- Fundação Robinson

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- Fundação Robinson
 ISSN
1646-7116
PUBL I CAÇÕ E S D A F U N D AÇÃO R O B I N S O N
Famílias inglesas e a economia de Portugal
British families and the portuguese economy
4
PUBLICAÇÕES DA FUNDAÇÃO ROBINSON N.º 4
ROBINSON FOUNDATION PUBLICATIONS No. 4
Famílias inglesas e a economia de Portugal
British families and the portuguese economy
Portalegre, 2009 Portalegre, 2009
Fundação Robinson
Robinson Foundation
CONSELHO DE CURADORES
COUNCIL OF CURATORS
José Fernando da Mata Cáceres (Presidente) (Chair),
António Fernando Biscainho, Carlos Melancia, Jaime Azedo,
Joaquim Barbas, Nuno Oliveira, Luís Calado, Ana Pestana,
António Ventura, Filipe Themudo Barata
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
ADMINISTRATIVE COUNCIL
José Polainas (Presidente) (Chair), Helena Nabais, Ana Manteiga,
João Adolfo Geraldes, Joaquim Leal Martins
CONSELHOFISCAL
FISCAL COUNCIL
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José Escarameia de Sousa, António Escarameia Mariquito
ADMINISTRADORA DELEGADA
ASSISTANT ADMINISTRATOR
Alexandra Carrilho Barata
A correspondência relativa a colaboração,
permuta e oferta de publicações deverá ser dirigida a
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Fundação Robinson
Robinson Foundation
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COORDINATED BY
António Camões Gouveia
COORDENAÇÃO EDITORIAL
EDITORIAL COORDINATION
Há Cultura Lda.
Publicações da Fundação Robinson
Robinson Foundation Publications
CONSELHO CONSULTIVO
EDITORIAL BOARD
Amélia Polónia, António Camões Gouveia, António Filipe Pimentel,
António Ventura, Carlos Serra, João Carlos Brigola, Luísa Tavares Moreira,
Maria João Mogarro, Mário Freire, Rui Cardoso Martins
DIRECTOR
EDITOR
António Camões Gouveia
ADMINISTRAÇÃO DAS PUBLICAÇÕES
PUBLICATIONS ADMINISTRATOR
Alexandra Carrilho Barata
SECRETARIADO DE EDIÇÃO
PUBLICATION SECRETARY
Ana Bicho (Câmara Municipal de Portalegre) (Portalegre Town Hall)
TRADUÇÃO
TRANSLATED BY
David Hardisty (inglês) (english), Mónica Andrade (inglês) (english)
Pedro Santa María de Abreu (espanhol) (spanish)
AGRADECIMENTO
AKNOWLEDGEMENT
Museu do Douro (fotos) (photos): p. 77, 83, 91
REVISÃO
EDITING
Ana Bicho, António Camões Gouveia, Célia Gonçalves Tavares,
Jorge Maroco Alberto
IMPRESSÃO
PRINTED BY
Tipografia Lessa
DEP. LEGAL 315 956/10
ISSN 1646-7116
Na capa Cover : Rua Nova dos Ingleses – Porto/Oporto
Joseph James Forrester Março/March 1834
Gravura colorida/Colour print
78 x 96 cm
Colecção/Collection Feitoria Inglesa
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O olhar dos ingleses
The Eyes of the British
La mirada de los ingleses
Presidente do Conselho de Curadores | Chair of the Council of Curators
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Os Stephens da Marinha Grande
The Stephens of Marinha Grande
Los Stephens de Marinha Grande
Maria Leonor Machado de Sousa
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Phelps – percursos de uma família britânica
na Madeira de Oitocentos
The Phelps – paths of a British family in 19th century Madeira
Phelps – trayectorias de una familia británica en la Madeira decimonónica
Cláudia Ferreira Faria
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Os tempos e as gerações da família Kingston em Portugal:
a figura de William Henry Giles Kingston
The times and generations of the Kingston family in Portugal:
the figure of William Henry Giles Kingston
Los tiempos y las generaciones de la familia Kingston en Portugal:
la figura de William Henry Giles Kingston
Maria da Conceição Emiliano Castel-Branco
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A odisseia anglo-lusa do clã Warre –
das origens do vinho do Porto à actualidade
The Anglo-Luso Odyssey of the Warre Family –
from the origins of Port wine to the present day
La odisea anglo-lusa del clan Warre – de los orígenes
del Vino de Oporto hasta la actualidad
João Paulo Ascenso Pereira da Silva
74
Joseph James Forrester, defensor do Douro:
a obra do “estrangeiro-portuguez”
Joseph James Forrester, Champion of the Douro:
The Work of the ‘Portuguese-Foreigner’
Joseph James Forrester, defensor del Duero:
la obra del “estrangeiro-portuguez”
Maria Zulmira Castanheira
100
Quillinan – uma família irlandesa no Porto
Quillinan – an irish family in Oporto
Quillinan – una familia irlandesa en Oporto
Paulo Duarte de Almeida
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Síntese: resumos e palavras-chave
Abstracts and key-words
Resúmenes y palabras clave
Os olhares dos ingleses
The Eyes of the British
José Fernando da Mata Cáceres
PRESIDENTE DO CONSELHO DE CURADORES
CHAIR OF THE COUNCIL OF CURATORS
Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 4-5, ISSN 1646-7116
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A Fundação Robinson continua a trabalhar numa lógica que pode
parecer distante mas que facilmente se compreende se a submetermos
a um olhar mais atento. Quer seja na Cultura ou em todas as áreas em
que se vai construindo, a sua actuação tem sempre uma mesma direcção: criar movimentos do interior para o exterior e vice-versa.
O desafio repete-se constantemente, Olhar Portalegre a partir da
Fábrica e do seu mundo de famílias (dos Robinson aos Operários e
aos Novos Habitantes) e patrimonial (dos edificados às máquinas e
equipamentos industriais de várias épocas) e deixar que a cidade aí
se reflicta. E depois, é preciso estender esse Olhar, implicando nele,
sempre que possível, os nossos parceiros e os territórios limítrofes,
em particular Cáceres, Castelo Branco e Plasência, para um horizonte
mais longínquo e ainda mais prometedor.
Não vale a pena ir mais longe. Este número 4 das Publicações
da Fundação Robinson é disso um exemplo. Temos de compreender
melhor, inclusivamente estudar a Família Robinson em todas as suas
dimensões britânicas e de habitantes lusos em Portalegre.
Como começar? Pelos outros! Olhar as outras famílias inglesas
que andaram pelo país e aí se comprometeram em diversas actividades económicas, perceber o que fizeram e como viveram … Assim
foi feito, pela mão de grandes especialistas nacionais. Ao conhecer
melhor os outros, olhamos com outros olhos para a realidade de Portalegre e podemos avançar na investigação sobre os Robinson.
Aprendemos de quem sabe e, desta forma, numa continuidade
de percurso, crescemos em auto-conhecimento com o saber e viver
de outros, e continuamos a Olhar Portalegre com os nossos olhos e
pelos olhos dos outros.
Podemos dizer que concluímos da melhor forma o ciclo dos Seminários INTERREG Forum que aconteceram em 2006, 2007 e 2008.
Encerrado o programa INTERREG, deixa de fazer sentido continuar
com os seminários de 20 de Dezembro. Como tal, fechamos a época
dos “eventos” de Inverno e vamos procurar uma data para aparecer
com novas propostas.
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The Robinson Foundation continues to work in a way that may
seem distant but it is easily understood if we submit it to a closer
look. Whether with regard to Culture or the other areas that it is
establishing, its work is always headed in the same direction: establishing movement from the inside to the outside and vice versa.
The challenge is repeated constantly – Olhar Portalegre, Looking
at Portalegre from the Factory and its world of families (from the
Robinsons to the Workers and the New Inhabitants) and property
(from the buildings to the industrial machinery and equipment from
various periods) and letting the city be reflected back. One must then
extend this gaze whenever possible to involve both our partners and
the adjacent areas, particularly Cáceres, Castelo Branco and Plasencia, to obtain a broader and even more promising horizon.
Is it worth going further? Edition number 4 of the Robinson
Foundation Publications is an example of this. We have to understand
things better, by including in our study the Robinson family in all its
British dimensions as well as the Portuguese residents in Portalegre.
How to start? Through others! By looking at other British families who traversed the country and committed themselves to various
economic activities, to see what they did and how they lived ... This has
been carried out here by major Portuguese experts. By better understanding others, we can look with fresh eyes at the reality which is Portalegre and we can move forward in our research into the Robinsons.
We learn from those who know and, in this way, through our
ongoing path, we grow in self-knowledge from the wisdom and experience of others, and we continue our Olhar Portalegre, Looking at
Portalegre, with our eyes and through the eyes of others.
I think we can state that in this way we discovered the best way
to conclude the cycle of INTERREG Forum seminars that took place in
2006, 2007 and 2008. This has brought to an end the INTERREG programme, and with it the continuance of the 20 December seminars.
As such, we now close the winter programme of “events” and look for
a date to come up with new proposals.
Os Stephens da Marinha Grande
The Stephens of Marinha Grande
Maria Leonor Machado de Sousa
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 6-21, ISSN 1646-7116
Jane Smith, serviçal no castelo de Pentillie, em Landulph, na
Cornualha, registou William sem apelido de família, como
sendo filho de pai incógnito, no dia 20 de Maio de 1731. Só
doze anos depois, tendo enviuvado, pôde Oliver Stephens, professor, casar com Jane e criar a sua família, na qual nasceram
mais quatro filhos, Lewis, Jedediah, John James e Philadelphia. Vivendo então em Exeter, William frequentou a escola
local, onde, sob a orientação de um professor recém-chegado
de Oxford, aprendeu matemática e contabilidade, mas também
literatura e teatro. O pai, que tivera uma educação cuidada,
pôde acompanhá-lo nos estudos, mas a sua situação financeira
não permitia uma formação universitária. E assim, com quinze
anos, William embarcou num navio mercante com destino a
Lisboa, onde iria ser aprendiz de um tio paterno que aqui tinha
o que hoje chamaríamos um escritório de contabilidade.
William sentiu-se bem no seio da Feitoria Inglesa, onde os
negociantes prosperavam graças a grandes privilégios sancionados principalmente pelo tratado de Methuen, de 26 de
Dezembro de 1703. Essa situação, que permitiu a William o
convívio com figuras destacadas tanto da comunidade inglesa
como da sociedade portuguesa, suscitava má-vontade da
parte dos comerciantes nacionais, que ao longo da vida lhe
levantaram grandes problemas, que só a protecção do Marquês de Pombal e de outros governantes que se lhe seguiram
pôde contornar. Mas o tio declarou falência em 1750, e só no
ano seguinte William conseguiu organizar a sua vida como
representante de George Medley, um membro da Feitoria que
regressou ao seu país e o deixou, juntamente com outro rapaz,
responsável pelo seu negócio de exportação de vinho, fruta e
sal. A sua prosperidade levou a que fosse eleito membro da
Feitoria, em 1752, mas a situação viria a ser seriamente afectada pelo terramoto de 1755, que, por outro lado, abriu nova
saída para a sua actividade.
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Jane Smith, in domestic service at Pentillie Castle in Landulph, Cornwall, registered William without a family name,
declaring the father as unknown, on 20 May 1731. It was
only twelve years later that Oliver Stephens, a teacher,
now widowed, was able to marry Jane and bring up their
family, consisting of a further four children, Lewis, Jedediah, John James and Philadelphia. Living in Exeter at the
time, William attended the local school where, under the
supervision of a teacher recently arrived from Oxford, he
studied maths and accounting, but also literature and theatre. His father, who had had a fine education, was able to
assist in William’s studies, but his financial circumstances
did not allow for a University education for his son. Thus,
at the age of fifteen, William boarded a merchant ship sailing to Lisbon, where he would be apprenticed to a paternal uncle who had in this city what we would now call an
accounting practice.
William felt at home at the British Factory, where
merchants prospered thanks to the significant privileges
sanctioned for the most part by the Methuen Treaty of
26 December 1703. This situation, which allowed William
to mix with prominent personalities both in the British
and the Portuguese communities, sparked ill-will on the
part of Portuguese traders. Throughout his life, the latter
would put great obstacles in his way, which he was able
to circumvent thanks to the patronage of the Marquis of
Pombal and subsequent rulers. But William’s uncle filed
for bankruptcy in 1750, and it was only the following year
that William was able to set his affairs in order as a representative of George Medley, a member of the Factory who
returned to his country and left William, together with
another youth, in charge of his export business of wine,
fruit and salt. His prosperity led to his election in 1752
A situação política portuguesa sofrera alterações desde a
sua chegada a Portugal, e o terramoto deu um inesperado destaque à figura do ministro de D. José, Sebastião José de Carvalho e Melo, a quem o Rei incumbiu de reorganizar a vida das
populações afectadas pelo terramoto e a reconstrução de Lisboa. William, que, como a maioria dos membros da Feitoria,
vivia em precárias circunstâncias, tanto de alojamento como
financeiras, pois Medley fechara a sua casa de Lisboa, viu no
projecto da nova cidade uma hipótese de negócio. Para essa
reconstrução iam ser precisas grandes quantidades de materiais, e ele investigou as técnicas necessárias àquele que lhe
pareceu mais imediato, a cal, de que havia alguns produtores
mas sem grande qualidade. Das suas investigações, ficou a
saber que era essencial o tipo de combustível para os fornos da
cal. Em vez de madeira de pinho, como então se praticava, devia
utilizar-se carvão de pedra, que teria que mandar vir do País de
Gales para os fornos a construir em Alcântara, que lhe pareceu
a melhor zona, entre outras razões pela proximidade de Lisboa
e por dar acesso a um vale que facilitaria o transporte da cal.
Entusiasmado com o projecto, o Ministro deu-lhe o seu
aval, e o Rei assinou uma concessão por quinze anos, com um
empréstimo que permitiu a William alugar uma casa perto do
que seriam os fornos e para onde foi viver com o tio, que se
encarregaria da contabilidade. Os fornos a construir implicavam uma nova tecnologia e melhores resultados do que os da
produção tradicional. Começaram a funcionar em meados de
1758, mas foi complicado resolver a situação do combustível
inglês, sobre o qual o Tesouro, pouco informado das circunstâncias, começou por lançar um imposto que tornava o projecto impraticável. Resolvido esse problema, os primeiros resultados foram extremamente positivos, mas a situação política
interna e externa obrigou à suspensão das obras em Lisboa, e
mais uma vez William se viu numa situação desesperada.
as a member of the Factory, but his situation was to be
seriously affected by the 1755 earthquake, which, on the
other hand, opened up new opportunities for his activity.
The political situation in Portugal had undergone
changes since William’s arrival in this country, and the
earthquake threw into unexpected relief the figure of King
José’s minister, Sebastião José de Carvalho e Melo, whom
the King charged with re-organising the lives of the population affected by the earthquake and by the re-building of Lisbon. William, who, like most Factory members,
lived in precarious circumstances, both in terms of lodgings and from a financial point of view, given that Medley had closed up his Lisbon home, saw a business opportunity in the project for a new city. The reconstruction
would require large quantities of materials, and William
researched the techniques needed for what appeared to be
the most pressing of them, lime, of which there was some
supply, but of inadequate quality. Through his research, he
ascertained that the type of fuel was essential to fire the
lime kilns. Instead of pine wood, as was then the practice,
stone coal should be used. This he would have to import
from Wales for the kilns to be built in Alcântara, which
he deemed the most appropriate area, among other reasons, for its proximity to Lisbon and because it afforded
access to a valley which would make it easier to transport
the lime.
Fired by the project, the Minister gave William his
authorisation, and the King signed a concession for fifteen
years, with a loan which allowed William to rent a house
close to the site where the kilns were to be built and to
which he moved with his uncle, who was to be in charge of
the accounting. The kilns to be built implied new technology and better results than those obtained in traditional
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production. They began operating in mid-1758, but there
were complications in resolving the situation of the British fuel, on which the Exchequer, ill-informed of the circumstances, initially exacted a level of tax which rendered
the project impracticable. Once this hurdle was overcome,
the first results were extremely positive, but the internal
and external political situation dictated that work be suspended in Lisbon, and once again William found himself
in dire circumstances.
Meanwhile, he had never lost touch with his family
and had announced his intention to take in and support
his siblings. When his parents decided to accept his offer,
William was bankrupt but lacking the courage to admit it,
and he did what he could to organise the lives of his siblings in Lisbon: Lewis and Jedediah would be apprenticed
to British trading companies, and Philadelphia and John
James, who had received training at Christ’s Hospital in
London to prepare him for a professional life in trade,
would live with William, in circumstances only made possible through the assistance they received from Factory
members.
In the summer of 1764, the future Marquis of Pombal was able to take up anew his project for the reconstruction of Lisbon and finally begin a trajectory which would
make William, and then his brother John James, the own-
Entretanto, nunca perdera o contacto com a família e
declarara a sua intenção de receber e apoiar os irmãos. Quando
os pais decidiram aceitar a oferta, William estava falido, mas
sem coragem de o declarar, e fez o que lhe era possível para
organizar a vida dos quatro irmãos em Lisboa: Lewis e Jedediah seriam aprendizes em casas comerciais inglesas, e Philadelphia e John James, que fora preparado na escola do Christ’s
Hospital de Londres para as actividades profissionais do
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ers of a considerable fortune. Always attentive, William
managed to renew the periods of tax exemption, counting on the Minister’s support, despite the ill-will which
existed between him and the British, caused by the privileges enjoyed by the latter and which the former sought
to curtail.
However, the Minister’s relations with William were
good, because he acknowledged the latter’s qualities in
comércio, ficariam a viver com ele, numa situação só possível
pelo apoio que lhe deram os membros da Feitoria.
No Verão de 1764, o futuro Marquês de Pombal pôde retomar o projecto de reconstrução de Lisboa e iniciar finalmente
um percurso que viria a fazer de William e depois do irmão
John James donos de uma considerável fortuna. Sempre
atento, William conseguiu renovar os períodos de isenção de
impostos, contando com o apoio do Ministro, não obstante a
má-vontade que existia entre ele e os ingleses, em torno dos
privilégios de que estes desfrutavam e que aquele tentava
cercear.
Todavia, a sua relação com William era boa, porque reconhecia as suas qualidades de iniciativa e o modo correcto
como sempre correspondera aos seus compromissos. No projecto de modernização do país, o Marquês ultrapassara os
desaguisados com os estrangeiros e tentara obter a colaboração dos mais aptos.
Entre os materiais necessários à reconstrução de Lisboa,
falhou um essencial, o vidro, que provinha de uma única
fábrica, criada por irlandeses, cujo dono mais recente, John
Beare, se vira obrigado a transferi-la de Coina para a Marinha
Grande, onde era mais fácil o acesso ao combustível para alimentar os fornos. Mas as dificuldades de toda a ordem que
lhe foram levantadas na região obrigaram-no a fechar em
1767. Atendendo à premência da produção de vidraças para
as casas de Lisboa, o Marquês aconselhou-se com Edward
Campion, o sócio de Beare encarregado da venda do vidro na
capital, que indicou o nome de William Stephens, logo aceite.
Contudo, William recusou. Com o negócio da cal a correr nas
melhores condições e porventura recordando os tempos difíceis que passara, não lhe era agradável a ideia de deixar a família por um lugar distante para um empreendimento para o
qual não tinha qualquer preparação. Só ao fim de dois anos de
terms of his initiative and of the punctual way in which
he had always honoured his commitments. In his project for modernising the country, the Marquis had surpassed the upsets with the foreign merchants and had
sought to secure the cooperation of the better equipped
among them.
Among the materials needed to reconstruct Lisbon, an
essential element was missing, glass, which was supplied
by a single factory, founded by Irish citizens and whose
most recent owner, John Beare, had been obliged to relocate from Coina to Marinha Grande, where it was easier
to access the fuel required to feed the kilns. But the many
difficulties of every type which he encountered in the area
forced him to close the factory in 1767. Given the urgency
of producing window-panes for the houses in Lisbon, the
Marquis sought the advice of Edward Campion, Beare’s
partner in charge of sales of glass in the capital, who put
forward the name of William Stephens, advice which was
immediately accepted. However, William turned down the
offer. With his lime business running very successfully,
and possibly recalling the difficult times he had experienced, the idea did not appeal to him of leaving his family behind to set up business in a far-away place for the
sake of an undertaking for which he had no training. It
was only after two years’ insistence, eventually by the King
himself, that he agreed to take on this new adventure. The
conditions whereby he agreed to respond to the invitation were set out in fifteen points in a decree signed by the
King on 7 July 1769. These included a loan from the Commerce Board totalling eighty thousand cruzados, interest-free, and perhaps most important of all, the use without
restrictions of dry wood and branches from the Leiria pine
forest, in addition to tax-free status in the sale of glass.
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insistência, finalmente do próprio Rei, se dispôs a tentar esta
nova aventura. As condições em que se dispunha a corresponder ao convite foram expressas em quinze pontos de um
decreto que o Rei assinou no dia 7 de Julho de 1769. Delas
constava um empréstimo da Junta do Comércio de oitenta
mil cruzados sem juros e, talvez o mais importante, a utilização sem restrições da madeira seca e de ramos do pinhal de
Leiria, além da isenção de impostos na venda do vidro.
William Stephens deixou os fornos da cal entregues ao
irmão John James, que se encarregaria também da venda do
vidro, e chegou à Marinha Grande no dia 23 de Julho. A mesma
celeridade com que tudo foi ajustado manteve-a William na
reabertura da fábrica e na organização do trabalho, que se iniciou no dia 16 de Outubro. Os primeiros operários, sete mestres, cinco assistentes e três aprendizes, passaram em breve a
150, como consta do primeiro relatório anual, de Dezembro do
ano seguinte. Estes números não incluíam os encarregados de
obter e transportar o combustível em carros de bois, que eram
já setenta, em vez dos vinte e cinco iniciais.
A Marinha Grande era na altura uma povoação pouco mais
que inexistente. Mesmo os antigos empregados de John Beare
tinham, na sua maioria, regressado às suas terras, mas alguns
voltaram, ao saber que a fábrica ia reabrir. No entanto, formavam uma população desordenada e mal instalada, para cujo
bem-estar o novo patrão se encarregou também de tomar
medidas. Segundo Jennifer Roberts, a mais recente investigadora da indústria do vidro na Marinha Grande, que publicou
um trabalho exaustivo, Glass, em 2003, William Stephens
criou um verdadeiro estado-providência na Marinha Grande.
Promovendo possibilidades de melhor alojamento, pagava
bons salários, abriu uma escola elementar para os aprendizes,
que aí eram ensinados a ler, a escrever e desenhar, importante
para o fabrico de consumo, que William iniciou logo a par das
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William Stephens entrusted the lime kilns to his
brother John James, who would also undertake the sale
of the glass, and arrived in Marinha Grande on 23 July.
The same speediness with which the entire matter was
settled was observed by William in re-opening the factory and in re-organising the work, which began on 16
October. The first workmen, seven masters, five assistants and three apprentices, soon grew to number 150, as
stated in the first annual report of December of the following year. These numbers did not include workers dealing with the purchase and transport of fuel in ox-drawn
carriages, which already numbered seventy, instead of the
initial twenty five.
At the time, Marinha Grande was little more than a
non-existent village. Even the former workers of John
Beare had, for the most part, gone back to their homes,
but some came back on hearing that the factory was set to
re-open. However, they were a disorganised and ill-housed
population, for whose welfare the new owner also undertook new measures. According to Jennifer Roberts, the
most recent researcher in the area of the Marinha Grande
glass industry and who in 2003 published an exhaustive
study, Glass, William Stephens created a veritable Welfare State in Marinha Grande. Promoting opportunities
for better housing, he paid good wages and started an
elementary school for the apprentices, where they were
taught how to read, write and draw, of importance for consumption production, which William began at the same
time as the production of window-panes, using the catalogues which Beare had left at the factory and which he
developed until he succeeded in producing quality glass.
The apprentices were also taught geometry and music. In
addition to a free first aid station for accidents involving
vidraças e utilizando os catálogos que Beare deixara na fábrica,
e que desenvolveu até conseguir fabricar cristal de qualidade.
Aprendiam também geometria e música. Além de um posto
de primeiros socorros grátis para os acidentes dos operários,
que recebiam também um subsídio de doença, igualmente as
reformas foram acauteladas.
William desenvolveu a agricultura na zona, tendo inclusivamente trazido a Portugal Thomas Coke, um especialista
inglês que conseguiu transformar o solo arenoso e estéril da
Marinha Grande em terra produtiva, que fornecia cereais,
fruta e hortaliça à população. Conseguiu ainda um fornecimento regular de carne, construindo no complexo fabril um
matadouro e um talho. Ao abrigo das medidas que lhe foram
concedidas, fechou todas as tabernas da região, mantendo
apenas uma, que fornecia, sob controlo e a pronto pagamento, vinho de boa qualidade. Esta disciplina veio alterar o
comportamento dos operários, que agora tinham uma alimentação mais saudável e condições novas de vida e distracção: chamou professores de música e dança, e todos os sábados havia concertos em casa de William, que construiu até
workers, who also received sickness benefits, a pension
scheme was set up.
William developed farming in the area, having even
brought Thomas Coke to Portugal. The latter was a British specialist who succeeded in transforming the sandy,
arid soil of Marinha Grande into productive soil, supplying the population with grain, fruit and vegetables. He
further secured regular supplies of meat, building an
abbattoir and a butcher’s on the factory premises. Under
the measures bestowed on him, he closed down all but
one of the area’s taverns, which he supplied with good
quality wine, subject to control and cash payment. This
discipline changed the workers’ behaviour; they now had
a healthier diet, and new living and leisure conditions:
William hired music and dance teachers, and every Saturday he held concerts at home. He even built a theatre, where even Shakespeare was staged. Nicolau Luís,
the best known Portuguese playwright of the eighteenth
century, recorded a performance of Voltaire’s Olympia,
adapted by him.
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um teatro, onde se chegou a representar Shakespeare. Nicolau Luís, o dramaturgo português mais famoso do século
XVIII, registou a representação de Olimpia de Voltaire, numa
adaptação sua.
O transporte do vidro para Lisboa era complicado, porque
não havia estradas, pelo que William preferiu utilizar barcos,
que partiam do porto de S. Martinho, próximo da Marinha
Grande. Quando finalmente se abriu uma estrada de Lisboa
para o Porto, William construiu à sua custa, em 1793, uma
ligação à Marinha Grande, que ficou conhecida como “a estrada do Guilherme”.
A prosperidade que a indústria do vidro trouxe a William
assentou sobretudo nas medidas monopolistas que ele conseguiu renovar constantemente, mesmo depois da queda de
Pombal, já que D. Maria I, que por duas vezes o visitou, tendo-se mesmo instalado com a sua corte por alguns dias, o admirava pelas suas qualidades de trabalho e pelo seu êxito.
A manutenção das medidas que o apoiavam eram essenciais à
sua indústria, mas despertavam a má-vontade de outros
comerciantes, que constantemente tentavam superá-las.
Eram essencialmente duas: o corte da vidraça e a venda de
objectos de vidro e cristal importados. Quanto à primeira, há
que atender às normas que regiam a reconstrução de Lisboa.
De modo a facilitar e apressar a sua execução, tinham sido
estabelecidas medidas estandardizadas para portas, janelas e
varandas. No caso do vidro, ele vinha já pronto da fábrica,
sem necessidade de intermediários que o encareceriam.
Quanto à segunda, a verdade é que se conseguiam preços
mais baixos com a importação inclusivamente de cristal da
Boémia, que, além disso, os comerciantes diziam ser de
melhor qualidade. Os preços praticados por William eram,
por decreto da fundação, os que tinham sido estabelecidos
com Pombal, e ele não queria abdicar dessa determinação.
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Shipping the glass to Lisbon was difficult, as there
were no roads, so that William preferred to use ships sailing from the port of S. Martinho near Marinha Grande.
When at last a road was built linking Lisbon and Porto,
William built, at his own expense, a road link to Marinha
Grande in 1793; this became known as ‘William’s road’.
The prosperity which the glass industry brought
to William stemmed above all from the monopoly measures which he was able to renew at every turn, even
after the fall of Pombal, since Queen Maria I, who visited him twice, even bringing her court with her for a few
days, admired him for his qualities of industriousness and
for his success. Retaining the measures which assisted
William was essential for his industry, but the situation
kindled ill-feeling among the other businessmen, who
constantly sought to get round them. In essence, they
were two: cutting the panes and the sale of imported glass
and crystal objects. With respect to the first, we must
consider the norms governing the reconstruction of Lisbon. With a view to making them easier to carry out and
to hasten the process, standard measurements had been
laid down for doors, windows and balconies. In the case
of glass, this arrived from the factory ready to use, without the need for middlemen who would push up prices.
As regards the second, the truth is that lower prices could
be secured through imports, including those of crystal
from Bohemia, which, in addition, was said by traders to
be of better quality. The prices William practised were, as
per the decree regarding the foundation, those agreed with
Pombal, and William did not wish to relinquish the agreement. Besides, tax exemption provisions were absolutely
necessary, and William managed to retain these, encountering greater or fewer difficulties.
Além disto, era imprescindível a isenção de impostos, que
William conseguiu manter, com maior ou menor dificuldade.
Tendo estabelecido solidamente a sua indústria, William
Stephens, que vivia na mansão que construira na Marinha
Grande, elogiada por todos aqueles que por lá passaram,
incluindo o Marquês e figuras inglesas destacadas que visitaram Portugal, como o arquitecto James Murphy e os poetas
William Mickle, o mais célebre tradutor inglês de Os Lusíadas,
e Robert Southey, chamado o primeiro lusófilo inglês. Todos
eles registaram, nos seus relatos sobre Portugal, o modo como
foram recebidos na Marinha Grande, em casa do industrial
que era já um grande senhor, e a qualidade do empreendimento que ele construira.
Nesta altura, já William construira em 1767 uma grande
casa em Lisboa, na esquina da Rua de S. Paulo com a Rua das
Flores, no espaço que foi baptizado como Largo dos Stephens.
Nela vivia John James, a quem se juntaram em breve os outros
dois irmãos, Lewis e Jedediah. Tendo Philadelphia ido viver
para a Marinha Grande, onde presidia à organização da casa e
ajudava o irmão a receber os visitantes e a superintender às
actividades culturais, segundo parece sobretudo à administração do teatro, em 1768 foi viver para a casa de Lisboa a filha de
Edward Campion, o amigo que levara ao convite de William
para a empresa da Marinha Grande. Jane orientava o movimento da casa e dos criados entretanto contratados.
Também a respeito desta casa o Marquês de Pombal interveio para apoiar William. Não era permitido aos estrangeiros
que tivessem a posse perpétua de propriedades, o que foi torneado por dois decretos do Ministro determinando a autorização para “possuir, manter e transmitir as suas propriedades
aos herdeiros e sucessores, mesmo se estrangeiros, independentemente de qualquer lei e costume que determinassem o
contrário e que são neste caso dispensadas”.
Having established his industry on a firm basis, William Stephens lived in the mansion he had had built in
Marinha Grande, which was praised by all who visited it,
including the Marquis and leading British visitors to Portugal such as James Murphy, the architect, and the poets
William Mickle, the most renowned British translator of
The Lusiad, and Robert Southey, dubbed the first British
Lusophile. All of them recorded in their writings on Portugal the way they had been received in Marinha Grande, in
the home of the industrialist who was now a wealthy proprietor, and the quality of the business he had built up.
At this time, William had already in 1767 had a large
house built in Lisbon, on the corner of Rua de São Paulo
and Rua das Flores, on the site which was dubbed Stephens’
Square. In it lived John James, who was soon joined by
his other two siblings, Lewis and Jedediah. With Philadelphia moving to Marinha Grande, where she oversaw the
running of the household and helped her brother receive
visitors and supervise the cultural activities, above all, it
appears, the running of the theatre, in 1768 the daughter
of Edward Campion moved into the Lisbon house. Campion was the friend who had engineered the invitation for
William to take over the business in Marinha Grande. Jane
supervised the household tasks and the servants who had
in the meantime been hired.
In respect of this house, too, the Marquis of Pombal
intervened to support William. Foreign nationals were not
allowed to own property in perpetuity, which was circumvented by two decrees signed by the Minister, authorising
‘possessing, retaining and willing their property to heirs
and successors, even if these be foreign nationals, regardless of any law or custom which ruled otherwise and from
which in this case they are exempt.’
14
D. Maria renovou todas as condições que tinham sido criadas para os irmãos Stephens desenvolverem a sua indústria e
comércio, mantendo a isenção de impostos para a importação
de matérias-primas e para exportação dos seus produtos.
Tomou ainda uma determinação que viria a ter consequências
no século XIX, quando o país se reorganizou depois das Invasões Francesas: as fábricas de vidro nunca seriam divididas
por morte de William, John James e dos seus sucessores, nem
seria autorizada a nomeação de qualquer sócio estranho à
família. Segundo se explicava, diz Jennifer Roberts que “o
objectivo era manter a integridade desta útil e bela fábrica
para sempre, para benefício deste reino”1.
Entretanto, também os irmãos de William prosperavam.
Em 1778, Lewis decidiu expandir o seu negócio, criando a
Lewis Stephens & Company, para a qual precisava de colaboradores. Recordando o primo John Lyne, que o criara depois
da morte dos pais, Lewis escreveu-lhe dizendo que estava disposto a encarregar-se de dois dos seus filhos como aprendizes, oferecendo-lhes alojamento na casa de família. John era
reitor da paróquia de St. Ive, na Cornualha, e simultaneamente professor na Grammar School em Liskeard, onde vivia
com a mulher e os quatro filhos, com grandes dificuldades,
porque era difícil a situação económica da Inglaterra nessa
altura. Aceitou de bom grado a proposta de Lewis, resolvendo
o caso de maneira original. Chamou o filho mais velho e
perguntou-lhe “O que preferes ser? Um clérigo pobre ou um
comerciante rico?” Richard preferiu a primeira hipótese, de
uma vida calma e sem ambições. Contrariamente, os dois
irmãos seguintes, Charles e Joseph, escolheram trabalhar no
comércio. E assim, o primeiro veio logo para Portugal, trazido
por Philadelphia, a quem Lewis pedira que o fosse buscar,
para que não fizesse a viagem sozinho. Joseph viria mais
tarde, quando terminasse a sua educação.
15
Queen Maria renewed all the conditions which had
been created so that the Stephens brothers could develop
their industry and trade, keeping in place tax exemption
for the importing of raw materials and for the export of
their goods. She took a further measure which would have
consequences in the nineteenth century when the country re-organised itself after the French Invasions: the glass
factories would never be divided on the deaths of William,
John James and their heirs, nor would authorisation be
given for the appointment of any partner who was not a
member of the family. As explained at the time, Jennifer
Roberts states that ‘the aim was to retain the integrity of
this useful and beautiful factory for ever, for the benefit of
this Kingdom.’1
Meanwhile, William’s brothers prospered too. In
1778, Lewis decided to expand his business, creating
Lewis Stephens & Company, for which he needed associates. Recalling John Lyne, who had raised him after the
death of his parents, Lewis wrote to him stating he was
willing to take on two of his sons as apprentices, offering
them lodging in the family home. John was the vicar of
the parish of St. Ives in Cornwall and at the same time a
teacher at Liskeard Grammar School, where he lived with
his wife and four sons, in an impoverished state, since the
economic situation in England was difficult at the time.
Lyne was very receptive to Lewis’s proposal, deciding the
matter in an original fashion. He sent for his eldest son
and asked him: ‘What would you rather be? A poor clergyman or a rich merchant?’ Richard opted for the first
choice, preferring a tranquil life with no ambitions. Unlike
him, his two younger brothers, Charles and Joseph, chose
to work in commerce. Thus the former travelled to Portugal at once, escorted by Philadelphia, who had been asked
Mas não ficariam por aqui as alterações na vida de Lewis,
que no ano seguinte casou com Mary Bulkeley, filha de um
rico negociante americano. Também o casal foi viver para a
Casa do Largo dos Stephens, suficientemente grande para
acolher toda a família, mesmo quando William e Philadelphia
vinham a Lisboa, o que aconteceu por ocasião do casamento.
Foi no baile que então teve lugar em honra dos noivos que
Sir Robert Walpole, o então Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da Inglaterra em Lisboa, apresentou
Mickle a William. Da conversa destes dois homens nasceu o
interesse do poeta pelas realizações do industrial, do que
resultou que fossem os dois à Marinha Grande para a visita
que já referi. Mickle ficou lá três semanas, durante as quais
visitou Alcobaça, Batalha e Pombal, onde se encontrou com o
Ministro exilado.
A associação de Charles Lyne à família Stephens veio a
revelar-se próspera e, por herança, a reunir as duas fortunas,
o que fez de John James, o último sobrevivente, o mais rico
plebeu da Grã-Bretanha, como ficou conhecido na época, em
Inglaterra.
Entretanto, John James tinha uma posição destacada
na Feitoria. A vida social dessa Instituição, na qual Charles
Lyne também passou a tomar parte, era bastante intensa,
mas fazia falta o que os ingleses chamavam Assembly Rooms,
ou seja, um espaço de reuniões onde se realizassem também
as festas e bailes tão do agrado dos seus membros. As reuniões de negócios faziam-se em casa do cônsul, e há a tradição
de que teria havido instalações da Feitoria provavelmente na
zona entre S. Paulo e o que é hoje o Largo de Camões, ao longo
da Rua do Alecrim, zona essa onde se desenvolviam principalmente as actividades da Feitoria. Mas nada ficara depois do
terramoto, e a situação económica não era propícia a investimentos de lazer. Até que, numa época mais estável, em 1783,
by Lewis to fetch the young man so that he would not have
to travel on his own. Joseph would travel later, when he
had finished his schooling.
But these would not be the only changes in the life
of Lewis, who the following year married Mary Bulkeley,
the daughter of a rich American businessman. This couple,
too, took up residence in the house on Stephens’ Square,
large enough to accommodate the whole family even when
William and Philadelphia came to Lisbon, which they did
for the wedding. It was at the ball then held in honour of
the bridal couple that Sir Robert Walpole, at the time British Envoy Extraordinary and Minister Plenipotentiary
to Lisbon, introduced Mickle to William. The conversation these two men had sparked the poet’s interest in the
industrialist’s achievements, which resulted in their going
together to Marinha Grande on the visit I mentioned
above. Mickle spent three weeks there, during which time
he visited Alcobaça, Batalha and Pombal, where he had a
meeting with the exiled Minister.
Charles Lyne’s association with the Stephens family
proved to be fruitful, and, by inheritance, the two fortunes
merged, making John James, the last survivor, the richest British commoner, as he became known at the time in
England.
Meanwhile, John James was a prominent member of
the Factory. This institution’s social life, in which Charles
Lyne was also included, was quite busy, but the need was
felt for what the British called Assembly Rooms, that is, a
space for meetings which could double as a venue for the
parties and balls so beloved of its members. Business meetings were held at the Consul’s house, and tradition has it
that there were Factory premises probably sited in the area
between S. Paulo and what is now Largo de Camões, run-
16
os membros da Feitoria aproveitaram a construção em curso de uma
grande casa “que dava para a Rua
do Loreto, entre a Rua do Norte e a
das Gáveas” para promoverem a
instalação condigna da sua Assembleia. Para negociar o aluguer de
dois andares desse edifício com o
seu proprietário, o 4.º Marquês de
Marialva, foram designados três
membros da Feitoria, um dos quais
era John James, a quem coube também o que então se chamava o
risco, ou seja, o projecto do que se
pretendia construir. Todas as condições fazem parte do contrato de
arrendamento guardado na Torre
do Tombo (Cartório Notarial n.º 1,
maço 129, Livro “6 de Agosto de
1783 – 31 de Outubro de 1783).
Além de um salão para baile com o
pé direito dos dois andares, havia
uma sala para banquetes e outras para bilhar, cartas e chá,
além das estruturas de apoio como a cozinha. Talvez este
encargo tenha sido dado ao mais novo dos Stephens, que recebeu uma placa de prata pelo seu trabalho, pela experiência
social que tinha da sua grande casa de S. Paulo. O certo é que
o resultado foi brilhante, a avaliar pelas palavras que o Embaixador francês em Lisboa, 1786-87, o Marquês de Bombelles,
registou no seu diário, sobre “a assembleia tão luzida e imponente” que frequentava o long-room inglês, onde dançou o
Embaixador Sir Robert Walpole, num grupo que às vezes
acompanhava.
17
ning the length of Rua do Alecrim, the area where most
Factory activity took place. But nothing had remained
after the earthquake, and the economic situation was not
favourable to investments in leisure. Until, in a more stable climate, in 1783, the members of the Factory seized the
opportunity presented by the building of a large house ‘giving on to Rua do Loreto, between Rua do Norte and Rua das
Gáveas’ to set up their Assembly in fitting surroundings.
To negotiate the rent for the two storeys of this building
with its owner, the 4th Marquis Marialva, three members
of the Factory were chosen, one of whom was John James,
who was also asked to undertake what was then known
as the risk, ie. the project of what the Factory wished to
build. All the terms are to be found in the leasing contract
held at Torre do Tombo (Cartório Notarial n.º 1 [Notary
Public Registries], pack 129, book “6th August 1783 –
31st October 1783). In addition to a ballroom on the right
of the two storeys, there was a banquetting room and other
rooms for billiards, card games and tea gatherings, besides
support structures such as the kitchen. This undertaking
may have been given to the youngest of the Stephens, who
received a silver plaque for his work, because of the social
experience he had gained at the great house in S. Paulo.
The fact is that the result was magnificent, judging by
the words recorded by the French Ambassador to Lisbon,
1786-87, the Marquis de Bombelles, in his diary regarding
‘such a brilliant and imposing assembly’ who frequented
the British long-room, where the Ambassador Sir Robert
Walpole danced, in a group he sometimes joined.
As for William, the Queen’s support did not make him
forget what he owed the Marquis, whom he regularly visited
in his exile in Pombal. An episode of 1777 is worth mentioning. Knowing that a work had been published in Lon-
Quanto a William, o apoio da Rainha não o fez esquecer o
que devia ao Marquês, que visitava regularmente no seu exílio de Pombal. É de 1777 um episódio que vale a pena referir.
Sabendo que tinha sido publicada em Londres uma obra que
se lhe referia, o antigo ministro, ou antes, a Marquesa,
segundo John Smith, Conde da Carnota, conta nas sua
Memoirs of the Marquis of Pombal, mostrou interesse na sua
tradução, o que Philadelphia se ofereceu para fazer. Esta intervenção nunca foi completamente esclarecida. As cartas que
constituem esta obra são anónimas, tendo sido por vezes atribuídas a Philadelphia ou até ao próprio Marquês, tendo então
sido ela a traduzi-las para inglês. Esta confusão levou a que a
tradução francesa de 1796 cite Philadelphia Stephens como
autora, embora a edição original, de 1777, tenha sido também atribuída a John Blankett, secretário do Duque de
Manchester.
Nos últimos anos do século XVIII, William já tinha contratado um novo administrador para a fábrica, José de Sousa e
Oliveira, que iria manter o nível do empreendimento, contratando um professor de música que assegurou concertos e
peças semanais, além de uma ópera por mês. Também lhe
coube atravessar os anos mais difíceis da história desta indústria, com as Invasões Francesas.
William, com mais de sessenta anos e pouca saúde,
retirou-se para junto da família em Lisboa, onde Lewis morreu subitamente em 1795. Apesar de que os irmãos Lyne lhe
tinham sido pouco leais nos últimos tempos, Lewis deixou-lhes em testamento boa parte da sua fortuna, para além do
que legou aos irmãos e doou a uma escola para crianças
pobres em Exeter, recordado do apoio que recebera na
infância.
Quase ao mesmo tempo, os irmãos Lyne casaram com
filhas de membros da Feitoria e, donos de uma boa situação
don in which reference was made to him, the former minister, or rather, the Marchioness, according to what John
Smith, Count of Carnota, wrote in his Memoirs of the Marquis of Pombal, showed an interest in its translation, which
Philadelphia offered to do. This intervention has never
been fully clarified. The letters comprising this work are
anonymous, having at times been attributed to Philadelphia or even to the Marquis himself, whereupon she translated them into English. This puzzle led to the 1796 French
translation citing Philadelphia Stephens as the author,
although the first edition in 1777 was also attributed to
John Blankett, secretary to the Duke of Manchester.
By the late eighteenth century, William had already
hired a new manager for the factory, José de Sousa e
Oliveira, who would maintain the level of the undertaking
by contracting a music teacher who organised weekly concerts and plays, in addition to a monthly opera. It also fell
to him to experience the most difficult years in the history
of this industry, the French Invasions.
William, now over sixty and in failing health, retired
to live with his family in Lisbon, where Lewis died suddenly in 1795. Although the Lyne brothers had latterly
failed in their loyalty to him, Lewis bequeathed to them
a considerable part of his fortune in addition to what he
left his brothers, and endowed a school for poor children
in Exeter, remembering the support he had received as
a child.
Almost at the same time, the Lyne brothers married daughters of Factory members and, in possession
of good financial means, eventually returned to England in the early nineteenth century, at a time when
the situation in Europe was becoming difficult, prompting many of the British living in Portugal to send large
18
financeira, acabaram por regressar a Inglaterra, nos primeiros anos do século XIX, numa altura em que a situação europeia começava a complicar-se, levando muitos dos ingleses
residentes em Portugal a enviar grandes somas para o seu
país natal, onde esperavam ter maior segurança.
Em 11 de Maio de 1802, em vésperas de fazer 72 anos,
William morreu na sua casa de Lisboa. O seu testamento
fez de John James o único herdeiro e executor, com uma cláusula possivelmente inédita. Reforçando as disposições de
D. Maria I quanto à posse da fábrica, dizia ao irmão que, na
altura própria, “pedisse à Rainha que comprasse a fábrica com
tudo o que lhe pertencia”, explicando a razão por que o fazia:
“Como a Coroa é a proprietária do pinhal de que a fábrica
depende, a sua perpetuação em mãos privadas precisaria da
protecção contínua da monarca para evitar a maldade e inveja
de que frequentemente ele fora vítima”.
John James, que tudo devia a William, ficou destroçado
com a sua morte e teve uma atitude que viria a complicar a
sua situação quando as circunstâncias políticas praticamente
destruíram a obra da Marinha Grande: fechou à chave o escritório do irmão, proibindo qualquer pessoa de lá entrar.
O resultado foi que lá ficaram documentos importantes que
garantiam os benefícios concedidos à família Stephens e que
só foram conhecidos vinte e três anos depois, quando da
morte de John James e quando já todos eles estavam ultrapassados pelas circunstâncias políticas do país. Pouco depois
morreu Jedediah. Quanto a John James, tendo acompanhado Philadelphia a Inglaterra na iminência da invasão
francesa, regressou a Lisboa em 1804, recusando-se a partir
mesmo quando o cônsul inglês aconselhou todos os membros da Feitoria a abandonar a capital portuguesa e quando o
Regente lhe ofereceu um lugar na sua comitiva. Todavia,
levara para Londres grande parte da sua fortuna, o que vol19
sums of money to their native land where they hoped
for greater security.
On 11 May 1802, on the eve of his 72nd birthday, William died in the Lisbon house. His will made John James
his sole heir and executor, with a possibly unique clause.
Re-inforcing Queen Maria I’s arrangements as to the ownership of the factory, William told his brother that, when
the time came, he ‘should ask the Queen to buy the factory
with all its belongings’, explaining his reasons thus: ‘As
the Crown is the proprietor of the pine forests on which
the factory depends, perpetuating its existence in private
hands would require the continued protection of the Monarch in order to avoid the evil-doing and envy of which it
has often been the target.’
John James, who owed everything to William, was
devastated by his death and acted in a way which would
make his position difficult when political circumstances
virtually destroyed the business in Marinha Grande: he
locked the door to his brother’s study, forbidding anyone
to enter it. As a result, important documents guaranteeing
the benefits bestowed on the Stephens family remained
in the locked room and would only come to light twenty-three years later, when John James died and when all the
documents had been overtaken by the country’s political
circumstances. Shortly after, Jedediah died. As for John
James, having travelled to England with Philadelphia when
the French were poised to invade Portugal, he returned
to Lisbon in 1804, refusing to leave even when the British Consul urged all Factory members to depart the Portuguese capital and the Regent offered him a place in his
entourage. However, he had taken with him to London a
large part of his fortune, which he again did two years later.
Upon his return in 1807, he found that some of his priv-
tou a fazer dois anos depois. Ao regressar em 1807, veio
encontrar alguns dos seus privilégios revogados e mostrou-se incapaz de lidar com a situação. O futuro D. João VI,
então Príncipe Regente, na iminência da ida para o Brasil,
não chegou a ter oportunidade de atender – ou talvez mesmo
de ter conhecimento – das petições que ele lhe dirigiu. Com
estes problemas e a dificuldade em escoar a produção da
Marinha Grande, John James, sem querer alterar de qualquer modo a situação em que William deixara a fábrica, foi
acumulando caixotes nos armazéns da Marinha Grande e de
Lisboa e foi pagando do seu bolso as despesas da fábrica em
laboração e todos os salários.
Nos tempos difíceis da invasão de Lisboa pelos franceses,
chegou a estar preso durante mais de quatro meses no que
fora o hospital inglês, tendo antes disso sido sequestradas a
fábrica, onde trabalhavam 500 operários, e a sua casa no
Largo dos Stephens, onde entretanto se tinham instalado oficiais franceses e que foi vítima do saque levado a cabo pelos
franceses em retirada nas condições altamente favoráveis da
infausta Convenção de Sintra. Nesta altura, a fábrica recomeçou a funcionar, mas em circunstâncias precárias de que não
voltou a recompor-se, mesmo a partir de 1812, reconstruída
depois da devastação provocada pela última invasão francesa.
Na sua cegueira de manter tudo exactamente como o irmão
deixara, John James não compreendeu a evolução dos tempos e da tecnologia provocada pela Revolução Industrial que
deveria ter alterado o modo de funcionamento e a baixa de
preços que provocou em toda a Europa. Em vez disso, continuou a política de pedir a manutenção das regalias que tinham
promovido a fundação da fábrica, pedidos a que já ninguém
dava atenção, tão complicada era a situação política. Depois
da sua morte, a fábrica foi-se modernizando e melhorando a
qualidade da sua produção, de tal modo que os seus cristais
ileges had been revoked and proved unable to cope with
the situation. The then Regent and future King João VI,
on the eve of leaving for Brazil, did not get the chance of
considering – or perhaps even of taking cognizance – of
the petitions which John James addressed to him. Faced
with these problems and finding it difficult to sell the products of the factory, John James, not wishing to change in
any way the situation in which William had left the factory,
allowed crates to pile up in the Marinha Grande and Lisbon
warehouses and paid for the running expenses of the factory and for all of the wages out of his own pocket.
During the difficult times of the French invasion of
Lisbon, he was even held prisoner for over four months
in what had been the British hospital. Before this, the factory, employing 500 workers, and his house in Stephens’
Square had been confiscated. The house was now occupied by French officers and was targetted by the looting
carried out by the French who retreated under the highly
favourable conditions of the disastrous Convention of Sintra. At this time, the factory was re-started, but in precarious conditions from which it was not to recover, not even
after 1812, when it was re-built following the devastation
caused by the last French invasion. Blindly trying to keep
everything exactly as his brother had left it, John James
did not understand how times and technology had evolved
in the wake of the Industrial Revolution which should
have changed the production methods and the lowering
of prices which it brought to the whole of Europe. Instead,
he kept up the policy of petitioning to retain the privileges which had promoted the foundation of the factory,
his petitioning going unheeded, such was the turmoil in
the political arena. After John James’s death, the factory
began to modernise and improve the quality of its prod-
20
receberam uma menção honrosa na Grande Exposição Industrial de Londres, em 1851.
Solitário na sua grande casa, pois toda a família, incluindo
Philadelphia, tinha regressado definitivamente a Inglaterra,
John James viveu os últimos anos da sua vida de um modo
que um dos primos Lyne que o visitou descreveu como muito
estranho. Todos os dias abria a sua casa para o jantar a todos
os que o quisessem acompanhar. Proporcionava também a
leitura de jornais e pouco dizia, ouvindo mais do que falando.
No seu testamento dispôs que este hábito se mantivesse
durante um ano. Morreu no dia 12 de Novembro de 1826,
tendo testemunhado ainda os primeiros tempos das lutas
liberais em Portugal. Deixou todas as suas propriedades à
nação portuguesa, esperando que o Governo nomeasse um
administrador que soubesse orientar a sua indústria “para o
bem do país em geral e para sempre”.
ucts, so much so that its glass received an honourable cita-
nota
note
1
1
ROBERTS, Jennifer - Glass. The Strange History of the Lyne Stephens Fortune.
Chippenham: Templeton Press, 2003.
tion in the 1851 Great Exhibition in London.
Alone in his great house, since his entire family,
including Philadelphia, had returned to England for good,
John James lived out his last years in a manner described
as very strange by one of the Lyne cousins. Every day he
opened up his house to all those who wished to dine with
him. He also provided newpapers for guests to read and
said little, listening more than he spoke. His will specified
that this custom be followed for a period of a year. He died
on 12 November 1826, having lived long enough to witness the first years of the Liberal struggle in Portugal. He
left all his properties to the Portuguese nation, expressing
the hope that the Government would appoint a manager
capable of leading his industry ‘for the good of the country
in general and for ever.’
ROBERTS, Jennifer - Glass. The Strange History of the Lyne Stephens Fortune.
Chippenham: Templeton Press, 2003.
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Phelps – Percursos de uma família britânica
na Madeira de Oitocentos
The Phelps – paths of a British family in 19th century Madeira
Cláudia Ferreira Faria
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 22-37, ISSN 1646-7116
No que diz respeito à História da Madeira durante a época
oitocentista e, em particular, às famílias britânicas que então
se fixaram no espaço insular, ainda está muito por fazer. Além
da obra de Rui Carita1, dos estudos de António Marques
Ribeiro da Silva e de Paulo Rodrigues2 e de alguns artigos
publicados, de quando em vez, nas revistas culturais regionais, pouco mais existe.
De facto, basta um olhar mais atento para a bibliografia disponível para nos apercebermos de que, para além de títulos de
carácter generalista sobre a História da Madeira em que a presença britânica é mencionada, pouco se tem escrito sobre os
residentes originários de além-Mancha, muitos deles homens
de negócios pertencentes a famílias ricas e poderosas.
De um modo geral, quase todos os ilhéus sabem que os
ingleses foram (e são) importantes. A propósito desta influência na vida insular, recordamo-nos dos passeios pela cidade
que fazíamos na companhia da nossa avó, para quem qualquer transeunte de cabelo louro, pele clara e bem vestido era,
pura e simplesmente, um inglês (independentemente da sua
real nacionalidade).
Mas debrucemo-nos sobre o tema que nos traz hoje aqui.
Quem foram estes britânicos? Por que razão se estabeleceram
na Madeira? O que fizeram enquanto ali ficaram? Sabemos
que a investigação é quase sempre um terreno fértil em interrogações para as quais nem sempre se encontram respostas.
Também relativamente à matéria que nos ocupa estão muitas
respostas por dar e muitos caminhos por desbravar, pelo que
o desafio fica lançado.
No que diz respeito à conjuntura que enquadra a ida de muitas destas famílias para a Madeira, sabe-se que os tratados e as
alianças firmados entre a monarquia inglesa e a portuguesa
foram facilitadores de uma intensificação de contactos. Durante
o século XIX em particular, o incremento do espírito científico,
23
With regard to the History of Madeira during the 19th
Century and, in particular, the British families who came
to this insular area, there is still a lot of work to be done.
Besides the work by Rui Carita1, two studies by António
Marques Ribeiro da Silva and Paulo Rodrigues2 and occasional published articles in regional cultural magazines,
little more exists.
In fact, an attentive glance at the available bibliography shows that besides the general titles concerning the
History of Madeira, where the British presence is mentioned, little has been written about these residents who
came from the other side of the Channel, many of them
businessmen belonging to rich and powerful families.
In a general manner, almost all the islanders know
that the English were (and are) important. Regarding this
influence on our insular life, I would recall the walks
through the city I made in the company of my grandmother, for whom any blonde passer-by, who had clear
skin and was well-dressed, was, pure and simply, an English person (irrespective of their actual nationality).
But let me turn to the matter at hand today. Who were
these British individuals? Why did they come and settle in
Madeira? What did they do while they stayed here? We
know that research is a very fertile ground for questions
which do not always find answers. There are also many
answers to be given and many paths to be cleared related
to the matter concerning us here, and so my challenging
has been established.
As far as the context involving the departure of many
of these families to Madeira, it is known that the treaties
and alliances signed between the British and Portuguese
monarchies facilitated increased contacts. During the
19th Century in particular, the increase in scientific
por um lado, e o gosto pelo exótico, pelo desconhecido, pela
aventura, por outro, foram efectivamente factores determinantes para a ida de estrangeiros e, em especial, de britânicos para
a ilha da Madeira, sendo disso testemunho os numerosos estudos publicados na época relacionados com a fauna, a flora, a
geologia e o clima. Também este é um campo ainda muito pouco
estudado e cuja documentação é extensa e acessível, pelo que,
novamente, se lança um desafio a possíveis futuros trabalhos.
Não nos podemos esquecer de que as duas ocupações inglesas, ocorridas no contexto das guerras napoleónicas, a primeira
em 1801 e a segunda em 1807, justificam, igualmente, a presença de um elevado número de cidadãos britânicos. O facto de
a esquadra britânica se apoiar nos portos portugueses e, com
regularidade, no porto do Funchal, explica, por si só, por que
razão cerca de 3/5 do movimento do porto funchalense era
inglês. Neste quadro, importa ainda referir que um grande
número de viajantes ingleses, conhecidos como invalids, uma
vez que iam para a Madeira por prescrição médica, com o objectivo de se curarem de doenças pulmonares, e que, segundo
alguns autores, inauguraram o que hoje chamamos turismo
terapêutico, se não mesmo o turismo madeirense, no seu sentido mais lato, contribuíram igualmente para o elevado número
de ingleses fixados no Funchal.
Mas, e a família Phelps? Por que motivo rumou à Madeira?
Seriam cientistas? Militares? Doentes? Não. Esta família,
assim como algumas outras, inclui-se num leque de imigrantes cujo objectivo primordial era fazer dinheiro. Foram muitos, na verdade, os businessmen3 que se estabeleceram na
praça funchalense e que se dedicaram ao comércio do vinho
da Madeira. É este néctar dos deuses o factor mais importante, no nosso entender, para a fixação de cidadãos britânicos na cidade, sobretudo das famílias cuja permanência foi
mais prolongada e, consequentemente, mais marcante.
spirit, on the one hand, and a taste for the exotic, the
unknown, adventure, on the other, were in fact determining factors for the departure of foreigners and, in
particular, the British to the island of Madeira, testimony to which is the numerous studies published at the
time relating to flora, fauna, geology and the climate.
This is also a field which has hardly been studied and documentation for which is both extensive and accessible,
such that, once more, I would issue this as a challenge for
possible future work.
We cannot forget that the two British occupations,
which occurred within the context of the Napoleonic wars,
the first in 1801 and the second in 1807, also gave rise to
the presence of a large number of British citizens. The fact
that the British fleet harboured itself in Portuguese ports
and, regularly, in the port of Funchal, is sufficient explanation for why around 3/5 of the movement of goods in the
port of Funchal was British. Within this context, it is
important to mention the large number of travelling British, known as invalids, who came to Madeira for prescribed
medical reasons, with the aim of curing themselves of pulmonary diseases and which, according to some authors,
gave rise to what we would nowadays call therapeutic tourism, if not tourism to Madeira as a whole, in the broader
sense of the term. This also contributed to the large
number of British individuals residing in Funchal.
But what about the Phelps family? What made them
set course for Madeira? Were they scientists? Soldiers?
Patients? No. This family, as well as certain others, was
part of a group of immigrants whose primary aim was
making money. There were indeed many businessmen3
who set themselves up in the market at Funchal and dedicated themselves to trade in Madeira wine. In my opinion,
24
it is this nectar of the Gods which was the most important
reason for the settling of these British citizens in the city,
above all the families which stayed the longest and, as a
result, who made the greatest impact.
The first members of the family, William Phelps4
and Elisabeth Peyton, arrived at the port of Funchal,
travelling from Dursley5, in the year of 1784. They went
to live in Carmo (a road and house which still exist in the
city of Funchal) and there set up an office and residence.
The family grew considerably, with the birth of seven
children6.
The first reference to the commercial business of the
family occurred in 1786, two years after William’s arrival.
It is known that the firm changed its name throughout its
history. However, the family name was always present in
the firm’s designation, and was best known as Phelps Page
& Co. The study carried out by Noel Cossart7 on the companies set up in Funchal, in the period 1772 to 1880, ena4
Os primeiros membros da família, William Phelps e
Elisabeth Peyton, chegaram ao porto do Funchal, vindos de
Dursley5, no ano de 1784. Instalaram-se no Carmo (rua ainda
existente na cidade do Funchal, assim como a casa) e ali edificaram residência e escritório. A família foi crescendo intensamente, já que se podem contar sete filhos6.
A primeira referência à casa comercial da família surge em
1786, dois anos após a chegada de William. Sabe-se que ao
longo dos tempos a firma foi mudando de nome. Todavia,
manteve sempre na designação o nome da família, sendo a
mais conhecida Phelps Page & Co. O estudo realizado por Noel
Cossart7 acerca das firmas estabelecidas no Funchal, e que
abarca os anos de 1772 e 1880, permite verificar que o nome
da família Phelps é sempre referenciado. Um outro estudo, da
autoria de Graham Blandy8, igualmente sobre as firmas britâ25
bles us to confirm that the Phelps family name was always
part of the company’s name. Another study, this time by
Graham Blandy8, on the British firms with their main
office in the city of Funchal between 1803 and 1811, confirms the presence of that family business.
While William Phelps, the oldest son, took care of
business in London, Joseph Phelps, the Benjamin of the
family, took on the responsibility of managing the company in Funchal. Joseph and his family was in fact the subject of my Master’s dissertation, which the Commission
celebrating the 500th anniversary of Funchal (Comissão
Funchal 500 Anos) became interested in and, in particular,
Professor Virgílio Pereira, to whom is effectively due the
publication of the book which forms part of the collection
marking that anniversary9.
nicas sediadas na cidade do Funchal, entre os anos de 1803 a
1811, confirma a presença daquela empresa familiar.
Enquanto William Phelps, o filho mais velho, tomava
conta dos negócios em Londres, coube a Joseph Phelps, o
benjamim, a responsabilidade de liderar a empresa no Funchal. Joseph e a sua família foram o tema da nossa dissertação de Mestrado, que mereceu a atenção da Comissão Funchal
500 Anos e, em particular, do professor Virgílio Pereira, a
quem devemos, efectivamente, a publicação do livro que faz
parte da colecção que assinala aquele quinto centenário9.
Seguindo a tradição britânica, os filhos de William Phelps e
Elizabeth Peyton, depois de concluído o estudo das primeiras
letras, seguiram para Inglaterra onde, em colégios internos,
completaram a sua formação. Joseph Phelps foi enviado para
Winchester e terá sido numa dessas estadas que conheceu Elisabeth Dickinson10, que, em 1819, se tornou sua mulher. Os
recém-casados11 rumaram ainda nesse mesmo ano à ilha da
Madeira, onde Joseph iria liderar a firma herdada de seu pai.
Constituíram uma enorme família de 11 filhos12 e Elisabeth
tomou a seu cargo a exigente função de cuidar das crianças e da
casa, e não só, como mais adiante veremos.
A Phelps Page & Co., além de exportar vinho da Madeira,
tinha uma loja onde transaccionava uma enorme variedade de
artigos, tais como loiça, mobília, fazendas, géneros alimentares
e tabaco, entre muitos outros. O estudo elaborado por João
José Abreu de Sousa13 sobre o movimento do porto do Funchal
permite confimar que, nos anos de 1727 a 1810, e no que diz
respeito às firmas consignatárias, surge em primeiro lugar a
firma de Joseph e William Phelps. Adianta ainda que, do total
de 83 navios, 42 eram provenientes de Inglaterra e da Irlanda,
35 dos Estados Unidos e os restantes de outros lugares.
O prestígio da empresa desta família é facilmente reconhecido, não só através do volume de negócios da mesma,
Following British tradition, the children of William
Phelps and Elizabeth Peyton, after finishing their basic literary studies, went to boarding schools in England to finish their studies. Joseph Phelps was sent to Winchester
and it would have been during one of these stays that he
met Elisabeth Dickinson10, who would become his wife in
1819. The newly-weds11 set course in the same year for the
island of Madeira, where Joseph would manage the firm
inherited from his father. They had an enormous family of
11 children12 and Elisabeth carried out her demanding role
of taking care of the children and the house, and not only
as we shall see below.
Phelps Page & Co., besides exporting Madeira wine,
had a shop which sold an enormous variety of articles,
such as dishes, furniture, clothes, food products and
tobacco, amongst other items. The study carried out by
João José Abreu de Sousa13 on the movement in the port
of Funchal confirmed that in the years from 1727 to 1810,
the leading consignee firm was that of Joseph and William
Phelps. Furthermore, out of a total of 83 ships, 42 came
from England and Ireland, 35 from the United States of
America and the rest from other places.
It is easy to verify the prestige of the company, not
only through its volume of business, but also through the
fact of it having received permission to create a monetary
fund with which its clients, during periods in which there
was a lack of funds, could continue with their transactions.
Few firms were awarded such a privilege.
From time to time it was possible to verify the cultural
and social, as well as the financial and patrimonial importance that the Phelps family had attained on the island.
The firm was often asked to make financial loans. The
members of the family were also asked to serve as wit-
26
mas também pelo facto de ter tido permissão para criar uma
ficha monetária com a qual os clientes, durante os períodos
de escassez monetária, podiam continuar com as suas transacções. Foram poucas as firmas que tiveram tal privilégio.
Ao longo dos tempos, é possível verificar a importância
cultural e social, assim como financeira e patrimonial, que os
Phelps alcançaram no meio insular. A firma era frequentemente solicitada para realizar empréstimos monetários.
Os membros da família eram igualmente solicitados para
servirem de testemunhas e de procuradores no mais variado
tipo de transacções e Joseph Phelps, em particular, era sempre chamado a fazer parte das decisões e pareceres do corpo
de comércio funchalense. Aliás, Mr. Phelps foi nomeado
tesoureiro da primeira Associação Comercial do Funchal14, função que manteve durante largos anos.
Ao longo do nosso estudo, foi-se tornando notório o carácter empreendedor de Joseph, que além de se dedicar à casa
comercial propriamente dita, cujo volume de negócios exigia
muito trabalho, foi membro fundador da Associação Comercial
do Funchal (1835), da Sociedade Funchalense dos Amigos das
Ciências e das Artes15 (1822), do Asilo de Mendicidade do Funchal16 (1847), da Sociedade Agrícola do Distrito do Funchal17
(1854), do Hospício Princesa D. Maria Amélia18 (1854), e foi
ainda, durante os anos de 1843 a 1846, agente da Penisular &
Oriental Steam Navigation Company19.
No entanto, e além de todas estas actividades, aquela que
mais marcou a acção de Joseph Phelps e de sua mulher, Elisabeth, foi, sem dúvida, a criação da Escola Lancasteriana. Trata-se de um projecto ao qual o casal Phelps se dedicou com
muito afinco e cujo primordial objectivo foi suprir as lacunas
existentes quanto à educação dos mais desfavorecidos.
Enquanto Joseph se encarregou da edificação da escola para
rapazes, Elisabeth ficou com a responsabilidade da criação da
27
nesses and attorneys-in-fact for the most varied type of
transactions and Joseph Phelps, in particular, was always
called upon to take part in the decisions and expressions
of opinion given by the Funchal business community. In
fact, Mr. Phelps was nominated the treasurer of the first
Funchal Chamber of Commerce (Associação Comercial do
Funchal)14, a function he carried out for many years.
The entrepreneurial character of Joseph became ever
more evident as this study progressed, since, in addition
to his business work as such, the volume of which required
great effort, he was also a founding member of the Funchal Chamber of Commerce (Associação Comercial do Funchal) (1835), the Funchal Society for Friends of the Arts
and Sciences (Sociedade Funchalense dos Amigos das Ciências
e das Artes)15 (1822), the Institution for the Poor of Funchal (Asilo de Mendicidade do Funchal)16 (1847), the Agricultural Society of the District of Funchal (Sociedade Agrícola
do Distrito do Funchal)17 (1854), the Princess Maria Amélia
Hospice (Hospício Princesa D. Maria Amélia)18 (1854), and
also, from 1843 to 1846, the representative of the Peninsular & Oriental Steam Navigation Company19.
However, besides all these activities, the one which
most marked the work of Joseph Phelps and his wife,
Elisabeth was, without doubt, the setting up of the Lancastrian School (Escola Lancasteriana). This is a project to
which the Phelps dedicated themselves with great tenacity and the first aim of which was to combat the existing
gaps in the education of the underprivileged. While
Joseph undertook the building of the boys’ school, Elisabeth was given the task of setting up the girls’ school.
After having drawn up statutes for each of the schools20
and nominated their committees and managing boards,
both started operating, surviving on fees and donations
escola para raparigas. Depois de estabelecidos os estatutos
para cada uma das escolas20 e de nomeadas as comissões e
direcções, ambas entraram em funcionamento, sobrevivendo
à custa de subscrições e donativos e do subsídio que recebiam
da British and Foreign School Society. Sabe-se que o próprio
Joseph Phelps andou de porta em porta pelas residências dos
seus compatriotas e dos residentes mais importantes do Funchal recolhendo donativos para a fundação das ditas escolas.
A família de ambos, residente em Londres, contribuiu também monetariamente para este projecto, assim como todos
aqueles que o casal Phelps convidava a visitar os estabelecimentos e a deixar o seu contributo.
A escola liderada por Mrs. Phelps foi a que durou mais
tempo e, na verdade, aquando do regresso da família a Londres, ainda se encontrava em funcionamento, tendo ficado
entregue ao bispo do Funchal e a outras individualidades que,
desde sempre, colaboraram neste louvável projecto. Toda a
imprensa da época deu destaque à abertura deste estabelecimento de ensino, elogiando em simultâneo o acto filantropo
da família Phelps. Esta terá sido, efectivamente, a acção com
maior projecção dos Phelps, e todas as referências que encontrámos acerca desta família inclusas nos guias de viagens,
bem como na restante bibliografia publicada sobre a Madeira
oitocentista, mencionam, embora de forma sucinta, a edificação da Escola Lancasteriana21.
Mas este não foi o único gesto filantropo dos Phelps. Pelo
contrário. Os periódicos da época estão repletos de artigos e
notícias que espelham bem esta sua faceta. Durante toda a
estada na Madeira, a família acudiu a situações de maior aflição ocorridas na ilha ou fora dela, nomeadamente inundações, incêndios, aluviões e todo o tipo de catástrofe natural.
Os Phelps contribuíam regularmente para a Santa Casa da
Misericórdia, para o Asilo e para a Escola de Primeira Infân-
and the subsidy which they received from the British Foreign School Society. It is known that Joseph Phelps himself went from door to door of the residences of his compatriots and the most important residents of Funchal to
collect donations for the setting up of these schools. The
family of both, resident in London, also made financial
contributions to this project, as well as all of those who
had been invited by the Phelps couple to visit the sites
and leave their contribution.
The school run by Mrs. Phelps was the one which
lasted longer and, in fact, when the family returned to
London, it was still functioning, and was left in the hands
of the Bishop of Funchal and other individuals who had
always played their part in helping this admirable project.
All the press of the time highlighted the opening of this
educational establishment, and the philanthropic act of
the Phelps family. This was in fact, the most widely projected activity carried out by the Phelps family, and any
references found to this family, whether in travel guides,
or other publications on 19th Century Madeira, mention,
albeit in a succinct manner, the Lancastrian School21.
However, it was not the only philanthropic gesture
made by the Phelps. On the contrary. The periodicals of
the time are full of articles and news items which show
this facet of them well. Throughout the period of their stay
in Madeira, the family helped in situations of major affliction which occurred on the island or out of it, such as
floods, fires, landslides, or any other type of natural disaster. The Phelps contributed regularly to the main Portuguese charity, the Santa Casa da Misericórdia, and to the
Asylum and to the Primary School. They also gave financial support to the building and upkeep of bridges, roads,
fountains, streams and even sent from London “a piece for
28
cia. Deram igualmente ajuda monetária para a construção e
manutenção de pontes, estradas, fontes, ribeiras, e até mandaram vir de Londres “uma peça de pavilhas do sacrário com
suas franjas e galão de ouro, como também 72 libras de ouro
para dourar a nova capela do Senhor”, para a Igreja de Nossa
Senhora do Monte22. Joseph Phelps fez ainda parte da comissão criada em 1856 para acudir à epidemia de cólera. Como
curiosidade, refira-se que o filho, Charles Phelps, foi igualmente membro de uma comissão idêntica que havia sido
criada em Londres para ajudar a combater este flagelo.
No seu dia-a-dia o casal Phelps era solicitado com bastante
frequência, quer por familiares, amigos ou simplesmente
the sacristy with fringes and golden braid, as well as 72
pounds of gold to gilt the new chapel of the Lord”, for the
Church of Our Lady of the Monte22. Joseph Phelps also
formed part of the committee set up in 1856 to help during the cholera epidemic. As a note of curiosity, it should
be mentioned that his son, Charles Phelps, was also a
member of an identical commission which had been set up
in London to help fight this scourge.
In their day-to-day life the Phelps couple were frequently in demand, whether from family members, friends
or compatriots, and also the people of Madeira, to offer
support, or provide a word of comfort or advice. During
my research I encountered many examples of this. If, on
the one hand, Joseph Phelps was in demand for matters
related to business and problems thereof, Elisabeth
Phelps, on the other hand, played a key role within the
English community resident in Funchal, and as such her
opinion and advice was always listened to and held in high
esteem. In this way, Elisabeth not only received people in
her house every day, who came to ask for her help, but also
visited all those who needed her.
At the same time, the Phelps and, more specifically,
William and Joseph Phelps, were also lining the safes of
the firm in their capacity as businessmen as well as their
family and personal fortunes. I was able to analyse in a
detailed manner around 150 documents relating to contracts of sale, purchase and letting of buildings and properties. The scale of the volume of business and also the
financial capacity of the firm could be seen by the fact that
at a certain moment the firm held around 14 warehouses,
shops, granaries, a wine hothouse, making around 146
barrels simultaneously, all located within the city of
Funchal.
29
compatriotas, e até mesmo madeirenses, para prestar apoio,
dar uma palavra de conforto ou aconselhar. São vários os
exemplos que registámos ao longo da nossa investigação. Se,
por um lado, Joseph Phelps era solicitado para casos relacionados com negócios e problemas afins, Elisabeth Phelps, por
outro, detinha um papel preponderante no seio da comunidade inglesa residente no Funchal, pelo que a sua opinião e o
seu conselho eram tidos em consideração e grande estima.
Nesse sentido, Elisabeth não só recebia em sua casa, diariamente, pessoas que lhe vinham pedir auxílio, como também
visitava todos os que dela precisavam.
Paralelamente, os Phelps e, mais concretamente, William e
Joseph Phelps, como homens de negócios que eram, foram
engrossando não apenas os cofres da firma comercial como
também a sua fortuna familiar e pessoal. Foi possível analisar,
de forma detalhada, cerca de 150 documentos relativos a contratos de compra, venda e arrendamentos de edifícios e propriedades. O facto de a firma possuir, a dada altura, cerca de 14
armazéns, lojas, granéis e uma estufa de vinhos, onde se chegavam a colocar a cozer cerca de 146 pipas em simultâneo, todos
na cidade do Funchal, evidencia, na nossa perspectiva, o volume
de negócios, por um lado, e a capacidade financeira, por outro.
De entre as inúmeras casas e propriedades pertencentes
aos Phelps, urge destacar a Quinta do Prazer23, a residência de
Verão da família, situada na freguesia do Monte24, e que se
tornou emblemática, na medida em que todos os visitantes
ilustres que passavam pela Madeira, assim como as figuras de
renome da ilha, eram convidados a deliciar-se com uma visita
a esta propriedade extensa, aprazível e cuja riqueza floral e
vegetal se deve ao esforço de Elisabeth Phelps. O diário escrito
por Mary Phelps, uma das filhas de Joseph e Elisabeth Phelps,
permite assegurar que não só Elisabeth, mas todos os membros da família, tinham um profundo carinho e um imenso
Out of the numerous houses and properties belonging to the Phelps, I would like to highlight the Quinta do
Prazer23, the family’s summer residence, located in the
parish of Monte24, which became an emblematic place,
seeing that all the illustrious visitors who came to
Madeira, as well as any figure of renown on the island,
were invited to enjoy a visit to this extensive and pleasant property, whose floral and vegetable richness was
due to the efforts of Elisabeth Phelps. The diary written
by Mary Phelps, one of the daughters of Joseph and
Elisabeth Phelps, enables us to confirm that it was not
just Elisabeth, but all the members of the family who
cared for and had great pride in this property. Mary even
confesses that this was her favourite place and as such
she frequently spent time at the Quinta, where she
would spend the day in the gardens, reading, playing the
piano or just taking it the peace, tranquillity and surrounding beauty. Even nowadays, the Quinta is a place
of note in the insular urban space. It is now known as
Quinta Berardo and has been transformed into a park
and museum. As a matter of fact, it was sold for twenty
contos de réis by William Phelps in 1847, and paid for in
old wine.
It was discovered that between the years 1801 and
1860, 147 properties were traded in, with there having
been a tendency for the purchase of and leasing of property located in the city of Funchal. From 1848 there was a
clear inversion in the type of transaction since the Phelps
then started to sell more than they bought, an evident
sign, in my opinion, that times were not so favourable and
the crisis in the exportation of Madeira wine was being felt
and, furthermore, that they were planning to leave shortly,
which in fact is what happened.
30
orgulho nesta propriedade. Mary confessa mesmo que este é
o local onde se sente melhor e, por isso, são frequentes as
suas idas para a Quinta, onde passava o dia a passear pelos
jardins, a ler, a tocar piano ou, simplesmente, a desfrutar do
sossego, da tranquilidade e da beleza circundante. Ainda hoje,
a quinta assume relevo no espaço urbano insular. Actualmente denominada Quinta Berardo, foi transformada em
parque e museu. A título de curiosidade, podemos acrescentar que esta propriedade foi vendida por William Phelps, em
1847, por vinte contos de réis, pagos em vinho velho.
Apurou-se que entre os anos de 1801 e 1860 foram transaccionadas cerca de 147 propriedades, sendo notória uma tendência para a aquisição e arrendamento de bens imóveis situados na cidade do Funchal. A partir de 1848, é visível uma
inversão no tipo de transacção, uma vez que, dali em diante, os
Phelps vendem mais do que compram, sinal evidente, no nosso
entender, em primeiro lugar, de que os tempos já não eram tão
favoráveis, pois a crise na exportação do vinho da Madeira já se
fazia sentir, e, em segundo lugar, de que a partida se adivinhava
para breve, tal como efectivamente veio a suceder.
Importa ainda referir que os Phelps pagavam na totalidade o preço acordado, regra geral em dinheiro corrente na
praça. Por outro lado, como forma de pagamento recebiam
não apenas dinheiro mas, não raro, vinho e terra. É de salientar ainda o facto de, muitas vezes, a firma aceitar receber o
pagamento em prestações, sendo também frequente ela própria efectuar parte de um pagamento antes da celebração formal do contrato, nomeadamente quando as pessoas se encontravam em situação aflitiva.
Um documento datado de 1822, incluso no estudo de
Paulo Rodrigues25 e no qual se podem ver as propriedades e os
rendimentos dos sócios da firma comercial Phelps Page & Co.,
cujo valor total ascendia a 1 milhão e 840 mil cruzados
31
It is also important to note that the Phelps paid the
price agreed upon in full, and normally in cash. On the
other hand, as a form of payment they would often receive
not only money but, not infrequently, wine and land. It is
also worth noting that the firm often agreed to receive
payment in instalments, with it making part of a payment
before the formal signing of a contract or that is, when
people found themselves in a difficult situation.
A document dated 1822, and included in the study by
Paulo Rodrigues25 shows the properties and income of the
partners of the business firm Phelps Page & Co., and the
total value of this is 1 million 840 thousand cruzados
(737$400 thousand reis), which clearly shows the economic power of the Phelps.
It can also be added that when the family returned to
London, the Phelps decided to lease many of their properties, which they did for seven years for the offices and wine
hothouse, which they let to the Krohn Brothers firm. They
also passed on many of their goods to their children,
Joseph and Charles, though the couple did however keep
some houses and warehouses for themselves. The last
information concerning the family’s goods dates from
December 1877, when the press announced the holding of
an auction for the sale of “furniture, crockery, glass,
kitchen items, clothes and many other objects belonging
to Charles Phelps”26.
Before concluding, I cannot refrain from mentioning
the embroidery of Madeira, which in all the literature
relating to the History of Madeira is mentioned as one
more activity attributed to this family and, in particular, to
Bella Phelps. It has not been possible to find any document proving this, so all that remains is to mention that
there are two points of view with regard to this. Some
(737$400 mil reis), demonstra claramente o poderio económico dos Phelps.
Podemos ainda adiantar que, aquando do regresso da família a Londres, os Phelps decidiram-se pelo arrendamento de
muitos dos seus bens imóveis, sendo de destacar o que fizeram
por sete anos dos escritórios e da estufa de vinho à firma Krohn
Brothers. Procederam igualmente à doação de muitos dos bens
aos filhos, Joseph e Charles, tendo o casal, todavia, mantido
ainda algumas casas e armazéns na sua posse. A última notícia
em relação aos bens da família data de Dezembro de 1877,
quando a imprensa anuncia a realização de um leilão onde estarão à venda “mobília, loiça, vidros, trem de cozinha, roupas e
muitos outros objectos pertencentes a Charles Phelps”26.
Antes de finalizar, não podemos deixar de fazer referência
ao bordado da Madeira, que surge em toda a bibliografia respeitante à História da Madeira como mais uma actividade atribuída à família aqui tratada e, em particular, a Bella Phelps.
Não tendo sido possível encontrar nenhum documento com-
argue that it was Bella who introduced embroidery to
Madeira, teaching woman and girls to embroider and setting up a school; others argue that embroidery had always
been carried out on the island and that Bella Phelps just
commercialised it, by sending samples to her family and
friends in London. The activity was finally handed over to
the Wilkinson firm. Family documents to which I have had
access enable me to confirm that the daughters of Elisabeth Phelps knew how to embroider but none of these
make reference to an embroidery school set up by Bella.
However, there is an undated and unsigned document
within the family archive which mentions that Kitty
Phelps and Lady Marion Alford, who worked in the Kensington School of Needlework, promoted the sale of
embroidery sent by Bella Phelps, during the cholera epidemic27. What is more, Penelope Forrest Phelps and James
Phelps, family members resident in South Africa, claim
that family references to embroidery were common and,
specifically, embroidery pieces, mainly baby clothes and
tablecloths. Simon Phelps, a descendant of the family still
residing in Madeira, also supplied us with copies of the
designs for the embroidery models signed by Elisabeth
Phelps and dated 1861. One of these designs is mentioned
by Noel Cossart28 in the previously cited book. In the family archive deposited in Lambeth Archives in London, I
found a photograph of a building located in Funchal which,
on the back and written in pencil, is identified as the
Embroidery School.
As will have been noticed, the Phelps were a family
who inscribed their name in a lasting manner in the History of the island in the 19th Century29. During the forty
years in which they resided in Funchal, they were noted for
their dynamic and entrepreneurial attitude, and although
32
provativo, resta-nos apenas referir que existem duas posições
face a esta questão. Defendem uns que foi Bella quem introduziu o bordado na Madeira, ensinando as mulheres e raparigas a
bordar e edificando uma escola; outros, advogam que desde
sempre se bordara na ilha e que Bella Phelps apenas deu o seu
contributo para a comercialização do produto, tendo enviado
amostras para os seus familiares e amigos em Londres. A actividade acabaria por ficar entregue à firma Wilkinson. Os documentos familiares a que tivemos acesso permitem confirmar
que as filhas de Elisabeth Phelps sabiam bordar, mas nenhum
deles faz referência à existência de uma escola de bordados
criada por Bella. Todavia, um documento sem data e sem assinatura integrado no espólio familiar refere que Kitty Phelps e
Lady Marion Alford, colaboradoras da Kesington School of Neddlework, promoveram a venda de bordados enviados por Bella
Phelps, num contexto ligado à epidemia de cólera27. Por outro
lado, Penelope Forrest Phelps e James Phelps, familiares residentes na África do Sul, sustentam que sempre foram frequentes as referências familiares ao bordado e, em concreto, a peças
de bordado, essencialmente roupa de bebé e toalhas de mesa.
Simon Phelps, descendente da família ainda a residir na
Madeira, facultou-nos igualmente cópias de desenhos de modelos de bordados assinados por Elisabeth Phelps e datados de
1861. Um desses desenhos surge referenciado por Noel Cossart28 no livro já citado. No espólio familiar depositado nos
Lambeth Archives, em Londres, encontrámos uma fotografia
de um edifício situado no Funchal que, no verso, a lápis, o identifica como Escola de Bordados.
Como se tem vido a verificar, os Phelps foram uma família
que inscreveu o seu nome, de forma duradoura, na história
insular oitocentista29. Durante os quarenta anos em que viveram no Funchal, destacaram-se pela sua atitude dinâmica e
empreendedora, e embora mantendo o seu british way of life,
33
keeping their “British way of life”, they knew how to blend
their demanding and competitive commercial activity with
a large number of activities of a social, cultural and humanitarian nature.
The Phelps, and all the other British families who
lived in the city of Funchal during the 19th Century, left
lasting marks on the island: the way of dressing, daily
administrative duties until 14:00, a great concern with the
comfort and decoration of the home (both inside and outside, essentially with a notable adoption of English taste,
especially Hepplewhite and Chippendale), gardening
(transforming exotic plants into a nursery garden and holiday homes), the first lighting for the city, the first brewery
of Henry Price Miles, the butter factory of John Blandy,
the oxcart of Major Buckley and the Monte carriage of
Russell Gordon, amongst many others.
As António Ribeiro Marques da Silva has argued, let
us finish by underlining that while there may have been
abuses and the English may have made fortunes in
Madeira, there is no doubt that they transmitted “a certain cosmopolitanism (...) indisputably contributing to the
opening of mentalities ...”30.
notes
1
CARITA, Rui - História da Madeira (History of Madeira). Funchal: Secre-
2
SILVA, António Ribeiro Marques da Silva - Apontamentos sobre o quotidiano
taria Regional de Educação da Madeira, 1999.
madeirense (1750-1900) (Notes on daily life in Madeira – 1750-1900). Lisboa: Caminho, 1994, and Passaram pela Madeira (They Came to Madeira).
Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos”, 2008; and RODRIGUES, Paulo Miguel - A política e as questões militares na Madeira: o período
das Guerras Napoleónicas (Politics and military questions in Madeira: the
period of the Napoleonic Wars). Funchal: Centro de Estudos de História
do Atlântico, 1999, and A Madeira entre 1820 e 1842: Relações de poder e
souberam conjugar a exigente e competitiva actividade comercial com uma grande variedade de actividades de carácter
social, cultural e humanitário.
Os Phelps, e todas as restantes famílias britânicas que
durante o século XIX viveram na cidade do Funchal, deixaram
profundas marcas na ilha: o modo de vestir, o horário de expediente até às 14h, uma maior preocupação com o conforto e
decoração da casa (quer no interior, quer no exterior, essencialmente com uma visível adaptação ao gosto inglês, sobressaíndo
o mobiliário Hepplewhite e Chippendalle), o arranjo do jardim,
(transformado em viveiro de plantas exóticas e onde não faltava
a casinha de prazer), a primeira iluminação da cidade, a primeira
fábrica de cerveja de Henry Price Miles, a fábrica de manteiga de
John Blandy, o carro de bois do Major Buckley e o carro do
Monte de Russel Gordon, entre muitos outros.
Tal como sustenta António Ribeiro Marques da Silva, terminamos sublinhando que, embora tenha havido abusos e os ingleses tenham feito fortunas na Madeira, não há dúvida de que
transmitiram “um certo cosmopolitanismo (...) contribuindo
indiscutivelmente para a abertura de mentalidades...”30.
influência britânica (Madeira between 1820 and 1842: Power Relationships and the British Influence). Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos”, 2008.
3
British families of note which went to the island of Madeira include the
Cossarts, Newtons, Gordons, Rutherfords, Murdochs, Leacocks and
Blandys. The latter two still have descendants living on the island.
4
The couple William and Elisabeth married on 6 December 1783, in the
Church of St. Giles, Crippelgate, London, and left Gravesend on 18 January of the following year for the island of Madeira.
5
City located in the district of Stroud, county of Gloucestershire.
6
Elisabeth was born on 24 October 1784 and Mary on 1 September 1785.
Both were baptised on the same day, 24 October 1785. William was born
two years later and, on 12 March 1789, Abel was born, followed by Anne,
on 4 June of the following year and, finally, Charles, on 29 August 1796.
7
COSSART, Noel - Madeira — The Island Vineyard. London: Christie’s Wine
Publications, 1984.
8
BLANDY, Graham - The Old Factory at Madeira. Photocopied text. Funchal.
9
GOUVEIA, Cláudia Faria – Phelps. Percursos de uma Família Britânica na
Madeira de Oitocentos (Phelps. Paths of a British Family in the 1900s),
Madeira. Funchal: Empresa Municipal Funchal “500 Anos”, 2008.
10
Elisabeth was the daughter of Capitan Thomas Dickinson and of Francis
de Brissac. The Dickinson couple had a large family of nine children ,
with the first-born, John, of note, having founded the paper factory
John Dickinson & Co. Ltd in 1804.
11
Elisabeth and Joseph married on 17 August 1819, according to records
12
Elisabeth was born in 1820, Mary in 1822, Anne in 1824, Frances in
by Margaret Peyton, kindly given by the family.
1826 and Harriet in 1828. The first male offspring, Joseph, was born
the following year, and in 1831 Clara was born. Two years later Charles
was born, followed by William in 1836, Arthur in 1837, and Jane Frederica in 1842. The two first and the last daughter of the Phelps couple
notas
1
2
3
4
remained spinsters. Anne became Mrs. Bayman, through marriage to
Robert Bayman in 1857, Frances married in 1858 to her cousin John
CARITA, Rui - História da Madeira. Funchal: Secretaria Regional de Educação da
Madeira, 1999.
SILVA, António Ribeiro Marques da Silva - Apontamentos sobre o quotidiano madeirense (1750-1900). Lisboa: Caminho, 1994, e Passaram pela Madeira. Funchal:
Empresa Municipal “Funchal 500 anos”, 2008; e RODRIGUES, Paulo Miguel - A política e as questões militares na Madeira: o período das Guerras Napoleónicas. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 1999, e A Madeira entre 1820 e 1842: Relações
de poder e influência britânica. Funchal: Colecção “Funchal 500 anos”, 2008.
De entre as famílias britânicas que foram para a ilha da Madeira merecem destaque
os Cossart, Newton, Gordon, Rutherford, Murdoch, Leacock e Blandy. Estas duas
últimas ainda hoje têm descendentes a viver na ilha.
O casal William e Elisabeth contraiu matrimónio em 6 de Dezembro de 1783, na
Igreja de St. Giles, Crippelgate, Londres, tendo partido de Gravesand no dia 18 de
Janeiro do ano seguinte, com destino à ilha da Madeira.
Evans, thus becoming the stepmother of the famous archaeologist Sir
Arthur Evans. Harriet got married in 1854 to the Reverend John Lake
Crompton and went to live in South Africa. Clara became Mrs. Oakley,
when she got married in 1860 to the Reverend John Oakley, and Charles
got married for the first time to Agnes Neale in 1869, and married once
again in 1908, this time to Katherine Wilkinson. William and Arthur
undertook military careers. The former married Catherine Anne Glasse
and the latter Caroline Anne Peyton, in 1868.
13
SOUSA, João José Abreu de - O Movimento do Porto do Funchal e a conjuntura da Madeira de 1727 a 1818 (Movement in the Port of Funchal and the
conjuncture of Madeira from 1727 to 1818). Funchal: DRAC, 1994.
14
The Funchal Chamber of Commerce (A Associação Comercial do Funchal)
arose following the need to set up a commercial body in the city of Fun-
34
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
35
Cidade situada no distrito de Stroud, condado de Gloucestershire.
Elisabeth nasceu em 24 de Outubro de 1784 e Mary em 1 de Setembro de 1785.
Ambas foram baptizadas no mesmo dia, 24 de Outubro de 1785. William nasceu
dois anos mais tarde e, em 12 de Março de 1789, nasceu Abel, seguido de Anne,
em 4 de Junho do ano seguinte e, por último, Charles, no dia 29 de Agosto de
1796.
COSSART, Noel - Madeira — The Island Vineyard. London: Christie’s Wine Publications, 1984.
BLANDY, Graham - The Old Factory at Madeira. Texto policopiado. Funchal.
GOUVEIA, Cláudia Faria – Phelps. Percursos de uma Família Britânica na Madeira de
Oitocentos. Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 Anos”, 2008.
Elisabeth era filha do Capitão Thomas Dickinson e de Francis de Brissac. O casal
Dickinson teve uma família numerosa de nove filhos, sendo de destacar o primogénito, John, que fundou em 1804 a fábrica de papel John Dickinson & Co. Ltd.
Elisabeth e Joseph casaram no dia 17 de Agosto de 1819, segundo o registo de Margaret Peyton, cedido pela família.
Elisabeth nasceu em 1820, Mary em 1822, Anne em 1824, Frances em 1826 e Harriet em 1828. No ano seguinte nasceu o primeiro varão da família, Joseph, e em
1831 nasceu Clara. Dois anos depois nasceu Charles, seguido de William, em 1836,
Arthur, em 1837, e Jane Frederica, em 1842. As duas primeiras e a última filha do
casal Phelps permaneceram solteiras. Anne tornou-se Mrs. Bayman, por casamento,
em 1857, com Robert Bayman, Frances casou em 1858 com o seu primo John
Evans, tornando-se assim madrasta do famoso arqueólogo Sir Arthur Evans. Harriet casou em 1854 com o reverendo John Lake Crompton e foi residir para a África
do Sul. Clara tornou-se Mrs. Oakley, por casamento ocorrido em 1860 com o reverendo John Oakley, e Charles casou em primeiras núpcias com Agnes Neale no ano
de 1869, tendo voltado a contrair matrimónio em 1908 com Katherine Wilkinson.
William e Arthur seguiram a carreira militar. O primeiro casou com Catherine Anne
Glasse e o segundo com Caroline Anne Peyton, em 1868.
SOUSA, João José Abreu de - O Movimento do Porto do Funchal e a conjuntura da
Madeira de 1727 a 1818. Funchal: DRAC, 1994.
A Associação Comercial do Funchal surge no seguimento da necessidade de o corpo
de comércio da cidade do Funchal se organizar e defender os seus direitos. Da primeira comissão nomeada faziam parte John Shortridge, como presidente, e Roque
Caetano de Araújo, como vice-presidente. Os restantes elementos eram João António de Gouveia Rego, João Coelho de Meirelles, João Crisóstomo Ferreira Uzel, Joaquim Monteiro de Afonseca, José Maria Bernes, Joseph Phelps e William Grant.
Esta Associação foi criada com o objectivo de promover a felicidade da Província da
Madeira, cultivando as ciências e as artes. Era composta por sócios efectivos, honorários e correspondentes. Podemos adiantar que Robert Page, sócio e cunhado de
Joseph Phelps, ofereceu 37 volumes de literatura à biblioteca.
A criação desta instituição deveu-se à iniciativa de José Silvestre Ribeiro, Governador Civil do Funchal, e visava a recolha dos mendigos que vagueavam pela cidade.
Consequentemente, e após ter sido disponibilizado um armazém para o efeito, foi
nomeada uma comissão da qual faziam parte o Bispo da Diocese, D. José, e os ilustres Fidélio de Freitas Branco, Severiano Alberto Ferraz, Vicente de Brito Correa e
António Machado Costa. Todavia, e devido às dificuldades que se advinhavam grandes, passados três dias o número de colaboradores aumentou com a entrada de
chal to set up and defend its interests. The first nominated committee
included John Shortridge, as President, and Roque Caetano de Araújo, as
Vice-President. The other members were João António de Gouveia Rego,
João Coelho de Meirelles, João Crisóstomo Ferreira Uzel, Joaquim Monteiro de Afonseca, José Maria Bernes, Joseph Phelps and William Grant.
15
This association was set up with the aim of promoting the happiness of
the Province of Madeira, stimulating the arts and sciences. It contained
full, honorary and corresponding members. To this can be added that
Robert Page, member and brother-in-law of Joseph Phelps, offered 37
works of literature to its library.
16
The setting up of this association occurred through the initiative of
José Silvestre Ribeiro, Civil Governor of Funchal, and sought to collect
the beggars which roamed the streets. As a result of this, and after a
warehouse had been made available for such purposes, a committee
was nominated which included the Bishop of the Diocese, D. José, and
the prominent citizens Fidélio de Freitas Branco, Severiano Alberto
Ferraz, Vicente de Brito Correa and António Machado Costa. However
and due to the difficulties considered as having been considerable,
after three days the number of helpers increased due to the joining of
Jorge da Câmara Leme and Charles Blandy. It was possible to confirm
that Joseph Phelps was part of this institution from 1850 to 1860.
17
This was an institution set up in 1854, the aim of which being to discuss,
clarify and promote matters relating to agronomy. The setting up of this
association on the island of Madeira was justified because of its weak
productivity and the lack of resources, both material and financial.
18
This institution was set up in 1862 in memory of Princess D. Maria
Amélia, daughter of King D. Pedro, 1st Emperor of Brazil and King of
Portugal, who went to the island of Madeira in 1852 and who died the
following year, victim of tuberculosis. The princess’s mother,
D. Amélia de Leuchtenberg, entrusted the running of the institution
to the filhas da Caridade de S. Vicente de Paula and, upon her death, this
was handed over to her sister, Queen of Sweden. The institution is
still functioning nowadays and receives regular visits from the Swedish royal family.
19
This was a navigation company established in 1822 by Brodie Mcghie
Wilcox and Arthur Anderson, with Captain Richard Bourne joining
them in 1835. From this time onwards it started a regular service
between England, Spain and Portugal.
20
On the establishment of this school, see Arquivo Histórico Ultramarino,
box 21, No. 7022, Regras e Regulamentos das Senhoras do Funchal
Associadas e Regulamento da Associação Funchalense para o Ensino
Mútuo (Rules and Regulations of the Associated Ladies of Funchal and the
Regulations of the Funchal Association for Mutual Education), and also
Arquivo Histórico Ultramarino, box 21, no. 7023, Relatório dos Progressos da Escola Lancasteriana na Província da Madeira (Progress Report of
the Lancastrian School in the Province of Madeira).
17
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19
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22
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24
Jorge da Câmara Leme e Charles Blandy. Foi possível verificar que Joseph Phelps fez
parte desta instituição entre 1850 e 1860.
Trata-se de uma instituição criada em 1854 e que tinha como objectivo a discussão,
o esclarecimento e a promoção de assuntos relacionados com agronomia. No caso da
ilha da Madeira, a fraca produtividade e a falta de recursos, quer materiais quer
financeiros, justificaram o estabelecimento desta associação.
Esta instituição foi criada em 1862 em memória da Princesa D. Maria Amélia, filha
de D. Pedro, 1.º imperador do Brasil e rei de Portugal, que foi para a ilha da Madeira
em 1852 e acabou por falecer no ano seguinte, vítima de tuberculose. A mãe da princesa, D. Amélia de Leuchtenberg, confiou a direcção da instituição às filhas da Caridade de S. Vicente de Paula e, aquando da sua morte, aquela passou para as mãos da
irmã Josefina, rainha da Suécia. A instituição funciona ainda nos nossos dias e os
reis da Suécia visitam-na regularmente.
Trata-se de uma companhia de navegação fundada em 1822 por Brodie Mcghie
Wilcox e Arthur Anderson, aos quais se juntou, em 1835, o capitão Richard Bourne.
A partir dessa altura iniciou-se um serviço regular entre Inglaterra, Espanha e
Portugal.
Sobre a criação da escola, ver Arquivo Histórico Ultramarino, Cx21, n.º 7022, Regras
e Regulamentos das Senhoras do Funchal Associadas e Regulamento da Associação
Funchalense para o Ensino Mútuo, e ainda Arquivo Histórico Ultramarino, Cx 21,
n.º 7023, Relatório dos Progressos da Escola Lancasteriana na Província da Madeira.
A dedicação de Elisabeth Phelps à escola poder ser amplamente comprovada através
da leitura de uma carta que o casal publicou no dia 24 de Julho de 1860 no n.º 162
do periódico A Ordem, e na qual, além de se despedirem de todos os amigos e madeirenses em geral, Elisabeth refere que a escola de Meninas do Funchal, que funcionava há 39 anos sob a sua responsabilidade, se encontrava em boas condições, materiais e financeiras, e seria, a partir daquela data, dirigida pelo Bispo do Funchal, pela
Condessa de Farrobo, por D. Maria de Araújo e por Maurício Castelbranco.
RIBEIRO, João Adriano - Monte - Breve Resenha Histórica da Freguesia de Nossa Senhora
do Monte. Funchal: Fundação Berardo, 1991, p.14.
A obra Monte- Breve Resenha Histórica da Freguesia de Nossa Senhora do Monte, da autoria de João Adriano Ribeiro, permitiu verificar que as propriedades onde a quinta se
veio a instalar estiveram nas mãos dos Jesuítas até 1770, tendo sido compradas em
hasta pública por Thomas Lougham três anos depois. Mais tarde, no ano de 1779, a
propriedade foi adquirida por Charles Murray, Cônsul Britânico na Madeira, a quem
se deve grande parte das obras de melhoramento efectuadas. O casal Murray venderia a propriedade a Luís Vicente Carvalhal Esmeraldo por trinta contos de réis em
7 de Agosto de 1798. Por morte e falta de descendência daquele, é dividida em duas
partes. A mãe, D. Isabel Maria da Câmara Leme, fica com a parte de cima da propriedade, e a viúva, D. Ana Ignácia de Freitas Correia, entretanto casada com Nuno de
Freitas da Silva, fica com a parte conhecida como Quinta de Baixo. É esta fracção da
propriedade que é adquirida pela casa comercial Phelps Page & Co no dia 13 de Maio
de 1805, por quinze contos de réis, e que passa a denominar-se Quinta do Prazer.
Esta freguesia, situada no Funchal, a cerca de 550m de altitude, ficou conhecida ao
longo dos tempos, essencialmente, devido à amenidade do clima e à paisagem verdejante, em certa medida semelhantes às de Inglaterra, daí ter sido escolhida por
muitos britânicos para a edificação de casas, para onde “fugiam” no pino do Verão,
que tornava o calor da cidade do Funchal insuportável.
21
Elisabeth Phelps’s dedication to the school can certainly be proved
through the reading of a letter which the couple published on 24 July
1860 in issue no. 162 of the periodical A Ordem, in which, besides saying
goodbye to all their friends and the people of Madeira in general, Elisabeth mentioned that the Funchal Girls’ school, which had operated for
39 years under her leadership, was in good health both materially and
financially, and from that point on it would be run by the Bishop of Funchal, the Countess of Farrobo, D. Maria de Araújo and by Maurício
Castelbranco.
22
RIBEIRO, João Adriano – Monte - Breve Resenha Histórica da Freguesia de
Nossa Senhora do Monte (Monte – A Brief Summary of the History of the
Parish of Our Lady of Monte). Funchal: Fundação Berardo, 1991,
p.14.
23
The work Monte - Breve Resenha Histórica da Freguesia de Nossa Senhora
do Monte, (Monte – A Brief Summary of the History of the Parish of Our
Lady of Monte) was written by João Adriano Ribeiro, and allows us to
confirm that the property in which the quinta was located had
belonged to the Jesuits until 1770, and had been bought at public auction by Thomas Lougham three years afterwards. Later on, in the year
of 1779, the property was purchased by Charles Murray, British Consul in Madeira, who carried out most of the works to improve it. The
Murray couple sold the plot to Luís Vicente Carvalhal Esmeraldo for
thirty contos de réis on 7 August 1798. Upon his death and being heirless, it was divided into two parts. His mother, D. Isabel Maria da
Câmara Leme, acquired the upper part of the property and his widow,
D. Ana Ignácia de Freitas Correia, who in the meanwhile had married
Nuno de Freitas da Silva, kept the part known as Quinta de Baixo. It was
this part of the property that was purchased by the Phelps Page & Co.
firm on 13 May 1805, for fifteen contos de réis, and which became
known as the Quinta do Prazer.
24
This parish, located in Funchal, and around 550m in altitude, was
known mainly for the amenity of its climate and lush greenery, similar
to a certain extent to that of England and as such was chosen by many
British families as a place to build their houses and where they would
“flee” the height of summer where the heat in the city of Funchal
became unbearable.
25
RODRIGUES, Paulo Miguel - A Madeira entre 1820 e 1842: Relações de
poder e influência britânica (Madeira between 1820 and 1842: Power Relationships and the British Influence). Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos”, 2008, p.709.
26
Diário do Funchal periodical, 15 December 1877, p. 3.
27
I would like to point out that the cholera epidemic broke out in 1856 and
the Phelps family departed for London in 1860.
28
This writer believes that the introduction of embroidery is connected
to the vine disease and mentions that “an enterprising British lady,
Miss Elisabeth Phelps” started up a school. The writers Walter Michin-
36
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26
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37
RODRIGUES, Paulo Miguel - A Madeira entre 1820 e 1842: Relações de poder e influência britânica. Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 anos” , 2008, p.709.
Periódico Diário do Funchal, 15 de Dezembro de 1877, p. 3.
Gostaríamos apenas de referir que a epidemia de coléra ocorreu em 1856 e a família
Phelps partiu para Londres em 1860.
Este autor sustenta que a introdução do bordado está ligada à doença da vinha e
refere que “an enterprising british lady, Miss Elisabeth Phelps” deu início a uma
escola. Os autores Walter Michinton, Desmond Gregory, Elisabeth Nicholas, Susan
Farrow, Carolyn Walker e Kathy Holman partilham a opinião de que terá sido Bella
Phelps a responsável pela introdução do bordado na ilha da Madeira. O padre Fernando Augusto da Silva refere que este tipo de trabalho começou a ser feito em larga
escala por volta de 1853, devido à procura que estava a ter em Londres, para onde
Miss Phelps o teria levado. António Ribeiro Marques da Silva sustenta que a tradição
atribui a Miss Phelps a criação e desenvolvimento do bordado, e Luiza Clode acrescenta que terá sido Bella, ao apreciar a perfeição do trabalho, quem terá fomentado
a sua venda em Londres. Benedita Câmara, por seu turno, defende que a conjuntura
de dificuldade económica causada pela doença da batata e a queda do preço do vinho
da Madeira fomentou o envio destes trabalhos para Londres, pela filha de Joseph
Phelps. Por outro lado, os autores Abel Fernandes, Emanuel Janes e Gabriel Pita
afirmam que o bordado da Madeira não é uma invenção britânica, mas sim uma tradição portuguesa introduzida pelos primeiros colonos.
Actualmente o nome da família Phelps faz parte da toponímia da cidade do Funchal,
uma vez que existe um largo com o seu nome. O Largo do Phelps foi outrora a rua do
Phelps e a sua construção deveu-se ao próprio Joseph Phelps. Uma notificação do
Administrador do Concelho do Funchal, datada de 6 de Abril de 1856 e dirigida ao
Governador Civil, testemunha a ocorrência.
SILVA, António Ribeiro Marques da - Apontamentos sobre o quotidiano madeirense
(1750-1900). Lisboa: Caminho, 1994, p. 158.
ton, Desmond Gregory, Elisabeth Nicholas, Susan Farrow, Carolyn
Walker and Kathy Holman share the opinion that it would have been
Bella Phelps who would have been responsible for the introduction of
embroidery on the island of Madeira. Father Fernando Augusto da
Silva mentions that this type of work started to be carried out on a
large scale in 1853, due to demand in London, where Miss Phelps
would have taken it. António Ribeiro Marques da Silva argues that the
tradition attributes to Miss Phelps the setting up and development of
embroidery and Luiza Clode adds that it would have been Bella, upon
appreciating how perfect the work was, who would have encouraged
its sale in London. Benedita Câmara, furthermore, argues that the difficulties imposed by the vine disease and that caused by the potato
blight and the fall in the price of Madeira wine encouraged the sending
of these items to London by the daughter of Joseph Phelps. On the
other hand, the writers Abel Fernandes, Emanuel Janes and Gabriel
Pita state that Madeira embroidery was not a British invention, but
rather a Portuguese tradition introduced by the original settlers to the
island.
29
The Phelps family name is currently part of the toponymy of the city
of Funchal, since there is a square (largo) with this name. The Largo do
Phelps used to be the Rua do Phelps and its construction was due to
Joseph Phelps himself. A note from the Administrator of Funchal
Council, dated 6 April 1856 and sent to the Civil Governor, testifies to
this fact.
30
SILVA, António Ribeiro Marques da - Apontamentos sobre o quotidiano
madeirense (1750-1900) (Notes on daily life in Madeira – 1750-1900).
Lisboa: Caminho, 1994, p. 158.
Os tempos e as gerações da família Kingston em Portugal:
a figura de William Henry Giles Kingston
The times and generations of the Kingston family in Portugal:
the figure of William Henry Giles Kingston
Maria da Conceição Emiliano Castel-Branco
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 38-55, ISSN 1646-7116
A bottle of really good Port
is more easily drunk than found.
William Kingston, LSPP, XXXII, p.318
Desde tempos remotos que indivíduos de nacionalidade britânica, de cruzados a piratas, membros da família real, comerciantes, militares, embaixadores, turistas, membros do clero,
viajantes, escritores, encontraram motivos para se deslocar ao
extremo oeste da Europa. Para os que escolheram estas paragens, Portugal foi sendo, em diferentes épocas, um ponto de
passagem obrigatório. Como refere Rose Macaulay, “it is a long
story” (Macaulay, p. 12) e, por razões diversas, para alguns desses britânicos Portugal não se limitou a ser apenas uma etapa
mais de uma curta viagem, um mero ponto de transição, mas
uma segunda pátria, espaço de longas estadas e local de residência ao longo dos anos, motivados por diferentes percursos e
actividades de carácter pessoal, oficial, ou mesmo profissional.
Todos estes factores, em geral, e o comércio que se desenvolveu entre as duas nações, incrementado em grande medida
após o Tratado de Methuen, contribuíram, em particular, para
o surgimento nas principais cidades portuguesas de comunidades britânicas que, embora pequenas, eram extremamente
ricas e desenvolvidas culturalmente – verdadeiras miniaturas
da sociedade britânica – centradas, em cada caso, à volta da
chamada Feitoria Inglesa.
Individuals with British nationality, whether pirates,
members of the Royal family, traders, members of the
armed forces, ambassadors, tourists, members of the
clergy, travellers, writers, have found reasons to come to
the most westerly part of Europe. For those who chose
a stay here, Portugal had been an obligatory port of call
in different periods. As Rose Macaulay mentions, “it is
a long story” (Macaulay, p. 12) and, for various reasons,
for some of these British people Portugal was not just a
staging post in a short journey, a mere point of passage,
but a second home, a space for long stays and a place of
residence down the years, motivated by different paths
and activities of a personal, official or even professional
nature.
All of these factors, in general, and the trade which
developed between the two nations, which greatly
increased after the Treaty of Methuen, contributed, in
particular, to the emergence of British communities in the
main Portuguese cities which, although small, were quite
culturally rich and developed – true miniatures of British
society – centred, in each case, around the so-called English Factory House (Feitoria).
Os Kingston em Portugal
Desde meados do século XVIII que há referências em vários
documentos a membros da família Kingston radicados e activos no Porto, ligados à história do vinho do Porto. Os Kingston estabeleceram-se em Portugal desde o século XVIII por
razões comerciais. Mas outros motivos, político-militares, por
exemplo, tinham trazido a terras lusitanas outros membros
da família de William, como o Almirante Sir George Rooke ou
Sir Harry Burrard durante a guerra peninsular.
Uma das primeiras referências a esta família no Porto
encontra-se nos registos da Feitoria Britânica na mesma cidade,
39
The Kingstons in Portugal
There had been references in various documents
from the middle of the 18th Century to members of the
Kingston family living and active in Oporto, linked to the
history of Port wine. The Kingstons had set themselves
up in Portugal from the 18th Century onwards for commercial reasons. But other political and military reasons
had for example brought other members of William’s
family to Lusitanian shores, such as Admiral Sir George
Rooke or Sir Harry Burrard during the Peninsular War.
com a data de 1 de Janeiro de 1771, em que se aponta o casamento de “J. Kingston, batchelor” com “Catherine Gardner,
spinster”, no Porto, na presença do Rev. William Emmanuel
Page, o capelão da Feitoria Britânica de 1769 a 1776. Em
1772, o nome dos Kingston surge pela primeira vez associado
a uma firma do vinho do Porto – Lambert, Kingston & Co. –
a sucessora, depois de muitas alterações de nome, da firma
Peter Dowker & Co., fundada em 1691, no século XVII1.
Nesse mesmo registo da Feitoria é referido em 5 de Abril
de 1779 um outro membro da família, Benjamin Kingston,
servindo de testemunha num casamento; ele próprio veio
a contrair matrimónio em S. João da Foz, como também
está registado, no dia 26 de Setembro de 1787, com Margaret Brett na presença de John Bell, capelão da Feitoria de
1783 a 1805. Benjamin Kingston, o primeiro membro da
família Kingston a estabelecer-se em Portugal, era irmão de
John Kingston (avô de W. H. G. Kingston pelo lado paterno),
e referido frequentemente como “Physician to the Factory
House”.
Salientando-se por uma ou outra actividade, as gerações
da família Kingston estavam definitivamente ligadas à produção e exportação do vinho do Porto e várias décadas passaram até aparecer no Porto, em meados do século XIX, William
Henry que tanto interesse e simpatia demonstrou por Portugal. Charles Kingston, um dos seus irmãos, foi o último membro da família Kingston a viver em Portugal, sendo durante
algum tempo “Treasurer of the British Association at Oporto”;
de acordo com informação de um biógrafo de William Kingston: “The Kingston family retained their interest in Portugal
for a century, till the death of Mr. Charles Kingston, August
15th, 1874.” (Kingsford, p. 31). Outro dos irmãos, George
Kingston (1816-1886), foi para o Canadá onde promoveu
e organizou com grande sucesso um dos primeiros serviços
One of the first references to this family in Oporto
is to be found in the records of the British Factory House
(Feitoria) in the same city, dated 1 January 1771, which
notes the marriage of “J. Kingston, bachelor” to “Catherine Gardner, spinster”, in Oporto, presided over by the
Rev. William Emmanuel Page, the chaplain of the British
Factory House (Feitoria) from 1769 to 1776. The Kingston name appeared linked to a Port wine firm for the
first time in 1772 - to Lambert, Kingston & Co. - the 18th
Century successor, after many name changes, to the firm
of Peter Dowker & Co., established in 16911.
The same Factory House (Feitoria) entry log reports
that on 5 April 1779 another member of the family, Benjamin Kingston, was a marriage witness; he himself
would enter into matrimony at S. João da Foz, as duly
recorded, on 26 September 1787, with Margaret Brett
with John Bell presiding, the chaplain of the Factory
House (Feitoria) from 1783 to 1805. Benjamin Kingston,
the first member of the Kingston family to set up in Portugal, was the brother of John Kingston (grandfather of
W. H. G. Kingston on the father’s side), and frequently
referred to as “Physician to the Factory House”.
Along with one or other activity, each generation of
the Kingston family was firmly connected to the production and exportation of Port wine and a number of decades would pass until William Henry arrived in Oporto
in the middle of the 19th Century and who was to show
such interest and kindness regarding Portugal. Charles
Kingston, one of his brothers, was the last member of
the Kingston family to live in Portugal, and was for some
time “Treasurer of the British Association at Oporto”;
according to information contained within a biography
of William Kingston:
40
“The Kingston family retained their interest in Portugal for a century, till the death of Mr. Charles Kingston,
August 15th, 1874.” (Kingsford, p. 31). Another of the
brothers, George Kingston (1816-1886), went to Canada,
where he organised and developed with great success one
of the first national scientific services, and became known
as the father of Canadian meteorology.
William Henry Giles Kingston
William Henry Giles Kingston was born in London on
28 February 1814. He was the second child of eleven that
Lucy Henry Kingston and Frances Sophia Rooke would
have. He became the oldest of the eleven brothers and
sisters when Emily, the eldest child, passed away. It was
a family of high social standing both on the father’s and
mother’s side, including Members of Parliament, producers and exporters of Port wine, doctors, admirals and generals2. Within this group there were members of the fam-
nacionais científicos, ficando conhecido como o pai da meteorologia canadiana.
ily resident in Portugal for a number of generations carrying out economic activity, partners in a Port wine firm
and amongst these were Lucy Henry Kingston, father of
William Henry Giles Kingston
William Henry Giles Kingston nasceu em Londres a 28 de
Fevereiro de 1814. Era o segundo filho dos onze que Lucy
Henry Kingston e Frances Sophia Rooke vieram a ter. Passou a ser o mais velho dos onze irmãos porque Emily, a primeira das crianças, não sobreviveu. Era uma família de elevada posição social quer do lado paterno quer materno,
constituída, entre outros, por membros do parlamento, produtores e exportadores de vinho do Porto, médico, almirantes e generais2. De todo este elenco, durante várias gerações
houve membros da família residentes em Portugal, dedicados a uma actividade económica, sócios de uma firma de
41
William, and William Henry Kingston himself. This, in the
opinion of J. Bratton,
represented in his breeding […] the union of gentle birth,
gentlemanly public service, earnest evangelical Christianity, and wealth drawn from overseas trade which constituted the ideal Englishman as envisaged by his generation
when they came to educate the young (Bratton, p. 115).
William Kingston spent his childhood moving
between England, and his London residence (8 York
Gate, Regent’s Park), school (Eagle House, Brook Green,
vinhos do Porto e entre estes contam-se Lucy Henry Kingston, pai de William, e o próprio William Henry Kingston.
Este, na opinião de J. Bratton,
Hammersmith) and Lymington, Hampshire, near the
sea where most of his family lived, and Portugal, in the
family’s home in Oporto or at the summer house in
S. João da Foz. S. João da Foz, which is nowadays one
represented in his breeding […] the union of gentle birth, gentlemanly public service, earnest evangelical Christianity, and
wealth drawn from overseas trade which constituted the ideal
Englishman as envisaged by his generation when they came to
educate the young (Bratton, p. 115).
of the important districts of Oporto, and more widely
known as Foz was, during the 19th Century an area on
the western outskirts of Oporto, to where many families
retired during the holidays, to make use of the beaches
at the mouth of the river Douro. The English families of
note which had a Summer house in S. João da Foz for
A infância de William Kingston passou-se entre Inglaterra,
na sua residência de Londres (8 York Gate, Regent’s Park), na
escola (Eagle House, Brook Green, Hammersmith) e Lymington, Hampshire, ao pé do mar, onde vivia grande parte da
família, e Portugal, na residência da família no Porto ou na
casa de Verão de S. João da Foz. S. João da Foz, hoje um dos
bairros importantes do Porto, mais conhecido por Foz era, em
meados do século XIX, uma zona dos arredores do lado oeste
do Porto, para onde muitas famílias se retiravam durante as
férias, aproveitando as praias da foz do Douro. Entre as famílias inglesas que tiveram uma casa de Verão em S. João da Foz
durante muitos anos destacam-se os Noble, os Kingston e os
Sandeman3.
Desde muito cedo o pequeno William acompanhou os pais
nas viagens a Portugal, como ele próprio recorda em My Travels
in Many Lands: “I crossed the Bay of Biscay four times before
I was nine years old.” (Kingston, 1862, p. 31). Essas temporadas podem também verificar-se nos apontamentos feitos na
Biblía de família onde, para além da data de nascimento e baptismo de William Kingston, estão também registadas algumas
doenças que teve no Porto (tosse convulsa e sarampo) apenas
com cinco anos de idade, ou seja, em 1819. Em 1824, Kingston
deixou o Porto com dez anos, para voltar apenas em Novem-
many years included the Nobles, the Kingstons and the
Sandemans3.
The young William accompanied his parents on trips
to Portugal from a very early age, as he himself recalls
in My Travels in Many Lands: “I crossed the Bay of Biscay four times before I was nine years old.” (Kingston,
1862, p. 31). These seasonal events can also be verified
in notes made in the family Bible, where, besides the
date of birth and baptism of William Kingston, are also
recorded some of the diseases which he had in Oporto
(whooping cough and measles) when he was only five
years old, that is, in 1819. In 1824, Kingston left Oporto
when he was ten, only to return in 1833. During this
time he finished his schooling and went on some trips in
England and, in order to accompany an aunt, also travelled in Europe, which was equivalent to Le Grand Tour
that so many went on in the 18th Century; beside this,
he tried not to miss any sea voyages with his uncles and
aunts.
At the age of nineteen, with his schooling complete and his personal formation marked by a taste for
travel and a great attraction to the sea, William Kingston found himself faced with the tasks of choosing a
42
bro de 1833. Neste período completou a sua escolaridade e fez
algumas viagens por Inglaterra e, para acompanhar uma tia,
viajou também pela Europa, o que foi equivalente ao Grand
Tour que tantos faziam no século XVIII; para além disso, sempre que possível, não perdia as viagens de mar com os tios.
Com dezanove anos, a escolaridade completa e uma formação pessoal marcada pelo gosto da viagem e uma grande
atracção pelo mar, William Kingston viu-se perante a necessidade de escolher uma orientação para a sua vida. Desde cedo
demonstrou um gosto e entusiasmo muito fortes pela vida
naval, uma das opções tradicionais da família Kingston. Mas
um dos irmãos já se tinha antecipado e optado por essa carreira. Considerando-se demasiado crescido para fazer uma
escolha vocacional desse género o seu campo de opções ficou
mais delimitado. Sem sentir uma inclinação preponderante
por nenhuma das restantes carreiras tradicionais dos Kingston ou dos Burrard ou dos Rooke, William Henry não se decidiu por uma vida eclesiástica, nem por um futuro académico
ou jurídico.
A sua vida, voluntariamente ou não, definiu-se por uma
outra actividade, directamente ligada à do seu progenitor:
“At length my father resolved to take me with him to Portugal” (Kingston, 1862, p.229). Em 1833, William Henry Giles
Kingston embarcou para Portugal com o pai, Lucy Henry Kingston, para se dedicar, depois de longa ausência, a uma carreira comercial como sócio da firma do pai, Lambert, Kingston & Egan. Esta era, então, uma das principais companhias
exportadoras de vinho do Porto como, aliás, se pode comprovar pelos levantamentos feitos pelo jornal semanal O Commercio que, ao publicar em Janeiro de 1842 uma lista das “Principaes Exportadoras de vinhos na cidade do Porto no anno de
1841”, colocou em 5.º lugar a companhia dos Kingston entre
as 118 firmas principais:
43
career path for his life. From early on he had shown a
strong liking and enthusiasm for naval life, one of the
traditional vocations of the Kingston family. But one
of his brothers had already opted for this career ahead
of him. He considered himself too grown-up to make
a vocational choice of that nature and so his choice of
options became even more restricted. Without feeling
an especial inclination for any of the other traditional
careers of the Kingstons or Burrards or Rookes, William
Henry also did not choose a religious life or an academic
or legal future.
His life, whether voluntarily or not, was defined by
another activity, directly connected to his father: “At
George Sandeman & Ca.
T. I. Smith
Knowles, Wilcock & Ca.
Fonseca Monteiro & Ca.
Lambert, Kingston & Egan
2467 pipas
1403 pipas
1127 pipas
1115 pipas
1073 pipas4
length my father resolved to take me with him to Portugal” (Kingston, 1862, p. 229). In 1833, William Henry
Giles Kingston set sail for Portugal with his father, Lucy
Henry Kingston, to dedicate himself, after a long absence,
to a commercial career as a partner in his father’s firm,
Lambert, Kingston & Egan. This was at that time one of
William Kingston: viajante, escritor, comerciante
Praticamente desconhecido na actualidade em Portugal, William Kingston, foi um viajante e prolífico escritor,
muito popular no seu tempo na Inglaterra vitoriana5 pelas
sua obras de literatura juvenil e romances de aventuras, mas
também por romances históricos, relatos de viagem, traduções de romances do francês, artigos, publicação de lendas
potuguesas e de outros artigos em periódicos, entre muitas
outras actividades ligadas à emigração e ao mar. Mas antes
de regressar a Inglaterra, em Portugal foi um viajante inveterado, escritor, produtor de vinho do Porto e um membro
muito activo da Associação Britânica, contribuindo em diversos contextos e através da sua obra Lusitanian Sketches of the
Pen and Pencil, publicada em 1845, para a divulgação de uma
imagem positiva de Portugal no estrangeiro, em meados do
século XIX.
Foi uma personalidade marcante da comunidade britânica
no Porto em meados do século XIX. Logo no início de Oporto
Old and New, uma obra clássica sobre o comércio do vinho do
Porto e a vida da comunidade britânica nessa cidade, Charles
Sellers, refere alguns conterrâneos que no Porto tiveram uma
presença notável, e apresenta em lugar de destaque o membro da família Kingston mencionado:
the main Port wine export companies, as can be shown
by the surveys made by the weekly newspaper O Commercio which published a list of the “Main wine Exporters in
the city of Oporto in the year of 1841” with the Kingston
company being fifth amongst the 118 main firms:
George Sandeman & Ca.
2467 barrels
T. I. Smith
1403 barrels
Knowles, Wilcock & Ca.
1127 barrels
Fonseca Monteiro & Ca.
1115 barrels
Lambert, Kingston & Egan
1073 barrels4
William Kingston: traveller, writer, trader
Practically unknown in Portugal nowadays, William
Kingston was a traveller and prolific writer who was very
popular in Victorian England5 “due to his children’s literature and adventure novels, but also for his historical
novels, travel diaries, translations of French novels, articles, publication of Portuguese legends and other magazine articles, as well as many other activities linked to
emigration and the sea. But before returning to England,
in Portugal he was an inveterate traveller, writer, Porto
wine producer and a very active member of the British Association, contributing in many varied ways and
among those who have contributed in a wider sense to
England’s fame abroad are: William H. G. Kingston, the
novelist; Joseph James Forrester (Baron de Forrester), the
through his work Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, published in 1845, which spread a positive image of
Portugal abroad during the 19th Century.
44
He was one of the major figures of the British community in Oporto during the 19th Century. At the very
start of Oporto Old and New, a classic work on the Port
wine trade and the life of the British community in
that city, Charles Sellers mentions certain residents of
Oporto who had a noteworthy presence, and highlights
the Kingston family, by mentioning:
among those who have contributed in a wider sense
to England’s fame abroad are: William H. G. Kingston, the novelist; Joseph James Forrester (Baron de
Forrester), the essayist and eminent cartographer;
Albert G. Sandeman, late governor of the Bank of England; Henry Rumsey, the lexicographer; John P. Gassiot, F.R.S.; General Sir William Kidston Elles, K.C.B.;
Admiral Dunlop, etc. (Sellers, p. 1)
William Kingston maintained an affective link
to the country where he resided, where he had spent
a large part of his childhood and many seasonal stays,
where he carried out his business activity and where
he took advantage of many opportunities to read,
travel and have fun. The first tests by Kingston deal
essentially with Portuguese matters. In the 1840s he
started writing a number of articles about Portugal for
English newspapers, which were later translated into
Portuguese. It is thought that these texts had a decisive influence on Luso-British relations, contributing to the signing of the Trade and Navigation Treaty
essayist and eminent cartographer; Albert G. Sandeman, late
governor of the Bank of England; Henry Rumsey, the lexicographer; John P. Gassiot, F.R.S.; General Sir William Kidston
Elles, K.C.B.; Admiral Dunlop, etc. (Sellers, p. 1).
45
between Portugal and Great Britain, on 3 July 18426.
As a result of this, William Kingston would later be the
subject of special attention by the Portuguese Queen
Maria II:
William Kingston tinha uma ligação afectiva pelo país
onde residiu, onde passou grande parte da sua infância e múltiplas temporadas, onde exerceu a sua actividade económica
e onde desfrutou de muitíssimos momentos de lazer, viagens e divertimento. Os primeiros textos de Kingston tratam
essencialmente de assuntos portugueses. Começou por escrever, na década de 40, alguns artigos em jornais ingleses sobre
Portugal, posteriormente traduzidos para português. Pensa-se que estes textos tiveram uma influência decisiva nas relações luso-britânicas, contribuindo para a realização do Tratado de Comércio e Navegação de 3 de Julho de 1842, entre
Portugal e a Grã-Bretanha6. Posteriormente, por essa razão,
William Kingston foi alvo de uma atenção especial por parte
de D. Maria II:
By Letters Patent (dated 1846), the Queen of Portugal made
Kingston a Knight of the Military Order of Christ transmitted to him by the Duke of Palmella through the Viscount
of Moncorvo, Her Majesty’s Ambassador to the Court of
St. James’s. She may have been prompted to do so because
she had already honoured Southey for his work on the history
of Brazil by creating him a Knight of the Order of the Tower
and the Sword in February, 1839 (Kingsford, p. 45).
Socialising was an essential component of his life in
Oporto. Just like his father before him, in 1817 William
Kingston was elected a member of the British Association
on 7 January 1841, as noted in the Association Minute
Book and, in contrast to his fellow Britains, who tended to
keep their distance with regard to the rest of the popula-
By Letters Patent (dated 1846), the Queen of Portugal made
Kingston a Knight of the Military Order of Christ transmitted
to him by the Duke of Palmella through the Viscount of Moncorvo, Her Majesty’s Ambassador to the Court of St. James’s.
She may have been prompted to do so because she had already
honoured Southey for his work on the history of Brazil by creating him a Knight of the Order of the Tower and the Sword in
February, 1839 (Kingsford, p. 45).
tion, Kingston fraternized with the high society of Oporto
and its surroundings whilst observing the other Portuguese social classes.
British community activity in Oporto
There had been references in various documents from
the middle of the 18th Century to members of the Kingston family living and active in Oporto, linked to the history of Port wine:
O convívio social era uma componente fundamental da
sua vida no Porto. Tal como o pai anteriormente, em 1817,
William Kingston foi eleito membro da Associação Britânica
em 7 de Janeiro de 1841, como consta do Association Minute
Book e, ao contrário de compatriotas seus que mantiveram
uma certa distância em relação ao resto da população, Kingston conviveu com a alta sociedade do Porto e arredores e
observou, simultaneamente, as restantes camadas sociais
portuguesas.
[…] in Oporto the proper thing, and very naturally so, is to
ship Wine. The following are grand names in the vinous history of Oporto: Newman, Bearsley, Dow, Hunt, Offley, Sandeman, Teage, Croft, Kingston, Warre, Dixon, Roope, Cockburn, Forrester, and others almost forgotten (Sellers, p. 1).
The English community in Oporto originally came
together for business reasons and, like its homonym in
46
A actividade da comunidade britânica no Porto
Efectivamente desde meados do século XVIII que há referências aos membros da família Kingston radicados e activos
no Porto, ligados à história do vinho do Porto:
Lisbon, was originally a Factory House (Feitoria) – that is, a
set of traders who joined together to organise themselves
in a foreign land so as to develop and maintain their interests. However, although there were various points of contact between both (concerning the nature of commercial
[…] in Oporto the proper thing, and very naturally so, is to ship
Wine. The following are grand names in the vinous history of
Oporto: Newman, Bearsley, Dow, Hunt, Offley, Sandeman,
Teage, Croft, Kingston, Warre, Dixon, Roope, Cockburn, Forrester, and others almost forgotten (Sellers, p.1).
activities, for example) in daily practice, in the relations
with local authorities, or the relationship shown towards
the Portuguese, the 19th Century English from Oporto
who were contemporaries of Kingston were very different
as a group, as will be seen.
The English Factory House (Feitoria) in Oporto was
A comunidade inglesa no Porto, originariamente reunida
à volta de interesses económicos, foi, como a sua homónima
de Lisboa, inicialmente uma feitoria, ou seja, um conjunto
de comerciantes que se associavam e organizavam num país
estrangeiro a fim de aí desenvolver e defender os seus interesses. Mas, se alguns pontos de contacto existiu entre ambas (no
que se refere a certo tipo de comércio, por exemplo), na prática do dia a dia, na relação com as autoridades locais, no tipo
de atitude demonstrada para com os portugueses, os ingleses
do Porto no século XIX, contemporâneos de Kingston, como
grupo, eram muito diferentes, como se poderá ver.
A Feitoria Inglesa do Porto era muito diferente da de Lisboa.
No Porto, os comerciantes juntavam-se invariavelmente na Rua
Nova que posteriormente se veio a chamar Rua Nova dos Ingleses e onde, inclusivamente, a casa da Feitoria veio a ser construída. Aí na rua se discutiam assuntos profissionais e comerciais, e
assuntos mais profanos, como a ópera da noite anterior, o baile
a que tinham assistido, etc. Assim o demonstram vários relatos e
diversas gravuras também da época que ilustram o bairro inglês.
As famílias britânicas encontravam-se cada vez mais enraízadas no Porto: conviviam entre si, deixavam os seus negócios aos filhos e terminavam as suas vidas no Porto também.
47
very different from that of Lisbon. In Oporto, the traders would normally meet in Rua Nova which would later
be called Rua Nova dos Ingleses and where the Factory
House (Feitoria) would later be built. There, they would
discuss professional and commercial matters and more
down-to-earth matters, such as the night-before’s opera,
or the ball they had been to, etc. Various paintings and
engravings of the time show the English quarter in this
fashion.
The British families became more and more rooted
in Oporto: they socialised amongst themselves, left their
business to their children and also ended their lives in
Oporto. They were thus the pioneers of a business which
has carried on until the present day. The British community in Oporto, known in a more generalised manner as the
Factory House (Feitoria), then the British Club for a short
period and, since 1814, the British Association7, have
acquired throughout their centuries of history particular
physical features and appearance, which has given them a
certain specificity which sets them apart and makes them,
according to Rose Macaulay, “the most robustly British
colony ever to settle abroad” (Macaulay, p. 12).
Foram, assim, pioneiras de um comércio que se desenvolveu
até à actualidade. A comunidade britânica do Porto conhecida de uma forma generalizada como Feitoria Inglesa, depois
Clube Britânico num brevíssimo período e, desde 1814, Associação Britânica7, adquiriu ao longo de séculos de história uma
fisionomia e características próprias, que lhe conferem uma
especificidade e um destaque particular tornando-a, segundo
Rose Macaulay, “the most robustly British colony ever to settle abroad” (Macaulay, p. 12).
Actualmente os interesses britânicos não se limitam, como
no passado mais recente, apenas à exportação de vinho do
Porto, indissociavelmente ligada a um conjunto de banqueiros
e agentes exportadores. Aliás, as firmas britânicas já não possuem como anteriormente uma proporção tão grande desse
comércio. Algumas das companhias mais pequenas foram-se
incorporando noutras inclusivamente ou, até, absorvidas por
algumas firmas vinícolas portuguesas.
No entanto, o comércio do vinho do Porto foi, durante
muito tempo, a principal preocupação desta comunidade,
referida por vezes como “portwine community” (Cobb, p. 1) o
que é, de certa forma, um atributo adequado para a comunidade inglesa do Porto, concentrada no bairro ocidental, como
diria Júlio Diniz, reunida à volta da Associação Britânica (British Association), com sede na velha casa da feitoria (Factory
House), construída nos finais do século XVIII.
O início da actividade vinícola das mais importantes firmas britânicas de vinho do Porto recua cerca de três séculos,
aos finais do século XVII, quando os primeiros comerciantes
ingleses descobriram a região do Douro e se estabeleceram de
uma forma organizada e com um espírito empreendedor que
os levava a suportar todos os incómodos da viagem e os precários meios de transporte. O período de exportação de vinhos
do Minho foi relativamente curto pois a partir deste ano, ou
Currently British interests are not limited, as in the
more recent past, just to the exportation of Port wine, but
they are intricately linked to a group of bankers and export
agents. However, British firms do not have as much of
their business involved in these activities as they did in the
past. Some of the smaller companies have been incorporated into others or even been absorbed into Portuguese
wine companies.
Be that as may, Port wine production has for a long
time been the main concern of this community, often
referred to as the “port wine community” (Cobb, p. 1),
which is certainly a suitable description for the Oporto
English community, concentrated in the western quarter, as Júlio Diniz stated, and meeting around the British Association, with their headquarters in the old Factory House (Feitoria), which was built at the end of the 18th
Century.
The involvement of one of the most important Port
wine producers goes back to around three centuries, at
the end of the 17th Century, when the first English traders discovered the Douro region and settled in an organised manner with an entrepreneurial spirit which enabled
them to put up with the difficulties of travelling and the
precarious means of transport. The period in which wines
from the Minho were exported lasted a relatively short
time since from this year, or even before, some of the
exporters had turned their attention to the wine growing
region of the Douro, sending everything they could from
Oporto to England. However, as Charles Sellers mentions,
in the first half of the 18th Century “there were not more
than half a dozen English families left in the place” (Sellers, p. 24). The trading carried out by the English gradually shifted towards Oporto, where more and more firms
48
mesmo antes, alguns exportadores tinham virado toda a sua
atenção para o país vinhateiro do Douro enviando tudo o que
podiam do Porto para Inglaterra. No entanto, como refere
Charles Sellers, na primeira metade do século XVIII, “there
were not more than half a dozen English families left in the
place” (Sellers, p. 24). O comércio inglês deslocou-se pouco a
pouco para o Porto, onde foram surgindo, em número cada
vez maior, firmas exclusivamente dedicadas à exportação de
vinhos do Norte de Portugal.
O século XVIII foi determinante na evolução do comércio
do vinho do Porto e o Red Portugal foi substituído em termos
de cultura e de exportação pelo vinho do Porto, propriamente
dito, desde então muito apreciado e requisitado pelos britânicos e considerado não um luxo mas uma necessidade.
É importante notar que a cidade do Porto possui, ainda
hoje, edifícios imponentes de arquitectos ingleses, graças à
ligação entre Portugal e a Grã-Bretanha mantida e criada pelo comércio do vinho do Porto.
Assim, se se pode falar a propósito dos britânicos de uma “comunidade do vinho do Porto”;
a partir de finais do século XVIII também se
pode pensar numa “arquitectura do vinho
do Porto”, aproveitando a expressão de René
Taylor (Taylor, p. 391) ligada à mesma comunidade; e, no século XIX, como veremos, de
uma “cultura do vinho do Porto”, em que um
dos principais protagonistas é William Henry
Giles Kingston. Este, então sócio da firma
Lambert & Kingston, era um conhecedor das
técnicas de viticultura. Em três capítulos de
Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, de
certa forma independentes do resto da obra,
uma vez que estabelecem uma pausa na narra49
were set up exclusively dedicated to exporting wines from
the north of Portugal.
The 18th Century was important in the development of
the Port wine trade and Red Portugal, was substituted culturally from then on by Port wine exports, in its own right,
and was much appreciated and in demand by the British
and came to be considered not a luxury but a necessity.
It is important to note that the city of Oporto still
today has some imposing examples of British architecture, thanks to the link between Portugal and Great Britain which was established and maintained by trade in Port
wine. Thus, if one can talk about the British as a “Port wine
community”, at the end of the 18th Century one could also
think of a “Port wine architecture”, to use René Taylor’s
expression (Taylor, p. 391) linked to the same community,
and, in the 19th Century, as we shall see, to a “Port wine
culture”; in which one of the main protagonists was William Henry Giles Kingston. He was then a partner in the
firm of Lambert & Kingston, and knowledgeable in viticultural techniques. Throughout three chapters of Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, which are to a certain
extent separate from the rest of the narrative, since they
create a pause in the travel narratives (Kingston, 1845,
Vol. II, sketches XXX, XXXI, XXXII), the author describes
the introduction of Port wine in England, the evolution of
the wine trade in the north of Portugal, the settling of the
British in the region, different techniques in Port wine production and the various different types. He also describes
the harvests in September, the wine lodges in Vila Nova de
Gaia and the role of the Oporto Wines Company (Companhia dos Vinhos do Oporto).
The British community in Oporto lived through a
golden time, with some quite controversial periods, as
ção das viagens (Kingston, 1845, vol. II, sketches XXX, XXXI,
XXXII), o autor descreve a introdução do vinho do Porto em
Inglaterra, a evolução do comércio dos vinhos do Norte de
Portugal, o estabelecimento dos ingleses nessa região, as diferentes técnicas na produção de vinho do Porto, as várias qualidades existentes. Descreve ainda as vindimas em Setembro,
os armazéns de vinho em Vila Nova de Gaia e o papel da Companhia dos Vinhos do Porto.
A comunidade britânica no Porto que durante tanto tempo
orientara, dirigira, fixara os preços do vinho e regulamentara
a sua produção (Ferreira, p. 49), vivia uma época dourada,
com alguns pequenos intervalos mais ou menos controversos, destacando-se duas personalidades ligadas ao comércio
do vinho do Porto que se tornaram notáveis pela sua actividade nessa área e no campo cultural: referimo-nos a Joseph
James Forrester e William Kingston. Em meados do século
XIX no Porto vivia-se, segundo alguns autores, “the golden
age of vintage” (Bradford, p. 86).
Muitos dos ingleses tinham nascido ou, pelo menos, passado a sua infância no Porto e, em alguns casos falavam um
fluente ou razoável português. Foi uma época de grande actividade social: a alta sociedade portuense frequentava os bailes da Factory House e membros da comunidade britânica
eram convidados para as festas da Assembleia Portuense, um
tipo de convívio diferente daquele que John Milford, no princípio do século tivera a oportunidade de presenciar. O Porto
era, nesta altura, o centro do comércio do vinho e uma cidade
em expansão, ocupando nessa actividade, segundo António
José Saraiva, “um exército de pessoal, desde o grande exportador ao rapaz dos recados, passando pelo indispensável
guarda-livros. O seu coração comercial era a Rua dos Ingleses,
concorrida por exportadores,banqueiros, accionistas,simples
capitalistas, caixeiros de toda a espécie” (Saraiva, p. 64).
they guided, managed and established the prices of the
wine and regulated its production (Ferreira, p. 49). There
were two personalities from within the Port wine trade
that became well-known for their activities within the
cultural field: Joseph James Forrester and William Kingston. According to some authors, “the golden age of vintage” took place in Oporto during the 19th Century (Bradford, p. 86).
Many of the English community had been born or, at
least, had spent their childhood in Oporto and, in some
cases, spoke fluent or reasonable Portuguese. It was a time
of great social activity: High society in Porto would attend
the Factory House balls and members of the British Community were invited to Oporto Assembly parties, a type
of social gathering different from that which John Milford had had the opportunity to attend at the beginning
of the Century. Oporto was at that time the centre of the
wine trade and a city undergoing expansion. According to
António José Saraiva, it had a veritable “army of people,
from the great exporter to the errand boy, not forgetting
the indispensible bookkeeper. Its commercial heart was
located at the Rua dos Ingleses, with exporters, bankers,
shareholders, basic entrepreneurs and clerks moving up
and down it” (Saraiva, p. 64).
It was within this circle of British, but also Portuguese
and other foreigners resident in the city, namely Dutch,
German, and French, that William Kingston moved in Portugal for a large part of his life. He turned his attention to
every aspect of life in Oporto and the north of Portugal8,
which became subjects for his future Lusitanian Sketches,
which has enabled us to have a window on the life of the
British Community at that time, and its relations with the
inhabitants of the city where they resided:
50
Foi neste círculo de britânicos, mas também portugueses
e outros estrangeiros residentes na cidade, holandeses, alemães, franceses, que William Kingston se moveu durante bastante tempo da sua vida em Portugal. Todos os aspectos da
vida portuense e do Norte de Portugal eram alvo da sua atenção8, e assunto para os seus futuros Lusitanian Sketches, o que
permite, actualmente, ter um quadro da vida da comunidade
inglesa nessa época e do seu relacionamento com os habitantes da cidade onde residiam:
In speaking of the inhabitants of Oporto the English must not be forgotten; for though forming but a
small portion of society, they are tolerably conspicuous. There are about fifty families, a part only of whom
move in the higher circles, and are much respected
by the Portuguese, living on the most friendly terms
with them, in the constant exchange of all the courtesies of life. They inhabit some of the best houses in the
most airy parts of the city; in truth, there is no city in
the Peninsula where an English Family can enjoy so much
In speaking of the inhabitants of Oporto the English must not
be forgotten; for though forming but a small portion of society,
they are tolerably conspicuous. There are about fifty families,
a part only of whom move in the higher circles, and are much
respected by the Portuguese, living on the most friendly terms
with them, in the constant exchange of all the courtesies of life.
They inhabit some of the best houses in the most airy parts of
the city; in truth, there is no city in the Peninsula where an
English Family can enjoy so much comfort and independence
(Kingston, 1845,vol. I, pp. 275-76).
comfort and independence. (Kingston, 1845, vol. I,
pp. 275-76)
Besides giving extraordinary praise to the British
“representing the long-established British mercantile
houses in Oporto” (Kingston, 1845, Vol. I, p. 276), the
author also singles out other British individuals, and in
particular John Graham, his great friend and important
Oporto trader, 9 Mr. Whiteley, the chaplain of the British
Chapel who accompanied him on one of his long journeys
throughout Portugal, more specifically on a hike to Serra
da Estrela10 and also the two doctors within the commu-
Para além de fazer um extraordinário elogio dos ingleses
“representing the long-established British mercantile houses
in Oporto” (Kingston, 1845, vol. I, p. 276), o autor salienta
também outros britânicos, em particular, John Graham, seu
grande amigo e importante comerciante do Porto9, Mr. Whiteley, o capelão da British Chapel que o acompanhou numa das
suas longas viagens por Portugal, concretamente num passeio
à Serra da Estrela10 e, ainda, os dois médicos da comunidade,
Dr. Rumsey, “for many years resident in the place”11 e o filho de
Sir Henry Jebb, um médico famoso de Dublin12.
Além da Associação Britânica os ingleses tinham também,
no século XIX, um hospital próprio13, um teatro14, um perió51
nity, Dr. Rumsey, “for many years resident in the place”11
and the son of Sir Henry Jebb, a famous physician from
Dublin12.
Besides the British Association in the 19th Century the
British also had their own hospital13, a theatre14, an English publication, The Lusitanian, and two schools run by the
British, with Mr. Grant the most prominent15. These years
of happy and cosmopolitan social life in the city of Oporto
were however somewhat affected by the controversy surrounding the British exporters regarding the fortification
and adulteration of the Port wine, which of course affected
both the Portuguese and the British.
dico em inglês, The Lusitanian, e duas escolas dirigidas por
ingleses, das quais destaca a de Mr. Grant15. Estes anos de alegre convivência cosmopolita na cidade do Porto não deixaram, no entanto, de ser perturbados por uma polémica que se
gerou entre os exportadores britânicos, desta vez sobre a fortificação e adulteração do vinho do Porto, afectando, como é
natural tanto portugueses quanto ingleses.
Final remarks
With regard to Anglo-Portuguese relationships during
various generations of the family, it was William Henry
who stood out the most, both because of what he wrote
about Portugal, as well as his style of working and living
in the city of Oporto. His 1845 work Lusitanian Sketches of
the Pen and Pencil alternates seriousness and a large measure of humour to provide a very positive image of Portu-
Considerações finais
No âmbito das relações anglo-portuguesas, das várias
gerações da família, William Henry foi o que mais se distinguiu, quer pelo que veio a escrever sobre Portugal, quer pela
sua forma de viver e trabalhar na cidade do Porto. Na sua obra
Lusitanian Sketches of the Pen and Pencil, de 1845, apresentou,
com grande seriedade, alternada com uma grande dose de
humor, uma imagem muito positiva de Portugal e das suas
gentes. Revelou grande capacidade descritiva dos costumes,
hábitos, cultura, arte e monumentos do Norte de Portugal e
da Beira Alta e, em particular, um conhecimento profundo da
vinicultura praticada em Portugal.
Em meados da década de 40, regressou a Inglaterra dedicando-se a muitas outras actividades ligadas à emigração mas,
principalmente dedicou-se à sua carreira de escritor, até ao fim
da vida. Escreveu dezenas de narrativas de diferentes géneros literários. O facto de não ter regressado a Portugal depois
de 1845 não atenuou nem apagou o seu interesse pelas coisas portuguesas. Nos diferentes géneros literários que utilizou
encontra-se sempre um exemplar que se refere a Portugal ou
assuntos portugueses. Ainda no Porto escreveu vários artigos
para The Lusitanian, participando, assim, da vida literária da
cidade do Porto16. Na realidade, ele foi um dos mais importantes
escritores do periódico, muitas vezes assinando com pseudónimos, acrónimos, para além do nome próprio. Dos três roman-
gal and its people. It shows his great ability to describe
the customs, habits, culture and monuments of the North
of Portugal and the Beira Alta and, in particular, a deep
knowledge of the viniculture practised in Portugal.
During the 1840s he returned to England to dedicate
himself for the rest of his life to his many other activities
linked to emigration, but chiefly to his career as a writer.
He wrote dozens of narrative works in different literary
genres. The fact that he never returned to Portugal after
1845 did not reduce or extinguish his interest in Portuguese things. In the different literary genre which he
employed there was always an example referring to Portugal or Portuguese matters. Whilst still in Oporto he had
written a number of articles for The Lusitanian, thus participating in the literary life of the city16. In truth, he was
one of the most important writers for the publication,
and often wrote under a pseudonym, or acronym, besides
his own name. Of the three historical novels which he
penned, The Prime Minister deals with the Marquês de Pombal and his period. He wrote extremely varied travel diaries, two of them centred on Portugal, Lusitanian Sketches
of the Pen and Pencil and My Travels in Many Lands. In England he published various articles on Portuguese politics
down the years; he also published popular Portuguese
myths which he had heard narrated and which he had col-
52
ces históricos que escreveu, The Prime Minister
trata do Marquês de Pombal e da sua época. Escreveu variadíssimos relatos de viagem, dois deles
sobre Portugal, Lusitanian Sketches of the Pen and
Pencil e My Travels in Many Lands. Publicou em
Inglaterra vários artigos sobre a política portuguesa, ao longo de vários anos; publicou também
lendas populares portuguesas que ouvira contar e
coleccionara, como “The Bruxa. A Legend of Portugal”, “Legend of the Lobishome”, “The Feiticeira
and the Magic Cavern”, “Braz Coelho. The Hump-Backed Cobbler and his friend the Feiticeiro”, “Gil
Perez and the Bruxa. A Legend of Portugal”. Em
alguns dos seus livros para a juventude inseriu
informação sobre Portugal, como por exemplo em
The Boy’s Own Book of Boats (1861), um livro sobre
barcos onde dedicou exclusivamente um capítulo
à descrição dos mais variados barcos portugueses.
Por todas estas razões se pode afirmar, como tenho defendido há longos anos, que William Kingston viveu intensamente, como um lusófilo17, os seus muitos e variados percursos lusitanos.
lected, such as “The Bruxa. A Legend of Portugal”, “Legend
of the Lobishome”, “The Feiticeira and the Magic Cavern”,
“Braz Coelho. The Hump-Backed Cobbler and his friend the
Feiticeiro”, “Gil Perez and the Bruxa. A Legend of Portugal”. In some of his youth literature he provided information on Portugal, such as in The Boy’s Own Book of Boats
(1861), a book on boats which contains a chapter devoted
to described various Portuguese boats.
For all these reasons it is possible to state, as I have
argued along the years, that William Kingston lived an
intense life as a lusophile17, through his many and varied
Lusitanian paths.
notes
1
Lambert, Kingston & Egan, the company which provided the first reference to the Kingston family name, is one of the oldest firms in the history
of Port wine trading in Oporto. It was established in 1691 with the name
Peter Dowker and underwent several name changes:
Peter Dowker
1691 Stert & Lambert
Dowker & Stukey
1694 Edward Lambert
1740
1743
Dowker, Stukey & Peak
1701 Lambert, Croft & Lambert
1745
Dowker & Stukey
1702 Edward & Thomas Lambert
1759
Dowker, Stukey & Stert
1711 Oliver Beckett & Co.
1764
Stert, Hayman & Co.
1724 Thomas Lambert
1765
Stert & Hayman
1729 Swarbreck & Lambert
1767
Sampson & Richard Stert
1731 Lambert, Kingston & Co.
1772
Peter Dowker and his contemporary John Page appear to have been the
“parents” of the British Community in Oporto since, as Sellers men-
notas
tions, “in those early days nearly all the marriages celebrated in the place
refer either to one name, or the other”. Peter Dowker also had business
1
53
Lambert, Kingston & Egan, a companhia à qual surge ligado pela primeira vez o
nome da família Kingston, é uma das firmas mais antigas na história do comércio
do vinho do Porto. Foi criada em 1691 com o nome de Peter Dowker e foi sofrendo
sucessivas mudanças de nome:
Peter Dowker
1691 Stert & Lambert
1740
Dowker & Stukey
1694 Edward Lambert
1743
Dowker, Stukey & Peak
1701 Lambert, Croft & Lambert
1745
Dowker & Stukey
1702 Edward & Thomas Lambert
1759
Dowker, Stukey & Stert
1711 Oliver Beckett & Co.
1764
Stert, Hayman & Co.
1724 Thomas Lambert
1765
Stert & Hayman
1729 Swarbreck & Lambert
1767
Sampson & Richard Stert
1731 Lambert, Kingston & Co.
1772
in Viana do Castelo, where his wines destined for England embarked. Cf.
SELLERS, p. 238.
2
William was full of pride and admiration for his ancestors, such as the
above mentioned paternal grandfather who had become a partner in
the firm of Lambert, Kingston & Co., in Oporto, and who, after leaving
his economic interests in the hands of his son Lucy Henry Kingston and
returning to England, became the Member of Parliament for Lymington,
Hampshire, a member of the Royal Society from 1816, and Director of
Companies, living both in his residence in London (5 Stratford Place) and
also his country mansion in Oakhill, Hertfordshire; the doctor Benjamin
Kingston, also mentioned above; Sir Giles Rooke, maternal grandfather of
William Kingston, who was Justice of the Common Pleas and a Fellow of
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Peter Dowker, assim como John Page seu contemporâneo, parecem ter sido como
que os “pais” da comunidade britânica no Porto pois, como refere Sellers, “in those
early days nearly all the marriages celebrated in the place refer either to one name,
or the other”. Peter Dowker tinha também negócios em Viana do Castelo onde
embarcava os vinhos que enviava para Inglaterra. Cf. SELLERS, p. 238.
William tinha grande orgulho e admiração pelos seus ascendentes, como o já
citado avô paterno que se tornou sócio da firma Lambert, Kingston & Co., no
Porto, e que, depois de deixar os seus interesses económicos nas mãos do filho
Lucy Henry Kingston e regressar a Inglaterra, foi membro do Parlamento por
Lymington, Hampshire, membro da Royal Society desde 1816, e Director of Companies, vivendo quer na sua casa de Londres (5 Stratford Place) quer na mansão
no campo em Oakhill, Hertfordshire; o médico Benjamin Kingston, também já
referido; Sir Giles Rooke, avô materno de William Kingston, que foi Justice of the
Common Pleas e Fellow de Merton College, em Oxford. Dele existem dois retratos
em Merton College, um por John Hapner, outro por Valet of Bath. Também a avó
materna, Harriet Sophia Burrard, Lady Rooke, teve um lugar de destaque ao ser
escolhida por Sir Joshua Reynolds para servir de modelo para a figura de Justiça,
devido à sua extraordinária beleza. Este retrato foi depois colocado no lado oeste
da ante-capela do New College de Oxford. Outros elementos da família, de que Kingston muito se orgulhava, também pelo lado materno, eram os seus tios, o Rev.
Sir George Burrard, Fellow de Merton College e Mayor em Lymington cinco vezes,
o Almirante Sir Harry Burrard-Neale, Lord of the Mannor em Walhampton e, também, o General Sir Harry Burrard, primo do anterior, que partilhou com John Kingston a representação no Parlamento em 1802 e que teve um papel de chefia no
commando do exército britânico na batalha do Vimeiro em 1808.
Cf. Sellers, p.9.
O jornal O Commercio publicava frequentemente no final de cada mês uma lista
dos principais exportadores de vinho da cidade do Porto referente ao mês anterior. Por exemplo, tanto no n.º 43, de 4 de Abril de 1842, como no n.º 48, de 9 de
Maio de 1842, a firma Lambert, Kingston & Egan figura entre os principais exportadores do mês de Março e do mês de Abril, respectivamente.
Em 1888, oito anos depois da sua morte, pediu-se a duas mil crianças que
nomeassem os seus autores preferido e William Kingston ficou em segundo
lugar, logo a seguir a Charles Dickens que ficou em primeiro. Hoje considerado
um escritor menor, era muito popular no seu tempo.
Este Tratado foi assinado no mesmo dia em que se assinou o Tratado referente ao
tráfico de escravos. Cf. Sousa, p. 213.
“At the first meeting no one seems to have bothered to name the entity reorganized,
but eight months later we find it ‘Resolved that this society henceforth be denominated as the British Club.’ Thenceforth, but not, as it happened, for ever, for soon
after, in 1814, at the suggestion of Consul Jeffreys, we find the name altered to British Association, and British Association it is still officially to-day, though now, as
then everyone speaks about the ‘British Factory’ ” (Sanceau, pp. 67-68).
Cf. Castel-Branco, “Alguns traços dos percursos lusitanos de William Kingston:
imagens de Portugal.”
Kingston, vol. I, p. 276.
Kingston, vol. I, p. 276 e vol. II, pp. 88 e 104.
Kingston, vol. I, p. 276.
Kingston, vol. I, pp. 276 e 305.
“an Hospital for British sailors and other subjects of Great Britain, is placed under
the care of an English physician […]” (Kingston, vol. I, p. 305).
Merton College in Oxford. There are two paintings of him in Merton College, one by John Hapner, the other by Valet of Bath. His maternal grandmother, Harriet Sophia Burrard, Lady Rooke, was also a figure of prominence through having been chosen by Sir Joshua Reynolds to serve as
the model for the figure of Justice, due to her extraordinary beauty. This
painting was later placed on the Eastern side of the ante-chapel of New
College, Oxford. Other members of the family, of which Kingston was so
proud, also on the mother’s side, were his uncles, the Rev. Sir George Burrard, Fellow of Merton College and five times mayor of Lymington, Admiral Sir Harry Burrard-Neale, Lord of the Manor at Walhampton and also
General Sir Harry Burrard, cousin of the former, who was also a Member of the House of Parliament along with John Kingston in 1802 and
who had a leading role in commanding the British army at the battle of
Vimeiro in 1808.
3
Cf. Sellers, p. 9.
4
The newspaper O Commercio often published a list of the main Port wine
exporters from the city of Oporto at the end of each month, which was
related to figures from the previous month. For example, both in No. 43,
dated 4 April 1842, as in No. 48, dated 9 May 1842, the firm Lambert,
Kingston & Egan figured amongst the leading exporters for the months
of March and April, respectively.
5
In 1888, eight years after his death, two thousand children were asked to
name their favourite authors and William Kingston came in second place
immediately after Charles Dickens, who was placed first. Although today
considered a minor writer, he was very popular in his time.
6
This treaty was signed on the same day on which the Treaty relating to the
7
“At the first meeting no one seems to have bothered to name the entity
trafficking of slaves was signed. Cf. Sousa, p. 213.
reorganized, but eight months later we find it ‘Resolved that this society
henceforth be denominated as the British Club.’ Thenceforth, but not, as
it happened, for ever, for soon after, in 1814, at the suggestion of Consul Jeffreys, we find the name altered to British Association, and British Association it is still officially to-day, though now, as then everyone
speaks about the ‘British Factory’ ” (Sanceau, pp. 67-68).
8
Cf. Castel-Branco, “Some aspects of the Lusitanian journeys of William
Kingston: images of Portugal.”
9
Kingston, vol. I, p. 276.
10
Kingston, vol. I, p. 276 and vol. II, pp. 88 and 104.
11
Kingston, vol. I, p. 276.
12
Kingston, vol. I, pp. 276 and 305.
13
“an Hospital for British sailors and other subjects of Great Britain,
is placed under the care of an English physician […]” (Kingston, vol. I,
p. 305).
14
“the English possessed a very elegant private theatre, where plays were
acted by the young English residents” (Kingston, vol. I, p. 312).
15
Kingston, vol. I, p. 314.
16
“[Les] étrangers [à demeure] jouent un rôle particuliérement important
quand ils sont en étroit contact avec des révues.” (Brunel, Pichois, and
Rousseau, p. 35).
17
Cf. Castel-Branco, “The Portuguese travels of William Henry Giles Kingston; Or the geographical and inner travels of a British lusophile.”
54
14
15
16
17
“the English possessed a very elegant private theatre, where plays were acted by
the young English residents” (Kingston, vol. I, p. 312).
Kingston, vol. I, p. 314.
“[Les] étrangers [à demeure] jouent un rôle particuliérement important quand ils
sont en étroit contact avec des révues.” (Brunel, Pichois, and Rousseau, p. 35).
Cf. Castel-Branco, “The Portuguese travels of William Henry Giles Kingston;
Or the geographical and inner travels of a British lusophile”.
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A Odisseia Anglo-Lusa do Clã Warre –
das origens do Vinho do Porto à actualidade
The Anglo-Luso Odyssey of the Warre Family –
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João Paulo Ascenso Pereira da Silva
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 56-73, ISSN 1646-7116
Na origem do nosso interesse pela presença inglesa no
Porto e pelas famílias britânicas ligadas ao comércio de vinhos
naquela cidade está a investigação que realizámos para a
nossa tese de Doutoramento, acerca da revista cultural The
Lusitanian, publicação periódica em língua inglesa, editada
entre 1844 e 1845, por cidadãos britânicos sediados na capital do Norte e membros da British Association1, pesquisa que
encetámos no ano de 1989 e nos levaria a percorrer arquivos
e bibliotecas do Porto2, durante cerca de seis meses.
Entre os acervos documentais que então tivemos oportunidade de consultar contam-se os arquivos de diversas companhias produtoras de Vinho do Porto, nomeadamente a Ferreira, a Sandeman, a Taylor’s e o Grupo Symington. Buscámos
através desta pesquisa recolher informação sobre as firmas e
as famílias às quais se encontravam associados os principais
editores e colaboradores do periódico em análise: William
Henry Giles Kingston (1814-1880), William Richard Harris
(?-?), Edward Quillinan (1791-1851) e John Thomas Quillinan (1796-1873).
No caso específico da família Kingston e do romancista
vitoriano William Kingston, de quem nos fala Maria da Conceição Castel-Branco3 na sua dissertação de Mestrado, possuíamos à partida um significativo volume de informação e
documentação, já que aquele autor se encontra largamente
estudado e devidamente biografado4. Acerca da família Kingston e da firma Lambert & Kingston, há muito desaparecida, a informação que possuíamos era igualmente abundante. Porém, sobre as famílias Harris e Quillinan, e sobre
William Richard Harris ou John Thomas Quillinan dispúnhamos de escassa informação, já que ambas as personalidades não se encontram sequer biografadas. No que respeita a
família Quillinan possuíamos dados respeitantes sobretudo
ao poeta Edward Quillinan e ao seu sobrinho Luís de Quilli57
The origin of my interest in the English presence in
Oporto and the British families connected to the Port
wine trade in that city is linked to the research I carried
out during my PhD thesis concerning the cultural magazine The Lusitanian, an English language periodical which
was published between 1844 and 1845 by British citizens
resident in the capital of the North and members of the
British Association1, research which I started in 1989 and
which led me to consult archives and libraries in Oporto2,
for around six months.
The documentary sources which I had the opportunity to peruse included the archives of several Port wine
producing companies – that is, Ferreira, Sandeman, Taylor’s and the Symington Group. I was trying to find information within these archives on the companies and families linked to the main publishers and contributors to the
periodical I was researching: William Henry Giles Kingston (1814-1880), William Richard Harris (?-?), Edward
Quillinan (1791-1851) and John Thomas Quillinan (1796-1873).
With regard to the Kingston family and the Victorian novelist William Kingston, of whom Maria da Conceição Castel-Branco will speak to us about3, based on her
Master’s dissertation, we possess a significant quantity of
information and documentation, given that that author
has been widely studied and suitably biographed4. With
regard to the Kingston family and the Lambert & Kingston Company, a lot of information has disappeared, but
the information available is equally abundant. However,
when it comes to the Harris and Quillinan families, and
William Richard Harris or John Thomas Quillinan there
is very little information, given that neither has been the
source of a biography. With regard to the Quillinan fam-
nan (1825-1904)5. Todavia, sobre os restantes membros
desta família e a sua actividade comercial pouco sabíamos. No
curso do nosso périplo portuense obtivemos diversa informação, ainda que fragmentária e avulsa, através da British Association e de diversos docentes e investigadores da Faculdade
de Letras da Universidade do Porto, mas igualmente por via
da leitura de documentos consultados na Biblioteca Pública
do Porto, no Arquivo Municipal e finalmente no Arquivo do
Governo Civil do Porto. Fomos igualmente bem sucedidos
na tentativa de estabelecer contacto pessoal com alguns descendentes da família Quillinan, que ainda hoje residem no
Porto.
Contudo, o objecto da presente comunicação não são as
referidas personalidades nem as respectivas famílias, mas
sim o clã Warre e a firma Warre & Co., acerca da qual viemos,
ainda que de forma indirecta e algo casual, a debruçar-nos
no curso da pesquisa efectuada em torno de William Warre,
do seu relato de viagem e da sua participação nas Guerras
Napoleónicas.
O arquivo da firma Warre and Co. (ou aquilo que dele
resta), companhia que, desde o início do século XX, faz parte
integrante do grupo Symington (actual Symington Family
Estates), foi por nós visitada há cerca de dezoito anos. Contudo, na altura, a experiência, revelou-se algo frustrante, já
que o acervo documental respeitante à totalidade das firmas
tuteladas por aquele grupo se encontrava ainda por tratar
e catalogar e literalmente armazenado em condições muito
precárias. Tememos, aliás, que grande parte dessa documentação e dos registos que então tivemos oportunidade de percorrer e consultar (que se encontrava caoticamente amontoada num antigo laboratório, na sede daquela firma) se
tenha vindo lentamente a degradar e esteja hoje irremediavelmente perdida.
ily there is data concerning the poet Edward Quillinan and
his nephew Luís de Quillinan (1825-1904)5. However, little is known about the other members of this family and
their business activities. During this visit to Oporto I
obtained various information, albeit fragmentary and disconnected, through the British Association and several
members of the teaching and research staff of the Faculty
of Letters of the University of Oporto, by also from reading documents consulted in the Public Library of Oporto
(Biblioteca Pública do Porto), the Oporto Municipal Archive
(Arquivo Municipal do Porto) and the Civil Governor of
Oporto’s Archive (Arquivo do Governo Civil do Porto). I was
equally successful in managing to get into personal contact with some descendants of the Quillinan family still
living in Oporto.
Be that as may, the aim of the present talk is not these
individuals nor their respective families but rather the
Warre family and the Warre & Co. firm, which we will consider, although in a somewhat indirect and informal manner, when considering the research made around the figure of William Warre, the report of his journey and his
involvement in the Napoleonic Wars.
The Warre and Co. firm has been a part of the Symington group (currently Symington Family Estates) since the
beginning of the 20th Century. The archive of the firm (or
what remains of it) was visited by myself around eighteen
years ago. However, that experience was somewhat frustrating at the time, given that the documentary archive
relating to all the firms run by that group was in need
of arranging and cataloguing and was literally stored in
very precarious conditions. I am in fact afraid that a large
part of that documentation and the records that I had the
chance to browse and consult (which was chaotically piled
58
Importa a este título registar que, à excepção dos grandes arquivos públicos do Porto e de alguns arquivos privados (como o da Real Companhia Velha ou da firma Ferreira),
quase todos os restantes se encontravam acondicionados em
instalações muito precárias, achando-se na altura a documentação totalmente desordenada e num deplorável estado
de conservação.
A família Warre e a firma Warre & Co. encontram-se intimamente relacionadas com a própria génese do Vinho do
Porto. Podemos até afirmar que a história da presença do clã
Warre no Norte de Portugal se confunde com as próprias origens daquilo que hoje concebemos como Vinho do Porto.
De acordo com a informação que podemos actualmente
colher no site do grupo Symington6 e no material publicitário e de propaganda da Warre & Co., esta empresa será alegadamente a mais antiga companhia de Vinho do Porto inglesa,
tendo sido fundada em 1670 por dois jovens comerciantes e
empreendedores, Clark e Thornton, que, por volta dessa data,
se haviam instalado em Viana do Castelo, cidade onde existia,
desde o século XVI, uma feitoria inglesa. Como se sabe, esta
localidade constituía então o principal porto exportador de
vinhos portugueses para as Ilhas Britânicas. Para além desta
cidade, onde se registava a presença de um número significativo de comerciantes ingleses, desde o século XVI, também
Caminha e Monção funcionavam então como portos, através
dos quais os comerciantes da Velha Albion procediam regularmente à exportação de vinhos e outros produtos agrícolas (milho, azeite, mel, cortiça e frutas) para a sua pátria. Em
contrapartida, através dessas mesmas localidades, entravam
em Portugal os lanifícios ingleses e o peixe seco, que os barcos, no regresso das Ilhas Britânicas ou da América do Norte
(nomeadamente da Terra Nova), transportavam até ao nosso
país. Procedia-se, deste modo, a um comércio de tipo triangu59
in a former laboratory, in the main office of that company)
has gradually been degrading and may today be irretrievably lost.
It is important to note that, with the exception of
the major public archives in Oporto along with some private archives (such as that of the Real Companhia Velha or
the Ferreira firm), almost all of the remaining ones were
housed in extremely precarious locations, with the documentation totally unarranged and in a deplorable state of
conservation.
The Warre family and the Warre & Co. firm are intimately related to the very birth of Port wine. It could even
be stated that the history of the presence of the Warre
family in the North of Portugal is mixed up with the very
origins of what we nowadays conceive of as Port wine.
In accordance with the information I was able to
gather from the Symington website6 and the publicity
and marketing information from Warre & Co., this company is allegedly the oldest English Port wine company,
having been founded in 1670 by two young businessmen
and entrepreneurs, Clark and Thornton, who, around this
date, had settled in Viana do Castelo, a city where there
had been an English factory since the 16th Century. As is
known, this city was the main port for exporting Portuguese wines to the British Isles. Besides this city, which
had contained a significant number of English traders
since the 16th Century, Caminha and Monção also operated as ports, through which traders of the Old Albion frequently exported wines and other agricultural products
(maize, olive oil, honey, cork and fruits) to their country. On the other hand, English woollen fabrics and dried
fish came into Portugal through these ports, from the
boats returning from the British Isles or North America
lar, que perduraria ainda durante largo tempo após a transferência do centro de gravidade da actividade de exportação vinícola para a cidade do Porto (de acordo com algumas
fontes, até ao século XIX). O vinho que então se exportava a
partir de Viana, Caminha ou Monção possuía características
totalmente distintas daquelas que, hoje em dia, atribuímos ao
Vinho do Porto, sendo muito provável que se assemelhasse ao
actual vinho verde. Veja-se em seguida o que nos dizem a tal
propósito Rose Macaulay e Sarah Bradford:
(namely, Newfoundland) transporting these goods. A triangular form of trade was thus carried out, which lasted
for a long time after the centre of gravity of the exportation of wine was transferred to the city of Oporto (according to some sources, up to the 19th Century). The wine
which was exported from Viana, Caminha or Monção had
characteristics which were completely distinct from those
that we would nowadays attribute to Port wine, with it
being very probably similar to present day vinho verde tinto
(the red variety of vinho verde). It is useful to see what
Most of the wine shipped to Britain from Portugal was at
first from Viana do Castelo, and grown in the Minho Country;
they called it Red Portugal, and it was rather like Burgundy.
The first English to come into the trade ran it, apparently in
connection with the sale of Newfoundland cod to the Portuguese; the cod was bartered for wine; the wine was shipped to
Newfoundland, and some of it sent on from there for sale in
England; it was soon found that the process improved its quality, and ‘matured in Newfoundland’ became a boast. But the
wine was for some time more or less a side line; the merchants
concerned were primarily cloth merchants or Newfoundland
fish merchants, who took the wines of Minho in exchange for
their goods. During the second half of the seventeenth century
more and more factors of British firms resided at Viana, Monção and Oporto, and made it part of their business to select
wines suitable for shipping home. The firms owned their ships;
they did not, as they later did, themselves go up into the wine
country to inspect the vines; the growers brought the wine to
them at Viana and Oporto7.
Rose Macaulay and Sarah Bradford tell us in this regard:
Most of the wine shipped to Britain from Portugal was
at first from Viana do Castelo, and grown in the Minho
Country; they called it Red Portugal, and it was rather
like Burgundy. The first English to come into the trade
ran it, apparently in connection with the sale of Newfoundland cod to the Portuguese; the cod was bartered
for wine; the wine was shipped to Newfoundland, and
some of it sent on from there for sale in England; it was
soon found that the process improved its quality, and
‘matured in Newfoundland’ became a boast. But the
wine was for some time more or less a side line; the merchants concerned were primarily cloth merchants or
Newfoundland fish merchants, who took the wines of
Minho in exchange for their goods. During the second
half of the seventeenth century more and more factors
of British firms resided at Viana, Monção and Oporto,
and made it part of their business to select wines suitable for shipping home. The firms owned their ships; they
The merchants of the English Factory established at Oporto
at that time were not yet engaged in the wine trade; they were
what was known as ‘rag merchants’, selling cotton, woolen
did not, as they later did, themselves go up into the wine
country to inspect the vines; the growers brought the
wine to them at Viana and Oporto7.
60
The merchants of the English Factory established at
Oporto at that time were not yet engaged in the wine
trade; they were what was known as ‘rag merchants’,
selling cotton, woollen cloth, wheat and salted cod to the
Portuguese in exchange for oil, fruit and cash. The centre of the trade in red Portugal wine was Viana do Castelo, which the Romans called Diana, on the glittering
wide estuary of the river Lima. Here, from substantial
baroque town houses beside the quay, canny Scots and
English Factors operated their profitable import and
export businesses.
From Viana they set off in flat-bottomed boats up the
river Lima to buy wine in the country between Ponte
de Lima and Monção. Strange figures they must have
seemed to the Portuguese boatmen, these gruff men in
their Carolean wigs, clutching their account books and
impedimenta, speaking the most rudimentary Portuguese in outlandish accents. The wine they bought must
have been something like sparkling burgundy, the ancestor of the pétillant red vinho verde of today. Whatever it
may have been like in Viana, red Portugal did not travel
and was poorly thought of in England. Large quantities
cloth, wheat and salted cod to the Portuguese in exchange for
oil, fruit and cash. The centre of the trade in red Portugal wine
was Viana do Castelo, which the Romans called Diana, on the
glittering wide estuary of the river Lima. Here, from substantial baroque town houses beside the quay, canny Scots and
English Factors operated their profitable import and export
businesses.
From Viana they set off in flat-bottomed boats up the river
Lima to buy wine in the country between Ponte de Lima and
Monção. Strange figures they must have seemed to the Portuguese boatmen, these gruff men in their Carolean wigs,
61
were supplied to the British Naval Commissioners as ‘beverage for the sailors’, who presumably had to take what
they were given and like it8.
John Clark and Thornton settled in Portugal after the
Restoration of the monarchy in Great Britain and a little
after the royal marriage between Charles II and Catherine
of Bragança, which constituted a key event in Luso-British
relationships and a decisive step in the strengthening and
consolidation of the Old Alliance, some decades after the
Restoration of Portugal’s independence and the return of
clutching their account books and impedimenta, speaking the
most rudimentary Portuguese in outlandish accents. The wine
they bought must have beeen something like sparkling burgundy, the ancestor of the pétillant red vinho verde of today.
Whatever it may have been like in Viana, red portugal did not
travel and was poorly thought of in England. Large quantities
were supplied to the British Naval Commissioners as ‘beverage
for the sailors’, who presumably had to take what they were
given and like it8.
the Stuart dynasty to the English throne, which occurred
in 1660.
The royal marriage, which took place in 1662, led to
a significant number of English traders coming and settling in Portugal. At the time relations between France
and Great Britain were still calm, given that with England
having undergone its Restoration, it was to a large extent
geostrategically dependent on France and Louis XIV, then
the major European power.
Relations between the two countries would, how-
John Clark e Thornton instalaram-se em Portugal após a
Restauração da monarquia na Grã-Bretanha e pouco depois
do matrimónio real entre Carlos II e Catarina de Bragança,
que constituiu um marco fundamental nas relações luso-britânicas e um passo decisivo no aprofundamento e consolidação da Velha Aliança, algumas décadas volvidas sobre
a Restauração da independência de Portugal e da recondução da dinastia Stuart ao trono inglês, ocorrida no ano de
1660.
O casamento real, celebrado em 1662, estimularia um
número significativo de comerciantes ingleses a instalar-se
no nosso país. Na época as relações entre a França e a Grã-Bretanha eram ainda pacíficas, já que a Inglaterra saída da
Restauração se encontrava, em larga medida, na órbita e na
dependência geoestratégica da França de Luís XIV, então a
maior potência europeia.
As relações entre ambos os países viriam, contudo, gradualmente a degradar-se, devido à política proteccionista de Colbert, que os ingleses retaliavam, impondo inicialmente elevadas taxas sobre a importação de produtos franceses, processo
que redundaria, numa fase posterior, no boicote à importação de vinhos de França, decretado pelo governo inglês no
ano de 1677.
ever, gradually worsen, due to the protectionist policies of
Colbert, to which the English retaliated, initially levying
high taxes on the importation of French products, a process which would at a later stage result in a boycott on the
importation of wines from France, which was decreed by
the English government in 1677.
The situation would get worse from 1688 onwards,
following the Glorious Revolution and the rise of William
of Orange and Mary to the English throne, which implied
a drastic shift in the balance of power within Europe due
to the realigning of Great Britain with the Protestant
forces and its subsequent distancing from France, the
rival to the Netherlands. The alliance between England
and Holland brought Great Britain to war with France
in 1689 and an economic embargo on French products, namely the importing of wines coming from that
country.
This process of distancing and war between France
and England opened up new horizons in intensifying
the wine trade between Portugal and the British Isles,
and within a brief period of time Portugal became the
main supplier of this product. The subsequent growth in
demand for Portuguese wines made wine production in
62
A situação viria a agravar-se a partir de 1688, com a Glorious Revolution e a subida de William de Orange e Mary ao
trono de Inglaterra, que implicaria uma drástica alteração da
relação de forças a nível europeu e nomeadamente a reaproximação da Grã-Bretanha às potências protestantes e o seu
consequente afastamento da França, rival dos Países-Baixos.
A aliança entre a Inglaterra e a Holanda conduziu a Grã-Bretanha, em 1689, à guerra com a França e a um embargo
económico aos produtos franceses, nomeadamente à importação de vinhos provenientes deste país.
Este processo de distanciamento e de conflito bélico entre
a França e a Inglaterra abriria novas perspectivas de intensificação do comércio vinícola entre Portugal e as Ilhas Britânicas, transformando-se, a breve trecho, o nosso país no principal fornecedor deste produto. O consequente crescimento da
procura de vinhos portugueses tornaria a produção vinícola
da região do Minho insuficiente para satisfazer as necessidades de um mercado inglês em franco crescimento.
Sabemos que a firma de John Clark e Thornton foi uma
das companhias exportadoras pioneiras na exploração das
potencialidades das regiões vinícolas do interior de Portugal,
nomeadamente do Alto Douro, onde alegadamente teriam
sido dos primeiros ingleses a penetrar. Porém, de acordo
com a generalidade das obras sobre a história da Vinho do
Porto e a presença britânica no Norte de Portugal (e contrariamente àquilo que é afirmado pela Warre & Co. e pelo grupo
Symington), estes dois comerciantes não terão sido, no final
do século XVIII, os únicos a entrever na região vinícola do vale
do Douro uma fonte alternativa de fornecimento do mercado
britânico.
Assim, de acordo com Rose Macaulay em They Went to Portugal9, Sarah Bradford, autora de The Story of Port10 ou A.D.
Francis, responsável pelo volume The Wine Trade11, na mesma
63
the Minho region insufficient to satisfy the needs of an
increasing English market.
It is known that the firm of John Clark and Thornton was one of the pioneering export companies to explore
the potential of the wine-growing regions inland from the
coast, namely the Alto Douro region, where they allegedly
were amongst the first English to take advantage of it. As
such, and in accordance with most works on the history of
Port Wine and the British presence in the North of Portugal (and contrary to that stated by Warre & Co. and by the
Symington group), these two traders would not have been
the only ones at the end of the 18th Century to have discovered an alternative supply source for the British market within the wine growing region of the Douro valley.
Thus, and in accordance with Rose Macaulay in They
Went to Portugal9, Sarah Bradford, author of The Story of
Port10 or A.D. Francis, who wrote The Wine Trade11, in the
same period Peter Bradley (one of the founders of the firm
Taylor, Fladgate and Yeatman, dating back to 1670), as
well as Phayre & Bradley, the founders of Croft, were rivals
with Clark and Thornton in exploiting the wine-growing
potential of the Alto Douro.
These are some of the companies that argue that they
were pre-eminent in the discovery or creation of what
is today known as Port wine. Exactly with regard to this
Warre claims to have been the first to have commercialised
the precious nectar, but the data obtained from the works
of Charles Sellers12, Sarah Bradford13, and A.D. Francis14
enable us to question such a claim.
All these authors appear to have jointly used as a common source the well-known essay by John Croft A Treatise
on the Wines of Portugal, Since the Establishment of the English Factory at Oporto, where, in 178815, it is stated that Peter
época Peter Bradley (um dos fundadores da firma Taylor,
Fladgate and Yeatman, cuja criação remonta a 1670), bem
como Phayre & Bradley, os fundadores da casa Croft, rivalizaram com Clark e Thornton na exploração das potencialidades
vinícolas do Alto Douro.
Aliás, são estas algumas das companhias que reivindicam a primazia na descoberta ou criação daquilo que hoje
concebemos como Vinho do Porto. Neste preciso respeito a
firma Warre reclama ter sido a primeira a comerciar o precioso néctar, mas os dados colhidos nas obras de Charles Sellers12, Sarah Bradford13, e A. D. Francis14 permitem-nos pôr
em dúvida tal alegação.
Todos estes autores parecem ter utilizado como fonte
comum o célebre ensaio de John Croft A Treatise on the Wines
of Portugal, Since the Establishment of the English Factory at
Oporto, onde, em 178815, se afirmava que Peter Bearsley, filho
primogénito de Job Bearsley terá sido o primeiro comerciante
inglês a visitar Trás-os-Montes16 e a transferir a sede da firma
para o Porto, onde passaria a desenvolver a sua actividade
especulativa em torno dos vinhos do Douro17.
Bearsley, the first-born son of Job Bearsley was the first
English trader to visit Trás-os-Montes16 and transfer the
headquarters of his firm to Oporto, where it then developed
its commercial activity related to wines from the Douro17.
A Mr. Peter Bearsley, an English man, who resided at
Viana as a factor, was the first who went to Oporto in
the view, and for the purpose of speculating in the Port
Wines; and on the road to the Wine Country, at an Inn,
he met with an Elder Tree, whose juice he expressed, and
mixed with the ordinary wine, and found it had the effect
of heightening and improving its colour18.
Irrespective of such disputes between families and
British businessmen, it is above all important to underline the fact that by 1701 most of the wine trade was carried out from Oporto, which had gradually become the
centre for the trade and export of that product (which was
now obtained from the Douro valley), with the consequent
decline in importance of Viana do Castelo and the systematic transfer of the headquarters of the English firms to
A Mr. Peter Bearsley, an English man, who resided at Viana as
a factor, was the first who went to Oporto in the view, and for
the purpose of speculating in the Port Wines; and on the road
to the Wine Country, at an Inn, he met with an Elder Tree,
whose juice he expressed, and mixed with the ordinary wine,
and found it had the effect of heightening and improving its
colour18.
that city. It is also known that during the 18th Century19,
only six British companies kept an active presence in
Viana, amongst which was the future Warre & Co., which
kept a branch there until 1894, which was basically concerned with the importation of bacalhau (salted cod fish):
Warre’s kept an office in Viana importing bacalhau under
the style of C. H. Noble & Murat right up to 1894, the last
Independentemente de tais disputas entre famílias de
comerciantes britânicos, importa sobretudo destacar que, já
em 1701, a maior parte do comércio de vinhos era feito a partir da cidade do Porto, que se transformou gradualmente no
British firm to do so20.
In the first decades of the 18th Century the company
founded by Clark and Thornton was still not known by the
64
centro nevrálgico do comércio e exportação daquele produto
(que agora era obtido no Vale do Douro), com o consequente
declínio em importância de Viana do Castelo e a sistemática
transferência da sede da maior parte das firmas inglesas para
a capital do Norte. É igualmente sabido que, em meados do
século XVIII19, apenas seis companhias britânicas mantinham
ainda actividade em Viana, entre as quais a futura Warre &
Co., que aí manteve uma sucursal até 1894, onde se procedia
essencialmente à importação de bacalhau:
name of Warre (it would only definitively become so from
1777 onwards), given that the first member of this family
to become a partner in the company was William Warre,
and only in the year 1729. From this date the company
became known as Clark, Thornton & Warre21.
According to the current information supplied by the
firm itself22, it is known that William Warre was a man
of some wealth who had been born in 1706, in Madras
in India, where his father and grandparents had been
businessmen. William Warre married Elizabeth White-
Warre’s kept an office in Viana importing bacalhau under the
style of C. H. Noble & Murat right up to 1894, the last British
firm to do so20.
head, sister of the celebrated British Consul in Oporto,
John Whitehead (1756-1805), with whom he had seven
children. The latter was without doubt one of the most
dynamic and enterprising representatives of British dip-
No entanto, nas primeiras décadas do século XVIII a companhia fundada por Clark e Thornton não era ainda conhecida por Warre (só passaria a sê-lo em definitivo a partir de
1777), já que o primeiro membro desta família a quem foi
dada sociedade por aquela firma foi William Warre, e apenas no ano de 1729. A partir desta data a companhia passaria
então a designar-se Clark, Thornton & Warre21.
De acordo com as informações fornecidas actualmente
pela própria firma22, é sabido que William Warre era um
homem de grande fortuna, que nasceu em 1706, em Madras,
na Índia, onde o seu pai e avós tinham exercido actividade
comercial. William Warre viria a casar-se com Elizabeth Whitehead, irmã do celebre cônsul britânico do Porto, John Whitehead (1756-1805), de quem teve sete filhos. Este último
foi, sem dúvida, um dos mais dinâmicos e empreendedores
representantes diplomáticos ingleses na capital nortenha.
Nos relatos de viajantes britânicos que então se deslocavam
ao nosso país e visitavam a cidade do Porto, são frequentes
as referências a esta singular personalidade, que se destacava
65
lomats in Oporto. In the reports of British travellers who
at the time visited Portugal and Oporto, there are frequent references to this singular personality who stood
out due to his erudition23. He possessed a large and well-stocked library, he was a Mathematician, amateur scientist and the architect responsible for the planning and
construction of the English Factory building (which was
finished in 1790), the first building in the Neo-palladian
style to have been erected in that city and which gave
rise to an architectural tradition which would endure in
Oporto until at least the middle of the 19th Century. Also
well known is his close friendship with João de Almada e
Melo, cousin of the Marquês de Pombal, the governor of
that city and the founder of the Junta das Obras Públicas
do Porto (The Body for Public Works in Oporto) in 1757.
The celebrated urban renovation projects which it carried out involved the collaboration of John Whitehead
who, up to a certain point, inspired and participated in
them24.
pela sua erudição23. Detentor de uma vasta e bem fornecida
biblioteca, sabe-se que foi matemático, cientista amador e o
arquitecto responsável pelo planeamento e edificação do edifício da Feitoria Britânica (concluído em 1790), a primeira
construção em estilo neopaladiano a ser erigida naquela
cidade e que daria origem a uma tradição arquitectónica que
perduraria no Porto pelo menos até meados do século XIX.
Igualmente conhecida é a sua estreita amizade com João de
Almada e Melo, primo do Marquês de Pombal, governador
daquela cidade e fundador da Junta das Obras Públicas do
Porto (em 1757), cujos célebres projectos de renovação urbanística mereceram a atenção e a colaboração de John Whitehead, que, até certo ponto, os inspirou e neles participou24.
Regressando, todavia, à breve história da família Warre,
que aqui pretendemos traçar, diremos que o filho primogénito de William Warre (e seu homónimo) herdaria de seu
pai o lugar de sócio principal ou maioritário da firma e do
tio materno, John Whitehead, o cargo de cônsul britânico no
Porto. Podemos, deste modo, constatar que a família Warre
viria a alcançar uma posição de algum destaque e prestígio
no seio da comunidade britânica da capital nortenha. A firma
Warre viria entretanto a consolidar e expandir a sua actividade comercial no Porto, tendo adquirido terrenos em Vila
Nova de Gaia, nos quais edificou os seus armazéns, caves e
escritórios.
No seio da geração seguinte do clã Warre viria igualmente
a alcançar um inegável destaque o sobrinho do primeiro
Warre a instalar-se na capital do Norte e sobrinho-neto do
Cônsul Whitehead, o célebre Tenente-Coronel William Warre
(1784-1853), filho de James Warre e Eleanor Greg. Embora
desde muito cedo tenha manifestado uma inequívoca vocação para a carreira militar, acabaria, contudo, por ingressar
na firma Warre & Co., por pressões do tio, William Warre,
Returning, however, to the outline of the brief history of the Warre family, the first-born child of William
Warre, of the same name, inherited his father’s majority shareholding in the firm and from his maternal uncle,
John Whitehead, the post of British consul in Oporto.
We could thus affirm that the Warre family had reached
a position of prestige and importance within the British community in Oporto. The Warre firm would in the
meanwhile consolidate and expand its commercial activity in Oporto, through the purchase of lands in Vila Nova
de Gaia, on which it constructed its warehouses, cellars
and offices.
A member of the following generation of the Warre
family would also achieve undeniable status. He was the
grandson-nephew of Consul Whitehead, the well-known
Lieutenant-Coronel William Warre (1784-1853), son of
James Warre and Eleanor Greg. Although he had from an
early age shown a clear vocation for a military career he did
however join the firm of Warre Co, due to the pressure of
his uncle, William Warre, who was at the time the majority shareholder. However, instead of pacifically accepting
the will of the family and trying to learn his job, the young
William did everything to go against such wishes and was
prematurely and definitively removed from the company,
due to his irreverent and irresponsible behaviour.
After numerous and outlandish mishaps, William
Warre enlisted in the British Army in 1803, after having
attended the Royal Military College in Great Britain. The
undeniable value of the services rendered by this young
officer during the Napoleonic Wars led to his rapid promotion through the ranks. His knowledge of the Portuguese language and his in-depth knowledge of the country
where he was born were extremely useful for the British
66
então sócio maioritário. Porém, ao invés de aceitar tacitamente a vontade da família e ter procurado aprender o seu
ofício, o jovem William tudo fez para contrariar tais desígnios
e ser prematura e definitivamente afastado da firma, pelo seu
comportamento irreverente e irresponsável.
Após numerosas e rocambolescas peripécias, William
Warre viria a ingressar no exército britânico em 1803, depois
de ter passado pelo Royal Military College, em Inglaterra.
O inequívoco valor dos serviços prestados por este jovem oficial no curso das Guerras Napoleônicas valeu-lhe uma rápida
progressão na hierarquia militar. O seu domínio da língua portuguesa e o seu profundo conhecimento do país onde nasceu
constituíram uma mais-valia para o exército britânico, tendo
sido nomeado ajudante de campo do General Beresford.
De acordo com Gabriela Gândara Terenas25, William Warre
veio a pertencer ao Estado-Maior de Lord Wellington tendo
sido promovido a major do exército britânico em 1811 e a
tenente-coronel em 1813. Este famoso oficial britânico legaria à posteridade um testemunho vivo da Guerra Peninsular
e das campanhas militares em território português e espanhol, no célebre relato de viagem intitulado Letters from the
Península, 1808-1812, publicado em 1909 pelo seu sobrinho e
director do colégio de Eton, o Reverendo Edmond Warre.
Galardoado por D. João VI com as ordens da Torre e
Espada e de São Bento de Avis, pelos serviços prestados
à coroa portuguesa e a sua valorosa conduta na Batalha do
Vimeiro, William Warre não esqueceu, todavia, os seus deveres para com a família, durante todo o conflito, sendo certo
que efectuava encomendas regulares de Vinho do Porto vintage para abastecimento dos oficiais seus colegas e do próprio
Lord Wellington.
Durante os anos de prosperidade do século XIX (entrecortados, contudo, por momentos diversos de forte instabilidade
67
Army, and he was nominated as an aide-de-camp to General Beresford.
According to Gabriela Gândara Terenas25, William
Warre ended up being part of the General Staff of Lord
Wellington and was promoted to the rank of Major in the
British Army in 1811 and to Lieutenant-Coronel in 1813.
This famous British officer was to leave a living testament
of the Peninsular War and the military campaigns in Portuguese and Spanish territory in the form of his celebrated
travel report entitled Letters from the Peninsula, 1808-1812,
which was published in 1909 by his nephew, and Headmaster of Eton College, the Reverend Edmond Warre.
He was decorated by King João VI with the Orders of
the Torre e Espada and São Bento de Avis, for services rendered to the Portuguese Crown and his valiant actions in
the Battle of Vimeiro. William Warre did not, however,
forget his duties to his family, making sure throughout the
conflict that regular orders of vintage Port were made in
order to supply his officer colleagues and Lord Wellington
himself.
Throughout the years of prosperity in the 19th Century (interrupted however by various moments of major
political instability, namely during the Liberal Battles
and the consequent moments of civil unrest, which have
marked our History until its Regeneration, as well as be
the well-known crises in the wine-growing industry due
to phylloxera and mildew epidemics), Port wine became
ever closer to its present-day characteristics and business
flourished, above all through the opening of new markets,
such as South America.
In a publication edited by the Symington group in
197026 it was stated that from the start of the 19th Century, most of the wines exported by the Warre Company
política, nomeadamente durante as Lutas Liberais e subsequentes momentos de conflito civil, que marcaram a nossa História até à Regeneração, bem como pelas célebres crises vinícolas provocadas pelas epidemias da filoxera e do oídio) o Vinho
do Porto foi-se, cada vez mais, aproximando das suas actuais
características e o comércio floresceu, sobretudo através da
abertura de novos mercados, como o da América do Sul.
Numa publicação editada pelo grupo Symington em 197026
afirma-se que, a partir do início do século XIX, a maior parte
dos vinhos exportados pela companhia Warre eram produzidos na Quinta do Bonfim (situada na zona do Pinhão), adquirida pela firma em 1821, e noutras propriedades vizinhas de
menor dimensão, igualmente situadas no Alto-Douro vinhateiro, desde 180527.
had been produced in the Quinta do Bonfim (located in the
Pinhão area), which had been bought by the company in
1821, and other neighbouring properties of a smaller size,
also situated in the Alto-Douro winegrowing area, since
180527.
Most of the WARRE e CINTRA Port Wines are produced
in Quinta do Bomfim, both with vines cultivated on this
property as well as those bought from the best neighbouring quintas.
The Warre & C.ª archives confirm that the firm had made
wine there in 1821, and in smaller neighbouring quintas
in 1805. What is more, some exporters still make wine in
their growers’ properties even today. It was just a league
from this site that our two adventurers, considered as the
A maior parte dos Vinhos do Porto WARRE e CINTRA são
produzidos na Quinta do Bomfim, tanto com uvas cultivadas
nesta propriedade como compradas às melhores quintas da
vizinhança.
Os arquivos da Warre & C.ª confirmam que a firma já fazia
lá vinho em 1821, e, em quintas vizinhas mais pequenas em
1805. Aliás, ainda hoje alguns exportadores fazem algum
vinho nas propriedades dos cultivadores. Foi apenas a uma
légua deste sítio, que os nossos dois aventureiros considerados
fundadores da firma, saborearam o vinho do Douro pela primeira vez em 167028.
founders of the firm, first tasted wine from the Douro for
the first time in 167028.
In the last decade of the 19th Century, George Acheson Warre, for whom there had been no vacant place in the
firm, went ahead and built enormous warehouses in Vila
Nova de Gaia, where the wines produced in Quinta do Bonfim, were laid down. Also in the same period, more precisely in 1892, Andrew J. Symington, a Scottish citizen
who had settled in Oporto ten years previously, joined the
Warre firm, and became a partner in 1905 (or, according
to other sources, in 1912) and also introduced his three
Na última década do século XIX, George Acheson Warre,
para quem não havia na época lugar vago na firma, procedeu à edificação de vastos armazéns em Vila Nova de Gaia,
onde os vinhos produzidos na Quinta do Bonfim, passaram a
ser armazenados. Ainda neste mesmo período, mais precisamente no ano de 1892, Andrew J. Symington, cidadão esco-
sons into the business.
During the 20th Century most of the capital of the
Warre firm entered into the hands of the Symington family, who introduced significant improvements into the
production systems. The last representative of the Warre
family retired in 1955, with the three children of Andrew
68
cês que se havia estabelecido no Porto cerca de dez anos antes,
entrou para a casa Warre, tendo-se tornado sócio da mesma
em 1905 (de acordo com outras fontes, no ano de 1912) e nela
tendo integrado os seus três filhos.
Em meados do século XX a maior parte do capital da firma
Warre encontrava-se já nas mãos da família Symington,
que introduziu significativos melhoramentos nos sistemas
de produção. O derradeiro representante da família Warre
aposentou-se em 1955, mantendo-se os três filhos de Andrew
Symington na direcção da companhia e passando este novo
clã do vinho do Porto a assumir o controlo total da mesma.
Embora nenhum membro da família Warre seja hoje sócio
da firma, esta continua a ser conhecida por esse nome, fazendo
parte do grupo Symington Family Estates, encontrando-se,
deste modo, associada a outras companhias, como Silva &
Cosens, Graham, Quarles Harris, Smith Woodhouse e Gould
Campbell (algumas das quais continuavam ainda a operar
autonomamente no final do século XX), sob a égide da família Symington.
Na década de 60 do século passado, em virtude do significativo crescimento do volume de vendas, o Grupo Symington
admitiu como associada a Compagnie Générale des Produits
Dubbonet-Cinzano-Byrrh, que procedia então à distribuição dos vinhos produzidos pelo mesmo em França. Apesar
deste desenvolvimento mais recente, continuou, porém, a
ser uma das raras companhias particulares dirigidas e maioritariamente controladas por uma só família britânica, operando em exclusivo no nosso país e produzindo apenas vinho
do Porto29. A família Symington soube, nesta medida, conservar tradições que remontam aos primórdios da firma Warre,
mantendo o prestígio e o destaque dos vinhos desta marca,
cujas origens se confundem com a própria história do vinho
do Porto.
69
Symington heading the company and with this new Port
wine family assuming total control of the firm.
Although no member of the Warre family is a partner of the firm nowadays, it continues to be known by this
name, and forms part of the Symington Family Estates
group, and as such is joined to other companies, such as
Silva & Cosens, Graham, Quarles Harris, Smith Woodhouse and Gould Campbell (some of which continued to
operate independently at the end of the 20th Century),
under the aegis of the Symington family.
In the 1960s, due to the significant growth in sales,
the Symington Group admitted the Compagnie Générale
des Produits Dubbonet-Cinzano-Byrrh as a partner, and
this group who took on the distribution of their wines in
France. Despite this more recent development, it did however continue to be one of those rare private companies
run by and with a majority shareholding of just one British
family, operating exclusively in our country and producing
only Port wine 29. The Symington family has thus known
how to conserve traditions which go back to the first days
of the Warre firm, and maintain the prestige and emphasis of wines of this brand, whose origins are mixed in with
the very history of Port wine itself.
notes
1
The institution here called the English Factory (Feitoria Inglesa) was abolished in 1810, by the treaty then ratified between Great Britain and Portugal, to become what was then to be called the British Association (Associação Britânica). See in this regard SANCEAU, Elaine – The British Factory
Oporto. Barcelos: Companhia Editora do Minho, 1970, Chap. IV, p. 66.
“It really was quite new insomuch that the Factory as an official entity
had actually ceased to exist. The treaty signed with Portugal in 1810 laid
down that there should be no foreign factories in this country any more,
of any nationality. His Britannic Majesty had agreed to this, consenting
‘to waive the right of creating Factories or incorporated Bodies of British
merchants under any name or Description whatever with in the Portu-
guese dominions.’ All that he asked was that no other nation might enjoy
notas
what was denied to his subjects. To this the Prince Regent had agreed”.
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A instituição até aí designada de Feitoria Inglesa seria abolida em 1810, pelo
tratado então firmado entre a Grã-Bretanha e Portugal, passando a chamar-se
desde então British Association ou Associação Britânica. Veja-se a este propósito aquilo que nos diz SANCEAU, Elaine – The British Factory Oporto. Barcelos:
Companhia Editora do Minho, 1970, cap. IV, p. 66.
“It really was quite new insomuch that the Factory as an official entity had
actually ceased to exist. The treaty signed with Portugal in 1810 laid down that
there should be no foreign factories in this country any more, of any nationality. His Britannic Majesty had agreed to this, consenting ‘to waive the right of
creating Factories or incorporated Bodies of British merchants under any name
or Description whatever with in the Portuguese dominions.’ All that he asked
was that no other nation might enjoy what was denied to his subjects. To this
the Prince Regent had agreed”.
Entre outras bibliotecas e arquivos onde desenvolvemos o nosso trabalho
de pesquisa citaremos a Biblioteca Pública do Porto, o Arquivo Municipal do
Porto, o Arquivo Distrital do Porto, o Arquivo do Governo Civil do Porto e a
Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
EMILIANO, Maria da Conceição de Albuquerque – William Henry Giles Kingston:
Percursos Lusitanos. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1988 [dissertação de Mestrado inédita].
A propósito deste romancista e viajante vitoriano veja-se a seguinte obra: KINGSFORD, Maurice Rooke – The Life, Work and Influence of William Henry Giles
Kingston. Toronto: Ryerson Press, 1947.
V. SILVA, Miguel Nuno Mercês de Mello Alarcão e – Edward Quillinan e Portugal. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de
Lisboa, 1986 [dissertação de Mestrado inédita]; QUILLINAN, Edward – Poems,
with a Memoir by William Johnston. London: Edward Moxon, 1853, pp. xxi-xlvi.
A propósito de Luís de Quillinan consulte-se igualmente o seguinte trabalho:
LAGE, José da Fonseca – A Pátria: a Luiz de Quillinan. Porto: Tipografia Ocidental, 1884.
Consultem-se a este propósito os sites da Warre’s e da Symington Family Estates, disponíveis respectivamente em: http://www.warre.com/conteudos.asp
(2009/03/01; 20:15h); http://www.symington.com/family.asp (2009/03/01;
20:15h). Veja-se ainda o volume comemorativo do centenário da Warre & Cª.:
Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda, Fundada em 1670. S.l.: s.ed., s.d..
They Went to Portugal. Harmondsworth: Penguin Books, Penguin Travel Library,
1985, pp. 230-231.
The Story of Port. London: Christie’s Wine Publications, 1983, cap.III, p. 25.
Op. cit., pp. 232-234.
Op. cit., cap. III, pp. 26-27.
New York: Harper & Row Publishers, Inc., Barnes & Noble Import Division,
cap. V, p. 110 (v. igualmente pp. 105-116):
“The tradition in later years in Oporto was that the two sons of a Yorkshire
shipper, who had been sent out to learn the wine trade, were the first English
to explore the Upper Douro. Another story credited with the discovery Peter
Bearsley, son of a merchant named Job Bearsley who settled in Viana in the
1680s. He was said to have found some uncommonly good wine in a monas-
2
Amongst the various libraries and archives which were consulted for this
research I would mention the Public Library of Oporto (Biblioteca Pública
do Porto), the Oporto Municipal Archive (Arquivo Municipal do Porto), the
Civil Governor of Oporto’s Archive (Arquivo do Governo Civil do Porto) and
the Library of the Faculty of Letters of the University of Oporto (Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto).
3
EMILIANO, Maria da Conceição de Albuquerque – William Henry Giles
Kingston: Percursos Lusitanos (William Henry Giles Kingston; Literary
Paths). Lisbon: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade
Nova de Lisboa (Faculty of Social and Human Sciences, New University of
Lisbon), 1988 [unpublished Master’s Dissertation].
4
With regard to this Victorian novelist and traveller, see the following
work: KINGSFORD, Maurice Rooke – The Life, Work and Influence of William Henry Giles Kingston. Toronto: Ryerson Press, 1947.
5
V. SILVA, Miguel Nuno Mercês de Mello Alarcão e – Edward Quillinan e
Portugal. Lisbon: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (Faculty of Social and Human Sciences, New University of Lisbon), 1986 [unpublished Master’s Dissertation]; QUILLINAN,
Edward – Poems, with a Memoir by William Johnston. London: Edward
Moxon, 1853, pp. xxi-xlvi.
Concerning Luís de Quillinan see also the following work: LAGE, José da
Fonseca – A Pátria: a Luiz de Quillinan (The Country: for Luís Quillinan).
Oporto: Tipografia Ocidental, 1884.
6
In this regard the following sites of Warre’s and the Symington Family
Estates were consulted, available respectively at: http://www.warre.com/
conteudos.asp (2009/03/01; 20:15); http://www.symington.com/family.asp (2009/03/01; 20:15). See also the publication commemorating
the centenary of Warre & Cª.: Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda,
Fundada em 1670 (No publishing date, place or edition given).
7
They Went to Portugal. Harmondsworth: Penguin Books, Penguin Travel
8
The Story of Port. London: Christie’s Wine Publications, 1983, Chap. III,
Library, 1985, pp. 230-231.
p. 25.
9
Op. cit., pp. 232-234.
10
Op. cit., Chap. III, pp. 26-27.
11
New York: Harper & Row Publishers, Inc., Barnes & Noble Import Division, Chap. V, p. 110 (see also pp. 105-116):
“The tradition in later years in Oporto was that the two sons of a Yorkshire shipper, who had been sent out to learn the wine trade, were the
first English to explore the Upper Douro. Another story credited with
the discovery Peter Bearsley, son of a merchant named Job Bearsley who
settled in Viana in the 1680s. He was said to have found some uncommonly good wine in a monastery not far from Régua and to have brought
some to send down to Oporto. It is not unlikely that something of the
kind occurred, for the church was a principal land-owner and in the sixteenth century a monastery near Lamego had been famous for its vineyard, which produced 15,000-16,000 almudes (about 600 pipes) of wine
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tery not far from Régua and to have brought some to send down to Oporto. It is
not unlikely that something of the kind occured, for the church was a principal
land-owner and in the sixteenth century a monastery near Lamego had been
famous for its vineyard, which produced 15,000-16,000 almudes (about 600
pipes) of wine of the best quality. The Bearsleys were authentic enough; Woodmass was met by Job Bearsley when he landed at Viana. Afterwards the family
moved to Oporto and founded a firm of wine-shippers which after nineteen
changes of name carried on recently as Taylor, Fladgate and Yeatman. Most of
the vineyards round Lamego were on somewhat heavier soil, but some perhaps
had already spread to the thin schistous soil of the mountains where the full
wines to be known as port were later grown”.
Oporto, Old and New, Being a Historical Record of the Port Wine Trade and a Tribute
to British Commercial Enterprize, in the North of Portugal. London: Herber E. Harper, 1899, cap. III, pp. 19-24.
Op.cit., cap. III, pp. 25-27.
Op.cit., cap. V, pp. 109-110.
York: Printed by A. Ward, For J. Todd; And Sold By R. Baldwin, Pater-Noster
Row, London, 1788, p. 5.
BRADFORD, Sarah - op.cit., “Appendix III”, p.148. Veja-se a seguinte passagem
da obra supracitada:
“Job Bearsley, with his impedimenta and his flat-bottomed boat, was the founding father of the firm which later became Taylor, Fladgate & Yeatman. Job
– we never hear of poor Mrs. Bearsley, homesick for the comforts of England
among all those unintelligible Portuguese – had five sons, Peter, Charles, Bartholomew, Francis and William. The Bearsleys were real pioneers; around the
turn of the century they moved their business to Oporto, although they doubtless continued to ship Minho wine through Viana, and Peter Bearsley, according to John Croft, was the first Englishman to visit the Upper Douro for the
purpose of buying wine. It was on this epoch-making trip that he noted the
insidious elder trees growing merrily among the wines. Bartholomew bought
the first known British property in the Douro, the Casa dos Alambiques at Salgueiral near Régua, which Taylor’s still own to this day” (ibidem, p.148).
Ibidem, cap. III, p. 26.
CROFT, John - Op.cit., p. 5.
MACAULAY, Rose – Op.cit., p. 234.
“The British wine Trade shifted gradually from Viana to Oporto; by the middle
of the century only about half a dozen families were left in Viana. More firms
began to sell only wine; the Douro valley vineyards incresed, and the technique
of viticulture improved”.
BRADFORD, Sarah – Op.cit., p. 149.
Esta firma, cujas origens se confundem com as do próprio vinho do Porto,
negociou, ao longo da sua história, sob diversas designações, cada uma das
quais corresponde a um momento específico na sua evolução e na sua composição social: John Clark – 1718; Clark & Thornton - 1723; Clark, Thornton &
Warre – 1729; Clark, Warre & Newby - 1734; Warre, Newby & Bowman - 1743;
Warre, Lesueur & Trodlope – 1749; Warre, Lesueur & Calvert – 1762; Warre &
Sons – 1777.
V. supra nota 6, Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda., Fundada em 1670. S.l.:
s.ed., s.d., p.4.
of the best quality. The Bearsleys were authentic enough; Woodmass was
met by Job Bearsley when he landed at Viana. Afterwards the family
moved to Oporto and founded a firm of wine-shippers which after nineteen changes of name carried on recently as Taylor, Fladgate and Yeatman. Most of the vineyards round Lamego were on somewhat heavier
soil, but some perhaps had already spread to the thin schistose soil of the
mountains where the full wines to be known as port were later grown.”
12
Oporto, Old and New, Being a Historical Record of the Port Wine Trade and a
Tribute to British Commercial Enterprize, in the North of Portugal. London:
Herber E. Harper, 1899, Chap. III, pp. 19-24.
13
Op.cit., Chap. III, pp. 25-27.
14
Op.cit., Chap. V, pp. 109-110.
15
York: Printed by A. Ward, For J. Todd; And Sold By R. Baldwin, Pater-Noster Row, London, 1788, p. 5.
16
BRADFORD, Sarah - op.cit., “Appendix III”, p.148. Consider the following
extract of the work cited above:
“Job Bearsley, with his impedimenta and his flat-bottomed boat, was the
founding father of the firm which later became Taylor, Fladgate & Yeatman. Job – we never hear of poor Mrs. Bearsley, homesick for the comforts of England among all those unintelligible Portuguese – had five
sons, Peter, Charles, Bartholomew, Francis and William. The Bearsleys
were real pioneers; around the turn of the century they moved their business to Oporto, although they doubtless continued to ship Minho wine
through Viana, and Peter Bearsley, according to John Croft, was the first
Englishman to visit the Upper Douro for the purpose of buying wine. It
was on this epoch-making trip that he noted the insidious elder trees
growing merrily among the wines. Bartholomew bought the first known
British property in the Douro, the Casa dos Alambiques at Salgueiral near
Régua, which Taylor’s still own to this day” (ibidem, p.148).
17
Ibidem, Chap. III, p. 26.
18
CROFT, John - Op.cit., p. 5.
19
MACAULAY, Rose – Op.cit., p. 234.
“The British wine Trade shifted gradually from Viana to Oporto; by the
middle of the century only about half a dozen families were left in Viana.
More firms began to sell only wine; the Douro valley vineyards increased,
and the technique of viticulture improved”.
20
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BRADFORD, Sarah – Op.cit., p. 149.
This firm, whose origins are mixed with those of Port wine itself, has had
different names throughout its history, with each one corresponding to a
specific moment in its evolution and social make-up: John Clark – 1718;
Clark & Thornton - 1723; Clark, Thornton & Warre – 1729; Clark, Warre
& Newby - 1734; Warre, Newby & Bowman - 1743; Warre, Lesueur & Trodlope – 1749; Warre, Lesueur & Calvert – 1762; Warre & Sons – 1777.
22
See note 6 above, Porto Cintra, 1670-1970, Warre & C.ª Lda., Fundada em
1670. (No publishing date, place or edition given), p.4.
23
On this matter consult the work of Costigan in Portuguese, COSTIGAN, Arthur William – Cartas sobre a sociedade e os costumes de Portugal,
1778-1779 (translation, preface and notes by Augusto Reis Machado). Lisboa: Lisóptima Edições, 1989. Vol. I, Chap. XV, pp. 154-158, or the Eng-
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Consulte-se a este propósito e a título de exemplo o relato de COSTIGAN,
Arthur William – Cartas sobre a sociedade e os costumes de Portugal, 1778-1779
(tradução, prefácio e notas de Augusto Reis Machado). Lisboa: Lisóptima Edições, 1989. Vol. I, cap. XV, pp. 154-158. Cf. com o original inglês Sketches of
Society and Manners in Portugal, In a Series of Letters, from Arthur William Costigan, Esq., Late a Captain of the Irish Brigade in the Service of Spain, To His
Brother in London, in Two Volumes. London, 1788. Arthur William Costigan é,
como se sabe, o pseudónimo usado por James Ferrier.
NEVES, Ana – O Terramoto de 1755 e a Influência da Arte Britânica na Arquitectura
Portuguesa Setecentista. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2008, cap. II, pp. 201-208.
TERENAS, Gabriela Gândara – O Portugal da Guerra Peninsular, A Visão dos Militares Britânicos (1808-1812). Lisboa: Edições Colibri, 2000, p.177.
V. supra, nota 21. Op. cit., pp. 9-10.
Ibidem, pp. 9-10. Veja-se igualmente o site da revista online sobre enologia Winedoctor, Independent opinion on wine, in http://www.thewinedoctor.com/tastings
profile/warres.shtml (2008/12/01; 21:55h). Citaremos a este propósito uma
passagem do texto deste site respeitante às quintas onde são produzidos os
vinhos da marca Warre:
“As with other Port houses, Warre’s will always be inextricably linked with its
quintas, the estates dotted along the Douro and her tributaries that are the
source of this regions grapes. With Warre’s this is Quinta da Cavadinha, located in the Pinhão Valley in the upper reaches of the Douro, known as the Alto
Douro (or Douro Superior). Today it is widely acknowledged that it is these
vineyards, with their low rainfall, that are the source of the best quality grapes.
The Pinhão is a tributary of the Douro flowing in from the north, joining the
main body of water at the town of the same name. The valley is home not only
to Cavadinha, but also Quinta do Noval and Quinta do Passadouro (Nieport),
and Dow’s Quinta do Bomfim is located close to the union of the two rivers on
the Douro. Cavadinha is an important source of fruit for Warre’s Vintage Port,
and in non-declared years it may be bottled as a single quinta wine. It is also
the location of Warre’s experimental vineyard, created to assess newly available planting material, rootstock and clones, and the plantings are in sufficient
quantity for microvinifications to be performed to assess the results. In addition to Cavadinha, Warre’s have also recently acquired Quinta do Bom Retiro
Pequeno, a leading estate located in the Rio Torto valley, another of the Douro’s
tributaries which joins the river not far downstream of Pinhão”.
V. supra, notas 21, 25 e 26. Ibidem, pp. 9-10.
Actualmente, o grupo Symington faz parte integrante da exclusivíssima associção Primum Familiae Vini, que agrupa as onze maiores famílias de produtores
vinícolas do mundo. Os seus membros são respectivamente as famílias Antinori,
Joseph Drouhin, Egon Müller Scharzhof, Hügel, Perrins de Beaucastel, Mouton
Rothschild, Pol Roger, Sassicaia, Torres e Vega Sicilia. Os critérios essenciais
para alcançar o estatuto de membro desta prestigiada associação são, em primeiro lugar, que as firmas pertençam a uma única família (isto é, que o capital
social da firma seja detido por uma só família) e, numa segunda instância, que
tenham figurado igualmente, durante muitos anos, na lista dos melhores produtores da sua respectiva região e alcançado uma elevada reputação a nível internacional. In http://www.warre.com/conteudos.asp (2008/12/01; 21:50h)
lish original: Sketches of Society and Manners in Portugal, In a Series of Letters, from Arthur William Costigan, Esq., Late a Captain of the Irish Brigade in the Service of Spain, To His Brother in London, in Two Volumes.
London, 1788. Arthur William Costigan is known to be the pseudonym
used by James Ferrier.
24
NEVES, Ana – O Terramoto de 1755 e a Influência da Arte Britânica na Arquitectura Portuguesa Setecentista (“The 1755 Earthquake and the Influence of British Art on 18th Century Portuguese Architecture”). Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (Faculty of Social and
Human Sciences, New University of Lisbon), 2008, Chap. II, pp. 201-208.
25
TERENAS, Gabriela Gândara – O Portugal da Guerra Peninsular, A Visão dos
Militares Britânicos (1808-1812), (Portugal of the Peninsular War, The Vision
of the British Soldiers, 1808-1812). Lisboa: Edições Colibri, 2000, p. 177.
26
See note 21 above. Op. cit., pp. 9-10.
27
Ibidem, pp. 9-10. See also the site of the online wine magazine, Winedoctor,
Independent opinion on wine, at http://www.thewinedoctor.com/tastings
profile/warres.shtml (2008/12/01; 21:55). Here is a passage from this site
concerning the quintas where wine bearing the Warre name is produced:
“As with other Port houses, Warre’s will always be inextricably linked with
its quintas, the estates dotted along the Douro and her tributaries that are
the source of this region’s grapes. With Warre’s this is Quinta da Cavadinha, located in the Pinhão Valley in the upper reaches of the Douro,
known as the Alto Douro (or Douro Superior). Today it is widely acknowledged that it is these vineyards, with their low rainfall, that are the source
of the best quality grapes. The Pinhão is a tributary of the Douro flowing in from the north, joining the main body of water at the town of the
same name. The valley is home not only to Cavadinha, but also Quinta do
Noval and Quinta do Passadouro (Nieport), and Dow’s Quinta do Bomfim
is located close to the union of the two rivers on the Douro. Cavadinha is
an important source of fruit for Warre’s Vintage Port, and in non-declared
years it may be bottled as a single quinta wine. It is also the location of
Warre’s experimental vineyard, created to assess newly available planting
material, rootstock and clones, and the plantings are in sufficient quantity
for microvinifications to be performed to assess the results. In addition
to Cavadinha, Warre’s have also recently acquired Quinta do Bom Retiro
Pequeno, a leading estate located in the Rio Torto valley, another of the
Douro’s tributaries which joins the river not far downstream of Pinhão”.
28
See above, notes 21, 25 and 26. Ibidem, pp. 9-10.
29
The Symington group currently forms part of the very exclusive association Primum Familiae Vini, which brings together the eleven largest wine producing families in the world. Its members are the Antinori,
Joseph Drouhin, Egon Müller Scharzhof, Hügel, Perrins de Beaucastel,
Mouton Rothschild, Pol Roger, Sassicaia, Torres and Vega Sicilia families. The main criteria to be able to join this prestigious association are
that, in the first place, the companies belong to a single family (that is
that the share capital of the company is held by a single family) and, secondly, that they have also been on the list of the best producers in their
region for many years, and have a strong reputation internationally. In
http://www.warre.com/conteudos.asp (2008/12/01; 21:50).
72
BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAPHY
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Joseph James Forrester, defensor do Douro:
a obra do “estrangeiro-portuguez”
Joseph James Forrester, Champion of the Douro:
The Work of the ‘Portuguese-Foreigner’
Maria Zulmira Castanheira
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 74-99, ISSN 1646-7116
No dia 12 de Maio de 1861 morria afogado na curva do
Cachão da Valeira1, em consequência do naufrágio do barco
em que fazia um passeio fluvial na companhia, entre outros,
de D. Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896)2, a célebre «Ferreirinha da Régua», que se salvou, Joseph James Forrester,
1.º e único barão de Forrester, título português que lhe foi
concedido por D. Fernando II, regente, em Abril de 18553. Por
ironia do destino, tirou-lhe a vida aquele mesmo rio Douro
que tantas e demoradas vezes havia navegado, no luxuoso
barco rabelo que mandara construir4, e que, com dispêndio
de muito esforço e avultadas quantias, cuidadosa e talentosamente cartografara, tendo vindo a publicar em 1848 um
mapa de grandes dimensões (3 m de comprimento x 0,68 m
de largura) do Douro portuguez e paiz adjacente, com tanto do
rio quanto se póde tornar navegável em Hespanha e a enviar em
1855 à Exposition Universelle des Produits de l’Agriculture,
de l’Industrie et des Beaux-Arts de Paris, vários outros mapas
geológicos e hidráulicos do leito, margens e barra do Douro
português. Seria também autor de um mapa topográfico do
Paiz vinhateiro do Alto Douro, dedicado à rainha D. Maria II5,
publicado em português e inglês (1843)6.
Por ocasião do seu trágico falecimento, tanto a imprensa
periódica portuguesa como a inglesa lamentaram a perda
de tão grande amigo de Portugal, tendo, por exemplo, The
Gentleman’s Magazine, no artigo que lhe dedicou na secção de
necrologia do seu número de Julho de 1861, registado que o
desaparecimento do homem que tanto fizera pelo Douro causara consternação nacional no país aliado: “His death caused
a profound sensation both at Lisbon and Oporto, and all the
vessels in port lowered their flags half-mast high, on receiving the distressing intelligence”7. Em Portugal, foram vários
os jornais que o homenagearam, entre eles O Commercio do
Porto8 e os lisboetas Jornal do Commercio9, A Politica Liberal10
75
On 12 May 1861, the pleasure craft carrying James
Joseph Forrester and, among others, D. Antónia Adelaide
Ferreira (1811-1896)1, the famous ‘Ferreirinha da Régua’,
sank at the Cachão da Valeira2 curve, drowning Forrester,
1st and only Baron Forrester, a Portuguese title bestowed
upon him by the Regent, Fernando II in April 18553.
(D. Adelaide survived.) Through an ironic twist of fate,
the Douro that took his life was that selfsame river on
which he had so often and so comprehensively sailed on
the luxurious rabelo boat he had had built4, and which,
painstakingly and at great cost, he had carefully and with
great talent charted, having published in 1848 a largescale map (3m long by 0.68 width) of The Portuguese
Douro and Adjacent Country, with as much of the river as
can be made navigable in Spain. In 1855, he sent to the
Paris Exposition Universelle des Produits de l’Agriculture,
de l’Industrie et des Beaux-Arts several other geological
and hydraulic maps of the bed, banks and mouth of the
Portuguese Douro. He was also the author of the typographical Map of the Wine District of the Alto Douro, dedicated to Queen Maria II5, published in Portuguese and in
English (1843)6.
Upon his tragic death, both the Portuguese and British periodical press mourned the loss of such a great friend
to Portugal. An example of this is to be found in the obituary section of the July 1861 issue of The Gentleman’s Magazine, recording that the passing of the man who had done
so much for the Douro had caused great national distress
in the allied country: “His death caused a profound sensation both at Lisbon and Oporto, and all the vessels in
port lowered their flags half-mast high, on receiving the
distressing intelligence”7. In Portugal, several newspapers
paid tribute to him. Among these were O Commercio do
e o prestigiado semanário ilustrado Archivo Pittoresco, onde
veio a lume um elogio fúnebre de Joseph James Forrester,
em forma de biografia, assinado por A. M. Leorne (António Martins Leorne)11. Com entusiasmo e admiração, o articulista fala-nos da vida deste negociante e agricultor britânico que estabeleceu fortes laços com Portugal e se dedicou
ao negócio do vinho do Porto, tendo escrito variadíssimas
obras sobre a questão vinícola e o rio Douro. Entre as muitas
observações com interesse que A. M. Leorne faz sobre Forrester, a quem chama “o estrangeiro-portuguez” e a “personificação do Douro”, pondo em evidência não só a sua inteligência, nobreza de carácter e filantropia, mas também a forma
como sempre pugnou pela reputação do vinho do Porto e pelo
desenvolvimento do seu comércio, a ponto de poder ser considerado “mais portuguez que muitos portuguezes”, citem-se
as palavras seguintes, bastante eloquentes na tentativa de
salientar a lusofilia de Forrester:
Porto8 and the Lisbon papers Jornal do Commercio9, A Politica Liberal10, and the prestigious illustrated weekly Archivo
Pittoresco, which published a funeral eulogy of Joseph
James Forrester, in the shape of a biography signed by
A.M. Leorne (António Martins Leorne)11. The latter
enthusiastically and admiringly wrote about the life of this
British merchant and agriculturalist who formed a strong
bond with Portugal and devoted himself to the Port wine
trade and who had written the most varied works on matters of wine and the river Douro. Among A.M. Leorne’s
many interesting remarks about Forrester, whom he called
the ‘Portuguese-foreigner’ and the ‘personification of the
Douro’, emphasising not only his intelligence, nobility of
character and philanthropy, but also the way he had always
fought for the reputation of Port wine and for the development of its trade, to the extent that he could be regarded
as ‘more Portuguese than many Portuguese’, the following
words eloquently stress Forrester’s Lusophilia:
Se houve estrangeiro que se esmerasse na apreciação do quanto
vale o nosso Portugal; que mais caprichasse em nos fazer justiça; que mais se esforçasse por nos tornar conhecidos das
nações estranhas; que mais pugnasse pela nossa lavoira em
geral, e pela vinicola em particular, amando ao mesmo tempo o
nosso paiz como se n’elle nascêra, esse estrangeiro foi, inquestionavelmente, o barão de Forrester12.
If ever there was a foreigner who took greater pains to
appreciate the worth of our Portugal; who went to such
lengths to do us justice; who put greater effort into making us known among foreign nations; who fought harder
for our agriculture in general and for wine-growing in
particular, at the same time loving our country as if he
had been born here, that foreigner was, without ques-
Nascido em Hull, cidade do Norte de Inglaterra, em 27
de Maio de 1809, Joseph James Forrester veio para Portugal em 1831 – durante o terror miguelista, vindo a ser em
breve testemunha da entrada do exército liberal no Porto e
do cerco feito à cidade pelas forças absolutistas – com vinte
e dois anos, para trabalhar com o tio, James Forrester (1775-1840), notável negociante de vinhos estabelecido no Porto
tion, Baron Forrester12.
Born in Hull, in the north of England, on 27 May
1809, Joseph James Forrester came to Portugal in 1831
– during the terror of King Miguel’s reign, and soon after
witnessing the Liberal army’s entrance into Porto and
the siege laid to the city by the absolutist forces – at the
76
age of 22, to work with his uncle, James Forrester (1775-1840), a prominent wine merchant established in Porto
who had arrived from Perth in the early 1800s (1803)
to join a firm later designated as Offley, Forrester and
Webber. On 10 May 1836, Joseph James married a fellow-Briton in England, Eliza Cramp, the daughter of William Cramp, the head of Customs in Yorkshire, England,
and the sister of Francis Cramp (1820-1875), who in the
1840s (1848) would also become a partner in the above
business accredited in Porto (Offley, Cramp and Forrester)13, thus showing how Port wine merchants tended
to include other family members. In the early 1850s, Forrester left the firm, setting up on his own as a producer
and exporter. Meanwhile, having become a widower in
1847, shortly after his wife gave birth to their seventh
child (mother and new-born daughter succumbed to
typhoid fever) – James Forrester, Joseph James Forrester, Ermelinda Forrester, Eliza Forrester, William Offley Forrester, Frank Woodhouse Forrester (the latter two
were given the surnames of their godparents, William
Offley and Robert Woodhouse, as was then the custom)
and Maria, born in 1837, 1838, 1840, 1842, 1843, 1845 e
1847 respectively – he had decided to send his children to
school in the United Kingdom, as was customary among
British families established in Portugal, which would in
the event prove even more pressing, given the loss of
their mother and their father’s many duties. The four
que, nos primeiros anos de Oitocentos (1803), chegara de
Perth para se associar a uma firma que mais tarde se designaria por Offley, Forrester & Webber. Em 10 de Maio de 1836
Joseph James casou em Inglaterra com uma compatriota,
Eliza Cramp, filha de William Cramp, director da alfândega
do condado de York, em Inglaterra, e irmã de Francis Cramp
77
boys would also eventually turn to the wine business, as
recorded by Norman R. Bennett (“In 1861 francis Crmp
took the Forrester’s two youngest sons into the firm; the
two eldest were already in the London branch”14) and,
before him, John Delaforce, recounting Forrester’s leaving the firm in 1851:
(1820-1875), que nos anos 40 (1848) entraria também para
sócio daquela casa comercial acreditada no Porto (Offley,
Cramp & Forrester 13),demonstrando-se, uma vez mais, como
as empresas ligadas ao vinho do Porto tendiam a incluir membros de uma mesma família. No início da década de 50 Forrester abandonaria a firma, passando a produtor e exportador independente. Entretanto, tendo ficado viúvo em 1847,
pouco depois de a sua mulher dar à luz o sétimo filho (mãe
e filha recém-nascida sucumbiram vítimas da febre tifóide)
– James Forrester, Joseph James Forrester, Ermelinda Forrester, Eliza Forrester, William Offley Forrester, Frank Woodhouse Forrester (os dois últimos receberam o apelido dos
seus padrinhos, William Offley e Robert Woodhouse, como
era então costume) e Maria, nascidos, respectivamente, em
1837, 1838, 1840, 1842, 1843, 1845 e 1847 –, decidira mandar educar os filhos em Inglaterra, o que era, de resto, prática
habitual entre as famílias britânicas estabelecidas em Portugal e, no caso, se tornara ainda mais premente, dada a falta
da mãe e os muitos afazeres do pai. Os quatro rapazes viriam,
no futuro, a dedicar-se também ao comércio do vinho, como
regista Norman R. Bennett (“In 1861 Francis Cramp took
Forrester’s two youngest sons into the firm; the two eldest
were already in the London branch.”14) e, antes dele, John
Delaforce, ao falar da saída de Forrester da firma, em 1851:
[…] when James Forrester died in 1840, his nephew
was the only representative of the name in the firm but
he withdrew from it in 1851, leaving his brother-in-law
Francis Cramp in charge. Forrester established himself
in London under the title of “Joseph James Forrester &
Sons, Portugal Merchants, Oporto and 24 Crutched Friars, London and also of 76 Mark Lane.
In fact his two eldest sons, James and Joseph James,
were aged only fourteen and thirteen at that time, but
after Forrester’s death in 1861 Francis Cramp invited
his nephews to join him and so the family connection in
Oporto was restored. […] Subsequently his two younger
sons, William Offley and Frank Woodhouse, joined the
firm in Oporto, and they were recorded as Members of
the British Association (Factory House) in Oporto in
1876 and as Founder Members of the Oporto British
Club in 190315.
Endowed with great drive, Joseph James Forrester
was not only able to move his uncle’s firm forward efficiently and become a major Douro wine producer and
land-owner – Sarah Bradford ventures the view that
“Joseph James Forrester was perhaps the most remarkable man the port trade has produced”16 –, but he also
fought for the quality of Port wine and for the interests
[…] when James Forrester died in 1840, his nephew was the
only representative of the name in the firm but he withdrew
from it in 1851, leaving his brother-in-law Francis Cramp in
charge. Forrester established himself in London under the title
of “Joseph James Forrester & Sons, Portugal Merchants, Oporto
and 24 Crutched Friars, London and also of 76 Mark Lane”.
In fact his two eldest sons, James and Joseph James, were aged
only fourteen and thirteen at that time, but after Forrester’s
of the Douro region, defending points of view and pointing to solutions which did not fail to generate heated
controversy and even enmities. At the time of his death,
however, and despite the controversies, envy and jealousy which had grown around him over the years, the
voices that rose were not those of his detractors but
of his admirers, who attested to how well-known and
esteemed Forrester was in Portugal. Unlike many of his
78
death in 1861 Francis Cramp invited his nephews to join him
and so the family connection in Oporto was restored. […] Subsequently his two younger sons, William Offley and Frank
Woodhouse, joined the firm in Oporto, and they were recorded as Members of the British Association (Factory House) in
Oporto in 1876 and as Founder Members of the Oporto British Club in 190315.
compatriots, he had soon learnt Portuguese and had
never shut himself off from contact with the nationals of
the country which had become home to him. Rather, he
plunged actively into Portuguese economic and cultural
life, mixing with people in every walk of life and from
the most varied political factions, thus becoming one of
the most visible faces of the British presence in Romanticism17 Portugal, closely linked, as we know, to the eco-
Dotado de grande poder de iniciativa, Joseph James
Forrester não só soube dar, eficientemente, continuidade à
empresa de seu tio, e se tornou um importante produtor de
vinho e proprietário duriense – Sarah Bradford arrisca dizer
que “Joseph James Forrester was perhaps the most remarkable man the port trade has produced”16 –, como lutou pela
qualidade dos vinhos do Porto e os interesses da região do
Douro, defendendo pontos de vista e apontando soluções que
não deixaram de gerar acesa controvérsia e até inimizades.
À data da sua morte, contudo, e apesar das polémicas, invejas
e ciúmes que suscitara ao longo dos anos, ergueu-se não a voz
dos detractores mas a dos admiradores, que deram testemunho do quanto Forrester era, em Portugal, conhecido e estimado. Contrariamente a muitos compatriotas seus, depressa
aprendera o português e nunca se fechara ao contacto com
os naturais do país em que se radicara, envolvendo-se antes,
activamente, na vida económica e cultural portuguesa, dando-se com gente de todas as classes sociais e das mais diversas
facções políticas, e tornando-se, assim, um dos rostos mais
visíveis da presença britânica no Portugal do Romantismo17,
estreitamente ligada, como se sabe, ao sector da economia:
nomic sector:
[…] foreign, above all English, was the capital used
to redeem the public debt; English hands were also in
control of a number of sectors of maritime trade, mining, and many insurance companies. English also was
the prominent colony which in Porto controlled a large
part of the Port wine trade (Offley, Cramp & Forrester,
Croft & Company, Sandeman & Company, among other
firms) 18.
Having, as it had since the seventeenth century, a
prominent place in the Portuguese balance of trade, Port
wine did in fact have the United Kingdom as its main
buyer, while at the same time, in Portugal, exports of this
product were largely concentrated in the hands of British citizens resident in Porto19. Largely engaged in trade,
the British community established there20 held an economic influence and a social dimension which warranted
the presence of a Consul in that northern city, with one
of them, John Whitehead (1726-1802), undertaking the
building of the headquarters of the British Factory. In
[…] estrangeiros, sobretudo ingleses, eram os capitais que serviam para amortizar a dívida pública; na mão de ingleses estavam também alguns sectores do comércio marítimo, das explo79
the words of John Delaforce, Joseph James Forrester
was never a member of the British Association, the designation adopted in 1814 by the old British Factory of
rações mineiras e muitas das companhias de seguros. Inglesa
era, ainda, a importante colónia que na cidade do Porto controlava uma boa parte do comércio do «port wine» (as casas
Offley, Cramp & Forrester, Croft & Cª, Sandeman & C.ª, entre
outras)18.
Portugal, since the Friendship, Commerce and Navigation Treaty signed with Britain in 1810 banned British
Factories in Portugal, which still obtains:
Forrester was never a member of the British Association, which perhaps is not surprising in view of his con-
Ocupando, desde o século XVII, um lugar de relevo na
balança comercial portuguesa, o vinho do Porto tinha na Grã-Bretanha, na verdade, o seu principal comprador, ao mesmo
tempo que em Portugal a exportação deste produto estava em
grande medida concentrada nas mãos de britânicos fixados
no Porto19. Ligada essencialmente ao comércio, a comunidade
britânica ali estabelecida20 detinha um peso económico e uma
dimensão social que justificavam a existência, naquela cidade
nortenha, de um cônsul, ficando a dever-se a um deles, John
Whitehead (1726-1802), a construção da sede da Feitoria
Inglesa. Como diz John Delaforce, Joseph James Forrester
nunca pertenceu à British Association, designação adoptada
pela velha Feitoria Britânica do Porto em 1814, em virtude de
o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação assinado com a
Inglaterra em 1810 proibir a existência de feitorias britânicas
em Portugal, e que ainda se mantém:
troversial views which did not endear him to the Factory. He was invited to dinners at the Factory House in
1833 and 1834, but there is no record as to whether he
was ever proposed for membership21.
Besides the cartographic work already cited, Forrester
produced a significant set of essays – which he published
simultaneously in Portuguese and in English, which was
not usual and obviously garnered him a wider audience –,
notably on wine-growing, the Port wine trade in Portugal,
the river Douro and its navigability, diseases of the vine,
and the production and making of olive oil. He also campaigned for the lowering of taxes on Port wine destined
for the British market. In 1844, he published in London
and Porto, anonymously (‘By One Residing in Portugal for
Eleven Years’), although he was easily identified, A Word
or Two on Port Wine22, a pamphlet in which he denounced
Forrester was never a member of the British Association,
which perhaps is not surprising in view of his controversial views which did not endear him to the Factory. He was
invited to dinners at the Factory House in 1833 and 1834,
but there is no record as to whether he was ever proposed for
membership21.
the adulteration of wines produced in the Alto Douro. The
pamphlet was subsequently re-printed several times, triggering a heated controversy involving individuals and corporations with ties to the production and export of these
wines, and Forrester, as highlighted by Rose Macaulay:
Forrester accused his countrymen of shipping infe-
Para além dos trabalhos cartográficos já mencionados,
Forrester produziu um conjunto significativo de obras de
carácter ensaístico – que publicou simultaneamente em por-
rior wines, of adulterating them with too much brandy,
elderberry and sugar, in order to make a wine ‘black,
strong and sweet’, fit, Forrester protested, only for the
80
tuguês e em inglês, o que não era comum e, como é óbvio,
deu muito mais eco à sua voz –, nomeadamente sobre vinicultura, o comércio do vinho do Porto em Portugal, o rio Douro e
sua navegabilidade, doenças da vinha e produção e fabrico do
azeite. Fez ainda campanha pela redução dos impostos sobre
o vinho do Porto destinado ao mercado inglês. Em 1844 publicou em Londres e no Porto, anonimamente (“By One Residing
in Portugal for Eleven Years”), se bem que tivesse sido facilmente identificado, A Word or Two on Port Wine22, panfleto em
que denunciou as adulterações feitas aos vinhos produzidos
no Alto Douro e que teve várias edições, desencadeando uma
acesa polémica entre muitos indivíduos e corporações ligados
à produção e exportação dos ditos vinhos, e Forrester, como
salienta Rose Macaulay:
lowest classes. His pamphlet A Word or Two on Port
Wine, shewing how and why it is adulterated and affording some means of checking its adulterations was fired
like a rocket at his fellow wine shippers in 1844, and
exploded with a bang that resounded through the Alto
Douro, Oporto and London23.
This action seriously compromised Forrester’s relations with many of his compatriots, as well as with Portuguese nationals who had completely different ideas
from his regarding Port wine and how to produce it. Feeling that their interests had been damaged, they reacted
harshly, and accusations mounted up. Attacked by some
for attempting to discredit Portuguese wines, the British
merchant was defended by other who saw him as a man
Forrester accused his countrymen of shipping inferior wines,
of adulterating them with too much brandy, elderberry and
sugar, in order to make a wine ‘black, strong and sweet’, fit,
Forrester protested, only for the lowest classes. His pamphlet A Word or Two on Port Wine, shewing how and why it is
adulterated and affording some means of checking its adulterations was fired like a rocket at his fellow wine shippers in
1844, and exploded with a bang that resounded through the
Alto Douro, Oporto and London23.
whose main investment was to promote the improvement
of our land and of the quality of our products – fighting
for pure, unadulterated wines, he advocated a return to
the old production method of the Douro region, which he
himself practised24 . This is the view espoused by the signatory of a letter titled ‘Some words on regaining credit
for the wines of the Doiro’, published on 6 May 1845 by
Revista Universal Lisbonense, in which the writer states
that ‘Mr. Forrester, seeing the goodness and the superiority of the wines of the Doiro, condemned the ingredi-
Tal acto comprometeu seriamente as relações de Forrester
com muitos dos seus compatriotas, bem como com portugueses que tinham concepções totalmente diferentes das suas
quanto ao vinho do Porto e o modo de o produzir. Sentindo-se
lesados nos seus interesses, reagiram com dureza e sucederam-se as acusações. Atacado por uns por tentar desacreditar os
vinhos portugueses, o negociante britânico foi defendido por
outros que consideravam ser ele um homem sobretudo apos81
ents which alter it, and declared himself to be in favour of
extreme pure wines, which is to the greater benefit of the
country.’25. Not many months later, the same journal, like
other periodicals further giving voice to the controversy
and deploring that an issue of such great trading importance for the country had gone ‘from being real to being
personal and has for a long time been boiling over a great
fire of hatreds’, announced that Vindicação de José James
tado em promover o melhoramento da nossa terra e da qualidade dos nossos produtos – batendo-se pelos vinhos puros e
sem misturas, advogava o regresso ao antigo método de produção usado na região do Douro, que ele próprio utilizava24.
Essa é a opinião de quem assina uma carta intitulada “Algumas palavras sobre a reivindicação de credito para os vinhos
do Doiro”, vinda a público em 6 de Março de 1845 na Revista
Universal Lisbonense, em que se diz que “o Sr. Forrester vendo
a bondade, e superioridade dos vinhos do Doiro, reprovou os
ingredientes, que a alteram, e declarou-se a favor dos vinhos
puros estremes, que é do maior proveito para o paiz”25. Poucos meses passados, a referida revista, continuando a fazer-se
eco da polémica, à semelhança de outros periódicos, e lamentando que uma questão de tão grande importância comercial
para o país tenha passado “de real a pessoal e já ferve ha muito
tempo em grande fogo de odios”, dava a saber que acabara de
vir a lume Vindicação de José James Forrester contra as imputações a elle feitas no parecer da direcção da associação commercial do Porto de 15 de março de 1845; e observações sobre o que
no dito parecer se assevera a respeito do vinho do Porto; com um
post scriptum sobre o folheto intitulado – “a questão dos vinhos do
Doiro, considerada politicamente”26, colocando-se claramente
do lado do autor do folheto quando comenta que “o empenho manifestado pelo Sr. Forrester nos parece muito sensato,
e muito conforme aos nossos verdadeiros interesses, pois se
reduz a provar que – o vinho do Doiro se deve fazer puro e
sem mistura para o commercio de Inglaterra”27.
Forrester defender-se-ia insistentemente na imprensa das
acusações de que era alvo, repetindo serem as suas intenções
as melhores:
Forrester contra as imputações a elle feitas no parecer
da direcção da associação commercial do Porto de 15 de
março de 1845; e observações sobre o que no ditto parecer
se assevera a respeito do vinho do Porto; com um post
scriptum sobre o folheto intitulado – “a questão dos vinhos do Doiro, considerada politicamente”26 had just been
published, clearly sided with the pamphlet’s author when
it states that “Mr. Forrester’s commitment appears to us
to be very sensible and very much in accord with out true
interests, for he but proves that – the wine of the Doiro
must be made pure and unadulterated for trading with
England”27.
Forrester defended himself doggedly in the press
against the charges levelled at him, repeating that his
intentions were the best:
It is not Wine of whatever quality that I oppose, but imitations of wine. […] and these imitations, I must insist
on saying, have and will be very prejudicial to the credit
of really pure Douro wines: and those who have such
wines made and sell them in England as being true Port
wine are the real enemies of the Douro […]28.
and dictated by the love he had for Portugal:
My representations were born of my conviction of the
truth of all they contain; and by the sincerity of my
actions, if Your Excellency cannot believe that I am
moved by a sincere affection for the good of a country,
where I have for many years received an unceasing series
of kindnesses and honours”29.
Não é ao Vinho de qualidade alguma, que eu me opponho,
mas á imitação de vinho. […] e estas imitações, é forçoso que
“In England, as in Portugal, there is no other advocate
of the worthiness of Port Wine, more outspoken, more
82
83
insista em dizer, tem sido, e continuão a ser, mui prejudiciaes
ao credito dos vinhos do Douro realmente puros: e aquelles que
mandão fazer taes vinhos e os vendem em Inglaterra como verdadeiro vinho do Porto, são os inimigos reaes do Douro […]28.
ardent, or more persevering, than I – and, in truth, I
should be destitute of sense, before I could discredit
the object of my endeavours, for my own prosperity
and for that of one of the oldest English Wine Firms in
Portugal30.
e ditadas pelo amor que tinha a Portugal:
Many years later, Camilo Castelo Branco (1825-1890)
As minhas representações nasceram da minha convicção da
verdade de tudo quanto ellas contém; e pela sinceridade do
meu proceder, se V. Sª não poder acreditar que eu sou movido
por huma sincera affeição pelo bem de hum paiz, aonde por
muitos annos tenho recebido huma serie não interrompida de
obséquios29.
Em Inglaterra, bem como em Portugal, não se pode achar um
advogado do merecimento do Vinho do Porto, mais franco,
mais ardente, ou mais perseverante, do que eu – e na verdade
deveria eu ser destituido de senso, primeiro que podesse desacreditar aquillo em que me acho empenhado para minha propria prosperidade, e pela de uma das mais antigas casas Inglezas de Vinhos em Portugal30.
would join the chorus of voices which accused Forrester
of being a liar, a slanderer, a charlatan, a traitor, “unworthy of the honourable name of British merchant”, as can
be read in a pamphlet of 1844, titled A Word of Truth on
Port Wine, addressed to the British Public by a British Gentleman and Merchant. Translated from the English by Joze
James Forrester31. In Port Wine. The Case of an English
Crassness (1884)32, Camilo does not forgive Forrester for
having denigrated abroad the image and reputation of
this product and regards “Baron Forrester’s tragic death,
on 12 May 1861, […] as one of the most remarkable
revenges that the river Douro has ever exacted on those
who defame its wines33.” His ire is, above all, kindled by
the honours bestowed by the Portuguese government on
Muitos anos mais tarde, Camilo Castelo Branco (1825-1890) viria a fazer coro com as vozes que acusaram Forrester de mentiroso, difamador, charlatão, traidor, “indigno do
honrado nome de negociante Britannico”, como se lê num
folheto de 1844 intitulado Huma palavra de Verdade sobre
Vinho do Porto, dirigida ao Publico Britannico, por Hum Gentil-Homem e Negociante Britannico. Traduzido do Inglez por Joze
James Forrester.31 Em O Vinho do Porto. Processo de uma bestialidade inglesa (1884),32 Camilo não perdoa a Forrester o ter
denegrido, além-fronteiras, a imagem e reputação daquele
produto e considera que a “morte desastrosa do barão de Forrester, em 12 de maio de 1861, é uma das mais notaveis vin-
someone who had so seriously damaged national interests, and he remarks, with the acerbic irony which was
his stock-in-trade: “but the government […] took hold
of a baron’s coronet and placed it on J. James’s head –
Baron Forrester. And, if he hadn’t died in so timely a fashion, and had re-printed his calumnies against the richest
and most threatened Portuguese industry – a second edition made worse and more inaccurate – the Lusitanian
government would have made him a viscount, would
they not?34.” It must, however, be noted that Camilo’s
declared intention of “demolishing England” appeared
in the context of growing hostility against this power,
84
ganças que o rio Douro tem exercido sobre os detractores dos
seus vinhos”33. Indigna-se, sobretudo, com as distinções atribuídas pelo governo português a quem tão seriamente prejudicara os interesses nacionais, e comenta, com a corrosiva ironia que lhe é característica: “mas o governo […] pegou de uma
coroa de barão e pôl-a na cabeça de J. James – barão de Forrester. E, se não morre tão cedo, e faz nova edição das calumnias
contra a mais rica e ameaçada industria portugueza – uma
segunda edição peorada e mais incorrecta – o governo luso
fasia-o visconde, não é verdade?”34. Note-se, contudo, que
este declarado intuito de Camilo de “arrazar Inglaterra” surge
no contexto da crescente hostilidade contra aquela potência, devido à sua política expansionista em África, contrária à
preservação dos direitos históricos de Portugal naquele continente – apenas seis anos mais tarde o conflito culminaria
no Ultimatum, que tão grandes manifestações de sentimento
anti-britânico despertou –, o que pode explicar a invectiva
contra Forrester e a completa mudança de atitude de Camilo
face a um homem que, no passado, até reconhecera como um
dos maiores defensores da actividade vinícola duriense.
Outro dos trabalhos do negociante de vinhos e agricultor
inglês que captou a atenção da imprensa periódica portuguesa
da época foi o ensaio com que ganhou, em Abril de 1853, o
prémio de 50 guinéus oferecido em Londres por Benjamin de
Oliveira F.R.S. (Fellow of the Royal Society) pelo melhor Essay
on Portugal que se apresentasse a concurso35, intitulado “Portugal and Its Capabilities” e imediatamente dado à estampa:
The Oliveira-Prize Essay on Portugal, with the evidence regarding
that country taken before a commitee of the House of Commons in
May, 185236. Obrigado a concorrer sob anonimato, de acordo
com o regulamento, Forrester assinou o texto com Le Chevalier Rose-Croix, o que levanta a suspeita de ter pertencido
à maçonaria. Isabel Cluny, no estudo biográfico que escre85
because of its expansionist policies in Africa, which ran
counter to the preservation of Portugal’s historical rights
in that continent – a mere six years later the conflict was
to come to a head in the Ultimatum, which triggered such
great demonstrations of anti-British sentiment –, which
might explain the invective against Forrester and Camilo’s complete about-face regarding a man whom, in the
past, he had even viewed as one of the staunchest champions of wine production in the Douro region.
Another of the works penned by the English wine
merchant and agriculturalist which caught the attention
of the Portuguese periodical press at the time was the
essay with which, in April 1853, he won the prize of 50
guineas offered in London by Benjamin de Oliveira, FRS,
for the best Essay on Portugal to compete for the prize35,
titled ‘Portugal and its Capabilities’ and immediately
published: The Oliveira-Prize Essay on Portugal, with the
evidence regarding that country taken before a committee of
the House of Commons in May, 185236. Compelled to enter
his work anonymously, as required by the regulations,
Forrester signed his text as Le Chevalier Rose-Croix, which
raises the possibility of his having been a Free-Mason.
In her biographical study for the Catalogue of the thematic exhibition Baron Forrester, Reason and Sentiment.
A History of the Douro: 1831-1861, curated for the opening in December 2008 of the Museum of the Douro (Peso
da Régua), Isabel Cluny posits this possibility, pointing
to the fact that the Baron’s four sons eventually became
members of St. Andrew’s Lodge37.
But who was Benjamin de Oliveira, who founded this
prize not long before Forrester appeared before a House
of Commons Select Committee (April 1852), when he
argued for the liberalisation of the Port wine trade? John
veu para o Catálogo da exposição temática Barão de Forrester,
Razão e Sentimento. Uma História do Douro: 1831-1861, montada para inaugurar em Dezembro de 2008 a sede do Museu
do Douro (Peso da Régua), equaciona esta possibilidade, chamando a atenção para o facto de os quatro filhos do Barão
terem vindo a pertencer à St Andrew’s Lodge37.
Mas quem foi Benjamin de Oliveira, que instituiu aquele
prémio poucos meses antes de Forrester ter sido ouvido
por uma comissão especial da Câmara dos Comuns (Abril
de 1852) e aí ter defendido a liberalização do comércio dos
vinhos do Porto? John Delaforce fornece-nos alguma informação biográfica em Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861:
Delaforce supplies us with some biographical data in
Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861:
Benjamin Oliveira was described in the Gentlemans
Magazine of 1865 as the son of Dominick Oliveira, a
London merchant descended from a Portuguese family. He was educated for the diplomatic service and lived
many years in Portugal. On his return to London he took
an active part in railway undertakings. He was Member of Parliament for Pontefract from 1852 to 1865 and
a prominent member of the Independent Liberal Party
in the House of Commons and a Fellow of the Society of
Antiquaries. In March 1835 he was elected a Fellow of
the Royal Society in London, one of his sponsors being
Benjamin Oliveira was described in the Gentlemans Magazine of 1865 as the son of Dominick Oliveira, a London merchant descended from a Portuguese family. He was educated for
the diplomatic service and lived many years in Portugal. On his
return to London he took an active part in railway undertakings.
He was Member of Parliament for Pontefract from 1852 to
1865 and a prominent member of the Independent Liberal
Party in the House of Commons and a Fellow of the Society of
Antiquaries. In March 1835 he was elected a Fellow of the Royal
Society in London, one of his sponsors being Frederick Madden,
later Keeper of Manuscripts at the British Museum and one of
the judges named in the advertisement for the Essay.
Although of Portuguese origin, Oliveira must have been of British nationality to be eligible for Parliament, but his ancestry
and the years he spent in Portugal created an affinity with
that country that prompted him to offer the Prize.
He was described as an ardent Free Trader and a campaigner
for the reduction of duties on wines into the United Kingdom,
subjects very dear to Forrester.
Frederick Madden, later Keeper of Manuscripts at the
British Museum and one of the judges named in the
advertisement for the Essay.
Although of Portuguese origin, Oliveira must have been
of British nationality to be eligible for Parliament, but his
ancestry and the years he spent in Portugal created an affinity with that country that prompted him to offer the Prize.
He was described as an ardent Free Trader and a campaigner for the reduction of duties on wines into the
United Kingdom, subjects very dear to Forrester.
His Certificate of Election to the Royal Society gave his
address as Great Cumberland Street, Hyde Park, and
said that he was attached to the Study of Natural Philosophy, devoted to general Literature and possessing the
knowledge of foreign countries from his travels38.
In this same study, the author also provides us with
a concise account of the contents of the prize-winning
essay:
86
His Certificate of Election to the Royal Society gave his address
as Great Cumberland Street, Hyde Park, and said that he was
attached to the Study of Natural Philosophy, devoted to general Literature and possessing the knowledge of foreign countries from his travels38.
The Essay comprised an analysis of all aspects of conditions in Portugal including chapters on “The Portuguese as a People”, the manufactures in Portugal, and
the capabilities of the country for consuming products
from Great Britain, internal communications, general
remarks on the agricultural produce and resources, the
No mesmo estudo, o autor oferece-nos também um resumo
do conteúdo do ensaio premiado:
climate, fisheries and possible closer cooperation in the
friendly relations “between Great Britain and her most
ancient ally”. It was accompanied by numerous statistics
The Essay comprised an analysis of all aspects of conditions
in Portugal including chapters on “The Portuguese as a People”, the manufactures in Portugal, and the capabilities of the
country for consuming products from Great Britain, internal
communications, general remarks on the agricultural produce
and resources, the climate, fisheries and possible closer cooperation in the friendly relations “between Great Britain and her
most ancient ally”. It was accompanied by numerous statistics
to support his arguments39.
to support his arguments39.
It should be noted that Forrester wrote this work at
the beginning of the Regeneration movement, a period
in Portuguese history which would be marked by major
political, administrative and economic reforms designed
to promote national progress. This explains the future
Baron’s hopeful words in the preface to the Second edition of the Prize –Essay on Portugal, written in London
at the Reform Club, a bastion of liberal and progressive
Note-se que Forrester escreveu a obra no início do movimento da Regeneração, um período da história portuguesa
que ficaria marcado por importantes reformas políticas, administrativas e económicas com vista ao progresso nacional, o
que explica as palavras esperançadas do futuro Barão no prefácio à segunda edição do Prize-Essay on Portugal, escrito em
Londres, no Reform Club, um bastião de ideias liberais e progressistas, e datado de Março de 1854:
ideas, and dated March 1854:
Nay more, we dare to prognosticate that under the
present enlightened Government and the Regency of El
Rei Dom Fernando — Portugal will advance in civilization, and consequently in prosperity, — that it will no
longer remain without roads, — that its rivers will be
made navigable, — its prejudicial monopolies abolished,
— its hidden resources brought to light, and the present
Nay more, we dare to prognosticate that under the present
enlightened Government and the Regency of El Rei Dom Fernando – Portugal will advance in civilization, and consequently in prosperity, – that it will no longer remain without roads,
– that its rivers will be made navigable, – its prejudicial mono87
debased system of fiscalization improved; so that when
the time arrive for His Majesty the King Regent to resign
the Government to his Son, that Son may have cause to
bless the foresight and patriotism that he inherits from
his Royal Sire40.
polies abolished, – its hidden resources brought to light, and
the present debased system of fiscalization improved; so that
when the time arrive for His Majesty the King Regent to
resign the Government to his Son, that Son may have cause
to bless the foresight and patriotism that he inherits from his
Royal Sire40.
This same second edition attached excerpts from
twelve articles on Forrester’s essay, published in the British periodical press (The Times, The Morning Post, Morning Advertiser, The Globe, The Illustrated London News, etc.),
which, given the highly favourable views they voiced on the
subject, contributed very largely towards promoting the
work among the general public. In qualifying the informa-
A mesma segunda edição faz-se acompanhar de excertos
de doze artigos sobre o ensaio de Forrester vindos a lume na
imprensa periódica britânica (Times, Morning Post, Morning
Advertiser, Globe, Illustrated London News, etc), os quais, pela
opinião extremamente favorável que sobre ele emitiram, contribuíram sobremaneira para a promoção da obra junto do
grande público. Para qualificar a informação veiculada por
Forrester, os articulistas empregam adjectivos como valuable, admirable, important, needful, varied, extensive, complete,
accurate e precise, reconhecem, com indisfarçado orgulho, a
especial competência do autor inglês para tratar o assunto
em questão – no dia 26 de Novembro de 1853 o Cheltenham
Journal definiria a obra como “the elaborate production of
a mind thoroughly acquainted with the subject, viewing it
without the bias of party-feeling, and with a practical English
eye to finding a remedy for the diseases that exist” – e, acima
de tudo, vêem o Prize-Essay sobre os recursos de Portugal e
as suas carências a nível de infra-estruturas como um documento muito útil, que poderia servir os interesses económicos da Grã-Bretanha ao identificar sectores a investir com
vantagem:
tion conveyed by Forrester, the journalists employ adjectives such as valuable, admirable, important, needful, varied, extensive, complete, accurate and precise, acknowledge,
with open pride, the English author’s special competence
to deal with the matter in hand – on 26 November 1853,
the Cheltenham Journal defined the work as “the elaborate production of a mind thoroughly acquainted with the
subject, viewing it without the bias of party-feeling, and
with a practical English eye to finding a remedy for the diseases that exist” – and above all, regard the Prize-Essay on
Portugal’s resources and its needs at infra-structural level
as a very useful document, likely to further Britain’s economic interests, identifying as it did sectors in which profitable investment could be made:
The Essay was written in Portugal, and is the result of
personal observation and minute inquiries from authorities on the spot. Portugal is in many respects a terra
incognita, and Mr. Forrester’s book will be a valuable assistance to all who, like himself, are seized with
a desire to become acquainted with the resources of the
country, and the opportunities which they hold out for
The Essay was written in Portugal, and is the result of personal observation and minute inquiries from authorities on the
spot. Portugal is in many respects a terra incognita, and Mr.
Forrester’s book will be a valuable assistance to all who, like
the advantageous employment of British capital41.
On the Oliveira-Prize, the Porto weekly A Peninsula
published in 1853 an interesting article by the eminent
88
himself, are seized with a desire to become acquainted with the
resources of the country, and the opportunities which they hold
out for the advantageous employment of British capital41.
mathematician Pedro Amorim Viana (1823-1901), titled
‘An Englishman’s zeal on behalf of our interests’. At first
sight, the Englishman concerned could be taken for Forrester, since the author of the article goes on to write about
A propósito do Oliveira-Prize saiu no semanário portuense
A Peninsula, em 1853, um interessante artigo de Pedro Amorim Viana (1823-1901), um dos nossos primeiros matemáticos, intitulado “Zelo extraordinario de um inglez pelos
nossos interesses”. À partida, poder-se-ia pensar que o dito
“inglez” seria Forrester, pois é do prémio por ele conquistado
que o articulista vai falar. Mas, afinal, é a própria ideia de
Benjamin de Oliveira e os princípios que lhe estão subjacentes que são analisados por Amorim Viana. Começa por ironizar acerca das “relações amigáveis” entre a Grã-Bretanha
e Portugal:
the prize he had won. But in the event Amorim Viana analyses Benjamin de Oliveira’s idea itself and its underlying
principles. He begins by commenting ironically on the
‘friendly relations’ between Britain and Portugal:
It had been ingratitude, an ingratitude of which the
educated people of our country are incapable, not to
thank from the bottom of our hearts the commitment
which England trumpets in remaining our friend. England likes us, nothing could be more flattering. Sadly
there are insurmountable antipathies; and the uncouth
people, it must be said, does not much care for the Eng-
Fôra ingratidão, ingratidão de que é incapaz a gente illustrada da nossa terra, o não agradecer do fundo do coração
o empenho que a Inglaterra alardeia em se conservar nossa
amiga. A Inglaterra gosta de nós; não ha nada mais lisongeiro. Infelizmente ha antipatias invenciveis; e o povo bruto,
é força confessal-o, não é affeiçoado aos inglezes. [...] De resto
ha muita gente de gravata lavada que não ama a Inglaterra;
que teme tudo quanto é inglez, que receia a Inglaterra, mesmo
quando parece favorecer-nos e beneficiar-nos. É um prejuizo,
se quizerem, mas esse prejuizo existe; [...] Não se persuadam porém que eu seja d’essa opinião; eu não creio que todo o
cidadão inglez seja o machiavelismo personificado; não julgo
que cada acção que practica faz parte de um plano tenebroso
digno das vastas concepções de Meternich ou dos mais bem
combinados calculos suggeridos pela fatal mania de intervir nos negocios dos outros, que parece continúa a possuir a
Inglaterra42.
89
lish. […] Besides, there are a large number of people
sporting clean ties who do not love England; who fear
all things English, who fear England, even when she
appears to favour us and benefit us. It is prejudice, if
you like, but this prejudice exists; […] Do not persuade
yourselves, however, that I am of that opinion; I do not
believe that every English citizen is Machiavelli personified; I do not believe that every action each Englishman
takes is part of a sinister plan worthy of Metternich’s
vast conceptions or of the most felicitously arranged calculations suggested by the fatal fixation for interfering
in other people’s affairs, which appears still to be England’s intent42.
Only later to express surprise that a foreigner such
as Benjamin de Oliveira should be so interested in concerning himself for things Portuguese, finding the expla-
Para, depois, estranhar que um estrangeiro como Benjamin de Oliveira tenha tanto interesse em zelar pelas coisas
portuguesas, achando a explicação para esse facto na excentricidade que caracteriza o povo inglês:
nation for this fact in the eccentricity which characterises the English:
At first glance it does appear incomprehensible that
a foreigner should find himself possessed of a zeal for
Parece á primeira vista incomprehensivel, que o zelo pelas nossas cousas se apodere de um estrangeiro com tanta furia como
parece accommetera o senhor B. de Oliveira; mas para quem
conhecer um pouco o caracter inglez a explicação é facillima.
Os grandes homens inglezes têem todos certas excentricidades. Um compra por um preço exorbitante um chapeu usado de
Napoleão I; outro daria quanto possue para ter a cadeira onde
se assentou algum scelerado de nome. Uma d’essas manias é
que levou provavelmente o senhor B. de Oliveira a interessar-se por nós; quiz ter o gosto de ver uma coisa rara, um livro bem
escripto sobre os interesses materiaes do nosso paiz43.
our affairs, so furiously as the Baron Oliveira appears
Joseph James Forrester, autor da memória que o júri considerou digna do primeiro prémio, não lhe merece, entretanto, os elogios que outros lhe fizeram como grande protector do vinho do Porto e do Douro. Pelo contrário, Amorim
Viana põe em dúvida que o negociante seja o único responsável pelo mapa da região vinhateira do Douro que o tornou tão
conhecido e estende essas suspeitas ao ensaio vencedor do
Oliveira-Prize. Confessando não ter ainda visto a dita memória, aventa contudo a possibilidade de o laureado se estar a
pavonear “como o gaio com as plumas do pavão.” Chegado a
este ponto, passa à denúncia dos interesses ingleses que, a
seu ver, se escondem por detrás do regulamento de um prémio que se apresenta como um contributo para o estreitar
dos laços de amizade que unem Portugal à Grã-Bretanha: afinal esta apenas agiria assim por necessitar do mercado português para escoar a sua produção excessiva. Amorim Viana
Joseph James Forrester, the author of the memoir
to be; but for whoever knows something of the English
character the explanation could not be easier. The great
men of England all have certain eccentricities. One such
man may pay an exorbitant price for a hat belonging to
Napoleon I; another would part with his entire fortune
to become the owner of a chair once occupied by some
famed villain. It is probably one of these fixations which
led B. de Oliveira to take an interest in us; he craved the
pleasure of seeing something rare, a well-written book
on the material interests of our country43.
which the panel deemed worthy of the first prize, does
not, however, garner from him the praise which others
lavished on him as the great champion of Port wine and
the Douro. Quite the contrary, Amorim Viana casts doubt
on whether the merchant was the sole person responsible for the map of the Douro wine-growing region which
brought him such fame, and he extends his suspicions
to the Oliveira-Prize-winning essay. Admitting that he
has not yet read the memoir under discussion, he does,
however, raise the possibility that the winner might be
preening himself ‘like a jay in peacock’s feathers’. Having reached this point, he goes on to denounce English
interests which, in his view, lurked behind the regulations of a prize offering itself as a contribution towards
strengthening the bonds of friendship between Por-
90
tugal and the United Kingdom: ultimately, the latter
would only choose this course out of a need for the Portuguese market into which it could drain its production
surplus. Thus, Amorim Viana joins the chorus of Portuguese voices, which, in the periodical press, clamoured
against English domination in Portugal. This was exercised in part through strong representation in one of the
country’s main production activities, Port wine44, and
Forrester, given his close links to the wine trade, did not
escape Amorim Viana’s critiques, just as he did not draw
his praise.
On the other hand, Baron Forrester’s participation
in international and Portuguese exhibitions triggered
extravagant praise in Portuguese newspapers and journals. If, at the 1851 Great Exhibition, he felt ‘“the vexation of seeing that his products [samples of wine, vinegar and olive oils, produced under his specifications],
even though they had arrived in Lisbon at the same time
as similar objects belonging to other exhibitors, had not
been sent on to London”45, with no explanation being
junta-se, pois, ao coro das vozes portuguesas que, por intermédio da imprensa periódica, se insurgiram contra o domínio inglês em Portugal. Este exercia-se, em parte, através de
uma forte implantação numa das principais actividades produtivas nacionais, o vinho do Porto44, e Forrester, pela sua
grande ligação ao negócio dos vinhos, não escapou às críticas
de Amorim Viana nem lhe inspirou louvores.
Já a empenhada participação do Barão de Forrester em
exposições internacionais e nacionais granjeou rasgados
elogios dos jornais e revistas portugueses. Se, por ocasião
da Great Exhibition de 1851, teve “o desgosto de ver que os
seus produtos [amostras de vinhos, vinagres e azeites, feitos sob sua direcção], com quanto chegassem a Lisboa ao
91
proferred for this occurrence, on the other hand, in 1855
he participated in the Paris Exposition Universelle “with
over four hundred articles, all of which produced in Portugal, foremost among which were several works on Portugal, and especially on the river Douro and outlying
lands; wines, olive oils and vinegar; models of wine and
olive oil-presses with some improvements made by him
together with his sons; a varied agricultural collection of
Douro products, needed for the sustenance and comfort
of man and beast; and lastly different other objects characteristic of the customs and original complexion of the
peoples of this country”46, although, arousing his indignation, the Portuguese authorities again treated him dis-
mesmo tempo que objectos similhantes de outros expositores, não tinham sido enviados para Londres”45, sem que lhe
fossem explicados os motivos para tal, já em 1855 participou
na Exposição Universal de Paris “com mais de quatrocentos
artigos, todos de producção portugueza, sobresaindo entre
elles varias obras sobre Portugal, e especialmente sobre o rio
Douro e paizes circumvisinhos; vinhos, azeites e vinagres;
modelos de lagares de vinho e prensas de azeite com alguns
melhoramentos introduzidos por elle, conjunctamente com
seus filhos; uma variada collecção agricola das producções do
Douro, necessarias para o alimento e conforto do homem e
de animaes; e finalmente differentes outros objectos caracteristicos do uso e da feição original dos povos d’este paiz”46,
ainda que, para sua indignação, as autoridades portuguesas
o tenham de novo tratado com desconsideração e parte dos
objectos que enviou para a capital francesa não tenha chegado a ser exposta. Conquistou então uma medalha de prata e
cinco menções honrosas, prémios que se juntaram aos alcançados nas duas exposições agrícolas do Porto, em que foi um
dos principais expositores47.
Às facetas até agora salientadas juntava ainda Forrester
talento e gosto artístico apurados, que o Conde Athanasius
Raczynski (1788-1874), diplomata e crítico de arte de origem polaca, reconheceu aquando da sua estada em Portugal. Nas duas obras que dedicou ao nosso país, fruto de minuciosa investigação, Les Arts en Portugal (1846) e Dictionnaire
historique-artistique du Portugal (1847), deixou Raczynski opiniões altamente favoráveis. Na segunda definiu-o como “un
habile dessinateur de paysages, d’architecture et de figures”48
e na primeira, em que descreve a visita que fez à casa de Forrester, no Porto, em Agosto de 1844, sublinhou que “M. Forrester dessine à l’aquarelle et au crayon, et fait des croquis,
non comme un homme qui possède une fortune considéra-
courteously, and part of the objects he sent to the French
capital were never actually displayed. On this occasion
he won a silver medal and five honourable citations,
awards which joined those won in the two agricultural
expositions of Porto, in which he was one of the main
exhibitors.47
Over and beyond the features I have already foregrounded, Forrester had a refined artistic bent, to which
Count Athanasius Raczynski (1788-1874), the Polishborn diplomat and art critic, attested during his stay in
Portugal. In the two works he devoted to our country, the
product of the most minute research, Les Arts en Portugal (1846) and Dictionnaire historique-artisitique du Portugal (1847), Raczynski recorded highly favourable views.
In his second work, he defined Forrester as “a skilful
draughtsman of landscapes, architecture and figures”48
and in the first, in which he describes his visit to Forrester’s house in Oporto in August 1844, he stresses that
“Mr. Forrester works in watercolours and crayon, and
makes sketches, not as a man endowed of a considerable
fortune and whose trading activity is far-ranging, but as
an artist who would not find it difficult to earn his living
by using his talent49 .”
Indeed, Forrester, who learnt a great deal with the
Swiss painter Auguste Roquemont (1804-1852)50, based
in Portugal since 1828, left sets of drawings and watercolours of scenes and customs of the Douro valley and of
panoramic views of Oporto and its environs, remarkable
for their attention to picturesque detail, and painted the
portrait of many prominent figures of Portuguese political, military, economic and social life, notably a number
of land-owners of the Douro wine-growing region and
also of several British Port wine exporters. His painting
92
ble et dont l’activité commerciale est très étendue, mais en
artiste à qui il ne serait pas difficile de gagner sa vie avec son
talent”49.
Efectivamente, Forrester, que muito aprendeu com o
pintor suiço Auguste Roquemont (1804-1852)50, estabelecido em Portugal desde 1828, deixou séries de desenhos e
aguarelas de cenas e costumes do vale do Douro e de vistas panorâmicas do Porto e arredores, em que sobressai a
atenção ao pormenor pitoresco, e pintou o retrato de muitas personalidades da vida política, militar, económica e
social portuguesa, nomeadamente alguns proprietários da
região vinhateira do Douro, e ainda o de vários exportadores britânicos de vinho do Porto. Conhecido é o seu quadro de 1834, o primeiro que pintou em Portugal, representando a Rua Nova dos Inglezes (rua onde muitas das firmas
britânicas tinham os seus escritórios e onde alguns dos seus
sócios viviam), onde se vêem retratados cinquenta e quatro homens de negócios britânicos e portugueses da época,
incluindo o próprio Forrester, o que lhe confere um importante valor documental51.
Por último, refira-se o seu interesse pela então recente arte
da fotografia, através da qual também registou paisagens e
costumes portugueses. O Barão de Forrester foi um pioneiro
em Portugal neste domínio, embora anos antes já um escocês
igualmente pertencente à comunidade britânica do Porto, Frederick William Flower (1815-1889), tivesse iniciado experiências fotográficas que viriam a legar-nos um valioso espólio de
imagens de Portugal em meados do século XIX, especialmente
vistas do Porto e de Vila Nova de Gaia. Em 1998, António Sena,
no segundo capítulo (“II –1850-1879 – Os pioneiros da técnica
do Ciclope: técnicas, artes e ciências”) da sua História da Imagem Fotográfica em Portugal – 1839-1997, mencionava a obra
“praticamente desconhecida” de Forrester:
93
of 1834 is well-known, the first he executed in Portugal,
depicting Rua Nova dos Inglezes (the street where many of
the British firms had their offices and where many of the
firms’ partners lived), showing fifty four British and Portuguese businessmen, including Forrester himself, which
endows this portrait with great documentary value51.
Lastly, reference should be made to his interest in
the then recent art of photography, through which he
recorded Portuguese landscapes and customs. Baron Forrester pioneered this art form in Portugal, although years
before him a Scotsman, also a member of Oporto’s British
community, Frederick William Flower (1815-1889), had
begun photographic experiments which would bequeath
a valuable collection of images of mid-nineteenth century Portugal, especially views of Oporto and Vila Nova
de Gaia. In 1998, António Sena, in the second chapter
(‘II – 1850-1879 – The Pioneers of the Cyclop’s Technique: Techniques, Arts and Sciences’) of his História da
Imagem Fotográfica em Portugal – 1839-1997, cites Forrester’s ‘virtually unknown’ work:
The activity of calotypists in Portugal appears to have
been even more limited. Beyond the virtually unknown
work of Baron Forrester (1809-1861) in the land of the
Douro between 1854-1857, but who worked with largescale albumen plates, we have the priceless collection of
topographical calotypes made by Frederick Flower (18151889) in northern Portugal between 1845-1859 […]52.
We are fortunate in already having a study devoted
to this area. Authored by Filipe Figueiredo, “Forrester –
an Amateur Photographer in Portugal” is included in the
catalogue of the exhibition currently on display in the
A actividade de calotipistas em Portugal parece ter sido ainda
e muito mais limitada. Além da obra, praticamente desconhecida, do Barão de Forrester (1809-1861), por terras do
Douro, entre 1854-1857, mas que chegou a fazer albuminas
de grande formato, temos o acervo precioso de calótipos topográficos que Frederick Flower (1815-1889) realizou no Norte
entre 1845-1859 […]52.
Museum of the Douro. The author offers an overall
assessment of the Baron’s photographic practice, while
informing us of his links to English photographic circles, notably the fact that his teacher was the photographer Hugh Welch Diamond (1809-1886) and that he was
a member of the exclusive Photographic Society Club and
of the Exchange Photographic Club53.
Baron Forrester is thus part and parcel of the his-
Felizmente, dispomos já de um estudo dedicado a esta
matéria. Da autoria de Filipe Figueiredo e intitulado “Forrester um amador de Fotografia em Portugal”, integra o catálogo
da exposição actualmente patente no Museu do Douro e faz
uma avaliação de conjunto da prática fotográfica do Barão, ao
mesmo tempo que nos elucida sobre as suas ligações aos meios
ingleses da fotografia, nomeadamente ter tido por mestre o
fotógrafo Hugh Welch Diamond (1809-1886) e ter sido membro do restrito Photographic Society Club e do Exchange Photographic Club53.
O Barão de Forrester é, pois, um nome incontornável da
história dos vinhos do Porto e das relações Anglo-Portuguesas;
nele teve a região do Alto Douro vinhateiro, classificada pela
UNESCO, em Dezembro de 2001, Património Mundial na
categoria de Paisagem Cultural, um entusiasta e defensor,
um apaixonado por esse Vale do Douro que hoje se esforça
por ser considerado pelo Centro Mundial de Excelência dos
Destinos (CED), entidade reconhecida pela Organização
Mundial do Turismo (OMT), como um dos melhores destinos turísticos do planeta. Certificação que por certo promoverá a imagem da região duriense no exterior – para o que, em
meados do século XIX, o Barão de Forrester também concorreu, a seu modo, não sem controvérsia, através da sua acção
multímoda.
tory of Port wines and of Anglo-Portuguese relations; in
him the wine-growing region of Alto Douro (classified by
UNESCO in December 2001 as a World Heritage site in
the category of Cultural Landscape) found an enthusiast
and a champion, in love with the Douro valley which in
our own time is making every effort to be regarded by
the World Centre of Excellence for Destinations, a body
recognised by the World Tourism Organisation, as one
of the best tourist destinations on the planet. A certification which will surely promote the image of the Douro
region abroad – to which, in the mid-nineteenth century,
Baron Forrester also contributed, in his own way and not
without controversy, through his multi-modal activity.
NOTES
1
Two years after D. Antónia died, in 1898 the Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto was founded, known as Casa Ferreirinha.
2
Forrester’s body was never found, unlike those of the other two victims
of the accident. Several explanations for his death were aired: according
to some, the mast, dragged along by the current, hit him on the head;
according to others, he drowned because the great riding boots he was
wearing became waterlogged; and yet others said he sank because he
was wearing a waistcoat stuffed with gold sovereigns.
3
Biographical data on Baron Forrester can be found in: DELAFORCE,
John – Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861. s.l.: John
DeLaforce Christie’s Wine Publications, 1992; Forrester, Joseph James,
Baron de Forrester in Portugal. The Dictionary of National Biography. Sir
94
notas
1 O corpo de Forrester nunca foi encontrado, ao contrário do das duas outras vítimas do acidente. Aventaram-se várias explicações para a sua morte: segundo
uns, o mastro, arrastado pela corrente, ter-lhe-ia batido na cabeça; segundo
outros, afogara-se por se terem enchido de água as grandes botas de montar que
trazia calçadas; e, dizem terceiros, afundara-se por levar vestido um colete cheio
de libras de ouro.
2
Dois anos após a morte de D. Antónia, em 1898, foi fundada a Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto, conhecida por Casa Ferreirinha.
3
Dados biográficos sobre o Barão de Forrester podem ser recolhidos em: DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861. s.l.: John
Delaforce Christie’s Wine Publications, 1992; Forrester, Joseph James, Baron
de Forrester in Portugal. The Dictionary of National Biography. Sir Leslie Stephen, Sir Sidney Lee. Oxford and New York: Oxford University Press, 1998
(1.ª edição 1917), Volume VII, pp. 448-449; SELLERS, Charles - Oporto, Old and
New. Being a Historical Record of The Port Wine Trade, and A Tribute to British Commercial Enterprize In The North of Portugal. London: Herbert E. Harper, 1899; e
no recente Catálogo Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro:
1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008.
4
“N’aquelles tempos os caminhos entre o Porto e o Alto Douro eram terríveis, e
Forrester preferia fazer a viagem embarcado; para levantar a planta do Douro
teve tambem de o cruzar muitas vezes e de estanciar n’elle muito tempo, e por
isso mandou construir um barco para seu uso. O typo era o dos barcos rabellos,
porque a navegação do Douro não admittia outros; era, porém, o barco rabello
mais luxuoso que tem sulcado as aguas d’aquelle rio desde o mar até á Hespanha. Foi construido a capricho, bem pintado, bem mobilado, com moveis elásticos, mesa de jantar, cadeiras, cozinha, leitos, boa frasqueira, etc. e com toldo
ou coberta de madeira com vidraças. Sendo um barco pequeno, deu ali jantares
esplêndidos a muitos dos seus amigos, e n’elle fez muitas viagens do Porto até
á Hespanha, residindo mezes durante as suas viagens e estudos. A tripulação
era formada por marinheiros valentes, escolhidos, e os mais peritos na navegação do Douro, a quem sustentava, pagava generosamente, e deu um vistoso
uniforme.” PEREIRA, Esteves e Guilherme Rodrigues – Forrester (José James
Forrester, 1.º barão de). Portugal. Diccionario historico, chorographico, biographico,
bibliographico, heraldico, numismatico e artistico. Lisboa: João Romano Torres & C.ª
– Editores, 1907, vol. III, p. 553.
5
No dia 16 de Novembro de 1843 a Revista Universal Lisbonense publicou um
artigo da autoria de António Lobo Barbosa Teixeira Ferreira Girão, 1.º Visconde
de Vilarinho de S. Romão (1785-1863), agricultor e economista, intitulado
“Paiz vinhateiro do Alto Doiro”, em que considera o referido mapa “excellente”,
“exactissimo” e feito “com muito esméro” (Revista Universal Lisbonense. Lisboa:
tomo III, 1844, n.º 13, p. 145).
6
Reimpresso em Londres, em 1852, por ordem da Câmara dos Comuns.
Houve uma 3.ª edição em 1853, para ilustrar o ensaio com que venceu o
Oliveira-Prize.
Em 2006 foi publicado pela The Port Lover’s Library (Lebanon, New Hampshire,
U.S.A.), o livro Joseph James Forrester and His Maps – Of The Portuguese Douro And
Adjacent Country & The Map Of The Wine District Of The Alto Douro, contendo
reproduções destes dois mapas desenhados pelo Barão de Forrester. A edição, de
95
Leslie Stephen, Sir Sidney Lee. Oxford and New York: Oxford University Press, 1998 (1st edition 1917), Volume VII, pp. 448-449; SELLERS,
Charles - Oporto, Old and New. Being a Historical Record of The Port Wine
Trade, and A Tribute to British Commercial Enterprize In The North of Portugal. London: Herbert E. Harper, 1899; and in the recent Catalogue
Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861.
Catálogo. Museu do Douro, 2008.
4
“In those days, the roads between Oporto and the Alto Douro were terrible, and Forrester preferred to travel by boat; to chart the Douro he
also had to cross it many times and spend much time on it, and so he
had a boat built for his own use. The type was that of the rabelo craft,
because sailing on the Douro allowed no other type; it was, however, the
most luxurious rabelo ever to ply the waters of that river from the sea
as far as Spain. It was built with great care, well painted, well appointed
with elastic furniture, dining table, chairs, a kitchen, beds, a good wine
cellar, etc. and its deck encased in a wooden structure with windows.
Though the boat was small, Forrester invited many of his friends to lavish dinners on it, and it carried him on frequent journeys from Porto
to Spain. He resided on it for months during his journeys and studies.
The crew comprised valliant, hand-picked sailors, and other experts on
the navigation of the Douro, whom he supported with generous pay,
and dressed in colourful uniforms.” PEREIRA, Esteves e Guilherme
Rodrigues — Forrester (José James Forrester, 1.º barão de). Portugal.
Diccionario historico, chorographico, biographico, bibliographico, heraldico,
numismatico e artistico. Lisboa: João Romano Torres & C.ª — Editores,
1907, vol. III, p. 553.
5
On 16 November 1843, the Revista Universal Lisbonense published an
article by António Lobo Barbosa Teixeira Ferreira Girão, 1st Viscount
Vilarinho of S. Romão (1785-1863), an agriculturalist and economist,
titled The Wine-growing Country of the Alto Douro, in which he declares
the map concerned to be ‘excellent’, ‘most accurate’ and done ‘with
much care’ (Revista Universal Lisbonense. Lisboa: tomo III, 1844,
no. 13, p.145).
6
Reprinted in London in 1852, on the orders of the House of Commons.
There was a 3rd edition in 1853, designed to illustrate the essay which
won the Oliveira-Prize. In 2006, The Port Lover’s Library (Lebanon,
New Hampshire, U.S.A. published the book Joseph James Forrester and
His Maps — Of The Portuguese Douro And Adjacent Country & The Map Of
The Wine District Of The Alto Douro, containing reproductions of these
two maps drawn by Baron Forrester. We owe the de luxe edition, numbering a mere 220 copies, to Isaac Oelgart, a collector and publisher of
rare books. On this subject, see: GARCIA, João e Didiana Branco – “Forrester e a cartografia vinhateira do Douro”. Barão de Forrester, Razão
e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do
Douro, 2008, pp. 68-85.
7
The Baron of Forrester. The Gentleman’s Magazine, July 1861, p. 88.
8
A Ultima Hora. O Commercio do Porto. Porto: 13 de Maio de 1861, nº
107, p. 3; “Triste acontecimento”. O Commercio do Porto. Porto, 14 de
Maio de 1861, no. 108, p. 2.
7
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22
23
luxo, de apenas 220 exemplares, deve-se a Isaac Oelgart, coleccionador e editor
de livros raros.
Sobre este assunto, consultar: GARCIA, João e Didiana Branco – Forrester e a
cartografia vinhateira do Douro. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 68-85.
The Baron of Forrester. The Gentleman’s Magazine, July 1861, p. 88.
“A Última Hora”. O Commercio do Porto. Porto: 13 de Maio de 1861, n.º 107,
p. 3; “Triste acontecimento”. O Commercio do Porto. Porto, 14 de Maio de 1861,
n.º 108, p. 2.
“Desgraça”. Jornal do Commercio. Lisboa: 14 de Maio de 1861, n.º 2284, p. 1.
“Successo lamentavel”. A Politica Liberal. Lisboa: 13 de Maio de 1861, n.º 307,
p. 3.
LEORNE. A. M. - “José James Forrester”. Archivo Pittoresco. Lisboa: 1861, Tomo
IV, n.º 42, n.º 44, n.º 45, pp. 329-331, p. 351 e pp. 358-360, respectivamente.
Artigo ilustrado com retrato.
Ibidem, p. 330.
Mais tarde no século a firma mudaria mais uma vez de nome, para Offley
Forrester.
BENNETT, Norman R. - “Notes on Offley Forrester and the Forresters:
1779-1861”. Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos. Porto:
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004, p. 269.
DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861. s.l.:
John Delaforce Christie’s Wine Publications, 1992, p. 18.
BRADFORD, Sarah - The Englishman’s Wine – The Story of Port. London: Macmillan and Co. Ltd., 1969, p. 80.
Cf. BENNETT, Norman R. - “British Property-Holders in the Douro.The late
Eighteenth to the Early Twentieth Century”. Estudos em Homenagem a João Francisco Marques. Coordenação de Luís A. de Oliveira Ramos, Jorge Martins Ribeiro
e Amélia Polónia. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2001,
Volume I, p. 203.
VAQUINHAS, Irene e Rui Cascão - “Evolução da sociedade em Portugal: a lenta e
complexa afirmação de uma civilização burguesa”. História de Portugal. Direcção
de José Mattoso. Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, Quinto Volume – O Liberalismo (1807-1890), p. 447.
Cf. MACAULAY, Rose - They Went to Portugal. London: Penguin Books, 1985, pp.
229-252.
Sobre a comunidade britânica no Porto, consultar: GONÇALVES, Maria Guilhermina Bessa – A Comunidade Britânica no Porto. Inter-relações históricas, económicas, culturais e educativas. Porto: Edições Afrontamento, 2002; e RIBEIRO, Jorge
Martins – A comunidade britânica do Porto durante as invasões francesas 1807-1811.
Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1990.
DELAFORCE, John - The Factory House at Oporto. London: Christie’s Wine Publications, 1983, p. 92.
Tradução portuguesa feita pelo cunhado, Francis Cramp: Uma ou duas palavras sobre o vinho do Porto, dirigidas ao publico britannico em geral, e com especialidade aos particulares, mostrando como e porque era adulterado, apontando alguns
meios de se conhecerem as adulterações. Porto: Typ. Commercial Portuense,
1844.
Ibidem, p. 245.
9
Desgraça. Jornal do Commercio. Lisboa: 14 de Maio de 1861, no. 2284, p. 1.
10
“Successo lamentavel”. A Politica Liberal. Lisboa: 13 de Maio de 1861,
11
LEORNE. A. M. - “José James Forrester”. Archivo Pittoresco. Lisboa:
no. 307, p. 3.
1861, Tomo IV, no. 42, no. 44, no. 45, pp. 329-331, p. 351 and pp. 358360 respectively. The article is illustrated with a portrait.
12
Ibidem, p. 330.
13
Later in the century, the firm’s name would again be changed, to Offley
Forrester.
14
BENNETT, Norman R. - “Notes on Offley Forrester and the Forresters:
1779-1861”. Estudos em Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos.
Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2004, p. 269.
15
DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 18091861. Published by the author in association with Christie’s Wine Publications, 1992, p. 18.
16
BRADFORD, Sarah - The Englishman’s Wine — The Story of Port. London:
17
Cf. BENNETT, Norman R. - “British Property-Holders in the Douro.
Macmillan and Co. Ltd., 1969, p. 80.
The late Eighteenth to the Early Twentieth Century”. Estudos em Homenagem a João Francisco Marques. Coordenação de Luís A. de Oliveira
Ramos, Jorge Martins Ribeiro e Amélia Polónia. Porto: Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, 2001, Volume I, p. 203.
18
VAQUINHAS, Irene e Rui Cascão - “Evolução da sociedade em Portugal:
a lenta e complexa afirmação de uma civilização burguesa”. História de
Portugal. Direcção de José Mattoso. Lisboa: Círculo de Leitores, 1993,
Quinto Volume — O Liberalismo (1807-1890), p. 447.
19
Cf. MACAULAY, Rose - They Went to Portugal. London: Penguin Books,
1985, pp. 229-252.
20
On the British community in Oporto, see: GONÇALVES, Maria Guilhermina Bessa – A Comunidade Britânica no Porto. Inter-relações históricas, económicas, culturais e educativas. Porto: Edições Afrontamento, 2002;
e RIBEIRO, Jorge Martins – A comunidade britânica do Porto durante as
invasões francesas 1807-1811. Porto: Fundação Eng. António de Almeida,
1990.
21
DELAFORCE, John - The Factory House at Oporto. London: Christie’s
22
Translated into Portuguese by his brother-in-law, Francis Cramp: Uma
Wine Publications, 1983, p. 92.
ou duas palavras sobre o vinho do Porto, dirigidas ao publico britannico
em geral, e com especialidade aos particulares, mostrando como e porque
era adulterado, apontando alguns meios de se conhecerem as adulterações.
Porto: Typ. Commercial Portuense, 1844.
23
Ibidem, p. 245.
24
See: MARTINS, Conceição Andrade – “Forrester, o ‘país vinhateiro’ e o
retorno ao velho método de fazer vinho do Porto”. Barão de Forrester,
Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu
do Douro, 2008, pp. 56-67.
25
“Algumas palavras sobre a reivindicação de credito para os vinhos do
Doiro”. Revista Universal Lisbonense. Lisboa: 6 de Março de 1845, Tomo
IV, no. 33, p. 393.
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Ver: MARTINS, Conceição Andrade – “Forrester, o ‘país vinhateiro’ e o retorno
ao velho método de fazer vinho do Porto. Barão de Forrester, Razão e Sentimento.
Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 56-67.
“Algumas palavras sobre a reivindicação de credito para os vinhos do Doiro”.
Revista Universal Lisbonense. Lisboa: 6 de Março de 1845, Tomo IV, n.º 33,
p. 393.
A Associação Comercial do Porto, em Março de 1845, após análise da argumentação acusatória de Forrester, considerara-a infundada num parecer que veio
a público sob a forma de folheto, intitulado Parecer da Direcção da Associação
Comercial do Porto, approvado unanimemente, e votado em Sessão de 15 de Março de
1845, para ser submettido á discussão e approvação da Assembleia Geral. Lisboa: s.n.,
1845.
“Vinhos do Douro”. Revista Universal Lisbonense. Lisboa: 5 de Junho de 1845,
Tomo IV, n.º 46, p. 548.
Carta de Joseph James Forrester, datada do Porto, 16 de Janeiro de 1845: Cartas dirigidas ao Snr. Redactor do Periodico dos Pobres do Porto por José James Forrester sobre Um Requerimento dirigido a Sua Magestade Fidelissima contra o auctor, em
consequência dos esforços por elle feitos para restaurar os vinhos do douro a sua antiga
pureza. Porto: Typographia Commercial, 1845, p. 10.
Carta de Joseph James Forrester, datada do Porto, 11 de Janeiro de 1845:
ibidem, p. 5.
Carta de Joseph James Forrester, datada do Porto, 16 de Janeiro de 1845:
ibidem, p. 10.
O folheto Huma palavra de Verdade sobre Vinho do Porto, dirigida ao Publico Britannico, por Hum Gentil-Homem e Negociante Britannico. Traduzido do Inglez por
Joze James Forrester apresenta-se como tradução, feita pelo próprio Forrester,
de um folheto escrito contra si e em resposta a A Word or Two on Port Wine.
Inocêncio Francisco da Silva, contudo, afirma, a propósito deste título: “Dizia
ser vertido por J. J. Forrester, mas foi elle o proprio auctor.” (SILVA, Innocencio Francisco da - Diccionario Bibliographico Portuguez. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001, CD-ROM,
Ophir-Biblioteca Virtual dos Descobrimentos Portugueses 9, Vol. XIII,
p. 17).
Sobre a querela a que deu origem a publicação deste folheto de Camilo, ver:
CABRAL, Alexandre - Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho, 1989,
pp. 824-825.
BRANCO, Camilo Castelo - O Vinho do Porto. Processo de uma bestialidade Inglesa.
Exposição a Thomaz Ribeiro. Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1984, pp. 29 e
37.
Ibidem, p. 29.
Eis o anúncio do prémio: “A Premium of Fifty Guineas for an ESSAY ON PORTUGAL in connection with the Objects of the Great Exhibition, offered by BENJAMIN OLIVEIRA, Esq., F. R. S.”.
The Oliveira-Prize Essay on Portugal, with the evidence regarding that country taken
before a commitee of the House of Commons in May, 1852. London: John Weale,
1853.
Em 1860 a obra já ia na quarta edição: Portugal and Its Capabilities: (Being the
Essay for which «The Oliveira Prize and Medal» were awarded.) The author’s evidence
regarding that country, given before a select committee of the House of Commons in
26
In March 1845, the Oporto Chamber of Commerce, having analysed
Forrester’s indicting arguments, judged them to be unfounded in an
account made public in the form of a pamphlet titled Parecer da Direcção
da Associação Comercial do Porto, approvado unanimemente, e votado em
Sessão de 15 de Março de 1845, para ser submettido á discussão e approvação da Assembleia Geral. Lisboa: s.ed., 1845.
27
“Vinhos do Douro”. Revista Universal Lisbonense. Lisboa: 5 de Junho de
1845, Tomo IV, no. 46, p. 548.
28
Letter written by Forrester, dated Oporto, 16 January 1845: Cartas dirigidas ao Snr. Redactor do Periodico dos Pobres do Porto por José James Forrester sobre Um Requerimento dirigido a Sua Magestade Fidelissima contra o
auctor, em consequência dos esforços por elle feitos para restaurar os vinhos do
douro a sua antiga pureza. Porto: Typographia Commercial, 1845, p. 10.
29
Letter written by Forrester, dated Oporto, 11 January 1845: ibidem, p. 5.
30
Letter written by Forrester, dated Oporto, 16 January 1845: ibidem,
p. 10.
31
The pamphlet Huma palavra de Verdade sobre Vinho do Porto, dirigida
ao Publico Britannico, por Hum Gentil-Homem e Negociante Britannico.
Traduzido do Inglez por Joze James Forrester (Porto: Typographia Commercial, 1844) is offered as being a translation, by Forrester himself, of a
pamphlet directed against him and in response to A Word or Two on Port
Wine. However, Inocêncio Francisco da Silva regards same as follows: ‘It
purported to be a translation by J.J. Forrester, but he wrote it himself.’
(SILVA, Innocencio Francisco da - Diccionario Bibliographico Portuguez.
Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001, CD-ROM, Ophir-Biblioteca Virtual dos Descobrimentos Portugueses 9, Vol. XIII, p. 17).
32
On the dispute which publication of this pamphlet by Camilo triggered,
see CABRAL, Alexandre - Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa:
Caminho, 1989, pp. 824-825.
33
BRANCO, Camilo Castelo - O Vinho do Porto. Processo de uma bestialidade
Inglesa. Exposição a Thomaz Ribeiro. Lisboa: Perspectivas & Realidades,
1984, pp. 29 e 37.
34
35
Ibidem, p. 29.
The announcement of the prize was couched as follows: “A Premium
of Fifty Guineas for an ESSAY ON PORTUGAL in connection with the
Objects of the Great Exhibition, offered by BENJAMIN OLIVEIRA, Esq.,
F. R. S.”.
36
The Oliveira-Prize Essay on Portugal, with the evidence regarding that country taken before a commitee of the House of Commons in May, 1852. London:
John Weale, 1853. In 1860, the work had already been reprinted four
times Portugal and Its Capabilities: (Being the Essay for which «The Oliveira
Prize and Medal» were awarded.) The author’s evidence regarding that country, given before a select committee of the House of Commons in May, 1852, on
the wine-duties; together with A Companion to the Essay containing «A Word
or Two on Port-Wine» re-iterated, and A Statistical Account of the Port-Wine
Trade from 1678 to 1860. London: John Weale; Edinburgh: John Menzies;
Oporto: Coutinho, 1860. See: BONIFÁCIO, Fátima – “Paraíso perdido: a
propósito do livro de J. J. Forrester The Prize-Essay on Portugal”. Barão
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May, 1852, on the wine-duties; together with A Companion to the Essay containing
«A Word or Two on Port-Wine» re-iterated, and A Statistical Account of the Port-Wine
Trade from 1678 to 1860. London: John Weale; Edinburgh: John Menzies; Porto:
Coutinho, 1860.
Ver: BONIFÁCIO, “Fátima – Paraíso perdido: a propósito do livro de J. J. Forrester The Prize-Essay on Portugal”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 86-91.
CLUNY, Isabel – “Joseph James Forrester, uma história do Douro”. Barão de Forrester. Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do
Douro, 2008, p. 27.
DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 1809-1861. sl.:
John Delaforce Christie’s Wine Publications, 1992, p. 68.
Ibidem, p. 69.
FORRESTER, Joseph James – The Prize-Essay on Portugal: being The Essay for
which “The Oliveira Prize and Medal” were awarded. With the author’s evidence regarding that country given before a select committee of the House of Commons in May, 1852,
on the wine-duties; and his surveys of the wine-districts of the Alto-Douro, (as adopted
and published by order of the House of Commons.) together with A Statistical Comparison of the Resources and Commerce of Great-Britain and Portugal. Second Edition. London: John Weale, Edinburgh: John Menzies, Oporto: Coutinho, 1854,
pp. 15-16.
Globe, November 22, 1853.
VIANNA, Pedro Amorim – “Zelo extraordinario de um inglez pelos nossos interesses”. A Peninsula. Porto: 1853, Vol. II, n.º 19, p. 217.
Ibidem.
Ver: BENNETT, Norman A. - “O vinho do Porto na diplomacia anglo-portuguesa
durante o século XIX”. Douro – Estudos & Documentos. Porto: Grupo de Estudos
de História da Viticultura Duriense e do Vinho do Porto, 1997, Ano 2, n.º 4,
pp. 271-286.
LEORNE, ibidem, p. 351.
Ibidem. Sobre a sua participação na Exposição Universal de Paris publicou Forrester um catálogo: Relation des Objects Expédiés à L’Exposition Universelle de
Paris, par Joseph James Forrester, proprietaire de vignes dans le Haut Douro, et negociant à Oporto. Porto: Joseph James Forrester, 1855. No ano seguinte publicou também um folheto em que avaliou a sua participação naquele grande certame internacional: Algumas palavras sobre a Exposição de Paris pelo Barão de Forrester, José James Forrester, oferecidas aos seus amigos. Porto: Tipografia Comercial, 1856.
Filipa Lowndes Vicente refere que Forrester enviou para a Exposição de Paris
fotografias de paisagens do Alto Douro e outras ilustrativas de costumes portugueses, mas não chegaram a ser expostas. Cf. VICENTE, Filipa Lowndes
- Viagens e Exposições: D. Pedro V na Europa do Século XIX. Lisboa: Gótica, 2003,
p. 262.
Sobre a participação nas exposições universais, consultar: SOUTO, Maria Helena
– O Barão de Forrester e as representações portuguesas nas Exposições Universais de 1851 e 1855. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro:
1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 102-109.
RACZYNSKI, A. (Comte de) - Dictionnaire historico-artistique du Portugal pour faire
suite à l’ouvrage ayant pour titre : Les arts en Portugal, lettres adressées à la Société
de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catalogue. Museu do Douro, 2008, pp. 86-91.
37
CLUNY, Isabel – “Joseph James Forrester, uma história do Douro”. Barão
de Forrester. Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catalogue. Museu do Douro, 2008, p. 27.
38
DELAFORCE, John - Joseph James Forrester, Baron of Portugal 18091861. s.l.: John Delaforce Christie’s Wine Publications, 1992, p. 68.
39
Ibidem, p. 69.
40
FORRESTER, Joseph James – The Prize-Essay on Portugal: being The
Essay for which “The Oliveira Prize and Medal” were awarded. With the
author’s evidence regarding that country given before a select committee of
the House of Commons in May, 1852, on the wine-duties; and his surveys
of the wine-districts of the Alto-Douro, (as adopted and published by order
of the House of Commons.) together with A Statistical Comparison of the
Resources and Commerce of Great-Britain and Portugal. Second Edition.
London: John Weale, Edinburgh: John Menzies, Oporto: Coutinho,
1854, pp. 15-16.
41
Globe, November 22, 1853.
42
VIANNA, Pedro Amorim – “Zelo extraordinario de um inglez pelos nossos interesses”. A Peninsula. Porto: 1853, Vol. II, no. 19, p. 217.
43
44
Ibidem.
See: BENNETT, Norman A. - “O vinho do Porto na diplomacia angloportuguesa durante o século XIX”. Douro — Estudos & Documentos.
Porto: Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do Vinho
do Porto, 1997, Ano 2, no. 4, pp. 271-286.
45
LEORNE, ibidem, p. 351.
46
Forrester published a catalogue of his participation in the Paris Universal Exposition: Relation des Objects Expédiés à L’Exposition Universelle de
Paris, par Joseph James Forrester, proprietaire de vignes dans le Haut Douro,
et negociant à Oporto. Porto: Joseph James Forrester, 1855. The following year he also published a pamphlet in which he took stock of his participation in that great international contest: Algumas palavras sobre a
Exposição de Paris pelo Barão de Forrester, José James Forrester, oferecidas
aos seus amigos. Porto: Tipografia Comercial, 1856.
Filipa Lowndes Vicente cites the fact that Forrester sent photographs
of Alto Douro views and other photographs illustrating Portuguese customs to the Paris Exposition. These were, however, never exhibited
there. Cf. VICENTE, Filipa Lowndes - Viagens e Exposições: D. Pedro V na
Europa do Século XIX. Lisboa: Gótica, 2003, p. 262.
47
On participation in Universal Exhibitions, see: SOUTO, Maria Helena –
O Barão de Forrester e as representações portuguesas nas Exposições Universais de 1851 e 1855. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história
do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 102-109.
48
RACZYNSKI, A. (Comte de) - Dictionnaire historico-artistique du Portugal pour faire suite à l’ouvrage ayant pour titre : Les arts en Portugal, lettres adressées à la Société artistique et scientifique de Berlin et accompagnées
de documents. Paris: Jules Renouard et Cie, Libraires-Éditeurs, 1847,
p. 101.
49
RACZYNSKI, A. (Comte de) - Les Arts en Portugal. Lettres Adressées
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artistique et scientifique de Berlin et accompagnées de documents. Paris: Jules Renouard et Cie, Libraires-Éditeurs, 1847, p. 101.
RACZYNSKI, A. (Comte de) - Les Arts en Portugal. Lettres Adressées à la Société Artistique et Scientifique de Berlin, et Accompagnées de Documens. Paris: Jules
Renouard et Cie, Libraires-Éditeurs, 1846, pp. 388-389.
Roquemont, que viveu no Porto e ali faleceu, pintou o retrato da mulher de Forrester, Eliza, o dos seus seis filhos e o do próprio Barão.
Sobre esta matéria, ver: SOUTO, Maria Helena – “Joseph James Forrester: o pintor amador e as suas afinidades electivas”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento.
Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 92- 101.
SENA, António - História da Imagem Fotográfica em Portugal – 1839-1997. Porto:
Porto Editora, 1998, p. 37.
FIGUEIREDO, Filipe - “Forrester um amador de Fotografia em Portugal”. Barão
de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo.
Museu do Douro, 2008, pp. 120-133.
à la Société Artistique et Scientifique de Berlin, et Accompagnées de
Documents. Paris: Jules Renouard et Cie, Libraires-Éditeurs, 1846,
pp. 388-389.
50
Roquemont, who lived and died in Oporto, painted the portrait of
Eliza, Forrester’s wife, that of his six children and that of the Baron
himself.
51
On this subject, see: SOUTO, Maria Helena – “Joseph James Forrester:
o pintor amador e as suas afinidades electivas”. Barão de Forrester, Razão
e Sentimento. Uma história do Douro: 1831-1861. Catálogo. Museu do
Douro, 2008, pp. 92- 101.
52
SENA, António - História da Imagem Fotográfica em Portugal — 18391997. Porto: Porto Editora, 1998, p. 37.
53
FIGUEIREDO, Filipe - “Forrester um amador de Fotografia em Portugal”. Barão de Forrester, Razão e Sentimento. Uma história do Douro: 18311861. Catálogo. Museu do Douro, 2008, pp. 120-133.
Quillinan – uma família irlandesa no Porto
Quillinan – an irish family in Oporto
Paulo Duarte de Almeida
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS, UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
CETAPS (CENTRE FOR ENGLISH, TRANSLATION AND ANGLO-PORTUGUESE STUDIES)
Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 100-124, ISSN 1646-7116
A família Quillinan é um dos exemplos de famílias estrangeiras, particularmente inglesas e irlandesas, que se radicaram em Portugal no século XVIII, dando continuidade a uma
tradição de boas relações comerciais já seculares1, mas impulsionadas pelo Tratado de Methuen (1703) e pelo incremento
da produção e comércio do vinho do Porto proporcionado
pela Companhia para a Agricultura das Vinhas do Alto Douro
(criada em 1756 pelo Marquês de Pombal)2. Duas medidas de
carácter político e comercial cujos efeitos lograram sobrepor-se à antipatia contra os ingleses que se generalizou na população portuguesa principalmente depois do Terramoto de
1755 pois não faltou quem dissesse que a catástrofe tinha
sido um castigo divino contra uma nação católica que abrigava há tantos séculos e de forma tão hospitaleira hereges
e agiotas que tinham no comércio a sua principal fonte de
riqueza3.
Apesar de algum período de agitação durante o governo
de Pombal, decorrente também de medidas do ministro que
punham em causa privilégios dos comerciantes britânicos
tidos por estes como adquiridos4, a verdade é que durante
o século XVIII a imigração de súbditos britânicos para Portugal foi uma constante, dizendo um contemporâneo que “o
inglês falido em Londres vinha recuperar as suas perdas a
Portugal; o irlandês, miserável na sua pátria, escapava à forca
em Londres para ir fazer fortuna em Lisboa”5 e o comércio
do nosso país achava-se quase todo nas mãos dos ingleses.
De uma relação oficial sem data, mas do tempo de D. José,
verifica-se existirem à época na capital mais de cem casas de
negócio britânicas, havendo também muitos que se ocupavam nas profissões ditas mecânicas (tanoeiros, sapateiros,
alfaiates, cabeleireiros e até engomadeiras). A intensa actividade comercial entre as duas nações comprova-se ainda
pelas estatísticas do Banco de Inglaterra, nas quais se veri101
The Quillinan family is one of the examples of foreign
families, particular British and Irish, who settled in Portugal in the 18th Century, to continue the centuries long tradition of good commercial relations1, but inspired to do so
by the Treaty of Methuen (1703) and by the increase in the
produce and trade in Port wine by the Companhia para a
Agricultura das Vinhas do Alto Douro (Agricultural Company
for Wines of the Alto Douro), set up in 1756 by the Marquês de Pombal2. Two events of a political and commercial
nature overlaid the antipathy towards the British which
was generally established in the Portuguese population,
mainly after the 1755 Earthquake, when there was no
lack of individuals who said that the catastrophe had been
divine retribution against a Catholic nation which had for
centuries hospitably sheltered heretics and usurers whose
principal source of wealth came from commerce3.
Despite there having been a period of unrest during
Pombal’s Government, resulting also from measures taken
by the Minister which questioned certain privileges of British traders which were considered as fixed 4, the truth is
that during the 18th Century there was constant emigration to Portugal, with a contemporary stating that “the
bankrupt Englishman in London came to Portugal to recuperate his losses; the Irishman, miserable in his country,
escaped the gallows in London to go and make his fortune in Lisbon”5 and trade in our country was thought to
be almost all in the hands of the British. An undated official report during the time of King José confirmed that
there were over 100 offices of British trade, many involving handiwork (hoopers, shoemakers, tailors, hairdressers
and even ironing maids). The intense commercial activity
between the two nations is shown by statistics from the
Bank of England, which indicate that importation of Por-
ficava que a importação do ouro português tinha sido apenas em quatro anos, de 1766 a 1769, de 3.552.572 libras
esterlinas, “além de muito mais que passava, clandestinamente, sobretudo em navios do Porto”6. Dizia-se até, em tom
um pouco caricatural, que as moedas com a efígie de
D. João V eram em Inglaterra mais vulgares do que as do rei
Jorge III7.
Ao longo deste estudo, vamos ficar a conhecer melhor
uma dessas famílias, primeiro através do conhecimento das
suas origens (geográfica e social) e depois através do percurso
de vida de quatro dos seus membros – John Quillinan – o primeiro da família a viver em Portugal – e três dos seus filhos:
Edward, João Tomás e Luís.
Resta apenas advertir que parte deste trabalho resulta de
uma investigação conjunta, mas de natureza mais genealógica, que há já algum tempo temos vindo a desenvolver com a
Senhora Dr.ª Maria Júlia Oom do Valle Henriques de Oliveira
Martins, a quem agradecemos, e que pretendemos vir a publicar em breve numa das revistas da especialidade.
tuguese gold in just the four years between 1766 and 1769
was 3,552,572 pounds sterling, “besides considerably more
that clandestinely came into the country, mainly in ships
from Oporto”6. It was even somewhat jocularly stated that
coins with the image of King João V were more common in
England at the time than those of King George III7.
This study will enable us to get to know one of these
families better, first through learning about its geographical and social origins and then the life of four of
its members - John Quillinan - the first of the family to
live in Portugal - and three of his children: Edward, João
Tomás and Luís.
It should just be mentioned that part of this work
has resulted from joint research, but of a more genealogical nature, that has been ongoing for some time with
Dr.ª Maria Júlia Oom do Valle Henriques de Oliveira Martins, who should be thanked and with whom I hope to
shortly publish this work in one of the specialist journals.
Origin
Origem
Geographical origin
Origem geográfica
Geograficamente, a família é originária dos condados
irlandeses de Tipperary e Limerick, onde o apelido era e continua a ser relativamente comum, surgindo, contudo, sob
diversas formas: Quillinan, Cullinane, Callinan, Quillian,
Coninan, McQuillan, McQuillian, McQuilland, etc. E um dos
ramos, que com o passar dos séculos se converteu ao Protestantismo, usa actualmente a forma Collins. Basta fazer uma
pesquisa na internet sobre qualquer uma destas formas do
nome para nos apercebermos da imensa quantidade de indivíduos que os usam ou usaram na Irlanda e no mundo.
The family geographically originates from the Irish
counties of Tipperary and Limerick, where the surname
was and is relatively common, appearing in various
forms: Quillinan, Cullinane, Callinan, Quillian, Coninan,
McQuillan, McQuillian, McQuilland, etc. One branch of
the family, which with the passing of centuries had converted to Protestantism, currently uses the form Collins.
It is enough to carry out an Internet search on any of
these forms of the name to realise the immense number
of individuals who use or who have used it in Ireland and
in the world.
102
Origem social
Sobre a origem social, contamos com um testemunho de
um membro da família – o Dr. Guilherme de Quillinan da Silva
Machado (diplomata de carreira que representou Portugal em
vários países europeus e não só, acabando a sua carreira como
Ministro Plenipotenciário) – que, a 18 de Abril de 1945, escrevia
assim a um seu sobrinho que o questionara sobre o assunto8:
A família não há dúvida que era muito antiga e de grande
nobreza, mas a verdade é que o brazão é de simples knight
(cavaleiro).
Sobre a sua antiguidade, encontramos, com facilidade,
provas documentais da sua existência naquela área em, pelo
menos, inícios do século XVII. Já quanto à “grande nobreza”,
não temos provas documentais que a atestem, embora a família seja referida no The Book of Irish Families9.
Na mesma carta, o seu remetente descreve, contudo, o
suposto brasão da família, da seguinte forma:
O brazão é em campo azul com uma barra de oiro, ao meio, em
sentido horizontal. Do lado de baixo um crescente branco que,
creio, deve ser de prata, e por cima 2 cabeças de leão em oiro.
Timbre assente n’uma espécie de almofada azul, oiro, azul, oiro,
azul, oiro; uma mão côr de carne humana dentro de um braço
de armadura de aço com uns botões doirados, empunhando um
punhal com o cabo de oiro e lâmina de aço. O brazão tem um
friso de oiro. Salvo erro, pois que não sou perito em heraldica.
Social origin
As regards their social origin, we are able to rely on
the testimony of a member of the family – Dr. Guilherme
de Quillinan da Silva Machado (a career diplomat who represented Portugal in various European countries, and who
finished his career as a Plenipotentiary Minister) – who on
18 April 1945 wrote the following when questioned on the
matter of his nephew8:
Apesar das imprecisões heráldicas efectivamente existentes na leitura do brasão, a sua descrição é suficientemente
pormenorizada para o podermos imaginar com rigor. Tal
esforço não é felizmente necessário porque se conhecem, pelo
103
The family had no doubts about it being an ancient and
noble one, but the truth is that its coat of arms is that of
a simple knight.
menos, quatro representações heráldicas do brasão, embora
todas elas tardias, ou seja, posteriores à segunda metade do
século XIX. A mais antiga parece ser uma pintura aguarelada,
sem indicação do autor, que pertenceu ao ramo Quillinan da
Silva Machado10; a 2.ª é uma marca de lacre de um sinete ou
anel armoriado usado pelo referido Dr. Guilherme de Quillinan da Silva Machado11; a 3.ª consta de várias peças de um
serviço de porcelana europeia (francesa ou inglesa) mandado
executar por este diplomata durante uma das suas missões12;
e 4.ª e última é uma outra pintura, já bastante fantasiosa, da
autoria do Senhor Marquês de Lambert.
O facto de não existirem referências nem representações
mais antigas do dito brasão leva-nos a supor que as preocupações nobiliárquicas sobre a origem da família terão surgido
tardiamente, quando os diferentes ramos se uniram por casamento a membros de famílias da fidalguia portuguesa13.
As regards their antiquity, it was easy for us to find
documentary proof of its existence from at least the start
of the 16th Century. As regards its “great nobility”, we have
no documentary evidence that attests to this, although
the family is referred to in The Book of Irish Families9.
In the same letter, the sender does however describe
the supposed coat of arms of the family in the following
manner:
The coat of arms is a blue field with a horizontal gold bar in
the middle. On the lower side there is a white crescent which,
I believe, must be of silver, with 2 golden lions’ heads above.
This is based on type of blue, gold, blue, gold, blue, gold bolster; there is a flesh-coloured hand inside a steel-armoured
arm with golden buttons, wielding a dagger with a golden
head and a steel blade. The coat of arms has a golden frieze.
Unless I am wrong, as I am not a heraldry expert.
Os homens
Despite the heraldic imprecisions contained in the
John Quillinan – o Patriarca
Provavelmente nascido em Carrick, por volta de 175414,
também não se sabe quando veio para Portugal nem se se terá
fixado logo no Porto ou se terá vivido primeiramente em Lisboa. Esta última hipótese levanta-se com alguma probabilidade
porque sua primeira mulher era natural daquela cidade15. Essa
senhora chamava-se Mary Ryan, e, embora tivesse nascido já
em Portugal por volta de 177016, era de ascendência irlandesa.
Embora exista um pouco a ideia generalizada de que os súbditos britânicos escolhiam a capital nortenha para se fixarem,
devido até à maior semelhança climatérica com o seu país de
origem, a verdade é que a sua presença na capital durante o
século XVIII e nos inícios do século XIX está bem documentada por exemplo nas Memórias de D. José Trazimundo de
reading of the coat of arms, its description is sufficiently
detailed to allow us to clearly visualise it. That effort is happily not necessary since at least four heraldic representations of the coat of arms are known, although from a later
period, or that is, after the second half of the 19th Century.
The oldest appears to be an unsigned watercolour, which
belonged to the Quillinan da Silva Machado side of the
family10; the second is a lacquer mark on a signet or armorial ring used by the aforementioned Dr. Guilherme de
Quillinan da Silva Machado11; the third is on several pieces
of a European porcelain service (French or English) which
was made at the bequest of this diplomat during one of his
postings12; and the fourth and final one is another, rather
fanciful painting by Mr. Marquês de Lambert.
104
Mascarenhas, Marquês de Fronteira. Tendo provavelmente
casado em Lisboa, o casal optou por fixar residência no Porto,
onde já se encontrava a residir em 1796 – ano do nascimento
de seu quarto filho, João Tomás (adiante referido).
Por razões que desconhecemos, mas que nos dizem ter
sido “repentinas”, Mary Ryan (então Mary Quillinan) faleceu na freguesia de Miragaia, no Porto, sem Sacramentos
“por estar para se confessar com um Padre da Congregação
do Oratório desta cidade [Porto], o Padre Duarte Culin”, a 12
de Maio de 1803, tendo sido sepultada na Igreja daquela freguesia, e tendo assistido às suas exéquias 20 Padres17. Há dois
elementos no seu assento de óbito em que devemos atentar:
a freguesia em que ocorreu o óbito e em que foi lavrado o respectivo assento e o número de sacerdotes que participaram
nas cerimónias. O primeiro está de acordo com a ideia de que
John Quillinan se fixara no Porto por razões de ordem comercial uma vez que a freguesia de Miragaia – até como o próprio nome indica – era a que estava mais próxima do rio, da
alfândega, do Porto, enfim, da actividade comercial. Por outro
lado, o número de sacerdotes indica a quem está mais familiarizado com a documentação coeva que a pessoa falecida tinha
já algum estatuto social e económico.
Com quatro filhos já nascidos (Anne, Edward, John e
João Tomás), John Quillinan não poderia permanecer viúvo
durante muito tempo, por isso, passados apenas 5 meses
da morte de sua primeira mulher, volta a casar. O consórcio
realizou-se na Igreja de N.ª Sr.ª da Vitória, no Porto, na tarde
de 22 de Outubro de 180318. A noiva também se chamava
Mary, mas de sobrenome Geordans (ou Riordan). Era natural de Londres, bem como seus pais e avós. Mas também este
casamento não teria um final feliz.
Passados 5 anos, no Inverno de 1808, devido à invasão do
General Soult e aproximação das tropas francesas do Porto,
105
The fact that there are no older references or representations of the aforementioned coat of arms leads us
to suppose that the concerns regarding the origin of the
family may have arisen at a late stage, when the different
branches were joined by marriage to members of the Portuguese knights13.
The men
John Quillinan – the patriarch
Probably born in Carrick around 175414, it is also not
known when he came to Portugal or if he settled first in
Oporto or had first lived in Lisbon. This latter hypothesis
has some substance given that his first wife came from the
city15. This lady was called Mary Ryan, and although she
was born in Portugal around 177016, she was of Irish ancestry. Although there is a generalised idea that British subjects chose the capital of the North in which to settle, due
to the similarity of its climate to their country of origin, the
truth is that their presence in the capital during the 18th
Century and the beginning of the 19th Century is well documented, such as in the Memoirs of D. José Trazimundo de
Mascarenhas, the Marquês de Fronteira. After having probably got married in Lisbon, the couple decided to settle in
Oporto, where they were living when their fourth child,
João Tomás (referred to below) was born in 1796.
For unknown reasons, but said to have been “sudden”,
Mary Quillinan (née Mary Ryan) passed away in the parish of Miragaia, in Oporto, without the Last Rites “as she
had been confessing at the time to Father Duarte Culin,
an Oratorian Priest from their Oporto Congregation,”, on
12 May 1803, and was buried in that Parish Church, with
20 Priests attending at her funeral rites17. There are two
a família, temendo represálias, viu-se obrigada a deixar a
cidade – como aliás aconteceu com a maioria da colónia britânica residente naquela cidade, lembremos o caso da família de Almeida Garrett, também com ascendência irlandesa,
que nessa mesma altura se viu obrigada a refugiar-se nos Açores19. A viagem revestia-se, contudo, de grande preocupação
para a família porque Mrs. Quillinan se encontrava em avançado estado de gravidez. Ainda se colocou a hipótese de ela
permanecer no Porto, como parece que aconteceu a várias
senhoras que se encontravam na mesma situação, mas John
Quillinan considerou demasiado arriscado, preferindo levar a
mulher para Inglaterra, mas a viagem foi tumultuosa e Mrs.
Quillinan acabaria por morrer a bordo, na sequência de um
parto prematuro. Estes trágicos acontecimentos são narradas nas notas autobiográficas de Edward Quillinan (filho do
1.º casamento de John Quillinan e um nome conhecido dos
estudiosos das literatura inglesa e, sobretudo, da sua relação
com Portugal e com a literatura Portuguesa), publicadas por
William Johnston, depois da sua morte20.
A família dirigiu-se então para Londres onde permaneceu durante vários anos. Não sabemos ao certo quantos,
mas sabemos que John Quillinan ainda aí se encontrava em
1812 (ano do nascimento de seu filho natural Henry Lawson
Quillinan), e que regressou ao Porto antes de 1821 (porque
nesse ano mandou publicar no jornal The Times um anúncio de dissolução de uma sociedade comercial e em que surge
como residente no Porto21; para além disso, nesse mesmo ano
nasceu naquela cidade uma outra sua filha natural – D. Maria
Isabel). É natural que o regresso da família se tenha verificado logo depois da Revolução Liberal22 e que John Quillinan
tenha prontamente retomado a sua actividade comercial.
Sabe-se que em 1822, por exemplo, exportou 122 pipas de
vinho da Feitoria, despachadas da Alfândega do Porto para
details of her death certificate which we should note: the
parish where the death occurred and where the respective
certificate was filled in, and the number of clergy who participated in the burial rites. The former is in keeping with
the idea that John Quillinan had settled in Oporto for
business reasons given that the parish of Miragaia – as the
name itself indicates– was the one closest to the river, the
Customs, the port - that is, commercial activity. What is
more, the number of priests shows that the deceased person had a certain socio-economic status when compared
to other similar records of the same period.
Having four living children (Anne, Edward, John and
João Tomás), John Quillinan could not remain a widower for long and so he married again only 5 months after
the death of his first wife. The marriage took place at the
Church of Our Lady of Vitória, in Oporto, in the afternoon
of 22 October 180318. The bride was also called Mary, and
had the surname Geordans (or Riordan). She was from
London, as well as her parents and grandparents. Unfortunately this marriage would also have an unhappy end.
Five years later in the Winter of 1808 the family, along
with most of the British Community resident in Oporto had to leave the city fearing reprisals following the invasion by General Soult and the approach of the French soldiers. This was similar to the Almeida Garrett family, which
also had Irish ancestry, and which had to take refuge in
the Azores19. The journey was one of major concern for the
family because Mrs. Quillinan was heavily pregnant. There
was the possibility of her remaining in Oporto, as was the
case with a number of other women in the same situation,
but John Quillinan considered it too risky, preferring to
take his wife to England, but the voyage was a stormy one
and Mrs. Quillinan ended up dying on board following a
106
o estrangeiro23, o que, embora comprove a sua actividade,
não é um número muito significativo se pensarmos que 12
anos antes (1810) se exportaram 20.000 pipas, no total, e
que em 1811, Wellington pediu à Real Companhia um fornecimento de 300 pipas só para os seus soldados estacionados
em Lamego. Mas é natural que John Quillinan não se dedicasse apenas à exportação de vinho, mas também à importação e comércio de bens de origem inglesa (nomeadamente
bens mais essenciais como o trigo e tecidos24, ou outros mais
supérfluos como móveis e objectos de prata e casquinha tão
em voga na época em Portugal, e de forma particular, no
Porto, e que viriam a influenciar de forma decisiva o gosto
dos portuenses, havendo marcas dessa influência, por exemplo, na prataria).
A relação de John Quillinan com outros comerciantes de
vinho está documentada por exemplo no processo em que
interveio como procurador de um outro comerciante inglês,
Samuel Abbot – seu ex-sócio - entretanto falido, numa causa
relativa ao armazenamento de umas pipas de vinho que pertenciam ao dito comerciante e que se estavam a deteriorar
por estarem armazenadas em más condições25, e é referido no
Almanach Portuguez para 1824-1825, no capítulo “Negociantes Estrangeiros na cidade do Porto”, como sendo morador na
Rua da Ferraria de Cima26.
Poucos anos depois, e já septuagenário, fez o seu testamento, a 17 de Agosto de 1826, pelo qual reconheceu a paternidade de três filhos naturais: Henry Lawson Quillinan,
Maria Isabel Quillinan e Luís Quillinan e dividiu os seus bens
da seguinte maneira:
premature delivery. These tragic events are narrated in the
autobiographical notes penned by Edward Quillinan (a son
from John Quillinan’s first marriage and a name known to
students of English literature and, above, all, its relationship with Portugal and Portuguese literature), which was
published by William Johnston after his death20.
The family thus moved to London where it stayed
for several years. We do not know exactly when, but we
know that John Quillinan was still there in 1812 (the year
of birth of his natural child Henry Lawson Quillinan), and
that he returned to Oporto before 1821 (since in that year
he had an advertisement published in the Times newspaper concerning the dissolution of a company in which
he was given as residing in Oporto 21; in addition to this,
the same year saw the birth in that city of another natural
child of his – Maria Isabel). It would be natural for the family’s return to have been confirmed after the Liberal Revolution22 and that John Quillinan had swiftly resumed his
commercial activity. It is known that in 1822, for example, he exported 122 barrels of wine from the Factory
House, which were dispatched abroad from the Customs
in Oporto23, which, while proving his commercial activity, is not a significant amount if we take into account the
fact that 12 years previously (1810) 20,000 barrels had
been exported and that in 1811, Wellington asked the
Royal Company to supply 300 barrels just for his soldiers
stationed in Lamego. But it would have been normal for
John Quillinan to have not just exported wine, but also
imported goods of British origin (namely essential commodities such as wheat and fabrics24, or other, more super-
· À sua filha Anne Quillinan Fox e seus filhos deixou a propriedade da casa n.º 19 da Essex Street, Strand, Condado
de Middlesex, Londres;
107
fluous, items such as furniture or silver or silver-plated
brass objects which were so in fashion at the time in Portugal, and in particular in Oporto, which would have had a
· A seu genro Benjamim Fox deixou a propriedade vitalícia da
casa descrita no item anterior;
· À sua filha Anne Quillinan Fox, marido e filhos perdoou
qualquer dívida em dinheiro;
· A seu filho Edward Quillinan deixou 100 libras em
dinheiro;
· A seu filho John Quillinan deixou 3$200 réis em dinheiro;
· Ao mesmo perdoou qualquer dívida em dinheiro;
· A seu filho João Tomás Quillinan deixou a propriedade
denominada “South Lissiniska ou Rathfeeda”, no condado
de Limerick;
· Ao mesmo deixou o remanescente de toda a herança;
· A seu filho natural Henry Lawson Quillinan deixou 800
libras a serem-lhe pagas quando atingisse 21 anos;
· Ao mesmo deixou 40 libras anuais a serem-lhe pagas para a
sua educação;
· À governanta Maria Joaquina de Jesus deixou 400 mil réis;
· E ao caixeiro João Tomás da Cunha deixou 24 mil réis.
O testamento permite saber que, no final da sua vida, John
Quillinan tinha propriedades em Londres (a casa onde provavelmente terá vivido no período em que aí permaneceu), na
Irlanda e no Porto. O filho mais beneficiado é, sem dúvida, João
Tomás, mas é também sobre este que recaem mais responsabilidades pois, para além de ser testamenteiro das vontades do
Pai, são entregues ao seu cuidado os seus três meios-irmãos, os
quais eram ainda umas crianças quando o Pai morreu (Henry
tinha 14 anos; Maria Isabel, 5 anos, e Luís apenas 2 anos).
O sustento e educação destas crianças foram assegurados por
John Quillinan como se comprova pela comparação do montante em dinheiro deixado aos filhos Edward e Henry (embora
este só recebesse as suas 800 libras quando perfizesse 21 anos).
Já o sustento dos dois filhos naturais mais novos foram asse-
decisive influence on the taste of the people of Oporto, as
reflected in their silverware).
An example of the relationship of John Quillinan with
other wine traders is documented in a case in which he was
involved as an attorney-in-fact for another British trader his ex-partner - who in the meantime had gone bankrupt,
in a case concerning the warehousing of some wine barrels
which belonged to the said trader and which were deteriorating due to having been stored in unsuitable conditions25, and he is referred to in the 1824-1825 Almanach
Portuguez (Portuguese Almanac), in the chapter “Foreign
Traders in the City of Oporto”, as residing in Rua da Ferraria de Cima26.
A few years later and in his seventies, he made out his
will on 17 August 1826, in which he recognised the paternity of his three natural children: Henry Lawson Quillinan,
Maria Isabel Quillinan and Luís Quillinan and in which he
divided his goods in the following manner:
· To his daughter Anne Quillinan Fox and her children
he left the house at 19 Essex Street, Strand, County of
Middlesex, London;
· To his son-in-law Benjamin Fox he left in perpetuity the
property of the house specified in the previous item;
· To his daughter Anne Quillinan Fox, husband and
children he waived any monetary debt;
· To his son Edward Quillinan he left 100 pounds in
cash;
· To his son John Quillinan he left 3$200 réis in cash;
· To the same he waived any monetary debt;
· To his son João Tomás Quillinan he left the property
specified as “South Lissiniska as Rathfeeda”, in the
county of Limerick;
108
gurados por uma provisão à parte do testamento. O perdão das
dívidas aos filhos Anne e John indicia que estes talvez recorressem com frequência à generosidade paterna e, de entre os
legados em dinheiro, destaca-se pela parcimónia o legado deixado ao filho John – incrivelmente pequeno quando comparado com o deixado ao caixeiro e ainda mais pequeno quando
comparado com o deixado à governanta27. Causa alguma estranheza os poucos legados deixados a criados/criadas e outros
empregados, o que talvez indicie que o seu número fosse reduzido, mas destaca-se a grande quantia de dinheiro deixada à
governanta, o que talvez se justifique se pensarmos que essa
senhora pode muito bem ser mãe de um dos seus filhos naturais – Luís de Quillinan, a que adiante nos referiremos.
John Quillinan viria a falecer pouco mais de um mês
depois, a 23 de Setembro, na sua casa da referida rua da Ferraria de Cima, freguesia da Vitória, com os Sacramentos
da Penitência e Extrema-Unção, sendo sepultado na Igreja
da dita freguesia28. O patriarca da família em Portugal teve
sete filhos conhecidos, existindo actualmente descendência
de, pelo menos, dois deles em Inglaterra, Portugal e Brasil.
Conheçamos agora três desses filhos.
· To the same he left the remains of his estate;
· To his natural son Henry Lawson Quillinan he left 800
pounds to be paid upon attaining 21 years of age;
· To the same he left 40 pounds annually to be paid for
his education;
· To the governess Maria Joaquina de Jesus he left 400
thousand réis;
· And to the clerk João Tomás da Cunha he left 24 thousand réis.
The will thus enables us to realise that at the end of his
life, John Quillinan possessed properties in London (the
house where he probably would have lived when he stayed
there), in Ireland and in Oporto. The child who benefitted
most from the will was undoubtedly João Tomás, but he
was also the one given the greatest responsibilities, since
besides being a witness to the wishes of his father, he was
also given the care of his three half-brothers and sisters,
who were still minors when his father died (Henry was
14, Maria Isabel 5 and Luís just 2 years old). The money
to raise and educate these children was also assured by
John Quillinan as can be seen by comparing the amount
Edward Quillinan – o Soldado Poeta
Edward nasceu do primeiro casamento de seu pai, diz-se que no Porto, a 12 de Agosto de 179129. Apenas com
7 anos, partiu para Inglaterra para receber a sua primeira educação, como, aliás, era costume não só entre a comunidade
britânica residente no nosso país, mas também entre muitas
famílias da nobreza e burguesia nacionais30. Aí, frequentou
inicialmente a escola católica de Sedgley Park, onde havia de
permanecer muito pouco tempo, tendo passado depois para
Bornheim House, Carshalton, que era então um colégio dominicano, onde esteve matriculado durante alguns anos.
109
of money left to his sons Edward and Henry (although the
latter was only to receive his 800 pounds upon reaching
the age of 21). The upkeep of the two youngest natural
children was assured by a provision within the will. The
waiving of the debt of his children Anne and John suggests that they made frequent use of his paternal generosity and, amongst the financial amounts, of note is the parsimonious amount left to the son John - which is incredibly small when compared to that left to the clear and even
smaller when left compared to that left to the governess27.
The small number of inheritances awarded to the servants
Por volta de 1805, regressou a Portugal para se iniciar nos
negócios do pai, ocupando-se da contabilidade da sua casa
comercial. Devido aos acontecimentos políticos atrás referidos, acompanhou a família para Inglaterra em 1808. Aí,
alistou-se no exército, tendo ocupado sucessivamente o posto
de corneteiro, e de lugar-tenente, tendo participado em 1814
na batalha de Toulouse, em que o exército aliado (britânico,
português e espanhol) venceu o exército francês comandado
por Soult, tendo-lhe essa participação valido uma Medalha de
Honra.
A par da sua actividade militar, que haveria de abandonar
definitivamente em 1821, Edward Quillinan, à semelhança
de Camões que tanto admirava, desenvolveu a sua veia poética. Terá sido durante a sua estadia na base militar de Canterbury, que compôs a elegante, mas mordaz sátira intitulada “Ball-Room Votaries” (1810), ao mesmo tempo que se
afirmava como um dos principais colaboradores de um jornal local intitulado The Whim (1810-1811), onde publicou
um poema que acabou por o envolver em dois ou três duelos. Fixou-se, de seguida, em Lee Priory, encetando uma duradoura relação de amizade com Sir Samuel Egerton Brydges,
proprietário da casa editora responsável pela publicação
de três das suas obras poéticas: Dunluce Castle (1814, a sua
obra mais importante), Monthermer (1815) e The Sacrifice of
Isabel (1816). As relações literárias com Sir Brydges terão
favorecido o conhecimento da sua família e, de forma particular, com uma das suas filhas, com quem Edward Quillinan
veio a casar a 4 de Fevereiro de 1817.
A noiva era Jemima Anne Deborah Brydges e tinha 24
anos. Filha, como já se disse, de Sir Samuel Egerton Brydges,
proprietário da “Lee Pryory Press” e um famoso poeta, bibliográfo, bibliófilo e genealogista, e de sua mulher Elizabeth
Byrche31 – prima de Jane Austen e descendentes ambas da
and other employees is also somewhat strange, perhaps
indicating that their number had been reduced, but the
large amount left to the governess is also noteworthy, but
perhaps understandable if we think that this lady may well
have been the mother of one of his natural children - Luís
de Quillinan, mention of whom will be made below.
John Quillinan would pass away a little more than one
month later, on 23 September, in his above mentioned
house in Rua da Ferraria de Cima, parish of Vitória, after
receiving the Sacraments of Penance and Extreme Unction, and was buried in the Church of that parish28. The
patriarch of the family in Portugal had seven known children, leaving descendants in England, Portugal and Brazil.
We will now consider three of these children.
Edward Quillinan – the soldier poet
Edward was born during his father’s first marriage,
on 12 August 1791 in Oporto29. When just 7 years of age,
he left for England to undertake his education, as was the
custom not only amongst the British community resident in our country, but also amongst many Portuguese
bourgeois and noble families.30 There he initially attended
Sedgley Park Catholic school, where he did not stay for
long, moving to Bornheim House, Carshalton, which was
then a Dominican College, from where he matriculated
some years later.
Around 1805 he returned to Portugal to start working
in his father’s business doing the accounts of the company.
Due to the aforementioned political events, he accompanied his family to England in 1808. There he enlisted in the
army, and went from being a bugler to the rank of acting-lieutenant and participated in the 1814 battle of Toulouse, in which the Allied Army (British, Portuguese and
110
Rainha Maria Tudor e do 1.º Duque de Newcastle, William
Cavendish.
A união durou apenas aproximadamente 5 anos, pois a
25.05.1882, Jemima Brydges morreu, vítima de um trágico
acidente que ficou celebrizado pela pena do não menos conhecido William Wordsworth, amigo do casal. Jemima morreu
queimada quando os seus vestidos se incendiaram numa das
lareiras da sua casa. Embora breve, da união nasceram duas
filhas – Jemima e Rotha Quillinan que haveriam de morrer
sem descendência.
Embora a relação de amizade que mantinha com a família
Wordsworth fosse já de longa data (como atesta a vasta correspondência trocada com vários membros daquela família, conservada em vários museus e bibliotecas britânicos), Edward
Quillinan só em 1841 (a 11 de Maio) veio a casar com Dorothy Worsdworth (mais conhecida pelo petit nom de Dora),
que, seguindo a linha familiar, era também ela uma mulher
muito culta e dada às letras. Cultivava a poesia e publicou uma
interessante narração da viagem que, por motivo da tuberculose que lhe foi diagnosticada e por conselho médico, fez com
seu marido à Península Ibérica entre 1845 e 1846, intitulada
A Journal of a Fero Months, Residence in Portugal and Glimpses
of the south of Spain (184732). Nessa espécie de diário, Dora
Wordsworth descreve a sua estadia no Porto, a visita a Lisboa e os locais de Espanha que mais a impressionaram (Sevilha, Allambra, etc.). Existem documentos relativos à estadia
do casal no Porto, uma vez que foram várias vezes convidados para jantar na Factory House daquela cidade33. A viagem
não se revelou, contudo, suficiente para curar Dora que acabou por falecer em Rydal Mount – hoje transformado em casa-museu, a 9 de Julho de 1847.
Para além da obra poética de Edward Quillinan já referida, ele também se dedicou à narrativa, publicando em
111
Spanish) defeated the French Army commanded by Soult,
and for his services during this battle he was awarded the
Medal of Honour.
Along with his military activity, which he would
finally leave in 1821, Edward Quillinan, in a similar manner to Camões, whom he so admired, would develop his
poetic side. During his stay at the military base in Canterbury, he composed the elegant but biting satire entitled “Ball-Room Votaries” (1810), at the same time as he
became one of the main contributors to a local newspaper entitled The Whim (1810-1811), where he published a
poem which ended up involving him in two or three duels.
He then moved to Lee Priory, embarking on a long-lasting
friendship with Sir Samuel Egerton Brydges, the owner of
the publishing house responsible for publishing three of
his poetic works: Dunluce Castle (1814, his most important work), Monthermer (1815) and The Sacrifice of Isabel
(1816). This literary relationship with Sir Brydges led to
meeting his family and, in particular, one of his daughters with whom Edward Quillinan would marry on 4 February 1817.
The bride was Jemima Anne Deborah Brydges and
was 24 years of age. Daughter, as already indicated, of Sir
Samuel Egerton Brydges, owner of “Lee Pryory Press” and
a famous poet, bibliographer, bibliophile and genealogist,
and his mother Elizabeth Byrche31 – cousin of Jane Austen
and both descendants of Queen Maria Tudor and the 1st
Duke of Newcastle, William Cavendish.
The marriage lasted only 5 years, since on 25.05.1882,
Jemima Brydges died, the victim of a tragic accident which
was to be celebrated in verse by the well-known William
Wordsworth, friend of the couple, who composed an epitaph. Jemima died through burns suffered when her
1841, uma enorme novela em três volumes intitulada
Os Conspiradores, na qual relata a vivência do seu serviço militar com Wellington, e uma outra novela de menor
dimensão - As Irmãs do Douro - que também tem como pano
de fundo o período da guerra liberal e que foi traduzida pela
primeira vez para português e publicada no nosso país em
2006, com introdução do Prof. Doutor Manuel Gomes da
Torre. Ocupou-se também na tradução de importantes obras
portuguesas para inglês (tendo traduzido parte d’Os Lusíadas34 e a História de Portugal de Alexandre Herculano, que
deixou em parte inédita), e na crítica literária, sendo autor
de várias recensões críticas, sobretudo de literatura estrangeira. Depois da sua morte, as suas poesias originais foram
recompiladas e publicadas por William Johnston, o editor de
seu sogro. A obra literária de Edward Quillinan constituiu já
tema para trabalhos científicos entre nós, sendo de destacar
os de Manuel Gomes da Torre, Miguel Alarcão e Silva e João
Paulo Silva35.
Sobre o aspecto físico de Edward Quillinan, alguém escreveu: “não [era] grande em estatura, mas refinado e com algo
de distinto na aparência” e outro alguém que esteve presente
num pequeno-almoço oferecido pelos Wordsworth em honra
de Sir Walter Scott, em Agosto de 1825, comentou: “num
vasto conjunto de homens e mulheres vulgares... pequeno
Quillinan ... a única figura gentil”36. Já sobre o seu temperamento, pouco depois da sua morte, Joaquim Heliodoro da
Cunha Rivara dizia: “Era homem de génio desinteressado,
dominado por afectos fortes e ternos, e o seu fraco consistia
em certa excitabilidade e agitação, que bem indicava que lhe
corria nas veias sangue irlandês”37.
Morreu a 08 de Julho de 1851, tendo sido sepultado junto
da família Wordsworth, no cemitério de St. Oswald, em Grasmere Church38.
clothes caught light from one of the fireplaces of her
house. Although brief, the marriage had produced two
daughters - Jemima and Rotha Quillinan - who would die
without producing any heirs.
Although the friendship which existed with the Wordsworth family had been a long one (as shown by the vast correspondence exchanged between various members of that
family, which is preserved in several British museums and
libraries), Edward Quillinan would only marry Dorothy
Wordsworth (better known through her nickname of Dora)
on 11 May 1841. In keeping with her family, Dora was also
a very educated and literary woman. She produced poetry
and published an interesting narrative of a journey she had
undertaken with her husband, due to the tuberculosis which
she contracted and the resulting medical advice to recuperate, in 1845 e 1846, entitled A Journal of a Few Months’ Residence in Portugal and Glimpses of the south of Spain (1847).32
In this type of diary, Dora Wordsworth described her visit to
Oporto, Lisbon and the places in Spain which left the greatest impression on her (Seville, Alhambra, etc.). Documents
exist relating to the couple’s visit to Oporto, given that they
were often invited to dinner at the Factory House of that
city.33 The journey did not however prove sufficient to cure
Dora who passed away at Rydal Mount (now transformed
into a house-museum) on 9 July 1847.
In addition to the poetic works by Edward Quillinan
which have already been mentioned, he also published narrative, including an enormous three-volume novel in 1841
entitled The Conspirators, which tells of the time of his military service with Wellington, and, on a smaller scale, another
novel - The Sisters of the Douro - which also uses the period
of the Liberal Wars as its background and which was translated into Portuguese and published for the first time in
112
João Tomás de Quillinan – o Sucessor
João Tomás era filho do primeiro casamento de seu pai e
nasceu no Porto, a 20 de Junho de 179639. Tendo sensivelmente 12 anos quando a sua família partiu para Londres, é
muito natural que aí tivesse continuado os estudos antes iniciados no Porto ou então que já aí se encontrasse a estudar.
Deve ter acompanhado seu pai no regresso a Portugal e foi ele
que, embora não sendo o filho mais velho (tinha dois irmãos
mais velhos – Edward e John) lhe sucedeu nos negócios,
podendo nós supô-lo inteiramente independente e com casa
montada depois de 1826, ano da morte de seu pai. De entre
todos os irmãos, talvez fosse João Tomás o mais responsável
e aquele no qual seu pai o garante da sua sucessão. Lembremos que o nomeou testamenteiro das suas últimas vontade e
recomenda-lhe a protecção de seus três meios-irmãos.
Sabe-se que em 1833, vivia nos n.os 4 e 5 da Rua das Virtudes (então freguesia de Cedofeita), e que no ano seguinte
foi eleito membro da British Association40, datando desse
mesmo ano a conhecida gravura da Rua Nova dos Ingleses,
feita pelo Barão de Forrester, em que João Tomás de Quillinan
figura juntamente com as mais destacadas figuras da comunidade britânica do Porto (algumas das quais também ligadas ao comércio e fundadoras do conhecido Club Portuense
– Clamouse Brown e Domingos Ribeiro de Faria, p. ex.). Na
gravura, João Tomás é tão só a primeira figura representada
ao lado esquerdo. A sua presença em tal representação não é
para estranhar não só porque, pertencendo à comunidade britânica, se dedicava à actividade comercial naquela cidade, mas
também porque entre ele e Forrester existia uma forte relação
de amizade, sendo João Tomás de Quillinan frequentemente
convidado para jantar na “sua casa luxuosa na Ramada Alta
- cito Camilo Castelo Branco – confluente dos próceres portuenses e da província vinícola”, onde se juntavam “Titulares,
113
2006, with an introduction by Professor Manuel Gomes da
Torre. He also busied himself translating important literary
works into English (having translated part of Os Lusíadas34
and the História de Portugal by Alexandre Herculano, which
was left partially unedited), and literary criticism, being
the author of a number of critical appreciations of literary
works, mainly concerning foreign literature. After his death
his original poetry was recompiled and published by William Johnston, his father-in-law’s editor. The literary work
of Edward Quillinan has already been the subject of various
academic studies, those of note being by Manuel Gomes da
Torre, Miguel Alarcão e Silva and João Paulo Silva35.
As regards the physical aspect of Edward Quillinan,
it was written: “he [was] not great in stature, but refined
and with a distinctness of appearance” and another person present at a breakfast offered by Wordsworth in honour of Sir Walter Scott in August 1825 commented: “out of
a vast array of ordinary men and women... petit Quillinan
...was the only distinguished figure”36. With regard to his
temperament, Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara wrote,
shortly after his death: “He was a man of disinterested
genius, dominated by strong and tender emotions, and his
weakness consisted of a certain excitability and agitation,
which demonstrated well the Irish blood coursing through
his veins”.37
He died on 8 July 1851, and was buried alongside the
Wordsworth family in the cemetery of St. Oswald in Grasmere Church38.
João Tomás de Quillinan – the successor
João Tomás was a son from his father’s first marriage
and was born in Oporto on 20 June 179639. He was 12
years old when his family left for London, and it is nat-
desembargadores-conselheiros, ministros de Estado honorários, os maiores proprietários do Douro, e poetas arcádicos
de pacotilha, que faziam ditirambos ao jantar”41. Foi, aliás,
num desses jantares que João Tomás recitou “com uma sentimentalidade plangente e lânguida, toda feita de moscatel de
1830” o episódio de Inês de Castro, de Camões, provocando
o riso de alguns dos presentes. E é ainda a propósito desses
jantares que Camilo o apresenta como um “ateu esclarecido”
(embora católico...) que escutava as discussões teológicas dos
convivas abade de Macieira e Visconde de Azevedo sobre a
hipótese de Virgílio ter profetizado o advento de Jesus Cristo
com o seu “nascenti puero”, ao que João Tomás, “sublinhando
o sorriso herético, perguntava se o nascenti puero virgiliano
não seria o filho de Asinio Polião, herdeiro de Augusto, e protector do Poeta da Eneida.
Embora pouco saibamos sobre a sua actividade comercial,
a João Tomás de Quillinan faz referência o “Almanaque do
Porto” para o ano de 1838 no capítulo “Negociantes Estrangeiros”, como sendo morador na Rua de Cedofeita, n.º 290,
tendo desempenhado o importante cargo de Director da
Associação Comercial.
Até nós chegaram bastantes mais indícios da sua faceta
social, delineando o perfil de um homem perfeitamente integrado na sociedade portuense oitocentista. Foi, por exemplo,
Director da Assembleia Portuense – antecedente do Club Portuense42 – e accionista, em 1841, do Teatro de St.ª Catarina
a par com António Bernardo Ferreira, filho da Ferreireinha.
Sabemos que foi convidado e esteve no baile que a British
Association ofereceu em honra do Rei D. Pedro V e do ainda
então Príncipe D. Luís (futuro D. Luís I), a 2 de Setembro de
1861 – durante a visita da Família Real ao Porto para inaugurar a grande Exposição Industrial; figurando igualmente na
longa lista dos cidadãos de destaque da cidade do Porto, que a
ural of course that he would have continued his studies
there, which he had up to then undertaken in Oporto. He
accompanied his father on his return to Portugal and it
was he who, whilst not being the eldest child (he had two
elder brothers - Edward and John) who took over his business activities, and as far as we can discern, ran them on
his own, setting up his own house after 1826, the year of
the death of his father. Out of all his siblings, João Tomás
was perhaps the most responsible and the one to whom
his father entrusted his goods. We should remember that
his father had nominated him guardian of his three half-brothers-and-sisters in his will.
It is known that in 1833 he lived at numbers 4 and
5 Rua das Virtudes (which was then part of the parish of Cedofeita), and that in the following year he was
elected a member of the British Association40, the same
year as the well-known painting of Rua Nova dos Ingleses
by Baron Forrester, in which João Tomás de Quillinan
figures along with the main figures within the Oporto
British Community (some of whom were also linked to
commerce and founders of the well-known Club Portuense – such as Clamouse Brown and Domingos Ribeiro
de Faria). In the painting, João Tomás is actually the
first figure depicted on the left-hand side. His presence
in such a work is not surprising given that he belonged
to the British Community, he was involved in the commercial activity of the city, but also because there was a
strong bond of friendship between him and Forrester,
with João Tomás de Quillinan often being invited to
dine in his “luxurious house in Ramada Alta” - according
to Camilo Castelo-Branco – “a gathering point for magnates from Oporto and the wine-growing region”, along
with “Nobles, Supreme Court Judges/Advisors, honorary
114
Minsters of State, the greatest landowners in the Douro,
and trumped-up Arcadian poets producing their dithyrambi during dinner.”41 It was in fact at one of these dinners that João Tomás recited “with a loud, languid and
tremulous sentimentality, due in no small part to 1830
Moscatel wine” the episode of Inês de Castro, by Camões,
provoking laughter in some of those present. And it was
also as a result of one of these dinners that Camilo introduced himself as an “enlightened atheist” (although
Catholic...) who listened to the theological arguments
of the guests, the abbot of Macieira and the Viscount of
Azevedo regarding the hypothesis that Virgil had prophesised the coming of Jesus Christ with his “nascenti puero
(birth of the boy)”, to which João Tomás “with his heretical smile, asked if the nascenti puero of Virgil could not be
the son of Gaius Asinius Pollio , the heir of Augustus and
the Protector of the Poet of the Aeneid.
Although little is known of his commercial activity,
João Tomás de Quillinan is mentioned in the 1838 Oporto
Almanac in the chapter “Foreign Traders”, as living at Rua
de Cedofeita, No. 290, and carrying out the important
post of Head of the Commercial Association.
Many more references to his social life have come
down to us, to give a profile of somebody perfectly integrated into 19th Century Society life in Oporto. He was,
for example, the Director of the Assembleia Portuense - the
23 de Junho de 1862, se reuniram para decidir a forma como
homenagear D. Pedro IV.
Tendo em consideração as “circunstância que concorriam na sua pessoa e os serviços que havia prestado ao país”,
recebeu da Rainha D. Maria II a comenda da Real Ordem de
N.ª Sr.ª da Conceição de Vila Viçosa (carta de 7 de Julho de
1852)43.
115
forerunner of the Club Portuense42 - and 1841 a shareholder
in the Teatro de St.ª Catarina along with António Bernardo
Ferreira, the son of Ferreireinha. We know that he was
invited and present at the ball which the British Association offered in honour of King Pedro V and the then Prince
Luís (the future King Luís I), on 2 September 1861 – during the visit of the Royal Family to Oporto to open the
Fez testamento a 10 de Setembro de 1863, sendo morador
na Rua Formosa44, pelos quais deixou os seguintes legados:
Industrial Exhibition; he also figured amongst the illustrious figures of the city who met on 23 June 1862 to decide
on the best way of paying tribute to King Pedro IV.
· A cada um dos seus dois testamenteiros deixou 350$000
réis;
· Ao Asilo de Primeira Infância Portuense deixou 100$000
réis;
· Ao Asilo da Mendicidade deixou 100$000 réis;
· Ao Asilo dos Meninos Desamparados deixou 100$000
réis;
· Ao Asilo das Meninas Desamparadas deixou 100$000
réis;
· Ao Asilo das Raparigas Abandonadas deixou 100$000
réis;
· Ao seu escriturário Henrique Ribeiro de Carvalho deixou
450$000 réis;
. Ao seu outro escriturário Ernesto Courrege deixou 450$000
réis;
· Ao seu caixeiro António José da Costa Guimarães deixou
1 700$000 réis;
· Ao filho do seu caixeiro Alfredo da Costa Guimarães (no
caso de falecimento do pai) deixou 450$000 réis;
· Ao outro filho do seu caixeiro Alberto da Costa Guimarães
(no caso de falecimento do pai) deixou 450$000 réis;
· Ao seu afilhado Adeodato Joaquim da Silva Lima perdoou
qualquer dívida em dinheiro;
· Ao filho mais velho deste afilhado, Alberto Q. da Silva
Lima, deixou 900$000 réis;
· Aos restantes cinco filhos daquele afilhado deixou 350$000
réis a cada um;
· À sua cunhada D. Ana Francisca (viúva de seu irmão John)
deixou uma pensão mensal vitalícia no valor de 8$000
réis;
Taking into consideration the “circumstances regarding himself and the services which he had rendered to
the country”, he received the commendation of the Royal
Order of Our Lady of Conceição of Vila Viçosa from Queen
Maria II (in a letter dated 7 July 1852)43.
He made his will on 10 September 1863, whilst living at Rua Formosa44, in which he made the following
bequests:
· To each of the executors of his will he left 350$000
réis;
· To the Asilo de Primeira Infância Portuense (The Oporto
Institution of Young Childhood) he left 100$000 réis;
· To the Asilo da Mendicidade (The Institution for the
Poor) he left 100$000 réis;
· To the Asilo dos Meninos Desamparados (The Institution for Destitute Boys) he left 100$000 réis;
· To the Asilo das Meninas Desamparadas (The Institution for Destitute Girls) he left 100$000 réis;
· To the Asilo das Raparigas Abandonadas (The Institution for Abandoned Girls) he left 100$000 réis;
· To his bookkeeper Henrique Ribeiro de Carvalho he
left 450$000 réis;
· To his other bookkeeper Ernesto Courrege he left
450$000 réis;
· To his clerk António José da Costa Guimarães he left 1
700$000 réis;
· To the son of his clerk, Alfredo da Costa Guimarães
(in the event of his father’s death) he left 450$000
réis;
116
· À sua irmã D. Maria Isabel de Quillinan Vieira (viúva) deixou uma pensão mensal vitalícia no valor de 10$000 réis;
· À sua filha D. Maria Emília de Quillinan da Silva Machado
deixou todo o remanescente de sua herança.
· To the other son of his clerk Alberto da Costa Guimarães (in the event of his father’s death) he left
450$000 réis;
· To his godson Adeodato Joaquim da Silva Lima he
waived any financial debt;
Como se vê, João Tomás de Quillinan deixou legados bem
mais generosos do que seu pai, ascendendo os mesmos a mais
de 6 contos de réis (uma soma muito considerável para a
época) entre legados deixados a parentes e testamenteiros, a
instituições de caridade da cidade do Porto, afilhados e antigos funcionários (um caixeiro que o havia sido “por muitos
anos” e dois escriturários, o que comprova a manutenção da
sua actividade comercial até ao final da sua vida). A falta de
referência a qualquer legado destinado a pessoal doméstico
talvez se justifique por o testador se encontrar, à data da elaboração do testamento a viver já na companhia de sua filha
e genro, onde aliás, viria a falecer a 18 de Dezembro daquele
mesmo ano.
Pensamos que com João Tomás de Quillinan acabou também a actividade comercial da família uma vez que teve uma
única filha mulher e que seu genro foi Chanceler-Secretário,
Vice-Cônsul e Cônsul de Espanha em Matosinhos e no Porto,
não se dedicando ao comércio. É de João Tomás de Quillinan
que existe actualmente descendência da família em Portugal
e no Brasil.
· To the oldest child of this godson, Alberto Q. da Silva
Lima, he left 900$000 réis;
· To the other five children of this godson he left
350$000 réis to each one;
· To his sister-in-law D. Ana Francisca (widow of his
brother John) he left a monthly pension for life of
8$000 réis;
· To his sister D. Maria Isabel de Quillinan Vieira (widow)
he left a monthly pension for life of 10$000 réis;
· To his daughter D. Maria Emília de Quillinan da Silva
Machado he left all the remains of his estate.
As can be seen, João Tomás de Quillinan left bequests
which were much more generous than his father’s, totalling more than 6 contos de réis (quite a considerable sum
at the time) for bequests left to relatives and executors,
charitable institutions in the city of Oporto, godchildren
and former employees (a clerk in service for “many years”
and two bookkeepers, which proves that he was engaged
in business activities until the end of his life). The lack of
reference to any bequest for domestic servants is perhaps
Luís de Quillinan – o Militar Diplomata
Conheçamos, por fim, o filho mais novo de John Quillinan
– de seu nome Luís de Quillinan. Era, ao contrário dos irmãos
Edward e João Tomás, de que já tratámos, um filho natural.
Nasceu na freguesia de N.ª Sr.ª da Vitória, no Porto, a 10 de
Agosto de 1824, sendo portanto um filho tardio. Depois da
morte de seu pai, foi nomeado seu tutor António José Rodri117
explained by the fact that when the will was made he was
living with his daughter and son-in-law, and this was the
place in which he passed away, later that same year.
We think that the end of João Tomás de Quillinan’s
business activities also marked the end of the family’s
given that he only had one female heir and that his son-in-law was the Chancellor-Secretary, Vice-Consul and Con-
sul of Spain in Matosinhos and in Oporto, and was not
involved in commerce. It is descendants of João Tomás de
Quillinan’s side of the family who are currently living in
Portugal and in Brazil.
Luís de Quillinan – the military diplomat
Let us finally get to know the youngest son of John
Quillinan – named Luís de Quillinan. He, as opposed to
his brothers Edward and João Tomás, whom we have
described above, was an illegitimate child. He was born in
the parish of Our Lady of Vitória, in Oporto on 10 August
1824, and was thus born late on in the life of his father.
After the death of his father, his nominated guardian
António José Rodrigues Fartura sent him to the orphanage known as the Colégio dos Meninos Órfãos, where he
spent two years, after which he was given a home by his
brother João Tomás, in compliance with a request made
by John Quillinan in his will.
As an adolescent he was sent to London to carry out
his preparatory studies (as had been the case with his
elder brother Edward and probably also with João Tomás),
returning some years later to study at the Faculty of Law
of the University of Coimbra, from where he graduated.
However, we can state that his two major occupations
gues Fartura, que o mandou para o Colégio dos Meninos
Órfãos, onde esteve dois anos, sendo depois recolhido por seu
irmão João Tomás, cumprindo um pedido e desejo expresso
por John Quillinan no seu testamento.
Em adolescente foi enviado para Londres para fazer os
seus estudos preparatórios (tal como acontecera com seu
irmão mais velho Edward e provavelmente também com João
Tomás), regressando anos depois para frequentar a Faculdade de Direito na Universidade de Coimbra, onde se licen-
were his military career and then his diplomatic one.
Whilst still a young student he joined the French Army
fighting against Abd-el-Kadir in the Holy War which the
latter had set in motion. A little time afterwards he joined
in the revolt of 9 October 1846 against the Duque da Terceira, serving as an Aide-de-Camp for the Conde das Antas,
who was the military commander of the revolt and who
presided over the temporary ruling Government which had
José Passos as its Vice-President. As is known the revolt
118
ciou. Mas podemos dizer que as suas duas grandes ocupações
foram a carreira militar e a diplomacia.
Ainda enquanto jovem estudante, incorporou o exército
francês que lutou contra Abd-el-Kader na Guerra Santa que
este desencadeara. Pouco tempo depois, por cá, participava
na revolta de 9 de Outubro de 1846 contra o Duque da Terceira, servindo como Ajudante de Campo do Conde das Antas,
que comandou militarmente a revolta e presidiu à Junta de
Governo que tinha José Passos como vice-presidente. Sabe-se
como a revolta acabou por sair lograda sobretudo devido à
intervenção britânica. Luís de Quillinan voltou então a Coimbra para terminar o seu curso. No ano em que o terminou,
1851, haveria de empunhar de novo a espada. Desta feita,
comandado pelo Duque de Saldanha. Alistou-se em Lanceiros 2, sendo logo promovido a alferes e sendo imediatamente
nomeado ajudante de Saldanha. Quando os ânimos acalmaram, foi para França, onde fez um curso de ciências militares;
escreveu uma obra de hipologia (tratado ou estudo sobre a
raça cavalar) e tomou parte na campanha da Argélia contra os
árabes. Viria mais tarde a ascender ao posto de Major e depois
a General de Brigada, em que se reformou.
Voltando à pátria, voltou também ao Regimento de Lanceiros e à situação de ajudante do Duque de Saldanha, abraçando pouco depois a carreira diplomática. Nela desempenhou
variados cargos, tendo começado como 2.º adido à legação de
Copenhague e Estocolmo, sendo depois secretário da legação
de Madrid, encarregado de negócios em Viena, 1.º adido no
Rio de Janeiro, Paris e Roma e finalmente em Londres. A sua
actividade diplomática em Londres proporcionou-lhe, aliás,
contacto com um dos maiores vultos da nossa literatura – Eça
de Queirós –, o qual foi substituir, conservando-se correspondência vária trocada entre ambos, dando conta dos encontros
mantidos na fase de transição45.
119
was successfully above all due to British intervention. Luís
de Quillinan thus returned to Coimbra to finish his degree.
He finished in 1851 and in the same year had once again
to wield his sword. This time, commanded by the Duque de
Saldanha. He enlisted in the 2nd Lancers and was soon promoted to second lieutenant and immediately nominated as
an aide-de-camp to Saldanha. When things calmed down
he went to France, where he did a course in Military Sciences, wrote a work on hypology (a treatise or study on the
cavalry breed) and became part of the Algerian campaign
against the Arabs. He would later rise to the post of Major
and then Brigadier-General, his rank upon retirement.
Returning to his country, he also returned to the Lancers Regiment and the post of aide-de-camp to the Duque
de Saldanha, to shortly afterwards embark on a diplomatic
career. He occupied several positions, starting as the 2nd
attaché to the delegation in Copenhagen and Stockholm,
and was then secretary of the delegation in Madrid, commercial attaché in Vienna, 1st attaché in Rio de Janeiro,
Paris, Rome and finally in London. His diplomatic activity in London also brought him into contact with one of
the greatest figures in Portuguese literature – Eça de Queirós - whom he substituted, and kept the correspondence
exchanged between the two, and recording the meetings
during the transition phase45.
This posting is also connected with the well known
controversy which he entered into with a Member of the
British House of Commons, Jacob Bright. This event is in
fact one of the most well-known and disseminated parts
of the biography of Luís de Quillinan. What happened was
that this radical and liberal Member of Parliament had,
during one of the British Parliamentary Sessions in April
1883, expressed an opinion regarding Portugal, likening it
E está também relacionada com essa estadia a conhecida
polémica que travou com um membro da britânica Câmara
dos Comuns, Jacob Bright. Esse acontecimento é, aliás, um
dos mais conhecidos e divulgados da biografia de Luís de
Quillinan. A situação foi que esse deputado radical-liberal
pronunciou-se, numa das sessões do parlamento britânico
em Abril de 1883, sobre Portugal, caracterizando-o como um
país na bancarrota e de esclavagistas. O patriotismo de Luís
de Quillinan reagiu à afronta e desafiou publicamente o dito
deputado através de uma carta que causou brado e pela qual
viria a ser admoestado pelo Ministério do Reino. A atitude
de Quillinan recebeu, contudo, da sociedade portuguesa um
grande aplauso que se traduziu num movimento nacional
de ovação, considerado por Rui Ramos como uma das grandes manifestações de patriotismo anti-britânico do final do
século XIX46. As manifestações de aplauso concretizaram-se
nas mais variadas formas, mas sobretudo: através de cartas e de telegramas de felicitações feitos em nome individual
por personagens tão conhecidos do Portugal de então como:
Mouzinho de Albuquerque, Paiva Couceiro, Guilherme Ferreira Pinto Basto ou Rafael Bordalo Pinheiro; ou de grupos
de pessoas (os oficiais do Regimento de Cavalaria n.º 4 ou os
alunos de engenharia militar da escola do exército). Apenas
num mês, Luís de Quillinan recebeu felicitações de 120 localidades portuguesas, tendo-lhe chegado só de Lisboa 430 mensagens e recebeu aplausos de 104 concelhos diferentes. Essas
felicitações foram reunidas em obras como, por exemplo,
A Pátria a Luíz de Quillinan. Mas também saíram números
especiais de títulos periódicos, folhetins e opúsculos dedicados ao feito do Major Quillinan. Um dos mais conhecidos é,
sem dúvida, Delenda Albion, publicada em 1883 pela Empreza
Bordallo Pinheiro e cujo autor – Lusus – não é mais do que um
pseudónimo de Henrique Lopes de Mendonça.
to a bankrupt and servile country. Luís de Quillinan’s patriotism reacted to the affront and he publicly challenged this
MP through a letter which caused a clamour and led to his
being admonished by a Minister of the Crown. However
Quillinan’s attitude received great backing from Portuguese society and caused a national movement of acclaim,
with Rui Ramos considering it one of the great manifestations of anti-British patriotism at the end of the 19th Century46. These public manifestations of acclaim occurred
in the most varied forms, but mainly through letters
and telegrams congratulating him in person sent by well-known people in Portugal such as: Mouzinho de Albuquerque, Paiva Couceiro, Guilherme Ferreira Pinto Basto
and Rafael Bordalo Pinheiro; or groups of people (the officers of the No. 4 Cavalry Regiment or the students of the
Army School of Military Engineering). In just one month,
Luís de Quillinan received congratulations from 120 Portuguese places, with 430 messages reaching him just from
Lisbon alone and acclaim from 104 different districts.
These congratulations were collected together in works
such as A Pátria a Luíz de Quillinan. Special issues of magazines, serial publications and booklets were published dedicated to Major Quillinan’s deed. Undoubtedly one of the
most well-known was Delenda Albion, published in 1883 by
the Empreza Bordallo Pinheiro (Bordalo Pinheiro Company)
whose supposed author – Lusus – was none other than a
pseudonym for Henrique Lopes de Mendonça.
In a more symbolic, but no less important act, the
Chinaware factory in Sacavém made its contribution
by producing an evocative dish with the diplomat on it;
he was also offered a “patriotic banquet” by the Oporto
Liberal Association on 26 November 1883. The menu of
course consisted of dishes bearing such patriotic names
120
as “sopa à Herculano” (Herculano soup), “filetes de peixe
à portuguesa” (Portuguese fish fillets), “lombo de vaca à
Vasco da Gama” (Vasco da Gama sirloin steak), “peru recheado à liberal” (liberal stuffed turkey), “salada à lusitana”
(Lusitanian salad), “espinafres à Garrett” (Garrett spinach) and to round off the meal the absolutely wonderful
“pudim à Quillinan” (Quillinan flan).
Luís de Quillinan’s posting to London was his last,
since he died in that city on 28 March 1904. He had married D. Maria Teotónia de Rávago Santistévan y Rios da
Guerra e Sousa, the widowed-Countess of Antas in 1855, a
descendant on her mother’s side of the Senhores de Murças.
They had a daughter who did not have children of her own.
General Luís de Quillinan was decorated numerous times
for services rendered both nationally and internationally.
We hope to have shown the manner in which the
Quillinan family integrated into Portuguese society in
general and into that of Oporto in particular, with its
members having been involved in important areas as varied as commerce, the military, literature and diplomacy, in
which, forgetting their foreign origins, they acted not only
as Portuguese individuals, but great Portuguese individuals, proving that, as Edward Quillinan once said, “home is
where the heart is”.
De uma forma mais simbólica, mas não menos importante, também a Fábrica de Louças de Sacavém se associou
à manifestação, produzindo um prato evocativo da figura do
diplomata, ao qual, a 26 de Novembro de 1883, também foi
oferecido um “banquete patriótico” pela Associação Liberal
Portuense. Do menu constam, como não poderia deixar de
ser, pratos com nomes tão patrióticos como “sopa à Herculano”, “filetes de peixe à portuguesa”, “lombo de vaca à Vasco
121
NOTES
1
On this secular relationship see for example: Macaulay, Rose, Ingleses
em Portugal MACAULAY, Rose – The English in Portugal. Oporto: Civilização, 1950. Translated to Portuguese by Maria Fernanda Gonçalves e
Álvaro Dória. VARELA, Consuelo - Ingleses en España y Portugal: 14801515 – aristócratas, mercadores y impostores (The English in Spain and
Portugal: 1480-1515 – aristocrats, merchants and imposters), Lisbon: Colibri, 1998; and Shaw, L. M. E. - The Anglo-Portuguese Alliance and the
English Merchants in Portugal, 1654-1810. Aldershot: Ashgate, 1998.
da Gama”, “peru recheado à liberal”, “salada à lusitana”, “espinafres à Garrett” e a terminar um, com certeza belíssimo,
“pudim à Quillinan”.
A missão em Londres foi a última de Luís de Quillinan, uma
vez que morreu nessa mesma cidade a 28 de Março de 1904.
Havia casado, em Lisboa, em 1855, com D. Maria Teotónia de
Rávago Santistévan y Rios da Guerra e Sousa, Condessa-viúva
das Antas, e descendente por sua mãe dos Senhores de Murça,
de cujo casamento nasceu uma filha que não teve descendência. Pelos serviços prestados, o General Luís de Quillinan recebeu inúmeras condecorações nacionais e estrangeiras.
Esperamos ter conseguido demonstrar deste modo o processo de integração da família Quillinan na sociedade portuguesa em geral e na portuense em particular, tendo desempenhado os seus membros em áreas tão diferentes como o
comércio, as armas, a literatura ou a diplomacia papéis tão
relevantes e em que, esquecendo as suas origens estrangeiras,
se comportaram não só como portugueses, mas como grandes portugueses, provando que, como um dia disse Edward
Quillinan “home is where the heart is”.
2
More specifically on the relationship between the British and the Port
wine trade, see: Pereira, Pedro Maria Casaes Alves - A Arquitectura do
Vinho do Porto: os Ingleses no Porto (Port Wine Architecture: the English
in Porto). Unplaced: unnamed, 1987; Ventura, Isaura Maria Roseler Os britânicos no Porto do século XIX (The British in Oporto in the 19th
Century). Oporto: unnamed, 1996. (photocopied text – Master’s thesis
in Ibero-American History); Gonçalves, Maria Guilhermina Nogueiro
de Oliveira Bessa - A Comunidade Britânica no Porto: Inter-relações
históricas, económicas, culturais e educativas. (The British Community in
Oporto: historical, economic, cultural and educational inter-relationships).
(photocopied text – Master’s thesis in Intercultural Relations). Porto:
unnamed, 2000; and Cardoso, António Barros - Baco & Hermes: o Porto
e o Comércio Interno e Externo dos Vinhos do Douro. (Bacchus and Hermes:
Oporto and External and Domestic Trade in Douro Wines), 1700-1756.
Porto: Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do
Vinho do Porto, 2003.
3
See Profecia Política Verificada no que esta sucedendo aos Portuguezes pela
sua cega affeição para com os Inglezes feita logo depois do Terremoto de 1755
(Verified Political Prophecy of what is happening to the Portuguese due to
their blind allegiance to the English enacted after the 1755 Earthquake),
printed in Madrid in 1762, with the permission of King Carlos III.
4
On this, see Azevedo, J. Lúcio de, O Marquês de Pombal e a sua Época
(The Marquês de Pombal and his Period). Lisboa: Seara Nova, 1922, maxime Chap. VII, pp. 209-242.
5
Apud Azevedo, José Lúcio de. op. cit., p. 209.
6
Idem, p. 269.
7
Idem, p. 210.
8
The nephew was António de Quillinan da Silva Machado Póvoas. The
letter currently belongs to the personal archive of Eng. Francisco Resende de Almeida e Vasconcelos Póvoas, whom we wish to thank.
9
Laughlin, Michael O. C. - The Book of Irish Families. Unplaced: Irish
Roots Cafe, 2002, p. 222.
NOTAS
1
2
Sobre essa secular relação, v. por exemplo: Macaulay, Rose - Ingleses em Portugal.
Porto: Civilização, 1950. Varela, Consuelo - Ingleses en España y Portugal: 14801515 – aristócratas, mercadores y impostores. Lisboa: Colibri, 1998; e Shaw, L. M.
E. - The Anglo-Portuguese Alliance and the English Merchants in Portugal, 1654-1810.
Aldershot: Ashgate, 1998.
Mais especificamente sobre a relação dos ingleses com o comércio do vinho do
Porto, v.: Pereira, Pedro Maria Casaes Alves - A Arquitectura do Vinho do Porto: os
Ingleses no Porto. S.l. : s.n., 1987; Ventura, Isaura Maria Roseler - Os britânicos no
Porto do século XIX. Porto: s.n., 1996 (texto policopiado – tese de Mestrado em
História Ibero-Americana); Gonçalves, Maria Guilhermina Nogueiro de Oliveira
Bessa - A Comunidade Britânica no Porto: Inter-relações históricas, económicas, culturais e educativas. Porto: s.n., 2000 (texto policopiado – tese de Mestrado em Relações Interculturais); e Cardoso, António Barros - Baco & Hermes: o Porto e o Comércio Interno e Externo dos Vinhos do Douro, 1700-1756. Porto: Grupo de Estudos de
História da Viticultura Duriense e do Vinho do Porto, 2003.
10
Today owned by the aforementioned Engineer Francisco Resende de
11
We know that the ring or signet nowadays belongs to his granddaugh-
Almeida e Vasconcelos Póvoas.
ter D. Maria Cândida de Quillinan Oom do Valle da Rocha Páris.
12
Pieces from this service are owned by his granddaughter D. Maria
Amélia de Quillinan Oom do Valle Amorim Serra.
13
Let us think, for example, of the marriage of António de Quillinan da
Silva Machado Póvoas to Dona Maria Amélia de Almeida e Vasconcelos, granddaughter of the Viscounts, Counts and Marquise of Reriz,
and of his cousin Cândida Baltar de Quillinan Machado to Inácio Constantino de Menezes Oom do Valle.
14
It was stated on his death certificate that he was “a little older or
younger than” 72 years of age when he passed away.
15
This location is mentioned on the certificate of baptism of his son João
Tomás (mentioned below).
16
Her death certificate stated that she was 32 years of age when she
passed away.
122
3
4
5
6
7
8
9
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26
27
123
V. López Cancelada, Júan - Profecia Política Verificada no que esta sucedendo aos Portuguezes pela sua cega affeição para com os Inglezes feita logo depois do Terremoto de
1755. Madrid: s.n., 1762.
V. sobre isso, Azevedo, J. Lúcio de, O Marquês de Pombal e a sua Época. Lisboa:
Seara Nova, 1922. maxime Cap. VII, pp. 209-242.
Apud Azevedo, José Lúcio de, op. cit., p. 209.
Idem, p. 269.
Idem, p. 210.
O sobrinho era António de Quillinan da Silva Machado Póvoas. A carta pertence
actualmente ao arquivo pessoal do Senhor Eng.º Francisco Resende de Almeida e
Vasconcelos Póvoas, a quem agradecemos.
Laughlin, Michael O. C. - The Book of Irish Families. s.l.:, Irish Roots Cafe, 2002, p. 222.
Hoje na posse do já referido Senhor Eng.º Francisco Resende de Almeida e Vasconcelos Póvoas.
Sabemos que o anel ou sinete pertence hoje a sua neta D. Maria Cândida de Quillinan Oom do Valle da Rocha Páris.
Existem peças desse serviço na posse de sua neta D. Maria Amélia de Quillinan
Oom do Valle Amorim Serra.
Pensamos, por exemplo, no casamento de António de Quillinan da Silva Machado
Póvoas com Dona Maria Amélia de Almeida e Vasconcelos, neta dos Viscondes,
Condes e Marqueses de Reriz, e no de sua prima D. Cândida Baltar de Quillinan
Machado com Inácio Constantino de Menezes Oom do Valle.
Diz-se no seu assento de óbito que teria “pouco mais ou menos” 72 anos de idade
quando faleceu.
Esta naturalidade consta do assento de baptismo de seu filho João Tomás (adiante
referido).
Diz-se no seu assento de óbito que tinha 32 anos quando faleceu.
A.D.P., Livro Misto da freguesia de Miragaia, Porto, M11 (1802-1844), fols. 3 e 3v.
(bob. 343).
A.D.P., Livro de Casamentos da freguesia da Vitória, Porto, C5, fol. 11v. (bob. 399).
Sobre essa época, v. Ribeiro, Jorge Martins - A Comunidade Britânica do Porto durante as Invasões Francesas 1807-1811. Porto: Fundação Eng.º António de Almeida,
1990.
Essas notas foram publicadas postumamente por William Johnston nos Poems:
by Edward Quillinan. With a Memoir by William Johnston. Londres: Edward Moxon,
Dover Street, 1853, 268 pp. Devemos o conhecimento desses escritos ao Prof.
Doutor Manuel Gomes da Torre (ilustre estudioso da obra literária de Edward
Quillinan), a quem muito agradecemos. O editor diz que as memórias não deverão
ter sido escritas antes de 1810.
A dita sociedade tinha já sido dissolvida a 31.12.1817. The Times, de 10.04.1821.
Sobre a questão, v. com interesse o folheto: Que dizem os ingleses da Revolução de
Portugal. Lisboa: Typ. Rollandiana, 1821.
Santos, Paula M. M. Leite, João Allen – Um Coleccionador do Porto Romântico. Lisboa: F.C.T., Ministério da Cultura, Instituto Português de Museus, 2005, p. 175.
Azevedo, J. Lúcio de, op. cit., p. 212.
A.D.P., JUD/TRPRT/166/12647.
FRANZINI,Marino Miguel (dir.) - Almanach Portuguez. Lisboa: Impressão Régia,
1824-1825.
Apenas a título de curiosidade, oferece-nos dizer que em 1827 – um ano depois da
morte de John Quillinan – um alqueire de trigo custava 400 réis, um de cevada,
17
A.D.P., Book of Records of the Parish of Miragaia, Porto, M11 (18021844), pps. 3 e 3v. (bob. 343).
18
A.D.P., Marriages Record Book of the Parish of Vitória, Oporto, C5, p.
11v. (bob. 399).
19
On this period, see Ribeiro, Jorge Martins - A Comunidade Britânica do
Porto durante as Invasões Francesas 1807-1811 (The British Community
in Oporto during the 1807-1811 French Invasions). Porto: Fundação Eng.
º António de Almeida, 1990.
20
These notes were posthumously published by William Johnston in the
Poems: by Edward Quillinan. With a Memoir by William Johnston. London: Edward Moxon, Dover Street, 1853, 268 pp. These writings were
brought to my attention by Prof. Doutor Manuel Gomes da Torre (an
illustrious scholar of the writings of Edward Quillinan), to whom I am
grateful. The editor states that the memoirs could not have been written before 1810.
21
The company had been dissolved by 31.12.1817. The Times, of
10.04.1821.
22
On this matter, consult the pamphlet: Que dizem os ingleses da Revolução de Portugal (What the English say about the Portuguese Revolution). Lisboa: Typ. Rollandiana, 1821.
23
Santos, Paula M. M. Leite, João Allen – Um Coleccionador do Porto
Romântico (João Allen – A Collector of Romantic Oporto). Lisboa:
F.C.T., Ministério da Cultura, Instituto Português de Museus, 2005,
p. 175.
24
25
26
Azevedo, J. Lúcio de. op. cit., p. 212.
A.D.P., JUD/TRPRT/166/12647.
FRANZINI, Marino Miguel - Almanach Portuguez. Lisboa: Impressão
Régia, 1824-1825.
27
Just out of curiosity, it is worth recording that in 1827 – one year after
the death of John Quillinan – a bushel of wheat cost 400 réis, of barley,
240 réis, corn, 360 réis, and olive oil 1000 réis (data taken from the
Granary book for the Coimbra Cathedral Chapter in 1827), such that
John Quillinan’s inheritance only enabled him to purchase 3.2 bushels
of olive oil; the clerk 24 bushels of olive oil and the governess 400
bushels, that is, 3200 litres of olive oil.
28
A.D.P., Death Registry of the Parish of Vitória, Oporto, O 4, p. 250
(bob. 401).
29
This location and date are given in a number of encyclopaedias, but we
have still not found the Baptismal record in any records of the parishes
in the city of Oporto.
30
See, for example, the case of the Pinto Basto family.
31
Maternal granddaughter of the Reverend William Egerton, Doctor
in Law, Chancellor and Prebend of Hereford, Prebend of Canterbury,
Rector of Penshurst, born in 1682, and passed away in 1737, and
of Anne Head. Paternal granddaughter of Thomas Egerton, born on
16.03.1651, and passed away on 29.10.1685, and of Hester Busby.
Maternal granddaughter of Sir Francis Head. Great-granddaughter,
through the male line, of John Egerton, 2nd Count of Bridgwater (5th
grandson of Queen Maria Tudor), born in 1623 and passed away on
28
29
30
31
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240 réis, um de milho grosso, 360 réis, e um alqueire de azeite 1000 réis (dados
constantes do Livro do Celeiro do Cabido da Sé de Coimbra, 1827 – AUC), pelo
que, com a sua herança, John Quillinan poderia comprar somente 3,2 alqueires de
azeite; o caixeiro 24 alqueires de azeite e a governanta 400 alqueires, ou seja, 3200
litros de azeite.
A.D.P., Livro de Óbitos da freguesia da Vitória, Porto, O 4, fol. 250 (bob. 401).
É esta a naturalidade e data apresentadas em várias enciclopédias britânicas, mas
o assento do seu baptismo ainda não foi por nós localizado em nenhuma das freguesias da cidade do Porto.
V., por exemplo, o caso da família Pinto Basto.
Neta materna do Reverendo William Egerton, Doutor em Leis, Chanceler e Prebendário de Hereford, Prebendário de Canterbury, Reitor de Penshurst, nascido
em 1682, e falecido em 1737, e de Anne Head. Neta paterna de Thomas Egerton,
nascido a 16.03.1651, e falecido a 29.10.1685, e de Hester Busby. Neta materna de
Sir Francis Head. Bisneta, por varonia, de John Egerton, 2.º conde de Bridgwater
(5.º neto da Rainha Maria Tudor), nascido em 1623 e falecido a 26.10.1686, e de
Lady Elisabeth Cavendish (filha de William Cavendish, 1.º Duque de Newcastle).
Este casal - Edward Brydges e Jemima Egerton - foram também bisavós da conhecida escritora Jane Austen.
Publicada depois, em 1895 em Londres por Longmans.
Delaforce, John - The factory house at Oporto. Londres: Christie’s Wine Publications, 1979, p. 34.
Tradução publicada em 1853, em Londres, por Edward Moxon.
Sobre a obra literária de Edward Quillinan, foi publicado na revista O Panorama
(04.06.1853, pp. 177-179) um artigo da autoria de J. H. da Cunha Rivara, intitulado “Eduardo Quillinan e a sua tradução ingleza dos Lusíadas de Camões”. Mais
recentemente, destacamos os estudos de Miguel Nuno Mercês de Mello de Alarcão e Silva “Edward Quillinan e Portugal” e “Home is where the Heart is: A Obra
Lusófila de Edward Quillinan”, publicado na Revista de Estudos Anglo-Portugueses,
1995, e de Manuel Gomes da Torre.
Rawnsley, Reverendo H. D. - Literary Associations of the English Lakes. Glasgow:
James MacLehose and Sons, 1901, vol. II, pp. 116 - 117.
“Eduardo Quillinan e a sua tradução ingleza dos Lusíadas de Camões”, in O Panorama, 04.06.1853, p. 178.
The Ilustred London News, de 12.07.1851, p. 74.
ADP, Livro de Baptismos de Miragaia, B2, fol. 91.
Santos, Paula M.M. Leite, op. cit., p. 177.
Castelo-Branco, Camilo - O Vinho do Porto – Processo de uma Bestialidade Inglesa.
Sintra: Colares Editora, 2005, p. 27.
V. Sousa, D. Gonçalo de Vasconcelos e - História do Club Portuense (1857-2007).
Porto; Club Portuense, 2007, pp. 26-27.
Fonseca, Francisco Bélard da - A Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de
Vila Viçosa. Lisboa: Fundação da Casa de Bragança, 1955, p. 44.
AHMP, Registo de Testamentos, BOR 0333, fol. 78v. a 80.
Matos, A. Campos - Eça de Queiroz – Correspondência I e II. Lisboa: Editorial Caminho, 2008, vol. I, pp. 104, 125 e 126.
Mattoso, José (coord.) - História de Portugal. Círculo dos Leitores, vol. VI, p. 77.
26.10.1686, and of Lady Elisabeth Cavendish (daughter of William
Cavendish, 1st Duke of Newcastle).
This couple - Edward Brydges and Jemima Egerton – were also greatgrandparents of the well-known writer Jane Austen.
32
Published afterwards, in 1895 in London by Longmans.
33
Delaforce, John, The factory house at Oporto, London: Christie’s Wine
Publications, 1979, p. 34.
34
Translation published in 1853, in London, by Edward Moxon.
35
On the literary works of Edward Quillinan, the magazine O Panorama
(04.06.1853, pp. 177-179) published an article by J. H. da Cunha Rivara entitled “Eduardo Quillinan e a sua tradução ingleza dos Lusíadas de Camões” (“Edward Quillinan and his English tradition of the
Lusíadas of Camões”). More recently of note are the studies by Miguel
Nuno Mercês de Mello de Alarcão e Silva “Edward Quillinan e Portugal” (“Edward Quillinan and Portugal”), and “Home is where the Heart
is: A Obra Lusófila de Edward Quillinan” (“Home is where the Heart is:
The Lusophile Work of Edward Quillinan), published in the Revista de
Estudos Anglo-Portugueses, 1995, and of Manuel Gomes da Torre.
36
Rawnsley, Reverendo H. D., Literary Associations of the English Lakes,
Glasgow: James MacLehose and Sons, 1901, vol. II, pp. 116 - 117.
37
“Eduardo Quillinan e a sua tradução ingleza dos Lusíadas de Camões”
(“Edward Quillinan and his English translation of the Lusíadas of
Camões”), in O Panorama, 04.06.1853, p. 178.
38
The Illustrated London News, of 12.07.1851, p. 74.
39
ADP, Book of Baptisms of Miragaia, B2, p. 91.
40
Santos, Paula M.M. Leite, op. cit., p. 177.
41
Castelo-Branco, Camilo, O Vinho do Porto – Processo de uma Bestialidade
Inglesa (Port Wine – A Case of English Bestiality), Sintra: Colares Editora, 2005, p. 27.
42
V. Sousa, D. Gonçalo de Vasconcelos e, História do Club Portuense
(1857-2007) (History of the Oporto Club - 1857-2007), Porto; Club
Portuense, 2007, pp. 26-27.
43
Fonseca, Francisco Bélard da, A Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (The Military Order of Our Lady of Conceição of
Vila Viçosa), Lisboa: Fundação da Casa de Bragança, 1955, p. 44.
44
AHMP, Register of Wills, BOR 0333, pp. 78v. to 80.
45
Matos, A. Campos, Eça de Queiroz – Correspondência I e II (Eça de Queiroz – Letters I and II), Lisboa: Editorial Caminho, 2008, vol. I, pp. 104,
125 and 126.
46
Mattoso, José (Coord.), História de Portugal (History of Portugal), Círculo dos Leitores, vol. VI, p. 77.
124
Resumos e palavras-chave
Abstracts and key-words
Resúmenes y palabras clave
Publicações da Fundação Robinson 4, 2009, p. 126-132, ISSN 1646-7116
PORTUGUÊS
Os Stephens da Marinha Grande
Phelps – percursos de uma família
britânica na Madeira de Oitocentos
Os tempos e as gerações da família
Kingston em Portugal: a figura
de William Henry Giles Kingston
Quando veio para Lisboa com apenas 15 anos,
Os Phelps, oriundos de Dursley, Inglaterra, fixa-
No século XVIII o nome Kingston estava associado
William não podia imaginar a importância que
ram-se na Madeira desde finais do século XVIII,
a uma das mais importantes firmas britânicas
viria a ter no comércio e na economia e, inclusiva-
dedicando-se à actividade comercial e, em parti-
exportadoras de Vinho do Porto. Em meados do
mente, no projecto de modernização do reino.
cular, à exportação de vinho da Madeira. Durante
século XIX, William Henry Giles Kingston viveu no
A história dos Stephens é conhecida por muitos,
cerca de 40 anos Joseph Phelps, figura relevante
Porto e em São João da Foz durante grande parte
não só pela dimensão e pela fama da Fábrica de
no comércio funchalense e na comunidade bri-
da sua infância e, como adulto, residiu em Portu-
Vidro, mas porque William criou um verdadeiro
tânica, liderou a casa comercial Phelps Page & Co.
gal vários anos, sendo um membro muito empre-
estado-providência na Marinha Grande, e pelas
herdada de seu pai, William Phelps acabando por
endedor da firma vinícola da família e da Associa-
mudanças que as suas “políticas” provocaram no
assumir um papel de grande relevo na Madeira
ção Britânica, sendo notável a sua versatilidade de
comportamento dos operários.
Oitocentista.
exercer várias actividades simultaneamente como
Palavras-chave
Palavras-chave
Stephens
Phelps
Palavras-chave
Marinha Grande
Madeira
Kingston
Fábrica de Vidro
Vinho da Madeira
Vinho do Porto,
Comércio
Século XIX
comerciante, viajante e escritor.
127
PORTUGUÊS
A odisseia anglo-lusa do clã Warre –
das origens do vinho do Porto
à actualidade
Joseph James Forrester,
defensor do Douro: a obra
do “estrangeiro-portuguez”
Quillinan – uma família irlandesa
no Porto
A família Warre e a companhia Warre and Co., cujas
Um dos rostos mais visíveis da presença britânica no
As origens geográficas e sociais da família Quilli-
origens mais remotas remontam, de acordo com
Portugal do Romantismo, Forrester lançou um olhar
nan, a forma como se processou a sua integração
várias fontes, a 1670, encontram-se intimamente
amplo sobre a região vinhateira do Douro e sobre ela
no nosso país, e mais concretamente na sociedade
ligadas à génese e à história do Vinho do Porto.
deixou uma obra multímoda, que cobre o ensaio, a
portuense, através da análise do percurso biográ-
A história da presença deste clã de comerciantes de
cartografia, o desenho, a pintura e a fotografia.
fico de quatro dos seus membros (o patriarca e três
vinhos no Norte de Portugal confunde-se até com
À data da sua morte, a imprensa periódica nacional
dos seus filhos).
as próprias origens daquilo que hoje em dia conhe-
chorou a perda deste negociante e agricultor inglês
cemos como Vinho do Porto.
que criou fortes laços afectivos com Portugal e que
Palavras-chave
alguém definiu como o “estrangeiro-portuguez”.
Quillinan
Palavras-chave
Família Quillinan
Warre
Palavras-chave
Vinho do Porto
Forrester
Norte de Portugal
Douro
Porto
128
ENGLISH
The Stephens of Marinha Grande
The Phelps – paths of a British family
in 19th century Madeira
The times and generations of the
Kingston family in Portugal: the figure
of William Henry Giles Kingston
When Wiliam came to Lisbon just 15 years of age,
The Phelps, originally from Dursley in England, set-
In the 18th Century the name Kingston was asso-
little could he have imagined the importance he
tled in Madeira at the end of the 18th Century and
ciated with one of the leading British firms of Port
would have in its trade and Economy, as well as in
became involved in commercial activities, in parti-
Wine exporters. During the 19th Century William
the project to modernise the Kingdom.
cular the exportation of Madeira wine. For around
Henry Giles Kingston lived in Oporto and at São
The story of the Stephens is known by many, not
40 years Joseph Phelps was a leading figure in com-
João da Foz for a large part of his childhood. As
just because of the size and fame of his Glass Fac-
merce in Funchal and the British community. He
an adult, he resided in Portugal for a number of
tory, but also because William created a true wel-
ran the company Phelps Page & Co. William Phelps
years, being a dynamic entrepreneur within the
fare state in Marinha Grande, as well as the chan-
inherited the company from his father and ended up
family wine company as well as the British Asso-
ges that his “politics” created in the behaviour of his
th
playing a significant role in 19 Century Madeira.
ciation. He was well-known for his versatility and
ability to perform the roles of businessman, travel-
workers.
keywords
ler and writer.
keywords
Phelps
Stephens
Madeira
keywords
Marinha Grande
Glass Factory
Madeira wine
Kingston
Commerce
Port Wine
19th Century
129
ENGLISH
The Anglo-Luso Odyssey of the Warre
Family – from the origins of Port wine
to the present day
Joseph James Forrester,
Champion of the Douro: The Work
of the ‘Portuguese-Foreigner’
Quillinan – an irish family
in Oporto
The Warre family and the Warre and Co. company,
Forrester was one of the most well-known faces of
The geographical and social origins of the Quillinan
the distant past of which dates back, according to
the Romanticism Period in Portugal, casting a wide
family, the way in which they settled in our coun-
various sources, to 1670. Both were closely con-
eye over the wine-growing region of the Douro,
try, and, more specifically, within high society in
nected with the genesis of and the history of Port
and leaving behind various works in the field of
Oporto, through analysis of the biographies of four
Wine. The history of the presence of this group of
essay-writing, cartography, design, painting and
family members (the head of the family and three of
wine merchants in the North of Portugal is intrica-
photography.
his children).
tely linked to the very origins of what we now call
Upon his death, the Portuguese press of the time
Port Wine.
lamented the loss of this English businessman and
keywords
farmer who had established strong affective ties
Quillinan
keywords
with Portugal, and whom somebody had defined as
Quillinan family
Warre
the “Portuguese-like foreigner”.
Oporto
Port Wine
North of Portugal
keywords
19th Century
Baron Forrester
Production and commercialisation of Port Wine
130
E S PA Ñ O L
Los Stephens de Marinha Grande
Phelps – trayectorias de una familia
británica en la Madeira decimonónica
Los tiempos y las generaciones
de la familia Kingston en Portugal:
el papel de William Henry Giles Kingston
Al llegar a Lisboa, con tan sólo 15 años, William
Los Phelps, originarios de Dursley, Inglaterra, se
En el siglo XVIII, el nombre Kingston se asociaba
no podía imaginarse la importancia que llegaría a
ubicaron en Madeira a finales del siglo XVIII, dedi-
a una de las más importantes firmas británicas
asumir con relación al comercio y a la economía,
cándose a la actividad comercial y, en particu-
exportadoras de Vino de Oporto. A mediados del
e incluso ante el proyecto de modernización del
lar, a la exportación de Vino de Madeira. Durante
siglo XIX, William Henry Giles Kingston vivió en
reino.
cerca de 40 años, Joseph Phelps, figura señalada
Oporto, y en São João da Foz durante gran parte
La historia de los Stephens es muy conocida, no
del comercio de Funchal y entre la comunidad bri-
de su infancia. Ya adulto, vivió en Portugal varios
sólo por las dimensiones y la fama de su Fábrica
tánica, condujo la firma comercial Phelps Page &
años, siendo un miembro muy emprendedor de
de Cristal, sino porque William creó un verdadero
Co. Heredada de su padre, William Phelps, acabó
la firma vinícola de su familia y de la Asociación
estado providencia en Marinha Grande, además de
asumiendo un papel muy destacado en la Madeira
Británica, con señalada versatilidad para ejercer
los cambios que sus políticas generaron en los usos
decimonónica.
varias actividades, simultáneamente como viajero
de los obreros.
y escritor.
palabras-clave
palabras-clave
Phelps
palabras-clave
Stephens
Madeira
Kingston
Marinha Grande
Vino de Madeira
Vino de Oporto
Fábrica de Cristal
Comercio
Siglo XIX
131
E S PA Ñ O L
La odisea anglo-lusa del clan Warre –
de los orígenes del Vino de Oporto
hasta la actualidad
Joseph James Forrester,
defensor del Duero: la obra
del “estrangeiro-portuguez”
Quillinan – una familia irlandesa
en Oporto
La familia Warre y la compañía Warre and Co.,
Forrester, uno de los rostros más visibles de la pre-
Los orígenes geográficos y sociales de la fami-
cuyos orígenes más remotos se remontan, de
sencia británica en el Portugal del Romanticismo,
lia Quillinan, su proceso de integración en nues-
acuerdo con varias fuentes, a 1670, están en íntima
extendió una mirada amplia sobre la región vina-
tro país, y más específicamente en la sociedad de
conexión con la génesis y la historia del Vino de
tera del Duero y nos dejó, sobre ésta, una obra
Oporto, a través del análisis de la trayectoria bio-
Oporto. La historia de la presencia de este clan de
multímoda que abarca el ensayo, la cartografía, el
gráfica de cuatro de sus miembros (el patriarca y
comerciantes de vinos del norte de Portugal se con-
dibujo, la pintura y la fotografía. Cuando falleció, la
tres de sus hijos).
funde hasta con los propios orígenes de lo que hoy
prensa nacional lloró la pérdida de este negociante
en día conocemos como Vino de Oporto.
y agricultor inglés que creó sólidos vínculos afecti-
palabras-clave
vos con Portugal y al que alguien definió como el
Quillinan
“estrangeiro-portuguez”.
Familia Quillinan
palabras-clave
Warre
Oporto
Vino de Oporto
palabras-clave
Norte de Portugal
Forrester
Duero
132