REVISTA MOTRICIDADE N.º01
Transcription
REVISTA MOTRICIDADE N.º01
REVISTA MOTRICIDADE N.º01 Revista Técnica e Científica da Fundação Técnica e Científica do Desporto Vol. 03 Janeiro’07 CORPO EDITORIAL DA MOTRICIDADE Editor-chefe Prof. Doutor Victor Machado Reis (UTAD) Editores Juniores: Dr Felipe José Aidar (UTAD, Portugal) Dr André Carneiro (Funorte-MG, Brasil) Editores Associados: Prof. Doutor António José Silva (UTAD, Portugal) Prof. Doutor José Alberto Duarte (FADE-UP, Portugal) Prof. Doutor Ricardo Jacó Oliveira (UCB-DF, Brasil) Prof. Doutor Jefferson Novaes (UFRJ-RJ, Brasil) Prof. Doutor José Vasconcelos Raposo (UTAD, Portugal) Conselho Editorial: Prof. Doutor António Serôdio (UTAD, Portugal) Prof. Doutor Carlos Albuquerque (ESSV, Portugal Prof. Doutor Estelio Martim Dantas (UCB-RJ, Brasil) Prof. Doutor Francisco Bessone Alves (FMH-UTL, Portugal) Prof. Doutor João Paulo Brito (ESDRM-IPS, Portugal) Prof. Doutor João Paulo Vilas-Boas (FADE-UP, Portugal) Prof. Doutor José Rodrigues (ESDRM, Portugal) Prof. Doutor Leandro Machado (FADE-UP, Portugal) Prof Doutora Maria Dolores Monteiro (UTAD, Portugal) Prof. Doutor Manuel Sérgio (Instituto Piaget, Portugal) Prof. Doutor José Fernandes Filho (EFMG-MG; Brasil) Prof. Doutor Rodolfo Benda (UFMG-MG, Brasil) Prof. Doutor Paulo Dantas (UNIGRANRIO_RG, Brasil) Prof . Doutor Tiago Barbosa (IPB, Portugal) Consultores: Mestre Jaime Tolentino (Funorte-MG, Brasil) Mestre Mário Marques (UPO, Espanha) Mestre António Moreira ((ESDRM_IPS, Portugal)) Dr.ª Ana Maria Almeida Torres (Hospital de São Teotónio de Viseu, Portugal) Dr. José Ramos (centro Nacional de Medecina Desportiva, Portugal) I motricidade3vol1111.indd 1 10-06-2007 20:45:13 motricidade3vol1111.indd 2 10-06-2007 20:45:14 ÍNDICE: Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07 { INVESTIGAÇÃO { 270 Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Pedaling Cadence in the Ciclism: A Review Dias, M.; Lima, J. R.; Novaes, J. S.; { 279 Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados Effect of inspiratory muscles training in maximal inspiratory pressure and funcional autonomy of sheltered elderly people Cader, s.; Silva, E. B.; vale, R.; Bacelar, S.; Monteiro, M. D.; Dantas, E.; { 289 O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo. The motor proficiency development in gypsy and non-gypsy children: a comparative study Francisco, J.; Marmeleira, F.; { 298 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo. Characterization of anxiety levels among track and field athletes Vasconcelos-Raposo, J.; Lázaro, J.; Mota, M.; Fernades, H. { 315 Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo. Chronological, morphological and functional markers and maturational stages of students from the northeast of Brazil: a comparative study. Bruch, V.; André Boscatto, A.; Silva, J. B.; Nóbrega, A.; Neto, M.; Medeiros, H. J.; Dantas, P. M.; Knackfuss, M. I.; {TÉCNICO {323 A ginástica artística masculina (GAM): observando a cultura de treinamento desde dentro. Top level men artistic gymnastics (MAG): an observation of the training culture from the inside perspective. Bortoleto, M. A.; {REVISÃO {337 Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos. Myths and trues about flexibility: reflections about the stretch training in the health of human being Almeida, T. T.; Jabur, N. M.; motricidade3vol1111.indd 3 10-06-2007 20:45:15 EDITORIAL: Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07 Os jardins digitais e o sedentarismo Com a revolução industrial verificou-se uma restrição do movimento físico conduzindo, por vezes, a uma anulação quase completa da actividade física. Esta redução na actividade física acarreta, tanto entre jovens como entre indivíduos menos jovens, uma diminuição da qualidade de vida e da aptidão física. A actividade física constitui uma importante medida profilática contra patologias da civilização moderna, como por exemplo o stress. Esta necessidade de exercício do homem actual não é uma moda, mas antes uma iminência exigida pela indesejável adaptação do organismo humano ao modus vivendi actual. A evolução do Homo Sedentaris tem sido feita a um ritmo alucinante, bem mais rápido do que as espécies que lhe deram origem. Vejamos um exemplo tão caricato quanto triste. Um dos municípios mais importantes de Portugal anunciou recentemente a brilhante ideia de apetrechar os seus parques da cidade com Internet sem fios. Para melhor esclarecer, estamos a falar mesmo de parques verdes, de jardins, com árvores e passarinhos chilreando... Reparem nos novos horizontes que uma medida tão simples pode trazer… Imaginemos os papás e mamãs daquela cidade saindo de casa com as suas crianças num lindo dia de sol e, cada membro da família com o seu portátil na maleta, se instalarem confortavelmente à sombra de uma árvore e navegarem pelo mundo. Nada de bolas de futebol, cordas de saltar e outros brinquedos…não. Há que educar as criancinhas de acordo com os tempos modernos e substituir esses objectos pelo computador! E será que à sombra das árvores não poderão os portáteis padecer de mazelas quando pingar um dejecto de passarinho sobre o teclado ou o ecrã? Bem, o melhor seria talvez eliminar toda a espécie de aves desses espaços. E mesmo sem pássaros será que a seiva das árvores não poderá igualmente danificar o instrumento de fruição dos munícipes? E que tal, já agora, retirar também as árvores? Como ambas as medidas seriam pouco ecológicas e alvos fáceis dos ecologistas, talvez solucionar de uma forma mais simples. Porque não construir uns cubículos nos jardins para os cibernautas? Esta solução até poderia protegê-los da radiação ultravioleta e poupar assim alguns cancros de pele! Este mero exercício de futurismo, mas não necessariamente de ficção, ilustra a ideia de que o sedentarismo nas sociedades modernas galga por vezes as margens do razoável. O Editor Vitor Reis IV motricidade3vol1111.indd 4 10-06-2007 20:45:15 FICHA DE ASSINATURA PORTUGAL Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07 Sim desejo assinar a revista motricidade durante um ano ( 4.º edições) no valor de €60 para Portugal Continental e Ilhas e €86 para o Brasil, findo a qual a minha assinatura se renovará automaticamente. Se não pretender continuar a receber a Motricidade comunicarei a minha a minha vontade por escrito para a redacção da revista até um Mês antes do limite da assinatura corrente. Pode fotocopiar o Cupão de Assinatura- Por favor recortar e enviar para a Revista Motricidade | FTCD - Rua Eng.º Duarte Pacheco, n.º11 | 4520-225 Santa Maria da Feira. Nome: Morada: Código Postal: Localidade: Profissão: N.º Contribuinte: Contacto telefónico: E-mail: *Oportunidade: Estudantes, mediante envio de fototópia do seu cartão de estudante, beneficiarão de um desconto de 33,3%, sobre o preço da assinatura Anual. OPÇÕES DE PAGAMENTO Transferência Bancária mediante envio de fotocópia do comprovativo de transferência para a conta da FTCD - Revista Motricidade NIB: 0035 0306 00052582930 77 Conta da Caixa Geral de Depósitos - Portugal Transferência internacional por IBAN: PT50 0035 0005 258293077 n.º Fax para envio de comprovativo: 351 256 378 692 Autorização de Débito Directo Identificação do Credor 101575 N.º de Autorização Eu, , autorizo que por débito da minha conta abaixo indicada procedam ao pagamento das importâncias que lhes forem apresentadas pela FTCD - Fundação Técnica e Científica do Desporto. Data (ano/mês/dia): NIB: Assinatura: Por Cheque: Portugal €60 (estudantes €40). À ordem de FTCD - Fundação Técnica e Científica do Desporto N.º Banco: REVISTA MOTRICIDADE | Rua Eng.º Duarte Pacheco n.º11 | 4520-225 Santa Maria da Feira | Tel 256 378 690 Fax 256 378 692 E-mail: [email protected] | www.ftcd.org/motricidade RECORTAR FICHA DE ASSINATURA BRASIL Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07 Sim desejo assinar a revista motricidade durante um ano ( 4.º edições) no valor de €60 para Portugal Continental e Ilhas e €86 para o Brasil, findo a qual a minha assinatura se renovará automaticamente. Se não pretender continuar a receber a Motricidade comunicarei a minha a minha vontade por escrito para a redacção da revista até um Mês antes do limite da assinatura corrente. Pode fotocopiar o Cupão de Assinatura- Por favor recortar e enviar para a Revista Motricidade | FTCD - Rua Eng.º Duarte Pacheco, n.º11 4520-225 Santa Maria da Feira. Nome: Instituição a que está vinculado: Estudante Endereço: Cidade: Caixa Postal: Fone: Ramal: Profissional Compl: Estado: E-mail: Bairro: CEP: Profissão: *Oportunidade: Estudantes, mediante envio de fototópia do seu cartão de estudante, beneficiarão de um desconto de 33,3%, sobre o preço da assinatura Anual. OPÇÕES DE PAGAMENTO Depósito em conta - Banco do Brasil | Conta em: Salomé M B Queiroz | Agência: 0104X | Conta: 41081-0 Agência Montes Claros - Rua Gonçalves Figueira, n.º9 Contacto telefónico: 38 322 937002 Instruções adicionais: Após o depósito na conta, deverá fotocopiar o comprovativo e remeter o referido por carta, para o nosso endereço ou enviado por Fax, para o número 00351 256 378 692 Por Cheque: Portugal €60 (estudantes €40). À ordem de FTCD - Fundação Técnica e Científica do Desporto N.º Banco: REVISTA MOTRICIDADE | Rua Eng.º Duarte Pacheco n.º11 | 4520-225 Santa Maria da Feira | Tel 256 378 690 Fax 256 378 692 E-mail: [email protected] | www.ftcd.org/motricidade motricidade3vol1111.indd 5 10-06-2007 20:45:15 REVISTA MOTRICIDADE N.º01 Revista Técnica e Científica da Fundação Técnica e Científica do Desporto Vol. 03 Janeiro’07 FICHA TÉCNICA DA MOTRICIDADE Director: Prof. Doutor Victor Machado Reis Directores Adjuntos: Prof. Doutor Espregueira Mendes (Hospital de São Sebastião) Mestre Alípio Oliveira ( Comité Olímpico de Portugal) Director de Redação: Helder Ferreira Propriedade e Edição: FTCD-Fundação Técnica e Científica do Desporto Design Gráfico: Mário Cardoso Paginação: Vera Costa Impressão e Acabamento: Publidisa Tiragem: 1000 exemplares Periocidade: Trimestral ICS N.º 124607 ISSN N.º ISSN 1646-107X Depósito legal 222069/05 Assinaturas: Helder Ferreira ([email protected]) Assinaturas Anual: Portugal e Europa: €60 | Brasil e Palop:€80 Outros Países:€25 Preço deste número: Portugal e Europa: €15 | Brasil e Palop: €20 Outros Países:€25 Endereço para correspondência FTCD - Revista Motricidade - Rua Eng. Duarte Pacheco, n.º 11 4520-225 Santa Maria da Feira | Tel 256 378 690 | Fax 256 378 692 E-mail: [email protected] | www.ftcd.org motricidade3vol1111.indd 6 10-06-2007 20:45:15 Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias 1,2, Jorge R. Perrout de Lima 3 e Jefferson da Silva Novaes 1,4 Universidade Castelo Branco, RJ. 2 Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Fora, MG. 3 Laboratório de Avaliação Motora da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG 4 Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ. 1 Dias, M.; Lima, J. R.; Novaes, J. S.; Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura. Motricidade 3(1): 270-278 Resumo Abstract Após décadas de estudos e inúmeras discussões, ainda não há um consenso sobre a cadência ideal de pedalada no ciclismo. O presente estudo teve o objetivo de revisar, de forma sistematizada, estudos científicos que investigaram a eficiência mecânica através das cadências de pedalada no cilcismo. Tais experimentos demonstraram diversos fatores que poderiam ser capazes de alterar a cadência de pedalada ideal e preferida, com isso alterar a eficiência de pedalada. O ponto conclusivo da literatura define as baixas cadências de pedalada como mais econômicas e eficientes que as altas. A cadência ideal para a maioria dos praticantes é, geralmente, mais baixa do que a cadência preferida pelos ciclistas treinados. Palavras-Chave: cadência de pedalada, economia de movimento, eficiência mecânica e ciclismo. Pedaling Cadence in the Ciclism: A Review After decades of studies and innumerable quarrels, there is not still a consensus on the optimal pedaling rate in the cycling. The present study aimed to review systematically the scientific studies that investigated the mechanical efficiency through the pedaling rates in cycling. Such experiments have demonstrated that diverse factors could be capable to modify the optimal pedaling preferred rate and pedaling efficiency as well. The conclusive point of literature defines the low pedaling cadences as more economic and efficient that the high ones. The ideal cadence for the majority of the practitioners is generally lower than the cadence preferred by the trained cyclists. Keywords: pedaling cadence, movement economy, mechanics efficiency and cycling. Data de submissão: Setembro 2006 Data de aceitação: Dezembro 2006 270 {Investigação motricidade3vol1111.indd 7 10-06-2007 20:45:15 Introdução Ao longo dos tempos, a cadência de pedalada no ciclismo vem sendo alvo de diversos estudos 1,2,3,4,5,6,7,8,9 os quais apresentam diferentes vertentes em seus objetivos e metodologias aplicadas 10. Hoje, a grande discussão na literatura de ciclismo é em relação à cadência de pedalada mais econômica 5 e a preferida entre ciclistas 11,12. Há tempos estudos tentam bases científicas para encontrar a cadência de pedalada ideal, na qual haja um menor gasto energético e uma pedalada mais eficiente. Com base na literatura disponível, sabe-se que as cadências mais econômicas confrontam com as preferidas para a maioria dos ciclistas. Diversos fatores como a duração do exercício, o nível de condicionamento, a particularidade de cada indivíduo e a potência mecânica (watts ou kpm) e relativa (variáveis fisiológicas) alteram a cadência de pedalada ideal e a preferida 11. Outro fator é a distribuição dos tipos de fibras musculares, rápidas e lentas, como importantes determinantes para o ritmo de pedalada individual 7,13,14. A relação da potência mecânica com a cadência de pedalada também é outro ponto importante encontrado na literatura. A potência final alcançada pode ser diferente em relação à cadência de pedalada e à posição do corpo na bicicleta, entretanto, a cadência pode afetar a potência final alcançada em um teste ou treino específico 3 . A maioria dos estudos utilizou uma potência mecânica constante para encontrar uma resposta de outras variáveis, em relação à posição do corpo na bicicleta, há uma diferença na cadência de pedalada quando se pedala sentado ou em pé. Para todas estas variáveis, o conhecimento do instrumento de avaliação se torna indispensável para a aplicação dos resultados. A bicicleta ergométrica e a própria bicicleta individual de ciclismo, usada em laboratórios ou em velódromos e competições outdoor, estão sendo alvo de diversos estudos que relatam as diferenças das respostas mecânicas e relativas da cadência de pedalada no ciclismo 15,16,17,18,19,20. Sendo assim, o presente estudo teve o objetivo de revisar a literatura científica que investigou a eficiência mecânica através da cadência de pedalada econômica e preferida pelos ciclistas. Desenvolvmento A bicicleta como um instrumento de avaliação O cicloergômetro foi criado para identificar a capacidade do trabalho muscular dos indivíduos através de testes em laboratórios 15. A bicicleta ergométrica tem sido o instrumento mais comum para determinar os parâmetros fisiológicos e biomecânicos em ciclistas 6,21,22,23,24, e por isso, o ciclismo é um dos exercícios mais utilizados para a avaliação clínica de pacientes e para o desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória. Tal popularização deve-se ao fato do ciclismo envolver a utilização de grandes grupos musculares com um reduzido grau de impacto sobre as articulações 25. O sistema de pedal circular foi desenvolvido por Pierre Michaux em 1861, e depois de 144 anos, não podemos estar realmente certos qual é o sistema de pedalada ideal. Conseqüentemente, devemos ser cautelosos ao falarmos da otimização da cadência de pedalada. Durante uma atividade de pedalar, a eficiência de um atleta pode ser alterada por fatores materiais como altura do banco, o tamanho do pedivela, a posição na bicicleta e o uso de sapatilhas de ciclismo. Carvalho et al. 17, a fim de minimizar os fatores que alteram a pedalada, constataram, em seu estudo com triatletas, uma alta correlação nos resultados da potência obtidos entre a bicicleta ergométrica e um ciclossimulador. os 271 {Investigação motricidade3vol1111.indd 8 10-06-2007 20:45:15 Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes estudos de Santalla et al. 20 em indivíduos não ciclistas, e de Lucia et. al. 28 em ciclistas profissionais, que não encontraram diferenças entre os diferentes sistemas de pedais (rotor e convencional) quando medidas as variáveis fisiológicas e mecânicas. Estes estudos somente observaram nente, a velocidade seria fator determinante. Gaesser e Brooks 4 definem a eficiência mecânica como a relação do trabalho realizado com a energia gasta. Considerando-se que no ciclismo o tipo de energia dissipada no pedal é eminentemente mecânica, o cálculo da energia mecâ- Tabela 1: Cadência média de ciclistas profissionais Estágios no plano (largada em massa) Contra-relógio individual Subidas em montanhas (rpm) 89 (80 a 99) 92 (86 a 96) 71 (62 a 80) Velocidade 44 (38 a 51) 47 (44 a 50) 17 (12 a 25) Cadência (kph) Fonte: Dados coletados em 1999 (giro, tour e volta). Todos os dados expressam a média, mínimo e máximo. Os estágios planos têm ~ 188 km, contra-relógio ~ 50 km e subidas em montanhas ~ 180 km 11. uma melhora da eficiência com o uso do sistema de rotor. Eficiência mecânica A compreensão dos padrões e critérios que o sistema nervoso utiliza para a realização de determinadas funções é fundamental para o entendimento da melhoria e eficiência de movimento 30 . Segundo Prilutsky et al. 31, os animais realizam seus movimentos locomotores de uma maneira nica gerada no corpo humano durante a realização da pedalada fornece a eficiência mecânica no ciclismo. Tais valores de eficiência mecânica podem caracterizar e diferenciar um bom ciclista ou um indivíduo em potencial, na medida em que uma maior eficiência está associada a um melhor aproveitamento da energia mecânica gerada para a realização do movimento32. Podemos afirmar que a habilidade de sustentar o trabalho é dependente de uma fonte adequada Figura 1: Sistema de pedal não circular – Rotor (1) e sistema de pedal circular – Convencional (2) (Santalla et. al. 20). otimizada. Assim, em uma corrida de longa distância, o critério seria, então, a economia energética, mas se o objetivo fosse escapar de um opo- de O2 aos músculos 22. Um exemplo é a extração de O2 em músculos dos membros inferiores, como o vasto lateral, que se mostrou similar em 272 {Investigação motricidade3vol1111.indd 9 10-06-2007 20:45:15 60 e 100 rpm 33. Já Vecruyssen et al (2005) 34, em um estudo com triatletas mostraram que para diminuir os índices de fadiga muscular deve-se aumentar a cadência de pedalada. Belli e Hintzy 1, pesquisando o VO2 (ml.kg-1min1 ) e a energia gasta (J. kg-1m-1), reportaram que o consumo de O2 foi menor nas baixas cadências (57 rpm), com um alto gasto energético em cadências mais elevadas (101 rpm). Já Sidossis et al. 35 mostraram que a eficiência total, a uma intensidade de 80-90% do VO2 máx em ciclistas treinados, foi similar entre as cadências de 60, 80 e 100 rpm, ao contrário do consumo de O2 que aumentou com o acréscimo da cadência de pedalada. A concentração de lactato sanguíneo também é um fator bastante testado para encontrar a cadência de pedalada ideal. Autores tentam correlacionar à cadência de maior eficiência mecânica com a concentração de lactato 8,36. Segundo Denadai et al. 36, que utilizaram indivíduos masculinos de atividade recreacional, a concentração do máximo de lactato em stady-state não é influenciada pelas diferentes cadências de pedalada. Isso nos deixa uma lacuna, quando se propõe um treinamento relacionando a cadência e a concentração de lactato para ciclistas profissionais ou experientes. ciclistas que não são altamente treinados 27 e quando a variação da cadência é usada com um número reduzido de variáveis. A cadência ideal não deve ser a única variável a ser associada com os objetivos e as características individuais dos sujeitos 8. Entretanto, estudos mostraram que trabalhar em diferentes cadências pode alterar a eficiência da pedalada 2,37,38. Assim sendo, algumas pesquisas 21,39,28,40,41,42,43 relataram, em estudos sobre a eficiência de pedalada, que as baixas cadências de pedaladas (50 a 60 rpm) são mais econômicas e eficientes que as altas cadências de pedaladas (> 90 rpm). Dessa forma, testes submáximos com indivíduos ativamente físicos mostram que pedalar em uma mesma potência mecânica, obtida com combinações de cadência e carga resistiva diferentes, resulta em respostas da Freqüência Cardíaca, Pressão Arterial, Duplo Produto e Percepção de Esforço diferente, principalmente se a cadência escolhida se encontrar acima da faixa econômica (50 a 60 rpm). Lucia et al. 27 apresentaram os principais achados sobre as baixas cadências de pedalada testadas em laboratório (tabela 2). Tabela 2: Vantagens e desvantagens hemodinâmicas e fisiológicas encontradas quando se pedala em baixas cadências (< 60-70 rpm) Vantagens FC e VE VO2 Economia / eficiência Desvantagens Estresse muscular Fluxo sanguíneo no músculo do quadríceps Volume de ejeção Bomba muscular As conclusões mostradas são baseadas em pesquisa conduzidas em indivíduos não treinados. FC = freqüência cardíaca; VE = ventilação pulmonar 27. As discussões sobre a cadência de pedalada ideal ainda provocam mais controvérsias quando as novas pesquisas têm sido conduzidas utilizando Em contrapartida, outros estudos mostram que o aumento da cadência de pedalada não altera a eficiência mecânica 42,44. Nickleberry e Brooks 273 {Investigação motricidade3vol1111.indd 10 10-06-2007 20:45:16 Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes 44 mostraram tais resultados em exercício submáximo, tanto em ciclistas profissionais quanto em recreacionais. Marsh et al. 42 concluíram que a eficiência não sofre grandes alterações pela cadência de pedalada comparando ciclistas treinados, corredores e indivíduos destreinados. Em suma, este é o ponto divergente da literatura quando se fala em cadência de pedalada, sendo que, os estudos que mostram que não há alterações na eficiência de pedalada com o aumento da cadência tinham em sua amostra ciclistas altamente treinados que realizavam os testes a potências acima de 400 watts 11. Potência Mecânica A performance das condições fisiológicas no ciclismo é representada pela potência relativa, que é mensurada através das variáveis fisiológicas de treinamento 27. Para alcançar estas variáveis de treinamento é utilizada a potência mecânica oferecida pelos cicloergômetros, mensurada em watts (w) 19,27 . Testes em laboratórios, usando a potência fixa, têm sido o modelo de exercício escolhido por muitos estudos 16,17. Em geral, os testes executados por indivíduos não ciclistas com potência constante (geralmente ≤ 200w), pedalando em baixo ritmo (50 a 70 rpm), resultaram em um menor consumo de oxigênio do que pedalando em ritmo mais elevado (> 90 rpm).Tal escore pode ser considerado bom para estes indivíduos, que buscam uma melhora da aptidão física e recreação, e que raramente ultrapassam de 200w. Os ciclistas de elite estão interessados em otimizar a cadência de pedalada e fazer-las mais econômicas e eficientes, podendo gerar maior potência mecânica por um período mais longo 27. Os indivíduos, quando testados em laboratórios, são requeridos a pedalarem sentados. O que não retrata algumas situações naturais, como a subida em montanhas na qual se utiliza a posição em pé. O pico de potência alcançado (POpeak) no ciclismo é significantemente alterado pela posição do corpo, ou seja, são diferentes quando comparados aos testes de laboratório e em condições de treino ou competição em velódromos 22. Faria et al. 22 ainda reportaram, em seu estudo, que o POpeak em Sprints em velódromos na posição sentada é maior que na posição em pé, quando comparados aos resultados do laboratório. Bertucci et al. 16 indicaram, em seu trabalho, que a potência varia substancialmente de acordo com a cadência de pedalada e com um menor efeito com o terreno utilizado. Este achado vai de encontro aos de Millet et al.45 que ao observarem ciclistas treinados não constataram diferenças entre as subidas na posição sentada e em pé. Levando em consideração os efeitos das cadências de pedalada na potência alcançada, Pierre et. al. 38 relataram que os efeitos da cadencia na eficiência total diminui linearmente com a potência, enquanto o efeito da potência aumenta com a cadência em indivíduos ativos. Assim, para girar em uma potência muito alta utilizam-se cadências de pedalada mais baixas. Cadência de pedalada preferida Paradoxalmente aos relatos da literatura, estudos com ciclistas mostram a preferência dos indivíduos em pedalar em altas cadências (90 rpm), consideradas teoricamente menos econômicas e eficientes 21,39,40,41,45. As altas cadências de pedalada aumentam o gasto energético durante o ciclismo. Entretanto, mesmo que a eficiência diminua, os ciclistas sentem-se mais confortáveis com as cadências mais altas. Diversas hipóteses são propostas para explicar estes dados obtidos, referentes à cadência de pedalada preferida, como o recrutamento de fibras ou as modificações hemodinâmicas durante o exercício prolongado 9. Sanderson et al. 46 mostraram que o ritmo de pedalada mais alto diminui o impulso de distri- 274 {Investigação motricidade3vol1111.indd 11 10-06-2007 20:45:16 Conclusão buição da pressão entre os pés, sapatos e pedal. Entretanto, com os aumentos da carga resistiva tal afirmativa se torna inversa, ou seja, ao contrário do ritmo de pedalada, não exerce alterações significativas sobre a cinemática de membro inferior 47, nem quando comparado à atividade neuromuscular 48. Quando comparadas às amostras, as respostas para os aumentos da cadência são similares tanto para ciclistas experientes quanto para os ciclistas recreacionais 49. A estabilidade da cadência de pedalada preferida não tem ligação com a fadiga central e periférica 50. Takaishi et al. 51 sugeriram que a razão para a preferência dos ciclistas às altas cadências está relacionada com o desenvolvimento da fadiga neuromuscular. Com isso, para minimizar os efeitos do gasto energético em encontrar a cadência preferida, Marsh e Martin 52 não indicam o uso da percepção de esforço para indivíduos treinados. Lucia et al. 27 apresentaram os principais achados sobre diferentes as cadências de pedalada preferidas pelos ciclistas profissionais testadas em laboratório (tabela 3). Faria et. al. 53 em seu estudo com ciclistas experientes, mostraram que as altas cadências de pedalada não são prejudicadas com uma redução da eficiência. Dados estes que corroboram com os achados de Lucia et al. 28 que mostraram uma grande eficiência com altas cadências em ciclistas de ponta. Há uma conseqüente cautela ao aplicar as conclusões das pesquisas sobre a eficiência mecânica em ciclistas altamente treinados. Devido à grande amplitude de variações nas cadências de pedalada, parte dos treinos é realizada com cadências consideravelmente fora da faixa econômica. Concluímos que, o sistema de pedal encontrado em diferentes bicicletas de ciclismo não altera tanto os níveis de atividade muscular de membros inferiores29 quanto as variáveis fisiológicas e mecânicas20,28. Entretanto, a eficiência mecânica é alterada com o aumento da cadência. As baixas cadências de pedaladas (50 a 60 rpm) são mais econômicas e eficientes que as altas cadências de pedaladas (> 90 rpm) 21,39,28,40,41,42,43. A potência mecânica é outro fator importante para a otimização da cadência de pedalada 27 . Estudos mostraram claramente a relação da cadência de pedalada com a potência mecânica. A cadência mais econômica (50 a 60 rpm) aumenta a potência mecânica 6,21,37,54, já com os aumentos da cadência de pedalada (>90 rpm) a força mecânica aplicada diminui 13,55. Tão logo, a cadência ideal, em termos de consumo de oxigênio, para a maioria de seres humanos, é geralmente mais baixa do que a cadência preferida pelos ciclistas treinados (90 rpm). Neste sentido a cadência de pedaladas se mostrou com um importante fator na performance de ciclistas existindo uma tendência de diferenciação entre ciclistas treinados e não treinados. Tabela 3: Vantagens e desvantagens hemodinâmicas e fisiológicas encontradas quando se pedala em altas cadências (> 90 rpm) Desvantagens FC e VE VO2 Economia / eficiência Vantagens Estresse muscular Fluxo sanguíneo no músculo do quadríceps Volume de ejeção Bomba muscular As conclusões mostradas são baseadas em pesquisa conduzidas em indivíduos não treinados. FC = freqüência cardíaca; VE = ventilação pulmonar 27. 275 { Investigação motricidade3vol1111.indd 12 10-06-2007 20:45:16 Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes Correspondência Rua Mal. Floriano Peixoto, 937 apto. 402 – Centro Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil) CEP: 36015-440 - Tel: 55 (32) 9194-0154 E-mail: [email protected] Cadência de pedalada no ciclismo: Uma revisão de literatura Referências 1. Belli A, Hintzy F. (2002) Influence of pedalling rate on the energy cost of cycling in humans. Eur J Appl Physiol 88(1-2):158-162. 2. Coast JR, Cox RH, Welch HG. (1986) Optimal pedaling rate in prolonged bouts of cycle ergometry. Med Sci Sport Exerc 8(2):225-230. 3. Pierre S, Nicolas H, Frédérique H. (2006) Interactions between cadence and power output effects on mechanical efficiency during sub maximal cycling exercises. Eur J Appl Physiol 97(1):133-139. 4. Gaesser GA, Brooks GA. (1975) Muscular efficiency during steady-rate exercise: effects of speed and work rate. J Appl Physiol 38(6):1132-1139. 5. Gotshall RW, Bauer TA, Fahrner SL. (1996) Cycling cadence alters exercise hemodynamics. Int Sports Med 17(1):17-21. 6. Hagberg JM, Mullin JP, Giese MD, Spitznagel E. (1981) Effect of pedaling rate on submaximal exercise responses of competitive cyclists. J Appl Physiol 51(2):447-451. 7. Hintzy F, Belli A, Grappe F, Rouillon JD. (1999) Optimal pedalling velocity characteristics during maximal and submaximal cycling in humans. Eur J Appl Physiol 79(5):426-432. 8. Marais G, Pelayo P. (2003) Cadence and exercise: physiology and biomechanical determinants of optimal cadences – pratical applications. Sports Biomechanics 2(1):103-132. 9. Vercruyssen F, Brisswalter J, Hausswirth C, Bernard T, Bernard O, Vallier JM. (2002). Influ- ence of cycling cadence on subsequent running performance in triathletes. Med Sci Sports Exerc 34(3):530-536. 10. Rocha EK, Soares DP, Vellado DM, Loss JF. (2003) Caracterização da escolha da cadência preferida no ciclismo a partir de parâmetros musculares. Rev Bras Med Esp 9(6):439-446. 11. Lucia A, Hoyos J, Chicharro JL. (2001) Preferred pedalling cadence in Professional cycling. Med Sci Sport Exerc 33(8):1361-1366. 12. Padilla S, Mujika I, Cuesta G, Goiriena JJ. (1999) Level ground and uphill cycling ability in professional road cycling. Med Sci Sports Exerc 31(6):878-885. 13. Umberger BR, Gerritsen KG, Martin PE. (2006) Muscle fiber type effects on energetically optimal cadences in cycling. J Biomech 39(8):14721479. 14.Takaishi T,Yamasoto T, Ono T, Ito T, Moritani T. (1998) Neuromuscular, metabolic, and kinetis adaptations for skilled pedalling performance in cyclists. Med Sci Sport Exerc 30(3):442-449. 15. Astrand PO, Ryhming I. (1954) A nomogram for calculation of aerobic capacity (physical fitness) from pulse rate during submaximal work. J Appl Physiol 7(2):218-221. 16. Bertucci W, Taiar R, Grappe F. (2005) Differences between sprint tests under laboratory and actual cycling conditions. J Sports Med Phys Fitness 45(3):277-283. 17. Carvalho Junior ES, Santos ALG, Schneider AP, Beretta L,Tebexreni AS, Cesar MC, Barros TL. (2000) Análise comparativa da aptidão cardiorrespiratória de triatletas, avaliados em ciclossimulador e bicicleta ergométrica. Rev Bras Ciên e Mov 8(3):21-24. 18. Lucia A, San Juan AF, Montilla M, V, Canete S, Santalla A, Earnest C, Perez M, (2004) In Professional Road Cyclists, low Pedaling Cadences are Less Efficient. Med Sci Sport Exerc 36(6):10481054. 276 { Investigação motricidade3vol1111.indd 13 10-06-2007 20:45:16 19. Padilla S, Mujika I, Cuesta G, Polo JM, Chatard JC. (1996) Validity of a velodrome test for competitive road cyclists. Eur J Appl Physiol 73(5):466-451. 20. Santalla A, Manzano JM, Pérez M, Lucia A. (2002) A new pedaling design: the Rotor-effects on cycling performance. Med Sci Sports Exerc 34(11):1854-1858. 21. Coast JR, Welch HG. (1985) Linear increase in optimal pedaling rate with increased power output in cycle ergometry. Eur J Appl Physiol 53(4):339-344. 22. Faria IE, Dix C, Frazer C. (1978) Effect of body position during cycling on heart rate, pulmonary ventilation, oxygen uptake and work output. J Sports Med Phys Fitness 18(1):49-56. 23. Faria IE, Faria EW, Roberts S, Yoshimura D. (1989) Comparision of physical and physiological characteristcs in elite yonhg and mature cyclists. Res Q Exerc Sport 60(4):388-395. 24. Sjøgaard G. (1984) Muscle morphology and metabolic potential in elite road racing cyclist during a season. Int J Sports Med 5(5):250-254. 25. Caputo F, Greco CC, Denadai BS. (2005) Efeitos do estado e especificidade do treinamento aeróbio na relação %VO2max versus %FCmax durante o ciclismo. Arq Bras Cardiol 84(1):20-23. 26. Smith MF, Davison RCR, Balmer J, Bird SR. (2001) Reliability of mean power recorded during indoor and outdoor self-paced 40 km cycling time-trials. Int J Sports Med 22(4):270274. 27. Lucia A, Earnest C, Hoyos J, Chicarro JL. (2003) Optimizing the crank cycle and pedaling cadence. In: Burke ER (Ed). High-Tech Cycling. 2ª edição. Champaign: Human Kinetics: 93-118. 28. Lucia A, Balmer J, Davison RCR, Pérez M, Santalla A, Smith PM. (2004) Effects of the rotor pedalling system on the performance of trained cyclists during incremental and constant-load cycle-ergometer tests. Int J Sports Med 25(7):479- 485. 29. Duc S, Villerius V, Bertucci W, Pernin JN, Grappe F. (2005) Muscular activity level during pedalling is not affected by crank inertial load. Eur J Appl Physiol 95(2-3):260-264. 30. Soares D, Rocha E, Candotti CT, Vellado D, Fraga C, Guimarães AC, Loss J. (2003a) Potência muscular e eficiência mecânica em diferentes cadências no ciclismo. In: X Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2003, Belo Horizonte (MG). Anais do X Congresso Brasileiro de Biomecânica: Imprensa Universitária UFMG, 1: 228-232. 31. Prilustsky BI, Herzog W, Allinger TL. (1997) Forces of individual cat ankle extensor muscles during locomotion predicted using static optimization. J Biomech 30(10):1025-1033. 32. Soares D, Rocha E, Candotti CT,Vellado D, Fraga C, Guimarães AC, Loss J. (2003b) Comparação entre eficiência mecânica e economia de movimento no ciclismo. In: X Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2003, Belo Horizonte (MG). Anais do X Congresso Brasileiro de Biomecânica: Imprensa Universitária UFMG, 1:307-310. 33. Ferreira LF, Lutjemeier BJ, Townsend DK, Barstow TJ. (2005) Effects of pedal frequency on estimated muscle microvascular O2 extraction. Eur J Appl Physiol 96(5):558-63. 34. Vecruyssen F, Suriano R, Bishop D, Hausswirth C, Brisswalter J. (2005) Cadence selection affects metabolic responses during cycling and subsequent running time to fatigue. Br J Sports Med 39(5):267-272. 35. Sidossis LS, Horowitz JF, Coyle EF. (1992) Load and velocity of contraction influence gross and mechanical efficiency. Int J Sport Med 13(5):407-411. 36. Denadai BS, Ruas VD, Figueira TR. (2005) Maximal lactate steady state concentration independent of pedal cadence in active individuals. Eur J Appl Physiol 96(4):477-80 37. Boning D, Gonen Y, Maaseen N. (1984) Rela- 277 { Investigação motricidade3vol1111.indd 14 10-06-2007 20:45:16 Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes tionship between work load, pedal frequency, and physical fitness. Int J Sport Med 5(2):92-97. 38. Pierre S, Nicolas H, Frederique H. (2006) Interactions between cadence and power output effects on mechanical efficiency during sub maximal cycling exercises. Eur J Appl Physiol 97(1):133139. 39. Vercruyssen F, Hausswirth C, Smith D, Brisswalter J. (2001) Effect of exercise duration on optimal pedaling rate choice in triathletes. Can J Appl Physiol 26(1):44-54. 40. Marsh AP, Martin PE. (1993) The association between cycling experience and preferred and most economical cadences. Med Sci Sport Exerc 25(11):1269–1274. 41. Marsh AP, Martin PE. (1997) Effect of cycling experience, aerobic power and power output on preferred and most economical cadences. Med Sci Sport Exerc 29(9):1225–1232. 42. Marsh AP, Martin PE, Foley KO. (2000) Effect of cadence, cycling experience, and aerobic power on delta efficiency during cycling. Med Sci Sport Exerc 32(9):1630-1634. 43. Padilla S, Mujika I, Orbañanos J, Santisteban J, Ângulo F, Goiriena JJ. (2001) Exercise Intensity and Load during Mass-Start Stage Races in Professional Road Cycling. Med Sci Sport Exerc 33(5):796-802. 44. Nickleberry BLJ, Brooks GA. (1996) No effect of cycling experience on leg cycle ergometer efficiency. Med Sci Sport Exerc 28(11):1396-1401. 45. Millet GP, Tronche C, Fuster N, Candau R. (2002) Level ground and uphill cycling efficiency in seated and standing positions. Med Sci Sports Exerc 34(10):1645–1652. 46. Sanderson DJ, Hennig EM, Black AH. (2000) The influence of cadence and power output on force application and in-shoe pressure distribution during cycling by competitive and recreational cyclists. J Sports Sci 18(3):173-181. 47. Carpes FP, Mota CB. (2003) Análise cine- mática do membro inferior em duas diferentes cadências de pedalada no ciclismo. In: 4º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2003, Florianópolis (SC). Anais – 4º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, p.191. 48. Sarre G, Lepers R, Maffiuletti N, Millet G, Martin A. (2003) Influence of cycling cadence on neuromuscular activity of the knee extensors in humans. Eur J Appl Physiol 88(4-5):476-479. 49. Sanderson DJ. (1991) The influence of cadence and power output on the biomechanics of force application during steady-rate cycling in competitive and recreational cyclists. J Sports Sci 9(2):191-203. 50. Sarre G, Lepers R,Van Hoecke J. (2005) Stability of pedalling mechanics during a prolonged cycling exercise performed at different cadences. J Sports Sci 23(7):693-701. 51. Takaishi T, Yasadua Y, Ono T, Moritani T. (1996) Optimal pedaling rate estimated from neuromuscular fatigue for cyclists. Med Sci Sport Exerc 28(12):1492-1497. 52. Marsh AP, Martin PE. (1998) Perceived exertion and the preferred cycling cadence. Med Sci Sport Exerc 30(6):942-948. 53. Faria IE, Sjøgaard G, Bonde-Petersen F. (1982) Oxygen cost during different pedalling speeds for constant power output. J Sport Med 22(3):295–299. 54.Seabury JJ, Adams WC, Ramey MR. (1977) Influence of pedaling rate and power output on energy expenditure during bicycle ergometry. Ergonomics 20(5):491-498. 55. Faria IE. (1992) Energy expenditure, aerodynamics and medical problems in cycling: An update. Sports Med 14(1):43-63. 278 { Investigação motricidade3vol1111.indd 15 10-06-2007 20:45:16 Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados Samária Cader 1,2, Elirez Bezerra da Silva 3, Rodrigo Vale 4, Silvia Bacelar 1,2,5, Maria Dolores Monteiro 6, Estélio Dantas 1,7 Universidade do Grande Rio /RJ – Brasil 2 Hospital Quinta D’or/RJ – Brasil 3 Universidade Gama Filho/Rio de Janeiro- RJ- Brasil 4 Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Rio Grande do Norte- RN – Brasil 5 Instituto do Câncer/RJ- Brasil 6 Departamento de Desporto da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro/ Vila Real - Portugal 7 Universidade Castelo Branco/Rio de Janeiro- RJ – Brasil Universidade do Grande Rio / Rio de Janeiro- RJ – Brasil 1 Cader, S.; Silva, E. B.; Vale, R.; Bacelar, S.; Monteiro, M. D.; Dantas, E.; Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados. Motricidade 3(1): 279-288 Resumo Abstract O presente estudo tem como objetivo avaliar o efeito do fortalecimento muscular inspiratório sobre a pressão inspiratória máxima (Pimáx) e a autonomia funcional de idosos asilados. A amostra foi constituída de 34 gerontes, divididos em grupo experimental GE (n=21, 76,48±2,12 anos) e grupo controle - GC (n=13, 75,69±2,26 anos). Para avaliação da autonomia funcional, foi utilizado o protocolo de avaliação funcional do GDLAM. A Pimáx foi aferida em aparelho próprio denominado Manovacuômetro (Analógico com intervalo operacional de -150 a +150 cmH2O; Critical Med/USA-2002). O protocolo de intervenção consistiu em carga de trabalho instalada gradualmente (50%-100%); sessões com duração de 20 minutos, com 7 séries de fortalecimento (2 minutos cada) e intervalo de 1 minuto entre as séries, durante 10 semanas, 3 vezes na semana. A análise de variância de medidas repetidas multivariada encontrou diferenças significativas entre as variáveis Pimáx, autonomia funcional (IG), caminhar 10m (C10m), levantar da posição sentada (LPS), vestir e tirar a camisa (VTC), levantar da posição decúbito ventral (LPDV) e levantar e caminhar por locais da casa (LCLC) apresentadas pelos GC e GE, sendo este último superior ao primeiro (p=0,00000). Desta forma, pôdese concluir que o fortalecimento isolado da musculatura inspiratória causou aumento da Pimáx e da autonomia funcional dos idosos asilados analisados. Effect of inspiratory muscles training in maximal inspiratory pressure and functional autonomy of sheltered elderly people The main purpose of this study was to access the effect of inspiratory muscles training in maximal inspiratory pressure (Pimáx) and functional autonomy of sheltered elderly people. The sample consisted of 34 elderly people, divided in: experimental group - EG (n=21, 76,48±2,12 years) and group control - GC (n=13, 75,69±2,26 years ). The method created by The LatinAmerican Development Group for Elderly (GDLAM) was used to evaluate functional autonomy through successive tests. The Pimáx was calibrated in a Manovacuometer device (analogical with interval operational of 150 the +150 cmH2O; Critical Med / USA -2002). The registry of intervention consisting in : working load installed bit-by-bit (50%-100%); sessions with duration of 20 minutes , with 7 sets of training (2 minutes each) and interval of 1 minute among the sets, for 10 weeks , 3 times a week. The multivariate analysis of variance showed significant improvements (p=0,00000) in Pimáx and the tests that were used to assess functional autonomy. In this way, it was concluded that the strengthening inspiratory muscles improves Pimáx and functional autonomy of the sheltered elderly people analyzed. Key-words: sheltered elderly people; Pimáx; functional autonomy. Palavras-chave: idosos asilados; Pimáx; autonomia funcional. Data de submissão: Outubro 2006 Data de aceitação: Dezembro 2006 motricidade3vol1111.indd 16 279 { Investigação 10-06-2007 20:45:16 a Introdução Os idosos que residem em instituições de caridade, devido ao declínio do organismo, dão preferência às atividades menos exigentes e que requeiram menor esforço diminuindo, desta forma, suas capacidades físicas o que leva ao aparecimento do sentimento de velhice que, por sua vez, pode causar estresse e depressão1. Vários efeitos deletérios podem prejudicar os níveis ótimos de autonomia funcional dos gerontes frente às alterações decorrentes do envelhecimento2. Para o grupo WHO3, autonomia funcional é a habilidade pessoal para desempenhar as atividades necessárias que assegure o bem-estar, integrando os três domínios funcionais: biológico, psicológico (cognitivo e afetivo) e social.Ter autonomia é poder executar independente e satisfatoriamente suas atividades da vida diária (AVD), continuando suas relações e atividades sociais, e exercitando seus direitos e deveres de cidadão4. Um dos principais fatores que diminuem a autonomia funcional é a dispnéia a qual está relacionada à diminuição da força da musculatura inspiratória5 . Tal alteração muscular refletirá em uma menor pressão inspiratória máxima (Pimáx), o que traduz uma diminuição na força da musculatura inspiratória6 e na sua endurance7 . Esse fator associado à alteração da função pulmonar leva a piora progressiva do condicionamento físico8. Conseqüentemente, isto pode causar isolamento social e dependência9. A Pimáx e sua correlação com a dispnéia e, conseqüentemente, com a autonomia funcional têm despertado interesses dos pesquisadores em indivíduos não-saudáveis com: fibrose cística10, doença pulmonar obstrutiva crônica-DPOC11, insuficiência cardíaca congestiva-ICC12, asma13, sarcoidose14, câncer15, traumatismo raqui-medular-TRM16, tetraplegia17, espondilite anquilosante18, osteoporose19, miastenia grave20 e esclerose múltipla21. Entretanto, raros são os estudos que se destinam a estudar a influência da diminuição da Pimáx em idosos assintomáticos, principalmente frente ao sedentarismo22. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo avaliar o efeito do fortalecimento muscular inspiratório sobre a Pimáx e a autonomia funcional de idosos asilados. Metodologia Amostra Para este estudo, a amostra foi selecionada por conveniência, de forma não-probabilística, constituída de 50 gerontes voluntários, residentes em asilos no bairro de Jacapepaguá, município do Rio de Janeiro, Brasil. Foram divididos em dois grupos: grupo experimental (GE, n=25) e grupo controle (GC, n=25). Entretanto, ao longo da intervenção, houve uma perda amostral de 14 idosos. Desta forma, o trabalho findou em: GE (n=21, 7 homens e 14 mulheres; 76,48±2,12 anos) e GC (n=13, 3 homens e 10 mulheres; 75,69±2,26 anos). Como critério de inclusão, os indivíduos da amostra deveriam estar aptos fisicamente para participarem do tratamento experimental e ser autônomos funcionalmente no desempenho das AVD. Os sujeitos não deveriam estar fazendo atividades físicas há pelo menos três meses23, 24. Foi considerado critério de exclusão qualquer tipo de condição aguda ou crônica que pudesse comprometer ou que se tornasse um fator de impedimento para os testes de autonomia funcional, tais como: cardiopatias, diabetes, hipertensão arterial e bronquite-asmática não controlada; quaisquer condições musculoesqueléticas que pudessem servir de fator interveniente à prática da atividade (osteoartrite, fratura recente, tendinite e uso de prótese); problemas neurológicos; obesidade mórbida; indivíduos renais crônicos e aqueles que fizessem uso de medicamentos que pudesse causar distúrbios da atenção. Os participantes desta pesquisa assinaram o 280 { Investigação motricidade3vol1111.indd 17 10-06-2007 20:45:16 termo de consentimento e os procedimentos experimentais foram executados dentro das normas éticas previstas na Declaração de Helsinque de 1975. O estudo teve seu projeto de pesquisa submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Castelo Branco, RJ. Procedimentos As variáveis autonomia funcional e Pimáx foram avaliadas pré e pós-teste. Avaliação da Autonomia Funcional Para avaliação da Autonomia Funcional, os idosos foram submetidos a uma bateria composta por cinco testes adotados no protocolo de avaliação funcional do Grupo de Desenvolvimento LatinoAmericano para a Maturidade (GDLAM): caminhar 10m - C10m25, levantar-se da posição sentada – LPS26, levantar-se da posição decúbito ventral – LPDV27, levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa - LCLC28 e o teste de vestir e tirar uma camiseta – VTC29, os quais são utilizados para se calcular o Índice de autonomia GDLAM (IG). O menor tempo, em segundos, para a execução das tarefas em duas tentativas foi utilizado como critério de avaliação. Os instrumentos utilizados foram: cadeira de 48 cm de altura; colchonete Hoorn (Brasil); cronômetro da marca Cásio; dois cones e fita métrica metálica da marca Sanny (Brasil). Avaliação da Pimax A Pimáx foi aferida em aparelho próprio denominado Manovacuômetro (Analógico com intervalo operacional de -150 a +150 cmH2O; Critical Med/USA-2002). O equipamento pode ser utilizado através de um bocal30 e o nariz do individuo deve ser ocluído (com um clamp nasal). A medida é feita a partir do volume residual e o orifício deve ser ocluído imediatamente no início da inspiração a fim de gerar uma pressão negativa intratorácica, verificada no manômetro6.A inspiração deve durar pelo menos 3 segundos, sendo com o máximo de força e tempo possíveis. Este procedimento deve ser repetido por três vezes, tomando-se o melhor resultado19. A pressão medida corresponde ao somatório da força dos músculos que participam da inspiração, não havendo como selecionar a medida somente do diafragma31. Protocolo de intervenção O fortalecimento muscular inspiratório foi realizado com o aparelho Threshold-IMT (Respironics/USA- 2004), de carga linear pressórica, o qual produz uma resistência à inspiração por meio de um sistema de mola com uma válvula unidirecional, sendo necessária a utilização do clamp nasal. Durante o ato expiratório não há resistência, pois a válvula unidirecional abre-se; entretanto, na inspiração ela se fecha, tornando-se “endurecida” pela resistência da mola. Quanto mais comprimida estiver a mola, maior será a resistência. É necessário realizar um intervalo de 4 segundos entre uma incursão respiratória e outra, além de manter um período de 2 segundos no ato inspiratório32. Embora exista uma diversidade de protocolos descritos na literatura33, 34, o protocolo sugerido constituiu de uma carga de trabalho que era instalada gradualmente, começando do valor de 50% da Pimáx, sendo acrescido 10% por semana, até a 4ª semana10, 14. A partir da 5ª semana, foi acrescido 5% até completar 100% na 8ª semana. A partir de então, este valor foi mantido nas 2 últimas semanas. As sessões tinham duração de 20 minutos, sendo 7 séries de fortalecimento (2 minutos cada) e um intervalo de 1 minuto entre as séries35, durante 10 semanas, 3 vezes na semana21. O grupo controle se comprometeu em não realizar nenhuma atividade física sistematizada que envolvesse trabalho de força durante as dez semanas de experimento até a realização do pós-teste, mantendo, todavia, seus afazeres diários normais. Estatística A fim de verificar a normalidade da amostra, foi realizado o teste de Shapiro-Wilk. Para testar as 281 { Investigação motricidade3vol1111.indd 18 10-06-2007 20:45:17 Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados Samária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas diferenças entre as Pimax, IG, C10m, LPS, VTC, LPDV e LCLC causadas pelo fortalecimento dos músculos inspiratórios foi utilizada a análise de variância de medidas repetidas multivariada. O nível de p < 0,05 foi adotado para significância estatística36. Resultados A estatística descritiva do GE está exposta na tabela 1. Com o fortalecimento dos músculos inspiratórios, realizado somente pelo grupo experimental, a Pimax do grupo controle diminuiu para 23,08±10,71 cmH2O, enquanto que a Pimax do grupo experimental aumentou para 55,24± 23,26 cmH2O (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26) = 14,01; p = 0,00000). O fortalecimento dos músculos inspiratórios causou também uma melhoria da autonomia funcional. No início do estudo, os grupos controle e experimental apresentaram valores de IG muito Tabela 1: Estatística descritiva do GE M EP Md DP CV% p-valor (SW) pré pós pré pós pré pós pré pós pré pós idade 76,48 76,48 2,12 2,12 74,00 74,00 9,71 9,71 12,70 12,70 0,202 IMC 25,99 26,02 1,13 1,14 25,95 25,95 5,17 5,22 19,89 20,05 0,578 Pimáx 31,67 55,24 2,42 5,08 35,00 55,00 11,11 23,26 35,07 42,11 0,180 C10m 11,36 9,30 1,02 0,79 9,16 7,61 4,66 3,62 41,04 38,97 0,007 LPS 12,03 9,36 0,58 0,43 12,00 8,90 2,64 1,99 21,96 21,28 0,237 VTC 15,71 14,05 0,66 0,79 16,10 14,02 3,04 3,62 19,35 25,79 0,602 LPDV 8,07 6,65 1,05 0,96 6,58 4,78 4,80 4,40 59,54 66,11 0,045 LCLC 71,58 63,13 6,25 5,02 61,23 54,80 28,65 23,02 40,03 36,46 0,011 IG 40,47 35,46 2,44 2,27 39,16 35,81 11,18 10,42 27,64 29,39 0,287 M: média; EP: erro padrão; Md: mediana; DP: desvio padrão; CV%: percentual do coeficiente de correlação; SW: Shapiro-Wilk; IMC: índice de massa corporal; Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m: caminhar 10m; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM. Na tabela 2 encontra-se a estatística descritiva do GC. A análise de variância de medidas repetidas multivariada mostrou diferenças significativas entre os resultados apresentados pelos grupos controle e experimental (Figura 1). No início do estudo, os grupos controle e experimental apresentaram valores de Pimax muito semelhantes (31,67±11,11 cmH2O e 32,69±17,03 cmH2O, respectivamente). semelhantes (40,47±11,17seg e 41,00±15,56seg, respectivamente). Com o fortalecimento dos músculos inspiratórios realizado somente pelo grupo experimental, a autonomia do grupo controle diminuiu com o aumento do IG para 43,51±19,32seg, enquanto que a autonomia do grupo experimental aumentou com a diminuição do IG para 35,46±10,42seg (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26) = 14,01; p = 0,00000). A maior autonomia do grupo experimental em relação ao controle, em decorrência do for- 282 { Investigação motricidade3vol1111.indd 19 10-06-2007 20:45:17 Tabela 2: Estatística descritiva do GC M EP pré pós Md pré pós DP pré pós CV% pré pós pré p-valor (SW) pós idade 75,69 75,69 2,26 2,26 77,00 77,00 8,14 8,14 10,75 10,75 0,860 IMC 25,80 26,01 0,79 0,69 26,27 26,14 2,85 2,50 11,05 9,62 0,757 Pimáx 32,69 23,08 4,72 2,97 30,00 20,00 17,03 10,71 52,10 46,42 0,336 C10m 11,08 11,44 1,48 1,83 9,15 9,15 5,33 6,60 48,15 57,69 0,002 LPS 12,40 12,99 1,29 1,28 10,18 11,21 4,66 4,60 37,53 35,40 0,002 VTC 14,43 16,97 0,95 1,46 13,54 16,86 3,42 5,26 23,71 30,99 0,814 LPDV 6,51 7,55 0,64 1,15 5,29 6,58 2,30 4,16 35,34 55,11 0,109 LCLC 75,17 76,14 12,16 13,26 56,84 56,58 43,85 47,80 58,34 62,78 0,000 IG 41,00 43,51 4,31 5,36 35,23 37,21 15,56 19,32 37,94 44,40 0,002 M: média; EP: erro padrão; Md: mediana; DP: desvio padrão; CV%: percentual do coeficiente de correlação; SW: Shapiro-Wilk; IMC: índice de massa corporal; Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m: caminhar 10m; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM. talecimento dos músculos inspiratórios, pôde ser observada em cada uma das provas que compõe o protocolo de avaliação funcional do GDLAM: o C10 m; o LPS; o VTC; o LPDV e o LCLC (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26) = 14,01; p = 0,00000). Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m: caminhar 10m; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de auomover-se pela casa;VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM. Discussão Um dos aspectos fundamentais que limitam o exercício físico, principalmente frente ao sedentarismo, é a performance da musculatura inspiratória. A perda de força dos músculos respiratórios é uma alteração reconhecida com o avanço da idade e essa perda pode afetar a performance ventilatória, principalmente durante o exercício. Vasconcellos et al.22 observaram uma correlação moderada e positiva (r= 0,58, p= 0,006, p<0,05 e r=0,53, p<0,01, respectivamente) entre a força da musculatura inspiratória e a capacidade funcional através do teste de caminhar 6 minutos (TC6). Tais achados vêm dar sustentação aos resultados desta investigação onde na figura 1 encontram-se resultados significativos nos testes de autonomia funcional do GDLAM no GE, o qual foi submetido ao treinamento, tendo sua força muscular inspiratória otimizada, expressa pelo aumento da Pimáx. Cader et al37, utilizando o protocolo GDLAM, analisaram o perfil da autonomia funcional de idosos asilados e encontraram em seus resultados: C10m (13,39 seg), LPS (13,07 seg), VTC (15,70 seg), LPDV (6,15 seg), LCLC (76,60 seg) e IG (47,32 seg).Tais resultados denotam, segundo Vale38, um valor fraco de autonomia funcional. Estes dados vêm corroborar com os dados da atual pesquisa, onde nas tabelas 1 e 2 pode-se observar que tanto no GE como no GC, respectivamente, os testes do GDLAM, com exceção do C10m 283 { Investigação motricidade3vol1111.indd 20 10-06-2007 20:45:17 Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados Samária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 -10 grupo: experimental grupo: controle experimental controle Pimax IG C10m LPS VTC LPDV LCLC pós Figura 1: Análise de pré variância de medidas repetidas multivariada. Interação das medidas de Pimax, IG, C10m, LPS, VTC, LPDV e LCLC antes e após o fortalecimento dos músculos inspiratórios (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26)= 14,00; p = 0,00000). As barras verticais representam o intervalo de confiança de 95%. pós-teste do GE (9,30±0,79 seg), apresentaram um valor considerado fraco. Pereira et al.39 realizaram um estudo em duas entidades filantrópicas. Em ambos asilos, os testes de autonomia funcional apresentaram valores fracos: C10m (13,71 seg e 29,57 seg); LPDV (6,36 seg e 10,00 seg) e LPS (18,86 seg e 20,21 seg), respectivamente. Estes dados apontam a mesma tendência para a pesquisa em questão, uma vez que a instituição na qual foi desenvolvida a pesquisa, por ser uma entidade filantrópica, não recebendo desta forma qualquer tipo de ajuda ou incentivo do governo estadual, federal e/ou municipal apresentou em seus gerontes valores fracos de autonomia funcional. Um estudo randômico realizado com indivíduos asmáticos,13 submetidos ao treinamento da musculatura inspiratória, revelou: um aumento significa- tivo da Pimáx (p<0,01); uma diminuição no consumo de β2 agonísta (p<0,001) e uma diminuição na escala de percepção da dispnéia (p<0,001). Tais resultados se mostram relevantes para a atual investigação demonstrando não só o aumento da Pimáx com o treinamento, mas também a influência positiva deste aumento na dispnéia, o que reflete em uma maior agilidade na execução dos testes de autonomia funcional. Após um trabalho de fortalecimento muscular respiratório, Beckerman et al.40 observaram melhoras significativas na Pimáx e no TC6 (Intra: p<0,05; Inter-grupo: p<0,01). Tais resultados se mostram relevantes para o presente trabalho o qual demonstrou, após o treinamento muscular inspiratório, melhoras significativas na Pimáx, no IG e em todos os testes do GDLAM do GE. Uma pesquisa feita por Mador, Kufel & Pineda41 284{ Investigação motricidade3vol1111.indd 21 10-06-2007 20:45:17 observou que uma queixa comum entre idosos sedentários era de cansaço nos membros inferiores (MmIi), quando submetidos ao esforço. Harms et al.42 demonstraram que a resistência à exaustão de uma musculatura está relacionada ao fluxo sanguíneo que ela recebe e que a sobrecarga imposta à musculatura respiratória, no exercício máximo, faz com que haja um maior desvio do fluxo de sangue em sua direção, ocorrendo diminuição do fluxo para os MmIi, o que acarreta diminuição na performance do exercício.Tais dados vêm corroborar com a melhora encontrada nos testes de C10m e de LCLC do GE, observada nesta pesquisa, pois com a redução do fluxo sanguíneo para a musculatura inspiratória, os MmIi foram mais vascularizados proporcionando uma melhor performance na caminhada. O aumento da força e da resistência da musculatura inspiratória, através do treinamento da musculatura respiratória (TMR) foi encontrado em um estudo que comparou o efeito de tal aumento na performance do exercício físico em ciclistas43. Os autores utilizaram em sua amostra um grupo experimental e um grupo placebo. A coleta de dados comparativos, pré e pós-teste, demonstrou uma melhora significativa na Pimáx (p<0,05) concomitante com a performance do grupo experimental (p<0,05); entretanto, não houve alterações significativas no grupo placebo. Sheel44 ainda sugere que tal melhora seja atribuída ao aumento da percepção da respiração, do limiar de fadiga da musculatura respiratória e da eficiência ventilatória. Esses achados assemelham-se com os dados coletados neste trabalho, os quais revelaram, na figura 1, uma melhora significativa da Pimáx concomitante com a performance na execução da bateria de testes de autonomia funcional do GDLAM. Os achados da presente investigação a respeito do aumento da Pimáx e da melhora da autonomia funcional após o fortalecimento muscular inspiratório do GE também foram encontrados em pesquisas realizadas com pacientes com ICC. Nestes indivíduos, a Pimáx obteve uma correlação significativa com o VO2 (r=0,60, p < 0,001) e com a distância percorrida (r=0,50 , p < 0,001)12. Já Martinez et al.45 tiveram como objetivo avaliar a eficácia do treinamento muscular inspiratório na performance da musculatura inspiratória, na dispnéia e na capacidade de exercício. No pós-teste, observaram um aumento da Pimáx (de 78±22 para 99±22cmH2O), uma diminuição da dispnéia (p<0,05) e um aumento da distância percorrida no TC6 (de 451±78 para 486±68 metros). As investigações de Jong et al.46, que analisaram a eficácia do treinamento muscular inspiratório em indivíduos com Fibrose Cística, e a de Inbar et al.47, em atletas de endurance bem-treinados, vêm contrapor os achados deste estudo. Apesar dos autores terem encontrado um aumento no valor da Pimáx pós-treinamento (p=0,003 e p < 0,005, respectivamente) este resultado não correspondeu à melhora da dispnéia e nem da capacidade de exercício. A fim de investigar a influência do treinamento muscular inspiratório na capacidade física de indivíduos com Fibrose cística, Enright et al.10 dividiram, randomicamente, sua amostra em 3 grupos: Grupo de treinamento com 80% da pimáx (G1, n=9), grupo placebo com 20% da pimáx (G2, n=10) e grupo controle (G3, n=10). Em seus resultados, observaram um aumento da Pimáx (p<0,05) no G1 e G2; porém, apenas no G1 houve uma concomitante melhora na capacidade do exercício (p<0,05). Estes dados dão sustentação para a presente pesquisa a qual, no GE que utilizou uma carga crescente de 50-100%, foi encontrado um aumento significativo da Pimáx concomitante com a melhor performance na execução dos testes de autonomia funcional, revelados na figura 1. Em um estudo realizado em indivíduos com câncer15, foi observado que, dentre os 135 analisados, 74 (55%) tinham como queixa a dispnéia nas AVD. No subgrupo de indivíduos com moderada a severa dispnéia, observou-se uma correlação da intensidade da dispnéia com a ansiedade (p=0,0318) e a Pimax 285 { Investigação motricidade3vol1111.indd 22 10-06-2007 20:45:17 Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados Samária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas (p=0,018). Uma vez que o aumento da Pimáx se reflete em uma diminuição da dispnéia, que por sua vez influenciará na execução dos testes de autonomia funcional, estes achados se mostram relevantes para o presente trabalho. Após a análise dos resultados, pôde-se concluir que o fortalecimento isolado da musculatura inspiratória causou aumento da Pimáx e a melhora da autonomia funcional dos idosos asilados analisados, repercutindo em uma maior agilidade no desempenho dos testes do GDLAM. Especula-se que estes resultados satisfatórios tenham associação com o aumento do limiar de fadiga da musculatura respiratória, repercutindo na diminuição da dispnéia e na melhora da eficiência ventilatória. Tais fatores contribuem para uma melhor performance nas AVD. Agradecimentos Agradecemos de forma especial aos asilos os quais nos abriram as portas para a execução desta investigação, à saber: Casa da Mãe Pobre; Abrigo Santa Luzia; Retiro dos Artistas e Lar da Velhice Israelita. Neste último obtivemos, de forma significativa, o apoio do fisioterapeuta e terapeuta ocupacional João Galdino da Silva Neto e da fisioterapeuta Merlucia Coelho da Costa Silva. Correspondência Samária Ali Cader. Rua Jorge Emílio Fontenelle, n. 550/ bl. 2a, apto. 202- Rio de Janeiro- RJ - Brasil. CEP: 22790-140 Tel: (0xx21)2437-4916 email: [email protected] Referências 1. Benedetti, TRB, Petroski, E. L (1996). Levantamento das instituições do Estado de Santa Catarina. In: 20o Simpósio Internacional de Ciências do Esporte: São Paulo, p. 86. 2. Guimarães LHCT, Galdino DCA, Martins FLM, Abreu, SR, et al (2004). Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico. Rev Neurociências. 12(3):1-6. 3. OMS – divisão de saúde mental – Grupo WHOQOL (1998).Versão em português dos instrumentos de avaliação de Qualidade de Vida (WHOQOL). Disponível em: http://www.ufrj.br/psiq/wolqol. hml. Acesso em 18 de Jan. de 2006. 4. Abreu FMC, Dantas EHM, Leite WOD, Baptista MR, Aragão JCB (2002). Perfil da autonomia de um grupo de idosos institucionalizados. In: Fórum brasileiro de educação física e ciências do esporte. Rev Min Ed Física. 10:455. 5. Ide MR, Belini MAV, Caromano FA (2005). Efect of na aquatic versus non-aquatic respiratory exercise program on the respiratory muscle strength in healthy aged persons. Clinic. 60(2):151-158. 6. Green M, Road J, Sieck GC, Similowski T (2002). Tests of Respiratory Muscle Strength. Am J Respir Crit Care Med. 166 (4):528-547 7. Clanton T, Calvery PM, Celli BR (2002). Tests of Respiratory Muscle Edurance. Am J Respir Crit Care Med. 166(4):559-570. 8. Pine MJ, Murphy AJ,Watsford ML (2005). Role of respiratory system function in the age-related decline of human functional capacity. Aust J Age. 24(3):153-156. 9. Steiner MC, Morgan MDL (2001). Enhancing physical performance in chronic obstructive pulmonary disease.Thorax. 56(1):73-77. 10. Enright S, Chatham K, Ionescu AA, Unnithan VB, Shale DJ (2004). Inspiratory Muscle Training Improves Lung Function and Exercise Capacity in Adults with Cystic Fibrosis. Chest. 126(2):405-411. 11. Covey MK, Larson JL, Wirtz SE, Berry JK, Pogue NJ, Alex CG, et al (2001). High-intensity inspiratory muscle training in patients with chronic obstructive pulmonary disease and severely reduced function. J Cardiopulm Rehabil. 21(4):231-240. 12. Laoutaris I, Dritsas A, Brown MD, Manginas A, Alivizatos PA, Cokkinos DV (2004). Inspiratory 286{ Investigação motricidade3vol1111.indd 23 10-06-2007 20:45:17 muscle training using an incremental endurance test alleviates dyspnea and inproves functional status in patients with cronic heart failure. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 11(6):489-496. 13. Weiner P, Magadle R, Beckerman M, BearYanay N (2002). The relationship among inspiratory muscle strenght, the perception of dyspnea and inhaled beta2-agonist use in patients with asthma. Can Respir J. 9(5):307-312. 14. Brancaleone P, Perez T, Robin S, Neviere R, Wallaert B (2004). Clinical impact of inspiratory muscle impairment in sarcoidosis. Sarcoidosis Vasc Diffuse Lung Dis 21(3): 219-227. 15. Bruera E, Schmitz B, Pither J, Neumann CM, Hanson J (2000). The frequency and correlates of dyspnea in patients with advanced cancer. J Pain Symptom Manage.19(5): 357-362. 16. Liaw MY, Lin MC, Cheng PT,Wong MK,Tang FT (2000). Resistive inspiratory muscle training: its effectiveness in patients with acute complete cervical cord injury. Arch Phys Med Rehabil. 81(6):752756. 17. Uijl SG, Houtman S, Folgering HTM, Hopman MTE (1999). Training of the respiratory muscles in individuals with tetraplegia. Spinal Cord. 37(8):575359. 18.Van-Der-Esch M,Van-T-Hul AJ, Heijmans M, Dekker J (2004). Respiratory muscle performance as a possible determinat of exercise in patients with ankylosing spondylitis. Aust J Physiother. 50(1): 4145. 19. Cimen OB, Ulubas B.; Sahin G, Calikoglu M, Bagis S, Erdogan C (2003). Pulmonary function tests, respiratory muscle strength and endurance of patients with osteoporosis. South Med J. 96(5):423426. 20. Fregonezi GAF, Resqueti VRR, Guell R, Pradas J, Casan P (2005). Effects of 8-week, intervalbased inspiratory muscle training and breathing retraining in patients with generalized myasthenia gravis. Chest. 128(3):1524-1530. 21. Klefbeck B, Hamrah-Nedjad J (2003). Effect of inspiratory muscle training in patients with multiple sclerosis. Arch Phys Med Rehabil. 84(7):994-999. 22. Vasconcellos J, Papatela MT, Guerra V, Melo M, et al (2004). Análise da Relação entre Pressões Respiratórias Máximas e Capacidade Funcional em Idosos Assintomáticos. In: 12º Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória; 2004 Set 29- Out 02; Ouro Preto, Minas Gerais: Associação Brasileira de Fisioterapia p. 27. 23. Kraemer WJ, Koziris LP, Ratamess NA, Hakkinen K,Triplett-McBride NT, Fry AC, et al (2002). Detraining produces minimal changes in physical performance and hormonal variables in recreationally strength-trained men. J Streng Cond Res. 16(3):373-382. 24. Lemmer JT, Hurlut DE, Martel GF, Tracy BL, Ivey FM, Metter EJ, et al (2000). Age and gender responses to strength training and detraining. Med Sci Sports Exerc. 32(8): 1505-1512. 25. Sipilä S, Multanen J, Kallinen M, Era P, Suominen H (1996). Effects of strength and endurance training on isometric muscle strength and walking speed in elderly women. Acta Physiol Scand. 156:457-464. 26. Guralnik JM, Simonsick EM, Ferrucci L, Glynn RJ, Berkman LF, Blazer DG, et al (1994). A short physical performance battery assessing lower extremity function: association with self-reported disability and prediction of mortality and nursing home admission. J Gerontology. 49(2):M85−M94. 27. Alexander NB, Ulbrich J, Raheja A, Channer, D (1997). Rising from the floors in older adults. J AmGeriatrics Society. 45(5):564−569. 28. Andreotti RA, Okuma SS (1999).Validação de uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos fisicamente independentes. Rev Paul Educ Fis. 13(1):46-66. 29. Dantas EHM, Vale RGS (2004). Protocolo GDLAM de avaliação da autonomia funcional. Fit Perf J. 3(3):175-183. 287 { Investigação motricidade3vol1111.indd 24 10-06-2007 20:45:17 Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados Samária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas 30. Junior JFF, Paisani DM, FrancesHini J, Chiavegato LD, Faresin SM (2004). Pressões respiratórias máximas e capacidade vital: comparação entre avaliação através de bocal e de máscara facial. J Bras Pneumol. 30(6):515-520. 31. Volianitis S, McConnell AK, Jones DA (2001). Assessment of maximum inspiratory pressure: prior submaximal respiratory muscle activity (warm-up) enhances maximum inspiratory activity and attenuates the learning effect of repeated measurement. Respiration. 68(1): 22-27. 32. Mancini DM, Henson D, La MJ, et al (1995). Benefit of selective respiratory muscle training on exercise capacity in patients with chronic congestive heart failure. Circulation. 91(2):320-329. 33. De Freitas FGA, ResquetiVR, Guell R, Pradas J, Casan P (2005). Effects of 8-week, interval-based inspiratory muscle training and breathing retraining in patients with generalized myasthenia gravis. Chest. 128(3):1524-1530. 34. Ramirez SA, Orozco LM, Guell R, Barreiro E, Hernandez N, Mota S, et al (2002). Inspiratory muscle training in patients with chronic obstructive pulmonary disease: structural adaptation and physiologic outcomes. Am J Respir Crit Care Med. 166(11):1491-1497. 35. Sturdy G, Hillman D, Green D, Jenkins S, Cecins N, Eastwood P (2003). Feasibility of High-Intensity Interval-Based Respiratory Muscle Training in COPD. Chest. 123(1):142-150. 36. Thomas JR, Nelson JK (2002). Métodos de pesquisa em atividade física. (3 ed). Porto Alegre: Artmed. 37. Cader SA, Guimarães AC, Rocha CAQC,Vale RGS, Pernambuco CS, Dantas EHM (2006). Perfil da qualidade de vida e da autonomia funcional de idosos asilados em uma instituição filantrópica no município do Rio de Janeiro. Fit Perf J. 5(4):256261. 38.Vale RGS (2005). Avaliação da autonomia funcional do idoso. Fit Perf J. 4(1):4. 39. Pereira IC, Abreu FAC, Vitoreti AVC, Líbero GA (2003). Perfil da autonomia funcional de idosos institucionalizados na cidade de Barbacena. Fit Perf J. 2(5):285-288. 40. Beckerman M, Magadle R, Weiner M, Weiner P (2005). The effects of 1 year of specific inspiratory muscle training in patients with COPD. Chest. 128(5):3177-3182. 41. Mador MJ, Kufel TJ, Pineda LA (2000). Quadriceps and Diaphragmatic reaction after Exhaustive Cycle exercise in the Healthy Elderly. Am J Respir Crit Care Med. 162(5):1760-1766. 42. Harms GA,Wetter TJ, Croix CM, Pegelow DF, DEmpsey JA (2000). Effects of respiratory muscle on exercise performance. J Appl Physiol. 89(1):131138. 43. Holm P, Sattler A, Fregosi RF (2004). Endurance training of respiratory muscles improves cycling performance in fit young cyclists. BioMed Central Physiol. 4(9):1472-1494. 44. Sheel AW (2002). Respiratory muscle training in healthy individuals: physiological rationale and implications for exercise performance. Sports Méd. 32(9):567-581. 45. Martinez A, Lisboa C, Jalil J, Munoz V, Diaz O, Casanegra P, Corbalan R, Vasquez AM, Laiva A (2001). Selective training of respiratory muscles in patients with chronic heart failure. Rev Med Chil. 129(2):133-139. 46. Jong W, Van-Aalderen WMC, Kraan J, Koeter GH,Van-Der-Schans CP (2001). Inspiratory muscle training in patients with cystic fibrosis. Respir Med. 95(1):31-36. 47. Inbar O, Weiner P, Azgad Y, Rotstein A, Weinstein Y (2000). Specific inspiratory muscle training in well-trained endurance athletes. Med Sci Sports Exerc. 32(7):1233-1237. 288{ Investigação motricidade3vol1111.indd 25 10-06-2007 20:45:17 O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo. José Francisco Filipe Marmeleira 1 e João Paulo Abreu 1 1 Universidade de Évora, Portugal Francisco, J.; Marmeleira, F.; O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo. Motricidade 3(1): 289-297 Resumo Abstract O objectivo deste trabalho foi o de estudar possíveis influências da etnia sobre o desenvolvimento motor. Para tal foi constituída uma amostra de 60 crianças de ambos os géneros com 7, 8 e 9 anos de idade: 30 crianças ciganas que frequentavam uma escola do 1º ciclo em Moura; 30 crianças não ciganas que frequentavam uma escola do 1º ciclo em Lisboa. Para estudo e comparação dos níveis de desenvolvimento motor dos dois grupos da amostra, foi utilizada a forma reduzida do Teste de Proficiência Motora de BruininksOseretsky. Concluiu-se que as crianças não ciganas em comparação com crianças de etnia cigana, apresentavam valores significativamente superiores da motricidade global (p=0,015), da motricidade fina (p=0,000) e da própria proficiência motora (p=0,005). Palavras-chave: proficiência motora, meio sócio-cultural, etnia cigana The motor proficiency development in gypsy and non-gypsy children: a comparative study The objective of this study was to investigate possible influences of ethnicity on motor development. The sample comprised 60 children of both genders with 7, 8 and 9 years of age: 30 gypsy children who attended an elementary school in Moura; 30 non-gypsy children who attended an elementary school in Lisboa. The short form of the Bruininks-Oseretsky Test of Motor Proficiency was used to study and compare the motor development level of the sample groups. We concluded that the non-gypsy children in comparison to the gypsy children, revealed significative superior results in gross motor performance (p=0,015), fine motor performance (p=0,000) and in motor proficiency (p=0,005). Key words: motor development, sociocultural background, gypsies Data de submissão: Março 2006 Data de aceitação: Dezembro 2006 289 {Investigação motricidade3vol1111.indd 26 10-06-2007 20:45:17 Introdução Em Portugal vários estudos têm investigado a influência de meios sócio-culturais diferenciados no desenvolvimento motor das crianças, designadamente os efeitos da residência em meio urbano ou meio rural 2,17,19,20. Há, no entanto, uma lacuna de estudos sobre a influência de outras variáveis sócio-culturais no desenvolvimento motor, entre elas as relacionadas com a etnicidade. Alguns trabalhos realizados noutros países têm estudado a importância da origem étnica em factores como os padrões de actividade física e/ou a aptidão física 8,9,14,16. No entanto, e no que se refere à etnia cigana, não foi encontrado qualquer estudo no âmbito do desenvolvimento motor. Provavelmente, tal situação terá a ver com o facto dos ciganos continuarem a ser considerados pelos não ciganos pouco acessíveis, o que se têm traduzido num conhecimento limitado sobre as suas características sócio-culturais 24. Em Portugal, a comunidade cigana é constituída por cerca de 50 000 indivíduos3. Na sua maioria, a mesma é sedentária ou semi-nómada pelo que o número da população itinerante tem vindo a diminuir13. A integração escolar da comunidade cigana é muitas vezes difícil e as crianças apresentam uma taxa elevada de insucesso e abandono escolar em Portugal 3. A maior presença de alunos de etnia cigana verifica-se ao nível do 1º ciclo (10,9% de todos os alunos provenientes de minorias étnicas) 13 . Entre a comunidade cigana a brincadeira e o jogo parecem ter algumas características particulares. Segundo Levinson7 a brincadeira cumpre uma importante função cultural entre a comunidade cigana, preparando as crianças para o futuro e transmitindo-lhes instrumentos indispensáveis ao seu contexto sócio-económico. Segundo o autor, as crianças raramente estão sozinhas, passando muito tempo integradas em grupos de idades diferenciadas, o que tem um impacto marcante no tempo para brincar bem como no tipo de brincadeiras. Refere, ainda, que a realização de actividades intergeracionais é comum durante os momentos recreativos e de trabalho. Entre os ciganos há muitas vezes uma expectativa de que as crianças devem contribuir desde muito cedo para a família.Tal facto, pode ser considerado uma desvantagem na medida em que determinadas formas de brincar se tornam um luxo inacessível, mas, por outro lado, uma vantagem porque as crianças ciganas podem usufruir de uma posição mais relevante na vida familiar e comunitária que advém das responsabilidades assumidas 7. Levinson7 refere que encontrou poucos brinquedos entre as crianças ciganas. Relata que observou muitas vezes as crianças a brincar com objectos que na sociedade mais abrangente seriam pouco conotados com a recreação mas mais com o mundo do trabalho. Considera, ainda, que entre a comunidade cigana não existe uma clara distinção entre trabalho e lazer como nas economias modernas. Thomson e Soós 24 realizaram um estudo sobre as atitudes dos jovens ciganos em relação ao desporto, em duas instituições de ensino secundário na Hungria especialmente vocacionadas para o ensino da cultura cigana. Concluíram que os estudantes de etnia cigana (i) não apresentavam uma atitude tão positiva em relação ao desporto e à actividade física quanto os outros jovens húngaros, (ii) tinham um nível de prática desportiva fora da escola relativamente baixo, (iii) consideravam a melhoria da saúde e aptidão física como o principal objectivo do desporto, (iv) aceitavam na sua maioria a noção de que muitos desportos são específicos para determinado género. No presente trabalho, os grupos da amostra viviam em meios com características urbanísti- 290{ Investigação motricidade3vol1111.indd 27 10-06-2007 20:45:17 cas muito diferenciadas. Segundo Neto 11 as alterações ao nível do desenvolvimento motor são mais vincadas nos grandes meios urbanos, onde a procura de um melhor nível de vida leva a uma alteração ou adaptação dos comportamentos e hábitos do quotidiano. Estas alterações são mais visíveis na motricidade infantil, em que as capacidades de mobilidade e exploração corporal na vida das crianças estão comprometidas devido à escassez de espaços 11,18. De facto, no meio urbano, a densidade habitacional e de tráfego, os estilos de vida da família e a gestão do tempo das crianças, dificultam o seu acesso aos espaços da rua e aos grandes espaços verdes 12,22. Alguns estudos têm comparado a performance motora em função do meio (urbano versus rural), tendo sido encontrados resultados significativamente superiores entre crianças do meio rural na coordenação geral19,20 e no lançamento em distância 20,21. Apenas um estudo 19 refere um item onde registou performances significativamente superiores das crianças que habitavam no meio urbano, no caso a coordenação fina. Moreno & Vasconcelos 10 encontraram valores significativamente superiores nas provas de dinamometria manual e de corrida com mudança de direcção entre adolescentes do sexo feminino que habitavam no meio rural Costa4 encontrou várias diferenças estatisticamente significativas num estudo comparativo do desenvolvimento motor de crianças oriundas de países africanos de expressão portuguesa com o de crianças caucasianas de nacionalidade portuguesa: as primeiras tinham performances superiores nas provas de equilíbrio, de força inferior, média e superior; as segundas apresentavam valores superiores na agilidade e coordenação. Alguns estudos realizados noutros países compararam a aptidão física de grupos de crianças ou jovens provenientes do meio rural e urbano. Ozdirenc et al.15 encontraram níveis significativa- mente inferiores de flexibilidade e de resistência muscular entre as crianças que residiam em áreas urbanas; Taks et al.23 não encontraram diferenças entre raparigas adolescentes; Tsimeas et al.23 concluíram que o local de residência não tem um impacto marcante na aptidão física das crianças. Quanto à prática desportiva, alguns estudos indicam que a mesma é significativamente superior entre as crianças e jovens que habitam em zonas urbanas 14,23. Também foram encontrados maiores níveis de performance motora entre crianças com maior estatuto sócio-económico 6,14 e que participavam em desportos fora da escola 14. Neste contexto, o presente estudo pretendeu estudar a influência da etnia sobre o desenvolvimento motor. Deste modo, procedeu-se à comparação da proficiência motora de um grupo de crianças ciganas com a de um grupo de crianças não ciganas. Metodologia Amostra A amostra foi constituída por 60 crianças com idades compreendidas entre o 7 e os 9 anos, constituída por dois grupos com idades similares: 30 crianças ciganas (16 rapazes e 14 raparigas) que frequentavam a Escola Básica do 1º ciclo, Nº 3 de Moura; 30 crianças não ciganas (15 rapazes e 15 raparigas) que frequentavam a Escola Básica do 1º ciclo, N.º 111 de S. João de Brito, no centro da cidade de Lisboa. O quadro n.º1 faz uma pequena caracterização da amostra. 291 {Investigação motricidade3vol1111.indd 28 10-06-2007 20:45:18 O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo. José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu Quadro n.º 1: Caracterização dos grupos Idade em anos N.º de crianças por (Média ± DP) género Crianças ciganas 8,33 ± 0,89 16 M., 14 F. Moura Crianças não ciganas 8,00 ± 0,59 15 M., 15 F. Lisboa Grupo As crianças de etnia cigana habitavam em barracas nos arredores da cidade de Moura (Alentejo interior), num meio geográfico em que dispunham de um grande espaço físico livre onde referiram realizar diversas actividades lúdicas (jogo da apanhada, jogo das escondidas, jogar à bola, etc.). Uma parte substancial do seu tempo livre era ocupada com diversas actividades relacionadas com a ajuda aos mais velhos na realização de tarefas da vida diária. Esta caracterização vai de encontro ao referido por Levinson7, já citado na revisão bibliográfica. Por sua vez, as crianças não ciganas (caucasianas com excepção de uma criança), habitavam num meio urbano, caracterizado pela grande limitação de espaços livres, fazendo com que as suas brincadeiras se confinassem mais a pequenos largos, ao passeio, ou ao próprio interior da casa (jogos de computador, consolas, ver televisão, etc.). Quanto à prática de actividades físico-desportivas no âmbito escolar, o grupo de crianças não ciganas que vivia em Lisboa, tinha Educação Física (EF) duas vezes por semana sob a orientação de um professor da especialidade. O grupo de crianças ciganas que vivia em Moura não chegava a ter, em média, uma aula de EF por semana, a qual era leccionada pelo próprio professor titular. Fora do âmbito escolar, 23 crianças não ciganas referiram praticar actividades desportivas regularmente (2 a 3 vezes por semana), na sua maioria natação, ginástica e futebol. Nenhuma criança de etnia cigana referiu a prática regular de actividades físicas desportivas. Meio Procedimentos Neste trabalho, para efeito comparativos do nível de desenvolvimento motor dos grupos da amostra, foi utilizado o Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky (TPMBO) na sua forma reduzida. A aplicação do TPMBO decorreu durante uma semana em cada uma das escolas seleccionadas, tendo sido utilizados para o efeito espaços cobertos e fechados. A amostra foi distribuída em subgrupos de 3 ou 4 crianças, as quais foram avaliadas individualmente em cada uma das provas. Em ambas as escolas metade das crianças realizaram as provas durante o horário escolar da manhã e a outra metade durante o horário escolar da tarde. A forma reduzida do TPMBO estuda três componentes da proficiência motora: motricidade global, composta e fina. No total são realizadas 14 provas (itens) que integram 8 sub-testes: corrida de velocidade/agilidade, equilíbrio, coordenação bilateral, força, coordenação dos membros superiores, velocidade de reacção, visuomotricidade e dextralidade. De referir que Bruininks1 define proficiência motora como um termo genérico que se refere à performance obtida numa vasta gama de testes motores. Os valores obtidos em cada um dos itens foram convertidos em pontos segundo o manual do TPMBO1. Os valores da motricidade fina, global e composta, resultaram da soma da pontuação obtida nos itens que as constituem. Os valores de proficiência motora resultaram da soma da pontuação de todos os itens. O TPMBO foi desenvolvido para estudar as 292 {Investigação motricidade3vol1111.indd 29 10-06-2007 20:45:18 aquisições motoras de crianças e jovens, não só avaliando funções e disfunções motoras, como inclusivamente atrasos de desenvolvimento. A sua aplicação pode ser feita em crianças entre os 4,5 e o 14,5 anos1. É um teste credível e de ampla aplicação, quer na psicologia, quer na educação5. Estatística Para efeitos de comparação entre os grupos da amostra, e uma vez que não se verificou a normalidade da distribuição dos resultados na grande maioria das variáveis estudadas, procedeu-se à utilização do teste não paramétrico de MannWhitney. Foi utilizado um nível de significância de p<0,05. O tratamento estatístico foi efectuado através do programa SPSS para Windows, Copyright SPSS© Inc., versão 13.0 Resultados Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os resultados obtidos pelos grupos da amostra em muitas das variáveis da proficiência motora. Os resultados encontramse no Quadro nº2, destacando-se, desde logo, o facto da amostra de crianças ciganas apresentar valores significativamente inferiores para dois dos três grupos de habilidades analisadas: motricidade global (p=0,015) e motricidade fina (p=0,000). Ao efectuar-se uma análise por item, verificaram-se na Motricidade Global melhores desempenhos das crianças não ciganas no equilíbrio (p=0,00 para o equilíbrio unipedal) e na corrida de agilidade (p=0,021). Na Motricidade Fina as crianças não ciganas revelaram um controlo visuo-motor superior, mais concretamente no desenho da linha (p=0,035) e na cópia de figuras (p=0,000 para cópia de lápis sobrepostos). Apresentaram, ainda, maior destreza manual na marcação de pontos (p=0,000). NS: Não Significativo Em todos os outros itens não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, no entanto, e à excepção de um teste da motricidade composta (lançamento da bola a um alvo) e de um teste de motricidade fina (velocidade de resposta), as crianças não ciganas obtiveram sempre resultados médios iguais ou superiores aos das crianças ciganas. Na sequência dos dados já apresentados, o nível global de Proficiência Motora foi significativamente superior (p=0,005) entre o grupo de crianças não ciganas. Discussão Em alguns estudos têm sido referidas diferenças em determinadas variáveis do desenvolvimento motor das crianças, em função da proveniência geográfica - meio rural versus meio urbano 15,19,20,21 . No entanto, os resultados apontam uma tendência oposta ao verificado neste estudo, i.e., quando detectadas diferenças as crianças que vivem em meio rural estão, frequentemente, numa posição vantajosa. Para explicar tal facto têm sido apontados factores como a acessibilidade aos espaços para brincar, as características dos mesmos, e os estilos de vida relacionados com a gestão do tempo de trabalho e de lazer 12,22. Porque razão as crianças ciganas, que têm maiores vantagens na acessibilidade aos espaços físicos abertos e livres, apresentam resultados inferiores na performance motora? De um modo geral poucos trabalhos publicados estudaram aprofundadamente a cultura da população cigana, designadamente nos seus hábitos de lazer. No entanto, os que existem e que foram referidos na introdução, apontam para diferenças substanciais na forma como a população de etnia cigana entende o lazer e a própria brincadeira. Esta parece ter, desde cedo, um papel característico 293 {Investigação motricidade3vol1111.indd 30 10-06-2007 20:45:18 O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo. José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu Quadro n.º 2: Pontuação (Média ± DP) obtida pelo grupo de crianças ciganas e pelo grupo de crianças não ciganas nos itens avaliados pela forma reduzida do TPMBO. Valores significativos de p para a comparação entre grupos obtido através do teste Mann-Whitney. Crianças ciganas 24,73 ± 4,72 Motricidade Global Crianças não ciganas 27,60 ± 3,05 0,015 p Corrida de Agilidade 8,47 ± 1,31 9,30 ± 1,15 0,021 Equilíbrio Unipedal: equil. sobre uma trave Equilíbrio 4,30 ± 1,75 5,67 ± 1,06 0,000 Dinâmico: andar sobre uma trave 2,83 ± 1,49 3,17 ± 1,09 NS Coordenação Bilateral: batim MI c/ círculos MS 0,13 ± 0,35 0,13 ± 0,35 NS Coordenação Bilateral: salto c/ palmas 1,97 ± 0,62 2,27 ± 0,52 NS Força: salto em comprimento sem balanço 7,03 ± 2,13 7,07 ± 1,36 NS Motricidade Composta 4,73 ± 1,36 4,47 ± 1,04 NS Coordenação Manual: agarrar uma bola 2,43 ± 0,94 2,43 ± 0,68 NS Coordenação Manual: lanç.bola ao alvo 2,30 ± 0,79 2,03 ± 0,77 NS 17,87 ± 3,92 21,47 ± 2,80 0,000 Velocidade de resposta 4,90 ± 2,43 4,77 ± 1,22 NS Controlo Visuo-Motor: desenhar uma linha 3,17 ± 1,15 3,63 ± 0,72 0,035 Controlo Visuo-Motor: copiar círculos 1,17 ± 0,59 1,60 ± 0,56 NS Controlo Visuo-Motor: copiar lápis sobrepostos 0,43 ± 0,68 1,27 ± 0,87 0,000 Dextralidade: distribuir cartas 3,80 ± 1,13 4,33 ± 1,16 NS Dextralidade: marcar pontos 4,40 ± 1,00 5,87 ± 1,20 0,000 47,33 ± 8,93 53,53 ± 5,70 0,005 Motricidade Fina Proficiência Motora na preparação das crianças para o futuro, transmitindo-lhes instrumentos indispensáveis ao seu contexto sócio-económico. Segundo Levinson7 as crianças ciganas estão muitas vezes em grupos de idades diferenciadas, passam pouco tempo sozinhas e utilizam poucos dos brinquedos típicos da sociedade moderna. Na opinião do autor, entre a etnia cigana não existe uma distinção muito vincada entre trabalho e lazer como sucede nas economias modernas. Levinson & Sparkes (2003) citados por Levinson 7 referem que as crianças agem como adultos desde muito jovens para ganhar estatuto social. Todas estas especificidades estabelecem distinções óbvias com a maioria das crianças não ciganas, pelo que, mesmo na escola, é comum encontrarem-se nos recreios as crianças ciganas separadas das outras crianças, muitas vezes por sua 294 {Investigação motricidade3vol1111.indd 31 10-06-2007 20:45:18 própria opção7. Comum entre muitas das crianças ciganas é a ideia de que o conhecimento aprendido em casa é mais importante do que aquele aprendido na escola 7. Outra diferença substancial que pode estar na origem das diferenças encontradas, prende-se com o facto das crianças não ciganas terem um acesso mais facilitado à educação físico-motora e a vivências desportivas multidisciplinares, o que pode potenciar um maior desenvolvimento motor. Na amostra deste estudo, essas diferenças situavam-se não apenas em termos de EF escolar mas também em termos de actividades para além do espaço escolar. É importante relembrar que os alunos ciganos tinham, em média, menos de uma aula de EF por semana (dada pelo próprio professor titular), enquanto as outras crianças tinham EF duas vezes por semana sob a orientação de um professor licenciado na Área. Fora do âmbito escolar, a maioria das crianças não ciganas (76,7%) praticavam actividades desportivas regularmente (2 a 3 vezes por semana), enquanto nenhuma criança de etnia cigana o fazia. O facto da maioria das crianças do meio urbano praticarem desporto nos seus tempos livres, vai de encontro ao referido por Neto12, de que a crescente institucionalização dos tempos livres das crianças das cidades se tem tornado uma alternativa ao jogo livre e espontâneo É importante salientar que, como consequência do abandono escolar precoce de muitas crianças ciganas, o acesso a actividades físico-desportivas praticadas na escola e mesmo fora desta, está bastante comprometido. Por exemplo, no 3º ciclo do ensino básico e, sobretudo, no ensino secundário, a presença de jovens de etnia cigana é quase inexistente 13. Vários estudos referem que o nível de prática desportiva é inferior entre as crianças que habitam num meio rural 12,14,23 e entre crianças com um estatuto sócio-económico inferior 6,14. Ambos os factores são, de algum modo, característicos das crianças do grupo de etnia cigana, o que também ajuda a explicar os valores nulos de prática desportiva regular. A relação da etnia cigana com o desporto carece também de investigação. No único estudo encontrado sobre o assunto, Thomson e Soós 24 referem que, entre os jovens húngaros de etnia cigana que frequentavam duas escolas secundárias (com uma maioria de alunos de etnia cigana), existia uma atitude menos positiva em relação ao desporto e à actividade física que entre os outros jovens húngaros. Referem, ainda, que os mesmos tinham um nível de prática desportiva fora da escola relativamente baixo. A temática abordada neste trabalho permitiu levantar algumas questões que seria importante aprofundar em futuras investigações no âmbito do desenvolvimento motor da comunidade de etnia cigana. Por exemplo, seria pertinente estudar o nível de desenvolvimento motor em função da idade biológica das crianças; do mesmo modo, seria importante caracterizar de forma mais sistematizada as actividades desenvolvidas pelas crianças ciganas no seu tempo de lazer. Neste estudo, procedeu-se à comparação do desenvolvimento motor de crianças ciganas com o de crianças não ciganas. Destacam-se as seguintes conclusões: • Quando comparadas com crianças ciganas, as crianças não ciganas apresentam valores significativamente superiores na motricidade global, na motricidade fina e na proficiência motora. • As mesmas diferenças significativas são verificadas para diversos sub-testes da bateria utilizada: corrida de agilidade, equilíbrio unipedal, dextralidade - marcação de pontos, controlo visuomotor - cópia de lápis sobrepostos e desenho de uma linha. • O acesso privilegiado das crianças nas cidades a 295{ Investigação motricidade3vol1111.indd 32 10-06-2007 20:45:18 O desenvolvimento da proficiência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo. José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu Referências práticas físico-motoras devidamente estruturadas e regulares (educação física e desporto extra-curricular) poderá ser um dos factores mais importantes na origem das diferenças encontradas. • Outro factor poderá ser a especificidade sóciocultural da população de etnia cigana, que se traduz num estilo de vida com características diferenciadas designadamente no que diz respeito aos hábitos de lazer. Correspondência José Marmeleira. Rua Marechal Francisco da Costa Gomes, lote 1, 7080-019 Vendas Novas [email protected] 1. Bruininks R. (1978). Bruininks-Oseretsky Motor Proficiency Test (BOMPT): Examiner´s manual. Minnesota: American Guidance Services. 2. Carvalho A. (1994). Desenvolvimento, capacidades motoras e rendimento motor: a influencia dos contextos rural e urbano. Dissertação de Mestrado não publicada. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana. 3. Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (2002). Segundo relatório sobre Portugal. Estrasburgo: Conselho da Europa. 4. Costa A. (1991). Desenvolvimento motor: análise comparativa de dois grupos étnicos, masculinos e femininos, de crianças dos 7 aos 9 anos. Boletim da Sociedade Portuguesa de Educação Física. 2-3:139-158. 5. Fonseca V, Dinis A, Moreira N. (1994). Proficiência em crianças normais e com dificuldades de aprendizagem: estudo comparativo e correlativo com base no Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky. Rev Ed Esp Reabilitação. 2:7-41. 6. Krombholz H. (1997) Physical performance in relation to age, sex, social class and sports activities in kindergarten and elementary school. Perceptual and Motor Skills. 84(3 Pt 2):1168-70. 7. Levinson MP. (2005). The role of play in the formation and maintenance of cultural identity: gypsy children in home and school contexts. J Cont Ethnography. 34(5):499-532. 8. McKenzie TL, Sallis JF, Elder JP, Berry CC, Hoy PL, Nader PR, Zive MM, Broyles SL. (1997). Physical activity levels and prompts in young children at recess: a two-year study of a bi-ethnic sample. Res Quart Exerc and Sport. 68(3):195-202. 9. McKenzie TL, Sallis JF, Nader PR, Broyles SL, Nelson JA. (1992). Anglo- and Mexican-American preschoolers at home and at recess: activity patterns and environmental influences. J Dev and 296{ Investigação motricidade3vol1111.indd 33 10-06-2007 20:45:18 Beh Ped. 13(3):173-80. 10. Moreno D, Vasconcelos O. (2003). Aptidão física, estatuto maturacional e indicadores biossociais: estudo em adolescentes do sexo feminino de dois meios distintos (rural e urbano). In: Congresso Internacional mulheres e desporto: agir para a mudança. Porto. 11. Neto C. (1979).A criança, o Espaço e Desenvolvimento Motor. Ludens. 3(2/3):35-45. 12. Neto C. (2003).Tempo e espaço de jogo para a criança: rotinas e mudanças sociais. In Carlos Neto (ed.), Jogo & desenvolvimento da criança. Lisboa: edições FMH. p. 10-22. 13. Observatório Europeu para o Racismo e a Xenofobia (2004). Migrants, minorities and education: documenting discrimination and integration in 15 member states of the European Union. Luxembourg: office for official publications of the European Communities. 14. O’Loughlin J, Paradis G, Kishchuk N, Barnett T, Renaud L. (1999). Prevalence and correlates of physical activity behaviors among elementary schoolchildren in multiethnic, low income, inner-city neighborhoods in Montreal, Canada. Ann Epidem. 9(7):394-6. 15. Ozdirenc M, Ozcan A, Akin F, Gelecek N. (2005). Physical fitness in rural children compared with urban children in Turkey. Ped Int. 47(1):26-31. 16. Patrick K, Norman GJ, Calfas KJ, Sallis JF, Zabinski MF, Rupp J, Cella J. (2004). Diet, physical activity, and sedentary behaviors as risk factors for overweight in adolescence. Arc Ped Adol Med. 158(4):385-90. 17. Peixeiro R. (1995). Desenvolvimento das capacidades físicas em crianças dos 6 aos 9 anos de idade no meio rural, misto e urbano: um estudo comparativo. Dissertação de Monografia não publicada. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana. 18. Pimentel J. (1985). Os dados psicológicos: espaço e seu significado no desenvolvimento da criança segundo H. Wallon. Ludens. 9(3):39-43. 19. Pimentel J, Oliveira J. (2003). Influência do meio no desenvolvimento da coordenação motora global e fina: estudo com crianças de 9 e 10 anos da cidade do Porto e da Beira Alta. Horizonte. 18(105):34-37. 20. Pissarra M. (1993). Desenvolvimento motor e envolvimento social: estudo do crescimento e desenvolvimento das capacidades motoras em crianças dos 7 aos 9 anos de idade nos meios rural e urbano. Dissertação de Mestrado não publicada. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana. 21. Serra M. (1992). Desenvolvimento motor, jogo e contexto cultural: estudo comparativo da actividade de crianças com 6,7,8 e 9 anos pertencentes a Meios Socioculturais diferenciados. Dissertação de Mestrado não publicada. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana. 22. Serrano J, Neto C. (2003). As rotinas de vida diária das crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 10 anos nos meios rural e urbano. In Carlos Neto (ed.), Jogo & desenvolvimento da criança Lisboa: edições FMH. p. 206-225. 23. Taks M, Renson R, Beunen G, Claessens A, Colla M, Lefreve J, Ostyn M, Schueremans C, Simons J, Van Gerven D, Vanreusel B. (1991). Sociogeographic variation in the physical fitness of a cross-sectional sample of Flemish girls 13 to 18 years of age. Am J Hum Biol. 3(5):503-513. 24. Thomson RW, Soós I. (2005). Rroma culture and physical culture in hungary. International review for the sociology of sport. 40(2):255-263. 25. Tsimeas, P.D., Tsiokanos, A.L., Koutedakis, Y., Tsigilis, N. & Kellis, S. (2005). Does living in urban or rural settings affect aspects of physical fitness in children? An allometric approach. Brit J Sports Med. 39(9):671-674. 297{ Investigação motricidade3vol1111.indd 34 10-06-2007 20:45:18 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo1, João P. Lázaro1, Carla Teixeira1, Maria P. Mota1 e Hélder M. Fernandes1 1 Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Actividade Física e Saúde, da Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal. Vasconcelos-Raposo, J.; Lázaro, J.; Mota, M.; Fernades, H.; Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo. Motricidade 3(1): 298-314 Resumo Abstract Com este estudo pretendemos caracterizar os níveis de ansiedade dos lançadores e saltadores iniciados e juvenis portugueses. A amostra foi constituída por 147 atletas (89 masculinos e 58 femininos). Foram subdivididos em grupos de acordo com as variáveis independentes a serem testadas, nomeadamente: escalão (61 iniciados e 86 juvenis), especialidade (78 saltos e 69 lançamentos), top ten (17 masculinos e 26 femininos). Para os propósitos do estudo utilizámos o Questionário de Auto-avaliação (CSAI-2) e o ICPC. Os procedimentos estatísticos foram: cálculos de frequências e o coeficiente de correlação Produto – momento de Pearson. No geral, os resultados tendem confirmar os encontrados nos estudos de referência e sugerem que o ICPC, se utilizado de forma sistemática, é bom instrumento para os treinadores aprofundarem os seus conhecimentos sobre os atletas. Characterization of anxiety levels among track and field athletes The purpose of this study was to characterize the levels of anxiety among young track and field athletes. The sample consisted of 147 athletes (89 males and 58 females). These were divided according to the independent variables defined for the present study, namely: competitive agegroup, sport and ranking. The4 instruments used were the CSAI-2 and ICPC. The statistical procedures used were the descriptive and correlation techniques. In general the results confirmed those obtained in prior studies. The results further suggested that the systematic use of the ICPC by coaches may be an adequate way to better know the athletes they work with. Key-words: anxiety, pre-competitive behaviour, CSAI-2 and Inventory of Pre-competitive Behaviours (ICPC). Palavras-chave: ansiedade, comportamentos pré-competitivos, CSAI-2 e Inventário de Comportamentos Pré-competitivos (ICPC). Data de submissão: Novembro 2006 Data de aceitação: Janeiro 2007 298 {Investigação motricidade3vol1111.indd 35 10-06-2007 20:45:18 Introdução O desporto, a qualquer nível que seja praticado, é gerador de intensos níveis de stresse, quer do ponto de vista psicológico como do fisiológico. Perante tais experiências, os atletas e treinadores procuram encontrar formas que, de alguma maneira, lhes permitam exercer um maior controlo sobre os processos que imediatamente antecedem a competição. Ambas as partes concordam que o período de pré-competição requer alguns cuidados adicionais para que o estado de prontidão competitiva não seja negativamente influenciado. A forma como os atletas se envolvem com os seus pensamentos, emoções e comportamentos em geral pode determinar a diferença entre o sucesso e o fracasso competitivo 14. O período pré-competitivo requer uma preparação específica, quer a nível físico quer mental. Presentemente, o grau de conhecimentos sobre teoria e metodologia do treino desportivo é de tal forma sofisticado que os atletas chegam aos momentos da competição bem preparados fisicamente. Por esta razão, mais do que nunca, a preparação mental é assumida pelos treinadores e atletas como da maior importância. Porém, a psicologia do desporto nem sempre tem tomado em consideração as necessidades práticas destes agentes desportivos, para quem a validade dos conceitos e dos contributos científicos só fazem sentido se encontram eco nas suas práticas diárias. Assim, a psicologia do desporto deverá assumir este requisito como um dos critérios para avaliar a sua importância para o rendimento desportivo. A preparação mental para os momentos que antecedem a competição é da maior importância para os resultados finais. O treino mental requer, entre outras coisas, que os atletas aprendam e desenvolvam um conjunto de habilidades que visam aumentar o autocontrolo em processos como: concentração, foco da atenção, controlo emocional, relaxação, definição de objectivos, pensamentos positivos, visualização, e rotinas pré-competitivas, com o objectivo de manter um sistema de reforço capaz de promover o estado psicológico ideal para a competição. Da revisão da literatura que realizámos para a elaboração deste trabalho, foi-nos possível constatar que o período pré-competitivo tem merecido pouca atenção por parte dos psicólogos. O pouco material encontrado sugere que os estudos tendem a centrar-se nos aspectos ritualísticos ou comportamentos supersticiosos2,3,9,10,17. Quando a preocupação se centra ao nível das emoções, nomeadamente da ansiedade, o número das publicações aumenta de uma forma acentuada 11,20,21. São praticamente inexistentes os estudos que abordam os comportamentos pré-competitivos. Entre outras razões, talvez possamos destacar aquelas que se nos apresentam como mais evidentes: 1) os comportamentos a serem observados são de um foro mais íntimo do que aqueles que normalmente são estudados pelos psicólogos que recorrem aos testes de lápis e papel; 2) pela razão atrás referida, torna-se necessário que quem queira estudar estes comportamentos tenha que investir numa relação em que as dinâmicas a observar são as típicas das que são estabelecidas entre psicólogo e atleta; 3) é reduzido o número de psicólogos que para além das suas actividades académicas também estão envolvidos directamente na preparação mental dos atletas em que se fundamentam para a elaboração dos trabalhos a serem publicados. Atletas e treinadores empenham-se na procura de informação e apoio de psicólogos com o intuito de promover as condições necessárias à construção do estado ideal de prestação. Para se conseguir tal estado, é da maior importância que os atletas identifiquem as condições e os comportamentos associados às suas melhores prestações 5,29,33,34 . Os comportamentos que nos são dados 299 {Investigação motricidade3vol1111.indd 36 10-06-2007 20:45:18 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes a observar nos períodos pré-competitivos servem múltiplos propósitos para a preparação mental dos atletas para a competição: 1) manter a concentração; 2) organizar os estímulos internos e externos; 3) promover um espaço onde o atleta se sinta em controlo do que lhe rodeia; 4) implementar um sistema de feedback que concomitantemente reforce o sentimento de auto-eficácia, assim como de controlo sobre os processos em curso. Enquanto Keating e Hogg 14 realçam a importância dos comportamentos ritualisticos, Sherman 26 argumenta que há riscos na utilização dos rituais quando estes são implementados de uma forma rígida, uma vez que qualquer erro que ocorra na sequência dos comportamentos e gestos, aumenta as probabilidades para o indivíduo entrar num estado psicológico em nada condizente com os requisitos e rigores impostos pelo rendimento desportivo. Julgamos pertinente esclarecer que quando nos referimos aos comportamentos pré-competitivos temos como referência que há diferença entre rotinas pré-competitivas e comportamentos supersticiosos. As primeiras são o resultado de um processo de aprendizagem e alicerçam-se nas estratégias cognitivas que são intencionalmente utilizadas pelos atletas, com o objectivo de facilitar a prestação competitiva que se lhes segue 4,18. Os comportamentos supersticiosos, por sua vez, reflectem o sistema de crenças do atleta que o leva a acreditar que forças externas a si podem influenciar o resultado das competições em que vão participar. Exemplos do que consideramos rotinas incluem a prática da visualização, técnicas de relaxação, técnicas de controlo atencional, etc., e que tendem a estar relacionadas com bons níveis competitivos, assim como com bons resultados nas competições 7,12,19;28. No nosso estudo procuramos identificar os comportamentos que estão intimamente associados aos processos de autocontrolo 1,24, uma vez que sabemos que esses são os que mais directamente se relacionam com o sucesso desportivo. Com o nosso estudo pretendemos verificar quais são os níveis de ansiedade evidenciados pelos atletas, iniciados e juvenis, nas especialidades de lançamentos e saltos. Constatar se existem diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas, assim como se há diferenças entre os escalões referidos e entre estes e os praticantes que se qualificam no top ten da modalidade. Por fim, ver se há diferenças por especialidade. Metodologia Amostra A nossa amostra foi constituída por 147 atletas, dos quais 78 eram saltadores e 69 lançadores, tendo todos eles participado em provas organizadas pela Federação Portuguesa de Atletismo ou pelas Associações Regionais da referida modalidade. Dos 147 atletas inquiridos, 58 eram do género feminino e 89 do género masculino, pertencendo 61 ao escalão de iniciados e 86 ao escalão juvenil. Do total de atletas estudados 43 estavam cotados no “Top Ten” do ranking nacional (quadro 1). Procedimentos Para a elaboração do nosso estudo aplicámos o Questionário de Auto-avaliação (CSAI-2), elaborado por Martens,Vealey e Burton 16. O CSAI-2 é um instrumento de medida multidimensional, composto por 27 afirmações/questões, que tem como objectivo diagnosticar e quantificar 3 variáveis psicológicas: ansiedade cognitiva (9 itens), ansiedade somática (9 itens) e autoconfiança (9 itens). Respeitamos a estrutura da escala original que apresenta três possibilidades de resposta. 300 {Investigação motricidade3vol1111.indd 37 10-06-2007 20:45:18 Utilizámos ainda o Inventário Comportamental Pré-competitivo (ICPC), que nos possibilitou caracterizar os comportamentos pré-competitivos da amostra. Este inventário foi elaborado por Rushall 22,23. É constituído por 42 questões que visam determinar os comportamentos pré-competitivos dos atletas. Na versão portuguesa, cada questão apresenta cinco hipóteses de resposta, estando cada uma delas quantificada numa escala do tipo Likert de 1 a 5 da seguinte forma: (1) nunca; (2) raramente; (3) às vezes; (4) frequentemente; (5) sempre. Ambos os instrumentos foram traduzidos e validados para português em estudos anteriores. Estatística Para sabermos qual a percentagem de respostas por cada variável comportamental pré-competitiva dada pelos elementos da nossa amostra recorremos à estatística descritiva. Para sabermos qual a associação entre as variáveis do ICPC e do CSAI-2 calculámos o coeficiente de correlação Produto – momento de Pearson. Resultados Com o propósito de possibilitar a comparação dos valores obtidos no presente estudo com os de outros trabalhos já publicados, apresentamos os valores médios obtidos através da aplicação do CSAI-2. Médias observadas em ambos os grupos no CSAI-2 Passaremos, de seguida, a apresentar as médias observadas no CSAI-2 (quadro 1). Pudemos verificar, da observação do quadro 1, que o valor médio mais elevado, apresentado pelos atletas por nós estudados, diz respeito à autoconfiança com 25,7; de seguida, aparece-nos a ansiedade cognitiva com 24,1, apresentando a ansiedade somática o valor mais baixo, com 22,1. No quadro 2 apresentamos os coeficientes de correlação existentes entre a autoconfiança e as variáveis do ICPC. Verificámos que as variáveis comportamentais pré-competitivas apresentadas no quadro 2 e a autoconfiança apresentaram correlações estatisticamente significativas, contudo deveremos salientar os itens: “o atleta fica tenso e nervoso antes da competição” e “quando perde a confiança antes da prova, o atleta sabe o que fazer para a recuperar”, por serem as mais significativas (p≤0,001). Encontramos correlações negativas entre a autoconfiança e as questões “atleta fica tenso e nervoso antes da competição”, “quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado mais”, “o atleta sente que o facto de os espectadores o chatearem continuamente antes da prova afecta a sua performance e “antes das provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma que à mínima coisa se irrita”, os valores obtidos foram os seguintes: – 0,267; -0,165; -0,177 e -0,185, respectivamente. Com as restantes questões verificamos uma correlação positiva, ou seja a autoconfiança é tanto maior quanto maiores forem os valores apresentados pelas questões: “O atleta gosta mais de competir do que de treinar”; “quando excitado antes da prova o atleta sabe o que fazer para se acalmar”; “quando perde a confiança antes da prova, o atleta sabe o que fazer para a recuperar”; “o atleta deita-se de forma a poder ter pelo menos oito horas de sono”. No que concerne à correlação existente entre a autoconfiança e a ansiedade somática e cognitiva verificámos que estas apresentaram coeficiente de correlação negativo, com r = – 0, 163 para a correlação autoconfiança – ansiedade cognitiva e r = – 0,174 para a correlação autoconfiança 301 {Investigação motricidade3vol1111.indd 38 10-06-2007 20:45:19 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes Quadro 1: Valores médios e desvios padrão ao CSAI-2 Variáveis CSAI-2 Média ±S.D. Ansiedade Cognitiva 24,1 ±4,4 Ansiedade Somática 22,1 ±4,2 Autoconfiança 25,7 ±4,3 Quadro 2: Coeficiente de correlação e significância estatística entre a autoconfiança e os itens comportamentais pré-competitivos Variável Descrição do comportamento r p ≤0,05 ICPC1 O atleta gosta mais de competir do que de treinar 0,198* 0,016 ICPC5 O atleta fica tenso e nervoso antes da competição -0,267** 0,001 ICPC19 Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado mais -0,165* 0,046 0,185* 0,025 0,273** 0,001 0,206* 0,012 -0,177* 0,032 -0,185* 0,025 ICPC27 ICPC28 ICPC30 ICPC34 ICPC40 Quando excitado antes da prova o atleta sabe o que fazer para se acalmar Quando perde a confiança antes da prova, o atleta sabe o que fazer para a recuperar O atleta deita-se de forma a poder ter pelo menos oito horas de sono O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente antes da prova afecta a sua performance Antes das provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma que à mínima coisa se irrita – ansiedade somática (quadro 3). O facto de as correlações serem negativas levanos a pressupor que, quanto mais elevados forem os níveis de ansiedade somática e cognitiva, menor será o nível de autoconfiança dos atletas, tal como preconizado pela teoria. Pela análise do quadro 4 verificámos que o coeficiente de correlação entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC é significativo para as questões: “o atleta fica tenso e nervoso antes de uma competição importante”, “o atleta sente necessidade de ter um plano de prova para situações inesperadas”, ”o atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de afectar a sua performance, “o atleta ensaia mentalmente os seus planos de prova”, “o atleta pensa durante a prova no quanto o esforço lhe irá custar”, “o atleta quando se sente cansado tenta com mais força”, “o atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a prova”, “o atleta gosta que o treinador lhe relembre a estratégia competitiva antes da prova”, “o atleta suporta as pressões na parte final de uma competição”, “quando os espectadores antes da prova o perturbam continuamente a sua performance é afectada”, “a tensão antes da competição é tal que a mínima coisa o irrita” e “no intervalo das provas o atleta revê o plano relativo à que se segue”. As correlações mais significativas são entre a ansiedade somática e as questões: “o atleta fica tenso e nervoso antes da competição”, “durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar”, “o atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais força”, “o atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a prova”,“atleta gosta que o treinador lhe 302 {Investigação motricidade3vol1111.indd 39 10-06-2007 20:45:19 Quadro 3: Coeficiente de correlação e significância entre a autoconfiança e a ansiedade somática e a ansiedade cognitiva. Autoconfiança Variáveis do CSAI-2 r p Ansiedade cognitiva - 0,163 0,949 Ansiedade somática - 0,174 0,035 Quadro 4: Coeficiente de correlação e significância estatística entre a ansiedade somática e os itens comportamentais pré-competitivos Variável ICPC5 ICPC10 ICPC11 Descrição do comportamento Os atletas ficam tenso e nervoso antes da competição O atleta sente necessidade de ter um plano de prova para situações inesperadas O atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de afectar a sua performance r p. 0,395** 0,000 0,164* 0,048 0,181* 0,028 ICPC12 O atleta ensaia mentalmente os seus planos de prova 0,176* 0,033 ICPC14 Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar 0,280** 0,000 -0,225** 0,006 0,274** 0,001 -0,164* 0,040 0,335** 0,000 -0,219** 0,008 0,171* 0,039 0,209* 0,011 0,213** 0,009 ICPC17 ICPC25 ICPC27 ICPC29 ICPC33 ICPC34 ICPC40 ICPC41 * P ≤0,05 O atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais força O atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a prova O atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que fazer para se acalmar O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia de competição para a prova O atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse) Quando os espectadores antes da prova o perturbam continuamente a sua performance é afectada A tensão antes da competição é tal que a mínima coisa o irrita No intervalo das provas o atleta revê o plano relativo à que se segue ** P≤ 0,01 recorde a estratégia de competição para a prova”, “o atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse)” e “no intervalo entre as provas o atleta revê o plano relativo à que se segue”. De salientar que as correlações entre a ansiedade somática e as questões “o atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais força” e “o atleta durante a fase final de uma competi- ção importante suporta bem as pressões (stresse) ” foram negativas. Para além das correlações referidas, verificámos que, entre a ansiedade somática e a questão “o atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que fazer para se acalmar” há uma correlação negativa, ou seja, existe uma relação inversa entre o referido comportamento e a ansiedade somática. 303 {Investigação motricidade3vol1111.indd 40 10-06-2007 20:45:19 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes No que diz respeito às correlações entre a ansiedade somática, a ansiedade cognitiva e a autoconfiança o coeficiente de correlação é negativo, sugerindo que quanto mais baixo for o nível da ansiedade cognitiva e da autoconfiança, maior será o nível da ansiedade somática (quadro 5). Estes resultados evidenciam a necessidade de se da prova” e “o atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stressee)” Foram encontradas correlações negativas entre a autoconfiança e as questões “o atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua prestação seja a melhor se está preocupado antes Quadro 5: Coeficiente de correlação e significância entre ansiedade somática a autoconfiança e a ansiedade cognitiva. Ansiedade somática Variáveis do CSAI-2 R Sig. de p. Ansiedade cognitiva - 0,420 0,000 Autoconfiança - 0,174 0,035 realizarem outros estudos de forma a melhor compreendermos esta relação. As correlações estatisticamente significativas entre a ansiedade cognitiva e as questões comportamentais pré-competitivas podem ser analisadas no quadro 6. Assim, verificamos uma correlação estatisticamente significativa entre a ansiedade cognitiva e as questões:” atleta fica tenso e nervoso antes da competição”, “o atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova”, “o atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova quando a competição não está a correr como o esperado”, “o atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de afectar a sua performance”, “o atleta ensaia mentalmente os planos antes da prova”,“durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar”, “o atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova”, “quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar”, “o atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova”, “quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar”, “o atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stressee) ”, “o atleta aceita um erro cometido pelo árbitro, mesmo que este o afecte sem fazer comentários” e ”quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue concentrar-se, sem que nada o distraia”. No que concerne às correlações existentes entre a ansiedade cognitiva, a autoconfiança e a ansiedade somática (quadro 7), verificámos que: 1- Há uma correlação muito significativa entre a ansiedade cognitiva e a ansiedade somática (p&0,0001); 2- que em relação à autoconfiança, verificámos que existe uma correlação negativa (r = -0,163). Assim sendo, quanto mais baixa for a autoconfiança, maior será a ansiedade cognitiva 304{Investigação motricidade3vol1111.indd 41 10-06-2007 20:45:19 Quadro 6: Coeficiente de correlação e significância estatística entre a ansiedade cognitiva e os itens comportamentais pré-competitivos Itens do ICPC ICPC5 Descrição do comportamento O atleta fica tenso e nervoso antes da competição R P 0,296** 0,000 O atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova) O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova quando a competição não está a correr como o esperado. O atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de afectar a sua performance -0,164* 0,047 0,225** 0,006 0,190* 0,021 ICPC12 O atleta ensaia mentalmente os planos antes da prova 0,182* 0,027 ICPC14 Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar 0,223** 0,007 0,172* 0,037 -0,173* 0,036 0,251** 0,002 -0,192* 0,020 0,163* 0,049 -0,176* 0,033 -0,183* 0,027 0,207* 0,012 ICPC8 ICPC10 ICPC11 ICPC19 ICPC28 ICPC29 ICPC33 ICPC34 ICPC35 ICPC38 ICPC40 O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova Quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia de competição para a prova. O atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse) O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente antes da prova afecta a sua performance O atleta aceita um erro cometido pelo árbitro, mesmo que este o afecte sem fazer comentários Quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue concentrar-se, sem que nada o distraia. Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma que à mínima coisa se irrita Quadro 7: Coeficiente de correlação e significância entre ansiedade cognitiva a autoconfiança e a ansiedade somática. Ansiedade cognitiva Variáveis do CSAI-2 R P Ansiedade somática 0,420 0,000 Autoconfiança - 0,163 0,049 305 {Investigação motricidade3vol1111.indd 42 10-06-2007 20:45:19 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes Discussão Ao longo deste capítulo iremos comparar os nossos resultados com os dados relativos a estudos similares ao nosso, nomeadamente o realizado por Jones, Hanton e Swain 13. Este trabalho teve como objectivo verificar quais as diferenças existentes entre a direcção e a intensidade dos sintomas da ansiedade pré-competitiva em função do nível de performance dos jogadores de Cricket. Faremos também referência ao estudo desenvolvido por Teixeira e Vasconcelos-Raposo27, realizado com nadadores pré-juniores portugueses, que teve como objectivo normalizar os valores das variáveis do CSAI-2 para o referido escalão etário. Para além destes dois estudos, analisaremos também os dados obtidos por Ferraz e VasconcelosRaposo 8 no seu estudo com nadadores juniores portugueses, que teve como objectivo avaliar os níveis de ansiedade assim como caracterizar os comportamentos pré-competitivos dos jovens nadadores. EST-1 = Jones & Swain (1994); EST-2 = Teixeira & Vasconcelos-Raposo (1997): EST-3 = Ferraz & Vasconcelos-Raposo (1997); EST-4 = Presente estudo No quadro 8 poderemos observar os resultados relativos aos estudos sobre a ansiedade Verificámos que em relação ao estudo realizado por Jones Hanton e Swain13, os valores apresentados pela nossa amostra foram superiores para as três variáveis em questão. No que diz respeito à autoconfiança, a média dos nossos atletas foi mais elevada em 3,7 pontos. Em relação à ansiedade somática os nossos atletas apresentaram 2,1 pontos acima e, finalmente, no que concerne à ansiedade cognitiva a diferença foi de 3,1 pontos. Deveremos salientar que da amostra de Jones, Hamton e Swain 13 faziam parte jogadores de cricket (desporto colectivo), enquanto que da nossa amostra faziam parte saltadores e lançadores (desporto individual) e, segundo Martens15 e Cruz 6 existem diferenças entre os níveis de autoconfiança, ansiedade somática e ansiedade cognitiva em função dos atletas e do tipo de modalidade que praticam, sendo de esperar que os atletas de desportos individuais, tal como acontece no nosso estudo, apresentem níveis significativamente mais elevados de ansiedade do que os praticantes de desportos colectivos. No que diz respeito aos dados obtidos por Teixeira e Vasconcelos-Raposo27, verificámos que os nossos resultados são mais uma vez superiores nas três variáveis. Comparando os resultados do nosso estudo com os de Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, constatámos que o valor da autoconfiança foi um pouco Quadro 8: Comparação dos valores médios e desvios padrão relativos às variáveis dos CSAI-2 dos estudos desenvolvidos por Jones e Swain (1994), Ferraz e Vasconcelos-Raposo (1997) e o presente estudo. EST-1 EST-2 EST-3 EST-4 Não Elite Elite Nadadores Nadadores Sal. Lanc. Variáveis do CSAI-2 M ±SD M ±SD M ±SD M ±SD M ±SD Autoconfiança 21,3 ± 4,5 22,5 ± 4,9 24,8 ± 4,5 26,2 ± 4,3 25,7 ± 4,3 Ansiedade cognitiva 22,9 ± 4,5 22,4 ± 5,0 21,0 ± 4,4 21,5 ± 5,3 24,1 ± 4,4 Ansiedade somática 18,9 ± 4,6 19,2 ± 4,9 21,4 ± 4,5 18,9 ± 4,8 22,1 ± 4,2 306 {Investigação motricidade3vol1111.indd 43 10-06-2007 20:45:19 mais elevado nos nadadores e que a ansiedade somática e a ansiedade cognitiva foi mais elevada nos lançadores/saltadores da nossa amostra. O facto de os valores médios encontrados para a autoconfiança serem superiores aos encontrados por Jones, Hanton e Swain 13 e por Teixeira e Vasconcelos-Raposo 27 é um bom indicador na medida em que os atletas de elite quando comparados com os restantes parecem apresentar níveis de autoconfiança mais elevados. Viana e Cruz 32 acrescentam que os atletas autoconfiantes apresentam-se bem preparados para responder às exigências da modalidade, confiantes, têm objectivos específicos para cada competição e sabem integrar positivamente as experiências da competição. Contudo, segundo Vasconcelos-Raposo 30 , esta interpretação não é linear pois os atletas que apresentam elevados índices de autoconfiança poderão, erradamente, pensar que não necessitam de se mentalizar ou de “treinar duro” para obter uma boa performance. (quadro 9) O facto dos valores de ambas as dimensões da ansiedade serem baixos poderão sugerir que os atletas da nossa amostra percepcionam a competição de forma pouco ameaçadora. Contudo, também pode ser o resultado do método utilizado no preenchimento dos inquéritos. Os resultados obtidos relativamente às correlações entre os itens do ICPC e as escalas do CSAI-2 permitem a treinadores, psicólogos e atletas identificar os comportamentos que ser tomados em consideração nos momentos que imediatamente antecedem a competição e assim contribuírem para o processo de controlo comportamental desejável no contexto competitivo e que tende a estar associado às melhores performances. Quando comparamos os nossos resultados com os de Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, verificámos que somente duas questões são comuns: “O atleta fica tenso e nervoso antes da competição” e “quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar”. De acordo com os valores apresentados será conveniente que os treinadores dos atletas das modalidades estudadas através da nossa amostra trabalhem conjuntamente com os seus atletas no desenvolvimento de rotinas pré-competitivas com o objectivo de: (1) diminuir os níveis de excitação e nervosismo do atleta antes das provas, que poderá passar pela implementação de técnicas de auto-conhecimento; relaxamento e ensaio mental; (2) redireccionar a atenção dos atletas dos espectadores na medida em que as acções desenvolvidas por estes distraem e irritam os atletas. No quadro 10 podem ser observados os dados obtidos por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8 e no presente estudo no que concerne à correlação existente entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC. Tendo por base as correlações positivas encontradas, no presente esstudo, entre a ansiedade somática e as questões ICPC 17 (O atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais força), IPCC 25 (O atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a prova), IPCC 27 (O atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que fazer para se acalmar) e IPCC 33 (O atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse)), podemos afirmar que o facto de o atleta se sentir cansado durante a competição, de se preocupar com o quanto lhe vai custar o esforço, de se sentir muito excitado antes da prova, de conseguir suportar o stresse da parte final das competições contribuem para o aumento da ansiedade somática. Verificamos, ainda, pelas correlações negativas entre a ansiedade somática e as questões ICPC 3 (O atleta gosta de ter o treinador consigo durante a competição), ICPC 5 (O atleta fica tenso e nervoso antes da competição), ICPC 29 (O atleta 307 {Investigação motricidade3vol1111.indd 44 10-06-2007 20:45:19 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes Quadro 9: Coeficiente de correlação existente entre a autoconfiança e as variáveis do ICPC/PC Variável Descrição do comportamento ICPC1 O atleta gosta mais de competir do que de treinar ICPC2 O atleta prefere fazer o aquecimento sem falar com os outros atletas ICPC5 FVR Presente ns -0,191 0,250 ns O atleta fica tenso e nervoso antes da competição -0,370 0,267 ICPC7 O atleta preocupa-se com os outros atletas antes da prova -0,251 ns ICPC8 O atleta sabe como diminuir a preocupação antes da prova 0,396 ns ICPC12 O atleta ensaia mentalmente os planos antes da prova 0,225 ns ICPC13 O atleta consegue concentrar-se nos períodos que antecedem a prova 0,377 ns ICPC16 O atleta durante a prova guarda energia de forma a saber que vai ter um bom final 0,238 ns ICPC17 O atleta quando se sente cansado tenta ainda com mais força 0,249 ns ICPC19 Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado mais ns 0,165 ICPC23 O atleta sente-se mais confiante com os planos de prova detalhados 0,280 ns ICPC24 O atleta usa situações desfavoráveis para testar o melhor esforço 0,270 ns ns -0,185 0,310 -0,273 ns -0,209 0,295 ns ns 0,172 0,263 ns 0,232 ns ICPC27 ICPC28 Quando excitado antes da prova o atleta sabe o que fazer para se acalmar Quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar ICPC30 O atleta deita-se de forma a poder ter pelo menos oito horas de sono ICPC31 O atleta treina coisas no aquecimento que irá fazer ao longo da prova ICPC34 ICPC36 ICPC37 O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente antes da prova afecta a sua performance O atleta produz sempre o seu melhor esforço independentemente das probabilidades O atleta após uma má prestação tenta ainda com mais força na prova seguinte ICPC38 O atleta consegue concentrar-se sem que nada o distraia 0,370 ns ICPC40 Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma que à mínima coisa se irrita ns 0,185 ICPC41 O atleta no intervalo das provas revê o plano relativo à que se segue 0,405 ns 8 FVR = Ferraz e Vasconcelos-Raposo . 308 {Investigação motricidade3vol1111.indd 45 10-06-2007 20:45:19 Quadro 10: Coeficiente de correlação existente entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC/PC. Variável Descrição do comportamento Est 1 Presente ICPC3 O atleta gosta de ter o treinador consigo durante a competição ns -0,177 ICPC5 O atleta fica tenso e nervoso antes da competição 0,675 -0,395 ICPC6 O atleta gosta de estar sozinho antes da competição 0,275 ns ICPC7 O atleta preocupa-se com os outros atletas antes da prova 0,246 ns ICPC8 O atleta sabe como diminuir a preocupação antes de uma prova -0,239 ns ns -0,177 0,227 -0,181 ns -0,192 -0,230 ns ns -0,311 ns 0,225 ICPC10 ICPC11 ICPC12 ICPC13 ICPC14 ICPC17 ICPC25 ICPC27 ICPC28 ICPC29 ICPC33 ICPC34 ICPC38 ICPC40 ICPC41 O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova quando a competição não está a correr como o esperado O atleta sente que antes duma prova importante pode ser distraído ao ponto de afectar a sua performance O atleta ensaia mentalmente os planos de competição antes da prova O atleta consegue concentrar-se durante os períodos que antecedem aprova Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar O atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais força O atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a prova O atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que fazer para se acalmar ns- 0,299 -0,339 0,164 O atleta sabe como recuperar a confiança antes de uma prova -0,310 ns ns -0,333 -0,244 0,214 ns -0,174 -0,257 ns 0,383 -0,209 ns -0,238 O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova O atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse) O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente antes da prova afecta a sua performance O atleta consegue concentrar-se sem que nada o distraia Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma que à mínima coisa se irrita No intervalo entre as provas o atleta revê o plano relativo à que se segue gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova), ICPC 40 (Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma que à mínima coisa se irrita) e ICPC 41 (No intervalo entre as provas o atleta revê o plano relativo à que se segue), que à medida que a ansiedade somática aumenta os atletas da nossa amostra sentem necessidade de ter o treinador presente e que este lhes recorde as estratégias definidas para a prova, de serem possuidores de um plano de prova, de os reverem no intervalo entre as competições e de ensaiarem mentalmente os planos de competição antes da prova. Para além disso, quando a ansiedade aumenta, 309 { Investigação motricidade3vol1111.indd 46 10-06-2007 20:45:19 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes os atletas da nossa amostra, antes da prova, ficam mais tensos e nervosos. Durante a prova pensam mais intensamente no quanto o esforço lhes irá custar. Como sabemos, o facto de sermos conhecedores das varáveis que têm correlação com a ansiedade somática permite-nos contemplá-las como prioritárias para a preparação dos atletas para a competição de forma a potenciar as probabilidades de obterem, de forma consistente, uma melhor performance. Os resultados obtidos no nosso estudo assim como os obtidos por Ferraz e VasconcelosRaposo 8, no que diz respeito à correlação entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC, poderão ser observados no quadro 11. De entre as questões que apresentam relação estatisticamente significativa devemos salientar as questões “o atleta fica tenso e nervoso antes da competição”, “o atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova quando a competição não está a correr como o esperado”, “durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar” e “o atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova”, por serem as que apresentam associações mais significativas (p≤0,0001). As associações apresentadas são todas positivas, o que significa que há uma relação directa entre as variáveis. Comparando os resultados obtidos por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8 com os nossos temos que as questões ICPC5 (O atleta fica tenso e nervoso antes da competição), ICPC8 (O atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova), ICPC11 (O atleta sente que antes duma prova importante pode ser distraído ao ponto de afectar a sua performance), ICPC33 (O atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse)) , ICPC38 (Quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue concentrar-se, sem que nada o distraia) e ICPC40 (Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma que à mínima coisa se irrita) são comuns aos dois estudos. Verificamos que a correlação existente entre a autoconfiança, a ansiedade cognitiva e a ansiedade somática é muito significativa. Quando comparados os resultados por nós obtidos com os obtidos por Ferraz e VasconcelosRaposo 8, constatamos que os resultados por nós obtidos são, para as três variáveis em questão, mais baixos (Quadro 12). Tal facto leva-nos a supor que os atletas da nossa amostra não vêm a competição de uma forma tão assustadora como os atletas que serviram de amostra para os estudos supracitados, pois, segundo Sewell & Edmondson 25, o facto de haver uma correlação elevada entre as três variáveis poderá estar relacionados com a forma como o atleta encara a competição. Como base na associação das variáveis do IPCC e do CSAIS – 2, para a nossa amostra, podemos concluir que há uma diminuição da autoconfiança se o atleta perde a confiança sem saber como a recuperar e se fica tenso e nervoso antes da competição. Quando os atletas da nossa amostra ficam nervosos antes da competição, pensam durante a prova no quanto o esforço lhes irá custar, não suportam o stresse na fase final da competição, não revêem o plano de prova no intervalo antes da competição e os níveis de ansiedade somática aumentam. Quando os atletas são possuidores de um plano de prova, quando sabem quanto lhes vai custar o esforço e o treinador lhes recorda, antes da competição, a estratégia definida, há uma diminuição dos índices de ansiedade cognitiva dos atletas da nossa amostra. Quanto mais reduzidos forem os valores da 310 { Investigação motricidade3vol1111.indd 47 10-06-2007 20:45:19 Quadro 11: Coeficiente de correlação existente entre a ansiedade cognitiva e as variáveis do ICPC/PC Variável Descrição do comportamento Est 1 Presente ICPC5 O atleta fica tenso e nervoso antes da competição 0,607 -0,296 ICPC6 O atleta gosta de ficar sozinho antes da competição 0,275 ns ICPC7 O atleta preocupa-se com os outros competidores antes da prova 0,246 ns -0,239 0,164 ns -0,228 0,227 -0,190 ICPC8 ICPC10 ICPC11 ICPC12 ICPC13 ICPC14 ICPC19 ICPC27 ICPC28 ICPC29 ICPC33 ICPC34 ICPC35 ICPC38 ICPC40 O atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova Quando a competição não está a correr como o esperado O atleta sente que antes duma prova importante pode ser distraído ao ponto de afectar a sua performance O atleta ensaia mentalmente os planos de competição antes da prova O atleta consegue concentrar-se nos períodos que antecedem a prova ns -0,198 -0,230 ns Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar ns -0,246 ns -0,185 -0,339 ns ns 0,173 ns -0,256 -0,244 0,190 ns -0,167 ns 0,169 -0,257 0,194 0,383 -0,207 Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado mais O atleta se está muito excitado antes da prova sabe o que fazer para recuperar Quando perde a confiança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova O atleta durante a fase final de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse) O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente antes da prova afecta a sua performance O atleta aceita um erro cometido pelo árbitro, mesmo que este o afecte sem fazer comentários Quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue concentrar-se, sem que nada o distraia Antes de provas o atleta sente que os seus nervos ficam de tal forma que à mínima coisa se irrita Quadro 12: Comparação dos coeficientes de correlação das três variáveis do CSAI-2 obtidas nos estudos realizados por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, Sewell & Edmondson 25 e no presente estudo Estudo de Ferraz & Raposo 8 Associações Coef.de corr Vealey in Sewell e Edmondson 25 Coef.de corr Estudo presente Coef.de corr Aconf – AnsCog -0.51 -0,64 -0,163 Aconf - AnSom -0,49 -0,60 -0,174 AnsCog – AnSom -0,56 0,63 0,420 311 {Investigação motricidade3vol1111.indd 48 10-06-2007 20:45:20 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes ansiedade cognitiva e da ansiedade somática mais elevado será o valor da autoconfiança. Finalmente podemos afirmar que os comportamentos pré-competitivos que melhor se relacionaram com a autoconfiança, na nossa amostra, foram: ICPC28 (o atleta sabe como recuperar a confiança antes de uma prova); ICPC26 (o atleta usa a informação e a experiência adquirida para melhorar); ICPC5 (o atleta fica tenso e nervoso antes de uma competição importante); ICPC30 (o atleta dorme oito horas, no mínimo, antes de uma competição). Os que mais se associaram com a ansiedade somática, na nossa amostra foram: ICPC5 (o atleta fica tenso e nervoso antes de uma competição importante); ICPC25 (o atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço da prova); ICPC29 (o atleta gosta que o treinador lhe relembre a estratégia competitiva antes da prova); ICPC32 (o atleta está sempre a horas para as competições), ICPC17 (o atleta quando se sente cansado tenta com mais força) e ICPC41 (O atleta no intervalo das provas revê o plano relativo à prova que se segue); ICPC 30 (O atleta dorme oito horas (no mínimo) antes de cada competição importante). Os que mais se associaram com a ansiedade cognitiva, no presente estudo, foram: ICPC5 (o atleta fica tenso e nervoso antes de uma competição importante); ICPC10 (o atleta sente necessidade de ter um plano de prova para situações inesperadas); ICPC38 (o atleta concentra-se numa prova sem que nada o distraia); ICPC29 (o atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia competitiva antes da prova); ICPC14 (durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar) e ICPC35 (o atleta aceita sem comentários um erro do juiz ou do árbitro). O facto de algumas destas associações encontradas contradizerem as teorias propostas para a compreensão da influência da ansiedade no contexto desportivo leva-nos a concordar com Vasconcelos-Raposo 28,29,31 quando este alerta para as limitações do conceito de ansiedade no desporto. De acordo com este autor, o conceito de ansiedade actualmente utilizado no desporto é inadequado, e para melhor compreendermos as repostas fisiológicas presentes no desporto e as emoções que lhes acompanham é fundamental abandonar o conceito e a forma como este tradicionalmente tem sido concebido e aplicado à competição. 312 {Investigação motricidade3vol1111.indd 49 10-06-2007 20:45:20 Correspôndência: Referências José Jacinto Vasconcelos Raposo Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro – UTAD Dep. Educação e Psicologia, Apartado 1013, 5000 Vila Real, Portugal [email protected] 1 Bleak JL, Frederick CM. (1998). Superstition behavior in sport: levels of effectiveness and determinants of use in three collegiate sports. J Sport Behavior. 21(1):1-5. 2 Bucker J. (1975). Superstition in sport. Int J Sport Psychol. 6(3):148-152. 3 Buhrmann HG, Brown B, Zaugg M. (1982). Superstitious beliefs and behavior. A comparison of male and female basketball players. J Sport Behavior. 4:175-185. 4 Cohn PJ. (1990). Preperformance routines in sport: Theoretical support and practical applications. Sport Psychol. 4:301-312. 5 Cox RH. (1990). Sport psychology: Concepts of applications. (2 ed.). Dubuque: Wm C. Brown. 6 Cruz J. (1996). Stresse, ansiedade e competências psicológicas nos atletas de elite e de alta competição: um estudo da sua relação e impacto no rendimento e no sucesso desportivo. Braga: Centro de estudos em Educação e Psicologia. Universidade do Minho. 7 Eklund RC, Gould D, Jackson SA. (1993). Psychological foudations of Olympic wresting excellence: Reconciling individual differences and nomothetic characterization. J Appl Sport Psychol. 5:35-47. 8 Ferraz PC, Vasconcelos-Raposo J. (in press). Identificação dos comportamentos pré-competitivos em jovens nadadores.Vila Real: SDE- UTAD. 9 Gregory CJ. (1979) Taking advantage of a “lucky” situation. Coaching Review. 2(7):32-39. 10 Gregory J, Petrie B. (1975) Superstition of Canadian intercollegiate athletes: An inter-sport comparison. Int Rev Sport Soc. 10:59-68. 11 Hall MK, Kerr A, Mathews J. (1998) Precompetitive anxiety in sport:The contribution of achievement goals and perceptionism. J Sport & Exerc Psychol. 20(2):194. 12 Hogg J. (1995) Mental Skills for swim coaches. A 313 { Investigação motricidade3vol1111.indd 50 10-06-2007 20:45:20 Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo José Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes coaching text on the psychologycal aspects of competitive swimming. Canada: Sport Excel Publishing. 13 Jones G, Hanton S, Swain AB. (1994) Intensity and interpretation of anxiety symptoms in elite and non-elite sports performers. Person and Ind Differ. 17:657-663. 14 Keating J, Hogg J. (1995) Precompetitive preparation in professional hockey. J Sport Psychol. 18(4):270-286. 15 Martens R. (1987) Coaches guide to sport psychology. Champaign: Human Kinetics. 16 Martens R, Vealey RS, Burton D. (Eds.) (1990). Competitive anxiety in sport. Champaign: human Kinetics. 17 Neil G, Anderson R, Sheppard W. (1981) Superstitions among male and female athletes at various levels of involvement. J Sport Behavior. 4(3):137-148. 18 Orlick T. (1980) In pursuit of excellence-how to win sport and life through mental training. Champaing: Human Kinetics. 19 Ravizza K, Osborne T. (1991) Nebraska’s 3R’s: One-play-at-a-time preperformance routine for collegiate football. Sport Psychol. 5:256-265. 20 Ryska TA. (1993) Coping styles and response disfontion on self-report inventories among high school athletes. J Psychol. 127(4):409-449. 21 Ryska TA. (1998) Cognitive behavioral strategies and frre-competitive anxiety among recreational atheletes. Psychol Rev. 48(4):697-705. 22 Rushall B. (1979) The psychological preparation for serious competition in sport. London: Pelham Books. 23 Rushall B. (1983) On-site psychological preparation for athletes. Mental training for coaches and athletes. Alberta: The coaching Association of Canada (p. 140 – 149). 24 Schmid A, Peper E. (1986) Techniques for training concentration. In:Williams J (Ed). Applied sport psychology: personal growth to peak performance. Mayfield: Publishing Company Mountain View (p. 271 – 284). 25 Sewell D, Edmondson A. (1996) Relationships between field position and pre-mach competitive state anxiety in soccer and field hockey. Int J Sport Psychol. 27(2):159–172. 26 Sherman CA. (1988) Superstitions and you: The vulnerable athlete. Modern Athlete and Coach, Oct.,7-10. 27 Teixeira C, Vasconcelos-Raposo J. (1997) Ansiedade cognitiva, somática e autoconfiança em nadadores. (Monografia de Graduação).Vila Real: UTAD. 28 Vasconcelos-Raposo J. (1993) Os factores psico-socio-culturais que influenciam e determinam a busca pela excelência pelos atletas de elite portugueses. Tese de doutoramento.Vila Real: UTAD-SDE. 29 Vasconcelos-Raposo J. (1994a) Explorando os limites do conceito de ansiedade no desporto. (Comunicação apresentada) Zamora: Congresso Internacional de Treinadores de Natação. 30 Vasconcelos-Raposo J. (1994b) Manual de treino mental: Natação.Vila Real: UTAD. 31 Vasconcelos-Raposo J. (1995) Motivação para a competição e treino – o caso das selecções portuguesas de natação. Rev Natação. 27:3-19. 32 Viana F, Cruz J. (1996) Autoconfiança e o rendimento na competição desportiva. In: Cruz J (Ed.) Manual de psicologia do desporto. Braga: Lusografe (p. 265 – 286). 33 Williams J. (1986) Applied sport psychology: Personal growth to peak performance. Palo Alto: Mayfield. 34 Williams J. (1996) Psicologia aplicada al deporte. Madrid: Biblioteca Nueva. 314 { Investigação motricidade3vol1111.indd 51 10-06-2007 20:45:20 Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo Vera Lúcia Bruch1, André Boscatto1, João Batista da Silva1, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto1, Humberto Jefferson de Medeiros1,2, Paulo Moreira da Silva Dantas1,3 e Maria Irany Knackfuss1,4 1 - Laboratório de Biociências da Motricidade Humana-UFRN-RN 2 - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-RN 3 - UNIGRANRIO-RJ 4 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte-RN Bruch, V.; André Boscatto, A.; Silva, J. B.; Nóbrega, A.; Neto, M.; Medeiros, H. J.; Dantas, P. M.; Knackfuss, M. I.; Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo. Motricidade 3(1): 315-322 Resumo Abstract O objetivo deste estudo centra-se na analise dos indicadores cronológico, morfológico e funcional de escolares da cidade de Mossoró-RN, a partir dos estágios maturacionais. O estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva, com tipologia comparativa, a amostra limitou-se a N= 305 divididos em n = meninos 153 e n = meninas 152, de nove a 17 anos. Os protocolos utilizados foram IMC, somatória de dobras, salto horizontal e o teste de 30 m. A estatística utilizada foi à descritiva. Os resultados apontam para o desenvolvimento que estará sempre atrelado ao crescimento. A existência do comportamento de modificação das variáveis estudadas, dentro de um caminho cronológico, mas com o corte maturacional, constitui-se em uma estratégia interessante de observação, permitindo, levar-se em conta a intervenção natural oriunda do crescimento e desenvolvimento dos indivíduos. Recomenda-se portanto que sejam levados em conta não somente o comportamento cronológico das variáveis intervenientes no crescimento e desenvolvimento humano, mas o comportamento maturacional, como também a utilização de instrumentos de indicação hereditária e genética. Palavras-chave: maturação, qualidades físicas básicas, crescimento e desenvolvimento. Data de submissão: Outubro 2006 Data de aceitação: Dezembro 2006 Chronological, morphological and functional markers and maturational stages of students from the northeast of Brazil: a comparative study. The aim of this study was to analyse chronological, morphologic and functional markers of students in the city of Mossoró-RN, in Brazil, taking into account the maturational stages. The study was classified as a descriptive comparative research. The sample was composed of 305 children divided in two groups: n = masculine 153 and n = feminine 152, from nine to 17 years.The protocols used were Body Mass Index, Skinfolds addiction, horizontal jump and the 30 m test.We used a descriptive statistical analysis. The results pointed to a development that will always be linked to the growth.The existence of behavior of modification of the studied variables, into a chronological way, but with the maturational cut, consists in an interesting strategy of observation, and it permit to take in account the natural intervention of the growth and development of the individuals. So, it is recommended that not only the chronological behavior of the intervening variables in the growth and human development be taken in account, but the maturacional behavior, as well as, the use of instruments of hereditary and genetic indication. Key-words: maturation, basic physical qualities, growth and development. 315{ Investigação motricidade3vol1111.indd 52 10-06-2007 20:45:20 Introdução A escola em nosso país possui divisões bastante caracterizadas. O ensino público, seja municipal, estadual ou federal, é distinto do privado e estas diferenças ficam claras em diversos setores: econômico, social, estrutural e organizacional. Tais diferenças influenciam sob maneira não só na qualidade do ensino, como no resultado oriundo desta escola 1. Em consonância com tais afirmações, está a realidade das populações que se servem destas instituições, caracterizadas por diferentes camadas sociais, e que não permitem aos estudos a generalização das observações. Medeiros1 aponta que os indicadores ligados a saúde, vem despertando interesse de pesquisadores nas diferentes áreas de atuação, e os escolares tornam-se a população mais visada para desenvolver estes estudos. Este tipo de estudo se faz necessário, principalmente na comunidade escolar, onde os instrumentos utilizados, os testes de qualidade física e a composição corporal, são alguns dos indicadores para avaliar o estado de saúde e o desenvolvimento físico destes escolares, clientela onde frequentemente tem-se observado indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Estes dois fatores são preocupantes porque estão associados a doenças como hipertensão, diabetes, doenças coronarianas, acidente vascular cerebral, osteoporose e altos níveis de colesterol sangüíneo 2,3 . Pena, Bacallao4 salientam que a redução na prática de exercícios físicos, decorrente da falta de oportunidade de praticá-los de modo regular e da ausência de informações no tocante aos benefícios associados e a modificação qualitativa na dieta das populações urbanas, com aumento no consumo de gorduras e redução no consumo de fibras, o que contribui para o aumento da prevalência de obesidade na população de baixa renda. Observando as tendências epidemiológicas, fica evidente a necessidade de intervenção nesse relevante agravo à saúde, nos planos, coletivo e individual, abordando-se os principais fatores que modulam seu aparecimento, especialmente a atividade física e os hábitos alimentares 5. O contexto aqui exposto constitui-se como indicativo a realização do estudo proposto, indo ao encontro da necessidade da investigação quanto as variáveis relacionadas tanto a composição corporal como as capacidades funcionais do jovem escolar, constituindo-se portando o objetivo deste estudo, a analise dos indicadores cronológico, morfológico e funcional de escolares da cidade de MossoróRN, a partir dos estágios maturacionais estabelecidos por Medeiros1 para escolares da região do estado do Rio Grande do Norte, que utilizou estágios maturacionais de Tanner. Metodologia Amostra O estudo se caracterizou como uma pesquisa descritiva, com tipologia comparativa, sendo os sujeitos distribuídos em grupos de acordo com as tabelas normativas do estágio da maturidade proposto por Medeiros1, para escolares do Rio grande do norte, estabelecendo como critério de analise, os pelos pubianos. A amostra, de caráter não probabilístico intencional, limitou-se a 305 sujeitos (Meninos =153 e meninas =152), matriculados nas escolas, da rede estadual, localizadas na zona urbana do município de Mossoró, do estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Foram incluídos neste estudo, escolares de 5a a 8a serie, numa faixa etária de 9 a 17 anos, participantes das aulas de Educação Física, que de forma voluntária, se disponibilizaram em participar dos procedimentos avaliativos; autorizados por seus responsáveis e que não apresentavam 316 { Investigação motricidade3vol1111.indd 53 10-06-2007 20:45:20 Resultados algum tipo de enfermidade não foram inseridos neste estudo. Os procedimentos usados neste estudo respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínque, 1975) e do Comitê de Ética do Conselho nacional de Saúde do Brasil 196/96 . (colocar estes parágrafo na amostra). Procedimentos Os protocolos utilizados foram de Quetelet para determinação do IMC e Lohman para a somatória de dobras tricipital e subscapular referida em Fernandes Filho6. Na avaliação do desempenho motor foi utilizado o salto horizontal para medir a força dos membros inferiores7, e o teste de 30 m para mensurar a velocidade8. Para os cortes maturacionais por estágios utilizou-se o estudo de Medeiros1, que utilizou o Auto Tanner, validado por Matsudo9, dividindo os grupos em (1) pré-púbere, (2) púberes e (3) pós-púberes, esta divisão em três classes visou diminuir o erro interno. A estatística utilizada foi à descritiva observando os valores de tendência central e seus derivados, associada a um teste de normalidade de Komogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Para as comparações utilizou-se a Anova one-way e como posthoc o teste de scheffe para grupos de quantitativos diferentes. Objetivando-se a medição dos testes, o presente trabalho se pauta em consonância às considerações básicas do tratamento estatístico, a fim de manter-se a cientificidade da pesquisa, em que se considere o nível de significância de p < 0,05, isto é, 95% de probabilidade para as afirmativas e/ou negativas, denotadas durante as investigações. As Tabelas 1 e 2 demonstram-se os resultados de idade, estatura e massa, do masculino e feminino respectivamente. Nas Tabelas 3 e 4, ao observar-se conjuntamente o IMC e a Soma das dobras de tríceps e subscapular, testes de Salto horizontal e corrida de 30 metros no masculino e feminino. Discussão As Tabelas 1 e 2 demonstram o comportamento esperado de aumento da idade tanto no masculino quanto para o feminino, independente do descritor de tendência central. Chama-se a atenção que houve sempre tendência a idades superiores no masculino, indicando maior aceleração das meninas quanto ao processo maturacional, o que corrobora com a literatura9,1,10 confirmando que a divisão nos três estágios obedeceu, Medeiros1, e que os resultados médios de entrada, saída e permanência nos estágios púberes, coadunamse com o referido autor. A estatura e massa no masculino, obedece ao esperado quanto aceleração mais acentuado da saída da puberdade para pós-pubere, o que pode ser um indicado de maior manifestação das características secundárias masculinas oriundas de um grande aporte hormonal masculino11, e o feminino indica um comportamento proporcionalmente menor mais acentuado pelo aumento do peso. Nas Tabelas 3 e 4, ao observar-se conjuntamente o IMC e a Soma das dobras de tríceps e subscapular no masculino e feminino, fica evidente nos grupos observados que a maior intervenção das características secundárias masculinas e femininas manifestam-se especialmente no aumenta da gordura dos compartimentos demonstrada nas espessura das dobras no feminino, já que, o IMC 317 { Investigação motricidade3vol1111.indd 54 10-06-2007 20:45:20 Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo Vera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss Tabela 1: Masculino estagio 1.00 2.00 3.00 Total idade estatura massa Mean 9.9545 1.4086 38.8636 N 22 22 22 Std. Devitation 0.21320 0.05401 9.77507 Median * 10.0000 1.4000 34.5000 Mean 11.9655 1.4902 41.7931 N 87 87 87 Std. Devitation 0.70626 0.103967 11.18987 Median *12.0000 1.4700 *39.0000 Mean 14.9545 1.6251 54.0682 N 44 44 44 Sta. Devitation 1.01052 0.09587 12.18157 Median *15.0000 1.6350 52.5000 Mean 12.5359 1.5173 44.9020 N 153 153 153 Std. Devitation 1.84970 0.12089 12.69468 Median 12.0000 1.5000 44.0000 *As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas. Existência de diferenças para p<0,01: Idade entre todos os estágios; estatura entre todos os estágios e massa (1/3 e 2/3). Tabela 2: Feminino estagio 1.00 2.00 3.00 Total idade estatura massa Mean 10.0000 1.3972 39.1111 N 18 18 18 Std. Devitation 0.0000 0.06182 9.42393 Median * 10 0000 1.3950 38.5000 Mean 12.4286 1.4972 42.8295 N 105 105 105 Std. Devitation 1.47320 0.07878 9.56755 Median *12.0000 *1.4800 *41.000 Mean 13.3793 1.5483 49.4138 N 29 29 29 Sta. Devitation 0.49380 0.05305 9.46994 Median *13.000 1.5500 *46.000 Mean 12.3224 1.4951 443.6454 N 152 152 152 Std. Devitation 1.55091 0.08316 9.94878 Median 12.0000 1.4900 42.0000 *As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas. Existência de diferenças para p<0,01: Idade entre todos os estágios; estatura entre todos os estágios e massa (1/3 e 2/3). 318 { Investigação motricidade3vol1111.indd 55 10-06-2007 20:45:20 Tabela 3: Masculino estagio 1.00 IMC somaTRSE saltoH Velocidade Mean 19.4273 20.4545 1.4536 6.1614 N Std. 22 22 22 22 4.17763 8.30219 0.23579 0.61803 * 17.600 20.0000 1.4000 6.1200 Devitation Median 2.00 Mean 18.5276 16.7011 1.5544 5.9495 N Std. 87 87 87 87 3.37269 6.96188 0.22401 0.66105 *17.900 *16.000 1.5600 *6.140 14.9545 1.6251 54.0682 44 44 44 44 3.22283 6.01302 0.25180 1.35424 Devitation Median 3.00 Mean N Sta. Devitation Median Total *19.850 *16.0000 1.7050 *5.4600 Mean 19.850 12.5359 1.5173 44.9020 N Std. 153 153 153 153 3.52042 6.98685 0.25220 0.90776 18.3000 16.0000 1.5900 6.0600 Devitation Median *As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas. Existência de diferenças para p<0,01: IMC (2/3); Salto Horizontal(1/3 e 2/3). guarda muito mais a relação de volume em quilogramas por metro quadrado, do que indicativo evidenciando um aumento ponderal significativo. Tais afirmativas corroboram com a literatura quanto ao aumento ponderal e discordam com a mesma quanto à utilização do IMC de maneira isolada como indicativo de maior obesidade12. Fica assim marcada para o grupo em foco que existe no feminino uma tendência acentuada do aumento ponderal e estabilização do mesmo para o masculino. Ainda nas Tabelas 3 e 4, quanto a força e velocidade, avaliadas respectivamente pelos testes de Salto horizontal e corridade30 metros.Observase maior evolução da qualidade força no mascu- lino, o que pode ser a confirmação da manifestação hormonal masculina já assinalada em outras características secundárias do grupo, reforçada por um aumento menos marcado do feminino13, já a velocidade não acentua esta diferença o que pode ser um indicativo de maior intervenção coordenativa, já que, o deslocamento em velocidade requer maiores níveis de atributos Motores14. Quanto à existência ou não de diferenças significativas, nas meninas somente nas características cronológicas e morfológicas observa-se tais diferenças estatísticas, o que poderia ser mais um indicativo de aceleração maturacional antes assinalada15, em tempo é bom que se diga que a não existência de uma diferença significativa não é 319 { Investigação motricidade3vol1111.indd 56 10-06-2007 20:45:20 Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo Vera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss Tabela 4: Feminino estagio 1.00 IMC somaTRSE saltoH Velocidade Mean 19.8889 28.6667 1.2983 7.0856 N Std. 18 18 18 18 3.75184 15.63923 0.15120 0.75641 19.6500 *24.000 1.2750 7.1050 Devitation Median 2.00 Mean 18.5276 16.7011 1.5544 5.9495 N Std. 105 105 105 104 3.10161 11.17406 0.22706 0.85899 Devitation Median 3.00 *18.800 *22.000 *1.3100 *6.5700 Mean 20.5931 22.5172 1.4490 6.5190 N Sta. 29 29 29 29 3.93173 11.47239 0.25981 0.70988 *19.300 *19.000 1.4700 6.5200 Devitation Median Total Mean 19.3605 24.8750 1.3628 6.7723 N Std. 152 152 152 151 3.39575 11.86252 0.22942 0.83063 19.0000 21.0000 1.3350 7.0000 Devitation Median *As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas. indicativa de estagnação de comportamento de uma variável. No masculino tanto nas variáveis cronológicas quanto morfológicas e funcionais foi observada a existência de diferenças, o que em linhas gerais e corroborando com a afirmativa anterior, demonstra maior cinesia quanto ao efeito hormonal do crescimento masculino. Os resultados parecem apontar que o desenvolvimento estará sempre atrelado ao crescimento, pois não existem compartimentos estanques, ao se referenciar o ser humano. Por essa razão, a individualidade biológica é o marco destas observações e quanto mais instrumentos poderem ser utilizados neste caminho menos serão as chances de equívocos. O estudo ora apresentado responde aos questionamentos inseridos em seus objetivos, ou seja, observa-se um comportamento de aceleração no masculino e frenagem no feminino, quanto as variáveis indicativas de performance na execução de tarefas motoras, ditadas por maior força, estatura, e conseqüente maior aceleração feminina e frenagem masculina, quanto a características de aumento da massa gorda, diferenças estas em grande parte induzidas pelos hormônios sexuais. A existência do comportamento de modificação das variáveis estudadas, dentro de um caminho cronológico, mas com o corte maturacional, constitui-se em uma estratégia interessante de observação, permitindo, levar-se em conta a intervenção natural oriunda do crescimento e desenvolvimento dos indivíduos. Recomenda-se portanto que sejam levados em conta não somente o comportamento cronoló- 320 { Investigação motricidade3vol1111.indd 57 10-06-2007 20:45:20 Referências gico das variáveis intervenientes no crescimento e desenvolvimento humano, mas o comportamento maturacional, como também a utilização de instrumentos de indicação hereditária e genética. Correspondência Vera Lúcia Bruch Rua Marechal Serejo 601 b.07/202 Jacarepaguá/RJ – Brasil. CEP: 22743-380. [email protected] 1. Medeiros HJ, Santos DB, Rego SAJS, Mila ASB; Farias AS; Knackfuss MI; Fernandes Filho J. (2005) Características dermatoglíficas dos escolares nos diferentes estágios maturacionais no Estado do Rio Grande do Norte. . In: Novena Jornada de Educacion Física del Mercosur 2005. 55:89-93. 2. Benetti M; Rebelo FPV; Carvalho T. (2000) Regressão da aterosclerose coronariana. Rev Bras Ativ Fís Saúde. 5(3):58-75. 3. Blake GJ; Ridker PM. (2002) Inflammatory bio-markers and cardiovascular risk prediction. J Intern Med. 252(4):283-294. 4. Peña M, Bacallao J. (2000) La obesidade en la pobreza: um problema emergente em lãs americas. In: la obesidade en la pobreza: un nuevo reto para la salud pública Organización Panamericana de la Salud –OPS. 576:3-12. 5.Vasconcelos VL, Gisela AP. (2003) Overweight and obsity prevalences in male adolescentes in northcast Brazil, 1980 – 2000. Cad Saúde Pública. 19(5):1445–51. 6. Fernandes Filho J. (2003) A prática da avaliação física: Testes, medidas e avaliação física em escolares, atletas e academias de ginástica. (2a ed). Rio de Janeiro: Carpe. 7. Matsudo VKR. (1987) Testes em Ciências do Esporte. (4º ed). São Caetano do Sul: Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul. 8. Matsudo VCR. (1982) Testes em ciências do esporte. São Paulo: Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul. 9. Matsudo SMM; Matsudo VKR. (1991) Validade da auto-avaliação na determinação da maturação sexual. Rev Bras Ciênc Mov. 5(2):18-35. 10. Alonso LV; SILVA Dantas PM. et al. (2003) Perfil somatotípico e dermatoglífico de tipologia de fibra muscular de atletas mirins da equipe de futsal do clube de regatas Vasco da Gama - RJ. 321 { Investigação motricidade3vol1111.indd 58 10-06-2007 20:45:21 Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo Vera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss Rev Bras Ciênc Mov. 11(4):121-123. 11. Tourinho Filho H; Tourinho LSPR. (1998) Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Rev paul Educ Fís. 12(1):71-84. 12. Giugliano R; Melo ALP. (2004) Diagnosis of overweight and obesity in schoolchildren: utilization of the body mass index international standard. J. Pediatr. 80(2):129-34. 13. Thomas JR, Nelson JK. (2002) Métodos de pesquisa em atividade física. Porto Alegre: Artmed. 14. Klein CMO; Fernandes Filho J. (2003) Relação entre a dermatoglifia, as qualidades físicas e o nível maturacional de escolares adolescentes de ambos os sexos. Fit & Perform J. 2(6):321-329. 15. Tsukamoto MHC; Nunomura, M. (2003) Aspectos maturacionais em atletas de ginástica olímpica do sexo feminino. Motriz. 9(2):119-26. 322 { Investigação motricidade3vol1111.indd 59 10-06-2007 20:45:21 A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro. Marco Antonio Coelho Bortoleto Faculdade de Educação Física (Universidade Estadual de Campinas – Brasil) Grupo de Pesquisa em Ginástica Geral (FEF – UNICAMP, CNPQ) Grupo de Estudos Praxiológicos – GEP (Instituto Nacional de Educação Física da Catalunha – INEFC - Universidade de Lleida - Espanha) Bortoleto, M. A.; A ginástica artística masculina (GAM): observando a cultura de treinamento desde dentro. Motricidade 3(1): 323-336 Resumo Abstract Este artigo apresenta um estudo etnográfico realizado no Ginásio de treinamento de Ginástica Artística Masculina do Centro de Alto Rendimento de Sant Cugat del Vallès (Barcelona Espanha). O objetivo principal desta pesquisa consistiu em desvelar as características principais da cultura de treinamento de uma sala de alto rendimento a partir de uma incursão de campo (de um ano e meio de duração) orientada pelos fundamentos teóricos da antropologia simbólica e dentro do marco metodológico da etnografia. Neste artigo destacamos o contexto institucional, alguns condicionantes temporais da preparação dos ginastas, aspectos da estrutura social do grupo, além de indicadores do universo simbólico que caracteriza a atividade no interior da sala. Entre as observações mais relevantes podemos destacar o Ginásio como uma microcultura caracterizada por várias cerimônias rituais, onde os técnicos tem o poder da palavra e os ginastas se limitam a escutar e intervir quando são solicitados (obedecer). Desta forma o funcionamento da sala se fundamenta no respeito à hierarquia de mandos e no cumprimento da programação das atividades e das regras. Palavras-chave: Ginástica Artística Masculina (GAM), alto rendimento, cultura de treinamento, etnografia. Top level men artistic gymnastics (MAG): an observation of the training culture from the inside perspective. This paper presents an ethnographic study that took place at a high level training gym of Men´s Artistic Gymnastics, at the Olympic Training Center of Sant Cugat del Vallés (Barcelona – Spain). The main goal of this study was to reveal the training culture characteristics of a high level training gym through a field observation (lasting one and a half year) by using the theoretical fundaments of the symbolic anthropology and the ethnographic methodology. We also highlight in this paper the institution context, some of the timing conditioning preparation of the gymnastics, some aspects of the social structure of the group and the universe symbolic indicators that characterize the activities inside the gym. Among the most relevant observation we detach the gym as a micro culture characterized by many ritual ceremonies, where the coaches have the power of the speech and the gymnasts are limited only to hear and execute whenever necessary. In this way the functioning of the gym follows a hierarchal respect of the orders and the responses of the activities and rules. Keywords: Men’s Artistic Gymnastics (MAG), high level, training culture, ethnography. Data de submissão: Janeiro 2006 Data de aceitação: Dezembro 2006 323 {Técnico motricidade3vol1111.indd 60 10-06-2007 20:45:21 Introdução Como diriam alguns antropólogos, todo texto (lógica interna) possui um contexto (lógica externa) que lhe atribui sentido e significação1. Neste sentido a Ginástica Artística Masculina (GAM), enquanto prática esportiva de alto rendimento, se desenvolve em dois contextos distintos: a competição formal e a preparação para a competição (treinamento). Em função de suas características e necessidades particulares esta modalidade encontrou nos Ginásios o espaço idôneo para desenvolver o processo de treinamento que prepara os ginastas para a competição. De este modo, o Ginásio constitui o “contexto de treinamento” representando assim um lugar essencial para a evolução da GAM na sua vertente de alto nível2 que alberga grande parte dos saberes necessários para poder compreender este esporte desde uma perspectiva contextualizada, segundo descrevem Escalera in Medina e Sánchez3. Diferentemente do contexto competitivo, o de treinamento consiste uma realidade quase desconhecida, já que, além dos ginastas e técnicos, poucas são as pessoas que têm a oportunidade de conhecer seu funcionamento desde dentro. Considerando o Ginásio como o contexto onde o ginasta se prepara para a competição, é imprescindível conhecer seu funcionamento em profundidade. Para conhecer esta realidade empreendemos uma descrição etnográfica das características mais representativas do funcionamento e da cultura de treinamento (ou de preparação) dos ginastas, no caso particular do Ginásio de GAM do Centro de Alto Rendimento (CAR) de Sant Cugat del Vallès, na província de Barcelona (Catalunha, Espanha). Uma sala onde treinam diariamente vários ginastas da seleção espanhola de alto rendimento, e que por tanto, possui alta representatividade tanto no âmbito nacional como no internacional. Os resultados desta pesquisa elucidam parte da complexa cultura de treinamento da GAM, destacando alguns dos aspectos que influenciam na sua dinâmica. Além de representar um importante “feedback” para os próprios protagonistas também significam um primeiro passo para a realização de futuros estudos comparativos sobre distintos Ginásios, em diferentes localidades ou países, e seus modos particulares de preparar os ginastas. Esta pesquisa justifica-se ademais pela escassez de antecedentes antropológicos no campo do esporte, especialmente sobre a GAM. A maior parte dos estudos realizados até o momento foram enfocados em modalidades massivas, como o futebol por exemplo, descrevendo principalmente problemas de grande impacto social como a violência e as questões de gênero. Um marco importante para o desenvolvimento da Antropologia do Esporte foi a criação, em 1974, da “Associação Antropológica para o estudo do esporte e o jogo”4, precedida por um significativo incremento dos estudos sobre a violência no esporte, sobre a participação da mulher no esporte e os problemas de gênero, sobre os esportes de aventura, sobre os aspectos ecológicos do esporte, além da masculinidade, a política e o espetáculo esportivo, a etnicidade e a identidade gerada pelo esporte. O futebol, maior expressão do fenômeno esportivo moderno, é a modalidade que mais atrai a atenção dos antropólogos. Por outro lado, o Boxe e o Rugby também vem sendo pesquisados a partir do enfoque sociológico-antropológico. Nesta área devemos fazer uma menção especial às 324 {Técnico motricidade3vol1111.indd 61 10-06-2007 20:45:21 obras de Joseph L. Arbena (org.) de 1988, titulada “Sport and Society in Latin America”, de Jeremy MacClancy (ed.) de 1996, titulada “Sport, identity and ethnicity” e a recente publicação espanhola de 2003, titulada “Culturas en juego: ensayo de antropología del deporte en España”3. Além destas, queremos citar o “dossier” publicado em 1994 pelo Instituto Catalão de Antropologia sob a coordenação de Manuel Delgado, no qual aparecem textos muito interessantes de Vincenzo Padiglione, Norbet Elias e Daniel Denis; assim como a edição monográfica da revista francesa “Ethnologie Française” publicada em 1985 (n.º 4), dedicada exclusivamente ao desporto. Depois de realizar uma rigorosa revisão bibliográfica não encontramos antecedentes em antropologia do esporte sobre a GAM nem sobre os Ginásios de treinamento nesta modalidade. Apenas logramos acessar alguns estudos relevantes sobre esta temática: o primeiro sobre um Ginásio de boxe nos EUA22, outros dois sobre a cultura da Ginástica Rítmica na França30,32, um sobre a Ginástica Artística Feminina no Brasil34, e por último um sobre a cultura do Vôlei de praia na Espanha33. Metodologia Do ponto de vista da Antropologia Simbólica o Ginásio pode ser considerado uma microcultura com características peculiares, as quais podem ser descritas a partir do significado que seus próprios protagonistas lhes atribuem5. Para a descrição da cultura de treinamento optamos por um estudo etnográfico, método que segundo Rodríguez et al.6, permite conhecer “el modo de vida de una unidad social concreta”, neste caso do Ginásio e de seus usuários. Conseqüentemente, realizamos uma viajem até o ambiente prático, através de uma pesquisa de campo7. Devido a escassez de antecedentes metodológicos tivemos que embasar-nos nos fundamentos metodológicos da etnografia aplicada ao contexto escolar, como por exemplo os oferecidos por Ogbu8, Wolcott9, Wilcox10, Woods11 e Woods12, e também em alguns modelos utilizados para o estudo de realidades socioculturais mais complexas13. A presença no Ginásio se prolongou durante um ano e meio (2003-2004) aproximadamente, e permitiu utilizar vários procedimentos de coleta de dados, de acordo com as indicações de Rodríguez et al.6. Atendendo as orientações de André14, Mata15 e Triviños16 os dados necessários para a descrição foram obtidos consultando diferentes fontes: - Documentos escritos: Projeto de tecnificação da Federação Catalana de Ginástica (FCG); Programa anual de treinamento; Normativas de condutas para os residentes e usuários do CAR de Sant Cugat; Texto introdutório sobre o CAR; etc.; - Testemunhos orais dos ginastas, técnicos e outros protagonistas: oito entrevistas gravadas em cassete; - Observação participante das atividades cotidianas do Ginásio: 70 sessões, com um total aproximado de 300 horas de observação registradas num diário de campo; Imagens: aproximadamente 100 fotografias realizadas periodicamente durante as distintas fases da pesquisa, acompanhando a evolução dos períodos de treinamento. Tendo em conta a complexidade implícita em todo estudo etnográfico, os limites temporais e os objetivos da tese de doutoramento que originou este artigo e fundamentalmente os limites espaciais desta publicação, decidimos delimitar a descrição da cultura de treinamento concentrando nossa atenção nas seguintes dimensões e indicadores: a) o Ginásio como instituição; 325 {Técnico motricidade3vol1111.indd 62 10-06-2007 20:45:21 A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro. Marco Antonio Coelho Bortoleto Resultados b) os imperativos temporais da preparação ginástica; c) o mundo social do Ginásio (os ginastas); d) o mundo simbólico do Ginásio (o Ginásio como um templo amorosiano). A análise dos dados foi realizada, segundo o critério que define Geertz17, ou seja, como um “ato de estranhar o comum e aceitar o estranho”. Considerando que “el análisis de datos es visto por algunos como una de las tareas de mayor dificultad en el proceso de investigación cualitativo” buscamos ser altamente rigorosos nesta fase da pesquisa6 respaldando-nos em diferentes procedimentos de validação e certificação (triangulação de especialistas, revisão dos próprios sujeitos implicados, etc.). O processo analítico-interpretativo utilizado foi dividido nas seguintes etapas: a) leitura inicial; b) transcrição das notas de campo e entrevistas; c) redução do texto e categorização dos dados; e d) redação do relatório final. Como acontece normalmente nos estudos desta natureza, a análise não foi um procedimento posterior à coleta de dados, muito menos estático. Durante todo o desenvolvimento da pesquisa de campo fomos confeccionando o texto descritivo, somando ao seu conteúdo às informações que conseguimos e aperfeiçoando diariamente este texto a partir de uma compreensão mais aprofundada dos sucessos. Depois de um ano de observações, e motivados pelas férias dos esportistas, redigimos uma versão preliminar do texto descritivo, a qual foi submetida a uma revisão e avaliação dos orientadores da tese e também de um consultor externo especialista em GAM. Posteriormente, retomamos as observações de campo para clarificar os aspectos ainda confusos da pesquisa e completar alguns temas que ainda estavam escassos de dados. Esta última visita ao cenário nos permitiu elaborar a versão final do texto descritivo com maior riqueza de detalhes. O Ginásio como instituição A atividade no interior do Ginásio atende às diretrizes que seu contexto institucional, ou seja, seu funcionamento está rigidamente regulado pelas estruturas sociais e suas respectivas leis, políticas, valores morais e éticos (imagem 1). Imagem 1. Ginastas descansando. Do ponto de vista legal, em 1968 o governo espanhol editou o “Plan ideal de apoyo al desarrollo de la actividad deportiva”, segundo resenham García Ferrando et al4. Em 1978, o Conselho Superior do Esporte (CSD) criou o plano de tecnificação para o esporte de alto nível, medida que deu origem à construção dos Centros de Alto Rendimento (CAR), além de outros centros menores destinados ao esporte de competição. No entanto, foi com o artigo de lei “ok10/1900” que o governo deste país definiu as competências e responsabilidades dos Centros de Alto Rendimento e a possibilidade do apoio dos governos estaduais (autonômicos) a estas instituições, impulsionando as atividades neste setor. Na atualidade apenas dois Centros de Alto Rendimento, o de Madrid e o de Sant Cugat, oferecem treinamento em GAM. Particularmente 326 {Técnico motricidade3vol1111.indd 63 10-06-2007 20:45:21 o CAR de Sant Cugat, onde desenvolvemos nosso estudo (imagem 2), iniciou suas atividades em 1987, no entanto sua inauguração oficial somente foi realizada em novembro de 1990. Definido como uma empresa que presta serviços na área do esporte de alto nível o CAR de Sant Cugat possui uma organização e administração própria, além de autonomia jurídica. Este centro está vinculado aos organismos públicos por meio do Conselho Executivo da Catalunha e da Secretaria de Educação deste estado. Esta instituição se mantém com o dinheiro de patrocínios, ajudas econômicas de fundações, da propaganda de algumas empresas além da ajuda da Secretaria Geral do Esporte da Catalunha (SGE) e do Conselho Superior do Esporte (CSD). A pesar de possuir um estatuto legal próprio segue as normativas políticas do Conselho Catalão do Esporte, órgão de maior autoridade esportiva no estado, estabelecendo como objetivo principal a formação de esportistas de alto nível, pondo ao ser serviço os melhores meios materiais, técnicos, pedagógicos, científicos e humanos necessários e disponíveis, além de velar sempre por sua formação integral e por transmitir à sociedade os conhecimentos gerados por estas atividades35. Imagem 2. Ginasta colocando magnésio nas mãos. O CAR de Sant Cugat está dividido em quatro unidades básicas: unidade técnica: instalações e coordenação de técnicos; unidade de direção e administração; unidade acadêmica: escola e tutoria; unidade de pesquisa: controle médico, acompanhamento e processos de treinamento, psicologia, biomecânica, nutrição-fisiologia, fisioterapia e desenvolvimento de projetos de pesquisa. Suas instalações o convertem no maior centro de treinamento esportivo da Catalunha, especializado em esportes individuais, que acolhe aproximadamente 500 esportistas, sendo 300 em regime de internato na sua própria residência. Seu funcionamento está a cargo de uma equipe de 150 profissionais. Este centro está estrategicamente situado fora de Barcelona e ao mesmo tempo perto deste grande centro urbano (capital do estado) facilitando assim o acesso ao transporte (aeroporto, estações de trem, rodovias) e aos grandes centros sanitários (hospitais). O CAR concentra um grande número de pessoas com um objeto comum, pessoas que compartilham diferentes faces da vida, como a acadêmica (estudos), residência e atividades de lazer-recreação. Esta mesma instituição trata de regular seu funcionamento e o comportamento de seus usuários a partir de uma normativa de conduta (regras) própria. Por conseguinte, com o decorrer do tempo este centro passou a gerar um grande sentimento de pertinência e de amizade entre seus usuários, uma identidade comum, um sentimento de associacionismo ou de “coletividade social”, circunstâncias que nos permitem, do ponto de vista antropológico, tratar esta instituição como uma “comunidade”. Sobre a temporalidade do treinamento A preparação dos ginastas obedece uma temporalidade específica. Nos referimos, em primeiro lugar, a umas condições de tempo que podem ser expressas da seguinte maneira: uma jornada diária de duas sessões, totalizando 5-6 horas de treinamento, seis dias por semana e aproximadamente 300 dias ao ano. Trata-se de uma dedicação altamente absorvente interrompida 327 {Técnico motricidade3vol1111.indd 64 10-06-2007 20:45:21 A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro. Marco Antonio Coelho Bortoleto por dois períodos de férias (descanso) de 15 dias aproximadamente durante todo o ano, que apenas permitem realizar outras atividades, como por exemplo, estudar, estar com a família, ver os amigos ou passear. Com uma perspectiva mais ampla, podemos esboçar o “ciclo vital” (termo inspirado nos escritos de Husserl) do ginasta, um marco temporal que ajuda a entender a carreira esportiva típica de este esporte. Este processo de preparação dos ginastas normalmente começa no CAR ao redor dos 11-12 anos, no entanto a prática da GAM se inicia anteriormente nos clubes catalães por volta dos 7-8 anos. Um itinerário esportivo que pode estender-se ao longo de aproximadamente 13 anos, finalizando aos 25 anos na media. Além disso, vimos que para lograr resultados expressivos no âmbito de alto rendimento esportivo os ginastas podem esperar até 10 anos. Em sumo, o treinamento é um longo período no qual se intercalam muitos momentos difíceis, como lesões e/ou derrotas, e no qual somente uns poucos chegaram ao final com o êxito esperado. Uma rigorosa disciplina marcada pelo cansaço, mas que todos insistem em dizer que são conscientes das dificuldades e são felizes a pesar de tudo isso. Ao mesmo tempo, ao presenciar os treinos entendemos que a atividade realizada na sala acontece de forma lenta e pausada, formando uma rotina cotidiana de repetições, milhares de repetições, sem a menor pressa (ao menos aparentemente), porém que devem cumprir os objetivos (programa) de cada uma das sessões. Este ritmo “lento” do treino tem um significado claro: todos sabem que estão imersos em um processo longo, de vários anos e qualquer falho pode atrapalhar os planos a longo prazo, por isso é importante treinar com calma, com muita paciência e dar o tempo necessário para que o corpo assimile as informações. Também dizem que este clima de tranqüilidade e aparente lentidão propicia um treino seguro e controlado e permite que o corpo técnico controle detalhadamente tudo que acontece na sala, evitando acidentes ou falhos durante o processo de aprendizagem. Diariamente os ginastas se intercalam nos aparelhos realizando cada um os exercícios que seu técnico solicitou. Entre cada repetição aproveitam para descansar e sutilmente para conversar ou para fazer algum comentário sobre os exercícios. Evidentemente, mostrar-se cansado (deitando no chão por exemplo), falar alto, brincar, reclamar ou descansar muito tempo não são comportamentos bem vistos na sala. Por isso, todo mundo trata de respeitar de forma estrita o pacto oral que regula a dinâmica de funcionamento da sala. A utilização dos aparelhos é planejada com antecedência pelos técnicos para que os diferentes grupos de ginastas não usem os mesmos setores (ou aparelhos) da sala de forma simultânea. No entanto, nem sempre é possível evitar este contato. Quando acontece, os ginastas mais velhos têm prioridade para usar. Todos dizem que esta aproximação é positiva pois permite por um lado aos ginastas mais novos aprender dos mais velhos. Ao mesmo tempo destacam que estas situações podem provocar uma diminuição do ritmo de treino (mais conversa, mais tempo de descanso, etc.). Eventualmente os ginastas mais velhos reclamam que os mais novos atrapalham seu treinamento, e reciprocamente os mais novos dizem que de vez em quando os mais velhos zombam deles. Estes conflitos raramente são notados, pois a tranqüilidade deve imperar na sala, e quando algo não funciona bem os técnicos tratam de intervir e chamar a atenção dos ginastas. A estrutura social do Ginásio Observando o fluxo cotidiano de pessoas na sala constatamos, em primeiro lugar, a existência de um grupo de 24 protagonistas “oficiais”, ou seja, pessoas que freqüentam diariamente o Ginásio 328 {Técnico motricidade3vol1111.indd 65 10-06-2007 20:45:21 com um compromisso declarado com o centro e com a Federação Catalana de Ginástica (FCG). Por outra parte, a sala recebe a visita quase diária de outras pessoas, como por exemplo funcionários, ex-ginastas, visitantes do centro, amigos e também das ginastas e os técnicos (as) de GAF que treinam na sala ao lado. Quantificar com precisão este fluxo de pessoas era uma tarefa complicada e nos conformamos em saber que freqüentam a sala diariamente entre 25 e 30 pessoas, e que centramos a atenção no grupo regular. O grupo dos ginastas está formado por 19 atletas com idades compreendidas entre 12 e 26 anos. Um coletivo de jovens, com um ideal (objetivo) comum e que optaram de forma precoce e “voluntariamente” por uma vida dedicada ao treinamento de alto nível. Em termos de Caillois in Lüschen e Weis18, a opção voluntária pela prática significa, ao menos em teoria, que estas pessoas podem decidir livremente o momento em que desejam interromper sua atividade esportiva. Esta liberdade é cada vez menor no esporte profissional, dado que se controla as decisões dos esportistas mediante contratos e penalizações federativas ou econômicas. Por outra parte, o corpo técnico está formado por três técnicos, um auxiliar técnico e um psicólogo, profissionais que, exceto no caso do psicólogo, estão contratados diretamente pela FCG. Os técnicos são os que possuem o maior grau de proximidade com os ginastas e, além de cumprir com seu labor técnico, atuam como maestros-orientadores a nível pessoal, adquirindo um laço profundo de intimidade e amizade com os ginastas. Coincidimos com Anzieu e Martín19 quando afirmam que os técnicos representam os líderes do grupo e carregam com toda a responsabilidade de tomar as decisões mais importantes para a preparação dos ginastas. Os 19 ginastas representam o coletivo mais numeroso. Deles, 17 estão oficialmente incorporados às atividades da sala e os outros dois se encontram em processo de incorporação. Os ginastas incorporados estão subdivididos em quatro categorias de idade: infantis (5), juvenis (4), juniores (3) e seniors (5). Segundo contaram os técnicos, esta classificação por franjas etárias obedece as normativas de competição da FCG, assim como da RFEG e da FIG. Conforme a “Normativa técnica de GAM” da Real Federação Espanhola de Ginástica, as categorias competitivas são: “benjamín” (10 anos ou menos), “alevín” (11 e 12), infantil (13 e 14), juvenil (15 e 16), junior (17 e 18) e senior (19 ou mais). A divisão dos membros do grupo por faixa etárias pode ser considerada um aspecto comum a todas as sociedades, facilitando a atribuição dos papéis, sua função no grupo e seu grado hierárquico. No caso do esporte, particularmente da GAM, esta divisão busca igualar as condições das competições em virtude das diferenças de rendimento respeito al desenvolvimento corporal. Além disso, pretende estabelecer normativas específicas para cada grupo evitando excessos por parte dos técnicos e das federações, segundo destaca a Federação Internacional de Ginástica20. Os ginastas infantis são os mais jovens do grupo e, por conseguinte, os que se incorporaram mais recentemente.Têm entre 12 e 13 anos e apesar de serem novatos na sala, todos possuem uma anterior experiência de treino de GAM em clubes catalães, com uma média de 5 anos (3-7 anos) de prática. Segundo a obra de Leglise21, os ginastas acostumam iniciar a prática da GAM ao redor dos 5-7 anos de idade, coincidindo com o que observamos no CAR. Começaram a treinar no CAR há dois de média (1-4 anos), o que indica que se incorporaram em anos distintos. Os quatro ginastas juvenis têm entre 14 e 15 anos, e uma média de 10 anos praticando ginástica, sendo os últimos 3 no CAR. Os três ginastas juniores têm entre 16 e 17 anos, estão treinando há 9 anos de média, sendo os últimos 4 no CAR. Os ginastas destes três gru- 329 {Técnico motricidade3vol1111.indd 66 10-06-2007 20:45:21 A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro. Marco Antonio Coelho Bortoleto pos conformam o que se denomina na sala “os menores” (mais novos em espanhol) ou, em ocasiões, os “pequenos”. O emprego destas expressões não agrada aos ginastas juniores, porque neste faixa etária os jovens se identificam (ou assim querem que pareça) mais com os seniores que com os mais jovens (infantis e juvenis). Fato que revela uma fase de transição de categoria competitiva e também de atitudes e idéias. Os cinco ginastas seniores, denominados pelo grupo de “mayores” (mais velhos) ou “adultos”, têm entre 18 e 26 anos e treinam ginástica de oito a 20 anos, com 10 anos de média (8-12) no CAR. Por último, os dois ginastas em processo de incorporação pertencem à categoria infantil, e têm entre 12 e 13 anos de idade respectivamente. Este reduzido número de ginastas indica, por um lado, a necessidade de manter o Ginásio com uma densidade populacional relativamente baixa, que facilita o controle exaustivo das atividades e que reflete um modelo de treinamento freqüentemente utilizado pelos países onde não existe tanta tradição ginástica (volumem de praticantes), nos quais os organismos reguladores e os responsáveis buscam extrair o melhor resultado possível dos poucos ginastas que conseguem ser admitidos nos programas de alto rendimento. Ademais, este fator demonstra indiretamente a dificuldade que existe na atualidade catalana e espanhola de captar ginastas com o potencial para treinar neste Ginásio, a pesar de sua excelente infra-estrutura. Todos os ginastas foram selecionados pela FCG e, ao menos de momento, não existe nenhum treinando de forma independente, ou seja, pagando ao CAR para poder usar as instalações, a pesar de que o regulamento da instituição permita este tipo de atividade. Estes ginastas que treinam no CAR continuam representando seus clubes de origem nas competições estaduais ou inter-clubes. A política atual da FCC inclui ajudas econômicas (bolsas simbólicas) aos clubes por cada ginasta aportado ao CAR, reconhecendo de alguma forma sua importância no processo de formação de base (iniciação) da GAM e na captação de novos ginastas no âmbito escolar. Dado os limites deste artigo os detalhes da formação e experiência dos profissionais que formam o corpo técnico não foram incluídos29. Todos os técnicos trabalham diariamente na sala, tanto na sessão da manhã como pela tarde. A pesar de que desde o primeiro dia de sua incorporação na sala os técnicos tentem preparar os ginastas para que sejam capazes de treinar de forma autônoma e seguindo estritamente o programa, sua presença é imprescindível. No caso de que um dos técnicos não possa estar presente um dos seus companheiros assume a responsabilidade do seu grupo de ginastas, mantendo as atividades planejadas pelo técnico original. Em poucas oportunidades presenciamos a ausência de um dos treinadores, no entanto, nos momentos que isso ocorreu a aparente autonomia dos ginastas se demonstrou frágil e relativa. Esta dificuldade em treinar de forma autônoma contraria o discurso dos técnicos e dos demais membros do corpo técnico.Talvez este seja um dos aspectos que deveriam ser melhorados na dinâmica de treinamento.Tomando emprestadas as palavras de um ginasta junior: “Entrenar con nuestro entrenador es mucho mejor, sin él es diferente. Con él nos sentimos más orientados, aunque conocemos muy bien la planificación, aquella que está colgada en el tablón. Además, él está para cobrar empeño, marcar los fallos, así que particularmente prefiero que esté presente.” Em suma, a estrutura social do Ginásio está organizada hierarquicamente e nela todos sabem exatamente o papel de devem desempenhar, assim como seus poderes, deveres, responsabilidades, etc. O mundo simbólico: o Ginásio como um templo amorosiano 330 {Técnico motricidade3vol1111.indd 67 10-06-2007 20:45:21 Da mesma maneira que muitos estádios de futebol são considerados espaços sagrados pelos jogadores e/ou torcedores, segundo afirma Morris23, o Ginásio é considerado pela maior parte de seus usuários um “santuário” ou um “território sagrado”. O conceito de “santuário” não pode ser confundido com o utilizado por Wacquant22, apesar de que, de certa forma o Ginásio de GAM também funciona como um lugar de “pacificação e proteção” tratado com respeito por seus usuários. Para entender esta concepção, devemos refletir sobre a origem dos Ginásios, momento em que estes lugares eram “proibidos” para a maior parte da população, um espaço que reunia os militares e a aristocracia civil e que agora alberga a elite esportiva. Neste sentido, a sociedade vê com “admiração” aqueles que logram entrar no interior dos Ginásios de treinamento, seja como guerreiros nos séculos anteriores ou como esportistas na atualidade, pois se convertem em representantes da nação e alguns deles chegam a atingir status de ídolos sociais, como comenta Padiglione24. Além disso, a sala é sagrada porque representa um espaço fundamental para o desenvolvimento da GAM e também para a vida de seus protagonistas (espaço onde passam a maior parte de seu tempo), um lugar respeitado por seus usuários como se fosse sua própria casa. A sala é freqüentada quase exclusivamente pelos ginastas e pelo corpo técnico, um lugar de difícil acesso a qualquer outra pessoa que não pertença a este coletivo. Trata-se de um lugar que representa um ícone para a GAM catalana e espanhola, um refúgio para a elite deste esporte, um espaço destinado a uns poucos privilegiados e ao que muitos desejam poder incorporar-se. Uma sala localizada dentro de uma instituição de referência internacional, como é o caso do CAR de Sant Cugat, e que conseqüentemente possui um status privilegiado no contexto ginástico espan- hol. Um espaço “fechado”, “semi-público” por limitar o acesso de pessoas alheias, protegido do mundo exterior tanto arquitetonicamente como política e simbolicamente, impregnado por um peculiar cheiro de magnésio, repleto de aparelhos ginásticos oficiais e alternativos destinados única e exclusivamente à preparação dos esportistas. Uma “bolha” (“burbuja” em espanhol), conforme relatam seus próprios protagonistas, que durante longos anos “isola” estas pessoas buscando dar a tranqüilidade e a intimidada necessária para alcançar seu grande objetivo: a forja de campeões. “El Gimnasio es como una burbuja para mi, esto es una burbuja. Porque esto me ha sacado de muchos problemas, me ha desconectado mucho de ellos. Le llamo burbuja al centro porqué cuando sales hay otro ambiente, esto es, otra vida.” (Jonny, pseudônimo de um dos ginastas seniores. Nota extraída do Diário de Campo). O isolamento produzido pelo Ginásio não é um fenômeno contemporâneo. Francisco Amorós e seus colaboradores defendiam, desde o principio do reinado dos Ginásios, como espaço ideal para o adestramento corporal e moral do homem (soldado, obreiro ou esportista, a importância de que a sala tivesse esta característica, protegendo e defendendo seus membros das “tentações” do mundo exterior e ao mesmo tempo fazendolhes submergir nos valores da cultura militar26. Uma posição semelhante à defendida pelo exército na atualidade27,28. A tranqüilidade desejada pelos fundadores do império dos Ginásios fechados segue cobrando vida na sala que tivemos a oportunidade de estudar. Este “isolamento”, na opinião das pessoas que dão vida a este espaço representa um aspecto positivo que torna possível o desenvolvimento normal das atividades de treinamento, mesmo ao tornar-se uma situação difícil de assimilar e que provoca um grande impacto na personalidade dos internos considerando as necessidades humanas de relação com 331 {Técnico motricidade3vol1111.indd 68 10-06-2007 20:45:22 A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro. Marco Antonio Coelho Bortoleto o mundo exterior. Por tudo isso, podemos dizer que a domesticação do homem esportista, neste caso do ginasta, se faz também pela delimitação do espaço, pela instauração de um “ghetto” ou de um “círculo seleto” de pessoas, protegido contra as interferências do mundo exterior e que evolui a partir de “unas experiencias producidas dentro del propio grupo”, segundo nos contaram os protagonistas. Um século e meio depois da aparição dos primeiros ginásios para o “adestramento militar”29, nos deparamos com uma realidade na qual o Ginásio continua sendo um espaço regido pelos valores da centenária cultura ginástica. As raízes militares desde tipo ambiente ainda sustentam a dinâmica de funcionamento do Ginásio do CAR, e conseqüentemente as atividades no seu interior continuam marcadas pela repetição incansável, pela luta contra a preguiça, e pela necessidade de vencer os limites. O treinamento brinda diariamente uma homenagem à disciplina que envolve a ginástica desde seu nascimento, controlando o espaço, o tempo, os corpos e as condutas de forma estrita, da mesma forma que observou Bailleau30 na Ginástica Rítmica. Tudo isso nos leva a relembrar que a origem deste esporte se embasou nos princípios da educação marcial, nutrindo-se da pedagogia militar e da racionalização. Um modelo que, conforme pudemos comprovar “in situ”, continua imperando apesar da “desmilitarização” que viveu o esporte ao longo do século XX31. Estes argumentos se ilustram mais claramente quando testemunhamos como alguns aparelhos usados na preparação dos ginastas, como a corda fixada no teto da sala, os espaldares ou o próprio cavalo com alças (inspirado no animal símbolo do adestramento marcial), resistiram ao passo do tempo, tratando de mostrar à modernidade que parte fundamental da essência da ginástica é o conservadorismo, ou seja, a importância da tradição e de um trabalho fundamentado por um método consolidado e respaldado pela experiência acumulada. Contrapondo o notório avanço tecnológico vivido nos últimos 50 anos pela GAM (tanto a nível material como técnico), que teve como expoente máximo a invenção das “plataformas” modernas de salto, a cultura de preparação ginástica vivida dentro do Ginásio estudado manteve diversas características típicas da cultura militar. A titulo ilustrativo podemos mencionar alguns resquícios da formalidade marcial especialmente referente ao trato (relação) interpessoal, como por exemplo, o comprimento (saudação) “espontâneo” (um aperto de mãos) que os ginastas realizam ao cruzar com um companheiro mais velho ou com um técnico, ou na necessidade de solicitar a autorização do técnico para poder exercitar-se, beber água ou ir ao banheiro (casa de banho). Apesar de que utilizamos o termo “espontâneo”, o comprimento que realizam os ginastas respeito aos técnicos e/ou a seus companheiros mais velhos parece ter muito pouco de espontaneidade, sendo um comportamento que obedece a uma regra (pacto oral) “imposta abertamente” na sala, conforme afirma um dos técnicos ao ser entrevistado. Lembramos que os militares são obrigados a cumprimentar (ou reverenciar) os mandos e as autoridades de maior graduação, um comportamento semelhante ao observado na sala28. Mencionar também que, “contrato social” é um termo inspirado em Rousseau, uma normativa oral que organiza a atividade na sala e que deve ser obedecida de maneira estrita. Esta pesquisa também revela que o treinamento consiste num processo altamente individualizado, embasado na reprodução obediente e pouco reflexiva, sob um modelo “impositivo” de ensino (inspirado na terminologia de Muska Mosston), uma estratégia empregada nos contextos militares descritos por Zulaika28 e Anta27. 332 {Técnico motricidade3vol1111.indd 69 10-06-2007 20:45:22 Finalmente, comentar que a labor dos treinadores, representa uma verdadeira pedagogia da conduta motora (termo cunhado por Pierre Parlebas), concentrando todos seus esforços em aproximar a conduta motora dos ginastas aos estereótipos motores que estabelece o regulamento da GAM. Uma formação que modificará para sempre a personalidade de todos os implicados neste processo e que pode inclusive, desde a perspectiva competitiva, hiper-especializar os ginastas em um ou dois aparelhos seguindo a tendência deste esporte na atualidade. Discussão “Los gimnastas se preparan para ser máquinas. Para ser buenos gimnastas cuando más máquinas mejor. No hay que tomar decisiones, no hay que pensar, hay que reproducir un mismo patrón técnico de movimiento. Cuanto más exacto lo vas haciendo en el entrenamiento mejor, más parecido al patrón; siempre igual” (Joaquim, psicólogo). Depois de séculos de evolução, o Ginásio continua sendo um contexto fundamental e legítimo para a prática da GAM, um espaço encarregado de preservar a hegemonia e a tradição do sistema de valores que formam a cultura ginástica. Obviamente devemos considerar que vivemos novos tempos, com distintas ofertas esportivas, expectativas sociais também diferentes, rápidos avanços tecnológicos e uma importante evolução da cultura esportiva em geral, e, por estes motivos, os espaços fechados, como é o caso do Ginásio do CAR de Sant Cugat, resultam pouco atrativos, e talvez uma barreira para o processo de incorporação de novos adeptos, como já mencionamos. Isto não significa que negamos a conveniência e a idoneidade do Ginásio como espaço destinado à prática da GAM. Obviamente somos conscientes que a lógica deste esporte exige que os ginas- tas treinem diariamente em condições excelentes, com certa reserva de intimidade e tranqüilidade, algo que o Ginásio oferece sem sombra de dúvida. No entanto, para aqueles ginastas que freqüentam a sala diariamente se poderia, por exemplo, programar alguns treinamentos fora da sala, em espaços abertos, com outro ambiente e com estímulos motivacionais novos, atividades que em Sant Cugat os técnicos começam a realizar com êxito, ainda que em menor quantidade da que acreditamos necessária. A pesar que a direção impositiva vêm sendo hegemônica até este momento na forma de conduzir os treinamentos ginásticos, entendemos que se poderia lograr uma melhor comunicação entre os protagonistas, estimulando as situações reflexivas e a conscientização da lógica de todo o processo ao que estão submetidos e suas conseqüências. Em sumo, defendemos que podem existir sistemas de treinamento mais flexíveis, ao menos nos aspectos comunicativos, que permitam certas atitudes reflexivas (mais humanas, sensíveis e menos mecânicas-racionais), que logrem os mesmos resultados que o modelo impositivo vem conseguindo atualmente. Vimos que a carga simbólica que ressalta a cultura ginástica é uma autêntica homenagem a tradição, ao conservadorismo e a formalidade. O treinamento é uma prática engendrada pela razão, influenciada pelo conhecimento científico, que modela a motricidade dos ginastas de forma positiva, que pretende construir um corpo musculoso, um homem máquina e ao mesmo tempo elegante. Para concluir queremos dizer que num futuro próximo pretendemos seguir aperfeiçoando este “modelo de leitura e compreensão” da cultura de treinamento da GAM e posteriormente poder aplicá-lo em Ginásios de diferentes localidades e/ ou países e assim estabelecer comparações com a realidade que acabamos de apresentar. Também 333 {Técnico motricidade3vol1111.indd 70 10-06-2007 20:45:22 A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro. Marco Antonio Coelho Bortoleto vislumbramos a possibilidade de estudar este fenômeno em distintos níveis de prática, como por exemplo no esporte de base, e também na modalidade feminina, para poder estabelecer diferentes tipos de comparações e paralelismos. Correspondência: Marco Antonio Coelho Bortoleto Rua Domingos Bonato, 57b Jardim Santa Genebra II Campinas – SP - CEP: 13084-785 - Brasil 334 {Técnico motricidade3vol1111.indd 71 10-06-2007 20:45:22 Referências 1. Geertz, C. (1989b). La interpretación de las culturas. Editora Gedisa, Barcelona. 2. Smoleuskiy, V. e Gaverdouskiy, I. (1991). Tratado General de Gimnasia Artística Deportiva. Editora Paidotribo, Barcelona: 22. 3. Medina, F. X. e Sánchez, R. (eds.) (2003). Culturas en juego: ensayos de antropología del deporte en España. Instituto Catalão de Antropologia (ICARIA), Barcelona: 31. 4. García Ferrando, M., Puig, N. e Lagardera, F. (org.) (2002). Sociología del deporte. 2º edição actualizada, Editora Alianza, Madrid. 5. Acuña, A. D. (1994): Fundamentos socioculturales de la motricidad humana y el deporte. Universidad de Granada, Granada. 6. Rodríguez, G. G. et. al. (1996): Metodología de la Investigación Cualitativa. 2º ed., Editora Aljibe, Archidona (Málaga): 23. 7. Blanchard, K., e Taylor, A. C. (1986): Antropología del deporte. Editora Bellaterra, Barcelona. 8. Ogbu, John U. (1981). Etnografía escolar: una aproximación a nivel múltiple. Anthropology and Education Quarterly,Vol. XII, nº 1: 3-29. 9. Wolcott, H. F. (1985): Sobre la intención Etnográfica. Revista Educational Administration Quarterly,Vol. XXI, nº 3: 187-203. 10. Wilcox, K. (1982). La etnografía como una metodología y su aplicación al estudio de la escuela: una revisión. In Spindler, G. (1982): Doing the Ethnography of Schooling. Educational Anthropology in Action, Holt, Rinehart and Winston, NY: 465-488. 11. Woods, P. (1986). La escuela por dentro: La etnografía en la investigación educativa. Editora Paidós, Barcelona. 12. Woods, T. S. (1998). Investigación Etnográfica en la escuela. Editora Paidos, Madrid. 13. Elias, N. (1987): El proceso de la civilización. Investigaciones sociogenéticas y psicogenéticas, México, DF. 14. André, M. D. A. (1995): Etnografia da Prática Escolar. Editora Papirus, Campinas. 15. Mata, D. (2001): Hacia una especialización en antropología de campo: la etnografía del deporte. Revista Apunts, INEFC Barcelona, n. 63, p.6-14. 16. Triviños, A. S. (1992): Introdução à Investigación em Ciências Sociais: A Investigación Cualitativa em Educação; O Positivismo, A Fenomenologia e o Marxismo. Editora Atlas, São Paulo. 17. Geertz, C. (1989a). El antropólogo como autor. Editora Paidós Ibéria, Barcelona. 18. Lüschen, G. e Weis, K. (1976). Sociología del deporte. Editora Miñon,Valladolid. 19. Anzieu, D. e Martin, J. (1971). La dinámica de los grupos pequeños. Editora Kapelusz, Buenos Aires. 20. Féderation International de Gymnastique (FIG) (1985). Symposium International Sur Le Jury. FIG, Roma, junho: 24-26. 21. Leglise, M. (1985). Some medical observations on the development of high level gymnastics. Revista World Gymnastics, FIG and AIPS Press, Budapest, n. 23: 27. 22. Wacquant, L. J. (1995). Protección, disciplina y honor. Una sala de boxeo en el ghetto americano. Tese de doutorado, University of Berkeley: 9. 23. Morris, D. (1982): El deporte rey. Editora Argos Vergara, Barcelona: 19, 31. 24. Padiglione,V. Antropología del deporte y del ocio. In: Prat, J. e Martínez, A. (1996). Ensayos de antropología Cultural. Editora Ariel, Barcelona: 395-405. 25. Bortoleto, M. A. C. (2004). La lógica interna de la Gimnasia Artística Masculina (GAM) y estudio etnográfico de un Gimnasio de alto ren- 335 {Técnico motricidade3vol1111.indd 72 10-06-2007 20:45:22 A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro. Marco Antonio Coelho Bortoleto dimiento.Tese de doutorado. INEFC, Universitat de Lleida. 26. Soares, C. L. (1994). Educação Física – Raízes Européias e Brasil. Editora Autores Associados, Campinas. 27. Anta, J. F. (1990). Cantina, garita y cocina: Estudio antropológico de soldados y cuarteles. Editora Siglo XXI, Madrid. 28. Zulaika, J. (1989). Chivos y soldados: la mili como ritual de iniciación. La primitiva Casa Baroja, Madrid. 29. Soares, C. L. (1998). Imagens da Educação no Corpo. Autores Associados, Campinas. 30. Bailleau, L. (2004). La construction de l´Ensemble France, approche ethnographique en gymnastique rythmique. Anais do 4. Colloque International de l´Afraga. Universidad de Picardie, Amiens: 26. 31. Simonet, P. et. al (2003). L´empreinte de Joinville: 150 ans de sport 1852-2002. INSEP, Paris. 32. Bailleau, L. (2001). La culture gimnique: une ethnographie d´un groupe de haut niveau. Dissertação de mestrado. Universidade de Orleans. 33. Mata, D. (2004). Un estudio etnográfico sobre el voley playa. Revista Apunts Educación Física, INEFC Barcelona, nº. 75, Barcelona, p. 519. 34. Rubio, K. (2001). O atleta e o mito do herói: o imaginário esportivo contemporáneo. São Paulo, Editora Casa do Psicólogo. 35. Generalitat de Catalunya (2003). Catalunya, un país esportiu. Generalidad de Cataluña, Departamento de Cultura, Barcelona. 336 {Técnico motricidade3vol1111.indd 73 10-06-2007 20:45:22 Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos. Tathiane Tavares de Almeida1 e Marcelo Nogueira Jabur1 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) – Ribeirao Preto- São Paulo- Brasil. 1 Almeida, T. T.; Jabur, N. M.; Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos. Motricidade 3(1): 337-344 Resumo Abstract Este artigo procura observar o posicionamento da comunidade científica sobre o tema flexibilidade e alongamento, no que diz respeito às questões de eficiência na preparação para executar exercícios físicos, no processo de recuperação após treinos intensos e, a discussão sobre a interferência do treinamento desta capacidade na reabilitação ósteo-músculo-articular. Inúmeros são os estudos realizados que afirmam diversos benefícios e prejuízos dos exercícios de alongamento e ganhos de flexibilidade. Quanto à prevenção de lesões, muitos são os autores que defendem a idéia de que o alongamento tem uma importante ação preventiva. Porém, podemos observar que a maioria dos que são a favor desta idéia, destacam o alongamento como parte importante do treinamento e não como sendo apenas alguns exercícios preparatórios antes do treino. Em se tratando de exercícios de alongamento após esforços físicos, parece que o ideal são exercícios moderados de alongamento para evitar um encurtamento muscular, não devendo, portanto, serem utilizados exercícios visando ganhos de flexibilidade, pois o músculo fatigado não pode responder prontamente ao reflexo de proteção. No tratamento das lesões do tecido conjuntivo, o alongamento está indicado para recuperação do comprimento normal do tecido, não sendo mencionada nenhuma vantagem em grandes ganhos de flexibilidade. Myths and trues about flexibility: reflections about the stretch training in the health of human being This article aims to address the views of the scientific community in regard to flexibility and stretching concerning the efficiency of preparation to perform physical exercises, the recovery process after intense training activities, and the analysis of the influence of training such skills on osteomuscular and articulatory rehabilitation. Innumerable studies have been conducted which demonstrate the benefits and harms of stretching and flexibility-gain exercises. In regard to the prevention of lesions, a number of authors maintain that stretching plays an important preventive role. However, it can be noticed that most of those who support this idea highlight stretching as an important part of training, instead of just a few preparation exercises prior to training. As far as stretching following physical strain is concerned, it seems that moderate stretching is ideal in order to prevent adaptive muscle shrinking. Therefore, stretching strained muscles with a view to gaining flexibility should not occur because fatigued muscles cannot promptly respond to the protective reflex. In treating lesions of the connective tissue, stretching is recommended for recovery of its normal length, whereas no advantages to flexibility gains are reported. Palavras-chave: alongamento, flexibilidade, hipomobilidade, hipermobilidade. Key words: stretching, flexibility, hipomobility, hipermobility. Data de submissão: Setembro 2005 Data de Aceitação: Dezembro 2006 337 {Revisão motricidade3vol1111.indd 74 10-06-2007 20:45:22 Introdução Alongamento é o termo usado para descrever os exercícios físicos que aumentam o comprimento das estructuras dos tecidos moles e, conseqüentemente, a flexibilidade. O autor também considera flexibilidade como a capacidade física responsável pela máxima amplitude de movimento músculoarticular de uma ou mais articulações sem o risco de lesão 1. A flexibilidade é tão importante para atletas como para pessoas sedentárias. Uma vez que a amplitude articular de determinada articulação esteja comprometida, alguma limitação se manifestará e poderá comprometer o desempenho esportivo, laboral ou de atividades diárias. Os exercícios de alongamento tendem a restabelecer níveis satisfatórios de mobilidade articular e reduzir tensões musculares, resultando numa melhor mecânica articular 2. No indivíduo sadio, a amplitude articular é influenciada pelos ligamentos, comprimento dos músculos e tendões, e tecidos moles. Já em pessoas com limitações patológicas, os problemas podem ser agravados por processos inflamatórios, redução da quantidade de líquido sinovial, presença de corpos estranhos na articulação e lesões cartilaginosas 2 . Os hábitos posturais estão intimamente ligados à limitação da amplitude articular, da extensibilidade dos músculos e da plasticidade dos ligamentos e tendões. A correção postural e o aumento da amplitude articular, além de ter efeito relaxante, colaboram na tomada de atitudes corporais mais confortáveis tanto na prática de exercícios quanto nos movimentos diários naturais além de promover o alívio de tensões musculares. Segundo a Associação Americana de Medicina Desportiva, exercícios de alongamento provocam o relaxamento muscular, o que faz aliviar dores causadas pelo estresse muscular do treinamento, além de aumentar a sensação de bem-estar melhorando o humor dos indivíduos 3. Baseado nos dados contraditórios apresentados com relação à eficiência e ao papel da flexibilidade sobre o tratamento de algumas lesões, os efeitos recuperadores dos alongamentos pós-exercícios, bem com, da possível interferência do treinamento de flexibilidade sobre a prevenção de lesões, ressalta-se o objectivo deste trabalho como sendo o de analisar, através de um trabalho de revisão de literatura, os efeitos dos exercícios de alongamento sobre a saúde dos seres humanos, procurando esclarecer a verdadeira importância e quais os reais ganhos que tais exercícios podem proporcionar. Alongamento e prevenção de lesões O uso de exercícios de alongamento para aumentar a flexibilidade é, geralmente, baseado na idéia de que ele pode diminuir a incidência, a intensidade ou a duração da lesão músculo tendinosa e articular. Uma extensibilidade articular mínima parece ser vantajosa em alguns esportes e atividades para prevenir a distensão muscular. Em outras palavras, parece ser uma amplitude de flexibilidade ideal ou favorável que irá prevenir a lesão quando os músculos e articulações forem superalongados acidentalmente 4. Estudos realizados com jogadores de futebol 5, não encontraram relações estatisticamente significativas entre flexibilidade estática e lesões de todos os tipos. Diversos estudos e revisões, não puderam estabelecer uma correlação entre a flexibilidade e a prevenção de lesões nos esportes 5. Os estudos são conflitantes, mas isso não quer dizer que não exista uma contribuição nesse sentido. É importante saber que as lesões esportivas decorrem de uma série de factores. Para alguns autores 6 o trabalho da flexibilidade auxilia na prevenção das lesões. Uma grande amplitude de movimento, além de prevenir lesões, economiza energia 7. O alongamento protege as juntas e músculos contra danos, pois melhora o suprimento sanguíneo nessas estructuras mantendo-as saudáveis, além de ajudar a aquecer os músculos preparando-os para 338 {Revisão motricidade3vol1111.indd 75 10-06-2007 20:45:22 exercícios mais intensos 18. Entretanto, aconselhase não realizar alongamentos, passivos, próximo de um esforço, pois, eles são fontes de pernas “moles”, “pesadas” e de lesões 8. Porém, é importante lembrar que tal resposta (esse enfraquecimento muscular) é de curta duração, pois, a longo prazo, além de não haver diminuição de força muscular com os exercícios de alongamento, estes podem favorecer os exercícios de força 9. O alongamento dos músculos retraídos após seu aquecimento geral é uma das precauções a serem tomadas para reduzir o risco de lesão (distensão muscular), pois um programa destinado a prevenir distensões musculares deve incluir exercícios com pesos, flexibilidade balanceada, aquecimento e atenção aos níveis de fadiga 10. Um grupo muscular forte e alongado é mais funcional, podendo trabalhar mais intensamente com menos possibilidade de lesões 9. Porém, os exercícios de alongamento que envolvem forte tensão muscular podem tornar-se prejudiciais, caso as estructuras de suporte de uma articulação e a força dos músculos ao seu redor sejam insuficientes para mantê-la estável. E ainda ressalta que tais exercícios provocam deformação plástica não devendo ser realizados diariamente, pois requerem tempo para recuperação do tecido 9. O alongamento é utilizado como um dos factores para prevenção de lesões 11. Dados combinados de cinco estudos que comparavam o alongamento e outros caminhos para prevenir danos no treinamento concluiu que pessoas que alongavam, não estavam nem mais nem menos suscetíveis a sofrer danos que a flexibilidade aumentada supostamente prevenia; porém, outra pesquisa, citada pelo mesmo autor, demonstrou que o aquecimento, que aumenta o fluxo de sangue através do músculo e o torna mais pronto para responder ao exercício, pode reduzir o risco de lesões, assim como o fortalecimento e o treino balanceado 12. Não foram encontradas evidências suficientes para comprovar que o alongamento previne lesões, mas, destaca-se a importância do alongamento no dia-a-dia de pessoas que passam muito tempo em frente ao computador ou dentro do carro paradas 13 . Um estudo feito com 901 recrutas da Força militar do Japão, concluiu que o alongamento estático diminui a incidência de lesões musculares e tendinosas bem como lesões por overuse, porém, neste mesmo texto, o autor cita um artigo de revisão sobre este tema cuja conclusão foi que o alongamento antes do exercício não reduz a incidência de lesão muscular 14. Pode ser um efeito meramente psicológico que faz com que a maior parte das pessoas envolvidas com esporte acredite que o aumento da flexibilidade diminui as lesões. Talvez seja um sincero desejo de acreditar em alguma coisa que faça sentido. Porém deve ser reiterado que estudos controlados que comprovem que o aumento da flexibilidade previne lesões não existe 15. Todavia, no treinamento de sedentários e atletas, com o aumento da flexibilidade e da resistência muscular localizada, os riscos de lesões em algumas articulações diminuem consideravelmente, apesar do aumento da carga de trabalho a que aquelas pessoas são submetidas em função do progresso do treinamento 15. Portanto, observa-se que, basicamente, os autores que partiram de experiências de laboratório discordam da idéia de que o alongamento previne lesões, ao passo que os autores que puderam contar com a vivência prática são árduos defensores do contrário 15. Alongamento pós-exercício Na década de 60 foram realizados inúmeros experimentos por meio de alongamento estático, após exercícios físicos e verificou-se redução da atividade eletromiográfica e da dor muscular 9. Porém, um estudo realizado em 1989, não confirma os resultados benéficos do alongamento estático ou do aquecimento na dor muscular tardia. O esforço 339 {Revisão motricidade3vol1111.indd 76 10-06-2007 20:45:22 Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos. Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur físico provoca isquemia e esta, ao menos em parte, ocasiona a dor muscular. Entretanto, somente a isquemia não causa dor e o acúmulo de ácido lático não parece ocasionar a dor, pois pessoas com síndrome de MacCardle, incapazes de produzir ácido lático pela deficiência de miofosfolirase, apresentam dor isquêmica numa extensão maior que pessoas normais 9. Os exercícios de alongamento no final do esforço físico tem por objectivo evitar o encurtamento muscular, devido às fortes e sucessivas contrações musculares ocasionadas pelo treinamento, enquanto que antes do esforço físico, o alongamento tem a finalidade de preparar o conjunto músculo-articular para efetivar o alcance habitual de movimento. Porém, há um consenso entre os pesquisadores de que ocorre aumento da sensibilidade dos fusos musculares após os esforços máximos desportivos. Isso sugere que não se utilize o método de flexibilidade ativo após o esforço físico pois, além de o cansaço influir na redução da força dos músculos agonistas, ocorrem mudanças no tráfego do impulso neuromotor com prejuízo na coordenação de direcção, o que enfraquece a técnica do exercício de alongamento. E ainda, o músculo fatigado não pode responder prontamente ao reflexo de proteção neuro-muscular. Mesmo assim, há autores que preconizam 5 a 10 minutos de resfriamento após esforços intensos, com exercícios físicos leves de corrida e ciclismo, terminando o treino com exercícios de alongamento 16. Hipermobilidade e hipomobilidade Com o passar dos anos, o nível de flexibilidade tende a diminuir e com isso aumentam os riscos de lesões (como distensões musculares), dores, problemas posturais, e a realização de atividades diárias 2 . Porém, a flexibilidade excessiva pode provocar instabilidade articular gerando: entorses articulares, osteoartrite e dores articulares 2. A hipermobilidade pode ser tão incapacitante quanto a hipomobilidade. Ela pode manifestar-se em resposta a um segmento ou região relativamente menos móvel (rigidez relativa) levando a uma movimentação excessiva que não pode mais ser controlada pelos músculos. Neste caso exercícios de estabilização que tentam limitar e controlar o movimento excessivo devem ser aplicados 17. Hipermobilidade deve ser diferenciada da instabilidade. A primeira se refere à frouxidão ou comprimento excessivo de um tecido, enquanto a segunda é uma amplitude de movimento excessivo para a qual não existe controle muscular de proteção. Uma precaução importante que deve ser adotada ao tratar áreas de hipermobilidade consiste em garantir a identificação das áreas de flexibilidade relativa. As técnicas de estiramento (alongamento) destinadas a aprimorar a mobilidade em uma área hipomóvel podem aumentar a hipermobilidade em uma área adjacente. As atividades devem progredir de conformidade com a capacidade do indivíduo em controlar os limites da estabilidade 10. A hiperflexibilidade pode ser benigna ou maligna. Será considerada benigna se não houver o sintoma de dor. Se for maligna ou desenvolvida às custas de microlesões e/ou instabilidade músculo articular, pode afastar o esportista do desempenho e conduzir a problemas ortopédicos e degenerativos, por suas conseqüências músculo-esqueléticas. Entretanto, esse tipo de problema não é muito comum na prática de esportes de alto nível, pois, esses esportistas acabam sendo eliminados antes de seu desenvolvimento completo, por lesão ou por deficiência no desempenho esportivo. Outra desvantagem consiste no facto de pessoas com articulações lassas apresentarem dificuldade no controle corporal, além de menor percepção corporal. Para essas pessoas recomenda-se exercícios de alongamento somente como um meio de aquecimento 9. Tratamento através do alongamento Quando uma pessoa inicia um programa de treinamento de flexibilidade, os possíveis benefícios são potencialmente ilimitados. A qualidade e 340 {Revisão motricidade3vol1111.indd 77 10-06-2007 20:45:22 a quantidade desses benefícios são determinados pelos objectivos do indivíduo e pelos métodos e técnicas usados para atingir esses objectivos 4. O movimento limitado produz restrições funcionais ou incapacidades observáveis, porém a dor produz limitações funcionais e incapacidade que nem sempre podem ser observadas por quem não está familiarizado. Ela é um componente da maioria das condições músculoesqueléticas. A dor aguda está associada com distensões musculares, tendinite, contusões ou lesões ligamentares, e costuma ser de curta duração. A dor crônica não é de curta duração e produz profundas alterações nos aspectos físicos, psicológicos e sociais na vida do paciente. Em geral a dor crônica é um grande componente de problemas como fibromialgia, síndrome de fadiga crônica, síndrome de dor miofascial e lombalgia 10. É necessário exercitar-se quando se sofre de dor crônica pois o exercício pode diminuir problemas como: inflexibilidade, perda de mobilidade ou fraqueza, que contribuem para a dor; prevenir as complicações musculoesqueléticas secundárias da dor, como fraqueza adicional, imobilidade e flexibilidade em outras articulações, entre outros. O tratamento da dor crônica é dirigido a fonte de dor e a quaisquer deficiências ou limitações funcionais músculo-esqueléticas, bem como a quaisquer problemas que podem ser prevenidos, identifìcados durante o processo de avaliação 10. O alongamento tem sido usado para diminuir dor e dureza muscular 18. O exercício também pode ser executado como uma estratégia de abstenção para reduzir ou prevenir o estresse indesejado. E, assim como o exercício foi verificado como sendo, imensuravelmente, terapêutico para muitas pessoas, provas empíricas indicam que programas de treinamento de flexibilidade individualizados podem ser benéficos da mesma forma 4. Os traumatismos podem causar um ciclo dorespasmo que ativam os nociceptores. Estes detectam a dor que produz uma atividade muscular reflexa que, se for prolongada, resulta em isquemia muscular. A isquemia excita os nociceptores musculares que perpetuam o espasmo muscular. A liberação de substâncias químicas no momento da lesão ou com o resultado da inflamação também pode estimular os nociceptores. A vasoconstricção associada com a resposta simpática ou aquela que resulta do espasmo muscular pode produzir dor 10. No tratamento de problemas relacionados à coluna vertebral A impossibilidade de movimentar uma articulação por causa da dor pode resultar em perda da mobilidade. Se um segmento da coluna vertebral se apresenta hipomóvel em virtude de uma lesão, o segmento é mais rígido e impõe mais resistência ao movimento que as articulações adjacentes. Quando se torna necessária a flexão, extensão ou rotação, as articulações adjacentes produzem a maior parte do movimento por causa da resistência a movimentação da articulação hipomóvel. Também, a rigidez dos músculos isquiotibiais é compensada com freqüência pela movimentação da coluna lombar, que irá exercer mais carga sobre a coluna. O alongamento dos músculos isquiotibiais minimiza o estresse exercido sobre a coluna e constitui a base para o estiramento dos isquiotibiais, uma abordagem usada por pessoas para combater a lombalgia. A menor mobilidade no quadril contribui para a lombalgia. A dor resulta da compressão dos elementos posteriores da coluna vertebral e subseqüente inflamação ao redor das raízes nervosas. Neste exemplo, os elementos de base são o encurtamento dos flexores e da cápsula articular do quadril exercendo tração sobre a pelve em uma inclinação anterior e o alongamento e enfraquecimento dos músculos abdominais, que se tornam incapazes de proporcionar uma contra-força suficiente. Nessa situação deve ser instituída uma intervenção capaz de aumentar o comprimento dos flexores do quadril e reduzir a rigidez na cápsula articular do quadril e de aprimorar o acionamento 341 {Revisão motricidade3vol1111.indd 78 10-06-2007 20:45:23 Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos. Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur neuromuscular e a resistência muscular dos músculos abdominais 10. O alongamento e o fortalecimento são uma medida preventiva e um tratamento para a dor lombar baixa 19. Ocorre também a diminuição da dor lombar baixa e ainda alívio do desconforto associado a osteoartrite e ciatalgia com exercícios de alongamento 18. Nas escolioses doloridas do adulto o alongamento muscular se revela extremamente útil para o benéfìco efeito antálgico (contra a dor muscular); o exercício de alongamento ainda revelou, além disso, bons resultados nos casos de hipercifose dorsal rígida 20. No tratamento da fibromialgia São sugeridos exercícios de alongamento como parte no tratamento de indivíduos com fibromialgia 10 (síndrome reumática, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor músculo-esquelética difusa e crônica e por sítios anatômicos específicos dolorosos à palpação 21). A eficácia dos exercícios de alongamento muscular na melhora do sintoma de dor e maior facilidade para a realização de atividade de vida diária em pacientes com fibromialgia são comprovados 22, porém, ainda permanece a sensibilidade dolorosa nos “tender points” (irritação nervosa local, que leva a uma contratura muscular acompanhada de dor de caráter duradouro) e conclui que a associação das terapias de TENS (estimulação elétrica nervosa transcutânea) e alongamento muscular, mais a melhora da consciência corporal, permitem melhorar, além da dor, a rigidez e a inflexibilidade encontrada nesses pacientes 21.Todavia, um estudo realizado na Reumatologia da Unifesp mostra que a simples caminhada pode ajudar essas pessoas mais do que o alongamento, que é o exercício físico mais indicado no tratamento convencional. De acordo com o autor, todas as pacientes, com o alongamento, tiveram uma melhora em algum aspecto. Já as que caminharam, melhoraram em todos os aspectos. Concluiu ainda que, o con- dicionamento físico aeróbio é superior ao alongamento na melhora da depressão, ansiedade, dor, função e qualidade de vida 23 . No tratamento das lesões dos tecidos conjuntivos O alongamento deve ser incorporado se o comprimento muscular é insuficiente para as demandas impostas à unidade músculotendinosa 10. Nos casos de recuperação após uma lesão tendinosa aguda, o alongamento é crítico para restaurar o comprimento normal do tecido 10. Ainda mais, o alongamento é um estímulo nos estágios iniciais de cicatrização para o alinhamento correto do colágeno. No tecido em fase de cicatrização, o alongamento delicado destinado a proporcionar um estímulo para a orientação das fibras sem ruptura do colágeno imaturo facilita o processo de remodelagem. Porém deve-se usar de muita cautela pois, o mesmo autor afirma que a amplitude de movimento e o alongamento passivo não são processos benignos e estão contra indicados caso o movimento afete o processo de cicatrização 10. Em se tratando de um programa de introdução à reabilitação, após reduzir as respostas agudas à lesão, o programa deve prosseguir com a amplitude precoce de movimento e exercícios ativos de fortalecimento e treinamento proprioceptivo, enfatizando necessidade de respeitar o ritmo de cicatrização de cada indivíduo 24. Parece que o alongamento nesses casos está mais para recuperação de amplitude de movimento funcional do que para verdadeiros ganhos (aumentos) de amplitude articular 24. Discussão Podemos perceber que os termos alongamento e flexibilidade são bem controversos a começar pelas suas definições. Há autores que consideram alongamento apenas como exercícios para manutenção da amplitude articular ou como parte de um aquecimento antes de se iniciar uma atividade física, 342 {Revisão motricidade3vol1111.indd 79 10-06-2007 20:45:23 outros já acreditam que o alongamento é uma forma de aumentar ou ganhar amplitude articular. Muitas das idéias a respeito dos diferentes assuntos que envolvem os efeitos dos exercícios de alongamento e ganho de flexibilidade, como prevenção de lesões, alívio de dor, alongamento pós-exercício, ainda não estão concluídas. Em se tratando de exercícios de alongamento após esforços físicos, parece que o ideal são exercícios moderados de alongamento para evitar um encurtamento muscular, não devendo, portanto, serem utilizados exercícios visando ganhos de flexibilidade, pois o músculo fatigado não pode responder prontamente ao reflexo de proteção. Quanto à prevenção de lesões, muitos são os autores que defendem a idéia de que o alongamento é eficiente neste sentido, assim como outros defendem que não existe comprovação científica neste assunto. Porém, podemos observar, que a maioria dos que são a favor da primeira idéia, destacam o alongamento como parte importante do treinamento e não como sendo apenas alguns exercícios preparatórios antes do treino. Para pessoas com hipermobilidade ou hiperflexibilidade, os exercícios de alongamento devem se resumir a apenas um meio de aquecimento. Nos casos de problemas relacionados à coluna (lombalgias, ciatalgias, escolioses), o alongamento mostra-se um importante factor de contribuição no equilíbrio músculo-esquelético desta, reduzindo as dores provenientes de um desequilíbrio entre força e alongamento muscular. No tratamento das lesões do tecido conjuntivo, o alongamento está indicado para recuperação do comprimento normal do tecido, não sendo mencionada nenhuma vantagem em grandes ganhos de flexibilidade principalmente em se tratando da fase de cicatrização do tecido, onde se preconiza apenas um alongamento delicado para direccionar o alinhamento correto das fibras de colágeno; em caso contrário, o alongamento não é considerado benigno. No tratamento da fibromialgia parece haver um consentimento geral de que o alongamento é benéfico no alívio da dor, porém há autores que acreditam que exercícios aeróbios são mais efetivos. Apesar dos inúmeros estudos e pesquisas nesta área ainda são necessários muitos outros a fim de proporcionar ferramentas precisas para educadores físicos trabalharem com segurança e alcançarem os resultados desejados na obtenção de saúde, reabilitação de determinadas patologias, performance esportiva e uma melhor qualidade de vida, pois, quando se trata de alongamento e flexibilidade, ainda existem muitas questões não esclarecidas devido a falta de estudos ou a resultados contraditórios dos estudos já existentes. O desenvolvimento de novos trabalhos científicos torna-se fundamental, no sentido de propiciar aos profissionais envolvidos com o treinamento da flexibilidade, um maior repertório de informações que os possa tornar mais críticos com relação à prescrição dos treinamentos de flexibilidade nas mais diversas áreas de atuação da Educação Física. Correspondência Tathiane Tavares de Almeida Rua Arnaldo Victaliano n.1800 apto.11 Iguatemi – Ribeirão Preto 14.091-220 [email protected] 343 {Revisão motricidade3vol1111.indd 80 10-06-2007 20:45:23 Mitos e verdades sobre flexibilidade: reflexoes sobre o treinamento de flexibilidade na saúde dos seres humanos. Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur Referências 1. Achour Júnior A. (1996) Bases para Exercícios de Alongamento Relacionado com a Saúde e no Desempenho Atlético. Londrina: Midiograf. 2. Marchand EAA.(2002) Condicionamento de flexibilidade. Disponível em: <http: //www.efdeportes.com/ > Revista Digital – Buenos Aires. 8(53). Octubre. Acesso em: 3 mar. 2004. 3. Primo D. (2004) Relação entre o treinamento de força e treinamento de flexibilidade. Disponível em: <http://www.cdof.com.br/along7.htm>. Acesso em: 3 mar. 2004. 4. Alter MJ. (1999) Ciência da Flexibilidade. Porto Alegre: Artmed. 5. Farinatti PTV. (2000) Flexibilidade e esporte: uma revisão de literatura. Rev Paul Ed Fís. 14(1):85-96. 6.Wilson GJ. (2004) Muscle: Stiffness and Flexibility: Implications for Performance Enhancement and Injury Prevention. Disponível em: <http://www.sportsci. org>. Acesso em: 3 mar. 2004. 7. Cunha FA. (2004) Características, importância e treinamento da flexibilidade no futebol. Disponível em: < http://www.cdof.com.br/futebol5.htm>. Acesso em 10 mar. 2004. 8. Geoffroy C. (2001) Alongamento para todos. São Paulo: Manole. 9. Achour Jr A. (2004) Flexibilidade e Alongamento: Saúde e Bem-estar, São Paulo : Manole. 10. Hall CM; Brody LT. (2001) Exercício Terapêutico na Busca da Função. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan . 11. Gomes AC; Monteiro GA;Vianna PM. (1997) Alongamento. Treinamento Desportivo. 2:91-94. 12. (2004). Study finds no evidence that stretching prevents injuries. Medical Letter on the CDC & FDA 25:24. 13. Deardorff J. (2004) When Stretching, Take It Easy, Don’t Simple Let’er Rip. Knight Ridder / Tribune News Service. April 16. 14.Amako M; Oda T; Masuoka K;Yokoi H; Campisi P. (2003). Effect of Static Stretching on Prevention of Injuries for Military Recruits. Mil. Med. 168. 15. Dantas EHM. (2003) A Prática da Preparação Física. Rio de Janeiro: Shape. 16. Achour Júnior A. (1997) Avaliando a flexibilidade: manual de instruções. Londrina: Midiograf. 17. Kisner C; Colby LA. (1998) Execícios Terapêuticos. São Paulo: Manole. 18. Bradford M. (2004) Lifestyle: The benefits of stretching. Europe Intelligence Wire 5. 19.Yessis M. (2004) Getting Spine – Specific With Stretching And Strengthening. Run & FitNews. 5(1):22. 20. Tribastone F. (2001) Tratado de Exercícios Corretivos Aplicados à Reeducação Postural. São Paulo: Manole. 21. Gashu BM; Marques AP; Ferreira EAG; Matsutani LA. (2001) Eficácia da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e dos exercícios de alongamento no alívio da dor e na melhora da qualidade de vida de pacientes com fibromialgia. Rev. Fisioter. Univ. São Paulo. 8:57-64. 22. Marques AP; Mendonça LLF; Cossermelli W. (1994) Alongamento muscular em pacientes com fibromialgia à partir de um trabalho de reeducação postural global (RPG). Rev .Bras. Reumatol. 34:232-4. 23. Valim V. (2004) Estudo dos efeitos do condicionamento aeróbio e do alongamento na fibromialgia. Disponível em: <http: //bases.bireme.Br/cgibin/wxislind. exe/iah/online>. Acesso em:10 mar. 2004. 24. Andrews JR; Harrelson G L;Wilk KE. (2000) Reabilitação Física nas Lesões Desportivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan . 344{Revisão motricidade3vol1111.indd 81 10-06-2007 20:45:23 { NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS 1. TIPOS DE PUBLICAÇÃO 2. PREPARAÇÃO E ENVIO DOS MANUSCRITOS 3. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS DE CASO 4. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE REVISÃO E ARTIGOS TÉCNICOS 5. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE OPINIÃO 6. ENDEREÇOS 1. TIPOS DE PUBLICAÇÃO. A Motricidade publica trabalhos relativos a todas as áreas das Ciências do Desporto e Ciências da Saúde ligadas com a actividade física, o desporto e o bem-estar físico e psíquico. São aceites os seguintes formatos para publicação: Artigo de Investigação, Artigo de Revisão, Estudo de Caso, Artigo Técnico e Artigo de Opinião. Para publicação de estudos de caso, a metodologia seguida deverá ser rigorosa e expressa no manuscrito. 2. PREPARAÇÃO E ENVIO DOS MANUSCRITOS. Os artigos submetidos à Motricidade deverão conter dados originais, teóricos ou experimentais, e a parte substancial do trabalho não deverá ter sido publicada anteriormente. Se parte do trabalho foi já publicado ou apresentada publicamente deverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimento. Os artigos serão, numa primeira fase, avaliados pelo Editor – chefe e terão como critérios iniciais de aceitação o cumprimento das normas de publicação, a relação do tópico tratado com as Ciências do Desporto e Ciências da Saúde e o seu mérito científico. Depois desta análise, o artigo, se for considerado pertinente, será avaliado por 2 revisores independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. A aceitação do mesmo por parte de um revisor e a rejeição por parte de outro obrigará a uma 3ª consulta. Concluído o processo de revisão, o autor principal será informado do resultado do processo. Três resultados são possíveis: aceitação, aceitação com alterações e rejeição. Os artigos deverão ser tão objectivos quanto possível e evitar o uso da especulação. Os artigos motricidade3vol1111.indd 82 serão rejeitados quando escritos em português de fraca qualidade linguística. O formato digital será obrigatoriamente em Microsoft Word do Windows XP. Os manuscritos deverão ser escritos em página A4 com 3 cm de margem, em letra Arial 12, com espaço de 1,5 linhas e com formatação justificada sem avanços ou espaçamentos de parágrafos. Não deverá ser usada letra maiúscula e as secções devem ser realçadas a negrito (bold). Tanto o texto quanto os quadros e figuras deverão ser a preto e branco. As páginas deverão ser numeradas sequencialmente, sendo a página de título a nº1. Os manuscritos não deverão conter notas de rodapé. Os Manuscritos deverão ser submetidos em suporte digital no formato acima descrito via correio electrónico. Para todos os tipos de publicação aplicar-se-ão estas regras de preparação e envio dos manuscritos. A submissão deve ser acompanhada por uma declaração que indique que caso o trabalho seja aceite para publicação, os autores do mesmo cedem os direitos de autor à Motricidade. Esta declaração deve igualmente atestar que o artigo nunca foi previamente publicado. 3. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS DE CASO. Os manuscritos deverão obrigatoriamente conter as seguintes secções. Página de título, contendo: • Indicação do tipo de publicação. • Título (conciso mas suficientemente informativo). • Título abreviado (limite de 45 caracteres). 10-06-2007 20:45:23 Página de resumo, contendo: • Dois resumos: um em Português e um em Inglês (Abstract), ambos com um limite de 200 palavras. • Três a seis palavras-chave (Key words no caso do Abstract). • No resumo e abstract, indicar os objectivos do estudo, a metodologia usada, os resultados mais importantes e as conclusões do trabalho (referências da literatura e abreviaturas devem ser evitadas). • Antes do abstract deverá ser indicado o título do trabalho em Inglês. Introdução • Deverá ser suficientemente compreensível, explicitando claramente o objectivo do trabalho e relevando a importância do estudo face ao estado actual do conhecimento. • A revisão da literatura não deverá ser exaustiva (aconselha-se um limite de 30 referências para artigos de investigação e estudos de caso). Metodologia • Esta secção deverá ser dividida em três subsecções: Amostra, Procedimentos e Estatística. • Nesta secção deverá ser incluída toda a informação que permite aos leitores realizarem um trabalho com a mesma metodologia sem contactarem os autores. • Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de fiabilidade. • Quando utilizados humanos deverá ser indicado que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia de 1975) ou que os mesmos foram aprovados por um Comité de Ética • Quando utilizados animais deverão ser utiliza- motricidade3vol1111.indd 83 dos todos os princípios éticos de experimentação animal e, se possível, deverão ser submetidos a um Comité de Ética. • Todas as drogas e químicos utilizados deverão ser designados pelos nomes genéricos, princípios activos e dosagem. • A confidencialidade dos sujeitos deverá ser estritamente mantida. • Os métodos estatísticos utilizados deverão ser referidos. • Fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser evitadas. { NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS • Nomes dos autores por extenso (nome próprio e até dois sobrenomes) sem referência a graus académicos. • Afiliação académica ou profissional dos autores (instituição de trabalho). • Nome e morada do autor para onde toda a correspondência deverá ser enviada. Resultados • Os resultados deverão apenas conter os dados que sejam relevantes para a discussão e serem apresentados preferencialmente sob a forma de quadros (tabelas) ou figuras. • O texto só deverá servir para realçar os dados mais relevantes e nunca replicar informação contida nos quadros (tabelas) ou figuras. • Os quadros (tabelas) e figuras deverão ser numerados em numeração árabe na sequência em que aparecem no texto. Os quadros não podem conter linhas verticais e devem ocupar a largura total do espaço de impressão da página. • O título dos quadros (tabelas) deverá aparecer no cabeçalho dos mesmos e o título das figuras aparecer no rodapé das mesmas. As abreviaturas usadas deverão ser explicadas em rodapé (em letra Arial tamanho 10) para ambos os casos. • Os quadros (tabelas) e figuras deverão ser submetidas com qualidade gráfica que possibilite a redução das suas dimensões e preferencialmente a preto e branco. • Os quadros (tabelas) e figuras deverão ser colocados no manuscrito. • As figuras deverão igualmente ser submetidas em ficheiros separados (um ficheiro por figura) em formato TIF ou JPEG com tamanho máximo de 200kb por ficheiro. • Unidades, quantidades e fórmulas deverão observar o Sistema Internacional (SI). • Todas as medidas deverão ser referidas em unidades métricas. Discussão • Os dados novos e os aspectos mais impor- 10-06-2007 20:45:23 tantes do estudo deverão ser indicados de forma clara e concisa e não deverão ser repetidos os resultados já apresentados. • Deverá ser efectuada uma comparação com a literatura. • As especulações não suportadas pelos métodos estatísticos deverão ser evitadas. • Sempre que possível, deverão ser incluídas recomendações. • A discussão deverá ser completada com um parágrafo final onde são realçadas as principais conclusões do estudo. Agradecimentos Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado publicamente deverá aqui ser referido o facto. Qualquer apoio financeiro ao trabalho deverá igualmente ser referido. Referências • As referências deverão ser citadas no texto por número (índice superior à linha), compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente na listagem final. Para Artigos de Revisão com mais do que 30 referências e para Artigos de Opinião, as referências poderão ser ordenadas pela sua citação no texto e não por ordem alfabética. Apenas quando for indispensável será aceite a indicação dos autores no texto. Neste caso, nas referências com mais do que dois autores será indicado apenas o nome do primeiro autor seguido da abreviatura “et al.”. • Na lista final de referências usadas todos os autores deverão ser indicados. • Os nomes das revistas deverão ser abreviados conforme as normas internacionais de indexação das mesmas. • Apenas artigos publicados ou em impressão (in press) poderão ser citados. Dados não publicados deverão ser utilizados só em casos excepcionais sendo assinalados como “dados não publicados”. • A utilização de um número elevado de resumos ou de artigos de publicações que não sejam sujeitas a um sistema de revisão científica (peerreviewed) será uma condição de não-aceitação. motricidade3vol1111.indd 84 Exemplos de referências Artigo de revista Heugas AM, Brisswalter J, Vallier JM (1997). Effet d´une période d´entraînement de trois mois sur le Déficit Maximal en Oxygen chez des sprinters de haut niveau de performance. Can J Appl Physiol 22 :171-181. Livro completo Altman DG (1995). Practical statistics for medical research. London: Chapman and Hall. Capítulo de um livro Hermansen L, Medbø JI (1984). The relative significance of aerobic and anaerobic processes during maximal exercise of short duration. In: Marconett P, Poortmans J, Hermanssen L (Eds). Physiological Chemistry of Training and Detraining. Basel: Karger, 56-67. 4. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE REVISÃO E ARTIGOS TÉCNICOS. Aplica-se o disposto anteriormente para os outros formatos de artigo, com excepção da organização por secções que deverá ser a seguinte. • Página de Título • Resumo e Abstract • Introdução • Desenvolvimento • Conclusões • Agradecimentos • Referências Para a página de título, resumo, abstract, introdução, agradecimentos e referências, bem como para a inclusão de quadros e figuras, aplica-se o disposto anteriormente. Desenvolvimento • O título desta secção ou de várias subsecções que a componham, deve ser específico para a temática que é apresentada e de livre escolha por parte dos autores. 10-06-2007 20:45:23 Conclusões • Nesta parte os autores devem apresentar uma súmula da informação transmitida, realçando a utilidade prática do trabalho e eventuais recomendações técnicas que derivem da informação que é apresentada. motricidade3vol1111.indd 85 5. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE OPINIÃO. Os artigos de opinião serão da autoria exclusiva de convidados pelos Editores da revista e versarão temáticas associadas com o Desporto. A sua organização em secções não é imposta aos autores e a sua avaliação será feita pelos directores da revista. Poderão socorrer-se ou basear-se em dados resultantes de investigação formal ou informal e de referências da literatura (aplicando-se neste caso as normas anteriormente definidas). Neste formato, não é exigido o Resumo e o Abstract, embora se estimule os autores à sua apresentação. Endereço electrónico para envio de artigos. [email protected] {NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS • Nesta secção é apresentada a informação essencial que o artigo permite transmitir. Pode socorrer-se de informação já publicada (obrigatório no caso de artigo de revisão) e apresentar informação própria dos autores não publicada (apenas admissível no caso de artigo técnico). Aconselha-se um limite de 30 referências para artigos de técnicos e de 60 referências para artigos de revisão. Aconselha-se igualmente um mínimo de 30 referências para artigos de revisão. O uso de citações integrais deverá ser evitado. Quando usado este tipo de citação, o parágrafo deverá estar tabulado a 3 cm para a direita e em letra Arial estilo itálico e tamanho 10. Nos artigos técnicos, embora não seja exigida a confirmação pelo método científico da informação apresentada, é aconselhável que os autores evitem uma linguagem especulativa e procurem objectividade na informação transmitida. A informação em texto pode ser completada com quadros ou figuras (sendo obrigatória a identificação da fonte quando não se tratem de originais). O título deste capítulo ou dos vários sub-capítulos que o compõem, deve ser específico para a temática que é apresentada e de livre escolha por parte dos autores. Endereço para correspondência FTCD – Fundação Técnica e Cientifica do Desporto Revista da FTCD Rua Eng. Duarte Pacheco, 11 4520-225 Sta. M.ª Feira Portugal Tel. 256 378 690 | Fax 256 378 692 | www.ftcd. org 10-06-2007 20:45:23