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Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(1):71-78 (2016) http://www.aprh.pt/rgci/pdf/rgci-661_Cristiano.pdf | DOI: 10.5894/rgci661 Cristiano et al. (2016) - Evaluation of Coastal Scenery in Urban Beaches: Torres, Rio Grande do Sul, Brazil. Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(1):71-78. DOI: 10.5894/rgci661 Supporting Information Supporting Information I Torres – paisagem única na costa do Rio Grande do Sul O município de Torres localiza-se a 200 km da capital do estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, e as principais vias de acesso são as rodovias BR-101 e RS-389 (Estrada do Mar). No município há os únicos afloramentos de rochas do litoral do estado, o que faz de Torres referência em paisagem costeira. O litoral do município divide-se em diversos balneários, denominados no Plano de Manejo de Dunas Costeiras de Torres como: Praia dos Molhes, Praia Grande, Prainha, Praia da Cal, Parque da Guarita, Parque Estadual de Itapeva, Praia da Itapeva Sul, Praia Lagoa Jardim, Praia Rivera, Praia Gaúcha, Praia Petrópolis, Praia Recreio, Praia Webber, Praia Santa Helena, Praia Estrela do Mar, Praia Real e Praia Paraíso (Município de Torres & NEMA, 2006) (Figura 1). Figura 1- Localização das praias e unidades de conservação de Torres, Rio Grande do Sul (mapa base ESRI, UTM-WGS84, 22J). Figure 1- Location of beaches and conservation units in Torres, Rio Grande do Sul, Brazil (base map ESRI, UTM-WGS84, 22J) Cristiano et al. (2016) - Evaluation of Coastal Scenery in Urban Beaches: Torres, Rio Grande do Sul, Brazil. Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(1):71-78. DOI: 10.5894/rgci661 Supporting Information 1 Contexto Geológico-Geomorfológico A Planície Costeira do Estado do Rio Grande do Sul possui mais de 620 km de extensão, desde o Arroio Chuí até à foz do rio Mampituba. Esta se caracteriza pela extensa continuidade de praias arenosas, correspondente à porção emersa da Bacia de Pelotas, composta por um sistema de leques aluviais, que se desenvolveu no contato com as terras altas, e por quatro sistemas deposicionais do tipo laguna-barreira (Villwock & Tomazelli, 1995). A linha de costa atual está associada ao sistema laguna-barreira IV, que iniciou sua formação há cerca de 7 ka. Diferentes feições geomorfológicas se desenvolveram durante a evolução da barreira, com a formação de cordões litorâneos e de campos de dunas transgressivos (Villwock, 1984; Villwock & Tomazelli, 1995, Hesp et al., 2005; Hesp et al., 2007). O litoral norte apresenta-se como uma sucessão de cristas e pequenos terraços arenosos, intercalados por depressões lagunares que dão suporte a importantes ecossistemas (Villwock & Tomazelli, 1995). O município de Torres é conhecido pela sua importância turística, devido à ocorrência de falésias, constituindo as únicas praias do Estado com ocorrências rochosas (Petry et al., 2005). Os morros da região são afloramentos de rochas do Cretáceo inferior da Bacia do Paraná, compostos por rochas de origem vulcânica da Formação Serra Geral - 140 M.A, sobrepostos a rochas sedimentares da Formação Botucatu - 240 M.A., configurando registros da separação do supercontinente Gondwana (Petry et al., 2005; Milani et al., 2007). As “torres” do município, denominadas de Torre Norte, Torre do Meio, Guarita e Torre Sul (Figura 2), vêm resistindo à ação das ondas que as moldam, esculpindo furnas de abrasão e falésias. A uma distância de 25 km da costa, no setor norte da Planície Costeira, as rochas da Formação Serra Geral ocorrem na forma de escarpas com desníveis de até 1.000 m, que podem ser visualizadas da praia em dias claros e sem muitas nuvens. Figura 2 – Detalhe da porção litorânea de Torres onde ocorrem afloramentos rochosos (mapa base ESRI, UTM-WGS84, 22J). Figure 2 – Detail of the coastal portion of Torres, with the rocky outcrops (base map ESRI, UTM-WGS84, 22J) Um campo de dunas transgressivo ocorre na porção central do litoral do município, e constitui uma área protegida através de uma unidade de conservação estadual – o Parque Estadual de Itapeva (Figura 1). Neste parque estão presentes dunas com cotas próximas a 30 metros e com morfologias distintas das dunas encontradas em outros locais do Estado (Tomazelli et al., 2008; Rockett et al., 2014). Cristiano et al. (2016) - Evaluation of Coastal Scenery in Urban Beaches: Torres, Rio Grande do Sul, Brazil. Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(1):71-78. DOI: 10.5894/rgci661 Supporting Information 2 Caracterização Climática e Oceanográfica Segundo a classificação de Köppen (1931), o clima que ocorre na região é do tipo Cfa - temperado úmido com verão quente (Moreno, 1961). Devido às características climáticas do estado, as praias recebem turistas em massa apenas nos períodos de verão. A costa norte do litoral é dominada por ondas, sendo caracterizado pela ocorrência de ondulação de longo período proveniente do SE e por vagas (que resultam da ação de ventos locais) provenientes principalmente do E-NE. A área também apresenta um regime de micromarés, com marés meteorológicas que podem chegar a 1,36 m (Comissão de Estudos do Porto de Torres, 1918). De acordo com as sequências morfodinâmicas as praias de Torres apresentam-se em estágio intermediário, com exceção da porção leste da praia do Parque da Guarita que se apresentou mais estável, devido a proteção pela Torre do Meio (Pivel & Calliari, 1999). 3 Contexto Ecológico e Socioeconômico Os morros e dunas preservadas na região são cobertos por vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, representado pela vegetação de restinga. Grande parte do sistema de dunas frontais está bem vegetado, com menor densidade em áreas antropizadas, próximo a passarelas e calçadões (Município de Torres & NEMA, 2006). A vegetação das dunas é composta principalmente por espécies nativas como Capim-das-dunas (Panicum racemosum), Capim salgado (Spartina cilliata), Margarida-das-dunas (Senecio crassiflorus) e Capotirágua (Blutaparon portulacoides) (Município de Torres & NEMA, 2006). Os extensos costões rochosos da região abrigam vegetação diferenciada, com cactáceas e bromeliáceas fixadas nas falésias. Estes costões rochosos são os únicos substratos naturais que fornecem condições favoráveis à fixação considerável de flora algal no Estado do RS (Prado, 2009). Além da flora distinta, Torres também é detentora de importante fauna marinha, com a presença de botos (Tursiops truncatus) junto a barra, onde desempenham a cooperação para a pesca artesanal de tarrafa. Entre junho e novembro, a costa municipal é visitada por baleias francas (Eubalaena australis) e principalmente nos períodos de inverno podem ser encontrados penípedes junto aos molhes da barra e alguns descansando junto a praia, assim como diversas aves marinhas que alcançam o litoral por diferentes motivos. O município de Torres encontra-se na região costeira do estado do RS mais densamente ocupada. Com área de 160,5 km², o município possuía uma população de 34.656 mil no ano de 2010, sendo que em 2014 estima-se que este número chegue próximo aos 37 mil. A densidade média chega a 215 hab/km² (IBGE, 2010). A maior concentração urbana se dá na porção norte do município, nas proximidades do rio Mampituba. Com relação às atividades econômicas do município, o setor de serviços corresponde a 84% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo 12% das indústrias e 4% do setor agropecuário (IBGE, 2014). O setor de serviços abrange uma grande quantidade de atividades, entre elas, o comércio e o turismo. O turismo ocorre principalmente nos meses de verão (dezembro a março), período em que a cidade chega a comportar aproximadamente 400 mil turistas, destes 100 mil veranistas. Torres é a praia do estado que mais recebe turistas estrangeiros (Macedo, 2011). Scheffer (2010) constata que a divulgação turística do município é voltada para os países do Mercosul, sem ênfase para o público brasileiro. Com relação à infraestrutura de hospedagem, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2011), o município possuía naquela data 47 estabelecimentos de hospedagem (hotéis, pousadas, motéis e outros) e 2001 unidades habitacionais, totalizando uma capacidade para 5.576 hóspedes. Dentro dos limites político-administrativos de Torres, existem cinco Unidades de Conservação, uma sob a jurisdição federal - Refúgio de Vida Silvestre da Ilha dos Lobos; uma estadual - Parque Estadual da Itapeva; duas municipais - Parque da Guarita e Área de Proteção Ambiental da Lagoa Itapeva; e uma particular - Reserva Particular do Patrimônio Natural Recanto do Robalo (Figura 1). O Refúgio de Vida Silvestre da Ilha dos Lobos é formado por uma pequena ilha, a única ilha presente na costa do RS e localizada a 2 km da Praia Grande. Esta ilha recebe por ano, sazonalmente, numerosos exemplares de leõesmarinhos (Otaria flavescens) e lobos-marinhos (Arctocephalus australis) que utilizam a ilha como um refúgio (Sanfelice et al., 1999). O Parque da Guarita busca proteger o cenário geológico do município possuindo grande importância cultural e econômica, é referência no lazer ambiental e recebe por ano, aproximadamente, 30.000 visitantes (Município de Torres, s/d). O Parque Estadual da Itapeva busca conservar os recursos naturais da Mata Atlântica e espécies da fauna e flora silvestres dos ecossistemas de dunas, banhados, mata paludosa e mata de restinga. Cristiano et al. (2016) - Evaluation of Coastal Scenery in Urban Beaches: Torres, Rio Grande do Sul, Brazil. Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(1):71-78. DOI: 10.5894/rgci661 Supporting Information Referências Comissão de Estudos do Porto de Torres (1918) - Observações das Marés. Relatório de Condições do Mar. 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(2016) - Evaluation of Coastal Scenery in Urban Beaches: Torres, Rio Grande do Sul, Brazil. Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(1):71-78. DOI: 10.5894/rgci661 Supporting Information Supporting Information II Sistema de avaliação de cenários costeiros O Sistema de Avaliação de Cenários Costeiros proposto por Ergin et al. (2004, 2006, 2011) consiste no uso de lógica fuzzy para estipular pesos aos 26 parâmetros que resumem a qualidade paisagística, pontuados em uma escala de 1 (ausência/má qualidade) a 5 (presença/excelente qualidade). Os parâmetros avaliados são citados abaixo e na tabela do apêndice 1: • Parâmetros Físicos: falésia, face de praia, costão rochoso, dunas, vale, relevo, maré, feições da paisagem costeira, panorama, cor e transparência da água, cobertura de vegetação natural, resíduos de vegetação. • Parâmetros Antrópicos: ruídos, resíduos sólidos, evidência de liberação de esgoto, ambiente não urbanizado, ambiente urbanizado, tipo de acesso, linha de horizonte e utilitários. Os graus de adesão dos fatores P (parâmetros físicos) e H (parâmetros humanos) para a classe de avaliação foram expressos através da atribuição de números de peso wP e wH, respectivamente, que refletem a importância dos fatores na avaliação global, e vai ser representada como uma matriz de linha para a finalidade de simplicidade computacional: WF= (wPwH) (Ergin et al., 2004). A importância e o peso de cada parâmetro foram determinados por pesquisas de percepção pública (Ergin et al., 2004). Foi utilizado um modelo matemático de lógica fuzzy para integrar os pesos dos parâmetros e obter o indicador de atratividade do local, valor D, dividido em cinco classes (Ergin et al., 2011), apresentadas na tabela 1: Tabela 1 – Classificação de cenários costeiros com base no valor D estimado pelo método de (Ergin et al., 2011). Classe Valor D Descrição 1 >0,85 2 0,85 – 0,65 Áreas naturais atrativas, com altos atributos paisagísticos. 3 0,64 – 0,4 Áreas majoritariamente naturais, com alguns parâmetros paisagísticos em destaque. 4 0,39 – 0 Áreas urbanas pouco atraentes em sua maior parte, com poucos parâmetros paisagísticos em destaque. 5 <0 Apresenta áreas naturais altamente atrativas. Áreas urbanas não atraentes, com intenso desenvolvimento e baixos atributos paisagísticos. (Ergin et al., 2011) Referências Ergin, A.; Karaesmen, E.; Micallef, A.; Williams, A. T. (2004) - A new methodology for evaluating coastal scenery: fuzzy logic systems. Area, 36:367-386. doi: 10.1111/j.0004-0894.2004.00238.x Ergin, A.; Williams, A.T.; Micallef, A. (2006) - Coastal scenery: appreciation and evaluation. Journal of Coastal Research, 22(4):958-964. doi: 10.2112/04-0351.1 Ergin, A.; Karaesme, E., Uçar, B. (2011) - A quantitative study for evaluation of coastal scenery. Journal of Coastal Research, 27(6):10651075. doi: 10,2112/JCOASTRES-D-09-00093.1 Rangel-Buitrago, N.; Correa, I.D.; Anfuso, G.; Ergin, A.; Williams, A.T. (2013) - Assessing and managing scenery of the Caribbean Coast of Colombia. Tourism Management. 35: 41-58. doi: 10.1016/j.tourman.2012.05.008. Williams, A.T; Micallef, A.; Anfuso, G.; Gallego-Fernadez, J.B. (2012) - Andalusia, Spain: An Assessment of Coastal Scenery. Landscape Research, 37(3): 327-349. doi: http://dx.doi.org/10.1080/01426397.2011.590586 Cristiano et al. (2016) - Evaluation of Coastal Scenery in Urban Beaches: Torres, Rio Grande do Sul, Brazil. Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(1):71-78. DOI: 10.5894/rgci661 Supporting Information Tabela de avaliação de cenários costeiros na versão apresentada por Williams et al. (2012) e Rangel-Buitrago et al. (2013). 1 Parâmetros Físicos 1 Altura (m) Falésia 2 Declive (°) 3 Características Especiais¹ 4 Tipo 5 Perfil de Largura Praia 6 Cor 7 8 9 Costão Rochoso Sistema de Avaliação do Cenário Costeiro 2 3 Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente 5-30m > 45° 1 Lama ≤ 5 > 100 31-60m Cerca de 60° 2 Matacão/blocos/seixos > 5 ≤ 25 Ausente Escuro Bege escuro Declive (°) Extensão Ausente Ausente Irregularidade Ausente < 5° < 5m Perceptivelmente irregular Remanescentes Vale Seco Plano 5° - 10° 5-10m Profundamente escavado/ irregular Duna frontal (<1m) Córrego Ondulado Meso (2-4m) 2 10 11 12 13 14 15 16 Dunas Vale Relevo Maré Feições da Paisagem Costeira² Panorama Cor e Transparência da água Ausente Ausente Não é perceptível Macro (>4m) Ausente Aberto em um lado Lamacento/ cinza 17 Cobertura de Vegetação Natural Descoberto (<10% restante) Restinga Pantanal/Prado 18 Vegetação Restante Parâmetros Antrópicos 19 Ruídos 20 Resíduos sólidos 21 Evidência de liberação de esgoto Contínua (>50cm de altura) Linha de costa cheia Acumulação Única Intolerável Acúmulo contínuo Evidência de esgoto Tolerável Linha de costa cheia 22 Ambiente não urbanizado Ausente 23 Ambiente urbanizado Indústria 24 Tipo de Acesso Tráfego Intenso/sem zona de amortecimento 25 Linha de Horizonte Nada atrativa 26 Utilitários³ >3 1 Aberto em dois lados Azul/ verde opaco Urbanização e turismo pesados Tráfego mais ameno/sem zona de amortecimento 3 Azul/ Cinza/ Verde Acumulação única Algumas evidências (1-3 itens) Cerca viva/terraços agrícolas/ monocultura 4 5 61-90m Cerca de 75° 3 Cascalhos/seixos > 50 ≤ 25 Bege claro/esbranquiçado 10°-20° 10-20m Superficialmente escavado Dunas secundárias (1-4m) Córrego Altamente ondulado >90° Vertical Muitas (>3) Areia >50 ≤100 3 Aberto em três lados Azul claro/ Azul escuro Pequenos bosques (árvores ± maduras) Poucos itens dispersos Poucos Alguns itens espalhados Branco/dourado 20°-45° >20m Suave Várias Rio/ravina calcária Montanhoso Micro (<2m) >3 Aberto em quatro lados Translúcido/azul turquesa Variedade de árvores e cobertura natural madura Sem acumulação Ausente Aparentemente ausente Sem evidências de esgoto Campo misto de árvores cultivadas ou nativas Urbanização e turismo brandos Histórico ou ausente Estacionamento visível da área costeira Estacionamento não é visível da área costeira Vista projetada sensivelmente Vista projetada muito sensivelmente Feições naturais/ históricas 2 1 Sem Urbanização e turismo leves ¹Características especiais das falésias: depósito de tálus, estratificação, recuos, dobras, perfil irregular, etc. ²Feições da paisagem costeira: penínsulas, cristas rochosas, costões irregulares, pilares, arcos e janelas de abrasão, cavernas, cascatas, deltas, lagoas, ilhas, estuários, recifes, fauna, embaiamento, tombolo, pontal, etc. ³Utilidades: linhas de energia, postes de luz, oleodutos, espigões, quebra mares, calçamentos, etc. Cristiano et al. (2016) - Evaluation of Coastal Scenery in Urban Beaches: Torres, Rio Grande do Sul, Brazil. Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(X):xxx-xxx. DOI: 10.5894/rgci661 Supporting Information Supporting Information III Conservação e gestão da paisagem costeira de Torres A maior extensão de dunas no território de Torres encontra-se no Parque Estadual da Itapeva, onde formam um sistema preservado (setores 7, 8 e 9). A faixa de praia protegida pelo Parque situa-se entre os afloramentos rochosos da Praia da Guarita e da Pedra da Itapeva, totalizando mais de 4 km de extensão de areias claras, com sistema de dunas frontais e campo de dunas transgressivo. A paisagem natural neste setor oferece um aspecto diferenciado das outras praias, sem a presença da urbanização. No setor norte da praia, no limite da região urbana central do município, a ocupação urbana irregular faz com que haja presença de efluentes na praia. Apesar de aproximadamente 30% do litoral de Torres estar inserido no Parque Estadual de Itapeva, algumas práticas, como o trânsito de veículos, não são controladas de forma eficiente. A paisagem rochosa é um parâmetro que apresenta elevado peso no índice de qualidade paisagística, ocorrendo nas áreas avaliadas, com afloramento rochoso em três segmentos de praia, com destaque para os setores Parque Itapeva Sul e Balneário Itapeva Sul, que se encontram próximas da classe 4 de qualidade paisagística. As praias do Parque apresentam parâmetros físicos de elevadas pontuações, mas, ressalta-se que a gestão de parâmetros antrópicos pode alavancar seu potencial paisagístico. A coloração da água é outro parâmetro de relevância paisagística, de modo a que ao translúcido azul turquesa é atribuída nota 5. Para a área de estudo, todos os setores da costa apresentaram nota 3, representado pelo azul/verde cinza. Esta coloração é resultante da alta energia das ondas, que remobiliza os sedimentos de fundo. Outro fator que afeta a coloração é o aporte sedimentar oriundo do rio Mampituba, causando maior turbidez na água. Em alguns períodos do ano, a floração de algas diatomáceas (Asterionellopsis glacialis), que formam uma mucilagem, confere uma coloração achocolatada na zona de arrebentação, restringindo o uso da praia para banho. A praia do Parque da Guarita por apresentar uma pequena extensão (entre os afloramentos rochosos da “Torre do Meio" e "Torre Sul”) e por situar-se dentro de um Parque municipal resultou em fatores que contribuíram para a conservação e limpeza desta faixa de praia, tanto por parte dos turistas que frequentam o local quanto por parte dos donos dos quiosques instalados na faixa de praia durante o verão. Não há ocorrência de esgoto nesta praia. Porém, logo ao sul, na praia denominada Praia de Fora (setor Parque Itapeva Norte) há presença de efluentes na praia e, conforme o sentido da corrente atuante na costa, estes podem contaminar outros setores. Nos setores avaliados, nenhum se enquadrou nas classes 1 e 2. As praias classificadas nestes níveis normalmente estão associadas a valores altos dos parâmetros físicos e antrópicos. A maioria das áreas classificadas como classe 1 relaciona-se a áreas de grande beleza paisagística e constituem zonas remotas, rurais ou mesmo de proteção ambiental, com acesso restrito da população (Rangel-Buitrago et al.,2013; Anfuso et al, 2014). Por esta razão, estas áreas como, por exemplo, a praia de Macuaca no Parque Nacional Tayrona, Colômbia, apresentam valores elevados nos parâmetros antrópicos, devido ao ausente ou escasso nível de ocupação humana e total ausência de lixo ou descarga de esgoto cloacal (Rangel-Buitrago et al., 2013). As praias urbanas dificilmente atingem este valor, em função da interferência humana. A classificação das praias de Torres quanto a sua qualidade paisagística foram influenciadas de forma preponderante pelos aspectos negativos resultantes da ação humana sobre o sistema. No sentido de minimizar estes efeitos, estão disponibilizadas ao município duas ferramentas de gestão o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima (Projeto Orla) e os Planos de Manejo de Dunas (Portz et al., 2011a). O Projeto Orla, coordenado pelo Governo Federal, busca o ordenamento dos espaços litorâneos sob domínio da União, aproximando as políticas ambiental e patrimonial. No município este projeto foi implantado entre os anos 2003 e 2004 (Município de Torres & MMA, 2003), mas o mesmo não foi legitimado e já está desatualizado. O Plano de Manejo de Dunas apresentase vinculado à esfera estadual, e possui como principal foco controlar as formas de utilização e apropriação do espaço de dunas. Diversas atividades previstas no plano foram executadas, principalmente para a contenção da erosão da praia e para a redução do pisoteio das dunas frontais, com a instalação de passarelas de acesso à praia e o plantio de vegetação nativa para fixar as dunas (Município de Torres & NEMA, 2006). Medidas de manejo também foram aplicadas nas dunas frontais da Praia da Cal (plantio de vegetação para conter a erosão). Tais medidas surtiram efeito claramente identificado nas referidas praias, com a recuperação do cordão de dunas frontais e a proteção do calçadão contra ressacas durante o inverno, contribuindo para a manutenção da paisagem. A presença de resíduos sólidos no ambiente e que contribuiu para a diminuição da qualidade dos setores analisados é o resultado de uma inadequada manipulação ou eliminação de resíduos descartados (Portz et al., 2010), e também deveria estar contemplado nas práticas de gestão. Um estudo realizado no litoral do RS chegou à conclusão de que grande parte da presença de resíduos nas praias é decorrente do turismo e do veraneio; muitos quiosques presentes nas praias durante o período de veraneio acumulam uma grande quantidade de resíduos, muitas vezes com um des- Cristiano et al. (2016) - Evaluation of Coastal Scenery in Urban Beaches: Torres, Rio Grande do Sul, Brazil. Journal of Integrated Coastal Zone Management / Revista de Gestão Costeira Integrada, 16(X):xxx-xxx. DOI: 10.5894/rgci661 Supporting Information carte ineficiente por parte dos “quiosqueiros” e dos veranistas. O constante vento presente na região também facilita a dispersão dos mesmos, resultando em uma acumulação no sistema de dunas (Portz et al., 2011b). Dentro da questão da contaminação da praia, a colocação de equipamentos de apoio ao turista em locais inapropriados, como banheiros químicos e um número elevado de quiosques e restaurantes na faixa de praia; também prejudicam a qualidade paisagística, resultando em um aspecto estético desfavorável. Um ponto positivo na gestão da orla ocorre em virtude da presença de áreas protegidas no município. A praia da Guarita, por exemplo, classificada no nível mais atrativo de paisagem no município (classe 3), por ter acesso de veículos condicionado ao pagamento de uma taxa de acesso ao Parque e localizar-se mais distante da região urbana central do município. Justamente estas restrições inerentes à sua característica de “Parque” é que propícia a conservação de seus aspectos naturais, e consequentemente, sua classificação elevada nos índices de cenários costeiros. A implantação de ações e finalização no Parque da Itapeva poderia, por exemplo, contribuir para uma classificação superior da praia presente neste Parque, ressaltando em características similares a da praia da Guarita. Lembrando que este constitui em área de importante beleza cênica e boa conservação do sistema de dunas, apesar do uso intenso e desordenado, merecendo atenção e cuidados especiais no que diz respeito a sua valorização como ambiente natural, conservação, planejamento de usos e implantação de infraestrutura condizente com a vocação turística. Referências Anfuso, G.; Williams, A.T.; Cabrera-Hernández; Pranzini, E. (2014) - Coastal scenic assessment and tourism management in western Cuba. Tourism Management, 42:307-320. DOI: 10.1016/j.tourman.2013.12.001 Município de Torres / MMA (2003) - Plano de Intervenção na Orla de Torres. 89p., Município de Torres / MMA - Ministério do Meio Ambiente Torres, RS, Brasil. Não publicado. Município de Torres / NEMA (2006) - Plano de Manejo das Dunas Costeiras do Município de Torres - RS. 33p., Município de Torres / NEMA - Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental ,Torres, RS, Brasil. Não publicado. Portz, L. C.; Manzolli, R. P.; Gruber, N. L. S.; Correa, I. C. S. (2010) - Turismo e degradação na orla do Rio Grande do Sul: conflitos e gerenciamento. Desenvolvimento e Meio Ambiente, 22:153-166. DOI: 10.5380/dma.v22i1.20351. Portz, L., Manzolli, R.M., Corrêa, I.C.S. (2011a) - Tools for Environmental Management Applied to the Coastal Zone of Rio Grande do Sul, Brazil. Revista da Gestão Costeira Integrada, 11(4):459-470. DOI: 10.5894/rgci278 Portz, L., Manzolli, R.M., Ivar do Sul, J.A. (2011b) - Marine debris on Rio Grande do Sul north coast, Brazil: spatial and temporal patterns. Revista da Gestão Costeira Integrada, 11(1):41-48. DOI: 10.5894/rgci187 Rangel-Buitrago, N.; Correa, I.D.; Anfuso, G.; Ergin, A.; Williams, A.T. (2013) - Assessing and managing scenery of the Caribbean Coast of Colombia. Tourism Management. 35: 41-58. DOI: 10.1016/j.tourman.2012.05.008.