................................. 11 APRESENTAÇÃO .................................................................................. 15 CAPÍTULO 1 Pessoa e talentos: o ponto de partida nos programas de redução da pobreza urbana Enrico Novara, em colaboração com Giorgio Capitanio O impacto com a pobreza urbana .................................... Um percurso cognitivo: o encontro entre uma energia humana e uma presença .......................................... Pontos metodológicos: pessoa, partilha das necessidades e encontros humanos operativos .............................. Percurso operativo: reforçar o patrimônio .......................... Referências bibliográficas ................................................ CAPÍTULO 2 17 20 26 29 32 O Planalto II e o projeto de fortalecimento da comunidade Achilles G. Coelho Jr. Érlia E. Benevides Paulo F. Bulos A comunidade do Planalto II: aspectos históricos .............. Ações anteriores ao projeto .............................................. A situação inicial dos elementos do patrimônio da comunidade do Planalto II ...................................... Objetivos e resultados .................................................... Quadro Lógico ................................................................ Fluxograma de atividades ................................................ Situação da comunidade do Planalto II após a realização do projeto Objetivo específico 1 35 37 41 46 52 55 Melhoria das condições de vida da população do Planalto II .............................................................. 69 Resultado A: Fortalecimento da identidade da comunidade Resultado B: Recuperação escolar de adolescentes e alfabetização de adultos Resultado C: Geração de emprego e renda Resultado D: Aumento do acesso aos serviços de saúde básica e educação ambiental Objetivo específico 2 Fortalecimento da capacidade institucional do município .... 85 Resultado E: Sistematização e transmissão da experiência CAPÍTULO 3 Considerações finais Enrico Novara, em colaboração com Giorgio Capitanio Elementos que favoreceram o desenvolvimento do potencial da comunidade ...................................................... 89 COMPACT DISC (Anexos) ANEXO 1 Situação inicial da comunidade do Planalto II Érlia E. Benevides ANEXO 2 Descrição das atividades do projeto Achilles G.Coelho Jr. Paulo F. Bulos ANEXO 3 Situação pós-projeto da comunidade do Planalto II – Indicadores de resultado Achilles G.Coelho Jr. Paulo F. Bulos ANEXO 4 Mapas de Rede • 7 PREFÁCIO A experiência do projeto de fortalecimento da Comunidade do Planalto II - Ipatinga (MG) constitui, ao mesmo tempo, um retrato da vida cotidiana do nosso voluntariado e um chamado à reflexão para aqueles que se ocupam de desenvolvimento humano. Os autores desse belo livro de vida vivida demonstram que, de fato, não só é possível, mas também aconselhável, quando se devem estabelecer estratégias de desenvolvimento humano, partir da experiência em campo, do levantamento das necessidades, casa por casa, família por família, criança por criança, para entender quais são as políticas de desenvolvimento que são mais eficazes em uma dada realidade, também em termos de custo-benefício. Neste livro, como na experiência de vida que reflete, domina um princípio que pode parecer, mas não é óbvio: a vulnerabilidade das pessoas está diretamente ligada à desigualdade e para incidir sobre esta equação alguns serviços essenciais devem ser acessíveis às famílias, principalmente a assistência médica de base, a água potável e rede de esgoto, a escola. Coisas concretas que transformam a vida. Nesse ponto, a filosofia de desenvolvimento dos autores deste libro se distancia, de maneira acertada, da abordagem setorial que, infelizmente, ainda está em voga nas instituições internacionais e governamentais. Refiro-me em primeiro lugar a tantas Organizações Internacionais que pretendem ainda hoje perseguir uma abordagem fragmentada de desenvolvimento, separando em compartimentos estanques políticas sanitárias e políticas de nutrição, mercado do trabalho e formação, desnutrição e acesso às fontes de rendas. Dona Efigênia, uma esplêndida figura humana em carne e osso, com 75 anos, narrada pelos autores deste belo livro, é a personificação desta "reductio ad unum" das estratégias de desenvolvimento. De fato, a brilhante dona Efigênia narra a Enrico como ela enfrenta na vida de todos os dias e com desconcertante genialidade o problema das inundações no período das chuvas: "Bastava colocar uma passarela sobre o nível das águas e enfiar um outro pedaço de madeira nos 8 • POBREZA E PATRIMÔNIO batentes da porta, de modo que as águas ficavam impedidas de invadirem a casa". Em Veneza, recorda justamente Enrico Novara, não se faz nada de diferente no aspecto técnico. Mas, dona Efigênia explica também que, na realidade, o nível da água não constitui para ela um problema. Ao contrário, a água alta é parte da solução de uma outra e mais grave condição, típica da velhice, a solidão. Dona Efigênia, mesmo com a água alta, pode contar com seu filho e sua amiga que moram em duas casinhas vizinhas e cuidam dela. Se, como nossos voluntários propunham, fosse transferida para outro lugar teria encontrado uma casa mais seca, mas teria ficado terrivelmente sozinha. Agora, a pergunta que devemos nos colocar refletindo sobre este episódio é a seguinte: como esta esplêndida história de vida vivida se transforma em metodologias, em políticas de desenvolvimento? A resposta é difícil e deve necessariamente ser empírica, enquanto depende do contexto regional, da situação do país, do tecido social e, sobretudo, da inteligência e da humildade de quem deve formular e selecionar os programas de cooperação, aceitando o princípio de que, em matéria de desenvolvimento humano, tudo deve ser sempre rediscutido, reavaliado, adaptado às mudanças das circunstâncias. Tudo isto com um único e constante objetivo: a centralidade da pessoa, na sua individualidade e na sua expressão social mais imediata, a família, com as relações sociais e de solidariedade que surgem dela. Os países da América Latina, em particular o Brasil, depois de tanta imposição ideológica, são o terreno de experimentação mais promissor para estas políticas de desenvolvimento que partem da pessoa e se medem, pela eficácia delas, pelo benefício que trazem à pessoa, oferecendo a ela, antes de tudo, os serviços que reduzem suas vulnerabilidades. A bolsa escola é um dos instrumentos de intervenção "super partes" que surgem dessas experiências no território e que foram colocados como políticas de desenvolvimento humano também por homens muito diferentes dos autores deste livro. Entre eles, Cristovam Buarque, um ideólogo de esquerda e um dos fundadores do partido dos trabalhadores, o PT, hoje no poder no Brasil com o governo Lula. Um instrumento, a bolsa-escola, que mesmo uma organização de inspiração católica como a AVSI não hesita em explorar em todos os aspectos nos próprios programas de desenvolvimento humano. Lendo este livro, perguntamos-nos se não seria lógico e eficaz para os governos permitir que o voluntariado administrasse também programas como a bolsa escola que hoje, ao invés, no Brasil como em outros lugares, são realizados sobretudo por entidades públicas, com grande gasto de recursos para a própria gestão das estruturas burocráticas. PREFÁCIO • 9 O esforço de reflexão e explicitação metodológica, de que este livro é indicador, permite aos nossos voluntários adquirir um multiplicador de benefícios, transformando uma obra social particular em um momento de debate sobre as estratégias de desenvolvimento, ultrapassando assim o caso humano e a experiência pontual daqueles que recebem e daqueles que dão o melhor de si para o desenvolvimento e por amor aos outros. Vincenzo Petrone Embaixada da Itália no Brasil • 11 PREFAZIONE L' esperienza del progetto di rafforzamento della Comunità del Planalto II - Ipatinga (MG) costituisce allo stesso tempo uno spaccato di vita quotidiana del nostro volontariato ed un monito alla riflessione per quanti si occupano di sviluppo umano. Gli autori di questo bel libro di vita vissuta dimostrano infatti che non solo è possibile ma è anche consigliabile, quando si devono fissare delle strategie di sviluppo umano, partire dall'esperienza sul campo, dalla rilevazione dei bisogni casa per casa, famiglia per famiglia, bambino per bambino, per capire quali sono le politiche di sviluppo che in una data realtà sono più efficaci, anche in termini costo-beneficio. In questo libro, come nell'esperienza di vita che esso riflette, domina un principio che può apparire ovvio ma non lo è: la vulnerabilità delle persone è funzione diretta della disuguaglianza e per incidere su questa equazione alcuni servizi essenziali devono essere accessibili alle famigle, primi tra tutti l'assistenza medica di base, l'acqua potabile e le fogne, la scuola. Cose concrete, che cambiano la vita. In questo, la filosofia di sviluppo degli autori del libro si distanzia molto correttamente dall'approccio settoriale purtroppo ancora in voga nelle istituzioni internazionali ed in quelle governative. Mi riferisco in primo luogo ai tanti Organismi Internazionali che pretendono ancora oggi perseguire un approccio parcellizzato allo sviluppo, distinguendo in camere stagne, tra politiche sanitarie e politiche nutrizionali, tra mercato del lavoro e formazione, tra denutrizione e accesso alle fonti di reddito. Dona Efigenia, una splendida figura umana in carne ed ossa di 75 anni, raccontata dagli autori di questo bel libro, è la personificazione di questa "reductio ad unum" delle strategie dello sviluppo. La geniale Dona Efigenia racconta infatti ad Enrico come lei affronta, nella vita di tutti giorni e con disarmante genialità, il problema delle inondazioni stagionali: "Una passerella di 12 • POBREZA E PATRIMÔNIO legno sopra il livello delle acque ed un altro pezzo di legno sui battenti della porta, cosi da impedire all'acqua di invadere la casa". A Venezia, ci ricorda giustamente Enrico Novara, non si fa nulla di diverso sul piano tecnico. Ma Dona Efigenia spiega anche che il livello delle acque per Lei in realtà non costituisce un problema. Al contrario l'acqua alta è parte della soluzione di un'altra, più grave condizione, tipica della vecchiaia, la solitudine. Dona Efigenia infatti, pur con l'acqua alta può contare, in due casette vicine, su suo figlio e su una amica, che l'accudiscono. Se, come i nostri volontari proponevano, si fosse spostata altrove avrebbe avuto una casa più asciutta ma sarebbe rimasta terribilmente sola. Ora, la domanda che dobbiamo porci riflettendo su questo episodio, è la seguente: questa splendida storia di vita vissuta, como la si trasforma in metodologie, in politiche di sviluppo? La risposta è difficile e deve necessariamente essere empirica, in quanto dipende dal contesto regionale, dalla situazione del Paese, dal tessuto sociale e soprattutto, dall'intelligenza e dall'umiltà di chi deve formulare e scegliere i programmi di cooperazione, accettando il principio che in materia di sviluppo umano tutto deve essere sempre ridiscusso, rivalutato, adattato alle mutate circostanze. Con un unico, costante obbiettivo, la centralità della persona, nella sua individualità e nella sua espressione sociale più immediata ossia la famiglia, con le relazioni sociali e di solidarietà che da questa scaturiscono. I Paesi dell'America Latina, dopo tante forzature ideologiche, e in particolare il Brasile, sono il terreno di sperimentazione più promettente per queste politiche di sviluppo che partono dalla persona e si misurano, per la loro efficacia, sul beneficio che portano alla persona, offrendo ad essa prima di tutto, i servizi che ne riducono le vulnerabilità. La "bolsa escola" (borsa di studio scolastico) è uno degli strumenti di intervento "super partes" che scaturiscono da queste esperienze sul territorio e che sono stati posti in essere come politiche di sviluppo umano, anche da uomini molto diversi dagli autori di questo libro. Tra di essi, Cristovam Buarque, un ideologo di sinistra, uno dei fondatori del Partito dei Lavoratori, il P.T. oggi al potere in Brasile col Governo Lula. Uno strumento, la "bolsa escola", che anche una organizzazione di ispirazione cattolica come l'AVSI non esita a sfruttare a fondo nei propri programmi di sviluppo umano. Ci si domanda, leggendo questo libro, se non sarebbe logico ed efficace per i Governi, lasciare al volontariato amministrare anche programmi come la "bolsa escola" che invece oggi, in Brasile come altrove, vengono realizzati soprattutto da enti pubblici, con grande dispendio di risorse per la autoamministrazione delle strutture burocratiche. PREFAZIONE • 13 Lo sforzo di riflessione ed esplicitazione metologica, di cui questo libro è l'indicatore, permette ai nostri volontari di acquisire un moltiplicatore di benefici, trasformando una singola opera sociale in un momento del dibattito sulle strategie di sviluppo, cosi trascendendo il caso umano e la puntuale esperienza di coloro che ricevono e di coloro che danno il meglio di se per lo sviluppo e nell'amore degli altri. Vincenzo Petrone Ambasciatore d’Italia in Brasile • 15 APRESENTAÇÃO O Projeto de Fortalecimento da Comunidade do Planalto II – Ipatinga/MG nasceu de uma parceria entre a AVSI (Associação Voluntários para o Serviço Internacional), CDM (Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana) e PMI (Prefeitura Municipal de Ipatinga) com a intenção de tornar-se um projeto piloto, visando à reprodução da metodologia utilizada em outras áreas de baixa renda do município. O projeto apontava o objetivo de contribuir para a melhoria da condição de vida da população da área de baixa renda da comunidade do Planalto II em Ipatinga/MG, através de intervenções de desenvolvimento sócioeconômico voltadas para a redução do grau de pobreza e vulnerabilidade da comunidade; e através do fortalecimento da capacidade institucional do município apoiando o desenvolvimento de políticas e metodologias integradas para enfrentar a pobreza urbana. A AVSI e PMI contaram com a parceria do Ministero degli Affari Esteri do Governo da Itália e da Provincia Autonoma di Trento na concessão de recursos financeiros que possibilitassem o desenvolvimento do projeto. A presente publicação vem oferecer aos leitores uma visão sistematizada das atividades ocorridas no desenvolvimento do projeto procurando transmitir a metodologia aplicada nesta experiência de intervenção, explicitando todas as atividades realizadas, resgatando desde o contexto histórico até as ações da fase final. No Capítulo 1, apresentamos inicialmente um pouco da experiência sobre o tema da pobreza, que vem sendo adquirida no decorrer dos anos de trabalho da AVSI e CDM no Brasil. O processo de conhecimento sobre este tema possibilitou realizar um percurso metodológico e operativo para enfrentar tal realidade. No Capítulo 2, recuperamos o contexto histórico no qual surgiu a comunidade do Planalto II e os trabalhos anteriores entre AVSI, CDM e PMI que abordaram a planificação de intervenções para a recuperação de áreas informais urbanas e a definição de políticas que visavam diminuir a pobreza no município. A partir dos primeiros trabalhos e estudos, conhecemos a realidade inicial do bairro Planalto II e, a partir destes dados, formulamos os objetivos e resultados 16 • POBREZA E PATRIMÔNIO a serem alcançados na comunidade. Destacamos os principais aspectos metodológicos que estavam presentes em toda a elaboração e execução do projeto. Em seguida, apresentamos o Quadro Lógico do Projeto, que propõe uma visão geral dos objetivos e resultados pretendidos, e listamos as atividades realizadas, respeitando cronologicamente as fases de desenvolvimento. O Fluxograma de Atividades praticadas oferece uma visão sintética destas, relacionando-as com os resultados a que atendiam e com produtos originados em cada uma delas. Ainda nesta parte, apresentamos os dados referentes à situação da comunidade do Planalto II após as intervenções, ilustrando com alguns indicadores quantitativos as principais mudanças identificadas a partir das ações do projeto. Além disso, depoimentos de várias pessoas envolvidas no projeto, tanto técnicos quanto moradores da comunidade, contam como as ações repercutiram em suas vidas e na vida da comunidade, confirmando a concretização dos objetivos e resultados pretendidos. Finalmente, no Capítulo 3, discutimos as principais conclusões formuladas a partir da experiência deste presente projeto, integrando-o num horizonte de combate à situação de pobreza e explicitando, de forma concreta, possíveis e eficazes maneiras de intervir neste tema. O Anexo 1 traz uma situação detalhada da comunidade antes do início do projeto, a partir de pesquisas realizadas em conjunto com a PMI. No Anexo 2, descrevemos analiticamente as atividades realizadas, destacando o objetivo específico de cada uma delas e sua justificativa; pode-se ter uma visão mais detalhada, sendo possível seguir uma lógica temporal e estratégica. Incluímos também algumas observações e ilustrações que consideramos importantes para a compreensão do processo de intervenção como um todo. No Anexo 3 encontrase uma lista integral dos indicadores de objetivo, indicadores de resultado e indicadores de atividade, elaborada para uma avaliação da eficácia e eficiência das ações desenvolvidas pelo projeto. Finalmente, no Anexo 4, apresentamos a representação gráfica dos Mapas de Rede Social, inicial e final. O Projeto de Fortalecimento da Comunidade do Planalto II – Ipatinga/MG teve início no final do ano de 1999, encerrando suas atividades em dezembro de 2002. Teremos a oportunidade agora de verificar como foram desenvolvidos e atingidos os objetivos e resultados propostos inicialmente. Chamamos a atenção do leitor para estar atento não apenas às descrições de atividades técnicas, mas, sobretudo, à atitude metodológica que esteve presente em todas elas, propiciando que, através do projeto, as reais necessidades das pessoas da comunidade estivessem sendo enfrentadas com propostas de intervenções claras que levassem em consideração a integridade da pessoa humana. • 17 CAPÍTULO 1 Pessoa e talentos: o ponto de partida nos programas de redução da pobreza urbana Enrico Novara, em colaboração com Giorgio Capitanio “Não as casas de telhados bonitos, de muros bem feitos, não os canais nem as calçadas fazem as cidades, mas os homens capazes de desfrutarem da oportunidade”. Alceu (poeta grego, século VII A.C.) O Impacto com a pobreza urbana Alguns anos atrás, assim que cheguei no Brasil para coordenar junto com a Admistração Municipal de Belo Horizonte um programa de requalificação urbana de algumas áreas da cidade, defrontei-me com um fato que me ajudou a adentrar no complexo problema da pobreza urbana. Uma das primeiras ações previstas pelo Programa Alvorada1 foi o planejamento e a realização de procedimentos para a ampliação do sistema viário e O Programa Alvorada nasceu a partir de um acordo de cooperação entre o Ministério das Relações Exteriores do Governo Italiano e várias organizações públicas brasileiras, entre as quais, assumiram um papel fundamental o Governo de Minas, através da Secretaria do Trabalho e Ação Social, e a Prefeitura de Belo Horizonte. O objetivo principal do programa é a melhoria das condições de vida da população que mora nas favelas. 1 3 Durante as chuvas no verão (principalmente entre dezembro e janeiro) muitas áreas de favela ficam expostas a um risco forte de desabamento e de alagamento. No último ano foi registrado um saldo de mais de 40 vítimas de desmoronamentos em Belo Horizonte. 18 • POBREZA E PATRIMÔNIO integração dos serviços urbanos na favela Senhor dos Passos2. Esta favela representa um típico exemplo de assentamento informal da capital mineira. Espremida em uma área central da cidade, com uma topografia fortemente irregular, é fruto de um processo lento, mas contínuo, de ocupação dos declives de uma antiga pedreira da qual, inclusive, foi extraído material para a construção da cidade. Nesta situação, o alargamento de cada rua acabou sendo conquistado à base de muita “conversa” e de uma boa dose de “cafezinhos”. Para que as ruas fossem tomando forma, era necessário que os moradores afastassem a fachada de suas casas, ou seja, era preciso retirar uma parte da moradia. Assim, a criatividade foi utilizada na tentativa de encontrar uma solução que permitisse à casa manter sua funcionalidade, além de tornar claro o benefício coletivo e também o benefício direto para cada família. Uma área específica desta favela nos preocupava de modo particular. Eram cerca de 20 casas construídas em uma vala do terreno, que no período das chuvas eram frequentemente alagadas, já que não havia possibilidade de drenagem das águas3. Além disso, a baixa qualidade das habitações, a alta densidade territorial da zona, o estrangulamento e a precariedade do sistema viário, tudo isso indicava a necessidade de uma ação significativa no que diz respeito à reestruturação espacial. Assim, depois de várias discussões com os moradores, decidiu-se remover as casas e formular uma nova hipótese de distribuição e construção de novas moradias em um espaço urbano que permitisse melhor qualidade de vida. Deste grupo também fazia parte dona Efigênia, senhora de 75 anos que vivia há mais de 40 na área. Por causa da sua idade, havia participado não mais do que ocasionalmente dos encontros. Dirigi-me, portanto, à sua casa para lhe explicar e comunicar-lhe o que tinha sido decidido; tudo isso com o meu carregado sotaque italiano. Dona Efigênia, ao me receber pacatamente, foi logo me explicando que as inundações sazonais não eram, na verdade, um problema PESSOA E TALENTOS • 19 grave, porque já havia encontrado uma solução há tempo. Realmente, bastava colocar uma passarela sobre o nível das águas e um outro pedaço de madeira nos batentes da porta, de modo que as águas ficavam impedidas de invadirem a casa. Colocando, depois, alguns degrauzinhos, tornava-se possível subir da passarela até à casa. Explicou-me como havia “resolvido” o problema fazendo uso de um instrumento que chamava de “porta para água”. Uma solução como esta descrita por dona Efigênia eu já conhecia de um outro contexto. É usada em grande estilo e oportunamente pela Prefeitura de Veneza quando as águas da laguna invadem a cidade nos dias, assim chamados, de “água alta”. Mas dona Efigênia continua a sua explicação dizendo que aquilo que ela tinha construído durante anos era mais importante do que o problema objetivo que devia enfrentar sazonalmente. Realmente morava na habitação central de um núcleo de três casinhas muito próximas umas das outras e aparentemente erguidas em um único lote. Em uma delas morava o seu filho e, na outra, uma sua amiga querida. Dona Efigênia era a proprietária das casas, mas concedia aos dois moradores a possibilidade de ocupá-las porque, devido à sua idade, precisava do amparo do filho e da amiga, já que esta lhe ajudava a fazer “as compras para o lar” e aquele a socorria nos momentos difíceis; com isso, ela havia criado uma unidade “familiar” que não vivia, porém, sob o mesmo teto. Uma solução difícil de se reproduzir em um outro contexto, entretanto Dona Efigênia havia resolvido o problema para a solidão da sua velhice. Aquilo que para nós era uma situação crítica e que, por isso, merecia uma medida tão radical, para dona Efigênia era, ao contrário, um recurso, o principal recurso que com a sua criatividade e com o seu esforço havia construído ao longo da vida. A nossa ação, propícia para identificar corretamente as necessidades através de um processo de coleta de informações e de análise dos dados4, mesmo querendo melhorar as condições de vida e, portanto, reduzir a situação de pobreza, poderia romper irremediavelmente o recurso “família” que constituía, naquele momento, o principal “patrimônio” de Dona Efigênia. Este foi um primeiro exemplo de uma longa série de casos que, nestes 10 anos de trabalho, têm direcionado a opção metodológica da AVSI ao desenvolver vários programas de redução da pobreza nas áreas assim chamadas de “risco social”, possibilitando enfrentar problemas como o da infraestrutura, procura por vagas de trabalho e por soluções para a questão da educação infantil. Uma descrição detalhada dos instrumentos e dos métodos de gestão das informações se encontra ainda em UNCHS (Habitat). Putting the Urban Poor on the map: an informal settlement upgrading methodology supported by information technology. Nairoby: UNCHS, 2000. p.141-230. 4 20 • POBREZA E PATRIMÔNIO Um percurso cognitivo: o encontro entre uma energia humana e uma presença É evidente que uma observação global, apaixonada e insistente da realidade sobre a qual se está operando permite definir ações e medidas muito próximas desta mesma realidade, podemos dizer, da forma mais “realista” possível. Um dos mais jovens cientistas que recebeu o Prêmio Nobel de Medicina, Alexis Carrel, afirma no seu livro “Reflexões sobre a conduta da vida” que “Pouca observação e muito raciocínio conduzem ao erro. Muita observação e pouco raciocínio conduzem à verdade” (Carrel apud Giussani, 2000, p. 20). Com esta frase, Carrel nos oferece uma síntese potente do método científico. Mas, também no caso dos programas de desenvolvimento humano, a forma para interferir na realidade depende do método com o qual se conhece esta realidade e da maneira como ela é descrita. Carrel parece realmente nos dizer que somente uma paixão pela realidade concreta, com as formas com que ela se apresenta aos nossos olhos, permite vencer uma leitura dos fatos influenciada por um juízo anterior e superar, na ação, as divisões ideológicas. Só assim o método é definido pelo objeto e não imaginado, de maneira abstrata, pelo sujeito que realiza a ação5. Descrever corretamente o problema da pobreza, isto é, tratar da maneira mais adequada possível a realidade, representa, portanto, o passo decisivo para definir os conteúdos dos programas e os mais apropriados instrumentos para nortear a ação. Nestes últimos anos, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do Ministério do Planejamento, dedicou particular atenção ao estudo e ao dimensionamento da pobreza no Brasil. A pobreza é enfrentada na sua dimensão de renda insuficiente: “Existe pobreza somente na medida em que existem famílias que vivem com uma renda familiar per capita inferior ao nível mínimo para satisfazer as próprias necessidades elementares (Barros et al, 2000, p. 22-23)” 6. Portanto, segundo esta primeira afirmação, o pobre é aquele que possui uma renda tal que não lhe permite adquirir uma quantidade de bens suficiente para satisfazer as suas necessidades primárias. É a definição clássica e bem 5 Uma atenta descrição do processo cognitivo no âmbito dos programas de redução da pobreza se pode encontrar em SOLYMOS, G.M.B. “Vencendo a desnutrição: abordagem psicológica” Ed. Salus Paulista – São Paulo 2002 p. 17-25. O texto faz parte da coleção “Vencendo a desnutrição”, de Gisela M.B. Solymos e de A. L. Sawaya, publicado com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Economico e Social (BNDES) com o objetivo de divulgar os instrumentos úteis para uma política pública de redução da desnutrição. Os textos daquela coleção são publicados no site www.desnutricao.com.br 6 O texto apresenta um percurso completo dos estudos de natureza econômica dos últimos anos sobre o fenômeno da pobreza no Brasil e de análise das principais tentativas de redução do fenômeno através das políticas e de programas públicos. PESSOA E TALENTOS • 21 conhecida da “poverty line”, que acaba exigindo que se faça um cálculo de valores diferentes de “pobreza” em função do contexto econômico regional e, assim, um cálculo de valores diferentes de aquisição de bens alimentícios e de primeira necessidade. Sem entrar no mérito desta modalidade de cálculo, aceitase, de modo geral, o valor médio e significativo de 1 U$ ao dia per capita. A definição de “linha de indigência” depende de uma variação de cálculo de renda que impõe uma meta de pura sobrevivência. Os números sobre a pobreza no Brasil neste início de novo século são bem conhecidos: 1/3 da população vive abaixo da linha de pobreza, sendo que um pouco menos da metade, em condições de miseráveis7. Mas a linha de pobreza não descreve de maneira a exaurir a real dimensão econômica do problema. O tamanho da pobreza é diretamente proporcional ao número de pessoas que vivem em famílias para as quais a renda per capita encontra-se abaixo da linha de pobreza e à distância da renda per capita de qualquer família pobre em relação à linha de pobreza (Barros et al, 2000, p. 23). Define-se, assim, o “hiato de pobreza”, isto é, o valor econômico que aquela família deve receber para elevar a sua renda acima da linha de pobreza. É possível, deste modo, calcular o débito social do país. Além disso, em um contexto de grande magnitude do fenômeno, quanto maior é a renda média, ou seja, quanto maior é a distância entre tal valor e a linha de pobreza, pior é a distribuição de renda. Feitas as contas, usando o coeficiente de Gini ou a razão entre a renda do quintil mais rico da população e o quintil mais pobre, o Brasil acaba sendo um dos países que pior distribui a própria renda. Não se caracteriza, portanto, como um país pobre, mas como um país com muitos pobres. A definição de pobreza através dos poucos indicadores econômicos, rapidamente apresentada, permite identificar e localizar facilmente o grupo vulnerável, mas não consente descrever as causas e características do fenômeno, a não ser aquela que diz respeito à falta de uma renda adequada. Como consequência disso, as políticas de redistribuição de renda, diretas e necessárias, propõem resultados mais ligados ao âmbito da emergência do que à tentativa de favorecer o desenvolvimento da pessoa e da comunidade. Para se evitar que os beneficiários dos programas de renda mínima retornem à sua condição de pobreza anterior, são necessárias a arti“Os resultados revelam que, em 1999, cerca de 14% da população brasileira vivia em famílias com a renda inferior à linha de indigência e 34%, em famílias com renda inferior à linha de pobreza. Deste modo, cerca de 22 milhões de brasileiros podem ser classificados como indigentes e 53 milhões como pobres.” (Barros et al, 2000, p. 23). 7 22 • POBREZA E PATRIMÔNIO culação e a integração de outras ações sociais que tenham como objetivo a conquista da autonomia (Lavinas, 2002, p. 14). As políticas de redistribuição não podem nem devem ficar à margem das políticas sociais, mas devem, evidentemente, ser integradas com a real possibilidade de crescimento da pessoa. A renda mínima, para se tornar poderoso instrumento de combate à pobreza e à desigualdade, deveria estar associada a outras políticas sociais. Uma família pobre que tenha uma renda mínima, mas que more em um bairro sem saneamento básico, que tenha filhos sem acesso ao ensino fundamental, não tenha saúde adequada, não participe de forma efetiva na esfera da política e que esteja submetida à arbitrariedade das ações policiais continua em um processo de pobreza, desigualdade social e até mesmo exclusão (Aguiar e Araújo, 2002, p. 32). Uma segunda forma conhecida de interpretar a realidade da pobreza é aquela que tenta definir a “qualidade de vida” ou de “bem-estar” da população ampliando o leque dos fatores que contribuem para determinar aquelas situações, indo além do fator econômico. Portanto, outras dimensões elementares, tais como a saúde, educação, emprego ou outras mais complexas, como segurança e cultura, podem definir uma melhor ou pior qualidade de vida. Nos últimos anos foram elaborados vários indicadores de “bem-estar”. Entre os mais usados citamos dois: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), colocado justamente nos últimos dez anos pela United Nations Development Programme (UNDP) e divulgado a nível mundial para permitir uma comparação entre as nações, e o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) que, embora tendo que ser adaptado à situação local, foi elaborado em várias capitais do Brasil. Ambos são representados por um indicador misto. O primeiro é composto de três variáveis: a longevidade, o nível de instrução e o nível econômico de vida, medidos respectivamente pela esperança de vida ao nascer, pelo percentual de analfabetismo da população em idade adulta, da taxa de escolaridade e, enfim, da renda média per capita. O indicador final, que varia entre 0 (ausência de desenvolvimento) e 1 (desenvolvimento completo), pode classificar o grupo populacional que é o objeto do estudo nas diferentes categorias de desenvolvimento (alto, médio e baixo). Mesmo segundo esta análise, o Brasil se mantém como um país desequilibrado. De fato, é a única potência econômica inserida no consistente grupo de nações com desenvolvimento médio8. Um exemplo de aplicação do IDH nas políticas de redução da pobreza no Brasil é a concentração de programas setoriais da “Comunidade Solidária” direto em 8 Em 2001 o Brasil estava classificado no 69º lugar. PESSOA E TALENTOS • 23 grupos homogêneos (redução do analfabetismo, Bolsa-Escola, redução da mortalidade infantil, incentivo à formação profissional) nos estados com IDH inferior à média nacional, isto é, nos 14 estados brasileiros considerados de baixo desenvolvimento humano (valor do IDH inferior a 0,5). O Índice de Vulnerabilidade Social (IVS)9 nasce da combinação de mais de 20 variáveis que tendem a medir um leque mais amplo de dimensões: ambiental, cultural, econômica, jurídica e de segurança. Também nestes casos, o índice serve para definir os grupos majoritariamente vulneráveis em um determinado território e serve igualmente para garantir a concentração de programas locais e nacionais como no caso do Programa BH-Cidadania, em Belo Horizonte.10 Assim, embora, sejam diversas as formas de identificar os níveis aceitáveis de qualidade de vida, quase sempre se define o pobre como alguém que não possui acesso estável a uma série de serviços que uma comunidade produziu em um determinado contexto regional. Portanto, o pobre é aquele que está excluído da possibilidade de usufruir das conquistas e dos progressos sócio-econômicos que a sociedade acumulou à medida que foi se articulando. O pobre, dessa forma, vive em uma situação instável, de extrema vulnerabilidade, no contexto social. Vulnerabilidade é, de fato, um conceito mais amplo que a simples carência ou necessidade; significa viver sem defesas, em uma situação de insegurança, exposto a riscos, ao desconforto e à tensão. Certamente, esta segunda abordagem do tema reconhece um ponto de partida objetivo: a pobreza é um fenômeno multidimensional e dinâmico, e introduz, por isso, um assunto muito mais amplo: aquele dos serviços de utilidade pública.11 Questões como: qual a natureza do serviço no profit de utilidade pública? Como melhorar a sua qualidade e eficiência? Como avaliá-lo?12 Quais devem ser os relacionamentos entre política pública e a ação dos serviços privados no profit? Estas questões, mesmo que fascinantes e importantes, acabariam, porém, por nos levar para longe do tema que propomos enfrentar.13 Mas vale a pena lembrar pelo menos dois elementos de interesse para a nossa discussão: ¬ para definir a qualidade é necessário definir de maneira inequívoca o padrão aceitável de um serviço, de modo tal que as iniciativas comunitárias da 9 Para uma apresentação das modalidades de cálculo do Índice de Vulnerabilidade Social elaborado pela Prefeitura de Belo Horizonte em Colaboração com a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais ver: PBH: Planejar BH, Mapa de Exclusão Social. Belo Horizonte, n. 8, ago/2000. 10 Uma apresentação do programa se encontra em FERREIRA & AMARAL, 2001. 11 Entendemos por “serviços de utilidade pública” o conjunto dos serviços ofertados à pessoa seja no setor público como no setor no profit. 12 Para os interessados, ver a propósito deste tema em GORI & VITTADINI, 1999. 13 Está em vigor uma lei nacional de grande importância para a classificação e operosidade das OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. 24 • POBREZA E PATRIMÔNIO sociedade civil possam medir a qualidade do próprio serviço e melhorar a prestação do mesmo; ¬ uma forma concreta de garantir o acesso aos serviços é aquela de financiar e promover serviços de utilidade pública voltados à população mais vulnerável ou de criar também as condições econômicas, para que os mais pobres possam efetivamente ter acessibilidade aos serviços existentes. O Programa Bolsa-Escola, por exemplo, associa elementos de redistribuição de renda à garantia de acesso aos serviços. A Bolsa Escola é superior aos programas de renda mínima porque integra de forma estratégica a complementação de renda ao acesso universal à educação, bem como combate a evasão escolar. Os beneficiários são crianças de famílias muito pobres, que, sem a bolsa mensal, evadiriam do sistema escolar, mantendo a mesma baixa escolaridade dos pais e, consequentemente, no futuro, ingressariam no mercado de trabalho, na melhor das hipóteses, nas mesmas condições da maioria de suas famílias. A lógica é elevar o grau de escolaridade das crianças para aumentar e mesmo equilibrar as oportunidades. A Bolsa -Escola consiste em repassar um recurso mensal para as famílias excluídas desde que todos os filhos em idade escolar frequentem pelo menos 90% dos dias letivos (Aguiar e Araújo, 2002, p. 34-35). Ao contrário, em um outro programa chamado “Apoio à Distância”, a AVSI coloca, através de depósito de uma cota mensal, uma família em contato com uma criança ou adolescente que vive em situação de risco social para garantir o seu percurso educativo. O resultado das 4.000 adesões, no Brasil, é destinado trimestralmente a 30 centros educativos no profit que atendem em várias cidades brasileiras as crianças que recebem este sustento. Os fundos são transformados em benefícios diretos no âmbito da educação. Escolhe-se, deste modo, reforçar os serviços de utilidade pública, os quais são dirigidos unicamente à comunidade vulnerável. Em ambos os casos, vê-se como o problema da qualidade dos serviços, mais do que o acesso a eles, torna-se um elemento indispensável para reduzir efetivamente as condições de vulnerabilidade das pessoas: este é um elemento que merece particular atenção para não aumentar ainda mais a desigualdade existente. Até agora nos limitamos a examinar, de fora, a situação de vida dos mais pobres procurando identificar as dimensões das causas do fenômeno. Contudo o exemplo de dona Efigênia (mencionado no início desta apresentação) pode nos ajudar a aumentar a nossa percepção da situação de pobreza. A seu modo, dona PESSOA E TALENTOS • 25 Efigênia organizou, sozinha e com poucos recursos, uma resposta às próprias necessidades. Da maneira como podia, ela colocou à disposição o conjunto de “bens” que possuía para melhorar a sua condição de vida. Vale notar que boa parte destes recursos não são diretamente classificados dentro de uma avaliação monetária: por exemplo, o núcleo familiar e os relacionamentos com amigos e com a vizinhança foram elementos buscados como forma de responder ao problema; podemos dizer que dona Efigênia jogou inteligentemente com os talentos que havia. Não pôde desenvolver melhor esta sua capacidade e responsabilidade diante da realidade porque as circunstâncias assim não o propiciaram. Portanto, o pobre é aquela pessoa que não tem possibilidade de desenvolver os talentos que recebeu, isto é, não possui o acesso às reais oportunidades que lhe permitiriam desenvolver todas as próprias potencialidades. Pode-se, assim, ser dignamente pobre, como no caso de dona Efigênia, e jogar com todas as possibilidades humanas que se tem para tentar responder à realidade. Podemos, então, colocar-nos uma pergunta: quais os recursos que a comunidade e as pessoas pobres podem colocar em campo para enfrentar a própria situação de objetiva vulnerabilidade, de objetiva necessidade, de objetiva ausência de bens e serviços? Para responder a esta pergunta devemos nos adentrar a um outro método de conhecimento e de ação que não seja somente o estudo analítico do fenômeno: a partilha das necessidades. A partilha (que é um “condividir”) não elimina a análise, mas implica um metódo mais adequado por se aproximar da pessoa e por procurar conhecer as suas reais necessidades e potencialidades. Condividir quer dizer acompanhar a pessoa, o seu nível de problemática e não olhar de fora. Condividir com a pessoa não quer dizer viver a condição dela, recriar em nós a sua condição de vida, mas sim ser uma companhia que permite assumir e penetrar em sua situação (GIACOMINI et al., 2002, p. 20). A partilha, isto é, o “colocar-se junto para...”, elimina o perigo da “invisibilidade”. O fenômeno do velamento vale também para o conjunto da sociedade ou para determinados grupos. É como se dissessem: o problema existe, mas não me perturba, não move a minha humanidade; pode, portanto, ser reduzido, pode tornar-se “invisível”, mesmo se o analiso em todos os seus fatores. De fato, se o objeto não entrar na esfera da minha consciência é como se não existisse. A vida concreta, as necessidades, as angústias, os desejos, as tentativas das pessoas que vivem em situação de pobreza, para tornarem-se fatos concretos, elementos de conhecimento e de ação, devem encontrar-se com a energia humana das pessoas e das consciências. O exemplo várias vezes citado coloca em evidência um ponto de partida estratégico em uma ação de redução da pobreza: favorecer as condições que 26 • POBREZA E PATRIMÔNIO podem “colocar em movimento” as potencialidades da pessoa nas suas dimensões individuais e sociais; em outras palavras, “colocar em campo” aqueles fatores que permitem às pessoas um real desenvolvimento. É necessário, pois, uma atenção para conhecer, valorizar, reforçar e orientar corretamente aquilo que a pessoa construiu. Pontos metodológicos: pessoa, partilha das necessidades e encontros humanos operativos Considerando todas essas razões expostas até agora, chamo a atenção para alguns pontos metodológicos14 que caracterizam as nossas ações no âmbito da redução da pobreza e que definiram, portanto, o trabalho em Ipatinga. Em primeiro lugar, acaba por óbvio dizer que a pessoa é o centro de cada ação. Então, a sua dignidade e o seu desenvolvimento humano são a finalidade última de cada tipo de intervenção. O desenvolvimento humano de um povo não deriva primeiramente nem do dinheiro, nem da ajuda material, nem das estruturas técnicas, e sim, do amadurecimento da mentalidade e dos costumes. É o homem o protagonista do desenvolvimento, não o dinheiro ou a técnica (João Paulo II, 1990). É a pessoa, de fato, o motor do desenvolvimento, o fator indispensável de todo desenvolvimento possível: a pessoa com as suas necessidades, que frequentemente se apresentam de maneira parcial e imediata, mas também mostrando toda a sua potencialidade, os seus desejos mais profundos, as suas tentativas de resposta e os seus dramas já vividos. Cada pessoa, cada comunidade, por mais carente que seja, representa uma riqueza e demonstra um grande valor. Para ajudar a desenvolver os próprios talentos e a mover a responsabilidade pessoal é necessário valorizar e reforçar aquilo que as pessoas já construíram, a própria história, as relações existentes, isto é, reafirmar aquele tecido social e aquele conjunto de experiências que constitui o seu patrimônio de vida. É um ponto operativo fundamental que nasce de uma abordagem positiva da realidade e que ajuda a pessoa a entender o seu próprio valor, a sua dignidade e, desse modo, a desenvolver uma responsabilidade. 14 Uma descrição mais detalhada dos elementos de método da ação da AVSI referentes às medidas de redução da pobreza urbana pode ser encontrada in “Plano de Desenvolvimento Social e Ambiental do Programa Ribeira Azul”. que constitue o documento programático do Plano de Redução da Pobreza Urbana na área de Ribeira Azul, em Salvador (BA), financiado pelo Banco Mundial, pelo Governo da Bahia e pelo Ministério das Relações Exteriores do Governo Italiano. Pode-se consultar também Gatti, M.T.: The Role of Non-Governmental Organizations. In: Maffenini, W. Partnership experiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 83. PESSOA E TALENTOS • 27 Um outro importante momento para o Brasil em preparação à Habitat II foi o Encontro Internacional do Recife sobre a Pobreza Urbana, em março de 1996. As declarações finais rezam assim: Cada um de nós quer ser considerado pelo que é, pelo que tem e pelo que pode fazer, e não pelo que lhe falta. O ponto de partida, tanto para a formulação de políticas como para as intervenções, deve ser o respeito pelas opiniões e pelas ações dos pobres, por suas iniciativas e sua organização, reconhecendo o valor dos espaços urbanos produzidos informalmente e das atividades econômicas informais, que geram renda e ao mesmo tempo atendem a necessidades básicas, tais como habitação, abastecimento de água, etc (Declaração do Recife, 1996). Esta percepção da realidade não exclui obviamente os problemas de uma comunidade, as suas necessidades expressas ou latentes, não fecha os olhos diante das condições humanas e sociais, a que acabaria por levar a uma ingenuidade que não consideraria as vulnerabilidades presentes. Ela impõe, ao contrário, uma aproximação afetiva que permite não parar na necessidade parcial, mas que, partindo desta, pode chegar a uma leitura em função da totalidade do ser humano. Quando é colocada em jogo a responsabilidade das pessoas, dá-se a descoberta do significado do próprio ser. Toda necessidade, mesmo quando tão somente material ou limitada, remete sempre a um desejo que a supera. Através do método da partilha este desejo pode ser escutado e dilatado para outras direções, garantindo um crescimento individual e social. Acolher a tentativa de resposta colocada em ato representa a primeira maneira de ampliar a responsabilidade da pessoa. É dentro de tal experiência de partilha que pessoa e comunidade vivem um processo educativo da própria responsabilidade, o que as tornam capazes de ter acesso real às oportunidades de desenvolvimento que a realidade propõe. Isto por terem sido despertados o desejo e a vontade de chegar até elas, identificando com inteligência aquilo que na situação de cada um já se põe como fator e instrumento de ajuda; e valorizando as políticas e os instrumentos que a mais ampla comunidade pode colocar em campo para acompanhar e ampliar as próprias possibilidades de ação. Uma saída operativa para o desenvolvimento da responsabilidade pessoal é a formação de agremiações espontâneas e organizações. Não existe comunidade na qual não se encontrem grupos mais ou menos constituídos dentro da própria comunidade ou fora dela que prestam serviços de várias naturezas às pessoas e às famílias. Estes também representam um recurso importante para o desenvolvimento da sociedade; eles nascem, de fato, da livre agregação de pessoas e de famílias. Agir em favor do desenvolvimento social significa também favorecer as capacidades de associação das pessoas e grupos, ou seja, reconhecer, valorizar e estimular o constituição de comunidades intermediárias e de um tecido social ricos de participação e de co-responsabilidade. O direito de toda 28 • POBREZA E PATRIMÔNIO pessoa à liberdade de associação e de empreendimento, até mesmo o econômico, revela-se, na experiência, uma força potente de mudança. A subsidiariedade, que tem suas raízes no pensamento de Aristóteles e de São Tomás, construída inclusive pelo Tratado de Maastricht, da União Européia, é muitas vezes retomada pela Doutrina Social da Igreja Católica: É injusto remeter a uma maior e mais alta sociedade aquilo que as menores e inferiores comunidades podem fazer... Disso poderia advir um grave dano e um desvirtuamento da reta ordem da sociedade... Pois o objeto natural de qualquer intervenção da sociedade é aquele de ajudar de maneira suplementar as assembléias do corpo social e não destruí-las ou suplantá-las (Papa Pio XI, 1931). Sobre este aspecto se funda a terceira passagem metodológica do nosso agir em favor do desenvolvimento e, assim, da melhoria das condições de vida que podem aliviar as situações de pobreza que atormentam uma boa porção da população urbana no Brasil. O êxito do desenvolvimento associativo de reforço das “comunidades intermediárias” é o surgimento de sujeitos conscientes e autônomos. Nos programas de desenvolvimento é fundamental realizar uma parceria entre tais sujeitos e as entidades envolvidas, colocando em movimento sinergias e significativas quantidades de recursos. Trata-se de partir de um sujeito existente, que envolve nas ações as administrações locais, as forças sociais, as instituições internacionais, numa ação comum, segundo respectivas funções, para responder às necessidades. É daqui que surge o conceito de parceria: cada ator (comunidade, sociedade civil, empresas, organismos internacionais, poder público) desenvolve seu próprio papel para um bem comum. Existe uma diversidade nos papéis, na definição das ações, na sua execução e no processo de avaliação dos resultados alcançados, mas não existe uma separação entre o “pensar” e o “fazer”. Uma relação estreita entre os parceiros faz com que cada um coloque todas as suas potencialidades em termos de experiências e conhecimentos: uma parceira forte traz benefícios ao programa em termos de eficiência e sustentabilidade. Portanto, o esforço que deve ser feito para pensar a realização de programas de desenvolvimento é aquele de envolver as políticas públicas e sensibilizar as administrações, as instituições e governos a colaborarem com os serviços que são ofertados pelas associações espontâneas, oferecendo a elas, quando possível, apoio e subsídios, respeitando a livre vocação de cada comunidade intermediária. Do mesmo modo que a participação é algo implícito ao projeto de desenvolvimento, a parceria é parte constitutiva da definição e realização das políticas, considerando os papéis e as capacidades de cada ator; ela não vem “depois”. A parceria consiste em colocar as decisões e, por isso em definir as políticas (e não PESSOA E TALENTOS • 29 somente realizá-las) naquele nível da sociedade, naquele patamar da agregação social que tem capacidade para construir e realizar formas de respostas aos problemas. É lícito, então, que as políticas se submetam à experiência, é licito que os responsáveis pela elaboração das políticas públicas se submetam àquele nível de agregação social capaz de fornecer respostas em forma de experiências. Percurso operativo: reforçar o patrimônio A respeito do estudo comparativo realizado pelo Banco Mundial sobre a modalidade com a qual quatro comunidades pobres, em quatro diferentes continentes, reagiram à crise econômica dos anos 80, a socióloga Caroline Moser (1996) conclui que, na análise de uma comunidade é importante identificar não somente as ameaças, mas também aquelas capacidades de adaptação, de aproveitamento das oportunidades e de resistência aos efeitos negativos das mudanças do ambiente externo. Os meios para resistir são os recursos que os indivíduos, as famílias e as comunidades podem colocar em campo para enfrentarem as necessidades. Portanto, a vulnerabilidade é estritamente vinculada à posse de recursos. Quanto maior são os bens menor é a vulnerabilidade e quanto maior é a corrosão deles, tanto maior é a insegurança (p. 2). Se estendermos a observação de Caroline Moser não somente com base nos bens materiais15, mas também se considerarmos o homem na sua incansável busca de significado, que o torna capaz de colocar em ação todas as potencialidades e talentos que possui, as considerações finais não mudam, aliás, assumem uma configuração ainda mais completa. Se considerarmos como “patrimônio” o conjunto de recursos palpáveis e não palpáveis que as pessoas possuem pode-se concluir que: P = f (1/V) (1) O patrimônio (P) é inversamente proporcional à situação de vulnerabilidade (V) das comunidades pobres. Assim, para reduzir a vulnerabilidade é necessário reforçar os recursos dos quais a comunidade pode dispor para enfrentar as situações críticas. Podemos até mesmo afirmar que um programa de redução da pobreza deve, como objetivo principal, contribuir para aumentar o 15 Sobre o conceito de “recursos” ver também: NERI. In: HENRIQUES, 2000. p. 509-517. 30 • POBREZA E PATRIMÔNIO patrimônio da comunidade. Mesmo uma ação setorial, pensada e desenhada para reduzir ou eliminar uma situação específica de risco, pode contribuir para a melhoria do patrimônio. O objetivo de uma ação para reduzir a pobreza pode ser sintetizado na seguinte formulação: ∆P = Po x I (2) ∆P) é dada pela real incidência da ação de A variação do patrimônio (∆ projeto (I), qualquer que seja, sobre o patrimônio inicial (Po) daquela determinada comunidade. Uma ação positiva em si pode, de verdade, não produzir o impacto esperado. Somente quando a pessoa está capacitada para colher a oportunidade, isto é, quando o agir incide sobre o patrimônio inicial colocandoo em movimento de maneira estável, é possível criar condições para reduzir a vulnerabilidade dentro das famílias e das comunidades. Um curso de formação profissional que não considere o impacto que o contexto sócio-econômico e familiar gera nos jovens e nas suas identidades não forma alunos para enfrentarem efetivamente o mundo do trabalho; é necessário investir na formação humana destes estudantes e recuperar primeiramente os elementos que ajudam a recolocar o significado do trabalho para a vida deles. De modo geral, a ação deve levar em consideração os recursos existentes (e deve ser, portanto, adequada na sua formulação metodológica e nos seus prazos de realização) para garantir um real incremento do patrimônio na comunidade. Um sujeito externo (público, privado ou da sociedade civil) que queira contribuir com o desenvolvimento da comunidade através de uma ação de qualquer natureza (seja esta de melhoria urbana, de construção da rede de energia elétrica, de fomento da produção de renda) não pode “substituir” a comunidade beneficiada, mas deve desenvolver ações de suporte. A busca dos “fatores positivos”, dos “multiplicadores de desenvolvimento”, dos sujeitos intermediários eficazes que podem representar um valor agregado à ação específica, deve ser objeto da nossa preocupação desde o momento inicial do projeto. A integração das ações é, então, uma necessidade do projeto, visto que a pessoa vive a pobreza como dimensão unitária e não fragmentada em uma série de necessidades independentes entre elas. A pobreza urbana apresenta um paradoxo para os fins de avaliação e de definição de políticas. Para os pobres, ela é um todo indivisível, uma realidade cotidiana, enquanto por parte das instituições encarregadas de erradicá-la, a pobreza é vista como um problema a ser enfrentado através de uma série de programas, geralmente fragmentados, mal coordenados, e parcialmente eficazes no melhor dos casos. Sem dúvida alguma, a distância é grande entre a unidade da pobreza, tal como é vivenciada pelos pobres, e a diversidade das respostas propostas pelas instituições (Declaração do Recife, 1996). PESSOA E TALENTOS • 31 Um projeto de redução da pobreza16 deve, pois, investir naquelas ações que aumentam o patrimônio seguindo etapas claras: ¬ incrementar o patrimônio dos grupos mais vulneráveis; ¬ promover fatores que tendem a equilibrar o patrimônio; ¬ garantir a sustentabilidade dos benefícios conquistados com a ação do projeto. O projeto de reforço da comunidade do Planalto II, nasceu desta premissa. O bairro constituiu-se a partir da transferência de cerca de 600 famílias da área central, espaço que a comunidade havia ocupado no processo de construção da cidade de Ipatinga, em Minas Gerais. Na operação de transferência, a prefeitura teve o cuidado de manter unidas as famílias criando um novo bairro não muito longe da área central. Da preocupação de não terminar o projeto com a construção das casas, mas transformá-lo em uma rede real de oportunidade de desenvolvimento da comunidade, nasceu o encontro entre a Prefeitura de Ipatinga, a Comunidade do Bairro Planalto II e a AVSI. O objetivo desta parceria foi garantir reais condições de desenvolvimento através das ações de consolidação e de reforço das comunidades previstos logo depois da relocalização das famílias.17 16 Os passos operativos de um programa de redução de pobreza são apresentados em: GATTI & NOVARA. In: MAFFENINI, 2003, p. 14. 17 As principais ações de recolocação das famílias previstas no projeto foram apresentadas em SILVA, J. I. Rosas Guia de Reassentamento Involuntário de População Urbana de Interesse Social. Programa Soma, Belo Horizonte 1999. No documento são apresentadas também as diretrizes gerais do programa de relocalização da comunidade. 32 • POBREZA E PATRIMÔNIO Referências Bibliográficas AGUIAR, M.& Araújo C.H. Bolsa escola: educação para enfrentar a pobreza. Brasília: Unesco, 2002. p. 32. BARROS, R. Paes de et al. A estabilidade inaceitável: desigualdade e pobreza no Brasil. In: HENRIQUES, R. Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2000. p 22-37. FERREIRA, AL.; VELOSO, C & AMARAL T. do. BH Cidadania: o percurso da política social. In: Pensar BH – Política Social, Belo Horizonte, 2001. GATTI, M.T. The Role of Non-Governmental Organizations. In: MAFFENINI, W. Partnership experiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 83. _______ & NOVARA, E. The Real City. Methods and actions implemented by AVSI to upgrade informal urban áreas. In: MAFFENINI, W. Partnership experiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 14. GIACOMINI, M.R.; HAYASHI; M.& PINHEIRO, S. A. O trabalho social em favela: o método da condivisão. In: SOLYMOS, G. M. B. Coleção Vencendo a Desnutrição: abordagem psicológica. São Paulo: Salus Paulista, 2002. p. 20. GORI, E.& VITTADINI G. Qualità e valutazione nei servizi di pubblica utilità. Milano: Etas, 1999. GIUSSANI, L. O senso religioso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. LAVINAS, L. Programa de garantia de renda mínima e ação coordenada de combate à pobreza. In: AGUIAR, M. & ARAÚJO, C.H. Bolsa Escola: educação para enfrentar a pobreza. Brasilia: Unesco, 2002. MOSER, Caroline O. N. Situaciones criticas: reacción de las familias de cuatro comunidades urbanas pobres ante de la vulnerabilidad y de la pobreza. Washington D.C: Banco Mundial, 1996. NERI, M. Políticas estruturais de combate à pobreza no Brasil. In: HENRIQUES, R. Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2000. p 509-517. PAULO II, João. Redemptoris Missio, n. 58-59, 7 de dez., 1990. PBH: Planejar BH – Mapa de Exclusão Social, Belo Horizonte, n.8, ago., 2000. PIO XI, Papa. Enciclica Quadragesimo Anno, 15 de maio, 1931. SILVA, J. I. Rosas. Guia de reassentamento involuntário de população urbana de interesse social. Programa Soma, Belo Horizonte, 1999. SOLYMOS, G. M. B. Coleção Vencendo a desnutrição: abordagem psicológica. São Paulo: Salus Paulista, 2002. p. 17-25. PESSOA E TALENTOS • 33 UNCHS (Habitat). Putting the Urban Poor on the map: an informal settlement upgrading methodology supported by information technology. Nairoby: UNCHS, 2000. p. 45-139. UNCHS (Habitat). Pobreza: um desafio mundial, Declaração do Recife, Recife, 1996. URBEL:Urbanização de favelas e prevenção em áreas de risco em Belo Horizonte. In: N. Bonduki Habitat: As práticas bem sucedidas em habitação, meio-ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1996. p.152-155. • 35 CAPÍTULO 2 O Planalto II e o projeto de fortalecimento da comunidade Achilles G. Coelho Jr. Érlia E. Benevides Paulo F. Bulos A comunidade do Planalto II: aspectos históricos A cidade Ipatinga, localizada no Vale do Aço, Minas Gerais, a 217 Km de Belo Horizonte, cresceu sob influência marcante da industrialização, sendo atingida pelo fluxo imigratório ocorrido nas cidades brasileiras durante as últimas décadas. Esse fenômeno provocou o “inchaço” das cidades e o crescimento desordenado dos centros urbanos, gerando áreas com graves problemas. Esses espaços urbanos foram ocupados de maneira não planejada e tornaram-se núcleos de pobreza cujas características são, dentre outras, o crescente nível de violência, a falta de serviços básicos de infra-estrutura e a inadequação das edificações. Os seus habitantes geralmente têm insegurança quanto à posse do terreno, possuem baixa escolaridade, dificuldades de inserção no mercado de trabalho, fragilidades em sua saúde, precária participação comunitária, enfim, são assolados por um alto grau de vulnerabilidade. O Planalto II foi formado por muitas famílias que ocupavam a área central da cidade, algumas desde sua fundação e outras a partir do “boom” de crescimento populacional provocado pela implantação da indústria Usiminas, na década de 60. Nesta época, um número elevadíssimo de pessoas e famílias foi atraído pela possibilidade de conseguir um trabalho, ocasionando um aumento desordenado da área central da cidade. Verificou-se uma rápida passagem de um município com características e hábitos ainda rurais para uma cultura mais urbana. 36 • POBREZA E PATRIMÔNIO Para enfrentar esta situação, a Prefeitura Municipal de Ipatinga – PMI – vinha realizando um conjunto de Programas de melhorias urbanas. Podemos destacar o programa de intervenção na área central da cidade, o Programa Novo Centro, financiado pelo PROGRAMA SOMMA, com o objetivo de remover a população que ocupava irregularmente a parte baixa da cidade, em especial os residentes das margens do Ribeirão Ipanema18. Tais programas deram origem à construção do bairro Planalto II, onde seriam reassentadas as famílias retiradas desta parte baixa da cidade. A população dessa parte baixa, que viria a ser reassentada no Planalto II, apresentava um conjunto de fatores que tornava seus moradores muito vulneráveis: do ponto de vista físico ocupavam áreas passíveis de alagamentos ao longo do Ribeirão Ipanema, em habitações de baixa qualidade; do ponto de vista social, configurava-se uma situação crítica que envolvia prostituição, uso de álcool e drogas, desemprego, baixo nível de escolaridade e condições precárias de saúde. Os moradores reassentados no Planalto II integravam dois grupos: moradores das áreas que poderiam sofrer com os alagamentos e de áreas que não corriam este risco, cuja remoção também fazia-se necessária para a reurbanização do centro da cidade, e inserção de comerciantes daquelas áreas. Evidentemente, existiam, ainda que frágeis, alguns laços entre aqueles que viviam na mesma rua e no mesmo beco, mas o grupo que passou a constituir a comunidade do Planalto II não configurava ainda, em essência, uma comunidade, pois tratavam-se de grupos diferentes, embora, do ponto de vista social, a grande maioria vivesse situações de vulnerabilidade muito semelhantes. Reassentados no Planalto II, num total de 600 moradias, os moradores foram novamente divididos em dois grupos: o grupo de proprietários (300 moradias cujos núcleos familiares detinham a posse de imóveis na área afetada pelo Projeto Novo Centro), e outros 300 domicílios cujas casas foram construídas em regime de mutirão, por aqueles moradores que residiam na área do projeto, mas que não eram proprietários de imóveis. Do ponto de vista social, os poucos e frágeis laços (provavelmente laços construídos pelas necessidades) que ligavam de alguma forma as pessoas que moravam mais próximas umas das outras antes da remoção, tornaram-se ainda mais frágeis ou foram, em muitos casos, destruídos, dando origem ao isolamento de alguns, e a relações conflitantes em outros casos. “O projeto Novo Centro, concluído em 1997, foi o maior programa de obras do projeto SOMMA em Minas Gerais e, hoje, é apontado pelo Banco Mundial como referência para empreendimentos semelhantes em toda a América Latina.” O projeto contou com investimentos de US$3 milhões, de uma parceria da Prefeitura com o Bird e o Governo do Estado. (Fonte: http://www.ipatinga.mg.gov.br). 18 O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 37 “Acho um absurdo falar em construir duas igrejas, isto aqui é como se fosse apenas um bairro, agora fica estas panelinhas.” (fala de uma moradora do Planalto em encontro de pesquisa qualitativa, criticando outros moradores que defendiam a criação de uma igreja para uma parte do mutirão e outra para a parte dos proprietários) “Quando mudamos para o Planalto, foi como se tivessem, com um trator, arrancado todas as casas de minha rua e as recolocado aqui no Planalto; não mudou ninguém de lugar; só que, hoje, parece que ninguém mais se conhece, ninguém mais fala com ninguém...” (fala de um morador do Planalto II em encontro de pesquisa qualitativa, ao afirmar que os relacionamentos que havia entre os moradores de sua rua perderam-se após a mudança). “Quando tinha o mutirão todo mundo vinha porque queria ganhar a casa, depois que ganharam, cada um foi para suas casas e é como se ninguém mais se conhecesse” (fala de uma moradora do Planalto em encontro de pesquisa qualitativa, comentando o isolamento dos moradores após terem recebido suas casas). As famílias que passaram a integrar a comunidade do Planalto II não eram, do ponto de vista histórico e sócio-cultural, o que se poderia denominar, de imediato, uma comunidade, embora o Projeto Novo Centro as considerassem assim, em função da ocupação de uma mesma área geográfica. O projeto as denominava como: a “Comunidade do Planalto II”. Ações anteriores ao projeto Em 1997 foi assinado o primeiro convênio entre a Prefeitura de Ipatinga, AVSI e a CDM, firmando uma cooperação técnica-financeira, que teve sua duração entre os anos de 1997 a 1998 (na 1ª fase), com o escopo de desenvolver diretrizes para elaboração de um plano de intervenção contra a pobreza urbana na cidade. O processo junto à PMI incluía a capacitação de técnicos para conhecer a questão da pobreza, para verificar maneiras de abordar e de intervir neste problema existente nas Áreas de Especial Interesse Social (AEIS)19, além de incluir também a elaboração de um projeto de financiamento. Para o cumprimento das metas estabelecidas pelo Convênio, foram realizadas as seguintes atividades: As Áreas de Especial Interesse Social são caracterizadas por apresentarem-se de forma homogênea e ocupadas por uma população com baixíssima renda familiar, girando entre 0 e 3 salários mínimos. 19 38 • POBREZA E PATRIMÔNIO 1. O Curso de aperfeiçoamento, desenvolvimento e gerenciamento de programas para a redução da pobreza urbana: o fenômeno da pobreza nas áreas urbanas caracteriza-se por uma multiplicidade de fatores e implicações sócioeconômicas, físico-ambientais, etc. Portanto, para enfrentá-lo é necessário planejar cuidadosamente ações multi-setoriais que tenham eficácia a médio e longo prazo. Esta foi a premissa que orientou o Curso de Aperfeiçoamento para 30 técnicos e gerentes da PMI, advindos de várias secretarias. O curso capacitou-os para elaborar e gerenciar planos integrados de intervenção de combate à pobreza urbana. 2. Diagnóstico e diretrizes de intervenção: de acordo com a metodologia de intervenção, definiu-se que a abordagem da pobreza urbana na cidade seria feita a partir da análise do patrimônio, procurando identificar a maior ou menor vulnerabilidade das pessoas e da comunidade. A pesquisa foi realizada em vinte e seis áreas consideradas como Áreas de Especial Interesse Social que vinham constituindo-se em um desafio para a administração municipal. A PMI vinha priorizando e atendendo gradativamente essa população menos favorecida através de programas municipais, contudo o trabalho de diagnóstico visava conhecer melhor a realidade daquelas pessoas e integrá-las na cidade como um todo, explicitando as demandas por elas exigidas, que seriam respondidas através da formulação de programas públicos. Os dados e informações foram coletados em campo através de: ¬ RETRATO DA COMUNIDADE: Foi realizada uma pesquisa amostral, intitulada “CONVIDA” (Condições de Vida da População), com 850 entrevistas, para a elaboração do diagnóstico da situação de vida das comunidades das áreas de especial interesse social da cidade. As informações levantadas compuseram um banco de dados georeferenciado que permitiu visualizar os problemas que afligem a população e as soluções por ela encontradas; ¬ INFORMAÇÕES DOS SERVIÇOS PÚBLICOS: As secretarias de Saúde e Educação forneceram as informações sobre os programas em andamento e os serviços por elas oferecidos. O sistema GIS (Sistema de Informações Geográficas), por conseguinte, relacionou geograficamente esses serviços e programas para a análise de sua eficiência e eficácia frente às demandas das comunidades carentes pesquisadas; ¬ INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS: Formulou-se uma representação geográfica de todos os dados coletados utilizando como base cartográfica o levantamento aerofotogamétrico da cidade, e também a divisão administrativa dos bairros e regionais fornecidos pelo DATASERV (setor de informática da PMI). Uma vez montado o sistema de informações com base nos produtos, mapas, tabelas e gráficos foi elaborada a análise da pobreza na cidade e o O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 39 documento “Retrato da Pobreza Urbana de Ipatinga/ Diretrizes para Redução”, contendo o diagnóstico e as diretrizes de intervenção contra a pobreza nas AEIS pesquisadas.20 3. Projeto de pós-ocupação: O passo seguinte da formação consistiu na construção de um projeto piloto para uma intervenção integrada contra a pobreza urbana na área escolhida, o Planalto II, servindo de base para a multiplicação do processo nas demais áreas pobres da cidade. A população do Planalto II foi escolhida como objeto do projeto porque, embora já tivessem recebido uma intervenção do ponto de vista urbanístico, com a construção das casas, faltava ainda um programa que interviesse nos demais elementos do patrimônio que ficaram sem uma atenção devida. Resgatando novamente o conceito de pobreza, a partir da análise do patrimônio, uma intervenção apenas no elemento moradia não ajudava a enfrentar integralmente a situação de pobreza daquelas pessoas. Através da pesquisa quantitativa e qualitativa, iniciava-se o primeiro passo de conhecimento junto àquela comunidade. Todos os dados e informações levantadas, bem como os contatos com moradores e atores locais, foram fundamentais para entender os pontos de maior vulnerabilidade daquelas pessoas, no que se refere a seus aspectos materiais, humanos e sociais. O encontro inicial com os moradores tornou possível a compreensão de alguns aspectos: o cotidiano da comunidade, o perfil de moradores e de suas lideranças, os relacionamentos travados ou não e como as pessoas moviam-se frente à sua realidade de vida. Os contatos por ocasião das pesquisas deixavam prever uma abertura para um trabalho em conjunto, e mais que isso, alguns chegaram mesmo a expressar o desejo de que o trabalho social desenvolvido junto a eles, como o do mutirão de construção das casas, voltasse a acontecer. As diretrizes indicadas passaram a integrar o texto do projeto de pósocupação para o Planalto II, então denominado: Projeto de Fortalecimento da Comunidade do Planalto II, encaminhado ao Ministero degli Affari Esteri – MAE, do Governo Italiano, para obtenção de financiamento. Portanto, o projeto visava fortalecer a comunidade beneficiada pelo programa de reassentamento, garantindo a estabilidade do incremento feito em relação ao patrimônio habitat, e o desenvolvimento das demais componentes do patrimônio daquela população, utilizando uma metodologia de intervenção integrada contra a pobreza urbana. Tendo sido aprovado em setembro de 1999, o projeto teve sua implantação neste mesmo ano. 20 A elaboração do documento “Retrato da Pobreza Urbana de Ipatinga/Diretrizes para Redução” contribuiu ainda com a PMI para inscrição no Programa Habitar BID – Programa Viver Melhor; onde os estudos iniciais e os dados foram aproveitados na elaboração do documento a ser apresentado para aprovação do financiamento. O fato de a PMI ter iniciado tais estudos no momento da disponibilidade dos recursos pelo BID, fez com que a cidade tenha sido a primeira do Estado a conseguir o financiamento do Habitar Brasil/BID. Percurso das Ações voltadas à Redução da Pobreza Urbana na Cidade de Ipatinga Curso sobre Intervenções para Redução da Pobreza Urbana na cidade de Ipatinga Estudo da Pobreza na Cidade: Etapa de conhecimento Elaboração de diretrizes de planos municipais de redução da pobreza ¬ Capacitação de técnicos e administradores para o estudo de formas de abordagens da pobreza urbana. ¬ Definição das 26 áreas que integrariam o estudo sobre a pobreza na cidade. ¬ Tratamento dos dados levantados Módulo I: abordou a problemática da pobreza urbana, métodos de intervenção e as formas de participação das comunidades. Foram apresentados estudos de casos brasileiros e do PGU (Programa de Gestão Urbana) do Banco Mundial; experiências de microcrédito (Banco do Povo); métodos e instrumentos usados no processo de integração urbana; experiência da CDM/AVSI em urbanização de favelas em Belo Horizonte - MG e em Salvador BA. Completando esse primeiro módulo foram apresentados os programas de promoção social, desenvolvidos pela administração municipal de Ipatinga, nas áreas de saúde, educação, habitação e meio ambiente. Módulo II: foi dedicado aos técnicos que utilizariam os instrumentos informáticos. Foram ministradas aulas de Banco de Dados, de Semiologia gráfica e de Software: Mapinfow e AUTOCAD. Além das aulas, os técnicos puderam fazer um estágio nas dependências da CDM, trabalhando com os próprios dados coletados em Ipatinga. ¬ Estudo de instrumentos para intervir contra a pobreza existente na cidade (a partir dos elementos do patrimônio). ¬ Definição de instrumentos adequados à leitura da pobreza na cidade conforme a abordagem da pobreza utilizada no estudo. ¬ Montagem das equipes para realizar a coleta de dados. ¬ Contato com as comunidades e mobilização para as pesquisas. ¬ Realização das pesquisas nas comunidades. ¬ Elaboração de um projeto piloto de ações integradas contra a pobreza e encaminhamento do projeto para obtenção de financiamento. ¬ Definição dos Indicadores a serem avaliados. ¬ Geo-Processamento dos dados. ¬ Elaboração dos diagnósticos dos dados. ¬ Definição das diretrizes de intervenção contra a pobreza na cidade. Hierarquização de áreas em função de critérios para o Programa Habitar Brasil-BID Início da Implementação do Projeto ¬ Assessoria à administração Municipal para elaboração de instrumentos de suporte à elaboração de projetos para intervenção nas áreas pobres da Cidade. Tudo isso, a partir das diretrizes de intervenção contra pobreza na Cidade: ¬ Retomada do percurso de trabalho sobre a pobreza na cidade. ¬ Documento de Hierarquização da pobreza na cidade. ¬ Definição das diretrizes metodológicas ¬ Reapresentação do projeto para a equipe da prefeitura. ¬ Definição da equipe de gestão e dos técnicos e secretarias para trabalhar no projeto. ¬ Assinatura de convênio/ cooperação entre AVSI, CDM e PMI. ¬ Contato inicial com a comunidade. ¬ Apresentação do projeto à comunidade e atores sociais presentes. ¬ Implementação das ações O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 43 A situação inicial dos elementos do patrimônio da comunidade do Planalto II Definida a abordagem com a qual seria analisada a pobreza na cidade, foi realizado um conjunto de estudos sobre a situação de cada fator do patrimônio das pessoas do bairro Planalto II. As informações que constituem esse retrato inicial da comunidade são relativas ao momento da elaboração do projeto em 1997 e a algumas alterações identificadas em 1999, ano em que o mesmo começou a ser desenvolvido. Abaixo apresentamos os dados mais relevantes para nosso propósito de discutir o projeto realizado e as mudanças surgidas na comunidade a partir de tais intervenções. Para uma melhor compreensão da situação inicial da comunidade, conferir Anexo 1. Capital Social Existia na comunidade, em 1997, uma capacidade organizativa muita fraca, centrada em uma liderança intitulada “o presidente do Bairro”. Apesar do título, era uma liderança pouco representativa e não conseguia mobilizar e organizar a comunidade para o enfrentamento dos principais problemas vividos pelos moradores. Havia uma carência de serviços urbanos no bairro e uma difícil acessibilidade a alguns serviços públicos nos bairros vizinhos. A pesquisa apontou que em 79% dos domicílios não havia qualquer envolvimento com a Associação de moradores; 74% declararam que não se envolviam em nenhum tipo de atividade de caráter comunitário. Apesar da pouca representatividade da associação de moradores, 52% dos domicílios pesquisados, reconheciam que as reivindicações de melhorias para o bairro eram feitas através desta instituição comunitária. Havia na comunidade um nível elevado de fragmentação, uma falta de confiança naquilo que o grupo poderia fazer e uma falta de direção quanto ao quê fazer. Era pequena a vivência de uma experiência de participação, não apenas enquanto voto, mas no sentido de ter parte em determinadas decisões que afetariam suas vidas, seja assumindo responsabilidades e tendo parte nos benefícios, seja assumindo os prejuízos decorrentes das decisões. Dos recursos físicos reconhecidos pelos moradores como espaço formal de referência para as atividades comunitárias, apareceu a Casa Social21 do Planalto como o mais representativo, sendo citado por 31% dos domicílios pesquisados. A creche, a casa do presidente do bairro ou de outros membros da associação e as escolas foram citados em conjunto por 34% dos domicílios entrevistados. A pesquisa qualitativa identificou a grande demanda por área de lazer, área de uso coletivo e áreas verdes na comunidade. Reclamavam, ainda, um trabalho de Casa Social: casa construída na época do mutirão de construção das casas e destinada para atividades sociais (cursos, oficinas, reuniões, etc) junto à comunidade. 21 44 • POBREZA E PATRIMÔNIO educação ambiental junto aos moradores, já que as áreas que poderiam ser destinadas a esse fim, ou estavam completamente poluídas e descuidadas, no caso das lagoas, ou com restrição de uso, no caso do campo de futebol do Veneza – que apesar de ter o nome do bairro vizinho, localizava-se dentro do Planalto II. A pesquisa refletiu a posição dos moradores quanto à segurança dentro da própria comunidade e sobre a oferta de serviços de vigilância e policiamento. A maioria dos domicílios pesquisados, 62%, afirmaram que a comunidade tinha problemas com segurança. Dentre os mais enumerados apareciam: roubos com 42,8%; envolvimento com drogas com 16%; mesmo percentual para brigas de rua e ainda 6% de violência, estupros e falta serviços de policiamento. Havia por parte de 49% dos domicílios a reclamação de que o bairro contava com este tipo de serviço somente esporadicamente. A população da cidade de Ipatinga adotava, diante dos moradores do Planalto II, uma atitude de preconceito sócioeconômico que, além de os excluir da possibilidade de se inserirem no mercado de trabalho, trazia conseqüências para o desenvolvimento da auto-estima das pessoas, que se percebiam como incapazes e marginalizadas pela sociedade, bem como prejudicava os relacionamentos entre os moradores. Essa desconfiança da população de Ipatinga em relação às pessoas que residiam no Planalto II acabou por se transformar em desconfiança entre os próprios membros da comunidade, o que reforçava a sua fragmentação. A rede de apoio e de serviços à comunidade do Planalto II era pouco extensa nos primeiros anos do assentamento. Os serviços, bastante restritos, localizavam-se no entorno e não havia uma escola que atendesse diretamente aos residentes do local, nem uma unidade de saúde nas imediações. A creche construída durante o mutirão estava fechada e bastante danificada; a Casa Social, erguida nesta mesma época, realizava ainda algumas atividades pontuais como cursos, mas não mais com a mesma intensidade da época do mutirão; a Associação de Moradores, que não tinha uma sede, não apresentava uma grande capacidade organizativa e nem conseguia atrair outros atores para intervirem na comunidade. A situação em 1999, ano de início da implementação do projeto, era um pouco diferente. A Casa Social havia sido fechada, e não mais desenvolvia atividades junto aos moradores. Por outro lado, a rede de serviços e de apoio à comunidade havia se ampliado um pouco, embora seus integrantes trabalhassem de maneira isolada sem estabelecerem intercâmbios entre si, apesar de atenderem ao mesmo público. Outra característica dessa rede é que muitos prestavam seus serviços sem envolver-se com o desenvolvimento mais global da comunidade. A construção da Escola Municipal Paulo Freire e a reforma da creche, que agora estava em funcionamento, constituíram os resultados do trabalho da rede. Na área da saúde, foi construída uma unidade de saúde no bairro Veneza, vizinho ao Planalto II. Com relação aos atores comunitários, havia sido criada uma O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 45 associação de moradores de adolescentes, um grupo de agentes de saúde mirim, um grupo de mães da creche e o Grupo de Mulheres Marginalizadas que surgiu na época do mutirão e também voltara a atuar em apoio às mulheres da comunidade. A administração pública fazia-se presente naquele momento com a Secretaria de Educação, de Saúde e da Habitação – esta última realizando o monitoramento da situação habitacional e de ocupação no bairro. Havia ainda uma ONG local, a ARCA de Noé, que começava a desenvolver cursos de qualificação profissional para os moradores. Relações Familiares Entre os domicílios cujos chefes de família eram casados, prevaleceu em 73% a chefia de homens; nos demais, as mulheres assumiam esse papel. O fato de os domicílios apresentarem uma estrutura instável e de muitos serem mantidos e dirigidos por mulheres, havia, especialmente no contexto desta comunidade, um peso ainda maior. Além do baixo nível de escolaridade, pouca capacitação, subempregos e baixos salários, aspectos comuns em áreas de concentração de pobreza, havia um agravante em relação às mulheres do Planalto II. Estas, sendo oriundas da zona boêmia e da prostituição da cidade de Ipatinga, mesmo mudando para o Planalto II e procurando uma nova ocupação, pelo fato de não terem um marido, continuavam sendo recriminadas ou tinham grande dificuldade de conseguir qualquer trabalho. A condição sócio-econômica era bastante instável: os baixos rendimentos aliados a um número elevado de integrantes nos domicílios e, pelo contrário, um pequeno número de pessoas que trabalham para manter o sustento da casa, fazia com que fosse alto o índice de dependência econômica domiciliar. Educação O baixo nível educacional, confirmado pelas pesquisas realizadas junto aos moradores do Planalto II, evidenciou que nenhuma pessoa da comunidade havia conseguido chegar até a universidade. Ao segundo grau, somente 5,51% dos moradores tinham tido acesso. A grande maioria, correspondente a 63,98% das pessoas, não ultrapassava o primeiro grau. O índice de analfabetismo era bastante elevado, cerca de 10,5%, concentrados na população com idade acima de 25 anos. Era evidente que os moradores do Planalto II deixavam a escola muito cedo sem, sequer, concluir o ensino básico. Este fato foi confirmado pelo grau de escolaridade dos moradores. Levantamos o número de pessoas com idade entre 07 e 20 anos que já tinham abandonado a escola, na época da pesquisa. O Planalto II apresentava dentre as várias áreas pobres da cidade, um dos maiores índices, cerca de 22%, de pessoas nessa faixa etária. Outro sério problema era o atraso escolar, ou seja, o número de alunos que apresentavam defasagem entre idade e série. O percentual de alunos que apresentava atraso escolar atingia a casa dos 26%. Ouvindo alguns pais comentarem sobre esses 46 • POBREZA E PATRIMÔNIO indicadores, vários imputavam grande parte dos problemas aos próprios filhos que, segundo eles, seriam desinteressados ou com dificuldades de aprendizagem. Por sua vez, foi amplamente confirmada, por 80% das famílias, a falta de participação das mesmas na vida escolar dos filhos. Sobre este fato houve uma reclamação firme por parte dos educadores. Apenas 20% informaram que interagiam de forma ativa na vida escolar dos filhos, levando-os à escola, ajudando nas tarefas de casa ou participando das atividades pedagógicas. A aproximação famíliaescola foi uma das linhas educativas adotadas ao longo do projeto. Os programas de recuperação de série e educação de jovens e adultos (DESAFIO e MOVA) da prefeitura não eram muito conhecidos pelos moradores do Planalto II. Em apenas 24% dos domicílios eles afirmaram conhecê-los, sendo que em apenas 16% houve pessoas que já haviam participado ou que estavam participando do MOVA. Este percentual é o mesmo que o dos alunos que freqüentavam o reforço escolar. O DESAFIO, sendo um programa vinculado ao ensino regular, garantia uma maior participação dos moradores nas escolas onde estudavam. Assim, em 50% dos domicílios havia alunos que participavam desse programa. Em 1999, no cenário da educação ocorreram alterações. Houve a implantação da Escola Municipal Paulo Freire e dos programas educacionais, Desafio e Mova, que já existiam na cidade e foram estendidos ao bairro. Trabalho A comunidade do Planalto II apresentava um índice de 32,6% de pessoas que trabalhavam e geravam renda, e 7,1% de pessoas desempregadas. Entre aqueles que se encontravam trabalhando, apenas 15,7% possuíam estabilidade, isto é, trabalhavam com carteira assinada; 32% tinham contrato de trabalho temporário e 52% desenvolviam atividades esporádicas, sem vínculo formal, carteira ou contratos assinados e sem regularidade na atividade, fato que, além de impor grande vulnerabilidade aos núcleos familiares destes trabalhadores, contribuía para ocultar as reais taxas de desemprego na comunidade. Além de questões conjunturais que dificultavam o acesso ao mercado de trabalho a qualquer trabalhador, a população em idade ativa do Planalto II expunha ainda dois sérios agravantes. O primeiro deles, diz respeito ao nível de escolaridade dos trabalhadores, que era muito baixo. Tomando por base os desempregados, 72% não ultrapassavam o primeiro grau, sendo que 28% deles possuíam apenas o nível primário de escolarização, e apenas 11% conseguiam chegar até o segundo grau. O segundo aspecto dificultoso é que a força de trabalho do Planalto II era composta em sua maioria por pessoas com pouca ou nenhuma qualificação profissional, exercendo, geralmente, ocupações como: faxineiros, zeladores, ajudantes de pedreiros, domésticas, vigias, etc. Foi evidenciada uma baixa pré-disponibilidade dos moradores para empreendimentos próprios. Em termos percentuais, existiam no Planalto II, em 1997, O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 47 9% de trabalhadores autônomos. Entre os que tinham algum tipo de empresa, observa-se que as condições eram, em sua maioria, muito débeis do ponto de vista econômico, gerencial e da estrutura física. Saúde Uma questão relevante em relação a este tema e diretamente ligada aos cuidados com ele, diz respeito à concepção que se tem da saúde e das posturas tomadas para garantir sua manutenção. Os dados apresentados mostram que para a comunidade do Planalto II a saúde era pensada sob o prisma da doença, logo, os cuidados com ela eram relativos à cura de algum incômodo. Para ilustrar tal afirmativa, foi constatado na época que a procura pelo sistema de saúde acontecia, em 81% dos casos, nas situações de emergência. Apenas 17% dos entrevistados afirmaram a procura dos serviços públicos de saúde para prevenção. Outras posturas identificadas pelos moradores foram a automedicação e a medicina alternativa. Quanto ao quadro epidemiológico, as doenças mais freqüentes nos domicílios, entre os adultos, foram: as doenças respiratórias com 17,5%, seguidas pela hipertensão com 12,5% e depressão com 10%. Entre a população infantil, em 32% dos domicílios houve casos de doenças respiratórias (gripes, laringites e faringites), seguidas das parasitoses citadas em 25% e bronquite em 21%. Outras doenças como diarréias (em crianças), diabetes, alcoolismo, pneumonia (em adultos) também foram citadas, mas com menores índices de ocorrência. Essa discussão sobre as principais incidências de doenças na comunidade, suas causas e formas para controlar e/ou eliminar o problema, passaram a integrar, quando da implantação do projeto, o trabalho com o grupo de moradores e agentes espontâneos de saúde. O acesso aos serviços de saúde era dificultado pela ausência de uma unidade de atendimento na comunidade ou próxima dela. Com isso, a maioria dos moradores, 72%, precisava deslocar-se até a Unidade de Saúde do Centro. Os demais, 11% da população, para o tratamento destas doenças, procuravam o Pronto Socorro Municipal; 8%, destinavam-se à Unidade de Saúde Canaã. No cenário da saúde, em 1999, verificou-se que o acesso aos serviços de saúde foi facilitado pela construção da unidade de saúde no bairro Veneza, vizinho ao Planalto II. Apesar de haver agentes espontâneos de saúde no bairro, estes não contavam com uma formação, orientação e instrumentos adequados que os ajudassem a enfrentar este problema, embora tivessem um grande interesse e disponibilidade. Outro recurso identificado no ano da implantação do projeto foi o grupo de Agentes de Saúde Mirim, criado com o propósito de ajudar a comunidade a refletir sobre questões relativas a sua saúde e sobre como prevenir as doenças. 48 • POBREZA E PATRIMÔNIO Habitat e Meio Ambiente As casas que foram construídas no bairro Planalto II possuíam infraestrutura básica completa (água, luz e esgoto), e as moradias constituíam o patrimônio mais fortalecido da comunidade naquele momento. Apesar de estar localizado em uma bela área, o bairro apresentava, do ponto de vista físicoambiental, alguns pequenos problemas. Localizado como que dentro de uma concha, fazia-se necessário uma intervenção urbanística para impedir que as águas das chuvas, que desciam das encostas, chegassem até as casas localizadas mais próximas a elas, oferecendo risco aos moradores e danos às moradias. Esse problema exigiu a construção de canaletas para conduzir a água das encostas até a parte baixa, desaguando em uma das lagoas existentes no bairro. Esta obra viria a ser o ponto de partida para discussão com os moradores sobre intervenções na comunidade e sua importância, e para verificação de formas de envolvimento e de preservação da mesma. Esta discussão abriu a portas para um permanente diálogo ao longo de todo projeto. O segundo aspecto ambiental que merecia atenção era justamente as lagoas. Existiam no bairro três pequenas lagoas muito degradadas e que demandavam um modo de atuar que as requalificasse para que viessem a constituírem-se de fato em um recurso e não em uma fonte de problemas, como o surgimento de doenças transmissíveis por vias hídricas. Apesar do nível da urbanização, havia em certas partes do bairro alguns focos de lixo que também exigiam uma ação direta. Por fim, as encostas ao redor de todo bairro necessitavam, em quase toda sua extensão, de intervenções de revegetação para evitar a erosão do solo ou a ocupação irregular destas áreas. Objetivos e Resultados Visando, como primeiro objetivo, contribuir para a melhoria das condições de vida da comunidade, o projeto não pretendia resolver os problemas apontados na descrição inicial, uma vez que, além do tempo previsto para a intervenção ser insuficiente, dependia também de todo um contexto ligado ao cenário sóciopolítico-econômico nacional. Contudo, buscávamos favorecer processos que permitissem à comunidade constituir uma identidade própria, que a ajudasse a assumir uma forma de responsabilidade diante das situações a serem resolvidas gradativamente, através de uma construção empenhada dos seus membros. Também buscávamos facilitar o acesso do bairro aos serviços da cidade (educação, saúde, trabalho, etc), integrando aquela comunidade recém-formada, sobretudo os grupos vulneráveis, ao restante do cenário urbano. Para alcançar este primeiro objetivo, foram definidos os quatro primeiros resultados do projeto: fortalecimento da comunidade; recuperação escolar dos adolescentes e alfabetização de adultos; geração de emprego e renda e integração ao mercado de trabalho e, por fim, aumento do acesso aos serviços de saúde básica e educação ambiental. A definição dos quatro primeiros resultados do O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 49 projeto pode ser entendida de forma conjunta, pois se refere aos problemas mais evidentes vivenciados pelos moradores do Planalto II. O segundo objetivo diz respeito à capacitação de pessoal administrativo da prefeitura local e à definição de metodologias e instrumentos adequados para enfrentar a pobreza com todos os seus determinantes em cada realidade específica. Isto permitiria a continuidade da capacitação realizada no convênio anterior. Neste segundo objetivo, devem ser agregados os resultados já alcançados através do percurso voltado à compreensão do tema pobreza e da intervenção contra o problema na cidade de Ipatinga ao longo dos trabalhos já realizados.22 Embora tenha havido intervalos entre a etapa de conhecimento e planejamento de ações contra a pobreza na cidade e esta fase de intervenção de um projeto piloto integrado a favor do fortalecimento da comunidade, o projeto do Planalto II representa esta seqüência de práticas voltadas à finalidade a que foram propostas. Portanto, o projeto foi estruturado através de seus objetivos, resultados e atividades para alcançar metas em três níveis: 1. fortalecer a comunidade como um todo; 2. potencializar pessoas que pudessem continuar ajudando a comunidade a desenvolver-se; 3. fortalecer grupos específicos que se encontravam em situação de maior vulnerabilidade. Resultado A: Fortalecimento da identidade da comunidade A ausência de identidade com o novo espaço e entorno; laços sociais frágeis e/ou fragmentados entre moradores; lideranças pouco representativas e com uma baixa organização comunitária; conflitos sociais; alcoolismo e drogas constituíram, como já vimos, os principais problemas. Entretanto, contávamos com recursos presentes na própria comunidade: as pessoas respondiam positivamente aos chamados à participação e apresentavam um desejo de mudança expresso através de pedidos de ajuda à organização da comunidade; já existia uma criatividade e talentos, mesmo que escondidos e isolados em cada moradia. A existência de um conjunto de atores intermediários, já atuando na área, facilitava a proposta de um trabalho integrado. Desenvolver este resultado implicava em enfrentar com moradores do Planalto II o tema da identidade em relação ao espaço, ao grupo e a si mesmos (ou a uma identidade pessoal). A identidade em relação ao espaço consistia em trabalharmos um processo de identificação com o espaço físico, com as casas, 22 Veja Ponto 2: “Ações Anteriores ao Projeto” deste mesmo capítulo. 50 • POBREZA E PATRIMÔNIO com os equipamentos e espaços públicos, buscando favorecer um processo de apropriação do bairro. Sentindo o espaço como algo próprio, as atitudes de cuidado, preservação e manutenção do bairro estariam contribuindo não apenas com o lugar como habitação deles, mas com o processo de identificação da comunidade. A identidade em relação ao grupo referese à necessidade de se fortalecerem os laços de solidariedade e está ligada também à capacidade de se reconhecerem como uma comunidade mesmo. Por fim, intervir junto à identidade pessoal significava contribuir com processos que superassem o estigma que os moradores carregavam diante do restante da cidade e que trazia conseqüências diretas tanto para o processo de integração social, quanto para a autoimagem e autoconfiança deles mesmos. Este se constituiu em um grande desafio, e orientou metodologicamente o desenvolvimento do percurso de trabalho, apresentando-se em duas frentes, que, na prática, cruzavam-se: uma delas contava com as pessoas da comunidade e grupos organizados, e a outra, com os atores sociais que atuavam na área. As ações mais concretas como a construção das obras do parque, da praça e do salão comunitário tinham como motivação o aspecto mais fundamental a ser trabalhado inicialmente: a redescoberta das capacidades e talentos das pessoas, resgatando a identidade delas e procurando fortalecer a idéia de comunidade. Buscou-se trabalhar para que os laços se mantivessem firmes e o novo espaço de moradia valorizado, tornando fortes a solidariedade e a responsabilidade pessoal e coletiva. A operacionalização do primeiro resultado pode ser dividida em quatro grandes blocos: a. o encontro com a comunidade; b. a construção de equipamentos de uso coletivo; c. a criação de instâncias de participação e trabalhos conjuntos e do processo formativo dos atores sociais envolvidos; d. as ações integradas aos outros resultados do projeto. Resultado B: Recuperação escolar de adolescentes e alfabetização de adultos Durante o intervalo entre a apresentação do projeto ao financiador e a sua aprovação, muitas demandas educacionais da comunidade foram atendidas, como já estava previsto. Foram implantadas a Escola Municipal Paulo Freire e programas educacionais, tais como DESAFIO e MOVA. Com base no cenário da educação no momento da implementação do Projeto, percebeu-se que a situação exigia ainda investimentos mais qualitativos, no sentido de potencializar o processo de ensino/aprendizagem dos alunos do Planalto II. Segundo professores e diretores das escolas, os alunos continuavam O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 51 apresentando problemas psicológicos, de aprendizagem e de comportamento. Definiu-se por uma metodologia de trabalho que mantinha a lógica das intervenções sobre os demais fatores do patrimônio: a intervenção sobre a educação formal deveria atuar no sentido de estimular os alunos, a partir de atividades que permitissem aos mesmos mostrarem suas capacidades, para, então, influir sobre os demais aspectos. As hipóteses sobre as linhas de intervenção foram as seguintes: ¬ em relação aos alunos, acreditamos que a sensibilidade artística, a habilidade esportiva e a facilidade para o aprendizado prático, aspectos que caracterizavam os alunos do Planalto II, indicavam a possibilidade de desenvolvimento de ações de suporte. Assim, atividades de caráter esportivo, artístico, profissionalizante e outras vinculadas ao projeto poderiam trazer à tona a capacidade de enfrentar os problemas de aprendizado; ¬ em relação aos familiares, a hipótese era que a realização de atividades de suporte social às famílias contribuiria para melhorar o processo educacional dos alunos do Planalto II, visto que seus problemas de aprendizado eram decorrentes, em sua maioria, das dificuldades sócio-econômicas que enfrentavam em suas famílias. Visávamos oferecer uma atenção aos responsáveis pela vida escolar da criança, ajudando-os a identificar aquelas atitudes e cuidados que eles poderiam dispensar aos filhos, o que favoreceria o compromisso e sucesso escolar destes; ¬ em relação aos profissionais das instituições educativas, pretendíamos ajudar a olhar e enfrentar as dificuldades comuns que vivenciavam, identificando tanto o problema e suas possíveis causas, quanto as propostas para superá-lo. Além disso, buscávamos-se responder a algumas necessidades da creche situada no bairro: a ampliação da estrutura física, que possibilitaria um aumento no número de vagas para as crianças e melhores condições de desenvolvimento de atividades pedagógicas, e o treinamento das educadoras através de oficinas de formação que desenvolvessem temas específicos de seu trabalho cotidiano, os quais não eram abordados pelos programas de formação disponíveis pela prefeitura. Resultado C: Geração de emprego e renda A filosofia do projeto, que coloca como premissa a recuperação da dignidade e dos valores humanos, neste resultado parecia ainda mais vital, pois aqui se tratava de fazer com que as pessoas em idade ativa reencontrassem sua autoconfiança e pudessem acreditar em suas habilidades e capacidades, especialmente por tratar-se de uma população com baixa escolarização, sem qualificação profissional, vivendo às margens das indústrias e sem acesso às oportunidades de emprego. Neste sentido, foi importante o envolvimento de muitos trabalhado- 52 • POBREZA E PATRIMÔNIO res com as demais ações desenvolvidas no projeto, porque descobriram o talento para cuidar do parque e dos equipamentos coletivos, e serviu, ainda, como motivação para iniciar um percurso ainda mais complexo no qual tornava-se necessário identificar habilidades, melhorá-las através de capacitação e colocá-las no mercado através de força de trabalho ou através de produtos e serviços, no caso dos empreendedores autônomos. A primeira fase da operacionalização deste resultado do projeto foi dedicada ao conhecimento e ao levantamento de informações para definição das diretrizes de geração de renda a serem implementadas. Assim sendo, antes de planejar as ações procurou-se conhecer e identificar: ¬ recursos dos moradores; suas condições de conseguir emprego; ¬ instrumentos e programas disponíveis no mercado; ¬ oportunidades econômicas do mercado local; ¬ pessoas atuantes com as quais pudéssemos estabelecer parcerias. Visando a realização deste resultado do projeto, foram fundamentais para a melhoria das condições de inserção no mercado de trabalho e da geração de renda, o seguinte tripé de ações: ¬ Formação Humana que valorizava e potencializava o saber e a capacidade criativa de cada pessoa; ¬ Capacitação Técnica para dotar os trabalhadores e empreendedores das mínimas condições exigidas pelo mercado; ¬ Articulação de Parcerias para inserir trabalhadores, produtos e serviços no mercado, quebrando assim, as barreiras impostas pelo estigma carregado por serem moradores do Planalto II. Resultado D: Aumento do acesso aos serviços de saúde básica e educação ambiental Da mesma forma, na área da saúde, o cenário havia se alterado. Uma unidade de saúde havia sido construída, como planejado. Também neste caso, partimos do princípio que a oferta do serviço não se converte automaticamente no acesso ao mesmo, mas este tem a ver sobretudo com a educação da população para os cuidados com a saúde.23 Definimos, então, por uma metodologia coerente com a lógica que vinha pautando todas as demais linhas de ação do 23 Em visitas às escolas da localidade, houveram depoimentos de profissionais referindo-se à falta de educação para os cuidados com a saúde verificada em parte da população do Planalto II, utilizando como fator explicativo o não-acesso aos serviços ainda que ofertados com boa qualidade e grande disponibilidade. O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 53 projeto: conhecer e identificar as demandas, os problemas de saúde enfrentados pela população e os meios disponíveis para enfrentá-los, entendendo se, de fato, o recurso disponibilizado estava sendo acessado por todas as famílias da comunidade. Considerando a pouca preocupação das pessoas com atividades cotidianas de prevenção e a existência de iniciativas dos atores locais voltadas a ajudar os moradores a pensarem sua própria saúde, foram determinadas três diretrizes de trabalho: ¬ a primeira, seria desenvolver com os moradores um percurso educativo que passasse pela discussão dos problemas de saúde e pela identificação das causas, propondo-se medidas preventivas quando se tratasse de causas controláveis e ajudando na compreensão da rede de serviços de apoio existente e identificando a melhor forma para acessá-la; ¬ a segunda diretriz dizia respeito à potencialização do trabalho dos atores que já vinham realizando atividades na área da saúde na comunidade, como o Centro de Saúde e o Grupo de Agentes de Saúde Mirins; ¬ a terceira, seria realizar ações de saúde, também como parte do processo formativo, que permitissem enfrentar alguns problemas vividos pelos moradores do bairro. Assim, para se alcançar um “Aumento do Acesso ao Serviço de Saúde Básica e Educação Ambiental” definiu-se por realizar percursos formativos junto à comunidade e aos atores sociais que trabalhavam com saúde, com o intuito de que este problema pudesse ser enfrentado por todos. Entendendo que as questões da saúde tinham que ser pensadas em relação conjunta com vários outros aspectos como habitação meio ambiente, educação, foram estabelecidas várias ações integradas que tinham ligação direta com estas questões. A outra vertente das ações relativas a este resultado do projeto era referente à questão ambiental. Levando-se em conta, por um lado os problemas ambientais do bairro, mas também a riqueza de recursos existentes, considerando a necessária e efetiva integração das atividades de educação ambiental às demais em desenvolvimento no projeto, sobretudo com aquelas ligadas à saúde e à organização comunitária, decidiu-se que as ações deveriam ajudar na identificação dos aspectos da configuração ambiental que afetavam a saúde para, juntamente com os outros atores da comunidade e moradores, buscar soluções. Portanto, prevaleceu, na definição do percurso para desenvolvimento deste resultado, a seguinte lógica: a identificação de causas dos problemas de saúde; a identificação de respostas da própria comunidade e da rede de apoio; o início do trabalho de fortalecimento das ações dos atores e do intercâmbio entre eles; 54 • POBREZA E PATRIMÔNIO a aproximação entre os serviços de saúde e a população e a realização de atividades para enfrentar alguns problemas indicados. Na seqüência do projeto, procurou-se aprofundar a capacitação técnica de um grupo de pessoas atuantes para melhorar a forma de atender as necessidades da população. Por sua vez, quanto à questão ambiental, optou-se pela integração transversal das atividades de educação ambiental às demais em desenvolvimento no projeto, por acreditarse que dessa forma seria possível alcançar resultados mais duradouros no que se refere ao tema. Quadro Lógico O Quadro Lógico “é um instrumento de gestão de cada fase do ciclo do projeto. Ele é um ‘instrumento mestre’ a partir do qual se elaboram outros como o calendário de execução e o plano de monitoramento, por exemplo”.24 Através dele apresentamos de forma sintética e lógica os objetivos do projeto, os resultados que permitiram o cumprimento dos objetivos e as atividades executadas com o fim de atingir cada resultado. Através do Quadro Lógico são visualizadas todas as práticas desenvolvidas, respeitando a cronologia de cada fase. As atividades listadas no Quadro Lógico apresentado seguem uma lógica temporal. Assim, o projeto foi dividido em três fases: Fase Inicial, Fase de Implementação (subdividida em três momentos: Construção das Obras, Planejamento, Execução) e Fase Final. A Fase Inicial foi caracterizada pela apresentação do projeto junto aos beneficiários das ações, a comunidade do Planalto II e a Prefeitura Municipal de Ipatinga (PMI), e pela definição das primeiras ações envolvendo tais beneficiários. A Fase de Implementação foi caracterizada pelo início das atividades que já buscam responder aos objetivos e resultados propostos. Em nosso projeto, a “Construção das Obras” configurou-se como um momento significativo de inserção na comunidade. Através da edificação de um complexo comunitário, os moradores do bairro foram envolvidos em várias ações de responsabilização e preservação das obras, permitindo uma participação ativa no ato de estruturar os objetivos a serem alcançados. Uma vez envolvida, a comunidade, juntamente com técnicos da PMI e da AVSI/CDM, iniciou o “Planejamento” das atividades que, embora já delineado por um projeto inicial aprovado por financiadores, necessitava adequar-se aos aspectos mais atuais da realidade, abarcando todos em uma formação-ação, ou melhor, em um planejamento que já se tornava uma intervenção educativa. Organizadas as ações, o momento da “Execução” foi marcado pela realização das atividades direcionadas a cada setor (ou resultado) do projeto, acontecendo muitas delas simultaneamente. A Fase Final consistiu na realização de atividades que ajudassem aos moradores a 24 Manual Gestión Del Ciclo de Proyecto. Comision Europea. Marzo de 2001. O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 55 apropriarem-se das conseqüências das ações desenvolvidas durante todo o projeto, fortalecendo junto às lideranças, uma atitude de responsabilidade diante da comunidade e ajudando-os a se darem conta de que continuar aquelas ações era apenas uma questão de reconhecer e manter um caminho que estava sendo trilhado há mais de três anos. Quadro Lógico do Projeto Atividades Objetivos Objetivo 1: Melhoria das condições de vida da população do Planalto II, reduzindo o grau de pobreza e vulnerabilidade Objetivo 2: Fortalecimento da capacidade institucional do Município Resultados a. Fortalecimento da Comunidade Fase Inicial ¬ Entrada na comunidade ¬ Preparação do Fórum Comunitário ¬ Lançamento das obras Fase de Implementação Construção das obras Planejamento Execução ¬ Construção do complexo comunitário ¬ Constituição de Equipes Temáticas ¬ Intercâmbio dos principais atores e reflexão sobre a experiência acumulada OBS.: O desenvolvimento das atividades setoriais relacionadas aos demais resultados atendem a este resultado específico. Fase Final ¬ Formação de líderes e gestores comunitários b. E d u c a ç ã o : trabalho com os adolescentes para recuperação escolar; alfabetização de adultos ¬ Contatos com escolas ¬ Identificação de grupos vulneráveis ¬ Oficinas sócio-educativas* ¬ Realização de cursos de recuperação escolar: supletivo – DESAFIO ¬ Realização de cursos de alfabetização de adultos e jovens – MOVA ¬ Avaliação da freqüência dos alunos da escola Paulo Freire ¬ Reforço da Ação Educativa da Escola de Pais ¬ Elaboração de diagnóstico da representação social da escola, segundo os alunos ¬ Realização de Concurso de Redação com as Escolas ¬ Oficinas de formação das educadoras da Creche Novo Lar c. Geração de Emprego e Renda: integração no mercado de trabalho ¬ Pesquisa de aptidão e mercado ¬ Elaboração de diagnóstico e diretrizes de ações de GER ¬ Mobilização de empreendedores e candidatos a emprego ¬ Assessoria administrativa e sócio-relacional a empreendedores e grupos produtivos ¬ Acesso ao crédito ¬ Qualificação Profissional ¬ Contato com Empresas e encaminhamento para o mercado de trabalho d. Saúde e Educação Ambiental: aumento do acesso aos serviços de saúde básica e educação ambiental ¬ Desenvolvimento das capacidades para enfrentar os problemas de saúde do bairro e implementação de propostas ¬ Formação do grupo de Agentes Comunitários de Saúde ¬ Campanhas de saúde ¬ Formação do Grupo da Terceira Idade ¬ Formação para o Grupo de Agentes de Saúde Mirins ¬ Caminhada ambiental ¬ Trabalho pedagógico com professores e coordenadores das escolas locais** ¬ Oficinas de educação ambiental dirigidas aos alunos nas escolas locais** ¬ Oficinas de educação ambiental dirigidas a segmentos da comunidade** ¬ Realização da Mostra de Educação Ambiental ¬ Gincana de educação ambiental e sanitária e. Sistematização e transmissão da experiência ¬ Apresentação e definição do projeto junto à Prefeitura Municipal de Ipatinga ¬ Planejamento/Monitoramento/Avaliação * Ações integradas de Educação, Saúde e Geração de Emprego e Renda ** Ações integradas de Educação e Educação Ambiental ¬ Discussão da fase de implantação junto à PMI ¬ Elaboração do fluxograma de ações para o Planalto II ¬ Difusão da Experiência (Seminário PUC e Curso de Gestão Urbana na Fundação João Pinheiro e Banco Mundial) ¬ Reuniões internas da AVSI/CDM para sistematização das atividades realizadas no Projeto O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 55 Fluxograma de Atividades O Fluxograma de Atividades é um instrumento que tem como objetivo apresentar sistematicamente todas as atividades realizadas pelo projeto, permitindo, sinteticamente, compreender cada uma delas e identificar os produtos correspondentes. Pelo Fluxograma de Atividades identifica-se também a quais resultados e objetivos as atividades respondiam. Abaixo segue um esquema que ajuda a entender o Fluxograma que será apresentado posteriormente: 56 • POBREZA E PATRIMÔNIO O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 57 58 • POBREZA E PATRIMÔNIO O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 59 60 • POBREZA E PATRIMÔNIO O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 61 62 • POBREZA E PATRIMÔNIO O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 63 64 • POBREZA E PATRIMÔNIO O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 65 66 • POBREZA E PATRIMÔNIO O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 67 68 • POBREZA E PATRIMÔNIO O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 69 Situação da comunidade do Planalto II após a realização do projeto A realidade percebida após as intervenções nos chama a atenção para uma série de mudanças na comunidade que não acabam com o final do projeto, mas permanecem justamente como um sinal de que toda ela foi fortalecida. Descreveremos agora as principais mudanças ocorridas no bairro Planalto II em função dos Objetivos e Resultados visados por este trabalho. Apresentaremos também dados objetivos que ilustram tal mudança, agrupados segundo a lógica do próprio projeto. Estes dados apresentamse na forma de Indicadores de Objetivos (IO), Indicadores de Resultado (IR) e Indicadores de Atividade (IA) que foram construídos durante o projeto para serem avaliados e monitorados. Estes estão apresentados, em forma analítica, no Anexo 3. Objetivo específico 1 Melhoria das condições de vida da população do Planalto II Identidade Comunitária Ampliações e reformas no bairro Um dado que revela o grau de satisfação das pessoas em uma comunidade refere-se ao número de ampliações e reformas realizadas nas moradias. Este tipo de obra realizada na estrutura das casas mostra que existe um grau de satisfação concreto e razoável com o bairro. Foram investidos recursos financeiros dos próprios moradores, embora se trate de um bairro de pessoas de baixa renda familiar. Isto tornou o investimento significativo, pois falar de uma reforma ou ampliação era falar de pessoas que adotaram o bairro como um lugar seu. Significava identificar-se com o espaço na qual moravam e começar a investir nele. Os dados apontam que, ao final de 2002, 45% das casas do bairro foram ampliadas e/ou reformadas. Obs.: * consideram-se “Ampliações” o aumento de área construída da edificação, ou seja, cômodos novos: salas, quartos, puxadas, etc. ** consideram-se “Reformas” as melhorias das condições e estrutura da edificação: divisão de cômodos, reboco de alvenarias, troca de telhados, etc. *** do total das casas que sofreram modificações nas suas estruturas, 26,5% foram apenas ampliadas, 45,6%, apenas reformadas e 27,9% foram ampliadas e reformadas. 70 • POBREZA E PATRIMÔNIO AMPLIAÇÕES E REFORMAS – AMOSTRAL 2002 Categorias Freqüência Porcentagem Ampliação 18 11,9% Reforma 31 20,5% Ampliação e Reforma 19 12,6% Nada 81 53,6% NS/NR 2 1,3% Total 151 100,0% Fonte: pesquisa amostral realizada em Janeiro de 2003 – AVSI/CDM O uso do espaço comum As obras do complexo comunitário (recuperação das lagoas, construção da praça, do centro comunitário e ampliação da creche) repercutiram positivamente nos moradores do Planalto II e dos bairros vizinhos que passaram a usufruir melhor dos espaços. Verifica-se um cuidado com o bem comum através de mutirões espontâneos de limpeza e preservação deste equipamento social. Isto reflete uma apropriação das obras por parte da comunidade e o fortalecimento da identidade em relação ao espaço25. O quadro abaixo relaciona os grupos formais e informais e os grupos da população que estão desfrutando sistematicamente dos espaços comuns. Na faixa mais escura, são representados os espaços públicos que foram construídos ou reativados pelas atividades do projeto. 25 Sobre as Áreas Destinadas a Atividades Comunitárias e aos Espaços Co-Geridos Pelos Grupos, conferir o quadro no Anexo 3. O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 71 Violência no bairro Os índices de violência do bairro tiveram uma mudança significativa durante a atuação do projeto. Os números cedidos pelo 14º Batalhão da Polícia Militar de Ipatinga revelam que houve uma diminuição de 24,82% da criminalidade no bairro entre os anos de 2001 e 2002. Estes dados confirmam como as pessoas passaram a se posicionar diante da vida de uma forma diferente e a assumir o bairro e as pessoas como um bem a ser preservado. A diminuição da agressão e da violência é um fator que revela uma dinâmica de integração, de pertença, não apenas ao local, mas à comunidade de pessoas. O bairro Planalto não possui mais o estigma de bairro violento e marginalizado. A forma como as pessoas da cidade vêem o bairro está mudando, e as intervenções da polícia militar diminuíram, principalmente entre os adolescentes (Tenente Coronel Sandro Afonso Teatine Selim de Sales, do 14º Batalhão da polícia militar de Ipatinga). GRUPO 2001 2002 VAR% Crimes contra a Adm. Pública 2 1 -50,00 Crimes contra a Incol. Pública 0 1 - Crimes contra a Pessoa 57 49 -14,04 Crimes contra o Patrimônio 54 32 -40,74 Crimes contra os Costumes 15 12 -20,00 Referente a Drogas 9 8 -11,11 137 103 -24,82 Total Aumento dos serviços de utilidade pública Uma mudança significativa, que mostra a evolução do processo de integração entre a comunidade e os serviços existentes na cidade, ocorreu na formação da Rede Social de atores que estavam presentes no bairro. A Rede Social de uma comunidade indica o número de atores sociais existentes e envolvidos na construção e desenvolvimento desta, a partir de diferentes tipos de vínculos estabelecidos entre si. O mapa da rede social permite visualizar quais relações se estabelecem entre rede primária e secundária. Possibilita o reconhecimento da dimensão do contexto relacional para a intervenção social. Permite 72 • POBREZA E PATRIMÔNIO reconhecer a realidade mais ampla em que a pessoa está inserida, sem se restringir ao problema apresentado, mostrando uma ou mais pessoas em relação recíproca. Facilita o trabalho de abordagem e intervenção, além de permitir à pessoa envolvida perceber suas habilidades e sua capacidade de fazer alianças. O mapa é a representação de um momento determinado. Diante das modificações da realidade, é necessário datar todos os desenhos e refazê-los no andamento da intervenção. Além disso, é útil levar em conta as distintas maneiras que as pessoas apresentam o que entendem de uma situação.26 No mês de Dezembro de 1999, início do projeto, a Rede Social contava apenas com 19 atores sociais que estabeleciam entre si um número reduzido de relacionamentos, apenas 30. Na análise realizada no final do projeto, em Dezembro de 2002, verificou-se um crescimento total do número de atores de 163,2 % em relação à situação inicial. Tanto o número de atores aumentou (para 50), quanto o número de relacionamentos entre eles (identificados em 127). Isto significa um aumento na quantidade e na intensidade da rede, mostrando, assim, que estas pessoas passaram a realizar mais trocas, o que fortaleceu seus laços. Foram avaliadas as tipologias de vínculos dos vários relacionamentos entre os grupos e instituições conforme o quadro descrito abaixo: 26 VÍNCULO DESCRIÇÃO Fazer Juntos Relação que se estabelece para desenvolver alguma atividade juntos, seja no planejamento, seja na execução. Econômico Relação que se estabelece através da transferência de recursos de um ator para outro que desenvolva uma ação. Obrigação Relação marcada por uma obrigação hierárquica que compromete a trabalhar segundo normas pré-definidas. Aliança Relação estabelecida entre atores que desenvolvem a mesma ação, porém existe uma formalização e normatização quanto às atribuições de cada um. Apoio Social Relação configurada a partir de ajudas pontuais e esporádicas, dentro da qual um ator cede recursos, podendo ser de diferentes tipos, a outro ator. Prestação de Serviços Relação constituída entre pessoas que prestam algum tipo de serviço em troca de remuneração. Informação Relação constituída entre atores, em que pelo menos um deles oferece informações relevantes ao outro, fundamentando algum tipo de trabalho. SOARES, Maria Luiza P. V. Vencendo a desnutrição: abordagem social. São Paulo: Ed. Salus Paulista, 2002 (p. 41). • O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE 73 A partir desta análise, verificamos também que houve um aumento significativo nos tipos de vínculo Fazer Juntos e Informação, devido às ações realizadas com a metodologia do projeto e ao crescimento considerável dos grupos ligados à Rede Secundária Informal. Estes dados também mostram a melhoria da qualidade dos relacionamentos entre os atores sociais. O fortalecimento da Rede Social local assinala a existência de uma relação entre a ação dos atores sociais presentes no Planalto II e a integração do bairro a muitos serviços da cidade dos quais eram excluídos. A presença e o envolvimento de atores (públicos e privados) com a comunidade sugere uma identidade que, após formada, passa a ser reconhecida não só pelos seus moradores, mas por pessoas externas. No Anexo 4 encontra-se uma representação das Redes Sociais. IO1.1 – nº de atores sociais e serviços comunitários presentes Nº DE ATORES SOCIAIS REDES % VARIAÇÃO Dezembro Dezembro Dezembro 1999 2000 2002 1999/ 2000 1999/ 2002 Rede Secundária de Mercado - - 3 x x Rede Secundária do Terceiro Setor 6 7 10 16,7% 66,7% Rede Secundária Formal 10 13 25 30,0% 150,0% Rede Secundária Informal 3 8 12 166,7% 300,0% Total 19 28 50 47,4% 163,2% IO1.2 – Incremento da rede de relacionamentos da comunidade Quanto ao número de relacionamentos identificados entre instituições e grupos da rede, nos três anos, foram lidos: Nº TOTAL DE RELAÇÕES POR REDE EM CADA ANO Dez. 1999 Dez. 2000 Dez. 2002 Rede Secundária de Mercado - - 8 Rede Secundária do Terceiro Setor 6 10 24 Rede Secundária Formal 21 54 54 Rede Secundária Informal 3 16 41 Total 30 80 127 74 • POBREZA E PATRIMÔNIO Ainda com relação ao Mapa de Rede no ano de 2002, foi feita uma leitura distinguindo-se os atores sociais que entraram na rede por força de articulações do próprio projeto – através da AVSI – e daqueles que pertenciam à rede local. Percebemos que os atores anteriores ao projeto permaneceram e mantiveram relacionamentos. Nas tabelas ao lado estão apresentados os comparativos e análises. DISCRIMINAÇÃO DOS ATORES DA REDE EM 2002 Redes x Atores Através de articulações Atores da rede local Atores Total Rede Secundária de Mercado 2 1 3 Rede Secundária do Terceiro Setor 2 8 10 Rede Secundária Formal 18 7 25 Rede Secundária Informal 0 12 12 Totais 22 28 50 DISCRIMINAÇÃO DO Nº DE RELACIONAMENTOS DA REDE EM 2002 Redes x Relações Dos atores articulados Dos atores da rede local Relações Total Rede Secundária de Mercado 5 3 8 Rede Secundária do Terceiro Setor 6 18 24 Rede Secundária Formal 0 41 41 Rede Secundária Informal 37 17 54 Totais 48 79 127 Concluímos, a partir das tabelas acima, que 44% dos atores presentes em 2002 entraram na rede através de articulações do projeto, enquanto que 56% eram atores que já existiam na rede local do Bairro Planalto. Quanto aos relacionamentos da rede, 37,8% representava o grupo de atores que entraram na rede por força de articulações, e os outros 62,2% compunha o grupo das relações dos atores da rede local, ou seja, de instituições e grupos que estavam no Planalto independente de articulação do projeto. O crescimento tanto do número de atores, quanto do número de relacionamentos daqueles que se integraram pela articulação do projeto, revela a abertura da comunidade a grupos e instituições externas, possibilitando o aumento de serviços urbanos no bairro. Observa-se, assim, que a rede local cresceu, devido aos novos integrantes, e permanece, apesar da finalização do projeto, o que mostra a capacidade sustentável da rede atual. O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 75 Dos totais de relações existentes por atores presentes em cada ano verificou-se que: ATORES RELACIONAMENTOS RELAÇÃO/ATOR Em 1999 19 30 1,6 Em 2000 28 80 2,9 Em 2002 50 127 2,5 Verificamos no ano de 2000 um aumento significativo do número de relações estabelecidas por cada ator, em média 2,9. Este aumento aconteceu a partir de ações específicas do projeto, que visaram a uma articulação entre os atores e a uma maior comunicação, entre eles, em relação aos serviços prestados. No ano de 2002, verificou-se uma diminuição para 2,5 relacionamentos/ ator devido à redução da intervenção direta entre os atores. Percebe-se, portanto, que o índice apresentado em 2002 mostra o índice de estabilidade e sustentabilidade entre os relacionamentos firmados, que independem das ações do projeto. Os resultados descritos referem-se às ações articuladas pelo projeto, que contribuíram diretamente na construção destas mudanças. A comunidade desenvolveu, no decorrer dos últimos três anos, uma identidade comum que tornou os moradores orgulhosos por residirem no bairro Planalto II. As pessoas começaram a se envolver com a realidade da comunidade, adotando atitudes construtivas e participativas diante dos problemas semelhantes a serem enfrentados. Líderes e gestores comunitários foram identificados e formados, passando a organizar e a participar de ações do projeto e de outras de iniciativas próprias, construindo soluções a partir de recursos presentes no próprio bairro. O número de lideranças da comunidade aumentou em 52,12% em relação àquelas presentes inicialmente. IR.a1 – nº de lideranças da comunidade * dados coletados em 13/07/2000 ** dados coletados em 19/12/2002 76 • POBREZA E PATRIMÔNIO No Anexo 3 encontra-se uma descrição dos grupos formados na comunidade e suas tipologias. Escolaridade No patrimônio da educação também foi notada uma melhoria significativa. A taxa de analfabetismo caiu para 6,3%, em comparação com os índices levantados na situação inicial da comunidade, e está abaixo dos índices de analfabetismo do Brasil que atingem a marca de 14,7%; o índice do Estado é de 13,4%; e da cidade como um todo, 7,51%. Ao final do projeto, 40% dos analfabetos de 1999 migraram para o grupo de alfabetizados. Em 2002 houve um aumento desse número, em relação ao ano de 1999, que foi de 22,4%. Mesmo considerando que o grupo de analfabetos mais o grupo de alfabetizados estão dentro da faixa de vulnerabilidade, observa-se uma diminuição desta faixa em 15,7%, devido ao ingresso em um nível de escolaridade de 1º grau. Vale a pena destacar que, levando-se em conta o percentual de pessoas que se alfabetizaram e o número de vagas oferecidas pelo MOVA (programa de alfabetização municipal), dentro do bairro, identificamos que muitos alunos alfabetizaram-se através de outros cursos presentes na cidade. Então, concluímos que melhorou o acesso a serviços de educação da cidade pelos moradores do bairro. Observamos uma alteração em relação ao 1º grau. A porcentagem das pessoas que possuíam apenas este nível de escolaridade incompleto era de 64%, em 1999, e passou para 46,1%, em 2002. Isto significa que 28% dos alunos concluíram o 1º grau. Em 2002 houve um aumento de 29,1% dos alunos que conseguiram completar o 1º grau. A respeito dos alunos do 2º grau, houve um crescimento interno de 208% deste grupo. Houve também em 2002, uma elevação de 9,8% no número de pessoas que passaram a estudar, em relação ao ano de 1999. O índice de infreqüência escolar, um problema identificado no contexto educativo do bairro, também caiu. Da amostra de 25 alunos considerados infreqüentes que foram acompanhados através de visitas e ações do projeto, 48% tornaram-se freqüentes. NÃO ESTUDA ESTUDA TOTAL 1999 68,6% 31,4% 100,0% 2002 65,5% 34,5% 100,0% O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 77 GRAU DE ESCOLARIDADE Categorias 1999 2002 Analfabeto 10,5% 6,3% Alfabetizado 6,7% 8,2% Subtotal 17,2% 14,5% 1º Grau Completo 5,51% 7,1% 1º Grau Incompleto 63,98% 46,1% Subtotal 69,49% 53,2% 2º Grau Completo 2,54% 8,8% 2º Grau Incompleto 2,97% 8,2% Subtotal 5,51% 17% Fator de Mobilidade Interna % -15,7% -23,45% +208% Fonte: pesquisa amostral realizada em Dezembro de 2002 – AVSI/ CDM Ainda neste setor, constatamos que atividades de recuperação escolar e supletivo contribuíram com os alunos na superação do atraso escolar, o que melhorou o índice de freqüência às aulas, diminuiu o número de abandono escolar e melhorou o desempenho, segundo depoimento das professoras. Foi realizado, com 446 alunos, um diagnóstico que revelou o nível da representação social da escola, segundo esses alunos, visando conhecer suas principais dificuldades e recursos no que se refere à vida escolar. Este diagnóstico possibilitou o conhecimento da realidade educativa, a partir dos próprios alunos, o que permitiu a prática de atividades, como o concurso de redação, que ajudaram a enfrentar melhor aquelas necessidades identificadas. O concurso de redação “Meu bairro cada dia melhor” mobilizou 561 alunos e contribuiu para que estes resgatassem o valor do bairro e se empenhassem na construção das redações. Isto motivou a melhoria no aprendizado da escrita e de outros conteúdos pedagógicos relevantes. Aos adultos foi oferecido o curso de alfabetização, através do qual 71% dos alunos inscritos concluíram esta etapa escolar. Foram realizadas visitas, orientações e oficinas a 82 famílias de alunos e foi reforçada também a importância na participação na Escola de Pais. 78 • POBREZA E PATRIMÔNIO A Escola de Pais ofereceu orientações e acompanhamento a 119 pais de alunos, ajudando-os a adotarem atitudes perante seus filhos, que fortalecessem o significado e a importância do estudo para o desenvolvimento. Este ano teve um bom acompanhamento da AVSI na escola. Alguns resultados positivos foram: o envolvimento dos pais que antes não participavam das escolas de pais e a freqüência dos alunos melhorou bastante. Os pais agora confiam mais na escola e têm mais consciência do que ela representa. Outro aspecto interessante é que os alunos têm vindo para a escola mais arrumados e mais limpos. Também o concurso de redação deu um bom incentivo aos alunos para valorizar o bairro, para conscientizá-los e fazê-los perceber as mudanças após a intervenção da AVSI. A mudança é lenta, mas a união entre Escola, AVSI e outras ações, ajudou como conjunto. Houve um crescimento cognoscitivo e afetivo dos alunos. Também uma melhoria da escrita e da leitura (Girley. Diretora de Escola). Depois que eu comecei a freqüentar o projeto, aprendi muito e melhorei o relacionamento com o meu filho (Antônia de Fátima Silva. Participante da Escola de Pais e Integrante do Grupo de Mulheres do Planalto). A partir das orientações da agente comunitária nas visitas e no diálogo, passei a participar mais do trabalho na escola. Aprendi que tenho que passar um tempo maior com meus filhos, brincar, conversar com eles. Não falar dos defeitos e sim elogiá-los. Percebi que meu filho se sentiu mais valorizado com a minha participação na escola (Eva de Fátima Soares). Saúde Quanto ao resultado ligado à saúde e educação ambiental, foram formados 14 Agentes Comunitários de Saúde e 25 Agentes de Saúde Mirim, junto à Uni- O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 79 dade de Saúde do Veneza, que trabalharam em várias ações de prevenção de doenças e cuidados com a saúde. Em relação à saúde da criança, houve orientação aos pais sobre a importância da vacinação, sobre o controle de doenças respiratórias e atitudes de combate à desnutrição. Trabalhou-se a promoção e proteção da saúde da mulher e prevenção ao câncer de colo de útero e de mama e, a respeito da saúde do adulto, houve o desenvolvimento de outras campanhas de saúde visando aos hipertensos e diabéticos. Foram realizadas 4700 visitas domiciliares pelos agentes de saúde, devido às campanhas. VISITAS TOTAL DE VISITAS Campanha da Gripe – Idosos 600 Campanha de Prevenção ao Câncer – Mulheres 600 Campanha de Combate à Dengue 600 Hipertensos e Diabéticos 300 Crianças com doenças respiratórias 400 Acompanhamento de idosos 200 Gincana de Educação Ambiental 2000 Total de visitas de saúde 4700 CAMPANHA DESCRIÇÃO Campanha de Combate à AIDS Campanha realizada com o GASP para a população Campanha Contra a DENGUE Prevenção e combate à Dengue: todas as casas visitadas Campanha da GRIPE Campanha de combate à Gripe para Idosos acima dos 60 anos Campanha de Prevenção ao Câncer – Mulheres Campanha para mulheres entre 35 e 49 anos Em relação à saúde e educação ambiental, foram realizadas campanhas de prevenção à dengue e informações foram dadas sobre o cuidado com o lixo, que pode transmitir várias doenças. No início do projeto, houve uma caminhada com o objetivo de observar pontos do bairro a serem atingidos pelas ações de saúde ambiental. Participaram 44 pessoas de diversos grupos e instituições e, nesta ocasião, foi produzido um mapa falado. A gincana de educação ambiental trabalhou com os moradores vários temas e ações ligadas aos cuidados com o 80 • POBREZA E PATRIMÔNIO meio ambiente. Durante a realização de oficinas temáticas, 180 pessoas participaram de pelo menos uma delas. Na gincana, também foram orientadas e acompanhadas 424 famílias na lavagem da caixa d’água e de filtros domiciliares, na limpeza de quintais, nos cuidados com caixa de gordura e esgoto; trabalhou-se também a conservação da área verde e o uso de plantas medicinais. Tudo isso, pretendendo despertar atitudes preventivas às doenças mais comuns. Antes da capacitação, realizávamos o trabalho na comunidade sem o preparo teórico-prático, sem um planejamento e articulação entre as políticas. Hoje é possível passar mais informações, de diversas formas, com o teatro, com o diálogo. Vemos a pessoa não somente enquanto um doente, mas conseguimos ver a relação desta com o ambiente em que vive, sua relação familiar e comunitária, tudo isto influencia em sua saúde (Renildes Maria da Silva. Agente Comunitária de Saúde). O Projeto de Fortalecimento da Comunidade do Planalto vem contribuir com o trabalho da Unidade de Saúde. Ele se tornou um elo entre a Unidade e a comunidade. Foi possível através dele estabelecer uma relação com o bairro e conhecer a sua história. Construiu-se uma relação de amizade e diálogo, garantindo a organização da comunidade para uma melhor qualidade de vida (Norma Suely S. Rodríguez. Gerente da Unidade de Saúde do Veneza). Vale a pena destacar o impacto que teve o grupo da terceira idade, o Grupo União, na vida dos seus integrantes. Muitos idosos não saíam de casa e ficavam acamados, apresentando uma atitude depressiva que contribuía para o surgimento de várias doenças. Um total de 69 idosos participou dos encontros do grupo, desenvolvendo várias atividades como: palestras, exercícios físicos, brincadeiras, oficinas, aulas de dança sênior, caminhadas no Parque Ipanema. Com o O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 81 final do projeto, o grupo decidiu continuar a se reunir e se organizar formalmente, definindo um estatuto e comissões internas para organização do grupo. Esse negócio desse projeto está sendo muito bom! O trabalho é bom porque dá saúde, da força pra nós. Nessa reunião está todo mundo com a cara bonita, nessa reunião não dá pra deixar a peteca cair! Minha idade está vencida não era nem para eu estar aqui nessa reunião, eu tenho 92 anos! (Dona Ana. 92 anos. Integrante do Grupo da União – grupo da terceira idade). Situação ocupacional A situação ocupacional das pessoas do Planalto II não sofreu mudanças significativas, no que se refere ao índice de empregados e desempregados. Contudo, verificamos uma mobilidade interna no quadro comparativo da situação ocupacional. Um dado que nos chama atenção diz respeito à percentagem de autônomos na situação inicial, em 1999, e no final do projeto: houve um aumento significativo de 255% em 2002. A taxa de desemprego está relacionada diretamente ao contexto econômico da cidade e do país, entretanto, surgiu, a partir do projeto, uma nova possibilidade de trabalho e geração de renda através dos cursos de empreendedores. Aqui temos novamente o exemplo daquilo que dizíamos anteriormente: mesmo impotentes para mudar dados que são conseqüências de um cenário político e econômico nacional, intervimos naquela faixa vulnerável da população que buscava alternativas de geração de renda, mas para as quais faltava o acesso a recursos técnicos e financeiros para tal. COMPARAÇÃO SITUAÇÃO OCUPACIONAL – PESQUISA AMOSTRAL 98/2002 Categorias Inicial Final Fator de Mobilidade Interna % Empregado Registrado 15,7% 14,5% -290,0% Empregado sem Carteira 9,8% 3,6% Autônomo 2,0% 7,1% +255,0% Aposentado 5,1% 4,7% -7,8% Total que Gera Renda 32,6% 30,0% -8,0% Afazeres Domésticos 14,1% 7,1% +180,0% Dempregado 7,1% 18,0% Não Trabalha 43,5% 25,2% Outro 2,7% 1,1% Não se Aplica 0,0% 18,6% Total que não Gera Renda 67,4% 70,0% Total 100,0% 100,0% -2,8% +4,0% 82 • POBREZA E PATRIMÔNIO A baixa renda familiar e o desemprego foram enfrentados através de cursos de qualificação profissional em várias áreas. Um total de 126 pessoas concluiu os cursos de qualificação e 77% foram cadastradas em agências de emprego. Este dado é significativo porque muitas delas encontravam-se desempregadas e incapacitadas até mesmo de disputar uma vaga de trabalho por não contar com uma formação que atendesse às reais necessidades do mercado, além da impossibilidade de se capacitarem através de outros meios. Do total de cadastrados, 41,2% foram entrevistados e encaminhados para o mercado de trabalho, e um total de 10% dos encaminhados conseguiu colocação no mercado formal, dentro dos três primeiros meses após o término do curso. Das pessoas que fizeram os cursos de qualificação profissional e/ou empreendedorismo, 45,8% estão trabalhando, e destes, 67,3% estão atuando na área em que se qualificaram. O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 83 Dentre os cursos e oficinas oferecidas, verificou-se que 87 mulheres do bairro participaram de pelo menos uma delas. Quanto à distribuição das participações em oficinas, observou-se que mais da metade das mulheres, 61%, participaram de mais de uma. Como dissemos, na situação inicial do bairro, muitas mulheres constituíam um grupo vulnerável, devido aos vários motivos já citados, e pelo menos 27% das casas do bairro era chefiada e mantida financeiramente por elas. O gráfico abaixo demonstra os totais de participação das mulheres por tipo de oficina. Nos cursos aprendemos que somos importantes e capazes de chegar aonde queremos. Estou mais confiante (Sidney Rosa Albino. Aluno do Curso de Frentista). Percebemos, no trabalho, que somos capazes; e é buscando estudar, aprender ainda mais e trabalhar com qualidade, que vamos conseguir alcançar o que queremos. Sentimos mais preparados para o mercado de trabalho e com disposição para o trabalho em grupo (Ideir da Conceição. Integrante da Associação de Prestação de Serviços Gerais). Meu problema de antes é que eu queria aprender alguma coisa que eu pudesse dizer: essa pode ser a minha profissão, vir a ser a minha profissão. Antes eu era doméstica pura e simples, sem qualificação nenhuma. Com os cursos – eu fiz o curso de costura industrial, inclusive fiz o teste e passei para trabalhar em uma fábrica de costura, porém não consegui ficar no emprego pelo fato de estar com um neném. Mas em janeiro os donos da fábrica disse que eu posso voltar! – É uma porta que tenho aberta, uma chance, uma possibilidade. No tear chileno – eu com as outras mulheres – resolvemos formar um grupo para poder fabricar as peças e buscar formas de vender, de mostrar através de 84 • POBREZA E PATRIMÔNIO feiras que vamos participar da prefeitura. Estamos por dentro das reuniões da prefeitura, porque de outra forma agente não teria como saber das exposições e apresentar os nossos trabalhos. Eu gostei de tecer e além de gostar eu preciso. Eu estou nisso com muita vontade que dê certo. Eu tenho cinco filhos e tudo de bom que eu fizer vai refletir não só em mim, mas neles. Eu quero ter para mim nem que seja uma máquina usada, que possa fabricar para vender e fazer para os meus filhos. Participar destes cursos significou pra mim mudar a minha vida. Coisas novas, pensar coisas novas: eu nem conhecia o tear chileno! (Elizabete Moreira de Oliveira. Integrante do Grupo de Mulheres do Planalto). Os cursos de qualificação profissional também possibilitaram a 28% dos formados tornarem-se empreendedores, gerando sua renda, mesmo não conseguindo uma vaga no mercado formal de trabalho. As assessorias administrativas, juntamente com o acompanhamento sócio-relacional e cursos voltados diretamente aos empreendedores, acompanharam várias pessoas, auxiliando na expansão de seus negócios e melhorando a qualidade da produção e da gestão de seus serviços. Alguns empreendedores se organizaram em grupos produtivos como o Grupo Tríade, de costura; Grupo de Mulheres do Planalto, com tear chileno; e a Associação de Prestação de Serviços Gerais. Para aqueles empreendedores que buscavam iniciar ou expandir seu negócio e não se enquadravam nas linhas de crédito adotadas pelos bancos (portanto, sem acesso a este serviço) foi firmado um convênio junto ao Banco Popular que possibilitou a viabilização de créditos em condições especiais. Um total de 94% de pedidos de crédito foi atendido e não foi registrado nenhum caso de inadimplência até o final do projeto. O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 85 Objetivo específico 2 Fortalecimento da capacidade institucional do município O segundo objetivo específico consistia em fortalecer a capacidade institucional do município na construção de políticas adequadas para enfrentar a situação de pobreza da população. No percurso histórico do projeto, a PMI esteve presente através do convênio firmado junto a AVSI/CDM, disponibilizando técnicos de diversas secretarias e envolvendo-os em ações dos diferentes setores. Com o convênio firmado, abriu-se um espaço de relacionamento direto com técnicos da área de saúde, educação e outros, que apoiaram as ações do projeto, reaplicando a experiência e a metodologia adquiridas em outros projetos e contextos. Iniciativas, projetos e programas realizados a partir da metodologia do projeto 1. Projeto Mudas Brasil O Projeto Mudas Brasil apresentou como objetivo a implantação de bosques de espécies nativas em todo o Estado de Minas Gerais, visando o desenvolvimento sustentável e a recuperação do meio ambiente, e a articulação de ações conjuntas com prefeitos, vereadores, empresários e produtores rurais. O projeto foi realizado pela Prefeitura Municipal de Ipatinga em parceria com o IEF – Instituto Estadual de Florestas. 2. Campanha de Combate à Dengue: “Por uma nova pedagogia de combate à dengue” Realizou-se uma campanha de combate à dengue no Município de Ipatinga e foi constituído um Fórum Comunitário na Regional 4 – onde situa-se o 86 • POBREZA E PATRIMÔNIO Bairro Planalto – para discutir junto à Escola Municipal Presidente Vargas as formas de combate à dengue. O trabalho foi realizado de forma integrada e com a participação das comissões de saúde e meio ambiente. 3. Projeto Prefeito Amigo da Criança Para que o município pudesse integrar-se na Rede Abrinqu, foi necessário elaborar dois produtos: um Mapa da Criança e do Adolescente27, com alguns indicadores, e um Plano de Ação Estratégica. A opção para desenvolver tanto o mapa quanto o plano de ação, foi o resultado estabelecido por um fórum do qual participaram setores da administração pública diretamente envolvidos com atendimento à população infanto-juvenil (saúde, educação, assistência social e a fazenda), o Conselho Municipal de Direitos da Criança e Adolescente, Conselho Tutelar e as entidades de atendimento28. 4. 1º Congresso Municipal da Juventude – Ipatinga Congresso realizado pelo DEAC – Departamento de Atenção à Criança e Programas Especiais. Toda a preparação do evento baseou-se na metodologia de abordagem do projeto Planalto II. A metodologia foi tão interessante, animadora e estimulante para os adolescentes, que nós pretendemos repetir o congresso no próximo ano e vamos repetir a metodologia, dando uma condição de organização melhor na aplicação desta – porque foi a primeira vez que a utilizamosTemos, hoje, uma condição melhor e vamos aplicá-la também no primeiro fórum de crianças. (...) Nós percebemos durante este ano uma participação da comunidade, principalmente no que diz respeito a uma continuação no desenvolvimento de atividades recreativas, esportivas e artístico-culturais com a população infanto-juvenil. Isso ficou muito claro para nós no decorrer não somente deste ano, mas também ao longo do ano passado. Outro aspecto bastante relevante foi a preocupação da comunidade, juntamente com a unidade de saúde, em buscar discutir alguns temas que antes nós não tínhamos solicitação da parte deles. 27 O Mapa da Criança e do Adolescente 2001 apresenta o Sistema de Acompanhamento e Avaliação do compromisso em dar prioridade às crianças e aos adolescentes. Este sistema vem sendo assumido, junto ao Programa, por prefeituras de todo o país. Ele fornece, também, instrumentos para que as gestões municipais possam se inserir na Rede Prefeito Amigo da Criança. Para participar da Rede, os prefeitos e as prefeitas cadastrados deverão preencher o Mapa da Criança e do Adolescente, em conjunto com os diferentes setores da administração pública, a sociedade civil e o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e encaminhá-lo para que possa ser analisado e aprovado pela Fundação Abrinq, efetivando, assim, o compromisso de realizar o planejamento voltado a esse segmento, em sua gestão. Fonte: Mapa da Criança e do Adolescente 2001, Caderno 1 – Fundação Abrinq. 28 Fonte: entrevista com Maura Gerbi do DEAC. O PLANALTO II E O PROJETO DE FORTALECIMENTO DA COMUNIDADE • 87 Exemplo: Pediram para conversar sobre políticas públicas e fazer uma exposição sobre o assunto. O que são políticas públicas? Quem realiza as políticas públicas? Em um dado momento – não tenho a história do porquê exatamente eles pediram essa discussão – pareceu-me que esses membros da comunidade, que são mais atuantes, deram-se conta de que a política pública não é simplesmente aquela que é desenvolvida pela prefeitura, pelo poder público, mas que ela pode ser também a política desenvolvida pelas entidades não governamentais e pelas organizações comunitárias de uma maneira geral. Então, nesse momento eles sentiram a necessidade dessa discussão – que foi muito interessante – a qual envolveu um grupo majoritariamente feminino que estava inserido também dentro do projeto da AVSI (Maura Gerbi. DEAC-PMI). 5. Programa Habitar Brasil/BID – Programa Viver Melhor Quase paralelamente ao início do projeto, o Banco Interamericano de Desenvolvimento financiou ao Governo Federal um programa de alcance nacional chamado “Viver Melhor”. O município de Ipatinga participou apresentando um programa para outras áreas de risco da cidade. Na fase de elaboração do projeto a ser apresentado para o BID, a PMI contou com os estudos realizados a partir da parceria inicial com a AVSI, quando realizaram a elaboração do documento “Retrato da Pobreza Urbana de Ipatinga/ Diretrizes para Redução”. A AVSI contribuiu com assessorias que permitiram a definição da área a ser beneficiada a partir dos critérios utilizados pelo BID. O Projeto Integrado do Aglomerado Bethânia, do Programa “Viver Melhor – Habitar Brasil/BID” prevê intervenções físicas, sociais, ambientais e de Regularização Fundiária, e encontra-se em ritmo de execução. É um projeto de intervenções integradas que está mudando principalmente as áreas de encosta do bairro Bethânia. O trabalho tem um peso muito grande no aspecto ambiental e no envolvimento do cidadão. Ipatinga foi uma das oito cidades escolhidas no Brasil pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID, para executar o programa “Habitar Brasil/BID” que vai gerar recursos para urbanização e favelas, que são tecnicamente chamadas de assentamentos subnormais. Dos 128 projetos “Habitar Brasil” em andamento no Governo Federal, o da cidade de Ipatinga será o primeiro a ser concluído. Serão beneficiadas cerca de 50 mil pessoas distribuídas em domicílios localizados no Aglomerado Bethânia. A região concentra 6 dos 23 assentamentos subnormais do município. O programa visa melhorar a qualidade de vida e de moradia da população de cinco assentamentos subnormais desse bairro, um dos mais populosos da cidade, localizado na região das ruas Bonn, Boston, Pusco, Guimarães e Turim. Além de 88 • POBREZA E PATRIMÔNIO ações nas áreas social, urbanística, jurídica e econômica, também estão previstos a recuperação e o desenvolvimento ambiental do local (Portal do Cidadão Ipatinga. http://www.ipatinga.mg.gov.br). A comunidade recebeu um trabalho social e a forma de identificação das atividades foi muito produtiva, pelo fato de ter uma equipe todos os dias na comunidade acompanhando, participando, envolvendo e conscientizando. Nos três anos de presença da AVSI na comunidade, deu para perceber que se atingiu os objetivos. O fato de a comunidade ver o que foi prometido sendo concretizado, traz uma credibilidade ao trabalho e isso estimula a comunidade a participar de novas atividades. Isso desenvolve e desencadeia o processo de participação. A partir do momento em que a comunidade é despertada no seu interesse, ela passa a ser um parceiro e multiplicador no processo que é lento, mas intenso, como foi no dia-a-dia, estando lá uma equipe direta, tendo várias propostas Tudo isso fez com que nesses três anos realmente se obtivessem grandes resultados. Foi visível. O fato de os moradores saberem que existem pessoas preocupadas com eles, com o desenvolvimento de suas capacidades, além de desejarem transformá-los em cidadãos conscientes é muito bom.” (Núbia – Secretaria Municipal da Habitação). • 89 CAPÍTULO 3 Considerações finais Enrico Novara, em colaboração com Giorgio Capitanio Elementos que favoreceram o desenvolvimento do potencial da comunidade Vimos, ao longo do trabalho, como o Programa “Novo Centro” representa uma significativa intervenção de reorganização do espaço urbano. Neste processo, constata-se que muitas cidades brasileiras enfrentam problemas distintos, mas característicos da recuperação das áreas centrais das cidades. Dois desses problemas são: restituir à população um espaço de uso coletivo através do qual as pessoas pudessem fortalecer sua identidade e, ao mesmo tempo, garantir melhores condições de vida para a população que convive em situação de degradação físico-ambiental e social, favorecendo-lhe uma real inclusão na dinâmica do desenvolvimento urbano e social. O primeiro objetivo geralmente é atingido com um bom desenho urbano e uma boa capacidade de gestão pública (pontos, certamente, não tão simples assim)29; já o segundo, necessita de um elemento a mais: a leitura realística das dimensões da pobreza e a definição de um método claro de intervenção. Ao atuar na principal área de risco da cidade, pensou-se que o problema teria uma dimensão maior: em um rápido levantamento foram identificadas 20 áreas informais que necessitavam de uma intervenção que ultrapassasse a simples dimensão física. 29 Uma descrição dos aspectos de gestão urbana do projeto encontra-se in Programa Somma “Relatório de Atividades 1993 – 1998”, Belo Horizonte 1998, p. 47-50 90 • POBREZA E PATRIMÔNIO Como conclusão, é interessante anotar aqueles que, segundo o nosso parecer, foram os fatores que permitiram, além do reconhecido mérito por parte dos gestores urbanos do município, garantir uma real integração da população ao restante da cidade; estes fatores podem ser considerados indicações para projetos similares. Vejamos: Associar a formação à ação O primeiro fator que vale a pena sublinhar é o fato de ter sido proposto, logo depois do término da intervenção física, um momento de formação sobre o tema específico da pobreza urbana. Isso garantiu: ¬ a formação de técnicos de diversas “secretarias municipais” para enfrentarem o problema de maneira multidisciplinar; ¬ a identificação do problema específico em toda a cidade através da análise da situação e da definição de tipologias de intervenção e das prioridade; ¬ a conscientização de que a pobreza não é um problema para ser relegado apenas ao âmbito emergencial e assistencial, mas deve ser enfrentado de modo contextual, dentro das políticas de desenvolvimento da cidade; ¬ a definição de instrumentos e métodos que responderam não somente à comunidade do Planalto, mas também aos outros assentamentos informais. Assim, a partir de um problema específico foi possível definir recursos mais gerais. Os técnicos da prefeitura tiveram, assim, a possibilidade de testar aquele aparato funcional no âmbito de um programa de cooperação em uma primeira área do município. Em 1999, quando o Governo Federal definiu as regras do Programa Habitar – BID para recuperar os assentamentos informais, a Prefeitura de Ipatinga já se encontrava em condições para enfrentar o desafio. O programa, de fato, previa que os municípios interessados tivessem condições técnicas suficientes para colocá-lo em prática e que a administração identificasse as áreas prioritárias para aplicar as medidas. Além da prefeitura já ter tido a possibilidade de acumular experiências nos processos de auto-construção e de mutirão, a formação que lhe foi oferecida e a realização de um plano geral de redução da pobreza deram condições para que ela participasse do programa. O projeto integrado do “Aglomerado do Betânia”, que interessa a cinco áreas informais da cidade, não só foi um dos primeiros a serem aprovados pela comissão de avaliação do Programa Habitar-BID, como também foi um dos primeiros a serem concluídos. Acabou, portanto, sendo muito útil associar a intervenção a um percurso específico de formação de técnicos e de monitoramento do projeto. Deste modo, a experiência tornou-se um patrimônio comum da administração municipal, tanto dos técnicos quanto dos administradores. CONSIDERAÇÕES FINAIS • 91 Favorecer as condições de estabilidade dos assentamentos Programas de intervenção em áreas informais representam, no contexto nacional, verdadeiras possibilidades de iniciar um percurso de redução da pobreza das comunidades envolvidas. Se a perspectiva da ação não se reduz somente às obras de infra-estrutura, é possível identificar os elementos sobre os quais intervir para incrementar um processo de desenvolvimento humano. No caso do Planalto II, a primeira evidência era a fragilidade dos nexos de convivência entre as famílias e as pessoas da comunidade. Sabemos que intervir sobre os fatores que possam reforçar o patrimônio quer dizer, antes de tudo, favorecer as condições de estabilidade das famílias, possibilitando a criação e o uso dos lugares de encontro e de convivência: praças, parques, igrejas, salas de encontros e reuniões, espaços para a formação profissional. Assim, a construção foi pensada e feita juntamente com as famílias interessadas, com as paróquias e com as associações presentes. Os resultados, como a redução quase para a metade do índice de violência contra o patrimônio e o investimento dos próprios moradores para o aumento e a melhoria das habitações de quase 50% das famílias, comprovam que a população considera o bairro como um lugar onde é possível viver. Reforçar a rede de serviços de utilidade pública O acesso aos serviços relacionados com a educação para a saúde e para o trabalho, indica a real integração do bairro à cidade como um todo. O significativo aumento de pessoas que entraram para o ensino superior, a redução do analfabetismo a um percentual abaixo da média da cidade, a ampliação do número de pessoas que recebe atenção de saúde (grupos de hipertensos, grupos de terceira idade,...) indicam um passo decisivo da comunidade em direção a uma saída da informalidade. Isso aconteceu graças ao efetivo reforço das redes de serviços ofertados pelas comunidades intermediárias, pelas associações de base e pelas entidades públicas. Dirigir a atenção para os grupos mais vulneráveis Para garantir um real acesso aos serviços oferecidos, uma vez melhoradas as condições de identidade do bairro e de integração com o restante da cidade, o projeto ateve-se a dar particular atenção aos grupos mais vulneráveis: crianças, adolescentes com baixa frequência escolar, trabalhadores autônomos e jovens desempregados. A partilha das necessidades como forma de conhecimento torna possível criar soluções adequadas para aqueles grupos que o processo de homologação deixa mais vulneráveis. Também neste caso os resultados são evidentes e verificamos que: 92 • POBREZA E PATRIMÔNIO ¬ é possível oferecer aos jovens uma formação profissional específica para garantir-lhes possibilidades para concorrer no mercado de trabalho, de modo que possam ser inseridos na lista das agências privadas de emprego; ¬ é possível fornecer créditos através de agências especializadas, mesmo para aqueles trabalhadores que não têm como apresentar garantias formais; ¬ é possível recuperar a escolaridade e aumentar a frequência escolar retomando o significado e o valor educativo da família. Partilhando a situação, enfim, é possível criar instrumentos e métodos de ação capazes de incidirem sobre a responsabilidade da pessoa diante da própria vida. É este o primeiro passo para ajudar as pessoas a melhorarem a sua condição de vida, e isso é válido até para as famílias mais vulneráveis. P O V E R T À E PAT R I M O N I O : LA COMUNITÀ DEL PLANALTO II Enrico Novara Érlia EstevesBenevides Achilles Gonçalves Coelho Júnior Paulo Frederico Bulos SOMMARIO PREFAZIONE Vincenzo Petrone .............................................................. 11 PRESENTAZIONE.................................................................................. 97 CAPITOLO 1 Persona e Talenti: il punto di partenza nei programmi per la riduzione della povertà Enrico Novara, in collaborazione con Giorgio Capitanio L’impatto con la povertà urbana ...................................... 99 Percorso di conoscenza: l’incontro tra un’energia umana e una presenza .................................................... 102 Punti metodologici: persona, condivisione delle necessità e incontri umani operativi ...................................... 107 Percorso operativo: rafforzare il patrimonio ...................... 110 Riferimenti Bibliografici ................................................ 114 CAPITOLO 2 Il Planalto II e il Progetto Rafforzamento della Comunità Achilles G.Coelho Jr. Érlia Esteves Paulo F. Bulos La Comunità del Planalto II: Aspetti Storici .................... Azioni anteriori al progetto ............................................ La situazione iniziale degli elementi del patrimonio della Comunità del Planalto II ........................................ Obiettivi e Risultati ...................................................... Quadro Logico .............................................................. Flussogramma delle Attività .......................................... Situazione della Comunità del Planalto II dopo la realizzazione del Progetto .................................. 117 119 123 128 134 135 149 Obiettivo Specifico 1 Miglioramento delle condizioni di vita del Planalto II ........ 149 Risultato A : Rafforzamento dell’Identità della Comunità Risultato B: Recupero Scolastico di Adolescenti e Alfabetizzazione di Adulti Risultato C: Incremento del Lavoro e del Reddito Risultato D: Aumento dell’Accesso ai Servizi Sanitari di Base ed Educazione Ambientale Obiettivo Specifico 2 Rafforzamento della capacità istituzionale del Municipio .. 165 Risultato E: Sistematizzazione e Trasmissione dell’Esperienza CAPITOLO 3 Considerazioni finali Enrico Novara, in collaborazione con Giorgio Capitanio Elementi che hanno favorito il potenziamento della comunità .............................................................. 169 ALLEGATI (CD-ROM) ALLEGATO 1 Situazione Iniziale della Comunità del Planalto II Érlia Esteves ALLEGATO 2 Descrizione delle attività del Progetto Achilles G.Coelho Jr. Paulo F. Bulos ALLEGATO 3 Situazione Postprogetto della Comunità del Planalto II – Indicatori di Risultato Achilles G.Coelho Jr Paulo F. Bulos ALLEGATO 4 Mappe di rete • 97 PRESENTAZIONE Il Progetto di Rafforzamento della Comunità del Planalto II – Ipatinga/MG nacque da una collaborazione tra l’AVSI (Associazione Volontari per il Servizio Internazionale), CDM (Cooperação para o Desenvolvimento da Morada Humana) e PMI (Prefeitura Municipal de Ipatinga) con l’intenzione di diventare un progetto pilota, replicando la metodologia utilizzata in altre aree a basso reddito del municipio. Il progetto si poneva l’obiettivo di contribuire al miglioramento della condizione di vita della popolazione dell’area a basso reddito della comunità del Planalto II in Ipatinga/MG, mettendo in atto interventi di sviluppo socioeconomico per ridurre il grado di povertà e vulnerabilità della comunità, rafforzando la capacità istituzionale del municipio e sostenendo lo sviluppo di politiche e metodologie integrate per affrontare la povertà urbana. L’AVSI e PMI si sono avvalse del contributo del Ministero degli Affari Esteri del Governo Italiano e della Provincia Autonoma di Trento, per le risorse finanziarie che hanno reso possibile lo sviluppo del progetto, previsto inizialmente per la durata di 2 anni. La presente pubblicazione offre ai lettori una visione sistematica dello sviluppo del progetto, cercando di trasmettere la metodologia applicata nell’intervento, rendendo esplicite le attività svolte dalle sue battute iniziali nell’ambito di un contesto storico specifico fino alla fase finale. Nel Capitolo 1, presentiamo l’esperienza acquisita nel decorrere degli anni di lavoro dell’AVSI e CDM in Brasile, sul tema della povertà. Il processo di conoscenza sul tema della povertà ha reso possibile la realizzazione di un percorso metodologico e operativo per l’affronto di tale realtà. Nel Capitolo 2, recuperiamo il contesto storico dal quale è sorta la comunità del Planalto II e i lavori precedenti di AVSI, CDM e PMI (Amministrazione Comunale di Ipatinga) che hanno affrontato la pianificazione degli interventi per il recupero di aree informali urbane e la definizione di politiche per la diminuzione della povertà nel municipio. Gli studi iniziali ci hanno permesso di conoscere la realtà del quartiere del Planalto II, a partire dai dati rilevati abbiamo formulato gli obiettivi e i risultati che potevano essere raggiunti nella comunità. Abbiamo 98 • POBREZA E PATRIMÔNIO evidenziato i principali aspetti metodologici presenti in tutta l’elaborazione e l’esecuzione del progetto. In seguito, presentiamo il Quadro Logico del Progetto che propone una visione generale degli obiettivi e dei risultati ed elenchiamo le attività svolte, rispettando cronologicamente le fasi di sviluppo del progetto. Il Flussogramma delle Attività offre una visione sintetica di tutte le attività realizzate, rapportandole ai risultati presi in considerazione e ai prodotti scaturiti da ognuna di loro. Sempre in questa parte, presentiamo i dati che si riferiscono alla situazione della comunità del Planalto II dopo gli interventi, illustrando, con alcuni indicatori quantitativi, i principali cambiamenti identificati a partire dalle azioni del progetto, e le testimonianze di varie persone coinvolte nel progetto, tecnici e abitanti della comunità, che esplicitano i cambiamenti generati nella vita personale e della comunità, confermando il raggiungimento degli obiettivi e dei risultati attesi. Infine, nel Capitolo 3, discutiamo le principali conclusioni formulate a partire dall’esperienza del presente progetto, integrandole in un orizzonte di riduzione della situazione di povertà e rendendo espliciti i modi concreti, possibili ed efficaci per intervenire su questo tema. L’Allegato 1 traccia una situazione dettagliata della comunità prima dell’inizio del progetto partendo da ricerche realizzate insieme alla PMI. Nell’Allegato 2, descriviamo analiticamente le attività realizzate, evidenziando l’obiettivo specifico di ognuna di loro. In questa parte si trova una visione piú dettagliata delle attività realizzate attraverso il progetto, seguendo una logica di tempo e strategica. Includiamo anche alcune osservazioni e delucidazioni che consideriamo importanti per la comprensione del processo d’intervento. Nell’Allegato 3 si trova una lista integrale degli indicatori di obiettivo, indicatori di risultato e indicatori di attività, elaborata per la valutazione dell’efficacia delle azioni sviluppate dal progetto. Infine, nell’Allegato 4 é riprodotta una rapprezentazione grafica delle Mappe di Rete iniziale e finale. Gli allegati presentati nel compact disc e che hanno semplicemente la funzione di approfondire quanto relatato nel testo mantengono la versione originale in portoghese. Il Progetto di Rafforzamento della Comunità Planalto II – Ipatinga/MG iniziato alla fine del 1999 chiude le sue attività nel dicembre 2002. Presentando come si è sviluppato e come sono stati raggiunti gli obiettivi e i risultati proposti, richiamiamo l’attenzione del lettore soprattutto all’attitudine metodologica presente nello svolgere le attività previste; è quest’attitudine che ha favorito l’affronto delle reali necessità delle persone della comunità, mediante proposte di intervento chiare, prendendo in considerazione l’integrità della persona umana. • 99 CAPITOLO 1 Persona e Talenti: il punto di partenza in programmi di riduzione della povertà urbana Enrico Novara, in collaborazione con Giorgio Capitanio “Non le case dai bei tetti, non le pietre di mura ben costruite, non i canali nè le banchine fanno le città, ma gli uomini capaci di sfruttare l’opportunità” Alceo (poeta greco VII secolo A.C.) L’impatto con la povertà urbana Alcuni anni fa, appena arrivato in Brasile per coordinare insieme alla Amministrazione Municipale di Belo Horizonte un programma di riqualificazione urbana di alcune aree della città, mi sono imbattuto in un fatto che mi ha aiutato ad introdurmi nel complesso problema della povertà urbana. Una delle prime azioni previste dal programma Alvorada1, era la pianificazione e la realizzazione di interventi di ampliamento del sistema viario e di integrazione dei servizi urbani nella favela Senhor dos Passos2. Il programma Alvorada nasce da un accordo di cooperazione tra il Ministero degli Affari Esteri del Governo Italiano e vari organismi pubblici brasiliani tra i quali assumono un ruolo fondamentale il “Governo do Estado de Minas Gerais” con la “Secretaria do Trabalho e Ação Social” e la “Prefeitura de Belo Horizonte”. L’obiettivo principale dell’intervento é il miglioramento delle condizioni di vita delle popolazioni che abitano le favelas della città. L’operoso partenariato con il Comune ha portato alla definizione di strumenti urbanistici di intervento nelle aree povere e ha rappresentato un primo significativo elemento della nuova politica abitativa della Capitale. In preparazione della II Conferenza sugli Insediamenti Umani delle Nazioni Unite svoltasi a Istambul nel 1996, la municipalità di Dubai ha promosso, in collaborazione con 1 100 • POVERTÀ E PATRIMONIO Questa favela rappresenta un tipico esempio di insediamento informale della capitale minera. Arroccata in un’area centrale della città dalla topografia fortemente irregolare, è frutto di un processo lento, ma continuo, di occupazione dei declivi di una antica cava di pietre da cui era stato estratto il materiale per la costruzione della città. In queste situazioni, ogni metro di allargamento della strada va conquistato con molta “conversa” ed una buona dose di “cafezinhos”, usando creatività per ridurre di quel metro il fronte della casa senza perderne la funzionalità, ma trovando la soluzione che, oltre all’evidente beneficio collettivo, offra anche un beneficio diretto per la famiglia soggetta all’intervento. Un’ area di questa favela destava principalmente la nostra preoccupazione. Si trattava di una ventina di case costruite in un avvallamento del terreno che nel periodo delle piogge veniva regolarmente allagato poichè non vi era possibilità di drenaggio delle acque3. Inoltre la bassa qualità costruttiva, l’alta densità territoriale della zona, l’angustia e la precarietà del sistema viario consigliavano un intervento spaziale significativo. Così dopo varie discussioni con gli abitanti, si è deciso di rimuovere le case, formulare una nuova ipotesi distributiva e ricostruire nuove abitazioni in uno spazio urbano che permettesse una miglior qualità di vita. Di questo gruppo faceva parte anche “dona Efigenia”, una signora di 75 anni che da oltre 40 viveva in quell’area. A motivo della sua età non aveva partecipato che saltuariamente agli incontri con il gruppo. Mi recai pertanto a casa sua per spiegarle l’idea e comunicarle ciò che era stato deciso; il tutto con il mio pronunciato accento italiano. Dona Efigenia ricevendomi pacatamente mi ha spiegato che le inondazioni stagionali non erano di fatto un grave problema, perchè da tempo aveva trovato una soluzione. UNCHS, un concorso per selezionare 20 Best Practises da presentare alla Conferenza. Il programma Alvorada venne selezionato tra queste prime 20 proposte, essendo inserito l’anno successivo nelle 100 Best Practises che Habitat II ha presentato all’attenzione di esperti e di “policies makers” come possibili soluzioni alle problematiche della gestione degli insediamenti umani. Contemporaneamente il programma venne selezionato dalla “Secretaria de Politica Urbana do Ministerio do Planejamento” tra i 20 migliori interventi realizzati in Brasile. Per una descrizione succinta del programma si veda: URBEL: Urbanização de favelas e prevenção em àreas de risco em Belo Horizonte. In: N. Bonduki “Habitat”. As praticas bem-sucedidas em habitação, meio-ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1996, p.152-155. Mentre per una descrizione metodologica dettagliata si veda UNCHS (Habitat). Putting the Urban Poor on the map: an informal settlement upgrading methodology supported by information technology. Nairoby: UNCHS, 2000, p. 45-139. 2 Per una descrizione della favela si veda URBEL: Urbanização de favelas e prevenção em areas de risco em Belo Horizonte in N. Bonduki “Habitat”. As praticas bem-sucedidas em habitação, meio-ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1996. p.155-169. 3 Durante le piogge estive (principalmente tra dicembre e gennaio) molte aree di favelas sono esposte a forte rischio di smottamento o di allagamento. Solo in quest’ ultimo periodo, vi sono state oltre 40 vittime di smottamenti in Belo Horizonte. PERSONA E TALENTI • 101 Era infatti sufficiente posizionare una passerella sopra il livello delle acque ed infilare un altro pezzo di legno nei battenti della porta così da impedire all’acqua di invadere la casa. Collocati poi alcuni gradini all’interno era possibile accedere dalla passarella alla casa. Mi aveva spiegato come aveva “risolto” il problema facendo uso di uno strumento che chiamava “porta para a agua”. Una soluzione, quella descritta da dona Efigenia, che in verità avevo già conosciuto in un altro contesto. E’ usata in grande stile e tempestività dal Comune di Venezia quando le acque della laguna invadono la città nei giorni della cosidetta “acqua alta”. Ma dona Efigenia continuò la sua spiegazione dicendo che quello che lei aveva costruito durante gli anni era più importante che il problema oggettivo che doveva affrontare stagionalmente. Infatti abitava la casa centrale di un nucleo di tre casette molto vicine ed apparentemente costruite in un unico lotto. In una abitava suo figlio, nell’altra una sua cara amica. Dona Efigenia era la proprietaria delle case, ma concedeva all’uno ed all’altra la possibilità di abitarvi perchè il figlio l’accudiva, a motivo della sua età, e la sua amica si preoccupava di “farle la spesa”. Aveva, insomma, ricreato una unità “familiare” che non viveva sotto lo stesso tetto. Una soluzione difficile da riprodurre in un altro contesto, ma che aveva risolto il problema della solitudine nella sua vecchiaia. Quella che per noi era una situazione critica e che pertanto meritava un intervento radicale, per dona Efigenia era, al contrario, una risorsa, la principale risorsa che, con la sua creatività e col suo sforzo, si era costruita nella vita. Il nostro intervento teso ad identificare correttamente le necessità, attraverso un processo di raccolta delle informazioni ed analisi dei dati4, rischiava, per migliorare la condizione della vita e quindi ridurre la situazione di poverta’, di rompere irrimediabilmente la risorsa “famiglia” che costituiva in quel momento il principale “patrimonio” di Dona Efigenia. Questo esempio è stato il primo di una lunga serie di casi che in questi 10 anni di lavoro hanno indirizzato la scelta metodologica effettuata in vari programmi di riduzione della povertà in aree cosiddette “a rischio sociale”, affrontando problemi di infrastruttura, di ricerca del lavoro, di educazione infantile. 4 Una descrizione dettagliata degli strumenti e dei metodi di gestione delle informazioni si trova ancora in UNCHS (Habitat) Putting the Urban Poor on the map: an informal settlement upgrading methodology supported by information technology. Nairoby: UNCHS, 2000. p. 141-230. 102 • POVERTÀ E PATRIMONIO Percorso conoscenza: l’incontro tra una energia umana e una presenza È noto che un’osservazione globale, appassionata ed insistente della realtà su cui operare, permette di definire azioni ed interventi il più possibile prossimi alla realtà stessa; potremmo dire il più possibile “realistici”. Uno dei più giovani scienziati che ricevettero il Premio Nobel della Medicina, Alexis Carrel, afferma nel suo libro Riflessioni sulla condotta della vita che “Poca osservazione e molto ragionamento conducono all’errore. Molta osservazione e poco ragionamento conducono alla verità” (Carrel apud Giussani, 1997, p. 03). Con questa frase Carrel ci offre una sintesi potente del metodo scientifico; anche nel caso di programmi di sviluppo umano, la forma per intervenire sulla realtà dipende dal metodo con cui la si conosce e la si descrive. Carrel sembra dirci che solo la passione per la realtà concreta, nel modo con cui si presenta ai nostri occhi, permette di vincere una lettura dei fatti influenzata da un giudizio dato a priori e, superare, nell’azione, divisioni ideologiche. Solo così il metodo dell’azione è definito in base all’oggetto dell’intervento e non immaginato, in modo astratto, dal soggetto che lo realizza.5 Descrivere correttamente, cioe’ in modo il più possibile aderente alla realtà, il problema della povertà, rappresenta pertanto il passo decisivo per definire i contenuti dei programmi e gli strumenti adeguati di intervento. In questi ultimi anni l’ “Instituto de Pesquisa Economica Aplicada” del “Ministerio do Planejamento” ha dedicato particolare attenzione allo studio ed al dimensionamento della povertà in Brasile. La povertà è ivi affrontata nella sua dimensione di mancanza di reddito: “Esiste povertà solo nella misura in cui esistono famiglie che vivono con un reddito familiare “per capita” inferiore al livello minimo per poter soddisfare le proprie necessità elementari” (Barros et al, 2000, p. 22-23)6. Pertanto, secondo questa prima affermazione, il povero è colui che possiede un valore di reddito tale da non poter acquistare una quantità di beni sufficienti per soddisfare le proprie necessità primarie. E’ la definizione classica e ben nota della “poverty line” che conduce a calcolare valori differenti di “povertà” in funzione del contesto economico Un’ attenta descrizione del processo conoscitivo nell’ambito dei programmi di riduzione della povertà si può trovare in Gisela M.B. Solymos “Vencendo a desnutrição: abordagem psicologica” Ed. Salus paulista – São Paulo 2002 p. 17-25. Il testo fa parte della collana “Vencendo a desnutrição” di autoria di Gisela M.B. Solymos e di A.L. Sawaya pubblicata con il contributo del Banco Nacional de Desenvolvimento Economico e Social (BNDES) allo scopo di diffondere strumenti utili alle politiche pubbliche di riduzione della denutrizione. I testi della collana sono pubblicati nel sito www.desnutricao.com.br. 6 Il testo presenta un percorso completo degli studi di natura economica degli ultimi anni sul fenomeno della povertà in Brasile e di analisi dei principali tentativi di riduzione del fenomeno attraverso politiche e programmi pubblici. 5 PERSONA E TALENTI • 103 regionale e pertanto del differente valore di acquisizione di beni alimentari e di primaria necessità. Senza entrare in merito alle modalità di calcolo si accetta in genere il valore medio e significativo di 1 U$ al giorno “per capita”. La definizione della linea di indigenza è una variazione del calcolo reddituale imponendo una meta di pura sopravvivenza. I numeri del Brasile all’inizio del nuovo secolo sono ben noti: quasi 1/3 della popolazione vive al di sotto della linea della povertà di cui poco meno della metà in condizioni miserabili7. Ma la linea della povertà non descrive esaurientemente la reale dimensione economica del problema. La magnitudo della povertà è direttamente proporzionale al numero delle persone che vivono in famiglie il cui reddito per capita si trova sotto la linea della povertà e alla distanza del reddito per capita di ciascuna famiglia povera in relazione alla linea di povertà (Barros et al, 2000, p. 23). Si definisce così lo “iato di povertà”, cioè il valore economico che quella famiglia deve ricevere per portare il suo reddito al di sopra della linea di povertà. E’ possibile, in questo modo, calcolare il debito sociale del paese. Inoltre, in un contesto di grande magnitudo del fenomeno, quanto maggiore è il reddito medio per capita della nazione, cioè quanto maggiore è la distanza di tale valore dalla linea di povertà, peggiore è la distribuzione del reddito. A conti fatti, usando il coefficiente di Gini o il rapporto tra il primo e l’ultimo quintile di reddito, il Brasile risulta essere uno dei paesi che peggio distribuisce il proprio reddito. Non si caratterizza, pertanto come un paese povero, ma come un paese con tanti poveri. La definizione di povertà attraverso i pochi indicatori economici, rapidamente presentati in precedenza, permette di identificare e localizzare facilmente il gruppo vulnerabile, ma non consente di descriverne le cause e le caratteristiche, a non essere la mancanza di un reddito adeguato. Le conseguenti politiche ridistributive, dirette e necessarie, risultano più legate all’ambito dell’emergenza che al tentativo di favorire lo sviluppo della persona e della comunità. Per evitare che i beneficiari di reddito minimo dei programmi ritornino alla loro condizione di povertà precedente, sono necessarie l’articolazione e l’integrazione di altre azioni che abbiamo come obiettivo la conquista dell’autonomia (Lavinas, 2002, p. 14). Le politiche ridistributive non possono e non devono essere escluse dall’ambito delle politiche sociali, ma debbono evidentemente essere integrate con reali possibilità di crescita personale. 7 “I risultati rivelano che, nel 1999, circa il 14% della popolazione brasiliana vive in famiglie con reddito inferiore alla linea di indigenza e 34% in famiglie con reddito inferiore alla linea della povertà. In questo modo, circa 22 milioni di brasilani possono essere classificati come indigenti e 53 milioni come poveri” (Barros et al, 2000. p. 23). 104 • POVERTÀ E PATRIMONIO Il reddito minimo, per diventare uno strumento potente di lotta alla povertà e alla disuguaglianza, deve essere associato a altre politiche sociali. Una famiglia povera che abbia un reddito minimo, ma che abiti in un quartiere senza fognature, abbia figli che non possono accedere alla scuola primaria, non abbia servizi adeguati alla salute, non possa partecipare alla sfera politica in modo protagonista e sia sottomessa all’arbitrarietà delle azioni politiche, continua in un processo di povertà, di disuguaglianza sociale e di esclusione (Aguiar e Araújo, 2002, p. 32). Una seconda forma notoria di interpretare la realtà della povertà è quella che tenta di definire la “qualità di vita” o di “benessere” della popolazione, ampliando il ventaglio dei fattori che contribuiscono a determinarla oltre a quello economico. Altre dimensioni elementari, quali salute, educazione, occupazione, o più complesse, quali sicurezza e cultura, possono definire una migliore o peggiore qualità di vita. Negli ultimi anni sono stati elaborati vari indicatori di “benessere”. Tra i più usati in Brasile citiamo: l’ “Indice de desenvolvimento Humano” (IDH), messo a punto all’inizio del trascorso decennio dall’United Nations Development Programme (UNDP) e diffuso a livello mondiale per permettere un confronto tra le nazioni, e l’ “Indice de Vulnerabilidade Social” (IVS) elaborato in varie capitali del Brasile, seppur con adattamenti alla situazione locale. Entrambi sono rappresentati da un indicatore misto. Il primo si compone di tre variabili: la longevità, il livello di istruzione e il livello economico di vita, misurate rispettivamente dalla speranza di vita alla nascita, dalla percentuale di analfabetismo della popolazione in età adulta e dal tasso di scolarizzazione, ed infine dal reddito medio per capita. L’indicatore finale, che varia tra 0 (assenza di sviluppo) ed 1 (sviluppo completo), può classificare il gruppo di popolazione oggetto di studio nelle differenti categorie di sviluppo (alto, medio e basso). Anche secondo questa analisi, il Brasile risulta essere un paese disequilibrato. E’ infatti l’unica potenza economica inserita nel folto gruppo di nazioni con sviluppo medio.8 Un esempio di applicazione dell’IDH nelle politiche di riduzione della povertà in Brasile è la concentrazione di programmi settoriali di “Comunidade Solidaria” diretti a gruppi omogenei (riduzione dell’analfabetismo, “Bolsa Escola”, riduzione della mortalità infantile, incentivi alla formazione professionale) negli stati con IDH inferiore alla media nazionale, cioè nei 14 stati brasiliani considerati a basso sviluppo umano (valore di IDH inferiore a 0,5). L’ “Indice de Vulnerabilidade Social” (IVS)9 nasce dalla combinazione di oltre 20 variabili che tendono a misurare un ventaglio più ampio di dimensioni: Nel 2001 il Brasile è classificato al 69º posto. Per una presentazione delle modalità di calcolo dell’Indice di Vulnerabilidade Social elaborato dal Comune di Belo Horizonte in collaborazione con la Pontificia Universidade Catolica de BH si veda PBH. Planejar BH – Mapa de Exclusão Social, n. 8, Belo Horizonte, ago/2000. 8 9 PERSONA E TALENTI • 105 ambientale, culturale, economica, giuridica e di sicurezza. Anche in questo caso, l’indice serve per definire i gruppi maggiormente vulnerabili in un territorio e garantire la concentrazione di programmi locali e nazionali come nel caso del programma BH Cidadania in Belo Horizonte.10 Sebbene siano diverse le forme per identificare i livelli accettabili di qualità di vita, quasi sempre si definisce il povero come colui che non ha accesso stabile ad una serie di servizi che la comunità umana ha prodotto in un determinato contesto regionale. Pertanto, il povero è colui che è escluso dalla possibilità di fruire delle conquiste e dei progressi socio-economici che la società ha raggiunto nel suo articolarsi. Il povero vive quindi una situazione instabile nel contesto sociale, una situazione di estrema vulnerabilità. Vulnerabilità è infatti un concetto più ampio che la semplice assenza o necessità; significa vivere senza difese, in una situazione di insicurezza, esposti al rischio, allo scontro ed alla tensione. Certamente questo secondo approccio al tema riconosce un punto di partenza oggettivo: la povertà è un fenomeno multidimensionale e dinamico; ma introduce anche un tema molto ampio: quello dei servizi di pubblica utilità.11 Domande tipo: qual è la natura dei servizi no profit di pubblica utilità? come migliorare la qualità e l’efficienza? come valutarli12 quale deve essere il rapporto tra le politiche pubbliche e l’azione dei servizi privati no profit?, anche se affascinanti ed importanti, ci porterebbero lontano dal tema che stiamo affrontando.13 Ma vale la pena ricordare almeno due elementi di interesse per la nostra discussione: ¬ per definire la qualità è necessario definire in modo univoco lo standard accettabile di un servizio, in modo tale che iniziative comunitarie e della società civile possano misurare la qualità del proprio servizio e migliorarne le prestazioni; ¬ una forma concreta per garantire l’accesso ai servizi è quella di finanziare e promuovere servizi di pubblica utilità diretti esplicitamente alla popolazione più vulnerabile o creare le condizioni anche economiche perchè i più poveri possano accedere effettivamente ai servizi esistenti. Il programma “Bolsa – Escola”, per esempio, associa elementi di ridistribuzione del reddito alla garanzia di accesso ai servizi. Una presentazione del programma si trova em FERREIRA & AMARAL, 2001. Intendiamo per “servizi di pubblica utilità”, l’insieme dei servizi offerti alla persona sia nel settore pubblico che nel settore non profit. 12 Solo per i curiosi si veda in proposito GORI & VITTADIN, 1999. 13 Si ricorda che è in vigore una legge nazionale di grande importanza sulla classificazione ed operatività delle OCIP. 10 11 106 • POVERTÀ E PATRIMONIO Il programma Bolsa Escola è superiore ai programmi di reddito minimo perchè integra in modo strategico il complementare il reddito con l’accesso universale all’educazione combattendo l’evasione scolastica. I beneficiari sono i figli di famiglie molto povere che se non avessero questa opportunità manterrebbero la stessa bassa scolarità dei genitori e di conseguenza, in futuro, entrerebbero nel mondo del lavoro, nella migliore delle ipotesi, nelle stesse condizioni della maggior parte dei loro familiari. La logica è quella di elevare il grado di scolarità dei bambini per aumentare o meglio equilibrare le opportunità. La Bolsa – Escola consiste nel passare una risorsa mensile alle famiglie escluse, a patto che tutti i figli in età scolare frequentino almeno il 90% dei giorni effettivi del calendario scolastico (Aguiar e Araújo, 2002, p. 34-35). Al contrario, in un altro programma, chiamato “Sostegno a distanza”, Avsi mette in contatto, attraverso il versamento di una quota mensile, una famiglia con un bambino o adolescente che vive in situazione di rischio sociale, per garantire il suo percorso educativo. I fondi delle 4.000 adesioni, in Brasile, vengono destinati trimestralmente a 30 centri educativi no profit che accolgono in varie città del paese i bambini che ricevono il sostegno e sono trasformati in benefici diretti nell’ambito dell’educazione. Si è scelto in questo modo di rafforzare i servizi di pubblica utilità la cui azione è rivolta unicamente alle comunità vulnerabili. Si vede, in entrambi i casi, come il problema della qualità dei servizi, e non solo la possibilità di accedervi, diventa un elemento indispensabile per ridurre effettivamente le condizioni di vulnerabilità delle persone: è questo un elemento che merita particolare attenzione per non approfondire maggiormente la disuguaglianza esistente. Fin ora ci siamo limitati ad esaminare dall’esterno la situazione di vita dei più poveri cercando di identificare le dimensioni e le cause del fenomeno, ma l’esempio di dona Efigenia può aiutarci ad ampliare la nostra percezione della situazione di povertà. A modo suo, dona Efigenia, ha organizzato una risposta ai suoi bisogni, da sola e con poche risorse disponibili. Ha messo in gioco quello che aveva nel modo in cui le era possibile; ha messo a disposizione un insieme di “beni” che possedeva per migliorare la propria condizione di vita. E` bene notare che buona parte di queste risorse non sono direttamente riconducibili ad una valutazione monetaria: per esempio il nucleo familiare ed i rapporti di amicizia e di vicinato sono divenuti l’elemento portante della sua forma di risposta. Potremmo dire che dona Efigenia ha intelligentemente giocato i talenti che aveva. Non ha potuto sviluppare maggiormente questa sua capacità e responsabilità di fronte alla realtà perchè le circostanze non lo hanno permesso. Pertanto il povero è quella persona che non ha la possibilità di sviluppare i talenti che ha ricevuto, cioè non ha l’accesso alle reali opportunità che gli PERSONA E TALENTI • 107 consentono di sviluppare tutte le proprie potenzialità.Si può essere infatti dignitosamente poveri, come nel caso di dona Efigenia e giocare tutte le possibilità umane che si hanno per tentare di rispondere alla realtà. Possiamo porci quindi una domanda: quali risorse la comunità e le persone povere possono mettere in gioco per far fronte alla loro situazione di oggettiva vulnerabilità, di oggettiva necessità, di oggettiva assenza di beni e servizi? Per rispondere a questa domanda dobbiamo introdurci ad un altro metodo di conoscenza e di azione che non sia solo lo studio analitico del fenomeno: la condivisione delle necessità. La condivisione non elimina l’analisi, ma rappresenta il metodo più adeguato per approssimarsi alla persona e per conoscere le sue reali necessità e le sue potenzialità. Condividire vuol dire accompagnare la persona nella problematica che affronta e non guardarla dall’esterno. Condividere non vuol dire vivere la stessa condizione, ricreare la stessa condizione di vita, ma bensí essere una compagnia che permetta all’altro di portare la propria situazione e di andarvi a fondo (GIACOMINI et al., 2002, p. 20). La condivisione, cioè il “mettersi insieme per...” elimina il pericolo della “invisibilità”. Il fenomeno del velamento vale infatti anche per la società nel suo insieme o per determinati gruppi di persone. Il problema esiste ma non mi disturba, non muove la mia umanità, può essere ridotto, può diventare “invisibile” anche se lo analizzo in tutti i suoi fattori. Infatti un oggetto esistente che non entra nella sfera della mia conoscenza è come se non esistesse. La vita concreta, le necessità, le angustie, i desideri, i tentativi delle persone che vivono in situazione di povertà, per diventare fatti concreti, elementi di conoscenza e di azione, devono incontrarsi con l’energia umana della persona e della sua coscienza. L’esempio più volte citato, mette in evidenza un punto di partenza strategico in una azione di riduzione della povertà: favorire le condizioni che possono “mettere in moto” le potenzialità della persona nella sua dimensione individuale e sociale, in altre parole “mettere in gioco” quei fattori che permettono alla persona un reale sviluppo. Bisogna quindi tendere a conoscere, valorizzare, rafforzare ed indirizzare correttamente ciò che le persone hanno costruito. Punti di Metodo: persona, condivisione dei bisogni ed incontri umani operativi È possibile a questo punto stabilire alcuni punti di metodo14 che caratterizzano i nostri interventi nell’ambito della riduzione della povertà e che 14 Una descrizione più dettagliata degli elementi di metodo dell’azione di Avsi negli interventi di riduzione della povertà 108 • POVERTÀ E PATRIMONIO definiscono pertanto anche il lavoro di Ipatinga. In primo luogo risulta ovvio che la persona è il centro di ogni azione, la sua dignità e il suo sviluppo umano sono la finalità ultima di ogni tipo di intervento. Lo sviluppo umano di un popolo non deriva primariamente nè dal denaro, nè dagli aiuti materiali, nè dalle strutture tecniche, bensì dalla maturazione della mentalità e dei costumi. E’ l’uomo il protagonista dello sviluppo, non il denaro o la tecnica (Giovanni Paolo II, 1990). E’ la persona infatti il motore dello sviluppo, il fattore indispensabile di ogni sviluppo possibile: la persona con i suoi bisogni, che spesso si presentano in modo parziale ed immediato, ma anche con le sue potenzialità, i suoi desideri più profondi, i suoi tentativi di risposta ed i drammi già vissuti. Ogni persona, ogni comunità, per quanto carente, rappresenta una ricchezza e presenta un suo patrimonio. Per aiutare a sviluppare i propri talenti, a muovere la responsabilità personale bisogna valorizzare e rafforzare ciò che le persone hanno costruito, la loro storia, le relazioni esistenti, cioè quel tessuto sociale e quell’insieme di esperienze che costituiscono il loro patrimonio di vita. E’ un punto operativo fondamentale, che nasce da un approccio positivo alla realtà che fa capire alla persona il proprio valore, la propria dignità e pertanto l’aiuta ad una responsabilità. Un altro momento importante per il Brasile in preparazione alla Conferenza Habitat II è stato l’ “Encontro Internacional do Recife sobre a Pobreza Urbana” avvenuto nel mese di marzo del 1996. Al punto 4 della dichiarazione finale si legge: Ogni persona vuol essere considerata per quello che è, per quello che ha e per quello che può fare e non per quello che le manca. Il punto di partenza, sia per la formulazione delle politiche come per gli interventi, deve essere il rispetto delle opinioni e delle azioni dei poveri, delle loro iniziative e del loro modo di organizzarsi, riconoscendo il valore degli spazi urbani prodotti informalmente e delle attività economiche informali, che creano reddito e che allo stesso tempo rispondono alle necessità di base come l’abitazione, il rifornimento di acqua ecc (Declaração do Recife, 1996). urbana può incontrarsi in “Plano de Desenvolvimento Social e Ambiental do Programa Ribeira Azul” che costituisce il documento programmatico del Piano di Riduzione della Povertà Urbana nell’area di Ribeira Azul in Salvador (BA) la cui realizzazione è finanziata dalla Banca Mondiale, dal Governo do Estado de Bahia e dal Ministero degli Affari Esteri del Governo Italiano. È possibile consultare anche GATTI, M. T. The role of non Governamental organizations. In MAFFENINI, W. Parternship experiences against urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 83. PERSONA E TALENTI • 109 Questa percezione della realtà non esclude ovviamente i problemi esistenti in una comunità, le necessità espresse o latenti, non indica un chiudere gli occhi di fronte alle condizioni umane e sociali fino all’estrema ingenuità e parzialità di non considerare le vulnerabiltà presenti. Impone, al contrario, una vicinanza affettiva che permette di non soffermarsi sul bisogno parziale espresso dalle persone, partendo anzi dalla necessità parziale espressa per leggerla in funzione della totalità dell’essere umano. Mettere in gioco la responsabilità delle persone passa attraverso la riscoperta del significato del proprio essere. Ogni necessità, quand’anche essa fosse solo materiale o limitata, rimanda sempre ad un desiderio che la supera e che, con la vicinanza, può essere ascoltato e dilatato in altre direzioni per una sua utilizzazione più edificante sul piano della crescita individuale e sociale. Accogliere il tentativo di risposta messo in atto rappresenta la prima forma di ampliare la responsabilità della persona. E’ in tale esperienza di condivisione che persona e comunità vivono un processo educativo della propria responsabilità che le rende capaci di accedere concretamente alle opportunità di sviluppo che la realtà propone poichè vengono destati il desiderio e la volontà di usufruire di tali opportunità, individuando con intelligenza ciò che nella situazione già si pone come fattore e strumento di aiuto e valorizzando le politiche e gli strumenti che la più ampia comunità può mettere in campo per accompagnare e ampliare le loro possibilità d’azione. Uno sbocco operativo della responsabilità personale è la formazione di aggregazioni spontanee ed organizzate; non vi è comunità nella quale non si incontrino gruppi, più o meno formali, interni alla stessa comunità o esterni che prestino un servizio di varia natura alle persone ed alle famiglie. Anch’essi rappresentano una risorsa importante per lo sviluppo della società che nasce infatti dalla libera aggregazione delle persone e delle famiglie. Agire sullo sviluppo sociale significa anche favorire la capacità associativa, cioè riconoscere, valorizzare e stimolare il costituirsi di comunità intermedie e di un tessuto sociale ricco di partecipazione e di corresponsabilità. Il diritto di ogni persona alla libertà di associazione e di intrapresa, anche economica, si rivela, nell’esperienza, una forza potente di cambiamento. La sussidiarietà che affonda le sue radici nel pensiero di Aristotele e di San Tommaso e che è fatta propria dal trattato di Maastricht dell’Unione Europea, è più volte ripresa dalla Dottrina Sociale della Chiesa Cattolica: È ingiusto rimettere ad una maggiore e più alta società quello che dalle minori e inferiori comunità si può fare… Ne deriverebbe un grave danno ed uno sconvolgimento del retto ordine della società… Poichè oggetto naturale di qualsiasi intervento della società stessa è quello di aiutare in maniera suppletiva le assemblee del corpo sociale, non già distruggerle ed assorbirle (Papa Pio XI, 1931). 110 • POVERTÀ E PATRIMONIO Su questo aspetto si fonda il terzo passaggio metodologico del nostro operare a favore dello sviluppo e, quindi, del miglioramento sostenibile delle condizioni di vita verso un allivio delle condizioni di povertà che attanagliano una buona fetta della popolazione urbana in Brasile. L’esito dello sviluppo associativo e del rafforzamento delle comunità intermedie è la nascita di soggetti consapevoli e autonomi. Nei programmi di sviluppo è fondamentale realizzare una partnership tra tali soggetti e le rimanenti entità coinvolte, mettendo in moto sinergie e significative quantità di risorse. Si tratta di partire da un soggetto esistente che coinvolge nell’azione le amministrazioni locali, le forze sociali, le istituzioni internazionali, nel cooperare, secondo i rispettivi ruoli, per rispondere al bisogno che si incontra. È da qui che sorge il concetto di parternship: ciascun attore (comunità, società civile, imprese, organismi internazionali, potere pubblico) svolge il suo ruolo per un bene comune. C’è una diversità di ruoli, una differenziazione nella definizione delle azioni e della loro esecuzione, nel processo di valutazione dei risultati raggiunti, ma non esiste una separazione o meglio una divisione tra il “pensare” e il “fare”. Un legame stretto tra i partners porta ciascuno a mettere in gioco tutte le proprie potenzialità in termini di esperienze e conoscenze: una partnership forte reca benefici e vantaggi al programma in termini di efficacia e sostenibilità. Lo sforzo, che deve essere quindi fatto per poter pensare alla realizzazione di programmi di sviluppo, è quello di coinvolgere le politiche pubbliche e sensibilizzare amministrazioni, istituzioni e governi a collaborare con i servizi offerti dalle associazioni spontanee, offrendo loro, quando possibile, appoggio e sussidi, nel rispetto della libera vocazione di ogni comunità intermedia. Nello stesso modo in cui la partecipazione è implicita nel progetto di sviluppo, la parternship è un aspetto costitutivo della definizione e realizzazione delle politiche nel rispetto del ruolo e della capacità di ogni attore, non è un elemento che si “aggiunge dopo”. La parternship consiste nel porre le decisioni, e pertanto la definizione delle politiche (e non solamente la loro realizzazione), in quel livello dell’aggregazione sociale che ha la capacità di costruire e mettere in pratica modi di rispondere ai problemi. È necessario, pertanto che le politiche si sottomettano all’esperienza, è necessario che i responsabili per l’elaborazione delle politiche pubbliche si sottomettano a quel livello di aggregazione sociale capace di fornire risposte sotto forma di esperienze. Percorso operativo: rafforzare il patrimonio Terminando lo studio comparativo, realizzato per la Banca Mondiale, sulle modalità con le quali quattro comunità povere in quattro diversi continenti hanno PERSONA E TALENTI • 111 reagito alla crisi economica degli anni ottanta, la sociologa Caroline Moser (1996) conclude che, nell’analisi di una comunità è importante “identificare non solo le minacce, ma anche le capacità di adattarsi, di approfittare delle opportunità e di resistere agli effetti negativi dei cambiamenti dell’ambiente esterno. I mezzi per resistere sono le risorse che gli individui, le famiglie e le comunità possono mettere in gioco per far fronte alle necessità, pertanto la vulnerabilità è strettamente vincolata al possesso o non possesso di risorse. Quanto maggiori sono i beni, minore è la vulnerabilità e quanto maggiore è la loro erosione tanto maggiore è l’insicurezza (p. 2). Se estendiamo l’osservazione della Moser non solo ai beni materiali15 e consideriamo l’uomo nella sua incessante ricerca di significato che gli fa mettere in moto tutte le potenzialità ed i talenti che possiede, la considerazione finale non cambia, anzi assume una configurazione più completa. Chiamando “patrimonio”, l’insieme delle risorse tangibili ed intangibili di cui le persone può disporre si può concludere che: P = f (1/V) (1) il patrimonio è inversamente proporzionale alla situazione di vulnerabilità delle comunità povere, quindi per ridurre la vulnerabilità bisogna rafforzare le risorse di cui la comunità può disporre per far fronte a situazioni critiche. Possiamo anche affermare che un programma di riduzione della povertà deve, come suo obiettivo principale, contribuire all’aumento del patrimonio delle comunità; anche un’azione settoriale, pensata e disegnata per ridurre o eliminare una situazione specifica di rischio, contribuisce al miglioramento del patrimonio. L’obiettivo di un intervento di riduzione della povertà può essere sintetizzato nella seguente formula: ∆P = Po x I (2) La variazione del patrimonio (∆P) è data dalla reale incidenza dell’azione di progetto (I), qualunque essa sia, sul patrimonio iniziale (Po) di quella data comunità. Un’azione in sè positiva può infatti non produrre l’impatto sperato, solamente quando la persona è in grado di cogliere l’opportunità offerta, cioè quando l’azione incide sul patrimonio iniziale mettendolo in azione in modo stabile, è possibile creare le condizioni per ridurre la vulnerabilità all’interno delle famiglie e della comunità. 15 Sul concetto di risorse si veda anche NERI In HENRIQUES, 2000. p. 509-517. 112 • POVERTÀ E PATRIMONIO Un corso di formazione professionale, ad esempio, che non consideri l’impatto che il contesto socio-economico e familiare genera sui giovani e sulla loro identità, non mette in grado gli alunni di affrontare il mondo del lavoro; occorre investire sulla loro formazione umana, recuperare prima gli elementi che aiutano a riprendere il significato del lavoro per la loro vita. In termini generali l’azione deve far leva sulle risorse esistenti (e deve essere pertanto adeguata nella sua formulazione metodologica e nei suoi tempi di realizzazione) per garantire un reale incremento del patrimonio delle comunità. Un soggetto esterno (pubblico, privato o della società civile) che voglia contribuire allo sviluppo della comunità atttraverso un’azione di qualsiasi natura (sia essa di miglioramento urbano, di costruzione della rete di energia elettrica, di fomento della produzione di reddito), non può “sostituirsi” alla comunità beneficiaria bensì deve svolgere azioni di supporto. La ricerca dei “fattori positivi”, degli “acceleratori di sviluppo”, dei soggetti intermediari efficaci che possono rappresentare un valore aggregato all’azione specifica, deve preoccuparci fin dall’inizio del progetto. L’integrazione delle azioni è pertanto una necessità del progetto perchè, come si è mostrato, la persona vive la povertà come dimensione unitaria e non frammentata in una serie di bisogni tra loro indipendenti. La povertà urbana, ai fini della valutazione e della definizione delle politiche, mostra un paradosso. Per i poveri è un tutto invisibile, una realtà quotidiana, mentre le istituzioni che hanno il compito di debellarla la vedono come un problema che deve essere affrontato attraverso una serie di programmi, generalmente frammentari, poco cordinati tra loro e, nel migliore dei casi, parzialmente efficaci. Senza dubbio c’è una grande distanza tra la dimensione della povertà come è vissuta dai poveri e la diversità delle risposte proposte dalle istituzioni (Declaração do Recife, 1996). Un progetto di riduzione della povertà16 deve quindi investire su quelle azioni che aumentano il patrimonio secondo una scansione chiara: ¬ l’incremento del patrimonio dei gruppi più vulnerabili; ¬ la promozione dei fattori che tendono ad equilibrare il patrimonio; ¬ la garanzia della sostenibilità dei benefici raggiunti con l’azione del progetto. Il progetto di rafforzamento della comunità del Planalto II nasce da queste premesse. La comunità ha origine con il trasferimento di circa 600 famiglie 16 I passi operativi di un programma di riduzione della povertà sono presenti in GATTI, NOVARA in Gatti Mt, Novara E. “The real city. Methods and actions implemented by Avsi to upgrade informal urban areas in MAFFENINI W. Parternship experiencesagainst urban poverty F Angeli, Milano 2003, pag 14. PERSONA E TALENTI • 113 dall’area centrale del municipio di Ipatinga in Minas Gerais. Nel processo di trasferimento, il municipio aveva avuto l’attenzione di mantenere unite le famiglie creando un nuovo quartiere non lontano dall’area centrale che la comunità aveva occupato col processo di costruzione della stessa città. Dalla preoccupazione di non terminare il progetto con la costruzione delle case, ma di trasformare l’intervento in una reale opportunità di sviluppo della comunità, nasce l’incontro tra la “Prefeitura de Ipatinga”, la “Comunidade do Bairro Planalto II” e AVSI. L’obiettivo del partenariato è quello di garantire reali condizioni di sviluppo attraverso le azioni di consolidamento e rafforzamento della comunità previste successivamente alla ri-locazione delle famiglie.17 17 Le principali azioni di rilocazione delle famiglie previste nel progetto sono presentate in SILVA, J. I. Rosas Guia de Reassentamento Involuntario de População Urbana de Interesse Social. Programa Soma, Belo Horizonte, 1999. Nel documento vengono presentate anche le direttive generali di programmi di rilocazione di comunità. 114 • POVERTÀ E PATRIMONIO Riferimenti Bibliografici AGUIAR, M.& Araújo C.H. Bolsa escola: educação para enfrentar a pobreza. Brasília: Unesco, 2002. p. 32. BARROS, R. Paes de et al. A estabilidade inaceitàvel: desigualdade e pobreza no Brasil. In: HENRIQUES, R. Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2000. p 22-37. FERREIRA, AL.; VELOSO, C & AMARAL T. do. BH Cidadania: o percurso da política socia. In: Pensar BH – Política Social, Belo Horizonte, 2001. GATTI, M.T. The Role of Non-Governmental Organizations. In: MAFFENINI, W. Partnership experiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 83. _______ & NOVARA, E. The Real City. Methods and actions implemented by AVSI to upgrade informal urban àreas. In: MAFFENINI, W. Partnership experiences aginst urban poverty. Milano: Franco Angeli, 2003. p. 14. GIACOMINI, M.R.; HAYASHI; M.& PINHEIRO, S. A. O trabalho social em favela: o método da condivisão. In: SOLYMOS, G. M. B. Coleção Vencendo a Desnutrição: abordagem psicologica. São Paulo: Salus Paulista, 2002. p. 20. GORI, E.& VITTADINI G. Qualità e valutazione nei servizi di pubblica utilità. Milano: Etas, 1999. GIUSSANI, L. Il senso religioso. Milano: Rizzoli, 1997. LAVINAS, L. Programa de garantia de renda mínima e ação coordenada de combate à pobreza. In: AGUIAR, M. & ARAÚJO, C.H. Bolsa Escola: educação para enfrentar a pobreza. Brasília: Unesco, 2002. MOSER, Caroline O. N. Situaciones criticas: reacciòn de las familias de cuatro comunidades urbanas pobres ante de la vulnerabilidad y de la pobreza. Washington D.C: Banco Mundial, 1996. NERI, M. Políticas estruturais de combate à pobreza no Brasil. In: HENRIQUES, R. Disegualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2000. p 509-517. PAULO II, João. Redemptoris Missio, n. 58-59, 7 de dez.,1990. PBH: Planejar BH – Mapa de Exclusão Social, Belo Horizonte, n.8, ago., 2000. PIO XI, Papa. Enciclica Quadragesimo Anno, 15 de maio, 1931. SILVA, J. I. Rosas Guia de reassentamento involuntàrio de população urbana de interesse social. Programa Soma, Belo Horizonte, 1999. SOLYMOS, G. M. B. Coleção Vencendo a desnutrição: abordagem psicològica. São Paulo: Salus Paulista, 2002. p. 17-25. PERSONA E TALENTI • 115 UNCHS (Habitat). Putting the Urban Poor on the map: an informal settlement upgrading methodology supported by information technology. Nairoby: UNCHS, 2000. p. 45-139. UNCHS (Habitat). Pobreza: um desafio mundial, Declaração do Recife, Recife, 1996. URBEL:Urbanização de favelas e prevenção em àreas de risco em Belo Horizonte. In: N. Bonduki Habitat: As pràticas bem sucedidas em habitação, meio-ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras. São Paulo: Studio Nobel, 1996. p.152-155. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 117 CAPITOLO 2 Il Planalto II e il Progetto di Rafforzamento della Comunità Achilles G. Coelho Jr. Érlia E. Benevides Paulo F. Bulos La Comunità del Planalto II: Aspetti Storici La città di Ipatinga situata nella Valle dell’Aço, nello Stato di Minas Gerais, a 217 km da Belo Horizonte, è cresciuta sotto l’influenza marcante dell’industrializzazione, toccata da un flusso immigratorio avvenuto nelle città brasiliane durante gli ultimi decenni. Questo fenomeno ha provocato il “riempimento” delle città e la crescita disordinata dei centri urbani, generando aree con gravi problemi. Gli spazi urbani furono occupati senza pianificazione e sono poi diventati nuclei di povertà le cui caratteristiche sono, tra le altre, il crescente livello di violenza, la mancanza di servizi di base, di infrastrutture e l’inadeguatezza delle costruzioni. Generalmente, la scolarizzazione è bassa, gli abitanti sono molto insicuri rispetto alla proprietà del terreno, hanno difficoltà di inserimento sul mercato del lavoro, hanno una salute cagionevole e la partecipazione alla vita della comunità è precaria, insomma sono soggetti altamente vulnerabili Il Planalto II fu formato da molte famiglie che occupavano l’area centrale della città a partire dalla sua fondazione e da altre che vi si erano insediate a partire dal “boom” della crescita della popolazione provocato dall’installazione dell’industria Usiminas, negli anni 60. In quell’epoca, un grande numero di persone e famiglie fu attratto dalla possibilità di ottenere un posto di lavoro, provocando cosí una crescita disordinata dell’area centrale della città. Si verificò cosí il rapido passaggio da una città con caratteristiche e costumi ancora rurali ad una cultura piú urbana. 118 • POVERTÀ E PATRIMONIO Per affrontare questa situazione, il Municipio di Ipatinga – PMI – stava realizzando un insieme di Programmi per migliorare la situazione urbana, tra questi evidenziamo il programma di intervento nell’area centrale della città, “Programa Novo Centro”, finanziato dal PROGRAMA SOMMA, con l’obiettivo di rimuovere l’occupazione irregolare nella parte bassa della città, specialmente la popolazione residente ai margini del fiume Ipanema18. Tali programmi diedero origine alla costruzione del quartiere Planalto II, destinato alle famiglie provenienti dalla parte bassa della città. Questa popolazione, stabilitasi nel Planalto II, presentava un insieme di fattori che rendeva i suoi abitanti molto vulnerabili: occupavano aree soggette ad inondazioni lungo il fiume Ipanema, in abitazioni di bassa qualità la cui rimozione era necessaria per una nuova urbanizzazione del centro della città; dal punto di vista sociale, si configurava una situazione critica che coinvolgeva prostituzione, uso di alcool e droghe, disoccupazione, basso livello di scolarizzazione e precarie condizioni di salute. Evidentemente esistevano, anche se fragili, alcuni legami tra gli abitanti che vivevano nella stessa strada, nello stesso vicolo, ma il gruppo che costituí la comunità del Planalto II, ancora non si configurava nella sue essenza come una comunità, poichè si trattava di gruppi differenti, la maggior parte di loro viveva solo situazioni di vulnerabilità molto simili. Ristabilitisi nel Planalto II, con un totale di 600 abitazioni, gli abitanti furono nuovamente divisi in due gruppi: il gruppo dei proprietari (300 abitazioni di cui i nuclei famigliari possedevano immobili nell’area toccata dal Projeto Novo Centro), e altre 300 abitazioni le cui case furono costruite in un regime di mutirão (n.d.t.: aiuto gratuito che le persone si danno reciprocamente ma di cui uno solo è il beneficiario), per quegli abitanti che risiedevano nell’area del progetto, ma che non erano proprietari di immobili. Dal punto di vista sociale, i pochi e fragili lacci (probabilmente costruiti dai bisogni) che legavano in qualche modo le persone che abitavano vicine prima della rimozione, diventarono ancora piú fragili o in molti casi furono distrutti dando origine all’isolamento in alcuni casi e a relazioni conflittuali in altri casi. Trovo che sia assurdo parlare della costruzione di due chiese, questo è come se fosse un solo quartiere, ma ora rimangono solo dei gruppetti (parla un’abitante del Planalto in un incontro di ricerca qualitativa, criticando altri abitanti che difendevano la creazione di una chiesa per 18 “Il progetto Novo Centro, concluso nel 1997, fu il maggior programma delle opere del progetto SOMMA in Minas Gerais e oggi é indicato dalla Banca Mondiale come riferimento per progetti simille in America Latina”. Il progetto ha avuto un finanziamento di US$ 3 milioni con una parternship tra il Bird e il Governo dello Stato. (Fonte http://www.ipatinga.mg.gov.br). IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 119 chi aveva costruito in regime di mutirão e un’altra per la parte dei proprietari). Quando ci trasferimmo nel Planalto, fu come se ci fosse un trattore che sradicava tutte le case della mia via e le ricollocava qui nel Planalto, nessuno ha cambiato posto, ma oggi, sembra che nessuno piú si conosca, nessuno parla piú con nessuno... (parla un abitante del Planalto II, durante un incontro di ricerca qualitativa, affermando che le relazioni esistenti tra gli abitanti della sua strada si erano perse dopo il trasferimento). Quando c’era il mutirão tutti venivano qui perchè volevano avere una casa; dopo averla avuta, ognuno è andato a casa sua ed è come se piú nessuno si conoscesse (parla un’abitante del Planalto durante un incontro di ricerca qualitativa, commentando l’isolamento degli abitanti dopo aver ricevuto la casa). Le famiglie che integrarono la comunità del Planalto II non erano dal punto di vista storico e socio-culturale ciò che si potrebbe denominare immediatamente una comunità, benchè il Projeto Novo Centro le considerasse in funzione dell’occupazione di una stessa area geografica come “la comunità del Planalto II”. Azioni Anteriori al Progetto Nel 1997 fu firmata la prima convenzione tra il Municipio di Ipatinga, l’AVSI e la CDM, una cooperazione tecnica e finanziaria che si sviluppò tra il 1997 e il 1998 (nella 1ª fase), con lo scopo di sviluppare direttive per l’elaborazione di un piano di interventi contro la povertà urbana nella città. Il processo, insieme al Municipio, includeva la qualificazione di tecnici per la conoscenza, l’approccio e gli interventi sulla povertà urbana nelle Aree di Speciale Interesse Sociale (AEIS) e l’elaborazione di un progetto di finanziamento. Per raggiungere le mete stabilite dalla convenzione furono realizzate le seguenti attività: 1. Il Corso di Perfezionamento, Sviluppo e Amministrazione di Programmi per la Riduzione della Povertà Urbana. Il fenomeno della povertà nelle aree urbane è caratterizzato da molteplici fattori e implicazioni socio-economiche e fisico-ambientali, pertanto per affrontarlo è necessario pianificare con molta attenzione azioni multisettoriali che abbiano efficacia a medio e lungo termine. Questa fu la premessa che orientò il Corso di Perfezionamento per 30 tecnici e amministratori del Municipio appartenenti a varie segreterie, con il quale furono qualificati a elaborare e amministrare piani integrati di intervento per la lotta alla povertà urbana. 120 • POVERTÀ E PATRIMONIO 2. Diagnostico e Direttive di Intervento. Secondo la metodologia di intervento si definí che l’approccio alla povertà urbana nella città sarebbe stato fatto a partire dall’analisi del patrimonio, cercando di identificare la vulnerabilità maggiore o minore delle persone e della comunità. La ricerca fu realizzata in ventisei aree considerate come Aree di Speciale Interesse Sociale che stavano costituendo una sfida per il Municipio19, che dava priorità e aiuto graduale alla popolazione piú bisognosa attraverso programmi comunali. Il lavoro di diagnostico era volto a conoscere meglio la realtà di quelle persone, per formulare programmi pubblici, integrandoli nella città. I dati e le informazioni furono raccolti sul campo attraverso: ¬ RITRATTO DELLA COMUNITÀ: Fu realizzata una ricerca campione intitolata “CONVIDA” (Condizioni di Vita della Popolazione) con 850 interviste per l’elaborazione del diagnostico della situazione di vita delle comunità delle aree di speciale interesse sociale della città. Le informazioni raccolte composero la banca dati con riferimenti geografici che permisero di visualizzare i problemi che affliggevano la popolazione e le soluzioni messe in atto; ¬ INFORMAZIONI DEI SERVIZI PUBBLICI: Le segreterie della Sanità e dell’Istruzione fornirono le informazioni sui programmi in corso e i servizi da loro offerti. Il sistema GIS (Sistema di Informazioni Geografiche) fece una relazione geografica di quei servizi e programmi per analizzarli nella loro efficienza e efficacia rispetto alle domande delle comunità carenti sulle quali era stata fatta la ricerca; ¬ INFORMAZIONI GEOGRAFICHE: Si formulò una rappresentazione geografica di tutti i dati raccolti utilizzando come base cartografica la raccolta aerofotogrammetrica delle città fornita dalla DATASERV (settore di informatica della PMI) e dalla sezione amministrativa dei quartieri delle regionali. Una volta completato il sistema di informazioni e basandoci sui prodotti, cartine, tabelle e grafici, elaborammo l’analisi della povertà nella città nel documento “Ritratto della Povertà Urbana di Ipatinga. Direttive per la Riduzione”, che conteneva il diagnostico e le direttive di intervento contro la povertà nelle AEIS oggetto della ricerca.20 Le Aree di Speciale Interesse Sociale sono caratterizzate per la loro forma omogenea e occupate da popolazione con bassissimo reddito famigliare, compreso tra 0 e 3 salari minimi. L’elaborazione del documento “Ritratto della povertà urbana di Ipatinga. Direttive per la Riduzione” ha contribuito con l’amminstrazione comunale all’iscrizione al Programma Habitat BID – Programma Vivere Meglio; gli studi iniziali e i dati sono stati usatii nell’elaborazione del documento che doveva essere presentato per l’approvazione del finanziamento. Il fatto che la PMI abbia iniziato tali studi nel momento in cui le risorse del BID erano disponibili fece sì che la città fosse la prima città dello Stato ad avere il finanziamento del programma Habitar Brasil/BID. 19 20 IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 121 3. Progetto di Postoccupazione. Il passo seguente della formazione è consistito nella costruzione di un progetto pilota per un intervento integrato contro la povertà urbana nell’area prescelta, il Planalto II, che doveva servire come base per la moltiplicazione del processo nelle altre aree povere della città. La popolazione del Planalto II è stata scelta come oggetto del progetto perchè, pur essendo stata oggetto di un intervento dal punto di vista urbanistico, con la costruzione di case, aveva la necessità di un programma che intervenisse sugli altri elementi del patrimonio rimasti senza la dovuta attenzione. Considerando infatti il concetto di povertà a partire dall’analisi del patrimonio, un intervento solo sulle abitazioni non affrontava integralmente la situazione di povertà di quelle persone. Attraverso la ricerca quantitativa e qualitativa, si iniziava il primo passo di conoscenza insieme a quella comunità. Tutti i dati e le informazioni raccolte, cosí come i contatti con gli abitanti e gli attori locali, sono stati fondamentali per capire i fattori di maggior vulnerabilità delle persone di quella comunità, nel tratti materiali, umani e sociali. L’incontro iniziale con gli abitanti ha reso possibile la comprensione di alcuni aspetti: il quotidiano della comunità, il profilo degli abitanti e dei suoi leader, le relazioni ingarbugliate o lineari in seno alla comunità, come le persone si muovevano di fronte alla realtà della loro vita. I contatti, in occasione delle ricerche, lasciavano prevedere un’apertura per un lavoro da fare insieme, alcuni arrivarono persino ad esprimere l’augurio che il lavoro sociale sviluppato con loro con la costruzione delle case mutirão si potesse ripetere. Le direttive indicate hanno integrato il testo del progetto di postoccupazione per il Planalto II, denominato allora Progetto di Rafforzamento della Comunità del Planalto II, inoltrato al Ministero degli Affari Esteri – MAE, del Governo Italiano, per ottenere il finanziamento. Il progetto si proponeva di rafforzare la comunità beneficiata dal programma di reinsediamento, garantendo la stabilità dell’incremento fatto in relazione al patrimonio, all’habitat e allo sviluppo delle altre componenti del patrimonio di quella popolazione, utilizzando una metodologia di intervento integrata contro la povertà urbana. Essendo stato approvato nel settembre del 1999, il progetto è stato implementato nello stesso anno. Percorso delle Azioni rivolte alla Riduzione della Povertà Urbana nella Città di Ipatinga Corso su come intervenire per la Riduzione della Povertà Urbana nella città di Ipatinga Studio della Povertà nella Città: Tappa di conosccenza ¬ Qualificazione di tecnici e amministratori per studiare forme di approccio della povertà urbana. ¬ Definizione delle 26 aree che avrebbero integrato lo studio sulla povertà nella città. Modulo I: approccio alla problematica della povertà urbana, metodi di intervento e le forme di partecipazione delle comunità. Sono stati presentati studi di casi brasiliani e del PGU (Programma di Gestione Urbana) della Banca Mondiale; esperienze di microcredito (Banco do Povo); metodi e strumenti usati nel processo di integrazione urbana; esperienza della CDM/AVSI in urbanizzazione di favelas in Belo Horizonte - MG e in Salvador BA. Completando il primo modulo sono stati presentati i programmi di promozione sociale, sviluppati dal Municipio di Ipatinga, nel campo della sanità, istruzione, edilizia e ambiente. ¬ Definizione, conforme allo approccio della povertà definita, di strumenti adeguati alla lettura della povertà nella città. Modulo II: è stato dedicato ai tecnici che avrebbero utilizzato gli strumenti informatici. Sono state date lezioni sulla Banca Dati, di Semiologia grafica e dei Software: Mapinfow e AUTOCAD. Oltre alle lezioni, i tecnici hanno potuto fare uno stage alle dipendenze della CDM lavorando con i propri dati rilevati a Ipatinga. ¬ Studio di strumenti per intervenire contro la povertà esistente nella città (a partire dagli elementi del patrimonio). ¬ Preparazione delle èquipe per realizzare la raccolta dei dati. ¬ Contatto con le comunità e mobilitazione per le ricerche. ¬ Realizzazione delle ricerche nelle comunità. ¬ Elaborazione di un progetto pilota di azioni integrate contro la povertà e avvio del progetto per ottenere il finanziamento. Elaborazione di direttive di piani municipali di riduzione della povertà ¬ Trattamento dei dati rilevati. ¬ Definizione degli essere valutare. indicatori da ¬ Geo-Processo dei dati. ¬ Elaborazione dei diagnostici dei dati. ¬ Definizione delle direttive di intervento contro la povertà nella città. Gerarchizzazione di aree in funzione del criteri per il Programma Habitar Brasil-BID. ¬ Assistenza al Municipio per l'elaborazione di strumenti di supporto all'elaborazione di progetti per l'intervento nelle aree povere della città a partire dalle direttive di intervento contro la povertà nella Città: ¬ Documento di Gerarchizzazione della povertà nella città. Inizio della Implementazione del Progetto ¬ Ripresa del percorso di lavoro sulla povertà nella città. ¬ Rappresentazione del progetto alla èquipe del Municipio. ¬ Definizione della èquipe di gestione e dei tecnici e segreterie per lavorare nel progetto. ¬ Definizione delle metodologiche. direttrici ¬ Firma di una convenzione cooperazione tra AVSI, CDM e PMI. ¬ Contatto iniziale con la comunità. ¬ Presentazione del progetto alla comunità e attori sociali presenti. ¬ Implementazione delle azioni. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 123 La situazione Iniziale degli Elementi del Patrimonio della Comunità del Planalto II Definito l’approccio con il quale sarebbe stato analizzata la povertà nella città, sono state realizzate varie analisi sulla situazione di ogni fattore del patrimonio delle persone nel quartiere Planalto II. Le informazioni che costituiscono questo ritratto iniziale della comunità sono relative al momento dell’elaborazione del progetto nel 1997 e ad alcune alterazioni identificate nel 1999, anno in cui il progetto iniziò ad essere sviluppato. Presentiamo di seguito i dati piú rilevanti com il proposito di discutere il progetto realizzato e i cambiamenti nella comunità sorti a partire da tali interventi. Per una miglior comprensione della situazione iniziale della comunità si veda l’allegato 1. Capitale Sociale Esisteva nella comunità, nel 1997, una capacità organizzativa molto debole, centrata su una leadership chiamata “il presidente del quartiere”; nonostante il nome, era una leadership poco rappresentativa e non riusciva a smuovere ed organizzare la comunità per affrontare i principali problemi vissuti dagli abitanti. C’era una carenza di servizi urbani nel quartiere e un difficile accesso ad alcuni servizi pubblici nei quartieri vicini. La ricerca indicò che nel 79% delle famiglie non c’era alcun coinvolgimento con l’Associazione degli abitanti; il 74% ha dichiarato che non era coinvolto in nessun tipo di attività di carattere comunitario. Nonostante l’esigua rappresentanza dell’associazione degli abitanti, nel 52% delle abitazioni oggetto della ricerca, si riconobbe che le rivendicazioni per il miglioramento del quartiere erano state fatte attraverso questa istituzione comunitaria. Nella comunità c’era un alto livello di frammentazione, una mancanza di fiducia in quello che il gruppo poteva fare e una mancanza di orientamento rispetto a ciò che si doveva affrontare. Era piccola la vivenza di un’esperienza di partecipazione, non solo rispetto al voto, ma rispetto al prendere parte di determinate decisioni che influiscono sulla vita, sia assumendo responsabilità e usufruendo dei benefici, sia assumendo le conseguenze delle decisioni. Delle risorse fisiche riconosciute dagli abitanti come spazio formale di riferimento per le attività comunitarie fu nominata la casa sociale21 nel Planalto, come la piú rappresentativa,citata infatti dal 31% degli abitanti intervistati; la “creche”22; la casa del presidente del quartiere o di altri membri dell’associazione e le scuole sono state citate dal 34% degli intervistati. La ricerca qualitativa ha Casa Sociale: Casa costruita nell’epoca del mutirão della costruzione delle case e destinate ad attività sociali (corsi, laboratori, riunioni, ecc.) insieme alla comunità. 22 Creche: corrispondente di Asilo Nido e Scuola Materna. 21 124 • POVERTÀ E PATRIMONIO identificato una grande domanda per un’area di divertimento, un’area di uso collettivo e aree verdi nella comunità. Chiedevano anche un lavoro di educazione ambientale da svolgere insieme agli abitanti, visto che le aree che potevano essere destinate a tale scopo erano completamente inquinate e trascurate, nel caso dei laghi, o con restrizione d’uso, nel caso del campo di calcio del Veneza – che nonostante avesse il nome del quartiere vicino si trovava all’interno del Planalto II. La ricerca mostrò la posizione della comunità rispetto alla sicurezza degli abitanti all’interno della propria comunità e rispetto all’offerta dei servizi di sicurezza e di controllo della polizia. La maggior parte; degli abitanti intervistati, il 62%, affermò che la comunità aveva problemi di sicurezza. Tra i casi piú citati: furti per il 42,8%; coinvolgimento per droghe per il 16%; stessa percentuale per liti di strada e ancora il 6% per violenza, stupri e mancanza di controllo della polizia. C’era da parte del 49% degli abitanti la protesta che il quartiere usufruisse soltanto sporadicamente del servizio di polizia. La popolazione di Ipatinga, rispetto agli abitanti del Planalto II, mostrava um preconcetto che oltre ad escludere gli abitanti di questa comunità dalla possibilità di inserimento sul mercato del lavoro, aveva delle conseguenze sull’autostima delle persone che si sentivano incapaci ed emarginate dalla società, escluse anche dai rapporti con le persone. Questa sfiducia degli altri nei loro confronti, si trasformava in sfiducia tra loro, rafforzando la frammentazione della comunità. La rete di appoggio e di servizi della comunità del Planalto II era, nei primi anni di insediamento di quella comunità ridotta. I servizi erano localizzati nei dintorni del quartiere, non c’era una scuola che servisse direttamente la comunità e neanche un servizio sanitario di base nelle vicinanze. La creche, costruita durante il mutirão, era chiusa e abbastanza danneggiata, la casa sociale, sorta nella stessa epoca, realizzava ancora alcune attività come corsi, ma non piú con la stessa intensità dell’epoca del mutirão; l’Associazione degli abitanti, senza sede, non mostrava grande capacità organizzativa nella comunità e neanche la capacità di chiamare altri attori per intervenirvi. La situazione nel 1999, anno in cui è iniziata l’implementazione del progetto, si differenziava poco da quella descritta: la casa sociale era chiusa e non sviluppava piú attività sociali per gli abitanti; i servizi sociali e di appoggio si erano leggermente ampliati, ma lavoravano in modo isolato senza scambi tra loro, nonostante servissero gli stessi utenti; molti offrivano i loro servizi ma senza coinvolgersi con uno sviluppo piú globale della comunità. Era stata costruita la scuola comunale Paulo Freire, la creche era stata ristrutturata e stava funzionando, era stata costruita un’unità sanitaria nel quartiere Veneza, vicino al Planalto II. Per quanto riguarda gli attori comunitari era no stati creati IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 125 un’associazione di abitanti adolescenti, un gruppo di agenti sanitari di minore età, un gruppo di madri della creche e il Gruppo delle Donne Emarginate che, creato all’epoca del mutirão, si era riunito per dare sostegno alle altre donne della comunità. L’amministrazione pubblica era rappresentata dalle segreterie dell’Istruzione, della Sanità e dell’Edilizia – quest’ultima stava realizzando un monitoraggio della situazione delle abitazioni e dell’occupazione nel quartiere. C’era anche una ONG locale, l’ARCA di Noè, che iniziava a organizzare corsi di qualificazione professionale per gli abitanti della comunità. Relazioni familiari Nei nuclei familiari, i cui capifamiglia erano sposati, prevaleva nel 73% dei casi l’assunzione della responsabilità da parte degli uomini, negli altri erano le donne che l’assumevano. Il fatto che le famiglie avessero una struttura instabile e molte fossero mantenute e gestite dalle donne, aveva un peso nel contesto di questa comunità. Oltre al basso livello di scolarità, alla poca qualificazione, alla sottoccupazione e ai salari bassi, fattori comuni nelle aree di concentrazione della povertà, c’era un aggravante in relazione alle donne del Planalto II: essendo oriunde della zona disgregata e della prostituzione della città di Ipatinga, molte di loro, anche se trasferitesi nel Planalto II e pur cercando una nuova occupazione, per il fatto di non avere un marito, continuavano ad essere trattate come prostitute e avevano una grande difficoltà a conseguire qualsiasi tipo di lavoro. La condizione socioeconomica era abbastanza instabile: i redditi bassi alleati ad un numero elevato di componenti delle famiglie e a un esiguo numero di persone che lavoravano come sostegno familiare, alzava l’indice di dipendenza economica domiciliare. Educazione Il basso livello d’istruzione era stato confermato dalle ricerche realizzate con gli abitanti del Planalto II che avevano evidenziato che nessuna persona della comunità era riuscita ad arrivare all’università. Il secondo grado era stato raggiunto soltanto dal 5,51% degli abitanti. La gran parte, corrispondente al 63,98% delle persone, non oltrepassava il primo grado. L’indice di analfabetismo era abbastanza elevato, quasi il 10,5%, concentrato nella popolazione in età superiore ai 25 anni. Era evidente che gli abitanti del Planalto II abbandonavano la scuola molto presto senza concludere l’insegnamento primario, fatto questo confermato dal livello di scolarità degli abitanti. Un altro indice interessante rilevato era il numero delle persone, tra i 7 e i 20 anni, che avevano già abbandonato la scuola all’epoca della ricerca: il Planalto II presentava all’interno delle varie aree povere della città uno dei maggiori indici, circa il 22% delle persone in quella fascia d’età. Altro problema serio era il ritardo scolastico, ossia il numero degli alunni che presentavano uno sfasamento tra l’età e la classe frequentata, la percentuale di coloro che presentavano ritardo scolastico 126 • POVERTÀ E PATRIMONIO raggiungeva il 26% degli alunni. Chiedendo ad alcuni genitori di commentare questi indicatori, vari imputavano gran parte dei problemi ai propri figli che, secondo gli stessi, sarebbero stati disinteressati o con difficoltà di apprendimento; anche la mancanza di partecipazione molto reclamata dagli educatori, era stata ampliamente confermata dall’80% delle famiglie che avevano detto di non partecipare in alcun modo della vita scolastica dei propri figli; solo il 20% disse di partecipare attivamente alla vita scolastica dei figli, accompagnandoli a scuola, aiutandoli a eseguire i compiti o partecipando alle attività pedagogiche. L’avvicinamento famiglia-scuola è stata una delle linee educative poste come obiettivo durante il corso del progetto. I programmi del Municipio per il recupero di classi e l’istruzione di giovani e adulti (DESAFIO e MOVA) non erano molto conosciuti; solo nel 24% delle case, oggetto di indagine, gli abitanti hanno affermato di conoscerli, nel 16% c’erano persone che vi avevano già partecipato o che stavano partecipando al MOVA, la medesima percentuale di alunni che frequentavano il “supletivo”. Essendo questo un programma vincolato all’insegnamento regolare, garantiva una maggior partecipazione degli abitanti nelle scuole dove studiavano, cosí nel 50% delle abitazioni c’erano alunni che partecipavano a quel programma. Nel 1999 nello scenario dell’istruzione avvennero delle alterazioni: ci fu l’implementazione della scuola municipale Paulo Freire e i programmi educazionali, Desafio e Mova, furono estesi al quartiere. Lavoro La comunità del Planalto II presentava un indice del 32,6% di persone che lavoravano e il 7,1% di persone disoccupate. Tra quelle che stavano lavorando, solo il 15,7% aveva una stabilità, ossia, lavorava con il libretto di lavoro, il 32% aveva un contratto di lavoro a tempo determinato e il 52% faceva attività sporadiche, senza vincoli formali, libretto di lavoro o contratti firmati; questo fatto contribuiva a nascondere il reale tasso di disoccupazione nella comunità, oltre a aumentare la vulnerabilità dei nuclei familiari di questi lavoratori. Oltre alle questioni congiunturali che difficoltavano l’accesso al mercato del lavoro, la popolazione in età attiva del Planalto II presentava due serie aggravanti. La prima riguardava il livello di scolarità dei lavoratori che era molto bassa, il 72% dei disoccupati non oltrepassava il primo grado, il 28% di loro possedeva solo il livello primario di scolarità e solo l’11% era riuscito ad arrivare al secondo grado. Il secondo aspetto che difficoltava era che la forza lavoro del Planalto II era composta nella sua maggioranza da lavoratori con poca o nessuna qualifica professionale: lavoratori a ore, custodi, manovali, domestici, sorveglianti ecc. Fu evidenziata una bassa predisposizione degli abitanti per un’attività in proprio. In termini di percentuale, esistevano nel Planalto II nel 1997, il 9% di IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 127 lavoratori autonomi. Tra quelli che avevano una propria attività, si è osservato che le condizioni erano molto deboli dal punto di vista economico, gestionale e della struttura fisica. Sanità Una questione di rilievo riguardante la salute concerneva la propria concezione di salute e gli atteggiamenti di cura. I dati presentati mostravano che nella comunità del Planalto II la salute era pensata sotto il prisma della malattia, curata come un qualcosa di fastidioso. Fu constatato all’epoca che ci si rivolgeva al sistema sanitario nell’81% dei casi, nelle situazioni di emergenza. Soltanto il 17% degli intervistati affermava di ricorrere ai servizi pubblici sanitari per la prevenzione. Altre modalità di cura identificate dagli abitanti erano forme di automedicazione e di medicina alternativa. Quanto al quadro epidemiologico, le malattie piú frequenti tra gli adulti erano malattie respiratorie per il 17,5%, seguite da ipertensione per il 12,5% e depressione per il 10%. Tra la popolazione infantile, nel 32% delle famiglie, c’erano casi di malattie respiratorie (influenze, laringiti e faringiti), seguite da parassitosi citate nel 25% e bronchiti nel 21% delle famiglie. Altre malattie come diarrea per bambini, diabete, alcolismo, polmonite per gli adulti sono state citate ma con indici minori. Le discussioni sulle principali malattie nella comunità, le loro cause e le forme per controllare o eliminare il problema, sono entrate a far parte del progetto con il lavoro di un gruppo di abitanti e di agenti volontari sanitari. L’accesso ai servizi sanitari era difficoltoso a causa dell’assenza di un’unità sanitaria nella comunità o nelle vicinanze, obbligando la maggior parte degli abitanti, (72%), a spostarsi fino all’Unità Sanitaria del Centro. L’11% andava al Pronto Soccorso Municipale e l’8% all’Unità Sanitaria Canaã. Nello scenario della situazione sanitaria nel 1999, si verificò che l’accesso ai servizi sanitari fu facilitato dalla costruzione dell’unità sanitaria nel quartiere Veneza, vicino al Planalto II. Nonostante ci fossero agenti volontari sanitari nel quartiere, questi non avevano formazione, orientamento e strumenti adeguati che li aiutassero ad affrontare i problemi sanitari della comunità, anche se mostravano grande interesse e disponibilità. Altra risorsa identificata nell’anno dell’implementazione del progetto, fu il gruppo di agenti sanitari Mirim, creato con il proposito di aiutare la comuntà a riflettere sulle questioni relative alla loro salute e su come prevenire le malattie. Condizioni ambientali Le case costruite nel quartiere Planalto II possedevano un’infrastruttura basica completa (acqua, luce, fognature) e costituivano il patrimonio piú forte 128 • POVERTÀ E PATRIMONIO della comunità in quel momento. Nonostante fosse localizzato un un’area bella, il quartiere presentava dal punto di vista fisico-ambientale alcuni piccoli problemi: si rendeva necessario un intervento urbanistico per impedire che le acque della pioggia che scendevano dai pendii arrivassero fino alle case localizzate nelle vicinanze, creando dei rischi per gli abitanti e danni alle abitazioni. Per questo problema si costruirono dei piccoli canali per condurre l’acqua dai pendii fino alla parte bassa, sfociando in uno dei laghi esistenti nella comunità. Quest’opera doveva essere, fin dall’inizio del progetto, il punto di partenza per la discussione con gli abitanti sugli interventi nella comunità, la loro importanza, le forme di coinvolgimento della comunità e di preservazione dell’ambiente. Questa discussione aprì le porte ad un dialogo permanente con la comunità durante tutta la durata del progetto. Il secondo aspetto ambientale che meritava attenzione erano i laghi. Esistevano nella comunità tre piccoli laghi molto degradati che richiedevano un intervento di riqualificazione perchè diventassero di fatto una risorsa per la comunità e non una fonte di problemi come la trasmissione di malattie. Nonostante il livello di urbanizzazione, in alcune parti del quartiere c’erano alcuni luoghi di raccolta di immondizia che richiedevano un intervento. Infine, i pendii attorno al quartiere avevano bisogno in quasi tutta la loro estensione di interventi di arborizzazione per evitare l’erosione del suolo o l’occupazione irregolare di dette aree. Obiettivi e Risultati Come primo obiettivo il progetto mirava a contribuire al miglioramento delle condizioni di vita della comunità, senza pretendere di risolvere i problemi indicati nella descrizione iniziale, non solo perchè il tempo previsto dagli interventi era insufficiente, ma anche perchè dipendevano da un contesto legato allo scenario nazionale sociopolitico ed economico. Cercammo di favorire dei processi che permettessero alla comunità di costituire una propria identità che avrebbe aiutato ad assumere un atteggiamento responsabile di fronte alle situazioni che dovevano essere risolte gradativamente con il coinvolgimento di tutti. Cercammo inoltre di facilitare l’accesso al quartiere, ai servizi della città (istruzione, sanità, lavoro ecc) integrando quella comunità appena formata, e soprattutto i gruppi vulnerabili, al rimanente scenario urbano. Per raggiungere questo primo obiettivo, sono stati definiti i quattro primi risultati del progetto: Rafforzamento della comunità, Recupero scolare degli Adolescenti e Alfabetizzazione di Adulti, Incremento di Lavoro e Reddito e integrazione nel Mercato del Lavoro e infine Aumento dell’Accesso ai Servizi Sanitari di Base ed Educazione Ambientale. La definizione dei quattro primi risultati del progetto si riferisce ai problemi piú evidenti vissuti dagli abitanti del Planalto II. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 129 Il secondo obiettivo riguarda la qualificazione del personale amministrativo del municipio locale e la definizione della metodologia e degli strumenti adeguati per affrontare la povertà, entrando negli aspetti specifici. Questo avrebbe permesso la continuità della qualificazione realizzata nella convenzione precedente. Nel secondo obiettivo, devono essere aggregati i risultati già raggiunti attraverso il percorso rivolto alla comprensione della povertà e gli interventi contro la povertà urbana nella città di Ipatinga durante i lavori già realizzati.23 Nonostante ci sia stato un intervallo tra la fase della conoscenza e della pianificazione di interventi contro la povertà nella città e questa fase di intervento pilota di un progetto integrato contro la povertà, il progetto del Planalto II rappresenta questa sequenza nel percorso rivolto alla riduzione della povertà urbana nella città di Ipatinga. Pertanto, il progetto è stato strutturato nei suoi obiettivi, risultati ed attività per raggiungere delle mete a tre livelli: 1. Rafforzare la comunità nel suo insieme; 2. Rafforzare le persone in grado di continuare ad aiutare lo sviluppo della comunità; 3. Rafforzare gruppi specifici che si trovavano in una situazione di maggiore vulnerabilità. Risultato A: Rafforzamento dell’Identità della Comunità L’assenza di identità con il nuovo spazio e i dintorni, i legami sociali fragili e/o frammentari, tra abitanti le leadership poco rappresentative e poco organizzate a livello comunitario, i conflitti sociali, l’alcolismo e le droghe costituivano, come abbiamo già visto, i principali problemi della comunità. Nello stesso tempo verificammo risorse presenti nella propria comunità: le persone rispondevano positivamente ai momenti collettivi e esprimevano il desiderio di mutare, attraverso richieste di aiuto, l’organizzazione della comunità; già esistevano creatività e talenti, anche se nascosti ed isolati in ogni abitazione. L’esistenza di un insieme di attori intermediari che già attuavano in quell’area facilitava la proposta di un lavoro integrato. Per sviluppare questo risultato, era necessario affrontare con gli abitanti del Planalto II il tema dell’identità, in relazione allo spazio, in relazione al gruppo e in relazione a se stessi (o a una identità personale). Per l’identità in relazione allo spazio si trattava di avviare un processo di identificazione con lo spazio fisico, con le case, con le attrezzature e gli spazi pubblici, cercando di favorire il processo di appropriazione del quartiere. Sentendo lo spazio come qualcosa di 23 Vedi Punto 2: “Azioni Anteriori al Progetto” di questo stesso capitolo. 130 • POVERTÀ E PATRIMONIO proprio, le attitudini di attenzione, di preservazione e manutenzione del quartiere avrebbero contribuito non solo con l’habitat ma con il processo di integrazione della comunità. L’identità in relazione al gruppo si riferiva alla necessità di rafforzare i legami di solidarietà e la capacità di riconoscersi proprio come una comunità. Infine, l’intervenire sull’identità personale significava contribuire con processi che superassero lo stigma che le persone portavano rispetto al resto della città e che aveva conseguenze dirette sia sul processo di integrazione sociale, sia sull’immagine e sull’autostima degli abitanti. Questa è stata una grande sfida che ha orientato metodologicamente lo sviluppo del percorso di lavoro che è stato fatto su due fronti che in pratica si incrociavano: con le persone della comunità ed i gruppi organizzati e con gli attori sociali che attuavano nell’area. Le azioni piú concrete, come la costruzione di opere come il parco, la piazza e il salone comunitario, avevano come motivazione l’aspetto piú fondamentale del lavoro inziale con questa comunità: la riscoperta delle proprie capacità e dei talenti, riscattando l’identità delle persone e cercando di rafforzare l’idea della comunità. Si cercò di lavorare per rafforzare i legami con il nuovo spazio abitativo e tra gli abitanti, rafforzando la solidarietà e la responsabilità personale e collettiva. L’operazionalizzazione del primo risultato può essere divisa in quattro grandi blocchi: a. L’incontro con la comunità; b. La costruzione di attrezzature di uso collettivo; c. La creazione di istanze di partecipazione e di un lavoro in congiunto e il processo formativo degli attori sociali coinvolti; d. Le azioni integrate ai risultati del progetto. Risultato B: Recupero Scolastico di Adolescenti e Alfabetizzazione di Adulti Nell’intervallo tra la presentazione del progetto al finanziatore e la sua approvazione si era risposto a molte domande della comunità riguardo l’istruzione. Erano stati implementati i programmi d’istruzione come DESAFIO e MOVA e la Scuola Municipale Paulo Freire. Sulla base dello scenario dell’istruzione incontrato al momento dell’implementazione del Progetto, la situazione esigeva altri investimenti piú qualitativi, nel senso di potenzializzare il processo di insegnamento/ IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 131 apprendimento degli alunni del Planalto II. Secondo professori e direttori di scuola, gli alunni continuavano a presentare problemi di apprendimento, di comportamento e problemi psicologici. Definita una metodologia di lavoro che valorizzasse gli altri fattori del patrimonio, l’intervento sull’educazione formale doveva essere attuato nel senso di stimolare gli alunni, ma a partire dalle attività che permettessero agli stessi di mostrare le loro capacità, per poi influire sugli altri aspetti. Le ipotesi sulle linee di intervento furono le seguenti: ¬ Rispetto agli alunni: la sensibilità artistica, l’abilità sportiva e la facilità di apprendimento pratico che caratterizzavano gli alunni del Planalto II erano indizi di una possibilità di sviluppo di attività di supporto. Attività di carattere sportivo, artistico, professionalizzante e altre vincolate al progetto potevano portare in superficie le capacità di affrontare i problemi di apprendimento; ¬ Rispetto ai familiari: l’ipotesi era che la realizzazione di attività sociali per le famiglie avrebbe contribuito a migliorare il processo educazionale degli alunni del Planalto II, visto che i loro problemi di apprendimento sembravano legati, nella maggior parte dei casi, a difficoltà socioeconomiche che affrontavano nelle loro famiglie. Si volevano aiutare i responsabiliad acquisire un’attenzione per la vita scolastica del bambino, aiutandoli ad identificare quelle attitudini e quelle attenzioni che potevano offrire ai bambini e che avrebbero favorito l’impegno e il successo scolastico dei figli a scuola; ¬ Rispetto ai professionali delle istituzioni educative: si trattava di aiutare a guardare e affrontare i problemi comuni che affrontavano, identificando tanto il problema quanto le possibili cause e le proposte di soluzione. Oltre a ciò si cercava di rispondere ad alcuni bisogni della creche situata nel quartiere: l’ampliamento della struttura fisica avrebbe permesso di aumentare il numero di posti per i bambini del quartiere e di offrire migliori condizioni di sviluppo alle attività pedagogiche; la preparazione degli educatori attraverso laboratori di formazione che esaminassero temi specifici del lavoro quotidiano che non venivano affrontati dai programmi di formazione della municipalità. Risultato C: Incremento del Lavoro e del Reddito La filosofia del progetto che poneva come premessa il recupero della dignità e dei valori umani, in questo risultato, sembrava ancor piú vitale, poichè si trattava di far sì che le persone in età attiva ritrovassero la fiducia in se stessi e potessero credere nelle loro abilità e capacità, soprattutto perchè si trattava di una popolazione con una bassa scolarizzazione, senza qualificazione professionale che viveva ai margini della grande industria e senza accesso ai posti di lavoro. In questo senso il coinvolgimento di molti lavoratori nelle azioni sviluppate dal progetto ha permesso di scoprire il talento di badare alle 132 • POVERTÀ E PATRIMONIO attrezzature collettive, come il parco, ed è servito come motivazione per iniziare un percorso ancora più complesso nel quale diventava necessario identificare le abilità, migliorarle attraverso la qualificazione e mettere nel mercato forza lavoro o prodotti e servizi nel caso di imprenditori autonomi. La prima fase dell’operazionalizzazione di questo risultato del progetto è stata dedicata alla conoscenza, alla raccolta di informazioni, per la definizione di direttive di incremento di lavoro e di reddito che dovevano essere implementate. Prima di pianificare le azioni, si cercò di conoscere ed identificare: ¬ Le risorse degli abitanti e le loro condizioni per ottenere un lavoro; ¬ Gli strumenti e i programmi disponibili sul mercato; ¬ Le opportunità economiche del mercato locale; ¬ Gli attori presenti con i quali si potesse stabilire una collaborazione. Mirando alla realizzazione di questo risultato del progetto, sono state fondamentali per il miglioramento delle condizioni di inserimento nel mercato e dell’incremento del reddito le seguenti azioni: ¬ Formazione Umana che valorizzava e potenzializzava il sapere e il potenziale creativo di ogni persona; ¬ Qualificazione Tecnica al fine di dotare i lavoratori e gli imprenditori delle minime condizioni che il mercato esigeva; ¬ Articolazioni di Collaborazione per inserire lavoratori, prodotti e servizi sul mercato, rompendo cosí le barriere imposte dallo stigma che si portavano gli abitanti del Planalto II. Risultato D: Aumento dell’Accesso ai Servizi Sanitari di Base ed Educazione Ambientale Anche nell’area sanitaria, lo scenario era cambiato per la costruzione pianificata di un’unità sanitaria. Anche in questo caso siamo partiti dal principio che l’offerta del servizio non si attua automaticamente con l’accesso allo stesso, ma ha soprattutto a che vedere con l’educazione della popolazione per l’attenzione rivolta alla salute.24 Si è attuata una metodologia coerente con la logica che stava regolando tutte le altre linee delle azioni del progetto: conoscere ed identificare le domande, i problemi di salute affrontati dalla popolazione e le risorse a Durante le visite alle scuole della località, ci furono testimonianze di professionali dell’educazione che riferirono la mancanza di attenzione verso la salute della popolazione del Planalto II, utilizzando como spiegazione il fatto di non avere accesso ai servizi sanitari, anche se offerti con una buona qualità e grande disponibilità. 24 IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 133 disposizione per affrontarli, comprendendo se di fatto la risorsa disponibile fosse accessibile a tutte le famiglie della comunità. Considerando la poca preoccupazione con le attività quotidiane di prevenzione da parte della popolazione e l’esistenza di iniziative degli attori locali rivolte ad aiutare gli abitanti a pensare alla propria salute, si decise di lavorare su tre direttive: ¬ la prima, sviluppando con gli abitanti un percorso educativo che passasse attraverso la discussione dei problemi di salute e l’identificazione delle cause e di misure preventive quando si trattasse di cause controllabili, aiutando nella comprensione della rete di servizi di appoggio esistenti e nella miglior forma per accedervi; ¬ la seconda direttiva di lavoro era rivolta alla potenzializzazione del lavoro degli attori che erano già coinvolti con la sanità nella comunità, come il Centro di Salute e il Gruppo di Agenti Sanitari Mirins; ¬ la terza realizzando azioni sanitarie, come parte del processo formativo, e rivolte ad affrontare alcuni problemi di salute vissuti dagli abitanti del quartiere. Pertanto, per raggiungere il risultato di “Aumento dell’Accesso al Servizio Sanitario di Base ed Educazione Ambientale”, è stato definito un percorso formativo insieme alla comunità e agli attori sociali che lavoravano nel campo sanitario, con l’intento che il problema della salute potesse essere affrontato da tutti. Comprendendo che le questioni di salute dovevano essere pensate in relazione congiunta con altri aspetti come l’habitat, l’ambiente e l’educazione sono state definite azioni integrate che avevano un legame diretto con la salute. L’altra linea di azioni relative alla realizzazione di questo risultato del progetto era riferita alla questione ambientale. Considerando i problemi ambientali del quartiere, ma anche la ricchezza delle risorse esistenti, la necessaria ed effettiva integrazione delle attività di educazione ambientale alle altre già in atto nel progetto, soprattutto la sanità e l’organizzazione comunitaria, si defini che le attività dovevano aiutare l’identificazione degli aspetti di configurazione ambientale della comunità che interessavano la salute, per poi cercare soluzioni insieme agli altri attori e agli abitanti della comunità. Ha prevalso nella definizione del percorso per lo sviluppo di questo risultato la seguente logica: l’identificazione delle cause dei problemi di salute, l’individuazione delle risposte della propria comunità e della rete di appoggio, l’inizio del lavoro di rafforzamento delle azioni degli attori e dell’intercambio tra loro, l’avvicinamento dei servizi sanitari della popolazione e la realizzazione di azioni per affrontare alcuni problemi indicati. Nella sequenza del progetto si è cercato di approfondire la qualificazione tecnica di un gruppo di attori per migliorare la qualità della risposta alle necessità della popolazione. Rispetto alla 134 • POVERTÀ E PATRIMONIO questione ambientale si è optato per l’integrazione trasversale delle attività di educazione ambientale alle altre attività in sviluppo del progetto, credendo che questa integrazione avrebbe permesso di raggiungere risultati piú duraturi. Quadro Logico Il Quadro Logico “è uno strumento di gestione di ogni fase del ciclo del progetto ed è lo ‘strumento maestro’ a partire dal quale si elaborano altri strumenti, come ad esempio il calendario di esecuzione e il piano di monitoraggio.”25 Con questo strumento sono presentati in forma sintetica e logica gli obiettivi del progetto, i risultati che permettono di raggiungere gli obiettivi e le attività eseguite al fine di raggiungere ogni risultato. Attraverso il Quadro Logico sono visualizzate tutte le attività sviluppate nel progetto, rispettando la cronologia di ogni fase di sviluppo. Le attività elencate nel Quadro Logico che presentiamo seguono una logica temporale, dividiamo il progetto in tre fasi: Fase Iniziale, Fase di Implementazione (suddivisa in tre momenti: Costruzione di Opere, Pianificazione ed Esecuzione) e Fase Finale. La Fase Iniziale è caratterizzata dalla presentazione del progetto ai beneficiari delle azioni, la comunità del Planalto II e il Municipio di Ipatinga (PMI), e dalla definizione delle prime azioni che coinvolgono tali beneficiari. La Fase di Implementazione è caratterizzata dall’inizio delle attività che tentano già di rispondere agli obiettivi e ai risultati proposti. In questo nostro progetto, la “Costruzione di Opere” si è configurata come un momento significativo di inserimento nella comunità, perchè attraverso la costruzione di un complesso comunitario, è stata coinvolta la comunità in varie azioni di responsabilizzazione e preservazione, permettendo una partecipazione attiva nella costruzione degli obiettivi che dovevano essere raggiunti. Una volta coinvolta la comunità, insieme ai tecnici della PMI e ai tecnici dell’AVSI/CDM, è stata iniziata la “Pianificazione” delle attività che, pur già delineate nel progetto iniziale approvato dai finanziatori, aveva bisogno di essere adeguata agli aspetti più attuali della realtà, coinvolgendo tutti in una formazione-azione, o meglio in una pianificazione che diventasse già un intervento educativo. Una volta pianificate le azioni, il momento dell’Esecuzione è stato segnato dalla realizzazione delle attività in ogni settore, o risultato del progetto dal momento che molte accadevano simultaneamente. La Fase Finale è consistita nella realizzazione delle attività che aiutassero gli abitanti della comunità ad appropriarsi delle conseguenze delle azioni sviluppate durante tutto il progetto, rafforzando nelle leadership un’attitudine di responsabilità di fronte alla comunità e aiutandolie a rendersi conto che per continuare le azioni che stavano sviluppando era solo questione di riconoscere e mantenere un cammino che era tracciato da piú di tre anni. 25 Manual Gestión Del Ciclo de Proyecto. Commisione Europea. Marzo 2001. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 135 Flussogramma delle Attività Il Flussograma delle Attività è uno strumento che si pone l’obiettivo di presentare sistematicamente tutte le attività realizzate dal progetto, permettendo, sinteticamente, la comprensione di ciascuna e identificandone i prodotti corrispondenti. Dal Flussogramma delle Attività si rileva anche a quale risultato e a quali obiettivi le attività rispondono. In seguito uno schema che aiuta nella comprensione del Flussogramma che sarà presentato posteriormente. AQUI, ANTES ENTRA ENCARTE: Quadro Logico del Progetto Quadro Logico del Progetto Attivitá Obiettivi Obiettivo 1: Miglioramento della condizione di vita della popolazione del Planalto II, riducendo il grado di povertá e vulnerabilitá Risultati Fase Iniziale a. Rafforzamento della Comunitá ¬ Entrata nella comunitá ¬ Preparazione del Forum Comunitario ¬ Lancio delle opere Fase di Implementazione Costruzione delle opere Pianificazione Esecuzione ¬ Costruzione del Complesso Comunitario ¬ Costituzione delle Équipe Tematiche ¬ Intercambio dei principali attori e riflessione sull’esperienza accumulata N.B.: Sviluppo delle attivitá settoriali relazionate agli altri risultati che dovrebbero raggiungere questo risultato specifico. ¬ Formazione di leader e gestori comunitari b. I s t r u z i o n e : recupero scolare degli adolescenti e alfabetizzazione degli adulti ¬ Contatti con scuole ¬ Identificazione di gruppi vulnerabili ¬ Laboratori socio-educativi* ¬ Realizzazioni di corsi di recupero scolastici : “supletivo” – DESAFIO ¬ Realizzazione di corsi di alfabetizzazione per adulti e giovani – MOVA ¬ Valutazione della frequenza scolastica degli alunni della scuola Paulo Freire ¬ Rinforzo dell’Azione Educativa della Scuola per Genitori ¬ Elaborazione di diagnostico della rappresentazione sociale della scuola da parte degli alunni ¬ Realizzazione di Concorso di Temi con le Scuole ¬ Laboratori di Formazione per gli Educatori della Creche Novo Lar c. Incremento impiego reddit integrazione mercato lavoro ¬ Ricerca di attitudine e mercato ¬ Elaborazione di diagnostico e di direttive di azioni di GER ¬ Mobilizzazione di imprenditori e candidati al lavoro ¬ Assistenza amministrativa e socio-relazionale a imprenditori e a gruppi produttivi ¬ Accesso al credito ¬ Qualificazione Professionale ¬ Contatto con Imprese e avviamento al mercato del lavoro di e o: nel del ¬ Affronto di problemi sanitari del quartiere e implementazione delle proposte ¬ Formazione del gruppo di Agenti Comunitari Sanitari ¬ Campagne sanitarie ¬ Formazione del Gruppo della Terza Etá ¬ Formazione per il Gruppo di Agenti Sanitari Mirins ¬ Camminata ambientale ¬ Lavoro pedagogico con professori e coordinatori delle scuole locali ** ¬ Laboratori di educazione ambientale diretti agli alunni nelle scuole locali ** ¬ Laboratori di educazione ambientale diretti a segmenti della comunitá** ¬ Realizzazione della Mostra Educazione Ambientale ¬ Gincana di educazione ambientale e sanitaria d. Sanitá e Educazione Ambientale: a u m e n t o all’accesso ai servizi di prevenzione sanitaria e educazione ambientale Obiettivo 2: Rafforzamento della capacitá istituzionale del Municipio Fase Finale e. Sistematizzazione e trasmissione di esperienza ¬ Presentazione e definizione del progetto con la Municipalitá di Ipatinga ¬ Pianificazione/Monitoramento/ Valutazione * Azioni integrate di Educazione, Salude e Incremento di Impiego e Reddito ** Azioni integrate de Educazione e Educazione Ambientale ¬ Discussione della fase di implementazione con la PMI ¬ Elaborazione del Flussogramma di azioni per il Planalto II ¬ Diffusione dell’Esperienza (Seminario PUC e Corso di Gestione Urbana nella Fundação João Pinheiro e Banco Mundial) ¬ Riunioni interne di AVSI/ CDM per la sistematizzazione delle attivitá realizzate nel Progetto 136 • POVERTÀ E PATRIMONIO IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 137 138 • POVERTÀ E PATRIMONIO IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 139 140 • POVERTÀ E PATRIMONIO IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 141 142 • POVERTÀ E PATRIMONIO IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 143 144 • POVERTÀ E PATRIMONIO IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 145 146 • POVERTÀ E PATRIMONIO IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 147 148 • POVERTÀ E PATRIMONIO IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 149 Situazione della comunità del Planalto II dopo la realizzazione del Progetto La realtà osservata dopo gli interventi ci richiama ad una serie di cambiamenti nella comunità che non finiscono con la fine del progetto, ma rimangono come un segnale che tutta la comunità si è rafforzata. Descriviamo ora i principali cambiamenti avvenuti nella comunità del Planalto II in funzione degli Obiettivi e dei Risultati previsti dal progetto. Presentiamo anche dati obiettivi che illustrano tali cambiamenti, raggruppati secondo la logica del progetto. Questi dati si presentano in forma di Indicatori di Obiettivi (IO), Indicatori di Risultato (IR) e Indicatori di Attività (IA) costruiti durante il progetto per la sua valutazione e il monitoraggio e che sono presentati in forma analitica nell’ Allegato 3. Obiettivo Specifico 1 Miglioramento delle Condizioni di Vita della Popolazione del Planalto II Identità Comunitaria Ampliamento e ristrutturazioni nel quartiere Un dato che rivela il grado di soddisfazione delle persone in una comunità si riferisce al numero di ampliamenti e ristrutturazioni realizzati nelle case. Questo dimostra che esiste un grado di soddisfazione concreto e ragionevole a rispetto del quartiere che ha motivato un intervento di questo tipo. È chiaro che l’investire risorse finanziarie da parte di persone con basso reddito familiare per ristruttare o ampliare case è indicativo, significa che le persone hanno adottato il quartiere come loro stabile dimora. Indica un immedesimarsi con lo spazio in cui vivono e un cominciare a investirvi. I dati indicano che, alla fine del 2002, il 45% delle case del quartiere erano state ampliate e/o ristrutturate. N.B.: * si considerano “Ampliamenti” quando è avvenuto un aumento dell’area costruita, ossia stanze nuove: sale, camere da letto, ecc. ** si considerano “Ristrutturazioni” quando sono avvenuti miglioramenti delle condizioni e della struttura: divisione delle stanze, intonaco , cambio dei tetti, ecc. *** del totale delle case in cui sono stati fatti degli interventi nella struttura, il 26,5% sono state solo ampliate, il 45,6% sono state solo ristrutturate e nel 27,9% sono state fatti ampliamenti e ristrutturazioni. 150 • POVERTÀ E PATRIMONIO AMPLIAMENTI E RISTRUTTURAZIONI – CAMPIONE 2002 Categorie Frequenza Percentuale Ampliamento 18 11,9% Ristrutturazioni 31 20,5% Ampliamento e Ristrutturazioni 19 12,6% Nulla 81 53,6% NS/NR 2 1,3% Totale 151 100,0% Fonte: ricerca campione realizzata nel gennaio 2003 – AVSI/ CDM L’uso dello spazio comune Le opere del complesso comunitario (recupero dei laghi, costruzione della piazza, costruzione del centro comunitario e ampliamento della creche) si sono ripercosse sugli abitanti del Planalto II e dei quartieri vicini che hanno potuto usufruire degli spazi comunitari. C’è più attenzione per il bene comune attraverso mutirões spontanei di pulizia e preservazione di questa attrezzatura sociale, questo mostra un’appropriazione delle opere da parte della comunità e il rafforzamento dell’identità rispetto allo spazio.26 Il quadro che segue, nette in relazione i gruppi formali e informali e i gruppi della popolazione che stanno usufruendo sistematicamente degli spazi comuni. Nella fascia piú scura sono rappresentati gli spazi pubblici che furono costruiti o riattivati con le attività del progetto. 26 Sulle Aree destinate ad Attività Comunitarie e agli Spazi Co-gestiti dai Gruppi. Vedere il quadro dell’Allegato 3. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 151 Violenza nel quartiere Gli indici di violenza nel quartiere ebbero dei cambiamenti significativi durante l’attuazione del progetto. Gli indici della violenza comunicati dal 14º Battaglione della Polizia Militare di Ipatinga rivelano una diminuzione del 24,82% della criminalità tra l’anno 2001 e 2002. Questi dati confermano come le persone si siano poste di fronte alla vita in una forma diversa considerando il quartiere e le persone come un bene da preservare. La diminuzione dell’aggressione e della violenza è un fattore che rivela una dinamica di integrazione, di appartenenza, non solo nei confronti del luogo ma delle persone. Il quartiere Planalto non possiede piú lo stigma di quartiere violento ed emarginato. Il modo in cui le persone della città vedono il quartiere sta cambiando, gli interventi della polizia militare sono diminuiti, principalmente tra gli adolescenti (Tenente Colonnello Sandro Afonso Teatine Selim de Sales, del 14º Battaglione della Polizia militare di Ipatinga). GRUPPO 2001 2002 VAR% Crimini contro l’Amm. Pubblica 2 1 -50,00 Crimini contro il Patrimonio Pubblico 0 1 - Crimini contro la Persona 57 49 -14,04 Crimini contro il Patrimonio 54 32 -40,74 Crimini contro i Costumi 15 12 -20,00 In riferimento alle droghe 9 8 -11,11 137 103 - 24,82 Totale Aumento dei Servizi di Utilità Pubblica Un cambiamento significativo che mostra l’evoluzione del processo di integrazione tra la comunità e i servizi esistenti nella città accadde nella formazione della Rete Sociale di attori presente nel quartiere. La Rete Sociale di una comunità indica il numero di attori sociali presenti e coinvolti nella costruzione e nello sviluppo della comunità, a partire da differenti vincoli che si staliscono. La mappa della rete sociale permette di visualizzare quali relazioni si stabiliscono tra la rete primaria e secondaria, rende possibile la conoscenza della dimensione del contesto relazionale per l’intervento 152 • POVERTÀ E PATRIMONIO sociale, permette di riconoscere la realtà piú ampia in cui la persona è inserita senza restringersi al problema presentato, mostrando una o piú persone in relazione reciproca, facilita il lavoro di approccio e intervento, oltre a permettere alla persona coinvolta di percepire le sue abilità e la sua capacità di fare alleanze. La mappa è la rappresentazione di un determinato momento. Di fronte ai cambiamenti della realtà, è necessario risalire a tutti i disegni e rifarli secondo l’andamento dell’intervento. Oltre a ciò è utile rendersi conto dei modi distinti in cui le persone presentano ciò che capiscono di una situazione.27 Nel mese di dicembre del 1999, inizio del progetto, la Rete Sociale era formata solo da 19 attori sociali che stabilivano tra di loro un numero di rapporti ridotti, solo 30. Nell’analisi realizzata alla fine del progetto, nel dicembre del 2002, si verificò una crescita totale del numero di attori del 163,2% rispetto alla situazione iniziale. Il numero di attori aumentò a 50 e il numero di rapporti tra loro fu identificato in 127. Questo significa un aumento nella quantità e nell’intensità della rete, mostrando cosí che gli attori riuscirono a realizzare piú scambi, rafforzando i loro legami. Furono valutate le tipologie di vincoli dei vari rapporti tra i gruppi e le istituzioni secondo quanto descritto nel quadro che segue: 27 Vincolo Descrizione Fare Insieme Relazione che si stabilisce per sviluppare qualche attività insieme sia nella pianificazione sia nell’esecuzione. Economico Relazione che si stabilisce attraverso il trasferimento di risorse da un attore all’altro che sviluppa un’azione. Obbligo Relazione segnata da un obbligo gerarchico con l’impegno di lavorarare secondo norme predefinite. Alleanze Relazione stabilita tra attori che sviluppano la stessa azione, esiste una formalizzazione e normatizzazione per quanto concerne i compiti di ognuno. Appoggio Sociale Relazione configurata a partire da aiuti puntuali e sporadici, in cui un attore cede risorse, che possono essere di tipo diverso, a un altro attore. Prestazione di Servizi Relazione costituitasi tra persone che prestano qualsiasi tipo di servizio in cambio di una remunerazione. Informazione Relazione costituitasi tra attori in cui perlomeno uno di loro offre informazioni rilevanti all’altro per il lavoro. SOARES, Maria Luiza P. V. Vincendo la denutrizione: approccio sociale. São Paulo: Ed. Salus Paulista, 2002, p. 41. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 153 A partire da questa analisi, abbiamo anche verificato che c’è stato un aumento significativo nel tipo di vincolo Fare insieme e Informazione, dovuto alle azioni realizzate con la metodologia del progetto e dovuto alla crescita considerabile dei gruppi legati alla Rete Secondaria Informale. Questi dati mostrano anche il miglioramento della qualità delle relazioni tra gli attori sociali. Il rafforzamento della Rete Sociale locale conferma l’esistenza di una reale collaborazione tra gli attori sociali presenti nel Planalto II e l’integrazione del quartiere a molti servizi della città dai quali gli abitanti del Planalto II erano esclusi. La presenza e il coinvolgimento di attori, pubblici e privati, con la comunità suggerisce un’identità che, dopo essersi formata, viene riconosciuta non solo dagli abitanti, ma anche da coloro che non risiedono nella comunità. iO1.1 – nº di attori sociali e di servizi comunitari presenti Nº DI ATTORI SOCIALI RETI % VARIAZIONE Dicembre Dicembre Dicembre 1999 2000 2002 1999/ 2000 1999/ 2002 Rete Secondaria del Mercato - - 3 X X Rete Second. del Terzo Settore 6 7 10 16,7% 66,7% Rete Secondaria Formale 10 13 25 30,0% 150,0% Rete Secondaria Informale 3 8 12 166,7% 300,0% Totale 19 28 50 47,4% 163,2% iO1.2 – Incremento della rete di relazioni della comunità Rispetto al numero di relazioni identificate, tra istituzioni e gruppi della rete nei tre anni sono stati letti: Nº TOTALE DI RELAZIONI PER RETE PER OGNI ANNO Dicembre 1999 Dicembre 2000 Dicembre 2002 Rete Secondaria del Mercado - - 8 Rete Secondaria del Terzo Settore 6 10 24 Rete Secondaria Formale 21 54 54 Rete Secondaria Informale 3 16 41 Totale 30 80 127 154 • POVERTÀ E PATRIMONIO Sempre in relazione alla Mappa della Rete nell’anno 2002, fu fatta una lettura distinguendo gli attori sociali che entrarono nella rete in forza di articolazioni del proprio progetto – attraverso l’AVSI – e di coloro che appartenevano alla rete locale, la permanenza di tali attori e delle relazioni. Nelle tabelle che seguono sono presentate comparazioni ed analisi. DESCRIZIONE DEGLI ATTORI DELLA RETE NEL 2002 Reti e Attori Mediante articolazioni Attori della rete locale Attori Totale Rete Secondaria del Mercato 2 1 3 Rete Secondaria del Terzo Settore 2 8 10 Rete Secondaria Formale 18 7 25 Rete Secondaria Informale 0 12 12 Totali 22 28 50 DESCRIZIONE DEL Nº DI RAPPORTI DELLA RETE NEL 2002 Reti x Rapporti Degli attori articolati Degli attori locale della rete Rapporti Totale Rete Secondaria del Mercado 5 3 8 Rete Second. del Terzo Settore 6 18 24 Rete Secondaria Formale 0 41 41 Rete Secondaria Informale 37 17 54 Totali 48 79 127 Si conclude, a partire dalle tabelle sopra indicate, che il 44% degli attori presenti nel 2002 sono entrati nella rete attraverso articolazioni, mentre il 56% sono attori della rete locale del Quartiere Planalto. Quanto alle relazioni della rete, 37,8% rappresenta il gruppo di attori che entrò nella rete in forza di articolazioni, l’altro 62,2% sono le relazioni degli attori della rete locale ossia di istituzioni e gruppi che sono nel Planalto indipendenti da articolazioni del progetto. L’aumento, sia del numero di attori che del numero di relazioni di coloro che si sono integrati attraverso l’articolazione del progetto, rivela l’apertura della comunità a gruppi e istituzioni esterne, rendendo possibile l’aumento di servizi della città nel quartiere. Lo stesso aumento, identificato in coloro che si sono integrati alla rete locale, rivela l’aumento della rete locale che permane, nonostante la finalizzazione del progetto, mostrando cosí la sostenibilità della rete attuale. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 155 Del totale dei rapporti esistenti per attori presenti ogni anno si è verificato che: Attori Relazioni Relazione/Attore Nel 1999 19 30 1,6 Nel 2000 28 80 2,9 Nel 2002 50 127 2,5 Nell’anno 2000 si è verificato un aumento significativo del numero di rapporti stabiliti da ogni attore, in media 2,9. Questo aumento è avvenuto a partire dalle azioni specifiche del progetto che miravano ad un’articolazione tra gli attori e a una maggior comunicazione in relazione ai servizi prestati. Nell’anno 2002, si è verificata una diminuzione del 2,5 relazioni/attori dovuto alla diminuzione dell’intervento diretto tra gli attori. Si conclude pertanto che l’indice presentato nel 2002 mostra un tasso di stabilità e sostentabilità tra le relazioni stabilite ossia indipendenti dalle azioni del progetto. I risultati descritti si riferiscono alle azioni sviluppate dal progetto che hanno contribuito direttamente a questi cambiamenti. La comunità ha sviluppato, nel corso degli ultimi tre anni, un’identità comune inorgogliendosi di essere del quartiere Planalto II. Le persone hanno iniziato a coinvolgersi con la realtà della comunità, adottanto attitudini costruttive e partecipative di fronte ai problemi comuni. Leader e gestori comunitari sono stati identificati e formati per organizzare e partecipare alle azioni del progetto e a altre iniziative, costruendo soluzioni a partire da risorse presenti nel proprio quartiere. Il numero di leadership della comunità è aumentato del 52,12% in relazione a quelle presenti inizialmente. IR.a1 – nº de leadership della comunità * dati raccolti nell 13/07/2000 ** dati raccolti nell 19/12/2002 156 • POVERTÀ E PATRIMONIO Nell’Allegato 3 si trova una descrizione dei gruppi formati nella comunità e la loro tipologia. Nell’Allegato 4 si trova una rappresentazione delle reti sociali. Scolarità Anche nel patrimonio dell’educazione è stato notato un miglioramento significativo. Il tasso di analfabetismo è caduto del 6,3% comparandolo con gli indici raccolti nella situazione iniziale ed è sotto gli indici di analfabetismo del Brasile, 14,7%; dello Stato 13,4% e della città nella sua globalità, il 7,51%. Alla fine del progetto, il 40% degli analfabeti del 99 si è trasformato in un gruppo di alfabetizzati. Nel 2002 c’è stato un aumento del numero di alfabetizzati, in relazione all’anno 1999, del 22,4%. Considerando il gruppo di analfabeti + alfabetizzati come una fascia vulnerabile, si osserva una diminuzione di questa fascia del 15,7%, dovuto all’ingresso ad un livello di scolarità del 1° grado. Vale la pena evidenziare che, considerando la percentuale delle persone che si sono alfabetizzate e il numero di posti offerti dal MOVA (programma di alfabetizzazione municipale) nel quartiere, molte persone si sono alfabetizzate attraverso altri corsi presenti nella città; è migliorato l’accesso ai servizi di educazione della città per gli abitanti del quartiere. In relazione al 1º grado, si osserva che nel 1999 il 64% delle persone non aveva completato il 1º grado, nel 2002 l’indice si è abbassato al 46,1%. Ciò significa che il 28% degli alunni concluso il 1º grado. Nel 2002 c’è stato un aumento del 29,1% degli alunni che sono riusciti a completare il 1º grado. Rispetto agli alunni del 2º grado, c’è stato un aumento interno del 208% di questo gruppo. C’è stato nel 2002 un aumento del 9,8% del numero di persone che si sono messe a studiare, rispetto all’anno 1999. Anche l’indice di infrequenza scolastica, un problema identificato nel contesto educativo del quartiere, si è abbassato. Dal campione di 25 alunni considerati non frequentatori e che sono stati accompagnati attraverso visite e azioni del progetto, il 48% sono diventati frequentatori. NON STUDIA STUDIA TOTALE 1999 68,6% 31,4% 100,0% 2002 65,5% 34,5% 100,0% IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 157 GRADO DI SCOLARITÀ CATEGORIE 1999 2002 RATTORE DI MOBILITÀ INTERNA % ANALFABETA 10,5% 6,3% -15,7% ALFABETIZZATO 6,7% 8,2% Subtotale 17,2% 14,5% 1º GRADO COMPLETO 5,51% 7,1% 1º GRADO INCOMPLETO 63,98% 46,1% Subtotale 69,49% 53,2% 2º GRADO COMPLETO 2,54% 8,8% 2º GRADO INCOMPLETO 2,97% 8,2% Subtotale 5,51% 17% - 23,45% +208% Fonte: ricerca campione realizzata nel dicembre 2002 AVSI/ CDM Nel settore dell’educazione, l’attività di recupero scolastico e il “supletivo” hanno contribuito a far sì che gli alunni superassero il ritardo scolastico, migliorando l’indice di frequenza a scuola, diminuendo l’indice di abbandono scolare e migliorandone l’impegno, secondo la testimonianza delle insegnanti. Con 446 alunni è stato realizzato un diagnostico della rappresentazione sociale che avevano della scuola, volendo conoscere le principali difficoltà e risorse per ciò che si riferisce alla vita scolastica. Questo diagnostico ha reso possibile la conoscenza della realtà educativa, a partire dai propri alunni, e ha permesso la realizzazione di attività, come il concorso di temi, che affrontassero meglio le necessità identificate. Il concorso di temi “Il mio quartiere ogni giorno migliore” ha mobilitato 561 alunni che hanno riscattato il valore del quartiere e si sono impegnati nella composizione di temi, mostrando il miglioramento nell’apprendimento della scrittura e di altri contenuti pedagogici rilevanti attraverso l’interesse per il proprio quartiere. Degli adulti a cui è stato offerto il corso di alfabetizzazione, il 71% degli alunni iscritti ha concluso il processo di alfabetizzazione. Sono state realizzate visite, orientamenti e laboratori per 82 famiglie di alunni e rafforzata l’importanza della partecipazione alla Scuola dei Genitori. La Scuola dei Genitori ha offerto orientamento e accompagnamento a 119 genitori di alunni, aiutandoli ad adottare un’attitudine nei confronti dei loro figli che rafforzasse il significato e l’importanza dello studio per lo sviluppo. 158 • POVERTÀ E PATRIMONIO Quest’anno c’è stato un buon accompagnamento dell’AVSI a scuola. Risultati positivi sono stati il coinvolgimento dei genitori che prima non partecipavano alla scuola per genitori e la frequenza degli alunni che è migliorata. I genitori ora hanno piú fiducia nella scuola e hanno una maggiore coscienza di ciò che la scuola è. Altro aspetto interessante è che gli alunni sono venuti a scuola piú ordinati e piú puliti. Anche il concorso di temi ha dato un buon incentivo agli alunni per valorizzare il quartiere, per coscientizzarli e far loro percepire i cambiamenti del quartiere dopo l’intervento dell’AVSI. Il cambiamento è lento, ma l’unione tra la Scuola, l’AVSI e altre azioni ha aiutato molto. C’è stata una crescita conoscitiva ed affettiva degli alunni e anche un miglioramento della scrittura e della lettura (Girley, Direttrice della Scuola). Dopo aver iniziato a frequentare il progetto ho imparato molto e ho migliorato il rapporto con mio figlio (Antônia de Fàtima Silva, partecipante della Scuola per Genitori e del Gruppo di Donne del Planalto). A partire dagli orientamenti dell’agente comunitaria nelle visite e nel dialogo, ho iniziato a partecipare di piú al lavoro nella scuola. Ho imparato che devo passare piú tempo con i miei figli, giocare, conversare con loro. Non parlare dei difetti, ma elogiarli. Ho percepito che mio figlio si è sentito piú valorizzato con la mia partecipazione a scuola (Eva de Fàtima Soares). Sanità Quanto al risultato legato alla sanità ed educazione ambientale, sono stati formati 14 Agenti Comunitari Sanitari e 25 Agenti Sanitari Mirim, insieme all’Unità Sanitaria del quartiere Veneza, che hanno lavorato in varie azioni di prevenzione di malattie. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 159 Rispetto alla salute dei bambini, i genitori sono stati orientati sull’importanza della vaccinazione, il controllo di malattie respiratorie e le attitudini nella lotta contro la denutrizione. Rispetto alla salute dell’adulto, si è lavorato per la promozione e la protezione della salute della donna: prevenzione del tumore al collo dell’utero e al seno, sviluppo di altre campagne di salute, in particolare per ipertesi e diabetici. Per attuare le campagne sanitarie sono state realizzate, dagli agenti sanitari, 4700 visite domiciliari. VISITE TOTALE VISITE Campagna Influenza – Anziani 600 Campagna di Prevenzione Tumori – Donne 600 Campagna di Lotta alla Dengue 600 Ipertesi e Diabetici 300 Bambini con malattie respiratorie 400 Accompagnamento Anziani 200 Gincana di Educazione Ambientale 2000 Totale delle visite sanitarie 4700 CAMPAGNA DESCRIZIONE Campagna di Lotta all’AIDS Campagna per la popolazione realizzata con il GASP Campagna Contro la DENGUE Prevenzione e Lotta alla Dengue: visitate tutte le case Campagna contro l’Influenza Campagna di Lotta contro l’influenza per gli Anziani al di sopra dei 60 anni Campagna Prevenzione Tumori – Donne Campagna per la donna tra i 35 e 49 anni Rispetto alla sanità e all’educazione ambientale, sono state realizzate campagne di prevenzione contro la dengue e trasmissione di informazioni per non trascurare l’immondizia che trasmette varie malattie. All’inizio del progetto, c’è stata una camminata ambientale con l’obiettivo di osservare punti del quartiere che dovevano essere raggiunti dalle azioni di salute ambientale. Vi hanno partecipato 44 persone di diversi gruppi e istituzioni e in questa occasione è stato prodotta una mappa. La gincana di educazione ambientale ha coinvolto gli abitanti in vari temi e azioni legati alle attenzioni all’ambiente. Durante la realizzazione di laboratori tematici, 180 persone hanno partecipato ad almeno un laboratorio di educazione ambientale. Nella gincana sono state anche 160 • POVERTÀ E PATRIMONIO orientate ed accompagnate 424 famiglie nel lavaggio delle casse d’acqua, dei filtri domiciliari, nella pulizia di cortili, nell’attenzion con casse di grasso e fognature, conservazione di area verde e uso di piante medicinali mirando ad un’attitudine preventiva contro le malattie piú comuni. Prima della qualificazione, realizzavamo il lavoro nella comunità senza la preparazione teorico-pratica, senza pianificazione e articolazione tra le politiche. Oggi ci è possibile trasmettere piú informazioni in vari modi, con il teatro, con il dialogo. Vediamo la persona non soltanto come un malato, ma siamo riusciti a vedere il suo rapporto con l’ambiente in cui vive, la sua relazione famigliare e comunitaria, tutto questo influenza la sua salute (Renildes Maria da Silva, Agente Comunitaria Sanitaria). Il Progetto di Rafforzamento della Comunità del Planalto collabora a con il lavoro dell’Unità Sanitaria. È diventato un anello tra l’Unità e la comunità, è stato possibile stabilire una relazione con il quartiere e conoscere la sua storia, costruire una relazione di amicizia e di dialogo, garantendo l’organizzazione della comunità per una miglior qualità di vita (Norma Suely S. Rodríguez, Responsabile dell’Unità Sanitaria del quartiere Veneza). Vale la pena evidenziare l’impatto che ha avuto il gruppo della terza età, Gruppo dell’Unione, sulla vita delle persone partecipanti. Molti anziani non uscivano di casa e rimanevano a letto, in un’attitudine depressiva che contribuiva al sorgere di varie malattie. Un totale di 69 anziani ha partecipato agli incontri del gruppo sviluppando varie attività come seminari, esercizi fisici, giochi, laboratori, lezioni di danza, camminate nel Parco Ipanema. Alla fine del progetto, il gruppo ha deciso di continuare a riunirsi ed organizzarsi formalmente, con uno statuto definito e commissioni interne per l’organizzazione del gruppo. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 161 Questo progetto è molto buono! Il lavoro è bello perchè ci dà salute e forza Nelle riunioni tutti hanno una bella cera e non si può vacillare! Ormai i miei anni sono molti, non dovrei neanche essere qui, io ho 92 anni! (Signora Ana, 92 anos, partecipante del Gruppo dell’Unione – gruppo della terza età). Situazione Occupazionale La situazione occupazionale delle persone del Planalto II non ha subito variazioni significative, per quanto si riferisce all’indice di occupati e disoccupati, tuttavia, abbiamo verificato una mobilità interna nel quadro della situazione occupazionale a fine progetto. C’è stato un aumento significativo del 255% del numero di autonomi nel 2002 rispetto al 1999. Il tasso di disoccupazione è relazionato direttamente al contesto economico della città e del Paese; è sorta, a partire dal progetto, una nuova possibilità di lavoro e di incremento di reddito a partire dai corsi per imprenditori. Abbiamo nuovamente un esempio di ciò che dicevamo anteriormente, anche se impotenti per mutare dati che sono conseguenze di uno scenario politico ed economico nazionale, siamo intervenuti in quella fascia vulnerabile della popolazione che cercava alternative per l’incremento del reddito, ma a cui mancava l’accesso a risorse tecnico-finanziarie per ottenerlo. COMPARAZIONE SITUAZIONE OCCUPAZIONALE – RICERCA CAMPIONE 98/2002 Categorie Iniziale Finale Fattor di Mobilità Interna % Lavoratori Registrati 15,7% 14,5% -290,0% Lavoratori non Registrati 9,8% 3,6% Autonomi 2,0% 7,1% +255,0% Pensionati 5,1% 4,7% -7,8% Totale di Incremento Reddito 32,6% 30,0% -8,0% Impiegati Domestici 14,1% 7,1% +180,0% Disoccupati 7,1% 18,0% Non Lavorano 43,5% 25,2% Altro 2,7% 1,1% Non si Impiega -2,8% 0,0% 18,6% +4,0% Totale di chi non Incrementa Reddito 67,4% 70,0% Totale 100,0% 100,0% 162 • POVERTÀ E PATRIMONIO Il basso reddito famigliare e la disoccupazione sono stati affrontati attraverso corsi di qualificazione professionale in vari campi. Un totale di 126 persone ha concluso i corsi di qualificazione e 77 si sono iscritti presso agenzie del lavoro. Questo dato è significativo perchè molte persone erano disoccupate e non erano neanche in grado di concorrere per un posto di lavoro perchè non possedevano una qualificazione che servisse alle reali necessità del mercato e non avevano la possibilità di qualificarsi. Del totale degli iscritti, il 41,2% è stato intervistato ed avviato al mercato del lavoro, il 10% avviato e collocato nel mercato del lavoro formale, entro i primi tre mesi dopo la fine del corso. Delle persone che hanno frequentato i corsi di qualificazione professionale e/o per imprenditori, il 45,8% sta lavorando, di questi il 67,3% sta lavorando nella propria area di qualificazione. Nei corsi e nei laboratori offerti, si è verificato che 87 donne del quartiere hanno partecipato ad almeno un laboratorio. Rispetto alla distribuzione delle partecipazioni ai laboratori, si è osservato che piú della metà delle donne, il IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 163 61%, ha partecipato a piú di un laboratorio. Come abbiamo detto, nella situazione iniziale del quartiere, molte donne costituivano un gruppo vulnerabile, dovuto ai motivi già citati, per lo meno nel 27% delle case del quartiere erano i capifamiglia e il sostegno economico. Il grafico che segue mostra i totali delle partecipazioni delle donne per ogni tipo di laboratorio. Nei corsi abbiamo appreso che siamo importanti e capaci di arrivare dove vogliamo e questo ci dà fiducia (Sidney Rosa Albino, Alunna del Corso di). Nel lavoro abbiamo percepito che siamo capaci ed è, cercando di studiare di apprendere sempre di piú e lavorare con qualità che riusciremo a raggiungere ciò che desideriamo. Ci sentiamo piú preparati per il mercato del lavoro e disposti al lavoro in gruppo (Ideir da Conceição, Partecipante della Associazione di Prestazione di Servizi Generali). Il mio problema era che io volevo apprendere qualche cosa per cui dire: questa può essere la mia professione, potrà essere la mia professione. Prima ero una domestica pura e semplice senza nessuna qualificazione. Ho frequentato corsi di cucito industriale, ho fatto anche il test e sono andata a lavorare in una fabbrica di cucito, ma non sono riuscita a mantenere il lavoro per via del mio bambino. Ma a gennaio i proprietari della fabbrica mi hanno detto che potrò ritornare! È una porta aperta, una chance, una possibilità. Con altre donne abbiamo deciso di formare un gruppo di telaio cileno per poter fabbricare i pezzi e cercare di venderli, di esporli nelle fiere municipali, perchè diversamente, non 164 • POVERTÀ E PATRIMONIO sapremmo come esporre e presentare i nostri lavori. Mi piace tessere e oltre a piacermi ne ho bisogno. Io ci metto tutta la mia buona volontà e sono sicura che andrà bene. Ho cinque figli e tutto ciò che faccio di buono si rifletterà non solo su di me, ma anche su di loro. Vorrei avere per me anche solo una macchina usata, per poter cucire vestiti da vendere e fare per i miei figli. Partecipare a questi corsi ha significato cambiare la mia vita. Cose nuove, pensare a cose nuove: io non conoscevo neanche il telaio cileno! (Elizabete Moreira de Oliveira, Partecipante del Gruppo di Donne del Planalto). I corsi di qualificazione professionale hanno anche dato la possibilità al 28% di coloro che li hanno frequentati di diventare imprenditori, incrementando il proprio reddito anche se non hanno ottenuto un posto nel mercato formale del lavoro. L’assistenza amministrativa, l’accompagnamento socio-relazionale e corsi rivolti direttamente agli imprenditori, hanno aiutato varie persone ad espandere i propri affari migliorandone la qualità della produzione e della gestione dei propri servizi. Alcuni imprenditori si sono organizzati in gruppi produttivi come il Gruppo Triade di cucito, Gruppo di Donne del Planalto, con il telaio cileno e l’Associazione di Prestazione di Servizi Generali. Per quegli imprenditori che cercavano di iniziare o espandere i propri affari e non si inquadravano nelle linee di credito adottate dalle banche, dunque senza accesso a questo servizio, è stata firmata una convenzione con il Banco Popular che ha reso possibile l’accesso ai crediti a condizioni speciali. Un totale del 94% delle richieste di credito è stato soddisfatto e non è stato registrato nessun caso di inadempienza. IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 165 Obiettivo Specifico 2 Rafforzamento della Capacità Instituzionale del Municipio Il secondo obiettivo specifico era quello di rafforzare la capacità istituzionale del Municipio nella costruzione di politiche adeguate per affrontare la situazione di povertà della popolazione. Nel percorso storico del progetto, il Municipio è stato presente attraverso una convenzione firmata com l’AVSI/CDM, mettendo a disposizione tecnici di diverse segreterie e coinvolgendoli in azioni nei vari settori. Con la convenzione firmata, si è aperto uno spazio di relazione diretta con tecnici dell’area sanitaria, dell’educazione e altri che hanno appoggiato le azioni del progetto, applicando l’esperienza e la metodologia acquisite in altri progetti e contesti. Iniziative, Progetti e Programmi Realizzati a Partire dalla Metodologia del Progetto 1. Progetto Mudas Brasil Il Progetto Mudas Brasil ha come obiettivo quello di impiantare boschi di specie nativa in tutto lo Stato del Minas Gerais, visualizzando lo sviluppo sostenibile e il recupero dell’ambiente, sviluppando azioni congiunte con sindaci, amministratori, impresari e produttori agricoli. Il progetto è stato realizzato dalla Municipalità di Ipatinga in collaborazione con IEF – Istituto Statale delle Foreste. 2. Campagna di Lotta contro la Dengue: “Per una nuova pedagogia di lotta alla dengue” È stata realizzata una campagna di lotta contro la dengue nel Municipio di Ipatinga ed è stato costituito un Forum Comunitario nella Regionale 4 – dov’è 166 • POVERTÀ E PATRIMONIO situato il quartiere Planalto – per discutere insieme alla Scuola Municipale Presidente Vargas le forme di lotta contro la dengue. Il lavoro è stato realizzato in forma integrata e con la partecipazione delle commissioni della sanità e dell’ambiente. 3. Progetto Sindaco Amico dei Bambini Al fine di poter integrare il Municipio alla Rete Abrinque, è stato necessario elaborare due prodotti: una Mappa del Bambino e dell’Adolescente28 con alcuni indicatori e un piano d’Azione Strategica. La possibilità per sviluppare sia la mappa sia il piano d’azione è stata quella di stabilire un forum a cui partecipassero settori dell’amministrazione pubblica direttamente coinvolti con il servizio alla popolazione infantile e giovanile (sanità, istruzione, assistenza sociale, finanze), il Consiglio Municipale dei Diritti del Bambino e dell’Adolescente, il Consiglio Tutelare e gli enti di servizio. *Fonte: intervista con Maura Gerbi do DEAC. 4. 1º CONGRESSO MUNICIPALE DELLA GIOVENTÚ – Ipatinga Congresso realizzato dal DEAC – Dipartmento di Attenzione al Bambino e Programmi Speciali, tutta la preparazione dell’evento si è basato sulla metodologia di approccio del progetto Planalto II. La metodologia è stata così interessante e stimolante per gli adolescenti che noi vogliamo ripetere il congresso il prossimo anno con un’organizzazione migliore nella sua applicazione – perchè era la prima volta che la utilizzavamo – oggi abbiamo una condizione migliore e la applicheremo anche nel primo forum dei bambini. (...) Abbiamo percepito durante quest’anno una partecipazione della comunità soprattutto dando continuità nello sviluppo delle attività ricreative, sportive, artistiche e culturali con la popolazione infantile e giovanile. Altro aspetto abbastanza rilevante è stata la preoccupazione della comunità, con l’Unità Sanitaria per discutere alcuni temi. Hanno chiesto di conversare sulle politiche pubbliche: che cosa sono le politiche pubbliche? Chi realizza le politiche pubbliche? Ad un certo momento mi è sembrrato che questi membri della comunità che sono piú attuanti, si siano resi conto che la politica pubblica non è semplicemente la politica La Mappa del Bambino e dell’Adolescente 2001 presenta il Sistema de Acompagnamento e Valutazione dell’impegno di dare priorità ai bambini e agli Adolescenti. Molti Comuni di tutto il Paese lo stanno accettando insieme al Programma. Fornisce strumenti per far si che le gestioni municipali si possano inserire nella Rete Sindaco Amico dei Bambini. Per partecipare alla Rete, i sindaci iscritti dovranno riempire la Mappa del Bambino e dell’Adolescente insieme ai diversi settori dell’Ammnistrazione pubblica, la società civile e il Consiglio Municipale dei Diritti del Bambino e dell’Adolescente ed avviarla per un’analisi allla Fondazione Abrinque che dovrà poi approvarla, rendendo così effettivo l’impegno di realizzare la pianificazione, rivolta a questo segmento, e la sua gestione. Fonte: Mappa del Bambino e dell’Adolescente 2001, Quaderno 1 – Fondazione Abrinq. 28 IL PLANALTO II E IL PROGETTO RAFFORZAMENTO DELLA COMUNITÀ • 167 sviluppata dalla municipalità, dal potere pubblico, ma che la politica pubblica può anche essere la politica sviluppata dagli enti non governativi e dalle organizzazioni comunitarie in modo generale. In quel momento hanno sentito la necessità di tale discussione che è stata molto interessante e ha coinvolto un gruppo a maggioranza femminile, coinvolto anche nel progetto dell’ AVSI (Maura Gerbi, DEAC-PMI). 5. PROGRAMMA HABITAR BRASIL/BID – Programma Viver Melhor Quasi parallelamente all’inizio del progetto, il “Banco Interamericano de Desenvolvimento” ha finanziato al Governo Federale un programma a livello nazionale chiamato “Viver Melhor”. L’amministrazione comunale di Ipatinga vi ha partecipato presentando un programma per altre aree a rischio della città. In fase di elaborazione del progetto, da presentare alla BID, il Municipio si è servito degli studi realizzati com la collaborazione iniziale di l’AVSI quando si realizzò l’elaborazione del documento “Ritratto della Povertà Umana di Ipatinga. Direttive per la Riduzione”. L’AVSI ha partecipato aiutando a definire l’area che doveva essere beneficiata a partire dai criteri utilizzati dal BID. Il Progetto Integrato dell’Agglomerato Bethânia, del Programma Viver Melhor/Habitar Brasil/Bid prevedeva interventi fisici, sociali, ambientali e di Regolarizzazione Fondiaria e si trova in fase di esecuzione. È un progetto di interventi integrati che sta cambiando principalmente le aree dei pendii del quartiere Bethânia, soprattutto rispetto all’aspetto ambientale e al coinvolgimento del cittadino. Ipatinga è stata una delle otto città scelte in Brasile dal Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID, per eseguire il programma Habitar Brasil/BID che porterà risorse per l’urbanizzazione delle favelas, tecnicamente chiamate insediamenti subnormali. Dei 128 progetti Habitar Brasil in andamento nel Governo Federale, Ipatinga sarà il primo ad essere concluso. Saranno beneficiate circa 50 mila persone distribuite in abitazioni localizzate nell’Agglomerato Bethânia. Nella regione si concentrano sei dei 23 insediamenti subnormali del municipio. Il progetto tende a migliorare la qualità di vita e di residenza della popolazione di cinque insediamenti subnormali del quartiere Bethânia, uno dei piú popolati nella città, nelle vie Bonn, Boston, Pusco, Guimarães e Turim. Oltre alle azioni in campo sociale, urbanistico, giuridico ed economico è previsto il recupero e lo sviluppo ambientale del luogo (Fonte: Portal do Cidadão Ipatinga. http://www.ipatinga.mg.gov.br). La comunità ha ricevuto un lavoro sociale e la forma di identificazione delle attività è stata molto produttiva, per il fatto di aver un’èquipe tutti i giorni nella comunità accompagnando, partecipando, coinvolgendo e 168 • POVERTÀ E PATRIMONIO coscientizzando. Durante i tre anni di presenza dell’AVSI nella comunità, c’è stata la percezione di aver raggiunto gli obiettivi. Il fatto che la comunità abbia visto che ciò che era stato promesso è stato concretizzato, dà credibilità al lavoro e ciò risveglia la comunità a partecipare a nuove attività, sviluppa e scatena il processo di partecipazione. A partire dal momento in cui la comunità è risvegliata nel suo interesse diventa un collaboratore e un moltiplicatore nel processo. Il processo è lento, ma essendo intenso, come lo è stato avendo a disposizione un’èquipe con varie proposte, ha fatto si che in questi tre anni si ottenessero realmente grandi risultati e ciò è visibile. Il fatto che la comunità sappia che esistono persone preoccupate a sviluppare la loro capacità e a trasformarsi in cittadini coscienti è molto importante (Núbia, Segretaria Municipale all’Edilizia). • 169 CAPITOLO 3 Considerazioni finali Enrico Novara, in collaborazione con Giorgio Capitanio Elementi che hanno favorito il potenziamento della comunità Abbiamo visto come il programma “Novo Centro” rappresenti un significativo intervento di riordinamento dello spazio urbano affrontando problemi distinti, ma caratteristici del recupero delle aree centrali di molte città brasiliane: restituire alla cittadinanza uno spazio di uso collettivo e di identità della stessa città e, contemporaneamente, garantire migliori condizioni di vita alla popolazione che vi risiede in situazione di degrado fisico ambientale e sociale, favorendo una reale inclusione nelle dinamiche di sviluppo urbano e sociale. Il primo obiettivo si raggiunge generalmente con una buon disegno urbano ed una buona capacità di gestione pubblica (cose non certo semplici)29, il secondo necessita di un elemento in più: la lettura realistica delle dimensioni della povertà e la definizione di un metodo chiaro di intervento. ll porre mano alla principale area di rischio della città ha fatto pensare che ben altro era il problema: in un rapido censimento sono state individuate 20 aree informali che necessitavano di un intervento che oltrapassava la semplice dimensione fisica. Risulta interessante, come conclusione, annotare quelli che, a nostro avviso, sono stati i fattori che, oltre al riconosciuto merito di gestione urbana della municipalità, hanno permesso al progetto di garantire una reale integrazione della popolazione al resto della città. 29 Una descrizione degli aspetti di gestione urbana del progetto si trova in Programa Somma “Relatorio de Atividades 1993 – 1998”, Belo Horizonte 1998, p. 47-50. 170 • POVERTÀ E PATRIMONIO Associare la formazione all’azione Il primo fattore che vale la pena sottolineare è il fatto di aver proposto, subito al termine dell’intervento fisico un momento di formazione sul tema specifico della povertà urbana. Questo ha garantito: ¬ la formazione dei tecnici di diverse “secretarias municipais” per affrontare in modo multidisciplinare il problema; ¬ l’affronto specifico del problema attraverso l’analisi della situazione, la definizione delle tipologie di intervento e delle priorità in tutta la città; ¬ la coscienza che la povertà non è un problema da relegare nell’ambito dell’emergenza e dell’assistenza, ma deve essere affrontato contestualmente alle politiche di sviluppo della città; ¬ la definizione di strumenti e metodi che rispondevano non sono alla comunità del Planalto, ma anche agli altri insediamenti informali. A partire da un problema specifico è stato possibile definire strumenti generali di intervento; i tecnici del comune hanno così avuto la possibilità di sperimentarli, nell’ambito di un programma di cooperazione, su una prima area del municipio. Quando nel 1999, il Governo Federale, ha definito le regole del Programma Habitar – BID per il recupero urbanistico di insediamenti informali, la municipalità di Ipatinga si trovava pronta per affrontare la sfida. Il programma prevedeva infatti che i municipi interessati avessero una sufficiente capacità tecnica per sviluppare il progetto proposto e che l’amministrazione identificasse le aree prioritarie di intervento. Oltre all’esperienza già accumulata dalla municipalità nei processi autocostruttivi e di “mutirão”, la formazione offerta e la realizzazione di un piano generale di riduzione della povertà hanno garantito le condizioni per partecipare al programma. Il progetto integrato dell’ “Aglomerado Bethania”, che interessa cinque aree informali della città, fu tra i primi ad essere approvato dalla commissione di valutazione del programma Habitar – BID e tra i primi ad essere concluso. E’ risultato, pertanto, utile associare all’intervento un percorso specifico di formazione dei tecnici e di monitoraggio comune del progetto; in questo modo l’esperienza realizzata è diventata un patrimonio comune della municipalità, tanto dei tecnici quanto degli amministratori. CONSIDERAZIONI FINALI • 171 Favorire le condizioni di stabilità dell’insediamento Programmi di intervento urbano in aree informali rappresentano, nel contesto nazionale, vere e proprie possibilità di iniziare un percorso di riduzione della povertà delle comunità coinvolte. Se la visione dell’intervento non si riduce solamente alle opere infrastrutturali è possibile identificare gli elementi sui quali intervenire per innestare un processo di sviluppo umano. Nel caso del Planalto II la prima evidenza era la fragilità dei nessi di convivenza tra le famiglie e le persone della comunità. Intervenire sui fattori che possono rafforzare il patrimonio ha voluto dire anzitutto favorire le condizioni di stabilità delle famiglie, favorendo la creazione e l’uso di luoghi di incontro e convivenza: piazza, parco, chiesa, sale di incontro e riunione, spazi per la formazione professionale. La costruzione è stata pensata e realizzata insieme alle famiglie interessate, alla parrocchia, alle associazioni presenti. I risultati, quali la riduzione della metà dell’indice di violenza contro il patrimonio e l`investimento per l’aumento ed il miglioramento delle abitazioni in quasi metà delle famiglie, mostrano che la popolazione considera il quartiere come un luogo dove si può vivere. Rafforzare la rete dei servizi di utilità pubblica L’accesso ai servizi nell’ambito dell’educazione, della salute e del lavoro, indica la reale integrazione del quartiere con la città, così come il significativo aumento degli utenti della scuola superiore, la riduzione della percentuale di analfabetismo al di sotto del valore medio della città, l’incremento delle persone che ricevono attenzioni mediche (gruppi che soffrono di ipertesione, gruppi della terza età, ...) indicano un deciso passo verso l’uscita dall’informalità della comunità. Questo è avvenuto grazie al significativo rafforzamento della rete dei servizi offerti dalle comunità intermediarie, dalle associazioni di base e dalle entità pubbliche. Dirigere l’attenzione ai gruppi più vulnerabili Una volta migliorate le condizioni di identità del quartiere e di integrazione al resto della città, il progetto ha posto particolare attenzione ai gruppi più vulnerabili, bambini ed adolescenti con basso indice di frequenza scolastica, lavoratori autonomi, giovani disoccupati per garantire un reale accesso ai servizi. 172 • POVERTÀ E PATRIMONIO La condivisione dei bisogni come forma di conoscenza rende possibile creare soluzioni adeguate per quei gruppi che il processo di omologazione rende maggiormente vulnerabili. Anche in questo caso i risultati sono evidenti: ¬ è possibile offrire ai giovani una formazione professionale specifica per garantire loro la possibilità di concorrere nel mercato del lavoro, inserendoli nelle liste delle agenzie private di collocamento; ¬ è possibile fornire credito attraverso agenzie specializzate, anche a quei lavoratori autonomi che non possono presentare garanzie formali; ¬ è possibile recuperare la scolarità ed aumentare la frequenza recuperando il significato e il valore educativo della famiglia. Condividendo la situazione è perciò possibile creare strumenti e metodi di intervento capaci di incidere sulla responsabilità della persona di fronte alla propria vita. E’ questo il primo passo per aiutare le famiglie, anche le più vulnerabili, a migliorare la propria condizione di vita.