Completa - Estácio
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MARIA DA PENHA DE SOUZA SALGUEIRO REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE CRIANÇA: O OLHAR DO GESTOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL Rio de Janeiro Julho 2009 MARIA DA PENHA DE SOUZA SALGUEIRO REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE CRIANÇA: O OLHAR DO GESTOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação. Orientador Mazzotti. Rio de Janeiro Julho 2009 Profº. Dr. Tarso Bonilha Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S164 Salgueiro, Maria da Penha de Souza Representação social de criança: o olhar do gestor de Educação Infantil. / Maria da Penha de Souza Salgueiro. – Rio de Janeiro, 2009. 126 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estácio de Sá, 2009. 1. Representação social. 2. Gestores de Educação Infantil. 3. Imagens fotográficas. 4. Autonomia. I. Título. CDD 370 Aos meus filhos, Rafaela, Leandro e Alessandra, e ao meu querido esposo José Salgueiro, razão de minha vida. AGRADECIMENTOS A Profª Lucia Velloso pelo carinho, dedicação e orientações no decorrer deste estudo; pela brilhante ideia de utilizarmos a fotografia como metodologia e por acreditar na minha capacidade de vencer esse desafio. Ao Profº Tarso Mazzotti pelas orientações e carinho desde o início. À Coordenadora do Curso de Mestrado, Profª. Drª. Alda Alves-Mazzotti pela atenção, determinação e competência profissional. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA, em especial, os da linha de Representação Social, por me apresentarem este admirável mundo da pesquisa. Aos colegas de turma, pelos bons momentos de reflexão acerca da educação brasileira. Ao carinho recebido por todos os gestores das instituições onde esta pesquisa foi realizada. Às diretoras das instituições de Educação Infantil Andrea Durso, da Gente Miúda e Eliana Dias, da Albert Sabin, por permitirem a realização do trabalho fotográfico. À fotógrafa Regina Reis pelo excelente trabalho. Aos responsáveis pelas crianças fotografadas pelo uso da imagem de seus filhos. À Thelma Lago pela transcrição das fitas. Ao Marcos Celusso pela gravação das fitas em CD e pelo tratamento das imagens. Ao Amaro Salgueiro pelo trabalho de design ao transpor as fotos para o papel A4. À Ana Celeste V. Moraes e a Márcia Gentile pelo apoio pedagógico. À Maria Inez Fernandes da Paz pelas orientações em relação à língua portuguesa. À Sílvia Celusso, com carinho especial, por me conduzir às entrelinhas da pesquisa e pelo apoio às entrevistas, sem o qual não seria possível a realização deste estudo. Ao meu pai, minhas filhas Alessandra e Rafaela, meus familiares e meus amigos por entenderem o motivo de minha ausência durante esses meses. Ao meu esposo e amigo, José Salgueiro, pelo apoio na realização deste sonho. Ao meu filho Leandro, sempre presente nas horas de desespero na utilização da informática. E, a Deus pela coragem em recomeçar. AO CONTRÁRIO, AS CEM EXISTEM Loris Malaguzzi A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos. Cem pensamentos. Cem modos de pensar de jogar e de falar. Cem sempre cem modos de escutar, de maravilhar e de amar. Cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar. Cem mundos para sonhar. A criança tem cem linguagens (e depois cem, cem, cem), mas roubaram-lhe noventa e nove. A escola e a cultura lhe separam a cabeça do corpo. Dizem-lhe: de pensar sem as mãos De fazer sem a cabeça De escutar e de não falar De compreender sem alegrias De amar e de maravilhar-se Só na Páscoa e no Natal. Dizem-lhe: de descobrir um mundo que já existe E de cem roubaram-lhe noventa e nove. Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação, o céu e a terra, a razão e o sonho são coisas que não estão juntas. Dizem-lhe enfim: que as cem não existem. A criança diz: Ao contrário, as cem existem. Tradução do original italiano de Ana Lúcia Goulart de Faria et al. RESUMO Esta pesquisa objetiva identificar a existência de representações sociais de criança pelos gestores de Educação Infantil. Trata-se de um estudo desenvolvido a partir da perspectiva teórica de Serge Moscovici (1961) articulado com estudos sobre fotografia. A problemática foi investigada entre 27 gestores de 12 instituições privadas, do Município do Rio de Janeiro. Em função de os fenômenos sociais relacionados às representações sociais serem de difícil apreensão, optou-se como instrumento metodológico, na coleta de dados, pelo uso de fotografias do cotidiano das instituições infantis, preparadas para expressarem a noção de “desenvolvimento da autonomia”, segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998). Foram selecionadas 16 imagens fotográficas para servirem de estímulo à produção discursiva dos gestores. Dizem respeito às atividades de subir escada, comer, se vestir, usar tesoura, falar ao telefone, escrever seu próprio nome, ir ao banheiro, escolher um livro, etc. Utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin (1977), e os resultados apontaram, de imediato, a força das imagens: percebeu-se a apreensão dos entrevistados, surpresos com a fotografia de crianças, que saltavam ou subiam escadas, em posição de conflito, e diferentes interpretações para uma mesma imagem. Para 29,63% dos gestores, “ser criança” está representado na foto de um menino saltando de um pequeno banco. A metáfora que condensa esta imagem é “salto para a liberdade”, em que a objetivação é a imagem do salto e a ancoragem é a liberdade. Tida como expressão de liberdade, conquista, enfrentamento de desafios, ausência de medo, esta imagem representa o mundo atual que demanda a autonomia, diferentemente da imagem de “coitadinha” por frequentar a creche nas décadas de 70/80. Palavras-chave: Representação social. Gestores de Educação Infantil. Imagens fotográficas. Autonomia. ABSTRACT This research aims at identifying the existence of social representations of children by the managers of Preschool Education. This is a study developed from the theoretical perspective of Serge Moscovici (1961), articulated with studies on photograph. The issue was investigated among 27 managers of 12 private institutions, in the city of Rio de Janeiro. Due to the difficult apprehension of the social phenomena related to the social representations, the use of photographs of everyday life in children’s institutions was chosen as methodological instrument, in collecting the data, prepared to express the notion of “development of autonomy”, according to a reference curriculum, the Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRAZIL, 1998). Sixteen images had been selected photographic to serve as stimulus for the discursive production of the managers. They refer to the activities such as going up stairs, eating, getting dressed, using scissors, talking on the phone, writing children’s own names, going to the bathroom, choosing a book, etc. We used a content analysis on Bardin (1977), and the results indicated, at first, the power of images: it was perceived apprehension of the interviewed ones, who got surprised with the photograph of children, who jumped or went up stairs, in position of conflict, and different interpretations of the same image. For 29,63% of the managers, “being a child” is represented in the photo of a boy jumping out of a small bank. The metaphor that condenses this image is “jump for freedom”, in which the objective is the image of the children jumping whereas the anchorage is freedom. It is taken as an expression of freedom, conquest, confrontation of challenges, absence of fear, this image represents the current world that demand the autonomy, different from the image of the “poor child” who would attend the day-care center in the 70s and 80s. Keywords: Social representation. Managers of Preschool Education. Photographic images. Autonomy. SUMÁRIO 1. 1.1 1.2 1.3 2. APRESENTAÇÃO.......................................................................................... 11 INTRODUÇÂO............................................................................................. 13 O USO DA FOTOGRAFIA NO ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS....................................................................................................... REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ............................................................................. IMAGENS CONDENSADORAS DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.................... UTILIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA COMO MEIO DE IDENTIFICAÇÃO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.............................................................................. CRECHE: DA NECESSIDADE DA MÃE À NECESSIDADE DA CRIANÇA....................................................................................................... 2.1 2.2 2.3 2.4 INFÂNCIA................................................................................................................ A CRECHE E A REALIDADE BRASILEIRA........................................................... TODAS AS CRIANÇAS TÊM DIREITO A CRECHE............................................... A IMPORTÃNCIA DA CRECHE NOS DIAS DE HOJE........................................... 3. GESTÃO EDUCACIONAL: DA NECESSIDADE DE FORMAÇÃO DE GESTORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL À CONSTITUIÇÃO DA ASBREI.. 3.1 3.2 4. GESTÃO EDUCACIONAL...................................................................................... GESTÂO DEMOCRÁTICA E O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR......................... METODOLOGIA DE PESQUISA................................................................. 4.1 4.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... ELABORAÇÃO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA............................................ 4.2.1 4.2.2 4.2.3 Captação das imagens fotográficas................................................................................ Critério escolhido: desenvolvimento da autonomia...................................................... Imagens selecionadas....................................................................................................... 4.3 4.4 APLICAÇÃO NO CAMPO....................................................................................... METODOLOGIA DE ANÁLISE............................................................................... 5. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................... 18 18 24 29 31 31 35 38 40 43 44 49 53 53 54 55 56 59 63 65 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 PERFIL DOS GESTORES...................................................................................... PERFIL DAS INSTITUIÇÕES................................................................................. ENTREVISTA COM IMAGENS - 16 Fotografias..................................................... FOTO REPRESENTATIVA – Ser Criança.............................................................. ENTREVISTA CONVERSACIONAL....................................................................... 5.5.1 5.5.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB............................................... Associação Brasileira de Educação Infantil – ASBREI................................................. 68 68 70 71 85 92 92 94 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 97 REFERÊNCIAS............................................................................................ 100 APÊNDICES................................................................................................. 109 APÊNDICE A – CÓDIGO DE IDENTIFICAÇÃO DOS ENTREVISTADOS.............. 110 APÊNDICE B – PERFIL DA INSTITUIÇÃO............................................................. 111 APÊNDICE C – PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DO GESTOR................................. 118 APÊNDICE D – SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA O CENÁRIO DAS FOTOS.. 121 APÊNDICE E – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA USO DE IMAGEM FOTOGRÁFICA................................................ 122 APÊNDICE F – CARTA AOS GESTORES.............................................................. 123 APÊNDICE G – ENTREVISTA COM GESTORES – IMAGENS............................. 124 APÊNDICE H – ANÁLISE DOS DADOS – ENTREVISTAS COM MAGENS.......... 126 APRESENTAÇÃO A escolha deste tema é justificada pelo desafio de uma experiência pessoal e pelo meu contínuo interesse pelas questões ligadas à criança, mais precisamente, ao desenvolvimento infantil, à gestão educacional e a instituição creche enquanto integrante da Educação Infantil. Em 1979, fui convidada a fundar na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, uma creche com uma proposta “diferente” e um objetivo ousado: atender crianças de três meses a seis anos, como creche e pré-escola “ao mesmo tempo” e em horário integral, de forma que as mulheres que trabalhavam fora de casa pudessem deixar seus filhos, com tranqüilidade, num local seguro e adequado, para serem cuidados e educados por profissionais devidamente qualificados. Vale observar que esta proposta, então pioneira, levou o poder público municipal a criar normas próprias, uma vez que a legislação existente não contemplava a co-existência de creche e pré-escola. Para tanto, o então Prefeito do Município do Rio de Janeiro, Israel Klabin, criou um Grupo de Trabalho, específico para este fim, com representantes das Secretarias de Educação, Saúde e de Obras e Urbanismo, cujas proposições, uma vez aprovadas, transformaram-se na legislação que regula os requisitos necessários à concessão de alvará para o funcionamento de creche e pré-escola num mesmo espaço físico. Minha formação em psicologia permitiu observar, já naquela época, a existência de uma dissonância entre as práticas pedagógicas adotadas pelas professoras e as habilidades psicomotoras das crianças, percebendo naquelas um desconhecimento acerca das características de cada faixa etária do desenvolvimento infantil. A demanda por este tipo de atendimento resultou em expansão das creches privadas, fazendo com que o poder público expedisse novas leis para regulamentar esse segmento. Em função de exigências, por vezes descabidas, surge paulatinamente na Tijuca, um movimento de classe, liderado pelas creches privadas Fofolândia, da qual fui diretora, Criançando e Gente Miúda que, em pouco tempo, ganha força e se espalha pelo Município, com o objetivo de unir diretores de creches e pré-escolas em torno de interesses comuns. Esse movimento deu origem em novembro de 1981 a ASBRAC - Associação Brasileira de Creches, atualmente ASBREI – Associação Brasileira de Educação Infantil, com o propósito de ser uma entidade nacional, de creches privadas e públicas, com o objetivo de promover e apoiar ações que favorecessem o estudo e o aprimoramento das práticas pedagógicas com crianças até seis anos. Nos encontros da ASBREI discutíamos vários assuntos: legislação, qualificação dos dirigentes e dos profissionais, materiais adequados, fornecedores, impostos, saúde, alimentação, comportamento, práticas pedagógicas, formas de gestão e outros, ou seja, formas de pensar e fazer a Educação Infantil. Essas discussões resultaram em cursos, palestras, viagens de estudo, congressos nacionais e principalmente os internacionais, que até hoje são referência nesta área. O resultado desse trabalho contribuiu para aprimorar a qualidade dos serviços prestados pelas creches privadas para a formação e para a educação continuada de seus profissionais: cozinheiras, auxiliares de creche, berçaristas, professoras, médicos, psicólogos e nutricionistas e para a formação prática de muitos gestores, uma vez que, os cursos de Pedagogia, mesmo aqueles com habilitação específica em Administração Escolar, do qual fui aluna na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ limitavam-se à abordagem das legislações educacionais e a reflexões sobre o pensamento dos principais teóricos da educação. De verdade, esta habilitação, pelos temas e conteúdos abordados, não promovia a efetiva formação de gestores, uma vez que não faziam parte do currículo disciplinas ligadas à administração contábil e financeira, formação de custo e do preço das mensalidades, compras e controle de materiais, recrutamento, seleção e avaliação de pessoal, legislação, dentre outras. As práticas, tanto administrativas quanto pedagógicas, eram discutidas e refletidas por nós em cursos, grupos de estudos, visitas às instituições, nos congressos e para alguns poucos, nas viagens internacionais, que depois eram socializadas nas reuniões. Minha experiência profissional de 30 anos neste segmento, que perpassa pelas áreas pedagógica, psicológica e administrativa da Educação Infantil aliada a escassez de pesquisas sobre gestores, até o momento que iniciei este estudo, me instigaram a investigar a existência de representação social de criança por gestores de Educação Infantil. 13 INTRODUÇÃO Só ajuda à criança a crescer aquele que se propõe a crescer também, só ensina alguma coisa aquele que está aberto para aprender e só educa verdadeiramente quem vê diante de si uma trajetória de realizações criativas, buscando sempre se renovar, demonstrando o seu profundo respeito pelo outro e pela própria vida. Maria Helena Novaes (1975). Se a concepção de creche, como espaço de educação é recente na legislação educacional brasileira, como tem sido a formação dos gestores educacionais ao longo do tempo? Mesmo não se tendo a visão de creche como se tem hoje, esta era dirigida, nas décadas de 70/80 na sua grande maioria, por mulheres professoras, pedagogas e psicólogas, que contavam com o auxílio do “instinto do amor maternal” para administrá-la. O desafio de um atendimento de qualidade nas creches privadas era uma questão de honra, além de ser, ao mesmo tempo, instigante e desolador. Seus dirigentes tinham que provar, por diferentes meios, que a criança na creche não significava uma atitude de abandono da mãe. O caráter assistencialista, provisório e substituindo a família, inaugurou o cenário de contradições do que seja uma creche como instituição educativa (CATALDI, 1992). No entanto, é impossível falarmos de creche, sem falarmos de criança e de infância, até porque a creche é um espaço privilegiado onde a criança passa a maior parte do tempo de sua infância, período este em que sua personalidade é formada. Historicamente, para entendermos o papel da creche até os dias de hoje, precisamos situar a mulher e a criança no contexto sócio-cultural, para então sabermos de qual criança estamos falando. A partir da década de 70 surgiram as primeiras creches particulares, que se propunham a oferecer um atendimento de qualidade à criança da classe média da cidade do Rio de Janeiro. Disto resultou uma assustadora expansão do número de creches e em leis para regulamentar esse segmento. Em função de arbitrariedades com respeito às exigências legais, por vezes, desnecessárias, levando-se em conta a especificidade 14 da clientela, um grupo de gestores, sete anos antes da Constituição de 1988, fundou a ASBREI, em 23 de novembro de 1981, como órgão de classe, que além de encaminhar junto aos órgãos públicos as demandas de seus associados, desempenhava o papel de apoio à formação de gestores e de todos os profissionais que atuavam neste segmento. A Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) torna evidente sua preocupação com a infância, refletida na mudança que garantia, à época, o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; direito referendado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990), e posteriormente complementada e aperfeiçoada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996), que reconhece a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica e como de natureza educacional. Mais tarde, no sentido do ampliar o dever do Estado, em relação ao ensino obrigatório e gratuito, a LDB é alterada pelas Leis nº 11.114/05 e nº 11.274/06. A 1ª torna obrigatório o início do Ensino Fundamental aos seis anos de idade e, consequentemente, a 2ª amplia o Ensino Fundamental para nove anos. Essa mudança altera o atendimento em creches e pré-escolas que passam a aceitar crianças de zero até cinco anos de idade e não mais até aos seis (Emenda Constitucional nº 53 de 2006). Mesmo com todo esse avanço, ainda há muitas dúvidas entre os profissionais deste segmento sobre o papel da Educação Infantil. O que ainda se observa é a ênfase, ora nos aspectos assistenciais, ora nos pedagógicos, meramente no sentido de transmissão de conhecimentos, desprezando a criança como sujeito social e historicamente constituído (KRAMER, 2005). Concomitantemente a todos esses acontecimentos, os diretores de creches, de diferentes formações acadêmicas, preocupados basicamente com tarefas administrativas, se descobrem forçados pela nova lei, a exercerem a função de diretores de instituições de educação, envolvidos com um imaginário até então desconhecido como o relacionamento com professores, coordenador pedagógico, além do Projeto Político-Pedagógico – PPP e do Regimento Escolar. Diante deste cenário, muitos diretores tiveram que voltar à universidade para ocupar o cargo de Diretor de sua própria Creche, especializando-se em Administração Escolar, o que não era exigido antes da LDB. 15 O saber vivenciado ao longo da trajetória profissional é construído a partir das representações, valores e da cultura na qual estão inseridos os gestores, delineando a forma pela qual administram suas instituições. A creche é, em si, um grande grupo. Quando mergulhamos nesta realidade para observarmos o seu dia-a-dia, descobrimos diferentes subgrupos onde símbolos e valores vão sendo passados de um indivíduo para outro, intermediados pela linguagem. É a comunicação entre os indivíduos e grupos que constitui suporte fundamental para a construção das representações. Como espaço de educação, a creche se apresenta como um local de construção de diferentes saberes que fazem parte da sua cultura. Para entender o brincar da criança é preciso entender a cultura na qual ela está inserida. Na revisão da literatura sobre Educação Infantil encontramos artigos e dissertações sobre as representações sociais de profissionais que atuam em creches, mas no que diz respeito ao gestor, até o início desta pesquisa, era inexistente. O estudo de David (2004) sobre representações sociais de creche comunitária por profissionais da Educação Infantil conclui que a representação social de creche construída pelos profissionais se objetiva no cuidar e que os sentidos atribuídos ao educador de creche estão ancorados nas práticas históricas do grupo. Partindo-se do princípio de que o gestor, também entendido como o diretor ou o administrador, de uma instituição educacional é o responsável pela plenitude do seu funcionamento, tentaremos captar, por meio de imagens fotográficas, e compreender o que pensam e como pensam os gestores de Educação Infantil sobre a criança. Que valores, normas e crenças influenciam as práticas pedagógicas adotadas em sua instituição? Esse estudo utilizará a Teoria das Representações Sociais, de Serge Moscovici (1961) e seguidores, para investigar a existência de representação social de criança pelos gestores de Educação Infantil. Para auxiliar nesta investigação foram formuladas questões de estudo, a saber: 1. Qual a imagem atual de ser criança de creche? 2. De que forma a LDB interferiu nas práticas educativas? 3. Como se deu sua formação de gestor e qual a relevância da ASBREI neste processo? 16 Ao identificarmos as representações sociais de criança produzidas por gestores, estaremos mostrando também em que medida há coerência entre a representação social e a prática educativa adotada por esse grupo, assim como contribuiremos para reflexões acerca da elaboração de programas de formação inicial e continuada de gestores e demais profissionais deste segmento educacional e para subsidiar processos avaliativos focados nesta realidade. A decisão de estudar o grupo social ASBREI está intimamente ligada ao fato de acreditar na força de um grupo que, na década de 80, teve coragem de não abrir mão da denominação creche, considerado pejorativo, e de lutar para mostrar que era possível realizar um trabalho de qualidade mudando a imagem da criança “coitadinha” por frequentar a creche. Assim sendo, essa dissertação foi organizada da seguinte forma: Capítulo 1 – O USO DA FOTOGRAFIA NO ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS – Apresenta a Teoria das Representações Sociais usada como suporte teórico neste estudo, bem como, a utilização da imagem fotográfica como instrumento metodológico de pesquisa em diferentes áreas do conhecimento e termina com o uso da fotografia na área da Educação como meio de identificação das Representações Sociais. Capítulo 2 – CRECHE: DA NECESSIDADE DA MÃE À NECESSIDADE DA CRIANÇA – Aborda as modificações sofridas, em função do contexto social, do conceito de infância e de creche. Situa a creche na legislação brasileira que inicia com a necessidade da mãe para deixar seu filho enquanto trabalhava e finaliza como uma conquista da criança como sujeito de direitos, em especial, o direito a um espaço de proteção e educação para o desenvolvimento de suas potencialidades. Capítulo 3 – GESTÃO EDUCACIONAL: DA NECESSIDADE DE FORMAÇÃO DE GESTORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL À CONSTIUIÇÃO DA ASBREI – Apresenta a evolução do conceito de “administração escolar” para “gestão educacional”, apontando as falhas na formação que resultou, na década de 80, na criação da ASBREI. Capítulo 4 – METODOLOGIA DE PESQUISA – Descreve a metodologia utilizada apresentando a fotografia como mais uma possibilidade de recurso na apreensão das representações sociais. Capítulo 5 – ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS – Utiliza a Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977) para analisar os discursos dos 17 gestores quando do agrupamento das fotos; quando falam da importância da LDB e quando falam sobre o papel da ASBREI. CONSIDERAÇÕES FINAIS – Tece considerações sobre os resultados mais significativos, ansiando que os mesmos sirvam para fomentar discussões sobre a importância dos primeiros anos de vida da criança e sobre a responsabilidade da formação de quem deseja ser gestor de instituições de Educação Infantil. 18 CAPÍTULO 1 O USO DA FOTOGRAFIA NO ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 1.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS O presente estudo fundamenta-se na Teoria das Representações Sociais. Parte do pressuposto de que as representações são construções simbólicas pela qual um grupo, no caso os gestores, atribui sentido ao objeto – criança – submetendo as informações sobre o mesmo (objetivação), ao filtro de suas crenças, valores, modelos e símbolos (ancoragem) de seus grupos de pertença (indivíduos que compartilham linguagem, preferências, valores, opiniões, crenças) e de referência (indivíduos que se tem como modelo). Destaca os principais conceitos, sua estreita relação com a linguagem e com as práticas, e ainda os processos geradores de representação: objetivação e ancoragem. Além de Moscovici (1961) outros estudos mais recentes foram enfocados como os de Jodelet (2001), Madeira (2001), Campos (2003) e outros. Segundo Moscovici (2003), as representações sociais são estruturas cognitivas específicas da sociedade contemporânea, que se constroem no âmago das interações e das práticas sociais. É uma forma de conhecimento – o saber do senso comum – construída nas relações grupais e intergrupais, integrando tanto a experiência e a vivência dos sujeitos que a constroem, quanto sua história e sua cultura. As representações são obras nossas; se, sua existência no exterior leva a marca de uma passagem pelo psiquismo pessoal e pelo social. Nestas marcas estão os processos de objetivação e ancoragem. Ao longo da vida, o sujeito recebe uma infinidade de informações. A cada nova informação ele tende a aproximá-la do seu universo de informações numa tentativa de reconstruí-la e torná-la natural. Neste processo, o sujeito utiliza seus próprios valores e acaba por “tornar familiar algo não familiar” (MOSCOVICI, 2003, p. 54), ancorando essa informação que passa a fazer parte do seu dia-a-dia, na sua 19 maneira de falar e de agir, como uma “forma de saber prático ligando o sujeito a um objeto” (JODELET, 2001, p.27) e, portanto, caracterizando uma representação. Para Durkheim (1898/1974, apud: MOSCOVICI, 2003), as representações coletivas não podem ser reduzidas a representações individuais, já que fatos sociais só poderiam ser explicados em termos de outros fatos sociais; entende que as representações individuais são mais vulneráveis a mudanças do que os grupos sociais. Retomando este conceito de representações coletivas de Durkheim, Serge Moscovici, em 1976, na França, parte da sociologia e cria uma psicossociologia do conhecimento, criticando a visão individualista americana incapaz de dar conta das relações informais e cotidianas da vida humana em nível social ou coletivo. Parte das representações coletivas durkheimianas é caracterizada pelo comportamento e pensamento homogêneo, pela autonomia, exterioridade e coercitividade, incapazes de abarcar os novos fenômenos representacionais. Para ele, o “aqui-e-agora” não estava contemplado e sua importância e a influência já não aguarda tanto tempo para incorporar-se aos sistemas unificadores, mas penetram, “sem pedir licença” no cotidiano, integrando-se ao nosso senso comum (SÁ, 2004). Para Moscovici (2003), as sociedades modernas são caracterizadas pelo seu pluralismo e pelas mudanças econômicas, políticas e culturais, havendo poucas representações verdadeiramente coletivas. As Representações sociais estão presentes tanto “no mundo” como na “mente” devendo ser pesquisadas em ambos, só sendo válido estudá-las se elas estiverem relativamente espalhadas numa cultura. Moscovici também sofreu influência de Barlett nos estudos de transmissão cultural. Quando algo não familiar torna-se familiar dentro de uma cultura, Moscovici chama de “ancoragem”. Enquanto Barlett estava interessado na difusão de um produto cultural, Moscovici estava interessado num limite cultural entre a ciência e o pensamento leigo, ou seja, nas representações leigas da ciência. Fundamentada em Durkheim, a Teoria das Representações Sociais cobre o quanto um indivíduo é um produto da sociedade e, em Weber, o quanto o indivíduo a muda. Os estudos de Moscovici reavivaram mundialmente as representações coletivas de Durkheim. A forma de o sujeito ver o mundo é fruto das representações de seu grupo refletindo a experiência de seus membros (MOSCOVICI, 2001). Essas representações são passadas de geração a gerações, exercendo um processo coercitivo sobre os indivíduos. 20 No entanto, para Moscovici (2001), à medida que a sociedade se apropria de um novo paradigma e o incorpora à realidade, o que antes era visto como resistência ou tabu passa a fazer parte do universo daquele grupo. Mas, muitas vezes, não há apropriação do novo, ficando apenas no discurso, longe da prática e, dessa forma, não se constituindo em uma representação social. Na visão de Jodelet (2001, p.22), representação social é: Uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber do senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Situada na interface entre o psicológico e o social, corresponde à forma pela qual apreendemos o mundo através de nossas experiências cotidianas, na interação com o ambiente e com as pessoas e grupos que nos circundam. Perceber a existência de representações é algo relativamente simples, pois “elas circulam nos discursos, são trazidas pelas palavras e veiculadas em mensagens e imagens midiáticas, cristalizadas em condutas e em organizações materiais e espaciais” (JODELET, 2001, p.18). Entretanto, o fato de que as representações são “quase tangíveis” em nosso universo cotidiano (MOSCOVICI, 1978, p.41) não significa que seu conceito seja fácil de apreender, uma vez que estas constituem fenômenos complexos ativados na vida social, que incluem elementos informativos, cognitivos, ideológicos, normativos, crenças, valores, atitudes, opiniões, imagens, organizados sob a aparência de um saber que diz algo sobre o estado da realidade. Elas constituem visões de mundo, coletivamente elaboradas e partilhadas pelos grupos sociais, com base em sua história, no contexto social em que se inserem e nos valores a que se referem. São modalidades de pensamento prático, orientadas para a compreensão e o domínio do ambiente social, material e ideal (JODELET, 2001). Diante da complexidade de um mundo moderno, povoado por pessoas, objetos e acontecimentos complexos que exige que nós assumamos determinadas formas de comportamento, não ficamos passivos observando-o. Mesmo que às vezes não percebamos, estamos “partilhando desse mundo”. Isto pode ocorrer no 21 sentido de comunhão ou de confronto com o outro, dentro do próprio grupo ou entre grupos. Dessa forma, o indivíduo constrói as representações que, invariavelmente, são sociais e definem os mais variados aspectos da realidade cotidiana. Elas interpretam esses aspectos, favorecem o posicionamento do indivíduo diante de determinado fato ou objeto e, se necessário, facilitam tomadas de decisões. A mudança de foco da Educação Infantil na LDB, de assistencial para educacional, com conseqüente mudança na postura dos diretores, não é garantia de novas representações sociais de criança. As representações sociais constituem, portanto, “sistemas de interpretação” que organizam nossa relação com o outro (indivíduo ou grupo) e com os objetos, orientando as condutas e as comunicações sociais e contribuindo para a definição das identidades pessoais e sociais, na medida em que envolvem as práticas, as experiências cotidianas, os aspectos afetivos e normativos e os modelos de conduta e pensamento do grupo. Por esta razão, seu estudo constitui uma contribuição decisiva para a abordagem da vida mental, individual e coletiva (JODELET, 2001). Moscovici (2003) descreve dois processos geradores das representações sociais: a objetivação e a ancoragem. Destaca que a imagem do objeto vai sendo construída à medida que o indivíduo vai objetivando o fato, promovendo um ajustamento do mesmo a sua realidade. A função de duplicar uma figura por um sentido, e o sentido por uma figura, contextualizar e interpretá-lo chama-se “ancorar” (enraizar). A objetivação e a ancoragem são consideradas os principais processos de formação e reformulação de uma representação social, que visam dar conta de descrever como “o social transforma um conhecimento em representação e como esta representação transforma o social” (JODELET, 2001). Uma realidade social é criada apenas quando o novo ou não familiar vem a ser incorporado aos universos consensuais. O estranho atrai, intriga e perturba as pessoas e as comunidades. Mas ao torná-lo familiar, ele é ao mesmo tempo menos extraordinário e mais interessante. Ancorar é, pois, classificar e dar nome a alguma coisa. “Coisas que não são classificadas e que não possuem nome são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo ameaçadoras“ (MOSCOVICI, 2003, p.61). A fim de torná-los familiar o indivíduo procura ajustar o novo ao paradigma já estocado em sua memória tornando-os agora, um fato ou uma idéia já conhecida; então qualquer 22 opinião que se relacione com a categoria, irá se relacionar também com o objeto ou com a idéia (MOSCOVICI, 2003). A hierarquia de valores de uma sociedade ou de diferentes grupos contribui para criar em torno do objeto uma rede de significações na qual ele é inserido e avaliado como fato social. As representações que fazemos estão associadas aos sentidos que nos são transmitidos pelos diferentes grupos como família, grupos religiosos, escola, etc. O modo como essas representações vão tomando conta dos nossos sentidos vai se tornando tão arraigadas que, por vezes, não nos damos conta de que pensamos desta e não de outra maneira, em virtude dos grupos culturais aos quais pertencemos (MOSCOVICI, 2003). Pode-se dizer, então que o grupo expressa sua identidade pelos sentidos que imprime a suas representações. De acordo com Campos (2003) “o estudo da ancoragem é o estudo dos processos sociais e cognitivos que sustentam viva a representação”. Seu estudo torna-se importante para que possamos compreender o funcionamento de toda e qualquer representação. Nesse estudo, a ancoragem possibilitará identificar o lugar onde os gestores apóiam, ancoram o significado que atribuem à criança. Esses sentidos construídos socialmente estão relacionados aos valores afetivos, éticos e morais que foram incorporados à creche e a figura do seu gestor ao longo de sua existência, imprimindo nesta um sentido próprio que, em particular, “a caracteriza e que formaliza os comportamentos dos seus membros” (BRUNET, 1995). Ao analisar as relações entre representações e práticas sociais, Abric (1994, apud: ALVES-MAZZOTTI, 2002) alerta para o fato de que o termo prática não pode, como freqüentemente, ocorre ser aplicado a comportamentos atomizados, não veiculados socialmente. Propõe, então que se entenda prática social como “sistemas de ação socialmente estruturados e instituídos com relação a papéis”, além de que as representações devem ser vistas “como uma condição das práticas e as práticas como um agente de transformação das representações”. Campos (2003), preocupado com esta questão define: Na perspectiva de estudar as situações sociais reais, uma fórmula mais exata de definir as práticas sociais é concebê-las como sistemas complexos de ação (Abric, 1994b), ou ainda, como conjuntos de condutas finalizadas pelos e para os grupos (MOLINER, 2001). 23 Quanto ao debate sobre a relação entre representações e práticas, Abric (1994, apud: ALVES-MAZZOTTI, 2002) mostra que, enquanto alguns autores enfatizam a influência das representações sobre as práticas, outros enfatizam o inverso ou defendem a idéia de que as representações e práticas sociais são indissoluvelmente ligadas e interdependentes. Alves-Mazzotti (2002) afirma que esta última posição, segundo a qual representações e práticas se engendram mutuamente, é hoje hegemônica, ressaltando, porém que não se trata de simples reciprocidade. Campos (2003, p.31) cita vários estudos: que as práticas transformam as representações; que as representações condicionam as práticas, e estudos que, dada a complexidade da situação, torna-se impossível formular “hipóteses explicativas unidirecionais e inequívocas”. O que acontece quando somos levados a desenvolver práticas que estão em contradição com nosso sistema de representação? Para responder esta questão, Alves-Mazzotti (2002) recorre à noção de reversibilidade da situação, introduzida por Flament. Para ele, se o ator social considera que a situação atual é reversível, isto é, que ela é temporária, os elementos novos e discordantes podem ser integrados sem que haja mudança da representação; se, ao contrário, julgar que ele é irreversível, as práticas novas e contraditórias poderão acarretar uma transformação completa da representação. Campos (2003), ainda acrescenta que: Nas situações em que ocorrem transformações radicais da realidade objetiva, quanto maior o grau de autonomia dos sujeitos na situação, e quanto maior a intensidade das cargas afetivas (e da referência à memória histórica coletiva), maior o grau de determinação das práticas pelas representações, e, desse modo, as representações funcionam como guia de orientação das práticas. E finalmente Abric (1994), citado por Alves-Mazzotti (2002, p.25): A análise de toda prática social supõe (...) que sejam levados em conta pelo menos dois fatores essenciais: de um lado, as condições sociais, históricas e materiais nas quais ele se inscreve, e de outro, seu modo de apropriação pelo indivíduo ou grupo que ele se refere, modo de apropriação onde os fatores cognitivos, simbólicos, representacionais desempenham um papel igualmente determinante. 24 Considerando o referencial teórico acima delineado, acreditamos que a opção pela Teoria das Representações Sociais, de Serge Moscovici e seus seguidores, será suficientemente norteadora para que consigamos analisar o universo dos gestores de instituições de Educação Infantil e desvelar quais as Representações Sociais que estes têm sobre o objeto criança. Na tentativa de desvelar este universo, fomos buscar nos estudos sobre a utilização da fotografia em diferentes áreas, um modo de utilizá-la como recurso metodológico em nossa pesquisa. 1.2 IMAGENS CONDENSADORAS DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS Apesar da fotografia ter cerca de 150 anos, somente na década de 30 do século anterior, Walter Benjamin, escreveu sobre o impacto que a fotografia, como arte, exerce sobre a sociedade. Seus textos foram traduzidos, somente na década de 60 para a língua inglêsa e só no final do século XX foram reconhecidos como essenciais para compreender o novo contexto artístico, na área da fotografia, do filme e, mais recentemente, da internet (ROQUE, 2008). Para ele, a fotografia e o filme poderiam oferecer novas formas de expressão artística, e com isto, modificar radicalmente as formas de olharmos e compreendermos técnicas mais tradicionais. Uma pintura, por exemplo, que até então só poderia ser vista pelo seu possuidor ou, por quem visitasse o museu onde estava exposta, passa a poder ser reproduzida infinitas vezes e ser vista por milhões de pessoas. A relação espaço-temporal da fotografia está exposta e através dela é possível visitar e olhar a “realidade”, sem estar naquele lugar, uma passagem pela retenção do olhar do outro “a natureza que fala à câmara não é a mesma que fala ao olhar; é outra, especialmente porque substitui um espaço trabalhado conscientemente pelo homem, um espaço que ele percorre inconscientemente” (BENJAMIN, 1985, p. 94). O surgimento da fotografia provoca profundas polêmicas que se instaura em diversos campos, da arte à ciência, pois essa nova forma de “arte” polemiza a relação de culto e de valor empreendida pela pintura, e acaba transformando a arte da época (DUBOIS, 2004). Após seu aparecimento e na opinião de Kossoy (2001), o mundo tornou-se ‘familiar’ e o ser humano foi capaz conhecer mais sucintamente 25 outras realidades que lhe eram, até aquele momento, transmitidas unicamente pela tradição escrita, verbal e pictórica. A partir do início do século XX, a ampliação da indústria gráfica permitiu a multiplicação de imagens visuais e a fotografia marcou uma nova maneira de formular o conhecimento do mundo, agora “portátil e ilustrado” e em detalhes. Em contrapartida, o olhar sobre a fotografia contemporânea, ao mesmo tempo que permite ser vista por uma infinidade de pessoas, é passível de imitação e de clonagem em detrimento de propostas sérias e inovadoras. Na literatura sobre a imagem e mais especificamente sobre a imagem fotográfica, encontramos uma série de estudos em diferentes áreas das ciências humanas em geral, que utilizam a imagem fotográfica como recurso metodológico. O marco inicial na conjugação de texto e imagem em pesquisas é o ano de 1942 com o lançamento do livro de Bateson e Mead intitulado “Balinese Character. A photographic Analysis” (RECUERO, 2007). Através desta obra, abriram-se novas perspectivas de emprego da fotografia em Antropologia, para além da mera ilustração do ambiente e dos sujeitos envolvidos na pesquisa de campo, fundando a chamada Antropologia Visual. Tacca (1991) realizou importante trabalho neste campo, utilizando a fotografia como principal fonte de informações. Fornecendo câmaras fotográficas para treze trabalhadores de quatro indústrias de calçados em Franca (São Paulo), solicitou que estes fotografassem o cotidiano, por dois meses, segundo um roteiro estabelecido a saber: a família, a casa, os objetos pessoais, o bairro, o caminho da fábrica e a fábrica. A partir destas imagens fotográficas, vista como texto, foi possível analisar o modo de viver desses operários. Achutti (BATISTA, 2007), acrescenta que a fotografia é um ato permanente de fragmentação de elementos de uma determinada realidade em um plano. Essa característica aliada ao olhar etnográfico é capaz de conduzir ao desenvolvimento de uma forma narrativa mais aprofundada, não se restringindo apenas ao texto na construção de sentidos e à fotografia como ferramenta de pesquisa de campo, mas também à fotografia como discurso. No campo da Psicologia, a fotografia tem sido usada de várias maneiras. De acordo com Neiva-Silva e Koller (2002), os primeiros trabalhos com fotografia foram com testes de inteligência onde a partir de fotografias relacionava-se a inteligência à 26 anatomia do rosto. Já na área clínica, o paciente era convidado a trazer fotos que lhes fossem significativas e falar sobre elas. Atualmente, o principal objetivo ao se trabalhar com a fotografia no campo da Psicologia é a atribuição de significado à imagem. As relações estabelecidas entre estes dois construtos foram, inicialmente, colocadas por William James (1890 apud: Dinklage; Ziller, 1989) que definiu o significado das palavras como sendo imagens sensoriais trazidas à consciência. Assim, adotando-se o pressuposto de que parte das pessoas teria dificuldade em expressar verbalmente determinados temas, o uso da fotografia poderia auxiliar na comunicação destes significados, permitindo uma melhor compreensão destes conteúdos por parte do pesquisador. Neiva-Silva (2003) realizou uma pesquisa baseada na utilização do método autofotográfico, descrito por Robert Ziller, no final da década de 70 e que consiste em solicitar ao sujeito que produza e apresente algumas fotografias ao pesquisador, a respeito de um ambiente particular ou de si mesmo. Sob forma de pergunta, o pesquisador propõe um tema que deverá ser respondido através de imagens fotográficas. Kirst (2000) em seu estudo sobre fotografia e subjetivação, produziu fotografias de um ambiente de trabalho bancário e apresentou-as aos trabalhadores solicitando que eles falassem sobre elas. Ela acreditava que as fotos como elemento suscitador de depoimentos faz vir à tona algo que não seria dito em entrevistas ou diálogos informais. O uso da imagem fotográfica vista com o mesmo peso de um texto em trabalhos científicos é recente e o nome de Roland Barthes (1962) é o mais conhecido nesta área por ter aplicado, pela primeira vez, o método estruturalista à análise do conteúdo fotográfico (LEITE, 2007). Um dos pioneiros no estudo da Semiologia, Barthes diferenciou-se dos demais semiólogos estruturalistas, seguidores de Ferdinand de Saussure, por acrescentar à noção acadêmica de signo, a noção de sujeito. Para ele, um signo deve ser compreendido levando-se em conta a intervenção do sujeito que o observa. Se a fotografia não sofresse a intervenção pessoal subjetiva do observador que pode ver num signo muito mais que uma representação do real, ela não passaria de um simples registro documental. No entanto, apesar de também cumprir este papel, a fotografia ultrapassa os limites de um simples registro, na medida em que, enquanto signo recebe um reconhecimento particular por parte do sujeito. 27 Barthes (1989) destaca a multiplicidade de leituras que uma imagem pode nos fornecer. Na relação estabelecida entre o observador e a foto há dois movimentos distintos: da imagem em direção ao observador e do observador em direção à imagem. O primeiro movimento é denominado studium e se refere aos pontos sensíveis, as marcas que partem da foto e chamam a atenção do observador. Reconhecer o ‘studium é descobrir as intenções do fotógrafo’ (p.48), compreendê-las, aprová-las ou não. São os interesses humanos, culturais e políticos, estimulado pela imagem fotográfica. Já no segundo movimento, o punctum a reação parte do observador e leva-o a acrescentar algo à foto. Neste caso, a imagem fotográfica ultrapassa seu próprio enquadramento. É o detalhe que salta da fotografia e nos atinge, assumindo vida à parte. O punctum é, portanto, um extracampo sutil, como se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela dá a ver. Nem todas as imagens nos fornecem um punctum. Algumas permanecem inertes ao olhar, provocando apenas o interesse humano, um studium. Barthes (1980) afirma que a fotografia é sempre a imagem de algo e está atrelada ao referente histórico que o gerou. Ler uma fotografia implica em reconstruir no tempo seu assunto, derivá-lo no passado e conjugá-lo a um futuro virtual. A foto é o registro de um momento que não poderá ser mais reproduzido. Sob o ponto de vista documental, sua validade é contestada e alguns cuidados merecem nossa atenção. O poder da fotografia pode ser utilizado tanto para falsificar fatos privilegiando interesses como para enaltecer algum acontecimento. Outro ponto de vista discutido por Barthes, em Leite (2007), é o fato de a fotografia ressuscitar sentimentos de alguém que não está presente ou trazer à tona, por instantes, sensações vividas em épocas passadas. Isto significa dizer que a linguagem fotográfica não é universal, ou seja, não é interpretada da mesma forma por diferentes povos. A leitura de um texto envolve uma ação ótica e mental, na qual o leitor se encontra inserido. Primeiro decifra as letras, em seguida assimila o sentido de cada palavra e por fim estabelece a relação entre estas que dão sentido a frase. Diferentemente, a leitura fotográfica se processa da seguinte forma: percepção da imagem, identificação e interpretação da mesma. Esta diferença provoca reações emocionais espontâneas e mais intensas do que de um texto, o que reforça o dito popular de que: “Uma imagem vale mais que mil palavras”. 28 Coller Jr. (RECUERO, 2007), em seus estudos acrescenta que o valor da fotografia está no fato dela oferecer modos singulares de observar e descrever a cultura. Sob o mesmo ponto de vista, Aumont (2008) assinala que a imagem existe para ser vista por um sujeito espectador que está inserido em um contexto determinado. Assim, o sentido que é dado a uma imagem é um sentido socialmente construído afastando a hipótese de um olhar ocasional, vale dizer, neutro. É na relação do sujeito que observa com o objeto de sua observação, que a imagem se constrói. Nessa relação, há uma gama de emoção, afeição, história, crença e memória. Embora a imagem fotográfica esteja sendo criada para servir a um determinado objetivo, pode escapar completamente de sua concepção original quando observada em outro contexto espaço-temporal. O principal motivo é que ela é um dispositivo capaz de reproduzir imagens do mundo vivenciado no passado e no presente, para restituí-lo no futuro. É um meio de comunicação que além de transmitir informações, preserva memórias através da representação da realidade. Não é apenas uma imagem congelada no tempo, mas uma mensagem processada através dele. Alves (2005, p. 1) é de opinião que: Uma imagem usada, em qualquer das redes cotidianas em que vivemos, permite a formação de redes de significados, conhecimentos e valores, nas quais têm importância as emoções que ela desperta. Nessas redes estão trançados: a) o que o artista que a produziu quis dizer e sentiu em sintonia com o espaço/tempo em que estava/está inserido; b) aquilo que aquele que a escolheu para mostrar acha que é importante indicar; c) aquilo que aquele que a vê percebe/lembra/exprime/sente; d) as emoções ‘expostas’ daqueles que foram fotografados, sabendo, ou não, que estão sendo e querendo que se saiba disso. Sendo a fotografia um meio de comunicação capaz de transmitir conhecimentos e valores e sendo a representação de difícil apreensão, tentaremos descobrir de que forma outros pesquisadores, desta área, se utilizaram deste recurso metodológico no contexto escolar. 29 1.3 UTILIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA COMO MEIO DE IDENTIFICAÇÃO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS O uso de imagens fotográficas como instrumento metodológico vem, paulatinamente, ganhando espaço nos estudos de representações sociais, no contexto escolar. Nos estudos da escola como objeto, as imagens revelam e a identificam como um espaço simbolizado, formado de múltiplas relações entre o real e o imaginário (SOUSA, 2002). Na identificação de prédios escolares de Teresina (PI) e Natal (RN), Sales (2000) se valeu de fotografias para captar dados de natureza subjetiva relacionadas ao valor simbólico dos diversos estilos de arquitetura dos prédios escolares dessas cidades. Semelhante a este estudo, Lustosa, Carvalho e Sales (2007) também fizeram esta opção metodológica com vistas à apreensão de conteúdos em uma investigação que aborda a temática do professor sob o olhar dos estudantes de licenciatura de diversos cursos da Universidade Federal do Piauí. O estudo focaliza o objeto no processo de desvalorização da profissão docente, utilizando fotografias de professor nos diversos locais de trabalho. O estudo concluiu que este recurso metodológico contribuiu tanto para a mobilização quanto para a apreensão das representações sociais de professor. Lima (2002) ao associar a teoria da Representação Social à metodologia de Equivalência desenvolvida por Nerivanha Bezerra procura abordar, na comunidade de Mandacaru (PE), os aspectos relevantes de sua realidade social. O desenrolar do trabalho mostrou que a fotografia pode e deve ser encarada não apenas como uma técnica, uma ferramenta de comunicação, mas como uma nova visão, uma forma de permitir que a comunidade se expresse e represente a sua realidade, através de imagens carregadas de sentimentos e emoções. Na opinião de Fischman (2004), os processos de recepção e percepção não são atos passivos muito menos determinados por convenções sociais e na de Brennan (1996, apud: FISCHMAN, 2004, p. 115), a formação da visão engloba os aspectos culturais e lingüísticos e por este motivo a fotografia alcança mais que os olhos podem enxergar. A representação social é aqui tomada como a “particularização, num objeto, do processo mais amplo de apreensão e apropriação do real pelo homem, enquanto 30 sujeito-agente situado” (MADEIRA, 1991, p.18). Na visão de Jodelet (2001, p. 22), esta é tida como: Sistemas de interpretação que regem nossa relação com o mundo e com os outros, as representações sociais orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais constituindo o chamado saber do senso comum. Esta forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Por serem as representações sociais de difícil apreensão, optou-se, no presente estudo, pelo uso de fotografias como estímulo visual na tentativa de fazer emergir as crenças, valores e atitudes dos gestores as quais este estudo pretende desvelar, mais precisamente, as representações sociais de criança, até por que: A transposição da fotografia para a memória empresta-lhe o movimento contínuo do pensamento que é o que se torna necessário fazer para que a foto isolada exprima o seu conteúdo latente e não explícito (PROUST, apud: LEITE, 2001). A narrativa fotográfica constitui-se, mais do que as palavras, em uma alternativa repleta de recursos, um exponencial às interpretações (BATISTA, 2007). Assim, esse estudo pretende ser mais um fruto da união dos trabalhos de vários autores de representação social e de todos que utilizam a fotografia como instrumento metodológico de pesquisa. No próximo capítulo, abordaremos a instituição creche como um espaço de educação propício ao desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida, uma vez que este será o local onde serão captadas as imagens que utilizaremos nas entrevistas. 31 CAPÍTULO 2 CRECHE: DA NECESSIDADE DA MÃE À NECESSIDADE DA CRIANÇA Para entendermos a importância da creche nos dias de hoje precisamos conhecer a transformação e a evolução do papel da mulher e da criança, assim como a mudança do conceito de creche desde o surgimento da primeira em 1844, em Paris, por Firmim Marbeau, até as atuais, para então entendermos a causa da desvalorização da infância. Situar a infância na história e na cultura é um caminho para compreender as necessidades da mulher, da criança e da creche. 2.1 INFÂNCIA Ao longo da história, as representações sociais tanto de criança, quanto de infância, sofreram modificações em função do contexto social, da mesma forma que as creches (CHOMBART de LAUWE; FEUERHAHN, 1976 apud: JODELET, 2001). A idéia de infância, para Áries (1981), é datada no tempo, sendo uma construção social recente do Ocidente que teria começado a se formar com o fim da Idade Média. Em sua pesquisa, a transformação do sentimento de infância e de família é retratada a partir do exame de pinturas, testamentos, diários de família, igrejas e túmulos. Logo após os primeiros anos de vida, a criança é tratada como um adulto em miniatura, vestindo-se como os adultos do seu sexo e do seu meio social. Nas camadas populares, vive junto aos outros membros da família e aprende um ofício, exercendo-o com os adultos, na oficina ou no campo. A criança é percebida, tomando-se, como referência, o modelo do adulto (CHOMBART de LAUWE, FEUERHAHN, 2001). 32 As autoras acrescentam ainda que a maioria dos estudos refere-se à infância como negativa, como uma vida inumana, chegando a significar para alguns filósofos, “culpa”, uma vez que a criança representa o pecado que lhe dera origem – pecado original, cujos efeitos ela ainda não conseguiu superar. Os pais deixaram de ser proprietários de seus filhos, passando a ser seus responsáveis, somente após a Convenção de 1793, que proclamou a Declaração do Homem e do Cidadão (SAUNIER, 1970, apud: CHOMBART de LAUWE, FEUERHAHN, 2001), coroando o processo de mudança sobre a visão e a percepção da criança, inspirado pelo pensamento rousseauniano para quem: A criança nasce boa e torna-se má, por influência do ambiente à sua volta; sua educação deve ser livre de punições; em liberdade, a criança descobrirá, por ensaio e erro, o caminho para o bem; a infância é um período de ensaio do homem (RIZZO, 2000, p. 27). A criança é levada mais em consideração pela família burguesa, enquanto aquelas das classes populares continuam sendo exploradas como força de trabalho adulto nas fábricas ou nas minas. O sistema educacional torna-se mais liberal, tentando compreender seus sentimentos em prol do futuro adulto a ser formado, das classes mais abastadas e as do sexo masculino (CHOMBART de LAUWE; FEUERHAHN, 2001). No período de 1850 a 1950, segundo Steinberg e Kincheloe (2001), protegidas dos perigos do mundo adulto, as crianças foram retiradas das fábricas e colocadas em escolas. À medida que o protótipo da família moderna se desenvolveu no final do século XIX, o comportamento apropriado dos pais para com os filhos se consolidou em torno das noções de carinho e responsabilidade do adulto para com o bem estar das crianças. Por volta de 1900, muitos acreditavam que a infância era apenas definida biologicamente. Psicólogos infantis, como Erik Erikson e Arnold Gesell, que tinham a biologia no centro de seus estudos, pensavam que o desenvolvimento da criança era moldado por forças biológicas. Não é preciso dizer que as famílias mudaram durante os últimos cinqüenta anos. Apesar disso, as instituições sociais têm se mostrado lentas para reconhecerem configurações familiares diferentes e suas dificuldades. Sem apoio, a família “pós-moderna” do fim dos anos 90, com seu exército de mães solteiras ou 33 que trabalham fora, vê-se cercada por problemas oriundos da femininalização da pobreza e da posição vulnerável da mulher, tanto no espaço público, quanto no privado (POLAKOW, 1992 apud: STEINBERG; KINCHELOE, 2001). A mudança na realidade econômica, associada ao acesso das crianças à informação sobre o mundo adulto, transformou drasticamente a infância. Chombart de Lauwe e Feuerhahn (2001) relatam que na segunda metade do século XIX, a criança aparece na literatura, não mais como um adulto em miniatura, mas como personagem de romance, denotando um mundo mais belo, mais justo ou até mesmo mais oprimido. Um pouco mais tarde, os cineastas catalisam um sistema de representação que idealiza a infância e investe a criança de valores dos quais ela se torna símbolo. A conscientização da infância não garante a compreensão de suas necessidades e sim de quem olha, dirige e interpreta. As representações sociais da infância não se separam dos modelos dos adultos, das ideologias nem dos projetos de sociedade. Desvelam-se ora nas declarações e discursos, ora nos estatutos impostos, nos comportamentos e nas expectativas em relação às crianças, no nível da sociedade global, dos grupos e nas relações interpessoais (CHOMBART DE LAUWE; FEUERHAHN, 2001, p. 289). As autoras acrescentam ainda que as variações históricas e culturais das representações da criança e da infância devem-se às transformações da sociedade e da criança. O sistema de representações que a criança adquire, a visão de mundo e de si é resultante das interações ao longo do seu desenvolvimento em diferentes universos de socialização. A socialização da criança, a formação de sua auto-imagem e as quais diferentes categorias sociais são processos inerentes de identificação com seus pais e com as pessoas mais próximas na busca de modelos para se ressocializarem. Kramer (1995, p. 18), afirma que o sentimento de infância resulta numa dupla atitude: preservá-la da corrupção do meio, mantendo sua inocência, e fortalecê-la, desenvolvendo seu caráter e sua razão. As noções de inocência e razão não se opõem, elas são os elementos fundamentais do conceito de criança que persiste até hoje. A partir deste conceito, “todas as crianças são iguais (conceito único), correspondendo a um ideal de criança abstrato, mas que se concretiza na criança burguesa”. O contexto burguês, no qual o sentimento de infância surge e se 34 estrutura, é importante para entender a concepção atual de criança desde que se acredite numa essência infantil (natureza infantil), desvinculada das condições de existência. Esta concepção aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que mudam a inserção e o papel social da criança na comunidade. A autora acrescenta ainda que o “sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças”, mas sim o “que distingue a criança do adulto e faz com que a criança seja considerada como um adulto em potencial, dotada de capacidade de desenvolvimento”. Dessas diferentes concepções surgem vários modelos de instituições de educação infantil, que segundo Kuhlmann (1998, p. 74-75) foram difundidas durante Exposições Internacionais como sendo modernas e científicas, melhor dizendo, como “modelos de civilização”. A primeira foi em Londres, em 1851, e a partir daí em vários lugares como Paris (1855, 1867, 1878, 1889, 1900), Viena (1873) Filadélfia (1876) Buenos Aires (1882), Milão (1906), Bruxelas (1910) e Rio de Janeiro (1922), dentre outros. No discurso de Marbeau, em 1889, durante o Congresso Internacional em Paris, ele considera a creche como uma escola de higiene, de moral e de virtudes sociais que ajudaria os pequenos no início da educação. Dizia ele: “É quase sempre possível a uma cidade reservar à creche uma das salas de um grupo escolar, onde ela ficaria vizinha da escola maternal, ou seja, é seu lugar natural” (KUHLMANN, 1998, p. 79). Os sentimentos de infância, como relatados, não podem, para Kramer (1995, p. 19), “ser mecanicamente transportados para a sociedade brasileira dada a diversidade de aspectos sociais, culturais e políticos que interferiram na formação”, como a população indígena, as migrações, a escravidão e o imperialismo imposto pelos países europeus dentre outros. Qualquer estudo desta natureza, para a autora, não pode prescindir de uma definição de qual infância está se falando. Das crianças nativas ou imigradas, das ricas, das pobres, das negras, das brancas, das indígenas, ou seja, cada uma delas tem um modo de vida e de inserção social diferente das demais, o que acarreta diferentes modos de valorização da infância pelo adulto, em função do seu meio econômico, cultural e social. 35 2.2 A CRECHE E A REALIDADE BRASILEIRA Em 1832 o Império criou uma instituição para órfãos abandonados que nada mais era que esconder a vergonha da mãe solteira. O instrumento utilizado para encobrir a identidade dessa mulher ficou famoso e conhecido como ‘a roda’, espécie de portinhola giratória com um dos lados voltado para a parte externa do prédio, onde o bebê assim que era colocado, acionava-se uma campainha para alertar as irmãs de caridade que havia uma nova criança abandonada. Enquanto as mulheres da corte descartavam os filhos indesejáveis, as pobres precisavam desse filho para ajudar no trabalho (RIZZO, 2000). A criança era concebida ainda como objeto descartável, sem valor intrínseco de ser humano. A partir de 1858, as instituições criadas eram exclusivamente filantrópicas, sendo verdadeiros depósitos de crianças abandonadas, onde os castigos e a violência imperavam como instrumentos disciplinadores. As meninas eram criadas para serem domésticas ou moças bem prendadas e os meninos recebiam treinamento em oficinas para prover o conforto da classe dominante. A história da Educação Infantil no Rio de Janeiro surge no final do século XIX com a fundação do Colégio Menezes Vieira, primeiro Jardim de Infância fundado em 1875, pautado nas propostas de Froebel e destinado somente às crianças da elite. Segundo Kuhlmann (1998) encontramos a primeira referência à creche no Brasil, escrito pelo Dr. K. Vinelli, médico dos Expostos (crianças abandonadas) da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, no jornal “A Mãe de Família”, lançado em 1879. O artigo intitulava-se “A Creche (asilo para a primeira infância)”, destinado às mães burguesas, às senhoras fluminenses, e apresentava a creche como uma alternativa frente ao problema de educação dos filhos de suas escravas após a Lei do Ventre Livre, diferentemente da proposta francesa em que a creche surge como conseqüência da ampliação do trabalho industrial feminino. O ano de 1899 é considerado um marco histórico. Dois fatos, ambos no Rio de Janeiro, contribuíram para isso. O primeiro foi a fundação, pelo médico Dr. Arthur Moncorvo Filho, do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro (IPAI-RJ) que depois abriu filiais por todo o país, e o segundo foi a inauguração da creche da Companhia de Fiação e Tecidos Corcovado, a primeira creche para filhos de operários, marcada por uma função médica assistencialista e oferecida como proposta moderna de atendimento aos filhos dos trabalhadores (KUHLMANN, 1998). 36 Somente no final da primeira década do século XX, o poder público dá provas concretas de sua preocupação com as crianças pobres, fundando a Escola Municipal Campos Salles, em novembro de 1909 e iniciando o tímido processo de educação pública pré-escolar. Haddad (1987) assinala que na década de 20, industriais paulistas vinculados a uma corrente assistencialista visando à proteção aos filhos de mulheres das classes trabalhadoras, criaram as primeiras creches de empresa, que serviam de ponto de partida para a inclusão de uma regulamentação sobre creche na legislação trabalhista de 1943. Somente a partir de 1944 é que inicia um tênue processo de crescimento quando a Secretaria Geral de Educação e Cultura, do então Distrito Federal define que: As crianças com menos de quatro anos não estariam sob responsabilidade da Educação e estabelece também uma série de diretrizes para os Jardins de Infância, a serem aplicadas também à iniciativa privada (SME, 2007, p. 5). Nesta época, as creches integram-se numa política de proteção à maternidade e à infância, ligadas às áreas de saúde e de assistência social, cujas instalações deveriam seguir os preceitos de higiene sob orientação de médicos pediatras, enfermeiras, assistentes sociais e atendentes treinadas na área de higiene infantil. Como havia dificuldade em cumprir as exigências definidas pelo Estado, em meados de 60, surgem as creches domiciliares, estimuladas por organizações internacionais (Omep – Organização Mundial de educação Pré-Escolar e UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância), cujo objetivo “era a guarda adequada das crianças a baixo custo, pouca tecnologia e participação da comunidade” (SANCHES, 2003, p. 67). Após a implantação no Brasil do golpe militar de 1964, estabeleceu-se “longo período de ditadura cerceando a liberdade de expressão e organização da sociedade civil” (CATALDI apud: GAYOTTO, 1992, p. 24). O Estado continuou a privilegiar alguns segmentos em detrimento dos interesses da grande maioria da população, mas paralelamente criou situações que favoreceram o surgimento de movimentos populares. Os movimentos populares que surgiram no final dos anos 70 e início de 80 pela saúde, creche e habitação, apareceram como forma de 37 pressionar o setor público para o atendimento de suas necessidades básicas. A reivindicação por creches aparece por volta de 1975, decorrente do movimento contra a carestia (GAYOTTO, 1992). Para acelerar o atendimento, em 1967, o Departamento Nacional da Criança, indica as igrejas de diferentes credos, para a implantação de Centros de Recreação, como um plano de emergência para o atendimento à criança de dois a seis anos (KUHLMANN, 1998). O período que compreende o fim da década de 1960 e as décadas de 197080 é caracterizado na história do Brasil como de maior repressão do Regime Militar (Governo Médici) e ao mesmo tempo o começo da abertura democrática (Governos Geisel e Figueiredo). Este momento, também denominado de “milagre brasileiro”, promove a expansão do poder de compra da classe média, facilita a entrada da mulher no mercado de trabalho e se esgota em 1973 com a crise do petróleo. Em 1979, com a segunda crise do petróleo, a situação se agravou e houve um aumento considerável da inflação, baixos salários, perda de benefícios e necessidade de manutenção da mulher no mercado de trabalho, agora, para equilibrar as finanças da família (FAUSTO 1995). A ausência de políticas públicas voltadas para os segmentos mais desfavorecidos da população fez com que proliferassem, nas áreas mais carentes, creches bastante improvisadas. Este cenário, impulsionado pela luta das mulheres trabalhadoras, aliadas aos segmentos da sociedade civil organizada, fez com que, a partir de 1980, o poder público do Município do Rio de Janeiro passasse a apoiar formalmente o movimento de reivindicação das creches e das escolas comunitárias. E o fez por intermédio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social – SMDS, cujo atendimento à criança é caracterizado por uma visão assistencialista, já que o cuidado e a alimentação são as essências do trabalho, que é visto como um meio de educar a família e a comunidade (SME, 2007). A Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), o ECA (BRASIL, 1990) e a LDB (BRASIL, 1996) tornam clara a preocupação com a criança e seus direitos. A partir de 2001, as creches assistenciais, antes subordinadas à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social - SMDS passam para o âmbito da Secretaria Municipal de Educação - SME, através de convênios, pelos quais recebem um determinado valor por criança atendida. Aquelas que não conseguiram atender aos 38 requisitos mínimos previstos na legislação municipal foram obrigadas a encerrar suas atividades. Diante deste cenário, muitos diretores tiveram que voltar à universidade para ocupar o cargo de Diretor de sua própria Creche, especializando-se em Administração Escolar, o que não era exigido, antes da LDB. 2.3 TODAS AS CRIANÇAS TÊM DIREITO À CRECHE Os resultados das pesquisas sobre neurociência, ciência que investiga o sistema nervoso, revelam que o cérebro desenvolve-se na relação da criança com o seu ambiente e que os primeiros anos de vida devem ser tratados como prioridade máxima pelo Estado, pela família e pela escola. Pesquisando sinapses, Huttenlocher (2002, apud: CURY, 2004), observou que o cérebro infantil tem muito mais sinapses que o do adulto e que ainda no ventre, o cérebro produz o dobro dos neurônios, assim como o dobro de sinapses de que irá precisar durante toda a vida. É como se a natureza deixasse uma margem de segurança para que o desenvolvimento humano ocorra em perfeita harmonia. Cury (2004) nos diz que o cérebro se forma no terceiro mês de gestação e que o ritmo de seu crescimento vai obedecendo a uma cronologia precisa e a uma programação biológica geneticamente determinada. Ao nascer, a criança já é capaz de ver, ouvir, respirar, sugar, reagir aos sons e etc. Por volta dos três meses, começam a criar segmentos sensórios-motores, ou seja, atitudes que não são mais simples reflexos e que vão estabelecendo as conexões entre o olhar suas mãos e segurar um objeto. O aumento das conexões nervosas conduz, também, ao desenvolvimento da linguagem no primeiro ano de vida. Por volta dos dois anos, o cérebro da criança tem o dobro das sinapses e consome duas vezes mais energia que o de um adulto. Diante disso, nas diferentes maneiras de ajudar a criança a manter seu cérebro em constante desenvolvimento, deve-se ressaltar, a importância da brincadeira, com ou sem brinquedos. Enquanto os cuidados com a saúde durante a gestação garantem um bom desenvolvimento estrutural do cérebro, os estímulos oferecidos à criança, após o nascimento, são essenciais para a formação das sinapses que resultarão em ganhos na aprendizagem. Quanto mais circuitos forem 39 formados, mais ganhos a criança terá. E, assim o cérebro continua se formando e se desenvolvendo, criando novos circuitos de aprendizado e de memória até o final da vida. Cury (2004) aponta várias pesquisas americanas realizadas nesta área: crianças que raramente brincam ou não são tocadas têm cérebros de 20% a 30% menores que o normal para a idade, o que fundamenta a necessidade de estímulos para a criação de novos circuitos cerebrais; Shatz, neurobiologista e professora da Universidade da Califórnia constatou em testes clínicos com bebês que passaram a maior parte do primeiro ano de vida dentro do berço sem maiores contatos físicos, considerável atraso no desenvolvimento. Alguns com 1 ano e 9 meses ainda não conseguiam se sentar; Chugani, neuropediatra e professor da Universidade de Wayne, alerta que o cérebro precisa de ginástica e que as experiências dos primeiros anos de vida podem mudar a maneira de ser de uma pessoa. Por mais rica que seja a herança genética recebida, sem exercícios, o cérebro não passa de uma simples massa cinzenta, sem as experiências que o fazem aprender; Diamond revela a existência de crescimento cortical como conseqüência de um ambiente estimulador, em todas as idades. No entanto, as maiores mudanças foram observadas nas crianças submetidas a diversas experiências desafiadoras através de ambientes de educação nos primeiros anos de vida, quando o córtex cresce de forma mais acelerada. Ao nascer, o cérebro é uma confusão de neurônios aguardando para serem tecidos. Se não forem utilizados, tornam-se partes integrantes da rede; se não encolhem e morrem. Shatz continua e sublinha a existência de dois amplos estágios de conexões cerebrais. No primeiro e primitivo não concorrem a experiência, e um posterior, quando a experiência é necessária. Cury (2004) relata que ao serem estabelecidas as conexões, existem limites de tempo para o cérebro criá-los por si próprio. São os períodos críticos. Abertas repentinamente pela natureza, antes do nascimento, podem ser fechadas uma a uma. São as chamadas ‘janelas de oportunidades’. Esse novo entendimento tem implicações promissoras, sugerindo que com a ação adequada no momento certo, muitas possibilidades se abrem, de forma a conduzir adultos com determinadas capacidades. Assim sendo, “janela de oportunidades” é o período em que cada tipo de percepção e de competência se organiza, demanda estímulos, ponto de partida para 40 a ativação cerebral. A música, por exemplo, é um dos estímulos mais potentes para ativar os circuitos do cérebro. A ‘janela de oportunidade’ musical abre-se aos 3 anos e fecha-se aos 10. A facilidade para aquisição de um idioma estrangeiro é até 4 vezes maior até 3 anos de idade, do que entre os adultos. A partir dos 5 ou 6 anos é o momento do desenvolvimento, em que o cérebro começa a se especializar. O hemisfério esquerdo e o direito passam a se ocupar de funções diferentes e bem definidas. Então, abertas as janelas do sentido de lateralidade e direcionalidade, a criança aprende a usar os conceitos de direita e esquerda, em cima e embaixo, para um lado e para outro, que ela até pode já ter adquirido antes, mas agora servem para ela se localizar. É o momento de orientar o corpo no espaço. A dança, o judô e a natação são excelentes exercícios para essa faixa etária. A ciência confirma as observações de quem trabalha com crianças pequenas há muito tempo: a diversidade de materiais e de espaços, o convívio com crianças, da mesma idade ou de idades diferentes, a atenção e o carinho, o respeito às diferenças e o brincar como forma de expressão e de desenvolvimento, permitem abrir as “janelas de oportunidades”, confirmando a importância do desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos de vida. Esta é a principal razão para a realização de Políticas Públicas que privilegiem a primeira infância. Cabe ao Governo cumprir o art. 54 do ECA assegurando à todas as criança de 0 até 6 anos, o atendimento em creches e pré-escolas de modo a desenvolver essas e outras potencialidades. Assim sendo, nos dias de hoje, estimular o cérebro, é a palavra de ordem para desenvolver as crianças e manter vivo o adulto, em especial, àqueles que trabalham com Educação Infantil. 2.4 A IMPORTÂNCIA DA CRECHE NOS DIAS DE HOJE A creche surgiu, inicialmente, para atender às necessidades da mãe, porém hoje não restam dúvidas de que a creche é uma necessidade da criança. Nesse processo histórico de luta por mudanças, na busca de um atendimento de qualidade nos deparamos com muitos empecilhos sociais, culturais e políticos que impedem a expansão desse atendimento. 41 Devemos também levar em consideração outro fator importante que diz respeito ao espaço destinado às creches. A falta de planejamento no processo de ocupação do solo urbano das grandes cidades fez com que as crianças perdessem espaços para brincar: os quintais de outrora que favoreciam o desenvolvimento físico e as interações sociais foram substituídos por playgrounds, nem sempre acessíveis a todas elas e que possuem uma série de regras que não condizem com suas reais necessidades, como por exemplo, não poder correr ou não poder andar de bicicleta, dentre outras, com o objetivo de evitar acidentes eximindo-se das responsabilidades que lhe possam ser imputadas. A creche, como instituição de Educação Infantil, deve também em substituição ao quintal perdido, proporcionar à criança várias experiências como andar descalço, mexer com água, fazer bolo de areia ou de argila, subir, pular corda, correr, cair e ter o direito de machucar os joelhos, ter contato com a natureza e até poder tomar banho de chuva, dentre outras. Quer seja como gestores ou como professores e demais profissionais de creche, não devemos esquecer que o atendimento é, em primeiro lugar, à criança. Não esqueçamos que um dia também fomos criança e agora como educadores somos os responsáveis pela sua formação, lembrando sempre o respeito pela condição mais importante e bela da vida que é a de “ser criança”. A creche deve ser um “espaço de brincar”, que amplie suas experiências de socialização, valorize suas habilidades, desperte a curiosidade, estimule sua criatividade, enfim que desenvolva sua autonomia, sempre de forma significativa e prazerosa. Segundo Vygostsky (1979, 1988) e Wallon (1959, 1966), “as funções psicológicas complexas e a construção do conhecimento, da linguagem e da subjetividade da criança ocorrem através das interações indivíduo-meio, desde o nascimento” (apud : SANCHES, 2003, p. 31). Sanches (2003) salienta que a concepção de criança merece destaque. Ela deve ser considerada cidadã, “sujeito de direito”, e por isso, ter a garantia de uma educação de qualidade e o direito à igualdade e ao efetivo exercício da cidadania. A autora defende que: As crianças de creche não são carentes, deficientes e incapazes, assim como os profissionais também não são incompetentes. Não é possível negar o saber dessas pessoas. O saber não é só escolar. Não se trata de 42 sentir vergonha do próprio pensar, mas aprender o padrão culto como instrumento de luta contra as desigualdades sociais (SANCHES, 2003, p.18). Desta forma, não dá para pensar no espaço creche sem pensar na formação de seus profissionais. É enfrentar concretamente o desrespeito, o descaso, a inexistência de qualificação profissional, os baixos salários e a ausência de políticas públicas que tratem desta questão com seriedade e compromisso. O desafio é profissionalizá-los, o que significa melhorar o atendimento às crianças, numa perspectiva de ação educativa e intencional e de qualidade. O profissional de creche deve sentir-se valorizado em seu trabalho, sem discriminação de classe social, numa relação dialética entre reflexão e ação, tornando-se autor do seu processo de profissionalização e de vida. As oficinas de formação são alternativas metodológicas interessantes, uma vez que trabalham em pequenos grupos respeitando o saber e o saber-fazer. Na visão de Kishimoto, (1992, apud: SANCHES 2003, p. 40): A tendência atual é a de privilegiar problemas concretos da prática como fio condutor no desenvolvimento dos cursos de formação: o movimento em favor de competências práticas não deve prescindir da melhoria da qualidade de professores responsáveis por tal ensino. Desta forma, ousamos afirmar que não restam mais dúvidas de que o segmento Educação Infantil, deve ser visto como necessário ao desenvolvimento da criança e porque não dizer do ser humano, devendo ser entendido pelo Poder Público como prioritário e um direito de todas as crianças brasileiras. No próximo capítulo, abordaremos a gestão educacional e os desafios enfrentados pelos primeiros gestores em Educação Infantil, a partir da década de 70. 43 CAPÍTULO 3 GESTÃO EDUCACIONAL: DA NECESSIDADE DE FORMAÇÃO DE GESTORES DE EDUCAÇÃO INFANTIL À CONSTIUIÇÃO DA ASBREI Se o desejo de alcançar a meta estiver vigorosamente vivo dentro de nós, não nos faltarão forças para encontrar os meios de alcançá-la e traduzí-la em atos. Albert Einstein. A partir da década de 60, segundo Gonçalves (1998), os acontecimentos tanto internacionais quanto nacionais se aceleram de tal ordem e com tamanho grau de intensidade, que nossas convicções têm sido colocadas em dúvida. O modelo de sociedade estável e conservadora já não consegue ser explicado no turbilhão de acontecimentos sócio-econômicos, culturais e tecnológicos. A cultura autoritária determinou princípios e normas de convivência social que não se enquadram nas exigências do presente, nem oferecem diretrizes confiáveis para o futuro. Nosso mundo está em permanente reconstrução. As certezas atreladas ao passado parecem superadas, se perderam no caminho. É necessário rever os rumos, na busca, não de uma direção, mas de muitas que se abrem à nossa frente. E ela complementa afirmando que o Brasil de amanhã ainda está sendo reconstruído, sem perder as lições do passado e do presente e com a contribuição da educação vista sob uma nova dimensão – a visão da totalidade da realidade social, com suas complexidades e desafios. Na década de 80, um grupo de diretores de creches e pré-escolas privadas, se une para discutir o desafio de se fazer um trabalho de qualidade, com crianças a partir de 3 meses. A literatura nacional sobre creche tinha um olhar voltado para as necessidades básicas de alimentação e higiene. Já nos livros de psicologia encontravam-se relatos de experiências, muitas fora do Brasil, que tratavam de temas como desenvolvimento infantil, separação mãe e filho, entre outros. 44 Nesta época, os cursos e Administração de Empresas não formavam administradores educacionais e os de Pedagogia, com sua habilitação em Administração Escolar, não supriam as necessidades de enfrentar um mundo tão rápido, com tantas tecnologias e tantas descobertas sobre o ser humano. O que fazer diante deste contexto se à grande maioria dos membros do grupo faltava-lhes formação para lidar com tantas novidades? Por onde começar? 3.1 GESTÃO EDUCACIONAL A gestão escolar e, por conseguinte, a formação e atuação do gestor educacional têm enfrentado grandes desafios. Os avanços da ciência e da tecnologia vêm ocasionando novas formas de pensar e fazer educação. O trabalho em equipe, liderança, o uso de novas mídias, legislações, novas formas de aprender, enfim são tantos aspectos que um gestor precisa ter conhecimento do perfil que se espera de quem pretende ocupar essa função. O maior desafio de um diretor é pensar formas de administrar suas instituições educacionais com eficácia. Um diretor deve ser o mediador entre a realidade concreta da sociedade e as mudanças da escola para atender às exigências da clientela formada pelas crianças/alunos, pela família e por seus de funcionários, no contexto na qual está inserida. A exigência de uma revisão deste papel tanto nas instituições públicas quanto nas privadas é uma preocupação que procede, uma vez que há uma distância entre a teoria e a prática de gestão, como nos mostra os estudos de Madeira e Madeira (2002). Neste, os autores chegaram à conclusão de que as rotinas burocráticas e as providências de manutenção da escola tomam muito mais tempo e atenção dos dirigentes do que o processo educativo. Localizou-se no despreparo teórico, metodológico e técnico destes profissionais a dificuldade maior que eles têm para enfrentar a organização e o funcionamento da escola, no planejamento, no currículo e na avaliação. Numa organização burocratizada, onde existe separação entre funções operativas e gerenciais, perde-se a unidade que deve existir do planejamento à avaliação de todo o processo administrativo-pedagógico da escola, o que acaba por isolar o trabalho docente. 45 Na visão de Lück (2000), a gestão não pode ser vista como uma mera ação de treinamento da liderança. A capacidade de identificar líderes, cuidar deles, recompensá-los e separá-los do “fazer administrativo” diário na escola está entre as principais razões de uma organização se destacar entre as demais. Administradores trabalham com processos fechados, ou seja, alimentar os processos e fazer com que eles caminhem em direção do cumprimento de metas. Já os gestores compreendem os cenários, enxergam com os olhos da mente e respeitam a visão do futuro como uma ciência, projetando ações e resultados de maneira a favorecer o empreendimento a que estão ligados. Uma instituição precisa dos dois e, raramente, se observa uma pessoa que tenha o perfil com características de ambos. O problema está exatamente aí: quando confundimos competência em administrar com competência em liderar ou viceversa. Continuando Lück (2000) considera que algumas ações são proibitivas para verdadeiros gestores, para aqueles que realmente querem ser considerados líderes. Entre elas poderíamos citar o fato que um líder nunca pode estar distante do que se passa com seus colaboradores. Deve entendê-los muito bem. Em resumo, ser líder é ser capaz de exercer a empatia. Dois outros fatores que prejudicam a liderança são o fato do gestor não ser rápido em suas decisões e a dificuldade em correr riscos. A capacidade de construir relações é a mais importante, seguida da habilidade de solucionar problemas e de agir rapidamente. Poderíamos dizer então que a diferença está na personalidade desses gestores líderes; são extremamente brilhantes, assertivos, persuasivos, empáticos e flexíveis. Demonstram um nível saudável de ceticismo e estão sempre abertos a novas idéias. Paro (1986), avalia a função contraditória e conflitante do diretor escolar sujeito a dois tipos de funções que na prática tendem a opor-se; na condição de educador ele deverá preocupar-se com os propósitos político-pedagógicos da escola. Mas, como gerente e responsável último pela instituição, ele precisa cumprir numerosas determinações legais e administrativas, emanadas de níveis superiores, tarefa que lhe toma a maior parte do tempo, deixando, assim, de estar junto aos fatos e dos processos que se dão no cerne da escola: currículo e aprendizagem. Na superação desse conflito, a figura de educador, deve sobrepor-se, às múltiplas dimensões política, técnica, cognitiva, humana e ética. Mesmo quando tem que 46 coordenar as atividades administrativas precisa agir como educador para não perder de vista a globalidade do processo escolar. Voltando a Gonçalves (1998) o diretor ao liderar e coordenar o processo administrativo-pedagógico e todos os demais projetos inseridos no plano de desenvolvimento da escola terá, necessariamente, que adotar modelos gerenciais abertos, voltados essencialmente para a gestão democrática, com qualidade. O novo estilo implica mobilizações, debates, motivações, decisões compartilhadas com base em diagnósticos, pesquisas e aprofundamento de conteúdos e matrizes de análises. Sua posição é extremamente importante na estrutura do ensino público, por ser o canal natural de articulação da escola com a comunidade e as várias redes de ensino, além de ter a responsabilidade de organizar a aprendizagem da escola, assegurando o bom funcionamento de todo o processo. No periódico da Associação Nacional de Política e Administração da Educação – ANPAE (2001), intitulado “O Estado da Arte em Política e Gestão da Educação no Brasil - 1991 a 1997”, o levantamento dos estudos sobre gestão e administração educacional revela que, freqüentemente, os termos gestão da educação e administração da educação são utilizados ora como sinônimos, ora como termos distintos. Algumas vezes, a gestão é apresentada como um processo dentro da ação administrativa; em outras, seu uso denota a intenção de politizar essa prática. Assim, essa noção apresenta-se como sinônimo de “gerência”, numa concepção neo-tecnicista e, em discursos mais politizados, a gestão aparece como uma “nova” alternativa para o processo político-administrativo da educação. Muitas pessoas consideram que é estranho e perigoso aplicar o conceito de gestão à educação: uns vêem a gestão como uma forma de tratar os alunos e as suas necessidades como sistemas artificiais, burocracias e rotinas (OSBORNE, 1986 apud: NÓVOA, 1995); outros consideram sinônimo de manipulação (INGLIS, 1986, apud: NÓVOA, 1995); outros pensam que é uma capa que esconde a verdadeira realidade da vida escolar (BALL, 1989 apud: NÓVOA, 1995). É evidente que a gestão já ultrapassou as formas racionais, técnicas e mecanicistas que a caracterizaram durante muitos anos. Atualmente, há uma grande multiplicidade de perspectivas na análise dos processos de gestão: modelos racionais, profissionais, políticos, subjetivos, ambíguos e culturais, entre outros (BUSH, 1986; GLATTER, 1986; HUGHES, 1990; MORGAN, 1986 apud: NÓVOA, 1995). Contudo devemos assinalar que: 47 Nunca consideramos a gestão como uma atividade puramente técnica, divorciada dos valores e objetivos educacionais, um receio sentido por muitos dos atores escolares. A gestão deve ser antes tomada como uma atividade que pode facilitar e estruturar a definição de objetivos e que pode igualmente dar-lhes expressão prática. (GLATTER, 1988; apud: Nóvoa, 1995, p. 147). O rótulo de gestão não é bem acolhido na educação. Segundo Nóvoa (1995) há provas de que os professores gostam de trabalhar em escolas bem dirigidas e organizadas, constituindo a gestão um componente decisivo da eficácia escolar. Estudos levados a cabo em escolas inglesas mostram que os professores defendem uma atitude aberta e participativa, mas pretendem que a direção defina orientações claras: Muitos professores queriam que as direções fossem dialogantes e ouvissem os pontos de vista do pessoal docente, mas que depois tomassem decisões claras. Não lhes agradava a indecisão ou tomadas de decisão lentas. (WEINDLING, EARLEY, 1987; apud: Nóvoa, 1995, p. 147). Os estudos de Nias (apud: NÓVOA, 1995) junto aos professores do ensino primário, sobre os estilos de liderança, constataram preferências claras por direções ativas e orientadoras. Estas opiniões dos professores encontram suporte teórico na literatura mais “objetiva” sobre a eficácia escolar, na qual muitas medidas de “input” e “processos” se relacionam com diferentes medidas do desempenho escolar. Rutter et al (1979 apud: NÓVOA, 1995), num dos estudos pioneiros nesta área, concluiu que os resultados escolares eram mais favoráveis quando combinavam uma liderança forte com um processo participativo de tomada de decisão. Um estudo de grande complexidade metodológica realizado por Mortimore et al (1988) identificou doze fatores chaves, consistentemente relacionados com a eficácia escolar, sendo importante sublinhar que muito deles estão direta ou indiretamente dependentes das práticas de gestão. Estes fatores dependem de comportamentos específicos e estratégias utilizadas pela direção e pelo corpo docente. É essencial ter-se em linha de conta que a escola e a sala de aula estão interligadas em diversas maneiras. O que o professor pode ou não pode fazer, depende, em certa medida, do que acontece na escola no seu todo (MORTIMORE et al, 1988; apud: Nóvoa, 1995, p. 148). 48 Não é fácil distinguir claramente entre o impacto da gestão na eficácia escolar e o papel da gestão na mudança e na inovação. A distinção entre gestão da mudança e simplesmente gestão é algo artificial, pois como Hoyle (1986) sugeriu, a gestão relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização, o que cria grandes identidades entre as teorias da gestão e as teorias da inovação. No entanto, Sykes e Elmore (NÓVOA, 1995), levantaram a questão de saber se é realista esperar das direções uma liderança educacional e profissional a par de todas as outras incumbências que lhes estão cometidas. Estes dois autores americanos descreveram o conjunto de atividades que devem ser realizadas pelas direções, questionando-se sobre o grau de dificuldade (ou até de impossibilidade) da gestão escolar, principalmente quando existem crescentes exigências políticas. As teses destes autores justificam a pertinência de uma análise mais detalhada da gestão da mudança planificada. Fullan (NÓVOA, 1995), notou que o fato de se conhecerem os fatores que estão relacionados com a eficácia escolar não ajuda a introduzi-los numa escola, identificando quatro variáveis de processo que se prendem com tentativas bem sucedidas de introduzir mudanças planificadas: a) Grande sensibilidade da direção em relação aos processos de aperfeiçoamento, nomeadamente em relação à gestão da inovação; b) Sistema de valores orientado em termos de objetivos educacionais, sociais e comunitários; c) Interação e comunicação intensivas entre indivíduos e grupos, fator essencial aos processos de mudança bem sucedidos; d) Planificação e ação colaborativa entre os atores internos e externos à organização escolar. O autor propõe ainda duas idéias: a primeira refere-se ao fato de que certo grau de pressão pode ocasionar avanços à inovação, desde que os atores implicados sejam fortemente apoiados; a segunda sustenta que o empenho e o protagonismo se desenvolvam ao longo do tempo e tendem a ser alimentado pela familiaridade, pelo hábito e pela confiança. Para Nóvoa (1995), o funcionamento de uma organização escolar é fruto de um compromisso entre a estrutura formal e as interações que se produzem no seu seio. As características organizacionais das escolas tendem a construir-se, com base em três grandes áreas: - Estrutura física – dimensão, recursos materiais, edifício escolar, organização dos espaços, etc.; 49 - Estrutura administrativa – gestão, direção, controle, inspeção, tomada de decisão, pessoal docente, pessoal auxiliar, participação das comunidades, relação com as autoridades centrais e locais, etc. - Estrutura social – relação entre os alunos, professores e funcionários, responsabilização e participação dos pais, democracia interna, cultura organizacional, clima social, etc. Brunet (1988, apud: NÓVOA, 1995, p. 29) acredita que as organizações escolares, [...] “produzem uma cultura interna que lhes é própria e que exprime os valores ou os ideais sociais e as crenças que os membros da organização partilham”. No Brasil, Teixeira (1985) diz que a cultura, não importa qual seja, delineia o caráter da organização como realidades socialmente construídas que se constituem mais na cabeça e nas mentes de seus membros do que um conjunto de regras e regulamentos. A cultura organizacional é constituída, na sua base, por um conjunto de valores, crenças e pressupostos que definem os modos pelos quais a organização conduz seus negócios. Sob este olhar, independentemente da cultura de cada instituição, acreditamos também na existência de uma cultura sobre o que é ser criança no grupo pesquisado. 3.2 GESTÃO DEMOCRÁTICA E O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR O termo gestão democrática já existe desde a Constituição de 1988, mas somente ganhou destaque no contexto educacional brasileiro por intermédio da LDB de 1996. Quando se fala em gestão, não se trata apenas de controlar recursos, coordenar funcionários e assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula. O conceito de gestão está associado ao fortalecimento da democratização do processo pedagógico, à participação responsável de todos nas decisões necessárias e na sua efetivação mediante um compromisso coletivo com resultados educacionais cada vez mais positivos e significativos (VIEIRA; GARCEZ, 2004). O Projeto Político-Pedagógico (P. P. P.) é a identidade da escola. Ele sistematiza o trabalho desenvolvido na instituição, indicando seu rumo, e deve ser fruto de ação coletiva para que reflita a realidade da comunidade escolar a que 50 pertence. Entenda-se que a construção do P. P. P. não é apenas uma obrigação legal que a escola deve cumprir, mas uma conquista que revela seu poder de organização, procurando cada vez mais proporcionar autonomia às suas decisões. O P. P. P. deve partir sempre do que já existe na escola e propor novas situações que precisam ser modificadas. Ele deve ser flexível para que se possa rever cada passo, fazendo-se as reformulações que forem pertinentes e possibilitando-se estudos e reflexões sobre os diferentes aspectos da vida escolar. A construção do P. P. P. é um desafio que a escola precisa enfrentar para exercer sua autonomia pedagógica. O ato de avaliar deve estar presente em todo o processo, permitindo o grupo caminhar do real para o ideal. O P. P. P. deve ser construído coletivamente e levado ao conhecimento de toda a comunidade escolar para que possa orientar o processo de gestão e subsidiar a prática avaliativa. Com relação ao processo de avaliação da aprendizagem, é relevante que o gestor escolar reconheça a importância da participação consciente e esclarecida de todos os envolvidos no processo, no planejamento das diretrizes a serem seguidas e que devem fazer parte do Projeto Político-Pedagógico da escola. É preciso também considerar o contexto sócio-histórico, buscando-se compreender os educadores em sua forma de perceber a avaliação por meio das situações vividas, de sua formação profissional, uma vez que “[...] criticar o professor sobre o que sabe fazer em avaliação é torná-lo resistente a participar das discussões, porque o estaremos criticando pessoalmente, em sua competência” (HOFFMANN, 1993, p.183). Continuando com Vieira e Garcez (2004), é preciso levar em conta que o temor do professor em expor suas idéias a respeito de avaliação deve-se à possibilidade de sua competência, construída ao longo de anos, poder vir a ser questionada. Neste sentido, o gestor escolar deve procurar respeitar a sensibilidade do professor, oferecendo-lhe a oportunidade de trocar idéias e discutir sobre a prática avaliativa com os colegas e ainda dando tempo para reflexão e estudo de forma a repensar suas ações e entendê-las. Com relação à avaliação da aprendizagem, o P. P. P. deve contemplar as diretrizes que nortearão esse processo na escola, levando em conta o trabalho pedagógico como um todo e representando as intenções dos vários segmentos que compõem a comunidade escolar. Além disso, é preciso considerar as diretrizes nacionais, normas, regulamentações e orientações originadas nos diversos níveis do sistema nacional. 51 No caso da Educação Infantil, a avaliação é diagnóstica, não leva a retenção da criança nas diferentes etapas do seu desenvolvimento. Na visão de Paro (1997), o campo de atuação do diretor não se limita mais ao universo da escola. Ele precisa promover a participação coletiva dos usuários e da comunidade em geral, de modo a envolver a população nas decisões, no duplo sentido de direito dos usuários e de necessidade da escola para o bom desempenho de suas funções. Segundo Bastos (2001), a gestão democrática da educação, reivindicada pelos movimentos sociais durante o período da ditadura militar abriu uma perspectiva para resgatar o caráter público da administração pública. No entanto, Figueira (2008) mostra que a gestão da escola é voltada para as condições físicas do patrimônio e para a organização escolar, caracterizando-se como centralizadora e autoritária que minimiza a participação dos sujeitos envolvidos no processo de gestão. Ela aponta ainda que as representações sociais de gestão escolar construídas por professores, diretores e coordenadores pedagógicos da escola pesquisada, focalizam-se na autoridade centralizada, nas normas e estatutos e nas relações hierárquicas, caracterizando uma gestão escolar técnico-racional, não democrático-participativa. Desta forma, a partir das várias dimensões aqui apresentadas sobre o papel do diretor nos dias de hoje, quer seja numa instituição pública ou privada, é possível entendermos a mudança do termo “administração escolar” para “gestão escolar”. Para finalizar este capítulo, retomemos ao seu início na tentativa de mostrar ao leitor, a importância da constituição e força de um grupo. Como já colocado anteriormente, o momento histórico da educação impulsionado pela entrada da mulher com grande intensidade no mercado de trabalho gerou novas demandas sociais que se impuseram a partir da década de 70, para as quais o poder público não estava preparado. O surgimento de um novo modelo de instituição escolar, oriundo da iniciativa privada, denominado creche ou creche-escola, que se propunha atender crianças, a partir de três meses de idade até 6 anos, em horário integral, veio para preencher a lacuna deixada pelas autoridades educacionais. Este modelo de instituição, face as suas particularidades, demandava a necessidade de profissionais especializados nas áreas de educação, medicina, psicologia, nutrição e, especialmente, em administração de instituições educacionais. 52 Com relação ao exposto, neste capítulo, sobre gestão educacional, os conhecimentos até estão sistematizados não eram suficiente para atender as necessidades deste novo gestor. A creche privada surge no Rio de Janeiro em 1971. Dez anos depois, um grupo de dirigentes, sem ter a quem recorrer se une em torno dos mesmos interesses e idéias que se transformaram em ideais e fundam a ASBREI. Seu objetivo era o de promover e apoiar ações que favoreçam o estudo e o aprimoramento das práticas pedagógicas para com as crianças pequenas e que pode ser visto no discurso de um diretor entrevistado. [...] na medida em que ela nos fez reunir com outras creches...há trinta e cinco anos, não existia Lei de Creche, não existia bibliografia para creche e a gente tinha que inventar creche [...] E ai, então, nós começamos a criar normas informais ...ir tocando, ..aquele medo que a gente tinha porque não tinha nada que nos fiscalizassem, nem que nos orientasse, está entendendo? Então era realmente “inventar”, e aí o que a gente usava a experiência de mãe,.. o que eu tinha aprendido com meus filhos eu estava fazendo ali, mas não era o suficiente [...] (08. E. 78. F. 1. 33). Em virtude de não haver formação acadêmica específica para gestores de Educação Infantil, coube a ASBREI, o papel de apoio à formação de seus gestores de acordo com a demanda dos seus associados. Paralelamente à necessidade de preenchimento da lacuna de formação profissional, os dirigentes de creches e por decorrência a ASBREI enfrentaram o estigma, que até então acompanhava o termo ‘creche’. Este estudo resgata e torna pública a força deste grupo de profissionais para manter a denominação de creche, à instituição que se propunha trabalhar com crianças pequenas, uma vez que o mesmo era considerado pejorativo naquela época. Colocar o filho na creche era o mesmo que abandoná-lo. Com o passar do tempo, e mais tarde consagrado pela LDB, que definiu a creche como uma instituição de educação, a imagem de “coitadinha”, dada às crianças, que freqüentavam a creche há mais de 35 anos, não existe mais. O próximo capítulo aborda os procedimentos metodológicos da pesquisa, apresentando a caracterização dos sujeitos e do campo, a elaboração do instrumento de pesquisa onde utilizamos a fotografia e a análise dos dados gerados por este instrumento. 53 CAPÍTULO 4 METODOLOGIA DE PESQUISA O objetivo desta pesquisa é o de identificar a existência de representações sociais de criança construídas pelos gestores de Educação Infantil, de instituições privadas do Rio de Janeiro, a partir da utilização de fotografias como instrumento metodológico para a apreensão das mesmas. Para minimizar a interferência da pesquisadora em função de sua atuação neste segmento há 30 anos, além do fato de que alguns dos sujeitos da pesquisa, de algum modo, fizeram parte do seu grupo de referência, esta contou com a colaboração técnica da professora Silvia do Socorro Celusso, com prática em entrevistas, daqui para frente denominada colaboradora, a quem coube realizar todas as entrevistas e codificar os instrumentos para análise. Além disso, para dificultar a identificação dos sujeitos, a pesquisadora trabalhou com as entrevistas transcritas por terceiros. 4.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Quanto aos procedimentos metodológicos, optou-se pela pesquisa qualitativa, que na opinião de Bogdan e Biklen (1999) permite entender o comportamento e a experiência humana, através da compreensão de como as pessoas (gestores) constroem significados sobre um objeto (criança) e como os descrevem. O campo de pesquisa é formado por 12 (doze) instituições, que são ou foram associadas à ASBREI, no mínimo por 10 (dez) anos, mas que já estão no mercado há mais de 15 (quinze) anos e se encontram localizadas em diferentes bairros do Município do Rio de Janeiro. Os sujeitos da pesquisa foram ao todo 27 (vinte e sete), selecionados segundo o critério de interesse e disponibilidade de tempo para participarem da mesma. Destes, 24 (vinte e quatro) diretores são atuantes e 3 (três) 54 são ex-diretores que fizeram parte do grupo que serviu de pré-teste. A composição deste grupo teve o objetivo de proporcionar ao pesquisador, “novas idéias e pontos de vista”, eventualmente antes não considerados e proceder-se aos ajustes necessários a uma maior eficácia analítica (RICARDSON, 1999, p. 275). Os procedimentos foram os mesmos utilizados na entrevista com imagens fotográficas. Por questões éticas de proteção aos dados pessoais e institucionais, cada sujeito foi identificado por um código, cujo critério de formação encontra-se em anexo (APÊNDICE A). A estratégia de investigação para a coleta de dados utilizou os seguintes instrumentos: 1º) Questionários – Em número de dois, foram enviados e devolvidos por meio eletrônico sendo um com informações institucionais (APÊNDICE B) e outro com informações sócio-econômicas e profissionais (APÊNDICE C) objetivando caracterizar o perfil da instituição e dos sujeitos da pesquisa, respectivamente. 2º) Visita a instituição – Foi realizada imediatamente após a entrevista com o objetivo de conhecer a estrutura física e as práticas pedagógicas. 3º) Entrevista com imagens fotográficas – Para a realização das entrevistas e com a permissão dos entrevistados para a gravação em áudio, foram utilizadas 16 (dezesseis) fotografias objetivando suscitar a visão dos gestores sobre ser criança. 4º) Entrevista conversacional – Ao término da entrevista com as fotografias foram feitas duas perguntas: a) De que forma a LDB interferiu no seu trabalho com as crianças? b) Como se deu sua formação de gestor e qual a relevância da ASBREI neste processo? 5º) Diário de campo – Foi utilizado como complemento aos relatos, às observações quando da visita, à descrição de pessoas e de lugares, do funcionamento da instituição e demais atividades. 4.2 ELABORAÇÃO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA Para Loizos (2002), uma das falácias sobre o discurso a respeito da fotografia é que ela seja simples e universalmente acessível a qualquer um do mesmo modo, ou seja, que ela opere transculturalmente, independendo dos contextos sociais, de tal modo que todos vejam e entendem nela um mesmo conteúdo. 55 4.2.1 Captação das imagens fotográficas Os cenários das fotografias foram escolhidos com o objetivo de retratar o cotidiano das crianças em atividades que favoreçam o desenvolvimento da autonomia, com o propósito de verificar a existência ou não de representação social de criança a partir do olhar do gestor de Educação Infantil. A busca por imagens que pudessem evocar esse critério partiu da própria pesquisadora que, para facilitar o trabalho da fotógrafa, fez uma lista de sugestões de atividades (APÊNDICE D). Após conversar com a fotógrafa Regina Reis e a nossa colaboradora, sobre o significado de autonomia, partimos em busca de cenas espontâneas fotografadas em 2 (duas) instituições, de padrões semelhantes e de livre acesso da pesquisadora, que gentilmente cederam seus espaços para a realização das mesmas, em outubro de 2008. Ao todo foram captadas 240 (duzentos e quarenta) imagens, que em nenhum momento, tiveram a interferência do adulto nas cenas que, apesar de não aparecer nas fotos, estava sempre presente no ambiente fotográfico. Esta opção objetivou dar maior autenticidade às cenas de autonomia. As fotos passaram por 3 (três) cortes, sendo que nos dois primeiros contou com o auxílio da nossa colaboradora. No primeiro corte houve uma redução de 50% (cinqüenta por cento); no segundo, as 120 (cento e vinte) escolhidas foram novamente reduzidas em 50% (cinqüenta por cento). Restaram 60 fotos que foram submetidas a 3 (três) juízes (doutores com conhecimento metodológico quanto ao uso de imagens fotográficas ou ao trabalho com representações sociais) para o corte final, objetivando minimizar a interferência da pesquisadora. Neste foram selecionadas 16 (dezesseis) fotos de crianças com mais de 18 meses, sem adulto no enquadre fotográfico e que melhor contemplavam a presença do critério definido a priori, ou seja, atividades individuais ou em grupo que favorecem o desenvolvimento da autonomia. O número final de 16 (dezesseis) foi sugerido pelo orientador, tendo em vista o quantitativo semelhante constatado em pesquisas com fotos e a melhor divisibilidade do número quando do agrupamento das mesmas. As fotografias possuem as mesmas características de tamanho (10x15 cm), a mesma coloração e textura e a mesma resolução digital. Para facilitar a transcrição das entrevistas, estas foram numeradas, aleatoriamente, de 1 a 16. Por tratar-se de imagens com crianças, todos os cuidados foram tomados em atendimento a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde obtendo-se a 56 autorização prévia de todos os responsáveis pelos menores fotografados, conforme Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação em pesquisa científica (APÊNDICE E). 4.2.2 Critério escolhido: desenvolvimento da autonomia A escolha do critério desenvolvimento da autonomia para ser retratado em imagens fotográficas foi uma opção da pesquisadora, em função da importância que a autonomia ocupa nos primeiros anos de vida da criança, como se constatou nas observações e práticas vivenciadas ao longo de sua experiência profissional e pessoal nos últimos 30 anos. A autonomia também está presente no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI (BRASIL, 1998, v.1, p. 63), elaborado pelo Ministério da Educação e do Desporto, situando-se entre os objetivos a ser desenvolvido com a criança, a saber: “desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações”. A construção da identidade e da autonomia se faz por meio das interações sociais (vínculos) estabelecidas desde o nascimento. Gradativamente a criança percebe-se e percebe o outro acionando seus próprios recursos diante das situações, cuja desenvoltura torna-se uma marca que a distingue das demais. Esta capacidade de se conduzir e tomar decisões por si só, levando em consideração regras, valores, sua perspectiva pessoal, bem como a perspectiva do outro é que constitui a autonomia (BRASIL, 1998, v.2). Para Kamii (1997), seguidora de Piaget: [...] a essência da autonomia é que as crianças se tornem capazes de tomar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os fatores relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da ação (KAMII, 1997, p.108). Ao fazermos uma releitura dos objetivos contidos no Referencial (RCNEI), entendemos que as atividades desenvolvidas na Educação Infantil com o objetivo de desenvolver a autonomia se fundamentam nas teorias de que a criança é capaz de construir conhecimentos, tomar decisões por si e interferir no meio. Brincando sozinha ou em grupo ela utiliza diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, 57 oral e escrita) como forma de expressar emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades (BRASIL, 1998, v.1). Sob o ponto de vista da maturidade física e da linguagem, Papalia e Olds (1981) acrescentam que: [...] o impulso em direção à autonomia é em parte resultado da maturação, quando as crianças procuram usar os músculos que se desenvolvem para fazerem tudo elas próprias - andar, comer, vestirem-se; eliminar, quando sentem tal vontade; e, geralmente para expandir suas fronteiras. A linguagem aumenta de modo marcante a capacidade das crianças de tornarem seus desejos entendidos, e desta forma, aumenta sua capacidade de serem autônomas (PAPALIA; OLDS, 1981, p.180). Entendemos que cada criança tem seu próprio ritmo de desenvolvimento rumo à autonomia. Gesell (1979; 1996), em seus estudos sobre o desenvolvimento infantil, costumava dizer que “a mente revela-se por si mesma” (GESELL, 1979, p.19) e que quase tudo que um bebê ou uma criança faz é um exemplo da atividade da sua mente, inseparavelmente ligada ao sistema nervoso. Reconhece que não há duas crianças, de uma determinada idade, que sejam exatamente similares. As seqüências e o plano básico do desenvolvimento humano são características estáveis. Para ele: Pensamos no comportamento em termos de idade e pensamos na idade em termos de comportamento. Para qualquer idade que escolhamos, é possível esboçar um quadro que trace as características de comportamento típicas dessa idade (GESELL, 1979; p. 30). Assim, as imagens fotografadas dizem respeito às atividades que favorecem o desenvolvimento da autonomia, que é entendido, neste estudo, como aquisição da capacidade de se conduzir e tomar decisões. Os objetivos da Educação Infantil, definidos em termos de capacidades e não de comportamentos, amplia as possibilidades das ações educativas, uma vez que as capacidades se expressam por meio de diversos comportamentos e as aprendizagens que convergem para ela podem ser de naturezas diversas (BRASIL, 1998, v. 1). Apesar das crianças desenvolverem suas capacidades de forma heterogênea, cabe à instituição de Educação Infantil oferecer condições favoráveis ao desenvolvimento integral de todas as crianças, sempre respeitando sua maturidade biológica e a faixa etária em que se encontra seu desenvolvimento. Essas capacidades estão descritas no RCNEI (BRASIL, 1998, v.1), assim como a prática para desenvolvê-las. Por priorizarmos fotos espontâneas, nem todos os tipos de 58 capacidades estão contemplados nas imagens selecionadas pelos juízes, como a ética, a estética e a de inserção social; mesmo assim estão descritas. A maioria das fotos contempla imagens que mais expressam a autonomia nesta fase do desenvolvimento da criança que são a física, a cognitiva e a interpessoal. 1) Física (motora) – apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, auto-conhecimento, uso do corpo na expressão das emoções e ao deslocamento com segurança – atividades que levem a descoberta do corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar. 2) Cognitiva (aprendizagem) – desenvolvimento dos recursos para pensar, o uso e apropriação de formas de representação e comunicação envolvendo resolução de problemas – atividades e situações que utilizam a comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar idéias, sentimentos, necessidades, desejos e para resolver problemas. 3) Interpessoal (interação) – condições para o convívio social (aprender a conviver com diferenças de temperamentos, intenções, hábitos e costumes, de cultura etc) – atividades que levam a criança a brincar, respeitando sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades, hábitos e costumes da cultura do outro. 4) Afetiva (emocional) – construção da auto-estima, atitudes no convívio social, compreensão de si mesmo e dos outros – atividades que estabelecem e ampliam vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças. 5) Estética – produção e apreciação da produção artística de diferentes culturas – atividades ligadas a diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita), ao conhecimento de algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade. 6) Ética – construção de valores que norteiam a ação das crianças – atividades que ampliem sua visão de mundo, as relações sociais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração. 7) Inserção social – perceber-se como membro integrante de um grupo, de uma comunidade e de uma sociedade – atividades que levem a criança a aprender a observar e a explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação. 59 4.2.3 Imagens selecionadas Cada foto foi interpretada, segundo a definição dada pelo Referencial para cada uma das categorias. Ao interpretá-las, procedemos segundo a categoria predominante, uma vez que, uma mesma imagem suscita várias interpretações, o que não exclui outras possibilidades. Desta forma, temos: Fonte: Regina Reis - Fotógrafa Nº Foto 1 Categorias - RCNEI 2 Física; Interpessoal; 3 Cognitiva; 4 Física; Interpessoal; Física; Cognitiva; 60 Fonte: Regina Reis - Fotógrafa Nº Foto 5 Categorias - RCNEI 6 Cognitiva; Interpessoal; 7 Física; 8 Física (cuidados essenciais); Física; Cognitiva 61 Fonte: Regina Reis - Fotógrafa Nº Foto 9 Categorias - RCNEI 10 Interpessoal; 11 Interpessoal; Física; 12 Cognitiva; Interpessoal; Física; 62 Fonte: Regina Reis – Fotógrafa Nº Foto Categorias - RCNEI 13 Física (cuidados essenciais); Interpessoal; 14 Física; Interpessoal; 15 Física; 16 Física (cuidados essenciais) 63 4.3 APLICAÇÃO NO CAMPO O objetivo e a importância da pesquisa, assim como a presença da nossa colaboradora foi relatado em carta enviada por meio eletrônico aos gestores (APÊNDICE F), a qual continha em anexo, 2 (dois) questionários: Perfil da Instituição (APÊNDICE B) e Perfil dos Gestores (APÊNDICE C) que foram analisados posteriormente. A pesquisa foi realizada em 12 (doze) instituições, cuja clientela pertence à classe média, localizadas em bairros das Zonas Norte, Sul e Oeste do Município do Rio de Janeiro. O pré-teste foi realizado em novembro de 2008 e os demais dados, em virtude do período de férias escolares, foram coletados nos meses de março e abril de 2009. As entrevistas previamente agendadas transcorreram em condições e ambiente favoráveis e o local reservado era quase sempre a própria sala do diretor. A receptividade não poderia ter sido melhor. Ambas foram tratadas com atenção, carinho e havia sempre à disposição água e café, no mínimo. Enquanto a colaboradora realizava a entrevista, a pesquisadora visitava as instalações, sempre acompanhada por um dos gestores ou, na impossibilidade deste, por um profissional da equipe técnica ou administrativa. No final, nossa colaboradora também foi, gentilmente, convidada por todos os gestores para visitar as instalações. O objetivo principal da pesquisa foi o de captar, no discurso, o olhar dos gestores sobre a criança, ou seja, suas atitudes, crenças e valores. Para isso foram entregues nas mãos dos entrevistados as 16 (dezesseis) fotografias escolhidas, obedecendo aos seguintes passos: 1º) Para quebrar a formalidade e estimular a memória de fatos ou imagens sensoriais do objeto pesquisado, trazidos à consciência após entrega das fotos ao entrevistado, fazia-se o primeiro pedido: “Olhe atentamente uma a uma, as 16 fotografias”. Ao manusearem as fotografias várias reações foram percebidas. Alguns fizeram em profundo silêncio examinando-as minuciosamente, outros falavam sobre a imagem em si tecendo comentários sobre a escolha das imagens; houve quem, para cada foto, dava explicações pedagógicas acrescentando, de imediato, que o conjunto de fotos significava autonomia nas crianças; outros, ao manusearem, quase 64 que imediatamente começavam a agrupar as fotos sem ter conhecimento que essa seria a etapa posterior; outros pareciam contemplar as fotos fazendo elogios à escolha, no sentido técnico e houve os que questionaram a ausência de adultos, chegando a esboçar inconformismo com o fato. 2º) Depois de alguns minutos, suficientes para o manuseio, foi solicitado: "Agora, separe as fotos em grupos sendo de no mínimo dois e no máximo quatro grupos, segundo seus próprios critérios". A maioria dos entrevistados, antes mesmo desta solicitação já tinha feito uma seleção prévia. Alguns discursavam sobre os motivos de sua escolha enquanto separavam como se estivessem pensando alto. Muitos questionaram a quantidade de grupos. Ao serem alertados quanto ao fato da separação ser no máximo em quatro, os mesmos insistiram no fato de que para eles era importante ser cinco, o que foi acolhido. 3º) Com as fotos ainda na mesma posição, perguntava-se: "Qual o critério utilizado para a formação dos grupos”? Justifique. Através do discurso, a partir das fotos, podia-se observar qual o verdadeiro significado de ser criança para cada entrevistado. Alguns falaram muito ao justificarem suas escolhas, outros nem tanto. 4º) "Agora eu gostaria que você juntasse todas as 16 fotos e em seguida respondesse, escolhendo uma única foto, a seguinte pergunta: qual dessas fotos melhor representa ser criança”? Justifique sua escolha. Esta pergunta revelou que não existe unanimidade na escolha das fotos e que para uma mesma foto, há justificativas diferentes. Nem todos os gestores conseguiram escolher apenas uma única foto. 5º) Encerrada esta etapa, partiu-se para uma entrevista conversacional fazendo as seguintes perguntas: de que forma a LDB interferiu no seu trabalho com as crianças? Como se deu sua formação de gestor e qual a relevância da ASBREI neste processo? Para facilitar a compreensão e a transcrição da narrativa, quando da entrevista com imagens, anotamos em formulário próprio (APÊNDICE G), o número de cada foto selecionada e o critério de formação dos grupos Este procedimento foi muito importante para recuperação de dados. Enquanto o entrevistado formava os grupos, nossa colaboradora pedia que ele dissesse os números das fotos selecionadas. No entanto, isto nem sempre acontecia; alguns simplesmente 65 começavam a justificar seu critério de escolha sem falar o número das fotos; em outras ocasiões, simplesmente apontavam para o grupo ou para as fotos sem citálas. Este fato foi percebido quando das transcrições das fitas e a solução encontrada foi recorrer ao formulário para completar as informações gravadas. Todos os entrevistados participaram com seriedade e gentileza. As fotos em alguns momentos transmitiram emoção e muitos entrevistados afirmaram que elas revelavam um ambiente propício para a Educação Infantil. A grande maioria elogiou a modalidade de entrevista que, apesar de desconhecida de todos, foi um momento de descontração, leve e agradável, além de, em seus relatos, elogiarem as fotos como lindas e tecnicamente de boa qualidade. 4.4 METODOLOGIA DE ANÁLISE A narrativa mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso. Benjamin, W. (1996b: 205). A análise dos dados coletados foi se delineando ao longo da coleta. Como era impossível dar conta de todas as possibilidades de textos gerados, optamos por privilegiar os temas do discurso relacionados direta ou indiretamente com a autonomia da criança, através das imagens fotográficas. Utilizamos análise de conteúdo para apreender o discurso dos gestores, quando da escolha da foto que melhor representa o ser criança e quando da denominação do critério de formação dos grupos de fotos para categorizá-las. Estas categorias foram comparadas com as do RCNEI, já definidas. Da mesma forma, utilizamos análise de conteúdo para buscar os significados atribuídos pelos gestores à interferência da LDB nas práticas pedagógicas e ao apoio da ASBREI à formação acadêmica desses gestores. Bardin (1977, p. 14) afirma que “por detrás do discurso aparente, geralmente simbólico e polissêmico esconde-se um sentido que convém desvendar”. Segundo a autora, o discurso é concebido como palavra em ato. Uma produção de palavra é um processo em que é elaborado um sentido e são operadas transformações. O 66 discurso não é transparente, é imerso em opiniões, atitudes ou representações que se constituem na linguagem. Por tratar-se da representação de um grupo social - e o nosso objetivo era o de saber o que pensam os gestores e se afirmam o que realmente pensam sobre a criança - recorremos a Mazzotti e Alves-Mazzotti (2009) para entendermos o discurso do grupo, partindo-se do princípio de que: A identidade e coesão dos grupos sociais é fundada em certo número de crenças, coletivamente engendradas e historicamente determinadas, que não podem ser postas em questão por constituírem o fundamento do modo de vida e do sistema de valores do grupo (MAZZOTTI, T.; ALVESMAZZOTTI, A., 2009; p. 2). Segundo os autores, na tentativa dos grupos se manterem coesos, utilizam procedimentos que censuram ou louvam valores, ao reafirmarem o que consideram preferível fazer ou ter. Este gênero retórico foi denominado por Aristóteles de epidítico. A censura e reafirmação do que se prefere fazer ou ter constitui a base da vida em sociedade sobre a qual se busca o consenso que orienta as ações do grupo. Alguns afirmam que esse tipo de discurso é vazio, não expõe um problema e sim implica num problema, pois seu foco é garantir a unidade do grupo. No discurso epidítico o que está em questão são os valores presentes, avaliados pelos ouvintes, que decidem se aderem a eles ou não (MAZZOTTI; ALVES-MAZZOTTI, 2009). Como a representação social refere-se a uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com o objetivo prático (JODELET, 2001, p.22), ajuda-nos a compreender fatos e idéias que orientam e justificam o comportamento do grupo ao tomarem posições que consideram coerentes com os valores e crenças com relação ao objeto social – criança. Essas representações são produzidas coletivamente e passam a fazer parte do repertório desse grupo, como construções esquemáticas que condensam significados, mantendo a identidade grupal e o sentimento de pertença do grupo (MOSCOVICI, 1976; JODELET, 2001). Os materiais coletados foram organizados da seguinte forma: 1º) Perfil dos Gestores e das Instituições – Os dados coletados foram extraídos dos questionários enviados de forma a caracterizarmos os sujeitos e as instituições que participaram da pesquisa, conforme item 5.1 e Tabela nº 1 e item 5.2. 67 2º) Entrevista com imagens – O objetivo desta etapa é verificar a existência ou não de representação social de criança a partir do olhar do gestor de Educação Infantil sobre autonomia. Para tanto, organizamos o material de forma a procedermos 2 (duas) análises distintas, de acordo com os itens 5.3 e 5.4. De posse do material, oriundo das entrevistas com as 16 fotografias, fizemos uma leitura cuidadosa das mesmas buscando apreender os sentidos de cada discurso, para então desenvolver um instrumento de análise, conforme exemplificado no APÊNDICE H, que denominamos de mapa. Neste mapa, há uma coluna para cada um dos seguintes itens: o código do sujeito; o repertório total de fotos no qual marcava-se com um “x” a foto selecionada; o critério que o entrevistado utilizou para a formação dos grupos de fotos; a justificativa para a denominação dada aos grupos de fotos e por último, uma coluna com a relação das capacidades constantes do Referencial (RCNEI) para desenvolvimento da autonomia, cuja descrição encontra-se no item 4.2.2. O critério de formação dos grupos apontado por cada um dos sujeitos foi cotejado com a descrição das capacidades a serem desenvolvidas para a aquisição da autonomia, contidas no Referencial. Em destaque colorido, há no mapa, uma linha onde se encontra a justificativa para a escolha da foto que melhor representa ser criança. A primeira análise foi realizada em relação aos grupos formados com as 16 fotografias. A segunda foi realizada apenas com o grupo de fotos que mais representava o ser criança que foi analisada também de forma quantitativa e os resultados estão contidos nas Tabelas nº 2 e 3. 3º) Entrevista conversacional – Os objetivos desta entrevista foram: verificar se houve influência da LDB nas práticas pedagógicas da instituição e se a ASBREI teve influência na formação desses gestores. No próximo capítulo, analisaremos os dados coletados. Como o material é muito volumoso, nossa opção, neste momento, é priorizar a descrição dos discursos provocados pelo impacto das imagens. Para facilitar o leitor, a discussão dos resultados será apresentada, neste mesmo capítulo, após a análise de cada item. 68 CAPÍTULO 5 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS De posse dos materiais coletados procedemos à análise dos dados, de forma a traçar o perfil dos gestores e o das instituições pesquisadas; comparar os critérios utilizados pelos gestores, quando do agrupamento das fotos e os descritos no Referencial; levantar a importância da LDB e o papel da ASBREI. 5.1 PERFIL DOS GESTORES O perfil de todos os sujeitos que participaram da pesquisa foi traçado segundo: sexo, idade, formação (curso normal, graduação e pós-graduação), tempo de atuação na área de educação (entendendo como tempo de magistério, mais o tempo como gestor) e tempo de atuação somente como gestor de Educação Infantil. A tabela abaixo mostra que o universo desses sujeitos é predominantemente feminino (85,18%), com idade compreendida entre 37 e 78 anos. O tempo de atuação na educação varia entre 10 e 49 anos. O tempo de atuação somente na área de gestão é de no mínimo 10 anos e no máximo 38 anos, tempo este de existência das duas instituições privadas, mais antigas, e corresponde a 48,15% dos sujeitos (13). Quanto à formação: - 12 cursaram o Normal – 44,44 %; - 8 cursaram Psicologia – 29,63% (*); - 6 cursaram Pedagogia – 25,92%; - 5 cursaram Licenciatura – 18,52%; - 3 cursaram Administração de Empresas – 11,11% (*); - 1 cursou Arquitetura – 3,70%; - 1 cursou Serviço Social – 3,70% e, - 3 não terminaram o curso superior – 11,11%. 69 PERFIL DOS GESTORES Formação Código Sexo Idade Normal Graduação Pós-Graduação Nº Anos Nº Anos Educação Gestão 01.A F 50 S Pedagogia - 29 18 02.A F 43 S Geografia - 25 18 03.A F 52 S Comunicação Social - inc. - 34 18 04.B F 62 S Literatura Pedagogia em Adm. Escolar 44 24 05.C F 60 S Psicologia e Pedagogia Doutorado em Filosofia 26 26 06.D F 37 N Pedagogia Psicopedagogia 22 19 07.D. F 62 N Psicologia Mestrado em Educação 27 27 08.E F 78 N Pedagogia Psicopedagogia 38 34 09.E F 50 N Pedagogia - 29 29 10.E M 47 N 26 26 11.F F 47 N Psicologia Adm. Escolar 24 24 12.G M 65 N Arquitetura Adm. Escolar 24 24 13.H F 52 N Adm. Empresa RH Adm. Escolar 26 26 14.I F 44 S Psicologia MBA Educação 26 19 15.I F 69 S Pedagogia Estim. Essencial MBA Educação 49 38 16.I M 47 N Adm. Empresa inc. - 20 20 17.I M 46 N Economia inc. - 10 10 18.G F 63 S Serviço Social - 41 38 19.J F 55 N Química Psicologia - 31 31 20.J F 55 S Pedagogia - 37 31 Engenharia Adm/Superv Esc. Adm.Empresa MBA Educação 70 21.H F 54 N Psicologia Psicanálise 27 27 22.K F 55 N Literatura Psicopedagogia Educ. Infantil 30 30 23.L F 60 N História Adm. Escolar MBA Educação 36 26 24.L F 63 S Inglês - 43 26 25.M F 60 S Adm. Empresa Adm. Escolar 35 30 26.N F 61 S Psicologia - 41 20 27.O F 56 N Psicologia MBA em Educação 21 21 Tabela nº 1 – Perfil dos Gestores Dos 27 entrevistados, 16 cursaram pós-graduação – 59,26% com 1 doutor e 1 mestre; e 5 correspondendo a 18,52% possuem mais de uma especialização. Dos 3 sujeitos que possuem formação em mais de uma área – 11,11%, temos: dos que cursaram Psicologia, 1 também cursou Pedagogia e o outro Química; dos que cursaram Administração de Empresas, um também cursou Engenharia. Mesmo os 3 sujeitos que fizeram o curso de Administração de Empresas, tiveram por força da LDB, que cursar a especialização em Administração Escolar – 11,11%, assim como outros 5 gestores dos cursos de psicologia (2), licenciatura (2) e arquitetura (1) também cursaram Administração Escolar – 18,52% . Outros, num total de 5, como complemento à formação, fizeram MBA em Educação – 18,52%. Quanto ao tempo de gestão, 19 gestores têm mais de 20 anos de experiência, enquanto os demais têm até 20 anos. 5.2 PERFIL DAS INSTITUIÇÕES As duas instituições privadas de Educação Infantil, mais antigas, da cidade do Rio de Janeiro têm 38 anos. Das 12 (doze) pesquisadas, encontramos 7 (sete) situadas na Zona Sul; 4 (quatro) na Zona Norte e 1 (uma) na Zona Oeste. Quanto 71 aos 3 (três) ex-gestores, 2 (dois) possuíam creche na Zona Sul e 1(um) na Zona Norte. O horário de funcionamento é em torno de 12 horas de segunda a sexta-feira. Quanto ao atendimento, 8 (oito) instituições trabalham somente com o segmento Educação Infantil, enquanto 4 (quatro) também trabalham com o Ensino Fundamental. Funcionam durante o ano todo e nos meses de férias, janeiro e julho trabalham em regime de Colônia de Férias. Das 12 (doze) instituições somente uma, neste momento e por motivos particulares, não está associada à ASBREI. 5.3 ENTREVISTA COM IMAGENS - 16 Fotografias Para fins de análise, comparamos o critério de agrupamento das fotos feito pelos gestores com as categorias de capacidades para o desenvolvimento da autonomia descritas no Referencial. Os dados apontam que há correspondência entre a denominação do critério dado pelos sujeitos quando da formação do grupo de fotos e a denominação das capacidades a serem desenvolvidas na prática da Educação Infantil. Os resultados encontrados dão conta da importância e do desafio do uso de imagens fotográficas, como instrumento de coleta de dados em estudos de representação social. O olhar dos gestores, provocado pelas imagens, foi capaz de nos remeter ao implícito de seus discursos sobre a criança, e atender ao objetivo dessa pesquisa. Chamamos a atenção para o fato de como uma mesma imagem pode transitar por diferentes categorias, como nas amostras a seguir: 72 a) ódigo Entrevista Capacidade Cognitiva: Critério de Formação do Grupo Justificativa Capacidades RCNEI Nº das Fotos ...apesar de desenvolver o subir e descer Cognição escada, tirar e botar sapato, eu interpretei 01.A.F.50.1.18 1, 2, 3, 4, 6, 9, 12, 15 essas fotografias como uma ação também cognitiva. 02.A.F.43.3.18 Atividades dirigidas 3, 6, 13 03.A.F.52.7.18 Atividade de livre escolha 1, 5, 10, 11, 12 06.D.F.37.1.19 08.E.F.78.1.34 ...solicitar atividades, gerar atividades que são dirigidas, organizadas, planejadas... ...desejos de realização das atividades, sem ordem, as escolhas são livres. Física Cognitiva Cognitiva Física Interpessoal Cognitiva Atividades Pedagógicas 3, 5, 6, 12 Atividades que fazem parte é vamos a parte mais especifica e didática da educação infantil, atividade eu diria mais pedagógica... atividade de escrita, espontânea, ... classificação na área de matemática e de separação de objetos, a questão da história, do manuseio do livro. ...a questão da linguagem, essa foto aqui da criança com telefone,... trabalha a comunicação, a linguagem, expressão oral. Cognitiva Física Atividades ligadas à alfabetização 3, 4, 5, 11, 12 trabalho do grupo, ... interessante tem até o aspecto de leitura, de conjunto,... estão levando nas mãos alguma coisa aqui, essa aqui da parte motora da parte fina da criança, então realmente não deixam de estar ligadas à alfabetização. Cognitiva Física Interpessoal é a questão da escrita que na verdade um dos objetivos maior da escola é a criança Fazer movimentos aprender a ler e escrever... fazendo finos para aprender a 09.E.F.50.1.29 movimentos finos..., da tesoura, de separar ler e escrever botões coloridos, de encaixe, três 3, 4, 6, 11, 12 movimentos finos que depois vão levar ela, a escrever e a ler. Cognitiva Física Aprender é desenvolver recursos que possibilitem a criança pensar e comunicar suas idéias de forma a compreender e ser compreendido (RCNEI, 1998). É por este motivo que acreditamos que as fotos nº 3 e 12 apareceram 5 (cinco) vezes. Nelas a imagem da criança escrevendo o nome e folheando um livro ou 73 lendo, parece concretizar a idéia de aprendizagem (cognição), diferentemente das imagens das fotos nº 1 e 2 que só aparecem uma vez. Nenhuma criança tira uma sandália ou sobe as escadas sem antes processar esta aprendizagem no cérebro. O fato é que estas imagens são predominantemente motoras, ou seja, dizem respeito à capacidade física da criança não causando o mesmo impacto que as fotos 3 e 12. As atividades predominantemente cognitivas são denominadas escolares para uns e pedagógicas para outros, como: aprender a escrever o nome (foto 3); recortar (foto 4); contar (foto 6); ouvir histórias ou manusear livros (foto 12) são denominadas no Referencial como capacidade cognitiva. Notamos também que as imagens das fotos nº 1, 5, 10, 11 e 12 que aparecem sob a denominação de atividades de livre escolha, denotam que as crianças, naquele momento, eram livres para escolher o que pensar, descobrir e fazer, ou seja, tirar a sandália, falar ao telefone, se defender, montar um brinquedo e ver um livro. O poder fazer escolhas faz parte do processo de aprendizagem e favorece o desenvolvimento da autonomia. b) Capacidade Interpessoal: Código Entrevista Critério de Formação do Grupo Nº das Fotos 01.A.F.50.1.18 Interação social 5, 8, 10, 11, 13, 14 02.1.F.43.3.18 Relações de interação 2, 4, 6, 9, 10, 11, 12, 13, 14 Justificativa Capacidades RCNEI [...] foi uma coisa de relações sociais relativas à educação, é ... ações de interação social. Física Interpessoal [...] coisas juntos, desafios em grupo, oh, mais desafio em grupo, você está apreciando as conquistas do outro, e adquirindo aprendizado, brincando junto, porque depois que a gente cria critério você acha que só poderia ser esse? Física Cognitiva Interpessoal 74 04.C.F.60.2.26 Construção da capacidade de conviver (interagir) 6, 9, 10, 12, 14 Está aprendendo a conviver com o outro a respeitar o outro, ele está, a capacidade de construir, competências e habilidades está aqui no movimento e ainda, hábitos e atitudes, está aqui presente, hábitos e atitudes, porque certamente nessa atividade, ele vai conhecer o limite dele, como se relacionar com a capacidade ou a incapacidade do outro, então, na verdade, há uma integração entre os três, quando a gente fala. A gente vê também que é uma convergência, entendeu, quer dizer é muito difícil para uma foto só... Cognitiva Física Interpessoal 06.D.F.37.1.19 Relacionamento social 10, 11 Trocas entre pares, não que as outras não aconteçam, mas eu achei essas aqui bem marcantes [...]. Interpessoal Situações normais de conflito 10 [...] uma criança querendo jogar um brinquedo na outra, ela está dizendo que não, uma situação normal de conflito nessa faixa etária comum. 13.H.F.52.4.26 Choque entre a proposta e o que está 12.G.M.65.6.24 sendo feito 2, 10, 12 Interpessoal Cognitiva [...] aqui há um choque entre a proposta do trabalho e o que está sendo feito, a criança não está conseguindo acompanhar [...]. Física Interpessoal Cognitiva Física Cognitiva Interpessoal Física Interpessoal 14.I.F.44.2.19 Interação 2, 4, 6, 10, 11, 12 São trabalhos em grupo (..) em conversa, trabalhos em grupo, você já vê que tem uma interação, uma troca entre as crianças, bota o dez também ai, porque aqui eles podem estar brincando, mas estão interagindo. 22.K.F55.3.30 Brincadeiras livres (interação) 5, 10, 11 Brincadeiras livres, onde o interesse próprio da criança está buscando algum tipo de brinquedo, algum tipo de interação com outra criança, algum tipo de comunicação entre elas. Neste grupo, observamos que há uma correspondência maior entre os critérios denominados pelos sujeitos e os encontrados nos referenciais. Acreditamos que as imagens de interação são mais facilmente percebidas do que as cognitivas. A foto nº 10, por exemplo, onde há um menino e uma menina em atitude de conflito foi escolhida por todos os sujeitos. Em seguida temos a foto nº 11 onde dois meninos estão montando um brinquedo aparecendo cinco vezes. Com menos impacto, 75 encontramos as fotos 5, 9 e 8 onde as crianças estão sozinhas e a foto nº 4 que, apesar de ter duas crianças, parece que uma delas está apenas olhando, sem interagir com a outra. c) Capacidade Física (motora): Critério de Formação do Grupo Nº das Fotos Justificativa 03.A.F.52.7.18 Atividades de movimento 4, 9, 14, 15 [...] atividades de movimento, são atividades em que as crianças desenvolvem movimentos, são as representações de movimentos... Física 06.D.F.37.1.19 Corpo - movimentos amplos e finos 2, 4, 9, 14, 15 Eu vejo assim um trabalho com o corpo, prática do movimento, movimentos amplos e movimentos finos. Física Movimento 2, 3, 4, 5, 9, 14, 15 Movimento a parte motora,... tem o recorte, equilíbrio, movimento com força, salto, diversos, subir e descer escadas [...] é da parte da educação do movimento. Física Cognitiva 08.E.F.78.1.34 Habilidade 2, 9, 14, 15 Propôs essas atividades e está esperando da criança [...]. Física 10.E.M.47.4.26 Educação Física 10, 14 Código Entrevista 07.D.F.62.02.27 12.G.M.65.6.24 Atividades inadequadas 9, 10, 15 O menino está fazendo capoeira. Propostas que não são muito adequadas, a foto 9 é uma atividade que está em conflito com objetos, ...o espaço aqui deveria estar mais desimpedido para que a criança pudesse exercer essa atividade,.o brinquedo está sendo utilizado por outra criança ... conflitando com esse trabalho de equilíbrio; foto 15 essa daqui é uma proposta perigosa pulando daqui num lugar que poderia estar mas ela tem pouco diâmetro, então, a meu ver eu não permitiria. Foto - 10 é uma atitude de agressão... é uma coisa não adequada... Capacidades RCNEI Interpessoal Física Física Interpessoal 76 14.I.F.44.2.19 Movimento do corpo 3, 9, 14, 15 16.I.M.47.4.20 Esportes 9, 14, 15 São movimentos do corpo, movimentos de equilíbrio, do pular, do movimentar. Atividades voltadas para ações físicas, é esporte Atividades de rotina, numa escola na vida Atividades de uma criança... é o desembaraço da desafiadoras criança no cotidiano, por exemplo, se 1, 4, 5, 6, 9, 12, 14, 15 enfrentando, subindo escadas, fazendo xixi no vaso, se servindo de comida. 21.H.F.54.2.27 Cognitiva Física Física Física Cognitiva As imagens que dizem respeito à capacidade física (motora) parecem ter como as interpessoais, uma grande correspondência entre os critérios definidos pelos sujeitos e os referenciais, apesar das diferentes denominações. Descobrir seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites são de fácil reconhecimento e predominantemente motoras como podemos notar nas fotos 9, 14 e 15, não tendo sido escolhida por apenas um sujeito. As fotos 10, 5 e 3 só aparecem por duas vezes e a nº 1 uma única vez. d) Autonomia, independência, formação de hábitos. No que diz respeito ao conceito de autonomia, poucos foram os que verbalmente expressaram sua existência em todas as fotos. Sob diferentes denominações, ela aparece no discurso dos entrevistados designando independência ou formação de hábitos de vida diária. Código Entrevista Critério de Formação do Grupo Nº das Fotos 04.B.F.62.3.24 Conquista da Autonomia 1,7,8,12,16 Justificativa [...] é autonomia, esse menino vai na autonomia, troca a sandália, ajeita, come, aqui no livro eles estão buscando cada um procurando ler a sua parte, indo ao banheiro sozinho, então aqui é a conquista da autonomia. Capacidades RCNEI Física Cognitiva 77 Competências e habilidades para a Autonomia 1,2,3,4,7,11,15 [...] está vendo a autonomia,... autoconhecimento, competência e habilidades, também vejo atitudes... porque há integração numa mesma atividade,... o que é maravilhosamente bom.... Na foto 4 ela está observando o companheiro, não é imitação,... está testando suas possibilidades. 09.E.F.50.1.29 Atividades que envolve o corpo (Autonomia) 2, 9, 15 [...] atividade que envolve o corpo, todo conhecimento de corpo, menino pulando um obstáculo alto,... subindo escada. A gente sabe toda a dificuldade que a criança encontra para subir escadas leva anos, para ter aquela autonomia para subir uma escada correndo, e aqui também ela precisa fazer todo o movimento de motricidade ampla e fina, aqui no caso ampla, ela está andando em cima de uma linha. 11.F.F.47.2.24 Autonomia 1, 2, 7, 8, 13, 16 [...] autonomia, está se integrando e alimentar-se com prazer... o que eles fazem sozinho e com prazer. Autonomia 1, 7, 8, 13 [...] eu acho que essas fotos elas mostram atividades que demonstram que a autonomia está sendo trabalhada. Está nitidamente, você pode ver que a criança está sozinha tirando seus pertences da mochila, colocando, aqui você ver que elas estão se servindo, aqui você que ele está comendo sozinho, aqui ela está colocando a sandália, ou tirando não sei para poder brincar, sozinha, você vê que a autonomia é trabalhada”. Autonomia 1, 8, 13, 16 Eu vi autonomia, [...] essa criança está comendo bem, essa está vestindo legal, atividade vida diária, autonomia, bem desenvolvidas... Autonomia 1, 7, 16 [...] é autonomia das crianças na hora de vestir, o uso no banheirinho e as tendências,... da independência da criança de já ter um acesso próprio ao calçado, tirar a camisinha, já ir ao banheiro levantar a tampinha da privada como ele diz, sem ajuda, sem ajuda. 05.C.F.60.2.26 14.I.F.44.2.19 18.G.F.63.5.38 22.K.F.55.3.30 Física Interpessoal Cognitiva Física Física Interpessoal Física Interpessoal Física Interpessoal Física 78 23.L.F.60.3.26 23.L.F.60.3.26 09.E.F.50.1.29 Desenvolvimento da autonomia 1, 2, 5, 7, 8, 13, 14, 15, 16 Disputa/Cooperação 10,11 Independência 1, 7, 16 [...] é o seguinte, eles estão aqui desenvolvendo a autonomia, formação corporal, a superação de obstáculos. [...] eles estão na disputa, é uma disputa. E pode ser uma cooperação também, porque essa aqui eu não sei se eles estão disputando ou se eles estão fazendo um trabalho cooperativo, desenvolvendo a cooperação. Agora, apesar de que essas fotos todas elas se inter-relacionam, elas falam todas do universo da educação infantil do que se desenvolve nessa faixa etária,... a autonomia,... a linguagem,... a coordenação motora,... a formação de hábitos e atitudes. Física Interpessoal [...] comportamento que vai desenvolvendo na escola e em casa também são muito importantes, tirar sapato, tirar a roupa, na verdade é independência, fazer xixi, levantar a tabua, lavar aos mãos, tem tudo que envolve o ato. Tirar a roupa, botar a roupa, guardar a roupa dentro da mochila dobrada, tirar o sapato botar o sapato, todos os cuidados que a criança tem que ter com ela, sem o auxilio do adulto. Física Independência 1, 2, 5, 7 [...] questões básicas quando a criança começa a lidar na escola, trocar de roupa sozinha, independência, subir escadas, trocar a sandalinha, a noção do telefone, aquelas coisas assim de um trabalho bem importante. 13.H.F.52.4.26 Independência 1, 2, 7, 8, 13, 16 [...] me chamou a atenção algumas fotos, da ausência total do adulto em atividades que podem mostrar a independência da criança, o desenvolvimento da criança mas, muito arriscado para a faixa etária. Subindo a escada... foi a questão da independência... tirar o sapato, comer, fazer xixi sozinho, subir escada, mudar de roupa. 14.I.F.44.2.19 Independência 5, 16 [...] os dois, são atividades totalmente diferentes, mas ao mesmo tempo são atividades que trabalham a independência, não é, então [...]. 10.E.M.47.4.26 Física Cognitiva Interpessoal Física Física Interpessoal Física 79 15.I.F.69.1.38 Independência 1, 3, 5, 7, 8, 15, 16 17.I.M.46.7.10 Independência 1, 7, 8, 13 06.D.F.37.1.19 24.L.F.63.3.26 [...] a criança [...] desacompanhada mas [...] todas praticam atividades [...] um resultado grande do trabalho não precisa, o único objetivo é [...] e realmente levá-los a uma independência . [...] está comendo sozinho,... está trocando o sapato sozinha,... estão se servindo sozinhos,... ela está trocando de roupa sozinha [...]. [...] alimentação banheiro, a questão da formação de hábitos, também eu estou Formação de hábitos vendo a formação de hábitos, trabalhando 1, 7, 8, 13, 16 a autonomia, independência. [...] não deixa de ser uma atividade de vida diária e essa aqui é a comunicação enquanto eles estão se [...] falando ao telefone, essa está trocando o sapato, o Hábitos de vida diária outro estava urinando, a outra está 1, 5, 7, 10, 16 trocando a roupa e a outra está tentando falar ao telefone. A questão é [...] atividade de vida diária [...] é do meu tempo, não sei agora, agora pode ser até outro nome. Olha, eu fiz a divisão com base naquilo que eu acho importante na educação infantil. Então, hábitos de vida, isso para mim é fundamental, é primeiro em tudo, na educação infantil. Então, a gente tem aqui Formação de Hábitos a formação de hábitos de alimentação, de 25.M.F.60.4.30 2, 5, 10 higiene, independência cotidiana, integração social, não é? São muito entrelaçados. Por quê? Quem é que aprende alguma coisa para sua própria vida, e vai viver sem a cognição? Ninguém. 08.E.F.78.1.34 01.A.F.50.1.18 Física Cognitiva Física Interpessoal Física Interpessoal Física Interpessoal Física Interpessoal Hábitos de vida diária [...] hábitos de vida diária, alimentação, ida 8, 13, 16 ao banheiro [...]. Física Interpessoal [...] aqui foi o critério de cuidado mesmo, cuidado de saúde, de higiene, foi ao banheiro, me parece uma troca de banho, de roupa para banho. Física (cuidados essenciais) Cuidar (saúde e higiene) 7, 16 80 As fotos que mais aparecem no critério autonomia são: nº 1(13x), uma menina tirando a sandália e a foto nº 7 (13x), uma menina tirando a roupa. A foto 16 (11x), um menino no banheiro urinando; a 8 (10x), um menino comendo; a 2 (7x) crianças subindo a escada; a 5 (6x) menina ao telefone. As fotos 15 (4x); a foto 10 (3x); a foto 3 (2x); a foto 11 (2x). As fotos que aparecem uma única vez são: fotos 4; 9; 12 e 14 e por último a foto de nº 6 que está ausente. Observa-se, claramente, distinção entre autonomia e atividades pedagógicas ou atividades dirigidas; ou atividades de leitura e de matemática; ou atividades de alfabetização; ou aprendizagens escolares ou atividades educacionais, como se as mesmas não levassem à autonomia da criança. Para Piaget (1896, apud: LIMA, 1980, p. 130) “tudo que se ensina à criança impede que ela invente ou descubra por si mesma”. Educar é provocar a atividade (motora, verbal e mental). É estimular a capacidade de transformação. É criar situações que levem a criança à descoberta de novos modelos de conduta, ou seja, novas soluções. O desenvolvimento da criança é o resultado das interações entre as estruturas já conhecidas e a realidade. As crianças só são livres quando brincam entre si; neste momento, é que criam e desenvolvem a autonomia, tornando-se capazes de tomar decisões. A realidade chega à criança através da atividade e, deste modo, as atividades ditas educacionais ou pedagógicas ou dirigidas não se diferenciam, das atividades de comer, vestir-se, ir ao banheiro sozinha. Da mesma forma que aprender a escrever o nome é provocar o desenvolvimento cognitivo (mental), vestirse também é provocar o desenvolvimento físico (motor e mental). Quando ele já “aprendeu”, ou seja, adquiriu tanto o hábito de vestir-se como de escrever seu próprio nome essas atividades tornam-se um hábito, ou seja, uma aprendizagem que se automatizou. O conhecimento não vem de fora para dentro, ele é o resultado das experiências e descobertas fruto das interações com adultos e crianças. Desta forma, todas as atividades proporcionadas à criança, na Educação Infantil, devem ter o objetivo de criar situações que levem ao desenvolvimento da autonomia. 81 e) Binômio cuidar/educar Nos discursos sobre as imagens, encontramos o sujeito 01. A. F. 50. 1. 18 utilizando a palavra ‘cuidado’, como critério para o agrupamento das fotos 7 e 16. Ele argumenta: Aqui foi o critério de cuidado mesmo, cuidado de saúde, de higiene, foi ao banheiro, me parece uma troca de banho, de roupa para banho. Para essas mesmas fotos encontramos o sujeito 06. D. F. 37. 1. 19 com o argumento: [...] alimentação, banheiro, a questão da formação de hábitos, também eu estou vendo a formação de hábitos, trabalhando a autonomia, independência. As atividades denominadas de formação de hábitos como comer, se servir, ir ao banheiro sozinho, são consideradas no Referencial como cuidados essenciais e fazem parte do desenvolvimento da capacidade física. No Referencial (1998, v.1), ‘educar’ significa propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas que contribua para o desenvolvimento da autonomia, e ‘cuidar’, que está englobado no educar, significa ajudar a criança a se desenvolver enquanto ela ainda não for capaz de fazer algo sozinha como comer, tomar banho, trocar a roupa, dentre outras atividades. Assim, entendemos que há, neste grupo, uma vinculação entre cuidar e educar, colocando como ideal da Educação Infantil a passagem do ‘cuidar’ – ajudar a criança a se desenvolver enquanto ela ainda não for capaz – para ‘educar’ – propiciar situações que contribuam para o desenvolvimento da autonomia. Este consenso integrador de cuidar/educar que caracteriza uma visão da Educação Infantil diferente da visão assistencialista de guarda e proteção do século passado. f) Fotos polêmicas Algumas fotos causaram mal estar e foram consideradas inadequadas para alguns gestores enquanto que para outros é uma questão de autonomia. As fotos 9, 10, e 15, por exemplo, foram consideradas inadequadas. 82 [...] propostas que não são muito adequadas: foto 9 - é uma atividade que está em conflito com objetos,... o espaço aqui deveria estar mais desimpedido para que a criança pudesse exercer essa atividade,... o brinquedo está sendo utilizado por outra criança... conflitando com esse trabalho de equilíbrio; foto 15 - essa daqui é uma proposta perigosa pulando daqui... ela tem pouco diâmetro, então, a meu ver eu não permitiria; foto 10 - é uma atitude de agressão...é uma coisa não adequada... (12. G. M. 65. 6. 24). [...] é a tal observação que eu falei, de ter uma foto que eu achei inadequado para trabalhar o desenvolvimento da criança, eu acho que a gente pode trabalhar o desenvolvimento da criança: ela tirando a roupa, ela fazendo xixi sozinha, ela comendo sozinha sendo acompanhada, mas não precisa trabalhar o desenvolvimento da criança subindo a escada sozinha eu acho que corre risco, não é? (13. H. F. 52. 4. 26). O meu terceiro grupo são coisas que eu tive dúvida,... eu teria que ter visto o antes ou o depois para entender, aqui me pareceu uma briga de criança, a 10, a 15 eu não vi proteção. Eu acho que essa criança aqui está meio desesperada, não é autonomia,... (Foto 10) (18. G. F. 63. 5. 38). Em outro discurso, observamos a foto nº 10, em que duas crianças estão à beira de um conflito, sendo interpretada pelo sujeito 12.G.M.65.6.24 como “uma atitude de agressão [...] não adequada”, enquanto para o sujeito 13. H. F. 52. 4. 26 o fato de uma criança jogar o brinquedo na outra é visto como “uma situação normal de conflito, comum nessa faixa etária”. [...] a foto 10 é uma atitude de agressão... é uma coisa não adequada (12. G. M. 65. 6. 24). [...] uma criança querendo jogar um brinquedo na outra, ela está dizendo que não, uma situação normal de conflito nessa faixa etária [...] (13. H. F. 52. 4. 26). A foto nº 2 também gerou polêmica. Alguns gestores se preocuparam com o fato das crianças estarem subindo as escadas sozinhas: [...] me chamou a atenção em algumas fotos, a ausência total do adulto em atividades que podem mostrar a independência da criança, desenvolvimento da criança, mas muito arriscado para a faixa etária, a de subir a escada (13. H. F. 52. 4. 26). Por mais que elas estejam desenvolvidas, elas não podem ficar sozinhas no alto de uma escada. Por enquanto, eu acho que elas não podem ficar sozinhas (17. I. M. 46. 7.10). 83 [...] aqui ela está subindo a escada sozinha, não tem ninguém por perto, está linda a foto, mas não tem ninguém por perto (18. G. F. 63. 5. 38). Enquanto na opinião de outros, ‘subir escada’ diz respeito a conquistas, ao desenvolvimento da autonomia ou mesmo ao fato de estarem experimentando a curiosidade, como pode ser visto nos discursos de: Conquistas que essa criança tem que fazer, no seu intrapessoal, e no seu interpessoal (04. B. F. 62. 44. 24). Está vendo a autonomia, autoconhecimento, competência e habilidades, também vejo atitudes porque há integração numa mesma atividade, o que é maravilhosamente bom (05. C. F. 60. 26. 26). Eles estão aqui no sentido de eles estarem, assim, experimentando a curiosidade, de eles estarem experimentando (19. J. F. 55. 31. 31). É o seguinte, eles estão aqui desenvolvendo a autonomia, formação corporal, a superação de obstáculos (23. L. F. 60. 36. 26). Mas, o interessante é que para o sujeito 12. G. M. 65. 24. 24, a foto nº 15 (menino pulando do banco) e a foto nº 10 (crianças em atitude de agressão), mesmo tidas como inadequadas foram as escolhida pelo próprio sujeito como as fotos que melhor representa ‘ser criança’. Acreditamos que o implícito neste discurso é o conflito interno entre o papel de administrador, onde todos os cuidados devem ser tomados para que nada aconteça com a criança que está sob a responsabilidade, de sua gestão e o que ele verdadeiramente pensa sobre ‘ser criança’ e que neste caso, a imagem pode desvendar. Em sua opinião, para ser gestor é preciso: [...] cada vez mais [...] de uma pessoa que seja plural, que tenha um conhecimento razoável de muitas coisas porque aqui eu me envolvo muito pouco com a área educacional em si, mas eu me envolvo muito com a área organizacional, eu tenho que atender às necessidades do educador, eu tenho que fornecer [...] eu tenho que manter funcionando, eu tenho que dar condições operacionais, eu tenho que atender a manutenção, se entupiu uma coisa, apagou a outra, então eu tenho que conhecer (12. G. M. 65. 24. 24). 84 Observamos opiniões semelhantes em outros gestores. No discurso do sujeito 13. H. F. 52. 4. 26 ele tem que estar atento a tudo que acontece no âmbito regional e nacional. [...] o gestor ele tem que estar lendo todos os jornais para saber se teve tiroteio que pode ter que fechar a sua escola hoje à tarde e não funcionar; que a poupança que você guardava os seus caraminguás, pode não dar mais para guardar; que os pais vão ter um índice menor de reajuste que você vai dar para os seus professores, então você tem que ler jornais, ler livros técnicos, ler livros pedagógicos, formar os seus professores e seus auxiliares porque são eles que estão com as criança, quer dizer, os pais tem mais contatos com eles do que com a gente, então, eu acho que é um desafio muito grande, eu acho um desafio maior em empresas menores [...] (13. H. F. 52. 4. 26). Ao observar as fotos ele fica na dúvida entre o que é adequado para trabalhar o desenvolvimento infantil e o que é possível sem acarretar riscos para a criança. [...] uma criança querendo jogar um brinquedo na outra, ela está dizendo que não, uma situação normal de conflito nessa faixa etária comum [...], mas tem uma foto que eu achei inadequada para trabalhar o desenvolvimento da criança, eu acho que a gente pode trabalhar o desenvolvimento da criança: ela tirando a roupa, ela fazendo xixi sozinha, ela comendo sozinha sendo acompanhada, mas não precisa trabalhar o desenvolvimento da criança subindo a escada sozinha. Eu acho que corre risco, não é? (13. H. F. 52. 4. 26). Mas, ao escolher a foto que representa ser criança, sua escolha recai na foto nº 9, complementada pela foto nº 4, expressando-se da seguinte forma: [...] na foto 9 eu colocaria a liberdade, a alegria, e a foto 4 é a curiosidade, que é o aprendizado que são essas coisas novas, ricas, que eles são assim sedentos em novidades, em aprendizado, essas duas aqui se completariam de uma certa forma. (13. H. F. 52. 4. 26). Também no discurso do sujeito 17. I. M. 46. 7. 10 encontramos: Por mais que elas estejam desenvolvidas, elas não podem ficar sozinhas no alto de uma escada. Por enquanto, eu acho que elas não podem ficar sozinhas, também com esses objetos aqui da mesa, da foto nº 6, que podem engolir, essas bolinhas são muito pequenas, o resto eu acho normal. Não vejo nada demais de elas estarem sozinhas, porque não tem nenhum risco, tem que ir ao banheiro sozinha, [...] da tesoura mais ou menos, pelo que eu vi é uma tesoura sem ponta, com ponta arredondada, mas mesmo assim, não é legal, estar sozinha, tem que ter sempre alguém observando. 85 No entanto, o mesmo sujeito 17. I. M. 46. 7. 10 escolhe as fotos nº 9 e nº 15 como representativas de ser criança e justifica do seguinte modo: Porque elas estão independentes, o melhor de ser criança é que elas não precisam de ninguém para brincar, que é a essência da criança de ser criança, então um está pulando aqui, a outra está andando em cima da corda, não precisam de companhia de nada brincam sozinhas, não é? É uma coisa simples aqui, é um banquinho que ele pula de cima, a outra é uma corda que ela está tentando se equilibrar e está sozinha, está com outras crianças, mas está fazendo sozinha, e aqui também está pulando do banquinho sozinho, não tem necessidade de ter muita gente junto para fazer alguma coisa, eles se viram sozinhos. Constatamos que os que possuem formação acadêmica ligada à educação ou à psicologia justificaram seus critérios, segundo seus conhecimentos e convicções pedagógicas. Aqueles que não possuem este tipo de formação se preocupam mais com a administração do ambiente, tanto no que diz respeito ao espaço físico como as atividades que estão sendo realizadas, segundo o olhar cuidadoso, protetor, de conforto material. Mas afirmam que conhecer o papel da pedagogia e trabalhar em equipe é fundamental para a administração geral da instituição. 5.4 FOTO REPRESENTATIVA – Ser Criança Já dissemos que uma imagem não é neutra e, no caso específico desta pesquisa, o discurso sobre as imagens fotográficas nos levou ao sentido atribuído à criança, pelos gestores do grupo social ASBREI, a partir de suas vivências pessoais e de suas experiências concretas que se confrontam e se complementam (MADEIRA, 2002). Para a escolha de uma foto que mais representava ser criança, 37,04% dos gestores alegaram ser difícil escolher uma; que as fotos eram complementares; que tinham o mesmo sentido ou que tudo não deixava de ser criança. Essa dificuldade é expressa da seguinte forma: [...] porque está muito difícil escolher uma. Talvez essa aqui na disputa de um brinquedo, talvez (Foto 10). Não estou afirmando [...] Uma brincadeira aqui, tem brinquedo, [...] dentro das atividades formais, então tudo é ser criança, não deixa de ser (24. L. F. 63. 3. 26). 86 [...] ah, eu tenho dificuldade disso, eu tenho muita dificuldade porque eu acho que isso é, isso faz parte da criança, mas eu tenho que escolher, vai ser difícil escolher entre movimento (Foto 15) e curiosidade (Foto 11), (03. A. F. 52. 7.18). [...] Foto 11 – porque eles estão absolutamente absortos nessa atividade, que ao mesmo tempo é lúdica e investigativa [...], a Foto 9, está mostrando o lado de ser criança, [...]bem lúdico, bem do brincar [...]. Então são essas duas e essa daqui é muito boa. Ambas são boas (05. C. F. 60. 2. 26). [...] essas duas aqui... é que elas têm mais movimento, foi por isso que eu selecionei essas duas a 9 e a 15 (09. E. F. 50. 1. 29). Eles são assim sedentos em novidades, em aprendizado, essas duas aqui (Fotos 4 e 9) se completariam de uma certa forma (13. H. F. 52. 4. 26). Eu não posso separar criança [...] então uma dessas duas aqui (fotos 1 e 11) estão absolutamente tranqüilas, as duas estão absolutamente integradas no que elas estão fazendo (18. G. F. 63. 5. 38). Em virtude da escolha de mais de uma foto não ter sido previsto na pesquisa, ao apurarmos as fotos que mais representavam ser criança, optamos por atribuir, quando a escolha foram duas fotos, o valor de 0,5 para cada foto. Esta decisão foi tomada por julgarmos que as fotos escolhidas tinham o mesmo grau de importância para o sujeito. Observa-se que dos 27 sujeitos, 10, ou seja, 37,04 % tiveram dificuldade para escolher apenas uma foto como representativa de ‘ser criança’. As fotos de nº 9, 11 e 15, são as que mais se destacam nesta seleção, sendo citadas, juntamente com outras, por 4 vezes. A seguir vem a foto nº 10, com 2 citações e as demais fotos de nº 1, 2, 3, 4, 5 e 6 que foram citadas, cada uma delas, apenas uma vez. Esses resultados podem ser vistos na tabela a seguir. 87 APURAÇÃO DAS FOTOS Código 1 2 3 4 5 6 Sujeito 1 2 3 x 4 5 6 7 8 9 10 ö ö 11 12 ö 13 14 x 15 x 16 17 ö 18 x 19 20 21 22 ö ö 23 24 25 x 26 27 Total 0,5 4,5 0,5 0,5 1,5 0,5 27 % 1,85 16,67 1,85 1,85 5,56 1,85 100 7 8 9 10 12 13 14 ö 15 16 x x ö ö ö x x x ö ö x ö ö ö x ö ö ö x x ö ö x x 0 0 0 0 5 3 3 18,52 11,11 11,11 Tabela nº 2 – Resultado da apuração Legenda: X = 1,0 11 somente para uma foto escolhida ö = 0,5 para cada uma das fotos escolhidas 0 0 0 x 8 0 0 0 29,63 0 0 88 De posse dos dados apurados, destacamos a posição ocupada por cada uma das 16 fotos selecionadas. POSIÇÃO OCUPADA PELAS FOTOS Posição Nº da Imagem Frequência % Foto 1ª 15 8 29,63 2ª 9 5 18,52 3ª 2 4,5 16,67 10 3 11,11 11 3 11,11 5 1,5 5,56 4ª 5ª 89 1 0,5 1,85 3 0,5 1,85 4 0,5 1,85 6 0,5 1,85 7 0 0 8 0 0 12 0 0 6ª 7ª 90 7ª Totais 13 0 0 14 0 0 16 0 0 16 27 100 Tabela 3 – Resultado da escolha das fotos Ao analisarmos as Tabelas nº 2 e nº 3, concluímos que a foto nº 15 é a mais representativa do ser criança. No discurso de cada um dos gestores encontramos para a imagem do menino encima de um banco de cimento, pronto para pular, os seguintes significados: liberdade; desafio; conquistas; ousadias; não ter medo; não medir as consequências; curiosidade; é seguir em frente; é se lançar; é buscar experiências e se alimentar delas; é minimizar todos os obstáculos; é um estado de liberdade apesar do cerceamento da escola e da família; liberdade sem compromisso; é não precisar de outra criança para brincar; é se virar sozinha. Também, já foi dito, que as representações de criança variaram ao longo da história e em função do meio social. Esse olhar, expresso pela foto nº 15, não pode ser generalizado para outros grupos de gestores de Educação Infantil, uma vez que se refere às representações de criança pelos gestores do grupo social pesquisado (ASBREI), em função de suas crenças, valores e atitudes para com a criança. As representações ao longo da história tomavam a criança como “culpada pelo pecado original” e “endemoniadas” (RIZZO, 2000), “anjos”, (ARIÈS, 1981), “adulto em miniatura” (CHOMBART DE LAUWE; FEUERHAHN, 2001). As que 91 começaram a freqüentar creche, com raríssimas exceções, eram tidas como “coitadinhas”, por terem sido abandonadas pela mãe que precisava trabalhar. A luta da ASBREI pelo reconhecimento da creche como um espaço saudável de desenvolvimento da criança nos primeiros anos de vida, onde o cuidar e o educar são partes de um mesmo processo, pode ser observada nos resultados desta pesquisa. Por este motivo, a escolha da imagem da foto nº 15, como representativa do ser criança é coerente com os discursos constituídos pelo grupo nesses 27 anos de existência da associação. Tida como expressão de liberdade, de conquista, do enfrentar desafios, de não ter medo é o desejável como mostrou, por exemplo, Chombart de Lauwe e Feuerhahn (2001, p. 289), em que “a criança representa um ‘mundo outro’, investida de valores positivos ‘o mundo ideal’, fruto da projeção dos desejos de uma sociedade” que graças à evolução do conhecimento resultou um novo olhar sobre a criança, sujeito autônomo. Mas que, infelizmente, "não garante a compreensão das reais necessidades da criança, uma vez que ela sempre será educada em função do adulto que se quer formar numa sociedade" (idem, 2001, p. 289). A metáfora que condensa esta imagem é “salto para a liberdade”, em que a objetivação é a imagem do salto e a ancoragem é a liberdade, dada pela autonomia que se deseja para a criança atual, diferentemente da criança má, presa ao pecado original, como descrito por Chombart de Lauwe e Feuerhahn (2001). Ocupando a segunda posição com 18,52% temos a foto nº 9, imagem de várias crianças brincando de diferentes maneiras num pátio arborizado, significa: brincar; se movimentar com o próprio corpo; liberdade; alegria; curiosidade; interagir; brincar com um grupo de amigos num quintal com árvore e sombra; brincar livremente sem compromisso. Na terceira encontramos a foto nº 2 com 16,67% onde temos várias crianças subindo escadas, umas apoiando-se no corrimão, outra no próprio degrau. Para esse grupo essa imagem significa: descobrir coisas novas; estar no mundo imaginário com seus amigos; ir direto ao desafio sem medo; experimentar a curiosidade. A quarta posição é ocupada pelas fotos nº 10 e nº 11 com 11,11% cada uma. Na foto de nº 10 encontramos uma menina e um menino supostamente em conflito. Os entrevistados fizeram a seguinte leitura: oportunidade de construção de vínculos que se aprendem na escola; aprender a emprestar, a ter paciência; a disputar um 92 brinquedo. Outros consideraram uma imagem inadequada, pois é uma atitude que deveria ser evitada. Já a foto nº 11 cuja imagem é de dois meninos brincando numa bancada significa: gostar de brincar, interagir; trocar; ser espontânea; fazer com prazer; ser livre para fazer escolhas. Na sétima e última posição, encontramos as fotos que não se mostraram representativa do ser criança, com índice de 0%. As fotos nº 7; 8; 12; 13 e 16 são imagens de se vestir, comer, folhear um livro e ir ao banheiro, provavelmente por expressarem hábitos cotidianos que serão adquiridos, salvo algum problema, no decorrer do desenvolvimento e que fazem parte do comportamento do adulto. Já a foto nº 14 que retrata crianças jogando capoeira é uma imagem que não faz parte da cultura do nosso Estado e, talvez, por este motivo não tenha sido selecionada. 5.5 ENTREVISTA CONVERSACIONAL 5.5.1 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB A maioria dos gestores afirma que a LDB teve pouca influência em suas práticas pedagógicas, para outros foi paulatina, com pequenos ajustes, pois já trabalhava com a concepção de educação, o que podemos observar nos discursos abaixo: A gente pode dizer que nada mudou em relação ao desenvolvimento na área no segmento da educação infantil. Já era praticado assim, desde antes, desde os anos setenta já se praticava essa maneira de encarar as atividades com a criança de uma forma lúdica, do cuidar de uma forma lúdica e ao mesmo tempo ensinando através do lúdico [...] (12G. M. 65. 6. 24). [...] eu não digo que nós não nos antecipamos à lei, mas para nós, não foi assim uma surpresa, porque a gente estava vendo que alguma coisa estava sendo preparada, às vezes até nós participamos de algumas discussões quando éramos convidadas [...] (08. E. F. 78. 1. 34). As leis no Brasil são frutos de demandas sociais, estudos, pesquisas, demandas e as necessidades do povo. É assim que deve ser toda lei, para disciplinar, para beneficiar, resguardar o direito do cidadão. E, já se sabia que a creche tinha um papel muito grande na formação do individuo e a LDB não deu outra, colocou a creche inserida na educação, então já sabíamos disso de ler pesquisas, estudos (10. E. M. 47. 4. 26). 93 [...] desde que a gente começou, nós tínhamos programas de atividades então a LDB não fez, não acrescentou absolutamente nada, certo, não estou fazendo “firula” não, mas não acrescentou porque a gente já trabalhava nessa linha, na linha de ter programas para cada faixa etária de você ter sistema de avaliação, ter sistema de aferição de desenvolvimento, de registro, certo e de fazer a coisa adequada, do cuidar + do educar, eu nunca fui uma cuidadora de criança, a gente sempre cuida e educa desde o principio [...] (16. I. M. 47. 4. 20). Antes da LDB, a creche subordinava-se às normas e diretrizes da Secretaria de Saúde e atendia, na sua maioria, crianças de 0 a 2 anos em berçários, denominados de Berçário I (0 a 1 ano) e Berçário II (de 1 a 2 anos) e crianças de 2 a 4 anos em turmas denominadas de Maternal I (2 a 3 anos) e Maternal II (3 a 4 anos). Como, a maioria, das creches não trabalhava com o Jardim de Infância, o profissional com formação no Curso Normal e, portanto professor era denominado recreador, na maioria das creches. Admitiam-se também para o trabalho com crianças pequenas, profissionais com 2º grau completo sem formação do curso Normal e que eram capacitados da mesma forma que o professor. Já os cuidados de higiene e alimentação cabiam aos profissionais com 1º grau ou com 2º grau incompleto, denominados auxiliares de creche. Já nesta época, a quase totalidade das creches filiadas à ASBREI trabalhava com a concepção de educação, até porque a maioria dos gestores eram professores e desta forma trabalhavam com planejamento pedagógico de atividades. Aos psicólogos cabia avaliar o desenvolvimento da criança. Contavam ainda com, médico, nutricionista e auxiliar de enfermagem. Nas denominadas creche-escola, o atendimento era feito até aos 6 anos de idade, sendo os de 4 e 5 anos no denominado Jardim de Infância e os de 6 anos, nas classes de alfabetização. Nestas instituições, a Secretaria de Educação era responsável somente pela denominada pré-escola (jardim e alfabetização) e não tinha o menor interesse pelo que acontecia nas creches, nem das estatísticas participavam. O profissional responsável pelas atividades era o professor, com piso salarial definido pelo Sindicato dos Professores do Município do RJ (Sinpro-Rio). Após a LDB, todas as creches passaram a pertencer à Secretaria de Educação. Mas a maioria dos gestores afirma que a Lei teve pouca influência em suas práticas pedagógicas. Como já trabalhavam com a concepção de educação, assinalaram que a mudança foi paulatina, com alguns ajustes, uma vez que já 94 participavam de grupos de discussão sobre e mudança e por isto já estavam em processo de adaptação. Não restam dúvidas de que a LDB fortaleceu o segmento Educação Infantil. Sua importância para este grupo foi o marco de que a batalha travada para extinguir, de vez, o estigma da criança de creche como coitadinha não foi em vão. A sensação do dever cumprido perante a sociedade e a criança é sentida no discurso de 13. H. F. 52. 4. 26, quando este fala da importância da LDB: [...] eu acho que ajudou muito, quer dizer, eu acho que na verdade, foi uma evolução,... de creche, lugar aonde se colocavam as crianças para a mãe poder trabalhar, passar o dia, seria um cuidador, não é? Então eu acho que foi uma evolução social, eu acho que muito dessa evolução, principalmente no nosso município, tem a ver com a postura das creches, da própria ASBREI,... eu acho que é uma questão mais marco e oficializou uma expectativa nossa, um querer nosso de dar uma realidade nossa, a nível macro mesmo, a nível Brasil, que é ser criança mesmo na creche. Na verdade a gente aprende desde que nasce, então colocar a creche na educação a gente ter essa visão da educação; claro que vamos ter também as prioridades na questão da higiene, na questão da segurança, na questão da afetividade isso sempre, mas tendo esse peso educacional, sem dúvida nenhuma fortaleceu esse segmento. Pelo exposto e levando-se em consideração que esse grupo teve o privilégio de vivenciar este momento histórico da educação, ou seja, a passagem oficial da creche como concepção assistencial para educacional, e aí, eu também me incluo como participante privilegiada, esse discurso é revelador e confirma que este grupo de gestores estava à frente do seu tempo em pensar e oferecer um atendimento que fosse possível “ser criança mesmo na creche” (13. H. F. 52. 4. 26). 5.5.2 Associação Brasileira de Educação Infantil - ASBREI A ASBREI, cuja missão é “promover e apoiar ações que favoreçam o estudo e o desenvolvimento da Educação Infantil” teve um papel importante de apoio à formação desses gestores. Sem saber a quem recorrer, o que fazer e como fazer um atendimento de qualidade, a união do grupo foi fundamental para abraçar sua causa principal – a educação da criança de 0 até 6 anos de idade, e que pode ser observado nos discursos abaixo. 95 A grande maioria dos entrevistados reconhece a importância da ASBREI como instituição que promove e apóia: ações pedagógicas com palestras, cursos e congressos; ações políticas junto às Secretarias de Saúde (antes da LDB) e de Educação com grupos de estudo para discussão de leis; ações tributárias, junto à Secretaria de Fazenda no que diz respeito à arrecadação de impostos (inclusão das creches na Lei do imposto único denominado Simples). Precisava ter um lugar como referência, um lugar que existisse uma conduta, uma organização, um pensamento, uma ética entre os parceiros,... as pessoas traziam experiências para gente era importante participar dos cursos,... das assembléias mensais [...] (02. A. F. 43. 3. 18). A ASBREI é o fórum ideal para que a gente possa discutir as questões que nos intrigam; as questões que nos fazem muitas vezes esmorecer; as questões que são importantes de serem vistas, e isso foi a razão pela qual eu me aproximei da ASBREI, na época [...] (05. C. F. 60. 2. 26). A luta pela colocação da criança em lugar de destaque não foi em vão. Hoje com 27 anos de existência, a garra já não é mais a mesma, mas a luta em prol da criança e do gestor de Educação Infantil continua. Hoje, eu acho que está acanhada, que não é culpa dela, nós temos esse problema...enquanto está tudo bem ninguém aparece, mas na hora da crise vem todo mundo querendo dar solução [...] Ela é uma entidade basicamente patronal, então ela precisa suscitar nos seus associados, o desejo de estar presente, de discutir questões relevantes, e a questão financeira é uma questão relevante. Estar sendo engolido pelos grandes é uma questão relevante. [...]Eu acho que ela precisa retomar esse seu rumo de ser o local que nós possamos recorrer, discutir, analisar e avaliar a melhor forma de nós sermos bons gestores (05. C. F. 60. 2. 26). A pertença de um grupo é dada pelo reconhecimento de seus membros. Eu tenho orgulho de colocar na frente do nosso quadro, você deve ter visto, que somos associados, recomendamos as creches, escolas da ASBREI. porque a gente considera que uma pessoa associada ela está sempre em busca de atualização (13. H. F. 52. 4. 26). O apoio oferecido pela ASBREI não é suficiente. São muitas demandas e o gestor tem que estar em constante processo de formação continuada, mesmo aqueles cuja formação não é pedagógica. 96 A maioria das instituições administradas somente por profissionais oriundos da área pedagógica e psicológica aponta mais dificuldades para lidar com questões financeiras, tributárias e de marketing, por exemplo. O importante no trabalho é a conjugação dos interesses administrativos com os interesses pedagógicos. Em algumas instituições, as tarefas são realizadas por um único gestor, independente da formação; em outras são realizadas por gestores com formação específica. Após análise dos dados e discussão dos resultados encontrados, finalizaremos este estudo, apresentando a última etapa onde teceremos nossas considerações, na certeza de que seus resultados estimulem novas pesquisas não apenas com gestores de Educação Infantil, mas também com os de outros segmentos da educação brasileira. 97 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo objetivou investigar as representações sociais de criança construídas por gestores de instituições privadas de Educação Infantil no Município do Rio de Janeiro, a partir da utilização de fotografias como instrumento metodológico para a apreensão das mesmas. O empenho deste grupo de gestores em oferecer um trabalho de qualidade, levou à formação da associação. A luta da ASBREI pelo reconhecimento da creche como um espaço saudável de desenvolvimento da criança, sinaliza que este grupo estava à frente do seu tempo em pensar que era possível ser criança mesmo freqüentando creche. Além de apoiar ações legislativas, a ASBREI apoiou também ações de caráter complementar aos diferentes tipos de formação. Para o grupo, é importante conjugar os planejamentos administrativos aos pedagógicos e vice-versa. Quanto ao trabalho desenvolvido nas instituições, a pesquisa evidencia o enfoque de natureza educacional; os gestores relatam que sofreram pouca ou nenhuma influência da LDB, pois já trabalhavam com a concepção de educação, planejando as atividades em função do desenvolvimento das crianças. Apesar de haver uma relação de identificação entre os critérios apontados pelos gestores, quando do agrupamento das fotos e as categorias descritas no Referencial, notamos certa dificuldade para definir ‘autonomia’ e poucos foram os que verbalmente expressaram sua existência em todas as fotos. Para alguns, as fotos de autonomia são as mesmas que designam independência ou formação de hábitos de vida diária, como comer sozinho, se vestir, dentre outras. Observa-se, nitidamente, distinção entre autonomia e atividades pedagógicas ou atividades dirigidas como se as mesmas não levassem à autonomia da criança. O conhecimento não vem de fora para dentro, ele é o resultado das experiências e descobertas, fruto das interações com adultos e crianças. O progresso na independência, no entanto, não é garantia de autonomia, mas é condição necessária ao desenvolvimento infantil. Portanto, apesar das crianças desenvolverem suas capacidades de forma heterogênea, cabe ao gestor das instituições de Educação Infantil a responsabilidade de oferecer condições 98 favoráveis ao desenvolvimento integral de todas as crianças, a partir de atividades que tenham como objetivo criar situações que levem à autonomia. Foi possível identificar o impacto que as imagens provocaram, quando da escolha das fotografias; as diferentes interpretações para uma mesma imagem e a dificuldade encontrada por alguns, para escolher uma única foto representativa de ser criança. O que nos faz acreditar que o uso de fotografia pode vir a ser mais um recurso metodológico no campo das representações sociais. Os resultados apontaram que a representação de criança para esse grupo está expressa pela imagem da foto nº 15, significando liberdade, conquista, enfrentar desafios, não ter medo. A metáfora que condensa esta imagem é ‘salto para a liberdade’, em que a objetivação é a imagem do salto e a ancoragem é a liberdade dada pela autonomia. Pode-se afirmar que esta imagem é o desejável como mostrou, por exemplo, Chombart de Lauwe e Feuerhahn (apud: JODELET, 2001, p. 289), em que a criança representa um “mundo outro”, o “‘mundo ideal”, diferentemente da imagem de “coitadinha” por freqüentar a creche nas décadas de 70/80. A pesquisa permitiu identificar, inequivocamente, a importância do olhar do gestor em relação a ser criança. Um olhar sensível, estudioso e compromissado que se reflete nas práticas pedagógicas cotidianas das instituições. Finalizando, para os gestores da ASBREI, 99 100 REFERÊNCIAS ABRIC, J. C. Méthodologie de recueil dês représentations sociales. In: ABRIC, J. C. (Ed.) Pratiques sociales et représentations. Paris: Presses Universitaires de France, 1994. ACHUTTI, L. E. R.; Fotoetnografia, um estudo de Antropologia Visual sobre cotidiano, lixo e trabalho. Tomo Editorial. Porto Alegre. Palmarinca.1997. ______ In: RECUERO, C. L.; Caleidoscópio Insular da Ilha dos Marinheiros na Lagoa dos Patos. Uma abordagem pelo Método de Bateson e Mead, na produção de flores para finados, pelos ilhéus. Disponível em: http://projetoilhadosmarinheiros.blogspot.com/2007/11/ caleidoscópio-insular.html Acessado em: 02.03.2008. ALVES-MAZZOTTI, A. J.; A abordagem estrutural das representações sociais. In: Revista Psicologia da Educação, São Paulo, 14/15, 1º e 2º sem. 2002. ALVES, N.; Cotidianos e imagens. (1º artigo do subgrupo "Redes de conhecimentos em educação e comunicação: questão de cidadania"). 2005. 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Identificação da instituição Nome do(s) diretor(es): ................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................. Data de inauguração: ...... / ..... /19..... É ou foi sócio da ASBREI? ( Imóvel próprio: ) sim ( ( ) sim ( ) não ) não Em que período? De............ a ............. Horário de funcionamento: ...............................Faixa etária atendida: .................................. Funciona durante o ano todo: ( ) sim ( ) não Colônia de Férias: ( ( ) não ( ) janeiro 1.2 ) sim ) julho O que você costuma fazer para se manter informado sobre Gestão de Educação Infantil? ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) leitura diária de jornal ) leitura de revista especializada em gestão ) leitura de livros sobre gestão ) leitura de revista especializada em Ed. Infantil ) participação de palestras ou cursos ) grupo de estudo ) participação de congressos de Ed. Inf. ) viagens de estudo ) participação de congressos de gestão ) leitura de livros ou artigos pedagógicos ) .................................. 2. Recursos Humanos 2.1 Nível de Escolaridade dos Profissionais x Salários 112 Profissionais Docentes Aux. de turma Aux. Ed. Infantil Cozinheira Aux. Administração Aux.Enfermagem Coord. Pedagógico Coord. Administrativo Nutricionista Psicólogo Médico Recreador de Música Aux.Serv. Gerais Porteiro/Vigia Total Quantida de CLT Autô nomo Tercei rizado Grau de Escolaridade Nº horas semanais 113 2.2 ( Como a instituição capacita seus profissionais? ) reuniões pedagógicas periódicas ( ) cursos ( ) palestras ( 2.3 ) congressos ( ) outros ..... A capacitação dos profissionais é ( ) obrigatória para todos sem exceção, de acordo com o planejamento anual ( ) obrigatória apenas para os docentes ( ) obrigatória apenas para a equipe técnica 2.4 Que tipo de incentivo é dado ao funcionário que se destaca em determinada atividade? ( ) pagamento integral ou parcial de inscrição ou de outras despesas para participar de cursos, palestras, congressos ( ) incentivo para se profissionalizar ( ) promoção salarial ( ) não há nenhum programa de incentivo 2.5 ( ) outros...... Que tipo de atenção recebe o funcionário que está passando por um problema pessoal? ( ) há sempre alguém para ouvi-lo ( ) tenta-se ajudá-lo na medida do possível ( ) a instituição não se envolve com problemas pessoais 2.6 De que forma a instituição favorece a existência de um clima de amizade e respeito entre os profissionais? ( ) publicamente lembrando o seu aniversário ( ) reuniões administrativas periódicas ( ) dando importância ao papel de cada membro da equipe ( ) eventos de confraternização ( ) outras formas. 2.7 Quais? .......................................................... De que forma os profissionais são convocados para discutir os problemas da instituição? ( ) em reuniões administrativas planejadas ( ) entrevistas individuais 114 ( ) em reuniões administrativas de urgência ( ) outros procedimentos. Quais?................................ 2.8 Os profissionais estão cientes da importância do seu papel no desenvolvimento da criança nesta faixa etária? ( ) sim e é trabalhado periodicamente nas reuniões pedagógicos ( ) não costumamos trabalhar este fato 2.9 Os funcionários são avaliados periodicamente e tomam conhecimento do resultado da avaliação? ( ) sim ( ) não ( ) não costumamos avaliar seu desempenho 3. Desenvolvimento do Trabalho Pedagógico 3.1 Quais os profissionais envolvidos na construção do PPP? ( ) diretores ( ) auxiliares de educação infantil ou auxiliares de creche 3.2 ( ( ) equipe técnica ( ) docentes ( ) funcionários administrativos ( ) demais funcionários Qual a periodicidade de atualização do PPP? ) nunca foi atualizado ( ) anualmente ( ) de dois em dois anos ( ) sempre que necessário 3.3 De que forma a instituição promove a autonomia das crianças? ( ) quando do planejamento das atividades pelos docentes ( ) nas atividades diárias desenvolvidas pelas auxiliares de creche ( ) as atividades não são planejadas 3.4 Como é realizado o planejamento das atividades pedagógicas? ( ) em reunião com toda a equipe pedagógica ( ) cada profissional faz o seu e este é avaliado pela coordenadora pedagógica ( ) ............................... 3.5 De que forma são planejadas as atividades externas (excursões e outras)? ( ) quando do planejamento pedagógico ( ) sempre que há oportunidade ( ) não costumamos sair com as crianças 115 3.6 De que forma a instituição divulga a produção das crianças? ( ) expõe no mural e depois manda para casa ( ) arquiva e depois manda para casa ( ) faz exposições para a família ( ) faz exposição para a comunidade 3.7 Como é comemorado o aniversário da criança? ( ) em conjunto, conforme o calendário ( ) individual, realizado pelos pais em sala ou para toda a instituição 3.8 ( O que faz a criança quando não dorme mais após o almoço? ) fica deitada mesmo sem dormir 3.9 ( ) sim ( ( ) depende do caso ) não há necessidade ( ) a professora ( ) a auxiliar de creche Qual o instrumento utilizado para avaliação? ) relatório ( ) não há instrumento próprio Com que freqüência é realizada as reuniões de pais? )bimestral ( 3.13 ( Quem avalia a criança? ) questionário para assinalar X ( 3.12 ( ) não ) a equipe técnica 3.11 ( ) é encaminhada para outra atividade O responsável permanece com a criança na primeira semana de inserção ? 3.10 ( ( ) trimestral ( ) semestral ( ) anual ( ) não há reuniões Com que freqüência a Secretaria Municipal de Educação (SME) costuma supervisionar a instituição? ( ) anualmente 3.14 ( ) semestralmente ( ) ........................... De que forma são atendidas as crianças portadoras de necessidades especiais? ( ) procuramos entrar em contato com os profissionais que atendem a criança para saber como podemos integrá-la ( ) caso seja necessário contratar um profissional para deslocar a criança, o responsável paga esta despesa à parte ( ) independente do caso não há custos adicionais ( )....................... 116 3.15 De que forma a instituição encaminha uma criança, quando necessário, para outros profissionais como psicólogo, fonoaudiólogo, etc. ? ( ) simplesmente sugere em reunião ( ) faz constar a necessidade no relatório e posteriormente mantém contato com o profissional ( ) outras formas ..................... 3.16 ( Os pais sempre têm acesso ao PPP? Como? ) sim ( ) não 3.17 O pais participam da construção do PPP? ( ) sim ( 3.18 A instituição possui Comissão de Pais? ( 3.19 Que atividades são realizadas com as famílias: ) sim ( ) não ) não ( ) reuniões periódicas ( ) festas de confraternização ( ) palestras sobre um tema específico ( ) campanhas 3.20 ( ) outras De que forma os pais avaliam a instituição? ( ) através de avaliações periódicas ( ) através da agenda quando há um acontecimento positivo ou negativo ( ) não costumam avaliar ( ) outras formas ............................ 3.21 De que forma os pais são chamados para discutir os problemas da instituição? ( ) em reuniões com esta finalidade ( ) nas reuniões periódicas de pais ( ) outros procedimentos 3.22 De que forma é realizado o atendimento aos pais? ( ) somente através de entrevista com a direção ( ) somente através de entrevista com a orientadora pedagógica ( ) dependendo do assunto, a direção indica o profissional ( ) através do docente que atende a turma ( ) através de entrevista com o profissional solicitado por ele 117 4. Relação com a comunidade (moradores e instituições em geral que fazem parte da região). 4.1 A comunidade participa de alguma atividade da instituição? Citar. ( 4.2 ) sim ) não A instituição participa de alguma atividade da comunidade? Citar. ( 4.3 ( ) sim ( ) não A Instituição possui algum tipo de parceria? Citar. ( ) sim ( ) não Preenchido por: ...................................................................................................................... Função: ...................................................................... Rio, / / 09. 118 APÊNDICE C PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DO GESTOR Código de identificação: Nome da Instituição: Dados pessoais: Nome: __________________________________________ Idade: ________ Formação: Nível Instituição Área Ano 1. 2º Grau 2. Graduação 3. Pós –Graduação (especialização) 4. Mestrado 5. Doutorado Experiência profissional em Educação (3 últimas experiências): Instituição Função Período 119 Experiência profissional em Educação Infantil (3 últimas experiências): Instituição Função Período Cursos complementares: Cursos Carga Horária Instituição Área Que aspectos da sua experiência ou da sua formação foram mais relevantes para desempenhar a função de Diretor de Educação Infantil? Justifique. 120 AUTO-AVALIAÇÃO 1. Como você avalia a Instituição que você dirige? O que você mais gosta de fazer? O que você menos gosta de fazer? O que está faltando? 2. Como você acha que os funcionários avaliam o trabalho desenvolvido com as crianças? 3. Como você acha que os pais avaliam o trabalho desenvolvido com as crianças? 4. Você acha que as crianças gostam de vir para cá? Como você percebe isto? Rio, / / 09. 121 APÊNDICE D SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA OS CENÁRIOS DAS FOTOS Nº Criança sozinha 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 Subindo ou descendo escadas Utilizando o garfo/colher Tomando banho sozinha Escovando os dentes Colocando sua comida Colocando os sapatos Menino fazendo xixi Bebê andando ou engatinhando Utilizando a tesoura Escrevendo o nome No pátio pedalando o velocípede Brincando na Casa de Bonecas Cantando com microfone Contando história para outra criança Desenhando/rabiscando Virando cambalhota Descascando uma banana Cuidando das plantas (horta/jardim) Escorregando Ajudando a preparar o bolo Pegando sua mochila Vestindo-se Abraçando/beijando o amigo Lavando as mãos Guardando os brinquedos Pegando um brinquedo no alto Andando entre obstáculos Guardando a roupa na mochila Disputando brinquedo Jogando em grupo Colocando água para beber Classificando tampinhas Pintando Dramatizando Encaixando blocos Dançando Nadando Brincando na areia Brincadeiras de roda, bambolê e etc. Colagem Dependendo da ajuda de um adulto ou de outra criança para ... Subir ou descer escadas Calçar sapatos/meias com ajuda Andar apoiando na barra Cortar papel com as mãos Copiar o nome do modelo No velocípede, andar c/ pés no chão Cantar no microfone Tentar virar cambalhota Descascar uma banana Escorregar com ajuda Tentando pegar a mochila Vestindo-se com ajuda Adulto entregando o brinquedo Tentando passar por obstáculos Tentando guardar na mochila 122 APÊNDICE E TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA USO DE IMAGEM FOTOGRÁFICA Título do Projeto: Representação Social de Criança: O Olhar do Gestor de Educação Infantil. Pesquisador Responsável: Maria da Penha de Souza Salgueiro Instituição: Universidade Estácio de Sá Telefones para contato: (21) 2570-8868 ou (21) 9857-4507 Nome da criança: _________________________________________Idade:______ Responsável legal : ___________________________________________________ RG.: ________________CPF: __________________ Tel: ____________________, Eu, __________________________________________________________, responsável pelo menor acima referido, declaro ter pleno conhecimento do que se segue: 1. Que o objetivo da pesquisa é: Estudo de representação social sobre criança. 2. Que as fotografias, em atividades no interior de instituição de Educação Infantil, serão utilizadas nesta pesquisa científica/educacional. 3. Que as fotografias não terão benefícios comerciais, atendendo apenas ao objetivo da pesquisa e desta forma, autorizo sua utilização em aulas, eventos científicos (seminários, congressos, etc.) palestras, ilustração de livros e artigos. 4. Que receberei resposta ou esclarecimento diante de qualquer dúvida acerca de assuntos relacionados com o objeto da pesquisa. 5. Que obterei informações atualizadas durante o estudo, ainda que isto possa vir a interferir na participação do menor no mesmo. 6. Que tenho a liberdade de retirar o meu consentimento a qualquer momento. 7. Que a pesquisa manterá o caráter oficial das informações a que se propõe, preservando o anonimato do menor. 8. E que, em caso de dúvidas, poderei esclarecê-las através de contato telefônico com a pesquisadora pelos telefones 9857-4507 ou 2570-8868. Rio de Janeiro, Assinatura do Responsável CPF: novembro de 2008. Assinatura da Pesquisadora CPF: 228.861.847-72 123 APÊNDICE F Rio de Janeiro, de 2009. Prezado (a) Diretor (a) Agradeço antecipadamente sua participação na pesquisa Representação Social de Criança: O Olhar do Gestor de Educação Infantil. Comprometo-me, neste ato, proteger sigilosamente seus dados pessoais e institucionais tanto por ética como também pelo respeito que eu tenho por você. Em termos de pesquisa, é a primeira vez que, na área de Educação Infantil, os gestores serão os atores principais. Pela minha trajetória profissional, a entrevista pessoal, uma das etapas do estudo, terá que ser realizada pela profª Sílvia Celusso, membro do grupo de pesquisa do qual faço parte. Esclareço que no dia da entrevista, estarei presente ao local para apresentá-la e, se possível, realizar outra etapa que é uma visita a sua instituição. Na certeza de contar com as informações necessárias, seguem alguns esclarecimentos: 1ª) Perfil Sócio-Econômico* – O objetivo é caracterizar os sujeitos da pesquisa. Deve ser preenchido por todos os diretores do segmento Educação Infantil e enviados por e-mail, antes do dia da entrevista. 2º) Perfil da Instituição* – Deve ser preenchido por apenas um dos diretores e devolvido, de preferência, junto com o Perfil Sócio-Econômico. 3ª) Entrevista – Cada diretor que participar da pesquisa terá que passar por esta etapa que tem duração de 30 a 45 minutos. A entrevista deverá ser, preferencialmente, na instituição, em horário de sua preferência. Solicito seu consentimento para gravá-la. 4ª) Visita a instituição – Com o objetivo de caracterizar o funcionamento da instituição, esta deverá ser feita no mesmo dia da entrevista e guiada pelo Diretor ou por um outro membro da Equipe Pedagógica. Caso não seja possível, agendaremos um outro momento. Os resultados da pesquisa serão enviados, por e-mail às instituições participantes, tão logo seja concluída. Em caso de dúvidas ou esclarecimentos, favor entrar em contato pelos telefones 9857-4507 ou 2570-8868 ou pelo e-mail: [email protected]. Atenciosamente. Maria da Penha Salgueiro * Seguem em anexo. 124 APÊNDICE G ENTREVISTA COM GESTORES - IMAGENS Código Nº de Grupos Fotos Selecionadas 1 2 3 4 JUSTIFICATIVAS GRUPO 1 GRUPO 2 Critérios de Formação dos Grupos 125 GRUPO 3 GRUPO 4 Qual a foto que melhor representa o que é SER CRIANÇA? _______________ OBSERVAÇÕES: Rio, / 03 / 2009. 126