fisiologia - Faculdade Montenegro
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fisiologia - Faculdade Montenegro
Re v i st a Re v i s t a B r a s i l e i r a d e ISSN 16778510 Br asi l e i r a Fisiologia do de exercício F i s i o l o g i a Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício d o e x e rc í c i o 13 anos CARDIOLOGIA • Fatores de risco cardiovascular em idosos ESPORTE gRanDes nomes nacionais e inteRnacionais com conteúDos inovaDoRes PaRa atualização De PRofissionais musculação e personal training, bem-estar, treinamento funcional, FITNESS E gINáSTIca, acqua FITNESS, ESporTES, FB ScIENcE, NuTrIção, FISIoTErapIa, carrEIra E NEgócIoS, EScolar E rEcrEação, laZEr E ENTrETENIMENTo exPo fitness bRasil: mais De 100 exPositoRes fitness e beacH wear, tênis e artigos esportivos, equipamentos, acESSórIoS, SuplEMENToS NuTrIcIoNaIS E MuITo MaIS e mais: PalestRas gRatuitas, aPResentações De stReet Dance e outRas atRações fitnessbrasil.com.br • (11) 5095-2699 twitter.com/fitnessbrasil facebook.com/fitnessbrasil maRcas oficiais Marca esportiva Realização equipaMento nutrição esportiva prograMa de fitness v o lu me 1 1 - nú m er o 01 • Ja n eir o /Ma r ç o 2 01 2 94 cuRsos com os maioRes PalestRantes Do meRcaDo • • • • • Alongamento e força muscular Intervalo entre séries e treinamento de força Alterações agudas induzidas por uma prova de triathlon Qualidade de vida de funcionários após ginástica laboral Caso do atleta paraolímpico Oscar Pistorius NUTRIÇÃO • Suplementação em atletas de natação FISIOLOGIA • Cicloergometria e lesão medular • Mobilização neural na hipotrofia muscular SAÚDE DA MULHER • Qualidade de vida em pacientes mastectomizadas www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 1 - n ú m e r o 0 1 • J an eiro/ M arç o 2012 Cursos e Workshops www.metalifepilates.com.br | CENTRAL DE VENDAS 0800 648 7400 Foto STOTT PILATES® photography © Merrithew Corporation | Imagem meramente ilustrativa do exercício CARDIOLOGIA • Frequência cardíaca máxima em testes de cicloergometria ESPORTE • • • • Capacidade física de árbitros de futebol Ansiedade em atletas de ginástica artística Exercício físico e lipemia pós-prandial Influência do voleibol na aptidão física e desempenho motor 13 anos NUTRIÇÃO • Excesso de peso em crianças e adolescentes FISIOLOGIA • Mecanismos antioxidantes e exercício físico • Stress oxidativo e alterações eritrocitárias em triathlon half-ironman • Escoliose devido ao excesso de carga nas mochilas v o lu me 11 - n úm er o 02 • Ab r il/Ju n h o 20 12 Equipamentos ISSN 16778510 Fisiologia Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício e xe r cício A METALIFE TRAZ PARA VOCÊ A POSSIBILIDADE DE SE ALINHAR AOS MELHORES PROFISSIONAIS DE PILATES DO MUNDO. d e Brazilian Journal of Exercise Physiology do • Consultores especializados no Negócio Pilates. 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Revi sta TUDO O QUE VOCÊ PRECISA PARA TRILHAR UMA HISTÓRIA DE SUCESSO NO MERCADO DE PILATES. www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 1 - n ú m e r o 0 2 • Abril/ Junho 2012 Revi sta Re v i s t a B r a s i l e i r a d e ISSN 16778510 Brasi l ei ra Fisiologia do exercício d e Brazilian Journal of Exercise Physiology Fisio lo g ia Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício do TREINAMENTO FISIOLOGIA • Diferenças entre corredores africanos e caucasianos • Alongamento e glicemia • Músculo esquelético de ratas submetidas à eletroterapia 13 anos e xe r cício • Treinar com segurança para corrida de 10 km DOENÇAS CRÔNICAS • Estresse oxidativo e exercício físico na doença de Parkinson • Exercício físico e disfunção endotelial em diabetes LESÕES • Creatinafosfoquinase e lesões em atletas de voleibol • Desempenho funcional e lesões no basquetebol • propriocepção ativa e lesão de ligamento cruzado anterior Cursos e Workshops v o l u me 11 - n ú me ro 0 3 • Ju l ho /Se te mb r o 20 12 Equipamentos www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 1 - n ú m e r o 0 3 • J u l ho/ Setembro 2012 Revi sta Brasi l ei ra d e ISSN 16778510 Fisiologia do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Fisio lo g ia Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício do e xe r cício ESPORTE • • • • • Efeito da facilitação neuromuscular proprioceptiva sobre a força Importância da avaliação física nas academias Jogos adaptados e musculação para idosos Subdesempenho no futebol Esportes de combate e marcadores biológicos 13 anos NUTRIÇÃO • Uso de suplementos nutricionais por praticantes de musculação • Creatina e desempenho FISIOLOGIA • Exercício resistido sobre a glicemia capilar aguda em diabéticos tipo 2 • Fisioterapia em pacientes com insuficiência arterial crônica v o l u m e 1 1 - n ú me r o 0 4 • Ou tu b ro /D e ze mb r o 2 0 12 Cursos e Workshops B r a s i l e i r a d e Equipamentos Re v i s t a www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 1 1 - n ú m e r o 0 4 • O u t u b ro/ Dezembro 2012 Re v i s t a B r a s i l e i r a d e F i s i olog i a do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 11 número 1 - janeiro/março 2012 Editorial Pesquisas e resultados, Paulo Farinatti ..................................................................................................................................3 OPINIÃO Citius, Altius e Fortius: o caso do atleta paraolímpico Óscar Pistorius que disputou o Campeonato Mundial de Atletismo de 2011, Flávia Porto, Jonas Gurgel...........................................................................4 ARTIGOS ORIGINAIS Alterações agudas induzidas por uma prova de triathlon longo em diferentes biomarcadores enzimáticos e da função imune, Faber Sérgio Bastos Martins, José Augusto Rodrigues dos Santos..........................................................................................................................................7 Prevenção de hipotrofia muscular pelo uso da mobilização neural em modelo experimental de ciatalgia, Juliana Schmatz Mallmann, Juliana Moesch, Flávia Tomé, Rogério Fonseca Vituri, Alberito Rodrigo de Carvalho, Gladson Ricardo Flor Bertolini........................................................13 Percepção subjetiva da qualidade de vida de usuários de computadores após 15 sessões de ginástica laboral, Thiago Medeiros da Costa Daniele, George Lacerda de Souza, Pedro Bezerra Souza Neto.............................................................................................................17 Avaliação dos fatores de risco cardiovascular de idosos participantes de grupo de convivência da terceira idade do município de São Miguel do Oeste, SC, Nelí Maziero, Everton Boff, Sandro Claro Pedrozo................................................................................................................21 Efeitos da suplementação de carboidrato em gel sobre o desempenho físico e a resposta glicêmica em teste de natação de 12 minutos, Jadson Pereira Alves, André Luís Macalossi, Ramiro Barcos Nunes, Francisco Navarro...........................................................................................26 Treinamento aeróbico em cicloergômetro adaptado para pacientes lesados medulares, Simone Suzuki Woellner, Antonio Vinicius Soares, Anna Maria Engel, Paulo Guilherme Lenz, Bruna Zimmermann.........................................................................................................................30 Efeito de diferentes intervalos entre séries, determinados pela relação esforço-recuperação, no desempenho da força, Diego de Almeida, Lenifran Santos, Renato Massaferri, Tainah Lima, Walace Monteiro................................................................................................................36 RELATO DE CASO Avaliação da qualidade de vida em pacientes mastectomizadas pré e pós-reabilitação fisioterapêutica, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rosani Mostowski, Karla Jakeline Uller............................................42 REVISões Atividade cerebral relacionada ao apetite e exercício físico: implicações para a ingestão alimentar e controle do peso corporal, Rafael Ayres Montenegro, Alexandre Hideki Okano.......................................................................................................................................................48 Influência de variáveis relacionadas ao protocolo experimental no déficit de força muscular mediado pelo alongamento, Raquel Gonçalves, André Luiz Demantova Gurjão, José Cláudio Jambassi-Filho, Luiza Hermínia Gallo, Alexandre Konig Garcia Prado, Sebastião Gobbi..................................55 NORMAS DE PUBLICAÇÃO................................................................................................................................ 60 EVENTOS.................................................................................................................................................................. 62 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 2 Re v i s t a B r a s i l e i r a d e F i s i olog i a do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Robert Robergs (EUA) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Rosane Rosendo (SC) Douglas S. Brooks (EUA) Sebastião Gobbi (SP) Emerson Silami Garcia (MG) Francisco Martins (PB) Steven Fleck (EUA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Navarro (SP) Vilmar Baldissera (SP) Luiz Carnevali (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 3 Editorial Pesquisas e resultados Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx Iniciando 2012, apresentamos o primeiro número do volume 11 da RBFEx. A quantidade e qualidade de artigos aumentam paulatina e consistentemente, bem como o número de instituições que se fazem representar através de seus pesquisadores. Desse modo, nesta edição encontramos artigos de quatro regiões do Brasil e um de Portugal, tratando de assuntos variados, que vão desde biomarcardores em prova de triátlon até treinamento para lesionados medulares. A revista abre com trabalho produzido da Universidade do Porto, descrevendo alterações em marcadores enzimáticos e função imune em triatletas. Em seguida, contribuição da Universidade Estadual do Oeste do Paraná discute modelos de prevenção de perda de massa muscular através de mobilização neural. Na área das relações entre saúde e exercício, temos dois artigos interessantes – grupo da Universidade Federal do Ceará avalia a percepção subjetiva da qualidade de vida em pessoas que fazem uso prolongado de computadores após intervenção com ginástica laboral, enquanto da Universidade do Oeste de Santa Catarina chegam-nos dados sobre fatores de risco cardiovascular em idosos que frequentam centro de convivência da terceira idade. No tocante à prescrição do exercício visando desempenho, três estudos foram selecionados. Um deles, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, investigou os efeitos da suplementação de carboidrato sob a forma de gel no desempenho em teste de natação, enquanto pesquisadores da Faculdade Guilherme Guimbala apresentam dados sobre treinamento aeróbio para lesionados medulares. Enfim, grupo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro examinou o efeito de estratégias diferentes de determinação do intervalo de recuperação no desempenho em exercício de força. A revista apresenta, nesta edição, além das tradicionais revisões, um relato de caso e um artigo de opinião. As revisões se voltam para problemas relacionados à avaliação da força em idosos, especialmente o déficit de força após alongamento (Universidade Estadual Paulista) e para as relações entre atividade cerebral, apetite e exercício físico (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). O interessante relato de caso selecionado para a presente edição discute aspectos da qualidade de vida em pacientes mastectomizadas que participam de programa de intervenção fisioterápica. Enfim, artigo de opinião discute com profundidade o caso do atleta paraolímpico Óscar Pistorius, que, com ambas as pernas amputadas, vem disputando campeonatos internacionais de atletismo e pleiteia o direito de disputar vaga nos Jogos Olímpicos de Londres. Em suma, uma grande variedade de assuntos e abordagens, que bem reflete a riqueza de nossa área do conhecimento! Bom proveito a todos! Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 4 Opinião Citius, Altius e Fortius: o caso do atleta paraolímpico Óscar Pistorius que disputou o Campeonato Mundial de Atletismo de 2011 Flávia Porto*, Jonas Gurgel** *Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Exercício e do Esporte Universidade Gama Filho (PPGEF/UGF), Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/ IEFD/ UERJ), Grupo de Pesquisa em Biomecânica, Instituto de Educação Física, Universidade Federal Fluminense (GPBIO/IEF/UFF), **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/ IEFD/ UERJ), Grupo de Pesquisa em Biomecânica, Instituto de Educação Física, Universidade Federal Fluminense (GPBIO/IEF/UFF), Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS/UFF) Introdução O sul-africano Óscar Pistorius nasceu em Joanesburgo, em 22 de novembro de 1986. Devido a uma má formação, nasceu sem as fíbulas, o que fez com que fosse amputado bilateralmente aos 11 meses de idade. Com uma vida dedicada aos esportes, foi no Atletismo que Pistorius se destacou e vem se destacando, quebrando recordes e... Regras! Campeão paraolímpico dos 400 m, Pistorius lutava, desde 2007, para disputar provas olímpicas. Baseado nos seus próprios recordes e conquistas, via-se em igual condição de disputar corridas com indivíduos normais (Usou-se o termo “normais” para se referir a indivíduos não portadores de necessidades especiais, sem teor pejorativo aos indivíduos amputados. Refere-se, apenas, a uma questão de normalidade, de ser mais comum). Assim, após longo processo, em 2011, o Comitê Técnico da International Amateur Athletic Federation (IAAF) decidiu por permitir a participação de Pistorius no 13° Campeonato Mundial de Atletismo, ocorrido na Coréia do Sul, com a condição de que ele fosse o primeiro atleta na equipe de revezamento, sob a alegação de que suas próteses poderiam ocasionar acidentes com os outros competidores. A equipe de Pistorius alcançou o 8° lugar nessa disputa. Entretanto, é evidente o marco na história do Atletismo, na qual um atleta paraolímpico participou junto com atletas olímpicos na competição. Seria essa disputa realizada com igualdade entre todos os competidores? Óscar Pistorius fez história no esporte ao se tornar o primeiro atleta amputado a competir com corredores normais em um Campeonato Mundial de Atletismo. Mas, essa participação gerou polêmica, principalmente por sua suposta vantagem mecânica sobre os demais competidores gerada pelo uso de suas próteses ultraleves. Com base nesse episódio, este artigo propõe discutir alguns aspectos biomecânicos sobre as vantagens e desvantagens que Pistorius apresentaria ao participar de uma competição, inicialmente, voltada para indivíduos não-amputados. Sobre as próteses usadas por Pistorius Regras da IAAF proíbem o “uso de qualquer dispositivo técnico que incorpore molas, rodas ou qualquer outro ele- Recebido em 10 de novembro de 2011; aceito em 16 de janeiro de 2012. Endereço de correspondência: Flávia Porto, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, 8º andar, sala 8121, bloco F, 20550-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 mento que forneça ao usuário uma vantagem sobre outro atleta que não utiliza tal dispositivo” e o “uso de qualquer aparelho que tenha o efeito de aumentar a dimensão de uma peça de equipamento para além do máximo permitido nas regras ou que forneça ao usuário uma vantagem que ele não teria obtido usando os equipamentos especificados no regulamento”. Com base nisso, o pedido de Pistorius para participar de competições voltadas a indivíduos normais teve de ser minuciosamente analisado, uma vez que a permissão poderia ser uma anuência ao ‘favorecimento’ do atleta perante os demais competidores. Brüggemann et al. [1], então, conduziram um estudo encomendado pela IAAF para investigar se as próteses Cheetah poderiam ser consideradas uma espécie de doping mecânico usado por Pistorius, o que lhe traria vantagens sobre seus pares. De acordo com a empresa fabricante das próteses usadas por Pistorius e que tem nele seu garoto-propaganda, a Össur® [2], o modelo Cheetah Flex-Foot Feet é feito sob medida para o usuário e desenhado, especificamente, para a prática de corrida. Indicadas para amputados transtibial e transfemoral, as próteses têm a forma de J e são projetadas para simular a ação da junção tornozelo/ pé, permitindo, inclusive, leves movimentos de rotação e torção, protegendo o coto de possíveis lesões ocasionadas pela rigidez do equipamento. As próteses são leves (possuem 512g) e feitas de fibras de carbono, o que permite uma maior flexibilidade e otimização da transferência de energia entre solo e corpo durante a marcha e corrida. Aspectos biomecânicos e fisiológicos da corrida com próteses Primeiramente, é importante que seja considerado que qualquer padrão de movimento adotado para a realização da corrida influirá na fisiologia do indivíduo, seja amputado ou não, em variáveis como gasto de energia metabólica, processo de fadiga e risco de lesão [3]. Nessa ocasião, Brüggeman et al. [1] avaliaram e compararam a biomecânica da corrida de Pistorius com a de cinco corredores normais, cujas características antropométricas e de desempenho na corrida eram similares. As propriedades mecânicas das próteses também foram investigadas. Considerando-se a massa reduzida da prótese Cheetah, que resulta em uma menor massa corporal do segmento quando comparado ao membro natural de um indivíduo sadio (cerca de 50% menor) [1], tal fato representa vantagens biomecânicas, principalmente, relacionadas ao momento de inércia, ao trabalho mecânico e, consequentemente, à transferência de energia, pois são variáveis influenciadas por características inerciais. Assim, o fato de a distribuição de massa da prótese ser diferente daquela de um membro natural, apresentando o centro de gravidade mais próximo à articulação do joelho, pode ser considerado uma vantagem mecânica, porque isso faz com que haja uma redução no momento de inércia. Se fossem mantidas as outras variáveis biomecânicas iguais, do 5 ponto de vista cinemático, esse menor momento de inércia aumentaria a velocidade e a aceleração angulares das articulações do joelho e do quadril durante a fase de balanço da corrida. No estudo de Brüggemann et al. [1], realmente, foi verificado um menor momento de inércia de Pistorius na fase de balanço (swing) da corrida. Essa constatação influenciou em um menor trabalho muscular durante esta fase. Ao analisarmos a transferência de energia que ocorre durante a corrida de um indivíduo amputado e protetizado, é importante, inicialmente, ser considerada a perda natural de energia que ocorre pela articulação metatarsofalangeal, durante a corrida realizada por indivíduos normais, conforme descrito no estudo de Stefanyshyn e Nigg [4]. Mesmo considerando o uso de sapatilhas de corrida, que avançaram em relação ao aumento da rigidez do solado médio no terço anterior do pé, ainda assim, existe uma perda significativa de energia por essa articulação [5]. Por outro lado, com o uso de uma prótese do tipo Cheetah, o indivíduo não apresenta essa perda, o que pode ser considerado vantajoso, tendo-se em vista que existe uma perda de energia de 19% a 8% na fase de apoio da corrida. Essa é uma perda significativamente menor que qualquer indivíduo não-protetizado teria, que é de aproximadamente 40% [1]. Ao analisar os dados de Pistorius com corredores saudáveis, Brüggemann et al. [1] constataram que o atleta paraolímpico realizou quase 100% de trabalho a mais que seus pares não-amputados, sendo que a maioria desse trabalho foi realizado pela lâmina da prótese, não havendo, portanto, participação muscular. Quanto a isso, dados do fabricante apontam que, durante a corrida, a prótese Cheetah é comprimida no momento do impacto, armazenando energia e absorvendo altos impactos que poderiam ser absorvidos pelas demais articulações do corredor, como tornozelos, joelhos, quadril e região lombar [2]. Ao investigarem a histerese da prótese de Pistorius, Brüggemann et al. [1], verificaram que cerca de 5% de energia eram dissipados, o que significa que o atleta teria um retorno de quase 95% da energia. É obvio pensar que isso seria uma vantagem, inclusive, no que se refere à fadiga muscular. Destaca-se que o tempo de contato no solo de Pistorius e os outros corredores foi similar [1]. Entretanto, Pistorius não apresenta torque ativo na articulação do tornozelo, diferentemente de atletas normais, que possuem as musculaturas dessa região, o que pode ser considerado uma desvantagem mecânica significativa. A duração similar da fase de apoio pode ser explicada por uma maior deformação da prótese, o que representa para Pistorius um menor impulso durante essa fase. Do ponto de vista fisiológico, a relação entre as variáveis mecânicas de trabalho, potência e energia refletem no gasto energético do indivíduo durante a corrida [3]. No caso de Pistorius, ainda que tenha havido dúvida se o atleta estava, de fato, na sua melhor forma física e, portanto, os resultados obtidos quanto ao consumo de oxigênio durante os testes não terem sido fidedignos [6] (Pistorius apresentou VO2máx 25% menor que dos demais atletas [1]), somente o fato de 6 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 ser protetizado já explicaria esse gasto energético menor pela alteração na biomecânica da sua corrida. Do ponto de vista cinético, o estudo de Brüggemann et al. [1] verificou que as forças de reação do solo (FRSs) foram significativamente menores que nos indivíduos saudáveis. Essas medidas também são influenciadas pela massa corporal total e segmentar de Pistorius, mas também podem estar relacionadas ao menor risco de lesões musculoesqueléticas. Porém, nos testes aos quais Pistorius foi submetido essa questão não foi investigada com profundidade. Nesse caso, o uso de acelerômetros triaxiais em determinadas regiões do corpo (como quadril e coluna) poderia complementar as avaliações realizadas pelo grupo de Brüggermann, fornecendo medidas de impacto (pico de aceleração) e vibração (movimentos oscilatórios), além da relação entre eles (crest factor). Esses transdutores são bastante úteis na investigação sobre mecanismos de lesões osteomioarticulares. Outros parâmetros não investigados na pesquisa conduzida por Brüggemann et al. [1] referem-se ao controle postural de Pistorius. Nesse sentido, é sabido que o controle postural e o padrão de deambulação são comprometidos em sujeitos biamputados [7], exigindo-se uma reorganização do sistema locomotor do indivíduo para cumprir normalmente tais funções. Então, será que essa ‘desvantagem biomecânica’ permaneceria durante a corrida de velocidade? Se considerarmos que as próteses usadas por Pistorius são desenhadas especificamente para a prática da corrida, o equilíbrio é restabelecido com o aumento da velocidade na corrida. Ou seja, com um momento de inércia menor, mas com uma velocidade angular maior proporcionada pela corrida faz com que seu momentum angular também seja maior e ajude a estabilizar o corpo. Conclusão Neste artigo de opinião, comparamos o caso de um indivíduo protetizado com outros indivíduos atletas normais, porém o que pode ser considerado como vantagem ou desvantagem na biomecânica da corrida de Pistorius, não pode ser inferido para demais atletas protetizados. Espera-se, contudo, que este artigo possa servir para enriquecer a discussão do caso do atleta Pistorius, servindo de estímulo para o continuo aprimoramen- to de próteses atléticas e não atléticas, melhorando a qualidade de vida de indivíduos portadores de necessidades especiais. O lema olímpico Citius, Altius e Fortius (o mais rápido, o mais alto e o mais forte), proposto pelo Barão Pierre de Coubertin, usado no título do presente artigo de opinião, será também usado para o seu encerramento. Durante décadas, o uso de próteses foi considerado desvantajoso e as pessoas que necessitavam de tais aparatos eram vistas como indivíduos deficientes. Os atletas sempre buscaram maneiras de melhorar a performance, seja através de meios lícitos ou ilícitos. O caso de um atleta protetizado ter competido no Mundial de Atletismo com atletas não amputados, propiciou uma reflexão e uma mudança de paradigma do que venha a ser um atleta deficiente, tendo em vista que um considerável número de pessoas aponta como uma potencial vantagem o uso dessas próteses. Tal fato gera para a população um dilema: as próteses poderão vir a ser melhores que nossas pernas? Até onde iria um atleta em busca do melhor desempenho? Referências 1. Brüggemann G-P, Arampatzis A, Emrich F, Potthast W. Biomechanics of double transtibial amputee sprinting using dedicated sprinting prostheses. Sports Technol 2008;1(4-5):220-7. 2. Össur. Life without limitations. 2011. [citado 2011 Out 20]. Disponível em URL: http://www.ossur.com/ 3. Williams KR. A dinâmica da corrida. In: Zatsiorsky VM, ed. Biomecânica no esporte: performance do desempenho e prevenção de lesão. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004:125-42. 4. Stefanyshyn DJ, Nigg BM. Mechanical energy contribution of the metatarsophalangeal joint to running and sprinting. J Biomech 1997;30(11-12):1081-5. 5. Nigg BM, Stefanyshyn D, Cole G, Stergiou P, Miller J. The effect of material characteristics of shoe soles on muscle activation and energy aspects during running. J Biomech 2003;36(4):569-75. 6. Zettler PJ. Is it cheating to use cheetahs? The implications of technologically innovative prostheses for sports values and rules. BU ILJ 2009;27:367-409. 7. Su PF, Gard SA, Lipschutz RD, Kuiken TA. Gait characteristics of persons with bilateral transtibial amputations. J Rehabil Res Dev 2007;44(4):491-501. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 7 Artigo original Alterações agudas induzidas por uma prova de triathlon longo em diferentes biomarcadores enzimáticos e da função imune Acute changes induced by a long triathlon in different enzymatic and immune function biomarkers Faber Sérgio Bastos Martins, D.Sc.*, José Augusto Rodrigues dos Santos, D.Sc.* *Faculdade de Desporto – Universidade do Porto Resumo Objectivo: Analisar as alterações hematológicas agudas induzidas por uma prova de triathlon longo. Avaliou-se o comportamento de diversos biomarcadores enzimáticos e da função imune em atletas portugueses masculinos de triathlon. Material e métodos: 10 atletas seniores masculinos (31,5 ± 1,2 anos; 69,3 ± 1,9 kg; 177,7 ± 1,4 cm; 22,0 ± 0,8 de IMC e 10,1 ± 2,2 % GC) divididos em grupos elite e não-elite. Foram recolhidas amostras de sangue venoso periférico antes e imediatamente após as provas. Utilizou-se estatística descritiva, testes não-paramétricos de Wilcoxon e Mann-Whitney e coeficiente de correlação de Spearman. Resultados: Verificou-se o aumento da actividade das enzimas CK e AST (p < 0,05) em ambos os grupos. O aumento da actividade da enzima GGT (p < 0,05) ocorreu somente no grupo elite. Foi constatado, em ambos os grupos, um aumento da contagem leucocitária, fundamentalmente expressa pelo aumento da contagem de neutrófilos (p < 0,05). Após a prova, registou-se a diminuição da relação CD4/CD8 e aumento das concentrações dos linfócitos T CD3+CD8+, T CD4+reg e T CD4+CD69+ nos atletas dos grupos não-elite. Conclusão: Os resultados encontrados sugerem que a intensidade e a duração da prova de triathlon condicionam as respostas dos diversos biomarcadores analisados em função do nível de treino dos atletas. Abstract Objective: To assess acute hematological changes induced by a long triathlon. We evaluated the behavior of various enzymatic and of immune function biomarkers in male Portuguese triathlon athletes. Methods: 10 male senior athletes (31.5 ± 1.2 years, 69.3 ± 1.9 kg, 177.7 ± 1.4 cm, BMI 22.0 ± 0.8 and BF 10.1 ± 2.2%) were divided into groups elite and non-elite. Samples were taken from peripheral venous blood before and immediately after the events. We used descriptive statistics, nonparametric tests of Wilcoxon and Mann-Whitney and Spearman correlation coefficient. Results: There was increased activity of CK and AST (p < 0.05) in both groups. The increased activity of the enzyme GGT (p < 0.05) occurred only in the elite group. It was found in both groups, an increase in leukocyte count, mainly expressed as an increase in neutrophil count (p < 0.05). After the race, there was a decrease in the CD4/ CD8 ratio and increased concentrations of T lymphocytes CD3+ CD8+, CD4+ T reg and CD4+ CD69+ for athletes from non-elite groups. Conclusion: The results suggest that the intensity and duration of triathlon affect the responses of several biomarkers analyzed according to the level of training of athletes. Key-words: triathlon, training, enzymatic activity, immune system, lymphocytes. Palavras-chave: triathlon, treino, actividade enzimática, sistema imune, linfócitos. Recebido 10 de novembro de 2011; aceito 16 de novembro de 2011. Endereço de correspondência: Faber Sérgio Bastos Martins, Instituto de Estudos Superiores de Fafe, Rua Universitária, Apartado 178, 4824-909 Medelo Portugal, E-mail: [email protected] 8 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução Os sistemas biológicos respondem aos diferentes estímulos provenientes do exercício físico levando a adaptações que se traduzem num incremento da capacidade funcional do atleta. Dentro desta perspectiva, a problemática traduz-se no nível da agressão sofrida pelo organismo, que embora possa apresentar-se transitória, é tanto mais expressiva quanto mais severa for a intensidade do exercício, considerada esta como intensidade propriamente dita ou como duração de uma dada intensidade. A prática do triathlon implica a realização de três diferentes desportos desenvolvidos em regime aeróbio (natação, ciclismo e corrida), podendo por vezes, prolongar-se por mais de 10 horas e com intensidades superiores a 65% VO2max [1,2]. Estudos têm demonstrado que atletas de esforços prolongados evidenciam um aumento da actividade de determinadas proteínas como a creatina-quinase (CK), aspartato-aminotransferase (AST), mioglobina (Mb) e a presença de fragmentos de cadeia de miosina pesada em resposta a alteração na permeabilidade da membrana celular, o que permite, ainda que indirectamente, determinar o grau de agressão imposto pelo exercício [3-5]. Adicionalmente, o aumento do volume mitocondrial, a activação lisossómica, a disrupção e vacuolização sarcoplasmática constituem importantes alterações histológicas musculares induzidas pelos esforços intensos e prolongados, principalmente aqueles nos quais se verifica uma elevada incidência de contracções excêntricas [6-8]. Actualmente, as provas de triathlon têm merecido atenção relevante no que concerne ao estudo da performance em função das alterações de diversos biomarcadores, principalmente nas provas do triathlon Ironman (3,8 km/180 km/42,2 km), de forma a possibilitar uma melhor compreensão da relação destes indicadores com importantes variações na função neuromuscular, actividades enzimáticas e respostas hematológicas [9-11]. Diversos estudos têm sugerido uma relação entre a susceptibilidade aumentada às infecções e a prática regular de exercícios intensos ou competições exaustivas, resultando em alterações significativas nos sistemas endócrino, nervoso e imunológico dos atletas [12-14]. Estudos realizados com nadadores de elite verificaram um aumento da incidência de infecções nas vias aéreas superiores (IVAS), tendo sido evidenciados, após as provas, aumentos expressivos da concentração leucocitária, expressos principalmente pelo aumento de neutrófilos, acompanhados da redução da concentração de imunoglobulina A (Ig A), para além de alterações na actividade citotóxica das células natural killer (NK) [15,16]. Contudo, o comportamento dos indicadores bioquímicos e imunológicos parece apresentar uma elevada variabilidade inter-individual em função do nível de treino dos atletas, estando directamente relacionado a especificidade da intensidade e duração do esforço realizado. Perante os pressupostos apresentados, o propósito central deste estudo foi verificar, em atletas portugueses masculinos de triathlon de elevado nível competitivo (elite) e praticantes regulares (não-elite), o efeito de uma prova de triathlon longo composta por 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1 km de corrida, na modulação da resposta aguda de diversos biomarcadores enzimáticos e da função imune, de modo a proporcionar uma melhor compreensão dos distúrbios homeostáticos induzidos pelo exercício físico prolongado e intenso e suas respectivas repercussões sistémicas. Material e métodos Amostragem A amostra foi constituída por 10 atletas masculinos da Federação Portuguesa de Triathlon, com idade média de 31,5 ± 1,2 anos, massa corporal de 69,3 ± 1,9 kg, estatura corporal de 177,7 ± 1,4 cm, índice de massa corporal de 22,0 ± 0,8 e percentagem de gordura corporal 10,1 ± 2,2, participantes das provas nacionais e internacionais na referida distância. Os atletas foram divididos em 2 grupos (elite e não-elite) de acordo com as respectivas posições no ranking nacional e categoria de inscrição em competições internacionais pela International Triathlon Union (ITU). Procedimentos Para a avaliação da estatura corporal dos atletas foi utilizado o estadiômetro (marca Rudolf Martin) e para a determinação da massa corporal (kg) e percentagem de gordura corporal (%GC) dos atletas foi realizada a pesagem em balança digital de bioimpedância (marca Tanita TBF 305). Todos os atletas integrantes da amostra foram submetidos a duas colheitas sanguíneas, a primeira nos instantes precedentes a cada uma das provas e a segunda, imediatamente após o seu término, sendo estas realizadas através da punção venosa na região cutânea antecubital anterior, com álcool a 95%, totalizando 60 amostras. Todas as amostras foram colhidas em tubos ETDA-K3 de 4,5ml (BD Vacutainer) para a determinação dos parâmetros bioquímicos e imunológicos. Análise bioquímica: Para análise dos parâmetros bioquímicos efectuados no soro, foi utilizada a centrifugação a 3000 rpm (centrífuga JOUAN CR3). Foram analisados através do método turbidimétrico a 340 nm, as actividades séricas das enzimas creatina-quinase (CK), aspartato-aminotransferase (AST), alanina-aminotransferase (ALT) e gama-glutamiltransferase (GGT). Análise imunológica: Os tubos de ensaio de polipropileno de 5 ml para citómetro de fluxo (IZASA) foram identificados e os anticorpos com diferentes especificidades, conjugados com diferentes fluorocromos foram pipetados (pipetas automáticas de 10 µL) para os respectivos tubos, em conformidade com o apresentado na Tabela I Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 9 Tabela I - Identificação dos anticorpos monoclonais utilizados na determinação da imunomarcação. Tubos/ Anticorpos monoclonais FL1-FITC CD8 (IOT; B9.11) HLA-DR (IOT; Immu-357) Caracterização dos Linfócitos T FL2-PE FL3-ECD CD 69 CD45RO (IOT; TP1.55.3 ) (IOT; UCHL1 ) CD 127 CD4 (IOT;R34.34 ) (IOT; SFCI12T4D11) FL4-PC5 CD28 (IOT; CD28,2 ) CD25 (IOT;B1,49,9 ) FL5-PC7 CD3 (IOT;UCHT1) FIT C - Isotiocianato de fluresceina; PE - Ficoeritrina; ECD - Energy Coupled Dye; PC5 – Ficoeritrina-Cy5- Tandem; PC7 – Ficoeritrina Cianina 7. A cada tubo foram adicionados 100 µL (pipetas automáticas) de sangue periférico e as amostras foram incubadas durante o período de 15 minutos, no escuro e a temperatura ambiente. No final do período de incubação, procedeu-se a líse dos eritrócitos e a fixação dos leucócitos, utilizando o Lisador automático TQ-Prep (BC) e os reagentes Immunopre Reagent System (BC). Em seguida, os tubos foram colocados no frigorífico durante 15 minutos, procedendo-se, logo após, à aquisição das amostras no citómetro de fluxo ( Cytomicas FC500 da Beckman Coulter), utilizando o programa “CXP Versão 2.0” (Beckman Coulter). Uma combinação de anticorpos monoclonais conjugados com isotiocianato de fluresceina (FITC) e ficoeritrina (PE) foram utilizados para enumerar as subpopulações de linfócitos. A calibragem do citómetro foi realizada utilizando o FACScomp software (Immunocytometry system). Do sangue venoso periférico heparinizado, 3 ml foram misturados com o mesmo volume da solução de fosfato tampão (PBS pH 7.4) nivelado por 4ml de gradiente Ficoll-Paque (Amersham Pharmacia Biotech, Uppsala, Sweden) a 400g durante 30 minutos a temperatura ambiente. As respectivas camadas de células mononucleares foram recolhidas e lavadas duas vezes com solução PBS (10 ml), sendo posteriormente suspensas em solução FCS-RPMI-1640. As amostras contendo 1x106 células mononucleares em solução FCS-RPMI-1640 foram tratadas com 10ml de anticorpos mo- noclonais conjugados com isotiocianato de fluresceina (FITC) e ficoeritrina (PE), sendo as seguintes combinações: anti-CD3 (FITC) \ anti-CD4 (PE), anti-CD3 (FITC)\anti-CD8 (PE), lavadas duas vezes com solução PBS+, e novamente suspensas em 1 ml de solução 0.5% de paraformaldeido-PBS+, sendo posteriormente analisadas pelo programa Infinicyt Versão 1.1.1. Foi utilizado o teste de Wilcoxon para medidas repetidas, e o teste de Mann-Whitney para amostras independentes. Para verificar os níveis de associação entre as variáveis investigadas no estudo, recorreu-se ao coeficiente de correlação de Spearman. Os níveis de significância foram mantidos em 5% (p < 0.05). Os procedimentos estatísticos foram analisados nos programas Excel™2000 e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS™. Versão 16.0). Resultados De acordo com os dados expostos na Tabela II, constata-se, nos atletas de elite, o aumento das actividades das enzimas CK (109,3%, p = 0,011), AST (21,1%, p = 0,016) e GGT (17,3%,p = 0,014). Este comportamento, embora mais pronunciado nos atletas do grupo não-elite, foi somente verificado na actividade das enzimas CK (307,6%, p = 0,043) e AST (55,7%, p = 0,014). Tabela II - Efeito da prova de triathlon longo nas diferentes actividades enzimáticas dos triatletas. Triatletas elite (n = 5) Enzimas CK (U.L-1) AST (U.L-1) ALT (U.L-1) GGT (U.L-1) Pré-Prova 268,6±135,4 39,8 ± 9,1 25,4 ± 7,3 18,4 ± 2,1 Pós-Prova 562,4 ± 194,7* 48,2 ± 11,0* 27,2 ± 7,8 21,6 ± 1,2* Triatletas não-elite (n = 5) Pré-Prova Pós-Prova 190,4 ± 30,0 776,2 ± 458,7* 26,2 ± 2,1 40,8 ± 8,8* 17,4 ± 5,5 20,6 ± 6,1 21,0 ± 6,0 23,6 ± 7,2 Nota: Valores expressos pela média ± desvio-padrão. * p < 0,05, vs Pré-Prova. Tabela III - Efeito da prova de triathlon longo nas diferentes subpopulações leucocitárias dos tritletas. Parâmetros Imunológicos Monócitos (103/µL) Linfócitos (103/µL) Neutrófilos(103/µL) Leucócitos (103/µL) Triatletas Elite (n = 5) Pré-Prova 0,4 ± 0,3 2,2 ± 1,0 3,4 ± 1,7 6,3 ± 1,5 Pós-Prova 0,5 ± 0,2* 1,2 ± 0,6* 14,4 ± 4,7* 16,3 ± 5,0* Valores expressos pela média ± desvio-padrão. * p < 0.05, vs Pré-Prova. Triatletas não-Elite (n = 5) Pré-Prova Pós-Prova 0,6 ± 0,4 0,8 ± 0,4* 2,3 ± 1,0 1,3 ± 0,5* 4,0 ± 1,0 15,0 ± 3,6* 6,7 ± 1,4 17,5 ± 4,1* Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 10 O comportamento dos indicadores da função imune após a prova pode ser observado na Tabela III. Uma análise dos dados permite-nos verificar um aumento significativo dos leucócitos totais, em ambos os grupos de atletas, sendo observado acréscimos de 158,7% (p = 0,003) e 161% (p = 0,001) nos grupos elite e não-elite, respectivamente. Esta leucocitose reflecte principalmente um aumento dos neutrófilos (neutrofilia) pós-esforço, sendo este mais acentuado nos atletas do grupo elite (323,5%, p = 0,002) comparativamente ao grupo não-elite (275%, p = 0,003). De forma a analisar o efeito crónico das sucessivas cargas de treino na resposta imune dos atletas presentes neste estudo, foram comparadas as concentrações leucocitárias intergrupos nos momentos pré e pós-prova, conforme apresentado na Figura 1, não tendo sido constatadas diferenças significativas. Contudo, importa reter que os atletas do grupo não elite, apresentaram valores basais de leucócitos totais ligeiramente mais elevados quando comparados com atletas de elite (6,7 ± 1,4 vs 6,3 ± 1,5 x 103/µL, p = 0,834). Figura 2 - Análise comparativa dos grupos de triatletas relativamente ao efeito da prova de triathlon longo na relação dos linfócitos T CD4+/ T CD8+. Figura 1 - Análise comparativa dos grupos experimentais de triatletas relativamente a concentração dos leucócitos totais nos momentos pré e pós-prova de triathlon longo. O exercício físico intenso e prolongado provoca múltiplas alterações bioquímicas cuja interpretação pode, por vezes, conduzir a resultados conflituais, principalmente em atletas com elevado nível de treino. O aumento da actividade das enzimas séricas indicia alterações na permeabilidade da membrana celular, e está normalmente correlacionado com lesão celular consequente ao exercício [5,17]. Os indicadores bioquímicos CK e AST utilizados no presente estudo constituem marcadores de lesão muscular, dado o facto de serem proteínas que, quando libertadas para o espaço extracelular, em resposta ao exercício físico, permitem determinar, ainda que de forma indirecta, a existência de lesões [3,5]. As enzimas ALT e GGT encontram-se em maior concentração no fígado e epitélios dos ductos biliares e renais, respectivamente [18], o que pode sugerir a possibilidade de lesão hepática, quando observado um aumento significativo dos níveis séricos destas enzimas em resposta ao exercício físico [19]. A elevada variabilidade inter-individual pós-prova observada no comportamento da enzima CK, expressa pelos acentuados desvios-padrão, corrobora estudos anteriores realizados com diferentes atletas de provas de resistência [4,17,20,21]. Esta variabilidade pode ser, em parte, justificada pelo nível de treino do atleta, uma vez que quanto mais elevado o estado de treino, maior a possibilidade da realização de esforços intensos, com melhor tolerância às elevações enzimáticas relacionadas com focos de lesão muscular [4,22,23]. Neste contexto, a atenuação da expressão da actividade da enzima CK pós-prova, evidenciada pelos atletas de elite, reforça o denominado efeito protector da carga repetida [24], promovendo nestes atletas importantes adaptações metabólicas ao esforço prolongado exaustivo, reduzindo o nível de agressão muscular induzida pelo exercício. Esta resposta da actividade enzimática menos pronunciada por parte dos atletas de elite lhes confere a classificação de low CK responders [17], na Leucócitos Totais (10^3/µl) 25 * 20 * 15 10 5 0 Pos-prova Pré-prova elite não elite * p < 0,05, vs Pré-prova; • p<0.05, vs Elite. A relação dos linfócitos T CD4+/CD8+, utilizada como indicador de imussupressão, foi alterada ao término da prova, sendo a diminuição observada (1,9 ± 0,8 vs 1,6 ± 0,5; p = 0,042) somente no grupo dos atletas não-elite, de acordo com o exposto na Figura 2. Foi encontrada uma diferença intergrupos de 26,3% referente aos valores basais (2,4 ± 0,8 vs 1,9 ± 0,8; p = 0,036) da relação, sendo também constatada uma diferença de 37,5% nos valores pós-prova dos grupos de atletas analisados (2,2 ± 0,7 vs 1,6 ± 0,5; p = 0.018). Ambos os grupos de atletas evidenciaram alterações nos indicadores de activação do fenótipo linfocitário T CD4+ (Tabela IV), em particular nas células T CD4+ reguladoras, as quais assumem relevante importância na homeostase da tolerância periférica. T CD4+ / CD8+ 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 * * Pos-prova Pré-prova elite não elite * p < 0,05, vs Pré-prova; • p<0.05, vs elite. Discussão Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 qual se observa uma curva individual dos valores absolutos pouco acentuada e que pode, de acordo com alguns autores, ser justificada por diferentes mecanismos, dentre os quais, a incapacidade de drenagem da enzima CK do interstício para a circulação sanguínea, através do sistema linfático, em resposta ao possível aumento da pressão dos fluidos intersticiais [25]. Relativamente aos elevados valores da actividade da enzima CK apresentados pelos atletas do grupo não-elite, uma justificativa plausível parece convergir para o efeito modulador da duração do esforço, facto que corrobora estudos anteriores com atletas de ultra-maratonas e triathlons longos, onde a dilatação do tempo de esforço é sugerida como factor determinante na libertação desta proteína para a circulação [3,26,27]. A semelhança do observado na actividade da CK, o aumento da actividade da enzima AST, apresentada por ambos os grupos de atletas, consubstancia no diagnóstico da ocorrência de lesão no tecido muscular esquelético [21,28]. Contudo, a sua menor expressão pós-prova pode ser justificada pelas suas elevadas dimensões moleculares, o que resulta numa dificuldade acrescida da sua remoção, via sistema linfático [3,27,29]. O aumento significativo da actividade da enzima GGT, constatada nos atletas de elite, constitui um indicador sensível de distúrbios hepáticos [30], possuindo também um importante papel modulador na velocidade das vias glicolítica e oxidativa [31]. Este aumento da actividade parece estar relacionado, segundo alguns autores, com a redistribuição do fluxo sanguíneo e o aumento da temperatura corporal induzidos pelo exercício físico intenso e prolongado, facto que poderia resultar em danos hepatocelulares provocados por uma isquemia [32,33]. O aumento do número de leucócitos circulantes após a realização de exercícios físicos constitui uma resposta aguda natural, e está dependente de factores como a intensidade, a duração e tipo de esforço realizado [14,34,35]. Esta leucocitose pós-esforço é normalmente expressa pelo aumento de neutrófilos [12-14,36,37], e se mostra mais pronunciada em esforços prolongados [36,38]. O aumento do número de leucócitos, evidenciada por ambos os grupos, após a realização da prova corrobora os resultados de estudos anteriores, e terá resultado da desmarginação dos neutrófilos, a partir das paredes do endotélio, induzida pelo aumento do débito cardíaco e alterações dos níveis de cortisol e catecolaminas [31,39,40]. Efectivamente, níveis elevados de adrenalina, induzidos pelo exercício físico, reduzem a afinidade dos neutrófilos pela parede do endotélio, potenciando um fluxo aumentado destas células para a circulação sanguínea [41]. Adicionalmente, o aumento transitório do número monócitos pós-prova, embora menos acentuado, está relacionado ao processo inicial da activação dos macrófagos no mecanismo de resposta inflamatória [42]. Relativamente a activação dos linfócitos T CD4+ e T CD8+, Pizza et al. [43] referem que o tipo de exercício parece exercer uma influência significativa na magnitude do comportamento dos parâmetros da imunidade celular e humoral. A diminuição significativa da relação dos linfócitos T 11 CD4+/CD8+ no grupo não-elite reflecte, principalmente, um acréscimo dos linfócitos T CD8+, o qual pode estar associado a uma situação de imunossupressão evidenciada pela realização de esforços intensos e prolongados [44,45]. Esta modulação do sistema imune, caracterizada pelo aumento dos linfócitos T CD8+ para o compartimento vascular, em resposta ao exercício físico agudo, parece estar relacionada com a expressão dos β-receptores presentes nestas células [46]. Contrariamente ao aumento observado no grupo não-elite, os atletas de elite evidenciaram uma diminuição do fenótipo T CD4+CD69+, que pode se prender, em parte, aos níveis aumentados de cortisol em resposta a realização de esforços prolongados e intensos [47], os quais poderiam provocar a inibição da produção de interleucina-1 (IL-1) pelos monócitos e, consequentemente, reduzir a estimulação dos linfócitos T CD4+, com menor produção de interleucina-2 (IL-2), o que resultaria na inibição da proliferação dos linfócitos T e diminuição de mediadores de inflamação e actividade citotóxica [48]. Conclusão A análise e interpretação dos resultados obtidos neste estudo permitem-nos extrair as seguintes conclusões: a duração do esforço parece constituir o factor determinante na expressão da resposta das proteínas musculares CK e AST, enquanto a intensidade do esforço exerce um importante efeito modulador da actividade da enzima hepática GGT. De forma similar aos indicadores bioquímicos, a resposta dos biomarcadores da função imune parece estar condicionada pela duração e intensidade do esforço. Assim, verificamos que a intensidade e a duração das provas de triathlon condicionam as respostas dos diferentes biomarcadores em função do nível de treino dos atletas. Referências 1. Laursen PB, Rhodes C. Factors affecting performance in ultraendurance triathlon. Sports Med 2001;31(3):195-209. 2. Laursen, PB, Rhodes EC, Langill, RH, McKenzie DC, Taunton JE. Relationship of exercise test variable to cycling performance in an ironman triathlon. Eur J Appl Physiol 2002;87:392-5. 3. Skenderi P, Kavouras S, Anastasiou C, Yiannakouris N, Matalas A. Exertional rhabdomyolisis during a 246km continuous running race. Med Sci Sports Exerc 2006;38(6):1054-7. 4. Mougios V. Reference intervals for serum creatine kinase in athletes. Br J Sports Med 2007;41:674-8. 5. Brancaccio P, Limongelli F, Maffulli N. Monitoring of serum enzymes in sports. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 13 Artigo original Prevenção de hipotrofia muscular pelo uso da mobilização neural em modelo experimental de ciatalgia Muscular hypotrophy prevention by using neural mobilization in experimental sciatica model Juliana Schmatz Mallmann*, Juliana Moesch*, Flávia Tomé*, Rogério Fonseca Vituri**, Alberito Rodrigo de Carvalho***, Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.**** *Graduados em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Campus de Cascavel/PR, **Especialista, docente do curso de medicina da Unioeste, ***Especialista, docente do curso de fisioterapia da Unioeste, ****Docente do curso de fisioterapia da Unioeste Resumo Introdução: O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia da mobilização neural na manutenção do trofismo muscular de sóleos em ratos submetidos a modelo experimental de ciatalgia por neuropraxia. Métodos: Ratos Wistar (n = 10 / 13 ± 2 semanas / 356,80 ± 27,76 g) foram divididos aleatoriamente em dois grupos, o GS, (n = 5) submetido à ciatalgia e tratamento simulacro, e o GMN, (n = 5) submetido à ciatalgia e tratado com mobilização neural. O protocolo experimental de ciática por neuropraxia seguiu o modelo de Bennett e Xie. Os tratamentos por mobilização neural (GMN) e simulacro (GS) foram realizados nas patas traseiras direitas. O trofismo muscular foi avaliado histomorfometricamente pelo menor diâmetro das fibras musculares (MDFM). Para análise estatística usou-se o teste t pareado (α = 0,05). Resultados: No GS houve diminuição significativa do MDFM à direita em relação à esquerda (p = 0,0051) e no GMN não foram observadas diferenças. Conclusão: A mobilização neural foi eficaz na redução da hipotrofia proveniente de uma neuropraxia nos animais. Abstract Introduction: The aim of this study was to assess the effectiveness of neural mobilization, in the soleus muscle tropism maintenance in rats with sciatica experimental model by neuropraxia. Methods: Wistar rats (n = 10 / 13 ± 2 weeks / 356.80 ± 27.76 g) were randomly divided into two groups, the SG (n = 5) subjected to sham treatment and sciatica, and NMG, (n = 5) submitted to sciatica and treated with neural mobilization. The experimental protocol of sciatica by neuropraxia followed the model of Bennett and Xie. The treatments for neural mobilization (NMG) and sham (GS) were performed on right hind limb. The muscle tropism was assessed by histomorphometric of muscle fibers diameter smaller (MFDS). Statistical analysis used the paired t test (α = 0.05). Results: In SG significant decrease of MFDS right than left (p = 0.0051) and the NMG no differences were observed. Conclusion: The neural mobilization was effective in reducing hypotrophy from a neuropraxia in animals. Key-words: sciatica, physical therapy modalities, neuralgia. Palavras-chave: ciática, modalidades de fisioterapia, neuralgia. Recebido em 18 de novembro de 2011; aceito em 3 de janeiro de 2012. Endereço de correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069, Jd. Universitário, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Biológicas e da Saúde/Laboratório de Estudo das Lesões e Recursos Fisioterapêuticos, Caixa Postal 711, 85819-110 Cascavel PR, Tel: (45) 3220-3157, E-mail: [email protected] 14 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução A incidência de dor lombar é de aproximadamente 80% da população mundial, e 35% destes desenvolvem um quadro de lombociatalgia, que é uma irritação do nervo isquiático, causando distúrbios sensitivos no trajeto do mesmo. A lombociatalgia constitui um problema de saúde, em todos os países, com certo grau de desenvolvimento, sendo que a perda da capacidade laboral e a aposentadoria são consequências importantes para a sociedade e economia [1]. A causa mais comum da lombociatalgia é a hérnia de disco, porém, existem outras, como: processos degenerativos, infecções, luxações traumáticas do quadril, anomalias congênitas [2], síndrome do piriforme [3] e estenose do canal lombar. Os sintomas incluem a dor lombar, dor ao longo do trajeto do nervo, distúrbios sensoriais e fraqueza dos músculos do membro inferior inervados pelo isquiático [4]. Os testes de provocação neural são realizados com objetivo de auxiliar no diagnóstico de síndromes compressivas nervosas [5,6], sendo que os mesmos são adaptados para tratamento destas síndromes, com resultados diversos [7-9]. O princípio da técnica de mobilização neural, que é um comprometimento da mecânica e ou fisiologia do sistema nervoso, pode resultar em outras disfunções do sistema nervoso, ou em estruturas musculoesqueléticas que recebam sua inervação. A mobilização neural é utilizada para restaurar o movimento e a elasticidade do sistema nervoso, com objetivo de melhorar a neurodinâmica e restabelecer o fluxo axoplasmático, restabelecendo a homeostasia dos tecidos nervosos [9]. Para Butler [10], a mobilização do sistema nervoso afeta a dinâmica vascular, os sistemas de transporte axonal e a restauração da mecânica das fibras nervosas e tecidos conjuntivos. Alteração das pressões no sistema nervoso, durante o movimento, podem auxiliar na dispersão de um edema intraneural, com melhora do suprimento sanguíneo às fibras nervosas em hipóxia. Além disso, um tratamento vigoroso poderia causar uma pequena lesão no nervo e estimular a liberação de fatores de crescimento. Pelo modelo de compressão isquiática, criado por Bennett e Xie [11], há a reprodução da sintomatologia visualizada em humanos, com isto, confere-se a possibilidade de avaliar técnicas de tratamento, como a mobilização neural, verificando-se a evolução do reparo nervoso pelo trofismo de músculos inervados pelo isquiático. O objetivo deste estudo foi verificar a eficácia da mobilização neural, na manutenção do trofismo muscular de sóleos em ratos submetidos a modelo experimental de ciatalgia por neuropraxia. 356,80 ± 27,76 g. Os ratos foram alojados em caixas de polipropileno, submetidos a ciclo claro/escuro regulado em 12 horas, e receberam água e ração ad libitum durante o período experimental. Os animais foram divididos aleatoriamente em 2 grupos: GS (n = 5) – submetido à ciatalgia e tratamento placebo (simulacro); GMN (n = 5) – submetido à ciatalgia e tratado com mobilização neural. O projeto foi conduzido segundo as normas internacionais de ética em experimentação animal [12], sendo aprovado pelo Comitê de Ética na Experimentação Animal e Aulas Práticas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Protocolo de lesão experimental Os animais foram anestesiados com ketamina (95 mg/ kg) e xilazina (12 mg/kg) intramuscular. Depois de feita a tricotomia, realizou-se uma incisão paralela às fibras do músculo bíceps femoral, da coxa direita do animal, expondo o nervo isquiático. Seguindo o modelo de Bennett e Xie [11], foi efetuada a compressão ao redor do nervo isquiático em quatro regiões distintas, com distância aproximada de 1 mm, sendo utilizado fio catgut 4.0 cromado, reproduzindo dor crônica no trajeto do mesmo, em seguida a sutura foi realizada por planos. Protocolos de tratamento Materiais e métodos Para a realização do protocolo de tratamento, os animais eram sedados com éter etílico, e o tratamento procedido no membro posterior direito, nos dois grupos. No protocolo utilizado para o GMN, o animal era posicionado em decúbito dorsal, quadril flexionado a aproximadamente 70º, extensão máxima possível de joelho e dorsiflexão de tornozelo até a sensação de resistência ao movimento, então o tornozelo era passivamente movimentado em planti e dorsiflexão, com aproximadamente 30 movimentos, durante um minuto [13]. No GS o animal também era sedado e posicionado em decúbito dorsal, porém apenas o quadril era mantido em flexão de cerca de 70º, sendo deixados livres o joelho e tornozelo dos animais. O tratamento iniciou no terceiro dia pós-compressão, sendo realizadas cinco sessões seguidas, sempre no mesmo horário, em dias subsequentes. No sexto dia, após o início do tratamento, os animais sofreram eutanásia por meio de decapitação em guilhotina. Então foi realizada a dissecação dos músculos sóleos, de forma bilateral, para posterior análise histomorfométrica. Grupos experimentais Análise histomorfométrica Foram utilizados 10 ratos (Rattus norvergicus), da linhagem Wistar, machos, com idade de 13 ± 2 semanas, com Após a dissecação e fixação dos sóleos, em formalina 10%, os mesmos foram emblocados em parafina e realizado Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 procedimento para confecção de lâminas histológicas, com cortes transversais no ventre muscular. Para realizar a análise dos músculos sóleos, optou-se por verificar o diâmetro das fibras em sua menor porção, visto que segundo Brito et al. [14] esta juntamente com a análise de secção transversa e diâmetro médio são formas adequadas de avaliar o grau de trofismo muscular. Para tal fim, foram analisadas 100 fibras por músculo, utilizando-se o programa Image-Pro-Plus 3.0. Análise dos resultados Os resultados foram expressos por meio da estatística descritiva (média e desvio-padrão) e analisados pela estatística inferencial, por meio do teste t de Student pareado, sendo aceito o nível de significância de α = 0,05. Resultados Os resultados mostraram que para o grupo simulacro havia diminuição significativa do menor diâmetro das fibras musculares dos sóleos direitos comparados aos esquerdos (p = 0,0051), com hipotrofia à direita (figura 1). Para o GMN não houve diferença significativa ao comparar os grupos (p = 0,3433). Figura 1 - Avaliação das fibras musculares dos sóleos em seu menor diâmetro, de acordo com os grupos (GS – grupo simulacro; GMN – grupo mobilização neural) e o lado de análise (D – direito; E – esquerdo). 40 * * 30 20 10 0 GC D GCE GMNL GMNL E * Diferença significativa entre os lados direito e esquerdo. Discussão A dor lombar é frequentemente acompanhada de lesões mielínicas, axonais ou axomielínicas, produzindo bloqueio parcial na condução em nível radicular como consequência da reação inflamatória [15]. Segundo Lihong et al. [16], a dor neuropática, relacionada à lesão nervosa periférica, é uma questão formidável para tratamento clínico, a qual é frequentemente acompanhada por regeneração das fibras 15 nervosas lesadas. Além disso, a lesão nervosa periférica produz degeneração das fibras nervosas, produzindo hipotrofia muscular [17]. Desta forma, no presente estudo objetivou-se avaliar uma característica de regeneração nervosa do isquiático, que é a atrofia muscular de fibras de sóleo. Esta síndrome, que além de ter alta incidência e prevalência, produz alterações álgicas e funcionais importantes que podem ser combatidas com o tratamento conservador, numa técnica de mobilização neural, que tem se mostrado vantajosa para a dor, advinda da compressão nervosa [18,19]. Oliverira Junior et al. [9] relatam que o número de artigos e publicações a respeito da mobilização neural, ainda é consideravelmente escasso. Porém, a ideia de aplicar um tratamento mecânico para o tecido neural não é nova, pois princípios e métodos de “alongamento nervoso” existiam desde 1800 e com o tempo se tornaram mais refinados tanto na teoria quanto na aplicação clínica [20]. Avaliar a técnica de mobilização neural, em um modelo experimental de ciatalgia, que pela lesão produzida (neuropraxia) gera hipotrofia muscular, apresentou-se como uma questão de interesse, pois existem para a técnica, na literatura, indícios de êxito e falhas sobre processos lesivos de nervos periféricos [7-9]. Segundo Hall et al. [21], como forma terapêutica para lesões nervosas, indicam-se movimentos oscilatórios gentis nas estruturas anatômicas envolvidas ao redor dos tecidos nervosos afetados. Kobayashi et al. [22] avaliando alterações no fluxo sanguíneo com o teste de elevação da perna retificada, em 12 pacientes, antes e após microdiscectomia, observaram que durante o teste havia redução do fluxo. Citam que as adesões causadas por reações inflamatórias entre a lesão e a raiz nervosa, poderiam reduzir a mobilidade do nervo durante o movimento dos membros, direcionando a alterações no fluxo com subsequente hipóxia, edema e desmielinização. O que acarretariam em alterações tanto sensitivas quanto tróficas musculares e do Sistema Nervoso Autônomo. Alterações tróficas musculares foram observadas no modelo de lesão aqui utilizado, visto que para o grupo controle, havia diminuição significativa do diâmetro das fibras musculares, quando comparado com o lado sadio. Kikukawa et al. [23] investigaram as alterações agudas no citoesqueleto axonal após alongamento moderado (2 N), por 1 hora, em nervos do plexo braquial de ratos. Relatam que os microtúbulos eram despolimerizados pelo alongamento, o que pode levar a implicações no transporte axonal do nervo. Sendo assim, com o fluxo axonal normalizado, a função nervosa poderia também sê-lo, e sequelas musculares, como a hipotrofia, poderiam ser debeladas. No presente estudo, para o grupo mobilização neural, havia melhora do trofismo muscular, indicado pela comparação entre o membro lesado e o não lesado, quanto ao menor diâmetro analisado, que é, segundo Brito et al. [14], uma medida adequada para avaliar trofismo muscular. Para o 16 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 grupo simulacro havia diferença significativa nos diâmetros, indicando que o modelo de lesão produziu alteração no trofismo muscular ao comparar com o lado sem lesão. Para Elvey [24], qualquer processo inflamatório, afetando uma raiz nervosa, pode conduzir ao desenvolvimento de um tecido fibroso, causando adesões, que resultam em disfunção de sua mobilidade relativa, além de torná-la intensamente sensível e dolorida ao movimento. Portanto, este seria o motivo do nervo ser tratado com movimento passivo, contudo, o efeito terapêutico é explicado apenas em termos de generalizações, como a prevenção na formação de adesões ao redor do nervo, na redução de edema e direcionamento a uma resposta de variações de pressão fisiológica benéfica. Segundo Cleland et al. [25], especula-se que se a etiologia dos sintomas forem originados de edema intraneural, as alterações na pressão intraneural, que acompanham a mobilização neural, podem ser suficientes para dispersar o edema, então aliviando a hipóxia e reduzindo os sintomas associados. Salienta-se que os resultados obtidos limitam-se pela falta de observação de efeitos diretos no ciático e pelo modelo utilizado no estudo (ratos). Porém, visto que o modelo de lesão utilizado reproduz a sintomatologia de uma neuropraxia [11], o modelo de avaliação é útil para predizer alterações provindas de lesão nervosa periférica. Conclusão Visto que a terapêutica adaptada para os membros posteriores dos animais foi viável, conclui-se que a mobilização neural, como forma de terapia, foi eficaz na redução da hipotrofia, provinda de uma neuropraxia nos animais. Agradecimentos Ao Hospital Universitário do Oeste (HUOP) do Paraná e à Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), pelo financiamento parcial do projeto. Referências 1. Morán AF. Criterios científicos actuales en el tratamiento del paciente con hernia discal lumbar. Rev Cubana Med Milit 2001;30(1):27-35. 2. Dosani A, Giannoudis PV, Waseem M, Hinsche A, Smith RM. Unusual presentation of sciatica in a 14-year-old-girl. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 17 Artigo original Percepção subjetiva da qualidade de vida de usuários de computadores após 12 sessões de ginástica laboral Subjective perception of quality of life of computer users after 15 sessions of labor gymnastics Thiago Medeiros da Costa Daniele*, George Lacerda de Souza**, Pedro Bezerra Souza Neto*** *Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará e mestrando em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), **Graduado em Educação física pela Universidade Estadual do Ceará e especialista em nutrição esportiva pela Universidade Estadual do Ceará (UECE),***Graduado em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) Resumo Objetivo: Avaliar a evolução da percepção da qualidade de vida geral após a aplicação de 12 sessões de ginástica laboral. Material e métodos: Foram aplicadas quatro sessões de ginástica laboral, duas vezes por semana, com o intuito de mobilizar os funcionários de uma empresa em Fortaleza/CE e adaptá-los aos horários. Na quinta sessão foi aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36 em todos os participantes. Resultados: Foram analisados 16 voluntários, 12 do sexo feminino e 4 do sexo masculino. A idade média dos funcionários era de 24,8 anos ± 3,4. O tempo médio de trabalho foi de 14,13 ± 14,65 meses. A capacidade funcional se mostrou melhor estatisticamente significante após a intervenção (p < 0,05). Os outros subitens apresentaram tendências positivas, com exceção da percepção à dor, que houve uma aparente piora comparada com o início do treino. Conclusão: Podemos comprovar que duas sessões por semana trouxeram bons resultados aos envolvidos com a prática regular desses exercícios. Abstract Objective: To evaluate the perception of overall quality of life after 12 sessions of labor gymnastics. Methods: The study was conducted in a computer company in Fortaleza, Ceara. Four sessions of labor gymnastics, twice a week, were performed aiming to mobilize the employees and to adequate the schedule. On the fifth session, we applied the quality of life questionnaire SF-36 in all participants. Results: We studied 16 volunteers, 12 females and 4 males. The average age of employees was 24.8 years ± 3.4. The women were 25 ± 1.0 years old and men were 24.25 ± 1.3 years old. The average working hours was 14.1 ± 14.6 months. Functional capacity showed statistically significant increase after intervention (P < 0.05). The other sub-items showed positive trends, except perception of pain, which there was an apparent worsening compared with the beginning of training. Conclusion: We noticed that participants achieve good results with two sessions of regular exercises. Key-words: Ergonomics, labor gymnastics, quality of life. Palavras-chave: Ergonomia, ginástica laboral, qualidade de vida. Recebido em 17 de outubro de 2011; aceito em 03 de janeiro de 2012. Endereço de correspondência: Thiago Medeiros da Costa Daniele, Departamento de Medicina, Universidade Federal do Ceará, Rua Prof. Costa Mendes, 1608, 4º Andar, 60430-040 Fortaleza CE, E-mail: [email protected] 18 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução As tecnologias de informação trouxeram com o processo industrial complicações em nível físico e psicológico. Esse efeito negativo, aliado ao sedentarismo, criou um termo capaz de expressar o quadro atual das pessoas que sofrem com a modernização: o tecnoestresse, termo primeiramente utilizado, em 1984, pelo psicoterapeuta e psiquiatra norte americano Craig Brod. Ele o define como uma enfermidade resultante da falta de habilidade para trabalhar com as novas tecnologias de uma forma saudável [1], levando ao estresse ocupacional que pode estar relacionado com a carga de trabalho [2]. Segundo Santos e Martendal apud Jex [2], este problema é entendido através de três aspectos. O primeiro é relativo ao estresse ocupacional, sendo o contexto organizacional o responsável pelas exigências adaptativas do trabalhador, chamado assim de estressor organizacional. O segundo se relaciona com as respostas psicológicas, comportamentais e fisiológicas dos trabalhadores ao estresse organizacional. Por fim, há a resposta ao estímulo estressor, ou seja, o impacto nos trabalhadores causado pelo estresse organizacional. Diversas estratégias estão sendo criadas a fim de levar um maior bem-estar aos trabalhadores, mudando consistentemente seus maus hábitos de vida como: inatividade física, tabagismo e alimentação inadequada. Segundo a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a ginástica laboral é realizada por meio de exercícios físicos que, aliados a técnicas de respiração e relaxamento, são capazes de levar a uma melhora do estado psicológico e fisiológico dos funcionários que utilizam computadores [7]. Apesar disso, as prevalências de problemas de saúde como dores músculo-articulares, característicos da profissão, podem remeter a uma maior vulnerabilidade dessa população a problemas de saúde geral. Um estudo colombiano [8] mostrou que a inatividade física aumenta a frequência e a duração de absentismo que tem implicações negativas para o trabalhador, para a empresa e para a sociedade, e afirma que programas de promoção da atividade física no trabalho são propostos como uma opção estratégica em saúde ocupacional. A partir dessas considerações, realizou-se um estudo exploratório e prospectivo com um grupo de funcionários que utilizam prioritariamente o computador como meio de trabalho, buscando identificar a frequência das variáveis da percepção da qualidade de vida em geral. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo e prospectivo contendo, a princípio, 20 voluntários. Deste total, quatro foram excluídos por permanecerem afastados por três sessões consecutivas, resultando em um conjunto final de 16 funcionários. O estudo foi realizado em uma empresa localizada na cidade de Fortaleza, Ceará. Foram incluídos voluntários de ambos os sexos com idades entre 20 e 40 anos que permanecem sentados por pelo menos seis horas por dia e que utilizavam o computador como instrumento de trabalho. Foram excluídos aqueles que não realizaram cinco sessões consecutivas e que estavam fora da faixa etária de inclusão. O procedimento foi realizado em 10 semanas. Na primeira semana, os funcionários foram instruídos com explicações sobre lesões por esforços repetitivos, sedentarismo e sobre a ginástica laboral. Na segunda semana, foram ministradas sessões de ginástica laboral com o intuito de mobilizar os funcionários e adaptá-los aos horários. Na terceira, foi aplicado um questionário de qualidade de vida em 20 funcionários, treze do sexo feminino e sete do sexo masculino. E na décima, após 12 sessões de ginástica laboral, o mesmo questionário foi reaplicado. As sessões duraram 20 minutos e foram realizadas duas vezes por semana Para análise da percepção de qualidade de vida dos funcionários, utilizou-se o Questionário de Qualidade de Vida SF-36, por ser de fácil administração e compreensão do tipo autoaplicável. O SF-36 é uma versão em português do Medical Outcomes Study 36 – Item Short Form Health Survey, traduzido e validado por Ciconelli et al. [3]. Estudos realizados no Brasil mostraram a viabilidade e a confiabilidade desse questionário [4,5]. Os participantes assinaram um termo de consentimento para a autorização da utilização dos dados de forma sigilosa com finalidade de pesquisa científica. Este projeto foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (CEP 031-04-09). Análise estatística A eficiência do treinamento foi avaliada pelo teste T de Student para amostras emparelhadas. O valor de P < 0,05 foi aceito como significante. Os dados foram apresentados como média ± desvio padrão e número de participantes com sua respectiva percentagem. Os dados foram submetidos a um pacote do programa de estatística SPSS for Windows. Resultados Foram analisados 16 voluntários, 12 do sexo feminino (75%) e 4 do sexo masculino (25%). A idade média dos funcionários era de 24,81 anos ± 3,43. A idade das mulheres foi de 25 ± 1.0 e dos homens foi de 24,25 ± 1,3. O tempo médio de trabalho foi de 14,13 ± 14,65 meses. Quatro participantes foram excluídos do estudo, dois funcionários tiveram férias e dois deixaram de realizar 3 sessões consecutivas. O tempo de trabalho variou de três meses, valor mínimo, e 48 meses, valor máximo. A média foi de 14 meses ± 14,65 executando a atual função. Os resultados dos subitens do SF-36 estão apresentados na Tabela I. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Tabela I - Percepção subjetiva dos subitens do SF-36. Variáveis Capacidade funcional Limitações físicas Dor Estado geral de saúde Vitalidade Aspectos socias Limitações por aspectos emocionais Saúde mental Início 76,56 84,38 67,44 58,71 63,75 72,65 73,24 Final 84,69 82,.81 64,25 63,71 69,37 79,17 72,91 70,00 74,25 P value < 0,05* 0,73 0,07 0,6 0,3 0,1 0,2 0,4 *P < 0,05. A Figura I expõe as médias de cada um dos subitens do SF-36. Todos os itens analisados apresentaram melhoras, com exceção da percepção à dor, que houve uma aparente piora comparada com o início do treino. A capacidade funcional se mostrou melhor estatisticamente significante após a intervenção (P < 0,05). Os outros subitens apresentaram tendências positivas. As médias variaram entre 63 e 85 pontos, mostrando que todos os participantes possuíam bons índices para os subitens da qualidade de vida analisados. Figura I - Relação entre as médias dos participantes antes e após a intervenção. 90.00 80.00 70.00 60.00 50.00 40.00 30.00 20.00 10.00 0.00 presente estudo não se preocupou com a intensidade dos exercícios, visto que o objetivo foi o de realizar uma compensação funcional como a melhora da circulação e do alongamento nos grandes grupamentos musculares. A qualidade de vida dos sujeitos melhorou principalmente a capacidade funcional, que é a capacidade do indivíduo em realizar as atividades da vida diária [11], mostrando que o dia a dia pode ser melhorado com a prática regular da ginástica laboral. A sociabilização entre os funcionários, analisado pelo subitem aspectos sociais, mostrou uma tendência positiva (p = 0,1). Já no que diz respeito aos aspectos emocionais não foi observada relevância com a ginástica laboral no presente estudo. Podemos concluir assim que os funcionários puderam melhor se relacionar após o início das intervenções. Com relação à saúde mental houve ganho significativo. Segundo Heloani et al. [12] o trabalho na atualidade e suas exigências geram pressões que afetam o corpo físico e o campo mental. Em nosso estudo a população apresentou melhoras, porém o resultado não foi estatisticamente significante. A percepção à dor foi o único item que houve redução no final da intervenção, talvez devido ao número reduzido de sessões, que foram de duas vezes por semana, em comparação com a carga horária dos funcionários, que é de oito horas por dia, seis vezes por semana. ad e Lim fun cio ita na çõ l es fís Es ica ta s do ge Do ra r ld e sa úd Vi ta e As lid pe As cto ade pe cto s so cia se is m oc i o Sa na úd is e m en ta l Conclusão id ac ap C 19 Início Final Discussão A literatura cientifica mostra os benefícios dos exercícios físicos compensatórios no ambiente de trabalho [9], teoria esta que foi comprovada pelo nosso trabalho. A incorporação dos exercícios no dia a dia dos funcionários foi o principal valor do estudo, pois a grande maioria era sedentária e, a pesar de todos serem jovens (idade média de 24 anos), a falta de disponibilidade de tempo para a prática de exercícios fora da empresa foi de 65% da população. A pesar de a intensidade ser proporcional aos efeitos tanto metabólicos como cardiovasculares, como frequência cardíaca e modulação de quimiorreceptores, a alteração da liberação de catecolaminas afeta todo o sistema nervoso simpático [10]. O Os dados deste estudo demonstraram que as sessões de ginástica laboral aplicada em funcionários com uma carga horária de 8 horas por dia, 6 vezes na semana, mostrou-se eficiente na melhora da capacidade funcional. Demonstrou-se que com a implantação de um programa de exercícios em empresas os funcionários conseguem melhor se socializar (aspectos sociais positivos) e têm percepção benéfica de sua saúde geral. No que diz respeito à saúde mental e à vitalidade, as pontuações dos subitens analisados apresentaram-se benéficas na população estudada. Podemos comprovar que duas sessões por semana trouxeram bons resultados aos envolvidos com a prática regular desses exercícios, porém sugere-se que mais estudos sejam realizados envolvendo funcionários que realizam pouca ou nenhuma atividade física no seu trabalho e os seus aspectos associados. Referências 1. Pocinho, MD, Garcia, JC. Impacto Psicossocial de la tecnologia de informacion y comunicacion (TIC): tecnoestrés, y daños físicos de satisfacción laboral. Acta Colom Psicol 2008;11(2):127-39. 2. Santos K, Martendal L. Coping e adoecimento cardíaco em um trabalhador da saúde. Psicol Argum 2008;26(55):281-92. 20 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 3. Ciconelli RM, Ferraz MB, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de qualidade de vida SF-36. Rev Bras Reumatol 1999;39(3):143-50. 4. Severo M, Santos AC, Lopes C, Barros H. Fiabilidade e validade dos conceitos teóricos das dimensões de saúde física e mental da versão portuguesa do SF- 36. Acta Med Port 2006;19:281-88. 5. Lemos MCD, Miyamoto S, Tatiyama V, Natour J. Qualidade de vida em pacientes com osteoporose: Correlações entre OPAQ e SF- 36. Rev Bras Reumatol 2006;46(5):323-28. 6. Ferrer RL, Mody-Bailey P, Jaén CR, Gott S, Araujo S. A medical assistant- based program to promote helthy behaviors in primary care. Ann Fam Med 2009;7(6):504-12. 7. Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Qualidade de Vida: Exercícios de ginástica laboral. Brasília: Ministério da Saúde; 2003. 8. Martínez-López E, Saldarriaga- Franco JF. Inactividad física y ausentismo en el ámbito laboral. Rev Salud Pública 2008;10(2):227-38. 9. Leite N, Mendes R. Ginástica laboral: Princípios e aplicações práticas, editora. São Paulo: Manole; 2004. p.17-35. 10. Assunção WD, Marcelo D, Simão R, Polito M, Monteiro W. Respostas cardiovasculares agudas no treinamento de força conduzido em exercicios para grandes e pequenos grupos musculares. Rev Bras Med Esporte 2007; 13(2):118-22. 11. Neri AL. Palavras-chave em gerontologia. Campinas: Alínea; 2005 p. 29-32. 12. Heloani JR, Capitão CG. Saúde mental e psicologia no trabalho. São Paulo em Perspectiva 2003;17(2):102-8. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 21 Artigo original Avaliação dos fatores de risco cardiovascular de idosos participantes de grupo de convivência da terceira idade do município de São Miguel do Oeste/SC Evaluation of cardiovascular risk factors in participants of an elderly association in São Miguel do Oeste/SC Nelí Maziero*, Everton Boff, M.Sc.**, Sandro Claro Pedrozo*** *Acadêmica de Biomedicina da Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC, **Professor da Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC, ***Professor do curso de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC, Especialista em Educação Física com área de concentração em Treinamento desportivo pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, São Miguel do Oeste/SC Resumo O objetivo deste estudo foi investigar os fatores de risco para doenças cardiovasculares, relacionados ou não com dislipidemias e características antropométricas de uma população de idosos do município de São Miguel do Oeste/SC. A amostra foi composta por 57 indivíduos (≥ 60 anos) de ambos os gêneros. Foram realizadas avaliações para identificar indicadores de gordura corporal (IMC, RCQ, CC), verificar o perfil lipídico (colesterol total e triglicerídeos), pressão arterial (PA) e risco coronariano. Para a análise dos dados, utilizou-se a estatística descritiva e o teste t de student para amostras independentes. O programa utilizado foi SPSS 13.0 e o nível de significância foi de P ≤ 0,05. Em relação aos fatores de risco cardiovascular prevaleceram: sedentarismo (82,4%), seguido por RCQ altos (64,9%), CC aumentada (56,1%) e hipertensão arterial sistêmica (49,1%). As mulheres apresentaram maior prevalência de obesidade (75,0%), RCQ alto (72,9%) e CC aumentada (71,8%). Também foram identificados, para as mulheres ≥ 70 anos, valores médios acima dos recomendados nas variáveis IMC (29,37 ± 7,65), CC (98,50 ± 16,44) e RCQ (0,93 ± 0,08). Ao comparar os gêneros, foram constatadas diferenças significativas nas variáveis RCQ (P = 0,049) e PA diastólica (70 anos ou mais: P = 0,016). Ao comparar as idades de < 70 anos e ≥70 anos, os valores médios do perfil lipídico não extrapolaram os valores de referência, apesar de serem observadas diferenças significativas (P = 0,008) nos triglicerídeos dos homens. Conclui-se então, que idosos do sexo feminino estão mais vulneráveis ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. O controle de fatores de risco contribui para diminuir a morbimortalidade em idosos e, consequentemente, melhorar a sua qualidade de vida. Abstract The objective of this study was to investigate the risk factors for cardiovascular disease, related or not with dyslipidemia and anthropometric characteristics of an elderly population in São Miguel do Oeste/SC. The sample included 57 individuals (≥ 60 years) of both genders. Evaluations were carried out to identify indicators of body fat (BMI, WHR, WC), the lipid profile (total cholesterol and triglycerides), blood pressure (BP) and coronary risk. For data analysis, we used descriptive statistics and Student’s t test for independent samples. The software used was SPSS 13.0 and significance level was P ≤ 0.05. In relation to cardiovascular risk factors prevailed: sedentary (82.4%), followed by high WHR (64.9%), CC increased (56.1%) and hypertension (49.1%). Women had a higher prevalence of obesity (75.0%), high WHR (72.9%) and CC increased (71.8%). Were also identified, for women ≥ 70 years, average values f or the variables above the recommended BMI (29.37 ± 7.65), CC (98.50 ± 16.44) and WHR (0.93 ± 0.08). When comparing genders, significant differences were found in variables WHR (P = 0.049) and diastolic BP (70 years or more: P = 0.016). By comparing the ages of < 70 and ≥ 70 years, the mean values of lipid profile is not extrapolated reference values, although significant differences (P = 0.008) in triglycerides of men. Was concluded that older women are more vulnerable to the development of cardiovascular disease. The control of risk factors contributes to reduce morbidity and mortality in elderly patients and thereby improve their quality of life. Key-words: risk factors, cardiovascular disease, elderly, anthropometric characteristics. Palavras-chave: fatores de risco, doenças cardiovasculares, idosos, características antropométricas. Recebido em 24 de novembro de 2011; aceito em 12 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Nelí Maziero, Linha Santo Expedito, BR 282, SN - 89910-000 Descanso SC, E-mail: nelimaziero@ hotmail.com 22 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução Com o fenômeno de envelhecimento populacional observado neste último século, aumenta, cada vez mais, a necessidade de conhecimento dos fatores que incidem sobre a prevalência das doenças crônico-degenerativas associadas à idade [1]. Segundo Pereira et al. [2], o envelhecimento reforça a importância de manter a saúde e autonomia. O avançar da idade, por si só, aumenta o risco de doenças crônicas, com destaque para as cardiovasculares. Entretanto, o desenvolvimento dessas doenças acomete diferencialmente os indivíduos, com menor frequência e gravidade naqueles com trajetória e cotidiano mais saudáveis [2]. Estudos delineados para avaliar a importância de fatores de risco (FR) para doença coronariana demonstraram que nove FR corresponderam a mais de 90% do risco atribuível para infarto do miocárdio. De modo surpreendente, tabagismo e dislipidemia compreenderam mais de dois terços deste risco e, obesidade central, diabetes mellitus (DM) e hipertensão arterial (HAS) estavam significativamente associados, mesmo com diferenças relativas nas diferentes regiões estudadas [3]. É necessário conhecer a prevalência desses fatores de risco, isolados ou combinados, pois é através de sua redução, com programas de prevenção primária e secundária, que objetivaremos a efetividade de qualquer programa de saúde [4]. Em função do aumento da população idosa, da necessidade de estudos com essa população e da possibilidade de intervenção nos fatores de risco, optou-se pela realização deste trabalho, que tem por objetivo avaliar os fatores de risco para doenças cardiovasculares relacionados ou não com dislipidemias, em uma população de idosos do município de São Miguel do Oeste, Santa Catarina. Material e métodos A população foi constituída por 57 idosos, com idade ≥ 60 anos, de ambos os gêneros, participantes do Grupo de Terceira idade do Bairro Agostini, residentes em São Miguel do Oeste - Santa Catarina, selecionada de forma intencional e voluntária. Este estudo foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa de Joaçaba e aprovado pelo parecer 066/2011 e CAAE: 0067.0.151.000-11, sendo respeitadas as diretrizes regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. Foram analisados os seguintes fatores de risco: HAS, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, obesidade, tabagismo, sedentarismo, história familiar, circunferência de cintura (CC), razão cintura-quadril (RCQ), gênero e idade. As medidas antropométricas foram realizadas no Laboratório de Fisiologia do Esforço e as coletas sanguíneas no Laboratório de Hematologia Clínica, ambos na UNOESC, campus de São Miguel do Oeste. A obesidade foi verificada pelo IMC. De acordo com a OMS [5], valores de IMC entre 18,5 e 24,9 são considerados normais, entre 25,0 e 29,9 indicam sobrepeso e valores ≥30 kg/ m2 apontam presença de obesidade. O sedentarismo foi identificado por meio daqueles que não praticavam atividade física ou praticavam menos que 3X por semana, durante, pelo menos, 30 minutos por dia de forma contínua ou acumulada [6]. A pressão arterial foi verificada três vezes em cada participante, por meio de um esfigmomanômetro aneróide e um estetoscópio, com intervalos mínimos de três minutos, sendo que as médias individuais das pressões aferidas foram utilizadas [6]. Valores de PA ≥ 140/90 mmHg foram considerados positivos para HAS e pessoas com valores de pressão abaixo desses níveis, mas que referiam uso de drogas anti-hipertensivas, também foram consideradas hipertensas [6]. Para o procedimento de coleta de sangue os idosos foram orientados a estar em jejum de 8 a 12 horas. A coleta de sangue foi realizada por punção venosa na veia mediana cubital em seringas de 10 ml da marca BD® e a agulha utilizada foi 25X7 também da marca BD® e distribuído em um tubo sem anticoagulante. Lembrando que cada tubo foi identificado com o nome do paciente e número geral de identificação. Utilizaram-se kits da marca Labtest Diagnóstica® em protocolos específicos para sua determinação em equipamento semi-automatizado da marca Bioplus®. As análises de colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG) foram realizadas pelo método colorimétrico enzimático. O HDL-C foi separado pela precipitação de LDL-C, utilizando o método de precipitação de dextrano e cloreto de magnésio. O LDL foi estimado pela fórmula de Friedewald (LDL-C = CT – VLDL – HDL). A classificação dos valores de referência para CT, TG, LDL-C e HDL-C correspondeu aos critérios das IV Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias (7): CT ≥ 240mg/dl ou HDL-c ≤ 40 mg/dl ou LDL-C ≥ 160 mg/dl ou TG ≥ 200 mg/dl. A avaliação do risco cardiovascular foi realizada com base no Escore de Framingham [7], baseado em valores numéricos de acordo com o risco atribuível aos valores da idade, PA, colesterol total, HDL-colesterol, tabagismo e diabetes mellitus [8]. Cada escore obtido corresponde a um percentual da probabilidade de ocorrência de um evento cardiovascular nos próximos dez anos. Assim, indivíduos de baixo risco teriam uma probabilidade menor que 10%; médio risco, entre 10% e 20% e alto risco, igual ou maior que 20% [9]. Para a análise dos dados utilizou-se o programa estatístico computacional (SPSS) versão 13.0. O procedimento estatístico utilizado foi estatística descritiva (média, desvio padrão e análise de frequência) e o teste t de student para amostra independente, no intuito de caracterizar a amostra e comparar gênero e idade. Resultados A população constituinte deste estudo apresentou idade média de 69,83 ± 5,88 anos, faixa etária predominante de 70-79 anos (48,28%) e do sexo feminino (59,6%). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 O fator de risco mais prevalente foi o sedentarismo (82,4%), seguido pelas características antropométricas: RCQ (64,9%) e CC (56,1%) aumentados e HAS (49,1%). A prevalência dos fatores de risco pode ser visualizada na Figura 1. Figura 1 - Fatores de risco mais prevalentes na amostra estudada. 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 82,4% 64,9% 56,1% Nosso estudo ainda apresenta resultados estatisticamente significativos quando comparada PAD de idosos com ≥70 anos em relação ao gênero (p = 0,016). Sendo que para a variável de PAS não ocorreu significância, embora se notasse um aumento nos valores das mulheres quando se comparam os gêneros – Tabela I. Tabela II - Comparação da média e desvio padrão dos grupos com idade abaixo de 70 anos e com 70 anos ou mais do gênero masculino. 49,1% Gênero Masculino < 70 anos (n 70 anos ou + = 15) (n = 09) Média ± DP Média ± DP 26,90 ± 4,14 26,54 ± 4,34 28,1% 10,5% Sedentarismo RCQ CC 23 HAS Obesidade Dislipidemia Os resultados apontam que houve maior percentual de risco em idosos do sexo feminino com 70-79 anos. Em relação à classificação de CC observou-se índice de alto risco entre idosos de 70-79 anos (57,1%). Quanto à classificação de IMC, constatou-se prevalência de obesidade nos idosos com 60-69 anos (37,0%). Tabela I - Comparação da média e desvio padrão dos grupos do gênero masculino com 70 anos ou mais. Grupo 70 anos ou + Masculino Feminino (n = 9) (n = 18) Média ± DP Média ± DP 26,54 ± 4,34 29,37 ± 7,65 P 0,316 IMC (kg/m2) RCQ (cintura/ 0,91 ± 0,06 0,93 ± 0,08 0,049* quadril) CC (cm) 94,00 ± 10,02 98,50 ± 16,44 0,169 PAS (mmHg) 138,89 ± 11,67 143,89 ± 19,74 0,492 PAD (mmHg) 74,44 ± 5,27 84,45 ± 10,97 0,016* Colesterol 180,56 ± 29,67 191,62 ± 30,06 0,374 (mg/dl) Triglicerídeos 141,22 ± 46,56 127,83 ± 67,65 0,600 (mg/dl) *P ≤ 0,05 No que concerne à comparação entre os sexos, evidenciou-se que as mulheres apresentaram maior prevalência de obesidade (75,0%), RCQ (72,9%) e de CC (71,8%) com risco alto, do que os homens. Na Tabela I podemos observar uma prevalência de sobrepeso no gênero feminino com ≥ 70 anos (29,37 ± 7,65). Para a CC e RCQ foram identificados valores médios acima dos recomendados para o gênero feminino, principalmente para as idosas com ≥70 anos (98,50 ± 16,44 e 0,93 ± 0,08), enquanto que nos homens os valores médios não extrapolaram os recomendados (94,00 ± 10,02 e 0,91 ± 0,06), com diferença estatisticamente significativa entre os gêneros para a variável de RCQ (p = 0,049). P 0,839 IMC (kg/m2) RCQ (cintura/ 0,92 ± 0,05 0,91 ± 0,06 0,116 quadril) CC (cm) 95,33 ± 10,29 94,00 ± 10,02 0,228 PAS (mmHg) 127,33 ± 18,69 138,89 ± 11,67 0,111 PAD (mmHg) 76,67 ± 8,99 74,44 ± 5,27 0,509 Colesterol 179,80 ± 38,53 180,56 ± 29,67 0,960 (mg/dl) Triglicerídeos 94,73 ± 31,72 141,22 ± 46,56 0,008* (mg/dl) *P ≤ 0,05 Na avaliação dos parâmetros laboratoriais, os valores médios do perfil lipídico – CT e TG – não apresentaram alterações em relação aos referenciais, observando-se, porém, que para TG houve significância estatística para idosos do gênero masculino quando comparados em relação à idade < 70 anos e ≥ 70 anos (p = 0,008) (Tabela II). No que se refere ao questionário de risco coronariano, houve maior proporção de risco moderado tanto entre as mulheres (70,5%) quanto entre os homens (65,2%). Em uma análise sobre o número de FR por idoso, observou-se que a maioria possuía quatro FR, seguida daqueles que possuíam dois. Dos 57 idosos, 71,9% apresentavam de dois a quatro. Esses dados estão demonstrados na figura 2. Figura 2 - Número de fatores de risco (FR) por idoso participante. 30,0% 26,3% 24,5% 25,0% 21,0% 20,0% 14,0% 15,0% 12,2% 10,0% 5,0% 0,0% 1,7% 0,0% 1 FR 2 FR 3 FR 4 FR 5 FR 6 FR 7 FR Em relação ao gênero, observou-se prevalência de homens, com até um fator de risco, e de mulheres entre os idosos, com três ou mais fatores de risco (Figura 3). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 24 Figura 3 - Distribuição dos casos segundo o número de fator de risco e gênero. 24 25 18 20 14 15 10 5 0 5 7 7 7 2 12 5 7 6 1 FR 2 FR 3 FR 4 FR ou mais Feminino Total Masculino Em relação à avaliação de risco cardiovascular em dez anos através do Escore de Framingham, pôde-se observar uma baixa prevalência DAC nos 57 indivíduos analisados, já que 60,34% encontravam-se em grupos de baixo risco, 29,31% em médio risco e apenas 8,62% em alto risco. Entretanto, esse quadro inicialmente favorável não se confirmou quando relacionado ao questionário de Avaliação do Risco Coronariano, pois neste cálculo 29,31% e 67,24% dos pacientes apresentaram risco médio e moderado para doença cardíaca, respectivamente. Figura 4 - Percentual de risco para DAC segundo o Escore de Framingham. 45,6% 38,6% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 7,0% 35,1% 19,3% 15,8% 17,5% 19,3% 1,8% Risco baixo Masculino Risco médio Feminino Risco alto Total Discussão O aumento no número de idosos instiga o desenvolvimento de estratégias que possam minimizar os efeitos negativos do avanço da idade cronológica no organismo. Demonstrou-se com este estudo que o fator de risco mais prevalente foi o sedentarismo, seguido de RCQ e CC aumentados, HAS e obesidade. Apesar de o critério para se considerar o idoso como sedentário ter sido bastante complacente, este foi o mais prevalente dos fatores de risco cardiovascular (82,4%) nessa população de gerontes. Sendo esse um fator de risco para doença coronária comparável a hipertensão, hipercolesterolemia, e tabagismo [10]. De forma similar, Gus et al. [4] encontraram resultados aproximados apontando índice de sedentarismo de 71,3% na população estudada. Corroborando, Feijó et al. [11] averiguaram que o sedentarismo também foi o fator de risco mais prevalente (75%) em estudo com pacientes admitidos em unidade de hemodinâmica, objetivando rastrear os fatores de risco para DAC nesses indivíduos. Quanto aos níveis pressóricos, 49,1% dos idosos (47,8% masculino e 29,8% feminino) apresentavam PA ≥ 140 x 90 mmHg. Resultado que se assemelha ao encontrado por Taddei et al. [12], apresentando PA elevada em 53% dos casos, confirmando que a prevalência de hipertensão entre os idosos é preocupante. De forma similar, pesquisa realizada por Mendonça et al. [13] avaliou idosos de um parque de São Paulo, descrevendo o risco cardiovascular e a condição física, identificando a presença de hipertensão arterial em 52% da população idosa estudada, valor condizente com o encontrado em nosso estudo. Estima-se que a explicação para o número expressivo de hipertensos encontrado deve-se a uma média de idade mais elevada. A isso se soma o elevado percentual de sedentários, o que contribui substancialmente para o controle inadequado da PA. Quando analisamos os dados antropométricos, notamos uma nítida prevalência de sobrepeso, 38,6% (17,5% masculino e 21,1% feminino) e de obesidade, 28,1% (7,0% masculino e 21,1% feminino), de acordo com a classificação da OMS [5] para IMC, conferindo ao grupo feminino uma maior prevalência deste fator de risco. Essa mesma tendência foi observada para CC, parâmetro relativo à gordura visceral, sendo que 40,4% das mulheres e 15,8% dos homens apresentavam CC ≥ 88 e ≥102 cm e, sobretudo, para o RCQ, em que notamos que 64,9% de todo o grupo apresentava RCQ alterada e de alto risco, 17,5% dos homens e 47,4% das mulheres. Santos et al. [14] também observaram maior proporção de sobrepeso e de inadequação da distribuição de gordura entre as mulheres. RCQ e CC das idosas apresentaram aproximadamente o dobro dos escores encontrados entre os homens. Analisando fatores de risco coronarianos em idosas, Guimarães et al. [15] observaram que 12,5% da amostra apresentou sobrepeso e 29,2% obesidade, resultados semelhantes aos encontrados em nosso estudo. Nesse mesmo trabalho foi verificado RCQ de alto risco em 54,2% das idosas indicando risco muito alto para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O risco cardiovascular, conforme a CC, esteve presente em 70,8% das idosas, as quais apresentaram risco muito aumentado, resultados condizentes com o da amostra atual deste estudo. Estudo realizado por Pitanga et al. [16] afirma que os homens com CC elevado e IMC baixo representam um grupo de maior risco propenso ao desenvolvimento patologias cardiovasculares. Ficando aparente que quanto menor a massa corporal maior a chance de acúmulo central de gordura na população estudada. A prevalência de obesidade encontrada justifica-se pela relação direta entre obesidade e inatividade física, acarretando maiores riscos para o desenvolvimento e a progressão das doenças cardiovasculares. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Quanto ao perfil lipídico, na determinação do CT, 3,5% e 7,0% apresentavam níveis elevados (≥ 240 mg/dl); na dosagem do HDL-C, 12,3% e 5,3% apresentavam níveis abaixo do recomendado (< 40 mg/dl); na determinação do LDL-C, apenas 5,3% das mulheres apresentavam dosagens aumentadas (≥ 160 mg/dl); nos valores de TG, também 5,3% das mulheres apresentavam níveis aumentados (> 200 mg/dl), todos os dados acima para homens e mulheres, respectivamente [7]. Estudo realizado recentemente sobre a população do Rio Grande do Sul obteve os achados de que a dislipidemia representava 5,6% entre os fatores analisados [4]. Na presente investigação, a avaliação dessa variável foi equivalente, possivelmente em função da obtenção de informações quanto ao perfil lipídico, através das dosagens de CT e TG por meio de análise laboratorial, método bastante confiável. Rosini et al. [3], investigando a prevalência e multiplicidade de fatores de risco em hipertensos e tabagistas de meia idade, apresentaram em seu estudo os níveis médios de CT acima do desejável, 230,3 ± 46,8, 223 ± 49,2 e 234,4 ± 45 mg/ dl, respectivamente, para amostra total, homens e mulheres, com diferença significativa entre os gêneros (p = 0,0407). Os níveis médios de TG, nesta mesma pesquisa, apresentaram-se discretamente elevados, a despeito da grande variabilidade observada, na média total, para homens e mulheres, 159,3 ± 83,9, 168,3 ± 87,3 e 154,5 ± 82,1 mg/dl, respectivamente. Em uma análise sobre o número de fatores de risco por idoso, Feijó et al. [11] observaram que a maioria dos participantes possuía três e quatro fatores de risco, respectivamente; no total 75% apresentavam de três a cinco. O baixo risco, resultante da avaliação dos pacientes baseada apenas nos critérios de Framingham, não significa que os mesmos estão isentos de risco cardiovascular, pois podem apresentar outros fatores não incluídos neste escore de predição clínica. A abordagem de maior respaldo na análise das evidências disponíveis consiste em estimar o risco cardiovascular não pela elevação de fatores isolados, e sim pela soma de risco decorrente de múltiplos fatores, estimada pelo risco absoluto global em cada indivíduo. Conclusão Consideramos através desta pesquisa que os idosos do sexo feminino estão mais vulneráveis ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares. O controle de fatores de risco contribui para diminuir a morbimortalidade em idosos e, consequentemente, melhorar a sua qualidade de vida. Esses dados são importantes dentro do contexto de saúde pública, pois caracteriza uma população em constante crescimento nos últimos anos, a população idosa, fornecendo, assim, subsídios para uma melhor intervenção nesses indivíduos. Apoiada na literatura preexistente e baseada nos resultados produzidos por este estudo pode-se concluir que a melhor maneira de quantificar o risco cardiovascular é considerar todos os fatores envolvidos. 25 Referências 1. Cruz IBM, Almeida MSC, Schwanke CHA, Moriguchi EH. Prevalência de obesidade em idosos longevos e sua associação com fatores de risco e morbidades cardiovasculares. Rev Assoc Med Bras 2004;50(2):172-7. 2. Pereira JC, Barreto SM, Passos VMA. O perfil de saúde cardiovascular dos idosos brasileiros precisa melhorar: estudo de base populacional. Arq Bras Cardiol 2008;91(1):1-10. 3. Rosini N, Machado MJ, Xavier HT. Estudo de prevalência e multiplicidade de fatores de risco cardiovascular em hipertensos do município de Brusque/SC. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 26 Artigo original Efeitos da suplementação de carboidrato em gel sobre o desempenho físico e a resposta glicêmica em teste de natação de 12 minutos Physical performance and glycemic responses in 12-minutes swimming test: effects of carbohydrate gel supplementation Jadson Pereira Alves*, André Luís Macalossi**, Ramiro Barcos Nunes***, Francisco Navarro**** *Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA, **Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Gama Filho – UGF, ***Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFCSPA, ****Universidade Federal do Maranhao – UFMA, Departamento de Educação Física Resumo Abstract Palavras-chave: carboidrato em gel, glicose, natação, desempenho. Key-words: carbohydrate gel, glucose, swimming, performance. Introdução competitivo e o desejo de obter bons resultados [1]. A dieta tem influencia direta na demanda energética em situações específicas como, por exemplo, durante a prática de exercício físico. Dieta e desempenho físico é um tema que tem sido objeto pesquisa na área do treinamento desportivo [2]. As intervenções dietéticas para aumentar o desempenho físico são práticas comuns entre atletas. O objetivo deste estudo foi avaliar a resposta do uso de carboidrato em gel como estratégia ergogênica no desempenho físico de nadadores. Foram avaliados 9 atletas, saudáveis, do sexo masculino, com idade entre 25 e 35 anos praticantes de natação competitiva, cada atleta recebeu um suplemento ou placebo 20 min antes do teste de natação de 12 min. Medidas de glicose sanguínea foram registradas em 4 momentos, 1° glicemia em jejum, 2° normalização glicêmica, 3° pré-teste e 4° pós-teste. Não houve diferença significativa na distância final do teste quando comparado o uso de suplemento com o placebo, os níveis de glicemia elevaram-se significativamente pós-consumo do suplemento e a glicemia final não se alterou significativamente. O uso de carboidrato em gel não foi capaz de melhorar o desempenho dos atletas quando comparado com o placebo, entretanto, mostrou-se eficiente em elevar a glicose sanguínea pré-teste. Dessa forma, a suplementação parece não ser necessária em provas de curta duração, uma vez que o organismo lança mão de recursos próprios para a manutenção da glicemia. O uso de intervenções dietéticas e de consumo de nutrientes para aumentar o desempenho de atletas são práticas antigas, o que não surpreende, considerando o meio altamente The dietary interventions to performance increases are a common praxis among competitive athletes. The aim of this study was to evaluate the response of the use of carbohydrate gel as an ergogenic way in swimming test. We evaluated 9 male healthy athletes, aged 25 to 35 years, practitioners of competitive swimming. The athlete received a carbohydrate gel supplementation or placebo 20 min before the test. The 12-minutes Cooper test was performed to physical performance and glucose responses evaluates. Blood glucose measurements were obtained in 4 moments: 1) fasting glucose, 2) glucose normalization, 3) pre-test and 4) post-test. There was no significant difference between carbohydrate supplemented or placebo groups distances. Blood glucose levels increase significantly after carbohydrate intake, however, after test, the blood glucose levels was not different between groups. The high level of athletes and short term of test may be a possible response to our results. The use of carbohydrate gel was unable to improve the performance of athletes. In this way, this strategy is not necessary to short duration tests, because there is an endogen mechanism to blood glucose maintenance. Recebido em 24 de novembro de 2011; aceito em 05 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Jadson Pereira Alves, Av. Carlos Gomes, 1999/01, 90480-005 Porto Alegre RS, E-mail: alvesjpf@ yahoo.com.br Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 O uso de suplementos nutricionais por atletas, objetivando maior rendimento, é um fenômeno que cresce a cada dia [3]. Esta prática se faz necessária, uma vez que o treinamento de alta intensidade, com um período de recuperação limitado, pode resultar em uma redução dos níveis de glicogênio, prejudicando o desempenho e levando a fadiga [4]. O processo da fadiga envolve vários fatores que acabam reduzindo o desempenho durante o exercício [5]. A fadiga é definida como uma falha ou incapacidade de gerar força, estando associada à depleção de substratos energéticos ou acúmulo de metabólitos [6]. No entanto, o rendimento no esporte não está apenas associado à adaptação da dieta, mas também ao uso de suplemento [7]. O suplemento de carboidrato em forma de gel fornece ajuda nutricional eficaz tornando-se mais uma opção para minimizar problemas como portabilidade e digestibilidade, comumente enfrentados durante o treinamento aeróbio de longa distância e na própria competição [8]. O suplemento de carboidrato pode ser benéfico visto que a ingestão desse suplemento durante a prova evita a queda da glicemia, mantendo assim a intensidade do exercício [9]. Para um melhor desempenho físico é indispensável que se mantenham concentrações ótimas de glicose sanguínea, garantindo os processos de produção de energia durante o esforço, evitando a fadiga durante a competição [10]. O monitoramento da resposta glicêmica durante o exercício pode contribuir para uma melhor organização das variáveis intensidade e duração do exercício, auxiliando o treinador ou técnico desportivo, no entendimento das respostas fisiológicas de seus atletas em relação ao volume e intensidade dos treinamentos [11,12]. O objetivo do presente estudo foi avaliar o uso de suplemento de carboidrato em gel sobre a resposta glicêmica de nadadores da categoria máster, durante teste de esforço de natação. Material e métodos Amostra A amostra (n = 9) foi composta por atletas saudáveis, do sexo masculino, com idade entre 25 e 35 anos, praticantes de natação competitiva há pelo menos um ano e que treinavam cinco dias por semana, uma vez por dia. Todos os indivíduos tinham uma boa regularidade nos treinamentos e experiência em competições em nível estadual. Os atletas foram informados detalhadamente sobre os procedimentos do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Medida de glicose sanguínea, suplementação e teste de 12 minutos Os atletas foram orientados a realizar jejum de 8h para o dia do teste. O instrumento para coleta dos valores da glicose sanguínea utilizado no presente estudo foi um aparelho glicosi- 27 mêtro (Glucotrend 2 Accu-Chek; Roche) com leitura dos valores em um tempo de 15 segundos e expressos na unidade de mg/ dL. Foram utilizadas lancetas descartáveis para cada coleta. Após assepsia do dedo indicador direito com álcool 96%, foi utilizada lanceta para obter a amostra de sangue necessária para preencher a tira de teste do glicosímetro. O procedimento para a medida da glicose sanguínea ocorreu em um tempo máximo de 30 segundos. A glicose sanguínea de jejum foi mensurada inicialmente para verificar os valores de base e a homogeneidade da amostra (glicose 1). Em seguida foi entregue o lanche padrão aos atletas (2 bananas) e após 30 min, foi verificada a segunda glicose sanguínea (glicose 2). Foi oferecido aos atletas o suplemento de carboidrato em gel (GU Energy gel, 32g) ou placebo (gelatina diet) 20 minutos antes do teste. Tanto o suplemento de carboidrato em gel quanto o placebo foram diluídos em 250 ml de água e colocados em frascos iguais e sem rótulos. A terceira medida de glicose sanguínea foi realizada imediatamente antes do teste (glicose 3) e imediatamente após o teste (glicose 4). Na semana anterior ao teste, o treinamento foi de caráter regenerativo, de forma que o volume e a intensidade do treino não sofreram modificações na sobrecarga. O estudo foi realizado em piscina semi-olímpica (25 x 12 metros), com temperatura de 27,5 ± 0,5 °C e temperatura ambiente de 15°C. Foi realizado o teste de 12 minutos de natação descrito por Cooper K [13], que consistiu em deslocar-se à máxima distância em 12 minutos em ritmo intenso no estilo crawl. Os atletas foram cegados e randomizados para grupo placebo ou suplemento de gel. Uma semana após o teste, os mesmos atletas participaram novamente do teste, entretanto, aqueles que haviam recebido o placebo, receberam o suplemento de carboidrato em gel, sem o conhecimento de qual substância estava sendo ingerida. Análise estatística Os valores das variáveis estudadas em cada grupo foram expressos em media ± DP. Para a medida de distância de nado entre os grupos foi utilizado o teste t. Para as medidas de glicemia foi utilizada ANOVA de uma via, seguido de teste Post-hoc de Student-Newman-keuls. As diferenças foram consideradas significativas quando apresentavam valores de P < 0,05. O programa GraphPad Prism 4 (GraphPad Software, San Diego, Califórnia, EUA) para Windows, foi utilizado como ferramenta computacional para análise estatística dos dados Resultados Tabela I - Características da amostra. Características Sexo Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) (n = 9 ) M 30 ± 5,8 75 ± 8,9 1,77 Valores expressos em media ± desvio padrão; M, masculino. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 40 20 Discussão Este foi o primeiro estudo a avaliar o desempenho físico e a resposta glicêmica, em atletas de natação da categoria máster, submetidos ao teste de 12 minutos adaptado para natação, utilizando suplementação de carboidrato em gel. Figura 2 - Distâncias obtidas no teste de 12 minutos. Distância (metros) 1000 800 600 400 200 0 Suplemento Placebo Valores expressos em media ± DP; Teste t para comparação das médias em relação a distância percorrida durante o teste de 12 minutos. 4P lic 4S G lic G lic 3S G lic lic G lic G do teste de 12 minutos, entre o grupo placebo e o grupo suplemento (Figura 2). Os valores de glicose sanguínea, medida após jejum de 8h (glicose 1; Figura 3), foi similar entre os grupos. No entanto, a glicemia medida 30 minutos pós-lanche (glicose 2), aumentou significativamente quando comparada a glicemia de jejum, em ambos os grupos (p < 0,05) (figura 3). Após 20 minutos da ingestão do suplemento de carboidrato em gel ou placebo, foi observado aumento na glicemia (glicose 3) do grupo suplemento, mas não no grupo placebo (figura 3). Esse aumento foi significativo inclusive em relação à medida de glicose 2 de ambos os grupos (p < 0,01). Ao final do teste de 12 minutos não houve diferença nos valores de glicose sanguínea (glicose 4) entre os grupos placebo e suplemento. Entretanto, quando comparados os valores de glicose pré-teste (glicose 3) e pós-teste (glicose 4) do grupo placebo, foi observado um aumento significativo e bastante expressivo na glicemia ao final do teste (p < 0,001) (Figura 3). 3P 0 2P T4 60 G T3 80 lic T2 Teste 12 minutos * 100 1S T1 20 minutos * 120 2S 30 minutos = 140 G 8h/Glicêmia 8:30/Glicêmia 8:50/Glicêmia 9:12/Glicêmia /Lanche Gel ou Placebo # lic Não houve diferença entre as distâncias obtidas ao final 160 1P Figura 1 - Coletas e intervenções dietéticas. Figura 3 - Valores de glicose sanguínea dos grupos placebo e suplemento. G Os testes foram aplicados com a diferença de uma semana, não havendo intercorrências durante o período entre testes, nem durante a execução do experimento. Os testes foram realizados de maneira idêntica, respeitando os tempos de coleta de sangue e intervenções dietéticas, como apresentado abaixo na Figura 1. Glicemia (mg/dL) 28 Valores expressos em media ± DP. Grupo suplemento tempos 1, 2, 3 e 4; Grupo placebo tempos 1, 2, 3 e 4. * p<0,05 vs glic 1 S e glic 1 P. # p < 0,01 vs glic 2 S; glic 2 P e glic 3 P. = p < 0,001 vs glic 3 P. ANOVA de uma via. Na literatura podem ser encontrados dados que sugerem a ingestão de suplemento à base de carboidrato, como bebidas esportivas, géis ou outras formas de alimento. Esta prática é utilizada no intuito de evitar a queda da glicemia durante o esforço, mantendo a intensidade e duração do exercício, preservando, assim o glicogênio hepático. Esta estratégia parece ser interessante, uma vez que, o treinamento de alta intensidade e longa duração pode resultar na redução dos níveis das reservas de glicogênio, prejudicando o desempenho e, consequentemente, levando a um quadro de fadiga [9,10]. Os achados do presente estudo revelam que o consumo prévio de carboidrato em gel, 20 minutos antes do teste físico de alta intensidade e curta duração (12 minutos), não melhora o desempenho dos atletas quando comparado com o uso da substância placebo. Este resultado pode ter uma relação direta com o nível de treinamento dos atletas e tempo de duração do teste, uma vez que os mesmos estão adaptados a treinamentos de alta intensidade e maior duração. Tais fatores podem ter levado a uma menor utilização do carboidrato ingerido, uma vez que a captação de glicose pelos músculos e a glicogenólise aumentam proporcionalmente com a intensidade e duração do esforço [14,15]. A glicose sanguínea, após os 20 minutos do consumo de carboidrato gel, elevou-se significativamente quando comparado com o placebo (figura 3), evidenciando assim, a eficiência do produto para este fim. O mesmo também foi verificado no estudo de Febbraio et al. [16], no qual foi encontrado um aumento na glicose plasmática após consumo da bebida de carboidrato nos 10, 20 e 30 minutos após ingestão, concordando também com o estudo de Sapata, Fahy e Oliveira [17], que também observou um aumento da glicemia pós consumo da bebida com carboidrato quando comparado com a bebida placebo. Os níveis de glicose sanguínea pós-teste não sofreram alterações significativas com o uso do carboidrato gel quando Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 comparado com o placebo. Uma possível explicação para este resultado pode estar relacionada ao tempo de duração do teste (12 minutos), que pareceu não ter sido suficientemente longo a ponto de se fazer necessária a utilização de suplemento de carboidrato. O estudo realizado por Peake et al. [18] mostrou concentrações de glicose plasmática mais alta ao final do teste, com o uso do carboidrato, quando comparado à substância placebo. Estes resultados foram encontrados na modalidade de ciclismo e com tempo superior a 12 min de duração, o que nos leva a pensar que a duração da atividade proposta em nosso estudo talvez não tenha sido suficiente para alterar significativamente a resposta glicêmica. Assim, testes, com um período de tempo maior, parecem ser mais adequados para mostrar a eficiência do uso do suplemento de carboidrato em nadadores. Esta observação parece ser relevante, uma vez que estudos com o uso de suplemento em forma de gel, em nadadores, são escassos na literatura até o presente momento. O efeito do uso de carboidrato em gel, em relação à melhora do desempenho não está bem claro na literatura [8]. Menos ainda se sabe em relação à natação, pois a grande maioria dos estudos usa suplementação de carboidratos na forma de bebidas esportivas utilizando outros ergômetros. Entre os poucos estudos que utilizaram o carboidrato em gel para avaliar sua contribuição no desempenho físico, está o estudo de Kern, Helsin e Rezende [19], que comparou o uso de gel vs uva passa em indivíduos submetidos a teste em cicloergômetro. Ainda, o estudo de Patterson e Gray [20] comparou o efeito do consumo de carboidrato em gel ou substância placebo em um protocolo usando corrida intermitente. Um achado interessante neste estudo foi a comparação da glicose 3 do grupo placebo com a glicose 4 do mesmo grupo, em que os níveis elevaram-se significativamente no final do teste de 12 min. Esta reposta pode ser explicada por um possível mecanismo do sistema endócrino, uma vez que, para evitar a hipoglicemia durante o exercício físico, em um primeiro momento, ocorre um ajuste mediado pela diminuição da insulina e paralelamente um aumento dos hormônios hiperglicemiantes, glucagon, catecolaminas, hormônio do crescimento e cortisol. Este mecanismo pode contribuir de forma positiva para a manutenção do exercício, entretanto por um período limitado [21-23]. Conclusão O presente estudo demonstrou que o consumo de carboidrato na forma de gel 20 minutos, antes da prática do teste de 12 min de natação, não melhorou o desempenho dos atletas, embora tenha sido efetivo no aumento da glicemia. Este tipo de suplementação parece não se fazer necessário para a realização de testes de curta duração em atletas bem treinados. Referências 1. Meti RSG. Impact of nutrition intervention programme on performance of High School Kabaddi Players. J Hum Ecol 2007;22(4):337-44. 29 2. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 30 Artigo original Treinamento aeróbico em cicloergômetro adaptado para pacientes lesados medulares Aerobic training on adapted cycle ergometer for paraplegic patients by spinal cord injury Simone Suzuki Woellner*, Antonio Vinicius Soares, M.Sc.**, Anna Maria Engel***, Paulo Guilherme Lenz****, Bruna Zimmermann***** *Especialista em Fisioterapia Neurológica e Supervisora do Estágio de Neurologia Adulto da Faculdade Guilherme Guimbala, **Especialista em Cinesioterapia Neuro-sensório-motora, Professor de Anatomia, Neuroanatomia, Cinesiologia e Neurologia da Faculdade Guilherme Guimbala e IELUSC, ***Graduando em Fisioterapia, ****Graduando em Fisioterapia e Educação Física, *****Graduando em Fisioterapia Resumo Introdução: A inatividade pós-traumatismo raquimedular (TRM) reduz consideravelmente a massa muscular e a capacidade aeróbica dos indivíduos, resultando em fadiga e aumento da prevalência de doenças associadas. Objetivo: Avaliar os efeitos da cicloergometria em lesados medulares por TRM. Métodos: Pesquisa quase-experimental, tipo séries de tempo, com 3 pré e 3 pós-testes em dias alternados. Participaram do estudo dois indivíduos, um paraplégico, nível neurológico T11, e outro paraparético, nível neurológico T6. Foram utilizados o protocolo da ASIA, Dinamômetro de Preensão Manual (DPM), Manovacuometro Digital (MVD) com medidas de pressão inspiratória máxima e pressão expiratória máxima, e o Perfil de Saúde de Nottingham (PSN). Para o treinamento aeróbio foi utilizado um cicloergômetro para os quatro membros (Ciclomaster Embreex®). O programa de treinamento teve frequência de 2 vezes por semana durante 10 semanas (± 15 sessões). Resultados: Dos resultados encontrados neste estudo, houve uma significativa melhora nas medidas de PEmáx, no sujeito 1 foi de 43,7% (p < 0,01) e 12,6% (p < 0,05) no sujeito 2, e na análise do Teste do Pêndulo do sujeito 2 também observou-se redução significativa da espasticidade. Conclusão: Estes resultados iniciais devem estimular novas pesquisas com amostras maiores e grupo controle para ampliar o conhecimento dos potenciais benefícios deste recurso terapêutico. Abstract Introduction: The inactivity in spinal cord injury (SCI) significantly reduces the muscle mass and aerobic capacity, resulting in fatigue and increased prevalence of associated diseases. Objective: To evaluate the effects of cycle ergometer for SCI patients. Methods: Quasi-experimental research, time series design, with 3 pre and post test in alternate days. The study was composed of 2 individuals, a paraplegic, neurological level T11, and another paraparetic, neurological level T6. The ASIA protocol, the Dynamometer handgrip, the Digital Manometer with measures of maximal inspiratory pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP), and the Nottingham Health Profile were used. For aerobic training cycle was used for the four members (Ciclomaster Embreex®). The training program was 2 times per week during 10 weeks (± 15 sessions). Results: The results showed significant improvement in measures of MEP, in subject 1 was 43.7% (p < 0.01) and 12.6% (p < 0.05) in subject 2, the analysis of the Pendulum Test Subject 2 also showed reducing in spasticity. There were no significant changes in other measures assessed. Conclusion: These initial results should stimulate further research with larger samples and control group to broaden the knowledge of the potential benefits of this therapeutic resource. Key-words: spinal cord injury, paraplegia, aerobic training. Palavras-chave: traumatismo raqui medular, paraplegia, treino aeróbico. Recebido 1 de novembro de 2011; aceito em 12 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Simone Suzuki Woellner, Núcleo de Pesquisas em Neuroreabilitação, Faculdade de Fisioterapia da Associação Catarinense de Ensino – ACE, Rua São José, 490, Anita Garibaldi, 89202-010 Joinville SC, E-mail: simones.woellner@ gmail.com Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O traumatismo raquimedular (TRM) é caracterizado como injúria à rede neural medular, danificando a condução de impulsos nervosos sensório-motores e a regulação orgânica autônoma. Está entre as síndromes que acarretam as mais graves incapacidades ao ser humano, causando de forma abrupta déficits de locomoção, sensibilidade e funções autonômicas. As lesões traumáticas da medula espinhal (ME) vêm aumentando a cada ano, e prevalecem sobre população jovem, hígida e ativa, trazendo transtornos em diversos aspectos para o indivíduo e sua família [1,2]. As lesões traumáticas da ME causam uma lesão primária, que ocorre por destruição mecânica do tecido neural e hemorragia intramedular, e uma lesão secundária, a qual leva a alterações químicas intracelulares e apoptose. Entre 30 a 60 minutos após o trauma o indivíduo entra em fase de choque medular, caracterizado por paralisia flácida, portanto toda atividade reflexa abaixo do nível da lesão permanece ausente [1,3,4]. O TRM pode gerar uma lesão completa ou incompleta na ME. Nas lesões completas as funções motoras e sensitivas estão completamente extintas abaixo do nível neurológico da lesão, nos níveis sacrais inferiores S4 e S5. Em lesões incompletas é possível obter funções motoras e sensitivas nos segmentos sacrais, abaixo do nível da lesão [1-3]. Após o trauma a inatividade leva a redução da massa muscular e da capacidade de realização de atividades aeróbicas, resultando em fadiga, aumentando a prevalência de Diabetes Mellitus, doenças cardiovasculares, disfunções renais, osteopenia e posteriormente osteoporose, acarretando em considerável redução da expectativa de vida dos indivíduos [1,5-8]. Durante o treinamento aeróbico quanto maior a massa muscular trabalhada maiores os benefícios como melhora da força muscular e resistência à fadiga, independência nas atividades de vida diária (AVD’s), diminuição da depressão e do isolamento social. As adaptações fisiológicas ao treinamento aeróbico podem ser tanto centrais incluindo aspectos respiratórios, cardíacos e hemodinâmicos, quanto periféricos como melhora do aporte sanguíneo local e aumento da extração de oxigênio [1,9-11]. O treinamento aeróbico com exercícios resistidos causa aumento no consumo máximo de oxigênio, induzindo a bradicardia e aumentando a capacidade física ao esforço. Influencia também na melhora da FC, débito cardíaco, volume sistólico, e aumento da capacidade respiratória, resultando em melhor distribuição de oxigênio a musculatura [12]. A prescrição de treinamentos aeróbicos eficazes e seguros baseia-se em 3 princípios, tanto para portadores de deficiências quanto para não portadores, sendo eles: frequência, duração e intensidade do treino. O ideal fica entre 2 e 3 sessões semanais já que o treino com membros superiores gera maior acúmulo de toxinas necessitando de 24h para serem absorvidas e indivíduos paraplégicos têm maior facilidade para fadigarem [1,13-16]. 31 Na lesão medular torácica baixa os indivíduos apresentam comprometimento respiratório pela redução da reserva expiratória [1], devido ao déficit muscular abdominal, sendo as complicações respiratórias uma das maiores causas de morte e morbidade no TRM [17]. Músculos fortes e bem condicionados necessitam menor quantidade de oxigênio para realização de trabalho, sendo mais eficazes quando comparados à musculatura mal condicionada [18]. Sabe-se que paraplégicos não obtêm, somente com a propulsão da cadeira de rodas e AVD’s, atividade física suficiente para prevenir a perda de força muscular dos membros superiores (MMSS), resultando em rápida fadiga localizada [19], e não incrementa índices de taxa cardíaca em extensão apropriada [7]. O treinamento de MMSS é capaz de reverter o descondicionamento muscular, mas traz apenas benefícios periféricos para a musculatura envolvida, ao contrário da ergometria que envolve MMSS e MMII, capaz de produzir efeitos cardiopulmonares centrais [9]. Atualmente é escassa a pesquisa na área da saúde com relação a atividades aeróbicas na paraplegia, visto que a maioria dos treinos aeróbicos utiliza enfaticamente membros inferiores, o que impossibilita indivíduos que sofreram TRM de se beneficiarem dos resultados obtidos com o treinamento aeróbico. Portanto a presente pesquisa visa avaliar resultados obtidos através do treino aeróbico em cicloergômetro adaptado para pacientes paraplégicos por TRM. Material e métodos A presente pesquisa caracteriza-se como quase experimental tipo séries de tempo, composta por 15 sessões de treinamento, com 2 sessões semanais. A amostra foi composta por 2 sujeitos do sexo masculino, sendo o sujeito 1 com lesão completa, paraplégico nível neurológico T11, e o sujeito 2, com lesão incompleta, paraparético nível neurológico T6, sem restrição de idade. Como parâmetro de análise os sujeitos foram submetidos a 3 pré e 3 pós-testes na semana anterior e posterior aos treinos, em dias alternados. Para os testes foram utilizados os seguintes instrumentos: ASIA (exame neurológico que consiste em exames sensoriais e motores, utilizados para determinar os níveis neurológicos, assim como a extensão da lesão medular), Dinamômetro de preensão manual (teste que avalia a força de preensão manual que consiste em um dinamômetro no qual é exercida uma força isométrica de preensão através da mão), Manovacuômetro digital (MVD 300, Global Med®, que permite a mensuração da PEmáx, PImax, realizando 3 medidas com intervalo de 30 segundos), Perfil de Saúde de Nottingham (PSN, fornece uma medida simples da saúde física, social e emocional do indivíduo) e Teste do Pêndulo (utilizado para mensurar o tônus do músculo quadríceps), mensuração da pressão arterial (PA), frequência cardíaca (FC) e saturação de oxigênio, e cálculo da frequência cardíaca máxima (FCmáx) [1,20-24]. A frequência cardíaca máxima é utilizada como determinante da intensidade do exercício, mensurada através do Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 32 cálculo: 220 menos a idade do indivíduo em anos. Sabendo que a FCmáx é consideravelmente mais baixa em exercícios realizados com membros superiores recomenda-se subtrair 13 bpm da FCmáx prevista para a idade, tendo assim maior precisão do limiar da FCmáx [12]. Para o treinamento foi utilizado um cicloergômetro adaptado para membros superiores e membros inferiores (Ciclomaster, modelo 603, fabricante Embreex®), que possui um sistema de transmissão entre as manivelas e os pedais e possibilita mobilização simultânea para os quatro membros. Baseado em Greve et al. [1], e Balady [14], os treinamentos no cicloergômetro adaptado iniciaram com 5 minutos de aquecimento, sem carga, com velocidade de 55 rpm, seguindo para o início do treino aeróbico no qual a cada 5 minutos foram feitos incrementos de carga, com velocidade mantida constantemente a 55 rpm. Monitorando durante todo o treinamento a FC e a Escala de Esforço Percebido de Borg, conforme recomenda Borg [11]. Os critérios de interrupção do treino foram frequência cardíaca correspondente a 90% da frequência cardíaca máxima do paciente, se esforço percebido pela escala de Borg fosse maior ou igual a 6, náuseas, tonturas, alteração súbita da frequência cardíaca, palidez, cianose, dor ou a pedido do paciente. Após a interrupção do treino aeróbico, inicia-se a volta a calma com duração de 5 minutos sem carga e com velocidade decrescente, segundo sugerido por Greve et al. [1]. As mensurações de PA, FC e saturação de oxigênio foram feitas em repouso ao início e ao término dos treinos [1,11,14,15,24]. Após a coleta final, os dados foram analisados pela estatística descritiva e submetidos à média, desvio padrão, diferença percentual e para estabelecer o nível de significância foi utilizado o teste “t” Student (p ≤ 0,05). Resultados e discussão Nos gráficos abaixo estão expressos os resultados obtidos nos pré e pós-testes relativos à pressão expiratória de pico e teste do pêndulo. A partir da análise estatística dos dados submetidos à média, desvio padrão, diferença percentual e teste “t” Student foi possível verificar que não houve alteração significativa na PImax; na PEmáx houve melhora significativa de 43,7% (p < 0,01) no sujeito 1 e 12,6% (p < 0,05) no sujeito 2, conforme Gráficos 1 e 2. Gráfico 1 - Manovacuometria PEmáx, Sujeito 1. Manovacuometria (PEmax) Teste 1 75 81 73 86 80 80 1º dia 2º dia Teste 2 133 152 121 92 91 3º dia Teste 3 153 1º dia Pré-teste (PE max) 114 112 128 2º dia 111 95 121 3º dia Pós-teste (PE max) Sujeito 1 Gráfico 2 - Manovacuometria PEmáx, Sujeito 2. Manovacuometria (PEmax) Teste 1 Teste 2 70 69 60 78 77 62 91 1º dia 2º dia 3º dia Teste 3 90 77 89 90 75 77 85 75 82 1º dia 2º dia 3º dia 77 73 Pré-teste (PE max) Pós-teste (PE max) Sujeito 2 A melhora das pressões inspiratória e expiratória está relacionada com um aumento da capacidade respiratória. Van Der Ersch [25], em um estudo com pacientes com espondilite anquilosante, ressalta que as pressões expiratória e inspiratória estão significativamente relacionadas com aptidão física. Diversos estudos têm demonstrado os efeitos positivos do treinamento físico de MMSS na melhora da aptidão cardiorrespiratória. Através do treinamento aeróbio de MMSS, Silva et al. [26] encontraram incrementos de resistência à fadiga da musculatura respiratória em indivíduos com lesão medular torácica. Já Liaw et al. [27] obtiveram melhora significativa da PEmáx e PImax após 6 semanas de treinamento específico da musculatura respiratórias em pacientes com TRM cervical completo. Soares et al. [24], em um estudo com 1 paciente paraplégico treinado no cicloergômetro adaptado durante 6 semanas, com 3 sessões semanais, verificaram que a pressão inspiratória apresentou um aumento estatisticamente significativo, enquanto a PEmáx também apresentou aumento, porém não foi significativo. A endurance da PImax e PEmáx também apresentaram aumento, indicando um incremento da resistência à fadiga da musculatura respiratória. De acordo com Mateus et al. [28], indivíduos paraplégicos podem apresentar comprometimentos das pressões inspiratória e expiratória, principalmente os indivíduos com lesões mais altas, podendo ser normal em indivíduos com lesões baixas, causando um comprometimento adicional da aptidão física. No presente estudo, os sujeitos 1 e 2, com lesão medular torácica, obtiveram expressiva melhora da capacidade respiratória, representada pelo incremento da PEmáx. Resultado obtido pelo treinamento aeróbio de MMSS e MMII, comprovando os benefícios cardiorrespiratórios provenientes da cicloergometria. Os sujeitos participantes do presente estudo, porém, não apresentaram alterações na pressão inspiratória máxima. Da mesma forma, Godoy et al. [29] não encontraram alterações estatisticamente significativas na pressão inspiratória máxima de indivíduos após 3 meses de prática de ioga ou exercícios aeróbicos, com 2 sessões semanais, porém os praticantes de ioga obtiveram aumentos mais expressivos na Pimax quando comparados aos praticantes de ginástica aeróbica, o que pode- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 ria ser explicado pelo treinamento específico da musculatura inspiratória durante as sessões de ioga. Kunikoshita et al. [30] observaram alterações relevantes nas Pimax e PEmáx em um grupo de pacientes com DPOC que foram submetidos a sessões de treinamento de força da musculatura respiratória, em comparação com pacientes com DPOC submetidos a treinamento físico em esteira móvel, sugerindo que o treinamento específico da musculatura respiratória traz mais benefícios relacionados a estas variáveis. Em um estudo realizado por Moro et al. [31], 6 sujeitos paraplégicos realizaram um programa de treino com ergômetro de cadeira de rodas durante 6 semanas, 3 vezes por semana durante 30 minutos com carga do aumentando em 5W a cada dois minutos até à exaustão. Após o treino, verificou-se um aumento do volume pulmonar com diminuição do consumo de oxigênio o que traduz um aumento de eficácia ventilatória. Dicarlo apud Nascimento [7] realizou estudos com cicloergômetro de MMSS para treinos resistidos e observou aumento do consumo de volume de oxigênio máximo, induzindo a bradicardia, e a resistência à fadiga durante a propulsão da cadeira de rodas e AVD’s. Cardoso et al. [32] compararam parâmetros cardiovasculares e da capacidade entre um indivíduo paraplégico e outro tetraplégico praticantes de atividade aeróbica. Após duas semanas de treinamento foi observado melhora do lactato em repouso, o que demonstra melhora da endurance, no paraplégico houve diminuição da FC e da estimativa de trabalho do miocárdio em repouso, indicando incremento da capacidade cardiovascular central. Em concordância com este estudo Devillard et al. [33] reportaram melhorias na ventilação por minuto e na capacidade respiratória em sujeitos com lesões cervicais incompletas após implementação de programa de exercícios, demonstrando assim redução da fadiga durante AVD’s. Lonsdorfer et al. apud Bougenot et al. [34] afirmam que é possível observar hipertrofia das fibras lentas com um aumento do número de capilares ao redor das fibras, bem como o aumento do número e tamanho das mitocôndrias, com a realização de exercício. Segundo Miles [35], estudos feitos com indivíduos com limitação motora de MMII demonstraram que treinamento físico aeróbico de MMSS realizado por várias semanas aumenta a potência muscular. Haddad [36] ressalta ainda que a melhora qualitativa e quantitativa da capacidade cardiorrespiratória que ocorre através do treino com MMSS é a mesma obtida através do treino com MMII, encorajando o uso esta terapêutica em indivíduos que apresentam limitações de MMII. Ao analisar o Teste do Pêndulo o sujeito 1 apresentou diminuição no número de oscilações, no sujeito 2 foi verificada melhora em 30,3% em membro inferior direito e 40,3% em membro inferior esquerdo, demonstrado pelo aumento do número de oscilações da perna resultante da diminuição da espasticidade [22], conforme os Gráficos 3 e 4. 33 Gráfico 3 - Teste do Pêndulo, Sujeito 1. Teste do Pêndulo Teste 1 10 11 Teste 2 10 9 9 8 8 8 Teste 3 9 6 Pré-teste (MIE) Pós-teste (MIE) Pré-teste (MID) 6 6 Pós-teste (MID) Gráfico 4 - Teste do Pêndulo, Sujeito 2. Teste do Pêndulo Teste 1 Teste 2 Teste 3 6 5 4 3 3 2 0 0 0 Pré-teste (MIE) 0 0 Pós-teste (MIE) 0 Pré-teste (MID) Pós-teste (MID) Conforme Pandyan et al. [37], a espasticidade é uma desordem no controle sensório-motor, resultante de uma lesão do neurônio motor superior, apresentando ativação muscular involuntária intermitente ou sustentada. Segundo Haas [38], a quantificação do grau de espasticidade continua sendo um problema de difícil solução, pelo fato de ser influenciada por fatores como ansiedade, depressão, fadiga e/ou temperatura ambiental. Em estudo comparativo Teixeira-Salmela [22], constatou que resultados obtidos entre 6 e 7 oscilações observadas durante o Teste do Pêndulo caracterizam normotonia. Apesar de a diminuição do número de oscilações verificado no Teste do Pêndulo do sujeito 1, provavelmente não se deve pelo treinamento no cicloergômetro, levando em conta as alterações psicológicas e climáticas ocorridas durante a pesquisa. Além disso, os valores obtidos no pós-teste correspondem à normalidade segundo Teixeira-Salmela [22]. Segundo Vodovnik et al. apud Minutoli [39], um teste de movimento passivo acima de 7 repetições em sujeitos com lesão medular apresentando hipertonia espástica, pode induzir o aparecimento de uma condição hipotônica, denominada acomodação, o que sugere que os indivíduos espásticos menos severos apresentem diferenças no comportamento da espasticidade. Franzoi et al. [40] relataram que o reflexo de estiramento é afetado no movimento passivo e na repetição. Para este autor, a provável redução do reflexo de estiramento é devido à fadiga por inúmeras repetições. As repetições e velocidade provocam acomodação nos músculos espásticos, ou seja, resulta na alteração da resistência ao estiramento, e 34 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 uma esperada menor capacidade de produzir tensão muscular com a estimulação repetida. Em estudo dos efeitos da mobilização passiva cíclica sobre a espasticidade, por Soares et al. [41] com um paciente paraplégico por TRM, foi notável o aumento do número de oscilações no teste do pêndulo, o que representa uma redução na espasticidade dos membros inferiores. O aumento no número de oscilações foi de 81,9% no direito e de 80,0% no esquerdo. Porém os efeitos da mobilização passiva cíclica foram somente agudos, enquanto no presente estudo observou-se aumento do número de oscilações após vários dias a partir do fim do treinamento. O sujeito 2, que apresentava lesão incompleta, apresentou melhor resultado em comparação com o sujeito 1, sugerindo um melhor benefício em pacientes paraparéticos, em relação a espasticidade. Schmidt et al. [42] ressaltam que a redução da espasticidade durante o movimento repetitivo pode ser devido a 3 fatores: mudanças mecânicas nos tecidos (modificação das propriedades de diversos tecidos, tanto musculares quanto articulares), adaptação do reflexo de estiramento e mecanismos centrais neurais (habituação do reflexo de estiramento). Ao concluir esta pesquisa não houve alteração significativa na percepção da qualidade de vida, avaliada através do PSN. Em contrapartida Antonietti et al. [43] observaram maiores resultados dos desportistas comparados aos sedentários com lesão medular, nos aspectos físicos, psicológicos e de relações pessoais, traduzindo em melhor qualidade de vida no grupo desportista. Salvador e Tarnhovi [44] fizeram estudo comparativo entre pacientes TRM praticantes e não praticantes de atividade física, demonstrando que os praticantes apresentam capacidade funcional média de 85% comparado aos sedentários, em atividades físicas diárias apresentam média de 100% melhor, e 88% a mais de atividades sociais comparados a 45% dos não praticantes. Em relação à força de preensão manual, não foram observadas alterações significativas. Uma das limitações do estudo foi a ausência de um dinamômetro para verificação de outros grupos musculares. Conclusão Os resultados obtidos na pesquisa salientam que houve benefícios na amostra estudada, devido ao aumento da PEmáx, diminuição da espasticidade, além dos benefícios cardiorrespiratórios, e incremento na musculatura respiratória, verificados pela PEmáx. A espasticidade em MMII também apresentou melhora de acordo com o teste do Pêndulo, evidenciando benefícios principalmente ao sujeito 2, o qual relatou diminuição da rigidez dos MMII e suspensão do uso de medicamentos para espasticidade. A partir destes resultados, evidencia-se a importância da manutenção da técnica terapêutica através do treinamento aeróbico no TRM, visto que a interrupção das atividades poderá acarretar, em longo prazo, a perda dos benefícios obtidos com os treinamentos em cicloergometria. Sem dúvidas é interessante a participação contínua e aperfeiçoada das atividades aeróbicas para MMSS e MMII. Sugerimos a aplicação em amostra maior, e também maior número de pacientes com TRM incompleto, uma vez que ocorreu grande diminuição da espasticidade de MMII do sujeito 2. O uso da dinamometria em MMII seria outro fator importante para observar resultados mais concretos, e também em outros grandes grupos musculares também de MMSS, para verificar a extensão da melhora da força. Sugere-se ainda verificar nos pacientes com TRM incompleto outras variáveis, já que estes pacientes apresentam diferentes aspectos físicos e sensório-motores quando comparados ao TRM completo, podendo utilizar parâmetros de análise como a velocidade da marcha, mobilidade funcional e força de MMII. Referências 1. Greve JMD, Casalis MEP, Barros Filho TEP. Diagnóstico e tratamento da lesão da medula espinhal. São Paulo: Roca; 2001. 2. Umphred DA. Reabilitação neurológica. 4ª ed. São Paulo: Manole; 2004. 3. Lundy-Ekman L. Neurociência: fundamentos para reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 4. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 36 Artigo original Efeito de diferentes intervalos entre séries, determinados pela relação esforço-recuperação, no desempenho da força Effect of different intervals between sets, determined by the effortrecovery relationship, on the strength performance Diego de Almeida*, Lenifran Santos**, Renato Massaferri**, Tainah Lima*, Walace Monteiro** *Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Programa de Pós-graduação em Ciências da Atividade Física. Universidade Salgado de Oliveira (PPGCAF/UNIVERSO) Resumo O objetivo do presente estudo foi investigar o efeito de diferentes intervalos determinados pelas relações esforço-recuperação no desempenho da força de homens treinados. A amostra foi composta por 15 homens (23,2 ± 2,9 anos) experientes no treinamento de força. Os indivíduos realizaram 4 séries no exercício supino reto, até a fadiga e a 80% de 1 RM, nas relações esforço-recuperação: 1:4, 1:4 (S1); 1:4:6:8; 1:8, conduzidos em dias separados. Isoladamente, todos os intervalos denotaram diferenças significativas nos volumes de treinamento da primeira para as demais séries. Intervalos baseados na relação esforço-recuperação 1:4 mostraram-se menos eficientes na recuperação entre séries múltiplas no treinamento de força, quando comparados aos intervalos progressivo e de relação 1:8. Por fim, os intervalos progressivo e 1:8 exibiram volumes semelhantes de trabalho, contudo, maior que os demais. Concluindo, o intervalo progressivo deve ser preferido aos demais por proporcionar maior volume de treinamento, considerando o somatório em todas as séries. Abstract The aim of this study was to investigate the effect of different relations effort-recovery performance of the force of trained men. The sample consisted of 15 men (23.2 ± 2.9 years) experienced in strength training. The subjects performed four sets in the bench press exercise, until fatigue and 80% of 1RM, in relations effort-recovery: 1:4, 1:4 (S1), 1:4:6:8, 1:8, conducted in separate days. In isolation, all intervals denote significant differences in the volumes of the first training for the other series. Intervals based on the ratio 1:4 effort-recovery were less efficient in recovery between multiple sets in strength training, intervals when compared to the progressive ratio 1:8. Finally, the progressive and 1:8 intervals exhibited similar volumes of work, however, greater than the others. In conclusion, the progressive interval should be preferred to others by providing greater training volume, considering the sum of all sets. Key-words: effort-recovery ratio, intervals between sets, strength training, multiple sets. Palavras-chave: relação esforço-recuperação, intervalo entre séries, treinamento de força, séries múltiplas. Recebido 13 de dezembro de 2011; aceito em 13 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Walace Monteiro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, 8º andar, sala 8121, bloco F, 0550-900 Rio de Janeiro, RJ, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O treinamento de força tem sido recomendado como parte integrante de um programa de exercícios direcionado à promoção da saúde [1-3]. Para que seja eficaz, as diferentes variáveis de prescrição do treinamento devem ser trabalhadas de forma adequada. Partindo dessa ideia, é possível que a adoção da relação esforço-recuperação seja uma estratégia interessante para determinar os intervalos entre as séries. Com relação a esse aspecto, geralmente são adotados intervalos fixos entre séries e exercícios [4,5]. Todavia, dois indivíduos podem realizar o mesmo número de repetições máximas com uma mesma carga relativa (% 1RM) em esforços com distintas durações. Nesse caso, o sistema energético e o acúmulo de metabólitos pode se diferenciar, afetando de forma distinta a sustentabilidade das repetições no exercício ao se considerar o número total de séries [4,6-8]. Para evitar à fadiga, os intervalos devem propiciar uma recuperação ótima, na qual haja restauração de ATP, CP, bem como a remoção de metabólitos suficientes à realização de um novo estímulo, semelhante ou até de maior magnitude ao anterior [4]. Nesse sentido, estratégias que individualizam o treinamento podem ser eficazes quando o objetivo da prescrição recai na sustentabilidade das repetições com o decorrer das séries. Logo, a adoção de intervalos proporcionais ao tempo de execução entre séries poderiam favorecer um menor decréscimo das repetições, sustentando um maior volume de treinamento [9]. Muito embora intervalos de recuperação curtos imponham maior estresse metabólico à atividade, intervalos de longa duração também podem provocar adaptações, ainda que não significativas [10]. O problema na determinação dos intervalos entre séries reside na aplicação do tempo ótimo de intervalo para que a maior sobrecarga seja aplicada com o maior rendimento em todas as séries. Stone e Conley [11] sugerem a relação de 1:3 a 1:5 para esforços com duração entre 20 e 30 segundos. Isso implica dizer que o período de descanso seria 3 a 5 vezes maior que o período de esforço. Em termos absolutos, essa relação determina um tempo de recuperação, compreendido de 1 a 2 minutos. Tais valores condizem com a literatura, pois diversos autores recomendam essa faixa de intervalo de recuperação a ser adotado entre as séries, quando a prescrição recai, por exemplo, nos ganhos de força e hipertrofia [3,5,7]. Apesar disso, deve-se atentar para o efeito cumulativo das séries sobre a fadiga, principalmente ao considerarmos o número de exercícios por grupamento muscular e, especialmente, o número total de séries por exercício [12]. Geralmente observamos maior dificuldade ao realizar a última série de um exercício, quando comparada às anteriores, já que, gradativamente, os substratos energéticos são depletados, assim como há maior acúmulo de subprodutos com o decorrer das séries [6,10]. De fato, a literatura tem apontado diversas faixas de intervalo de recuperação entre séries e exercícios [2,3,5,13], sem, 37 no entanto, considerar aspectos como o efeito cumulativo da fadiga ao longo das séries e os diferentes tempos de tensão muscular adotados para realização de diferentes exercícios. É possível que em exercícios com tempos de execução diferenciados, o intervalo de recuperação entre as séries possa diferenciar-se. Com base nesse princípio, hipotetizamos que a aplicação de intervalos entre séries, determinados em função da relação esforço recuperação, possa minimizar a fadiga durante a realização de séries múltiplas no treinamento de força. Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo investigar o efeito de diferentes relações esforço-recuperação no desempenho da força de homens treinados, no exercício supino reto realizado com séries múltiplas. Material e métodos Amostra Participaram do estudo 15 homens com idades entre 20 e 29 anos (23,2 ± 2,9 anos), massa corporal entre 70 e 91 kg (80,8 ± 5,6 kg) e estatura entre 171 e 184 cm (178,06 ± 3,57 cm), com experiência mínima de um ano em treinamento de força. Todos praticavam treinamento de força no mínimo três vezes por semana. Antes da coleta de dados, os voluntários responderam ao questionário PAR-Q e assinaram um termo de consentimento pós-informado, conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Com isso, foram determinados os seguintes critérios de exclusão: a) ocorrência de problemas osteomioarticulares, os quais pudessem influenciar a realização dos exercícios propostos; b) realização de atividade física extenuante nas últimas 24 horas antecedentes às intervenções; c) utilização de substâncias ergogênicas atuantes sobre o sistema muscular e cardiovascular; d) apresentação de PAR-Q negativo. Coleta de dados A coleta de dados foi efetuada em seis dias com intervalo de no mínimo 48 horas. No primeiro dia foi aplicada uma anamnese, destinada à identificação das atividades físicas realizadas pelos indivíduos, além de um teste de carga máxima (1 RM). No segundo dia, repetiu-se o teste de 1 RM a fim de verificar a reprodutibilidade da carga no exercício proposto. Nos quatro dias restantes, foram aplicadas sessões de treinamento, com intervalos entre séries adotando-se diferentes relações esforço-recuperação. Teste de 1 RM Anteriormente à realização dos testes de repetição máxima, foi aplicado um aquecimento que obedeceu a seguinte metodologia: inicialmente, foram realizados movimentos articulares sem adição de carga. Para tanto, executaram-se 15 movimentos de flexão e extensão vertical do ombro, 15 38 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 movimentos de flexão e extensão horizontal do ombro, 15 movimentos de circundução do ombro. Na sequência, foi conduzida uma parte específica no exercício selecionado. Para tanto, realizaram-se 15 repetições submáximas com cargas estabelecidas pelos praticantes. Após o aquecimento, foi dado intervalo de 3 minutos antes do início do teste. O teste de 1 RM foi realizado no exercício supino reto no Smith Machine. Visando reduzir a margem de erro, tanto nos testes de 1 RM, quanto nos testes de repetições máximas, foram adotadas as estratégias propostas por Monteiro et al. [14]: a) instruções padronizadas foram fornecidas antes do teste, de modo que o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a coleta de dados; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução do exercício; c) estímulos verbais foram realizados a fim de manter alto o nível de estimulação; d) os pesos adicionais utilizados no estudo foram previamente aferidos em balança de precisão. Os intervalos entre as tentativas do teste de 1 RM foram fixados em 3 minutos. No exercício proposto, foram definidas as seguintes etapas de execução: posição inicial e desenvolvimento. Com o avaliado em decúbito dorsal, a posição inicial consistiu em manter os braços elevados, sustentando a barra, com os joelhos e os quadris semiflexionados, e os pés apoiados sobre o próprio aparelho (Figura 1). A etapa de desenvolvimento foi caracterizada a partir da fase excêntrica (90° entre braço e antebraço), seguida da extensão completa dos cotovelos e flexão horizontal dos ombros (Figura 2). Figura 1 - Posição inicial no exercício Supino Reto, no Smith. Após a obtenção da carga máxima (1 RM), os indivíduos descansaram 48 horas e foram reavaliados para obtenção da reprodutibilidade do teste. Considerou-se 1 RM a maior carga estabelecida entre os dois dias, com diferença menor que 5 %. No caso de diferença maior, os sujeitos deveriam realizar um novo teste e o cálculo da diferença seria refeito. Em cada série, além do registro do número de repetições máximas, foram cronometrados os tempos de execução e de recuperação. Ademais, o volume de treinamento em cada série, nos diferentes intervalos, foi determinado pelo produto resultante da carga pelo número de repetições alcançadas. Sessão de treinamento e relação esforço-recuperação adotadas Antes da realização das sessões experimentais, cada voluntário realizou um aquecimento composto por uma série de 15 repetições com carga correspondente a 40% de 1 RM. Após o aquecimento, foi obedecido um intervalo de 3 minutos antes do início do teste. As sessões de treinamento consistiram em quatro séries no exercício supino reto até a fadiga, com a utilização de cargas referentes a 80% de 1RM. Conforme o escopo do presente estudo, formulamos uma relação entre intervalos visando promover diferentes relações de esforço-recuperação. Foram adotadas quatro formas de intervalo. A primeira e segunda formas foram fixadas nas relações de 1:4 e 1:8, respectivamente. Já a terceira forma de intervalo foi progressiva, utilizando as relações 1:4 – 1:6 – 1:8 entre as séries consecutivas. Somente na quarta forma adotou-se um tempo fixo de recuperação, baseado na relação 1:4 do primeiro intervalo (entre a primeira e a segunda série), independentemente dos tempos de execução nas séries subsequentes. O intervalo de recuperação entre séries foi determinado individualmente e em cada uma das relações propostas. Com exceção da quarta forma de intervalo, cujo tempo de recuperação entre séries foi fixo, as demais formas se basearam na duração do esforço obtido em cada série precedente. Por fim, a aplicação das diferentes estratégias de intervalo respeitou a técnica do quadrado latino. Tratamento estatístico Figura 2 - Desenvolvimento do exercício Supino Reto, no Smith. O tratamento dos dados foi realizado através da ANOVA de dupla entrada (número de séries x estratégia de intervalo) para medidas repetidas no primeiro fator, acompanhada de teste post-hoc de Tuckey. O nível de significância adotado foi de 5% e os dados foram tratados no software Statistica versão 7.0 (Statsoft, Tulsa, USA). Resultados O Gráfico 1 ilustra os dados referentes aos volumes de treinamento obtidos mediante aplicação das diferentes estratégias de intervalo. Quando consideradas isoladamente, em todas as formas de intervalo foram constatadas diferenças significativas Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 nos volumes de treinamento da primeira para as demais séries. Também foram verificadas diferenças entre a 2ª, 3ª e 4ª séries em todas as formas de execução, com exceção do intervalo progressivo, no qual foram constatadas diferenças apenas entre a 2ª e a 4ª séries. Quando comparados os volumes obtidos nas diferentes estratégias de intervalo, em cada série, foram detectadas diferenças significativas entre a 3ª e 4ª séries nos intervalos 1:4 e 1:4 (S1). Na 3ª série, foi constatada diferença nos volumes entre as estratégias de intervalo 1:4 e 1:8. Por fim, diferenças significativas foram encontradas nos volumes da 4ª série entre as estratégias de intervalo 1:4 e 1:8 (Gráfico). Gráfico 1 - Volume de treinamento em cada série realizada para as diferentes estratégias de intervalos. Volume (repetições x carga) 1400 * # 1200 @ 1000 & @ 800 600 $ & $ 400 200 0 S1 S2 S3 Séries 1:4 (S1) 1:8 1:4 S4 1:4:6:8 *Diferença de p < 0,001 entre a 1ª série e todas as outras em cada forma de intervalo; # diferença de p < 0,001 entre a 2ª, 3ª e 4ª series, em todas as formas de intervalo, exceto na execução com intervalos progressivos (1:4:6:8), que exibiu diferença de p < 0,001 somente entre a 2ª e a 4ª séries; & diferença de p < 0,05 entre a 3ª e 4ª series nas estratégias de intervalo 1:4 e 1:4 (S1); @ diferença de p < 0,05 na 3ª série entre as estratégias de intervalos 1:4 e 1:8; $ diferença de p < 0,05 na 4ª série entre as estratégias de intervalos 1:4 e 1:8. Volume (repetições x carga) Gráfico 2 - Somatório do volume de treinamento em todas as séries realizadas para as diferentes estratégias de intervalos. 4400 3900 3400 # * 2900 2400 1:4 1:8 1:4:6:8 1:4 (S1) Estratégia de intervalo *Diferença de p < 0,05 entre os volumes nas estratégias de intervalo 1:4 e 1:4:6:8 ; # diferença de p < 0,01 entre os volumes nas estratégias de intervalos 1:4 e 1:4(S1) para 1:8. 39 Discussão O treinamento de força realizado com séries múltiplas tem demonstrado ser mais efetivo para o desenvolvimento da força muscular, quando comparado ao trabalho de série simples, em indivíduos treinados, principalmente em longo prazo [12,13]. Nesse contexto, uma adequada recuperação entre os estímulos apresenta-se como aspecto fundamental no exercício realizado com séries múltiplas. O objetivo do presente estudo foi investigar o efeito de diferentes estratégias de intervalo de recuperação, determinados a partir da relação esforço-recuperação, no desempenho da força em séries múltiplas. Os principais achados do estudo revelaram influência da estratégia de intervalo no volume de treinamento. No que concerne aos dados apresentados isoladamente nas séries, até a segunda série a estratégia de intervalo não exerceu influência significativa no volume de trabalho. A partir da terceira série, as estratégias de intervalo 1:8 e progressiva diferenciaram-se das demais. No que diz respeito ao somatório das quatro séries nas diferentes estratégias de intervalo, as relações 1:8 e progressiva não apresentaram diferenças estatísticas. Nesse caso, a relação progressiva pode oferecer maior sobrecarga do trabalho por favorecer a sustentação de um mesmo volume de trabalho com menores intervalos entre séries. Os intervalos de esforço-recuperação 1:4 e 1:4(S1), apresentaram os menores volumes de trabalho, em comparação aos intervalos 1:8 e progressivo. Willardson e Burkett [15] apresentaram resultados similares aos do presente estudo, ao investigar os exercícios agachamento e supino, com intervalos de 1, 2 e 5 minutos, resultando em maior volume total de trabalho no protocolo de 5 minutos. Em outra pesquisa, os mesmos autores compararam os efeitos de três diferentes intervalos (1, 2 e 3 minutos) ao longo de 5 séries no supino, com protocolos envolvendo 80% de 1RM e 50% de 1RM, o que demonstrou, para ambas as cargas, maior sustentabilidade das repetições quando aplicado o intervalo de 3 minutos [16]. No presente estudo, foram comparados diferentes intervalos, determinados a partir da relação esforço-recuperação individual, para verificar se as estratégias de menores intervalos poderiam se equivaler as demais, oferecendo maiores ou os mesmos volumes de trabalho, o que resultaria em uma maior sobrecarga na sessão. Poucos estudos relatam vantagens para treinamentos com menor intervalo entre séries. Takarada et al. [20] compararam os efeitos de treinos a 80% e 50% de 1 RM, nos músculos bíceps braquial e braquial. Todos os protocolos envolviam três séries, com 1 minuto de intervalo entre elas. Assim, observou-se maior incremento da secção transversa no grupo cujo treinamento (incluindo oclusão vascular) adotou carga mais baixa (50% de 1 RM), com resultado mais expressivo para o bíceps braquial. Contudo, é importante destacar que este estudo centrou suas atenções nos efeitos 40 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 crônicos do treinamento. Além disso, uma possível limitação dos resultados obtidos recai no tempo de intervalo, estabelecido em 1 minuto para ambas as cargas. No protocolo que envolvia 50% de 1 RM combinada com oclusão vascular, este período de descanso pode ter sido suficiente, considerando o baixo percentual de carga utilizado. Essa seria uma forma de intensificar o treino, buscando compensar a baixa carga com um curto intervalo. Todavia, quando aplicado no protocolo envolvendo 80% de 1 RM, pode ter significado um tempo demasiadamente curto para restaurar, de forma suficiente, as condições metabólicas locais para executar uma nova série. Logo, para se estabelecer qualquer inferência de vantagem para o primeiro protocolo citado, seria necessário compará-lo também a um terceiro protocolo, que envolvesse, por exemplo, a realização das séries a 80% de 1 RM, mas entremeadas com maiores intervalos. Os dados do presente estudo mostraram que no somatório do volume em todas as séries, valores significativamente maiores foram observados na estratégia de recuperação progressiva (1:4:6:8), quando comparada a relação esforço-recuperação 1:4. Essa informação ratifica possíveis suposições a favor do intervalo progressivo, já que apenas no primeiro intervalo entre séries a relação esforço-recuperação foi igual. Com base nisso, a estratégia de intervalo progressivo fornece vantagem na recuperação devido aos maiores tempos de descanso. Na análise isolada das séries, foram constatadas diferenças significativas nos volumes de treinamento da primeira em relação às demais séries, em todas as formas de intervalo. Assim como no presente estudo, Willardson e Burkett [16] também verificaram reduções significativas no volume de treinamento da primeira para as demais séries. Isso implica dizer que, independentemente do intervalo, o volume de trabalho tende a ser reduzido com a evolução do número de séries. Muito embora os resultados para cada série tenham proporcionado uma queda significativa no volume de treinamento, cabe ressaltar que da primeira para a segunda série, todas as estratégias de intervalos apresentaram resultados similares. Contudo, a partir da segunda série a escolha do intervalo desempenha papel decisivo na sustentabilidade das repetições nas séries subsequentes. Também é importante destacar que, a partir da segunda série, o volume observado no intervalo progressivo manteve-se mais próximo de uma estabilização. É possível que essa estratégia de intervalo tenha sofrido menores consequências da fadiga por aumentar progressivamente o tempo de recuperação. Apesar de a relação esforço-recuperação ter sido considerada para delinear a estratégia de intervalo, desde que o mesmo seja progressivo, tal escolha pode ser interessante no trabalho direcionado a manutenção da sustentabilidade ao longo das séries. Contudo, a comparação dos dados aqui obtidos com os de outros estudos torna-se difícil, pois até o momento não foram encontradas investigações cujo objetivo recaiu na análise de estratégias progressivas de intervalo nos volumes de treinamento. O presente estudo apresenta algumas limitações. Apesar da experiência da amostra, não se pode garantir uma total segurança nas cargas obtidas no teste de 1 RM. Por outro lado, os voluntários estavam habituados a realizar os exercícios com as mesmas repetições no equipamento usado na pesquisa, o que pode ter reduzido a margem de erro nas cargas obtidas. Em adição, apesar de solicitado aos voluntários para que não realizassem exercícios entre as sessões de treinamento, não foi controlado nível habitual de atividade física dos mesmos. Conclusão Em função dos dados obtidos e frente às limitações do estudo, pode-se concluir que, quando o objetivo recair na manutenção da sustentabilidade ao longo das séries, os intervalos progressivo e de relação 1:8 devem ser utilizados por manterem maior volume de trabalho, considerando o somatório das séries. Intervalos entre séries determinados a partir da relação esforço-recuperação podem ser uma opção útil no controle do descanso entre séries múltiplas no treinamento de força, quando comparado a intervalos fixos. Contudo, estudos futuros são necessários para melhor aplicação de intervalos baseados em relações de esforço-recuperação. Referências 1. 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O objetivo foi avaliar a qualidade de vida em pacientes que realizaram cirurgia de câncer de mama pré e pós-reabilitação fisioterapêutica. A pesquisa foi descritiva – estudo de caso em 4 pacientes sendo que as avaliações foram realizadas no período de maio a junho de 2011 no Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas da FGG. Como instrumentos foram elaborados uma ficha de avaliação e o questionário FACT-B (TOI), os quais se realizaram pré e pós-avaliação através de autoadministração do questionário em um tempo de 10 minutos. Os resultados demonstraram melhora da qualidade de vida das pacientes atendidas, tanto para a relação de porcentagem como para o índice de desempenho. As melhores variações foram apresentadas na resposta 0 (35,29%) para o domínio físico, 4 (23,81%) para o domínio funcional e 0 (114,29%) e 1 (200%) para a subescala da mama. Conclui-se assim que as pacientes apresentaram melhora da qualidade de vida após a realização do tratamento proposto para os domínios estudados. Abstract The aim of the physical therapy in rehabilitation of patients post mastectomy is to prevent further complications which may limit range of movement; therefore, it improves their quality of life. The goal was to assess the quality of life in patients who have undergone breast cancer surgery pre and post physical therapy in rehabilitation. The research was descriptive – case study in four patients from May to June 2011 at Outpatient Musculo-Skeletal Disorders of Faculdade Guilherme Guimbala–FGG. An evaluation form and the FACT-B (TOI) questionnaire were used pre and post assessment through self administration questionnaire in a time of 10 minutes. The results showed an improvement in the quality of life of the patients, both the percentage and performance index. The best changes were made in the responses 0 (35.29%) for the physical domain, 4 (23.81%) for the operational and 0 (114.29%) and 1 (200%) for the subscale of the breast. Therefore, it is concluded that the patients improved quality of life after the treatment proposed for the areas that were studied. Key-words: domain, breast neoplasms, quality of life, FACT-B questionnaire. Palavras-chave: domínios, neoplasias da mama, qualidade de vida, questionário FACT-B. Recebido em 15 de agosto de 2011; aceito em 9 de janeiro de 2012. Endereço para correspondência: Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rua Paulo Henk, 96, 89216-55 Joinville SC, E-mail: alisson. [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O câncer de mama é a neoplasia mais temida pelas mulheres [1]. Segundo dados do ano de 2010 no Brasil foram diagnosticados 49.240 novos casos de câncer de mama [2,3], sendo esta a segunda neoplasia de maior incidência nas mulheres, pois a cada ano 22% de novos casos são descobertos [4]. Na região Sul do Brasil sua incidência e mortalidade são altas, chegando ao primeiro lugar no país em mortalidade, principalmente em mulheres com idade entre 40 e 69 anos [1]. Com o avanço da prevenção das taxas de detecção precoce e a melhora no tratamento, 50% das mulheres acometidas sobreviverão pelo menos 15 anos ou mais após diagnosticado [5]. Se a cirurgia for muito extensa as chances de morbidade serão consideradas mais altas [6]. Os fatores de risco podem ser considerados tais como histórico familiar, obesidade e gravidez após os 35 anos. Em contrapartida os fatores de proteção seriam menarca tardia, gravidez entre 20 e 28 anos, amamentação entre 3 e 12 meses e menopausa precoce [7]. Já os vários tipos de cirurgia da mama podem acarretar diversos fatores prejudiciais à qualidade de vida da paciente incidindo sobre sua autoestima. Esses fatores podem ser alterações funcionais, sociais e psicológicas [8-10]. Essa patologia acaba provocando muitas alterações na vida da paciente causando grande impacto psicológico, pois, além das alterações fisiológicas, surge também uma série de transformações, tanto da paciente quanto dos familiares. Além do medo da morte, existe o preconceito, a ameaça da mutilação da mama, já que sua função principal é nutrir, alimentar ou, em outras palavras, proporcionar vida sendo um símbolo importante da maternidade, feminilidade, sexualidade, estética e afeto [1]. Em decorrência do tratamento, a paciente passa a ter uma nova realidade do esquema corporal, pois ocorrem inúmeras complicações como linfedema, fibrose, aderência cicatricial entre outras que acabam alterando sua maneira de sentir e vivenciar o corpo. A cirurgia está ligada a essas alterações, sequelas e complicações em até 70% das pacientes, afetando assim a qualidade de vida e apresentando dificuldades na realização de suas atividades de vida diária [1]. O tratamento fisioterapêutico desempenha um importante papel na qualidade de vida dessas pacientes consequentemente melhorando as atividades de vida diária [7], pois as complicações físicas associadas ao tratamento reduzem a qualidade de vida das mesmas [11]. Estudos em relação à qualidade de vida têm sido extensamente valorizados nos estudos oncológicos [11,12]. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” [8,13]. Outra definição também aceita de qualidade de vida seria a relação com a “satisfação geral do indivíduo com a vida e sua percepção pessoal de bem estar” [12,14]. 43 Vários questionários podem ser utilizados para avaliar a qualidade de vida das mulheres após cirurgia de câncer de mama, e podem ser divididos em genéricos (avaliam de forma global aspectos relacionados à qualidade de vida que tem como domínios aspectos físicos, sociais, psicológicos, emocional e sexual tendo como exemplos o Medical Outcomes Study 36 item Short-Form Health Survey (SF 36) e o World Health Organization Quality of Life (WHOQOL)). Os específicos (avaliam de forma específica aspectos da qualidade de vida entre eles o European Organization for Research and Treatment of Breast Cancer Specific Quality of Life Questionnaire (EORTC QLQ BR 23) e o Functional Assessment of Cancer Therapy-Breast (FACT-B)) [8,14]. Portanto o uso de questionários que avaliam a qualidade de vida seria a maneira mais fácil de mensurar o problema da paciente ajudando assim os profissionais da saúde a conhecerem as necessidades funcionais, psicológicas e sociais do paciente. Além disso, os escores dos questionários avaliam de maneira paralela a progressão da doença e sua resposta ao tratamento proposto, sendo ferramenta essencial na escolha de diferentes condutas permitindo assim melhor sobrevida para as pacientes [15]. Com o exposto acima através das informações obtidas em estudos relacionados com o tema câncer de mama e qualidade de vida, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar a qualidade de vida em pacientes que realizaram cirurgia de câncer de mama pré e pós-reabilitação fisioterapêutica. Material e métodos A presente pesquisa foi classificada como do tipo descritiva – estudo de caso. O levantamento de dados foi realizado no Hospital Municipal São José em Joinville/SC nas pacientes submetidas à cirurgia de câncer de mama pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no período junho de 2007 a junho de 2010, onde foram coletados os dados através de prontuários e logo após entrando-se em contato com as pacientes para a realização da avaliação da qualidade de vida e tratamento fisioterapêutico. Os critérios utilizados para a inclusão das pacientes localizadas foram que as mesmas apresentassem limitação na amplitude de movimento do ombro homolateral a cirurgia ou alguma outra alteração como encurtamento muscular, aderência cicatricial entre outros. Para tal, das 10 pacientes que apresentaram as limitações descritas acima somente 4 aceitaram participar da pesquisa, pois as outras 6 pacientes não apresentaram condições financeiras para se deslocarem até o local de atendimento. As pacientes participantes apresentaram uma faixa etária entre 50 e 66 anos, com média de idade de 59,00 (± 6,12) anos, sendo que a profissão das participantes eram 3 do lar e 1 aposentada. Antes do início das avaliações, que foram realizadas no período de maio a junho de 2011 no Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas da Faculdade Guilherme Guimbala – 44 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 FGG, cada participante assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aceitando assim participar voluntariamente da presente pesquisa. A pesquisa foi submetida e teve aprovação do Comitê de Ética do Hospital Municipal São José (11020) conforme as resoluções nacionais 196/96 e 251/97 relacionadas à pesquisa envolvendo seres humanos. Como instrumento, foi elaborada uma ficha de avaliação para a coleta da identificação da paciente a qual continha o nome da paciente, data da avaliação, idade, data de nascimento, telefone e profissão. Anexou-se à ficha o “Questionário Functional Assessment of Cancer Therapy-Breast (FACT-B)” um questionário específico para pacientes com câncer de mama, apropriado para o uso em ensaios clínicos em oncologia, assim como na prática clínica, sendo de fácil administração, confiabilidade, validez e sensibilidade. O questionário é composto por 36 perguntas divididas em cinco domínios: bem estar físico (sete questões), bem estar social da família (sete questões), bem estar emocional (seis questões), bem estar funcional (sete questões) e subescala de mama (nove questões). Para responder, as pacientes deveriam optar por um dos cinco níveis para cada questão: 0 (não), 1 (muito pouco), 2 (pouco), 3 (muito) e 4 (bastante). Porém para se observar a diferença na qualidade de vida relacionada especificamente aos aspectos de saúde utilizou-se o FACT-B Trial Outcome Index (TOI), que se dá pela soma dos domínios: bem estar físico, funcional e subescala da mama, gerando assim 23 perguntas. Realizou-se uma pré e pós-avaliação cujo questionário era autoadministrado pela paciente, porém se a paciente necessitasse de alguma ajuda durante as respostas era auxiliada pelos pesquisadores. Após realizada a pré-avaliação pelo questionário, a paciente foi avaliada funcionalmente e tratada durante 10 sessões com cinesioterapia para a melhora da amplitude de movimento, sendo novamente avaliada pós tratamento com o mesmo questionário. Cada avaliação do questionário teve um tempo médio de 10 minutos entre coleta dos dados e preenchimento do questionário entre outras orientações. Após a aplicação dos questionários, a tabulação e levantamento estatístico da pesquisa foram realizados, e os resultados foram digitados em uma planilha eletrônica do programa Microsoft Office Excel® 2003. Foi utilizada análise descritiva, na qual se calculou a média, desvio padrão, percentual e índice de desempenho. Resultados O Gráfico I demonstra a porcentagem de resposta pré e pós-aplicação do questionário das 4 pacientes que participaram da pesquisa. Evidencia-se com isso que em relação ao seu bem estar físico, as pacientes tanto no pré como no pós apresentaram-se bem devido as porcentagens serem maiores nas respostas 0 e 1. Observa-se também uma melhora deste domínio após o tratamento realizado pela elevação da porcentagem na resposta 0. Gráfico I - Porcentagem do domínio Físico pré e pós-aplicação do questionário. 100% 80% 60% 82% Pré Pós 61% 40% 18%14% 20% 0% 0 1 11% 4% 2 4% 0% 3 7% 0% 4 Fonte: Dados da pesquisa O Gráfico II esclarece as respostas selecionadas pelas 4 pacientes no pré e pós-aplicação do questionário para o domínio bem estar funcional. Pode-se demonstrar que há melhora da qualidade de vida tanto no pré como no pós pela maior concentração de respostas em 3 e 4. Verificou-se também melhora da qualidade de vida pelo tratamento proposto pela elevação da porcentagem na resposta 4. Gráfico II - Porcentagem do domínio Funcional pré e pós-aplicação do questionário. 100% 93% Pré 80% Pós 75% 60% 40% 20% 0% 14% 0% 0% 0 4% 0% 1 0% 2 7% 7% 3 0% 4 Fonte: Dados da pesquisa O Gráfico III evidencia as respostas no pré e pós-aplicação do questionário para a subescala da mama das 4 pacientes. O que se observa no gráfico é um equilíbrio nas respostas tanto no pré como no pós. Porém o que se pode afirmar após a análise é que em relação ao pré quanto mais respostas fossem dadas nas respostas 3 e 4 pior seria o aspecto mama para a paciente, o que prova que elas não estavam contentes. Após o tratamento observou-se melhora, pois houve uma inversão de porcentagem da resposta 3 e 4 para a 0 e 1 melhorando a aceitação da paciente. A Tabela I demonstra o índice de desempenho do pré e pós-questionário nos domínios físico, funcional e subescala de mama. Os desempenhos demonstrados na tabela corroboram os resultados apresentados nos gráficos, pois as variações positivas foram expressas na resposta 0 (35,29%) para o domínio físico, 4 (23,81%) para o domínio funcional e 0 (114,29%) e 1 (200%) para a subescala da mama, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 evidenciando assim a melhora da qualidade de vida após a realização do tratamento. Gráfico III - Porcentagem da subescala da mama pré e pós-aplicação do questionário. 100% Pré 80% Pós 60% 40% 20% 0% 51% 42% 33% 20% 8% 3% 0 1 6% 11% 2 20% 6% 3 0% 4 Fonte: Dados da pesquisa. Tabela I - Índice de desempenho do pré e pós-aplicação do questionário para os domínios físico, funcional e subescala da mama. Fís Func Mam 0 1 2 3 4 35,29% -20,00% -66,67% -100,00% -100,00% 0,00% -100,00% -100,00% 0,00% 23,81% 114,29% 200,00% 100,00% -71,43% -33,33% Legenda: Fís – físico; Func - funcional; Mam - adicional Fonte: Dados da pesquisa Discussão Após a apresentação dos resultados, pode-se observar melhora da qualidade de vida das pacientes que realizaram a reabilitação. Estudos comentam que o efeito do câncer de mama e de seu tratamento, seja radioterápico, quimioterápico, cirúrgico ou mesmo de reabilitação sobre a qualidade de vida das pacientes tem sido bem descrito pela literatura [16,17]. Em relação à técnica cirúrgica utilizada, que pode ser radical ou conservadora, a disseção axilar tem sido um tratamento padrão. Esse procedimento, quando isolado ou em conjunto com a radioterapia, pode causar morbidade no membro superior homolateral [18] e problemas como linfedema, dor, diminuição de força e amplitude de movimento entre outros [14,18] que se tornam frequentes nas pacientes, merecendo assim atenção especial na reabilitação, pois podem interferir na qualidade de vida [18]. Outro fator importante a ser verificado é o estado psicológico da paciente, pois quadros de depressão, ansiedade, medo (abandono familiar e amigos), recidiva e morte estão relacionados com a doença e contribuem para uma percepção negativa da qualidade de vida [14]. O medo pode ser considerado o mais ameaçador em relação à piora da qualidade de vida, pois pode provocar reações emocionais, que provocarão mudanças no âmbito biológico, mental e social [19]. Exemplos podem ser considerados, tais como dificuldade econômica, presença de ondas de calor levando a dificuldade 45 na duração do sono, piorando a fadiga e levando a sintomas depressivos [14]. Velloso et al. [6] esclarecem que não existe homogeneidade em relação aos instrumentos e métodos utilizados para se avaliar a qualidade de vida nas pesquisas. Em um estudo que determinou o efeito do exercício na qualidade de vida em pacientes com câncer de mama foram avaliadas mulheres com diagnóstico recente e tardio que realizaram um programa de exercício durante 6 meses. Os resultados demonstraram que o exercício proposto melhorou a funcionalidade das pacientes e consequentemente sua qualidade de vida nos dois grupos estudados [16]. Outro estudo procurou identificar o exercício físico como a melhor intervenção para a qualidade de vida em mulheres com câncer de mama. Os resultados comprovaram a melhora através do questionário utilizado FACT-B concluindo que o exercício é efetivo melhorando a função e o físico das pacientes [20]. Um terceiro estudo avaliou a aceitabilidade de exercícios moderados no tratamento do câncer de mama e seu impacto na presença de linfedema, qualidade de vida entre outros em dez mulheres. A qualidade de vida foi avaliada pelo FACT-B antes a após um programa de 6 semanas, e os resultados demonstraram potencial melhora da qualidade de vida [21]. Na pesquisa que determinou os benefícios funcionais e psicológicos de um programa de 12 semanas de exercício supervisionados no estágio inicial e após seis meses de acompanhamento em 203 pacientes de câncer de mama, somente 177 completaram os seis meses de acompanhamento. Na avaliação de qualidade de vida o instrumento utilizado foi o FACT-B, e também foram avaliados outros aspectos como a avaliação da mobilidade do ombro, não sendo observado efeito significativo da melhora da qualidade de vida [22]. No estudo de revisão que examinou o efeito do exercício na qualidade de vida em mulheres com câncer de mama, foram selecionados nove trabalhos. Os resultados evidenciaram que os exercícios podem ser uma estratégia eficaz para a melhora da qualidade de vida [23]. Diversos questionários podem ser utilizados para a avaliação da qualidade de vida em pacientes com câncer de mama. O FACT-B é um deles como foram demonstrados nos estudos relacionados acima e corroborando o que foi utilizado na presente pesquisa. Porém, outros questionários serão relatados, como na pesquisa que relacionou a qualidade de vida à morbidade do membro superior homolateral a cirurgia, e que demonstrou em seus resultados a relação de semelhança entre a qualidade de vida com a menor morbidade através da aplicação de questionários específicos para câncer de mama (QLQ-C30 e BR23). Considerou-se no estudo que com o tratamento da doença as pacientes não apresentaram ansiedade nem declínio em sua qualidade de vida mantendo a atividade normal do membro homolateral à cirurgia [24]. Leites et al. avaliaram a influência da intervenção fisioterapêutica na qualidade de vida e na evolução clínico funcional 46 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 das pacientes. O estudo foi do tipo quase-experimental (pré e pós) composto por cinesioterapia (treino de força e flexibilidade) em 10 pacientes com uma duração de oito semanas. Na avaliação da qualidade de vida o instrumento utilizado foi o questionário WHOQOL-bref. Observou-se que a aplicação dos exercícios auxiliou para a melhora dos parâmetros funcionais e também que não houve um declínio na qualidade de vida das pacientes [11]. A fisioterapia tem sido observada clinicamente para a melhora do tratamento das pacientes com câncer de mama. Na pesquisa que investigou a eficácia do tratamento de fisioterapia na função do ombro, dor e qualidade de vida em trinta pacientes após cirurgia com esvaziamento axilar, foram realizadas avaliações no início e após três e seis meses. As pacientes foram divididas em dois grupos: grupo de tratamento, que recebeu tratamento de fisioterapia durante três meses; e grupo controle que recebeu um folheto com conselhos e exercícios. Conclui-se que a fisioterapia reduziu a dor e melhorou a função do ombro homolateral à cirurgia melhorando, assim a qualidade de vida [25]. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que a avaliação da qualidade de vida deve ser orientada com a finalidade de observar o impacto de fatores que acontecem no universo psicológico, social, espiritual e físico da paciente com câncer de mama. Com isso constituindo parâmetros nas pesquisas realizadas para a melhora de custo/benefício, otimizando os recursos disponíveis para o sistema de saúde [26]. Conclusão Após a realização do presente estudo, pode-se observar que as pacientes avaliadas através do FACT-B (TOI) apresentaram melhora da qualidade de vida pela reabilitação proposta para os domínios relacionados à melhora do bem estar funcional, físico e aspectos da mama. Porém o estudo apresentou limitações, como o baixo número de mulheres avaliadas que pode ser explicada pela dificuldade de encontrar voluntárias dispostas a participar da pesquisa ou por não dispuserem de condições financeiras para o transporte não se podendo generalizar os dados encontrados. Salienta-se, no entanto, que se pode observar a correlação a qual foi procurada no objetivo do estudo de avaliar a melhora da qualidade de vida pré e pós-reabilitação fisioterapêutica. O estudo contribuiu para dar suporte à evidência de que se deve ter uma preocupação maior em relação às pacientes pós-operadas de mama tanto no pós-cirúrgico imediato quanto no tardio, pois, se a paciente não realizar uma boa reabilitação, poderá apresentar limitações em suas atividades de vida diária acarretando assim piora na qualidade de vida. Referências 1. Teodoro A, Torres R, Roeder I, Araujo AGS. Avaliação fisioterápica em pacientes pós cirurgia de câncer de mama em Joinville/ SC. Cinergis 2010;11(1):60-8. 2. Lahoz MA, Nyssen SM, Correia GN, Garcia APU, Driusso P. Capacidade funcional e qualidade de vida em mulheres pós-mastectomizadas. Rev Bras Cancerol 2010;56(4):423-30. 3. Veiga DF, Campos FSM, Ribeiro LM, Archangelo Junior I, Veiga Filho J, Juliano Y, et al. 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Componentes tanto homeostáticos quanto hedônicos, responsáveis pela sensação de prazer e atração pelo alimento controlam sinais de fome e saciedade em vias periféricas e centrais. Os sinais advindos da periferia fornecem informação sobre o estado nutricional corporal ao sistema nervoso central. Este último media e integra os sinais de fome e saciedade e após isto, formula uma resposta fisiológica que regula o comportamento alimentar do indivíduo. Pessoas obesas têm demonstrado diminuição expressiva da variabilidade da frequência cardíaca, aumento da atividade do nervo simpático, alteração do metabolismo hormonal e estimulação gástrica. Além disso, uma anormal atividade hipocampal foi identificada em resposta aos sinais de saciedade, comprometendo assim, todo controle da ingestão alimentar de obesos. Esta anormal atividade neuronal persiste em indivíduos que já foram obesos, fazendo com que altos riscos ao reganho de peso possa ocorrer. A prática de exercício físico gera manutenção e perda do peso corporal, repercutindo tanto para melhorias no balanço energético quanto para o sistema de regulação do apetite. Estes benefícios parecem ser influenciados pela intensidade e duração do exercício. Abstract Knowledge about physical activity and appetite are important for athletes who aspire to increase exercise performance and for those interested in maintaining healthy body weight. Both homeostatic and hedonic components, responsible for the sensation of pleasure and attraction to the food, control signals of hunger and satiety in peripheral and central pathways. The periphery signals provide information to central nervous system on the nutritional body status. The nervous system latter integrates signals of hunger and satiety, and sends a physiological response that regulates the feeding behavior. Obese people have shown significant reduction of heart rate variability due to increased sympathetic nerve activity, changes in hormone metabolism and gastric stimulation. In addition, an abnormal hippocampal activity was identified in response to satiety signals, thereby undermining the whole control of food intake of obese. This abnormal neuronal activity persists in subject with obesity, causing high risks of weight regain. The exercise generates maintenance and loss of the body weight, reflecting both improvements in energy balance and for the appetite regulation system. These benefits appear to be influenced by the intensity and duration of exercise. Key-words: exercise-induced anorexia, ghrelin, hunger, satiety, leptin. Palavras-chave: anorexia induzida pelo exercício, grelina, fome, saciedade, leptina. Recebido em 19 de outubro de 2011; aceito em 18 de novembro de 2011. Endereço para correspondência: Alexandre Hideki Okano, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Centro de Ciências da Saúde – CCS, Departamento de Educação Física - DEF, Campus Universitário BR 101, Lagoa Nova, 59072-970 Natal RN, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O processo de regulação da ingestão alimentar tanto de sujeitos normoponderais quanto de obesos, tem suscitado curiosidade da comunidade científica, em busca da compreensão dos componentes tanto homeostáticos quanto hedônicos, responsáveis pela sensação de prazer e atração pelo alimento [1]. Estes componentes controlam sinais de fome e saciedade em vias periféricas e centrais. Basicamente, os sinais aferentes, advindos da periferia, fornecem informação sobre o estado nutricional corporal ao sistema nervoso central. Este último media e integra os sinais de fome e saciedade e, após isto, formula uma resposta fisiológica que regula o comportamento alimentar do indivíduo [2]. Atualmente, outro fator bastante abordado na literatura é o efeito da prática de exercício físico sobre o processo de regulação do apetite. Vários são os estudos que se preocuparam em verificar o efeito do exercício físico sobre a manutenção e perda do peso corporal total, obtendo resultados positivos tanto para melhorias no balanço energético [3,4] quanto para o sistema de regulação do apetite [5,6]. Porém, existem fortes correntes científicas que acreditam que o exercício físico promove um gasto energético negativo acompanhado por um aumento, contrabalanceado da ingestão alimentar, além de aumentar a sensação de fome no estado de jejum [7]. Em adição aos efeitos atrelados à prática de exercício físico, sabe-se que o mesmo é responsável pela melhoria e manutenção da plasticidade cerebral, além de melhorar a oxigenação e vascularização cerebral, processo este denominado de neurogênese. Todos estes efeitos benéficos ocorrem, mais especificamente, no hipocampo (região central responsável pelo controle do apetite, aprendizado e memória), que está intimamente interligado ao córtex pré-frontal [8]. Estudos também demonstram que o exercício físico é capaz de promover melhorias no processo de neuroplasticidade, aumentando a velocidade das transmissões sinápticas, fazendo com que o cérebro esteja mais bem preparado para codificar informações importantes, a respeito do estado nutricional do corpo, fornecidas pela periferia corporal e ambiente externo [9]. Sendo assim, esta pesquisa tem como objetivo revisar o atual conhecimento científico produzido sobre os processos e mecanismos fisiológicos e centrais, bem como a influência da prática do exercício físico na regulação da ingestão alimentar na obesidade. Aspectos fisiológicos e centrais da obesidade A obesidade é considerada uma síndrome mundial envolvendo fatores sociais, psicológicos e socioeconômicos em indivíduos de todas as idades e grupos. O contínuo aumento nas taxas de incidência de pessoas com excesso de peso nas últimas décadas fez com que a obesidade atingisse proporções epidêmicas, a ponto de a Organização Mundial de Saúde [10] considerar a obesidade uma epidemia global. 49 Neste aspecto, o Brasil tem seguido a mesma tendência mundial alarmante de índices crescentes de obesidade. Em 2008, de acordo com a mais recente pesquisa realizada pelo IBGE [11], 33,5% das crianças de 5 a 9 anos estavam acima do peso, sendo que 16,6% do total de meninos eram obesos e 11,8% das meninas estavam com sobrepeso. Em adultos jovens de 20 aos 24 anos do sexo masculino, o sobrepeso saltou de 18,5% em 1974-1975 para 50,1% em 2008-2009. No sexo feminino, o aumento foi menor: de 28,7% para 48%. Por causa desta alta prevalência de excesso de peso corporal na população mundial, muitas investigações foram conduzidas levando em consideração aspectos como o balanço energético e peso corporal deste público. O balanço energético é determinado pela ingestão de macronutrientes, gasto energético e termogênese dos alimentos. Assim, o balanço energético positivo, em longo prazo, resulta em ganho de massa corporal na forma de gordura, enquanto que o balanço energético negativo resulta em perda de peso corporal [12]. Porém, cientistas comprovaram que além do cuidado com o balanço energético positivo, outros fatores comprometem o quadro patológico de pessoas com obesidade, fazendo com que o mesmo não se reverta. Entre estes fatores podem ser listados: a sociedade e/ou cultura, ambiente, limitada disponibilidade de alimentos naturais, palatabilidade dos alimentos industrializados, composição dos nutrientes, entre outros fatores [13,14]. Pesquisas utilizando como amostra sujeitos obesos têm demonstrado a relação entre diminuição expressiva da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), aumento da atividade do nervo simpático, alteração do metabolismo hormonal e estimulação gástrica, tendo efeito sobre a ingestão alimentar e distensão estomacal. Além disso, indivíduos obesos possuem, em suas particularidades, uma anormal atividade do hipocampo em resposta aos sinais de saciedade, comprometendo, assim, toda contribuição na regulação e controle da ingestão alimentar. Este padrão de atividade neuronal persiste em indivíduos que já foram obesos, fazendo com pessoas que se enquadram neste aspecto possam correr altos riscos em relação ao reganho de peso excessivo [15,16]. Anormalidades metabólicas e hemodinâmicas também são encontradas em indivíduos com excesso de peso corporal [17]. Atribuí-se a isto, a existência de um descontrole no sistema nervoso central, mais especificamente, do ramo simpático que parece ser mais ativado em indivíduos obesos do que em magros [18]. Porém, há controvérsias na literatura na qual é sustentada a existência de uma diminuição da atividade simpática [19]. Com isso, Young e Macdonald [20] realizaram extensa revisão de 40 estudos com humanos conduzidos antes de 1991 na tentativa de clarificar se a obesidade estava associada à elevada ou reduzida atividade do sistema nervoso simpático (SNS). As publicações científicas suportaram ambas as hipóteses, bem como a possibilidade de não haver diferença na atividade do SNS entre indivíduos normoponderais e obesos [21]. Entretanto, os autores evidenciam várias limitações 50 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 entre os estudos revisados, principalmente na fragilidade do método utilizado para avaliação da atividade simpática. Por outro lado, tem-se observado, em obesos, uma relação inversamente proporcional entre a VFC e mortalidade por doenças cardiovasculares, ou seja, uma diminuição da VFC, que pode ser gerada tanto pela diminuição da atividade parassimpática quanto pelo aumento da atividade simpática, tem resultado numa alta taxa de mortalidade [22]. Em nível cerebral, estudos utilizando a técnica de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) demonstram que, após o consumo de alimentos líquidos até a saciedade, indivíduos obesos exibiram diminuição do fluxo sanguíneo na região do hipocampo comparado a indivíduos magros [16]. Em decorrência do exposto, tem-se especulado que o córtex pré-frontal e a região hipocampal, para além de desempenharem importante papel nos processos de memória e aprendizagem, estão intimamente relacionados à regulação da ingestão alimentar, controle da alimentação e regulação do apetite [23,24]. Regulação central do apetite: sensações de fome e saciedade, tamanho da refeição e frequência alimentar Importantes fatores envolvidos no controle do apetite geram distúrbios que acometem a homeostase energética. Esta última é controlada por dois conjuntos de sinais, os sinais tônicos e episódicos. O conjunto de sinais que surge a partir dos estoques dos tecidos, especialmente do tecido adiposo, e reflete o que é frequentemente referido como sinalização em longo prazo ou, um termo alternativo, sinalização tônica [25], é responsável pela regulação de todo o balanço energético e massa corporal de gordura sobre dias ou até semanas [26]. Os sinais químicos provenientes deste processo incluem a leptina, insulina e certas adipocinas (amilina, visfatina e adiponectina). Em animais, altas concentrações destes hormônios, principalmente a leptina (adipocitocina responsável pela produção da sensação de saciedade), diminuem a ingestão alimentar e estimulam o dispêndio energético [27]. Em contraste, indivíduos obesos, geralmente, possuem altas concentrações de leptina e insulina, o que sugere uma possível resistência dos organismos de obesos aos efeitos destes hormônios, fazendo com que o efeito de supressão na ingestão alimentar não ocorra [28]. A partir de recentes especulações demonstrando que baixas concentrações de leptina e insulina podem tanto aumentar a ingestão alimentar quanto suprimir o dispêndio energético [29], Hagobian e Braun [26] sugerem que exista uma relação entre as concentrações de leptina/insulina e ingestão alimentar, assemelhando-se ao “U invertido”, em que tanto baixas quanto muito altas concentrações de leptina/insulina estimulam a ingestão alimentar, porém níveis moderados circulantes destes hormônios tenham efeito supressor. No entanto, os sinais denominados “episódicos” surgem largamente do trato gastrointestinal e são gerados periodicamente em ritmos sincronizados a partir do ato de se alimentar [30]. Os componentes químicos envolvidos neste processo incluem a colecistocinina, peptídeo ligado ao glucagon (GLP-1), oxintomodulina, grelina, peptídeo YY (PYY), mais especificamente o PYY3-36, e possivelmente por outros peptídeos liberados por células localizadas ao redor do trato gastrointestinal [31], sendo a grelina acilada considerada o mais importante componente de estimulação da ingestão energética, tanto em homens quanto em animais [32,33]. Porém o PYY3-36 vem ganhando atenção, pois ao infundi-lo, perifericamente, notaram-se supressões na ingestão alimentar tanto de animais [34] quanto em humanos [35]. Em suma, toda esta gama de sinais regula o início e o término da alimentação, consequentemente, também regula a frequência e tamanho da refeição [26]. A integração dos sinais tônicos e episódicos gera informações ao cérebro quanto ao estado dinâmico atual dos estoques de energia e os fluxos oscilatórios de nutrientes derivados da alimentação, quando estes últimos são detectados pela sinalização episódica. Esta integração é instanciada em um conjunto de vias e receptores neurais que se estendem pelo núcleo do trato solitário e área postrema do mesencéfalo através de um discreto núcleo hipotalâmico no prosencéfalo basal [2]. Os sinais episódicos surgem e desaparecem em harmonia com o padrão alimentar. Um grande grupo destes peptídeos citados acima fornece sinais responsáveis pela sensação de saciação, que se constitui no ato do término da refeição, e saciedade, que se caracteriza pela ação de inibição do ato de se alimentar após a refeição [30]. Em adição, muitos comportamentos alimentares distinguíveis são controlados por várias regiões cerebrais e sistemas neuroquímicos que impactam sobre aspectos da alimentação, incluindo o início, quantidade e frequência da ingestão alimentar. Os fatores que contribuem para o início da ingestão alimentar são considerados não homeostáticos, pois não se constituem em um processo dependente do déficit energético, porém, ainda não são claramente definidos na literatura mecanismos fisiológicos atrelados à sinalização em cascata, circuitos neuronais e neuroquímicos que mediam suas influências biológicas sobre o processo de alimentação [36]. Em contraste, os fundamentos fisiológicos dos fatores que controlam o término da refeição, assim como os fatores que controlam a quantidade de alimento ingerido durante a refeição, têm sido mais extensamente estudados. De acordo com Smith [37] existem duas categorias de sinais (diretos e indiretos) que contribuem para o controle da quantidade de alimentos ingeridos. Os sinais diretos são aqueles fornecidos pelo canal alimentar em resposta ao contato do alimento ingerido ou digestão do mesmo. Esta mesma categoria de sinais diretos é denominada por Grill [36] como sinais de saciação, que são definidos por sinais sensórios gerados pela interação do alimento ingerido com o trato gastrointestinal e incluem Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 distensão estomacal e hormônios liberados pelo intestino em resposta ao transporte de nutrientes [38]. Além dos sinais diretos, a quantidade de alimento ingerido em uma refeição é influenciada por outros tipos de sinais, incluindo sinais metabólicos ou disponibilidade de energia, tais como os níveis de circulatórios de nutrientes, como, por exemplo, os níveis de glicose, ácidos graxos livres e aminoácidos. Já, sinais originados pela adiposidade como a leptina ou fornecidos pela temperatura ambiente entre outros, interferem no controle da quantidade de alimentos ingeridos em uma refeição [37,39]. Os sinais indiretos são definidos por inter-relações entre os mecanismos gerados pelos sinais diretos e os mecanismos neurais, construindo, assim, os sinais de saciação, portanto, o impacto inibitório na ingestão alimentar é considerado como sinais indiretos. A fome e a saciedade são sentimentos que são governados por muitos processos e moléculas em que o cérebro, mais especificamente o hipotálamo, exerce um importante papel [40]. De fato, o sentimento de fome leva a um aumento de ingestão alimentar e, como consequência disto, o sentimento de saciedade deve ser gerado. Porém, a influência destas sensações, fome e saciedade, sobre a quantidade e frequência de refeições está intimamente relacionada ao fator hereditariedade [41]. Sabendo que todos estes processos de formação das sensações de fome e saciedade são controlados através de hormônios, peptídeos e neurônios, de Krom et al. [42] acreditam que existe uma suscetibilidade genética para o controle da ingestão alimentar nos genes que codificam os mesmos hormônios, peptídeos e neurônios envolvidos na formação destas sensações. Porém o conhecimento da genética sobre os aspectos do comportamento alimentar ainda é muito limitado. Muitos dos estudos que analisaram os genes envolvidos nas sensações de fome e saciedade não se preocuparam em aprofundar as investigações em relação as suas influências genéticas na formação destas sensações e, sim, objetivaram analisar os resultados finais de distúrbios relacionados à fome e saciedade, tais como a obesidade, diabetes do tipo II e composição corporal [42]. Sabe-se que este processo é regulado por ações integradas de vários feedbacks e outros sinais internos e externos que finalmente controlam a quantidade de alimento ingerido e a frequência de cada refeição [39]. Além disso, é sugerido que, em nível central, o hipocampo é uma importante região envolvida no processo de regulação energética, que possuem receptores, especialmente no núcleo arqueado, responsáveis pela detecção de vários neurohormônios com funções de sinalização da fome, saciedade e sinais de adiposidade [43]. Somando, ainda, a responsabilidade pelas funções de aprendizagem e memória, que, de acordo com vários autores, as funções de aprendizagem e memória possuem importantes papéis no controle da alimentação e do comportamento alimentar [23,24]. 51 Todavia, alocado no tronco encefálico, o núcleo do trato solitário (NTS) vem sendo destacado por ser um nodo crucial que recebe inputs diretos dos receptores gustativos e de muitos sinais de saciedade, geralmente advindos do contato direto dos nutrientes com o tracto gastrointestinal. Com isso, soluções foram designadas com o intuito de responder onde e como informações, fornecidas pelo tronco encefálico e hipotálamo, estão integradas no controle da ingestão alimentar, particularmente no término da refeição e sensação de saciedade [39]. Como exemplo destas soluções, recentes evidências sugerem que uma parte desta integração toma lugar nos neurônios do NTS, que recebem não somente informações do intestino, mas informações através do sistema melanocortinérgico e outras projeções do hipotálamo [36]. Influência do exercício físico sobre o controle do apetite Os benefícios da prática de atividade física ou engajamento em programas de exercício físico que acarretam mudanças no estilo de vida sedentário estão bem documentados, como, por exemplo, a diminuição dos riscos associados ao desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas ou mortes súbitas, se constituindo em uma importante intervenção no tratamento da obesidade [44]. Todavia, a modificação dos padrões ou hábitos alimentares parece ser consenso na literatura, como medida essencial para diminuição dos percentuais de gordura corporal. Portanto, dietas hipocalóricas parece ser a melhor medida adotada para quem deseja perder peso, no entanto, associação de ingestão alimentar balanceada a um aumento relevante do dispêndio energético diário total parece ser ainda mais benéfica [6]. Como consequência disto, verificou-se que a atividade física tem estreita relação com a ingestão alimentar, pois o trabalho corporal requer energia fornecida pelos nutrientes para que haja restauração dos estoques de combustível, com o propósito da continuidade do funcionamento das funções corporais. Neste sentido, Mayer et al. [5] executaram estudos com animais e homens, examinando o efeito do exercício sobre a massa corporal e ingestão alimentar. Para fornecer um melhor entendimento entre a relação destas variáveis, os mesmos autores confeccionaram gráficos que são apresentados na Figura 1. Estes autores dividiram o nível de atividade física em cinco zonas, onde a zona 1 ilustra o comportamento da ingestão alimentar e massa corporal de um indivíduo com baixo nível de atividade física. Em repercussão deste estilo de vida, é encontrado um aumentado tempo ocioso, tornando-o mais sedentário. Este tipo de ação não induz a uma redução compensatória na ingestão alimentar do mesmo, levando-o ao aumento da massa corporal total. Já na zona 2, é ilustrado a introdução da atividade física no cotidiano do sujeito, tendo como consequência, uma redução, mesmo que pequena, na ingestão alimentar, devido à mobilização dos estoques de energia, levando a diminuição da massa corporal total. Na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 52 zona 3, denominada de zona sensível, ilustra-se um indivíduo que agora é praticante regular de atividade física de moderada à vigorosa intensidade. Este tipo de atitude tem consequências que se diferem se o sujeito for magro, ou seja, a ingestão alimentar dele é aumentada, porém sua massa corporal total é mantida. Já, se o indivíduo for obeso não é demonstrado significantes mudanças na ingestão alimentar, devido ao excesso de energia estocado. Figura 1 - Modelo demonstrativo da relação entre nível de atividade física (NAT), massa corporal e ingestão alimentar. Massa corporal Zona de responsividade 1 Ingestão energética 0 2 1.7-1.8 3 4 2.2-2.5 5 4.0-5.0 NAT Zona de responsividade 1 0 2 1.7-1.8 3 2.2-2.5 4 5 4.0-5.0 NAT Fonte: Adaptada de Mayer et al. [5]. O nível de atividade física da população em geral possui um limite em torno de 2.2-2.5 (zona 4), e em indivíduos altamente treinados em torno de 4.0-5.0 (zona 5). Acima destes valores, o corpo humano não é capaz de compensar o dispêndio energético e, como consequência disto, perde-se massa corporal total, inclusive massa magra. Com base neste modelo, Mayer et al. [5] defendem a hipótese de que, imediatamente após a um significativo aumento no dispêndio energético, um balanço energético negativo é gerado. De acordo com este modelo, vários autores corroboram a idéia de que há um efeito supressor da ingestão alimentar como resposta reativa às séries agudas de atividades físicas [45,46]. Por outro lado, em uma vasta revisão da literatura, foi demonstrado que, em consequência da prática de exercício, em protocolos de curto a moderado tempo de intervenção (2-5 dias), 19% dos estudos reportaram aumento, 65% não demonstraram mudanças e 16% demonstraram diminuição da ingestão alimentar após a sessão de exercício [47,48]. Neste sentido, Whybrow et al. [49] analisaram o efeito de exercícios em diferentes intensidades: nenhum exercício (grupo controle), exercício moderado e intenso, sobre o apetite, ingestão alimentar, dispêndio e balanço energético em homens e mulheres magros. Constataram que o dispêndio energético gerado pela prática de exercício começa a ser compensado ou contrabalanceado pela ingestão alimentar, num curso de uma a duas semanas em homens e mulheres magras. Já, mais recentemente, King et al. [50] relataram que o efeito do exercício sobre a regulação do apetite, envolve, pelo menos, dois processos: I) aumento em todos os sinais orexígenos e II) um concomitante aumento na eficiência de sinais de saciedade em refeições fixas. No entanto, os mesmos autores alegam que estes processos não operam com a mesma força e eficácia em todos os indivíduos praticantes de exercícios. Juntas, as forças destes dois processos podem determinar se indivíduos perderão peso com a prática de exercício, ou se o peso corporal será mantido através do efeito compensatório do aumento da ingestão alimentar após a sessão de exercício. Em relação às respostas compensatórias ao déficit energético gerado pelo exercício, King et al. [7] relataram a importante influência das respostas compensatórias metabólicas (respostas automáticas ou obrigatórias, como, por exemplo, a taxa metabólica de repouso e o dispêndio energético gerado por outras atividades fisiológicas) e comportamentais (respostas voluntárias ou facultativas, como, por exemplo, ingestão alimentar), como pontos-chave, no tocante à barreira para perda de peso induzida pela prática de atividade física. As respostas compensatórias comportamentais possuem maior poder influenciador sobre as perturbações feitas ao balanço energético do que as respostas metabólicas. Portanto, as contribuições para estas perturbações ao balanço energético da atividade física são menos expressivas do que as contribuições dadas por meio da ingestão alimentar [14]. Em suma, parece que o efeito de sessões agudas de atividades físicas depende extremamente da intensidade empregada na atividade. Exercícios com intensidades de moderada a extenuantes (>60%VO2MAX) parecem ser mais eficazes no tocante ao efeito supressor do exercício físico em relação à ingestão alimentar. Isto se deve a uma redistribuição do fluxo sanguíneo, em específico da circulação esplênica em direção a musculatura [48]. Nesta mesma ótica, vários estudos especularam que exercício de baixa intensidade e curta duração parece não induzir efeito supressor sobre a fome. Somente exercícios de alta intensidade e longa duração possuem um forte efeito sobre a ingestão alimentar comparado a exercícios de curta duração, assim, exercícios extenuantes parecem suprimir o apetite e induzir a um efeito denominado anorexia induzida pelo exercício [50]. Conclusão Em suma, vários estudos sustentam a importância da região hipocampal sobre o gerenciamento da ingestão alimentar através da decodificação de citocinas que traduzem as sensações de fome e saciedade. Entretanto, o córtex pré-frontal, cingulado anterior e o núcleo do trato solitário parecem estar estreitamente interligados para o desempenho destas funções. Todavia, estudos com o intuito do melhor entendimento dos mecanismos, reações fisiológicas e hedônicas, que envolvem o controle central do apetite, ainda não conseguiram, por com- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 pleto, definir a totalidade de variáveis intervenientes que estão inter-relacionadas no processo da alimentação e do apetite. Além disso, a regulação do apetite é modulada pela prática de exercício físico. Porém, as repercussões atenuadoras do apetite geradas por meio do exercício físico parecem sofrer dependência da intensidade e duração do estímulo. Entretanto, estudos com um maior cuidado metodológico em relação à padronização da ingestão alimentar entre grupos e cuidado na escolha e utilização de variáveis bioquímicas que sejam mais sensíveis à regulação do apetite devem ser estimulados. Por exemplo, o peptídeo PYY3-36 parece possuir uma maior sensibilidade às alterações na regulação do apetite do que o PYY1-36. A grelina, na forma acilada, é outro ótimo exemplo, pois somente nesta forma, a mesma consegue ultrapassar a barreira hematoencefálica. Referências 1. Woods SC. The eating paradox: how we tolerate food. Psychol Rev 1991;98(4):488-505. 2. Schwartz MW, Woods SC, Porte D, Jr., Seeley RJ, Baskin DG. Central nervous system control of food intake. Nature 2000;404(6778):661-71. 3. Schoeller DA, Shay K, Kushner RF. How much physical activity is needed to minimize weight gain in previously obese women? Am J Clin Nutr 1997;66(3):551-6. 4. Saris WH. The role of exercise in the dietary treatment of obesity. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 55 Revisão Influência de variáveis relacionadas ao protocolo experimental no déficit de força muscular mediado pelo alongamento Influence of variables related to the experimental protocol in muscle strength deficit mediated by stretching Raquel Gonçalves*, André Luiz Demantova Gurjão*, José Cláudio Jambassi-Filho*, Luiza Hermínia Gallo*, Alexandre Konig Garcia Prado*, Sebastião Gobbi, D.Sc.* *Universidade Estadual Paulista, IB, DEF, Laboratório de Atividade Física e Envelhecimento (LAFE), Rio Claro, São Paulo Resumo Um grande número de estudos tem demonstrado que exercícios de alongamento podem diminuir o desempenho de força muscular, fenômeno descrito como déficit de força muscular mediado pelo alongamento. De qualquer forma, nenhuma conclusão pode ser realizada com relação a esse fenômeno, uma vez que variáveis relacionadas ao protocolo experimental utilizado nos estudos podem influenciar sua magnitude. O presente estudo apresenta uma revisão sistemática de artigos cujo objetivo foi analisar a influência de variáveis relacionadas às rotinas de alongamento e ao método de avaliação da força muscular na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Foi realizada uma busca nos bancos de dados: Medline; Pubmed; Lilacs e Sport Discus. Após a busca, foram analisados 15 estudos relacionados ao tema. Com base nos estudos encontrados, a presente revisão demonstra que variáveis relacionadas ao protocolo experimental podem ter uma forte influência na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Abstract A large number of studies have shown that stretching exercises may decrease the performance of muscle strength, a phenomenon described as muscle strength deficits mediated by stretching. However, no conclusions can be made with respect to this phenomenon, since variables related to the experimental protocol used in the studies may influence its magnitude. This study presents a systematic review of articles whose aim was to analyze the influence of variables related to the stretching routines and to muscle strength evaluation method in the muscle strength deficits mediated by stretching. A search was conducted in the databases: Medline; Pubmed; Lilacs e Sport Discus. After the search, 15 studies related to the topic were analyzed. Based on the studies found, this review demonstrates that variables related to the experimental protocol may have influence on the magnitude of the muscle strength deficits mediated by stretching. Key-words: stretching, muscular strength, experimental protocol. Palavras-chave: alongamento, força muscular, protocolo experimental. Recebido em 31 de outubro de 2012; aceito em 10 de janeiro de 2011. Endereço para correspondência: Sebastião Gobbi, Avenida 24A, 1515, 13506-900 Rio Claro SP, E-mail: [email protected] 56 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Introdução O déficit de força muscular induzido por rotinas de alongamento é o termo empregado para descrever a redução transitória no desempenho do sistema neuromuscular observada após a realização de exercícios de alongamento. Este fenômeno tem sido sistematicamente demonstrado após o emprego de diferentes métodos de alongamento e pode apresentar magnitude e duração de respostas bastante variadas [1-3]. A existência de evidências que apontam para o efeito deletério dos exercícios de alongamento sobre desempenho neuromuscular levou alguns pesquisadores a sugerir sua retirada das rotinas de aquecimento que precedem a prática de exercícios físicos [4,5]. Entretanto, alguns trabalhos não têm demonstrado o efeito negativo dos exercícios de alongamento sobre as respostas da força muscular [6,7]. Parte dessas contradições observadas pode estar associada não apenas às variáveis relacionadas às rotinas de alongamento, como exemplo o volume ou método de alongamento empregado, mas também às variáveis envolvidas no protocolo de avaliação da força muscular. Considerando as informações acima, é importante determinar qual a influência das variáveis associadas ao protocolo experimental utilizados em estudos que buscaram investigar o déficit de força muscular mediado pelo alongamento na magnitude desse fenômeno. Dessa forma, conclusões mais concretas poderão ser realizadas com relação ao emprego de rotinas de alongamento que precedem a prática de atividade física. O objetivo do presente estudo foi: a) revisar a influência das principais variáveis associadas às rotinas de alongamento na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento; b) revisar a influência das principais variáveis associadas ao método de avaliação da força muscular na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Métodos A busca eletrônica para a realização deste trabalho foi efetuada nas seguintes bases de dados: Medline; Pubmed; Lilacs e Sport Discus. Quando possível, limites de datas foram acrescentados. Para pesquisa dos estudos, foram utilizadas as seguintes palavras-chaves de forma combinada e/ ou individualmente: flexibility, stretching, dynamic stretching, static stretching, warm-up, strength, force, vertical jump, power, performance, joint angle. Para a base de dados Lilacs os termos citados acima foram utilizados em português. Em adição, a lista de referências de todas as publicações inclusas na revisão foi utilizada para busca manual de possíveis estudos relevantes que não foram encontrados durante a busca eletrônica. Os seguintes critérios de inclusão foram adotados: a) estudos experimentais cujo objetivo envolvia analisar o déficit de força muscular mediado pelo alongamento; b) estudos experimentais cujo objetivo envolvia comparar variáveis relacionadas às rotinas de alongamento na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento; c) estudos experimentais cujo objetivo envolvia comparar variáveis relacionadas ao método de avaliação da força muscular na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento; d) estudos que incluíam diferentes condições experimentais realizadas de forma aleatória. Primeiramente os artigos foram selecionados pelo título, quando continham palavras relacionadas ao tema. Posteriormente fez-se a leitura do resumo e texto completo dos artigos. A partir desse ponto os estudos foram selecionados quando englobavam os critérios de inclusão adotados. Resultados e discussão As Tabelas I, II, III e IV apresentam as características dos 15 estudos selecionados para análise. As próximas sessões analisam, separadamente, o efeito de cada uma das variáveis associadas às rotinas de alongamento (duração e método de alongamento) e ao protocolo de avaliação da força muscular (ângulo articular e tipo de exercício) no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Duração do alongamento Estudos que relataram efeitos negativos do alongamento no desempenho de força muscular utilizaram protocolos com durações de até 30 minutos para o mesmo grupo muscular [8,9]. Embora seja possível observar que o déficit de força muscular apresente um comportamento dependente do tempo de alongamento e do grupo muscular alongado, grande parte dos estudos adotou em seus protocolos experimentais rotinas com tempos de alongamento não condizentes com aqueles das rotinas empregadas na prática. Uma possível relação dose – resposta poderia explicar por que alguns estudos têm reportado que o desempenho de força muscular não é afetado pelo alongamento. Tem sido sugerido que a ausência desse efeito pode ser causada pela utilização de um protocolo de alongamento com menor volume. Neste sentido, a partir do ano de 2005, é possível verificar um crescente número de publicações que buscou comparar o efeito de menores volumes de alongamento sobre o desempenho agudo do sistema neuromuscular. Ogura et al. [10] compararam o efeito de dois volumes de alongamento estático (1 x 30 e 1 x 60 segundos) na contração voluntária máxima (CVM) dos posteriores de coxa. Os autores reportaram que a CVM foi significativamente menor após a rotina com duração de 60 segundos quando comparada com o protocolo de 30 segundos e a condição controle (sem alongamento). De forma similar, Siatras et al. [11] observaram maior diminuição do pico de torque (PT) após uma rotina de 60 segundos de alongamento estático, quando comparada a 30, 20 e 10 segundos de alongamento. Em contrapartida, Winchester Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 57 Tabela I - Estudos que investigaram a influência da duração do alongamento no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referência Ogura et al. [10] Siatras et al. [11] Ryan et al. [13] Winchester et al. [12] Rotina de Alongamento 30 ou 60 segundos de alongamento estático 10, 20, 30 ou 60 segundos de alongamento estático 120, 240 e 480 segundos de alongamento estático 30, 60, 90, 120, 150 e 180 segundos de alongamento estático Tipo de Ação Muscular Isométrica Isométrica Isométrica Isométrica Resultado >↓ CVM após 60 segundos >↓ PT após 60 segundos ↓ CVM após 120, 240 e 480 segundos ↓ TDF após 240 e 480 segundos ↓ CVM após 30, 60, 90, 120, 150 e 180 segundos > = Aumento; ↓ = Diminuição; CVM = Contração Voluntária Máxima; PT = Pico de Torque; TDF = Taxa de Desenvolvimento de Força. Tabela II - Estudos que investigaram a influência do método de alongamento no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referência Rotina de Alongamento Herda et al. [27] 540 segundos estático ou dinâmico Bacurau et al. [26] 1200 segundos de alongamento estático ou dinâmico 480 segundos de alongamento estático ou dinâmico 600 segundos de alongamento estático ou dinâmico 45 segundos de alongamento estático ou dinâmico 90 segundos de alongamento estático ou dinâmico 600 segundos de alongamento estático ou dinâmico 45 segundos de alongamento estático ou dinâmico Dalrymple et al. [21] Curry et al. [22] Beedle et al. [23] Samuel et al. [24] McMilian et al. [28] Unick et al. [25] Tipo de Ação Muscular Isométrica Resultado ↓ CVM após estático quando comparada ao método dinâmico 1RM ↓ 1RM após estático quando comparada ao método dinâmico SV Nenhuma alteração no SV após estático e dinâmico SV Nenhuma alteração no SV após estático e dinâmico 1RM Nenhuma alteração em 1RM após estático e dinâmico SV Nenhuma alteração no SV após estático e dinâmico 5 - step jump ↑ Potência muscular após alongamento dinâmico quando comparada ao estático SV Nenhuma alteração no SV após estático e dinâmico ↑ = Aumento; ↓ = Diminuição; SV = Salto Vertical; CVM = Contração Voluntária Máxima; 1RM = 1 Repetição Máxima. Tabela III - Estudos que investigaram a influência do ângulo articular de avaliação da força muscular no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referência Herda et al. [27] McHug et al. [30] Graus Avaliados 41, 61, 81 e 101 graus 80, 65, 50 e 35 graus Tipo de Ação Muscular Isométrica Isométrica Resultado >↓ PT em 81 e 101 graus >↓ Ângulo-torque em 65 e 80 graus > = Maior; ↓ = Diminuição; PT = Pico de Torque. Tabela IV - Estudos que investigaram a influência do tipo de exercício utilizado na avaliação da força muscular no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referência McBride et al. [31] Exercícios Tipo de Ação Muscular Monoarticular (Extensão de Joelho) e Multiarti- Isométrica cular (Agachamento) ↓ = Diminuição; CVM = Contração Voluntária Máxima; TDF = Taxa de Desenvolvimento de Força. Resultado ↓ CVM durante exercício monoarticular ↓ TDF durante exercício multiarticuar 58 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 et al. [12] observaram que 30 segundos de alongamento estático foram suficientes para reduzir a força muscular máxima dos posteriores de coxa. Em grupos musculares menores (flexores plantares), Ryan et al. [13] analisaram o comportamento da curva força-tempo (Cf-t) isométrica após 120, 240 e 480 segundos de alongamento estático. Os autores encontraram que a CVM diminuiu significativamente após todos os protocolos de alongamento empregados. Para a taxa de desenvolvimento de força (TDF) foram observadas reduções significativas após 240 e 480 segundos de alongamento. O tempo total que um músculo é submetido ao alongamento é uma importante variável a ser considerada, uma vez que estímulos com maiores volumes podem aumentar a magnitude de decréscimo da força muscular. Nesse sentido, os estudos citados acima sugerem que pode haver um limiar mínimo de alongamento, entre 20 e 60 segundos, para que possa ocorrer o déficit de força muscular. Métodos de alongamento (dinâmico vs. estático) Diferentes métodos de alongamento têm sido utilizados na prática durante sessões de aquecimento e durante programas de atividade física que visam o desenvolvimento da flexibilidade. Dentre eles, o método estático e o dinâmico são os mais conhecidos e investigados na literatura. Especificamente para a potência muscular, estudos têm demonstrado que o método dinâmico pode não afetar o desempenho de força, podendo, inclusive, melhorar a capacidade muscular em desenvolver força rapidamente [14-16]. Por outro lado, um número grande de evidências tem mostrado que rotinas de alongamento estático podem causar efeitos negativos na capacidade de força explosiva [17-20]. Estudos que procuraram comparar o efeito do método dinâmico e estático de alongamento no desempenho de força muscular têm encontrado resultados controversos. Alguns autores não observaram diferença significativa entre os métodos, sendo que tanto o método dinâmico quanto o método estático não causaram alterações no desempenho do salto vertical (SV), tempo do pico de força e uma repetição máxima (1 RM) de membros superiores e inferiores [21-25]. Em contrapartida, dois estudos demonstraram que o alongamento estático diminui significativamente o desempenho da PT e 1 RM quando comparado ao método dinâmico [26-27]. Apesar dos estudos demonstrarem redução na força muscular apenas após o emprego do método estático, ainda não há um consenso com relação à influência do método de alongamento empregado na magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Ângulo articular de avaliação da força muscular O déficit de força mediado pelo alongamento parece ser mais aparente em amplitudes de movimento nas quais o comprimento da fibra muscular ou do sarcômero corresponda ao plateau máximo da curva força-comprimento [29]. Com base nessa observação, alguns autores buscaram analisar o comportamento do déficit de força mediado pelo alongamento em diversos ângulos de avaliação. Herda et al. [27] analisaram o efeito agudo do alongamento estático no PT isométrico durante flexão do joelho em quatro ângulos articulares diferentes (41, 61, 81 e 101 graus abaixo da extensão total do joelho). Os autores observaram que o alongamento estático diminuiu significativamente o PT isométrico dos posteriores de coxa, durante flexão de joelho, nos ângulos de 101 e 81 graus. Em ângulos menores de avaliação (41 e 61 graus), o alongamento não alterou o desempenho de força muscular. Em adição, McHug et al. [30] avaliaram a relação ângulo-torque durante flexão isométrica de joelho em seis valores diferentes de ângulo (80, 65, 50, 35, 20 e 5 graus). Assim como Herda et al. [27], os autores encontraram que o déficit de força mediado pelo alongamento é mais proeminente em comprimentos mais curtos da musculatura avaliada (80 e 65 graus), ou seja, durante avaliação da força muscular em ângulos maiores. Avaliação da força muscular – tipo de exercício O déficit de força mediado pelo alongamento tem sido demonstrado em exercícios monoarticulares, tanto em ações isométricas quanto dinâmicas. Em contrapartida, a influência do alongamento durante o desempenho de força muscular em exercícios multiarticulares tem sido demonstrada, em sua grande maioria, para o desempenho dinâmico de força. McBride et al. [31] procuraram comparar o efeito agudo do alongamento estático durante esforço muscular isométrico em exercício monoarticular (extensão de joelho) e multiarticular (agachamento). O protocolo de alongamento consistiu em três séries de 30 segundos para o quadríceps. Os resultados mostraram que o comportamento da força muscular isométrica pode sofrer influência do tipo de exercício utilizado durante avaliação da força. Durante esforço monoarticular apenas a CVM reduziu significativamente. Já para o esforço multiarticular houve redução da TDF. Conclusão A retirada de rotinas de alongamento que precedem a prática de atividade física tem sido sugerida por diversos autores. Porém, nenhuma conclusão concreta com relação ao déficit de força muscular mediado pelo alongamento pode ser realizada, uma vez que são observadas diferenças entre os protocolos experimentais utilizados nos estudos que buscaram analisar esse fenômeno. Foi observado que protocolos com maior volume de alongamento podem causar maiores efeitos deletérios agudos na produção de força, sendo que menores volumes de alongamento não causam nenhuma alteração no Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 desempenho de força muscular. Ainda com relação à rotina de alongamento, não há uma conclusão concreta sobre a influência do método utilizado (dinâmico ou estático) no déficit de força muscular mediado pelo alongamento. O ângulo articular de avaliação da força muscular é outra importante variável a ser considerada na análise do efeito do alongamento no desempenho físico. Aparentemente, o déficit de força muscular mediado pelo alongamento é mais observado quando a força muscular é avaliada em ângulos articulares acima de 60 graus. Poucos estudos procuraram comparar o comportamento do déficit de força muscular mediado pelo alongamento em diferentes exercícios, sendo que parece ocorrer uma relação exercício-dependência nesse fenômeno. A presente revisão mostra uma forte evidência sugerindo que variáveis associadas às rotinas de alongamento e ao método de avaliação da força muscular podem influenciar a magnitude do déficit de força muscular mediado pelo alongamento. Referências 1. Behm DG, Button DC, Butt JC. Factors affecting force loss with prolonged stretching. Can J Appl Physiol 2001;26:261-72. 2. Power K, Behm DG, Cahill F, Carrol M, Young W. An acute bout of static stretching: effects on force and jumping performance. Med Sci Sports Exerc 2004;36:1389-96. 3. Ryan ED, Beck TW, Herda TJ, Hull HR, Hartman MJ, Stout JR, Cramer JT. Do pratical durations of stretching alter muscle strength? A dose-response study. Med Sci Sports Exerc 2008;40:1529-37. 4. Church JB, Wiggins MS, Moode FM, Crist R. Effect of warm up and flexibility treatments on vertical jump performance. J Strength Cond Res 2001;15:332-36. 5. Cornwell A, Nelson AG, Sidaway B. Acute effects of stretching on the neuromechanical properties of the triceps surae muscle complex. Eur J Appl Physiol 2002;86:428-34. 6. Alpkaya U, Koceja D. The effects of acute static stretching on reaction time and force. J Sports Med Phys Fitness 2007;47:147-50. 7. Cramer JT, Beck TW, Housh TJ, Massey LL, Marek SM, Danglemeier S et al. Acute effects of static stretching on characteristics of the isokinetic angle-torque relationship, surface electromyography, and mechanomyography. J Sports Sci 2007;25:687-98. 8. Fowles JR, Sale DG, MacDougall JD. Reduced strength after passive stretch of the human plantarflexors. J Appl Physiol 2000;89:1179-88. 9. Weir DE, Tingley J, Elder GC. Acute passive stretching alters the mechanical properties of human plantar flexors and the optimal angle for maximal voluntary contraction. Eur J Appl Physiol 2005;93:614-23. 10. Ogura Y, Miyahara Y, Naito H, Katamoto S, Aoki J. Duration of static stretching influences muscle force production in hamstring muscles. J Strength Cond Res 2007;21:88-92. 11. Siatras TA, Mittas VP, Mameletzi DN, Vamvakoudis EA. The duration of the inhibitory effects with static stretching on quadriceps peak torque production. J Strength Cond Res 2008;22:40-6. 12. Winchester JB, Nelson AG, Kokkonen J. A single 30-s stretch is sufficient to inhibit maximal voluntary strength. Res Q Exerc Sport 2009;80:257-61. 13. Ryan ED, Beck TW, Herda TJ, Hull HR, Hartman MJ, Stout JR et al. Do practical durations of stretching alter mus- 59 cle strength? A dose-response study. Med Sci Sports Exerc 2008;40:1529-37. 14. Young WB, Elliot, S. Acute effects of static stretching, proprioceptive neuromuscular facilitation stretching and maximum voluntary contractions on explosive force production and jumping performance. Res Q Exerc Sport 2001; 72:273-9. 15. Jaggers JR, Swank AM, Frost KL, Lee CD. The acute effects of dynamic and ballistic stretching on vertical jump height, force, and power. J Strength Cond Res 2008;22:1844-9. 16. Yamaguchi T, Ishii K, Yamanaka M, Yasuda K. Acute effects of dynamic stretching exercise on power output during concentric dynamic constant external resistance leg extension. J Strength Cond Res 2007;21:1238-44. 17. Holt BW, Lambourne K. The impact of different warm-up protocols on vertical jump performance in male collegiate athletes. J Strength Cond Res 2008;22:226-9. 18. Thompsen AG, Kackley T, Palumbo MA, Faigenbaum AD. Acute effects of different warm up protocols with and without a weighted vest on jump performance in athletic women. J Strength Cond Res 2007;21:52-6. 19. Vetter RE. Effects of six warm-up protocols on sprint and jump performance. J Strength Cond Res 2007;21:819-23. 20. Wallmann HW, Mercer JA, McWhorter JW. Surface eletromyographic assessment of the effect of static stretching of the gastrocnemius on vertical jump performance. J Strength Cond Res 2005;19:684-8. 21. Dalrymple KJ, Davis SE, Dwyer GB, Moir GL. Effect of static and dynamic stretching on vertical jump performance in collegiate women volleyball players. J Strength Cond Res 2010;24:149-55. 22. Curry BS, Chengkalath D, Crouch GJ, Romance M, Manns PJ. Acute effects of dynamic stretching, static stretching, and light aerobic activity on muscular performance in women. J Strength Cond Res 2009;23:1811-9. 23. Beedle B, Rytter SJ, Healy RC, Ward TR. Pretesting static and dynamic stretching does not affect maximal strength. J Strength Cond Res 2008;22:1838-43. 24. Samuel MN, Holcomb WR, Guadagnoli MA, Rubley MD, Wallmann H. Acute effects of static and ballistic stretching on measures of strength and power. J Strength Cond Res 2008;22:1422-8. 25. Unick J, Kieffer HS, Cheesman W, Feeney A. The acute effects of static and ballistic stretching on vertical jump performance in trained women. J Strength Cond Res 2005;19:206-12. 26. Bacurau RFP, Monteiro GA, Ugrinowitsch C, Tricoli V, Cabral LF, Aoki MS. Acute effect of a ballistic and a static stretching exercise bout on flexibility and maximal strength. J Strength Cond Res 2009;23:304-8. 27. Herda TJ, Cramer JT, Ryan ED, McHugh MP, Stout JR. Acute effects of static versus dynamic stretching on isometric peak torque, electromyography, and mechanomyography of the biceps femoris muscle. J Strength Cond Res 2008; 22:809-17. 28. McMillian DJ, Moore JH, Hatler BS, Taylor DC. Dynamic vs. static-stretching warm up: the effect on power and agility performance. J Strength Cond Res 2006;20:492-99. 29. Nelson AG, Allen JD, Cornwell A, Kokkonen J. Inhibition of maximal voluntary isometric torque production by acute stretching is joint angle specific. Res Q Exerc Sport 2001;72:68-70. 30. McHug MP. Strength loss following static stretching: the role of muscle length. Med Sci Sports Exerc 2006;38:373-4. 31. McBride JM, Deane R, Nimphius S. Effect of stretching on agonist-antagonist muscle activity and muscle force output during single and multiple joint isometric contractions. Scand J Med Sci Sports 2007;17:54-60. 60 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. 61 O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 1 - janeiro/março 2012 62 Calendário de eventos 2012 Junho Março 29 de março a 1 de abril Goiânia Capital Fitness Centro de Convenções Goiânia, GO Informações: www.bsbfitness.com.br 2 a 5 de abril XIV Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física dos Países de Língua Portuguesa Belo Horizonte, MG Informações: www.casaef.org.br/palops VII Musculação e Treinamento Informações: (11) 2714-5678/2714-5695 e-mail: [email protected] site: www.institutophorte.com.br 14 de abril I Certificação em Avaliação Funcional, Treinamento Funcional & Core e Pilates MET Informações: (11) 2714-5678/2714-5695 e-mail: [email protected] site: www.institutophorte.com.br 28 de abril a 1 de maio 22º Fitness Brasil Internacional Santos, SP Informações: www.fitnessbrasil.com.br 26º JOPEF Brasil Centro de Convenções, Curitiba, PR Informações: www.korppus.com.br 26 a 29 de junho Abril 13 a 15 de abril 7 a 9 de junho 4th International Congress on Cell Membranes and Oxidative Stress: Focus on Calcium Signaling and TRP Channels Isparta, Turkey Informações: www.cmos.org.tr/2012/ Julho 26 a 28 de julho 14º Rio Sports Show Pier Mauá, Rio de Janeiro, RJ Informações: www.riosportshow.com.br Agosto 30 de agosto a 1 de setembro 13th IHRSA Fitness Latin American Conference Trade Show São Paulo, SP Informações: www.fitnessbrasil.com.br Novembro 9 a 11 de novembro 12º Fitness Brasil Bahia Salvador, BA Informações: www.fitnessbrasil.com.br Re v i s t a B r a s i l e i r a d e Fisiologia do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 11 número 2 - abril/junho 2012 Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Amandio Rihan Geraldes (AL) Antonio Carlos Gomes (PR) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Douglas S. Brooks (EUA) Emerson Silami Garcia (MG) Francisco Martins (PB) Francisco Navarro (SP) Luiz Carnevali (SP) Luiz Fernando Kruel (RS) Martim Bottaro (DF) Patrícia Chakour Brum (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Robert Robergs (EUA) Rosane Rosendo (SC) Sebastião Gobbi (SP) Steven Fleck (EUA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Vilmar Baldissera (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Marketing e Publicidade Rainner Penteado [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Editorial Ginástica, futebol, voleibol e triathlon, Walace Monteiro.....................................66 ARTIGOS ORIGINAIS Frequência cardíaca máxima obtida e calculada em testes máximos em cicloergometria, Juscélia Cristina Pereira, João Carlos Bouzas Marins................................................67 A ansiedade em atletas de ginástica artística em períodos de pré-competição e competição, Flávio Conceição do Nascimento, Flavio Fernandes Bahiana, Paulo Cesar Nunes-Junior..............................................73 Análise da capacidade aeróbica e anaeróbica de árbitros de futebol do Paraná e do Ceará, Alberto Inácio da Silva, Alex Soares Marreiros Ferraz, Ricardo Lima dos Santos...........................................81 Influência da iniciação ao voleibol na aptidão física e desempenho motor de crianças do quarto ano do ensino fundamental, Juliana Victer da Silva Fraga, Roberto Pereira de Oliveira, Tomires Campos Lopes...............................................87 Evidências de stress oxidativo e alterações eritrocitárias induzidas por uma prova de triathlon half-ironman, Faber Sérgio Bastos Martins, José Augusto Rodrigues dos Santos.............................93 Prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes da cidade de Santos/SP através de dois métodos de avaliação antropométrica, Cauê V. La Scala Teixeira, Cláudio Zanin Eduardo, Kety Magalhães Konda, Rodrigo Luiz da Silva Gianoni.........................................100 Incidência de escoliose com excesso de carga nas mochilas em crianças de 6 a 10 anos, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Araceli Legal Guimbala, Sônia Izidoro Antunes Cidral, Simone Suzuki Woellner.......................................................................................105 REVISÕES Efeito agudo do exercício físico na lipemia pós-prandial, Jefferson Petto, Anne Karine Menezes Santos Batista, Carolina Santana de Oliveira, Ana Marice Teixeira Ladeia.....................................111 Mecanismos moleculares antioxidantes modulados pelo exercício físico, Camila Baumer Tromm, Luciano Acordi da Silva, Ricardo Aurino de Pinho ...............................................115 NORMAS DE PUBLICAÇÃO....................................................................122 EVENTOS.........................................................................................................123 Atlântica Editora edita as revistas Fisiologia do Exercício, Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Síndromes I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. 66 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Editorial Ginástica, futebol, voleibol e triathlon Walace Monteiro Tenho o prazer de apresentar o segundo número do volume 11 da RBFEx. O número de artigos submetidos vem aumentando bastante e com isso a qualidade e diversidade dos temas abordados também. A seção de artigos originais conta com seis trabalhos e inicia com um estudo sobre as respostas de frequência cardíaca máxima obtida e calculada em testes máximos de cicloergometria. Mudando o foco, temos uma investigação que aborda a ansiedade em atletas de ginástica artística no período pré-competitivo. A iniciação ao voleibol e as questões do desempenho motor também são enfocadas em crianças do ensino fundamental. O estresse oxidativo também entra em pauta em um estudo que trata das alterações eritrocitárias induzidas por uma prova de triathlon half-ironman. Alberto Inácio da Silva e sua equipe enviou uma nova pesquisa os árbitros de futebol, esta vez sobre a capacidade aeróbica e anaeróbica de árbitros do Paraná e do Ceará. Para encerrar a sessão de artigos originais temos um trabalho que trata da incidência de escoliose com o excesso de carga nas mochilas em crianças de 6 a 10 anos. A seção de artigos de revisão conta com dois trabalhos. O primeiro é direcionado aos efeitos do exercício físico na lipemia pós-prandial. Encerrando este número, publicamos ume revisão geral que aborda os mecanismos moleculares antioxidantes modulados pelo exercício físico. Como visto, os temas da revista estão bem diversificados para atender aos profissionais das diferentes áreas. Esperamos que tenham um bom proveito e boa leitura para todos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 67 ARTIGO ORIGINAL Frequência cardíaca máxima obtida e calculada em testes máximos em cicloergometria Maximum heart rate obtained and calculated in maximum cycloergometer tests Juscélia Cristina Pereira*, João Carlos Bouzas Marins, D.Sc.** *Mestranda em Educação Física, Laboratório de Performance Humana, Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG, **Laboratório de Performance Humana, Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG Resumo Abstract Objetivo: Avaliar a validade de seis equações preditivas de Frequência Cardíaca Máxima (FCM) em ambos os gêneros submetidos a dois testes máximos com metodologias diferentes, além de comparar a reprodutividade da FCM obtida (FCMobt). Material e métodos: Foram avaliados 40 jovens aparentemente saudáveis, sendo 20 homens e 20 mulheres. Foram aplicados dois testes máximos em ciclo, um com progressão a cada 1 minuto (TCM-1) e o outro a cada 2 minutos (TCM-2). Para determinar as diferenças entre a FCMobt nos protocolos e a estimada pelas equações utilizou-se o teste Anova One Way, associado ao teste de Tukey ( P < 0,05). Utilizou-se o teste de correlação de Pearson para comparar a FCMobt nos protocolos. Resultados: Nas mulheres, a FCMobt foi 180,5 + 8,7 bpm (TMC-1) e 181,8 + 10,2 bpm (TMC-2), sem diferença significativa; nos homens 181,5 + 10,2 bpm (TMC-1) e 177 + 6,9 bpm (TMC-2) com diferenças significativas, sem reprodutividade na FCMobt. Nas mulheres, a FCM pela equação de Fernahll et al. foi adequada para o TMC-1, enquanto no TMC- 2 a equação de Jones et al. foi apontada como adequada; nos homens houve uma situação de inversão das equações consideradas válidas. Conclusão: A seleção das equações para predizer a FCM deve ser específica, segundo o protocolo de cicloergometria selecionado. Objective: To evaluate the validity of six Maximum Heart Rate (MHR) prediction equations on both genders that were submitted to two maximums different tests, and also to compare the MHR reproducibility obtained (MHRobt). Methods: 40 young apparently healthy were evaluated, 20 men and 20 women. Two maximum cycling tests were applied, one with a progression every one minute (MTC-1) and other every two minutes (MTC-2). The Anova One Way test, associated with Tukey’s test (P < 0.05), was used to determine the differences between the MHRobt in the protocols and the estimated by the equations. The Pearson’s correlation test to compare the MHR between protocols was also used. Results: In women, MHRobt was 180.5 ± 8.7 bpm (MTC-1) and 181.8 ± 10.2 bpm (MTC-2), without significant differences; in men 181,5 ± 10,2 bpm (MTC-1) and 177 ± 6,9 bpm (MTC -2) with relevant differences, without MHRobt reproducibility. In women, MHRobt Fernahll et al. equation was adequate for MTC-1, while in MTC-2 the Jones et al. equation was identified as suitable, in men there was an inversion situation on the equations considered valid. Conclusion: The selection of equations to predict the MHR should be specific according to the cycle ergometry which is the selected testing protocol. Palavras-chave: frequência cardíaca, testes de esforço, exercício, cicloergômetro. Key-words: heart rate, exercise, physical exercise, cycle ergometric. Recebido em 6 de março de 2012; aceito em 21 de maio de 2012. Endereço para correspondência: Juscélia Cristina Pereira, Rua Senador Vaz de Melo, 64/41, 35570-000 Viçosa MG, E-mail: [email protected] 68 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Introdução A frequência cardíaca (FC) é um parâmetro fisiológico facilmente mensurado e não invasivo o que torna ampla sua utilização para avaliar respostas cardiovasculares durante o esforço físico [1] e na fase de recuperação [2]. É um indicador fisiológico que contribui na detecção de problemas cardíacos, além de proporcionar a prescrição e supervisão de um programa de treinamento e possuir estreita relação com o consumo máximo de oxigênio (VO2 max) [3]. A frequência cardíaca máxima (FCM) é o valor mais elevado da FC que um indivíduo pode atingir em um esforço de alta intensidade até o ponto de exaustão, sendo um dos critérios para caracterizar o VO2max durante um teste ergométrico (TE) [4]. Cabe destacar que nem sempre é possível submeter um avaliado a uma condição de intensidade máxima por questões de segurança tanto no aspecto neuromuscular como principalmente cardiovascular. Outra forma de obter a FCM de um indivíduo sem submetê-lo a um TE é através de equações de predição em função da idade, que são de fácil aplicabilidade e nos levam à FCM [5]. No campo da Educação Física, a equação de predição mais utilizada é [FCM =220-idade] [3,6]. Entretanto, seu emprego tem sido relacionado com a superestimação da FCM de indivíduos jovens (< 40 anos) e a subestimação em idosos [7]. Outros estudos também não encontraram boa relação entre a FCM obtida (FCMobt) em testes máximos e a calculada pela equação [FCM = 220 – idade] na população brasileira [8-10]. As equações de predição para o cálculo da FCM são mais voltadas para estimar a FCM em testes de corrida, podendo subestimar os valores de FCM nos testes em cicloergômetro. Isso ocorre porque os testes máximos realizados em cicloergômetro tendem a apresentar valores de FCM de 5 a 10% inferiores em relação ao obtido em esteira ergométrica, devido à ocorrência da fadiga periférica, assim como pela menor massa corporal envolvida [11]. Contudo, o estudo de Araújo e Pinto [12] encontrou boa associação entre a FCMobt nos testes realizados nos dois ergômetros para 57% dos indivíduos, abrindo assim uma interessante questão a ser investigada. O ciclismo impõe uma carga física diferente do exercício de corrida, sendo este um fator que pode influenciar a resposta da FCM. No estudo de Marins e Fernandez [13] foram apresentadas 53 equações de predição, porém apenas quatro eram específicas para o cálculo da FCM em cicloergômetro. Tendo em vista que o exercício físico realizado em bicicleta ergométrica representa uma forma extremamente usual de condicionamento físico, é importante estabelecer qual equação pode predizer melhor a FCM a fim de aprimorar a qualidade da prescrição de exercício, de forma mais segura e eficaz, além de ser utilizada como referência durante um teste máximo. O objetivo deste estudo foi avaliar a validade de seis equações preditivas de FCM para homens e mulheres em idade universitária submetidos a dois testes máximos de cicloergometria - Storrer et al. [14] e Balke [15] -, além de comparar a reprodutividade da FCMobt entre os dois testes máximos. Material e métodos Participaram do estudo 40 jovens aparentemente saudáveis, estudantes universitários de Educação Física, sendo 20 indivíduos do sexo masculino (22,64 ± 2,57 anos) e 20 do sexo feminino (22,2 ± 1,67 anos). Como critério de inclusão os voluntários deveriam ser fisicamente ativos, não possuir lesões osteomioarticulares, não utilizar nenhum recurso ergogênico e qualquer agravo à saúde que pudesse influenciar na realização do teste. O estudo obedeceu aos critérios de ética em pesquisas com seres humanos, de acordo com a resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde. Todos os avaliados participaram de forma voluntária, preenchendo termo de consentimento para participar do estudo, contendo informações sobre os riscos e benefícios envolvidos na realização dos testes, e eram livres para abandonar a pesquisa a qualquer momento. Para composição da amostra foi realizada uma triagem composta pelo Questionário de Prontidão de Atividade Fisica (PAR-Q) [16], pelo Questionário de Risco Coronário da Michigan Heart Association [17], além de um terceiro questionário padrão adotado pelo Laboratório de Performance Humana da Universidade Federal de Viçosa (MG). A presença de resposta positiva no PAR-Q, escore igual ou superior a risco médio ou a presença de algum fator de risco cardíaco ou ortopédico implicavam a exclusão de participação do candidato ao estudo. Após essa etapa foram medidas a massa corporal e a estatura dos avaliados, utilizando, respectivamente, balança Filizola® com precisão em 100 gramas e estadiômetro (Sanny®) com precisão em milímetros. Foram aplicados dois testes máximos de cicloergômetro (ErgoFit®), cujos protocolos foram Storrer et al. [14] e Balke [15], subdivididos em aquecimento, parte principal e recuperação. O aquecimento para ambos os testes consistiu de um Watt por kg corporal por quatro minutos. Na parte principal do teste de Balke [15], a cada dois minutos era adicionada uma carga de 25 Watts para as mulheres e 35 para os homens, já o protocolo de Storrer et al. [14], a cada minuto era empregada uma carga de 15 Watts, estes valores corresponderam para ambos os sexos. A volta à calma foi feita em três minutos, com uma redução progressiva de carga a cada minuto, conforme orientações de Marins [18]. A ordem de realização dos testes ocorreu de forma aleatória e com intervalo de uma semana entre eles. O horário de realização era de livre escolha dos avaliados, podendo ser realizado na parte da manhã ou da tarde, tendo o segundo teste que ser realizado no mesmo horário Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 que o primeiro. O registro da FC foi feito pelos monitores cardíacos Team System da Polar® e os dados transferidos para o software Polar Pro Trainer 5. Foi considerado como FCM o valor mais elevado de FC obtido nas etapas finais dos testes. Dentre as diversas equações de estimativa da FCM citadas na literatura, foram escolhidas seis equações: a) Ricard et al. [19] [FCM = 205 – (0,687*idade)]; b) Rodeheffer et al. [20] [FCM = 208,19 – (0,95* idade]; c) Jones et al. [21] [FCM= 202 – (0,72*idade)]; d) Astrand et al. [22] [FCM = 211-(0,992*idade]; d) Fernahll et al. [23] [FCM = 189 - ( 0,56 * idade)]; e) Karvonen et al. [24] [FCM = 220 – idade]. A seleção das equações indicadas toma por base o fato das quatro primeiras serem originalmente propostas para protocolos de cicloergometria, enquanto a quinta equação [23] originalmente foi desenvolvida para indivíduos com retardo mental e validada no estudo de Marins et al. [25] para testes máximos em cicloergometria para mulheres, porém com um protocolo de estímulo anaeróbico. Já a última [FCM = 220 – idade] é usualmente utilizada no campo da Educação Física e Medicina do Esporte, sendo adotada pelo ACSM [3] para a prescrição de exercício, sem considerar o tipo de exercício físico. 69 a FCM para cada equação de predição, compreendida na faixa de ± 8 bpm, acima ou abaixo, proposta por Robergs e Landwehr [26]. As análises estatísticas foram realizadas no software SPSS® 17. Resultados Nas Tabelas I e II são expostos os resultados da FCM dos homens e das mulheres dos testes físicos de Storrer et al. [19] e de Balke [20], além das equações de estimativa de Ricard et al., Rodeheffer et al., Jones et al., Astrand et al. , Fernahll et al. e Karvonen et al. [24-29]. A Tabela I indica que os valores de FCM para as mulheres, quando comparados os dois testes máximos – Storrer et al. [14] e Balke [15] apontam não haver diferenças significativas. Quando comparada a validade das fórmulas de predição, não houve diferença significativa entre a FCMobt no teste de Storrer et al. [14] e a equação de Fernahll et al. [23] [FCM = 189 – 0,56 * idade]; já para a FCMobt no protocolo de Balke [15] não houve diferença quando se considerou a FCM prevista pela equação de Jones et al. [21] [FCM= 202 – (0,72*idade)]. Nos homens, a Tabela II indica uma diferença significativa na FCMobt quando comparados os testes máximos. Contudo, observou-se que não houve diferença entre a FCMobt no teste de Storrer et al.[14] frente à equação [FCM= 202 – (0,72 * idade)] proposta por Jones et al. [21]. Já em relação ao protocolo de Balke [15], a equação [FCM = 189 – 0,56 * idade] proposta por Fernahll et al. [23] não apresentou diferenças significativas. O outro critério utilizado foi a zona de variação de ± 8 bpm proposta por Robergs e Landwehr [29]. Nas Figuras 1 e 2 está expressa a análise da FCMobt com a predita por seis equações de estimativa, baseando-se nesse critério nas mulheres e nos homens, respectivamente. Tratamento estatístico Todos os resultados foram expressos em valores médios e desvio padrão (± DP) para cada um dos parâmetros obtidos durante os testes. Foi utilizado uma Análise de Variância (Anova One Way) na comparação entre FCMobt e os valores de predição das equações, complementado pelo teste Post-Hoc de Tukey (P < 0,05). O teste de correlação de Pearson para comparar os resultados de FCM entre os dois protocolos. Por último, foi realizado, por distribuição percentual, o número de avaliados que apresentaram Tabela I - Valores de frequência cardíaca verificados nos testes e estimados pelas equações nas mulheres. Estatística descritiva Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Ricard et al. 189,83 1,04 187 191 Rodeheffer et al. 187,21 1,44 183 189 Jones et al. 186* 1,09 183 187 Astrand et al. 190,16 1,40 187 192 Fernahll et al. 176,63‡ 0,85 174 177 Karvonen et al. 197,92 1,52 194 200 Storrer et al. 179,17* 9,05 165 200 Balke 177,64 12,66 152 204 * Não existe diferença significativa com o teste de Balke (p > 0,05) ‡ Não existe diferença significativa com o teste de Storrer et al. (p > 0,05) Tabela II - Valores de frequência cardíaca verificados nos testes e estimados pelas equações em homens. Estatística descritiva Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Ricard et al. 189,5 1,67 185 191 Rodeheffer et al. 186,75 2,31 180 190 Jones et al. 185,7‡ 1,75 181 188 Astrand et al. 190,19 2,24 184 193 * Não existe diferença significativa com o teste de Balke (p > 0,05) ‡ Não existe diferença significativa com o teste de Storrer et al. (p > 0,05) Fernahll et al. 176,36* 1,36 172 178 Karvonen et al. 197,44 2,43 191 201 Storrer et al. 181,48 11,59 156 198 Balke 171,5 13,61 149 192 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 70 Figura 1- Porcentagem de mulheres que obtiveram a FCMobt na faixa de flutuação de + 8 bpm, acima ou abaixo, para cada uma das equações avaliadas. Storrer Karvonen et al. Fernahll et al. Astrand et al. Jones et al. Rodeheffer et al. Ricard et al. Balke Karvonen et al. Fernahll et al. Astrand et al. Jones et al. Rodeheffer et al. Ricard et al. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Abaixo ± 8bpm Acima ± 8bpm Na zona ± 8bpm Figura 2 - Porcentagem de homens que obtiveram a FCMobt na faixa de flutuação de ± 8 bpm, acima ou abaixo, para cada uma das equações avaliadas. Storrer Karvonen et al. Fernahll et al. Astrand et al. Jones et al. Rodeheffer et al. Ricard et al. Balke Karvonen et al. Fernahll et al. Astrand et al. Jones et al. Rodeheffer et al. Ricard et al. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%90% 100% Abaixo ± 8bpm Acima ± 8bpm Na zona ± 8bpm A análise estatística para correlação da FCMobt entre os testes máximos apresentou valor de 0,2587 (r² = 0,0665) para os homens e 0,6044 (r² = 0,3653) para as mulheres. A correlação da FCMobt nos dois protocolos, foi classificada como baixa entre os homens e média entre as mulheres. Discussão Os resultados mostram que existem equações que podem estimar com boa precisão a FCMobt em testes máximos empregando os protocolos de Storrer et al. [14] e Balke [15] em população de jovens com idade universitária. Observou-se que as equações de Fernahll et al. [23] [FCM = 189 – 0,56 * idade] e de Jones et al. [21] [FCM= 202 – (0,72 * idade)] estimaram a FCM sem diferenças significativas tanto para homens quanto para as mulheres (Tabela I e II). A primeira equação foi adequada para o protocolo de Storrer et al. [14] para as mulheres e de Balke [15] para os homens. Já a segunda equação foi a que mais se aproximou da FCMobt nos testes de Balke [15] para o grupo feminino e de Storrer et al. [14] para o masculino. Assim, essas equações podem ser adotadas como referência durante uma avaliação ou prescrição de exercícios para um público com perfil semelhante, composto por jovens aparentemente saudáveis em idade universitária. Os resultados do estudo reforçam os achados de Marins et al. [25], os quais apontaram a fórmula de Fernahll et al. [23] [FCM = 189 - 0,56 * idade] mais adequada para as mulheres; já para os homens a equação indicada foi a de Jones et al. [21] [FCM = 202 – 0,72 * idade]. Cabe destacar que a metodologia empregada [23] correspondeu a um teste anaeróbico, adaptando-se a metodologia do teste de Wingate, enquanto no presente estudo foi um teste escalonado progressivo para determinar o VO2max. Assim, mesmo que o teste seja feito de forma anaeróbica ou para determinação do VO2max, existem fortes indícios de que essas equações devem ser consideradas na hora de estimar a FCM em jovens com idade universitária, em detrimento de outras equações usualmente empregadas, como o caso da FCM = 220 – idade, que aplicada irá gerar interpretações inadequadas sobre os resultados obtidos. Analisando as Figuras 1 e 2, observa-se que os valores estimados pela equação de Fernahll et al. [23] e de Jones et al. [21] se encontram com maior porcentagem dentro da faixa de flutuação de ± 8 bpm, proposta por Robergs e Landwehr [26] como critério para validação. No protocolo de Balke [15], 52% do grupo masculino ficou dentro da margem estipulada para a equação de Fernahll et al. [23] e 60% das mulheres para a equação de Jones et al. [21]. Já no protocolo de Storrer et al. [14], 68% dos homens para a equação de Jones et al. [21] e 75% das mulheres para a de Fernahll et al. [23] obtiveram valores que se enquadraram dentro da faixa estipulada. Esses dados são importantes, tendo em vista que para a população estudada essas duas equações abrangem maior faixa de estimativa da FCM, aumentando assim a precisão da prescrição e interpretação do exercício. Em relação às quatro fórmulas que, segundo Marins e Fernandez [13] são específicas para o cicloergômetro, somente a de Jones et al. [21] apresentou-se efetiva, reavaliando assim de certa forma o trabalho original. A regressão da FCM não é linear, indicando que as equações de estimativa podem variar segundo a faixa etária [22]. Dessa forma, é possível explicar que a equação de Jones et al. [21] também foi considerada a mais adequada para mulheres com idade entre 30 e 66 anos durante protocolos máximos em esteira [27]. Os resultados obtidos nas Figuras 1 e 2 apontam que, das equações propostas inicialmente para cicloergômetro, duas foram as que menos obtiveram avaliados dentro da faixa de ± 8 bpm: Astrand et al. [22] e Ricard et al. [19]. Na primeira equação, isso foi observado no protocolo de Balke [15] para os homens e para as mulheres no teste de Storrer et al. [14] e de Balke [15]; já a segunda equação, nos homens em ambos os testes e para as mulheres apenas no protocolo de Balke [15], demonstrando menos adequada para o cálculo da FCM para seus respectivos testes máximos. Isso amplia a discussão, pois essas equações foram validadas para o ergômetro bicicleta, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 porém com uma população de etnia diferente da brasileira reforçando os achados de Schiller et al. [28], em que a etnia pode influenciar na resposta da FCM obt e consequentemente na equação selecionada. Das seis equações analisadas, a que mais apresentou diferença significativa com a FCMobt nos dois testes máximos foi a [FCM = 220 – idade]. Esta é a equação mais utilizada, podendo ser justificado pela frequente citação e utilização dessa fórmula em livros [29-31] e artigos [32,33] relacionados à fisiologia do exercício e em programas de condicionamento físico. Como já visto, essa equação tem sido questionada, especialmente quando se trata de um exercício em bicicleta fato observado no presente estudo. Alguns resultados sugerem que a equação [FCM = 220 – idade] superestima a FCM em relação à FCMobt nos testes máximos em ambos os gêneros [8,9,13,34]. No presente estudo ocorreu essa superestimação em ambos os protocolos, tanto para homens quanto para mulheres. Assim como evidenciado anteriormente, diversas pesquisas apresentam resultados semelhantes aos do presente estudo. Em corredores de fundo do sexo masculino com idade média de 25 anos, essa equação foi a que mais se distanciou da FCMobt em TE, sobretudo em faixas etárias menores [35]. Em estudo envolvendo idosas brasileiras [10] e 132 indivíduos de ambos os sexos com média de idade de 45 anos [36], a fórmula de [FCM = 220 – idade] superestimou a FCMobt. Nos estudos de Barbosa et al.e Mesquita et al. [37-38], não se observou significância (p < 0,05) entre as fórmulas estudadas e os dados obtidos. A fórmula [FCM = 220 – idade] foi a que apresentou maior tendência em superestimar os valores de referência. Entretanto, esta fórmula apresentou boa correlação com a FCMobt em indivíduos de ambos os sexos com idade entre 12 e 69 anos [39]. Contudo, em vários estudos não se recomenda o uso da equação [FCM = 220 – idade] como meio para o cálculo da FCM, já que esta fórmula apresenta um erro-padrão de 10 a 12 bpm podendo ocorrer erros graves na prescrição do exercício ou na interpretação de um TE [40]. Quando se analisa a FCM nos dois testes máximos (Tabelas I e II), percebe-se que nos homens a forma do protocolo utilizado influenciou na FCMobt; no protocolo de Storrer Davis e Caiozo [14] os valores da FCM foram significativamente mais elevados, já que o aumento da carga neste teste ocorre a cada minuto. Esse comportamento influenciou na reprodutividade da FCM nos testes máximos, o que pode ser observado pelo valor baixo da correlação (r = 0,25). Já nas mulheres foi encontrada correlação de r = 0,60, sem diferenças significativas entre as FCM nos dois protocolos. É importante destacar que as recomendações de emprego das equações indicadas nesse estudo para exercício em cicloergometria são específicas para o perfil amostral avaliado de jovens em idade universitária aparentemente saudável. Tendo em vista que a FCM apresenta uma resposta exponencial e não linear com o fator idade [10], é muito provável que para grupos com maior faixa etária sejam recomendadas outras 71 equações, o que abre novos horizontes de investigação. Como a capacidade física no exercício de bicicleta é influenciada pela fadiga muscular localizada, é esperado que ciclistas e triatletas tenham FCM diferentes aos obtidos no presente grupo, sugerindo o emprego de outras equações. Conclusão Nas mulheres, a FCMobt independentemente da forma de progressão de carga do protocolo de cicloergômetro máximo. Contudo, houve influência na validade das fórmulas estudada: no protocolo de Storrer et al. recomenda-se o emprego da equação proposta por Fernahll et al. [FCM = 189 - 0,56 * idade]; e no protocolo de Balke, a equação mais adequada foi a proposta por Jones et al. FCM = [202- 0,72 * idade]. Nos homens, a forma de progressão de carga interfere na FCMobt, de forma que a progressão a cada minuto impõe um maior registro de FC. Houve diferença significativa entre os protocolos máximos. Quando do emprego do protocolo de Storrer et al. recomenda-se o emprego da equação proposta por Jones et al. [FCM = 202 - 0,72 * idade]. Por outro lado, quando empregado o teste de Balke [15], a equação mais apropriada será a de Fernahll et al. [FCM = 189 - 0,56 * idade]. Agradecimentos Apoio: CAPES Referências 1. Borresen J, Lambert MI. The quantification of training load, the training response and the effect on perfomance. Sports Med 2009;39(9):779-95. 2. Cerqueira M, Tucher G, Marins J. Comparação dos testes de campo de 2400 metros de Cooper e 3200 de Weltman em homens saudáveis. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2009;8(4):181-6. 3. 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Revista Mineira de Educação Física 2003;11:139-48. 72 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 9. Scolfaro LB, Marins JCB, Regazzi AlJ. Estudo comparativo da frequência cardíaca máxima em três modalidades cíclicas. Revista APEF 1998;13(1):44-54. 10. Silva VAP, Bottaro M, Justino M, Ribeiro M, Lima R, Oliveira R. Frequência cardíaca máxima em idosas Brasileiras: uma comparação entre valores medidos e previstos. Arq Bras Cardiol 2007;88(3):314-20. 11. Milano GE, Leite N. Comparação das variáveis cardiorrespiratórias de adolescentes obesos e não-obesos em esteira e bicicleta ergométrica. Rev Bras Med Esporte 2009;15(4):251-4. 12. Araújo CGS, Pinto VLM. Frequência cardíaca máxima em testes de exercícios em esteira rolante e em cicloergômetro de membros inferiores. Arq Bras Cardiol 2005;85(1):45-50. 13. Marins JCB, Fernandez MD. Empleo de ecuaciones para predecir la frecuencia cardiaca máxima en carrera para jóvenes deportistas. 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Esp.** *Professor de Educação Física, **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica, Especialista em Osteopatia e Terapia Manual Resumo A psicologia esportiva vem tentado determinar os níveis adequados e críticos quando o assunto é ansiedade, e tem como objetivo maior ajudar os atletas a controlarem os seus níveis de ansiedade, para que os mesmos possam obter resultados esperados em suas competições. Este estudo teve como objetivo compreender o quanto a ansiedade vem afetando o desempenho de atletas que praticam a modalidade Ginástica Artística. Visa também analisar os mesmos, no que diz respeito aos níveis de ansiedade que podem inibir seu desempenho atlético, uma vez que atletas têm declarado baixos resultados causados pelo fato de estarem muito ansiosos sobre um evento ou competição. Esta pesquisa foi realizada com atletas de quatro equipes diferentes de Ginástica Artística, das categorias juvenil e adulto (masculina e feminina), composta por 21 atletas, todos federados de um Clube da Cidade do Rio de Janeiro, na faixa etária entre 12 e 27 anos. Foram utilizados dois instrumentos de aferição, o Inventário de Ansiedade Estado Competitiva-2 - CSAI-2 e o Teste de Ansiedade-Traço em Competições Esportivas - SCAT. Concluiu-se que, em geral, os atletas analisados apresentaram níveis médios de Ansiedade-Traço. Os valores para Ansiedade-Estado variaram entre baixos e médios, de acordo com os resultados apresentados. Quanto à autoconfiança, esta assumiu níveis médios em três equipes, exceto na masculina adulto, na qual os níveis apontaram alta confiança. No entanto os níveis de autoconfiança foram maiores que os níveis de ansiedade. Abstract The sports psychology has been trying to determine appropriate and critical levels of anxiety, and aims to help athletes to control their anxiety levels, so that they can achieve expected results in competitions. This study aimed at understanding how much anxiety has been affecting artistic gymnasts performance and also at analyzing the anxiety levels that may inhibit their athletic performance, since athletes have reported poor results caused by anxiety before an event or competition. This research was conducted with athletes from four different teams of Artistic Gymnastics, youth and adult categories (male and female), comprising 21 athletes, all of them sports licence holders of a Rio de Janeiro club, 12 to 27 years old. The Competitive State Anxiety Inventory-2 - CSAI-2 and Test-Trait Anxiety in Sports Competitions – SCAT were used. We concluded that, in general, analyzed athletes had medium level of anxiety-trait. The levels of anxiety-state ranged from low to medium, according to the results. Concerning self-confidence, the three teams had medium level, except for the adult male, which expressed high self-confidence levels. However self-confidence levels were higher than anxiety levels. Key-words: anxiety, athlete, sports psychology. Palavras-chave: ansiedade, atleta, psicologia esportiva. Recebido em 23 de fevereiro de 2012; aceito em 31 de maio de 2012. Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)25784036, E-mail: [email protected] 74 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Introdução Por ser um fenômeno sociocultural, o esporte é um dos conteúdos mais trabalhados na Educação Física, por isso, se torna alvo permanente de estudiosos e pesquisadores que buscam incessantemente decifrar suas múltiplas dimensões. O esporte se apresenta em três dimensões: esporte-educação, fundamenta-se na construção da personalidade e da cidadania, esporte participação ou esporte popular referente ao princípio do prazer lúdico, tem por finalidade o bem-estar de seus praticantes e esporte-performance, proporciona espetáculos esportivos, já foi ideário olímpico mas hoje também é uma forma de negócio [1]. Para tornar-se um atleta de elite no mundo moderno, é necessário ter disciplina, treinar por muitos anos, ter dedicação quase exclusiva ao esporte e, geralmente, iniciar a carreira esportiva em idade muito precoce [2]. O desenvolvimento do atleta não pode estar exclusivamente focado nos aspectos físicos, técnicos, táticos, mas também deve haver a preocupação com o desenvolvimento intelectual, motivacional, emocional e social [3]. Os elementos que compõem o cenário esportivo tanto auxiliam quanto prejudicam o desempenho do atleta, chegando a provocar emoções tanto positivas quanto negativas. Desta maneira, sentimentos como agressão, ansiedade, estresse, frustração, medo, auto-superação, realização, prazer, alegria e divertimento aparecem entrelaçados como principais sentimentos associados à prática esportiva [4]. O atleta de alto nível é visto como uma condição multidimensional, assim há dificuldade para identificar uma característica definidora, pois todas as variáveis podem ser a causa da singularidade dos experts. Estudos nessa área buscam examinar, em cada modalidade esportiva, o peso relativo dos diversos fatores constituintes (físicos, motores, cognitivos, perceptivos). No confronto direto entre atletas de alto nível, ou atletas habilidosos, que apresentam níveis de desempenho equivalente, há fatores de natureza psicológica que podem estar influenciando o desempenho dos atletas, como por exemplo, a percepção do esforço, níveis de motivação entre outros. Estes fatores, e não apenas as suas capacidades e conhecimentos específicos podem, muitas vezes, serem os responsáveis pela pequena diferença de desempenho e, portanto, pela classificação final dos atletas na competição [5]. O equilíbrio emocional é um aspecto integrante do esporte competitivo. No esporte de rendimento, muitos estímulos causam efeitos emocionais positivos e/ou negativos, e estes efeitos influenciam diretamente o desempenho do atleta, sua forma de atuar e sua disposição diante da competição, do adversário e das vitórias ou derrotas [6]. A exposição a alguns tipos de experiências ansiosas pode muitas vezes causar mudanças fisiológicas como o estreitamento da atenção, o aumento no consumo de energia, o aumento de adrenalina, o que interfere negativamente no desempenho global do atleta. Assim as competições esportivas podem ser vistas como situações ameaçadoras, capazes de gerar variados níveis de ansiedade nos atletas [7]. Em alguns casos a competição é vista pelo praticante como ameaça, dependendo da disposição da personalidade (competitividade), atitudes, importância do evento (competição) e resultado, avaliação subjetiva de competência/habilidade em relação à situação [8]. A competitividade poderia ser multidimensional entre atletas com tendências comportamentais que podem ser classificadas em competidor (reflete o prazer de competir em qualquer situação); determinado (caracterizado por estabelecer objetivos com desejos pessoais que podem ser de vitória ou de preparação para o desenvolvimento pela experiência); e vitorioso (busca a vitória como único objetivo em comparação interpessoal). Assim, alguns competidores ávidos por vencer podem superar desafios e ter suas melhores apresentações em competições difíceis, enquanto atletas mais apreensivos podem evitar desafios, se sentir mais pressionados e ter um desempenho abaixo das expectativas. Dessa maneira, ficaria claro perceber que, dependendo da forma como o atleta interpretasse as situações competitivas como ameaçadoras ou não, poderiam ocorrer alguns efeitos negativos no seu desempenho. Um deles é a ansiedade [9]. A maioria dos esportistas sofre pressão, medo e ansiedade causados pela obrigação de vencer, algo característico em uma sociedade na qual exalta a emoção da vitória e o sofrimento da derrota [10]. A ansiedade se caracteriza por um estado subjetivo de apreensão ou tensão em consequência da interpretação de uma situação de perigo real ou imaginário, um tipo de afeto negativo, acompanhado de sensações corporais desagradáveis como, medo, temor, preocupação, sensação de vazio no estômago; aumento da pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória; aperto no peito e sudorese aumentada [11]. A ansiedade, um dos estados emocionais mais presentes no contexto esportivo, merece grande atenção por parte dos psicólogos do esporte. Diversas definições já lhe foram atribuídas, no entanto a mais comum é a de um sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas como o vazio (ou frio) no estômago, opressão no peito, palpitações, transpiração, dor de cabeça ou falta de ar [12]. Os processos da ansiedade podem ser descritos através de quatro premissas: a causa da ansiedade é a expectativa; a ansiedade se instala por falta de atenção às coisas que se encontram à nossa volta; a ansiedade enfraquece e anula a vontade (efeito imediato); a ansiedade leva ao fracasso (efeito mediato) [13]. A ansiedade é uma reação emocional frente ao estresse, que se caracteriza por nervosismo, preocupação e apreensão que pode ser gerada por pensamentos (ansiedade cognitiva) ou por reações físicas (ansiedade somática). Uma complexa condição psicológica do organismo humano, constituído por propriedades fenomenológicas e fisiológicas são possíveis causadores do estado de ansiedade [14]. A ansiedade consistiu numa emoção típica do fenômeno estresse [15]. Ela poderia ser considerada um estado emocional negativo caracteri- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 zado pelo nervosismo, preocupação e apreensão associada com ativação ou agitação do corpo [16]. A ansiedade é um sentimento de apreensão desagradável, vago, acompanhado de sensações físicas como vazio (ou frio) no estômago ou na espinha, opressão no peito, estremecimentos, transpiração, dor de cabeça, entre outros sintomas [17]. As pessoas avaliam seu grau de confiança através de seu estado fisiológico enquanto pensam em uma ação, assim os estados somáticos e emocionais como ansiedade, estresse, excitação e os estados de humor proporcionam informações sobre as crenças de autoeficácia. Reações emocionais fortes frente a uma tarefa fornecem pistas sobre a previsão de sucesso ou fracasso. Quando as pessoas têm pensamentos negativos e temores sobre sua capacidade (ansiedade cognitiva), as reações afetivas podem reduzir as percepções de autoeficácia e desencadear mais estresse e agitação [18]. A ansiedade poderia caracterizar um traço psicológico, chamado Ansiedade-Traço, referindo-se a diferenças individuais relativamente estáveis que levariam a percepção de situações ameaçadoras de acordo com as experiências pessoais adquiridas [16]. A ansiedade caracterizou-se por uma grande variedade de sintomas somáticos (tremura, hipertonia muscular, inquietação, hiperventilação, sudorese, palpitações, etc). Surgiram também sintomas cognitivos como a apreensão e inquietação psíquica, hipervigilância, e outros sinais relacionados com a alteração da vigilância (distraibilidade, perda de concentração, insônias) [19]. As respostas emocionais apresentadas pelos atletas tornaram-se um foco de estudo de grande interesse dentro da psicologia do esporte, impulsionando os profissionais ligados a esta área a avaliar as influências da ansiedade nos eventos competitivos [20]. As principais pesquisas focaram na verificação dos níveis de ansiedade entre modalidades com características próprias, a relação da ansiedade competitiva e o desempenho, sendo também levada em consideração a experiência em competições, sua relação com outras características psicológicas e inclusive biológicas como o gênero e idade [21]. Estas sensações em geral relacionam-se ao nível de exigência envolvida na situação, como a própria cobrança, a cobrança do clube, cobrança da comissão técnica, dos companheiros, da família, da torcida e o medo do fracasso frente às exigências do momento vivido pelo atleta. Este medo provocaria padrões de respostas emocionais e físicas impróprias à equipe, prejudicando o desempenho do atleta, o qual muitas vezes não consegue atuar de maneira satisfatória dando espaços para erros de jogadas ensaiadas, passes imprecisos, falta de visão no jogo, inclusive inibição das capacidades motoras finas e diminuição da capacidade de tomada de decisão [22]. O temor do fracasso, o temor da vitória, o temor da rejeição do técnico, o temor das agressões, o temor dos danos físicos, as pressões da sociedade, bem como o sarcasmo dos familiares são diferentes causas que possibilitariam o aumento 75 do nível de ansiedade em situações pré-competitivas. Assim a maioria dos atletas altera fisiologicamente seu comportamento ao se deparar com uma situação competitiva [23]. Na área esportiva, porém, o enfoque dado à problemática das emoções estaria relacionado à situação do psicólogo para com o atleta, dá-se no sentido de ajudá-lo a colocar a vitória ou a derrota numa perspectiva adequada e auxiliá-lo a ter autoconfiança, apesar da existência do fracasso, levando a ansiedade a um nível apropriado. A questão da ansiedade no esporte poderia variar de acordo com a personalidade do praticante, a idade, o sexo e experiência como atleta. Fizeram-se necessárias observar as características psicológicas do atleta em cada fase do treinamento, o momento de determinar objetivos e conteúdos físicos, adaptando-os às exigências que este demanda [24]. Níveis elevados de ansiedade somática são considerados negativos para habilidades complexas que exigem motricidade fina, como a dança, e à medida que a ansiedade somática aumenta os níveis de tensão e nervosismo aumentam [8]. O grau de ansiedade que um indivíduo apresenta como de sua personalidade é definido como o traço de ansiedade. Já a alteração nos níveis de ansiedade, que se tem nos momentos anteriores a um evento como uma partida ou um torneio, é chamada de ansiedade-estado que pode ou não ser influenciada pela ansiedade-traço [3]. A Ginástica Artística é uma das modalidades esportivas mais antigas e populares do programa olímpico. Ela se distingue por sua grande variedade de movimentos artificiais, dinâmicos ou estáticos, de difícil coordenação, executados em condições especiais: nos aparelhos, onde o nível dos ginastas é avaliado por um grupo de juízes, conforme os critérios de dificuldade do programa, a composição e a qualidade de execução [25]. A prática da Ginástica Artística vem crescendo em nosso país e diante da importância de considerar diversos aspectos desta modalidade, este estudo pretendeu ampliar o conhecimento no âmbito da psicologia aplicada ao esporte, tendo em vista a dificuldade de trabalhar com Ginástica Artística visando à obtenção de resultados a curto e médio prazo, inclusive quando se necessita que o rendimento obtido nos treinamentos perdure durante as competições. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a ansiedade-traço e a ansiedade-estado nos períodos pré-competitivo e competitivo em duas categorias da modalidade. Material e Métodos O estudo envolveu quatro equipes de Ginástica Artística das categorias juvenil e adulto (masculina e feminina), compostas por 21 atletas, sendo seis na equipe masculina adulta, três na equipe masculina juvenil, seis na equipe feminina adulta e seis na equipe feminina juvenil. Os atletas apresentaram faixa etária entre 12 e 27 anos, todos federados num Clube localizado no Estado do Rio de Janeiro. 76 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Como instrumentos de aferição foram utilizados dois protocolos: o inventário de ansiedade Estado Competitiva-2 - CSAI-2 e o Teste de Ansiedade-Traço em Competições Esportivas - SCAT. O primeiro protocolo, CSAI-2 objetivou aferir a ansiedade-estado pré-competitiva, ou seja, quanta ansiedade o atleta sente em dado momento no tempo, no caso, antes da competição. Ansiedade-Estado é um estado emocional temporário, em constante variação, com sentimentos de apreensão e tensão conscientemente percebidos, associados com a ativação do sistema nervoso autônomo. Poderia ser uma ansiedade-estado cognitiva, a qual se diz respeito ao grau em que a pessoa se preocupa ou teria pensamentos negativos. Ou poderia ser ansiedade-estado somática, que aconteceria entre um momento e outro, sendo percebida por reações fisiológicas [17]. O CSAI-2 é um instrumento de medida multidimensional, composto por 27 afirmações/questões, que teria como objetivo diagnosticar e quantificar três variáveis psicológicas: ansiedade cognitiva (itens – 1, 4, 8, 11, 14, 15, 20, 23 e 26), ansiedade somática (itens – 2, 6, 9, 12, 16, 18, 21, 24 e 27) e autoconfiança (itens – 3, 5, 7, 10, 13, 17, 19, 22 e 25). Os atletas responderam a uma escala tipo Likert de quatro pontos (1 = nada, 2 = um pouco, 3 = bastante, 4 = completamente) [26]. O segundo protocolo denominado SCAT foi destinado à identificação do perfil de ansiedade em competição esportiva tendo como objetivo fornecer uma medida de ansiedade-traço competitiva reproduzível e válida de como os atletas ansiosos sentem-se antes de uma competição. O questionário possuía 15 questões fechadas relacionando sintomas e possíveis reações apresentadas antes de uma competição. Suas respostas variavam: dificilmente (1); às vezes (2) e frequentemente (3). A análise das respostas foi realizada mediante a avaliação de somente 10 afirmativas: 2, 3, 5, 6, 8, 9, 11, 12, 14, e 15. A elas foram atribuídos 1, 2, e 3 pontos (1, 2 e 3 respectivamente), com exceção das afirmativas 6 e 11, em que essa atribuição foi feita de forma invertida. Ao final, somaram-se os pontos marcados por cada atleta, e obteve-se uma escala que variava de 10 a 30 pontos. Para classificar os níveis de ansiedade-traço (o fato de o atleta ser ou não ansioso), foi utilizada uma escala obtida por um procedimento estatístico através da razão e semelhança de proporcionalidade, sendo 10-12 pontos (baixa ansiedade), 13-16 pontos (média baixa), 17-23 pontos (média), 24-27 pontos (média alta), e, acima de 28 pontos (alta ansiedade). Durante um dia de treino, o pesquisador visitou o Clube localizado no Estado do Rio de Janeiro e conversou com seus respectivos técnicos a respeito do trabalho. Após autorização dos técnicos, os atletas das categorias juvenil e adulto foram convidados a participar do trabalho. Solicitado foi que estes respondessem por escrito a um questionário logo após o término de sua participação em um treino (CSAI- 2). No dia da competição, antes da primeira apresentação de cada atleta, o pesquisador acompanhou o atleta até a arquibancada do ginásio, de forma que este não fosse incomodado, e lhe entregou uma folha com o questionário (SCAT) e uma caneta para que este o respondesse, o pesquisador realizou a entrevista aos atletas em até duas horas antes do início de uma competição válida para o Ranking Brasileiro. Garantido foi o sigilo das informações relatadas, solicitando que o atleta tentasse ser o mais honesto e preciso possível em suas respostas e informando que não haveria respostas certas ou erradas. Adicionalmente, o pesquisador se disponibilizou a esclarecer possíveis dúvidas. Este estudo atende as Normas para a Realização de Pesquisa em Seres Humanos, Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996. Os técnicos das equipes participantes do estudo assinaram o Termo de Participação Consentida que continha o objetivo do estudo, os procedimentos de avaliação, as possíveis consequências, os procedimentos de emergência, o caráter de voluntariedade da participação do sujeito e a isenção de responsabilidade por parte do avaliador. Os dados coletados foram tratados mediante a utilização de estatística descritiva utilizando valores percentuais, para identificar a maior incidência das respostas obtidas. Estimativas de medidas de localização (média e mediana) e dispersão (desvio-padrão e coeficiente de variação) foram feitas, visando caracterizar os grupos anteriormente apresentados [27]. Resultados e Discussão Em situações de jogo, é fator determinante para o rendimento em esportes coletivos unir habilidades motoras (agilidade, velocidade e resistência aeróbia) com as capacidades de movimento baseadas nas atitudes técnicas, táticas e de aplicação. Nos esportes coletivos, os jogadores envolvidos necessitam dominar muitos fatores simultaneamente como os relacionado à técnica do jogo, aos gestos específicos do esporte e, em relação à tática do jogo, saber avaliar e selecionar movimentos mais adequados de acordo com as exigências em cada situação. Assim, jogadores devem saber o que fazer, como fazer e quando fazer, mostrando que eficiência (como fazer), eficácia (resultado) e a adaptação (como utilizar) estão constantemente relacionadas. Embora sejam bem treinados técnica/tática e fisicamente, os atletas não respondem da mesma maneira aos estímulos externos durante uma competição, pois a pressão passa para a área emocional. Desse jeito, atletas bem preparados podem apresentar problemas de rendimento durante a competição, enquanto outros podem crescer de rendimento quando esta se apresenta [28]. A ansiedade cognitiva pode ser vista como as preocupações e expectativas negativas acerca do rendimento e autoavaliação negativa. A ansiedade cognitiva consiste em pensamentos negativos e preocupações sobre o desempenho, incapacidade Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 para se concentrar e atenção desconcentrada [29]. A ansiedade cognitiva caracteriza-se pelos pensamentos negativos e medo de atingir os objetivos, assim poderia causar reações como medo, desinteresse, apatia e apreensão, e quando este tipo de ansiedade é elevado produz efeitos negativos no contexto esportivo, como uma diminuição da concentração e da agilidade psicomotora fina. A ansiedade cognitiva é caracterizada pela consciência de pressentimentos desagradáveis acerca de si próprio ou estímulos exteriores, como preocupações e distúrbios de imagens visuais [30]. No início e durante os momentos cruciais das competições, quando o nível de movimentação corporal dos atletas aumenta, sua capacidade de atenção fica afetada e geralmente há uma redução no rendimento esportivo. Na maioria dos esportes esta queda de rendimento se diagnostica pelo estado de alto nível de ansiedade [31]. Neste estudo, realizado com atletas de Ginástica Artística, observa-se que não houve diferença significativa neste aspecto entre os atletas. Observa-se que as equipes masculina adulta e feminina juvenil, 83,34% dos atletas componentes da amostra, apresentaram baixa ansiedade cognitiva, e 16,66% apresentaram a mesma em nível médio. Na equipe masculina juvenil 100% dos atletas componentes da amostra apresentaram baixa ansiedade cognitiva. Na equipe feminina adulto, 66,68% dos atletas apresentou ansiedade cognitiva baixa, e 33,32% apresentaram a mesma em nível médio (Tabela I). Indivíduos do gênero feminino são mais afetados, apresentando menor nível de autoconfiança, maiores níveis de ansiedade e percepção de ameaça, principalmente quando competem em modalidades individuais [32]. Tabela I - Análise descritiva das medidas de localização e dispersão da ansiedade-estado. Média Masculino Desvio-padrão Mediana Adulto Coeficiente de Variação Média Masculino Desvio-padrão Mediana Juvenil Coeficiente de Variação Média Feminino Desvio-padrão Mediana Adulto Coeficiente de Variação Média Feminino Desvio-padrão Juvenil Mediana Coeficiente de Variação 13,50 4,04 12,50 29,91 8,17 9,04 7,00 110,72 17,00 5,73 18,00 33,69 16,67 1,97 16,50 11,80 15,67 2,66 15,50 16,97 7,50 8,29 6,50 110,51 16,50 4,32 14,50 26,21 20,83 2,64 20,00 12,67 28,83 4,79 30,50 16,62 12,50 14,14 9,50 113,11 21,33 7,20 20,00 33,76 25,17 4,17 26,50 16,56 A autoconfiança é um componente que interfere nos níveis de estresse pré-competitivo vivenciados pelo atleta, assim tem relação inversa aos níveis de ansiedade competitiva vivenciados pelo sujeito [26]. 77 Como ocorreu baixa ansiedade cognitiva, pôde-se concluir que existe um aumento da autoconfiança (Tabela II). Pois a ansiedade cognitiva seria vista como a ausência de autoconfiança ou vice-versa, ou seja, a autoconfiança se caracteriza por baixa ansiedade cognitiva [30]. Tabela II - Frequência da classificação da ansiedade cognitiva. Grupo Juvenil Adulto Total Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino Baixa (9-18) 3 5 5 4 17 Média Alta (19-27) (28-36) 1 1 2 4 Total 3 6 6 6 21 Houve pequena diferença entre os grupos no tocante a ansiedade cognitiva, a maior parte dos atletas das equipes apresentou apenas índices relativos à baixa ansiedade, mostrando que o grupo está dando conta de minimizar os efeitos da ansiedade. Os resultados encontrados nos outros atletas poderiam ser compreendidos pela característica do esporte de não ter com quem dividir seus receios, medos, e por fim suas ansiedades. O grau de ansiedade cognitiva vivenciada por um atleta resultaria da sua percepção de competência, desenvolvida a partir de suas experiências competitivas anteriores e pela capacidade dos adversários. Portanto, quando as expectativas se tornassem incertas haveria um aumento da ansiedade cognitiva e uma diminuição da autoconfiança, resultando num mau desempenho na competição [33]. É o contrário do que se observa nesta pesquisa, em que houve uma baixa ansiedade cognitiva, assim percebe-se que se não houve um bom desempenho nas competições não se deve a falta de autoconfiança. Conceitua-se ansiedade somática, como as percepções dos sintomas corporais causados pela ativação do sistema nervoso autônomo, caracterizada por uma grande variedade de sintomas somáticos como tremura, hipertonia muscular, inquietação, hiperventilação, sudorese, boca seca, aumento da frequência cardíaca, entre outros. Envolvendo a participação do organismo como um todo, colocando-o em estado de alerta, resultando no aumento dos níveis de adrenalina e cortisol. Ou seja, seria uma resposta fisiológica aos fatores psicológicos que estão ocorrendo, neste caso, um estado de ansiedade no momento que antecede a competição. Um elevado nível de ativação através da ansiedade somática seria essencial para atividades desportivas que requerem velocidade, resistência e força, como o futebol, hóquei em patins, basquetebol, natação, salto em altura, etc. Entretanto, um nível elevado de ansiedade somática seria negativo para habilidades complexas que exigem motricidade fina, muita coordenação, concentração e equilíbrio. O autor afirmou que a ansiedade somática deveria influenciar o desempenho inicial, quando os atletas estão sentindo-se nervosos ou tensos, e ter um impacto mínimo no desempenho posterior [29]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 78 Observando os resultados obtidos nas equipes (Tabela III), nota-se que na masculina adulto 83,33% dos componentes da amostra apresentaram baixo nível de ansiedade somática e outros 16,67% apresentaram nível médio da mesma. Na equipe feminina adulto, 66,68% apresentaram baixo nível de ansiedade somática, 33,32% apresentou nível médio da mesma. Na equipe masculina juvenil, 100% apresentou baixo nível de ansiedade somática e na equipe feminina juvenil, 16,67% apresentou baixo nível, enquanto 83,33% dos componentes da equipe apresentaram nível médio da mesma. Tabela III - Frequência da classificação da ansiedade somática. Grupo Juvenil Adulto Total Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino Baixa (9-18) 3 1 5 4 13 Média Alta (19-27) (28-36) 5 1 2 8 Total 3 6 6 6 21 Não houve diferenças significativas nessa dimensão de ansiedade entre as equipes. Já que os grupos apresentaram de média a baixa ansiedade somática. A autoconfiança deveria ser encarada como a inexistência de ansiedade cognitiva, sendo que a ansiedade cognitiva seria vista como a falta de autoconfiança [29]. Quando o atleta consegue atingir ou manter um nível ótimo de ansiedade ele está sociologicamente controlado, o que é benéfico para seu bom desempenho. Atletas hábeis são relativamente estáveis, consistentes e previsíveis, aprendendo como se desempenhar bem sob todo tipo de condição (favorável ou desfavorável), respondendo então a competição sob um estado emocional ideal [34]. Observa-se que na amostra pesquisada houve diferença significativa entre as equipes. Nas equipes masculinas nenhum atleta apresentou baixa autoconfiança. Na equipe adulta, 33,32% apresentou nível médio e 66,68% apresentou nível alto de autoconfiança. Na juvenil, 66,68% apresentou nível médio e 33,32% apresentou nível alto de autoconfiança, ou seja, nesta modalidade os atletas possuem uma boa média de autoconfiança, o que por consequência se relaciona com a baixa ansiedade cognitiva. Nas equipes femininas, 16,67% da equipe juvenil e 33,32% da equipe adulto apresentou baixo nível de autoconfiança, sendo uma atleta da equipe juvenil e duas da equipe adulto. No entanto, 66,68% das atletas da equipe juvenil e 50,01% da equipe adulto apresentaram nível médio de autoconfiança. Somente 16,67% das equipes apresentaram nível alto da mesma. Percebe-se que as atletas não se mostraram tão autoconfiantes como as equipes masculinas, mas mesmo assim, existiu também baixa ansiedade cognitiva (Tabela IV). Tabela IV - Frequência da classificação da autoconfiança. Grupo Juvenil Adulto Sexo Baixa (9-18) Masculino Feminino Masculino Feminino 1 2 3 Total Média Alta (19-27) (28-36) 2 1 4 1 2 4 3 1 11 7 Total 3 6 6 6 21 A ansiedade-traço é uma característica psicológica relativamente estável quando o atleta percebe certos estímulos do meio competitivo como ameaçadores ou não e a eles respondem com níveis variados de ansiedade-estado. A forma como o atleta interpreta esses estímulos pode variar de acordo com o tipo de esporte, idade e sexo. A ansiedade é um dos impedimentos mais comuns para um bom desempenho. Quando se tem um nível alto de ansiedade o “campo” de concentração de um indivíduo e totalmente atingido então o mesmo começa a prestar atenção apenas a um número de sinais limitados, diminuindo assim seu desempenho [35]. Não houve diferença significativa entre os grupos, relacionada à ansiedade-traço (Tabela V), pois nenhum dos atletas das equipes apresentou índices relativos à baixa ansiedade, mostrando que os grupos apresentaram um nível médio de ansiedade-traço. Tabela V - Análise descritiva das medidas de localização e dispersão da ansiedade-traço. Estatística Média Desvio-Padrão Mediana Coeficiente de Variação Masculino Adulto 21,33 2,16 21,50 Masculino Juvenil 17,67 1,53 18,00 10,13 8,65 Feminino Feminino Adulto Juvenil 18,33 2,66 17,50 16,33 1,86 16,00 14,50 11,40 A ansiedade-traço tem influência na percepção de ameaça, na medida em que os atletas com níveis mais altos da mesma podem perceber um maior grau de ameaça em situações competitivas do que os atletas com níveis mais baixos [29]. Na amostra pesquisada observa-se que houve diferença entre as equipes (Tabela VI). Na equipe masculina adulto, 33,32% apresentou nível médio baixo e 66,68% dos atletas apresentou nível médio de ansiedade-traço. Na equipe feminina adulto, 16,67% apresentou nível médio baixo e médio respectivamente e 66,68% apresentou nível médio alto de ansiedade-traço. Na masculina juvenil, 83,34% apresentou nível médio e 16,66% apresentou nível médio alto. A equipe feminina juvenil foi a que apresentou os maiores valores, onde 33,33% das atletas apresentaram média, média alta e alta ansiedade-traço respectivamente. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Referências Tabela VI - Frequência da classificação da ansiedade-traço. Baixa Média Média Média Alta (10- Baixa (17Alta (2812) (13-16) 23) (24-27) 30) Juvenil Masculino 2 1 Feminino 2 2 2 Adulto Masculino 2 4 Feminino 1 1 4 Total 3 9 7 2 Grupo Sexo Em geral, espera-se que os esportistas que apresentam alta ansiedade-traço demonstrem elevações de ansiedade-estado, pois se a competição for percebida como ameaçadora, sem objeto de perigo, ou seja, simbólica, inespecífica e antecipada, o indivíduo responde com alta ansiedade-estado. Porém, se a competição for percebida como não ameaçadora, o indivíduo reage com ansiedade-estado baixa. Entretanto, se pessoas que diferem em ansiedade-traço mostrarão, ou não, as diferenças correspondentes em ansiedade-estado, dependerá do grau em que a competição específica é percebida por um indivíduo em particular como perigosa ou ameaçadora, e isso, é grandemente influenciado por experiências passadas do indivíduo [14]. Conclusão Objetivando analisar a ansiedade-traço e a ansiedade-estado, nos períodos pré-competitivo e competitivo, em duas categorias da modalidade Ginástica Artística, avaliou-se 21 pessoas. Concluiu-se que, em geral, estes apresentaram níveis médios de ansiedade-traço. Os valores para ansiedade-estado variaram entre baixos e médios, de acordo com os resultados apresentados. Quanto à autoconfiança, esta assumiu níveis médios em três equipes, exceto na masculina adulto, onde os níveis apontaram alta confiança. No entanto os níveis de autoconfiança foram maiores que os níveis de ansiedade. O fato dos atletas acreditarem no seu potencial pode ser bom para os mesmos e seus resultados futuros. Recomenda-se para estudos futuros a consideração do tempo de prática com o nível de ansiedade, dado que haveria a expectativa de que a experiência pudesse atenuar o quadro ansioso por conhecimento e vivência da prática competitiva. O impacto da preparação psicológica deveria ser investigado, uma vez que o treinamento de desporto de alto nível na atualidade tende a ser amplo e complexo, desta forma seria possível pormenorizar a eficiência daquela preparação sobre a condição geral do atleta. O detalhamento dos resultados também poderia ser alcançado com a estratificação dos resultados em razão da categoria etária dos praticantes. 79 Total 3 6 6 6 21 1. Tubino MJG. Dimensões sociais do esporte. 2a ed. São Paulo: Cortez; 2001. 2. Costa LM. O que é uma torcedora? Notas sobre a representação e autorepresentação do público feminino de futebol. Esporte e Sociedade 2007;2(4):31. 3. Samulski D. Psicologia do esporte: conceitos e novas perspectivas. 2a ed. São Paulo: Manole; 2009. 4. Dobránszky IA, Machado AA. Autoeficácia: um estudo da sua contribuição para a avaliação de desempenho de atletas. Revista Psico-USF 2001;6(2):67-74. 5. Ward P, Williams M. 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II série, 15:21-28 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 81 ARTIGO ORIGINAL Análise da capacidade aeróbica e anaeróbica de árbitros de futebol do Paraná e do Ceará Analysis of the aerobic and anaerobic capacity of Paraná and Ceará soccer referees Alberto Inácio da Silva, D.Sc.*, Alex Soares Marreiros Ferraz**, Ricardo Lima dos Santos*** *Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Coordenador do Grupo de Pesquisa em Arbitro de Futebol – GPAF,**Universidade Federal do Piauí – UFPI, ***Universidade de Fortaleza – UNIFOR Resumo O objetivo deste estudo foi realizar uma análise comparativa entre a capacidade aeróbica e anaeróbica entre os árbitros de futebol do estado do Paraná e do Ceará. Para a avaliação física dos árbitros utilizou-se o teste da FIFA, composto por uma corrida de 12 minutos (teste de Cooper), duas corridas de 50 m e duas corridas de 200 m. No teste de Cooper a distância percorrida foi de 2830 ± 134 metros. O tempo médio de todos os árbitros envolvidos neste estudo (n = 78) na corrida de 50 metros foi de 6,98 ± 0,36 s no primeiro sprint e de 7,05 ± 0,41 s, no segundo. Na corrida de 200 m, o tempo médio foi 29,57 ± 1,51 s, no primeiro sprint e de 30,62 ± 1,56 s no segundo. A performance física dos árbitros envolvidos neste estudo é semelhante a de árbitros de nível internacional. Abstract The aim of this study was to conduct a comparative analysis between the aerobic and anaerobic ability among soccer referees of Paraná and Ceará state. For the referees physical evaluation was used the FIFA test, composed by 12-minute run (Cooper test), two races of 50 m and 200 m, and the Cooper test distance covered was 2830 ± 134 meters. The mean time of all referees involved in the study (n = 78) in the 50 meters race was 6.98 ± 0.36 s and 7.05 ± 0.41 s in first and second sprint, respectively. In the race for 200 meters, mean time was 29.57 ± 1.51 s in the first and 30.62 ± 1.56 s in the second sprint. The referee’s physical performance of referees involved in the present study was similar to the international referees. Key-words: referee, soccer, fitness test. Palavras-chave: árbitro, futebol, teste físico. Introdução O futebol é sem dúvida o esporte com o maior número de participantes e espectadores no mundo. Em nosso país tal evento transcende o âmbito do esporte a ponto de ser dito “paixão nacional”, dessa forma, torna-se recorrente nas rodas de conversa os fatos relacionados aos times e jogos de futebol. Nesse contexto, acaloram-se os debates sobre lances polêmicos e as decisões da arbitragem sobre tais fatos. Para alguns é exatamente esse aspecto humano do futebol que mantém acesa a enorme paixão do brasileiro por esse esporte. Com os avanços do treinamento esportivo ao longo das últimas décadas, a intensidade do jogo de futebol aumentou, os jogadores de elite, atualmente ganharam uma elevada capacidade de executar as ações motoras de alta intensidade, exigidas pelos altos níveis de performance atuais [1], fato que por sua vez exige também dos árbitros um alto nível de aptidão física. Só com essa elevada forma física os árbitros conseguirão estar próximos de todas as jogadas durante todo o decurso dos 90 minutos de jogo. Sua aptidão física deve ser bem desenvolvida para se evitar fadiga e não ter sua capacidade de observação, percepção e tomada de decisões prejudicadas [2,3]. Recebido em 7 de março de 2012; aceito em 4 de junho de 2012. Endereço para correspondência: Alberto Inácio da Silva, Rua Sete de Setembro, 40, 84010-350 Ponta Grossa PR, Tel: (41) 91121393, E-mail: [email protected] 82 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Diante desse novo contexto e no sentido de verificar se a preparação física dos árbitros estava compatível com as atuais exigências de desempenho do futebol moderno, em 1989 a Fédération Internationale of Football Association (FIFA), desenvolveu uma bateria de testes físicos para a avaliação periódica de seu quadro de árbitros [4]. A rotina de avaliação era composta por quatro testes: teste de Cooper, duas corridas de 50 metros, duas corridas de 200 metros e um que mensurava a agilidade (4 x 10 m), sendo essa última abolida em 1995. Após a elaboração dessa bateria de testes, começaram a surgir na literatura científica trabalhos descrevendo o nível de condicionamento físico dos árbitros, bem como trabalhos que buscavam correlacionar as mais diversas variáveis biológicas à sua performance física nesses testes. O trabalho pioneiro nessa área foi elaborado por Rontoyannis et al. [4], na Grécia, em 1992, nele os autores compararam os resultados obtidos por árbitros de quatro divisões do futebol grego nos testes propostos pela FIFA, no intuito de verificar qual grupo estava melhor fisicamente. Além da preocupação de se verificar o desempenho dos árbitros nos testes físicos, surgiram alguns estudos acadêmicos verificando se os resultados obtidos nestas avaliações estavam relacionados com o desempenho físico dos árbitros de futebol de elite no transcorrer da partida [5,6]. Outras pesquisas objetivaram comparar o teste de Cooper versus o Yo-Yo teste, como modelos de avaliação da capacidade aeróbica. Esses estudos concluíram que o Yo-Yo teste seria mais adequado para compor a bateria de teste da FIFA, pois apresentava melhores e mais altas correlações com o deslocamento de alta velocidade executado no transcorrer do jogo [6,7]. Já Da Silva et al. [8] sugerem a utilização do teste de multi-estágio de 20 metros de Léger, pois o VO2 máx. obtido durante este teste versus o teste de Cooper não apresentava diferença estatisticamente significante, sendo que as ações motoras desse teste se assemelham mais as que os árbitros realizam durante uma partida. Em outros estudos o foco tem sido a verificação das diferenças entre a condição física de árbitros de diferentes faixas etárias [9,10]. Apesar do esforço de alguns pesquisadores que buscam mostrar aspectos relacionados à condição física dos árbitros de futebol, muito pouco se conhece sobre a capacidade física dos árbitros brasileiros, levando-se em conta seu contexto geral. Por possuir um território de dimensões continentais, o Brasil é o maior país da América Latina e o quinto do mundo em área total (8.514.215,3 km²), somado ao fato de sua população ser composta por uma vasta diversidade étnica e cultural. Sugerimos que as características físicas, alimentares e comportamentais possam interferir na condição física da população de cada região do Brasil, com implicações em grupos específicos como no caso dos árbitros de cada federação estadual de futebol. Apesar de encontrarmos trabalhos descrevendo a performance de árbitros brasileiros [2], poucos são os que comparam o desempenho entre os quadros das diversas federações nacionais. O primeiro trabalho comparando a performance física de árbitros de dois estados, Paraná e Piauí, foi publicado recentemente [11], nesse caso as realidades geográficas, bem como o contexto desses estados no futebol brasileiro são bastante distintas. Como forma de ampliar essa perspectiva, este estudo teve como objetivo avaliar e comparar o nível de aptidão física aeróbica e anaeróbica dos árbitros profissionais de elite dos estados do Paraná e do Ceará que, embora possuam uma proximidade geográfica com o Piauí, apresentam uma maior similaridade com o Paraná no tocante ao nível de inserção no futebol brasileiro. Material e métodos Os procedimentos aqui adotados estão de acordo com a Resolução Nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, que trata dos procedimentos de pesquisa em seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFOR-COETICA. Cada voluntário, antes de participar deste estudo, assinou o termo de concordância que esclareceu o procedimento experimental realizado e autorizou a utilização dos dados coletados no trabalho científico aqui proposto. O voluntário não recebeu nenhum estímulo econômico para participar desta pesquisa. A população deste estudo foi constituída por árbitros da Federação Paranaense de Futebol (FPF) e da Federação Cearense de Futebol (FCF), sendo alguns também credenciados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Eles se apresentaram às Comissões de Avaliação da Aptidão Física de ambas as federações para se submeterem às provas de aptidão física. A amostra foi constituída por 21 árbitros do Estado do Ceará e 57 do Estado do Paraná, todos do sexo masculino. As provas para avaliação da aptidão física dos árbitros de futebol foram realizadas de acordo com as recomendações da FIFA vigentes para aquele ano. A bateria de testes foi constituída de uma corrida de 12 minutos (teste de Cooper), dois piques de 50 metros, dois piques de 200 metros, realizados de forma alternada. As provas foram aplicadas na seguinte ordem: primeiramente, uma corrida de 12 minutos, seguida por um pique de 50 metros; depois um pique de 200 metros, seguidos novamente por outro pique de 50 metros, finalizando o teste com mais um pique de 200 metros. O tempo de recuperação durante as provas não foi inferior a 5 minutos. Os testes foram aplicados em pista de atletismo e, após a realização dos mesmos, os sujeitos permaneceram caminhando até o local da próxima prova, caracterizando, com isso, recuperação do tipo ativa. Após a execução do teste de Cooper foi dado intervalo de pelo menos 15 minutos para a realização das provas anaeróbicas. Para a realização dos testes anaeróbicos, adotaram-se as propostas de Marins; Giannich [12], que preconizam que é aconselhável dois indivíduos executarem o teste simultaneamente. Para mensuração dos tempos foi utilizado cronômetros Technos, modelo Cronus. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Para o cálculo do consumo do VO2 máx. de cada indivíduo avaliado foi utilizada a fórmula de Cooper [2]. 83 tatisticamente significativa (p = 0,4602). A distância média percorrida por todos os árbitros envolvidos neste estudo (n = 78) foi de 2830 ± 134 metros (máximo 3300 – mínimo 2665). Após a determinação do VO2 máx, considerando o grupo como um todo, obteve-se um valor médio de 51,7 ± 3,0 ml.kg-1min-1 (62,1 – 48), em que também não se percebe diferenças significativas (p = 0,4614) entre os resultados dos árbitros dos dois estados. VO2 máx. = D – 504 / 45 Onde: D = à distância percorrida durante os 12 minutos. Para o tratamento estatístico das informações, utilizou-se inicialmente a estatística descritiva para agrupar os resultados em valores de média, desvio padrão e valores máximo e mínimo. Em função do reduzido número de indivíduos no grupo de árbitros do Ceará adotou-se a conversão logarítmica para as variáveis não normalizadas de acordo com a curva de Gauss, a fim de utilização dos parâmetros estatísticos paramétricos. Foi utilizado o teste “t” para amostras independentes a fim de comparar os grupos de árbitros do Paraná e os árbitros do Ceará. Tabela I - Resultados do teste aeróbico dos árbitros por estado. Estado N Paraná 57 Árbitros Ceará Média DP VO2 máx. 2837,6 141,1 51,9 ± 3,1 (3300 – 2700) 2812,1 21 114,1 51,3 ± 2,5 (3200 – 2665) VO2 máx em ml.kg-1.min-1 Os resultados apresentados na Tabela II são referentes ao teste de 50 metros, que foi a segunda prova a ser executada pelos árbitros, e que tinha como objetivo mensurar a velocidade. Nela se pode observar que não houve diferenças entre os árbitros dos dois estados. Considerando o conjunto total (n = 78) o tempo médio obtido pelos árbitros no primeiro sprint de 50 metros foi de 6,98 ± 0,36 s (7,9 – 6,1) e no segundo sprint (n = 78) de 7,05 ± 0,41 s (8,7 – 6,3). A análise estatística não encontrou diferença significativa entre os tempos do primeiro e segundo pique (p= 0,2523). Já os resultados descritos na Tabela III são referentes ao teste de 200 metros que tem como objetivo mensurar a resistência de velocidade, os quais também se mostraram similares entre os árbitros dos dois estados. Entretanto, ao Resultados A idade média dos árbitros envolvidos neste estudo foi de 33,3 ± 5,3 anos (n = 78). Sendo que a idade média dos árbitros do Paraná foi de 33,6 ± 5,4 anos, enquanto que dos árbitros cearenses foi em média de 32,5 ± 5,7 anos. Quando se confronta estes valores mediante a aplicação do teste t, constata-se que não há diferença estatisticamente significativa entres estes dados (p = 0,4503). Na Tabela I, encontram-se os resultados obtidos a partir da aplicação do teste aeróbico, teste de Cooper (corrida de 12 minutos), o primeiro teste físico a ser aplicado segundo normatização da FIFA. Quando comparamos os valores obtidos durante esse teste, não foi encontrada diferença esTabela II - Resultados do teste anaeróbico (velocidade) por Estado. Estado Árbitros Paraná Árbitros Ceará Piques Média D.Padrão N Média D. Padrão N Primeiro 6,94 (7,88 – 6,1) 0,34 57 7,09 (7,73 – 6,48) 0,4 21 Segundo 7,06 (8,7 – 6,29) 0,40 57 7,03 (7,90 – 6,45) 0,44 21 Média Geral 7,00 0,38 114 7,06 0,42 42 Segundo 30,44 (34,73 – 27,64) 1,40 57 31,10 (35,60 – 27,60) 1,89 21 Média Geral 29,98 1,51 114 30,41 1,85 42 N – número de dados. Tabela III - Resultados do teste anaeróbico (resistência à velocidade) por Estado. Estado Árbitro Paraná Árbitro Ceará N – número de dados. Piques Média D. Padrão N Média D. Padrão N Primeiro 29,51 (32,48 – 26,55) 1,49 57 29,73 (32,49 – 26,61) 1,57 21 84 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 compararmos o resultado dos árbitros como um todo (n = 78) no primeiro pique de 200 metros 29,57 ± 1,51 s (32,5 – 26,5) em relação ao segundo pique 30,62 ± 1,56 s (35,6 – 27,6), a análise estatística demonstrou haver diferença significativa entre eles (p = 0,0001). Discussão A idade média dos árbitros envolvidos neste estudo é compatível com os de árbitros de futebol estudados em vários países, entre estes se destacam: árbitros espanhóis [10], árbitros gregos [4], árbitros alemães [13], árbitros portugueses [14] que é similar à idade de outro estudo envolvendo árbitros brasileiros [15]. Como descrito na tabela I, os árbitros paranaenses e cearenses obtiveram performance similar para o teste aeróbico e quando comparados seus resultados com os descritos por Eissmann [16], o qual observou que 80% dos árbitros que participaram do concurso da Union of European Football Associations (UEFA), em 1995, ou seja, árbitros do quadro europeu internacional, percorreram durante o teste de Cooper, uma distância entre 2900 a 3200 metros, resultados muito superiores aos apenas 27% (n = 21) dos árbitros aqui estudados que conseguiram estabelecer algum índice dentro desta faixa. Para árbitros de nível nacional, pertencentes ao quadro da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, Silva e Rodriguez-Añez [17] descrevem uma distância de 2956 ± 90,69 metros. Na Grécia um estudo com árbitros da divisão A apresentaram uma média de 2778 ± 128 metros [4], em estudo envolvendo árbitros italianos cuja distância média percorrida foi de 2866 ± 164 metros [5]. Entretanto, em dados mais recentes envolvendo a avaliação da performance de 42 árbitros italianos de três classes de arbitragem, observaram-se distâncias médias de 2931 + 126 m, sendo que os árbitros do grupos de elite percorriam em média 3000 + 112 m, nos 12 minutos [7]. Já nos dados referentes a árbitros espanhóis de nível nacional, os índices obtidos (2984 ± 125 metros) [10] mostraram-se superiores aos dos grupos aqui estudados, fato similar pode ser observado em estudo envolvendo árbitros internacionais do quadro da FIFA, no qual se observaram resultados de 2996 metros [18]. Dessa forma os resultados aqui apresentados demonstram que os árbitros brasileiros, aqui estudados, apresentam uma capacidade cardiorrespiratória correspondente ao encontrado em árbitros de outros países. Contudo, estudos mais recentes, principalmente os envolvendo árbitros dos quadros internacionais, demonstram que esse nível de condicionamento físico está aumentando, possivelmente pressionado pela crescente exigência imposta pela FIFA a cada ano. Entretanto em relação ao trabalho de Silva, Santos, Brito [11], estudando árbitros paranaenses e piauienses a performance aeróbica dos árbitros aqui estudados foi superior aos 2728 + 59 m do grupo de árbitros piauienses. O VO2 máx. médio predito nesse estudo foi de 51,7 ± 3,63 ml.kg-1.min-1, valor similar foi descrito em outro estudo desenvolvido no Brasil, 51,42 ± 3,63 ml.kg-1.min-1 onde o VO2 também foi obtido após aplicação do teste de Cooper [11]. máx. Estudo com 27 árbitros dinamarqueses foi descrito VO2 máx médio de 46,3 ml.kg-1.min-1 [6]. Já em um estudo envolvendo 10 árbitros italianos foi descrito um VO2 máx 51.8 ± 3.2 ml.kg-1. min-1, sendo o VO2 determinado em laboratório utilizando um sistema de circuito aberto de telemétrico K4 Cosmed [19]. Contudo, em um estudo anterior [20] usando um analisador de gases portátil leve K2 os autores relataram ter encontrado valor médio de VO2 máx. de 49,30 ± 8,0 ml.kg-1min-1, para oito árbitros que apitavam jogos da Primeira Divisão Italiana, Série A, mesma divisão do estudo anterior, sendo que, mais tarde este mesmo grupo publicaria outro estudo envolvendo dois grupos de árbitros, um jovem e um mais velho. Desta vez o VO2 máx encontrado foi de 42,5 ± 4,4 ml.kg-1.min-1, para árbitros com 42 anos e de 52,1 ± 7,4 ml.kg-1.min-1, para árbitros com idade média de 33 anos [9]. Valores similares de VO2 máx foram observados em estudo envolvendo árbitros espanhóis que percorreram maior distância durante o teste de Cooper como descrito anteriormente, quando submetidos ao teste de VO2 em laboratório. Nesse caso, apresentaram um VO2 máx. médio de 54,9 ± 3,9 ml.kg-1 min-1 [10]. Em amostras brasileiras avaliações laboratoriais em teste de espectrometria, envolvendo 10 árbitros de futebol do Paraná, pode-se observar VO2 máx. médio de 57,9 ± 3,11 ml.kg-1min-1 [21]. Em outro estudo que envolveu cinco árbitros de futebol, também do Paraná, o valor médio do VO2 . foi de 52,8 ± 6,82 ml.kg-1min-1 [22]. máx Como pode ser observado na literatura científica encontra-se a determinação do VO2 máx. do árbitro de futebol de várias maneiras, sendo que os resultados aqui apresentados são similares aos relatados, tanto em estudos de campo como desenvolvidos em laboratório. Portanto os árbitros aqui estudados possuem condições cardiorrespiratórias para entregarem um quadro de árbitro de nível internacional. Tal fato é fundamental, pois o árbitro deve apresentar um bom nível de resistência aeróbica, isto porque durante uma partida o sistema metabólico aeróbico atua predominantemente na produção de energia para o árbitro de futebol, portanto, um bom nível de resistência aeróbia pode aumentar a sua capacidade de lidar com as diferentes demandas da partida [23]. Em adição, durante uma partida de futebol o árbitro e os jogadores, com exceção do goleiro, deslocam-se em uma área que mede em média 8.250 m2. Estudos recentes comprovaram que a demanda energética do árbitro durante a partida é similar a dos jogadores [24]. Para conduzir as partidas de futebol de nível profissional, num espaço desta magnitude, o árbitro deve apresentar um bom nível de preparação física, pois num período que varia de 4 a 6 segundos, os árbitros modificam suas ações motoras [25,6]. Desta forma, durante os 90 minutos de uma partida oficial ele realiza, em média, 1268 diferentes atividades; entre essas, 588 são atividades de Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 baixa intensidade (parado, caminhando, trotando) e 161 de alta intensidade (corrida e sprint) [6]. Fatos que ressaltam a importância de uma elevada condição física aeróbica em favorecer uma boa atuação frente às exigências perceptuais-cognitivas, que no caso de um árbitro de elite deve tomar aproximadamente 137 decisões observáveis por jogo [26]. Além de boa preparação física para estar bem posicionado e melhor avaliar as jogadas, evitando com isso que as regras sejam violadas, o árbitro deve buscar o melhor ângulo de visão para analisar agressões entre os atletas, pois o risco de um jogador sofrer ferimento é cerca de 1000 vezes maior do que o encontrado na maioria de outras profissões [27]. No teste que mensurava a velocidade, o tempo médio dos árbitros de ambos os estados no primeiro e segundo sprints são apresentados na tabela II. O tempo dos árbitros em todas as corridas de 50 metros foi de 7,02 ± 0,39 s (=156). Observa-se que o tempo dos árbitros neste estudo foi melhor que no último estudo publicado com dados de árbitros brasileiros 7,12 ± 0,28 s [11]. Contudo quando se compara a velocidade dos árbitros desta pesquisa com os índices obtidos por 209 árbitros do Paraná, que percorreram os 50 metros em 6,93 ± 0,37 s [28], verifica-se que os deste estudo estão mais lentos. Com relação aos árbitros de outros países observa-se que os resultados do presente estudo são melhores que os valores dos árbitros da UEFA, que foi de 7,09 s [16] e dos árbitros italianos 7,07 ± 0,26 s [5]. Exceções feitas a árbitros espanhóis que apresentaram uma maior velocidade quando da execução deste teste; em média eles percorrem os 50 metros em 6,76 ± 0,25 s [10]. E árbitros do quadro da FIFA que apresentaram o tempo de 6.98 s [18]. Somente 16 árbitros da CBF, avaliados em 2000, apresentaram um tempo próximo desse desempenho com seus resultados médios sendo 6,81 ± 0,31 [17]. Segundo Weston et al. [29], para os árbitros melhorarem sua velocidade durante as corridas de curta duração (sprint) eles devem incorporar no seu programa de treinamento exercícios de alta intensidade, pois são as corridas de alta velocidade que durante a partida permitem que os árbitros estejam perto das jogadas decisivas como as que ocorrem durante um contra-ataque . Na prova que avalia a resistência à velocidade, o tempo médio dos árbitros foi de 30,09 ± 1,62 s (n = 156). Este valor é semelhante ao valor encontrado no último estudo com árbitros brasileiros que foi de 29,99 ± 1,56 s [11]. Os índices dos árbitros do Paraná e do Ceará nesta prova foram similares (tabela III). Os árbitros internacionais do quadro da UEFA, nesta prova, apresentaram tempo de 29,17 s [16], sendo que os árbitros internacionais da FIFA apresentaram o tempo de 28,47 s [18], ao passo que os árbitros italianos apresentaram 29,57 ± 1,44 s [5]. Sendo que os tempos mais baixo apresentados por árbitros brasileiros foram os árbitros da CBF avaliados no ano 2000, com o tempo de 28,85 ± 1,57 [17], similar aos espanhóis com 28,95 ± 1,28 [10]. Apesar de a cada ano ser apresentado pela comunidade cientifica novos testes físicos visando à avaliação das capa- 85 cidades físicas, os testes físicos que compõem a bateria de testes da FIFA ainda são motivo de muita discussão no meio científico. Recentemente a FIFA apresentou uma nova bateria de testes, contudo, os mesmos já foram questionados pelo meio acadêmico, pois estes não apresentam qualquer validade cientifica ou similaridade com as ações motoras dos árbitros desenvolvidas durante a partida de futebol [30]. Conclusão Em termos absoluto os árbitros do Paraná apresentaram uma melhor performance física na bateria de testes da FIFA. Entretanto, ambos os grupos apresentaram um rendimento físico que os habilitam a atuar em partidas oficiais segundo os índices estabelecidos pela FIFA. Sendo esses resultados superiores ao estudo envolvendo árbitros do Paraná e Piauí, o que sugere que a inserção do estado em competições de nível mais elevado também eleva a performance física de seu quadro de arbitragem. Cresce a cada ano as exigências da FIFA com relação à preparação física dos árbitros, em decorrência disto a revisão da literatura demonstrou que principalmente os árbitros europeus a cada ano vêm apresentando melhores resultados nos testes físicos, fato este que não esta ocorrendo com os árbitros brasileiros. Acreditamos que esta resposta mais rápida dos árbitros europeus as exigências da FIFA se deva a profissionalização dos árbitros da FIFA e de alguns países, além de algumas federações terem criado programas de treinamento para os árbitros em que a sua participação nestes programas é obrigatória. Visando melhorar o rendimento físico dos árbitros brasileiros sugere-se que as Federações e a Confederação Brasileira de Futebol desenvolvam programas de treinamento físico para os árbitros, sendo que sua participação continua nestes programas seja mais um critério para os árbitros serem considerados aptos para atuarem em partidas oficiais. Referências 1. Mohr M, Krustrup P, Bangsbo J. Match performance of highstandard soccer players with special reference to development of fatigue. J Sports Sci 2003;21: 519-28. 2. Da Silva AI. Bases científicas e metodológicas para o treinamento do árbitro de futebol. Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2005. 3. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 87 ARTIGO ORIGINAL Influência da iniciação ao voleibol na aptidão física e desempenho motor de crianças do quarto ano do ensino fundamental Influence of volleyball initiation in fitness and motor performance of elementary school children Juliana Victer da Silva Fraga*, Roberto Pereira de Oliveira**, Tomires Campos Lopes*** * Acadêmica do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Mato Grosso, **Pós-graduado em avaliação morfo-funcional e fisiologia do exercício UGF, ***Professor Mestre FEF-UFMT-GEEFE Resumo O voleibol é um esporte coletivo muito praticado na educação física escolar. O objetivo deste estudo foi investigar a influência da iniciação ao voleibol na aptidão física e desempenho motor em crianças do quarto ano do ensino fundamental. A amostra contou com a participação de 26 crianças de ambos os sexos, das quais 12 meninos e 14 meninas, oriundas da escola EMEB Senador de Matos Muller. Como instrumento de avaliação, utilizou-se os testes do Proesp: flexibilidade, agilidade, velocidade e força explosiva. Após a realização do pré-teste, foram ministradas 15 aulas, duas vezes por semana, comparando com resultados, no pós-teste. Os resultados encontrados foram testes de agilidade (7,98 ± 0,14 pré-teste e 7,31 ± 0,09 pós-teste, sendo p = 0,00011), velocidade (5,38 ± 0,16 pré-teste e 4,91 ± 0,09 pós-teste, sendo p = 0,0075), força explosiva membros superiores (180,50 ± 7,37 pré-teste e 201,38 ± 6,56 pós-teste, sendo p = 0,0196) e força explosiva membros inferiores (135,12 ± 4,98 pré-teste e 146,27 ± 4,94 pós-teste, sendo p = 0,0500) obtiveram melhoras significativas, com exceção do teste de flexibilidade (24,15 ± 1,12 pré-teste e 26,15 ± 1,18 pós-teste, sendo p = 0,1125). Observou-se, portanto, aumento da aptidão física e habilidades motoras, o que sugere que a prática do voleibol pode influenciar de maneira positiva nas aulas de educação física escolar. Abstract Volleyball is a team sport practiced in physical education. The objective of this study was to investigate the influence of volleyball initiation in physical fitness and motor performance of elementary school children. The sample was composed of 26 children of both gender, 12 boys and 14 girls, from EMEB Senador Matos Muller school. We used the tests Proesp as evaluation test: flexibility, agility, speed and explosive power. After carrying out the pre-test, 15 classes were offered twice a week, comparing with results in the post-test. The results were: agility test (7.98 ± 0.14 pre-test and 7.31 ± 0.09 post-test, p = 0.00011), speed (5.38 ± 0.16 pre-test and 4.91 ± 0.09 post-test, p = 0.0075), explosive strength of upper limbs (180.50 ± 7.37 pre-test and 201.38 ± 6.56 post-test, p = 0.0196) and lower limb explosive power (135.12 ± 4.98 pre-test and 146.27 ± 4.94 post-test, p = 0.0500) had significant improvement, except for the flexibility test (24.15 ± 1.12 pre-test and 26.15 ± 1.18 post-test, p = 0.1125). We observed physical fitness and motor performance improvement, which suggests that volleyball can positively influence physical education classes in school. Key-words: volleyball, child development, physical fitness, play and playthings. Palavras-chaves: voleibol, desenvolvimento infantil, aptidão física, jogos e brinquedos. Recebido em 23 de janeiro de 2012; aceito em 4 de junho de 2012. Endereço para correspondência: Roberto Pereira de Oliveira, Endereço Av. Senador Metelo, 1121, 78030-300 Cuiabá MT, Tel: (65) 3025-6473, E-mail: [email protected] 88 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Introdução O voleibol é uma modalidade esportiva coletiva praticada em quadra entre duas equipes com seis integrantes para cada lado, utilizando-se as mãos para jogar a bola para o lado do adversário, por cima da rede. Originou-se nos Estados Unidos, em 1895, com o nome de minonette elaborado pelo Prof. Willian Morgan, sofrendo evoluções e alterações nas regras, até atingir a forma atual de se jogar [1]. Atualmente, o voleibol é bastante popular no Brasil, inclusive nossas seleções feminina e masculina estão entre as melhores do mundo. Em termos de popularidade este esporte é o segundo em nosso país e também em número de praticantes nas escolas. A iniciação desportiva é o primeiro contato da criança com o desporto em questão [2]. Por isso a criança antes de se envolver plenamente com qualquer modalidade esportiva, primeiro precisa brincar. Brincar de praticar esporte [3]. Portanto, o desenvolvimento do trabalho não deve ser voltado às técnicas e às regras oficiais e, sim ao desenvolvimento das habilidades motoras e da aptidão física, com o ensino de estratégias pedagógicas que irão contribuir no desempenho de habilidades esportivas e aumentar o repertório motor. Devemos usar essas estratégias para conquistar o interesse e afeição das crianças pela modalidade, utilizando a formação lúdica e os pequenos jogos para auxiliar na iniciação desportiva. Priorizando nesta fase inicial o ponto de vista motor, proporcionando atividades com diferentes graus de dificuldade, que estimulem aos gestos do voleibol [4]. Torna-se importante um trabalho que leve em consideração o desenvolvimento das potencialidades da criança, para que esta alcance um nível de desenvolvimento motor que capacite a rápida e fácil aprendizagem dos movimentos esportivos mais complexos. Pois aprenderá mais rapidamente aquele que tiver um número maior de experiências motoras, uma melhor formação multilateral e um alto nível de qualidades físicas básicas [2]. O desenvolvimento motor pode ser conceituado como uma contínua alteração no comportamento humano ao longo do ciclo da vida. Contudo, cada indivíduo tem um tempo peculiar para adquirir e para desenvolver habilidades motoras. Isto quer dizer que a sequência é a mesma para todas as crianças, apenas a velocidade de progressão varia [5]. Sendo assim, as crianças do quarto ano do ensino fundamental estão na faixa etária dos nove anos de idade e encontram-se na última fase do modelo da ampulheta de Gallahue que é denominada fase das habilidades motoras especializadas, na qual a criança passa por três estágios: transitório, de aplicação e de utilização permanente. Estas se deparam entre o primeiro estágio, que é caracterizado pelas primeiras tentativas da criança de refinar e combinar padrões motores maduros. Nesse estágio, o indivíduo trabalha para compreender a ideia de como desempenhar a habilidade esportiva [5]. Já a aptidão física é definida como uma condição positiva de bem estar influenciada por uma atividade física regular [5] e desempenho motor é o termo frequentemente usado para agrupar os vários componentes da aptidão física relacionada à saúde [5]. Com isso o desempenho motor e a aptidão física de crianças têm sido estudados ao longo do último século, pois se compreende que existe uma relação importante entre a melhora da aptidão física e das capacidades funcionais motoras (força, flexibilidade, velocidade e agilidade) dos indivíduos, contribuindo, assim, na eficiência da realização de determinadas tarefas [6]. Ao longo dos anos tem-se observado diversas sugestões de baterias de testes para avaliar o desempenho motor e a aptidão física [6]. No Brasil, encontramos o Projeto Esporte Brasil (Proesp-BR, 2009) [7], que segue com informações para aplicação de medidas e testes, normas e critérios de avaliação, desenvolvido no âmbito da educação física escolar com o esporte educacional condizentes com a nossa realidade cultural. Auxiliando professores de educação física na avaliação dos indicadores de crescimento corporal, do estado nutricional, da aptidão física relacionada à saúde e ao desempenho esportivo em crianças e jovens entre 7 a 17 anos. Sendo assim, o objetivo do presente estudo tem como propósito investigar a influência da iniciação ao voleibol na aptidão física e desempenho motor em crianças do quarto ano do ensino fundamental de uma escola municipal de Cuiabá/MT. Material e Métodos Amostra Inicialmente, foi feito um contato com a direção da escola para esclarecimentos sobre o objetivo da pesquisa e os procedimentos a serem realizados para a coleta de dados. Para a seleção dos participantes da pesquisa, determinou-se como critério de inclusão as crianças que estivessem cursando o quarto ano do ensino fundamental, que se encontravam na faixa etária dos nove anos de idade, as quais se deparavam na fase motora especializada. Esta fase trata de um período no qual, os movimentos tornam-se uma ferramenta que será útil para4 muitas atividades motoras complexas presentes na vida diária, recreação ou jogos esportivos [5]. Nesta pesquisa de características de campo, participaram deste estudo 26 crianças de ambos os sexos, das quais 12 do sexo masculino e 14 do sexo feminino, oriundas da escola EMEB Senador de Matos Muller, da rede pública de ensino do município de Cuiabá/MT. Como Aptidão Física e Desempenho motor estão inter-relacionados, seus componentes tornam-se inseparáveis. Portanto, para a avaliação foram utilizados os materiais e testes recomendados pelo Proesp-BR (2009) [7]. As variáveis selecionadas para o estudo da aptidão física foram: flexibilidade e força explosiva de membros superiores e inferiores. Já para o desempenho motor avaliaram-se as variáveis: velocidade e agilidade. Os testes foram divididos em duas categorias: as provas em sala e as provas de campo. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Testes de sala O motivo para que os seguintes procedimentos fossem realizados em sala foi pelo fato da exigência de que as crianças permanecessem descalças durante os testes de: massa corporal total, estatura e flexibilidade. Para a medida da massa corporal total foi utilizada uma balança digital da marca Omron, modelo HN-283LA e para a leitura da estatura foi utilizado um estadiômetro da Soehnle. Para o teste de flexibilidade (sentar-e-alcançar) foi utilizado o Banco de Wells [7]. Testes de campo Já os procedimentos de campo foram realizados em espaços livres e com vestimentas adequadas (calção ou agasalho, camiseta e tênis) e seguiram a seguinte ordem para minimizar os efeitos de fadiga fisiológica e interferência nos resultados. Os testes escolhidos foram: teste de força explosiva de membros inferiores - salto horizontal, teste de força explosiva de membros superiores – arremesso de medicineball, teste de agilidade – teste do quadrado e velocidade – corrida de 20 metros [7]. Protocolo de atividades Após a realização da primeira coleta de dados, foram realizados exercícios voltados para a iniciação ao voleibol baseados na estrutura funcional reduzida (EFR) que tem como propósito a modificação do espaço de jogo, bem como o número de jogadores e a altura da rede [8] nas aulas de educação física por um período de oito semanas. As aulas foram aplicadas duas vezes por semana com duração de 60 minutos cada. Disponibilizaram-se duas aulas para realização das coletas de dados, uma antes da intervenção das atividades e outra após este período, totalizando-se, assim, 17 (dezessete) aulas. As aulas eram divididas em três partes: aquecimento, atividades principais e volta-a-calma. Buscou-se oportunizar a vivência de jogos recreativos, utilizando-se o método global. Priorizando familiarização com a bola, a quadra, a rede, o deslocamento e o domínio de bola alta e baixa. As atividades exploradas no aquecimento foram jogos de pegador como: pega-pega, pega-pega americano, pega-pega corrente, pega-pega perneta, pega o rabo do macaco e pega a cobra. Já para a prática das habilidades motoras globais utilizamos os jogos pré-desportivos que enfatizassem os gestos do voleibol como: peteca, mosca tonta, alerta adaptada, vôlei-bexiga, vôlei-maluco, vôlei sem rede, vôlei lençol, mini-lancebol e lancebol [4-9-10]. Na primeira semana de aula foi aplicado o jogo da Peteca. O campo era demarcado com uma corda ou barbante a uma altura de 1 m, cada equipe ocupava um lado do campo e tinha que tocar a peteca para o outro lado sem deixá-la cair no chão (era permitido segurá-la); e o jogo da Mosca tonta 89 era empregado em pequenos grupos, usando uma bola leve, onde sempre uma criança se posicionava ao meio do círculo para tentar pegar a bola que era arremessada pelos colegas. Na segunda semana foi aplicado o jogo do Alerta adaptado e o vôlei bexiga. No primeiro todos formavam um círculo e passavam a bola um para o outro aleatoriamente até que a bola caísse. A criança que derrubasse a bola tinha que gritar “Alerta” e dar três passos em direção a algum colega e arremessar a bola para queimá-lo. Esse colega tinha que segurar a bola para arremessá-la em outra pessoa, evitando que ninguém saísse do jogo; e o vôlei bexiga era jogado com uma bexiga cheia de confetes, usando a rede de vôlei, onde cada equipe mista ocupava um lado da quadra e tinha que dar três toques e lançar para a equipe adversária. Esta tentava receber a bexiga sem deixar que estourasse. Na terceira semana aplicou-se o vôlei lençol e o vôlei sem rede. O primeiro consistia em usar a rede de vôlei, onde cada equipe mista ocupava um lado da quadra formando duplas que seguravam um lenço feito de TNT, cujo objetivo era repassar a bola para o outro lado e a equipe adversária tinha que receber esta bola dentro do lençol. O segundo não utilizava a rede, as crianças eram divididas em quatro pequenos grupos e ficavam dentro de quadrados desenhados no chão, onde cada grupo tinha que recepcionar e repassar a bola com no máximo três batidas para outro grupo sem deixá-la cair ou sem repassá-la de forma incorreta. Na quarta semana foi aplicado o vôlei maluco. As equipes eram posicionadas em quadra com número igual de crianças de cada lado. Estas tinham que tocar na bola, sem segurá-la e tentar repassá-la para o outro lado. Primeiro foi utilizada uma bola de vôlei normal e depois uma bola menor para dificultar a atividade. Na quinta semana foi empregado o jogo de câmbio, em que duas equipes mistas com número iguais de jogadores ocupavam cada uma um lado da quadra e tinham como objetivo segurar a bola e depois repassá-la para a equipe adversária, sem deixar a bola cair no chão. Posteriormente foi aplicado o Câmbio com seis jogadores, onde o jogo é o mesmo, só que agora formando seis alunos por equipe e os demais aguardavam analisando a dinâmica do jogo, possibilitando um feedback e em seguida invertiam-se os papéis. Na sexta semana foi aplicada a rede humana com bola gigante, onde foram divididos três grupos iguais. Dois grupos se posicionaram cada um em um lado da quadra e o terceiro grupo pocisionou-se no meio, para ser a rede. Os dois grupos que disputavam a partida tinham que atravessar a bola para o outro lado sem tocar na rede. O grupo que se passava pela rede tinha que tentar interceptar a bola, se conseguisse trocavam de lugar com o grupo que arremessou a bola; e o jogo Mini-lancebol foi aplicado de diversas maneiras: 1 contra 1, 2 contra 2, 3 contra 3 e 4 contra 4. Com o objetivo de fazer com que os jogadores se movessem atrás da bola para jogá-la em espaços vazios e recepcioná-la dentro do campo demarcado, com pequenos deslocamentos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 90 E por fim na sétima e oitava semana foi introduzido o Lancebol. Faziam parte de cada equipe seis jogadores, utilizando a quadra e a rede de voleibol para familiarizar-se com o jogo cujo objetivo era recepcionar a bola, dar três toques e lançá-la para a equipe adversária, sem deixar a bola tocar no chão. Análise estatística Foi realizada a estatística descritiva com software Excel 2003® e para o teste de hipótese foi utilizado o método teste t com amostras pareadas para a comparação do grupo no pré e pós-teste, adotou-se como significância estatística p ≤ 0,05, utilizando para este o software Biostat 5.0. Resultados A descrição dos resultados obtidos na massa corporal, estatura, IMC e percentual de gordura no pré e no pós-testes foram apresentados em forma de tabela. Tabela I - Denota a média, o desvio padrão e erro padrão referente à massa corporal (peso), estatura, IMC e % de gordura da turma e dos sexos masculino e feminino. Variáveis PESO Nº da amostra Máximo Mínimo Média Desvio padrão Erro padrão ALTURA Máximo Mímino Média Desvio padrão Erro padrão IMC Máximo Mínimo Média Turma Masculino Feminino Pré- Pós- Pré- Pós- Pré- Pós-teste -teste -teste -teste -teste -teste 26,00 55,90 23,00 33,96 9,54 1,87 26,00 57,50 22,90 35,02 9,48 1,86 12,00 55,90 25,00 32,08 9,21 2,66 12,00 57,50 25,60 33,14 9,58 2,76 14,00 53,40 23,00 35,57 9,85 2,63 14,00 51,3 22,90 36,62 9,45 2,53 1,54 1,23 1,38 0,08 0,02 1,56 1,24 1,39 0,08 0,02 1,52 1,30 1,38 0,08 0,02 1,52 1,30 1,38 0,08 0,02 1,54 1,23 1,38 0,09 0,02 1,56 1,24 1,39 0,09 0,02 24,80 24,89 24,19 24,89 24,80 24,65 13,70 13,98 13,70 14,05 14,26 13,98 17,51 17,90 16,56 17,02 18,32 18,66 Desvio padrão 3,25 3,26 3,18 3,24 3,20 3,20 Erro padrão % Gordura Máximo Mínimo Média Desvio padrão Erro padrão 0,64 0,64 0,92 0,93 0,85 0,85 37,79 11,87 23,48 7,11 1,39 36,58 11,87 22,84 7,40 1,45 37,79 37,79 20,51 8,09 2,33 36,58 36,58 20,39 8,06 2,33 31,47 31,47 26,04 5,17 1,38 31,51 31,51 24,93 6,34 1,69 Ao analisar os resultados do peso e estatura da turma e separadamente por sexo, observou-se que na média total não existem diferenças significativas. Os resultados do IMC da turma demonstraram que não houve mudança significativa, porém quando analisados por sexo observou-se que tanto os meninos como as meninas encontravam-se abaixo da média. Com relação ao percentual de gordura da turma e por sexo não houve mudança significativa. Os resultados dos testes de flexibilidade, força explosiva de membros inferiores e superiores, de agilidade e velocidade foram representados em forma de gráfico. Figura 1 - Resultados das médias, erro padrão e linha de classificação ideal (Proesp-BR, 2009) do teste de flexibilidade. 30,00 27,00 24,00 21,00 18,00 15,00 12,00 9,00 6,00 3,00 0,00 cm 26,15 25,17 24,15 Turma p = 0,1125063 26,42 23,29 Meninos ≤ 0,05 25,93 Ideal= ♂ 22 cm ♀ 18 cm PROESP Meninas Referência p AVAL 2 AVAL 1 Os valores encontrados como média pela turma foram 24,15 ± 1,12 no pré-teste e 26,15 ± 1,18 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,1125), mostrando que não teve estatisticamente mudança significativa. E quando verificado separadamente por sexo, observamos que no masculino a média encontrada foi de 25,17 ± 1,55 no pré-teste e 26,42 ± 1,66 no pós-teste. Enquanto no feminino a média encontrada no pré-teste foi 23,29 ± 1,63 e no pós-teste de 25,93 ± 1,72. Observamos que as meninas obtiveram ganhos maiores no final das atividades propostas. Figura 2 - Resultados das médias, erro padrão e linha de classificação ideal (Proesp-BR, 2009) do teste de agilidade. 12,00 11,00 10,00 9,00 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 seg 7,98 * 7,31 7,60 7,04 8,30 7,54 Ideal= ♂ 7,25 seg ♀ 6,89 seg PROESP Turma p=0,00011 Meninos Meninas ≤0,05 AVAL 1 AVAL 2 Referência p Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 91 Os valores encontrados como média pela turma foram 7,98 ± 0,14 no pré-teste e 7,31 ± 0,09 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,00011), mostrando que houve uma mudança significativa. E quando verificado separadamente por sexo, observamos que no masculino a média encontrada foi de 7,60 ± 0,14 no pré-teste e 7,04 ± 0,09 no pós-teste. Enquanto no feminino a média encontrada no pré-teste foi de 8,30 ± 0,19 e no pós-teste de 7,54 ± 0,13. Quando as amostras foram comparadas entre masculino e feminino, observou-se que as meninas obtiveram ganhos maiores que os meninos. Os valores encontrados como média pela turma foram 135,12 ± 4,98 no pré-teste e 146,27 ± 4,94 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,0500), mostrando que houve mudanças significativas. Entretanto, quando verificado separadamente por sexo, observamos que no masculino a média encontrada foi de 151,33 ± 7,03 no pré-teste e 162,17 ± 7,00 no pós-teste. Enquanto que no feminino a média no pré-teste foi de 121,21 ± 4,62 e no pós-teste de 132,64 ± 4,56. Quando as amostras foram comparadas entre masculino e feminino, observou-se que não houve mudanças importantes. Figura 3 - Resultados das médias, erro padrão e linha de classificação ideal (Proesp-BR, 2009) do teste de força explosiva dos membros superiores. Figura 5 - Resultados das médias, erro padrão e linha de classificação ideal (Proesp-BR, 2009) do teste de velocidade. * 240,00 201,38 220,00 180,50 200,00 180,00 160,00 140,00 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00 Turma cm 201,92 182,58 200,93 178,71 Ideal= ♂ 220 cm ♀ 201 cm PROESP Meninos p=0,01964913 AVAL 1 Meninas Referência p≤0,05 AVAL 2 Os valores encontrados como médias pela turma foram 180,50 ± 7,37 no pré-teste e 201,38 ± 6,56 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,0196), mostrando respostas significativas. Contudo, quando investigado separadamente por sexo, observamos que no masculino a média encontrada foi de 182,58 ± 10,46 no pré-teste e 201,92 ± 10,30 no pós-teste. Ao passo que no feminino a média encontrada no pré-teste foi de 178,71 ± 10,68 e no pós-teste de 200,93 ± 8,76. Quando as amostras foram comparadas entre masculino e feminino, observou-se que não houve mudanças importantes. Figura 4 - Resultados das médias, erro padrão e linha de classificação ideal (Proesp-BR, 2009) do teste de força explosiva de membros inferiores. 180,00 * 146,27 165,00 150,00 135,12 135,00 120,00 105,00 90,00 75,00 60,00 45,00 30,00 15,00 0,00 Turma cm 162,17 151,33 Ideal= ♂ 140 cm ♀ 127cm PROESP Meninas p=0,05000 Referência p ≤0,05 AVAL 2 AVAL 1 5,38 * 4,91 5,73 4,96 5,16 4,62 Ideal= ♂ 4,28 seg ♀ 4,09 seg PROESP Turma Meninos Meninas ≤0,05 p=0,0075833 Referência p AVAL 2 AVAL 1 Os valores encontrados como médias pela turma foram 5,38 ± 0,16 no pré-teste e 4,91 ± 0,09 no pós-teste, sendo o valor de (p = 0,0075), mostrando respostas significativas. Todavia, quando investigado separadamente por sexo, observamos que no masculino a média encontrada foi de 4,96 ± 0,19 no pré-teste e 4,62 ± 0,11 no pós-teste. Enquanto que no feminino a média encontrada no pré-teste foi de 5,73 ± 0,21 e no pós-teste de 5,16 ± 0,11. Quando as amostras foram comparadas entre masculino e feminino, observou-se que as meninas obtiveram ganhos maiores no final das atividades propostas. Discussão 132,64 121,21 Meninos 6,50 6,00 5,50 5,00 4,50 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0,00 seg Observando as variáveis peso, estatura, IMC e percentual de gordura não houve mudanças significativas, pois a pesquisa foi realizada em um curto período de tempo. Na flexibilidade o teste realizado não demonstrou mudanças significativas quanto à turma. Uma possível explicação é que as crianças já possuíam um nível de flexibilidade acima da classificação ideal e não foi realizada nenhuma atividade específica para esta capacidade física. Analisando o pré e pós-teste as meninas obtiveram desenvolvimentos melhores que os meninos. Isto se confirma na afirmação de Gallahue, 92 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 que relata que as meninas tendem a ser mais flexíveis que os meninos em todas as idades. Nos resultados analisados dos testes de agilidade, força explosiva e velocidade observamos que os resultados encontrados estão abaixo dos ideais preconizados pelo Proesp-BR, isso pode ter ocorrido pelo período curto da pesquisa, mas comparando a avaliação 01 com os resultados da avaliação 02, observamos melhoras significativas, havendo modificações positivas em ambos os sexos. Conclusão O presente estudo verificou a eficiência da iniciação ao voleibol utilizando uma formação lúdica para influenciar e melhorar os componentes da aptidão física e desempenho motor. Visto que suas atividades contribuíram de maneira positiva para o aumento das habilidades motoras e aptidão física. Portanto, este trabalho foi essencial para demonstrar a importância de se introduzir o voleibol utilizando jogos pré-esportivos e lúdicos, nas aulas de educação física escolar. Referências 1. Bojikian JCM. Ensinando voleibol. São Paulo: Phorte; 2003. p.19-22. 2. Mattos SCMG. Iniciação Desportiva: Uma abordagem teórica. Revista Sprint 1998;40(7):6-8. 3. Nista-Piccolo VL, eds. Pedagogia dos Esportes. Campinas: Papirus; 1999.p.9. 4. Machado AA. Iniciação ao estudo do voleibol. In: Rangel ICA; Darido SC. Voleibol: do aprender ao especializar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p.13-15. 5. Gallahue DL, Ozmun JC. Compreendendo o desenvolvimento motor, bebês, crianças, adolescentes e adultos São Paulo. São Paulo: Phorte; 2005. 6. Krebs RJ, Duarte MG, Nobre GC, Nazário PF, Santos JOL. Relação entre escores de desempenho motor e aptidão física em crianças com idades entre 07 e 08 anos. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2011;13:(2):94-9. 7. Gaya ACA. Proesp/BR. Projeto esporte brasil: medidas e testes, normas e critérios de avaliação. Ministério dos Esportes, 2009. Disponível em URL: http://www.esef.ufrgs.br 8. 8. Pessoa AE, Bertollo M, Carlan P. Voleibol. Ijuí: Unijuí; 2009. p.144. 9. 9. Carvalho OM. Voleibol: Técnicas de ensino para iniciantes. Revista Sprint 1992;6(63):22-30. 10. 10. Darido S, Souza OM. Para ensinar educação física: possibilidades de intervenção na escola. Campinas: Papirus; 2007. p.71-84. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 93 ARTIGO ORIGINAL Evidências de stress oxidativo e alterações eritrocitárias induzidas por uma prova de triathlon half-ironman Evidence of oxidative stress and erythrocyte changes induced by half-ironman triathlon Faber Sérgio Bastos Martins, D.Sc.*, José Augusto Rodrigues dos Santos, D.Sc.** *Instituto Superior de Ensino de Fafe – ESEF, **Faculdade de Desporto – Universidade do Porto Resumo Objectivo: Analisar as alterações hematológicas agudas induzidas por uma prova de triathlon longo. Avaliou-se o comportamento de diversos indicadores eritrocitários e biomarcadores de stress oxidativo em atletas portugueses masculinos de triathlon. Material e métodos: 10 atletas seniores masculinos (31,5 ± 1,2 anos; 69,3 ± 1,9 kg; 177,7 ± 1,4 cm; 22,0 ± 0,8 de IMC e 10,1 ± 2,2 % GC) foram divididos em grupos elite e não-elite. Foram recolhidas amostras de sangue venoso periférico antes e imediatamente após as provas. Utilizou-se estatística descritiva, testes não-paramétricos de Wilcoxon e Mann-Whitney e coeficiente de correlação de Spearman. Resultados: Verificou-se, somente nos atletas de elite, um aumento nos valores pós-prova referentes aos indicadores CGR, Hb, HGM e CHGM (p < 0,05) e a diminuição do valor médio relativo ao VGM (p = 0,020). O aumento da actividade da enzima SOD (p = 0,019) ocorreu somente nos atletas de elite. Foi constatado, em ambos os grupos, um aumento da atividade da enzima GR (p < 0,05). Atletas de elite apresentaram valores basais mais elevados da atividade da enzima GR comparativamente aos atletas não elite (9,1%; p < 0,05). Conclusão: Os resultados encontrados sugerem que a intensidade e a duração da prova de triathlon condicionam as respostas dos diversos biomarcadores analisados em função do nível de treino dos atletas. Abstract Objective: To assess the acute hematological changes induced by a long triathlon race. We evaluated the behavior of several erythrocyte indicators and oxidative stress biomarkers in Portuguese male triathlon athletes. Methods: 10 male senior athletes (31.5 ± 1.2 years; 69.3 ± 1.9 kg; 177.7 ± 1.4 cm; BMI 22.0 ± 0.8 and 10.1 ± 2.2% BF) were divided into groups elite and non-elite. Samples were collected from peripheral venous blood before and immediately after the race. We used descriptive statistics, nonparametric tests of Wilcoxon and Mann-Whitney and Spearman correlation coefficient. Results: It has been found only in elite athletes, an increase in post-race values for the indicators CGR, Hb, HGM and CHGM (p < 0.05) and reduced the average value for the MCV (p = 0.020). The increased activity of the enzyme SOD (p = 0.019) occurred only in elite athletes. It was found in both groups, an increased activity of the enzyme GR (p < 0.05). Elite athletes had higher baseline activity of the enzyme GR as compared to non-elite athletes (9.1%, p < 0.05). Conclusion: The results suggest that the intensity and length of triathlon race can influence the responses of several biomarkers analyzed according to the level of training of athletes. Key-words: hemoglobin, hemolysis, enzyme activity, hematocrit, uric acid. Palavras-chave: hemoglobina, hemólise, actividade enzimática, hematócrito, ácido úrico. Recebido em 10 de dezembro de 2011; aceito em 5 de junho de 2012. Endereço de correspondência: Faber Sérgio Bastos Martins, Instituto de Estudos Superiores de Fafe, Rua Universitária, Apartado 178, 4824-909 Medelo Portugal, E-mail: [email protected], [email protected] 94 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Introdução Atualmente, tem havido um grande interesse no estudo da performance nos esforços prolongados e de elevada intensidade, e nas provas do triathlon longo (ironman) em particular. Em linha de convergência, estudos tem demonstrado que atletas de esforços prolongados evidenciam reduções na taxa de concentração de hemoglobina, contagem eritrocitária e valores de hematócrito [1-3]. Embora o aumento da concentração de hemoglobina possa contribuir de forma positiva para a cinética do oxigénio durante a realização do exercício físico, é geralmente aceito que estas reduções decorram de um desproporcional aumento do volume plasmático relativamente à massa eritrocitária (hemodiluição) em resposta aos treinos em regime aeróbio de elevada intensidade [2].Todavia, baixos valores de hematócrito mostram-se significativamente correlacionados com as melhores prestações em provas de resistência e ultrarresistência [2,4-6] o que valoriza funcionalmente a hemodiluição induzida pelo treino de resistência aeróbia. No entanto, a superior capacidade de utilização metabólica do oxigénio está relacionada com o incremento da produção de espécies reactivas de oxigénio que acentuam o stress oxidativo [7]. Neste sentido, tem sido referido por diversos autores que a realização de esforços físicos, particularmente de elevada intensidade, induz a formação acrescida de radicais livres e espécies reativas de oxigénio, provocando a instalação de um desequilíbrio oxidante/antioxidante que conduz à perda do controle da respiração mitocondrial, desencadeando alterações funcionais e estruturais das cadeias lipídicas das membranas celulares, resultando no aumento da sua permeabilidade e perda da homeostasia celular [8-12]. Material e métodos Amostragem A amostra foi constituída por 10 atletas masculinos da Federação Portuguesa de Triathlon, com idade média de 31,5 ± 1,2 anos, massa corporal de 69,3 ± 1,9 kg, estatura corporal de 177,7 ± 1,4 cm, índice de massa corporal de 22,0 ± 0,8 e percentagem de gordura corporal 10,1 ± 2,2%, participantes das provas nacionais e internacionais na referida distância. Os atletas foram divididos em 2 grupos (elite e não-elite) de acordo com as respectivas posições no ranking nacional e categoria de inscrição em competições internacionais pela International Triathlon Union (ITU). Delineamento experimental Os respectivos grupos experimentais de atletas de triathlon realizaram uma prova de triathlon longo na distância half- ironman, composta por 1,9 km de natação, 90 km de ciclismo e 21,1 km de corrida, inserida no calendário nacional da Federação Portuguesa de Triathlon. Para a avaliação da estatura corporal dos atletas foi utilizado o estadiômetro (marca Rudolf Martin) e para a determinação da massa corporal (kg) e percentagem de gordura corporal (%GC) dos atletas foi realizada a pesagem em balança digital de bioimpedância (marca TANITA TBF 305). Todos os atletas integrantes da amostra foram submetidos a duas coletas sanguíneas, a primeira nos instantes precedentes a cada uma das provas e a segunda, imediatamente após o seu término, sendo estas realizadas através da punção venosa na região cutânea antecubital anterior, com álcool a 95%, totalizando 20 amostras. Todas as amostras foram coletadas em tubos ETDA-K3 de 4,5ml (BD Vacutainer) para a determinação dos indicadores eritrocitários e biomarcadores de stress oxidativo. • Determinações hematológicas: Para análise dos indicadores eritrocitários efectuados nas amostras de sangue periférico, procedeu-se ao hemograma no contador hematológico GEN`S (Beckman Coulter-BC). Foram analisados os respectivos índices hematimétricos: Volume Globular Médio (VGM), Hemoglobina Globular Média (HGM), Concentração de Hemoglobina Globular Média (CHGM), Índice de Anisocitose Eritrocitária (Red blood cell Distribuition Width – RDW) e indicadores: Concentração de Glóbulos Rubros (CGR), Hemoglobina (Hb) e Hematócrito (Hct). • Determinações bioquímicas: As amostras de sangue periférico venoso, coletadas em tubos sem anticoagulante, com gel Z - activador da coagulação (Serum Sep Clot Activator - BD Vacutainer) de 5,0 ml para os estudos bioquímicos efectuados no soro foram centrifugadas (centrífuga “Jouan CR3”- Jouan) a 3000 rpm durante o período de 10 minutos. Não foi efectuado qualquer tipo de constrição através do uso de torniquete com o objectivo de minimizar o possível stress e lesão oxidativos induzidos pela manobra isquemia-reperfusão. A atividade da enzima superóxido-dismutase (SOD) nos eritrócitos foi determinada utilizando o kit comercial Randox RanSod Cat.No.SD 125 a 340nm. A preparação da amostra consistiu inicialmente na centrifugação de 0,5ml do sangue total durante 10 min a 3000rpm e posterior separação do plasma. Em seguida, foram realizadas 4 lavagens dos eritrócitos com solução NACL 0,9% (3ml), sendo após cada lavagem efectuada uma centrifugação de 10 min a 3000 rpm. Ao final das lavagens e respectivas centrifugações dos eritrócitos, adicionou-se 2 ml de água bidistilada fria, agitando e permanecendo em repouso a 4ºC durante 15 min. Concluindo o procedimento, foi realizada uma lavagem com 0.01mol/l de tampão fosfato pH 7,0. A atividade sérica da enzima glutationa-reductase (GR) foi determinada utilizando um kit comercial (Randox Glutathione Reductase Control Sera GR 2608) a 340nm, seguindo as especificações do fabricante. A preparação da amostra consistiu inicialmente na centrifugação de 0.5ml do sangue Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 total a 2000 rpm durante 5 minutos e posterior separação do plasma. Foram efectuadas 4 lavagens dos eritrócitos com solução NACL 0,9%, sendo após cada lavagem, os mesmos centrifugados a 2000 rpm durante 5 minutos. O MDA plasmático foi analisado em concordância com o método descrito por Ronh et al. com algumas adaptações e mensurado através da formação de substâncias reactivas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) a 535nm. Sumariamente, o plasma foi incubado a 25ºC em 500µL de uma solução contendo 175mM KCl, 10 mM Tris, pH 7.4. Amostras de 50 µL foram retiradas e diluídas com 450 µL de reagentes TBARS (1% ácido tiobarbitúrico, 0.6N HCl, 0.0056% hidroxitolueno butilado). Posteriormente, a mistura foi aquecida a 80-90ºC durante o período de 15 minutos e recolocada em gelo por um período de 10 minutos que antecederam a centrifugação numa centrífuga de Eppendorf (1500g) durante 5 minutos. O conteúdo de TBARS formado foi calculado utilizando o coeficiente de extinção molar de 1.56 x 105m-1 cm-1 e expresso em nanomoles de MDA por miligrama de proteína. A atividade da enzima glutationa peroxidase (GPx) nos eritrócitos foi determinada utilizando um kit comercial Randox RanSel Cat.No.SC 692 a 340 nm. A atividade sérica da enzima gama-glutamiltransferase (GGT) foi determinada pelo método turbidimétrico a 340 nm, utilizando um kit comercial HORIBA ABX Pentra GGT CP (Montpellier, FR, Refa A11A01625). O status antioxidante total (TAS) foi medido espectrofotometricamente utilizando um kit comercial (Randox NX2332 Crumlin, UK). Esta determinação foi baseada na redução de radicais livres (ABTS.+–2.2–azinobis(3 ehylbenzothiazoline-6-sulfonate) medida como um decréscimo na absorvência a 600nm aos 3 minutos. O radical ABTS.+ é formado pela interacção do ABTS com as espécies de radicais de ferilmioglobina, gerados pela activação da met-mioglobina com o peróxido de hidrogénio. A diminuição da absorvência do radical por acção de antioxidantes plasmáticos foi comparada e induzida pelo Tropos (6-hidroxi-2,5,7 – tetrametichromano-2 ácido carboxílico). Os resultados foram expressos em mmol/l de equivalentes de Trolox (600 nm). O conteúdo de ácido úrico foi determinado através de um método enzimático a 550nm utilizando um kit comercial 95 HORIBA ABX Pentra (Montpellier, FR, Refa A11A01670) de acordo com as determinações específicas do fabricante. Tratamento estatístico Foram utilizados como medidas descritivas a média e o desvio-padrão. Dado o reduzido valor das amostras e devido ao facto dos referidos parâmetros analisados no presente estudo não reunirem os pressupostos necessários para a adopção dos procedimentos paramétricos (homogeneidade da variância e normalidade da distribuição) foram utilizados os testes não-paramétricos. Para a comparação das médias pré e pós-esforço obtidas nas respectivas provas de triatlo analisadas, foi utilizado o teste de Wilcoxon para medidas repetidas e para a análise intergrupos recorreu-se ao teste de Mann-Whitney para amostras independentes. Para verificar os níveis de associação entre as variáveis investigadas no estudo, recorreu-se ao coeficiente de correlação de Spearman. Os níveis de significância foram mantidos em 5% (p < 0,05). Os procedimentos estatísticos foram tratados e analisados nos programas Excel™2000 e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS™. Versão 16.0). Resultados Relativamente aos indicadores eritrocitários pós-esforço (Tabela I), importam salientar os aumentos observados nos atletas de elite relativos à concentração de glóbulos rubros (CGR), a concentração de hemoglobina (Hb) e índices hematimétricos: concentração de hemoglobina globular média (CHGM) e hemoglobina globular média (HGM) e a diminuição no volume globular médio (VGM). No que respeita aos valores basais, ambos os grupos não evidenciaram diferenças nos respectivos eritrogramas. Após a prova de triathlon half ironman foi observado no grupo elite, o aumento de 36,2% na actividade da enzima SOD eritrocitária (p = 0,019) e a diminuição de 8,4% na actividade da enzima glutationa-reductase (p = 0,043), enquanto no grupo não-elite, verificou-se somente a diminuição de 21,7% da actividade da enzima GR (p=0,049), conforme demonstrado na Tabela II. Tabela I - Efeito da prova de triathlon longo nos diferentes indicadores eritrocitários dos atletas. Indicadores Hematológicos CGR (106/µL ) Hb (g/dL) Hct (%) VGM (fL) HGM (pg) CHGM (g/dL) Triatletas Elite (n=5) x; x̄ ± Dp Pré-Prova Pós-Prova 4,8 5,0 ± 0,1* 14,4 ± 1,5 14,7 ± 1,2* 41,5 ± 0,9 42,2 ± 0,7 84,9 ± 3,6 83,8 ± 3,7* 29,3 ± 1,5 29,7 ± 1,4* 34,5 ± 1,0 35,4 ± 1,2* RDW (%) 13,0 ± 0,8 13,1 ± 0,7 p 0,038 0,045 0,322 0,020 0,017 0,010 Triatletas não-Elite (n=5) x; x̄ ± Dp Pré-Prova Pós-Prova 4,9 ± 0,4 5,0 ± 0,3 14,5 ± 0,5 14,6 ± 0,1 42,0 ± 4,5 42,0 ± 3,4 85,9 ± 1,8 85,6 ± 1,6 30 ± 0,5 30,1 ± 0,5 34,9 ± 0,6 35,1 ± 0,3 p 0,540 0,371 0,922 0,078 0,893 0,412 0,749 13,0 ± 0,5 0,290 Nota: Valores expressos pela média ± desvio-padrão (x; x̄ ± Dp). * p < 0.05, vs. Pré-Prova. 12,9 ± 0,3 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 96 Tabela II – Efeito da prova de triathlon longo nos indicadores de stress oxidativo dos atletas. Stress Oxidativo SOD (U/gHb) GPX (U/gHb) GR (U/l) TAS (mmol/l) TBARS(µmol/l) AU (mg/dl) Triatletas Elite (n=5) x; x̄ ± Dp Pré-Prova Pós-Prova 538,4±108,8 733,8 ± 119,8* 55,5 ± 7,4 53,6 ± 3,9 79,7 ± 4,4 73,5 ± 1,6* 1,7 1,8 ± 0,1 4 ± 1,1 4,4 ± 0,8 5,6 ± 1,1 6,3 ± 2,1 p 0,019 0,500 0,043 0,068 0,225 0,334 Triatletas não-Elite (n=5) x; x̄ ± Dp Pré-Prova Pós-Prova 510,1 ± 135,6 694,3±138,3 50,1 ± 9,2 45,6 ± 8,3 81,3 ± 13,4 66,8 ± 3,8* 1,8 ± 0,1 1,8 3,7 ± 0,7 3,9 ± 0,9 6,0 ± 1,4 6,6 ± 2,0 p 0,138 0,225 0,049 0,893 0,786 0,588 * p < 0.05, vs. Pré-Prova Uma comparação intergrupos dos referidos indicadores de stress oxidativo analisados na prova de triathlon longo half ironman, permite verificar que relativamente aos valores basais, assim como os valores pós-esforço, não foram encontradas diferenças entre os respectivos grupos de atletas analisados. Discussão A realização de esforços físicos prolongados e de elevada intensidade induz um stress físico e metabólico capaz de promover importantes alterações no perfil hematológico dos atletas de provas de resistência [2,13,14]. Neste sentido e assumindo uma perspectiva longitudinal, centrada nas adaptações crónicas moduladas pelo treino aeróbio regular e sistemático, a constatação de reduzidos valores do hematócrito, como verificado nos triatletas de elite, mostra-se consensual na literatura e parece resultar de uma sobrecompensação induzida pelos diversos episódios de hemoconcentração aguda determinados pelas intensas cargas de treino, o que por vezes, se traduz numa incorrecta interpretação dos valores presentes do eritrograma, indicando um falso estado de anemia, denominada pseudoanemia dilucional ou anemia do desportista [15]. De facto, num estudo realizado com 92 ciclistas masculinos treinados, verificou-se uma diminuição significativa dos valores referentes à eritrometria, hematócrito e hemoglobina concomitante ao aumento das respectivas cargas de treino [16]. A hipervolemia evidenciada em atletas de provas de endurance, por vezes superior a 20%, pode ser atribuída ao aumento dos níveis plasmáticos de renina, aldosterona e vasopressina, como forma de compensação da redução aguda no volume plasmático sanguíneo durante o esforço, e ao aumento da concentração plasmática de albumina, a qual eleva a osmolalidade do sangue, aumentando de forma significativa o volume líquido extracelular, promovendo o aumento do débito cardíaco e a diminuição da viscosidade, optimizando a microcirculação [2,15-17,21]. Estas alterações têm sido atribuídas a factores como a hemodiluição acentuada, a desproporção entre a hematopoiese e a ocorrência da hemólise intravascular ou a deficiência/redução de ferro no organismo [17,16]. Contudo, o comportamento dos diferentes indicadores eritrocitários em atletas pode mostrar-se conflitual, podendo ser condicionado por diversos factores, entre os quais se salientam a duração e a intensidade das cargas de treino, o estatuto nutricional e o nível de treino do atleta [18]. No que respeita a intensidade das cargas de treino, alguns autores [19] constataram uma redução significativa de 73% dos níveis séricos de ferritina após submeterem um grupo de 11 ciclistas treinados a um programa de 6 semanas de treino intenso intervalado. Este resultado suporta um estudo posterior [20] que estabeleceu evidências de que a realização de esforços físicos de elevada intensidade induz uma diminuição dos níveis séricos de ferritina, aumento da absorção intestinal de ferro e redução das reservas de ferro no fígado e na medula óssea. Um aumento da massa eritrocitária traduz-se na melhoria da prestação em esforços de carácter aeróbio, visto que os eritrócitos novos apresentam uma maior capacidade de deformação, o que favorece um transporte mais eficiente do oxigénio para o tecido muscular [16]. A deformação do eritrócito é influenciada pela fluidez interna, pela relação volume/área da superfície celular e pelas propriedades físicas da membrana, como por exemplo, a composição dos fosfolípidos da membrana [21]. Em linha de convergência, um estudo realizado com ciclistas treinados constatou que os eritrócitos presentes nestes atletas apresentavam uma maior capacidade de deformação comparativamente aos indivíduos destreinados, sendo também verificada uma menor percentagem de células densas e um volume globular médio (VGM) superior, o que constitui um indicativo de elevada proporção de células jovens (turnover eritrocitário) [22]. Importa salientar, que uma análise do perfil hematológico referente aos índices hematimétricos VGM, HGM e o RDW, apresentados pelos triatletas no momento pré-prova, permite-nos constatar a ausência de sintomas de anemias microcítica (VGM < 80fl) ou macrocítica (VGM > 100fl), assim como quadros sugestivos de hipocromia (HGM < 27pg) e talassemia (VGM < 80fl; HGM < 27pg e RDW > 15%). Após a realização da prova, foram constatados nos triatletas de elite, aumentos dos valores relativos à concentração de glóbulos rubros e a concentração de hemoglobina. O aumento da viscosidade sanguínea (hemoconcentração) verificado no período imediatamente após o exercício físico é normalmente atribuído ao incremento dos valores do hematócrito, resultante da transferência de fluidos do sangue para o espaço intersticial, por meio de uma aumentada permeabilidade Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 capilar e elevada pressão osmótica na musculatura activa [16,23]. A presente asserção suporta a diminuição constatada, nos atletas de elite, dos valores médios referentes ao VGM e o aumento dos valores relativos à CHGM, comportamentos que indiciam a ocorrência de uma desidratação, caracterizada por uma alteração do fluido do compartimento intracelular do eritrócito para o espaço intravascular [2,24]. Relativamente ao comportamento dos indicadores de stress oxidativo, uma análise da tabela II permite-nos verificar um aumento da actividade da enzima SOD eritrocitária no grupo elite (p < 0,05), o que evidencia uma condição acrescida de stress oxidativo induzido pela respectiva prova. Efectivamente, a enzima SOD tem como função principal catalisar a conversão do radical superóxido (O2●-) em oxigénio (O2) e peróxido de hidrogénio (H2O2), estando o aumento da sua actividade relacionado com a resistência aumentada ao stress oxidativo [25,26]. O aumento da actividade da enzima SOD eritrocitária, evidenciado nos atletas de elite, corrobora os estudos anteriores realizados com atletas de natação [27], ciclismo [28] e corrida [29-31], embora conflitue com os resultados encontrados em atletas competitivos de triathlon [7] e em ciclistas profissionais [32], a referida actividade enzimática pós-esforço se mostrou inalterada. Estudos similares, porém contemplando amostras de atletas de triathlon de distância olímpica (1,5km de natação, 40 km de ciclismo e 10 km de corrida) verificaram, contrariamente ao observado no presente estudo, uma diminuição significativa da atividade da enzima SOD eritrocitária [33-35]. Esta discrepância no comportamento da atividade da enzima SOD pode resultar dos diferentes procedimentos de avaliação adotados nos referidos estudos, assim como do modelo de exercício físico agudo realizado. Adicionalmente, importa aduzir a influência de factores como a intensidade do esforço e o balanço inicial das enzimas antioxidantes na geração de diferentes espécies reactivas de oxigénio [36]. Em convergência, alguns autores reiteram a importância do estado de treino na prevenção dos danos oxidativos induzidos pelos esforços físicos prolongados, uma vez que indivíduos treinados apresentam uma maior população de eritrócitos jovens, os quais se mostram mais resistentes ao stress oxidativo, reduzindo a incidência de hemólise [37]. Neste contexto, o treino aeróbio parece constituir um importante fator de ativação do sistema enzimático antioxidante, tendo em vista as espécies reactivas produzidas durante o estímulo da contracção muscular desempenharem um papel preponderante no processo da adaptação muscular ao stress oxidativo, através da ativação da transdução de sinais para a síntese de enzimas antioxidantes sensíveis ao estado redox [38,39]. A substantivar, as enzimas antioxidantes contêm uma sequência de genes reguladores sensíveis à alteração do estado redox que interagem com fatores de transcrição, possibilitando a regulação da sua expressão genética [40]. Assim, o aumento da actividade da SOD eritrocitária, observado no grupo elite, poderá ser justificado pela ação da atividade contráctil 97 no processo de sinalização intracelular, condicionada pelas espécies reativas de oxigénio e nitrogênio (ERON), conduzindo à expressão de genes responsáveis pela codificação de proteínas antioxidantes [38]. No que respeita ao comportamento da atividade plasmática da enzima GR, caracterizada pelas diminuições (p < 0,05) de 8,2% e 21,7% nos grupos elite e não-lite, respectivamente, corrobora o comportamento observado em estudos realizados com atletas de provas similares [7,33,35]. A enzima GR actua na detoxificação das ERO, mais especificamente no controlo dos níveis de H2O2 celular, sendo fundamental para o normal funcionamento da enzima antioxidante GPx [41]. De facto, a interacção das enzimas GPx e GR sobre o equilíbrio redox celular GSH/GSSG condiciona os níveis intracelulares de GSH [42]. A diminuição na actividade da enzima GR nos respectivos grupos de atletas analisados parece estar associada à diminuição da concentração de NADPH, um importante substrato que actua como co-factor e agente redutor fundamental na reação de redução da glutationa oxidada (GSSG) à glutationa reduzida (GSH), catalisada pela enzima GR. No tecido muscular esquelético, a elevada oxidação da glutationa resulta no aumento da razão GSSG/GSH, favorecendo a ocorrência de stress oxidativo [26,46,47]. Nessa condição, o fígado promove o aumento da libertação de glutationa para a circulação sanguínea, elevando a captação e a capacidade antioxidante do tecido muscular esquelético durante o processo de contracção [48]. A glutationa é predominantemente regenerada no músculo esquelético e no fígado, a partir do NADPH, um importante produto da via das pentoses, utilizado como substrato pela enzima GR [49]. Contudo, este processo de regeneração da glutationa é regulado pelas concentrações de glucose-6-fosfato (G6-P), um intermediário da via glicolítica, cuja concentração é mantida a partir da degradação do glicogénio [50]. Assim, em resposta a realização de esforços físicos prolongados como as provas de triathlon, a depleção das concentrações endógenas de glicogénio muscular e hepático reduziria a actividade da via glicolítica, diminuindo a disponibilidade de G6-P como substrato, favorecendo a alteração do estado redox intracelular para um estado mais oxidado, podendo desta forma, conduzir ao aumento na oxidação dos grupos tióis de proteínas com funções sinalizadores importantes durante a actividade muscular [26,46]. Conclusão Os resultados do presente estudo revelam a constatação de evidências de stress oxidativo, após a realização da prova de triathlon longo, somente nos atletas do grupo elite. Esta resposta, traduzida em valores acrescidos da atividade da enzima SOD eritrocitária, reforça a alteração sistémica pró-oxidante induzida pelos esforços que requerem elevado consumo de oxigénio. Todavia, não foram verificadas evidências de danos oxidativos aos lipídeos, mensuradas no comportamento dos valores de TBARS. 98 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Referências 1. Saad PC. Histologic and histochemical analysis of fibers of rectus of abdomen and paraesternal intercostal muscles of Wistar rats after swimming exercise. Brazilian Journal of Sports Medicine 2002;8(4):63-72. 2. Rietjens GJ, Kuipers H, HartjensF, Van Breda E. Physiological, biochemical and phsycological markers of strenuous training-induced fatigue. Int J Sports Med 2005;26(1):16-26. 3. Wehrlin J, Zuest P, Marti B. Live high train low for 24 days increases hemoglobin mass and red cell volume in Elite endurance athletes. J Appl Phisyol 2006;100:1938-45. 4. 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La Scala Teixeira*, Cláudio Zanin Eduardo*, Kety Magalhães Konda*, Rodrigo Luiz da Silva Gianoni* *Especialista em Fisiologia do Exercício, Prefeitura Municipal de Santos, Santos/SP Resumo O objetivo foi avaliar a prevalência de excesso de peso (EP) em crianças e adolescentes da cidade de Santos/SP, através de dois métodos de avaliação antropométrica: índice de massa corporal (IMC) e percentual de gordura corporal (%G) através de dobras cutâneas, comparando os resultados. 526 indivíduos (5-17 anos) praticantes de exercício físico (2 vezes/semana) foram submetidos às avaliações de massa corporal, estatura, dobra cutânea triciptal e subescapular e IMC. O IMC foi classificado de acordo com os referenciais da WHO (2007), consideradas EP as classificações “sobrepeso” e “obesidade”. O %G utilizou protocolo de Slaughter et al. e classificação de Lohman, sendo consideradas EP as classificações “moderadamente alto”, “alto” e “muito alto”. No IMC, 42,8% do total apresentou EP. Já, no %G, 46,1%. Quando associados os resultados, 37,6% do total apresentou EP em ambos os métodos. Com relação à parte da amostra considerada adequada no IMC, 15,1% apresentaram %G em EP, caracterizando “obesidade do peso normal”. Dentre aqueles que apresentaram classificações em EP no IMC, 12,0% tinham o %G adequado, o que indica um sobrepeso provindo de massa magra, quadro inverso à obesidade do peso normal. Em conclusão, observou-se alta prevalência de EP na amostra. Os dois métodos utilizados revelaram prevalência semelhante de EP no geral, porém, a distribuição do EP diferiu entre a amostra. Abstract The aim of this study was to assess the prevalence of overweight (OW) in children and adolescents in Santos/SP, using two methods of anthropometric measurements: body mass index (BMI) and percentage body fat (%BF) through skinfold, comparing the results. 526 individuals (5-17 years old) practitioners of physical exercise (2 times/week) were assessed with body weight, height, triceps and subscapular skinfold and BMI. BMI was classified according to the references of WHO (2007), OW classifications considered “overweight” and “obesity.” The %BF protocol used was Slaughter et al. and classification of Lohman, OW classifications being considered “moderately high”, “high” and “very high”. In BMI, 42.8% out of 526 had OW, but in %BF had 46.1%. When associated the results, 37.6% out of total individuals showed OW in both methods. In relation to part of the sample which was considered adequate in BMI, 15.1% had %BF in OW, characterizing “normal weight obesity.” Among those with BMI classifications in the OW, 12.0% had adequate %BF, which indicates an overweight coming from lean mass, the inverse of the normal weight obesity. In conclusion, we observed a high prevalence of OW in the sample. Both methods revealed a similar prevalence of OW in general, however, the distribution of the OW differed in the sample. Key-words: obesity, overweight, children, normal weight obesity. Palavras-chave: obesidade, excesso de peso, crianças, obesidade do peso normal. Recebido em 7 de fevereiro de 2012; aceito em 8 de junho de 2012. Endereço para correspondência: Cauê Vazquez La Scala Teixeira, Pça Eng. José Rebouças, S/N , Ponta da Praia, 11030-000 Santos SP, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Introdução O excesso de peso, incluindo sobrepeso e obesidade, é um grave problema de ordem mundial que atinge crianças e adolescentes em proporções crescentes [1]. No Brasil parece estar havendo aumento nos valores de IMC de crianças e adolescentes com o passar dos anos, aumentando a prevalência de excesso de peso nesta faixa etária [2]. O excesso de peso é caracterizado por um acúmulo excessivo de gordura corporal, o qual pode trazer algumas complicações à saúde. A obesidade, por exemplo, é considerada um fator de risco cardiovascular, além de estar intimamente associada com o desenvolvimento de doenças como hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e as dislipidemias [3]. Oliveira et al. [4] afirmam que a obesidade na infância e adolescência é um importante fator de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares na vida adulta. No entanto, evidências recentes mostram forte associação do excesso de peso com o desenvolvimento dessas doenças já na infância [5]. Para detecção do excesso de peso, o índice de massa corporal (IMC) costuma ser um dos indicadores antropométricos mais utilizados, principalmente em estudos epidemiológicos, tendo em vista sua praticidade e boa correlação com a composição corporal. No entanto, este método de avaliação antropométrica apresenta algumas limitações. Por se tratar de um método que leva em consideração somente mensurações de massa corporal e estatura, o mesmo não permite quantificar os componentes corporais, como a massa de gordura e a massa corporal magra [6]. Sendo assim, caso um indivíduo apresente seu IMC em índices de excesso de peso, torna-se impossível afirmar qual a origem desse peso adicional (tecido adiposo ou tecido magro). Para minimizar esse fator limitante, outros métodos de avaliação antropométrica são sugeridos. O método de dobras cutâneas, por exemplo, é um método duplamente indireto que permite a quantificação da gordura corporal. No entanto, a aplicação desse método exige alguns cuidados especiais, como a preparação dos avaliados e a experiência dos avaliadores, fatores que limitam sua aplicação em estudos epidemiológicos [6]. Com base nas vantagens e desvantagens de ambos os métodos e com o intuito de verificar sua aplicabilidade e confiabilidade, o objetivo do presente estudo foi avaliar a prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes da cidade de Santos, SP, através de dois métodos distintos de avaliação antropométrica: IMC e percentual de gordura corporal (%G) através do método de dobras cutâneas, bem como comparar os resultados dos dois métodos. Material e métodos Sujeitos 526 crianças e adolescentes (292 meninos e 234 meninas) com idade entre 5 e 17 anos, frequentadores de um centro 101 esportivo municipal da cidade de Santos, SP, praticantes de uma das seguintes modalidades, com frequência semanal de 2 vezes e duração de 1 hora por sessão: basquetebol, biathlon, ciclismo, futsal, ginástica rítmica, handebol, judô, karatê, natação, patinação, voleibol. Instrumentos e procedimentos Os indivíduos foram avaliados após convite formal aos pais e/ou responsáveis, enviado por intermédio dos professores de cada modalidade. Todos os pais ou responsáveis assinaram termo de consentimento esclarecido e foi facultado o acompanhamento durante a realização das avaliações. Os indivíduos foram orientados previamente a não praticar atividade física no dia da avaliação, bem como não fazer refeição pesada no período de duas horas antes do horário agendado para avaliação. Todos os procedimentos foram realizados com os indivíduos estando descalços e trajando roupas leves ou trajes de banho. A equipe de avaliadores foi composta por profissionais de educação física com experiência mínima de 3 anos nas avaliações antropométricas efetuadas. Os instrumentos e procedimentos adotados durante as avaliações foram os seguintes: • Massa corporal: foi utilizada balança antropométrica de marca Toledo, modelo 2096PP/2, com capacidade máxima de 200 quilogramas e precisão de 50 gramas. O procedimento adotado foi baseado nas recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte [7]. • Estatura: foi utilizado estadiômetro profissional de marca Sanny, com altura máxima de 211,5 centímetros e precisão de 1 milímetro. Foi aferida de acordo com os procedimentos recomendados pelo ACSM [7]. • IMC: foi calculado através da divisão dos valores de massa corporal (quilograma) pelo quadrado da estatura (metro). Para identificação do percentil correspondente ao valor de IMC para a idade, foi utilizado o software WHO AnthroPlus v1.0.2 e para classificação, foi utilizado referencial proposto pela Organização Mundial de Saúde [8,9], sendo consideradas como excesso de peso, no presente estudo, as classificações “sobrepeso” e “obesidade” (percentil > 85): • Composição corporal: foi utilizado adipômetro científico de marca Sanny, confeccionado em policarbonato, com capacidade de 0 a 78 milímetros e precisão de 0,1 milímetro. Para estimativa do percentual de gordura, foi adotado o protocolo proposto por Slaughter et al. [10], composto por duas dobras cutâneas (tríceps e subescapular). Para cálculo do valor percentual da gordura corporal foi utilizado software Sapaf Jovem v1.0, Infodata, e o valor obtido foi classificado de acordo com o proposto por Lohman [11], sendo consideradas como excesso de peso, no presente estudo, as classificações “moderadamente alto”, “alto” e “muito alto”. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 102 Resultados Analisando os resultados da avaliação do IMC, 42,8% da amostra apresentou excesso de peso, sendo observada uma prevalência ligeiramente maior no sexo masculino (43,5%) em comparação ao feminino (41,9%). Esses resultados podem ser observados abaixo (Tabela I). Tabela I - Frequência relativa e absoluta da classificação do IMC. Classificação Baixo peso Adequado Sobrepeso Obesidade Total %(N) - T %(N) - M %(N) - F 1,9(10) 2,1(6) 1,7(4) 55,3(291) 54,4(159) 56,4(132) 21,1(111) 19,2(56) 23,5(55) 21,7(114) 24,3(71) 18,4(43) 100,0(526) 100,0(292) 100,0(234) % = frequência relativa; N = frequência absoluta; T = total; M = masculino; F = feminino; Adequado Sobrepeso Obesidade = zona de excesso de peso Com relação à composição corporal utilizando o valor de percentual de gordura para classificação, 46,1% da amostra apresentou excesso de peso. Neste método, ao contrário do primeiro (IMC), foi observada uma prevalência ligeiramente maior de excesso de peso no sexo feminino (48,3%), quando comparado ao masculino (44,1%). Os resultados referentes à avaliação do percentual de gordura (%G) estão apresentados abaixo (Tabela II). Total Muito baixo 1,7(5) Baixo 18,2(53) Normal 65,0(189) 55,3(291) Moderadamente alto 13,1(38) Alto 1,7(5) Muito alto 0,3(1) Muito baixo 0,0(0) Baixo 0,0(0) Normal 22,5(25) 21,1(111) Moderadamente alto 27,0(30) Alto 32,5(36) Muito alto 18,0(20) Muito baixo 0,0(0) Baixo 0,0(0) Normal 1,7(2) 21,7(114) Moderadamente alto 3,5(4) Alto 28,1(32) Muito alto 66,7(76) 100,0(526) Total 100,0(526) % = frequência relativa; N = frequência absoluta; Tabela IV - Associação entre os resultados das avaliações de IMC e %G – masculino. Classificação IMC %(N) Tabela II - Frequência relativa (%) e absoluta (N) da classificação do %G – geral. Classificação Muito baixo Baixo Ótimo ou normal Moderadamente alto Alto Muito alto Total %(N) - T %(N) - M %(N) - F 1,1(6) 0,4(1) 2,1(5) 11,0(58) 12,7(37) 9,0(21) 41,8(220) 42,8(125) 40,6(95) 13,7(72) 8,9(26) 19,6(46) 13,9(73) 14,0(41) 13,7(32) 18,5(97) 21,2(62) 15,0(35) 100,0(526) 100,0(292) 100,0(234) Baixo peso 2,1(6) Adequado 54,4(159) Sobrepeso 19,2(56) Obesidade 24,3(71) Total 100,0(292) % = frequência relativa; N = frequência absoluta; T = total; M = masculino; F = feminino; = zona de excesso de peso Como pôde ser observado, no método de dobras cutâneas foi observada uma prevalência de excesso de peso ligeiramente maior que no método de IMC. A associação dos resultados de ambos os métodos pode ser observada a seguir (Tabelas III, IV e V): Tabela III - Associação entre os resultados das avaliações de IMC e %G – total. Classificação IMC Baixo peso %(N) 1,9(10) Classificação %G Muito baixo Baixo Normal Moderadamente alto Alto Muito alto %(N) 10,0(1) 50,0(5) 40,0(4) 0,0(0) 0,0(0) 0,0(0) = zona de excesso de peso Classificação %(N) %G Muito baixo 0,0(0) Baixo 66,7(4) Normal 33,3(2) Moderadamente alto 0,0(0) Alto 0,0(0) Muito alto 0,0(0) Muito baixo 0,6(1) Baixo 20,8(33) Normal 68,6(109) Moderadamente alto 7,5(12) Alto 2,5(4) Muito alto 0,0(0) Muito baixo 0,0(0) Baixo 0,0(0) Normal 23,2(13) Moderadamente alto 21,4(12) Alto 34,0(19) Muito alto 21,4(12) Muito baixo 0,0(0) Baixo 0,0(0) Normal 1,4(1) Moderadamente alto 2,8(2) Alto 25,4(18) Muito alto 70,4(50) % = frequência relativa; N = frequência absoluta; so de peso = zona de exces- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Tabela V - Associação entre os resultados das avaliações de IMC e %G – feminino. Classificação IMC %(N) Baixo peso 1,7(4) Adequado 56,4(132) Sobrepeso 23,5(55) Obesidade 18,4(43) Total 100,0(234) Classificação %G Muito baixo Baixo Normal Moderadamente alto Alto Muito alto Muito baixo Baixo Normal Moderadamente alto Alto Muito alto Muito baixo Baixo Normal Moderadamente alto Alto Muito alto Muito baixo Baixo Normal Moderadamente alto Alto Muito alto % = frequência relativa; N = frequência absoluta; %(N) 25,0(1) 25,0(1) 50,0(2) 0,0(0) 0,0(0) 0,0(0) 3,0(4) 15,1(20) 60,6(80) 19,7(26) 0,8(1) 0,8(1) 0,0(0) 0,0(0) 21,8(12) 32,7(18) 30,9(17) 14,6(8) 0,0(0) 0,0(0) 2,3(1) 4,6(2) 32,6(14) 60,5(26) = zona de excesso de peso Analisando a associação dos resultados dos dois métodos, 37,6% da amostra apresentou excesso de peso em ambos os métodos. Nesta associação, o sexo masculino apresentou maior prevalência de excesso de peso (38,7%) que o feminino (36,3%). Com relação à parte da amostra considerada adequada quanto ao IMC, 15,1% apresentaram %G em níveis de excesso de peso, caracterizando um quadro de “obesidade do peso normal” ou “neo-obesidade”, termo recentemente proposto por pesquisadores americanos [12]. Esse quadro foi maior no sexo feminino (21,2%) do que no masculino (10,1%). Em contrapartida, dentre aqueles que apresentaram classificações em excesso de peso no IMC, 12,0% tinham o %G em nível ótimo, o que possivelmente indica um sobrepeso provindo de massa corporal magra (ex. massa óssea, massa muscular). Nesse contexto, 13,7% das meninas e 11,0% dos meninos apresentaram %G normal apesar do IMC estar classificado como excesso de peso. Discussão Com base nos resultados de nosso estudo, a prevalência de excesso de peso na amostra avaliada foi alta em ambos os 103 métodos, fato preocupante tendo em vista a possibilidade aumentada de desenvolvimento de co-morbidades associadas. Em pesquisa recente divulgada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [13], a prevalência de excesso de peso no IMC (sobrepeso + obesidade) em meninos de 5-9 anos de idade foi de 34,8%, enquanto nas meninas de mesma idade, foi de 32%. Já, na faixa etária de 10-19 anos, o excesso de peso em meninos e meninas correspondeu a 21,7% e 19,4%, respectivamente. Esses valores foram menores do que os observados no presente, indicando que a amostra avaliada apresentou prevalência de excesso de peso acima da média nacional. No presente estudo, as prevalências de excesso de peso nos dois métodos analisados foram semelhantes, porém, diferindo em sua distribuição entre a amostra. Pesquisa que comparou a predição da quantidade de gordura corporal entre cinco métodos distintos de avaliação, sendo quatro protocolos de dobras cutâneas e o IMC, concluiu que seus resultados apresentaram evidências de que, embora os valores de gordura corporal preditos por todos os métodos analisados, quando considerados em grupos, se apresentassem de forma similar, foram identificados vieses individuais excepcionalmente elevados [14]. Apesar de a amostra utilizada ser composta por adultos jovens, esses achados corroboram os de nosso estudo. A comparação entre os resultados de IMC e %G feita em nosso estudo permitiu a observação de pontos falhos no IMC, pois 15,1% da amostra considerada normal no IMC apresentou gordura corporal além dos níveis considerados normais. Em estudo semelhante [15], porém, realizado em adultos chineses, mais de 30% dos indivíduos que apresentaram excesso de gordura corporal foram classificados como eutróficos pelo IMC, demonstrando sua baixa sensibilidade na identificação do excesso de gordura corporal. Esse quadro de excesso de gordura corporal sem elevação do IMC é denominado, atualmente, como obesidade do peso normal ou neo-obesidade [16]. Romero-Curral et al. [12] afirmam que a neo-obesidade é associada com alta prevalência de alterações cardiometabólicas, síndrome metabólica e outros fatores de risco cardiovasculares em adultos. Já, em crianças e adolescentes neo-obesas, supõe-se que as alterações supramencionadas também possam estar evidenciadas, no entanto, nenhum estudo foi encontrado. Por outro lado, 12% dos indivíduos que apresentaram IMC em excesso de peso tinham o %G em níveis adequados para a saúde. O sobrepeso presente nesses indivíduos deve-se ao peso do tecido magro (ossos, músculos). Esse quadro se caracteriza pela inversão à obesidade normal, sendo assim, esses indivíduos poderiam ser considerados “falsos gordos”. Nenhum estudo que fizesse análise semelhante foi encontrado. Sugere-se a realização de mais pesquisas semelhantes, a fim de fornecer dados quantitativos relacionados ao excesso de peso, obesidade do peso normal e o seu quadro inverso. 104 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Conclusão Foi observada alta prevalência de excesso de peso na amostra avaliada quando em comparação com outros estudos analisados. Esses achados são preocupantes haja vista o aumento do risco do desenvolvimento de doenças associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão arterial. Os dois métodos de avaliação utilizados revelaram prevalência semelhante de excesso de peso no geral, sendo observada, porém, uma ligeira diferença entre os sexos. Tendo em vista as limitações do IMC, a associação dos resultados de ambos revelou, dentre a amostra considerada adequada, prevalência de 15,1% de obesidade do peso normal. Já na parte da amostra classificada com excesso de peso, 12,0% apresentou %G em níveis ótimos, caracterizando sobrepeso provindo de massa corporal magra, ou seja, um quadro inverso à obesidade do peso normal. Apesar da semelhança na prevalência geral de excesso de peso entre os métodos, a distribuição desse excesso de peso diferiu entre as crianças, o que comprova as limitações do IMC e salienta a importância da utilização de métodos mais específicos de avaliação para detecção de excesso de peso. Referências 1. American College of Sports Medicine (ACSM). Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 7a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. 2. Bergmann GG, Bergmann MLA, Pinheiro ES, Moreira RB, Marques AC, Garlipp DC, et al. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 105 ARTIGO ORIGINAL Incidência de escoliose com excesso de carga nas mochilas em crianças de 6 a 10 anos Incidence of scoliosis in 6 to 10 years old children using overloaded backpacks Alisson Guimbala dos Santos Araujo, M.Sc.*, Araceli Legal Guimbala**, Sônia Izidoro Antunes Cidral**, Simone Suzuki Woellner*** *Supervisor do Ambulatório de Disfunções Músculo-Esqueléticas da Faculdade Guilherme Guimbala (FGG), Especialista em Ortopedia e Traumatologia da FGG, **Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da FGG, ***Supervisora do Ambulatório de Neurologia Adulto da FGG, Especialista em Fisioterapia Neurológica da FURB Resumo Abstract Palavras-chave: escoliose, mochilas, escolares. Key-words: scoliosis, backpacks, students. A coluna vertebral é considerada um suporte central forte, porém flexível que suporta a cabeça e o tronco, quando ocorre um desvio nesse suporte chamamos de escoliose. Um dos agravantes da escoliose na fase escolar é a sobrecarga de peso na mochila gerando compensações na criança. Portanto o objetivo foi relacionar o peso da mochila com a prevalência de escoliose em crianças de 6 a 10 anos do ensino fundamental. Os sujeitos foram 109 alunos de ambos os gêneros de duas instituições de ensino da região de Joinville/ SC. Estes foram avaliados através de um protocolo postural, teste de Adams e Allis, medidas antropométricas e questionários autoadministrados pelos alunos. Os resultados demonstraram que 45% dos alunos estavam com excesso de material escolar e desses 38,5% apresentaram escoliose, porém correlacionando com os alunos com carga inferior aos 10% exigidos pela lei nº 10.759 observou-se que a carga excessiva não foi fator determinante para a ocorrência do desvio. Conclui-se então que a prevalência de escoliose no grupo estudado não teve correlação com o excesso de carga, considerando assim que outros fatores não estudados na pesquisa podem ter interferido nas alterações. The vertebral column is a strong central support, yet flexible to support the head and trunk, and the deviation which occurs in the spine is called scoliosis. One of the aggravating factors of scoliosis during school period is the overload in the backpack weight, which generates compensation in the posture. Therefore, the purpose of this study was to link the weight of the backpack with the prevalence of scoliosis in 6 to 10 years old children at primary school. Were assessed 109 students, both male and female, in 2 educational institutions of Joinville/SC. They were assessed using a protocol postural, Adams and Allis test, anthropometric measurements and two questionnaires answered by the students themselves. The results showed that 45% of the students that were carrying overloaded backpacks and 38.5% presented scoliosis; but, by comparison to the students who were carrying less than 10% that is required by law No. 10.759, it was possible to conclude that the overweight was not in fact a determining factor for the occurrence of scoliosis. It is concluded that the prevalence of scoliosis in the study group did not correlate with the excess load, considering that other factors not studied in this research may have interfered with the changes. Recebido em 16 de agosto de 2011; aceito em 4 de novembro de 2011. Endereço para correspondência: Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rua Paulo Henk, 96, 89216550 Joinville SC, Tel: (47) 99710675, E-mail: [email protected] 106 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Introdução A coluna vertebral é formada por uma série de vértebras dispostas uma sobre a outra que quando saudáveis trabalham em harmonia [1]. É constituída por quatro curvas fisiológicas que se classificam em coluna cervical, coluna torácica, coluna lombar, coluna sacral. Envolvendo a coluna encontram-se os músculos maiores e mais superficiais que vão produzir movimentos globais da coluna. Estes músculos quando encurtados causam uma força compressiva sobre os discos [2]. A postura corporal é definida como uma posição mantida com características involuntárias de um organismo em perfeita harmonia e que exige força antigravitacional com a capacidade de passar de um estado de repouso para um estado de movimento [3]. A postura ideal ocorre quando o indivíduo consegue um bom equilíbrio ortostático com menos estresse e tensão nas articulações. Músculos fortes e flexíveis estão menos suscetíveis ao estresse articular [4]. Nestas condições, os músculos funcionam mais eficientemente, e as posições ideais são proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais [5]. Os desvios posturais são comuns nos dias atuais devido à ação de agentes estressores e externos no cotidiano dos indivíduos [1]. Em uma postura normal a coluna vertebral em vista posterior se apresenta em linha reta, quando há um desvio lateral definimos como escoliose, levando assim a deformidades vertebrais [6]. A escoliose caracteriza-se em “C” ou “S”, sendo classificada de acordo com a localização de sua curvatura nas regiões cervicotorácica, torácica, toracolombar ou lombar. Vários fatores podem implicar na alteração da postura, como idiopáticos, congênitos, neuromusculares, antálgicos e posturais [7]. A escoliose é uma das principais ocorrências ortopédicas entre crianças e adolescentes [7]. Existe a escoliose estrutural quando é irreversível e a rotação da coluna que é fixa, podendo ser progressiva. Escoliose funcional ocorre quando não é fixa para os lados da curvatura e geralmente é flexível e não progressiva [8]. Nos primeiros anos escolares o comportamento postural da criança é o grande responsável pelos vícios posturais adquiridos, tendo como considerações a evolução da sua postura ereta, suas condições anatômicas, sua coluna vertebral e as relações estabelecidas com o seu meio [9]. Nos adultos 80% dos problemas posturais têm início na infância, e confirmando-se na adolescência, devido aos maus hábitos do cotidiano durante o crescimento e desenvolvimento, principalmente durante o período escolar [10]. Em idade escolar, as crianças cumprem uma rotina diária de transporte do material didático, e a mochila é uma forma prática e a mais utilizada. A carga da mochila quando superior à capacidade de sustentação dos grupos musculares da criança causa sobrecarga na coluna vertebral, podendo assim ocasionar alterações posturais, dor ou disfunção [11]. A carga pesada da mochila com os efeitos combinados como a posição, forma e tamanho da carga, a sua distribuição, o tempo gasto de transporte, a condição física e as características físicas da criança foram propostos como fatores que foram associados com os desvios posturais [12]. A lei n° 10.759/98 determina que o peso de mochilas, pastas e similares não deve ultrapassar 5% do peso de crianças da pré-escola e 10% do peso do aluno do ensino fundamental, percentual indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) [13]. Observa-se um aumento significativo na incidência de problemas posturais em crianças de todo o mundo, podendo ser a causa mais comum o uso incorreto de mochila escolar. Como o transporte do material escolar é uma rotina diária que se repete durante anos consecutivos, cuidados especiais são necessários para evitar a presença de alterações posturais em médio e longo prazo, trazendo riscos à saúde desta população [9]. Baseado no exposto acima o objetivo da pesquisa foi relacionar o peso da mochila com prevalência de escoliose em crianças de 6 a 10 anos. Material e métodos A pesquisa realizada foi descritiva de campo. Foram avaliados 109 alunos de ambos os gêneros, com idades variando entre 6 e 10 anos em duas escolas diferentes. As avaliações foram realizadas no período de abril a maio de 2011 nas dependências de duas instituições de ensino da rede particular e estadual, mediante a apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais, firmando a disposição do aluno em participar do estudo. A presente pesquisa foi submetida e aprovada pelo comitê de Ética do Hospital Municipal São José (11013) conforme as resoluções nacionais 196/96 e 251/97 relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos. Como instrumento de pesquisa foi utilizado um protocolo criado por Lima et al. [14] e adaptado pelos autores da presente pesquisa para avaliação da postura. Neste protocolo constava a identificação da criança, idade, sexo, lado dominante e presença de dor. Foi verificado o tipo de mochila e seu peso aferido por uma balança EB 9003 Day Home®. A avaliação postural foi realizada numa sala reservada de forma individual, onde as meninas estavam vestidas de shorts e top e os meninos de calção. Foi analisada a altura através da fita métrica WCS® e o peso da criança pela mesma balança citada anteriormente, a convexidade da Cervicotorácica e Torocolombar. Para verificação da existência da escoliose estrutural foi aplicado o teste de Adams, no qual o resultado se torna positivo quando for detectada uma giba posterior nas costelas durante a inclinação para frente. O teste de Allis foi também utilizado para a investigação da existência de um desvio postural [15]. Inicialmente foi feito o questionário administrado pelos autores da pesquisa e logo após efetuou-se a avaliação postural. Não foi realizado registro fotográfico das mesmas e não houve nenhuma intercorrência quanto à avaliação. Após a aplicação dos questionários e avaliações, foi realizado levantamento estatístico, ao qual os dados foram tabulados Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 em planilha do programa Microsoft® Office Excel 2007 com análise estatística descritiva (média e desvio padrão, percentual, mediana, máximo, mínimo, erro padrão). Resultados A partir da análise dos dados coletados pela avaliação postural e questionário, os resultados obtidos serão descritos abaixo. A amostra da pesquisa foi composta por 109 alunos, sendo 64 (58,7%) do gênero feminino e 45 (41,3%) do gênero masculino. Idade, altura e peso dos alunos podem ser observados na Tabela I. Tabela I - Dados relacionados à idade, à antropometria e ao peso da mochila. Idade Altura Peso Peso da Mochila Mínimo 6 1,00 19,6 Máxi- Mémo dia 10 8,3 1,57 1,36 49,1 32,2 Mediana 8 1,36 32 Erro padrão 0,107 0,009 0,681 Desvio padrão 1,113 0,091 7,113 0,2 5,8 3,1 0,098 1,021 3,0 107 O gráfico 2 demonstra a relação do excesso de carga com os desvios apresentados nos alunos avaliados. Pode-se observar que a maior incidência foi a escoliose em C tanto para o grupo com peso menor, quanto para o grupo com peso maior que 10%. Gráfico 2 - Percentual de alunos relacionado ao peso da mochila e tipo de desvio. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 % 35,8% 30,3% 11,9% Menor ou igual 10% Desvio em C Legenda: idade – anos; altura – metros; peso e peso da mochila – kg. 8,3% 6,4% 7,3% Maior que 10% Desvio em S Sem desvio Fonte: dados da pesquisa. Fonte: dados da pesquisa. Entre os alunos avaliados, 92 (84,4%) utilizam mochila com alça e 17 (15,6%) com rodas, 72 (66%) do total avaliado apresentam desvio em C, 22 (20%) em S e 15 (14%) não apresentaram alterações escolióticas. O Gráfico 1 evidencia a relação geral de alunos com desvios. Observa-se que 45% dos alunos avaliados apresentaram carga excessiva maior do que 10% estabelecidos pela lei. O Gráfico 3 esclarece que os alunos avaliados 49 (45%) deles carregam a mochila com peso acima de 10% e que 60 (55%) dos estudantes transportam o material escolar dentro da lei nº 10.759. Gráfico 1 - Percentual de alunos relacionado ao peso da mochila e presença ou ausência de escoliose. Gráfico 3 - Histograma percentual da carga da mochila X números de alunos. Nr alunos 10% 29 24 % 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 20 14 5 9 6 1 47,7% 1 0 - 2,5 2,5 - 5 5 - 7,5 7,5 -1010 -12,5 12,5-1515-17,5 17,5-20 20-22,5 38,5% Percentual Fonte: dados da pesquisa. 7,3% Com desvio Menor ou igual 10% Fonte: dados da pesquisa. 6,4% Sem desvio Maior que 10% No que diz respeito à dor em relação ao excesso de peso da mochila com o fator escoliose verificou-se que 57 (52,3%) relataram algias em alguma parte do corpo. Desses 57 (52,3%), 52 (47,7%) apresentaram algum desvio postural, sendo que 24 (22,0%) estavam com excesso de peso. Dos que não relataram algias foram 52 (47,7%), 42 (38,5%) apresentaram algum desvio e 25 (22,9%) estavam com excesso de peso na mochila. 108 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 No teste de Adams, 53 crianças (48,6 %) tiveram o resultado positivo, sendo que 26 (23,9%) tinham excesso de carga. Já para o teste de Allis 84 (77,1%) apresentaram positividade sendo que 36 (33,0%) estavam com a carga acima do peso. Para os dados relativos aos gêneros, das 64 (58,7%) meninas 57 (52,3%) apresentaram escoliose, sendo que 28 (25,7%) estavam com excesso de carga e dos meninos 45 (41,3%), 37 (33,9) apresentavam desvios e 21 (19,3%) estavam com carga elevada. Discussão Mackenzie et al. [16] comentam que dores nas costas e deformidades são comuns em adolescentes, devido ao uso de mochila. Porém a literatura científica sobre esse assunto é escassa. Estudos epidemiológicos têm identificados o uso de mochila com excesso de peso como fator importante para essa associação. Neste estudo, uma mochila com peso superior a 15% do peso da criança e o uso inadequado podem levar a alterações posturais e da marcha. Dos alunos avaliados 49 (45%) carregam a mochila com peso acima de 10%, segundo a lei nº 10.759, sendo um índice relativamente preocupante, pois 42 (38,5%) deles já apresentam algum tipo de desvio postural, mas comparado com os alunos que utilizam mochilas com peso adequado os dados mostram que o excesso de carga da mochila não seria um fator relevante. Os resultados do presente estudo corroboram a pesquisa realizada por Nery et al. [17] cujo objetivo foi verificar a prevalência de escoliose devido ao sobrepeso corporal e o excesso de peso da mochila escolar em 1340 escolares de 5º a 8º série. Neste conclui-se que o sobrepeso corporal e a mochila escolar com peso excessivo não são fatores significativos na amostra estudada. Bezerra et al. [18] analisaram o andar em crianças de 9 a 10 anos com mochila de duas alças, para verificar se o excesso de peso da mochila trazia alguma alteração postural, e concluíram que a mochila pesada causou alterações. Jing et al. [19] estudaram a cinemática do tronco durante a caminhada com diferentes pesos de mochila em meninos. Foram formados dois grupos um com a idade de 6 anos e outro com 12 anos. Os resultados demonstraram que quando a carga for maior que 15% do peso corporal desvios podem aparecer, sendo que as crianças mais velhas (12 anos) apresentaram maior desvio. Outro estudo realizado por Lopes et al. [20] avaliou 106 crianças 7 a 14 anos com a finalidade de identificar alterações posturais para esta faixa etária quando associado ao uso de mochila, e mostrou que o excesso de peso da mochila bem como o transporte inadequado do material podem trazer algumas desordens posturais. Penha et al. [21] realizaram uma avaliação postural em 132 meninas de 7 a 10 anos e verificaram que alterações posturais nesta faixa etária, como a escoliose, podem ser causa- das por demandas diárias sobre o corpo, incluindo sentar em mobiliário inadequadamente projetado e o uso inadequado de mochilas. O estudo realizado por Ramprasad et al. [22] determinou se o peso da mochila ocasionou desvios na coluna em 200 pré-adolescentes do gênero masculino com idade media de 12,5 anos de escolas secundárias em Mangalore (Índia). Concluiu-se que quando o peso da mochila era superior a 15% das alterações posturais foram encontradas. Negrini et al. [23] esclarecem que a mochila escolar constitui uma carga diária para os escolares. O objetivo dessa pesquisa foi analisar os efeitos da carga nos desvios posturais. Foram estudadas 43 crianças com idade média de 12,5 anos e concluiu-se que o efeito da mochila escolar sobre a postura deve ser mais cuidadosamente avaliado, e que crianças que apresentam dores nas costas poderão apresentar dores quando adultas. Verificou-se que, no presente estudo, a frequência de desvios da coluna vertebral em C foi maior do que em S. O percentual de crianças com teste de Allis positivo foi maior que o teste de Adams, sendo que alterações como a gibosidade teve menor prevalência. Em um estudo realizado por Ferreira et al. [24], com objetivo de descrever a prevalência de escoliose em 104 estudantes do gênero feminino na faixa etária de 11 a 17 anos e correlacionar a medida de gibosidade com medidas radiológicas e utilizando o teste de Adams, os resultados demonstraram que dos 104 estudantes, 46 apresentaram gibosidade significativa, e dentre estes, 18 apresentaram a radiografia confirmando o diagnóstico. Verificou-se, então, a alta prevalência de escoliose pela medida da gibosidade, e que o teste de Adams é útil na detecção precoce, porém a radiografia ajuda na confirmação do diagnóstico. Santos et al. [9] avaliaram a postura de 247 escolares de 1ª a 4ª série do ensino público fundamental para diferenciar as alterações que fazem parte do crescimento fisiológico das compensatórias. Esse estudo epidemiológico conseguiu verificar que desnível e protusão de ombro, escápula alada, hiperlordose lombar e a hiperextensão de joelho fazem parte das alterações posturais fisiológicas e as que fazem parte das alterações compensatórias são inclinação e protusão cervical e rotação medial de fêmur e a hipercifose torácica. Silva et al. [25], com o objetivo de analisar alterações posturais em 21 crianças de 7 a 8 anos em escolas privadas no Município de São Desidério, verificaram que para esta amostra o excesso de peso da mochila trouxe consequências maléficas, como hipercifose, escoliose e contração dos ombros. Outro estudo comenta que embora a comunidade científica reconheça que o transporte de mochila nas crianças da escola primária representa um sério problema, porém suas consequências em termos de alterações posturais e eventuais ocorrências de patologias musculoesqueléticas ainda não são bem compreendidas. Em seu estudo com 359 crianças de 6-10 anos foram avaliadas os mapas de pressão plantar sob condições estáticas na postura ereta com o uso de mochilas. Os Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 resultados demonstraram que excesso de peso pode aumentar o risco de desconforto no pé agindo assim como um cofator no aparecimento de alterações estruturais [26]. Verificando que a prevalência da escoliose em meninas teve resultados homogêneos em relação aos meninos, este estudo não corrobora os resultados de Pereira et al. [27] que realizaram uma triagem em escolares de 10 a 15 anos e concluiram que para este grupo de escolares, a prevalência de casos suspeitos de escoliose é maior no sexo feminino. Com relação à dor, o fator escoliose e o excesso de carga não tiveram resultados significantes nesta faixa etária, ou seja, algias nos alunos com excesso de carga quase não foi relatada. Bernaldz et al. [28] realizaram um estudo com o objetivo de verificar alterações posturais em 21 crianças de 7 a 8 anos. A maioria delas apresentou dor na coluna e as que transportavam o material escolar no ombro relataram nesta região, sendo que 12 delas não apresentaram desvios. Skaggs et al. [29] procuraram verificar quais fatores influenciavam na prevalência de dor nas costas em crianças do ensino médio, tendo particular atenção ao peso da mochila. A amostra populacional foi de 1540 crianças com idade de 11-14 anos e verificou-se qual tipo de mochila era utilizada se de uma alça ou duas. Os resultados demonstraram que 97% das crianças utilizavam mochila, sendo que o uso de mochila com uma ou duas tiras não tinha associação com a dor nas costas, porém recomenda-se mochilas mais leves dentro dos 10% permitidos para crianças na faixa etária estudada. Chow et al. [30] evidenciam que o transporte da mochila pode levar a dores nas costas, e que estudos anteriores examinaram os efeitos do transporte da mochila e as mudanças no desempenho físico, em vez dos efeitos diretos sobre a coluna. Quinze estudantes foram avaliados durante postura normal, sem mochila e carregando mochila com pesos especialmente adaptados aos 10, 15 e 20% do seu peso corporal. Os desvios encontrados foram lordose lombar e cifose torácica e que mochilas com excesso de peso provocam mudanças imediatas na curvatura da coluna, porém dados sobre essa associação ainda são limitados. Conclusão Após a realização do estudo pode-se observar que os alunos avaliados apresentavam um excesso de peso em relação ao material escolar, e a maioria deste grupo apresentou algum tipo de desvio postural. Verificou-se que o transporte diário de excesso de peso nas mochilas utilizadas pelos alunos não foi fator primordial para alterações encontradas. Porém, este estudo apresenta limitações como o baixo número de alunos avaliados não podendo generalizar os dados encontrados. Salienta-se, no entanto, que foi possível observar a correlação procurada no objetivo da pesquisa que foi verificar se o excesso de peso é o que leva a desvios posturais. Conclui-se então que a prevalência de escoliose no grupo estudado não teve correlação com o excesso de carga, mas se torna preocupante com 109 os alunos que já apresentam algum tipo de desvio, pois dos 49 (45%) que estão com a mochila acima da carga, desses 42 (38,5%) apresentavam alguma alteração da coluna vertebral. O presente estudo pode contribuir para dar suporte à evidência de que se deve ter uma preocupação em relação ao peso da mochila, que deve limitar-se aos 10% estabelecidos pela lei nº 10.759 como forma de profilaxia. Deve-se considerar também que outros fatores não estudados na pesquisa podem ter influenciado nas alterações. Referências 1. Rego ARON, Sacartoni FR. Alterações posturais de alunos de 5° e 6° séries do Ensino Fundamental. Fit Perf J 2008;7(1):10-5. 2. Carneiro JAO, Sousa LM, Munaro HLR. Predominância de desvios posturais em estudantes de educação física da universidade estadual do sudoeste da Bahia. Rev Saúde Com 2005;1(2):118-23. 3. Guimarães MMB, Sacco ICN, João SM. Caracterização postural da jovem praticante de Ginástica Olímpica. Rev Bras Fisioter 2007;11(3):213-9. 4. Hashimoto B, Takahagi LS, Pachioni CAS, Ferreira DMA, Pachion FSM. Análise da postura de participantes de um programa postural em grupo. Revista Eletrônica de Fisioterapia da FCT/ UNESP 2009;1(1):46-62. 5. Kussuki MOM, João SMA, Cunha ACP. Caracterização postural da coluna de crianças obesas de 7 a 10 anos. Fisioter Mov 2007;20(1):77-84. 6. Pereira VCG, Fornazari LP, Seibert SN. 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A randomised controlled trial on the effectiveness of bracing patients with idiopathic scoliosis: failure to include patients and lessons to be learnt. Eur Spine J 2010;19(5):747-53. 12. Mohan M, Singh U, Quddus N. Effect of backpack loading on cervical and shoulder posture in Indian school children. Indian Journal Physiotherapy Occupational Therapy 2006;1:3-12. 13. BRASIL. Lei promulgada n° 10.759, de 16 de junho de 1998. Dispõe sobre o peso máximo tolerável do material escolar transportado diariamente por aluno da pré-escola e 1º grau da rede escolar pública e privada do Estado de Santa Catarina. 110 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Procedência – Dep. Volnei Morastoni, PL 340/97, Veto total – MG 3483/98, DA 4549 de 26/06/98. 7º do artigo 54 da constituição do estado e do artigo 217 do regimento interno. 14. Lima E, Silva JFS, Vargas P. Freqüência de escoliose em alunos de 5ª. A 8ª. Série de ensino fundamental da rede pública estadual no município de Joinville/SC, relacionada a variáveis de localização e direção das curvas escolióticas e dominâncias (destro e sinistro) [Monografia]. Joinville: Faculdade Guilherme Guimbala; 2004. 94p. 15. Kisner C, Colby AL. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 5ª. ed. São Paulo: Manole; 2005. 16. Mackenzie WG, Sampath JS, Kruse RW, Sheir-Neiss GJ. Backpacks in children. Clin Orthopaedics 2003;409:78-84. 17. Nery LS, Halpern R, Nery PC, Nehme KP, Stein AT. Prevalence of scoliosis Amon school students in a town in southern Brazil. São Paulo Med J 2010;128(2):69-73. 18. Bezerra E, Estrázulas J, Iamut M. Análise do andar em crianças transportando mochila do tipo duas alças por 15 minutos. Rev Bras Educ Fís Esp 2006;20(5):377-86. 19. Jing XL, Youlian H. Age difference in trunk kinematics during walking with different backpack weights in 6 to 12 year old children. Res Sports Med 2004;12:135-42. 20. Lopes JS. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 111 REVISÃO Efeito agudo do exercício físico na lipemia pós-prandial Acute effect of physical exercise on postprandial lipemia Jefferson Petto, M.Sc.*, Anne Karine Menezes Santos Batista**, Carolina Santana de Oliveira**, Ana Marice Teixeira Ladeia, D.Sc.*** *Professor de Fisiologia do Exercício da Faculdade Social da Bahia e Universidade Estadual de Feira de Santana, *Graduanda em Fisioterapia pela Universidade do Estado da Bahia, ***Professora Adjunta da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública Resumo O exercício físico quando praticado de forma crônica age como fator preventivo controlando os níveis de triglicerídeos e lipoproteínas plasmáticas, sendo considerado como prática adjuvante na profilaxia e terapia não medicamentosa das dislipidemias. No entanto, na última década, investigações têm sido conduzidas com o intuito de identificar qual o efeito agudo do exercício sobre o comportamento lipídico pós-prandial. Além disso, os estudos procuram identificar a influência da intensidade, da duração, da modalidade, do gasto calórico e outras variáveis que possam apresentar melhores resultados. Portanto, a presente revisão, composta por artigos entre 1990 e 2009, tem como objetivo discutir o que esses trabalhos trazem de mais importante sobre o tema. Abstract Regular exercise is a preventive factor for the control of the levels of triglycerides and lipoproteins, being promoted as a non-drug prophylaxis and therapy of dyslipidemia. However, in the last decade, investigations have been conducted in order to identify the acute effect of exercise on postprandial lipid behavior. Furthermore, the studies seek to identify the influence of intensity, duration, mode of energy expenditure and other variables that may provide better results. Therefore, this literature review of articles published between 1990 and 2009 aims to discuss important results about. Key-words: postprandial lipemia, exercise, postprandial period, dyslipidemias. Palavras-chave: lipemia pós-prandial, exercício, período pósprandial, dislipidemias. Introdução Níveis plasmáticos de triglicerídeos (TG) têm sido correlacionados com a predisposição para doenças cardiovasculares (DCV) [1]. Usualmente, a mensuração desses níveis no estado de jejum prediz o risco para desenvolvimento de DCV, porém, estudos mostram que existe uma forte correlação entre os níveis de TG no estado pós-prandial e a formação da placa aterosclerótica [2-4]. Desde 1979, com os estudos de Zilversmit, tem-se o conhecimento de que a aterogênese é um fenômeno pós-prandial relacionado ao metabolismo lipídico, ao demonstrar em animais e em humanos que remanescentes de quilomícrons e lipoproteínas de baixa densidade (LDL) são captados por células endoteliais [5]. A lipemia pós-prandial (LPP) reflete uma medida integrada da capacidade individual de remoção dos TG. O termo se reporta a uma série de eventos metabólicos relacionados ao aumento na concentração das lipoproteínas (LP) ricas em TG no plasma sanguíneo – quilomícrons, lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL) e seus remanescentes – ocorridos após a ingestão de gorduras. Essa resposta pode estar condicionada a maior mobilização de ácidos graxos, ao aumento da síntese e ao retardo da remoção das VLDL, propiciando maior interação entre LP que contribuem para a formação Recebido 17 de outubro de 2011; aceito 16 de novembro de 2011. Endereço para correspondência: Jefferson Petto, Rua Senta Pua 542/306, 40170-180 Salvador BA, Tel: (71) 9619 1061, E-mail: [email protected] 112 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 de partículas pequenas e densas de LDL, extremamente aterogênicas. Foi demonstrado que os quilomícrons e as VLDL competem pela lipase proteica, enzima que hidrolisa os TG, sendo que os quilomícrons são os substratos preferenciais da lipase proteica, determinando acúmulo das VLDL plasmáticas no período pós-prandial [2,4]. Algumas são as medidas intervencionais que promovem a diminuição da LPP. O exercício físico, a reeducação alimentar, a redução do índice de massa corpórea e determinados fármacos são fatores importantes para redução da LPP e dos níveis de LP remanescentes nesse processo [2]. Especificamente, o exercício físico caracteriza-se por uma situação de quebra da homeostasia corporal, ao implicar no aumento instantâneo do consumo energético da musculatura ativa e, por conseguinte, do organismo como um todo. Para suprir a nova demanda energética, inúmeras respostas fisiológicas ocorrem, dentre elas, as referentes à metabolização lipídica. Assim, é importante entender e avaliar a ação e efetividade do exercício físico na LPP. Com base no que foi exposto, a presente revisão, tem como objetivo apresentar um resumo do que nos últimos vinte anos foram publicados sobre o efeito agudo do exercício físico na LPP e quais as formas de aplicação do exercício que obtiveram os melhores resultados. Métodos O presente estudo caracteriza-se como uma revisão de literatura sistematizada cumprida entre julho e setembro de 2010. Foram consultadas, nessa revisão, as bases de dados Lilacs, Medline, Scielo e Pubmed, utilizando em cruzamento os seguintes descritores: lipemia pós-prandial e exercício e postprandial lipemia and exercise. Para a composição da discussão desta pesquisa foram utilizados apenas artigos originais publicados entre 1990 e 2010 que versassem sobre o efeito agudo do exercício na LPP. Foram excluídos os artigos que não tivessem utilizado humanos na pesquisa. Resultados e Discussão Após a busca nos referidos bancos de dados, foram encontrados 102 artigos. Dentre a totalidade dos trabalhos encontrados, 39 abordavam o tema especificado, três artigos foram excluídos por terem sido publicados antes de 1990 e outros seis artigos por serem trabalhos de revisão. Nas bases de dados pesquisadas não foram encontrados artigos publicados em 2010 sobre o tema de estudo. Portanto, 30 artigos originais compõem esta revisão. Exercício físico e lipemia pós-prandial É possível observar que nas duas últimas décadas cresceram as evidências de que o exercício físico pode influenciar beneficamente o perfil lipídico de forma aguda [6-11], sendo que seu efeito pode perdurar por até 48h após a sessão do exercício [12]. No entanto, a magnitude na redução da LPP provocada pelo exercício depende, pelo menos para a maioria dos autores, da intensidade do esforço, da duração da sessão, da periodicidade do condicionamento, do gasto calórico relacionado à sessão de exercício e do momento no qual ele é realizado, previamente ou posterior à ingestão de gorduras. Em relação à intensidade e duração do exercício, num estudo realizado por Nappo et al. [13], não foram observadas alterações significativas da curva lipídica 48 horas após uma sessão de curta duração e baixa intensidade, resultado visualizado também em outros estudos [8,14,15]. Katsanos et al. [14] compararam o efeito do exercício de baixa e moderada intensidade na LPP e, segundo os autores, a intensidade do exercício desempenha papel significativo na atenuação da resposta pós-prandial dos TG, sendo que o exercício de moderada intensidade apresentou melhor resposta quando comparado ao exercício de baixa intensidade, ambos realizados com a mesma duração de 90 minutos, resultado ratificado em outro trabalho realizado por Kraus et al. [16]. Por outro lado, Foger et al. [6] e Kujala et al. [17], ainda na década de 90, mostraram em seus trabalhos que quando o exercício é realizado por tempo prolongado, uma hora ou mais, mesmo em baixa intensidade, se observam reduções agudas significativas dos TG principalmente 18 a 24 horas pós-exercício. Para Gill et al. [18-20], em três artigos publicados na década de 2000, a relação intensidade e duração é que determina a magnitude da diminuição dos TG e das LP plasmáticas induzidas pelo exercício na LPP, independente da população avaliada, jovens, obesos ou dislipidêmicos. Para esse autor os exercícios de intensidade moderada com duração entre 60 e 90 minutos são os que apresentam melhores resultados [18-20]. Ainda em relação à intensidade de esforço Tsekouras et al. [21] mostraram que o exercício de alta intensidade intervalado reduziu significativamente as VLDL na LPP, sendo tão efetivo como exercícios praticados em intensidades moderadas ou baixas. Segundo os autores, isso ocorre por conta da diminuição da concentração dos TG plasmáticos provocada pelo exercício. Outros estudos corroboram essa ideia, como os de Gill et al. [22] e Malkova et al. [23] publicados em 2000. Logo em 1997, Crouse et al. [24] analisando o efeito agudo do exercício em uma única sessão com diferentes intensidades, sobre os TG e as LP plasmáticas, perceberam que os níveis dos TG e colesterol total caíram no período pós-exercício independente da intensidade do mesmo. Diante desses achados, é possível inferir que a intensidade e a duração do exercício não são as variáveis que isoladamente mais influenciam na diminuição da LPP, mas sim o gasto calórico durante o exercício. Corroborando esse pensamento, Miyashita et al. [25] numa pesquisa randomizada de corte longitudinal com dez homens saudáveis, comprovaram essa ideia, ao visualizar que Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 10 sessões de 3 minutos de exercício moderado, ao longo do dia, reduzem a curva de TG pós-prandial de forma semelhante a uma única sessão de 30 minutos do mesmo exercício. Segundo os autores é o gasto calórico com o exercício durante o dia que determina a magnitude de queda dos TG na LPP. Ainda em relação ao gasto energético, outros estudos, publicados na década dos anos 90, relataram que uma sessão de exercício físico, realizada 24 horas antes de uma refeição rica em gordura (50 a 70 gramas), reduziu a LPP, estando diretamente relacionada ao tempo e a energia consumida no exercício [26-28]. No estudo realizado por Ferguson et al. [28], foi investigada a correspondência entre o limiar energético e as possíveis mudanças nos níveis dos TG e concentrações das LP em homens treinados após quatro protocolos de exercício, condizentes com os gastos calóricos de 800, 1100, 1300 e 1500 kcal. Vinte e quatro horas após a realização das sessões, o nível de HDL elevou-se significativamente, nos exercícios de 1100, 1300 e 1500 kcal. Já a concentração de LDL diminuiu de forma significativa com um gasto de 1300 kcal e a de TG com 800 kcal após uma única sessão de exercício. Ainda neste estudo, foi possível observar aumento da atividade da lipase lipoproteica 24 horas após as sessões com gasto calórico acima de 1100 kcal, permanecendo elevada até 48 horas após a sessão de 1500 kcal, sendo que estas mudanças coincidiram com as alterações de HDL. A periodicidade do exercício e a as características da população avaliada exercem também forte influência sobre a LPP. Segundo Katsanos et al. [14] e Belli et al. [29], indivíduos fisicamente ativos apresentam a LPP diminuída quando comparados a indivíduos não ativos, resultado observado também por Kokkinos et al. [30], quando avaliou corredores. Em uma pesquisa realizada por Crouse et al. [31] foi observada diminuição precoce dos TG e com permanência de redução até 72 horas pós-exercício em homens dislipidêmicos. Alguns estudos apontam que em indivíduos com níveis maiores ou elevados de TG, como obesos e dislipidêmicos [32,33], o exercício físico estimula uma redução maior do que a observada em sujeitos com níveis mais baixos de TG ou normolipêmicos [7]. Outro aspecto abordado por alguns autores referente à aplicação do exercício e seu efeito na LPP é o momento em que o exercício deve ser aplicado. Os estudos mostram grande variabilidade, desde 24 horas antes até uma hora e meia após a ingestão de gorduras ou da refeição [9,10,25-28,34]. Embora existam diferentes protocolos de aplicação do momento do exercício, a grande maioria dos estudos aponta que quando o gasto calórico é alto a queda da LPP é significativa, tanto na resposta dos TG como das LP. Harrison et al. [10] evidenciaram que tão importante quanto o momento no qual o exercício é aplicado, ou seja, antes ou após a refeição, é a suplementação de carboidrato pré, peri ou pós-exercício. Os autores evidenciaram que quando é feita a suplementação de carboidrato, os níveis de 113 insulina aumentam e a lipólise diminui o que atenua o efeito do exercício sobre a LPP. Embora esteja bem fundamentado que o exercício exerce um efeito agudo importante na redução da LPP, as totalidades dos trabalhos não mostram nenhum benefício no pico da LPP, que ocorre entre a terceira e quarta hora, mantendo um platô até a sexta ou oitava hora. Em um estudo realizado por Teixeira et al. [35], o objetivo foi observar se o exercício físico provocaria efeito depressor no pico da LPP, e foi observado que não houve diferença na curva de TG entre o teste de LPP com e sem exercício entre a 3 e a 5 hora pós-refeição. Devido à escassez de trabalhos que avaliem o efeito do exercício no pico da LPP, momento no qual o processo aterogênico seria maior, faz-se necessário novos estudos com protocolos diferentes dos já pesquisados na busca da atenuação desse processo em sua fase mais importante, entre a terceira e a sexta hora pós refeição. Conclusão Finalmente, pode-se concluir que a duração, a intensidade e gasto calórico do exercício; a condição física prévia e os níveis dos TG de jejum; o uso de fármacos que interferem no metabolismo glicêmico, bem como a ingestão de carboidratos pré, peri e pós-exercício; e o tempo de acompanhamento do efeito do exercício após a aplicação do mesmo é que avaliados em conjunto determinam a magnitude de seu efeito agudo sobre a LPP. Referências 1. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 115 REVISÃO Mecanismos moleculares antioxidantes modulados pelo exercício físico Molecular mechanisms of antioxidants modulated by exercise Camila Baumer Tromm, Luciano Acordi da Silva, D.Sc., Ricardo Aurino de Pinho, D.Sc. Laboratório de Fisiologia e Bioquímica do Exercício, Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma/SC Resumo A geração de espécies reativas de oxigênio (EROs) é um fenômeno biológico que ocorre durante a vida celular. Estes compostos podem ativar vias de sinalização envolvidas na regulação do crescimento, proliferação, diferenciação e apoptose. A presença contínua de pequenos estímulos induzidos pelo exercício provoca elevações mínimas nas concentrações de espécies reativas de oxigênio, as quais são hábeis para induzir a expressão de enzimas antioxidantes e outros mecanismos de defesa. O NFκB e MAPK são duas grandes vias de sinalização que podem ser ativadas em resposta às EROs induzidas pelo exercício, tanto agudo quanto crônico (treinamento). Embora o papel destes compostos sobre a ativação de enzimas antioxidantes venha sendo investigado, os mecanismos intrínsecos da adaptação antioxidante permanecem obscuros. Palavras-chave: treinamento físico, transdução de sinal, defesa antioxidante. Abstract The generation of reactive oxygen species is a biological phenomenon which occurs during cell life. These compounds can activate signaling pathways involved in regulating growth, proliferation, differentiation and apoptosis. The continued presence of a small stimuli induced by exercise, causes minimal elevations in concentrations of reactive oxygen species, which are able to induce expression of antioxidant enzymes and other defense mechanisms. The NFκB and MAPK are two major signaling pathways that can be activated in response to reactive oxygen species induced by exercise, both acute and chronic (training). Although the role of these compounds on the activation of antioxidant enzymes has been investigated, the intrinsic mechanisms of antioxidant adaptation remain unclear. Key-words: physical training, signal transduction, antioxidant defense. Recebido em 29 de março de 2012; aceito em 11 de junho de 2012. Endereço para correspondência: Camila Baumer Tromm, Av. Universitária, 1105, 88806-000 Criciúma SC, Tel: (48) 3431-2773, E-mail: [email protected] 116 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 Introdução A geração de espécies reativas de oxigênio (EROs) é um fenômeno biológico que ocorre durante a vida celular. Durante as últimas duas décadas, muita atenção tem sido dada aos efeitos prejudiciais de EROs, como estresse oxidativo que consequentemente pode provocar envelhecimento e diversas patogêneses. No entanto, mais recentemente surgiram evidências de que EROs não são apenas agentes prejudiciais para a estrutura e função celular mas são moléculas de sinalização que regulam o crescimento, proliferação, diferenciação e apoptose celular [1,2]. Algumas proteínas antioxidantes podem ser rapidamente ativadas durante o estresse oxidativo induzido por uma única sessão de exercício físico [3], enquanto que outras proteínas são ativadas mais lentamente após o treinamento físico [4]. Existem evidências de que a presença contínua de pequenos estímulos, que provocam elevações mínimas nas concentrações de EROs são hábeis para induzir a expressão de enzimas antioxidantes e outros mecanismos de defesa. A base deste fenômeno pode ser explicada pelo conceito de hormese, a adaptação ao exercício ocorre por meio de estímulos que expõem a célula a baixas doses de oxidantes, mas sendo inibida por altas doses do mesmo [2,5]. Neste contexto, EROs podem ser benéficos, atuando como sinalizadores para aumentar as defesas antioxidante do organismo [2]. A resposta adaptativa obtida com o treinamento físico resulta dos efeitos cumulativos de sessões repetidas de exercício, onde a célula é exposta a baixos níveis de EROs durante cada sessão de exercício [5]. Isto torna a célula mais resistente ao estresse oxidativo, por pelo menos três mecanismos: 1) aumento da expressão [6] e atividade [7] de enzimas antioxidantes; 2) redução na produção de oxidantes [8]; 3) Controle do fluxo de elétrons mitocondrial [9]. Embora o papel de EROs sobre a ativação de enzimas antioxidantes vem sendo investigado, os mecanismos intrínsecos da adaptação antioxidante permanecem obscuros. Geração de EROs Os mecanismos de geração de EROs durante o exercício físico ocorrem em diversos compartimentos celulares, tais como, mitocôndrias, membranas e citoplasma. Na mitocôndria, uma das formas de produção de EROs durante o exercício é devido a um escape de elétrons na cadeia de transporte de elétrons (CTE). O escape de elétrons entre o complexo I e ubisemiquinona e entre ubisemiquinona e o complexo III parecem ser os responsáveis pela maior parte dos superóxidos gerados [10]. Estudos in vitro mostram que a CTE gera superóxido a partir da redução univalente do O2. Este único elétron vem da redução da ubiquinona que em vez de aceitar outro elétron e um próton para formar ubiquinol, pode doar o seu elétron desemparelhado para o O2, formando superóxido. Salo et al. [11] demonstraram que a estabilidade da família ubiquinona diminui com o aumento da temperatura, e a transferência de elétrons ao longo da CTE diminui enquanto a transferência eletrônica direta ao oxigênio (a reação “vazamento”) aumenta, gerando mais superóxido (O2•-). Estima-se que de 2-4% do oxigênio consumido por seres humanos seja reduzido a O2•- por mitocôndrias. No citoplasma, a produção de EROs durante o exercício exaustivo pode ser causada pela ativação da enzima xantina oxidase. O exercício intenso pode causar isquemia fazendo com que o ATP seja convertido em ADP, AMP, inosina e hipoxantina. Sob tais condições a enzima xantina desidrogenase intracelular (XDH) é convertida em xantina oxidase (XO), que utiliza o O2 como aceptor de elétrons, gerando diretamente O2•- e peróxido de hidrogênio (H2O2). Quando o oxigênio é reperfundido uma explosão de O2•- e H2O2 ocorre. Tem sido argumentado que a XO pode desempenhar um papel mais importante na produção de radicais livres do que a CTE durante exercícios exaustivos [12]. No entanto é mais provável que ambos contribuam, dependendo do tipo, intensidade e duração do exercício. Nas membranas plasmáticas a produção de EROs, especialmente em casos de exercícios excêntricos, é resultado da migração de neutrófilos e outras células fagocíticas do organismo como parte de uma resposta imune à lesão tecidual [13]. Macrófagos e neutrófilos ativam a enzima NADPH oxidase que em sua reação oxida NADPH a NADP, utilizando neste processo o oxigênio como aceptor de elétrons, formando consequentemente O2•-. Este superóxido em contato com óxido nítrico pode formar peroxinitrito. Ou então pode sofrer ação da SOD e ser dismutado a H2O2. O H2O2 pode ser convertido em HOCl, que em contato com Ferro ou outro H2O2 pode gerar o radical hidroxila. No entanto, o papel da resposta inflamatória e o dos neutrófilos ainda permanecem mal caracterizados. O desequilíbrio entre os mecanismos de produção e de neutralização das EROs, a favor da produção, denomina-se estresse oxidativo. Este fenômeno natural é resultado de uma incapacidade dos sistemas antioxidantes em combater a produção adicional de EROs [10]. Sistema de defesa antioxidante O sistema de defesa antioxidante é constítuido por proteínas enzimáticas como a Superóxido Dismutase (SOD), Catalase (CAT), Glutationa Peroxidase (GPX) e Tioredoxina Redutase (TRX) (responsável pela manutenção dos grupos tiol das proteínas); e por antioxidantes não enzimáticos, como o ascorbato (doador de elétrons), urato (sequestrador do radical hidroxila e peroxila) glutationa reduzida (doador de elétrons e precursora da GPX), tocoferol (doador de elétrons), flavonoides e carotenoides (supressores do oxigênio singlet) [14]. Mecanicamente a SOD dismuta o O2•- a H2O2, sendo que a CAT e GPX catalisam a degração subsequente do H2O2 a H2O. No músculo esquelético, 15 – 35% da atividade da SOD encontra-se nas mitocôndrias e o restante no citosol Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 [15]. Já as concentrações da CAT são mais elevadas nos peroxissomas do que nas mitocôndrias [16]. A GPX tem aproximadamente 45% de atividade no citosol e o restante na mitocôndria [15], e parece demonstrar maior afinidade com o H2O2 em altas concentrações [17]. Estudos reportaram que uma única sessão de corrida (70 min) é capaz de aumentar a atividade das enzimas antioxidantes no músculo esquelético de ratos [18], e também após uma sessão de natação [19]. Contudo o treinamento físico tem também demonstrado aumento na atividade destas enzimas em ratos após corrida aeróbia [20] e treinamento resistido [21]. Sinalização da biogênese mitocondrial EROs podem ativar vias de sinalização envolvidas na biogênese mitocondrial. EROs têm demonstrado induzir a ramificação e alongamento do mtDNA (DNA mitocondrial). O aumento no mtDNA foi acompanhado por uma indução na massa mitocondrial. Esta resposta parece ser mediada por PGC-1α (coativador 1 alfa do receptor ativado por proliferador de peroxissoma) e NRF-1 (fator nuclear respiratório 1), pois a expressão de ambos aumenta após tratamento com LPS (lipopolissacarídeos) [22]. Recentemente um estudo demonstrou que EROs podem induzir o aumento da atividade e expressão de PGC-1α através de vias tanto de MAPK-dependente como MAPK-independente (Proteína Quinase Mitogênica Ativada) [23]. Estes dados demonstram que EROs são agentes envolvidos no aumento da biogênese mitocondrial. A ativação da MAPK aumenta o mRNA (RNA mensageiro) de PGC-1α. Este fato é provavelmente mediado por uma ativação transcricional, haja vista que a ativação da MAPK leva a melhor atividade de PGC-1α [24]. A regulação de PGC-1α, sua transcrição e tradução, é acompanhada pelo aumento na atividade do DNA de NRF-1. Adicionalmente, a ativação farmacológica crônica do MAPK resultou em aumentos das enzimas mitocondriais como citocromo c, citrato sintase, e malato desidrogenase no músculo esquelético [25]. Assim, a ativação da MAPK parece ser outro importante regulador da biogênese mitocondrial em condições de alta demanda energética nas células musculares. 117 [26]. As moléculas de RNA são sintetizadas a partir de moldes do DNA (isso é transcrição) e as proteínas são sintetizadas a partir de moldes de RNA (isso é tradução) [27]. MAPK A família de proteínas MAPK é composta por quatro módulos de sinalização no músculo esquelético: 1) quinase extracelular (ERK) 1 e 2 (ERK1/2); 2) p38 MAPK; 3) c-Jun N-terminal quinase (JNK) e 4) ERK5 ou grande MAPK. Estes ramos de MAPK são estimulados por citocinas, fatores de crescimento e estresse celular e têm como função regular várias atividades celulares como a expressão genética [28]. Um papel importante de ativação da MAPK pelo exercício é a regulação da transcrição do status redox no músculo esquelético. O estresse mecânico e metabólico associado ao exercício aumenta a produção de EROs que são neutralizadas devido ao aumento na adaptação antioxidante através da regulação de enzimas antioxidantes [29]. A atividade da MAPK pode parcialmente mediar essa resposta. O H2O2 induz a ativação de ERKs, JNKs [30] e desencadeia a fosforilação da p38 MAPK aumentando o transporte de glicose no músculo esquelético. ERK1/2 é ativada rapidamente após treinamento físico com diferente volume e intensidade [31]. Da mesma forma que em humanos sedentários e treinados após sessão de ciclismo submáximo [32] e maratona [33]. A magnitude da fosforilação de ERK1/2 durante o exercício correlaciona-se com a intensidade do protocolo [32], e tanto exercício de endurance como resistido [34] podem aumentar ERK1/2. Protocolos de exercício intenso estimulam a transdução de sinal através da via JNK [35]. A fosforilação de JNK aumenta linearmente com os níveis de força muscular [36]. Portanto, a tensão muscular total, em vez da duração do estímulo parece ser o modulador influente sobre a atividade de JNK. Figura 1 - Via de sinalização envolvida na ativação de MAPK e PGC-1α induzida pelo exercício físico. Exercício Físico H 2 O2 Fatores de transcrição antioxidantes Fatores de transcrição são proteínas adicionais exigidas pela RNA polimerase para iniciar a transcrição e são responsáveis pela regulação da expressão gênica. Um fator de transcrição (chamado de fator de sequência específica de ligação ao DNA) é uma proteína que se liga a sequências específicas de DNA, assim, controla o fluxo (ou transcrição) da informação genética do DNA para o mRNA. O mRNA carrega informações do DNA aos ribossomos, onde serve como molde para a síntese de proteínas (são intermediários no fluxo da informação genética) e são transcritos pela RNA polimerase O2 JNK ERK 1/2 p38 AMPK PGC-1a Biogênese mitocondrial [37] AMPK Angiogênese Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 118 NFkB NFkB (Fator Nuclear Kappa B) é composto por cinco membros, incluindo p50, p52, p65, RelB, e c-Rel. Evidências sugerem que o heterodímero p50 e p65 são os principais responsáveis pela atividade de NFkB no músculo esquelético. Contrações musculares estimulam o retículo sarcoplasmático liberando cálcio aumentando os níveis de EROs, que ativam diversas vias de sinalização, incluindo MAPK. O aumento do cálcio intracelular, a acumulação de EROs [38], e a ativação da MAPK [39] ativam o NFkB, levando à hipótese de que o exercício também ativa o NFkB. Alguns estudos demonstraram que uma única sessão de corrida em esteira aumenta a fosforilação de IKK, aumentando a atividade do NFkB no músculo esquelético de ratos [40,41]. O treinamento físico também pode alterar a composição e atividade do NFkB. Doze semanas de corrida resultou em fosforilação aumentada de IKK, sugerindo que a ativação do NFkB foi elevada após o treinamento [29]. Diferenças na atividade de NFkB após o treinamento podem refletir a natureza (intensidade, duração e frequência) do exercício realizado ou a recuperação entre as séries do exercício. NFkB responde a EROs aumentando a transcrição de pelo menos três genes antioxidantes importantes, incluindo MnSOD (SOD dependente de manganês), iNOS (óxido nítrico sintase) e glutamilcisteína sintetase [42]. Assim, é possível que o aumento do NFkB verificado após o exercício promova maior resistência celular ao estresse oxidativo. Figura 2 - Via de sinalização envolvida na ativação de NFkB induzida pelo exercício físico. Exercício Físico Estresse Celular IKK p50-p65 AMPK NF-kB sítio kB Transcrição genética Ribossomo SOD CAT GPX AP-1 Outro fator de transcrição regulado pelo estado redox intracelular, induzido pelo exercício, é o ativador protéico 1 (AP-1). O AP-1 é um dímero expresso por dois genes, jun e fos [27]. Uma das proteínas que possuem sua expressão controlada pelo AP-1 é uma das subunidades da enzima Glutationa S-transferase [5]. O AP-1 regula a expressão gênica em resposta a uma variedade de estímulos incluindo EROs. Além disso, sua ligação ao DNA também é controlada pelo estado redox. Hollander et al. [43] relataram que o AP-1 foi aumentado no músculo esquelético de ratos após um realização de uma sessão de exercício de longa duração (corrida). O aumento de AP-1 ocorreu simultaneamente ao aumento na expressão do mRNA de MnSOD. Exercício e adaptação antioxidante Alguns tecidos corporais, tais como, fígado, coração e cérebro haja vista uma maior taxa de consumo de oxigênio, expressam um número maior de enzimas antioxidantes em relação aos orgãos com menor consumo de oxigênio. A atividade de enzimas antioxidantes no músculo esquelético varia amplamente em função dos tipos de fibra. Por exemplo, fibras musculares tipo I possuem maior atividade antioxidante do que as fibras tipo IIa e fibras tipo IIb [44]. É fato que a atividade contrátil pode causar um aumento na geração de EROs in vitro e in vivo [45,46]. Contudo a exposição repetida das células musculares ao estresse oxidativo é capaz de promover uma adaptação ao sistema de defesa antioxidante protegendo contra potenciais danos oxidativos [6-8]. Entre as enzimas antioxidantes no músculo esquelético, a atividade SOD tem sido consistentemente aumentada com o treinamento de forma dependente da intensidade (caminhada/corrida) [47]. A MnSOD é a principal responsável pelo aumento observado na atividade da SOD total, enquanto a atividade CuZnSOD (SOD dependente de cobre e zinco) parece pouco afetada [47,48]. Na atividade da GPX também tem sido demonstrado um aumento após o treinamento aeróbio (corrida) [49]. Da mesma forma, uma sessão extenuante de natação demonstrou induzir aumento da SOD no miocárdio e no diafragma de ratos [50]. Há algumas evidências de que a adaptação antioxidante ocorra devido à expressão proteica, com os níveis da proteína e seu mRNA sendo aumentados com o treinamento. No entanto, os dados são limitados e controversos. Por exemplo, em alguns estudos a atividade e a expressão da MnSOD aumentaram com treinamento aeróbio (corrida) nos músculos de ratos, mas a expressão do mRNA da MnSOD não foi afetada [51]. Já a expressão do mRNA de CuZnSOD foi elevada com o treinamento, com nenhuma mudança na expressão da proteína [52]. Geralmente mRNAs têm uma meia-vida curta e nos estudos citados acima o tecido muscular foi recolhido entre 24h e 48h após o exercício. Pode-se concluir que o mRNA pode aumentar apenas transitoriamente após sessões únicas de exercício. Em contraste com a atividade da SOD, a literatura é bastante limitada em relação à regulação gênica da GPX e CAT. Os dados disponíveis indicam que os níveis do Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 2 - abril/junho 2012 mRNA da GPX de ratos treinados não são diferentes daqueles em ratos controle [52]. A adaptação ao treinamento de enzimas antioxidantes é fortemente influenciada por uma série de fatores fisiológicos e ambientais. Resumidamente, ratas demonstraram menor extensão no dano oxidativo muscular induzido pelo exercício e melhor adaptação ao treinamento (corrida) do que ratos, possivelmente devido ao efeito antioxidante do estrogênio [53]. Animais e humanos idosos geralmente mostram uma escala menor de adaptação antioxidante do que jovens indivíduos exercitando em uma carga de trabalho semelhante [54]. A razão para esta discrepância pode estar relacionada com mudanças em ambos os sistemas de defesa antioxidante e a capacidade de transdução de sinal. Expressão de genes antioxidantes regulados pelo exercício O primeiro a reportar a ativação de JNK, ERK1 / 2, p38 MAPK no músculo esquelético de ratos após uma sessão de corrida em esteira foi Goodyear et al. [31]. Este grupo mostrou posteriormente que p42 e p44MAPK (ERK1 / 2) foram fosforiladas após exercício em cicloergometro no músculo humano, juntamente com a ativação de MEK1 e Raf-1 [55]. Desde então, alguns estudos têm mostrado que a MAPK pode ser ativada pela atividade contrátil em musculoesquelético [55,56]. Os sinais que desencadeiam a ativação da MAPK têm sido atribuídos a uma variedade de estímulos fisiológicos associados ao exercício, incluindo liberação hormonal, liberação de cálcio, atividade neural, e força mecânica [57]. No entanto, a influência do exercício sobre as enzimas da família MAPK de forma individual e suas integrações em outras vias de sinalização são ainda discretas. Comparado à MAPK, o conhecimento sobre o efeito do exercício na sinalização do NFκB é relativamente limitado. Hollander et al. [43] demonstraram pela primeira vez que NFκB foi significativamente elevado em musculo-esquelético após uma sessão de exercício prolongado (aproximadamente 60 min de corrida). O aumento de NFκB foi acompanhado pelo aumento na expressão do mRNA de MnSOD no músculo exercitado. Ji et al. [41] realizaram uma série de experimentos para analisar a cascata de sinalização de NFκB em resposta ao exercício. Estes autores encontraram níveis mais elevados de NFkB após o exercício (corrida até a exaustão), juntamente com aumento da atividade de IKK e acumulação de p50 no núcleo celular. Em um estudo recente, Ho et al. [40] relataram que a ativação NFκB foi elevada no sóleo (fibras tipo I) e no gastrocnêmio (fibras tipo II) durante 60 min de corrida em esteira, acompanhado por fosforilação de IKK. Em ratos adultos, a atividade basal do NFκB foi duas vezes maior no sóleo e no diafragma em relação ao gastrocnêmio e três vezes maior no sóleo em comparação ao extensor longo dos dedos. Esses dados indicam que a ativação do NFκB é dependente do tipo de fibra muscular. Estas diferenças po- 119 dem refletir as concentrações das enzimas antioxidantes nas diferentes fibras musculares A ativação de NFκB também parece ser influenciada pelo estado metabólico da célula muscular [58]. Durham et al. [59] mostraram que os níveis de NFκB foram reduzidos abaixo do nível pré exercício após uma sessão de exercício resistido extenuante, mas retornando ao nível basal após uma recuperação de 60 min. Sugerindo que a contração muscular é provavelmente necessária para ativação desta via de sinalização. Conclusão A geração de EROs durante a contração muscular tem um papel importante na adaptação do músculo ao estresse oxidativo induzido pelo exercício, ativando vias de sinalização de enzimas antioxidantes e outras proteínas vitais para a célula. O NFκB e MAPK são duas grandes vias de sinalização que podem ser ativadas em resposta às EROs induzidas pelo exercício. Tanto o exercício agudo quanto o treinamento ativam essas vias de sinalização. Contudo, o treinamento físico parece ser capaz de promover resistência celular ao estresse oxidativo prolongando a adaptação antioxidante. Além disso, a existência de múltiplos sítios redox-sensíveis nos genes antioxidantes sugere que a ativação sinérgica e interação de diversos fatores de transcrição são requeridos para garantir a exatidão da expressão genética de enzimas antioxidantes. Referências 1. Finkel T. Signal transduction by reactive oxygen species. J Cell Biol 2011;194:7-15. 2. Ji LL, Cabrera G, Vina J. Exercise and hormesis: activation of cellular antioxidant signaling pathway. Annals of the New York Academy of Sciences 2006;1067:425-35. 3. Tromm CB, Bom K, Silva DM, Wingist G, Rosa GL, Pinho RA, et al. Suplementação com taurina reduz estresse oxidativo em soro após exercício excêntrico. Brazilian Journal of Biomotricity 2011;5:34-44. 4. Cabrera CG, Domenech E, Vina J. Moderate exercise is an antioxidant: Upregulation of antioxidant genes by training. Free Radic Biol Med 2008;44:126-131. 5. Zoppi CC. Mecanismos moleculares sinalizadores da adaptação ao treinamento físico. Rev Saúde Com 2005;1:60-70. 6. 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A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. NewYork: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] As normas completas são disponiveis em nosso site: www.atlanticaeditora. com.br Re v i s t a B r a s i l e i r a d e Fisiologia do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 11 número 3 - julho/setembro 2012 Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Amandio Rihan Geraldes (AL) Antonio Carlos Gomes (PR) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Douglas S. Brooks (EUA) Emerson Silami Garcia (MG) Francisco Martins (PB) Francisco Navarro (SP) Luiz Carnevali (SP) Luiz Fernando Kruel (RS) Martim Bottaro (DF) Patrícia Chakour Brum (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Robert Robergs (EUA) Rosane Rosendo (SC) Sebastião Gobbi (SP) Steven Fleck (EUA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Vilmar Baldissera (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Editorial Raça e desempenho atlético, Paulo Farinatti, Jean-Louis Peytavin....................... 130 ARTIGOS ORIGINAIS Efeito agudo de uma sessão de alongamento sobre a curva glicêmica de idosas inativas, Roseli Santos de Araújo, Pollyane Lopes de Araújo, Rogério Tosta de Almeida, Jefferson Petto.................... 131 Creatinafosfoquinase pré e pós-treinamento físico e incidência de lesões em atletas de voleibol, Dayane Alcântara, Sonia Elizabete Will, Sérgio Henrique Borin......................................................... 136 Morfologia e histomorfometria do músculo esquelético de ratas submetidas à estimulação elétrica neuromuscular, Vinícius Cestari do Amaral, Rodrigo Rodrigues Marcondes, Luiz Carlos Rodrigues Guanabara, Manuel de Jesus Simões, Cristiano Schiavinato Baldan, Jairo José Matozinho Cubas.................................... 142 Avaliação da propriocepção ativa em adultos com lesão de ligamento cruzado anterior, Gladson Ricardo Flor Bertolini, Fernando Amâncio Aragão, Carlos Eduardo de Albuquerque, Marcella Ferraz Pazzinatto, Carolina Silva Flóride, Rogério Fonseca Vituri ........... 146 Relação entre desempenho funcional e lesões no basquetebol, Mauricio Pires de Moraes, Marcos Maurício Serra, Angelica Castilho Alonso....................................................................................... 150 REVISÕES Análise das diferenças entre corredores africanos e caucasianos de meio-fundo e fundo, José Augusto Rodrigues dos Santos, Tânia Amorim............................................... 154 Editor assistente Guillermina Arias O exercício físico como terapia não farmacológica na disfunção endotelial do diabetes mellitus tipo 2, Cristiane Gonçalves da Mota, Wagner Silva Dantas............................................... 168 Direção de arte Cristiana Ribas O papel do estresse oxidativo e do exercício físico na doença de Parkinson, Talita Tuon, Ricardo Pinho........................................... 174 [email protected] [email protected] [email protected] Marketing e Publicidade Rainner Penteado [email protected] Treinamento Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Como correr 10 km com segurança: exercício versus saúde, Marcus Vinicius Grecco, Allan David Menache..................................................... 180 Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] EVENTOS.........................................................................................................190 NORMAS DE PUBLICAÇÃO....................................................................188 Atlântica Editora edita as revistas Fisiologia do Exercício, Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Síndromes I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. 130 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Editorial Raça e desempenho atlético Paulo Farinatti, Jean-Louis Peytavin Quando o francês Christophe Lemaître correu os 100 metros rasos em menos de 10 segundos pela primeira vez em 2010 (9’98”), o mito da superioridade negra em corridas de velocidade foi questionado. Rapidamente, apareceram pesquisas mostrando que Lemaître possuiria genes idênticos aos de Usain Bolt e que, fisicamente, poderia ser assimilado a um corredor senegalês pelo comprimento dos membros inferiores. Mas todas essas comparações revelaram-se irrelevantes: os famosos genes que se exprimiam em Usain Bolt e outros velocistas existiriam também em corredores quenianos de fundo. Além disso, comparar Lemaître a um senegalês soa pelo menos estranho, já que nunca um corredor daquele país alcançou marcas inferiores a 10 segundos. Temos que voltar ao fato fundamental: a superioridade negra não é uma questão de raça, mas de grupos bem específicos, compostos basicamente de Afro-Americanos e Jamaicanos. A superioridade inata seria menos importante que fatores extrínsecos, como investimento, seleção e treinamento. Voltando à África, a mesma lógica usualmente aplicada aos velocistas poderia ser aventada a corredores de fundo e meio-fundo do Quênia ou Etiópia, os quais monopolizam recordes e lideram campeonatos há 30 anos? Existiria uma superioridade de negros oriundos do Leste da África? Nesse sentido, dentre os artigos incluídos nesta edição da RBFEx, comentamos o interessante estudo elaborado por José Augusto Rodrigues dos Santos e Tânia Amorim, da Universidade do Porto (Portugal). Os autores produziram uma revisão exaustiva sobre o assunto, na qual analisam variáveis biológicas (genéticas, antropométricas, fisiológicas, morfológicas) e sócio-ambientais, como a nutrição e o estilo de vida, quanto à sua influência sobre os resultados desses corredores. É interessante notar que, no estado atual do conhecimento, os fatores que melhor explicariam o sucesso dos corredores africanos de fundo, novamente recairiam sobre particularidades relacionadas ao treinamento (recuperação e sono, esforços de intensidade maior que concorrentes caucasianos etc.) e aspectos psicológicos, como a vontade de ganhar e certa aura de invencibilidade, que serviria como reforço positivo. Desvaloriza-se a questão genética como determinante de resultados atléticos, o que, certamente, será objeto de estudos cada vez mais aprofundados, no que tange ao mapeamento de características que favorecem certos tipos de desempenho, mas também ao valor relativo dessa informação no campo da aplicação prática. Afinal, em que pesem aspectos éticos a serem discutidos, até que ponto o aspecto genético poderia ser manipulado e, principalmente, em que medida isso valeria a pena, dada a influência de outros fatores para produzir rendimento de alto nível. Pode-se fazer uma analogia com o aforismo atribuído a Winston Churchill, “a sorte não existe, é um conjunto de pequenos detalhes”. Isso parece se aplicar ao desporto de elite – ter a sorte de nascer com os “genes certos” seria suficiente para produzir um atleta? Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 131 ARTIGO ORIGINAL Efeito agudo de uma sessão de alongamento sobre a curva glicêmica de idosas inativas Acute effect of a session of stretching on the glycemic curve of inactive elderly woman Roseli Santos de Araújo, Ft.*, Pollyane Lopes de Araújo, Ft.*, Rogério Tosta de Almeida, M.Sc.**, Jefferson Petto, M.Sc.** *Graduada em Fisioterapia, **Professor da Faculdade Social da Bahia, Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana Resumo O objetivo deste estudo foi verificar o efeito agudo de uma sessão de alongamento estático sobre a curva glicêmica em idosas fisicamente inativas não diabéticas. Avaliou-se as curvas glicêmicas nos tempos 0 (jejum de 12 h), 30 min, 60 min, 90 min e 120 min, após a ingestão de 75 g de dextrose, de 16 idosas em dois momentos distintos: Teste Basal (TB) sem a realização de alongamento e Teste Experimento (TE) sete dias após, com a realização do alongamento. A glicemia média aos 60 min, 90 min e 120 min no TE foi menor que no TB, porém as diferenças não foram significantes (p ≤ 0,05). Considerando o ponto 30 min como referência, a variação média da glicemia entre os testes nestes tempos foi de aproximadamente de 15 mg/dL, sendo significante no tempo 60 min (p = 0,011). Uma sessão de alongamento não estimulou o aumento do consumo de glicose na população estudada. Palavras-chave: exercícios de alongamento muscular, pessoa idosa, teste de tolerância à glucose. Abstract The objective of this study was to investigate the acute effects of a session of static stretching on the glycemic curve in physically inactive and nondiabetic elderly. We evaluated the Glucose Tolerance Test at 0 (fasted 12 h), 30 min, 60 min, 90 min and 120 min after intake of 75 g of dextrose, in 16 elderly women in two distinct stages: Baseline Test (BT) without performing stretching and Experiment Test (ET) 7 days after the completion of the stretch. The average blood glucose for 60 min, 90 min and 120 min in ET was lower than in BT, but the differences were not significant (p ≤ 0.05). Whereas as a reference point 30 min, the variation between average blood glucose testing at this time was approximately 15 mg/dL, but significant time 60 min (p = 0.011). A stretching session did not stimulate increase glucose consumption in the population studied. Key-words: muscle stretching exercises, elderly, glucose tolerance test. Recebido em 21 de junho de 2012; aceito em 26 de setembro de 2012. Endereço para correspondência: Jefferson Petto, Avenida Universitária, s/n, Campus Universitário, Modulo I (DCBIO), 44031-460 Feira de Santana BA, Tel: (71) 9619-1061, E-mail: [email protected] 132 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Introdução A população idosa apresentou um significativo crescimento nos últimos anos, especialmente nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil [1]. Este cenário tem favorecido a progressão das doenças crônicas não transmissíveis, dentre as quais as Doenças Cardiovasculares (DCV) são as mais frequentes e, ainda hoje, a maior causa de mortalidade no mundo. A partir da sexta década de vida, em especial no gênero feminino, ocorre uma diminuição acentuada da massa muscular que associada ao sedentarismo promove sarcopenia e o declínio da capacidade funcional cardíaca [2]. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Associação Brasileira do Climatério, uma em cada nove mulheres com idade entre 45-64 anos tem alguma forma de DCV, enquanto essa relação passa para uma em cada três após os 65 anos de idade [3]. Vários fatores estão relacionados a este elevado risco cardiovascular e quanto maior o numero dos fatores desencadeantes presentes, maior a chance de apresentar um evento cardiovascular. Um dos principais fatores desencadeantes das DCV em mulheres é a Diabetes Mellitus (DM) [3,4] sendo que, a presença isolada de DM é considerada como alto risco para o desenvolvimento de DCV [3]. No Brasil, em 2005, existiam 8 milhões de indivíduos com DM [4] e a idade influencia diretamente no seu desenvolvimento de na tolerância a glicose diminuída [4,5] e embora não seja fácil estimar o prejuízo social, inúmeros indivíduos diabéticos são incapazes de continuar a trabalhar em decorrência das complicações crônicas ou ficam com alguma limitação no seu desempenho profissional [6]. Portanto, medidas efetivas de prevenção sejam, através da prevenção primaria ou secundaria, são de suma importância para a minimização desse elevado custo social e econômico. A prática da atividade física regular reduz o risco de aparecimento da DM, isso porque promove alterações corporais como a redução da Circunferência da Cintura (CC), do Índice de Massa Corporal (IMC) e da glicemia de jejum [7,8]. Porem, grande número de idosos não goza de habilidades osteomioarticulares para realizar qualquer modalidade de exercício físico [2] sendo importante desenvolver modalidades alternativas para essa população, que promovam resultados eficazes de condicionamento cardiovascular, metabólico e muscular. O alongamento é uma alternativa promissora, pois, permite a aplicação em grupo e com pequenos recursos materiais, otimizando a relação custo-benefício, além de ser uma atividade de fácil execução e entendimento aos participantes [9]. No entanto, os estudos que versam sobre a importância do exercício físico tanto para prevenção [10,11], como para o tratamento da diabetes [12-14], não se referem especificamente ao efeito do alongamento sobre os níveis glicêmicos ou apenas o citam como um dos componentes pré-exercicio, ou seja, como forma preparatória da musculatura para a realização da modalidade de exercício proposta. Já estudos que avaliaram o efeito do alongamento sobre os níveis glicêmicos não apresentaram evidencias conclusivas [15,16]. Portanto, diante do exposto, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito agudo imediato de uma única sessão de alongamento ativo orientado sobre a curva glicêmica em idosas fisicamente inativas não diabéticas. Material e métodos Inicialmente foram avaliadas integrantes de um grupo da terceira idade da cidade de Salvador-BA. Foi adotada como critério diagnóstico para a DM, a glicemia de jejum de 8 a 12 horas, sendo considerados como normais, valores glicêmicos de jejum entre 70 a 100 mg/dl. Para confirmação de que nenhuma idosa era pré-diabética ou diabética, no primeiro exame sanguíneo, foi também dosada a hemoglobina glicada (HG), adotando-se como normais, valores iguais ou inferiores a 7% [6]. Para a classificação do nível de atividade física foi utilizado o questionário internacional de atividade física – versão curta, sendo consideradas fisicamente inativas aquelas classificadas como sedentárias e irregularmente ativas. Foram adotados como critérios de exclusão, idosas que faziam uso de bebidas alcoólicas frequentemente, fumantes, hipo ou hipertiroidismo comprovado por exame laboratorial, ou idosas que apresentaram alguma alteração proprioceptiva e/ou alterações osteomioarticulares que impossibilitaram a realização do alongamento. Não foram excluídas da pesquisa voluntárias que apresentaram hipertensão arterial não controlada de grau leve ou hipertensão controlada, bem como as dislipidêmicas ou em uso corrente de hipolipemiantes, visto que os fármacos que controlam as dislipidemias não interferem diretamente na resposta glicêmica aguda. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Espanhol da Bahia (registro CEP no062/08). Todas as participantes foram informadas sobre os riscos e benefícios da pesquisa, em linguagem compatível com seu grau de instrução, explicitados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que foi assinado de forma cônscia e voluntária. As medidas da tensão arterial foram feitas com o tensiômetro da marca BD Modelo Redondo de tamanho adulto médio e adulto grande, sendo observadas as recomendações das V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (DBHA) [17]. A CC foi medida no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca. O IMC foi calculado pela divisão da massa (kg) pelo quadrado da estatura (m2). Após a coleta inicial de dados, as voluntárias foram submetidas a dois testes de tolerância a glicose, um denominado Teste Basal (TB) e outro Teste Experimento (TE). A veia Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 antecubital foi canulada com um gelcro tamanho 14 ou 16 e hidrolisado com soro fisiológico em cada coleta de sangue, evitando, assim, serem puncionadas várias vezes as veias das voluntárias. No TB foram coletadas amostras de sangue nos tempos 0 (jejum de 12 h), e nos tempos 30 min, 60 min, 90 min e 120 min após a ingestão de 75 g de dextrose. Na coleta de jejum de 12 h foram dosados a glicose, os triglicerídeos e a HG, já nos demais pontos após a ingestão do composto glicêmico foi dosada apenas a glicose, construindo com essas coletas a curva de tolerância a glicose de 2 h. O TE foi realizado sete dias após o TB, sendo aplicada uma sessão de alongamento ativo orientado com duração de 25 min, no qual cada posição era mantida ativamente por 30 segundos com um intervalo entre uma posição e outra de 20 segundos. Foram realizados 10 movimentos bilaterais para membros superiores e 10 para membros inferiores, trabalhando principalmente os seguintes músculos e grupos musculares: flexores e extensores de antebraço, bíceps e tríceps braquial, deltóide, peitorais, quadríceps, posteriores da coxa, adutores, tibial anterior e tríceps sural. A sessão de alongamento foi aplicada após a dosagem da glicose de jejum de 12 h (tempo 0). No TE o composto glicêmico foi administrado logo após a realização do alongamento ativo orientado e assim dosado a glicose também nos tempos 30 min, 60 min, 90 min e 120 min após a ingestão das 75 g de dextrose. Na sessão de alongamento foram preconizadas posturas que trabalhassem os músculos em cadeia. A glicose e os triglicerídeos foram dosados com o uso do equipamento Dimension XPAND, utilizando-se o método da Glicose Oxidase para dosagem de glicose, e o método enzimático para a dosagem dos triglicerídeos. A HG foi dosada pelo método da cromatografia líquida de alta performance, utilizando-se o equipamento D-10 da BIO-RAD. A variável glicemia, tanto no TB como no TE, atendeu ao pressuposto de normalidade pelo teste KS. A análise descritiva envolveu o cálculo de médias e desvios-padrão. Foi também calculada a média das variações entre os pontos de coleta, os deltas (∆s), utilizando o ponto 30min como ponto de referência inicial para formação dos ∆s, já que no repouso verificou-se diferença entre o TB e o TE (p = 0,010). Os ∆s avaliados foram: 60min-30min (∆1); 90min-30min (∆2) e 120min-30min (∆3). A comparação das médias no TB e TE foi feita pelo teste t pareado bi-lateral, adotando como critério de significância p ≤ 0,05. As ferramentas de análise estatística foram o software Excel para tabulação dos dados e construção do gráfico e o software SPSS 13.0 para as análises descritivas e testes estatísticos. Resultados Foram selecionadas 23 idosas não ativas fisicamente, das quais três após a primeira avaliação desistiram de continuar 133 a pesquisa e outras quatro apresentaram tolerância à glicose diminuída, restando finalmente 16 voluntárias. Na Tabela I estão expostas as características antropométricas, laboratoriais e clínicas da amostra. Analisando os dados antropométricos, observa-se que o IMC médio se encontra dentro do padrão eutrófico segundo a recomendação da Organização Mundial de Saúde [18], porém a média da CC está acima do ponto de corte sugerido por Barbosa et al. [19] (84 cm) para predizer risco de DM em mulheres. Tabela I - Características antropométricas, laboratoriais e clínicas das voluntárias. Variável Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) Índice de Massa Corpórea (kg/m2) Circunferência da Cintura (cm) Hemoglobina Glicada (%) Triglicerídeos (mg/dL) Pressão Arterial Sistólica (mmHg) Pressão Arterial Diastólica (mmHg) Média ± DP 68,2 ± 7,1 57,8 ± 9,3 1,55 ± 0,1 24,1 ± 3,3 85,6 ± 13,8 6,2 ± 0,4 79,2 ± 30,3 123,7 ± 14,0 77,5 ± 8,1 A HG fornece a informação do controle glicêmico de 90 a 120 dias, não apenas pontualmente como a glicemia de jejum, e como demonstrado na tabela I os valores da HG variaram em torno de 6,0% o que demonstra um bom controle da glicemia, como recomendado pela Sociedade Brasileira de Diabetes [6], sendo compatível com os resultados colhidos na glicemia de jejum do TB com média de 88,7 mg/dL (Tabela II). Os valores médios da tensão arterial sistólica e diastólica seguem o padrão de normalidade preconizado pela V DBHA [17]. Na Tabela II são descritas as médias dos pontos de coleta da glicemia nos dois dias de teste. Observa-se que no repouso as médias foram diferentes entre o TB e o TE, apresentando significância estatística (p ≤ 0,05) e que o pico médio da glicemia no TB foi aos 60 min enquanto no TE aos 30 min (Gráfico 1). Nota-se ainda que a média aos 60 min, 90 min e 120 min no TE foi menor que no TB. No entanto, quando comparadas as médias dos pontos nos TB e TE, não foram encontradas diferenças estatísticas significantes em nenhum deles. Na Tabela III são descritas as médias das variações entre os intervalos de coleta da glicemia. Nota-se, que entre os pontos 30 min a 60 min (∆1) houve um descenso de 8,3 mg/ dL no TE enquanto no TB ocorreu um aumento de 6,5 mg/ dL levando a uma diferença de aproximadamente 15 mg/dL entre esses pontos (p = 0,011). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 134 Tabela II - Comparação das médias dos valores glicêmicos (mg/ dL) do TB e TE Tempo de Coleta Repouso 30min 60min 90min 120min Teste Basal Experimento Média ± DP Média ± DP 88,7 ± 7,75 85,1 ± 8,46 132,2 ± 32,48 137,2 ± 17,78 138,7 ± 40,95 128,7 ± 28,11 127,5 ±34,15 116,7 ± 28,13 120,9 ± 18,54 110,1 ± 24,27 p* 0,010 0,519 0,168 0,177 0,119 * Teste t pareado bilateral de comparação entre médias. Tabela III - Comparação das médias das variações (∆) dos valores glicêmicos (mg/dL) do TB e TE. Delta (∆) 60 min a 30 min 90 min a 30 min 120 min a 30 min Média das Variações TB TE 6,5 -8,3 -4,6 -20,3 -11,2 -26,9 p* 0,011# 0,067 0,098 * Teste t pareado bilateral de comparação entre médias. # p ≤ 0,05. Observa-se ainda, que apesar da curva glicêmica do TE continuar apresentando um descenso maior que a do TB, nos demais ∆s (∆2 e ∆3), não foram verificadas diferenças significantes estatisticamente (p ≤ 0,05). Discussão De acordo com os resultados, uma sessão de alongamento ativo orientado não provoca diminuição significativa da curva glicêmica de idosas inativas não diabéticas. Apesar de os valores médios da glicemia, nos pontos 60 min, 90 min e 120 min, terem sido menores no TE, não apresentaram diferença estatística. Já no ∆ 1, entre o ponto 30 min e 60 min, a diferença entre os testes foi estatisticamente significante (p = 0,011), mas nos demais ∆s, entre o ponto 30 min e 90 min e 30 min e 120 min, as diferenças novamente não apresentarem significância estatística para (p ≤ 0,05). E sabido que o exercício físico, mais especificamente a contração muscular, promove o influxo de glicose para a célula sem a necessidade da insulina. Dessa forma, pode-se dizer que o exercício físico age como um estimulador do consumo de glicose plasmática pela célula muscular, já que aumenta a necessidade de energia aumentando o consumo dos carboidratos e também possibilita a entrada rápida da glicose sem a necessidade da insulina [20]. Portanto, e plausível pensar que o estiramento do ventre muscular provocado por uma sessão de alongamento não estimula o influxo de glicose na célula muscular e consequentemente não diminui os níveis plasmáticos de forma aguda, talvez por não estimular os dois mecanismos acima citados: o aumento do gasto energético e a translocação do glut4 na membrana muscular o que pro- voca a entrada rápida de glicose na célula sem a necessidade da insulina. Outro motivo que pode explicar o resultado dessa pesquisa e que o metabolismo da glicose de forma aguda esta diminuído em idosos [21], sendo necessário exercício em intensidades maiores para obter os mesmos resultados de indivíduos mais jovens [22]. Uma sessão de alongamento apresenta um baixo gasto calórico o que pode não induzir a um consumo maior da glicose pelas células musculares especialmente em idosos. A American Diabetes Association [23] recomenda exercícios aeróbicos de intensidade moderada como, caminhada, natação, bicicleta e dança, e também exercícios resistidos para forca com pesos livres ou aparelhos, entretanto, em nenhum momento e recomendado o alongamento como única forma de atividade física, ja que este não atinge a intensidade recomendada de 60% a 70% do VO2max para se conseguir os resultados desejados [4,23]. Conclusão A análise dos resultados permite concluir que uma sessão de alongamento ativo orientado não altera de forma significante a curva glicêmica de idosas fisicamente inativas e não diabéticas. No entanto, são necessários mais estudos, com um número maior de voluntárias, para que se possa compreender e evidenciar melhor o efeito agudo que o estiramento muscular, provocado por uma sessão de alongamento, pode provocar sobre o metabolismo da glicose em idosas não dibéticas, assim como, em outros subgrupos. Referências 1. Camarano AA. Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição demográfica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 2. Guimarães LHCT, Galdino DAC, Martins FLM, Abreu SR, Lima M, Vitorino DF. Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fisioterapêutico. Revista Neurociância 2004;12:130-33. 3. Fernandes CE, Pinho-Neto JSL, Gebara OCE, Santos Filho RD, Pinto Neto AM, Pereira Filho AS, et al. I Diretriz Brasileira sobre prevenção de DCV em mulheres climatéricas e a influência da Terapia de Reposição Hormonal (TRH) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Associação Brasileira do Climatério (SOBRAC). 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Diabetes Care 2004;27:558-62. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 136 ARTIGO ORIGINAL Creatinafosfoquinase pré e pós-treinamento físico e incidência de lesões em atletas de voleibol Creatine phosphokinase pre and post physical training and incidence of injuries in volleyball athletes Dayane Alcântara*, Sonia Elizabete Will*, Sérgio Henrique Borin, M.Sc.** *Doutoranda, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Departamento de Cirurgia, São Paulo/SP, **Discente da Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba/SP Resumo A prática desportiva recreativa e de competição vem crescendo exponencialmente, aumentando também o índice de lesões inerentes ao esporte. O objetivo deste estudo foi avaliar a variável creatinafosfoquinase (CPK) antes e após treinamento físico em atletas e investigar a incidência de lesões músculo esqueléticas no mesmo grupo. Este estudo foi realizado com 12 atletas da equipe de voleibol da UNIFEOB. Foi realizada a dosagem de CPK, e utilizado o Questionário Nórdico, para avaliar a condição musculoesquelética. A CPK apresentou aumento significativo após o exercício físico, e quanto às queixas musculoesqueléticas a região mais acometida foi a de punho/mãos. Podemos concluir que os métodos utilizados neste trabalho são simples e de baixo custo para avaliação dos desportistas e que podem auxiliar na prevenção de lesões. Abstract The recreational sporting practice and competition has grown exponentially. The objective of this study was to evaluate the variable creatine phosphokinase (CPK) before an after physical training in athletes and to investigate the incidence of skeletal muscle injuries in the same group. This study was carried out with 12 athletes of the UNIFEOB volleyball team. The dosage of CPK was performed, and the Nordic Questionnaire has been applied to evaluate the musculoskeletal conditions of the athletes. The CPK level showed significant increase after physical exercises, and the musculoskeletal pain most frequently reported was of fist/hands. We concluded that methods used in this study are simple and inexpensive to evaluate the sportsmen and they can help in the injuries prevention. Key-words: volleyball, injuries, biochemistry, physical therapy. Palavras-chave: voleibol, lesões, bioquímica, fisioterapia. Recebido em 6 de dezembro de 2011; aceito em 6 de junho de 2012. Endereço para correspondência: Dayane Alcântara, Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87, 05508-270 São Paulo SP, Tel: (11) 3091-7690, E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Introdução A prática desportiva recreativa e de competição vem crescendo exponencialmente, o que requer grandes cuidados com relação às lesões. O voleibol é um esporte muito praticado no Brasil atualmente. Trata-se de um esporte coletivo de grande dinamismo e aplicação constante de fundamentos técnicos e se destaca pelo desenvolvimento da velocidade, força, flexibilidade e resistência [1]. Isso faz com que a prática deste esporte predisponha a lesões que levam muitas vezes ao afastamento da atividade demandando tratamento especializado, por ser uma modalidade caracterizada pelas grandes repetições de saltos durante movimentos de bloqueios e levantamentos [2]. A sobrecarga repetitiva sobre uma estrutura músculo esquelética pode gerar lesões crônicas [3]. As lesões musculares são divididas em dois grupos importantes: as distonias; e as distensões que são descritas em três estágios: estágio I correspondente a uma distensão muscular, estágio II onde ocorre ruptura parcial do músculo, e estágio III onde há uma ruptura muscular total. Essas lesões podem ser causadas por fatores extrínsecos e intrínsecos gerando uma série de alterações bioquímicas celulares [4]. Os fatores intrínsecos englobam variáveis como: idade, sexo, estatura, composição corporal, nível de aptidão física, período de tratamento da lesão, questões nutricionais e características psicológicas e sociais. E os fatores extrínsecos: a periodicidade e intensidade da atividade física realizada, as condições atmosféricas e equipamentos, e também o tipo de modalidade desportiva praticada bem como local de treino e instalações desportivas [5]. O processo de lesão pode ser dividido em quatro estágios, sendo, o primeiro compreendido pela desorganização e rompimento das miofibrilas; o segundo estágio ocorre após 3 a 4 horas, quando se inicia o processo degradativo; o terceiro estágio é caracterizado pela resposta inflamatória no tecido. E no quarto estágio e último, que começa entre quatro a seis dias após o exercício, ocorre regeneração das miofibrilas lesadas [6]. É descrito que exercícios de alta intensidade, especialmente aqueles que envolvem contrações excêntricas, são frequentemente associados à lesão muscular, e consequentemente, ao aumento na concentração de CPK [3,7-10]. O treinamento diário pode resultar em elevação de CPK, e os níveis de concentração da enzima durante períodos de descanso podem então se tornar maiores em indivíduos treinados [11]. Porém, em atletas altamente treinados, este aumento pode não ocorrer, indicando adaptações do organismo ao tipo de exercício realizado, ao qual essa elevação no plasma vai ser menor se relacionada a indivíduos sedentários. Durante a competição, um aumento da CPK poderia caracterizar também uma preparação física inadequada para a mesma, devido à falta ou excesso de treinamento [12]. O voleibol hoje é um dos esportes mais procurados, atualmente, ao qual, pela demanda de sobrecarga, saltos, corridas 137 e deslocamentos, fazem com que o indivíduo necessite de uma condição atlética muito boa, caso contrário, o voleibol poderá predispor a muitas lesões, principalmente as chamadas lesões por overtraining. Portanto, nosso objetivo foi avaliar a variável creatinafosfoquinase (CPK), antes e após treinamento físico em atletas de voleibol feminino. Além de investigar a incidência de lesões músculo esqueléticas. Material e métodos O projeto foi aprovado sob parecer número 338/2008, e desenvolvido em conformidade com a resolução 196/96, do Conselho Nacional da Saúde, após aprovação prévia junto ao CEP (Comitê de Ética em Pesquisa) da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) – UNICAMP. Descrição dos sujeitos Foram avaliados 12 atletas da equipe de voleibol da UNIFEOB de São João da Boa Vista/SP, todos do sexo feminino, com idade média de 19 anos (± 0,95) que mantinham em média 12 horas e 30 min de treinamento semanal. A participação no estudo foi voluntária e todos os sujeitos que concordaram em participar assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sem receber qualquer ônus. Para ser incluído na pesquisa, o sujeito deveria ser atleta da equipe feminina de voleibol da UNIFEOB, São João da Boa Vista-SP e ter mais de 18 anos. Foram excluídas do experimento duas atletas que não compareceram ao treinamento no qual foi realizada coleta de sangue. Instrumentos para coleta de dados Na coleta de dados foram utilizados instrumentos que abordaram as seguintes temáticas: sintomas musculoesqueléticos e coleta sanguínea para dosagem de CPK. Sintomas musculoesqueléticos Para avaliar os sintomas músculo esqueléticos foi utilizado um instrumento derivado do questionário Nórdico, que tem como objetivo avaliar problemas musculoesqueléticos abordando a presença de dores musculoesqueléticas, nos últimos doze meses e nos últimos sete dias, a ocorrência de incapacidade funcional e se houve procura por profissionais nos últimos doze meses [13]. Dosagem de creatinafosfoquinase (CPK) Foram coletados 1,5 ml de sangue, imediatamente após o treino, através de seringas comuns, o qual foi armazenado em tubos de EDTA, para posterior análise. Realizou-se a centrifugação deste sangue em uma centrífuga da marca Excelsa Baby I®, a 1500 rotações por min (rpm) durante 5 min. Foi 138 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 retirado o soro sobrenadante que foi armazenado em tubos de Eppendorf. Após este processo, este soro foi levado para análise, que foi realizada através da máquina Labtest® da empresa Labquest®. Utilizou-se o kit “CK NAC 77” da Centerlab®. Análise estatística Com relação ao questionário nórdico foram calculadas as percentagens de queixas de acordo com cada região anatômica. Para a variável creatinafosfoquinase (CPK), foram realizadas análises descritivas das medidas realizadas visando estabelecer o padrão característico da variável e verificar das pressuposições comumente utilizadas em análises de dados experimentais. As análises descritivas foram realizadas por meio de procedimento Proc Means do programa Statistical Analysis System, versão 9.1 (SAS, 1995). Para avaliação da variável concentração enzimática, segundo os diferentes momentos pré-exercício (A) e pós-exercício (B), adotou-se como procedimento PROC TTEST do programa supracitado, o qual utiliza nas respectivas comparações, o Teste t de Student considerando os dados pareados. Resultados Questionário nórdico A seguir, na Tabela I, serão apresentados os resultados encontrados com a aplicação do Questionário Nórdico, com relação às queixas musculoesqueléticas nos últimos 12 meses, nos últimos 7 dias também as queixas sobre a impossibilidade de realizar atividades esportivas e de vida diária devido a alguma lesão e a incidência de procura por algum profissional da área da saúde (médico e/ou fisioterapeuta) para solucionar o problema musculoesquelético. A região mais acometida nos últimos 12 meses e nos últimos 7 dias foi punhos/mãos. Se agruparmos as queixas por segmentos como; tronco (pescoço, parte superior e inferior das costas), membro superior (ombro, cotovelo, punhos/mãos) e membro inferior (quadril/coxas, joelhos, tornozelos/pés), a maior incidência de lesões relatadas neste período foi em membro inferior que representa 36,95% das lesões. Quanto às lesões que levaram as atletas a procurarem por um profissional da saúde, as regiões com maior número de queixas foram tornozelos/pés. Se observarmos a divisão por segmentos novamente, os mais acometidos foram os membros inferiores, predominantes em todos os questionamentos feitos. A região de tornozelo/pé foi a que apresentou maior incidência de impedimento de treino e atividades diárias. Em relação aos segmentos, o que causou maior número de afastamentos foi novamente o membro inferior. Creatinafosfoquinase e treinamento físico Os números de observações e as estimativas de médias, desvios padrão, coeficientes de variação, valores de mínimo e máximo para a variável concentração enzimática (CONC_ ENZ) da creatinafosfoquinase (CPK), segundo os diferentes momentos encontram-se na Tabela II. Tabela II - Concentração enzimática no pré (A) e pós (B) treinamento das atletas de voleibol. Número de observações (N), média (MED), desvio padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valor mínimo (MIN) e máximo (MAX) para a variável analisada nos diferentes momentos. Variável A B N 12 12 MED DP CV 72,33 40,08 55,40 163,33 106,56 65,24 MIN MAX 24,00 145,00 48,00 412,00 Pôde-se perceber que os valores mínimos encontrados pré-exercício foram de 24U/l e no pós-exercício de 48U/l, os valores máximos encontrados foram 145U/l durante o período pré-exercício e de 412U/l no pós-exercício. As estimativas de médias da variável concentração enzimática (Conc_enz), da CPK (creatinafosfoquinase) segundo os diferentes momentos podem ser observadas na Figura 1. Tabela I - Porcentagem de queixas relatadas no Questionário Nórdico durante a realização da avaliação inicial das atletas. Pescoço Ombros Parte Superior das Costas Cotovelos Punhos/Mãos Parte Inferior das Costas Quadril/Coxas Joelhos Tornozelos/Pés Nos últimos 12 Nos últimos 12 meses, você meses, você teve foi impedido (a) de realizar problemas como dor, atividades normais (trabaformigamento e/ou lhos, atividades domésticas dormência em (%): e de lazer) (%): 33,3 16,6 33,3 8,3 33,3 0 16 0 75 25 50 0 33,3 8,3 50 16,6 58,3 16,6 Nos últimos 12 meses você consultou algum profissional da área de saúde (ex.: médico, fisioterapeuta) por causa dessa condição em (%): 8,3 8,3 8,3 0 8,3 8,3 8,3 16,6 33,3 Nos últimos 7 dias você teve problema em?(%): 8,3 8,3 8,3 0 25 8,3 16,6 25 50 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Figura 1 - Estimativa média da variável concentração enzimática (Conc_Enz) no pré-exercício (A) e pós-exercício (B). 200 * 180 160 140 U/l 120 100 80 60 40 20 0 A B A variável Conc_Enz, segundo os diferentes momentos, apresentou valor altamente significativo pelo teste t**= P < 0,01(significativo a 1% de probabilidade) com maior valor médio associado ao momento B (pós-exercício). Discussão Nos estudos de Carazzato apud Pacheco et al. [14] houve maior ocorrência de lesão do tornozelo, principalmente em esportes como voleibol, em nossos estudos foi a segunda maior queixa nos últimos 12 meses e nos últimos sete dias. O estudo acima corrobora outros estudos [1,9] com relação à predominância de lesões em tornozelos seguidos de joelhos, em atletas de voleibol feminino, relacionado ao grande número de impactos sofridos em pouco tempo por estes atletas amadores, quando comparado a desportistas de alto nível. Os autores atentaram ainda para a necessidade de um trabalho de fortalecimento muscular, que vai ao encontro dos estudos Beunen e Thomis apud Benetti et al. [6], que ressaltaram ser um componente importante na aptidão física. E, segundo Malta e Nascimento apud Benetti et al. [6] leva ao aumento na capacidade de resposta muscular, diminui a sobrecarga e a possibilidade de lesões. Isso demonstra que o voleibol é uma atividade esportiva que exige preparação das articulações e músculos. E se o atleta não estiver preparado fisicamente para demandas altamente energéticas poderá ser acometido de lesões por sobrecarga. Solgard et al. apud Santos et al. [9] atribuíram uma maior incidência de lesões em membros inferiores à grande quantidade de movimentos de aterrissagem de saltos, que seria para ele o maior causador de lesões em atletas de voleibol. Quanto às queixas crônicas, a região mais acometida foi parte inferior das costas (lombalgia), que em nosso trabalho foi a terceira maior queixa. Nas lesões agudas o autor descreve como as mais frequentes as de joelhos (entorse de joelho), pescoço (torcicolo agudo), tornozelo (entorse tíbio-társica), 139 cotovelo (entorse), quadril/coxas (contratura de quadríceps) e joelhos (ruptura de gastrocnêmio medial). A região corporal mais lesada, portanto, foi o membro inferior, o que vai ao encontro dos nossos resultados, o que nos leva a reafirmar o fato, de que são os saltos verticais os grande causadores de lesões no voleibol [15]. Estudos confirmaram ainda a existência de relação entre alterações posturais e incidência de lesões em jogadores de futsal, devido à sobrecarga mecânica gerada pelas alterações posturais [16], que segundo Marcondes apud Ribeiro et al. [16], são causadas pelo treinamento intenso e repetitivo. Estes dados mostram que a atividade física pode levar a uma sobrecarga na coluna vertebral. Observamos que muitos dos nossos atletas referiram dor localizada na coluna, especificamente na lombar, por ser a região de maior sobrecarga no voleibol. Deve-se atribuir esta sobrecarga a grande quantidade de saltos que um atleta de voleibol tem que realizar durante treinos e jogos, sobrecarregando em demasia os membros inferiores. Pode haver divergência quanto à incidência de lesões esportivas. Variações podem ocorrer em decorrência de fatores específicos do tipo de esporte praticado, tempo de atividade esportiva e o nível de competição do atleta, bem como gesto esportivo específico de cada esporte [2]. Atualmente, conhecer o atleta e suas características psicológicas é importante para os profissionais da ciência desportiva, devido ao grande crescimento do esporte perante a sociedade que acaba exigindo muito desse atleta aumentando os problemas que podem afetá-lo. E em nosso estudo devemos atentar para o fato de que as atletas mantêm também uma vida extraprofissional como cuidados de casa para àquelas que moram sozinhas, estar longe da família e dos amigos, preocupação com situações escolares, dentre outros, que podem levar ao estresse e ser este também um dos causadores do grande número de queixas encontradas neste trabalho [17]. O exercício físico realizado de forma inadequada ou excessiva pode provocar alterações importantes como modificações estruturais e bioquímicas, que podem ser responsáveis pela ocorrência de dores e disfunções musculoesqueléticas [18]. Atletas de resistência apresentam modificações bioquímicas típicas, após a prática esportiva, caracterizadas por aumento da atividade da lactato da creatina quinase total e suas frações. Entretanto, os estudos que compreendem valores de referência para parâmetros bioquímicos em atletas profissionais durante uma sessão de treinamento ainda são inconclusivos [19]. Torres et al. [20] realizaram um programa de exercícios excêntricos, por meio de um dinamômetro, que não verificou aumento significativo nos valores da enzima após 24 horas do treinamento. Lavender e Nosaka [11] levantaram a hipótese de que o exercício físico ao longo do tempo possa exercer um efeito protetor sobre o músculo. Portanto, nem sempre a concentração dessas enzimas reflete o grau de lesão. Portanto, a ausência de alteração nas mesmas não garante que o músculo não tenha sido lesado com o treino [21]. 140 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Um estudo com 10 homens treinados, mediante a realização de sete séries de 10 repetições de contração excêntrica de quadríceps, verificou que houve um aumento enzimático estatisticamente significativo, após 24 horas de realização do exercício. Esse aumento é atribuído ao aumento da permeabilidade e interrupções das membranas musculares. O aumento estatisticamente significativo será determinado por fatores como intensidade, duração e velocidade dos movimentos que pode ser uma das variáveis que fez com que os dois autores tivessem respostas diferentes quanto ao aumento de CPK [22]. Além disso, também podemos verificar que o aumento na enzima nos dois estudos aconteceu, após 24 horas de treinamento, levantando a hipótese de que essa enzima comece a ser liberada tardiamente [23,24]. Esse aumento tardio é devido ao fato de que esta enzima (CPK) é transportada via circulação linfática, que por sua vez é mais lenta que a sanguínea [4]. Zoppi et al. [25] realizaram a dosagem durante uma temporada competitiva, em jogadores de futebol, e não observaram diferença significativa, ao contrário dos nossos estudos, porém os valores encontrados por ele sempre estiveram acima da média dos valores de referência de sujeitos sedentários, o que indica um maior nível de alteração muscular ou uma maior permeabilidade do sarcolema destes indivíduos, ou ainda pelo próprio estresse induzido pelo treinamento a que são submetidos diariamente. Isto pode explicar talvez os altos valores encontrados no nosso estudo durante a fase pré-exercício. Ou seja, são encontrados maiores níveis plasmáticos da enzima em indivíduos treinados [12]. Em um estudo que analisou os esforços das lutas de judô, de 90, 180 e 300 segundos encontrou um maior aumento enzimático nas lutas com maior duração e atribui esse aumento a possíveis microlesões da membrana muscular, pois à medida que o esforço aumenta a porosidade e/ou rompimento da membrana, permitindo a passagem dessas proteínas para o plasma. Supõe-se então que o aumento da intensidade ou duração do exercício faz com que haja uma elevação dos níveis destes marcadores bioquímicos de estresse [26]. Porém, as alterações bioquímicas podem sofrer influência de fatores intrínsecos e extrínsecos como gênero, variação cronobiológica, circadiana, repouso prévio, intensidade do treinamento, sazonalidade, condições climáticas, hidratação, entre outros [19]. O estresse está inserido em todos os treinamentos, competições e fatores não relacionados a treinamento ou competições como sociais, ocupacionais, nutricionais, viagens dentre outros que podem gerar vários sintomas como depressão, apatia, instabilidade emocional, diminuição do desempenho, cansaço e aumento da vulnerabilidade a lesões [8]. Substâncias que não têm a capacidade de atravessar a barreira da membrana sarcoplasmática, como a CPK, extravasam para o meio extracelular, após dano nas estruturas musculares, tornando o aumento da concentração sérica dessas substâncias potentes marcadores indiretos de lesão muscular, permitindo a avaliação da condição músculo esquelética [18]. A resposta tardia da CPK ao exercício, encontrada neste trabalho, deve-se à captação da enzima pelos linfáticos, forma mais lenta de circulação, o que não corrobora nossos estudos no qual encontramos um valor altamente significativo logo após o exercício físico. Porém devemos considerar o fato de que essas atletas já estavam em um período de treinamento intenso, pré-campeonato, o que pode acarretar danos cumulativos justificando assim o aumento da enzima logo após o exercício, confirmando assim a alta incidência de lesões encontradas com aplicação do Questionário Nórdico. Conclusão Através dos dados obtidos, podemos perceber que o Questionário Nórdico é um método valioso para a avaliação das queixas musculoesqueléticas em atletas, assim como em qualquer outra atividade profissional. Com relação à análise da concentração sérica da enzima CPK, também é um método muito importante como meio diagnóstico e preventivo na avaliação da função muscular dos desportistas. Enfim, podemos concluir que existem vários meios de avaliação, cabendo aos fisioterapeutas, e demais profissionais do esporte, conhecê-los e utilizá-los a fim de prevenir lesões e ou diagnosticá-las, proporcionando maior segurança para os atletas e uma vida profissional mais saudável. Agradecimentos Agradeço ao meu orientador Sérgio Henrique Borin, pela orientação e amizade durante os anos de execução deste trabalho. Ao prof. Dr. Carlos Eduardo Ambrósio e sua aluna Marina Pandolphi Brólio, às professoras Erica Zimberknopf, Ana Fávia de Carvalho e Patrícia Cantú Moreira Giordano, pelo apoio e por terem tornado possível a execução deste trabalho. À prof. Dra. Maria Angélica Miglino pelo apoio e utilização do laboratório. Referências 1. Agel J, Palmieri-Smith RM, Dick R, Wojtys EM, Marshall SW. Descriptive Epidemiology of Collegiate Women’s Volleyball Injuries: National Collegiate Athletic Association Injury Surce System, 1988-1989 through 2003-2004. J Athl Train 2007;42:295-302. 2. Arena SS, Carazzato JG. A relação entre o acompanhamento médico e a incidência de lesões esportivas em atletas jovens de São Paulo. Rev Bras Med Esporte 2007;13:217-21. 3. Faggioni RI, Lucas RD, Al Gazi ADF. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 142 ARTIGO ORIGINAL Morfologia e histomorfometria do músculo esquelético de ratas submetidas à estimulação elétrica neuromuscular Musculoskeletal morphology and histomorphometry of female rats submitted to neuromuscular electrical stimulation Vinícius Cestari do Amaral, Ft., M.Sc.*, Rodrigo Rodrigues Marcondes, Ft.**, Luiz Carlos Rodrigues Guanabara, Ft., Esp, M.Sc.***, Manuel de Jesus Simões, D.Sc.****, Cristiano Schiavinato Baldan, Ft.*****, Jairo José Matozinho Cubas, Esp, M.Sc.****** *Doutorando da Disciplina de Ginecologia, Laboratório de Ginecologia Estrutural e Molecular - LIM 58, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), São Paulo/SP, **Mestrando da Disciplina de Ginecologia, Laboratório de Ginecologia Estrutural e Molecular - LIM 58, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), São Paulo/SP, ***Professor e Coordenador do Curso de Fisioterapia da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP - Campus Guarujá), Guarujá-SP, ****Chefe da Disciplina de Histologia e Biologia Estrutural da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo/SP, *****Coordenador Geral do Curso de Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP), Professor do Curso de Graduação em Fisioterapia da Universidade Paulista (UNIP) e Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), ******Biólogo, Professor Adjunto da Faculdade Unida de Suzano (UNISUZ), Suzano/SP Resumo Abstract do músculo esquelético. Key-words: morphology, gastrocnemius muscle, electrotherapy. Objetivo: Analisar a morfologia e a histomorfometria do tecido muscular esquelético de ratas submetidas à estimulação elétrica neuromuscular (EENM). Material e métodos: Foram utilizadas oito ratas divididas em dois grupos, contendo quatro animais cada, sendo: grupo I (GI) - controle; e grupo II (GII) - submetido à EENM. A EENM foi realizada no músculo gastrocnêmio das ratas do GII durante 8 semanas. Após esse período, os animais foram sacrificados e o músculo gastrocnêmio foi removido para montagem nas lâminas com a coloração de hematoxilina e eosina. As lâminas foram analisadas em microscopia de luz e as imagens capturadas em um sistema de análise de imagens, no qual foi mensurada a circunferência das fibras musculares e os dados foram analisados estatisticamente. Resultados: Nossos dados revelaram maior circunferência das fibras musculares no GII (1876,1 ± 33,98 µm²) em relação ao GI (1516,6 ± 318,1 µm²), diferença esta sendo estatisticamente significativa (P < 0,001). Conclusão: Foi mostrado que a EENM promove a hipertrofia Objective: To analyze the morphology and histomorphometry of musculoskeletal tissue of female rats submitted to neuromuscular electrical stimulation (NMES). Material and methods: Eight female rats divided into two groups, each containing four animals, were used as follows: group I (GI) - control; and group II (GII) - submitted to NMES. NMES was performed in rats gastrocnemius muscle of GII for 8 weeks. After this period, the animals were sacrificed and the gastrocnemius muscle was removed and mounted on glass slides with haematoxylin and eosin staining. Glass slides were analyzed by optical microscopy and their images were captured in a picture analysis system, the musculoskeletal cells circumference was measured and data were statistically analyzed. Results: Our data showed that musculoskeletal cells circumference of GII (1876.1 ± 33.98 µm²) was larger than GI (1516.6 ± 318.1 µm²), and this difference is statistically significant (P < 0,001). Conclusion: We concluded that NMES promotes musculoskeletal hypertrophy. Palavras-chave: morfologia, músculo gastrocnêmio, eletroterapia. Recebido em 7 de fevereiro de 2012; aceito em 25 de setembro de 2012. Endereço para correspondência: Vinícius Cestari do Amaral, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Laboratório de Ginecologia Estrutural e Molecular - LIM 58, Av. Dr. Arnaldo, 455/2113, 01246-903 São Paulo SP, Tel: (11) 3061-7033, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Introdução Material e métodos A estimulação elétrica neuromuscular (EENM) consiste na aplicação intermitente de corrente elétrica para promover a contração em músculos superficiais [1]. Esse tipo de corrente produz contrações musculares através de estimulações elétricas que despolarizam o nervo motor, produzindo uma resposta sincrônica em todas as unidades motoras do músculo [2]. A resposta da unidade motora muscular proporciona a base para a aplicação terapêutica da estimulação elétrica, a qual a atividade fica restrita ao músculo estimulado, e o músculo é menos influenciado pelas outras alterações que podem ocorrer no corpo durante o exercício [3]. As alterações induzidas pela estimulação elétrica na propriedade contrátil do músculo estão associadas às alterações na composição das proteínas miofibrilares, determinadas por alterações na expressão gênica dessas proteínas e enzimas musculares, como forma de adaptação do músculo às mudanças do seu padrão de atividade [4]. De acordo com Dellito e Snyder-Mackler [5], há duas teorias distintas para a explicação do fortalecimento usando a EENM. A primeira teoria propõe que o ganho de força com EENM ocorre de maneira similar ao ganho de força com exercício voluntário. Uma segunda teoria propõe diferenças fisiológicas entre a excitação elétrica e a contração voluntária, por exemplo, a forma inversa de ordem do recrutamento das unidades motoras. Durante a contração voluntária recrutam-se primeiro as células de formato pequeno, de condução lenta (tônicas) que são mais resistentes à fadiga e, posteriormente, recrutam-se as do tipo II (fásicas). Já na contração eletricamente induzida, o recrutamento ocorre primeiro nas células do tipo II (menos resistentes à fadiga) e posteriormente nas células do tipo I [6]. Segundo Evangelista et al. [7], a EENM pode ter o mesmo efeito que a contração muscular voluntária no que se diz respeito ao aumento temporário do metabolismo muscular. Porém, ainda são necessários estudos para se pesquisar mais especificamente quais os efeitos da EENM na variação metabólica. Nas clínicas de Fisioterapia, a EENM é um recurso físico empregado para o fortalecimento e hipertrofia muscular [8], sendo aplicado para as situações de coadjuvante do exercício, cura de enfermidades ou melhora do condicionamento físico [9]. Mas existe certo ceticismo na aplicação de EENM devido à escassez de conhecimento sobre os efeitos que este recurso exerce na fisiologia muscular [1]. Atualmente, espera-se um maior desenvolvimento nas pesquisas em relação à aplicação da EENM, tendo em vista que a terapia por EENM ainda é incipiente e abre novas perspectivas em relação às estratégias para o recondicionamento do músculo esquelético [10]. Devido à carência de estudos de embasamento histofisiológico para a aplicação da EENM em músculos sadios, o presente trabalho teve como objetivo analisar a morfologia e a histomorfometria do tecido muscular esquelético de ratas submetidas à EENM. Animais 143 Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (CEP - UNIFESP) sob o parecer 0986/07, o experimento foi iniciado. Para o estudo, foram utilizadas oito ratas adultas (Rattus norvegicus albinus), de aproximadamente três meses de idade, e peso médio de 195 gramas, sendo estas fornecidas pelo Centro de Desenvolvimento de Modelos de Experimentação (CEDEME) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e mantidas no Biotério da Disciplina de Histologia e Biologia Estrutural em condição de confinamento em gaiolas plásticas medindo 45 x 35 x 15 cm, respectivamente, de comprimento, largura e altura, com tampa gradeada de metal, com alimentação e água ad libitum, em temperatura ambientes de 22 ºC, iluminação artificial com lâmpadas fluorescentes (modelo luz do dia de 40W, Phillips) mantendo-se fotoperíodo claro de 12 horas intercalado com escuro de 12 horas, considerando-se o período de luz das 7:00 às 19:00 horas. Os animais foram divididos em dois grupos, alocados em duas gaiolas plásticas diferentes, com quatro animais cada, de modo que o grupo I (GI) foi utilizado como controle e o grupo II (GII) foi submetido à EENM. Protocolo de aplicação da EENM Após anestesia na região peritoneal e tricotomia da região posterior da pata esquerda, os animais foram imobilizados em decúbito ventral, de modo a permitir movimentação livre da articulação talocrural esquerda no momento da EENM. Dois eletrodos, de 1 cm² cada, com gel condutor (CARCI) foram acoplados à pele dos animais, sendo um eletrodo próximo à inserção distal do músculo gastrocnêmio e o outro no ponto motor do referido músculo, próximo a sua inserção proximal. A EENM foi realizada através do aparelho FESMED II (CARCI), com pulso bifásico assimétrico, parametrizado em frequência de 50 Hz, ciclo ON-OFF na proporção de 1/1 e rampa de subida de trens de pulso de 2,2 segundos. A intensidade aplicada foi de, aproximadamente, 0,5 mA. O experimento teve duração de oito semanas, de modo que as intervenções com EENM ocorreram três vezes por semana em dias não consecutivos. Em cada intervenção foram induzidas eletricamente 20 contrações musculares. Este protocolo foi adaptado de Camargo et al. [8]. Processamento do músculo gastrocnêmio para histologia Após oito semanas de experimento, os animais, sob efeito anestésico, foram sacrificados e o músculo gastrocnêmio esquerdo foi retirado de cada animal. Estes músculos foram fixados em formol a 10% por 12 horas, e em seguida desidra- 144 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 tados em concentrações crescentes de álcool etílico absoluto, diafanizados pelo xilol e impregnados pela parafina líquida em estufa com a temperatura em 60°C. A inclusão foi realizada para que fosse possível observar, nas lâminas histológicas, cortes transversais do músculo esquelético. Em seguida, os blocos foram cortados em micrótomo do tipo Minot, ajustado para 4 µm. Os cortes obtidos foram colocados em lâminas previamente untadas com albumina de Mayer e, depois, mantidas em estufa regulada à temperatura de 46°C, durante 24 horas, para secagem. As lâminas foram então submetidas ao método de coloração pela hematoxilina e eosina (HE) para posteriores análises morfológica e histomorfométrica ao miscroscópio de luz (modelo Axiolab Standart 20, Carl Zeiss), com aumento de 400x. reticulares ao redor de cada célula muscular, camada esta denominada como endomísio. As fibras musculares em corte transversal apresentaram-se normais com sua forma poligonal, multinucleada e núcleos periféricos (Figuras 1 e 2). Porém, foi observada uma diferença entre a área das células musculares dos grupos experimentais, de modo que as células do GII apresentaram maior área, sugerindo uma hipertrofia muscular (Figura 2). Figura 1 - Fotomicrografia do tecido muscular esquelético de rata do grupo controle (400x). Protocolo para análise histomorfométrica A análise histomorfométrica foi realizada por meio de um microscópio de luz (Axiolab Standart 20, Carl Zeiss) acoplado a uma câmera de vídeo colorida (modelo Hyper Had SSC-DC 54, Sony) que transmite a imagem para um computador, dotado de um software de análise gráfica (Imagelab, Softium) instalado em sistema operacional Windows XP. Foi utilizado um campo representativo de toda região do tecido muscular esquelético para o estudo das lâminas e, em seguida, foi mensurada a circunferência em µm² de cada fibra muscular para posterior análise estatística. Análise estatística Figura 2 - Fotomicrografia do tecido muscular esquelético de rata submetida à EENM (400x). Após o cálculo da média do total de mensurações da circunferência das fibras musculares das ratas do grupo I e grupo II, verificou-se a significância estatística entre os valores das mensurações dos grupos experimentais pelo teste T-student não pareado, com valor de significância estipulado em p < 0,05. Resultados Análise macroscópica do músculo gastrocnêmio Após a observação macroscópica do músculo gastrocnêmio notou-se que não houve alteração significante na morfologia macroscópica básica em todos os grupos, ou seja, o músculo encontrou-se ligado a estruturas ósseas através dos tendões, contínuos com o tecido conjuntivo que o reveste, o epimísio. Análise morfológica Microscopicamente, o tecido muscular dos dois grupos experimentais apresentou epimísio visível, com essa camada de tecido conjuntivo penetrando o músculo e circundando os feixes de fibras musculares, formando o perimísio, que, finalmente dividiu-se em uma camada delicada de fibras Análise histomorfométrica A média das circunferências das fibras musculares apresentou-se maior no GII em relação ao GI, sendo que a média do GII foi de 1876,1 ± 33,98 µm² e a média do GI foi de 1516,6 ± 318,1 µm². Conforme análise pelo teste T-student, nota-se que o GII obteve aumento estatisticamente significativo no diâmetro das fibras musculares quando comparado ao GI (P < 0,001) (Tabela I). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Tabela I - Médias e desvio padrão da histomorfometria do tecido muscular esquelético. Histomorfometria do tecido muscular Grupos experimentais µm² P Controle (GI) 1516,6 ± 318,1 <0,001 EENM (GII) 1876,1 ± 33,98 Discussão A utilização de EENM vem sendo amplamente difundida na clínica fisioterápica quando se tem por objetivo o fortalecimento e hipertrofia muscular. Porém, muitos clínicos são céticos em relação ao uso da EENM devido à falta de evidências de que a eficiência deste recurso seja superior ao treinamento voluntário e pela escassez de conhecimento sobre a fisiologia e metodologia de uso deste recurso. Geralmente, os parâmetros da EENM são definidos de forma empírica, sobrepondo a experiência pessoal sobre as evidências científicas [1]. Por virtude disso, os estudos das ciências básicas de saúde são extremamente essenciais para a aplicação da eletroterapia. Em nosso estudo, as células musculares esqueléticas eletroestimuladas apresentaram padrão morfológico normal, sem nenhuma alteração compatível com indícios patológicos. Tal resultado é de extrema importância para a base da aplicação da estimulação elétrica neuromuscular, no intuito de provar que o recurso não é prejudicial ao tecido muscular. Porém, a literatura apresenta escassez de estudos que visam analisar a morfologia do tecido muscular esquelético submetido à EENM em seus diversos protocolos de aplicação, de modo que pesquisas nesse sentido seriam úteis para melhorar o embasamento histofisiológico para a utilização deste recurso eletroterápico. Segundo Bax et al. [11], em sua revisão sistemática, a maioria dos estudos com EENM são realizados em músculos sadios. Mas em relação a histomorfometria muscular, a literatura apresenta maior parte de seus estudos de EENM concentrados em músculos acometidos pelo enfraquecimento ocasionado pela imobilidade [12-14]. No presente trabalho, a aplicação de EENM no músculo gastrocnêmio, com o protocolo adaptado de Camargo et al. [8], promoveu aumento significativo da circunferência das células musculares esqueléticas. Este resultado corroborou os achados do estudo de Durigan et al. [15], no qual houve aumento significativo da circunferência das células musculares eletroestimuladas, de forma que a EENM foi aplicada por quinze dias no músculo sóleo sadio de ratos. Para este estudo, foram utilizados animais do gênero feminino, sendo que isso pode interferir no resultado da hipertrofia, já que Celichowki e Drzymala [16] relatam que a contração e o tempo de relaxamento são significantemente maiores nas unidades motoras dos ratos do que nas ratas, o que leva à diferença no tamanho do músculo. 145 Conclusão Conclui-se que o tratamento com a EENM por 8 semanas, com o protocolo utilizado neste trabalho, é eficiente na indução da hipertrofia das fibras musculares esqueléticas em ratas. Referências 1. Maffiuletti NA. Physiological and methodological considerations for the use of neuromuscular electrical stimulation. 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Estimulação elétrica neuromuscular do tibial anterior não altera a morfologia dos músculos sóleo (antagonista) e extensor digital longo (sinergista) do rato. Rev Fisioter Univ São Paulo 1998;5:120-126. 9. Brasileiro JS, Villar AFS. Comparação dos torques gerados por estimulação elétrica e contração muscular voluntária no músculo quadríceps femural. Rev Bras Fisiot 2000;4:75-81. 10. Dourado VZ, Godoy I. Recondicionamento muscular na DPOC: principais intervenções e novas tendências. Rev Bras Med Esporte 2004;10:331-34. 11. Bax L, Staes F, Verhagen A. Does neuromuscular electrical stimulation strengthen the quadriceps femoris? A systematic review of randomised controlled trials. Sports Med 2005;35:191-212. 12. Durigan JLQ, Cancelliero KM, Dias CNK, Silva CA, Guirro RRJ, Polacow MLO. Estudo morfométrico do músculo sóleo de ratos submetidos à imobilização aguda associado à estimulação elétrica neuromuscular. Fisioter Mov 2006;19:117-26. 13. Fernandes KCBG, Polacow MLO, Guirro RRJ, Campos GER, Somazz MC, Pinto VF, et al. Análise morfométrica dos tecidos muscular e conjuntivo após desnervação e estimulação elétrica de baixa freqüência. Rev Bras Fisioter 2005;9:235-41. 14. Pelizzari C, Mazzanti A, Raiser AG, Lopes STA, Graça DL, Ramos AT et al. Estimulação elétrica neuromuscular em cães com atrofia muscular induzida. Arq Bras Med Vet Zootec 2008;60:76-82. 15. Durigan JLQ, Cancelliero KM, Guirro RRJ, Silva CA, Polacow MLO. Efeitos da estimulação elétrica neuromuscular no músculo sóleo de ratos: análise morfométrica e metabólica. Acta Ortop Bras 2008;16:238-41. 16. Celichowski J, Drzymala H. Differences between properties of male and female motor units in the rat medial gastrocnemius muscle. J Physiol Pharmacol 2006;57:83-93. 146 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 ARTIGO ORIGINAL Avaliação da propriocepção ativa em adultos com lesão de ligamento cruzado anterior Active proprioception evaluation in adults with anterior cruciate ligament injury Gladson Ricardo Flor Bertolini, D.Sc.*, Fernando Amâncio Aragão, D.Sc.*, Carlos Eduardo de Albuquerque, M.Sc.*, Marcella Ferraz Pazzinatto, Ft.**, Carolina Silva Flóride**, Rogério Fonseca Vituri*** *Docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), **UNIOESTE, ***Médico ortopedista, docente da UNIOESTE Resumo Abstract Palavras-chave: ligamento cruzado anterior, propriocepção, movimento, joelho. Key-words: anterior cruciate ligament, proprioception, motion, knee. O objetivo deste estudo foi avaliar o senso de posição articular ativo em joelhos com lesão parcial do ligamento cruzado anterior (LCA) nas posições 30º e 45º. Foram avaliados 13 voluntários (homens 34 ± 5 anos), com lesão de LCA unilateral, superior a 6 meses. A acuidade proprioceptiva foi avaliada pelo teste de senso de posição articular. Para realizar a avaliação, duas variações angulares foram previamente definidas: 30° e 45° de flexão. Em sequência, uma dessas posições angulares foi demonstrada ao atleta em movimento passivo. O teste ativo foi realizado para os 30º e 45º e, para cada ângulo, três execuções foram realizadas (AV1, AV2 e AV3). Na análise dos erros encontrados, associados à ordem dos testes, em cada ângulo avaliado (30º e 45º), observou-se apenas diferença em AV3 (p = 0,0434). A média do erro encontrada em todos os testes foi 6,90º ± 4,36º e 9,85º ± 6,54º, 30º e 45º respectivamente, com diferença significativa (p = 0,0133). As avaliações do senso de posição articular em 30º de flexão do joelho comportaram-se homogêneas, enquanto as ocorridas em 45º apontaram aumentos significativos da 2ª e 3ª comparadas com a primeira avaliação. Além disso, as avaliações em 45º apresentaram maior erro do que aquelas em 30º. The aim of this study was to evaluate the active joint position sense in knees with partial anterior cruciate ligament (ACL) injury in the joint positions 30º and 45º. Thirteen volunteers (men 34 ± 5 years old) with unilateral ACL injury for more than 6 months were evaluated. Proprioceptive acuity was assessed by testing joint position sense. In order to perform the evaluation, 2 angular variations were previously defined: flexion 30° and 45°. Subsequently, one of those angular positions was shown to the athlete in passive motion. The active test was performed for 30 and 45 and for each angle, three implementations were performed (AV1, AV2 and AV3). In the analysis of errors found, associated to the sequence of tests, in each angle evaluated (30° and 45°), there was only difference in AV3 (p = 0.0434). The average test error rate in all tests was 6.90 to 4.36° ± 9.85° and ± 6.54°, 30 and 45 respectively, with significant difference (p = 0.0133). Assessments of joint position sense in 30 degrees of knee flexion behaved homogeneous, whereas those that arose in the 45° showed significant increases in the second and third assessment compared to the first one. In addition, error rates at 45° were higher than those at 30°. Recebido em 6 de junho de 2012; aceito em 25 de setembro de 2012. Endereço para correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 2069, 85819-110 Cascavel PR, E-mail: gladson_ [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Introdução A arquitetura óssea do joelho propicia pouca estabilidade à articulação devido à incongruência condilar. Embora os meniscos melhorem a congruência, a estabilidade é mínima considerando as grandes cargas através da articulação. Os ligamentos do joelho guiam os segmentos durante o movimento e são os constritores primários do joelho. O recrutamento varia dependendo do ângulo e plano de movimento no qual o joelho é sobrecarregado. Na maioria das vezes há vários ligamentos contribuindo sinergicamente para a estabilidade, embora um deles sofra maior carga. Como atividades agressivas, como parar ou mudar de direção rapidamente, frequentemente excedem a força material dos ligamentos, estabilização adicional é necessária para manter a integridade do joelho, ou seja, para que os ligamentos mantenham-se seguros. Forças compressivas, resultantes de descarga de peso aplicadas pela atividade muscular, proveem tal estabilização, sendo estas partes da estabilidade dinâmica que podem ser utilizadas em intervenções terapêuticas [1]. O joelho é a articulação mais acometida por lesões, e sérios danos aos ligamentos são frequentes [2], sendo o ligamento cruzado anterior (LCA) responsável por 50% das lesões ligamentares no joelho [3]. Indivíduos com LCA insuficientes apresentam grandes variações de instabilidade e o problema não tem correlação com a variação da lassidão ligamentar. Estudos têm demonstrado diminuição da propriocepção em variáveis graus após lesão de LCA, sendo, por isso, alvo da reabilitação a melhora e otimização do controle sensoriomotor, para obter a maior amplitude de movimento possível para cargas dentro de uma faixa homeostática [4]. Segundo Cooper et al. [5] há evidências que a lesão do LCA pode levar a déficits proprioceptivos. Assim, o aumento do controle neuromuscular do joelho após lesão de LCA ou reconstrução pode direcionar a melhores resultados em termos de retorno às atividades funcionais e reduzir a taxa de nova lesão [6]. Contudo, apesar dos relatos de alterações proprioceptivas após lesão do LCA, Good et al. [7] avaliando o senso de posição do joelho após lesão, unilateral, do LCA, não observaram diferenças significativas. Vários testes de propriocepção consciente de joelhos, em humanos, têm sido descritos, nos diferentes planos de movimento [4,8-10], mas não há consenso ou padrão de referência estabelecido. Dificuldades continuam na separação da informação originada no músculo, tendão e articulações, e os testes não podem discriminar entre perda de sinais aferentes ou atividade alterada nos receptores restantes. A importância clínica de informação aferente alterada não tem sido avaliada adequadamente, e o papel da propriocepção que contribui para a função ainda tem que ser investigado, sendo o teste de reposicionamento ativo uma das opções para avaliação do movimento no plano 147 sagital [4], alude-se que tal tipo de avaliação é importante até mesmo para retorno a atividades esportivas [8]. Ainda, em ambiente laboratorial, análise cinemática e cinética são importantes ferramentas de avaliação [1]. Tais ferramentas se tornam importantes na avaliação comparativa de ângulos no senso de posicionamento, assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar o senso de posição articular ativo em joelhos com lesão parcial do LCA nas duas posições articulares 30º e 45º. Material e métodos O estudo foi realizado com 13 voluntários, com lesão de LCA unilateral, há mais de 6 meses. Eram todos do gênero masculino, com idade de 34 ± 5 anos, sem outra lesão recente no membro inferior há pelo menos 2 meses, sem realização de tratamento fisioterapêutico conservador. O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisas com seres humanos da Fundação Assis Gurgaz, Cascavel/PR, os voluntários assinaram termo de consentimento livre e esclarecido antes de realizar as avaliações. A acuidade proprioceptiva foi avaliada pelo teste de senso de posição articular. Os procedimentos dos testes, utilizados em estudos anteriores [11,12], foram adaptados para o uso da cinemetria na determinação do ângulo articular. Os testes aconteceram em ambiente preparado para coletas de filmagem, em plano bidimensional, e foi utilizada uma câmera de vídeo (Panasonic NV GS180 3CCD) de 60 Hz desentrelaçado, conectada ao software VirtualDub 1.8.8 (build 30091/release). A câmera foi posicionada a uma distância que permitiu o enquadramento completo do movimento de flexo-extensão. Cada participante trajou apenas calção preto, cedido pelos pesquisadores. Inicialmente o voluntário permaneceu sentado em uma mesa, de forma que seus pés se moviam livremente, e 3 marcadores de fita reflexiva de 1,0 cm de diâmetro foram fixados no trocânter maior do fêmur, côndilo lateral do fêmur e maléolo lateral. Uma pequena almofada foi colocada sob a fossa poplítea para o posicionamento adequado para o teste. As variações angulares foram verificadas por flexímetro (Sammy®) ajustado na região do tornozelo. Após o preparo do voluntário e equipamentos, o mesmo foi orientado sobre a execução do teste e manutenção da postura adequada. Durante o teste o sujeito permaneceu vendado para remover as informações visuais. Para realizar a avaliação, duas variações angulares foram previamente definidas: 30° e 45° de flexão. Em sequência, uma dessas posições angulares foi demonstrada ao atleta em movimento passivo, para familiarização com o ângulo a ser reproduzido. Foi solicitada então a reprodução do ângulo, sendo que o voluntário interrompeu o teste quando percebeu que atingiu o ângulo alvo e, neste momento, o sinalizador luminoso foi acionado e somente desligado Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 quando o membro testado estivesse na posição inicial e relaxado. O teste foi realizado para os dois ângulos pré-estabelecidos e, para cada ângulo, três execuções foram realizadas (AV1, AV2 e AV3). Durante os testes, os examinados receberam estímulos verbais para se concentrarem na posição da articulação do joelho e, assim, evitar que o tempo gasto no movimento servisse de estratégia para o reposicionamento. Terminada a coleta, os vídeos foram salvos e armazenados em um computador. Cada vídeo, então, foi dissociado em quadros (frames) e os quadros correspondentes ao início do teste e ao momento em que o sinalizador luminoso foi acionado, tanto no procedimento de familiarização quanto na reprodução do ângulo, foram editados no software Image J v.1.44 (NIH, USA) e para identificar o ângulo de início e o ângulo alcançado pelo movimento, respectivamente. O valor utilizado para o tratamento estatístico foi a diferença, em valores absolutos, entre o ângulo obtido no momento da familiarização e o ângulo reproduzido pelo examinado. Tal diferença foi definida como “valor de erro”. E a análise estatística consistiu, após a verificação da normalidade dos dados pelo teste de D’Agostino e Pearson, pela comparação entre os momentos de avaliação com ANOVA medidas repetidas, e na comparação entre os ângulos do teste t de Student pareado, em todos os casos o nível de significância foi 5% (GraphPad 5.0). Resultados Foi possível observar que para 30º não houve diferenças significativas entre as avaliações (p > 0,05) (Figura 1). Contudo, a avaliação em 45º mostrou diferenças significativas ao comparar AV1 com AV2 e com AV3 (p < 0,05) (Figura 2). Figura 1 - Representação gráfica dos valores obtidos na análise do erro de posicionamento em 30 graus de flexão de joelho. Erros absolutos (graus) 20 15 10 5 0 AV1 30 AV2 30 AV3 30 Figura 2 - Representação gráfica dos valores obtidos na análise do erro de posicionamento em 45 graus de flexão de joelho. * Diferença estatisticamente significativa ao comparar com AV1. 25 Erros absolutos (graus) 148 * * 20 15 10 5 0 AV1 45 AV2 45 AV3 45 Na análise dos erros encontrados, associado à ordem dos testes (AV1, AV2 e AV3), para cada ângulo avaliado (30º e 45º), observou-se apenas diferença em AV3 (p = 0,0434). A média do erro encontrada em todos os testes para foi 6,90º ± 4,36º e 9,85º ± 6,54º, 30º e 45º respectivamente, com diferença significativa (p = 0,0133). Discussão A propriocepção é geralmente dividida em 2 elementos: senso de posição articular e senso do movimento do membro ou cinestesia [2]. Assim, no presente estudo buscou-se avaliar o erro de posicionamento ativo articular, em 2 ângulos pré-definidos e ensinados aos voluntários baseado no senso de posição articular. Visto que a propriocepção tem uma relação direta com a função subjetiva do joelho, por isso indivíduos com deficiência de LCA parecem ter maiores déficits funcionais e proprioceptivos do que indivíduos assintomáticos [4]. O presente estudo não teve como objetivo comparar os indivíduos com lesão, com aqueles com ruptura parcial de LCA, mas, embasados na literatura, observar se havia diferença ao longo das repetições de testes de reposicionamento, bem como as diferenças em 2 ângulos de avaliação, visto que ainda segundo Fridén et al. [4] há uma maior sensibilidade fisiológica para detectar um movimento articular passivo próximo da extensão completa, o que pode proteger a articulação devido a proximidade do limite de movimento articular. Tal fato foi realmente encontrado no presente estudo, pois os erros absolutos em 30º foram menores do que aqueles encontrados em 45º, o que também ocorreu ao comparar os 2 ângulos para AV3. Embora a lesão do LCA produza ruptura de mecanorreceptores locais, a ativação compensatória de outros sensores no joelho pode produzir ativação compensatória muscular, ajudando na estabilização [5], pois receptores, como os corpúsculos de Ruffini e Paccini, órgãos tendinosos de Golgi e terminações nervosas livres têm sido também identificadas no menisco medial, em suas camadas externa e média [4]. Estes modelos compensatórios neuromusculares podem ser desen- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 volvidos e aumentados utilizando tratamentos que incorporem atividades desestabilizantes [5]. Tanto que o tratamento conservador em indivíduos com lesão de LCA, com ênfase no trabalho proprioceptivo, apresenta bons resultados em curto e médio prazo na função do joelho [13]. Além disso, o papel primário dos mecanorreceptores é sinalizar o final da ADM, facilitando reflexos protetores que previnem a articulação de ser movida além de seus limites [1]. Ressalta-se que os voluntários da pesquisa não realizaram tratamento conservador, porém, apresentavam lesão há pelo menos 6 meses, o que pode ter contribuído para as pequenas diferenças observadas em 45º e a não ocorrência em 30º. Hiemstra et al. [2] sugerem que a fadiga muscular pode induzir a um controle neuromuscular alterado no membro inferior, com alteração subsequente na capacidade de estabilização dinâmica do joelho. Deve-se levar em consideração que, neste estudo, as 3 repetições da avaliação não tinham como finalidade produzir fadiga muscular, mas, sim, analisar se poderia ou não haver alguma característica de aprendizado da técnica, ou se a primeira repetição, ocorrida logo após o ensino da posição articular, poderia influenciar no erro absoluto da medida angular. Como há indícios que o joelho contralateral, de indivíduos com lesão de LCA unilateral, pode não servir como controle confiável [4], neste estudo buscou-se avaliar apenas o membro lesado, descartando a avaliação cinestésica do lado não lesado. Contudo, salienta-se como limitação deste estudo a ausência de um grupo controle, formado por indivíduos sem lesão de LCA, que se sugere para futuros estudos. Conclusão As avaliações do senso de posição articular em 30º de flexão do joelho comportaram-se homogêneas, enquanto as ocorridas em 45º apontaram aumentos significativos da 2ª e 3ª comparadas com a primeira avaliação. Além disso, as avaliações em 45º apresentaram maior erro do que aquelas em 30º. 149 Referências 1. Williams GN, Chmielewski T, Rudolph KS, Buchanan TS, Snyder-Mackler L. Dynamic knee stability: current theory and implications for clinicians and scientists. J Orthop Sports Phys Ther 2001;31(10):546-66. 2. Hiemstra LA, Lo IKY, Fowler PJ. 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IOT.HC.FMUSP) Resumo O basquetebol é uma modalidade esportiva que envolve diversas variáveis como força, flexibilidade, agilidade e mudança de direção, por este motivo tem uma grande incidência de lesões. O objetivo deste trabalho foi correlacionar os testes funcionais com lesões no basquetebol. Foram analisados 27 atletas com idades de 15 a 17 anos da categoria cadete de duas equipes por um período de 2 meses durante o campeonato paulista de basquete em 2011. Foram submetidos a avaliações de massa corporal, estatura, agilidade, flexibilidade, força e equilíbrio. Ocorreu um total de 10 (37,03%) lesões entre os atletas que participaram do trabalho. Estas lesões ocorreram em sua maioria no período em que estavam em jogo, 7 atletas (70%), e 3 (30%) em treinamento, com prevalência de 90% na região do tornozelo e 10% na região do joelho, sendo que, 58,33% foram lesões recidivas. Em relação aos testes realizados não houve correlação entre os valores obtidos e as lesões encontradas, porém observamos que alguns dados deram relação negativa, ou seja, quanto menor o valor do teste maior a probabilidade de lesões. Abstract The basketball is a sport modality which involves different variables such as force, flexibility, agility and change of direction, for this reason basketball has high incidence of injuries. The purpose of this paper was to relate these functional tests with basketball injuries. Twenty seven athletes, 15 to 17 years old, on cadet category, from 2 teams, were analyzed for 2 months during the Paulista championship in 2011. They underwent evaluations of body mass, height, agility, flexibility, strength and balance. We found 10 (37.03%) injuries among analyzed athletes. The highest rates of injuries happened during the game in 7 athletes (70%), and during training in 3 (30%), 90% were on ankle area, and 10% on knee area, 58.33% had recurrence of injury. In relation to the tests, there was no correlation between the values obtained and the injuries found, however, we noticed that some data showed negative result; in other words, the lowest value of test the higher probability of injuries. Key-words: ankle, functional, basketball. Palavras-chave: tornozelo, funcional, basquete. Recebido em 26 de julho de 2012; aceito em 27 de setembro de 2012. Endereço para correspondência: Angelica Castilho Alonso, Rua Aquiráz, 156, 03654-040 São Paulo SP, E-mail: angelicacastilho@ msn.com, [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Introdução O basquetebol possui como características solicitações físicas técnicas e táticas com esforços breves e intensos, realizados em diferentes ritmos, um conjunto de saídas rápidas, paradas bruscas, saltos, giros, fintas, passes, dribles e arremessos, todos os movimentos coordenados em situação de ataque-defesa. A demanda típica desse esporte exige esforços máximos à custa de treinamento regular e intensivo. Dessa forma, o alto nível das equipes, que participam das competições em conjunto com as exigências dos treinamentos e a disputa acirrada entre os clubes, predispõe os atletas jovens a determinados tipos de lesões esportivas [1,2]. Pfeifer et al. [3] realizaram um estudo sobre lesões esportivas no basquetebol por um período de cinco anos. Durante esse período foram realizados 658 tratamentos médicos de lesões no basquetebol. As principais lesões foram às entorses (40,7%), rupturas ligamentar (24,6%) e fraturas (9,3%). Em outro estudo realizado por Silva et al. [4], que analisou 66 atletas de basquetebol feminino em uma temporada, foram registradas 78 lesões, em 47 (71, 2%) atletas 2,6 lesões por atleta, as entorses de tornozelo e lesões no joelho foram o diagnóstico de maior incidência. Alonso et al. [5] afirmam que os esportes promovem a especialização dos atletas para desempenhar as funções táticas específicas e a solicitação muscular é seletiva, isto é, alguns grupos musculares são mais exercitados que outros, podendo gerar desequilíbrios entre o membro dominante e não dominante e/ou entre grupos musculares agonistas/antagonistas do mesmo membro. O desequilíbrio das forças que agem sobre as articulações pode causar alterações posturais ou da biomecânica articular e predispor a lesões ou baixo desempenho. O esporte de alto rendimento atual torna-se cada dia mais competitivo, exigindo das equipes ótimos resultados nas competições. Neste contexto é de extrema importância a avaliação das valências físicas dos atletas para adequar o treinamento o mais próximo da realidade, estrutura da equipe, das competições que irá disputar, respeitando o princípio da individualidade com base nos fatores físicos para alcançar o nível mais satisfatório de performance [6]. Como em todas as capacidades físicas, encontramos testes que auxiliam diretamente na prescrição de exercícios específicos e necessitamos deles para saber até que ponto nosso treinamento está causando adaptação em nossos atletas, porém não encontramos na literatura a correlação entre o desempenho destes testes com a incidência de lesões. O objetivo deste estudo é relacionar os testes de desempenho funcional com as lesões numa temporada. Verificar o local de maior incidência de lesões em um período na temporada e verificar o momento em que ocorreu maior número de lesões: treinamento ou jogo. 151 avaliados 27 atletas de basquetebol masculino da categoria Cadete das equipes de Esporte Clube Cidade de Poá, Clube Atlético Indiano com idade entre 15 e 17 anos, os atletas foram convidados a participar do estudo voluntariamente, os quais concordaram em participar da pesquisa e preencheram os critérios de inclusão. Os critérios de inclusão foram: ler e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido, ser do gênero masculino, ter entre 15 e 17 anos de idade, ter ausência de cirurgias de membros inferiores, serem jogadores de Basquetebol federados pela Federação Paulista de Basquetebol ou Liga Paulista de Basquetebol, treinarem basquete há no mínimo 03 anos. O critério de exclusão foi não conseguirem realizar o teste. Avaliação Inicialmente realizamos uma avaliação clínica da qual constavam dados pessoais, dados antropométricos, dados de composição corporal e questionário sobre histórico de lesões. Em seguida foram realizadas as avaliações funcionais com os testes de salto vertical: potência muscular e força explosiva dos membros inferiores; teste de alcance funcional (SEBT) - o qual avalia a habilidade do indivíduo de manter o equilíbrio corporal enquanto realiza tentativas de alcançar a maior distância possível com o membro contralateral em direções específicas (figura 1) [7]; teste de salto horizontal - força explosiva dos membros inferiores; teste de agilidade (teste Illinois) e teste de flexibilidade - sentar e alcançar. Figura 1 - Teste do Star Excursion Balance Test – SEBT. Apoio no membro inferior esquerdo Anterior Anterolateral Anteromedial Lateral Medial Posterolateral Posteromedial Posterior Apoio no membro inferior direito Anterior Anteromedial Anterolateral Medial Lateral Material e métodos Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido no Esporte Clube Cidade de Poá, Clube Atlético Indiano. Foram Posteromedial Posterolateral Posterior 152 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Análise estatística Tabela II - Correlação entre equilíbrio e testes funcionais. Testes Os dados foram armazenados e analisados no programa SPSS 17.0. Foi realizada análise descritiva da amostra estudada por meio de tabelas. Sendo utilizado o teste de Komogorov-Smirnov para classificar as variáveis contínuas em paramétricas e não paramétricas e em seguida utilizado o teste de correlação de Sperman. Resultados Os 27 atletas de basquetebol avaliados tinham em média 16,3 (0,62) anos, estatura média de 1,79 (0,069) m e massa corporal média de 72,4 (9,96) kg. O tempo médio de prática de 3,44 (0,51) anos, uma frequência de dois treinos por semana e jogavam duas vezes por semana. Em relação à lesão precedente ao trabalho, 12 (44,44%) apresentaram lesões anteriores, sendo que 50% ocorreram no treino e 50% em jogo, entre estes, 10 (83,33%) procuraram atendimento médico e sete (58,33%) realizaram fisioterapia. Sendo que sete (58,33%) foram lesões recidivas. Durante o período da pesquisa de dois meses, 10 (37,03%) tiveram lesão durante o período do acompanhamento da pesquisa, sendo que a maior incidência das lesões ocorreu em jogo com sete (70%) e três (30%) em treinamento. Dentre as lesões ocorridas a entorse de tornozelo teve maior prevalência com nove (90%) e o entorse de joelho um (10%). Em relação ao teste de equilíbrio não houve correlação entre os valores do SEBT e os indivíduos lesionados, porém observamos que alguns dados deram relação negativa, ou seja, quanto menor o valor do teste maior o número de indivíduos lesionados (Tabela I). Tabela I - Correlação entre equilíbrio (avaliado pelo SEBT) e indivíduos lesionados. Posicionamento SEBT Anterior Anterior medial Medial Póstero medial Posterior Póstero lateral Lateral Antero lateral r -0,208 -0,254 -0,200 0,134 0,144 0,038 0,221 0,254 P 0,296 0,199 0,313 0,502 0,472 0,847 0,265 0,200 Sperman p ≤ 0,05 Também não houve correlação entre os valores dos testes funcionais e indivíduos lesionados, porém observamos que os dados deram relação negativa, ou seja, quanto menor o valor do teste maior o número de indivíduos lesionados (Tabela II). Agilidade Salto vertical Salto horizontal Flexibilidade r -0,195 -0,090 -0,210 -0,072 P 0,325 0,651 0,291 0,718 Sperman p ≤ 0,05 Discussão Em todas as equipes amadoras ou profissionais, os testes funcionais são práticas comuns e são realizadas no início da temporada a fim de observar as condições físicas dos atletas e trazer subsídios para que o preparador físico possa priorizar certas necessidades dos atletas. Embora possamos supor que se um atleta apresenta resultados ruins nos testes existe uma possibilidade maior de lesões, não encontramos tais relações na literatura. Talvez porque estes testes em geral sejam realizados pelo profissional da educação física que visa o rendimento, e o fisioterapeuta tem uma atuação dentro dos clubes mais “curativa” e não preventiva. A inter-relação entre estes profissionais poderia gerar um trabalho preventivo mais efetivo. Mckeon e Hertel [8] já afirmavam que os instrumentos de medidas de avaliação do controle postural devem ser utilizados de maneira que possam identificar o risco de lesão como entorse de tornozelo, e por meio destes tentar evitar que as lesões ocorram. O basquetebol foi o esporte escolhido por ser uma modalidade esportiva que apresenta todos os movimentos básicos de um esporte de alto risco com saltos, aterrissagens, corridas, mudanças de direção, desaceleração e que possui muitas variações de velocidade, equilíbrio, força, agilidade e flexibilidade o que nos motivou a realizar testes que utilizem estas variáveis. A categoria cadete entre 15 e 17 anos foi estudada devido ser uma idade precoce e que em estudos anteriores [9] já demonstraram uma alta incidência de lesões. Dos 27 atletas avaliados nesta pesquisa, 10 (37,03%) sofreram algum tipo de lesão durante o período do estudo, caracterizando um alto índice para um curto prazo, e este resultado é semelhante ao trabalho de Silva et al. [4]. Em relação à lesão houve prevalência de entorse de tornozelo, com 90% dos atletas seguido de joelho 10%, dados que corroboram os estudos de Rose et al. [10] no qual ocorreram 274 lesões, 150 (54,7%) foram no tornozelo e 95 (34,6%) no joelho, no de Mello e Parada [11] em que o segmento mais lesionado foi o tornozelo com 31% e o joelho com 27% dos casos de lesões registradas e o de Gantus e Assunção [12] que analisou 59 atletas de basquetebol e relatou 455 lesões e a mais frequente foi entorse de tornozelo com 10.8%. Em estudo realizado por Cesar et al. [13] os domínios da capacidade funcional todos os atletas apresentaram uma alta porcentagem de lesões atraumáticas durante a competição, corroborando os resultados encontrados no presente estudo. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 O período em que ocorreu maior lesão foi no jogo (70%) diferente do estudo de Gantus e Assunção [12], no qual a maior incidência foi nos treinos. Estes dados podem estar relacionados por ser início de temporada, quando os atletas não estão totalmente preparados para a competição e os treinamentos visam mais a preparação física e não o desempenho no jogo. Com a participação de jovens em esportes competitivos há um aumento considerável das ocorrências de lesões traumáticas e não traumáticas no basquetebol. Quando há serviço médico e fisioterapêutico no clube, os atletas procuram atendimento para tratamento de lesões ocorridas durante os treinamentos ou jogos. Estudo realizado por Arena e Carazzato [14] verificou a relação entre as lesões e a presença de médicos e fisioterapeutas no clube e observou-se que os atletas adolescentes não procuram atendimento quando sofrem lesões de baixa gravidade. Neste estudo em relação às lesões precedentes foi observado que 58,33% foram recidivas, sendo que 83,33% procuraram atendimento médico e 58,33% atendimento fisioterapêutico, isto se deve ao fato de as equipes estudadas terem médicos e fisioterapeutas. De acordo com estudo de Soares e Sandoval [15], a fisioterapia quando acionada teve 80% de aprovação mostrando o custo benefício da abordagem fisioterapêutica em uma equipe não visando tão somente o tratamento, mas sim também o trabalho preventivo para diminuir o índice de lesão. No presente estudo não houve correlação entre os resultados do teste de agilidade e o índice de lesão. Não encontramos na literatura tais comparações. O equilíbrio é uma valência física essencial para o basquetebol, desta maneira um déficit encontrado nesta variável poderia sugerir que o indivíduo pudesse estar mais suscetível a lesão, porém não foi encontrada nenhuma relação com lesões neste estudo, sendo que Karloh et al. [16] observaram que cada esporte requer diferentes níveis de processamento sensório-motor para executar os gestos esportivos específicos e proteger o sistema musculoesquelético, um déficit neste sistema pode levar a lesões. A flexibilidade não apresentou correlação com as lesões, diferente dos dados encontrados por Santos et al. [17] que a diminuição da flexibilidade foi um fator que contribui para o aumento de lesões. Conclusão Não houve correlação entre os testes funcionais e a incidência de lesões em atletas de basquetebol. O local de maior incidência de lesões foi o tornozelo e o momento em que ocorreu maior número de lesões foi no jogo. 153 Referências 1. Arena SS. Estudo epidemiológico das lesões esportivas no basquetebol, futsal e voleibol ocorridas em atletas jovens: aspectos de treinamento e acompanhamento médico [Doutorado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2005. 141 p. 2. Kofotolis N, Kellis E. Ankle sprain injuries: A 2-year prospective. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 154 REVISÃO Análise das diferenças entre corredores africanos e caucasianos de meio-fundo e fundo Analysis of the differences between African and Caucasian middleand long-distance runners José Augusto Rodrigues dos Santos, D.Sc.*, Tânia Amorim, M.Sc.* *Universidade do Porto, Faculdade de Desporto, Departamento de Atletismo, Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção em Desporto (CIFI2D), Portugal Resumo O êxito competitivo dos corredores de meio-fundo e fundo provenientes do Leste de África tem sido motivo de muita especulação. Várias razões têm sido aduzidas para justificar a excelência competitiva desses atletas, entre as quais se salientam um especial traço genético favorável ao rendimento desportivo nas corridas de duração e as condições ambientais específicas que potenciam esses atletas desde o seu nascimento. Seleção genética versus determinismo do envolvimento tem sido o tema recorrente para diversos estudos que procuram a razão fundamental para o êxito desportivo dos corredores africanos de elite. Este estudo pretendeu fazer uma revisão atualizada dos vários contributos que nos permitam fazer alguma luz sobre os fatores eventualmente discriminadores entre os corredores de meio-fundo e fundo africanos e caucasianos. Tentamos abordar o êxito desportivo dos corredores Leste Africanos através de dois tipos de enfoque: biológico (genético, antropométrico, fisiológico, morfológico) e sócio ambiental (características do envolvimento, perfil do treino e recuperação, nutrição, estilo de vida, perfil psicológico e emocional). Da análise dos vários estudos verificamos que a genética não discrimina os corredores de meio-fundo e fundo africanos dos seus pares caucasianos. Também os indicadores fisiológicos apresentam reduzida capacidade discriminativa. Parece existirem traços antropométricos característicos dos corredores negros – menor perímetro e maior comprimento da perna – que podem corresponder a vantagens biomecânicas para a corrida, mas que não suficientes, por si só, para justificar a excelência competitiva dos corredores africanos de elite. Das condicionantes ambientais e sociais, verifica-se que as características do envolvimento (altitude, temperatura), a alimentação e o estilo de vida não são a razão das diferenças verificadas no perfil competitivo dos corredores negros e brancos. Diferenças no perfil de treino e recuperação bem como as características psicológicas e emocionais dos corredores Africanos, parecem poder justificar o domínio dos corredores negros Africanos de meio-fundo e fundo nas principais competições desportivas internacionais. Palavras-chave: corrida, genética, altitude, fisiologia, antropometria, rendimento. Recebido em 7 de fevereiro de 2012; aceito em 10 de julho de 2012. Endereço para correspondência: José Augusto Rodrigues dos Santos, Rua Dr. Plácido Costa, 91, Departamento de Atletismo 4200450 Porto Portugal, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Abstract The competitive success of the East African middle- and long-distance runners has been a source for much speculation. Several reasons have been put forward to justify the competitive excellence of these athletes, among which was emphasized a particular genetic trait favourable to the success in endurance running events and the specific environmental conditions that rises the physical potential of these athletes from the beginning of their lives. Genetic selection versus involvement determinism has been a recurring theme for several studies that seek the fundamental reason for the competitive success of elite African runners. This study intended to make an up-to-date review of the various contributions that allow us to make some light on the possibly discriminating factors between African and Caucasians middle- and long-distance runners. We try to approach the sportive success of East African endurance runners through 2 focuses: biological (genetics, anthropometrical, morphological, physiological) and socio-environmental (characteristics of involvement, training and recovery profile, nutrition and lifestyle, psychological and emotional profiles of the athletes). From the Introdução A performance competitiva no meio-fundo e fundo a nível internacional tem sido dominada pelos atletas de origem africana que arrecadam a maioria das medalhas nos principais eventos desportivos a nível mundial. Na realidade, a análise dos resultados nos Campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos, nas últimas décadas, permite-nos verificar a supremacia dos atletas Africanos no meio-fundo e fundo, principalmente os provenientes do Leste Africano. Quenianos e etíopes apresentam uma supremacia notável em todas as distâncias que medeiam entre os 800 metros e a maratona, embora atletas provenientes de países vizinhos (e.g. Eritreia, Tanzânia, etc.) também atinjam resultados de bom nível. Tomando como referência a evolução performativa dos corredores Quenianos nas várias provas de meio-fundo e fundo (800 m, 1.500 m, 5.000 m, 10.000 m e 3.000 m), entre os anos de 1964 e 1994, verificamos um crescendo seguro na afirmação competitiva deste país. Em 1964 tinham somente dois atletas no Top-20 mundial, que passaram para onze em 1974, 10 em 1984 e 33 em 1994 [1]. Embora, hoje em dia, a elite Queniana esteja bem acompanhada por outros países africanos, em especial a Etiópia, importa salientar que, até 1997, 75% dos êxitos dos corredores Quenianos tinham como berço a tribo Kalenjin que corresponde somente a 10% da população do Quénia, ou seja, cerca de 3 milhões de indivíduos. Os corredores dessa tribo, entre 1987 e 1997, ganharam 40% dos títulos nas principais provas internacionais [2]. A Tabela I dá-nos uma imagem clara da 155 several studies analysed we state that genetics does not discriminate African endurance runners from their Caucasian peers. The physiological indicators have also reduced discriminative capacity. It seems that some anthropometrical traits are characteristic of the black runners - lower leg perimeter and higher leg length – that can assure some biomechanical advantages for running; however, these anthropometrical characteristics are not, per se, sufficient to justify the competitive excellence showed by the elite African runners. Analysing the environmental and social constraints through the characteristics of involvement (altitude, temperature), food and lifestyle, it can be concluded that these factors cannot justify the differences verified in the competitive profile of black and white endurance runners. Differences in training profile and recovery as well as the psychological and emotional characteristics of the African runners, seem to justify the black African runners supremacy in the major middle- and long-distance international running events. Key-words: running, genetics, altitude, physiology, anthropometry, performance. excelência competitiva dos corredores de meio-fundo e fundo provenientes da tribo dos Kalenjin. Tabela I - Países mais medalhados nas provas de 800 aos 10.000 m nos Jogos Olímpicos de 1964 a 1996, com exclusão dos JO de 1976 e 1980. População Kalenjin USA Grã-Bretanha Quénia Não-Kalenjin Marrocos Alemanha (Leste e Oeste) Medalhas Totais 26 10 8 7 7 6 Ouro 8 3 1 4 3 1 Adaptado de Manners [2]. Se às medalhas ganhas pelos atletas da tribo Kalenjin juntarmos as ganhas pelos outros atletas Quenianos, então a excelência desportiva do Quénia, nas corridas internacionais de meio-fundo e fundo, é ainda mais marcante. Em virtude do locus específico de tantos êxitos desportivos, vários autores tentaram descortinar os fundamentos em que assentavam. Levantaram-se várias hipóteses para justificar a supremacia performativa dos corredores do Leste Africano, apontando-se os fatores genéticos, envolvimento geográfico, treino, estilo de vida e determinantes sociais. Com este estudo de revisão pretendemos aprofundar a razão ou razões que eventualmente justifiquem as diferenças competitivas que hoje em dia diferenciam os atletas Africanos dos Caucasianos. 156 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Condicionantes biológicas Genéticas Entre os fatores que vulgarmente se apontam para justificar a supremacia competitiva dos meio-fundistas e fundistas do Leste Africano, ganha especial realce o fator genético. Uma especial predisposição genética dos corredores africanos para a corrida de duração não é comprovada pela investigação científica, embora o reduzido número de estudos não permita posições conclusivas. Os únicos estudos genéticos disponíveis comprovam a diversidade e variabilidade genética entre os vários campeões Africanos [3], o que deve levar a ter mais cuidado em estabelecer uma abusiva correlação entre um traço genético único e a excelência performativa no meio-fundo e fundo. O gene humano ACTN3 codifica a proteína α-actinina-3, um componente da maquinaria contráctil das fibras rápidas do musculoesquelético [4]. Em 1999, foi identificado um polimorfismo comum no gene ACTN3 (R577X) que resultava na ausência de α-actinina-3 em mais de 1 bilião de pessoas em todo o mundo, malgrado esse gene ter sido bem conservado durante a evolução humana [5]. Estudos genéticos replicando em ratos a deficiência no gene ACTN3 permitiram verificar que as fibras de contração rápida ganhavam propriedades contrácteis e metabólicas idênticas às fibras de contração lenta [5]. Daí especulou-se sobre as eventuais vantagens competitivas em esforços de endurance dos sujeitos que apresentavam esse polimorfismo. Temos dúvidas acerca da linearidade dessa relação, pois Kohn et al. [6] verificaram uma superior percentagem de fibras Tipo IIa em corredores Africanos enquanto os corredores Caucasianos tinham maior percentagem de fibras Tipo I. No entanto, Yang et al., ao estudarem a frequência do polimorfismo R577X (alelo funcional R e alelo não-funcional X) do gene ACTN3 numa variedade de populações Africanas, tentando determinar a sua influência na excelência performativa dos corredores de meio-fundo e fundo do Leste Africano, verificaram que a deficiência da proteína α-actinina-3 não tinha grande influência na performance dos atletas Africanos. Não foram encontradas diferenças significativas na frequência do genótipo R577X entre os atletas e o grupo controlo. Também Lucia et al. [8], ao compararem o polimorfismo genético de corredores de elite da Eritreia (7 atletas) e Espanha (9 atletas), verificaram amplas similitudes: dois sujeitos de cada grupo não apresentavam polimorfismo R557X; 3 de cada grupo apresentavam deficiência parcial em α-actinina-3, enquanto 2 Eritreus e 4 Espanhóis apresentavam completa deficiência em α-actinina-3. Embora, no estudo de Lucia et al. [8] a percentagem dos atletas da Eritreia (28,6%) com manifestação de polimorfismo R557X seja significativamente menor que a dos Espanhóis (44,4%), será abusivo tirar ilações diretas entre uma especial capacidade para a corrida de endurance e o perfil genético já que o número amostral é muito reduzido. Reforçando estes dados, Scott et al. [9] verificaram que os atletas Etíopes de elite não se distinguiam da restante população em relação às características mitocondriais. Estes autores sugerem que a excelência desportiva dos corredores Etíopes estará, talvez, mais relacionada com polimorfismos do genoma nuclear que nos polimorfismos do ADN mitocondrial. Esta hipótese não é corroborada por outros estudos. Na procura de um traço genético indutor de vantagens performativas no meio-fundo e fundo, Moran et al. [10] estudaram o cromossoma Y que é um cromossoma que embora pobre em genes poderá ter alguma influência na performance física no sexo masculino; levantaram a hipótese que o sucesso dos corredores de endurance Etíopes se podia relacionar com os haplogrupos do cromossoma Y que, segundo o seu estudo, estão distribuídos de forma diferente do resto da população. No entanto, reconhecem que os corredores etíopes não podem ser considerado um grupo distinto em relação aos haplogrupos que possuem, reconhecendo a necessidade estudos com outras populações. A dificuldade de encontrar na genética a razão do êxito dos corredores de meio-fundo e fundo africanos leva-nos a procurar outros fatores que justifiquem a sua superioridade competitiva. Antropométricas As dimensões corporais podem condicionar a performance no meio-fundo e fundo, já que estão implicadas na economia de corrida, um dos fatores relacionados com a performance na corrida de duração [11]. Qualquer aumento de peso supérfluo onera energeticamente a corrida, reduzindo a performance para uma dada distância. O aumento de peso afeta mais os indicadores fisiológicos submáximos que os máximos. Ao nível do VO2max não se verificam diferenças significativas entre a situação de peso excessivo e peso normal [12]. É lógico que a consideração de peso excessivo se refere a valores ligeiramente superiores aos valores de normalidade ponderal já que em atletas de elite são normais pequenas variações de massa corporal após os períodos de descanso entre épocas competitivas. Num estudo de Goran et al. [13], comparando crianças obesas com crianças normoponderais, verificou-se que as primeiras, devido ao peso acrescido que têm de transportar apresentavam valores superiores de VOmax (1,56 ± 0,40 L.min-1) em relação às segundas (1,24 ± 2 0,27 L.min-1), mas quando se relativizavam os dados ao peso corporal, as crianças normoponderais apresentavam valores superiores de VO2max (44,2 ± 3,2 contra 32,0 ± 4,1 ml.kg-1. min-1). Reforçando o estudo de Cureton et al. [12], quando se relativizavam os consumos de oxigénio à massa magra, as diferenças deixavam de ser significativas entre o grupo obeso e normoponderal, 59,2 ± 4.9 e 57,9 ± 5,8 ml.kg-1.min-1, respetivamente. Quer isto significar que o excesso de peso corporal condiciona menos o consumo máximo absoluto de oxigénio e mais o relativo. Embora esta asserção seja verdadeira para Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 sujeitos sedentários já não o será tanto para sujeitos treinados, principalmente em corrida, em que 2 ou 3 kg a mais em relação ao peso de competição alteram todos os parâmetros cinemáticos e dinâmicos do movimento. Noakes [14] verificou que o ratio altura/peso dos Africanos era superior. Enquanto, um corredor Europeu de 10.000 m com uma altura de 182 cm pesa 72 kg, um Africano, com a mesma altura pesará por volta dos 64 kg. Pensamos que a relação do peso com a altura é um fator muito importante na corrida de duração. A Tabela II permite-nos ter uma panorâmica sobre o perfil biométrico de corredores de meio-fundo e fundo, comparando Africanos com Caucasianos. A partir da Tabela II, podemos inferir que, de uma maneira geral, os corredores africanos são mais leves e mais baixos que os seus pares Caucasianos. Esta asserção é válida para a não-elite [6] e para a elite estudada por Marino et al. [15], embora o não seja para a elite estudada por Lucia et al. [8]. Num estudo epidemiológico de Larsen et al. [16] ficou comprovado que as populações Quenianas, quando comparadas com as Caucasianas, apresentam menor massa corporal e membros inferiores mais longos, sejam as que vivem nas cidades sejam as que vivem nas aldeias. As condições antropométricas de base dos Africanos estudados, definem condições biomecânicas diferenciadas que podem contribuir positivamente para a performance motora no meio-fundo e fundo. Importa referir que enquanto no estudo de Marino et al. [15] os corredores de elite Quenianos se diferenciam claramente dos seus pares Alemães, em relação ao peso e altura, o estudo 157 de Lucia et al. [8], comparando os corredores de elite da Eritreia com os seus pares Espanhóis, não verificou diferenças com significado estatístico em relação a estes dois indicadores. Portanto, podemos constatar que a altura e peso, por si só, não são indicadores suficientemente robustos para distinguir a elite da não elite, e os corredores africanos dos caucasianos, embora a tendência seja para os Africanos serem mais baixos e mais leves. Em relação à percentagem de massa gorda e Índice de Massa Corporal (IMC) a Tabela III compulsa vários estudos. No estudo de Weston et al. [17], embora os corredores africanos sejam mais leves e mais baixos que os seus pares Caucasianos, apresentam um IMC idêntico (Tabela III). A similitude do IMC deve ser desvalorizada já que ser mais leve, independentemente da altura, é um fator muito importante na corrida de duração, porque as forças de reação ao solo são mais reduzidas nos corredores mais leves. Este fator pode ser um requisito importante para manter a resiliência a treinos intensos e prolongados que é uma das características dos fundistas de elite. Segundo Coetzer et al. [18], os corredores africanos de elite treinam mais quilómetros a intensidades elevadas que os seus concorrentes caucasianos. A menor massa corporal que os caracteriza pode estar diretamente correlacionada com uma menor incidência de traumas e lesões musculoesqueléticas [19] que lhes permite a manutenção, época após época, desse tipo de treino em qualidade. Na análise dos vários estudos que comparam corredores de meio-fundo e fundo africanose caucasianos, devemos atentar no nível competitivo das amostras. Assim, o IMC parece Tabela II - Valores médios (± DP) de peso e altura de corredores africanos e caucasianos. Estudo Weston et al. [17] Weston et al. [23] Kohn et al. [6] Harley et al. [21] Marino et al. [15] Lucia et al. [8] Prommer et al. [20] Peso (kg) Caucasianos Africanos 69,1 ± 5,7 ** 59,4 ± 6,0 64,9 ± 3,0 61,4 ± 7,0 67,8 ± 6,6 * 59,6 ± 7,4 70 ± 6 * 60 ± 6 76,6 ± 9,3 * 59,3 ± 4,4 60,5 ± 7,8 57,2 ± 3,3 66,5 ± 6,3 57,2 ± 7,0 Altura (cm) Caucasianos Africanos 181 ± 9 ** 172 ± 5 178,3 ± 5,3 ** 172,4 ± 5,3 182 ± 8 * 172 ± 6 180 ± 7 * 167 ± 4 183,4 ± 6,5 * 167,4 ± 4,4 172 ± 6 174 ± 8 * p < 0,01 ** p < 0,05 Tabela III - Valores médios (± DP) da percentagem de gordura e IMC de corredores africanose caucasianos. Estudo Weston et al. [17] Weston et al. [23] Bosch et al. [34] Kohn et al. [6] Harley et al. [21] Marino et al. [15] Lucia et al. [8] Prommer et al. [20] * p < 0,05 Massa Gorda (%) Caucasianos Africanos 12,4 ± 2,8 11,6 ± 2,7 12,1 ± 3,3 12,1 ± 3,7 11,1 ±1,4 11,8 ± 1,4 12,8 ± 4,6 5,3 ± 0,3 11,2 ± 1,8 5,1 ± 0,2 IMC (kg/m2) Caucasianos Africanos 20,5 ± 1,1 21,6 ± 1,5 20,1 ± 1,5 21,4 ± 1,6 20,5 ± 1,7 * 20,4 ± 0,9 * 18,9 ± 1,5 18,5 ± 0,9 158 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 ser um fator suficientemente diferenciador, entre corredores africanos e caucasianos, ao nível da elite [8,20], mas já não ao nível da não-elite [6,21]. Na análise da composição corporal, podemos verificar que não existem diferenças significativas entre africanos e caucasianos em relação à percentagem de massa gorda, embora Lucia et al. [8] tenham constatado que o somatório de 6 pregas de adiposidade subcutânea era significativamente (p < 0,05) maior nos corredores espanhóis que nos eritreus. A partir da Tabela III, podemos claramente diferenciar a elite da não elite. Não se pode ser elite no meio-fundo e fundo internacional com percentagens de massa gorda superiores a 10%. A elite africana estudada por Billat et al. [22] apresenta percentagens de massa gorda, variando entre 6 e 7%, valores idênticos aos verificados na elite portuguesa de meio-fundo e fundo [11]. Estranhamos, no entanto, os valores apresentados por Marino et al. [15] que são, no nosso entender, exageradamente baixos. Entre os parâmetros antropométricos mais marcantes a diferenciar africanos dos caucasianos salientam-se as dimensões da perna. Assim, foi verificado que os corredores Eritreus tinham pernas mais compridas (44,1 ± 3,0 vs. 40,6 ± 2,7 cm; p < 0,05) e com menor circunferência máxima (30,9 ± 1,5 vs. 33,9 ± 2,0; p < 0,01) que os corredores espanhóis [8]. Em relação ao volume da massa magra da coxa, encontraram-se valores médios de 2152 ± 770 e 2568 ± 295 cm3 para africanos e caucasianos, respetivamente, o que aponta para a tendência de formas corporais mais reduzidas nos corredores africanos, características essas que parecem estender-se a outras populações [23]. Tal foi comprovado num estudo comparativo entre crianças Tanzanianas e Norueguesas (9 – 10 anos de idade), em que se verificou que as primeiras são significativamente (p < 0,001) mais leves e mais baixas que as segundas, o que parece indiciar um biótipo específico africano que pode ter implicações biomecânicas para a corrida de duração. Parecem existir condições ecológicas e fenotípicas de base que determinam diferenças antropométricas entre africanos e caucasianos; se essas diferenças são determinantes para estabelecer diferentes níveis de prestação competitiva em provas de corrida de meio-fundo e fundo, é facto difícil de esclarecer. Sem podermos ser conclusivos, tudo indica que valores mais baixos de massa gorda, aliados a algumas características antropométricas (maior comprimento e menor circunferência da perna), apresentam boa correlação com a performance na corrida de duração e podem discriminar positivamente a elite Africana de meio-fundo e fundo da elite Caucasiana. As condicionantes ecológicas de desenvolvimento das populações podem determinar algumas das diferenças antropométricas verificadas entre africanos e caucasianos. Assim, o perfil de ingestão nutricional, aliado à taxa de atividade física usual, de alguns grupos étnicos africanos pode ser crucial no desenvolvimento da composição corporal. Por exemplo, a alimentação da tribo Kalenjin, da qual saíram alguns dos melhores meio-fundistas e fundistas da história desportiva recente, é fundamentalmente vegetariana. Cerca de 90% dos alimentos têm origem vegetal com um aporte reduzido (15% do aporte calórico total) de gorduras [25]. Naturalmente, os regimes vegetarianos induzem uma menor acumulação de gordura corporal, no entanto, o esforço recorrente de muitos corredores de meio-fundo e fundo em manterem pesos corporais mais competitivos podem induzir práticas nutricionais deficitárias em energia com a consequente redução da massa gorda [26]. Uma coisa é certa, quando falamos de elite internacional do meio-fundo e fundo, não podemos encontrar percentagens de massa gorda elevadas, já que todo o peso supérfluo (e.g. reservas de massa gorda) onera energeticamente o esforço de corrida afetando diretamente a performance. Dos vários estudos compulsados parece que somente o IMC diferencia antropometricamente a elite Africana da Caucasiana. Que essa diferenciação tenha força suficiente para justificar a excelência competitiva dos Africanos, é algo que nos suscita dúvidas. Fisiológicas Os fatores fisiológicos críticos para a performance na corrida de duração são o consumo máximo de oxigénio (VO2max), a utilização fracional do VO2max (a capacidade de suster no tempo uma elevada percentagem do consumo máximo de oxigénio) e a economia de corrida (entendida como a capacidade de correr de forma energeticamente eficiente). As exigências fisiológicas das mais elevadas performances no meio-fundo e fundo são salientadas pelas intensidades médias para cada especialidade: a meia-maratona é corrida a 80% do VO2max, os 10.000 m a 90%, os 5.000 m a 95% e os 3.000 m a 100%. Portanto, no meio-fundo e fundo a competição ao mais elevado nível assenta em elevadíssimas exigências aeróbias; correr a 80% do VO2max requer uma frequência cardíaca cerca de 88% da FCmax [27], situação que é mantida por mais de 2 horas em maratonistas de elite. Somente, seres excecionalmente dotados e com elevado nível de treino são capazes de desenvolver, de forma “natural”, as intensidades requeridas pelas performances acima descritas. Tentemos verificar se estas capacidades intrínsecas dos corredores de elevado nível conseguem diferenciar os caucasianos dos africanos. Consumo máximo de oxigénio De uma forma geral, os corredores de meio-fundo e fundo apresentam consumos máximos de oxigénio elevados; no entanto, este indicador fisiológico não parece ser suficientemente discriminador da qualidade competitiva dos sujeitos. Em relação a este indicador temos de considerar duas vertentes: a fisiológica e a ergonómica. Assim, não só devemos considerar o VO2max (indicador fisiológico) como também a vVO2max (indicador ergonómico) e que corresponde à velocidade de corrida a que é atingido o máximo consumo de oxigénio, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 este sim um indicador verdadeiramente discriminador no meio-fundo e fundo [1]. A Tabela IV permite-nos verificar o VO2max e a potência máxima aeróbia (PMA) de várias amostras de corredores africanos e caucasianos. Somente no estudo de Lucia et al. [8] se verificaram diferenças significativas (p < 0,05) ao nível do VO2max, entre corredores africanos e caucasianos, evidenciando os corredores Espanhóis um VO2max médio mais elevado, embora expressem um menor nível competitivo que os atletas Eritreus. Estes dados reforçam as considerações atrás expressas e reduzem a utilidade do VO2max como fator discriminador entre corredores de nível idêntico. A vVO2max que diferencia o nível competitivo dos corredores de outros estudos [22,11] não diferenciou as elites Espanhola e Eritreia no estudo de Lucia et al. [8], embora o nível competitivo de ambos seja diferente. Os dados recolhidos indicam que o VO2max não diferencia corredores africanos e caucasianos não-elite [17,6] e elite [28]. Um VO2max mais elevado não significa uma superior prestação competitiva [6]. Estes estudos são corroborados por Saltin et al. [29] que não verificaram, ao nível do VOmax, diferenças significativas entre os melhores corredores 2 escandinavos e quenianos, quer em altitude quer ao nível do mar. No entanto, alguns corredores quenianos atingiram consumos máximos de oxigénio da ordem dos 85 ml.kg-1. min-1, valor não conseguido por nenhum dos corredores escandinavos [9]. É lógico que os corredores escandinavos não se aproximam, competitivamente falando, dos corredores quenianos. Importa salientar que os corredores de meio-fundo e fundo de elite apresentam usualmente valores médios de VO2max superiores a 70 ml.kg-1.min-1 [6,11,20,30]. Quer isto dizer que a elite do meio-fundo e fundo apresenta uma elevada capacidade de captação, transporte e utilização muscular de oxigénio, só que este indicador não diferencia, na elite, o nível competitivo dos corredores sejam africanos ou caucasianos. Para reforçar esta ideia, confirmou-se que a similitude fisiológica das amostras não tem correspondência com o valor performativo das mesmas que favorece claramente os quenianos que com valores médios aos 10.000 m de 28 159 min 29 s ± 27 s se distinguem claramente dos alemães com 30 min 39 s ± 24 s [20]. Alguns estudos demonstraram que o nível performativo das amostras selecionadas era baixo, com os atletas a conseguirem tempos médios aos 10.000 m acima dos 32 min [17,23,6]. Como factor de comparação apresentamos os recordes do mundo e olímpico dos 10.000 m femininos: 29’31”78 (Wang Junxia, China) e 29’54”66 (Tirunesh Dibaba, Etiópia). Pensamos que a análise das diferenças entre corredores africanos e caucasianos é ecologicamente mais válida quando estudamos as elites. Tendo em conta a variabilidade dos dados recolhidos, pensamos que não é ao nível dos indicadores máximos fisiológicos que radica a diferença entre a elite africana e caucasiana. Cinética do lactato e limiar anaeróbio A superior capacidade performativa dos corredores africanos quando comparados com corredores caucasianos tem sido associada às menores concentrações de lactato plasmático a intensidades de corrida submáximas [17] e máximas [21]. Estudos prévios determinaram a relação entre a fadiga muscular e a performance e a acumulação de lactato. Atletas que apresentam uma menor concentração de lactato plasmático para uma dada intensidade submáxima de esforço parecem estar mais capacitados para resistir à fadiga por um período de tempo mais longo [31]. Tal facto foi verificado no presente estudo de revisão a partir dos dados de Weston et al. [17] que, num patamar de intensidade de corrida correspondente a 92% da vVO2max, verificaram que os corredores africanos atingiam lactatemias mais baixas (7,2 ± 4,8 versus 11,1 ± 3,5 mmol/L; p = 0,06) e um superior tempo até à fadiga (7’56” ± 3’45” versus 3’57” ± 2’05”; p < 0,01). No entanto, a intensidades máximas os resultados são conflituais (Tabela V). Enquanto Saltin et al. [29] constaram que o pico de lactato era similar para corredores quenianos e escandinavos quer em altitude quer ao nível do mar, o que foi corroborado por Weston et al. [17], o estudo de Harley et al. [21] evidenciou um pico de lactato significativamente mais elevado nos caucasianos. As razões destas discrepâncias podem-se prender a condicionantes metodológicas. Tabela IV - Valores médios (± DP) do VO2max e vVO2max em corredores de meio-fundo e fundo africanos e caucasianos. Estudos Weston et al. [17] Kohn et al. [6] Harley et al. [21] Marino et al. [15] Prommer et al. [20] Lucia et al. [8] * Diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) VO2max (ml.kg-1.min-1) Caucasianos Africanos 65,2 ± 7,2 61,9 ± 5,9 68,2 ± 4,5 68,8 ± 5,9 68,9 ± 4,3 66,7 ± 5,4 64,3 ± 3,0 62,6 ± 3,5 70,7 ± 3,7 71,5 ± 5,0 77,8 ± 6,1 * 73,8 ± 5,6 vVO2max (km.h-1) Caucasianos Africanos 22,4 ± 1,2 21,3 ± 1,9 22,0 ± 0,9 21,6 ± 1,1 21,5 ± 1,4 21,4 ± 1,2 20,8 ± 1,2 21,2 ± 0,8 23,1 ± 0,7 23,3 ± 0.5 160 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Tabela V - Valores médios (± DP) de lactatemia em corredores africanos e caucasianos após prova máxima de esforço. Weston et al. [17] Harley et al. [21] Saltin et al. [29] # Saltin et al. [29] ## Lactato plasmático após prova de esforço máxima (mmol.L-1) Caucasianos Africanos 11,6 ± 2,9 10,5 ± 2,5 12,3 ± 2,7 8,8 ± 2,0 * 10,0 ± 0,8 8,0 ± 0,7 9,8 ± 0,5 9,3 ± 0,9 *Diferença significativa (p < 0,05); #Altitude de ~ 2.000 m; ## Nível do mar Embora em teste máximo de corrida os resultados sejam conflituais e não possam determinar um padrão que diferencie claramente corredores africanos e caucasianos, ao nível do exercício submáximo parece que os resultados são mais conclusivos. Coetzer et al. [18] associaram o domínio dos atletas negros nas provas longas de corrida às menores concentrações de lactato durante o exercício submáximo. Vários estudos comprovam que para uma mesma intensidade de corrida os atletas africanos evidenciam uma menor concentração de lactato plasmático. Weston et al. [17] verificaram, em corredores africanos e caucasianos, concentrações idênticas de lactato plasmático a intensidades de corrida de 72 e 80% da vVO2max; no entanto, a intensidades superiores (88 e 92% da vVO2max), os corredores africanos apresentavam uma lactatemia significativamente menor. Também Saltin et al. [29], observando várias amostras de corredores quenianos e escandinavos constataram uma menor (p < 0,05) concentração de lactato plasmático a intensidades submáximas de corrida nos corredores do Quénia. Também, Harley et al. [21] verificaram que corredores africanos comparados com os seus pares caucasianos tinham tendencialmente (p = 0,07) uma lactatemia mais baixa para uma velocidade de corrida de 16 km.h-1 (2,4 ± 0,7 versus 3,8 ± 2,4 mmol.L-1). Quererá isto significar que os corredores negros apresentam uma superior clearence ou uma menor produção de lactato durante o exercício? Os dados disponíveis não nos permitem esclarecer esta questão. Ainda que uma menor concentração de lactato plasmático em intensidades submáximas de corrida parece discriminar positivamente os corredores africanos, outros indicadores conotados com a cinética do lactato parecem apontar para a similitude entre africanos e caucasianos. Assim, Harley et al. [21] não verificaram diferenças no conteúdo muscular de transportadores monocarboxilato (MCT) entre corredores negros e brancos. Os MCT facilitam o transporte de lactato através da membrana plasmática (influxo ou efluxo consoante o tipo de fibra) e parecem desempenhar um papel importante na homeostasia do lactato. O limiar anaeróbio (Lan) é um indicador submáximo que expressa a capacidade aeróbia de um indivíduo. É um indicador que consegue discriminar com maior robustez o nível competitivo de maratonistas [11]. O estudo de Lucia et al. [8] conflitua com outros estudos [32,11], ao verificar que os atletas com superior nível performativo apresentam um limiar anaeróbio ventilatório inferior. Corredores eritreus e espanhóis atingem o Lan ventilatório a 62,4 ± 8,0 e 67,5 ± 10,2% do VO2max e a velocidades de 15,0 ± 0,9 e 16,6 ± 0,7 km/h, respectivamente. Em termos de velocidade as diferenças são significativas (p < 0,01). O Lan é uma variável com forte poder preditivo no meio-fundo e fundo [32,33], mas o estudo de Lucia et al. [8] inverte os dados de outras investigações, pois os corredores com melhor prestação competitiva são os que apresentam um Lan inferior. Neste caso os dados fisiológicos não têm correspondência com o nível de performance competitiva como se pode comprovar pelos resultados obtidos nos Campeonatos do Mundo de Corta-Mato (2004 e 2005), por alguns atletas que integraram o estudo supracitado [8]. Em 2004 os eritreus obtiveram as seguintes classificações: 6º, 9º, 22º, 29º e 74º e o único espanhol participante do estudo classificou-se em 33º. Em 2005, os eritreus conseguiram 2º, 15º, 17º e 20º enquanto os espanhóis se colocaram em 24º e 68º. Como podemos verificar as diferenças de nível competitivo são muito grandes entre os grupos. Quer isto dizer que superiores indicadores fisiológicos nem sempre correspondem a superior performance competitiva que está condicionada por outros fatores tais como os volitivos e motivacionais. Numa linha de análise que reforça a não correspondência entre os vários indicadores e a performance na corrida, verificou-se que a 80% da vVO2max, os corredores africanos apresentavam concentrações médias de lactato de 2,9 ± 2,5 mmol.L-1, enquanto os corredores caucasianos 4,4 ± 2,0 mmol.L-1 [17]. Os valores médios superiores de lactato plasmático a 80% da Potência Máxima Aeróbia (vVO2max), embora sem significado estatístico, têm, no nosso entender claro significado fisiológico, pois nesta intensidade de esforço a amostra de corredores africanos não atinge o patamar das 4 mmol/L de lactato, enquanto os corredores caucasianos, em média, o ultrapassa. Quanto mais elevada a intensidade de exercício para se atingir o patamar das 4 mmol/L de lactato, maior é a capacidade aeróbia de um atleta. Quer isto significar que o limiar anaeróbio dos corredores africanos é atingido a um patamar superior de esforço. Isso se reflete no tempo até à fadiga a 92% da PMA que é significativamente (p < 0,01) superior nos corredores africanos. O que é de estranhar é que estes indicadores fisiológicos que claramente evidenciam uma superior capacidade aeróbia dos corredores africanos não se reflitam claramente na performance já que os tempos aos 10.000 m são similares. Mais uma vez aqui se verifica que o nível competitivo da amostra pode comprometer a robustez das conclusões. Conflituando com Lucia et al. [8] e corroborando Weston et al. [17], Bosch et al. [34] verificaram que corredores negros apresentavam um limiar anaeróbio ventilatório superior ao de corredores brancos (82,7 ± 7,7 vs. 75,6 ± 6,2% VO2max), embora não se verificassem diferenças significativas em relação Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 ao VO2max. Estes dados têm, no entanto, de ser lidos com cuidado já que o nível performativo da amostra é muito baixo (maratonistas com tempos de prova superiores a 2h30). A conflitualidade dos vários estudos aponta para a dificuldade de tentar discriminar corredores africanos e caucasianos a partir da análise de indicadores fisiológicos. Economia de corrida e utilização fracional do VO2max A economia de corrida é expressa como o consumo submáximo de oxigénio estabilizado a uma dada velocidade de corrida submáxima. Costill et al. [35] afirmaram que o sucesso na corrida de maratona era determinado, em grande parte, pelo VO2max, economia de corrida e capacidade de utilizar uma elevada fração do VO2max durante a maratona. A economia de corrida é uma variável fortemente relacionada com a performance nas corridas de meio-fundo e fundo. Esta deve ser entendida como o custo energético obtido a velocidades de corrida submáximas e apresenta uma grande importância funcional, podendo ser um fator discriminativo entre elite e não elite [11]. Parece existir uma tendência para os corredores de meio-fundo e fundo leste africanos serem mais económicos a correr; tal facto parece estar relacionado com características anatómicas e antropométricas específicas [36]. Esta asserção é contrariada pelo estudo de Weston et al. [17] em que se pode verificar que nas intensidades de corrida de 72, 80 e 88% da vVO2max não existem diferenças significativas em relação aos custos energéticos da corrida entre africanos e caucasianos, o que pode estar relacionado com o baixo nível performativo da amostra. Na elite, Lucia et al. [8] verificaram que a economia de corrida é o indicador que melhor diferencia positivamente os corredores eritreus dos espanhóis. Podemos verificar que para qualquer das velocidades estudadas (17, 19 e 21 km/h), os corredores eritreus consomem menos oxigénio quer em termos absolutos quer quando os valores são expressos em percentagem do VO2max. Interessantemente, quando os valores são considerados como percentagem da vVO2max, as diferenças deixam de ser significativas. Quer isto significar que embora a funcionalidade motora seja idêntica para cada um dos patamares de esforço, o stresse fisiológico induzido é significativamente menor nos corredores eritreus. Weston et al. [23], ao comparar corredores africanos e caucasianos com idêntico perfil competitivo, verificaram que os primeiros gastavam 47,3 ± 3,2 e os segundos 49,9 ± 2,4 ml.kg-1.min-1, correndo à velocidade de 16 km.h-1, avançando que os africanos eram significativamente (p < 0,05) mais económicos, o que justificava as diferenças ao nível da elite. Entendemos que esta especulação é abusiva já que o nível performativo da amostra selecionada por Weston et al. [23] é baixo e relativizando o consumo de oxigénio a 16 km.h-1 ao pico de VO2, que era significativamente maior (p < 0,01) nos corredores caucasianos, essas diferenças são esbatidas. Não podemos extrapolar para a elite, dados referentes à não-elite. 161 O estudo de Lucia et al. [8] permite-nos especular que a superior economia de corrida da elite africana é devida menos a fatores fisiológicos ou bioquímicos e mais a fatores antropométricos e biomecânicos. Estes autores verificaram que o hemograma (eritrócitos, hematócrito e hemoglobina) é idêntico para os corredores eritreus e espanhóis, o que evidencia uma capacidade de transporte de oxigénio idêntica. Também, Saltin et al. [29] verificaram que o custo energético da corrida era menor nos corredores quenianos quando comparados com escandinavos e que essa diferença se acentuava quando os valores de consumo eram relativizados ao peso corporal de forma diferente valorizando a massa magra (ml. kg-0.75.min-1). Como o consumo de oxigénio (VO2) durante o exercício submáximo não aumenta, geralmente, de forma linear com a massa corporal, foi recomendado relacionar a economia de corrida a 0.75 da massa corporal [37]. Como a elite africana treina mais quilometragem a intensidades correspondentes ao VO2max é de aceitar a tese de que estão mais desenvolvidos em relação à potência muscular e assim mais aptos a reduzir a quantidade de energia perdida pelas forças de travagem [37], o que se poderá refletir positivamente na economia de corrida. Embora tudo aponte para que os corredores africanos sejam mais económicos que os seus pares caucasianos, torna-se difícil isolar um fator que por si só justifique a superior performance dos corredores africanos de meio-fundo e fundo. As diferenças serão multifatoriais entre as quais se salienta a capacidade de a elite africana em manter elevadas percentagens do VO2max enquanto correm [34], o que não tem nada a ver com o genoma mas sim com a qualidade do treino. Mecanismos de termoregulação Os elevados desempenhos físicos característicos dos corredores de meio-fundo e fundo estão fortemente condicionados pela eficiência dos mecanismos de controlo da temperatura corporal. Mais de 2/3 da energia química armazenada nos músculos é transformada em calor irrecuperável que necessita ser eliminado já que o corpo humano tem uma reduzida capacidade de armazenamento de calor. Num estudo conduzido por Marino et al. [15], verificou-se que enquanto a taxa de sudação era idêntica entre caucasianos e africanos em temperaturas moderadas (15º C), era significativamente superior nos caucasianos (p < 0,01) quando a corrida era desenvolvida em ambiente quente (35º C). Podemos assim especular que o mecanismo de termoregulação é mais eficiente nos corredores africanos, pelo menos em ambientes quentes, o que pode parcialmente contribuir para a melhoria da performance no calor verificada no estudo de Marino et al. [15]. No entanto, não devemos valorizar estes dados em demasia já que Yousef et al. [38], estudando uma amostra alargada de brancos e negros não verificaram diferenças significativas entre raças, em relação à temperatura rectal, temperatura da pele, frequência cardíaca e taxa de sudação quando se exercitaram, no 162 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 deserto, a 40% da máxima potência aeróbia. Embora, alguns dados apontem para uma melhor adaptação ortostática ao exercício em situações agressivas de calor de sujeitos negróides que caucasóides [39], não podemos inferir que essa superior capacidade termorreguladora é razão suficiente para justificar as superiores performances dos corredores africanos. Caracterização fibrilar e enzimática Verificamos que ao nível fisiológico os fatores que diferenciam os corredores africanos dos seus pares caucasianos nem sempre são fáceis de encontrar e valorizar; vejamos o que se passa ao nível da composição muscular. Em relação à distribuição fibrilar os resultados não são concordantes. Weston et al. [17] encontraram 49,0 ± 17,3% de fibras Tipo I nos corredores africanos e 67,1 ± 17,5% nos caucasianos, o que indicia uma tendência para os corredores caucasianos terem uma superior percentagem de fibras de contração lenta. Esta asserção é corroborada pelo estudo de Kohn et al. [6] que verificaram que atletas caucasianos, comparados com os seus pares de etnia Xhosa, têm uma percentagem significativamente superior (p < 0,05) de fibras Tipo I, enquanto os atletas Xhosa evidenciavam uma maior percentagem (p < 0,05) de fibras de Tipo IIa; em relação à percentagem de fibras Tipo IIx não havia diferenças significativas. Conflituando com estes dados, Harley et al. [21] verificaram percentagens inferiores de fibras Tipo I em corredores brancos (49 ± 16%) quando comparados com os seus pares negros (56 ± 17%). Os corredores brancos apresentavam também maior percentagem de fibras Tipo IIa (49 ± 18% versus 39 ± 15%). No entanto, os corredores negros tendiam a estar mais potenciados com fibras Tipo IIx (5 ± 12% versus 1 ± 2%). Para dificultar a questão, Saltin et al. [40] não verificaram diferenças significativas entre corredores quenianos e escandinavos em relação às percentagens dos vários tipos de fibras, enquanto Coetzer et al. [18] constaram que atletas negros sul-africanos apresentavam uma percentagem de fibras Tipo I, cerca de 50% superior aos atletas brancos do mesmo país. A diversidade fibrilar entre atletas brancos e negros não permite detetar um padrão específico de cada grupo étnico. O que a investigação permite verificar é que o treino é um forte detonador de adaptações que muitas vezes alteram a influência da matriz genética. Nesse sentido, Saltin et al. [40] verificaram que o treino de endurance aumentava em 10-20% o número de capilares do músculo gastrocnémios dos corredores o que permitia uma melhor eficiência metabólica muscular. O treino continuado aumenta o ratio fibra/capilar potenciando as adaptações periféricas relacionadas com o rendimento em esforços prolongados. Também a superior atividade enzimática oxidativa (Citrato Sintetase; p = 0,02 e 3-Hidroxiacil-CoA Desidrogenase; p < 0,01) verificada em corredores africanos [17] pode ser circunstancial e estar mais relacionada com o treino e menos com o genótipo. A partir deste estudo podemos constatar que o treino de endurance potencia a atividade enzimática oxidativa (CS), e reduz ou mantém a atividade enzimática glicolítica (PFK). Os corredores africanos exibem um superior perfil enzimático oxidativo, o que não está relacionado com a percentagem de fibras Tipo I, que é tendencialmente superior na amostra caucasiana [17]. Ainda que o treino consiga induzir adaptações estruturais e funcionais importantes, as condições de base são determinantes para a consecução de elevadas performances. Assim, Ama et al. [41] verificaram que sujeitos caucasianos sedentários, quando comparados com os seus pares africanos, apresentavam uma percentagem superior de fibras Tipo I (8%; p < 0,01) e uma percentagem mais baixa de fibras Tipo IIa (6,7%; p < 0,05). Podemos especular que uma amostra de corredores emergente duma população geneticamente potenciada em fibras Tipo IIa estará mais capacitada a tornar-se elite no meio fundo e fundo internacional já que acreditamos que o pool de fibras Tipo IIa está diretamente relacionado com o rendimento nos esforços de meio-fundo e fundo [42]. Embora o nível competitivo dos grupos não fosse muito diferente, estudo [6] verificou que os corredores do grupo étnico Xhosa apresentavam, quando comparados com os seus pares caucasianos, valores significativamente superiores (p<0.05) na percentagem de fibras Tipo IIa que tinha correspondência com as isoformas de cadeia pesada de miosina no mesmo tipo de fibras. Em relação ao perfil enzimático, e conflituando com o estudo de Weston et al. [17], Kohn et al. [6] verificaram valores médios semelhantes em relação às enzimas CS e 3-HAD para ambos os grupos (Caucasianos e Xhosa), mas com diferenças significativas em relação à enzima LDH (p<0.01) e diferença tendencial (p=0.07) para a enzima PFK. Alguns dados apontam para uma superior atividade do metabolismo glicolítico nos corredores africanos, mas a extrema variabilidade inter-individual não nos permite definir um padrão fenotípico claro de atletas africanos e caucasianos. Amostras diferentes dão resultados diferentes. Também é importante a escala de análise. Por exemplo, verifica-se que, em termos absolutos, os atletas Xhosa apresentam uma superior atividade da LDH, mas a análise das isoformas desta enzima permitem-nos determinar o perfil mais oxidativo ou mais glicolítico das amostras [6]. Os atletas Xhosa têm maior percentagem de fibras Tipo IIa, normalmente caracterizadas por superior atividade das enzimas LDH e PFK que as fibras Tipo I [43]. Analisando as isoformas da LDH, verificou-se que os atletas Xhosa apresentavam valores significativamente superiores de LDH4-5 e inferiores de LDH1-2 [6]. As isoformas LDH4-5, também denominadas musculares, parece que favorecem a conversão de piruvato em lactato, enquanto as LDH1-2, denominadas cardíacas, promovem a reacção inversa [44]. A superior atividade das frações 4-5 da LDH nos corredores Xhosa pode prender-se com a superior intensidade de treino que determina adaptações fenotípicas específicas. No entanto, os dados de Kohn et al.[6] são contrariados pelos de Saltin et al. [29] que verificaram em atletas quenianos valores mais elevados das isoenzimas 1-2 da LDH quando comparados com Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 atletas escandinavos. Os mesmos autores verificaram que o treino em altitude promovia a conversão da LDH4-5 em LDH1. Embora a conflitualidade entre os estudos compulsados se 2 possa dever às diferenças do nível performativo das amostras selecionadas, julgamos que também a caracterização fibrilar e enzimática não pode estabelecer um padrão diferenciador entre corredores africanos e caucasianos. Condicionantes ambientais O determinismo do envolvimento tenta justificar a performance desportiva em função das condições ecológicas vividas por um dado grupo humano. Em relação à performance física não aceitamos a relação absoluta de causa-efeito entre o meio onde se nasceu e viveu e o êxito desportivo já que muitos atletas de elite migram cedo dos seus países de origem para outros onde vão afirmar o seu potencial desportivo. No caso dos corredores do Leste Africano, acreditou-se que o facto de nascerem e viverem em altitude lhes determinava condições favoráveis únicas para o rendimento físico aeróbio. Se a altitude fosse o único fator determinante na performance aeróbia, outros países com populações a viverem em altitude deveriam criar campeões no meio-fundo e fundo com a proficiência demonstrada pelos países do Leste Africano. O simples facto de viver em altitude pode induzir adaptações crónicas mais potenciadoras do metabolismo glicolítico que do oxidativo. Rosser & Hochachka [45], verificaram que sujeitos peruanos que viviam nos Andes a 3.300 m de altitude apresentavam a mesma área de secção transversa dos vários tipos de fibras, idênticos aos de indivíduos a viverem a 700 m de altitude. Somente a atividade enzimática nas fibras Tipo I diferenciava significativamente (p < 0,0001) os grupos; os sujeitos que viviam em alta altitude tinham uma menor (-19%) atividade da enzima aeróbia malato-desidrogenase e maior (+ 28,1%) da lactato-desidrogenase [45]. Parece que a hipoxia crónica induzida pela vivência em altitude muito elevada reduz a funcionalidade mitocondrial potenciando a glicolítica mesmo em fibras de características fundamentalmente aeróbias. O determinismo biológico da altitude é anulado pela verificação científica. Também as condições específicas de desenvolvimento humano podem determinar características adaptativas diversas. Assim, comprovou-se que sujeitos peruanos vivendo em altitude apresentavam dificuldades nas respostas cerebrovasculares à hipoxia e hipocapnia enquanto a circulação cerebral de sujeitos etíopes, vivendo em altitudes idênticas, não era sensível à hipoxia, o que evidenciava uma superior adaptação dos habitantes eíopes à altitude [46]. Prommer et al. [20] verificaram que corredores quenianos de elite que viviam em altitude (2.090 m) possuíam uma massa total de hemoglobina similar à de corredores alemães, massa que se reduzia quando vinham viver para o nível do mar. Estes dados são reforçados pelo estudo de Beall et al. [47] que verificaram que nativos etíopes vivendo a 3.530 metros de altitude apresentavam uma concentração média de 163 hemoglobina de 15,9 e 15,0 g/dl, para homens e mulheres, respetivamente, e com uma saturação média de hemoglobina de 95,3%; estes dados permitem concluir que, apesar da dramática descida da pressão parcial de oxigénio do ar inspirado pelos nativos etíopes vivendo em altitude, estes apresentavam concentrações de hemoglobina e saturações de oxigénio similares às populações vivendo ao nível do mar. Mesmo que existam adaptações corporais específicas a uma dada geografia, elas são sensíveis às alterações do envolvimento denotando uma certa plasticidade que reajusta o organismo às condições específicas de cada local. Reforçando o estudo de Rosser & Hochachka [45], Saltin et al. [40] verificaram que sujeitos a viver e treinar em altitude (2000 m) apresentavam o mesmo perfil de distribuição fibrilar que sujeitos a viver e treinar ao nível do mar: fibras Tipo I 60-70%, Tipo IIa 30-40% e Tipo IIb < 6%. Em termos enzimáticos, parece que a adaptação ao treino em altitude provoca um aumento das isoformas 1-2 da enzima lactato desidrogenase em detrimento das isoformas 3-4, potenciando assim a conversão de lactato em piruvato e consequentemente a funcionalidade aeróbia [40]. Quer isto dizer que as diferenças que caracterizam os corredores africanos que vivem em altitude são esbatidas quando os corredores caucasianos vão viver para a altitude. Verificou-se, em estudos com crianças quenianas, que aquelas que tinham de percorrer longas distâncias para a escola apresentavam um VO2max 30% superior ao daquelas que viviam perto [29]. Portanto, os esforços recorrentes de corrida dessas crianças eram a razão da sua potenciação aeróbia. O treino é um aspeto essencial no desenvolvimento de potencialidades intrínsecas a cada sujeito, já que Bale & Sang [1] comprovaram que 14 dos 20 corredores quenianos de elite que entrevistaram nunca correram para a escola, só que treinaram com qualidade quando chegaram ao atletismo. Esse é mais um estereótipo conceptual que a experiência não comprova, já que o treino “natural” dessas crianças pode ser perfeitamente substituído pelo treino “orientado” a que têm acesso nos clubes escolares ou federados. Importa também reter que hoje em dia a maioria dos corredores de elite africanos raramente vive nos seus países de origem e são deslocados, desde muito cedo, e num processo de nomadização seletiva, para os locais que permitam um melhor desenvolvimento das suas capacidades atléticas, fundamentalmente através da melhoria das condições sociais. Mesmo que o treino em altitude que caracteriza alguns dos meio-fundistas e fundistas africanos possa ter efeitos positivos ao nível da eritrogénese, esta razão não parece ser determinante para fazer a discriminação entre a elite africana e caucasiana. Importa salientar que corredores quenianos, em altitude (2000 m), atingem um VO2max de 68±1.4 ml.kg-1.min-1, enquanto ao nível do mar conseguem 79,9 ± 1,4 ml.kg-1.min-1 [29], facto que evidencia a adaptação às condições específicas do novo envolvimento. De igual forma, corredores africanos e caucasianos, quando ascendem do nível do mar para a 164 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 altitude experimentam uma redução inicial de suprimento de oxigénio, induzindo uma situação temporária de hipoxia tecidular que afeta quer a treinabilidade quer a performance em esforços de endurance [48]. A diáspora que caracteriza os “trabalhadores da corrida” do leste africano faz-lhes perder algumas condições de base e ganhar outras adaptadas aos seus novos envolvimentos, pelo que a tese do determinismo “envolvimental” não tem robustez suficiente para justificar a excelência competitiva desses corredores. Muitas das diferenças verificadas entre corredores africanos e caucasianos são circunstanciais. De uma forma geral, quando são feitas correções em relação à mais reduzida massa corporal, a capacidade de correr a um superior nível de esforço, não pode ser justificada por diferenças verificadas ao nível do VO2max, ventilação máxima, economia de corrida e limiar anaeróbio[18,8]. O superior rendimento competitivo dos corredores eritreus, que tem como base o menor stresse sistémico para uma dada carga de esforço submáxima (a nível máximo, em laboratório, as diferenças entre grupos esbate-se, beneficiando, inclusive, os espanhóis), pode ter algo a ver com o perfil de treino (carga + recuperação), que diferencia os grupos [8]. Na caracterização do treino dos corredores eritreus salienta-se o facto de realizarem menor volume de treino semanal, menos sessões de treino por semana e de dormirem mais horas que os seus pares espanhóis, o que permite uma melhor recuperação entre treinos de elevada intensidade que são em maior número nos corredores de elite. Na alta competição todos os pormenores contam mesmo aqueles que por vezes parecem menos importantes. O tempo de sono é de crucial importância para uma melhor adaptação às cargas. O treino não é só estímulo-carga; a recuperação é fundamental para a regeneração eficaz de todos os sistemas orgânicos, desregulados temporariamente pelas cargas intensas características dos atletas de elite. Treinar em intensidade é condição sine qua non para elevar o nível competitivo de um atleta, mas isso só se consegue se o organismo for capaz de recuperar convenientemente. Os corredores eritreus, tendencialmente, treinam menos, não fazem trabalho de força com pesos, que entendemos não se justificar em corredores de meio-fundo e fundo e que pode ser substituído por outro tipo de trabalho funcionalmente mais importante (e.g. correr na areia, rampas, etc.), e descansam mais. Como sabemos que normalmente treinam maior percentagem do tempo total de treino em intensidades muito elevadas que os corredores caucasianos, tudo aponta para uma eficaz conjugação de treino de maior intensidade e superior tempo de recuperação. Talvez aí residam algumas das razões que diferenciam os grupos estudados por Lucia et al. [8]. Os dados de Coetzer et al. [18] permitem verificar que apesar de os corredores africanos e caucasianos terem volumes de treino similares, diferenciavam-se pelo facto de os atletas africanos apresentarem uma maior percentagem de treino a intensidades superiores a 80% do VO2max (36±18% contra 14±7%). Estas considerações são reforçadas pelas verificações de Noakes [14] que verificou que as principais diferenças entre os corredores africanos e europeus radicavam no perfil do treino. Assim, enquanto os africanos dedicavam cerca de 1/3 do volume total de treino para trabalhar a intensidades variando entre 80 e 100% do VO2max, os europeus somente dedicavam cerca de 10%. Corroborando estes dados, Billat et al. [22] verificaram que em corredores quenianos de 10.000m, aqueles que treinavam com intensidades de corrida superiores apresentavam um VO2max mais elevado e superior performance que os corredores que treinavam a intensidades de corrida mais baixas. A análise da componente nutricional pode-nos trazer alguma luz discriminativa entre corredores africanos e caucasianos. Os corredores quenianos estudados por Fudge et al. [49] têm uma ingestão elevada de carbohidratos (67,3 ± 7,8%), reduzida de gorduras (17,4 ± 3,9%) e equilibrada de proteínas (15,3 ± 4,0%) o que contratasta parcialmente com o perfil de ingestão nutricional da elite portuguesa de meio fundo e fundo: carbohidratos (51,1 ± 16,2%), gorduras (30,8 ± 12,6%) e proteínas (17,6 ± 5,0%) [50]. Uma grande disponibilidade de carbohidratos permitirá uma mais eficaz recuperação das reservas musculares e hepáticas de glicogénio que é o substrato energético por excelência para os corredores de elite de meio-fundo e fundo. No entanto, algumas particularidades devem-nos fazer refletir sobre o comportamento nutricional de alguns corredores. Fudge et al. [49] verificaram que, em períodos de treino intenso, alguns corredores Quenianos apresentavam um balanço energético negativo, i.e., ingeriam menos calorias de que as que gastavam. Ora tal prática pode conduzir à redução da massa corporal que combinado com a elevada ingestão de carbohidratos pode ter efeitos positivos sobre o custo energético da corrida. No entanto, tal prática pode, no longo termo, produzir efeitos adversos na saúde e rendimento dos atletas. Tais práticas restritivas são comuns em meio-fundistas e fundistas [50] e devem merecer correção por parte dos responsáveis do processo de treino. Defendemos que a nutrição não faz um atleta de elite mas pode constituir-se como obstáculo a que um atleta de elite manifeste a sua excelência. Malgrado as diferenças verificadas, não podemos colocar no perfil de ingestão nutricional a razão do superior potencial performativo dos corredores africanos. Em relação às adaptações induzidas pelo perfil de treino ou atividade nas fases de desenvolvimento auxológico que antecedem a competição, importa salientar que enquanto os jovens urbanos quenianos apresentam o mesmo VO2max relativo que os jovens dinamarqueses não treinados, os jovens da mesma idade do Quénia rural atingem um VO2max relativo, 30% superior que os seus pares urbanos ou dinamarqueses [29]. Estes autores concluem que um período de juventude fisicamente ativa, combinada mais tarde com um treino de elevada intensidade, conduz à superior capacidade aeróbia aliada a uma boa economia de corrida que fazem o sucesso dos corredores quenianos. Pensamos que estes fatores Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 não justificam, por si só, a superior valia competitiva dos corredores quenianos, no entanto, o declínio competitivo no meio-fundo e fundo nas sociedades ocidentais pode estar relacionado com a tendência para a hipocinésia e obesidade que caracteriza os seus adolescentes. O perfil de atividade dos jovens das zonas rurais do Quénia e Etiópia, que têm nos longos estímulos de marcha e corrida que fazem parte da sua vida diária, uma forma de treino natural, pode ser um fator básico para uma melhor aptidão aeróbia e uma melhor resiliência à fadiga. No entanto, estas características podem ser obtidas por meio de um processo de treino sistemático e bem orientado. O êxito dos atletas negros em várias modalidades desportivas criou a perceção generalizada da sua superioridade atlética que é potenciada pelos meios de comunicação de massas [26]. Cria-se, assim, um ambiente psicológico e social favorável aos atletas africanos em detrimento dos atletas caucasianos. A ameaça dos estereótipos que afirmam a superioridade negra nas corridas de meio-fundo e fundo funciona como efeito bloqueador para os atletas brancos e age positivamente sobre os atletas negros [51]. As atitudes para com os estereótipos reinantes, assentes em aspetos cognitivos, afetivos e comportamentais, podem dar vantagens competitivas aos atletas africanos. Correr rápido consegue-o as elites de todos os países; correr rápido quando importa e controlar bem o stresse competitivo é uma característica de alguns atletas africanos com especial relevo para os corredores provenientes da tribo Kalenjin [52]. Algumas características do processo de desenvolvimento ontológico da tribo Kalenjin podem, em parte, explicar o êxito dos seus corredores. Desde o berço que os jovens vivem debaixo de pressão de afirmação social que atinge provavelmente o zénite na circuncisão, momento chave na passagem à adultícia que pode levar ao banimento da tribo no caso de demonstração de medo e acentuada cedência à dor [2]. A superação desta prova iniciática promove uma resiliência emocional única que pode reverter positivamente para o controlo da ansiedade pré-competitiva. Também o fator exemplo pode ser decisivo na criação de um ambiente de forte emulação e autossuperação. Segundo La Torre et al. [53], a oportunidade de os jovens talentos de treinarem com atletas experientes repletos de sucesso, pode ser um fator determinante para a diferença. No nosso entender, este processo de treino em grupo pode ter vantagens e desvantagens. Um processo precoce de treino de elevada intensidade pode bloquear o nível de progressão de atletas jovens. Contudo, tal processo pode funcionar como um meio de seleção natural permitindo a “sobrevivência” competitiva dos mais aptos geneticamente. Temos de assumir com clareza e coragem que a alta competição é assunto para muito poucos. Um fator pode ser especialmente importante na competição de alto nível – a vontade de ganhar. Segundo o fisiologista Tim Noakes, todos os corredores de meio-fundo e fundo 165 de nível internacional apresentam, virtualmente, a mesma condição física, pelo que a luta pelas medalhas pode estar apoiada no empenhamento neurológico correspondente a uma superior vontade de ganhar [48]. No entanto, desde sempre o desporto foi um campo fértil para a criação de estereótipos que, quando não convenientemente resolvidos pelos treinadores se fixam como verdadeiras ameaças psicológicas inibindo os atletas de expressar a totalidade das suas competências atléticas [52]. Também Hamilton [54] postula que a vantagem dos atletas africanos, hoje em dia, radica mais em aspetos psicológicos que fisiológicos já que os atletas do Leste Africano desenvolveram uma aura de invencibilidade que os potencia mentalmente enquanto reduz a capacidade mental competitiva dos seus pares caucasianos. Conclusão A abordagem reducionista e segmentar em desporto é sempre um meio fértil de geração de mal-entendidos e juízos enviesados. A performance do meio-fundo e fundo não pode ser esclarecida através de um simples indicador. As abordagens, antropométrica, bioquímica e fisiológica da performance no meio-fundo e fundo não nos dão dados suficientemente robustos que nos permitam justificar as diferenças competitivas entre corredores de meio-fundo e fundo africanos e caucasianos. Se tivéssemos de selecionar os fatores que mais podem contribuir para as diferenças performativas que separam os corredores africanos dos caucasianos, teríamos de eleger o perfil do treino e as expressões psicológicas e emocionais dos atletas. Referências 1. Bale J, Sang J. Kenyan running. Movement culture, geography and global change. 1st ed. London: Frank Cass and Co; 1996. 2. Manners J. Kenya’s running tribe. The Sports Historian 1997;17(2):14-27. 3. Scott R, Wilson R, Goodwin W, Morgan C, Georgiades E, Wolde B et al. Mitochondrial DNA lineages of elite Ethiopian athletes. Comp Biochem Physiol B Biochem Moll Biol 2005;140:497-503. 4. Mills M, Yang N, Weinberger R, Vander-Woude D, Beggs A, Easteal S et al. Differential expression of the actin-binding proteins, alpha-actinin-2 and -3, in different species: implications for the evolution of functional redundancy. Human Molecular Genetics 2001;10(13):1335-46. 5. North K. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 168 REVISÃO O exercício físico como terapia não farmacológica na disfunção endotelial do diabetes mellitus tipo 2 Physical exercise as non-pharmacological therapy of the endothelial dysfunction in diabetes mellitus 2 Cristiane Gonçalves da Mota*, Wagner Silva Dantas** *Prof. Educação Física do IMREA HCFMUSP, Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo, **Docente Programa de Pós Graduação Educação Física da Universidade Gama Filho Resumo O objetivo desta pesquisa de literatura foi discutir a prática do exercício físico como terapia não farmacológica no tratamento da disfunção endotelial no diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Foi realizada uma revisão bibliográfica nas bases de dados científicas LILACS, Scielo e Pubmed utilizando como palavras-chaves: disfunção endotelial, diabetes mellitus, óxido nítrico, endotélio vascular, shear-stress e exercício físico nos idiomas: português e inglês. Os artigos revistos foram publicados no período de 1994 à 2008. Com isso, observou-se que o endotélio vascular preservado auxilia na prevenção da formação de trombos por meio de mecanismos antitrombóticos e pró-trombóticos, mantendo assim a homeostase. O radical livre conhecido como óxido nítrico (NO), liberado por meio do estresse de cisalhamento (shear-stress), causa vasodilatação dependente do endotélio, o que auxilia no fluxo sanguíneo. A disfunção endotelial ocorre anteriormente à formação da arteriosclerose que pode estar ligada a diversos outros fatores de risco para a doença cardiovascular (DAC) como hipertensão arterial, hiperlipidemia e DM2, assim como também a resistência à insulina. Indivíduos com disfunção endotelial submetidos ao treinamento físico apresentam melhora em sua capacidade funcional e na vasodilatação dependente do endotélio devido ao aumento do fluxo sanguíneo e a alteração dos níveis das proteínas denominadas marcadores inflamatórios como a PCR. A prática de exercícios físicos auxilia no tratamento clínico e melhora do prognóstico da doença. Abstract This literature review aimed to discuss physical exercises as non-pharmacological therapy of endothelial dysfunction in diabetes mellitus 2 (DM2). A preserved vascular endothelium contributes to prevent thrombus formation due to anti-thrombotic and pro-thrombotic mechanisms, maintaining homeostasis. Free radical as nitric oxide (NO) released by shear-stress causes endothelium-dependent vasodilation, which helps blood flow. Endothelial dysfunction occurs first at the formation of atherosclerosis and can be connected to multiple risk factors for cardiovascular disease (CAD) such as hypertension, hyperlipidemia and diabetes mellitus, as well as insulin resistance. Individuals with endothelial dysfunction undergoing physical training show improvement in functional capacity, endothelium-dependent vasodilation due to increased blood flow and changes in the levels of inflammatory markers proteins like CRP. In conclusion, physical exercises helps clinical treatment and improves the prognosis of the disease. Key-words: endothelial dysfunction, exercise, nitric oxide. Palavras-chave: disfunção endotelial, exercício, óxido nítrico. Recebido em 16 de abril de 2012; aceito em 25 de setembro de 2012. Endereço para correspondência: Cristiane Gonçalves da Mota, Rua Príncipe da Beira, 260, 03211-150 São Paulo SP, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Introdução O endotélio vascular é um tecido endócrino dinâmico que tem como função regular a contratilidade, atividades mitogênicas e secretórias na parede dos vasos e manter o equilíbrio funcional no lúmen vascular. Estudos verificaram que o relaxamento vascular induzido por acetilcolina foi dependente da presença do endotélio e afirmou-se que este efeito ocorreu mediado por um fator conhecido, posteriormente, como fator relaxante derivado do endotélio (EDRF). Mais tarde, notou-se que esse fator era um radical livre, o óxido nítrico (NO), mediador de diversos fenômenos fisiológicos [2,3]. A disfunção endotelial ocorre primariamente à formação da ateriosclerose e pode estar ligada a diversos outros fatores de risco para a doença cardiovascular (DAC) como hipertensão arterial, hiperlipidemia e diabetes mellitus 2 (DM2). Esse quadro, quando crônico, faz com que o endotélio perda sua função protetora, desenvolvendo assim a disfunção endotelial. A prática de exercícios físicos melhora a capacidade funcional, promove vasodilatação dos vasos sanguíneos, aumento do fluxo sanguíneo, dentre outros benefícios. A prescrição de treinamento físico para pessoas com disfunção endotelial no DM2 pode ser um meio de intervenção não farmacológico no tratamento clínico desses indivíduos, o que demonstraria que um método terapêutico não invasivo, como é o caso do exercício, pode propiciar melhora na capacidade funcional desses indivíduos [4,5]. As artérias são constituídas por paredes formadas por três camadas de tecidos que envolvem um espaço oco denominado luz arterial. A túnica interna compõe-se por epitélio escamoso simples chamado endotélio vascular. Como camada monocelular que reveste toda a superfície luminal de todos os vasos sanguíneos, o endotélio vascular forma uma interface localizada entre a circulação e a parede vascular. O organismo de um ser humano possui aproximadamente uma área maior que 1500 m2 de endotélio, um tecido ativo e dinâmico que controla funções essenciais ao organismo. Nesse sentido, a integridade do endotélio é importante para a regulação do fluxo sanguíneo, proteção contra vasoespasmos e formação de trombos. Entre as diversas funções do endotélio temos: • Barreira seletivamente permeável contra a entrada para o interior da parede dos vasos de determinadas espécies moleculares e componentes celulares, o que forma um ambiente bem controlado; • Formação de substâncias vasodilatadoras e antiplaquetárias, fator de relaxamento dependente do endotélio (EDRF), fator de hiperpolarização dependente do endotélio (EDHF), prostaglandina (PG), E2, prostaciclina e adenosina; • Formação de substâncias vasoconstritoras e ativadoras da agregação plaquetária: fatores de contração derivados do endotélio – endotelinas, endoperóxidos, leucotrienos; 169 • Receptor-moderador de elementos vasoativos e envolvidos na agregação plaquetária e coagulação como: acetilcolina, serotonina, trombina, nucleotídeos da adenosina, bradicinina, vasopressina e ácido araquidônico; • Síntese de fatores trombogênicos: colágeno, fibronectina, tromboplastina tissular, trombospondina, fator de Von Willebrand (vW), fator ativador de plaquetas (PAF), fixação dos fatores Ixa e Xa, atividade protrombinase, formação de inibidores da fibrinólise: inibidor do t-PA; • Secretar fatores mitogênicos e inibidores do crescimento; • Metabolismo e clearance das lipoproteínas. O endotélio preservado provê uma interface não trombogênica entre os vasos e os componentes sanguíneos, ou seja, as células endoteliais possuem em sua superfície mecanismos anti-trombóticos e pró-trombóticos que, em situação normal, mantém-se em equilíbrio, o que preserva a não formação de trombos, conservando o bom fluído do sangue e modulando a vasomotricidade, a regulação do calibre dos vasos às modificações hemodinâmicas e humorais locais e também à estrutura vascular [1]. As células endoteliais basicamente têm as mesmas características das demais células do corpo humano. Diversas proteínas contráteis cruzam o citoplasma como: actina, miosina, tropomiosina e outros, que permitem a atividade motora. O endotélio pode produzir uma grande variedade de moléculas diferentes, agonistas e antagonistas e, assim, mantém a homeostase. Também produz moléculas vasodilatadoras e vasoconstritoras, coagulantes e anticoagulantes, inflamatórias e anti-inflamatórias, oxidantes e anti-oxidantes e, quando perde essa capacidade de manter o equilíbrio, haverá como consequência a invasão de lipídeos e leucócitos no endotélio. Dessa forma, a resposta inflamatória é estimulada e há a formação de placas de gorduras. Se esse processo persistir, as placas de gorduras aumentam o que acarretará formação de trombos (trombogênese) e a oclusão vascular por formação aterosclerótica [5,6]. Óxido nítrico Na década de 80, Furchogott e Zawadzki verificaram que o relaxamento vascular induzido por acetilcolina foi dependente da presença do endotélio e comprovaram que este efeito ocorreu mediado por um fator humoral lábil conhecido posteriormente como relaxamento dependente do endotélio (EDRF). Em 1987, comprovou-se que esse relaxamento dependente do endotélio era um radical livre conhecido como óxido nítrico (NO) [2,6]. O NO é uma molécula gasosa simples encontrada no ar atmosférico em pequenas quantidades, muito tóxico devido à presença de radical livre. Ao ser diluído, essa molécula apresenta uma meia vida de menos de 10 segundos devido à oxidação rápida de nitrito e nitrato. O NO liga-se à hemoglobina e a Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 170 outras proteínas que possuem o núcleo heme, levando ao fim sua atividade biológica [5,7]. A transformação da L-arginina, um aminoácido essencial produzido no organismo, forma o NO. A L-arginina é transformada em NG-hidroxi-L-arginina com a presença de nicotinamida-adeninadinucleotídeo-fostato-hidrogênio (NADPH) e Ca2+ sendo necessário mais NADPH e O2 para a síntese de L-citrulina e NO. Figura 1 - Síntese do óxido nítrico a partir da L-arginina. NADPH NADPH L-arginina a+2 H-hidroxi-L-arginina L-citulina+ O2 C óxido nítrico (NO) “Nas células do endotélio vascular, na presença de oxigênio molecular, o terminal guanidino nitrogenado na L-arginina produz o radical livre gasoso NO e L-citrulina em um processo catalisado pela enzima óxido-nítrico-sintase“ [2]. As funções do NO são complexas e antagônicas. Uma característica marcante dessa molécula é sua capacidade de ser benéfica ou altamente tóxica de acordo com sua concentração ou depuração tecidual. No endotélio vascular há continuamente liberação de NO, responsável pela manutenção do fluxo sanguíneo tecidual e controle do extravasamento tecidual. O NO, mensageiro sintetizado no endotélio, tem função vasodilatadora fisiológica. Com os estudos de EDRF por Furchgott, a ação vasoprotetora do NO é bem conhecida por essa molécula antagonizar as contrações da musculatura lisa vascular e inibir a ativação plaquetária. O NO é mediador de diversos fenômenos como relaxamento dependente do endotélio, citoxidade mediada por macrófagos, inibição da ativação plaquetária e depressão sináptica em longo prazo. A ação do NO foi verificada em endotélio, cerebelo, nervos não adrenérgicos e não colinérgicos (NANC), macrófagos, neutrófilos, rins, células epiteliais pulmonares, mucosa gastrintestinal e miocárdio. A vasodilatação dependente do endotélio está diminuída na HAS, DM tipo II e doença arterial coronariana. No sistema circulatório, o NO participa com a cascata fibrinolítica e trombótica associados a danos endoteliais. A deficiência de NO associa-se a trombose plaquetária e pode promover restenose, aterogênese e injúria tecidual [2]. Shear-stress A aceleração da velocidade do sangue na corrente sanguínea conduz a vasodilatação proporcional à quantidade de NO liberado pelo endotélio. Nas membranas das células endoteliais há íons especializados que funcionam como canaletas que conduzem o estímulo em resposta ao shear-stress. Há uma hiperpolarização da célula endotelial e consequentemente, entrada de Ca2+, ativando a enzima NOS-III e e então temos, a formação de NO [7,8]. A regulação da eNOS (oxido nítrico sintase endotelial) pode ocorrer em curto espaço de tempo ou de forma imediata. Aparentemente, a liberação de cálcio parece ser o principal estímulo exigido para que o eNOS seja ativado imediatamente. Dessa maneira, as reações que elevam os níveis de cálcio intracelular elevarão igualmente a produção de NO assim como de acetilcolina, bradiquinina, adenosina difosfato (ADP) e serotonina. O NO pode também atuar como um regulador negativo da sua própria síntese. Os fatores envolvidos na regulação em longo prazo da eNOS são: shear-stress, citocinas e estrógenos. Endotélio vascular e doenças cardiovasculares Moléculas oxidantes como o aníon superóxido (O2-), peróxido de hidrogênio (H2O2), hidroxila radical (HO), ácido clorídrico (HCl) são sintetizados como consequência do metabolismo aeróbio natural. Estas moléculas são altamente reativas com outras moléculas biológicas conhecidas como espécies reativas de oxigênio (ERO). Em circunstâncias fisiológicas normais, a produção de ERO é equilibrada por meio de um eficiente sistema de moléculas antioxidantes. Esse sistema promove a neutralização, impedindo danos oxidativos [5,9]. Nos tecidos, enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase e glutamina peroxidase, têm importante função na conversão de ERO em água. Vários fatores antioxidantes a vitamina E, beta-caroteno e vitamina C solúvel em água protegem o plasma da peroxidação dos lipídeos, eliminando o aníon superóxido. Esse sistema de regulação que favorece a oxidação conhecido como estresse oxidativo pode causar efeitos prejudiciais na função celular e no tecido alvo, tendo em vista que os fatores de risco cardiovascular potencializam estresse oxidativo. As moléculas de LDL-colesterol oxidada (LDL-ox) são encontradas em todas as lesões ateroscleróticas e geram anticorpos capazes de neutralizá-los. O ataque do LDL-ox na camada íntima arterial promove a liberação dos fosfolipídeos que ativam as células endoteliais, gerando a adesão dessas moléculas no endotélio e, assim, atraindo moléculas primárias do sistema imunológico: os monócitos. O LDL-ox encontra-se nas camadas subendoteliais e auxiliam a ativar os monócitos, que se transformam em macrófagos e, então, são fagocitados em seus receptores. Assim, o aumento da atividade pró-inflamatório e aumento dos fatores de crescimento celular provocam uma deficiência endotelial orgânica e agregação de plaquetas. Há uma relação entre inflamação e trombose. A inflamação é induzida por moléculas pré-coagulantes nas células endoteliais tais como o fator de Willebrand e os fatores de ativação do inibidor plasmanogênico, PAI-1 e PAI-2. As células inflamatórias produzem moléculas que contribuem para a formação de trombos como a trombina, que contribuem para a ativação mitogênica intensa potencializando para a agregação plaquetária. A hipótese inicial da aterosclerose é a disfunção Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 endotelial, pelo reconhecimento de que o endotélio tem função essencial na manutenção das características de fluidez do sangue, tônus vascular e sua permeabilidade, sendo o óxido nítrico o principal protetor contra a moléstia arterosclerótica por inibir as diversas vias envolvidas na aterogênese. O HDL-colesterol e as apolipoproteínas A-1 têm efeitos protetores e antiaterogênicos, atribuídos a agregação de moléculas da transição de metais e à presença da enzima paraoxinase, carregada predominantemente pelas apolipoproteínas A-1 e J, contendo partículas de HDL que tem um excelente poder antioxidante. Disfunção endotelial e diabetes mellitus tipo 2 A disfunção endotelial (DE) ocorre precocemente à patogênese da aterosclerose, desempenhando papel chave na formação de doenças vasculares e suas complicações. Devido à localização do endotélio vascular, as células endoteliais respondem prontamente à presença de fatores que provoquem danos à superfície endotelial. Dessa maneira, a contínua agressão dos fatores de risco cardiovascular ao endotélio propicia a perda de maneira progressiva da função protetora fisiológica, passando a ser fonte de elementos que participarão da progressão de doença aterosclerótica. Há então uma modificação em suas funções regulatórias que resultam na disfunção endotelial [8,10]. A disfunção endotelial identificada como um marcador precoce da moléstia cardiovascular apresenta-se como prognóstico de coronariopatias, mesmo antes de alterações ateroscleróticas diagnosticadas por métodos invasivos [8,9]. A doença arterosclerótica avançada é a principal causa de morte em pacientes com DM2. O evento crítico inicial na formação da arterosclerose pode ser causado por lesão endotelial com consequente agregação plaquetária no local lesionado. A elevação dos valores plasmáticos do fator de von Willebrand evidenciam a ocorrência da disfunção endotelial no DM2. Outros fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial e anormalidades do metabolismo lipídico existentes em pacientes diabéticos tipo 2 não explicam totalmente o aumento no índice de mortalidade cardiovascular [8,10,11]. Algumas pesquisas observaram redução da resposta endotélio-dependente, bem como da resposta vascular independente do endotélio sendo demonstrado comprometimento da atividade do eNOS com resposta normal ao NO exógeno. Um fator que pode ter influenciado nas conclusões dessas pesquisas é a presença ou não da microalbuminúria, tendo em vista que o seu desenvolvimento no paciente diabético pode ocorrer devido a um progressivo grau de comprometimento endotelial. Os mecanismos evolutivos do DM2 para a disfunção endotelial não estão totalmente esclarecidos, embora a hiperglicemia seja um fator importante na evolução da patologia. Pesquisas experimentais em células endoteliais aórticas humanas demonstraram que a formação e liberação do eNOS 171 não diminui após a exposição a altas concentrações de glicose. Porém, a produção de ânions superóxido (O2-) com o NO é muito rápida e em consequência, produziria o peroxinitrito que pode ser um desencadeador da disfunção endotelial. Sendo assim, a produção de NO basal estava significativamente aumentada nas células com alto nível de glicose [8,12]. A relação entre DM1 e doença cardiovascular é bem conhecida e tem sido atribuída à associação entre hiperglicemia crônica, disfunção endotelial (DE) e inflamação crônica. A hiperglicemia crônica é um importante preditor de complicações micro e macrovasculares [8]. A síndrome de resistência à insulina tem papel central para o desenvolvimento da disfunção endotelial, causando estresse oxidativo e doença macrovascular, acometimento que está presente com frequência no diagnóstico do DM2 e associado a coronariopatia, doença vascular periférica e cerebrovascular, culminando em maior morbidade e mortalidade [9,13]. Estudos experimentais em animais diabéticos demonstraram alteração na vasodilatação endotélio-dependente em diferentes leitos vasculares de animais diabéticos. Em relação à hiperglicemia, pesquisas expondo artérias a elevadas concentrações de glicose causaram alterações semelhantes às encontradas experimentalmente em animais diabéticos. Dessa forma, a hiperglicemia pode representar fator de risco independente para a disfunção endotelial [13,14]. Pesquisas realizadas em indivíduos magros, obesos e diabéticos do tipo 2 demonstraram que o aumento do fluxo nos membros correlaciona-se diretamente com a captação da glicose e que esse efeito era bloqueado com a inibição do óxido nítrico e que obesos sem DM2 tinham disfunção endotelial semelhante aos obesos com DM2, o que demonstra que não só a hiperglicemia, mas também a obesidade contribui para a disfunção endotelial [10,15]. O exercício como terapia não-farmacológica na disfunção endotelial Dentre as várias terapêuticas empregadas no processo de disfunção endotelial, o enfoque principal é dado à prevenção primária, que inclui mudanças no estilo de vida (dieta e exercício físico). Tal mudança, em conjunto ou separado, a aplicação de medidas farmacológicas como uso de inibidores da enzima conversora da angiotensina e estatinas, além de medidas clínicas como a revascularização percutânea, demonstra melhora na redução do processo inflamatório [14,16]. A relação entre exercício físico e risco de eventos coronarianos demonstram uma relação íntima entre exercício físico regular e risco reduzido de mortalidade e morbidez para doença arterial coronariana (DAC). Esses estudos apresentaram evidências de que atividade física regular de moderada intensidade diminui os sintomas de DAC, melhora a capacidade funcional [12]. Algumas pesquisas verificaram o efeito do exercício físico em marcadores inflamatórios como a proteína C reativa 172 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 (PCR), IL-6 o, TNF-alpha e o fibrinogênio. Estas proteínas apresentam grande relação para o desenvolvimento de DAC, sendo a IL-6 e o TNF-alpha liberados pelo sistema imunológico. Recentemente demonstrou-se que os níveis destas proteínas também são afetados significativamente por células do tecido adiposo e músculo esquelético em indivíduos saudáveis e patológicos, estimulando os hepatócitos a produzir a PCR e o fibrinogênio [17]. Estudo envolvendo 652 homens e mulheres brancos e negros, saudáveis, foram submetidos a 20 semanas de exercícios aeróbios em intensidade moderada. Verificou-se que houve alterações positivas nas concentrações de PCR, além de uma redução de 24% da concentração de PCR (p < 0,001), independentemente de sexo e cor, acompanhado de um declínio em alguns fatores de risco para DAC, como resistência à insulina e peso corporal [12,18]. Outra pesquisa avaliou 3075 homens e mulheres saudáveis, com idade média de 70 a 79 anos, negros e brancos praticantes de atividade física, na qual se verificou que as concentrações de IL-6, TNF-alpha e PCR diminuíam em resposta ao aumento dos níveis de exercício físico [12]. Durante o exercício físico dinâmico, observa-se aumento do débito cardíaco, acompanhado pelo aumento do atrito entre o sangue circulante e a parede dos vasos (shear-stress), podendo desencadear uma ativação simultânea da produção de óxido nítrico e de espécies reativas de oxigênio. Sugere-se que esse efeito agudo do exercício físico na formação de óxido nítrico pode, cronicamente, resultar em benéficas adaptações vasculares, podendo levar à melhora da função endotelial [4,19]. Em um estudo com 35 indivíduos, 18 DM1, 17 DM2 e 11 controles, usando a tomografia por emissão de pósitrons como avaliação, verificou-se que, nos pacientes com DM, a função endotelial estava prejudicada, o que não aconteceu no grupo controle. A principal nova descoberta dos últimos anos é de que o exercício físico melhora a função endotelial, prejudicada na SM e DM. Outro estudo com 15 pacientes diabéticos, divididos em dois grupos, o grupo que participou de 8 semanas de treinamento de exercício aeróbio, apresentou melhora da função endotelial [13]. Foi realizada uma análise de 27 pacientes DM1 e DM2 com exame de sangue laboratorial, que praticaram exercício físico aeróbio 3 vezes por semana durante 3 meses, com intensidade de 65% a 75% da FC máxima obtida por teste de esforço. Esses pacientes apresentaram que, em adição a melhora de outras anormalidades metabólicas, o exercício físico normalizou as altas concentrações de trombomodulina (TM) no plasma [13]. É conhecido que a melhora da função endotelial é um dos inúmeros fatores benéficos que o treinamento físico aeróbio promove no sistema cardiovascular sendo esse efeito positivo observado em indivíduos saudáveis, embora seja mais evidente em indivíduos portadores de doenças ou fatores de risco cardiovascular. Tal melhora da função endotelial com o treinamento físico parece ser decorrente da maior expressão e atividade da eNOS, bem como da enzima superóxido dismutase, o que garante sua síntese aumentada e inativação diminuída [4,20]. O exercício físico é um meio eficaz em indivíduos com DM2 e disfunção endotelial. As pesquisas demonstram cada vez mais evidências de que o exercício físico pode alterar o controle da resistência vascular. A vasodilatação dependente do endotélio, não está prejudicada somente com a doença cardiovascular, mas também com fatores de risco vasculares convencionais, como na síndrome metabólica. O exercício físico ou aumentos crônicos no fluxo de sangue induzem a melhora na função vascular dependente do endotélio [14]. Conclusão A disfunção endotelial ocorre, de forma precoce, na formação da arterosclerose e, dessa forma, desempenha papel fundamental na formação de doenças vasculares e suas complicações. Dentre as diversas terapêuticas desempenhadas no processo de disfunção endotelial, a mudança no estilo de vida tem sido o principal enfoque, e isso inclui a prática de exercícios físicos. Diversos estudos têm demonstrado que atividade física regular de moderada intensidade diminui os sintomas de doença arterial coronariana, melhora a capacidade funcional e a qualidade de vida dos indivíduos com disfunção endotelial e isso ocorre por uma melhora na função vascular dependente do endotélio. As pesquisas aqui apresentadas relataram que as melhoras apresentadas ocorreram em pacientes submetidos a exercícios físicos aeróbios, devido à correlação positiva entre esse tipo de treinamento e a vasodilatação dependente do endotélio. O treinamento resistido na disfunção endotelial tem sido pouco explorado com resultados contraditórios. Em relação aos pacientes portadores de DM2 com disfunção endotelial, verificou-se que o treinamento aeróbio traz grande melhora nas anormalidades metabólicas ligadas à disfunção endotelial. Sendo assim, é possível afirmar que o treinamento físico é uma estratégia terapêutica importante no tratamento da disfunção endotelial nos pacientes com DM2. Referências 1. Batlouni M., Ramires JAF. Importância do endotélio na doença arterial coronária e na aterogênese. Arq Bras Cardiol 1994;62(4):255-70. 2. Cerqueira NF, Yoshida WB. Óxido nítrico - revisão. Acta Cir Bras 2002;17(6):417-23. 3. Vriese AS, Verbeuren TJ, Voorde JV, Lameire NH. 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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 174 REVISÃO O papel do estresse oxidativo e do exercício físico na doença de Parkinson The role of oxidative stress and exercise in Parkinson disease Talita Tuon M.Sc.*, Ricardo A. Pinho, D.Sc.* *Laboratório de Bioquímica e Fisiologia do Exercício (PPGCS/UNESC, Criciúma, SC Resumo A Doença de Parkinson (DP) é uma desordem neurodegenerativa que compromete os neurônios dopaminérgicos da substância nigra da pars compacta, a qual leva a uma debilitante disfunção motora. O estresse oxidativo tem sido constantemente associado com o desenvolvimento da DP devido às elevadas condições oxidativas que predomina nos neurônios dopaminérgicos. Acredita-se que o exercício físico regular exerça um efeito neuroprotetor sobre a resposta neuroquímica e comportamental. Pretende-se com este estudo verificar na literatura os benefícios do exercício físico (EF) no envolvimento da disfunção mitocondrial e do estresse oxidativo, os quais exercem um papel importante na patogênese desta enfermidade. Com este estudo, pôde-se observar que existem poucos trabalhos na literatura enfocando esta temática, mas parece haver uma tendência em acreditar que o exercício físico regular é benéfico, pois pode proporcionar valor terapêutico para o tratamento da doença de Parkinson, uma ferramenta que auxilia a terapia medicamentosa. Abstract Parkinson disease (PD) is a neurodegenerative disorder that compromises the dopaminergic neurons of the substantia nigra pars compacta, which leads to motor dysfunction. Oxidative stress has been consistently associated with the development of PD due to high oxidative conditions that predominate in dopaminergic neurons. It is believed that regular physical activity exerts a neuroprotective effects on the neurochemical and behavioral response. The aim of this literature review was to verify the benefits of physical exercise in the involvement of mitochondrial dysfunction and oxidative stress, which plays an important role in the pathogenesis of this disease. It was noted that few studies in the literature focused on this theme, but there seems a tendency to believe that regular exercise is beneficial because it can provide therapeutic value for treatment of Parkinson’s disease and help the drug therapy. Key-words: exercise, oxidative stress, reactive oxygen species, mitochondrial dysfunction. Palavras-chave: exercício físico, estresse oxidativo, espécies reativas de oxigênio, disfunção mitocondrial. Recebido em 6 de dezembro de 2011; aceito em 12 de junho de 2012. Endereço para correspondência: Talita Tuon, Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Laboratório de Fisiologia e Bioquímica do Exercício, Av. Universitária, 1105, 88806-000 Criciúma SC, Tel: (48) 431-2622, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Introdução A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa, a segunda mais comum após a doença de Alzheimer, acomete em torno de 1% da população com idade acima de 60 anos [1,2]. É caracterizada por degeneração seletiva em múltiplas áreas do sistema nervoso central (SNC), com aparecimento de alterações morfológicas, com perda progressiva de neurônios dopaminérgicos, particularmente corpos de Lewy, acometendo núcleos motores dorsais e núcleos e bulbos olfatórios, seguindo do locus ceruleus e da pars compacta da substância nigra levando a uma debilitante disfunção motora [3,4]. Através da avaliação clínica são identificados sinais e sintomas como bradicinesia associada a um destes outros sintomas: tremor de repouso, rigidez ou instabilidade postural [1,2]. Os sintomas clínicos da DP só aparecem quando os níveis de dopamina estão reduzidos com valores superiores a 60% do que o normal. Embora a patogênese da doença permaneça incerta, fatores ambientais, fator genético, envelhecimento, disfunção mitocondrial, estresse oxidativo e apoptose são importantes fatores contribuintes [5,6]. Diversos estudos têm sugerido o exercício físico como agente importante na manutenção do metabolismo oxidativo e no estado redox cerebral [2-4]. Modelos experimentais de parkinsonismo com neurotoxinas como 6 OHDA (6-hidroxidopamina) ou MPTP (1-metil-4-fenil-1, 2,3,6 – tetraidropiridina), foram a primeira observação de que existiria uma disfunção mitocondrial e formação de estresse oxidativo na DP [5,6]. Diversos estudos têm sugerido o exercício físico como agente importante na manutenção do metabolismo oxidativo e no estado redox cerebral [2-4]. Os efeitos benéficos do exercício físico para pacientes com DP têm sido relatados em muitos estudos. O exercício físico melhora o desempenho motor [7], aumento da capacidade cognitiva [8] e das atividades diárias [9], e reduz a incidência e mortalidade da DP [10,11]. Em modelo animal, o exercício tem sido relatado como ativador do sistema dopaminérgico, aumentando a disponibilidade de dopamina (DA) no estriado [12]. Em particular, o exercício aumenta a recuperação funcional após lesões no estriado [13], além de estimular a síntese de DA no estriado de ratos com epilepsia [14]. Foi recentemente demonstrado que o treinamento motor de reabilitação e o treinamento em esteira ergométrica atenuam déficits comportamentais neuroquímicos induzidos por 6-OHDA em ratos [15,16]. Além disso, estudos têm demostrado que o ambiente enriquecido incluindo o exercício exerce um efeito protetor contra morte celular neuronal na substância nigra de camundongos tratados com MPTP. Estes resultados levantaram a possibilidade de que o exercício possa reduzir a vulnerabilidade de neurônios dopaminérgicos por 6-OHDA [17]. Vários mecanismos estão envolvidos no mecanismo da degeneração neuronal na DP. Estes incluem formação de 175 radicais livres e estresse oxidativo, disfunção mitocondrial, excitotoxicidade, citotoxicidade de cálcio, deficiência do fator trófico, processos inflamatórios, fatores genéticos, fatores de impacto ambiental, ação tóxica do ácido nítrico óxido e apoptose os quais podem interagir e ampliar um ciclo vicioso de toxicidade neuronal levando a disfunção, atrofia e, finalmente, a morte celular. No presente estudo, nós revisamos os efeitos do exercício físico, sobre a DP, disfunção mitocondrial, morte celular neuronal dopaminérgica e estresse oxidativo [17,18]. Estresse oxidativo e doença de Parkinson O estresse oxidativo tem sido constantemente associado com o desenvolvimento da DP devido às elevadas condições oxidativas que predomina nos neurônios dopaminérgicos [19]. Como em qualquer outro tecido o estresse oxidativo no Sistema Nervoso (SN) depende do equilíbrio entre a produção das espécies reativas de oxigênio (ERO) e o sistema de defesa antioxidante. Os danos oxidativos gerados por esse desequilíbrio prejudicam a função celular, especificamente por atacar lipídios, proteínas e ácidos nucléicos [20]. Todos os organismos aeróbicos são suscetíveis à ação das ERO produzidos pela mitocôndria durante a respiração ou em outros eventos celulares. A quantidade de ERO produzida é aproximadamente 2-5% do total do oxigênio consumido durante a respiração celular [20]. Embora o corpo, em geral, tenha desenvolvido vários mecanismos de defesa para combater o estresse oxidativo, o cérebro parece ser particularmente suscetível a este dano do que qualquer outro órgão, devido à alta demanda de oxigênio. Ainda que o cérebro seja composto por apenas 2% do peso total do corpo, é especialmente propenso ao estresse oxidativo, uma vez que consome cerca de 20% do oxigênio do corpo em repouso total [21,22]. A capacidade do cérebro em suportar o estresse oxidativo é limitado devido à presença de quantidades elevadas de ácidos graxos poli-insaturados, baixo teor de antioxidantes como a glutationa e a vitamina E e alto teor de ferro em áreas específicas, como o globo pálido e a substância nigra. A substância nigra é altamente suscetível ao estresse oxidativo por conter uma elevada população de neurônios dopaminérgicos que produz quantidades significativas de ERO [4]. Além disso, sendo pós-mitóticos, os neurônios no cérebro, uma vez danificados podem estar permanentemente disfuncionais [23]. Estudos post-mortem em cérebros de pacientes com DP têm consistentemente implicado o papel do dano oxidativo na patogênese da DP. Não está claro se o acúmulo de ERO na DP é um evento primário ou consequência de outras disfunções celulares [18]. As mitocôndrias são o destino e uma importante fonte de produção de ERO. A disfunção mitocondrial também tem sido uma hipótese em desempenhar um papel importante na morte celular associada à DP [24]. Estudos sobre amostras post-mortem de pacientes parkinsonianos revelaram ainda 176 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 uma seletiva deficiência mitocondrial no complexo I, tanto na substância nigra quanto nos tecidos periféricos [25,26]. Um defeito do complexo I pode contribuir para a degeneração neuronal na DP, através da diminuição da síntese de ATP, ou pelo excesso de produção de ERO [27]. De acordo com Parker et al. e Mizuno et al. [25,26], os neurônios dopaminérgicos da substância nigra de cérebros de animais com DP exibem marcadores de estresse oxidativo como peroxidação lipídica, oxidação de proteína e de ácidos nucléicos e alterações no sistema de defesa antioxidante [28]. Embora a natureza do processo neurodegenerativo verificado na DP não seja conhecida, atualmente tem sido sugerido o envolvimento do alto potencial oxidativo da dopamina (DA) na geração de H2O2 e outras ERO [29], assim como à alta concentração de ferro e sua homeostase alterada [30], e baixos níveis de glutationa [31]. O metabolismo alterado do ferro nas suas formas transicional ferrosa (Fe+2) e férrica (Fe+3) tem forte potencial oxidante pela geração de radicais hidroxil (OH•) com H2O2 através da reação de Fenton/Haber-Weiss [32]. A glutationa é um agente tiol antioxidante e potente scavenger de radicais livres [31]. Muitas enzimas requerem tióis essenciais à manutenção de seu estado redox. A oxidação de muitos tióis pode inativar de modo reversível ou irreversível estas enzimas. O acúmulo de glutationa oxidada é tóxico para a célula, pois pode desencadear ligações cross-link dissulfidas a proteínas, enzimas e DNA [33]. É pressuposto o aumento da geração de radicais livres e seus prejuízos devido aos mecanismos para a eliminação deles: a redução de 30% -60% em GSSG no SN de parkinsonianos, em conjugação com o aumento dos níveis de ferro. Além disso, vários marcadores de peroxidação lipídica e danos ao DNA por oxidação protéica é aumentada no SN. O estresse oxidativo pode também contribuir para o defeito nigroestriatal pela atividade do complexo I, em que o complexo I é altamente vulnerável a danos oxidativos e a inibição do mesmo leva ao aumento da formação de ERO. Produtos tóxicos de alterações oxidativas podem ser importantes contribuintes para progressão da doença [31,33]. Embora as investigações post mortem e estudos experimentais mostrassem que o estresse oxidativo tem relevância para DP, não se sabe como esse processo se relaciona com a degeneração neuronal no SN ou como o estresse oxidativo se relaciona com outros processos conhecidos para ser envolvido na cascata de eventos que levam à morte das células dopaminérgicas [4,5]. O tratamento atual da DP baseia-se no que se conhece atualmente acerca dos desequilíbrios neuroquímicos que existem nas concentrações dos neurotransmissores dentro dos gânglios basais, desconsiderando os desequilíbrios causados pelo dano oxidativo [11,12]. Marcadores de estresse oxidativo foram identificados em células dopaminérgicas em modelo experimental de Parkinsonismo induzido por neurotoxinas, como a MPTP e 6 OHDA, os quais atuam como inibidores do complexo I da CTE (cadeia transportadora de elétrons), constituíram a primeira conexão objetiva entre a disfunção mitocondrial e o desenvolvimento da DP [34]. O desenvolvimento de sintomas da DP em pacientes que fizeram uso de MPTP, a qual é um derivado sintético análogo à heroína, destacou a possibilidade do estresse oxidativo secundário à disfunção mitocondrial por ser um possível fator etiológico para DP [35]. O MPTP e a 6 OHDA são metabolizados pela enzima monoamina-oxidase (MAOB) em MPTP+ e MPP+ (1-metil-4-fenilpiridinium). O MPP+ tem alta afinidade pelo transportador de DA na fenda sináptica e é recaptada pelos neurônios dopaminérgicos da substância nigra. Experimentos in vitro demonstraram que o MPP+ é um inibidor do complexo I da CTE, cursando com redução da produção de ATP mitocondrial e aumento na produção do radical ânion superóxido [35]. Exercício físico e a doença de Parkinson O exercício físico é atualmente defendido como uma intervenção comportamental com melhora das disfunções neurológicas, impedindo a perda neuronal que se segue por várias doenças neurodegenerativas, sendo proposto como um dos possíveis benefícios terapêuticos [18]. As intervenções terapêuticas de rotina, especialmente as ações farmacológicas, têm contribuído significativamente para o tratamento das doenças neurodegenetarivas, mas apresentam limitações. Acredita-se que o exercício físico regular exerça um efeito positivo sobre a resposta neuroquímica [36,37] e comportamental [38]. Entretanto, dependendo da frequência, duração e intensidade, o exercício tanto pode aumentar a produção de ERO e levar a danos oxidativos, como também, em intensidades leves e moderadas, pode melhorar a capacidade de defesa antioxidante do organismo [39]. Adicionalmente, diversos outros parâmetros respondem diferenciadamente conforme a especificidade do exercício. Deste modo, o exercício físico de intensidade leve a moderada surge como estratégia neuroprotetora. Evidências científicas sustentam os benefícios ao metabolismo oxidativo em áreas cerebrais de roedores submetidos a exercício de intensidade leve a moderada [40-42], e oposto quando submetidos a exercício intenso [42]. O treinamento físico moderado aprimora o aprendizado e a memória [40], como também a coordenação motora [38]. No que se refere aos marcadores neuroquímicos, o treinamento reduz os níveis de lipoperoxidação e carbonilação de proteínas em estriado, cerebelo, hipocampo e córtex cerebral [37,40,43] e altera os níveis de DA no estriado [38,44,45] assim como diminuição da atividade da DAT e aumento na expressão de receptores dopaminérgicos-D2 [46]. Durante a atividade ocorrem diversas alterações bioquímicas, moleculares, fisiológicas, sendo necessários ajustes para compensar e manter o esforço realizado. Por exemplo, o exercício físico pode ser um agente capaz de aumentar a produção de ERO, em contra partida, pode atuar também Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 como mecanismo de defesa estimulando a atividade de enzimas antioxidantes [47,48]. Evidências mostram os benefícios da atividade física na prevenção e tratamento após dano cerebral [36,37,49,50] e em doenças neurodegenerativas como doença de Alzheimer e a DP. Têm se sugerido que muitas dessas mudanças ocorrem em áreas cerebrais específicas de funções importantes como a memória a longo prazo [21,28,51,52] e prevenção do declínio cognitivo durante o envelhecimento. Estudos demonstraram neurogênese e plasticidade cerebral na região hipocampal [53,54]. O exercício físico tem a capacidade de aumentar a atividade metabólica no organismo e consequentemente o consumo de oxigênio e o interesse por investigar seus efeitos no SNC aumenta uma série de características próprias deste tecido. O SNC é um órgão bastante sensível e suscetível à formação de ERO e assim ao estresse oxidativo, devido a fatores neuroquímicos e neurofisiológicos, consequentemente fatores que contribuem na patogênese e na alta incidência de doenças como a DP [55]. O papel do exercício físico sobre os parâmetros de estresse oxidativo na DP Os agentes farmacológicos ainda predominam os meios terapêuticos para a DP, contudo, outros recursos podem auxiliar a eficiência da ação farmacológica como também, diminuir sua dependência. Deste modo, o exercício físico de intensidade leve a moderada surge como estratégia neuroprotetora. Evidências científicas sustentam os benefícios ao metabolismo oxidativo em áreas cerebrais de roedores submetidos a exercício de intensidade leve a moderada [56], e oposto quando submetidos a exercício intenso [57]. Ratos jovens e velhos, após treinamento de natação aprimoraram o aprendizado e a memória [58] e tiveram menores índices de carbonilação de proteínas [57,58] e lipoperoxidação no cerebelo [57], hipocampo e córtex cerebral [58]. Com relação aos efeitos do exercício físico no modelo do MPTP, existem dois trabalhos na literatura que abordaram principalmente aspectos motores e neuroquímicos dos animais. Foi demonstrado aumento na coordenação motora [56,57], nos níveis de DA no estriado, assim como diminuição da atividade da DAT e aumento na expressão de receptores D2 [29,58]. Estudos recentes demonstraram que o exercício melhora incapacidades físicas e cognitivas de pacientes que sofrem de distúrbios do SNC, incluindo AVE e lesão na medula espinhal [55,56]. Também tem sido reportado que o exercício possa exercer efeitos neuroprotetor, melhorando a neurogênese [49,55], e aumentando a angiogênese [57]. Vários fatores tróficos podem estar envolvidos na justificativa para os efeitos benéficos do exercício [57]. Uma meta-análise demonstrou que o exercício pode melhorar funções físicas, a qualidade de vida, força, equilíbrio, velocidade e marcha de pacientes com DP [58]. 177 A comprovação de possíveis agentes terapêuticos alternativos ou auxiliares à via farmacológica, como o exercício físico, é necessária para a inibição ou retardo da progressão DP. Conclusão Embora todos esses dados demonstrem que a disfunção mitocondrial e o estresse oxidativo façam parte da patogênese da DP, maior detalhamento destas vias metabólicas é necessário. Com o conhecimento cada vez mais detalhado das vias patogênicas, instrumentos terapêuticos mais eficazes são descobertos para combater os sintomas do parkinsonismo, assim como mecanismos de neuroproteção, tornam-se mais próximos de nossa realidade. Em conclusão, é um indiscutível recurso neuropatológico da DP. Embora a última missão seja desenvolver tratamentos preventivos para a DP, a nossa melhor esperança hoje é, provavelmente, alvo secundário aos mecanismos deletérios. Em resumo, a afirmação de que a DP tem uma clínica e um ponto patológico comum em uma variedade de doenças neurodegenerativas. Uma compreensão mais clara sobre a patogênese da DP irá nos fornecer alvos para tratamentos que fornecem modificação e neuroproteção para a doença. Referências 1. Lang AE, Lozano AM. Parkinson’s disease. 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A ciência e seus inventos facilitaram nossos afazeres, o progresso trouxe uma situação um tanto dúbia: de um lado temos a redução da mortalidade por doenças infecto-contagiosas e o aumento da longevidade e do outro o aumento de doenças crônico-degenerativas e a perda da qualidade de vida. O fato de viver mais não indica viver melhor, por isso a importância e a necessidade de hábitos como o cuidado com a dieta, exercício físico regular e evitar atitudes sedentárias. The science and its inventions facilitated our tasks; progress has brought a situation somewhat dubious: on one hand we have reduction in infectious disease mortality and increased longevity and, on the other hand, the increase of chronic degenerative diseases and loss of quality of life. Living longer does not mean better life, so that the importance and need of healthy habits such as diet and regular exercise avoid sedentary habits. Recebido em 8 de agosto de 2011; aceito em 22 de setembro de 2012. Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Coriolano, 846, 05047-000 São Paulo SP, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Introdução Exame clínico Estudos publicados nas últimas décadas mostram que o exercício físico realizado regularmente é capaz de ajudar a prevenir e tratar várias doenças. Estima-se que em todo o mundo milhares de pessoas morram por inatividade física. Entre as condições clínicas que são menos frequentes em pessoas que fazem exercícios regulares ou podendo ser tratadas através deles, citamos: hipertensão arterial, doença coronariana, insuficiência cardíaca, diabetes, colesterol e triglicérides altos, acidente vascular cerebral, osteoporose, câncer de cólon e de mama, obesidade, ansiedade e depressão. O exercício físico também é capaz de prolongar a vida, além de proporcionar uma melhor qualidade de vida. Não é necessário ser atleta de competição para desfrutar destes benefícios, uma “dose” moderada de atividades físicas já basta. Para gozar destes benefícios é necessário realizar exercícios com regularidade. O sedentarismo definitivamente não é uma boa opção de vida, podendo ser tão prejudicial quanto fumar. Não abra a mão de melhorar a sua saúde. E é com este intuito que elaboramos este trabalho de condicionamento físico, pois o exercício físico precisa ser prescrito com responsabilidade, respeitando a individualidade de cada um, visando organizar, estimular e valorizar a prática de atividades físicas [1,2]. 1) Avaliar acuidade visual e auditiva. 2) Avaliação odontológica. 3) Avaliação psicológica e nutricional. Recomendações iniciais O primeiro passo para a prescrição de um programa de condicionamento físico é a avaliação física. O propósito de uma avaliação médica pré-participação no esporte não é a exclusão nas atividades físicas, mas, sim, o esclarecimento e detecção das condições da sua saúde e possíveis limitações na atividade física. A avaliação tem como objetivo manter o indivíduo saudável, para que possa participar de forma segura das suas atividades físicas, melhorando sua qualidade de vida [3,4]. Uma boa e segura avaliação médica pré-desportiva deve conter os seguintes itens: Anamnese 1) Dados pessoais: nome, idade, altura, peso, sexo, raça. 2) Antecedentes pessoais: doenças, cirurgias, tratamentos, etc. 3) Antecedentes familiares: doenças, tratamentos, cirurgias, etc. 4) História atual: queixas, doenças, tratamentos, vícios, etc. Exame físico 1) Aspecto geral: estado físico, coloração, respiração, sudorese, etc. 2) Sinais e sintomas físicos: pulso, temperatura, pressão arterial, etc. 3) Exame geral: verificação dos aparelhos circulatório, respiratório, locomotor, neurológico, etc. 181 Exames complementares • Bioquímicos: hemograma completo, glicemia de jejum, colesterol total e frações, triglicérides, ferro sérico, ferritina, sódio, potássio, cálcio, creatinifosfoquinase (CPK), dehidrogenase láctica (DHL), testosterona livre e total, cortisol, uréia, creatina, TGP, TGO. • Testes: ecocardiograma, eletrocardiograma de repouso, ergoespirométrico e ergoespirométrico com dosagem do ácido láctico. A Organização Mundial de Saúde sugere que indivíduos acima de 40 anos devam ser submetidos a um teste ergométrico prévio [3]. Recomendações complementares 1) Tenha sempre um educador físico por perto para acompanhar seu treino e sua evolução. 2) Junto com um educador físico estabeleça a melhor maneira de alcançar seus objetivos. 3) Para ter maior adesão ao programa, escolha o local, os dias e os horários mais apropriados a sua agenda. 4) Use sempre roupas adequadas para atividades físicas e tênis adequado com seu tipo de pisada que vai ser determinada com a avaliação médica. 5) Adote bons hábitos alimentares. 6) Use um monitor de frequência cardíaca para controlar a intensidade do exercício determinado pela avaliação médica. 7) Perceba sempre suas sensações pós-treino e registre-as. 8) Procure treinar sempre com outras pessoas, ou ter um parceiro de treino, pois servirá de estímulo. 9) Reavalie o programa periodicamente [2]. O que é condicionamento físico? Condicionamento físico (CF) é tornar a pessoa apta para realizar uma tarefa ou cumprir um objetivo, por meio de uma série de repetições sistemáticas de movimentos, planejadas e orientadas. Esta repetição sistemática provoca uma série de mudanças e gera a chamada “aptidão física”. A aptidão física exige boa força e resistência muscular, uma razoável flexibilidade articular, um eficiente sistema cardiovascular, com bom nível de aptidão aeróbica e uma boa composição corporal. Sendo assim, os programas de exercícios devem ser planejados com base nos princípios e técnicas de treinamento propostos e consolidados por pesquisa científica, 182 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 com ajustes periódicos, para ir ao encontro da evolução da aptidão de cada indivíduo. O modo como se realiza um CF do homem e da mulher é basicamente o mesmo, independentemente da idade; ambos possuem respostas e adaptações ao treinamento físico semelhantes. Para que as mudanças aconteçam de maneira satisfatória, a rotina de treinamento deve ser norteada pelo equilíbrio de uma série de componentes, tais como quantidade, intensidade, frequência das sessões, tipos de exercícios realizados, descanso, alimentação [1]. 5) Admitir que somos seres únicos e que sempre existirá diferenças entre desempenhos. Cada pessoa tem um ritmo (princípio da individualidade); 6) Informações inadequadas podem prejudicar o bom desempenho. Crenças populares são comuns no meio do treinamento físico; 7) Faça do seu treino algo prazeroso e presente em sua rotina [4]. Princípios importantes do treinamento físico Um composto rico em energia, a trifosfato de adenosina(ATP), é o combustível de todos os processos celulares que requerem energia. A moeda corrente da energia é o ATP. Este composto é retirado de 3 fontes de alimentos: carboidratos, gorduras e proteínas. Durante o exercício nossa necessidade de ATP aumenta muito e nosso organismo lança mão de duas principais vias energéticas: aeróbia e anaeróbia. Definimos os exercícios em aeróbios e anaeróbios dependendo da via energética que se está usando. Os exercícios aeróbios são aqueles que precisam da presença do oxigênio nos músculos para se retirar energia (ATP) dos carboidratos, proteínas e principalmente das gorduras, a intensidade é moderada e são feitos de forma contínua (caminhar, correr, nadar) recrutando poucas fibras musculares, sendo assim, precisa de menos energia para ser executado. Exercícios que durem mais que 3 minutos já são considerados aeróbios e eles são efetivos para provocar adaptações cardiovasculares como o aumento no volume de ejeção de sangue e diminuição da frequência cardíaca. Já os exercícios anaeróbios são exercícios mais intensos (musculação), o ATP é retirado somente dos carboidratos, não há presença suficiente de oxigênio nas fibras musculares devido à oclusão que as fibras musculares fazem na rede vascular, pois neste exercício há um recrutamento bem maior de fibras musculares exigindo maior energia em curto espaço de tempo, acumulando acido lático e proporcionando uma maior fadiga. Os exercícios anaeróbios são utilizados para ganho de força ou velocidade. Para determinarmos a intensidade do treino e para vermos se o estímulo está sendo aeróbio ou anaeróbio é importante determinar a frequência cardíaca (FC) de treino. Uma boa avaliação médica irá determinar qual FC é mais segura para você. Uma atividade física leve a moderada irá ter uma FC girando em torno de 120 a 150 batimentos por minuto (bpm), pois a energia está sendo fornecida principalmente pela gordura, sendo assim um esforço aeróbio. Uma atividade física mais intensa terá uma FC em torno de 160 a 190, já que a energia toda será proveniente do carboidrato e será uma FC exaustiva podendo gerar riscos de lesão pelo organismo, caso fique por muito tempo nesta faixa de FC. Para se ficar nesta faixa de FC é preciso estar bem condicionado e ficar no máximo por 2 minutos e depois ter um descanso. Este estímulo é muito comum em treinos intervalados. • Princípio da sobrecarga: Para que ocorram adaptações físicas, o estímulo deve ter uma sobrecarga, determinada pela quantidade, intensidade e frequência dos exercícios (ex: se uma mulher começar a correr 2 x por semana de maneira muito lenta, ela deverá com o passar do tempo aumentar sua velocidade, distância percorrida e frequência semanal para obter bons resultados). Cada indivíduo tem limites para esta sobrecarga e se os estímulos forem insuficientes ou muito intensos, não acontecerá adaptações significativas, podendo a capacidade funcional ser reduzida. Estudiosos recomendam aumento de 10% da sobrecarga a cada uma ou 2 semanas de treino para evitar lesões. • Princípio da especificidade: A especificidade do treino significa que exercícios específicos provocam adaptações específicas, criando efeitos específicos de treinamento (ex: se quiser ser bom corredor tem de correr e não pedalar). • Princípio da individualidade: Os benefícios adquiridos com o treinamento são otimizados quando os programas são planejados de acordo com as necessidades e capacidades individuais de cada um. Os fatores genéticos claramente influenciam as adaptações ao treinamento. Colocando de uma forma bem simples, algumas pessoas são mais “treináveis” em certas modalidades do que outras. • Princípio da reversibilidade: Tudo que se ganha no treinamento físico você pode perder se ficar sem treinar mais de uma semana. Por isto, quando iniciar um programa de condicionamento físico nunca fique fora de seu programa de CF semanal por mais de uma semana, pois irá ter perdas em sua aptidão. A cada semana parada, estudos mostram perda de 25% de suas capacidades fisiológicas. Tendo em mente estes conceitos básicos do CF, alguns pontos devem ser observados para o sucesso do seu treino: 1) Definir objetivos claros e realistas; 2) Não esperar resultados rápidos, mas, sim, a médio e longo prazo; 3) Entender que o treino é um processo organizado e estruturado, sendo assim é muito importante seguir os conceitos que citaremos neste trabalho; 4) Cumprir o programa estabelecido, sem acelerá-lo; Fisiologia do exercício Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Para avaliarmos a FC máxima de treino, como regra geral, corresponde aproximadamente a 220 bpm menos a idade da pessoa. Muitos estudos sugerem que 70 a 75% da FC máxima é a melhor faixa de treino para se ter benefícios à saúde. Se um homem de 30 anos deseja treinar de maneira moderada é só calcularmos 70% da FC máxima, ficando assim: 220-30 = 190 bpm, encontramos a FC máxima. Agora encontraremos a FC alvo, que é 70% da FC máxima: 0,70 x 190 = 133. Podemos ver que é simples o cálculo da FC alvo de treino, se quiser ir aumentando a intensidade dos treinos e só aumentar a porcentagem da FC alvo e tenha sempre um educador físico por perto caso tenha alguma dúvida sobre intensidade de treino [5,6]. Orientações gerais de um programa de exercícios para aumentar o condicionamento aeróbio 1) O exercício deve ser feito de 3 a 5 vezes por semana. 2) Manter a FC entre 65-80%, caso a pessoa esteja muito mal-condicionada ficar entre 55-65% da FC máxima. 3) Duração do estímulo contínuo de 20 a 60 minutos. 4) O modo de atividade deve ser qualquer tipo que use grandes grupos musculares, que pode ser mantido continuamente e ser rítmico e aeróbio por natureza, tal como caminhar, correr e andar de bicicleta. 5) Devem ser feitos períodos de resfriamento e aquecimento (alongamentos) apropriados [6,7]. Orientações gerais de um programa de exercícios para aumentar a força muscular 1) O treino com resistência deve ser progressivo, individualizado e deve prover um estímulo para todos os principais grupos musculares. 2) É recomendado de 2 a 3 vezes por semana um conjunto de 8 a 10 exercícios que condicione os principais grupos musculares. 3) Devem ser feitas 8 a 12 repetições de cada exercício, se for uma pessoa mais velha de 10 a 15 repetições com menor carga. 4) A força muscular é desenvolvida usando uma sobrecarga muito pesada e fazendo poucas repetições. A resistência muscular localizada é conseguida com uma sobrecarga leve e fazendo altas repetições. De 8 a 12 repetições parece beneficiar ambas condições. 5) Para reforço da parte superior do corpo, recomenda-se usar 65 a 70% da quantidade máxima de peso que pode ser movida em toda amplitude do movimento em uma repetição do exercício estipulado. Para a parte inferior fica entre 75 a 80% [7,8]. Programa geral de exercícios para diminuição de peso corporal O programa que mais oferece resultados na diminuição de peso corporal é combinar uma nutrição balanceada com 183 exercícios. Este programa diminui o peso, aumenta a massa muscular com diminuição do tecido adiposo. Caso faça só restrição calórica em sua alimentação, perde-se peso, mas é perdida, também a massa muscular, deixando a pessoa com flacidez. 1) Um programa que combine exercícios aeróbios com musculação é muito eficaz. 2) Os exercícios devem ser feitos 3 x por semana, com intensidade e duração que gaste pelo menos 300 kcal por sessão de exercícios, para uma pessoa com aproximadamente 80 kg. Isso requer uma duração de pelo menos 30 a 45 minutos, para uma pessoa de condicionamento mediano [6,9-11]. A importância do alongamento num programa de condicionamento físico Os ligamentos, tendões e músculos são elásticos e flexíveis nos jovens, com o passar do tempo estas estruturas vão ficando rígidas e menos flexíveis devido a perda de água nestas estruturas. Com isso, os tecidos ficam sujeitos à lesão. Os alongamentos devem fazer parte de qualquer programa de exercícios e devem ser feitos por estes motivos: 1) Como complemento de aquecimento e também como forma de melhorar a recuperação no final do treinamento. O alongamento tanto no começo como no final dos exercícios devem ser feitos de maneira suave. Após atingir uma posição em que o músculo já se encontra alongado e sem dor, recomenda-se manter nesta posição de 30 segundos a 1 minuto. 2) O alongamento melhora a elasticidade muscular e a mobilidade articular, melhorando a amplitude do movimento, tornando-os mais fáceis. Autores comentam que o alongamento possibilita o depósito de proteínas em série nos tecidos. 3) O aumento da amplitude do movimento juntamente com o aquecimento ajudam a diminuir os riscos de lesão (questionável para alguns autores).Quando se observa uma amplitude de movimento muito diminuída, o alongamento deve ser feito em horários diferentes dos exercícios programados, para que sejam enfatizados tanto o número de exercícios de alongamento por músculo quanto a intensidade dos mesmos. Sempre tomar cuidado com a progressão dos exercícios de alongamento para não se lesionar, respeite seus limites. Aquecer antes de alongar é vital para aumentar a elasticidade do músculo e mobilidade articular [12-14]. Nutrição na atividade física Os hábitos alimentares tem um grande impacto sobre o peso corporal e a saúde. Infelizmente, a maioria da população consome quantidades excessivas de calorias em relação à atividade física realizada. Como consequência, a maioria dos adultos está acima do peso ideal, o que os predispõe a varias doenças. Ter uma alimentação saudável não é o mesmo que fazer uma dieta, que implica uma redução calórica significativa com o objetivo de se perder peso rapidamente. A dieta leva 184 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 a consumir poucos nutrientes essenciais ao organismo, não saciando a fome e fazendo com que você ganhe rapidamente o peso perdido logo após a interrupção da dieta. A regra para se ter uma boa alimentação é ter uma reeducação alimentar. Uma alimentação regrada oferecerá energia e disposição para suas atividades físicas, não sentirá fome, emagrecerá e permanecerá com baixo índice de gordura por muitos anos. Os carboidratos, proteínas e gorduras são nutrientes, fornecidos pela alimentação, cuja principal função é fornecer energia ao organismo e garantir sua integridade estrutural e funcional. Já as vitaminas e sais minerais respondem pela regulação dos processos metabólicos. O carboidrato é a principal fonte de energia, especialmente para atividades de alta intensidade e curta duração (trabalho de força muscular). É o combustível para a contração muscular do sistema nervoso e das células vermelhas, portanto tem grande importância no bom funcionamento do organismo. Além disso, o carboidrato diminui o estresse e melhora a resistência do organismo. Quanto ao consumo, deve compreender na alimentação de 60 a 70% da caloria total. Exemplos de boa qualidade de carboidratos: pães integrais, grãos, frutas, verduras, legumes, macarrão e arroz integral, cereais. A gordura é o nutriente que reveste os órgãos, servindo de proteção, além de ser um excelente isolante térmico. É um importante fornecedor de energia para o músculo, sendo mais utilizado em atividades de longa duração e de intensidade leve a moderada. Quanto à necessidade diária, deve compor 20 a 25% do valor calórico total consumido. Devemos dar preferência a gorduras mono ou poliinsaturados, como: azeite de oliva, azeitonas, óleo de canola, abacate, castanha, nozes, amêndoas, óleo de peixes e óleo de soja, tudo com moderação. Evitar ao máximo gorduras saturadas, como: gordura da carne, manteiga, gordura do coco, óleo de dendê, óleo de palma e laticínios integrais. A proteína tem a função de promover crescimento e desenvolvimento do nosso corpo. Além disso, aumenta a massa muscular juntamente com a prática de exercícios com pesos, boa hidratação e descanso adequado. Na alimentação, o consumo deve ser de 15% do valor calórico total da refeição diária. As vitaminas e sais minerais são responsáveis por regular as reações que ocorrem no organismo. Para se atingir um consumo adequado destes nutrientes, é necessário que se ingira em suas refeições muitas variedades, tipos e cores de legumes, frutas e verduras [15]. Três etapas para uma boa alimentação Um programa alimentar que fornece todos os nutrientes essenciais, mas limita o consumo de gordura requer seleção, substituição e preparação cuidadosa dos alimentos. Algumas sugestões para ter uma nutrição adequada: • Seleção dos alimentos: Se a sua alimentação priorizar grãos, frutas e vegetais, junto com quantidades moderadas de carnes e produtos lácteos a sua nutrição será rica em nutrientes e pobre em gorduras. As gorduras devem ser selecionadas cuidadosamente, pois as gorduras saturadas encontradas na manteiga, no creme de leite, nas gemas de ovo, óleo de coco, elevam o colesterol do sangue e devem ser consumidas com muita moderação. Devem-se escolher as gorduras monoinsaturadas, como o azeite de oliva ou óleo de amendoim, ou as gorduras poli-insaturadas, como o óleo de girassol e milho. Estes óleos tendem a reduzir o colesterol evitando doenças cardíacas. Peixes, aves sem pele, leite, iogurte e queijo desnatado, azeite de oliva, óleos de amendoim, girassol, milho e canola contêm menos gorduras saturadas que outras opções dentro de sua categoria de alimentos. Evite sempre os produtos hidrogenados. • Substituição de alimentos: Sem dúvida, cada um tem seu paladar e alimentos favoritos, que não quer deixar de consumir, mesmo sendo ricos em gordura. Substituições simples podem reduzir o teor de gordura dos alimentos sem prejudicar o paladar. Por exemplo, o uso de iogurte desnatado no lugar de creme de leite em molhos brancos. Isto reduz o teor de colesterol em quase 90% e supre o corpo com 2 vezes mais cálcio. Outras substituições úteis são duas claras em lugar de todo o ovo, ervas em vez de sal, sorvete de iogurte desnatado no lugar do sorvete convencional, cacau em pó em vez de chocolate em doces, suco de limão ou vinagre em vez de temperos gordurosos. No lugar de doces, consuma frutas secas. Substitua petiscos gordurosos por batatas assadas e palitos de cenoura ou pepino. • Preparação dos alimentos: O modo como se prepara o alimento pode diminuir ou aumentar o teor de gordura. O ato de fritar um alimento é capaz de triplicar a caloria do alimento. Uso de frigideira antiaderente evita o uso de óleos para fritura, reduzindo a caloria do alimento. Cozinhe as verduras e legumes separados da carne para que não absorvam a gordura que se solta da carne. As carnes devem ser assadas ou grelhadas e as verduras e legumes devem ser cozidos no vapor ou microondas para retenção dos nutrientes. Evite manteiga e muito sal no cozimento de verduras e legumes [15,16]. Dicas de nutrição desportiva 1) A alimentação pode fazer a diferença no bom ou mau desempenho do atleta. Boa alimentação ajuda na recuperação e rendimento do atleta. 2) Procure fazer alimentação leve antes do treino. Jejum é prejudicial ao rendimento e prejudica um emagrecimento saudável do atleta. O ideal é fazer uma refeição rica em carboidrato e pobre em gorduras e proteínas. 3) Tomar cuidado com a ingestão de proteínas antes dos treinos, pois podem ter uma digestão demorada causando fermentação e incômodo estomacal, como carnes vermelhas e leite. Proteína tem que ser enfatizada pós-treino para a recuperação muscular. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 4) Recomenda-se o consumo de uma bebida esportiva cerca de 30 a 40 minutos antes do exercícios para melhoria do rendimento e de 20 em 20 minutos durante os exercícios. 5) Quando for correr, preocupe-se com a hidratação e a reposição de carboidratos e sais minerais. Após a corrida, devem-se repor os nutrientes perdidos a fim de acelerar a recuperação muscular e facilitar a queima de gordura. Procure consumir carboidratos com proteínas nas 2 primeiras horas após treino, sempre acompanhado de hidratação abundante [9,15,16]. Hidratação A água é o nutriente mais importante para o organismo. Os músculos de nosso corpo são constituídos de quase 80% de água e se vive poucos dias sem seu consumo. A recomendação padrão de seu consumo é beber 8 copos de 220 ml por dia e uma quantidade maior é desejável quando a pessoa se exercita. Com o passar dos anos nosso mecanismo de sede declina, de modo que adultos ativos devem controlar seu consumo de água, assegurando os oito copos por dia. A função da hidratação durante o treino é evitar o aumento da temperatura corporal e manter o organismo em condições adequadas para processos metabólicos. A hidratação com carboidrato aumenta a duração do treino, melhora o seu rendimento no treino e preserva o glicogênio (carboidrato) do músculo. Por outro lado, a desidratação provoca uma diminuição do rendimento atlético em 30%, provoca cãibras e diminui a concentração e habilidade motora. Para planejarmos uma correta hidratação para a realização dos exercícios (ex: corrida), precisamos medir a quantidade de suor por hora de exercício e identificar o quanto se perde de peso durante a atividade e relacionar com a quantidade de líquido consumido. Por exemplo, se você perde 720 g (720 ml) durante o exercício e consome 360 ml, deveria beber 720 ml + 360 ml, ou seja, 1080 ml por hora durante o exercício, ou 270 ml a cada 15 minutos. Sabendo-se que através do suor eliminamos água e sais minerais, o ideal seria consumir bebidas desportivas, pois contêm quantidades adequadas destes nutrientes, bem como carboidratos, que confere ao atleta mais energia aos músculos, ajudando na performance e sabor que facilita a ingestão e a correta hidratação. Para melhorar a hidratação, deve-se: 1) Ingerir 30 a 40 minutos antes dos exercícios de 300 a 400 ml de bebida desportiva. 2) Durante o exercício hidratar-se de 20 em 20 minutos. 3) Após a atividade física, beber um pouco mais de 1 litro para cada kg de peso perdido, distribuindo este consumo por um período de várias horas após os exercícios [17,18]. Cuidados que devemos ter quando praticamos atividade física Durante os exercícios, podemos sentir alguns desconfortos passageiros sem grande importância, que não irão influir 185 no treino. Só devemos ficar alerta, caso estes desconfortos persistirem e começarem a prejudicar o treino. A principal sensação de que algo não está bem é a dor constante e limitante de alguns movimentos. Quando perceber que a dor é persistente, procure um médico especialista e fique atento se você perceber: dor localizada, com aumento de temperatura e que piora com movimento e compressão local; inchaço local; sensação de bloqueio articular; vermelhidão local; estalidos dolorosos nas articulações; muita dor nos alongamentos locais; sensibilidade diminuída; restrição nos movimentos e diminuição de força muscular; ferimentos de pele. Para prevenirmos lesões, devemos seguir atentamente às recomendações citadas anteriormente e ter sempre ao lado, se possível, um educador físico para a correção dos exercícios executados; ter um bom descanso entre os treinos; fazer exercícios de alongamento e aquecimento antes e após a atividade física; tomar cuidado com a alternância das superfícies na hora de correr (asfalto, grama, areia, etc.); acompanhamento médico e nutricional periódico; usar sempre roupas adequadas às condições ambientais; usar tênis adequados à sua pisada e ao seu treino. Comprar sempre seu tênis no final de tarde, pois seu pé se apresenta mais alargado. As principais lesões de quem pratica atividade física são tendinites (inflamação nos tendões), podendo levar a rupturas parciais ou totais; lesões musculares podendo levar à impotência funcional; fraturas de estresse, sendo a tíbia o osso mais acometido; canelites (inflamação na região da tíbia); síndrome da banda ílio-tibial (dor localizada na parte lateral do joelho); fasciite plantar (dor na região do calcâneo) [19]. Cuidados ao se exercitar no calor e no frio No calor 1) Beber líquidos antes, durante e após o treino mesmo se não tiver sede. Lembre-se da importância da hidratação e sempre corra em lugares de fácil acesso a líquidos. 2) Evitar fazer percursos longos e em locais desertos sozinho. 3) Nunca usar roupas escuras, pois absorvem muito calor. 4) Usar sempre boné e protetor solar. 5) Procurar treinar em lugares e horários mais frescos. 6) Caso a temperatura esteja alta, diminuir a intensidade do treino. No frio 1)Vestir-se em camadas que possam ser retiradas com a progressão do exercício. 2) Proteger a cabeça e as mãos. 3) Aumentar o tempo de aquecimento. 4) Usar protetor para os lábios, pois ficam ressecados com o frio. 5) Começar o treino lentamente e progredir o ritmo à medida que a musculatura fica aquecida. 186 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 6) Quando acabar o treino trocar a roupa molhada por uma seca. 7) Hidratar-se mesmo se não tiver sede. 8) Manter-se seco, pois se perde mais calor quando se está molhado [20]. Sugestão de treino de corrida Mostraremos agora uma planilha de treino para quem quer começar a correr com segurança, garantindo um bom condicionamento físico, evitando lesões e tendo uma manutenção segura da saúde (bem estar bio-psico-social). Esta tabela contém um treino de duração de 3 meses, para quem deseja participar de provas de corrida de rua de 10 km. Este plano é um direcionamento baseado em evidências cientificas, podendo sofrer algumas alterações dependendo do desempenho da pessoa que seguirá esta planilha e do bom senso do técnico. Referências 1. Chodzko WJ, Proctor DN, Singh MAF, Minson CT, Nigg CR, Salem CJ. Exercise and physical activity for older adults. Med Sci Sports Exerc 2009;41:1510-30. 2. Nahas MV. Atividade Física, saúde e qualidade de vida. Londrina:Midiograf; 2003. 3. Fernandes Filho JA. A prática da avaliação física. Rio de Janeiro: Shape; 2003. 4. Bohme MTS. Relação entre aptidão física, esporte e treinamento desportivo. Rev Bras Ciênc Mov 2003;11:87-94. 5. Tanaka M, Silva RE. Noções básicas sobre fisiologia do exercício. Rev Bras Med Esporte 2010;17:184-8. 6. American College of Sports Medicine. Guideline for exercise testing and prescription. Philadelphia: Williams and Wilkins 1995;189-233. 7. American College of Sports Medicine. The recommended quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness in healthy adults. Med Sci Sports Exerc 1990;22;265-74. 8. Dias RMR, Cyrino ES, Salvador EP, Nakamura FY, Pina FL, Oliveira AR. Impacto de oito semanas de treinamento com pesos sobre a força muscular de homens e mulheres. Rev Bras Med Esporte 2005;11:224-8. 9. World Health Organization. Diet, nutrition and prevention of chronic diseases. Geneva: WHO; 2003. 10. Negrão CE. Exercício e hipertensão. Rev Bras Hipertens 2001;8:89-95. 11. Ciolac EG. Exercício físico e metabolismo. Rev Bras Med Esporte 2004;10:319-24. 12. Gary LH. Amplitude de movimento e flexibilidade. In: Andrews JR, Wilk KE, Harrelson GL. Reabilitação física das lesões desportivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.106-27. 13. Boyce DA. Alongamento. In: Placzek JD, Boyce DA. Segredos em fisioterapia ortopédica. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2004.p.119-21. 14. Bernardes RC. Flexibilidade. In: Cohen M, Abdalla RJ. Lesões no esporte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p.394-7. 15. Gomes MR, Rogero MM.Considerações sobre nutrição e exercício físico. Rev Bras Med Esporte 2005;11:262-6. 16. Koury JC, Donangelo CM. Nutrição e atividade física. Rev Nutr 2003;16;433-41. 17. Castro MG, Barros LFL, Waitzberg DL. Regulação térmica e hidratação nos esportes. Âmbito Medicina Desportiva 2007;110:24-8. 18. Zalcman I. Hidratação e termorregulação nos atletas da 3º idade. Âmbito Medicina Desportiva 2007;111:5-9. 19. Hoebrings JH. Factors related to the incidence of running injuries: A review. Sports Med 1992;13:408. 20. Cheuvront SN, Haymes EM. Thermoregulation and marathon running: Biological and environmental influences. Sports Med 2001;31(10):743-62. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Semana 3 Semana 4 Sábado Domingo descanso 30’ corrida leve descanso 5’cam + 8x (2’ RC/2’Tr) + descanso 5’cam 40’ corrida leve descanso 40’ corrida RC descanso descanso 10’cam + Teste 5 km RC+ 10’cam descanso 40’ corrida RC descanso 50’ corrida RC descanso 10’cam + Teste 6 km RC+ 10’cam descanso 50’ corrida RC 2º MÊS Semana 5 40’ corrida leve 6a 1º MÊS Semana 2 5a BASE / ADAPTAÇÃO Semana 1 2a 3a 4a 5’cam + 6x (2’ RC/2’Tr)+ 30’ corrida leve descanso 5’cam 5’cam + 8x (2’ RC/2’Tr)+ 30’ corrida leve descanso 5’cam 5’cam + 6x (3’ RC/2’Tr)+ 30’ corrida leve descanso 5’cam 5’cam + 6x 30’ corrida descanso (3’ RC/2’Tr)+ RC 5’cam 5’cam + 30’ Fartlek 40’ corrida descanso (2’ RI/1’trote RC leve)+ 5’cam 187 5’cam + 30’ Fartlek 60’ corrida Semana 6 descanso descanso descanso (2’ RI/1’trote RC leve)+ 5’cam 5’ cam + 5’ 10’cam + corrida RC + Semana 7 descanso 40’ corrida RC descanso Teste 7 km RC descanso descanso 2x (10’ RI/2’ + 10’cam trote) + 5’ cam 5’ cam + 5’ 10’cam + 5’cam + 32’ 4x (1000m 40’ corrida Fartlek (3’ corrida RC + Semana 8 descanso descanso descanso RI/1’30”cam)+ leve RI/1’RC)+ 2x (12’ RI/2’ 5’cam 5’cam trote) + 5’ cam 10’cam + 5’cam + 36’ 10’cam + 5x(1000m 40’ corrida Fartlek (3’ Semana 9 descanso descanso descanso Teste 8 Km RC RI/1’30”cam)+ leve RI/1’RC)+ + 10’cam 5’cam 5’cam 10’cam + 5’ cam + 5’ 5x(1000m 40’ corrida corrida RC + Semana 10 descanso descanso descanso descanso RI/1’30”cam)+ leve 2x(14’ RI/2’ 5’cam trote) + 5’ cam 5’ cam + 5’ 10’cam + corrida RC + 8Km corrida Semana 11 descanso Teste 10 Km RC descanso descanso descanso 2x(15’ RI/2’ RC + 10’cam trote) + 5’ cam 5’ cam + 5’ 8Km corrida corrida RC + 30’ corrida Semana 12 descanso descanso descanso Prova 10 Km RC 2x(15’ RI/2’ leve trote) + 5’ cam cam = caminhada (65% FC Máx); Tr = trote moderado (65-75% FC Máx); Treino intervalado longo RC/RI (75-90% FC Máx) RC = ritmo confortável (75-80% FC Máx); RI= ritmo intenso (80-90% FC Máx) Treino de fartlek (forte/fraco) (60-90% FC Máx) Treino teste em ritmo confortável (70-80% FC máx) Treino de rodagem ritmo moderado (75-80% FC máx) Treino de tiros bem intenso (85-95% FC Máx) Dia da prova 10 km Treino de ritmo intenso e sustentável (80-90% FC Máx) É indicado a todos os corredores que realizem a prova ao menos 2 sessões semanais de exercícios educativos e formativos que têm como objetivos principais a melhoria da técnica e economia de energia. Para o sucesso do treinamento é fundamental estar em dia com os exames médicos de rotina e testes de esforço, bem como ter uma nutrição adequada as demandas impostas, ter um treinamento de força específico para prevenir lesões e respeitar os períodos de descanso. 5’cam + 8x(3’ RI/2’Tr)+ 5’cam 40’ corrida RC 3º MÊS PRÉ-COMPETITIVO / COMPETITIVO 188 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. 189 O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 3 - julho/setembro 2012 190 Calendário de eventos 2012 27 a 29 de novembro Outubro 24 a 27 outubro 1º Congresso de Educação Física da FIEP/AM II Encontro de Estudantes de Educação Física do CEFIEP/AM Manaus, AM Informações: www.fiepam.com.br E-mail: [email protected] Novembro 9 a 11 de novembro 12º Fitness Brasil Bahia Salvador, BA Informações: www.fitnessbrasil.com.br 9 e 10 de novembro II Simpósio Internacional de Força e Condicionamento Físico Teatro da Unifor, Fortaleza, CE Informações: www.top7brasil.com.br III Congresso Nacional de Educação Física Centro de Convenções Raymundo Asfora, Campina Grande, PB Informações: www.conaef.com.br 2013 Janeiro 12 a 16 de janeiro 28º Congresso Internacional de Educação Física Foz do Iguaçu, PR Informações: www.congressofiep.com Maio 29 de maio a 1 de junho VIII Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana Campos de Rio Claro, SP Informações: www.rc.unesp.br 09 à 11/11/2012 III Meeting de Corrida de Rua (11) 2714-5678/2714-5695 Informações: [email protected] www.institutophorte.com.br 21 a 23 de novembro Expo Estádio 2012 Expo Center Norte, São Paulo SP Informações: www.expoestadio.com.br Curso (pós-graduação) 6 abril / 2013 Preparação Física em Esportes Coletivos Centro de Pesquisa e Pós-Graduação (CPPG), Faculdade de Educação Física, Departamento de Pós-Graduação e Extensão Universitária Rua Galvão Bueno, 707 Liberdade, São Paulo, SP Informações: (11) 3399-3877/ 3209-0059 E-mail: inscriçã[email protected] Erratum O Resumo e o Abstract do artigo “A ansiedade em atletas de ginástica artística em períodos de pré-competição e competição”, publicado p. 73 da edição v11n2 (abril/junho de 2012) é o seguinte, ao lugar dos textos que foram colocados por engano, repetindo o resumo do artigo anterior. Desculpe-nos pelo erro. Resumo A psicologia esportiva vem tentado determinar os níveis adequados e críticos quando o assunto é ansiedade, e tem como objetivo maior ajudar os atletas a controlarem os seus níveis de ansiedade, para que os mesmos possam obter resultados esperados em suas competições. Este estudo teve como objetivo compreender o quanto a ansiedade vem afetando o desempenho de atletas que praticam a modalidade Ginástica Artística. Visa também analisar os mesmos, no que diz respeito aos níveis de ansiedade que podem inibir seu desempenho atlético, uma vez que atletas têm declarado baixos resultados causados pelo fato de estarem muito ansiosos sobre um evento ou competição. Esta pesquisa foi realizada com atletas de quatro equipes diferentes de Ginástica Artística, das categorias juvenil e adulto (masculina e feminina), composta por 21 atletas, todos federados de um Clube da Cidade do Rio de Janeiro, na faixa etária entre 12 e 27 anos. Foram utilizados dois instrumentos de aferição, o Inventário de Ansiedade Estado Competitiva-2 - CSAI-2 e o Teste de Ansiedade-Traço em Competições Esportivas - SCAT. Concluiu-se que, em geral, os atletas analisados apresentaram níveis médios de Ansiedade-Traço. Os valores para Ansiedade-Estado variaram entre baixos e médios, de acordo com os resultados apresentados. Quanto à autoconfiança, esta assumiu níveis médios em três equipes, exceto na masculina adulto, na qual os níveis apontaram alta confiança. No entanto os níveis de autoconfiança foram maiores que os níveis de ansiedade. Palavras-chave: ansiedade, atleta, psicologia esportiva. Abstract The sports psychology has been trying to determine appropriate and critical levels of anxiety, and aims to help athletes to control their anxiety levels, so that they can achieve expected results in competitions. This study aimed at understanding how much anxiety has been affecting artistic gymnasts performance and also at analyzing the anxiety levels that may inhibit their athletic performance, since athletes have reported poor results caused by anxiety before an event or competition. This research was conducted with athletes from four different teams of Artistic Gymnastics, youth and adult categories (male and female), comprising 21 athletes, all of them sports licence holders of a Rio de Janeiro club, 12 to 27 years old. The Competitive State Anxiety Inventory-2 CSAI-2 and Test-Trait Anxiety in Sports Competitions – SCAT were used. We concluded that, in general, analyzed athletes had medium level of anxiety-trait. The levels of anxiety-state ranged from low to medium, according to the results. Concerning self-confidence, the three teams had medium level, except for the adult male, which expressed high self-confidence levels. However self-confidence levels were higher than anxiety levels. Key-words: anxiety, athlete, sports psychology. Re v i s t a B r a s i l e i r a d e Fisiologia do exercício Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 11 número 4 - outubro/dezembro 2012 Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Amandio Rihan Geraldes (AL) Antonio Carlos Gomes (PR) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Douglas S. Brooks (EUA) Emerson Silami Garcia (MG) Francisco Martins (PB) Francisco Navarro (SP) Luiz Carnevali (SP) Luiz Fernando Kruel (RS) Martim Bottaro (DF) Patrícia Chakour Brum (SP) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Robert Robergs (EUA) Rosane Rosendo (SC) Sebastião Gobbi (SP) Steven Fleck (EUA) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Vilmar Baldissera (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Marketing e Publicidade Rainner Penteado [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Editorial Treinamento, avaliação e desempenho, Jean-Louis Peytavin............................... 194 ARTIGOS ORIGINAIS Efeito agudo do exercício resistido sobre os parâmetros da glicemia capilar aguda em indivíduos diabéticos tipo 2, Cristiane dos Santos, Sabrina Rodrigues, Danielle Fernandes, Gilberto Monteiro................................... 195 Importância do serviço de avaliação física: a percepção do usuário de musculação em academias de ginástica do Rio de Janeiro, Luiz Felipe Taranto Sinforoso, Paulo Cesar Nunes-Junior...................................... 200 Razões para o uso de suplementos nutricionais por praticantes de musculação em academias na cidade de Fortaleza-Ceará, Thiago Medeiros da Costa Daniele, George Lacerda de Souza, João Paulo Lima Vasconcelos................................................................................. 211 Efeitos agudos e temporários da facilitação neuromuscular proprioceptiva sobre a força dinâmica máxima, Eduardo Lattari, Edmilson Batista de Carvalho, Sérgio Machado.................................................... 215 Efeitos de um programa de jogos adaptados e musculação na aptidão física e na capacidade funcional de idosos, Sandra Fachineto, Jéssica Karine Berté, Sandro Claro Pedrozo, Jociane Ghizzi....................................................................................................... 222 REVISÕES Abordagens fisioterapêuticas no paciente com insuficiência arterial crônica, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Cristhine Görgen, Mariana Calazans da Silva ....................................................... 227 Creatina e desempenho, Leandro de Lorenço-Lima, Thaísa Simões Monteiro, Renata Gorjão, Maria Fernanda Cury-Boaventura, Marcelo Paes de Barros, Sandro Massao Hirabara ....................................................................................... 233 Síndrome do subdesempenho físico no futebolista? Rodrigo Minoru Manda, Franz Homero Paganini Burini, Roberto Carlos Burini........................................................................................... 241 Modalidades esportivas de combate de domínio: respostas bioquímicas, hematológicas e hormonais, Fabrício Boscolo del Vecchio, Victor Silveira Coswig, Arthur Hipólito das Neves............................ 246 NORMAS DE PUBLICAÇÃO....................................................................255 EVENTOS.........................................................................................................256 Atlântica Editora edita as revistas Fisiologia do Exercício, Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Síndromes I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. 194 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Editorial Treinamento, avaliação e desempenho Jean-Louis Peytavin Terminamos o ano 2012 com uma serie de artigos originais sobre temas muito atuais como o efeito do exercício sobre o diabetes ou a capacidade funcional de idosos, refletindo o papel cada vez mais importante do educador físico fora do espaço da escola ou da academia. Iniciamos esta edição com um estudo de uma equipe de Santos, lembrando o papel fundamental do exercício físico, mesmo com intensidade leve, no controle da glicemia em diabéticos tipo 2. Incluímos também um estudo sobre a eficiência de um programa de musculação em idosos, devido a Sandra Fachineto e colaboradores, da UNOESC. Na área das academias, podemos destacar o trabalho de Paulo Cesar Nunes-Junior, do Rio de Janeiro, analisando uma função importante da academia, a avaliação física, que não recebe sempre a atenção suficiente, da parte da academia como da parte do usuário, por falta de orientação e de coor- denação entre os diferentes serviços. A avaliação física é um serviço essencial, que agrega valor e dá um suporte objetivo à prescrição de exercícios e ao treinamento. Na sessão de revisões, publicamos um estudo interessante de Rodrigo Minoru Manda, Franz Homero Paganini Burini e Roberto Carlos Burini (UNESP) sobre a síndrome de subdesempenho físico ou supratreinamento no futebol. Esta síndrome, ainda pouco estudada, deveria receber mais atenção para melhorar o treinamento, a recuperação e a nutrição do jogador. Agradecemos aos autores que participaram da revista em 2012, aos assinantes, e desejamos receber ainda mais trabalhos em 2013 para sempre melhorar o nível da revista e responder às perguntas dos profissionais da educação física. Feliz ano novo a todos! Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 195 ARTIGO ORIGINAL Efeito agudo do exercício resistido sobre os parâmetros da glicemia capilar aguda em indivíduos diabéticos tipo 2 Acute effect of resistance exercise about acute capillary blood glucose parameters in patients with diabetes type 2 Cristiane dos Santos*, Sabrina Rodrigues*, Danielle Fernandes**, Gilberto Monteiro *** *Profissional de Educação Física, **Profissional de Educação Física, Fisioterapeuta e Especialista em Aparelho Locomotor no Esporte, ***Docente do Curso de Educação Física e Esportes da Universidade Santa Cecília, Santos/SP Resumo Este trabalho teve por objetivo verificar o efeito do treinamento resistido na glicemia capilar aguda em indivíduos diabéticos tipo 2. O grupo foi composto por 14 sedentários, homens (28,57%) e mulheres (71,42%), com idade entre 55 e 65 anos. Critérios de inclusão eram: idosos com diagnóstico há pelo menos um ano de diabetes tipo 2 e sem lesões em órgãos alvo; o critério de exclusão, doenças crônicas associadas e não apto a realizar atividade física, esse critério foi avaliado pelo médico responsável pela pesquisa. O programa de exercícios foi constituído de três aulas semanais não consecutivas, durante 12 semanas (36 sessões). Participaram idosos diabéticos que treinaram com carga de 50% na quinta semana e 70% na sexta semana. A glicemia capilar foi colhida antes e após as sessões de treino com o objetivo de verificar a relação das cargas de treino com a queda da glicemia capilar na fase aguda, quinta semana 12,21% e sexta semana 24,85%. Verificou-se que a intensidade do treinamento possui uma correlação positiva, com efeito hipoglicêmico em diabéticos tipo 2. Em relação ao gênero, intensidades menores, 50% da carga máxima, têm uma influência relevante no sexo masculino, pois 17,34% dos homens tiveram queda da glicemia enquanto as mulheres 10,37%. Abstract The aim of this study was to check the effect of resistance training on capillary blood glucose in type 2 diabetic patients. The group was composed of 14 sedentary men (28.57%) and women (71.42%), 55 to 65 years old. Inclusion criteria: elderly patients diagnosed with diabetes type 2 for at least one year and without target organs injury; exclusion criteria chronic diseases associated and unable to do physical activity, this criterion was assessed by the physician responsible for the research. The exercise program consisted of three non-consecutive lessons during 12 weeks (36 sessions) and the participants were elderly diabetics who trained at 50% load in the fifth week and at 70% in the sixth week. The capillary blood glucose was collected before and after training sessions in order to verify the relationship between training loads with fall of capillary blood glucose in the acute phase, the fifth week 12.21% and sixth week 24.85%. We found that the intensity of the training has a positive correlation, with hypoglycemic effect in diabetic’s type 2. In relation to the gender, smaller intensities at 50% maximum load have a significant influence on males, as 17.34% of men have blood glucose fall and women 10.37%. Key-words: diabetes mellitus, exercise, acute blood glucose. Palavras-chave: diabetes mellitus, exercício, glicemia aguda. Recebido em 9 de junho de 2012; aceito em 29 de novembro de 2012. Endereço para correspondência: Cristiane dos Santos, Rua Carvalho de Mendonça, 355/14, Vila Belmiro, Santos SP, E-mail: cristiane. [email protected] 196 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Introdução O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM tipo 2) é um grupo de distúrbio crônico metabólico de causas múltiplas caracterizado pela deficiência absoluta ou relativa da produção de insulina, que podem causar índices elevados da glicemia, devido a sua resistência, redução da sensibilidade dos receptores celulares à insulina além da redução deste hormônio pelo pâncreas [1,2]. Essa patologia é de múltiplas etiologias, levando a consequências devastadoras, principalmente quando compromete a circulação de órgãos vitais como coração, rins, nervos, olhos e vasos sanguíneos, provocando sérias complicações à saúde dentre elas: hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e dislipidemia. São vários os fatores desencadeantes para a patogênese, dentre eles os principais são: raciais, hereditários, sedentarismo e estresse [3]. Segundo o Ministério da Saúde [4], o diabetes já afeta cerca de 246 milhões de pessoas em todo o mundo. A estimativa é de que, até 2025, esse número aumente para 380 milhões. No Brasil, a ocorrência média de diabetes na população adulta, acima de 18 anos, é de 5,2%, o que representa 6.399.187 de pessoas. A incidência da DM tipo 2 aumentou no mundo atual, como resultado da interação genética e envolvimento de fatores de risco que são determinantes da doença e dentre eles pode-se destacar: maior taxa de urbanização, aumento da expectativa de vida, industrialização, maior consumo de dietas hipercalóricas e ricas em hidratos de carbono, de absorção rápida, mudanças do estilo de vida, inatividade física, obesidade e maior sobrevida da pessoa diabética [5]. A educação em saúde, enquanto medida de prevenção ou retardo do Diabetes Mellitus, é uma ferramenta importante para a redução de custos para os serviços de saúde. As intervenções que focalizam aspectos múltiplos dos distúrbios metabólicos, incluindo a intolerância à glicose, à hipertensão arterial, à obesidade e à hiperlipidemia poderão contribuir para a prevenção primária do Diabetes Mellitus [6]. A prática de atividade física também tem sido considerada uma importante ferramenta no tratamento de indivíduos com DM do tipo 2. Programas de exercício físico têm demonstrado ser eficientes no controle glicêmico de diabéticos, melhorando a sensibilidade à insulina e tolerância à glicose e diminuindo a glicemia sanguínea desses indivíduos [7]. Mendonça et al. [8] relatam que pesquisas atuais têm demonstrado que a atividade anaeróbia como o treinamento de força melhora a utilização de glicose e promove endurance muscular e observaram que o exercício aeróbio é mais efetivo que o anaeróbio no aumento da sensibilidade à insulina. Contudo, os autores relatam que a combinação de atividades aeróbias e anaeróbias é eficaz na melhora da sensibilidade à insulina na resposta da redução da ação da insulina com a idade. Hoje, a atividade física está inserida como um processo fundamental de benefício à saúde, bem como uma forma de manter a qualidade de vida e uma melhor capacidade funcio- nal do dia-a-dia, como um controle ou a cura para doenças adquiridas no nosso cotidiano [5]. É de grande importância a realização desta pesquisa em virtude do aumento da DM tipo 2 nos últimos anos em toda a população mundial e com projeções epidêmicas para os próximos anos, com isso surge a necessidade de se estabelecer dados para o controle e a melhora da qualidade de vida desses indivíduos através da conscientização dos benefícios e da prática da atividade física para essa enfermidade. Material e métodos Este estudo foi realizado com idosos diabéticos, sedentários, voluntários, física e mentalmente independentes residentes na cidade de Santos/SP. A amostra foi de um grupo, constituído por 14 idosos de ambos os sexos (4 homens e 10 mulheres) com idade entre 55 a 65 anos. Critério de inclusão, idosos com diagnóstico há pelo menos um ano de diabetes tipo 2 e sem lesões em órgãos alvo; o critério de exclusão, doenças crônicas associadas e não apto a realizar atividade física. Os diabéticos são atendidos no Serviço de Medicina Preventiva da Unimed em Santos, em uma sala de 40m² climatizada com o refrigerador de ar splint de 30 mil btus mantido a uma temperatura média de 24 a 25 C, com instalações para higiene pessoal, feminino e masculino. As avaliações foram realizadas com teste de força máxima (1 RM), nível de atividade física (IPAQ) e nível de qualidade dos indivíduos (SF36). A)Teste de força máxima (1 RM) – De acordo com Fleck [9], o teste de força máxima é a quantidade máxima de peso levantado em um esforço simples máximo, em que o indivíduo completa todo o movimento que não poderá ser repetido uma segunda vez. Determinar cargas para um exercício usando o percentual de 1 RM (por exemplo, 70% ou 85% de 1 RM requer que a força máxima em vários levantamentos seja avaliada regularmente. Objetivos - Mensurar a força máxima dinâmica e determinar o peso a ser utilizado no programa de acordo com os objetivos pré-determinados. B) IPAQ - Questionário internacional de atividade física amplamente utilizado, para as atividades do dia a dia. Este projeto faz parte de um grande estudo que está sendo feito em diferentes países ao redor do mundo. Suas respostas ajudarão a entender que somos tão ativos como pessoas de outros países. As perguntas estão relacionadas ao tempo que você gasta fazendo atividade física em uma semana. As perguntas são divididas por cinco seções, incluem as atividades que você faz no trabalho para ir de um lugar a outro, por lazer, por esporte, por exercício ou como parte das suas atividades em casa ou no jardim. Os indivíduos são orientados a responder cada questão mesmo que considere que não seja ativo [10]. C) SF36 - é um questionário genérico, com conceitos não específicos para uma determinada idade, doença ou grupo de tratamento e que permite comparações entre diferentes patologias e entre diferentes tratamentos. Considera a percepção dos Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 indivíduos quanto ao seu próprio estado de saúde e contempla os aspectos mais representativos da saúde. É também de fácil administração e compreensão, do tipo autoaplicável [11]. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Santa Cecília em Santos e os voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando sua participação no estudo. Os idosos diabéticos treinaram a cada semana com intensidades diferentes por 12 semanas, semana A (adaptação – 4 semanas) com carga de 50% e a semana B com carga de 70%. O programa de exercícios resistidos com pesos foi constituído de três aulas semanais não consecutivas entre 8:00 e 10:00 horas da manhã, durante um período de 12 semanas (36 sessões). Foi utilizada a escala de Borg como um indicador da intensidade de exercício sendo possível utilizar a taxação de esforço percebido (TEP) [12]. Inicialmente os participantes realizaram uma fase de adaptação com duração de duas semanas e séries de 15 a 20 repetições não máximas, em 8 exercícios: supinos reto, cadeira extensora, remador, flexora em pé, tríceps pulley, cadeira adutora, rosca alternada e panturrilha, e a ordem dos exercícios era alternada por segmento. Depois realizaram mais duas 197 semanas, ainda de adaptação, e as séries foram aumentadas para duas, estas realizadas em circuito. Após este período de adaptação iniciou-se o período de treinamento constituído por repetições máximas, no qual foram realizadas cinco semanas constituídas de duas séries de 12 repetições. Após, o número de séries foi aumentado para três, isso foi realizado durante três semanas, e nas cinco últimas semanas, as séries foram realizadas de forma consecutiva. Os intervalos entre as séries e entre os exercícios foram de 40s e cada sessão teve 50 minutos de duração (aquecimento/alongamento, treinamento e volta á calma) e os movimentos foram realizados numa velocidade média e amplitude adequada às condições de cada indivíduo. A glicemia capilar foi coletada cinco minutos antes e quinze minutos depois de cada sessão de treinamento, equivalente a quinta e sexta semana. Foi constituindo uma média semanal para cada aluno sob condições diferentes de treinamento resistido – Segurança + 250 mg/dl de glicose. Os dados foram coletados e analisados estatisticamente, apresentando-se em forma de tabela. As tabelas ilustram os resultados de cada sujeito, divididos por gênero, média do pré e pós-treino, diferença em miligramas e porcentagem, finalizando com as médias em geral. Resultados Tabela I - Dados referentes ao sexo masculino. S1 S2 S3 S4 Media Pre 50% 118 186 123 196 155,75 Pós 50% 122 128 127 138 128,75 5 Semanas Difen mg 4 58 4 58 27 Diferen % 3, 39 31,18 3,25 29,59 17,34 Pré 70% 331 115 336 122 226 6 Semanas Pós 70% Dif. mg 237 94 98 17 242 94 105 17 170,5 55,5 Dif. % 28,40 14,78 27,98 13,93 24,45 Diferen % 7, 98 6,29 21,21 17,04 0 7,89 6,21 20,50 16,43 0 10,37 Pré 70% 350 263 260 200 130 354 273 263 208 133 243,4 6 Semana Pós 70% Dif. mg 287 63 211 52 140 120 150 50 117 13 291 51 222 51 143 120 158 50 120 13 183,9 59,5 Dif. % 18,00 19,77 46,15 25,00 10,00 17,80 18,68 45,63 24,04 9,77 24,45 Tabela II - Dados referentes ao sexo feminino. S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 Média Pré 50% 263 350 231 135 117 266 354 239 140 123 221,8 5 Semana Pós 50% Diferen mg 242 21 328 22 182 49 112 23 117 0 245 21 332 22 190 49 117 23 123 0 198,8 23 Tabela III - Média dos Treinamentos pré-treino 50% e pós-treino 70%, diferença em miligramas e diferença em porcentagem entre homens e mulheres. 5 Semana 6 Semama Pré-treino 50% 202,92 mg 238,42 mg Pós-treino 70% 178,78 mg 180,07 mg Dif. mg 24,14 58,35 Dif. % 22,79 22,85 198 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Discussão Alguns estudos envolvendo exercícios resistidos com pesos apresentaram semelhanças nos resultados obtidos neste estudo. Estudos como o de Cambri e Santos [13] que submeteu um grupo composto por oito sedentários, com idades entre 47 e 58 anos com no mínimo dois anos de diagnóstico médico de DM tipo 2, a um programa de exercícios resistido com pesos três vezes por semana durante doze semanas, com volume de treinamento de de 12 a 15 repetições. A glicemia capilar foi relacionada com o grupo tratado e o não tratado com insulina. A média da glicemia capilar foi reduzida em 24,50% e 15,44% respectivamente na décima segunda semana. Os indivíduos sedentários não tratados com insulina tiveram um resultado melhor, evidenciando a melhora do quadro geral do diabético menos acometido. Nossos resultados foram positivos relacionando com a fase aguda, observada neste estudo, na sexta semana a glicemia capilar reduziu em 22,85%, número significativo, pois o presente estudo foi realizado com a metade do tempo, e constatou uma média muito próxima ao estudo crônico doze semanas; utilizando o mesmo volume (12 a 15 repetições) e intensidade de carga máxima (60 a 70%) nas sessões de treinamento. Outro estudo de Cambri et al.[14] verificou a glicemia capilar nas seis e doze semanas em um programa de exercício físico constituído de exercício aeróbio e resistido, três vezes por semana durantes 60 min. A pesquisa foi realizada com um grupo de 8 sedentários que realizaram caminhada de 60 a 70% da frequência cardíaca máxima, por 20 mim e 10 exercícios resistidos para grandes grupos musculares. Os resultados avaliados considerados agudos foram positivos, observou-se uma queda de 14,44% na quinta semana e na sexta semana uma queda de 18,7% na diminuição da glicemia capilar aguda. Esses resultados confirmam a nossa pesquisa que encontrou uma média semelhante, pois este estudo só utilizou exercícios anaeróbios, com pesos; na redução da glicemia na quinta semana de 12,21%, e na sexta semana de 22,85%. Estes dados evidenciam a relevância da prática regular de exercícios físicos, com 50 a 70% de intensidade, como importante auxiliar no controle agudo da glicemia em diabéticos sedentários. Silva e Lima [15] também analisaram uma sessão mista de exercícios aeróbios e exercícios resistidos com dez semanas de duração em indivíduos diabéticos tipo 2 com idades entre 45 e 75 anos, sendo quatro sessões por semana de 60 minutos. 40 minutos de exercícios aeróbios com intensidade de 50 a 80% encontrou uma média de 9,5% no pré-teste e no pós-teste 8,5% na queda da glicemia capilar, concluindo que um programa de exercício físico regular, de intensidade moderada, auxilia no controle glicêmico do indivíduo com DM2, tratado ou não com insulina. Em contrapartida os resultados encontrados no presente estudo foram mais positivos, pois encontramos uma queda da glicemia no pré-teste de 12,21% na quinta semana e no pós-teste de 22,85% na sexta semana, com uma intensidade de 60 a 70% da carga máxima e só utilizamos exercícios resistidos para grandes grupos musculares. Cambri et al. [14] utilizaram uma carga máxima semelhante, mas equilibrou mais as sessões de treinamento entre aeróbio e anaeróbio. A glicemia capilar teve uma queda em ambos os estudos, mas a sessão mista teve um resultado mais expressivo e mais próximo ao outro estudo de Cambri et al. [13] que só utilizou exercícios resistidos e observamos os resultados na fase aguda. Goldenberg [16] realizou uma pesquisa da prevalência do diabetes na cidade de São Paulo em 1996 que apontou uma maior prevalência entre as mulheres, com 5,7%, e os homens de 3,5%. Em 2003, realizou outro estudo e não encontrou diferenças significativas entre os sexos [17]. Ao observar nossos resultados, o grupo foi composto por 71,42% de mulheres e 28,57% de homens, confirmando a maior incidência de diabetes tipo 2 no sexo feminino. Em relação à queda da glicemia capilar, o programa de treinamento resistido teve resultados mais significativos no treinamento de menor intensidade, 50% de carga máxima, para os homens resultou em 17, 34% e para as mulheres 10,37%, enquanto que no treinamento de maior intensidade, 70% de carga máxima, não houve diferença significativa. Conclusão Verificou-se que a intensidade do treinamento possui uma correlação linear e positiva, com efeito hipoglicêmico em diabéticos tipo 2; em relação ao gênero, intensidades menores possuem uma influência relevante no sexo masculino. É importante ressaltar que devem ser realizadas novas pesquisas com o objetivo de analisar a queda da glicemia capilar em diabéticos tipo 2. Referências 1. Lima AV, Silva EG. Benefícios dos exercícios aeróbios e resistidos em portadores de diabetes mellitus tipo 2 [TCC]. São Paulo: Uniítalo; 2008. 2. Simões JAR, Mendonça KS, Silva RRB. Treinamento anaeróbico em indivíduos diabéticos. Revista Digital Vida e Saúde 2002;1(1). 3. Cardoso LM, Ovando RGM, Silva SF, Ovando LA. Aspectos importantes na prescrição do exercício físico para p diabetes mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício 2007;1(6):59-69. 4. Ministério da Saúde. Anuário Estatístico de Saúde do Brasil. São Paulo: Ministério da Saúde; 2006. 5. Grillo MFF, Gorini MIPC. Caracterização de pessoas com Diabetes Mellitus Tipo 2. Rev Bras Enferm 2007;60(1):49-54. 6. Mclellan KCP, Barbalho SM, Cattalini M, Lerario AC. Diabetes mellitus do tipo 2, síndrome metabólica e modificação no estilo de vida. Rev Nutr 2007;20(5):515-24. 7. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):319-24. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 8. Mendonça TT, Ito RE, Bartholomeu T, Tinucci T, Forjaz CLM. Risco cardiovascular, aptidão física e prática de atividade física de idosos de um parque de São Paulo. Rev Bras Ciênc Mov 2004;12(2):19-24. 9. Fleck SJ, Kraemer WJ. Treinamento de força muscular. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. 10. IPAQ. Questionário Internacional de Atividade Física. [citado 2011 Jun 20]. Disponível em: URL: http//www.celafiscs. institucinal 11. Martinez MC. As relações entre a satisfação com aspectos psicossociais no trabalho e a saúde do trabalhador [Dissertação]. São Paulo: Programa de Pós- Graduação do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; 2002. 12. Mcardle WD. Fisiologia do Exercício. Energia, Nutrição e Desempenho Humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. 199 13. Cambri LT, Santos DL. Influência dos exercícios resistidos com pesos em diabéticos tipo 2. Motriz 2006;12(1):33-41. 14. Cambri LT, Santos DL. Efeito agudo e crônico do exercício físico no perfil glicêmico e lipídico em diabéticos tipo 2. Motriz 2007;13(4):238-48. 15. Silva CA, Lima WC. Efeito benéfico do exercício físico no controle metabólico do diabetes mellitus tipo 2 a curto prazo. Arq Bras Endocrinol Metab 2002;46(5):550-56. 16. Goldenberg P, Franco LJ, Pagliano H, Silva RS, Santos CA. Diabetes mellitus auto-referido no município de São Paulo: prevalência e desigualdade. Cad Saúde Pública 1996;12(1):37-45. 17. Goldenberg P. Prevalência de diabetes mellitus: diferenças de gênero e igualdade entre os sexos. Rev Bras Epidemiol 2003;6(1):18-28. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 200 ARTIGO ORIGINAL Importância do serviço de avaliação física: a percepção do usuário de musculação em academias de ginástica do Rio de Janeiro Importance of physical assessment: perception of bodybuilding users in fitness centers of Rio de Janeiro Luiz Felipe Taranto Sinforoso*, Paulo Cesar Nunes-Junior, Ft., Esp.** *Professor de Educação Física, **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica e Especialista em Osteopatia Resumo O objetivo da pesquisa foi analisar a percepção do usuário de musculação em academias de ginástica no Rio de Janeiro em relação à importância do serviço de avaliação física. A questão central da pesquisa foi analisar tanto a parte técnica quanto a administrativa, e a influência desses setores na concepção dos usuários em relação à importância da avaliação e reavaliação física. Para a realização dessa análise foram testados 30 indivíduos de ambos os sexos e de idades variadas, divididos em dois grupos de 15, sendo o primeiro grupo de uma academia de ginástica na Barra da Tijuca e o segundo grupo de uma academia da Zona Sul do Rio de Janeiro. Os resultados obtidos demonstraram que a relevância dada ao serviço varia de usuário para usuário. Muitos se avaliam apenas para seu autoconhecimento; outros para o acompanhamento de sua evolução e para saberem sua composição corporal; e alguns para imposição de seus limites, mas a pesquisa aponta também que muitos não dão o mérito devido ao serviço. A interação entre os departamentos é essencial para o sucesso de todo esse processo, já que a divulgação e informação sobre o serviço são fatores fundamentais para que o aluno se motive a fazê-lo. Essa divulgação deverá ser feita pelos avaliadores, pela recepção, mas principalmente pelos professores de musculação e pelo serviço de marketing da academia. Sugere-se que seja disponibilizada uma grande grade de horários para que o aluno possa ser avaliado, uma estratégia de marketing bem definida e um diferencial no serviço prestado, fazendo com que o usuário agregue valor ao serviço e tornando-se um cliente mais assíduo. Abstract The aim of this study was to analyze the user’s perception of weight training in Rio de Janeiro fitness centers on the importance of physical assessment service. The central question was to analyze both technical and administrative matters, and the influence of these sectors in users concept about the importance of physical assessment and reassessment. In order to perform this analysis, 30 individuals of both sexes and various ages were tested and divided into two groups of 15, the first group of an academy in Barra da Tijuca and the second group of South Zone of Rio de Janeiro. The results showed that the importance given to the service varies from user to user. Many are evaluated only for their self-awareness, others to follow their evolution and to know their body composition, and some to know their limits, but the research also shows that many do not give due importance to the service. The interaction between departments is crucial to the success of this process, publicity and information about the service is an essential factor to motivate users to persist in doing the evaluation. This publicity should be made by the evaluators, the reception, but mainly by teachers of weight training and marketing of the service academy. We suggested that an evaluation time table should offer more options so that student can be assessed, as well as a well-defined marketing strategy and improvement in quality of service. Thus users can add more value to the service and becoming a more frequent customer. Key-words: perception, physical evaluation, marketing. Palavras-chave: percepção, avaliação física, marketing. Recebido em 15 de agosto de 2012; aceito em 10 de dezembro de 2012. Endereço de correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Praça Saenz Pena, 55/212, 20520-090 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Introdução A avaliação funcional é um componente indispensável para a elaboração de um correto e eficiente programa de exercícios. Para uma boa avaliação física temos de analisar muitas variáveis, como: antropométricas, morfológicas, análise postural, avaliação cardiorrespiratória, avaliações metabólicas e neuromusculares; avaliações nutricionais, aspectos psicológicos e sociais. Associando a identificação de parâmetros pessoais de cada um com todas as outras variáveis é possível conseguir descobrir uma ou mais atividades prazerosas para que o indivíduo com elas se identifique e alcance os objetivos pretendidos sem ser contrariado. O processo de avaliação em Educação Física é concebido como um meio para atribuição de notas ou conceitos. Porém este não é seu único nem mais importante papel. O resultado das técnicas empregadas e dos instrumentos utilizados, para avaliar determinadas habilidades ou características do indivíduo, é fundamentado em bases científicas, originando, desta forma, o início de um trabalho com atividades físicas de maior credibilidade. Inserida no ambiente fitness, a musculação é uma das atividades que mais exige respeito às limitações, individualidades biológicas e morfo-funcionais das pessoas em função de ser uma atividade dimensionada com base estritamente nas características individuais de seus praticantes [1]. Na área do movimento humano a avaliação tem o papel de fornecer respostas necessárias à elaboração de um correto programa de atividade física, ou seja, para que uma atividade física atinja seu objetivo é necessário que a carga de trabalho motor seja individualizada, ou seja, para que seja benéfica ao praticante é necessária uma avaliação física voltada ao objetivo individual, com variáveis que forneçam dados na elaboração e reajuste dos programas de atividade física. Quanto mais informações referentes ao avaliado, melhor será a prescrição do treinamento físico [2]. A eficiência do departamento de avaliação é de vital importância para o sucesso de todo o trabalho a ser desenvolvido, com a precisão adequada de todas as informações necessárias para uma boa descrição, direcionamento e orientação dos treinamentos. Uma avaliação bem feita é aquela em que se utilizam critérios e protocolos bem selecionados, fornecendo dados quantitativos e qualitativos que indique, através de análises e comparações, a real situação em que se encontra o avaliado. O objetivo mais comum das medidas e avaliação é determinar o progresso dos indivíduos. Medindo-se no começo e no fim do planejamento, é possível comparar marcas individuais para mostrar a mudança de comportamento do indivíduo [3]. As empresas prestadoras de serviços em saúde somente conseguem resultados que se alinhem aos objetivos de seus clientes se forem capazes de conhecê-los e antecipá-los o que é possível mediante processo de avaliação. 201 A orientação ao aluno da importância da avaliação física deve ser feita de forma que não o deixe com nenhuma dúvida que esse procedimento é fundamental para sua saúde. Para que isso aconteça é necessário que haja uma sintonia adequada entre os setores técnicos e administrativos, a fim de que todos os setores da estrutura estejam igualmente informados sobre a importância e os passos da realização da avaliação física. Assim como é necessário que, principalmente, os professores e técnicos tenham conhecimento detalhado de todos os passos envolvidos na avaliação e possam utilizá-la adequadamente [1]. O objetivo desta pesquisa é descrever qual o entendimento que usuários de academia de ginástica tem em relação à importância do serviço de avaliação funcional. fundamentação teórica Avaliação funcional é o instrumento no processo de obtenção, aplicação e delineação de informações descritivas de julgamento sobre a capacidade física, funcional e de proporções morfológicas que visam dar um perfil global do condicionamento físico do aluno avaliado para interpretação e análise dos dados obtidos [1]. Os principais objetivos da avaliação funcional são o de classificar, selecionar e motivar os indivíduos, determinando o progresso dos mesmos [3]. Antes de começar ou recomeçar uma atividade física, deve-se realizar uma avaliação funcional, pois permite melhor conhecimento do estado da pessoa e dá o direcionamento correto para o trabalho a ser feito [4]. A partir desses dados, de acordo como estado geral de aptidão física do aluno cabe ao avaliador indicar o material necessário para a elaboração de um programa de avaliação física e exercícios físicos, atingindo assim os objetivos do aluno [2]. A existência da reavaliação funcional é importante quando objetiva observar o desempenho, pois se a habilidade inicial do indivíduo não for medida, então não se terá conhecimento sobre o seu desempenho no programa. Caso não for medida tanto no começo como no final do programa, os métodos e materiais empregados permanecerão desconhecidos [3]. A avaliação funcional determina o diagnóstico inicial da pessoa e o acompanhamento periódico da evolução dos resultados obtidos, buscando sempre a melhor estratégia e ergonomia para alcançá-los [4]. Em geral quando o termo avaliação é mencionado, pensa-se em administrar testes e atribuir graus aos indivíduos. Dependendo do objetivo, o avaliador pode lançar mão de três tipos de avaliação, a avaliação diagnóstica, formativa e somativa [3]. Define-se a avaliação diagnóstica como uma análise dos pontos fortes e fracos do indivíduo, em relação a uma determinada característica [5]. Esse tipo de avaliação ajuda o profissional a calcular as necessidades dos indivíduos e elaborar o seu planejamento de atividades, visando facilitar o processo de assimilação da tarefa proposta [3]. 202 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 A avaliação formativa informa sobre o progresso dos indivíduos, no decorrer do processo ensino-aprendizagem dando informações tanto para os indivíduos quanto para os profissionais, que os orienta se estão ensinando o conteúdo certo, da maneira certa, para as pessoas certas e no tempo certo [6]. Esta avaliação deve ser realizada quase que diariamente, quando a performance do indivíduo é obtida, apontando e corrigindo os pontos fracos até atingir o objetivo proposto [3]. A soma de todas as avaliações realizadas no fim de cada unidade do planejamento, com o objetivo de obter um quadro geral da evolução do indivíduo é classificada de avaliação formativa [5]. Deve-se lembrar sempre da relação existente entre teste, medida e avaliação [3]. Teste é um instrumento, procedimento ou técnica usada para se obter uma informação [7]. Através dos testes que iremos determinar os valores numéricos das medidas [5]. A medida é o processo utilizado para coletar as informações obtidas pelo teste, atribuindo um valor numérico aos resultados [8]. As medidas devem ser precisas e objetivas, podendo ser coletadas de duas formas, a formal a qual a pessoa sabe que irá ser testada e a informal, a pessoa não sabe que será testada [3]. A avaliação inclui teste e medidas, entretanto, avaliar é muito mais amplo que simplesmente testar e medir [5]. A avaliação é uma tomada de decisão determinando a importância ou o valor da informação coletada, com a finalidade de traçar planos e administrar tal planejamento para se atingirem metas tangíveis [6]. Quando se trata de avaliação para academia, deve-se seguir uma ordem nos testes, iniciando-se com a anamnese, análise postural, avaliação cardiorrespiratória, avaliação neuromotora e a avaliação da flexibilidade [9]. Anamnese A anamnese é o questionário detalhado sobre as condições do avaliado. Nele podemos encontrar dados sobre a identificação do cliente, histórico de atividade física pregressa, histórico de atividade física atual, histórico de doenças pregressas, histórico de doenças atuais, atividades correlatas que influenciavam ou influenciam na prática de atividade física, histórico familiar de doenças, procedimentos cirúrgicos, utilização de medicamentos, fumo ou bebidas alcoólicas, hábitos nutricionais, disponibilidade de horários para prática de atividades físicas preferidas, aferição da frequência cardíaca de repouso e aferição da pressão arterial de repouso [4]. Além da anamnese, para maior segurança do avaliado outros procedimentos devem ser seguidos no pré-teste, como a análise do risco cardiovascular e classificação do risco da doença [10]. As principais investigações epidemiológicas têm identificado como risco de doenças cardiovasculares a hipertensão, as dislipidemias e o hábito de fumar. Como fatores secundários, tem-se o sexo, a idade, a falta de atividade física, o excesso de gordura, o diabetes mellitus, o estresse emocional e o histórico familiar [7]. Avaliação postural Por meio da avaliação postural, realizada de forma objetiva e estática, pode-se avaliar e registrar a exigência de possíveis desvios posturais ou desequilíbrios músculo-esqueléticos do esquema corporal do indivíduo [4]. É importante a visualização de possíveis desalinhamentos posturais ou atitudes posturais incorretas, amenizando sintomas de sobrecarga mecânica, muscular e relacionada a ligamentos, analisando possíveis problemas estruturais e funcionais relacionando a dependência entre exercícios físicos e problemas posturais, podendo assim, indicar ou contra indicar exercícios e por fim avaliar desequilíbrios musculares [1]. Para caracterizarmos um desvio postural devemos ter o conhecimento do que é a postura correta [8]. A boa postura seria aquela que o indivíduo em posição ortostática, requer pequenos esforços de sua musculatura e ligamentos para manter a posição ereta, encontrando melhor equilíbrio estático [1]. O exame subjetivo é uma técnica eficiente para aplicação da avaliação postural. Utiliza-se o fundo de uma parede clara e lisa, de preferência branca, com uma distância de três a cinco metros entre avaliador e avaliado, deixando a pessoa avaliada mais despida possível e descalça. Observando-se a frente, costas, perfil e antero-flexão da coluna, deixando o avaliado na posição mais natural possível, com um pequeno afastamento de pés e olhar no horizonte. Segue-se a ordem de avaliação de baixo para cima (pés, joelhos, coluna, escápula, ombro e cabeça) [4]. Uma avaliação postural requintada deve ser empregada nos alunos com deficiências marcantes. Neste tipo de avaliação, emprega-se um painel de vidro quadriculado, em centímetros, chamado de cimetógrafo. O aluno na posição ereta, com os pés centrados pela linha mediana do aparelho, na visão de frente e de costa no plano frontal. A marcação dos pontos de reparo deve ser prévia. A marcação dos pontos no painel é feita através de um visor que corre na vertical perpendicular ao solo, entre o painel e o aluno [6]. Técnicas mais modernas também são utilizadas muitas vezes na realização de uma avaliação postural, a cinemetria bidimensional e tridimensional são procedimentos que analisam a postura por meio de uma imagem coletada por uma câmera fotográfica ou de vídeo [1]. Avaliação antropométrica A avaliação antropométrica é a obtenção dos dados relacionados ao corpo do avaliado. São os diâmetros ósseos, perímetros (circunferências) corporais e dobras cutâneas. Por meio dessas medidas, pode-se observar a densidade óssea, o percentual de gordura, o somatotipo, verificar assimetria entre os seguimentos corporais e a determinação da composição corporal [4]. As medidas antropométricas são classificadas em medidas lineares dividindo-se em circunferenciais, longitudinais, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 tranversais, ânteroposteriores (perímetros, diâmetros ósseos, dobras cutâneas, altura), medidas de superfície, que utiliza nomogramas para o cálculo da surpefície corporal, e medidas de massa para a mensuração do peso corporal do avaliado [6]. Os principais instrumentos para a realização das técnicas antropométricas são a balança, o estadiômetro, o paquímetro, o compasso de dobras cutâneas e a fita métrica [3]. A balança é um instrumento para aferir a massa corporal podendo ser digital e analógica, o estadiômetro sendo utilizado para aferir a estatura, possuindo uma haste móvel ou fixa com a graduação feita em milímetros, enquanto o paquímetro é utilizado para aferir os diâmetros ósseos, com o formato reto ou de pontas curvas, já o compasso de dobras cutâneas como o próprio nome se refere é utilizado para a aferição das dobras cutâneas, sendo também conhecido como adipômetro ou plicômetro, por fim a fita métrica na qual é utilizada para aferir as circunferências ou perímetros [4]. O índice de massa corporal, o índice cintura-quadril, os diâmetros ósseos e as medidas circunferenciais são os principais índices antropométricos a serem avaliados [4]. O índice de massa corporal (IMC) ou índice de Quetelet representa um procedimento extremamente prático para avaliar a questão do sobrepeso de sujeitos não atletas. Basta obter o registro do peso corporal e da estatura para desenvolver algumas conclusões gerais sobre a questão da obesidade [10]. O uso do IMC deverá ser aplicado para adoção de conceitos gerais. Pode ser considerado como índice rudimentar indicador de obesidade [6]. O Índice de Cintura Quadril (ICQ) vem sendo aplicado no campo da Nutrição, mas também poderá ser utilizado em Educação Física quando não estiver disponível. O ICQ é recomendado como um meio de estimar a distribuição de gordura e os riscos associados de morbilidade e mortalidade. Para sua aplicação é necessária a mensuração do perímetro da cintura e do quadril, ambos em centímetros [5]. Os diâmetros ósseos são medidas lineares transversais usadas para determinar a compleição física, para fins ergonômicos, de assimetria aplicada à área desportiva, determinação do somatotipo e estimativa do potencial de ganho de massa magra em várias populações [2]. Os diâmetros biepicondiliano umeral (cotovelo), biestilóide radioulnar (punho) e biepicondiliano femoral (joelho) são os mais utilizados em academias de ginástica [4]. As medidas de circunferência, também conhecidas como perímetros são aferições antropométricas de um segmento corporal perpendicular ao eixo longitudinal do mesmo segmento [4]. Os perímetros são importantes para avaliar as assimetrias musculares e modificações no volume muscular decorrentes de programas de exercícios [10]. Composição corporal O acompanhamento da composição corporal representa um meio importante no controle de um treinamento tanto 203 para atletas quanto para não atletas. O cálculo da composição corporal permite várias interpretações dependendo do profissional de saúde [3]. Existem diversas maneiras para a inferência da composição corporal [6]. Cada uma delas pode apresentar resultados diferenciados quando aplicadas a um mesmo indivíduo ou a grupos populacionais. Logo se deve escolher a equação considerando o perfil do indivíduo ou o grupo populacional no qual ela será aplicada [5]. Nas reavaliações a mesma equação deverá ser aplicada [4]. Os percentuais de gordura do homem e da mulher de referência são 15 e 27% respectivamente [10]. Os métodos mais utilizados nas academias de ginástica são os métodos antropométricos, que consistem de medidas, peso, altura, circunferências musculares e dobras cutâneas, além da bioimpedância [10]. O método de dobras cutâneas mede indiretamente a espessura do tecido adiposo subcutâneo. Esse método é utilizado para estimar a densidade corporal total a fim de calcular a gordura corporal relativa [7]. As estimativas da densidade corporal podem ser feitas com precisão razoável, baseando-se na mensuração da gordura subcutânea refletida pela espessura das dobras cutâneas [4]. As dobras cutâneas mais utilizadas nos protocolos são a abdominal, biciptal, coxa, subescapular, suprailíaca, peitoral, panturrilha, tricipital, axilar média e supra-espinhal [4]. Atualmente existem dezenas de cálculos de composição corporal devidamente validados cientificamente, entretanto é muito difícil indicar a melhor fórmula. Isto é decorrente da variedade da distribuição e na composição da gordura subcutânea, que devemos levar em consideração quatro fatores, a idade, o sexo, a etnia e o condicionamento físico. Evidentemente existirá sempre um protocolo mais adequado dependendo do tipo de população a ser estudada [3]. A impedância vem tornando-se bastante utilizada no estudo da composição corporal devido à simplicidade das medidas, ao pouco desconforto ao qual o avaliado é submetido, à facilidade de realizar as avaliações [10]. A análise da composição corporal pela bioimpedância tem como base a medida da resistência total do corpo à passagem de uma corrente elétrica [4]. O principal objetivo da bioimpedância é estimar a massa livre de gordura e a água corporal total em grupos de indivíduos aparentemente saudáveis [10]. Recomenda-se, para a utilização desse método, não utilizar medicamentos diuréticos nos sete dias antes do teste, manter-se em jejum pelo menos quatro horas antes do teste, não ingerir bebidas alcoólicas 48 horas antes do teste, não realizar atividade física 24 horas antes do teste, urinar pelo menos 30 minutos antes do teste e permanecer deitado, em repouso, de cinco a dez minutos antes da execução do teste [4]. A somatotipologia é uma técnica classificatória da composição corporal humana de acordo com determinadas características físicas que diferenciam os seres humanos entre si [4]. O somatotipo expressa a quantificação de componentes primários e depende fundamentalmente da carga genética, podendo ser modificado pelo meio ambiente e pelo estilo 204 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 de vida. Os componentes do somatotipo são a endomorfia, mesomorfia e ectomorfia [5]. A endomorfia é o primeiro componente indicando predominância do sistema vegetativo e tendência à obesidade. A mesomorfia como o segundo componente caracterizando-se por maior massa musculoesquelética e a ectomorfia como terceiro componente apresentando predomínio de formas lineares, correspondendo aos tipos longilíneos [3]. Avaliação cardiorrespiratória Na avaliação cardiorespiratória examina-se a função cardiorrespiratória do cliente, que é a habilidade de realizar atividades físicas, de caráter dinâmico que envolva grande massa muscular, com intensidade de moderada a alta, por períodos prolongados de tempo. Depende do estado funcional dos sistemas respiratório, cardiovascular, muscular e suas relações fisiológicas e metabólicas. A aptidão cardiorrespiratória de qualquer indivíduo refere-se à capacidade funcional de seu sistema de absorção, transporte, entrega e utilização de oxigênio aos tecidos durante exercícios físicos [4]. Os testes de esforço podem ser divididos em máximo, levando o indivíduo à exaustão com esforços acima de 90% da FCmáx e submáximo, gerando um esforço entre 75% e 90% da FCmáx, ou em direto, que mede o VO2 máximo, considerando o consumo direto de oxigênio (ergoespirometria), e indireto, que estima o VO2máximo através da frequência cardíaca, distância percorrida, tempo e carga [10]. A escolha do tipo de teste máximo e submáximo deve ser feito de acordo com o tipo de indivíduo, disponibilidade de equipamento e pessoal apropriado [10]. Para a realização do teste máximo há a necessidade de supervisão médica e equipamento de emergência. Em geral o custo é mais alto, exige mais tempo e esforço do avaliado, além da maior sensibilidade no diagnóstico de doença arterial coronariana em indivíduos assintomáticos. Já o teste submáximo é facilmente aplicado, possui um custo mais baixo, exige um menor tempo e esforço do avaliado e a predição do VO2 máximo através da resposta da frequência cardíaca. Por isso, é o mais utilizado em academias de ginástica [4]. O consumo máximo de oxigênio, o MET e as Kcal, são as principais variáveis metabólicas a serem utilizadas na aplicação de uma avaliação cardiorrespiratória [3]. O VO2 máximo é a quantidade de oxigênio que um indivíduo consegue captar do ar alveolar, transportar aos tecidos pelo sistema cardiovascular e utilizar ao nível celular na unidade de tempo. A apresentação dessa variável é feita de duas formas; capacidade aeróbia absoluta e relativa. Pode ser expressa em valores l/min e ml/kg. min, dependendo se o fator massa corporal está relacionado ao exercício [7]. O MET representa o consumo de oxigênio em repouso. É um parâmetro fisiológico, muito comum na avaliação funcional, que expressa o gasto metabólico do organismo [4]. Um MET equivale a 3,5 ml de oxigênio consumidos por quilogramas de massa corporal por minuto. As quilocalorias são representas pela quantidade de energia gasta em uma determinada atividade. Apresenta uma íntima relação com o VO2máx em l.min, sendo representada na seguinte fórmula : 5 kcal = 1 l.min VO2 [3]. Durante a avaliação cardiorrespiratória, é necessário trabalhar com várias fórmulas que permitam um subsídio informativo sobre as condições em que se apresenta o avaliado, tais como cálculo para determinação do VO2 máximo, cálculos para determinação da frequência cardíaca máxima, o índice aeróbico funcional (FAI) e o cálculo duplo produto [3]. O FAI é um indicador em termos percentuais de quanto o avaliado está acima ou abaixo de seu VO2 máximo esperado. Com este resultado, fica mais simples demonstrar ao avaliado o grau de sua condição física. Um FAI negativo indica que o indivíduo está muito bem condicionado, pois seu VO2 máximo está acima do VO2 máximo que é previsto em relação ao sexo e a idade [3]. O duplo produto é um importante parâmetro metabólico que auxilia no cálculo estimativo do consumo máximo do oxigênio do miocárdio. O duplo produto permite estabelecer uma correlação linear entre o produto da FC e pressão arterial sistólica máxima, com o consumo do oxigênio do miocárdio [10]. Durante a realização de um teste de esforço, torna-se necessário, para uma perfeita segurança do avaliado, a constante mensuração e análise de variáveis como IPE (índice de percepção de esforço), frequência cardíaca e pressão arterial [2]. O IPE também conhecido como escala de Borg, como uma escala de valores com os quais o avaliado informa a sensação de intensidade de trabalho que lhe está sendo imposto durante a realização de um teste ergométrico [4]. O IPE tem demonstrado ser um indicador confiável do nível do esforço físico, pois fornece ao avaliador um dado objetivo por meio do qual pode comparar o grau relativo de fadiga de um teste para o outro. Para a utilização do IPE, é necessário que pergunte ao avaliado como ele está sentido o esforço realizado [2]. Alguns cuidados devem ser feitos para a precisão da aferição da pressão arterial, o local do braço onde o aparelho será colocado deve estar sem vestuário e o braço em leve flexão, abduzido e relaxado. O aparelho deve ser colocado (2,5 cm) acima da dobra interna do cotovelo, o estetoscópio posicionado nos ouvidos e a campânula apoiada na artéria da dobra interna do cotovelo. Insuflar o manguito até aproximadamente, 180mmHg e, depois, desinsuflar gradativamente o aparelho e acompanhar com o estetoscópio a oscilação do som da artéria braquial, do mais forte até desaparecer. Neste momento registram-se, respectivamente, as pressões sistólica e diastólica [9]. O método de palpação para a aferição da frequência cardíaca como o nome já diz é feito contando os batimentos cardíacos, utilizando os dedos, exceto o polegar, para apalpar a artéria radial ou carótida. Contando os batimentos durante 6, 10 ou 15 segundos e multiplicando por 10,6 e 4 respectivamente, obtém-se a frequência cardíaca [2]. A aferição da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 frequência cardíaca na artéria radial, pela possibilidade da aferição na artéria carótida em mascarar a mensuração adequada da FC em função da apalpação da mesma [4]. Existem critérios para a interrupção do teste de esforço em adultos de baixo risco, como o início de angina, a queda significativa da (20mmHg) na pressão arterial sistólica ou ausência de elevação na pressão sistólica com o aumento da intensidade do exercício, a elevação excessiva da pressão arterial (pressão sistólica > 260mmHg ou pressão diastólica > 115mmHg), sinais de perfusão precária (tonteira, confusão, palidez, cianose, náuseas ou pele fria e úmida), a ausência de aumento na FC com uma maior intensidade de exercício, a modificação perceptível do ritmo cardíaco, o indivíduo pedindo para parar, algumas manifestações físicas ou verbais de fadiga extrema e falha do equipamento de teste [9]. A avaliação do consumo máximo de oxigênio pode ser feita através da utilização de diversos ergômetros, instrumentos que medem a capacidade de trabalho, sendo os mais utilizados o banco, a bicicleta e a esteira rolante [5]. As principais vantagens da utilização do banco como ergômetro incluem a independência de luz elétrica, seu baixo custo de aquisição, sua facilidade de transporte, além de não necessitar de qualquer tipo de calibração. É indicado para estudo de grandes populações. O metrônomo é um acessório importante durante a realização de um teste utilizando o banco para assegurar um ritmo ideal de execução por parte do avaliado. Para o cálculo do trabalho físico deve-se considerar a altura do banco, peso corporal, ritmo de trabalho. A altura do banco varia conforme o protocolo escolhido, encontrando-se valores entre 4 e 52 cm [3]. As principais vantagens do cicloergômetro são pequeno aumento de carga, por ser a forma mais fácil de prescrição de exercícios, ter maior facilidade de registro do ESG, da pressão arterial e da ausculta durante o exercício físico e a possibilidade de ser utilizado em diferentes posições. Além de ser muito fácil de ser transportado, mas tem como desvantagem o fato de envolver uma menor massa muscular durante o exercício que a esteira, obrigando em geral o avaliado a terminar o teste sem atingir um VO2 máximo mais elevado, fadiga precoce do quadríceps femoral, antes que o nível adequado de exercício tenha sido atingido [5,10]. A esteira é um ergômetro sofisticado, o mecanismo básico de funcionamento é por uma esteira móvel onde o avaliado se desloca e pode ser controlada por meio externo em varias velocidades, desde uma caminhada lenta até uma corrida com alta intensidade. As variáveis de sobrecargas incluem: velocidade e angulo de inclinação [2]. A principal vantagem de usar a esteira é por ser um tipo comum de exercício (caminhar/correr). Utiliza-se uma massa muscular maior, impõe-se para o mesmo VO2, menor stress ao sistema cardiovascular, ou seja, menores níveis de duplo produto, pressão arterial media e frequência cardíaca [4], porém a desvantagem desse ergômetro é o custo financeiro de aquisição e a manutenção que são elevados, com maior dificuldade de registro do ECG e 205 pressão arterial, seu transporte dificultado pelo peso e dimensão e o peso corporal interferindo no trabalho realizado [3]. Avaliação neuromotora Os testes neuromotores são a habilidade de realizar atividades que requeiram coordenação e destreza motora [11]. Podem ser estabelecidos objetivos reais e significativos, programas seguros e efetivos, baseados nestes testes [2]. O dinamômetro manual é o instrumento que mede a força de preensão manual. O aluno deverá estar na posição de pé, a cabeça deve estar na horizontal. O tamanho da pegada deve ser ajustado de tal forma que a falange mediana do dedo médio esteja no ângulo reto. O antebraço deve estar posicionado em qualquer ângulo entre 90 e 180 graus em relação ao braço, que deve estar em posição vertical. O punho e o antebraço devem estar em leve pronação. O aluno deve exercer uma força máxima e breve, e terá de duas a três tentativas alternadas com cada mão, com intervalos de trinta segundos [2]. A força muscular dinâmica é geralmente medida através da carga máxima levantada num único movimento. Os testes de 1-RM, que são os mais utilizados para a avaliação da força muscular numa ação dinâmica, envolvem procedimentos de tentativa e erro, nos quais resistências cada vez maiores são vencidas pela força do músculo/grupamento muscular até que a capacidade de executar o movimento seja excedida. Deverá ser feito um aquecimento geral (3 – 5 minutos de atividades leves que envolvam os grupamentos musculares que serão testados, mais uma seção de alongamentos dos mesmos grupamentos), após um aquecimento específico (8 repetições do exercício, usando aproximadamente 50% de 1-RM estimada, depois mais 3 repetições do exercício com aproximadamente 70% de 1-RM estimada) Após o aquecimento, aumentar progressivamente a carga até que apenas uma repetição seja alcançada. Deve-se esperar de 3 a 5 minutos, entre as tentativas e não se deve realizar mais de três tentativas para cada exercício [10]. O teste de resistência muscular localizada pode ser medido e avaliado de três formas, a primeira fixando-se um tempo mais ou menos longo e medindo-se o número de repetições realizadas, a segunda fixando-se um número grande de repetições e medindo-se o tempo gasto para a realização destas repetições e a terceira contando-se o número máximo de repetições que a pessoa avaliada consegue realizar de forma contínua até a exaustão [4]. O teste de flexão de braço é realizado com o avaliado em quatro apoios, corpo em extensão e cotovelos estendidos. A flexão dos cotovelos é feita até que fiquem ao nível dos ombros, voltando à posição inicial ao executar a extensão dos cotovelos. Mede-se o número máximo de repetições corretas. Para as mulheres, esse teste deverá ser feito com os joelhos no chão [10]. O teste abdominal é realizado pelo avaliado em decúbito dorsal, pernas flexionadas, joelhos formando um ângulo de 90 graus, planta dos pés no solo, pés fixados pelo avaliado e mãos 206 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 na nuca. A flexão da coluna é feita até encostar os cotovelos nos joelhos, voltando a posição inicial até que as escápulas encostem no chão. Mede-se o número de repetições corretas em um minuto [5]. Com o teste de repetições máximas consegue-se uma estimativa de 1-RM a partir da carga levantada e do número de repetições realizadas durante um teste submáximo. Em homens deve-se atentar para o número de repetições que não deverá ser maior que 10 [10]. Avaliação da flexibilidade A avaliação da flexibilidade é a habilidade de mover as articulações através da máxima faixa de amplitude [8]. A avaliação da flexibilidade é dividida em testes angulares, testes lineares e testes adimensionais [2]. Os testes angulares são aqueles que possuem resultados expressos em ângulos (formados entre dois seguimentos) [4]. A goniometria é uma técnica eficiente para a determinação da amplitude de uma articulação. O goniômetro é colocado no fulcro da articulação, uma haste é posicionada, paralelamente, sobre a peça óssea, que permanecerá imóvel durante o teste, enquanto a outra haste é colocada sobre a peça, que será movimentada. A leitura da medida é feita no maior ângulo articular [10]. O flexómetro e o inclinómetro são técnicas muito utilizadas na mensuração da flexibilidade [8]. O flexómetro consiste em um mostrador de 360 graus e um ponteiro cuja amplitude articular é medida em relação à força da gravidade no mostrador e no ponteiro, onde o flexómetro deve ser amarrado ao segmento corporal a ser medido e o mostrador preso no grau zero em um extremo da amplitude articular. Depois que o cliente executar o movimento, o ponteiro deve ser preso no outro extremo da amplitude articular. O grau do arco pelo qual o movimento acontece é lido diretamente no mostrador. Já foram feitos testes para medir a amplitude nas articulações do pescoço, tronco, ombro, cotovelo, radioulnar, punho, quadril, joelho e tornozelo com o flexómetro [1]. O inclinômetro é um tipo de goniômetro que depende da gravidade, onde sua utilização é mais fácil do que o flexómetro e o goniômetro universal, pois ele é seguro pelas mãos no segmento corporal em movimento durante a medição e não tem que ser alinhado aos limites ósseos específicos [7]. Os testes lineares se caracterizam por expressar seus resultados em uma escala de distância [4]. O teste de sentar e alcançar é um teste eficiente para medir a flexibilidade do quadril, dorso e músculos posteriores dos membros inferiores. Nele, o avaliado tenta encostar a ponta dos dedos de ambas as mãos o mais longe possível, mantendo essa posição por alguns segundos, com os joelhos estendidos. O resultado é computado pela melhor das três tentativas executadas pelo avaliado [5]. Os testes adimensionais constituem-se na interpretação dos movimentos articulares, comparando-os com uma folha de gabarito [4]. O flexiteste é um dos testes adimensionais mais utilizados, que avalia a flexibilidade de cada articulação, de forma passiva máxima, após 20 movimentos das principais articulações do corpo, cada arco de movimento é representado por uma escala adimensional descontínua, variando de 0 a 4. Qualquer amplitude de movimento intermediária é considerada como valor menor [10]. As medidas são avaliadas de acordo com uma escala e o meio de obtenção de um panorama geral da flexibilidade de todo o corpo pode ser feito pelo somatório do grau da flexibilidade de todas as articulações. Todos os movimentos são realizados do lado direito e executados sem aquecimento. Inicia-se na posição zero até o momento do surgimento da dor ou de restrições ao movimento. Foram feitas duas adaptações do flexiteste visando facilitar a sua aplicação nas academias, utilizando-se de apenas oito movimentos de flexão, extensão e abdução de quadril, flexão e flexão lateral de tronco, extensão com adução posterior de ombro, adução posterior a partir da abdução de 180 graus do ombro e extensão posterior do ombro e para simplificar mais ainda. Hoje em dia as academias utilizam-se de quatro movimentos, o de flexão de quadril; flexão de tronco; adução posterior a partir da abdução de 180 graus do ombro, extensão com adução posterior de ombro. Adaptando-se para cada adaptação do flexiteste a tabela do índice geral de flexibilidade [4]. Aspectos administrativos A eficiência do departamento de avaliação é de vital importância para o sucesso de todo o trabalho a ser desenvolvido, com a precisão adequada todas as informações necessárias para uma boa descrição, direcionamento e orientação dos treinamentos [1]. As principais observações nesse setor são a qualidade do serviço, administração da logística e rentabilidade. A qualidade do serviço é fundamental para a satisfação do cliente. Possuindo programas específicos para a realidade de sua academia. A qualidade de serviço é a avaliação cognitiva de longo prazo, por parte dos clientes, sobre a entrega de um serviço de uma empresa e a satisfação do cliente como uma reação emocional de curto prazo ao desempenho específico de um serviço [12]. Os clientes experimentam vários tipos de satisfação ou descontentamento após cada experiência de serviço de acordo com a medida na qual suas expectativas foram atendidas ou ultrapassadas. Considerando que a satisfação é um estado emocional, suas reações pós-compra podem envolver raiva, insatisfação, irritação, indiferença ou alegria [13]. Clientes insatisfeitos ou indiferentes podem ser atraídos por concorrentes, já um cliente encantado é mais propenso a permanecer fiel a despeito de ofertas competitivas atraentes. A satisfação do cliente desempenha um papel particularmente crítico em ramos altamente competitivos, onde há uma enorme diferença entre a fidelidade de clientes meramente Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 satisfeitos e de clientes completamente satisfeitos ou encantados [12]. O papel das academias dentro do contexto da saúde apresenta um crescente ganho de importância, sendo que a confiabilidade deste setor parece apoiar-se na utilização de avaliações médicas e avaliações de desempenho físico. De modo geral, as academias possuem informações clínicas detalhadas do aluno, porém raramente tais dados são tratados com caráter epidemiológico [14]. A orientação ao aluno da importância da avaliação física deve ser feita de forma que não o deixe com nenhuma dúvida que esse procedimento é de extrema importância para sua saúde. Para que isso aconteça é necessário que haja uma sintonia adequada entre os setores técnico e administrativo, a fim de que todos os setores da estrutura estejam igualmente informados sobre a importância e os passos da realização da avaliação física. Assim como necessário que, principalmente, os professores e técnicos tenham conhecimento detalhado de todos os passos envolvidos na avaliação e possam utilizá-la adequadamente [1]. Muitas vezes as academias se deparam com alunos que são extremamente refratários ao exame por considerarem esse procedimento apenas uma forma a mais de aumentar a taxa de matrícula. Muitas vezes, o aluno tem certa razão, porque, provavelmente, já passou por esse procedimento em outro local e não conseguiu enxergar nenhuma utilidade [13]. A proposta é fazer com que o serviço nas academias seja mais rentável, disponibilizando formas de aumentar o faturamento de sua sala de avaliação física, realizando um diagnóstico cuidadoso para que se possa adaptar o serviço proposto à realidade do cliente e criar em conjunto a forma mais adequada para a execução do serviço. A proposta tem o objetivo sobre a estruturação e logística de operação de uma sala de avaliação funcional, como: Importância da avaliação funcional para o diferencial da academia observando a relação custo-benefício, relação de abrangência técnica com os profissionais; reter o cliente pela avaliação. Uma estratégia de descontos em relação aos preços estabelecidos deve ser adotada com cautela, pois dilui o preço médio recebido e reduz a contribuição de cada venda, mas apesar disso os descontos de preço seletivos direcionados a públicos específicos, podem atrair novos clientes. Os descontos por volume às vezes consolidam a fidelidade de clientes mais assíduos. Outra maneira de utilizar descontos é oferecendo aos clientes existentes um desconto na próxima compra. A precificação baseada em benefícios é uma estratégia para relacionar os preços com os benefícios que os clientes estão procurando ao utilizarem o serviço, aumentando assim a aderência de novos clientes [12]. A decisão pela terceirização depende dos seguintes aspectos, disponibilidade de recursos para a compra de equipamentos que são na sua maioria onerosos; necessidade de agilidade no processo de implantação; disponibilidade no “know-how” e profissionais especializados no mercado [1]. A máxima 207 cautela deve ser tomada nesta escolha, a equipe deve reunir características básicas comprovadas de idoneidade, confiança e conhecimento técnico e profissional. Qualquer modificação no serviço da terceirização envolve alterações contratuais, portanto, é aconselhável muita pesquisa e reflexão. Podemos concluir que para que qualquer terceirização, a excelência no atendimento deve ser a premissa básica para o sucesso do empreendimento [1]. As vantagens da terceirização da sala de avaliação são os programas de retenção de clientes, profissionais constantemente treinados, as instalações modernas, com infraestrutura apropriada para o bem-estar do cliente e equipamentos de última geração, flexibilidade na abertura de horários para avaliação, com custo zero para a academia e academia lucrando financeiramente com o serviço, podendo-se avaliar todo tipo de público, com laudos coloridos e pastas personalizadas para o cliente, podendo haver palestras internas para professores e clientes da academia, montagem de serviços opcionais e entrega dos laudos para o cliente logo após a avaliação realizada, fazendo assim da sala de avaliação da academia um negócio lucrativo [1]. Material e métodos Este estudo é do tipo exploratório descritivo de campo sobre o tema percepção do cliente de academia de ginástica do Rio de Janeiro em relação a importância da avaliação funcional. Foi realizada com um grupo de 30 alunos, divididos em dois grupos, 15 alunos de uma academia de ginástica localizada na Barra da Tijuca e 15 em uma academia de ginástica, localizada em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O instrumento da pesquisa foi um questionário para avaliar a percepção do usuário de academia de ginástica em relação à importância do serviço de avaliação física e funcional. Os dados foram coletados no setor de musculação nas academias citadas, em horários distintos com intuito de fazer uma análise de um público mais diversificado possível. Foram utilizadas técnicas de estatística descritiva, através de distribuição de referência em valores absolutos e relativos, média e desvio padrão. Resultados e Discussão A pesquisa foi dividida em dois grupos, sendo 50% dos dados obtidos na academia localizada na Barra da Tijuca (academia 1) e 50% dos dados obtidos na academia localizada em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro (academia 2). Entre os entrevistados a idade média calculada foi de 29,00 ± 8,26 anos. Observou-se que na academia 1 a média etária foi igual a 28,27 ± 7,33 anos e na Academia 2 a média foi igual a 29,73 ± 9,3 anos. O cálculo do tempo médio de prática de musculação em academia de ginástica mostrou que os respondentes já praticavam essa atividade há pelo menos 7,18 ± 5,67 anos. Na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 208 Academia 1 obteve-se uma média igual a 6,69 ± 5,25 anos e na Academia 2 uma média igual a 7,67 ± 6,21 anos. A pesquisa observou que em média os grupos já estavam sem fazer a avaliação física em média 1,30 ± 1,55 anos; na Academia 1, a média foi igual a 1,42 ± 1,86 anos e na Academia 2, uma média igual a 1,18 ± 1,24. Além disso, observou-se que 50% dos entrevistados não fariam a avaliação se não fosse obrigatória ao entrar na academia, que 46,7% dos respondentes da Academia 1 declararam que a fariam mesmo que não fosse obrigatório, e o grupo da Academia 2 fariam a avaliação com uma frequência igual a 53,3%. As academias, muitas vezes, deparam-se com alunos que são extremamente refratários ao exame por considerarem esse procedimento apenas uma forma a mais de aumentar a taxa de matrícula. O aluno, quando já passou por esse procedimento em outro local e não conseguiu enxergar nenhuma utilidade, tem certa razão em ter esse pensamento [13]. Quadro A - Costume em fazer reavaliações periódicas. Q.4 Acad 1 Acad 2 Geral Sim Absoluto Relativo 4 26,7% 8 53,3% 12 40,0% Não Absoluto Relativo 11 73,3% 7 46,7% 18 60,0% De nada adiantaria a realização de uma batelada de testes altamente específicos, com a máxima correção e precisão dos resultados, se estes dados fossem simplesmente engavetados e ignorados, e o treinador passa-se a fazer aquilo que se julga melhor segundo sua intuição e impressão em relação ao seu orientando. O entrosamento e a interface com o setor de musculação irão dar continuidade aos trabalhos do departamento de avaliação ou se valer das informações e dos serviços por eles prestados, os quais são fundamentais para o bom andamento do processo [1]. Os quadros B, C e D relatam se os profissionais da área de musculação interagem com o departamento de avaliação física, solicitando que seus alunos a façam, explicando os testes e a relação entre a avaliação e treinamento. Quadro B - Explicação dos testes. Q.7 Acad 1 Acad 2 Geral Sim Absoluto Relativo 9 60,0% 12 80,0% 21 70,0% Não Absoluto Relativo 6 40,0% 3 20,0% 9 30,0% Quadro C - Solicitação pela avaliação. Q.5 Acad 1 Acad 2 Geral Sim Absoluto Relativo 4 26,7% 6 40,0% 10 33,3% Não Absoluto Relativo 11 73,3% 9 60,0% 20 66,7% Quadro D - Entendimento entre avaliação física e treinamento. Q.6 Acad 1 Acad 2 Geral Sim Absoluto Relativo 4 26,7% 8 53,3% 12 40,0% Não Absoluto Relativo 11 73,3% 7 46,7% 18 60,0% A avaliação física se caracteriza, por sua natureza, em uma prestação de serviços em saúde e, como tal, para ocupar posição de destaque deve primar pela excelência no atendimento [1]. A qualidade do serviço é fundamental para a satisfação do cliente. A excelência no atendimento vai desde a limpeza e atenção ao tratamento dos clientes a estar sempre atualizado na utilização de recursos tecnológicos e equipamentos de última geração (quadro E). Quadro E- Satisfação do atendimento realizado. Q.10 Acad 1 Acad 2 Geral Sim Absoluto Relativo 13 86,7% 12 80,0% 25 83,3% Não Absoluto Relativo 1 6,7% 3 20,0% 4 13,3% A pesquisa relata que 83,3% dos entrevistados se mostraram satisfeitos com o atendimento realizado pelo serviço de avaliação física, apontando outros fatores decorrentes deste atendimento, 80% dos respondentes declararam que confiam no profissional que realizou sua avaliação, sendo 80% dos respondentes da academia 1 e 80% da academia 2 e além disso 93,3% dos respondentes declaram também que existe uma correlação entre os resultados dos testes e seu estado físico no ato da avaliação, sendo 100% dos respondentes da academia 1 e 86,7% da academia 2, creditando assim os resultados obtidos. É necessário que haja uma sintonia adequada entre os setores técnico e administrativo, a fim de que todos os setores da estrutura estejam igualmente informados sobre a importância e os passos da realização da avaliação física [1]. O departamento de marketing é de fundamental importância para o sucesso do serviço de avaliação funcional. São necessárias ações de marketing para administração da demanda, que podem estar abaixo ou acima do nível desejado [13]. A seguir no quadro F, demonstra-se se existe algum serviço de marketing interno ou externo do serviço de avaliação física. Quadro F - Existência de marketing interno ou externo. Q.14 Acad 1 Acad 2 Geral Sim Absoluto Relativo 1 6,7% 2 13,3% 3 10,0% Não Absoluto Relativo 14 93,3% 13 86,7% 27 90,0% Estratégias de valor para a precificação do serviço são de fundamental importância para aderência dos futuros clientes, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 relacionando o preço que os clientes pagam ao valor que eles recebem [12]. Qualidade e preços altos ainda estão intimamente relacionados. Deve-se buscar o diferencial em seus serviços que justifique o preço que é cobrado [13]. Uma estratégia de descontos em relação aos preços estabelecidos deve ser adotada com cautela, pois dilui o preço médio recebido e reduz a contribuição de cada venda, mas apesar disso os descontos de preço seletivos direcionados a públicos específicos, podem atrair novos clientes [12]. Abaixar os preços, sem que isso faça parte de uma ação bem planejada, pode acarretar grande risco, pois a grande demanda de clientes acarreta também um aumento nas despesas, e caso a receita não seja suficiente para cobrir todos os gastos, o serviço começa a se deteriorar por falta de dinheiro para investir e para sua própria manutenção [13]. O quadro G, demonstra a satisfação do cliente em relação ao preço cobrado pela avaliação física. Quadro G - Se o preço é satisfatório. Q.12 Acad 1 Acad 2 Geral Sim Absoluto Relativo 8 53,3% 6 40,0% 14 46,7% Não Absoluto Relativo 7 46,7% 9 60,0% 16 53,3% A pesquisa aponta que a importância da avaliação funcional varia de acordo com cada entrevistado, 46,5 % declaram que o acompanhamento é a principal causa de se fazer as avaliações, 29,9% apontam o autoconhecimento como a sua principal vantagem, já 13,3 % declaram que se avaliam para diminuição dos riscos e maior margem de segurança nos treinamentos, 6,7% a fazem apenas pra saber sua composição corporal e 23,3% dos entrevistados relatam não achar importância nenhuma em avaliar-se. No quadro H, foi sugerido que os entrevistados que avaliassem o serviço de avaliação física como um todo, dando uma nota de 0 a 10, justificando-a com críticas positivas e negativas e por fim fizessem sugestões ao serviço que é realizado. Quadro H- Nota. Q.15 Acad 1 Acad 2 Geral Média 7,47 7,00 7,23 D.P 1,73 2,07 1,89 A pesquisa demonstra que as principais causas de satisfação dos clientes são: 66,3% o atendimento que lhes foi prestado com um ponto, 20% a infraestrutura como ponto de destaque, os dados oferecidos, a quantidades de testes e a agilidade do serviço também são citados com 3,3% cada um. Em contrapartida, mostraram-se muito insatisfeitos com a falta de divulgação e informação sobre o serviço, já que 53% dos entrevistados sugerem que haja melhoria nesse aspecto e 23,2% reclamam do quadro de horários da avaliação, sugerindo uma maior disponibilidade de horários para o serviço. O 209 preço cobrado pela avaliação também é bastante questionado pelos entrevistados: 13% acham o preço alto e solicitam que o preço diminua e 23% acham que a avaliação física deveria ser incluída na mensalidade da academia. Outros aspectos como a infraestrutura, quantidade e qualidade dos testes e profissionais mais gabaritados também são citados como fatores a serem melhorados pelo serviço com 6,7% cada um. Conclusão Foi possível observar que a percepção do usuário de musculação em academias de ginástica, em relação à importância da avaliação física, é influenciada por vários fatores internos, não só pelo serviço de avaliação em si, mas principalmente por outros setores técnicos e administrativos da instituição. Conclui-se, então, que a importância dada ao serviço varia de usuário para usuário. Muitos se avaliam apenas para seu autoconhecimento; outros para o acompanhamento de sua evolução; outros para saberem apenas sua composição corporal; outros para imposição de seus limites. Porém a pesquisa aponta também que muitos não dão a importância devida ao serviço, principalmente por não saberem a relevância do serviço, e, sendo um serviço pago, muitas vezes ficam por muito tempo sem utilizá-lo. A interação entre os departamentos é fundamental para o sucesso de todo esse processo. A divulgação e informação sobre o serviço é um fator essencial para que o aluno se motive a fazê-lo, pois o esclarecimento ao aluno deve ser não só sobre os testes aos quais é submetido, mas também sobre as vantagens de estar sendo acompanhado e a influência direta que a avaliação faz nos treinamentos, facilitando, assim, a busca de seus objetivos e conseguindo-os com muito mais segurança. Essa divulgação deverá ser feita pelo serviço de marketing da academia, pelos avaliadores, pela recepção e, principalmente, pelos professores de musculação, que têm contato diário com seus alunos e por se beneficiarem também com os dados aferidos nos testes, melhorando assim a prescrição e direcionamento de seus treinos. Sugere-se que para que os usuários de musculação deem maior importância a esse serviço, que é indispensável para a prescrição dos treinamentos, seja disponibilizada uma grande grade de horários para que o aluno possa se avaliar. Além disso, uma estratégia de marketing bem definida, com descontos atraentes ou com um diferencial no serviço prestado, com boa infraestrutura e profissionais atualizados, uma vez que o bom atendimento é premissa para qualquer serviço em excelência, fazendo assim que o usuário agregue valor ao serviço e se torne um cliente mais assíduo. Referências 1. Molinari B. Avaliação Medica e Física. São Paulo: Rocca; 2000. 2. Fernandes Filho J. A Prática da avaliação física. Rio de Janeiro: Shape; 2003. 210 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 3. Marins JCB, Giannichi RS. Avaliação e prescrição de atividades físicas: Guia prático. Rio de Janeiro: Shape; 2003. 4. Monteiro LC, Lopes PL. Avaliação para atividades físicas. Rio de Janeiro: Rio; 2005. 5. Pitanga FJ. Testes, medidas em educação física e esportes. 4a ed. São Paulo: Phorte; 2005. 6. Pompeu F. Manual de Cineantropometria. São Paulo: Sprint; 2003. 7. Heyward HV. Avaliação física e prescrição de exercícios. Técnicas avançadas. São Paulo: Artmed; 2004. 8. Carnaval PE. Medidas e avaliação em ciências do esporte. 6a ed. Rio de Janeiro: Sprint; 2004. 9. ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 6a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011. 10. Neves CEB, Santos E. Avaliação funcional. Rio de Janeiro: Sprint; 2003. 183p. 11. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício. 2a ed. São Paulo: Manole; 2001. 12. Lovelock C, Wright L. Serviços Marketing Gestão. São Paulo: Saraiva; 2003. 13. Pereira M. Administração sem segredo. São Paulo: Ohorte; 2005. 14. Toscano JJO. Academia de ginástica: um serviço de saúde latente. Rev Bras Ciên Mov 2001;9(1):40-42. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 211 ARTIGO ORIGINAL Razões para o uso de suplementos nutricionais por praticantes de musculação em academias na cidade de Fortaleza/CE Reasons for the use of nutritional supplements by bodybuilders in fitness centers of Fortaleza/CE Thiago Medeiros da Costa Daniele, M.Sc.*, George Lacerda de Souza**, João Paulo Lima Vasconcelos*** *Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Ceará e mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), **Graduado em Educação física pela Universidade Estadual do Ceará e especialista em nutrição esportiva pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), ***Graduado em Educação Física pela Universidade Vale do Acaraú e especialista em Biomedicina do Esporte pela Universidade Federal do Ceará (UFC) Resumo Este estudo objetivou avaliar e analisar o consumo de suplementos entre alunos de academias de ginástica e o real motivo de sua utilização. Participaram 200 frequentadores da região de Fortaleza/ CE, os quais foram submetidos a um questionário de avaliação. A performance atlética e a otimização de resultados têm levado a uma tendência crescente na recomendação de suplementos por professores de educação física; por outro lado, percebe-se pouca busca da utilização de suplementação para a saúde geral, principalmente no grupo de menor renda. Concluiu-se que há uma enorme carência de informações por parte dos frequentadores de academias de ginástica. Palavras-chave: suplementos dietéticos, musculação, educação nutricional. Abstract This study aimed to evaluate the use of supplements by users of fitness centers, as well as the real reason for their use. 200 users participated in the region of Fortaleza/CE. A questionnaire was used for the evaluation. The athletic performance and the optimization of results have led to an increasing tendency in supplements recommendation by physical educators; in contrast, there is low pursuit of supplementation use for general health, especially in the lower income group. In conclusion, there is an enormous need for information by fitness centers users. Key-words: dietary supplements, weight lifting, nutritional education. Recebido em 14 de agosto de 2012; aceito em 30 de novembro de 2012. Endereço para correspondência: Thiago Medeiros da Costa Daniele, Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade Federal do Ceará, Rua Prof. Costa Mendes 1608 - 4º andar, 60430-040 Fortaleza CE, E-mail: [email protected] 212 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Introdução O estereótipo do corpo perfeito tem sido o desejo de muitos indivíduos, e esse padrão cultural vem mudando bastante nossa sociedade, isso se reflete no número de academias de ginástica que tem crescido vertiginosamente e se sofisticado cada vez mais. No entanto, a preocupação com a estética corporal faz com que alguns frequentadores de academias não busquem apenas a prática da musculação como meio para se atingir seus objetivos, e passam, também, a utilizar substâncias que auxiliam nesse processo. A busca de recursos que propiciem o aprimoramento do rendimento físico é um fator de grande preocupação para os indivíduos que praticam atividades físicas, e a utilização de suplementos alimentares foi considerado como um caminho para atingir este fim, sem os indesejáveis efeitos colaterais das drogas [1]. Na comunidade científica, é consenso que a dieta pode fornecer todos os nutrientes necessários a uma vida saudável, mas devido às dificuldades que as pessoas encontram em ter uma alimentação adequada, crescem o interesse e a comercialização de produtos que prometem os mesmos benefícios; os suplementos alimentares [2]. Sabendo da grande difusão [3] e da ascensão da indústria de suplementos nutricionais [4] objetivamos neste estudo fazer um levantamento do perfil dos usuários de suplementos alimentares em academias de classe média e alta na cidade de Fortaleza, Ceará. Material e métodos O presente estudo foi de natureza descritiva. A população de estudo foi composta por frequentadores de seis diferentes academias de ginástica, distribuídas da seguinte forma: uma localizada na região norte, duas localizadas na região sul, uma localizada na região leste, uma localizada na região oeste e uma localizada na região central da cidade de Fortaleza; no total foram selecionados 200 indivíduos. Os estabelecimentos ofereciam atividades físicas diferentes, direcionadas a indivíduos de faixas etárias diversas. Para a coleta de dados, foi aplicado à amostra selecionada um questionário semiestruturado denominado PUSA (Perfil dos Usuários de Suplemento Alimentar) elaborado por Albino, Campos e Martins [5], contendo 13 perguntas objetivas e discursivas. A seleção dos participantes compreendeu os seguintes critérios de inclusão: idade entre 18 e 40 anos, de ambos os sexos e praticantes de treinamento de musculação por, pelo menos, seis meses, combinados ou não com outras atividades físicas. Foram considerados frequentadores de musculação aqueles que permanecem na prática por no mínimo 45 minutos e que a realizam, pelo menos, duas vezes por semana. Os critérios de exclusão foram: idade superior ou inferior à referida anteriormente e praticantes com menos de seis meses de treinamento. Todos foram voluntários a par- ticipar da pesquisa e assinaram o termo de consentimento de acordo com a Lei 196/96 do CNS. Análise estatística As estatísticas descritivas do estudo foram apresentadas como média ± desvio padrão e frequências (%), teste de Fisher foi utilizado para as variáveis categóricas. O valor de P < 0,05 foi aceito como significante. Os dados foram submetidos a um pacote do programa de estatística SPSS for Windows versão 17.0. Resultados Foram entrevistados 200 voluntários praticantes de musculação. Desta amostra 63% utilizavam algum tipo de suplemento nutricional, enquanto 37% não utilizavam nenhum tipo de suplemento (Figura 1). A média de idade da população consumidora foi de 24 ± 7,1 anos. Entre os consumidores de suplementos, 74% (94 participantes) eram do sexo masculino e 26% (32 participantes) do sexo feminino. Daqueles que se declararam não consumidores, 67,5% (50 participantes) eram do sexo feminino e 32,5% (24 participantes) eram do sexo masculino como demonstra a figura 2. Figura 1 - Consumo entre os participantes. 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Consumidores Não consumidores Figura 2 - Perfil dos entrevistados relacionado ao gênero. 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Consumidores Masculino Não consumidores Feminino Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 213 Motivos referidos quanto ao consumo Discussão Os motivos listados no questionário foram: Aumentar a performance 43% (54), Otimização de resultados 36% (46), Diminuição do tempo de recuperação 16% (20) e Qualidade de vida apenas 5% (6), como mostra a tabela I. Já entre os não consumidores, 54% (40) demonstram interesse em utilizar suplementos, porém não receberam uma orientação adequada, 24% (18) consideram ter uma alimentação balanceada, 10% (8) desconhecem os efeitos colaterais, 6% (4) temem os efeitos colaterais e 6% (4) desconhecem os benefícios do uso. Foi verificado com o presente estudo que 63% da população avaliada utiliza algum tipo de suplemento alimentar. Esse resultado se assemelha com o de outro estudo realizado em academias na cidade de Lages, Santa Catarina, com 120 voluntários, onde os pesquisadores observaram que 63% dos entrevistados também faziam uso de suplementos alimentares [5], e também foram vistos nas academias de ginástica de Franca, São Paulo, onde 64,30% dos indivíduos que praticam musculação consomem suplementos. No presente estudo os resultados esperados pelos praticantes de musculação foram ganhos de massa muscular e de desempenho físico, isso explica os motivos que fazem com que grande parte da população avaliada busque auxilio dos suplementos, mesmo sendo estes somente para fins estéticos [6]. Entre os motivos referidos pelos entrevistados, em não realizar o consumo de suplemento, o mais citado foi: “Quero usar, mais ainda não recebi a indicação de um profissional qualificado.”, o que mostra que, mesmo quem não faz uso de tais substâncias, tem vontade de consumi-las, mas não o fazem por terem poucas informações sobre os supostos benefícios e/ ou malefícios que os suplementos alimentares podem causar. Por esse motivo esperam a indicação de um profissional para que possa começar a utilizá-las. Quanto à indicação dos produtos, observa-se que, 45% dos voluntários receberam indicação através do professor de Educação Física, valores similares aos encontrados por outros autores, que chegou a 43,73% [7]. Um fator que pode ter contribuído para esta elevada porcentagem é a comercialização de suplementos em locais impróprios ou sem nenhuma prescrição qualificada, como acontecem em muitas academias identificadas em alguns estudos, em que a venda de recursos ergogênicos é tida como uma renda extra, entretanto, a orientação fornecida aos praticantes de musculação, principais consumidores desses produtos de venda livre, nem sempre é feita por um nutricionista ou médico, o que contribui para um consumo inadequado. Um estudo realizado por Garcia e Viviani [8], abordou essa problemática no qual foi constatado que 31% dos suplementos consumidos por frequentadores de academias eram indicados por professores de Educação Física ou treinadores. Nenhum deles possuía habilitação técnico-profissional para este procedimento, nem mesmo os professores de Educação Física, que são considerados Profissionais de Saúde pelo Conselho Nacional de Saúde, sendo essa prática irregular e antiética [9]. Um aspecto importante neste estudo é que apenas 5% dos consumidores entrevistados haviam recebido orientação nutricional e que 24% dos consumidores afirmaram possuir uma dieta balanceada. Tais informações podem ser justificadas pela ausência de nutricionistas nas academias, pois das seis academias visitadas, neste estudo, apenas duas possuíam um profissional qualificado na área de nutrição. Tabela I - Motivos da utilização dos suplementos. Razões para o consumo Performance atlética Otimizar os resultados Diminuir o tempo de recuperação Qualidade de vida Total % 43 36 16 5 100 Valor de P < 0,05* 0,04* NS NS *Valores estatisticamente significantes. Tabela II - Motivos da não utilização dos suplementos. Razões para o não consumo Quero usar, mas ainda não recebi uma indicação de um profissional qualificado Não considero necessário, pois possuo uma alimentação balanceada. Desconheço os efeitos colaterais Temo os efeitos colaterais Desconheço os benefícios do uso Total % Valor de P 0.05* 54 0.31 24 10 6 6 100 0.2 NS NS *Valores estatisticamente significantes. Indicação da utilização de suplemento Foi observado que a maioria dos consumidores recebeu a prescrição do suplemento alimentar através do professor da academia que frequentavam, 45% (56), em seguida, amigos, 24% (30), nutricionista, 5% (6), vendedor de lojas de suplementos 10% (12) e iniciativa própria 16% (22) como exemplificado na Tabela III. Tabela III - Distribuição do número e percentual de relatos de consumo de suplementos segundo a fonte de prescrição. Indicação para o consumo (N = 63) Professores de Educação Física Amigos Nutricionista Vendedor da loja de suplementos Iniciativa própria Total % 45 24 5 10 16 100 214 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Outro aspecto bastante relevante foi o de que 5% da população relatou o uso com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, enquanto 16% usam suplementos sem nenhuma orientação. Estes dados mostram a falta de conhecimento mais amplo dos suplementos nutricionais pelos usuários; fato comprovado pela ausência de nutricionistas nas academias de Fortaleza. Conclusão A enorme carência de informações sobre suplementos alimentares, bem como sobre uma nutrição adequada, ficam bastante claras neste estudo e comprovam a necessidade emergente de profissionais qualificados dentro de academias, pois é grande a influência que o convívio social e os professores das academias exercem sobre seus alunos. No presente estudo verificou-se que os participantes que utilizavam algum tipo de suplemento buscavam a melhoria da performance atlética, a otimização do exercício físico e uma tendência para as outras variáveis analisadas, mostrando que há diferenças significantemente estatísticas entre homens e mulheres. Verifica-se que ainda há uma necessidade crescente de novos estudos sobre a eficiência dos suplementos e seus possíveis efeitos colaterais. Referências 1. Dantas EHM. A prática da preparação física. 5ª ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003. 2. Monteiro SMN. Glutamina e exercício: metabolismo, imunomodulação e suplementação. Nutrição Saúde e Performance. Anuário de Nutrição Esportiva Funcional 2006;7:34-37. 3. Araújo ACM, Soares YNG. Perfil de utilização de repositores protéicos nas academias de Belém, Pará. Rev Nutr 1999;12:8189. 4. Zeisel SH. Regulation of “nutraceuticals”. Science1999;285:1853-55. 5. Albino CS, Campos PE, Martins RL. Avaliação do consumo de suplementos nutricionais em academias de Lages, SC. Revista Digital EFDeportes:(134). 6. Bion FM, Antunes NLMA, Pessoa DCN, Medeiros MC, Albuquerque CDPB. Praticantes de exercício físico em academias do Recife: perfil alimentar e consumo de suplementos nutricionais. Nutrição Brasil 2003;9:265-271. 7. Duarte PSF, Zaninello MO, Pelizer LH, Santos CM, Neiva CM. Aspectos gerais e indicadores estatísticos sobre o consumo de suplementos nutricionais em academias de ginástica. Nutrição em Pauta 2007;7:27-34. 8. Garcia JR, Viviani MT. Análise dos conhecimentos sobre nutrição básica e aplicada de profissionais de educação física e nutrição. Nutrição em Pauta 2003;11:26-29. 9. Lei Nº 9.696, de 1º de setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física, Brasília 1º de setembro de 1998; 177º da independência e 110º da República, p.1 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 215 ARTIGO ORIGINAL Efeitos agudos e temporários da facilitação neuromuscular proprioceptiva sobre a força dinâmica máxima Temporary and acute effects of proprioceptive neuromuscular facilitation on maximum dynamic strength Eduardo Lattari*, Edmilson Batista de Carvalho, M.Sc.**, Sérgio Machado, D.Sc.*** *Mestrando em Ciências do Exercício e do Esporte pela Universidade Gama Filho (UG/RJ), Laboratório de Neurociência do Exercício, Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, **Laboratório de Biodinâmica, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, ***Programa de Quiropraxia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Central, Santiago, Chile, Programa de Pós Graduação em Ciências da Atividade Física (PPGCAF), Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), Niterói/RJ Resumo Objetivo: O objetivo do estudo foi verificar os efeitos agudos da facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) na força dinâmica máxima e se ocorre tendência de aumento da força com repetição dos testes. Método: Vinte indivíduos foram divididos aleatoriamente em grupo 1 (G1) e grupo 2 (G2). O G1 e o G2 realizaram as tarefas, de maneira inversa, em dois dias distintos da seguinte forma: 1º dia - realizaram um teste de uma repetição máxima para verificação da carga máxima. Após 5 minutos de descanso foi aplicada uma intervenção de técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva e imediatamente após a aplicação um novo teste de 1RM era aplicado (FNP 1RM). Após um intervalo de 10 minutos, foi realizado um reteste de 1RM (FNP 1RM 10 min). 2º dia - após um período de 48 horas de descanso, foram realizados os mesmos procedimentos sem que houvesse a intervenção da FNP. Resultados: Os resultados demonstram que a FNP afetou negativamente a força (p < 0,05) e que os testes de 1RM possuem alto coeficiente de correlação intraclasse, tanto no mesmo dia (R = 0,998886) quanto 48 horas após (R = 0,996746). Conclusão: Conclui-se que a FNP afeta negativamente a força quando imediatamente após sua aplicação e a reprodutibilidade dos testes de 1RM é alta quando aplicados no mesmo dia e 48 horas após. Abstract Aim: The objective of the study was to evaluate the acute effects of proprioceptive neuromuscular facilitation (PNF) on the maximum dynamic strength and if there was strength increasing with repetition. Methods: Twenty subjects were randomly divided into two groups G1 (group 1) and G2 (group 2). The G1 and G2 performed the tasks, so opposite in two different days as follows: First day - Performed a test of one repetition maximum for verification of the maximum load. After 5 minutes of rest, a PNF technique was applied and immediately after application a new 1RM test was applied (PNF 1RM). After 10 minutes of interval, a 1RM retest (PNF 1RM 10 min) was performed. Second day - after a period of 48 hours of rest, the same procedures were performed with no intervention by the PNF. Results: The results show that the PNF negatively affect the strength (p < 0,05) and the 1RM tests have high intra-class correlation coefficient, both on the same day (R = 0,998886) in 48 hours (R = 0,996746). Conclusion: We conclude that the PNF adversely affects the strength immediately after its application, and the reproducibility of tests of 1RM is high when applied on the same day and 48 hours. Key-words: muscular strength, flexibility. Palavras-chave: força muscular, flexibilidade. Recebido em 25 de julho de 2012; aceito em 3 de dezembro de 2012. Endereço para correspondência: Eduardo Lattari, Estrada do Mendanha, número 1665, casa 59, 23087-286 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected] 216 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Introdução Procedimentos experimentais A facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) tem sido sugerida como o protocolo com maior eficiência para melhoria da flexibilidade [1]. Suas diferentes técnicas apresentam resultados diferenciados sobre o arco de extensão de movimento [2-4]. Duas possíveis hipóteses existem para esclarecer os ganhos de flexibilidade resultantes da FNP, um neurofisiológico e o outro visco-elástico [5]. Tratando-se do treinamento da flexibilidade antecedendo ao treino de força, há uma tendência do treinamento de flexibilidade interferir negativamente sobre o treinamento de força. Alguns dos diferentes protocolos de alongamento podem contribuir diretamente na perda imediata da força muscular [6]. Esses estudos evidenciam essa perda de força sendo provocada por alongamentos estáticos e passivos [7,8], por técnicas de facilitação neuromuscular proprioceptiva [9] e ainda diminuição da contração voluntária máxima [10]. Entretanto em um estudo realizado por Roy et al. [11], utilizando-se das técnicas de FNP, mostrou que o pico do torque foi aumentado em circunstâncias experimental unilateral e bilateral em que a extensão do joelho quando precedido de uma flexão do joelho, podendo ser o resultado de uma combinação de influências neuromuscular e da energia elástica armazenada. Já o estudo realizado por Young e Elliot [7] não apresentaram qualquer diferença significativa nos testes de salto em profundidade e na produção de força realizada no pórtico Smith machine. Quanto aos alongamentos dinâmicos, os mesmos têm mostrado melhorias no desempenho de potência [12]. Ainda assim, essas incapacidades do músculo em produzir força podem ocorrer temporariamente [13-15]. Alguns dos motivos que podem estar relacionados com a perda da força se devem a uma inibição neural [16,17] ou alteração das propriedades mecânicas [18]. Dessa forma, o objetivo do estudo foi verificar os efeitos agudos do FNP sobre a força dinâmica máxima e também se houve uma tendência dos resultados dos testes de força aumentar conforme são repetidos. Os 20 sujeitos foram divididos aleatoriamente em grupo 1 (G1) e grupo 2 (G2). Os indivíduos do G1 realizaram as tarefas em dois dias distintos ao G2. O protocolo foi realizado da seguinte forma: 1º dia – Foi realizado um teste de repetição máxima (1RM) somente para verificação da carga máxima. O exercício de supino foi precedido por uma série de aquecimento (10 repetições), com carga moderada antes da primeira tentativa do teste de 1RM. Após 3 minutos de intervalo foi iniciada a primeira tentativa do teste. Todos os voluntários eram totalmente familiarizados com testes de 1RM. Foi permitido um máximo de três tentativas, caso não alcançasse a carga máxima o teste era interrompido e realizado em uma nova data com o mínimo de 48 horas de intervalo [19]. Após 5 minutos de descanso, o primeiro procedimento experimental foi aplicado utilizando as técnicas de FNP como fator interveniente. A FNP precedeu de forma imediata à aplicação de um novo teste de 1RM, assim denominado FNP 1RM. Após um intervalo de 10 minutos de descanso total, sem que o indivíduo realizasse qualquer atividade foi realizado um reteste de 1RM, sendo dito como FNP 1RM 10. 2º dia – Após 48 horas sem que os indivíduos realizassem qualquer atividade que pudesse interferir nos resultados, foram realizados os mesmos procedimentos sem que houvesse a intervenção das técnicas de FNP sobre os sujeitos. O primeiro teste de carga máxima foi denominado como 1RM e o reteste 10 minutos após foi denominado como 1RM 10 min. As seguintes estratégias foram adotadas, durante o teste de carga máxima, para reduzir erros de execução: 1) Todos os participantes da pesquisa foram devidamente instruídos quanto aos procedimentos do teste e técnica de execução no exercício de supino reto; 2) todos os testes foram realizados no mesmo horário para o mesmo indivíduo; 3) os equipamentos utilizados para os testes e para o treinamento foram devidamente checados. Já com relação à técnica de FNP, segue abaixo a descrição dos procedimentos adotados para a realização da mesma: 1º passo: mobilização do segmento corporal até o seu limite de amplitude; 2º passo: realização de uma contração isométrica máxima durante oito segundos; 3º passo: forçamento do movimento além do limite original, durante o relaxamento da musculatura do atleta após a contração. O protocolo foi realizado num total de três vezes na articulação do ombro da seguinte forma: o avaliado em pé, com os joelhos semiflexionados, pés paralelos, tronco ereto, e assim este era submetido a um estiramento passivo do grupamento muscular peitoral, mantendo as palmas das mãos voltadas para fora e para cima. O avaliador posiciona-se atrás do avaliado, conduzindo a realização do protocolo já mencionado acima. Material e métodos Sujeitos A amostra foi composta por dois grupos com 10 voluntários saudáveis (homens) cada grupo, com idade média de 23,5 anos (± 3,69), peso de 73,1 kg (± 9,93) e estatura de 1,76 m (± 0,05). Os sujeitos deveriam estar praticando treinamento de força por um mínimo de 6 meses, como atividade física regular ≥ 3 vezes por semana, sem histórico de lesão e se auto-avaliando aptos para a realização do testes e treinamentos específicos. Os indivíduos, após serem previamente esclarecidos sobre os propósitos da investigação e procedimentos aos quais seriam submetidos, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo está de acordo com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Análise estatística Foi realizada média e desvio padrão de ambos os grupos. Para a análise comparando os testes foi aplicada uma ANOVA Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 two-way (p ≤ 0,05). Foi utilizado teste de Mauchly com correção de Epsilon de Greenhouse-Geisser para verificar a validade dos resultados da ANOVA. Além disso, foi utilizado o teste de post hoc de Tukey (HSD). Para análise relacionando os testes, foram utilizados o coeficiente de estabilidade relacionando e o teste com o reteste em dias diferentes (1RM e FNP 1RM 10 min) e a consistência interna pelo método teste-reteste no mesmo dia (1RM e 1RM 10 min). Cabe lembrar que devido à tendência do FNP diminuir a força, o teste onde a força foi avaliada imediatamente após a aplicação da FNP (FNP 1RM) foi excluído da análise. Resultados Observando a Tabela I, pode-se perceber que há uma diminuição dos valores médios do teste de 1RM imediatamente após a aplicação da FNP (FNP 1RM), mas estes valores voltam aos valores iniciais após 10 minutos de intervalo de recuperação (FNP 1RM 10 min). Grupo Média 1 2 1 2 1 2 1 2 81,45 95,55 81,81 95,55 77,81 90,44 82,00 94,66 1RM 1RM 10 min FNP 1RM FNP 1RM 10 min Desvio Padrão 14,94 21,23 15,11 21,23 15,83 20,41 14,88 21,33 Os grupos (G1 e G2) foram designados como fator entre sujeitos, pois um grupo executou o protocolo de testes de 1RM de forma inversa do outro para verificar se a ordenação dos testes poderia influir nos resultados. Durante a análise dos dados foram estabelecidos os testes como fator intrasujeitos juntando-se os dois grupos na análise de medidas repetidas. No que tange a comparação dos testes, foi observado através da ANOVA que os resultados dos testes de 1RM diferem significativa entre si (p = 0,00000000000000005). Além disso, pode-se dizer que 77% (eta2) dessa diferença são explicados pela variabilidade dos resultados dos testes de 1RM. A validade dos resultados da ANOVA para medidas repetidas foi confirmada (Mauchly com correção de Epsilon de Greenhouse-Geisser; Tabela II). Porém, não foi observada diferença entre os testes (Tabela III). Já no que diz respeito à relação entre os testes: a) 1RM, 1RM 10 min e FNP 1RM 10 min: fidedignidade do teste de 1RM Segundo o CCI, a confiança ou fidedignidade do teste de 1RM foi alcançada tanto na análise da estabilidade (R = 0,996746) quanto para a análise da consistência interna (R= 0,998886). Como se esperava, a análise da consistência interna apresentou valores ligeiramente superiores ao da estabilidade, mas em ambos os casos, o teste de 1RM demonstrou ter excelente reprodutibilidade para estes grupos de sujeitos. Tabela I - Valores da testagem de força máxima. Testes 217 N 11 9 11 9 11 9 11 9 Tabela II - ANOVA 2 fatores (testes e grupos). Grupo Testesa Grupo * Testesa a Gl Efeito 1 3 3 QM Efeito 3493,38 95,25 2,78 Gl Erro 18 54 54 QM Erro 1296,65 1,61 1,61 F 2,69 59,09 1,73 P 0,118 0,00000000000000005 0,172 Eta2 0,13 0,77 0,09 poder 0,34 1,00 0,43 fator de correção (Epsilon de Greenhouse-Geisser) = 0,49335. Tabela III - Teste de esfericidade de Mauchly. Efeito intrasujeitos Testes W de Mauchly 0,155 Chi-quadrado 31,141 gl 5 p 0,000009 Epsilon de Greenhouse-Geisser 0,49335 Tabela IV - Probabilidades dos testes de acompanhamento e formação de grupos homogêneos segundo Tukey (HSD). Probabilidades do teste de acompanhamento de Tukey (HSD) 1RM 1RM 10 min FNP 1RM FNP 1RM 10 min 1RM X 0,968853235 0,000161 0,9735375 1RM 10 min 0,9688532 X 0,000161 0,8149762 FNP 1RM 0,0001613 0,00016135 X 0,0001613 FNP 1RM 10 min 0,9735375 0,814976156 0,000161 X Testes Agrupamentos 1 2 xxxx xxxx xxxx xxxx Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 218 Tabela V - Análise da estabilidade através do CCI (testes em dias diferentes) e da consistência interna (testes no mesmo dia). Estabilidade CCI 0,996749 Consistência interna CCI 0,998886 Intervalo de confiança de 95% Limite inferior Limite superior 0,99181 0,9987 Intervalo de confiança de 95% Limite inferior Limite superior 0,99719 0,9996 b) 1RM, 1RM 10 min e FNP 1RM 10 min: ocorre um efeito de aprendizagem ou de treinamento nos testes de 1RM? Pensando cada momento de avaliação como variável independente (causa) e o resultado do teste de 1 RM como variável dependente (efeito), foi traçada uma linha de tendência e desenvolvido um modelo matemático de regressão linear mostrando que a cada avaliação aumenta a capacidade de suportar carga pelo avaliando. Figura 1 - Linha de tendência, modelo de regressão e coeficiente de determinação do aumento da média a cada teste: (A) G1 e (B) G2. (A) 95,6 95,6 médias de G1 Linha de tendência y=0,4444x + 94,37 94,7 R2 = 0,75 94,5 FNP_1RM_10_MIN_G1 1RM_G1 1RM_10_MIN_G1 média 94,7 95,6 95,6 78,5 (B) 78,2 médias de G1 78,0 77,5 média 70,0 Linha de tendência y=0,3333x + 77,259 R2 = 0,9643 77,6 1RM_G2 1RM_10_MIN_G2 FNP_1RM_10_MIN_G2 77,6 78,0 78,2 Discussão Comparação dos testes: a) 1RM x 1RM 10 min: 10 minutos de intervalo é suficiente para a recuperação da força após o teste de 1RM? Em recente artigo de revisão, Willardson [20] cita alguns estudos [21-23] que pesquisaram a influência do intervalo de recuperação sobre o desempenho da força muscular, sendo F 614,2237 gl1 19 gl2 19 p 0,00000 F 1794,684 gl1 19 gl2 19 p 0,00000 todos realizados no exercício de supino. Esses achados atribuem que intervalos de descanso mais longos acarretam em maiores aumentos da força dando mais consistência direta nas repetições executados para cada série. Entretanto, os estudos que relacionam o tempo de intervalo com exercícios máximos são escassos na literatura. Os poucos estudos que abordaram a influência do intervalo de recuperação sobre a força dinâmica máxima foram realizados por Prati et al. [24], Weir et al. [25] e Matuszak et al. [26]. Um estudo que procurou abordar a influência do intervalo de recuperação sobre a força dinâmica máxima foi realizado por Prati et al. [24]. Nesse estudo foram realizados o teste de 1RM e, logo após 10 minutos de descanso, o teste de 1RM se repetiu. Esses testes foram realizados no exercício de supino horizontal. Os resultados demonstram que 10 minutos de descanso é o suficiente para restabelecer a força dinâmica máxima, não havendo diferença significativa entre as cargas levantadas (antes e depois de 10 minutos) e estabelecendo uma alta correlação entre as cargas através da análise de consistência interna (CCI= 0,99). Talvez a pesquisa realizada por Weir et al. [25] seja a pioneira na análise do intervalo sobre a força dinâmica máxima. Estes investigaram a força dinâmica máxima, em 16 homens treinados, com intervalos de 1, 3, 5 e 10 minutos. Os resultados demonstraram que não houve diferença significativa para os diferentes intervalos de recuperação, apesar de 2 sujeitos não realizarem o teste com 5 minutos de intervalo e um sujeito não realizar com 10 minutos de intervalo. Outra pesquisa que demonstrou que o intervalo de recuperação não tem grande importância sobre a força dinâmica máxima foi realizada por Matuszak et al. [26]. Nesse estudo foram concedidos intervalos de 1, 3 e 5 minutos, sendo que para o exercício de agachamento o intervalo de 1 minuto de recuperação era o suficiente para restabelecer a força dinâmica máxima. Assim como no estudo de Weir et al. [25] foi visto no estudo de Matuszak et al. [26] que nem todos os sujeitos obtiveram sucesso no teste de 1RM com diferentes intervalos de recuperação. A maior porcentagem dos sujeitos (94,1%) que realizaram novamente o teste de 1RM no exercício de agachamento era quando um intervalo de 3 minutos era concedido. Com base nos resultados dos estudos supracitados, uma recuperação limiar parece existir, quando o treinamento com cargas iguais ou superiores a 90% de 1RM em que o descanso de 1-2 minutos entre as séries é dado como suficiente. Talvez a justificativa para rápida recuperação com exercícios que envolvam grande magnitude de carga (90% de 1RM) seja Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 advinda da maior utilização da fonte de energia por parte dos fosfagênios de alta energia (CP). b) FNP X Força Máxima: FNP exerce influência sobre a força máxima? Segundo os resultados da tabela IV, o teste de 1RM que foi aplicado imediatamente após a execução da FNP (FNP 1RM) difere significativamente dos demais testes de 1RM. Isso significa dizer que a FNP afeta negativamente a força quando essa é mensurada imediatamente a sua aplicação. Marek et al. [27] mostraram que esta técnica reduzia significativamente o pico de torque, a potência e a eletromiografia (EMG) em exercício isocinético de extensão de joelho a 60º e 300º s¹. Os autores consideram que o tamanho do efeito correspondente a mudanças induzidas pelo alongamento foram pequenas, sugerindo a necessidade de considerar-se uma relação de risco-benefício ao incorporar as técnicas de FNP ao exercício. Church et al. [9] verificaram que o desempenho no salto vertical era prejudicado após rotinas de FNP. Entretanto, em seus pareceres, os autores consideram que determinadas rotinas de aquecimento como a FNP deve ser evitada em movimentos que requerem grande geração de potência, tais como sprint e saltos, minimizando a quantidade de alongamento executada antes da atividade. Contudo em um trabalho realizado por Young e Elliot [7] verificou-se que a FNP não afetou negativamente o desempenho no salto em profundidade e na contração voluntária máxima. Nesse estudo foram observadas perdas de força somente quando eram realizadas rotinas de alongamento estático. Corroborando o estudo acima, Simão et al. [28], em sua pesquisa, observaram também que a FNP precedendo o exercício de supino não acarretou em perdas significativas sobre a força muscular. Porém o intervalo de descanso 1 minuto para executar o teste de 1RM no supino possa ter sido um fator importante para não haver mudanças significativas sobre a força. Além disso, segundo o autor, a ausência de modificações significativas nas cargas máximas poderia, igualmente, estar associada ao incremento das cargas, talvez demasiadamente elevado (5 kg), diminuindo o poder discricionário das medidas. Talvez as combinações neuromusculares e armazenamento de energia elástica possam explicar até mesmo possíveis ganhos de força [11]. c) FNP X FNP 1RM 10 min: 10 minutos de intervalo influencia a recuperação da força máxima após execução de FNP e o esforço máximo em seguida? Como foi visto antes, a força é afetada pela FNP pela ativação dos órgãos tendinosos de Golgi. Houve também a aplicação de um teste de 1RM logo após a aplicação da FNP, o que poderia também gerar fadiga na musculatura trabalhada. Entretanto observou-se que a força pode se restabelecer 219 plenamente, se for dado um intervalo de recuperação de 10 minutos. Portanto o tamanho do intervalo parece exercer um fator fundamental para a recuperação da força máxima após um trabalho de FNP sucedido de um de força máxima. Parece ser escasso na literatura pesquisas que relacionem diretamente a inter-relação da facilitação neuromuscular proprioceptiva com a força após um intervalo de descanso. Observa-se que esse efeito temporário do trabalho de alongamento sobre a força [14,15] é mais visto com protocolos de alongamento estático [10,6]. Isso tem demonstrado que esses efeitos negativos sobre a força que perduram por mais tempo são explicados por uma rigidez muscular aumentada provocando uma inibição neural [16,17]. Essas possíveis explicações podem ser aceitas, já que, segundo estudo de Knudson et al. [13] não houve mudanças significativas da creatina kinase que pudesse comprometer algum mecanismo fisiológico do músculo. Outro possível mecanismo interveniente sobre a perda de força muscular pode ser atribuído às alterações mecânicas sofridas pelas fibras causando alteração das propriedades mecânicas [18]. A inter-relação da facilitação neuromuscular proprioceptiva com a força de efeito temporário carece de mais estudos, abrindo um campo enorme para especulações. Sugere-se que novos estudos verifiquem o real efeito de uma variável (FNP) sobre a outra (força) a fim de contribuir com a ciência do exercício. Relação entre os testes: a)1RM, 1RM 10 min e FNP 1RM 10 min: fidedignidade do teste de 1RM Em um estudo de revisão realizado por Pereira e Gomes [29] nos apresenta o que a literatura nos dispõe sobre a confiabilidade no teste de 1 repetição máxima (RM). Segundo o autor a confiabilidade no teste de 1RM parece ser de moderada a alta, variando entre 0,79 e 0,99, de acordo com o gênero dos sujeitos e exercícios realizados. Ploutz-Snyder e Giamis [30] verificaram o número de sessões de testes na consistência do teste de 1RM com precisão de 1 kg. Nesta pesquisa os participantes foram constituídos de 7 mulheres jovens (23 anos) e 6 idosas (66 anos) ambos os grupos sedentários, sendo o exercício utilizado o de extensão de joelho. As mulheres idosas necessitam de um pouco mais de tempo do que as mais novas. As mais novas tiveram uma média de 3.6 sessões ficando num intervalo de 2 a 5 sessões para se alcançar a consistência no teste de 1 RM e já as idosas uma média de 8.8 sessões entre 7 a 10 sessões. Ao final das duas últimas sessões de testes de força de cada grupo, o coeficiente encontrado foi de r² = 0,94, sem haver diferença significativa entre os dois últimos testes de força de cada grupo (p > 0,05). Parece que realmente a idade possa ser uma variável fundamental na consistência do teste de 1RM [31]. Já Dias et al. 220 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 [32] verificaram que entre 3 a 4 sessões são necessárias para fidedignidade no teste de 1 RM no supino. Até mesmo quando executado de forma unilateral os testes de 1RM obtiveram alto índice de correlação intraclasse no exercício de agachamento. Observou-se que em homens treinados no agachamento sua correlação era de r = 0,98 e não treinados r = 0,99, e em mulheres treinadas de r = 0,99 e não treinadas de r = 0,97 [33]. Porém houve a necessidade de um terceiro teste de 1RM, verificando-se que não houve diferença significativa entre as cargas entre o primeiro e o segundo dia de testes. b) 1RM, 1RM 10 min e FNP 1RM 10 min: ocorreu um efeito de aprendizagem ou de treinamento nos testes de 1RM? As médias de cada grupo parecem aumentar a cada teste de força, sugerindo uma tendência de aumento em função de aprendizagem ou familiarização com o teste de 1RM citada por Dias et al. [32]. Segundo o autor, aumentos significantes na força muscular (p ≤ 0,01) foram encontrados em três exercícios analisados entre a primeira e a quarta sessão de familiarização (2,4% no supino horizontal, 3,4% no agachamento e 5,4% na rosca direta de bíceps). Todavia, nenhuma diferença estatisticamente significante foi encontrada entre a terceira e a quarta sessão de familiarização no supino e no agachamento (p > 0,05). Contudo, segundo Cronin e Henderson [34] as diferenças dos grupamentos musculares agonista podem acarretar em tempo de familiarização diferente para exercícios diferentes. Foi investigado se haveria diferenças entre os membros superiores e inferiores, tanto em avaliações unilaterais quanto bilaterais, sendo utilizados os exercícios agachamento e supino respectivamente. A única diferença significativa encontrada foi entre o primeiro teste e as outras testagens. Conclui-se que as mudanças parecem dependentes do tamanho da musculatura usada e a complexidade do movimento usado na tarefa. Conclusão Conclui-se que a FNP afeta negativamente a força quando essa é mensurada imediatamente a sua aplicação, e a reprodutibilidade dos testes de 1RM é alta quando aplicadas no mesmo dia e 48 horas após, apesar de haver uma leve tendência de aumento de força quando o teste de 1RM é realizado 48 horas após. Há consequentes implicações para atletas de esportes que requerem altos níveis de força como, por exemplo, o powerlifting e a ginástica. Os resultados deste estudo reforçam os achados de que a execução prévia das técnicas de FNP acarreta em perda de força. Sugere-se que sejam realizadas novas investigações com outras técnicas de FNP, assim como outros métodos de alongamento, verificando a confiabilidade dos testes de 1RM, levando em consideração os fatores que podem interferir nessa análise como idade, grupamento muscular utilizado e tempo de familiarização. Referências 1. Bonnar BP, Deivert RG, Gould TE. 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Laboratório de Fisiologia do Exercício (LAFE), **Graduada em Educação Física pela Unoesc, campus de São Miguel do Oeste/SC. Laboratório de Fisiologia do Exercício (LAFE), ***Especialista em Educação Física com Concentração em Treinamento Desportivo pela UNOESC, Professor do curso de Educação Física da UNOESC, campus de São Miguel do Oeste/SC, ****Graduada em Educação Física pela UNOESC, campus de São Miguel do Oeste/SC Resumo Objetivou-se analisar os efeitos da prática de seis meses de jogos adaptados e musculação na aptidão física e na capacidade funcional de 35 idosos de um grupo de convivência da cidade de São Miguel do Oeste/SC. A aptidão física foi avaliada através da bateria de testes de Rikli e Jones, com avaliações de força e resistência de membros inferiores, força e resistência de membros superiores, resistência aeróbia, flexibilidade dos membros superiores, flexibilidade dos membros inferiores, velocidade/agilidade e equilíbrio e medidas de peso e estatura para determinar o índice de massa corporal (IMC). A capacidade funcional foi avaliada por meio de uma ficha de autoavaliação. Os resultados foram analisados por meio do programa estatístico computacional SPSS versão 13.0 utilizando-se da estatística descritiva (média, desvio padrão e frequência absoluta) e do teste t pareado. Adotou-se nível de significância de P ≤ 0,05. Os resultados apontaram diferenças estatisticamente significativas para as variáveis de força de membros superiores e inferiores, flexibilidade de membros inferiores, velocidade/agilidade e equilíbrio. Na análise da capacidade funcional, cinco idosos passaram da classificação “moderada” para a “avançada”. Conclui-se que o programa foi eficiente para melhorar aspectos da aptidão física e capacidade funcional repercutindo favoravelmente na saúde dos idosos. Abstract This study aimed to analyze the effects of six months of practice and games tailored fitness in physical fitness and functional capacity of 35 elderly people from a Coexistence group of São Miguel do Oeste/SC. Physical fitness was assessed by a battery of tests Rikli and Jones [1], with evaluations of strength and endurance in the lower limbs, strength and endurance of the upper limbs, aerobic endurance, flexibility, upper limb, lower limb flexibility, speed / agility and balance and measures of height and weight to determine body mass index (BMI). Functional capacity was assessed through a self-assessment form. The results were analyzed using the statistical program SPSS version 13.0 computer using descriptive statistics (mean, standard deviation and absolute frequency) and the paired t test. We adopted a significance level of P ≤ 0.05. The results showed statistically significant differences for the variables of strength of upper and lower limbs, lower limb flexibility, speed/agility and balance. In the analysis of functional capacity, five elderly passed the classification “moderate” to “advanced.” We concluded that the program was effective in improving aspects of physical fitness and functional capacity favorably impacting the health of elderly. Key-words: physical fitness, functional capacity, health, elderly. Palavras-chave: aptidão física, capacidade funcional, saúde, idosos. Recebido em 16 de outubro de 2012; aceito em 5 de dezembro de 2012. Endereço para correspondência: Sandra Fachineto, Rua Marcílio Dias 898,1875/07, Centro, 89900-000 São Miguel do Oeste SC, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Introdução Do ponto de vista físico, o envelhecimento provoca constantes modificações ao longo da vida que afetam principalmente a aptidão física (ApF) e a capacidade funcional (CF). De acordo com Rikli e Jones [1] a ApF é compreendida como a capacidade fisiológica para executar normalmente, seguramente e independentemente atividades cotidianas sem fadiga. A manutenção de um determinado padrão de atividade física se torna essencial para que o sujeito idoso adquira uma condição na qual possa ter energia e vitalidade suficientes para o desempenho de suas atividades diárias sem fadiga. Para isto, o idoso precisa de níveis adequados de força, de resistência aeróbia, de flexibilidade, de agilidade e de equilíbrio bem como de percentuais de gordura normais [1]. Entende-se como capacidade funcional, a capacidade que cada indivíduo possui de realizar tarefas simples do cotidiano, como andar, sentar, etc., sem que para isso seja necessário o auxílio de outros, tal fator ainda pode ser descrito como autonomia. São apresentados dois tipos de capacidades, as atividades da vida diária - AVD, descritas como, levantar-se da cama, trocar de roupa, e outras, e as atividades instrumentais da vida diária - AIVD, que são as tarefas mais complexas, como cozinhar, limpar a casa, utilizar os meios de transporte públicos [2]. Sendo assim, a ApF e a CF dependem diretamente uma da outra. Um idoso com boa ApF consegue desempenhar suas tarefas diárias com maior autonomia [1]. Um estudo conduzido por Hernandes e Barros [3], que mediu a CF de um grupo de 51 idosos, na cidade de Brasília/DF, comprovou que após a participação dos idosos em aulas de condicionamento físico, que visavam o desenvolvimento de atributos como força, flexibilidade e capacidade aeróbia, e outras atividades de cunho cultural e social, a melhora na CF foi evidente. Os autores utilizaram-se de uma bateria de testes e puderam comprovar melhoras nos resultados dos testes de caminhar/correr 800m e vestir meias, atividades estas que se enquadram nas AVD ou ainda dentro dos padrões de funcionalidade do idoso. São escassos os estudos relacionando jogos adaptados com possíveis melhorias da ApF e CF na terceira idade. Recentemente, Berté et al. [4] mostraram que um programa de jogos adaptados, realizado três vezes por semana durante seis meses foi eficaz para a composição corporal dos idosos, um dos componentes da ApF, uma vez que reduziu o percentual de gordura e aumentou a massa corporal magra. No entanto, para as demais variáveis - razão cintura/quadril e circunferência de cintura (RCQ e CC), os resultados obtidos não foram significativos. No que concernem as variáveis de capacidade funcional não houve diferenças estatisticamente significativas, entretanto apresentaram tendência a resultados expressivos, uma vez que os valores médios diminuíram mostrando que os jogos adaptados também influenciam na melhoria da capacidade de os idosos realizarem suas atividades diárias. Sabe-se que um resultado mais eficaz tanto na composição corporal quanto na capacidade funcional é obtido com 223 a prática da musculação. A musculação além de aumentar o gasto calórico no treinamento aumenta em repouso, em virtude do aumento de massa muscular. O aumento da força muscular e a capacidade de utilizá-la com velocidade ajuda na prevenção de quedas e cria um mecanismo de proteção e prevenção quanto as capacidades funcionais [5]. Dessa forma, Vale et al. [6] afirmam que o treinamento de força aumenta o desempenho das atividades da vida diária, ajudando também a preservar e aperfeiçoar a mesma. Cabe salientar que o treinamento resistido ainda pode equilibrar a fraqueza e a fragilidade muscular dos idosos, melhorando também a mobilidade e a flexibilidade. Diante do exposto, objetivou-se analisar os efeitos da prática de seis meses de jogos adaptados e musculação na aptidão física e na capacidade funcional de idosos de um grupo de Convivência da cidade de São Miguel do Oeste/SC. Material e métodos Amostra e instrumentos de coleta de dados A amostra foi composta por 35 idosos com idade igual ou superior a 60 anos, residentes no município de São Miguel do Oeste/SC, selecionados de forma intencional e com participação voluntária. Destes, 6 eram homens e 29 mulheres. Para realização desta pesquisa foram respeitadas as normas e diretrizes regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos – Resolução do Conselho Nacional de Saúde – Ministério da Saúde – Res. CNS 196/96. O estudo foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa de Joaçaba, tendo parecer favorável sob número 146/2011 e CAAE 0147.0.151.000-11. Após a seleção, os idosos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) em duas vias, concordando em fazer parte deste estudo. A aptidão física foi avaliada no início e no final do programa de atividade física através da bateria de testes de Rikli e Jones [1], com avaliações de força e resistência de membros inferiores (teste de levantar e sentar na cadeira), força e resistência de membros superiores (teste de flexão do antebraço), resistência aeróbia (teste de caminhada de 6 minutos), flexibilidade dos membros superiores (teste de alcançar atrás das costas com as mãos), flexibilidade dos membros inferiores (testes de sentar e alcançar os pés), velocidade/ agilidade e equilíbrio (teste de levantar, caminhar e voltar a sentar) e índice de massa corporal (medidas de peso e estatura). A capacidade funcional foi avaliada antes e após o programa por meio de uma ficha de autoavaliação da capacidade funcional [7]. Programa de jogos adaptados e musculação O programa com jogos adaptados e musculação para idosos foi realizado três vezes por semana, no período vespertino durante seis meses. As sessões tiveram duração em torno de Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 224 90 minutos e incluíram esportes coletivos tais como voleibol, futsal, basquetebol, além de jogos lúdicos, assim como exercícios resistidos (musculação). O programa completo foi elaborado após as avaliações iniciais (pré-teste), levando em consideração a individualidade biológica de cada participante (idoso) para a organização dos exercícios. Para os exercícios de musculação utilizou-se do método alternado por segmento. Inicialmente utilizou-se 1 sessão de 15 repetições durante uma semana, para conhecimento dos aparelhos e movimento correto dos exercícios. Na segunda semana, passou-se para 2 sessões de 15 com o objetivo de adaptação neuromuscular, e um recrutamento maior de unidades motoras. A partir da quarta semana, iniciou-se o treinamento de 6 meses passando para 3 sessões de 15 repetições, mantendo a estrutura de treinamento, mas aumentando progressivamente a carga. Os jogos adaptados para idosos envolvem esportes coletivos como vôlei, futsal, handebol e basquetebol. Tais modalidades esportivas sofrem alterações de regras, assim como simplificações de situações de jogo. Estas modificações são realizadas com a intenção de respeitar algumas limitações encontradas nos idosos, pois se sabe que com o avanço da idade várias capacidades físicas e funcionais sofrem alterações. A adaptação do jogo tem como objetivo incluir o idoso na prática de forma sadia e prazerosa, sem que ofereça algum tipo de risco ao mesmo [8]. Tratamento dos dados Tabela I - Caracterização da amostra. Pré-teste (n = Pós- teste (n 35) = 35) Média ± DP Média ± DP 63,05 ± 8,14 63,40 ± 8,07 75,05 ± 17,15 74,96 ± 16,93 1,59 ± 0,08 1,58 ± 0,06 Variáveis Idade (anos) Massa Corporal (Kg) Estatura (m) A Tabela II apresenta a comparação da aptidão física antes e após o programa orientado. Como se pode notar, houve diferenças estatisticamente significativas para os testes de flexão de braço, levantar da cadeira, no teste de sentar e alcançar (perna direita e esquerda) e no teste de levantar e caminhar. Os resultados de IMC, alcançar as costas (esquerda e direita) e caminhada de 6 minutos não foram expressos de forma significativa. Isto indica que o programa foi eficiente para promover mudanças significativas para força, flexibilidade de membros inferiores e na velocidade/agilidade/equilíbrio. A Figura 1 mostra a comparação dos resultados de pré-teste e pós-teste em relação à capacidade funcional. A análise de frequência absoluta demonstra que 5 idosos passaram da classificação “moderada” para a “avançada”, o que indica um efeito positivo sobre a capacidade de realizar as atividades diárias. Figura 1 - Comparação da frequência absoluta de idosos que foram classificados com baixa, moderada e avançada capacidade funcional em relação ao pré e pós-teste. Baixo Para a análise dos dados utilizou-se o programa estatístico computacional SPSS versão 13.0. Os procedimentos estatísticos utilizados foram: estatística descritiva (média, desvio padrão e frequência absoluta) e o teste t pareado para analisar os dados de pré e pós-testes. Moderado Avançado 25 20 12 7 Resultados 3 Na Tabela I é mostrada a caracterização da amostra do estudo antes e após o programa orientado. 3 Pré-testes Pós-testes Tabela II - Comparação da aptidão física (índice de massa corporal; força/resistência muscular; flexibilidade, resistência aeróbia e velocidade/ agilidade e equilíbrio) antes e após o programa orientado. Variáveis Índice de Massa Corporal (Kg/m2) Flexão de Braço (nº rep) Levantar da Cadeira (nº rep) Sentar e Alcançar – perna direita (cm) Sentar e Alcançar - perna esquerda (cm) Alcançar as Costas – braço direito (cm) Alcançar as Costas – braço esquerdo (cm) Caminhada de 6 minutos (distância em metros) Levanta, caminha e volta a sentar (seg) *P ≤ 0,05 Pré-teste (n = 35) Média ± DP 29,67 ± 6,25 15,65 ± 4,48 12,74 ± 2,26 -0,38 ± 10,23 -1,55 ± 10,81 -5,7 ± 8,12 -12,23 ± 7,91 562,52 ± 49,65 5,55 ± 0,90 Pós- teste (n = 35) Média ± DP 29,73 ± 6,33 18,22 ± 3,40 15,57 ± 2,67 3,28 ± 7,99 3,50 ± 9,17 -4,77 ± 8,11 -9,76 ± 8,14 571,90 ± 53,53 4,52 ± 0,68 P ,821 ,001* ,000* ,009* ,000* ,572 ,081 ,360 ,000* Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Discussão Sabe-se que a maioria das funções fisiológicas declina com a idade. Geralmente o envelhecimento causa efeitos negativos sobre a aptidão física e a capacidade funcional, e o estilo de vida é considerado o maior responsável. Dessa forma o exercício físico regular demonstra ser um fator importante para estimular diversos órgãos e torná-los mais eficazes em relação às agressões ocorridas na velhice [9]. Também é sabido que com o avanço da idade ocorre grande acúmulo de gordura corporal, principalmente na região da cintura, dessa forma quanto mais a idade aumenta estes tendem sempre a aumentar mesmo através da prática de atividade física. Grande parte dos programas de atividade física não causa alterações significativas nos componentes de composição corporal [4-10]. Este fato vai ao encontro dos resultados deste estudo, o qual não observou mudança nos valores de IMC nos idosos. Confirmando, Hernandes e Barros [3] realizaram um estudo com o objetivo de verificar se a participação de dez semanas em um programa e atividade física multidisciplinar seria capaz de provocar mudanças no desempenho de idosos em testes que simulam atividades da vida diária. Dentre os testes, foram realizadas mensurações de massa corporal, estatura e IMC. Os resultados encontrados indicaram que não houve variação estatisticamente significativa entre as medidas de pré e pós-teste. Em nosso estudo, percebeu-se que a força para membros superiores e inferiores, bem como a flexibilidade dos membros inferiores aumentou nos idosos. Corroborando, Alves et al. [11] objetivaram verificar o efeito da prática de hidroginástica sobre a aptidão física do idoso por meio da bateria de testes de Rikli e Jones [1]. Dessa forma, um grupo de 37 mulheres recebeu duas aulas semanais de hidroginástica durante três meses e outras 37 mulheres serviram como controle. Os resultados após o programa orientado em relação ao teste de flexão de braço foram melhores no grupo submetido às aulas de hidroginástica, uma vez que neste grupo foram observados valores significativos de pré para pós-testes (grupo estudo pré: 12,2 ± 2,5, grupo estudo pós: 21,6 ± 2,8 e grupo controle pré 11,3 ± 2,8, grupo controle pós 10,5 ± 2,7). Os resultados do teste “sentado e alcançar” também apresentaram diferença significativa após três meses de hidroginástica (grupo estudo pré: -5,6 ± 7,50, grupo estudo pós: -5,2 ± 9,2 e grupo controle pré: -4,2 ± 11,6, grupo controle pós: -5,0 ± 11,3). Ainda, Marin et al. [12] encontraram valores estatisticamente significativos em mulheres com mais de 50 anos participantes de um programa de ginástica. Os mesmos observaram um aumento no grupo experimental após o programa de intervenção nas variáveis: flexibilidade (6,6%), força de membros superiores (9,8%) e inferiores (23,7%). Em nosso estudo, embora a flexibilidade de membros superiores não diferisse significativamente, notou-se que os valores médios aumentaram mostrando que o programa orientado auxilia na manutenção da flexibilidade dos idosos. 225 Em um estudo similar a este, os autores verificaram os efeitos na capacidade aeróbia antes e após um programa de três meses de atividade física (alongamento, ginástica aeróbia, ginástica localizada, relaxamento e atividades lúdicas) em mulheres idosas de Coronel Fabriciano - MG. Fizeram parte da amostra 20 mulheres com idade média de 62,55 anos. Os resultados encontrados apontaram que não houve diferença significativa em relação às médias [9]. No presente estudo, também não se observou diferença significativa para a resistência aeróbia dos idosos, embora os valores médios aumentassem em relação ao pré-teste. É importante destacar que os idosos, ao realizarem movimentos corporais rápidos e de curta duração, assim como possuírem a capacidade de direção e alterações na altura do centro de gravidade, devem possuir bons níveis de agilidade, velocidade e equilíbrio dinâmico. Tais níveis podem auxiliar no deslocamento em calçadas com desníveis e buracos e para desviar de pessoas e de objetos [13]. Com o avanço da idade há um declínio na agilidade e no equilíbrio, causados pela diminuição da capacidade do sistema neuromotor de iniciar, modificar ou finalizar os movimentos. Esses elementos da aptidão funcional possuem uma grande demanda nas atividades da vida diária e dependem de outras capacidades físicas como: força, coordenação, flexibilidade e velocidade [14]. Ainda, mulheres com idade igual ou acima de 60 anos submetidas a exercícios de hidroginástica conseguiram melhorar a velocidade/agilidade e equilíbrio assim como no presente estudo [11]. Outro estudo realizado com 100 idosos do sexo masculino, com idade entre 75 e 80 anos do estado de Rondônia, tendo como intervenção exercícios funcionais, contatou-se através dos testes propostos por Rikli e Jones que houve uma melhor significativa com a prática das atividades físicas na capacidade funcional [14]. Estudos demonstram que através do treinamento de força se pode aumentar a agilidade de pessoas idosas, assim como melhorar a capacidade destas pessoas em realizar deslocamentos alterando seu centro de gravidade, e a partir daí, incrementar seu equilíbrio, possibilitando a estes idosos realizarem com segurança os movimentos do cotidiano. O tipo específico de exercício é que determinará as adaptações específicas dos mecanismos fisiológicos do indivíduo, devido a adaptações favoráveis no próprio músculo e em sua organização neural [12-15]. O idoso com boa capacidade funcional consegue realizar suas tarefas cotidianas como subir escadas, carregar suas compras e se abaixar com muito mais facilidade, pois essas tarefas diárias exigem dele um conjunto de capacidades como força muscular, resistência muscular localizada e flexibilidade além de resistência aeróbia [9-15]. Quando a prática de atividade física para idosos for orientada de forma correta e realizada regularmente pode ocasionar vários benefícios, tais como manutenção da independência e autonomia. Os idosos que mantêm ou melhoram a capacidade funcional, como é os caso dos idosos deste estudo, são capazes 226 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 de realizar todas as atividades da vida diária (incluindo cuidados pessoais básicos, como vestir-se, banhar-se, levantar-se da cama e sentar-se numa cadeira, utilizar o banheiro, comer e caminhar uma pequena distância) bem como todas as atividades instrumentais da vida diária (referindo-se a tarefas mais complexas do cotidiano e incluem, necessariamente, aspectos de uma vida independente, como fazer compras, cozinhar, limpar a casa, lavar roupa, utilizar meios de transporte e usar o telefone) [1]. Conclusão Os resultados do presente estudo mostraram que houve diferenças estatisticamente significativas para os testes de flexão de braço, levantar da cadeira e de sentar e alcançar (perna direita e esquerda). Isso indica que os idosos melhoraram significativamente a força muscular e a flexibilidade, pois com o avanço da idade estas variáveis tendem a diminuir. Também houve efeito significativo sobre a velocidade/agilidade e equilíbrio, uma vez que estes são essenciais para a realização de movimentos exigidos no dia-a-dia. Na análise da capacidade funcional cinco idosos passaram da classificação “moderada” para a “avançada”, o que indica um efeito positivo sobre a capacidade de realizar as atividades diárias. Conclui-se que o programa foi eficiente para melhorar aspectos da aptidão física e capacidade funcional, repercutindo favoravelmente na saúde dos idosos. Agradecimentos Ao programa de Bolsas de Iniciação Científica da Unoesc/ FAPE/art. 170 pelo auxílio financeiro. Aos pesquisadores e voluntários do Laboratório de Fisiologia do Exercício (LAFE) do curso de Educação Física da Unoesc pela ajuda nas avaliações dos idosos. Aos idosos participantes da pesquisa, pela assiduidade e comprometimento para com o programa de exercícios físicos. Referências 1. Rikli R, Jones J. Testes de aptidão física para idosos. 1a ed. São Paulo: Manole; 2008. p.182. 2. Benedetti TB, Mazo GZ, BARROS, De Mauro VG. Aplicação do Questionário Internacional de Atividades Físicas para avaliação do nível de atividades físicas de mulheres idosas: validade concorrente e reprodutibilidade teste-reteste. Rev Bras Ciênc Mov 2004;12:25-34. 3. Hernandes ESC, Barros JF. Efeitos de um programa de atividades físicas e educacionais para idosos sobre o desempenho em testes de atividade da vida diária. Rev Bras Ciênc Mov 2004;12:43-50. 4. Berté JK, Maziero N, Fachineto S, Muller GC. Efeitos de seis meses de jogos adaptados na composição corporal, capacidade funcional e no sistema imunológico de idosos. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício 2011;30:503-9. 5. Novaes JS. Ciência do treinamento dos exercícios resistidos. 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Ft.*, Cristhine Görgen, Ft.**, Mariana Calazans da Silva, Ft.** *Supervisor do Ambulatório de Disfunções Músculo-Esquelética da Faculdade Guilherme Guimbala - FGG, Especialista em Ortopedia e Traumatologia-FGG, **Faculdade Guilherme Guimbala-FGG Resumo Pessoas com doença arterial periférica têm como uma das sintomatologias a claudicação intermitente, a qual diminui a autonomia e nível de atividade física. O exercício físico tem se mostrado eficaz na maioria dos casos de doença arterial obstrutiva periférica (DAOP). O objetivo deste estudo foi verificar quais protocolos são mais utilizados no tratamento da insuficiência arterial periférica em que há presença de claudicação intermitente. Foi realizada pesquisa bibliográfica nas bases de dados eletrônicas, Pubmed e Scielo, a partir dos termos intermittent claudication, exercise, peripheral arterial obstructive disease, exercise therapy. Os resultados encontrados foram 60 artigos, dos quais apenas 13 apresentavam ensaios clínicos controlados, e foram analisadas a metodologia, as variáveis e a mudança. Conclui-se que indivíduos com DAOP que realizam exercícios aeróbicos, de uma forma geral, atingem benefícios sob a capacidade deambulatória e consequentemente aumentando a funcionalidade desse indivíduo na sociedade. Abstract Patients with peripheral arterial disease have as one of the symptoms the intermittent claudication, which reduces the autonomy and performance of physical activity. Physical exercise has shown to be effective in most cases of peripheral arterial obstructive disease (PAOD). The aim of this study was to verify which protocols are most used on the treatment of the peripheral arterial insufficiency with intermittent claudication. A literature review was performed on electronic data bases, Pubmed and Scielo, using the terms intermittent claudication, exercise, peripheral arterial obstructive disease and exercise therapy. Thirteen out of 60 articles were found with controlled clinical trials and were analyzed methods, variables and changes. We concluded that patients with PAOD doing aerobic exercises, in general, improve gait capacity and consequently functional activity. Key-words: intermittent claudication, physical activity, peripheral arterial disease. Palavras-chave: claudicação intermitente, exercício físico, doença arterial periférica. Recebido em 22 de outubro de 2012; aceito 6 de dezembro de 2012. Endereço para correspondência: Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Rua Paulo Henk, 96, 89216-550 Joinville SC, E-mail: alisson. [email protected] 228 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 Introdução A doença arterial obstrutiva crônica (DAOP) é dita como uma patologia proveniente de uma arteriosclerose [1]. Esta, por sua vez, promove a diminuição do lúmen arterial, consequentemente ocorrendo à diminuição do fluxo sanguíneo, o que acarretará déficit de nutrientes e oxigênio aos tecidos [2,3]. Tem como característica sua incidência maior em membros inferiores (MMII). No Brasil aproximadamente 5,3% dos indivíduos entre 45 e 70 anos possui maior risco de desenvolver tal patologia [4,5]. O desenvolvimento da arteriosclerose envolve acúmulo de colesterol LDL na camada íntima da artéria, ocasionando disfunção endotelial e consequente isquemia de reperfusão, o qual promoverá um processo inflamatório caracterizado por metabólitos residuais, com liberação de radicais livres, além de promover a atrofia e desnervação de fibras musculares. Essas disfunções, por sua vez, resultam na diminuição da autonomia e nível de atividade física, e consequentemente redução da aptidão física e qualidade de vida desses pacientes [6,7]. Os sintomas da DAOP são definidos conforme a artéria e o quadro evolutivo da obstrução arterial, dividindo então, assintomático e sintomático. Este último pode ser ainda classificado em: claudicação intermitente (CI), neuropatia isquêmica e dor em repouso. A primeira sintomatologia ocorre em 5-10% dos indivíduos com DAOP, quando presente é representa por uma dor ao caminhar [7,8], no qual cessa após a caminhada sem fazer nenhum tipo de manobra para o alívio da mesma [1,9]. A localização da dor claudicante vai depender do local da obstrução, sendo mais frequente na região posterior da perna, porém pode ocorrer nas coxas e glúteos [10]. A claudicação intermitente no caminhar tem estado relacionada ao declínio funcional e diminuição da qualidade de vida destes pacientes [4]. Dessa forma, há amplos fatores de riscos, os quais se destacam gênero masculino, etnia negra, tabagismo, obesidade, sedentarismo, estresse, hiperlipidemia, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellito e hereditariedade [6,11]. O tratamento clínico tem como objetivo controlar os fatores de risco, utilizando de terapia medicamentosa associada com o exercício físico, o qual desempenha a melhora da qualidade de deambulação [12]. O exercício físico promove alterações musculares ultraestruturais e bioquímicas, adaptações morfofuncionais, alterações hemodinâmicas, aumento do calibre das artérias (liberação de ON), regressão da estenose luminal e desenvolvimento da circulação colateral pela redistribuição de fluxo sanguíneo dentro da musculatura isquêmica [10]. Caso os resultados do tratamento conservador forem insatisfatórios o tratamento cirúrgico é indicado, da mesma forma quando o indivíduo com DAOP tenha o membro isquêmico crítico, tendo como critério o índice de tornozelo-braquial < 0,40, o que resulta em dor em repouso, podendo estar acompanhado de gangrena (úlcera isquêmica) [1,7,12]. O tipo de cirurgia vai ser escolhido pelo estado clínico deste paciente, podendo ser a cirurgia vascular convencional (endarterectomia e substituição arterial) ou endovascular (angioplastia) [12]. Contudo, observou-se que o exercício físico demonstra-se eficaz na maioria dos casos de DAOP, por ter seu caráter não invasivo, com baixa incidência de complicações, além de ação sistêmica, a qual tende a melhorar as distâncias de marcha de forma lenta e gradual [10,13,14]. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar quais protocolos são mais utilizados no tratamento da insuficiência arterial periférica. Material e métodos Foi realizada pesquisa bibliográfica nas bases de dados eletrônicas, Pubmed e Scielo. Para tanto foram utilizados os termos: intermittent claudication, exercise, peripheral arterial obstructive disease, exercise therapy. As buscas foram realizadas restringindo a data para artigos publicados entre 2000 a 2010, em língua inglesa e portuguesa, sendo inclusos os estudos que abordavam casos nos quais a intervenção em pacientes com DAOP e CI se dera exclusivamente através de exercício físico. Desta forma foram analisados 60 artigos, dos quais 13 preencheram os critérios de inclusão deste estudo. Resultados Dos 60 artigos encontrados, apenas 13 apresentavam ensaios clínicos controlados. Os artigos selecionados quanto aos tratamentos comparados para a insuficiência arterial periférica foram: treinamento aeróbico, resistido e combinado, além de supervisionado ou não. A Tabela I apresenta os dados dos estudos selecionados, tendo respectivamente autor, grupo participante, metodologia, variáveis estudadas e conclusão. Discussão Os artigos relacionados apresentaram uma variação de 1 a 500 pacientes nos grupos, sendo um total de 1238 pacientes estudados. Em nove estudos [12,15-22] o total de grupos envolveu mais de 50 pacientes, e em um estudo [23] o grupo envolveu apenas um paciente. Três artigos [18,20,22] as amostras foram subdivididas em dois grupos, e em cinco artigos subdividiram-se [12,16,19,21,24] as amostra em três grupos, formando assim 25 grupos de estudo, nos quais a maioria dos grupos analisados utilizou treinamento físico supervisionado, correspondendo a 84% (21 grupos) da pesquisa, e o restante, que corresponde a 16% dos grupos, não obteve a supervisão. Entretanto, o estudo de Wang et al. [25] dividiu seu tratamento em duas etapas, ou seja, as primeiras doze semanas foram realizadas com treinamento supervisionado, e o restante 48 semana foi realizada sem supervisão, sendo assim não inclusa nas porcentagens citadas acima. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 229 Tabela I - Abordagens fisioterapêuticas: grupo, metodologia, variáveis estudadas e conclusão. Autor Grupo McDernott, M M n1 = 51 et al. [12] n2 = 52 gC = 53 Metodologia n1 – treinamento 3x/semana, exercício aeróbico supervisionado inicial, 15 min exerc. progredindo na 8ª sem. 40 min. n2 – trein. 3x/sem. exerc. resistido superv. 3 séries/8 repetições ext/flex joelho, plantiflexão e agachamento usando equip. standart, iniciando 50% rep. máx. gC – 11 sessões nutricionais, trat. 3 grup. durou 24 sem. Wolosker N et al. [15] Degischera S et al. [16] Ativ. superv. aeróbica (caminhada 40 min/dia, 4x/sem, 24 sem. trat). n1 e n2 – 3 sessões/sem 1h. exer. superv. fase aquec. treinam aeróbico esteira e desaquecim. durou 12 sem. n3 – não superv. orientação caminhada 1h/dia pista livre. durou 12 sem. 500 n1 = 19 n2 = 19 n3 = 21 Bendermacher BL et al. [17] 56 Ativ. superv. aeróbica associada exerc. resist. (caminhada esteira até dor absoluta 2/3 sessões por semana alternando com treinamento cardiorrespiratório e musculação, 24 sem. trat.) n1 = baixa intensidade n2 = alta intensidade Ativ. esteira, trein. Aeróbico superv. 3x/sem., 24 sem. Gardner AW et al. [18] n1 = 31 n2 = 33 Zwierska I et al. [19] nS = 30 Três grupos sessões 40 min. exerc. aeróbico superv. 24 n I = 32 sem. nC orientado estilo de vida determinado, incentivado n C = 32 realizar exerc. físicos regulares. Tsai JC et al. [20] n1 = 27 n2 = 26 Exerc. aeróbico superv. esteira 3x/sem. total 12 sem. Walker RD et al. nS = 26 [21] nI = 26 nC = 15 Ativ. aeróbica superv. 2x/sem. treinava-se contra carga (cicloergômetro) total exerc. 20 min por 6 sem. Manfredini F et al. [22] n1 = 74 n2 = 52 n1 – 2 sessões diárias 10 min caminhada 6x/sem. velocidade máxima assintomática, exerc. aeróbico não superv. 24 sem. n2 – 20-30 min. diários caminhada 6x/sem. velocidade conforme tolerância a dor. Ativ. aeróbica não superv. 24 sem. Pereira DAG et al. [23] Crowther RG et al. [24] 1 n1 = 10 n2 = 11 n3 = 11 Variável Teste caminhada 6’ Braquial-arterial Dist. CI inicial Dist. CI absoluta Qualid. Vida For. Ext. joelho For. Flex. Joelho Dist. CI absoluta Dist. CI inicial / Dist CI absoluta Dist. CI inicial / Dist. CI absoluta Dist. CI inicial Dist. CI absoluta CO2 (VO) Qualid. Vida Janela de isquemia Consumo O2 máx. Dist. CI inicial Dist CI absoluta Tempo CI Tempo máx. dor Teste caminhada 6’ Qualid. Vida Dist. CI inicial Dist. CI absoluta Qualid. Vida Dist. CI. Inicial Dist. CI. Absoluta Índ. Torn-braquial PA sistólico PA diastólica Freq. Cardíaca Exer. superv. aeróbico. Ativ. cicloergômetro 20 min. 3x/sem. Tempo CI inicial 8 sem. Tempo CI absoluta n1 – ativ. superv. caminhada (aeróbica) até cansar ou até 25 min. 48 sem. Dist. CI inicial n2 – terapia médica padrão associada ativ. aeróbica suDist. CI absoluta perv. 48 sem. n3 – exerc. físico comunidade não regular, ou seja, ativ. aeróbica não superv. 48 sem. Conclusão n1 / n2 / gC ↑ / ñ alt / ↓ ↑ / ñ alt / ñ alt ↑/-/↑/↑/↑/↑/↑ ñ alt / ↑ / ñ alt / ↑ / ↑ n1 - ↑ 82,7% / 163,8% n2 - ↑ 131,4% / 200,6% n3 – 5,4% / 44,4% ↑ 187% / 142% ↑ 240% / 191% n1 / n2 ↑109% / ↑109% ↑61% / ↑63% ↑/↑ ↑/↑ ↑/↑ nS / nI ↑ / não ↑ ↑51% / ↑57% ↑29% / ↑31% ↑88% ↑70% ↑21% ↑ nS / nI ↑122% / ↑93% ↑47% / 50% ↑/↑ n1 / n2 ↑/↑ ↑/↑ ↑ / não ↑ ↓/↓ ↓ / não ↓ ↓/↓ ↑ ↑ n1 / n2 / n3 ↑/↑/↑/↑/↓ Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 230 Autor Wang J et al. [25] Grupo 15 Sudbrack AC et al. [26] 15 Metodologia Primeiras 12 sem. ativ. esteira 1h superv. 3x/sem. Após 24 sem. exerc. não superv. orientação 3 a 4x/sem caminhada em casa. Total 48 sem. ativ. aeróbica. Exerc. superv. aeróbico. 5 meses, 3 sessões/sem. total 20 sem. duração média 50 min a sessão Variável VO2 pico Índ. Torn-braquial Tempo caminhada Distância Tempo Dor Conclusão ↑ ↑ ↑ ↑ 173,31 min ↑ 3’5’’ II e III (escala Borg) Fonte: dados coletados pelos autores Em relação ao tempo de duração da intervenção através de exercícios, esta variou de seis semanas a 48 semanas. Três estudos [21,24,26] demonstraram duração de seis, oito e vinte semanas, respectivamente, dois estudos [17,24] realizaram o treinamento por doze semanas, seis estudos [11,15,17-19,22] demonstraram duração de 24 semanas, e o treinamento de 48 semanas foi executado em dois estudos [23,25]. No que se refere à modalidade dos exercícios, a maioria dos trabalhos envolvidos exibia treino aeróbico [15,18-26] como única modalidade de exercício, sendo a caminhada e cicloergômetro os mais utilizados. Contudo, um estudo [20] apresentou atividade combinada, ou seja, exercício aeróbico associado a exercício resistido. Já em um grupo do estudo de Degischera et al. [16] apresentaram terapia por exercício aeróbico associado à administração de medicamento, clopidogrel 75mg. A frequência de treinamento prescrita variou de duas até sete vezes por semana, e mais de 50% realizaram o treinamento por três vezes, variando de baixa a alta intensidade. Geralmente o exercício era realizado até sua dor de claudicação intermitente absoluta. De acordo com Araújo et al. [27], os pacientes com claudicação intermitente devem ser estimulados a caminhar dez vezes a distância de sua claudicação intermitente por dia. As variáveis predominantes nos estudos foram distância de claudicação intermitente inicial, distância de claudicação intermitente absoluta, índice tornozelo-braquial e qualidade de vida. Estas avaliadas, em sua maioria, obtiveram bons resultados. Os estudos analisados tentam buscar o melhor tipo de exercício físico para os indivíduos com DAOP, que são padronizados e poucos chegaram a alguma conclusão. Porém o que se tem demonstrado é que esse tipo de exercício em conjunto ou de maneira isolada demonstra a melhora da qualidade de vida, diminuição da taxa de mortalidade e melhora no desempenho da caminhada. Estudos demonstram que exercícios aeróbicos melhoram o desempenho de caminhar, tanto na distância da claudicação inicial como na distância da claudicação absoluta. No entanto, os exercícios resistidos melhoram a distância da claudicação inicial e força muscular, melhorando a capacidade de subir e descer escadas [12]. Porém Bendermacher et al. [17] baseiam-se em seu estudo uma combinação com exercício aeróbico e resistido em 24 semanas obtendo resultados de distância de claudicação intermitente e absoluta de 187% e 240%, respectivamente, demonstrando assim como a junção desses dois tipos de exercícios podem ser benéficos. Assim obtiveram-se estudos [16,23] comparando o exercício com ou sem supervisão. O primeiro pode ter a supervisão de um profissional (médico, educador físico ou fisioterapeuta), ou apenas a orientação médica, e os exercícios realizados por si mesmo, a qual é a maneira mais utilizada por haver baixo custo. Entretanto, na maioria dos casos há o insucesso por falta de comprometimento do mesmo [10]. Dessa forma, para que os benefícios adquiridos sejam mantidos é preciso continuar com o programa de treinamento, caso contrário esses poderão ser perdidos. O estudo de Gardner et al. [18] observou as intensidade do exercício físico, submetendo os grupos a exercícios aeróbicos supervisionados, 3 vezes na semana. O grupo de baixa intensidade cessava quando estivesse em 40% da dor e o grupo de alta intensidade em 80%. Concluindo-se que a eficácia dos exercícios de baixa intensidade é semelhante ao de alta intensidade melhorando assim os marcadores de independência funcional em pacientes com DAOP limitada pela claudicação intermitente, aumentando a taxa de adesão ao exercício terapêutico, já que muitos pacientes desistem por causa do desconforto ao realizar o mesmo. De acordo com Thompson et al. [28], a atividade física que utiliza vários grupos musculares, como a atividade aeróbica, tem a capacidade de produzir determinadas adaptações cardiovasculares, as quais irão aumentar a capacidade do exercício, a resistência e a força muscular esquelética, o que em pacientes com presença de arterosclerose demonstra grande benefício, não somente ao risco de progressão, mas também às funções miocárdicas e das artérias, ocorrendo vasodilatação e tonicidade vascular. Além disso, fatores químicos que auxiliam na formação dos trombos são reduzidos com a prática do exercício físico regular, ou seja, haverá aumento da resistência à insulina, maior intolerância à glicose, diminuição de lipoproteína de alta densidade e aumento de lipoproteína de baixa densidade, e por fim a diminuição em até 72 horas dos triglicérides séricos, este último sob efeito de exercício físico rigoroso. Contudo, Câmara et al. [6] prescrevem treinamento com exercício resistido como terapêutica para DAOP. Relata que a principal vantagem desse método é o adequado controle de todas as variáveis do movimento (posição, postura, velocidade, amplitude e intensidade). Este promove o aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial sistólica e diastólica, sendo esta última considerada fator de proteção cardiovascular, pois favorece o fluxo coronariano, aumento Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 11 Número 4 - outubro/dezembro 2012 aporte de oxigênio ao miocárdio, tendo como consequência a diminuição dos incidentes isquêmicos e arrítmicos. Thompson et al. [28] ainda comenta que a atividade física pode ser a opção de terapia primária para indivíduos que apresentam claudicação intermitente, desde que esta seja a principal limitação funcional. Nos estudos de Silva et al. [29], o exercício físico além de condicionar melhor o indivíduo com DAOP, também está diretamente relacionado à diminuição de problemas que envolvem dependência, como tabagismo, e melhoram a sensação de bem estar como também a qualidade de vida dos pacientes. Neste estudo foram analisadas mulheres ativas em relação ao exercício físico regular e as não ativas, observando que as não ativas apresentavam 93% menos percepção positiva em relação à qualidade de vida, diferentemente do grupo das mulheres ativas. No estudo de Garg et al. [30] foi avaliada a atividade física de forma contínua ao longo de 7 dias e foram acompanhados anualmente por até 4 anos, percebendo então que quanto maior o nível de atividade física menor são os processos inflamatórios associados na doença arterial periférica (DAP). Essas alterações fisiológicas e metabólicas associadas com atividade física pode explicar a associação de maior atividade física com menor declínio funcional em pessoas com DAP. Segundo Cassady [31], o exercício físico regular também a influencia na angiogênese, formando a circulação colateral, além de mencionar que o próprio melhora a vasodilatação do endotélio tanto nos vasos periféricos como nos coronarianos. Da mesma forma, Yang et al. [8] descrevem que a hipóxia muscular é o estímulo provável nas adaptações vasculares do músculo isquêmico. Ainda há os efeitos no tecido muscular, o qual aumenta a produção de adenosina trifosfato (ATP) e a atividade mitocondrial e diminui produção de lactato. Treesak et al. [11] realizaram um estudo comparando o custo benefício entre o exercício físico e o procedimento cirúrgico de angioplastia transluminal percutânea, no segmento ilíaco. A conclusão desde estudo foi que o exercício, realizado por seis meses, é mais eficaz e tem menor custo em relação ao procedimento cirúrgico. Norgren et al. [32] relatam que a claudicação intermitente é um sintoma da doença arterial periférica, a qual limita o paciente na sua capacidade de andar e como resultado um declínio no desempenho do exercício. Uma vez que a claudicação é estabelecida como o principal sintoma limitar do exercício, o objetivo principal do tratamento através do exercício para a claudicação intermitente é aliviar os sintomas durante o andar e melhorar o desempenho do exercício e das atividades. Conclusão Devido aos inúmeros protocolos disponíveis para o tratamento dos indivíduos com doença arterial periférica, percebe-se que ainda a caminhada é o exercício mais utilizado para a promoção dos benefícios como a melhora da capacidade de 231 deambulação e consequentemente a melhora da qualidade de vida, aumentando assim a funcionalidade deste indivíduo. Porém há uma perspectiva para que outros tipos de exercícios sejam inseridos para os portadores da doença arterial periférica, assim se faz necessário que mais estudos sejam feitos para comprovar a eficácia dos mesmos. Referências 1. Burihan E, Baptista-Silva JCC. O exame vascular. In: Pitta GBB, Castro AA, Burihan E editores. 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