UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Marcelo - TCC On-line

Transcription

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Marcelo - TCC On-line
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Marcelo Antônio Stammer
EMOÇÃO E EXPRESSÃO: A COBERTURA
FOTOJORNALÍSTICA DE SHOWS
CURITIBA
2008
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ\
Marcelo Antônio Stammer
EMOÇÃO E EXPRESSÃO: A COBERTURA
FOTOJORNALÍSTICA DE SHOWS
Trabalho de conclusão de curso (TCC),
apresentado ao Curso de Comunicação
Social, habilitação em Jornalismo, da
Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas,
da Universidade Tuiuti do Paraná.
Orientadora: Profª. Ana Maria Melech
CURITIBA
2008
i
AGRADECIMENTOS
- Em especial aos meus pais, Maria e Edmundo, por tudo;
- Melissa, por seu amor incondicional e pela compreensão nas noites ausentes;
- Professora Ana Maria Melech e professor Giovani Santos, pela valiosa orientação
neste trabalho;
- Aos amigos, que viveram, junto comigo, todo o contexto que envolveu a captação
destas imagens;
- A Flávio Damm, mestre pioneiro do fotojornalismo no Brasil, pelos conselhos em
uma época de incertezas;
- A José Medeiros, Fernanda Chemale, David La Chapelle, Henri Cartier-Bresson,
Robert Capa, James Nachtwey, David Bailey, Annie Leibovitz, e, especialmente, Bob
Gruen, pela inspiração;
- A todos os artistas retratados, por permitirem que eu congelasse com minha
câmera, suas imagens em momentos de cor, luz, fúria, feeling e extrema beleza e
em cima do palco (quando havia palco); e por sua música maravilhosa, que foi a
trilha sonora enquanto eu fotografava.
- E a Chet, Miles e Sinatra, que embalaram estas linhas.
ii
Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetas células guarda!
(Augusto dos Anjos)
iii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ................................................................................................. ii
EPÍGRAFE ................................................................................................................. iii
RESUMO ................................................................................................................... vi
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................................ 3
2.1 A MÚSICA E A RELAÇÃO COM O SER HUMANO ............................................. 4
2.2 A FOTOGRAFIA E A CULTURA DE SHOWS EM CURITIBA ............................. 5
2.2.1 Bandas e Bares ................................................................................................. 7
2.2.2 Os Metralhas ..................................................................................................... 8
2.2.3 A Chave / Blindagem ......................................................................................... 8
2.2.4 Relespública ...................................................................................................... 8
2.2.5 Mordida .............................................................................................................. 9
2.3 A COBERTURA FOTOJORNALÍSTICA DE SHOWS .......................................... 9
2.4 PROBLEMATIZAÇÃO ........................................................................................ 10
3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 12
3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 12
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 12
4 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 14
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 17
5.1 O QUE É FOTOGRAFIA? .................................................................................. 17
5.2 O SURGIMENTO DO FOTOJORNALISMO E SUA DEFINIÇÃO ...................... 20
6 METODOLOGIA ................................................................................................... 23
iv
7 DELINEAMENTO DO PROJETO ......................................................................... 25
7.1 ROTEIRO ........................................................................................................... 26
7.2 EQUIPAMENTO ................................................................................................. 26
7.3 FORMATO .......................................................................................................... 27
7.4 VEICULAÇÃO .................................................................................................... 27
7.5 PÚBLICO-ALVO ................................................................................................. 28
7.6 RECURSOS E VIABILIZAÇÃO .......................................................................... 28
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 32
APÊNDICES ............................................................................................................. 34
v
RESUMO
Documentação fotográfico-cultural de shows de musicais em Curitiba, baseada em
trabalho de campo e que visa revelar um lado da cultura da cidade pouco conhecida
pelo grande público consumidor de cultura, que freqüenta shows de música,
consome arte, lê jornais. O objetivo é traçar um panorama do cenário da música em
Curitiba, seus personagens, ídolos locais, bem como a emoção e as expressões da
platéia e também dos músicos, de forma jornalística. Cabe ao fotógrafo escolher a
melhor forma de representar, imagéticamente, a cena presenciada, utilizando a
técnica para refletir, de forma precisa, a mensagem intrínseca em cada imagem.
Procura, também, tornar clara a utilização da fotografia de shows como forma de
jornalismo, e não apenas como mera ilustração moldurada por um texto. A fotografia
de espetáculos, por seu grafismo, cores e expressão, transmite com precisão o
clima, a emoção e o contexto no qual a cena está inserida. O trabalho mostra, ainda,
como este tipo de cobertura se encaixa na categoria “fotojornalismo”, ao cumprir as
etapas de pauta, apuração de dados, edição e publicação.
Palavras-chave: Cultura; Shows;
Fotodocumentário; Fotojornalismo.
Música;
vi
Curitiba;
Rock;
Rock
Curitibano;
1
1. INTRODUÇÃO
A fotografia existe há cerca de 150 anos, e faz parte da vida de milhões de
pessoas ao redor do mundo. Todos os dias são tiradas fotografias que registram as
mais variadas cenas. Presente na imprensa, no cinema, na publicidade, na arte e
nas ruas, o primeiro contato com a fotografia geralmente se dá na infância, ao
folhear um álbum de família. Nesse registro, estão preservadas memórias de outras
épocas e pessoas; momentos “congelados no tempo”. Fotografar, segundo Cláudio
Kubrusly (2003, p. 7), é o ato de “substituir o fluir da própria vida, o passar
incessante do tempo, pelo correr de um filme”. Com suas características imediatistas
e permanentes, uma foto pode conter um assunto de tal complexidade, inigualável
em nenhum outro meio, ou até mesmo o simples registro de um sorriso.
A partir desta ampla gama de possibilidades, a fotografia aplicada ao
jornalismo – o fotojornalismo – consiste em uma ferramenta de registro do fato e do
“momento decisivo”. E é exatamente de “momentos decisivos”, que é feita a
cobertura fotojornalística, seja de fatos cotidianos – guerras, esportes, ocorrências
policiais – seja de shows e espetáculos: um pulo de um guitarrista, congelado no ar,
uma expressão irreverente do cantor em sua performance, o suor na testa, a
expressão de admiração do fã em relação ao seu ídolo, o espetáculo à parte da
multidão que lota uma casa de shows. Todos esses elementos aglutinados através
do obturador de uma câmera, lapidados pela técnica do fotógrafo e gravados em
uma película (ou em um sensor digital), resultam no registro único de um fato, um
testemunho.
2
A fotografia de shows pode ser comparada ao fotojornalismo esportivo. Tal
qual um repórter fotográfico que cobre futebol, o fotógrafo de espetáculos deve estar
sempre atento a fatos repentinos que, em um piscar de olhos, podem desaparecer
sem deixar vestígios. Por isso, ter completo domínio sobre a técnica fotográfica,
além do mínimo de conhecimento sobre o assunto a ser fotografado, é essencial na
captura de imagens que façam a diferença – e, por que não – entrem para a história.
Porém, ao contrário da fotografia de esportes, que tem seu espaço cativo
nos grandes veículos jornalísticos da cidade, os espetáculos musicais que ocorrem
na capital paranaense recebem pouca cobertura fotográfica, muitas vezes, de baixa
qualidade. Quando o assunto é a cena de bandas de rock locais, então, nem se fala.
Nada é mostrado ao público que lê jornais, que acaba não tomando conhecimento
dos artistas que batalham pelo underground curitibano e que fazem parte de uma
cena interessante, de grande produção musical.
Pretende-se, com este trabalho, não só apresentar e integrar a fotografia de
shows à forma jornalística, mas, também, mostrar e identificar a cultura dos shows
de rock em Curitiba, conhecida por muitos, mas desconhecida da maioria. Esse
fotodocumentário, e a carga informativa que ele carrega será divulgado em espaços
culturais,
bares,
casas
noturnas,
centros
comunitários,
museus,
escolas,
universidades e onde mais houver o interesse por esta parte da cultura curitibana e
brasileira.
3
2. DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
Quem freqüenta o meio musical de Curitiba sabe que a cidade possui
artistas dos mais variados estilos, com predominância do rock e todas as suas
vertentes: Rock’n’Roll, Mod, Punk Rock, Psychobilly, Indie Rock, Electro-Rock,
Heavy Metal, Classic Rock, Samba Rock e por aí vai. Os iniciados neste submundo
underground curitibano, freqüentado por muitos e desconhecido por muitos outros,
conhecem também os nomes e sobrenomes dos ídolos locais. São cantores,
instrumentistas e até produtores, que são admirados, invejados e muitas vezes
seguidos e imitados por fãs de toda a cidade. Gente como Fábio Elias, Paulo de
Nadal, Vlad Urban, Igor Fillus, Rodrigo Lemos, Ivo Rodrigues, e tantos outros
cidadãos curitibanos desconhecidos da grande população, mas que despertam
emoções das mais variadas em jovens e adultos.
Porém, não apenas de atrações locais vive a cena musical independente
curitibana. Os curitibanos estabelecem parcerias com artistas de outros estados
brasileiros – às vezes de outros países – que também influenciam e atraem os
olhares de admiradores da cidade. De tempos em tempos, a cena também é
prestigiada por atrações realmente de peso, daquelas que todo mundo conhece e
que influenciam, além dos ídolos locais, pessoas diversas, de todas as áreas de
atuação e de várias partes do Brasil e do mundo. É o caso do norte-americano Alice
Cooper, ou dos nacionais Skank, Velhas Virgens e muitos outros.
O objeto a ser pesquisado neste trabalho é justamente a atuação desta
movimentação cultural de artistas musicais de todos os estilos em Curitiba, que
pouco tem de espaço na grande mídia, a não ser por alguns veículos que seguem a
4
mesma filosofia das bandas que são alvos de suas lentes e canetas: a
independência. Faz-se necessária uma abordagem mais completa do “cenário e
seus atores”, para que se torne clara a existência e a relevância de cada um no
contexto proposto. Dar-se-á ênfase à cultura local, como segue.
2.1 A MÚSICA E A RELAÇÃO COM O SER HUMANO¹
A música enquanto parte de uma cultura, criada e recriada pelo fazer afetivo
do homem, é vivida no contexto social e histórico, onde pode receber significações
que são partilhadas socialmente e sentidos singulares que são tecidos a partir da
dimensão afetivo-volitiva e dos significados compartilhados. Desta forma, falamos de
vivências coletivas e singulares da música, sempre em meio ao contexto históricosocial.
Entendendo a música como um fazer que se constrói pela ação do sujeito
em relação com o contexto histórico-cultural, entendemos o sujeito como constituído
e constituinte do contexto no qual está inserido. Todo indivíduo enquanto ser social
insere-se, desde o momento em que nasce, em um contexto cultural, apropriando-se
dele e modificando-o ativamente, ao mesmo tempo em que é por ele modificado. As
manifestações culturais derivam da atividade humana conjunta, assim como as
características singulares do sujeito, sendo social e historicamente constituídas.
___________________
¹ Retirado de: WAZLAWICK, Patrícia; CAMARGO, Denise de; MAHEIRIE, Kátia. Significados e
sentidos da música: uma breve "composição" a partir da psicologia histórico-cultural. Maringá, n. 01,
vol. 12, p. 106-107, jan. / abr. 2007.
5
As atividades culturais contribuem, em relação às significações engendradas
e apropriadas pelos sujeitos que as executam, para a constituição dos sujeitos.
Configura-se, então, uma dinâmica entre sujeito, contextos sociais, cultura,
linguagem, pensamento, atividade, emoções, sentimentos e dimensão artísticocriadora.
O significado da música reside na percepção e compreensão das relações
musicais do trabalho artístico, sendo estas relações capazes de estimular
sentimentos e emoções no ouvinte. Já o significado e o valor da obra de arte devem
ser encontrados nas qualidades estéticas da obra. Sendo assim, a relação da arte
com a vida deveria ser reconhecida. Os expressionistas absolutos acreditam que "os
significados emocionais expressivos emergem em respostas à música e que estes
existem sem referência ao mundo extramusical de conceitos, ações e estados
emocionais humanos
Mesmo com todas as tentativas de explicação sobre o que a música venha a
significar, percebe-se que não existem significados naturais ou universais da música.
Ao se considerar a existência de significados específicos excluem-se as
características culturais bem como espaço-temporais presentes nos diversos
momentos da história humana.
2.2 A FOTOGRAFIA E A CULTURA DE SHOWS EM CURITIBA
O histórico de shows em Curitiba remete ao início dos anos 60, quando a
juventude curitibana freqüentava matinês e tardes dançantes dos clubes e
6
sociedades da capital (Paulo Hillario Bonametti, 2008). No decorrer da década e no
início dos anos 70, o palco dos shows passou a ser os espaços culturais
universitários ou alternativos, como o TUC (Teatro Universitário de Curitiba), e, até
mesmo locais ao ar livre, como o Parque Barigüi (Paulo Teixeira, 2008). De registro
fotográfico jornalístico, pouco ou quase nada sobrou desta época e o registro
fotojornalístico é quase nulo. Uma das poucas manifestações da fotografia de shows
e espetáculos foi o trabalho desenvolvido pelos fotógrafos curitibanos Orlando
Azevedo e Vilma Slomp, durante a década de setenta e início de oitenta. De acordo
com informações publicadas no caderno Almanaque do jornal O Estado do Paraná,
durante cerca de seis anos, a partir de 1976, o casal esteve “(...) em todos os
gandes shows do Guaira, máquinas fotográficas na mão, procurando colher
flagrantes de bastidores e palco” (Aramis Millarch, 1982, p. 09).
Ainda segundo o artigo d’O Estado do Paraná (Millarch, 1982, p. 09), o
resultado do trabalho resultou em uma vasta coleção de imagens, posteriormente
condensadas na exposição “Shows & Camarins de Camarote”, promovida pela
Secretaria da Cultura em março de 1982. Sobre os artistas retratados e a escassez
de registros fotográficos do gênero na cidade à época, relatava o artigo:
Imagens vibrantes de Elis Regina quando de sua última temporada em Curitiba, Zezé Motta,
as Frenéticas, Isaurinha Garcia, Simone, Fafá de Belém e Maria Alcina nos camarins,
maquiando-se, Mercedes Sosa, Roberto Carlos, Ray Charles e Rita Lee no palco são
alguns dos personagens desta exposição que constitui em importante retrospecto dos
grandes shows aplaudidos pelos curitibanos nos últimos anos. Orlando Monteiro Azevedo,
ex-ideólogo e baterista do grupo A Chave, decidiu fazer fotos artísticas aos artistas que
passam por nossos palcos ao sentir a pobreza da documentação a respeito. Junto com sua
esposa, Vilma Slomp, realizou um trabalho esplendido – que merece ter continuidade – se
possível com ajuda do próprio Guairá. Afinal, bancar do próprio bolso tal documentação,
com os filmes aumentando a cada mês, é um ato heróico.
7
De acordo com o próprio Orlando Azevedo, em entrevista concedida a este
autor por ocasião da confecção do presente Trabalho de Conclusão de Curso,
existia uma nascente cultura de profissionais dedicados a registrar espetáculos sob
a ótica fotojornalística. Ele narra que, na década de 70, “(...) já existiam alguns
fotógrafos que se direcionavam para shows, principalmente em São Paulo e Rio de
Janeiro. Havia a Rolling Stone e algumas outras revistas que publicavam” (Azevedo,
2008).
2.2.1 BANDAS E BARES
Atualmente, a cultura de shows de rock é amplamente difundida por toda a
cidade. Basicamente, os shows de bandas independentes deixaram de ser
exclusividade de festivais ao ar-livre ou de bailes de clubes, e passaram, quase que
exclusivamente, a percorrer o circuito de bares e casas de show. Como exemplos de
espaços de shows de Curitiba, pode-se citar: Espaço Cultural 92 Graus, Korova Bar,
James Bar, Wonka Bar, Empório São Francisco, TUC, Porão Rock Club, Jokers Pub
Café, Sláinte Irish Pub, La Lupe, Kitinete, além do tradicional Hermes Bar, um dos
mais antigos endereços da música ao vivo em Curitiba.
Em Curitiba, é possível citar cinco nomes seminais do que se denomina
“rock curitibano”. Cada qual foi pioneiro em sua época e a maioria continua até os
dias de hoje.
8
2.2.2 OS METRALHAS
Paulo Hillario Bonametti fundou uma banda chamada “The Little Devils”, em
1961. Dois anos após, o nome mudaria para “The Shelters”, em seguida para “The
Marvels”, até que em 1967, a banda já era denominada como “Os Metralhas”. A
banda continua tocando até hoje, porém sob a alcunha de “Metralhas Beatles Again”
executando apenas canções dos Beatles.
2.2.3 A CHAVE / BLINDAGEM
Em 1970, surgia o grupo de vanguarda “A Chave”, banda que concentrava o
núcleo daquilo que viria a ser a Blindagem, em 1977, e que contava também com a
participação do fotógrafo Orlando Azevedo como baterista. A Blindagem era formada
originalmente por Paulo Juk (baixo), Amauri Stochero (guitarra e vocal), Alberto
Rodriguez (guitarra) e Mário Júnior (bateria), e fazia um rock’n’roll performático,
chegando a se apresentar nús no palco do TUC. Em 2008, com 31 anos de
atividades e ainda atuando, a Blindagem é formada por Ivo Rodrigues (voz), Paulo
Teixeira (guitarra), Paulo Juk (baixo), Alberto Rodriguez (guitarra e voz) e Pato
Romero (bateria e voz).
2.2.4 RELESPÚBLICA
A Relespública foi formada em 1989. Na época, a banda era formada por
Fábio Elias (guitarra e voz), Emanuel Moon (bateria), Ricardo Bastos (baixo) e
Daniel Fagundes (voz). Em 1994, aos 17 anos, Fagundes morre em um acidente de
carro e a banda segue como um trio. 1998 traz novidades na formação, completada
9
por Kako Louis (voz) e Roger Gor (teclados). Com esta formação, seguem até 2001,
quando voltam a ser um trio, com Fábio Elias assumindo os vocais principais.
2.2.5 MORDIDA
A banda Mordida completa quatro anos de história em 2008. Com influências
que vão desde o rock psicodélico dos anos 60, Jovem Guarda e Surf Music até a
música “brega” brasileira, o grupo formado por Paulo de Nadal (Vocal e guitarra),
João Davi (Baixo e voz), Álvaro Antonio (teclados e voz) e Ivan Rodrigues (bateria) é
uma das que mais levam fãs e fiéis seguidores aos seus shows, em qualquer lugar
em que eles aconteçam. A banda possui quatro trabalhos lançados em CD e pela
internet. (Nadal, 2008)
2.3 A COBERTURA FOTOJORNALÍSTICA DE SHOWS
Com base em acompanhamento diário de jornais, revistas, websites,
programas de televisão, é possível constatar que não existe um veículo paranaense
de grande circulação que faça uma cobertura fotográfica extensiva de shows, seja
de grande porte ou de bandas independentes. A exceção é o jornal independente
“Curitiba Underground”, editado pelo jornalista Robson Ramalho, que possui tiragem
limitada a 5.000 exemplares. As matérias veiculadas neste informativo levam em
consideração bandas de renome nacional, internacional e atrações locais
independentes, sempre com sequências registradas pelo fotógrafo Alexandre Buga
e com textos de diversos colaboradores. Na grande mídia, o jornal Gazeta do Povo
edita, aos domingos, a coluna “A noite toda”, do jornalista e músico Luigi Poniwass.
10
Vale a citação como um canal de publicação “limitada” de fotos de shows, pois
Poniwass não é fotógrafo profissional e sua coluna não publica mais do que uma ou
duas fotos de um concerto.
Na internet, poucos sites se propõe a cobrir a cena curitibana de shows.
Enquanto no resto do Brasil este tipo de iniciativa surge às dezenas, em Curitiba,
vale destacar a versão online do jornal “Curitiba Underground”, atualmente fora do
ar, e o blog jornalístico “CWB Rock Report” (http://cwbrockreport.wordpress.com),
editado pelo autor deste trabalho e que veicula matérias de cunho jornalístico e
coberturas fotojornalísticas da cena. Além dos dois exemplos, a cultura underground
e o registro imagético do que acontece em todas as camadas do cenário musical
curitibano se alastra por meio das centenas de Fotoblogs de bandas e fãs, porém
sem cunho jornalístico. Com uma outra forma de abordagem, existem sites como o
“Afterhour”, “Altos Agitos”, “Photo Estilo”, “Bem na Foto”, que se propõe a fazer a
cobertura de shows, porém com ênfase no público e com quase nenhuma conotação
fotojornalística.
2.4 PROBLEMATIZAÇÃO
Como visto, a cena curitibana é uma grande manifestação cultural imagética,
escondido em meio aos prédios da capita, com seus personagens, cores,
movimentos e expressões. Porém, a divulgação e o crescimento deste panorama
estão diretamente ligados a dois fatores: a produção musical das bandas e artistas,
que precisam suprir fãs, amigos, donos de bares, DJs e produtores com novidades,
seja em CD, vinil, fita cassete ou MP3 – o que influi diretamente na divulgação,
crescimento e fortalecimento da cena; e a produção imagética, com ensaios
11
fotográficos e a fotografia de shows propriamente dita. A primeira serve para
abastecer a criação de portfólios, websites, capas de discos e outros materiais de
apoio e divulgação. O segundo estilo de imagens – o estilo jornalístico – serve para
abastecer os poucos sites especializados, que apesar de poucos, giram um público
médio de 500 visitantes por dia. As imagens fotojornalísticas podem provocar
sensações e emoções no observador, pela força de sua expressão, pelas cores,
pela carga artística e cultural oculta em cada uma delas.
É possível dizer, ainda, que a não veiculação de imagens fotográficas de
shows nas grandes publicações locais é inexistente por desinteresse do grande
público. Um dos grandes objetivos deste trabalho é, portanto, iniciar um gradual
processo de mudança deste panorama. Com o incessante trabalho de fotojornalistas
especializados em cobertura de shows e espetáculos, pretende-se, com o tempo,
ganhar a confiança do público-alvo e, por conseqüência, dos responsáveis pelas
editorias de cultura e fotografia dos grandes jornais. Uma coluna sobre o tema, em
uma grande publicação, seria um sonho tangível, que pode ser atingido com muito
esforço e por meio de um trabalho de qualidade – o que seria fundamental para o
engrandecimento da cena curitibana, considerada por muitos como a melhor do
Brasil, porém, desconhecida por grande parte daqueles que aqui vivem. Porém, a
lacuna de tal estilo jornalístico na grande imprensa paranaense ainda está sem
preenchimento. Até quando?
12
3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Produzir e realizar um documentário fotográfico que retratará, de forma
fotojornalística, o cenário curitibano de shows musicais, com ênfase no rock
independente, porém não se atendo a um único estilo.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•
Destacar uma fatia da cena cultural da cidade que não é prestigiada pela
mídia local, bem como registrar manifestações musicais de maior porte.
•
Veicular por meio de website com cunho fotojornalístico, o resultado deste
trabalho.
•
Dar visibilidade ao tema junto ao público consumidor de cultura e
interessados em geral, de Curitiba e de outras cidades e Estados, que ainda
desconhecem ou dão pouco valor a esta forma de registro artístico.
•
Deixar claro o uso da fotografia como forma de jornalismo e documentário,
suprindo parte da escassez de bases teóricas de pesquisa sobre o tema,
além do ineditismo deste trabalho nesta Universidade.
13
•
Tentar-se-á a veiculação deste trabalho em periódicos de Curitiba, mediante
contrato e garantia de liberdade de edição.
14
4. JUSTIFICATIVA
A proposta deste trabalho é dar destaque para uma parte da cena cultural
curitibana que é freqüentada por muitos, porém desconhecida ou pouco reconhecida
por grande parte do público consumidor de cultura da capital paranaense: a cena de
shows musicais de artistas locais e outros consagrados, que acontece em locais
pequenos ou até mesmo em grandes palcos, como o Teatro Guaíra. Como meio de
registro do tema, será utilizada a fotografia, na forma de fotodocumentário.
O medium eleito para registrar um ambiente rico de personagens,
ambientes, cores, fatos e expressões – a fotografia – é mais do que perfeita para tal
tipo de trabalho, pois a cultura dos shows é muito mais do que apenas música e
sons; mas, sim, é construída por imagens. Imagens que influenciam o público
espectador tanto quanto a própria música executada pelos artistas retratados. Em
certos casos, acaba por criar uma mística que sobrepõe a música em si. Tomemos
como exemplo uma declaração de Bob Gruen (2007), fotógrafo nova-iorquino. Sobre
uma das inúmeras bandas que fotografou e conheceu de perto, os Rolling Stones,
Gruen declarou (2007, p. 24) que “pelo estilo, atitude e musicalidade, eles são o
grupo que todo mundo venera. E eles provaram que o rock é um estilo de vida, e
não apenas uma fantasia de adolescentes”.
Sobre esta colocação, é válido um exercício de experimentação imagética:
tome-se uma imagem em vídeo de uma banda performática, com elementos de cena
em um palco grande e multicolorido. Esta riqueza visual logo salta aos olhos, mas,
naturalmente, a atenção do observador acaba sendo ofuscada pela performance da
banda, das expressões de seus membros, e, é claro, pela música. Ao analisarmos
15
uma fotografia do mesmo cenário, não temos o registro sonoro. Porém, temos,
congelado no tempo, um fragmento crucial da história, possível de ser consultado e
apreciado a qualquer hora, com riqueza de detalhes. Ao pensar em um disco ao vivo
de seu artista preferido, a primeira imagem que vem à cabeça do fã é, justamente, a
imagem que ilustra a capa deste disco. Por exemplo: afora os admiradores do
cantor, pouca gente conhece as imagens em vídeo do show que John Lennon fez
em Nova York em agosto de 1972. Porém, a simples menção do disco “John Lennon
Live in New York City”, logo traz à mente a clássica foto feita por Bob Gruen,
estampada na capa do disco.
Esse mecanismo funciona também quando falamos em música curitibana:
seu folclore, os lugares onde ela acontece, seus ídolos locais. A fotografia, dentro
deste microcosmo oculto na metrópole que é a capital paranaense, é ferramenta
importante de divulgação do que se acontece dentro dos bares, nas mesas, nos
palcos. As bandas e artistas, cada vez mais, se utilizam de mecanismos alternativos
– muitas vezes na internet – para vender a sua imagem, junto com o seu registro
sonoro. Ferramentas como o fotolog, myspace, flickr, além de veículos impressos
mais “marginais”, como o jornal “Curitiba Underground”, são utilizados pelos músicos
curitibanos como forma de passar aos fãs, amigos a quem interessar possa, um
pouco daquilo que só é sentido, em toda a sua magnitude, ao vivo, nos shows.
Contudo, o objetivo maior deste trabalho, é o de trazer à superfície a cultura
deste sub-mundo musical, que está ao alcance de todos, mas que apenas os
“iniciados” conhecem, a fundo, seus personagens e histórias. É mostrar que a
música não vive apenas de grandes artistas, vendedores de milhões de discos, com
fama internacional: é, sim, provar que a cidade em que vivemos, produz seus
próprios ídolos locais, que produzem incessantemente e, acima de tudo, existem,
16
imageticamente. Ou seja: os ídolos locais têm “cara”, têm uma imagem, têm atitude,
e têm nomes, da mesma forma que qualquer banda bem-sucedida. É mostrar que a
imagem destes artistas, em cima de um palco, e emoldurados pelas técnicas
fotográficas e de fotojornalismo, pode provocar sensações no observador, sejam
elas de admiração, repulsa, humor ou, até mesmo, ódio.
Há cerca de pouco mais de um século, a fotografia tem sido para muitas
pessoas a forma mais comum de registro. É um documento que possibilita a
preservação e o resgate de memórias a qualquer tempo, além de uma
representação quase exata de um momento qualquer. Permite a transmissão de
informações, de uma geração à outra, de um país a outro, de uma cultura a outra.
17
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1. O QUE É A FOTOGRAFIA?
De acordo com Philippe Dubois (1990, p. 60), a imagem fotográfica
“aparece, a princípio, simples e unicamente como uma impressão luminosa, mais
precisamente como o traço, fixado num suporte bidimensional, sensibilizado por
cristais de haleto de prata, de uma variação de luz emitida ou refletida por fontes
situadas à distância num espaço de três dimensões”.
De caráter estritamente técnico, esta definição apresenta apenas o modo
empírico de funcionamento da fotografia. Atualmente, nos confrontamos com a
digitalização da captura de imagens, e torna-se mais apropriado afirmar que a
impressão luminosa sensibiliza um sensor eletrônico fotossensível, em uma
evolução do processo, e não uma substituição.
Marc Scheps (1998, p. 04), define que “A fotografia, uma invenção do século
XIX, alterou dramaticamente – tal como muitas outras inovações técnicas dessa era
– a percepção e a experiência que a humanidade tinha do mundo, um efeito que se
manteve até hoje. (...) Foi, por assim dizer, o realizar de um desejo antigo do ser
humano de criar um mundo imaginário tão credível quanto o próprio mundo real”. Já
Cláudio Kubrusly (1983, p. 72), classificou a fotografia quanto à sua capacidade de
comunicar e informar jornalisticamente: “Nas páginas dos jornais e revistas a
fotografia encontrou um caminho aberto para invadir cada vez mais nossas vidas:
18
contamos com ela como certa e segura no jornal de amanhã, trazendo as imagens
das notícias de hoje”.
Desde quando foi criada, a fotografia tem sido considerada como uma prova
definitiva e testemunha da verdade. Tornou-se sinônimo de algo em que se pode
crer piamente, por conseguir registrar aspectos da realidade. Desta forma, quer se
seja contra, quer a favor, a fotografia é considerada a imitação mais perfeita da
realidade. Um espelho do real (Dubois, 1990, p. 27).
Philippe Dubois (ibid., p. 27-53), então, sobre a realidade do “ato fotográfico”,
desenvolverá o tema da fotografia nas seguintes etapas, baseadas em Peirce:
• A fotografia como espelho do real, onde o a foto é concebida como
um espelho do mundo, uma fiel reprodução da realidade. No sentido
peirceano, a fotografia é um ícone;
• A fotografia como transformação do real, denuncia a capacidade da
imagem de se fazer cópia exata do real. De acordo com essa teoria, a
imagem não pode representar algo real e empírico, mas apenas uma
realidade metafísica. Em termos peirceanos, a foto é um símbolo;
• A fotografia como um traço do real, onde a foto é parte integrante do
ato que fez com que ela existisse. Sua realidade primordial é, tão
somente, uma mera afirmação de sua existência. A foto é, antes de
mais nada, um índice, para depois tornar-se parecida (ícone) e, só
então, tomar sentido (símbolo), nas definições peirceanas.
19
Para facilitar a compreensão do estágio da “fotografia como traço de um
real”, teorizada por Dubois, podemos citar a colocação de Roland Barthes (id. 1984,
p. 14-15) sobre o tema, que no livro A Câmera Clara disse:
Tal foto, com efeito, jamais se distingue de seu referente (do que ela representa), ou pelo
menos não se distingue dele de imediato ou para todo mundo (o que é feito por qualquer
outra imagem, sobrecarregada, desde o início e por estatuto, com o modo como o objeto é
simulado): perceber o significante fotográfico não é impossível (isso é feito por
profissionais), mas exige um ato segundo de saber ou de reflexão. Por natureza, a fotografia
(é preciso por comodidade aceitar esse universal, que por enquanto apenas remete à
repetição incansável da contingência) tem algo de tautológico: um cachimbo nela é sempre
um cachimbo, intransigentemente. Diríamos que a fotografia sempre traz consigo seu
referente, ambos atingidos pela mesma imobilidade amorosa ou fúnebre, no âmago do
mundo em movimento: estão colados um ao outro (...).
Marc Scheps (1998, p. 05), estabelece algumas definições sobre a
linguagem da arte relacionada à realidade fotográfica. Ele diz que a captura e
reprodução de imagens criou uma ‘realidade virtual’, que logo se tornou parte da
cultura moderna e gerou uma lingua universalis, que fez surgir, ainda, uma
linguagem artística. “Dependente e limitada pelo seu contexto histórico, esta
linguagem evoluiu dentro da estrutura das artes criativas (...). Os fotógrafos
sujeitaram-se à estética do seu tempo e viam a fotografia meramente como um meio
adicional para percepcionar e recriar visualmente a realidade”.
Sobre a relação da fotografia com a arte contemporânea, Dubois (1999, p.
253) questiona se é válido saber se foi a arte que se tornou fotográfica, ou se a
fotografia virou arte. O problema lida com dois campos de expressão, a arte e a
fotografia, que são independentes uma da outra, porém nunca deixaram de manter
relações de atração ou repulsa. “Ora, durante um período essencial do século XIX,
era a fotografia que vivia numa relação relativa de aspiração ruma à arte, ora, ao
20
longo do século, ora, ao longo do século XX, será antes a arte que insistirá em se
impregnar de certas lógicas (...) próprias à fotografia”.
O autor aborda, ainda, o processo de criação da imagens, o ato fotográfico
em si e a produção e recepção do resultado final. A fotografia não é apenas um
imagem produzida por um ato, é também, um verdadeiro ato icônico, ou uma
imagem-ato. “A clivagem tradicional entre o produto (a mensagem rematada) e o
processo (o ato gerador que está se fazendo) aqui deixa de ser pertinente. Com a
fotografia, não nos é mais possível pensar a imagem (...) fora do que a faz ser como
é, estando entendido por um lado que essa ‘gênese’ pode ser tanto um ato de
produção propriamente dito (a ‘tomada’) quanto um ato de recepção ou de difusão
(...)”.
5.2 O SURGIMENTO DO FOTOJORNALISMO E SUA DEFINIÇÃO
Acerca do fotojornalismo, Jorge Pedro Sousa (2000, p. 25) escreve sobre os
primórdios da fotografia como meio de informação, o que viria a ser a fotografia de
imprensa. “As primeiras manifestações do que viria a ser o fotojornalismo notam-se
quando os primeiros entusiastas da fotografia apontaram a câmara para um
acontecimento, tendo em vista fazer chegar essa imagem a um público, com
intenção testemunhal. Também seria uma questão de tornar a espécie humana mais
visível a ela própria (...). Mais rigorosamente, a fotografia é usada como news
medium, entrando na história da informação, desde, provavelmente, 1842(...)”. Dirá
ainda Sousa (ibid., 2002, p. 17), sobre o surgimento da fotografia jornalística: “De
alguma maneira, pode situar-se na Alemanha o nascimento do fotojornalismo
21
moderno. Após a Primeira Guerra, floresceram nesse país as artes, as letras e as
ciências. Este ambiente repercutiu-se na imprensa”.
Sousa (op. cit.,p.37-38) ainda discorre sobre o nascimento do fotojornalismo,
em meio a guerras e tendo as mesmas como tema principal, e traça algumas
características que transformam a simples fotografia em fotojornalismo. São elas “A
descoberta definitiva, por parte dos editores das publicações ilustradas, que os
leitores também seriam observadores visuais (...)” e “A aquisição da idéia de que era
preciso estar perto do acontecimento quando este tivesse lugar, a mesma intenção
que alguns anos depois, incitará Robert Capa e muitos outros fotojornalistas,
especialmente nas agências noticiosas e nos jornais e revistas (...)”.
De acordo com Martin Keene (1995, p. 11), existem diferenças acerca do
fotojornalista e do fotógrafo de imprensa.
(...)Há diferença entre um fotógrafo de imprensa e uma fotojornalista; o primeiro fornece
‘bonecos’ para os jornais; o segundo pesquisa e constrói cuidadosamente imagens com
uma história (...). O fotógrafo de imprensa faz o papel dos olhos dos leitores e leva-os a ver
pessoas coisas e lugares (...). Para além de comunicar com os leitores, o fotojornalista tem
de construir uma relação com as pessoas que está a fotografar. Estas podem fazer parte
dos governantes, ser estrelas do espetáculo, vagabundos, oficiais desajeitados ou crianças
envergonhadas, mas um bom fotógrafo pode falar com todos igual (...).
Para Keene (op. cit., p. 13), o profissional da fotografia à serviço da
imprensa é privilegiado, pois pode admirar, de antemão, os acontecimentos que
marcam o mundo. Dirá que “O fotógrafo de imprensa é um espectador privilegiado
da História. A câmara pode estar em revoluções que afectam um país – ou mesmo o
mundo – ou a registrar os pequenos factos de uma comunidade local”.
22
O fotógrafo Orlando Azevedo, em entrevista concedida a este autor por
ocasião da realização do presente trabalho, afirmou que a fotografia de shows se
relaciona com a técnica fotojornalística de duas maneiras:
a. Pelo domínio da técnica fotográfica, aliado à agilidade do registro de um
momento único. Para ele, “contam ambos feeling, técnica e rapidez na resolução e
atenção. É tudo muito rápido e não se volta atrás em uma performance. (...) ou
acerta, ou acerta. Não pode errar” (Azevedo, 2008).
b. Pela capacidade da fotografia de shows contar uma história. Para
Azevedo (op. Cit. 2008), “Foto de shows é sem dúvida fotojornalismo puro e na veia.
Registrar o fato no ato. Servir a foto no prato. É ela que vai contar a história do show
e do artista”.
Porém, ao mesmo tempo, Azevedo (id., 2008) relaciona o fotojornalismo
com a fotografia documental e discorre sobre a importância de uma boa imagem,
rompendo, em parte, com rótulos pré-establecidos.
Uma boa foto é uma boa foto. Não é o rótulo que a vai dar perpetuidade. Até fotografia de
moda é fotojornalismo e foto documental (ao mesmo tempo), pois registra um momento,
uma época, uma tendência.
23
6 METODOLOGIA
A idéia e o objeto deste trabalho surgiram da observação de veículos de
impressos (jornais e revistas) e online (portais e websites), há cerca de dois anos.
Somam-se a isso mais de 15 anos de observação da cultura local de bandas e
artistas, dos shows, do público, das características, da evolução da cena e da parca
cobertura jornalística reservada a este nicho cultural. Em uma primeira análise, não
foi possível identificar, na época, coberturas fotojornalísticas mais extensas sobre
shows em Curitiba, apenas reportagens superficiais, com imagens de conotação
meramente ilustrativa. Percebeu-se, também, que a cobertura fotográfica local, de
artistas e bandas curitibanas, tinha ainda menos espaço nestes mesmos veículos,
fato que persiste até os dias de hoje, à exceção de pequenos jornais e sites
independentes. Porém, a maioria sem conotação jornalística.
A partir destas considerações, surgiu a idéia de sair a campo e registrar
estas manifestações culturais, seus personagens e lugares completamente
desconhecidos do grande público, com o intuito de divulgar e apoiar a produção
musical independente curitibana. A falta de um canal de comunicação entre o
público e as bandas fez com que fosse criado um site, denominado CWB Rock
Report, para veicular matérias, e, principalmente, coberturas fotojornalísticas de
shows de bandas, locais e nacionais, que se apresentam na capital. Nessa mesma
época, teve início uma pesquisa teórica sobre o assunto, onde foi constatado que
nada parecido com o tema havia sido publicado nos meios acadêmicos. Paralelo a
esta pesquisa, a constante análise de veículos de comunicação constatou que ainda
24
havia uma lacuna a se preencher na imprensa curitibana, no que se refere a
fotografia de espetáculos.
Desta análise prática, resulta o presente trabalho de conclusão de curso, o
qual pretende mostrar e embasar de forma teórica, o tema proposto.
25
7 DELINEAMENTO DO PROJETO
Como visto ao longo do trabalho, Curitiba possui uma cena formada por
bandas, artistas, personagens e ídolos locais, desconhecidos do grande público
consumidor de cultura. Sua presença não está restrita a um ponto isolado da cidade:
esta cultura underground se espalha do centro da cidade ao baixo Largo da Ordem,
do alto do São Francisco ao Batel, das colinas das mercês ao Boqueirão.
O presente trabalho fotojornalístico fez um recorte do atual cenário, ao
trabalhar com uma seleção pré-definida de amostras, pois é praticamente impossível
registrar todas as manifestações culturais dentro do tema.
O público-alvo deste projeto não tem um perfil exato. O interesse no tema é
sentido principalmente no público consumidor de cultura em Curitiba. Porém, no
caso de uma exposição, um site na internet, ou um livro, é difícil delimitar um grupo
de interesse específico, ficando aberto a qualquer pessoa. Esse fato ajuda a
destacar a relevância do trabalho, que através do fotojornalismo e sua característica
informativa, procura dar visibilidade a este tipo de registro. A falta de trabalhos neste
sentido faz, também, com que o projeto venha preencher uma grande lacuna, o que
pode contribuir em bases de pesquisas futuras na área.
26
7.1 ROTEIRO
Foram considerados e registrados os shows, festas e festivais realizados em
Curitiba dentro de um período de 01 (um) ano, a contar de outubro de 2007 a
outubro de 2008. Os locais de atuação para tomada das imagens registradas no
presente trabalho de conclusão de curso foram os seguintes: James Bar, Curitiba
Master Hall, Retrô Bar, Kitinete Bar, Vox Bar, Korova, TUC (Teatro Universitário de
Curitiba), Teatro Guaíra, Guairinha, Teatro do SESC da Esquina, Jokers Pub Café.
7.2 EQUIPAMENTO
O equipamento fotográfico utilizado para a tomada das imagens que
integram este trabalho constitui-se do seguinte:
- Corpo DSLR Nikon D50, resolução 6 megapixels
- Corpo DSLR Nikon D200, resolução de 10 megapixels
- Battery Grip MB200
- objetiva Nikkor 28-70mm f/2.8
- objetiva Nikkor 18-135mm f/3.5-5.6
- objetiva Nikkor 18-200mm VR f/ 3.5-5.6
- objetiva Nikkor 50mm f/1.4
- objetiva Sigma 70-300mm f/3.5-5.6
- Flash Nikon SB-800
27
- Flash Nikon SB-600
- Filtro UV
- 03 (três) cartões compact flash SanDisk Extreme III e IV, com
capacidade de 4GB cada
- três cartões SD Kingston, com capacidade de 2GB cada
Para a realização das imagens, optou-se por utilizar equipamento próprio do
autor, pois o mesmo apresenta recursos técnicos mais avançados do que o
equipamento oferecido pela universidade, além de evitar a não-disponibilidade deste
para empréstimo.
7.3 FORMATO
As imagens deste TCC serão expostas, ampliadas em papel fotográfico
fosco, no tamanho 25x30cm. Todas as fotos serão acompanhadas de legendas,
para que seja possível ao espectador se situar em relação aos assuntos retratados.
7.4 VEICULAÇÃO
A intenção deste trabalho é transformá-lo em uma exposição itinerante, que
percorra, em um primeiro momento, o circuito de bares onde as imagens foram
registradas. Em seguida, caso surja o interesse, a exposição pode seguir para
28
escolas, espaços culturais, universidades, museus, podendo inclusive ser levada
para outras cidades, Estados ou países, se solicitada e devidamente subsidiada.
De médio a longo prazo, o autor pretende transformar a obra contida neste
trabalho – revisada e ampliada – em um livro, por meio de inscrição em leis de
incentivo a projetos culturais.
7.5 PÚBLICO-ALVO
A exposição é aberta a todas as pessoas interessadas por música,
fotografia, arte e cultura, podendo abranger estudantes de fotografia, universitários,
estudantes de música, músicos, artistas em geral, fotógrafos, membros da imprensa
e cidadãos curitibanos em geral, sem limite de idade, sexo, credo ou classe social.
7.6 RECURSOS E VIABILIZAÇÃO
Os gastos com a produção do presente trabalho se constituem de
ampliações fotográficas, além de custos operacionais (transporte, luz, telefone,
alimentação e manutenção dos equipamentos, etc.). No caso de contrato para
realização do serviço, deve-se adicionar o valor de R$ 1.832,79, referente ao piso
salarial
da
categoria
repórter
fotográfico,
estipulado
(http://www.sindijorpr.org.br/index.php?system=news&eid=7).
pelo
À
Sindijor-PR
opção
pela
produção de livros, é necessário somar ao orçamento os custos de tratamento de
29
imagens, diagramação, fotolito e impressão. Os gastos totais foram da seguinte
ordem:
- Piso da categoria de repórter fotográfico:
R$ 1.832,79
- Ampliações em papel fotográfico 25x30cm (20 unidades):
R$ 2,80 cada
- Despesas gerais (transporte, telefone, luz, manutenção da câmera):
R$ 700,00
Custo total do trabalho: R$ 2.616,79
Entre os possíveis apoiadores e patrocinadores do projeto, está a produtora
curitibana cachecol Coisas do Rock, na pessoa do senhor Rodrigo Deliberalli, que se
prontificou a fazer a ponte entre o autor e possíveis locais para exposição das fotos,
viabilizando, assim, a montagem prática do trabalho em eventos exclusivos e
também outros realizados pela produtora. Outros possíveis apoiadores são os donos
e responsáveis por alguns dos bares e espaços culturais onde foram tomadas as
imagens: Joker Pub Café, TUC (Teatro Universitário de Curitiba), Wonka, e James
Bar, sendo que este último, na pessoa de seu sócio-proprietário, Luciano, ofereceu,
também, espaço para montagem da exposição.
Todas as ampliações fotográficas que compõem o trabalho estarão à venda,
bastando que o interessado faça contato com o autor no local da própria exposição
ou ainda por e-mail ou telefone, que estarão disponíveis no mesmo local. O valor de
30
aquisição de cada imagem exposta é de R$ 300,00, podendo ser providenciadas
ampliações de outros tamanhos, com valores sob consulta.
31
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir o presente TCC, é esperado que o público curitibano conheça
uma parcela daquilo que é produzido de forma independente dentro da cidade,
muitas vezes de maneira oculta e pouco divulgada. Espera-se que os personagens
aqui retratados possam reconhecer a si mesmos como parte integrante da história
daquilo que se convencionou chamar de “cena curitibana”.
Espera-se, ainda, que a fotografia de shows – hoje mera acompanhante das
cada vez mais raras resenhas de espetáculos – ganhe um lugar de destaque junto
aos meios de comunicação, sejam impressos ou online. Almeja-se, também, o
reconhecimento da fotografia de shows como registro histórico das manifestações
culturais de nossa cidade, sob a forma de fotojornalismo.
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Orlando Monteiro. Entrevista concedida a Marcelo Stammer via e-mail.
Curitiba, set. 2008
BAILEY, david. Os Rolling Stones e outros heróis. São Paulo: DBA Melhoramentos,
1997.
BOWIE, Angela. Backstage Passes. New York: First Cooper Square Press, 1993.
BANDA Blindagem 30 anos de rock and roll. Blindagem: a cara paranaense do rock
(online). Disponível em http://www.bandablindagem.com.br/index_banda.htm.
Acesso: 28 abr, 2008.
BARTHES, Roland. A câmara clara: notas sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
BASTOS, Ricardo. Entrevista concedida a Marcelo Stammer. Curitiba, 13 abr. 2008.
BESSMAN, Jim. Ramones – an American Band. New York: St. Martin’s Press, 1993.
BANDA Metralhas Beatles Again. Metralhas – História (online). Disponível em
http://www.metralhas.com.br . Acesso: 28 abr, 2008.
BONAMETTI, Paulo Hillario. Entrevista concedida a Marcelo Stammer Via e-mail.
Curitiba, set. 2008
CLAYTON, Marie. The Beatles – Unseen Archives. London: Parragon Publishing
Book, 2003.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. 3 ed. Campinas: Papirus, 1999.
FLETCHER, Tony. Moon – The life and death of a rock legend. New York: Harper
Collins, 1999.
Fotografia do século XX – Museum Ludwig de Colónia. Köln: Taschen GmbH, 2005.
GRUEN, Bob. Rockers. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
HILL, Susan. The Rolling Stones – Unseen Archives. London: Parragon Publishing
Book, 2003.
KEENE, Martin. Fotojornalismo – Guia Profissional. Lisboa: Dinalivro, 2002
33
KUBRUSLY, Cláudio A. O que é fotografia. São Paulo: ed. Brasiliense, 2003
LANGFORD, Michael. Fotografia Básica. Lisboa: Dinalivro, 1996.
METRALHAS Beatles Again. O som original dos Beatles – História (online), 2008.
Disponível em http://www.metralhas.com.br/. Acesso: 28 abr, 2008.
MILLARCH, Aramis. Almanaque. O Estado do Paraná, Curitiba, p. 9, 31 jan. 1982.
NADAL, Paulo de. Entrevistas concedidas e Marcelo Stammer. Curitiba, 2007 2008.
NEW MUSICAL EXPRESS. Exposed – 50 Classic Photographs from the NME
Archive. London: NME, set. 2002.
SCULLY, Rock. Living with the Dead – Twenty years on the bus with Garcia and the
Greateful Dead. New York: Little, Brown and Company, 1996.
SOUSA, Jorge P. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Chapecó: Grifos,
2000.
TEIXEIRA, Paulo. Entrevista Concedida a Marcelo Stammer. Curitiba, 10 mar. 2008.
The Photo Book. London: Phaidon Press, 2000.
TRAMA Virtual. Mordida – Release / Histórico (Online), 2007. Disponível em
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=15637. Acesso: 05 maio, 2008.
WAZLAWICK, Patrícia; CAMARGO, Denise de; MAHEIRIE, Kátia. Significados e
sentidos da música: uma breve "composição" a partir da psicologia histórico-cultural.
Artigo, n. 01, vol. 12, p. Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de
Maringá, Maringá, 2007.
34
APÊNDICES
APÊNDICE 1 – Texto de apresentação da exposição Emoção e Expressão: a
cobertura fotojornalística de shows .......................................................................... 35
APÊNDICE 2 – Fotografias ...................................................................................... 36
APÊNDICE 3 – Legendas das fotografias ............................................................... 51
APÊNDICE 4 – Entrevista com Orlando Azevedo ................................................... 56
35
Emoção e Expressão: a cobertura fotojornalística de shows
Sempre que penso em música penso, ao mesmo tempo, em cor; a luz do
palco, a cor das roupas dos músicos, o tom de suas longas cabeleiras – às vezes
curtas demais – o belo mix de tons dos instrumentos. Ao lembrar de música, penso
também em feeling. Para mim, a associação entre música e sentimento é até meio
redundante, tamanha é a dependência que um tem do outro. Música sem emoção é
impensável, é inconcebível. Músico que sou, é exatamente da mesma forma que eu
enxergo a fotografia, em especial, a fotografia de concertos. “A foto de show tem que
transpirar junto. É o punch, a pancada”, já disse o grande mestre Orlando Azevedo,
ele mesmo, fotógrafo, baterista e compositor.
O objeto de meu estudo é a cena musical curitibana, de certa forma
desconhecida e incompreendida dentro da própria cidade. Curitiba é uma das
capitais com mais bandas por metro quadrado. Afora os iniciados, grande parte da
população não sabe que, enquanto a cidade dorme, uma vida colorida efervesce
dentro dos bares e casas noturnas, do centro ao Boqueirão, do São Francisco ao
Batel e em muitos outros lugares. Esse “submundo” transborda poesia, criatividade,
história, cultura, beleza. Dentro dele, negócios são fechados, ídolos surgem e
morrem, relações se estabelecem, amores florescem, filhos são feitos. É uma cidade
invisível e underground e independente escondida nas entranhas da metrópole
soberana.
Nas imagens deste trabalho – a maioria delas feitas para o meu website,
CWB Rock Report – está retratada uma pequena parcela desta cultura viva e rica.
As pessoas aqui retratadas são parte integrante e ativa da história da música
curitibana, em especial, do rock. Algumas delas estão na estrada há muito anos,
outras, há menos de seis meses. Nem todas nasceram ou moram em Curitiba, mas,
em comum, todas compartilham da mesma paixão, que é subir no palco e, sem que
elas próprias percebam, compor estas belas imagens – momentos de som, luz, fúria,
expressão e, acima de tudo, emoção. Tudo o que você vê aqui é real. E está mais
próximo do que você imagina.
Marcelo Stammer – Fotógrafo
Curitiba, outubro de 2008
36
_____ 1
____ 2
37
___ 3
___ 4
___ 5
38
___ 6
___ 7
39
___ 8
___ 9
40
___ 10
___ 11
41
___ 12
___ 13
42
___ 14
___ 15
43
___ 16
___ 17
44
___ 18
___ 19
45
___ 20
___ 21
46
___ 22
___ 23
47
___ 24
___ 25
48
___ 26
___ 27
49
___ 28
___ 29
50
___ 30
51
LEGENDA DAS FOTOGRAFIAS
1. Os shows no James são quase sempre na penumbra, com poucas – mas
belas – luzes. Aqui, três amigos dançam ao som da banda Eder & seus Problemas.
(James Bar – Outubro de 2007)
2. Shows de lendas do rock costumam movimentar a cena curitibana. Na
imagem, Olga, vocalista dos ingleses Toy Dolls, em show no Espaço Callas, em
Curitiba. (Outubro/2006)
3. Os cariocas Rodrigo Curi (esq.) e Daniel Campos, do Moptop. A banda
tem o costume de convidar outros grupos locais, nas cidades por onde passa, para a
abertura dos seus shows. (Jokers Pub Café, Outubro/2007)
4. O “iluminado” vocalista Tato França é um dos mais influentes ídolos da
cena do rock curitibano. À frente dos Mariatchis, começa a alçar os primeiros vôos
rumo a outros estados, como São Paulo, onde se apresentaram recentemente.
(James Bar – Julho/2008)
5. Hordas de Skinheads costumam lotar os shows do polêmico Mão-deFerro, famosa pelas violentas “rodas de pogo” que acontecem nas apresentações. A
banda prega o orgulho curitibano nas letras de suas músicas e, apesar de não
serem neo-nazistas, algumas pessoas consideram suas composições ofensivas e de
extrema direita. (Retrô Bar – Julho/2007)
6. O baixista Nico Valle, do grupo argentino de Neo-Rockabilly Motorama,
em show no já tradicional festival Psycho Carnival, em Curitiba. O evento, que
acontece todos os anos, sempre durante o carnaval, reúne fãs de Psychobilly de
52
toda a América Latina, e atrações de várias partes do mundo. Curitiba tem uma das
cenas mais fortes do estilo no mundo. (Jokers Pub Café – Fevereiro/2008)
7. Dudu (esq.) e Rodrigo Lemos, do Poléxia. A banda faz parte de uma leva
de músicos influenciados pelo indie rock e por artistas brasileiros como Los
Hermanos, e é uma das grandes promessas da cena curitibana. (Jokers Pub Café –
novembro/2007)
8. A Cosmonave, do guitarrista Mateus, é um exemplo da nova geração de
bandas formadas por instrumentistas muito jovens, mas que já percorrem o circuito
local de bares tocando lado a lado com bandas mais experientes. (Guairinha –
Agosto/2008)
9. Os veteranos da Banda das Velhas Virgens, de São Paulo, possuem um
grande base de fãs em Curitiba. São, também, parceiros de inúmeras bandas e
músicos locais. Na foto, o irreverente e provocador vocalista Paulão. (Curitiba Master
Hall – Março/2008)
10. Caras e bocas e passos de dança em um show lotado da banda
Mordida. (Via Rebouças – Julho/2007)
11. Sandra Spuri, vocalista da banda Anacrônica, influencia diversas outras
garotas a desbravar o território machista do rock curitibano. (Era só o que Faltava –
Setembro/2008)
12. Diversão é a premissa básica dos Góticos 4 Fun, que fazem um dos
melhores shows da cena underground da cidade. Na foto, o guitarrista Roy Thunder.
(TUC – Agosto/2008)
53
13. Público lota o Curitiba Master Hall para celebrar os 17 anos de um dos
mais lendários bares de rock da capital paranaense, o Hangar Bar. (Curitiba Master
Hall – Março/2008)
14. O italiano Mr. Occhio e sua “one man band”. À convite de amigos locais,
trouxe um gostinho da Camorra Napolitana à Curitiba. (Kitinete – Fevereiro/2008)
15. Tamila Zenthoffer, da banda paulistana Vilania, mostra que sex appeal é
fundamental em sua performance, durante o festival Grito Rock Curitiba. (Jokers Pub
Café – Janeiro/2008)
16. Bruno Sguissardi, guitarrista da Anacrônica, solta fumaça pelas ventas
em momento de inspiração no palco. (Era Só o que Faltava – Setembro/2008)
17. Junaum, baterista dos nervosos e barulhentos Javalis do Pântano. (TUC
– Outubro/2008)
18. O Motorocker é uma das bandas mais cultuadas da cidade. Seus fãs,
tidos como os mais “xiitas” do cenário curitibano, costumam se acotovelar na frente
do palco apenas para tocar o vocalista Marcelus. (Curitiba Master Hall –
Março/2008)
19. Pottier, vocalista francês da banda gaúcha Les Responsbles. (Jokers
Pub Café – Setembro/2008)
20. A banda curitibana Plêiade, formada por músicos veteranos da cena
local. (TUC – Setembro/2008)
54
21. O “wrecking” é uma prática comum em shows de punk rock, heavy metal
ou Psychobilly. O que para alguns parece uma briga, para os envolvidos é apenas
uma forma (nada ortodoxa) de dança. (Jokers Pub Café – Fevereiro/2008)
22. As fãs mais atiradas são comuns também no cenário underground. Na
foto, Paulo Hde Nadal, da banda curitibana Mordida. (Via Rebouças - julho/2007)
23. Ivo Rodrigues, vocalista da banda Blindagem, há mais de 30 anos na
estrada. (Curitiba Master Hall – Abril/2008)
24. Ave, Motorocker! (Curitiba Master Hall – Março/2008)
25. Leandro Delmonico, guitarrista e violeiro do Charme Chulo, é a alma
caipira do rock curitibano. (TUC – Agosto/2008)
26. Júpiter Maçã, gaúcho doidivanas e ex-vocalista das bandas TNT e
Cascavelettes. Grande parte das bandas da cidade cita o músico como influência.
(Via Rebouças – Junho/2007)
27. O gigante alemão Koefte e sua banda Mad Sin, foram a grande atração
do Psycho Carnival 2008. (Jokers Pub Café – Fevereiro/2008)
28. Alice Cooper, ídolo do pintor surrealista Salvador Dali, fez um dos shows
mais emocionantes de 2007. Shows como este são raros, ainda mais em tempos de
dólares nas alturas (Teatro Guaíra – Junho/2007)
29. Toshiro, baixista dos Los Diaños, banda curitibana que mistura punk
rock, jazz, swing e metal. (Teatro do SESC da Esquina – Agosto/2008)
55
30. A Relespública é uma das bandas paranaenses mais conhecidas e
cultuadas fora do estado, junto com a Blindagem. Na foto, o vocalista e guitarrista
Fábio Elias. (Curitiba Master Hall – Dezembro/2008)
56
Entrevista concedida pelo fotógrafo Orlando Azevedo a Marcelo Stammer, via
e-mail
Foi meu caro a toque de caixa pois caso contrário não daria para fazer
espero que esteja de acôrdo para o que pretende.
----- Original Message ----From: Marcelo Stammer
To: [email protected]
Sent: Tuesday, September 09, 2008 3:55 PM
Subject: Trabalho sobre fotografia de shows (A/C Orlando)
Boa tarde Orlando,
primeiramente, gostaria de agradecer por sua gentil atenção em me atender por
telefone, e se dispor a responder minhas questões. Digo, de antemão, que suas
respostas enriquecerão muito o meu trabalho. Em seguida, fiquei surpreso (e muito
curioso) com relação a esta exposição que você fez no Guaíra, imagino que você
deva ter registrado cenas fantásticas, especialmente de bastidores. Espero, um dia,
poder apreciar alguma delas.
Enfim, segue as perguntas abaixo. Caso não consiga responder até o final de
semana, não tem problema, eu deixo para anexar a entrevista ao meu TCC um
pouco mais adiante.
Desde já agradeço, e um abraço,
Marcelo Stammer
1 - Sobre a sua exposição de fotos de shows, camarins e camarotes, gostaria
de saber quando foi realizada, de quantas fotos consistia, quem foram os
retratados e qual a idéia / conceito do trabalho.
A mostra "Shows & Camarins de camarote" surgiu em decorrência de minha ligação
e de minha mulher Vilma Slomp com a música e de vários relacionamentos e
amizades que surgiram desse período em que fui profissional,baterista,letrista e
criador do grupo de vanguarda A Chave.Cenas de camarins eram as que mais nos
interessavam pois eram o outro lado do backstage e tem coisas muito,muito
interessantes e surreais.Rita Lee,Ney Matogrosso.Roberto Carlos,Erasmo
57
Carlos,Gil,Caetano,Ellis Regina,Nara Leão,Chico Anísio,Frenéticas etc.Foram
dezenas de artistas quer no palco quer nos camarins.
A mostra deveria ter umas 250 imagens e percorreru todo o Brasil através da Fuji e
do SESC.Gerou altas matérias nacionais
2 - O que faz uma foto de um show ou espetáculo ser especial? Neste caso,
conta mais o feeling do fotógrafo ou a técnica (apesar dos dois serem
essenciais)?
A foto de show tem que transpirar junto.É uma fração,uma nota musical que
permanece no infinito.É o punch e a pancada.Contam ambos feeling técnica e
rapidez na resolução e na atenção.É tudo muito rápido e não se volta atrás numa
performance.Impossível.Ou acerta ou acerta.Não pode errar.na minha época era
tudo muito dificil -Filmes puxados,revelações e controle de laboratório
3 - Existia, na década de 70, algum tipo de cobertura fotográfica / fotógrafos
de shows e espetáculos? Caso sim, onde eram publicadas efetivamente estas
imagens?
Sim já existiam alguns fotógrafos que se direcionavam para shows principalmente
em São Paulo e Rio.Havia a Rolling Stone e algumas outras revistas que
publicavam.Por outro lado os fotógrafos eram um pouco groupies da cena rock e
musical
4 - O meu trabalho relaciona a fotografia de shows ao fotojornalismo, pelo
caráter imediatista, onde o fotógrafo precisa estar atento ao momento exato de
disparar para registrar um imagem e contar um história através dela. Como
você vê esta colocação?
Foto de shows é sem dúvida fotojornalismo puro e na veia. registrar o ato no
ato.Servir a foto no prato.É ela que vai contar a história do show e do artista
5 - Atualmente, com a popularização da tecnologia digital, shows de todos os
tamanhos contam com pelo menos um fotógrafo registrando imagens, seja de
forma amadora, de forma mais avançada, para simples registro ou até mesmo
profissionalmente. Você acredita que isso é um fenômeno atual, causado pela
extrema popularização das câmeras digitais, ou algo semelhante já acontecia
nas décadas de 60, 70 e 80?
Não, hoje qualquer um fotografa e a fotografia nunca foi tão banal e na maior parte
das vezes, ruim. A máquina faz quase tudo tecnicamente.O problema é a viagem do
olhar,a cultura e formação do olhar.Aí está o grande segredo.
Aí está a sacada.Há que aprender,estudar e ter a humildade de saber que nada se
sabe.Grandes fotógrafos não nascem assim do nada,há muito, muito trampo e
58
batalha por trás duma profissão que não tem nenhum glamour a não ser o prazer de
receber.
Veja os fotógrafos da Rolling Stone entre os quais a Annie Leibovitz que já está na
casa dos quase 60. Mas é fera. Fotógrafa de corpo e alma.
A fotografia pela magia da aparição da imagem deixa que esse estado de
encantamento não gere crítica nem uma discussão mais profunda do que é
imagem.Porque uma imagem permanece e outra desaparece?
6 - Para você, o que difere o fotojornalismo da fotografia documental? Esta
distinção existe? Caso exista, onde se enquadra com mais perfeição a
fotografia de shows e porquê?
Uma boa foto é uma boa foto.Não é o rótulo que a vai dar perpetuidade.Até
fotografia de moda é fotojornalismo e uma foto documental pois registra um
momento,uma época,uma tendência.
A mim me interessa a fotografia pela musicalidade e poesia.
escrever com a luz é ser músico e poeta.
É um modo de ser e de estar.
É meu modo de me conhecer e revelar.
Acima de tudo estamos mesmo é de passagem.
Por Alá, Saravá.