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Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Mestrado em Letras Neolatinas Estudo da relevância do trabalho coordenado de leitura/escrita no ensino de francês língua estrangeira Maxuel de Souza Rodrigues RIO DE JANEIRO Fevereiro de 2012 Maxuel de Souza Rodrigues Estudo da relevância do trabalho coordenado de leitura/escrita no ensino de francês língua estrangeira Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos – Opção: Língua Francesa) Orientadora: Profª Drª Tânia Reis Cunha Faculdade de Letras/UFRJ (Rio de Janeiro) 2012 RODRIGUES, Maxuel de Souza. Estudo da relevância do trabalho coordenado de leitura/escrita no ensino de francês língua estrangeira / Maxuel de Souza Rodrigues. Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Letras, 2012. xi, 167 f.: il.; 29,7 cm Orientadora: Tânia Reis Cunha Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, 2012. Referências Bibliográficas: f. 178-182. 1. Língua Francesa, 2. Ensino e Aprendizagem de LE. 3. Compreensão escrita. 4. Produção escrita – I. Cunha, Tânia Reis. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Letras Neolatinas. III. Título. Maxuel de Souza Rodrigues ESTUDO DA RELEVÂNCIA DO TRABALHO COORDENADO DE LEITURA/ESCRITA NO ENSINO DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA Orientadora: Profa. Dra. Tânia Reis Cunha Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas. Rio de Janeiro, ....... de fevereiro de 2012 Examinada por: ______________________________________________ Presidente, Profª Drª Tânia Reis Cunha Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ ______________________________________________ Profª Drª Maria Aparecida Lino Pauliukonis Universidade Federal do Rio de Janerio - UFRJ ______________________________________________ Profª Drª Angela Maria da Silva Corrêa Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ ______________________________________________ Profª Drª Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ ______________________________________________ Profª Drª Aurora Maria Soares Neiva Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Ao Felipe Nicolao AGRADECIMENTOS À minha mãe, Maria da Gloria de S. Rodrigues, por todo o apoio dado desde o início da minha graduação e da vida. À minha família, minha irmã Meirielen de Fátima de S. Rodrigues, meu pai Adauto D. Rodrigues e meu cunhado Lee Jackson, por todo o apoio dado desde o início da minha graduação. À professora Tânia Reis Cunha, pelo forte apoio dado à minha pesquisa refletido no cuidado e atenção constantes. À CAPES, pelo apoio financeiro dado durante toda a pesquisa. Às professoras da banca, pela disponibilidade e pela leitura da minha dissertação. À professora Angela Maria da Silva Corrêa, pelo apoio e incentivo. À professora Leonor Werneck dos Santos, pelas discussões profícuas a respeito da Linguística Textual realizadas na época em que eu comecei a ter contato com a sala de aula no CPV de Nova Iguaçu. Ao grande professor Ary Pimentel, por ter me apresentado Bourdieu nas discussões realizadas no CPV de Nova Iguaçu e por ter me feito compreender que a educação se realiza também para além da sala de aula. À professora Maria Luiza Mesquita da Rocha, por ter me mostrado o valor da prática docente no CPV de Nova Iguaçu. Aos meus amigos Felipe Beyle, Gilberto Araújo, Guilherme Sedlacek, Polyana Gomes e William Souza, pelas palavras de apoio, pelas discussões e pelos bons momentos juntos. Aos meus amigos Rafael Brito e Robson Macedo, por sempre estarem presentes em todos os momentos da minha vida. RESUMO RODRIGUES, Maxuel de Souza. Estudo da relevância do trabalho coordenado leitura/escrita no ensino de francês língua estrangeira. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Letras Neolatinas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012 Ao entrarmos em contato com os PCN (1998), percebemos a relevância que se tem dado ao ensino de língua estrangeira partindo de atividades eficientes de leitura. Diante disso, entra em jogo o ensino de estratégias de leitura, em que se parte da noção de que essa atividade é caracterizada como processo discursivo (Coracini, 2002), no qual se inserem autor e leitor. No que tange a esses dois atores, propostas interacionistas (Kleiman, 2004; Koch e Elias, 2007) sustentam a ideia de que só há engajamento na leitura a partir da interação de três níveis de conhecimento: de língua, enciclopédico e interacional. A relação buscada entre a produção escrita e a leitura se caracteriza pela necessidade de se trabalhar com a compreensão escrita antes que os alunos sejam submetidos a atividades de produção textual. Somente pela leitura é possível apresentá-los às estratégias a que o produtor recorreu para a construção de seu texto. Além disso, por esse meio, podem-se evidenciar os critérios que transitam por todos os textos para que o produtor possa construir significados. Entretanto, para que isso ocorra, é imprescindível fazer o aluno compreender o texto, o que pode ser feito a partir da utilização das estratégias de leitura. Este trabalho buscou evidenciar que a conscientização das estratégias utilizadas pelo leitor para produzir significados facilitou a produção de textos por alunos, uma vez que notaram que, ao escrever, escrevem contextualizadamente para construir um sentido que deverá ser recuperado por seu interlocutor. Nesses termos, é conveniente apontar que essa produção de sentido se verifica por meio da observação de que o sujeito precisa se colocar tanto na posição de produtor como na de compreendedor, isto é, a escolha das estratégias no ato de produção também deve levar em consideração aquelas que o leitor utiliza para compreender um texto. Para verificar a importância do trabalho de produção escrita coordenado a um trabalho de compreensão escrita, estudantes que cursam o terceiro período da habilitação português-francês de uma universidade pública foram submetidos a atividades de leitura e de produção textual tanto no início do segundo semestre de 2010 como no fim. Dentre essas atividades, foram propostas atividades de leituras, de resumos, de debates e de produções textuais. Este trabalho propõe-se a analisar o desenvolvimento do conhecimento linguístico, enciclopédico e interacional a partir da comparação de dois textos de mesmo gênero textual (“fait divers”), mesmo tipo (narração) e mesmo tema (aquecimento global), produzidos por alunos de Francês Língua Estrangeira no início e no fim do 2° semestre de 2010. RÉSUMÉ RODRIGUES, Maxuel de Souza. Estudo da relevância do trabalho coordenado leitura/escrita no ensino de francês língua estrangeira. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Letras Neolatinas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012 Lorsque l’on prend connaissance des PCN (1998), on se rend compte de l'importance qui a été donnée à l'enseignement des langues étrangères à partir des activités efficaces de lecture. Dans ce contexte, on a recours à l’enseignement des stratégies de lecture, à travers lesquelles on constate l’idée que cette activité se caractérise comme un processus discursif (Coracini, 2002), dans lequel s’insèrent l'auteur et le lecteur. En ce qui concerne le lecteur, les propositions interactionnistes (Kleiman, 2004; Koch et Elias, 2007) soutiennent l'idée qu'il n'y a engagement dans la lecture qu’à partir de l'interaction de trois niveaux de connaissances: langue, monde et interaction. Le rapport établi entre la production écrite et la lecture se caractérise par la nécessité de travailler avec la compréhension écrite avant que les étudiants soient soumis à des activités de prodction de textes. Ce n’est qu’à travers la lecture qu’il est possible de les présenter les stratégies auxquelles a recours le locuteur pour sa production. En plus on peut mettre en évidence les critères qui font partie de tous les textes pour que l’auteur puisse contruire des sens. Néanmoins, pour atteindre cet accomplissement, il faut faire l’étudiant comprendre le texte, ce qui peut être fait à partir de l’utilisation des stratégies de lecture. Ce travail a tenté de mettre en évidence que la conscientisation des stratégies utilisées par le lecteur pour produire de sens a permis la production de texte par des étudiants, car ils peuvent remarquer que lors de l’écriture, ils écrivent d’une manière contextualisée pour construire un sens qui doit être récupéré par leurs interlocuteurs. Il convient de mettre en évidence que cette production de sens se fait par l'observation du sujet à la place du producteur tel qu’à la place du récepteur, c'est à dire, le choix des stratégies dans l'acte de production doit également prendre en compte celles utilisées par le lecteur pour comprendre un texte. Pour vérifier l'importance du travail de production écrite coordonné à un travail de compréhension écrite, des étudiants suivant le troisième semestre du cours portugais-français dans une université publique de Rio ont été soumis à des activités de lecture et d'écriture au début et à la fin du deuxième semestre de 2010. Parmi ces activités, on a proposé des activités de lecture, des résumés, des débats et des productions textuelles. Cette recherche mettra l'accent sur la relation entre les compétences de compréhension écrite et celles d'écriture à partir de l'analyse du matériel utilisé avec les étudiants. On abordera le développement des connaissances linguistiques, encyclopédiques et interactionelles à travers la comparaison établie entre deux textes de même genre (fait divers), même type (narration) et même thème (réchauffement de la planète). ABSTRACT RODRIGUES, Maxuel de Souza. Estudo da relevância do trabalho coordenado leitura/escrita no ensino de francês língua estrangeira. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Letras Neolatinas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012 When we come to know the PCN (1998), we realize how relevant the teaching of a foreign language based on activities of efficient reading is. Consequently, we should take into consideration the teaching of reading strategies as part of a discursive process (Coracini, 2002) in which author and reader take place. When we take into consideration these two actors, interactive propositions (Kleiman, 2004; Koch and Elias, 2007) support that there is only engagement in reading when three levels of knowledge interact: linguistics, encyclopedic and interactional. The relation between written comprehension and written production proposed in this research highlights the need of working the former before the latter. Only by making students learn how to use reading strategies is it possible to present them to the strategies writers use to build texts. Furthermore, through this teaching strategy, one can also highlight ways of producing meaning when an author builds any type of text. This research aimed to highlight that making the readers conscious of the strategies they used to produce meaning made the production of texts easier to them, as they noticed that they wrote within a context in order to produce a meaning that should be retrieved by their interlocutor. It is convenient to point out that this production of meaning takes place by means of putting the subject in the position of both reader and writer, that is, his choice of production strategies should take into consideration his own choice of reading strategies. In order to verify the importance of coordinating written comprehension and written production activities, students undergoing the third semester of a language undergraduate course (Portuguese and French) of a public university underwent reading activities both at the beginning and at the end of the second semester of 2010. Among those activities, there were reading activities, summary productions, debates, and textual productions. In order to analyze the development of linguistics, encyclopedic and interactional knowledge, in this research we compare two texts of the same textual genre (fait divers), the same textual type (narrative) and the same subject (global warming) produced by French students when undergoing the beginning and the end of the second semester of 2010. Lista de abreviaturas CE - Compreensão escrita FLE - Francês Língua Estrangeira LE - Língua Estrangeira LM - Língua Materna PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais PE - Produção escrita P1 - Primeira produção de texto P2 - Segunda produção de texto SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 2 A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADOS 22 2.1 Língua e Texto 32 2.2 A compreensão escrita 42 2.2.1 Estratégias de leitura 53 2.3 A produção escrita 58 2.3.1 Estratégias de produção escrita 69 3 A RELAÇÃO ENTRE COMPREENSÃO ESCRITA E PRODUÇÃO ESCRITA 4 77 PROPOSTA DE TRABALHO DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO ESCRITA 96 4.1 Análise de atividades de compreensão escrita e produção escrita 99 4.1.1 Atividades I e II 99 a) Texto I 103 b) Textos I, II e III 104 4.1.2 Atividade III 115 a) Texto I 116 b) Textos II e III 119 4.1.3 Atividades IV e V 123 a) Texto I 123 b) Texto II 125 4.2 Um feedback 129 a) Texto I 130 b) Texto II 131 5 ANÁLISE DO CORPUS 133 5.1 Laura 135 5.1.1 Conhecimento linguístico 135 5.1.2 Conhecimento enciclopédico 136 5.1.3 Conhecimento interacional 137 a) Comunicacional 137 a.1 tratamento da informação 137 a.2 adequação ao gênero textual 138 b) Superestrutural 140 5.2 Samara 141 5.2.1 Conhecimento linguístico 141 5.2.2 Conhecimento enciclopédico 143 5.2.3 Conhecimento interacional 144 a) Comunicacional 144 a.1 tratamento da informação 144 a.2 adequação ao gênero textual 145 b) Superestrutural 146 5.3 Tereza 148 5.3.1 Conhecimento linguístico 148 5.3.2 Conhecimento enciclopédico 149 5.3.3 Conhecimento interacional 150 a) Comunicacional 150 a.1 tratamento da informação 150 a.2 adequação ao gênero textual 150 b) Superestrutural 152 5.4 Antônia 153 5.4.1 Conhecimento linguístico 153 5.4.2 Conhecimento enciclopédico 155 5.4.3 Conhecimento interacional 155 a) Comunicacional 155 a.1 tratamento da informação 155 a.2 adequação ao gênero textual 156 b) Superestrutural 158 5.5 Tamires 160 5.5.1 Conhecimento linguístico 160 5.5.2 Conhecimento enciclopédico 161 5.5.3 Conhecimento interacional 162 a) Comunicacional 162 a.1 tratamento da informação 162 a.2 adequação ao gênero textual 164 b) Superestrutural 166 5.6 Valentim 167 5.6.1 Conhecimento linguístico 167 5.6.2 Conhecimento enciclopédico 168 5.6.3 Conhecimento interacional 169 a) Comunicacional 169 a.1 tratamento da informação 169 a.2 adequação ao gênero textual 169 b) Superestrutural 170 6 CONCLUSÃO 174 7 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS APÊNDICE ANEXO 178 1 INTRODUÇÃO Já se tornou lugar-comum ouvir de muitos professores que seus alunos não apreciam a prática de leitura e de produção de textos. Além disso, é comum ouvir que os alunos não entendem o que leem e não são capazes de produzir textos de maneira competente. Fato é que, observadas as experiências dos professores e as pesquisas que se ocupam do assunto, as práticas de leitura e de produção de texto em muitas escolas do Brasil têm deixado muito a desejar no que concerne à produção eficiente de sentidos. A realidade denuncia um problema que se arrasta e que se apresenta aparentemente cada vez mais como questão difícil de ser sanada. Em muitos casos, a leitura é posta em segundo plano. Priorizam-se outras questões em detrimento do ato de ler. Essa distorção caracteriza em muitas ocasiões a base dos problemas resultantes da falta de hábito do sujeito que não possui a prática, como, por exemplo, a dificuldade em construir sentidos por meio da produção de textos escritos. De fato, em diversos contextos, a dificuldade que têm tido os estudantes se verifica, muitas vezes por reflexo da comodidade, no apoio sobre um ensino pautado em métodos tradicionais, distantes da realidade. Diversos elementos são postos de lado, e o que se constata são alunos sendo tratados como máquinas assimiladoras de regras, descartando-se as competências que neles poderiam ser desenvolvidas como também as suas experiências. As consequências não poderiam ser das melhores. O trabalho com o texto e com a língua acaba funcionando, para os alunos, como algo que pertence a mundo à parte, algo sem função, objeto de desprazer. Essa situação, provavelmente, parece evidenciar a ideia de que, se o Brasil não lê, não é simplesmente por desinteresse. Há diversas questões presentes nos meios escolares que impossibilitam que sejam desenvolvidos o prazer por leitura/produção de textos e o entendimento da necessidade vital dessas práticas dentro das sociedades. Diante disso, os estudos voltados para leitura e produção de textos surgem como uma das necessidades no campo das pesquisas que se preocupam com a aplicação de novos parâmetros 16 na educação. Entender a prática de produção de sentidos como suporte para a vivência do homem é importante, uma vez que, para construir redes de sentidos, ele se comunica, e esse ato somente pode ser realizado por textos. A prioridade dada à leitura, que ressurge como processo anterior a outras atividades de aprendizado, torna-se, portanto, imprescindível. O presente estudo resulta de trabalhos de Iniciação Científica realizados na Faculdade de Letras da UFRJ a partir de 2006. Essa experiência resultou uma visão mais construtiva no que tange à atividade de pesquisar. Esses estudos fazem referência à análise da mudança do padrão de elementos de coesão constantes dos textos de estudantes de Francês Língua Estrangeira (doravante FLE) após atividades de leitura. Essa prática foi ao longo da pesquisa se aperfeiçoando à medida que os procedimentos eram aplicados. Num primeiro momento, a pesquisa girou em torno das análises de textos produzidos por estudantes que cursavam o terceiro semestre da habilitação português-francês de uma universidade pública após atividades de compreensão escrita submetidas pelo professor da turma. Num segundo momento, os trabalhos foram desenvolvidos junto a alunos de FLE do terceiro semestre de um curso livre de idiomas. Nas análises, foi notado que, para que se determine a leitura feita por alunos como proficiente ou não, é necessário que outros elementos sejam integrados ao quadro de observação. Dessa forma, ao partir dessa ideia, é necessária a descrição de alguns aspectos que estão materialmente manifestados em textos escritos produzidos. Esses aspectos se voltam para três níveis de conhecimento: linguístico, enciclopédico e interacional, segundo Koch (2002, apud Koch e Elias, 2007). É a partir da análise desses aspectos cognitivos e interacionais que se poderá compreender se os atores envolvidos na pesquisa se permitiram entender os processos pelos quais os escritores/leitores constroem significados. Outro ponto interessante de ser discutido é a produção de textos. A partir de experiências individuais como aluno, na convivência com colegas de trabalho e experiências 17 em sala de aula como monitor-professor, constatou-se que pouco se pede para que os alunos produzam textos. Quando isso ocorre, muitas vezes a atividade não é acompanhada de uma leitura prévia do gênero solicitado. A tradição do vestibular instrumentaliza a produção de textos como reflexo de técnica, argumentação, causando uma falsa ideia de que texto se configura aos moldes da redação escolar voltada para os exames de acesso às universidades públicas do país. Por outro lado, da parte dos alunos, parece não haver consciência de que as práticas sócio-comunicativas delineiam funções textuais aliadas a estruturas mais ou menos estáveis. Nesse contexto, ao ser percebida a emergência da mudança, busca-se neste trabalho o estabelecimento da relação entre a prática de leitura do texto escrito (compreensão escrita) e a produção de textos escritos (produção escrita). Relação que terá como base: (1) o estudo da relevância do trabalho prévio de compreensão escrita (doravante CE) para a produção escrita (doravante PE) em FLE por alunos universitários de terceiro semestre; (2) a descrição do processo das construções textuais a partir do reconhecimento, nas atividades de CE, das estratégias sociocognitivo-interacionais usadas pelo locutor para a construção de significado por seu interlocutor; e (3) a identificação das estratégias utilizadas por alunos para a PE. No ensino de língua estrangeira, são vistas algumas práticas de PE desvencilhadas de atividades prévias de CE. Com efeito, é importante afirmar que as práticas de CE oferecem bases para o conhecimento de propriedades textuais. Partindo disso, este trabalho pretende responder à seguinte pergunta: como é possível tornar o trabalho com base nos gêneros textuais um expediente facilitador do desenvolvimento da competência de PE? Entende-se que, para a construção de textos, o sujeito deve depender em grande medida do contato com os outros textos que teve em sua vida. Quanto maior o contato, maior deve ser a probabilidade de sucesso no desenvolvimento dos conhecimentos e do seu emprego. A leitura de textos em diferentes gêneros em FLE possibilitaria ao sujeito a 18 visualização da língua em uso, empregada de acordo com as necessidades imediatas das práticas sócio-comunicativas, o que sugere que seria capaz de compreender as estratégias das quais lançam mão o locutor, para a sua produção, e o interlocutor, para a sua compreensão, a fim de que a finalidade comunicacional seja cumprida. Este trabalho proporá um aprofundamento teórico das noções que estão por trás das práticas de CE e PE, a partir de uma visão intermediária de língua e texto caracterizada pelo aproveitamento de fundamentações levadas a cabo pelo sociointeracionismo e pela teoria do discurso, principalmente a desenvolvida por Charaudeau (1992, 2006, 2009). Após isso, o trabalho proporá o estabelecimento de relação entre CE e PE, antes que propostas de atividades realizadas em uma turma de FLE e o estudo do material coletado na turma sejam apresentados, como especificados a seguir. No capítulo 2, será proposta uma breve discussão em torno da questão educacional brasileira tendo como base algumas visões de Bourdieu, apresentadas pelos autores Almeida, Andrade e Pereira, Catani, Lugli e Nogueira & Nogueira na Revista Educação: Especial Bourdieu pensa a Educação (2001). Essa discussão é colocada por estar relacionada ao objetivo final deste trabalho, que, antes de propor um ensino coerente frente à produção de comunicação, deseja desenvolver indivíduos dotados de consciência de grupo e de voz estratégica dentro de uma sociedade que pretende ser moderna e democrática. Após esse breve percurso, serão estudados os aspectos envolvidos na atividade de CE e PE a partir de uma abordagem que terá como enfoque a concepção sociocognitiva-interacional e discursiva de língua e de texto. Desse ponto de vista, será compreendido, de um lado, que a língua funciona como elemento contextualizado, usada em um contexto sócio-histórico determinado tendo em vista um objetivo. Se há presença de uma intenção ao se pôr a língua em uso, essa intenção só pode existir porque o ser se inclui em uma atividade de interação realizada precipuamente através dos gêneros de texto. Por buscar relacionar a PE à CE, o capítulo 19 abordará, por outro lado, assuntos como estratégias de PE e de CE. Portanto, será buscado entender os esforços feitos pelo leitor para compreender um texto a partir do engajamento de conhecimentos sociocognitivo-interacionais como também aqueles realizados pelo produtor a partir do conhecimento do lugar que é ocupado por seu leitor. No capítulo 3, será descrita a relação entre PE e CE a partir dos lugares estratégicos ocupados pelos locutores no ato de produção textual e pelos interlocutores no ato de produção de sentidos. Neste capítulo, será compreendido que as práticas de CE e PE são tidas como competências diferentes, possuidoras de especificidades próprias. Na atividade de CE, o interlocutor, distante fisicamente de seu locutor, precisa utilizar um conjunto de conhecimentos e estratégias para supor as intenções do autor. Por outro lado, no ato de produção, é necessário que o produtor busque uma série de critérios e estratégias para fazer seu interlocutor recuperar suas intenções. Uma aproximação entre essas duas habilidades se justifica pelo caráter cognitivo de que fazem parte. Em ambas as atividades, faz-se necessário o engajamento do sujeito a partir da ativação dos seus conhecimentos: linguístico, enciclopédico e interacional. No capítulo 4, serão expostas atividades de CE com base na concepção de leitura como interação e processo. No contexto de ensino de língua estrangeira, algumas propostas têm sustentado a ideia de que é importante que se levem em consideração as experiências que os alunos carregam para a facilidade do engajamento discursivo (PCN, 1998). Os PCN, ao proporem algumas orientações didáticas para o trabalho de CE e PE, sustentam a ideia de que: deve-se privilegiar o conhecimento de mundo e da organização discursiva prévios do aluno; devem-se trazer os conhecimentos prévios à mente do aluno, que se caracteriza pela exploração de aspectos metacognitivos de aprendizagem; 20 devem-se viabilizar temas por uma análise comparativa de como questões particulares são tratadas no Brasil e em outros países em que a língua estrangeira é falada como língua materna e/ou língua oficial. Como esta pesquisa foi desenvolvida junto a uma classe de FLE de uma universidade pública que possui como uma das sugestões de trabalho o manual Forum (CAMPÀ, MURILLO, MESTREIT e TOST, 2001), procurou-se identificar o tema das unidades trabalhadas: mídias e aquecimento global. Diante disso, para as atividades de leitura, escolheram-se os gêneros reportagem, entrevista e fait divers, que foram selecionados da mídia impressa e eletrônica francesas. Para as atividades de PE a serem analisadas, escolheuse o gênero textual faits divers, a tipologia narração e o mesmo assunto referente à CE: aquecimento global. A escolha do gênero vincula-se ao projeto do material didático previsto para a turma. Além de ser um gênero solicitado pelo manual nas atividades de PE, esta pesquisa leva em consideração que a produção textual por alunos deve ser feita em forma de gêneros e não de acordo com os parâmetros comuns didáticos, que se caracterizam pela solicitação de redações descontextualizadas, sem determinação de público-alvo, de suporte, de situação, etc. A escolha da tipologia partiu do programa previsto na ementa do curso em que a investigação se desenvolveu. No capítulo 5, será feita a análise de corpus, em que se discutirá o desenvolvimento de conhecimentos prévios (linguístico, enciclopédico e interacional) a partir da comparação de dois textos de mesmo gênero textual (“fait divers”), mesmo tipo (narração) e mesmo tema (aquecimento global), produzidos por alunos de FLE no início e no fim do 2° semestre de 2010. Nos dois textos produzidos, serão observadas diferenças a partir da análise de algumas categorias que fazem parte dos conhecimentos prévios. No que tange ao conhecimento linguístico, serão comparados os processos de coesão e de escolha lexical. Em relação ao 21 conhecimento de mundo, serão comparadas as escolhas feitas em relação à informação, sobretudo aquelas vinculadas ao recorte temático e à focalização. Por último, quanto ao conhecimento interacional, serão comparadas categorias de cunho comunicacional e superestrutural. Por último, no capítulo 6, será caracterizada a relevância do ensino de produção de textos baseado em práticas com gêneros textuais. Da mesma forma, será defendido que a relação buscada entre a PE e a CE se caracteriza pela necessidade de se trabalhar com a compreensão antes que os alunos sejam submetidos a atividades de produção. Somente pela CE é possível apresentar aos alunos as estratégias a que o produtor recorreu para a construção de seu texto. Além disso, por esse meio, podem-se evidenciar os critérios que transitam por todos os textos para que o produtor possa construir significados. Entretanto, para que isso ocorra, é imprescindível fazer o aluno compreender o texto, o que pode ser feito a partir da utilização das estratégias de leitura. O trabalho buscará evidenciar que a conscientização das estratégias utilizadas pelo leitor para produzir significados facilitará a PE por alunos, uma vez que terão notado que, ao escrever, escrevem contextualizadamente para construir um sentido que deverá ser recuperado por seu interlocutor. Nesses termos, é conveniente apontar que essa produção de sentido se verifica por meio da observação de que o sujeito precisa se colocar tanto na posição de produtor como na de compreendedor, isto é, a escolha das estratégias no ato de produção também deverá levar em consideração aquelas que o leitor utiliza para compreender um texto. Esse fato parece ser razoável, já que o significado só tem sentido na medida em que o diálogo se constrói. 2 A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADOS Nas práticas de ensino em que se tem como instrumento de trabalho o texto, é possível notar ainda hoje a despreocupação frente às formas eficientes de produção de significados. Para uma sociedade que pretende ser construída por indivíduos capazes de ler o mundo criticamente, sendo, dessa forma, constituída por sujeitos munidos de vozes estratégicas com vistas à integração democrática, muitas posturas precisam ser abandonadas. Nesse comportamento diante do texto, portanto, da atividade de produzir significados, pode ser verificada a fixação de noções enraizadas nas visões tradicionais de língua, que se assenta na percepção desse instrumento como sistema ideal. Como atesta Antunes (2009, p. 186), esse ensino descontextualizado tem transformado em privilégios de poucos o que é um direito de todos: a saber, o acesso à leitura e à competência em escrita de textos. (grifo da autora) É interessante, antes mesmo de entrar na explicitação de uma prática que vai ao encontro do ponto de vista defendido neste trabalho, discutir um pouco sobre o papel da educação. E para isso, torna-se necessária a adesão a um argumento de Bourdieu (Nogueira e Nogueira, 2007, p.38): a escola reproduz e legitima as desigualdades sociais. Da mesma forma, é importante olhar para uma noção que muito vem sendo discutida na Linguística Aplicada: a autonomia do aluno. Causar rupturas no sistema parece não ser simples no decorrer de um ano, mas é possível. Uma primeira questão que se coloca é que permitir ao aluno a produção de voz estratégica tem muito a ver com a sua questão social. Percorrendo o espaço brasileiro, as realidades que permeiam as vidas dos que nele vivem é a constante falta de dispositivos que assegurem o bem-estar social, que deveria ser garantido pelo Estado e que é um dos principais pontos sustentados pela Constituição (Brasil, 1988). Os problemas são de toda ordem. Traçando um breve percurso, pode-se transitar por alguns campos, vislumbrando constatações das mais cruéis. O primeiro é o campo econômico. Dentre diversos problemas, o que é visto 23 são muitas pessoas fadadas à insuficiência de recursos financeiros, provocada, na maioria dos casos, pela falta de emprego para o patrocínio e a manutenção da vida, assegurada pela cobertura eficiente de direitos sociais como saúde e moradia. O segundo está ligado ao campo político. É nesse campo em que é encontrada uma aparente resistência, não no que tange à burocracia da máquina estatal, mas, principalmente, aos atos antiéticos que paulatinamente se instalaram nos poderes, que, originariamente, têm a função de governar para todos; de prever casos, legislando; de julgar, policiando. O objetivo é único, assegurar o estado democrático de direito. É claro que a linha que separa o papel das instituições e a realidade não é nada tênue, há uma grande distância caracterizada pelo óbvio: as práticas não refletem por inteiro aquilo que é preconizado na Lei Maior. No caso da corrupção, por haver tantos escândalos e poucas prisões, convive-se com um desconforto causado pela sensação de impunidade, e esse sentimento aumenta quando se continua o percurso e se depara com o campo social, que acaba sofrendo reflexos ruins em razão da indecência de certos políticos. É a desigualdade que choca. Neste caso, o sentimento suscitado é caracterizado pela sua não integração perfeita com outros campos, como os político, econômico e cultural. Este último carrega consigo um eminente valor, por ser a partir dele que se percebem as diferenças de comportamentos e valores. Também é nele, de certa forma, em que se operam mudanças subjetivas, a partir do momento em que se buscam novas percepções, novos modos de ler o mundo e a si mesmo. A falta dele pode acarretar diversos problemas. No que concerne à relação estabelecida entre os indivíduos, há muito o mundo sobrevive via lógica de agentes dominantes e dominados. Pelas suas realidades características (maior ou menor integração com o campo econômico, por exemplo), cada um desses grupos acaba por ter uma relação diferente com a cultura, sendo maior o contato dos primeiros com ela fora da escola. Já para o segundo grupo, isso somente acontece mais tardiamente, após o contato com a escola. A questão que é colocada por Bourdieu é a de que a escola não respeita 24 essa desigualdade a partir do momento em que vê todos os alunos como partes de um mesmo universo, como componentes de mesma origem. Dessa forma, o sucesso do aluno acaba por se vincular ao maior ou menor conhecimento que ele possui com relação ao mundo, ou seja, para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. (Nogueira e Nogueira, 2007, p. 38) Os conteúdos transmitidos no ensino se traduzem pelo que ele chama de mensagem pedagógica. Outro fator importante que se faz adequado mencionar são os critérios de avaliação construídos pela escola. Para o autor, as duas formas de abordagem da educação são problemáticas. Para entender sua posição, podem-se fazer alguns questionamentos. Primeiro, quanto à mensagem pedagógica: de que forma essa mensagem pedagógica seria construída? Por quem? Baseada em quê? A escola há muito pretende ser neutra, retirando de seu discurso qualquer crença que pareça isolada, pessoal. Pelo contrário, sua mensagem pretende ser universal. Entretanto, para Bourdieu, essa mensagem não está isenta de parcialidade, uma vez que seria instrumento construído por um determinado grupo social, o dominante. Não seria a classe dominante o agente que absorve os conceitos da escola, mas sim esta última que absorveria e de maneira mascarada os valores da classe dominante (Nogueira e Nogueira, 2007, p. 38). Essa mensagem se desenvolve a partir do momento em que se pensa na escola como instrumento de produção do cidadão e de unificação da nação, por meio da unificação das crenças, das percepções, da língua etc. (Almeida, 2007, p. 50). Essa idéia parte de uma intenção da escola depois de unificada: a democratização (Andrade e Pereira, 2007, p. 58). Hoje, ouve-se muito falar neste termo, principalmente nos 25 meios implicados nos movimentos de grupos ou instituições que se mobilizam para criarem condições que têm como fim fazer os desfavorecidos alcançarem o ensino superior. As concepções, tomadas em épocas e universos diferentes, não são as mesmas. Num primeiro momento, aparecem na ocasião em que se criam leis para fazer com que a educação se torne obrigatória na sociedade, em que se tenta levar a todos uma única mensagem pedagógica e em que se vislumbra diante dessa mensagem qualquer indivíduo, de qualquer classe social. A democratização defendida hoje, por outro lado, apresenta-se de forma diferente da preconizada inicialmente, que é paradoxal. Trata-se, na verdade, de uma resposta às formas de emissão (conhecimento universal) e recepção (aluno como ser uno) da mensagem pedagógica dentro da escola, convencionada no país, por exemplo. Esse novo modo de pensar a democratização se fez muito necessário diante desse quadro de emissão e recepção da mensagem pedagógica, que não percebe as diferenças em sala de aula. Na concepção bourdieusiana, não se pode defender a utilização de uma única mensagem, como a preconizada pela escola, porque a recepção dela pelos alunos é diferente (Andrade e Pereira, 2007, p. 61). Nas condições escolares, para que eles sejam capazes de ler a mensagem, encontrando, portanto, significados, eles precisariam dominar o código utilizado. Já que a mensagem pedagógica seria enviesada pelo gosto da classe dominante e, portanto, daqueles que possuem uma maior bagagem no que tange ao conhecimento de mundo, a mensagem somente poderia ser lida de maneira eficiente por aqueles que adquiriram o capital cultural desde o berço, fora da escola. É nesse contexto que se pode falar em classificação escolar. Esse ato tem como objetivo medir o conhecimento do aluno ao longo do ensino e, naturalmente, como é visto, há os que apresentam bons resultados e os que apresentam resultados insuficientes diante do quadro estruturado pela escola daquilo que é devido dominar pelos indivíduos da sociedade. É a partir disso que seria gerado o racismo da inteligência que, segundo o autor, é próprio da 26 classe dominante, cuja reprodução depende em parte da transmissão do capital cultural, capital herdado que tem como propriedade o fato de ser um capital incorporado, e, portanto, aparentemente natural, inato (Catani, 2007, p. 71). A classificação escolar reproduziria e legitimaria as desigualdades sociais pelo fato de testar conhecimentos de alunos que teoricamente são diferentes, que não compartilham das mesmas realidades e dos mesmos conhecimentos de mundo. Tudo isso acabaria por levar os privilegiados à ratificação de uma posição que já ocupavam desde o berço e, por isso, levá-los à crença de que o nível de inteligência alcançado seria um dom e não um conhecimento incorporado (Nogueira e Nogueira, 2007, p. 39). Em contrapartida, essa classificação levaria os desfavorecidos à crença na inferioridade intelectual. Esse sentimento é compartilhado por muitos jovens no Brasil. De que forma, por isso, enxergariam a universidade? A partir de alguns depoimentos de alunos de um curso pré-vestibular social1 que ingressaram na universidade e de outros coletados no curso, pode-se entender essa ideia. Ao serem questionados sobre o que pensavam da universidade e daqueles que estavam nela, antes de entrarem no curso, forneceram as seguintes respostas: “Pensava que era muito difícil entrar e que eu não conseguiria. Achava que essas pessoas eram muito inteligentes e, principalmente, esforçadas.” (informante 1) “Para mim, fazer uma universidade pública... eu deveria estudar numa escola particular. Estudar em colégio estadual não ajuda em nada. Sempre faltaram professores, e os que permaneceram estão sem disposição de ensinar. Eu achava que eu não tinha muita capacidade...” (informante 2) 1 O curso pré-vestibular (CPV), coordenado pelo Professor Ary Pimentel, é um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro que surgiu de uma parceria entre essa universidade com uma Prefeitura do Estado. Constitui-se num trabalho de integração das atividades de ensino, pesquisa e extensão cujo principal objetivo é ampliar as possibilidades de ingresso no ensino superior de jovens de origem popular, contribuindo na prática para a democratização do acesso à universidade pública. Os depoimentos e dados coletados e apresentados nesta pesquisa fazem parte do banco de dados do curso, referente ao ano de 2007. 27 A partir do momento em que suas aspirações de um futuro brilhante são ofuscadas pelo não alcance do que a escola defende ser necessário para seguir adiante, eles desanimam. De maneira geral, o que se vê são indivíduos estudando por estudar, às vezes, enxergando no Ensino Médio um futuro contrato de trabalho e nada mais. Em muitos casos, acontece a desvalorização da mensagem escolar, já que não se consegue o bom rendimento e já que tudo aquilo que está presente nela foge muito da realidade que está à volta desses indivíduos. Entram nessa questão a realidade financeira, o apoio da família, a visão dos amigos, o empecilho geográfico: “Alguns dos meus amigos pensavam que a faculdade era algo só para intelectuais, outros nem falam a respeito.” (informante 1) “Muitos acham que a faculdade pública é só para pessoas que podem e são incentivadas para isso. No meu caso, todos me criticam, pois a faculdade é longe e nada lá coincide com a minha realidade.” (informante 2) Ainda nesse contexto, também se observa um processo que se poderia dizer muito penoso no contexto educacional nacional, em que há falta de professores. Numa sondagem realizada no curso em 2007, foi detectado que: 70% dos alunos tiveram todas as disciplinas no Ensino Médio, 6% não informaram e 16% não tiveram uma ou mais de uma delas. No contexto, trata-se de um número reduzido se levado em consideração o universo do Estado do Rio de Janeiro. No entanto, choca, já que se entende que todos deveriam ter acesso a todas as disciplinas. Outro fator relacionado a esse quadro, voltando-se para o caso da periferia, é que parece haver um esvaziamento da cultura escolar, a partir do momento em que o crime organizado atua próximo à instituição escolar, intimidando, rodeando; a escola presa nas teias desse poder. Nesse contexto específico, talvez se agrave mais a questão da emissão e recepção da mensagem pedagógica, uma vez que tudo aquilo que é enfatizado na escola não se aproxima do dia a dia dos receptores. Configuram-se, nesse contexto, dois mundos 28 extremamente distantes. O que os liga, talvez, seja a necessidade por parte dos receptores de, ao final de sua vida escolar (o Ensino Médio), retirarem o diploma e conseguirem um emprego. A crença na inferioridade intelectual precisa ser rompida para que os jovens parem de vislumbrar o ensino médio como ponto limite de chegada. Para Bourdieu (Nogueira e Nogueira, 2007, p. 68), isso seria possível a partir de uma pedagogia racional. Na ausência de uma pedagogia racional capaz de neutralizar metódica e continuamente, da escola maternal à universidade, a ação dos fatores sociais de desigualdade cultural, a vontade política de dar a todos chances iguais diante do ensino só consegue triunfar sobre as desigualdades caso se arme de todos os lados os meios institucionais e econômicos. E reciprocamente, uma pedagogia realmente racional, isto é, fundada sobre uma sociologia das desigualdades culturais, contribuiria sem dúvida para diminuir as desigualdades diante da escola e da cultura. No entanto, enquanto não se percebem profundas mudanças, é inevitável que algumas instituições tomem para si o dever de romper com a estrutura, tradição e crenças. Esse rompimento, em contrapartida, que toma corpo através da palavra democratização, não cura a doença, remedia. As instituições, ao interferirem na lógica escolar criticada por Bourdieu, permitem chocar os indivíduos a partir do momento que percebem que a suposta inferioridade intelectual não advém de pré-determinações naturais, mas de fatores externos a eles, são causas sociais. O papel dessas instituições passa, logo, a ser o de mostrar as possibilidades de enfrentar o sistema e, mais ainda, o de fazer criar no grupo a capacidade de percepções amplas com alcance ilimitado, de leituras eficientes do mundo e de si, como atesta o dizer de alguns alunos do curso: “O curso foi muito importante para minha vida, foi lá que aprendi a gostar de estudar, a me interessar”; (informante 1) 29 “Depois do curso, passei a acreditar ainda mais no sonho de uma faculdade... Parecia muito impossível para mim... O curso me preparou para o vestibular, uma vez que o ensino do colégio público não foi o suficiente para a minha formação. E minha visão de mundo era muito limitada, o curso ampliou minha visão.” (informante 2) Uma segunda questão colocada é que permitir ao aluno a produção de voz estratégica tem muito a ver com a sua autonomia. Em Holec (1990), nota-se uma preocupação em relação ao posicionamento que aluno/professor têm frente ao ensino/aprendizagem. Para ele, o modo como se mostra tradicionalmente a relação alunoprofessor nada tem a ver com o que se chama de autonomia. Holec afirma ser equivocada a ideia que um aluno autônomo é somente aquele que se apropria adequadamente fora da escola de materiais selecionados pelo professor. Não se trata da independência no sentido em que se mantêm muitas posturas. Diante disso, o autor propõe um conjunto de processos pelos quais o indivíduo deve passar para atingir o status de autônomo. Para Holec, a ideia de ser autônomo, o tornar-se autônomo está intrinsecamente ligado à aprendizagem. No texto, é interessante notar a concepção do autor frente ao conceito de autonomia. Isso porque se busca estudar a língua a partir de uma concepção sociocultural. A autonomia não está ligada à simples aprendizagem de língua como um sistema ideal, mas como um expediente que é utilizado contextualizadamente, isto é, tendo em vista as intenções dos interlocutores na interação. O autor (1990, p. 78) afirma que aprender e aprendizagem se voltam para atividades particulares em que se engajam, ou que pratica aquele que quer adquirir uma competência em uma LE como também se voltam para o processo pelo qual são internalizados os conhecimentos e os conhecimentos de mundo, que constituem o domínio de uma LE. É importante ressaltar que, para Holec, o aprender não se dá de forma natural, ele precisa ser adquirido. Essa ideia precisa estar assentada sobre uma série de fatores, dentre os quais, a aquisição de saberes linguísticos, que trata do desenvolvimento da consciência 30 linguística a partir do enriquecimento ou da modificação das representações que existem a respeito do que é o léxico de uma língua e a respeito de como ele é estruturado no que tange à língua; da tomada de consciência e da importância da dimensão cultural de um comportamento linguageiro (representações, atitudes, crenças, conhecimentos da atualidade, etc.) no que tange à pragmática; e da reavaliação do que se pensa crer saber sobre o processo de compreensão e de expressão no que tange à psicolinguística. (Holec, 1990, p. 82-83) Convém ressaltar que fazer do aluno o ser responsável pela própria aprendizagem não é tarefa fácil, já que, entre tantas habilidades, o professor deve estar apto a se adequar às diferentes realidades e individualidades dos alunos. Como aponta Nicolaides (2003, p. 12), os professores apresentam-se muito pouco preparados para lidar com os diferentes contextos, que atribuem valores distintos à disciplina de LE e à própria escola. Desenvolver habilidades nos professores para que se estabeleçam em sala com mais propriedade frente ao ensino produtor de aluno autônomo é importante, já que sua prática interfere de modo substancial na subjetividade do aluno e já que, neste trabalho de pesquisa, entende-se que autonomia não é apenas a liberdade para aprender, mas também a oportunidade de tornar-se uma pessoa (Kenny, 1983, 436, apud Nicolaides, 2003, p. 36). Uma pessoa que deve ter responsabilidade pela sua aprendizagem, gerenciando seu tempo e ritmo e respeitando suas preferências e necessidades individuais. (Holec, 1981 apud Nicolaides, 2003, p. 36) Uma questão que deve ser salientada é a noção de estratégia de aprendizagem. Para Souza (2010, p. 3), o aluno estratégico é aquele que contorna ou soluciona um problema com os meios que tem à sua disposição, traça planos ou se prepara para alcançar uma meta, monitora seu próprio aprendizado, busca ter contato com falantes nativos para praticar a língua e usa estratégias linguísticas para se comunicar na língua-alvo. Estratégias de aprendizagem, para Oxford (1990 apud Souza, 2010, p. 3), dizem respeito às ações específicas tomadas pelo aprendiz com o objetivo de tornar o aprendizado mais fácil, mais 31 rápido, mais agradável, mais independente, mais efetivo, mais flexível e mais transferível para novas situações. Essa concepção demonstra um ser ligado a um contexto cultural, com ações necessárias à sobrevivência e imbuído de características essencialmente ligadas ao seres humanos. Isso mostra a relevância do desenvolvimento de estratégias que sejam mostradas aos alunos para que se apercebam da natural condição humana, caracterizada pela construção de conhecimento em sociedade. Importante se faz, então, que haja, em vez da simples inserção de conteúdos voltados para o linguístico, um estudo de valores sociais, um incentivo à compreensão da subjetividade a partir do desenvolvimento da socialização com o “outro”. Visto sob essa ótica, o ensino passa a considerar o aluno como ser cultural que precisa entender a diversidade de vozes presentes na sociedade assim como precisa desenvolver proficientemente sua própria voz. Como aponta Kramsh (1982, p. 82 apud Nicolaides, 2003, p. 43), as culturas, apesar de heterogêneas e em constante mudança, são cenários de luta pelo poder e reconhecimento. Para Nicolaides (2003, p. 164), o desenvolvimento da autonomia não se dá apenas levando em consideração o que pensa o aluno, mas, sim, é o resultado de uma negociação entre as partes. No que tange às crenças dos aprendizes, a autora (2003, p. 165) afirma que elas devem ser a base para a reflexão estimulada pelo professor, que, através de sua experiência, tem o papel fundamental de proporcionar ao aluno a oportunidade de pensar sua aprendizagem. Esse caminho pode ser viabilizado através da prática de leitura e produção de texto. Produzir ou ler um texto criticamente condiciona uma transferência de um sujeito passivo para um sujeito crítico. Segundo Santos (2003, p. 154-155), o ensino da leitura crítica torna os alunos mais independentes como leitores na LE, mas também viabiliza mudança de comportamento no que tange ao contato dos alunos com outras disciplinas, nas interações com os professores e alunos, ações que traduzem comportamentos mais independentes. De 32 qualquer forma, o papel do professor na construção dessa consciência crítica é fundamental a partir de sua instrumentalização eficaz no que tange à conscientização especializada das estratégias das quais devem lançar mão para possibilitar no aluno a conscientização e utilização de outras estratégias. É dessa forma que será possível portar o aluno de munição para produzir de modo mais proficiente o significado, assunto que será discutido na próxima seção. 2.1 Língua e Texto Ao se analisar o processo comunicativo, percebe-se que muitos elementos estão nele envolvidos. A discussão em torno desse assunto não se prende apenas à apresentação desse processo como sendo resultado da troca de mensagem por meio de um canal entre emissor e receptor, auxiliados por um código. Entretanto, já nessa visão, é possível notar que só há linguagem quando ela é concebida como dialógica. Dessa forma, é caracterizada pelo envolvimento dado de dois atores essenciais para que a comunicação seja estabelecida: o que fala/escreve e o que ouve/lê. A discussão em torno do processo comunicativo tomou outra dimensão no momento em que a língua passou do universo do idealismo saussureano para o realismo bakhtiniano (Souza, 2002, p. 21). Segundo pesquisas recentes na área de estudos de línguas (Coracini, 2002), não se pode separar o individual do social, como o fez Saussure. Segundo o linguista, a fala é um fenômeno individual e o sistema linguístico um fenômeno social. Por outro lado, para Bakhtin (1973, apud Souza, 2002, p. 21), Saussure vê a linguagem como se ela fosse um sistema que se caracteriza pela estabilidade e imutabilidade de elementos linguísticos idênticos a eles próprios que preexistem ao indivíduo falante e também como se ela fosse objetiva. Desse ponto de vista, torna-se difícil afirmar que a linguagem se caracteriza por dois 33 polos: fala individual e sistema social. Essa divisão sedimenta um pensamento inadequado: o de que linguagem não é construída socialmente. Além disso, com os estudos sociocognitivo-interacionais e discursivos, passaram-se a considerar outros elementos presentes no processo de comunicação. Entra em jogo na relação entre locutor e interlocutor uma série de critérios que vão muito além da simples troca de mensagem. Estão envolvidos nessa relação critérios subjetivos e objetivos, como: (a) a subjetividade de cada participante do processo comunicativo, que envolve um conjunto de conhecimentos que esses participantes carregam, a sua identidade; (b) o caráter históricocultural da língua empregada; (c) o caráter histórico-cultural do momento em que a língua é empregada; (d) o ambiente físico em que se desenrola a comunicação (envolvendo critérios referenciais/dêiticos, a proximidade/distância física e temporal dos participantes); (e) a ideologia dos participantes (envolvendo aspectos morais e de posição social); (f) a situação psicológica dos participantes. Todos esses elementos funcionando juntos ratificam a função real da língua. Por isso, qualquer análise que é feita dela não deveria levar em consideração apenas seus aspectos gramaticais para sua realização, mas o conjunto empírico em que se realiza: o texto. O elemento utilizado para análise da língua passa da frase pura e simples para o enunciado. A unidade básica de análise linguística, para Bakhtin, é o enunciado, ou seja, elemento linguístico produzido em contextos sociais reais e concretos como participantes de uma dinâmica comunicativa (1973, apud Souza, 2002, p. 22). Nesse contexto, o sujeito se constrói a partir de um princípio, o dialogismo, pois ele se constitui ouvindo e assimilando as palavras e os discursos do outro (...) processados de forma que se tornem, em parte, as palavras do sujeito e, em parte, as palavras do outro (1973 apud Souza, 2002, p. 22) 34 A língua funciona como elemento contextualizado, usada em um contexto sóciohistórico determinado tendo em vista um objetivo. Se há presença de uma intenção ao se pôr a língua em uso, essa intenção só pode existir porque o ser se inclui em uma atividade de interação. O uso que os sujeitos fazem de uma determinada língua reflete a necessidade que existe de se comunicar. Essa necessidade não se concretiza num vácuo, o que subjazeria unicamente à ideia de que linguagem se caracteriza como sistema abstrato. Produz-se a ideia da existência de um locutor-interlocutor ideal, em uma situação de comunicação neutra (Charaudeau, 2009, p. 27). Ao fazer uso da língua, o sujeito o faz para dentro de um universo social, estando ambos determinados pelo tempo. É nesse contexto que se pode afirmar que o uso da língua é de cunho sócio-histórico. É importante ressaltar que, para Charaudeau (2009), há que se considerar que a compreensão do texto não se prende apenas aos elementos que estão fora da língua, mas também aos sentidos básicos que carrega, ou seja, a língua é também um sistema abstrato. É o caso, por exemplo, de determinados nomes que podem ser empregados em variados contextos, com diferentes significados. Entretanto, a construção do significado precisa necessariamente estar ligada a um traço semântico básico da palavra. O estabelecimento de relação entre esse traço mínimo e os diversos fatores contextuais é que permite a produção do que o autor chama de significação. Para Charaudeau (2009, p. 62), o processo de comunicação não é o resultado de uma única intencionalidade, como se fosse caracterizado o explícito, já que é preciso levar em consideração não somente o que poderiam ser as intenções declaradas do locutor, mas também o que diz o ato de linguagem a respeito da relação particular que une o locutor e o interlocutor. O autor aponta a ideia de que o ato de linguagem não esgota sua significação em sua forma explícita. Este explícito está para além de seu próprio significado, relativo ao contexto sócio-histórico (2009, p. 25). Ainda é importante ressaltar que, para Pauliukonis (2005, p. 2), a criação de significação discursiva (sentido de discurso em oposição ao 35 significado que se refere ao sentido de língua) ganha sentido na relação dos elementos de língua com a situação social ou com o conjunto de fatores extralinguísticos. O conjunto daquilo que pode ser chamado explícito com o implícito, isto é, todos os elementos concretos e subjetivos que estão para além da abstração linguística é que fornece as bases para a formação do texto. Nesse sentido, torna-se coerente colocar duas ideias: (a) qualquer análise ou significação que recaia sobre textos deverá dar conta desses dois elementos e (b) qualquer estudo ou utilização da língua deverá considerá-la sob a perspectiva da sua atualização em textos, que, por isso, torna-se única e indissociável de sua realidade. De todo modo, é essencial que o texto não seja visto como fonte única de informação, como se ele fosse um produto acabado. Nessa concepção, o texto é, segundo Coracini (2002, p. 14), objetificado, ganhando existência própria, independente do sujeito e da situação de enunciação. Ressalta-se que texto não é produto linguístico, pois não é apenas uma materialidade empírica com começo, meio e fim (Serrani, 2005, p. 64). Afastando-se da postura que vê o texto como objeto, Coracini (2002, p. 16) sustenta a ideia de que texto somente pode ser controlado pelos sujeitos submersos num determinado contexto sóciohistórico (ideológico), responsável pelas condições de produção. Nesse contexto, o texto passa a ser visto como processo discursivo, que se refere, segundo Serrani (2005, p. 34), às posições enunciativas decorrentes de condicionamentos sócio-históricos e subjetivos de toda produção verbal. Importante é notar que, na comunicação, para chegar a um todo dotado de significado, relacionam-se vocábulos, frases, períodos, parágrafos. O fato é que é possível organizar esses elementos em seqüências distintas. Existem seis tipos de sequenciação: narração, descrição, argumentação, exposição, injunção, diálogo. São os chamados tipos textuais. Eles designam uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição – aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas) – (Marcuschi, 2002, p. 22). 36 Convém observar que, ainda hoje, algumas instituições de ensino não têm concedido legítima atenção para a questão, ignorando os pesquisadores e seus respectivos estudos. Por isso, o que se nota são professores à margem do assunto, apoiados em livros didáticos que ainda nomeiam essas sequências tipológicas de gêneros textuais. Para Charaudeau (2009, p. 74), são quatro os modos utilizados para a organização do discurso: o Enunciativo, o Descritivo, o Narrativo e o Argumentativo. O modo enunciativo possui uma vocação quando da conta da posição do locutor em relação ao interlocutor, a si mesmo e aos outros e, em virtude dessa vocação, intervém em todos os outros três Modos de organização. Esse procedimento, em suma, é uma categoria que aponta para a maneira pela qual o sujeito falante age na encenação do ato de comunicação (p. 82). O Descritivo é um procedimento discursivo que consiste em ver o mundo com um “olhar parado” que faz existir os seres ao nomeá-los, localizá-los e atribuir-lhes qualidades (p. 111). O Narrativo é um procedimento que faz descobrir um mundo que é construído no desenrolar de uma sucessão de ações que se influenciam umas às outras e se transformam num encadeamento progressivo (p. 157). Por último, o Argumentativo é um procedimento que, do ponto de vista do sujeito argumentante, participa de uma dupla busca: a busca de racionalidade, que tende a um ideal de verdade; e a busca de influência, que tende a um ideal de persuasão (p. 206). Os estudos de texto permitiram detectar uma problemática com relação a tal terminologia concedida aos tipos. Ao contrário do que se pensa, o vocábulo gênero é facilmente usado para referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações literárias (Swales, apud Marcuschi, 2002, p. 29) como também são artefatos culturais construídos historicamente pelo ser humano (Marcuschi, 2002, p. 30). Para exemplificar esta última ideia, pode-se imaginar uma situação hipotética em que se poderia perguntar: Por que o homem criou a carta? Que experiência possibilitou seu surgimento? Em primeiro lugar, o fator impulsionador foi a comunicação; em segundo, devia- 37 se encontrar um meio de comunicação na distância. Portanto, fica claro que a experiência humana, ou seja, a necessidade de comunicação à distância, permitiu o nascimento do gênero carta. Como se pode constatar, o gênero faz referência a uma forma que se originou em uma experiência humana, seja oral seja escrito. Notem-se experiências que levou à criação de algumas formas orais: a necessidade de uma conferência feita em condições menos solene, inserida no contexto de um evento maior ou mesmo pronunciada isoladamente e por um único expositor cuja fala pode ser seguida de debates deu origem à Palestra; a necessidade de um evento de menor porte que um congresso e mais abrangente do que uma simples reunião que se destina ao debate aberto de temas pré-determinados, sob diversas formas de sessão deu origem ao Encontro, dentre outros exemplos. (Severino, 1998, p. 178) É necessário ressaltar que, em comparação aos tipos textuais, os gêneros são ilimitados. Ao pensar no gênero como categoria distintiva, intimamente ligada à adequação a uma situação comunicativa, percebe-se o encontro com uma dificuldade caracterizada pela impossibilidade de sua contagem. Se o gênero é caracterizado por aspectos sóciocomunicativos e funcionais (Marcuschi, 2002, p. 21), torna-se fácil compreender que ele existe em grande quantidade, que ele é maleável e que a partir dele aparecem outros. Tudo isso é possível em vista de milhares de situações comunicativas do ser humano, em vista do aperfeiçoamento das práticas sociais e do surgimento de outras. Caso, por exemplo, do e-mail. Que experiência pode ter possibilitado sua criação? Provavelmente, a necessidade de comunicação escrita à distância com uma maior velocidade. Note-se que a primeira característica leva à carta. Por isso, pode-se falar em maleabilidade, pois o e-mail, por apresentar característica inicial daquele gênero, faz uma “cópia”. O gênero carta evoluiu para o gênero e-mail, mas não deixou de existir. E por que se fala em gêneros distintos, já que ambos possuem características muito próximas? Primeiro, pelo fato de o e-mail possuir uma característica a mais: a velocidade; depois, o suporte (o meio pelo qual o texto é veiculado, 38 tomando forma) é outro: a mídia virtual. É pelas características próprias das situações de comunicação que os gêneros não serão confundidos. Em vista do que foi discutido, é equívoca a insistência em chamar os tipos textuais de gêneros, já que usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica (Marcuschi, 2002, p. 22-23). Podem-se citar alguns orais: congresso, conferência, reunião, jornada, oração, telefonema, seminário, aula expositiva, sermão, música, peça teatral2; alguns escritos: romance, artigo científico, crônica, receita culinária, manual de instrução. Nos estudos que propõe frente ao discurso construído pelas mídias, Charaudeau (2006, p. 204-207) afirma que um gênero é constituído pelo conjunto das características de um objeto e constitui uma classe à qual o objeto pertence. Para os objetos que são textos, trata-se da classe textual ou de gênero textual. Segundo o autor, a definição do gênero de informação midiática é resultado do cruzamento entre um tipo de instância enunciativa, um tipo de modo discursivo, um tipo de conteúdo e um tipo de dispositivo. O tipo de instância enunciativa caracteriza-se pela origem do sujeito de fala e seu grau de implicação. A origem pode estar na própria mídia (um jornalista – instância interna) ou fora da mídia (um político, um especialista, etc. – instância externa). O tipo de modo discursivo organiza-se em torno de três categorias: “relatar o acontecimento” (ex. reportagem), “comentar o acontecimento” (ex. editorial), “provocar o acontecimento” (ex. debate). O tipo de conteúdo temático constitui o macrodomínio abordado pela notícia: acontecimento de política nacional ou estrangeira, acontecimento esportivo, cultural etc. Por último, o tipo de dispositivo, por sua materialidade, 2 Os gêneros música e peça teatral estão em destaque pela confusão que podem oferecer, uma vez que podem ser encontrados na modalidade escrita. Marcuschi (2002) explica dizendo que são orais, mesmo sendo produzidos incialmente por meio da escrita, uma vez que foram construídos para serem falados, não lidos. Neste caso, cantado e encenado. 39 traz especificações para o texto e diferencia os gêneros de acordo com o suporte midiático (imprensa, rádio, televisão). Em relação à produção de sentido do texto, ainda é importante citar alguns princípios que devem ser considerados. Para Marcuschi (2008, p.96), há três grandes pilares da textualidade: produtor (autor), leitor (receptor) e texto (evento), visto como processo. Segundo o autor (2008, p. 93-133), o ato de produzir textos envolve critérios de textualidade. Diante disso, enfatiza duas categorias, imbricadas no processo de produção/recepção, a serem observadas: o acesso cognitivo pelo aspecto linguístico e o acesso cognitivo pelo acesso contextual. No primeiro acesso, os critérios são caracterizados como (a) coesão e (b) coerência; no segundo, como (c) aceitabilidade, (d) informatividade, (e) situacionalidade, (f) intertextualidade e (g) intencionalidade, como se veem a seguir: (a) Coesão: os processos coesivos dão conta da estruturação da sequência (superficial) do texto; não são simplesmente princípios sintáticos. Constituem os padrões formais para transmitir conhecimentos e sentidos. (b) Coerência: engloba os procedimentos pelos quais os elementos do conhecimento são ativados. (c) Aceitabilidade: diz respeito à atitude do receptor do texto, que recebe o texto como uma configuração aceitável tendo-o como coerente e coeso, ou seja, interpretável e significativo. Ela se dá na medida direta das pretensões do próprio autor, que sugere ao seu leitor alternativas estilísticas ou gramaticais que buscam efeitos especiais. (d) Informatividade: diz respeito ao grau de expectativa ou falta de expectativa, de conhecimento ou desconhecimento e mesmo incerteza do texto oferecido. (e) Situacionalidade: pode ser vista como critério de adequação textual. Este critério se refere ao fato de relacionarmos o evento textual à situação (social, cultural, ambiente, etc.). 40 (f) Intertextualidade: refere-se às relações entre um dado texto e os outros textos relevantes encontrados em experiências anteriores, com ou sem mediação. (g) Intencionalidade: este critério considera a intenção do autor como fator relevante para a textualização. A intencionalidade, no sentido estrito, é a intenção do locutor de produzir uma manifestação linguística coesiva e coerente (Fávero, 1986, apud Marcuschi, 2008, p.127). A coesão textual se constitui, no presente estudo, como um dos aspectos importantes, sendo dado que, no capítulo 5, será central em uma das categorias de análise, que é o conhecimento de língua. Cabe, portanto, aprofundar um pouco as noções que envolvem o conceito a partir da classificação proposta por Corrêa e Cunha (2005). A coesão textual se constitui na repetição ou retomada de informações novas ou velhas – referentes3 - através da qual se estabelece a continuidade semântica (Corrêa e Cunha, 2005, p. 146, grifo das autoras). Podem ser divididas em duas: anáfora e catáfora. As autoras enfatizam, além disso, que, no processo de interpretação, as anáforas e as catáforas funcionam como fios condutores que permitem a apreensão do texto como um todo coerente, em confronto com o conhecimento prévio do receptor (2005, p. 154). A anáfora é a repetição do mesmo referente ou do mesmo tema, ainda que através de formas linguísticas diferentes. Ela assegura a possibilidade de se construir um sentido global para o texto – e, consequentemente, contribui decisivamente para a coerência textual. (2005, p. 146). Corrêa e Cunha propõem uma classificação dos componentes da coesão textual, a saber: anáforas nominais e anáforas pronominais. As anáforas nominais são procedimentos de retomada de um referente através de sintagmas nominais cujo núcleo é um nome. (2005, p. 147). As anáforas pronominais abrangem os procedimentos de retomada de um referente através de um pronome. 3 “referências a seres ou fatos que já tenham sido mencionados anteriormente” (Corrêa e Cunha, 2005, p. 145). 41 No caso das anáforas nominais, encontram-se: as anáforas nominais por substituição e as anáforas nominais por repetição. No caso das anáforas pronominais, encontram-se: as anáforas pronominais por substituição (retomam referências expressas por sintagmas nominais cujo núcleo é um nome), as anáforas pronominais por repetição (normalmente só ocorrem em transcrições de textos orais) e as anáforas por elipse pronominal (reiteram a continuidade temática, funcionando como um “pronome zero” que remete ao mesmo referente do pronome sujeito da oração anterior). Cabe, ainda, ressaltar que, no caso das anáforas pronominais, as autoras (2005, p. 149) sustentam que a função dêitica ou exofórica é característica dos pronomes que “apontam” algo para fora do texto – isto é, referem-se a coisas ou seres cuja identificação depende do contexto extra-linguístico. Incluem-se neste caso os pronomes pessoais de 1ª e 2ª pessoas, os advérbios de lugar aqui, aí, ali, cá, lá, acolá, e os demonstrativos. Outro tipo de procedimento coesivo é a catáfora, que, segundo Corrêa e Cunha (2005, p. 153), antecipa a introdução de uma informação nova no discurso. É dividida em dois tipos: a catáfora nominal e a catáfora pronominal. Para as autoras (2005, p. 154), propor atividades de análise que levem o aluno a percorrer o texto com base nas redes coesivas que o compõem, ultrapassando o nível da frase, por certo contribuirá para o desenvolvimento de estratégias de leitura global. Segundo Koch e Elias (2007, p. 127), existem formas de introdução de referentes no modelo textual, que são de dois tipos: não-ancorada e ancorada. A primeira ocorre quando um objeto-de-discurso4 totalmente novo é introduzido no texto. O segundo ocorre sempre que um objeto é introduzido no texto, com base em algum tipo de associação com elementos já 4 Fazem menção aos referentes que são construídos e reconstruídos no interior do discurso, de acordo com a nossa percepção de mundo, nossas crenças, atitudes e propósitos comunicativos. (Koch e Elias, 2007, p. 123) 42 presentes na situação comunicativa. Neste caso, diferenciam-se dois tipos de anáforas: as indiretas, que se caracterizam pelo fato de não existir no texto referente explícito, mas sim um elemento de relação, e as associativas, que introduz novo referente no texto, por meio da exploração de relações meronímicas, ou seja, todas aquelas em que um dos elementos da relação pode ser considerado, de alguma forma, ingrediente do outro. Por tudo que foi discutido, quando se passa a notar a língua como elemento contextualizado e o texto como resultado de uma prática social, as habilidades de compreensão escrita e produção de textos tomam outra dimensão. Além da tomada de consciência dos papéis que assumem produtor e leitor nas práticas de CE e PE, possibilita-se a compreensão de que o texto é o lugar de interação, como defende Koch e Elias (2007, p. 1011). Nem a língua é concebida apenas como sistema ideal nem o texto é esgotado como sendo um constituinte de uma prática que é produzida unilateralmente. Outro elemento que passa a ser relevante no ensino/aprendizagem de língua estrangeira é a percepção de que o aprendizado pode ocorrer pela inserção de estratégias, já que, como defendem alguns autores (Kleiman, 2008, 2004, Souza, 2010, PCN, 1998), o aprendizado se dá por meio delas. Nas próximas sessões deste capítulo, buscar-se-á estudar as práticas de CE e PE de modo separado. Tradicionalmente, as duas práticas são vistas como habilidades separadas. Neste trabalho, será mantida essa visão, por se entender que, embora relacionadas, como será apresentado no capítulo 3, essas práticas têm conceitos, meios de produção e fins diferentes. 2.2 A compreensão escrita Interessante é notar a forma como a CE veio sendo tratada ao longo dos anos. Um dos principais caminhos adotados esmera-se na compreensão de que a língua pode ser trabalhada a partir de textos. A dificuldade, no entanto, está em abandonar o ato de abordagem textual 43 como pretexto para o ensino de língua, isto é, o texto, que reflete um objeto em que se vê a língua em uso, não é estudado em sua totalidade. Isso quer dizer que, dessa forma, a língua pode acabar sendo estudada da mesma forma que se faz ao estudá-la em frases descontextualizadas: de forma isolada do texto, que deveria ser visto como o grande instrumento através do qual se pode ver a língua de maneira significativa. Um exemplo comum se vincula a situações em que o professor solicita ao aluno que faça uma lista de, por exemplo, adjetivos que podem ser encontrados no texto. Ressalta-se que não se exclui a importância de fazer o aluno compreender o conceito “adjetivo” e saber identificá-lo. O problema dessa atividade reside nas etapas que não são percorridas. Não é exagero afirmar que esse tipo de tarefa não apresenta ao aluno nenhum significado a respeito do uso que ele faz da língua. Significativo seria se, a título de exemplificação, o professor refletisse com os alunos sobre a relevância do uso de determinados adjetivos dentro do texto. Ao compreender que as escolhas linguísticas que se faz da língua se dão a partir dos objetivos que se pretendem alcançar, entende-se, nesse caso, que a seleção dos adjetivos não é arbitrária. Sua presença poderia ser justificada por vários motivos, dentre os quais pela necessidade de qualificação de determinados seres, ideias, ações, sentimentos, mas também pelo papel argumentativo que podem assumir. A desvinculação da concepção de língua como elemento contextualizado está ligada a diversas perspectivas de ensino de texto e de leitura. Segundo Kleiman (2008, p. 17-18), pode-se falar em duas concepções de texto: a) o texto como conjunto de elementos gramaticais e b) o texto como repositório de mensagens e informações. No primeiro caso, o contexto em que o texto está inserido não é levado em consideração, uma vez que ele é utilizado apenas para a identificação de classes gramaticais, para o estudo de frases, orações e para o estudo das funções que esses elementos possuem. No segundo caso, de modo semelhante, o contexto também não é levado em conta. A diferença reside no fato de que o 44 estudo do texto está ligado à soma dos sentidos que as palavras carregam para que ele faça sentido. Prova disso são as atividades em que se solicita ao aluno a substituição de vocábulos por sinônimos ou antônimos sem que se tenha em vista o sentido carregado pelos vocábulos dentro do texto. Nessa perspectiva, diversos fatores não são levados em consideração, permitindo a crença de que, na atividade de CE, o desconhecimento de uma ou outra palavra compromete o processo de significação textual. Pode-se falar também, segundo a autora, em três concepções de leitura: a) a leitura como decodificação. A visão presente nesta concepção diz respeito às práticas em que o aluno não é levado a pensar, mas apenas a identificar e retirar informações presentes no texto. Essas informações são de antemão mostradas nas questões propostas. Basta apenas ao aluno passar o olho no texto para resgatar dados já apresentados nessas questões. Outro fato diz respeito ao salto dado pelo professor quando, antes de discutir questões presentes no texto, pede ao aluno para dizer o que pensa a respeito do texto, “a interpretação precede a leitura” (Kleiman 2008, p. 21). b) a leitura como avaliação. Neste caso, está presente a leitura em voz alta feita apenas para avaliação, isto é, para medição dos conhecimentos referentes à forma, à pronúncia e à entonação com o fim de se aferir a compreensão ou não do aluno. Para Kleiman (2008, p. 22), a leitura feita com esse fim nada tem a ver com a leitura feita pelo leitor proficiente em atividades solitárias, já que esta é, em geral, silenciosa. Outra questão diz respeito à leitura produzida por meio de resumos, relatórios e preenchimentos de ficha, que reduzem o ato a uma atividade desmotivadora. c) a integração numa concepção autoritária de leitura. Nesta visão, estão as posturas que são autoritárias frente ao ato de ler. Trata-se da atualização de todos os atos apresentados anteriormente, em que o aluno é visto como ser dispensável. Em todos eles, os alunos são autorizados seja pelo professor seja pela escola a ter apenas uma leitura ou uma interpretação. 45 Como apresenta Kleiman (2008, p. 23): (...) a análise de elementos discretos seria o caminho para se chegar a uma leitura autorizada, a contribuição do aluno e sua experiência é dispensável, e a leitura torna-se uma avaliação do grau de proximidade ou de distância entre a leitura do aluno e a interpretação autorizada. Outra visão, a respeito da desvinculação ao entendimento de texto como elemento produzido a partir de diversos processos contextuais, pode ser apontada. Koch e Elias (2007, p. 9-10) apresentam dois tipos equivocados de concepções de leitura: a) Foco no autor: o texto é tido como um produto, como representação mental do produtor; cabendo ao leitor o resgate dessa representação e das intenções do produtor. Como afirma Koch (2002): À concepção de língua como representação do pensamento corresponde a de sujeito psicológico, individual, dono de sua verdade e de suas ações. Trata-se de um sujeito visto como um ego que constrói uma representação mental e deseja que esta seja “captada” pelo interlocutor da maneira como foi mentalizada. (Koch e Elias, 2007, p. 9, grifo das autoras) b) Foco no texto: o texto é visto como produto da codificação de um produtor que será decodificado pelo leitor/ouvinte; bastando a estes conhecer o código utilizado. Segundo as autoras: À concepção de língua como estrutura corresponde a de sujeito determinado, “assujeitado” pelo sistema, caracterizado por uma espécie de “não consciência”. O princípio explicativo de todo e qualquer fenômeno e de todo e qualquer comportamento individual repousa sobre a consideração do sistema, quer linguístico, quer social. (Koch e Elias, 2007, p. 10, grifo das autoras) 46 Interessante é notar que todas essas concepções de leitura se ligam à ideia de texto como produto. Entende-se por produto, segundo o dicionário Aurélio, “2. o resultado de qualquer atividade humana (física ou mental)”. Ao ser analisado de maneira ipsis litteris, o conceito, frente ao texto, parece ser adequado, uma vez que pode ser visto como resultado da comunicação, de uma prática social. Entretanto, é justamente por esse fato que algumas práticas de ensino/leitura em torno do texto se tornam inadequadas. Ler um texto como se ele fosse um produto promove uma série de incoerências. Isso porque existe um conjunto de elementos externos a ele, enquanto forma/resultado, que impossibilitam a ideia de algo acabado, pronto; algo objetivo. Da leitura de Coracini (2002), ao estudar texto, diversas perspectivas, que se iniciam com o estruturalismo e vão até o interacionismo, mantêm algum tipo de relação com essa visão. Segundo a autora, uma visão remanescente do estruturalismo se liga, por exemplo, àquela que defende o texto como fonte única de sentido, que está preso às palavras e às frases. É nesse contexto que: (...) o texto se objetifica, ganha existência própria, independente do sujeito e da situação de enunciação: o leitor seria, então, o receptáculo de um saber contido no texto, unidade que é preciso capturar para construir o sentido. Note-se que, neste caso, se constrói o sentido como se constrói uma casa, um objeto, a partir de unidades menores, combináveis e recombináveis entre si. (Coracini, 2005, p. 14, grifo da autora) Na concepção cognitivista, que apresenta visão oposta à anterior, a responsabilidade passa a estar em grande medida sobre o leitor, uma vez que, diante dos dados presentes no texto, ele aciona esquemas para interpretá-lo (Coracini, 2002, p. 14). Há ainda, segundo a autora, a concepção intermediária de leitura, “vista como interação entre os componentes do ato da comunicação escrita”. Nesse caso, o leitor, diante do texto, aciona seus conhecimentos prévios a partir de esquemas mentais de que é portador e os confronta com o texto para “construir” sentido (Coracini, 2002, p. 14, grifo da autora). 47 Segundo Coracini (2002, p. 15): (...) essa atividade se vê tolhida por um objeto autoritário ao qual se imputa a existência de um núcleo de sentido, “conteúdo comum”, independente dos componentes situacionais; apenas as leituras que não ferissem esse núcleo poderiam ser consideradas aceitáveis. Para a autora, o interacionismo se caracteriza como sendo um prolongamento da visão tradicional ascendente. Nessa postura, na visão da autora, acredita-se na ideia que o leitor pode recuperar as intenções do autor a partir das marcas deixadas no texto. Assim: (...) se é o texto que predetermina, ou seja, autoriza um certo número de leituras (através das chamadas inferências autorizadas) e impede ou impossibilita outras, então o texto é ainda autoridade, portador de significados por ele limitados, ou melhor, autorizados; o texto teria, assim, primazia sobre o leitor, que precisa, com competência, apreender o(s) sentido(s) nele inscritos(s). (Coracini, 2002, p. 15) Resumindo, temos o seguinte quadro: CONCEPÇÕES DE LEITURA Kleiman (2008) Leitura Koch e Elias (2007) como decodificação; Coracini (2002) Foco no autor; Estruturalista; Foco no texto. Cognitivista; Leitura como avaliação; Intermediária; Interpretação Interacionista. numa concepção autoritária de leitura Ao produzir um trabalho de CE baseado nos preceitos do interacionismo, busca-se entender que a comunicação se dá por um processo interativo e não unilateral. Isso quer dizer que são levados em consideração elementos presentes em pelo menos dois participantes de um processo que tem o texto como mediador. Como sustenta Koch (2009, p. 31): 48 (...) na base da linguística, está a interação e o compartilhar de conhecimentos e de atenção: os eventos linguísticos não são a reunião de vários atos individuais e independentes. São, ao contrário, uma atividade que se faz com os outros, conjuntamente. (grifo da autora) Ao perceber a produção de sentidos como atividade sociointeracional, tem-se em mente a ideia que, de um lado, há o produtor que, imerso em um contexto sociocultural específico, planeja um texto visando a seu leitor a partir da mobilização de uma série de conhecimentos; de outro lado, há um leitor que, imerso em um contexto sociocultural específico, mobiliza uma série de conhecimentos para produzir sentido. Essa produção de sentidos só se pode dar mediante a um elemento concreto, o texto, que de fato apresenta uma estrutura superficial. Resta ao leitor competente compreender que a CE não pode ficar na superficialidade textual, há que considerar a existência de um conjunto de características que estão em volta do material concreto. Como bem observa Marcuschi (2008, p. 242), O texto é uma proposta de sentido e se acha aberto a várias alternativas de compreensão. Mas todo cuidado aqui é pouco, pois o texto não é uma caixinha de surpresas ou algum tipo de caixa preta. Se assim fosse, ninguém se entenderia e viveríamos em eterna confusão. Há, pois, limites para a compreensão textual. E esses limites são dados por alguns princípios de compreensão. (grifo do autor) Além disso, há que considerar que a total apreensão do sentido e das intenções do produtor do texto é suposta, uma vez que as condições de produção do material se perderam. O sociointeracionismo, percebendo o material como mediador, isto é, como “o lugar da interação” (Koch, 2009, p. 33) procura apresentar ao leitor os caminhos possíveis para interpretações proficientes a partir da atualização dos processos pelos quais passam produtor/leitor no ato de produção/recepção textual. O reconhecimento desses processos 49 perpassa pelo estudo de diversas questões ligadas à dimensão sociointeracional, que envolve, como cita Koch (2009, p. 33): (...) as diversas formas de progressão textual (referenciação, progressão referencial, formas de articulação textual, progressão temática, progressão tópica), a dêixis textual, o processamento sociocognitivo do texto, os gêneros, inclusive da mídia eletrônica, questões ligadas ao hipertexto, entre várias outras. Em relação ao estudo da leitura, é importante que seja lançado um olhar para a teoria discursiva de Charaudeau (2009, p. 67-68), uma vez que o ato de ler está diretamente associado ao ato de comunicação, um dispositivo cujo centro é ocupado pelo sujeito falante (o locutor, ao falar ou escrever), em relação com um outro parceiro (o interlocutor). Nesse dispositivo, estão implicados alguns componentes, como a Situação de comunicação, os Modos de organização do discurso, a Língua e o Texto. Ressalta-se que, quanto à situação de comunicação, o autor aponta duas categorias: a situação dialogal e a monologal. Esta pesquisa estará apoiada nesta última – monologal –, pois revela que os parceiros não estão presentes fisicamente, havendo um contrato de não-troca. Do ponto de vista das propostas que integram uma visão de trabalho de leitura a partir de práticas sociointeracionais, torna-se um problema no ensino quando as práticas de trabalho de CE fragmentam o valor do texto ao reivindicar do aluno apenas a identificação das regras gramaticais e sua posterior sedimentação na memória. Da mesma forma, torna-se um problema quando o texto é tomado como unidade que reúne vocábulos cujos significados são independentes da situação de comunicação. Nesse caso, cria-se a ideia de que o texto preserva mensagens e informações. Bastaria apenas ao leitor dominar o sentido das palavras, juntar uma a uma para produzir significado. Segundo Kleiman (2008, p. 16), essas concepções de texto promovem na maioria dos alunos a sensação de que leitura é muito difícil, pois não há produção de significados. 50 Afastando-se dessa postura, Coracini (2002, p. 16) sustenta a ideia de que o texto somente pode ser controlado pelos sujeitos submersos num determinado contexto sóciohistórico (ideológico), responsável pelas condições de produção. Nesse contexto, o texto passa a ser visto como processo discursivo, que se refere, segundo Serrani (2005, p. 34), às posições enunciativas decorrentes de condicionamentos sócio-históricos e subjetivos de toda produção verbal. Na visão que concebe texto como processo, segundo Pauliukonis (2001, p. 3), o texto é considerado o resultado de uma co-construção, assumindo, portanto, um aspecto dinâmico, cuja textualidade é consequência de um trabalho colaborativo entre emissor e receptor. Entende-se que o significado não está no texto, sendo o leitor o responsável por sua significação. A leitura é produzida e o que se procura é a determinação do processo e as condições de sua produção (Orlandi, 1999, p. 40). Nesse processo de constituição do significado, é possível notar que os sujeitos do ato de comunicação projetam seus conhecimentos. Charaudeau (2009, p. 31) afirma que, para o sujeito enunciador (locutor), falar ou escrever é uma atividade que envolve criação de hipóteses sobre o saber do sujeito interpretante (interlocutor). Para o sujeito interpretante, produzir significados é criar hipóteses sobre o saber do enunciador, sobre seus pontos de vista em relação aos seus enunciados. Na concepção sociocognitiva-interacional de texto, quando se fala de leitura, focalizam-se três elementos: autor, texto e leitor. “Trata-se de uma concepção dialógica da língua, em que os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que – dialogicamente – se constituem e são constituídos no texto” (Koch e Elias, 2007). Por isso, leitura, segundo Koch e Elias (2007, p. 11), apresenta-se como uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas 51 requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo. Koch (2002, apud Koch e Elias, 2007, p. 39-40) afirma que, para que haja o processamento do texto, recorre-se a três sistemas de conhecimento: linguístico, enciclopédico e interacional. O conhecimento linguístico se refere à organização do material linguístico na superfície textual; ao uso dos meios coesivos para efetuar a remissão ou sequenciação textual; à seleção lexical adequada ao tema ou aos modelos cognitivos ativados (Koch e Elias, 2007, p. 40). Há também outra estratégia utilizada pelo leitor além dos conhecimentos léxicosemânticos, morfológico, sintático e fonético-fonológicos. Todo ser humano dispõe de um conhecimento que está ligado às suas experiências. Trata-se do conhecimento enciclopédico, que se refere aos conhecimentos gerais sobre o mundo bem como aos conhecimentos alusivos a vivências pessoais e eventos espaço-temporalmente situados, permitindo a produção de significados. (Koch e Elias, 2007, p. 42) Ao ler um texto que narre uma situação, começando por Era uma vez e terminando por E foram felizes para sempre, o leitor saberá de que se trata de um conto de fadas; não permitindo a confusão com, por exemplo, uma notícia de jornal construída nos padrões tradicionais. Para isso, ele dispõe de determinados conhecimentos da forma, institucionalizada culturalmente, criando uma expectativa de encontrar no texto seres imaginários: heróis (príncipes, princesas), vilões (bruxa), seres mágicos (fadas, magos), mas não reais, como em uma notícia de jornal. Este é um exemplo do conhecimento interacional, que, para Koch e Elias (2007, p. 45-46), refere-se às formas de interação por meio da linguagem. Ainda segundo as autoras, esse tipo de conhecimento engloba os conhecimentos: ilocucional, comunicacional, metacomunicativo e superestrutural. O primeiro nos permite reconhecer os 52 objetivos ou propósitos pretendidos pelo produtor do texto, em uma dada situação interacional. O segundo diz respeito a três fatores: à quantidade de informação necessária numa situação comunicativa concreta para que o parceiro seja capaz de reconstruir o objetivo da produção de texto; à seleção da variante linguística adequada à situação interativa; à adequação do gênero textual à situação comunicativa. O terceiro permite ao locutor assegurar a compreensão do texto e conseguir a aceitação pelo parceiro dos objetivos com que é produzido. O quarto é também chamado de conhecimento sobre gêneros textuais, que, além de permitir a identificação de textos como exemplares adequados aos diversos eventos da vida social, envolve conhecimentos sobre a ordenação ou sequenciação textual em conexão com os objetivos pretendidos. (Koch e Elias, 2007: p. 45-56) É importante evidenciar que, ateriormente à classificação proposta por Koch e Elias (2007), no que tange ao conhecimento interacional, Grice apresentou elementos importantes para o ato de compreensão do texto, que estão regidos por processos ligados a um princípio que o autor chama de Princípio da Cooperação, ou seja, o locutor deve fazer a sua contribuição conversacional tal como é requerida, no momento em que ocorre, pelo propósito ou direção do intercâmbio conversacional em que ele está engajado. (Grice, 1982, p. 86) A respeito disso, afirma Pauliukonis (2008, p. 1923): O filósofo americano Peter Grice admite (...) que, numa interação, os interlocutores estão envolvidos em um processo de co-construção do sentido de uma mensagem. Ou seja, todo sentido é fruto de uma interação e construir juntos a comunicação depende da aplicação e obediência a algumas máximas conversacionais, que reduziu a quatro princípios. Podem-se distinguir quatro categorias: quantidade, qualidade, relação e modo (Grice, 1982, p. 86-87). A quantidade possui duas máximas: (a) Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerido (para o propósito corrente da conversação); e (b) Não faça 53 sua contribuição mais informativa do que é requerido. A qualidade é marcada por uma supermáxima: Trate de fazer uma contribuição que seja verdadeira e por duas máximas: (a) Não diga o que você acredita ser falso; e (b) Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidência adequada. A relação possui apenas uma máxima: Seja relevante. Por último, há o modo, marcado pela supermáxima: Seja claro. Segundo Grice (1982, p. 87), a relação refere-se não ao o que é dito (como nas categorias anteriores), mas sim a como o que é dito deve ser dito. Suas máximas são: (a) Evite obscuridade de expressão; (b) Evite ambiguidades; (c) Seja breve (evite prolixidade excessiva); e (d) Seja ordenado. Segundo Pauliukonis (2008, p. 1923-1924), As máximas da quantidade, da qualidade, da relação e do modo, ou seja: diga o que for relevante para a situação, o que julga ser verdadeiro; diga as coisas da melhor forma a ser bem entendido, isto é, evite ser prolixo, confuso, rebuscado e só diga coisas que tenham relação com a situação, constituem a base de nosso raciocínio inferencial discursivo. São esses os elementos que permitem oferecer fundamentos para que os professores adotem no dia a dia com os alunos diversas estratégias de leitura, caracterizadas pelos processos pelos quais passam os leitores considerados competentes. Esse tópico é o assunto que será abordado na próxima seção. 2.2.1 Estratégias de leitura Partindo do princípio de que língua não deve ser o único objetivo do ensino de leitura, aspectos como conhecimento de mundo e interacional devem ser levados em consideração. Kleiman (2008, p. 49), buscando uma prática que se contraponha à tradição, sustenta que o trabalho com a leitura se torna coerente ao ser pensado como ensino de estratégias de 54 leitura – operações regulares de abordagens de textos – e como desenvolvimento de habilidades linguísticas. Segundo a autora, as estratégias são classificadas como metacognitivas e cognitivas. A primeira se refere às operações realizadas com algum objetivo, sobre o qual o sujeito tem controle. A segunda se refere às operações inconscientes do leitor. Segundo a autora, essas duas estratégias em conjunto caracterizam o processo de leitura e apontam para a direção de que o processamento do texto é realizado estrategicamente e não através de regras. Quanto ao aspecto metacognitivo, a autora propõe duas metas: a) um ensino por meio da formulação de objetivos prévios à leitura; b) um ensino que possibilite a criação de condições em sala de aula para que o aluno possa fazer predições diante do texto, que estão apoiadas no conhecimento prévio. Segundo Koch e Elias (2007, p. 19), os objetivos norteiam o modo de leitura, que pode ser, dentre outras formas, com maior ou menor interação. Para Kleiman (2004, p. 40), o leitor torna-se a lembrar com mais propriedade das informações de um texto quando há presença de objetivos específicos. A partir disso, traça uma crítica aos professores que propõem atividades de leitura aos alunos sem levar esse fator em consideração. Quanto à predição, Kleiman (2008, p. 52) afirma que fazer predições baseadas no conhecimento (procedimento que é chamado de formulação de hipóteses de leitura), constitui um procedimento eficaz na abordagem do texto e tem o intuito de construir a autoconfiança no aluno em suas estratégias para resolver problemas na leitura. No tocante ao aspecto cognitivo, a autora propõe que se promovam, através do ensino, condições para que o leitor desenvolva habilidades linguísticas, que vão desde a capacidade de usar o conhecimento gramatical para perceber relações entre as palavras, até a capacidade de usar o vocabulário para perceber estruturas textuais, atitudes e intenções. Um aspecto importante que é ressaltado no ensino de vocabulário é o estabelecimento da 55 compreensão a partir da inferência lexical, processo de aprendizagem que parte do contexto para o estabelecimento de significados. No contexto de ensino de língua estrangeira, algumas propostas têm sustentado a ideia de que é importante que se levem em consideração as experiências que os alunos carregam para a facilidade do engajamento discursivo. Os PCN (1998, p. 27), ao propor algumas orientações didáticas para o trabalho de compreensão escrita, sustentam a ideia de que se deve privilegiar o conhecimento de mundo e o da organização discursiva prévios do aluno. Tendo como ponto de partida a constituição identitária dos falantes de uma determinada língua, Serrani (2005, p. 18) propõe que o professor tenha um perfil interculturalista, pois, segundo a autora, ele passa a considerar em sua prática os processos de produção-compreensão do discurso, relacionados diretamente à identidade sócio-cultural. Pelo fato de o aluno estar entrando em contato com uma cultura diferente por meio de uma língua, a eficácia do ensino dessa língua é evidenciada a partir da aproximação do universo cultural do aluno com aquele da língua que está aprendendo. Para os PCN (1998, p. 30), torna-se mais difícil para um aluno aprender uma determinada língua quando não se leva esse aspecto em consideração. Nesse contexto, conclui que “um dos processos básicos de qualquer aprendizagem é o relacionamento que o aluno faz do que quer aprender com aquilo que já sabe”. O documento defende a ideia de que, no ensino de língua estrangeira, devem-se trazer os conhecimentos prévios à mente do aluno. Baseia-se nessa ideia, segundo ele, “a exploração de aspectos metacognitivos de aprendizagem, que ajuda na educação linguística do aluno e no aprimoramento de seu nível de letramento”. Esse trabalho promoveria ainda no aluno a percepção do caráter social da linguagem. Para possibilitar no aluno o enriquecimento dessa percepção, o documento evidencia alguns procedimentos a serem adotados nas abordagens dos textos através de questões como: quem escreve, sobre o quê, para quem, para quê, quando, de que forma, onde. Além disso, 56 propõe que as escolhas temáticas sejam viabilizadas por uma análise comparativa de como questões particulares são tratadas no Brasil e em outros países em que a língua estrangeira é falada como língua materna e/ou língua oficial. Essas escolhas devem levar em consideração os conhecimentos prévios dos alunos, adequando-se à idade e ao meio social em que vivem. O documento propõe ainda uma prática pedagógica de leitura que leve em consideração três fases: pré-leitura (possíveis significados a serem construídos na leitura com base na elaboração de hipóteses), leitura (projeção do conhecimento de mundo e dos modos de organização do texto nos elementos linguísticos do texto a partir de estratégias como inferência, conhecimento de vocabulário, estabelecimento de elos coesivos) e pós-leitura (pensar o texto, emitir reações e avaliações a respeito das ideias do autor). Pelo fato de se ter em mente que a linguagem é de caráter sociointeracional, o ensinoaprendizagem, por ser uma forma de estar no mundo social com alguém, em um contexto cultural, histórico e institucional (PCN, 1998, p. 38), passa a ser visto como uma relação em que a construção do conhecimento recai tanto no professor como no aluno. Diante disso, propõe-se que, na medida do possível, o professor deixe de autorizar as diversas leituras, “aprendendo a compartilhar seu poder e aceitar tópicos sugeridos pelo aluno e suas interpretações do que está sendo dito para que ele possa se constituir como sujeito de discurso”. Baseando-se numa proposta interculturalista e discursiva, Serrani (2005, p. 30-36) propõe três componentes nas práticas de ensino de língua estrangeira: 1) intercultural; 2) de língua-discurso e 3) de práticas verbais. No componente intercultural, três eixos temáticos de propostas de escolhas de gêneros de textos são evidenciados: 1) Território, Espaços e Momentos, que põe em destaque o contexto sócio-espacial; 2) Pessoas e Grupos Sociais, que se trata, não somente da observação dos grupos sociais, mas também de diferentes perspectivas discursivas sobre diferenças; 3) 57 Legados Socioculturais, em que se entende que fazer o aluno “funcionar em uma língua” é finalidade necessária, mas não suficiente, uma vez que os legados culturais e os domínios identitário, social e emocional do sujeito estão relacionados. No componente de língua-discurso, é sugerido que o princípio da relação materialidade linguística / processo discursivo é implementado ao se mobilizar a noção de gênero discursivo. Nesse contexto, na elaboração desse componente do currículo, propõem-se questões que apontam para escolhas genéricas com base na prática de, por exemplo, determinadas construções morfossintáticas, de um dado léxico. Além disso, acrescentam-se a esse quadro questões que evidenciem, por exemplo, posições enunciativas (lugares de enunciação, como dar ordens ao seu interlocutor ou não etc.) e posições subjetivas (hostis, persuasivas, afáveis etc.). Por último, no componente de práticas verbais, aponta-se para a perspectiva de que a unidade não será a palavra nem a sentença, mas o gênero discursivo. A autora afirma que qualquer prática de leitura precisa estar contextualizada no gênero discursivo e em suas condições de produção. Resumindo, temos o seguinte quadro: COMPONENTES NAS PRÁTICAS DE ENSINO DE LE INTERCULTURAL EIXOS TEMÁTICOS Território, Espaços e LÍNGUA-DISCURSO PRÁTICAS VERBAIS Escolha Unidade: base genérica em com construções Momentos; morofossintáticas, de um Pessoas e Grupos Sociais; dado léxico, etc. Legados Socioculturais. Posições enunciativas gênero discursivo. Posições subjetivas Serrani (2005, p. 30-36) 58 Na prática de leitura, diversos elementos sociocognitivos-interacionais e discursivos estão envolvidos para que a produção de significados seja realizada. Diante disso, um conhecimento maior desses processos pelo professor torna-se importante, uma vez que se busca fazer os alunos compreender a realidade que o cerca de modo competente. Da mesma forma, na prática de escrita, existem diversos elementos sociocognitivos-interacionais que não podem ser deixados de lado nas práticas de ensino. Diante disso, um aprofudamento teórico a respeito dessa prática é também importante. 2.3 A produção escrita Antes de dar início à discussão nesta seção sobre os aspectos envolvidos na prática de PE, faz-se necessário chamar atenção para as diferenças encontradas entre língua escrita e língua falada. Para os PCN (1998, p. 98), é preciso considerar duas diferenças básicas entre a produção escrita e a oral em razão da presença ou ausência do interlocutor: o nível de planejamento e de envolvimento com o interlocutor que a tarefa de produzir acarreta. A escrita tende a exigir mais planejamento (incluindo, portanto, a necessidade de revisar o texto) do que a produção oral. A outra diferença diz respeito ao maior ou menor nível de envolvimento com o interlocutor. A produção oral, em virtude da presença do interlocutor, tende a acarretar maior envolvimento com ele. À luz do olhar do interlocutor, dos seus gestos e de traços de sua identidade social (classe social, etnia, opção sexual etc.), pode-se moldar o que se fala de modo a envolvê-lo mais diretamente na construção do significado. O documento discute ainda que um dos primeiros aspectos a considerar em relação ao processo de produção da escrita é o próprio desafio que ela representa: é uma interação que se estabelece em ausência do interlocutor, diferenciando-se da interação oral, na qual os 59 parceiros encontram-se em presença na simultaneidade da fala. Logo, o interlocutor do texto escrito, a razão mesma da existência do texto, como sustenta o documento, vem a ser um projeto do escritor que utilizará estratégias da língua escrita para suprir essa não-presença. Assim, quem escreve se vê obrigado a expor informações/ideias de maneira mais clara, planejada e detalhada que na situação de interação face a face, caracterizando tal processo como aquele que precisa evitar a ambiguidade e perseguir a clareza. Além disso, há a questão de que o conhecimento exigido do código linguístico é de natureza diversa na situação de interação escrita, se comparada com a oral, e que, ainda, os possíveis contextos socioculturais, relevantes na constituição dos diferentes sentidos, na escrita precisam ser recuperados por quem escreve, enquanto no oral, ambos os participantes podem estabelecer as referências necessárias (PCN, p. 99). Na concepção discursiva de texto, Charaudeau (2009, p. 71) estabelece uma oposição entre língua falada e língua escrita. Para o autor, não existe uma oposição simples e nítida entre esses dois fatos. Afirma que as distinções resultam da combinação particular dos componentes de cada situação de comunicação. Nesse contexto, consideram-se: (a) se os parceiros estão presentes um ao outro, (b) se o canal de transmissão é oral ou gráfico, (c) se a troca é permitida ou não. Nessa linha de raciocínio, o autor considera mais conveniente falar em situação dialogal e em situação monologal. No primeiro caso, quando os parceiros da comunicação estão presentes fisicamente um ao outro, o contrato permite a troca, o canal de comunicação é oral e o ambiente físico é perceptível pelos dois parceiros. O locutor pode perceber as reações do interlocutor, podendo antecipar, hesitar, se corrigir, se completar. No que tange à configuração verbal dessa situação, existe uma ordem afetiva das palavras, uma construção segmentada, uma economia de palavras, utilização de dêiticos e uma superposição de signos. Já no caso da situação monologal, quando os parceiros da comunicação não estão presentes 60 fisicamente um ao outro e quando o contrato não permite a troca, o canal de comunicação pode ser oral ou gráfico. No que tange à configuração verbal dessa situação, a ordem das palavras é progressiva, a construção é contínua e hierarquizada, a sucessão de termos apresenta valor semântico progressivo, o ambiente é explicitado ou não, os gestos e a entonação são ou não explicitados. Um aspecto a ser ressaltado é que todas essas divisões não são determinantes. A dependência está no gênero textual e em seu suporte, uma vez que, se observadas atentamente as práticas sociais, será notado que há uma constante mudança do modo como a língua é contextualizada, do modo como as práticas comunicativas vão desenvolvendo novos moldes sem, nem sempre, com isso garantir a eliminação de práticas anteriores. Segundo Chartier (2002, p. 115), há uma mudança no tocante à figura do leitor contemporâneo, uma vez que ele se vê de frente a um novo modo de inscrição e de comunicação de textos: a textualidade eletrônica. Além das concepções de hipertexto e hiperleitura implicadas nessa modalidade textual, que transformam as relações possíveis entre as imagens, os sons e os textos associados de maneira não-linear; há uma imbricação entre língua oral e língua escrita. Sob essa ótica, apresenta-se a internet, que, segundo o autor, tem integrado diversos gêneros textuais em práticas comunicativas que obrigam o analisador a abandonar a sistematização categórica texto verbal/não-verbal posto que, para processar a informação de apenas um texto, o leitor recorre a elementos imbricados nesses dois expedientes. Da mesma forma, abandonase a distinção fala/escrita. Convém ressaltar que também há textos que não têm como suporte o computador, como os textos jornalísticos impressos, muitos dos quais recorrem a imagens para que a comunicação com o leitor seja estabelecida. Por isso, a necessidade em falar de material gráfico no lugar de escrito. Outro dado referente à internet a ser levado em consideração é a presença de aspectos ligados à oralidade para o estabelecimento de comunicação. A título de exemplificação, pode- 61 se citar a conversa instantânea. Um telefonema, que é, na maior parte das vezes, uma conversa instantânea, pode ser caracterizado, de acordo com a classificação proposta por Charaudeau (2009, p. 71), da seguinte forma: (a) os parceiros não estão presentes um ao outro, (b) o canal de transmissão é oral, (c) a troca é permitida. Entretanto alguns aspectos não podem ser percebidos pelo locutor, como as reações físicas do interlocutor. Nessa situação, pode-se dizer que se trata de uma situação dialogal, feitas as ponderações sobre as características apontadas por Charaudeau, pois os parceiros não estão presentes e não compartilham do mesmo ambiente. Quando se compara telefonema com uma conversa instantânea pela internet, as ponderações tornam-se ainda maiores. Nesse caso, percebem-se as seguintes características: (a) os parceiros não estão presentes um ao outro, (b) o canal de transmissão é oral ou gráfico, (c) a troca é permitida. De acordo com a classificação proposta por Charaudeau (2009), tratase de uma situação dialogal, uma vez que há troca. Entretanto, o canal de comunicação é, muitas vezes, mais gráfico que oral. Segundo algumas visões convencionadas (Preti, 2004, Koch e Elias, 2010), no texto escrito, a ordem das palavras é progressiva, a construção é contínua e hierarquizada, a sucessão de termos apresenta valor semântico progressivo, o ambiente é explicitado ou não, os gestos e a entonação são ou não explicitados. Em vista das características próprias do ato de comunicação conversa instantânea, muitos desses elementos não são detectados, pois, no texto que se constrói paulatinamente, não existe uma ordem progressiva das palavras, a construção não é contínua e hierarquizada e não se apresenta uma sucessão de termos com valor semântico progressivo. Como se pode notar, essas características apontam mais para uma situação dialogal. Nas conversas instantâneas que têm como suporte o computador, as diferenças propostas entre fala e escrita caem por terra; da mesma forma, as propostas para elementos verbais e não-verbais. Ao mesmo tempo em que se 62 escreve, colocam-se sons; ao mesmo tempo em que se escreve, colocam-se emoticons que expressam possíveis reações físicas dos participantes da comunicação. Há também que considerar que há textos escritos, como cartas pessoais, por exemplo, que contêm marcas da oralidade; o que se nota, entre outras formas, pelo uso de frases questionadoras que envolvem diretamente a opinião do leitor em relação ao que foi dito: concorda?, não é? (PCN, 1998, p. 99). Cabe advertir que a divisão proposta por Charaudeau (2009), situação dialogal e monologal, é útil quando o trabalho de leitura e produção textual recai sobre textos que não têm essas características apontadas anteriormente. Para uma prática que tem como instrumento de trabalho um jornal impresso, por exemplo, essa classificação é adequada. Mesmo com a evidência do problema da distinção fala/escrita, verbal/não-verbal, é possível estabelecer uma diferença no tipo de trabalho com jornal impresso. Embora a cotidianidade esteja sendo mediada pela informática, levando a um ensino de línguas baseado na noção de multiletramento; no domínio de ensino-aprendizagem em que se tem como instrumento o texto impresso, a distinção é essencial, uma vez que algumas deficiências dos alunos no processamento de textos são caracterizadas pela dificuldade de separação da língua escrita e falada, como aponta Kleiman (2008, p. 37). Diante disso, faz-se necessário estabelecer uma distinção que se assenta basicamente na diferença estabelecida pela situação de comunicação em que essas línguas são produzidas, como aponta Preti (2004, p. 10). A situação de comunicação, para Charaudeau (2009, p. 68), constitui o enquadre ao mesmo tempo físico e mental no qual se acham os parceiros da troca linguageira, os quais são determinados por uma identidade (psicológica e social) e ligados por um contrato de comunicação. Como se viu destacar, é importante que se leve em consideração no ensino de CE e PE a relatividade nos conceitos propostos frente à fala e à escrita. Nos textos trabalhados com os alunos, não será possível falar apenas em texto escrito, uma vez que outros elementos entram 63 em ação para fazer valer a atribuição de significados, como as imagens. Dessa forma, será possível falar em materiais gráficos. A tomada de consciência pelo professor das diferenças entre materiais escritos e orais refletem uma problemática instalada entre os alunos. Muitos confundem os dois expedientes (Kleiman, 2008, p. 37). Essa necessidade não se caracteriza como capricho, mas como um fato, pois ainda existem textos circulando na sociedade que apresentam certa estabilidade no que concerne à organização da língua para o estabelecimento da comunicação nas situações monologais. Estabelecida a comparação entre fala e escrita, convém, agora, apresentar a PE de acordo com a concepção sóciocognitivo-interacional e discursiva de língua e texto. No plano da escrita, muitas são as concepções. Basta lançar um olhar para dentro de sala de aula para ouvir conceitos tais como: “escrever é expressar bem o pensamento”, “escrever é saber organizar o pensamento no papel”, “escrever é saber estruturar bem o texto”, “escrever é saber usar bem as regras da língua”; ou para posicionamentos tais como: “não é possível escrever quando se é iniciante em uma LE”, “não é possível escrever bem com pouco vocabulário”. As respostas dadas dificilmente se vinculam à ideia de texto como artefato cultural, vinculado a um projeto de interação, como, por exemplo, as respostas do tipo: “escrever é passar uma ideia com coerência”, “escrever é expressar ideias para ser compreendido por um determinado público”. Muitas das crenças que os alunos transportam para a prática de PE em LE estão ligadas às visões subjacentes às práticas dos professores em sala de aula tanto no que concerne ao trabalho de CE, como foi apresentado na seção anterior, como no que concerne ao trabalho de PE em que se faz um trabalho reducionista, constitutivo das atividades realizadas e das avaliações feitas por professores dos textos produzidos por alunos. Nas solicitações de tarefas, os alunos são levados a escrever para observações de conteúdos específicos com vistas à prática e à memorização. Dessa forma, não se chama a atenção dos 64 alunos para outros aspectos da produção, que, em conjunto com o conteúdo proposto, devem fazer parte do todo produzido. A finalização inadequada dessa postura está nas correções, quando, mesmo havendo outros elementos para serem “criticados”, os professores reduzem mais uma vez a avaliação a um conteúdo específico. Outra gravidade está na avaliação em que o professor, mesmo sem desejar avaliar um conteúdo específico, esmera-se apenas na observação de inadequações gramaticais. Ao incorrer nesse grave erro, o professor produz alunos semelhantes aos que são muito observados nos dias de hoje no país: alunos que no ato de CE ou PE preocupam-se muito com os aspectos gramaticais, abandonando o compromisso que deveriam ter com o leitor. Outra crítica que pode ser feita ao ensino de PE no Brasil liga-se à cultura do vestibular. O ensino em muitas escolas está voltado para o adestramento do aluno, e não se têm priorizado outras atividades que podem ser consideradas como processo primeiro de aprendizagem, que funciona como suporte para o domínio do processo posterior: o resultado. É justamente neste último sobre o qual recai, e de maneira equivocada, o esforço da tradição. Em redação em língua materna, por exemplo, o que se percebe é uma grande preocupação com o ensino de fórmulas para a produção de textos dissertativo-argumentativos. Não basta apenas mostrar a estrutura desse tipo de texto, elucidando as suas partes constituintes (introdução, desenvolvimento, conclusão) e as diferentes formas de distribuição dos argumentos em seu corpo; antes de tudo, o aluno precisa ser crítico. Diversos exames de redação no vestibular oferecem uma coletânea de textos para auxiliar o aluno, funcionando como um ponto de partida para que ele, com base na proposta de tema, sintetize as ideias e associe com aquelas que já tem para desenvolvimento de seu texto. Para tanto, o vestibulando deve saber, em primeiro lugar, ler criticamente o enunciado que elucida o assunto e, em segundo lugar, deve dispor de conhecimentos de mundo para formular argumentos coerentes. Portanto, não é ensinando somente fórmulas que se chegará à formação crítica do aluno. É 65 necessário desenvolver nele a proficiência em CE e em PE, com a observação dos diversos elementos que integram o texto, sejam eles linguísticos sejam eles interacionais e discursivos. Assim como nas práticas de CE, a desvinculação à concepção de língua como elemento contextualizado está ligada a diversas perspectivas de ensino de texto e de PE. Koch e Elias (2010, p. 32-33) apresentam dois tipos equivocados de concepções de PE: a) Foco na língua: o texto é visto como produto de uma codificação realizada pelo escritor a ser decodificado pelo leitor, bastando a ambos o conhecimento do código utilizado. Nesse caso, a linguagem é vista como sistema acabado, devendo o escritor se apropriar desse sistema e de suas regras. Como afirmam Koch e Elias (2010, p. 33), Nessa concepção de texto, não há espaço para implicitudes, uma vez que o uso do código é determinado pelo princípio da transparência: tudo está dito no dito ou, em outras palavras, o que está escrito é o que deve ser entendido em uma visão situada não além nem aquém da linearidade, mas centrada na linearidade. b) Foco no escritor: a escrita é vista como representação do pensamento. Há um sujeito psicológico, individual, dono e controlador de suas vontades e de suas ações. Segundo as autoras: Nessa concepção de língua como representação do pensamento, o texto é visto como um produto – lógico – do pensamento (representação mental) do escritor. A escrita, assim, é entendida com uma atividade por meio da qual aquele que escreve expressa seu pensamento, suas intenções, sem levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor ou a interação que envolve esse processo. (Koch e Elias, 2010, p. 33, grifo das autoras) Na concepção sociocognitiva-interacional de texto, quando se fala de PE, a escrita está focalizada na interação. Koch e Elias (2010, p. 34) afirmam que, nessa perspectiva, a 66 tecnologia da escrita é vista como produção textual, cuja realização exige do produtor a ativação de conhecimentos e a mobilização de várias estratégias. Segundo as autoras (p. 35), a escrita como atividade de produção textual ...se realiza, evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer, no interior do evento comunicativo, a mobilização de um vasto conjunto de conhecimentos do escritor, o que inclui também o que se pressupõe ser do conhecimento do leitor ou do que é compartilhado por ambos. As autoras apontam quatro tipos de conhecimentos ativados no processo de escrita: linguístico, enciclopédico, textual e interacional. O conhecimento linguístico está ligado àquele que o produtor tem em relação à ortografia, à gramática e ao léxico de sua língua adquiridos nas práticas comunicativas e de forma sistematizada, na escola. Para as pesquisadoras, o respeito às normas ortográficas tem relação com a construção de uma imagem positiva de quem escreve, pois demonstra atitude colaborativa do escritor no sentido de evitar problemas no plano da comunicação como também demonstra atenção e consideração dispensadas ao leitor. No que compete à observação à gramática, cita-se a pontuação, que não é vista apenas pelos contornos entonacionais que produzem e pelos deslocamentos sintáticos, mas como algo ligado à noção textual-discursiva. No que compete à observação ao léxico, cita-se como exemplo o papel social carregado pelas palavras em um dado contexto, que pode pender para a noção de prestígio e desprestígio da pessoa. (2010, p. 37-39) O conhecimento enciclopédico refere-se àquele relacionado a coisas do mundo, que se encontra armazenado e é constituído de modo pessoal, com base em conhecimentos adquiridos em vivências e experiências variadas ou de que se ouve falar ou que se lê. (2010, p. 41-43) 67 O conhecimento de textos está relacionado à necessidade de o produtor precisar ativar modelos que possui sobre as práticas comunicativas configuradas em textos, levando em conta elementos que entram em sua composição (modos de organização), além de aspectos do conteúdo, estilo, função e suporte de veiculação. Cita-se também o conhecimento relacionado à presença de um texto ou mais de um texto em outro, a intertextualidade. (2010, p. 43-44). O conhecimento interacional está ligado à ativação que é feita pelo produtor de modelos cognitivos que possui sobre práticas interacionais diversas, históricas e culturalmente construídas. Quando baseados neste conhecimento, o produtor configura na escrita sua intenção, determina a quantidade de informação necessária, seleciona a variante linguística adequada à situação de interação, adéqua o gênero textual à situação de comunicação e assegura a compreensão da escrita para conseguir a aceitação do leitor quanto ao objetivo desejado, utilizando-se de vários tipos de ações linguísticas configuradas no texto (reformulação, supressão, acréscimo). (2010, p. 44-51) Outra noção importante para a PE se volta para o contexto. Segundo Koch e Elias (2010, p. 76), qualquer pessoa, em situação de interação, orienta suas ações com base no contexto. Na perspectiva sociointeracional de texto (Koch e Elias, 2010, p. 81), o contexto é divido em dois: 1) o cotexto, que envolve o ambiente ou entorno verbal; 2) a situação de interação imediata (participantes, local e tempo da interação, objetivo da comunicação e meio de propagação); 3) a situação mediata (o entorno sociopolítico-cultural); e 4) o contexto sociocognitivo dos interlocutores. Ainda segundo as autoras (2010, p. 76), os indivíduos estão atuando com base no contexto quando, em uma situação de interação, levam em conta os interlocutores, os conhecimentos considerados como sendo compartilhados, o propósito da comunicação, o lugar e o tempo em que se encontram, os papéis socialmente assumidos e os aspectos histórico-culturais. 68 Para a configuração do texto, é sustentado que existem fatores de contextualização. Há aqueles que ancoram um texto numa situação comunicativa e contribuem para o estabelecimento da coerência: data, local, assinatura, elementos gráficos e o suporte; e há aqueles que permitem o avanço de expectativas sobre conteúdo e estilo do texto: título, temas e nome do autor. Ainda segundo as autoras, uma das mais importantes formas de contextualização é a focalização, isto é, elementos que levam os interlocutores a se concentrarem em apenas uma parte de seu conhecimento a respeito de determinado tema. Nesse contexto, põem-se em evidência a delimitação temática e a seleção lexical (adequada ao gênero e ao recorte efetuado por meio da focalização). Por compreender que o texto não é um emaranhado de palavras ou frases, Antunes (2010, p. 31-32) aponta alguns fundamentos que esclarecem o papel da escrita. Em primeiro lugar, afirma que o sujeito recorre ao texto quando tem alguma pretensão comunicativa e a quer expressar. Em segundo lugar, o texto é visto como uma expressão verbal de uma atividade social de comunicação, que sempre envolve um parceiro. Um terceiro aspecto se volta para o fato de que o texto se constrói a partir de um tema, que lhe dá continuidade e unidade. São esses pontos que nos encaminham para a noção de propriedades do texto, que foram abordados no final da seção 2.1 na visão de Marcuschi (2008). São elas algumas dos elementos norteadores da produção e recepção dos textos: (a) coesão, (b) coerência, (c) aceitabilidade, (d) informatividade, (e) situacionalidade, (f) intertextualidade e (g) intencionalidade. Na visão de Antunes (2010), há que se considerar uma divisão desses elementos. De um lado, apresentam-se a coesão, a coerência, a informatividade e a intertextualidade como sendo os ligados à produção; de outro lado, a intencionalidade, a aceitabilidade e a situacionalidade como sendo os ligados às condições de efetivação do texto. 69 Nesta seção, destacou-se a necessidade que existe em diferenciar o discurso escrito do oral, uma vez que, mesmo com as imbricações desses dois discursos nas novas tecnologias, os alunos fazem confusão entre esses dois expedientes. Também foi defendido que o professor tem um papel central frente à escrita a partir do momento que desconstrói as crenças que os alunos trazem hoje em relação a essa atividade, que, muitas vezes, interligam-se às próprias práticas desenvolvidas na escola como também à cultura do vestibular. Para compreensão disso, o professor deve procurar entender os processos sociocognitivos-interacionais e discursivos envolvidos na escrita com o objetivo de buscar em seus alunos o desenvolvimeto competente de produção de textos por meio de estratégias, que serão discutidas na próxima seção. 2.3.1 Estratégias de produção escrita Partindo do princípio de que a estrutura e a língua não devem ser os únicos focos do ensino de PE, aspectos como gêneros e tipos de textos variados utilizados no ensino/aprendizado de LE devem ser levados em consideração. Assim como apresentado na seção 2.2.1, a concepção que perpassará esta seção se liga à compreensão de que a escrita se torna coerente ao ser pensada como ensino de estratégias de escrita – operações regulares de construções de textos – e como desenvolvimento de habilidades linguísticas. Na seção sobre estratégias de CE, discutiu-se a divisão proposta por Kleiman (2008) no que toca às estratégias. Para a autora, elas são classificadas como metacognitivas e cognitivas. A primeira se refere às operações realizadas com algum objetivo, sobre as quais o sujeito tem controle. A segunda se refere às operações inconscientes do leitor. Tentando estabelecer uma relação entre o que é apontado como estratégias de CE e o que pode ser apontado como estratégias de PE, pode-se propor que sejam promovidas, através do ensino, condições para que o produtor 70 desenvolva habilidades linguísticas, que vão desde a capacidade de usar o conhecimento gramatical para estabelecer relações entre as palavras, até a capacidade de usar o vocabulário para a construção de estruturas textuais, atitudes e intenções. Assim como o faz para a CE, os PCN (1998 p. 98) mostram-se preocupados com as práticas que envolvem a PE. Diante disso, promovem uma reflexão em torno da questão, propondo algumas ações aos professores. Como discutido anteriormente, o documento procura inicialmente estabelecer uma diferença entre interação oral e escrita, afirmando que se trata de um desafio a ser considerado no processo de PE. Isso quer dizer que, para quem escreve, é necessária a atenção a alguns elementos: expor informações/ideias de maneira mais clara, planejada, detalhada; considerar que o conhecimento exigido do código linguístico é de natureza diversa na situação de interação escrita; e considerar que, na escrita, os possíveis contextos socioculturais, relevantes na constituição dos diferentes sentidos, precisam ser recuperados por quem escreve. Nesse contexto, nota-se que quem escreve deve levar em consideração uma série de elementos, como sustenta Antunes (2009, p. 197): na escrita, o emprego das unidades lexicais (substantivos, adjetivos, verbos) e de formulações sintáticas mais explícitas e completas é ampliado e mais comumente diversificado. É comum ainda que se evite o uso de frases incompletas, a meias, práticas comuns na fala informal. Além disso, a autora afirma (2009, p. 198): Os sinais de pontuação- e certos recursos gráficos (negrito, itálico, sublinhado, “aspas”, LETRAS EM CAIXA ALTA, entre outros) são outros recursos que tendem a suprir a falta daqueles elementos contextualizadores, sobretudo aqueles que expressam as particularidades da entonação, por exemplo. (grifo da autora) 71 Levando em consideração que o uso da linguagem se concretiza a partir de um lugar de produção histórico, cultural e institucionalmente determinado, é de extrema importância mostrar ao aluno a noção de contexto. Ao definir contexto, Koch e Elias (2010, p. 84-88) apontam algumas funções que partem de três questões: quem escreve o faz sempre para alguém, guiado por um objetivo e com base em um conjunto de conhecimentos. Sugerem que a consciência das funções do contexto permite sucesso no empreendimento interacional, pois o contexto possibilita: avaliar o que é adequado ou não adequado do ponto de vista dos modelos interacionais construídos culturalmente; pôr em saliência o tópico discursivo e o que é esperado em termos de continuidade temática e progressão textual; a produção de inferências e de sentido; explicar ou justificar o que foi dito; explicar ou justificar o que é dito e o que não deve ser dito. Nesse contexto e tendo como base a consciência da problemática do contexto social brasileiro, em que se encontra acesso desigual aos textos escritos, os PCN (1998, p. 98) enfatizam a importância da questão da metacognição, pois, segundo o documento (1998, p. 99), põe em evidência a relação entre o que se está aprendendo, o como e qual o propósito da aprendizagem. Diante disso, é relevante fazer o aluno deixar clara a situação de comunicação: quem escreve, com que finalidade, para quem. O documento (1998, p. 99) aponta ainda outros elementos importantes que devem ser levados em consideração no processo de ensino: 72 a) as motivações: ligadas aos interesses da faixa etária e ao grupo no qual se inserem os alunos; b) o incentivo à criatividade: ligado à possibilidade de se atenuarem as relações de poder na sala de aula; c) o trabalho em grupo: ligado ao fato de permitir mais facilmente a concretização da ideia de que os sentidos se produzem na interação; d) o papel do professor na visão sociointeracionista: ligado à responsabilidade do professor pela organização das interações em sala como também ligado à busca do equilíbrio das relações no contexto. Outra questão relevante proposta pelos PCN diz respeito às ações dos professores ao estabelecerem metas realistas para a PE. Isso é possível a partir da observação das condições em que se desenvolve a aprendizagem, definição das etapas didáticas e da escolha de ferramentas apropriadas. Entre as etapas que podem caracterizar as tarefas de produção escrita (planejamento, produção, revisão) mereceria especial atenção a de revisão do texto produzido. Esta pode ser realizada com a cooperação de um colega de modo a colaborar na construção da aprendizagem; na percepção de que o significado é uma construção social, viabilizada na própria tarefa de produzir um texto em conjunto; e na compreensão de que a tarefa de produção escrita requer aprimoramento do texto produzido em razão da necessidade de perseguir a clareza e de se antever as dificuldades que o leitor possa ter. (PCN, 1998, p. 99) Nas orientações que propõem, os PCN (1998, p. 103) apresentam medidas que podem ser eficazes no ensino de PE. Para essa prática, enfatiza-se a importância de fazer com que os alunos (a) se deem conta de como os três tipos de conhecimentos apontados – de mundo, 73 sistêmico e da organização textual5 – estão articulados na construção do significado; (b) percebam o ato interacional envolvido na escrita, enfatizando a visão de cumprimento de uma tarefa que não é apenas escolar para que sejam notados os participantes envolvidos, seus propósitos, dentre outros. Convém apresentar uma sugestão feita pelo documento (1998, p. 104-105) a respeito do trabalho de CE: Os Tipos de Conhecimento TRATAMENTO METODOLÓGICO (1) DE MUNDO Temas 5 Sugere-se o tema. Esporte. A adequação do tema quanto à duração, profundidade e detalhamento está relacionada às condições de exeqüibilidade de cada situação de aprendizagem. Chama-se a atenção para o fato de que a escolha do tema se baseia no inventário de conhecimento de mundo e diz respeito às experiências e interesses do grupo; logo só pode ser definido na situação de sala de aula. Cada tema deve ser abrangente o suficiente de modo a permitir desdobramentos. (a) lexicais As tarefas de produção escrita prevêem uma base de apoio lexical relacionada ao tema e organização textual; esse estímulo pode vir a ser complementado pelo material de apoio disponível. (2) SISTÊMICO Itens: (b) morfológicos (c) sintáticos A seleção dos itens morfossintáticos a serem apresentados está intimamente relacionada ao(s) tipo(s) de texto(s) escolhido(s) para trabalhar o tema. Os elementos selecionados para serem estudados podem receber tratamento cumulativo, isto é, supõe-se que cada vez que se retoma um conjunto de itens morfossintáticos, estes podem ser aprofundados, ampliados, desdobrados, segundo os níveis, os interesses e as necessidades de cada grupo. (d) fonéticofonológicos (3) ORGANIZAÇÃO TEXTUAL Tipos de texto Não se apresenta este tipo de conhecimento, pois o foco aqui é em produção escrita. Consideram-se três tipos básicos de organização textual: descrição, narração e argumentação. Os tipos de conhecimentos apresentados pelos PCN (1998) correspondem aos tipos defendidos nas propostas sociointeracionitas (Koch e Elias, 2010): linguístico (em que entra o tipo sistêmico), enciclopédico (em que entra o de mundo) e o interacional (em que entra o tipo organização textual). 74 SUGESTÕES ESPORTE Em sala de aula podem ser negociados com os alunos modos de enfocar este tema. Por exemplo, a relação esporte/ cultura, levando em consideração os diferentes países onde se praticam as modalidades em estudo, além do Brasil 1) Modalidades esportivas: (I) componentes utilizados nos esportes (instrumental de apoio, vestuário, participantes etc.); (II) regras de jogos; (III) espaço destinado ao jogo; (IV) tempo relacionado à ação. 2) Corpo humano como parte inerente ao esporte: (I) identificação das partes do corpo; (II) situações de risco: acidentes. I Para a construção da descrição, selecionam-se como fundamentais os processos relativos ao: 1) sintagma nominal: (I) determinação, no que diz respeito ao sentido criado pela presença ou ausência do emprego de artigos, pronomes demonstrativos e indefinidos, e quantificadores; (II) adjetivação, identificação do sentido do uso de adjetivos no processo descritivo, bem como das possibilidades de expressar idéias comparativas e superlativas; 2) sintagma verbal: papel do tempo verbal indicador do momento presente e as suas relações de sentido no contexto da descrição. II Para a construção da narração, selecionam-se como fundamentais os processos relativos aos: (I) marcadores de tempo e espaço; (II) pronomes de caráter anafórico; (III) papel do tempo verbal indicador de ações passadas. Por exemplo, apresentar o tema a partir de uma reportagem jornalística (de fontes escritas ou orais) em que elementos descritivos e narrativos possam ser aproveitados na produção, assim como se possa acionar os elementos que indicam a natureza sociointeracional da linguagem. A produção a ser solicitada ao aluno vai variar conforme o conhecimento já adquirido sobre os tipos de texto. Por exemplo, no caso do domínio da estrutura de uma comunicação pessoal escrita, são possíveis algumas atividades: identificar a partir de traços físicos personagens do mundo esportivo, de conhecimento dos alunos; descrever colegas que participam de atividades esportivas na escola; narrar em forma de breve notícia de jornal um acontecimento desportivo quer relacionado à escola, quer a outras comunidades nas quais participa o aluno. Como bem se observa no quadro acima, existe uma preocupação frente à integração de vários processos. A atividade de PE passa da atividade que recai sobre apenas um aspecto para a observação da prática que vê o trabalho como sendo de cooperação entre conteúdos. Isso é reflexo da compreensão da conscientização da presença de competências aptas para serem desenvolvidas pelo aluno. Um aspecto importante a ser ressaltado no quadro aponta 75 para a organização textual. Como bem salientado anteriormente, há um problema quando se prioriza um tipo de texto. Na base desse trabalho, está o abandono aos outros tipos, que contribuem para a compreensão das práticas sociais. Na vida cotidiana, narram-se fatos, descrevem-se seres e objetos, argumenta-se a respeito de um determinado assunto, expõem-se ideias e fatos a respeito de um determinado assunto, dão-se ordens, todos ligados à interação. Não é necessário afirmar que o fato constitui-se como um erro, pois não se permite ao aluno um completo engajamento nas práticas de produção de texto. Dessa forma, o ensino não pode preparar o aluno para enfrentar somente um tipo de texto. Deve-se entender que o aprendizado de redação transpõe os limites da sala de aula para a realidade que o aguarda fora, para as experiências comunicativas que ele vai traçando ao longo de sua vida. Em primeiro lugar, é necessário priorizar a leitura como o processo anterior à produção textual; e, em segundo lugar, não se pode ter o objetivo de submeter os alunos, durante todo o ano, ao aprendizado de fórmulas e à produção, unicamente, do texto dissertativo-argumentativo. O projeto deve ser maior. Antes de chegar a esse tipo textual, é necessário conhecer o texto. O aluno precisa entender que é somente por ele que se constroem laços sociais, que o texto é a única via de estabelecimento de comunicação. Quando um indivíduo tem a pretensão de se comunicar e, portanto, de estabelecer sentido, constrói-se o texto. O entendimento de todos esses elementos permite adequação. A sociedade mantém alguns códigos que são socialmente seguidos. O ensino de gênero como de tipologia, concomitante às experiências diárias do aprendiz permite a adequação do comportamento. É só pensar no gênero que seria usado em uma situação mais formal, como em uma audiência na justiça, e noutra informal, como a redação de uma carta para um namorado ou uma namorada. Os textos são diferentes. Pode-se imaginar também a escritura de diálogos em um romance que traduza a conversa de um juiz e um advogado na mesma situação citada anteriormente e outra, entre três amigos sentados num bar assistindo a um jogo de futebol. A 76 tipologia é a mesma, mas o estilo diferente. Portanto, vê-se como se torna importante inserir os alunos no conhecimento dos diversos gêneros. O contato com eles permite um maior discernimento e capacidade de seus usos no dia-a-dia, como será apontado no próximo capítulo, em que se discutirá a relação que pode ser estabelecida entre a prática de CE e PE a partir da atenção aos elementos sociocognitivos-interacionais e discursivos dos textos. Essa relação se dará por meio da atualização dos processos que envolvem as estratégias de leitura que possibilitam um enriquecimento na prática de produção escrita. 3 A RELAÇÃO ENTRE COMPREENSÃO ESCRITA E PRODUÇÃO ESCRITA Como se veio apontando ao longo deste trabalho, há uma problemática no ensino que tem o texto como instrumento de aprendizado. Por um lado, há os professores que trabalham com a prática de compreensão escrita desatentos aos processos sociais e interacionais do texto; por outro, há aqueles que trabalham com produção escrita sem antes submeter os alunos à leitura de gêneros. Tem-se percebido que muitos materiais didáticos lançados recentemente têm procurado dar conta dos princípios desenvolvidos nos PCN. Entretanto, uma mudança em direção à sedimentação de um ensino de língua como elemento contextualizado não pode se dar unilateralmente. A escola e os professores devem fazer parte desse processo de mudança, mesmo porque o livro não se coloca, muitas vezes, como uma camisa de força. Como o professor, muitas vezes, tem liberdade no manuseio do material, é importante que as atividades paralelas estejam de acordo com a proposta vinculada a ele. Para compreensão da relação entre as práticas de CE e PE neste trabalho suscitada, convém aludir à ideia defendida por Antunes (2009, p. 192), a de que a outra face da escrita é a leitura. Tudo que é escrito se completa quando é lido por alguém. Escrever e ler são dois atos diferentes do mesmo drama (ou da mesma trama!). Em contrapartida, importa ressaltar que, leigamente, tem-se produzida a ideia de que o desenvolvimento da escrita tem como ato determinante a leitura. Essa visão, sustenta-se, parece não ser a mais adequada, tendo em vista que, se assim o fosse, o ensino de CE não seria necessário. Da mesma forma, não seriam necessários os diversos estudos que têm sido desenvolvidos em torno da questão, que se voltam especificamente para o estudo de estratégias a serem adotadas no ensino para a ampliação de competências. A respeito desse tópico, afirma Antunes (2009, p. 196): ... não se pode estabelecer entre leitura e escrita uma relação automática, de causa e consequência imediata e inevitável, segundo pensam alguns: se alguém lê bem, escreve bem. (...) A competência da 78 escrita é, do mesmo modo que todas as outras, resultado, também, de uma prática constante, persistente, refletida, num processo de crescente aprimoramento. (grifo da autora) A defesa em torno de um ensino que aproxime essas duas habilidades reside na percepção de que uma auxilia a outra, na medida em que a primeira, a leitura, oferece instrumentos importantes para fazer o aluno, em contato com a segunda, a escrita, produzir seu texto competentemente. A leitura constitui um meio de acesso às formas particulares e específicas de escrever, sustenta Antunes (2009, p. 196, grifo da autora). Ressalta-se que produzir um texto com competência é fazê-lo de forma que um determinado projeto de comunicação seja alcançado. Ao produzir um texto em uma situação de comunicação real, o locutor se preocupa com o resgate de sua intenção, portanto, com a aceitabilidade da mensagem. Para isso, mostra-se consciente dos processos que envolvem tanto a sua prática como aquela do seu leitor para a sedimentação de suas intenções. É importante esclarecer que não existe realidade objetiva nessa avaliação, pois a produção de sentido dependerá em grande medida do leitor. Por esse motivo é que se torna importante afirmar que tanto as estratégias de CE como as de PE apresentadas estão vinculadas àquelas comuns a leitores e produtores de textos vistos como competentes. Nesse contexto, é importante trazer para a discussão o conceito de competência que este estudo defende. Para isso, importa fazer alusão à noção levada a cabo por Antunes (2009, p. 190) que afirma que: competência corresponde à aptidão dos sujeitos para ligar os “saberes” que adquiriram ao longo da vida às situações da experiência, a fim de, pelo recurso a esses saberes, vivenciar essas experiências de forma gratificante e eficaz. Equivale, assim, à capacidade do sujeito para enfrentar, com maior sucesso possível, as mais diferentes situações da vida, mobilizando intuições, conceitos, princípios, informações, dados, vivências, métodos, técnicas já aprendidas. Assim, e inevitavelmente, a competência envolve uma relação com o “saber” ou com os saberes acumulados previamente, ao longo da vida. 79 Envolve, ainda, uma relação com o “fazer”, ou seja, com a “execução de atividades”, e com a resolubilidade das dificuldades enfrentadas, uma vez que toda competência é exercida e revelada no enfrentamento com os mais distintos tipos de situação. Por isso, necessariamente, a competência supõe a articulação do saber já acumulado com as condições específicas das situações enfrentadas. (grifo da autora) No ensino de CE e PE, inicialmente, é necessário que se trabalhe com gêneros. Quando a língua é caracterizada como elemento contextualizado, entende-se que ela se liga intimamente a uma cultura. Dessa forma, é possível afirmar que, no contato que um determinado sujeito tem com a língua que aprende, há um mergulho inevitável na cultura da sociedade que tem essa língua como língua materna. Se a língua está sujeita ao uso, à sua atualização frente a um projeto de comunicação enquanto prática social que se repete, ela acaba por se vincular a uma determinada estrutura com uma determinada função, que dependerá em grande medida das intenções iniciais de quem a utiliza. Por isso, os gêneros são considerados artefatos culturais, pois são criados historicamente dentro de uma prática comunicativa de um determinado corpo social. Ao ensinar uma língua dentro de um determinado gênero, ressalta-se a ideia de que a seleção de elementos específicos dessa língua para a produção do texto está vinculada à função da comunicação, portanto, ao gênero escolhido. Leitura e escrita são competências diferentes, possuidoras de especificidades próprias. Na atividade de leitura, o interlocutor, distante fisicamente de seu locutor, precisa utilizar um conjunto de conhecimentos e estratégias para supor as intenções do autor. Por outro lado, no ato de produção, é necessário que o produtor busque uma série de critérios e estratégias para fazer seu interlocutor recuperar suas intenções. Uma aproximação entre essas duas habilidades se justifica pelo caráter sociocognitivo que ambas apresentam. Nas duas atividades, faz-se necessário o engajamento do sujeito a partir da ativação dos seus conhecimentos prévios: linguístico, enciclopédico e interacional. 80 Os conhecimentos prévios são parte constitutiva do ser humano. E é interessante notar que o próprio ser humano, preocupado com o cultivo do conhecimento, idealizou a escola, que teria como objetivo o desenvolvimento de todos esses conhecimentos. A escola é, especificamente, a instituição social encarregada de promover, aprofundar e sistematizar a formação instrucional e a educação da comunidade, como sustenta Antunes (2009, p. 188, grifo da autora). É sobre essa linha de pensamento que recai esta pesquisa, uma vez que, ao defender a leitura prévia, sustenta que é essa prática a responsável pelo enriquecimento dos conhecimentos prévios de que dispõem os sujeitos. Diante disso é que se pode afirmar que, para a construção de textos, o sujeito depende muito do contato que teve com os outros textos ao longo de sua vida. Se essa dependência é de fato capital para o sujeito, chega-se à conclusão de que, quanto maior o contato, maior é a probabilidade de sucesso no desenvolvimento dos conhecimentos e do seu emprego. A explicação dessa postura reside no fato de que a leitura de gêneros possibilita ao sujeito, em primeiro lugar, a visualização da língua em uso, ensejando o desenvolvimento do conhecimento de língua; em segundo lugar, a visualização da língua empregada de acordo com as necessidades imediatas das práticas sócio-comunicativas, ensejando o desenvolvimento enciclopédico e interacional. Uma prática de ensino com essa postura, então, entenderia que o aluno passa a ser capaz de compreender as estratégias das quais lançam mão o locutor, para a sua produção, e o interlocutor, para a sua compreensão, a fim de que a finalidade comunicacional seja cumprida. Alguns autores sustentam essa postura, como Orlandi (1999), que afirma que a leitura fornece matéria-prima para a escrita (o que escrever) como também contribui para a constituição dos modelos (o como escrever). Para a autora, a escrita ainda tem um papel importante, que se dá por um processo inverso, pois, para ela, a escrita se apresenta como o meio de acesso à leitura do aluno. A leitura seria lugar para que o aluno, por um lado, enriquecesse seu conhecimento de mundo através das possibilidades temáticas presentes nos 81 textos e, por outro lado, empregasse os novos conhecimentos dos modelos que aparecem com recorrência nas práticas de comunicação. Além disso, o trabalho coordenado leitura-escrita poderia ser um caminho dentro de sala de aula para que o professor avaliasse as leituras feitas por seus alunos. Ressalta-se que, neste trabalho, não se defenderá essa ideia, uma vez que a relação pelo movimento escrita-leitura individual é bastante complexa. Por isso, não se afirma aqui que essa relação é determinante. Há muitos outros processos envolvidos nessa relação que não cabe explicitar neste estudo, pois seria um assunto profícuo para outro estudo. Para Antunes (2009), o exercício da leitura gera competência. Apoiada sobre o caráter social da leitura, a autora afirma que poder ter acesso à leitura significa poder exercer o direito de acesso à palavra escrita – a qual, em sociedades pouco desenvolvidas tem-se convertido em privilégio de poucos (p. 192, grifo da autora). Diante disso, defende-se que a leitura expressa, dessa forma, o respeito ao princípio democrático de que todos têm direito à informação, ao acesso aos bens culturais já produzidos, aos bens culturais em via de produção ou simplesmente previstos, nas sociedades, sejam elas letradas ou não (p. 193, grifo da autora). Ainda em relação aos gêneros textuais, Koch (2004, apud Koch e Elias, 2007, p. 102) afirma que os indivíduos possuem uma competência metagenérica, que, segundo a autora, possibilita a produção e compreensão de gêneros textuais, e até mesmo que sejam dominados. Segundo Koch e Elias (2007, p. 103), ... se, por um lado, a competência metagenérica orienta a produção de nossas práticas comunicativas, por outro lado, é essa mesma competência que orienta a nossa compreensão sobre os gêneros textuais efetivamente produzidos. (grifo das autoras) Sustenta-se, portanto, que o ensino deve incentivar o desenvolvimento dessa competência nos alunos para que estejam mais bem orientados quanto à produção de gêneros 82 no quotidiano. Segundo Marcuschi (2002, p. 32), tendo em vista que todos os textos se manifestam sempre num ou noutro gênero, um maior conhecimento do funcionamento dos gêneros textuais é importante tanto para a produção como para a compreensão de textos. Além disso, afirma que o trabalho com os diversos gêneros é um exercício que, além de instrutivo, permite a prática da produção de texto como também a visualização da língua empregada em diversos usos culturais autênticos do dia-a-dia. Dessa forma, torna-se necessário aplicar atividades em que seja demandada ao aluno a explicitação de características dos textos, como conteúdo, composição, estilo, registro linguístico e intenções. (Marcuschi, 2002, p.35) Como apontam Koch e Elias (2010, p. 61), Dominar um gênero consistiria no próprio domínio da situação comunicativa, domínio esse que pode se dar por meio do ensino das aptidões exigidas para a produção de um gênero determinado. O ensino do gênero seria, pois, uma forma concreta de dar poder de atuação aos educadores e, por recorrência, aos seus educandos. Isso porque a maestria textual requer – muito mais que os outros tipos de maestria – a intervenção ativa de formadores e o desenvolvimento de uma didática específica. Essas atividades baseadas em gênero possibilitam eficiência no que tange à ação com a linguagem, como atestam Cristóvão e Nascimento (2008, p. 37): A tese subjacente ao conceito de gêneros textuais e ensino é a de que o domínio dos gêneros se constitui como instrumento que possibilita aos agentes produtores e leitores uma melhor relação com os textos, pois, ao compreender como utilizar um texto pertencente a um determinado gênero, pressupõe-se que esses agentes poderão agir com a linguagem de forma mais eficaz, mesmo diante de textos pertencentes a gêneros até então desconhecidos. Nota-se que, no caso do ensino de LE, o trabalho com os gêneros ainda deveria ocorrer de forma bastante intensa, uma vez que, ao mesmo tempo em que existem 83 determinados gêneros semelhantes aos que circulam na cultura do aluno, há também aqueles específicos da cultura da língua estudada. Como foi visto na seção 2.2.1, os PCN (1998) defendem um trabalho que demonstre apresentar consciência das questões subjetivas, como os conhecimentos prévios do sujeito, para que a aprendizagem seja mais significativa, o que não sugere desprivilegiar na prática em sala de aula gêneros desconhecidos pelo sujeito, já que a prática didática pode ir possibilitando gradualmente novas relações de significados aos alunos pelo fato de eles terem sido eficazmente introduzidos na cultura da língua alvo. Segundo Koch e Elias (2010, p. 62), ... as diversas práticas de linguagem podem ser relacionadas, no ensino, por meio dos gêneros – vistos como formas relativamente estáveis tomadas pelos enunciados em situações habituais, entidades culturais intermediárias que permitem estabilizar os elementos formais e rituais das práticas de linguagem. Os gêneros ligados a cada uma dessas práticas são um termo de referência intermediário para a aprendizagem, uma “megaferramenta” que fornece um suporte para a atividade nas situações de comunicação e constitui uma referência para os aprendizes. (grifo das autoras) No ensino de CE e PE, também é necessário que se leve em consideração o ensino de produção escrita por meio de estratégias de leitura. Como aponta Pauliukonis (2005, p. 2), o processo de leitura pelo reconhecimento de estratégias de composição de texto é passível de ser ensinado pelos professores. A autora sustenta que o leitor precisa estar atento ao emprego estratégico de elementos linguísticos e extralinguísticos, independentemente do gênero textual, que garantirão a coerência de uma interpretação textual. Se por um lado, o ensino de CE pode ocorrer por meio da observação das estratégias de composição de texto, o ensino de PE acaba por se sustentar na ativação dessas estratégias reconhecidas nas práticas de CE. Diante disso, um ensino poderia se orientar pelos seguintes objetivos: 84 a) Apresentar aos alunos as estratégias a que o produtor recorre para a construção de seu texto; b) Evidenciar os critérios que transitam por todos os textos para que o produtor possa construir significados. Nesse sentido, convém retomar uma orientação didática proposta pelos PCN (1998), discutida na seção 2.2.1. A atividade de interpretação e compreensão de texto pode ser realizada tendo em vista três passos a serem percorridos: pré-leitura, leitura e pós-leitura, que muitas vezes não são levados em consideração. Nas práticas cotidianas, é comum ver abordagens que recaem apenas sobre o segundo passo. Isso quer dizer que nem questões identitárias são mobilizadas nem a reflexão por parte do sujeito aprendiz é possibilitada. Não se permite ao aluno o engajamento discursivo nem a visualização do texto como elemento processual. É importante ratificar que o trânsito por esse três passos deve preferencialmente recair sobre os gêneros. Por serem artefatos característicos das situações de comunicação, a partir deles é possível desenvolver uma abordagem que explore os três grandes conhecimentos prévios, a saber: linguístico, enciclopédico e interacional. Em seguida, são propostas cinco tabelas, cada uma ligada a uma etapa da prática de CE. A partir delas, é possível perceber a influência que as estratégias adotadas nas abordagens dos textos pode ter na prática de PE. A tabela I se relaciona à pré-compreensão; as tabelas II, III e IV se relacionam à compreensão e a tabela V se relaciona à pós-compreensão. 85 Tabela I Discussão de um tema Metas → → Repercussão dos traços identitários Elaboração de hipóteses sobre o conteúdo dos textos CE Ativação de conhecimentos prévios PE Uso dos conhecimentos na construção de significados CE PE Quem escreve? Onde? Quando? Para quem? Sujeito/Instituição Territórios, espaços, suporte do gênero Momentos Interlocutor A importância da pré-compreensão para a produção escrita reside em dois processos imprescindíveis para o enriquecimento de mundo do sujeito. Porém, mais do que enriquecer, esse passo tem como função primordial preparar o aluno para o texto com o qual terá contato na compreensão. De um lado, está a discussão; de outro, a elaboração de hipóteses. A discussão acerca de um determinado tema se constitui como um elemento importante. É possível, a partir dela, mobilizar nos alunos uma série de conhecimentos que possuem acerca do tema em tela. Entretanto, para além da mobilização desses conhecimentos, trata-se do momento em que o professor reconhece que a construção do conhecimento tem caráter social, isto é, o conhecimento de um sujeito é construído pela interceptação de sua voz com aquelas dos outros presentes em sala de aula. Além de possibilitar que os alunos se coloquem como seres de discurso, trazendo para a sala suas experiências, essa prática permite que os alunos percebam a relatividade das posturas. Na fase de elaboração de hipóteses, há a preparação do aluno para o texto que vai ler. Há perguntas sobre os diversos elementos externos ao corpo do texto que são importantes para a construção do discurso, como “quem escreve?”, “onde?”, “quando?” e “para quem?”. 86 Chamar atenção para o locutor (sujeito/instituição) é necessário, uma vez que, por sua causa, determinado leitor pode ler ou abandonar a leitura de um texto, em função das expectativas que são levantadas em torno dele quanto ao estilo, à temática, à forma. Essa estratégia de ensino possibilitaria, portanto, que o aluno, ao produzir um texto, atentasse para esse fato. No momento de produzir um texto, seria importante conhecer as características do locutor. No caso de o aluno assumir o papel de locutor do texto, ele se conscientiza das imagens possíveis criadas de si por seus interlocutores. Nas práticas artificiais, em que o aluno não assume o papel de locutor, ele se conscientiza dos elementos que deve selecionar em função do sujeito/instituição escolhidos. Uma notícia de jornal, por exemplo, não pode ser desvinculada de um locutor. Ao eleger uma instituição enunciativa, o aluno deverá compreender que o modo como o discurso se constitui nessa determinada instância se diferencia do modo como ele se constitui em outras. Por trás do discurso, está um públicoalvo, uma ideologia, um estilo próprios. Enfatizar o local em que o texto é escrito também é necessário. O espaço é importante na medida em que nele está refletido um conjunto de fatores sociais e culturais. Conhecendo isso, percebe-se que olhares e comportamentos sobre determinado assunto podem ser diferentes daqueles da cultura em que o aluno se insere. Ao produzir um texto, é necessária a compreensão de que ele é produzido dentro de uma determinada sociedade com aspectos culturais diferentes. Além disso, é essencial que se leve em consideração o público-alvo da cultura da língua que o aluno está aprendendo, o que muitas vezes não é feito. O problema disso está justamente no fato de o texto não ser trabalhado por meio dessas estratégias. O problema não está no aluno, pois ele produz sentido utilizando estratégias muitas vezes de modo inconsciente. O problema está na prática de compreensão que não leva esse fator em consideração. 87 Apontar para a época em que se insere o texto é uma forma de mostrar ao aluno o caráter histórico, cultural e social da língua. O momento discursivo torna-se importante ao passo que, às vezes, somente através dele é possível construir significados. Para a compreensão de determinados textos, como cartas, artigos de jornais, é preciso considerar o momento. Para a produção escrita, é relevante sua consideração em vista de diversos fatores, como adequação da linguagem, recorte temático, seleção de informações e consideração de público-alvo. A identificação do interlocutor textual é também uma forma de mostrar ao aluno o caráter histórico, cultural e social da língua. No plano interacional, trata-se de um elemento essencial, já que, ao planejar o texto, o locutor sempre tem em vista seu interlocutor. A consideração ao interlocutor é que vai justificar a variante linguística empregada, a estruturação das ideias no texto, a forma como as informações são hierarquizadas, a função dos textos, o tratamento das informações no que diz respeito à quantidade, qualidade, relevância e clareza. Tornar essas estratégias conscientes permite a percepção por parte do aluno da função da escrita, que, para além da expressão do pensamento, tem como primazia a interação, o fazer-se ser compreendido. Tabela II Metas Percepção de texto como fenômeno contextualizado De que forma? CE PE Percepção de práticas discursivas de outra cultura Gênero textual Tipo textual 88 Como foi salientado, em muitos casos, o estudo de texto é desvinculado do contexto em que está inserido. Ressalta-se que a escola não é espaço de socialização momentânea. Não haveria sentido a passagem do sujeito pela escola sem levar em consideração o espaço que o aguarda e em que se insere fora dessa instituição. A prática de leitura e produção de textos só faz sentido na medida em que se almeja fazer os sujeitos lerem e escreverem nas atuações sócio-comunicativas da realidade. Almejar fazer o sujeito agir como ser de discurso implica inseri-lo nas práticas reais que enfrenta no quotidiano. Não inseri-lo só desfaz a lógica primeira da escola, o que a faz tombar numa outra lógica, a da incoerência. Além de não preparar bem os sujeitos, a escola muitas vezes incute no alunado a sensação de que essas duas práticas são difíceis e desnecessárias. Uma estratégia que vem se mostrando eficaz é o trabalho com base nos gêneros, principalmente aqueles ligados às experiências dos alunos (Coracini, 2002). Com base nessa prática, muitos elementos precisam ser apresentados no ato de compreensão de um texto: sua função, a forma como foi constituído, seu conteúdo, composição, estilo, registro linguístico e intenções. Tornar essas características conscientes permite o desenvolvimento da capacidade metagenérica dos sujeitos. A quantidade de textos que circulam na sociedade é tão grande quantas as práticas comunicativas. A relevância do desenvolvimento da capacidade metagenérica não reside na máxima exposição de textos aos alunos, mas no entendimento de que o texto é fenômeno contextualizado, de acordo com a prática comunicativa em que se insere o locutor. Portanto, desenvolver a capacidade metacognitiva significa fazer os sujeitos se conscientizarem da necessidade de conhecerem, nas práticas comunicativas reais, os elementos característicos do gênero selecionado para essa prática a partir de uma consulta prévia. Nas práticas de ensino e aprendizagem de LE, ainda é possível falar em outra meta nesta fase. Trata-se de fazer os alunos se interarem com práticas discursivas da cultura da 89 língua que aprendem. O engajamento mais eficaz na aprendizagem da língua pode se dar pela inserção de gêneros comuns às culturas em ação. O trabalho de imersão em gêneros diferentes daqueles com os quais os alunos estão habituados, todavia, é importante e necessário, já que não somente se adquire uma língua, mas também uma cultura. Cabe aqui uma crítica ao ensino de línguas que insere de uma forma brusca esses textos inabituais, sendo dado que, além de os alunos não estarem acostumados ao trabalho com textos, muitas vezes uma realidade experimentada nas práticas de ensino e aprendizagem de LM, veem-se diante de um novo modelo. Essa prática gera uma dificuldade justificável e que não é compreendida pelo professor. É extremamente relevante que o professor avalie se a dificuldade provém de circunstâncias individuais ou se é reflexo de uma prática que induz o aluno a afirmar que a língua que aprende é difícil, uma vez que seu emprego em textos não corresponde ao ensino abstrato e descontextualizado da língua que teve. Tabela III Metas Desenvolvimento do conhecimento linguístico CE Estudo do vocabulário (inferência) PE Uso do vocabulário Desenvolvimento da consciência linguística Registro linguístico Elos coesivos Adequação do registro Uso dos elos A fase apresentada na tabela acima revela um dos processos mais incentivados e abordados no ensino e aprendizagem de LE. Trata-se do desenvolvimento do conhecimento de língua. Mas essa proposta vai muito além do que o simples desenvolvimento desse conhecimento, por duas razões: (a) o desenvolvimento do saber linguístico é atravessado por outras estratégias além das tradicionais utilizadas no ensino e aprendizagem de LE; (b) o 90 desenvolvimento desse saber está ligado intrinsecamente à conscientização da linguagem pelo aluno. Portanto, a fase apresentada tem como meta tanto a aprendizagem de uma língua estrangeira como a conscientização das estruturas sonoras da língua e de certas regras de uso dessa língua em comparação à língua materna, como afirmam os PCN (1998, p. 22). Como vem se afirmando nas propostas interacionistas e discursivas enfatizadas neste trabalho, não basta ensinar a língua como sistema abstrato, já que a língua só se sustenta na medida em que é atualizada nas práticas comunicativas. Quando se tem o texto como instrumento, maior é a necessidade de concentração sobre o contexto e não apenas sobre aquilo que poderia ser explícito. É importante que o professor se habitue na sua prática a mostrar ao aluno a dinamicidade da língua, o que reforçará a ideia de que o contexto é essencial para a construção de sentidos. Nessa concepção, torna-se bastante interessante o ensino de vocabulário por meio de inferência lexical. Em muitas práticas, percebe-se uma lista de vocabulário que é dada ao aluno para a compreensão das palavras ou a permissão a consultas a dicionários. A ideia de inferenciação não pretende invalidar essas ações, mesmo porque a seleção delas dependerá do contexto didático, como também não pretende relegar o dicionário. A prática de inferência apenas mostra como o sujeito funciona nas práticas cotidianas, muitas vezes não recorre a listas nem a dicionários para a compreensão, mas ao contexto. A conscientização dessa prática também possibilita ao sujeito compreender que o sentido construído pode estar ligado apenas a um contexto restrito, o que não o fará universalizar o sentido da palavra, como é feito no ensino tradicional. Como consequência, nota-se uma dificuldade muito profunda do aprendiz no engajamento discursivo. O uso do dicionário deve ser cuidadoso, pois o que se percebe é seu uso indiscriminado na medida em que o aluno, muitas vezes, recorre a apenas um sentido dado por esse instrumento, dentre os vários que alguns dicionários informam. 91 O estudo do registro linguístico está intimamente ligado ao gênero trabalhado. A proposta do ensino de LE está ligada à aprendizagem da língua padrão. Mas o ensino também deveria dar conta das diferentes variantes construídas na cultura da língua alvo, uma vez que o contato que o aluno terá com os gêneros dessa cultura apresentará as diversas variantes. Um dos principais problemas testemunhados pelos alunos está relacionado aos elementos de coesão. O estudo desses elementos exige um processo cuidadoso de raciocínio. Entretanto, o estudo desses elementos com os alunos não deveria ser prioridade apenas nos níveis avançados. Costumeiramente, o estudo da coesão se volta para os níveis em que o aluno já possui uma maior proficiência na língua, principalmente quando entra em contato com os textos que se organizam predominantemente de modo argumentativo. Entretanto, a coesão não se liga apenas aos recursos utilizados para estabelecimento de relação entre enunciados. A referenciação é elemento importante para a construção de sentido (Koch e Elias, 2007) e muitas vezes não é levada em consideração nas práticas de CE. É necessário salientar a importância para a PE das abordagens desses elementos na CE. No que tange à inferência lexical, há um processo que parece ser bastante óbvio, que seria a utilização do vocabulário aprendido. Entretanto, o resultado desse ensino estratégico não recai somente sobre essa utilização, mas sobre a conscientização da necessidade de precisão do uso. De posse dessa consciência, entende-se que o aluno, além de usar o vocabulário, utilizá-lo-á de maneira proficiente na medida em que procurará verificar se o uso está adequado ao contexto. Nesse momento, sem dúvida, deverá recorrer ao dicionário, mas através de uma utilização estratégica, isto é, deverá compreender que uma palavra, mesmo apresentando um sentido básico, pode não ser a mais adequada ao contexto por ele construído a partir dos sentidos selecionados pelo dicionário. No que tange ao registro linguístico, o aluno, de posse da noção dos fatores de contextualização, buscará uma produção cuja seleção lexical esteja adequada ao contexto que constrói. Quanto ao uso dos elementos de coesão, o 92 aluno buscará estar atento às várias estratégias de que pode se apropriar para construir a referenciação e para relacionar as partes do texto. A apropriação dessas estratégias também é de suma importância para o processo de inferenciação. Ao pensar no seu interlocutor, o sujeito pode fazer uso das estratégias de coesão para fazê-lo compreender determinadas palavras que poderiam causar dificuldades na construção do significado. Tabela IV Metas Desenvolvimento da análise crítica Percepção CE Sobre o quê? (detalhes) Para quê? (finalidade) PE Focalização / organização de ideias Uso da tipologia adequada / Quantidade, qualidade, relevância e clareza Pode-se afirmar que esta fase também é alvo de muitas abordagens de texto no ensino de LE. Algumas posturas (Kleiman, 1989, 2004, 2008; Coracini, 2002; Antunes, 2009, 2010) alertam para o fato de que nas atividades de leitura dá-se bastante relevância à identificação das ideias do autor. Essa postura se torna um problema quando somente isso é feito, quando outras etapas importantes da compreensão não são percorridas. Como se constatou neste capítulo, é necessário que seja percorrido um longo caminho para que se chegue a essa etapa. Um poder grande é dado ao texto quando só se procura estabelecer suas ideias principais. Ressalta-se que, nesta pesquisa, essa fase não é abandonada por se acreditar na relevância das informações presentes no texto. Do contrário, seria incoerente falar em ensino baseado em gênero, pois muitos deles, principalmente os mais formais, tendem a ter uma organização interna muito delimitada. Partindo dessa ideia, defende-se a importância desse trabalho de 93 identificação. Entretanto, não se trata apenas das ideias principais. Parece não ser necessário afirmar que, ao produzir um texto em que se busca a cooperação com o interlocutor, o locutor seleciona informações que imagina serem importantes para sua aceitabilidade. Isso quer dizer que as escolhas não são arbitrárias. Portanto, tanto as informações principais como as de detalhe são fundamentais para a construção do significado. Além disso, é significativo conhecer a finalidade do texto. Entende-se, nesta pesquisa, que existe uma relação intrínseca entre as duas metas apresentadas na Tabela IV – Desenvolvimento da análise crítica e Percepção –, uma vez que a organização das informações está muitas vezes ligada à finalidade da prática comunicativa. Um dado relevante a ser explicitado volta-se, por exemplo, à lógica das informações. Nem todas as práticas comunicativas exigirão uma organização do tipo início, meio e fim. É o caso da narração, da descrição. Em contrapartida, por suas características intrínsecas, como a ênfase dada sobre o interlocutor, a argumentação, a exposição e a injunção estarão bastante comprometidas com essa organização. Tendo em vista que o produtor faz projeções sobre o seu interlocutor, é relevante, pelas atividades de CE, que os alunos busquem um aperfeiçoamento da PE a partir da conscientização de como as informações estão organizadas dentro de determinados gêneros e de como elas se relacionam com as tipologias selecionadas. A conscientização desses elementos contribui com o fato de os alunos passarem a tornar pertinente a presença do seu interlocutor a partir do exercício pela CE e pela PE das diversas formas como as informações são focalizadas dentro do texto, para, com isso, buscar construir uma mensagem mais organizada de acordo com as necessidades exigidas pelo gênero e pelo tipo de texto. Também é considerável que, comprometidos com os seus interlocutores, os alunos busquem selecionar informações que são de fato pertinentes com vistas aos seus projetos de comunicar. Isso quer dizer que deverão escolher a quantidade exata que acharem pertinente, tendo como base a 94 qualidade, a adequação ao contexto assim como a clareza. Destaca-se que essa atitude pode não ser fácil. Todavia, torna-se ainda mais difícil quando o sujeito não é submetido à leitura prévia de um texto. Tabela V Metas Construção de sujeitos críticos Percepção do caráter processual do texto CE O que pensa? (avaliação/reação) PE Negociação entre o que já sabia e o compartilhado A Tabela V apresenta duas metas relevantes para a pós-compreensão. Trata-se de uma fase fundamental para a construção do conhecimento, que se liga a dois momentos úteis na aprendizagem. De um lado, está a compreensão propriamente dita; de outro, a construção de sujeitos do discurso. Ao fugir da concepção que toma o texto como produto, é defendida a ideia de que a compreensão só se realiza por meio do engajamento discursivo do leitor. Esse engajamento só se dá na medida em que os interlocutores projetam seus conhecimentos sobre o texto. Mas não somente isso. Compreende-se também, neste estudo, que esse engajamento só se realiza no momento em que a leitura vai além da identificação do reconhecimento da língua, da forma/função e das informações ligadas ao texto, isto é, a compreensão se realiza na medida em que o sujeito-leitor não toma o texto como produto, mas como processo. Perceber o texto como processo nas atividades de CE significa dar voz aos alunos. Não se trata de reproduzir a voz do autor do texto lido. Pelo fato de a compreensão só se dar porque a leitura é interativa, a consideração aos conhecimentos dos alunos também é imprescindível. Nesse contexto, é que a atividade de CE mostra-se tão pertinente no ensino. Inicialmente, a atividade de reconhecimento das ideias presentes no texto prepara o aluno para 95 o reagir. Em segundo lugar, constata-se que às experiências dos alunos outras vão sendo somadas. Não se quer defender com isso que ideias alheias presentes no texto vão sendo sempre incorporadas. Por isso, é relevante discutir a pós-compreensão, pois é o momento em que, a partir das trocas realizadas entre leitor-autor, aluno-aluno, professor-aluno, o aluno analisa seus conhecimentos, avalia suas crenças, sustenta seus pontos de vista. Além disso, é o momento em que atua, em que tem direito à voz. Esta fase é indispensável para a PE, uma vez que o aluno pode negociar, nas escolhas que faz para a produção do seu texto, o que já sabia e o que passou a conhecer, seja pela leitura do texto, pela crítica ao texto, seja pelo compartilhamento das informações levadas a cabo pelas discussões com os colegas e com o professor antes e depois da leitura do texto. Pela discussão tecida neste capítulo, é possível, portanto, compreender que não existe uma relação automática entre a prática de leitura e de escrita, isto é, não se pode afirmar que a leitura promove enriquecimento determinante da escrita sem que haja necessidade de uma reflexão mais intensa dos processos envolvidos nas duas práticas. Diante disso, cabe ao professor compreender o modo como se pode estabelecer uma relação entre essas atividades de modo a possibilitar um aperfeiçoamento da produção de texto para que haja um aumento da competência do aluno, principalmente aquela que se refere à metagenérica. Dessa forma, é possível fazer o aluno entender o lugar que ocupa como leitor e como escritor. No próximo capítulo, serão apresentadas atividades de CE com base na concepção de leitura como interação e processo. Essas atividades estão fundamentadas na proposta de abordagem de texto evidenciada neste capítulo. Além disso, pela relação que tece entre CE e PE, busca uma prática de CE que possibilite o enriquecimento da PE. 4 PROPOSTA DE TRABALHO DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO ESCRITA Neste trabalho, propõem-se levar nas propostas de atividades três passos em consideração: pré-compreensão, compreensão e pós-compreensão. Nas atividades desenvolvidas junto aos alunos universitários, as questões levantadas para os textos estavam circunscritas a esses três passos, buscando sempre possibilitar a mobilização de conhecimentos prévios como também a mobilização de novos conhecimentos para sua transposição para a prática escrita. Dessa forma, é possível verificar em que medida é possível relacionar as duas habilidades em cada um dos passos percorridos. A escolha das atividades partiu do programa estruturado por uma instituição de nível superior, que se volta para uma classe de estudantes que cursam o terceiro semestre da habilitação português-francês. A atividade pré-aula começou, naturalmente, pela escolha do tema (uso do álcool por jovens), que, inicialmente, levou em consideração a realidade dos alunos no que tange à escolaridade, à classe social, à idade etc. Em seguida, partiu-se para a escolha do gênero textual. Cabe citar Marcuschi (2008, p. 27), que afirma que o ensino com base em gêneros deveria orientar-se mais para aspectos da realidade do aluno do que para gêneros mais poderosos, pelo menos como ponto de partida. Alguns objetivos devem ser colocados, que, frente às concepções sóciocognitiva-interacionais de texto, podem ser: desenvolvimento da consciência linguística; desenvolvimento dos conhecimentos prévios; desenvolvimento da consciência dos conhecimentos; e o uso dos conhecimentos na construção dos significados. Importante destacar que esse trabalho se deu por meio da exploração dos aspectos metacognitivos de aprendizagem e de escolhas temáticas consideradas transversais. Como este trabalho se desenvolveu junto a uma classe de FLE de uma universidade pública que possui como uma das sugestões de trabalho o manual Forum (CAMPÀ, MURILLO, MESTREIT e TOST, 2001), procurou-se identificar o tema das unidades 97 trabalhadas: mídias. Diante disso, para as atividades iniciais, escolheram-se os textos jornalísticos. Enfatiza-se que os textos jornalísticos têm como finalidade precípua a informação, isto é, o ato de “fazer saber” fatos e acontecimentos da atualidade pertinentes à vida social (Corrêa e Cunha, 2006, p. 82). No caso desta pesquisa, os textos jornalísticos estão vinculados à mídia impressa, que, segundo Charaudeau (2006, p. 232), é o domínio da escrita, o que quer dizer que seu campo de atividade discursiva e semiológica6 é o da conceitualização que se inscreve numa situação de troca monolocutiva e se organiza sobre um suporte espacial. A seguir é proposta uma análise das atividades desenvolvidas, tendo como ponto de partida os princípios teóricos adotados neste estudo. Essas atividades reúnem gêneros, como reportagem, entrevista, dossiê (conhecido no Brasil como reportagem especial) e “fait divers”. Segundo Charaudeau (2006, p. 221), a reportagem jornalística trata de um fenômeno, tentando explicá-lo. “Um fenômeno social” significa uma série de fatos que se produzem no espaço público (...), cuja combinação e/ou encadeamento representa, de uma maneira ou de outra, uma desordem social ou um enigma (...) no qual o homem está implicado. (...) a reportagem deve adotar um ponto de vista distanciado e global (...) e deve propor ao mesmo tempo um questionamento sobre o fenômeno tratado. Entretanto, é importante destacar que, para o autor (2006, p. 222), a imparcialidade é um fenômeno impossível, já que toda construção de sentido depende de um ponto de vista particular, mas também é necessário, sendo dado que todo procedimento de análise implica tomadas de posição. Semio-, de “semiosis”, evoca o fato de que a construção do sentido e sua configuração se fazem através de uma relação forma-sentido (em diferentes sistemas semiológicos), sob a responsabilidade de um sujeito intencional, com um projeto de influência social, num determinado quadro de ação. (Charaudeau, 2005, p. 13) 6 98 A entrevista jornalística, segundo Charaudeau (2006, p. 214), possui as características de qualquer entrevista, mas, além disso, ela é especificada pelo contrato midiático: entrevistador e entrevistado são ouvidos por um terceiro-ausente, o ouvinte, num dispositivo triangular. Dentre as variantes de entrevista7 apresentadas pelo autor, cabe destacar duas: 1) a entrevista de especialista, que é um gênero que se resume a fornecer à opinião pública um conjunto de análises objetivas, trazendo a prova de sua legitimidade pelo “saber” e pelo “saber dizer” e 2) a entrevista de testemunho, que é um gênero que se presume confirmar a existência de fatos e despertar a emoção, trazendo uma prova de autenticidade pelo “vistoouvido-declarado”. Por último, o dossiê, segundo o autor (2006, p. 236), constitui um conjunto de artigos destinados a esclarecer determinada questão tanto do ponto de vista dos fatos quanto dos comentários. Por último, o “fait divers”, segundo o manual Forum (CAMPÀ, MURILLO, MESTREIT e TOST, 2001), são textos comuns à mídia francesa. O gênero busca de forma sucinta falar acerca de temas cotidianos, classificados normalmente como inusitados, sérios ou cômicos. As atividades I e II remetem a textos retirados do jornal impresso francês Aujourd’hui en France, de 4 de julho de 2010. Localizados na página 2, na seção Le fait Du jour, os textos são evidenciados anteriormente na capa do jornal, revelando um conjunto de textos integradores de uma reportagem especial. As atividades III e IV exploram textos retirados do site http://copenhague.arte.tv/en-direct-de-copenhague/les-personnages-du-jour. 7 Charaudeau (2006, p. 214-216) apresenta outras três variantes de entrevista: 1) a entrevista política, que é um gênero que se presume pôr à disposição da opinião pública uma série de julgamentos e de análises que justifiquem o engajamento do entrevistado. Esse gênero se baseia então num “é-preciso-dizer-a-qualquer-preço”; 2) a entrevista cultural, que é um gênero que se presume enriquecer os conhecimentos do cidadão, e que se justifica pela resposta à pergunta: “ Como é que ele faz?” que se opõe ao “Como funciona?” do especialista e 3) a entrevista de estrelas, que exibe à opinião pública uma série de apreciações emocionais visando a suscitar um “prazer culpado”. 99 Neste capítulo, na seção 4.2, também serão discutidos dois textos produzidos na primeira fase da pesquisa, em que os alunos foram levados a produzir um “fait divers”. Tratase de uma aula dada, na qual os alunos foram levados a rever conjuntamente os textos a partir do que haviam aprendido a respeito do gênero. 4.1 Análise de atividades de compreensão escrita e produção escrita 4.1.1 Atividades I e II Apêndice B Pré-compreensão 1) Qu’est-ce que vou pensez de l’usage de l’alcool chez les jeunes ? 2) Quelles sont les causes : a) b) d’une diminution ? d’une augmentation ? 3) Pensez-vous que ce comportement est caractéristique de la génération actuelle ? 4) La discussion que vous proposez se rapporte à la réalité brésilienne ou il s’agit d’un phénomène général pour vous ? 5) Avant de lire l’article ci-dessus, repérez le titre, le chapeau, l’image, les différentes parties et le nom de la rubrique à l’intérieur du journal. Quelles informations nous pourrions y trouver ? 6) Où ce texte a-t-il été publié ? 7) Qui est l’auteur ? 8) A qui s’adresse ce texte ? 9) Cochez la réponse correcte. ( ) Ce texte ne se rapporte pas aux jeunes contemporains. ( ) Ce texte ne se rapporte qu’aux jeunes du passé. ( ) Ce texte pourrait se rapporter à n’importe quels types de jeunes malgré sa production récente. 100 Compreensão 10) Lisez l’article en entier. Par rapport à son type textuel, cochez la bonne case. a) Il s’agit d’une quête de la vérité, puisqu’on montre des raisons du problème concerné et des preuves de l’augmentation de l’usage de l’alcool chez les jeunes. b) Il s’agit d’une description, puisqu’on caractérise les êtres. c) On raconte des faits, puisqu’on montre des actions de personnages qui s’engangent dans une histoire. 11) Quel est le genre de ce texte ? 12) A partir de quels éléments on peut identifier le genre textuel ? 13) Lisez le titre du dossier et répondez aux questions. Les jeunes sont de plus en plus accros à l’alcool a) Identifiez l’expression qui évidencie l’augmentation de l’usage de l’alcool chez les jeunes. Après, trouvez dans le Texte I des mots dont le sens s’approche de lui. b) Trouvez dans le Texte III une expression dont le sens s’approche du mot accros. 14) Lisez le chapeau suivant : Alors que débutent les vacances d’été et les fêtes qui vont avec, des médecins tirent la sonnette d’alarme sur la banalisation des ivresses Pour nombre de jeunes, l’alcool est devenu comme une drogue douce. a) Quel mot a été suppimé? b) Retrouvez deux expressions qu’à partir du texte peuvent avoir des sens proches. Expliquez votre choix. c) D’après le texte, expliquez le signifié de l’expression suivante : tirent la sonnette d’alarme 15) Les mots soulingés se rapportent à quoi ? a) « plusieurs spécialistes de santé publique tirent la sonnette d’alarme devant ce phénomène » (ligne 7-10) b) « En écho, le nombre d’ivresses des jeunes est en forte progression et concerne un quart d’entre eux » (ligne 20-22) c) « Ce médecin dénonce de façon plus large » (ligne 34-35) 16) Par rapport aux jeunes, répondez : a) Quelle est la relation établie entre les jeunes et les sujets suivants : 101 le docteur Olivier Phan, le professeur Gérard Dubois? les associations antialcool? les alcooliers? b) Quelle est la fonction de la présence du sénateur socialiste Roland Courteau ? c) Pourquoi sont-ils présents dans le texte ? 17) D’après le dernier énoncé : La nouvelle bataille de l’alcool a bel et bien commencé. a) En quoi concerne le terme « la bataille » ? b) Pourquoi on a utilisé l’adjectif « nouvelle » ? Pós-compreensão 18) Selon le texte, pourquoi il y a-t-il des différences entre la consommation d’alcool chez les garçons et chez les filles ? D’après vous, quelles sont les raisons de cette constatation ? 19) D’après le texte, la différence entre les sexes reste très marquée en France, contrairement à l’Anlgeterre, où les filles boivent autant que les garçons. D’après votre expérience, le Brésil s’approche-t-il de quelle réalité ? 20) D’après le texte, les ivresses ont lieu aux soirées étudiantes. Quelles solutions vous proposez pour réduire la consommation d’alcool chez les jeunes ? Apêndice D Pré-compreensão Par rapport aux Textes II et III, répondez : 1) Sans lire les articles, repérez leurs titres, les chapeaux, les images et les différentes parties. Faites des hypothèses par rapport à leur contenu. 2) Comment les deux textes sont-ils construits ? 3) Appartiennent-t-ils au même genre textuel? Expliquez votre réponse. 4) Où ces textes ont-t-ils été publiés ? 5) Qui est l’auteur ? 6) A qui s’adressent ces textes ? 102 Compreensão 7) Lisez les textes en entier. Pourquoi on a mis des énoncés entre guillemets ? Par rapport au Texte II: 8) A partir de quelle autorité, on soutient dans ce texte l’idée de l’augmentation de l’alcool ? 9) Dites à quoi se rapportent les mots « qui » et « quoi » qui sont sur le titre. Par rapport au Texte III: 10) Quelles informations présentées peuvent être reconnues dans le Texte II? 11) Quelles idées sont presentées comme nouvelles par rapport au Texte II ? 12) Quelles sont les stratégies utilisées par Batel pour soutenir ses constatations de l’augmentation du nombre de l’alcoolisation chez les jeunes ? 13) Quand le journaliste le pose la troisième question, Batel affirme qu’il existe un mouvement organisé qui vise à valoriser le statut de l’alcool auprès de la cible jeunes. De quoi s’agit-il, ce mouvement ? 14) D’après Batel, quel est le sens de l’expression « binge-drinking » ? 15) Dites à quoi se rapportent le mot « leurs » qui se trouve sur le titre et l’expression « ce médecin » qui se trouve au début du texte. Pós-compreensão 16) Selon l’interviewé, on assiste à une stratégie organisée pour mettre en scène les marques d’alcool. De quelle stratégie s’agit-il? Donnez votre opinion à partir des idées du texte et à partir de votre connaisance sur le sujet. 17) Quelles solutions vous proposez pour réduire la consommation de l’alcool chez les jeunes ? Os textos presentes nos Apêndices B e D buscam apresentar informações sobre a realidade na qual se encontram muitos jovens quando o assunto é o álcool. Apresentam o aumento do alcoolismo entre os jovens franceses através de vários dados e declarações de especialistas, também franceses. 103 As atividades I e II propostas foram apresentadas nas três partes essenciais do processo de aprendizado de leitura. A seguir, propõe-se uma análise das questões produzidas para os Textos I (Apêndice B), II e III (Apêndice D). a) Texto I Com relação ao Texto I, as questões de 1 a 48 propõem uma discussão sobre o uso do álcool entre os jovens. 1) Qu’est-ce que vou pensez de l’usage de l’alcool chez les jeunes ? 2) Quelles sont les causes : a) d’une diminution ? b) d’une augmentation ? 3) Pensez-vous que ce comportement est caractéristique de la génération actuelle? 4) La discussion que vous proposez se rapporte à la réalité brésilienne ou il s’agit d’un phénomène générale pour vous ? No que tange a essas atividades, os exercícios propostos na pré-leitura permitem práticas diversas em sala de aula. É dada aos alunos a oportunidade de ativar conhecimentos prévios a partir do momento em que é possibilitado que sejam mostradas suas visões de mundo, uma vez que são feitas perguntas que se voltam para o que eles conhecem sobre o assunto. A primeira questão leva a uma generalização, pelo fato de não se determinar a que cultura está ligado o problema discutido. Portanto, se na discussão realizada em sala de aula 8 As traduções do corpus são de minha responsabilidade. 1) O que você pensa a respeito do uso do álcool entre os jovens? 2) Quais são as causas : a) de uma diminuição ? b) de um aumento ? 3) 4) Esse comportamento é característico da geração atual? A discussão que você estabelece se volta para a realidade brasileira ou trata-se de um fenômeno geral? 104 em relação às questões 1, 2 e 3, for feita referência à delimitação das diversas realidades culturais frente ao álcool, a questão 4 não necessita ser feita. Se houvesse oportunidade, esta pergunta permitiria que eles percebessem a questão da delimitação, isto é, a relevância de se levar em consideração limites tangentes às diversidades culturais. b) Textos I, II e III Texto I9 5) Avant de lire l’article ci-dessus, repérez le titre, le chapeau, l’image, les différentes parties et le nom de la section à l’intérieur du journal. Quelles informations nous pourrions y trouver ? 6) Où ce texte a-t-il été publié ? 7) Qui est l’auteur ? 8) A qui s’adresse ce texte ? 9) Cochez la réponse correcte. ( ) Ce texte ne se rapporte pas aux jeunes contemporains. ( ) Ce texte ne se rapporte qu’aux jeunes du passé. ( ) Ce texte pourrait se rapporter à n’importe quels types de jeunes malgré sa production récente. 9 5) Antes de ler o texto, repare o título, o subtítulo, a imagem, as diferentes partes e o nome da seção no interior do jornal. Que informações poderão ser encontradas no texto? 6) Onde este texto foi publicado? 7) Quem é o autor? 8) A quem o texto se dirige? 9) Marque a resposta correta. ( ) O texto não se refere aos jovens contemporâneos. ( ) O texto se refere apenas aos jovens do passado. ( ) O texto poderia estar se referindo a qualquer tipo de jovens apesar da sua rodução recente. 105 Texto II e III10 Par rapport au Texte II et III, répondez : 1) 2) 3) 4) 5) 6) Sans lire les articles, repérez leurs titres, les chapeaux, les images et les différentes parties. Faites des hypothèses par rapport à leur contenu. Comment les deux textes sont-ils construits ? Appartenance-t-ils au même genre textuel? Expliquez votre réponse. Où ces textes ont-t-ils été publiés ? Qui est l’auteur ? A qui s’adressent ces textes ? Ainda circunscritos ao momento anterior à compreensão, as questões de 5 a 9 do Texto I e as questões de 1 a 6 referentes aos Textos II e III chamam atenção para as condições de produção. Faz-se o aluno entender que há sempre a presença de um enunciador que faz projeções em relação ao que o seu interlocutor quer saber, sobre o que ele espera a partir de um jogo de imaginações. Da mesma forma, faz-se notar que existe uma instância enunciativa, cuja origem está na imprensa (jornalista). É preciso salientar que o jornalista dá voz à instituição, sua voz se confunde com a voz da instituição. As questões 5 e 6 (Texto I) e a questão 1 e 9 (Textos II e III) permitem ao aluno notar que a linguagem é sempre sociointeracional. É a partir da interação entre as experiências de um sujeito com as de outro que o conhecimento é construído, sendo dado que a interação é marcada por papéis. Espera-se que os jornalistas contem fatos, que comentem ou debatam (Charaudeau, 2006). Enfatiza-se, portanto, o caráter social da linguagem. Esta parte chama também a atenção do aluno para a organização temática de um jornal. No caso, há a seção Le fait du jour. 10 1) Sem ler os textos, repare seus títulos, subtítulos, imagens e as suas diferentes partes. Construa hipóteses sobre o conteúdo deles. 2) De que maneira os textos foram estruturados? 3) Eles pertencem ao mesmo gênero textual? Explique sua resposta. 4) Onde os textos foram publicados? 5) Quem é o autor? 6) A quem os textos estão endereçados? 106 A questão 7 (Texto I) tem uma importância nesta atividade na medida em que evidencia que todos os textos da reportagem especial foram produzidos pelo mesmo autor, embora, no texto, só seja possível reconhecer as iniciais do nome. A informação somente pode ser recuperada quando o leitor entra em contato com o quarto texto da reportagem especial, o que evidencia especificidades discursivas da imprensa francesa. Na questão 8 (Texto I) e 6 (Textos II e III), permite-se a visualização do texto como um instrumento de comunicação que tem uma função determinada, pois está voltado para um interlocutor específico. A identificação do interlocutor também é importante, uma vez que justifica a seleção de informações deita pelo locutor. A questão 9 (Texto I) acentua a importância da data de produção do texto, já que é chamada a atenção para o contexto socio-histórico e temporal. As questões 10, 11, e 12 (Texto I) e 2 e 3 (Texto II) permitem ver o texto como instrumento de comunicação que tem uma finalidade: informar, persuadir, etc. Texto 111 10) Lisez l’article en entier. Par rapport à son type textuel, cochez la bonne case. a) Il s’agit d’une quête de la vérité, puisqu’on montre des raisons du problème concerné et des preuves de l’augmentation de l’usage de l’alcool chez les jeunes. b) Il s’agit d’une description, puisqu’on caractérise les êtres. c) On raconte des faits, puisqu’on montre des actions de personnages qui s’engangent dans une histoire. 11 10) Leia o texto. Em relação ao tipo de texto, aponte a alternativa cuja avaliação está adequada. a) Trata-se de uma busca pela verdade, já que são mostradas as razões do problema apontado e provas do aumento do uso do álcool entre os jovens. b) Trata-se de uma descrição, já que seres são caracterizados. c) Contam-se fatos, já que ações de personagens que se engajam em uma história são mostradas. 11) Qual é o gênero do texto? 12) A partir de que elementos é possível identificar o gênero do texto? 107 11) Quel est le genre de ce texte ? 12) A partir de quels éléments on peut identifier le genre textuel ? Texto 212 2) 3) Comment les deux textes sont-ils construits ? Appartiennent-t-ils au même genre textuel? Expliquez votre réponse. O texto é um instrumento que, para atingir sua finalidade, organiza-se de maneiras diferentes. Além disso, constata-se que há mecanismos mais ou menos estáveis que fazem os textos se organizarem em gênero (Charaudeau, 2006). O exercício sublinha aquilo que é semelhante ou diferente em relação aos tipos e gêneros de texto. O estudante deve notar que os três textos se aproximam em razão da tipologia: os três se organizam de modo a buscar a razão, uma verdade. Entretanto, também deverá notar que o Texto III se afasta dos dois textos precedentes em razão do fato de ser uma entrevista, enquanto os primeiros são reportagens. Portanto, no ato de comunicação representado pela entrevista, os sujeitos podem estar presentes um do outro, há posições diferentes: um que questiona e outro que tem um papel de “questionado-com-razão-para-ser-questionado” (Charaudeau, 2006). Da mesma maneira, o aluno deverá notar que se trata de um tipo específico de entrevista: a entrevista de especialista, em que o entrevistado, cuja competência é reconhecida, é convidado para responder a questões técnicas para esclarecimento de um problema. Embora apareçam testemunhos de especialistas no primeiro texto, o aluno deverá notar que as estruturas dos textos I e III são inteiramente assimétricas. 12 2) Como os dois textos são estruturados? 3) Eles pertencem ao mesmo gênero textual? Explique a resposta? 108 A questão 13 (Texto I)13 enfatiza a importância da inferência para que se compreendam algumas palavras. 13) Lisez le titre du dossier et répondez aux questions. Les jeunes sont de plus en plus accros à l’alcool a) Identifiez l’expression qui évidencie l’augmentation de l’usage de l’alcool chez les jeunes. Après, trouvez dans le Texte I des mots dont le sens s’approche de lui. b) Trouvez dans le Texte III une expression dont le sens s’approche du mot accros. Não é em todos os casos que o leitor recorrerá ao dicionário. Pode-se mostrar ao aluno a existência de uma solução: o contexto, que se refere ao meio textual e à situação de comunicação. É também notada nesta fase a importância das estratégias de coesão de que lança mão o locutor para produção de significados. A pergunta feita na letra (a) leva à seguinte resposta: a locução adverbial de plus en plus (cada vez mais) marca o aumento da alcoolização. Pode-se identificar ao longo do texto (questão b) expressões cujos sentidos são próximos como “forte progression” (forte progressão) e “ne cesse de croître” (não para de crescer) – legenda da imagem (Apêndice B). No início da atividade, não seria necessário explicitar o sentido da palavra “accros” (viciados) para que o aluno possa inferir o sentido a partir da leitura do Texto I – Apêndice B – (“beuveries systématiques” – consumo de álocool sistemático) ou do Texto III – Apêndice D – (“alcoolodépendants” – dependentes de álcool). O aluno também pode notar que, no início do Texto III (Apêndice D) o autor escreve 13 13) Leia o título da reportagem especial e responda às questões. Les jeunes sont de plus en plus accros à l’alcool a) Identifique a expressão que evidencia o aumento do uso do álcool entre os jovens. Em seguida, encontre no Texto I palavras cujo sentido se aproxime dessa expressão. b) Encontre no Texto III uma expressão cujo sentido se aproxime da palavra accros. 109 “Ce médecin (...) voit arriver dans ses consultations des jeunes accros de moins de 25 ans”14 e construir a significação do termo “accros” a partir do enunciado seguinte, que se encontra na primeira resposta de Batel: “Dans ma consultation d’addictologie à l’alcool, nous prenons en charge maintenant 5% des patients alcoolodépendants agés de moins de 25 ans”15. A questão 14 (Texto I)16 mostra que uma palavra foi suprimida. 14) Lisez le chapeau suivant : Alors que débutent les vacances d’été et les fêtes qui vont avec, des médecins tirent la sonnette d’alarme sur la banalisation des ivresses Pour nombre de jeunes, l’alcool est devenu comme une drogue douce. a) Quel mot a été suppimé? b) Retrouvez deux expressions qui à partir du texte peuvent avoir des sens proches. Expliquez votre choix. c) D’après le texte, expliquez le sens de l’expression suivante : tirent la sonnette d’alarme. Trata-se, por exemplo, da palavra “elles” (elas) que funcionaria como complemento da preposição “avec” (com) e que retomaria a palavra “vacances” (férias). Neste caso, trata-se de uma estratégia de coesão em que o autor construiu uma elipse. É importante mostrar ao aluno que não se trata de um erro gramatical, pelo fato de o interlocutor conseguir recuperar o dado, uma competência que faz parte do conhecimento de língua. Pode-se notar que na questão 14b, chama-se atenção para o fato de que é possível a compreensão de uma palavra mesmo com o desconhecimento prévio de seu sentido a partir da relação entre duas expressões (“banalisation” – banalização) – (“drogue douce” – droga leve). Nota-se que a expressão “Esse médico vê chegar às consultas jovens viciados com menos de 25 anos...” Nas consultas que faço a respeito do vício de álcool, nós cuidamos agora de 5% de pacientes alcoólatras com menos de 25 anos. 14 15 16 14) Leia o subtítulo seguinte: Alors que débutent les vacances d’été et les fêtes qui vont avec, des médecins tirent la sonnette d’alarme sur la banalisation des ivresses Pour nombre de jeunes, l’alcool est devenu comme une drogue douce. a) Que palavra foi suprimida? b) Encontre duas expressões que a partir do texto podem ter sentidos próximos. Explique sua escolha. c) Segundo o texto, explique o sentido da expressão seguinte: tirent la sonnette d’alarme. 110 “drogue douce” é retomada por uma ideia do Texto III quando Batel afirma, na terceira resposta, que o álcool está até mais na moda que a maconha”. As questões 15 (Texto I) e 7 (Texto II e III) põem em evidência a relação que tem cada especialista e instituição com os jovens. Texto I17 15) Par rapport aux jeunes, répondez : a) Quelle est la relation établie entre les jeunes et les sujets suivants : le docteur Olivier Phan, le professeur Gérard Dubois? les associations antialcool? les alcooliers? b) Quelle est la fonction de la présence du sénateur socialiste Roland Courteau ? c) Pourquoi sont-ils présents dans le texte ? Texto II18 7) Lisez les textes en entier. Pourquoi on a mis des énoncés entre guillemets ? 17 15) Em relação aos jovens, responda: a) Qual a relação estabelecida entre eles e os sujeitos seguintes: O doutor Olivier Phan, o professor Gérard Dubois? As associações antiálcool? As indústrias de álcool? b) Qual a função da presença do senador socialista Roland Courteau? c) Por que eles estão presentes no texto? 18 7) Leia os textos. Por que os enunciados foram colocados entre aspas? 111 Esse tipo de exercício possibilita notar que as informações mudam ao longo do texto. Da mesma forma, é evidenciado o caráter polifônico de uma notícia. Neste caso, os testemunhos são configurados como testemunhos de autoridade. A questão 16 (Texto I) chama atenção para a palavra “bataille” que enfatiza a oposição entre as leis, as organizações antiálcool e as publicidades – informações importantes para o texto. Texto I19 16) D’après le dernier énoncé : La nouvelle bataille de l’alcool a bel et bien commencé. a) En quoi concerne le terme « la bataille » ? b) Pourquoi on a utilisé l’adjectif « nouvelle » ? Da mesma forma, ela põe em evidência a palavra “nouvelle”. A palavra informa que já houve uma batalha no passado. A questão permite ver o texto como processo, que também é enfatizado nas questões 10 e 11 (Texto II) –, já que é possibilitado perceber que as informações não se fixam em apenas um texto. Texto II20 10) Quelles informations présentées peuvent être reconnues dans le Texte II? 11) Quelles idées sont presentées comme nouvelles par rapport au Texte II ? 19 16) Observe o último enunciado: La nouvelle bataille de l’alcool a bel et bien commencé. a) Em que consiste a expressão « la bataille »? b) Por que foi utilizado o adjetivo « nouvelle »? 20 10) Que informações apresentadas podem ser reconhecidas no Texto II? 11) Que ideias foram apresentadas como novas em relação ao Texto II ? 112 As questões 17 (Texto I), 9 (Texto II) e 15 (Texto III) põem em evidência a questão da coesão para a construção do significado. Texto I21 17) Les mots soulingés se rapportent à quoi ? a) « plusieurs spécialistes de santé publique tirent la sonnette d’alarme devant ce phénomène » (ligne 7-10) b) « En écho, le nombre d’ivresses des jeunes est en forte progression et concerne un quart d’entre eux » (ligne 20-22) c) « Ce médecin dénonce de façon plus large » (ligne 34-35) Texto II22 9) Dites à quoi se rapportent les mots « qui » et « quoi » qui sont sur le titre. Texto III23 15) Dites à quoi se rapportent le mot « leurs » qui se trouve sur le titre et l’expression « ce médecin » qui se trouve au début du texte. 21 17) As palavras sublinhadas se referem a que? a) « plusieurs spécialistes de santé publique tirent la sonnette d’alarme devant ce phénomène » (ligne 7-10) b) « En écho, le nombre d’ivresses des jeunes est en forte progression et concerne un quart d’entre eux » (ligne 20-22) c) « Ce médecin dénonce de façon plus large » (ligne 34-35) 22 9) A que se referem as palavras “qui” e “quoi” que estão no título? 23 15) A que se referem a palavra « leurs » que está no título e a expressão « ce médecin » que está no início do texto? 113 As questões 18, 19 e 20 (Texto I) e 16 e 17 (Texto II e III) levam os alunos a se posicionar frente às informações presentes no texto. Texto I24 18) Selon le texte, pourquoi il y a-t-il des différences entre la consommation d’alcool chez les garçons et chez les filles ? D’après vous, quelles sont les raisons de cette constatation ? 19) D’après le texte, la différence entre les sexes reste très marquée en France, contrairement à l’Anlgeterre, où les filles boivent autant que les garçons. D’après votre expérience, le Brésil s’approche-t-il de quelle réalité ? 20) D’après le texte, les ivresses ont lieu aux soirées étudiantes. Quelles solutions vous proposez pour réduire la consommation d’alcool chez les jeunes ? Texto II e III25 16) Selon l’interviewé, on assiste à une stratégie organisée pour mettre en scène les marques d’alcool. De quelle stratégie s’agit-il? Donnez votre opinion à partir des idées du texte et à partir de votre connaisance sur le sujet. 17) Quelles solutions vous proposez pour réduire la consommation de l’alcool chez les jeunes ? A partir da leitura e das suas experiências, conhecimentos são enriquecidos em razão das novas informações, mas também em razão das trocas de experiência em sala de aula. É preciso enfatizar que há informações que os estudantes podem querer obter, o que pode ser oferecido através da leitura de outros textos da reportagem especial (Apêndice K), 24 18) Segundo o texto, por que há diferenças entre o consumo de álcool entre os homens e as mulheres? Para você, quais são as razões desta constatação? 19) Segundo o texto, a diferença entre os sexos continua bastante acentuada na França, contrariamente à Inglaterra, onde as mulheres bebem tanto quanto os homens. A partir de suas experiências, o Brasil se aproxima de qual realidade? 20) Segundo o texto, as intoxicações acontecem nas festas estudantis. Que soluções você propõe para reduzir o consumo do álcool entre os jovens? 25 16) Segundo o entrevistado, assiste-se a uma estratégia organizada para pôr em cena as marcas de álcool. Tratase de que estratégia? Dê sua opinião a partir das ideias do texto e a partir de seu conhecimento sobre o assunto. 17) Que soluções você propõe para reduzir o consumo do álcool entre os jovens? 114 onde as informações são evidenciadas. Na página três do jornal Aujourd’hui en France, retoma-se a lei Evin, o canal de TV que quer ter um programa sobre vinhos, a publicidade na internet e opiniões de jovens e associações antiálcool. Para explicação mais aprofundada do termo “apéros géants” e “binge-drinking” pode ser utilizado um texto do jornal Le Monde – « Ces apéros géants qui gênent les pouvoirs publics » (Apêndice J). Neste artigo, além da abordagem do conceito “apéros géants”, há um hyperlink que leva o leitor a assistir a um vídeo para conscientizar jovens a respeito da prática do “binge-drinking”. Nessas atividades, o professor, em primeiro lugar, buscará preparar os alunos para as informações que eles encontrarão no texto. Nesse momento de mobilização de conhecimentos e elaboração de hipóteses, é permitido que haja trocas e que esses conhecimentos sejam utilizados no ato de produção escrita. Em segundo lugar, ao chamar a atenção para as características genéricas, o professor possibilita que o aluno perceba o texto como fenômeno contextualizado, da mesma forma que o faz entrar em contato com outras práticas discursivas para além daquelas que circulam em sua cultura. Além disso, possibilita-se o desenvolvimento linguístico, mas, principalmente, o desenvolvimento da consciência linguística. Fato que, certamente, contribuirá para que os alunos usem com maior proficiência o vocabulário e os elementos de coesão, assim como contribuirá para que façam escolhas adequadas ao gênero no que tange ao estilo. Ainda é importante destacar o desenvolvimento da análise crítica e da percepção diante do texto. Por um lado, é essencial que o aluno seja capaz de reconhecer a hierarquia das informações, pois buscará a produção de um texto mais organizado. De outro lado, é necessário que ele perceba a finalidade do texto, pois buscará, na produção de texto, atentar para a escolha da tipologia adequada ao gênero, assim como atentará com maior precisão para a quantidade, qualidade, relevância e clareza das informações. Em terceiro lugar, o que se objetiva, é a construção de sujeitos críticos e a percepção do texto como detentor de caráter processual. Ao solicitar que os alunos avaliem e 115 reajam às ideias presentes no texto, é permitido que, no ato de produção escrita, haja negociação entre os conhecimentos que o aluno já tinha e os compartilhados tanto com o autor/instituição a que se refere o texto como com os colegas em sala. 4.1.2 Atividade III Apêndice F a) Texto I 1) Lisez la phrase suivante et répondez aux questions : On le dit suffisamment : les EtatsUnis ne sont pas réputés pour leurs actions en faveur de l’environnement. a) A qui se rapporte le pronom « on » ? b) Est-il possible d’affirmer que l’opinion de l’auteur du texte s’approche-t-elle de celle qui est dans la phrase ? Donnez votre avis d’après votre lecture du texte. 2) D’après votre lecture, quelle est l’information centrale dans le texte ? Où se trouve-telle ? Exprimez votre réponse en indiquant les éléments textuels qui vous permettent de la montrer. 3) Outre la campagne, à partir de quelles informations on peut affirmer que The Canary Project est pronfodément en faveur de l’environnement ? 4) Le nom de la campange est cité deux fois dans le texte. Pourquoi on n’a pas souligné le nom dans sa reprise au deuxième paragraphe ? 5) Au dernier paragraphe, on dit Voici quelques-uns de ces posters. Qu’en pensez-vous ?. Expliquez l’usage des mots soulignés. Les textes suivants (II et III)26 sont de commentaires faits par des internautes du journal Le Monde qui ont lu le texte Aux Etats-Unis, l’écologie mise à l’affiche. Lisez-les et après répondez aux questions. b) Textos II e III 1) De quel pays réagissent les internautes ? Justifiez votre réponse. 2) Quelle information est discutée par Stephane ? Il est pour ou contre cette information? Répondez en indiquant deux expressions du texte. 26 Os textos II e III são comentários feitos por internautas do jornal Le Monde que leram o Texto I - Aux EtatsUnis, l’écologie mise à l’affiche. Ressalta-se que os textos não foram corrigidos neste trabalho, podendo vir a apresentar inadequações quanto ao francês padrão. 116 3) Listez les actions montrées par Stephane pour qu’il puisse défendre son point de vue. 4) Qu’est-ce que vous pensez de l’affirmation suivante : La seule chose c’est comme on est pas trop extreme gauche par ici, les partis ecolos ne font pas suffrage ? Cette réalité est présente au Brésil ? 5) Selon AuxUS, aux Etats-Unis les mesures sont plus axées sur la correction des problèmes a posteriori plutôt que la prévention. De quelle manière on peut classer les actions citées par Stephane ? Sont-elles des corrections ou des préventions ? 6) Quel sentiment pourrait être mis en évidence par l’expression PEUT PAS ? 7) Après avoir lu les trois textes, on note des variations quant à la forme, la langue. Expliquez cette situation. A la maison : 1) Montrez les éléments présents dans les Textes II et III qui ne correpondent pas à la langue française standardisée, en indiquant les adéquations au cas d’être publié dans une situation plus formelle. 2) Accédez au site du Le Monde, voyez les slides du Texte I et faites un commentaire pour être publié sur le site. (200 mots) 3) Après regader les images, dites ce que vous avez compris de l’image qui fait partie du Texte I. a) Texto I Em relação ao Texto I (Apêndice F), a primeira questão estabelece uma relação com o conceito de coesão assim como com as formas de inserção do locutor no texto. O primeiro questionamento (letra a - A qui se rapporte le pronom « on » ?27) pede para que o aluno diga a que se refere o elemento do enunciado exposto – « On le dit suffisamment: les Etats-Unis ne sont pas réputés pour leurs actions en faveur de l’environnement. ». Como se pode observar, “on” não apresenta um referente explícito, sendo o pronome caracterizado tradicionalmente como sujeito indeterminado, uma generalização. Em certa medida, a questão prepara o aluno 27 A quem se refere o pronome “on”? 117 para o questionamento feito na letra b (Est-il possible d’affirmer que l’opinion de l’auteur du texte s’approche-t-elle de celle qui est dans la phrase ? Donnez votre avis d’après votre lecture du texte.28), uma vez que evidencia que a utilização de “on” no contexto separa as vozes no texto. De um lado, está o enunciado comumente dito por indivíduos e de outro, está aquele dito pelo autor do texto. Além disso, a questão chama atenção para o fato de que não há opinião explícita por parte do locutor. Entretanto, no segundo período do texto, é possível inferir que é afirmado através de uma pergunta que os americanos não são “amigos da ecologia”, como indicado a seguir: “Alors, comment encourager les Américains à devenir plus eco-friendly ?” Embora o texto seja predominantemente expositivo, é possível notar, pela inferência do questionado, a presença de uma opinião, embora não se possa afirmar que seja a do autor, sendo dado que a pergunta pode, por uma questão estratégica, ter servido apenas como ligação entre o que pensam alguns indivíduos e as ações propostas pelos grupos envolvidos na notícia como também poderia ser um discurso indireto livre, no sentido de que poderia ser o que pensam os grupos caracterizados nas próprias ações implementadas. A segunda e terceira questões voltam-se para as informações explicitadas no texto, tanto as principais como as secundárias. 2) D’après votre lecture, quelle est l’information centrale dans le texte ? Où se trouve-telle ? Exprimez votre réponse en indiquant les éléments textuels qui vous permettent de la montrer.29 3) Outre la campagne, à partir de quelles informations on peut affirmer que The Canary Project est pronfodément en faveur de l’environnement ?30 Pode-se afirmar que, a partir de diversos elementos como o título e as informações secundárias apresentadas, a principal está no seguinte enunciado: “La campagne de 28 É possível afirmar que a opinião do autor do texto se aproxima da que está na frase? Dê sua opinião após leitura do texto. 29 2) A partir da sua leitura, qual é a informação central no texto? Onde ela se encontra? Responda indicando os elementos do texto que permitem você de apresentá-la. 30 3) Além da campanha, a partir de que informações se pode afirmar que The Canary Project está profundamente a favor do meio ambiente? 118 communication Green Patriot Posters, lancée par The Canary Project, a tenté de remplir cet objectif d’une manière attrayante et humoristique, en organisant un concours d’affiches autour de la construction d’une économie durable.”, em que o locutor apresenta um concurso de cartazes organizado pela The Canary Project. A terceira questão, que solicita ao aluno indicar elementos que ratifiquem a preocupação com o meio ambiente, está, além da campanha, no fato de o concurso objetivar consciência em relação à economia sustentável como também na seleção do material feita para publicação dos cartazes: livro com papel reciclado e tintas vegetais. A quarta questão (Le nom de la campange est cité deux fois dans le texte. Pourquoi on n’a pas souligné le nom dans sa reprise au deuxième paragraphe ?31) remete o aluno à diferente forma de leitura que acontece na internet. Ao perguntar sobre o fato de a segunda alusão ao nome da campanha não ter sido sublinhada como a primeira, o aluno, pelo conhecimento de mundo ligado à internet, deverá compreender que a primeira realização é um hyperlink. Dessa forma, uma segunda marcação seria desnecessária. A exemplo da letra “a” da primeira questão, a última questão (Au dernier paragraphe, on dit Voici quelques-uns de ces posters. Qu’en pensez-vous ?. Expliquez l’usage des mots soulignés32) remete o aluno ao contexto de coesão. Em « Voici quelques-uns de ces posters. Qu’en pensez-vous? », há dois elementos destacados : “voici” et “en”. Os dois estabelecem tipos de coesão para a construção da coerência de modo diverso. Essa distinção estabelecida no exercício busca a conscientização pelo aluno da forma como a construção do sentido se dá de formas variadas a depender do suporte em que o texto é construído. No primeiro caso, apenas é possível a construção do significado pela leitura do texto feita diretamente na página do Le Monde, local em que o texto foi originalmente publicado. O elemento “voici”, enquanto 31 O nome da campanha é citado duas vezes no texto. Por que o nome não foi sublinhado em sua retomada no segundo parágrafo? 32 No último parágrafo, é dito Voici quelques-uns de ces posters. Qu’en pensez-vous ?. Explique o uso das palavras sublinhadas. 119 uma catáfora, anuncia algum elemento que será mostrado. Esse elemento, que é um conjunto de pôsteres produzidos no concurso, só é possível de ser visualizado no site. Já o elemento “en” faz referência a um elemento anterior posto no texto, os pôsteres. Como se observa, os dois têm como referentes o mesmo elemento. O primeiro, uma catáfora, aponta para o extralinguístico; o segundo, uma anáfora, aponta para o linguístico. b) Textos II e III Os Textos II e III (Apêndice F), como se pode perceber, pertencem ao gênero comentário. Importante é observar que o comentário mostra justamente o fato de como os textos são lidos no dia a dia. Nessa situação de comunicação, não se prendem somente às informações presentes no texto comentado. Prova disso é que o primeiro comentário postado apresenta ponto de vista que vai em direção contrária à opinião do jornal. Quer dizer: nem mesmo se tocou num dos objetivos principais do texto: a apresentação do concurso. No primeiro comentário, critica-se a reportagem e apresentam-se fatos para a comprovação de que a opinião explicitada no texto do Le Monde está incorreta. No segundo comentário, embora seja feita menção ao concurso e sejam apontados problemas ligados à maneira como os americanos se relacionam com as questões ecológicas, vai-se também contra a opinião explicitada no texto do Le monde. Esse tipo de exercício apresenta uma série de pontos positivos, uma vez que é possibilitado estabelecer comparações quanto ao gênero, aos elementos decorrentes dele e à tipologia textual. Uma das características dos comentários na internet é a não apresentação de formas fixas: estruturação, tamanho. Há outros elementos variáveis: a forma como o nome do locutor é apresentado, o tamanho das letras, o estilo: formal ou informal. São esses os elementos que se diferenciam do Texto I, pois este, enquanto uma notícia, apresenta uma estruturação por vezes fixa e procura apresentar um grau maior de formalidade. 120 A primeira questão (De quel pays réagissent les internautes ? Justifiez votre réponse.33) chama atenção para um elemento que é comum a textos como o “fait divers”, que apresenta geralmente local em que os fatos ocorreram ou em que o texto foi produzido. Não é possível saber o local em que os comentários foram produzidos, a não ser por elementos encontrados nos próprios textos, como os destacados a seguir: « La seule chose c’est comme on est pas trop extreme gauche par ici, les partis ecolos ne font pas suffrage. » (Comentário 1) « Le problème que j’ai constaté ici, c’est que ces mesures sont plus axées sur la correction des problèmes a posteriori plutôt que la prévention. » (Comentário 2) Nos dois comentários feitos, é possível observar a utilização de um dêitico, “ici” (aqui), que aponta para o local de onde comentam os internautas. A relação “ici”/Estados Unidos é notada a partir da percepção de que são feitos diversos comentários a respeito desse país. A segunda questão (Quelle information est discutée par Stephane ? Il est pour ou contre cette information? Répondez en indiquant deux expressions du texte.34) já se volta para as informações do texto, mais especificamente para a identificação do léxico apropriado ao contexto. Nota-se que Stephane focaliza já na introdução do comentário uma informação do Texto I, a de que se diz que os americanos não são “eco-friendly”. Pela forma como a pergunta foi iniciada no comentário e pela contextualização posterior, percebe-se uma certa indignação por parte do comentarista. Portanto, Stephane é contra a informação apresentada no texto. Certifica-se esse posicionamento a partir das expressões “Vous me faites marrer” e “veulent le croire”, que pelo contexto em que são empregadas, expressam ironia frente ao que Stephane acredita ser opinião do jornalista/Le monde. Esta questão prepara o aluno para a 33 De que local os internautas fizeram os comentários? Justifique sua resposta. Que informação é discutida por Stephane? Ele é a favor ou contra essa informação? Responda indicando duas expressões do texto. 34 121 seguinte (Listez les actions montrées par Stephane pour qu’il puisse défendre son point de vue.35) em que se solicita a identificação das ações apresentadas por Stephane para defesa de seu ponto de vista. Nesta questão, o aluno deveria perceber que a sustentação do ponto de vista através de fatos se deu, na maioria das vezes, mediante a comparação entre EUA e França/Europa, o que permite a ele no final do texto, chegar à conclusão de que os EUA são bem mais ecológicos que a França/Europa. Em relação à quarta questão (Qu’est-ce que vous pensez de l’affirmation suivante : « La seule chose c’est comme on est pas trop extreme gauche par ici, les partis ecolos ne font pas suffrage » ? Cette réalité est présente au Brésil ?36), há espaço para que o aluno se coloque, apresentando seus conhecimentos concernentes às informações do texto e à relação entre elas e sua realidade cultural. A quinta questão (Selon AuxUS, aux Etats-Unis les mesures sont plus axées sur la correction des problèmes a posteriori plutôt que la prévention. De quelle manière on peut classer les actions citées par Stephane ? Sont-elles des corrections ou des préventions?37), que recai sobre o segundo comentário, redigido por AuxUS, tem como função fazer o aluno constatar se as medidas apresentadas pelo locutor vão ou não ao encontro do ponto de vista que defende no texto, isto é, a ideia de que, em vez de evitar, os EUA remediam os problemas sobre o meio ambiente. A leitura dos fatos apresentados pelo locutor do comentário mostram que as ações realizadas nos EUA estão realmente ligadas a ações que remediam. Na sexta questão (Quel sentiment pourrait être mis en évidence par l’expression PEUT PAS?38), as letras em caixa alta podem indicar uma ênfase na satisfação ou podem ser um sinal enfático da ironia, dentre outros. Para compreender essa realização importante é que 35 Liste as ações apresentadas por Stephane para defesa de seu ponto de vista. O que você pensa a respeito da afirmação seguinte: “A única coisa é que, como não somos da esquerda extrema por aqui, os partidos verdes não conseguem votos”? Esssa é realidade está presente no Brasil? 37 Segundo AuxUS, nos Estados Unidos as medidas são mais voltadas para a correção dos problemas a posteriori do que para a prevenção. De que maneira se podem classificar as ações citadas por Stephane? 38 Que sentimento poderia ser evidenciado pela expressão PEUT PAS? 36 122 uma observação recaia sobre os elementos contextuais. Como se constatou na questão anterior, AuxUS lista criticando as ações que considera soluções tardias, apresentando como uma das provas uma situação: as luzes estão sempre acesas e não é possível apagá-las. Nesse contexto, a leitura do comentário permite a percepção de que, na verdade, trata-se de uma indignação. A última questão (Après avoir lu les trois textes, on note des variations quant à la forme, la langue. Expliquez cette situation39.) liga-se ao registro linguístico. Os alunos são levados a estabelecer a relação entre língua / forma dos textos. A partir dos conhecimentos que possuem da língua até o período em que estão, podem-se notar as inadequações referentes ao francês padrão ensinado no curso. Nesse sentido, além do enriquecimento de língua a partir da verificação do emprego de elementos informais ao registro padrão, é permitido notar a relação intrínseca existente entre o gênero e o estilo de língua. No caso do comentário, como se nota, há uma liberdade no que tange à escolha do registro. Depois das atividades discutidas em conjunto em sala de aula com os alunos, apresentou-se um conjunto de questões a serem desenvolvidas em casa. Entraram no grupo das questões a serem resolvidas fora de sala por exigir uma maior concentração crítica do aluno e pelo fato de ele ter sido submetido ao trabalho anterior de sensibilização do texto. Além disso, a atividade busca o desenvolvimento do gênero trabalhado anteriormente em sala: o comentário. Na primeira questão proposta (Montrez les éléments présents dans les Textes II et III qui ne correpondent pas à la langue française standardisée, en indiquant les adéquations au cas d’être publié dans une situation plus formelle.40), o aluno é levado a pensar a língua, no sentido de que passa a verificar seus conhecimentos a partir da observação de elementos que 39 Após leituras dos três textos, é possível notar variações quanto à forma, língua. Explique essa situação. Apresente os elementos presentes nos Textos II e III que não correspondem ao francês padrão, indicando as adequações no caso de ser publicado numa situação formal. 40 123 podem ser considerados adequados do ponto de vista do que aprendeu a respeito da língua padrão francesa. A questão, mais do que buscar verificar o conhecimento do aluno em relação à língua, procura estar em contato com a forma como a língua se coloca no gênero comentário, que pode ser formal/informal. A segunda questão proposta (Accédez au site du Le Monde, voyez les slides du Texte I et faites un commentaire pour être publié sur le site. (200 mots)41)é uma produção de texto. O aluno é levado a uma situação de comunicação real, isto é, ele deve entrar no site do Le monde, ler o texto (materal gráfico) na sua integralidade e postar um comentário. Essa atividade, sem dúvida, vai ao encontro das propostas interacionistas, uma vez que se busca com ela a aproximação do aluno com a realidade. Embora se constitua ainda como atividade artificial, por ser configurada como atividade incentivada pelo professor, o aluno está em contato direto com a realidade a partir da noção de que o texto não será lido apenas pelo professor, mas por colegas e outros leitores falantes de FLE. A última questão (Après avoir regadé les images, dites ce que vous avez compris de l’image qui fait partie du Texte I42) leva o aluno a rever sua interpretação da imagem que aparece antes do material escrito. Essa atividade fica por último pelo fato de ser importante mostrar que os elementos extralinguísticos podem ser ressignificados após leitura dos textos. 4.1.3 Atividade IV e V a) Texto I Apêndice G Question 1: Sur le titre, on suggère qu’on montrera des personnages du jour à Copenhague. Est-il possible de préciser la date du fait? Justifiez votre réponse. Question 2: Dans quelle mesure le titre établit-il étroitement un rapport avec le texte ? Trouvez-y un extrait qui le traduit. 41 Entre no site do Le Monde, veja os slides do Texto I e faça um comentário para ser publicado no site. (200 palavras) 42 Depois de ter visto as imagens, apresente o que você compreendeu da imagem que faz parte do Texto I. 124 Question 3: Trouvez un élément qui ne présente pas dans le texte proprement dit un référent explicite. Justifiez la réponse et dites pourquoi le lecteur peut ne pas avoir de problèmes pour récupérer l’information ? Question 4: Commentez l’utilisation du nom Tck tck tck par Time for Climate Justice. A primeira questão (Sur le titre, on suggère qu’on montrera des personnages du jour à Copenhague. Est-il possible de préciser la date du fait? Justifiez votre réponse.43) da proposta sobre o texto “Les personnages du jour”, presente no Apêndice G, busca verificar se a notícia dada está contextualizada temporalmente. Como se pode observar, não há indicação de data de produção do texto. Não se trata apenas de identificação. A questão permite o estabelecimento de uma problematização, isto é, os alunos são levados a pensar as implicações da ausência do marcador temporal na construção do sentido do texto, que pode ser prejudicada caso o interlocutor precise saber em que ano especificamente ocorre o fato. A segunda questão (Dans quelle mesure le titre établit-il étroitement un rapport avec le texte ? Trouvez-y un extrait qui le traduit.44) chama atenção para a importância do título do texto para a construção da coerência textual. Não se trata apenas de uma discussão em torno do título, mas em volta de diversos elementos presentes na estrutura global que se ligam intrinsecamente ao gênero escrito. Além de o título ter como função apontar para a questão central do texto, que é apresentar um grupo que chama atenção em Copenhague a partir da representação de cenas que corroboram a noção denunciadora do evento, ele parece traduzir a noção trazida previamente pela seção “insolite”, isto é, anuncia que o texto buscará apresentar informações sobre pessoas que chamaram atenção de maneira inusitada em Copenhague. A terceira questão (Trouvez un élément qui ne présente pas dans le texte proprement dit un référent explicite. Justifiez la réponse et dites pourquoi le lecteur peut ne pas avoir de 43 No título, é sugerido que serão apresentados personagens do dia em Copenhague. É possível precisar a data do fato? 44 Em que medida o título estabelece de maneira estreita uma relação com o texto? Apresente um enunciado que o traduza. 125 problèmes pour récupérer l’information?45) se volta para a noção de coesão textual ao solicitar ao aluno que encontre um termo utilizado no texto que não apresenta um referente explícito. Trata-se do pronome pessoal “ils” (eles) que, por sua função coesiva na língua, faz referência a mais de um ser. No texto, não há referente com essa característica. Com a questão, é possível mostrar que o referente poderia estar retomando um elemento externo ao texto, exercendo papel de um dêitico, o que não é o caso, já que é possível, no contexto, recuperar o referente a partir da própria focalização dada sobre os atores da notícia. Dessa forma, é possível compreender que “ils” retoma “personnages” citado no título assim como retoma o grupo « Time for Climate Justice » a que pertencem os personagens. Como se pode observar, neste caso, também é confirmada a relevância do título para a construção do sentido. A quarta questão (Commentez l’utilisation du nom Tck tck tck par Time for Climate Justice46.) busca a reflexão sobre a relação entre a onomatopaica expressão Tck tck tck e a notícia. Entender que a expressão faz alusão metaforicamente à passagem do tempo pela indicação da marcação dos ponteiros é possível a partir de diversos elementos contextuais. b) Texto II Apêndice H Question 1: À la deuxième ligne du texte, on affirme qu’un fait s’est passé « aujourd’hui encore ». Expliquez le sens du mot « encore ». Question 2: À quoi se rapporte-t-il l’expression cette scène de crime? Question 3: On peut affirmer que le texte présente des interlocuteurs différents. Trouvez les marques qui ratifient cette idée et justifiez votre réponse. Question 4: Pourquoi la présence de la première image est tout à fait nécessaire pour qu’un lecteur comprenne le texte ? Question 5: Quel est le ton du texte (avec sérieux, humour, ironie...)? Expliquez votre réponse à partir de toutes les stratégies utilisées pour l’auteur pour l’exprimer. 45 Encontre um elemento que não apresenta dentro do texto propriamente dito um referente explícito. Justifique a resposta e diga por que o leitor pode não enfrentar problemas para recuperar a informação? 46 Comente a utilização do nome Tck tck tck pela Time for Climate Justice. 126 A primeira questão sobre o texto « Faits divers sordide à Copenhague!” (À la deuxième ligne du texte, on affirme qu’un fait s’est passé « aujourd’hui encore ». Expliquez le sens du mot « encore ».47) apresenta a importância da seleção lexical na construção da coerência textual. O advérbio “encore” (ainda) que aparece no seguinte enunciado « Aujourd’hui encore ils remportent la palme de l’action la plus originale avec cette scène de crime reconstituée à l’entrée du Hall principal du Bella Center » cria a noção de uma informação que é reiterada. Dessa forma, da leitura do texto, é possível depreender que o grupo a que ele se refere já havia agido anteriormente no mesmo evento. A segunda questão (À quoi se rapporte-t-il l’expression “cette scène de crime?”48) enfatiza a relevância da atenção para os aspectos externos ao corpo do texto propriamente dito na construção do significado. A expressão “cette scène de crime” que também aparece no trecho explicitado acima não possui referente dentro do texto, cabendo ao leitor estabelecer uma relação com as imagens presentes na notícia, uma das quais apresenta uma cena de crime. Isso mostra que nem sempre haverá necessidade de as informações aparecerem de modo explícito no texto, uma vez que sua produção leva em consideração as estratégias das quais lançarão mão os interlocutores para a compreensão. A terceira questão (On peut affirmer que le texte présente des interlocuteurs différents. Trouvez les marques qui ratifient cette idée et justifiez votre réponse.49) aponta especificamente para o fato de haver nos textos diversas vozes. Em relação ao texto, o aluno deve notar que há dois interlocutores diferentes, da mesma forma que há dois locutores diferentes. Por um lado, há o locutor da notícia que produz para um determinado públicoalvo; por outro lado, há outro locutor, o « Time for Climate Justice » que tem como possíveis interlocutores os participantes do evento em Copenhague. Para isso, é necessário que se Na segunda linha do texto, é afirmado que um fato se passou “hoje ainda”. Explique o sentido da palavra “ainda”. 48 A que se refere a expressão “esta cena de crime”? 49 Pode-se afirmar que o texto apresenta interlocutores diferentes. Encontre marcas que confirmem esta ideia e justifique a resposta. 47 127 identifique a forma como os enunciados foram construídos. No caso da segunda interlocução, percebe-se a presença de uma segunda voz no texto construída sob a forma de discurso direto. A leitura da quarta questão (Pourquoi la présence de la première image est tout à fait nécessaire pour qu’un lecteur comprenne le texte ?50) pode levar o aluno a pensar que se trata de uma redundância, já que a imagem foi questão central para a percepção do fenômeno de coesão discutido na segunda questão. No entanto, a reflexão está para além da percepção da importância da imagem para a compreensão da expressão “cette scène” que aparece no início do texto. A presença da imagem também permite que o leitor reforce a compreensão da mensagem do “Time for Climate Justice” reportada na notícia, em que se fala sobre um acordo que está sendo elaborado e que pode prejudicar as populações africanas. Além disso, a imagem reforça as características do gênero em questão, por dois motivos: por apresentar visualmente o caráter inusitado do fato impresso previamente no termo “insolite” e, principalmente, por explicitar a informação presente no título. Além de outros fatores, a presença da imagem desfaz a incoerência inicial construída no início do texto quando o locutor afirma ser o texto de caráter inusitado, mas o título antecipa uma informação de caráter sórdido. É a imagem o elemento textual que permite a construção pelo leitor do humor da notícia. A última questão (Quel est le ton du texte (avec sérieux, humour, ironie...)? Expliquez votre réponse à partir de toutes les stratégies utilisées pour l’auteur pour l’exprimer.51), como bem se observa, é antecipada pela anterior na medida em que toca no fato de no texto ter sido produzida intencionalmente uma incoerência. Essa quebra da lógica, que é interna ao texto, produz um resultado: o humor. O importante, nesta questão, é apresentar aos alunos os meios textuais empregados pelo autor para gerar esse resultado. Diversos são esses meios. Em 50 Por que a presença da primeira imagem é importante para que o leitor compreenda o texto? Qual é o tom do texto (sério, humorado, irônico...)? Explique sua resposta a partir de todas as estratégias utilizadas pelo autor para expressá-lo. 51 128 primeiro lugar, há a oposição entre o termo “insolite” (inusitado) colocado no início do texto, que antecipa o tom do texto, e o título, que anuncia uma informação cujo tom é sério. A imagem também contribui para o efeito de humor, uma vez que explicita, ao contrário do que se pode pensar com a leitura do título, a representação de uma cena de crime, que, curiosamente, não tem como vítima um ser humano, mas o continente africano. Pelas características da cena (faixa zebrada, desenho do “corpo”, policiais), há um gênero bastante específico, cena de crime, que do seu aspecto primário passa a estar a serviço do humor. Em outras palavras, há uma intergenericidade a partir da fusão de dois gêneros: a cena de crime, caracterizada na forma, e o humor, caracterizado na função. Além de todos esses aspectos, há a própria maneira como a informação é construída: a alusão à palma de ouro de Cannes – “ils remportent la palme de l’action la plus originale” (Eles levaram uma palma por ação mais original); o emprego do possessivo “nos” (nossos) corroborando com a informalidade da escolha do léxico “gout” (gosto) – “nos activistes ont le goût de la mise en scène” (nossos ativistas tem gosto por encenação); a ironia expressa pela associação da informação passada com uma informação comum nos crimes reais que ocorrem na sociedade – “Avec un peu de chance, vous aurez peut-être droit à une récompense…” (Com um pouco de sorte, você terá talvez direito a uma recompensa...). Uma prática importante dentro do ensino/aprendizagem de leitura em língua estrangeira está ligada à atividade de compreensão escrita dos próprios textos produzidos por alunos. É o tema da próxima seção: uma discussão sobre o gênero “fait divers”, realizada com os alunos acerca dos primeiros textos que produziram em sala. 129 4.2) Um feedback Após os trabalhos desenvolvidos junto aos alunos participantes deste estudo e antes da produção do último texto no semestre, um conjunto de dois textos foi apresentado à turma para que conjuntamente fossem discutidas as estratégias utilizadas pelos autores na produção de seus textos. Ambas as produções tiveram como tema o aquecimento global, explicitado no seguinte enunciado: Faites un fait divers dont le sujet est le réchauffement climatique. Vous devez partir d’un fait que vous vous rappelez de votre expérience. Le fait doit représenter des actions de l’homme qui causent des mauvaises conséquences à l’environnement.52 Para observação desses textos, foram determinados tópicos a serem discutidos: a organização das informações no texto, a tipologia, o tom e a coesão referencial. Antes da exposição dos textos, foi mostrado o que seria um modelo prototípico do gênero “fait divers”, apresentado no Apêndice I. O modelo, na verdade, foi apresentado com o objetivo de rememorar, já que os alunos haviam sido submetidos anteriormente ao gênero. O objetivo da aula era, então, verificar se as partes características do “fait divers” – título, indicações temporal e espacial, autor – estavam contempladas nos textos produzidos, além da identificação da tipologia, da estrutura no que tange à informação – principal seguida das secundárias – e ao tom adotado nos textos. As perguntas gerais feitas oralmente em sala foram as seguintes: 1) Quanto às características principais do gênero “fait divers”, é possível verificar problemas nos textos produzidos? Produza um “fait divers” cujo tema seja o aquecimento global. Você deve partir de um fato que você se lembra da sua experiência. O fato deve representar as ações do homem que causam consequências ruins para o meio ambiente. 52 130 2) O enunciado proposto apresentava como comando implícito o verbo “raconter”53. Os textos produzidos estão de acordo com a tipologia sugerida pelo verbo? 3) A partir da leitura do texto, é possível afirmar que as partes iniciais podem ser consideradas informações principais? 4) Em relação ao texto II, é possível apontar problemas ligados à coesão textual? a) Texto I Na discussão feita em sala em relação ao Texto I (Anexo K), foi verificado que: embora haja localização espacial – “Terre” –, o termo não corresponde ao gênero em discussão pelo fato de ter sido feita uma localização muito genérica. Além disso, foi notado que o título não vai ao encontro da questão principal discutida no texto, que é sobre a escassez da água. Também foi feita referência à falta de assinatura e de localização temporal do texto; o texto busca a defesa de um ponto de vista e não a narração de um fato; O primeiro período do Texto I – Les resources naturelles du planète Terre ne supporte pas la quantité de personnes qui existe dans le monde54 – não corresponde à ideia principal, já que todo o texto se foca na questão do problema do risco de desaparecimento da água no planeta. Dessa forma, chegou-se à percepção de que a ideia principal – La vie qui a commencé à partir de l’eau, elle couri le risque de diparaître à cause d‘elle55 – recai sobre o segundo período do texto. “contar” “Os recursos naturais do planeta Terra não suporta a quantidade de pessoas que existe no mundo.” 55 “A vida começou a partir da água, mas ela corre o risco de desaparecer por causa desta.” 53 54 131 b) Texto II Na discussão feita em sala em relação ao Texto II (Anexo G), foi verificado que: o texto apresenta localização espacial adequada, assim como assinatura, mas falta a localização temporal; o texto é construído predominantemente sob forma de narração, já que conta a história de um homem que morreu quando tentou salvar uma mulher que sofreu uma descarga elétrica; o texto apresenta a informação principal – Un home qui avait 38 ans est mort quand il essayait sauver une femme qui avait prendre une charge eléctrique três fort.56 – logo no primeiro período; há um problema de coesão textual a partir da utilização da expressão nominal “Cet exemple” (esse exemplo), que não se relaciona adequadamente à tipologia narração em situação real, uma vez que o termo “exemple” (exemplo) parece conferir à situação mostrada no primeiro parágrafo caráter irreal, uma espécie de parábola que daria início a uma argumentação/exposição. Dessa forma, chegou-se à ideia de que houve, na verdade, problema de escolha lexical, sendo dado que o locutor poderia ter utilizado no lugar de “exemple”, expressões como “cette situation” (essa situação) ou “ce fait” (esse fato). Dessa forma, foi possível, a partir dos próprios textos produzidos, mostrar aos alunos como se apresentaria adequadamente o gênero “fait divers”. Chamou-se, portanto, atenção para elementos como data, título, local, autor, fato, delimitação do assunto e organização das informações a partir da amostragem de textos próprios que variaram de mais inadequados a mais adequados. “Um homem que tinha 38 anos morreu quando ele tentava salvar a vida de uma mulher que tinha sofrido uma descarga elétrica muito forte.” 56 132 O próximo capítulo procederá à análise do corpus, que está composto por um conjunto de doze textos produzidos por seis colaboradores. Na análise, será estabelecida uma comparação dos textos de cada colaborador tendo como base a observação dos três conhecimentos sociocogntivos-interacionais (linguístico, enciclopédico e interacional) de que dispõem os seres para a construção do sentido. 5 ANÁLISE DO CORPUS Este trabalho de pesquisa se desenvolveu em uma classe de terceiro semestre de uma universidade pública. As atividades foram aplicadas em dez semanas, totalizando a quantidade de dez aulas e a carga horária de quatorze horas. Ao final do semestre, o número de alunos regularmente inscritos totalizou vinte e três. Neste capítulo serão analisadas as produções textuais de seis dos quatorze57 colaboradores da pesquisa, todos os alunos cursando o bacharelado em português-francês. Para que as identidades dos seis colaboradores sejam preservadas, cada um deles recebeu um nome fictício. Trata-se de Antônia (Cf. Anexo A), Laura (Cf. Anexo F), Samara (Cf. Anexo K), Tamires (Cf. Anexo L), Tereza (Cf. Anexo M) e Valentim (Cf. Anexo N). Cada um dos colaboradores produziu um texto no início do semestre letivo (P1) e outro no final do mesmo (P2), ambos no gênero “fait divers”. Ambas as produções tiveram como tema o aquecimento global, explicitado no seguinte enunciado: Faites un fait divers dont le sujet est le réchauffement climatique. Vous devez partir d’un fait que vous vous rappelez de votre expérience. Le fait doit représenter des actions de l’homme qui causent des mauvaises conséquences à l’environnement.58 Os primeiros três textos analisados, pertencentes a Laura (Cf. Anexo F), Samara (Cf. Anexo K) e Tereza (Cf. Anexo M), referem-se às produções em que pouco se notou progresso em uma das categorias gerais de análise: conhecimentos linguístico, enciclopédico e interacional. Os últimos três textos analisados, pertencentes a Antônia (Cf. Anexo A), Tamires (Cf. Anexo L) e Valentim (Cf. Anexo N), referem-se às produções em que se notou 57 Embora o número de alunos inscritos regularmente no curso tenha totalizado vinte e três, foram selecionados quatorze em função de alguns critérios, como: alta frequência e entrega de atividades. 58 Produza um “fait divers” cujo tema seja o aquecimento global. Você deve partir de um fato que você se lembra da sua experiência. O fato deve representar as ações do homem que causam consequências ruins para o meio ambiente. 134 progressão acentuada nas três categorias gerais de análise: conhecimentos linguístico, enciclopédico e interacional. A fim de verificar se a prática de compreensão escrita contribuiu para a prática de produção escrita, as duas produções escritas de cada um dos alunos serão confrontadas e analisadas a partir de três pontos: (1) conhecimento linguístico, (2) conhecimento enciclopédico e (3) conhecimento interacional. Este último ainda considerado sob dois aspectos: (a) comunicacional e (b) superestrutural. O aspecto comunicacional diz respeito a três fatores: (i) a quantidade de informação necessária numa situação comunicativa concreta para que o parceiro seja capaz de reconstruir o objetivo da produção de texto, (ii) a seleção da variante linguística adequada à situação interativa e (iii) a adequação do gênero textual à situação comunicativa. O aspecto superestrutural é também chamado de conhecimento sobre gêneros textuais, que, além de permitir a identificação de textos como exemplares adequados aos diversos eventos da vida social, envolve conhecimentos sobre a ordenação ou sequenciação textual em conexão com os objetivos pretendidos (Koch e Elias, 2007, p.45-56). Na análise a seguir, no que tange ao conhecimento linguístico, serão comparados os processos de coesão referencial e de escolha lexical, tendo como base a situação de comunicação, em que palavras selecionadas para a construção da narrativa devem estar de acordo com o tema selecionado para a produção de texto. Em relação ao conhecimento de mundo, serão comparadas as escolhas feitas em relação à informação, sobretudo aquelas vinculadas ao recorte temático. Por último, quanto ao conhecimento interacional, serão comparadas categorias de cunho comunicacional e superestrutural. Serão levados em consideração apenas dois fatores do aspecto comunicacional do conhecimento interacional, (i) e (iii). Tal fato se explica pela compreensão de que o nível de proficiência em que estavam os candidatos (Francês 3) limita a análise, uma vez que os alunos ainda não haviam sido expostos às diversas variantes da língua francesa. Ainda em relação ao aspecto 135 comunicacional será acrescido a (i) – quantidade de informação – a análise sobre os fenômenos da qualidade, relevância e clareza das informações. 5.1 Laura 5.1.1 Conhecimento linguístico O tipo de coesão estabelecido na P1(Cf. Anexo F) revela dois tipos de relação: a retomada por repetição e por substituição, com predominância da primeira. No caso da repetição, os referentes “âme” (alma), “animaux” (animais), “vie” (vida), “homme” (homem), “actions” (ações), “terre” (terra), “planète” (planeta) são retomados ao longo do texto pelas mesmas expressões nominais. No caso da substituição, há o referente “action” (ação), retomado pela expressão pronominal (à (la) plus mauvaise); o referente “âme” (alma), retomado pela expressão pronominal “qui” (que); o referente “homme” (homem), retomado pela expressão pronominal “lui” (lhe); o referente “vie” (vida), retomado pela expressão pronominal “qui” (que); o referente “animaux”, retomado pela expressão nominal “les animaux silvestres” (os animais silvestres); o referente “Rien pense exister e se developper sans vie” (Nada pode existir e desenvolver sem vida), retomado pela expressão pronominal “ça” (isso); os referentes “plante” (planta), “animal” (animal), que são antecipados pela expressão pronominal “n’importe quoi” (qualquer coisa); e o referente “nous devons, chaqu’un protèger la vie” (nós devemos cada um proteger a vida), retomado pela expressão pronominal “ça” (isso). O tipo de coesão estabelecido na P2 (Cf. Anexo F) revela dois tipos de relação: a retomada por repetição e substituição, com predominância da segunda. No caso da repetição, há o referente “butte” (amontoado) e “ordures” (lixos), que são retomados ao longo do texto 136 pelas mesmas expressões nominais. Quanto à substituição, há o referente Niterói, retomado pela expressão nominal “une ville de Rio” (Uma cidade do Rio); o referente “Il pleuvait... À torrents... Pendant quelques minutes une grande tragédie s’est abbatue du morro do Bumba59 », retomado pela expressão nominal “Cet événement” (esse acontecimento); o referente “Cet événement s’est passé à cause de la constrution irrégulier de beaucoup de maisons au debut d’un butte formé pour une énorme quantité d’ordures”60, retomado pela expressão pronominal “cela” (isso); o referente « morro do Bumba », retomado pela expresão nominal « cette region » (esta região) ; o referente « habitants » (habitantes), retomado pela expressão pronominal « ce61 » (os); e a expressão pronominal « ce » (os), retomado pela expressão pronominal « qu’62 » (que). O último enunciado é introduzido pela expressão pronominal « cela », que retoma todas as informações apresentadas anteriormente no texto. A comparação entre a P1 e a P2 revela comportamentos diferentes quanto às ecolhas feitas por Laura para a construção da coesão textual. Na P1, há predominância de retomada por repetição. Já na P2, há predominância de retomada por substituição. No que tange à escolha lexical, ambas as produções estão adequadas ao recorte temático proposto. 5.1.2 Conhecimento enciclopédico A comparação da P1 e P2 (Cf. Anexo F) produzidas por Laura mostra que não houve manutenção do tema. Na P1, fala-se que as más ações humanas sobre a vida animal causam danos ao meio ambiente. Já na P2, conta-se sobre o deslizamento ocorrido em janeiro de 2010 no morro do Bumba no Rio de Janeiro. O recorte escolhido pela aluna na P1 está de acordo “Chovia... Em torrentes... Durante alguns minutos uma grande tragédia ocorreu no morro do Bumba” “Esse acontecimento aconteceu por causa da construção irregular de muitas casas sobre um amontoado formado por uma grande quantidade de lixos” 61 O elemento deveria ter sido empregado da seguinte maneira: “ceux”, um pronome. 62 O elemento deveria ter sido empregado da seguinte maneira: “qui”, a forma do pronome relativo com função de sujeito. 59 60 137 com a proposta de produção textual feita em sala de aula, que deveria se enquadrar no tema “aquecimento global”. Na P1, há uma coerência entre a morte de animais e o aquecimento global. Na P2, o recorte escolhido pela aluna também está de acordo com a proposta de produção textual feita em sala de aula. Ao contar sobre o que aconteceu no morro do Bumba, a aluna faz alusão à forte chuva que caiu sobre o local e que desencadeou a série de soterramentos ocorridos devido à instalação irregular de casas, já que o morro era, na verdade, um entulho de lixo. Mas é preciso ressaltar que, sobre um continuum, o texto está mais próximo das más ações humanas que provocam consequências negativas ao meio ambiente do que das ações humanas que provocam consequências ligadas ao aquecimento global. 5.1.3 Conhecimento interacional a) comunicacional a.1) tratamento da informação Torna-se difícil observar as relações ligadas à informação na P1 (Cf. Anexo F), uma vez que seria necessário conhecer o gênero textual a que o texto pertence. Considerando que a P1 é um “fait divers”, a avaliação em torno das informações torna-se inviável, uma vez que a interrelação produzida entre essas informações leva à argumentação e não à narração. Diante disso, de acordo com os objetivos iniciais, é possível afirmar a ineficácia da informação, já que o texto teve como projeto fazer saber uma situação, que não foi mostrada por Laura. Não é o caso da P2 (Cf. Anexo F), cuja contribuição é tão informativa quanto requerida. Além de terem qualidade, as informações são relevantes. Entretanto, houve um problema em relação à clareza, como se observa no trecho em destaque a seguir: 138 « Plusieurs habitants de cette région a été retrouvés vivants, mais était effrayant le numéro de ce qu’ont avaient mouri.63 » No que tange ao gênero, o uso da forma verbal “était” (era) causa problema. Isso se explica pelo fato de o emprego do verbo causar uma dupla consequência: (a) é introduzido um comentário da instância enunciativa (o jornalista) ou (b) é introduzido um testemunho. No primeiro caso (a), a construção causa um afastamento temporal entre notícia e fato ou causa o entendimento de que o jornalista estava presente quando o fato ocorreu. No segundo caso (b), a construção parece introduzir a voz de uma outra pessoa, alguém que descreve os fatos no momento em que ele ocorreu. Nesse contexto, o modo como se deu o processamento produziu um afastamento da informação do gênero “fait divers”. Internamente ao texto, a construção causa uma incoerência temporal, já que as informações, com exceção das que são apresentadas no primeiro enunciado, são contadas de modo que as ações sejam localizadas num passado acabado e não em estado contínuo, o que marca a descrição dos testemunhos. a.2) adequação ao gênero textual Uma análise das produções textuais de Laura evidencia mudanças quanto à adequação genérica, mas é possível observar um pequeno desvio dos elementos aprendidos em sala de aula. Torna-se relevante mostrar como se deu a organização das informações nas duas produções. “Muitos habitantes dessa região foram encontrados vivos, mais era assustador o número dos que tinham morrido.” 63 139 P1 Il y a beaucoup d’actions qui causent de mauvaises consequences à l’environnement, mais tuer les animaux d’une manière general ressemble à plus mauvaise parce que si l’homme a une âme qui lui permettre de vivre, il y a aussi une âme pour toutes les vies qui habitent la planète, alors les animaux sont l’âme de la Terre. À chaque fois que un animal mort, la vie ressemble Rien pense exister e se developper sans vie. Pourtant, la chasse interdit les animaux silvestres, quand pratiqué par les hommes, ou un petit chat qui mort à cause de mauvaises actions humaines, desequilibrent de une forme ou d’autre la planète. C’est pour ça que nous devons, chaqu’un protèger la vie n’importe quoi... d’une plante, d’un animal... Ça pour conserver la vie humaine sur la Terre. P2 Il pleuvait... À torrents... Pendant quelques minutes une grande tragédie s’est abbatue du morro do Bumba – à Niterói ; une ville de Rio en janvier 2010. Cet événement s’est passé à cause de la constrution irrégulier de beaucoup de maisons au bebut d’un butte formé pour une énorme quantité d’ordures. Cela ressemble a quelque chose d’incroyable, c’est-à-dire des personnes, des familles en vivant sur une accumulation d’ordures. Plusieurs habitants de cette région a été retrouvés vivants, mais était effayant le numéro de ce qu’ont avaient mouri. Selon les informations des les autorité publics, après la grande pluie, il y avait une grande explosion à cause de le réchauffement à l’intérieur du butte. Cela est mauvaise l’action de l’homme qui fait la pollution de la nature en accumulant des ordures d’une façon totallement desordonée. É possível afirmar que ambos os textos estão adequados quanto à estrutura, uma vez que mostram as informações principais no início do texto, em destaque nas tabelas apresentadas acima. Entretanto, percebem-se inadequações. A P1 revela o desconhecimento do “fait divers” pelo fato de ter sido estabelecida uma discussão a partir de uma argumentação. Já a P2 se aproxima de um “fait divers” devido à escolha tipológica adequada à situação de comunicação, a narração. Entretanto, a forma como se deu o estabelecimento de relação entre as informações não é comum ao gênero solicitado. Isso se explica pelo fato de a aluna ter começado o texto à maneira dos romances ou dos contos, por meio da introdução da informação pela utilização da descrição, como se observa a seguir: 140 « Il pleuvait... À torrents... Pendant quelques minutes une grande tragédie s’est abbatue du morro do Bumba – à Niterói ; une ville de Rio en janvier 2010.64 » (P2) A descrição é garantida pela presença da forma verbal « Il pleuvait », empregada no imperfeito do indicativo. Outra consideração a ser feita é o modo como foi estruturado o enunciado: por pausas marcadas pela presença de reticências – fenômeno incomum ao “fait divers”. b) superestrutural É possível perceber uma mudança da P1 para a P2 (Cf. Anexo F) em torno do aspecto superestrutural. Na P1, não foi colocado título assim como não houve identificação do locutor nem a identificação espaço-temporal. Já na P2, além da presença do título e da identificação do locutor, a aluna apresentou o tom adotado ao longo do texto – “sérieux” (sério) – assim como o local em que o texto foi publicado – no jornal Le monde. Em relação à localização espaço-temporal, houve a identificação no corpo do texto, o que produz um problema. No trecho seguinte, « Il pleuvait... À torrents... Pendant quelques minutes une grande tragédie s’est abbatue du morro do Bumba – à Niterói ; une ville de Rio en janvier 2010.65 » (P2) nota-se que a localização da data não permite ao interlocutor saber se a produção do texto ocorreu na mesma época em que o fato ocorreu. Acrescenta-se a essa possibilidade a forma como a informação foi estruturada inicialmente, cuja tipologia – a descrição – permite aproximar a outro gênero de texto: o conto. “Chovia... Em torrentes... Durante alguns minutos uma grande tragédia ocorreu no morro do Bumba – em Niterói; uma cidade do Rio de Janeiro em janeiro de 2010.” 65 Idem. 64 141 Nesta comparação estabalecida entre os textos produzidos por Laura, percebe-se, portanto, que houve enriquecimento. Entretanto, esse enriquecimento está mais fortemente ligado à escolha tipológica adequada ao gênero solicitado em sala. No que toca o conhecimento linguístico, notou-se um enriquecimento a partir do momento em que a aluna buscou retomar os referentes presentes no texto pela técnica da substituição. No que toca o conhecimento de mundo, não houve manutenção do recorte temático proposto na P1. Embora a P2 não esteja integralmente inadequada quanto a esse recorte, houve falha na focalização da informação, comprometendo a relação do fato com o aquecimento global. Quanto ao conhecimento interacional, percebe-se um enriquecimento considerável pela escolha tipológica realizada como também pela maior aproximação ao gênero “fait divers”. 5.2 Samara 5.2.1 Conhecimento linguístico A análise dos textos de Samara (Cf. Anexo K) permite notar formas diferentes de coesão textual. Nota-se que na P1, ela faz uso da referenciação por meio da repetição e da substituição. Quanto à repetição, o referente que aponta para o local em que a informação se produziu – “Terre” (Terra) –, é retomado pela mesma expressão nominal no início do texto. Os referentes “personnes” (pessoas) e “planète” (planeta) são retomados pelas mesmas expressões nominais ao longo do texto. Quanto à substituição, os referentes “personnes”, “vie” (vida) e “changements climatiques” (mudanças climáticas) são retomados pela expressão pronominal “qui” (que); os referentes “vie” e “eau” (água) são retomados em seguida pela expressão pronominal “elle” (ela). Nota-se, no entanto, uma ambiguidade gerada. No enunciado seguinte: “elle couri le risque de diparaître à cause d‘elle” – ela corre o risco 142 de desaparecer por causa dela –, apenas é possível saber os referentes dos pronomes “ela” e “dela” pelo contexto. O primeiro retoma “eau” (água), e o segundo, “vie” (vida). Há também o referente “personnes” que é retomado pela expressão nominal “hommes” (homens). Nota-se que na P2, houve a construção da referenciação por meio da repetição, da substituição e da associação. Quanto à repetição, nota-se que os referentes “eau” (água) e “recherche” (busca) são retomados pelas mesmas expressões nominais. Quanto à substituição, nota-se que os elementos “leurs trottoirs” (suas calçadas) e “ça” (isso) retomam respectivamente o referente “personnes” (pessoas) e a ideia contida em: “la glacé du Polo du nord est fondre plus vite” – o gelo do Polo Norte está fundindo mais rapidamente. Quanto à associação, nota-se que o referente “la population mondiale” (a população mundial) é retomado pela expressão nominal “ces personnes” (essas pessoas). Nesse caso, é possível verificar um problema na construção da referenciação, já que na expressão há presença de um demonstrativo (“ces” – essas) que deveria retomar um nome empregado no plural. O único referente que a expressão poderia retomar seria “spécialistes”, o que tornaria o texto incoerente do ponto de vista semântico. Entretanto, pelo contexto, é possível perceber que “ces personnes” retoma, na verdade, o conjunto de pessoas impresso em “population mondiale” (população mundial), como se observa a seguir: « Après plusieurs années des déchets de la part de la population mondiale qui même avec les alertes constantes des spécialistes de l’environnement pour les mauvaises conséquences, ces personnes continuent à laver leurs trottoires...66 » (P2) A comparação entre a P1 e a P2 revela um equilíbrio em torno da construção referencial. Em ambas as produções, não se nota distanciamento entre a estratégia da repetição e da substituição. A diferença reside no uso da anáfora por associação, evidenciada “Depois de muitos anos de desperdícios pela população mundial que mesmo com os alertas constantes de especialistas do meio ambiente sobre consequências ruins, essas pessoas continuam a lavar suas calçadas...” 66 143 na P2. Quanto à escolha lexical, tanto a P1 quanto a P2 estão adequadas ao recorte temático proposto. 5.2.2 Conhecimento enciclopédico A análise dos textos produzidos por Samara (Cf Anexo K) revela uma questão interessante. Foi solicitada aos alunos a criação de uma situação ligada às suas experiências para serem narradas. Nesta ideia, parece estar evidenciado o fato de que as informações selecionadas para serem transmitidas deveriam, portanto, estar baseadas na realidade. Nesse sentido, foi possível perceber a não compreensão desse ponto pela aluna, uma vez que tanto na P1 como na P2 houve descompromissos com a realidade, que podem estar ligados ou não à falta de conhecimento da aluna em relação ao recorte que fez a respeito da proposta geral, o aquecimento global. No trecho seguinte retirado da P1, « ...Le réchauffement climatique est le réflet de La pénurie de l’eau dans notre planète... »67 nota-se que é dada uma informação que não procede em relação à realidade. Dentro do contexto em que se insere, não se pode afirmar que o aquecimento do globo está ligado à falta de água. O mesmo acontece em um trecho da P2, « Recherches confirment : la glacé du Polo du nord est fondre plus vite et c’est pour ça qu’il y a un grand risque de contamination de l’eau potable du planète!68 » “O aquecimento global é o reflexo da escassez da água no nosso planeta” “Pesquisas confirmam: o gelo do Polo Norte está fundindo mais rapidamente e é por isso que existe um grande risco de contaminação da água potável do planeta!” 67 68 144 em que é dada uma informação que não procede em relação à realidade. Dentro do contexto em que se insere, a afirmação que o descongelamento das geleiras polares causa contaminação da água potável é inverossímil. 5.2.3 Conhecimento interacional a) comunicacional a.1) tratamento da informação É possível notar na P1 (Cf. Anexo K) problemas ligados às informações apresentadas no que tange à quantidade, qualidade, clareza e relevância. No enunciado seguinte: « Le réchauffement climatique est le réflet de La pénurie de l’eau dans notre planète en fonction, principalement du consommation exagere de les uns au détriment de les autres. »69 é afirmado que o aquecimento é consequência da falta de água. Entretanto, essa informação é falsa, havendo, portanto, um problema de qualidade. Há também problema de clareza na informação que aparece como motivo da falta da água, pois, além de as evidências em relação ao consumo exagerado não terem sido dadas, foi acrescentada uma informação irrelevante para a comunicação no momento em que é afirmado que uns consomem mais em detrimento de outros. No que tange à P2 (Cf. Anexo K), é possível notar que o assunto tratado por Samara foi o mesmo, mas houve a permanência de problemas. No enunciado seguinte: « Recherches confirment : la glacé du Polo du nord est fondre plus vite et c’est pour ça qu’il y a un grand risque de contamination de l’eau potable du planète!70 » “O aquecimento global é o reflexo da escassez da água no nosso planeta em função, principalmente do consumo exagerado de uns em detrimento de outros.” 69 145 é possível notar problemas ligados à relevância, uma vez que a mensagem não contribui para o conjunto das informações passadas anteriormente. No mesmo enunciado, ainda se pode destacar problemas ligados à qualidade, uma vez que, segundo a informação passada, o descongelamento das geleiras do polo norte causaria contaminação de água potável, o que não procede. Por último, convém destacar o fato de que as informações não estão relacionadas ao gênero solicitado. No lugar de narrar, foi feita, de modo predominante, uma exposição. Por outro lado, é possível notar que a falta de clareza presente na P1 foi resolvida na P2 a partir do momento em que se especificaram ações humanas que geram consequências negativas para o meio ambiente, principalmente para o esgotamento da água, como se observa no trecho em destaque: « Après plusieurs années des déchets de la part de la population mondiale qui même avec les alertes constantes des spécialistes de l’environnement pour les mauvaises conséquences, ces personnes continuent à laver leurs trottoires avec tuyan d’arrosage de l’eau ou remplir piscines géantes dans le parcs d’attractions.71 » a.2) adequação ao gênero textual É importante observar a hierarquização das informações propostas por Samara na P1 e na P2. “Pesquisas confirmam: o gelo do Polo Norte está fundindo mais rapidamente e é por isso que existe um grande risco de contaminação da água potável do planeta!” 71 “Depois de muitos anos de desperdícios pela população mundial, que mesmo com os alertas constantes de especialistas do meio ambiente sobre consequências ruins, essas pessoas continuam a lavar suas calçadas com mangueira ou encher piscinas gigantes nos parques de atrações.” 70 146 P1 Les resources naturelles du planète Terre ne supporte pas la quantité de personnes qui existe dans le monde. La vie qui a commencé à partir de l’eau, elle couri le risque de diparaître à cause d‘elle. Le réchauffement climatique est le réflet de La pénurie de l’eau dans notre planète en fonction, principalement du consommation exagere de les uns au détriment de les autres. Les campagnes de conscientization n’est pas suffisante pour réveiller les personnes par les consequences catastrophes de la négligence humaine, donc le planète appelé à l’aide par constantes changements climatiques que provoque grandes tragedies dans la vie de l’hommes. P2 Après plusieurs années des déchets de la part de la population mondiale qui même avec les alertes constantes des spécialistes de l’environnement pour les mauvaises conséquences, ces personnes continuent à laver leurs trottoires avec tuyan d’arrosage de l’eau ou remplir piscines géantes dans le parcs d’attractions. Recherches confirment : la glacé du Polo du nord est fondre plus vite et c’est pour ça qu’il y a un grand risque de contamination de l’eau potable du planète ! No que tange à organização das informações no texto, nota-se mudança, já que na P1 a ideia principal aparece na segunda parte do texto. Já na P2, na primeira parte. Da observação dos textos da Samara, entretanto, é possível afirmar que as duas produções de texto estão inadequadas quanto ao gênero textual. Nos dois textos, há presença de tipologia semelhante: a exposição, uma vez que fatos e dados são apresentados para fazer constatar o problema levantado: o esgotamento da água. b) superestrutural Quanto ao aspecto superestrutural, é possível observar dois comportamentos diferentes da P1 para a P2 (Cf. Anexo K): a adequação e a inadequação ao gênero trabalhado. Quanto ao primeiro comportamento, nota-se que houve mudanças quanto à assinatura e ao local. Na P2, o locutor é identificado assim como a região é particularizada. Outro elemento importante está 147 na identificação da fonte pela aluna - www.leparisien.fr/faitdivers. Entretanto, há inadequação caracterizada pela colocação de um subtítulo na P2, elemento incomum ao “fait divers”. Nesta comparação estabalecida entre os textos produzidos por Samara, percebe-se, portanto, que houve pouco enriquecimento. Isso se explica bastante pela escolha tipológica feita – a exposição – e pelo distanciamento acentuado do gênero proposto em sala de aula. No tocante ao conhecimento de língua, as escolhas lexicais realizadas pela aluna estão adequadas nas duas produções. Na construção da referenciação, não houve exageros quanto à retomada pela repetição em nenhuma produção textual. Convém, entretanto, ressaltar o uso da retomada por associação na segunda produção que, pelo modo como foi apresentada no texto, provocou inadequação. No tocante ao conhecimento enciclopédico, embora as informações apresentadas se vinculem ao recorte temático proposto, houve problema de verossimilhança. Importa comentar que os alunos não foram impedidos de narrar acontecimentos que não tivessem acontecido na realidade. O problema na P1 e na P2 da Samara é a construção de uma ideia que não se sustenta na realidade. Quanto ao conhecimento interacional, houve problemas ligados ao tratamento da informação nas duas produções, com exceção da mudança em torno da clareza na P2. Embora tenha havido enriquecimento no aspecto adequação genérica e no aspecto superestrutural, houve uma descontextualização tipológica – pela escolha da exposição –, que contribui para a descaracterização do gênero “fait divers”. 148 5.3 Tereza 5.3.1 Conhecimento linguístico O tipo de construção de coesão realizado na P1 (Cf. Anexo M) revela dois tipos de relação: a retomada por repetição e por substituição. Quanto à repetição, os referentes “environnement” (meio ambiente) e “ordures” (lixos) são retomados duas vezes ao longo do texto. Quanto à substituição, encontram-se o referente “société” (sociedade), retomado pela expressão nominal “son déclin” (seu declínio); o referente “hommes” (homens), retomado pela expressão nominal “les personnes” (as pessoas); e também o referente “ordures” (lixo), retomado pela expressão pronominal “que” (que). O tipo de construção de coesão realizado na P2 (Cf. Anexo M) revela três tipos de relação: a retomada por repetição, por substituição e por associação, com predominância da segunda. No caso da repetição, os referentes “environnement” (meio ambiente) e “pouvoir” (poder) são retomados uma vez ao longo do texto. No caso da substituição, encontra-se o referente “planète” (planeta), retomado pela expressão nominal “environnement” (meio mabiente); o referente “Pourquoi avoir le pouvoir ?” (Por que ter o poder?), retomado pela expressão nominal “cette question” (essa questão); o referente “mesures” (medidas), retomado pela expressão pronominal “qui” (que) e “les” (os); o referente “environnement” (meio ambiente), retomado pela expressão pronominal “y” e pela expressão nominal “son rechauffement climatique” (seu aquecimento global); o referente “nous” (nós), que é retomado pela expressão nominal “les sans le pouvoir” (os sem poder). Já em relação à associação, há o referente “gouvernements” (governos), associado à expressão nominal “les chefs d’État” (chefes de Estado) e o referente “La population mondiale” (A população 149 mundial), retomado pela expressões nominais “notres gouvernements” (nossos governantes), “notre faute” (nosso erro) e pela expressão pronominal “nous” (nós). A comparação entre a P1 e a P2 revela comportamentos diferentes quanto às ecolhas feitas por Tereza para a construção da coesão textual. Na P1, há um equilíblrio entre a retomada por repetição e por substituição. Já na P2, há predominância de retomada por substituição. Outra questão se volta para a utilização estratégica da retomada por associação na P2. No que tange à escolha lexical, ambas as produções estão adequadas ao recorte temático proposto. 5.3.2 Conhecimento enciclopédico A P1 e a P2 (Cf. Anexo M) mostram conteúdos próximos. A P1 fala acerca da falta de consciência da população sobre o problema da poluição causado pelo lixo ao meio ambiente. A P2, embora se relacione com a questão do consumo exagerado de produtos e a poluição do meio ambiente, mantém o foco sobre a discussão em torno da inércia de governos, que teriam poder, frente às questões do meio ambiente. Dessa forma, pode-se afirmar que ambas as produções estão adequadas quanto ao recorte temático estabelecido, uma vez que as ideias presentes nelas interligam-se semanticamente. Um fator importante a ser ressaltado é a apresentação de uma informação na P2 bastante interligada com dois dos textos trabalhados em sala (Apêndice G e H), como se nota no trecho em destaque a seguir: « Malheureusemente si même pas les chefs d’État n’ont pas arrivé un bon résultat a Copenhague, imaginez, nous...72 » “Infelizmente, se nem mesmo os chefes de Estado chegaram a um bom resultado em Copenhague, imaginem nós...” 72 150 em que se faz referência ao fato de não haver consenso nas negociações realizadas nos encontros de Copenhague. 5.3.3 Conhecimento interacional a) comunicacional a.1) tratamento da informação Pela própria natureza textual quanto à organização das informações nos textos, já se pode evidenciar a inadequação concernente ao tratamento da informação, uma vez que elas se unem com vista à defesa de um ponto de vista e não ao fazer saber a respeito de um acontecimento. Essa inadequação também se produz pelo fato de ter havido descaracterização do gênero proposto em sala de aula. a.2) adequação ao gênero textual É importante observar a hierarquização das informações propostas na P1 e na P2. P1 Tous les hommes devraient apprendre a partir de l’enfance prendre soin de l’environnement : autrefois la vie étais plus favorables à l’environnement en questioins qui concerne à production des ordures. Heuresement, aujourd’hui les personnes veulent toutes les choses très faciles, donc jetables se devent à la mode du développement et du progrès de la société, et au même temps son déclin. A long temps la quantité des ordures que nous produsons seront un problèm pour débarrasser, si nous n’apprenons pas a preserver l’environnement avec la reduction et le reciclage des ordures. 151 P2 Pourquoi avoir le pouvoir ? La population mondiale pouvait faire cette question pour notres gouvernements et pour tous lesquels qui de quelque forme ont le pouvoir de la décision pour mesures qui conservent l’environnement et ne les y as font. Une petite action serait le retour au temps en que dans les supermachés avait sacs du papier et les boisson non alcoolisée ont été vendues en récipient retournable. Malheureusemente si même pas les chefs d’État n’ont pas arrivé un bon résultat a Copenhague, imaginez, nous. « les sans le pouvoir », et pourtant sans aucune luminosité avec notre faute de consicentisation avec l’environnement et son rechauffement climatique pouvions faire. Pour moins tenter. Nos textos produzidos por Tereza, as ideias principais são apresentadas logo no início do texto. No entanto, estão inadequadas em virtude da tipologia selecionada. Nos dois casos, há uma defesa de ponto de vista a partir de uma sustentação mediada pela presença de premissas e dados. Portanto, tanto na P1 como na P2, há presença de argumentação, como se observa nos trechos da P2 a seguir: « La population mondiale pouvait faire cette question pour notres gouvernements73 » « Une petite action serait le retour au temps en que dans les supermachés avait sacs du papier74 » « Malheureusemente si même pas les chefs d’État n’ont pas arrivé un bon résultat a Copenhague, imaginez, nous... 75 » No primeiro trecho, é expresso um ponto de vista, sustentado pela indicação de possiblidade a partir da utilização da forma verbal “pouvait” (podia). No segundo trecho, propõe-se uma solução, sustentada em um dado acontecido, o retorno ao uso de sacolas de papel. Por último, no último trecho, é feita uma avaliação, garantida pela presença da expressão “malheureusemente” – infelizmente. Como a narração se sustenta pelo “A população podia fazer essa questão aos governos” “Uma pequena ação seria o retorno ao tempo em que os supermercados tinham sacolas de papel” 75 “Infelizmente, se nem mesmo os chefes de Estado chegaram a um bom resultado em Copenhague, imaginem nós...” 73 74 152 entrelaçamento de ações determinadas no tempo e no espaço, é possível notar na P1 e na P2 uma fuga ao que foi solicitado em sala de aula. b) superestrutural Nos dois textos produzidos por Tereza (Cf. Anexo M), há problemas ligados à estrutura. Na P1, alguns elementos estão ausentes, como a identificação do tempo e do locutor. Além disso, há uma inadequação quanto à identificação espacial. No “fait divers”, existe uma relação importante entre espaço e informação, já que aquele indica o local em que se produziu um determinado fato. A inadequação evidenciada no texto é explicada pela quebra dessa relação, já que não se contou um fato. Em relação à P2, houve permanência de alguns problemas encontrados na P1, dentre os quais a ausência de assinatura e a quebra de relação espaço/informação. A mudança reside na identificação temporal. Nesta comparação estabalecida entre os textos produzidos por Tereza, percebe-se, portanto, que houve pouco enriquecimento. Isso se explica pelo não atendimento ao proposto em sala de aula no que toca à escolha da tipologia e ao gênero “fait divers”. Em relação ao conhecimento linguístico, houve uma mudança pelo fato de a aluna ter escolhido como estratégia de referenciação a substituição em detrimento da repetição, além da escolha da associação. As escolhas lexicais nas duas produções se vinculam coerentemente ao recorte temático proposto. Em relação ao conhecimento enciclopédico, tanto a P1 como a P2 estão adequadas quanto ao recorte temático, ressaltando-se na P2 uma possível intertextualidade com os textos trabalhados em sala. Por último, no conhecimento interacional, estão presentes diversos problemas. Além da fuga à tipologia e ao gênero textual propostos em sala de aula, 153 houve problemas ligados à coerência genérica pelo fato de a informação, a tipologia e a superestrutura não contribuírem para o projeto de comunicação incial requerido em sala. 5.4 Antônia 5.4.1 Conhecimento linguístico Um aspecto para o qual se pode chamar a atenção entre as produções de Antônia (Cf. Anexo A) diz respeito à adequação do léxico ao contexto. Em sua P1, a aluna, para afirmar que não se encontra aparelhos de ar-condicionado em nenhuma loja, utiliza a expressão “en ni lieu” – em nenhum lugar. Já na P2, a aluna escolhe “magazins” (lojas), em que se busca uma maior precisão do referente. Em relação à coesão textual, pode-se perceber um tipo de relação na P1: retomada por substituição. Os referentes “2011” e “air” (ar) são retomados, respectivamente, pela expressão pronominal “là-bas”76 (lá) e “ressources naturels” (recursos naturais). Em relação à P2, há dois tipos de relação: retomada por repetição e por substituição. No primeiro caso, os referentes “air” (ar), “chaleur” (calor), “Rio” e “air-conditionnés” (aparelhos de ar condicionados) são retomados ao longo do texto pelas mesmas expressões nominais. No segundo caso, há o referente “Cariocas”, retomado pelas expressões nominais “population” (população) e “gens” (pessoas). Há também dois fenômenos no texto de Antônia que são incomuns aos textos dos colaboradores: uso de dêitico e de elipse. O primeiro é garantido pela presença de “Cette” em: “Cette été est le plus chaude en 15 ans”77. O segundo está presente em: « Le magazin Casas Bahia a dit qui a une liste d’attendre et que la prévision pour l’arrivé est de cinque à six 76 77 O elemento deveria ter sido empregado da seguinte forma: “là”, um advérbio de tempo. “Este verão é o mais quente em 15 anos.” 154 mois.78 ». Nota-se que em “pour l’arrivé” há falta de complemento do verbo “arriver’ (chegar), que exige uma expressão nominal ou pronominal. Pelo contexto, é possível perceber que o locutor quis se referir aos aparelhos de ar-condicionado, referente que aparece anteriormente no texto. Uma hipótese levantada é o desconhecimento de expressões pronominais pela aluna. O uso da expressão nominal por repetição poderia ter sido uma estratégia se a autora já não tivesse produzido duas repetições anteriormente. O que pode atestar essa hipótese é um novo surgimento da elipse em: “Jusque l’arrive, l’air fraîche naturel arrivera avec l’automne”79, em que se omite novamente o complemento após a forma verbal “arrive” – chegada. A comparação entre a P1 e a P2 revela comportamentos diferentes quanto às ecolhas feitas por Antônia para a construção da coesão textual. Na P1, encontra-se apenas a retomada por substituição. Já na P2, encontra-se tanto a retomada por repetição como por substituição, sendo predominante a primeira. Esse fenômeno não produz problemas no texto, uma vez que que as palavras “air” e “chaleur” estão presentes no título e são retomados uma vez ao longo do texto. A palavra “Rio”, que também se repete, tem sua primeira introdução no início do texto, na parte em que se localiza o local de produção da informação. Já a palavra “airconditionnés” é retomada uma vez por meio da expressão “air”. Outro fato diz respeito à utilização da elipse, que pode ter sido utilizada para evitar a repetição da palavra “airconditionnés” em dois momentos do texto. No entanto, isso gerou um problema sintático, já que em língua francesa é necessário evidenciar o complemento. Por último, ocorreu o uso de dêitico, que pôde ser compreendido pela relação estabelecida entre o referente “cette été” e a data de produção em que o fato ocorreu. Quanto à adequação lexical, nota-se que em ambos os textos as escolhas lexicais realizadas se inserem no recorte temático proposto. 78 79 “A loja Casas Bahia disse que há uma lista de espera e que a previsão para a chegada é de cinco a seis meses.” “Até a chegada, o ar fresco natural chegará com o outono.” 155 5.4.2 Conhecimento enciclopédico A comparação entre as P1 e P2 (Cf. Anexo A) revela a manutenção temática na segunda produção. Na seleção temática feita por Antônia – referente à falta de aparelhos de ar-condicionado nas lojas –, as informações selecionadas estão relacionadas ao contexto de vivência da autora, isto é, ela vive na cidade do Rio de Janeiro. Além disso, estão diretamente ligadas à seleção do fato proposto para ser veiculado. Na leitura da P2, é possível perceber uma modificação relevante em relação à P1, como se observa nas seguintes passagens: « Les vendeurs disent que a prévision d’arrive est pour l’été de 2011.80 » (P1) « Le magazin Casas Bahia a dit qui a une liste d’attendre et que la prévision pour l’arrivé est de cinque à six mois.81 » (P2) Nota-se que, no lugar de “vendeurs” (vendedores), houve a particularização de uma rede de eletrodomésticos “Le magazin Casas Bahia” (A loja Casas Bahia). 5.4.3 Conhecimento interacional a) comunicacional a.1) tratamento da informação A comparação das produções de Antônia não revela profundas mudanças em torno da quantidade. De posse do conhecimento de que o “fait divers” deve ser constituído como um texto pequeno, foram selecionadas informações em função da forma. A diferença entre as duas produções recai sobre o fenômeno da relevância. 80 81 “Os vedendores dizem que a previsão para a chegada é o verão de 2011.” “A loja Casas Bahia disse que há uma lista de espera e que a previsão para a chegada é de cinco a seis meses.” 156 Houve aumento de informação na segunda produção com o seguinte enunciado “Cette été est le plus chaude en 15 ans”82. Percebe-se a relevância dessa informação dentro do texto por justificar o fato de os aparelhos de climatização estarem esgotados. A mudança referente à particularização da rede comercial é relevante para a construção do sentido, pois além de estar diretamente ligada à falta dos aparelhos, dá mais autoridade à voz de quem fala no texto. a.2) adequação ao gênero textual Ambas as produções estão adequadas ao gênero “fait divers’, embora a segunda esteja mais bem organizada quanto à ordenação das informações. Como se pode observar no trecho a seguir : La terre est chaque jour plus chaude. à le douzième jour au l’été, les thermomètres ont marqué 48ºC dans la ville de Rio de Janeiro. Le chaleur est insupportable et n’a pas d’appareils d’air-conditionnée en ni lieu.83 (P1) A informação principal, que está sublinhada, está distante do início do texto. É possível notar que o enunciado sublinhado se constitui como portador da ideia principal pela seleção de informação feita ao longo do texto. Convém observar a hierarquia das informações da P1: 82 Este verão é o mais quente em 15 anos. “A terra está cada dia mais quente. no segundo dia de verão, os termômetros marcaram 48ºC na cidade do Rio de Janeiro. O calor está insuportável e não há aparelhos de ar-condicionado em nenhum lugar.” 83 157 La terre est chaque jour plus chaude les thermomètres ont marqué 48ºC dans la ville de Rio Le chaleur est insupportable n’a pas d’appareils d’air-conditionnée en ni lieu prévision d’arrive est pour l’été de 2011 les personnes doivent aller à des lieus frais Nous ne savont pas jus’quand nous avons eu les ressouces naturels Observe-se, em comparação, tabela que mostra a hierarquia das informações da P2: Les Cariocas passent chaleur à Rio à cause de la faute des airs-conditionnés Cette été est le plus chaude en 15 ans la population est désespéré avec l’augmentation de la température Les thermomètres ont marqué 43ºC samedi dernièr. À cause de la faute des airs, les gens cherchent des lieus plus fraîches. Le magazin Casas Bahia a dit qui a une liste d’attendre et que la prévision pour l’arrivé est de cinque à six mois. Jusque l’arrive, l’air fraîche naturel arrivera avec l’automne. A segunda produção textual de Antônia traz a informação principal, o fato que gerou a notícia, logo no início do texto, sendo todas as outras informações desdobramentos dela no sentido de que são evidenciadas para explicar os motivos que têm levado cariocas a enfrentarem calor, como aparece no trecho a seguir: “Les thermomètres ont marqué 43ºC 158 samedi dernièr”84. Não é incomum cariocas enfrentarem forte calor no verão, por isso, foi justificada a veiculação de uma notícia em que se fala do calor no Rio. Outro aspecto para o qual é válido chamar atenção é a mudança em torno do título e do último enunciado dos textos. Nota-se que o tom adotado nas produções é o humor, uma das características do “fait divers”. Na P1, o título – « L’air conditionnellement naturelle. »85 - produz uma ironia que é compreendida ao longo do texto, sobretudo com o auxílio do último enunciado: “C’est à dire, a ce moment. Nous ne savont pas jus’quand nous avons eu les ressouces naturels.»86. Na P2, não se pode afirmar que o título « L’air en faute et le chaleur en excès. »87 funcione da mesma forma que o da P1, já que a palavra “condicionalement” exprime o fato de as pessoas terem sido obrigadas a se regozijarem apenas do ar natural. Além disso, faz-se um jogo de sentidos a partir do momento em que a palavra faz referência à palavra “conditionné” (condicionado) de “air-conditionné” (ar condicionado). Mas é possível, no caso da P2, notar um tom de humor a partir da leitura do último enunciado “Jusque l’arrive, l’air fraîche naturel arrivera avec l’automne.”88, que, em circularidade com o título, revela que a palavra “air” (ar) estava fazendo referência tanto ao aparelho como ao ar natural. b) superestrutural Além das questões ligadas à estruturação e ao tom do texto, notam-se mudanças profundas entre as produções de Antônia. Na P1, observa-se quase total ausência das características ligadas à superestrutura do “fait divers”. Já na P2, além do título, há presentes elementos como data, local de ocorrência do fato, assinatura. É importante destacar a “Os termômetros marcaram 43ºC no sábado passado.” “O ar condicionalmente natural.” 86 “Isto é, neste momento não sabemos até quando teremos os recursos naturais.” 87 “O ar em falta e o calor em excesso.” 88 “Até a chegada, o ar fresco natural chegará com o outono.’ 84 85 159 construção da coerência no texto, que está bastante adequada. Observa-se que o fato está intrinsecamente ligado ao verão carioca. O texto foi produzido por Antônia no final do ano de 2010. É interessante notar que o texto foi localizado temporalmente num dos períodos de verão em que as temperaturas tiveram mais altas que o normal. Nesta comparação estabalecida entre os textos produzidos por Antônia, percebe-se que houve enriquecimento na P2. No que se refere ao conhecimento linguístico, houve um equilíbrio. Na P1, a aluna não se apropriou da estratégia da repetição para a construção da referenciação. Já na P2, essa estratégia aparece com uma predominância em relação à retomada por substituição, mas não compromete o estilo do texto. Uma preocupação com o estilo é evidenciado na utilização da estratégia da retomada por elipse. Outro fator importante na P2 refere-se à utilização de dêitico cuja eficácia comunicacional foi garantida pelo gênero construído. Em relação ao conhecimento enciclopédico, não houve uma mudança acentuada. Ambos estão ligados ao recorte temático proposto. Entretanto, o acréscimo de informação na P2 permitiu uma melhora em termos de relevância e comprometimento com o projeto comuncativo. Por último, em relação ao conhecimento interacional, além da construção eficiente do texto com vistas ao projeto comunicativo, notou-se uma maior adequação na P2 em termos de estruturação das informações. Além disso, houve uma especial atenção às características do gênero proposto, uma vez que foi proposta uma circularidade entre título e fato como também se fez a adequação em termos de superestrutura. 160 5.5 Tamires 5.5.1 Conhecimento linguístico Observa-se que houve uma mudança entre a P1 e a P2 da Tamires (Cf. Anexo L), como se aponta nos seguintes trechos: « R. JANEIRO. Le 1º Mars 2010, la pluie qui est tombé sur le Rio de Janeiro, a duré vers trois heures. La région a été inondé, quand quatre enfants ont apparu dans l’inondation.89 » (P1) « Rio – Une grande tempête a fait le dernier lundi être traumatique pour tout les habitants de l’État.90 » (P2) No primeiro trecho (P1), há a identificação da região em que a informação se produziu. Em seguida, há repetição do local (trechos sublinhados). Já no segundo caso (P2), a retomada da região não se dá por meio da repetição, mas por meio da substituição nominal a partir do hiperônimo “État” (trechos sublinahdos). Na P1, é possível verificar dois tipos de relação quanto à coesão textual: retomada por repetição e por substituição, com predominância do segundo. No primeiro caso, os referentes “enfants” (crianças) e “inondation” (inundação) são retomados pelas mesmas expressões nomimais. No segundo caso, há o referente “pluie” (chuva), retomado pela expressão pronominal “qui” (que); o referente “Rio de Janeiro”, retomado pela expressão nominal “région” (região); o referente “enfants” (crianças), retomado pela expressão pronominal “leur” (seu). Na P2, notam-se dois tipos de relação: retomada por repetição e por substituição, com predominância do segundo. No primeiro caso, o referente “habitant” (habitante) é retomado “R. JANEIRO. 1º de março de 2010, a chuva que caiu sobre o Rio de Janeiro, durou aproximadamente três horas. A região foi inundada, quando quatro crianças aparareceram na inundação” 90 “Rio – Uma grande tempestade fez a última segunda ser traumática para todos os habitantes do Estado.” 89 161 uma vez no texto pela mesma expressão nominal. No segundo caso, há o referente “habitant” (habitante), retomado pela expressão nominal “personnes” (pessoas); o referente “tempête” (tempestade), retomado pela expressão nominal “pluie” (chuva); o referente “La pluie a duré vers douze heures” (A chuva durou aproximadamente duas horas), retomado pela expressão pronominal “cela” (isso); e o referente “dommages” (estragos), retomado pela expressão pronominal “qui” (que). A comparação entre a P1 e a P2 revela um equilíbrio quanto às escolhas feitas por Tamires para a construção da coesão textual. Tanto na P1 como na P2, o que predomina é a retomada por substituição. Uma diferença importante entre a P1 e a P2 reside no modo como ocorreu a retomada da estrutura localizadora da região em que a informação se produziu. 5.5.2) Conhecimento enciclopédico Quanto ao assunto selecionado por Tamires para a produção dos textos, percebe-se que existe entre a P1 e a P2 (Cf. Anexo L) uma coincidência: ambas contam sobre casos de chuvas que caíram sobre o Rio de Janeiro e que produziram, como consequência, enchentes. É importante que seja verificado um problema produzido no primeiro texto. Dificilmente, se poderia afirmar que se tratou de falta de conhecimento da aluna, uma vez que é habitante do Rio de Janeiro. O problema, no entanto, poderia gerar inadequações quanto à compreensão por parte do leitor. Trata-se do fato de a aluna não ter percebido que o local escolhido para a produção do texto foi o Estado do Rio de Janeiro. No entanto, sem que estabelecesse uma transição locativa, foi dito que quatro crianças surgiram na enchente, como se ela tivesse ocorrido em apenas um local. Da mesma forma, foi dito que a causa da inundação estava ligada ao excesso de lixo em um rio. Isso quer dizer que houve narração de uma situação que poderia ser configurada como irreal, uma vez que dificilmente um rio, que 162 não se sabe qual, seria capaz de inundar todo o estado. Na P2, houve uma melhora nesse aspecto, como mostrado a seguir: « R. JANEIRO. Le 1º Mars 2010, la pluie qui est tombé sur le Rio de Janeiro, a duré vers trois heures. La région a été inondé, quand quatre enfants ont apparu dans l’inondation.91 » (P1) « Beaucoup de personnes ont resté sans abri, quelques fils électriques ont été cassés et une bonne part des quartiers a été inondé. (...) La région nord a été le plus touché et a resté dans énergie électrique pendant deux jours.92 » (P2) Tamires produziu um texto em que as informações levaram em consideração o tamanho e a diversidade de regiões do estado, como mostram os trechos sublinhados da P2. A manutenção do assunto e a modificação em torno das informações secundárias contribuíram para que Tamires obtivesse um texto mais de acordo com a realidade fluminense. 5.5.3 Conhecimento interacional a) comunicacional a.1) tratamento da informação A comparação dos textos de Tamires revela profundas mudanças ligadas às informações no que concerne à quantidade, à relevância e à clareza. Quanto à quantidade, a P1 elimina informações importantes. Buscando, talvez, um texto pequeno, de acordo com o formato “fait divers” e de acordo com o recorte feito – crianças que ficaram felizes com a chuva – parece haver saltos entre uma informação e outra. Isso porque não há uma transição entre dois fatos: o de o Rio de Janeiro ter sido afetado por uma chuva, ficando alagado e o de crianças terem surgido na inundação. Pode-se, por exemplo, supor um leitor francês que não “R. JANEIRO. 1º de março de 2010, a chuva que caiu sobre o Rio de Janeiro, durou aproximadamente três horas. A região foi inundada, quando quatro crianças aparareceram na inundação” 92 “Muitas pessoas ficaram sem abrigo, alguns fios elétricos foram cortados e uma boa parte dos bairros foi inundada. A região norte foi a mais atingida e ficou sem energia elétrica durante dois dias” 91 163 conhecesse o estado do Rio. Dificilmente compreenderia como um único rio causou inundação na região, a não ser que a região fosse pequena e que fosse atravessada por um grande e extenso rio. Já na P2, há uma coerência na apresentação dos fatos, uma vez que todos os fatos decorrentes da chuva são apresentados de modo geral através de usos de indefinidos (beaucoup - muito, quelques- algum), como se vê no seguinte trecho: « Beaucoup de personnes ont resté sans abri, quelques fils électriques ont été cassés (...) La pluie a duré vers douze heures et cela a difficulté beaucoup la vie des habitants»93 (P2) Além disso, houve um adequado recorte do local assolado por inundações, como se observa no seguinte trecho: « une bonne part des quartiers a été inondé. La région nord a été le plus touché et a resté dans énergie électrique pendant deux jours.94 » (P2) Em relação à clareza, nota-se que uma inadequação na P1, ligada à lógica temporal, gera conflitos entre as informações, como destacados no trecho as seguir: “R. JANEIRO. Le 1º Mars 2010, la pluie qui est tombé sur le Rio de Janeiro, a duré vers trois heures. La région a été inondé, quand quatre enfants ont apparu dans l’inondation. Deux garçons et deux filles ont joué dans l’eau et ont été très heureux. Les enfants ne savaient pas que des actions mauvaises de l’homme sont responsables par l’inondation. Une de causes de l’inondation a été l’excès d’ordure dans une rivière. Les enfants ont continué leur jeu pendant une heure et demie.95 » “Muitas pessoas ficaram sem abrigo, alguns fios elétricos foram cortados (...) A chuva durou doze horas e isso dificultou muito a vida dos habitantes.” 94 “uma boa parte dos bairros foi inundada. A região norte foi a mais atingida e ficou sem energia elétrica durante dois dias.” 95 “R. JANEIRO. 1º de março de 2010, a chuva que caiu sobre o Rio de Janeiro, durou aproximadamente três horas. A região foi inundada, quando quatro crianças aparareceram na inundação. Dois meninos e duas meninas brincaram na água e ficaram contentes. As crianças não sabiam que as más ações do homem são responsáveis pela inundação. Uma das causas da inundação foi o excesso de lixo em um rio. As crianças continuaram a brincar com o jogo deles durante uma hora e meia.” 93 164 No primeiro trecho em destaque, observa-se que os verbos estão empregados de modo a exprimirem ações acabadas no passado. Entretanto, logo em seguida, afirma-se que as crianças continuaram a brincar durante uma hora e meia. O problema não seria gerado se a ação de brincar e o estado de estar feliz estivessem indicando aspecto inconcluso, isto é, se os verbos estivessem no imperfeito indicando ação em movimento, estado contínuo. Na P2, esse problema apenas se produziu na última parte do texto: “Les autorités n’avaient pas connaissances de victimes et ont déclaré qu’il y a beaucoup de dommages qui doivent être réparés.96 » (P2) Há emprego incorreto da forma verbal “avaient” (verbo avoir), que deveria estar indicando aspecto concluso e não inconcluso. Entretanto, o uso deixa subentendida a ideia de que as autoridades desconheciam a quantidade de vítimas no momento da entrevista, por exemplo. A falta de clareza que poderia gerar problemas de compreensão no leitor na P1 não ocorre na P2. a.2) adequação ao gênero textual Interessante se faz perceber o modo como as informações foram hierarquizadas na P1 e na P2 de Tamires. P1 la pluie qui est tombé sur le Rio de Janeiro, a duré vers trois heures. La région a été inondé quatre enfants ont apparu dans l’inondation Deux garçons et deux filles ont joué dans l’eau et ont été très heureux Les enfants ne savaient pas que des actions mauvaises de l’homme sont responsables par l’inondation Une de causes de l’inondation a été l’excès d’ordure dans une rivière Les enfants ont continué leur jeu pendant une heure et demie. 96 “As autoridades não tinham conhecimento de vítimas e declararam que há muitos estragos a serem reparados.” 165 P2 Une grande tempête a fait le dernier lundi être traumatique pour tout les habitants de l’État. Beaucoup de personnes ont resté sans abri, quelques fils électriques ont été cassés et une bonne part des quartiers a été inondé. La pluie a duré vers douze heures et cela a difficulté beaucoup la vie des habitants. La région nord a été le plus touché et a resté dans énergie électrique pendant deux jours. Les autorités n’avaient pas connaissances de victimes et ont déclaré qu’il y a beaucoup de dommages qui doivent être réparés. Ambas as produções estão adequadas ao gênero “fait divers”, embora a segunda esteja mais bem organizada quanto à ordenação das informações. Como se pode notar nas tabelas acima, a P1 apresenta o fato que gerou a notícia na terceira parte do texto. Além disso, diante do fato de que algo devia ser informado, a focalização parece estar inadequada, uma vez que uma informação secundária está pouco relacionada ao fato, como a que aparece em « Les enfants ne savaient pas que des actions mauvaises de l’homme sont responsables par l’inondation »97, cuja avaliação é externa ao fato. Não é o caso da P2. Além de a informação principal ter sido apresentada na primeira parte do texto, todas as informações aparecem como importantes no que concerne ao desdobramento do fato de a tempestade ter sido considerada traumática pelo locutor textual. Observa-se que apenas uma modificação deveria ter sido feita. Trata-se do deslocamento da terceira informação para a segunda posição, já que tudo o que foi dito na segunda parte – «Beaucoup de personnes ont resté sans abri, quelques fils électriques ont été cassés et une bonne part des quartiers a été inondé.»98 – é desdobramento do período em que a chuva ocorreu e da geração de dificuldades para os habitantes. “As crianças não sabiam que as más ações do homem são responsáveis pela inundação.” “Muitas pessoas ficaram sem abrigo, alguns fios elétricos foram cortados e uma boa parte dos bairros foi inundada.” 97 98 166 b) superestrutural Houve mudança da P1 para a P2 (Cf. Anexo M) em relação à superestrutura do “fait divers”. No primeiro caso (P1), há identificação do local, da data como parte inicial do texto e do título. Já na P2, além da presença do título, do local e da data, foi acrescentada a assinatura, que, diferentemente dos outros alunos, não foi indicada com o próprio nome, mas com um nome que identifica um locutor de sexo masculino e de nacionalidade francesa. Nesta comparação estabalecida entre os textos produzidos por Tamires, percebe-se, portanto, que houve enriquecimento na P2. No que refere ao conhecimento linguístico, houve um equilíbrio. Tanto na P1 como na P2, predominou a retomada por substituição. Uma diferença entre a P1 e a P2 se concentra na retomada da estrutura localizadora da região em que a informação se produziu. Fator importante do “fait divers”, uma vez que as informações extratextuais ou extralinguísticas podem ser retomadas a partir dos elementos presentes na superestrutura. Quanto à escolha lexical, as duas produções apresentaram termos adequados ao recorte temático proposto. Quanto ao conhecimento enciclopédico, houve manuntenção temática na P2. Tanto a P1 como a P2 estão ligadas ao recorte temático proposto. Entretanto, cabe destacar que na P2 houve uma seleção de informações que estava mais de acordo com o contexto em que a autora se insere. Por último, quanto ao conhecimento interacional, houve um enriquecimento acentuado na P2, uma vez que, além da adequada seleção das infomações, houve adequação genérica pela forma como se estruturaram as informações e pela forma como se contextualizou a superestrutura. 167 5.6 Valentim 5.6.1 Conhecimento linguístico Da observação dos textos produzidos por Valentim (Cf. Anexo N), há que se considerarem dois comportamentos diferentes ligados à coesão referencial, isto porque cada um está ligado a uma tipologia específica, exposição e narração, respectivamente. Na P1, nota-se uma grande quantidade de repetições e substituições. No quadro da repetição, o referente “chaleur” (calor) é retomado pela expressão nominal “ce chaleur” (esse calor). É o caso também da palavra “climat” (clima), que é retomada pela expressão nominal “ce climat” (esse clima). No quadro da substituição, há o referente “les grands centre-villes” (os grandes centros), que é retomado pela expressão nominal “ces lieux” (esses lugares). Na P2, nota-se grande quantidade de substituições e associações. No quadro da substituição, o referente “homme” (homem) é retomado pelas expressões nominais “sa maison” (sua casa), “son petit-chien” (seu cachorrinho), “ses papiers” (seus papéis); o referente “maison” (casa), retomado pela expressão nominal “la même” (a mesma); o referente ação de perder, retomado pelas expressões nominais “ce type d’événement” (esse tipo de evento), “ses choses” (suas coisas); e o referente “gens” (pessoas), retomado pela expressão nominal “ses ordures” (seus lixos). No quadro da associação, há o referente Rio, que estabelece uma rede coesiva a partir dos nomes “Maré, Ilha do Governador”; e o referente “favela”, que estabelece uma rede coesiva a partir da expressão “favelas” colocada ao final do texto. É importante que se comente que se torna difícil afirmar que houve mudanças em torno desses processos linguísticos pela relação que a referência constrói em cada uma das tipologias. Entretanto, é interessante sublinhar diferenças ligadas ao tipo de estabelecimento 168 referencial dado. Enquanto na P1 constataram-se tipos de referenciação ligados à substituição e à repetição (equilibradas), na P2, notaram-se tipos ligados à substituição e à associação, muito comum ao gênero “fait divers” pela não necessidade de repetição do local, mas de possível particularização concernente à primeira referência ao longo do texto. 5.6.2 Conhecimento enciclopédico A comparação estabelecida entre os textos produzidos por Valentim (Cf. Anexo N) permite evidenciar mudanças. Muitas, sem dúvida, ligadas ao fato de que só na P2 foi selecionada tipologia adequada à situação de comunicação “fait divers”. Nesse contexto, notam-se informações diferentes nos dois textos. Enquanto na P1 chama-se atenção para os problemas respiratórios ligados aos fatores climáticos, na P2, conta-se o fato de um homem ter perdido sua casa, seus documentos e seu cachorro após forte chuva no Rio de Janeiro. Embora ambos estejam adequados quanto ao tipo de recorte temático solicitado, houve, portanto, modificação do conteúdo. É, entretanto, interessante supor que, após perceber o tipo textual adequado à situação de comunicação solicitada, o aluno possa ter percebido a dificuldade que a transposição de conteúdo da P1 para a P2 causaria. Seria necessário, por exemplo, criar uma situação ligada a problemas de respiração em uma pessoa, que teria como causa algo que é histórico e não pontual. 169 5.6.3 Conhecimento interacional a) comunicacional a.1) tratamento da informação Torna-se difícil observar as relações ligadas à informação na P1 de Valentim (Cf. Anexo N), uma vez que seria necessário conhecer o gênero textual a que o texto pertence. Considerando que a P1 é um “fait divers”, a avaliação em torno das informações torna-se inviável, uma vez que a interrelação produzida entre essas informações leva à exposição e não à narração. Diante disso, de acordo com os objetivos iniciais, é possível afirmar a ineficácia da informação, já que o texto teve como projeto fazer saber uma situação, que não foi mostrada por Valentim. Não é o caso da P2, cuja contribuição é tão informativa quanto requerida. Além de terem qualidade, serem relevantes, as informações estão claras. Não foi necessário, por exemplo, estabelecer explicitamente relação de causa e consequência entre poluição e inundação. Essa mudança em torno das informações possibilitou uma maior adequação em relação ao tratamento da informação. a.2) adequação ao gênero textual Como se pôde constatar nas análises propostas para as produções de Valentim até este momento, houve problema relacionado à seleção tipológica para a situação comunicativa requerida na atividade em sala: o “fait divers”. Na P1, nota-se uma exposição de fatos; já na P2, a narração de uma situação. Pela própria tipologia selecionada, já se pode afirmar que há uma inadequação da P1 ao “fait divers”, o que não ocorre na P2. É importante observar a hierarquização das informações propostas na P1 e na P2. 170 P1 On sait que les grands centre-villes sont les grands producteur de la pollution de l’air, et sont ces lieux où se consentrent les plus grandes quantités de chaleur. Mais ensemble ce chaleur, le climat reste aussi sec et ce climat chaud et sec cause beaucoup de problèmes respiratoire en gens de tous les âges. Et tout est à cause de la pollution de l’envoronniment c’est pourquoi, est important qu’on comence à réfléchir sur les conditions que imposons au notre planète. P2 Après une grande pluie, un homme qui habitait la favela Maré, Ilha do Governador, a dit avoir perdu sa maison et tous ses papiers qui étaient dans la même et aussi son petitchien. Les autorités responsables par ce type d’événement ont dit que ces choses pourraient été evitées si les personnes polluaient moins, si les ramassages arrivaient bien à favelas et si les gens arrêtaient de jouer ses ordures dans les rivières et autres lieus interdits. Embora haja uma diferença tipológica, as informações principais estão alocadas em locais diferentes. Na P1, na terceira parte, e na P2, na primeira parte. As informações que se seguem à principal na P2 são importantes por mostrarem as causas maiores do problema que levou o homem a perder seus bens. Dessa forma, é possível afirmar que a P2 está adequada ao gênero “fait divers”. b) superestrutural Além de mudanças quanto ao tipo de texto, houve mudanças estruturais acentuadas. Como se pode notar, na P2, diferentemente da P1, identificam-se o local, a data e a assinatura (Cf. Anexo N). É importante ainda destacar uma mudança referente ao título. Na P1, o fato principal do texto é apresentado de modo genérico – « ce climat chaud et sec cause beaucoup 171 de problèmes respiratoire en gens de tous les âges »99. Já na P2, apresenta-se diretamente o fato, com destaque para duas perdas do homem: casa e animal. É essencial notar que a mudança corresponde à compreensão de que o “fait divers” permite pelo título chamar atenção objetiva para o que vai ser informado, buscando, muitas vezes, despertar a atenção do leitor para a leitura do texto. A seleção das perdas (casa e animal) parece ser bem contundente com essa ideia, uma vez que tanto a casa como o animal se configuram como elementos de uma possível relação sentimental de um homem que, subentende-se, vivia só. Nesta comparação estabalecida entre os textos produzidos por Valentim, percebe-se, portanto, que houve enriquecimento na P2. No que refere ao conhecimento linguístico, houve uma diferença. Na P1, houve tipos de referenciação ligados à substituição e à repetição. Já na P2, notaram-se tipos ligados à substituição e à associação, muito comum ao gênero “fait divers” pela não necessidade de repetição do local, mas de possível particularização concernente à primeira referência ao longo do texto. A análise que recai sobre a comparação das duas produções é prejudicada, uma vez que cada projeto referencial está ligado a uma tipologia específica. Quando ao conhecimento enciclopédico, constatou-se que não houve manuntenção temática. Entretanto, ambos estão ligados ao recorte temático solicitado. Por último, quanto ao conhecimento interacional, percebeu-se uma mudança, uma vez que a seleção tipológica na P2 estava de acordo com o gênero proposto em sala. Além disso, na P2, ocorreu uma adequação frente à organização das informações como também ocorreu uma adequação ligada ao aspecto superestrutural. Neste capítulo, foi proposta uma análise dos dois textos produzidos por alunos de FLE a partir de três categorias de conhecimento: linguístico, enciclopédico e interacional. A 99 “esse clima quente e seco causa muitos problemas respiratórios em pessoas de todas as idades.” 172 análise levou em consideração dois grupos de textos. No primeiro grupo (1), entraram aqueles que não apresentaram mudança expressiva quanto ao conjunto de conhecimentos. No segundo grupo (2), entraram aqueles que apresentaram um enriquecimento expressivo quanto ao conjunto, como se pode observar na tabela a seguir: Análise da comparação entre P1 e P2 Grupo 1 Grupo 2 Conhecimentos Prévios Linguístico Laura Samara Tereza Antônia Tamires Valentim + + + +* + + Enciclopédico +* +* + + + + Interacional +* + ** + ** + + + A tabela acima apresenta um resumo do resultado obtido após comparação entre as P1 e as P2. O sinal (+) marca uma progressão ou manutenção eficiente da segunda produção em relação à primeira. O sinal (+*) marca uma progressão com ressalvas. Já o sinal (+**) marca que houve pouca progressão. Quanto ao conhecimento linguístico, deve-se chamar atenção para o fato de que em todos os casos houve um enriquecimento. A consideração ao enriquecimento diz respeito à percepção da necessidade que tem um texto de manter uma progressiva topicalização sem torná-lo mecânico. Isso pelo fato de o locutor optar pelas anáforas nominais por substituição ou pelas anáforas pronominais em detrimento das anáforas nominais por repetição. Quanto a esse aspecto, nota-se que nos textos de Laura, Tereza e Valentim houve uma mudança. Nos textos de Samara e Tamires, houve um equilíbrio. Já no texto de Antônia, houve um processo inverso: utilizou-se mais a anáfora por repetição, estratégia que não afetou o estilo do texto. 173 Importa destacar, entretanto, que as P1 de Laura e de Valentim apresentam tipologia diferente das P2. Na P1, Laura produziu uma argumentação, e Valentim, uma exposição. Na P2, ambos produziram a narração. Essa variação pode comprometer a análise pelo fato de que a referenciação ocorre de modo diverso nas diferentes tipologias. Em relação às escolhas lexicais ligadas ao tema em tela, aquecimento global, foi possível constatar que nas produções de cada aluno as palavras estão no mesmo universo conceitual. Quanto ao conhecimento enciclopédico, nota-se que os textos de Laura e Samara apresentaram problemas. Na P2 de Laura, houve uma fuga parcial ao tema. Na P2 de Samara, houve apresentação de informação que não se traduz na realidade. Não foi o caso dos outros alunos, que fizeram escolhas de acordo com o proposto em sala de aula. Por último, quanto ao conhecimento interacional, constatam-se variações. No caso de Laura, ambora não tenha produzido um “fait divers” em sua totalidade, houve uma expressiva progressão. Não é o caso de Samara e Tereza que, embora tenham mostrado preocupação com a superestrutura do “fait divers”, descaracterizaram o gênero pela escolha tipológica feita: exposição e argumentação, respectivamente. Embora tenha havido algumas inadequações, a tabela mostra uma progressão nos textos produzidos. Dessa forma, é possível afirmar que a leitura com base em gêneros em FLE possibilitou aos alunos a visualização da língua em uso, empregada de acordo com as necessidades imediatas das práticas sócio-comunicativas, compreendendo as estratégias das quais lançam mão o locutor, para a sua produção, e o interlocutor, para a sua compreensão, a fim de que a finalidade comunicacional seja cumprida. 6 CONCLUSÃO Ao assumir que o texto não é apenas língua, junção de palavras, frases, o que é levado em consideração? De que elementos o texto depende para ser processado? Para compreender o texto, o leitor depende de outros conhecimentos de que dispõe, além do linguístico, como o enciclopédico e o interacional. Esses conhecimentos evidenciam que toda comunicação só é possível na medida em que é dialógica. Conhecimento não está num ser uno, ele é construído socialmente. Diante disso, para saber compreender, o leitor dependerá em grande medida das experiências que tem, do contato com outros sujeitos, e até mesmo do contato que teve com outros textos. Uma análise sociointeracional e discursiva de um texto mostra a riqueza que ele possui, pois se busca observá-lo não como uma reta com as extremidades visíveis, finitas, mas como uma reta contínua cujo processo se determina no contato dialógico e múltiplo dos parceiros de uma determinada situação de comunicação. Partindo-se dessa ideia, este trabalho buscou analisar a língua e o texto a partir das propostas sociointeracionais e discursivas. Essa análise teve como objetivo principal oferecer as bases para as escolhas que foram feitas na preparação de material para trabalho de leitura em sala. Como foi possível notar a partir da análise das ativiades propostas (cf. capítulo 4), é importante que, ao propor atividades de leitura e de produção de texto aos alunos, o professor tenha um olhar mais crítico em relação ao texto com que trabalha. Um elemento importante a ser ressaltado é o objetivo do trabalho com os textos. Fala-se muito que a sua importância reside na necessidade que os sujeitos têm de se integrarem na sociedade. Essa integração se dá naturalmente em virtude da necessidade que o sujeito tem de se comunicar, principalmente, por via da escrita. Entretanto, esse processo de socialização que visa integrar alguém capaz de fazer frente às necessidades da sociedade atual deve implicar um ensino coerente com o modo como os seres humanos aprendem. Diante disso, se não se parte de uma proposta em que o 175 sujeito é visto como ser múltiplo, serão constatadas abordagens em que o texto é produto, em que não se levam em consideração conhecimentos prévios dos leitores e em que o professor autoriza a voz do aluno. (Coracini, 2002; Kleiman, 2004) É importante, com efeito, que se tome consciência das estratégias utilizadas por leitores proficientes no decorrer da leitura. Se existe a intenção de verdadeiramente transformar o aluno, fazendo-o conhecer de perto a língua que ele quer aprender, é preciso que sejam notadas as estratégias que não o façam ver a língua como simples instrumento, mas como um expediente social que lhe possibilita entrar em um outro universo cultural. O estudante deve ser conscientizado que ele não adquire apenas um sistema, mas algo que o muda, já que o sujeito passa a dar-se conta de sua identidade, de sua cultura; já que nele acontece uma transformação que é possibilitada pelo enriquecimento da visão que ele tinha do mundo. (PCN, 1998; Serrani, 2005) Outra questão se refere ao fato de que todo enfoque deveria ter em mente a noção de que o sujeito que usa a língua o faz a partir de textos. Portanto, o ensino fundado nos gêneros é essencial. Entretanto, o texto não pode ser visto unicamente como suporte para o trabalho da gramática da língua, mas como meio para que o sujeito conheça os diferentes modos de se comunicar no que concerne à função do enunciado construído nas práticas sociais. (Coracini, 2002; Marcuschi, 2002, 2008; PCN, 1998) As atividades propostas mostram que, para que o leitor estabeleça leituras eficazes, é preciso notar que um texto não está fechado e que seu significado não se esgota quando a leitura chega à assinatura do locutor. Também é preciso reconhecer que os conhecimentos que temos do mundo são compartilhados, o que explica as variações textuais quando se caracterizam os elementos sócio-cognitivos interacionais e discursivos dos textos produzidos. Além disso, as atividade propostas mostram que é necessário priorizar a leitura como o processo anterior à produção textual, pois se busca, nessa ação, que os alunos reconheçam 176 princípios que estão na base das construções textuais a partir do reconhecimento das estratégias usadas pelo locutor para permitir a construção de significado por seu interlocutor. Na base dessa postura, encontra-se o seguinte objetivo: levar os alunos a fazer escolhas adequadas nas produções de texto. Os exercícios propostos apontam para o modo como as escolhas do professor deveriam estar mais de acordo com a forma como o ser humano aprende. A proposta aparece como um modelo de vários pontos que podem ser abordados paulatinamente e individualmente. O que não se pode perder de vista no trabalho com qualquer uma das propriedades textuais é a importância de não somente solicitar aos alunos respostas que podem ser encontradas no texto sem nenhum esforço crítico. O olhar deve sempre ser posterior ao texto. Dessa forma, é que é possível dizer que o professor passa de autorizador para mediador. Ciente de estar lidando com sujeitos constituídos de muitas vozes, o professor possibilita a seus alunos assumirem um lugar em que são caracterizados como seres de discurso. Ao reconhecer as várias possibilidades de um texto, percebe que ensina o aluno para realmente inseri-lo dentro do seu universo social. O trabalho com leitura em sala de aula que tem como base a noção de língua e de texto como elementos sociointeracionais viabiliza a construção de alunos mais proficientes em termos de autonomia, uma vez que se coloca como ser que tem voz, menos preocupado com aquilo que o professor vai pensar. Além disso, torna-os conscientes, no ato de produção, a respeito da forma como os textos são veiculados em sociedade. Importa considerar, portanto, que o trabalho do professor não está só na atualização dos processos eficientes de ensino de leitura e produção de texto em LE, mas também na compreensão de que os alunos precisam ser conscientizados dos meios que empregam para aprender. Este trabalho pôde verificar que a leitura proficiente promoveu autonomia nos alunos, uma vez que buscaram ler mais atentos à questão da postura crítica que devem ter frente ao texto. Em relação à produção de texto, 177 pelo que se notou nas produções de textos e nos questionários, notaram que escrever envolve a cooperação a partir da integração de outras vozes como também envolve a subjetividade, por meio da qual a desvinculação afetiva em relação a um determinado assunto promove empobrecimento de texto. Outro aspecto aponta para o fato da conscientização de que os textos circulam na sociedade e que, diante disso, apresentam forma/função específicas com vistas a um determinado objetivo. 7 REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS ACTU, 1. J., La prison pour les jeunes délinquants?. 1 Jour Actu, 5 jul 2002. Disponível em: http://1jour1actu.com/france/la_prison_pour_les_jeunes_dlinquants_/. Acesso em: 3 de out. 2010. ADAM, J-M.. Éléments de linguistique textuelle: thórie et pratique de l’anlyse textuelle. Liège: Mardaga, 1990. ______. Linguistique textuelle – des genres de discours aux textes. Paris: Nathan, 1999. ALMEIDA, A. M. F.. Valores e luta simbólica. 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Qual o seu nome completo? 2. Qual a sua idade? 3. Qual a sua língua materna? (Caso sua língua materna seja diferente do português, há quanto tempo fala e/ou estuda o português?) 4. Quais línguas estrangeiras você estudou e/ou estuda desde a sua infância? Há quanto tempo estuda cada uma delas? 5. Qual é a sua profissão? 6. Qual é o seu nível de escolaridade? Precise o curso e o nome da Instituição em que você estudou anteriormente. 7. Estuda ou já estudou a língua francesa fora da graduação? Onde? Durante quanto tempo? 8. Em que ano e semestre ingressou na universidade? 9. Este ingresso se deu através de: ( ) inscrição normal ( ) isenção 10. Por que razão você está estudando francês na universidade? Por que o francês e não outra língua? 11. Já interrompeu o curso alguma vez? 12. Quantos períodos já cursou na universidade? 13. Participa (ou participou) do projeto CLAC como monitor? Há quanto tempo? Durante quanto tempo? (qualquer que tenha sido a atividade) 14. É ou já foi monitor de alguma disciplina? Qual? 15. Participa (ou participou) de algum projeto de iniciação científica na sua Universidade? Qual? 16. Faz uso da língua francesa neste projeto? Em quais atividades? 17. Você faz uso da língua francesa fora da Faculdade de Letras? Onde? Em quais atividades? 18. Lê jornais ou revistas em língua portuguesa? Com que frequência? 19. Faz o mesmo em língua francesa? Precise a frequência com que o faz. 20. Faça um comentário das atividades que foram desenvolvidas em sala de aula: a) Relate as dificuldades e facilidades que você encontrou na primeira produção textual, sobre o aquecimento global. b) Relate as dificuldades e facilidades que você encontrou na última produção textual, sobre o aquecimento global. c) Faça uma comparação entre essas atividades, tentando expressar as mudanças que você sentiu de uma produção para a outra. Para isso, tente lembrar se os problemas encontrados no primeiro momento de produção textual persistiram no segundo momento ou se houve melhoras. d) As atividades de leitura, debates, resumos e produção de textos desenvolvidos durante o curso permitiram um progresso na sua leitura de textos e na produção de textos? Justifique. APÊNDICE B – Proposta Didática ATIVIDADE I Texte I Titre : Les jeunes sont de plus en plus accros à l’alcool Source: Le journal Aujourd’hui, n° 3119, 04/07/10, p. 2 1) Qu’est-ce que vou pensez de l’usage de l’alcool chez les jeunes ? 2) Quelles sont les causes : a) d’une diminution ? b) d’une augmentation ? 3) Pensez-vous que ce comportement est caractéristique de la génération actuelle ? 4) La discussion que vous proposez se rapporte à la réalité brésilienne ou il s’agit d’un phénomène général pour vous ? 5) Avant de lire l’article ci-dessus, repérez le titre, le chapeau, l’image, les différentes parties et le nom de la rubrique à l’intérieur du journal. Quelles informations nous pourrions y trouver ? 6) Où ce texte a-t-il été publié ? 7) Qui est l’auteur ? 8) A qui s’adresse ce texte ? 9) Cochez la réponse correcte. ( ) Ce texte ne se rapporte pas aux jeunes contemporains. ( ) Ce texte ne se rapporte qu’aux jeunes du passé. ( ) Ce texte pourrait se rapporter à n’importe quel type de jeunes malgré sa production récente. 10) Quel est le genre de ce texte ? 11) A partir de quels éléments on peut identifier le genre textuel ? 12) Lisez l’article en entier. Par rapport à son type textuel, cochez la bonne case. a) Il s’agit d’une quête de la vérité, puisqu’on montre des raisons du problème concerné et des preuves de l’augmentation de l’usage de l’alcool chez les jeunes. b) Il s’agit d’une description, puisqu’on caractérise les êtres. c) On raconte des faits, puisqu’on montre des actions de personnages qui s’engangent dans une histoire. 13) Lisez le titre du dossier et répondez aux questions. Les jeunes sont de plus en plus accros à l’alcool c) Identifiez l’expression qui évidencie l’augmentation de l’usage de l’alcool chez les jeunes. Après, trouvez dans le Texte I des mots dont le sens s’approche de lui. d) Trouvez dans le Texte III une expression dont le sens s’approche du mot accros. 14) Lisez le chapeau suivant : Alors que débutent les vacances d’été et les fêtes qui vont avec, des médecins tirent la sonnette d’alarme sur la banalisation des ivresses Pour nombre de jeunes, l’alcool est devenu comme une drogue douce. a) Quel mot a été suppimé? b) Retrouver deux expressions qui à partir du texte peuvent avoir des sens proches. Expliquez votre choix. c) D’après le texte, expliquez le sens de l’expression suivante : tirent la sonnette d’alarme. 15) Les mots soulingés se rapportent à quoi ? a) « plusieurs spécialistes de santé publique tirent la sonnette d’alarme devant ce phénomène » b) « En écho, le nombre d’ivresses des jeunes est en forte progression et concerne un quart d’entre eux » c) « Ce médecin dénonce de façon plus large » 16) Par rapport aux jeunes, répondez : a) Quelle est la relation établie entre les jeunes et les sujets suivants : le docteur Olivier Phan, le professeur Gérard Dubois? les associations antialcool? les alcooliers? b) Quelle est la fonction de la présence du sénateur socialiste Roland Courteau ? c) Pourquoi sont-ils présents dans le texte ? 17) D’après le dernier énoncé : La nouvelle bataille de l’alcool a bel et bien commencé. a) En quoi concerne le terme « la bataille » ? b) Pourquoi on a utilisé l’adjectif « nouvelle » ? 18) Selon le texte, pourquoi il y a-t-il des différences entre la consommation d’alcool chez les garçons et chez les filles ? D’après vous, quelles sont les raisons de cette constatation ? 19) D’après le texte, la différence entre les sexes reste très marquée en France, constrairement à l’Anlgeterre, où les filles boivent autant que les garçons. D’après votre expérience, le Brésil s’approche-t-il de quelle réalité ? 20) D’après le texte, les ivresses ont lieu aux soirées étudiantes. Quelles solutions vous proposez pour réduire la consommation de l’alcool chez les jeunes ? APÊNDICE C ANÁLISE DAS ATIVIDADES PROPOSTAS NO APÊNDICE B Pré-compreensão 1) Qu’est-ce que vou pensez de l’usage de l’alcool chez les jeunes ? 2) Quelles sont les causes : a) b) d’une diminution ? d’une augmentation ? 3) Pensez-vous que ce comportement est caractéristique de la génération actuelle ? 4) La discussion que vous proposez se rapporte à la réalité brésilienne ou il s’agit d’un phénomène général pour vous ? 5) Avant de lire l’article ci-dessus, repérez le titre, le chapeau, l’image, les différentes parties et le nom de la rubrique à l’intérieur du journal. Quelles informations nous pourrions y trouver ? 6) Où ce texte a-t-il été publié ? 7) Qui est l’auteur ? 8) A qui s’adresse ce texte ? 9) Cochez la réponse correcte. ( ) Ce texte ne se rapporte pas aux jeunes contemporains. ( ) Ce texte ne se rapporte qu’aux jeunes du passé. ( ) Ce texte pourrait se rapporter à n’importe quels types de jeunes malgré sa production récente. Compreensão 10) Lisez l’article en entier. Par rapport à son type textuel, cochez la bonne case. a) Il s’agit d’une quête de la vérité, puisqu’on montre des raisons du problème concerné et des preuves de l’augmentation de l’usage de l’alcool chez les jeunes. b) Il s’agit d’une description, puisqu’on caractérise les êtres. c) On raconte des faits, puisqu’on montre des actions de personnages qui s’engangent dans une histoire. 11) Quel est le genre de ce texte ? 12) A partir de quels éléments on peut identifier le genre textuel ? 13) Lisez le titre du dossier et répondez aux questions. Les jeunes sont de plus en plus accros à l’alcool a) Identifiez l’expression qui évidencie l’augmentation de l’usage de l’alcool chez les jeunes. Après, trouvez dans le Texte I des mots dont le sens s’approche de lui. b) Trouvez dans le Texte III une expression dont le sens s’approche du mot accros. 14) Lisez le chapeau suivant : Alors que débutent les vacances d’été et les fêtes qui vont avec, des médecins tirent la sonnette d’alarme sur la banalisation des ivresses Pour nombre de jeunes, l’alcool est devenu comme une drogue douce. a) Quel mot a été suppimé? b) Retrouver deux expressions qu’à partir du texte peuvent avoir des sens proches. Expliquez votre choix. c) D’après le texte, expliquez le signifié de l’expression suivante : tirent la sonnette d’alarme 15) Les mots soulingés se rapportent à quoi ? a) « plusieurs spécialistes de santé publique tirent la sonnette d’alarme devant ce phénomène » (ligne 7-10) b) « En écho, le nombre d’ivresses des jeunes est en forte progression et concerne un quart d’entre eux » (ligne 20-22) c) « Ce médecin dénonce de façon plus large » (ligne 34-35) 16) Par rapport aux jeunes, répondez : a) Quelle est la relation établie entre les jeunes et les sujets suivants : le docteur Olivier Phan, le professeur Gérard Dubois? les associations antialcool? les alcooliers? b) Quelle est la fonction de la présence du sénateur socialiste Roland Courteau ? c) Pourquoi sont-ils présents dans le texte ? 17) D’après le dernier énoncé : La nouvelle bataille de l’alcool a bel et bien commencé. a) En quoi concerne le terme « la bataille » ? b) Pourquoi on a utilisé l’adjectif « nouvelle » ? Pós-compreensão 18) Selon le texte, pourquoi il y a-t-il des différences entre la consommation d’alcool chez les garçons et chez les filles ? D’après vous, quelles sont les raisons de cette constatation ? 19) D’après le texte, la différence entre les sexes reste très marquée en France, contrairement à l’Anlgeterre, où les filles boivent autant que les garçons. D’après votre expérience, le Brésil s’approche-t-il de quelle réalité ? 20) D’après le texte, les ivresses ont lieu aux soirées étudiantes. Quelles solutions vous proposez pour réduire la consommation d’alcool chez les jeunes ? APÊNDICE D – Proposta Didática ATIVIDADE II Textes II et III Source: Le journal Aujourd’hui en France, n° 3119, 04/07/10, p. 2 Par rapport aux Textes II et III, répondez : 18) Sans lire les articles, repérez leurs titres, les chapeaux, les images et les différentes parties. Faites des hypothèses par rapport à leur contenu. 19) Comment les deux textes sont-ils construits ? 20) Appartiennent-t-ils au même genre textuel? Expliquez votre réponse. 21) Où ces textes ont-t-ils été publiés ? 22) Qui est l’auteur ? 23) A qui s’adressent ces textes ? 24) Lisez les textes en entier. Pourquoi on a mis des énoncés entre guillemets ? Par rapport au Texte II: 25) A partir de quelle autorité, on soutient dans ce texte l’idée de l’augmentation de l’alcool ? 26) Dites à quoi se rapportent les mots « qui » et « quoi » qui sont sur le titre. Par rapport au Texte III: 27) Quelles informations présentées peuvent être reconnues dans le Texte II? 28) Quelles idées sont presentées comme nouvelles par rapport au Texte II ? 29) Quelles sont les stratégies utilisées par Batel pour soutenir ses constatations de l’augmentation du nombre de l’alcoolisation chez les jeunes ? 30) Quand le journaliste le pose la troisième question, Batel affirme qu’il existe un mouvement organisé qui vise à valoriser le statut de l’alcool auprès de la cible jeunes. De quoi s’agit-il, ce mouvement ? 31) D’après Batel, quel est le sens de l’expression « binge-drinking » ? 32) Dites à quoi se rapportent le mot « leurs » qui se trouve sur le titre et l’expression « ce médecin » qui se trouve au début du texte. 33) Selon l’interviewé, on assiste à une stratégie organisée pour mettre en scène les marques d’alcool. De quelle stratégie s’agit-il? Donnez votre opinion à partir des idées du texte et à partir de votre connaisance sur le sujet. 34) Quelles solutions vous proposez pour réduire la consommation de l’alcool chez les jeunes ? APÊNDICE E ANÁLISE DAS ATIVIDADES PROPOSTAS NO APÊNDICE D Pré-compreensão Par rapport aux Textes II et III, répondez : 1) Sans lire les articles, repérez leurs titres, les chapeaux, les images et les différentes parties. Faites des hypothèses par rapport à leur contenu. 2) Comment les deux textes sont-ils construits ? 3) Appartiennent-t-ils au même genre textuel? Expliquez votre réponse. 4) Où ces textes ont-t-ils été publiés ? 5) Qui est l’auteur ? 6) A qui s’adressent ces textes ? Compreensão 7) Lisez les textes en entier. Pourquoi on a mis des énoncés entre guillemets ? Par rapport au Texte II: 8) A partir de quelle autorité, on soutient dans ce texte l’idée de l’augmentation de l’alcool ? 9) Dites à quoi se rapportent les mots « qui » et « quoi » qui sont sur le titre. Par rapport au Texte III: 10) Quelles informations présentées peuvent être reconnues dans le Texte II? 11) Quelles idées sont presentées comme nouvelles par rapport au Texte II ? 12) Quelles sont les stratégies utilisées par Batel pour soutenir ses constatations de l’augmentation du nombre de l’alcoolisation chez les jeunes ? 13) Quand le journaliste le pose la troisième question, Batel affirme qu’il existe un mouvement organisé qui vise à valoriser le statut de l’alcool auprès de la cible jeunes. De quoi s’agit-il, ce mouvement ? 14) D’après Batel, quel est le sens de l’expression « binge-drinking » ? 15) Dites à quoi se rapportent le mot « leurs » qui se trouve sur le titre et l’expression « ce médecin » qui se trouve au début du texte. Pós-compreensão 16) Selon l’interviewé, on assiste à une stratégie organisée pour mettre en scène les marques d’alcool. De quelle stratégie s’agit-il? Donnez votre opinion à partir des idées du texte et à partir de votre connaisance sur le sujet. 17) Quelles solutions vous proposez pour réduire la consommation de l’alcool chez les jeunes ? APÊNDICE F – Proposta Didática Atividade III Texte I Samedi 30 octobre 2010 Aux Etats-Unis, l’écologie mise à l’affiche On le dit suffisamment : les Etats-Unis ne sont pas réputés pour leurs actions en faveur de l’environnement. Alors, comment encourager les Américains à devenir plus ecofriendly ? La campagne de communication Green Patriot Posters, lancée par The Canary Project, a tenté de remplir cet objectif d’une manière attrayante et humoristique, en organisant un concours d’affiches autour de la construction d’une économie durable. L’originalité : elles sont pour beaucoup réalisées à la mode des années 1940, à base de slogans forts et de graphismes évocateurs. Le concours reprend ainsi le principe des posters édités aux Etats-Unis pendant la Seconde Guerre mondiale, qui avaient permis d’inciter les citoyens à soutenir l’effort de guerre en valorisant les soldats et les actions patriotiques. Le projet Green Patriot, lui, a mobilisé de nombreux artistes, souvent inspirés et créatifs. Les meilleures œuvres, élues par les internautes, ont été publiées dans un livre, paru le 11 octobre et imprimé sur papier recyclé et avec des encres végétales. Voici quelques-uns de ces posters. Qu’en pensez-vous ? De telles affiches vous donnent-elles envie d’agir en faveur de l’environnement ? http://ecologie.blog.lemonde.fr/2010/10/30/aux-etats-unis-lecologie-mise-a-laffiche/ 6) Lisez la phrase suivante et répondez aux questions : On le dit suffisamment : les Etats-Unis ne sont pas réputés pour leurs actions en faveur de l’environnement. c) A qui se rapporte le pronom « on » ? d) Est-il possible d’affirmer que l’opinion de l’auteur du texte s’approche-t-elle de celle qui est dans la phrase ? Donnez votre avis d’après votre lecture du texte. 7) D’après votre lecture, quelle est l’information centrale dans le texte ? Où se trouvet-elle ? Exprimez votre réponse en indiquant les éléments textuels qui vous permettent de la montrer. 8) Outre la campagne, à partir de quelles informations on peut affirmer que The Canary Project est pronfodément en faveur de l’environnement ? 9) Le nom de la campange est cité deux fois dans le texte. Pourquoi on n’a pas souligné le nom dans sa reprise au deuxième paragraphe ? 10) Au dernier paragraphe, on dit Voici quelques-uns de ces posters. Qu’en pensezvous? Expliquez l’usage des mots soulignés. Les textes suivants (II et III) sont de commentaires faits par des internautes du journal Le Monde qui ont lu le texte Aux Etats-Unis, l’écologie mise à l’affiche. Lisez-les et après répondez aux questions. Texte II Pas ecolos les americains? Vous me faites marrer. Cela fait 40 ans que nous avons de l’essence sans plomb, 30 ans que nous recyclons la plupart des ordures menageres (bien plus qu’en France(, il se vends 3 fois plus de voiture hybrides aux US qu’en Europe, et les US ont multiplie leur puissance generatrice eolienne par 4 en 5 ans alors qu’elle se multipliait par 2 en Europe. Les US sont bien plus ecologistes que les Europeens veulent le croire. La seule chose c’est comme on est pas trop extreme gauche par ici, les partis ecolos ne font pas suffrage. Rédigé par : Stephane | le Samedi 30 octobre 2010 à 18:13 | Alerter Texte III En premier lieu les affiches sont magnifiques, j’aime tout particulièrement leur ressemblance avec les affiches de guerre: l’écologie est un combat, and “we need YOU” to win the fight. @Stephane: Je suis d’accord sur le fait qu’il y a un grand investissement de la part des Américains pour mettre en place des mesures écolo. Le problème que j’ai constaté ici, c’est que ces mesures sont plus axées sur la correction des problèmes a posteriori plutôt que la prévention. Exemple, il y a des poubelles de recyclage partout, mais en même temps, une consommation énorme de sacs en plastique (presque toutes les épiceries/supermarchés en donnent encore), de tasses et contenants divers en polystyrène, pour emporter les boissons et repas. De même, j’ai remarqué que les lumières restent sans cesse allumées (je vis sur un campus, et dans la plupart des bâtiments, on ne PEUT PAS les éteindre, il n’y a juste pas d’interrupteur pour les passants; les lumières restent allumées toute la journée). J’apprécie donc beaucoup cette initative des affiches Je trouve que le gros du travail à faire ici, n’est plus tellement dans les investissements (le tri est organisé par le villes etc), mais vraiment en faisant un effort de conscience citoyenne. Rédigé par : AuxUS | le Samedi 30 octobre 2010 à 22:51 | Alerter 1) De quel pays réagissent les internautes ? Justifiez votre réponse. 2) Quelle information est discutée par Stephane ? Il est pour ou contre ? Répondez en indiquant deux expressions du texte. 3) Listez les actions montrées par Stephane pour qu’il puisse défendre son point de vue. 4) Qu’est-ce que vous pensez de l’affirmation suivante : La seule chose c’est comme on est pas trop extreme gauche par ici, les partis ecolos ne font pas suffrage ? Cette réalité est présente au Brésil ? 5) Selon AuxUS, aux Etats-Unis les mesures sont plus axées sur la correction des problèmes a posteriori plutôt que la prévention. De quelle manière on peut classer les actions citées par Stephane ? Sont-elles des corrections ou des préventions ? 6) Quel sentiment pourrait être mis en évidence par l’expression PEUT PAS ? 7) Après avoir lu les trois textes, on note des variations quant à la forme, la langue. Expliquez cette situation. A la maison : 4) Montrez les éléments présents dans les Textes II et III qui ne correpondent pas à la langue française standardisée, en indiquant les adéquations au cas d’être publiés dans une situation plus formelle. 5) Accédez au site du journal Le Monde, voyez les slides du Texte I et faites un commentaire pour être publié sur le site. (200 mots) 6) Après avoir regardé les images, dites ce que vous avez compris de l’image qui fait partie du Texte I. APÊNDICE G – Proposta Didática ATIVIDADE IV Insolite Les personnages du jour "Time for Climate Justice"[/tagtip]« ] Tic Tac Tic Tac… Chaque minute qui passe nous rapproche du point de non retour. C’est le cheval de bataille de « Time for Climate Justice » plus connu sur la toile sous le nom de « Tck tck tck ». A Copenhague ils sont parmi les activistes les plus en vus ! Une "pyjama party" pour appeler les dirigeants à se réveiller Damien Wanner http://climat.arte.tv/copenhague/les-personnages-du-jour Question 1: Sur le titre, on suggère qu’on montrera des personnages du jour à Copenhague. Est-il possible de préciser la date du fait? Justifiez votre réponse. Question 2: Dans quelle mesure le titre établisse-t-il étroitement un rapport avec le texte ? Trouvez-y un extrait qui le traduit ? Question 3: Trouvez un élément qui ne présente pas dans le texte proprement dit un référent explicite. Justifiez la réponse et dites pourquoi le lecteur peut ne pas avoir de problèmes pour récupérer l’information ? Question 4: Commentez l’utilisation du nom Tck tck tck par Time for Climate Justice. APÊNDICE H – Proposta Didática ATIVIDADE V Insolite Fait divers sordide à Copenhague ! L'Afrique aurait été assassinée dans la nuit... Des témoins? Le crime ne paie pas : la police scientifique est déjà sur une piste... Les militants de « Time for climate Justice » ne manquent pas d’idée. Aujourd’hui encore ils remportent la palme de l’action la plus originale avec cette scène de crime reconstituée à l’entrée du Hall principal du Bella Center. Réalisation soignée, costumes recherchés : pas de doute nos activistes ont le goût de la mise en scène. Voici leur appel à témoin : « Un accord injuste serait en train d’être élaboré. Il constitue une menace pour les populations plus vulnérables, particulièrement en Afrique. Si vous avez été témoin d’événements qui ont attiré votre attention à ce sujet et si vous avez la preuve qu’un quelquonque crime contre le climat, veuillez vous adresser à nos détectives le plus vite possible ». Avec un peu de chance, vous aurez peut-être droit à une récompense… Lundi 14/12/2009, 10h. Damien Wanner http://climat.arte.tv/copenhague/fait-divers-sordide-a-copenhague. Question 1: À la deuxième ligne du texte, on affirme qu’un fait s’est passé « aujourd’hui encore ». Expliquez le sens du mot « encore ». Question 2: À quoi se rapporte-t-il l’expression cette scène de crime? Question 3: On peut affirmer que le texte présente des interlocuteurs différents. Trouvez les marques qui ratifient cette idée et justifiez votre réponse. Question 4: Pourquoi la présence de la première image est tout à fait nécessaire pour qu’un lecteur comprenne le texte ? Question 5: Quel est le ton du texte (avec sérieux, humour, ironie...)? Expliquez votre réponse à partir de toutes les stratégies utilisées pour l’auteur pour l’exprimer. APÊNDICE I – Modelo Pototípico do gênero “fait divers” ________________________________________________________ Titre Date sérieux Lieu - Le fait principal + les idées secondaires humour Auteur ________________________________________________________ APÊNDICE J– Proposta Didática Lisez le texte et répondez aux questions en français Ces apéros géants qui gênent les pouvoirs publics LEMONDE.FR | 13.05.10 | 06h19 • Mis à jour le 13.05.10 | 17h04 Un lieu, une heure et un groupe. Mercredi 12 mai, ils étaient 9 000 à Nantes (voir fenêtre), 10 000 à Montpellier pour un apéro géant organisé via Facebook. Si ces fêtards utilisent les réseaux sociaux, le phénomène n'est pas nouveau. "L'apéro géant donne un mot à une pratique qui existe dans toute l'Europe depuis les années 1990, considère Véronique Nahoum-Grappe, anthropologue. Occuper l'espace public permet de quitter le monde intransitif de l'écran. Et l'apéro est sujet à un rassemblement fédérateur au-delà des classes d'âge et des classes sociales." Cependant, le possible anonymat des organisateurs que rend possible le Web gêne les pouvoirs publics. "Malheureusement, l'appel à la fête est souvent confondu avec l'appel au 'binge drinking', l'alcoolisation rapide et massive, déclare Etienne Apaire, président de la Mission interministérielle de lutte contre la drogue et la toxicomanie (MILDT). Vouloir être dans un mouvement collectif ne suppose pas terminer ivre mort. L'apéro au sens de piquenique géant est une tradition française que nous ne souhaitons pas empêcher si la manifestation est déclarée en préfecture. Ce qui est interdit, c'est l'ivresse sur la voie publique." Elle est réprimée par le code de la santé publique. "L'ALCOOL, PSYCHOTROPE LICITE" Et de ce point de vue, les Français n'ont guère besoin de se retrouver sur la Toile pour que les soirées dégénèrent. Chaque année en moyenne, 70 000 procédures d'ivresse publique et manifeste sont engagées dans les rues de France. Ces "apéros géants" ne font que rassembler des groupes, habitués à boire le week-end. Dans son livre Vertige de l'ivresse, Véronique Nahoum-Grappe s'interroge sur ce lien entre alcool et fête. "L'alcool, psychotrope licite des société occidentales, permet de modifier les distances entre soi-même et autrui", selon elle. Trois facteurs expliquent ces fêtes en extérieur : le prix des consommations dans les bars, élevé, la loi antitabac, "qui pousse à poursuivre des conversations dehors", et les changements de configuration des centres-villes, où "les quartiers piétons (...) permettent désormais de se rassembler le soir". La Mildt souhaite miser sur la prévention. La Mairie de Paris, elle, a décidé d'utiliser à son tour Internet au profit d'une campagne de prévention sur le thème "Trop boire, c'est le cauchemar". Des vidéos diffusées sur le Web ont été primées la semaine dernière. Etienne Apaire adhère au principe de cette campagne de prévention, mais n'est "pas sûr que le côté 'hard' et 'gore' des vidéos dissuade les jeunes de boire". http://www.lemonde.fr/societe/article/2010/05/13/ces-aperos-geants-qui-genent-les-pouvoirs-publics_1350543_3224.html 1) Pour que le lecteur puisse construire de sens, l’interlocuteur doit se concentrer sur un sujet spécifique. Il s’agit de la définition de l’objet. L’interlocuteur peut aussi se concentrer sur d’autres objets qui ont un rapport étroit avec l’objet principal. La focalisation concerne le développement de l’objet et sa constante reprise, qui peut être directe ou indirecte (quand les mots sont dans un même univers conceptuel). De cette manière, répondez : a) À partir de quel objet principal le texte est dévéloppé ? b) Cet objet est impliqué dans quel fait ? c) Citez un autre objet qui, dans le texte, est configuré comme le premier espace de rendez-vous de ceux qui sont impliqués dans le fait. 2) Dites à quoi se rapportent les mots soulignés et expliquez la réponse. a) « Ces apéros geánts qui gênent les pouvoirs publics » (Titre) b) « le phénomène n'est pas nouveau » (ligne 3) c) « Des vidéos diffusées sur le Web ont été primées la semaine dernière » (ligne 29) 3) Expliquez l’utilisation du mot « cependant » au début du deuxième paragraphe en explicitant les deux avis que ce mot met en rapport. 4) Les apéros géants ne sont pas bien vus en ce qui concerne son nouveux caractère. D’après Etienne Apaire, quelle condition est nécessaire pour changer cette vision ? 5) Expliquez l’utilisation des guillemets présentées dans l’énoncé suivant: « Ces "apéros géants" ne font que rassembler des groupes, habitués à boire le week-end » (ligne 19) 6) « La Mairie de Paris, elle, a décidé d'utiliser à son tour Internet au profit d'une campagne de prévention sur le thème "Trop boire, c'est le cauchemar". » (ligne 28) a) Expliquez la notion symbolique présente dans le choix de l’internet comme média pour mettre en évidence la campagne. b) Quelles expéctatives l’interlocuteur de ce texte pourra avoir avant d’assiter aux vidéos ? APÊNDICE K– Proposta didática Les jeunes sont de plus en plus accros à l’alcool « Boire des coups, c’est cool » LILLE (NORD) DES NOS ENVOYÉS SPÉCIAUX A Lille, on l’appelle la rue de la soif. C’est le surnom de la rue Massena, en raison de ses nombreux bars. Attablés devant quelques bières, des jeunes adultes parlent de leur relation à l’alcool. Les pintes coulent à flots. Antoine, 25 ans, indique que « faire la fête sans boire de l’alcool, c’est impossible. Boire des coups, c’est cool, tous les jeunes vous 5le diront. L’alcool, c’est une valeur montante ! Ça permet d’être mieux avec ses amis, de se lâcher. Après, il faut savoir s’arrêter avant d’être saoul. » Son amie, Maeleen, 26 ans, ajoute que « boire des bières désinhibe, permet de parler plus facilement aux gens ». Les plus jeunes revendiquent une culture de l’ivresse. Un peu plus loin, dans un autre bar, Ariane, âgée de 17 ans, raconte qu’ « entre ados, on 10boit pour se tester, pour prouver quelque chose aux autres, qu’on est capable de le faire. Celui ou celle qui n’est pas capable d’être ivre est un naze. » Mais ivresse rime parfois avec tristesse... Lorsqu’on les interroge sur leurs pires 15souvenirs de « biture », les anecdotes pleuvent, parfois glauques. « Un matin, j’étais tellement bourré que je me suis réveillé à côté d’une fille avec qui j’avais passé la nuit, mais sans être capable de me souvenir de son nom », indique, un peu gêné, l’un d’entre eux. Tous s’accordent pour dire que c’est dans les soirées étudiantes que l’on boit le plus. Vodka, rhum ou limoncello. « Dans les soirées open bar, on ne paye que euro l’entrée et on peut boire toute la nuit gratuitement. Tout est fait pour nous tenter », explique une jeune fille. Deux étudiantes ont l’impression que la génération de leurs petits frères boit encore plus qu’elles à leurs âges. « A 16 ou 17 ans, ils sont souvent ivres et ne connaissent pas de limites. Parfois ils me font un peu peur quand ils repartent dans cet état sur leur scooter », indique Lucie. Dans la rue de la soif, ce soir-là, une multuelle étudiante, la Smeno, organise une opération de prévention des risques de l’ivresse alcoolique et distribue des éthylotests aux consommateurs. « On ne tient pas de discours moraliste mais on leur donne cet ange gardien, afin qu’ils ne risquent pas de mettre leur vie ou celle des autres en danger en conduisant », argumente Marie Portal, responsable prévention de cette mutuelle. Trois jeunes employés de la Smeno, Elise, Nadine et Aboutaleb, mèment régulièrement ces opérations de prévention de santé. « Les jeunes boivent de plus en plus, et beaucoup plus tôt, estime-t-ils. Il nous arrive d’être confrontés à des comas éthyliques dès l’âge de 15 ans. On voit parfois de jeunes consommer au lycée ou en pleine rue. Les filles consomment presque autant que les garçons, du vin, de la bière, du whisky et du rhum. » Selon le directeur régional de cette mutelle, Jean-Philippe Bas, « les pouvoirs publics doivent encore faire des efforts pour protéger la santé publique des jeunes. A un moment, on avait senti une volonté forte de lutter contre les dangers de l’ nouveaux marquer le coup. » ivresse. Mais il faudrait à MARC PAYET 1) Ce texte peut être caractérisé comme un article de journal qui présente un fait. Présentez au minimum deux éléments qui caractérisent ce genre quant à la structure générale et quant au contenu. 2) Les mots soulingés se rapportent à quoi ? a) « on l’appelle la rue de la soif » (ligne 1) b) « Lorsqu’on les interroge sur leurs pires souvenirs de « biture », les anecdotes pleuvent, parfois glauques. » (ligne 10) c) « afin qu’ils ne risquent pas de mettre leur vie ou celle des autres en danger en conduisant » (ligne 22) 3) Répondez : a) Quelle est la relation établie entre les jeunes et les sujets suivants : Les plus jeunes : Les trois jeunes employés de la Smeno : b) Quelle est la fonction de la présence du directeur régional de la mutuelle Smeno? c) Pourquoi sont-ils présents dans le texte ? 4) D’après le dernier énoncé du texte: « les pouvoirs publics doivent encore faire des efforts pour protéger la santé publique des jeunes. A un moment, on avait senti une volonté forte de lutter contre les dangers de l’ivresse. Mais il faudrait à nouveaux marquer le coup. » a) Pourquoi on a utilisé ces expressions soulingées ? b) Lors de la production d’un texte, le locuteur doit choisir des informations en accord à son interlocuteur. Du coté de l’interlocuteur, il faut qu’il utilise quelques stratégies pour construire des sens. A qui ce texte a été écrit? Pourquoi le locuteur du texte n’a pas précisé des informations dans cet extrait ? 5) Lisez l’encadré du premier texte travaillé en classe et un extrait du texte « Boire des coups, c’est cool ». Comparez les visions. a) L’encadré Clés 13,2 ans. Cest l’âge moyen de la première consommation d’alcool chez les garçons, contre 13,6 ans chez les filles. Un cinquième des jeunes de 13-24 ans disent n’avoir jamais bu d’alcool de leur vie. 30 verres. C’est la quantité moyenne de verres d’alcool consommée par mois par les garçons de 13-20 ans. Les filles ne consomment que 9 verres par mois. La différence entre les sexes reste très marquée en France, contrairement à l’Angleterre, où les filles boivent autant que les garçons. (Source : Institut de recherches scientifiques sur les boissons.) Surtout le week-end. 75% de la consommation d’alcool des jeunes a lieu en dehors du domicile familial, en particulier chez les amis, en soirée. Dans 90% des cas, les ivresses ont lieu en fin de semaine. Selon la Prévention routière, l’alcool est ça première cause de mortalité chez les jeunes conducteurs de 1524 ans. b) L’extrait « Les jeunes boivent de plus en plus, et beaucoup plus tôt, estime-t-ils. Il nous arrive d’être confrontés à des comas éthyliques dès l’âge de 15 ans. On voit parfois de jeunes consommer au lycée ou en pleine rue. Les filles consomment presque autant que les garçons, du vin, de la bière, du whisky et du rhum. » APÊNDICE L - Proposta didática La prison pour les jeunes délinquants? 5 juillet 2002 | par La rédac Justice En 10 ans, la délinquance des mineurs aurait beaucoup augmenté. Un groupe de sénateurs vient de publier un rapport pour tenter d'expliquer et de résoudre ce problème. Un rapport publié il y a quelques jours par les élus du Sénat, indique que ces dernières années il y a plus de délinquants, ils seraient de plus en plus violents et de plus en plus jeunes. Il existe des moyens pour combattre la délinquance des mineurs, mais ils sont souvent mal appliqués. Ainsi, la loi ne permet pas d’emprisonner les délinquants de moins de 16 ans avant qu’ils soient jugés. Lorsqu’ils sont arrêtés, ils sont placés sous contrôle judiciaire. Le problème, souligne le rapport, c’est que trop de temps s’écoule entre le moment où ils sont arrêtés et le moment où ils sont jugés. Certains ont eu le temps d’oublier la gravité de leur faute et parfois ont commis d’autres délits. D’autre part, la loi interdit d’enfermer les moins de 13 ans, ils sont placés par la Protection judiciaire de la jeunesse dans des centres ouverts ou dans des foyers. Mais certains estiment qu’ils ne sont pas suffisamment éduqués. Aussi le rapport suggère la création de centres fermés qui auraient pour mission de rééduquer les jeunes et ainsi de supprimer les quartiers pour mineurs dans des prisons pour adultes. Hier, le ministre de la justice a aussi évoqué hier la possibilité d’enfermer les délinquants de moins de 16 dans des centres éducatifs fermés, n’accueillant que 6 à 10 jeunes, en attendant leur jugement. S’ils sont condamnés, ils pourraient alors être incarcérés dans des prisons pour mineurs. http://1jour1actu.com/france/la_prison_pour_les_jeunes_dlinquants_/ 1) Aujourd’hui on discutera un peu sur la question de la prison de jeunes délinquants. Vous êtes pour ou contre ? 2) D’après le titre, le châpeau du texte, essayez d’exposer les explications qui seront données par les sénateurs via-à-vis du problème présenté. 3) Quel est-il l’objectif de ce texte ? 4) Est-il possible d’affirmer que le locuteur pose son opinion ? Pourquoi ? 5) D’après le texte, existe-t-il un motif pour le réglement de la loi ? 6) Quelle est la condition pour l’emprisonnement des jeunes de moins de 16 ans ? Quelle idée est présupposée dans cette condition ? 7) Les ordinateurs permettent de faire et refaire un texte, car il y a la possibilité d’inclure et effacer des textes. L’introduction de cette technologie dans la composition des journaux a commencé à produire un type spécial de faute à cause, probablement, du fait que l’auteur oublie de supprimer des portions de versions antérieures, après faire des changements. Dans le texte, il y a deux expressions avec des sens semblables. Une expression devrait être effacée. Identifiez-la. 8) Pensez-vous que ces actions prises en France pourraient être adoptées au Brésil ? Justifiez votre réponse. 9) Observez les noms de la Justice. Est-ce qu’il y a des synonymes? contrôle délinquance loi ils sont arrêtés judiciaire Protection faute délits enfermer judiciaire ministre de la ils sont centres fermés jugement justice condamnés ils sont jugés Centres ouverts être incarcérés APÊNDICE M – Proposta didática Pour ou contre la prison pour les jeunes délinquants ? Pierre Méhaignerie, ministre de la Justice de 1993 à 1995 « De plus en plus des majeurs poussent des jeunes mineurs à des actes de délinquance graves qui vont de la violence vis-à-vis d’autrui à la vente de drogue. Dans ma ville de Vitré (Ille-etVilaine), des voitures sont régulièrement cassées. Cela se termine par un bras d’honneur aux forces de police : « on n’a pas 18 ans, vous ne pouvez rien contre nous. » La population a le sentiment d’un État impuissant. Cette situation ne peut plus durer. Mais la prison n’est pas la solution pour les mineurs délinquants. Elle doit être le dernier des derniers recours, une sorte d’epée de Damoclès. À condition que ces mineurs ne soient pas mis avec des adultes. Autrement, c’est l’assurance de les voir devenir plus violents. Ils doivent, cependant, pouvoir être déplacés pour éviter qu’ils deviennent des caïds dans leur quartier. Pour ces jeunes sans repères, il faut des structures, de type un peu militaire, qui leur apprennent le travail et la discipline, comme les maisons famililales rurales qui accueillent quatre jeunes, pas plus, encadrés par des pédagogues, ou les internats. Tout dépend des modalités d’éducation retenues. Ça pourrait aussi bien être l’armée. La Protection judiciaire de la jeunesse ne peut remplir seule ces missions, qui impliquent une sévérité absolue. (D’après Le Point, nº 1558, Denis Demonpion, juillet 2002 apud DOLLEZ e PONS, 2009) 1) A partir de quel contexte ce texte a été produit? 2) Quels exemples sont présentés dans le texte pour possibiliter la mise en évidence du problème discuté? 3) Pierre Méhaignerie est pour ou contre la prison pour les jeunes délinquants? Expliquez. 4) D’après l’énoncé suivant : « Autrement, c’est l’assurance de les voir devenir plus violents. Ils doivent, cependant, pouvoir être déplacés pour éviter qu’ils deviennent des caïds dans leur quartier. », on constate que Pierre construit un raisonnement. Expliquez cette affirmation en essayant de présenter deux élements qui permettent la construction de cette stratégie. 5) Analyser les solutions proposées par Pierre. Etês-vous d’accord avec les solutions? Expliquez votre réponse et donnez deux autres solutions pour résoudre le problème. Exercice pour la maison Après lire le texte « Pour ou contre la prison pour les jeunes délinquants ? », produisez un texte, un courriel du lecteur. Vous devez vous exprimer en réagissant aux idées de l’auteur ou en faisant un commentaire. Rappelez-vous que vous devez présenter le texte comme il est présenté dans des presses écrites. ANEXO A - Antônia Vitória P1 L’air conditionnellement naturelle. La terre est chaque jour plus chaude. à le douzième jour au l’été, les thermomètres ont marqué 48ºC dans la ville de Rio de Janeiro. Le chaleur est insupportable et n’a pas d’appareils d’air-conditionnée en ni lieu. Les vendeurs disent que a prévision d’arrive est pour l’été de 2011. Jusqu’a là-bas, les personnes doivent aller à des lieus frais, comme la plage et des jardins publiques. C’est à dire, a ce moment. Nous ne savont pas jus’quand nous avons eu les ressouces naturels. P2 L’air en faute et le chaleur en excès. Lundi, le 1er février 2010. Rio – Les Cariocas passent chaleur à Rio à cause de la faute airs-conditionnés dans les magazins. Cette été est le plus chaude en 15 ans et la population est désespéré avec l’augmentation ou la température de plus en plus. Les thermètres ont marqué 43ºC samedi dernièr. À cause de la faute des airs, les gens cherchent des lieus plus fraîches comme les fôrets et la plage. Le magazin Casas Bahia a dit qui a une liste d’attendre et que la prévision pour l’arrivé est de cinque à six mois. Jusque l’arrive, l’air fraîche naturel arrivera avec l’automne. Antônia Vitória ANEXO B - Carmen P1 La pleue du mois de mars D’après commencer le mois de mars dans cette année, le Rio de Janeiro est passé par une situation terrible causé par la pluie, qui nn’a duré plus d’un jour, mais a été consequences catastrophiques. Cette situation a été possible à cause de la necessité d’une meilleure condition urbaine et aussi par la mauvaise structure de notre ville. La consequence est beaucoup de persnes délogée par une catastrophe naturelle. P2 A respect de la pluie d’avril À cause de les pleues annormales dans le mois d’avril à Rio, le gouvernement a annoncé que sa preocupation principale sera, dans le premier moment, aider les que ont perdu les parents dans la inundation. Ils ont annoncé aussi que cettes pleues sont une consequence de la atitude dépourvaie de l’home avec la nature , et que nous avons de préter plus attention a ce probleme mondiale. Carmen ANEXO C - Fabíola P1 Un grande problème Le réchauffement climatique est un grande problème du monde. Pauline dejà soufri parr cause de cette problème. Un jour, quand elle était venu pour à la faculté pleuvait beaucoup et le circulation était mauvaise. Elle a commencé à passer mal et l’´hôpital était plus loin du percours. Elle avait autre problème, les rues étaient tout « alagadas » et n’avait pas comme passer. Plus tard, Pauline, a meliore un peu et après de trois heures das du autobus, la circulation commence à rester meilleur. P2 Un jour très compliqué Rio – 12 février 2010 – Cette jour j’allais pour la faculté il pleut beaucoup à la du Rio de Janeiro. Moi, je besoin aller parce que j’avais un exame pour faire. À la télevision montrait les accidents de la nuit dernier mais j’ai prir les bus et je suis allée pour la fac. Je ne suis pas arrivée, toutes les rues étaient inondé la circulation ralentissements, ma mère m’a telephoné préoccupée avec moi. Toutes les personnes arrivaient plus tard au travail une madame a commencé passer mal mais depuis d’un le temps, elle a mehoré. Deux heures après, je suis descendu du autobus, j’ai traversé la rue, et je suis retournée pour l maison. À la maison j’ai vu au site de la université que le cours a été annulé. Fabíola ANEXO D - Felipa P1 Les enfants et l’environnement La marré de Rio de Janeiro à éte plante les arbres dans la rue, mais la population non preserve la nature. Les petits-énfants montent à les arbres et les faissent mauvaises, et les responsables non leur enseigné à les preserver. La plantation et la preservation des arbres sont très importante par l’environnement, elles purifient l’air et donnent l’oxigenio par l’humanité. Un petit-gente peux salver la planète ! P2 La recuperation de les arbres Depuis de septembre de 2009, les habitants d’une petite ville situé a l’interieur de Rio de Janeiro, ont realisés une projecte pour recuperer l’envirnnonrement où ils habitent. Les habitants plus anciens racontent qui la petite ville qui s’apelle Campos, était une belle flôret d’arbres de loi et qui l’eau était abondance et le clima était fresque, mais le progresse et la plantation du café a fait que les arbres sont tombés pour les habitants et aujourd’hui l’eau est peu et le clima est plus chaude. Les habitants ont été une idée de recuperer les plantes et ils ont formées une cooperative agricole où les habitants anciens et les habitants plus jeunes travaillent pour la preservation de les arbres. Consequentement l’environnorement où ils habitent iront tenir une progressif recuperation que sera bonne pour tout les gens qui habitent là et pour le planète Terre. Felipa ANEXO E - Laís P1 Le rechauffement climatique est un grand problème pour tous. Parce que il a beaucoup de problème qui vient avec lui. Le grand coupable est l’homme parce qu’il fait la poluicion et tache les arbres. Je me rappelle que un jour je marchait dans la rue et ma respiracion a été mauvaise, beacuoup de voiture dans la rue et beaucoup de fumé aussi ! Pendant l’hiver il fait chaud. C’est incroible Nous allon à la plage pendant l’hiver et quand la nuit arrive il pleuve et fait beacuoup de destruicion parce que la quantité de l’eau n’est pas normal. Le temps est fou ! P2 La mer a avancé aûr la plage / 2010 Rio de Janeiro – Aujourd’hui beaucoup de personne à Rio de Janeiro a laissé d’aller a la plage. Cette matin a plu beaucoup et il a eu plusiers accidents dans la ville mais les habitants ont parlé que ils ne vu jamais la mer si révolte. Le maire a parlé a la television que tout le monde appelle le pompier si besoin d’aide. Les habitants de la maison avant la plage ont peur de la mer avancer plus. Nous avons besoin de faire attention a le réchauffement climatique. Laís Support : site lemonde.fr Gens : sérieux ANEXO F - Laura P1 Il y a beaucoup d’actions qui causent de mauvaises consequences à l’environnement, mais tuer les animaux d’une manière general ressemble à plus mauvaise parce que si l’homme a une âme qui lui permettre de vivre, il y a aussi une âme pour toutes les vies qui habitent la planète, alors les animaux sont l’âme de la Terre. À chaque fois que un animal mort, la vie ressemble Ø. Rien pense exister e se developper sans vie. Pourtant, la chasse interdit les animaux silvestres, quand pratiqué par les hommes, ou un petit chat qui mort à cause de mauvaises actions humaines, desequilibrent de une forme ou d’autre la planète. C’est pour ça que nous devons, chaqu’un protèger la vie n’importe quoi... d’une plante, d’un animal... Ça pour conserver la vie humaine sur la Terre. P2 Tragédie sur les ordures Il pleuvait... À torrents... Pendant quelques minutes une grande tragédie s’est abbatue du morro do Bumba – à Niterói ; une ville de Rio en janvier 2010. Cet événement s’est passé à cause de la constrution irrégulier de beaucoup de maisons au bebut d’un butte formé pour une énorme quantité d’ordures. Cela ressemble a quelque chose d’incroyable, c’est-à-dire des personnes, des familles en vivant sur une accumulation d’ordures. Plusieurs habitants de cette région a été retrouvés vivants, mais était effayant le numéro de ce qu’ont avaient mouri. Selon les informations des les autorité publics, après la grande pluie, il y avait une grande explosion à cause de le réchauffement à l’intérieur du butte. Cela est mauvaise l’action de l’homme qui fait la pollution de la nature en accumulant des ordures d’une façon totallement desordonée. Sérieux Publier dans le monde Laura ANEXO G - Manoela P1 L’action de l’homme préjudique lui même Rio – Un home qui avait 38 ans est mort quand il essayait sauver une femme qui avait prendre une charge eléctrique três fort. La femme a pris un pateau pour s’équilibrer. Pleuvait beaucoup, le sol a été perdu dans l’eau et les personne ne réssuient pas marcher. Toutes les voitures ont perdues et personne pouvaient aider les deux dans ce moment. Cette exemple montre que des actions de l’homme causent beaucoup des problems. Cette region est beaucoup prejudiqué par le grand pollution. Beaucoup de papier est jeté dans le sol et, pour ça, les “boeiros” se fréquentement. Tout les jours, tonnes d’ordures sont ramassé et la majorité n’est pas dans la popubelle. P2 La grande tempête Rio, le 15 janvier 2010. Ipanema : Lundi dernier, une tempête plus fort a causé un embouteillage dans la principaux rue du quartier. Les voitures ont été couvertes par l’eau, et les conducteurs ont été obligés a sortir des ses véhicules. Une femme a été emprisionnée dans sa voiture pendant trois heures. La grand pollution dans la région est la cause de ce grand problème. La mairie va proposer une camapange contre la pollution pour mobiliser la population qui habite à Rio. Manoela ANEXO H - Natalina P1 Paris, le monde chaîne À cause de réchauffement climatique, le monde est changé jour après jour. La télé, le journal, nous informe sur les effets qui causent dans quelques pays, qui déjà ont passé par le même problème quelqu’ns jour après. Forêts intiers ont brulées, navure qui expulse d’oeil dans la mer, des villes inondées, comme l’ultime semaine as le Moyen-Orient qu’il a fait cathastrofique. L’homme devait réflechir sur cettes problèmes, dit l’emission de la télé, tous les jours. Paris – le 20 août 2010. Natalina P2 Le réchauffement climatique. Le problème en continu. 30 novembre 2010. Paris – La neige interdit les routes. Chaque fois plus l’homme est le principal cause d’environnement. À cause de la negligence de l’homme qui insiste en ne prendre pas les providences necessaires pour sauver la planète, est que le monde intier est victime de le réchauffement climatique. À Paris les autorités sont en alert, parce que la neige interdit les routes. À Rio et à São Paulo des pluies très fort causent des dommages à la population. Toute le monde est victime des coséquences à l’emvironement à causée par l’homme. L’homme est victime de ses propres males. Natalina ANEXO I - Rafaela P1 Tout le monde sait que n’est pas normale on avoir du soleil du hiver à l’été comme s’il n’y avait pas des autres saisons. On a eu beaucoup de catastrophes, les animaux meurent sans quoi manger, pour perdre ses « habitat » natural et principalemment pour les changements de ses conditions de vie. Diférent des outres animaux, l’homme c’est lequel que plus « sofre » à cause du changement climatique. Cet anée, en avril, on a eu la plus horrible plu. Le Rio de Janeiro a été fondou à l’eau, plusieurs de gens a perdu ses maison, les rues ont été destruit et qui n’a été pas victime de la plu, a été victime de ses conséquences. Il faut que le gouvernement faisse les gens savoir, n’importe comme, que detruir la nature c’est mal pour ils même et que s’ils ne veulent pas « sofrer » plus par les catastrophes, qu’ils la « preservem ». Rafaela P2 La pluie attaque de nouveaux Rio, le 25 septembre 2009 Comme toujours, la pluie est passée et ses conséquences viennent une après d’autre. C’est sont déjà incomptables les dérangements causés par le grand volume de pluie somé aux modifications faites par les hommes à la nature. Cette fois là, après la grande pluie qui on a eu le dimanche dernière, une triste nouvelle a été annoncée par les pompiers ; une petite fille qui s’appelle Camille a été trouvée morte à la rive d’un fleuve par une dame qui passait pour le local. Les pompiers disent que la petite peut aurait se noyée quand le fleuve a débordé après les longues 5 heures de pluie. Rafaela ANEXO J - Roberta P1 Paris – Un homme de 40 ans a été arrêté et conduit au poste de police. L’homme jetait beaucoup de choses à la mer quand les passantes ont appelé un agent de police. Les personnes savaient les mauvaises conséquences qui arriveraient à l’environnement, Le réchauffement climatique lance la mer devant et la mer avec les ordures que l’homme a jetés sera pire. L’homme a paié, seulement, une amende de 5 euros. P2 Un homme sale 01/12/2010 Paris – Hier matin, un homme de 35 ans a jeté à l’eau ses ordures. Il a été prisionneié à cinq heures et demir mais il a été détaché une heure après, parce qu’il a payé une amende de 350 euros. Trois personnes ont vu quand l’homme a lancé ses ordures. Le fleuve où il a pollué est três connu à Paris. Il a jeté de plastique et de verre. Je suis une des témoins et je veux le faire un proces, parce qu’il a pollué la ville. Roberta ANEXO K - Samara P1 Le 15 septembre - Production de texte – “fait divers” La planète appelé à l’aide Terre – Les resources naturelles du planète Terre ne supporte pas la quantité de personnes qui existe dans le monde. La vie qui a commencé à partir de l’eau, elle couri le risque de diparaître à cause d‘elle. Le réchauffement climatique est le réflee de La pénurie de l’eau dans notre planète en fonction, principalement du consommation exagere de lês uns au détriment de les autres. Les campagnes de conscientization n’est pás suffisante pour réveiller lês personnes par les consequences catastrophes de la négligence humaine, donc le planète appelé à l’aide par constantes changements climatiques que provoque grandes tragedies dans la vie de l’hommes. P2 RJ, Le 1 décembre 2010. « L’eau, la monaie du futur » Recherche sur le réchauffement climatique donne l’alerte Après plusieurs années des déchets de la part de la population mondiale qui même avec les alertes constantes des spécialistes de l’environnement pour les mauvaises conséquences, ces personnes continuent à laver leurs trottoires avec tuyan d’arrosage de l’eau ou remplir piscines géantes dans le parcs d’attractions. Recherches confirment : la glacé du Polo du nord est fondre plus vite et c’est pour ça qu’il y a un grand risque de contamination de l’eau potable du planète ! Reportage : Samara www.leparisien.fr/faitdivers ANEXO L - Tamires P1 Les enfants qui a été heureux avec la pluie R. JANEIRO. Le 1º Mars 2010, la pluie qui est tombé sur le Rio de Janeiro, a duré vers trois heures. La région a été inondé, quand quatre enfants ont apparu dans l’inondation. Deux garçons et deux filles ont joué dans l’eau et ont été très heureux. Les enfants ne savaient pas que des actions mauvaises de l’homme sont responsables par l’inondation. Une de causes de l’inondation a été l’excès d’ordure dans une rivière. Les enfants ont continué leur jeu pendant une heure et demie. P2 Un lundi traumatique Rio, le 01 decembre 2010 Rio – Une grande tempête a fait le dernier lundi être traumatique pour tout les habitants de l’État. Beaucoup de personnes ont resté sans abri, quelques fils électriques ont été cassés et une bonne part des quartiers a été inondé. La pluie a duré vers douze heures et cela a difficulté beaucoup la vie des habitants. La région nord a été le plus toche et a resté dans énergie électrique pendant deux jours. Les autorités n’avaient pas connaissances de victimes et ont déclaré qu’il y a beaucoup de dommages qui doivent être réparés. Jean Leloup ANEXO M - Tereza P1 Les mauvaises conséquences à l’environnement Rio de Janeiro – Tous les hommes devraient apprendre a partir de l’enfance prendre soin de l’environnement : autrefois la vie étais plus favorables à l’environnement en questioins qui concerne à production des ordures. Heuresement, aujourd’hui les personnes veulent toutes les choses très faciles, donc jetables se devent à la mode du développement et du progrès de la société, et au même temps son déclin. A long temps la quantité des ordures que nous produsons seront un problèm pour débarrasser, si nous n’apprenons pas a preserver l’environnement ave la reduction et le reciclage des ordures. P2 Le 1er décembre 2010 Quels seront les actions pour sauver le planète ? Rio de Janeiro – Pourquoi avoir le pouvoir ? La populatin mondiale pouvait faire cette question pour notres gouvernements et pour tous lesquels qui de quelque forme ont le pouvoir de la décision pour mesures qui conservent l’environnement et ne les y as font. Une petite action serait le retour au temps en que dans les supermachés avait sacs du papier et les boisson non alcoolisée ont été vendues en récipient retournable. Malheureusemente si même pas les chefs d’État n’ont pas arrivé un bon résultat a Copenhague, imaginez, nous. « les sans le pouvoir », et pourtant sans aucune luminosité avec notre faute de de consicentisation avec l’environnement et son rechauffement climatique pouvions faire. Pour moins tenter. Tereza ANEXO N - Valentim P1 L’influence du réchoffement climatique dans notre quotidien On sait que les grands centre-villes sont les grands producteur de la pollution de l’air, et sont ces lieux où se consentrent les plus grandes quantités de chaleur. Mais ensemble ce chaleur, le climat reste aussi sec, et ce climat chaud et sec cause beaucoup de problèmes respiratoire en gens de tous les âges. Et tout est à cause de la pollution de l’envoronniment, c’est pourquoi, est important qu’on comence à réfléchir sur les conditions que imposons au notre planète. P2 La maison et le chien d’un homme ont été chargés par le pluie. 01/12/10 Rio – Après une grande pluie, un homme qui habitait la favela Maré, Ilha do Governador, a dit avoir perdu sa maison et tous ses papiers qui étaient dans la même et aussi son petit-chien. Les autorités responsables par ce type d’événement ont dit que ces choses pourraient été evitées si les personnes polluaient moins, si les ramassages arrivaient bien à favelas et si les gens arrêtaient de jouer ses ordures dans les rivières et autres lieus interdits.