Fungos no trato respiratório de equinos
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Fungos no trato respiratório de equinos
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA FACULDADE DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS PAULA BITTENCOURT VAGO FUNGOS DO TRATO RESPIRATÓRIO DE EQUINOS: DESTAQUE PARA O ISOLAMENTO DE ESPÉCIES DE CANDIDA NÃO-ALBICANS FORTALEZA 2012 1 PAULA BITTENCOURT VAGO FUNGOS DO TRATO RESPIRATÓRIO DE EQUINOS: UM DESTAQUE PARA O ISOLAMENTO DE ESPÉCIES DE CANDIDA NÃO-ALBICANS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Ciências Veterinárias. Área de Concentração: Reprodução e Sanidade Animal. Linha de Pesquisa: Reprodução e sanidade de carnívoros, herbívoros, onívoros e aves. Orientador: Prof. Dr. Marcos Fábio Gadelha Rocha Co-Orientadora: Profa. Dra. Rossana de Aguiar Cordeiro FORTALEZA 2012 2 PAULA BITTENCOURT VAGO FUNGOS DO TRATO RESPIRATÓRIO DE EQUINOS: UM DESTAQUE PARA O ISOLAMENTO DE ESPÉCIES DE CANDIDA NÃO-ALBICANS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Ciências Veterinárias. Aprovada em: 03/07/2012. BANCA EXAMINADORA: __________________________________________________ Prof. Dr. Marcos Fábio Gadelha Rocha Universidade Estadual do Ceará Orientador __________________________________________________ Profa. Dra. Rossana de Aguiar Cordeiro Universidade Federal do Ceará Examinadora __________________________________________________ Prof. Dr. José Mário Girão Abreu Universidade Estadual do Ceará Examinador __________________________________________________ Dra. Débora Castelo Branco de Souza Collares Maia Universidade Federal do Ceará Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES/PNPD Examinadora 3 À minha mãe, Ruth, por sempre ter sido a minha melhor amiga, maior companheira e incentivadora, e por estar presente em todos os momentos da minha vida. 4 “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” (Chico Xavier) 5 AGRADECIMENTOS Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, da Faculdade de Veterinária, da Universidade Estadual do Ceará. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro. Ao Centro Especializado em Micologia Médica (CEMM), da Universidade Federal do Ceará. Ao professor Marcos Fábio Gadelha Rocha pela orientação, dedicação, ensinamentos, apoio e cobranças, visando sempre o aprimoramento dos seus orientados. À professora Rossana de Aguiar Cordeiro, pela orientação, ensinamentos, paciência, disponibilidade, pelas palavras de incentivo e confiança. À Professora Raimunda Sâmia Nogueira Brilhante, pelos ensinamentos. Ao Professor José Júlio Costa Sidrim, pelos alicerces do Centro Especializado em Micologia Médica. Ao Professor André Jalles Monteiro, pela sua capacidade estatística. A todos os colegas do CEMM que dividiram comigo as alegrias, sofrimentos e a busca pelo conhecimento nessa incrível jornada da pós-graduação. Um agradecimento especial a Kylvia Rocha de Castro e Silva, Lucas Pereira de Alencar, Francisca Jakelyne de Farias Marques e Débora Castelo Branco de Souza Collares Maia. À Sabrina Tainah da Cruz Silva e ao Carlos Eduardo Cordeiro Teixeira pelo apoio incondicional tanto no desenvolvimento do projeto como nas viagens de coleta e, além de tudo, pela amizade sincera. À Terezinha de Jesus Santos Rodrigues, ao Daniel Teixeira Lima e à Monalisa Cunha, por todo o suporte proporcionado para a realização de nossas pesquisas. À Adriana Sales Albuquerque, secretária do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, da Universidade Estadual do Ceará, pela atenção e disponibilidade. À minha mãe, Ruth Ribeiro Bittencourt, pelo amor incondicional, companheirismo, paciência e por ser o meu exemplo de vida! Ao Artur Fonseca, pelo amor, pela cumplicidade, paciência e por estar ao meu lado em todos os momentos. Aos meus tios, Ester Bittencourt e Marcos Licurgo, meus segundos pais, e Janaína Bittencourt, minha prima-irmã, por estarem, mesmo a distância, compartilhando seu amor, carinho e apoio. 6 Aos meus queridos amigos Goethe Carvalho, Lúcia Fernandes, Alaíde Poti, Ana Carolina Soares pelo apoio emocional. Aos meus amigos de quatro patas: meu gato Saddan (in memorian), minha gata Jujuba, meus cavalos Prinz Royal e Mahamed, por me mostrarem sentimento puro e leal, e por sempre me lembrar da escolha da minha profissão. 7 RESUMO Há muitos trabalhos abordando sobre patógenos bacterianos e virais que acometem o trato respiratório de equinos. No tocante aos fungos, entretanto, os estudos são limitados. Dessa forma, o objetivo inicial desta pesquisa foi identificar Candida spp. isoladas da cavidade nasal de equinos e determinar a sensibilidade in vitro destas leveduras ante a anfotericina B, fluconazol e itraconazol. Ademais, foi realizada uma investigação sorológica para histoplasmose e coccidioidomicose. Para a obtenção de Candida spp. foram coletadas amostras da cavidade nasal rostral e caudal de 97 equinos, escolhidos aleatoriamente, no Estado do Ceará, Nordeste do Brasil, por meio do uso de swabs de algodão, os quais eram acondicionados em solução salina acrescida de cloranfenicol. As leveduras obtidas foram identificadas por métodos manuais, como características macro e micromorfológicas, cultura em meio cromogênico CHROMagar-Candida e perfil bioquímico, e, excepcionalmente, pelo método automatizado VITEK 2. Dessa forma, foram recuperados 56 isolados de Candida spp., provenientes de 35 equinos (36,08%), sendo 18 (32,14%) C. famata, 14 (25%) C. parapsilosis, 12 (21,42%) C. guilliermondii, 11 (19,64%) C. tropicalis e 1 (1,78%) C. pelliculosa. As concentrações inibitórias mínimas (CIMs) foram determinadas de acordo com o documento M27-A3, como descrito pelo CLSI. As CIMs variaram de 0,03125 a 1 µg/mL para anfotericina B; de 0,03125 a >16 µg/mL e 0,125 a >64 µg/mL para itraconazol e fluconazol, respectivamente, sendo observadas resistências para fluconazol e itraconazol em isolados de C. tropicalis (n=3) e C. guilliermondii (n=1). Por fim, o teste sorológico foi realizado em 177 cavalos saudáveis dos municípios de Fortaleza, Eusébio, Caucaia, Jaguaribe, Sobral e Santa Quitéria, no Estado Estado do Ceará, mediante a técnica de imunodifusão dupla com kit comercial para Coccidioides spp. e Histoplasma capsulatum. Todas as amostras apresentaram, no entanto, resultado negativo para histoplasmose e coccidioidomicose. Em suma, os dados demonstram um predomínio de Candida não-albicans na microbiota da cavidade nasal de equinos, inclusive com isolados resistentes a antifúngicos e que os equinos, investigados mediante a técnica de imunodifusão dupla, não são bons animais sentinela para histoplasmose e coccidioidomicose nesta região geográfica. Palavras-chave: Equinos, Candida spp., antifúngicos, imunodifusão, histoplasmose, coccidioidomicose. 8 ABSTRACT There are several studies focusing on bacterial and viral pathogens which attack the respiratory tract of horses. However, regarding fungi, the studies are limited. Thus, the initial goal of this research was to identify Candida spp. isolated from the nasal cavity of equines and to determine the in vitro susceptibility of these yeasts against amphotericin B, fluconazole and itraconazole. In addition, a serological investigation for histoplasmosis and coccidioidomycosis was held. In order to obtain Candida spp., samples from the caudal and rostral nasal cavity of 97 equines were collected through use of cotton swabs, which were put up in saline solution plus chloramphenicol. These animals were randomly chosen, in the State of Ceará, Northeastern Brazil, Yeast obtained was identified by manual methods (such as macro and micro morphological features, chromogenic culture media CHROMagar Candida, biochemical profile) and exceptionally through VITEK 2 automated system. Hence, 56 Candida spp. isolates from 35 horses (36.08%), of which 18 (32.14%) C. famata, 14 (25%) C. parapsilosis, 12 (21.42%) C. guilliermondii, 11 (19.64%) C. tropicalis and 1 (1.78%) C. pelliculosa. Minimum Inhibitory Concentration (MIC) values were determined according to the document M27-A3, as described by CLSI. The MICs ranged from 0.03125 to 1 µg/mL for amphotericin B; from 0.03125 > 16 µg/mL and from 0.125 to >64 µg/mL for itraconazole and fluconazole, respectively, and resistance to fluconazole and itraconazole was observed in isolates of C. tropicalis (n = 3) and C. guilliermondii (n = 1). Finally, the serological test was held in 177 healthy horses in the cities of Fortaleza, Eusébio, Caucaia, Jaguaribe, Sobral and Santa Quitéria, in the State of Ceará, through immunodiffusion with commercial kit for Coccidioides spp. and Histoplasma capsulatum. However, all samples showed negative results on the double immunodiffusion test for histoplasmosis and coccidioidomycosis. In short, the data show the predominance of non-albicans Candida in the microbiota of the nasal cavity of equines, including some cases of in vitro resistance to azole derivatives, and that horses, investigated through double immunodiffusion, are not good sentinels for histoplasmosis and coccidioidomycosis in this geographical region. Keywords: Horses, Candida spp., antifungal, imunodiffusion, histoplasmosis, coccidioidomycosis. 9 LISTA DE FIGURAS REVISÃO DE LITERATURA: Figura 1: a) Placa contendo ágar Sabouraud acrescido de cloranfenicol, demonstrando o crescimento de colônias de Candida spp....................................... 22 Figura 1: b) Tubo contendo ágar batata, apresentando crescimento de colônias de Candida spp. 22 Figura 1: c) Microcultivo de C. albicans em ágar fubá acrescido de Tween 80. Observa-se a presença de clamidoconídio (seta)...................................................... 22 Figura 1: d) Placa contendo ágar cromogênico, permitindo a identificação presuntiva de Candida albicans (seta verde), C. krusei (seta preta) C. parapsilosis (seta rosa) e C. tropicalis (seta azul).................................................... 22 Figura 2: Microdiluição em placas de 96 poços em formato de U .......................... 24 Figura 3: Distribuição geográfica do Histoplasma capsulatum no Brasil. Estados marcados em vermelho demonstraram isolamento do fungo em animais................ 27 Figura 4: a) Macromorfologia de Histoplasma capsulatum em sua forma micelial – Cultivo em ágar batata dextrose à 28ºC (20 dias), apresentando colônias brancas e algodonosas. b) Micromorfologia de H. capsulatum em sua forma micelial à temperatura de 28ºC, apresentando hifas hialinas, finas e septadas com macroconídios tuberculados, característicos do fungo (seta). Exame direto da colônia com lactofenol azul algodão.................................. 29 Figura 5: a) Biópsia de tecido pulmonar corado com prata metenamina Grocott demonstrando leveduras ovais típicas do Histoplasma capsulatum. b) Aspecto microscópico de H. capsulatum corado pelo Giemsa a partir de creme leucocitário: visualização de células leveduriformes intracelulares (seta)............... 32 Figura 6: Distribuição geográfica do Coccidioides posadasii. Estados marcados em vermelho são endêmicos para coccidioidomicose. Áreas coloridas correspondem a municípios do Estado do Ceará com casos confirmados da doença ...................................................................................................................... 36 Figura 7: a) Macromorfologia de Coccidioides spp. em agar batata dextrose, mostrando colônias brancas com textura algodonosa. b) Micromorfologia de Coccidioides spp. revelando hifas maduras contendo artroconídios (seta) espaçados por células disjuntoras. Montagens tipo lâmina-lamínula com lactofenol azul algodão............................................................................................. 38 Figura 8: Vegetação característica de caatinga, em Jaguaribe, cidade com casos humanos confirmados............................................................................................... 39 Figura 9: a) Aspecto micromorfológico da forma parasitária de Coccidioides spp. em tecido pulmonar de camundongos, visualizado em exame direto com KOH 10%. Histopatológico corado por PAS (b) e Grocott prata metenamina (c), com observação de endosporos liberados de esférula rompida................................ 42 10 Figura 10: Padrão da reação positiva no teste de Imunodifusão em gel de agarose. Poço 1 – Antígeno; 2 e 5 – Soros controles positivos; 3,4,6 e 7 – Soros para teste .................................................................................................................. 43 Figura 11: Reação de imunodifusão para detecção de anticorpos contra Histoplasma capsulatum. Poço central – Antígeno; Nos poços 1 e 4 – Soros controle positivos: onde são visualizadas linhas de precipitação M e H.................. 44 11 LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 1: Tabela 1 - The numbers of various yeast species isolated from anatomical locations from upper respiratory tract of in 97 clinically normal horses………… 65 Tabela 2 - The minimal inhibitory concentrations (MIC) of amphotericin B, itraconazole and fluconazole effective in vitro against 56 isolates of Candida spp. isolated from two anatomical sites of clinically normal horses. Data in brackets represents the number of isolates for the indicated MIC value…………. 66 12 LISTA DE ABREVIADURAS E SIGLAS AIDS – Acquired immunodeficiency syndrome BHI – Brain Heart Infusion CFU – Colony-forming unit CIM – Concentração Inibitória Mínima CLSI – Clinical Laboratory Standards Institute GMS – Grocott prata metenamina HE – Hematoxilina Eosina HIV – Human immunodeficiency virus ID – Imunodifusão dupla em gel de agarose KOH – Hidróxido de Potássio NCCLS - National Committee for Clinical Laboratory Standards PAS – Ácido periódico de Schiff 13 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 2.1 Infecções respiratórias vs. Equinocultura ..................................................... 2.2 Candida spp. ................................................................................................. 2.2.1 Aspectos Históricos .............................................................................. 2.2.2 Ecoepidemiologia gênero Candida....................................................... 2.2.3 Aspectos Clínicos ................................................................................. 2.2.4 Diagnóstico ........................................................................................... 2.2.5 Avaliação da sensibilidade antifúngica in vitro.................................... 2.3 Histoplasmose .............................................................................................. 2.3.1 Aspectos Históricos .............................................................................. 2.3.2 Aspectos Epidemiológicos ................................................................... 2.3.3 Biologia do fungo Histoplasma capsulatum ........................................ 2.3.4 Patogenia e Aspectos Clínicos ............................................................. 2.3.5 Diagnóstico ........................................................................................... 2.4 Coccidioidomicose ....................................................................................... 2.4.1 Aspectos Históricos .............................................................................. 2.4.2 Aspectos Epidemiológicos ................................................................... 2.4.3 Biologia do fungo Coccidioides sp....................................................... 2.4.4 Patogenia e Aspectos Clínicos ............................................................. 2.4.5 Diagnóstico ........................................................................................... 2.5 Diagnóstico sorológico da Histoplasmose e Coccidioidomicose .............. 3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 4. HIPÓTESES CIENTÍFICAS............................................................................... 5. OBJETIVOS ........................................................................................................ 5.1 Objetivo Geral .............................................................................................. 5.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 6. CAPÍTULO 1..................................................................................................... 7. CONCLUSÕES.................................................................................................... 8. PERSPECTIVAS................................................................................................. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 10. ANEXOS ........................................................................................................... 15 17 17 18 18 18 20 21 23 25 25 25 28 29 30 33 33 35 37 39 41 42 45 46 47 47 47 48 67 68 69 84 14 1. INTRODUÇÃO A equinocultura aumentou nos últimos anos devido, em virtude da mudança na utilidade dos equinos, de animais de lida no campo para animais atletas. Diversas modalidades de esportes equestres estão presentes no Estado, como vaquejada, prova de três tambores, corrida e hipismo. Por conseguinte, com o aumento do investimento nesses animais, cresceu também a preocupação com a sua saúde, além de um maior convívio entre humanos e equinos. No tocante a saúde, várias enfermidades causam diminuição de performance e tornam os animais inaptos a desenvolver atividades atléticas, entre as quais, as infecções respiratórias. As infecções fúngicas no trato respiratório são pouco estudadas em equinos, quando comparadas a agentes bacterianos e virais, o que ocasiona, muitas vezes, agravamento de quadros clínicos em decorrência de tratamentos indevidos. Assim, torna-se cada vez mais importante o conhecimento sobre os fungos que podem causar doenças em equinos, como, por exemplo, Candida spp., Coccidioides spp. e Histoplasma capsulatum var. capsulatum. O gênero Candida é composto por leveduras que vivem como comensais na microbiota de homens e animais. Normalmente, não causam dano aos seus hospedeiros, entretanto, quando expostos a fatores de risco, que causam desequilíbrio em suas barreiras física, química ou imunológica, ocorre a infecção chamada de candidíase. O fungo dimórfico Histoplasma capsulatum var. capsulatum é o agente causador da histoplasmose clássica, a qual já foi descrita em diversos países. A doença acomete principalmente o homem e algumas espécies animais como cães, gatos, equídeos, roedores, marsupiais. Exibe, como forma infectante, microconídeos presentes no solo, os quais são inalados pelo hospedeiro, que pode ou não mostrar sintomas. A sintomatologia varia desde pacientes assintomáticos, presença de uma simples tosse a quadros respiratórios graves e, ainda, desenvolvimento da forma disseminada da doença. Os fungos dimórficos Coccidioides immitis e Coccidioides posadasii são causadores da coccidioidomicose, micose sistêmica exclusiva do Continente Americano. A primeira espécie é comumente isolada de Vale de São Joaquim, na Califórnia, Estados Unidos, sendo exclusivo daquela região. Enquanto isso, o C. posadasii se estende às outras regiões endêmicas do Continente Americano, do sul dos Estados Unidos até a Argentina. Atualmente, no Brasil, a coccidioidomicose é considerada endêmica nos Estados da Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí. No Ceará, já foram relatados casos humanos em diversos municípios, como Aiuaba, Arneiroz, Boa Viagem, Catunda, Independência, Jaguaribe, Parambu, Santa 15 Quitéria, Sobral e Solonópole. O homem e diversas espécies animais são suscetíveis à infecção, a qual ocorre por inalação de artroconídeos presentes no solo contaminado. A sintomatologia clinica é variável desde pacientes assintomáticos a quadros respiratórios severos, além da forma disseminada. Por fim, considerando o crescimento da equinocultura como prática esportiva e lazer e, consequentemente, o maior contato do homem com esta espécie animal, aliado à escassez de dados acerca dos fungos que podem ser encontrados nestes animais, com este estudo, buscouse contribuir com esta temática, particularmente identificando as espécies de Candida isoladas da cavidade nasal de equinos, bem como realizando inquérito sorológico para as micoses endêmicas histoplasmose e coccidioidomicose, nas quais o pulmão é o sítio primário de infecção. 16 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Infecções Respiratórias versus Equinocultura O elevado número de animais, associado à necessidade de produção crescente, leva a um aumento na ocorrência de enfermidades. Dentre as que afetam os equinos, o segundo grupo com maior prevalência são as associadas ao trato respiratório (SILVA, VARGAS, 2006). Doenças respiratórias e anormalidades das vias áreas são uma das principais razões para queda de desempenho no cavalo atleta ou até mesmo afastamento das suas atividades esportivas, resultando em perdas econômicas (RICHARD et al., 2010). De acordo com Davidson e Martin (2003), de 40 a 42% dos cavalos de corrida com baixo desempenho demonstraram alguma forma de infecção respiratória. A mucosa do trato respiratório superior é muitas vezes o principal ponto de entrada de agentes patogênicos e desempenha importante papel na patogênese de várias infecções respiratórias (VANDEKERCKHOVE et al., 2009). Diversos patógenos podem ocasionar quadros clínicos respiratórios em equinos, sendo infecções virais e bacterianas as mais comuns na clínica médica (AINSWORTH, BILLER, 2000). No tocante a infecções virais, os patógenos mais comumente envolvidos são herpes vírus equino do tipo 1 (EHV1), herpes vírus equino do tipo 4 (EHV4) e o vírus influenza (HARLESS, PUSTERLA, 2006). Já nas infecções bacterianas, as espécies Streptococcus equi e Streptococcus zooepidemicus são comumente encontradas (VANDEKERCKHOVE et al., 2009). O S. zooepidemicus é frequentemente isolado em casos clínicos de pneumonia e pleuropneumonia, sendo uma das bactérias mais importantes, associada com doença inflamatória das vias aéreas em cavalos jovens (BARQUERO et al., 2010). Os patógenos fúngicos, por sua vez, são negligenciados no diagnóstico dessas enfermidades. A pneumonia fúngica como entidade primária não é comum, porém, quando presente, os microrganismos Candida spp., Histoplasma capsulatum e Coccidioides spp., devem ser investigados. O diagnóstico precoce de problemas respiratórios é essencial para o rápido retorno dos animais aos treinos, como também para prevenção de complicações secundárias que, por fim, podem encerrar prematuramente a carreira do animal ou levar ao óbito (AINSWORTH, BILLER, 2000). 17 2.2. Gênero Candida 2.2.1 Aspectos Históricos O gênero Candida foi descrito pela primeira vez por Langenbeck, em 1839, ao observar lesões orais em pacientes com tifo, contudo, ele erroneamente descreveu o microrganismo como agente etiológico da doença. Em 1842, David Gruby definiu a patogenia da candidíase oral, classificando seu agente etiológico como pertencente ao gênero Sporotrichum. Após detalhado estudo sobre o microrganismo, Berg, em 1846, estabeleceu definitivamente sua relação com a ocorrência de candidíase oral. Em 1853, Charles Robin denominou esse microrganismo de Oidium albicans (SIDRIM, ROCHA, 2004; ODDS, 1998). Em 1861, Zenker relatou o primeiro caso de infecção cerebral por disseminação hematógena associada a Candida. Em 1862 e 1875, Mayer e Haussmann, respectivamente, descreveram casos de candidíase vaginal (ODDS, 1998). Anos mais tarde, em 1890, Zopf renomeou o agente para Monilia albicans. Somente em 1923, entretanto, o microrganismo passou a ter a denominação utilizada até os dias atuais, quando Berkhout transferiu a espécie para o gênero Candida e criou a espécie Candida albicans (SIDRIM, ROCHA, 2004). Em 1954, durante o VIII Congresso Europeu de Botânica, o gênero foi definitivamente descrito e aceito como Candida, baseado nos estudos realizados por Robin (1853), Zopf (1890) e Berkhout (1923) (ODDS, 1988). 2.2.2 Ecoepidemiologia do gênero Candida Taxonomicamente, as leveduras do gênero Candida pertencem ao reino Fungi, filo Ascomycota, subfilo Saccharomycotina, classe Saccharomycetes e ordem Saccharomycetales (NCBI Taxonomy, 2011). Segundo De Hoog et al. (2000), levedura é um termo descritivo para qualquer fungo capaz de se reproduzir por brotamento, tendo como unidade funcional o blastoconídio. Alguns representantes do gênero são pleomórficos, os quais possuem a capacidade de se apresentarem sob diferentes formas morfológicas como pseudo-hifas, hifas verdadeiras, blastoconídios e clamidoconídios, de acordo com as condições às quais estão submetidos (OLIVEIRA, 2006). Candida sp. são consideradas comensais da microbiota associada à pele e mucosas do trato urogenital, gastrointestinal e respiratório superior do homem e de várias espécies animais (SKORIC et al., 2011; BENTUBO et al., 2010; CLEFF et al., 2005), havendo estudos visando à identificação da microbiota em diversos taxa animais, como aves (BRILHANTE et al., 2010), répteis (NARDONI et al., 2008), crustáceos (BRILHANTE et al., 2011), 18 mamíferos (SKORIC et al., 2011; BENTUBO et al., 2010; CARREGARO et al., 2010; BRITO et al., 2009b; KECK et al., 2009; COSTA et al., 2008), incluindo equinos (PIRRONE et al., 2011; BATISTA et al., 2008; REILLY, PALMER, 1994; PUGH et al., 1986). Entre as 25 espécies de leveduras patogênicas consideradas emergentes, 20 são do gênero Candida. Em humanos, as espécies mais frequentemente encontradas são C. albicans, C. parapsilosis, C. tropicalis e C. glabrata (PALACIO et al., 2009). Já em animais, além dessas espécies, são isoladas com frequência as espécies C. guilliermondii, C. famata, C. krusei, C. kefir (BRILHANTE et al., 2011; CARREGARO et al., 2010; BRILHANTE et al., 2010; BRITO et al., 2009b; CLEFF et al., 2005). Os estudos da microbiota fúngica direcionada às espécies de Candida pouco descrevem a cerca de mamíferos saudáveis quando comparados com relatos em humanos (WROBEL et al., 2008). Cleff et al. (2005) analisaram a microbiota vaginal de 14 cadelas sadias durante dez meses e encontraram influência pela fase do ciclo reprodutivo. As espécies isoladas foram C. parapsilosis, C. guilliermondii, C. kefyr, C. albicans, C. glabrata e C. krusei. Brito et al. (2009b) relataram uma incidência maior de C. tropicalis e C. parapsilosis em relação a C. albicans, em 23 isolados proveniente de 203 cães saudáveis onde foram estudados a mucosa oral e vaginal bem como a região perianal e prepúcio. Bentubo et al. (2010) relataram elevada taxa de isolamento de C. albicans no pelame de 21 cães sadios que viviam em regime domiciliar. Além de cães, existem trabalhos relatando o isolamento de Candida spp. como parte da microbiota de outras espécies animais. Costa et al. (2008) evidenciaram elevada taxa de isolamento de C. albicans em bovinos leiteiros. Em um estudo de microbiota de pele em suínos saudáveis, Carregaro et al. (2010) também encontraram alta prevalência de C. albicans. Em equinos, Pirrone et al. (2011) analisaram microbiota das mucosas orofaríngeas e retal de 21 potros sadios e 39 potros doentes. Não houve diferença estatística entre os grupos, sendo a espécie C. albicans a mais isolada. A prevalência de C. albicans em populações animais, todavia, ainda não é bem conhecida (WROBEL et al., 2008). Nas aves, o isolamento de leveduras do gênero Candida é mais comum, quando comparado às outras classes animais. Diferentemente dos mamíferos, os relatos de isolamento de Candida spp. em aves sadias são frequentes, principalmente, com origem em espécimes obtidos do trato gastrintestinal (MANCIANTI et al., 2001). Brilhante et al. (2010) obtiveram 92 isolados de Candida spp. provenientes da cavidade oral, inglúvio e cloaca de calopsitas, 19 sendo encontradas seis espécies: Candida albicans, C. famata, C. glabrata, C. krusei, C. parapsilosis, C. tropicalis. Infecções por Candida spp. em mamíferos são pouco frequentes. Nos últimos anos, contudo, foi observado aumento considerável de relatos com diferentes manifestações clínicas e acometendo diversas espécies (BRITO et al., 2009a). De acordo com a literatura, a Candida albicans é a espécie mais frequentemente envolvida em casos de candidíases em animais (BENTUBO et al., 2010; COSTA et al., 2008). Outras espécies, contudo, são citadas como agentes dessas infecções como C. tropicalis e C. parapsilosis (CARREGARO et al., 2010; BRITO et al., 2009a; KOBAYASHI, 2008) além de C. guilliermondii (MUELLER et al., 2002). 2.2.3 Aspectos clínicos Em geral, esses microrganismos não causam nenhum dano aos seus hospedeiros, entretanto, podem se tornar patogênicos quando ocorrem alterações nas barreiras físicas, químicas e imunológicas culminando em enfermidade denominada de candidíase. Os fatores predisponentes a infecções em animais incluem: idade, doenças autoimunes, Diabetes Mellitus, uso prolongado de antibióticos e animais imunocomprometidos em razão da terapia prolongada com corticocosteróides (SKORIC et al., 2011; BRITO et al., 2009b). Nos mamíferos, os sítios anatômicos mais acometidos são pele e anexos, ouvido, trato urinário, trato gastrointestinal e sistema reprodutor (SKORIC et al., 2011; WROBEL et al., 2008; JADHAV; PAL, 2006;). Cães podem apresentar diversas manifestações clínicas de candidíase tais como dermatomicose com alopecia, eritema, crostas e úlceras (MORETTI et al., 2004; MUELLER et al., 2002), estomatite (JADHAV, PAL, 2006) além de candidemia (SKORIC et al., 2011). Santos e Marin, (2005), informaram que a candidíase é a terceira maior causa de mastite em bovinos no Brasil. Em equinos, mais especificamente em potros, as espécies de Candida são patógenos oportunistas que podem ocasionar ulcerações gastroesofágicas, diarreias, meningites, onfaloflebites e, menos frequentemente, infecções sistêmicas (PIRRONE et al., 2011; REILLY, PALMER, 1994). Em cavalos adultos, C. famata foi associada a um quadro de artrite séptica, enquanto C. albicans foi isolada de quadros de ceratites e de endometrite em éguas (RILEY et al., 1992; PUGH et al., 1986). De acordo com Aguiar et al. (2005), a espécie C. albicans permanece como microrganismo mais preocupante da endometrite equina. 20 2.2.4 Diagnóstico Laboratorial A identificação das espécies de Candida baseia-se nas suas características fenotípicas, tais como macro e micromorfologia, além das características bioquímicas, como assimilação e fermentação de carboidratos, assimilação de nitrogênio e prova da enzima urease (BRITO, 2005). O exame direto consiste na confecção de lâminas oriundas de amostras clínicas, com hidróxido de potássio, um clarificante que permite melhor visualização das estruturas fúngicas. A seguir realiza-se o processamento das amostras em meios de cultura clássicos, como ágar Sabouraud, ágar Sabouraud com cloranfenicol e ágar Sabouraud acrescido de cloranfenicol e cicloeximida (SIDRIM, ROCHA, 2004). Em meios de cultivo, as colônias crescem bem dentro de 48 horas, com temperatura entre 25º e 37ºC (KOEHLER et al., 1999). As culturas de Candida demonstraram características macroscópicas semelhantes para todas as espécies, como colônias lisas, úmidas ou secas, de coloração branca ou creme (DE HOOG et al., 2000) (Figura 1a e 1b). Dessa forma, são necessárias técnicas que permitam melhor visualização das estruturas fúngicas, prova do microcultivo, como também testes bioquímicos, para, assim, realizar a diferenciação das espécies (KOEHLER et al., 1999). A utilização de meio cromogênico é a próxima etapa na identificação de Candida spp., o qual tem como objetivo identificar colônias mistas, além de realizar um diagnóstico presuntivo rápido (ARAÚJO et al., 2005; QUINDÓS et al., 2001). (Figura 1c). As características micromorfológicas são observadas após realização de microcultivo em placas de Petri com ágar fubá ou ágar arroz acrescido de Tween 80 (Figura 1d). Para muitas espécies de Candida, este teste permite a identificação definitiva, uma vez que são formadas estruturas específicas, como hifas e pseudo-hifas, dispostas em padrões característicos para cada espécie (MILAN, ZAROR, 2004; DE HOOG et al., 2000). Em muitos casos, a identificação pode não ser determinada por meio das características macro e micromorfológicas, sendo necessária a realização de testes bioquímicos, como a assimilação e fermentação de carboidratos, a assimilação de nitrogênio e a prova da enzima urease (BRITO et al., 2009b, KOEHLER et al., 1999). Os métodos automatizados de identificação de microrganismos têm sido desenvolvidos nos últimos anos e, atualmente, estão sendo usados em diversos laboratórios de microbiologia médica. Estes sistemas permitem uma identificação precisa e mais rápida de leveduras clinicamente relevantes, melhorando a qualidade e a eficácia do cuidado ao paciente. O VITEK 2 (BioMérieux Vitek, Hazelwood, France) tem demonstrado ser um 21 instrumento confiável para a identificação de leveduras e, por isso, é o método automatizado mais comumente utilizados nos laboratórios de todo o mundo (ALBERTINE et al., 2006). Fonte: CEMM 2012 Fonte: CEMM 2011 a b c d Fonte: CEMM 2009 Fonte: CEMM 2010 Figura 1: a) Placa contendo ágar Sabouraud acrescido de cloranfenicol, demonstrando o crescimento de colônias de Candida spp. b) Tubo contendo ágar batata, mostrando crescimento de colônias de Candida spp. c) Placa contendo ágar cromogênico, permitindo a identificação presuntiva de Candida albicans (seta verde), C. krusei (seta preta) C. parapsilosis (seta rosa) e C. tropicalis (seta azul). d) Microcultivo de C. albicans em ágar fubá acrescido de Tween 80. Observa-se a presença de clamidoconídio (seta). 22 2.2.5 Avaliação da sensibilidade antifúngica in vitro Com a emergência da epidemia de AIDS na década de 1980, surgiu a necessidade do desenvolvimento de testes precisos de sensibilidade a antifúngicos in vitro, principalmente em razão do aumento no número de casos de candidíase nos indivíduos portadores dessa síndrome, os quais, muitas vezes, não eram responsivos ao tratamento antifúngico instituído (JOHNSON, 2008). Nas últimas décadas, a incidência de micoses sistêmicas cresceu drasticamente. Isto decorre do aumento no número de indivíduos em risco, principalmente pacientes transplantados, com câncer e pacientes infectados com o vírus da imunodeficiência humana. É observado ainda um aumento no número de cepas resistentes aos derivados azólicos (SABATELLI et al., 2006). Com base nesses fatos, fica claro que o conhecimento do perfil de sensibilidade a drogas antifúngicas de determinada região é de grande importância para o estabelecimento de condutas terapêuticas e profiláticas adequadas. Em 1985, o comitê da Área de Micologia do Clinical Laboratory Standards Institute (CLSI), então conhecido como National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS), publicou o seu primeiro relatório, no qual foram exibidos os resultados de um pequeno estudo colaborativo. Constatou-se que 20% dos laboratórios membros da instituição realizavam testes de sensibilidade a agentes antifúngicos, na maioria das vezes, com Candida spp., empregando o método de diluição em caldo, e obtinham resultados de concentração inibitória mínima (CIM) discrepantes. Assim, decidiu-se desenvolver e padronizar uma metodologia reprodutível e exequível para laboratórios de rotina. Em 1997, após extenso trabalho de padronização, foi aprovada a utilização dos métodos de microdiluição (documento M27-A) para a determinação da sensibilidade de Candida spp. a antifúngicos, especificando seus pontos de corte. Em 2002, a Norma M27-A2 padronizou as faixas de referência de CIM 24 e 48 horas, para drogas previamente estabelecidas (NCCLS, 2002). Em 2009, foi publicado o documento M27-A3, que traz como principal mudança a alteração na percentagem de leitura em relação aos derivados azólicos, onde a leitura para concentração inibitória mínima mudou de 80% de inibição para 50% em relação ao crescimento fúngico (CLSI, 2008). O teste de microdiluição em caldo é realizado em placas acrílicas estéreis, com 96 poços em formato de U, e consiste na exposição de um inóculo definido de um determinado microorganismo a concentrações conhecidas das drogas testadas, sendo possível observar o efeito destas sobre o crescimento fúngico. A leitura final determina a menor concentração da 23 droga, capaz de inibir o crescimento do microorganismo, denominada de concentração inibitória mínima (CIM) (CLSI, 2008). (Figura 2). Fonte: CEMM 2007 Figura 2: Microdiluição em placas de 96 poços em formato de U. O teste de sensibilidade tem como objetivo prever uma resposta in vivo próxima daquela expressa in vitro. Vale salientar, todavia, que nas infecções fúngicas muitos fatores, além do perfil de sensibilidade in vitro, influenciam a resposta clínica, como sítio de infecção, imunidade do hospedeiro, farmacocinética da droga e tratamento correto realizado pelo paciente (HOSPENTHAL et al., 2004). Relatos na literatura, porém, indicam que os microrganismos que se mostram sensíveis na técnica de microdiluição respondem ao tratamento em 90% dos casos, e que infecções por microrganismo resistentes à resposta são de 60% (REX, PFALLER, 2002). O grupo do qual se participa, no Ceará, com frequência, tem avaliado a sensibilidade in vitro de cepas de Candida spp. isoladas de animais. Brito et al. (2007) desenvolveram teste em cepas isoladas de cães e identificaram resistência a cetoconazol, fluconazol e itraconazol em dois isolados de C. albicans e três de C. tropicalis. Sidrim et al. (2010), em estudo com calopsitas, observaram fenômeno de resistência a fluconazol e itraconazol em isolados de C. albicans. Brilhante et al. (2011) constataram o mesmo fenômeno em cepas de C. albicans isoladas de camarões. 24 2.3 Histoplasmose 2.31 Aspectos Históricos Em 1906, o patologista norte americano Samuel Taylor Darling descobriu a histoplasmose, quando estudava material de necropsia de um adulto nativo da Martinica, trabalhador da obra do canal do Panamá, que veio a óbito em decorrência de um quadro febril desconhecido. É por isso, também, denominada doença de Darling. Ao estudar o microrganismo, pensou tratar-se de um novo protozoário encapsulado que parasitava histiócitos e nomeou-o de Histoplasma capsulatum. Em 1908, Darling observou mais dois casos fatais da doença (DANIEL, BAUL,2002). O agente etiológico, inicialmente designado como protozoário, foi considerado fungo pelo patologista brasileiro Henrique da Rocha Lima, ao examinar o material de Darling no ano de 1912. A comprovação definitiva desse fato ocorreu em 1934, quando o patologista Willian De Monbreau obteve cultura, em sua fase saprofítica, de material de paciente do primeiro caso diagnosticado em vida. Além de caracterizar o agente definitivamente como fungo, ainda determinou seu caráter dimórfico (WANKE, LAZÉRA, 2004). Até 1945, a histoplasmose era considerada doença rara, fatal e de transmissão desconhecida. Esse conceito foi modificado depois dos trabalhos de Palmer (1945) e Christie e Peterson (1945), que demonstraram, mediante testes com histoplasmina, que a histoplasmose era uma doença benigna, cosmopolita e de transmissão respiratória (WANKE, LAZÉRA, 2004; TORRES-RODRÍGUEZ et al., 1993) O primeiro isolamento de H. capsulatum do solo foi realizado por Emmons em 1949. Em 1951, Ajello e Zeidberg associaram o fungo a solos enriquecidos com fezes de morcegos e aves (AINSWORTH, 1986). Em 1939, Almeida e Lacaz diagnosticaram a histoplasmose no Brasil pela primeira vez. O fungo foi isolado com base em fragmento de biopsia de uma lesão de cromoblastomicose. Dois anos depois, os mesmos autores isolaram pela segunda vez H. capsulatum, sendo este isolado do escarro de um paciente de um sanatório para tuberculose (WANKE, LAZÉRA, 2004). 2.3.2 Aspectos Epidemiológicos A histoplasmose é uma micose sistêmica cosmopolita ocasionada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum var. capsulatum (FERREIRA, BORGES, 2009). A doença é endêmica em varias regiões de clima tropical e temperado, sobretudo no Continente 25 Americano (SAHEKI et al., 2008). Nos Estados Unidos, é considerada endêmica nas regiões de Ohio e Mississipi (QUIST et al., 2011). Na América do Sul, é prevalente na Venezuela, Equador, Paraguai, Uruguai, Argentina (GUIMARÃES et al., 2006), Peru (FERREIRA, BORGES, 2009) e Colômbia (MUÑOZ et a., 2010). Microfocos de infecções em humanos e animais são relatados em países com pouca ou nenhuma casuística anteriormente descrita, como Canadá, Espanha, Itália e Japão (NAVASQUÉS et al., 2011; MAVRAPOLOU et al., 2010, KOBAYASHI et al., 2009; TYRE et al., 2007). Apesar de a doença ser predominante no Continente Americano, numerosos casos esporádicos são relatados em outras partes do mundo, provavelmente em razão do trânsito internacional entre áreas endêmicas e não endêmicas (QUIST et al., 2011). No Brasil, antes do surgimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), a histoplasmose era raramente diagnosticada. Do final da década de 1980 em diante, com o advento da AIDS, foram diagnosticados centenas de casos, principalmente na forma disseminada da doença, fazendo com que essa micose passasse a ter lugar de destaque nas doenças fúngicas em humanos (FERREIRA, BORGES, 2009). Já foram relatados surtos e/ou microepidemias nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso (FERREIRA, BORGES, 2009), Rio Grande do Sul (SEVERO et al., 2001), Santa Catarina, Distrito Federal, Paraíba, Amazonas, Bahia (OLIVEIRA et al., 2006) e Ceará (PONTES et al., 2010; DAHER et al., 2007) (Figura 5). A taxa de prevalência, em humanos, foi avaliada, em diversas regiões do País, por intermédio do teste de reação dérmica com histoplasmina e revelou variações entre 2,6 a 93,2% (LEIMANN et al., 2005), sendo o Estado do Rio de Janeiro o responsável pelo maior número de microepidemias relatadas (AIDÉ, 2009). No Ceará, Daher et al.(2007) realizaram um estudo com 378 pacientes HIV positivos, no qual 164 dos pacientes (43%) apresentava histoplasmose disseminada associada a AIDS. A histoplasmose pode afetar humanos de qualquer idade, sexo e raça. Pacientes com extremos de idade, no entanto, portam maior risco de desenvolver a forma aguda da doença (OLIVEIRA et al., 2011; KNOX, HAGE, 2010). Nas últimas décadas, apareceu como um patógeno oportunista em pacientes com distúrbios de imunidade celular, tais como transplantados, doentes imunodeprimidos, pacientes em corticoterapia prolongada e, principalmente, pacientes acometidos com a síndrome da imunodeficiência adquirida (CURY et al., 2001) Além do homem, vários animais, domésticos e silvestres, podem ser acometidos pela histoplasmose. Já foram relatados casos em cães (CORDEIRO et al., 2011a; TYRE et al., 2007; FERNANDES et al., 2003), gatos (BRILHANTE et al., 2012; MAVRAPOLOU et al., 26 2010; CARNEIRO et al., 2005), roedores e marsupiais (NAIFF et al., 1996; SILVAVERGARA et al., 2001), equídeos (NUNES et al., 2006; RICHTER et al., 2003; JOHNSTON et al., 1995; REZABEK et al., 1993), gazelas (FARIÑAS et al., 2009), bovinos, suínos (OLIVEIRA et al., 2011) e aves (QUIST et al., 2011). Os quirópteros, além de contribuírem para criar um ambiente favorável à proliferação do fungo, também são suscetíveis à infecção (OLIVEIRA et al., 2011; WANKE & LAZÉRA, 2004). Dias et al. (2010) isolaram o fungo em morcegos da área urbana de São Paulo. As aves, normalmente, não se infectam em razão da sua alta temperatura corporal (WANKE & LAZÉRA, 2004). Mesmo com o aparecimento de novos casos em animais no Brasil, dados epidemiológicos são escassos e sua prevalência é desconhecida. Já foram isolados, entretanto, H. capsulatum de espécies diversas, como em animais silvestres na Amazônia (NAIFF et al., 1996), roedores e marsupiais no Rio de Janeiro (ZANCOPÉ-OLIVEIRA, WANKE, 1986), marsupiais em Minas Gerais (SILVA-VERGARA et al., 2001), gatos em Minas Gerais (CARNEIRO et al., 2005) e no Ceará (BRILHANTE et al., 2012). (Figura 3). Figura 3: Distribuição geográfica do Histoplasma capsulatum no Brasil. Estados marcados em vermelho demonstraram isolamento do fungo em animais e os Estados realçados em preto relatam casos clínicos em humanos. Fonte: Bittencourt 2012. A identificação da doença em animais domésticos e silvestres, naturalmente infectados, é uma ferramenta importante para monitorar a ocorrência do H. capsulatum em um determinado ambiente, já que os animais podem atuar como marcadores epidemiológicos (animais sentinelas) para a presença do microrganismo naquela região e indicar a existência 27 de fontes comuns de infecção aos homens e animais (CANTEROS et al., 2010; ZANCOPÉOLIVEIRA, WANKE, 1986). 2.3.3 Biologia do fungo Histoplasma capsulatum Histoplasma capsulatum é a forma anamórfica do Ajellomyces capsulatum que pertence ao reino Fungi, filo Ascomycota, classe Eurotiomycetes, ordem Onygenales e família Ajellomycetaceae (NCBI, Taxonomy, 2011). O H. capsulatum é um fungo dimórfico, pois apresenta duas formas morfológicas que, para sua modificação, dependem de fatores nutricionais e da temperatura (OLIVEIRA et al., 2011). No ambiente, o fungo cresce na sua forma filamentosa e, uma vez no hospedeiro, ocorre a conversão para a forma de levedura (MUÑOZ et al., 2010). A forma filamentosa cresce em temperaturas abaixo de 35ºC, em meios de cultura adequados, ou no solo (GUIMARÃES et al., 2006). Macroscopicamente se caracterizam por colônias de coloração branco-algodonosa, e microscopicamente são observadas hifas hialinas septadas com 1-2 µm de diâmetro, além das suas estruturas de reprodução assexuada, os microconídios e macroconídios tuberculados. Estes são largos com parede espessa, cobertos por projeções espiculadas, com 7 a 15 µm de diâmetro. Os microconídios são ovais e pequenos, com 2 a 5 µm de diâmetro, e se caracterizam por ser a forma infectante do fungo (OLIVEIRA et al., 2011; FERREIRA, BORGES, 2009) (Figura 6). No hospedeiro ou em meios de cultura adequados a 37 ºC, o H. capsulatum exibe-se como pequenas leveduras ovaladas com 3 a 5 µm de diâmetro e podem ser visualizadas no interior dos macrófagos (FERREIRA, BORGES, 2009). O H. capsulatum é um saprófito de solos com alto teor de nitrogênio, encontrado em áreas contaminadas com fezes de morcegos e aves (KNOX, HAGE, 2010; CURY et al., 2001), onde é encontrado na forma de micélio. Geralmente, o microrganismo pode ser isolado em amostras de solos de ambiente abrigados, como cavernas, construções abandonadas, galinheiros e árvores (KAUFFMAN, 2009; WANKE, LAZÉRA, 2004). Andreu & Machin (1992) conseguiram, entretanto, isolar o microorganismo do solo em Cuba, em áreas abertas com incidência direta do sol, sítio considerado improvável por vários autores. Tais dados suscitam importantes questionamentos epidemiológicos sobre a procedência de casos ligados a origens desconhecidas, como os provenientes de grandes cidades. A profundidade em que o H. capsulatum se encontra no solo é variável, mas foi demonstrado que a camada mais 28 superficial, até 30 cm, favorece o crescimento do fungo, possivelmente devido à maior aeração (KAUFFMAN, 2009). a Fonte: CEMM 2011 b a Figura 4: a) Macromorfologia de Histoplasma capsulatum em sua forma micelial – cultivo em ágar batata dextrose a 28ºC (20 dias), mostrando colônias brancas e algodonosas. b) Micromorfologia de H. capsulatum em sua forma micelial a 28ºC, apresentando hifas hialinas, finas e septadas com macroconídios tuberculados, característicos do fungo (seta). Exame direto da colônia com lactofenol azul algodão. 2.3.4 Patogenia e Aspectos clínicos A infecção ocorre por meio da inalação de microconídios presentes no solo contaminado. Estes, ao atingirem os alvéolos pulmonares, são fagocitados pelos macrófagos alveolares e em seu interior convertem para a forma parasitária leveduriforme, ocasionando pneumonite focal. Mediante a circulação linfática, chegam aos linfonodos mediastinais formando o complexo pulmonar ganglionário semelhante ao complexo de Ghon na tuberculose. Desde esse estágio, o fungo pode se disseminar por via hematógena para diversos órgãos (KNOX, HAGE, 2010; AIDÉ, 2009; GUIMARÃES et al., 2006; WANKE, LAZÉRA, 2004). Essa fase acontece antes da imunidade específica se desenvolver. Após duas a três semanas, ocorre resposta celular mediada por células T que, por meio de várias citocinas, irão ativar os macrófagos, os quais adquirem capacidade de lisar as leveduras. Se o indivíduo for imunocompetente, esse tipo de resposta imune ocasiona a cura da infecção primária; entretanto, se a imunidade celular do individuo for deficiente, os microrganismos continuam viáveis no interior dos macrófagos e causam infecção progressiva (KNOX, HAGE, 2010; FERREIRA, BORGES, 2009; KAUFFMAN, 2009). 29 Apesar de a transmissão por via respiratória ser a mais frequente, existem relatos que sugerem infecção oral em animais. Kerl (2003) fez essa observação em virtude de muitos cães portarem somente sintomatologia gastrointestinal, sem nenhum envolvimento no trato respiratório. Nunes et al. (2006) examinaram uma égua com quadro clínico de desconforto abdominal com perda de peso progressiva durante duas semanas. Após diversos exames e tratamento, o animal veio a óbito. Com base nos achados de necropsia e nos exames realizados no material coletado, diagnosticaram histoplasmose. A égua não revelou nenhum sinal de comprometimento de outros órgãos como pulmões ou rins. Baseados em relatos de outros autores, Johnston et al. (1995) e Rezabek et al. (1993), e nos seus achados clínicos e laboratoriais, os autores sugeriram que a infecção ocorreu pela via oral. Em humanos o quadro clínico pode variar desde infecções assintomáticas até quadros graves disseminados (FERREIRA, BORGES 2009). A intensidade dessas manifestações clínicas está relacionada com a quantidade de microconídeos inalados, virulência da cepa e a imunidade prévia do indivíduo (MUÑOS et al., 2010; KAUFFMAN, 2009; AIDÉ, 2009; CURY et al., 2001). A sintomatologia clínica em animais é variável de acordo com a espécie acometida. Em cães e gatos, espécies mais comumente infectadas, os sinais clínicos variam de inaparentes à doença, aguda ou crônica, com resposta granulomatosa no trato respiratório e a forma disseminada (CORDEIRO et al., 2011a; BRÖMEL, SYKES, 2005), como também lesões granulomatosas cutâneas (CARNEIRO et al., 2005). A forma disseminada afeta fígado, baço, trato gastrointestinal, ossos e medula óssea, olhos e pele (BRÖMEL, SYKES, 2005). Os sintomas incluem inapetência, perda de peso, diarreia, tosse, dispneia, febre e claudicação (QUIST et al., 2011). Os relatos de casos em equinos são escassos na literatura, entretanto, os sinais descritos incluem dispneia, perda de peso, diarreia, colite granulomatosa, placentite, aborto e ceratite. O fungo foi identificado em diversos órgãos e tecidos como pulmão, fígado, baço, rim, nódulos linfáticos, intestino delgado, ceco, cólon, medula óssea, cérebro, olhos, placenta e tecidos fetais (NUNES et al., 2006; RICHTER et al., 2003; JOHNSTON et al., 1995; REZABEK et al., 1993). Johnston et al. (1995) relataram o único caso de histoplasmose disseminada em equino até o momento. 30 2.3.5 Diagnóstico O diagnóstico clínico da histoplasmose é baseado na sintomatologia clínica, exames radiológicos e aspectos epidemiológicos. O diagnóstico micológico se baseia na identificação do agente em materiais biológicos, cultura do fungo em meios específicos e exame histopatológico (AIDÉ, 2009; LEIMANN et al., 2005). Para o exame direto em lâmina, pode-se utilizar diversas amostras clínicas como esfregaço de medula óssea, sangue periférico, exsudato de lesões cutâneas ou mucosas, escarro, fluido de lavado broncoalveolar e líquor, as quais são tratadas a fresco com hidróxido de potássio (KOH) a 10% para melhor visualização (MUÑOZ et al., 2010; FERREIRA, BORGES, 2009). Essa técnica, entretanto, tem baixo valor diagnóstico em decorrência da localização intracelular do microrganismo e seu tamanho pequeno, o que dificulta sua visualização (MUÑOZ et al., 2010; AIDÉ, 2009). A utilização de corantes nas amostras propicia um aumento na qualidade da visualização. Para tanto, podem ser empregados corantes especiais, como prata metenamina Grocott (GMS), ácido periódico de Schiff (PAS), além do corante hematológico Giemsa (OLIVEIRA et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2006). A coloração permite a visualização das leveduras localizadas ao redor e no interior dos macrófagos (AIDÉ, 2009). Utilizando o GMS, o H. capsulatum é visualizado como pequenas leveduras de coloração marrom-escura em virtude da precipitação dos íons de prata (MUÑOZ et al., 2010); com PAS, apresentam-se com a coloração vermelha; e com Giemsa, aparecem como massa cromática polar azul em forma de meia lua (FERREIRA, BORGES, 2009) (Figura 7). Leimann et al. (2005) consideram a coloração com GMS a melhor técnica, pois permite um melhor contraste, além de corar células fúngicas refratárias ao PAS. Os métodos baseados em colorações contêm sensibilidade inferior a 50% e ampla variabilidade, o que depende da forma clínica da doença, bem como da experiência do patologista. Portanto, para visualização do fungo na fase de levedura com base em material biológico, é necessária atenção na identificação em virtude da similaridade da levedura de H. capsulatum com outros patógenos, como Candida glabrata, Penicillium marneffei, Pneumocystis (carinii) jiroveci, Toxoplasma gondii, Leishmania sp. e Cryptococcus neoformans (GUIMARÃES et al., 2006), Blastomyces dermatitidis, Paracoccidioides brasiliensis (LEIMANN et al., 2005). Exames histopatológicos são usados frequentemente para o diagnóstico de histoplasmose. Amostras de sangue periférico podem demonstrar microrganismos intracelulares em macrófagos e monócitos. Biopsias de medula óssea, contudo, podem ser o 31 método mais rápido de definir um diagnóstico (OLIVEIRA et al., 2011). Aidé (2009) relata diferenças histológicas encontradas entre pacientes imunocompetentes e imunodeprimidos. O estudo histopatológico de várias espécies de tecidos, como pulmão, gânglios, fígado e medula óssea, mostra a presença de granulomas, em organismos imunologicamente competentes ao passo que, nos imunodeprimidos, é frequente a presença de granuloma frouxo, agregados linfo-histiocitários ou apenas infiltrado mononuclear. a Fonte: Kauffman, 2009. b Fonte: Marques, 2009. Figura 5: a) Biopsia de tecido pulmonar corado com prata metenamina Grocott, demonstrando leveduras ovais típicas do Histoplasma capsulatum. b) Aspecto microscópico de H. capsulatum corado pelo Giemsa com base em creme leucocitário: visualização de células leveduriformes intracelulares (seta). A cultura é considerada padrão ouro no diagnóstico da histoplasmose (OLIVEIRA et al., 2011). Para tanto, é necessário que o laboratório esteja equipado com cabine de biossegurança de nível 3, além de equipe especializada, visto que a manipulação do fungo pode liberar os microconídios no ambiente (MUÑOZ et al., 2010). Podem ser utilizados vários meio de cultura para o cultivo do H. capsulatum como ágar Sabouraud e ágar Sabouraud acrescido de cloranfenicol e cicloeximida (Mycosel®) (AIDÉ, 2009). A identificação do fungo baseia-se nas características macro e microscópicas das colônias. Após um período de incubação de seis a 12 semanas, a 25ºC, as colônias fúngicas se mostram, inicialmente, glabras de coloração branca a bege e, com o tempo, tornam-se filamentosas, algodoadas e amarronzadas. Microscopicamente, caracterizam-se por hifas hialinas delgadas e septadas com micro e macroconídios em diferentes fases de desenvolvimento (OLIVEIRA et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2006). Os macroconídios são 32 estruturas características do H. capsulatum, sendo a base da identificação de gênero e espécie (MUÑOZ et al., 2010). Para a confirmação do diagnóstico da cultura, é necessária a conversão do H. capsulatum para sua forma leveduriforme (LEIMANN et al., 2005). Podem ser utilizados vários meios, como ágar sangue, ágar infusão-cérebro-coração (BHI), acrescido de cisteína (OLIVEIRA et al., 2011; GUIMARÃES et al., 2006), e também ágar batata acrescido de cloranfenicol (BURTELOW et al., 2009). A cultura deve ser incubada a temperatura entre 3537ºC. Após a conversão, observam-se colônias glabras de coloração branco-amareladas que microscopicamente se mostam como leveduras ovais de paredes espessas (OLIVEIRA et al., 2011). O H. capsulatum, porém, não se converte facilmente e depende de condições nutricionais especiais, temperatura adequada, além das características fisiológicas da própria cepa (GUIMARÃES et al., 2006). A cultura traz limitações relacionadas à forma clínica da doença, especificamente em casos subagudos, agudos e de sintomatologia clínica leve; e também relacionada ao tempo necessário para identificação do agente etiológico, fato que pode ocasionar atraso na introdução da medida terapêutica específica e piorar o quadro clínico (OLIVEIRA et al., 2011; MUÑOZ et al., 2010; GUIMARÃES et al., 2006). Trabalhos de revisão recentes relatam muitos casos de histoplasmose em diferentes regiões no Brasil, verificando-se o aumento do número de casos humanos da doença. Isso decorre do maior conhecimento dos médicos em relação aos aspectos clínicos e epidemiológicos da micose e também dos últimos avanços no diagnóstico laboratorial (WANKE, LAZÉRA, 2004). Apesar disso, o esforço em elucidar aspectos epidemiológicos desta doença tem sua importância no aumento do número de pacientes imunodeprimidos que contraem a enfermidade a cada dia no Brasil. 2.4 Coccidioidomicose 2.4.1 Aspectos históricos O primeiro caso de coccidioidomicose foi descrito na Argentina, em 1892, por Alejandro Posadas, residente de Medicina, ao examinar Domingo Escurra, de 36 anos, o qual portava lesões cutâneas crônicas. Ao examinar biopsias das lesões, observou estruturas semelhantes a protozoários (NEGRONI 2008). Em 1894, Thome e Rixford relataram os dois primeiros casos nos Estados Unidos em emigrantes dos Açores que trabalhavam no Vale de 33 São Joaquim. Em 1896, Rixford e Gilchrist, após exame das biopsias desses pacientes, detectaram semelhança com o agente encontrado por Posadas e o identificaram como um protozoário da ordem Coccidia, Classe Sporozoa denominado Coccidioides immitis (HIRSHMANN, 2007). Em 1900, Ophüls e Moffitt descobriram a natureza fúngica do agente, quando examinaram biopsias das lesões e pus, procedente do terceiro paciente norte-americano. Após observarem a regularidade do aparecimento do “mofo branco” nos cultivos, realizaram inoculação experimental desses cultivos em cobaias e, assim, demonstraram que o agente era um fungo, e ainda descreveram seu caráter dimórfico. Cinco anos depois, Ophüls definiu a via de infecção da doença como sendo a via respiratória (DEUS FILHO, 2009; NEGRONI 2008). Até 1929, a doença era conhecida somente na forma disseminada, com caráter raro e fatal (COX, MAGEE, 2004). Este fato mudou quando o estudante de Medicina Harold Chope, em experimentos no laboratório de Ernest Dickson, contaminou-se acidentalmente com o fungo, desenvolvendo um quadro de pneumonia com eritema nodoso, do qual de recuperou plenamente mudando o status da doença para benigna e autolimitada (AMPEL, 2009; HIRSHMANN, 2007). Em 1932, Steward e Meyer, isolaram o Coccidioides immitis de amostras de solo coletadas próximo a uma fazenda em que haviam morrido quatro filipinos acometidos de coccidioidomicose grave caracterizando sua natureza geofílica (NEGRONI, 2008). Em 1937, Dickson revelou outros casos da forma benigna da doença, caracterizada por sintomas pulmonares agudos e eritema nodoso, semelhantes ao quadro de Chope, denominado Febre do Vale. O termo coccidioidomicose foi então proposto por Dickson para todas as formas infecciosas causadas por Coccidioides immitis (AMPEL, 2009; COX, MAGEE, 2004). Por volta de 1940, Smith et al. realizaram estudo sistemático sobre a epidemiologia da coccidioidomicose no Vale do São Joaquim, mediante testes intradérmicos com coccidioidina e observação dos pacientes, no qual estabeleceram o período de incubação da infecção, sua incidência estacional e comprovaram a técnica de prova cutânea. Continuaram seus estudos durante a Segunda Guerra Mundial, demonstrando o valor prognóstico da intradermorreação, como também características clínicas da enfermidade e a predisposição racial dos descendentes de africanos e filipinos a apresentarem formas mais graves da doença (NEGRONI, 2008). Em meados da década de 1940, foram relatados casos da doença também em animais domésticos e silvestres, principalmente em cães (SMITH et al., 1948). Na década de 1950, foi observado o primeiro caso de coccidioidomicose cutânea em um embalsamador. Estudos 34 sobre a evolução clínica e os aspectos sobre a aquisição da doença permitiram que pesquisadores afirmassem que a forma cutânea da doença seria rara (ESPINEL-INGROFF, 1996). Até o final da década de 1970, o Brasil era considerado área indene para a coccidioidomicose. O primeiro caso da doença no País foi descrito por Gomes et al. (1978) em paciente natural de Pirapiranga, região do semiárido do Estado da Bahia. Um ano depois, Vianna et al. (1979) descreveram o segundo caso autóctone da doença em paciente originário da cidade de Floriano, no Estado do Piauí (NEGRONI, 2008). O primeiro surto epidêmico de coccidioidomicose ocorreu em 1991, no Município de Oeiras, Estado do Piauí, onde três indivíduos e oito cães demonstraram quadro respiratório agudo após participarem de uma caçada a tatus (WANKE et al., 1999). Os autores descreveram o primeiro relato do acometimento de cães por essa enfermidade no País, além da primeira investigação sorológica em animais, bem como o primeiro isolamento de C. immitis de amostras de solo no Brasil. Em 1995, foi relatado o segundo surto de coccidioidomicose, ocorrido no Município de Aiuaba, região sudoeste do Estado do Ceará, e acometeu quatro homens e dois cães após caça a tatus (SILVA et al., 1997; SIDRIM et al., 1997). Apenas em 1998, após descrição destes surtos, o Brasil foi incluído no mapa de distribuição geográfica da coccidioidomicose (PAPPAGIANIS, 1998). No Estado do Ceará, o primeiro caso da doença foi descrito em 1995, em um paciente natural de Jaguaribara (KUHL et al., 1995). Cordeiro et al. (2010) afirmaram que, até o ano de 2010, foram diagnosticados 19 casos da doença no Estado, além do caso descrito por Kuhl et al. (1995). Em 2000, foi publicado estudo em tatus, realizado no Estado do Piauí, identificando-se a contaminação dos mesmos por C. immitis, hoje denominado C. posadasii nesta região (EULÁLIO et al., 2000). Em 2012, Cordeiro et al. relataram infecção natural em morcegos por C. posadasii, no Estado do Ceará. 2.4.2 Aspectos epidemiológicos A coccidioidomicose é uma infecção sistêmica exclusiva do Continente Americano, entre as latitudes 40ºN e 40ºS, ocasionada por dois fungos dimórficos do gênero Coccidioides: C. immitis e C. posadasii (AMPEL, 2009). O C. immitis é isolado no Vale do São Joaquim na Califórnia, Estados Unidos enquanto o C. posadasii prevalece nas outras áreas endêmicas do Continente Americano, desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina (DEUS FILHO, 2009, 35 PARISH & BLAIR, 2008), incluindo Honduras, Guatemala, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Paraguai e Brasil (CORDEIRO et al., 2011b; NEGRONI, 2008). Embora os primeiros casos brasileiros tenham sido descobertos no final da década de 1970, o Brasil só foi incluído no mapa da distribuição geográfica da doença em 1998, após relato dos primeiros surtos da forma pulmonar aguda nos Estados do Piauí e Ceará (PAPPAGIANIS, 1998). Atualmente, a coccidioidomicose é considerada endêmica nos Estados da Bahia, Piauí, Maranhão e Ceará (TOGASHI et al., 2009). No Estado do Ceará já foram relatados casos em diversas cidades, como Aiuaba, Arneiroz, Parambu, Jaguaribe, Solonópole, Independência, Boa Viagem, Catunda, Santa Quitéria e Sobral (CORDEIRO et al., 2010). (Figura 8). Legenda: Jaguaribe Sonolópole Aiuaba Arneiroz Parambu Independência Boa viagem Catunda Santa Quitéria Sobral Figura 6: Distribuição geográfica do Coccidioides posadasii no Nordeste do Brasil. Estados marcados em vermelho são endêmicos para coccidioidomicose. Áreas coloridas correspondem a municípios do Estado do Ceará com casos confirmados da doença. Fonte: Bittencourt 2012. No Nordeste do Brasil, a caça a tatus (Dasypus novemcinctus) é uma importante atividade de risco associada à doença, já que nessa região essa é uma atividade recreativa. Em razão da perseguição dos caçadores, o tatu penetra na sua toca levando a escavação do solo até a sua captura. Com isso, os humanos e os cães ficam suscetíveis a inalação maciça dos artroconídeos (COSTA et al., 2001). Eulálio et al. (2000) relataram a infecção natural de tatus 36 no Piauí, sendo esse o único relato cientifico do gênero. Os estudos, contudo, não revelam claramente a importância do tatu na história natural da doença, definindo se ele realmente serve de reservatório ou é apenas mais um dos animais suscetíveis à infecção (CORDEIRO et al., 2011b). A coccidioidomicose acomete o homem e uma grande variedade de animais, como bovinos, ovinos, equinos, caninos, felinos, roedores, suínos, antas, lhamas, primatas, golfinho, leão-marinho (AJITHDOSS et al., 2011; GAIDICI, SAUBOLLE, 2009; SHUBITZ, 2007), tatu (EULÁLIO et al., 2000) e morcegos (CORDEIRO et al., 2012). Embora seja largo o espectro de animais que podem ser infectados, o cão parece ser o hospedeiro preferencial após os humanos (GRAUPMANN-KUZMA et al., 2008). Apesar da faltas de dados epidemiológicos precisos sobre a incidência da doença em cães, estima-se, que em áreas endêmicas, esta incidência seja similar à dos humanos (CORDEIRO et al., 2011b). Por não ser uma doença de notificação obrigatória suas reais prevalência e incidência não podem ser estabelecidas com precisão. É muito provável que seja subdiagnosticada e que a sua distribuição geográfica no Brasil se estenda a outros estados nordestinos (DEUS FILHO, 2009). As duas espécies são consideradas agentes de bioterrorismo, assim agentes de biossegurança nível 3, sendo o único grupo fúngico pertencente a Select Agent List of the Departament of Health and Human Service (DICAUDO, 2006). 2.4.2 Biologia do fungo Coccidioides sp. Taxonomicamente, as espécies do gênero Coccidioides pertencem ao reino Fungi, filo Ascomycota, classe Eurotiomycetes, ordem Onygenales, família Onygenaceae, sendo representado por duas espécies, Coccidioides immitis e C. posadasii. As espécies guardam características morfológicas muito semelhantes, contudo exibem polimorfismos moleculares e preferências ecológicas distintas (FISHER et al., 2002). Apesar das diferenças genéticas entre as espécies, ambas causam infecção, em humanos e animais, e não revelam diferença quanto às manifestações clínicas e resposta imune do hospedeiro (AMPEL, 2009). O gênero Coccidioides pode apresentar-se em duas fases - saprofítica e parasitária. Em condição saprofítica, encontra-se sob a forma filamentosa no solo à temperatura de 25-30°C ou cultivado em meio de cultura em baixa temperatura, sendo esta a forma infectante do ciclo biológico dos fungos (SABOULLE et al., 2007; COX, MAGEE, 2004). Na macromorfologia, as espécies são caracterizadas por um micélio vegetativo com colônias esbranquiçadas de 37 aspecto algodonoso (DEUS FILHO, 2009). Microscopicamente, se mostram como hifas finas, hialinas, septadas e ramificadas, que originam artroconídios intercalados por células desprovidas de material citoplasmático, denominadas células disjuntoras (DE HOOG et al., 2001) (Figura 9). Os artroconídios trazem em suas extremidades restos de parede celular de células disjuntoras, responsáveis por sua fácil veiculação aérea (SABOULLE, 2007). Na fase parasitária, nos tecidos do hospedeiro à temperatura de 37°C, os artroconídios passam por mudanças morfológicas, adquirindo a fase leveduriforme do ciclo biológico do fungo, caracterizada pela formação de grandes estruturas arredondadas de paredes espessas, denominadas esférulas, as quais são divididas internamente dando origem a centenas de endósporos uninucleados (SAUBOLLE, 2007). (Figura 10). b a Fonte: CEMM 2011 Figura 7: a) Macromorfologia de Coccidioides spp. em agar batata dextrose, mostrando colônias brancas com textura algodonosa. b) Micromorfologia de Coccidioides spp. revelando hifas maduras contendo artroconídios (seta), espaçados por células disjuntoras. Montagens tipo lâmina-lamínula com lactofenol azul algodão. Coccidioides spp. são fungos geofílicos cujo habitat corresponde a ambientes semiáridos e desérticos, com temperatura média acima de 30ºC e com precipitações escassas em período limitado (PARISH, BLAIR, 2008; COX, MAGEE, 2004). Estão associados a solos com pH alcalino (SAUBOLLE et al., 2007; DICAUDO, 2006), com salinidade elevada (COX, MAGEE, 2004) e com a presença de vegetação xerófita (Figura 10). Estudos demonstraram isolamento dos fungos entre 10 e 30 cm abaixo da superfície do solo (LANIADO-LABORIN, 2007). O crescimento dos fungos no solo é influenciado por diversos fatores, sendo a umidade um dos mais importantes. O período de chuva aumenta a umidade no ambiente, 38 propiciando o crescimento dos microrganismos competidores e diminuindo o crescimento de Coccidioides spp. Após o período chuvoso, a evaporação do solo e o aumento da salinidade inibem o desenvolvimento dos fungos competidores e Coccidioides spp. crescem rapidamente na sua forma filamentosa. Durante o período da seca, ocorrem a dessecação das hifas e a formação dos artroconídios infectantes. Estes podem ser liberados no ambiente mediante distúrbios físicos como ventanias ou outros aspectos climáticos, como também por fatores antropogênicos, tornando essas estruturas acessíveis à inalação pelos hospedeiros (KOLIVRAS et al., 2001). Por esse motivo, a doença tem distribuição geográfica limitada e sua transmissão é restrita a alguns meses do ano (MORAES, 1998). Cordeiro et al. (2010) demonstraram, contudo, que a ocorrência de casos humanos de coccidioidomicose no Estado do Ceará é semelhante durante as estações chuvosas e secas. Fonte: Bittencourt, 2011. Figura 8: Vegetação característica de caatinga, em Jaguaribe, cidade com caso de coccidioidomicose humana confirmado. 2.4.3 Patogenia e Aspectos clínicos A coccidioidomicose é adquirida pela inalação de artroconídeos infectantes presentes no solo, onde o fungo cresce saprofiticamente sob a forma filamentosa (DEUS FILHO, 2009). Após a inalação, os artroconídios conseguem escapar das defesas do organismo do hospedeiro, em razão do seu tamanho reduzido e alcançam os brônquios terminais (COX, MAGEE, 2004). Nas 72 horas após a inalação, os artroconídios passam por mudanças morfológicas, através de invaginações da parede celular e originam as esférulas, as quais, durante o amadurecimento, também passam por invaginações e múltiplas divisões celulares, 39 originando endósporos em seu interior. Ao atingir a maturidade celular, cada esférula pode liberar mais de 800 endósporos e, cada endósporo iniciará o desenvolvimento de uma nova esférula aumentando a população fúngica (PARISH, BLAIR, 2008). Quando atingem o solo, em condições adequadas, os endósporos crescem na forma filamentosa, garantindo com isso, a continuidade do ciclo biológico. O ciclo parasítico completo dura entre quatro e seis dias, dependendo das características de cada cepa (CORDEIRO et al., 2011b). Embora a infecção por via inalatória seja a via mais comum, infecção por via percutânea traumática pode ocorrer (SAUBOLLE et al., 2007). Além dessa forma, foi relatada transmissão da doença por meio de órgão transplantado e um caso de transmissão intrauterina (GAIDICI, SAUBOLLE, 2009). A coccidioidomicose não é uma zoonose, entretanto existem dois relatos de transmissão de animais para humanos: inalação de formas parasitárias do fungo durante a necropsia de um equino com doença disseminada (KOHN et al, 1992) e por uma mordida de gato também com a forma disseminada (GAIDICI & SAUBOLLE, 2009). A severidade da infecção depende da virulência do fungo, espécie envolvida: animal ou humana, e condição de saúde do hospedeiro (EULÁLIO et al., 2000). Aproximadamente 65% dos humanos que adquirem essa infecção permanecem assintomáticos. Já com relação aos sintomáticos, a maioria denota manifestações pulmonares, desde um quadro gripal simples até pneumonia grave e síndrome séptica (TOGASHI, et al. 2009). Os sinais clínicos normalmente aparecem entre 7 e 21 dias após inalação, e os pacientes apresentam febre, tosse, desconforto torácico, mal-estar e fadiga (SAUBOLLE et al., 2007). A forma disseminada pode ocorrer em 5% dos pacientes sintomáticos. Pacientes negros, filipinos, mulheres no último trimestre de gestação e pacientes imunocomprometidos parecem ter um risco maior de desenvolver a forma disseminada da doença (SAUBOLLE et al., 2007; DICAUDO, 2006). Em animais, os cães são mais comumente acometidos e aproximadamente 70% dos casos são assintomáticos ou subclínicos; contudo a doença pode se mostrar de dois tipos pulmonar ou disseminada, sendo a primeira mais comum e se caracteriza por tosse. Na forma disseminada, ocorre envolvimento dos ossos, articulações, coração, cérebro, olhos, testículos, pele, baço, fígado, rim (AJITHDOSS et al., 2011). Os casos notificados em equinos, tradicionalmente, são graves e, muitas vezes, fatais (HIGGINS, PUSTERLA, 2006). Geralmente, quando os sintomas clínicos estão presentes, manifestam-se de forma severa. Os animais podem ter febre, perda de peso crônica, tosse, taquipneia e o resultado do leucograma demonstra características inflamatórias (HIGGINS et al., 2007). As formas de apresentação clínica incluem mastite e aborto (STOLTZ et al., 1994; 40 WALKER et al., 1993), pneumonia intersticial com ou sem efusão pleural ou pericardial, osteomielite, forma cutânea e disseminada. O prognóstico e a efetividade do tratamento podem variar de acordo com forma e a severidade da infecção (HIGGINS et al., 2007). Aparentemente, os cavalos têm maiores riscos de desenvolver a forma disseminada da doença com prognóstico desfavorável (CORDEIRO et al., 2011b). 2.4.4 Diagnóstico O diagnóstico clínico da coccidioidomicose é difícil, em virtude da frequente apresentação de sinais e sintomas variados e sem característica definida (AMPEL, 2010). Por conseguinte, o diagnóstico definitivo de coccidioidomicose ocorre por via do diagnóstico laboratorial. O diagnóstico micológico inclui a visualização das esférulas contendo os endósporos em material infectado (AMPEL, 2010; PARISH, BLAIR, 2008) como escarro, líquido cefalorraquidiano, exsudato de lesões tegumentares, lavado brônquico, aspirado de lesões ósseas e linfonodos, entre outros, além da cultura do fungo em meio específico (DEUS FILHO, 2009). O exame direto pode ser feito como rotina, por meio de material biológico com preparações do tipo lâmina-lamínula adicionado a hidróxido de potássio (KOH) a 10%, em que a visualização das esférulas com endósporos confirma o diagnóstico de coccidioidomicose (Figura 11). A presença de endósporos livres da esférula podem confundir o examinador, visto que são semelhantes a leveduras das espécies Histoplasma, Cryptococcus e Candida (SAUBOLLE, 2007). Embora seja de baixo custo e permita o diagnóstico por micologistas experientes, essa técnica possui baixa sensibilidade (CORDEIRO et al., 2011b). Exames histopatológicos podem ser utilizados por meio de biopsias de lesões tegumentares, pulmonares, osteoarticulares, cerebrais ou outros materiais suspeitos. Pode-se usar diversos corantes, tais como ácido periódico de Schiff (PAS), Grocott prata metenamina (GMS) e hematoxilina-eosina (HE) (SAUBOLLE et al., 2007) (Figura 11). A cultura continua sendo padrão ouro para o diagnóstico definitivo da coccidioidomicose, porém é uma pratica evitada, quando se trata de Coccidioides, em razão do risco inerente à manipulação de culturas do fungo (SUTTON, 2007; COX, MAGEE, 2004). Se realizada, contudo, deve ser em cabines de biossegurança nível 3 (SAUBOLLE et al., 2007). 41 Fonte: CEMM 2011 a b c Fonte: CEMM 2011 Figura 9: a) Aspecto micromorfológico da forma parasitária de Coccidioides spp. em tecido pulmonar de camundongos, visualizado em exame direto com KOH 10%. Histopatológico corado por PAS (b) e Grocott prata metenamina (c), com observação de endosporos liberados de esférula rompida. Para realização do cultivo pode ser utilizada uma variedade de meios, pois Coccidioides spp. não solicitam exigências nutricionais in vitro: ágar Brain Heart Infusion (BHI), ágar Sabouraud dextrose, ágar batata dextrose, ágar Sabouraud dextrose com cicloheximida, ágar Sabouraud dextrose com cicloheximida e cloranfenicol (MURTHY, BLAIR, 2009). As colônias se desenvolvem entre três a cinco dias, quando incubadas em temperatura entre 25ºC e 30ºC, mostrando textura algodonosa e coloração branca, com reverso variando entre branco e marrom (SUTTON, 2007). A visualização microscópica da colônia é realizada em montagens com lactofenol azul algodão, onde são observadas hifas finas, hialinas e septadas, contendo artroconídios intercalados por células disjuntoras (AMPEL, 2010). 2.5 Diagnóstico Sorológico da Histoplasmose e Coccidioidomicose Em virtude das limitações dos exames micológicos no que se refere a tempo de identificação do agente etiológico e de sensibilidade em algumas apresentações clínicas, utilizam-se métodos sorológicos para aprimorar o diagnóstico final (GUIMARÃES, et al., 2006). Ademais, também são empregadas para acompanhar os títulos séricos dos pacientes (BLAIR et al., 2006) relacionando esses valores à efetividade do tratamento e prognóstico (HIGGINS et al., 2007). 42 Para o diagnóstico imunológico da histoplasmose e coccidioidomicose, são utilizados vários testes, tais como: reação de fixação de complemento, imunodifusão em gel de agarose (ID) e ELISA (OLIVEIRA et al., 2011; AMPEL, 2010; FERREIRA & BORGES 2009). A imunodifusão em gel de agarose (ID), todavia, é um dos mais importantes métodos para detecção de anticorpos para as duas micoses, em decorrência da sua execução fácil e rápida, baixo custo, rapidez nos resultados, além de sua alta especificidade (SAUBOLLE et al., 2007; GUIMARÃES et al., 2006; WANKE, LAZÉRA, 2004). O teste de imunodifusão em gel de agarose é um teste qualitativo e semiquantitativo com base no princípio da dupla difusão descrito por Ouchterlony. Um anticorpo e o antígeno homólogo solúvel são colocados em poços separados cortados em um meio de difusão apropriado (agarose) e difundem pelo mesmo em diversas direções. Uma linha visível da reação de precipitação antígeno-anticorpo forma-se no ponto de equivalência entre os poços (SANCHEZ,2001; ROITT et al., 1998). (Figura 12). Fonte: Adaptado de SANHEZ, 2001 Figura 10: Padrão da reação positiva no teste de imunodifusão em gel de agarose. Poço 1 – antígeno; 2 e 5 – soros controles positivos; 3,4,6 e 7 – soros para teste Por meio do teste de ID, obtém-se uma resposta sorológica para dois importantes antígenos para H. capsulatum: M e H. A banda de precipitação M pode ser detectada em pacientes que foram expostos ao fungo ou após teste intradérmico de histoplasmina e também na fase aguda da enfermidade. Pode ser considerada assinatura imunológica da doença. A banda H aparece após a banda M e pode ser detectada em soro de pacientes com doença aguda e/ou progressiva. Essa banda, entretanto, aparece somente em 7% dos pacientes na fase aguda. A presença de ambas as bandas é considerada diagnóstico conclusivo para histoplasmose (GUIMARÃES et al., 2006). (Figura 13). 43 Banda M Banda H Fonte: CEMM 2010 Figura 11: Reação de imunodifusão para detecção de anticorpos contra Histoplasma capsulatum. Poço central – antígeno; nos poços 1 e 4 – soros controle positivos: onde são visualizadas linhas de precipitação M e H. Para a coccidioidomicose, o teste detecta anticorpos específicos IgM anti-Coccidioides e IgG anti-Coccidioides. Os anticorpos IgM e IgG são direcionados com dois grupos de antígenos distintos: TP (tube precipitin) e CF (complement fixation), respectivamente (GALGIANI, 1993). A detecção precoce de IgM pode ser realizada entre uma a três semanas após o aparecimento dos sintomas, com uma positividade de 50% a 90%, respectivamente. Enquanto isso, aproximadamente 90% dos indivíduos demonstram positividade na detecção de IgG em torno da quarta semana após surgirem os sintomas (CORDEIRO et al., 2011). Resultados negativos não excluem a possibilidade da infecção por H. capsulatum e C. posadasii (MUÑOZ et al., 2010; GALCIANI, 1993), visto que a técnica de ID possui limitações quando relacionada a pacientes imunocomprometidos e com infecções na fase inicial (PAPPAGIANIS, 2001). 44 3. JUSTIFICATIVA No tocante aos aspectos microbiológicos de equinos, há vários trabalhos na literatura, abordando diferentes patógenos bacterianos e virais que afetam o trato respiratório superior desta espécie animal. No tocante aos fungos, porém, há uma escassez de estudos que abordem esses microrganismos. Por conseguinte, visando a suprir, pelo menos em parte, essa carência, foi realizada uma busca ativa por espécies de Candida na cavidade nasal de cavalos, permitindo a identificação e o perfil de sensibilidades dessas leveduras. Ademais, foi realizada uma investigação sorológica para as micoses endêmicas histoplasmose e coccidioidomicose, nas quais o pulmão é o sítio primário de infecção. 45 4. HIPÓTESES CIENTÍFICAS 1. Leveduras do gênero Candida são isoladas do trato respiratório superior de equinos saudáveis e apresentam resistência primária a antifúngicos de uso terapêutico. 2. Os equinos são bons animais sentinela para histoplasmose e coccidioidomicose no Estado do Ceará. 46 5. OBJETIVOS 5.1 Objetivo geral Com este estudo, buscou-se contribuir com a temática acerca dos fungos do trato respiratório de equinos, particularmente identificando as espécies de Candida isoladas da cavidade nasal, bem como realizando inquérito sorológico para histoplasmose e coccidioidomicose nesta espécie animal. 5.2 Objetivos específicos Identificar espécies de Candida isoladas do trato respiratório superior de equinos. Avaliar a sensibilidade antifúngica in vitro destas leveduras. Investigar a presença de IgG anti-C. posadasii e IgG anti-H. capsulatum em amostras de soro obtidas de equinos do Estado do Ceará. 47 6. CAPÍTULO 1 Fungos do trato respiratório de equinos: destaque para o isolamento de espécies de Candida não-albicans Equine respiratory fungi: an outline for the isolation of Candida non-albicans species Periódico: Medical Mycology (Submetido em Maio de 2012). 48 RESUMO As infecções respiratórias são um problema comum em equinos e demonstram morbidade e mortalidade variáveis. Embora algumas espécies de fungos sejam consideradas os principais agentes de infecção respiratória em diversas mamíferos, a sua relevância nas doenças respiratórias de equinos é frequentemente negligenciada. Neste estudo, foi realizada uma busca ativa de Candida spp. na cavidade nasal de equinos, bem como uma pesquisa imunológica para coccidioidomicose e histoplasmose nesses animais. A presença de Candida spp. foi investigada por meio de swabs nasais e posterior semeadura em meios de cultura. Estas leveduras foram identificadas por testes fisiológicos e caracterizados quanto ao perfil de sensibilidade a antifúngicos in vitro. A pesquisa sorológica foi realizada por meio do teste de imunodifusão dupla para detecção de anticorpos IgG específicos. A análise do material da cavidade nasal de 97 equinos, escolhidos aleatoriamente, permitiu o isolamento de 56 Candida spp. em 35 animais (36,08%), sendo 18 (32,14%) C. famata, 14 (25%) C. parapsilosis, 12 (21,42%) C. guilliermondii, 11 (19,64%) C. tropicalis e 1 (1,78%) C. pelliculosa. Os valores de Concentração Inibitória Mínima (CIM) variaram de 0,03125 a 1µg/mL para anfotericina B; de 0,03125 a >16µg/mL e 0,125 a >64µg/mL para itraconazol e fluconazol. Resistência ao fluconazol e itraconazol foi observada em C. tropicalis (n=3) e C. guilliermondii (n=1). Não foi detectada reatividade aos antígenos de Coccidioides spp. e Histoplasma capsulatum em 177 animais investigados. Os dados demonstram um predomínio de espécies de Candida não-albicans na microbiota da cavidade nasal de equinos, inclusive com isolados resistentes a antifúngicos, e reforçam a importância do monitoramento de patógenos fúngicos nesses animais. Palavras-chave: Cavalos, Candida spp., sensibilidade antifúngica, histoplasmose, coccidioidomicose 49 Medical Mycology – Original Paper Equine respiratory fungi: an outline for the isolation of antifungal resistant Candida non-albicans strains Rossana de Aguiar Cordeiro1, Paula Vago Bittencourt2, Raimunda Sâmia Nogueira Brilhante1, Carlos Eduardo Cordeiro Teixeira1, Débora de Souza Collares Maia CasteloBranco1, Sabrina Tainah da Cruz Silva², André Jalles Monteiro3, José Júlio Costa Sidrim1, Marcos Fábio Gadelha Rocha1,2 1 Department of Pathology and Legal Medicine, School of Medicine, Specialized Medical Mycology Center, Postgraduate Program in Medical Microbiology, Federal University of Ceará, Fortaleza-CE, Brazil. 2 School of Veterinary, Postgraduate Program in Veterinary Science, State University of Ceará, Fortaleza-CE, Brazil. 3 Department of Statistics and Applied Mathematics, Federal University of Ceará, Fortaleza- CE, Brazil. Corresponding Author. R. S. N. Brilhante. Rua Barão de Canindé, 210; Montese. CEP: 60.425-540. Fortaleza, CE, Brazil. Fax: 55 85 3295-1736 E-mail: [email protected] 50 Abstract Respiratory infections are a common problem among equines and occur with variable rates of morbidity and mortality. Although some fungal species are considered primary agents of respiratory tract infections in several mammals, their relevance in respiratory diseases of equines is frequently neglected. In the present study, we performed an active search for Candida spp. in the nasal cavity of horses and also conducted an immunological survey for coccidioidomycosis and histoplasmosis on these animals. The presence of Candida spp. was investigated through the use of nasal swabs that were streaked on culture media. These yeasts were identified through physiological testing and the in vitro antifungal susceptibility was also characterized. The serological survey was carried out through double immunodiffusion testing for the detection of specific IgG antibodies. The analysis of the material from the nasal cavity of 97 randomly chosen horses resulted in the isolation of Candida spp. in 35 animals (36.08%), out of which 18 (32.14%) were C. famata, 14 (25%) C. parapsilosis, 12 (21.42%) C. guilliermondii, 11 (19.64%) C. tropicalis and 1 (1.78%) C. pelliculosa. The minimum inhibitory concentration (MIC) values ranged from 0.03125 to 1µg/mL for amphotericin B; and from 0.03125 to >16µg/mL and 0.125 to >64 µg/mL for itraconazole and fluconazole, respectively. Resistance to fluconazole and itraconazole was observed in C. tropicalis (n = 3) and C. guilliermondii (n = 1). Reactivity to Histoplasma capsulatum and Coccidioides spp. antigens was not detected in the 177 investigated animals. The data show a predominance of non-albicans Candida species in the microbiota of the nasal cavity of equines including antifungal resistant isolates, reiterating the importance of monitoring fungal pathogens in these animals. Keywords: Horse, Candida spp., antifungal susceptibility, histoplasmosis, coccidioidomycosis 51 Introduction Yeasts of the Candida genus are considered commensal microorganisms associated with skin and mucosae of the urogenital, respiratory and gastrointestinal tracts of humans and various animal species [1,2,3,4,5]. Among the 25 species of yeasts that are considered emerging pathogens, 20 are Candida spp. [6]. Generally, these microorganisms do not cause any harm to their hosts, but they can become pathogenic when changes occur in physical, chemical and immunological barriers, culminating in an illness called candidiasis [2,5]. In horses, more specifically in foals, the Candida species are opportunistic pathogens that can cause gastroesophageal ulcerations, diarrhea, meningitis, omphalophlebitis and less often systemic infections [7,8]. In adult horses, C. famata has been associated with septic arthritis, while C. albicans has been isolated from mares suffering from keratitis and endometritis [9,10]. The dimorphic fungi Histoplasma capsulatum var. capsulatum and Coccidioides posadasii are the causative agents of histoplasmosis and coccidioidomycosis, respectively, both of which can affect several species of animals including horses. In Brazil, histoplasmosis is an endemic disease that occurs mainly in patients with AIDS and it is highly prevalent in the state of Ceará [11]. More recently, we described clinical and epidemiological aspects of three cases of feline histoplasmosis isolated in this state [12]. Despite the lack of reports of this disease in horses in Brazil, histoplasmosis has been diagnosed in these animals in the United States [13,14,15]. Concerning coccidioidomycosis, this disease is considered endemic to Northeastern Brazil, as evidenced by the occurrence of autochthonous cases in humans [16,17] and dogs [16]. Unlike Brazil, in the United States, coccidioidomycosis has been diagnosed in horses [18,19,20,21]. Because of the small number of studies investigating fungi from the equine respiratory tract, we performed an active search for Candida spp. in the nasal cavity of horses and also 52 conducted an immunological survey in these animals for coccidioidomycosis and histoplasmosis, which are endemic mycoses that primarily infect the lungs. Materials and Methods Animals One hundred and seventy-seven clinically healthy horses, from farms in the municipalities of Fortaleza (3° S-40° 41 ' 20 ' W), Eusébio (3 º 38° 53 ' S – 28 ' W), Caucaia (3° 43 ' S 38° 39 ' W), Jaguaribe (5 º 38° 53 ' S – 37 ' W), Sobral (3° 41 ' S – 40° 29 ' W) and Santa Quitéria (04° 19 ' S-40° 09 ' W), Ceará, Northeastern Brazil, were included in this survey, during the period from March to November 2011. These animals were used for the serological investigation and 97 of them were randomly chosen for the detection of Candida spp. Samples were collected from females and males (castrated and stallions), both juveniles (≤4 years) and adults (>5 years), of seven different breeds (Quarter horses, Arabian horses, Brazilian Jumper horses, Lusitano, Breton, British Thoroughbred and mixed breed horses). For each animal, a clinical-epidemiological form was completed, including information on the origin, age, sex, breed and clinical features. This study was approved by the animal research ethics committee of State University of Ceará (protocol number 10610172-2/55). Sample collection, isolation and identification procedures Microbiological samples were collected from the nasal cavity through the use of sterile cotton swabs. The first swab was inserted in the rostral region, approximately 10 cm from the nostril orifice, and the second in its caudal portion, approximately 30 cm from the entrance. After collection, the swabs were stored in glass slants with sterile saline supplemented with chloramphenicol (50 mg/L), stored and transported in isothermal trays to the Specialized Medical Mycology Center of Federal University of Ceará. Blood samples (5 mL) were 53 obtained through venipuncture of the jugular vein, with sterile Vacutainer® tubes, without anticoagulant. These were stored in isothermal trays and transported to the laboratory. The swabs were inoculated in Petri dishes containing 2% Sabouraud dextrose agar (SGA, Difco Laboratories) with chloramphenicol and incubated for up to 5 days at room temperature (28 oC), with daily reading for evaluation of the presence of fungal colonies. Then colonies suggestive of Candida spp. were streaked on chromogenic medium (CHROMagar CandidaTM), on which the colonies were incubated for 48 hours. The isolated colonies were inoculated in Petri dishes containing corn meal agar supplemented with Tween 80 and incubated for up to 5 days at 28 ºC, and later were observed with an optical microscope. Biochemical analyses with each isolate were also performed, such as carbohydrate assimilation tests, and the results were interpreted according to standards [22]. In inconclusive situations, the strains were identified through VITEK 2 automated system (BioMérieux Vitek, Hazelwood, France), according to the manufacturer’s instructions. Data concerning the collection site and the isolated species were analyzed through Pearson’s Chi-Square test, considering P< 0.05 as the smallest significance level. Antifungal susceptibility testing The minimum inhibitory concentration (MIC) was determined by the broth microdilution method, standardized by the Clinical and Laboratory Standards Institute [23], for all the isolates of Candida spp. An isolate of Candida parapsilosis ATCC 22019 was included as quality control. The fungal inoculum was prepared from 24-hour old colonies grown on potato dextrose agar at 28 °C for 24 hours. For this purpose, 5 mL of saline solution (NaCl 0.9%) was added in sterile glass slants, after which a sample of the colony was added and the concentration was adjusted to 0.5 on the MacFarland scale. For the test, the suspensions were diluted at a ratio of 1:100 and then 1:20 54 with RPMI 1640 medium, buffered to pH 7 with MOPS (acid 2-[N-morfolin]propanesulfonic) at 0.165 M, to obtain inocula varying from 1 to 2.5 103 CFU/mL [23]. The final concentration of antifungal drugs (amphotericin B, fluconazole and itraconazole) was obtained as recommended by CLSI [23]. All drugs were diluted and resuspended in RPMI 1640 medium. The range of concentration tested was from 0.125 to 64 µg/mL for fluconazole and from 0.03125 µg/mL to 16 µg/mL for amphotericin B and itraconazole [2,4]. The samples were analyzed in duplicate. The trays were incubated at 35 ºC for 48 hours. The MIC for the azole derivatives (fluconazole and itraconazole) was considered to be the lowest concentration able to inhibit 50% growth when compared to the growth control well. For amphotericin B, the MIC was considered to be the lowest concentration capable of inhibiting growth completely. MIC values of >1, > 64 and ≥ 1 µg/mL indicated in vitro resistance to amphotericin, fluconazole and itraconazole, respectively [23]. For the species C. parapsilosis and C. tropicalis, MIC values of ≥ 8 µg/mL indicated resistance to fluconazole [24]. Immunodiffusion test The serum samples were obtained by centrifuging the blood samples at a speed of 1,500 rpm for 15 minutes at a temperature of 28 °C, after which they were stored at -20 °C. The double immunodiffusion technique in agarose gel was used to detect anti-C. posadasii IgG and anti-H. capsulatum IgG. The antigens Histoplasma ID (H&M) and Coccidioides IDCF were used according to the manufacturer's recommendations (Immy Immunodiagnostics, Inc., USA). Positive human sera for coccidioidomycosis and histoplasmosis (Immy Imunodiagnostics, USA) were used as controls for the immunodiffusion reactions. The results were initially read after 24 hours of incubation in a 55 moist chamber, and the final reading was made after 48 hours. The quality control of the test was assured by the presence of the precipitation line obtained between the antigen and the positive control serum. Results From the total of 97 horses assessed, 35 (36.08%) were positive for Candida spp. Out of these positive animals, 19 were females (18 adults and 1 juvenile), while 16 were males (14 adults and 2 juveniles). A total of 56 isolates of Candida spp. were recovered. The rostral nasal cavity was the anatomical site with the highest isolation rate, with 36 isolates (64.29%), belonging to five species (10 C. tropicalis, 10 C. famata, 9 C. guilliermondii and 7 C. parapsilosis). From the caudal nasal cavity, 20 (35.71%) isolates were obtained, belonging to the species C. famata (n = 8), C. parapsilosis (n = 7), C. guilliermondii (n = 3), C. tropicalis (n = 1) and C. pelliculosa (n=1) (Table 1). As for the antifungal susceptibility assays, the MIC values for Candida isolates are detailed in Table 2. The MIC for amphotericin B ranged from 0.03125 to 1 µg/mL for all isolates. The MIC for itraconazole ranged from 0.03125 to >16 µg/mL and for fluconazole from 0.125 to >64 µg/mL. Three isolates of C. tropicalis were resistant to itraconazole and fluconazole (MIC ≥1 µg/mL and ≥8 µg/mL, respectively). Also, two isolates of C. guilliermondii were resistant to fluconazole (MIC >64 µg/mL). There was no statistically significant difference between the analyzed anatomical sites, sex, age, breeds and cities. Finally, all 177 serum samples were negative for anti-Histoplasma and anti-Coccidioides antibodies. 56 Discussion Despite the clinical reports identifying Candida species as a cause of infection in animals, the number is still considered small when compared to human infections [25]. Because of this lower number of cases, there are still some questions about which species are part of the microbiota, how they become pathogenic and their prevalence. This study suggests that the species found (C. parapsilosis, C. guilliermondii, C. tropicalis, C. famata, C. pelliculosa) are commensal of the equine nasal cavity. Although the literature reports C. albicans as an important component of the microbiota of animals [3,25], it was not isolated from any sampled horse. The most frequently isolated species in our study was C. famata (n = 18), similar to what was found by another author [8], who studied the microbiota of the oropharynx and rectum of healthy and debilitated foals. The second most isolated species was C. parapsilosis, which has gained importance in recent years as a pathogen of humans and animals [1,2,26]. The species C. pelliculosa is commonly isolated from fruit, vegetables, tree exsudate and soil, being considered an environmental yeast. However, in recent years it has been occasionally reported as a causative agent of fungemia in pediatric patients, mainly newborns in intensive care [27,28]. Despite the lack of case reports concerning the occurrence of clinical cases in animals, this species has been isolated from birds [29] and feces of bats [30]. In our study, a single sample of this species was recovered, but its phenotypical identification through manual methods was not conclusive. Therefore, the confirmation of its identity was performed via the VITEK 2 automated system. The rostral portion of the nasal cavity showed a higher rate of isolation (64.29%), with the species C. tropicalis, C. famata and C. guilliermondii as the most prevalent ones. On the other hand, the recovery rate from the caudal portion of the nasal cavity was lower and C. famata and C. parapsilosis were the most isolated species. This difference between the 57 isolation rates of the two anatomical sites may be related to environmental factors. Furthermore, even though it is not the focus of this survey, it is important to highlight that other yeasts, e.g., Rhodotorula spp. and Trichosporon spp., were found. However, the isolation of these microorganisms was hampered by the excessive growth of filamentous fungi, which are commonly found in the nasal cavity, considering the anatomical, physiological and biological characteristics of equines. In our study, three strains of C. tropicalis were resistant to fluconazole and itraconazole and two strains of C. guilliermondii were resistant to fluconazole. These findings are relevant since the animals were healthy and had no history of previous antifungal treatment. The phenomenon of in vitro antifungal resistance in Candida spp. isolated from animals has been frequently reported by our research group [2,4,12,31]. This phenomenon is possibly associated with the use of azole derivatives in agriculture [32]. In our survey, all animals were negative for the presence of anti-H. capsulatum and antiC. posadasii antibodies. Several serological techniques can be used to diagnose these mycoses, such as complement fixation, latex agglutination, ELISA and agarose gel immunodiffusion (ID). ID is the most commonly used technique due to its quick and easy implementation, low cost, fast results and high specificity [33]. Histoplasmosis in the state of Ceará has high incidence in humans [11]. However, the epidemiological data regarding animal infections are scarce and the prevalence of the disease is unclear in this region [12,34]. There are no reports of histoplasmosis in horses in Brazil, in spite of having been described in other countries [13,14,15,35]. As for coccidioidomycosis, it is considered endemic in some Northeastern states, including Ceará [16,36], with reports in humans and animals [16,37]. In Brazil, there are no reports of this mycosis in horses, but cases of this disease in these animals have been reported in the USA [21]. Despite this evidence, found that only 4% of healthy horses, in endemic areas, had positive serology 58 according to the agarose gel immunodiffusion test and the authors observed that serological titers tended to decrease within 2 to 6 months [38]. Even though all animals presented negative serological results for histoplasmosis and coccidioidomycosis, this study is relevant because it was the first to investigate the role of horses in the epidemiology of these systemic mycoses in Brazil. Conclusion The data show a predominance of non-albicans Candida species in the nasal cavity of equines, including antifungal resistant strains, and that horses are not good sentinel animals for histoplasmosis and coccidioidomycosis in this geographical region, when tested through double immunodiffusion. Acknowledgements This work was supported by grants from the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq; Brazil; Processes 302574/2009-3 and 562296/2010-7) and the Coordination Office for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES/PNPD 2103/2009). Transparency Declaration Nothing to declare. References 1. Cleff, MB, Lima AP, Faria RO, et al. Isolation of Candida spp. from vaginal microbiota of healthy canine females during estrous cycle. Braz J Microbiol 2005; 36: 201-204. 59 2. Brito EHS, Fontenelle ROS, Brilhante RSN, et al. The anatomical distribution and antimicrobial susceptibility of yeast species isolated from healthy dogs. Vet J 2009; 182: 320326. 3. Brilhante RSN, Castelo-Branco DSCM, Soares GDP, et al. Characterization of the gastrointestinal yeast microbiota of cockatiels (Nymphicus hollandicus): a potential hazard to human health. J Med Microbiol 2010; 59: 718-723. 4. Brilhante RSN, Paiva MAN, Sampaio CMS, et al. 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MIC (µg/mL) Candida spp. C. parapsilosis C. famata C. guilliermondii C. tropicalis n 14 18 12 11 Amphotericin B Itraconazole Fluconazole 0.03125 (1)ᵃ 0.0625 (3) 0.125 (4) 0.25 (3) 0.5 (3) 0.03125 (8) 0.0625(1) 0.125 (2) 0.25 (3) 0.0625 (2) 0.125 (6) 0.25 (6) 0.5 (4) 0.03125 (5) 0.0625 (5) 0.125 (3) 0.25(2) 4 (1) 8 (2) 0.03125 (5) 0.0625 (2) 0.25 (3) 8 (2) 0.125 (2) 0.25 (3) 0.5 (1) 1 (2) 2 (5) 4 (1) 0.5 (2) 1 (5) 2 (4) 4 (4) 8 (2) 32 (1) 0.25(2) 0.5 (1) 1 (1) 2 (2) 4 (3) 8 (1) >64 (2) 0.0125(1) 0.25(1) 0.5 (3) 2 (1) 4 (2) >64 (3) 1 0.125 (4) 0.25 (2) 0.5 (4) 1 (2) 0.0625(2) 0.25 (4) 0.5 (5) 0.03125 (2) 0.125 (4) 0.25 (2) 8 (2) >16 (1) C. pelliculosa 01 0.125 0.25 C. parapsilosis ATCC 0.03125 01 1 22019 a Represents the number of isolates that presented the indicated MIC 2 66 7. CONCLUSÕES 1. O sítio anatômico cavidade nasal rostral apresentou a maior taxa de isolamento de Candida spp., sendo isoladas somente espécies de Candida não-albicans. 2. Há resistência primária a derivados azólicos em Candida spp. isoladas da cavidade nasal de equinos, especificamente em C. tropicalis diante ao itraconazol e fluconazol e C. guilliermondii ante o fluconazol. 3. Os equinos, investigados pela técnica de imunodifusão dupla, não são bons animais sentinela para histoplasmose e coccidioidomicose nesta região geográfica. 67 8. PERSPECTIVAS 1. O conhecimento sobre as leveduras do gênero Candida presentes no trato respiratório superior de equinos é importante por auxiliar a compreensão da dinâmica microbiana, visto que os patógenos fúngicos ainda são pouco implicados em afecções respiratórias em equinos. O monitoramento do perfil de sensibilidade de cepas de Candida spp. de origem animal é escasso, sendo limitado o número de pesquisas nessa área. Este trabalho constatou a ocorrência do fenômeno de resistência primária a derivados azólicos em cepas de C. tropicalis e C. guilliermondii. Considerando que os animais representam possíveis fontes de infecção para os seres humanos, é necessário investigar os possíveis fatores envolvidos neste fenômeno. Este estudo foi pioneiro para a espécie estudada e forneceu dados importantes sobre a composição da microbiota direcionada ao gênero Candida. 2. Apesar dos equinos analisados nesta pesquisa exibirem resultados sorológicos negativos para histoplasmose e coccidioidomicose, é necessária a realização de mais estudos a respeito do envolvimento desses animais na ecoepidemiologia dessas enfermidades no Ceará, mediante técnicas sorológicas mais sensíveis, bem como uma possível utilização de testes de intradermorreação com a histoplasmina e coccidioidina. 68 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, D.M., RIBEIRO, M.G., UENO, T.E., NARDI JÚNIOR, G., PAES, A.C., MEGID, J., LISTONI, F.J.P. Etiologia e sensibilidade in vitro de microrganismos aeróbicos isolados de endometrite equina. 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