A ciência descobre Deus Qual é o propósito da oração? Seis mitos
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A ciência descobre Deus Qual é o propósito da oração? Seis mitos
E s p a n h o l • F r a n c ê s • I n g l ê s A ciência descobre Deus Qual é o propósito da oração? Seis mitos do casamento Alegria: o segredo de viver contente Casando-se com um não-cristão? Os sombrios segredos do álcool 2 Vo l u m e 1 7 • P o r t u g u ê s REPRESENTANTES REGIONAIS Divisão África ocidental 22 Boite Postale 1764, Abidjan 22, Costa do Marfim Japheth L. Agboka [email protected] Divisão Ásia-pacÍfico norte Koyang IIsan, P.O. Box 43, 783 Janghang-Dong, Ilsan-Gu, Koyang City, Kyonggi-do 411-600, República da Coréia Dong Hee Shin [email protected] Divisão Ásia-pacÍfico Sul P.O. Box 040, Silang, Cavite, 4118 Filipinas Gladden Flores [email protected] Divisão centro-L’este africana P.O. Box 14756, Nairobi, Quênia Hudson E. Kibuuka [email protected] Divisão do Sul do Pacífico Locked Bag 2014, Wahroonga, N.S.W. 2076, Austrália Gilbert Cangy [email protected] Barry Hill [email protected] Divisão Euro-Africana P.O. Box 219, 3000 Bern 32, Suíça Roberto Badenas [email protected] Divisão Euro-Asiática Krasnoyarskaya Street 3, Golianovo, 107589 Moscou, Federação Russa Heriberto Muller [email protected] Divisão Interamericana P.O. Box 140760, Miami, FL 33114-0760, EUA Carlos Archbold [email protected] Bernardo Rodríguez [email protected] Divisão Norte-Americana 12501 Old Columbia Pike, Silver Spring, MD 20904-6600, EUA Martin Feldbush [email protected] Gerald Kowalski [email protected] Divisão Sul-africana e oceano Índico H.G. 100, Highlands, Harare, Zimbábue Tommy Nkungula [email protected] Divisão Sul-Americana Caixa Postal 02-2600, 70279-970 Brasília, DF, Brasil Carlos Mesa [email protected] Erton Carlos Köhler [email protected] Divisão Sul-Asiática P.O. Box 2, HCF Hosur, Tamil Nadu 635110, Índia Gordon Christo [email protected] Divisão Trans-Européia 119 St. Peter’s Street, St. Albans, Herts., AL1 3EY Inglaterra Orville Woolford CONTEÚDO 5 8 10 13 A ciência descobre Deus A precisão encontrada em todo o Universo e a complexidade evidenciada em todos os seres vivos indicam a necessidade de um Deus Criador. Ariel A. Roth Qual é o propósito da oração? A oração não muda o caráter ou o coração de Deus, mas dá a Ele novas oportunidades de operar Suas maravilhas. Dan Smith Seis mitos do casamento A maior felicidade no casamento não é encontrada em sua euforia inicial, mas na satisfação de longo prazo obtida na parceria fiel de muitos anos. Calvin Thomsen Alegria: o segredo de viver contente É tanto nosso dever como privilégio viver com alegria e caminhar na luz, disseminando-as pelo mundo ao redor. DEPARTAMENTOS 3 4 16 18 20 20 21 22 [email protected] 24 artigos EDITORIAL Primeiro seguidores C. Garland Dulan Cartas PerFIS Dora Bognandi Roberto Vacca Neville Clouten Delyse Steyn Em ação Estudantes universitários se reúnem no Equador Erton Kohler Rede Adventista da Filadélfia Lakisha Hull Estudantes adventistas ativos nas Filipinas Redentor A. Feliciano Logos Ele soprou em suas narinas: O divino beijo da vida Larry L. Lichtenwalter Ponto de vista Ellen White e seus críticos Leonard Brand 27 28 30 30 31 33 34 fórum aberto Casando-se com um não-cristão? Nancy Van Pelt Para sua Informação Os sombrios segredos do álcool John F. Ashton LivroS A Trinidade: como entender os mistérios da pessoa de Deus na Bíblia e na história do cristianismo (Woodrow Whidden, Jerry Moon, e John W. Reeve) Aecio E. Cairus Prophets Are Human (Graeme Bradford) Juan Carlos Viera The Battle for the Bible (David Marshall) Kwabena Donkor Intercâmbio Primeira pessoa A voz que Ele me deu Charles Ngandwe, conforme contado a Anita Marshall Inserção Portfolio de Neville Clouten DIÁLOGO 17•2 2005 EDITORIAL Primeiro seguidores O ministério de Jesus na Terra começou com o chamado de um grupo de seguidores a quem Ele confiaria Sua obra após Sua ascensão. A tarefa de selecionar seguidores era desafiante, principalmente porque Ele tinha poucos anos para prepará-los para o trabalho de levar as boas-novas de salvação ao mundo. A maioria daqueles a quem Jesus chamou eram, a princípio, como madeira bruta que, sem o polimento da companhia de Jesus, machucariam ou deixariam farpas em outros quando estivessem em Seu serviço. Mas, independente da condição daqueles que Cristo chamou, aprender a seguir era o primeiro requisito para tornarem-se líderes. Jesus despendeu um tempo considerável permitindo que Seus discípulos observassem Seu modo de agir antes de lhes designar funções de liderança. Ao falar ou confrontar os escribas, fariseus, membros de grupos étnicos e pessoas de outras religiões e tradições, Jesus usou várias abordagens com a finalidade de prover uma ampla perspectiva do significado da liderança verdadeira e eficaz. Os discípulos freqüentemente interpretavam mal os propósitos e o estilo da liderança de Cristo. Porém, através das numerosas experiências a que foram expostos por Jesus, eles suavemente foram transformados do estado de madeira bruta para uma condição em que poderiam ser usados em cargos de liderança. Quando os estudantes estão adquirindo sua educação, é surpreendente, muitas vezes, a maturação que resulta do processo de observar professores, colegas, administradores e outros em posição de liderança. Através desse processo, uma transformação começa a ocorrer fazendo com que, num determinado momento, o estudante altere seu papel responsivo para um desempenho mais proativo. Para que essa transformação possa acontecer, os estudantes devem começar a pensar em si mesmos nos novos papéis para os quais estão se preparando. “Socialização antecipatória” descreve o processo durante o qual a transformação mental ocorre antes da aceitação efetiva da nova função. Antecipação é uma parte importante do processo, mas normalmente não acontece por si só — ela deve ser fomentada pelos atuais líderes que estão dispostos a orientar outros. Desse modo, líderes são formados. A Igreja Adventista está em verdadeira necessidade de líderes. Muitos membros simplesmente assumem a posição confortável de seguir, mas não estão dispostos a correr os riscos envolvidos em liderança—razões que podem ser distorcidas, obstáculos imprevisíveis e erros. As Escrituras registram exemplos de erros cometidos por líderes bem conhecidos, incluindo grandes homens de fé como Noé, Abraão, Moisés, Davi, Elias e Pedro, entre outros. O fato de esses líderes cometerem erros nos dá uma perspectiva mais equilibrada de liderança, mas não nega a importante contribuição deles para a causa de Deus. Durante a sua carreira acadêmica, os estudantes devem considerar que irão ou poderão ser chamados a liderar. Cristo preparou Seus discípulos para as responsabilidades da liderança que lhes seria confiada logo após Sua morte. Não tivessem eles aprendido aquelas lições, nunca teriam se tornado verdadeiros líderes. O risco de ser líder é um desafio cuja recompensa somente poderá ser constatada ao vermos o sucesso de um trabalho concluído. Assim como ocorreu com os discípulos de Cristo, líderes saem de cena ao se aposentarem, ao assumirem outras posições, por fatiga, debilitação ou morte. Existe, então, uma necessidade perene de se preparar para mudanças na liderança. Nenhuma organização eclesiástica pode se dar ao luxo de ignorar a grande necessidade de futuros líderes. Esta revista internacional de fé, pensamento e ação é publicada três vezes por ano em quatro edições paralelas (espanhol, francês, inglês e português) sob o patrocínio da Comissão de Apoio a Universitários e Profissionais Adventistas (CAUPA), organismo da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Volume 17, Número 2. Copyright © 2005 pela CAUPA. Todos os direitos reservados. Diálogo afirma as crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia e apóia sua missão. Os pontos de vista publicados na revista, entretanto, representam o pensamento independente dos autores. Equipe Editorial Editor-chefe Humberto M. Rasi Editor John M. Fowler Editores-Associados Martin Feldbush, Alfredo García-Marenko Gerente Editorial Julieta Rasi Secretária Editorial Esther Rodriguez Edições Internacionais Julieta Rasi Secretárias editoriais internacionais Corinne Egasse (Francês) César Luis Pagani (Português) Julieta Rasi (Espanhol) Correspondência Editorial Diálogo 12501 Old Columbia Pike Silver Spring, MD 20904-6600; EUA. Telefone 301 680-5060 Fax 301 622-9627 E-mail [email protected] ou [email protected] Comissão (CAUPA) Presidente Gerry Karst Vice-Presidentes C. Garland Dulan, Martin Feldbush, Baraka G. Muganda Secretário Humberto M. Rasi Membros John M. Fowler, Jonathan Gallagher, Alfredo García-Marenko, Clifford Goldstein, Bettina Krause, Kathleen Kuntaraf, Vernon B. Parmenter, Gerhard Pfandl, Gary B. Swanson Correspondência sobre circulação Deve ser dirigida ao Representante Regional da CAUPA na região em que reside o leitor. Os nomes e endereços destes representantes encontram-se na p. 2. Assinaturas US$13.00 por ano (três números, via aérea). Ver cupom na p. 6 para detalhes. Website http://dialogue.adventist.org Diálogo tem recebido correspondência de leitores de 117 países ao redor do mundo. Continua na próxima página. DIÁLOGO 17•2 2005 À medida que você avança em sua preparação profissional, pense nas necessidades de sua igreja e em como você poderia ajudar, não somente nas necessidades de liderança hoje, mas, também, nas que poderão ocorrer no futuro, e prepare-se para ser um líder cristão. Deus necessita de líderes que, ao se prepararem, compreendam antes de tudo o que significa seguir. Então, quando a oportunidade se apresentar, eles estarão prontos para aceitar o desafio de liderar. Se assim fizerem, haverá não somente benefícios à igreja como organização, mas será de grande ganho pessoal. C. Garland Dulan Vice-presidente, Comitê da AMiCUS CARTAS A revista é uma bênção Estou bastante impressionada pelo conteúdo da Diálogo. Cada edição focaliza temas importantes para os estudantes adventistas e jovens profissionais. Ela é realmente uma bênção, pois não apenas fortalece nossas crenças, mas amplia nosso conhecimento e nos conecta com nossos companheiros de fé ao redor do mundo. Muito obrigada! Viviana Camargo Cartagena, COLÔMBIA [email protected] Artigos anteriores ainda são interessantes Gostaria de saber como posso ter acesso a artigos e entrevistas publicados em edições anteriores da Diálogo. Creio que mantém sua atualidade e ainda são interessantes. Carlos Olivares Talca, CHILE [email protected] Os editores respondem: Obrigado pelo interesse na revista. Temos boas notícias para você. Acesse a internet e entre no site da Diálogo: http://dialogue. adventist.org. Lá você encontrará uma seleção dos melhores artigos publicados desde 1994, classificados por autor, língua, edição e departamento. Bom proveito! Diálogo em alemão? Algumas semanas atrás, li pela primeira vez um exemplar da Diálogo e gostei muito do seu conteúdo. Na minha opinião, é uma excelente revista para os estudantes adventistas. Se fosse publicada em alemão mais leitores se beneficiariam de seu conteúdo. Estou disposto a ajudar a traduzir alguns de seus artigos e torná-los acessíveis a um público maior de leitores. O que vocês acham? Jakob Wieck ALEMANHA [email protected] Os editores respondem: Ficamos felizes em saber que você gostou da Diálogo e gostaria de ver seus artigos disponíveis em alemão. Um projeto dessa natureza requer uma quantidade de tempo e esforço considerável. Sugerimos que você contacte o diretor do Departamento de Jovens de sua União e discuta com ele como sua idéia pode tornar-se realidade. Consulte, também, nosso representante regional da Divisão Euro-Africana, listado na página 2 da Diálogo. Talvez os artigos traduzidos possam ser disponibilizados em um site, eliminando, assim, o custo de impressão e despesas postais. Podemos conceder permissão para as traduções, se recebermos uma solicitação formal. Sucesso! Diálogo provê credibilidade Numa universidade pública de um dos países de fala francesa da Divisão África Ocidental, os adventistas enfrentavam dificuldades em ter sua associação de estudantes oficialmente reconhecida pela administração. Fiz uma visita ao vice-reitor para discutir a situação. Apresenteime, mostrei-lhe alguns exemplares da Diálogo nas suas edições em quatro línguas paralelas, e expliquei-lhe que a associação de estudantes adventistas fazia parte de uma rede global patrocinada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. O vice-reitor ficou bem impressionado e salientou que a revista indicava que a associação de estudantes adventistas era uma entidade séria, que merecia ser reconhecida pela universidade. Além disso, ele expressou seu desejo de receber, também, futuras edições da Diálogo, pois estava interessado em seu conteúdo. Já acrescentei o nome do vice-reitor na nossa lista de distribuição, assim como dos pró-reitores acadêmico, administrativo e de assuntos estudantis. A comissão da CAUPA mecere nossa gratidão por publicar uma revista de qualidade que fortalece a fé dos estudantes, dá credibilidade ao nosso ministério no campus, e serve como instrumento evangelístico quando nos relacionamos com líderes e professores universitários. Japheth Agboka Abidjan, COSTA DO MARFIM [email protected] Escreva-nos! Recebemos seus comentários, reações e perguntas, mas, por favor, limite suas cartas a 200 palavras. Escreva para: DIALOGUE LETTERS 12501 Old Columbia Pike Silver Spring MD 20904 EUA. FAX 301 622 9627 Email [email protected] As cartas selecionadas para publicação podem ser editadas para maior clareza ou necessidade de espaço. DIÁLOGO 17•2 2005 A ciência descobre Deus Ariel A. Roth A precisão encontrada em todo o Universo e a complexidade evidenciada em todos os seres vivos indicam a necessidade de um Deus Criador. Eminentes intelectuais do mundo ficaram chocados! Não poderia ser verdade o que estavam ouvindo! Em 9 de dezembro de 2004, a agência Associated Press divulgou a notícia de que o legendário filósofo britânico Antony Flew, que liderou a causa ateísta durante mais de meio século, havia mudado de opinião e decidido que Deus deve existir. A estonteante notícia espalhou-se rapidamente por todo o mundo. A mudança de Flew se dava exatamente no sentido oposto ao dos “etos” ora dominantes, promulgados pela maioria dos círculos científicos. A impressionante reviravolta de Flew, ocorrida cerca de um ano antes, não foi uma conversão a alguma religião tradicional. Ele passou a crer em um Deus que tinha de ser o Originador de tudo o que encontramos, e não um Deus que tenha produzido uma revelação sobrenatural de si mesmo, como a Bíblia. Não obstante, ele comenta que está aberto à possibilidade de que esse Deus poderia, ou deveria, ter-Se revelado. Flew é bastante conhecido. Escreveu quase duas dúzias de livros sobre filosofia, e tem sido considerado como o mais influente filósofo ateísta em todo o mundo. Por que razão esse tão famoso e proeminente pensador teria mudado e declarado que Deus tem de existir? A resposta é simples. Por causa dos dados científicos. A ciência que hoje rejeita Deus como explicação para a natureza, ao mesmo tempo está provendo abundantes dados em favor da Sua existência. Flew declarou numa entrevista1: “Penso que os argumentos mais impressionantes a favor da existência de Deus são os que se apóiam nas recentes descobertas cientíDIÁLOGO 17•2 2005 ficas.” De especial importância para ele é o modelo “Big Bang” da origem do Universo, e a necessária precisão das forças físicas para que a matéria possa existir. Flew também se impressionou com as descobertas no mundo biológico. A vida é muito complexa, e ele se refere especialmente ao “poder reprodutivo” dos seres vivos, para o qual os evolucionistas não conseguiram explicação. Ele comenta ainda: “Parece-me hoje que as descobertas de mais de cinqüenta anos de pesquisas sobre o DNA proporcionaram material para um novo argumento extremamente poderoso em favor do desígnio. Por “argumento em favor do desígnio” Flew entende as evidências em prol de um arquiteto, que seria Deus. Flew está desejoso de lançar por terra a dominante, mas restritiva, filosofia da ciência naturalista (mecanicista) que exclui Deus, permitindo que os dados da natureza falem por si mesmos. Esses dados apontam para a necessidade de Deus. Em suas próprias palavras, ele “teve de se dirigir para onde as evidências conduzem”. A sintonia fina do Universo Numerosas evidências indicam que o Universo tinha de ser exatamente como é, senão sua existência, e especialmente a vida que nele se encontra, não seriam possíveis. O cosmólogo Hugh Ross enumera 45 diferentes tópicos relacionados com as características físicas do Universo, que precisam estar devidamente ajustadas.2 Um exemplo conhecido é provido pelo nosso próprio Sol. Sem ele a vida na Terra não seria possível, porque a superfície do planeta se apresentaria extremamente fria. Assim, precisamos da luz solar para provimento de energia às plantas, que mantêm a vida através da cadeia alimentar. O Sol produz energia combinando hidrogênio para produzir hélio. Esse é um processo complexo de liberação de energia. É o mesmo processo que tem lugar quando uma bomba de hidrogênio explode; assim podemos imaginar nosso Sol como uma bomba de hidrogênio bem controlada. Nesse processo estão envolvidos valores precisos para as forças físicas que mantêm sob controle a fusão do hidrogênio. Contamos com a constância do Sol, e raramente a apreciamos quando, dia após dia, ele torna possível a vida. De fato, ele tem continuado a fazer exatamente o mesmo durante um tempo extremamente longo. Não há possibilidade para muita variação dentro do que já descobrimos. Por exemplo, se a Terra estivesse apenas 5% mais próxima do Sol, ou 1% mais distante, isso eliminaria toda a possibilidade de vida em nosso planeta.3 O valor exato das quatro forças básicas da física é um dos mais fortes argumentos científicos a favor da existência de Deus. Poderia suceder que somente por acaso existissem esses valores exatos, com o seu preciso campo de atuação? A existência de uma Inteligência superior parece ser necessária a fim de planejar tudo isso. As quatro forças básicas são a força nuclear forte, a força nuclear fraca, a força eletromagnética e a gravidade. A força nuclear forte, por exemplo, é extremamente poderosa, mas felizmente se manifesta somente no núcleo atômico, senão quase tudo no Universo seria compactado. Por outro lado, a gravidade é muito fraca, mas atua a distâncias bastante grandes, mantendo a conformação do nosso sistema solar e das galáxias. Experiências e cálculos indicam que uma mudança de apenas alguns pontos percentuais nas forças básicas faria com que todo o Universo entrasse em colapso. O Universo parece equilibrar-se no fio de uma navalha. A relação entre algumas dessas forças tem de ser extremamente precisa. Referindose à gravidade e à força eletromagnética, o físico Paul Davies comenta: “Os cálculos mostram que alterações na intensidade de cada uma dessas forças, de somente 1 parte em 1040, significariam catástrofe para estrelas como o nosso Sol”.4 Esse é um valor extremamente preciso. Significa que se deve ter precisão de 1 em 10 seguido de 40 zeros. A chance dessa precisão ocorrer por via do acaso é extremamente remota, mas isso é insignificante ao se combinarem as várias probabilidades existentes. Para sermos matematicamente corretos, ao combinarmos improbabilidades, devemos multiplicá-las entre si. Isso resulta em cifras extremamente improváveis para o que os cientistas estão descobrindo. Roger Penrose, matemático e físico da Universidade de Oxford, fez a conta e descobriu que a precisão necessária para o Universo era de 1 parte em 10 seguidos de 10122 zeros.5 Essa é uma probabilidade extremamente diminuta. Se tentássemos escrever esse número marcando um zero em cada átomo existente no Universo, faltariam átomos logo ao iniciarmos esse processo. Como a vida teve início? O mais desconcertante problema enfrentado pela evolução é a origem da vida. Após um século de pesquisas e proposições de vários tipos de cenários, não surgiu ainda um modelo plausível. O problema hoje é muito mais agudo do que há décadas, porque estamos descobrindo sistemas cada vez mais intrincados nos seres vivos, que são complexos e que não poderão operar a menos que todas as partes estejam juntas. Às vezes isso é chamado de complexidade irredutível,6 e representa a principal pedra de tropeço para o processo evolutivo gradual, porque não existiria nenhuma vantagem evolutiva para a sobrevivência, até que todas as partes necessárias estivessem presentes. A maioria dos sistemas biológicos é desse tipo, e assim Deus parece essencial à origem de qualquer espécie de vida. A forma mais simples de vida independente que conhecemos é a de um ínfimo micróbio denominado Micoplasma. Os vírus, que são muito mais simples, não se qualificam como a primeira forma de vida supostamente evoluída na Terra, porque não podem se reproduzir por si mesmos, mas só pela sua associação a células vivas onde são encontrados. O minúsculo Micoplasma nada tem de simples; de fato, é extremamente complexo. Seu DNA provê mais de meio milhão de bits de informação, que, mediante o código genético, ditam a fórmula de quase 500 diferentes espécies de moléculas de proteína que executam uma multidão de funções químicas específicas essenciais ao micróbio. Uma só molécula de proteína é extremamente complexa e difícil de ser elaborada com a configuração exata e necessária para a sua função adequada. Com freqüência, várias centenas de ami- Assine Diálogo Você quer ser um pensador e não meramente um refletor do pensamento de outras pessoas? A DIÁLOGO continuará a desafiá-lo a pensar criticamente, como um cristão. Fique em contato com o melhor da ação e do pensamento adventista ao redor do mundo. Entre na DIÁLOGO. Assinatura anual (3 exemplares – via aérea): US $13.00 Números atrasados: US $4.00 cada. Gostaria de assinar DIÁLOGO em o Inglês o Francês o Português o Espanhol Edições Iniciem minha assinatura com a próxima edição. Gostaria de receber estes números anteriores: Vol.______. No ______. Pagamento Estou juntando um cheque internacional ou ordem de pagamento. Meu Mastercard ou VISA é _____________________________ Data de validade: ________________________ Por favor, preencha: Nome Endereço ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ ___________________________________________________________ Remeta os dados para: DIALOGUE Subscriptions, Linda Torske 12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, MD 20904-6600; EUA. FAX 301 622 9627 E-mail [email protected] noácidos ligados uns aos outros estão presentes, e pouca variação pode ocorrer para que a proteína não deixe de funcionar adequadamente. Helbert Yockey, biólogo molecular da Universidade da Califórnia, em Berkeley, calculou o tempo que levaria para produzir um tipo específico de proteína na Terra, antes do início da vida. Ele supôs que isso poderia acontecer em qualquer local dos oceanos terrestres, e que esses mares já estivessem bem abastecidos de aminoácidos. Seus cálculos indicaram que levaria 1023 anos para ser produzida uma proteína específica. Em outras palavras, os quase 5 bilhões de anos que os geólogos comumente atribuem à idade da Terra, são 10 trilhões de vezes menores que o tempo necessário para produzir uma espécie especifica de molécula de proteína. Ora, são necessárias numerosíssimas espécies específicas de moléculas de proteína para a vida, todas no mesmo local e ao mesmo tempo. As moléculas de proteína são frágeis e por isso, decorrido o tempo esperado para o aparecimento de uma segunda molécula específica de proteína, provavelmente a primeira já se teria desintegrado muito antes, tornando assim impossível a origem espontânea da vida. As proteínas são apenas o início dos problemas para a evolução da vida por si mesma. O DNA é muito mais complexo do que as proteínas, e necessário para produzi-la; e as proteínas são necessárias para a produção do DNA! Para existir vida, ambos são necessários — o DNA e as proteínas — e qualquer deles que evoluísse primeiro não apresentaria o valor para sobrevivência que a evolução necessitaria para acontecer. São necessárias também todas as outras espécies de moléculas como lipídios e carboidratos, e muitas estruturas altamente especializadas que se encontram nas células vivas. Além do mais, é necessário o código genético. Como produzir um complexo código genético mediante mudanças evolutivas aleatórias? O código é inútil até que o DNA que o dita, e as moléculas especiais que o lêem, entendam a mesma linguagem. Após a evolução da primeira vida sobre DIÁLOGO 17•2 2005 a Terra, o organismo resultante desapareceria caso não pudesse reproduzir-se. A reprodução é uma das principais características dos organismos vivos — e é extremamente complexa. Na reprodução tem-se de duplicar todas as muitas partes necessárias da célula, sem o que o novo organismo não sobreviverá. Às vezes o processo pode ser muito sofisticado. Por exemplo, quando o DNA é copiado para uma nova célula ou organismo, podem ocorrer erros na cópia da informação. Esses erros são bastante comuns, e a vida se tornaria impossível se não houvesse um sistema de revisão e edição. Há na célula um conjunto de proteínas que conferem o novo DNA produzido, e quando detectam um erro de cópia, removem-no e o substituem por uma versão correta. A complexidade é ainda maior em organismos avançados. Órgãos como o olho humano, que apresenta complexos sistemas de acomodação, e o cérebro, com seus 100 bilhões de conexões nervosas, também têm de ser levados em conta. No decorrer de todo o processo evolutivo, muitos milhares de novas espécies de proteínas seriam necessários. Atualmente, entretanto, os bilhões de anos propostos para a evolução são um intervalo de tempo muito curto para produzir sequer uma molécula específica de proteína! Deus parece ser absolutamente essencial. Um paradoxo! Em vista dessas evidências avassaladoras da necessidade de Deus, por que a comunidade científica não divulga tudo isso? Em lugar, encontramos um número significativo de cientistas tentando ardorosamente demonstrar como a vida poderia ter surgido por si mesma. Outros cientistas alegam que toda sintonia fina do Universo é somente uma seqüência de acasos bem-sucedidos. Ainda muitos outros cientistas que crêem em Deus guardam silêncio quando vem a foco a questão da Sua existência. Essencialmente, Deus é excluído dos compêndios e revistas científicas. Como atualmente praticada, a ciência é uma combinação peculiar de pesquisa em busca da verdade sobre a natureza, e de DIÁLOGO 17•2 2005 filosofia secular excludente de Deus. Lidamos hoje com uma comunidade científica que tem esse forte compromisso materialista (mecanicista, naturalístico), que considera anticientífico incluir Deus como fator explanatório na ciência. Não é permitida a presença de Deus no cardápio das possíveis explanações científicas. Isso desmente o quadro usual da ciência, que é apresentada como pesquisa aberta da verdade, que segue os dados da natureza para onde eles possam conduzir. Esse potente secularismo existe na ciência, a despeito do fato de que 40% dos cientistas nos EUA crêem num Deus que responde a suas orações, contra 45% que não crêem, e 15% que não têm certeza.7 Parece que aquilo em que os cientistas crêem, e aquilo que publicam quando se revestem do secularismo da ciência, podem ser coisas bastante divergentes. Nos séculos passados, a ciência não era uma filosofia secular. Alguns dos maiores cientistas de todos os tempos, como Isaac Newton, incluíam Deus em suas explanações acerca da natureza. Outros eminentes cientistas que ajudaram a estabelecer os fundamentos da ciência moderna, como Kepler, Boyle, Galileu, Lineu e Pascal, todos criam em um Deus que se manifestava na natureza, e a Ele se referiram em seus escritos científicos. Eles não viam nenhum conflito entre suas descobertas e Deus, pois criam ser Ele quem estabeleceu as leis e a consistência da natureza, que tornam possível seu estudo científico. Demonstravam que Deus e boa ciência podem coexistir. Hoje a norma é que se deve tentar explicar tudo materialisticamente, sem a presença de Deus. Deve-se conservar a perspectiva de que, no decorrer dos séculos, os padrões do pensamento humano mudaram dramaticamente. As prioridades intelectuais na Antigüidade eram diferentes daquelas durante a Idade Média, como essas foram diferentes das de nossa era científica. E podemos esperar maiores mudanças no futuro. Isso levanta uma importante questão: a ciência é boa ou má? A resposta é que uma das lições mais importantes que podemos tirar desta era científica é que existem tanto a boa como a má ciência. Descobrir a intensidade das forças da física é boa ciência. Descrever o fóssil Archaeoraptor como um intermediário evolutivo entre dinossauros e aves é má ciência. Realmente, esse fóssil mostrou ser uma composição fraudulenta. A cauda de um dinossauro foi tão habilmente acrescida ao corpo de uma ave por um colecionador de fósseis, que conseguiu iludir numerosos cientistas os quais, por sua vez, estavam muito desejosos de demonstrar que as aves evoluíram dos dinossauros.8 Não desejamos esquecer o lado bom da ciência, que é tão importante, mas não queremos ser iludidos pela má ciência. Como podemos distinguir entre a boa e a má ciência? Infelizmente, não se pode acreditar sempre no que dizem os cientistas. Por exemplo, se transparece na natureza que tem que existir um Deus presente para a explicação das complexidades descobertas, alguns cientistas podem submeter-se ao “etos” secular e à pressão sociológica da comunidade científica e não relatar esse fato. Preconceitos como esse exigem que cavemos mais fundo nos questionamentos, para descobrirmos o que realmente está acontecendo. Isso pode ser trabalhoso, e muitos não disporão de tempo para assim proceder. Contudo, deve-se ser pelo menos cauteloso para aceitar pronunciamentos científicos. Tendo-se oportunidade para estudar mais profundamente certo tópico, algumas das características de uma firme conclusão científica são: (1) concordância com todos os dados disponíveis; (2) possibilidade de testar as idéias, especialmente mediante experimentos repetíveis que possam refutá-las; (3) preditibilidade de conclusões não conhecidas; (4) não ocultação da conclusão pela teoria ou por controvérsia. Muitos cientistas não compreendem como é difícil demonstrar um simples fato científico, e infelizmente muito do que se publica em ciência é somente especulação. Conclusão Em resumo: toda a precisão que estaContinua na p. 15 Qual é o propósito da oração? Dan Smith A oração não muda o caráter ou o coração de Deus, mas dá a Ele novas oportunidades de operar Suas maravilhas. Jim Thomas parecia seguro de que a oração não levava a nada. Jim estava no último ano do ensino secundário. Ele orava cada dia e isso já por dois anos. Ele orava especificamente por alguma coisa. Ele orava com grande fé, mas nada acontecia. Assim, Jim chegou à conclusão fatal: a oração simplesmente não funciona. Então ele deixou de orar. Nada que eu tentasse poderia fazê-lo orar de novo. O que você teria dito a Jim? As perguntas mais difíceis acerca de Deus normalmente são aquelas relacionadas à oração. Se Deus já sabe, por que então dizerLhe o que queremos ou precisamos? Se Ele já é bom, por que então temos de orar a fim de persuadi-Lo a fazer alguma coisa? Se, no Grande Conflito, Ele já decidiu que algum mal tem de existir, por que então temos de Lhe pedir que mude essa linha de conduta? Por que não ocorrem mais milagres e respostas às orações? Seria por que não estamos orando o bastante? Com suficiente fé? Ou não há pessoas suficientes orando? Debati-me com essas questões por anos, mas elas se tornaram ainda mais reais durante meu primeiro verão depois da faculdade. Eu era um jovem pastor em Portland, Oregon, ajudando numa série de conferências evangelísticas. As reuniões não começaram muito bem. Quase ninguém vinha assisti-las. Cada noite tínhamos de retirar algumas cadeiras para que o salão não parecesse tão vazio. Cada manhã derramávamos nossa alma em oração perante Deus, clamando para que Ele enviasse as pes soas. Então eu me cansei. É claro que Deus queria que as pessoas viessem, mesmo antes de orarmos. É claro que Ele já estava tentando fazer com que as pessoas viessem. E é claro que Ele não iria trazê-las contra a sua vontade. Qual seria, então, o propósito de nossas orações? Assim, tenho nos últimos trinta anos tentado encontrar respostas a todas as minhas perguntas, e às milhares de outras perguntas que os membros de minha igreja têm feito ao lado dos leitos dos hospitais, em velórios e após cada desastre. Aqui estão algumas das conclusões a que consegui chegar: 1. A oração serve primeiramente para solidificar nosso relacionamento com Deus. Orar não é como colocar moedas num daqueles fonógrafos automáticos para ouvir música, ou pedir a Deus, como a um “gênio” celestial, que faça alguma mágica para nós. Deus está interessado em relacionamentos (“Eu os tenho chamado amigos”, João 15:15). A oração se destina ao louvor, ao culto, à comunicação, a ouvir e “estar” com Deus. Eu desligo o som do automóvel e então oro, ou me tranco em meu banheiro apenas para estar com Deus. 2. Deus é constante. Seja qual for a nossa teologia da oração, ela não pode desfazer todas as nossas outras crenças acerca de Deus. Deus é infinita e perfeitamente bom. A oração não pode persuadi-Lo a ser melhor do que Ele já é. Ele sabe o que é melhor e o deseja para nós. Ele veio para dar vida e vida mais abundante. Ele não é como um ladrão, roubando ou tirando vidas (João 10:10). Deus é o rei que estendeu o cetro para Ester; é o pai que espera pelo filho pródigo; é Aquele que disse à mulher apanhada em adultério: “Nem Eu tampouco a condeno. Agora vá e não peque mais” (João 8:11). Seu amor, graça e perdão são constantes (Romanos 8:38-39; Malaquias 3:6; Hebreus 13:8). Uma das minhas primeiras conclusões foi que Deus não passa a agir mais rapidamente só por causa da oração. João 5:17 em diante diz que Deus, o Pai, e o Filho estão constantemente tra- balhando. Eles, de fato, nunca descansam. Ninguém pode jamais se achegar a Deus e acusá-Lo de estar retendo os recursos divinos. Deus já deu tudo o que tinha! 3. A oração serve para mudar o homem, não a Deus. Se Deus é a constante, então nós temos de ser as variáveis. Se a oração não pode tornar Deus melhor, mais sábio, mais beminformado, ou fazê-Lo trabalhar mais; e se a oração, de fato, opera e muda as coisas, então ela serve para mudar o homem. Nós somos as variáveis. Assim, a oração faz com que estejamos mais dispostos, mais conscientes e mais envolvidos. Aqueles dentre vocês que partilham da mesma tradição religiosa que eu vão facilmente reconhecer estas famosas palavras: “A oração não se destina a efetuar qualquer mudança em Deus, deve elevar-nos à harmonia com Ele”.1 “Não que seja necessário a fim de tornar conhecido a Deus o que somos; mas sim para nos habilitar a recebê-Lo. A oração não faz Deus baixar a nós, mas eleva-nos a Ele”.2 4. A oração nos sintoniza com a sabedoria e o poder de Deus. Jesus disse que Ele envia o Sol e a chuva sobre o justo assim como sobre o injusto (Mateus 5:43-48). Mas, o Sol seria sem valor se você não saísse e o desfrutasse. A graça de Deus é constante — a oração abre o nosso coração e alma a fim de podermos recebê-la. Orar pelos outros faz com que nos tornemos canais de graça e poder para eles. Ouvimos os sussurros divinos, Suas sugestões para chamar alguém, para ir e gastar tempo com outrem, ou para apoiar financeiramente um projeto missionário. Permitam-me contar-lhes a história de Doug Coe, o qual ensina as pessoas a orar. Ele disse a Bob, um recém-convertido e inexperiente crente em termos de oração, a orar por alguma coisa todos os dias durante seis meses, e se nada acontecesse ele lhe daria US$500. Bob aceitou e decidiu orar por um país. O Quênia foi escolhido. Depois de alguns meses, ele se assentou próximo a uma senhora durante um jantar, e pergunDIÁLOGO 17•2 2005 tou-lhe o que fazia. Ela dirigia um orfanato no Quênia. Naquele instante Bob percebeu que perdera os US$500! Acabou voando para lá e ajudando o orfanato; em seguida, começou a coletar suprimentos em indústrias farmacêuticas e médicas para os órfãos. Ele se encontrou com o presidente do país e outras autoridades, e exerceu um profundo impacto no Quênia. É assim que a oração funciona! 5. A oração coloca nossa vontade em harmonia com a vontade de Deus. A vontade de Deus é perfeita e nós ainda estamos em fase de crescimento. Portanto, Deus é a constante e nós as variáveis. A oração é o método pelo qual permitimos que Deus opere em nosso coração para realinhar os nossos pensamentos e escolhas de acordo com a Sua vontade. “Agrade-se do Senhor, e Ele satisfará os desejos do seu coração” (Salmo 37:4). Deus recalibra nossos desejos e então podemos orar por qualquer coisa que queiramos, sabendo que oramos por aquilo que Ele deseja nos dar (Filipenses 2:12-13). 6. Não podemos jamais usar a oração para redefinir o grande conflito entre o bem e o mal. Apocalipse 7:1-4 deixa bem claro que Deus definiu uma linha onde Ele limita o mal, mas nos últimos dias Ele começará a mover essa linha, permitindo que todo o Universo veja as conseqüências do mal. Não deveríamos usar a oração para tentar fazer com que Deus repense essa linha, como se soubéssemos melhor onde ela deveria estar. “O Senhor nosso Deus é justo em tudo o que faz” (Daniel 9:14). 7. Deus opera por meio de pessoas para responder à oração intercessória. Esse é o aspecto mais desafiador acerca da oração. Se a oração não muda a Deus, então por que orar? Seria a oração apenas uma estratégia psicológica, processo de auto-sugestão ou pensamento positivo? Não, de forma nenhuma! A oração faz uma grande diferença, e não se trata da prática de jogos mentais. A oração envolve a Deus e muda a dinâmica do Universo. Ela não persuade a Deus a ser melhor do que Ele já é. DIÁLOGO 17•2 2005 O Grande Conflito que ocorre no mundo envolve dois “exércitos” — Deus e as forças celestiais, e Satanás e seus aliados aqui em baixo. Se admitirmos que Deus é bom, constante, e que já está operando no máximo dos Seus limites no conflito, então a oração não vai, realmente, mudar esse lado do problema. Não há como. Mas ela pode mudar o lado humano e terreno do problema. Quando oramos, dispomos o nosso coração, nossos bens, nosso tempo e energias à Sua vontade. Deus tem em Suas mãos agora recursos de que nunca dispôs antes. Se os 1,5 bilhões de cristãos se envolverem, se entusiasmarem e ficarem apaixonados para estabelecer o reino de Deus “na Terra assim como ele é no Céu,” o mundo vai mudar. As forças do mal haverão de recuar. Aliamo-nos a Deus para “mover montanhas.” Ofertas generosas serão dadas, as pessoas se recusarão a aceitar o status quo; elas se lançarão às missões evangelísticas; formarão forçastarefa para energizar sua igreja; encontrarão respostas para os problemas dos pobres e necessitados na sua área. Elas lutarão por justiça social. E o mundo vai mudar. A oração muda a Deus? Sim! A oração não muda o caráter de Deus ou o Seu coração, mas dá a Ele novas oportunidades de operar Suas maravilhas. O mundo se torna um lugar melhor e as pessoas vêem os efeitos das ações divinas. Então a “pedra” de Daniel 2:44-45 começa a crescer, e o reino de Deus se torna poderoso tanto local quanto mundialmente. É isso o que a oração pode fazer. Utilizo três analogias que me têm ajudado a entender melhor a oração: (1) o modelo das ondas. Se você joga uma pedra numa represa, ela provoca a maior onda exatamente no “ponto zero,” e as ondas então se espalham até atingirem a margem. Da mesma forma, quando oramos, abrimos nosso coração a Deus, e Ele produz o maior impacto no “ponto zero,” em minha vida. Mas, porque vivo em solidariedade com minha família, quando mudo é provável que eles também o façam. Porque sou pastor de uma grande igreja, posso pregar melhor e influenciar os membros, e eles podem se espalhar pelo mundo e, quem sabe, fazer a diferença por onde forem. Mas, se eu apenas oro individualmente pelo presidente de certo país, o impacto pode ser bem pequeno. (2) A mesma teoria funciona com bolas de bilhar: ao impelir a bola branca, ela vai bater numa bola apenas, mas as demais, em solidariedade, se espalham por toda a mesa. É isso o que acontece quando Deus muda a vida de uma pessoa por meio da oração. (3) A Internet: a rede é feita de milhares de servidores. Quanto mais servidores, mensagens mais rápidas poderão se espalhar pelo mundo quase que instantaneamente. Quando os grandes servidores deixam de operar, as mensagens se movem mais vagarosamente e não chegam a todas as partes. Cada cristão é um servidor. Quanto mais cristãos orarem, maior a rede através da qual Deus pode encontrar doadores e recebedores, isto é, mais possibilidades de milagres. Tony Campolo conta uma história muito interessante. Ele devia falar numa instituição pentecostal de ensino superior. Antes de começar, um grupo de pessoas o rodeou, puseram-lhe as mãos sobre cabeça e oraram. Um quartanista de teologia fez uma longa oração sobre uma família que ele conhecera pela manhã. O esposo estava deixando o lar. O jovem descreveu o lugar onde conversara com a família, o endereço, tudo. Campolo queria que ele fosse direto ao ponto. Após o sermão, ao estar voltando para casa, Campolo deu carona a alguém que estava à beira do caminho. Ao perguntar-lhe o nome, “Charlie Stolsis” foi a resposta, o mesmo nome mencionado na oração horas antes. Campolo deu meia-volta com o carro e Stolsis perguntou-lhe onde estava indo. “Vou levá-lo para casa.” “Como você sabe onde moro?” “Deus me contou! Você deixou sua esposa esta manhã, não deixou?” Continua na p. 15 Seis mitos do casamento Calvin Thomsen A maior felicidade no casamento não é encontrada em sua euforia inicial, mas na satisfação de longo prazo obtida na parceria fiel de muitos anos. A felicidade no matrimônio pode ser duradoura ou fugaz. Alguns estão casados por 40 anos ou mais, e o amor e romance estão vívidos, alegres como se fossem casados há um mês. Outros mal terminam de abrir os presentes de casamento e já percebem amargura no relacionamento, passando a pensar em divórcio ao invés de um lar permanente. O que faz a diferença entre a felicidade duradoura e um breve romance no casamento? Pesquisas modernas nos dão algumas indicações. John Gottman, professor de psicologia da Universidade de Washington, realizou algumas pesquisas pioneiras no atual contexto norte-americano. Gottman tem estudado milhares de casais, levando em consideração as muitas variáveis que afetam a estabilidade matrimonial. Sua pesquisa tem ajudado a esclarecer fatores que conduzem à felicidade conjugal, e outros indicativos que apontam para uma batalha penosa rumo a um provável divórcio. A pesquisa também sugere alguns dos grandes mitos que cercam o amor e o casamento. Esses mitos não se originaram dos antigos rituais e lendas tribais, mas da suposição comum que muitas pessoas acatam como verdade. Vale a pena explorar alguns desses mitos e analisar as implicações de construir uma sólida relação matrimonial. Mito 1: Grandes expectativas podem arruinar o casamento. O casamento geralmente é visto como uma boa proposta de negócios — criar filhos, gerenciar bens e construir alianças entre 10 famílias. Além do mais, esperamos que o casamento seja eternamente romântico, cheio de paixão sexual, amizade íntima, abrangendo todas as bases tradicionais de paternidade, conexões familiares e administração financeira cotidiana. As altas expectativas são consideradas como irreais e prejudiciais a um casamento feliz, mas pesquisas recentes indicam que, conquanto seja necessário ser realista em nossas esperanças, as altas expectativas podem levar a maiores investimentos e a melhores resultados na relação. Pessoas com baixas expectativas aparentemente não investem muito num bom relacionamento e estão dispostas a se contentar com uma união mediana ao invés de excelente. Gottman diz: “Pessoas que têm altos padrões e expectativas para o seu casamento desfrutam melhores e não piores uniões”.1 Mito 2: Homens são de Marte e mulheres de Vênus. Essa expressão, derivada de um livro muito conhecido por seu título, sugere que homens e mulheres possuem diferenças profundas e desejam fundamentalmente coisas diferentes em seus casamentos. Um dilúvio de livros populares tenta ajudar os casais a lidarem com suas diferenças, sob a premissa de que existe uma enorme lacuna entre o que homens e mulheres desejam. São os homens e as mulheres tão diferentes de maneira a afetar o casamento? Conquanto a resposta, como podemos notar, seja “sim”, os livros populares negligenciam o importante fundamento comum existente entre o que o homem e a mulher almejam no casamento e suas necessidades e desejos. E, ainda mais importante, eles negligenciam o fato de que a evidente diferença entre os sexos tem estado ligada, na pesquisa, a casamentos infelizes, porquanto “existem muito poucas diferenças de sexo em casamentos felizes”.2 O “machismo tradi cionalista”(refletido na dominante e controladora abordagem do casamento) está estatisticamente correlacionado a baixos níveis de qualidade no matrimônio.3 Sim, existem algumas diferenças comuns que surgem com a pesquisa. Os homens, por exemplo, são mais propen- sos a retroceder quando existe um conflito marital, e as mulheres tendem a agir mais verbalmente. Isso provavelmente aconteça porque os homens tendem a “saturar-se” mais facilmente de emoções negativas, e levam mais tempo para se recuperarem fisiologicamente após uma discussão. Os homens também possuem a tendência de querer resolver o problema, enquanto as mulheres freqüentemente preferem um homem que as ouça. Os homens se inclinam a ser mais visuais na atração sexual, e menos influenciáveis no contexto da relação. As mulheres geralmente são mais peritas em se ajustar ao estado emocional de outras pessoas, e os homens tendem a ser mais competitivos na conversação. O fato é que a pesquisa também mostra que homens e mulheres querem consider a vel mente as mesmas coisas no casamento, e ambos relatam que a profunda amizade é o mais satisfatório num bom relacionamento. Listas de outros fatores que predizem um bom casamento mostram que há somente leves diferenças em como os sexos se posicionam, quanto ao que realmente os satisfaz numa relação íntima.4 Um dos segredos mais bem guardados no mundo dos relacionamentos é que o homem, em média, sofre mais complicações emocionais e físicas do que a mulher quando está sem relacionamento íntimo. Casais que constroem sólidas relações estão sintonizados com as personalidades específicas de seus parceiros, e buscam uma firme amizade como base do bom relacionamento. Eles respeitam as diferenças entre os sexos quando elas existem, e buscam opções para satisfazer as necessidades um do outro. Conquanto a Bíblia, de certa forma, use uma linguagem diferente para descrever o papel do homem e da mulher no casamento, o elemento comum é, mutuamente, uma atitude altruísta em que ambos estão receptivos e atentos às necessidades do outro (ver Efésios 5:2133). Essa não é a descrição de uma divergência selvagem entre o papel dos sexos, ou acerca do domínio do homem sobre a mulher, mas de uma associação amorosa e mútua onde ambos os parceiros estão dispostos a “caminhar a segunda milha” pelo bem do outro. DIÁLOGO 17•2 2005 Mito 3: Ouvir efetivamente e evitar a ira são as chaves para administrar conflitos numa boa relação. Durante várias décadas tem surgido uma variedade de livros e artigos, sugerindo que os casais empreguem o processo conhecido como “ouvir efetivamente” durante os conflitos matrimoniais. Ouvir efetivamente envolve clara identificação dos sentimentos do outro, usando palavras ternas e tentando repetir as preocupações citadas pelo parceiro em forma de paráfrase. Isso é bem similar ao que os terapeutas fazem quando escutam seus clientes. Os pesquisadores que analisaram cuidadosamente as brigas matrimoniais esperavam encontrar, nos casais bemsucedidos, o uso regular desse conhecimento para resolver seus desentendimentos e esclarecer conflitos no casamento. Mas não foi isso o que eles descobriram. De início, eles notaram que praticamente ninguém, na verdade, fala dessa forma no calor de uma discussão. As pessoas simplesmente não usam as palavras prescritas quando as tensões estão em alta. Ainda em raras situações, quando o fazem, não há direta influência na resolução do conflito. Nas palavras de Gottman, “isso nada prediz”.5 Pode ser que os casais que adotaram tal modelo terminaram esperando um tipo de perfeição no calor do conflito que simplesmente não foi realística. O estudo, porém, indicou que ouvir efetiva e atenciosamente é valioso de muitas maneiras. Por exemplo, pode ajudar um parceiro a escutar enquanto o outro está se queixando de alguém mais (como o chefe no trabalho). Também é de muita valia numa “conversação de recuperação”, que os casais trabalhem pela restauração do relacionamento depois de uma briga. E isso pode definitivamente ajudar os casais a fortalecerem a intimidade e passarem a conhecer melhor um ao outro, quando não estão em meio a um conflito. Mas a pesquisa matrimonial mostra que, no calor de uma briga, poucas pessoas têm a capacidade de seguir as “regras” da boa comunicação. A maioria das pessoas encontra dificuldade em escutar realmente o que DIÁLOGO 17•2 2005 o parceiro está dizendo, e até mesmo os melhores comunicadores são apanhados defendendo suas próprias posições durante uma discussão. Alguma medida de paciência é requerida durante um conflito matrimonial! Também é interessante o estudo da ira no contexto matrimonial. A ira, por si só, não foi correlacionada estatisticamente ao divórcio, mas o descaso e a atitude defensiva, sim.6 Casais que brigam muito não são necessariamente menos felizes do que pares que não brigam. Muitos casais que tendem a brigar também sabem como beijar e fazer as pazes. Em verdade, um certo volume de conflito e disputa foi relacionado à duradoura paixão no casamento.7 Não é a ira em si que mina o casamento, mas o fracasso em resolvê-la. As pesquisas indicam que a raiva “contendora” é um problema. Muitos pesquisadores têm descoberto que tentar “jogar tudo para o alto”, descarregando sobre o cônjuge, na verdade aumenta o nível de ira e estresse para a pessoa que a expressa. E a proporção abrangente entre um enunciado positivo e um negativo feito ao parceiro pode definitivamente ajudar a predizer as probabilidades de divórcio. Os casais felizes citaram pelo menos cinco comentários positivos para cada um negativo. Um estilo conflituoso e briguento também é problema quando somente um dos cônjuges se sente confortável com esse estilo, isto é, um dos parceiros gosta de brigar e o outro se encontra emocionalmente fragilizado; o estresse pode durar horas ou mesmo dias. A Bíblia afirma que a ira não é pecado (Efésios 4:26), mas também diz “não se ponha o sol sobre a vossa ira”. Escutar efetivamente pode ser parte do reparo de uma relação após um conflito, mas necessitaremos perdoar a nós mesmos e a nosso companheiro pelas imperfeições na maneira com que lidamos com as diferenças. Mito 4: Os casamentos inevitavelmente decaem com o tempo. A maioria das pessoas acredita que a paixão inevitavelmente morre e os casamentos se tornam mundanos à medida que o tempo passa. Embora muitos casais citem um declínio na satisfação matrimonial com o passar do tempo, há muitas descobertas interessantes em recente pesquisa que mostra não ser isso inevitável. Na verdade, o casamento é como muitas outras coisas; é totalmente possível ficar melhor com a prática. O terapeuta matrimonial David Schnarch diz que é apenas mais tarde na vida em conjunto com um parceiro monogâmico, que as pessoas podem começar a descobrir sua paixão e potencial sexual.8 Da mesma forma, a pesquisa de Gottman mostrou que muitos casais descobrem maior tolerância, maior apreço e muito maior desejo de estar com o outro com o passar do tempo. A maior felicidade no casamento não parece ser encontrada na euforia inicial, mas na satisfação em longo prazo havida num matrimônio de muitos anos. A paixão não é algo dependente da idade. Agora sabemos muito sobre a bioquímica e neurologia do amor e da paixão. A “química” de um relacionamento muda com o tempo. Há uma euforia inicial num novo amor que geralmente dura cerca de dois anos, e o tipo específico de química que caracteriza um relacionamento de longo prazo não é o mesmo da química embriagante que fomenta um novo amor. Mas muitas pessoas desistem de um relacionamento após a química inicial começar a mudar. Elas entram numa série de relacionamentos que não duram mais de dois anos, não percebendo que a satisfação emocional de um amor em longo prazo pode ser mais gratificante que a busca por um novo amor. Mito 5: Uma pessoa que sente pouca paixão sexual espontânea está sexualmente morta e é uma pobre parceira conjugal. Quando imagens superaquecidas de sexo constantemente bombardeiam através da mídia, muitas pessoas casadas sentem que deveriam estar continuamente abrasadas com paixão por seu cônjuge. Se eles se vêem entre contas e lavanderia, raramente pensando em sexo, e querem apenas dormir toda vez que a oportunidade se apresente, podem sentir-se culpados. 11 Até bem recentemente, os sexólogos supunham que todas as pessoas experimentam o desejo sexual da mesma forma. Algo que você sente desperta um sentimento subjetivo de estimulação. A estimulação gera o desejo sexual, mas, como Michelle Weiner Davis cita, “para algumas pessoas, o desejo sexual — o motivo de tornar-se sexual — não precede o sentimento de excitação; ele na verdade o segue”.9 Em outras palavras, há pessoas que raramente experimentam fantasias apaixonantes, mas, se elas se sentem excitadas com seu parceiro, podem descobrir que apreciam profundamente a experiência e se tornam muito mais unidas. Pessoas que tiveram a sensação frustrante de fracasso, de culpa e distanciamento de seus cônjuges, podem descobrir que pôr esse mito de lado os ajuda a se sentirem muito melhores com eles mesmos e mais responsivos para com seus parceiros. É também um lembrete de que o contexto de um casamento estável e comprometido, no qual as pessoas não negligenciam as necessidades Diálogo grátis para você! Se você é um estudante adventista do sétimo dia que freqüenta faculdade ou universidade não-adventista, a Igreja tem um plano que lhe permitirá receber gratuitamente a revista Diálogo enquanto você estiver estudando (aqueles que não são mais estudantes podem assinar Diálogo usando o cupom da página 6). Entre em contato com o diretor do Departamento de Educação ou do Departamento de Jovens de sua União, e peça que seu nome seja colocado na lista de distribuição da revista. Forneça seu nome completo, endereço, faculdade ou universidade onde está estudando, o curso que está fazendo e o nome da igreja onde você é membro. Você pode também escrever para os nossos representantes regionais nos endereços indicados na página 2, anexando uma cópia da carta que enviou aos diretores da União já mencionados. Caso os passos acima não produzirem nenhum resultado, você poderá contatar-nos via e-mail: [email protected]. 12 íntimas de cada um, pode na verdade ser o cenário para gerar paixão marital. A chance para investir na intimidade marital é boa para esposos e esposas. Mito 6: Os opostos se atraem. A proposição dessa crença é de que somos atraídos por alguém com muitas diferenças, porque nos sentimos mais completos diante das desigualdades dele ou dela. Mais uma vez há alguma verdade nisso, mas não em sua totalidade. As pessoas procuram encontrar algumas diferenças como fator positivo e ponto de atração. As pesquisas mostram que as melhores uniões incluem mais similaridades do que diferenças, e que sendo parecidos em muitos aspectos (tais como idade, educação, preferência religiosa e valores básicos de vida, etc.) haverá maiores níveis de satisfação marital.10 Uma pesquisa sobre tipos de temperamento (tais como a escala de Meyer’s Briggs) mostra que os casais podem apreciar algumas diferenças mas, aqueles que são opostos em todas as quatro escalas são menos felizes que os mais parecidos.11 O melhor meio de abordar o assunto sobre as diferenças é entender que a maioria de nós aprecia poucas diferençaschave nos estilos que dão equilíbrio à vida. É bom aceitar essas diferenças e não começar um projeto de reforma massiva, uma vez que já nos “enforcamos” mas, se você está procurando um parceiro, não suponha simplesmente que muitas diferenças serão fáceis de superar. As diferenças a que você “faz vistas grossas” na relação podem tornar-se mais desafiadoras com o passar do tempo. É muito melhor buscar alguém que realmente compartilhe seus valores básicos e estilo de vida. Algumas conclusões O casamento é uma grande aventura. É também uma das arenas mais desafiadoras da vida. Num mundo com falsas imagens de amor e romance, quanto mais soubermos mais efetivos podemos ser na busca de um companheiro e na construção de um notável matrimônio, uma vez tenhamos encontrado essa pessoa especial. Que princípios podemos ressaltar? Primeiro tenha a certeza de que você está construindo uma forte amizade com alguém com quem pensa em se casar, ou com a pessoa com quem você se casou. Trabalhe na construção de uma forte comunicação, mas não espere perfeição, especialmente no calor de uma discussão. Não se deixe enganar por uma corrida inicial de química eufórica ou de pânico quando ela se acaba. Os ingredientes de uma paixão duradoura e de comprometimento são muito diferentes do que você assiste nos filmes e na TV. Trabalhe os pontos que você tem em comum com o cônjuge, especialmente na área de valores básicos de vida e no modo em que vive. Se você ainda não é casado, apenas se lembre de que aqueles com quem possui mais semelhança podem ser mais importantes do que você imagina. Calvin Thomsen é pastor do ministério familiar na Universidade de Loma Linda da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Califórnia. Thomsen está concluindo seu Ph.D. em terapia matrimonial e familiar, e leciona terapia familiar, terapia matrimonial e terapia sexual na Universidade de Loma Linda, sendo ainda conselheiro pastoral na Universidade de La Sierra Email: [email protected]. Referências 1. John Gottman, The Marriage Clinic: A Scientifically Based Marital Therapy (New York, Norton, 1999), p. 18. 2. Idem, p. 83. 3. Robert Sternberg, Cupid’s Arrow: The Course of Love Through Time (Cambridge: Cambridge University Press, 1998), p. 123. 4. Idem, 150-152. 5. Gottman, p. 11. 6. Idem, p. 12. 7. Idem, p. 14. 8. Ver David Schnarch, Passionate Marriage (New York: Holt, 1997). 9. Michelle Weiner Davis, The Sex-Starved Marriage (New York: Simon and Schuster, 2003), p. 12. 10.Ayala Pines, Falling in Love: Why We Choose the Lovers We Choose (New York: Routlidge, 1999), p. 53. 11.David Keirsey, Please Understand Me II (Del Mar, California: Prometheus Nemesis Book Company, 1998), p. 212. DIÁLOGO 17•2 2005 Alegria: o segredo de viver contente Céleste Perrino-Walker É tanto nosso dever como privilégio viver com alegria e caminhar na luz, disseminando-as pelo mundo ao redor. É possível confundir felicidade com alegria. De fato, isso é fácil. As pessoas vivem em seus pequenos espaços aqui na Terra, pensando desfrutar alegria em seu coração, quando, na realidade, o que realmente têm é boa saúde, condições estáveis e estômago satisfeito. O contrário é também possível. É comum alguém estar sobremodo triste e sentir-se tão longe da alegria como o Norte dista do Sul, e que nunca a alcançará. O fato é que se algum elemento externo, circunstância ou pessoa afetarem seu contentamento, então o que você possui não é, na verdade, alegria. A alegria é como a fé. Enquanto a fé espera algo que você não pode ver e acredita na promessa de algo que não pode tocar, a alegria é crer na esperança do Céu. Alegria é olhar para um quadro mais amplo; é alento para a jornada e não impressões do cenário por onde você passa ao longo do caminho. Quando a caminhada é árdua A alegria manifesta-se sob circunstâncias difíceis. É nesse momento que ela se revela. É nesse momento que você a exercita como um músculo. A felicidade, por outro lado, se desvanece em face do sofrimento. A alegria resiste ao sofrimento. Essa é a diferença entre felicidade e alegria. Felicidade é um sentimento. Alegria é um estado de ser. As boas-novas são de que a alegria está disponível a todos. Orando por Seus discípulos, Jesus disse: “Mas, agora, vou para junto de Ti e isto falo no mundo para que eles tenham o Meu gozo completo em si mesmos. Eu lhes tenho dado a Tua palavra, e o mundo os odiou, porque DIÁLOGO 17•2 2005 eles não são do mundo, como também Eu não Sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (João 17:13-15). Quando Jesus disse: “O mundo os odiou”, Ele Se refere a nós. O mundo, em rebelião contra Deus, nos odeia. Não espere palavras de encorajamento do mundo, mas indiferença. Mas, o que o mundo nos dá não é importante. Temos plenitude de alegria ao nosso dispor. Hoje, neste momento, neste instante. A alegria é constante e permanente, independente das circunstâncias. Gostar tal como é Anne Hobbs Purdy, uma jovem que viajou até remota área do Alaska para ensinar, estava ansiosa para ser aceita pelo povo nativo. Ela perguntou a um dos nativos sobre quando deixaria de ser uma cheechako, recém-chegada, e se tornaria uma habitante do Alaska. Ele respondeu que algumas pessoas nunca se tornavam verdadeiros habitantes da região, pois não aprendiam a gostar do Alaska tal como ele era. Elas apenas o toleravam. Creio que essa é a chave para viver uma vida cristã mais plena de alegria. Não podemos ser cristãos jubilosos se nunca aprendermos a gostar da vida tal como ela é. Não podemos ser cristãos cheios de alegria se apenas a tolerarmos. Isso é o que Paulo quis dizer quando escreveu: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso nAquele que me fortalece” (Filipenses 4:11-13). Sentado na prisão, com frio, fome e solidão, Paulo não desejava estar numa praia tropical cercado de amigos, bebendo água de coco e se divertindo em festas. Ele se contentava onde estava, não desejando estar em outro lugar. Foi nesse momento, com frio, fome e solitário que ele se sentiu aquecido, alimentado e confortado pelo Deus sempre presente e muito próximo, sobretudo, durante as terríveis experiências pelas quais devemos, às vezes, passar. Se não passarmos por essas situações, viveremos apenas a metade de uma experiência real. Muitos estão habituados a uma vida tranqüila. Se o trabalho for penoso, enfadonho ou difícil, por que fazê-lo? Se algo tiver de ser consertado, conserte-o. Se puder ser melhorado, aprimore-o. Os cristãos não se acomodam ao status quo e não deixam as coisas de lado, simplesmente — eles avançam. Porque não é na comodidade que crescemos, mas no desconforto. Podemos perder essa lição vital de vista, se tentarmos escapar da parte desconfortável. Pense em suas próprias orações por um minuto. Escreva algumas dentre as 10 mais proferidas. Analise-as agora. Quantas delas são pedidos para Deus facilitar algo e quantas Lhe pedem para conduzir o pedinte a lugares desconfortáveis, que podem dificultar sua vida, mas sob Sua guia e a Seu serviço? Sem dor, não há proveito Muitos de nós evitamos a todo preço as situações dolorosas. Não é de admirar que tenhamos dificuldade em aprender de Deus, que nos permite passar por “provações”. Ao primeiro sinal de dor, já estamos procurando uma saída. Mas, alegria e dor andam de mãos dadas. Tiago, um dos líderes da igreja cristã primitiva, afirma: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tiago 1:2-4). A alegria está na provação, do mesmo modo que o poder está na Palavra de Deus. A questão não é se podemos simplesmente suportar a provação, ranger os dentes, premir os olhos, ficar calados e agüentar firmes, mas se conseguimos relaxar e simplesmente “passar” pela provação, perguntando a Deus que lição Ele quer que aprendamos. Não é isso o que 13 Tiago diz? “A provação da vossa fé produz perseverança.” Passar pela provação, sem revolta e ira, torna-nos mais perseverantes. Estaremos mais capacitados a relaxar e a suportar a provação. Teremos uma visão mais clara para aceitar a lição extraída da situação. Assim, a expressão “a perseverança deve ter ação completa” significa que, no decorrer da experiência, começamos a buscar a lição da prova como primeira resposta, em vez de procurar uma saída, ou alguém a quem culpar, ou mesmo manter-nos firmes até passarmos por isso e esquecermos. O salmista foi capaz de exclamar: “Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagastes” (Salmos 51:8). Evitar o complexo de mártir Todos temos, diariamente, a oportunidade de servir ao próximo; mas quantos a aproveitam para fazê-lo com regozijo, alegria, como se fizessem para Jesus? O apóstolo declara: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de coração, como para o Senhor e não para os homens” (Colossenses 3:23). O verso não quer dizer “fazei-o como para o Senhor, assim você poderá se sentir superior aos outros.” Como alguém que já passou por tempos difíceis, posso dizerlhes que servir ao Senhor não é o mesmo que ter complexo de mártir, ainda que às vezes eu desejasse que assim fosse. É bem mais fácil permitir que sentimentos de justiça própria estimulem o que você faz, do que trabalhar espontaneamente. Esse verso nos impele a um nível mais elevado de trabalho. Ele nos incentiva ao serviço de amor, do qual nada se espera em retorno. Tente isso. A próxima vez que tiver de fazer alguma coisa para alguém — atender ao telefone, apanhar roupa suja do chão, preparar uma refeição, emprestar dinheiro, alimentar animais de estimação, seja o que for, experimente isto: simplesmente ofereça seu serviço a Deus, não à pessoa a quem você está ajudando. Seu trabalho se transformará numa expressão da alegria que flui do coração. Como resultado, seus sentimentos de auto-estima e realização não dependerão da res14 posta humana às suas ações, mas estarão arraigados no insondável amor de Deus para conosco, Seus filhos obedientes. Gratidão Uma maneira simples de se manter “abastecido” de alegria para a jornada é contar as bênçãos concedidas. Certa vez, quando eu estava muito deprimida, comecei a escrever um “diário de gratidão”. Cada noite, antes de me deitar, escrevia no meu diário cinco coisas pelas quais estava grata. Algumas vezes era uma tarefa fácil, mas houve ocasiões em que lutei para encontrar cinco razões de agradecimento. Tendo esse “compromisso” cada noite, comecei a observar motivos de gratidão durante o dia, sobre os quais poderia escrever mais tarde. Desse modo, eu estava conscientemente procurando aspectos positivos de minha vida. Estava treinando minha mente a procurar fatores positivos. Logo notei que muitas coisas desagradáveis passaram despercebidas, porque meu cérebro não lhes estava dando importância. Elas não eram dignas de consideração; eu não as escrevia no diário. Se você quer uma prova de como isso funciona, experimente observar um tipo específico de automóvel. Eu nunca tinha visto um PT Cruiser antes, até que um amigo comprou um. Comecei a observar esses automóveis com mais consciência. Repentinamente, vi que os PT Cruisers estavam por toda parte. Cada vez que saía de casa, via uma meia dúzia deles, pelo menos. Antes do final da semana, penso que tinha visto esse modelo em todas as cores. Jesus disse: “Pedi, e dar-se-vosá” (Mateus 7:7). Podemos aplicar esse princípio em muitas áreas, inclusive a da alegria. O que você está esperando? Não é suficiente estar apenas consciente de nossa alegria, ainda que isso seja o começo. É-nos igualmente importante compartilhá-la. A falta de regozijo no coração das pessoas é uma das principais razões de tantas tragédias ao nosso redor, sejam pessoais ou corporativas. Quando não temos alegria, não há esperança para o futuro. Quando a possuímos, isso faz toda a diferença. Sabemos como é a vida sem esperança. Podemos ver nos jornais ou nos noticiários televisivos. Alguns cristãos debatem sobre quão mau deverá ficar o mundo até que Jesus volte. Estará tão pervertido como nos dias de Noé? Tão iníquo como Sodoma e Gomorra? Se você perguntar aos pais de uma criança que foi seqüestrada e morta, ou a amigos das vítimas de franco-atiradores, ou a soldados em guerra, ou a um paciente de câncer, ou a pessoas morrendo de fome ou AIDS, eles lhe dirão que o mundo é excessivamente mau. Deus não está esperando que o mundo fique pior. Qualquer atrocidade é “má o suficiente”. Deus espera por nós. Ele espera que Seu povo viva a alegria que foi posta em sua vida, e que a compartilhe com outros. Quando o Titanic afundou, centenas de pessoas pereceram. É verdade que não havia botes salva-vidas suficientes para todos, mas muitos morreram, não por falta de botes (muitos escaleres não estavam totalmente cheios), mas porque não entraram nos botes. Jesus nos deu essa missão: “‘Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura’” (Marcos 16:15). Ele nos deu alegria — motivação — para cumpri-la. É nossa responsabilidade ir ao mundo e pregar as boas-novas do evangelho de Cristo. Isso não é somente responsabilidade dos pastores. Se fosse apenas trabalho do ministro, Jesus teria dito: “Apóiem seus pastores enquanto eles vão por todo o mundo...” Mas Ele não disse isso. Ele ordenou a cada um de nós: “Vá”. É também interessante que Ele não disse: “Se você quiser, poderá ir por todo o mundo” ou “poderá transmitir programas por satélite a todo o mundo”, ou mesmo “se sentir o chamado para ser missionário, você poderá ir por todo o mundo”. Ele simplesmente disse: “Vá”. Não temos de viajar para longe. O mundo está ao nosso redor. Estamos todos conectados de algum modo a outras pessoas. Essa é a parte do “mundo” pela qual somos responsáveis. O que está DIÁLOGO 17•2 2005 acontecendo em seu mundo, e o que você fará a respeito? Isso nos traz a alegria de volta Completamos o círculo quando percebemos que é a alegria que Jesus colocou em nosso coração que nos dá coragem, força e perseverança para prosseguir, obedecer à Sua ordem e cumprir Sua missão. Sem alegria, iremos apenas fazer as coisas mecanicamente e, mais cedo ou mais tarde, entraremos em colapso. Porém, não há necessidade disso, pois somos filhos do Rei. Ellen White disse: “Por que não seria completo o nosso regozijo — pleno e sem nada faltar? Temos a certeza de que Jesus é nosso Salvador e que podemos participar abundantemente dos fartos suprimentos que Ele nos proveu... É nosso privilégio buscar constantemente a alegria de Sua presença. Ele deseja que sejamos animosos e cheios de louvor ao Seu nome. Almeja que tenhamos luz na fisionomia e alegria no coração”.* Podemos ter essa luz, essa alegria, a cada dia. É nosso dever e privilégio viver com alegria e caminhar na luz, disseminando-as ao mundo que nos cerca. Abasteça-se de alegria, e comece sua jornada de hoje. Céleste Perrino-Walker é editora da revista Listen. Este artigo foi adaptado de seu livro Joy,The Secret of Being Content, publicado recentemente pela Review and Herald Publishing Association. Seu endereço postal é: 27 Robshawn Place, Rutland,Vermont 05701, USA. E-mail: [email protected]. * Ellen G. White, Para Conhecê-Lo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1965), p. 142. DIÁLOGO 17•2 2005 Ciência Continuação da [p.] 7 mos descobrindo no Universo e toda a complexidade evidenciada nos seres vivos, indicam ser necessário um Deus Criador. Foi isso que convenceu Antony Flew da existência de Deus. Deus parece ser essencial para explicar o que a ciência tem descoberto. As observações sobre as forças da física, as proteínas e o DNA, são todas repetíveis, e portanto, provêm evidências científicas altamente qualificadas sobre a existência de Deus. Infelizmente, o ideal secularista é tão forte na ciência, que a idéia de um Deus Planejador hoje é geralmente rejeitada pela comunidade científica. Essa rejeição é baseada em fatores pessoais e sociológicos, e não em dados científicos. Ariel A. Roth (Ph. D. pela Universidade de Michigan) foi diretor do Geoscience Research Institute e editor da revista Origins. Publicou mais de 150 artigos em revistas científicas e outras. Seu livro Origins: Linking Science and Scripture foi traduzido em 13 línguas, inclusive em português. Embora aposentado, continua a pesquisar, escrever e fazer palestras. Seu endereço eletrônico é [email protected]. Referências 1. Gary Habermas e A. Flew. “My Pilgrimage from Atheism to Theism: A Discussion Between Antony Flew and Gary Habermas,” Philosophia Christi 6 (2004) 2:197-211. 2. H. Ross, “Big Bang Model Refined by Fire,” in W. A. Dembski, ed., Mere Creation: Science, Faith and Intelligent Design (Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1998), pp. 363-384. 3. H. M. Hart, “Habitable Zones About Main Sequence Stars,” Icarus 37 (1979): 351-357. 4. P. Davies, Superforce (New York: Simon and Schuster, 1984), p. 242. 5. R. Penrose, The Emperor’s New Mind (Oxford: Oxford University Press, 1989), p. 344. 6. M. J. Behe, Darwin’s Black Box: The Biochemical Challenge to Evolution (New York: Touchstone, 1996). 7. E. J. Larson e L. William, “Scientists Are Still Keeping the Faith,” Nature 386 (1997): 435436. Novo levantamento feito pela National Academy of Science indica uma proporção menor de crentes em Deus para um grupo de cientistas bastante pequeno, mas de liderança. 8. Ver, por exemplo, T. Rowe, “The Archaeoraptor Forgery.” Nature 410 (2201): 539-540. Oração Continuação da [p.] 9 “Como você sabe isso?” “Deus me contou!” Campolo levou-o direto para casa, entrou e os conduziu a Cristo. Hoje Stolsis é um pastor! É assim que a oração funciona — um irmão tinha um problema, conhecia a necessidade e orou, Campolo ouviu a oração e seu coração se abriu; Deus encontrou a resposta certa para aquela necessidade, e o milagre aconteceu. Tudo por meio da oração, mas sem a teologia de que a oração deve mudar a Deus ou fazê-Lo melhor do que Ele já é! É assim que tenho agido até agora! Eu adoraria ouvir o testemunho de vocês. O assunto não é fácil — como manter uma vida de oração poderosa, capaz de mudar o mundo — mas sem alterar o caráter de Deus. Faça-me saber o que você pensa. Que Deus o abençoe! Dan Smith é o pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia no campus da Universidade de La Sierra, em Riverside, California, EUA. Este artigo foi adaptado de seu livro Lord, I Have a Question: Everything You Ever Wanted to Ask God but Were Afraid to Say Out Loud (Nampa, Idaho: Pacific Press Publishing Association, 2004). Seu email: [email protected]. REFERÊNCIAS 1. Ellen G. White, Christ’s Object Lessons (Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., 1941), p. 143. 2. White, Steps to Christ (Mountain View, California: Pacific Press Publ. Assn., 1956), p. 93. 15 Perfil Dora Bognandi Diálogo com uma adventista dedicada à liberdade religiosa na Itália Mas como geralmente acontece, temos de ser lançados por terra para podermos olhar para cima. Fui golpeada duramente quando perdi minha filha. Esse foi um momento muito difícil em minha vida. Aqueles dias trágicos me fizeram compreender o quanto eu necessitava de Deus e Seu amor. Também percebi quão importante é ter os amigos da Igreja ao redor. Sem o auxílio divino e de minha grande família, não me teria levantado. A ilha de Sicília possui a maior concentração de adventistas na Itália e é a terra natal de Dora Bognandi, pertencente à quarta geração de adventistas do sétimo dia. Ela nasceu em 1949 em Piazza Armerina, Sicília. Determinada, mas humilde, Dora é conhecida no país por sua coragem e convicção. Ela incorpora o que a liberdade religiosa é e deveria ser. Trabalha atualmente para a “Fondazione Adventum” (Fundação Adventista), um departamento social da igreja. Dora foi batizada em 1966 e trabalha para a Igreja Adventista desde 1985. Em 1992 tornou-se assistente de Ignazio Barbuscia, então diretor do Departamento de Liberdade Religiosa. Em 1999 foi eleita diretora dos Departamentos de Liberdade Religiosa e Comunicação da União Italiana dos Adventistas do Sétimo Dia. É casada com o Pastor Adelio Pellegrini e tem dois filhos, ambos trabalhando para a igreja. n O que a motivou a ser adventista do sétimo dia? Nunca havia experimentado o senso de conversão em outra religião ou denominação. A Igreja Adventista sempre foi minha família. Entretanto, durante minha juventude, passei por um período de indiferença em relação à fé cristã. 16 n O que a fez aceitar a posição de diretora de Liberdade Religiosa e Comunicação da União Italiana? Qual é sua função nessas áreas? Meu trabalho consiste em representar a Igreja Adventista do Sétimo Dia perante a sociedade italiana. Apesar de minhas limitações, sinto-me um pouco embaixadora da Igreja para a comunidade em geral. Também quero que minha Igreja conheça o melhor da cultura italiana e de suas tradições religiosas, a fim de podermos, como adventistas, comunicar adequadamente nossa fé bíblica e missão singular. O Departamento de Liberdade Religiosa coloca-me em contato com instituições religiosas, políticas e culturais da Itália. Minha responsabilidade é assegurar que os membros da Igreja tenham seus direitos e privilégios — de crença, culto, consciência e testemunho — protegidos e respeitados. Trabalho também ajudando os membros a respeitar os direitos e crenças de outras pessoas. Como diretora de Comunicação da Igreja, sou responsável pela edição mensal da revista Il Messaggero Avventista (equivalente à Revista Adventista), e pela coordenação de dois boletins eletrônicos: o (BIA), com notícias para os membros adventistas, e o AND, escrito para leitores não-adventistas. Devo ainda empenhar- me em preservar a boa reputação de nossa denominação, disseminando notícias sobre a Igreja Adventista. n Por que a liberdade religiosa é importante para a senhora? Porque é o fundamento de todas as liberdades. A liberdade religiosa é o direito de crer ou não em Deus, de acordo com os ditames de nossa consciência e sem interferência externa. Acredito que esse é um direito humano fundamental. A Constituição Italiana garante essa liberdade, bem como assegura o direito de mudarmos de religião e dar testemunho dela. O comprometimento com a liberdade religiosa ajuda-me a permanecer independente de qualquer organização política e social, e a falar de um Deus a quem estão sujeitas todas as ordens sociais e em quem podemos encontrar o significado e o propósito da vida. A liberdade religiosa ajudame a falar de um Deus justo, ou acerca de um ideal que possuo. Ela me auxilia a respeitar pessoas que pensam diferentemente de mim e a trabalhar com elas para benefício da humanidade. n Como mulher, que percepções a senhora acrescenta às suas responsabilidades? Talvez interesse e cuidado especial por outras pessoas, uma característica encontrada mais facilmente em mulheres do que em homens. Creio também que o caráter afetivo, tão comum na mulher, é útil para o trabalho que realizo. n A Itália é predominantemente católi- ca. Qual é a posição da Igreja Adventista do Sétimo Dia em seu país, em termos de direitos governamentais, reconhecimento e liberdade? A Igreja Adventista italiana teve pastores que fizeram um excelente trabalho no DIÁLOGO 17•2 2005 Departamento de Liberdade Religiosa, como Gianfranco Rossi e Ignazio Barbuscia. Graças a eles, nossa Igreja firmou um acordo especial com o Estado italiano, que se tornou lei em 1988. Pela primeira vez na história mundial, num país onde o catolicismo romano tem sua Santa Sé, foi promulgada uma lei para que os adventistas pudessem observar o sábado no trabalho, na escola, na universidade, e assim por diante. Devemos esse resultado extraordinário principalmente à observância do sábado por tantos membros fiéis de nossa Igreja. O acordo especial de 1988 inclui também os seguintes pontos: reconhecimento oficial de ministros adventistas; aceitação de nossa posição de não portar armas, e sua substituição pelo serviço comunitário; serviços de capelania dos pastores adventistas em hospitais e prisões; e a aprovação legal de casamentos oficializados por ministros adventistas. n Diga-nos alguma coisa sobre a condição atual da Igreja Adventista na Itália. Quais são os principais desafios e tendências? Assim como acontece em outros países ocidentais, nossa Igreja na Itália é afetada pelo secularismo e o relativismo moral. Mas enfrentamos também um desafio ainda maior: introversão — isto é, uma tendência em focalizar apenas nossos próprios problemas e necessidades, em vez de nos volvermos para o atendimento das necessidades das pessoas ao nosso redor. O mundo está mudando a uma velocidade impressionante, e o fundamentalismo religioso militante está crescendo. Temos de levar ao mundo o que definimos por “Verdade Presente”, ou seja, a verdade destinada a suprir as necessidades específicas de nosso tempo. n Qual é a imagem pública de nossa Igreja em seu país? Como somos conhecidos? Na Itália somos a minoria entre as minorias. Temos apenas sete mil membros batizados em relação a uma população de quase 58 milhões de pessoas. Não é tarefa fácil tornar-nos conhecidos devido à presença maciça da igreja católica e dos limitados recursos humanos DIÁLOGO 17•2 2005 e financeiros que temos. No entanto, a lei nos permite acesso a fundos públicos chamados Otto per Mille (Oito por Mil), recebidos de recursos provenientes de impostos estaduais. Isso propicia a oportunidade de fazer muitas beneficências e nos dá maior visibilidade, pois o nome da Igreja Adventista está incluído em mais de 30 milhões de formulários de restituição de impostos. Como conseqüência, recebemos fundos que usamos para propósitos sociais, humanitários, beneficentes e culturais. Temos nove estações de rádio na Itália, usamos sites na Internet e, obviamente, trabalhamos com a ADRA e outras iniciativas públicas. n O que lhe dá maior satisfação no traba- lho? Sinto uma grande satisfação quando posso solucionar o problema de nossos membros, relacionado à observância do sábado. Apesar da existência da lei, alguns empregadores ainda esperam que os adventistas trabalhem no sábado. Gosto muito de ver a alegria estampada na face de nossos irmãos, quando o problema é resolvido. Fico satisfeita também quando a mídia secular faz referências à nossa posição em questões religiosas ou violações de direitos humanos, ou quando os círculos religiosos não-adventistas elogiam uma doutrina adventista que antes criticavam duramente. Se nossa Igreja é apreciada e causa boa impressão, fico extremamente feliz. n Que doutrina adventista tem sido espe- cialmente apreciada na Itália? Não apenas uma doutrina, mas várias. A reforma de saúde, por exemplo. Já fomos muito criticados por nossa postura quanto ao tabaco, álcool e as drogas. Hoje somos cada vez mais apreciados por outros líderes religiosos e também imitados. Outros exemplos são o princípio do dízimo e nosso modo de observar o dia de descanso. n Como a senhora consegue manter um equilíbrio entre seus vários papéis de mãe, esposa e líder eclesiástica? Essa é uma das minhas maiores preo- cupações. Não é fácil devotar-se completamente ao trabalho e então achar tempo para você e sua família. Você terá sucesso somente se desfrutar amor e cooperação de sua família. Agradeço a Deus porque minha família tem sido uma bênção nesse aspecto. n A senhora tem uma vida muito ocupada. Como consegue manter viva sua comunhão com Deus? Acordo muitas vezes às 2 ou 3h da manhã e começo a ler minha Bíblia. Converso com Deus e digo-Lhe o que estou pensando naquele momento. Coloco sobre Ele todas as minhas preocupações. Então vou dormir. Deus me dá a força que necessito. Algumas vezes sinto um grande peso devido às minhas responsabilidades e ao meu senso de insuficiência para a grande tarefa que tenho. Mas, nesse momento, as palavras das Escrituras acodem à minha mente e me sinto confortada e motivada novamente. n O que a senhora diria aos nossos leitores que pensam dedicar seus talentos à obra da Igreja Adventista? Trabalhar para a igreja é uma das coisas mais maravilhosas que podem acontecer na vida de alguém. Você parte para uma aventura cujos horizontes se ampliam mais e mais, conforme vai descobrindo novas direções ao longo do caminho. Entrevista por Roberto Vacca Roberto Vacca é produtor de rádio para a rede de estações de rádios adventistas na Itália “La Voce della Speranza”. Seu e-mail é: [email protected]. A Sra. Dora Bognandi pode ser contatada pelo e-mail: [email protected], ou através do Departamento de Liberdade Religiosa, c/o Unione Italiana Chiese Avventiste; Lungotevere Michelangelo 7; 00192 Roma; Itália. 17 Perfil Neville Clouten Diálogo com um arquiteto e artista adventista O Dr. Neville Clouten viaja pelo mundo com seu caderno de esboços na mão, coletando impressões que tem inspirado sua filosofia de ensino, suas idéias sobre arquitetura e aquilo que ele capta em suas aquarelas. Ele tem feito seminários sobre aquarela no Queen Elizabeth II e no Queen Mary II, e lidera grupos de amigos e artistas em cruzeiros pelos rios europeus. Clouten graduou-se em Arquitetura pela Universidade de Sidney (Austrália), pela Universidade Estadual de Ohio (EUA.), e obteve seu Ph.D. pela Universidade de Edimburgo (Escócia). É membro do Instituto Real Australiano de Arquitetos e recebeu do Instituto Americano de Arquitetos, em 2000, o Prêmio Presidente de Michigan. Trabalhou no Projeto Opera House, em Sidney, como pesquisador e guia oficial, e como arquiteto em Estocolmo, na Suécia. Nas últimas três décadas, o foco de interesse de Clouten na área acadêmica tem sido a educação arquitetônica. Ele se tornou o primeiro presidente do Departamento de Arquitetura da Universidade Andrews, em 1980. De 1990 a 2003, foi reitor da Faculdade de Arquitetura e Design da Universidade Tecnológica Lawrence, em Southfield, Míchigan. Suas publicações compreen18 dem esboços e mais de 60 artigos em revistas de arquitetura, arte, ciência e educação. O livro Academic Lite: Treasures of Creativity and Reflection From Life as a University Professor, reflete seu peculiar senso de humor e filosofia sobre a importância de uma observação acurada e a descoberta no processo criativo. No prefácio da obra, Paul Stephenson Oles compartilha suas impressões sobre o professor Neville Clouten: um talentoso acadêmico que possui “íntima familiaridade” com sua área de estudos, e uma pessoa “plenamente humana”. Ele é “alguém que descarta o livro e inventa novas regras”. O constante interesse de Clouten em explorar, entender e partilhar a exuberância do processo criativo é inspirador. A precisão de seu comentário de que “ao longo dos anos, a centralidade da criatividade na experiência humana tem sido importante para mim”, foi comprovada quando ele me mostrou o protótipo de uma barra de chocolate, cujo design fora feito por seus estudantes de arquitetura, com base nas preferências de chocolate desses alunos. O protótipo tornou-se posteriormente um produto real. Suas aquarelas e esboços são regularmente exibidos em concursos de mostras artísticas, inclusive a Polk Art and Technology e a Michigan Water Color Society. Suas pinturas estão expostas em coleções particulares e em escritórios corporativos. As aquarelas da série “Impressões e Reflexões” são exibidas regularmente em galerias de arte. n Dr. Clouten, vamos começar com seu caderno de esboços. A vida inteira, literalmente, sempre trouxe comigo um caderno de esboços. O que me fascina é o momento e o lugar, assim como a precisão. Meu objetivo é gravar impressões no caderno de esboços. Alguns deles são direcionados e associados a entretenimento, pois quero atrair as pessoas para o que é visualmente interessante. n O senhor tem um tema especial? Sim, fui influenciado por meu pai, que era pescador. Desse modo, o mar e os lagos desempenham um papel importante em minha arte. Uma de minhas últimas aquarelas é “Low Tide at Boccadasse, Italy” (Maré Baixa em Boccadasse, Itália). A areia da praia, entre o barco “encalhado” e o ciclo incessante das ondas, transmite um senso de expectativa. Também gosto de imaginar uma conversação entre pessoas, usando os elementos da aquarela. n Quem o influenciou, de maneira signifi- cativa, em suas idéias e expressões artísticas? Meu professor de arte da Universidade de Sydney, Lloyd Rees, exerceu forte influência sobre mim como pessoa e como conselheiro. Suas aulas eram cativantes; ele compartilhava suas experiências. Associavase, como pessoa, à sua arte e transportava isso para seu tema e estilo. Tenho cartas dele as quais aprecio muito. Aqui está uma em que o Dr. Rees comenta algumas das coisas simples e insignificantes que fiz, por exemplo, participar de um projeto de arte como estudante e comprar uma xícara de café para ele, que produziram mele impressão duradoura. Possuo algumas de suas aquarelas e livros. Donald Schon, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em suas publicações sobre a prática reflexiva e suas associações pessoais, causou impacto em minha prática e em meu enfoque artístico no processo de ensino. n Por que a aquarela o atrai? Sou fascinado pelo modo como funciona a técnica da aquarela. Gosto de interagir com o papel e a tinta e observar como a DIÁLOGO 17•2 2005 temperatura e a umidade introduzem variações. A secagem da aquarela produz, muitas vezes, resultados inesperados. Acho divertido esse desenvolvimento, gosto do processo criativo e freqüentemente de seu resultado. n Por que o senhor aprecia o processo cria- tivo? A criatividade está ligada às pessoas. Ela é a comunicação com o propósito de estabelecer uma conexão — conexão entre a arte e as convicções religiosas, e o compartilhamento disso com os outros. É sobre isso que Ellen White se referia quando escreveu que todos somos criadores e temos o poder dado por Deus para pensar, agir e fazer. n O senhor tem uma filosofia artística? O processo criativo provê um modelo de reflexão sobre meu papel de professor, administrador e artista. As fotografias me fazem recordar de experiências, mas não posso competir com a Natureza. O realismo na arte omite muita coisa. Através da arte, as percepções de um indivíduo e sua cosmovisão podem ser compartilhadas com as pessoas. Um tema da Natureza ou do meio ambiente pode gerar uma grande quantidade de idéias, algumas das quais são passíveis de serem colocadas no papel. Com as aquarelas é até mesmo possível transmitir emoções. n Então, o que é o processo criativo? A criatividade começa com uma necessidade real, humana. Esse é o ponto inicial da arquitetura: por que deve ou não haver um novo edifício? Essa é a verdade do Gênesis e também percebida no Novo Testamento. A criatividade exige uma observação detalhada. É descobrir o problema, resolvê-lo e refletir no processo. A análise e a síntese são fundamentais, e as idéias devem ser filtradas a fim de decidirmos se são válidas. É um momento criativo. Para mim, segurar um lápis representa uma continuidade entre esta vida e o Céu. Há temas criativos no culto, na música, nos instrumentos musicais, na arquitetura e na literatura bíblica. Imagino que no Céu prosseguiremos DIÁLOGO 17•2 2005 com o processo de criatividade. A última fase do processo criativo é a comunicação. Engajar outros nesse processo faz parte da emoção. n Como profissional cristão, o que lhe trou- xe maior satisfação? Estou feliz com minha carreira de arquiteto. Ganhei vários concursos com minhas idéias arquitetônicas. Fiz projetos de várias igrejas, mas me lembro com satisfação do projeto de uma capela para um centro de idosos que envolvia tudo, desde o edifício até a adequação das luzes e vitrais. Tenho alegria em ser professor, servir como líder, trabalhar com diferentes tipos de pessoas e refletir sobre diferentes métodos de ensino. No ambiente do estúdio de design, cada estudante se engaja em criatividade e reflexão. Estou bem ciente de que Deus está dirigindo minha vida. Reflito sobre isso em meu novo livro intitulado A Plan Larger Than I Can Draw (Um projeto maior do que posso desenhar). Tenho tido vislumbres de Deus como Criador através de minhas limitadas excursões no processo criativo. n De todas suas experiências, há alguma que o senhor gostaria de partilhar conosco? Minha esposa, Norene, e eu tínhamos passado uma sexta-feira fazendo esboços das ruínas maias na mata. No meio da tarde, fomos com nosso Volkswagen para a rodovia Pan-Americana a fim de encontrar um local para acamparmos. A falta de sinais na estrada e as informações confusas dos mapas nos atrasaram e estávamos ansiosos para encontrar um local e montar nossa barraca antes do pôr-do-sol. Quando subíamos pela estrada de uma montanha íngreme, cruzamos com um carro. Um dos mexicanos gritou: “Para onde estão indo?” “Para Tuxla.” “Vocês estão no caminho certo. Nós somos adventistas do sétimo dia e estamos indo para o Colégio Linda Vista, a algumas milhas daqui.” Seguimos o Dr. Rodriguez e sua família e fizemos o culto de pôr-dosol na instituição. Ali conhecemos o Dr. Butler e esposa, que insistiram em que ficássemos em sua casa. Ao partirmos, deram-nos um pacote para levar à Sra. Graves, numa clínica localizada logo após a fronteira da Guatemala. Ela ficou muito agradecida pela visita e nos entregou correspondências para levarmos ao hospital adventista na Nicarágua. Não somente fomos inspirados pelo trabalho desses fiéis missionários, mas tivemos a certeza de que, ainda que saibamos que na vida podemos estar no lugar certo e na hora certa, a fé é fundamental no viver cristão em meio às turbulências e incertezas. n O senhor tem um último conselho para os nossos leitores? Cada um pode combinar emoção com reflexão. Nossas impressões da experiência estética enriquecem os compassos da vida. O arquiteto holandês Aldo van Eyck comentou: “A arquitetura não pode fazer mais e não deve fazer menos do que ajudar alguém a voltar ao lar”. Norene e eu aprendemos a conhecer e apreciar uma vida mais significativa. Se isso é verdade para o mundo secular, é muito mais importante para a verdade espiritual. A vida com o Espírito Santo, no sentido mais amplo e na especificidade da escatologia, não pode fazer mais e não deve fazer menos do que auxiliar-nos no caminho de volta ao nosso verdadeiro lar. Entrevista concedida a Delyse Steyn Delyse Steyn (D. Ed., Universidade da África do Sul) é professora e coordenadora do Departamento de Comunicação da Universidade Andrews, em Berrien Springs, Michigan. O endereço de Neville Clouten é: 8695 Maplewood Drive, Berrien Springs, Michigan 49103, USA. 269471-4163. E-mail: nclouten@yahoo. com. Algumas de suas aquarelas podem ser vistas no site http:// www.nevilleclouten.com. 19 EM Ação Estudantes universitários se reúnem no Equador Erton Köhler Encontrando-se em Santa Cruz, a ilha mais acessível do Arquipélago Galápagos, reuniram-se no início de abril de 2005 estudantes universitários adventistas e amigos de várias regiões do Equador, para participar de uma convenção. O evento foi realizado no auditório municipal de Puerto Ayora e reuniu 120 representantes das Missões Norte e Sul do Equador. O tema do encontro foi “Sempre Fiel” e o programa focalizou três assuntos: a identidade adventista, o criacionismo e o evangelismo. Os principais oradores foram Roberto Biaggi (diretor do Instituto de Geociência da Universidade do Rio da Prata, na Argentina), Walter Alaña (diretor do Instituto Tecnológico Adventista do Equador) e Samuel Sandoval (pastor no Peru). Com o apoio das autoridades locais, os estudantes participaram de um projeto ecológico, limpando determinadas áreas da ilha e melhorando o hábitat de várias espécies naturais. As autoridades reconheceram formalmente o trabalho dos estudantes, mediante a concessão de um certificado de apreciação por seus serviços à comunidade. No início da convenção, Veronica 20 Eras uniu-se à família adventista através do batismo. Por 10 anos ela vinha participando de atividades da igreja. E durante o longo vôo até o local decidiu-se por começar uma vida nova com Deus. Outro participante que estava estudando a Bíblia e fora tocado pelas mensagens também foi batizado no final da programação. Líderes de associações estudantis universitárias foram eleitos para ambas as missões do Equador. O programa foi encerrado com uma comovente Santa Ceia, na qual os participantes se comprometeram a permanecer sempre fiéis a Jesus e a Seus ensinamentos. Felipe Arturo Ramos Escalante, que cursa primeiro ano de direito, agradeceu a Deus e aos organizadores da convenção, e disse: “Trouxe um amigo que ainda não é membro de nossa igreja, mas ele ficou muito impressionado com as mensagens e atividades de que participamos”. Disse ainda: “Como estudante adventista, tenho enfrentado muitas dificuldades, e esse encontro fortaleceu minha determinação de permanecer fiel”. Monica Jacqueline Ayala Soto, que está concluindo a faculdade de Pedagogia, apreciou especialmente os fortes argumentos apresentados em favor do criacionismo. Além disso, ela testificou que “reunir-se com outros estudantes universitários que passam por alegrias e dificuldades semelhantes, fortaleceu a fé”. Ironicamente, a pitoresca Ilha de Galápagos, designada pelas Nações Unidas como Patrimônio da Humanidade, foi o local onde, em 1835, Charles Darwin coletou espécimes e elaborou argumentos que depois incluiria em seu livro A Origem das Espécies. A Igreja Adventista na América do Sul promove a criação de associações estudantis adventistas e a divulgação de tais eventos, pois estamos num momento decisivo na vida de nossos estudantes. Se eles estiverem devidamente envolvidos e apoiados, tornarse-ão profissionais e líderes que nossas congregações e suas comunidades necessitam urgentemente. Erton Köhler é departamental de Jovens e representante da revista Diálogo para a Divisão SulAmericana. Seu e-mail é: Erton. [email protected]. Rede Adventista da Filadélfia Lakisha Hull No outono de 2001, duas estudantes adventistas de pós-graduação estavam vivendo modestamente e freqüentando universidades seculares na cidade de Filadélfia, Pensilvânia, e não tinham nenhum parente ou outro contato na área. Apesar de existirem muitas congregações adventistas na cidade, não havia nenhum ministério para jovens que prestasse apoio social e espiritual. Então, Shermese Woodbine e a autora deste relatório decidiram fazer algo para mudar a situação. Com muita oração e trabalho árduo, lançamos o Philadelphia DIÁLOGO 17•2 2005 Estudantes adventistas ativos nas Filipinas Redentor A. Feliciano Adventist Network Ministries (PAN) [Ministérios da Rede Adventista da Filadélfia] para equipar a próxima geração de líderes da igreja e, ao mesmo tempo, prover um abrigo seguro para jovens interessados em atividades alegres com propósitos espirituais. O PAN atende ao chamado da grande comissão para chegar até os não-alcançados, enquanto atinge jovens adventistas que desejam fortalecer seu relacionamento com Deus. Com um início bem simples, o PAN tornou-se um ministério que une mais de 100 jovens adventistas em eventos cristãos, atividades sociais e estudos bíblicos. O grupo variado inclui estudantes universitários, bem como jovens profissionais casados ou solteiros. Os estudos bíblicos, realizados duas vezes por mês, são a espinha dorsal do ministério. Esses encontros são possíveis graças aos membros do grupo que abriram seus lares para os interessados em conhecer outros adventistas e estudar a Palavra de Deus. Os estudos tratam de assuntos e questões relevantes para os jovens cristãos do século XXI. Dependendo do assunto, oradores especiais são convidados para liderar o estudo. Muitos membros valem-se desse DIÁLOGO 17•2 2005 programa como uma oportunidade de testemunhar sobre a direção de Deus em suas vidas, e solicitar apoio para desafios pessoais. O PAN também organiza atividades sociais como jogos, piqueniques e excursões. Uma rede eletrônica é utilizada para divulgar informações sobre os eventos e programas futuros. Esse ministério, criado por jovens e para jovens, enfrenta os obstáculos mais comuns: fundos limitados, transporte inadequado para os participantes e a constante rotação de membros, conforme os estudantes se formam e vão embora. Os planos futuros incluem a expansão de eventos evangelísticos de voluntariado e serviço comunitário, e o desenvolvimento de um programa de aconselhamento e instrução para jovens do centro urbano. Para conhecer mais sobre o Philadelphia Adventist Network, entre em contato conosco através de nosso e-mail: [email protected]. Quando os estudantes adventistas da Central Luzon State University (CLSU), em 1999, estabeleceram uma divisão da AMiCUS, ninguém os levou muito a sério. Quatro anos depois, a divisão foi oficialmente reconhecida pela CLSU, como uma das mais importantes organizações estudantis do campus. Essa importância deve-se ao fato de que nossa entidade é a única organização religiosa ali, e sua função no campus é contribuir para o desenvolvimento do caráter e da fé cristã. Hoje a CLSU, uma das maiores universidades nas Filipinas, vê nossa divisão da AMiCUS desempenhando uma função construtiva na vida dos estudantes adventistas e também de outros jovens. Esse papel construtivo, pela providência de Deus, fortaleceu os estudantes adventistas a permanecerem firmes em sua fé e testemunhar de sua crença. Como resultado, temos presenciado inúmeros batismos nos últimos anos. A organização é também um instrumento do Senhor para reavivar as igrejas adventistas nas comunidades próximas, através de visitas e direção dos cultos aos sábados. Isso é muito apreciado onde as igrejas não possuem pastores em período integral. Uma atividade que tem atraído estudantes de diferentes igrejas aos nossos encontros é o concerto musical. O Continua na p. 23. 21 Logos Ele soprou em suas narinas: o divino beijo da vida Larry L. Lichtenwalter Em seu livro Mortal Lessons: Notes on the Art of Surgery, o cirurgião Richard Selzer conta acerca da noite em que estava ao lado da cama de uma jovem que se recuperava de uma cirurgia facial. Ela estava com a boca retorcida por causa de uma paralisia. Seu aspecto chegava quase a ser cômico. Havia um tumor em seu queixo. Para removê-lo, Selzer teve de cortar um pequeno ramo do nervo facial — aquele que segue até os músculos bucais. A boca da jovem ficaria torta pelo resto da vida. Um jovem estava em pé no quarto, do outro lado da cama. Esse casal parecia mergulhado em seus próprios pensamentos, distante do cirurgião. “Quem são eles?” Selzer perguntou a si mesmo. “Ele e essa boca deformada que eu fiz; que se olham e se tocam um ao outro tão generosa e carinhosamente?” Assinatura gratuita para a biblioteca de sua faculdade ou universidade! Deseja ver a Diálogo disponível na biblioteca de sua faculdade ou universidade, de modo que seus amigos não-adventistas possam ter acesso à revista? Procure o bibliotecário e sugira que solicite uma assinatura gratuita, usando papel timbrado da instituição. Cuidaremos do resto! As cartas devem ser endereçadas a: Dialogue Editor-in-Chief; 12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, MD 20904-6600; EUA. “Por que minha boca vai ficar assim para sempre?” ela lhe perguntou observando seu jeito. “É porque o nervo teve de ser cortado”, explicou Selzer. Ela acena com a cabeça sem dizer uma palavra. Mas, o jovem sorri: “Eu gosto dela”, diz. “Ficou até bonita!” De repente, Selzer percebeu quem era o jovem e abaixou a cabeça. Indiferente à presença do cirurgião, o jovem esposo se inclina para beijar a boca retorcida da esposa. Selzer estava tão perto que pôde ver como ele acomodou seus lábios para se ajustarem aos dela, a fim de mostrarlhe que eles ainda podiam se beijar.1 Fico a pensar como Deus acomodou Seus lábios para soprar nas narinas de Adão o fôlego da vida (Gênesis 2:7). Você consegue imaginar isso? O dom da vida é concedido à humanidade num íntimo encontro face a face. Deus faz uma obra de arte a partir do barro. A ligação com Sua obra de arte começa a crescer no processo gentil da criação. Então chega um momento incrível. O toque final. Quem poderia imaginar? Apenas Deus! Lábios vivos tocam as frias narinas de barro. Um silencioso sopro de vida se move da boca de Deus à Sua escultura sem vida. Os lábios de barro se enrubescem com a vida. Os olhos frios e sem expressão se abrem para ver os olhos saltitantes de Deus. A face sorridente do Criador ainda está muito próxima. As mãos divinas ainda seguram suas faces. É a primeira experiência de vida de Adão — um encontro face a face com Deus. Que momento! Que intimidade! Uma identidade dada por Deus O livro de Gênesis representou boas- 22 novas à geração de israelitas que se preparava para entrar na terra prometida. Pessoas inseguras de sua identidade e de seu propósito na vida ou com relação ao futuro. Pessoas que precisavam encontrar rumo espiritual e moral em meio a uma cultura imoral que negava a Deus. Pessoas lutando para crer que a terra prometida era muito melhor do que o Egito, ou qualquer outro lar que porventura fizessem para eles mesmos no deserto. Eles precisavam separar-se e ser diferentes dos vizinhos pagãos. Assim também acontece conosco, o povo de Deus do tempo do fim! Você e eu! Que imagem melhor nos poderia ser dada do que aquela de Deus segurando a face de Adão em Suas mãos e acomodando Seus lábios às narinas de barro do primeiro homem para trazê-lo à vida? De Deus nos fazendo à Sua imagem e ua semelhança? Do pensamento de que nossa identidade moral e espiritual vem diretamente dEle? (Gênesis 1:26-28). Em meados da década de 1990, o fabricante de brinquedos Mattel introduziu a Barbie, a boneca número um do mundo, num mercado dominado pelos homens de softwares de multimídia e videogame. O belo manequim de 29cm agora anda e se movimenta num criativo programa interativo de computador. Há o Fashion Designer onde você pode criar até 15 mil diferentes estilos de modelos Barbies em 3-D exibindo-se na passarela. E há o Barbie Storymaker onde você pode criar seus próprios filmes da Barbie, repletos de intriga e ação. Foi uma manobra para fazer com que as garotas também fiquem tão grudadas no computador quanto os garotos. Por mais de 40 anos, a Barbie tem sido o meio através do qual as garotas imaginam a vida e se projetam no futuro. Isso me faz pensar nas diferentes teorias da natureza humana existentes no mundo hoje. Evolucionistas, sociólogos, psicólogos, adeptos da Nova Era, marxistas, budistas, muçulmanos e vários cristãos têm vestido os seres humanos com essa ou aquela forma de ser. Os marxistas nos dizem que somos moldados pela sociedade. Os evolucionistas, que somos o ponto DIÁLOGO 17•2 2005 final de um desenvolvimento natural biológico no qual apenas o mais apto sobrevive. Os adeptos da Nova Era, que somos deuses e parte de uma grande consciência cósmica. Os existencialistas, que temos um caminho aberto diante de nós onde cada um faz suas escolhas por si mesmo e para aquilo que lhe é importante. Jean Paul Sartre escreveu que “o homem é como uma bolha de consciência num oceano do nada, flutuando por aí até a bolha estourar.” Se não tivermos um senso claro de nossa identidade interior, podemos sentirnos perdidos e anônimos em meio aos bilhões de pessoas com as quais dividimos este planeta. O futuro pode parecer absurdo, vazio, sem sentido. Muito da decadência moral de nossa sociedade, e os desencontros de nossas famílias, são resultado da confusão acerca de quem realmente somos. Mas as boas-novas do Gênesis é que fomos feitos à imagem de um Deus que nos ama e está trabalhando para nos salvar! Esse despertar “boca-a-narina” do pó inerte é único e significativo. É a peça central do ensino bíblico acerca de quem somos. Nosso propósito na vida. Nossa responsabilidade final. Nossos direitos, dignidade e caráter moral. Um centro espiritual Naomi Rosenblatt escreve que “ser feito à imagem de Deus faz com que sejamos um centro espiritual portátil”.2 Onde quer que formos, esse centro espiritual portátil vai conosco. “Se definirmos a nós mesmos como tendo sido feitos à imagem de Deus, ninguém mais pode vir com outra definição”.3 Com esse senso de identidade espiritual firmemente enraizado em nós, ninguém jamais poderá usurpá-lo ou tirá-lo de nós, mesmo quando experimentarmos momentos difíceis na vida. Era isso o que Israel precisava ouvir muito tempo atrás. É isso o que nós precisamos ouvir hoje como povo remanescente de Deus, quase a entrar na prometida terra celestial. Essa deveria ser sempre parte de nossa mensagem neste tempo do fim, para o mundo de pessoas perdidas e confusas que estão ao nosso DIÁLOGO 17•2 2005 redor (Apocalipse 14:7; 10:1, 5-7; 4:11; 21:1-5). A mensagem “boca-a-narina” do Gênesis nos fala que Deus não somente tem o poder de trazer alguma coisa do nada —o que inclui o vazio de nossa vida — mas que Ele tem disposição para fazê-lo. Isso foi declarado no Calvário, onde os lábios de Jesus foram marcados com palavras de dor, angústia e perdão. O Apocalipse promete-nos que na nova criação a face de Deus será novamente vista pelos seres humanos (Apocalipse 22:4). Então Seus lábios serão marcados com palavras de bênção e um sorriso alegre, até mesmo cantante (Zacarias 3:17). Agora, em meio à dor e a provação, pecado e queda, somos convidados a meditar naquele primeiro momento do amor divino — Deus acomodando Seus lábios para soprar nos seres humanos que haveriam de refletir Suas qualidades pessoais e morais no mundo. A cruz afirma essas raízes e provê o contexto moral e o poder para que sejamos totalmente restaurados à Sua imagem (Romanos 5:1021; Apocalipse 12:10, 11). A promessa da nova criação afirma não somente quem somos, mas também para onde estamos indo (Apocalipse 22:3, 4; II Pedro 3:1114; I João 3:1-3; Colossenses 3:1-10). Vivemos na luz moral que irradia de ambas as criações, a passada e a futura. Ela afirma nossa identidade moral e herança — quem somos no mundo. Louve a Deus com admiração! Quem somos nós para que Deus pense assim a nosso respeito (Salmo 8:3-6)? Larry Lichtenwalter, Ph.D., é pastor da Village Seventh-day Adventist Church em Berrien Springs, Michigan. Seu email: [email protected]. REFERÊNCIAS 1. Richard Selzer, Mortal Lessons: Notes on the Art of Surgery (Nova Iorque: Simon e Schuster, 1974), pp. 45, 46. 2. Naomi H. Rosenblatt, Wrestling with Angels (Nova Iorque: Delacorte Press, 1995), p. 15. 3. Idem., p. 14. Filipinas Continuação da [p.] 21 concerto não é apenas uma experiência espiritual, mas também um evento que promove a apreciação pela música e a fé cristã. Inicialmente, foi um desafio para nós conduzir essas atividades numa universidade secular, onde o conceito de música é muito diferente daquilo que planejávamos oferecer, mas, com a direção de Deus, realizamos até aqui dois grandes concertos com boa audiência. Outra atividade que obteve atenção e apreciação ao AMiCUS é nosso ministério nas prisões. Uma vez por mês visitamos um presídio na cidade vizinha de San Jose, e levamos aos internos tanto a alegria da música cristã quanto a esperança do evangelho. Nosso programa dura uma hora e durante esse tempo temos a oportunidade de alcançar o coração de muitos internos. Somente o tempo poderá revelar quantos encontraram nova esperança e direção em Deus. Outras atividades incluem cruzadas da “A Voz da Juventude”, clínicas médicas e odontológicas, palestras espirituais e sobre saúde, histórias para crianças, festivais desportivos, retiros espirituais, acampamentos e caminhadas, serenatas, escolas sabatinas filiais e muitas outras. Quase todas as despesas são cobertas pelas contribuições dos estudantes, apesar de eles mal conseguirem suprir seus custos educacionais. Nosso grupo está convidando organizações estudantis de outras partes do mundo para estabelecer uma rede de contato conosco. Nós os convidamos a compartilhar suas atividades conosco, a fim de podermos aprender mais sobre as diferentes maneiras de ministrar às pessoas que nos cercam. Nosso e-mail é: [email protected]. Redentor A. Feliciano é o editor do boletim da AMiCUS-CLSU. 23 ponto de vista Ellen White e seus críticos Leonard Brand Os críticos de Ellen White têm baseado seus estudos em inadequados planos de pesquisa e lógica equivocada, e temos o direito de discordar de suas conclusões. Deus dá informações a seres humanos? Alguém ousaria questionar a crença de que Deus falou com Seus profetas? Novas informações publicadas num livro recente, The Prophet and Her Critics, procura responder a essas questões. Ellen White foi líder, oradora e escritora de destaque nas primeiras décadas da denominação adventista do sétimo dia. Seu ministério estendeu-se desde 1844 até sua morte em 1915. Os adventistas do sétimo dia acreditam que ela foi portavoz de Deus, recebendo informações através de visões, para o benefício dos adventistas e de outros. Ela registrou essas informações em livros e artigos, o que a tornou uma das autoras mais publicadas da história. Os críticos têm questionado suas reivindicações acerca da recepção de comunicação divina, sustentando que, em vez disso, ela copiava suas idéias de outras fontes. Porções de seus escritos, de fato, mostram alguma similaridade com o que é encontrado em livros de outros autores que ela conhecia e lia. A questão é se esses autores eram a fonte de suas idéias ou, como ela própria dizia, a leitura desses livros apenas a ajudava a expressar melhor os conceitos que recebia da parte de Deus. É correto questionar um profeta de Deus como fazem esses críticos? I Tessalonicenses 5:20-21, Deuteronômio 24 18:22 e Mateus 7:15-20 indicam claramente que existiriam verdadeiros e falsos profetas, e temos o direito e a responsabilidade de distinguir uns dos outros. Também somos compelidos a avaliar criticamente o trabalho daqueles que alegam haver julgado um suposto profeta, e achado que eles deixaram a desejar. Propus-me a avaliar o trabalho dos críticos de Ellen White, juntamente com Don McMahon, um médico, que concluiu novas pesquisas para determinar se os princípios de saúde dessa senhora procederam de Deus, como ela alega, ou da abundante literatura do século dezenove produzida por outros reformadores de saúde. Essa pesquisa oferece o que parece ser a primeira evidência científica sobre a natureza da inspiração. Os críticos de Ellen White Minha avaliação de três conhecidos críticos de Ellen White, Walter Rea, Jonathon Butler e Ronald Numbers, concentrou-se na qualidade de sua pesquisa. Será que eles utilizaram um método de pesquisa adequado? Coletaram seus dados de forma apropriada? Esses dados apóiam suas conclusões? Se tivessem apresentado seus trabalhos como teses de pós-graduação, teriam sido aprovados? A alegação básica de Walter Rea é que frases ou mesmo séries de sentenças dos livros de Ellen White são idênticas ou muito similares a outros livros de sua biblioteca particular. Ele argumenta que isso refuta a reivindicação que ela faz de haver sido divinamente inspirada, e mostra que ela copiou suas idéias de outros. Porém, há muitas razões por que as evidências apresentadas por Rea não lhe sustentam as conclusões. Em primeiro lugar, o grau de semelhança não é tão grande quanto ele faz parecer. Isso pode ser determinado mediante uma análise cui- dadosa dos exemplos citados em seu livro. Segundo, ele cita dois argumentos contra suas próprias conclusões, e seus esforços para refutar esses argumentos não convencem. Os dados que ele usa não podem provar tais argumentos. Terceiro, a principal linha de pensamento do livro todo está baseada numa lógica equivocada. Ele, de fato, apresenta evidência que refuta a alegação de que os escritos da Sra. White eram todos originais, ou de que eram verbalmente inspirados ou ditados por Deus. O problema é que ele então salta diretamente para a conclusão de que não pode ter havido uma comunicação divina. Esse raciocínio rígido, no entanto, falha em considerar uma explanação intermediária, que pode ser encontrada na descrição que ela mesma apresenta sobre como escreveu seus livros. Sua reivindicação é de que Deus lhe falou, dando-lhe princípios os quais escreveu com suas próprias palavras. Ela esclarece que muitas vezes se sentia incapaz de expressar adequadamente esses conceitos, mas era instruída de que poderia fazê-lo se lesse outros livros no assunto. Essa explanação é consistente com todos os dados de Walter Rea e, por isso, ele falha em não apresentar qualquer evidência que possa negar o papel da inspiração divina nos escritos de Ellen White. Assim é requerido outro tipo de evidência para testar sua reivindicação de inspiração. Um artigo publicado num periódico, alegando que a compreensão de Ellen White acerca dos eventos finais da história terrena proveio de acontecimentos correntes em seus dias, também peca pela lógica equivocada e inadequada evidência. Não discutiremos esse artigo aqui. Vamos, porém, direto ao livro Prophetess of Health, de Ronald Numbers. Numbers pretende mostrar que Ellen White extraiu todos os princípios da reforma da saúde das obras de outros reformadores de seus dias. Havia vários deles no século dezenove, os quais publicaram muitos livros e artigos, sendo que alguns faziam parte da biblioteca particular de Ellen White e foram por ela sublinhados. A principal visão de saúde que Ellen DIÁLOGO 17•2 2005 White teve ocorreu em junho de 1863, e no ano seguinte ela escreveu os princípios de um viver saudável no livro Spiritual Gifts. Ela afirmou não ter lido as obras de outros reformadores da saúde, senão após haver escrito a seção sobre saúde do Spiritual Gifts. Contudo, depois de escrever essa obra, a Sra. White surpreendeuse ao encontrar muitos conceitos similares aos seus. Numbers não leva em conta a afirmação de Ellen White, e diz que antes da visão de 1863 “os adventistas do sétimo dia já dispunham dos elementos básicos da mensagem da reforma da saúde”. A história desses eventos provida por Numbers é instrutiva, mas seu uso da narração para determinar se os princípios de saúde foram revelados por Deus a Ellen White, está repleto de erros de lógica e evidência inadequada. Em primeiro lugar, uma pesquisa assim deve estar baseada numa listagem completa de seus princípios de saúde e também dos princípios de saúde de suas supostas fontes. Eles devem ser compilados com base nos mesmos critérios, a fim de proporcionar uma série de dados imparciais. Então, todos esses princípios podem ser comparados com as descobertas médicas modernas, visando a determinar quais deles foram cientificamente comprovados. De fato, o conhecimento médico está constantemente avançando e mudando diante de novas descobertas, de modo que essa regra não é absoluta. Entretanto, esse não é um problema muito sério, porque permite uma comparação do relativo grau de exatidão dos diferentes reformadores da saúde. Isso é adequado aos nossos propósitos. Numbers nem chega perto de fazer isso, mas usou evidência anedótica — uma comparação de uns poucos princípios de saúde — sem qualquer indicação de como escolheu esses exemplos, em vez de muitos outros que não discutiu. Segundo, Numbers se concentrou nas semelhanças entre os princípios de Ellen White e os de outros reformadores, mas não discutiu as importantes diferenças existentes entre eles. Isso não é apropriado, pois um plano imparcial de pesquisa deve comparar tanto as similaridades quanto as diferenças. DIÁLOGO 17•2 2005 Terceiro, Numbers não tentou analisar objetivamente a hipótese da inspiração divina, mas declarou explicitamente sua suposição de que os dados deveriam ser avaliados sem recorrência a essa hipótese. Mas um estudo mais culto visando a determinar se uma hipótese é verdadeira, não pode começar supondo que tal hipótese seja falsa. Em resumo, os planos de pesquisa usados por esses críticos são igualmente insatisfatórios e não apresentam dados para apoiar suas alegações. Muitos livros foram escritos em resposta a esses críticos. Minha avaliação é que essas obras ajudam, mas não representam estudos meticulosos e objetivos, os quais são necessários para testar a hipótese da comunicação divina como fonte dos escritos de Ellen White. Não obstante, um novo estudo de seus escritos sobre saúde usou o plano de pesquisa apropriado, e oferece possibilidades de testar a comunicação divina dos princípios de saúde. Essa investigação foi feita por Don McMahon, um médico com larga experiência no estudo e divulgação de princípios médicos modernos de um viver saudável. Testando a hipótese da inspiração divina McMahon compilou uma lista de todos os conceitos de saúde contidos nos escritos de Ellen White e de outros destacados reformadores da saúde seus contemporâneos. A mesma abordagem foi usada para compilar cada uma dessas listas. Então esses conceitos foram todos comparados com a ciência médica moderna, e cada um deles avaliado como confirmado ou não pela medicina atual. Cada conceito de saúde foi então categorizado como um princípio de saúde ou uma explanação fisiológica de um princípio de saúde. Por exemplo, “beba muita água” é um princípio, uma declaração do que fazer. Uma explanação fisiológica não diria o que fazer, mas por que fazer. McMahon chamou os princípios de “ques”, e as explanações de “porquês”. Finalmente, a opinião médica contemporânea também foi utilizada para decidir se cada princípio de saúde (“que”) deve ter efeito pequeno ou significativo sobre a saúde. Isso propiciou um banco de dados para o teste que havíamos estado procurando. Portanto, estamos prontos para testar duas hipóteses: (1) “os conceitos de saúde de Ellen White podem ser satisfatoriamente explicados como tendo sido tomados emprestados de outros reformadores da saúde seus contemporâneos”, e (2) “os escritos de saúde de Ellen White contêm informações que não podem ser explicadas como originárias dos conceitos de saúde disponíveis em seus dias; eles demonstram que ela deve ter recebido informação de uma fonte extra-humana”. Na década de 1950, a opinião médica era claramente contrária aos princípios de saúde de Ellen White, mas as novas pesquisas realizadas na segunda metade do século vinte mudaram isso. De 46 “ques” em Spiritual Gifts, 96% foram confirmados pela medicina moderna, sendo 70% deles significativos para a saúde, e 26% como tendo efeitos menores. Em contraste, os princípios de saúde (“ques”) de cinco outros reformadores da saúde estudados tiveram apenas de 35-45% de confirmação. Mas não é só isso. Quando comparamos a lista dos princípios nãoconfirmados de todos esses reformadores, a diferença entre Ellen White e eles é ainda maior. Dois princípios de Ellen White em Spiritual Gifts, considerados por McMahon como não-confirmados, são os seguintes: não use fermento no pão, e em geral tome apenas duas refeições por dia. Em contraste, eis uma amostra dos princípios não-confirmados de outros reformadores: não aqueça sua casa; se quiser comer carne, coma-a crua; não console as crianças, pois chorar lhes faz bem; não deixe as crianças comerem frutas; não beba água, apenas coma frutas que a contenham; não use sal; use pouca roupa quanto está frio; não use sabão; tome apenas dois banhos por semana; a atividade sexual entre marido e mulher é prejudicial à saúde; as crianças não devem comer batatas; e evite odores fortes (mesmo os agradáveis, como o perfume das flores). Uma vez que Ellen White tinha pouca 25 educação formal, e certamente nenhuma formação médica, como sabia ela que não deveria utilizar aqueles princípios que podem até ter parecido válidos 150 anos atrás, mas que hoje são reconhecidamente muito equivocados? E onde foi que ela conseguiu os muitos princípios que os outros reformadores de saúde jamais defenderam? Esse último ponto é particularmente importante, porque os princípios que lhe são exclusivos têm um grau de precisão muito maior do que os princípios encontrados em seus escritos e nos de um ou mais dos outros reformadores da saúde. A precisão de seus princípios de saúde não pode ser derivada de nenhuma fonte disponível em qualquer época da vida dela. Isso parece refutar a hipótese número 1 acima, e é consistente com a hipótese de número 2 — comunicação de uma fonte extra-humana. Alguém tem outra explicação? Após escrever Spiritual Gifts, Ellen White diz que leu as publicações de outros reformadores, e usou parte desse material. Isso pode explicar porque seu percentual de princípios de saúde confirmados no livro Princípios de Saúde, publicado em 1905, caiu de 96% para 87%. Mesmo assim, os princípios nãoconfirmados no Princípios de Saúde são idéias discutíveis, mas que não incluem qualquer dos princípios estranhos defendidos por outros reformadores da saúde. Até agora tenho discutido os “ques”, mas os “porquês” apresentam um quadro diferente que revela algo acerca da natureza da inspiração. Os “porquês” de Ellen White não são mais corretos que os “porquês” de outros reformadores, e por isso eles parecem vir de uma fonte de informação diferente. Parece que Deus nos deu os princípios de um viver saudável que haverão de melhorar nossa qualidade de vida, mas deixou que encontrássemos por nós mesmos as explicações fisiológicas. E, de fato, teria quase sempre sido impossível dar explicações fisiológicas corretas para muitos dos princípios de saúde no século dezenove, usando terminologia médica e conceitos que não se tornaram conhecidos senão na segunda metade do século vinte. 26 Princípios de saúde como “beba muita água” ou “não beba álcool” são fáceis de comunicar e entender em qualquer momento da história, embora não se conheça as razões corretas para eles. Nossa vida e relacionamento com Deus serão beneficiados se seguirmos os princípios de vida que Ele nos deu, mesmo que não lhes entendamos as razões. Ellen White e os princípios das relações sexuais Os críticos de Ellen White argumentam que ela defendeu conceitos desequilibrados sobre as relações sexuais entre marido e mulher, mas isso parece estar baseado numa leitura desatenta de seus escritos. Em seus dias, era comum os reformadores da saúde defenderem uma restrição do contato sexual a uma vez por mês. Contrariamente ao que Numbers dá a entender, Ellen White nunca defendeu tal coisa. Ela, de fato, discute problemas causados por “paixões animais”, esposos “piores que os brutos” e defende que as esposas devem tentar desviar a mente de seus maridos da “gratificação das paixões pecaminosas”. Para entender o que ela está condenando, temos de saber que tipo de relação descreve. Está ela condenando as relações sexuais normais entre cônjuges que se amam de forma altruísta, carinhosa e com mútua compreensão? Ou estará ela descrevendo o comportamento insensível de esposos egoístas, exigentes ou talvez até mesmo algum tipo de comportamento abusivo? Ela escreveu numa época em que assuntos sexuais não eram discutidos tão abertamente como hoje, mas um estudo cuidadoso de seus escritos demonstra claramente que as “paixões animais” que ela condena estão na segunda categoria acima descrita. Quando comparamos as descrições de um relacionamento no qual o marido é governado pelo verdadeiro amor, com as características ou resultados de “paixões animais” ou maridos “piores que brutos”, há uma diferença dramática entre as duas listas. Ela está falando da qualidade do relacionamento conjugal e não da freqüência do sexo. Um homem tentou obter a aprovação de Ellen White para um tratado que defendia a idéia de que sexo deveria se limitar à procriação. Assim que ele terminou de falar, ela disse apenas: “Vá para casa e seja um homem”. Ele entendeu o recado e não publicou seu tratado. Conclusões Deus nos permite fazer escolhas e aceitar suas conseqüências. Isso inclui as que cada um de nós faz acerca de nossa visão da inspiração. Todavia, se uma pessoa questiona a Bíblia ou os escritos de Ellen White, temos o direito de esperar que tal questionamento esteja baseado numa pesquisa acadêmica de alta qualidade. Os críticos de Ellen White aqui discutidos basearam seu trabalho em métodos de pesquisa inadequados e numa lógica equivocada, e temos o direito de não concordar com suas ilações. A pesquisa de Don McMahon, de longe a mais cuidadosa e objetiva sobre esse assunto, indica que a alegação de que os princípios de saúde de Ellen White foram copiados de outros reformadores, não é nem um pouco realista. Seguir esses princípios é mostrar nossa gratidão ao Criador, que Se interessa não apenas pela nossa salvação, mas também quer ajudar-nos a levar uma vida mais saudável e feliz. Esses dons divinos são outorgados livremente por Sua graça. A exatidão que vemos nos princípios de saúde dados por Deus pode também nos encorajar a confiar em outros assuntos por Ele revelados — ouvir e crer na comunicação de Deus a nós por meio de Seus mensageiros. Em Sua bondade, Ele tem enviado mensagens que nos impedem de ser enganados pelo inimigo da raça humana. Leonard R. Brand (Ph.D. pela Cornell University) é professor de Biologia e Paleontologia na Universidade de Loma Linda, Loma Linda, Califórnia, EUA. Seu e-mail: [email protected]. Continua na p. 32 DIÁLOGO 17•2 2005 fÓrum aberto Casando-se com um não-cristão? Estou perdidamente apaixonada por um homem que conheci no trabalho. Ambos estamos na faixa dos trinta e somos compatíveis em todas as áreas, exceto a religiosa. Embora não seja cristão, ele vai à igreja comigo e eu sinceramente acredito que se converterá algum dia. Não há ninguém na igreja com quem eu possa namorar. Além do mais, os valores morais desse homem são mais elevados que de outros homens da igreja com quem namorei. O que você pensa sobre as minhas chances de convertê-lo? Eu estou disposta a arriscar. Entendo a sua dificuldade. Buscar alguém com quem possa compartilhar identidade espiritual reduz drasticamente o campo de elegibilidade dos candidatos. Existe a possibilidade de que seu amigo se converta, mas a admoestação bíblica contra a união de um cristão com um nãocristão ainda existe. Nunca se case esperançosa nas futuras mudanças de alguém. Se você fracassar em ser compatível com seus valores espirituais, bem como intelectualmente, emocionais e físicos, estará comprometendo suas crenças e normas. Isso a coloca num patamar perigoso. Não tente ignorar o problema, justificar a relação ou desobedecer a Deus. Em vez disso, analise profundamente o que isso significa para você e aquele a quem ama. A menos que você faça isso agora, em todos os anos vindouros terá de lidar com as conseqüências de estar desigualmente unida. Imagine a frustração que dois construtores experimentariam tentando trabalhar numa casa com dois diferentes projetos de construção. Projetos e materiais diferentes produziriam tal confusão e conflito que a obra fracassaria. Até mesmo um observador amador diria: “Você não pode construir uma casa que tem dois diferentes projetos”. O mesmo conselho se aplica aos ingênuos apaixonados que entram na relação DIÁLOGO 17•2 2005 matrimonial com diferentes posições de projetos espirituais. Quando um é cristão e o outro não, adentram uma arena onde nunca poderão conseguir unidade espiritual. Que diferença isso faz no matrimônio, quando ambos podem voltar-se para Deus no meio a um tumulto e juntos encontrarem refúgio e forças! É impressionante quanta desobediência floresce sob a racionalização que encontrei em sua carta. Você necessita coragem para colocar um ponto final nesse relacionamento. A dor presente será aguda, mas inacreditável a paz no futuro. Cerque-se de amigos cristãos que possam oferecer-lhe apoio em oração. Se você tomar agora a decisão difícil, brevemente terá paz. Tenho 28 anos e estudo em uma universidade pública. Aprecio realmente algumas das idéias de seus livros acerca de como cortejar, mas não estou seguro de que garotas nãocristãs exerçam má influência sobre mim. O que você pensa sobre namorar alguém que não pertença à mesma fé? Alguns jovens solteiros se sentem realmente desconfortáveis quando as pessoas mencionam a advertência de Paulo: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos”(II Coríntios 6:14, Edição Revista e Atualizada). Eles começam com racionalizações: “Eu sei que ela não é cristã, mas vai à igreja comigo e estou certo de que se converterá”. “Mas não há ninguém na igreja para eu namorar!”. “Eu sei que ela não é cristã, mas possui valores morais mais elevados que todas as outras garotas com quem eu namorei”. Entendo a racionalização bem como a dificuldade. Sim, ela poderá converter-se algum dia, mas a admoestação contra um relacionamento entre um crente e um descrente ainda permanece. Há uma grande quantidade de homens e mulheres cristãos em nossas igrejas, que são casados com descrentes. Alguns se tornam cristãos após o casamento. Outros se casam sem prestar atenção nos conselhos das Escrituras, mas eles todos carregam a dor da solidão espiritual. A compatibilidade espiritual é importante. Durante as ocasiões de crise, duas pessoas que comungam juntos podem tornar-se uma fonte de resistência para atravessar os momentos difíceis. Nenhum casal passa pela vida sem ser atingido pela adversidade ou tragédia. Este mundo imperfeito carrega muita maldade — desgosto, dor, desapontamento, doença, revolta emocional, problemas financeiros e morte. Quando um casal necessita buscar a Deus em oração, eles encontram grande força e coragem, especialmente quando O procuram juntos, ao invés de sozinhos! “Não se unam aos descrentes”, diz a sabedoria divina. Cristãos solteiros devem prestar atenção ou colher as conseqüências de viver num lar de onde as sombras nunca se erguem. Deus não deu esse conselho para evitar que você encontre um companheiro, mas para protegê-lo da dor. Não se deixe envolver romanticamente com alguém que não compartilhe a mesma fé, e que você não possa suportar a idéia de um futuro sem essa pessoa. O caminho mais seguro para se proteger de tal dor é manter uma política de relacionamento somente com aqueles que sejam da mesma fé. Nancy Van Pelt é educadora graduada em vida familiar e profissional em ciência do consumidor. É autora de 27 livros já traduzidos em mais de 30 línguas. Essas duas perguntas e respostas foram selecionadas de seu novo livro, feito em parceria com Madlyn Lewis Hamblin, Dear Nancy: A Trusted Advisor Gives Straight Answers to Questions about Marriage, Sex and Parenting (Nampa, Idaho: Pacific Press, 2005). 27 para sua informação Os sombrios segredos do álcool Pesquisas científicas mostram que os perigos do álcool são muito insidiosos para serem ignorados. John F. Ashton O que os anúncios dizem e os cinemas retratam sobre o álcool é muito diferente dos efeitos que o álcool produz em nossos corpos e comunidades. Moços e moças, cuja mente e desejos estão sendo visados por campanhas de mídia cuidadosamente orquestradas, não estão sendo informados sobre os sombrios segredos do álcool. Não lhes está sendo dito, por exemplo, que o álcool tem potencial para afeminar os homens. Ao contrário do que os anúncios de bebidas alcoólicas nos querem fazer crer, quanto mais álcool o homem ingere, menos hormônio masculino, a testosterona, seu corpo produz. Na verdade, o álcool estimula o fígado a produzir uma enzima que converte a testosterona num hormônio feminino, o estrogênio.1 Eis por que os bebedores inveterados podem desenvolver mamas, exibir padrões femininos de deposição de gordura e perder cabelos. Alguém já lhe havia falado antes sobre esse efeito do álcool? Você já ouviu declarações em quaisquer dos anúncios machistas de cerveja, ou nos rótulos das garrafas e latas de cerveja, advertindo sobre o fato de que o consumo abusivo do produto pode produzir afeminação nos homens? Não é esse efeito justamente o oposto da mensagem de muitas das propagandas de cerveja, que insinuam que os “homens verdadeiros” bebem cerveja? Esse efeito feminizante do álcool já era conhecido há muitos anos. Uma pesquisa realizada sob o tema “álcool e feminização”, no banco de dados médicos da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos — http://www.ncbi.nlm. nih.gov/entrez/query —, revela vários estudos sobre esse aspecto do álcool. Assim, por que não fomos informados? 28 Os efeitos do álcool sobre a masculinidade Mas existe muito mais acerca desse lado sombrio do álcool. Alguns estudos oriundos da pesquisa acima referida, revelaram que quando ratas foram expostas ao álcool em sua dieta durante a gravidez, elas produziram prole masculina com características afeminadas. Em certo experimento, a prole de machos adultos cujas mães haviam sido submetidas tanto a uma dieta isenta de álcool como a um regime contendo cinco por cento de álcool, foi colocada junto a uma fêmea receptiva e um macho, ambos engaiolados. Dos ratos descendentes das mães do grupo de controle livre de álcool, dedicaram 29 % de seu tempo à fêmea receptiva, comparada a 13% de seu tempo junto ao macho. Os ratos oriundos das mães expostas ao álcool, dedicaram 20% de seu tempo tanto ao macho quando à fêmea receptiva.2 Em outro estudo, 44% dos ratos machos prematuramente expostos ao álcool não conseguiam ejacular ao acasalarem com fêmeas receptivas, embora possuíssem genitália normal.3 Recentes estudos realizados com animais também confirmaram que a exposição pré-natal ao álcool pode produzir comportamento sexual anormal, o que é provavelmente explicado pelo mecanismo da testosterona.4 Essas descobertas sobre comportamento animal sugerem que pode haver muitos casos de sensibilidade social associada ao consumo de álcool, os quais muitas pessoas com interesses particulares não desejariam discutir. O lado nebuloso do álcool não pára por aqui. Estamos apenas começando a expor seus sinistros segredos. O consumo de álcool durante a gravidez humana pode conduzir à síndrome fetal alcoólica (SFA) na criança. Ela pode gerar malformação de órgãos, incluindo o coração, o sistema nervoso central, os órgãos genitais e o cérebro.5 De fato, por quase 20 anos foi reconhecido que a SFA é a causa principal do debilitamento intelectual no contexto da cultura ocidental.6 Álcool e gravidez Jovens bebedores também não estão imunes de gerar descendência deformada. Desde o início da década de 30 — num manual para mães presentes e futuras, intitulado “All About the Baby” (Tudo Sobre o Bebê) —, a Dra. Belle Wood Comstock observou que os filhos de pais alcoólicos freqüentemente exibiam vários sinais de degeneração mental e física. Ela sugeriu que isso poderia ser explicado com base na quase incrível suposição de que o álcool no sangue serve para envenenar o esperma dos futuros pais.7 Em fevereiro de 1991 — 60 anos mais tarde — a Dra. Gladys Friedler, da Escola de Medicina da Universidade de Boston, relatou à Associação Americana Para o Avanço da Ciência, a descoberta de que a exposição dos pais ao álcool afetava o crescimento e o desenvolvimento de seus filhos.8 Estudos realizados em animais e seres humanos também demonstraram que o álcool danifica o esperma masculino, reduz a contagem dos espermatozóides e pode causar atrofia testicular.9 Estudos utilizando ratos nas experiências descobriram que quando foi permitido que os animais bebessem álcool livremente, seus testículos foram reduzidos e os canais espermáticos sofreram degeneração. Descobriu-se que seus espermatozóides tiveram a motilidade significativamente reduzida, tornando-os incapazes de fertilizar a fêmea receptiva, a despeito das cópulas bem-sucedidas.10 Soube-se, durante anos, que o consumo de álcool causava impotência nos homens e retardava a satisfação nas mulheres.11 Todavia, a indústria do álcool habilmente desviou a atenção desse fato, capitalizando sobre nosso interesse natural em sexo e no papel que o álcool pode desempenhar na sedução, reduzindo as inibições. Utilizando DIÁLOGO 17•2 2005 propaganda de bebidas alcoólicas que insinuam uma associação com o sucesso sexual, nossa atenção foi desviada dos efeitos causadores de impotência. Isto ilustra também como nossos pensamentos e comportamentos podem ser manipulados através de um marketing estratégico inteligente. Álcool e anúncios propagandísticos A indústria do álcool gasta milhões de dólares cada ano pesquisando e produzindo mensagens e imagens que nos persuadem melhor a comprar seus produtos. O ponto principal é aumentar as vendas e através delas os lucros. Alguns dos mais competentes e mais bem pagos cérebros publicitários do mundo são empregados para convencer os jovens a começarem a beber. A indústria sabe que uma vez iniciados, muitos deles serão clientes para toda a vida. Essas campanhas de marketing têm sido muito bem-sucedidas. Na Austrália, por exemplo, entre 1993 e 2001, o consumo de álcool na comunidade em geral aumentou 10% além dos níveis já elevados.12 Mulheres jovens foram particularmente visadas pela indústria da bebida no início da década de 90, através da promoção de bebidas com desconto e do desenvolvimento de sucos de frutas e líquidos refrescantes que apelavam ao paladar feminino. Como resultado, as taxas de consumo de bebidas por parte das mulheres levantaram vôo. O Estudo de Saúde das Mulheres Australianas, de 1996, descobriu que de 14.762 mulheres compreendidas na faixa etária entre 18-23 anos, 70% relataram estar envolvidas em bebedeiras, com 25% fazendo isso semanalmente. Somente 9% das mulheres jovens pesquisadas disseram ser abstêmias.13 A indústria do álcool persuadiu com sucesso milhares de mulheres a se tornarem bebedoras. Álcool e saúde Uma das armadilhas não tão bem ocultadas da conexão álcool-sexo, é que o álcool facilita o sexo casual antes do casamento,14 e essa prática expõe os jovens ao alto risco de contrair clamídia, causada pela Chlamydia trachomatis (CT), uma patologia sexualmente transmissível que, apesar DIÁLOGO 17•2 2005 da ausência de sintomas físicos, pode ter conseqüências graves em longo prazo se for deixada sem tratamento. Mulheres jovens são particularmente vulneráveis a uma infecção crescente que pode resultar em doença inflamatória pélvica (DIP), a qual, por seu turno, leva à infertilidade tubária. No caso dos homens, a doença pode causar esterilidade. Promover os supostos benefícios à saúde cardíaca é outra estratégia mercadológica da indústria do álcool. Com que freqüência você lê artigos em jornais e revistas, exaltando os mais recentes resultados de como a cerveja e os vinhos, particularmente os tintos, protegem contra doenças do coração? No contexto de um beber bastante moderado, essas afirmações podem conter alguma verdade. Mas, de idêntica maneira, com que freqüência você lê artigos lembrando que mesmo o beber moderado pode causar um aumento significativo do risco de contraimento de câncer, particularmente o câncer de mama nas mulheres? Uma investigação realizada no banco de dados de pesquisa médica da Biblioteca Nacional de Medicina Norteamericana, sob o título “álcool e câncer”, revela centenas de estudos que unem o consumo de álcool com o elevado risco de graves tipos de câncer — todavia, quão amiúde somos nós advertidos de que o álcool causa ou promove o câncer? Além disso, o álcool, mesmo que ingerido em quantias modestas, parece aumentar o risco de AVC ou derrame cerebral.15 Assim, essa bebida está longe de ser benigna em termos de efeitos em prol da saúde. Álcool e efeitos sociais Nem é ele benévolo em termos de efeitos sociais. Estamos bem informados sobre a ligação entre álcool e acidentes automobilísticos. Mas o lado social do álcool é muito, muito mais escuro. O consumo de álcool é fator contributivo de muitos crimes violentos. Um dos aspectos mais devastadores do uso de álcool relaciona-se a seu papel em crimes hediondos contra mulheres — estupro e violência doméstica. Nos Estados Unidos, estimativas conservadoras sobre atentados ao pudor sugerem que 25% das mulheres americanas já foram vítimas desse crime, inclusive de estupro. Aproximadamente metade desses casos envolveu consumo de álcool por parte do perpetrador do crime, da vítima ou de ambos.16 Estima-se que o álcool esteja envolvido em cerca de 50% de todos os incidentes de violência doméstica. Numa pesquisa que examinou mais de 2.000 casais americanos, as taxas de violência doméstica foram quase 15 vezes mais altas nas famílias onde os maridos estavam freqüentemente bêbados, em comparação com lares de abstêmios.17 Estatísticas recentes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos fornecem um quadro semelhante do envolvimento do álcool na violência íntima ao companheiro. Dois terços das vítimas abusadas pelo cônjuge atual ou anterior, por namorado ou namorada, informaram que o álcool havia sido um dos fatores, e cerca da metade dos incidentes de violência vinculados ao consumo de álcool e relatados à polícia, envolveram cônjuges anteriores ou atuais, namorados ou namoradas das vítimas.18 O álcool não produz, por si só, violência doméstica, mas está envolvido como um dos principais fatores, ao agir como um desinibidor poderoso deflagrando sentimentos e frustrações mais profundos. As fortes evidências sobre o papel desinibidor que o álcool desempenha na violência doméstica provêm de um estudo realizado em 2003 pelo Instituto de Pesquisas Sobre Vícios, da Universidade de Búfalo. O estudo feito em 270 homens com predisposição à violência física contra suas companheiras demonstrou que nos dias em que os homens bebiam, eles se tornavam provavelmente oito vezes mais violentos contra suas parceiras, do que quando não ingeriam uma gota de álcool. Além disso, em dias de bebedeira pesada, as chances de alguma violência masculina contra a companheira foi dezoito vezes mais elevada em comparação com os dias de abstenção.19 Para uma grande proporção da população, o álcool é uma maldição, e não se constitui nenhuma surpresa de que a Bíblia registre o ódio de Deus contra a Continua na p. 32 29 Livros A Trindade: como entender os mistérios da pessoa de Deus na Bíblia e na história do cristianismo, de Woodrow Whidden, Jerry Moon e John W. Reeve (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2003; 330 pp.; encadernado). Resenha de Aecio E. Cairus Trindade não é um termo bíblico, mas o conceito de uma Divindade em três Pessoas — coiguais, coeternas, cointencionais. É de fato, uma doutrina bíblica. Do Gênesis ao Apocalipse, do relato da criação à fórmula batismal, à Grande Comissão, às doxologias paulinas e ao relato da recriação, a doutrina da Trindade é claramente visível aos olhos da fé do crente. Na história, o cristão vê o Concílio de Nicéia, em 325 a.D., como tendo resolvido a questão, mas a doutrina ainda é uma das mais mal-compreendidas e um dos ensinos cristãos mais freqüentemente negados. Isso tem afetado inclusive a Igreja Adventista. Essa é a razão pela qual esse livro de autoria de três professores adventistas do sétimo dia da Andrews University é oportuno e indispensável, não apenas como esclarecimento acadêmico e teológico, mas também como uma bênção pessoal aos leitores. O longo subtítulo, sem dúvida, visa a destacar a importância da doutrina, a fim de atrair leitores de todas as convicções. Mas, do ponto de vista da literatura contemporânea, ele provavelmente poderia dizer apenas “A doutrina da Trindade para leitores adventistas”. O livro inteiro é destinado a essa audiência, como sugerido já na página 9, e claramente expresso ao longo do trabalho. A razão é explicada na introdução. Não apenas os adventistas estão sendo acusados por outros cristãos de serem ambíguos acerca dessa doutrina (o que é verdade apenas em relação aos primórdios da igreja), mas há também um reavivamento do antitrinitarianismo entre alguns adventistas do sétimo dia, que olham para trás, para o tempo dos pioneiros, como a era dourada da teologia adventista. O livro começa com uma análise da evidência bíblica em favor da plena divindade de Cristo e da personalidade do Espírito Santo. Esses pontos, como qualquer um que tem algum conhecimento da doutrina da Trindade sabe, são o âmago do problema. Esses ensinos fundamentais da Escritura estão sendo atacados por suas teorias rivais históricas (o arianismo, que nega que Cristo é plena e verdadeiramente Deus, e o modalismo, que considera as três Pessoas divinas meramente como manifestações de uma e da mesma personalidade). Então o livro apresenta uma excelente recapitulação histórica das idéias acerca de Deus no cristianismo em geral, e na história 30 adventista em particular. A última parte é de grande valor para o ensino dessa doutrina nas instituições adventistas, uma vez que há muito pouca literatura acerca desse assunto. Todas as seções do livro são em geral precisas e bem documentadas. Ao organizar o livro, os autores optaram por se concentrar nos aspectos bíblicos e históricos da doutrina. Eles parecem supor que o conteúdo e o propósito da doutrina seja bem conhecido dos eventuais leitores, o que pode não ser o caso, especialmente diante dos ataques polêmicos dos opositores, que tendem a obscurecer esses assuntos. Do ponto de vista didático, seria melhor se o livro houvesse iniciado com uma abordagem sistemática, explanando a necessidade teológica, a lógica interna e a simetria do ensino trinitariano, em contraste com as teorias oponentes, antes de apresentar a evidência bíblica da deidade de Cristo. Um leitor de A Trindade seria provavelmente beneficiado com tal introdução sistemática, mas ele pode, provavelmente, obtê-la de outras fontes. Acerca da evidência em favor da personalidade do Espírito Santo, a obra é deveras breve. Ela repete os textos-prova encontrados nas crenças fundamentais adventistas do sétimo dia e outras publicações, mas que parecem esquecidos tanto por arianos quanto por modalistas, os quais não negam necessariamente a personalidade por detrás das ações descritas nesses textos, mas apenas as atribuem ao Pai por meio do Espírito. Dessa forma, eles evitam separar a personalidade do Espírito. No geral, porém, o livro é convincente e pode ser usado efetivamente tanto como medicina preventiva quanto como medicamento em presença de ataques polêmicos. Uma parte desse livro foi publicada na Diálogo 16:3 (2004), sob o título: “A Trindade: Por Que É Importante?” Aecio E. Cairus (Ph.D. pela Universidade Andrews) é diretor do Departamento de Teologia no Adventist International Institute of Advanced Studies, Filipinas. Seu email: [email protected]. Prophets Are Human Graeme Bradford (Victoria, Austrália: Signs Publishing Company, 2004; 91 pp.; brochura). Resenha de Juan Carlos Viera “Deixe-me contar-lhe uma história, uma história que começa na metade do século dezenove e continua até hoje. DIÁLOGO 17•2 2005 É a história de uma mulher, uma pessoa notável. Ela possuía pouca educação formal, mas escreveu livros cuja influência tem alcançado milhares e criou um movimento que está hoje muito ativo em praticamente todo o mundo.” Graeme Bradford poderia muito bem ter começado seu livro desse modo, pois a obra é tão cativante quanto uma história contada por um mestre narrador. De fato, ele sabe como contar sua história e alcança tanto os leitores comuns quanto os mais exigentes, com sua impressionante mensagem acerca de Ellen G. White, que está entre os fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Professor na Faculdade de Teologia do Avondale College, Austrália, Bradford conhece muito bem seu assunto, sua audiência e a arte da comunicação. O livro é estruturado como um diálogo entre um casal adventista imaginário. O casal vai da dúvida à certeza, graças às visitas semanais do pastor e de um professor do colégio. Embora o autor afirme na introdução que despendeu mais de vinte anos fazendo a pesquisa, o contexto da história é atual: o marido encontra na Internet argumentos que o levam à dúvida. Isso não parece familiar? O livro trata, de forma sucinta, das principais críticas levantadas contra Ellen White e seus escritos, quais sejam: que ela usou fontes não-inspiradas; que ela cometeu erros em seus escritos tanto quanto em sua vida; que ela ensinou ou apoiou idéias que mais tarde a ciência provou estarem erradas; etc. Na história, o pastor e o professor tentam abrir o caminho para a certeza, ao comparar a experiência de Ellen White à dos profetas bíblicos e, é claro, eles deparam as mesmas questões com relação aos escritores bíblicos. A conclusão do autor é que os profetas são seres humanos imperfeitos, usando uma linguagem humana imperfeita e vivendo uma vida humana imperfeita em culturas imperfeitas. Apesar de tudo, Deus envia Sua mensagem divina e perfeita por meio deles. A prova correta de um profeta verdadeiro deve estar baseada na mensagem divina que ele traz, e não no comportamento ou erros de origem humana. O autor apresenta argumentos persuasivos num estilo muito simples. Para o leitor que não deseja gastar senão umas poucas horas com o assunto, esse é o livro ideal. Juan Carlos Viera (D. Miss. pelo Semináro Teológico Fuller) atuou como diretor do Ellen G. White Estate e escreveu um livro sobre o mesmo assunto, The Voice of the Spirit (Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Assn., 1998). The Battle for the Bible David Marshall (Grantham, England: Autumn House, 2004; 192 pp.; brochura). Resenha de Kwabena Donkor A situação da Bíblia na cultura ocidental e teologia contemporânea parece estar em declínio. Esse é o resultado, em parte, de séculos de batalhas sobre a exatidão e historicidade da Bíblia. Uma clara compreensão desses pontos é indispensável para que se tenha confiança no documento fundamental da fé cristã. Em The Battle for the Bible, David Marshall reconstrói rapidamente a história de algumas das batalhas mais importantes sobre a integridade e fidelidade da Bíblia. Antes de identificar as linhas da batalha, Marshall dedica a primeira seção de três breves capítulos à discussão da composição da Bíblia com relação à sua linguagem e autores, e como os diferentes livros de variados períodos foram reunidos. Na seção 2, Marshall começa a definir as linhas da batalha. O século dezoito viu o surgimento, entre os eruditos, do ceticismo e de acusações de erros e imperfeições no texto, tanto do Antigo quanto do Novo Testamentos. A discussão de Marshall concernente aos massoretas, essênios, rolos do Mar Morto, Códice Sinaítico, Papiros Bíblicos Chester-Beatty e Códice Washingtoniano, é desenvolvida como uma vindicação da integridade das Escrituras. Na seção 3, Marshall amplia a batalha pela Bíblia, incluindo a história da Bíblia em língua inglesa. Dos esforços heróicos e persistentes de pessoas como o bispo Aidan de Lindisfarne, Caedmon de Whitby, Aldhelm, Beda, Wycliffe e Tyndale, à história das traduções conhecidas como a Bíblia de Coverdale, de Matthew, de Geneva, a Grande Bíblia e a Versão King James, Marshall vê a mão divina atuando na preservação da Bíblia e tornando-a acessível ao povo de Deus. Para Marshall, as traduções da Bíblia e a produção de novas versões adaptadas às situações contemporâneas são uma constante necessidade. Na seção 4, Marshall traz a arqueologia para o campo de batalha. Ele mostra como os achados arqueológicos têm resolvido antigas e difíceis questões acerca de pessoas e cidades mencionadas na Bíblia, mas supostamente não referenciadas em qualquer outro lugar. Sua discussão inclui a importância da Pedra de Roseta, a Rocha Behistun e também conta como tells e escavações têm desenterrado Babilônia, Nínive, os hititas, Ur dos Caldeus, Jericó, os filisteus e os reinos diviContinua na p. 35 DIÁLOGO 17•2 2005 31 Álcool Continuação da [p.] 29 embriaguez (Gálatas 5:19-21). Ninguém que ame a Deus como o Criador e Redentor, jamais tomará o primeiro trago e seguirá pela estrada que o tornará um escravo do álcool. John F. Ashton (Ph.D. pela FRACI) é o Membro Honorário da Escola de Biociências Moleculares e Microbianas da Universidade de Sydney, Austrália. Seu mais recente livro, Uncorked:The Hidden Házards of Alcohol (Warburton, Austrália: Signs Publishing Co., 2004) foi escrito em parceria com o Dr. Ronald S. Laura (D.Phil.), Membro do Centro de Pesquisa de Filosofia Educational, da Harvard University. REFERÊNCIAS 1. 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Ward, O. Ward, et al., “Male and Female Sexual Behavior Potential of Male Rats Prenatally Exposed to the Influence of Alcohol, Stress, or Both Factors”, Behavioral Neuroscience 108 (1995), 6:1188-1195. 4. _________, “Fetal Testosterone Surge: Specific Modulations Induced in Male Rats by Maternal Stress and/or Alcohol Consumption”;, Hormones and Behavior 43 (2003), 5:2003, pp. 531-539. Ver também O. Ward. I. Ward, et al.“Hormonal Mechanisms Underlying Aberrant Sexual Differentiation in Male Rats Prenatally Exposed to Alcohol, Stress, or Both”; Archives of Sexual Behaviour 31 (2002), 1:9-16. 5. S. Chlorine, “Recognition of Fetal Alcohol Syndrome“; Journal of the American Medical Association 245 (1981), 23:2436-2439. 6. E. Abel e R. Sokol, “Fetal Alcohol Syndrome Is Now Leading Cause of Mental Retardation”; The Lancet (22 de novembro de 1986), p. 1222. 7. B. Wood-Comstock, All About the Baby (Mountain View, Califórnia: Pacific Press Publ. Assn., 1930), p. 48. 8. D. Charles, D. 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Ellen White Continuação da [p.] 26 REFERÊNCIAS 1. Leonard Brand and Don McMahon, The Prophet and Her Critics (Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Assn., 2005). 2. Ibid; Don S. McMahon, Acquired or Inspired? Exploring the Origins of the Adventist Lifestyle (Warburton, Australia: Signs Publishing Co., 2005). Includes a CD with all the authors’s research data and interpretations. 3. Walter Rea, The White Lie (Turlock, California: M & R Publications, 1982). 4. Jonathon Butler, “The World of E. G. White and the End of the World”, Spectrum, 10 (2): 2-13 (1979). 5. Ronald Numbers, Prophetess of Health: A Study of Ellen G. White (New York: Harper and Row, Publishers, 1976). 6. Ellen G. White, The Great Controversy, Introduction (Mountain View, California: Pacific Press Publ. Assn., 1911). 7. Butler. 8. Numbers, pp. 80, 81. 9. Brand and McMahon, p. 41. Congresso de Estudantes Universitários O Congresso Internacional de Estudantes Universitários Adventistas, patrocinado pela AMiCUS da Divisão Euro-Africana, será em Lido di Jesolo (Veneza), Itália, de 28 a 31 de outubro de 2005. Para outras informações, acesse: www.amicus.euroafrica.org. DIÁLOGO 17•2 2005 intercâmbio Amplie sua rede de amizades Estudantes universitários e profissionais adventistas leitores de Diálogo interessados em trocar correspondência com colegas em outras partes do mundo. Ariel Aguilera González: 20; solteiro; cursando Enfermagem na Universidade Católica de Maule; interesses: acampar, tocar violão e fazer novos amigos; correspondência em espanhol. Endereço: 5 Oriente # 437; Talca; CHILE. E-mail: [email protected]. Magdalena Alvarez Zabaleta: 42; casada; cursando Biologia na Universidade Estadual do Uruguai; interesses: fazer novos amigos cristãos, conhecer novas culturas e criacionismo; correspondência em espanhol ou inglês. Endereço: 25 de Agosto esq. Francisco Maciel; Suárez, Canelones; 91200 URUGUAI E-mail: [email protected]. Jana-Lee Megan Atkinson: 18; solteira; cursando Direito na Waikato University; interesses: ouvir música clássica e sacra, tocar violino e compartilhar minha fé; correspondência em inglês. Endereço: 26 Addison Street; Cambridge 2531; NOVA ZELÂNDIA. E-mail: jma13@waikato. ac.nz. Vincent Ayo: 37; casado; assistente de desenvolvimento comunitário no distrito de Lira; interesses: trabalhar com assistência social, ouvir música cristã e fazer novos amigos; correspondência em inglês. Endereço: Amucha S.D.A. Main Church; P.O. Box 63; Lira; UGANDA. Edward Ayaz Bhatti: 20; solteiro; Diálogo on-line Agora você pode ler alguns dos melhores artigos e entrevistas das últimas edições de Diálogo. Visite o nosso novo site: http://dialogue.adventist.org DIÁLOGO 17•2 2005 cursando Administração de empresas no Seminário Adventista do Paquistão; interesses: ouvir música, viajar e ler; correspondência em inglês. Endereço; United Church Bata Pur; P.O. Box Lahore; 53400 PAQUISTÃO. E-mail: [email protected]. Neida Calizaya H.: 23; solteira; concluindo faculdade de Engenharia comercial na Universidade Domingo Savio; interesses: ler, conversar sobre assuntos espirituais, ouvir música e praticar esportes; correspondência em espanhol ou português. BOLÍVIA. E-mail: [email protected] ou [email protected]. Israel Nwafor Ejornwa: 22; solteiro; cursando Engenharia química/petroquímica na Rivers State University of Science and Technology; interesses: cantar a capella, jogar futebol e ler; correspondência em inglês ou eleme. Endereço: No. 66 Oyigbo Rd.; P.O. Box 615; Nchia – Eleme City, Rivers State; NIGÉRIA. E-mail: [email protected]. Franco Forte: 29; solteiro; formado em Computação; interesses: ler Ellen White, fazer novos amigos, medicina natural e psicologia; correspondência em espanhol ou inglês. Endereço: P.O. Box 019030; Miami, Florida 33101; EUA. E-mail: [email protected]. Franchely Gabriel: 19; solteira; cursando Educação secundária na Universidade Adventista das Filipinas; interesses: praticar esportes, aventuras e música; correspondência em inglês. Endereço: P.O. Box 1834; Manila; 1099 FIILIPINAS. E-mail: [email protected]. Cristina Alexandra de Godoy: 22; solteira; cursando Biblioteconomia na Universidade Estadual Paulista; interesses: assistir filmes, ler, trocar mensagens e artesanatos; correspondência em português ou espanhol. Endereço: Rua Rodrigues Alves, No. 668, apto. 7 - Bairro Alto Cafezal; Marília, SP; 17504050; BRASIL. E-mail: gcrisbr@yahoo. com.br. Eliseu Jorge Henriques: solteiro; estudando na Escola de Economia da Universidade Agostinho Neto; interesses: escrever poesia, jogar futebol e fazer novos amigos; correspondência em português ou inglês. Endereço: 513; Lubango; ANGOLA. E-mail: elieujorge@yahoo. com. Marcos Herrera: 21; solteiro; cursando Teologia na Universidade Adventista da América Central; interesses: ler sobre assuntos religiosos, escrever poesia e trocar idéias com amigos; correspondência em espanhol, português ou inglês. Endereço: Col. Santa Eugenia, block 25 #34; Sonzacate, Sonsonate; EL SALVADOR. E-mail: [email protected] ou [email protected]. Convite Se você é universitário ou profissional adventista e quer ter seu nome listado aqui, envie-nos as seguintes informacões: (1) seu nome completo, com o sobrenome em letras maísculas; (2) sua idade; (3) sexo; (4) estado civil; (5) estudos correntes ou diploma obtido e especialidade; (6) faculdade ou universidade que está freqüentando ou na qual graduou-se; (7) três principais passa-tempos ou interesses; (8) língua(s) nas quais quer se corresponder; (9) o nome da congregação adventista da qual é membro; (10) seu endereço postal; (11) seu e-mail, caso o tenha. Por favor, datilografe ou use letra de imprensa clara. Envie esta informação para Diálogo Interchange; 12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, MD 209046600, EUA. Você pode também usar e-mail: [email protected]. Apenas poremos na lista aqueles que fornecerem os 10 items de informação requerida acima. Diálogo não assume responsabilidade pela exatidão da informação dada ou pelo conteúdo da correspondência que possa resultar. 33 PRIMEIRA PESSOA A voz que Ele me deu Charles Ngandwe, conforme contado a Anita Marshall Nasci na Zâmbia, África. O nome do meu avô materno era Kafuti e da minha avó Kasongo Mwelwa. Não sei o dia e nem o local em que eles nasceram. Sei somente que meu avô nasceu em 1900, e foi designado Chefe Mwata Kalumbu mais ou menos em 1930, posição que ocupou até sua morte aos 100 anos de idade. Minha mãe tinha lepra, mas a doença estava bem controlada com medicamentos; assim ela não sofreu desfiguração nem perda de qualquer membro, condições comumente associadas a essa doença. Ela se casou, mas meu pai a abandonou antes mesmo de saber que eu estava a caminho. Éramos os mais pobres dentre os pobres e o único lar que pudemos encontrar ficava nos terrenos de um cemitério no Congo. Fortes ventos açoitavam nossa casa e seu assobio freqüentemente soava como gritos de socorro de pessoas se afogando. Estranhos visitantes apareciam à noite e havia batidas que me aterravam. No entanto, eu era apenas uma criança inocente. Por que essas coisas estavam acontecendo? Eu tinha sete anos de idade quando regressamos a Zâmbia. Para dar uma idéia de quão pobres éramos, contarei acerca do tubérculo da mandioca. Ele pode pesar cerca de 10 quilos e em seu interior há uma raiz que pode estragar a farinha da mandioca se não for previamente removida. Essa raiz é usada para esfregar o chão das casas ou queimada para afugentar os mosquitos. Ela não tem nenhum valor nutritivo, mas era isso que comíamos e, pela graça de Deus, conseguíamos sobreviver. Eu freqüentava uma escola católica, mas a tensão de nunca ter o suficiente para comer nem lugar adequado para 34 dormir, nem roupas apropriadas, deixou-me com a saúde debilitada. Eu tinha asma, mas gostava muito de cantar. Até participava do coro masculino da escola e muitas vezes cantava na igreja adventista da qual era membro. Mas um terrível ataque de asma deixou-me prostrado um dia. Os amigos vieram e oraram ao redor de meu leito, enquanto eu clamava: “Senhor! Cura a asma e deixe-me a voz; ou tira-me a voz e deixe-me a asma!” De repente senti como se alguém derramasse água gelada em mim. Em poucos minutos, eu estava correndo as duas milhas de distância até minha igreja. Eu tinha um compromisso para cantar e não queria faltar de modo algum. O Senhor curou minha asma naquele dia e ela nunca mais voltou. Ao agradecê-Lo, eu disse: “Senhor, dedico minha voz ao louvor do Teu nome!” No entanto, seis anos depois do meu batismo, em julho de 1974, minha vida espiritual chegou a seu ponto mais baixo. Estava sem trabalho, o casamento com minha namorada não se realizou e eu estava desesperado. Então recebi uma carta em que o remetente dizia ter ouvido falar de minha voz e, como precisavam de um baixo, perguntoume se eu estaria disposto a participar do quarteto que eles tinham na igreja. Estar disposto?! Minha fé começou lentamente a voltar. Vivendo em um novo lugar, comecei a trabalhar como taxista, mas após ter vivenciado uma grave experiência de esfaqueamento dentro do meu próprio carro, senti que, uma vez mais, era tempo de mudar os rumos de minha vida. Decidi ir para a África do Sul a fim de realizar meu sonho de ser cantor. Para um jovem tão pobre, no entanto, isso parecia uma completa loucura. Mas, através da direta intervenção divina, em ocasiões tão numerosas para serem mencionadas aqui, acabei me encontrando na Cidade do Cabo, África do Sul. Eu não tinha dinheiro, nenhum meio de me manter e pouca roupas. Entretanto, estava prestes a realizar meu sonho. Enquanto viajávamos da estação para o Colégio Helderberg, eu estava fascinado pela beleza extasiante da região. Num instante esqueci-me de todo o temor que senti ao longo de minha extensa viagem. Tudo iria dar certo. Fechei os olhos e agradeci a Deus por me ter trazido até aquele lugar. Quando adentrei o escritório da senhora que viria a ser minha instrutora, ela exclamou num sobressalto: “Eu não posso acreditar! Após ouvir sua voz na fita cassete, esperava um homem bem alto! Aquela voz tão poderosa pode realmente vir desse frágil corpo?” A fita à qual a Sra. Dunbar se referia havia-lhe sido enviada por meu amigo Darryl, e enquanto conversávamos sobre minha longa viagem ao colégio, o próprio Darryl entrou na sala! Ele colocou seus longos braços ao redor de minha débil estrutura, deu-me um forte abraço e ao mesmo tempo disse-me quão feliz estava por eu ter conseguido chegar lá. Como no dia seguinte aconteceria a DIÁLOGO 17•2 2005 primeira aula de canto com a instrutora, minha euforia não tinha limites, o que também me assegurou uma péssima noite de sono! Aquela lição ficou tão gravada em minha mente que eu poderia descrevê-la em minúcias, desde o momento que ela me pediu para dizer “ah!”, passando por todos os objetivos do canto, o propósito da educação vocal, da dedicação, da disciplina, e até como o canto desenvolve a cultura ao prover uma percepção dos pensamentos e sentimentos de outra pessoa, e também de como ele enriquece a imaginação, melhora a saúde através da respiração profunda, desenvolve a autoconfiança, proporciona prazer ao indivíduo e aos amigos, e tantas outras coisas que não consigo expressar aqui. Basta dizer que essa primeira aula de 30 minutos abriu uma janela tão grande para o mundo do canto, que saí dali com minha cabeça girando. Eu me perguntava se seria capaz de viver à altura das expectativas que tinham a meu respeito, E me acalmava pensando: “Eu vim de tão longe para aprender com essa professora. Farei tudo o que ela disser”. Cheguei em Helderberg no momento em que a escola se preparava para uma viagem musical através do país, desde a Cidade do Cabo até Pretória. E a Sra. Dunbar decidiu que eu deveria ser incluído no grupo. Antes, porém, eu precisaria fazer uma apresentação. Havia no ar uma grande expectativa quando me apresentei diante de um professor e de uma seleta audiência. Minha instrutora confessou depois que suas mãos estavam suando, pois ela não sabia como seria meu desempenho. Após a apresentação, um velho professor enxugou seus olhos e me disse: “Desde que Paul Robeson morreu em 1976, eu não tinha ouvido uma voz com essa qualidade”. A Sra. Dunbar estava exultante. Retornamos ao colégio radiantes com o impacto causado não somente no professor, mas em todos os presentes. A viagem começou com uma apresentação na prefeitura de George Town, com auditório lotado. Depois viajamos DIÁLOGO 17•2 2005 para o interior do país. Pretória foi o ponto alto da viagem. Enquanto retornávamos a Helderberg, a Sra. Dunbar sabia que teria que lutar para convencer a administração da escola a receber esse cantor pobre como estudante. Eu estava disposto a fazer qualquer trabalho, mesmo limpar sanitários se necessário: a persistência de minha instrutora logrou êxito: A comissão votou a meu favor. Eu poderia permanecer e trabalhar na fazenda do colégio para pagar meu estipêndio e estadia. Devo muito ao Colégio Helderberg. Ele ainda tem um lugar muito especial em meu coração. Helderberg não somente me colocou no caminho da carreira de cantor, mas foi lá que encontrei minha esposa. No entanto, antes de nosso casamento, em 1994, alguns de meus antigos problemas de saúde voltaram e tive de passar por uma séria intervenção cirúrgica. Um osso quebrado estava comprimindo o nervo dos meus rins. Se o problema não houvesse sido corrigido, eu não teria mais que três meses de vida. Em setembro de 1996, minha esposa e eu pisamos em solo inglês. Viemos para ficar. Em 2004, fiquei em primeiro lugar num famoso concurso televisivo de música, “Stars in Their Eyes”, cantando a música de Paul Robeson “Ol’ Man River”. Fiquei me perguntando como poderia agradecer a Deus por tudo o que Ele havia feito por mim. E quanto ao futuro, quem pode dizer o que ocorrerá? “Para Deus tudo é possível” (Mateus 19:26). O breve relato de Anita Marshall sobre a vida de Charles Ngandwe (o “g” é mudo) é baseado em excertos do livro The Voice He Gave Me (Grantham, Inglaterra: Autumn House, 2004) e em material adicional de suas entrevistas. Anita vive em Grantham, Lincolnshire, Inglaterra. Ela aprecia escrever e fazer jardinagem. Seu e-mail é: anita_ [email protected]. The Battle… Continuação da [p.] 31 didos de Israel e Judá. Com respeito ao Novo Testamento, Marshall emprega as descobertas arqueológicas para confirmar as construções do rei Herodes e o ministério de Jesus nas vizinhanças de Cafarnaum, na Galiléia. Por fim, na seção 5, Marshall termina destacando que, apesar dos méritos da arqueologia e da descoberta de manuscritos antigos, a verdade bíblica não depende delas. Assim, é estendido o convite para experimentar e ver, ler, descobrir e encontrar o Homem do Livro, Jesus Cristo. O livro de Marshall é conciso, de fácil leitura, rico em idéias e muito esclarecedor. Do começo ao fim, a posição que ele assume nessa batalha pela Bíblia é muito clara: a Bíblia é um livro inspirado e preservado de forma sobrenatural. Se há uma deficiência no livro de Marshall, essa é a falta de uma discussão, pelo menos de forma introdutória, das idéias contemporâneas contrárias à perspectiva bíblica; idéias que podem ser tão devastadoras em arruinar a confiança na Bíblia quanto as dúvidas e o ceticismo acerca do texto bíblico. A ênfase do livro no texto das Escrituras significa que ele é, certamente, uma fonte introdutória de inestimável valor para todos aqueles que estão interessados em conhecer a confiabilidade do texto escriturístico como o temos hoje. Kwabena Donkor (Th.D. pela Universidade Andrews) é diretorassociado do Biblical Research Institute na Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Seu endereço postal é: 12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, Maryland, EUA. E-mail: [email protected]. Uma parte do livro de Marshall foi publicada na Diálogo 17:1 (2005) sob o título: “O Cânon da Bíblia: Uma Breve História.” 35 “Beach at Barbados” (Praia em Barbados) (Aquarela; 38 x 23cm.) A coleção de pranchas de surfe dá colorido ao contexto humano. A conversa da tarde certamente deve abranger o surfe da manhã. Agora os músculos estão um pouco cansados e é hora de descansar. Portfolio de Neville Clouten “Church of the Transfiguration, Kizhi Island, Rússia” (Igreja da Transfiguração, Ilha Kizhi, Rússia) (Aquarela; 36 x 26cm.) Em contraste com uma expressão mais livre, a estrutura das cúpulas de madeira do século 18 exigiu uma definição mais precisa da forma, porém mantendo os tons claros da madeira envelhecida. “Boats at Crail Harbor, Scotland” (Barcos no Porto de Crail, Escócia) (Aquarela; 38 x 26cm.) A técnica impressionista é consistente nessa composição, com exceção da definição das aposturas dos quatro barcos. DIÁLOGO 17•2 2005 Inserção “Chapel of the Archangel Michael, Kizhi Island, Rússia” (Capela do Arcanjo Miguel, Ilha Kizhi, Rússia) (Aquarela; 27 x 20cm.) O ambiente natural e a construção de madeira foram tratados com uma técnica livre, em cores suaves, para capturar a impressão de minha experiência. “Afternoon in Barbados” (Tarde em Barbados) (Aquarela; 36 x 24cm.) Em todas as visitas eu via três homens conversando na sombra, enquanto a pintura de três barcos deteriorava-se ao sol. O Queen Mary II aparece no horizonte como uma referência à vida que continua, independente do desinteresse dos homens. “Low Tide at Boccadasse, Italy” (Maré baixa em Boccadasse, Itália) (Aquarela; 21 x 37cm.) A pequena praia dessa cidade da Riviera italiana desaparece na maré alta. Quando a maré está baixa, seus moradores aproveitam a praia. Nesse final de tarde, o pescador conversa com amigos no barco, enquanto se prepara para a subida da maré. “Helsinki Harbor, Finland” (Porto de Helsinki, Finlândia) (Aquarela; 58 x 43cm.) A representação da água é interrompida, enquanto as áreas horizontais da cor estendemse até os edifícios do porto e o céu, e as linhas verticais do papel branco nos mastros oferecem uma superposição na composição. Inserção DIÁLOGO 17•2 2005 “Moorea Morning, Tahiti” (Manhã em Moorea, Taiti) (Aquarela; 43 x 34 cm.) A experiência da calmaria, pouco antes da tempestade de vento, motivou-me a pintar rapidamente duas cores no papel molhado. Essa aquarela tem sido uma das minhas composições mais procuradas. “Lake Tellico, Tennessee, USA.” (Lago Tellico, Tennessee, EUA.) (Aquarela; 32 x 22cm.) Minha esposa e eu estávamos interessados em um pequeno pedaço de terra às margens do lago, para quando nos aposentássemos. Quis capturar a luz vespertina sobre a água. Não compramos a propriedade e essa aquarela tornou-se a maneira menos dispendiosa de desfrutarmos a paisagem! “Fez, Morocco” (Fez, Marrocos) (Aquarela; 51 x 51cm.) A mistura de itens de algodão e lã dependurados — souvenirs à venda — e a vida normal dos habitantes locais, proporcionou-me um senso de continuação da vida nessa cidade. “Mother Lode/ Motherboard” (Filão-mãe/ Placa-mãe) (Aquarela; 72 x 52cm.) Durante a corrida do ouro da Califórnia, Mother Lode tornou-se o mais rico veio do precioso metal. Mais de um século depois, o Vale do Silício produziu enorme riqueza através das placas de computadores. DIÁLOGO 17•2 2005 Inserção “Queen Elizabeth II at Southampton” (Queen Elizabeth II em Southampton) (Aquarela; 20 x 28cm.) Cheguei ao terminal de Southampton para meu primeiro cruzeiro transatlântico — o primeiro dentre muitos nos quais apresentei minhas oficinas de aquarela. O esboço rápido e a técnica de pintura transmitem a idéia da urgência do embarque antes da saída do navio. “Old Sydney Town” (A cidade velha de Sidney) (Aquarela; 37 x 25cm.) As réplicas dos edifícios condenados no parque temático desértico próximo à Sidney recebem vida com inclusão dos habitantes da cidade. “Restaurant, Dakar” (Restaurante, Dakar) (Aquarela; 36 x 25 cm.) Enquanto fazia meu esboço nesse local, na capital do Senegal, fui repentinamente rodeado de crianças de uma escola durante o recreio. Intrigados, queriam ver os traços que estava fazendo no papel. Então, quando o sinal da escola tocou, eles partiram tão rapidamente quanto chegaram. “Sketch, San Gimignano, Italy” (Esboço, San Gimignano, Itália) (Aquarela; 19 x 14cm.) Visitei essa cidade montanhosa da Toscana durante minha primeira viagem à Europa, e volto lá sempre que possível. O esboço apresenta uma limitada paleta de cores, que salientam as fachadas laterais das torres do século 13 iluminadas pelo Sol. Inserção DIÁLOGO 17•2 2005
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